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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SABE QUE ME AMA / Cecily Von Ziegesar
SABE QUE ME AMA / Cecily Von Ziegesar

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Adolescentes adoram fofocar em qualquer lugar do planeta, mas no mundinho dos jovens da alta sociedade nova-iorquina as fofocas são sempre mais divertidas, nem que seja pelas suas roupas caras de estilistas famosos, pelas casas de férias em lugares hiper-chiques, pelos litros de bebidas que consomem ou pelas brigas sem qualquer motivo. Em Gossip Girl iremos conhecer o universo quase secreto dos alunos de tradicionais escolas particulares para meninas e meninos, onde nem mesmo os horríveis uniformes conseguem esconder a beleza desses afortunados. Todos moram nos endereços mais caros da cidade, em apartamentos suntuosos com a vista para a Central Park. Herdaram os traços clássicos de suas famílias aristocráticas e não têm muito com o que se preocupar: podem beber à vontade, contanto que não deixem seus pais constrangidos; são inteligentes; têm toneladas de privacidade e, no máximo, ficam um pouco nervosos quando o assunto é sexo ou decidir em qual universidade irão se inscrever. Mas tudo com muita classe, of course.
Neste Gossip Girl: Você sabe que me ama a fofoca continua correndo solta e os ânimos estão cada vez mais exaltados. Blair está prestes a ganhar um padrasto e um meio irmão que detesta, já que a mãe decide se casar de novo. E, para piorar, a festa será no dia do seu aniversário de 17 anos! Mas isso não é tudo: poucos dias antes, sua entrevista de admissão na Universidade de Yale é um completo fiasco, e seu namorado Nate não dá mais notícia. Enquanto isso, Serena não agüenta mais a obsessão de Dan e decide dar um tempo. Mas tudo pode acontecer com esses jovens pra lá de fabulosos. Será que Blair e Serena voltarão a ser amigas? Blair finalmente perderá a virgindade? Nate terá coragem de contar a verdade para a namorada? Dan e Vanessa deixarão de ser só amigos? Quem é a gossip girl? Estas e muitas outras perguntas picantes só serão respondidas no próximo volume da série.
Considerada a Sex And The City para adolescentes, Gossip Girl é uma das séries mais lidas pelos jovens americanos, com mais de um milhão de exemplares vendidos. Os fãns de Segundas Intenções , The OC, Gilmore Girls e muitos outros filmes e séries de TV vão se deliciar com a alta dose de drama. Romance, intriga e, claro, fofoca. O que torna esta série tão real é que sua autora, Cecily von Ziegesar, foi criada na alta-roda nova-iorquina e foi aluna dos mais chiques colégios da cidade, convivendo com pessoas tão requintadas, elegantes, fúteis e divertidos como os personagens que criou. Atualmente, ela escreve outros livros da série enquanto cuida dos filhos.
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Bem-vindos aos Upper East Side de Nova York, onde eu e todos os meus amigos moramos em apartamentos enormes e fabulosos, e freqüentamos escolar particulares exclusivas. Nem sempre somos as pessoas mais legais do mundo, mas compensamos isso na aparência e no bom gosto.
O inverno está chegando. É a estação favorita da cidade e a minha também. Os meninos estão no Central Park, jogando bola ou fazendo o que os meninos fazem nesta época do ano, emporcalhando os suéteres e os cabelos de lascas de folhas secas. E aquelas carinhas rosadas... Fala sério, são irresistíveis!
Está na hora de estourar os cartões de créditos e ir na Bendel's e na Barney's procurar umas botas novas e legais, meias arrastão sensuais, umas sainhas de lã e deliciosos suéteres de cashmere. A cidade parece um pouco mais cintilante nesta época do ano, e queremos brilhar com ela!
Infelizmente, também é hora de preencher os formulários da universidade. Todos viemos do tipo de família e freqüentamos o tipo de escola em que não se candidatar às melhores universidades do país não é uma opção, e não entrar nelas seria um constrangimento total. A pressão existe, mas eu me recuso a me deixar levar por ela. Este é o nosso último ano na escola e vamos viver à altura dela, deixar nossa marca e ainda entrar na universidade que quisermos. Temos o sangue mais azul da Costa Leste - e tenho certeza de que a gente pode dar um jeito de fazer um bolo e comê-lo também, como sempre fizemos.
Conheço umas meninas que não vão deixar que a pressão as derrube...
Flagra
B com o pai, comprando óculos de sol na Gucci da Quinta Avenida. O pai de B não conseguia se decidir entre lentes de contato rosa ou azuis bebê, então comprou as duas. Caraca, ele é gay mesmo! N e os colegas procurando as melhores festas universitárias no Insider's Guide to Colleges na Barneys & Nobles da 86 com a Lexington. S fazendo uma máscara facial na Aveda no centro. E D olhando sonhador os patinadores no gelo no Rockefeller Center e escrevendo em um caderno. Um poema sobre S, sem dúvida - que romântico. E também B fazendo depilação com cera quente no J. Sisters Salon.
Preparando-se para...
SERÁ QUE B REALMENTE ESTÁ PRONTA PARA O PRÓXIMO PASSO?
Ela anda falando sobre isso desde que o verão terminou e ela e N voltaram para a cidade, juntos novamente. Depois S apareceu, os olhos de N começaram a viajar e B decidiu castigá-lo, deixando o cara esperando. Mas agora S tem D e N prometeu ser fiel a B. Está na hora mesmo. Afinal, ninguém quer ir para a universidade virgem.
Vou ficar de olho em vocês.

Pra você que me ama,
gossip girl

ter o bolo e depois perdê-lo
- À minha ursinha Blair - disse o sr. Harold Waldorf, erguendo a taça de champanha para brindar com Blair. - Você ainda é minha garotinha, apesar de usar calças de couro e ter um namorado é uma coisa. - Deu um sorriso bronzeado rápido para Nate Archibald, que estava sentado ao lado de Blair à mesa do pequeno restaurante. O sr. Waldorf escolheu Le Giraffe para o jantar especial porque era pequeno, íntimo e moderno, a comida era maravilhosa e todos os garçons tinham um sotaque francês supersensual.
Blair Waldorf estendeu a mão sob a toalha de mesa e apertou o joelho de Nate. A luz de velas a deixava excitada. Se ao menos papai soubesse o que estamos planejando fazer depois daqui, pensou, meio leviana. Ela brindou com o pai e tomou um gole de champanha.
- Obrigada, pai. Obrigada por fazer essa viagem toda só para me visitar.
O Sr. Waldorf baixou a taça e enxugou os lábios com leves pancadinhas no guardanapo. Tinha as unhas brilhantes e perfeitamente manicuradas.
- Ah, eu não vim aqui por sua causa, querida. Vim aqui para me exibir. - Tombou a cabela de lado e franziu os lábios como um modelo posando para uma foto - Eu não estou ótimo?
Blair cravou as unhas na perna de Nate. Tinha de admitir que o pai estava mesmo ótimo. Tinha perdido uns dez quilos, estava bronzeado, vestia roupas francesas e lindas e parecias feliz e relaxado. Entretanto, ela estava feliz que ele estivesse deixado o namorado em casa, no château na França. Blair ainda não estava preparada para ver o pai demonstrando publicamente o seu afeto por outro homem, independentemente de o quanto ele estivesse ótimo.
Ela pegou o cardápio.
- Podemos pedir?
- Vou comer steak. - Anunciou Nate. Ele não queria fazer muita onde. Só queria que o jantar terminasse. Não que se importasse de sair com o fulgurante pai de Blair: na verdade, era meio divertido ver como ele tinha virado gay. Mas Nate estava ansioso para voltar para a casa de Blair. Ela finalmente ia sucumbir. E estava quase na hora.
- Eu também - disse Blair, fechando o cardápio sem realmente olhar para ele. - Steak. - Ela não pretendia comer muito de qualquer forma, não esta noite. Nate prometer-lhe que tinha terminado tudo com Serena van der Woodsen, a colega de turma e ex-melhor amiga de Blair. Ele estava pronto para dar atenção exclusivamente a Blair, que não ligava a mínima de comer steak, mexilhão ou miolos no jantar porque ia, finalmente, perder a virgindade!
- Comigo são três. Trois steak au poivre - confirmou ao pai dela ao garçom num francês perfeito - E o nome da pessoa que corta o seu cabelo. Está maravilhoso.
O rosto de Blair ardeu. Ela pegou um pãozinho da cesta sobre a mesa e o mordeu. A voz do pai e seus maneirismos eram completamente diferentes de quando ela o vira a nove meses atrás. Na época, ele era um advogado conservador que vestia ternos, tudo muito limpo e bem definido. Perfeitamente respeitável. Agora era totalmente afetado, as sobrancelhas tiradas, uma camisa cor de lavanda e meias combinando. Era tão constrangedor. Apesar de tudo, ele era o pai dela.
No ano passado, o pai de Blair saiu de casa e o divórcio litiginoso de seus pais foi a fofoca da cidade. Agora todo mundo já estava cheio do assunto e o sr. Waldorf estava livre para mostrar seu rosto bonito sempre que quisesse. Mas isso não significava que os outros clientes do Le Giraffe não estivessem reparando. Definitivamente estavam.
- Já viu as meias dele? - cochichou uma herdeira velha ao marido entediado - Argila rosa e cinza.
- Não acha que ele fez uma bela porcaria no cabelo? Quem ele pensa que é, Brad Pitt? - perguntou um advogado famoso à mulher.
- Ele está com uma aparência melhor que a da ex-mulherr vou te dizer. - Assinalou um dos garçons.
Era tudo muito divertido para todo mundo, exceto para Blair. É claro que ela queria que o pai fosse feliz, e tudo bem que ele fosse gay. Mas ele tinha que ser assim, tão óbvio?
Blair olhou pela janela para as luzes da rua brilhando no ar claro de novembro.
Saía uma fumaça encapelada das chaminés das casas luxuosas da rua 65. Finalmente as saladas chegaram.
- Então, ainda vai para Yale no ano que vem? - Perguntou o sr. Waldorf, enquanto furava um pedaço de endívia - É pra lá mesmo que você quer ir, não é, ursinha? Pra minha velha alma mater?
Blair baixou o garfo da salada e se endireitou na cadeiras erguendo os lindos olhos azuis para o pai.
- Para onde mais eu iria? - Retrucou ela, como se a Universidade de Yale fosse a única do planeta.
Blair não entendia por que as pessoas se candidatavam a seis ou sete universidades, algumas tão ruins que eram chamadas de "salvadoras". Ela era uma das melhores alunas da Constance Billard School for Girls, uma pequena escola de elite, exclusivamente feminina, que exigia uniforme na rua 93 Leste. Todas as meninas da Constance iam para boas faculdades. Mas Blair nunca se satisfez em ser apenas boa. Tinha que ser a melhor em tudo, sem meio-termo.
E a melhor universidade, em sua opinião, era Yale.
O pai dela riu.
- Então as outras universidades, como Harvard e Cornell, deviam escrever para vocês e pedir desculpas por tentar levar alunos para lá, hein?
Blair deu de ombros e examinou as unhas recém-feitas na manicure.
- Eu só quero ir para Yale, é só isso.
O pai deu uma olhada em Nate, mas Nate estava procurando por outra coisa para beber. Ele odiava champanha. O que ele realmente queria era uma cerveja, embora não parecesse adequado pedir uma cerveja num lugar como Le Giraffe. Eles sempre faziam um auê com isso, trazendo um copo congelado e depois colocando a Heineken como se fosse uma coisa especial, quando era só a mesma porcaria de sempre que você podia tomar numa partida de beisebol.
- E você, Nate? - perguntou o sr. Waldorf - Para onde você está se candidatando?
Blair já estava nervosa com a perda da virgindade. Todo esse papo de faculdade só deixava as coisas piores. Ela empurrou o cabelo para trás e se levantou para ir ao banheiro.
Sabia que era uma coisa nojenta e que ela tinha que aprender a parar, mas, sempre que ficava nervosa, tinha de vomitar. Era seu único hábito ruim.
Na verdade, não é bem assim. Mas vamos falar nisso depois.
- Nate vai para Yale comigo. - disse ela ao pai. Depois se virou e andou pomposa e confiante pelo restaurante.
Nate a viu sair. Estava gostosa na frente-única nova de seda preta, os cabelos castanho-escuros lisos caindo entre os ombros nus e a calça de coro apertada nos quadris. Parecia que já tinha transado, muitas vezes.
Calça de coro tende a produzir esse efeito.
- Então vai ser Yale pra você também? - disparou o Sr. Waldorf quando Blair saiu.
Nate fez uma carranca para a taça de champanha. Ele queria muito mesmo uma cerveja. E não pensava que podia ingressar em Yale. Não dá pra acordar, ficar chapado, tomar bomba na prova de cálculo e esperar entrar em Yale - simplesmente não dá. E era isso que ele vinha fazendo ultimamente. E muito.
- Eu prefiro ir para Yale - respondeu ele - Mas acho que Blair vai ficar decepcionada. Quer dizer, minhas notas não são lá muito boas.
O sr. Waldorf piscou para ele.
- Bem, cá entre nós, acho que Blair está sendo meio dura com as outras universidades do país. Ninguém disse a você para ir para Yale. Tem muitas outras universidades por aí.
Nate assentiu.
- É. A Brown parece bem legal. Tenho uma entrevista lá semana que vem. - disse ele - Apesar de isso ser definitivamente forçado também. Tirei um C na última prova de matemática e nem cheguei a fazer curso avançado. - admitiu eke - A Blair acha que Brown nem chega a ser uma universidade de verdade. Sabe como é, porque eles fazem menos exigências, tipo assim.
- Os padrões de Blair são impossivelmente altos. - O sr. Waldorf bebericou o champanha, o dedo mindinho polido apontando para fora - Herdou isso de mim.
Nate deu uma olhada nos outros clientes do restaurante. Ele se perguntou se eles pensavam que ele e o sr. Waldorf estavam juntos, se eram namorados. Para acabar de vez com essa especulação, ele arregaçou as mandas do suéter de cashmere verde e limpou a garganta de forma muito masculina. Blair tinha dado o suéter a ele no ano passado, e ele o estava usando muito ultimamente para reafirmar a ela que não ia romper com ela, nem traí-la, nem fazer nada que a preocupasse.
- Sei lá - tornou ele, pegando um pãozinho da cesta e quebrando-o violentamente em dois. - Seria ótimo ficar um ano fora, velejando com meu pai ou coisa assim, tá entendendo?
Nate não entendia por que, aos 17 anos, tinha de definir toda a sua vida. Haveria muito tempo para mais faculdades depois de tirar um ano ou dois de férias para velejar pelo Caribe ou esquiar no Chile. E, no entanto, todos os seus colegas da St. Jude's School for Boys estavam planejando ir direto para a faculdade de depois direto para o mestrado. Na opinião de Nate, eles estavam se comprometendo com a vida sem nem pensar no que realmente queriam fazer. Por exemplo, ele adorava o som do Atlântico frio espirrando na proa do barco. Adorava a sensação do sol quente nas costas quando içava as velas. Adorava o modo como o sol brilhava esverdeado antes de cair no oceano. Nate imaginava que tinha de haver mais coisas assim, e ele queria viver todas.
Desde que não exigisse muito esforço. Ele não era muito bom em se esforçar.
- Bem, a Blair não vai ficar satisfeita quando descobrir que você está pensando em dar um tempo por aí. - o sr. Waldorf deu uma risadinha - Ela acha que vocês vão para Yale juntos, vão casar e vão ser felizes para sempre.
Os olhos de Nate seguiram os de Blair enquanto ela voltava para a mesa de cabeça erguida. Todos os outros clientes do restaurante também a olhavam.
Ela não era a mais bem vestida, nem era a mais magra nem a mais alta do salão, mas parecia brilhar um pouco mais que os outros. E ela sabia disso.
Os steaks chegaram e Blair trucidou o dela, empurrando-o para dentro com goles de champanha e montes de purê de batata amanteigado. Ela viu como as têmporas de Nate pulsavam de um jeito sensual quando ele mastigava. Mal podia esperar para sair dali. Mal podia esperar para finalmente transar com o cara com quem pretendia passar o resto de sua vida. Nada poderia ser mais certo que isso.
Nate não pôde deixar de perceber a intensidade com que Blair empunhava a faca de carne. Ela cortava a carne em imensos nacos e os comia com ferocidade. Fez com que ele se perguntasse se ela era desse jeito na cama. Eles se agarravam muito, mas ele sempre era mais agressivo do que ela. Blair só ficava deitada lá, dando o tipo de miado que as garotas dão nos filmes, enquanto ele perambulava, fazendo tudo para ela. Mas esta noite Blair parecia impaciente, mais faminta.
É claro que ela estava faminta. Tinha acabado de vomitar.
- Não servem comida assim em Yale, ursinha - disse o sr. Waldorf à filha - Você vai comer pizza e Combos no alojamento, como todas as outras meninas.
Blair franziu o nariz. Nunca tinha comido Combo na vida.
- De jeito nenhum, Nate e eu não vamos morar em alojamento, de qualquer forma. Vamos ter nossa própria casa - Ela cutucou o tornozelo de Nate com a bota - Vou aprender a cozinhar.
O sr. Waldorf ergueu as sobrancelhas para Nate.
- Sorte sua. - Brincou ele.
Nate deu um sorriso amarelo e lambeu o purê do garfo. Não ia dizer a Blair que seu sonhozinho de morarem juntos num apartamento em New Haven era mais absurdo do que a idéia de ela comer Combos. Mas não queria dizer nada que entristecesse.
- Cala a boca, pai - disse Blair.
Os pratos foram retirados. Impaciente, Blair girou o anel de rubi de um lado a outro do dedo. Sacudiu a cabeça para o café e a sobremesa e se levantou para ir ao toalete das senhoras mais uma vez.
Duas vezes em uma só refeição era radical, mesmo para ela, mas Blair estava tão nervosa que não conseguiu evitar,
Graças a Deus Le Giraffe tinha bons banheiros privativos.
Quando Blair voltou novamente, toda a equipe de garçons saiu em fila da cozinha. O maître estava segurando um bolo decorado com velas acesas. Dezoito delas, uma extra para dar sorte.
Ai, meu Deus.
Blair marchou de volta à mesa com as botar stiletto pontudas e tomou seu lugar, encarando o pai. Por que ele tem de fazer uma cena? A merda do seu aniversário só seria dali a três semanas. Ela virou outra taça de champanha em um gole só.
Os garçons e cozinheiros cercaram a mesa. Então começaram a cantar.
- Parabéns pra você...
Blair pegou a mão de Nate e a apertou muito.
- Manda eles pararem - sussurrou ela.
Mas Nate limitou-se a ficar sentado ali como um panaca. Ele meio que gostava quando Blair ficava envergonhada. Isso não acontecia com muita freqüência.
Seu pai for mais simpático. Quando viu como Blair estava infeliz, acelerou o ritmo e rapidamente terminou a música:
- Você parece um macaco e também é fedida!
Os garçons bateram palmas educadamente e voltaram a seus postos.
- Eu sei que é meio cedo - disse o sr. Waldorf, se desculpando - Mas eu tenho que ir embora amanhã, e 17 anos é um grande aniversário. Não achei que você ia se importar.
Importar? Ninguém gosta de ser musa de cantores em público. Ninguém
Em silêncio Blair soprou as velas e examinou o bolo. Era elaboradamente decorado com sapatos de saltos altos de marzipã andando por uma Quinta Avenida de açúcar de confeiteiro, passando por um modelo feito de doce da Henri Bendel, sua loja favorita. Era primoroso.
- Para a minha fetichistazinha de sapatos - ofereceu-lhe o pai, radiante. Ele puxou um presente de sob a mesa.
Blair sacudiu a caixa, reconhecendo, como especialista o som oco e surdo que um par de sapatos novos fazia quando era sacudido em uma caixa. Ela rasgou o papel.
MANOLO BLAHNIK, dizia a fita em grandes caracteres na tampa da caixa. Blair prendeu a respiração e tirou a tampa. Dentro da caixa havia um par de mules de peltre feotps a mão com adoráveis saltos gatinha.
Très fabuloso.
- Comprei em Paris - disse o sr. Waldorf - Eles só fazem algumas centenas de pares. Aposto que você é a única garota da cidade que tem um.
- São incríveis. - Blair soltou a respiração.
Ela se levantou e contornou a mesa para abraçar o pai. Os sapatos compensaram o fato de ele a ter humilhado em público. Não só tinham uma classe inacreditável, como era exatamente o que ela ia usar, naquela noite, mais tarde, quando ela e Nate transassem. Eles e nada mais.
Obrigada, papai!
para que serve realmente a escadaria do metropolitan museum of art
- Vamos sentar lá atrás - disse Serena van der Woodsen quando levou Daniel Humphrey a Serependity 3 na rua 60 Leste. O salão da lanchonete e sorveteria em estilo antigo estava lotado de pais que cuidavam dos filhos na noite de folga das babás. O ar se enchia do choro estridente de crianças cheias de açúcar, enquanto garçonetes cansadas corriam de um lado a outro levando imensas tigelas de sorvete, sorvetes com calda quente de chocolate e cachorros-quentes extragrandes.
Dan tinha planejado ir a um lugar mais romântico com Serena. Um lugar sossegado e mal iluminado. Um lugar onde eles pudessem ficar de mãos dadas, conversar e se conhecer sem a distração de pais irritados ralhando com menininhos que pareciam angelicais em camisa abotoadas e calças cáqui da Brooks Brothers. Mas Serena queria ficar ali.
Talvez ela realmente estivesse louca por um sorvete, ou talvez suas expectativas para a noite não fossem tão grandes e românticas quanto as dele.
- Não é ótimo? - borbulhou ela exuberante - Eu e meu irmão, Erik, costumávamos vir aqui uma vez por semana e tomar sundae de hortelã - Ela pegou um cardápio e o examinou - Tudo ainda está exatamente igual. Eu adoro isso.
Dan sorriu e sacudiu o cabelo despenteado dos olhos. A verdade era que ele não dava a mínima para o lugar, desde que estivesse com ela.
Dan era do West Side e Serena do East. Ele morava com o pai, um cara que se dizia intelectual e era editor de poetas beats pouco conhecidos, e sua irmãzinha, Jenny, que estava na sétima série da Constance Billard, a mesma escola que Serena freqüentava. Eles moravam em um apartamento caindo aos pedaços no Upper West Side que não era reformado desde a década de 1940. A única pessoa que fazia alguma limpeza no lugar era o enorme gato deles, Marx, especialista em matar e comer baratas.
Serena morava com os prósperos pais que pertenciam ao conselho de quase todas as grandes instituições da cidade, em uma cobertura enorme decorada por um decorador famoso, com uma vista para o Metropolitan Museum of Art e o Central Park. Tinha uma empregada e uma cozinheira, a quem podia pedir para bater um bolo ou fazer um cappuccino a qualquer hora que quisesse.
Então, o que ela estava fazendo com Dan?
Eles tinham topado um com o outro algumas semanas antes, enquanto ensaiavam para um filme dirigido pela amiga de Dan e colega de turma de Serena, Vanessa Abrams. Serena não conseguiu o papel e Dan quase perdeu as esperanças de vê-la de novo, então eles se encontraram em um bar do Brooklyn. Eles se viram e conversaram ao telefone algumas vezes desde então, mas esta era a primeira vez que saíam juntos de verdade.
Serena tinha voltado à cidade no mês anterior, depois de ter sido expulsa do internato. No princípio, ela ficou emocionada de voltar à cidade. Mas depois descobriu que Blair Waldorf e todos os outros velhos amigos tinham decidido não ser mais amigos delam. Serena ainda não sabia o que tinha feito de tão terrível. Certamente ela não mantivera contato com ninguém, e é claro que ela talvez tenha se gabado um pouco demais de toda a diversão que tinha tido na Europa no verão passado. Tanta diversão que ela não voltou a tempo para o primeiro dia de aula na Hanover Academy, em New Hampshire. A escola se recusou a aceitá-la de volta.
Sua antiga escola, a Constance Billard, foi mais condescendente. Bem, a escola foi. As meninas não. Serena não tinha mais nenhum amigo em Nova York, então estava empolgada por ter conhecido Dan. Era divertido conhecer alguém tão diferente dela.
Dan queria se beliscar toda vez que olhava nos olhos azul-escuros de Serena. Ele se apaixonara no momento em que botara seus olhos nela em uma festa na 8ª série e tinha  esperança de que agora, dois anos e meio depois, ela se apaixonasse por ele também.
- Vamos escolher o maior sundae do cardápio – sugeriu Serena. – Podemos trocar as tigelas pela metade e assim ninguém enjoa.
Ela pediu o sundae de hortelã triplo com cobertura extra de chocolate quente e ele pediu um banana slipt de café. Dan comia qualquer coisa que tivesse café. Ou tabaco.
- E aí - disse Serena, apontando para a brochura enfiada no bolso do casaco de Dan -, é bom?
O livro era Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre, uma história existencialista de desajustados no purgatório.
- É. É meio engraçado e meio depressivo. Mas tem muita verdade nele, eu acho.
- Fala do que?
- Do inferno.
- Nossa! - Serena riu. - Você sempre lê livros assim?
Dan tirou uma pedra de gelo do copo de água e a colocou na boca.
- Assim como?
- Tipo sobre o inferno.
- Não, nem sempre. - Ele havia acabado de ler Os sofrimentos do jovem Werther, que falava do amor. E do inferno.
Dan gostava de se ver como uma alma atormentada. Ele preferia romances, peças e livros de poesia que revelassem o absurdo trágico da vida. Eram o acompanhamento perfeito
para o café e os cigarros.
- Tenho problemas para ler - confessou Serena.
O sundae e o banana split chegaram. Eles mal podiam se ver sobre a montanha de sorvete. Serena mergulhou a colher comprida de sundae na tigela e cavou uma porção perfeitamente enorme.
Dan maravilhou-se com o ângulo longo e fino do pulso dela, o músculo esticado do braço, o brilho dourado de seu cabelo louro-claro. Ela estava prestes a chafurdar em um sundae desagradavelmente grande, mas para Dan ela era uma deusa.
- Quer dizer, eu sei ler, é claro - continuou ela. – Só que tenho problemas para prestar atenção. Minha cabeça fica divagando e eu fico pensando no que vou fazer a noite. Ou em alguma coisa que preciso comprar na farmácia. Ou em algo engraçado que tenha acontecido, tipo assim, há um ano. - Ela engoliu a porção de sorvete e olhou para os olhos castanhos e compreensivos de Dan. - Eu não tenho muita concentração - completou ela, meio triste.
Era isso que Dan adorava em Serena. Tinha a capacidade de ser triste e feliz ao mesmo tempo. Era como um anjo solitário, flutuando sobre a superfície da terra, rindo deliciada porque podia voar, mas chorando de solidão. Serena transformava tudo que era banal em algo extraordinário.
As mãos de Dan tremeram quando ele cortou a ponta da banana coberta de chocolate com a colher e a comeu em silêncio.
Queria dizer a Serena que ele ia ler para ela. Que ele ia fazer tudo por ela. O sorvete de café derretia e transbordava da tigela. Dan tentava manter o coração no peito.
- Eu tive um ótimo professor de inglês na Riverside no ano passado - disse ele ao recuperar o controle. - Ele nos dizia que a melhor maneira de reter o que a gente lê é ler apenas um pouco de cada vez. Saborear as palavras.
Serena adorava o jeito de Dan falar. A maneira como ele dizia as coisas a fazia querer se lembrar dele. Ela sorriu e lambeu os lábios.
- Saborear as palavras - repetiu ela, os cantos da boca se curvando em um sorriso.
Dan engoliu um pedaço da banana e estendeu o braço para pegar a água. Meu Deus, ela é linda.
- E aí, você provavelmente é tipo um aluno A total e já se candidatou a Harvard ou coisa parecida, né? - Serena pegou um palito de açúcar do sundae e o chupou.
- De jeito nenhum. Eu não tenho a menor idéia. Quer dizer, eu definitivamente quero ir para um bom curso de literatura, só não sei onde ainda. Nosso conselheiro universitário me deu uma lista enorme, eu tenho todos os catálogos, mas ainda não sei o que vou fazer.
- Nem eu. Mas provavelmente ou visitar a Brown em breve. Meu irmão está lá. Quer ir?
Dan vasculhou o poço profundo dos olhos dela, tentando avaliar se ela se sentia tão apaixonada quanto ele. Quando ela disse "Quer ir?", quis dizer ''Vamos passar o fim de semana juntos, de mãos dadas, olhando nos olhos um do outro e nos beijando por horas sem fim?" ou quis dizer ''Vamos juntos porque seria conveniente e divertido ter um amigo comigo."?
Mas ele não podia dizer não. Não estava nem aí se ela disse Brown ou Faculdade Comunitária de Fracassópolis; Serena perguntara se ele queria ir e a resposta era sim. Ele iria a qualquer lugar com ela.
- Brown - repetiu Dan, como se ainda estivesse pensando no assunto. - Eles devem ter um ótimo curso de literatura.
Serena assentiu, penteando os longos cabelos louros com os dedos.
- Então vem comigo.
Ah, ele vai. É claro que ele vai. Dan deu de ombros.
- Vou falar com meu pai sobre isso. - Dan tentou parecer casual. Não ousava deixar que Serena soubesse que por dentro estava dando pulos e quicando como um coelhinho empolgado. Tinha medo de afugentá-la.
- Tá legal, pronto? Vamos trocar. - Serena empurrou sua tigela para Dan.
Eles trocaram as tigelas e provaram o sundae do outro.
Assim que os novos sabores atingiram as papilas gustativas, os rostos se contorceram e eles esticaram a língua. Hortelã e café não combinam. Dan rezou para que isso não fosse um sinal.
Serena pegou sua tigela de volta e cavou a última colherada.
Dan tomou mais um pouco da sua e depois baixou a colher.
- É... - disse ele, inclinando-se para trás na cadeira e pressionando a barriga. - Você venceu.
A tigela de Serena ainda estava pela metade, mas ela baixou a colher também, desabotoando o primeiro botão da calça jeans.
- Acho que cansamos. - Ela deu uma risadinha.
- Quer andar um pouco? - arriscou-se Dan, cruzando os dedos trêmulos da mão e dos pés tão apertado que ficaram azuis.
- Eu adoraria - respondeu Serena.
A rua 60 estava tranqüila para uma sexta a noite. Eles andaram em direção ao Central Park. Na Madison, pararam na Barneys e olharam a vitrine. Ainda havia algumas pessoas atrás dos balcões no departamento de cosméticos, preparando-se para o movimento do sábado de manhã.
- Não sei o que eu faria sem a Barneys - suspirou Serena, como se a loja tivesse salvado sua vida.
Dan só havia entrado na famosa loja de departamentos uma vez. Tinha deixado sua imaginação correr solta e acabara comprando um smoking caro, de grife, com o cartão de crédito do pai, fantasiando usá-lo enquanto dançava com Serena em uma festa glamorosa. Mas depois caiu na real. Ele odiava festas glamorosas e, até alguns dias antes, pensava que Serena nunca teria nem duas palavras a lhe dizer. Então ele devolveu o smoking.
Agora ele sorria com a lembrança. Serena definitivamente tinha mais que duas palavras a dizer a ele. Serena o convidou a passar o fim de semana com ela. Eles estavam apaixonados. Talvez até acabassem na mesma universidade e passassem o resto da vida juntos.
Cuidado aí, Dan. Lá vai sua imaginação de novo.
Na Quinta Avenida, perto da esquina do parque, eles passaram pelo Pierre Hotel, onde os dois tinham ido a um baile formal na oitava série. Dan se lembrava de ficar olhando Serena, desejando conhecê-la, enquanto ela ria em sua mesa com amigos, usando um tomara-que-caia verde que deixava seu cabelo mais brilhante. Ele ficou apaixonado por ela desde então.
Passaram pelo consultório do ortodontista de Serena e pelo Frick, a antiga mansão que agora era um museu. Dan queria arrombar a porta e beijar Serena em cima de uma daquelas belas camas antigas que tinha lá dentro. Ele queria morar com ela ali, como refugiados no paraíso.
Continuaram andando pela Quinta Avenida, passando pelo prédio de Blair Waldorf na rua 72. Serena deu uma olhada nele.
Ela conhecia Blair desde a primeira série e fora ao apartamento dos Waldorf centenas de vezes, mas agora não era mais bem-vinda.
Serena não podia fingir que era completamente inocente.
Ela sabia o que mais irritara Blair. Não era só que Serena tivesse perdido contato com sua velha turma de Nova York ou que ficasse se divertindo na Europa enquanto os pais de Blair se divorciavam. O que realmente azedou a amizade das duas foi o fato de Serena e Nate terem dormido juntos no verão antes de Serena ser expulsa do internato.
Isso foi há quase dois anos, e Serena se sentia como se tivesse acontecido com outra garota com uma vida totalmente diferente. Serena, Blair e Nate faziam um trio unido. Serena tinha esperança de que Blair visse isso como uma das maluquices que aconteciam entre amigos e a perdoasse. Foi só uma vez.
E, além disso, Blair ainda tinha o Nate. Mas Blair só descobriu tudo há pouco tempo, e ela não estava disposta a deixar pra lá.
Serena pegou um cigarro na bolsa e o colocou na boca.
Parou de andar e o acendeu com seu isqueiro. Dan esperou que ela desse um trago e soltasse uma nuvem de fumaça cinza no ar gelado. Ela puxou o casaco Burberry surrado e marrom em torno do corpo.
- Vamos sentar um pouco na frente do Met. Vem. – Ela pegou a mão de Dan e ambos percorreram rapidamente os dez blocos para o Metropolitan Museum of Art. Serena levou Dan para o meio da escadaria e se sentou. Do outro lado da rua ficava o apartamento dela. Como sempre, seus pais estavam fora, em alguma função de caridade ou num vernissage, e as janelas estavam escuras e pareciam solitárias.
Serena largou a mão de Dan e ele se perguntou se tinha feito alguma coisa errada. Ele não conseguia ler a mente dela e isso o deixava maluco.
- Eu, Blair e Nate costumávamos sentar aqui na escada por horas e só ficar conversando sobre nada - disse Serena a Dan, tristonha. - Às vezes a gente tinha de sair e Blair e eu nos vestíamos, nos maquiávamos e tudo isso. Depois Nate aparecia com uma garrafa de alguma coisa e comprávamos cigarro, saíamos da festa e sentávamos aqui. - Ela olhou para as estrelas com os olhos grandes e brilhantes. Havia lágrimas neles. - Às vezes eu queria ... – A voz de Serena desapareceu.
Ela não sabia exatamente o que queria, mas estava cansada de se sentir mal com relação a Blair e Nate. – Desculpe - fungou ela, olhando para os sapatos. - Espero não estar te alugando.
- Não, não está.
Dan queria pegar a mão dela novamente, mas ela estava escondida no bolso. Em vez disso, ele tocou seu cotovelo e Serena se virou para ele. Essa era a sua chance. Dan queria poder pensar em alguma coisa bonita e apaixonada para dizer, mas o coração estava na boca. Antes que os nervos o paralisassem, ele se inclinou e a beijou na boca, delicadamente. A terra oscilou no eixo. Ainda bem que ele estava sentado. Quando recuou, os olhos de Serena brilhavam para ele.
Ela enxugou o nariz com as costas da mão e sorriu para Dan. Depois ergueu o queixo dele e o beijou novamente. Só um beijinho no lábio superior, antes de mergulhar a cabeça para baixo e se encostar no ombro dele. Dan fechou os olhos para se manter firme.
Ah, meu Deus. O que ela está pensando?, ele se perguntou desesperadamente. Por que ela não me diz?
- E aí, para onde vai a galera do West Side? – perguntou Serena. - Tem um lugar como este?
- Na verdade, não - disse Dan, o braço em tomo dela.
Ele não queria conversar naquele momento. Queria pegar a mão dela e mergulhar de um penhasco e flutuar de costas em um mar ao luar. Ele queria beijá-la novamente e de novo e outra vez. - Eu vou até o pier de dia, às vezes. A noite eu só ando por aí.
- O pier - repetiu Serena. - Me leva lá?
Dan assentiu. Ele a levaria a qualquer lugar.
Ele esperou que Serena erguesse a cabeça para que eles pudessem se beijar novamente. Mas Serena continuava com a cabeça apoiada em seu ombro, respirando o cheiro de cigarro do casaco de Dan e acalmando os nervos.
Ficaram sentados desse jeito por mais um tempo. Dan também estava nervoso, feliz e deslumbrado demais até para acender um cigarro. Ele esperava que pudessem dormir daquele jeito e acordar a luz rosada da aurora, ainda nos braços um do outro.
Alguns minutos depois, Serena se afastou.
- É melhor eu ir antes que durma aqui - disse ela, levantando-se. Ela se inclinou e beijou Dan no rosto. Seus cabelos roçaram na orelha de Dan e ele tremeu. - Te vejo depois, tá legal?
Dan assentiu. Você tem de ir? Ele tinha medo de abrir a boca e dizer as palavras que estavam ameaçando sair a noite toda. Eu te amo. Ele ainda tinha medo de assustá-la.
Ele ficou olhando Serena atravessar a rua, os cabelos claros ondeando atrás dela. O porteiro abriu a porta do prédio e ela desapareceu.
Serena entrou no elevador, sacudindo as chaves no bolso do casaco. Algumas semanas antes, estaria sentada em casa em uma noite de sexta-feira, vendo TV e se lamentando por si mesma. Que sorte teve em fazer um novo amigo como Dan.
Dan ficou sentado na escadaria no Met por mais alguns minutos até que as luzes se acendessem na cobertura do prédio do outro lado da rua. Ele imaginou Serena tirando as botas no corredor e largando o casaco numa cadeira para que a empregada pegasse. Ela vestia uma longa camisola de seda branca e se sentava diante de um espelho com moldura dourada, escovando os cabelos dourados, como uma princesa de conto de fadas. Será que ele realmente a beijou? Fez isso tantas vezes em sonho que era quase impossível acreditar que realmente tinha acontecido.
Ele se levantou, esfregou os olhos e esticou os braços bem acima da cabeça. Meu Deus, ele se sentia bem. Era engraçado - foi tudo tão de repente, e ele era o cara que em geral odiava ler sobre isso nos livros. O cara mais feliz do mundo.
segunda bola fora!
- Não sei por que você tem de ir a Brown no mesmo fim de semana em que vou a Yale - gritou Blair para Nate de dentro do banheiro.
Nate estava deitado na cama dela no quarto, serpenteando um dos cintos de Blair em cima da colcha para que Kitty Minky, a gata de Blair, tentasse pegá-lo. As luzes estavam apagadas, as velas acesas, Macy Gray tocava no aparelho de som e Nate tinha tirado a camisa.
- Nate? - repetiu Blair com impaciência. Ela começou a tirar as roupas e as empilhava no chão do banheiro. Seu plano tinha sido eles irem a New Havenjuntos neste fim de semana.
Eles podiam alugar um carro e ficar em uma pousada romântica, como se estivessem em lua-de-mel...
- É - respondeu Nate finalmente. - Sei lá. É só que a Brown marcou minha entrevista para agora. Desculpe. – Ele arrancou o cinto de entre as patas de Kitty Minky e o estalou no ar acima da cabeça da gata, mandando-a como um raio para o armário. Depois se virou de costas e ficou olhando para o teto, esperando.
Da última vez que ele e Blair tinham ficado a ponto de transar, Nate tinha dado com a língua nos dentes sobre ter transado com Serena no verão antes de ela ter sido expulsa do internato. Tinha parecido trapaça demais continuar com aquilo sem que Blair soubesse que A) não era a primeira vez dele e B) ele tinha feito aquilo com a ex-melhor amiga dela. É claro que, depois que ele confessou, Blair não quis fazer mais nada. Ela ficara furiosa.
Felizmente, tudo isso era passado. Bem, mais ou menos.
Blair terminou de fechar a tira dos Manolos e borrifou perfume em si mesma. Fechou os olhos e contou até três. Um, dois, três. Naqueles três segundos ela rodou um filme em sua cabeça, imaginando a noite incrível que ela e Nate estavam prestes a ter. Eles eram amantes de infância, destinados a ficar juntos, dando-se inteiramente um ao outro. Ela abriu os olhos e passou a escova nos cabelos mais uma vez, verificando o reflexo no espelho. Parecia confiante e pronta. Ela parecia alguém que sempre consegue o que quer. Era a garota que ia para Yale e se casaria com o cara. Se ao menos suas narinas não fossem tão grandes nem os peitos tão pequenos, mas, tanto faz.
Ela empurrou a porta do banheiro, abrindo-a.
Nate olhou para cima e se surpreendeu imediatamente excitado. Talvez fosse o champanha
ou o steak. Ele fechou os olhos e os abriu novamente. Não, Blair realmente estava ótima.
Ele estendeu a mão para ela e a puxou para cima dele. Eles se beijaram, lábios e línguas fazendo os mesmos jogos que fizeram por dois anos.
Mas desta vez o jogo não ia ser tipo uma sessão de quatro horas de Monopólio, na qual os jogadores acabavam enjoando e caindo fora. Este jogo ia terminar em algum lugar, e eles não iam parar ate que tivessem comprado cada imóvel em que pudessem colocar as mãos.
Blair fechou os olhos e fingiu que era Audrey Hepburn em Amor na tarde. Ela adorava filmes antigos, particularmente aqueles com Audrey Hepburn. Eles nunca mostravam os personagens fazendo sexo. As cenas de amor eram sempre românticas e elegantes, com montes de beijos longos e sinceros, roupas lindas e penteados elegantes. Blair tentou manter os ombros baixos e o pescoço esticado para que se sentisse alta, magra e sensual nos braços de Nate.
Acidentalmente, Nate esbarrou nas costelas de Blair com o cotovelo.
- Ai - disse Blair, afastando-se. Ela não queria parecer assustada quando disse isso, mas estava, um pouco. Audrey Hepburn nunca levou uma cotovelada de Cary Grant, nem mesmo por acidente. Ele a tratava como uma boneca de porcelana.
- Desculpe - murmurou Nate. - Tome. - Ele pegou um travesseiro e o deslizou embaixo dela, para que a cabeça e os ombros de Blair ficassem confortavelmente erguidos.
Blair levantou a cabeça e afastou o cabelo do rosto encantadoramente.
Depois se esticou e mordeu Nate no ombro, deixando uma marca branca em a dos dentes na pele dele.
- Taí o que você consegue por me machucar – brincou ela, batendo os cílios.
- Prometo tomar cuidado - disse Nate a sério, passando a mão pelas costelas de Blair e descendo para a perna.
Blair respirou fundo e tentou relaxar todo o corpo. Esta não era como uma das cenas de amor em nenhum de seus filmes antigos favoritos. Ela não havia pensado que seria tão real nem que seria tudo tão atrapalhado.
Nada nunca parece tão bom como nos filmes, mas ainda deve ser legal.
Nate beijou-a delicadamente. Blair tocou a nuca dele e sentiu o  familiar cheiro de Nate. Corajosamente, ela desceu a outra mão e tentou abrir o cinto de Nate.
- Está emperrado - reclamou ela, puxando o emaranhado confuso de couro e metal. Seu rosto ardia desagradavelmente. Ela nunca se sentiu tão descoordenada.
- Deixa que eu abro - ofereceu-se Nate. Ele rapidamente abriu a fivela enquanto Blair dava uma olhada no quarto, os olhos parando em um retrato antigo a óleo de sua avó quando menininha, segurando uma cesta de pétalas de rosas. Blair de repente se sentiu muito nua.
Voltou-se para Nate, observando enquanto ele tirava a calça, deixando-a cair sobre os tornozelos e os pés. A cueca xadrez vermelha p branca estava estufada, como uma tenda.
Ela prendeu a respiração.
Depois a porta da frente do apartamento se abriu num estalo e foi batida com um barulho alto.
- Oi! Tem alguém em casa?
Era a mãe de Blair.
Blair e Nate congelaram. A mãe dela e Cyrus, o novo namorado da mãe, tinham ido a ópera. Eles só deviam chegar em casa daqui a horas.
- Blair, querida? Você está aí? Cyrus e eu temos uma coisa maravilhosa para contar a você!
- Blair? - A voz alta de Cyrus reverberou nas paredes.
- O que a gente vai fazer? - sussurrou Nate. Ele deslizou a mão sob o edredom e tocou a barriga de Blair.
Péssimo movimento. Nunca toque a barriga de uma garota, a não ser que ela peça. Faz com que se sinta gorda.
Blair se encolheu, afastando-se dele, e rolou na cama, deixando os pés caírem no chão.
- Blair? - A voz de sua mãe estava bem do lado de fora do quarto. - Posso entrar um minutinho? É importante.
Droga.
- Peraí! - gritou Blair. Ela voou para o armário e apanhou uma calça de moletom. - Vai se vestir - sibilou para Nate. Arrancou seus Manolos e puxou a calça de moletom para cima e a blusa de moletom velha de Yale que tinha sido do pai. Nate puxou a calça e fechou novamente o cinto. Segunda bola fora no sexo. - Pronto? - cochichou Blair.
Decepcionado, Nate assentiu em silêncio.
Blair abriu a porta do quarto para encontrar a mãe esperando por ela no corredor. Eleanor Waldorf sorriu exultante e feliz para a filha, o rosto corado de vinho branco e empolgação.
- Percebe alguma coisa diferente? - perguntou ela, agitando os dedos da mão esquerda no ar. Em seu dedo anular brilhou um enorme diamante incrustado em ouro. Parecia um anel de noivado tradicional, só que com quatro vezes o tamanho normal. Era ridículo.
Blair olhou, congelada na soleira da porta de seu quarto.
Podia sentir o bafo de Nate na orelha de onde ele estava, parado atrás dela. Nenhum dos dois falou.
- Cyrus me pediu em casamento! - exclamou a mãe.
- Não é maravilhoso?
Blair a encarou, sem conseguir acreditar.
Cyrus Rose era careca e tinha um bigodinho eriçado, usava uma pulseira de ouro e ternos horrendos riscadinhos e trespassados.
A mãe de Blair o conhecera na última primavera no departamento de cosméticos da Saks. Ele estava comprando perfume para a mulher e Eleanor ofereceu-se para ajudar. Ela chegou em casa fedendo aquela coisa, Blair se lembrava. "Dei meu telefone a ele", tinha dito a mãe com uma risadinha, fazendo Blair querer vomitar. Para desgosto e horror de Blair, Cyrus telefonou e continuou ligando. E agora eles iam se casar.
Foi aí que Cyrus Rose apareceu no fim do corredor.
- O que acha disso, Blair? - perguntou ele, piscando para ela. Ele estava vestindo um terno azul trespassado e sapatos pretos brilhantes. Seu rosto estava vermelho. A barriga estufada. Os olhos saltavam da cabeça como os de um baiacu.
Ele esfregava as mãos gordas e troncudas com os pulsos cabeludos e as jóias de aura nojentas.
Seu novo padrasto. A barriga de Blair se revirou de náusea.
Tanto esforço para perder a virgindade para o cara que amava. O filme de sua vida real estava ficando muito mais trágico e muito mais absurdo.
Blair franziu os lábios e deu a mãe um beliscãozinho rígido na bochecha.
- Parabéns, mãe.
- Essa é a garota - festejou Cyrus.
- Parabéns, sra. Waldorf - disse Nate, passando por Blair.
Ele se sentia estranho participando daquele momento íntimo da família. Será que Blair não podia ter dito a mãe para esperar e falar com ela de manhã?
A sra. Waldorf ainda o abraçava.
- A vida não é maravilhosa?
Nate n]ao tinha tanta certeza.
Blair suspirou resignada e se arrastou descalça pelo corredor, para cumprimentar Cyrus. Ele tinha cheiro de queijo bleu e suor. Tinha uns pelos saindo da ponta do nariz. Ia ser o novo padrasto dela, que ainda se recusava a acreditar nisso.
- Fico feliz por você, Cyrus. - Blair, toda dura, ficou na ponta dos pés e aproximou o rosto macio e frio da boca quente e fedida a uísque dele.
- Somos as pessoas mais sortudas do mundo – disse Cyrus, dando um revoltante beijo molhado no rosto de Blair.
Blair não se sentia muito sortuda.
Eleanor soltou Nate.
- A melhor parte é que vamos casar rápido. - Blair se virou para a mãe e piscou. – Vamos nos casar no sábado depois do Dia de Ação de Graças - continuou a mãe. – Só faltam três semanas!
Blair parou de piscar. No sábado depois da Ação de Graças?Mas era o aniversário dela. Seu aniversário de 17 anos.
- Vai ser no St. Claire. E eu quero um monte de damas de honra. Minhas irmãs e suas amigas. É claro que você será a principal. Você pode me ajudar a planejar tudo. Vai ser tão divertido, Blair - disse sua mãe sem fôlego. - Eu simplesmente adoro festas de casamento!
- Tudo bem - respondeu Blair, a voz sem emoção nenhuma. - Devo contar ao papai?
A sra. Waldorf se interrompeu, lembrando.
- Como está seu pai? - perguntou ela, ainda radiante. Nada ia abafar sua alegria.
- Ótimo. - Blair deu de ombros. - Ele me deu um par de sapatos. E um bolo muito legal.
- Bolo? - perguntou Cyrus, ansioso.
Porco, pensou Blair. Pelo menos o pai lhe tinha dado uma festa de aniversário, porque parecia que a verdadeira não ia ser lá muito divertida.
- Desculpe por não ter trazido nada para casa – disse ela. - Eu esqueci.
Eleanor passou a mão nos quadris.
- Bem, não vamos comer, de qualquer jeito. A noiva tem de cuidar da forma! - Olhou para Cyrus e deu uma risadinha.
- Mãe?
- Sim, querida?
- Você se importa se o Nate e eu voltarmos para o quarto e ver um pouco de TV? - perguntou Blair.
- Claro que não. Vá em frente - disse sua mãe, sorrindo com malícia para Nate.
Cyrus piscou para eles.
- Boa noite, Blair. Boa noite, Nate.
- Boa noite, sr. Rose. - Nate seguiu Blair de volta para a cama.
No minuto em que Nate fechou a porta, Blair se atirou na cama de cara para baixo, a cabeça enterrada nos braços.
- Vamos lá, Blair - instou Nate, sentando-se na ponta da cama e massageando os pés dela. - Cyrus é legal. Quer dizer, podia ser pior, né? Ele podia ser um babaca total.
- Ele é um babaca total- murmurou Blair. - Eu odeio esse cara. - De repente ela queria que Nate a deixasse sozinha para sofrer. Ele não podia entender; ninguém podia.
Nate se deitou ao lado dela e agitou seu cabelo.
- E eu, eu sou um babaca total? - perguntou ele.
- Não.
- Você me odeia?
- Não.
- Vem cá. - disse Nate, puxando o braço dela.
Ele a puxou para si e passou as mãos por baixo da blusa de moletom de Blair, esperando que voltassem ao que tinham interrompido. Ele a beijou no pescoço.
Blair fechou os olhos e tentou relaxar. Podia fazer isso. Podia ir em frente e transar e ter milhões de orgasmos apesar de sua mãe e Cyrus estarem no quarto ao lado. Ela podia.
Só que não podia. Blair queria que sua primeira vez fosse perfeita, e isso não era nada perfeito. Sua mãe e Cyrus provavelmente estavam se agarrando na cama agora. Só de pensar nisso ela sentiu como se tivesse lesmas se arrastando pela pele.
Estava errado. Tudo estava errado. Sua vida era um desastre completo.
Blair se afastou de Nate e enterrou a cara no travesseiro.
- Desculpe - disse ela, embora não lamentasse muito.
Não era o momento para os prazeres da carne. Ela se sentia como Joana d'Arc interpretada por Ingrid Bergman no filme original- uma bonita e intocável mártir.
Nate voltou a afagar os cabelos e as costas de Blair, esperando que ela mudasse de idéia. Mas Blair continuava com a cara teimosamente enfiada no travesseiro. Nate não conseguiu deixar de se perguntar se algum dia ela teve a intenção de transar com ele.
Depois de alguns minutos Nate parou de acariciar as costas dela e se levantou. Era tarde, e ele estava ficando cansado e entediado.
- Tenho de ir para casa.
Blair fingiu que não ouviu. Estava presa demais ao drama de sua infelicidade.
- Me liga - disse Nate.
E depois saiu.
s está decidida a continuar feliz
Na manha de sábado, Serena acordou com o som da voz da mãe.
- Serena? Posso entrar?
- Que foi? - Serena sentou-se na cama. Ela ainda não se acostumara a morar novamente com os pais. Era meio enjoado.
A porta se abriu alguns centímetros.
- Tenho uma novidade para contar a você.
Serena não se importava que a mãe a tivesse acordado, mas não queria que a mãe pensasse que podia entrar em seu quarto sem ser convidada a qualquer hora.
- Tudo bem - disse ela, parecendo mais aborrecida do que realmente estava.
A sra. van der Woodsen entrou e se sentou na beira da cama.
Usava um vestido de seda azul-marinho Oscar de la Renta e chinelos azul-marinho de seda combinando. Os cabelos louros e ondulados, com luzes, estavam puxados para cima em um coque frouxo no alto da cabeça e a pele clara tinha um brilho perolado de anos de uso de creme para pele La Mer. Ela cheirava a Chanel nº5.
Serena trouxe os joelhos até o queixo e cobriu as pernas com o edredom.
- Que foi?
- Eleanor Waldorf acaba de me ligar - disse sua mãe. - E adivinha só?
Serena revirou os olhos para a tentativa da mãe de fazer suspense.
- O que é?
- Ela vai se casar.
- Com aquele cara, o Cyrus?
- Claro que sim. Com quem mais ela se casaria? – A mãe espanou farelos imaginários de seu vestido.
- Sei lá. - Serena franziu a testa, perguntando-se como
Blair teria recebido a notícia. Provavelmente não muito bem. Embora Blair não esteja sendo muito legal ultimamente, Serena ainda podia se solidarizar com a velha amiga.
- O estranho é que - continuou a sra. van der Woodsen - eles vão fazer tudo num estalo. - Ela estalou os dedos cheios de jóias.
- Como assim?
- No fim de semana da Ação de Graças - sussurrou a mãe e ergueu as sobrancelhas para destacar que isso era realmente muito estranho. - No sábado depois do Dia de Ação de Graças. É a data do casamento. E ela quer que você seja uma das damas de honra. Tenho certeza de que Blair vai lhe dar todos os detalhes. Ela é a primeira dama de honra.
A sra. van der Woodsen se levantou e começou a endireitar os frascos de perfume Creed espalhados, caixinhas de jóias Tiffany e tubos de maquiagem Stila na penteadeira de Serena.
- Não faça isso, mãe - queixou-se Serena e fechou os olhos.
O sábado de Ação de Graças. Só daqui a três semanas. E era também o aniversário da Blair, percebeu Serena. Coitadinha da Blair. Ela adorava o dia de seu aniversário. Era o dia dela. Mas obviamente não este ano.
E que negócio e esse de ser dama de honra quando Blair ia ser a primeira? Será que Blair a faria usar de propósito um vestido que não cabia nela? Ela ia malhar o champanha com mais álcool? Fazê-la andar pela nave central com Chuck Bass, o garoto mais nojento de seu velho círculo de amigos? Era esquisito demais para imaginar.
A mãe se sentou novamente na cama e afagou o cabelo de Serena.
- Qual é o problema, querida? - perguntou ela, meio preocupada. - Achei que você ficaria animada em ser dama de honra.
Serena abriu os olhos.
- Estou com dor de cabeça, é isso - suspirou ela, puxando o edredom. - Acho que vou ficar deitada aqui e ver TV um pouquinho, tá bom?
A sra. van der Woodsen deu tapinhas no pé da filha.
- Tudo bem. Vou mandar Deidre com café e suco para você. Acho que ela trouxe uns croissants também.
- Obrigada, mãe.
A mãe de Serena se levantou e saiu pela porta. Parou e se virou para dar um sorriso luminoso para a filha.
- Os casamentos no outono são sempre tão adoráveis. Acho isso muito empolgante.
É - disse Serena, afofando o travesseiro. - Vai ser ótimo.
A mãe dela saiu. Serena rolou na cama e olhou pela janela por um minuto, vendo os pássaros voarem da copa das árvores cor de bronze que cercavam o telhado do Met. Depois pegou o telefone e pressionou o botão de discagem rápida do irmão Erik na Brown. Sempre que precisava ser tranqüilizada, era o primeiro botão que pressionava. Com a outra mão ela ligou a TV pelo controle remoto. Bob Esponja passava no Nickelodeon. Ela olhou para a TV sem ver, ouvindo o telefone tocar três vezes, depois quatro.
No sexto toque, Erik atendeu.
- Alô?
- Oi. O que você tá fazendo acordado?
- Não estou acordado - disse Erik. Ele tossiu alto. - Ah, cara.
Serena deu uma risadinha.
- Desculpe. Noite pesada, hein?
Erik murmurou em resposta.
- E aí, eu estou ligando porque descobri que a mãe da Blair vai se casar com aquele cara, o Cyrus. Eu nem acho que eles tenham se conhecido assim há tanto tempo, mas enfim.
De qualquer forma, tenho de ser uma das damas de honra, e Blair vai ser a primeira, o que significa... eu não sei o que significa. Mas tenho certeza absoluta de que a coisa vai feder.
Ela esperou que Erik respondesse.
- Acho que você está com ressaca demais para falar sobre isso agora, né?
- Meio assim - resmungou Erik.
- Tá legal, tudo bem. Eu te ligo mais tarde - disse Serena, decepcionada. - Ei, eu estava pensando em te visitar um dia desses. Que tal no fim de semana?
- Tudo bem - gemeu Erik.
- Tá legal. Tchau. Serena desligou.
Ela saiu de sob os cobertores, levantou-se e se arrastou para o banheiro. Os shorts cinza caíam na bunda, e sua camiseta Mr. Bubble estava torcida e caindo em um ombro. Os cabelos louros lisos estavam colados na parte de trás da cabeça, e uma linha fina de baba tinha secado na bochecha.
É claro que ela ainda estava gostosa.
- Baleia - disse Serena para seu reflexo. Pegou a escova de dentes e começou a escovar lentamente, pensando em Erik.
Apesar de ele dar a impressão de ter caído numa farra maior que a de Serena, ele conseguiu não ser expulso do internato e tinha ido para a Brown. Erik era o filho bom, enquanto Serena era a filha ruim. Era tão injusto.
Ela franziu as sobrancelhas de um jeito decidido enquanto esfregava os molares.
E daí que ela tenha sido expulsa do internato, que suas notas fossem medíocres e que sua atividade extracurricular fosse aquele filme esquisito que fizera para o festival de cinema do terceiro ano da Constance Billard School? Ela ia mostrar a todo mundo que não era tão ruim como eles pensavam.
Ia mostrar a eles indo para uma boa universidade como a Brown e se tornando alguém.
Não que ela já não fosse alguém. Serena era a garota de que todo mundo se lembrava. Aquela que todos odiavam. Ela não precisa tentar brilhar: já brilhava mais forte do que todos os outros.
Serena cuspiu um monte de creme dental na pia.
Sim, ela definitivamente iria a Brown no próximo fim de semana, mesmo que fosse um tiro no escuro. Ela podia ter sorte. Em geral, tinha.
um sortudo e uma solitária do west side
- Anormal - sussurrou Jenny Humphrey para seu reflexo.
Ela estava diante do espelho prendendo a respiração e estufando a barriga o máximo que podia. A barriga ainda não chegava aos peitos, que eram enormes para uma menina da sétima serie. A camisola cor-de-rosa caia em um triângulo feito uma tenda dos peitos aos joelhos, escondendo a barriga protuberante e as perninhas curtas. Ela crescia para os lados em vez depara cima, como Serena van der Woodsen, a terceiranista da Constance Billard que Jenny idolatrava. Os peitos de Jenny eliminavam qualquer esperança de chegar a parecer remotamente cool, como Serena. Eram a ruína de sua existência.
Jenny soltou a respiração e puxou a camisola sobre a cabeça para que pudesse experimentar o novo top preto que tinha comprado na Urban Outfitters depois da escola ontem. Ela o puxou sobre os ombros e para baixo, pelos peitos, e olhou o reflexo. Não tinha mais dois peitos gigantescos, agora era uma lesma-monstro de um peito só. Parecia deformada.
Empurrando os cabelos castanhos e crespos para trás das orelhas, Jenny se afastou do espelho, revoltada. Vestiu uma velha calça de moletom da Constance Billard e foi para a cozinha tomar um chá. Seu irmão mais velho, Dan, estava saindo do quarto. Ele sempre estava pavoroso de manhã, os cabelos desgrenhados e os olhos remelentos. Mas esta manhã os olhos dele estavam imensos e brilhantes, como se ele tivesse passado a noite toda bebendo café.
- E aí? – cumprimentou Jenny enquanto entravam na cozinha.
Ela observou como Dan colocou algumas colheres de café instantâneo em uma caneca e jogou água fervente nela. Ele não parecia saber exatamente quanto café tinha na caneca.
Ficou parado perto da pia, mexendo em silêncio aquela coisa com uma colher, olhando a espuma marrom girar e girar.
- Eu sei que você saiu com a Serena ontem a noite.- Jenny cruzou os braços, impaciente. – E aí, qual foi? Foi maravilhoso? O que ela estava vestindo? O que vocês fizeram? O que ela disse?
Dan bebeu um gole do café. Jenny sempre ficava meio excitada demais quando se tratava de Serena. Ele gostava de irritá-la.
- Ah, qual é, me conta alguma coisa. O que vocês fizeram? – insistiu Jenny.
Dan deu de ombros.
- Tomamos sorvete.
Jenny colocou as mãos nos quadris.
- Caraca. Que babacão.
Dan sorriu. Ele não ligava se isso deixava a irmã maluca; não ia revelar nada da noite passada. Era preciosa demais, especialmente a parte do beijo. Na verdade, ele acabara de escrever um poema sobre isso para saborear tudo para sempre. Ele intitulou o poema de "Doce".
- E o que mais? O que vocês fizeram? O que ela disse?
Dan colocou mais água quente na caneca.
- Sei lá... - Ele começou a dizer e o telefone tocou. Dan eJ enny saltaram para atender. Mas Dan foi mais rápido.
- Oi, Dan, é Serena.
Dan apertou o fone na orelha e saiu da cozinha, indo para a cadeira da janela do estúdio. Através da vidraça empoeirada ele podia ver as crianças andando de patins no Riverside Park e o sol de outono brilhando no rio Hudson mais além. Dan inspirou profunda e tranqüilamente.
- Oi.
- Olha só - começou Serena. - Eu sei que é uma coisa meio esquisita de se pedir, mas eu tenho de ser dama de honra num casamentão daqui a três semanas, e eu estava me perguntando se você gostaria de ir comigo, sabe como é, como meu acompanhante.
- Claro - disse Dan, antes que ela falasse mais alguma coisa.
- É o casamento da mãe da Blair Waldorf. Sabe quem é, a garota que era minha amiga?
- Claro - disse Dan novamente. Parecia que Serena não só queria que ele fosse com ela, mas precisava que ele fosse, para dar apoio moral. Isso fez com que Dan se sentisse importante e lhe deu coragem. Ele baixou o tom da voz a um sussurro que mal se podia ouvir, para o caso de Jenny estar escutando no outro cômodo. - E também gostaria mesmo de ir a Brown com você. Se estiver tudo bem.
- Claro - disse Serena e fez uma pausa. - Hmmm, acho que vamos na sexta depois da escola. Só tenho dois tempos de aula na sexta. E você?
Parecia que ela se esquecera de tê-lo convidado para ir com ela. Mas Dan concluiu que ouvira mal.
- Eu saio da escola às duas horas na sexta-feira – explicou ele.
- Tá legal, então pode me encontrar na Grand Central. Vou pegar o trem para nossa casa de campo em Ridgefield e lá pego o carro do caseiro.
- Parece legal.
- Vai ser ótimo. - Serena pareceu um pouco mais entusiasmada. - Então, obrigada por concordar em ir comigo ao casamento. Vai ser divertido.
- Assim espero. - Dan não via como não podia ser divertido com ela. Mas ele tinha de encontrar alguma coisa decente para vestir. Devia ter comprado aquele smoking da Barneys, afinal.
- Hmmm, é melhor eu ir. A empregada está gritando para eu tomar o café da manhã. Então eu te ligo mais tarde, e podemos fazer os planos para o fim de semana, tá legal?
- Tá.
- Tchau.
- Tchau - disse Dan e desligou, antes que pudesse dizer outra coisa: Eu te amo.
- Era ela, né? - perguntou Jenny, quando Dan voltou a cozinha.
Dan deu de ombros.
- O que ela disse?
- Nada.
- Ah, tá. Você estava cochichando - acusou Jenny.
Dan pegou um bagel de um saco de papel na bancada da cozinha e o olhou. Surpresaaaaa! Estava mofado. Seu pai não era o melhor dono-de-casa do mundo. Era difícil lembrar de comprar comida ou limpar o chão quando se está ocupado escrevendo ensaios sobre por que algum poeta que ninguém conhecia era o próximo Allen Ginsberg. Na maior parte do tempo Dan e Jenny sobreviviam de comida chinesa delivery.
Dan jogou fora o saco de bagels mofados e encontrou um saco de batatas fritas fechado no armário. Abriu-o e enfiou um punhado na boca. Era melhor do que nada.
Jenny fez uma careta para ele.
- Você tem de ser um idiota tão irritante? Eu já sei que era Serena no telefone. Por que não pode me contar o que ela disse?
- Ela quer que eu vá a um casamento com ela. A mãe daquela garota, a Blair, vai se casar e Serena vai ser dama de honra. Ela quer que eu esteja lá com ela - explicou Dan.
- Você vai no casamento da sra. Waldorf? – engasgou Jenny. - Onde vai ser?
Dan deu de ombros.
- Sei lá, não perguntei.
Jenny se encrespou.
- Não acredito. É tipo assim, todo esse tempo você e papai foram tão totalmente contra aquelas garotas fantásticas da minha escola e as famílias chiques delas. E agora você está saindo com a rainha de todas elas e é convidado para casamentos incríveis. É tão injusto!
Dan enfiou outro punhado de fritas na boca.
- Desculpa - disse ele com a boca cheia.
- Bom, só espero que você não tenha esquecido que fui eu que, de certa forma, disse que você tinha uma chance com a Serena - irritou-se Jenny. Atirou o saquinho de chá usado com raiva na pia. -Já percebeu que o casamento vai ser tipo Vogue? Nem acredito que você vai.
Mas Dan mal estava ouvindo. Em sua mente ele estava num trem, de mãos dadas com Serena e olhando no azul profundo dos olhos dela.
- Ela falou alguma coisa sobre amanhã? - perguntou-lhe Jenny.
Dan a encarou com os olhos inexpressivos.
- Eu, a Vanessa e a Serena temos de nos encontrar no bar do namorado da Vanessa em Williamsburg para ver o filme que ajudamos Serena a fazer para o festival de cinema da Constance. Para ter certeza de que saiu tudo bem.
Outro olhar vazio.
- Achei que talvez ela tivesse te convidado.
Nenhuma resposta.
Jenny suspirou, exasperada. Dan era um caso perdido, percebeu ela, tão totalmente doente de amor que ela bem podia esquecer sobre tentar arrancar alguma informação dele. Ele nem tinha perguntado por que ela estava usando um top preto pela casa em uma manhã de sábado. De repente Jenny se sentiu extremamente sozinha. Ela sempre dependeu da companhia do irmão, e agora ele estava cagando para ela.
Ela definitivamente precisava fazer outros amigos.
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advertência: todos os nomes verdadeiros de lugares, pessoas e fatos foram abreviados para proteger os inocentes. Quer dizer, eu.

oi, gente!
O CASAMENTO DO ANO
Esta época do ano em geral é meio paradona, sem nada acontecendo até os feriados. Mas a mãe de B deu a todos nós um motive para fofocar. Quer dizer, há quanto tempo ela e o namorado se conhecem? Tipo dois ou três meses? Se eu tivesse de passar o resto da minha vida com alguém, ou até o fim de semana, eu ia querer conhecer esse alguém melhor do que isso. De qualquer forma, eu soube que ele é seriamente brega, e por isso o casamento definitivamente vai ser digno de uma olhada. E como é que B vai se divertir se terá de lidar com S?? Estou sentindo cheiro de briga de mulher, e não vai ser nada bonito. Eba! Mal posso esperar!

Seu e-mail
P: Oi, GG!
Não sei se você já sabe disso, mas B vai ter um novo meio-irmão. Sou da sala dele na escola, e ele é meio avoado. Mas também é uma gracinha. ;)
   - BronxKat
R: Cara BronxKat,
Só o que posso dizer é que toda essa história do casamento está ficando cada vez melhor!
  - GG

P: cara gg
Eu soube que o pai de B deu tipo um milhão de dólares a Yale para ela não ter de se esforçar muito para entrar lá.
De qq forma, aposto que n e b não vão terminar na mesma universidade no ano que vem. O que você acha?
  - bookwrm
R: Cara bookwrm,
Eu não apostaria nisso. B é mais imprevisível do que parece...
  -GG

E POR FALAR EM FACULDADE...
Agora é a hora em que todos devemos enlouquecer, procurando por todas as fotos nos catálogos de universidades a que nos candidatamos, imaginando-nos batendo papo com gostosões em gramados verdes na frente de enormes prédios marfim. Agora é a hora em que a gente devia olhar para o passado, para todas aquelas provas em que a gente se ferrou ou o trabalho voluntário que não fizemos e dar um chute na gente mesmo por ser tão imbecil e preguiçosa. Agora é a hora em que os piegas estão tomando decisões precipitadas e fazendo com que nós, pessoas normais, nos sintamos uma merda. Bem, eu me recuso a me deixar levar por isso. Aqui está minha receita para administrar o estresse do terceiro ano: Misture um garoto bonito com um par bem legal de botas de couro, um suéter de cashmere novo, uma boa balada e vários drinques. Agite em uma manhã bem tarde com chocolate quente na cama. Comece a trabalhar nas requisições para as universidades quando você ficar boa e estiver pronta.
Tá vendo? Não há necessidade de ficar assim tão estressada.
Flagra
N na Asphalt Green, jogando tênis com o pai. B no cinema na 86, vendo algum filme de ação com o irmãozinho. Imagina B vendo uns caras se matando de helicópteros em chamas em vez de ficar em casa com a mamãe, discutindo vestidos e bolos e bufês para festas. S comprando perfume na Barneys. Eu juro que essa garota está lá praticamente todo dia. D rabiscando em um caderno no pier da rua 79. Outro poema de amor sobre S, quem sabe? J devolvendo um top preto na Urban Outfitters.
Vem mais por aí!
Pra você que me ama,
Gossip Girl
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b está decidida a fazer com que n a queira
- Venha comer umas panquecas, querida - chamou a sra. Waldorf do corredor, esperando desenterrar Blair do quarto. - Pedi a Myrtle para faze-las delicadas e finas, do jeito que você gosta.
Blair abriu a porta do quarto e colocou a cabeça para fora.
- Peraí. Estou me vestindo.
- Não precisa, querida. Cyrus e eu ainda estamos de pijama - disse a mãe de Blair, toda animada. Ela amarrou novamente o cinto do robe de seda verde. Cyrus estava usando um igual. Eles os compraram ontem na Saks depois de ver alianças de casamento na Cartier. Depois foram para o escuro e aconchegante bar King Cole no St. Regis Hotel para beber champanha. Cyrus chegou a brincar em pegar um quarto. Foi tão romântico.
Indecente.
- Peraí - repetiu Blair obstinada, e sua mãe se retirou para a sala de jantar. Blair se sentou na beira da cama, olhando o reflexo no espelho do armário. Tinha mentido para a mãe.
Na verdade, tinha acordado há horas e já estava completamente vestida de jeans, uma blusa de gola rulê preta e botas. Tinha até pintado as unhas de marrrom-escuro para combinar com seu humor.
Espelho, espelho meu, existe alguém mais linda do que eu? Claro que sim - pelo menos hoje.
Ela passou o sábado todo irritada. Depois foi para a cama irritada e acordou irritada na manhã de domingo. Na verdade, parecia que ia passar o resto da vida irritada. Nate não tentara vê-la desde a sexta a noite, então obviamente ele estava mais que um pouco decepcionado com o que aconteceu. Ela ainda era virgem. Sua mãe ia se casar com um idiota detestável.
E a data que eles escolheram para o casamento seria o aniversário mais importante da vida de Blair.
Ah, sim, a vida dela definitivamente estava um belo dum porre.
Como não podia ficar pior do que já estava, e como Blair estava com fome, ela se levantou e foi para a sala de jantar comer panquecas com a mãe e Cyrus.
- Aí está ela - retumbou Cyrus em voz alta. Ele deu palmadinhas na cadeira ao lado dele.  - Vem, senta aqui.
Blair fez o que lhe disseram. Pegou a travessa cheia de panquecas e colocou algumas no prato.
- Não pegue a que tem um buraco no meio - disse seu irmão de 11 anos, Tyler. - É minha. - Tyler vestia uma camiseta do Led Zeppelin e tinha uma bandana vermelha na cabeça. Ele queria ser jornalista de rock e seu modelo era Cameron Crowe, o cineasta que fez uma turnê com o Led Zeppelin quando tinha 15 anos. Tyler tinha uma coleção enorme de vinil e guardava um cachimbo de haxixe velho embaixo da cama. Não que ele o usasse. Blair se preocupava que Tyler se transformasse num anormal que ia ter problemas para arranjar amigos. Seus pais achavam isso bonitinho, desde que ele usasse o terno Brooks Brothers da St. George's toda manhã como um bom menino e fosse para um internato.
No mundo de Blair e seus amigos, os pais de todo mundo eram assim - desde que os filhos não os ferrassem nem os constrangessem, eles basicamente podiam fazer o que quisessem.
Na verdade, esse foi o erro que Serena cometeu. Ela foi apanhada se ferrando, e ser apanhada era inaceitável. Ela devia saber disso.
Blair despejou mel nas panquecas e enrolou cada uma delas como um burrito, como gostava de comê-las.
Sua mãe pegou uma uva da fruteira e colocou na boca de Cyrus. Ele murmurou feliz enquanto a mastigava e engolia. Depois ele franziu os lábios como um peixe, pedindo mais. A sra. Waldorf deu uma risadinha e o alimentou com outra. Blair rolou os burritos de panqueca no mel, ignorando aquela exibição revoltante.
- Falei ao telefone com o homem do St. Claire a manhã toda. Ele é muito empolado e muito preocupado com a decoração. É hilariante.
- Empolado? Quer dizer gay. Não tem problema falar "gay", mãe - disse Blair.
- Sim, bem... - A mãe gaguejou, sem graça. Ela não gostava de usar a palavra gay. Não depois de ter sido casada com um - era humilhante demais.
- Estamos tentando decidir se devemos reservar alguns quartos no hotel - interveio Cyrus. - Vocês, meninas, podem usar um para trocar de roupa e fazer o cabelo. E, quem sabe... alguns convidados podem ficar tão bêbados que podem desabar até de manhã. - Ele riu e piscou para a mãe de Blair.
Quartos?
De repente Blair teve uma idéia. Ela e Nate podiam pegar um quarto! Que lugar e dia mais perfeitos para perder a virgindade do que em um quarto no St. Claire no dia de seu aniversário de 17 anos?
Blair baixou o garfo, limpou delicadamente os cantos da boca com o guardanapo e sorriu com doçura para a mãe.
- Vocês podem reservar um quarto para mim e para meus amigos? - perguntou ela.
- É claro que podemos. É uma boa idéia.
- Obrigada, mãe. - Blair sorriu animada para sua xícara de café. Ela mal podia esperar para contar a Nate.
- Há muita coisa a ser feita. - Eleanor estava ansiosa. - Andei fazendo listas enquanto dormia.
Cyrus pegou a mão dela e a beijou. O diamante brilhou no dedo dela.
- Não se preocupe, coelhinha - disse Cyrus, como se estivesse falando com uma criança de dois anos.
Blair pegou um rolo de panqueca pingando mel nos dedos e enfiou na boca.
- É claro que quero sua opinião em tudo, Blair – tornou a mãe. - Você tem um bom gosto extraordinário.
Blair deu de ombros e mastigou, as bochechas salientes.
- E mal podemos esperar para você conhecer o Aaron - disse Eleanor.
Blair parou de mastigar.
- Quem é Aaron? - perguntou ela com a boca cheia.
- Meu filho, Aaron - respondeu Cyrus. - Você sabia que eu tinha um filho, não sabia, Blair?
Blair sacudiu a cabeça. Ela não sabia de nada sobre Cyrus. Ele podia muito bem ter estado vagando pela rua e pedido sua mãe em casamento. Quanto menos ela soubesse dele melhor.
- É do terceiro ano da Bronxdale Prep. Garoto inteligente. Pulou a oitava série. Ele só tem 16 anos,já está concluindo o secundário e vai para a faculdade! - anunciou Cyrus, orgulhoso.
- Não é impressionante? - concordou a mãe de Blair. - E ele é tão boa-pinta também.
- Isso ele é - concordou Cyrus. - Ele vai te deixar maluca.
Blair pegou outra panqueca da travessa. Não ligava de ouvir a mãe e Cyrus tagarelando sobre algum cara esquisito que pulava séries por pura diversão. Ela podia imaginar Aaron com exatidão: uma versão magricela de Cyrus, com espinhas, cabelo seboso, braceletes e roupas horrorosas. O pituquinho do papai.
- Ei, essa aí é minha! - reclamou Tyler, tinindo o garfo de Blair com sua faca. - Larga.
Blair agora podia ver que a panqueca que ela pegara tinha um buraco do tamanho de um dedo no meio.
- Desculpe - disse ela e passou o prato pela mesa para Tyler. - Pega aí.
- Então, vai ficar em casa hoje e me ajudar? – perguntou sua mãe. - Peguei um monte de revistas e livros de casamento para a gente ver.
Blair empurrou a cadeira para trás abruptamente. Não podia pensar numa forma pior de passar o dia.
- Desculpe. Já tenho compromisso.
Era mentira, mas Blair tinha certeza de que assim que terminasse de conversar com Nate, ela na verdade teria compromisso. Eles podiam ver um filme, ir andar no parque, sair por aí, planejar a noite no St. Claire...
Nada disso.
- Desculpe, vou encontrar Anthony e os caras no parque para jogar bola - disse Nate. - Eu te falei isso ontem.
- Não falou não. Ontem você falou que tinha de sair com seu pai. Você falou que talvez fizéssemos alguma coisa hoje - queixou-se Blair. - Eu não te vejo mais.
- Bom, estou indo para lá agora. Desculpe.
- Mas eu queria te contar uma coisa. Ela tentou parecer misteriosa.
- O quê?
- Eu só posso contar pessoalmente.
- Ah, qual é, Blair - disse Nate com impaciência.- Eu tenho de ir.
- Tudo bem. Tá legal. O que eu queria te contar era que minha mãe e Cyrus vão reservar quartos no St. Claire para o casamento deles. E, como vai ser meu aniversário e tudo, eu achei que talvez seja o dia perfeito para a gente... sabe como é... fazer.
Nate ficou em silêncio.
- Nate? - perguntou Blair.
- Quê?
- E aí, o que é que você acha?
- Sei lá. Parece legal. Olha, eu tenho de ir, tá bom?
Blair apertou o fone na orelha.
- Nate? Você ainda me ama?
Mas Nate já estava desligando.
- Te ligo mais tarde, tá? - disse ele. - Tchau.
Blair desligou e olhou o tapete persa no chão do quarto, as panquecas revirando-se desagradavelmente no estômago.
Mas, antes que conseguisse pensar em enfiar o dedo na garganta, ela teve uma idéia.
Não ia ver Nate hoje, e eles provavelmente não se veriam durante a semana, com as mil e uma atividades extracurriculares dela e os esportes dele. E no fim de semana que vem ela ia a Yale e ele a Brown. Ela não podia deixar passar toda uma semana com Nate irritado com ela por ter estragado a sexta a noite e com sua preocupação com ele estar irritado com ela. Blair tinha de fazer alguma coisa.
Se ao menos ela e Nate pudessem ter o tipo de briga romântica que os casais tem nos filmes. Primeiro gritariam coisas dolorosas um com o outro ate que ela começasse a chorar. Ela pegaria a bolsa e o casaco, atrapalhando-se com os botões por estar tão aborrecida. Depois, quando ela estivesse abrindo a porta da frente toda abalada, preparando-se para sair da vida dele para sempre, ele chegaria por trás dela e a abraçaria, apertando-a. Ela se viraria e olharia curiosa para ele por um momento e depois eles se beijariam com paixão. No fim, ele implorava para ela ficar e depois fariam amor.
A realidade era muito mais chata, mas Blair sabia como apimentar as coisas.
Ela se imaginou andando para a casa de Nate vestida num longo casaco preto, um lenço de seda envolvendo a cabeça, o rosto disfarçado por óculos de sol Chanel. Ela deixaria um presente especial para Nate, depois desapareceria na noite.
Quando ele abrisse o presente, sentiria seu perfume e ansiaria por ela.
Esquecendo-se completamente de forçar o vômito, Blair se levantou e pegou a bolsa, pronta para ir a Barneys.
Mas o que você faz para um cara se lembrar de que a ama e quer você mais do que nunca?
Hmmmm... Parada dura, essa.
pega ladrão
- E aí, me diz por que está me ligando de novo – perguntou Erik, rabugento.
- É um prazer conversar com você também – brincou Serena. - Só estou ligando para avisar que vou definitivamente a Brown no fim de semana. Tenho uma entrevista marcada para o sábado ao meio-dia.
- Tudo bem - disse Erik. - Em geral temos uma festa no sábado a noite. Espero que você não se importe.
- Me importar? - Serena riu. - É perfeito. Ah, e provavelmente vou levar um amigo.
- Que tipo de amigo?
- Só aquele cara, o Dan, com quem andei saindo. Você vai gostar dele, eu prometo.
- Legal. Olha, eu tô meio ocupado. Tenho de ir.
Serena percebeu que era mais provável que Erik não estivesse sozinho. Ele sempre tinha pelo menos três namoradas com quem dormia em sistema de rodízio.
- Você é um galinha. Tudo bem. Te vejo depois. – Serena desligou. Ela se levantou, foi até o armário e abriu a porta para se vestir.
Dentro dele estavam todas as mesmas roupas chatas que ela sempre vestiu. Mas ela ia para a faculdade no ano que vem, talvez até a Brown. Não merecia comprar alguma coisa nova?
Puxou um par surrado de jeans Diesel e um suéter de cashmere preto, aprontando-se para ir ao lugar que mais gostava em todo o mundo: a Barneys.
Quando chegou lá, a Barneys já estava lotada de moradores do Upper East Side que vagavam por ali, incapazes de resistir.
O pavimento zunindo e brilhantemente iluminado, as caixas de vidro cheias de jóias únicas, luvas lindas e bolsas exclusivas faziam com que todo dia parecesse Natal. No balcão da Creed, Serena admirou os lindos frascos de perfume com o mesmo deleite de uma criancinha numa loja de brinquedos.
Passando ao balcão da Kiehl, ela ficou tentada por um frasco de máscara para o rosto de argila natural para hidratação profunda. É claro que Serena já tinha produtos de beleza em número suficiente para durar anos, mas ela adorava experimentar novos. Era meio que um vício.
Não há nada de errado nisso. Definitivamente, existem vícios piores.
Serena estava prestes a perguntar ao homem por trás do balcão se a máscara era adequada para a sua pele, que tendia para seca, quando percebeu uma figura conhecida andando decidida pela loja até o departamento masculino.
Era Blair Waldorf. Serena baixou o frasco de máscara e a seguiu.
Blair não tinha certeza se a Barneys teria o que ela procurava, mas isso porque ela não sabia o que estava procurando.
Nate não ia ficar impressionado com um suéter novo nem com um par legal de luvas de couro. Blair tinha de encontrar alguma coisa única. Sexy, sem ser sentimentalóide. Tinha de ter classe. E tinha de lembrar a Nate que ele ainda a amava e a queria. Blair foi direto para o departamento de roupas íntimas.
Primeiro encontrou uma mesa coberta com uma variedade de shorts de algodão coloridos. Depois havia estantes de roupões de banho felpudos e luxuosamente macios e pijamas de flanela, prateleiras cheias de caixas de bermudas despretensiosas e cuequinhas cavadas com tiras de couro. Nada disso ia servir. Depois Blair foi atraída para uma estante de calças de pijama de cashemere cinza amarradas na cintura.
Ela puxou uma e a ergueu. MADE IN ENGLAND, dizia a etiqueta. Preço: $ 360 d6lares. Era esporte, mas sofisticada. Bonita, mas tão macia e delicada que a idéia dessa calça roçando o corpo nu de Nate fazia Blair se sentir quase maternal.
Ela apertou a calça nas mãos e a encostou no rosto. O aroma de cashmere fina encheu suas narinas e ela fechou os olhos, imaginando Nate usando a calça sem a blusa, o peito perfeito exposto enquanto ele enchia uma taça de champanha em seu quarto no St. Claire.
Era definitivamente sensual. Não havia duvida sobre isso: Blair tinha de comprá-la.
Serena fingiu estar muito interessada em um roupão de banho Ralph Lauren felpudo e vermelho, tamanho extragrande.
Era grande o bastante para escondê-la de Blair, e a arara onde ele estava pendurado proporcionava uma visão total de Blair. Ela se perguntou se Blair estava comprando alguma coisa para Nate. Provavelmente. Cara de sorte: o pijama que ela olhava era lindo.
Nos velhos tempos, Blair teria pedido a Serena para ajudá-la a escolher um presente para Nate. Mas isso era passado.
- Está procurando um presente para alguém? – perguntou um vendedor, aproximando-se de Serena. Ele parecia um marombeiro, careca, bronzeado e praticamente arrebentando o terno.
- Não, eu... - Serena vacilou. Ela não queria que o homem começasse a arrastá-la pela loja, mostrando-lhe as coisas, correndo o risco de ser vista. - É. Para meu irmão. Ele precisa de um roupão novo.
- Desse tamanho? - perguntou o vendedor, apontando para o que ela estava olhando.
- É, é perfeito. Vou levar. - Os olhos de Serena dardejaram para Blair, que seguia para o balcão levando a calça de pijama. - Posso te dar meu cartão de crédito aqui?- perguntou Serena ao cara, virando-se para piscar os olhos azuis para ele. Tirou o cartão de crédito da carteira e entregou a ele.
- Sim, é claro. Ele tirou rapidamente o roupão do cabide e pegou o cartão. - Voltarei logo.
- É para presente - disse Blair ao homem por trás do balcão, entregando-lhe o cartão de crédito. O cartão tinha seu nome, mas não era realmente dela. Era adicional ao cartão da mãe. Os pais de Blair não lhe deram um cartão próprio, só deixavam que ela comprasse o que precisasse, dentro do razoável.
Uma calça de pijama de quase 400 dólares para Nate quando nem era Natal não recaía exatamente na categoria "dentro do razoável", mas Blair encontraria uma maneira de convencer a mãe de que a compra tinha sido absolutamente necessária.
- Desculpe, senhorita - disse-lhe o homem por trás do balcão -, mas seu cartão foi recusado. - Ele lhe passou o cartão de volta. - Há outro cartão que gostaria de usar?
- Recusado? - repetiu Blair. Seu rosto inflamou. Isso nunca tinha acontecido com ela. – Tem certeza?
- Sim. Toda certeza - tornou o homem. - Gostaria de usar o telefone para ligar para seu banco?
- Não, tudo bem. Eu volto aqui outra hora. – Colocou o cartão de volta na carteira, pegou a calça de pijama e se virou, voltando a prateleira onde a havia encontrado. A cashmere parecia tão macia em suas mãos que a deixava doente pensar em sair da loja sem levá-la. E o que é que tinha isso, alias? Não era que o dinheiro na conta de sua mãe tenha, tipo assim, acabado.
Mas ela não podia exatamente ligar para a mãe e perguntar a ela sobre isso, uma vez que mentira para sair de casa, dizendo que ia ver um filme com o Nate.
O homem tinha retirado a pesada etiqueta plástica de segurança, percebeu Blair antes de colocar a calça de pijama na prateleira. Ela também percebeu que havia montes de calças de pijama de cashmere cinza ali. Será que eles realmente se importariam se ela só...pegasse? Não que ela não tenha tentado pagar por ela. Além disso, ela já gastou muito dinheiro na Barneys. Merecia um presente de graça.
Serena esperou que o vendedor corpulento voltasse com o roupão que ela não queira ter comprado e o recibo de seu cartão de crédito. Observava Blair começar a colocar o pijama de volta no lugar e depois parar.
- Só vou precisar de sua assinatura no X - disse o vendedor a Serena. Ela se virou e ele lhe entregou uma grande sacola preta da Barneys com o roupão colocado elegantemente em uma caixa preta dentro dela.
Serena não conseguia acreditar. Blair estava roubando!
- Muito obrigada. - Serena se levantou, enfiou o recibo na mão do vendedor, pegou a sacola e foi para a saída.
Embora não tivesse feito nada errado, ver Blair roubando a fazia sentir-se como se tivesse feito. Ela estava louca para sair dali. Depois de abrir caminho para a rua, ela virou na Madison, andando rapidamente. A sacola batia em sua perna enquanto ela respirava o ar claro de outono as golfadas. Tinha ido a Barneys para procurar alguma coisa legal e divertida para si mesma e saiu com um roupão para homem tamanho GG.
O que estava fazendo espionando a Blair, afinal? E que diabos Blair estava fazendo roubando coisas? Era como se estivesse muito necessitada ou coisa parecida.
Entretanto, o segredo de Blair estava seguro com Serena. Ela não tinha ninguém para contar.
Blair saiu da Barneys e virou na Madison, o pulso acelerado. Nenhum alarme havia soado e ninguém a seguia. Ela conseguiu sair dessa! É claro que ela sabia que era errado roubar, especialmente quando se tinha muito dinheiro para pagar pelas coisas, mas ainda parecia meio estimulante fazer uma coisa tão totalmente ilegal. Era como interpretar a mulher fatal vila no filme, em vez da mocinha pura e certinha da casa ao lado. Além disso, foi só uma vez. Não é que ela fosse se transformar numa ladra ou coisa assim.
Depois ela viu uma coisa que a fez parar. No fim do quarteirão, os longos cabelos louros de Serena van der Woodsen brilhavam a luz do sol enquanto ela esperava que o sinal abrisse.
Uma grande sacola preta da Barneys estava pendurada em seu braço. E, assim que começou a atravessar a rua, ela se virou e olhou diretamente para Blair.
Blair abaixou a cabeça rapidamente, fingindo olhar seu Rolex. Merda, pensou ela. Será que ela me viu? Será que me viu pegando a calça de pijama?
Mantendo os olhos baixos, ela abriu a bolsa e pegou um cigarro. Quando olhou para cima novamente, Serena tinha atravessado a rua e estava sumindo na distância.
E daí se ela me viu?, disse Blair a si mesma. Acendeu um cigarro com os dedos nervosos. Serena podia ir em frente e bater para todo mundo que tinha visto Blair Waldorf roubando na Barneys, mas ninguém ia acreditar nela. Não é?
Enquanto andava, Blair enfiou a mão na bolsa e tocou a maciez da calça de pijama de cashmere. Mal podia esperar para Nate vesti-la. Assim que o fizesse, ele saberia exatamente como Blair se sentia a respeito de tudo, e ele a amaria mais do que nunca. Nada que Serena dissesse ia mudar isso.
Peraí, vá devagar. Dar presentes roubados a alguém era carma ruim. Pode se virar contra você das formas mais surpreendentes.
levando bolo no brooklyn
- Por que você está aqui? - perguntou Vanessa Abrams a Dan quando Dan e Jenny chegaram no The Five and Dime.
Dan deu de ombros.
- Eu queria ver como ficou o filme da Serena – respondeu ele, como se não fosse grande coisa.
Ah, tá, pensou Vanessa. É mais provável que tenha vindo para venerar a bunda ossuda da Serena.
- Serena ainda não chegou - disse ela a Jenny e Dan enquanto eles olhavam em volta. O bar mal iluminado estava quase vazio, com apenas uns caras de vinte e poucos anos sentados a uma mesa nos fundos lendo o Times de domingo e fumando cigarros.
- Mas é uma e meia. - Jenny olhou o relógio. – Agente devia se encontrar a uma hora da tarde.
Vanessa deu de ombros.
- Você sabe como a Serena é.
Era verdade, eles sabiam. Serena sempre estava atrasada.
Mas nem Dan nem Jenny se importavam. Era uma honra ser agraciado com a presença dela. Isso deixava Vanessa maluca.
Clark apareceu e passou os dedos no cabelo curto e preto de Vanessa.
- E aí, querem beber alguma coisa? - ofereceu ele.
Vanessa sorriu para ele. Ela adorava quando Clark a tocava na frente de Dan. Era bem feito para Dan. Clark era o bartender do Five and Dime, o bar na mesma rua em que ficava o apartamento que Vanessa dividia com a irmã mais velha, Ruby.
Clark estava com 22 anos. Tinha costeletas vermelhas e lindos olhos verdes, e era o único cara que ela conhecia que não a fazia se sentir pálida, gorducha e estranha. Todo esse tempo Vanessa pensava que Clark estava a fim de Ruby, sua irmã mais velha legal, a baixista que usava calça de couro cuja banda tocava no bar. Mas era Vanessa que Clark queria. ''Você é diferente", disse-lhe ele. "Eu adoro isso."
E Vanessa era mesmo diferente. Era definitivamente muitíssimo diferente das colegas de turma na Constance Billard School for Girls. Elas moravam com os pais riquinhos em coberturas na Quinta Avenida. Vanessa morava em um apartamentinho nos altos de uma bodega espanhola em Williamsburg, no Brooklyn. Ela foi criada em Vermont, mas quando fez 15 anos implorou e insistiu até que os pais artistas cederam e a mandaram para Nova York, para morar com Ruby.
A única condição era que tivesse uma boa e sólida educação na escola de elite Constance Billard. As colegas de Vanessa na escola não sabiam bem o que fazer com ela. Enquanto cuidavam de seus interesses e compravam na Barneys ou na Bendel's, Vanessa raspava a própria cabeça com barbeadores elétricos e procurava jeans e camisetas baratas sem grife, que eram sempre totalmente pretos e totalmente nada femininos.
Vanessa conheceu Dan quando os dois ficaram presos num poço de escada, trancados por fora em uma festa idiota na oitava série, e eles ficaram amigos desde então. No ano passado, Vanessa e Dan passaram muito tempo juntos, e Vanessa ficou terrivelmente a fim dele. Mas Dan só tinha olhos para uma garota: Serena van der Woodsen.
Vanessa teve sorte em Clark descobri-la, pois ela estava tentando superar Dan, mas era difícil. Toda vez que via o rosto desgrenhado e pálido de Dan e suas mãos que tremiam quase como um passarinho, ela se sentia tonta. Dan, é claro, não estava nem aí. Ele só era legal com Vanessa e a ignorava completamente quando Serena estava por perto, o que não tornava as coisas mais fáceis.
A irmã de Dan, Jenny, trabalhava com Vanessa na Rancor, a revista de arte das alunas da Constance Billard em que Vanessa era editora-chefe. Jenny era uma calígrafa e fotógrafa talentosa, com um ótimo olho. Jenny e Vanessa também ajudaram Serena com o filme dela - porque ela havia pedido e porque ninguém conseguia dizer não a Serena. Mas Jenny não estava interessada em ser amiga de Vanessa. Ela era muito esquisita e um desastre completo da moda, e não era o tipo que Jenny aspirava a ser.
- Pode ser um Irish coffee? - perguntou Dan. Era a bebida favorita dele porque era principalmente feita de café.
- Claro - disse Clark.
- Vou tomar uma Coca - disse Jenny. Ela não gostava muito do sabor do álcool, exceto no champanha.
- E aí, vamos ver o filme da Serena ou não? – perguntou Dan, balançando para a frente e para trás no banco do bar.
- A gente tem de esperar que ela chegue, idiota – resmungou Jenny.
Vanessa deu de ombros.
- Eu filmei quase tudo, de qualquer forma. Foi só o que fiz nas últimas três semanas.
Vanessa tinha ficado acordada até tarde toda a noite para trabalhar em seu filme para o festival de cinema do terceiro ano da Constance Billard. Também era o filme que ela pretendia mandar para a Universidade de Nova York com o seu requerimento. O sonho de Vanessa era ir para a Universidade de Nova York no ano que vem e se formar em cinema. Ela queria ser uma diretora famosa de filmes cult como Fome de viver e Ghost Dog, mas seu esforço mais recente tinha se transformado meio que num desastre.
A história de seu filme foi tirada de uma cena de Guerra e paz de Tolstoi. Dan fez o papel principal, com uma aluna do segundo ano da Constance que vivia mascando chiclete, Marjorie, que não tinha nenhum talento para atriz. Vanessa decidiu usar Marjorie em vez de Serena, embora Serena fosse perfeita para o papel, porque não conseguia suportar ver Dan nas nuvens com Serena num ensaio depois do outro. Que erro cometeu. Era uma cena de amor, e Dan e Marjorie não tinham química nenhuma. Quase fez Vanessa querer rir quando a assistiu; só não riu porque já estava chorando. De tão ruim que ficou. Ela esperava que os jurados do festival de cinema se concentrassem na qualidade da fotografia, que era seu ponto forte, e não no diálogo ou na interpretação, que ficaram um porre.
O filme de Serena, por outro lado, tinha se transformado na obra de arte mais austera e cerebral que Vanessa já vira. Ela mal podia agüentar ver. E a coisa mais maluca era que não houve intenção nenhuma nisso. Serena não tinha a menor idéia do que estava fazendo, mas de alguma maneira o filme deixava a gente totalmente siderada. Era puro gênio. É claro que parte do motivo de ele ser tão bom era que Vanessa tinha feito a maior parte das filmagens. Ela nem conseguia acreditar que tinha ajudado Serena a fazer aquela coisa sem importância sem levar nenhum credito por isso.
Dan olhou para o relógio pela décima quinta vez naquele minuto. Estava praticamente mijando nas calças de ansiedade.
- Jesus! Por que você não liga pra ela? – perguntou Vanessa com impaciência. O ciúme despertava o que havia de pior em Vanessa.
Dan tinha programado o número de Serena no celular semanas antes. Ele puxou o telefone do bolso do casaco e saiu do banco, andando de um lado para outro enquanto esperava que ela atendesse. Por fim atendeu a secretária eletrônica. "Oi, é o Dan. Estamos no Brooklyn. Onde você está? Me dá uma ligada quando puder. Tchau." Ele tentou fazer com que sua voz parecesse indiferente, mas era quase impossível. Onde é que ela estava, afinal?
Ele voltou para seu banco e sentou. Uma xícara fumegante de Irish coffee foi colocada no balcão diante dele. Estava coberta por uma torre de chantilly e tinha um cheiro terrível.
- Ela não estava em casa - disse ele, depois soprou sua bebida antes de tomar um gole gigante.
Serena estava entrando no elevador para chegar em casa quando percebeu seu erro. Com ela no elevador estava uma senhora idosa em um casaco de mink, olhando o caderno Estilo do Times de domingo. Era domingo. Serena devia estar no Brooklyn, para ver a versão final do filme que fizera com Vanessa e Jenny. E devia estar lá há uma hora.
- Merda - murmurou Serena para si mesma.
A mulher de mink olhou para ela antes de sair do elevador.
Em sua época, as jovens que moravam na Quinta Avenida não usavam jeans nem xingavam em público. Elas freqüentavam bailes e usavam luvas e pérolas.
Serena podia usar luvas e pérolas também. Só que ela preferia jeans.
- Merda - repetiu Serena, jogando as chaves na mesa da entrada. Correu pelo corredor até o quarto. A secretária eletrônica estava piscando. Ela apertou o botão e ouviu o recado de Dan.
- Merda - disse pela terceira vez. Não esperava que Dan também estivesse lá. E ela não tinha o número do celular de Dan nem de Jenny, só o número da casa deles, então não podia retornar a ligação.
Bem lá no fundo ela sabia por que tinha esquecido de ir ao Brooklyn. Ela não queria ver o próprio filme novamente, em especial não na frente de outras pessoas. Era a primeira vez que tinha feito um filme e estava meio insegura com isso, embora Vanessa parecesse pensar que era verdadeiramente espantoso.
Não era um filme típico. Era meio como um filme sobre fazer um filme quando você não tem atores nem sabe como usar o equipamento. Tipo um documentário dentro de um documentário. Serena adorou fazer: só não tinha certeza se ia fazer algum sentido para alguém que não a conhecesse. Mas Vanessa ficou tão entusiasmada que Serena foi em frente e entrou no festival de cinema da Constance Billard. O primeiro lugar era uma viagem ao Festival de Cinema de Cannes em maio, um prêmio doado pelo famoso pai ator de Isabel Coates.
Serena já fora a Cannes muitas vezes, então não se importava muito com o prêmio. Mas seria legal ganhar, especialmente porque Blair e Vanessa estavam concorrendo e elas eram da turma de estudos avançados, enquanto Serena não tinha experiência nenhuma em cinema.
Ela encontrou a lista da turma da Constance Billard na mesa e discou para a casa de Vanessa.
- Oi, é Serena - disse ela, quando atendeu a secretária eletrônica. - Eu esqueci completamente da nossa reunião hoje. Desculpe. Sou uma mané. De qualquer forma, vejo você na escola amanhã, tá legal? Tchau.
Em seguida ela discou o número de Dan.
- Alô? - atendeu uma voz mal-humorada.
- É o sr. Humphrey? - perguntou Serena. Ao contrário de Serena e da maioria das pessoas que ela conhecia, Dan não tinha sua própria linha telefônica.
- Sim, o que você quer?
- Dan está? - perguntou ela.- É uma amiga dele, Serena.
- Aquela dos braços dourados e lábios de framboesa? Aquela com asas em vez de mãos?
- Como? - Serena ficou confusa. Será que o pai de Dan era maluco?
- Ele andou escrevendo poemas sobre você - disse o sr. Humphrey. - Deixou o caderno dele em cima da mesa.
- Ah. Bem, pode dizer a ele que eu liguei?
- Claro que sim. Tenho certeza de que ele ficará deliciado.
- Obrigada - disse Serena. - Tchau. - Ela desligou e começou a roer a unha do polegar, um mau hábito que adquirira no ano passado no internato. A idéia de Dan escrevendo poemas para ela a deixava ainda mais nervosa do que a idéia de ele assistir ao filme dela. Será que Dan estava muito, muito, muito mais a fim dela do que ela pensava?
Hmmmm, estava sim. Ah, ele estava.
- Acho que ela não vem. Jenny bocejou. - Vai ver chegou tarde ontem a noite ou coisa assim. - Jenny gostava de pensar em Serena como uma deusa da noite, fora o tempo todo, entornando champanha e dançando em cima das mesas.
Até recentemente isso teria sido verdade.
- Mas eu ainda quero ver o filme. - Dan tirou uma mecha de cabelo dos olhos e sorriu dissimulado para Vanessa.
- Acha que dá para a gente ir para a sua casa ver o filme?
Vanessa deu de ombros.
- É melhor não. Eu já vi o filme tipo quatro vezes. - A verdade verdadeira era que ela não ia agüentar ficar sentada vendo Dan babar para Serena como um cachorrinho apaixonado. Era insuportável demais.
- Eu acho que você deve esperar até que Serena autorize - disse Jenny a Dan. - Quer dizer, por acaso você sabe se ela quer que você veja?
- Ela não vai ligar.
Vanessa odiava a expectativa frívola que brilhava nos olhos de Dan. Ele estava louco para ver o filme de Serena. Ela entregou as chaves a ele.
- Vou ficar aqui com Clark. Vocês podem ir ver o filme, se quiserem. Está no vídeo do quarto da Ruby. Não se preocupem, Ruby está passando o fim de semana fora.
Dan pegou as chaves e se levantou. Estava decepcionado que Serena não tenha aparecido, mas não ia perder essa de jeito nenhum.
- Legal - exultou ele. - Vou assistir sozinho.
Jenny rodou da esquerda para a direita em seu banco, vendo o irmão sair e bebendo sua Coca.
- E aí, você é aluna da Peterson em história americana este ano? - perguntou Vanessa a Jenny, tentando começar uma conversa. - As pessoas sempre dizem umas merdas, que ela é uma baita viciada em drogas, mas a gente conversou uma vez e ela me contou tudo sobre a doença que faz a mão dela tremer. Foi realmente muito legal da parte dela me contar isso.
Ela é impressionante.
Jenny continuava rodando no banco.
- Só vamos ter história americana no ano que vem - disse ela de um jeito insípido. Ela não sabia por que Vanessa estava sendo tão legal com ela assim de repente.
Vanessa esperava uma recepção mais calorosa.
- Então tem história européia? Desculpe, não consigo me lembrar de nada da sétima série.
- É - respondeu Jenny. – É um porre. - Ela saltou do banco do bar e remexeu nos botões de sua jaqueta Diesel de jeans. - Hmmmm, acho que vou pegar um táxi para casa. A gente se vê.
- Tchau - respondeu Vanessa. E ela tentando tanto ser legal. Ela queria poder tirar Dan e a irmãzinha inútil de sua vida de uma vez por todas. Para se distrair, ficou vendo a bunda de Clark enquanto ele se inclinava para encher a geladeira do bar com mais cerveja. - Ei, namorado - gritou para ele. - Estou me sentindo sozinha.
Clark olhou por sobre o ombro e mandou um beijo para ela.
Graças a Deus existe Clark, pensou Vanessa. Se pelo menos ele fosse mais...
Se pelo menos ele fosse o Dan.
j joga bola com os garotões
- Pode me deixar aqui? - perguntou Jenny.
O motorista de táxi tinha pegado a FDR depois de sair da ponte Williamsburg e estava tentando passar para o West Side na rua 79, mas o trânsito estava terrível e eles ficaram parados no mesmo sinal por dez minutos. Jenny olhava o taxímetro aumentar cada vez mais enquanto estavam parados. Ela podia ter comprado três brilhos M·A·C novos para os lábios pelo que ia custar essa corrida de táxi. Finalmente ela não agüentou mais ficar parada. Era um belo dia de outono: ela podia andar.
Ela pagou e desceu na calçada da 79 com a Madison e foi para oeste, em direção ao Central Park. O sol da tarde de novembro estava baixo no céu e Jenny semicerrou os olhos enquanto se apressava pela Quinta Avenida e entrava no parque.
As folhas de outono espalhavam-se pelos caminhos, e o ar cheirava a lenha queimada e cachorro-quente dos vendedores de rua. Jenny andava com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta, olhando para seus tênis Puma azuis e ruminando sobre o irmão. Ele sabia como estava sendo imbecil? Era como se ele tivesse perdido totalmente a personalidade e dedicasse cada minuto de seu dia a venerar Serena. Jenny também sabia que Dan estava escrevendo poemas lamentativos e tristes sobre Serena, porque ela o apanhara fazendo isso.
Quando eu me corto no barbear, penso em seus dentes nos meus lábios, e a dor se torna prazer.
Esse foi o verso que ela conseguiu ler antes que Dan fechasse o caderno num estalo. Era pior que ridículo.
A única utilidade de Dan sair com Serena era que agora Jenny podia andar com Serena na escola e começar a falar com ela, embora Serena fosse tipo a aluna do terceiro ano mais cool de Nova York e Jenny fosse só uma aluna inferior da sétima série. Mas se Serena descobrisse como Dan estava tão ridiculamente apaixonado, fugiria correndo. E se Serena ficasse tão enjoada de Dan que nunca mais quisesse falar com Jenny? Dan ia estragar tudo.
Jenny avançou em seu caminho pelo parque, sem se importar com a direção que estava tomando. Chegou a beira da Sheep Meadow e parou na grama.
A alguns metros de distância, um grupo de garotos jogava futebol. Jenny não conseguia tirar os olhos deles - de um deles, em particular. Seus cabelos brilhavam na luz dourada do sol enquanto ele driblava, passando ágil pelos amigos e chutando para a marca do gol que os meninos fizeram com os suéteres e as mochilas. A pele dele era bronzeada e os músculos dos braços nus fizeram Jenny querer se abraçar.
De repente a bola de futebol veio voando. Desceu e quicou aos pés de Jenny.
Ela o encarou, o calor se alastrando pelo rosto.
- Aí, chuta pra cá! - gritou um dos meninos. Jenny olhou para cima. Era o garoto dourado, parado a uns nove metros de distância, as mãos nos quadris, os olhos verdes brilhando. As bochechas dele estavam rosadas e a testa molhada de suor. Jenny queria prová-lo. Ela nunca viu um cara tão bonito e nunca sentiu o que estava sentindo ao olhar para ele.
Afastando os olhos, ela se concentrou na bola, mordendo o lábio em concentração enquanto levava o pé para trás. Depois ela chutou a bola com a maior força que pôde.
Em vez de voar como um foguete para o trecho de gramado onde os meninos estavam jogando, a bola subiu direto no ar acima de sua cabeça. Jenny colocou a mão na boca, numa mortificação completa.
- É minha! - gritou o garoto dourado, correndo em direção a ela. A bola caiu do céu e ele a cabeceou de volta para os amigos, os músculos do pescoço flexionando-se como que por mágica. Ele parou e se virou para Jenny.
- Obrigado. - Ele arfou. Estava tão perto que Jenny podia sentir o cheiro dele. Ele ofereceu a mão. - Meu nome é Nate.
Jenny olhou a mão dele por um segundo, depois estendeu a mão e a pegou.
- Jennifer - disse ela. Jennifer parecia muito mais velha e mais sofisticada que Jenny. De agora em diante, prometeu a si mesma, ela se chamaria Jennifer.
- Quer jogar com a gente um pouco? - perguntou Nate enquanto trocavam um aperto de mão. Jennifer tinha aquele rostinho doce, e se esforçou tanto para chutar a bola, bem, ele não conseguiu resistir.
- Hmmm... - fez Jenny, deliberando. Enquanto pensava, Nate percebeu os peitos de Jenny. Cara, eram mesmo enormes. Ele não podia deixar que ela fosse embora, não sem que os outros caras tivessem a oportunidade de ver isso.
Meninos: são todos iguais.
- Vamos lá. Somos todos legais. Eu prometo.
Jenny olhou os outros três meninos, certificando-se de que Chuck Bass não estava entre eles. Ela havia bebido um pouco mais de champanha em uma festona algumas semanas antes e deixou que um cara chamado Chuck Bass a levasse dançando até o banheiro das mulheres. Só o que ele fez foi beijá-la, mas teria feito muito mais se Serena e Dan não tivessem aparecido para resgatá-la. Chuck nem se incomodou em perguntar o nome de Jenny. Que babaca.
Mas Chuck Bass não estava ali.
Jenny deu de ombros.
- Tá legal- concordou ela. Nem conseguia acreditar que isso estava acontecendo. Tinha ouvido falar de Nate das festas e da fofoca da escola, e tinha certeza de que era o mesmo Nate. Ele era o cara mais bonito do Upper East Side e tinha pedido a ela para ficar com eles! Era como se ela tivesse atravessado o armário e entrado num mundo de fantasia, deixando o irmão imbecil e apaixonado e sua poesia idiota para trás.
Nate levou Jenny para os amigos, que tinham parado de jogar e estavam sentados na grama, bebendo Gatorade azul.
- Aí, essa é a Jennifer- disse Nate, com um sorriso feliz no rosto. -Jennifer, esse é o Jeremy, o Charlie e o Anthony.
Jenny sorriu para os meninos, que sorriram para o peito dela.
- Prazer em conhecê-la, Jennifer. - Jeremy Scott Tomkinson estava encantado. Ele era baixinho e magricela, e sua calça caqui tinha uns fiapos de grama presos. Mas tinha um ótimo corte de cabelo, com costeletas compridas e mechas grossas, como uma estrela do rock inglês.
- Venha. Junte-se a nós - instou Anthony Avuldsen em sua clássica voz chapada. Tinha o cabelo louro-claro e o nariz pontilhado de adoráveis sardas. Os músculos do braço eram ainda maiores que os de Nate, mas Jenny preferia os de Nate.
- Estamos quase acendendo um - disse Charlie Dern, brandindo um cachimbinho. A cabeça era uma confusão de cabelos castanhos desgrenhados e ele era monumentalmente alto. Sentado de pernas cruzadas, os joelhos ficavam praticamente na altura das orelhas. Em seu colo estava um saquinho plástico cheio de bagulho.
- Você não esquenta com isso, né,Jennifer? – perguntou Nate.
Jenny deu de ombros, tentando parecer indiferente, embora estivesse meio nervosa. Ela nunca fumou maconha.
- Claro que não - disse ela.
Ela e Nate se sentaram na grama com os outros meninos.
Charlie acendeu o cachimbo, inalou profundamente e passou para Nate.
Jenny analisou o modo como Nate segurava o cachimbo.
Ela queria experimentar, mas não queria que eles soubessem que era a primeira vez que fazia isso.
As bochechas de Nate estavam cheias de fumaça quando ele passou o cachimbo para Jenny. Ela o pegou na mão esquerda e trouxe aos lábios, exatamente como ele fizera. Nate o acendeu para ela, riscando o isqueiro algumas vezes antes de ele pegar. Depois ela inalou. Podia sentir a fumaça enchendo os pulmões, mas não tinha certeza do que fazer com ela.
- Toma - disse Jenny, tentando desesperadamente segurar a fumaça. Ela passou o cachimbo para Anthony.
- Belo trago - assinalou Charlie, assentindo para ela com aprovação.
Os olhos de Jenny lacrimejavam.
- Obrigada - rosnou ela, deixando um pouco de fumaça escapar pelos cantos da boca.
- Meu Deus, esse troço é forte. - Nate sacudiu a cabeça dourada.
- É mesmo - disse Jenny em concordância, finalmente soltando o resto da fumaça. Ela se sentia extremamente calma.
O cachimbo voltou para ela e desta vez ela o acendeu sozinha, imitando a forma como os meninos fizeram, enquanto tentava parecer a vontade. Novamente, segurou a fumaça pelo máximo de tempo que pode sem tossir. Parecia que seus globos oculares iam explodir.
- Isso me lembra uma coisa. - Ela passou o cachimbo para Anthony mais uma vez. – Não consigo me lembrar o que é, mas definitivamente lembra.
- É - concordou Jeremy.
- Me lembra o verão - disse Anthony.
- Não, não é isso. -Jenny fechou os olhos. Seu pai a mandara a um acampamento de arte hippie nas montanhas Adirondack no verão. Ela teve de escrever haikais sobre o ambiente, cantar músicas de paz em espanhol e chinês e tecer cobertores para os sem-teto. Todo o lugar cheirava a mijo e manteiga de amendoim. - Meu verão foi um porre. O que estou pensando é numa coisa boa, tipo o Dia das Bruxas quando a gente é criança.
- Definitivamente - concordou Nate. Ele se deitou na grama e olhou para as folhas alaranjadas de outono agitando-se nas árvores acima de sua cabeça. – É exatamente como o Dia das Bruxas.
Jenny se deitou bem ao lado dele. Normalmente não teria feito uma coisa dessas, porque, quando se deitava, seus peitos vazavam para os lados das costelas e faziam um volume fora de suas roupas de uma maneira deformada. Mas pela primeira vez ela não estava preocupada com os peitos. Era legal só ficar deitada ali, ao lado de Nate, respirando o mesmo ar que ele.
- Quando eu era pequena eu tapava os olhos e achava que ninguém podia me ver se eu também não via - disse ela, passando as mãos sobre os olhos.
- Eu também. - Nate fechou os olhos. Ele se sentia completamente relaxado, como um cachorro cochilando na frente da lareira depois de uma longa corrida. Esta garota, a Jennifer, era genuinamente legal e tão totalmente sem expectativas; ele se sentia ótimo com ela.
Se Blair soubesse com que facilidade isso o fazia feliz.
- Quando a gente é mais novo, tudo é tão simples, né? - A língua de Jenny parecia frouxa na boca e ela não conseguia parar de falar. - Depois a gente fica mais velho e as coisas ficam mais complicadas.
- Totalmente - disse Nate. - Tipo ir para a faculdade. De repente a gente tem de planejar o que vai fazer pelo resto da vida e tentar impressionar as pessoas com nossa inteligência e nosso envolvimento. Quer dizer, os pais da gente tem oito aulas por dia, praticam esportes, editam jornal e dão aulas a crianças pobres, tipo assim tudo num dia só? Não.
- É uma maluquice - concordou Jenny. Ela ainda ia sentir a pressão de ter de ir a uma faculdade, mas podia se solidarizar. - Quer dizer, só o que meu pai faz o dia todo é ler e ouvir rádio. Como é que a gente tem de fazer tanta coisa?
- Sei lá. - Nate suspirou, cansado. Estendeu o braço para a mão de Jenny e entrelaçou os dedos nos dela.
Jenny se sentia como se estivesse se fundindo com a grama.
O lado dela que estava perto de Nate estava quente e zunindo, e sua mão parecia que tinha se fundido com a dele. Ela nunca se sentiu tão maravilhosa em toda a vida.
- Ei, quer ir na minha casa e comer alguma coisa? - perguntou Nate, passando o polegar nos nós dos dedos dela.
Jenny concordou. Ela sabia que não tinha de dizer nada. Nate podia ouvi-la.
Ela não conseguia acreditar como a vida mudava tão rapidamente.
Como podia saber ao acordar pela manhã que hoje seria o dia em que ia se apaixonar?

d está obcecado
Dan se sentiu meio pervertido no começo, vendo o filme de Serena completamente sozinho no apartamento de Ruby e Vanessa. Mas assim que pegou um copo de Coca na velha geladeira marrom, ajeitou-se na beira da cama de futon desfeito de Ruby e apertou o play, ele esqueceu tudo sobre constrangimento.
A câmera deu um zoom nos lábios brilhantes e vermelhos de Serena. "Bem-vindos ao meu mundo", disse ela, rindo.
Depois os lábios começaram a andar. Ou, melhor, Serena estava andando. A câmera continuou focalizada em seus lábios enquanto o fundo mudava. "Estou chamando um táxi", disse Serena. "Eu pego muito táxi. Sai caro."
Um táxi parou atrás dela e os lábios sentaram no banco traseiro. ''Vamos para o centro da cidade agora. Para a Jeffrey. É uma loja ótima. Não sei o que estou procurando, mas com certeza vou encontrar lá."
A câmera continuava em seus lábios, que ficaram em silêncio a viagem toda. Tocou música. Alguma coisa anos 60 e francesa. Serge Gainsbourg, talvez. Vislumbres de cenas das ruas de Nova York eram visíveis através da janela suja do táxi.
Dan apertou o copo de Coca. Era uma provocação só ver os lábios de Serena. Ele achava que ia desmaiar.
"Chegamos", disseram por fim os lábios de Serena. A câmera seguiu seus lábios saindo do táxi e passando pela grande porta envidraçada de uma loja branca e brilhante. "Olha só essas roupas incríveis", murmuraram os lábios. Eles ficaram meio separados enquanto Serena pegava o conteúdo da loja. "Estou no paraíso."
Dan procurou pelos cigarros no bolso da calça, as mãos tremendo incontrolavelmente. Ele fumou um e depois outro enquanto a câmera rondava pela loja com os lábios de Serena, parando primeiro para beijar uma minúscula bolsinha marrom com a imagem de um cachorro e depois arrastar um par de arm-warmers angorá com lantejoulas pela lente da câmera.
Por fim os lábios descobriram um vestido de que não conseguiram se desgrudar.
"É tão perfeitamente vermelho", disseram seus lábios em reverência. "Entrei numa de vermelho ultimamente. Tá legal. Vou experimentar este."
Dan acendeu o terceiro cigarro.
A câmera seguiu os lábios de Serena para a sala de provas.
Ela se afastou enquanto Serena tirava a roupa. "Está gelado aqui", disse ela."Espero que não seja pequeno demais. Odeio quando as coisas são pequenas demais." Seus cabelos, os ombros nus, o pescoço e a orelha ficaram visíveis pelo espelho por uma fração de segundo, mas nada estava em foco. Era quase insuportável de assistir.
E aí...
"Tá, dá!", disseram os lábios. A câmera deu uma panorâmica lenta, revelando Serena em sua totalidade, usando um vestido vermelho lindo de alças. Seus pés estavam descalços e as unhas dos pés pintadas de vermelho também. "Não é maravilhoso?", disse ela, batendo palmas e girando e girando, o vestido rodando na altura dos joelhos. A música francesa voltou e o filme escureceu.
Dan caiu de costas na cama. Sentia-se entorpecido. Ele queria estar com Serena agora mais do que tudo. Aqueles lábios! Ele que ria beijá-los sem parar.
Pegou o celular no bolso do casaco e pressionou os botões para procurar pelo numero dela, teclando send quando o encontrou.
- Alô? - Serena atendeu depois do primeiro toque.
- É o Dan - disse ele, a voz falhando. Ele mal conseguia respirar.
- Oi. Eu lamento muito mesmo não ter ido encontrar vocês. Vanessa deve estar totalmente puta, né?
Dan fechou os olhos.
- Eu estava vendo seu filme. Ele pegou o controle remoto e rebobinou a fita.
Serena fez uma pausa. Que coisa constrangedora.
- Ah - disse ela.- O que achou?
Dan respirou fundo.
- Eu acho... - Será que podia dizer? Podia? Tudo se resumia a três palavras. Ele podia pronunciá-las bem agora e acabar com isso. Ele podia.
Mas não conseguiu.
- Eu amei... o filme - completou ele, acovardando-se com a última palavra.
- É mesmo?
- É.
- Bem, o que a sua irmã acha? Ela só o viu aos pedaços. Havia toneladas de filme, mas Vanessa e eu finalmente o otimizamos para só o negócio dos lábios.
- Jenny não quis ver o filme sem você. Eu estou sozinho aqui. Vanessa me deu a chave. – Ele se sentia estranho admitindo isso, mas não queria mentir.
- Ah - fez Serena, lembrando-se do que o pai de Dan tinha dito sobre Dan escrever poesia sobre ela. Serena não queria se sentir mal com isso, mas era difícil evitar.
- Estou louco para chegar o fim de semana. - Dan sentou-se. - Acha que devo tentar marcar uma entrev...
- Legal - disse Serena, interrompendo-o. – Aí, a gente se vê na sexta, tá? Na Grand Central, as três.
- Tudo bem. - O que é isso? A conversa estava teminando?
- Tchau - disse Serena e desligou. Ela não queria se alongar no telefone e ter de ouvir Dan dizer alguma coisa forte com a qual ela não ia conseguir lidar. As coisas já estavam muito mais fortes do que ela pretendia.
Dan apertou play no controle remoto novamente, seu cérebro ainda tonto do encantamento que o filme tinha lançado. Não ia doer assistir de novo, ia?
Hmmm... alguém aí sente o cheiro de obsession? E não estamos falando do perfume.
velejando de leve
- Nunca tinha entrado numa casa dessas antes – murmurou Jenny, parada na varanda da casa de Nate. Tinha três andares, os caixilhos das janelas pintados de verde cheios de gerânios e uma cascata de hera descendo do telhado. A porta tinha uma série complicada de alarmes e travas, e a câmera de segurança ficava ligada na frente e nos fundos da casa.
Nate deu de ombros enquanto entrava com o código do sistema de alarme.
- É exatamente como morar num apartamento. Só que tem escada.
- É. Acho que é. -Jenny não queria dar pinta de que estava verdadeiramente pasma.
Nate deu passagem a ela. O piso do hall de entrada era de mármore vermelho. Um leão gigante de pedra ficava num canto. Alguém tinha colocado um chapéu de pele em sua cabeça. Descendo a escada, uma enorme sala de estar num nível abaixo. Havia quadros a óleo originais de artistas famosos em cada parede. Jenny chegou a pensar que reconheceu alguns deles. Renoir. Sargent. Picasso.
- Meus pais curtem arte - disse Nate quando percebeu Jenny olhando. Depois ele percebeu outra coisa. Um pacote na mesa de centro. O cartão tinha seu nome. Nate foi até lá e abriu o envelope.
Impresso na face do cartão estava BLAIR PAIGE WALDORF em caracteres Tiffany clássicos. Dentro, dizia: Para Nate. Você sabe que eu te amo. Blair.
- Que foi? - perguntou Jenny. - É seu aniversario ou coisa assim?
- Não - disse Nate. Enfiou o cartão de volta no envelope, pegou a caixa e a escondeu no fundo do armário de casacos.
Ele não estava sequer curioso sobre o conteúdo. Provavelmente era só um suéter ou alguma colônia. Blair sempre dava coisas a ele sem motivo nenhum, só para chamar atenção. Ela podia ser bem exigente as vezes. – E aí, o que você quer comer? - perguntou ele a Jenny, levando-a para o corredor e para a cozinha. - Nossa cozinheira faz brownies incríveis. Aposto que ainda tem algum.
- Cozinheira? – ecoou Jenny, seguindo-o. - É claro que você tem uma cozinheira.
Nate localizou uma lata de biscoitos em cima da enorme bancada de mármore da cozinha e a abriu. Tirou um brownie e colocou na boca.
- Minha mãe não é exatamente a melhor cozinheira do mundo. - A idéia da mãe dele até fazendo torrada era uma piada total. Ela era uma princesa francesa que vivia de restaurantes ou jantares de bufê. Mal entrava na cozinha.
- Experimenta um - disse Nate. Passou um brownie para Jenny.
- Obrigada. - Jenny pegou o brownie, embora pensasse que estava excitada demais para comer. Ele ia derreter nas suas mãos pegajosas.
- Vamos lá pra cima - sugeriu Nate. - Por aqui é mais rápido.
Jenny perdeu o fôlego. Nunca tinha ficado sozinha com um garoto na casa dele antes e isso era meio assustador. Mas queria confiar em Nate. Ele era tão diferente daquele Chuck Bass horroroso que tinha tirado vantagem dela na festa.
Chuck parecia perigoso e excitante no começo, mas ele nem chegou a perguntar qual era o nome de Jenny. Nate era educado. Parecia genuinamente interessado em conhecê-la. E Jenny estava genuinamente interessada em conhecê-lo.
Nate levou Jenny por uma porta e subiu uma escada estreita.
Ela já havia lido bastante Jane Austen e Henry James para saber que aquela era a escada dos empregados. No terceiro andar, Nate abriu a porta no alto da escada, dando para um amplo corredor iluminado por uma clarabóia de vidro. Eles passaram por um retrato a óleo de um menininho vestido de marinheiro e segurando um remo de madeira. Era Nate, Jenny percebeu.
Nate abriu outra porta.
- Este aqui é o meu quarto.
Jenny o seguiu para dentro. Em vez de uma cama trenó antiga e a mesa ultramoderna e ultralegal com um laptop da espessura de um biscoito por cima, o quarto parecia muito normal. A cama estava coberta com um edredom de flanela verde e branco; havia DVDs espalhados no chão, halteres pendurados precariamente em um canto, sapatos cuspidos para fora do armário e pôsteres dos Beatles pendurados nas paredes.
- É legal. - Jenny sentou, nervosa, na beira da cama.
Ela percebeu um modelo de veleiro na mesinha-de-cabeceira.
- Você veleja?
- É - disse Nate, pegando o modelo. - Eu e meu pai fazemos barcos. Lá no Maine. – Ele passou o modelo para Jenny. - Este é o barco em que estamos trabalhando agora. É um cruiser, e tem um casco mais pesado do que os barcos que construímos para competição. Vamos velejar no Caribe primeiro. E depois talvez até na Europa.
- Sério? -Jenny examinou o modelo. Ela não conseguia imaginar velejar pelo Atlântico em alguma coisa tão pequena e delicada. - Tem banheiro nele?
Nate sorriu.
- Tem. Aqui. - Ele apontou o dedo mindinho para a cabine. Havia uma minúscula porta oval com os caracteres WC impressos. - Tá vendo?
Jenny assentiu, fascinada.
- Eu adoraria aprender a velejar.
Nate se sentou ao lado dela.
- Talvez você possa ir ao Maine e aí eu posso ensinar a você - murmurou ele.
Jenny se virou para ele, seus grandes olhos castanhos procurando os olhos de esmeralda dele.
- Eu só tenho 14 anos - disse ela.
Nate estendeu o braço e tocou seus cabelos castanhos crespos, penteando-os com a maior delicadeza com os dedos.
Depois baixou a mão novamente.
- Eu sei. Tá tudo bem.

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oi, gente!
TODO MUNDO FAZ
Até eu me sinto culpada de ter pegado um Kit Kat a mais na banca de jornais da esquina na terceira série. Fiz por provocação, mas ainda tenho pesadelos de culpa por isso. Vocês não me vêem pegando bolsas da Prada nem calcinhas da Armani. Mas algumas garotas não conseguem se controlar.
Winona Ryder foi pega roubando umas roupas bacanas em uma roja de Los Angeles. Argumentou que estava pesquisando para um papel que ia interpretar. Então tá... E agora B.
E ela é bastante boa para não ser pega.
É claro que o que elas roubam é totalmente essencial. Não seria de muita classe para elas roubarem, digamos assim, cola para canos da Ace Hardware ou papel higiênico da CVS.
Mas uma calça de pijama de cashmere? Isso é essencialmente de alta classe. Também é essencialmente psicótico. Da próxima vez, B vai roubar um Jaguar ou uma Mercedes-Benzl

Flagra
B deixando um presente embrulhado na casa de N. N não estava lá, então ela o deixou com a empregada. D saindo do apartamento de V no Brooklyn e indo a pé todo o caminho para casa, no Upper West Side. Agora, gente, é uma caminhada e tanto. Aposto que ele precisava esfriar. S roendo as unhas e lendo Entre quatro paredes na The Corner Bookstore na 93 com a Madison. Tentando entender D um pouco melhor, talvez. A pequena J saindo da casa de N com um sorriso grudado na cara. O amor é lindo. Atenção, J - os mauricinóides não são a raça mais confiável para a gente se apaixonar.
Para os que não sabem... Mauricinóide: substantivo. A versão de elite do inutilóide, ou chapadão. Usa suéteres de cashmere. Gosta de fumar maconha - e muita. Não gosta de se comprometer. Mas talvez N possa nos surpreender.

Seu e-mail
P: Cara GG,
O que você acha de garotos mais velhos namorando meninas mais novas?
- Sneaky
R: Caro Sneaky,
Definitivamente depende da diferença de idade e das circunstâncias.
Por exemplo, se você estivesse se formando na faculdade e namorasse uma garota do segundo ano, eu diria que você tem um probleminha meio Woody Allen-Soon Vi. Se você está no último ano e namora uma caloura de faculdade, tudo bem. Um formando do secundário namorando uma caloura do secundário é forçação. Parece funcionar melhor quando a menina é a mais nova, principalmente porque a gente amadurece mais rápido – em todos os sentidos.

P: Cara Gossip Girl,
Tenho certeza absoluta de que vi B roubando um frasco de xampu Aveda na Zitomer. Quer dizer, não é que ela não tenha dinheiro. Se ela tem algum amigo de verdade, ele devia dar uma ajuda a ela.
- Espiã
R: Cara Espiã,
Obrigada pela dica. A verdade é que não acho que roubar em loja seja o maior problema de B agora. Já viu o cara que vai ser o meio-irmão dela?
- GG

O PRÊMIO DO FESTIVAL DE CINEMA DA CONSTANCE BILLARD SCHOOL
V, B e S entraram nessa. V com seu filminho de Guerra e paz; B com uma refilmagem dos dez primeiros minutos de Bonequinha de luxo; e S com aquela... coisa. A competição está acirrada. V e B acham que já levaram. S acha que não tem nenhuma chance. Estou recolhendo as apostas!

Pra você que me ama,
Gossip Girl
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b e v ansiosas para se formar
- Onde vai ser?
- Quantas pessoas ela está convidando?
- Quantas damas de honra?
- O que você vai usar?
- Quantas camadas vai ter o bolo?
- Seu pai foi convidado?
Blair prendeu a respiração. Era a hora do almoço e ela esperava na fila com Kati e Isabel no refeitório da Constance Billard School. Blair nem estava mais com fome. Kati tinha começado toda aquela inquisição irritante quando disse que tinha visto um vestido de noiva realmente de classe em uma edição da vogue da década de 1960 que ela encontrara em um sebo. O vestido tinha margaridinhas de cristal em todo ele, remates de veludo branco e um enorme arco de veludo preto nas Costas. Depois Isabel tinha perguntado a Blair se a mãe dela ia usar um vestido de noiva tradicional ou alguma coisa diferente. Agora Blair estava cercada de ansiosas meninas da Constance com olhos reluzentes, todas disparando perguntas sobre o casamento da mãe. Para seu desagrado, as colegas do terceiro ano não eram as únicas que pensavam que tinham o direito de saber todos os detalhes chatos. Becky Dormand e seu grupo de irritantes seguidoras do primeiro ano estavam praticamente puxando o suéter de cashmere preto de Blair, babando por qualquer migalha sobre o casamento. Até algumas alunas da oitava série zanzavam por perto, esperando ouvir o bastante para contar as amigas.
- Não é realmente grande coisa - disse Blair, com impaciência. - Ela já se casou antes, vocês sabem disso.
- Quem são as damas de honra? - perguntou Becky Dormand.
- Eu, Kati, Isabel... - Blair deslizou a bandeja do almoço pelo balcão do refeitório e pegou um iogurte de café - Serena e minhas tias - acrescentou ela rapidamente.
Brownies com cobertura de chocolate em pratinhos brancos estavam tentadoramente em uma prateleira na altura dos olhos. Ela pegou um, examinou-o em busca de defeitos e o colocou na bandeja. Mesmo que decidisse comê-lo, sempre podia vomitar depois.
Não era grande coisa, mas pelo menos Blair tinha esse controle sobre sua vida.
- Serena? - repetiu Becky, olhando para suas tietes chocada de surpresa. - É mesmo?
- É - rebateu Blair. – É mesmo.
Se não fosse chefe do conselho de serviços sociais, diretora do grupo de francês e presidente de todas as funções sociais do primeiro ano dignas de nota na Constance, Blair teria dito a ela para se foder. Mas Blair era um exemplo de garota: tinha uma reputação a zelar.
Ela atirou umas folhas de espinafre em um prato e colocou um pouco de queijo bleu em cima delas. Depois pegou a bandeja e foi para o refeitório. As alunas da primeira a oitava série já estavam comendo, então a sala estava cheia de meninas uniformizadas fofocando e pegando sua comida.
- Ouvi dizer que a Blair vai fazer uma lipo antes do casamento só para ter certeza de aparecer bem na Vogue – denunciou uma menina do primeiro ano.
- Eu achei que ela já tivesse feito - brincou outra garota. - Não é por isso que ela sempre usa meia-calça preta? Para esconder as cicatrizes?
- Eu soube que o Nate está traindo ela, mas a Blair só vai romper com ele depois que tirarem retratos juntos no casamento - disse Becky Dormand, unindo-se a elas. – Não é típico dela?
Serena van der Woodsen estava sentada sozinha, lendo um livro, na mesa que Blair em geral usava. Ela havia puxado o cabelo para cima num coque e estava usando um suéter preto com gola em V sem nada por baixo. As pernas estavam cruzadas e o uniforme marrom e curto dela realmente parecia fashion. Ela parecia uma modelo da Burberry ou da Miu Miu.
Na verdade, ela estava melhor do que uma modelo, porque ela não tentava parecer bonita: ela simplesmente era bonita.
Blair deu meia-volta e foi para uma mesa perto das janelas. Só porque sua mãe tinha convidado Serena para ser dama de honra não queria dizer que tinha de falar com ela.
Quando eram mais novas, Blair e Serena tomavam banho juntas. Dormiam juntas todo fim de semana, durante os quais praticavam beijos em travesseiros, passavam trotes para o professor de biologia da sétima série, que era um nerd, e ficavam acordadas a noite toda as risadinhas. Serena estava perto de Blair quando ela ficou menstruada pela primeira vez no fim da sexta série e ficou apavorada com os absorventes. Elas tomaram o primeiro porre da vida juntas. E as duas amaram Nate como a um irmão. Pelo menos no começo.
Mas Serena tinha ido para o internato dois anos atrás e passara todas as férias bordejando na Europa, mandando para Blair só um postal ou outro. Foi especialmente doloroso quando o pai de Blair anunciou que era gay e sua mãe entrou com o processo de divórcio. Blair não teve ninguém a quem recorrer.
Havia também o probleminha de que Serena e Nate tinham dormido juntos, enquanto Blair e Nate não.
E então, quando Serena voltou a cidade, Blair decidiu se vingar ignorando-a e exigindo que todas as amigas ignorassem Serena também. Tinha transformado Serena em uma leprosa social.
Blair se sentou e começou a remexer com raiva a salada.
Depois que saiu da Barneys no dia anterior, ela se sentou em um banco do parque por um tempinho, esperando que Serena saísse da área. Quando finalmente voltou para casa, sua mãe a informou de que tinha acabado de encerrar sua conta no banco e aberto uma nova conta conjunta com Cyrus. O novo cartão de crédito de Blair chegaria em um ou dois dias. Isso explicava por que seu cartão de crédito não fora aceito. Obrigada por me informar, mãe.
Ela havia encontrado uma caixa bacana no armário para colocar a calça de pijama. Fez um embrulho para presente com papel prateado e o amarrou com uma fita preta, e depois foi para a casa de Nate. Mas Nate não ligou ontem a noite para agradecer a ela. Qual era o problema dele afinal?
Kati e Isabel se sentaram na frente de Blair.
- Por que você não diz a sua mãe que você não quer que a Serena seja dama de honra? - raciocinou Isabel. Prendeu o cabelo grosso e castanho em um nó no alto da cabeça e tomou um gole de leite desnatado. - Tenho certeza de que ela vai dar atenção.
- Só diz a sua mãe que você e Serena não são mais amigas - acrescentou Kati. Ela pegou um fio de cabelo crespo e louro do chão. Seu cabelo sempre caía em tudo.
Blair deu uma olhada em Serena. Ela sabia que sua mãe já havia falado com a mãe de Serena e que Serena já sabia que seria dama de honra. Embora fosse tentador, ela não podia pedir a mãe para desconvidar Serena. Seria deselegante. E Blair não queria se arriscar a dar a Serena qualquer motivo para se queixar, para o caso de Serena ter visto Blair pegar aquela calça de pijama na Barneys. Serena podia sujar seu nome em todo o Upper East Side.
- Tarde demais - disse Blair e deu de ombros. – Isso na verdade não me aborrece. Ela só vai andar na igreja com a gente usando o mesmo vestido. Não é que a gente tenha de andar de mãos dadas com ela.
Isso não era exatamente verdade. Sua mãe estava planejando algum tipo de almoço e um dia de salão de beleza para todas as damas de honra, mas Blair fingia que isso não estava acontecendo.
- E aí, como é que são os vestidos? Já pegou o seu e sua mãe já escolheu o dela? - perguntou Kati, dando uma dentada no brownie. - Por favor, não me diga que vamos usar alguma coisa apertada. Eu prometi a mim mesma que perderia cinco quilos até o Natal, mas olha só como estou comendo este brownie idiota!
Blair revirou os olhos e mexeu o iogurte.
- Quem liga para o que vamos usar?
Isabel e Kati a encararam. Nenhuma das duas conseguia acreditar que Blair tinha dito isso. É claro que era importante.
Quando uma garota como a Blair diz uma coisa dessas, você sabe que está rolando alguma coisa.
Blair deu uma colherada no iogurte, ignorando-as. O que havia de errado com todo mundo? Será que não podiam calar a boca sobre o casamento e deixá-la em paz?
- Eu não estou com muita fome. - Ela levantou-se de repente. - Acho que vou mandar uns e-mails, ou coisa assim.
Kati apontou para o brownie intocado na bandeja de Blair.
- Não vai comer esse aqui? - perguntou ela.
Blair sacudiu a cabeça.
Kati pegou o brownie e o colocou na bandeja de Isabel.
- A gente pode dividir - disse ela.
Isabel fez uma carranca e colocou o brownie na bandeja de Kati.
- Se você quer comer, coma - insistiu ela.
Blair pegou sua bandeja e se afastou correndo. Mal podia esperar pela merda da formatura.
Jenny viu Serena no momento em que entrou no refeitório com a xícara de chá e a banana. Ela estava sentada sozinha, lendo alguma coisa. Jenny se apressou até lá.
- Tudo bem se eu sentar aqui com você? – perguntou ela.
- Claro - disse Serena, fechando o livro. Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Jenny nunca ouvira falar dele.
Serena a viu olhando para o livro.
- Seu irmão me recomendou. Sinceramente, não sei como ele pode ler esta merda. É uma chatura tremenda. - Na verdade, Dan não havia recomendado o livro a ela, mas mencionou que o estava lendo. Era sobre um cara totalmente obcecado por uma garota. Só pensava nela e era só o que conseguia escrever. Era meio apavorante.
Jenny riu.
- Devia ver os poemas que ele escreve.
Serena franziu o cenho. Ela queria poder ver algum poema que Dan tenha escrito, uma vez que supostamente alguns eram sobre ela.
Ela fechou o livro.
- Promete que não vai contar nada se eu não conseguir terminar este?
- Não vou contar nada - prometeu Jenny. - Desde que você prometa que não vai dizer a ele que eu disse que a poesia dele é um saco.
- Eu prometo - disse Serena.
Jenny deu uma espiada embaixo da mesa. Como sempre, Serena estava usando a saia de poliéster marrom pregueada, o uniforme não-oficial reservado as manés da quinta série. Só que ela ficava maravilhosa nele. Ela sempre estava maravilhosa.
- Sabe de uma coisa, você é tipo a única garota do terceiro ano que usa o uniforme marrom - assinalou Jenny.
Serena deu de ombros.
- Eu acho bacana. Azul-marinho é um saco, e usar cinza faz a gente nunca mais querer ver cinza na vida de novo, e eu gosto de cinza.
Jenny usava o uniforme cinza.
- Acho que você tem razão. Eu tenho uma calça cinza que nunca uso. Vai ver é por isso.  - Jenny pigarreou. O que ela que ria falar realmente com Serena era sobre Nate.
- Ei, desculpe ter estragado tudo ontem - disse Serena. - Eu me esqueci completamente que tinha de me encontrar com você e a Vanessa.
- Tudo bem. - Jenny começou a falar. - No fim das contas, eu tive uma maravilhosa...
- E aí, cara - cumprimentou Vanessa Abrams, andando para a mesa das duas. Estava usando meia-calça preta, o que era ótimo para esconder os joelhos grossos. - O que é que ta rolando?
- Oi. Desculpe por ontem - disse Serena.
Vanessa deu de ombros.
- Tá tudo bem. Eu meio que fiquei enjoada de ver aqueles filmes o tempo todo.  - Especialmente o seu, pensou ela com amargura. É foda, de tão bom.
Serena assentiu.
- Pega uma cadeira aí.
Jenny olhou para Vanessa. Ela queria Serena só para ela.
- Desculpe, mas não posso - retrucou Vanessa. - Hmmm, Jenny, a gente realmente tem de revelar os filmes da edição da Rancor deste mês. Tem tipo uns vinte rolos, e a sala escura está totalmente livre agora. Será que pode me ajudar?
Jenny olhou para Serena, que deu de ombros e se levantou.
- Tenho de ir mesmo. - Tenho uma reunião da faculdade com a srta. Glos. Que divertido.
- Já tive a minha - tornou Vanessa. - Cuidado que ela está tendo outra hemorragia nasal.
A srta. Glos tinha a pele amarelada e freqüentes hemorragias nasais. Todas as meninas estavam convencidas de que tinha uma doença contagiosa horrorosa. Se ela te entregasse um folheto ou um catálogo de faculdade, você tinha de usar luvas quando fosse ler. Ou isso ou lavar as mãos com água muito quente depois.
- Que ótimo. - Serena deu uma risadinha. - Tá legal, a gente se vê depois.
Vanessa se sentou e esperou que Jenny terminasse de comer a banana.
Jenny deu a última mordida e embrulhou a casca num guardanapo de papel.
- Vamos? - insistiu Vanessa.
Jenny deu de ombros.
- Na verdade eu não posso. Tenho de imprimir um trabalho de história para a próxima aula. Desculpe - disse ela, levantando-se.
Vanessa fez uma careta.
- Tá legal. Mas eu preciso saber quando é que você vai estar livre. Eu realmente preciso de ajuda.
- Tudo bem. - Jenny ficou animada. - Vou te dizer. Ah, e será que pode me chamar de Jennifer, em vez de Jenny, de agora em diante? Eu prefiro assim.
Vanessa a encarou.
- Tudo bem. Jennifer.
- Obrigada. - disse Jenny e correu para a sala de computação. Talvez Nate tenha mandado um e-mail para ela!
Vanessa olhou Jenny sair, perguntando-se como ela se transformara naquela piranhazinha. Ela achava que sair com Jenny a deixaria mais próxima de Dan, mas isso só dava chateação. Jenny era como todas as outras meninas da Constance - oca e presunçosa.
Vanessa também mal podia esperar para se formar.
amor omnia vincit

Mensagem Instantânea
De: Bwaldorf@constancebillard
Para: Narchibald@St.Judes.edu
Bwaldorf: oi, natie.
Bwaldorf: estou pirando aqui. todo mundo quer falar do casamento, como se eu ligasse pra isso.
Bwaldorf: nate? sei que vc tá online. Vai encontrar comigo depois do clube de francês hoje ou o quê?
Bwaldorf: recebeu o presente que eu deixei pra vc ontem?
Bwaldorf: oooooiiiii!!!
Bwaldorf: valeu.

Mensagem Instântanea
De: Narchibald@St.Judes.edu
Para: Jhumphrey@constancebillard.edu
Jhumphrey: oi.
Narchibald: encontra comigo no parque depois da escola?
Jhumphrey: hmmm, tá legal. o que a gente vai fazer?
Narchibald: não sei.  O que vc quer fazer?
Jhumphrey: sei lá. seus amigos vão lá?
Narchibald: não, só eu. ainda quer ir?
Jhumphrey: claro. posso encontrar vc na porta da sua escola, se vc quiser.
Narchibald: só me encontra na frente do Met.
Jhumphrey: tá legal, te vejo lá.

Jenny fez log-off, sentindo-se mais cool do que nunca.
Ainda estava na sétima série, mas seu nome era Jennifer e depois da escola ia encontrar Nate, o garoto mais gostoso da cidade. Ela ia ter de deixar a Vanessa na mão com a Rancor, mas valia totalmente a pena. Se ela fosse Dan, ia escrever um poema apaixonado sobre como Nate era lindo e como o destino podia dar voltas,juntando duas pessoas que não tinham nada em comum. Sobre como isso terminaria em tragédia. Mas Jenny era mais para otimista. Ela se satisfazia escrevendo Sra. Jennifer Archibald em sua melhor caligrafia nas costas do mouse pad cinza que estava usando.
Não ria. É isso que as meninas da sétima série fazem quando estão apaixonadas
Do outro lado da cidade, na Riverside Prep, o irmão de Jenny, Dan, estava naquele exato momento mandando um e-mail para Serena com seu último poema de amor, intitulado "A última vez em que eu morri".
Sua corda se acomodou em meu pescoço, eu saltei.
Seus lábios me beijaram enquanto eu caía, e ainda caio
- Vamos lá, anormal - gritou o amigo Zeke Freedman da porta do laboratório de computação. - A gente vai se atrasar para a aula de latim.
Amo ergo sum, pensou Dan. Amo, logo existo.
- Estou ocupado! - Ele digitou o endereço do e-mail de Serena na Constance.
- Bem, não quero ficar de castigo - disse Zeke, saindo. - Quer jogar basquete no parque mais tarde?
- Legal - respondeu Dan, distraído. -Te vejo lá. – Ele começou a preparar um e-mail curto para mandar com o anexo.
Querida Serena,
Este fim de semana será sensacional. Tenho uma entrevista marcada para sábado e meu pai me deu uma grana. Mal posso esperar.
Anexei um poema aqui. Só uma coisinha que escrevi hoje de manha. Espero que você goste.
Estarei na quadra de basquete perto do Meadow, se você quiser sair depois da aula.
Beijos
Dan

Amor omnia vincit! O amor conquista tudo.
d chegado num assédio
Jenny ficou na frente da escadaria do Met, tentando não prestar atenção no cara que estava deitado na escada atrás dela. As calças dele estavam arriadas e Jenny tinha certeza de que seu pênis estava se sobressaindo.
A gente se acostuma a ver esse tipo de coisa quando mora na cidade, mas ainda é uma indecência e tanto.
Ela realmente queria sair, mas Nate tinha dito a ela para esperar ali e Jenny não queria se arriscar a se desencontrar dele.
- Cai fora! - gritou o homem do pênis a um turista.
Um vendedor de cachorro-quente na calçada perto estava falando ao celular. Jenny chegou mais perto para poder ouvir, na esperança de que ele estivesse chamando a polícia. Mas parecia que ele estava conversando com a mãe ou algo assim, porque só o que ele dizia era "Legal", repetidamente.
Alguém tocou o ombro de Jenny.
- Oi, Jennifer.
Jenny se virou.
- Oi - disse ela, sorrindo para Nate. As mãos dela se ergueram meio inibidas para o rosto, empurrando os cabelos crespos para trás das orelhas. - Ainda bem que você chegou. Esse cara está me assustando.
Ele colocou o braço em torno dela.
- Vem, vamos sair daqui.
Ao toque dele, todo o sangue fluiu para a cabeça de Jenny.
- Tá legal- gaguejou ela, inclinando-se para o braço de Nate. - Vamos.
Nate continuou com o braço em volta dela enquanto iam para o parque, serpenteando para o Sheep Meadow. Encontraram um lugar legal na grama e se sentaram de frente um para o outro, as pernas cruzadas, os joelhos se tocando. Parecia tão bom que Jenny tinha dificuldade em acreditar que não estava sonhando. De todas as garotas da cidade, Nate gostava dela. Era inacreditável.
- Espero que você não se importe, meus amigos vem se encontrar com a gente aqui daqui a pouco. - Nate puxou um saquinho de maconha do bolso.
Jenny deu de ombros.
- Eu não me importo - retrucou ela, embora estivesse um pouquinho decepcionada. Cuidadosamente, ela viu Nate puxar uns tufos de erva seca do saco e espalhá-los em um papel.
Depois ele enrolou com habilidade um baseado fininho e lambeu o papel para colar.
Ele ofereceu a Jenny, que sacudiu a cabeça.
- Eu tô legal. - Ela sabia que isso parecia idiota, mas já estava se sentindo meio tonta, sentada tão perto de Nate. Não queria perder a cabeça completamente.
- Tudo bem. - Ele colocou o baseado no saquinho e o enfiou novamente no bolso do casaco.
Jenny deu um suspiro de alívio. Ela queria saber quando Nate era só Nate, e não quando ele estava totalmente chapado.
- E aí, vai visitar faculdades e essas coisas no fim de semana? - perguntou Jenny. - Para decidir para onde quer ir?
- Vou - respondeu Nate, franzindo o cenho. – Mas estou pensando em tirar talvez um ano ou dois. Ir velejar com meu pai. Eu podia até tentar entrar em uma equipe para a America's Cup.
- Uau - disse Jenny, impressionada. - Parece sensacional.
- Talvez eu fique uns três anos fora, e a gente podia ir para a faculdade juntos. - Nate pegou a mão dela. Os dedos de Jenny eram os menores do mundo.
Jenny pegou o olhar de Nate e eles sorriram um para o outro por um momento.
Ele deixou a cabeça tombar para a frente e apoiou-a no ombro dela. Ela cheirava a roupa lavada.
- Hmmmm - murmurou ele, sem conseguir entender como se sentia a vontade com ela. Em geral, tinha de apertar um ou tomar uns drinques antes de se encontrar com Blair, só para lidar com o planejamento e o falatório constante dela sobre o futuro. Mas com Jennifer ele não precisava ficar chapado.
Ai, meu Deus, pensou Jenny. Ele está quase me beijando.
Ela fechou os olhos. Todo o seu corpo parecia formigar.
A cabeça de Nate estava quente e ele cheirava a agulhas de pinheiro.
- Jennifer - murmurou Nate. Ele levantou a cabeça e sacudiu os cabelos dourados. - Isso é muito legal. – Seus olhos vagaram pelo rosto dela, parando final mente nos lábios.
Jenny deu uma risadinha. Definitivamente ele ia beijá-la.
- Ei, Archibald!- gritou alguém. - Guarda um pouquinho pra gente!
Que timing terrível.
Jenny e Nate se viraram e viram Anthony, Jeremy e Charlie saltando pela grama. Jeremy estava trazendo uma bola de futebol.
Nate se levantou rapidamente, dando as costas para Jenny.
- Oi - acenou ele para os amigos casualmente. – Vocês conseguiram.
- Oi, gente - disse Jenny, levantando-se e tirando os pedacinhos de grama do uniforme da escola. Ela queria que eles não tivessem vindo.
- E aí, vai apertar um dos grandes para a gente ou não? - perguntou Anthony, apontando com a cabeça para o saco plástico pendurado do bolso de Nate.
Nate sacudiu a cabeça.
- Eu já estou tão chapado quanto uma fatia de pão, cara - mentiu ele e tirou o saco do bolso. Atirou-o para Anthony.
- Já tem um apertado aí.
- Valeu! - Anthony se atirou na grama e partiu para o trabalho. - Cara, eu tô precisando disso. - O anormal do conselheiro universitário me alugou por uma hora.
- Nem me fale – concordou Jenny.
Jenny roeu as unhas, sentindo-se meio deslocada. Olhou para Nate, mas ele tinha pegado a bola de futebol das mãos de Jeremy e estava ocupado, com ela entre os pés.
- Isso não é nada. Meu pai me enche o saco com a faculdade desde a sexta série – reclamou Charlie. - Ele já falou com um reitor da faculdade de administração de Yale, tipo assim, para ele se preparar para quando eu aparecer por lá. E tipo assim, aí, pai, pega leve!
- E aí, a gente ainda vai na Brown no fim de semana, né? - disse Jeremy.
A Brown. Jenny prestou atenção. Era para lá que iam Serena e Dan neste fim de semana.
- Definitivamente - disse Nate.
Ele passou a bola a Jenny, que a chutou delicadamente de volta, sorrindo, para ele saber que ela realmente não se importava que os amigos dele tivessem aparecido, ou que eles estivessem falando de faculdade enquanto ela só era uma aluna da sétima série. Jenny gostava de saber que Nate não estava realmente chapado como uma fatia de pão, e que ele lhe tinha dito que estava pensando em dar um tempo antes de ir para a faculdade. Ela já sabia mais dele do que os melhores amigos dele!
- Vamo lá - instou Nate. - Vamos jogar.
Ela só que ria que Nate a tivesse beijado e que ele não parasse quando os amigos apareceram.

Dan se sentou no banco para esperar por Zeke e Serena.
Bem, Zeke definitivamente viria. E, se Serena aparecesse, Dan diria a Zeke para dar o fora dali e deixá-los sozinhos.
É para isso que servem os amigos.
Dan puxou urn Camel do bolso e o colocou na boca. Suas mãos tremiam, em parte porque ele tinha bebido seis xícaras de café desde o almoço e em parte porque estava nervoso com a perspectiva de ver Serena de novo, especialmente se ela leu o poema dele. Dan tirou o caderno do bolso e olhou os últimos versos do poema sem ver. A qualquer minuto Serena ia aparecer correndo e atirar os braços em volta do pescoço dele, beijando-o sem fôlego e chorando porque tinha sido insensível demais por não ter aparecido no sábado, e dizendo a ele repetidamente que tinha amado o poema. Que ela o amava.
Ou não.
Dan deu um trago rápido demais e quase pôs os bofes para fora. Depois acendeu outro cigarro com o que já estava fumando. Ele ia fumar como um louco ate ela aparecer. Podia estar morto quando ela chegasse, mas pelo menos estariam juntos.
Soprando a fumaça, ele olhou para o gramado. Uma baixinha com peitos enormes e cabelos castanhos crespos estava jogando futebol com quatro caras que ele reconheceu vagamente.
Era sua irmã, Jenny. Desde quando ela ia ao parque com aqueles babacas chatos e caretinhas do Upper East Side?
E era aquele cara, Chuck O Pervertido, com eles? Sentindo-se protetor, Dan começou a se levantar, mas se obrigou a se sentar novamente. Jenny parecia estar se divertindo, e ele podia ver que Chuck não estava ali. Se ele quisesse ser um irmão mais velho imbecil, podia ir em frente e estragar tudo, ou podia só ficar sentado ali e deixar que Jenny se divertisse. Ele ainda podia observar de onde estava. E, além disso,Jenny precisava conhecer gente nova, especialmente agora, que ele estava vendo Serena e tinha menos tempo para ela.
Bem, meio que vendo Serena. Se ela aparecesse.

- Ei, é melhor eu ir para casa - disse Jenny, passando a bola para Nate.
- Tudo bem, a gente se fala mais tarde. - Ele colocou a mão por trás da cabeça de Jenny e deu-lhe um beijo no rosto.
Jenny quase desabou.
- Tchau - guinchou ela, acenando para os outros três garotos. Depois se virou e andou rapidamente para o Central Park West, antes que mijasse nas calças. Ela mal podia esperar para ver Nate de novo. A sós.
- Cara, o que a Blair acha da sua nova namoradinha? - perguntou Anthony depois que Jenny saiu. Ele acendeu outro baseado, tirou um trago e passou para Jeremy.
- Ela não é minha namorada, cara. É só uma garota legal com quem eu topei. - Nate deu de ombros. - Eu gosto dela.
- Eu também gosto dela. - Jeremy passou o baseado para Nate. - Mas a Blair não vai ficar satisfeita se souber que você está saindo com uma garota da sétima série em vez de com ela. Vai?
Nate pegou o baseado e deu um trago.
- Ela não precisa saber - grunhiu ele, segurando a fumaça. Depois ele exalou. - Cara, não é que eu esteja trocando a Blair pela Jennifer. Não é isso tudo.
- Não é isso tudo - concordou Charlie, pegando o baseado.
Nate olhou a brasa queimar na ponta do cigarro. Ele sabia que o que tinha dito não era verdade. Era isso tudo. Ele só não tinha certeza de como lidar com isso.
Um cara tem de ter muito cuidado quando uma garota como a Blair estava envolvida. Ele viu o que ela podia fazer, e não foi nada bonito.

- Desculpa, eu me atrasei, mané - disse Zeke, quicando uma bola de basquete na cabeça de Dan. - Vamo lá, vamos jogar.
Dan olhou para cima, por sobre seu caderno. Tinha começado outro poema intitulado "Pés Quebrados".
Madeira que se estilhaça, pneus carecas, vidro quebrado.
O destino brande seu machado injusto. Colapso.
Era sobre querer estar em outro lugar com alguém e não conseguir. Serena obviamente presa num lugar em que não queria estar, ansiando por Dan, desejando estar com ele. Talvez ela estivesse em um metrô qualquer, presa entre as estações. E ele estava preso no parque com Zeke.
- Oi - disse Dan, enfiando o bloco na bolsa e se levantando.
- Obrigado por aparecer.
- Vai se foder. Eu tinha aula particular de matemática, você sabe disso. - Zeke gingou com a bola.
Eles foram para a quadra de basquete.
- É, bem, você devia se esforçar mais na matemática. E aí não ia precisar de um professor particular.
- E você devia se foder, porque é um imbecil - instigou Zeke.
- O que quer dizer com isso? - perguntou Dan. Ele largou a bolsa na cerca da quadra e tirou o casaco.
Zeke dançou em volta dele com a bola. Era um pouco mais alto e tinha quadris largos, como os de uma garota, mas era o melhor jogador de basquete da Riverside Prep. Imagina só.
- Você anda sempre ocupado ultimamente e está sempre de mau humor - insistiu ele. – Está cada vez mais imbecil.
Dan deu de ombros e se atirou para a frente para roubar a bola de Zeke.
- Ei, o que eu posso dizer? Tenho uma namorada.- Dan recuou e gingou com a bola pela quadra. Ele fez um arremesso, errando a cesta por uns três centímetros.
- Boa, mané. - Zeke correu e pegou o rebote. – Uma namorada? - Ele quicou a bola sem ir a lugar nenhum. Sua barriga balançava debaixo da camiseta branca. - Quem é, a Vanessa?
Dan sacudiu a cabeça.
- O nome dela é Serena. Você não conhece. Vamos visitar a faculdade juntos este fim de semana.
- Caraca! - Zeke girou com a bola para a outra cesta. Ele não parecia assim tão impressionado.
Dan ficou vendo o amigo fazer um arremesso perfeito. Ainda ficou parado enquanto Zeke voltava com a bola pela quadra.
- E aí, é sério, hein? - disse Zeke, atirando a bola para ele.
Dan pegou a bola e ficou onde estava. Ele não tinha certeza do que dizer sobre isso. Era muito sério para ele, disso ele tinha certeza. Mas estaria Serena naquele exato momento contando aos amigos sobre Dan, seu novo namorado? Será que ela ficava devaneando com o fim de semana que passarão juntos?
Nem um pouco.
Naquele exato momento, Serena estava no dentista, obturando um dente. Ela estava com fome e meio chateada porque teria de esperar que passasse o efeito da novocaína antes de comer alguma coisa. Não era exatamente aquele papo de poesia.
Ela também tinha lido o poema de Dan e não tinha certeza do que fazer com isso. Estava acostumada com a atenção dos meninos, mas não com esse tipo de atenção. Dan estava ficando meio chegado num assédio, e isso estava começando a ficar muito esquisito para ela.
b ganha um novo irmão
- Que tipo de perguntas você preparou? - perguntou a srta. Glos a Blair. Era quarta-feira a tarde e a srta. Glos estava preparando Blair para a entrevista em Yale no sábado. - Você terá de mostrar a eles que esta interessada nas coisas que são características de Yale, que não está se candidatando só porque é uma boa universidade e você é filha de um patrocinador.
Blair assentiu com impaciência. O que a srta. Glos acha que ela é, uma idiota?
A srta. Glos descruzou as pernas e tirou um fiapo que estava preso na meia-calça caramelo. A parte de cima de seu corpo era grossa e quadrada como de um homem, mas Blair percebeu que a srta. Glos tinha pernas extraordinariamente boas para uma consultora universitária de 50 anos.
- Vou perguntar a eles sobre oportunidades para viajar para a França no primeiro ano. Vou perguntar sobre as instalações esportivas e sobre os alojamentos. Vou perguntar sobre oportunidades para participar do diretório acadêmico. Ah, e vou perguntar sobre recrutamento de emprego. - Blair abriu o PalmPilot e deixou um recado para si mesma.
- Isso mesmo. Isso mostrará a eles que você não é só uma acadêmica. É experiente, está interessada em participar. - A srta. Glos fechou a pasta de Blair e abriu uma gaveta em sua mesa. - Você vai se sair bem. Está mais do que pronta.
Blair se levantou. Ela já sabia que estava pronta. Vinha se preparando para isso a vida toda.
- Obrigada, srta. Glos. - Blair estendeu a mão para a maçaneta. - Se tudo correr bem, posso me candidatar logo e não vou precisar procurar por outras universidades, não é?
- Bem, procurar outros lugares não vai doer... Você pode encontrar outra universidade de que goste mais - disse a srta. Glos, dando pancadinhas leves no nariz com um Kleenex. - Não vejo por que Yale não vá aceitar você.
Blair sorriu.
- Ótimo. - Depois abriu a porta e a fechou atrás de si, satisfeita.

Quando Blair chegou a cobertura em que morava na rua 72, pode ver de imediato que alguma coisa estava diferente.
Ternos e caixas se espalhavam pelo corredor. O TRL gritava da TV gigante da biblioteca. Ela podia ouvir o arranhar de patas de cachorro no piso de madeira e havia baba na maçaneta.
Blair entrou e atirou a mochila no chão do hall. Foi recebida por um enorme boxer marrom, que trotou e enfiou a cabeça em sua virilha.
- Ei - disse ela, afastando o focinho do cachorro. - Vai se foder. - Ela desceu o longo corredor do apartamento. - Mãe?
A porta do quarto da mãe se abriu e Cyrus Rose saiu, usando seu robe Versace de seda vermelha favorito e sandálias de bambu. Ele parecia muito relaxado.
- Oi, Blair! - gritou ele, arrastando os pés e colocando os braços em torno dela em um abraço de urso. - Sua mãe está no banho. Mas agora é oficial...estou me mudando. E Aaron e Mookie se mudaram também!
- Mookie? - Blair recuou um passo. Ela não gostava de ficar tão perto de Cyrus quando era bem possível que ele não estivesse usando nada por baixo do robe.
- O cachorro de Aaron! É um malandro perfeito. Ra-ra! Mookie o malandro. - Cyrus estalou os dedos cheios de anéis de ouro. - A mãe de Aaron vai ficar muito tempo fora, e ele estava entediado e de saco cheio naquela casa grande em Scarsdale, só com o Mookie para conversar, então ele decidiu vir morar com a gente. Como sua mãe diz, quanto mais melhor!
Blair ficou parada ali, incapaz de acreditar no que ouvia.
O cachorro, Mookie, veio por trás dela e cheirou sua bunda.
- Mookie, não! - disse Cyrus, rindo. - Vem aqui, garoto. Me ajude a apresentar Blair a Aaron. Vem. - Ele pegou a coleira do cão e o levou para a biblioteca.
Blair teve a sensação de que devia segui-los, mas ficou onde estava, ainda em choque.
Um minuto depois uma cabeça cheia de trancinhas curtas e castanhas apareceu atrás da porta da biblioteca. A cabeça pertencia a um garoto da idade de Blair, com grandes olhos castanhos, pele clara e lábios vermelhos que se curvavam para cima nos cantos.
- Oi - disse o garoto - Eu sou o Aaron. - Ele pisou duro pelo corredor com as botas de trabalhador para dar a mão a Blair. A camiseta estava rasgada e tinha uma foto desbotada de Bob Marley. Blair podia ver a parte de cima da cueca aparecendo na cintura da calça baggy.
Eca!
Blair tocou a mão dele o mínimo possível.
- Então eu acho que agora dividimos uma casa, hein? - disse Aaron, ainda sorrindo.
Seriamente eca.
- Espero que não se importe, mas eu tranquei sua gata no seu quarto porque ela estava meio assustada com o Mookie. O rabo dela ficou enorme. - Aaron riu, sacudindo as trancinhas.
Blair olhou para ele.
- Tenho de fazer meu dever de casa. - Ela foi para o quarto, batendo a porta na cara de Aaron.
Sozinha no quarto, Blair pegou a gata e se atirou na cama. Kitty Minky amassou seu suéter com as patas.
- Está tudo bem, meu amor - murmurou Blair, trazendo-a para o peito. Ela fechou os olhos e colocou a cabeça em seu pelo macio, desejando que o mundo desaparecesse.
Permaneceu de olhos fechados. Se ficasse assim por bastante tempo, talvez todo mundo se esquecesse dela e ela não teria de ser Blair Waldorf, vivendo sua vida cada vez mais imbecil.
Podia se tornar outra pessoa e ainda ir para Yale. No fim, depois de procurar repetidamente por anos, sem desistir, Nate a encontraria. Seria tipo um filme em preto-e-branco onde a heroína fica com amnésia e começa uma nova vida e se apaixona por outro homem, mas enquanto isso o homem que a amava originalmente não desistiu de procurá-la até encontrar e pedi-la em casamento, embora ela não conseguisse lembrar o nome dele. Depois, quando ele lhe desse um velho cachecol dele, cheio dos odores dos velhos tempos que ficaram juntos, sua memória voltaria e ela diria "Sim", e eles viveriam felizes para sempre.
Os créditos do filme rolaram em sua mente enquanto os violinos tocavam suaves.
Quando tudo parecia ruim, Blair sempre podia se apegar aos filmes em sua cabeça. Mas é melhor não contar aos funcionários da admissão de Yale sobre isso. Eles podem dar a ela um p de psicótica.
Finalmente Blair soltou Kitty Minky e se sentou. Pegou o controle remoto da TV e apertou o play. O vídeo zumbiu e logo a cena de abertura de Bonequinha de luxo começou a tocar repetidamente - Audrey Hepburn, ainda vestida depois de uma noite fora, comendo croissants diante da Tiffany's ao amanhecer. Esse foi o filme com que Blair entrou no Festival de Cinema da Constance Billard. Audrey comendo croissants com o tema de O aprendiz de feiticeiro, admirando os diamantes em uma vitrine da Tiffany's. E novamente, com uma música antiga do Duran Duran - Girls on film. E depois de novo, com Rocketboy, de Liz Phair. E novamente com outra música. Blair via uma coisa diferente na cena a cada vez. Ela nunca se cansava dela. Tomara que os jurados do festival na segunda que vem sintam a mesma coisa.
Houve uma batida na porta e Blair rolou na cama para ver quem podia ter a coragem de perturbá-la. A porta se abriu. Era Aaron. Mookie abriu caminho entre as pernas dele e entrou no quarto. Kitty Minky gemeu e disparou para o armário.
- Mookie, não! - resmungou Aaron, pegando a coleira do cão. - Desculpe - disse ele, olhando para Blair como quem se lamenta. Ele puxou Mookie para fora e deu um tapa em seu traseiro. - Mau - resmungou ele.
Blair ficou olhando para ele, o queixo nas mãos, odiando-o mais a cada segundo.
- Olha - tentou Aaron. - Quer uma cerveja ou coisa assim?
Blair não respondeu. Ela odiava cerveja.
Os olhos castanho-escuros de Aaron foram para a tela da TV.
- Ei, você desencavou essa porcaria velha?
Blair pegou o controle remoto e desligou a TV. De jeito nenhum ela ia deixar que Aaron insultasse seu filme. Ele já não tinha causado danos suficientes?
- Eu sei que deve ser muito estranho para você que a gente tenha se mudado de repente, com o casamento e tudo. Eu só pensei que, se você quiser, tipo assim conversar e essas coisas, tudo bem pra mim - insistiu Aaron.
Blair continuou a encará-lo com frieza, desejando que ele sumisse.
Aaron deu um pigarro.
- Eu estava agora mesmo com seu irmãozinho, o Tyler, sabe como é, tipo vendo TV e bebendo uma cerveja. Bem, eu bebi uma cerveja... ele tomou uma Coca. De qualquer modo, ele parece levar essa coisa toda na boa. Ele é um garoto legal.
Blair piscou. Será que esse babaca acha que eles estavam conversando?
- Tá legal. Hmmm, a gente vai sair para jantar mais tarde, eu sou vegan, então a gente vai num restaurante vegetariano. Espero que esteja tudo bem. - Aaron se virou, esperou por um momento pela resposta de Blair. Como Blair não respondeu, ele sorriu resignado e fechou a porta.
Blair rolou novamente e abraçou um travesseiro na barriga.
É claro que ele era vegan. Era tão típico. Ela queria ter um pedaço de carne crua para atirar na cara dele.
Como é que é? Será que todo mundo espera que ela dê a seu meio-irmão hippie falso uma recepção calorosa só porque ele estava morando na casa, tomando cerveja como se fosse dono do lugar e ficando com Tyler como o sr. Sensível? Bom, eles podem pegar essa idéia e enfiar na bunda gorda deles.
Pelo menos ela ia sair no fim de semana, e muito em breve ia para Yale e ficaria longe daquele anormal para sempre.
Talvez, se contasse a ele o que tinha acontecido, Nate se lamentaria por ela e decidiria ir com ela para New Haven afinal de contas.
Ela pegou o telefone ao lado da cama e discou o número de Nate.
- Fala aê - respondeu Nate no quinto toque. Parecia chapado.
- Oi, sou eu - disse Blair, a voz tremendo um pouco.
De repente ela achou que podia chorar.
- Oi.
Blair rolou de costas e olhou para o teto. Kitty Minky saiu do armário, os olhos brilhando amarelos.
- Hmmm, eu estava pensando se você podia mudar de idéia e se queria ir a Yale comigo... - A voz de Blair sumiu.
Ela realmente ia chorar.
- Não, os caras estão todos malucos com a viagem.
- Tudo bem. Eu só... essa coisa toda do casamento... e agora...- Blair parou. As lágrimas caíram dos cantos dos olhos e correram pelo rosto.
- Ei, você está chorando? - perguntou Nate.
Mais lagrimas saíram dos olhos de Blair. Nate parecia estar a milhares de quilômetros de distância. Ela estava triste demais para explicar tudo a ele, que nem tinha agradecido pelo presente. Que porra é essa?
- Tenho de ir - fungou Blair. - Me liga amanha, ta bom?
- Vou ligar - retrucou Nate. Mas Blair já podia dizer que ele não ia telefonar. Provavelmente nem se lembraria do telefonema. Ele estava chapado demais.
- Tchau - disse Blair e desligou. Atirou o aparelho na cama e passou as unhas na colcha. Kitty Minky saiu do armário e pulou para a cama.
- Esta tudo bem, meu amor. - Blair afagou a cabeça da gata e a colocou em sua barriga. - Está tudo bem.
Kitty Minky fechou os olhos e se aninhou nas dobras quentes do suéter, ronronando satisfeita. Blair queria encontrar alguém que a fizesse se sentir feliz desse jeito. Ela achava que Nate era esse alguém, mas ele estava ficando tão ruim e decepcionante como todo o resto da porcaria da vida dela.
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advertência: todos os nomes verdadeiros de lugares, pessoas e fatos foram abreviados para proteger os inocentes. Quer dizer, eu.

oi, gente!
PROBLEMAS DE FAMÍLIA
Eu sei que ódio é uma palavra forte, mas tudo bem: somos adolescentes. Temos de odiar nossos pais às vezes. Também podemos odiar qualquer irmão, mais velho ou mais novo, que aborreça a gente, especialmente aqueles que nem são nossos parentes e que não pedimos para conhecer.
Mas se um desses irmãos não solicitados por acaso é um cara bonitinho com trancinhas que, por acaso, eu sei que toca violão muito bem e é simplesmente o garoto mais doce do mundo, você pode querer ser legal. Uma paquerada inocente com seu possível meio-irmão não é nojento nem ilegal. É bem divertido e bem conveniente se você mora na mesma casa! É só uma idéia. Mas não parece que B esteja considerando esta opção.
Seu e-mail
P: Cara Gossip Girl,
Ouvi dizer que B é totalmente clepto. Tipo no jardim de infância ela roubou os lápis e apagadores da Barbie das outras crianças e essas merdas. E você não pode convidar B para passar a noite na sua casa porque ela rouba suas roupas.
Também soube que ela roubou um relógio da Tiffany's.
- Peekaboo
R: Caro Peekaboo,
B anda usando um Rolex desde o segundo ano, então não tenho certeza disso. Mas obrigada pela dica.
- GG
P: oi, gossip girl,
tenho certeza absoluta de que vi n conversando com aquela garota da sétima série da constance na calçada da gap na rua 86.
- coruja99
R: Cara coruja99,
E?? Eles não são mais novidade nenhuma. Vai ter de fazer melhor do que isso.
- GG
Flagra
N comprando um saco tamanho família de maconha naquela pizzaria na esquina da 80 com a Madison. Preparando-se para a viagem, eu acho. B e sua nova e ampliada família na Saks, comprando coisas para o casamento. Na verdade, B passou a maior parte do tempo ali na sala de estar das mulheres, amuada. S andando pelo departamento de cosméticos da Barneys de novo, roendo as unhas. D ansioso num banco do Riverside Park, fumando como um doido. J escrevendo o nome de N em lugares discretos em toda a cidade, usando sua caligrafia excelente. Meu jogo americano da Jackson Hole esta cheio deles.

AS VISITAS OBRIGATÓRIAS A FACULDADE
Um carro.
Amigos. De preferência os que não estão tão ansiosos com a faculdade e que não vão pirar se você decidir matar o giro pelas universidades e ficar assistindo a filmes e brincando com jogos de bebida no quarto de hotel.
Roupas que você não se importa de dormir com elas e deixar para trás em quartos de hotel que você provavelmente vai barbarizar pelo caminho.
Roupas legais para usar na entrevista. Mas você não quer parecer fabulosa demais, ou pode deixar em seu entrevistador um complexo de inferioridade. A maioria deles não conhece a diferença entre a Barneys e a Wal-Mart.
Diversos (Bud em lata, donuts com cobertura de chocolate da Entenmann, Pringles etc.).

Pra você que me ama,
gossip girl

b dá o fora rapidinho
- Não acha que fica Barbie Camponesa demais? – perguntou a mãe de Blair. Ela deu uma voltinha na plataforma do departamento de noivas da Saks da Quinta Avenida, a saia do vestido de noiva branco de cetim e renda abrindo-se num rodopio em seus pés.
Blair sacudiu a cabeça. A visão de sua mãe toda embonecada em um vestido de noiva branco cheio de frescura com decote baixo lhe dava náuseas, mas quanto mais rápido ela saísse dali, melhor. Blair tinha de estar preparada para a entrevista em Yale amanhã.
- Parece legal - mentiu ela.
- É meio vergonhoso para mim usar branco – refletiu a sra. Waldorf - Quero dizer, eu já tive meu casamento de branco. - Ela se virou para Blair. - E se eu mandasse tingir?
Podia ficar adorável em um lindo bege dourado ou um lilás clarinho.
Blair deu de ombros e mudou de posição desconfortavelmente no sofá de dois lugares, a falsa antigüidade em que estava sentada.
- Eu não ligo para o branco. - A história de tingir parecia que ia levar mais tempo.
- Sempre podemos tingir depois de pronto - sugeriu a vendedora. - Devo fazer o pedido e ajustar este para a senhora, então? - Até ela estava impaciente. Já haviam passado por sete vestidos e três conjuntos de saia e casaco. Se a sra. Waldorf queria que o vestido ficasse pronto em apenas duas semanas, tinha de se apressar.
A mãe de Blair parou de rodar e se examinou criticamente no espelho de quatro faces.
- Acho que é o mais promissor que experimentei – disse ela. - Não acha, Blair?
Blair assentiu, entusiasmada.
- Definitivamente, mãe. Deixa você mais magra.
A mãe sorriu, deliciada.
A melhor maneira de atingir o coração de uma mulher é dizer que ela parece magra. As mulheres morrem para ficar magras.
- Tudo bem, então - concordou ela, brilhando de excitação. - Vou fazer isso.
A vendedora começou a dobrar e alfinetar o vestido, medindo coisas e rabiscando numa folha de papel. Blair olhou o relógio. Já eram três e meia. Todo esse episódio chato estava durando para sempre.
- Já achou alguma coisa de que tenha gostado para as damas de honra? - perguntou-lhe a mãe.
- Ainda não - disse Blair, embora nem tivesse procurado.
Sua mãe queria que ela encontrasse um vestido pronta-entrega que ela absolutamente amava e o comprasse para todas as damas de honra. Blair adorou a loja, mas estava tendo dificuldades em se animar a comprar esse vestido em particular.
Ela odiava usar a mesma coisa que os outros. Afinal, ela passou a maior parte da vida na porra de um uniforme escolar.
- Eu vi um lindo na Barneys. Chloe, acho que era essa grife. Seda chocolate com contas e alças finas. Longo, com decote em diagonal. Muito sofisticado. Ficaria sensacional em Serena, com suas pernas magras e a linda cor. Mas não tenho certeza... pode deixar você assim meio... hippie.
Blair olhou para o reflexo da mãe no espelho num silêncio aturdido. Será que ela estava sugerindo que Blair era gorda? Mais gorda que Serena?
Ela se levantou e pegou sua bolsa.
- Vou para casa, mãe - disse ela, com raiva. - Não tenho mais tempo para falar de roupa. Caso você tenha se esquecido, amanhã tenho minha entrevista em Yale, o que, para mim, é mais importante.
A mãe se virou de repente, fazendo com que a vendedora deixasse cair a almofada de alfinetes.
- Isso me lembra uma coisa!- gritou a sra. Waldorf, sem perceber em nada o tom de voz magoado de Blair. – Quando Cyrus soube que você pretendia pegar o trem pra New Haven amanhã, teve uma idéia sensacional.
Essa não.
Qualquer idéia de Cyrus tinha de ser diabólica. Blair ergueu a cabeça, preparando-se para o pior.
- Já está tudo combinado... Aaron vai com você! Ele quer ver Yale também, e ele tem um carro num estacionamento na Lexington - explicou sua mãe apressadamente. - Não é assim perfeito?
Blair achou que ia chorar novamente. Não!, ela queria gritar. Não é perfeito, mãe! É uma droga! Mas ela não ia gritar no departamento de noivas da Saks. Seria pra lá de ridículo.
- A gente se vê depois - disse ela, abruptamente, virando-se para sair.
A mãe franziu o cenho para ela. Coitada da Blair, pensou ela. Deve estar nervosa com a entrevista de Yale.

Blair andou as 22 quadras para casa engolindo as lágrimas de ultraje. Pensou em verificar no Pierre Hotel e começar os primeiros estágios de seu desaparecimento. Podia ligar para o pai e pedir para morar com ele e o namorado no chateau da França. Podia aprender a esmagar uvas, ou a porcaria que eles fizessem por lá.
Ela estava prestes a vomitar.
Quando chegou a escada para a cobertura, Mookie disparou pelo corredor e se atirou sobre ela, lambendo seu rosto e fuçando sua bunda com efusão. Blair largou a bolsa no chão, deixando que o cachorro a esmagasse enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto. O bafo de Mookie cheirava a bunda.
Ela definitivamente chegara ao fundo do poço.
Aaron colocou a cabeça para fora da biblioteca.
- Ei, o que tá pegando? - perguntou ele, andando na direção dela. - Mookie, não! – gritou ele, puxando o cachorro. - Você não pode deixar ele fazer isso. Ele vai se apaixonar por você e começar a montar na sua perna, essas coisas.
Blair reprimiu um soluço e enxugou o nariz com as costas da mão.
- E aí, preparada para aprontar em Yale amanhã? – perguntou Aaron, estendendo a mão para levantá-la do chão.
Blair ignorou a mão dele. Queria desesperadamente uma bebida.
- Estou louca para dar o fora daqui - murmurou ela, infeliz.
- Bem a gente pode sair agora, se você quiser. Vai ser mais divertido se a gente não tiver de acordar cedo para você chegar a tempo para a entrevista. - Aaron empurrou as trancinhas para trás da orelha. Blair nunca vira ninguém fazer isso antes.
- Agora? - Blair aceitou a mão de Aaron e se levantou, trêmula. Não era o que havia planejado. Mas por que não?
Assim, ela e Aaron estariam na estrada à noite. Teriam de ficar num hotel em algum lugar. Tinham carro, podiam ir a qualquer lugar. Qualquer lugar que não fosse ali.
Ela estava sendo espontânea pela primeira vez.
- Tá legal - disse Blair com uma fungada. - Vou fazer minha mala.
- Legal. Eu também. Ei, Tyler! - gritou ele. Tyler apareceu na porta da biblioteca só com as meias nos pés. Estava usando uma das camisetas LEGALIZE HEMP de Aaron e tinha chocolate na cara. - Desculpe, cara, não posso terminar de assistir a seqüência de Matrix com você. Eu e Blair vamos pegar a estrada.
- Tudo bem - disse Tyler. - Seqüências são um saco.
Blair passou pelo irmão e correu para o quarto para se aprontar. O coração saltava no peito. Ela podia odiar Aaron, mas estava tão ansiosa para cair fora dali que nem se importava de ter de ir com ele. Desde que ele não tentasse agir todo irmãozinho cheio de naturebices com ela, essas porcarias.
encontro na grand central station
Quando Serena chegou no bar do segundo andar da Grand Central Station, Dan já estava lá, fumando um cigarro e bebendo gim-tônica. Ele parecia nervoso.
- Oi - disse Serena, sem fôlego.
Ela sempre estava sem fôlego porque sempre estava atrasada.
Dan gostava de imaginar Serena descendo dos céus para chegar ali. Era um vôo longo.
- Nossa cozinheira me deu uns sanduíches para o caso de a gente ficar com fome - continuou ela.
Dan rodou o gelo no copo. Serena estava usando um suéter azul que deixava seus olhos maiores e mais azuis do que ele já havia visto.
- Eu trouxe urna garrafa de vinho - disse ele.- Agente pode fazer um piquenique.
Serena deslizou para o banco ao lado do dele. O bartender colocou um Kir royale, todo borbulhante e da cor de lavanda, no guardanapo diante dela.
- Eu adoro este lugar. - Ela pegou o drinque.
O bartender já sabia o que ela queria. Dá para ser mais cool que isso?
Dan lhe ofereceu um cigarro, colocou um na boca e acendeu os dois. Ele se sentia incrivelmente cortês.
Serena exalou, soprando fumaça no teto decorado da estação.
- Acho que o que eu mais gosto em ir a outros lugares são as estações, aeroportos e táxis. São tão... sensuais - disse ela.
Dan deu um trago no cigarro.
- É - concordou ele, embora não pudesse ter discordado mais. Ele mal podia esperar para chegar lá. Depois que ele e Serena estivessem sozinhos, ele podia...
Sim?
Ele não tinha certeza do que ia acontecer, mas tinha certeza de que ia acontecer alguma coisa.
- Você vai gostar do meu irmão, o Erik. - Serena tomou um gole do Kir royale. - Ele gosta de filosofar. Mas é meio rato de festa também.
Dan assentiu e puxou os cachos castanhos. Tinha esquecido de Erik. Tomara que Erik tenha muitas festas com seus colegas de quarto enquanto eles estiverem lá. Dessa forma Dan teria Serena só para ele.
O quadro de chegadas e partidas piscava e palpitava enquanto os novos horários eram colocados e os trens chegavam e saíam. A estação estava movimentada por causa do fim de semana. As pessoas corriam para pegar seus trens ou ficavam por ali, esperando pelos amigos.
Serena olhou o quadro de partidas com os olhos semicerrados.
- Nosso trem sai daqui a quinze minutos - disse ela. - Mais um cigarro de saideira, e a gente deve ir.
Dan pescou mais dois cigarros do maço e girou no banco para pegar o isqueiro.
- E aí? Eu li seu poema. - Serena tinha de tocar no assunto em algum momento, e agora era uma hora tão boa quanto qualquer outra. O poema era bom, mas ainda a assustava um pouco.
Dan congelou.
Pelo canto do olho, viu quatro caras meio conhecidas na entrada da estação na Vanderbilt Avenue. Um deles parou e olhou para Serena.
Nate estava chapado, mas não era alucinação.Serena van der Woodsen estava sentada bem ali no bar da Grand Central, usando uma calça canelada branca, um suéter azul com gola em V e suas botas de camurça marrom favoritas. O suéter deixava os olhos dela mais profundos e mais escuros do que ele já vira.
Blair o fizera prometer esquecer tudo sobre Serena, mas Nate nunca teve certeza se ia conseguir. Ele vinha tentando evitá-la, porque ver Serena em geral o deixava magoado.
Mas não desta vez. Desta vez, tinha alguma coisa diferente.
Quando olhou Serena, só o que viu foi uma bela velha amiga.
- Ei, eu conheço aqueles caras!- Serena saltou do banco.
Ela deixou o cigarro aceso no bar e foi em direção a Nate.
- Peraí - disse Dan. Ela não tinha dito a ele o que achou do poema.
Ele viu Serena se aproximar do cara que a estava encarando e beijá-lo no rosto. De repente Dan entendeu por que aqueles caras pareciam tão conhecidos. Eram os mesmos que ele viu jogando bola com a irmã no parque.
- Oi, gente - disse Serena, dando seu sorriso inimitável. - Para onde vocês vão?
Ela simplesmente se levantou, deu um beijo em Nate e disse "Oi" como se não tivesse percebido que Nate a vinha ignorando desde que ela voltou a Nova York no mês passado.
Serena não era de guardar rancor. Ao contrário de algumas pessoas que conhecemos.
- Vamos para a Brown - respondeu Anthony. – Mas primeiro temos de pegar o carro de Jeremy em New Canaan.
Os olhos de Serena se acenderam.
- De jeito nenhum. A gente vai para a Brown também! Meu irmão está lá, então vamos ficar com ele. Querem ir com a gente?
Nate fez uma carranca. Ir para a Brown com Serena definitivamente não estava no livro de regras você-pode-sair-sem-mim de Blair.Mas quem disse que ele tinha de seguir as regras dela?
- Beleza - disse Jeremy. - Parece uma festa.
- Legal. Vocês provavelmente vão ficar na casa do meu irmão também. - Ela se virou e acenou para o cara desgrenhado e pálido curvado no bar. - Ei, Dan. Vem cá.
Dan se levantou e foi. Serena percebeu que ele parecia meio triste.
- Gente, esse é o Dan. Dan, esse é o Nate, Charlie, Jeremy e Anthony. Eles vão com a gente para a Brown.
Serena deu um sorriso brilhante para Dan e ele tentou retribuir - ele realmente tentou, mas foi difícil. Por que não tinha pegado o trem mais cedo? Eles podiam estar felizes agora, bebendo vinho e comendo os sanduíches da cozinheira de Serena em vez de dividir o carro com quatro caras mimados da St. Jude que monopolizariam totalmente Serena e mudariam o tom da viagem. Não haveria sussurros em jantares a noite toda, as mãos dadas sob a mesa. Ninguém dormiria junto no chão da casa do irmão. Não era mais um fim de semana romântico: era uma viagem de carro de visita a universidade, uma festa insignificante.
Eeba!
Dan estava decepcionado.
- Legal - disse ele. Ele queria voltar para seu quarto, escrever sobre o fim de semana que podia ter tido.
- Tudo bem, vamos nessa. É melhor pegar esse trem - instou Charlie.
Serena passou o braço pelo de Dan e  puxou pelas escadas com ela.
- Vamos! - gritou ela. Ele não teve escolha.
Nate andou atrás deles, sentindo-se um pouco triste também.
Ele queria ter trazido alguém com ele, e não era em Blair que estava pensando.
best western contra motel 6
- Talvez a gente deva passar em Middletown. Dar uma olhada na Wesleyan - sugeriu Aaron. Ele pegou o acendedor de cigarros do Saab e abriu o teto solar.
Eles tinham acabado de entrar na 1-95 em Connecticut.
Blair ficou o tempo todo em silêncio enquanto Aaron saía da cidade. Uma música meio reggae de hippie feliz que ela nunca ouviu na vida tocava no carro.
“You want to lively up yourself!"
Blair tirou o sapato e colocou os pés com meias no painel do carro.
- Não vou me candidatar a mais nenhuma universidade, só a Yale - disse ela. - Mas a gente pode passar pela Wesleyan, se você quiser.
Aaron puxou um cigarro de uma latinha engraçada e acendeu.
Inclinou a cabeça para Blair.
- O que te faz ter tanta certeza de que vai conseguir? - perguntou ele.
Blair deu de ombros.
- Venho planejando isso desde que era pequena – explicou ela. - Isso é maconha?
- De jeito nenhum, cara. - Aaron deu uma risadinha. - É cigarro de ervas. Quer provar?
Blair fez uma careta e pegou um maço de Merit Ultra Lights da bolsa.
- Prefiro este.
- Esse troço vai te matar - assinalou Aaron. Passou o carro para a pista do meio e deu uma tragada funda. – Este aqui é cem por cento natural.
Blair olhou pela janela. Ela realmente não estava disposta a ter uma aulinha das qualidades holísticas dos cigarros especiais de Aaron.
- Obrigada, mas não quero - disse ela, esperando que isso desse um fim a conversa.
- E aí, eu queria saber se você gosta de uma balada ou não. Alguma coisa me diz que quando você solta o cabelo, pode ficar bem doidaça.
Blair continuou a olhar pela janela. Na verdade, ele estava certo, mas ela não dava a mínima para o que Aaron pensava. Ele que pensasse o que quisesse.
- Não mesmo - disse ela, dando um trago no cigarro.
- E aí, tem namorado?
- Tenho.
- Mas ele não quer ir pra Yale? .
- Não. Quer dizer, ele quer – corrigiu Blair -, mas vai dar uma olhada na Brown este fim de semana. Ele vai com uns amigos.
Aaron assentiu.
- Sei.
Alguma coisa no jeito com que ele disse isso enfureceu completamente Blair. Era como se ele visse através dela e de Nate e soubesse que ela praticamente ficara de quatro e implorara a Nate para ir a New Haven com ela, mas ele se recusou.
Aaron que fosse se foder por fazê-la se sentir uma merda.
- Olha, isso não é da sua conta - rebateu Blair. – Vamos parar por aqui, tá legal?
Aaron sacudiu a cabeça e apontou para os cigarros naturais que tinha colocado no painel.
- Tem certeza de que não quer um? - perguntou ele.
- Vai te deixar mais mansa.
Blair sacudiu a cabeça.
- Tá legal. - Aaron passou para a pista da esquerda e acelerou para 130 km por hora.
Blair olhou para a mão dele na alavanca de marcha. A unha do polegar tinha uma cor preto-arroxeada, e ele estava usando um anel de prata em formato de cobra no polegar. Se não fosse seu meio-irmão, até que seria meio sexy. Mas era o meio-irmão, então não era sexy.

Dan estava deprimido demais para sequer pensar em ficar doidão com os amigos de Nate no banco de trás. Em todo o caminho que o trem percorreu ate Ridgefield, Serena, Nate e os amigos dele ficaram falando de coisas que Dan não conhecia.
Tipo bares de que nunca ouviu falar, ou lugares de veraneio em que ele nunca velejou nem jogou tênis. Dan passou o último verão trabalhando em tempo parcial numa livraria na Broadway e meio período numa delicatessen. Ele conseguia livros grátis da livraria, e na deli podia beber a quantidade de café que quisesse. Foi ótimo. Mas ele não dividiu aquelas ninharias. Não eram nada glamourosas.
Dan sabia que Serena não estava tentando ser esnobe. Ela não era assim. Não precisava usar a escada social - ela já estava no topo. O que o deprimia era que ela não queria ficar sozinha com ele do jeito que ele que ria ficar sozinho com ela.
Se ela quisesse, não teria transformado seu agradável fim de semana fora em uma festa de chapados.
- Alguém quer? - gritou Serena do banco do carona.
Ela se virou e balançou um pacote de seis Buds para o banco traseiro.
- Eu! - Os quatro garotos gritaram ansiosos, inclusive Nate, que estava dirigindo.
- De jeito nenhum, Nate. Vai ter de esperar até a gente parar.
- Ah, qual é? Eu estava chapado quando fiz a prova de direção.
- Desculpe - disse-lhe Serena, passando uma cerveja para Charlie. - Você quis ser o Papaizao que dirige. Agora vai pagar por isso.
Anthony riu e chutou as costas do banco de Nate.
- Papai, já chegamos?
- Fiquem quietos aí atrás - gritou Nate, áspero. – Se não vou ter de parar e te dar umas palmadas na bunda.
O banco traseiro irrompeu numa gargalhada.
Dan estava sentado curvado na janela, vendo os cartazes passarem na 1-95, odiando Nate e os amigos. Primeiro eles levaram sua irmã, e agora sua namorada. Como se já não tivessem tudo o que podiam ter numa porra de bandeja de prata. Dan sabia que isso não era muito justo, mas não se sentia muito justo. Estava irritado.
Pegou um Camel no bolso, as mãos tremendo mais que nunca.
Uma coisa era certa. Ele não estava nesta viagem para nada. Amanhã ia ter uma entrevista perfeita na Brown.

Aaron viu uma placa do Motel 6 a uns trinta quilômetros de New Haven e pegou a saída da estrada.
- O que está fazendo? - perguntou Blair. - A gente não chegou ainda.
- É, mas é o Motel 6. Estamos bem perto - disse Aaron, como se isso explicasse tudo.
- O que tem de tão bom no Motel 6?
- É limpo. É barato. Tem TV a cabo. E as maquinas automáticas são demais - disse Aaron.
- Achei que a gente ia ficar num lugar legal, com serviço de quarto. - Blair nunca havia ficado hospedada num motel antes.
- Confie em mim - disse Aaron, estacionando na frente da recepção do motel.
Blair ficou no carro com os braços cruzados, carrancuda, enquanto Aaron fazia a ficha. Ele estava tentando agir todo simplesinho com as pessoas, fingindo que não era um cara riquinho e mimado. Era tão irritante. Mas ela se sentia meio deprimida indo para um motel em um Saab vermelho com um cara de trancinhas. O estacionamento era escuro e todos os quartos tinham cortinas. Parecia o tipo de lugar em que as pessoas vão para desaparecer da vida.
Aaron voltou com uma chave.
- Eles só tem um quarto. Mas a cama é grande. Tem algum problema pra você?
Blair tinha certeza de que Aaron esperava que ela fosse sibilar e exigir seu próprio quarto.
- Tudo bem - disse ela. Podia lidar com isso.
Aaron voltou para o carro e arrancou do estacionamento, voltando a estrada.
- Aonde é que a gente vai agora? - perguntou Blair. Ela odiava o modo como Aaron fazia tudo o que dava na veneta, sem se importar se ela queria.
- É outra coisa muito legal no Motel 6. Eles sempre ficam em estradas com shoppings simples, e aí a gente pode conseguir tudo o que quiser. - Aaron entrou no estacionamento de um Shop'n' Save e pegou o cartão de crédito Shop'n' Save da mãe na carteira. – Vamos lá, vamos estourar o cartão!
Blair revirou os olhos.
Pelo menos ele sabia como usar o plástico.
Nate dirigiu até não agüentar mais. Seus amigos ficaram rindo no banco traseiro por duas horas e meia, e ele precisava de uma cerveja.
- Vou encostar. Vi uma placa do Best Western. Tudo bem, né?
- Minha família ficou numa suíte do Best Western no interior quando deixamos minha irmã no acampamento - disse Dan. - Foi legal.
- Tem suíte lá?- perguntou Jeremy. - Achei que o Best Western fosse tipo um motel.
- Tem serviço de quarto. Dan ficou meio na defensiva. - E um frigobar cheio de bebida.
- Vamos definitivamente pegar uma suíte – disse Charlie.
Dan fechou os olhos e rezou para que não houvesse nenhum quarto vago nesse Best Western em particular. Ainda havia esperança de que ele e Serena pudessem dividir um quarto. Podia ser quase melhor do que ele esperava.

A cama do Motel 6 estava cheia de saquinhos de lanche. Chips Ahoy, Fritos, batata frita Wise, Smart Food, pudim de chocolate sem laticínio, Hawaiian Punch, queijo de soja suíço, biscoitos Ritz e, é claro, cerveja em lata.
- Aposto que tem alguma coisa boa na TNT. – Aaron deixou-se cair na beira da cama. Abriu uma Bud e pegou outro de seus cigarros especiais.
Blair afofou um travesseiro e se recostou na guarda da cama, enfiando os joelhos quase debaixo do queixo. Ela nunca tinha feito isso antes - comer porcaria e beber Bud em um quarto de motel com um cara que não conhecia muito bem enquanto assistia TV ruim. Era meio que... diferente.
- Vou querer uma dessas - disse ela baixinho.
Aaron não tirava os olhos da TV e passou uma cerveja para ela, seu anel de cobra de prata brilhando.
- Aí, eu te disse, Duro de matar 2. Excelente.
- E um desses. - Blair apontou para o cigarro dele.
Aaron se virou e sorriu meio torto para ela.
- Estou avisando, eles te deixam mais mansa – alertou ele.
- Tudo bem - disse Blair tranqüilamente.
Ela acabou de passar por uns dias estressantes. Por que não devia relaxar?
Aaron passou-lhe um cigarro e a caixa de fósforos.
- Cuidado para não puxar muito rápido, ou você vai torrar os pulmões.
Blair revirou os olhos, irritada. Ela sabia fumar. As costas da camiseta de Aaron diziam POWER TO THE PEOPLE,o que também a irritava. Ele achava que era tão bacana, liberal e politicamente consciente. Ela riscou um fósforo e levou até o cigarro. Só um fuminho, uns goles de cerveja, talvez um donut e depois ela ia dormir cedo.
Amanhã teria de brigar pelo futuro.

A suíte do Best Western tinha duas camas duplas e um sofá cama.
Havia cenas de caça nas paredes e, em toda a janela grande e retangular, uma vista de um parque de diversões, fechado no inverno. A roda-gigante pairava no ar da noite como um esqueleto obeso. Dan não conseguia deixar de olhar para ela.
Nate e os amigos tinham pedido um monte de pizza e urna caixa de cerveja e estavam todos deitados nas camas, brigando pelo controle remoto. Jeremy queria ver filmes pornôs no payper-view. Nate queria ver um western-spaghetti antigo no Bravo. Charlie queria apagar todas as luzes, abrir as janelas e ouvir Radiohead no CD-player.
Serena estava tomando banho. Dan podia sentir o cheiro do vapor por baixo da porta do banheiro. Tinha cheiro de lavanda e cera de vela. Serena estava cantando.
- Voutez vous couchez avec moi, ce soir?
Sim, Dan que ria dormir com ela essa noite. Muito. Mas não parecia que isso ia acontecer.
- Aí, gente, e melhor não derrubar gordura de pepperoni na minha cama - alertou Serena, abrindo a porta do banheiro, o corpo enrolado numa grande toalha branca do hotel.
- Qual é a sua cama? - perguntou Anthony, arrotando alto.
- Eu ainda não decidi - respondeu Serena. - Mas se você vai arrotar e peidar nessa aí, talvez eu durma na outra.
Ela atravessou o quarto até sua bolsa e pegou urna camiseta cinza e short de flanela xadrez.
Todos os meninos olhavam para ela. Era meio difícil não olhar.
- E não acabem com a pizza - disse Serena, indo para o banheiro para se trocar. - Eu estou faminta.
Dan acendeu um cigarro, as mãos tremendo mais que nunca. Saiu de sua cadeira perto da janela, pegou uma cerveja na cama e se sentou no sofá. Não tinha nada melhor para fazer. Podia muito bem tornar um porre.
Serena saiu do banheiro novamente vestindo o moletom e o short. Pegou uma lata de cerveja e uma fatia de pizza e se sentou no sofá ao lado de Dan. Era meio que um alívio ter os outros quatro garotos viajando com eles. O poema que Dan lhe mandara era sobre amor e morte, e sobre como ele queria continuar vivo por causa dela. Serena gostava muito de Dan, mas ele realmente precisava pegar mais leve.
- Daqui para a faculdade - disse ela, batendo a pizza na lata de cerveja de Dan. - Não ia ser divertido se todo mundo fosse para a Brown junto?
Dan assentiu, atirou a lata de cerveja para trás e se levantou para pegar outra. É, ia ser muito divertido, pensou ele.
Hilário.

Blair se deitou na cama e segurou um biscoito Ritz no olho esquerdo, olhando para o teto com o direito. Uma aranha minúscula andava para a lâmpada.
- Indecente. Tem uma aranha no teto. - Blair tinha bebido três cervejas e comido quatro donuts. Estava comendo biscoito Ritz com queijo cheddar por cima de sobremesa.
- Sabe o que a gente esqueceu? - perguntou Aaron, chutando as latas de cerveja vazias para fora da cama e enfiando um punhado de Fritos na boca.
- Água? - Blair tinha comido açúcar, sal e gordura demais e estava morrendo de sede.
Os três cigarros de erva que fumou também não ajudaram.
- Não. Doce.
Blair sorriu. Um KitKat ia ser legal.
- Tá certo - disse ela.
Saíram do quarto na ponta dos pés e desceram o corredor até a máquina automática. Blair deu uma gargalhada quando viu o carpete do corredor. Era marrom com espirais vermelhas. Quem decorava esses lugares, afinal?
Aaron parou na frente da máquina automática, carrancudo.
- Não consigo me decidir...
Blair parou ao lado dele. Tinha KitKats, mas também tinha Twixes, Snickers e Almond Joys. Era uma decisão difícil.
- Quanto trocado a gente tem? - perguntou ela.
Aaron ergueu a mão. Tinha o bastante para exatamente duas barras e meia. Ou duas barras de chocolate e alguns chicletes.
Blair deu uma nova gargalhada.
- Tirei A direto em cálculo avançado e não posso nem pegar uma porra de um chocolate - disse ela.
Aaron colocou três moedas de 25 cents na máquina. Depois ele pegou a mão dela.
- Tá legal, fecha os olhos e pega um.
Ele guiou a mão dela para a máquina até que os dedos roçassem nos botões. Blair apertou o botão e ouviu alguma coisa cair na base da máquina. Ela se inclinou para pegar.
- Peraí! - gritou Aaron, puxando-a de volta. – Vamos fazer outra vez e ver o que conseguimos. - Ele enfiou outras três moedas de 25 na máquina.
Blair tentou se lembrar onde estavam os KitKats, mas não conseguia. Apertou outro botão e novamente alguma coisa caiu na base da máquina. Blair abriu os olhos e se apressou emm pegar o butim. Um Almond Joy e um pacote de balas Lifesavers.
- Lifesavers? De jeito nenhum! - reclamou ela.
- Fui! - Aaron pegou o Almond Joy da mão dela e disparou pelo corredor.
- Peraí, esse é meu! - gritou Blair e foi atrás dele, escorregando no carpete fino com as meias. Era pouco mais de duas da manhã. Sua entrevista ia acontecer em menos de nove horas e ela odiava admitir, mas estava realmente se divertindo muito.
Yale, idiota.

Dan deitou no sofá-cama, ouvindo Charlie roncar suavemente ao lado dele. Do outro lado do quarto Serena estava dormindo em uma das camas duplas com Anthony, ou era Nate? Ele não sabia. A boca de Serena estava aberta e caída no travesseiro, e ele podia ver os dentes da frente brilhando a luz da lua. Do lado de fora, a roda-gigante avultava como um olho imenso, observando-os. Dan virou de cara para a parede.
Queria se levantar e escrever um poema, mas tinha deixado o caderno em casa. Achou que ia ficar ocupado demais curtindo com Serena para querer escrever alguma coisa séria nesse fim de semana. Estava começando a aprender que nada acontece do jeito que ele pensa que vai acontecer.
A vida é um porre e depois você morre. Talvez fosse o que Sartre tenha tentado dizer em Entre quatro paredes.
Dan tirou as cobertas e se levantou. No caminho para o banheiro, para pegar um copo d'água, ele passou pela cama em que Serena e Nate dormiam. Era definitivamente Nate - ele podia ver agora. E no travesseiro entre eles estavam as mãos dos dois... juntas, entrelaçadas.
Eles ficam de mãos dadas enquanto dormem.
Dan se virou, pegou uma caneta na mesa-de-cabeceira e se trancou no banheiro.
Quando você tem um impulso incontrolável de escrever um poema arrebatador sobre o absurdo da existência humana, o papel higiênico sempre pode quebrar um galho.

Blair sabia que estava dormindo esquisito. O saco de Chips Ahoy estava muito perto do rosto e ela ainda estava de sutiã, mas ia cuidar disso de manhã. Sua barriga estava cheia e quente, e ela realmente devia tentar vomitar se quisesse entrar na calça de couro favorita, mas isso também podia esperar até de manhã. Ao lado dela, Aaron ria dormindo e batia palmas, como se estivesse tentando chamar o cachorro. Woofie? Era esse o nome do cão? Blair pensou muito, mas não conseguia se lembrar.
Nem conseguia se lembrar por que estava ali, em um quarto de motel estranho com Aaron e suas trancinhas. Mas era legal dormir com o cheiro de biscoito de chocolate e a fumaça de pinheiro de seus cigarros cem por cento naturais. Fazia lembrar de Nate.
Hmmm. Parece que alguém finalmente começou a relaxar. Parece que alguém se esqueceu de pedir a recepção para acordá-la.
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advertência: todos os nomes verdadeiros de lugares, pessoas e fatos foram abreviados para proteger os inocentes. Quer dizer, eu.

oi, gente!
OS ABANDONADOS
Tá legal. Onde diabos está todo mundo? Será que devo me sentir uma mané total por ficar na cidade no fim de semana? Fiz todas as visitas a universidades no verão – ta bom, eu sou uma mané. De qualquer forma, sei bem quais são as legais e quais não são, e o que eu não sei posso ver nos catálogos. O único motivo para visitar uma universidade agora é ir para a balada com as pessoas de lá, e francamente acho que tenho a mais alta pontuação em balada bem aqui na boa e velha Nova York.
De qualquer forma, todo mundo pode sair da cidade, mas não precisamos perder o contato. Dê uma olhada nos e-mails que recebi.
Seu e-mail
P: e aí, gossip girl,
eu trabalho no motel 6 perto da cidade de orange em connecticut, então aquele cara mt bonitinho num saab vermelho com placa de nova york encostou, né? Então é claro que tenho de ver quem está com ele. A garota parecia bem piranhazinha, pra ser sincera, e não era o tipo dele. De qq forma, saí do trabalho e fui para casa, mas sei que eles definitivamente fizeram uma farra no quarto tipo a noite toda, porque todo o corredor fedia a uma fumaça estranha.
o farol do carro estava aceso quando eu saí. Espero que tenham desligado ou a bateria vai estar arriadinha hoje.
- kiera3
R: Cara kiera3,
Opa, parece que B terá uma manhã difícil.
- GG

P: Oi Gossip Girl,
Fui para Yale na sexta também, e estou no Motel 6. Legal. Sei que B e o meio-irmão são tipo totalmente parentes e tudo. Mas eu juro que vi os dois se agarrando no estacionamento.
É indecente ou o quê?
- MsPink
R: Cara MsPink,
Não quero acreditar em você porque é, é mesmo indecente.
- GG

P: Cara Gossip Girl,
Ouvi dizer que os tiras apareceram no BestWestern em algum lugar de Massachusetts e estouraram uma festa de uns garotos. Aparentemente todo mundo passou a noite na cadeia. Só achei que você ia querer saber.
- Dragonfly
R: Caro Dragonfly,
Não sei se nossos amigos são tão burros para ser pegos no flagra ou não. Espero que não!
-GG

Flagra
Vamos continuar na cidade, vamos? J andando desanimada pelo Central Park na sexta depois da aula. Imagino que sinta uma saudade terrível de N. V dando os últimos toques no filme. Vai rolar uma pré-estréia no The Five and Dime nesse fim de semana. Muito pretensioso da parte dela, se querem minha opinião. D comprando lâminas de barbear novas em uma drogaria na rua 42 antes de ir para a Grand Central Station na sexta-feira. Acho que queria ficar bonito e barbeado para S. A comprando um cartão Hallmark vagabundo na CVS na sexta quando ia pegar o carro. Adivinha para quem era?
Isso é tudo por hoje. Tenho certeza de que teremos muito mais novidades quando todo mundo voltar.
Continuem com o bom trabalho.

Pra você que me ama,
gossip girl
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a manhã seguinte
A luz do sol atravessava a janela, batendo no saco de Chips Ahoy o bastante para derreter as gotas de chocolate. Blair sentiu o cheiro de chocolate grudento e acordou. Virou para o outro lado, batendo em Aaron, e depois virou novamente, dando com um saco pela metade de Fritos.
- Merda - resmungou. Ela trouxe o relógio para perto da cara e o olhou. A entrevista em Yale ia ser as onze. Estava deitada com a cara num saco de Fritos em um quarto de motel vagabundo em Cú-do-mundo do Leste, Connecticut, e já eram dez horas da manhã.
- Porra! - gritou Blair, pulando da cama. - Aaron. Acorda. Já!
Era meio difícil não perceber o pânico na voz dela.
- Que horas são? - murmurou Aaron. Ele se sentou, sacudindo a cabeça de um lado para outro, sonolento.
- Faltam três para as dez! - guinchou Blair, arrastando sua mala. Nem tinha se preocupado em pendurar as roupas, então sua saia para a entrevista estava toda amassada. O que havia de errado com ela? Esse não era tipo o dia mais importante da vida dela?
- Não esquenta - disse Aaron.
Foi a coisa errada a dizer.
- Cala a boca! - gritou Blair, atirando um mocassim Gucci preto nele. - É tudo culpa sua!
Aaron enfiou a mão por baixo da coberta para coçar a bunda.
- O que é minha culpa?
- Só cala a boca!- Blair pegou as roupas, marchou para o banheiro e bateu a porta.
- Vou ver se eles tem café lá na frente! - gritou Aaron para ela. - Vou pagar a conta. Espero você no carro.
Balançou os pés para o chão e vestiu o jeans. Depois se levantou e examinou o reflexo no espelho do quarto. Uma trancinha estava empinada bem no meio da cabeça. Tinha manchas de chocolate na camiseta. Aaron deu de ombros. Não ia ter entrevista nenhuma. Pegou o casaco e a chave do quarto.
De jeito nenhum Blair ia culpá-lo por ferrar a vida dela. Ele a levou lá.
No banho, Blair se esfregou furiosamente enquanto repassava as perguntas da entrevista na cabeça.
Por que Yale? Porque é a melhor. Não vou para uma faculdade para me divertir. Quero os melhores professores e a melhor seleção de cursos oferecidos e as melhores instalações. Não quero só passar pelos próximos quatro anos. Quero ser desafiada.
Fale-me de você. Que tipo de pessoa você é? Sou muito organizada. Meus amigos acham que sou meio detalhista. Sou ambiciosa. Não suporto a idéia de estar na média em tudo. Sou determinada. Eu me obrigo a fazer o melhor que posso. Acho que sou meio teimosa. Sou muito social. Organizo festas e eventos de caridade. Tento ser politicamente consciente, embora, com toda a leitura da escola, tenho de admitir que não leio o jornal todo dia. Adoro animais. Tento ser uma filha e uma irmã atenciosa e fazer boas coisas para minha família sem ser solicitada.
Quem é um exemplo para você? Tenho dois. Jacqueline Kennedy Onassis e Audrey Hepburn. As duas foram extraordinárias, fortes, respeitadas, lindas. Cheias de dignidade.
Blair fechou a torneira e pegou uma toalha. Não tinha tempo para lavar o cabelo. Esperava que não estivesse fedendo a fumaça. Ela examinou p rosto no espelho. Seus olhos estavam inchados e uma espinhazinha brilhava rosada acima da sobrancelha esquerda. Ela borrifou tonificador de pepino no rosto e passou creme La Mer sob os olhos. Yale não ia admiti-la com base na aparência, de qualquer forma. Pegou a blusa azul-clara Calvin Klein, a saia preta xadrez DKNY e a meia-calça preta. Depois escovou os cabelos num rabo-de-cavalo frouxo. Pronto. Parecia o tipo de garota que gostava de ir a livrarias para ler poesia. Parecia séria e inteligente.
Blair vasculhou a bolsa de cosméticos procurando pelo pó compacto Stila. Passou um brilho rosa leve nas bochechas, na ponta do nariz e na testa. Depois passou um pouco de brilho claro nos lábios. Estava pronta como nunca.
Ignorando a sensação nervosa e enjoada na boca do estômago inchado, Blair colocou as coisas na mala, enfiou os pés nos mocassins Gucci, vestiu o casaco de lã preto e saiu do quarto. Era organizada, ambiciosa, determinada, politicamente consciente... Chegou ao pé da escada e empurrou a porta para o estacionamento. O capô do Saab estava aberto. Aaron estava inclinado no motor, ligando um tipo de grampo a bateria.
Blair parou e prendeu a respiração. Que diabos havia de errado com a porra do carro?
Aaron se virou e olhou para ela.
- A bateria arriou. Acho que a gente deixou o farol aceso a noite toda.
- A gente? - Blair largou a mala e bateu o pé com raiva.
- E agora, o que eu vou fazer?
- A gerente vai fazer uma chupeta pra gente – disse Aaron, colocando as trancinhas atrás da orelha. - Tá tudo bem.
- Me desculpe, mas não está tudo bem. A gente tem de sair daqui agora! - gritou Blair, embora Aaron estivesse parado bem diante dela.
Uma loura oxigenada de uns quarenta anos estacionou um velho Suburban marrom ao lado do Saab. Deixou o motor ligado e saiu do carro.
- Vamos fazer isso rapidinho - disse ela a Aaron. – Não gosto de deixar o telefone tocando. - Ela abriu o capô do Suburban.
Blair olhou o relógio novamente. Eram dez e meia.
- A que distância estamos de Yale? - perguntou ela.
- A universidade? Uns 37 quilômetros - disse a mulher. - Meu filho está lá. Leva uns vinte minutos para chegar.
Blair fez uma carranca. Nunca passou pela cabeça dela que os filhos desse tipo de gente que gerenciava Motel 6 fosse para Yale.
- Quanto tempo vai levar essa chupeta?
Aaron deu os grampos para a mulher conectar na bateria. Ele riu.
- Ah, pode levar qualquer coisa entre cinco minutos e duas horas - respondeu ele, piscando para a mulher.
Blair cruzou os braços.
- Não temos duas horas!
Aaron abriu a porta do Saab e girou a ignição, bombeando o motor algumas vezes para ter certeza de que estava bem e verdadeiramente pronto para partir. Deixou o motor ligado e fez um sinal para Blair entrar.
- Você está com sorte - disse ele e piscou para a gerente do motel novamente. Ela desligou o carro e Aaron tirou os cabos, fechou o capô do Saab e foi para o lado de Blair. Tirou um envelope do casaco e entregou a ela.
Blair rasgou-o para abrir. Era um cartão Hallmark com uma foto de uma garotinha. PARA MINHA IRMÃ, dizia o cartão. EM SEU DIA ESPECIAL.
- Pronta? - instou Aaron.
Blair fechou o cartão.
- Só dirija, por favor - ordenou ela. Tocou a espinha na testa. Parecia que estava crescendo exponencialmente a cada minuto que passava.
Qual é seu maior ponto forte?
Eu nunca desisto.
E seu maior ponto fraco?
Sou meio impaciente. Mas só um pouco.
Ah, tá legal.
j banca a gente boa
- Por que não vai dar uma corrida ou coisa assim? – sugeriu Rufus Humphrey a filha na manhã de sábado. Ele coçou os pelos grisalhos eriçados que saíam em tufos perto do colarinho da camiseta amarelada. - Sua mãe era corredora.
Jenny fez uma carreta. Odiava falar da mãe.
- Mamãe só corria com o personal trainer. Eles estavam tendo um caso, lembra?
O pai deu de ombros.
- Você parece entediada, é isso. Quer ir ao cinema comigo?
- Não - disse Jenny. Tomou um gole do chá. – Vou ficar aqui e ver TV.
- Tudo bem. Mas cuide para ver alguma coisa educativa. Sabe o que, como Vila Sésamo. - Ele bateu na cabeça de Jenny com o Times de sábado e foi para o banheiro.
Jenny ficou sentada a mesa da cozinha, olhando sua xícara.
Marx, seu gato malhado e obeso, saltou para a mesa e farejou a orelha de Jenny.
- Estou com tédio - disse ao gato. - Você tem tédio?
Marx se sentou e lambeu sua enorme barriga. Depois saltou npara fora da mesa e foi para a tigela de ração.
Na dúvida, é melhor comer.
Jenny se levantou e abriu a porta da geladeira. Parou ali um tempinho, olhando-a. Queijo suíço. Urn grapefruit. Leite azedo. Uma caixa de sucrilhos colocada no congelador para ficar escondida das baratas. Um único bolinho inglês.
O telefone tocou.
Jenny não se mexeu. Não era para ela mesmo. Nate, Dan, Serena - estavam todos fora.
Ele tocou repetidamente, sem parar.
- Jenny, que droga! - Ela ouviu o pai gritar do banheiro.
Jenny bateu a porta da geladeira e pegou o telefone.
- Alô?
- Oi, Jennifer, é Vanessa.
- Oi.
- Dan está?
- Não. Dan foi passar o fim de semana com Serena na Brown. Ele não contou pra você?
- Não.
- Que estranho.
- É. A gente não tem conversado muito ultimamente.
- Ah. - Jenny voltou a geladeira e a abriu novamente. Queijo suíço. Ela podia derreter o queijo suíço no bolinho inglês.
- Tudo bem, eu acho que se ele não esta aí, não está aí. - Vanessa parecia realmente decepcionada. Decepcionada e magoada.
Todo o enigma de Vanessa com seu irmão mais velho não enganava Jenny nem por um minuto. Vanessa era totalmente apaixonada por Dan. Se Dan dissesse a Vanessa que ia se casar com ela se ela deixasse o cabelo crescer, usasse roupas coloridas e fizesse um pouco de exercício, Vanessa faria isso. Jenny tinha um pouco de pena dela.
Jenny devolveu o queijo suíço para a prateleira.
- Ei, estou com um problema meio estranho – disse ela, decidindo ser legal. - Você quer, tipo assim, fazer alguma coisa hoje? Quer dizer, comigo?
Houve uma pequena pausa. a som de Vanessa hesitando.
- Claro. Vou fazer uma seção do meu filme no Five and Dime ao meio-dia. Você pode ir e a gente sai depois ou coisa assim.
Jenny fechou a geladeira e se apoiou nela.Vanessa não era exatamente a pessoa de quem mais gostava no mundo, mas o que mais ela ia fazer com Nate fora?
- Tá legal. Eu te vejo lá.
Quem sabe? Ela e Vanessa podiam até acabar ficando amigas.
a entrevista: como causar uma boa impressão
- Obrigado por esperar - disse o entrevistador a Blair,examinando a sala de espera azul do escritório de admissão de Yale, onde Blair estava sentada toda dura na beira de uma cadeira de espladar em asa por mais de 15 minutos.Aaron quase bateu em vários carros para chegar ali a tempo, e depois ela teve se esperar. Agora estava arrasada de nervosa.
- Oi! – guinchou Blair, saltando da cadeira. Ela estendeu a mão. - Meu nome é Blair Waldorf.
O entrevistador, um homem alto e moreno com cabelos grisalhos nas têmporas e olhos verdes e brilhantes, pegou a mão dela e a sacudiu
- É um prazer conhecer você. Meu nome é Jason. - Ele se virou e levou Blair a sua sala. A calça dele era meio apertada na bunda, percebeu Blair. - Sente-se - disse ele, cruzando as pernas e apontando para uma poltrona de veludo azul à frente.
Ele a fazia lembrar do pai.
Blair se sentou e cruzou as pernas. Teve vontade de fazer xixi. Havia pêlos de gato na saia que ela não percebera antes.
- Então, fale-me de você. - Jason sorriu para ela com seus lindos olhos verdes. Verdes, como os de Nate.
- Hmmm - fez Blair. Não conseguia se lembrar se essa era uma das perguntas para as quais se preparara. Parecia tão vaga. Fale-me de você. Falar o quê?
Ela girou sem parar o seu anel de rubi no dedo. Estava mesmo morrendo de vontade de fazer xixi.
Blair respirou fundo e começou a falar
- Sou de Nova York. Tenho um irmão mais novo. Meus pais são divorciados. Eu moro com a minha mãe, que vai se casar de novo em breve, e meu pai mora na França. Ele é gay. Ele adora fazer compras, Eu tenho uma gata e meu novo meio-irmão Aaron tem um cachorro. Minha gata odeia o cachorro, então não sei como isso vai acaba, - Ela parou para respirar e olhou para cima. Percebeu que o tempo todo em que falou ficou olhando para os sapatos pretos de Jason. Isso era um mico.
Devia ter feito contato visual com ele. Devia impressionar.
- Entendo- disse Jason suavemente. Ele rabiscou algumas coisas no bloco.
- O que está escrevendo? - perguntou Blair, inclinando-se para olhar.
Credo, certamente esse era outro mico.
- Só umas anotações. - Jason escondeu o que estava escrevendo com a mão. - Então, diga-me por que está interessada em Yale.
Para essa, ela estava preparada.
-Quero o melhor. Eu sou a melhor. E mereço o melhor. disse Blair com confiança. Ela franziou o cenho. Não parecia muito bom. O que havia de errado com ela? - Meu pai estudou aqui - respondeu ela apressadamente. - Ele não era gay na época.
Jason franziou a testa e rabiscou mais.
- Sim, ele era, não era?
Blair bocejou discretamente para o seu pulso. Estava muito cansada e seus sapatos doíam feito o inferno. Ela descruzou as pernas, apoiou os cotovelos nos joelhos e tirou os calcanhares dos sapatos. Assim estava melhor.
Só que agora parecia que ela estava sentada na privada.
Enquanto escrevia, as abotoaduras de ouro com monograma de Jason brilhavam na fria luz de novembro que entarav pela janela. o pai de Blair estava usando abotoaduras assim na noite em que saiu com ela para festejar seu aniversário. A noite em que o inferno desabou na sua cabeça.
- Pode me falar de um livro que leu recentemente e gostou muito? - perguntou Jason, olhando para cima.
Blair o encarou, varrendo o cerébro em busca do título de um livro - qualquer livro- mas não conseguia pensar em nenhum.
Pulft, o fantasminha? A bílbia? O dicionário, pelo amor de Deus - não é assim tão difícil.
E aí alguma coisa estalou na cabeça de Blair. Ou melhor, sua cabeça se desligou completamente e outra coisa entrou no lugar dela.
Isso não era recomendado durante uma importante entrevista na universidade.
- Não consegui ler muito nos últimos meses - confessou Blair, os lábios tremendo. Fechou os olhos, como se sentisse dor. - Está tudo uma bagunça.
Ela estava de volta - a dama que protagonizava o filme trágico que era sua vida. Imaginou-se olhando para o mar em uma praia deserta usando um sobretudo preto curto e fashion. Chuva e alga salgada cobriam-lhe o rosto, misturando-se com suas lágrimas.
- Eu roubei uma calça de pijama - continuou Blair dramaticamente. - Para meu namorado. Não sei o que me deu na hora, mas acho que é um sinal, né? - Ela olhou para Jason. - Nate nem me agradeceu.
Jason remexeu-se, pouco à vontade na cadeira.
- Nate?
Blair pegou um Kleenex na caixa da mesa dela e assoou o nariz ruidosamente.
- Eu pensei em acabar com tudo - declarou ela. - É sério, pensei mesmo. Mas estou tentando ser corajosa e segurar a onda.
Jason parou de escrever. Um garoto passou correndo pela janela, usando um moletom de Yale.
- E esporte? Tem interesse em esportes?
Blair deu de ombros.
- Eu jogo tênis. Mas a única coisa que me interessa agora é recomeçar. Começar uma nova vida. - Ela tirou inteiramente os sapatos, colocou o pé direito no joelho esquerdo e começou a massagear os dedos. - Tem sido tão difícil - acrescentou, cansada.
Jason colocou a tampa na caneta e a enfiou no bolso da camisa.
- Er... Quer me perguntar alguma coisa?
Blair parou de esfregar os dedos dos pés e colocou o pé de novo no chão. Arrastou a cadeira para frente e estendeu o braço para o joelho de Jason.
- Se você me prometer entrar, eu prometo ser a melhor aluna que a Universidade de Yale já teve - disse ela com sinceridade. - Pode me prometer isso, Jason?
Ai. Meu. Deus. Adeus, Universidade de Yale. Olá faculdade comunitária!
Jason tateou o bolso, pegou novamente a caneta e escreveu alguma coisa no bloco, sublinhando duas vezes.
Vamos adivinhar o que ele escreveu. ABERRAÇÃO?
- Vou ver o que posso fazer. - Jason se levantou e estendeu a mão mais uma vez. - Muito obrigado por vir. - Apertou a mão de Blair. - Boa sorte.
Blair colocou os pés nos sapatos e sorriu sedutora para ele.
- A gente se vê no próximo outono - disse ela.
Depois ficou na ponta do pé e lhe deu um beijo no rosto.
Como se já não tivesse causado uma impressão e tanto.
adivinha quem vai para a brown?
- Eu achei que estaria mais nervosa - comentou Serena, pisando numa pilha de folhas secas de outono do lado de fora da Corliss-Brackett House, o pequeno prédio de tijolos aparentes onde ficavam os escritórios de admissão da Universidade Brown.
Ela havia acordado no hotel segurando a mão de Nate. Quando abriu os olhos um minuto depois, eles sorriam um para o outro, e Serena entendeu que tudo ficaria bem entre eles. Ainda havia o problema com a Blair, e eles nunca seriam tão íntimos como foram no passado. As coisas estavam diferentes.
Mas o jeito desconfiado tinha saído dos olhos de Nate, assim como o anseio. Serena era apenas uma velha amiga. Ela estava segura.
- Também não estou nervoso - disse Nate. – Quer dizer, qual é a pior coisa que pode acontecer... eles me rejeitarem? E daí?
- É - concordou Dan, embora realmente estivesse nervoso. Ele se sentia viscoso, tremia e estava numa overdose total de café.Tinha se sentado na recepção do Best Western por duas horas naquela manhã, lendo o jornal e bebendo uma xícara de café depois de outra, enquanto os outros acordavam. Deu um último trago no Camel antes de atirá-lo nos arbustos. - Prontos para entrar?
- Acho que a gente devia dizer alguma coisa animadora ou coisa assim antes de entrar. - Serena puxou o casaco em volta do corpo.
- Ou não - disse Nate, dando um soquinho de leve no braço dela.
- Ai - guinchou Serena. Ela o socou nas costas. – Seu cabeça de meleca.
Dan franziu a testa para os sapatos. Ele odiava ver como eles ficavam a vontade juntos.
Serena se virou e deu um beijo no rosto de Dan.
- Boa sorte - murmurou ela.
Como se ele já não estivesse nervoso o bastante.
Depois ela se virou e beijou Nate também.
- Arrebenta lá - disse Nate, abrindo a porta.

O entrevistador de Serena era um velho com olhos azuis penetrantes e uma barba grisalha basta. Nem se preocupou em se apresentar. Só se sentou e abriu fogo.
- Você foi expulsa do internato. - Ele tamborilou os dedos na sólida mesa de carvalho enquanto examinava a ficha de Serena. Ele olhou para cima e tirou os óculos - O que aconteceu?
Serena sorriu educadamente. Ele tinha de começar por um assunto tão delicado?
- É que eu não voltei a tempo para o início do terceiro ano. - Ela descruzou as pernas perfeitas e recruzou-as, esperando que não aparecesse muito da calcinha. Sua saia era meio curta.
O entrevistador fez uma carranca, vincando as sobrancelhas grisalhas sombrias.
- Eu meio que ampliei minhas ferias de vedo – explicou Serena. - Eles não gostaram disso. - Ela colocou o polegar na boca para roer a unha e depois rapidamente o retirou. Podia fazer isso.
- Entendi. Onde você estava? Presa numa ilha do Pacífico? Trabalhando para o Peace Corps? - latiu o entrevistador. - Construindo latrinas em El Salvador? Onde?
Serena sacudiu a cabeça, sentindo-se envergonhada de repente.
- Eu estava no sul da França - guinchou ela.
- Arrá. França. E o que há de bom nisso? – perguntou o entrevistador. Colocou os óculos novamente e deu uma olhada na ficha de Serena. - Todas vocês, de escolas particulares de Nova York, começam o francês na pré-escola, não é?
- Na primeira série - disse Serena, colocando o cabelo atrás das orelhas. Ela não ia deixar esse cara intimidá-la.
- Então sua antiga escola a aceitou de volta depois que a Hanover a pôs para fora de lá? Era uma boa escola.
- Sim - disse Serena. Sua voz parecia um pouco mais mansa do que ela gostaria.
O entrevistador ergueu os olhos.
- E você tem se comportado?
Serena deu seu sorriso mais cativante.
- Eu estou tentando.

O nome da entrevistadora de Nate era Brigid. Pós-graduara-se no ano passado e adorava tanto a Brown que conseguiu um emprego na admissão. Para ganhar uma grana a mais, ela dava telefonemas a noite pedindo doações para o fundo de ex-alunos.
Era supremamente convencida.
- Então, fale-me alguma coisa de seus interesses - começou Brigid com um sorriso reluzente e cheio de covinhas.
Seu cabelo era louro bem curto, como de uma ginasta. Ela se empoleirou na beirada da mesa, encarando-o, um bloquinho branco na mão.
Nate se remexeu na desconfortável cadeira de madeira na frente dela. Não tinha pensado muito no processo de entrevista porque não tinha muita certeza se queria ir para a faculdade no ano que vem. Só estava se deixando levar.
- Acho que meu maior interesse é velejar – começou ele. - Meu pai e eu construímos barcos no Maine. E nos verões, competimos. Quero integrar uma equipe para a America's Cup. É minha meta. - Nate se perguntou se parecia meio que um nerd velejador idiota, mas Brigid assentiu com entusiasmo.
- Estou impressionada.
Ele deu de ombros.
- Acho que provavelmente me dediquei mais ao barco do que a escola - admitiu ele.
- Bem, quando se é realmente apaixonado por uma coisa, a gente nem percebe o esforço. Até o trabalho duro parece diversão. - Brigid deu um sorriso luminoso e escreveu alguma coisa no bloco. Era quase como se Nate tivesse acabado de validar um dos dogmas favoritos da petulância dela.
Nate esfregou os joelhos e se inclinou para a frente.
- Só o que estou dizendo e que minhas notas talvez não sejam boas o bastante para a Brown.
Brigid atirou a cabeça para trás e riu, quase caindo. Nate estendeu a mão para segurá-la.
- Obrigada - disse ela, endireitando-se. - Olha, eu me ferrei totalmente em biologia avançada no secundário, mas entrei. Sei que pode ser surpreendente, mas a Brown é muito mais que notas altas. Estamos interessados em pessoas, e não em robôs cheios de conceitos A.
Nate assentiu. Brigid era melhor em seu trabalho do que ele pensou no início. Ele achava que praticamente tinha dito a ela que não estava interessado em ir para a Brown, mas ela não estava deixando que ele prosseguisse nessa linha. Estava fazendo com que ele quisesse tentar.
- E aí, tem uma equipe de vela aqui? - perguntou ele.
Brigid assentiu com energia.
- A equipe de vela arrebenta!

- Então você gosta de ler - assinalou Marion, a entrevistadora emaciada de Dan. Estava empoleirada na beira de sua cadeira, as pernas pontudas enroladas como uma rosca uma na outra, enquanto rabiscava anotações em um cartão. - Rápido, diga dois livros e me diga por que gostou mais de um que de outro.
Dan limpou a garganta e engoliu em seco. Sua língua parecia tão seca e quebradiça que ele pensou que podia se romper e cair no chão. Ele se perguntou como Serena estava se saindo na entrevista. Ele esperava que estivesse tudo bem com ela.
- Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe - disse ele por fim. - E Hamlet, de Shakespeare.
- Ótimo! - Marion escreveu alguma coisa. - Continue.
- Sei que ele devia ser aquele príncipe guerreiro corajoso, mas acho Hamlet ridículo. – As sobrancelhas de Marion se ergueram. - Werther tem mais a ver comigo – continuou Dan. – É poeta. Vive para o pensamento, mas é como se ele... se ele estivesse apaixonado pelo mundo. Não consegue deixar de escrever sobre ele.
- Você realmente acredita que o Werther de Goethe é menos ridículo que o Hamlet de Shakespeare? - perguntou Marion.
- Acredito. - Dan sentia-se mais confiante agora. – Sei que Hamlet tinha muito em sua mente. O pai foi assassinado, a mulher que ele amava enlouqueceu, os amigos o traíram, a própria mãe e o padrasto o queriam morto.
Marion assentiu, clicando a caneta, abrindo e fechando.
- Está certo. E o único problema de Werther é que está apaixonado por Lotte, que não o ama realmente e que já deixou isso claro para ele. Ele é completamente obcecado por ela. Precisa viver um pouco.
Dan prendeu a respiração. Marion parecia ter tocado na ferida. Era impossível não ver isso agora. Ele era Werther e Serena era Lotte. Ela não estava apaixonada por ele. Já havia deixado isso claro, afinal ele a vira de mãos dadas com Nate.
E Dan... precisava viver um pouco.
Dan colocou a cabeça entre as mãos, todo o corpo tremendo.
Achava que estava prestes a chorar.
- Tenho de dizer que estou impressionada com a confiança com que você discute literatura  - observou Marion fazendo mais anotações.
Dan não ergueu os olhos. Serena não o amava. Agora estava tudo claro.
Marion clicou a caneta, abrindo-a e fechando-a mais algumas vezes.
- Daniel?

O entrevistador de Serena puxou a barba e estreitou os olhos para ela.
- Leu algum bom livro ultimamente? - perguntou ele.
Serena se endireitou na cadeira, pensando muito. Queria impressioná-lo, mas tinha de citar um livro com que pelo menos estivesse familiarizada.
- Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre? - disse ela hesitante, lembrando-se do livro que Dan havia recomendado e que ela não conseguiu terminar.
- Isso não é um livro, é uma peça - tornou o entrevistador. - Cheio de gente se lamentando no inferno.
- Achei engraçado - insistiu Serena, lembrando-se que Dan disse a ela que o livro o fazia rir. - "O inferno são os outros" e essas coisas - gracejou ela. Era só do que se lembrava do livro.
- Sim, é verdade. Bem, talvez você seja mais inteligente do que eu - disse o entrevistador, embora estivesse claro que ele não acreditava nisso. - Você o leu em francês?
- Mais bien sûr- respondeu Serena, mentindo adoidado.
O entrevistador fez uma carranca e escreveu alguma coisa.
Serena puxou a saia para baixo, cobrindo os joelhos. Teve a sensação de que não estava indo bem, mas não sabia bem por quê. Achava que o entrevistador não lhe dera nenhuma chance, como se tivesse alguma coisa contra ela antes mesmo de ela entrar na sala. Talvez a esposa dele tivesse acabado de abandoná-lo e ela fosse francesa, ou loura como Serena. Ou talvez o cachorro dele tivesse morrido há pouco tempo.
- O que mais você faz? - perguntou o entrevistador vagamente. Nem parecia que estava interessado.
Serena inclinou a cabeça.
- Eu fiz um filme. É meio experimental. Nunca tinha feito filme nenhum antes.
- Experimentando coisas novas, gosto disso. – o entrevistador pareceu mais caloroso com ela por um segundo. - Então me fale do que é o filme. Descreva-o para mim.
Serena se sentou sobre as mãos para evitar roer as unhas.
Como poderia descrever o filme para que ele entendesse?
Nem ela entendia o filme direito, e foi ela quem o fez. Serena respirou fundo.
- Bem, a câmera meio que me segue a toda parte, em close. Primeiro me segue em um táxi. E depois vou a uma loja ótima na rua 14 e meio que ando por ali, descrevendo as coisas. Depois eu experimento um vestido.
O entrevistador fez outra carranca e Serena entendeu que tinha parecido uma avoada total. Ela olhou para seus sapatos pretos, batendo os saltos como Dorothy tentando sair de Oz e voltar para o Kansas.
- Muito artístico - acrescentou ela baixinho. - O senhor meio que pode entender o que eu quero dizer.
- Acho que sim. - o entrevistador mal disfarçou o desdém. - Então, quer me perguntar alguma coisa?
Serena procurou alguma coisa para dizer que fizesse o entrevistador mudar de idéia. Mostre-lhes no que está interessada, sempre disse a srta. Glos.
Ela encarou o chão, pontinhos minúsculos de suor formando-se em suas pálpebras. O que o irmão faria nessa situação? Ele sempre era ótimo em se livrar da pressão. Fodam-se, era sua expressão favorita.
Exatamente, percebeu Serena.
Tinha dado o melhor de si. Se esse cara não estava interessado nela por algum motivo, então, foda-se. Ela não precisava da Brown. Claro que Erik estava ali, mas ela podia cuidar de sua vida e a família teria de lidar com isso. Como o Nate tinha dito antes de eles entrarem para as entrevistas, e daí se eles não a quiserem lá? Ela podia ir para outro lugar.
Ela olhou para cima.
- Como é a comida no bandejão? - perguntou ela, sabendo perfeitamente que era uma pergunta imbecil.
- Provavelmente não se compara com o que você comeu no sul da França- respondeu o entrevistador com um sorrisinho. - Mais alguma coisa?
- Não - disse Serena, levantando-se para apertar a mão dele. No que dizia respeito a ela, a entrevista estava encerrada.
- Obrigada. - Ela lhe deu o melhor sorriso mais uma vez e depois saiu da sala, o queixo erguido.
Não teve a sorte de sempre desta vez, mas ainda era uma mestra sensacional em recuperar a classe.

- Tudo bem, então me fale alguma coisa que leu recentemente - tornou Brigid. - Como um livro ou artigo. Algo que tenha interessado você.
Nate pensou no assunto. Não era um grande leitor. Na verdade, mal olhou os livros que tinha de ler na aula de inglês.
Certamente não lia por prazer. Mas ela mencionou um artigo... devia haver alguma coisa.
Então Nate se lembrou. Ele e os amigos tinham lido um artigo no Times sobre um comprimido de maconha. Era THC puro. Sem substancias químicas, sem talos, sem papéis enrolados.
É claro que o comprimido era para gente doente, mas Nate e os amigos tinham outras coisas em mente.
- Li no Times que estão fazendo uns comprimidos de maconha que é THC puro – começou Nate. - Deve ser para câncer e pacientes de AIDS, para, tipo assim, administrar a dor. Mas é muito controvertido. Acho que todo mundo está preocupado com o uso dele nas ruas. É muito interessante.
- Parece fascinante - disse Brigid. - Por falar nisso, o que quer dizer THC?
- Tetraidrocanabinol - respondeu Nate sem pestanejar.
Brigid inclinou-se para a frente ansiosa, ameaçando cair da mesa novamente.
- O comprimido de que você falou... é feito pelo homem; tem origem num laboratório, foi criado por cientistas inteligentes e é administrado a pessoas doentes por médicos altamente treinados. E no entanto pode se tornar o catalisador de todo um novo mundo de tráfico de drogas e crime.
Nate assentiu.
- Totalmente.
- Sabia que há um ramo aqui na Brown chamado estudos de ciência e tecnologia que acompanha esse tipo de desenvolvimento? Você devia dar uma olhada.
- Tudo bem - respondeu Nate. Novamente ele teve a sensação de que Brigid não o estava deixando desistir da Brown. Ela o estava empurrando aos poucos para lá.
- Então, quer me perguntar alguma coisa? – perguntou Brigid.
Que meleca, concluiu Nate. Ele podia passar sem essa.
- E aí, mesmo que minhas notas não sejam boas, acha que ainda posso me candidatar?
Blair o mataria por ele não ter se preocupado com Yale, mas Nate percebeu que não se importava mais com o que Blair pensava. Ele ficaria bem mais tranqüilo caso se candidatasse a uma universidade só, entrasse e depois decidisse se ia continuar ou não. Se fosse para a Brown, podia velejar no barco que tinha construído com o pai no Maine e ficar em algum lugar perto da universidade. Não seria legal? Ele respirou fundo e flexionou os músculos da barriga da perna. Caraca, ele se sentia bem.
- Definitivamente pode - entusiasmou-se Brigid. - Isso realmente demonstra seu compromisso. Adoramos isso.
- Legal. Vou me candidatar. - Nate mal podia esperar para contar a Jennifer como a Brown era incrível.

- Então você escreve também, não é, Daniel? – perguntou Marion com delicadeza.
Dan tirou as mãos dos olhos e olhou meio tonto para o escritório. Marion tinha muitos livros sobre homens e mulheres e relacionamentos na estante. Ele podia imaginá-la toda enroscada em uma poltrona de sua sala, bebendo bouillon e lendo Homens são de Marte, mulheres são de Vênus.
Talvez ele devesse pedir emprestado a ela.
- Que tipo de coisas você escreve? - tentou bajular Marion.
Dan deu de ombros, sem jeito.
- Principalmente poesia.
Ela assentiu.
- Que tipo de poesia?
Dan olhou para baixo, para os sapatos de camurça surrados. O calor subiu pelo pescoço e pelo rosto.
- Poemas de amor. - Ai, meu Deus. Ele nem conseguia acreditar que tinha mandado aquele poema para Serena. Ela provavelmente achava que ele era um mané anormal e psicótico.
- Sei - disse Marion. Ela clicou a caneta mais algumas vezes, esperando que Dan falasse mais.
Mas Dan continuou em silêncio enquanto olhava pela janela para a folhagem de outono cor de fogo que decorava o campus da Brown. Ele se imaginou com Serena andando de mãos dadas pelo gramado da universidade, discutindo livros, peças e poesia. Ele imaginou os dois lavando a roupa juntos no porão do alojamento, se agarrando em cima da máquina de lavar enquanto suas roupas giravam sem parar.
Agora ele não conseguia se lembrar por que queria ir para a Brown. Parecia tão despropositado.
- Com licença - disse ele, levantando-se. - Tenho de ir.
Marion descruzou as pernas.
- Você está bem? - Ela pareceu preocupada.
Dan esfregou os olhos e foi para a porta.
- Eu só preciso de um pouco de ar fresco - disse ele. Abrindo a porta, ele ergueu a mão. - Obrigado.
Do lado de fora, fumou u, cigarro e olhou para os Van Wickle Gates, a entrada oficial do campus da Brown. Tinha lido no catálogo que só era usada duas vezes por ano. Abriam-se para dentro quando um novo grupo de calouros começava o ano com a convocação, e para fora quando uma turma saía depois da formatura.
Dan se imaginou andando com Serena pelos portões, de braços dados com sua toga de formatura.
Ele imaginou tantas coisas que não seria surpresa nenhuma se a própria Serena fosse um produto de sua imaginação.
Neca.
- Ei, Dan, vamos dar o fora desta merda - gritou Serena do carro. - Meu irmão conseguiu muita cerveja.
Dan atirou fora o cigarro. Impressionante, cara, pensou ele sarcasticamente. Mal podia esperar para beber cerveja e sair com um bando de caras em uma universidade para onde não ia mais porque tinha tido um colapso nervoso durante a entrevista.
Teve a tentação de dizer a Serena e aos outros que ia pegar um ônibus para casa.
Mas então ele se virou e viu como o sol se derretia nos cabelos dourados de Serena, como seus dedos pálidos brilhavam no volante, como Serena sorria para ele. Não fez com que ele se esquecesse de todos os problemas, mas foi o bastante para que ele fosse até o carro e entrasse.
Pelo menos ele teria mais material novo para sua poesia deprimente.
guerra e paz
Jenny ficou feliz de ir à exibição de Vanessa no The Five and Dime, porque havia apenas mais uma pessoa no publico além de Clark. Mas isso não pareceu perturbar Vanessa.
- Pega uma cadeira aí - disse a Jenny. - Já vamos começar. - Ela foi para o fundo da sala e reduziu as luzes. A TV sobre o bar tremeluzia, azul.
- Espera aí - pediu Clark de trás do baldo. – Tenho de tirar a água do joelho.
O lugar cheirava a fumaça de cigarro velha e cerveja choca.
Uma garota vestindo calça de couro azul e uma camiseta surrada preta estava sentada sozinha no balcão. Tinha uma tatuagem de macaco no bíceps. Jenny se sentou perto dela.
- Oi - disse a garota, estendendo a mão, que era coberta de anéis de prata. - Eu sou a irmã da Vanessa, Ruby.
- Jennifer. Gostei da sua tatuagem.
- Obrigada. Ei, vou tomar uma Coca. Quer também?
Jenny assentiu, Ruby balançou os cabelos pretos e curtos e gritou para a porta do banheiro.
- Aí, dá pra trazer duas Cocas, cara?
Clark saiu do banheiro.
- A seu dispor! - gritou para ela.
- Gosto de fazê-lo merecer o dinheiro que ganha - brincou Ruby.
Vanessa deixou-se cair ao lado de Jenny e bateu as pernas no balcão do bar com impaciência.
- Vocês vão assistir ou não?
Havia raspado a cabeça recentemente. Estava particularmente estranho e parecia uma cúpula. Jenny se perguntou se ela devia dizer alguma coisa, tipo "corte legal". Mas decidiu que seria suspeito.
Clark encheu dois copos de Coca e os deslizou pelo balcão.
Apertou play no vídeo e foi para o outro lado, passando o braço pela cintura de Vanessa.
- E agora a apresentação de nosso filme - brincou ele com uma voz de locutor de cinema.
Vanessa fez uma careta.
- Só assista - disse ela.
Jenny grudou os olhos na TV quando o filme começou.
A câmera quicou pela rua 33, seguindo Marjorie Jaffe, segundanista da Constance, enquanto ela andava para o Madison Square Park. Marjorie tinha cabelo ruivo frisado e usava um cachecol verde-bandeira.
O verde-bandeira é ótimo se você o usa ironicamente. Mas Marjorie parecia que estava levando aquilo muito a sério.
Marjorie atravessou a rua e entrou no parque. Depois parou e a câmera girou numa panorâmica de seu rosto. Estava mascando chiclete, brincando com ele lentamente entre os dentes enquanto os olhos varriam o parque, procurando por alguém. No canto da boca havia uma ferida feia que ela tentara cobrir com maquiagem, sem conseguir. Era detestável.
Por fim Marjorie pareceu encontrar o que estava procurando.
A câmera a seguiu enquanto ela corria para um banco do parque. E no banco estava Dan.
Estava deitado de costas, um braço tombado, os dedos roçando o chão. Suas roupas estavam amarrotadas e os sapatos desamarrados. Um cachimbo de vidro para crack pousava no peito, e havia fragmentos de lixo presos nos cabelos. A câmera se demorou em seu corpo parado. O sol estava se pondo e as bochechas dele brilhavam num rosa-alaranjado com a luz.
Jenny tomou um gole da Coca. Na verdade, seu irmão estava fazendo um junkie bem convincente.
Dan não se mexia. E depois, lentamente, seus olhos se abriram.
- Estava dormindo? - perguntou Marjorie, examinando-o. Mascou o chiclete algumas vezes e enxugou o nariz com as costas da mão.
- Não, procurei por você por muito tempo. Eu sabia, por instinto, que você estaria aqui. Só você me dá essa sensação de repouso suave... que luz! Sinto-me exsudando de pura alegria.
Jenny sabia que o filme tinha sido adaptado de uma cena de Guerra e paz de Tolstoi. Era meio estranho ouvir o irmão falar como alguém do século XIX, mas era meio bacana também.
Marjorie começou a amarrar os sapatos de Dan, ainda mascando o chiclete. Não parecia estar tentando interpretar um papel. Ela simplesmente estava ali. Jenny não sabia se era intencional ou não.
Antes que terminasse de amarrar os sapatos, Dan se sentou e a pegou pelos pulsos. O cachimbo de crack rolou para o chão e se desfez em pedaços.
- Natasha, eu a amo com tanta ternura! Mais do que tudo no mundo! - arfou ele, tentando se sentar e depois afundando novamente no banco como se sentisse dor.
- Calma aí, soldado - disse Marjorie. - Não vá ter um enfarte.
Ruby deu uma gargalhada.
- Essa garota é demais! - gritou ela.
Vanessa olhou para ela.
- Shhhhh!
Jenny ficou de olho na tela. Dan tentou pegar o cachimbo de crack, mas só o que restava eram cacos de vidro.
- Cuidado - alertou Marjorie. Vasculhou o bolso e pegou um chiclete. - Toma - disse ela, estendendo-o para ele. – É de gualtéria.
Dan pegou o chiclete e o colocou no peito, como se estivesse exausto demais para desembrulhá-lo e colocá-lo na boca.
Depois fechou os olhos e Marjorie pegou novamente a mão dele. A câmera se afastou, percorrendo o chão do parque. Parou para ver um pombo em uma camisinha usada no chão e depois zuniu para a rua 23, percorrendo o rio Hudson, onde observou o sol se pôr e desaparecer. Depois a tela escureceu.
Vanessa se levantou e acendeu as luzes.
- O que estava rolando no fim com o pombo e a camisinha? - perguntou Clark. Foi para trás do balcão e pegou uma garrafa de Corona na geladeira. - Alguém quer alguma coisa?
- É um filme melancólico. -Vanessa ficou na defensiva. - Não tem de fazer sentido.
- Achei hilário. - Ruby pegou seu copo e mastigou um gelo. - Mais Coca, por favor - pediu ela a Clark.
- Não era para ser engraçado - disse Vanessa com raiva. - O príncipe Andrei está morrendo. Natasha nunca mais o verá de novo.
Jenny sabia que Vanessa estava se esforçando muito para não perder o rebolado.
- Achei a fotografia ótima. Especialmente aquelas tomadas no fim.
Vanessa olhou para ela com gratidão.
- Obrigada - disse ela. - Ei, você nunca viu o fim do filme de Serena, viu? É bem decente.
- É.- Mas você fez todo o trabalho com a câmera para ele também, né?
Vanessa deu de ombros.
- É. Todo ele.
- É sério. Seu filme é bom, mas eu gostei mais de Planeta dos macacos - brincou Ruby.
Vanessa revirou os olhos. Sua irmã podia ser tão imatura.
- Isso porque você é uma idiota - rebateu ela.
- Eu gostei. - Clark tomou urn gole da cerveja. - Apesar de não ter sacado muito.
- Não tem nada para sacar - retrucou Vanessa, exasperada.
Jenny não estava gostando de ficar sentada ali ouvindo aquela discussão. Tinha vindo a Williamsburg para se divertir, e não para ser torturada.
- Ei, quer sair para comer em algum lugar ou coisa assim? - perguntou ela a Vanessa.
Vanessa pegou o casaco no balcão do bar e enfiou os braços nele.
- Definitivamente - disse ela. - Vamos dar o fora daqui.

Elas foram a uma cafeteria especializada em comida do meio-leste e pediram hummus e chocolate quente.
- E aí, Jennifer. Com uma prateleira dessas, você deve ter, tipo assim, uns sete namorados - disse Vanessa, apontando diretamente para o peito de Jenny.
Jenny ficou sem graça demais ate para perceber como a pergunta de Vanessa tinha sido grosseira.
- Bem, eu... meio que... tenho um.
- É?
- É. Mais ou menos. - Jenny corou, lembrando-se de como Nate a havia beijado no parque. Ele prometeu telefonar assim que voltasse da Brown. Só de pensar nisso ela suava frio.
A garçonete trouxe o chocolate quente.
Vanessa arrastou a cadeira para a frente e soprou na caneca.
- Então me fala desse cara.
- O nome dele e Nate, e ele é do terceiro ano da St.Jude - começou Jenny. - É meio doidão, mas é um doce e totalmente despretensioso, sabe como é, para um cara que mora tipo numa casa de um bilhão de dólares.
Vanessa assentiu.
- Sei. - Parecia o tipo de cara que jamais ficaria, nem remotamente, interessado nela. – E vocês estão tipo assim, saindo? Ele não é meio que... sei lá, velho?
Jenny limitou-se a sorrir.
- Nate não liga. Ele só... gosta de mim. - Ela soprou feliz o chocolate quente, deixando que o vapor atingisse seu rosto.
Vanessa estava a ponto de perguntar se Jenny tinha consciência do caráter de Nate. Isso podia explicar por que ele gostava tanto dela.
- Quer dizer, a gente nem se beijou ainda nem nada - continuou Jenny, antes que ela pudesse abrir a boca. - O que me faz gostar ainda mais dele. Ele não é vaselina, entendeu? Ele nem olhou para o meu peito.
- Caraca! - Vanessa estava impressionada.
- Aliás - acrescentou Jenny, dando um gole no chocolate. - Ele foi para a Brown neste fim de semana. Será que topou com o Dan?
- Talvez. - Vanessa deu de ombros, tentando fingir que não se importava. Preferia não ficar cheia de urticárias sempre que alguém falava no nome de Dan.
A garçonete trouxe o hummus e Vanessa mergulhou um pedaço de pão árabe nele, girando-o.
Jenny sabia que Vanessa ainda estava muito a fim de Dan - o filme era em parte um testamento a isso. Mas Dan estava com Serena agora. E se Dan estava com Serena, Jenny tinha acesso a Serena, que era o que Jenny sempre quis. Ou não era?
Jenny mergulhou o dedo mindinho no hummus, trouxe a boca e chupou, pensando. Dan ficava naquele seu humor infeliz estivesse ou não com Serena, embora Jenny tivesse de admitir que meio que sentia falta dele. E quando realmente pensou nisso, percebeu que não precisava que Serena saísse com Dan para ela sair com Serena. Afinal, tinha ajudado Serena no filme. Podia conversar com ela sempre que quisesse.
Não era mais a irmãzinha de Dan. Era Jennifer, sua própria pessoa, com um gostosão do terceiro ano como namorado.
Ela olhou para cima e sorriu para Vanessa. Talvez pudesse ajudá-la.
- Sabe de uma coisa, a Serena tentou ler um dos livros preferidos de Dan – disse Jenny. – E odiou totalmente. Nem conseguiu terminar.
Vanessa franziu a testa.
- E daí?
Jenny deu de ombros.
- E daí que eu só não acho que eles tenham muito em comum, é isso.
Vanessa estreitou os olhos.
- Isso partindo de uma garota que praticamente lambe as solas dos pés de Serena se ela pedir.
Jenny abriu a boca para dizer alguma coisa em sua defesa.
Depois fechou-a novamente. Era verdade: ela vinha seguindo Serena por aí como um cachorrinho. Mas não faria mais isso. Agora seu nome era Jennifer.
- Eu só acho que, se você ainda sente algo pelo Dan, devia fazer alguma coisa, e isso. Você pode se surpreender.
- Não tenho de fazer nada - tornou Vanessa rapidamente.
Pegou um triângulo de pão árabe e o rasgou com raiva pela metade.
- Tem sim.
Vanessa não gosta de ouvir o que fazer, especialmente de uma criancinha. Mas Jenny parecia sincera e, se Vanessa fosse sincera consigo mesma, teria de admitir que ela definitivamente ainda sentia alguma coisa por Dan.
Ela passou a mão pela cabeça quase careca e ergueu os olhos para encontrar os de Jenny.
- Você acha mesmo?
Jenny inclinou a cabeça. Vanessa tinha uma estrutura óssea bem decente. Com um brilhozinho nos lábios ela podia realmente parecer uma garota. Não era nem metade tão durona e estranha quanto queria parecer.
- Você podia deixar o cabelo crescer um pouco, e podia rolar. Quer dizer, vocês já são amigos. Você só tem de partir para o nível seguinte.
Dê um namorado a uma garota e ela se transforma numa especialista em relacionamentos.
b pira completamente
- E aí, como é que foi? - perguntou Aaron quando Blair voltou para o carro depois da entrevista. Ele estava sentado no capô do Saab tocando delicadamente o violão e fumando outro cigarro de ervas. Parecia se sentir em casa em Yale.
- Foi tudo bem, eu acho - respondeu Blair, hesitante. A ficha ainda não tinha caído.Ela abiu a porta do carona, sentou-se e tirou os sapatos. - Acho que estou com um calo. Merda de sapatos.
Aaron abriu a porta do motorista e entrou.
- E aí, o que perguntaram a você?
- Sabe como é, por que Yale... essas coisas - disse Blair vagamente. Toda a entrevista era um borrão para ela agora Estava feliz por ter acabado.
- Parece bem padrão. Tenho certeza de que você foi bem.
- É... - Blair se virou e pegou a bolsa no banco de trás.
Contos escolhidos de Edgar Allan Poe estava no banco traseiro.
Blair se lembrou de uma das perguntas do entrevistador
Pode me falar de um livro que leu a pouco tempo e gostou muito?
Epa.
De repente, tudo voltou a sua mente. Ela se remexeu, tremendo.
- Merda - resmungou ela, quase num sussurro.
- Que foi?
- Estraguei tudo. Eu fodi completamente com tudo.
- Como assim? - perguntou Aaron confuso.
Blair esfregou a espinha acima da sobrancelha.
- Ele me perguntou se eu tinha lido algum livro bom ultimamente. Sabe o que eu disse?
Aaron sacudiu a cabeça.
- O quê?
- Eu disse a ele que não tinha lido nada porque minha vida é uma droga total. Disse que roubei numa loja. Disse que eu era suicida.
Aaron olhou para ela, os olhos arregalados.
Blair olhou para o lindo campus de Yale pela janela. Queria ir para lá desde que veio pela primeira vez com o pai para ver o jogo de futebol americano entre Yale e Harvard no fim de semana dos ex-alunos, quando tinha seis anos. Yale era seu destino. Era só o que ela queria. Por causa disso ela não saía mais nas noites de fim de semana, para realmente estudar para as provas. Estava tão confiante que ia conseguir, e em poucos minutos tinha ferrado tudo completamente. Como ia encarar os outros depois disso?
Aaron pôs a mão no ombro dela.
- E você é? Suicida?
Blair sacudiu a cabeça.
- Não. - Ela afundou no banco, o peito pesando enquanto as lágrimas de raiva rolavam pelo rosto. - Mas eu devia ser.
- E você realmente roubou numa loja?
- Cala a boca - rebateu Blair, tirando a mão dele do ombro dela. - É tudo culpa sua. Você me deixou acordada até tarde. Eu devia ter pegado o trem de manhã como tinha planejado.
- Ei, eu não disse para você falar essas coisas todas na entrevista - corrigiu-a Aaron. - Mas eu não me preocuparia tanto com isso, A entrevista só conta para um quinto processo todo. Você ainda pode conseguir.Mesmo que não consiga, tem um bilhão de outras universidades boas por aí.
Blair considerou isso. Ela tentou se lembrar de como tinha sido o resto da entrevista.Talvez aquela pisadinha no tomate não tenha sido assim tão importante.
Depois ela se lembrou do que tinha feito no fim da entrevista.
Blair bateu a cabeça no encosto do banco.
- Ah, meu Deus!
Aaron colocou a chave na ignição e deu a partida.
- Que foi?
- Eu beijei o cara.
- Quem?
- O cara. O entrevistador.Eu o beijein no rosto antes de sair - disse Blair. Seu lábio inferior tremeu e mais lágrimas rolaram pelo rosto. - Foi totalmente anormal.
- Caraca! - Aaron parecia meio impressionado. - Você deu um beijo no seu entrevistador? Aposto que foi a primeira pessoa que fez isso com ele.
Blair não respondeu. Virou o corpo para a janela e cruzou os braços, chorando miseravelmente. O que ia dizer ao pai? O que ia dizer a Nate? Tinha dado uma dura nele por não querer ir para Yale, e depois ela foi e transformou sua própria entrevista numa farsa.
- Tá legal, sabe de uma coisa? - disse Aaron, dando a ré no estacionamento. - Acho que a gente devia dar o fora daqui antes que eles chamem a polícia. - Ele sorriu e pegou um guardanapo sujo da Dunkin' Donuts no chão do carro dando-o a Blair para que assoasse o nariz. - Toma.
Blair deixou o guardanapo cair no chão. Não podia imaginar como tinha chegado a essa situação. Andando num carro sujo com um vegetariano abertamente otimista, cheio de trancinhas, que logo ia se tornar seu irmão. Ficando acordada até tarde, comendo besteira e tomando cerveja. Desabafando com o entrevistador de Yale e depois beijando-o, e ferrando totalmente seu futuro. Esse tipo de coisa não acontecia com ela. Elas aconteciam com fracassados com problemas. Os atores que apareciam o tempo todo em seleções de elenco mas nunca conseguiam um papel. Gente com o cabelo ruim e problemas de pele e roupas horrorosas e sem nenhuma habilidade social. Blair tocou a espinha na testa mais uma vez. Ah, meu Deus. Era nisso que estava se transformando?
- Vamos tomar o café da manhã em algum lugar? - perguntou Aaron, entrando na estrada para New Haven.
Blair afundou no banco. Sequer podia pensar em comer novamente.
- Vamos para casa - disse ela, contrariada.
Aaron colocou o CD de Bob Marley e pegou a via expressa, enquanto Blair olhava pela janela, tentando pensar em motivos para viver.
Havia o festival de cinema da Constance na segunda. Se ela ganhasse , teria mais pontos no currículo, e talvez Yale fizesse vista grossa para sua entrevista. Talvez eles se esquecessem de que ela era esquisita, porque, afinal, era uma artista.
E se ela ganhasse o concurso, mas ainda assim não fosse para Yale, podia se tornar totalmente artista e começar a usar só preto, como a esquisita da Vanessa, e se candidatar à Universidade de Nova York ou ao Pratt. E se ela não ganhasse? Era mais uma coisa para acrescentar em sua lista de motivos para a vida estar totalmente fodida.
Para piorar as coisas, no fim de semana que vem era o dia do salão de beleza de sua mãe e o almoço das damas de honra. Blair ia ter de ser agradável e entusiasmada. Podia até ter de falar com Serena. Eeeeca!
E depois , no sábado seguinte, era o dia do casamento. O dia do seu aniversário.E o dia em que finalmente devia perder a virgindade com Nate.
Blair apertou os olhos o máximo que pôde, tentando se lembrar da imagem de seu sonho na noite anterior, Nate abrindo uma garrafa de champanha no quaro de hotel, usando a sensual calça de pijama de cashmere. E ela imaginou o cachorro de Aaron trotando para ela com uma carta na boca rabugenta. A carta foi escrita em Yale e dizia:
"Cara srta.Waldorf, Lamentamos informar que a senhorita teve sua admissão indeferida em Yale. Obrigada por tentar, e tenha uma boa vida. Atenciosamente, Escritório de Admissão da Universidade de Yale.
Blair abriu os olhos e prendeu a respiração. Não, disse a si mesma com firmeza. Não ia ser uma fracassada.Ia entrar em Yale, não importava como. Ela e Nate iam ficar juntos. Iam morar juntos e fazer o que sempre quiseram fazer. Essa era a vida que tinha imaginado para si mesma e era assim que ia acontecer.
Ela se virou para Aaron.
- A primeira coisa que vou fazer quando chegar é telefonar para papai e pedir a ele para doar alguma coisa a Yale - disse ela, decidida. Não era exatamente suborno, era? esse tipo de coisa acontecia o tempo todo! E não é que ela fosse má aluna ou coisa assim.
Entretanto, seu entrevistador definitivamente não ia se esquecer daquele beijo tão cedo. A doação do pai ia ter de ser imensa.

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oi, gente!
QUEM ESTÁ COM QUEM?
Será que D desistiu totalmente de S ? Será que S está desprezando D de propósito ou só está sendo distraída daquele jeito fabuloso dela? E N realmente está sendo sério com J? Quer dizer, será que ele realmente vai passar a perna em B quando ela mais precisa? Por uma aluna da sétima série? Façam suas apostas.
VOCÊS SABIAM QUE ISSO IA ACONTECER
A universidade de Yale acaba de anunciar a adição do Yale Waldorf Vineyard, e uma nova cadeira sobre administração de vinhedos foi acrescentada ao currículo. Os alunos produzirão seus próprios vinhos, que será vendido por lojistas locais com o nome da universidade no rótulo. Todo semestre um grupo de alunos morará e trabalhará no novo vinhedo da universidade da França, dominando a arte de fazer vinho, comendo comida francesa e falando francês com os nativos. O vinhedo estará pronto e operando no verão, graças a generosa doação do pai de uma aluna em potencial.
Parece que o Papai fez a doação, mas B ainda vai ter de esperar até abril para saber se entrou, como todo mundo. O suspense está me matando!
Seu e-mail
P: Cara GG,
Eu soube de umas coisinhas sobre todos os filmes que entraram no festival de cinema da escola. (Eu sou da constance também). De qualquer forma, acho que B deve ganhar. É sério. Sei que o filme dela parece repetitivo, mas ele deve ter esse efeito legal de clipe da MTV. Eu sou da turma de cinema dela e ela é a melhor na edição, então aposto que vai ficar muito bacana. S nem sabe como ligar a câmera, e os filmes de V sempre são tão pretensiosos. É isso aí.
- RainDay
R: Cara RainDay,
Achei que o filme de B não tem nada a ver, mas estou disposta a levar o que você disse em consideração.
Cabe aos jurados decidirem na segunda. E o destino dos perdedores é extravasar a decepção de alguma forma escandalosa. Tô doida pra ver!
- GG.
Flagra
J e V fazendo compras na Domsey's em Williamsburg. V na verdade estava comprando um lindo vestidinho preto. Ela deve mostrar mesmo a D que se importa. B e A andando com a mãe, o pai e o planejador de casamento a caminho do seu prédio na rua 7. B não parecia feliz. D, S, N e amigos saindo da Grand Central no domingo à tarde. Os seis pareciam na maior ressaca, mas qual é a novidade nisso?
OUTRA COISINHA
É tempo de ação de graças, tempo de dar graças pelo que temos. Então...obrigada por todas as calças de couro legais da Intermix e o maravilhoso casaco de couro que comprei na Scoop. Obrigada a todo cara que conheci e aos que não conheci ainda por ficarem cada vez mais gatos com a idade.
E obrigada a todos por se comportarem mal constantemente e me darem o que falar.
Vem mais por aí.
Pra você que me ama,
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e a vencedora é...
A sra. McLean, diretora da Constance Billard School, tinha determinado que as garotas do secundário fossem dispensadas das duas últimas aulas na segunda-feira para comparecer ao festival de cinema do terceiro ano. As meninas do primeiro ao terceiro ano encheram o auditório e pegaram seus lugares.
Uma grande tela branca foi pendurada no teto sobre o palco. As concorrentes se sentaram na fila da frente, Blair, Vanessa e Serena entre elas. Arthur Coates, o famoso ator que era pai de Isabel, sentou-se no pódio, pronto para fazer um discurso e apresentar os filmes.
Serena ficou no fim da primeira fila, perto da janela, olhando rapidamente para quem passava vestido pela rua 93. Suas unhas já estavam no sabugo, e ela estava preocupada com um fiozinho puxado na meia-calça preta que podia se transformar em um fiozão puxado que subia de seu tornozelo para a coxa.
É claro que ela ainda estava bonita. Ela sempre estava.
Mas Serena estava nervosa. Era seu projeto extracurricular.
Ganhar o concurso era a única maneira de ela mostrar as universidades que era mais do que uma garota que foi expulsa do internato porque não se preocupou em voltar a tempo para as primeiras semanas de aula, ou uma garota cujas notas eram menos que espetaculares. Ela não era uma fodida completa.
Era criativa. Tinha substância. Tinha bom gosto.
E se eles não conseguissem ver isso, então, fodam-se... Né?

Vanessa também estava nervosa, embora não deixasse transparecer. Sentou-se na cadeira com um baque, desenhando Xs na capa de seu fichário que brilhava sobre seus Doc Martens no chão de madeira do auditório. Jenny disse que tinha gostado. E mesmo que a história não tenha funcionado como Vanessa pretendia e a química entre Marjorie e Dan não fosse nada quente, a fotografia era excelente. Mesmo antes de começar a fazer o filme, ela já contava com a vitória na competição. Ia dar um empurrãozinho em sua aceitação na Universidade de Nova York.

Blair sentia-se enjoada por uma variedade de motivos.
Tinha telefonado, mandado e-mails e mensagens instantâneas para Nate desde que voltara para a cidade no sábado a tarde, e ele não respondeu. Na noite passada ela quase despencou para a casa dele para ver o que estava pegando, mas então sua mãe a arrastou para uma prova no St. Claire Hotel para decidir sobre a comida do casamento. Como se Blair desse a mínima se a quenelle tinha gosto de peixe demais ou o molho da salada era muito gorduroso. Depois de experimentarem quatro pratos, ela teve de ouvir a mãe e o planejador da festa terem uma discussão vazia sobre se os arranjos florais deviam ser altos ou baixos - com caules compridos ou caules curtos. Com os altos as pessoas teriam problemas para ver sobre eles. Os baixos não ficariam tão impressionantes. Optaram por um meio termo, como se não fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Quando chegou em casa, seu pai tinha deixado um recado na secretária eletrônica, perguntando como Blair tinha se saído na entrevista em Yale. Blair não retornou a ligação. A lembrança de sua entrevista repugnante estava grudada nela como um fedor persistente e ela se recusava a discutir aquilo com alguém. Falar no assunto seria admitir a derrota, e Blair não estava preparada para isso ainda. Em vez disso, ela mandou para o pai um e-mail encantador contando a ele tudo sobre como o entrevistador era fascinado por vinhos e que estava tentando há anos montar um curso de administração de vinhedos para o currículo. Não falou nada da verdadeira entrevista, limitando-se a dizer a ele que uma doação lhe garantiria um lugar "certíssimo" em Yale. Com algumas linhas, deixara o pai morrendo de vontade de doar toda a propriedade. Ela era uma mestre na persuasão.
Hoje a competição de cinema traria outra oportunidade para que sua sorte mudasse.
Tinha de mudar. Simplesmente tinha de mudar.

- Obrigado por terem vindo – começou o sr. Coates, dando seu sorriso notoriamente encantador. Tinha estrelado um programa de TV quando adolescente, teve um disco de platina aos 20 anos e fez todo tipo de clipes de música sensuais. Agora era uma estrela de cinema e de anúncios da Pepsi. - Hoje tenho a honra de apresentar a próxima geração de novos talentos da indústria do cinema.
Ele passou a falar um pouco sobre a história das mulheres no cinema. Marilyn Monroe. Audrey Hepburn. Elizabeth Taylor. Meryl Streep. Nicole Kidman. Julia Stiles.
Depois apresentou o primeiro filme. O de Serena. As luzes se apagaram e o filme começou a rodar.
Borboletas nervosas adejavam pela barriga de Serena enquanto ela assistia ao filme no que parecia a centésima vez. Mesmo assim, o filme pareceu resistir. Na verdade, ela começou a ter um certo orgulho dele.
- Hmmm. Pode-se dizer que e estranho? – cochichou Becky Dormand para seu cortejo de meninas.
- Ah, meu Deus. Como ela fica piranha nesse vestido! - sibilou Rain Hoffstetter para Laura Salmon na fila de trás, onde estavam sentadas as alunas do segundo grau.
- E dá pra ver totalmente os peitos dela no espelho da sala de provas - sussurrou Laura de volta.
Quando a tela escureceu e as luzes se acenderam, o público aplaudiu. Não foi um aplauso louco, furioso, cheio de gritos, mas foi firme. Alguém assoviou e Serena virou o pescoço para localizar quem foi. Era o sr. Beckham, o professor de cinema.
Ela nem era aluna dele.
- Eu soube que ela nem fez o filme sozinha – cochichou Kati Farkas para Isabel Coates. – Ela pagou a um diretor famoso para fazer para ela.
Isabel assentiu.
- Acho que foi Wes Anderson - disse ela.
Em seguida, o sr. Coates apresentou mais dois filmes. O primeiro era uma conversa de Carmen Fortier com sua avó de 94 anos, principalmente sobre os méritos de ver Vila Sésamo, e não fazia lá muito sentido. O outro era o giro que Nicki Button fez em sua casa de campo em Rumson, Nova Jersey, chato pra caramba, especialmente quando ela recitou os nomes de todos os animais empalhados que vinha colecionando há anos. Fluffemutter. Larry. Bow Wow. Horsie. Ralph. Pigsy-porra-Wigsy.
Tipo assim, quem é que liga pra isso?
As meninas da Constance aplaudiram educadamente e depois o sr. Coates apresentou o filme de Vanessa.
No momenta em que o cabelo ruivo e frisado de Marjorie apareceu na telona, Vanessa começou a rir de nervoso. Raramente ria ou até sorria em público, mas Marjorie era tão ridícula que ela não conseguiu evitar. Todo o seu corpo estava tremendo e ela teve de olhar para outra coisa. Perto dela, Blair Waldorf cruzou as pernas daquele jeito meio nojentinho dela e olhou para Vanessa com desagrado. Depois a câmera se movimentou amorosamente sobre a forma amarfanhada de Dan e Vanessa parou de rir. Meu Deus, ele era lindo.
A sala ficou em silêncio por um momento depois que o filme terminou. Então Jenny começou a aplaudir de onde estava sentada com as outras alunas da sétima série. O sr. Beckham assoviou alto e a sala irrompeu em aplausos.
- É isso aí, Marjorie! - gritaram algumas segundanistas.
- Aquela da camisinha foi mesmo indecente – cochichou Kati para Isabel no fundo da sala.
- Que meleca foi aquilo? - perguntou Laura.
- Essa garota é seriamente perturbada - disse Rain.
Por fim era a vez de Blair.
Blair apertou o PalmPilot no peito quando Audrey Hepburn comeu seus croissants uma vez depois da outra. No fundo da sala, suas amigas dançavam nas cadeiras com a música e bateram palmas ruidosamente quando o filme terminou.
- Bacana - disse Isabel a Kati. - Não foi?
- Totalmente - concordou Kati.
- Foi legal - cochichou Becky Dormand as amigas. - Quer dizer, ela provavelmente não teve muito tempo para trabalhar nele, agora que está tão ocupada preenchendo requisições para, tipo assim, cada universidade da Costa Leste.
- Eu soube que mesmo que ela entre em Yale, vai ter de adiar a admissão por um ano para, tipo assim, poder fazer uma terapia intensiva - disse outra garota do primeiro grau.
- Você quer dizer por causa daquela coisa com o filho do padrasto? Eu soube que eles estão dormindo juntos desde que voltaram - espetou Becky.
- Que nojo! - exclamaram as outras garotas.
Por fim Arthur Coates se levantou com um envelope branco na mão.
- Vocês devem saber que não existem realmente vencedoras ou perdedoras - começou ele.
Blair engoliu em seco, nervosa. Ah, tá, tá. Abre a porcaria do envelope.
- E a vencedora é...
Uma longa pausa.
- Serena van der Woodsen!
Silêncio absoluto.
Então Vanessa se levantou e assoviou como a irmã a ensinara.
Estava decepcionada, mas o filme de Serena era bom, e foda-se - Vanessa tinha orgulho de ter participado dele.
Quando viu Vanessa, Jenny se levantou também, batendo palmas alto. Depois o sr. Beckham se levantou e gritou, "Bravo!", e o resto da escola se juntou a ele.
Serena foi até o pódio tonta de felicidade e recebeu o prêmio - duas passagens a Cannes e três noites em um hotel cinco estrelas durante o festival de cinema na primavera. Ela hesitou, colocando os cabelos louros e brilhantes atrás das orelhas, e se inclinou para o microfone.
- Gostaria que outras duas meninas estivessem aqui comigo. Vanessa Abrams e Jennifer Humphrey. Eu não teria feito nada sem elas.
Vanessa mostrou a língua para Jenny do outro lado do auditório e depois foi para o pódio, para se juntar a Serena.
Afinal, tinha feito todo o trabalho com a câmera, merecia alguma porra de crédito por tornar tudo aquilo possível.
Serena apertou a mão de Vanessa e deu-lhe uma passagem de avião.
- Obrigada - sussurrou ela. - Quero que fique com isso.
Jenny passou empolgada pelos joelhos das colegas e se juntou a Serena e Vanessa no pódio. Serena lhe deu um beijo no rosto e colocou a outra passagem aérea em sua mão.
- Você é incrível- disse Serena. Jenny corou: nunca ficara de frente para o público antes.
Isso não está acontecendo, pensou Blair. Ela se sentou toda dura na cadeira e fechou os olhos para não ouvir os aplausos. Estava dormindo. Eram só três da manhã. A segunda-feira ainda nem tinha começado. Tinha horas pela frente, até que subisse orgulhosa no palco usando seu cardigã tingido de lilás para receber o prêmio do sr. Coates.
Desculpa aí.
Blair abriu os olhos. Serena ainda estava sorrindo irritantemente para o público.
E Blair ainda estava estrelando o filme mais deprimente que já foi feito. O filme que era a vida dela.
românticos torturados não conseguem dizer não
- Ganhei! - gritou Serena.
Dan chutou uma garrafa quebrada de Snapple na West End Avenue e apertou o celular na orelha.
- Ganhou o quê? - perguntou ele, tentando dar a impressão de que não estava interessado.
- O festival de cinema do terceiro ano - exultou Serena, animada. - Eles gostaram! Nem acredito nisso. Vanessa disse até que eu devia pensar em me candidatar a faculdades de arte. Eu posso ser cineasta!
- Ótimo - disse Dan. Ele não conseguia pensar em uma resposta mais adequada. Toda vez que ouvia a voz de Serena, ou até pensava nela, sentia que estava sendo torturado.
- Mas aí, eu só queria que você soubesse, porque você viu o filme e tudo.
Nenhuma reposta.
- Dan?
- Quê?
- Só queria ter certeza de que estava aí. Mas aí - Continuou matraqueando -, tenho de fazer todas aquelas coisas do casamento no fim de semana, então não vou poder sair. Mas você ainda vai no casamento comigo, né?
Dan sacudiu a cabeça. Diga não a ela, ordenou sua mente.
- Você prometeu.
- Claro - disse ele. Seu coração sempre ganhava.
- Legal. Tudo bem, a gente se vê depois. Tchau.
Ela desligou. Dan se sentou no degrau da escada de alguém e acendeu um cigarro, trêmulo. Será que estava exagerando?
Será que tinha entendido tudo errado? Talvez Serena se importasse, pelo menos um pouco.
Já era alguma esperança.
E uma coisa para torturá-lo ainda mais.

j tem um gosto melhor
- Então, foi legal na Brown? - Jenny perguntou a Nate. Eles estavam sentados ao lado do pequeno lago de barcos no Central Park, vendo os garotinhos navegarem seus barquinhos de brinquedo, passando por patos preguiçosos e folhas que boiavam.
Nate segurava a mão dela e isso fazia com que Jenny se sentisse tão bem que não importava se eles conversassem ou não.
- Sim - fez Nate. - Quer dizer, eu ainda tenho de me dar bem neste ano e escrever meu ensaio e toda essa merda. Mas não estou pensando em ir para a faculdade no ano que vem, tá entendendo? E agora eu estou meio confuso. – Ele levantou a mão de Jenny na frente do rosto e examinou os dedinhos dela.
Jenny deu uma risadinha.
- O que está fazendo?
- Sei lá. Mas é bom ver você. - Nate sorriu para ela.- Jennifer, fiquei pensando em você o fim de semana todo, e agora você está aqui.
- Eu também – disse Jenny, sorrindo tímida. Novamente ela se perguntou se Nate ia beijá-la.
- Eu me senti meio mal antes, quando a gente estava no parque – continuou Nate. – Sabe com o quê, quando meus amigos apareceram?
Jenny assentiu. Sim?
- Tinha uma coisa que eu queria fazer – disse Nate. – E eu devia ter continuado e feito.
Sim, sim!
Nate a puxou para si. Os dois continuavam de olhos abertos, sorrindo enquanto se beijavam.
Jenny tinha beijado dois garotos durante uma brincadeira de beijo em uma festa uma vez, mas beijar Nate foi o melhor momento de toda sua vida. Ela achava que ia explodir de felicidade.
Nate ficou surpreso com o modo como Jenny beijava. Definitivamente era melhor do que quando beijava a Blair. Jennifer tinha um gosto melhor. Como donut de açúcar ou sorvete de baunilha.
Ele se afastou, ainda olhando a cara rubra e feliz de Jenny.
Jennifer não sabia sobre Blair e Blair não sabia sobre Jennifer. Ele vinha ignorando os telefonemas de Blair e basicamente fingindo que ela não existia, mas quanto tempo podia continuar com isso? Cedo ou tarde Nate ia ter que falar.
Ele só não sabia muito bem o que ia dizer.
pedicure leite azedo
Depois de uma comprinha leve na loja Chanel no subsolo, Eleanor Waldorf e suas damas de honra subiram no elevador para o salão Frederic Fekkai Beaute de Provence na rua 57.
Blair, a mãe, Kati, Isabel, Serena e a tia de Blair, Zo Zo, foram para lá para o tratamento de mãos e pés com leite e mel, as máscaras faciais de lama e, é claro, bater papo sobre o casamento.
Depois, iam almoçar no Daniel, o restaurante favorito de Eleanor Waldorf. Outra tia de Blair, Fran, ia se encontrar com elas lá, pulando a pedicure porque odiava que as pessoas tocassem em seus pés.
O salão era tipo um restaurante lotado, só que cheirava a xampu Frederic Fekkai e gel para cabelos em vez de comida.
Era grande e iluminado, e as funcionarias corriam de um lado a outro, atendendo as mulheres em aventais bege tipo de hospital, que elas usavam para proteger as roupas. Cada uma das mulheres tinha as mesmas luzes platinadas e louro-morango no cabelo. Era a cor de cabelo marca registrada do Upper East Side.
- Ciao, mès cheries! - gritou Pierre, o japonês magricela que trabalhava na recepção. – Três de vocês vão para a pedicure enquanto outras três vão para a máscara facial. Acompanhem-se, acompanhem-me!
Blair não sabia bem o que ia acontecer, mas logo se viu sentada entre Serena e sua mãe, as mãos e os pés mergulhados em tigelas cheias de leite quente e mel, enquanto Kati, Isabel e sua tia faziam máscara facial em outra seção do salão.
- Isso não e ótimo? - arrulhou a mãe de Blair, afundando na cadeira.
- Meu leite está fedendo - resmungou Blair. Ela queria dizer a mãe que ia encontrar com todo mundo no restaurante, como faria a tia Fran.
- Não faço pedicure desde o verão - disse Serena. - Meus pés estão tão asquerosos que eu não me surpreenderia se o leite ficasse azedo com eles.
Não seria surpresa para mim também, pensou Blair com amargura.
- Como vai querer as suas unhas? - perguntou a manicure da mãe de Blair enquanto massageava os dedos dela.
- Prefiro arredondadas, não pontudas.
- Eu gosto das minhas quadradas - disse Serena.
- Eu também - concordou Blair, embora odiasse dizer que gostava de qualquer coisa que Serena gostasse.
A manicure de Blair deu uma palmadinha de brincadeira em seu pulso.
- Você está tão tensa. Relaxe. A noiva é você?
Blair se voltou para ela com os olhos vazios.
- Não, sou eu - respondeu a mãe de Blair encantadoramente. - Vai ser a segunda vez - sussurrou ela, piscando divertida para a manicure.
Blair sentiu os músculos ainda mais tensos. Como diabos podia relaxar desse jeito?
- Vi aquela calça de pijama de cashmere maravilhosa no departamento masculino da Barneys - tornou a mãe de Blair. - Andei pensando em comprar uma para Cyrus como presente de casamento. - Ela se virou para Blair. - Acha que ele vai usar?
Serena olhou nervosamente para Blair, perguntando-se se devia dizer alguma coisa. Agora era sua chance de acabar com Blair e fazer com que deixasse de ser uma piranha tão chata.
Podia dizer algo, tipo: "Ei, Blair, eu não te vi comprando uma calça de pijama igual a essa na Barneys na semana passada?"
Mas a cara de Blair ficava cada vez mais vermelha e Serena não teve coração para dizer nada. Qu, melhor, tinha coração demais. Blair já estava ferrada o bastante por ter pegado a calça de pijama - Serena não precisava ferrá-la ainda mais.
- Não sei, mãe - respondeu Blair, infeliz. Seu pescoço coçava. Talvez estivesse tendo uma reação alérgica e ia ter de ser levada as pressas para o hospital.
As manicures terminaram de massagear as mãos e se sentaram em banquinhos baixos para esfregar os pés e a barriga da perna com óleo de lavanda.
- Você ainda não me disse como foi a entrevista em Yale - disse a mãe de Blair, os olhos alegremente fechados.
Blair espirrou um pouco de leite no chão.
- Cuidado - aconselhou a manicure.
- Desculpe - rebateu Blair. - Foi ótima, mãe, ótima mesmo.
Ao lado de lá, Serena deixou sair um suspiro.
- Tive uma entrevista na Brown nesse fim de semana disse ela. - Foi horrível. Acho que o entrevistador tinha tido um dia ruim ou coisa parecida. Foi tão imbecil.
Brown? Serena foi a Brown no fim de semana? Alarmes, sirenes, sinos e apitos soaram alto na cabeça de Blair.
- Tenho certeza de que você se saiu melhor do que pensa, querida. - A sra. Waldorf tranqüilizou Serena. – Essas entrevistas são tão desagradáveis. Não sei por que pressionam tanto as meninas.
Blair espalhou outro monte de leite no chão. Não conseguiu evitar. Queria que a manicure largasse logo a sua perna.
- Quando foi sua entrevista? - perguntou ela a Serena.
- No sábado.- Serena não tinha certeza se devia mencionar que Nate estava lá também. Tinha a sensação de que não devia dizer nada.
- A que horas, no sábado? - disse Blair.
- Ao meio-dia - respondeu Serena.
Epa.
- Nate teve uma entrevista lá - desafiou Blair. – Também foi ao meio-dia, no sábado.
Serena respirou fundo.
- É, eu sei. Eu vi o Nate lá.
Blair flexionou o pé com raiva. Que porra é essa? A manicure dava palmadinhas.
- Relaxe - alertou ela.
- Nate não me ligou desde que voltou – resmungou Blair. Seus olhos se estreitaram quando ela encarou o perfil de Serena.
Serena deu de ombros.
- Nate e eu não nos falamos mais. - Serena certamente não ia dizer que ela e Nate tinham dormido na mesma cama em um quarto de hotel e que tinham acordado de mãos dadas.
Ou que os dois tomaram um porre na festa de Erik e vomitaram nos arbustos nos fundos da casa juntos. Não tinham se falado desde que voltaram a cidade - essa parte era verdade.
- Onde está o Nate, afinal? - gemeu a mãe de Blair.
A massagem nos pés quase a fazia dormir. - Eu não o vejo há séculos.
- Eu também - sibilou Blair, que estava certa de que Serena tinha alguma coisa a ver com isso. - E me pergunto por que.
Serena sabia que Blair estava esperando que ela fizesse algum tipo de confissão. Ela fechou os olhos.
- Não olhe para mim - disse ela. Mas no mesmo minuto se arrependeu. Era quase como se estivesse pedindo por isso.
Blair se levantou de repente, derrubando as tigelas de leite das mãos no chão e quase virando o banho dos pés.
- Droga! - guinchou a manicure, saindo de seu banco e caindo de bunda em um monte de leite.
- Blair, que diabos é isso? - gritou a mãe.
- Com licença- disse Blair, empertigada. Lágrimas quentes de raiva se reuniam em seus olhos. - Não posso mais ficar sentada aqui. Vou para casa. - Olhou para a manicure. - Desculpe pela bagunça. - Depois marchou para fora da sala, escorregando um pouco no piso de ladrilhos úmido.
- O que aconteceu? - perguntou a mãe de Blair a Serena. Ela estava preocupada com a filha, mas não desistiria de ser mimada para ir atrás de Blair.
Serena sacudiu a cabeça. Nada tinha a ver com problema nenhum. Era problema de Blair e Nate, embora ela estivesse definitivamente curiosa. E estava meio preocupada com Blair também, apesar de Blair vir sendo incrivelmente má com ela ultimamente. Blair parecia ter sofrido uma espécie de colapso.
- Provavelmente ela está nervosa com o casamento - sugeriu Serena, embora tivesse bastante certeza de que o casamento representava uma parte minúscula dos problemas de Blair. - Sabe como ela fica.
A mãe de Blair assentiu. Ela sabia.
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oi, gente!
NINGUÉM FAZ MELHOR
Graças a sua retirada dramática, B perdeu a mascara facial Frederic Fekkai, o que é uma vergonha, porque poucos salões fazem melhor do que aquele. Também perdeu K e I tomando um porre de vinho branco no Daniel e garantindo a mãe dela que B e N ainda não tinham consumado seu relacionamento. Perdeu suas tias interrogando S sobre os pianos para a faculdade. E perdeu um incomparável suflê de chocolate. Vamos esperar que ela não perca o casamento - todo mundo pode se divertir sem ela, mas é ela quem vai proporcionar todo o drama.

Seu e-mail
P: Oi, GG,
Eu soube que S dormiu totalmente com tipo todos os membros do júri do festival de cinema, então não é lá uma surpresa muito grande que ela tenha vencido, tá entendendo o que quero dizer?
- ceecee
R: Oi, ceecee
Ela dormiu com todo o júri? Até com as mulheres?
- GG

P: e aí, gossipgirl
qual é a parada? Só queria te dizer que eu acho você gostosa, apesar de você não me conhecer. Sou um cara, aliás.
Também queria dizer que eu estava no parque depois da aula na quarta e vi J e N. Ela é meio difícil de não ver. Quer dizer, a parte superior dela. Eles pareciam bem felizes em se ver, se tá me entendendo.
- goodie
R: Oi, goodie
Hmmm, obrigada pelo elogio, eu acho. Definitivamente obrigada pelo furo. Já tinha ouvido falar que N e J estavam se agarrando depois da aula todo dia. Coitada da B.

Flagra
B rondando pelas ruas entre a casa de S e de N, tentando dar um flagra neles. J e N na biblioteca pública na rua 96, estudando. Que bonitinho! N está claramente decidido a ir para a Brown e para o coração... de J. S parada na janela usando o vestido marrom Chloe que a mãe de B comprou para todas as damas de honra. Sei que ela devia ter a melhor aparência da Quinta Avenida, mas achei que ela ficou meio hippie. Comeu porcaria demais em Rhode Island, talvez? N pegando seu smoking para o casamento na Zeller. E B em um jogo de hóquei no Madison Square Garden com o irmão e o novo meio-irmão. Acho até que o hóquei era melhor do que sair com a futura noiva mamãe ou suas amigas damas de honra enjoadinhas. Agora, é difícil de acreditar.
Falta menos de uma semana para o grande dia. Um ótimo Dia de Ação de Graças para vocês, mas não comam demais, ou não vão caber nas roupas do casamento!
Pra você que me ama,
gossip girl

escudeiros gostosos e damas de honra sensuais
- Este vestido me deixa parecendo que tenho implante de silicone nas coxas - queixou-se Kati, explorando as pernas enquanto se examinava no espelho.
- Ele deixa minha pele totalmente cinza - gemeu Isabel.
Ela esguichou um pouco de Lubriderm nas mãos e o espalhou nos braços. - Eu devia ter comprado o pó bronzeador da Sephora - acrescentou ela, fazendo um bico.
Blair rolou para fora da cama no quarto do St. Claire Hotel e agarrou o vestido Chloe, deixando que ficasse pendurado de seus dedos. Era longo, marrom e macio, com contas peroladas costuradas diagonalmente no corpete e duas delicadas alças de contas, como colares, para segurá-lo.
Ela tirou o roupão de banho branco do hotel e puxou o vestido por sobre a cabeça. O tecido grudou em seu corpo, mas não parecia apertado - ficou ótimo. Blair se examinou no espelho. O vestido não deixava o corpo dela hippie de jeito nenhum. Ela ficou gostosa. Ontem tinha levado cera, tinha sido puxada, esfoliada, vaporizada e hidratada dos folículos pilosos as unhas dos pés no Aveda Salon e no salão na Spring Street. Tinha reflexos bege-alourados nos cabelos, e o artista da maquiagem da mãe espalhou um pó corporal aromático em todo seu corpo. Blair afofou o cabelo para cima, que tinha sido penteado pelo cabeleireiro da mãe. Ela não se importava que Isabel e Kati não estivessem satisfeitas com o vestido, Nate não ia conseguir tirar as mãos dela a noite toda. Além disso, o vestido ficava perfeito com os Manolos que seu pai lhe dera de aniversário. Blair tirou os sapatos da bolsa e os calçou. Ficou feliz que ainda pudesse ser fiel ao pai, mesmo que fosse no casamento idiota da mãe dela.
- Você sabe que me quer - murmurou Blair a seu reflexo, fingindo que estava falando com Nate. Ela estava maravilhosa e definitivamente estava pronta para transar.
- Tudo pronto - disse Serena, saindo do banheiro em uma nuvem de perfume adocicado. O vestido ficou ótimo nela também, mas Blair procurou não olhar. Tinha feito um trabalho maravilhoso em ignorar Serena em todo o cabeleireiro e a maquiagem naquela tarde. Nem via motivo para parar de ignorá-la agora.
Alguém bateu na porta.
- Oi, sou eu, Aaron. Estão prontas?
Blair abriu a porta. Aaron e Tyler estavam parados no corredor, usando smokings. Aaron tinha cortado as trancinhas curtas para que partissem da cabeça em todas as direções Parecia uma estrela do rock no Grammy. Pelo menos dessa vez, Tyler parecia o perfeito cavalheiro, com o cabelo bem repartido e um nó de gravata impecável. Blair tinha de admitir que os dois estavam adoráveis.
- Uau - exclamou Aaron. - Esses vestidos são demais.
Tyler assentiu, concordando.
- Você está ótima, Blair - disse ele com sinceridade.
Blair franziu a testa, divertindo-se com a atenção.
- Não acha que me deixa meio gorda?
A rainha do drama.
Aaron sacudiu a cabeça.
- Sem essa, Blair. Você sabe que é gostosa.
Blair fez uma careta.
- Acha mesmo isso?
- Acho. E o Mookie também acha. Ele me disse. Tive de deixar ele em casa, mas ele definitivamente ia montar na sua perna com esse vestido.
- Vai se foder - rosnou Blair, embora estivesse gostando de cada minuto daquilo.
Ela se virou para Kati, Isabel e Serena.
- Vamos - disse ela. -Vamos terminar com essa merda logo.
Enquanto as meninas saíam do quarto, Blair deu uma olhada na suntuosa cama king size. Tudo bem, então as próximas horas iam ser um inferno. E certamente ela não sabia em que universidade, em nome de Deus, ia estudar no ano que vem.
Mas hoje era seu aniversário e, a noite, ela ia perder a coisa para Nate naquela cama.

- Você, Cyrus Solomon Rose, aceita Eleanor Wheaton Waldorf como sua legítima esposa, para amar e servir, na saúde e na doença, até que a morte os separe? - perguntou o ministro unitarista do altar da capela ecumênica das Nações Unidas.
- Sim.
- E você, Eleanor Wheaton Waldorf, aceita Cyrus Solomon Rose como legítimo esposo, para amar e servir, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
- Ah, sim, aceito.
Misty Bass se remexeu num dos desconfortáveis bancos de madeira da capela.
- Me conta de novo por que eles se casaram assim tão rápido - cochichou ela para Titi Coates.
A sra. Coates se aproximou da amiga e lhe deu um olhar astuto através do pequeno véu azul ligado ao fabuloso chapéu de pena de pavão.
- Eu soube que ela está falindo - cochichou. - Era a única maneira de saldar as dívidas.
A sra. Archibald não conseguiu deixar de se envolver.
- Ouvi dizer que ela se apaixonou pela casa de veraneio dele nos Hamptons - disse ela, inclinando-se para cochichar no ouvido de Misty e Titi. - Ela queria a casa, mas ele não quis vender. Então ela pensou em outra forma de par as mãos nela.
- Quanto tempo acha que vai durar? - perguntou Misty meio dúbia.
Titi deu um sorriso maldoso.
- Quanto tempo você moraria com aquilo?
Elas examinaram Cyrus Rose, que parecia particularmente rosado no terno riscadinho claro e camisa creme, gravata e colete. Usava um relógio de bolso de ouro e polainas nos sapatos
Polainas? O que ele acha que era aquilo, uma festa a fantasia?
Eleanor estava radiante, apesar do ridículo vestido rosa escuro Barbie Camponesa. Seus olhos azuis brilhavam com lágrimas de felicidade e diamantes ancestrais reluziam no pescoço, nos pulsos e nas orelhas.
Mas o mais importante, as damas de honra e escudeiros...
Blair agarrava seu buquê de lírios-d'água e não tirava os olhos de Nate, sem ouvir uma palavra sequer do serviço do casamento.
Alguns dias antes, Nate finalmente tinha lhe mandado um e-mail evasivo, dizendo que lamentava não tê-la visto por algum tempo, mas que ia ao Maine passar o Dia de Ação de Graças com a família. Blair respondeu imediatamente, dizendo a ele como estava nervosa e animada com o que ia acontecer naquela noite. Nate não respondeu, então ela se satisfez com a idéia de que tudo se resolveria quando eles se vissem novamente. Desde que aquela piranha da Serena não atrapalhasse.
Blair esperou que os olhos de Nate se voltassem para Serena para poder pegá-lo olhando para ela com ansiedade. Mas Nate continuou olhando direto a cerimônia, os olhos verdes brilhando na capela iluminada a velas. Desta vez, Blair decidiu ser otimista.
Talvez, só talvez, ela estivesse errada em relação a ele. Esqueça Serena - Nate estava tão empolgado com aquela noite quanto ela. Por que mais ele estaria tão bem? Ele irradiava uma sensualidade absoluta.
Mas ela também.
O vestido Chloe caiu em seu corpo como uma camisinha, e ela não estava usando absolutamente nada por baixo, exceto um par de meias-calças.
Ah, e os Manolos do aniversário, é claro.
Blair estava pronta. Era uma máquina sexual que carregava o buquê.
Então porque Nate não estava olhando para ela?
Nate assistia a cerimônia, fingindo interesse para evitar fazer contato visual com Blair. Tinha percebido que ela estava particularmente fashion, mas tudo isso o deixava preocupado com como ia lidar com as coisas depois. Em seu bolso estava a caneta favorita de caligrafia de Jennifer, que ela lhe dera para que se lembrasse dela quando estivesse viajando na Ação de Graças. Nate não conseguiu levar Jennifer ao casamento, por motivos óbvios. Mas prometeu se encontrar com ela no bar do hotel durante a recepção, para que ela pudesse vê-lo de smoking. Também prometeu que evitaria fumar um grande baseado antes do casamento. Agora se arrependia.
Ia ter de encarar Blair completamente careta. Nate enfiou a mão no bolso e agarrou a caneta. Ficava nervoso só de pensar nisso.

Serena também estava nervosa, embora não desse para notar. Sempre que um profissional colocava as mãos no rosto dela com maquiagem e mexia em seus cabelos, o resultado era irreal. Os cabelos louros brilhavam, a pele reluzia, as bochechas ardiam e o vestido Chloe marrom abraçava seu corpo, acentuando os quadris estreitos, a curva das costas e as pernas longas e graciosas.
Mas, por dentro, Serena estava um pouco mais desarrumada.
Antes de tudo, estava preocupada com Dan. Ele estava agindo de um jeito estranho. Ela não conseguira vê-lo antes da cerimônia, mas tinha conversado com ele na noite passada. Meio que conversou. Ela praticamente falou sozinha. Dan estava meio amuado e disse que a veria no casamento. Serena não sabia o que estava rolando com ele, mas definitivamente tinha alguma coisa.
Também estava preocupada com Blair, apesar do fato de Blair tê-la ignorado o dia todo. As meninas estavam paradas uma ao lado da outra e Serena praticamente podia sentir a tensão zunindo no corpo de Blair como eletricidade estática.
Do outro lado do corredor, o irmão de Serena, Erik, piscou para ela. Parecia um príncipe de smoking. Uma versão masculina de Serena, alto, os cabelos completamente dourados, olhos azuis, com um borrifo de sardas no nariz e adoráveis covinhas na bochechas. Serena tinha contado a ele tudo sobre a entrevista pavorosa na Brown e, como era de se esperar, Erik respondeu com uma palavra: "Fodam-se."
Não era exatamente o conselho mais tranqüilizador que ela podia receber, mas Serena respeitava o tipo de sabedoria despreocupada do irmão - funcionava para ele. E ela estava considerando seriamente uma faculdade de arte agora.
Ela virou a cabeça e tentou localizar Dan no meio das pessoas, mas não conseguiu ver seu cabelo castanho desgrenhado em lugar nenhum entre os chapéus glamorosos e cabelos recém-feitos dos convidados do casamento. Ela se perguntou se ele estava aborrecido por ter vindo.

Dan estava arriado em um banco dos fundos, as mãos suando em bicas, tentando não ouvir a fofoca cruel que acontecia em volta dele.
- É mais brega do que eu esperava - cochichou uma mulher.
- O que é aquela coisa que ela está vestindo? – cochichou a vizinha em resposta.
- E ele? - retrucou a primeira mulher.
- E os vestidos das damas de honra. São pornográficos!
Dan não sabia do que elas estavam falando. Todos na festa de casamento pareciam espetaculares para ele, particularmente Serena. Dan tinha tentado ficar o mais arrumado que pôde, mas seus mocassins pretos gastos eram um equívoco completo e a camisa nem foi bem passada. Ele nunca se sentiu mais deslocado do que naquela noite.
Mas ela queria que ele estivesse ali, e ele foi. Um cordeiro pronto para o matadouro.

- E agora, pode beijar a noiva - anunciou o ministro.
Cyrus agarrou Eleanor pelos punhos. Blair apertou o buquê contra a barriga para conter a náusea.
Foi um beijo muito longo, mas qualquer demonstração pública de afeto entre pessoas da idade de seus pais é suficiente para fazer você enjoar.
Cyrus triturou com os pés uma taça de vinho embrulhada em um guardanapo e o pianista martelou os acordes de congratulação.
Enfim, estavam casados!
Os convidados seguiram o casal pelo corredor e pelas portas da capela.
Na calçada da Primeira Avenida, do outro lado do prédio das Nações Unidas, Blair se aproximou de Nate na ponta dos pés e bafejou em sua orelha.
- Senti sua falta - ronronou.
Nate girou e deu seu melhor sorriso.
- Oi. Parabéns, Blair - disse ele, beijando-a no rosto.
Blair fez uma careta.
- Por que? Esse é tipo o pior dia da minha vida. – Ela se aproximou dele. - A não ser que você deixe ele melhor.
Nate continuou sorrindo.
- Como assim?
Blair estava de saco cheio de embromação. Queria ir direto ao que interessava.
- Quero dizer que não estou usando calcinha.
Nate parou de sorrir.
- Tá legal. - Ele apertou as mãos no bolso, tocando a caneta de Jenny.
- Você nem me deu feliz aniversario hoje. - Blair fez um beicinho, esticando o lábio inferior. Estendeu a mão e deu um tapinha no bolso de Nate. - E nem me deu um presente também.
A mão de Nate se fechou em tome da caneta, escondendo-a dela.
- Por que não pergunta aquele cara se ele não tira uma foto nossa? - sugeriu ele, desesperado.
O fotógrafo da Vogue estava ocupado, tirando fotos românticas de Cyrus e Eleanor no banco traseiro de seu Bentley. Blair foi até lá e puxou a manga do casaco dele.
- Tira uma foto minha e do meu namorado? - perguntou ela animadinha.
Mas, quando se virou, Nate tinha desaparecido.

De volta a rua, Serena esperava que Dan saísse da capela, como ela havia prometido. Ele saiu e abriu caminho até ela, a cabeça tombada.
- Desculpe por isso - disse Serena, dando-lhe um abraço rápido. - Espero que não tenha sido muito estranho.
Dan enfiou as mãos nos bolsos do smoking.
- Está tudo bem.
- Bem, eu achei estranho. E eu conheço essas pessoas.
Ela parecia tão genuinamente grata por ele estar ali que Dan decidiu amolecer um pouco.
- Você está mesmo ótima.
Serena sorriu.
- Você também. Vem - disse ela, puxando-o para uma limo que esperava. Ela o empurrou para o banco traseiro. - Vamos tomar um porre.
Eles tinham o carro só para eles. Dan adorou o cheiro dos bancos de couro. Ele se sentou perto de Serena. Suas pernas se tocavam.
- Obrigada por vir comigo - disse Serena.
Dan virou a cabeça e seus olhos se encontraram. O carro estava prestes a arrancar do meio-fio. Serena teve a sensação de que Dan ia dizer alguma coisa séria.
Então a porta de trás se abriu e Nate enfiou a cabeça por ela.
- Oi, pessoal - disse ele sem fôlego. - Se importam se eu for com vocês? – De jeito nenhum ele ia ficar num carro sozinho com a Blair.
Erik apareceu atrás dele.
- E eu? - Ele atirou uma garrafa de schnapps de pêra para o banco. - Trouxe birita.
Serena se arrastou para o lado para abrir espaço.
- Quanto mais, melhor! - disse ela, alegre.
Dan não disse nada.
Ele acendeu um cigarro.

recepção não é festa
- Você deve estar emocionada.
- Parabéns, querida!
Blair não tinha preparado nenhuma fala para receber os convidados em seu roteiro do filme daquela noite, e sua mãe e Cyrus pareciam decididos a prolongar sua agonia. O rosto doía de tanto sorrir e ela estava enjoada das pessoas beijando-a e fazendo com que ela dissesse o quanto estava feliz pela mãe.
Até parece. Já foi ruim ter sido obrigada a posar para a câmera com os lábios apertados no rosto gordo e vermelho de Cyrus. Indecente.
- É mesmo legal sair com ela. - Blair ouviu Aaron dizer a alguém. Ele estava parado ao lado dela na fila da recepção, e ficava falando com as pessoas como estava adorando ter uma nova irmã tão legal. Blair sabia que ele estava sendo sarcástico. Teve vontade de bater nele.
Parabéns para mim, parabéns para mim, pensou Blair com amargura. Assim que a besteirada de receber os convidados acabasse, ela ia procurar Nate e ter uma conversa séria com ele. Será que ele não via o quanto ela precisava dele agora? Não dava para ver?

- Pelo menos nisso eles acertaram - cochichou Misty Bass ao marido quando passaram pela fila de cumprimentos e entraram no elegante salão do St. Claire Hotel, onde a recepção de casamento ia acontecer. O salão faiscava de prata, linho branco, cristal e luz de velas. Um harpista sentava-se a um canto, tocando discretamente. Garçons em casacos brancos distribuíam flûtes de champanha dourado e acompanhavam os convidados as mesas marcadas.
Se Blair tivesse se envolvido nos arranjos das mesas, as coisas podiam ter ficado urn pouco diferentes, mas Serena, Dan, Nate e Erik estavam sentados na mesma mesa, com Serena entre Nate e Dan. Do outro lado da mesa, na frente deles, estava Chuck Bass, a pessoa que Serena e Dan menos gostavam em toda a lista telefônica. Ele tinha passado gel no cabelo escuro, o que era um novo look para ele. Deixava-o mais parecido com um grande idiota do que nunca.
(Idiota, masc.,subst.: Um babaca insensível, arrogante e irritante. Em geral, mas nem sempre, baixo e careca. Pense no cara mais galinha do salão.)
Chuck na verdade era arrasadoramente lindo, de um jeito de comercial de loção pós-barba. Era a personalidade dele que o fazia um grande idiota.
A cada lado de Chuck estavam Kati e Isabel, ainda se contorcendo em seus vestidos apertados demais.
Dan se sentou em seu lugar e olhou um arranjo de talheres de prata.
- Não é assim tão difícil - disse-lhe Chuck com desprezo.
Ele apontou para a colher de sopa de Dan. - É só ir usando de fora para dentro.
- Obrigado - retrucou Dan, infeliz. Esfregou as mãos pegajosas na calça do smoking. Não devia ter vindo.
Os garçons trouxeram o primeiro prato. Sopa de abóbora, em homenagem ao Dia de Ação de Graças, e uma grande cesta de pãezinhos quentes.
- Então eu estou confuso aqui - continuou Chuck, dominando a mesa de seu jeito detestável de sempre. Ele apontou a faca de pão para Serena. - Você está com ele? - perguntou, fincando a faca em Nate. - Ou ele? – investindo com a faca para Dan.
Erik riu.
- Na verdade, Chuck - disse ele com sarcasmo – É um trio. Nate se apaixonou perdidamente por Dan. Serena apresentou os dois.
Serena mexeu na sopa e revirou os olhos para Dan, se desculpando.
- Eu vim com o Dan. E ele provavelmente está me odiando agora.
Dan deu de ombros.
- Não estou não.
Mas ele se perguntou qual era a verdadeira resposta a pergunta de Chuck. Ela estava com ele? Bom, estava, né? Não é?

Finalmente todos os convidados passaram pela fila de cumprimentos, e Blair e sua nova e ampliada família foram para a mesa principal. Blair se sentou entre Aaron e Tyler, praticamente de costas para Nate. Blair não conseguia acreditar. Serena e Nate estavam sentados um ao lado do outro na mesa ao lado, enquanto ela estava presa com a família. Ina-porra-creditável.
Ela se inclinou para trás na cadeira para cochichar no ouvido de Nate.
- Posso falar com você? Depois dos discursos?
Nate assentiu, hesitante. Olhou para o relógio. Jennifer chegaria logo. Era possível que ele conseguisse evitar conversar com Blair.
Satisfeita, Blair inclinou a cadeira para a frente novamente e pegou a flûte de champanha, virando o conteúdo em um gole só. Se ia perder a virgindade para Nate, queria estar relaxada.
- Calma aí, princesa - alertou Aaron. - Eu não quero que você vomite em mim.
- Por que não? - replicou Blair, erguendo a taça para que o garçom enchesse. - Seria um progresso.
Cyrus estava lendo uma pilha de cartões e murmurava para si mesmo, praticando seu discurso.
- Não fique nervoso, querido - disse Eleanor, dando um tapinha em seu ombro. - Seja você mesmo.
Blair revirou os olhos e virou outra taça de champanha. Esse foi o pior conselho que ela já ouviu.
Os garçons retiraram os pratos da sopa e serviram mais champanha. Cyrus Rose suava como um porco. Pegou um garfo e bateu na taça. Blair não agüentava ficar sentada ali por mais um minuto de agonia. Ela bochechou champanha na boca para limpar qualquer impureza, virou-se e puxou a manga do paletó de Nate.
- Vamos agora - ordenou ela, entre dentes.
Nate se virou e a olhou.
- Gente, se eu puder ter um minuto de sua atenção! - disse Cyrus, ainda batendo na taça.
- Vamos agora, Nate - instou Blair.
Nate olhou para o relógio. Jennifer ia chegar em alguns minutos. De jeito nenhum ele ia deixá-la esperando porque estava fora, permitindo que Blair chorasse no ombro dele.
- Mas Cyrus está fazendo o discurso.
Blair cravou as unhas no braço dele.
- Por isso mesmo. Vamos.
Nate sacudiu a cabeça. Respirou fundo.
- Relaxa - disse ele a Blair e se virou.
Blair ficou olhando a nuca de Nate sem acreditar.
- O quê? - retrucou ela, sem ter certeza se tinha ouvido bem. Sua bunda nua coçava do atrito do vestido. Isso não está acontecendo, disse a si mesma. Nate não estava agindo como um imbecil e não ia ser injusto com ela. Estava tudo em sua cabeça.
Cyrus limpou a garganta.
- Blair! - sibilou a mãe dela do outro lado da mesa.
Aaron pegou a mão dela e a puxou para a cadeira.
- Não seja grosseira.
Todo o salão estava em silêncio, esperando que Cyrus começasse o discurso.
- Obrigado por terem vindo - comçou ele. - E obrigada por encurtarem os planos do Dia de Açãode Graças para estar aqui. - Depois ele se lançou no mesmo discurso idiota que Blair o ouvira praticar em casa a semana toda, andando de um lado para outro do corredor da cobertura da rua 72 com uma calça de pijama de cashmere igual a que ela roubara para Nate.
Blair ficou sentada imóvel, observando as bolhas do fundo da taça de champanha subirem ao topo. Se movesse um músculo, a cabeça ia explodir.
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Advertência: todos os nomes verdadeiros de lugares, pessoas e fatos foram alterados ou abreviados para proteger os inocentes. Quer dizer, eu.

oi, gente!

O ANÚNCIO DO CASAMENTO NO NEW YORK TIMES
Eleanor Wheaton Waldorf, hostess da sociedade do Upper East Side, e Cyrus Solomon Rose, empreendedor imobiliário, casaram-se hoje em meio a escândalo, fofoca e intriga. Eles se conheceram na Saks na primavera passada e estavam namorando desde então. Ela estava sofrendo de uma grande perda de confiança quando o conheceu, tendo recentemente sido abandonada por seu primeiro marido, que a trocou por um homem. Mas Cyrus a fez esquecer tudo isso. Ele se apaixonou pelo sorriso dela, por seu corpo recentemente reduzido e pelo imenso apartamento dela na Quinta Avenida, e ele não ia deixar passar isso. Ele também mal podia esperar para largar sua mulher maluca por cirurgia plástica. Eleanor se apaixonou pela perspectiva alegre de vida de Cyrus, seu sex appeal de Papai Noel levado e sua incrível casa na praia de Bridgehampton.
Como poderiam ser mais perfeitos um para o outro?
A noiva é filha de um corretor de valores seriamente rico, Tyler August Waldorf, agora falecido, e da dama da sociedade Mirabel Antoinette Kattrel Waldorf, também falecida. Tem dois filhos, Blair Cornelia Waldorf, que completa 17 anos hoje, e Tyler Hugh Waldorf, de 11 anos. O noivo é filho de Jeremiah Leslie Rose, ex-rabino da sinagoga de Scarsdale, falecido, e Lynne Dinah Bank, uma decoradora de interiores aposentada que mora no México. O filho dele, Aaron Elihue Rose,tem 17 anos.
Depois de um noivado absurdamente curto, os dois se casaram hoje. O casal escolheu a capela ecumênica das Nações Unidas para a cerimônia, uma vez que ele é judeu e ela protestante e nenhum dos dois queria se converter. Enquanto estamos falando aqui, a recepção está acontecendo no St. Claire Hotel, na rua 65 Leste. O jantar inclui um prato chamado quenelle, que é musse de peixe e é muito provável que faça você vomitar se misturar com champanha. O casal passara a lua-de-mel num iate no Caribe por um mês, deixando seus filhos se virarem sozinhos em casa enquanto estiverem fora.
Hmmmm. Isso vai ficar interessante!
A noiva assumiu o nome do noivo, bem como o filho, Tyler.
A filha, Blair, continua indecisa. "Não enche" era sua resposta quando indagada. Os casamentos anteriores dos dois terminaram em divórcio. Foi tudo muito escandaloso na época, mas três vivas para eles - eles superaram tudo.
É melhor voltar para a festa!
Pra você que me ama,
gossip girl
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cheek to cheek
- Tomara que ele esteja esperando pela gente no lobby - disse Jenny, nervosa.
- Não se preocupe - tranqüilizou-a Vanessa. – Vamos encontrá-lo.
Elas passaram pela porta giratória do St. Claire Hotel e deram uma olhada no lobby suntuoso. As duas meninas usavam roupas pretas da década de 1960, que compraram por dez dólares na Domsey's, em Williamsburg. A de Jenny era enfeitada com contas pretas, e o vestido de Vanessa tinha um gato de veludo costurado na saia. Ela também estava usando meias arrastão pretas, o que era obrigatório.
As duas meninas pareciam muito retrô e bem bonitinhas.
- Ele está ali! –guinchou Jenny, indo direto para Nate, sentado todo duro em uma cadeira no canto, engolindo champanha.
- Ótimo - disse Vanessa, de repente se sentindo completamente deslocada. O que ela devia fazer enquanto Jenny e seu namorado riquinho ficassem se agarrando?
- Vejo vocês dois no bar.
Ela insistiu em que só tinha vindo para dar apoio moral, mas é claro que tinha um motivo a mais. Havia uma chance de Dan passar por ela a caminho do banheiro ou algo assim. Então ela não acharia que tinha desperdiçado tempo colocando o vestido.

- Oi, Jennifer. - Nate deu-lhe um beijo no rosto e pegou a mão dela.
- Oi - disse Jenny, seus olhos enormes de empolgação. Ela olhou os sapatos brilhantes de Nate. O smoking preto novo. Os cabelos castanho-dourados ondulados. Os olhos verdes brilhantes. - Você está... muito, muito bem.
Nate sorriu.
- Obrigado. Você também.
- E aí, o que você quer fazer? - perguntou ela.
- Vamos sentar um pouco, tá legal?
- Tudo bem - disse Jenny. Nate a levou para um sofá em um canto tranqüilo do bar.
- Tudo bem se eu tomar uma tônica, ou coisa assim?- perguntou Jenny, cruzando as pernas e descruzando-as nervosamente depois. - Estou me sentindo meio estranha.
- Claro - respondeu Nate. O garçom se aproximou e ele fez o pedido. - Duas tônicas.
Caraca, ele realmente estava se corrigindo.
Ele pegou a mão de Jenny novamente e a colocou em seu colo. Jenny deu uma risadinha. Sentia-se estranha por estar em um bar de hotel com Nate em vez de no parque ou na casa dele. Ela achava que todo mundo no hotel estava olhando para eles.
- Não fique nervosa - sussurrou Nate. Ele ergueu a mãozinha dela e a beijou com ternura.
- Estou tentando - disse Jenny. Ela fechou os olhos, respirou fundo e encostou a cabeça no ombro de Nate. Era fácil relaxar quando estava com Nate. Ele a fazia se sentir segura.
Ela abriu os olhos e deu com Nate sorrindo para ela, os olhos verdes brilhando.
- Estou com a sensação de que vou ter muitos problemas por causa disso - tornou ele, como se estivesse procurando por eles.
Jenny franziu a testa.
- Como?
- Não sei. - Ele estava a ponto de explicar a Jenny que sua namorada, Blair, estava no salão ao lado, provavelmente armada e perigosa. - É só uma sensação.
Jenny apertou a mão dele.
- Não se preocupe. Não estamos fazendo nada de errado.

- Então - disse a mãe de Blair quando Cyrus tinha terminado o discurso e a quenelle e a salada verde orgânica eram servidas. - Cyrus, Tyler e eu andamos conversando sobre nosso nome.
- O que tem o nosso nome? - Blair futucou a quenelle com o garfo. - Mas o que é essa coisa?
- Não se lembra? Nós escolhemos naquele dia, quando provamos.
Blair comeu um pouco.
- Parece ração de gato. - Blair empurrou o prato para o lado e pegou a taça de champanha.
- De qualquer forma - continuou a mãe -, Tyler concordou em mudar seu nome para Rose. E eu já fiz isso. Então só falta você, Blair.
Blair chutou a perna da cadeira. Essa não era a primeira vez que o assunto vinha a tona.
- Você vai mudar o seu? - perguntou ao irmão, incrédula.
Tyler assentiu.
- Eu decidir mudar, é. Tyler Rose. Parece cool, né? Tipo um DJ ou coisa assim.
- Definitivamente – concordou Aaron. Ele adorava a voz dele. - No phat beats está Tyler Rose, ao vivo, direto da rua 72.
- Cala a boca - murmurou Blair. Como se seu nome do meio já não fosse idiota o bastante, agora eles queriam que ela engolisse um nome mais idiota ainda? Blair Cornelia Rose, de jeito nenhum. - Eu já te disse. Não vou mudar.
O rosto da mãe desabou.
- Ah, Blair. Seria tão bom se nos todos tivéssemos o mesmo nome. Seria como uma família.
- Não - insistiu Blair.
Cyrus lhe deu um sorriso simpático.
- Significaria muito para mim e para sua mãe se você pelo menos pensasse nisso mais um pouco - disse ele.
Blair apertou os lábios para travar o grito de ultraje. Que parte do "não" eles não tinham entendido? Ela se virou para procurar Nate, mas a cadeira estava... vazia. Ah, por que tudo estava essa confusão toda?
- Desculpe - disse ela amargamente. A quenelle subiu por sua garganta, misturando-se mal com os litros de champanha que ela já havia consumido. Blair bateu a mão na boca e voou rapidamente da mesa.
Serena e Erik estavam fazendo esculturas de comida com a quenelle. Era ruim demais para comer, e a banda ainda não começara a tocar, então não havia mais nada para fazer. Erik tinha roubado o prato de Nate, e eles empilharam as três quenelles em formato de peixe, ligando-as com dois canudinhos de coquetel. Erik sabia como fazer isso porque estava estudando arquitetura na Brown.
Dan na verdade gostou da quenelle. Ele a comeu bem lentamente, reunindo coragem para o que estava prestes a fazer.
- Ei, posso falar com você um minutinho? – perguntou finalmente a Serena, colocando a mão na mesa ao lado do prato dela para atrair sua atenção.
- Claro - disse ela, virando-se.
- Não liguem para mim. - Erik lastreou sua pilha de quenelle com bolas de manteiga. - Tenho um trabalho a fazer.
- Que foi? - Serena colocou o cabelo atrás das orelhas e se inclinou para Dan, dando-lhe toda a atenção.
Dan olhou aqueles olhos quase azul-marinho e tentou descobrir o que procurava. Alguma coisa que lhe dissesse que fora besteira ele se preocupar. Que ela o amava da mesma forma que ele a amava. Ele não conseguiu ver nada além do azul.
- Eu só queria dizer que eu não quis... Eu não quis... Quando mandei aquele poema, eu pensei... - Dan não sabia o que estava tentando dizer. Parecia que estava se desculpando, e ele não se lamentava. Ele não lamentava nada, exceto o fato de que os olhos de Serena ainda eram azuis e nada mais.
- Ah, não esquenta com isso. - Serena bebeu um gole do champanha e manuseou nervosa a beira da toalha de mesa. - Você só foi meio intenso demais, só isso – acrescentou ela.
Intenso demais?, perguntou-se Dan. O que isso queria dizer?
De repente a banda de jazz começou a tocar.
- Ah, eu adoro essa música! - gritou Serena. Era Cheek to cheek. Ela era louca por música piegas.
- Senhoras e senhores, a noiva e o noivo! - anunciou o líder da banda. Cyrus e Eleanor Rose se levantaram e rodopiaram para a pista de dança, acenando para os convidados se juntarem a eles.
Chuck pegou a mão de Kati e de Isabel e as rodopiou, as mãos dele deslizando pelas costas das duas, até a bunda, em segundos.
- Quer dançar? - perguntou Serena a Dan. Ela se levantou e pegou a mão dele.
Dan olhou para cima, para Serena, com os olhos magoados, sentindo-se na verdade muito intenso.
- Não, obrigado. - Ele se levantou para sair. – Acho que vou fumar um cigarro.
Serena o observou ir. Ela sabia que Dan estava triste, mas o que podia fazer? Parecia não importar o que ela dissesse ou fizesse, ele sempre encontrava um motivo para ser infeliz.
Era assim que ele preferia. Dava a ele alguma coisa para escrever.
Serena preferia ser despreocupada e feliz, como o irmão.
Ela virou o champanha e pegou Erik pelos ombros para distraí-lo de sua brincadeira com a comida.
- Será que uma garota pode ter mais diversão aqui?- perguntou a ele, dando uma risada desesperada.
Erik se levantou.
- Esta garota definitivamente pode - disse ele, pegando-a pelos braços e curvando-a para trás dramaticamente.
E era verdade. Serena, que sempre encontrava uma maneira de se divertir, não tinha se divertido nada naquela noite. Mas a noite era uma criança...

amor omnia vincit - o amor conquista tudo
- Você viu meu irmão? - perguntou Jenny a Nate. – Ele está se divertindo?
Nate abriu o isqueiro Zippo e acendeu um cigarro.
- Na verdade eu não prestei muita atenção – admitiu ele.
- Tenho certeza de que ele está - disse Jenny. Ela olhou em volta, para a decoração decadente do hotel. - Quer dizer, como não poderia?
Nate inclinou a cabeça dourada e soprou a fumaça para o teto. Jenny tomou um gole da tônica.
- E você, está se divertindo? - perguntou ela.
Nate se inclinou para a frente e pousou a cabeça no ombro nu de Jenny, que tinha cheiro de talco para bebê e condicionador capilar Finesse.
- Está melhor agora do que quando eu estava lá.
- Sério? -Jenny ainda não entendia como Nate gostava dela. Agora ele estava dizendo que preferia ficar com ela a dançar na recepção de um dos maiores casamentos do ano?
Nate baixou a cabeça e foi beijando a lateral do pescoço de Jenny, perto de seu maxilar, ate chegar a boca. Jenny apertou os olhos e retribuiu o beijo. Sentia-se como uma princesa em um conto de fadas, e não que ria acordar jamais.

Dan deslizou para um banco no fim do balcão do bar do St. Claire Hotel e pediu um scotch duplo com gelo. Com as mãos trêmulas, puxou um Camel do bolso do casaco e acendeu.
Lagrimas caíram no papel do cigarro ao se pendurarem, viscosas e tortas, de entre seus lábios. Ele pegou uma caneta do bar e desenhou um X grande e preto no guardanapo. Era só o que conseguia expor.
Todos aqueles trágicos poemas de amor que ele tinha escrito pretendiam afastar a tragédia, a idéia real de que Serena não o amava. Mas, afinal, era verdade. Ela não o amava.
O engraçado era que ele não estava chorando tanto por ela, mas principalmente pelo que ela disse.
Ele era intenso demais. Um mané destinado a assustar as pessoas porque ninguém era capaz de acompanhar sua intensidade.
O peito de Dan se convulsionou em um soluço e ele tombou para a frente, pousando a testa na beira do copo. Pelo canto do olho, viu um emaranhado familiar de cabelos castanhos crespos, um colo enorme, o corpo minúsculo.
Sua irmã.
E ao lado dela, com todas as mãos em seu enorme peito e no corpo minúsculo, estava aquele canalha rico, o Nate.
Dan realmente não estava com humor para ver sua irmã ser molestada por um mauricinho chapado que tinha maconha no lugar do cérebro. Levantando-se, detonou todo o uísque e se virou.

Depois de vomitar a quenelle, Blair tinha saído para fumar um cigarro e tomar um pouco de ar fresco. Não durou muito. Era novembro e ela estava congelando a bunda, então entrou e foi para o banheiro das mulheres para se arrumar.
Assim que enxaguou a boca, ajeitou os cabelos, pôs outra camada de batom M·A·C Spice e se borrifou de perfume, foi procurar Nate para levá-lo para seu quarto. Já bastava. Era o aniversário dela e ela queria que fosse do jeito dela.
Mas assim que passou pelo bar, a caminho do banheiro das mulheres, Blair parou, mortificada. No canto, Nathaniel Archibald – o seu Nate - estava beijando a garotinha da sétima série da Constance Billard.
A trilha sonora veio num crescendo e depois parou. A protagonista tremeu, os olhos arregalados.
Blair se sentiu como se tivesse levado um tiro na barriga.
Nate parecia completamente relaxado e feliz. Ele e a garota - qual era o nome dela mesmo, Ginny? Judy? - estavam de mãos dadas. Pareciam apaixonados.
Isso definitivamente não estava no roteiro.
E, enquanto olhava com um misto de horror e fascínio, Blair teve a percepção mais decepcionante de toda a sua vida.
Pior até do que a idéia de não entrar em Yale.
Nate não era seu protagonista. Não ia se arrastar aos pés dela e amá-la, somente a ela. Ele era só um coadjuvante, um mané que sairia da tela antes da última cena. E, se era assim, ela definitivamente não o queria.
Blair se virou, as lagrimas de decepção turvando a visão enquanto ia para o banheiro das mulheres pela terceira vez.
Precisava desesperadamente de um cigarro e queria fumar em um lugar aquecido e privado.

- Tira a porra das suas mãos da minha irmã – grunhiu Dan, agitando seu Camel aceso para Nate.
- Dan? - disse Jenny, sentando-se ereta. - Não. Está tudo bem.
- Não está tudo bem - zombou Dan para sua irmãzinha.
- Você não sabe de nada.
Nate deu um apertao tranqüilizador na perna de Jenny e se levantou. Estendeu o braço para o ombro de Dan e deu uns tapinhas gentis.
- Está tudo bem, cara. Somos amigos. Você sabe disso.
Dan sacudiu a cabeça. Lágrimas de raiva caíram de seu rosto para o piso de mármore.
- Fica longe de mim.
- Qual é o seu problema? - perguntou Jenny, levantando-se. - Você está bêbado?
- Qual é, Jenny - disse Dan, pegando o braço dela. - Vamos para casa.
Jenny tentou se livrar da mão dele.
- Ai. Larga! - gritou ela.
- Ei, cara - disse Nate. - Por que você não vai para casa? Tenho certeza que Jennifer vai chegar bem.
- É, com certeza vai - cuspiu Dan. Pegou o braço de Jenny novamente.
- Ai, Dan - uma voz sarcástica e calma de mulher chamou do bar. - Por que não escreve um poema sobre isso ou coisa assim? Tá precisando esfriar a cabeça.
Dan, Jenny e Nate olharam. Era Vanessa, encarapitada em um banco do bar com seu vestido preto de gato. Seus lábios estavam pintados de vermelho-escuro. Os olhos castanhos estavam rindo. A cabeça estava raspada como um soldado do exército.
A pele era tão pálida que brilhava. Ela estava fabulosa.
Pelo menos para Dan.
A coisa mais incrível eram os olhos dela. Por que ele nunca reparou antes? Eles não eram só castanhos, como os de Serena eram só azuis. Estavam falando com ele. E diziam coisas que ele queria ouvir.
- Oi - disse Vanessa, falando só com Dan.
- Oi - respondeu Dan. - O que está fazendo aqui?
Vanessa deslizou para fora do banco e andou. Colou o braço em volta dos ombros de Dan e o beijou no rosto.
- Comprando uma bebida - disse ela. - Vem.
como sempre, b está no banheiro, mas aí chega s
Depois de Cheek to cheek, a banda tocou Putting on the Ritz.
Serena e Erik fingiram que eram Ginger Rogers e Fred Astaire, exagerando em seu canto da pista de dança. Serena agitava os braços alegremente, tentando ficar despreocupada, ser a vida da festa, mas não conseguia deixar de pensar na expressão magoada de Dan.
E aí Chuck apareceu.
- Me permite? - perguntou ele, deslizando a mão com o anel cor-de-rosa na cintura de Serena e afastando Erik com a bunda.
Serena não podia ter pedido urn motivo melhor para parar de dançar.
- De jeito nenhum.
Ela saiu da pista de dança e pegou a bolsa na cadeira. Talvez pudesse pegar Dan no bar e conversar com ele, fumar uns cigarros.
Mas quando chegou ao bar, Serena viu que Danja estava conversando com...Vanessa. O braço dela estava em volta dele e, apesar de a cabeça ainda estar raspada e ela ainda usar Doc Martens, o rosto parecia mais suave e mais doce do que Serena jamais viu. Isso porque Vanessaolhava para Dan e Dan olhava para ela e eles estavam... apaixonados!
Serena continuou andando, direto para o banheiro das mulheres. Ainda queria um cigarro e não queria estragar o momento deles.
Blair estava empoleirada numa pia no fim do banheiro, fumando Merits como uma louca. Ouviu alguém entrar, mas não se virou. Estava enrolada demais na própria tragédia.
Havia uma boa chance de ela nao entrar em Yale, mesmo depois da doação constrangedoramente exagerada de seu pai.
Nate não a amava. Ela nem tinha mais o mesmo nome do resto da família. E ainda era virgem. Era como se realmente tivesse se tornado outra pessoa sem nem ao menos tentar. Como se fosse atropelada por um carro e tivesse amnésia e continuasse vivendo sem perceber que tinha sofrido urn acidente.
O nariz de Blair escorria no vestido e ela o limpou nele. Nem podia dizer se estava chorando mais. Ela se sentia entorpecida.
- Oi, Blair, tudo bem? - perguntou Serena, meio tímida.
Blair na verdade não tinha mais caninos, mas ainda podia arrancar sua cabeça a dentadas.
Blair olhou por sobre o ombro e assentiu. Fios de cabelo castanho estavam colados em suas bochechas umidas e o delineador estava borrado.
- Toma - comentou Serena, and ando na direção dela e lhe passando urn bolo de toalhas de papel. - Tenho maquiagem e essas coisas na minha bolsa, se você precisar.
- Obrigada. - Blair pegou as toalhas de papel. Assoou o nariz, os ombros tremendo com o esforço. Serena nunca a vira assim tão esgotada.
- Você está bem? - perguntou ela novamente.
Blair olhou para cima e viu uma preocupação genuína nos olhos azuis de Serena. Era inacreditavel, mas era verdade.
Mesmo depois de Blair ter sido tao incrivelmente cruel com ela, Serena ainda se importava.
- Não - admitiu Blair. - Definitivamente não estou bem. - Seu peito pesou quando ela deixou escapar urn soluço. - Minha vida esta uma droga.
Uma das alças de contas do vestido de Blair caiu. Serena estendeu a mao e a colocou no lugar.
- Eu te vi roubando a calça de pijama na Barneys.
Blair olhou para cima.
- Mas não contou a ninguem, né? - perguntou ela.
Serena sacudiu a cabeça.
- Não.
Blair suspirou e olhou para seus belos sapatos.
- Não sei por que fiz aquilo - disse ela, o lábio inferior tremendo. - Ele nem me agradeceu pelo presente.
Serena deu de ombros.
- Ele que se foda. - Ela vasculhou a bolsa e pegou uma escova e urn maço de cigarros. Acendeu dois cigarros e passou um para Blair. - É seu aniversário.
Blair assentiu e pegou o cigarro. Tentou soltar a fumaça enquanto as lágrimas rolavam em seu rosto. E depois soltou um soluço alto.
Serena se segurou para nao rir, mas não conseguiu evitar.
Blair estava tão ridícula. Ela mordeu seus notórios lábios para prender a gargalhada. As lágrimas mancharam o rosto perfeito.
Blair encarou Serena. Mas, quando abriu a boca para dizer alguma coisa desagradável, só o que saiu foi outro enorme soluço. Ela prendeu a respiração.
- Vai se foder - disse ela com uma gargalhada.
E, depois que começou, nao conseguiu parar. Nem Serena.
Parecia tão bom rir! A máscara desabou do rosto das duas e seus narizes gotejavam no chão, fazendo-as rir ainda mais.
Quando finalmente recuperaram o controle, Serena ficou de pé atras de Blair e começou a pentear o cabelo dela.
- Bem, feliz aniversário - disse ela, olhando para Blair no espelho, o cigarro preso entre os dentes. - Me avisa se doer.
Blair fechou os olhos e deixou cair os ombros. Pelo menos dessa vez ela nao estava pensando na entrevista de Yale, nem em perder a virgindade para Nate, nem em sua família confusa. Ela não era a estrela de nenhum filme. Só estava respirando, desfrutando o puxão suave da escova no cabelo.
- Nao dói - disse ela a velha amiga. - É bom.
quem saiu da festa e quem chegou
- Não acho que a Vanessa vá querer ir embora comigo - cochichou Jenny para Nate, apontando para onde Vanessa e Dan estavam, as cabeças juntas no bar.
- Quem disse que você vai embora? - perguntou Nate.
Jenny ajeitou o vestido nas coxas. Ela e Nate tinham se beijado por algum tempo e o vestido havia subido.
- Bem, você não tem de voltar para a recepçãodo casamento? Quer dizer, você não é tipo escudeiro, ou coisa assim?
Nate inclinou o copo e esmagou urn cubo de gelo entre os dentes. Ele nao ligava mais para quem os visse juntos. Nem Blair. Ele queria que ela os visse.
- É, mas vou levar você comigo - disse ele.
- De jeito nenhum. -Jenny engasgou, meio apavorada e meio morta de emoção. - Eu não posso!
Mas é claro que ela estava morrendo de vontade de ir. Podia até ter uma foto publicada na Vogue!
- Vamos lá - insistiu Nate. Ele se levantou e pegou a mão dela. - Vamos dançar.

Dan tomou urn grande gole de uísque e colocou o copo no balcão.
- E aí, aposto que voce acha que sou um mané total, né? - disse ele, virando-se para ver os olhos castanhos e sorridentes de Vanessa. Novamente ele se perguntou como pede não ter reparado neles antes.
- Bern, voce é mesmo urn mané - confirmou Vanessa, cruzando as pernas como uma dama. Ela pegou urn punhado de amendoins de urn prato no balcão e o enfiou na boca.
- Mas você ainda me ama, né? - perguntou Dan, observando-a intensamente.
Vanessa pegou uma bola de fios de suas meias arrastao e a atirou no chão do bar. Mal podia acreditar que estava realmente azarando o Dan. Nem tinha terminado com Clark ainda! Mas era urn pouco divertido ser assim meio vagaba.
Ela se inclinou para Dan e o beijou nos lábios trêmulos.
- É - disse ela, a boca ainda cheia de amendoins.

- Nate e eu íamos transar esta noite - disse Blair, jogando-se na cama de seu quarto de hotel e tirando os sapatos.
Seus membros estavam frouxos e moles de exaustão. Ela se sentiu bem em se espalhar na cama.
Serena decidiu não insistir em perguntar a Blair o que tinha dado errado. Tirou o vestido pela cabeça e o largou em uma poltrona no canto. Usando somente a calcinha mínima de cetim La Perla, ela foi para o banheiro e vestiu um roupão felpudo. Saiu de lá com outro roupão para Blair.
Blair pegou o roupão e se livrou do vestido.
- Não olhe - alertou ela. - Não estou usando calcinha.
Serena riu e revirou os olhos para o teto. Tinha se esquecido da tendência de Blair de levar as coisas a extremos.
- Não me diga que fez depilação com cera também, né?
Blair sorriu. Serena a conhecia bem demais.
- É, eu fiz - admitiu ela. - Que desperdício. – Ela atirou o vestido no chão. - E aquela porra está me dando brotoeja.
Serena foi ate a TV e a ligou.
- Fico me perguntando se eles tem o canal da Playboy aqui. A gente podia ver uns filmes pornôs e pedir cerveja do serviço de quarto - brincou ela. Levou o controle remoto para a cama e se sentou.
- Me dá isso aqui. - Blair pegou o controle da mão de Serena. – O aniversário é meu. -Já que não ia ter sexo nenhum, ela podia pelo menos ver o canal de clássicos. Eles sempre passavam filmes da Audrey Hepburn. - Vamos ver um filme e depois vamos a uma boate ou algo assim.
- Legal- disse Serena, empilhando os travesseiros para poder se recostar neles. - Mas podemos pedir uma pizza ou coisa assim? Estou faminta.
Blair se arrastou de costas na cama para poder se sentar bem ao lado de Serena. Zapeou pela TV ate encontrar o canal de clássicos. Bonequinha de luxo tinha acabado de começar. Ela se ajeitou para assistir, apoiando a cabeça no travesseiro até que ficasse só a alguns centímetros da cabeça de Serena, os fios de seus longos cabelos castanhos se misturando com os louros da amiga.
As duas meninas assistiram a Audrey Hepburn adejar pelo apartamento e paquerar o novo vizinho. Elas cantaram juntas Moon river na escada de incêndio do apartamento dela e contaram quantos chapéus malucos ela usava.
Audrey Hepburn tinha porte, era magra e sempre sabia o que dizer. Tinha roupas incríveis e era fabulosamente bonita.
Era tudo o que Blair queria ser.
Blair suspirou alto.
- Eu não sou nada parecida com a Audrey, né? – perguntou ela em voz alta.
Serena sorriu, sem tirar os olhos da tela.
- Claro que é - disse ela. Blair achou melhor acreditar que era verdade.

 

 

                                                                                                    Cecily Von Ziegesar

 

 

 

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