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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A FACE OCULTA DO DESEJO / Lora Leigh
A FACE OCULTA DO DESEJO / Lora Leigh

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Seis anos depois de receber a dilaceradora notícia de que Nathan Malone, o homem que ama desesperadamente, jamais retornaria de sua última missão, Belle ainda chora a morte de seu marido. Entretanto, Nathan segue vivo apesar de ter sofrido os horrores de ser capturado por agentes inimigos, e uma nova missão o obriga a retornar para sua esposa. Mas já não é o homem que foi. Agora é um ser frio e desumano, um depredador capaz de tudo para salvar e proteger Belle, a mulher que continua amando mais que a sua própria vida, a mulher pela qual clama seu corpo e sua alma atormentada. E desta vez, nada, nem sequer o terrível perigo que os espreita, impedirá que voltem a estar juntos para sempre, e que uma selvagem paixão transborde violentamente entre eles arrastando tudo a seu passo.

Nathan é um SEAL, um militar de elite que sai um belo dia pela porta em uma missão e acaba prisioneiro durante um ano e meio. Nesse meio tempo, além de desfigurá-lo com surras, injetam uma droga sintética afrodisíaca que faz que acabe dominado por seus impulsos sexuais, embora os sinta apenas por uma mulher.

Quando o resgatam, está tão maltratado que, envergonhado, não quer voltar para sua esposa, por isso quando lhe oferecem “morrer” e ressuscitar com outro nome e membro de um corpo de Forças Especiais, não pensa duas vezes.

Mas a vida dá muitas voltas… e Nathan, — agora Noah — acaba no mesmo lugar e com a mesma mulher com a qual começou.

Com outro rosto, outra voz… e também com a mesma atração, desejo e amor por Belle.

É possível voltar a dormir com quem era seu marido e não reconhecê-lo?

Belle passa seis anos chorando por Nathan, até que finalmente decide que ele pode estar morto, mas ela segue viva e tem que sair de sua casca protetora. Quando parece que está recuperando sua vida, surge um homem na oficina mecânica que herdou de seu marido.

Um homem sexy como um demônio, que a atrai como a luz às moscas e que tem escrito a palavra «perigo» na testa.

Porém, faz muito tempo que Belle decidiu não voltar a prender-se com um homem assim, não quer voltar a passar pelo mesmo. Embora seja muito difícil resistir a Noah…

 

 

 

 

Nathan sentou ao lado de seu avô, Rory Malone, no alpendre dianteiro da cabana em que este vivia. Só tinha dez anos, mas sabia com exatidão por que o ancião não vivia com sua família. Porque o pai de Nathan, Grant, se envergonhava dele.

—Não é mais que um fodido irlandês. — gritava enfurecido Grant horas depois de visitar seu pai.

— Presume-se que esse acento irlandês fosse motivo de orgulho.

Deus não permitisse a Nathan falar com aquele acento, embora o praticasse cada vez que seu pai não estivesse.

Grant não gostava de ser irlandês. Não gostava que as pessoas soubessem quem era. Se pudesse enviar seu avô para longe, Nathan estava seguro de que o faria. Mas, Grant Malone não podia obrigar Rory Malone a fazer nada. Aquele ancião era tão sábio como as montanhas e os escarpados, e tão teimoso como eles.

—Nathan, rapaz, olhe esse pôr-do-sol. —Rory lhe indicou as majestosas cores que cobriam as montanhas.

— São quase tão bonitas como as que temos na Irlanda. Quase.

—Por que não volta? — perguntou-lhe Nathan, consciente da nostalgia impressa na voz do ancião.

— Papai diz que tem dinheiro suficiente para viver onde queira.

Observou o rosto sulcado de rugas de seu avô. O brilhante olhar azul era muito parecido com o de seu neto e mais brilhante que o de seu filho, sem as bolinhas verdes que tinha este.

O ancião sorriu; um estranho, triste e pequeno sorriso.

—Porque minha Erin está aqui. —Indicou o pequeno cemitério, o lugar onde estava enterrada a avó de Nathan, Erin Malone, junto aos dois filhos que tinham perdido no Vietnam, seus tios, Riordan e Rory Jr., e a filha que tinha morrido de febre, Edan, a tia de Nathan.

—A vovó não quer que vá? —Nathan franziu o cenho. Sua avó estava morta, como poderia se importar?

—OH, minha Erin me sorriria igual lá onde fora. —O ancião esboçou de novo aquele pequeno sorriso.

— Mas se me separasse dela, sentiria essa distancia em minha alma, entende?

Nathan negou com a cabeça.

O avô suspirou.

—Tem olhos irlandeses, rapaz. Um dia destes, esses olhos verão por você, e sentirá como se o coração fosse sair do peito. É o feroz olhar irlandês, Nathan. Quando amar, quando amar de verdade, tome cuidado, rapaz, porque esses olhos irlandeses que tem não são só o espelho de sua alma, mas sim da alma da mulher que ame. — O avô olhou a tumba de Erin.

— E quando se perde o coração dessa maneira, é impossível abandonar os lugares onde estão suas melhores lembranças. Se tivesse que ir, não poderiam me enterrar junto a sua avó.

O ancião dirigiu o olhar a Nathan, e este sentiu uma opressão no peito ao pensar que algum dia teria que enterrar seu avô naquela terra dura e desolada.

—O feroz olhar irlandês. — murmurou o ancião alguns instantes mais tarde.

— Meu pai me advertiu como agora estou advertindo a você, rapaz. Não perca à mulher que ame, pois perderá uma parte de sua alma se o fizer. É o legado desses olhos.

Nathan franziu o cenho. O que dizia seu avô não tinha muito sentido e decidiu que perguntaria a seu tio Jordan sobre isso quando voltasse. Seu tio ainda recordava a sua avó. Tinha cinco anos quando ela morreu, um pouco antes que nascesse Nathan. E nesse momento, estava passando o verão em Houston com o mais velho dos tios de Nathan, Doran, e sua família.

—Então, meus olhos são maus? —perguntou Nathan finalmente.

—Não, não são maus. — suspirou seu avô.

— Não são maus absolutamente, rapaz. Dará-te conta um dia destes. Um destes dias verá. Esses olhos irlandeses vêem o que ninguém mais viu. — Cravou o olhar em seu neto.

— Quem tem sua alma, terá seu coração. —Deu uma palmada no peito do Nathan.

— E poderá, inclusive, ver através de você.

—Então papai não tem olhos irlandeses? — Os olhos de Grant estavam matizados com bolinhas verdes. Nunca o tinha visto com emoção e grunhia sem parar.

A preocupação se refletiu no rosto de seu avô.

—Seu pai é um bom homem. — afirmou repetindo o que sempre dizia.

—Realmente, vovô? —Nathan pensou no bebê que havia em casa. O diminuto bebê que seu avô dizia que era seu irmão. O recém-nascido que Grant Malone renegava.

— O pequeno Rory deveria também ter um pai.

O avô pôs a mão sobre a cabeça do menino e lhe disse brandamente:

—Nada é como pensamos, rapaz. Nem tudo é branco ou preto, mas sim existem uma infinidade de matizes cinza. Tem que averiguar o porquê das coisas, não só confiar no que vê.

—Porque ele não nos quer. — sussurrou Nathan, aceitando-o como só as crianças podiam aceitar essas coisas.

O avô assentiu com a cabeça.

—Os tons cinza, rapaz. Recorda-o. Sempre há algo que não sabe e que não pode ver. Às vezes o amor não é como pensamos que deveria ser. Só recorda isso e tudo ficará bem.

Nathan cresceu procurando as matizes cinza. Logo amadureceu e se transformou em um SEAL, e as matizes cinza se perderam em sua mente, embora soubesse que seguiam estando ali. Sempre em um lugar diferente, sempre se movendo. Até o dia que viu o inferno. E as cinzas do inferno. E aprendeu que havia matizes que jamais teria podido imaginar que existissem.

 

Dezesseis anos depois

Nathan Malone sentou-se à mesa da oficina mecânica que possuía e contemplou uma jovem que falava com um de seus empregados.

Parecia zangada e exasperada. O cabelo loiro como o ouro lhe caía sobre os ombros, uma formosa cascata dourada que brilhava sob a luz do sol. Não era muito magra. Tinha curvas estupendas, um traseiro de enfartar debaixo daquela saia negra, e seios erguidos e tentadores cobertos por uma blusa cor chocolate.

Saltos altos completavam o traje. Perguntou-se se usaria ou não meia calça, embora certamente parecesse uma mulher do tipo meia.

Finalmente, a jovem levantou as mãos, elevou a vista e seus olhares se cruzaram. As fossas nasais femininas se alargaram com determinação e se apressou a deixar para trás o mecânico com o quem estava discutindo, marchando para a porta de seu escritório.

Nathan observou como aquela assombrosa visão atravessava o lugar e plantava as mãos em sua mesa enquanto o fulminava com o olhar.

—Olhe tudo o que preciso é uma chave inglesa. —disse energicamente.

— Empreste-me uma. Venda-me uma se quiser. Não importa. Se não arrumar esse carro, acabarei tendo que pegar carona. Tenho pinta de querer pegar carona? —Estendeu os braços ao mesmo tempo em que se incorporava, dirigiu-lhe um angustiado olhar com seus formosos olhos cinza e apertou os lábios rosados ao dar-se conta de que o mecânico se aproximava por suas costas.

—Não, senhora, não a tem. —Nathan negou com a cabeça, deslizando o olhar por sua figura antes de voltar sua atenção ao mecânico.

— Há alguma razão pela qual não possamos revisar seu carro? —perguntou ao outro homem.

Sammy entrecerrou os olhos.

—A oficina está cheia, chefe, já disse.

—Só uma chave inglesa. — grunhiu ela entre dentes.

— Só me emprestem uma maldita chave inglesa.

Parecia frustrada. Tinha a frente coberta de suor e o rosto reluzente. Mas a expressão de seu rosto relaxou quando conseguiu controlar suas emoções.

—Escute. —A jovem tinha suavizado a voz, e ele ficou cativado. Ali, ante a voz daquela doce e formosa sulina, Nathan Malone perdeu o coração.

— Só necessito de um pouco de ajuda. Eu juro. Se me deixar na mão chegarei tarde a um encontro de trabalho. Prometo-lhe que não roubarei muito tempo.

A jovem sorriu, e ele sentiu que o mundo se movia sob seus pés. Aqueles lábios se curvaram docemente, com uma mescla de nervosismo, frustração e preocupação, e se mantiveram assim. Mas lhe tinha sorrido e esse simples gesto tinha conseguido que Nathan voltasse a sentir-se como um adolescente.

Levantou-se da mesa e indicou a porta com a mão.

—Me mostre o carro. Ajudaremos você a se por a caminho.

—Mas chefe, estamos até o pescoço de trabalho. —protestou Sammy.

Nathan o ignorou e observou como a jovem girava e o precedia até a porta. Seu olhar se atrasou no traseiro feminino enquanto ela caminhava e foi a mais formosa das visões. Formigaram-lhe as mãos pela vontade de tocá-la. Ardia de desejo de embalar aquelas curvas e as sentir sob os dedos.

—Meu nome é Sabella. —A jovem lhe brindou com um sorriso por cima do ombro.

— Realmente, não sabe quanto o agradeço pelo que está fazendo.

Esse acento da Geórgia conseguiria que ele gozasse no jeans. Não poderia conter-se se ela seguisse lhe falando dessa maneira.

Tinha que aproveitar a oportunidade.

—Custará alguma coisa. —lhe disse arrastando as palavras enquanto abria o capô do pequeno sedan esportivo.

—Sempre é assim. — suspirou ela.

— De quanto estamos falando?

Parecia preocupada. Definitivamente, era uma mulher com uma meta e estava disposta a consegui-la. Tinha as unhas cuidadas, a maquiagem colocada para ressaltar seus traços e os lábios suaves.

—Um jantar. —Nathan sorriu amplamente ao perceber a surpresa nos olhos femininos.

—Um jantar? —A cautela se refletiu na voz da jovem.

—Só um jantar. — lhe prometeu ele. Por agora.

— Esta noite.

Olhou-o fixamente durante um longo momento; aqueles olhos cinza pareceram cravar-se nos dele, escrutinando e esquentando zonas em seu interior que Nathan não sabia que existissem. E muito menos que estivessem frias.

Ao fim, curvou os lábios, lhe brindando um encantador e coquete sorriso.

—O menino mau do Alpine está me convidando para jantar? —mofou-se ela travessamente.

— Acredito que vou desmaiar.

—Está-me confundindo com o Sammy. —Indicou o mecânico.

— Eu sou um simples mecânico e um SEAL. —As mulheres morriam pelos SEAL’S. E ele faria tudo para impressioná-la.

—Nathan Malone, o SEAL de feroz olhar azul e sorriso cativante. —replicou a jovem.

— Sei quem é.

—Mas eu não sei quem é você. — lembrou ele sombriamente.

— E eu adoraria conhecer.

Aquele olhar de novo. Intenso, penetrante.

—No jantar. —concordou ela ao fim. —Até lá.

Bom!

—Reservarei uma mesa no Piedmont'S. — Nomeou o restaurante mais caro da cidade, o que tampouco dizia alguma coisa.

— Às sete.

—De acordo, estarei lá às sete. Mas não poderei fazê-lo se não me arrumar o carro.

Sabella sorriu com ironia em seus pensamentos. Tinha o pressentimento de que se lhe contasse que sabia o que, exatamente, ocorrera a seu carro, jamais acreditaria. Deixou-lhe perder tempo, encontrar a mangueirinha solta e apertá-la. Não tinha mentido quando havia dito que a única coisa que precisava era uma chave inglesa. Seu pai a tinha ensinado como arrumar qualquer veículo fazia muito tempo. Por desgraça, naquele momento não tinha uma chave inglesa à mão.

Assim deixou que ele arrumasse o carro, fingindo que era uma pobre mulher indefesa, porque adorava a maneira como a olhava, como se obscureciam aqueles ferozes olhos azuis que brilhavam intensamente em seu rosto bronzeado.

—Às sete. —lhe recordou ele enquanto fechava o capô e a olhava com intensidade.

— Estarei esperando você.

—Lá estarei. — prometeu. Não havia maneira de que ela não fosse ao encontro. Tinha-o visto com freqüência na cidade, inclusive tinha tido fantasias com ele algumas vezes.

O ardente SEAL. O menino mau do Alpine. Todas as garotas da faculdade foram atrás dele. Mas, tal e como decidiu. Sabia nesse momento, Nathan seria dela.

 

Dois anos depois

—OH, Deus, Belle, o que fez?

A jovem deu um pulo e se virou para seu marido, que se dirigia furioso ao lugar onde seu carro tinha batido com a parte traseira de um Ranger Rover. Fascinada, observou seus ferozes olhos azuis, seus traços pálidos, o corpo duro e moreno, o peito úmido de suor, as fibras da erva que estivera cortando grudadas aos jeans...

—É só um pequeno arranhão, Nathan. Juro. —Tinha o coração na garganta. Não por medo. Ele jamais lhe faria mal. Mas sua fúria era temível.

—Um pequeno arranhão. —Agarrou-a pelos ombros, afastou-a para um lado e baixou o olhar para o pára-lama amassado que se afundou no pára-choque de seu Ranger.

Tinha sido um acidente. E, na realidade, tinha ocorrido por culpa de Nathan. Se não tivesse cortando a grama sem usar nada mais que as botas e aquele jeans que rodeavam seu traseiro, jamais teria ocorrido.

—Bateu contra meu carro. — O orgulho e a indignação gotejavam em sua voz.

— É meu Ranger, Belle.

Sim. Era-o. Estava muito orgulhoso do potente quatro por quatro negro. Mimava-o mais que qualquer mulher a seu filho. Belle teria sentido ciúmes se não fosse o fato de que não havia maneira de que ele pudesse colocar o veículo em casa.

—Sinto muito, Nathan. —Sua voz se voltou rouca ao elevar o olhar para ele, mordendo os lábios com nervosismo enquanto se perguntava quanto demoraria em enfurecer-se.

Assim que o fizesse, transformaria-se em um homem sombrio e de poucas palavras. Fulminaria-a com o olhar.

Dedicaria-se a ver partidas de beisebol. Deitaria-se tarde. Muito tarde. Muito depois dela e iria dormir. Não falaria com ela até a manhã seguinte. O que era, simplesmente, injusto.

—Nathan, por favor, não se zangue comigo.

—Como é possível que tenha se chocado contra meu Ranger? Como? Se estava estacionado aqui mesmo. A plena vista, Sabella. —estava se zangando. Só dizia seu nome completo ou seus sobrenomes quando estava ou muito zangado ou muito excitado. E não estava excitado. Aquilo não era um bom sinal. Belle podia viver com isso durante uns dias, mas não gostava.

Deu um forte pisão no chão e o olhou furiosa.

—Se não fosse por sua culpa, jamais teria batido.

—Por minha culpa? —Nathan retrocedeu um passo, negando violentamente com a cabeça.

— Como pode ser isto minha culpa?

—Porque estava cortando a grama sem camisa, vestido só com esse provocador jeans e as botas, e assim que vi esse bumbum escuro me pus quente. Foi você quem me distraiu, assim, a culpa é sua. Se houvesse se vestido de maneira decente isto não teria ocorrido, Nathan...

Ele a beijou. Não foi um beijo terno ou gentil, a não ser áspero, rude e cheio de luxúria. Estreitou-a com força contra seu corpo e pressionou seu membro contra o abdômen feminino, fazendo-a ofegar de prazer.

—Merece uns bons tapas. —Tomou-a em seus braços e atravessou com ela o pátio, deixando aberta a porta do carro da jovem e se afastando do Ranger amassado.

— Deveria te surrar, Sabella. Ver como esse precioso traseiro fica completamente vermelho.

Entrou e fechou a porta de um golpe antes de dirigir-se para as escadas.

—OH, surra-me, Nathan. — lhe sussurrou a jovem provocativamente ao ouvido.

— Faz com que suplique.

Ele estremeceu contra ela, jogou-a sobre a cama e se dispôs a fazer o que ela pedia.

 

Uma semana depois

—Voltarei para casa em uma semana. —Nathan estava vestido com jeans e camiseta. Não parecia um SEAL, a não ser um marido a ponto de sair em uma viagem de negócios. Nada relevante.

Sabella sabia como enganar a si mesmo.

—O Ranger estará estacionado amanhã diante da oficina. — lhe disse a jovem assentindo com a cabeça enquanto o observava tirar a bolsa do armário e virar-se para ela.

— O colocarei na garagem e cuidarei por você. — Sabella lhe sorriu provocativamente e retirou o cabelo do rosto.

— Me deve uma, sabe? Tive que mostrar as pernas para obter que o arrumassem tão rápido. Tem mecânicos muito exigentes, Nathan.

Ele possuía uma oficina e uma estação de auto-serviço nos subúrbios da cidade. Um pequeno e próspero negócio que Belle sabia que adorava.

Nathan soltou um grunhido, percorrendo com a vista as pernas nuas da jovem quando esta se sentou na cama com um short curto.

—Bruxa. — grunhiu ele.

— Tenho que ir e sabe.

Ela tirou a blusa e desabotoou o shorts, deixando-os cair pelas pernas. Sem deixar de observar seu marido, deslizou os dedos pelas dobras nuas e úmidas da união entre suas coxas e logo levou a mão à boca.

Nathan gemeu e Belle adorou aquele som. Tinha separado os lábios e tinha um olhar selvagem, como se a estivesse saboreando.

—Venha, uma rapidinha. —sussurrou ela, desesperada para o ter uma última vez antes que a deixasse. Incorporou-se na cama quando ele se aproximou e lhe tirou o cinto com dedos ágeis.

— Desafio-lhe. Faça-me sua como mais deseje...

Nathan a virou, empurrou-a sobre a borda da cama e, ao cabo de dois segundos, estava penetrando-a. Duro e palpitante, acariciando-a, enchendo-a, enterrando-se nela com rápidas e duras investidas até que Belle se sentiu atravessada por uma violenta e candente sensação de prazer.

—Nathan, Nathan, amo você. — gritou enquanto ele investia, imobilizando-a e movendo os quadris com força contra as dela, sujeitando-a ferozmente com as mãos, queimando a pele com os dedos.

Mais tarde, ele sussurrou as mesmas palavras com o fluido e lírico som gaélico. Murmurou-lhe seu amor no idioma que seu avô lhe tinha ensinado e que ela sentia na alma.

—Para sempre. — sussurrou Belle, virando a cabeça para ele e aceitando seu beijo.

— Para sempre, Nathan.

 

Uma semana depois

Belle abriu a porta e ficou paralisada. O tio de Nathan, Jordan, estava na soleira ao lado do capelão. Sabia que era um capelão militar pelo uniforme escuro. Jordan usava um uniforme branco, com a boina na mão e as medalhas penduradas no peitilho. A jovem se sentiu desfalecer.

—Nathan chegará há qualquer momento. — murmurou ela com os lábios intumescidos, precavendo-se da aflição e a dor que refletida na expressão de Jordan.

—Chegou cedo, Jordan. Ele ainda não está aqui.

Estava chorando. Podia sentir como lágrimas ardentes lhe abrasavam a pele enquanto apertava as mãos contra o estômago e lhe afrouxavam os joelhos.

—Belle. —Jordan tinha a voz rouca e os olhos brilhantes pelas lágrimas contidas.

— Eu sinto muito.

O que sentia? Estava-lhe arrancando as vísceras e dizia que sentia muito?

Ela negou com a cabeça.

—Por favor, não o diga, Jordan. Por favor, não o diga.

—Belle. —ele tragou saliva.

— Sabe que tenho que fazê-lo.

Por quê? Por que tinha que destruí-la?

—Senhora Malone. — disse o capelão por ele.

— Senhora, tenho que lhe comunicar com grande pesar que...

—Não, não! —gritou ela enquanto Jordan a envolvia entre seus braços e a ajudava a entrar em casa. A jovem seguiu gritando. Gritos que lhe rasgaram o peito como uma navalhada brutal e desumana. A dor a arrastou até um profundo poço de desespero, um abismo do que não acreditava que pudesse sair jamais.

—Nathan! —chorou, gritando seu nome. Ele lhe tinha jurado que sempre saberia o momento exato no qual ela o necessitaria, inclusive na morte. Porque ele tinha esse dom. Era devido aos olhos, tinha-lhe assegurado, e ela riu. Entretanto, agora desejava com todas as suas forças que fosse verdade porque necessitava de Nathan, daqueles ferozes olhos irlandeses.

— OH meu Deus, Nathan!

 

Seis meses depois

Belle despertou entre soluços com a respiração entrecortada e rebuscou na cama estirando os braços, arranhando os lençóis, o travesseiro, desesperada por alcançar a ele.

Nathan estava sangrando. Podia ver o sangue em suas mãos como se estivesse olhando pelos olhos dele. Podia sentir sua agonia, suas vísceras retorcendo-se, sua alma clamando com uma angústia que a rasgava.

Tinha que ser um sonho. Os soluços lhe queimavam a garganta enquanto se aferrava às mantas e lançava um grito gutural de crua agonia ao sentir que lhe partia o coração.

—Nathan!

Gritou seu nome com voz rouca e áspera pelas lágrimas, pelos horríveis meses passados.

No enterro... nem sequer a tinham deixado o ver.

Desfazendo-se em lágrimas, afundou o rosto no travesseiro e enfrentou uma vez mais à crua realidade de que Nathan se foi para sempre.

Tinham fechado o ataúde sem que ela o visse. Não tinha podido tocá-lo, nem beijar seu amado rosto, nem lhe dizer adeus. Não havia nada ao que aferrar-se, nada que aliviasse aquela agonia sem fim.

Só havia vazio. Vazio em sua cama, em sua vida. Um doloroso e horrível oco em sua alma. Um vazio que a consumia, que lhe queimava a mente e que lhe recordava a cada segundo, cada dia, que Nathan se foi.

Nathan tinha partido.

Para sempre.

Salvo em seus pesadelos. Onde ele gritava seu nome. Onde a tocava e se desvanecia antes que ela pudesse o alcançar. Onde a olhava com os olhos cheios de pesar. Ou quando ela sentia a dor e as lágrimas de Nathan. Intermináveis, agonizantes.

Logo, com a mesma rapidez com que começavam, assim, que ela se dava conta de que o que sentia era a própria dor de Nathan, os sonhos mudavam.

—Amarei-a sempre, bruxa. —Estava inclinado sobre ela, nu, com o peito brilhando, a pele dourada bloqueando o sol radiante, os intensos olhos azuis observando-a fixamente.

— Sente como minha alma toca a sua, Sabella. Sente como a amo, pequena...

Um grito dilacerador lhe queimou a garganta quando tentou aferrar-se ao ar, as insubstanciais lembranças que se desvaneciam, que se esfumavam como Nathan, que se foi.

—OH, Meu deus. OH, Meu deus. Nathan... —sussurrou Belle apertando o travesseiro contra o peito e começando a balançar-se.

Jogou a cabeça para trás e soltou um grito desolador do mais profundo de sua alma partida em dois.

—Maldito seja, Nathan...

 

Nove meses depois

Nathan Malone estava no branco quarto da clínica a que o tinham levado. Tinha sofrido durante seis meses o pesadelo mais horrível que jamais tivesse imaginado chegar a padecer. Seis meses. Sabia quantos dias, quantas horas, quantos minutos e segundos tinham passado desde que tinha «morrido».

Desde o dia que cruzou a porta de sua casa, tinha estado no inferno. Supunha-se que devia ser uma missão simples. Somente tinha que resgatar três jovens seqüestradas por um grande traficante de drogas colombiano. Para isso tinha que deixar-se capturar e permanecer ali o tempo suficiente para procurar os agentes duplos que trabalhavam sob as ordens do narcotraficante Diego Fontes.

Tinha levado um rastreador eletrônico no calcanhar que ele mesmo ativaria assim que visse o espião. Por desgraça, essa era uma informação que o espião conhecia, e o tinham furado o pé assim que tiveram oportunidade. Antes que pudesse reagir, Nathan tinha sido amarrado a uma mesa de madeira e lhe tinham subministrado a primeira de uma série de drogas sintéticas.

Uma droga chamada «pó de afrodite»; um potente e cegador afrodisíaco. Mas não tinha encontrado alívio. Porque Nathan, enfurecido, enlouquecido e descontrolado, tinha sido incapaz de quebrar os votos matrimoniais que tinha feito a sua esposa. Não importou a quantidade de droga que chegaram a administrar. Nem quanto houvessem tentado.

Observou ao grupo de homens que o tinham resgatado do inferno de Diego Fontes. Três doutores, um almirante, um bastardo carrancudo e vestido — supostamente um representante do JAG — e seu tio, Jordan Malone.

Jordan não usava uniforme, o que já dizia bastante. A renúncia de seu tio aos SEAL’s três meses antes surpreendeu Nathan quando se inteirou. É obvio, não havia muito que fazer na clínica particular e especializada de alta segurança onde estava recuperando-se, exceto escutar rumores.

Viu-se submetido a uma operação atrás de outra de cirurgia para reparar seu corpo e seu rosto. Tinham arrumado o que tinha sido prejudicado e reconstruído o que não tinha podido ser arrumado. Mas sua mente ainda estava quebrada. Agora não era mais que a sombra do homem foi.

Entretanto, ainda seguia sendo um SEAL. Não tinha apresentado a renúncia. Mas tinha o pressentimento de que isso seria algo que faria muito em breve.

—Tenente Malone. —O almirante inclinou a cabeça em sua direção; seu rosto cheio de rugas estava gasto pelo cansaço e a preocupação.

— Vejo que está bem.

Não era certo. Estava longe de estar bem.

Mesmo assim, ficou em posição firmes, embora se sentisse como se estivessem estirando seus membros em uma mesa de tortura.

Os três médicos o observaram em silêncio. O psicólogo que lhe tinham atribuído tomava notas. Aquele condenado bastardo sempre estava tomando notas.

—Obrigado, senhor. — conseguiu dizer ao fim. Só queria continuar com os exercícios que tinha estado fazendo. Os que levavam seu corpo à extenuação, os que lhe faziam esquecer aquele desejo infernal que jamais diminuía.

O almirante franziu o cenho enquanto o observava.

—Dói-te algo, filho? —perguntou-lhe.

Nathan tentou mostrar-se paciente, mas mostrar-se paciente não era precisamente fácil nesse momento.

—Sim, senhor, dói-me. —Não ia mentir sobre isso. O almirante assentiu com a cabeça.

—Possivelmente isso explique sua falta de respeito. Nathan apertou os dentes.

—Sinto muito, senhor. O protocolo não é meu forte neste momento.

Esperava uma resposta contundente do almirante; não que se suavizassem as rugas do rosto de seu superior nem que um feixe de empatia lhe iluminasse o olhar.

Holloran não só tinha sido seu superior, mas também um homem que merecia seu respeito.

—Sente-se, Nathan. —O almirante indicou uma cadeira com a cabeça antes de tomar assento ele mesmo.

Nathan olhou para Jordan. Seu tio já havia tomando assento, o que indicava que o protocolo tampouco significava muito para ele. Mas não por falta de respeito, mas sim por arrogância. Uma confiança em si mesmo que tinha dissimulado até agora.

Nathan se sentou com cautela. Ainda tinha dificuldades com os músculos das costas e uma perna, embora estivesse se fortalecendo graças aos exercícios.

O almirante suspirou quando o silêncio encheu o quarto.

—Assisti a seu enterro. — disse finalmente.

— Estava abatido, Nathan. E agora está... —negou com a cabeça— faz com que me pergunte sobre algumas decisões tomadas as minhas costas. Eu não teria aprovado essa missão.

—Eu a aceitei.

Assim, simples. Supunha-se que devia ser uma missão simples. Mas ainda tinha um buraco no calcanhar que provava o contrário.

—Isso é algo que discutiremos outro dia. — grunhiu o almirante.

— Agora enfrentamos outro problema.

—informaram a minha esposa que ainda sigo vivo? —As palavras soaram quebradas devido ao dano que tinham sofrido suas cordas vocais.

A voz de Nathan era agora mais rouca, mais áspera, mas, ao menos, podia falar.

—Ainda não. — respondeu o almirante.

—Não quero que saiba.

Nathan cravou o olhar em seu superior. Era consciente das vendagens que ainda lhe cobriam a fronte, das feridas que ainda tinham que cicatrizar. Mas era muito mais consciente dos efeitos daquele maldito «pó de afrodite», que aqueles bastardos do Fontes e Jansen Clay lhe tinham injetado no corpo.

Tão somente tinha sido um coelhinho da índia para eles. O SEAL ao que queriam corromper com aquela horrível droga que tinham testado nele. Mas não o tinham conseguido. Em vez disso, tinham-no convertido em um monstro.

—Sabella está muito afetada, Nathan. — disse Jordan então.

— Ainda está de luto... Ainda chora por você.

—Deixará de chorar. Sabella é forte. —encolheu os ombros como se aquilo não tivesse importância e viu que o almirante e seu tio intercambiavam um olhar.

Estava mentindo. Sua Belle não era forte. Era tenra e doce, e podia jurar que ouvia os gritos de sua mulher em seus sonhos, em seus pesadelos, abrindo uma dolorosa ferida em sua alma que nunca se curava, porque não conseguia tirar os gritos da cabeça.

Quanto mais fortes seriam seus gritos se o visse agora? Sua pequena e doce Belle tinha adorado seu corpo. A última vez que saiu pela porta de sua casa ele tinha sido um homem forte, duro, mas também um homem que sabia como ser terno. Aquele homem já não existia. Não havia nada terno na escuridão, nos luxuriosos sonhos que tinha nesses momentos. Sonhava com a morte. E sonhava com Belle. Com o desejo voraz que seria incapaz de conter se ela se aproximasse dele.

—Estou morto. — assegurou. Sua voz soou fria ao pensar nas conseqüências de tentar retornar a sua esposa.

— E penso seguir assim.

O psicólogo seguia escrevendo freneticamente em seu bloco de papel. O olhar penetrante de Nathan caiu sobre ele. Como se pudesse sentir os dardos de fúria que jogava em sua direção, o homenzinho levantou a cabeça. Moveu os ombros como se o paletó lhe fosse incômodo e, detrás dos óculos, os olhos castanhos piscaram com nervosismo.

O olhar de Nathan retornou bruscamente a seu superior.

—Eu gostaria que saíssem todos, senhor.

O almirante Holloran lhe devolveu o olhar uns segundos antes de virar-se em direção aos médicos e assinalar a porta com a cabeça. Todos desapareceram com rapidez. Nenhum estava a vontade na presença de Nathan. Jamais o tinham estado. Mas não podia os culpar, já que tinham tido que tratar com um animal durante os três primeiros meses que tinha estado sob seus cuidados.

O almirante Holloran suspirou e voltou a olhá-lo.

—É sua última oportunidade, filho. — disse com suavidade.

— Podemos chamar sua esposa. Enviaremos alguém a procurá-la.

Ele chiou os dentes com fúria.

—Não, senhor. —O «senhor» soou forçado; a fúria que impregnava sua voz, não. A ira bulia em seu corpo, nublava-lhe a mente, enchia-lhe os sentidos com as imagens de seus pesadelos.

—Já basta. — interveio Jordan, rompendo o silêncio.

— Já lhe disse que não mudaria de idéia.

—Você também perdeu o respeito que deve a um superior, Jordan. — lhe espetou Holloran.

—E a paciência. — replicou Jordan.

— Sou eu quem está no comando desta unidade, almirante, e isso supera inclusive a sua patente.

—Se mudar de opinião no futuro, será muito tarde. — indicou o almirante.

— É isso o que quer para seu sobrinho, Jordan?

—Se isso chegasse a acontecer, a decisão terá sido minha, não dele nem de ninguém mais. —Havia dureza na voz do Jordan, uma cólera sombria que Nathan jamais tinha visto antes.

— Será transferido ao centro de adestramento amanhã e nossos médicos se encarregarão dele.

—Nem sequer lhe perguntou se está preparado! —O almirante enfrentava agora abertamente a Jordan. Os narizes de ambos os homens apontavam para cima; duas incríveis vontades se enfrentando. Teria sido divertido se Nathan tivesse estado de bom humor.

Não o estava.

Ficou em pé e se dirigiu à porta.

—Nathan.

Ao escutar seu nome, Nathan se deteve e deu a volta para olhar a seu tio. Jordan não só era família dele, mas também seu oficial superior quando ambos tinham sido SEAL’s, quando Nathan ainda era um homem, não o animal em que se transformou.

—Me diga o que quer o quanto antes. Tenho que terminar uns exercícios.

Jordan ficou em pé.

—Há mais opções que os SEAL’S.

—Ah, sim? —Nathan arqueou as sobrancelhas.

— O que pode ser melhor que pertencer aos SEAL’s, tio? O inferno? Já estive lá. De fato, ainda sigo nele.

Jordan assentiu lentamente. Seus brilhantes olhos azuis, — os ferozes olhos irlandeses como os tinha chamado seu avô — devolveram-lhe o olhar.

—Há outras opções.

—Realmente? —Nathan passeou o olhar entre seu tio e o almirante.

—Sim. —Jordan assentiu com a cabeça.

— Pode sair daqui sendo um SEAL, sendo Nathan Malone. Mas, se vier comigo, Nathan Malone deixará de existir.

—Se for com ele, os SEAL’s terão morrido para você, Nathan. — lhe explicou o almirante enquanto se levantava bruscamente da cadeira e se dirigia ao outro extremo do quarto.

— Os únicos homens com os quais terá contato serão os de sua antiga equipe, aqueles que foram com o comandante Chávez para adquirir uma nova formação. Estará morto para sempre. Nathan Malone já não existirá. Nem para você. Nem para sua esposa.

Nathan cravou o olhar nele, mas foi a Belle a quem viu. Ela, que odiava uma unha quebrada e se preocupava com as rugas, como ia enfrentar fizeram de seu marido um pouco mais que um monstro?

Virou-se para Jordan.

—Onde terei que assinar?

 

Três anos depois

Jordan Malone estava em sua mesa em frente ao espelho de face dupla que lhe permitia observar o ginásio sem ser visto. Tinha as mãos metidas nos bolsos dos jeans e franzia o cenho enquanto olhava a seu sobrinho.

Nathan, que agora respondia pelo nome de Noah Blake, era apenas cinco anos mais jovem que ele. Jordan tinha sido uma surpresa para seus pais e um choque para seus irmãos mais velhos. Tinha sido mais um irmão que um tio para o homem que suava profusamente sob os pesos na sala ao lado. A mudança operada em Nathan durante os últimos anos tinha sido um autêntico milagre. Tão somente o mero feito de ter sobrevivido aos seis primeiros meses tinha sido um milagre. Entretanto, os últimos três anos tinham sido muito duros. Os pesadelos e os efeitos secundários do «pó de afrodite» quase tinham conduzido Noah à loucura.

Mas, tinha sobrevivido realmente? Algumas vezes, Jordan se perguntava se o homem que tinha apresentado sua renúncia aos SEAL era o mesmo homem que tinha agora ante seus olhos.

O rosto era diferente. A cirurgia o tinha feito mais anguloso, com ossos e músculos mais definidos. Fontes, o narcotraficante, enfureceu-se com o rosto de Nathan enquanto esteve em seu poder. Tinha-lhe destroçado os ossos e as operações para reconstruí-lo tinham sido intermináveis. Tinha sofrido uma mudança drástica. Ninguém que tivesse conhecido ao Nathan Malone o reconheceria agora sob sua nova identidade. Tinha uma constituição diferente. Seu corpo era muito mais fibroso, mais forte, mais duro, e agora possuía uma vontade de aço. Era mais frio, um assassino de olhos gélidos.

Já não era Nathan Malone. Era realmente Noah Blake, porque Noah tinha apagado Nathan da face da terra.

O treinamento de Noah na unidade de Reno Chávez nos últimos, anos tinha preocupado Jordan. O SEAL Nathan Malone tinha sido moderado e matava só quando fosse necessário. Pelo contrário, Noah... —Jordan negou com a cabeça— matava com uma calada e mortífera eficiência.

Jordan recordou a noite em que resgatou o homem que uma vez tinha sido Nathan das garras de Fontes. Não havia nem um só osso intacto em seu corpo. Tinham-no deixado destroçado, quase o tinham matado com fome e lhe tinham injetado tanto «pó de afrodite» que seus olhos resplandeciam como os de um demônio. Mas tinha lutado. negou-se a violar à garota que tinham encerrado na cela com ele, lutou por protegê-la, e mesmo, tentou sair por suas próprias pernas, quando o libertaram.

Jordan tinha estado seguro de que seu sobrinho não sobreviveria à síndrome de abstinência que lhe tinha provocado a droga e aos efeitos em seu cérebro. Jamais acreditou que Nathan se recuperaria, que seria mais forte que antes. Mais sombrio, com uma personalidade tão diferente que Jordan mal podia reconhecer o homem que foi.

—Nunca voltará a ser ele mesmo, não é? —disse o tenente Ian Richards com ar sombrio, admitindo o que nenhum deles se atreveu a dizer em voz alta durante todos esses anos.

Ian tinha formado parte da equipe dos SEAL’s que resgatou Nathan e, como a seus companheiros, tinha passado os últimos anos com o homem ao que agora chamavam Noah.

Aquilo tinha sido ainda mais duro para Ian, já que tinha estado mais unido a Nathan que o próprio Jordan. Nathan só tinha dez anos quando ouviu os gritos do Ian ressoando na desértica paisagem do rancho familiar. Tinha despertado seu pai e o tinha pressionado até que Grant Malone saiu de casa para auxiliar o menino cuja mãe estava morrendo em seus braços.

Grant, em um surpreendente desdobramento de compaixão, tinha ajudado a jovem mãe e ao menino. Grant tinha seus momentos, pensou Jordan, mas eram contados.

—Não, jamais será o mesmo. — admitiu Jordan ante Ian e ante si mesmo.

— Esse homem não é Nathan Malone, Ian. É realmente Noah Blake. E devemos aceitar ele de uma vez.

—Agora é como uma máquina. —indicou Ian com pesar. Sua expressão era triste enquanto observava como Nathan se exercitava.

— É o assassino mais eficaz que conheci. Tão silencioso como os pensamentos.

Jordan se virou então para Reno Chávez, o comandante e chefe de Noah.

—Já não é um SEAL. — afirmou Reno sacudindo sua escura cabeça.

— Questiona as ordens continuamente, segue seus próprios planos, e sempre tem outro plano reserva se o primeiro sair errado. Se sentir a necessidade de saltar as normas, as salta. Já não é um subordinado, a não ser um líder. Não cederá ante ninguém a menos que tenha deixado claro que seu plano é a única maneira de seguir adiante. Trabalha sozinho, Jordan, mas é muito eficiente. É um predador de sangue-frio, meticuloso e mortal.

Jordan inclinou a cabeça.

—Obrigado, Reno. Agradeço sua explicação.

—Tem tudo por escrito nesse relatório. —Reno indicou com a cabeça o dossiê que repousava sobre a mesa de seu chefe.

Os relatórios mensais não tinham variado ao longo dos anos, e Jordan estava seguro de que Nathan tinha perdido grande parte de sua alma.

—Não sobreviverá a isto. — disse Ian em voz baixa, olhando pelo vidro e observando o homem que uma vez tinha sido seu melhor amigo.

— Acabará se auto destruindo. Qualquer dia meterá uma bala na cabeça.

Como se lhe tivesse ouvido, como se o houvesse sentido, Noah se incorporou no banco de pesos e agarrou uma toalha. Seu olhar se cravou no espelho de dupla face e o olhou fixamente como se fosse capaz de ver através dele. Seus olhos eram mais escuros, mais ferozes do que tinham sido os de Nathan Malone. O azul brumoso destacava no rosto moreno e afiado. Seu cabelo, negro como a asa de um corvo, chegava-lhe quase aos ombros. Negava-se a cortá-lo Quando lhes deu as costas, Jordan pôde vislumbrar a tatuagem de um sol negro atravessado por uma espada vermelha na omoplata esquerda de Noah.

Era o emblema da unidade de Operações Especiais, outro aviso de que Noah tinha deixado para trás seu passado como Nathan Malone. Tinha entregado sua vida a uma unidade que realizava freqüentemente missões suicidas.

—Sobreviverá. — afirmou Jordan com tranqüilidade, apesar da inquietação que sentia em seu interior.

— Não está acabado, embora ele pense o contrário. —Nathan não tinha retornado com sua esposa, mas Noah, o homem que era agora, não tinha esquecido aquela mulher. Não encontraria a si mesmo até que o fizesse.

Jordan tinha enviado a seu sobrinho a aquela unidade porque sabia que o homem que queria como a um irmão jamais teria sobrevivido se tivesse tido que enfrentar ao mundo e a sua esposa depois de sair da clínica.

O psicólogo tinha estado de acordo. Nathan teria desaparecido um dia e jamais teria retornado. Ainda não estava preparado para voltar. Pode ser que não o estivesse nunca, mas Jordan teria que pô-lo a prova de todas as maneiras.

 

Um ano depois

—Não será fácil conseguir que aceite. — advertiu Ian Richards a Jordan enquanto observavam pelo espelho de dupla face aos seis homens da unidade de Operações Especiais que se exercitavam no ginásio.

Noah era agora mais forte que nunca. Musculoso. Corpulento. Frio.

—Aceitará. — disse Jordan com suavidade.

— Não deixará que ela corra perigo.

Ian soprou e cravou os olhos no homem que agora todos conheciam como Noah.

—Quererá ela que retorne desta maneira? —inquiriu.

Jordan se tinha feito a mesma pergunta. Sabella Malone estava a seis anos viúva, e nos últimos três tinha começado a viver outra vez. Tinha encontros. Existia uma possibilidade de que outro homem arrebatasse de Noah a esposa que não admitia ter.

—Suponho que não demoraremos em descobri-lo. — comentou Jordan pensativo.

—Seremos seu respaldo na missão de Alpine. — interveio então Reno.

Todos eles tinham sido atribuídos à Unidade de Operações Especiais. tratava-se de um corpo de elite experimental, financiado em parte por capital privado, e em parte pelo governo, formado por um grupo de homens com escuros e complexos passados. Nos últimos anos se converteram em uma unidade especializada que levava a cabo operações que outras agências não podiam assumir por questões políticas ou pelo alto nível de perigo que entranhavam.

Jordan assentiu lentamente antes de voltar a observar ao Noah.

—Nos reuniremos no centro de operações, situado no parque nacional Big Bend. — lhes disse.

— Receberá as ordens em um par de dias.

Ian e Reno assentiram e se foram com rapidez para preparar-se para a operação. O único ponto que faltava era que Noah Blake aceitasse levá-la a cabo.

Jordan se sentou a mesa, recolheu o dossiê da missão e chamou a Noah a seu escritório.

Noah o fez esperar. Quando entrou no escritório, tinha o cabelo ainda úmido pela ducha recente e seus frios olhos azuis estavam desprovidos de emoção, de vida.

—Estamos preparados?

—Quase. — assentiu Jordan, lhe indicando que tomasse assento na cadeira que havia frente a mesa.

— O centro de operações será desmantelado esta noite e transladado à nova localização. Devemos ter tudo preparado nas próximas quarenta e oito horas.

Noah não disse nada; só olhou a Jordan, esperando. Ao que parece, agora tinha uma paciência infinita. Mas quando entrava em ação, não havia nada que o detivesse nem ninguém que fosse mais mortífero que ele.

—Continua. — resmungou por fim Noah com voz rouca e quebrada. Essa voz que uma vez tinha sido fluída e profunda agora era áspera, quase gutural.

—A primeira missão será em Telhas. — lhe informou Jordan. Noah nem sequer piscou ao ouvir aquilo. Como se em Telhas não houvesse nada que lhe concernisse. Como se ali não estivesse sua família, seu avô, seu irmão, seu pai. Sua esposa.

—O centro de operações estará situado a sessenta quilômetros de Alpine.

—Não. — O tom do Noah foi gélido.

Jordan levantou a pasta que continha a informação da missão e a deixou cair diante do Noah.

—Lê o dossiê. Se não quer participar desta missão, respeitarei sua decisão. Pode o encarregar do assunto da Sibéria e o fazer de babá dessa cientista que seqüestraram o mês passado até que congele o traseiro. Mas antes vai ler o dossiê.

Jordan saiu do mesa fechando a porta com um forte golpe e deixando Noah a sós com a informação recolhida.

Noah. — ele jamais pensava em si mesmo como Nathan. — ficou olhando o dossiê como se este fosse uma serpente. Não queria lê-lo. Não queria saber. Sibéria era um destino tão bom como qualquer outro. Demônios, aquela cientista era a missão perfeita. Ao que parece, gostava de dedicar-se a seus projetos e odiava ter companhia. Deveria ir.

Ficou em pé e logo se deteve. Olhou de novo o dossiê e quase se virou para partir. Quase. Uma foto deslizou do interior da pasta, e ele conhecia aquele queixo.

Agarrou-a lentamente. Sentia uma opressão no peito, uma dolorosa agonia enquanto levantava a fotografia e franzia o cenho.

Sim, ali estava a curva familiar da fronte e aqueles preciosos e suaves olhos cinza. Mas que o condenassem se não reconhecia à mulher a que pertenciam.

Parecia-se com Sabella. Sua Sabella. Era sua Sabella. Mas tinha mudado.

As tranças loiras como os raios do sol eram agora mais escuras, com algumas mechas quase castanhas. Usava o cabelo mais longo. Caía-lhe, espesso e pesado, por debaixo dos ombros. Tinha o rosto mais angulosa e a expressão mais serena.

E não havia nenhum sorriso em seus lábios.

A menos que estivesse zangada, Nathan jamais tinha visto Sabella sem um sorriso nos lábios. Em algumas ocasiões sonhava com seus sorrisos, com sua risada, sua alegria. Algumas vezes era a única coisa que mantinha a raia seus pesadelos. A que se aferraria agora que seu sorriso tinha desaparecido?

Sustentou a foto em uma mão, com os olhos fixos em Belle. Negou-se a ler o informe que Jordan tinha dela e para ouvir algo referente a sua esposa nos últimos seis anos.

Só tinha querido saber a resposta a duas perguntas quando surgia seu nome.

Estava viva? Estava a salvo?

Jordan sempre assentia com a cabeça e Noah sempre se afastava sem querer saber nada mais.

Demorou muito pouco tempo em ler o dossiê da missão; inclusive menos do que necessitou para conter o uivo de fúria que lhe ardia na garganta.

Sabella se encontrava em meio de uma operação que tinha acabado com a vida de três agentes do FBI e da esposa de um proeminente político.

Filho de uma puta. Em toda sua vida, só lhe tinha pedido uma coisa a seu pai: que se alguma vez lhe ocorresse algo, cuidasse de Sabella, e aquele mentiroso bastardo lhe tinha jurado que o faria. Mas não o tinha feito. Sabella estava indefesa.

Só seu meio-irmão estava tentando ajudá-la.

O dossiê da missão estava cheio de informação sobre Sabella, de seu meio-irmão, Rory, de seu avô, Riordan, e do pai que tinha começado a odiar naquele momento.

E também estava cheio de perigo. Perigo que podia acabar salpicando a Sabella. Podia vê-lo. Podia ver os fios que, se se moviam na direção correta, acabariam rodeando o pescoço de uma esposa que tinha sido dele, sem importar quanto o tivesse negado.

Belle podia morrer porque ele não tinha cuidado dela.

Sentou-se sem deixar de olhar a fotografia. Já era suficientemente ruim que o homem que Belle tinha amado tivesse morrido, para que além disso, que a casca vazia em que se transformou servia se nem sequer a tivesse protegido.

Passou o dedo pela foto seguindo a curva da bochecha enquanto fechava os olhos e recordava seu sorriso, o que tinha sentido ao tocá-la. permitiu-se inclusive recordar, como o fazia em sonhos, como tinha sido amá-la.

—Go síoraí. —sussurrou, aspirando o perfume dessas lembranças.

— Para sempre, Sabella. Amarei-a sempre.

Justo naquele instante, apareceu a primeira greta na couraça de Noah Blake.

 

—Nathan. —Sabella sussurrou o nome de seu marido quando despertou. Como se não tivessem transcorrido os últimos seis anos, como se jamais o tivesse perdido. Ouviu a voz masculina na escuridão pronunciando umas palavras em irlandês cujo significado jamais tinha tido que perguntar: go síoraí.

Ficou olhando o quarto iluminado. Nathan não estava ali nem em nenhum outro lugar. Sem lágrimas e dolorida, tombou-se de novo sobre a cama e fechou os olhos.

—Adeus, Nathan. — murmurou desejando poder chorar ainda. Desejando poder desterrar a dor com a mesma facilidade.

— Sinto sua falta …

 

A pequena cabana, assentada em meio a terrenos do rancho Rocking M, estava deteriorada pelo tempo, mas seguia sendo acolhedora e familiar apesar da escuridão que reinava naquela noite inóspita.

Noah se moveu entre as sombras como um fantasma. Saltou sobre a pequena cerca de ferro forjado e se deteve ante a tumba de sua avó.

«Erin Malone. “Go síoraí». Para sempre. Essas eram as únicas palavras gravadas na lápide de granito. Seu avô se encarregou de as cinzelar ele mesmo.

Ajoelhando-se ante a tumba, Noah alargou o braço esquerdo e tocou a pedra e uma vez mais inclinou a cabeça. Seu avô sempre tinha rendido essa homenagem a sua avó daquela maneira e todos os seus filhos, exceto Grant Malone, tinham seguido seu exemplo. Noah se perguntou se seu irmão Rory também o faria.

Levantou a cabeça e voltou o olhar para a cabana. Era apenas uma silhueta escura entre as sombras, mas sabia que seu meio-irmão estava ali.

Voltou a olhar a tumba e logo saltou de novo a cerca encaminhando-se para a cabana.

Rory era rápido e desconfiado. Esse dia se deu conta que alguém observava a cabana, já que Noah não tinha tentado ocultar-se.

Aproximou-se da cabana com sigilo. Camuflou-se entre as sombras, confundiu-se com elas e as utilizou para aproximar-se do alpendre traseiro da casa, onde viu o jovem que estava sentado no velho balanço.

Rory tinha vinte e cinco anos. Era um homem e se parecia muito a Nathan quando tinha essa idade. Possivelmente fossem um pouco mais largo de ombros e seus músculos estivessem mais marcados, mas não eram tão diferentes.

Permanecia sentado em silencio com o rifle sobre as coxas e o corpo em tensão.

—Sei que está aí. — resmungou seu irmão.

— Se não tive na mira antes, não vou ter agora. Assim pode disparar. —A amargura tingia sua voz e se refletia em sua expressão quando elevou a cabeça.

Rory pensava que ele estava morto como todos. E Noah tinha que assegurar-se de que ninguém suspeitasse do contrário. Salvo Rory. Nathan ia necessitar de sua ajuda.

Iluminado pela luz da lua, saltou em silêncio sobre o corrimão do alpendre, arrancou o rifle das mãos de Rory e o agarrou pelo pescoço enquanto o balanço se chocava contra a parede.

Não era um aperto forte, a não ser preventivo. Não queria despertar o ancião. Não queria aumentar a dor de Rory, nem sua vergonha.

—Não faça ruído. — vaiou Noah sobre o rosto bronzeado de seu irmão.

— Não vim fazer mal a você.

A expressão de Rory era de franca desconfiança; mas o certo era que Noah se surpreenderia se tivesse reagido de outra maneira.

—Vim dar a você a oportunidade de conhecer tudo o que sei sobre seu irmão. — lhe advertiu Noah com voz baixa.

— Uma oportunidade. Desperdiça-a e não voltará a ter outra.

Rory entrecerrou os olhos. Chamativos olhos azuis, o autêntico olhar Malone.

—Meu irmão está morto. — lhe espetou em voz baixa.

— O que poderia me contar você que meu tio não saiba?

Noah se inclinou sobre ele.

—Bràthair, o que quer saber? —perguntou-lhe antes de endireitar-se.

Rory estava tremendo. A escura pele irlandesa de seu rosto tinha empalidecido enquanto olhava a sombra que tinha diante dele.

Noah deu um passo para trás, ainda com o rifle nas mãos.

—Vêem comigo. —Indicou com a cabeça o abrigo situado no fundo do pátio.

— Ainda há luz no abrigo?

Não houve resposta, mas Rory o seguiu. Entraram no abrigo e Noah fechou a porta lentamente antes de acender a luz.

Rory se deixou cair na velha cadeira do canto e cravou os olhos nele. Seu olhar refletia dor e cólera.

—Acreditei que fosse meu irmão — sussurrou. — Eu... esperava que fosse.

Noah observou como Rory esfregava o rosto com as mãos e sacudia a escura cabeça.

Tirou os óculos de visão noturna, um novo brinquedo da unidade que lhe tinha vindo muito bem, e cravou o olhar em Rory, dando-se conta de que os olhos que via cada manhã no espelho eram de um azul mais escuro; mais ferozes, sombrios e perigosos que os de seu irmão.

Rory piscou.

—Ainda vem aqui para fumar? —perguntou Noah, recordando como seu irmão entrava no abrigo com um cigarro quando pensava que ninguém o via.

Era algo que só tinham sabido Rory e ele.

A mão de Rory tremeu. Aferrou-se aos braços da velha cadeira e cravou o olhar em Noah como se dessa maneira pudesse ver o que precisava saber.

—Quem é? —disse finalmente com pesar, com a voz carregada de decepção, mais do que Noah tinha esperado.

— E o que diabos quer?

Noah negou com a cabeça.

—Não tenho tempo para jogos, Rory.

—Você não é Nathan. — sussurrou seu irmão.

—Não sou o Nathan que você recorda. —dirigiu-se ao armário do fundo do abrigo, abriu a pequena porta de abaixo e tirou a garrafa de uísque que sabia que seu avô guardava ali.

Sempre tinha escondido seus vícios de sua Erin, e sempre sorria para si quando tomava um gole. Inclusive agora que Erin estava morta, seu avô continuava com o mesmo costume.

Desarrolhando o uísque irlandês de importação, levou a garrafa a seus lábios e tomou um bom gole. Não fez nenhuma careta enquanto o ardente líquido lhe descia pela garganta. Ao contrário. Saboreou-o. Fechou de novo a garrafa, devolveu-a ao armário e depois se virou para Rory.

O jovem o estava olhando como se tivesse visto um fantasma.

—Ninguém conhece o esconderijo do vovô. —murmurou.

Noah assentiu ligeiramente com a cabeça.

—Ninguém exceto você e eu. Nem sequer Grant sabia.

Rory exalou bruscamente.

—Deixou de chamar Grant de papai depois de conhecer minha existência.

Noah encolheu um de seus ombros.

—Não podia ser meu pai se não reconhecia que também era o seu.

Rory moveu a cabeça de um lado a outro como se estivesse tentando limpar-se. Nathan quase sentiu lástima por ele. Mas não tinha tempo para a compaixão.

Agarrou uma velha cadeira de madeira e lhe a virou, sentou-se escarranchado nela e olhou fixamente a seu irmão.

—O que diz não tem sentido. — disse Rory com voz enérgica.

— Não é Nathan, embora conheça coisas que só ele sabia. —O jovem o percorreu com o olhar quase com desespero.

— Quem é?

—O fantasma de Nathan. —suspirou Noah.

— Sou Noah Blake, Rory, e jamais deve esquecê-lo. Deve acreditar que Nathan está morto, porque faz muito tempo que desapareceu. Agora só existe Noah.

Mas Rory ainda tentava encontrar a Nathan dentro dele. Noah observou o desespero no olhar de seu irmão e sentiu como se rachava sua alma.

—Necessito de sua ajuda, Rory.

—Minha ajuda? —Seu irmão negou de novo com a cabeça.

— Nem sequer sei quem é.

—Não me teria reconhecido faz cinco anos. — lhe assegurou.

— Foi um inferno. Foi a morte.

—Sabella?

—Não sabe. —A voz do Noah se endureceu.

— E nunca saberá. Não estou brincando, rapaz. Nathan Malone não existe.

Rory o olhou intensamente durante alguns longos e tensos momentos.

—Maldito seja! —O jovem ficou em pé, com o rosto transformado em uma máscara de cólera.

— Filho de uma puta! Não é Nathan. Sabe por que sei que não o é?

Noah lhe devolveu o olhar, furioso. Enterrar aquelas emoções o estava matando. Demônios, tinha pensado que não seria tão duro. Havia dito a Jordan que seria uma missão simples, mas estava se convertendo em um doloroso pesadelo.

—Lhe direi. —grunhiu Rory.

— Não é Nathan porque ele não estaria aqui comigo neste momento. —Indicou o chão do abrigo com o dedo.

— Estaria cuidando de sua esposa em vez de deixar que outro homem o faça por ele.

Antes que Noah se desse conta de que estava perdendo o controle, antes que seu irmão adivinhasse suas intenções, levantou-se da cadeira, agarrou Rory pela garganta e o imobilizou contra a parede, lhe grunhindo no rosto.

Rory tinha o mesmo aspecto que Nathan tinha tido uma vez. A mesma constituição de Nathan. Ou que Noah. Poderiam ter sido gêmeos. Poderiam ter sido filhos do mesmo pai e a mesma mãe em vez de ter nascido de mulheres diferentes.

Rory era um Nathan mais jovem. E Noah apostaria o que fosse que sabia como rir.

—Você a tocou? —O gelo invadiu sua voz, sua alma. Invadiu-o todo.

— A consolou?

Apertou as mãos em torno da garganta do Rory. Era como se o visse. Rory tocando-a, abraçando-a, enquanto Sabella sussurrava o nome de Nathan e as palavras «para sempre». Seu agarre se voltou mais premente.

Sua Sabella. Doce, suave, cálida. Ela tinha prometido a ele para sempre. Estaria acaso oferecendo o mesmo ao Rory?

—Nathan? —disse Rory entre ofegos.

Noah voltou a olhá-lo em estado choque e as lágrimas alagaram os olhos do jovem, voltando-os mais escuros.

—Nathan. — resfolegou.

— OH, Deus. OH, Meu Deus. Está vivo. Maldito bastardo!

Noah recebeu um chute, vários murros nos rins e as maldições afogadas do jovem. Soltou-lhe o pescoço e lhe retorceu o braço nas costas, lhe esmagando o rosto na mesa que havia contra a parede.

—Você... tocou... a... minha... esposa?

—Deveria. — replicou Rory com um gemido, metade soluço, metade raiva contida.

— Deveria havê-lo feito. É um filho de uma puta. Um autêntico filho de uma puta. É como ele. Como esse desumano bastardo que deu vida a você.

Rory apoiou a fronte na mesa quando Noah o soltou; tremiam-lhe os ombros. Manteve a fronte contra a madeira enquanto um soluço lhe rasgava a garganta.

Noah flexionou a mão olhando os dedos que tinham rodeado a garganta de seu irmão, e apertou a mandíbula com tanta força que pensou que a romperia.

—Suma daqui! —Rory se incorporou, lhe dando as costas.

—Suma!

—Não posso fazê-lo, Rory.

Seu irmão se voltou para ele com os olhos brilhantes pela fúria enquanto o espetava com desprezo:

—O vovô chora quando fala de você, quanto à Sabella, trabalhando nessa maldita oficina tentando sobreviver. Tentou ajudá-la e esse filho de puta que tem por pai lhe tirou tudo o que tinha. E aqui está você. —Elevou a mão para ele e seu rosto refletiu uma ira sem limites.

— O enorme e rude guerreiro do qual esse ancião se sentia tão orgulhoso. Seis anos, Nathan. Passaram seis anos, onde diabos esteve todo esse tempo?

Noah começou a arremeter contra tudo o que via na frente e empurrou a cadeira para trás enquanto lhe fulminava com o olhar.

—Tome cuidado, rapaz. — rugiu.

— Deixa de me pressionar ou terá mais do que anda procurando.

—Já obtive mais do que queria quando o senti observando a cabana esta tarde. — grunhiu, sentindo que o medo dava passo à cólera.

—Estou aqui, é tudo o que importa. —Noah passou a mão pelo queixo.

— Não é fácil explicar por que não retornei. Nem tampouco retornei depois de tanto tempo. Mas agora estou aqui e necessito de informação.

—Para isso existem os computadores.

Rory estava a ponto de equilibrar-se sobre ele e Noah sabia. Seu irmão tinha o mesmo maldito e orgulhoso temperamento irlandês que ele.

—Me escute, pequeno bastardo! —abateu-se sobre ele com ar vingativo.

— Olhe meu rosto. Meu corpo. Crê que isto me ocorreu porque queria mudar meu aspecto? Porque eu não gostava de minha vida e quis lhe dar as costas? Olhe-me, Rory. Olhe minhas cicatrizes. Quer que te mostre as costas? Ou as pernas? Quer ver o buraco que tenho no pé? Contentaria-se com isso?

Separou-se dele furioso e cheio de raiva. Estava perdendo o controle. Algo que não tinha ocorrido há cinco anos.

Inspirou profundamente. Não ia perder os nervos agora, não mais do que já o tinha feito.

Retornou para junto de seu irmão e controlou suas emoções. O horror nos olhos de Rory não era algo que tivesse querido ver.

—Belle não é a mesma sem você. — sussurrou Rory.

— Sempre está triste. Apenas trabalha e encerrar-se em si mesma. Já não é a mesma mulher de antes, como você não é o mesmo homem.

Noah apertou a mandíbula com força e fechou os punhos. Não podia falar de Sabella. Não agora. Ainda não. —Me fale da tropa Black Colar. Rory piscou.

—Do BC? —bufou.

— Estive nessa merda um tempo. Ainda recordo a palmadas que me deu por isso antes de partir.

—Não perguntei isso devido a suas burrices. —grunhiu.

— Conte algo que eu não saiba.

Rory passou a língua pelos lábios e afastou o olhar por um segundo.

—Dois dos mecânicos de Belle pertencem ao BC. Mas são de sub nível. Ninguém conhece os chefões, embora haja quem se gabe disso algumas vezes. A maioria dão recados, nada importante.

Noah voltou a sentar-se escarranchado na cadeira.

—Quando começaram a trabalhar para Sabella?

Rory o olhou com os olhos entrecerrados.

—Sempre a chamou de Belle, Nate.

—Rory, não me enche o saco outra vez. —suspirou.

— Responde a minhas perguntas. E se voltar a me chamar com esse nome darei uma surra em você. Agora me chamo Noah Blake.

Rory deu um pulo antes de ficar rígido e sacudir a cabeça.

—Demônios. — deixou escapar o fôlego.

— Faz mais ou menos um ano. Todos os homens que trabalhavam para você se foram no primeiro ano. Belle passou muito mal durante muito tempo. Quando finalmente começou a superá-lo, estava perto de perder a casa e a oficina. Eu não podia fazer nada. — A expressão de seu rosto refletiu a dor que sentia quando olhou a Noah.

— Eu tentei apesar de não saber nada de mecânica. — sussurrou encolhendo os ombros.

— E sim, Belle é muito boa arrumando motores, mas não tem dom com as pessoas. Fazer com que as coisas seguissem adiante levou seu tempo.

Sabella sabia de mecânica? Noah reprimiu sua incredulidade. Teria que vê-lo para acreditá-lo. E não tinha dom com as pessoas? Quem tinha levado a sua esposa e a tinha substituído por outra mulher?

—O que quero é que me fale da tropa. — grunhiu Noah.

Rory passou as mãos pelo cabelo.

—O certo é que não sei muito. —Negou com a cabeça.

— Estou bastante seguro de que Mike Conrad está relacionado com ela. Sei que ronda pela oficina desde que soubemos de sua morte, e que tentou várias vezes que Belle venda a oficina apesar dela se negar. Às vezes, Mike bebe de mais, e quando o faz, diz muitas coisas, embora ainda não a ameaçasse. O xerife não serve para o cargo e pode ser que seja um deles. Há rumores de que os BC estão envoltos em algumas das mortes do parque nacional, mas até agora são apenas rumores. Demônios, Noah, estive tão ocupado mantendo os lobos afastados de Belle que não tive tempo de prestar atenção a toda essa merda.

Noah assentiu. Não tinha esperado que Rory soubesse muito.

—Quero que me contrate na oficina. E mais, dirá que me contratou esta noite. Que me conheceu o mês passado nesse bar de Odessa.

Rory lhe dirigiu um olhar surpreso.

—Conhece esse bar?

—E à garçonete. — grunhiu Noah.

— Conheceu-me essa noite, encontrei-me com você quando passava pela cidade e me ofereceu o trabalho.

Rory lhe dirigiu um olhar confuso.

—E Sabella?

—Não saberá quem sou. — resmungou com voz fraca.

— E se disser alguma coisa, Rory, se insinuar apenas, acabarei com você, entendido? —Voltou a olhar seu irmão. Agora não havia cólera em seus olhos, nem nenhuma outra emoção. Só o gelo que voltava a ocupar seu lugar.

—Mas Belle é sua esposa. — murmurou Rory com uma careta de pesar.

— Se manteve afastado dela muito tempo.

—Ocuparei-me de Sabella a minha maneira. —levantou-se da cadeira e brindou a seu irmão um duro olhar.

— Compreendeu, Rory? A minha maneira.

Rory assentiu com vacilação.

—Fique aqui amanhã e se recupere do que vai beber esta noite. E não apareça até que não se sinta preparado para lidar com isto.

Rory grunhiu.

—Então não espere me ver até a próxima vida.

Noah lhe dirigiu um longo olhar silencioso.

—Está bem. Dê-me um dia ou dois. — disse finalmente Rory, encolhendo-se de ombros.

—E não diga nada ao vovô. —lhe advertiu Noah.

Seu irmão encolheu os ombros outra vez.

—Embora não lhe diga nada, o vovô acabará descobrindo de todo o modo. Já sabe como é.

Por desgraça, assim era. Riordan Malone sempre parecia saber de tudo. Uma qualidade que tinha sido arrepiante quando Nathan era um menino e reconfortante quando tinha crescido. Agora, simplesmente, era preocupante.

—Por que Noah? —Rory lhe expôs a pergunta que Noah não podia responder.

— Por que esse nome? Por que está aqui pelo BC e não por sua família?

A amargura tingia a voz de seu irmão, refletia-se em sua expressão, e que condenassem a Nathan se podia culpá-lo.

—Estou aqui porque BC ameaça a minha família. — afirmou com voz áspera e dura, mais escura do que tinha sido jamais.

— No que diz respeito ao nome... —curvou os lábios—... é um nome irlandês. Agora mantém os olhos e os ouvidos bem abertos. Contarei mais quando puder.

Rory lhe brindou uma careta zombadora.

—Muito bem, irmão. Como sempre, tem razão. Belle não precisa saber quem é. Agora tem uma segunda oportunidade; possivelmente desta vez consiga que seu homem fique em casa.

Noah ficou paralisado, nem sequer piscou.

—O que quer dizer?

—Deveria haver se informado um pouco antes de retornar e me acusar de tocar o que é seu. Não é por mim por quem deve preocupar-se, Noah. Deveria preocupar-se é com seu bom amigo Duncan Sykes. Divorciou-se faz um ano e agora está saindo com Belle. —O sorriso de Rory era zombador.

— Se eu gostasse de espezinhar, apostaria o que fosse que muito em breve Belle o deixará conduzir seu Ranger.

Noah tentou controlar a violenta fúria que sentia. Que lhe corroia as vísceras, que lhe nublava a mente e ameaçava seu autocontrole e sua capacidade de raciocínio.

Duncan Sykes.

Não. Não tinha passado. Belle não tinha estado com nenhum outro homem. Ninguém mais a havia tocado. Ninguém se atreveria. Porque ele o teria sabido e o teria matado.

Noah se deslizou na noite com o mesmo sigilo com o que tinha aparecido. Com rapidez, rodeou a casa e permaneceu nas sombras até que chegou ao cânion onde tinha deixado a Harley, a mais de um quilômetro.

Era consciente de que Rory tentaria rastreá-lo, mas o jovem não tinha a experiência necessária. Tinha-lhe perdido a pista poucos segundos depois que Nathan tivesse saído.

Entretanto, havia outros olhos, uns olhos velhos e cheios de lágrimas que observavam cada um de seus passos com orgulho, amor e regozijo.

 

Não faltava muito para o amanhecer, mas em vez de retornar ao centro de operações para dormir umas horas e informar Jordan, Noah conduziu a Harley em direção a sua casa.

Não podia tirar um pensamento da cabeça. Sabella estava saindo com alguém? Estava se deitando com seu velho amigo Duncan Sykes? Tinha que sabê-lo. Tinha que vê-la com seus próprios olhos, senti-la, saber que lhe pertencia embora soubesse que não podia tê-la.

Tinham passado seis anos. Não podia voltar para a antiga vida. Nathan Malone estava morto, não era mais que um nome do passado. O homem que ele tinha sido e ao que Sabella tinha amado estava morto. Teria encontrado alguém com quem o substituir?

Não queria nem pensar. Estava a mais de seis anos sem as carícias de sua esposa, sem cheirar seu suave perfume. E nem sequer podia tomar outra mulher; inclusive, odiava a idéia de fazê-lo. Seus votos não o permitiam. A alma de Sabella o retinha. Mas ele não podia tê-la, e tampouco a nenhuma outra. Como poderia viver sabendo que estava nos braços de outro homem?

Tomou uma rua lateral e deteve a Harley sob o refúgio das árvores, virou a chave no contato, desligou o motor e começou a percorrer o curto trajeto que conduzia à parte traseira do que tinha sido seu lar; uma casa de tijolos de dois andares nos subúrbios da cidade. Não havia vizinhos perto que pudessem ver como entrava nos limites da propriedade. Só ia ficar ali um minuto, disse a si mesmo, enquanto se movia sob a tênue luz do amanhecer, mantendo-se sob o refúgio das árvores que bordeavam o pátio traseiro.

Estava quase entrando no pátio quando se deteve em seco e ficou petrificado ante a visão que apareceu no alpendre dos fundos.

Sentiu como se o tivessem dado um murro no estômago, fazendo dobrar-se em dois. Imediatamente, uma violenta ereção pressionou contra seu jeans. Acelerou seu ritmo cardíaco e o sangue fluiu por suas veias com uma rapidez vertiginosa. Ficou sem fôlego e fechou os punhos com tal força que doeram os ossos dos dedos.

Cravou os olhos na mulher, na branca camisa masculina que lhe caía até as coxas e que estava aberta, revelando o sutiã e a calcinha que usava. Ela levantou uma fumegante xícara de café enquanto via despontar a alvorada, que iluminava o pátio, o alpendre e a ela mesma com aqueles raios dourados e violetas.

—Sabella. — sussurrou.

Rory tinha notado seu deslize. Sempre a tinha chamado Belle a menos que a desejasse. A menos que a necessidade de enterrar-se no aveludado e embriagador calor do corpo de sua esposa fosse entristecedora. E jamais tinha sido tão entristecedora como agora.

Imaginou o aroma de seu perfume no ar, uma mescla de madressilva e essência feminina. Imaginou sentir contra a palma de sua mão a calidez de sua carne sedosa e vibrante abrindo-se para ele, enquanto aqueles lábios rosados sussurravam seu nome.

Recordou quantas vezes, —muitas, de fato — a havia possuído no alpendre traseiro da casa. Tinha-a colocado escarranchada sobre ele enquanto estava sentado no balanço ou a tinha feito inclinar-se sobre o corrimão de ferro, penetrando-a por atrás.

Uma dolorosa agonia lhe atravessou o peito e se cravou na alma como as presas de um animal selvagem. Assim, ele queria mordê-la. Queria agarrar seu pescoço entre os dentes e mantê-la segura debaixo dele como um animal. Queria possuí-la e ouvir seus gritos pedindo mais.

Mas os gritos que a jovem proferiria agora seriam muito diferentes, pensou. O homem que era agora, as ânsias escuras que o invadiam, aterrorizariam-na.

Mesmo assim, seguiu olhando-a. Observou como tomava aquela primeira xícara de café, com um prazer quase sensual que alagava seu rosto quando o líquido quente transpassava seus lábios, e se permitiu recordar aquela sensualidade que um dia tinha sentido em sua própria pele.

Recordou sua forma de rir e seus sorrisos. Como era tocá-la, abraçá-la, e teve que conter a necessidade de recordar os sonhos que tinha compartilhado com ela. Os sonhos que tinha tido então. Sonhos simples. Um cão e um filho. Possivelmente uma piscina no pátio dos fundos.

E agora estava ali, escondido entre as sombras, observando como sua esposa tinha seu rosto muito sombrio para o amanhecer. Inclusive teria podido jurar que tinha escutado como sussurrava seu nome.

Só faltavam algumas horas para voltar a vê-la, pensou. Informaria a Jordan, tomaria banho e depois de vestir-se iria à oficina.

Ao voltar para Telhas com outros membros da unidade de Operações Especiais, Noah havia dito a si mesmo que faria o trabalho e iria de lá. Assim. Simples. Mas agora, enquanto olhava a sua esposa, teve o pressentimento de que não seria tão simples como tinha pensado.

Nesse dia, retornaria à vida de sua mulher como outro homem. Um homem cujos desejos eram tão escuros, tão intensos, que às vezes ficava paralisado. Um renegado. Um homem sem alma. Voltaria para ela. Mas não como Nathan Malone, mas sim como Noah Blake. E entraria na vida de Sabella como ela jamais teria imaginado que faria.

 

—Olá, Belle. Mike Conrad acaba de ligar perguntando por seu carro e esse condenado motor ainda não está preparado. Está a caminho e parece que bebeu outra vez. Na realidade, há um homem a esperando em seu escritório. Rory ligou para dizer que é seu amigo e que o contratássemos. Odeio falar com suas pernas. Por que não sai de debaixo desse carro?

As coisas não pareciam bem. Seu recepcionista não parecia contente e sim muito irritado pelas primeiras ligações do dia. Sabella elevou o olhar para as vísceras do veículo no qual estava trabalhando. Em sua primeira inspeção tinha encontrado graxa, imundície e anos de negligência. Um reflexo de sua própria vida, pensou com uma careta de desgosto.

—Pensa me responder ainda hoje, Belle? —Toby soava cada vez mais irritado.

— Olhe, o cara do despacho parece um autêntico imbecil. Temo que me arrancará a cabeça e jogará beisebol com ela se não for falar com ele já.

Sabella quase curvou os lábios. Toby, com seu desengonçado corpo, recordava- às vezes a Rory, o irmão de Nathan, na primeira vez que o tinha visto. E podia chegar a ser tão melodramático como seu cunhado o tinha sido.

Agarrou-se à parte inferior do motor e deslizou pelo cimento até que liberou a cabeça e olhou para Toby, o jovem que tinha contratado para que se encarregasse do escritório.

O rapaz, tinha prendido o cabelo castanho claro em um rabo, tinha os olhos cheios de preocupação e o cenho franzido.

Maldição, ela não tinha tempo para isso.

—Disse a Mike que seu carro estaria preparado amanhã, não hoje. —Belle se incorporou sobre o estreito carrinho de plástico que utilizava para colocar-se debaixo dos carros quando reparava as avarias. Apoiou os braços nos joelhos e ficou olhando por um momento a seu empregado com exasperação.

—Não vamos contratar ninguém, e Rory chegará quando chegar. É tudo o que sei, assim se ocupe você do resto. —-limpou os dedos negros no jeans antes de afastar as mechas soltas do rosto e se estendeu de novo sobre o carrinho, decidida a deixar o sedan, que os mecânicos haviam esquecido de lhe dizer, pronto, pois, tinham que entregar. Mike Conrad não era o único que tinha pressa para pegar seu veículo.

—Ah, não, nada disso. —Toby negou com a cabeça quando ela começou a mover-se.

— De maneira nenhuma posso me ocupar desse cara, Belle. É o tipo de homem com o qual eu não gostaria de brigar. Isto não faz parte de meu trabalho, sabe? Terá que se encarregar dele.

Reticente, Sabella voltou a sair debaixo do carro. Estava furiosa pela impaciência mais que pela atitude de seu empregado. Toby estava acostumado a ser muito eficiente e sabia como lutar com os clientes mais intransigentes com uma facilidade invejável.

—Só tem que lhe dizer que volte amanhã. Rory estará aqui... —Exasperada, abaixou a cabeça quando ele começou a negar violentamente com a cabeça.

— Genial.

Conseguiu ficar de pé e colocou o carrinho contra a parede da oficina. Logo agarrou uma toalha suja e tentou limpar o óleo das mãos. Segundos depois, lançou o trapo ao banco e atravessou a oficina em direção ao escritório.

Não podiam permitir-se contratar um novo mecânico, por mais que necessitassem para manter a oficina em dia. Sabella era muito consciente de que estava a ponto de perder tudo. Se não conseguisse arrumar a confusão que tinha permitido que se produzisse naqueles três primeiros e horríveis anos depois da morte de seu marido, o banco ficaria com a oficina e a casa. Os benefícios que obtinha não eram suficientes para salvar tudo.

Não podia deixar que outros ocupassem a casa que Nathan e ela tinham compartilhado. Estava a três anos tentando conservá-la. Não, não o permitiria.

Deus, não podia perder aquele último vínculo com ele. Era tudo o que ficava de seu marido.

—Diga ao Danny que quero esse carro arrumado e fora daqui nesta tarde. —ordenou ao Toby a caminho do escritório.

— E lhe diga também que temos que terminar de arrumar o Ranger dos Carlton esta tarde. Jennie necessita do carro para ir trabalhar e ainda nos falta colocar algumas peças. Terá que terminá-lo e testá-lo.

—Partindo. —Toby inclinou a cabeça antes de virar-se e correr ao outro lado da oficina.

—E não corra. — resmungou ela, sabendo que ele não acataria essa ordem embora a tivesse ouvido. Era como um cachorrinho. Todo, pernas desengonçadas e energia nervosa.

Nem sequer tinha perguntado como se chamava o homem que procurava trabalho. Negou com a cabeça e passou a mão pelo cabelo antes de abrir bruscamente a porta do escritório e deter-se de súbito.

Aquele homem desprendia arrogância. Tinha olhos azuis brumosos que ficaram gravados a fogo no cérebro de Belle; olhos que resplandeciam em um rosto bronzeado e anguloso, com maçãs do rosto planas, um nariz ligeiramente torcido e lábios sensuais embora não muito grossos. Uma barba escura e recortada lhe cobria a mandíbula e as bochechas e o fazia parecer perigoso. Usava o cabelo negro retirado do rosto em um rabo.

Sabella sentiu um calafrio, uma primitiva advertência de perigo ao cravar os olhos nele. Era alto e magro, mas apostaria qualquer coisa que os músculos que ocultavam a jaqueta de couro negra, a camiseta e o jeans, eram duros como o aço. Calçava pesadas botas negras e quando ficou em pé, olhou-a através de sedosas e cheias pestanas negras.

O primeiro pensamento de Sabella ao vê-lo foi que aquele desconhecido era um predador. Atraente, musculoso e perigoso, o tipo de homem que ela tinha aprendido a evitar depois da morte de seu marido.

Ele se reclinou despreocupadamente contra a mesa e apoiou as mãos sobre a superfície enquanto a examinava como se ela fosse sua presa. Por um momento, só um momento, Sabella teve a impressão de que retrocedia no tempo, até aquele dia em que tinha entrado na oficina com o carro superaquecido e os nervos feito migalhas porque chegaria tarde a um encontro de trabalho. Fazia calor e ela estava suada devido ao sol de finais de verão, amaldiçoando a viagem desde a Geórgia e o calor de Telhas, que parecia mais intenso que de costume.

Agora ela se encontrava no lugar de Nathan Malone, que então tinha sido o proprietário da oficina e mais tarde seu marido. Ele a tinha percorrido lentamente com o olhar, com um sorriso lhe curvando aqueles lábios tão excitantes enquanto seus olhos, brilhantes e sedutores olhos irlandeses, tinham-lhe roubado o coração.

Sentiu que a boca ficava seca. Tremeram-lhe as mãos e sentiu cãibras no estômago quando devolveu o olhar à aquele desconhecido. Não conhecia esse homem, não queria conhecê-lo, mas por um instante, só um instante, todo seu passado voltou para ela. Uma sensação agridoce e dolorosa de amor e perda, de tudo o que o destino lhe tinha negado.

—Não temos vagas. Por favor, vá embora.

De acordo, isso tinha sido bastante grosseiro. Mas estava muito ocupada e não necessitava a dor de cabeça que sabia que lhe provocaria esse homem.

—Rory me assegurou que necessitavam de um mecânico.

OH, Deus, que voz.

Era uma voz profunda e áspera, quase gutural. Excitava cada uma de suas terminações nervosas, provocando nela uma reação sexual. Maldição, maldição, maldição. Não necessita disso. Não necessitava que seu corpo despertasse agora de sua longa letargia. E muito menos que a excitasse um homem mais perigoso e possivelmente mais duro que qualquer outro que tivesse conhecido.

Essa voz era fria e decidida, mas com um toque escuro e voraz. Jamais tinha ouvido algo assim na voz de seu marido, jamais tinha visto esse olhar em seus olhos.

A jovem baixou a vista lentamente e se obrigou a fixar o olhar no rosto masculino, coberto por uma barba de dois dias que ocultavam seus traços. Tinha cicatrizes?

Não, não queria sabê-lo. Não lhe importava.

—Rory não está aqui. — se obrigou a dizer, quase fazendo uma careta ante o som áspero de sua própria voz.

— E mesmo que estivesse, ele não é o dono da oficina. Sou eu quem toma as decisões. Não temos vagas.

Ele mudou de postura. Fascinada por aquele movimento, Sabella deslizou o olhar pelas poderosas e magras coxas cobertos pelo jeans, pelo duro abdômen que se destacavam sob a camiseta de algodão, pelas botas que ocultavam pés grandes; uma boa base para um homem que devia medir um metro e noventa.

Ao voltar a olhá-lo no rosto, observou que os olhos do homem se desviaram para as janelas que davam para o posto de gasolina e o estacionamento. Havia vários carros estacionados sob o ardente sol do meio-dia esperando para serem concertados. O posto de gasolina, que parecia abandonado, estava fechado. O asfalto apresentava várias gretas e a erva crescia por todos os lados. Sim, o lugar não estava em seu melhor momento, pensou ignorando a frustração e a dor. Mas fazia o melhor que podia. E estava muitíssimo melhor que há três anos, quando tinha se visto obrigada a sair do estupor no qual se encontrava para dar-se conta de que estava perdendo tudo.

—Está fazendo um bom trabalho aqui, embora, se quiser sobreviver, necessita de alguém disposto a trabalhar e que saiba tirar o melhor de seus empregados. — Voltou a olhá-la fixamente e aqueles olhos azuis ameaçaram roubar seu fôlego de novo.

A voz masculina soava tranqüila e razoável, mas mesmo assim sentiu que uma quebra de onda de fúria a atravessava. Como se atrevia aquele homem a arruinar o frágil equilíbrio que ela tinha encontrado em sua vida, com aqueles olhos azuis e essa voz áspera. Sabella elevou o queixo altivamente, odiando-o, odiando esses olhos e o cansaço que parecia alagá-los. E se negou a deixar que lhe importasse.

—Vão muito bem as coisas assim, senhor. — lhe assegurou em tom zombador, enquanto se erguia rigidamente.

— Você é um desconhecido e...

— Senhora, só estou indicando um fato.

OH, Deus... Sabella queria começar a gritar com ele por lhe roubar a paz, por acabar com a frágil tranqüilidade que finalmente tinha conseguido alcançar, por provocar aquela inexplicável resposta em seu interior.

—Necessito do trabalho, Rory me prometeu isso. — disse o desconhecido esboçando um duro sorriso.

— E ele é seu sócio, certo?

— Isso não importa. — respondeu ela.

— Olhe, senhor...

—Noah. Noah Blake.

Noah. Era um nome irlandês. «Go síoraí, a amarei sempre». Por um momento, o desejo se apoderou de sua mente e pensou em Nathan.

Mas ele não a tinha amado para sempre. Tinha-a deixado sozinha. Tinha-a deixado sobreviver sem ele durante seis desoladores anos.

E agora, outro feroz irlandês estava penetrando em sua vida, tentando tomar o controle. Negou com a cabeça. Não, nem pensar. Nenhum homem voltaria a possuí-la como o tinha feito seu marido. Era impossível. Não ia permitir.

Sabella abriu os olhos e ergueu a cabeça, sentindo que a velha fúria a consumia de novo. Endireitou os ombros e elevou o queixo com gesto desafiante.

—Já disse que não. Por favor, vá embora. Devo terminar de arrumar um carro e não tenho tempo a perder. —Virou sobre os próprios pés e retornou à oficina, contendo o doloroso vazio que lhe fechava a garganta e lhe umedecia os olhos.

Terminaria por esquecê-lo, não necessitava que a recordassem de olhos irlandeses, de beijos que lhe roubavam a alma e de promessas quebradas.

Seu marido se foi. Estava morto, seu corpo jazia em um ataúde do governo enterrado em um escuro buraco. Tinha visto como o cobriam com cada pá de terra que selava uma realidade que ela se negava a aceitar.

Deus, quanto o tinha amado. Sua risada, sua voz, seu enorme corpo e seu temperamento.

Obrigou-se a respirar apesar das lembranças, a pôr um pé diante do outro e a afastar-se daquele homem que despertava essas lembranças em seu interior.

—Belle Malone. —Uma furiosa voz masculina interrompeu seus pensamentos e a obrigou a deter-se quando se dirigia ao sedan no qual estava trabalhando minutos antes. Voltou-se lentamente para as portas abertas da oficina e conteve uma maldição.

As senhoras não soltavam maldições, recordou a si mesmo. Não importava quanto fossem provocassem. E a estavam provocando. Deus, por que não ficou na cama essa manhã? Mike Conrad não se detinha ante nada. Tinha sido amigo de seu marido, mas agora era uma pesada carga para ela.

—Mike, estava agora mesmo trabalhando em seu carro. —Levantou uma mão para saudá-lo enquanto rezava para que ele não tivesse bebido.

— Amanhã o terá a pronto.

—Esse pequeno bastardo do Rory me disse que estaria pronto em duas semanas. —Mike entrou na oficina, ignorando o sinal que advertia aos clientes que permanecessem atrás da opaca linha amarela.

— Disseram-me duas semanas, nem um dia mais.

Sabella mordeu a língua e se recordou que não podia se permitir o luxo de enfurecê-lo muito. Era o gerente do banco que possuía a hipoteca da oficina e da casa, e a tinha ameaçado mais de uma vez que executaria se deixasse de efetuar algum pagamento.

Usava o escasso cabelo loiro muito curto, quase a zero. Tinha os olhos chorosos e injetados de sangue pelo álcool, e o rosto torcido, avermelhado e retorcida pela fúria. Ótimo. Necessitava disso tanto como do enorme homem que acabava de deixar plantado em seu escritório fazia um instante.

—Hoje não ficará pronto. —A jovem tentou fazer uso de uma paciência que não tinha. Não podia se zangar; não enquanto Mike pudesse executar a hipoteca a qualquer momento. Além disso, tinha sido amigo de Nathan.

Mais ou menos.

—Nem pensar. — replicou ele mal-humorado. Seu largo rosto com marcas de varíola estava totalmente vermelho quando se aproximou dela e o aroma de álcool a esbofeteou no rosto.

— Vai terminar agora com meu Ranger, puta, ou pode ir se despedindo do seu negócio me ouviu? Nathan não se sentiria muito orgulhoso então desse pequeno traseiro que tem. Esta oficina era seu orgulho, tudo pelo que lutou.

Definitivamente, Mike tinha bebido mais da conta. Nunca o tinha visto tão furioso.

—Nathan está morto. — lhe recordou ela, lutando por manter uma calma que jurou não iria perder. Por alguma razão, Mike sempre parecia a culpar pela morte de seu marido.

— Como se sentiria não vem ao caso.

Ergueu-se em toda sua estatura, embora soubesse que seu um metro sessenta e cinco não podia competir com o metro oitenta de Mike. Era grosso, tinha criado uma barriga com os anos. O homem que Nathan tinha considerado uma vez seu amigo tinha deixado que a garrafa e os fracassos o destruíssem com mais rapidez do que a dor de Belle quase tinha destruído a oficina.

—Nathan teria que ter dado em você uma boa lição. E deveria ter deixado este lugar em mãos responsáveis antes de permitir que o matassem. —As cruéis palavras golpearam com força o coração de Sabella, sem importar quanto tentasse as ignorar.

— Deveria ter sabido que uma loira tola como você não seria capaz de levar seu negócio adiante.

Demônios. Odiava ter que dizer ao Toby que chamasse o xerife. Fariam muitas de perguntas e logo teria que preencher um monte de papelada, e ela não tinha tempo para essas tolices.

—Mas não o fez, Mike. E esta loira tola está tentando fazer tudo o que pode. —Foi consciente de que os mecânicos estavam congregando-se atrás dela e quis gemer de frustração. Não necessitava disso.

— Terá seu Ranger na primeira hora da manhã. Fica esta noite segundo o contrato, assim entregarei a tempo. —Não podia permitir-se não fazê-lo.

Os avermelhados olhos castanhos de Mike a percorreram de cima a baixo de uma maneira insultante.

—Se houver algo que tenho que reconhecer é que Nathan se casou com uma puta de primeira.

Sabella entrecerrou os olhos e se enrijeceu. Chiaram-lhe os dentes pelo esforço de conter uma réplica. As coisas já seriam o suficientemente ruins quando começassem a correr os rumores. Não precisava as piorar, recordou a si mesma.

—Senhor Conrad, a senhora Malone disse que amanhã estará pronto seu carro. —Toby se colocou ao lado de Sabella, com a voz vibrando de cólera ante o insulto.

— Não estará fica pronto antes disso.

O olhar de Mike se cravou no jovem ao mesmo tempo em que seus lábios se curvavam em um sorriso sarcástico.

—Você também tira uma casquinha, rapaz? Esta puta de primeira necessita de uma boa tre... —Jamais terminou a frase, e não foi porque Toby se jogasse em cima dele.

Antes que o rapaz pudesse percorrer o metro que os separava, um escuro borrão passou ante eles. Mike Conrad foi levantado no alto e, literalmente, jogado fora da oficina.

Sabella ficou olhando assombrada como o desconhecido ao qual tinha negado o emprego levantava Mike do asfalto, só para lançá-lo contra o BMW conversível que o banqueiro tinha deixado no estacionamento.

Com o rosto transformado em uma máscara de fria ira, Noah colocou uma de suas enormes mãos no pescoço do Mike e começou a apertar sem piedade.

—Detenha-se. —Sabella se obrigou a mover-se, a correr para eles, a agarrar com suas pequenas mãos o pulso do Noah enquanto, olhava horrorizada aqueles olhos frios e desumanos.

— Vai matá-lo. É só um bêbado. Maldito seja, disse que pare!

A fúria brilhava com intensidade naquelas profundidades azuis, fazendo com que a promessa de morte escurecesse a incomum cor desses olhos sem piedade enquanto apertava os dedos, torcendo os lábios em uma terrível careta de fúria.

—Perdeu o juízo? —gritou Sabella puxando do grosso pulso, desesperada agora que ouvia o ofego estrangulado do Mike.

Ela olhou para o desconhecido cheio de ira e reconheceu a promessa de morte nos olhos masculinos quando ele baixou o olhar para o Mike Conrad.

—Insulte-a de novo, —sua voz era um som rouco e furioso enquanto cravava os olhos nos de Mike— e o matarei.

Belle sentiu que o pulso relaxava e o escuro olhar do desconhecido se enlaçou com o seu. Um músculo lhe palpitava na mandíbula e tinha os lábios apertados. Seus olhos flamejavam quando a olhou por cima do ombro enquanto soltava um Mike ofegante. Os ruídos feitos pelo banqueiro ao entrar em seu BMW ressoaram no silêncio do estacionamento.

—Rory me disse que o apartamento que há em cima da garagem está disponível. —Noah falou em um tom baixo e gutural.

— Deixarei ali minhas coisas e terminarei de concertar o Ranger deste bastardo ou o matarei agora mesmo. Você decide.

Sabella negou com a cabeça, aturdida, enquanto o BMW ficava saia atrás dela e as rodas chiavam ao sair do estacionamento. Estava certa de que o desconhecido levaria a cabo sua ameaça se não lhe desse o emprego.

—Por quê? —sussurrou ela finalmente com voz rouca, ao mesmo tempo em que tentava encontrar sentido em tudo aquilo. Por que lhe acontecia isso? Por que nesse momento? Por que o destino tinha posto em seu caminho alguém que podia destruí-la quando finalmente começava a reconstruir sua vida?

—Escolha.

Sabella lhe soltou o pulso, dando-se conta de que ainda o agarrava com uma força que ignorava que possuía.

Obrigou-se a soltá-lo afrouxando os dedos um a um. Não podia responder, não podia escolher. A única coisa que tinha claro naquele instante era que mataria a Rory assim que o visse.

Ignorando os rostos assustados e surpresos que a rodeavam, virou-se e se encaminhou lentamente de volta à oficina. Tinha trabalho a fazer, e não podia, não devia deixar que aquilo interferisse.

Não necessitava disso.

Deitou-se no carrinho e o fez rodar sob o carro que tinha que terminar de arrumar. Uns ajustes mais e estaria pronto. Só seria um momento.

Agarrou a chave inglesa do chão de cimento e começou a trabalhar, tratando de ignorar as lágrimas que caiam pelas têmporas e que molhavam seu cabelo, tratando de ignorar a dor que oprimia seu peito e que rasgava seu coração.

Tinha trabalho a fazer. Quando todos fossem embora, pagaria a Noah Blake um dia de salário e lhe diria que se fosse. Não seria fácil. Necessitava do dinheiro e tinha que pagar o recibo da hipoteca na semana seguinte. Se não encontrasse uma solução, veria-se obrigada a vender parte das jóias que sua mãe lhe tinha deixado para cobrir o pagamento.

Mas de se de uma coisa estava certa era de que Noah tinha que partir. Não podia controlar a resposta instantânea de seu corpo ante ele, nem a estranha e complexa ira que a alagava quando o via. Havia algo naquele homem que lhe era muito familiar e perigoso, e não podia permitir-se tê-lo por perto. Tinha conseguido remexer em algo oculto em seu interior. Tinha-lhe feito sentir algo mais que a dor a que se resignou fazia três anos quando tinha decidido deixar o luto. Algumas vezes, como agora, arrependia-se disso.

Sabella não percebeu o soluço que rasgou o peito ante tais pensamentos, mas o homem que se deteve junto ao carro o ouviu. Ouviu-o e o odiou.

 

Noah ainda sentia uma violenta fúria em suas vísceras, uma fúria que envolvia sua mente em uma neblina avermelhada. Ver Mike, ouvir as cruéis palavras com as quais tinha insultado Sabella, tinha-o feito perder o juízo. Mesmo agora, queria matar aquele que, tinha sido seu amigo, anos atrás. Toda uma vida de amizade se esfumaçou em um segundo. Por isso no que concernia a Noah, Mike estava vivendo de favor.

Baixou o olhar para o chão e a imagem das pernas de Sabella, com os pés apoiados no chão e os joelhos dobrados contra o pára-lama do carro, fez-lhe sentir outro tipo de fúria.

Ela não devia estar ali debaixo. Não importava o condenadamente sexy que estivesse com aqueles jeans manchados com o mesmo óleo que lhe salpicava o queixo e o rosto.

Estava matando a si mesmo. Noah tinha observado as olheiras, o peso que tinha perdido, as escuras profundidades de seus belos olhos cinza. Essa não era a mulher que tinha deixado. Não havia nem rastro de maquiagem naquele rosto tão surpreendentemente jovem, e seu cabelo antigamente loiro com mechas cor mel tinha agora uma mescla de ouro brunido e castanho claro. Nem sequer tinha sabido que o tingia. Como era possível que não se desse conta de que sua esposa tingia o cabelo?

Aquilo trouxe para sua mente a lembrança do corpo nu da Sabella. Quanto ele amado aquele corpo quente e curvilíneo que se amoldava ao seu à perfeição. Seu suave monte de Vênus tinha estado desprovido de pêlo, então não soube nunca qual era sua cor natural.

Deus, Sabella parecia muito jovem. A maquiagem que tinha usado a tinha feito parecer mais velha e mais experimentada. Sabia que tinha dezoito anos quando se casaram, mas agora se dava conta de quão jovem tinha sido na realidade.

Aos vinte e seis anos, sem os cosméticos que acrescentavam maturidade a seu rosto, parecia ainda inocente. Mas ele tinha visto a dor, densa e escuro, refletido em seus olhos, na linha apertada de seus lábios e na rigidez de seus ombros antes que ela tivesse desaparecido debaixo do carro.

Inspirou profundamente enquanto os mecânicos o viam observar como Sabella desaparecia sob o carro. Tinham expressões cautelosas, entre aliviadas e preocupadas. Não eram os mesmos homens que tinham trabalhado para ele antes que partisse. Eram desconhecidos, e os desconhecidos sempre podiam ser inimigos. Noah jamais esqueceria que só um, o mais jovem, adiantou-se para proteger Sabella quando todos outros retrocediam.

—Já não está sozinha. — rugiu, sabendo que a fúria tornada mais áspera sua voz.

— Movam os rabos e terminem o trabalho, ou agarrem suas coisas e saiam . Quero que cada um dos veículos que há na oficina esteja pronto antes que saiam esta noite, ou o único que quererei ver amanhã será este. —Indicou Toby com o dedo.

— E se não estou enganado, o seu lugar é no escritório.

Toby engoliu em seco e seus escuros olhos piscaram indecisos ao olhar para o lugar onde Sabella tinha desaparecido. Era óbvio que estava mais interessado em protegê-la que em continuar com seu trabalho.

—Vamos, rapaz, — resmungou Noah— discutiremos os detalhes mais tarde. —Voltou o olhar para os outros homens, observando como se moviam com nervosismo com os rostos manchados de óleo e os olhares cautelosos fixos nele.

—Escolham de uma vez, — lhes exigiu— e se assegurem de fazê-lo bem.

Não esperou para conhecer suas reações. Dirigiu-se ao fundo da oficina caminhando com segurança para a mesa onde estavam as fichas dos carros, e pegou a primeira. Tinha chegado o momento de começar a trabalhar.

Não se enganava; depois de que todos se fossem, Sabella deixaria que aquele seu temperamento entrasse em erupção. Só a tinha visto em todo seu apogeu uma vez, quando estavam casados. No dia que ele tinha cometido o engano de lhe dizer o que podia e não podia fazer, ela havia deixado bem claro o exatamente ocorria quando se tentava controlá-la.

Exercer o controle era algo inato nos SEAL’S. Era parte de sua essência e do que os fazia tão eficientes. Assim não era de se estranhar que numa noite que ela tinha ido com suas amigas jantar e beber, lhe tivesse ordenado que não fosse. Queria-a em casa com ele. Estava excitado e desejava possuir sua esposa. Não queria que estivesse em um pub local com um monte de homens cobiçando-a.

Mas Sabella o tinha olhado em silencio durante um longo momento e depois tinha seguido o informando de onde estaria e quando voltaria para casa.

«Maldita seja, Belle, deve ficar em casa esta noite. Comigo».

Apenas teve tempo de se esquivar do saleiro que lhe tinha jogado na cabeça. E logo seu pequeno e doce anjo sulino de voz suave tinha estalado.

Com o rosto vermelho e furiosa, tinha procedido a lhe ditar as leis que regeriam sua relação, antes de sair irada de casa meneando seu pequeno traseiro como uma gata enfurecida. Ele tinha terminado por ceder e lhe havia dito que passasse a noite com suas condenadas amigas. Que ficaria bem sem ela.

Às duas da madrugada, tinha ido a cidade até encontrar seu carro estacionado frente à casa de uma dessas amigas. Tinha tirado dali a sua esposa, que tinha bebido de mais, e depois de colocá-la no Ranger, tinha-a levado para casa. Jamais voltou a cometer o mesmo engano.

Agora, depois de ouvir aquele som afogado e surdo debaixo do carro, emitido pela mesma mulher, perguntou-se se alguma vez tinha conhecido bem sua esposa. Deu-se conta de que existia uma Sabella que se conteve ante ele da mesma maneira que ele se conteve ante ela.

Não tinha tido suficiente dela antes de «morrer». Não a havia tocado de todas as maneiras que tinha querido. De repente se precaveu de que a escuridão que sempre habitava nele estava procurando uma via de escape, e que agora a tinha encontrado em sua independente e pequena esposa. Uma mulher que merecia muito mais do que estava a ponto de conseguir.

 

Eram quase sete horas da noite e o sol começava a descer por detrás das montanhas quando os mecânicos começaram a partir, olhando de esguelha para Noah, como se lhes desse medo deixar a sua chefe a sós com ele.

O xerife não tinha aparecido, o que queria dizer que Mike não tinha apresentado queixas. Ainda. Seu Ranger tinha sido entregue no banco enquanto ele ainda estava lá, e se a sorte estivesse de seu lado, Sabella não teria que voltar a lidar com aquele bastardo em muito tempo.

Noah Blake, por outra parte, era alguém com quem teria que lutar. O sangue bombeou com fúria nas veias durante todo o dia, deixando os nervos a flor de pele e uma sensação quase de excitação que se cravou em seu peito como se fosse uma garra afiada.

Tinha trabalhado duro e sem parar, e tinha conseguido que outros homens cumprissem com suas tarefas mais depressa. Mas Sabella não o necessitava ali. Não o queria ali. Não necessitava que interferisse na estruturada e ordenada existência que tinha conseguido criar. Não queria a excitação nem a tensão que sentia oprimindo suas vísceras.

Os homens que trabalhavam para ela acabariam por aceitar suas ordens ou faria o que tinha feito durante os últimos três anos: despedi-los e procurar outros que necessitassem do salário. Tinha despedido a tantos que um a mais ou menos não faria diferença.

Toby se atrasou tudo o que pôde, até que Sabella não teve mais remédio que o tirar aos empurrões pela porta. Depois agarrou da mesa a carteira com a arrecadação do dia, colocou-a na bolsa que se pendurava ao ombro e lançou um olhar irado a Noah.

Vamos lá. Ele podia ir ao inferno e ela voltar para sua monótona vida.

—Quando vir ao Rory, diga a ele que quero falar com ele imediatamente. — lhe espetou.

— E se não vir trabalhar amanhã, que comece a buscar outro emprego. O mesmo serve para você. Não quero ter um maníaco em minha oficina atacando meus clientes. —Levantou uma mão quando ele começou a falar.

— O mereçam ou não.

Noah a olhou com olhos enfurecidos e ferozes, e uma expressão que poderia ter derretido pedras.

O olhar masculino se deslocou pelo corpo de Sabella e esta se ruborizou ao precaver-se de que seus mamilos começavam a endurecer-se sob a camisa e o sutiã. Sentiu como a excitação ardia entre suas coxas, e o odiou. Odiou sentir isso e odiou a Noah por fazê-la sentir.

A jovem desviou o olhar para o estacionamento e quase fez uma careta ao ver o veículo que se detinha no caminho. Esqueceu de seu encontro. Duncan Sykes era agradável, seguro e de trato fácil. Tinha o cabelo castanho escuro, os olhos marrons e um sorriso tranqüilo. Não era perigoso. Não tinha o poder de lhe arrebatar a prudência nem de acabar com seu autocontrole.

—Estarei aqui pela manhã. —lhe assegurou Noah apertando os lábios ante o som da porta do carro de Duncan fechando-se.

— Com Rory.

Sabella sorriu ante a idéia de ter uma conversa com Rory. OH, seu cunhado se colocou em uma boa confusão.

Faça isso. disse a jovem brandamente enquanto Duncan se aproximava deles com o cenho franzido.

— E esteja preparado para ir da mesma maneira que chegou. Fez com que me atrase e não estou pronta para o meu encontro. Merece que o despeça só por isso.

Sabella se forçou a sorrir ao ver que Duncan abria a porta e entrava. É obvio, não pôde evitar comparar aos dois homens, embora o certo fosse dizer que não havia comparação possível. Noah era mais duro, mais rude, mais excitante, vibrante e perturbador do que Duncan seria jamais.

—Vejo que não está preparada. —Duncan sorriu amplamente. A diversão dançava em seus olhos apesar do olhar de curiosidade que dirigiu ao outro homem.

— Por que tinha o pressentimento de que se esqueceria de nosso encontro se algo a mantesse ocupada?

—Porque me conhece. —Lhe devolveu o sorriso, consciente de sua alegria era mais fingida do que teria gostado.

O olhar de Duncan caiu de novo sobre o Noah.

—Um novo empregado? —perguntou ao mesmo tempo em que lhe estendia a mão como se não fosse um maníaco perigoso.

— Me chamo Duncan Sykes. Sou o proprietário da loja de eletrônica da cidade.

Um terrível pressentimento atravessou a Sabella ao ver o sorriso de Noah, o olhar frio de seus olhos e o brilho dos dentes que advertia que não era tão amistoso como fingia ser.

—Noah Blake. — se apresentou.

—Encantado em conhecer você. —Duncan inclinou a cabeça e logo se dirigiu a Sabella.

— Vamos chegar tarde se não se arrumar logo. Quer que feche a oficina?

Na realidade não.

—Já está tudo preparado, só fica passar o ferrolho à porta quando sairmos. — Sabella se virou para Noah com os olhos entrecerrados e observou que ele seguia sem afastar o olhar de Duncan.

— Noah, tenho que fechar.

Um brilho de temor percorreu sua espinha quando ele se voltou e centrou a atenção nela. Tinha os olhos duros e frios, os lábios apertados e sua expressão era muito calma. Muito tranqüila.

—Que tenha uma boa noite. — disse em voz baixa dirigindo-se exclusivamente a ela, antes de abandonar o escritório e dirigir-se para a Harley negra que estava estacionada junto à oficina.

Sabella apenas se deu conta de que esteve contendo o fôlego até que o soltou silenciosamente e se voltou para o Duncan.

—Terá que tomar uma taça de vinho e esperar que me arrume. Hoje não tive tempo para nada.

—Por você vale a pena esperar. — afirmou Duncan enquanto saíam do escritório e ela fechava as portas.

— Além disso, já saímos muitas vezes, Belle, sei a que horas tenho que fazer as reservas para jantar.

Ela fez uma careta. Sempre chegava tarde. Jamais tinha feito ninguém esperar até a morte de seu marido. Parecia que a partir de então passasse a vida chegando tarde a todos os lugares. Como se de algum jeito tentasse retroceder no tempo em vez de seguir adiante.

Ao deslizar-se no assento passageiro do carro de Duncan para voltar para casa, não pôde evitar notar que Noah ainda estava ali. Estava agachado ao lado da Harley, manipulando alguma peça sem importância, sem dúvida para bisbilhotar, porque seu olhar estava cravado neles.

—Suponho que foi Rory quem o contratou. — comentou Duncan ao transpor a Harley.

—Supõe bem. — respondeu Sabella deixando escapar um suspiro.

Rory estava acostumado a contratar vagabundos, que, por sorte, não duravam muito no trabalho. Entretanto, desta vez, ela tinha o pressentimento de que ia ter problemas com Noah.

Não falaram nada mais até que se detiveram diante da casa.

—Vamos. — Belle saiu rapidamente do carro com as chaves da casa na mão.

— Já sabe onde está o vinho, entra e se sirva de uma taça, estarei pronta em meia hora.

Abriu a porta e se dirigiu a toda pressa para as escadas.

—Vou cronometrar. — disse ele, rindo. — Vinte dólares que demora uma hora.

—Feito. —Belle o brindou um rápido sorriso e agachou a cabeça; estava certa de que o sorriso não lhe chegava os olhos.

Não podia evitar a sensação de que, de alguma forma, estava sendo infiel a um marido morto fazia mais de seis anos. Tinha estado lutando contra essa sensação há um ano, desde o primeiro encontro com Duncan; a primeira vez que prometeu a si mesma que ia conseguir superar a morte de Nathan.

Cada vez que Duncan e ela saíam da casa que havia compartilhado com seu marido, sentia-se intranqüila e com o estômago revolto. Como se estivesse enganando o homem que amava. O homem que a tinha amado.

Era uma loucura. Tinha que recordar-se todos os dias que Nathan teria querido que fosse feliz, que não estava olhando-a fixamente do céu, doído e zangado porque ela havia dado as costas a tudo o que tinham compartilhado.

E não tinha dado as costas, disse a si mesma enquanto entrava na ducha. Ele tinha sido um guerreiro que não tinha retornado para casa. Agora estava morto. Foi-se e ela ainda estava viva, certo?

 

Noah deveria estar assistindo a uma reunião informativa do grupo de operações. Mas em vez disso, encontrava-se sob as árvores que bordeavam a propriedade que tinha compartilhado com Sabella, com binóculos militares nas mãos e os olhos fixos na casa.

Não importava quanto se queixasse quando estavam casados, Sabella ainda seguia deixando as persianas e as cortinas abertas durante a noite. E agora também estavam abertas.

Duncan Sykes, maldito fosse, estava na cozinha abrindo uma garrafa de vinho. Noah apertou os lábios. Esse seguia sendo seu vinho, sem importar que oficialmente estivesse morto. Passou muitos anos colecionando vinhos, mas poucas vezes tinha aberto uma garrafa; gostava de observar como ia crescendo sua pequena coleção na adega do porão.

E agora, aquele filho da puta estava abrindo uma de suas melhores garrafas e servindo uma taça. Por Deus, mataria a esse bastardo se o apanhava em sua cama com sua esposa.

Respirou fundo. Não era assunto dele, recordou a si mesmo.

Demônios, claro que era. Sentiu como a raiva nublava sua mente e como o controle que tinha conseguido manter a raia durante os últimos anos começava a rachar. Se visse como Duncan a tocava, não seria capaz de controlar a ira.

Noah era consciente da presença de Rory atrás dele. Tinha-o acompanhado, seguindo a ordem que tinha dado depois de havê-lo chamado a oficina. Seu irmão não parecia feliz. E isso era condenadamente ruim, porque Noah também estava muito longe de sentir-se «feliz».

—Desde quando dura toda esta merda? —cuspiu sem olhar a Rory, com os olhos ainda fixos na casa.

—Que merda? —perguntou-lhe seu irmão lançando um olhar cauteloso a ele.

Noah indicou a casa com a mão.

—Com Sykes.

—Mais ou menos um ano. —Rory se sentou aos pés de uma árvore e bocejou com despreocupação. Noah baixou o olhar para ele. — Por que não o deteve?

Rory o olhou com surpresa antes de esfregar o rosto com ar reflexivo.

—Demônios, pois certamente, porque é o único dos homens com os que Belle saiu que me cai bem. Noah apertou os dentes. — Com quantos saiu?

Outros homens. Não só um. Havia outros homens que tinham saído com sua esposa. Que tinham visto seu sorriso. Que tinham sentido desejo por ela. Não queria imaginar a nenhum deles tocando-a, porque se o fizesse os encontraria e os mataria.

—Alguns. —Rory encolheu os ombros como se aquilo não tivesse maior importância.

— Jamais duram muito. Alguns encontros aqui e lá. Logo, Belle acaba sentindo-se culpada, volta-se a pôr a aliança um tempo e se encerra em casa, quando não está trabalhando, antes de obrigar-se a voltar a tentar. Entretanto, há mais de um ano não usa a aliança.

Rory agarrou uma fibra de grama enquanto Noah voltava a observar a casa.

Sykes ainda estava na cozinha, rebuscando nas gavetas. O bastardo agarrou uma taça de um gancho e se encaminhou à janela para observar a oficina colina abaixo. Havia um olhar de orgulho no rosto do Sykes, como se estivesse imaginando de que maneira ia mudar a vida de Belle.

Bom, Noah o conhecia muito bem. Duncan ocultava sua vontade de ferro à maioria das pessoas, e não era nenhum estúpido. Se estava a um ano saindo com Belle, a coisa era sério. Tinha intenção de possuir tudo o que Noah havia possuído uma vez, quando era Nathan Malone.

—Você a abandonou. — o recordou Rory com um suspiro de cólera.

— Não teria que se importar se ela houvesse se deitado com a metade da cidade.

Noah não disse nada porque seu irmão tinha razão. Tinha-a deixado. Tinha aceitado aquela maldita missão sabendo que podia morrer. Assim tinha sido e não tinha retornado.

—O que ocorreu com Grant? —perguntou a Rory. — Tentou tomar a oficina e a casa em vez de cuidar dela tal e como me prometeu que faria se me acontecesse algo. Por que fez isso?

—Suponho que pela mesma razão que lhe impulsionou a ficar com as propriedades do vovô. — Rory soltou um suspiro.

— Porque é assim. O vovô ainda o desculpa. Pensa que Grant fez o que acreditava mais conveniente para protegê-la. Diz que há matizes.

Os matizes cinza dos quais lhe tinha falado fazia quase uma vida. Segundo ele nada era o que parecia. Mas no caso de Grant, Noah não podia ver outra coisa que não fosse puro egoísmo.

—E Mike Conrad?

Rory suspirou.

—É um porco. Está furioso porque Sabella não quer deitar-se com ele nem lhe vender a oficina. Parece que anseia ambas as coisas. Esteve atrás dela durante mais de um ano até que Sabella teve que ameaçá-lo de dar queixa por perseguição. Logo começou a ficar mais violento. Ao que parece desejava mais a oficina que a ela. Tentou pôr a cidade contra ela, mas não se saiu bem. Você tinha muitos amigos. Assim, Belle se convenceu de que não valia a pena passar a vida chorando por um homem que nunca retornaria para casa, entregou-se por completo ao negócio e tratou de levá-lo adiante. Agora as coisas vão melhores.

—Deixe de me provocar, Rory, ou acabará sem poder andar durante um tempo.

Seu irmão bufou e, depois de guardar silêncio um bom tempo, acrescentou:

—O vovô visitou sua tumba hoje. Geralmente está acostumado a aproximar-se da tumba da vovó e falar com ela. Entretanto, hoje se aproximou de sua lápide e ficou ali de pé, olhando-a.

Noah não queria ouvir aquilo. Reprimiu a fúria e a dor que habitava no mais profundo de sua alma e continuou observando como Duncan passeava pela cozinha.

—Sempre notei algo estranho no vovô, mas não tinha me dado conta do que era até agora.

—Que nunca chorou minha perda. — terminou Noah por ele.

Demônios, Jordan e ele deveriam ter imaginado que não poderiam enganar ao ancião. O vovô sempre parecia saber tudo o que ocorria.

—Exato. — assentiu Rory.

— Nenhuma só vez. Não como Sabella. Houve um tempo em que estava acostumado a dormir em sua casa. Ela despertava a noite gritando seu nome, jurando que tinha sangue nas mãos, que estava ferido. Rogando-me que o salvasse. — ficou em pé de um salto.

— A merda contudo, vou para casa.

—Sabella tinha razão.

Sentiu que Rory se detinha.

—No que? —perguntou com cautela seu irmão.

—Em tudo. Eu estava ferido, Rory. Ao bordo da morte. Quando me resgataram apenas restava um hálito de vida.

Observou como Sabella entrava na cozinha e sorria a Duncan. Este terminou a taça de vinho, beijou-a na bochecha e se dirigiram à porta. O porco apoiava a mão no oco das costas de Sabella para guiá-la. Maldição, Noah ia ter que matá-lo.

Afastou os binóculos do rosto e cravou os olhos na casa durante vários minutos antes de voltar-se para o Rory.

—O vovô deveria ter chorado por mim. — resmungou em voz baixa.

— Porque o homem que eu era morreu em uma cela oculta em uma maldita selva. O marido de Sabella, seu irmão. O filho e o neto. Tudo isso morreu em meu interior, Rory. Não sou o homem que era e jamais voltarei a sê-lo.

Rory o olhou durante um bom momento.

—Isso não é certo. — disse ele finalmente.

— Nem tudo morreu, Noah, me acredite. Toda essa estúpida testosterona e esse arrogante orgulho possessivo que sempre ocultou de Sabella ainda seguem aí, à espera. —Rory lhe dirigiu um olhar desdenhoso.

— A parte que sobreviveu é, simplesmente, a melhor.

Noah curvou os lábios. Possivelmente, de algum jeito, seu irmão tivesse razão. Sempre tinha ocultado partes de si mesmo daqueles a quem amava, mas Rory era um Malone, e conhecia aquela parte dele que Nathan sempre tinha contido. Até agora. Aquela escuridão de seu coração, aquela arrogante necessidade de dominar e aquela vontade de ferro, já não podiam ser dissimuladas. Nathan tinha sido civilizado; Noah, não.

—Segue-os. — ordenou a Rory.

—O que? —exclamou seu irmão com os olhos brilhando de indignação.

— O que quer, que Sabella me mate ou algo assim?

—Prefere que o mate eu? —Noah se abateu sobre ele, lhe falando em um tom rouco e exigente.

— Quem acredita que pode fazer mais mal a você?

O certo era que nunca lhe faria mal. Demônios, Rory era seu irmão mais novo. Quase não podia conter o sorriso ao ver o homem no qual se transformou. Sentia afeto por ele. Apego. Apesar de Noah ter passado anos sem sentir nenhum tipo de emoção, agora se sentia embargado por elas. Emoções que o deixavam inverificado, que convertiam em pó os anos que tinha deixado para trás.

Rory negou com a cabeça, apoiou as mãos nos quadris e levantou o olhar para o céu.

—Rezo. Vou a missa. Respeito aos mais velhos e ajudo às velhinhas a cruzar a rua. Que demônios fiz para merecer isto?

Noah aplaudiu o ombro do jovem.

—Respira Rory. Recorda que quando os Malone respiram, o mundo treme. Sempre foi assim. É nosso destino.

—Esquece. — Rory fez uma careta.

— Belle me mataria.

Mas se eu o mato, grunhiu Noah doerá mais. Rory lhe lançou um olhar turvo.

—Não sabe o que diz. Está seguro de que conhece bem a Belle? —Seus lábios se curvaram em um sorriso travesso. Noah recordava esse sorriso. Um sorriso que ele havia possuído uma vez e que não pressagiava nada bom.

— Está a ponto de ter uma grande surpresa.

 

Jordan observou como Noah entrava na sala de reuniões. Chegava com quase meia hora de atraso e a expressão de seu olhar fez com que Jordan entrecerrasse os olhos.

Selvagem. Perigosa. Como um felino da selva movendo-se sigilosamente, consciente de sua natureza predadora. Já não era um tubarão de sangue-frio. Inclusive os olhos haviam perdido sua frieza, embora jamais voltassem a ter o azul dos Malone; a cirurgia a laser tinha transformado aquela azul safira — a cor dos olhos de Jordan e de Rory — em um azul brumoso.

Esses olhos tinham sido duros e frios durante cinco anos. Até essa noite. Essa noite, quando Noah se deteve diante dele e o olhou, agora eram selvagens e ferozes.

—Temos que conversar. —Havia um matiz de violência em sua voz, como o grunhido de um animal, que fez com que Jordan arqueasse uma sobrancelha.

—Ey, Wildman. — o saudou Tehya chamando Noah por seu codinome e dando uma palmada em seu traseiro.

Jordan esperava aquele gesto por parte de uma mulher, mas não esperava a reação do Noah. Tehya sempre cumprimentava Noah batendo em seu traseiro com a intenção de irritar Jordan, e Noah sempre a ignorava. Entretanto, desta vez agarrou o pulso dele com cuidado e o olhou fixamente.

—Não volte a fazer isso. —ordenou com suavidade; suavidade suficiente para que Jordan ficasse lentamente em pé.

O sorriso descarado da Tehya bastava para conseguir com que um homem rilhasse os dentes.

—OH, quanta testosterona. — Ela fingiu um calafrio.

— Certo, Noah, não me diga que foi reclamado por uma mulher ou algo assim.

Algo assim, pensou Jordan. Ele voltou a sentar-se enquanto a desavergonhada mulher deixava um monte de dossiês sobre a mesa, lhes dando as costas.

—Os outros chegarão em alguns minutos. Ian e Kira também se atrasaram.

Quando Tehya saiu da sala de reuniões, Noah se virou para fechar a porta com chave enquanto seu tio se reclinava na cadeira, apoiava os cotovelos nos braços da cadeira e juntava os dedos diante dele.

—Aconteceu alguma coisa? — perguntou Jordan.

Noah se virou lentamente e cravou um furioso olhar nele.

—Sabia que Sabella estava saindo com alguém. —acusou com violência.

Jordan conteve um sorriso e assentiu com a cabeça.

—Estava no relatório que dou a você todos os meses. Já sabe, aquele que atira no cesto de papéis depois de me perguntar se está viva e a salvo.

Noah se aproximou dele sentindo que a fúria palpitava em seu interior. Parecia estar rodeado por uma aura de perigo.

—Sabella está saindo com alguém. — rugiu mostrando os dentes furiosamente.

Jordan se endireitou e o olhou nos olhos sem titubear.

—Acaso é seu assunto? Nathan Malone está morto, Wildman. Recorda?

Noah estremeceu. Voltou-se para trás como se o tivessem esbofeteado e imediatamente seu rosto voltou a adquirir uma expressão inescrutável.

—Abra a porta. —ordenou Jordan com serenidade.

— Temos uma reunião e uma missão a cumprir. — Centrou a atenção por um momento nos documentos que Tehya havia levado e logo levantou a cabeça para enfrentar aquele furioso olhar azul.

— Seu marido a abandonou, Noah. Acaso pensava que guardaria luto para sempre?

Possivelmente uma parte dele tinha acreditado que sim.

Noah tomou assento lentamente, contendo as emoções e a fúria. Estava há anos tentando deixar para trás o passado, mas de algum jeito, em todos esses anos, nunca tinha imaginado que Sabella deixaria que outro homem a tocasse. Provavelmente porque ele nunca tinha sido capaz de tocar outra mulher.

Entregou-se a ela. De coração, corpo e alma. Tudo o que ele era, tudo o que seria, pertencia aquela mulher.

O homem que tinha ressurgido das cinzas do inferno não se parecia com o Nathan Malone absolutamente. Tinha-o sabido desde o dia em que conseguiu esclarecer a mente, meses depois do resgate. Já não era a pessoa com a qual Sabella se casou. Mas o homem em que se transformou reclamava uma parte da vida de Nathan. Noah Blake reclamava à esposa de Nathan Malone.

Enquanto os outros foram entrando na sala, Noah olhou fixamente a Jordan Malone. Obrigou-se a esquecer que ele era seu tio. Que Rory era seu irmão, que o vovô tinha sido o pilar de sua vida. Tinha esquecido a todos, exceto, a sua esposa.

—Muito bem, isto é o que temos. —Assim que Tehya repartiu os dossiês, apagaram-se as luzes e Ian e Kira Richards ficaram de pé ao lado do grande monitor de plasma que se pendurava na parede em frente à mesa de reuniões.

Cinco homens, um americano, um russo, um australiano, um israelense e um inglês, formavam a unidade de Operações Especiais, um comando marcado pelo Renascimento e a morte. Seu símbolo era um sol negro e uma espada cor escarlate. Todos haviam «morrido». Haviam entregado suas vidas à unidade em troca do poder de vingar-se.

Jordan e Ian comandavam o grupo. A unidade de Durango, — Reno, Kell e Macey— eram seu apoio. Todos sabiam quem era Noah, o que tinha sido, o que tinha abandonado.

—A tropa Black Colar. —Depois daquela frase, apareceu a primeira foto no monitor.

—Foram eles quem mataram Angelina Rodríguez, a esposa de um senador de Telhas de origem mexicano. Apareceu com sua marca no quadril. — Na imagem podiam ver-se as siglas «MBC» marcadas no estreito quadril.

— Emilio Rodríguez se demitiu de seu posto no Senado quando o corpo de sua esposa foi encontrado com uma nota que dizia que suas filhas gêmeas seriam as seguintes. O FBI concluiu que a morte tinha sido acidental, posto que encontraram à mulher em seu carro, no fundo de um abismo no qual tinha ido fazer turismo, nos subúrbios de Odessa.

O monitor mostrou mais imagens de Angelina Rodríguez. Tinha sido uma mulher formosa de longo cabelo negro e olhos castanhos escuros. Mas seu alegre sorriso se transformou em uma careta mortal.

—Além de seu assassinato, temos uma dúzia de caçadas e mortes. — disse Jordan.

De repente apareceram outras fotos; algumas de imigrantes ilegais cujos corpos tinham sido encontrados ao longo de Telhas e Novo México. Noah sabia que eram vítimas de caçadas humanas. A marca da tropa Black Colar estava gravada nas nádegas e costas.

—Três agentes do FBI morreram quando investigavam uma informação que situava a base da tropa em Alpine. Dois homens e uma mulher. — seguiu Jordan.

— Seus corpos foram mutilados de tal maneira que foi impossível reconhecê-los. Tinham-lhes arrancado os dentes e os dedos e tiveram que identificá-los mediante uma análise de DNA.

As imagens eram terríveis. Os rostos tinham sido queimados e mutilados até que os traços ficassem irreconhecíveis.

—A tropa Black Colar é dirigida por um grupo de supremacia branca. De fato, poderia ser considerada como uma organização terrorista. — interveio Ian, lhes adiantando mais informação.

— Tudo o que sabemos está nos dossiês. Black Colar tem sua sede em Telhas, mas também se move pelos estados limítrofes. Rodríguez foi a única figura pública contra a qual atentaram, embora também ocorressem alguns incidentes em fábricas e empresas que empregam tanto imigrantes legais como ilegais. Os donos foram seqüestrados e torturados, e seus familiares sofreram diversos acidentes suspeitos, que às vezes terminaram em mortes.

—Ainda não se identificou a nenhum de seus membros? —perguntou Travis Caine, um antigo membro do serviço segredo britânico. Seus olhos cinza azulado se entrecerraram quando olharam para Ian e logo para Jordan.

— Não parece um pouco estranho?

—Todas as linhas de investigação que conduziam a eles acabaram em um caso fechado ou com os agentes mortos. Esta organização tem ao menos a um de seus informantes bem situado no governo, possivelmente a mais.

—O apoio público às leis contra a imigração é cada vez maior. — indicou Nikolai Steele, antigo membro das forças especiais russas.

—Não temos nada, salvo isto. — resmungou Jordan assinalando a imagem dos agentes mortos.

— Devem detê-los. Nosso trabalho consistirá em identificar e interrogar o comandante do grupo se localizado em Alpine. Todas as pistas nos conduziram até aqui.

—Nosso grupo conta entre seus membros com um israelense, um imigrante irlandês e um russo. — disse Noah.

— Em teoria, somos um grupo interessante.

—Este é um de seus objetivos. — disse Jordan ao mesmo tempo em que aparecia na tela uma imagem por satélite da oficina que possuíam Sabella e Rory.

Noah olhou a foto em silêncio, consciente de que todas as olhadas se centravam nele.

—Manteremos Sabella à margem de tudo isto. — vaiou.

—Não é possível, Noah. —Jordan suspirou.

— Seu nome está na lista do Black Colar, sabe. A própria oficina é um objetivo para eles. foi um negócio muito rentável durante os últimos meses e poderiam utilizá-lo como cobertura. No último relatório de um dos agentes mortos se assegurava que «Serviços e Reparações Malone», propriedade de Rory e Sabella Malone, era um objetivo. No relatório se fazia constar que os planos eram ou casar Sabella Malone com uma das figuras proeminentes da organização ou matá-los, tanto a ela como a Rory. Não podemos ignorar esse relatório, como não podemos manter a Sabella Malone à margem de tudo isto.

—Por que esse interesse em um posto de gasolina? — Foi o ex-membro do Mossad israelense, Micah Sloane, quem fez a pergunta.

— Não é muito valiosa. Por que não abrir uma própria e competir com a dos Malone?

A dos Malone é uma instituição. respondeu Noah. Foi fundada por Nathan Malone, e a maior parte dos habitantes da cidade o apreciava e respeitava. Estaria acima de qualquer suspeita que fosse usada por um grupo armado ou para lavagem de dinheiro.

—Bingo. — Ian lhe dirigiu um olhar frio.

— Vários dos homens suspeitos de pertencerem a BC tentaram estabelecer relações com Sabella. Mas o único que parece ter conseguido algo é este homem.

Na tela apareceu de repente uma foto de Duncan Sykes.

—Duncan Sykes. Proprietário de um próspero negócio de eletrônica na cidade. Jamais contrata imigrantes legais ou ilegais. Sabe-se que foi amigo íntimo de Nathan Malone até sua morte. Sykes, como Mike Conrad, outro amigo de Malone, foi mencionado no último relatório. Deveria acrescentar que o dito relatório se esfumaçou das mesas de Washington DC. Alguns dias depois do desaparecimento dos agentes.

—Estamos falando de alguém com um cargo de alto nível. — indicou John Vincent, cujo codinome era Rastreador e que tinha formado parte das forças especiais australianas.

—Muito alto. — concordou Jordan.

— Alpine é a base central, assim devemos neutralizá-la, deter os cabeças e retornar a Washington. Essa é nossa missão.

—Nik e eu cobriremos a oficina. — apontou Noah, que ainda seguia olhando a foto aérea da oficina.

— A informação inicial é que dois dos mecânicos pertencem à Tropa Black Colar. Se os Malone forem um de seus objetivos e Sykes for um dos dirigentes, será interessante ver como reage ante nossa presença.

Sykes ia desaparecer. Noah se asseguraria de que Sabella não continuasse com aquela amizade.

—Na primeira fase, só solicitaremos informação. —ordenou Jordan.

— Voltaremos a nos reunir dentro de uma semana, veremos o que conseguimos e decidiremos como atuar. Travis começará a dar aulas na universidade, como professor de história inglesa. John, você e Micah o cobrirão. Só têm que passear por aí. Vão a bares, aos clubes da universidade onde costumam recrutar pessoas, e não percam Travis de vista.

Micah e John assentiram com a cabeça. Os dois eram excelentes sombras. Todos eles, de fato, mas Micah era o melhor.

—A unidade de Durango nos respaldará se nos encontrarmos em apuros. Além disso, estamos sozinhos. —recordou Ian.

— Temos só seis semanas para completar a missão, porque nesse tempo ocorrerá isto.

A tela voltou a mudar e mostrou uma carta. Suas palavras eram simples e ia direta ao ponto. Estava dirigida ao proprietário de uma empresa de Dallas que contratava imigrantes legais de todas as partes do mundo. A mensagem era clara. Tinha seis semanas para assegurar-se de que só houvesse no quadro empregados que tivessem nascido nos Estados Unidos, ou teria que aguentar às conseqüências.

—Quem é o proprietário dessa empresa? —perguntou Micah.

—É um dos maiores patrocinadores de Mãos Amigas, uma organização que promove a harmonia e as boas relações internacionais. — Jordan sorriu ironicamente.

— Meninos, saúdem um de seus chefes.

 

Três dias depois, Noah entrou na oficina e observou como Sabella sair debaixo de um dos carros que ele tinha reparado. Estava inspecionando o trabalho realizado como se ele não tivesse passado quase toda sua vida entre motores.

Como proprietária da oficina, tinha direito a revisar de cima abaixo cada veículo que passava pelas mãos de seu novo empregado.

Noah fez uma careta enquanto guardava uma chave inglesa no bolso traseiro, voltou a olhá-la por cima do ombro e abriu a porta do escritório.

O que viu ali fez com que parasse de súbito.

—Desculpe. — resmungou antes de dar a volta para partir.

—Ah, você é Noah Blake. — disse vovô Malone levantando do assento da mesa onde tinha encurralado Rory.

— Não se vá tão depressa, filho. Ouvi que temos algo em comum.

Noah fez uma careta e apertou os dentes; logo se virou e fechou a porta atrás dele antes de enfrentar ao homem que tinha sido a base de sua existência.

Seu avô. Tinha mais rugas e não parecia tão alto, mas seu rosto moreno ainda conseguia impressioná-lo e seus olhos ainda conservavam aquele brilhante tom azul safira que Noah não possuía mais.

—Temos algo em comum? —perguntou-lhe, olhando de esguelha a expressão assombrada do Rory.

—Somos irlandeses, filho. —O sorriso do vovô deixou Noah paralisado. Aquele velho bastardo parecia saber quem era ele na realidade.

— Os dois somos irlandeses.

Não podia negá-lo. Preparou-se para mentir ao ancião. Sabia que cedo ou tarde se encontraria com ele e que teria que confrontar esse momento. Mas agora que esse momento tinha chegado, simplesmente não podia fazê-lo. Não podia mentir a ele.

—Ao que parece. — replicou Noah com cautela.

O vovô voltou a sentar-se e mudou de postura no assento. Seu longo corpo estava mais fraco que a última vez em que Noah o viu, que tinha sabido algo dele. Agora tinha o cabelo completamente cinza e não ficava nenhum indício do negro brilhante que tinha antigamente.

—Rory, vou sair por um momento. — disse Noah tentando escapulir.

—Foge? — O sorriso do vovô desapareceu. — Os irlandeses não fogem.

Noah arqueou as sobrancelhas.

—Há alguma razão pela qual deva fugir?

O vovô lhe dirigiu um olhar tão seguro e sagaz que Noah voltou a olhar para Rory. Mataria aquele pequeno verme se houvesse dito algo a ele.

Rory negou sutilmente com a cabeça e fez uma careta. Tal e como o tinha advertido, ocultar tudo aquilo do vovô era inútil.

—Tinha vontade de conhecê-lo. — O ancião ficou em pé e Rory também se levantou de seu assento.

— Queria ver com meus próprios olhos o mecânico que tinha alterado a minha menina. Ninguém conseguiu desgostá-la tanto desde que seu marido morreu.

—Sim, já tinha ouvido que ele havia morrido. — indicou Noah.

Vovô assentiu lentamente.

—Bom, isso é o que nos disseram, — resmungou— mas eu disse a meu filho que não podia ser certo. Meu neto era um SEAL, sabe? Foi durante muitos anos. — O vovô negou com a cabeça e cravou o olhar em Noah.

Eu não acreditei nisso. Entretanto... acabei de mudar de opinião.

Noah, Nathan. Marido. Neto. Irmão. Sentiu todas aquelas partes de si mesmo ante aquele ancião que sabia a verdade sem que ninguém a houvesse dito. Tinha-o decepcionado.

—Meu neto era um herói, sabe? — disse-lhe vovô enquanto se encaminhava à porta.

—Isso é o que me disse Rory. — replicou ele ao fim com voz baixa

Seu avô, venerável e íntimo, deteve-se outra vez e ficou o olhando durante alguns tensos segundos.

—Esse menino sempre fazia o que tinha que fazer. O que era correto. O mais responsável. —Piscou para conter as lágrimas e Noah sentiu uma quebra de onda de dor por ele.

Morreu, continuou o vovô antes que pudesse lhe dizer que sabia por que deixou de lutar.

Sem mais, saiu do escritório e Rory se apressou a segui-lo. Noah tinha captado a mensagem, as palavras intencionadas, o que havia por trás delas.

Maldição! Não necessitava daquilo.

—Viu o vovô? O que ele fez a ele? —Sabella se aproximou dele, dirigiu-lhe um olhar irado e logo seguiu ao vovô e a Rory ao estacionamento.

Demônios tampouco necessitava disso.

—Vovô! — chamou-o Sabella. O ancião se colocou atrás do volante de seu Ranger e observou como ela se aproximava dele.

— Está tudo bem?

O ancião lhe brindou um de seus sorrisos cheios de carinho, de afeto. Sabella podia sentir sua calidez envolvendo-a enquanto se aproximava do assento do motorista e lhe dava um abraço rápido.

—Nem sequer passou para se despedir.

O vovô sempre o fazia antes de ir.

—Só vim conhecer seu novo homem. —respondeu o ancião.

— Os irlandeses devemnos se manter unidos, sabe?

—Não é meu novo homem. — protestou ela.

— Rory o contratou. — Fulminou com o olhar seu cunhado, porque este se negava a despedi-lo.

Três dias antes o havia enfrentado. Tinham discutido duramente, e agora falava, inclusive, em contratar outro mecânico. Um loiro enorme que estava certa era amigo do arrogante bastardo que pretendia tomar o controle de sua oficina.

Mas Rory seguia mantendo-se firme, negando-se a voltar atrás. Era certo que nos três últimos dias tinham tido mais clientes, mas ela suspeitava que era apenas porque todos sentiam curiosidade pelo novo mecânico.

O vovô se limitou a olhá-la daquela maneira paciente e sábia, e logo lhe aplaudiu o ombro com sua nodosa mão.

—Qualquer desses jovens irlandeses poderiam esquentar seu sangue a noite. — disse com uma piscada travessa.

—Já tive um feroz jovem irlandês. — afirmou.

— Ninguém poderá substituí-lo, vovô.

Nathan tinha sido sua alma e seguia fazendo parte de seu coração. Não podia deixar de comparar os outros homens com ele. Por desgraça, esquecia-se de fazê-lo quando Noah rondava por ali.

—Faça caso ao coração, não à cabeça, filha. — aconselhou o vovô com suavidade. Sempre o havia dito.

— E vêem ver-me logo, sinto falta de você.

Ela deu um passo para trás quando ele fechou a porta e permaneceu ali alguns segundos observando como se afastava no Ranger.

—Rory, o que é que traz entre mãos? —perguntou a seu cunhado uma vez que o vovô se incorporou ao tráfico.

A expressão do Rory era de total inocência e a recordava muito a de Nathan quando este lhe tinha oculto algo. A mesma expressão, o mesmo corpo largo e forte.

—Vê muitos fantasmas, Belle. — suspirou.

—Não vai contratar a esse viking. — disse ela.

Rory apertou os dentes com força e seus olhos azuis lançaram faíscas.

—Quer que vá embora e largue tudo, Belle? —provocou-a. Esse indício de cólera em sua voz fez com que Belle entrecerrasse os olhos.

—Não, não quero que vá embora. — respondeu lhe devolvendo o cenho. — Só quero que me consulte antes de fazer algo.

—Acaso, você me consultou alguma vez? — Rory pôs os olhos em branco.

— Passaram três anos, Belle. Decidiu vir e assumir o controle três anos depois de que Nathan morreu, e a deixei, porque não sabia de que demônios precisava este lugar. Mas já aprendi e chegou o momento de que faça a minha parte. É evidente que os mecânicos que temos contratados não são eficientes.

Nisso tinha razão, mas odiava que o assinalasse.

—Eu não gosto de Noah Blake. Despeça-o e contrate o viking. Logo discutiremos o resto.

—Vamos, Belle. —Sua voz estava agora era cheia de frustração.

— Você não gosta de Noah porque ele sabe o que terá que fazer e porque não se importa em dizer isso a ninguém, o não aconteceu desde Nathan e você não suporta. — a acusou.

Sabella estremeceu, aflita uma vez mais pela dolorosa realidade da morte de Nathan. Ainda a sentia como uma pressão afiada e ardente dentro do peito.

—Nathan jamais discutia comigo. — espetou.

—Não, não o fazia. —disse bruscamente.

— Porque você jamais se mostrou na realidade nem o que esta maldita oficina significava para você. Bom, pois agora alguém sabe. Briga com ele em vez de fazê-lo comigo.

Sem mais, afastou-se com as mãos metidas nos bolsos do macacão enquanto Noah saía pelas portas da oficina.

Aqueles olhos azuis brumosos estavam fixos nela. Forte, voraz e poderoso, seu corpo captava o olhar de Sabella cada vez que estava perto, gostasse ela ou não. E, maldita fosse, não gostava. Não queria estar perto de outro homem perigoso. Mas tampouco queria um homem que sempre estivesse de acordo com ela. Pela primeira vez nos três anos desde que tirou a aliança sua mente admitiu o que seu coração já sabia. A segurança não era para ela. Duncan não era o que procurava. Entretanto, por desgraça, Noah Blake sim. Queria aquela tensão sexual, aquele palpitar do coração, aquela quebra de onda de excitação. Algo que ela não tinha sentido com nenhum outro homem, salvo com seu marido. Algo que fazia mal a ela, a encolerizava, e aumentava sua animosidade contra aquele homem.

Odiava a Noah Blake do mais profundo de seu coração porque a estava forçando a sentir coisas que só tinha sentido por seu marido.

E para a Sabella, essa traição às lembranças de Nathan era pior que qualquer outra coisa que pudesse ter feito.

Não podia tirá-lo da cabeça. Enquanto o dia seguia seu curso, lutou com o computador de um veículo que se negava a cooperar, e aquele maldito homem não parecia capaz de fazer outra coisa que atrair seu olhar.

Em um determinado momento, ela elevou a cabeça do interior do capô em que estava trabalhando para observar, fascinada, como ele examinava as vísceras de outro veículo ao mesmo tempo em que fazia virar lentamente uma chave inglesa entre seus dedos.

O cenho franzido daquele rosto lhe resultou estranhamente familiar, como à maneira com que ele tinha de cravar o olhar no motor enquanto movia a ferramenta entre os dedos, e considerava o que quer que estivesse considerando.

Tudo nele a excitava. Com calça cinza de trabalho e uma camiseta de manga curta, mostrava uma imagem de um homem rude e forte a qual ela não podia evitar reagir.

—Ouça, Noah. —chamou Rory, interrompendo os pensamentos de Sabella.

— Necessito que venha aqui um momento.

Noah se virou e olhou com o cenho franzido para o escritório.

—Já vou. — respondeu antes de voltar a concentrar-se no motor.

—Agora! —A voz do Rory soou brusca.

A expressão de Noah se tornou calma e perigosa, mas meteu a chave inglesa no bolso traseiro e se dirigiu ao escritório. Parecia um predador em busca de uma presa.

A porta se fechou silenciosamente atrás dele enquanto Rory fechava as persianas das janelas que davam à oficina. Sabella entrecerrou os olhos, tirou um trapo sujo do bolso e limpou as mãos antes de dirigir-se ao escritório. Agarrou o trinco da porta e tentou abri-la, mas se encontrava fechada com chave.

Encerraram-se em seu escritório? Isso era o cúmulo. Podia sentir como a ira lhe avermelhava o rosto quando tirou bruscamente as chaves do bolso. Estava a ponto de colocar uma na fechadura quando a porta se abriu de repente.

—Coisas de homens. —O amplo sorriso de Rory era forçado, e em seus olhos brilhava mais a preocupação que a cólera.

—Ah, sim, coisas de homens. — Sorriu tensamente enquanto entrava no escritório para ver Noah em pé ante a mesa, com os braços cruzados sobre o peito e um duro olhar cravado em Rory.

— O que tem fez?

—Sabella poderia deixar, por favor, que eu me encarregue disto? — pediu-lhe seu cunhado com impaciência. — De verdade, prometo-lhe isso. Posso me ocupar de algumas coisas sozinho.

Rory parecia cansado. Certo, pode ser que ela estivesse sendo um pouco territorial com a oficina, possivelmente muito. Mas durante anos, tinha sido a única coisa que a tinha salvado da loucura. Rory sabia. Por que se comportava, agora, dessa maneira?

—Só senti curiosidade. — Colocou as mãos nos bolsos e dirigiu a Noah o que esperava fosse um doce sorriso.

— Só me diga o que fez e irei. Vai despedi-lo? Posso olhar como o faz?

—Ótimo. —Rory não parecia feliz, e isso lhe resultou bastante estranho. Olhou-a com cara de desgosto, quando ele jamais se zangava com ela. E seu sorriso era forçado. Mostrava todos os dentes. Quando se tornou um adulto? Já não era seu irmãozinho.

—Estava olhando seu traseiro! E agora se encarregue você do assunto.

Virou-se e saiu do escritório dando uma portada, deixando-a paralisada antes que se virasse para enfrentar o olhar divertido de Noah.

—Está mentindo. — disse ela.

Ele sorriu amplamente. Estava encantado com a situação. Entretanto, voltava a perguntar-se o que tinha acontecido com a Sabella que tinha conhecido fazia oito anos. Jamais mostrava as unhas e nunca, sob nenhum conceito, metia-se entre dois homens que discutiam.

—Realmente tem um traseiro estupendo. — lhe assegurou, sabendo que ela não engoliu a explicação de Rory.

Sabella entrecerrou os olhos.

—Não me vai dizer que Rory o despediu por isso?

Noah riu entre dentes.

—Foi somente foi uma advertência. — Tinha cometido um deslize. Nathan não estava tão morto como tinha acreditado; ainda tinha alguns costumes muito arraigados como, por exemplo, o de virar essa condenada chave inglesa entre os dedos enquanto olhava sob o capô como se tentasse decifrar algum enigma.

Ela bufou ante sua resposta.

—Ele é muito irritante e conseguirei convencê-lo para que o despeça.

Ele sorriu em resposta enquanto se dirigia à porta. Antes de passar junto à Sabella deteve-se, inclinou a cabeça e lhe murmurou ao ouvido:

—Eu também a surpreendi me olhando o traseiro. Possivelmente deveria dizer a Rory.

Sabella agarrou seu braço quando se movia para abrir a porta, segurando seu olhar com frieza.

—Está pondo minha vida pernas para o ar. — sussurrou. — E eu não gosto disso.

Noah ficou sério. Podia ver um indício de dor, de reconhecimento, nos olhos femininos. Durante três dias haviam rondando um ao outro como dois combatentes, aproximando-se e retirando-se, tentando que fosse o outro quem iniciasse o enfrentamento que ambos sabiam que estava por vir.

—Como estou pondo sua vida de pernas cima, Sabella? — Uma vez, fazia muito tempo, teria sabido. Teria conhecido à mulher que tinha diante de si, e teria jurado que poderia antecipar cada pensamento e cada movimento que ela fizesse. Entretanto, por mais doloroso que fosse, devia admitir que realmente tinha conhecido muito pouco dela.

A esposa de Nathan jamais teria entrado a força no escritório. Demônios, jamais ocorreria a ela, tentar arrumar um carro, nem lhe teria feito baixar a vista. A mulher que tinha pertencido a Nathan tinha oculto partes de si mesma, como Nathan as tinha oculto dela.

Mesmo assim, a mulher que tinha diante de si ia pertencer a Noah.

—Crê que pode me dominar não? —perguntou-lhe brandamente Sabella.— Que pode entrar aqui e tomar tudo o que queira.

Ele entrecerrou os olhos. Tinha pensado, sim. Embora logo se tivesse desenganado dessa idéia.

—Eu só necessito de um trabalho. —Noah forçou um sorriso e observou como a jovem escrutinava seu rosto.

—O que precisa é ter o controle sobre tudo e sobre todos. — afirmou afastando-se dele e dirigindo-se a mesa.

— Terá a todos em fila, acatando suas normas.

Noah se virou e observou como se apoiava contra a mesa.

Usava o cabelo preso em um rabo e tinha o rosto, o pescoço e os jeans manchados de óleo. E era a imagem mais bela que ele tivesse visto. Toda uma mulher, segura de si mesma, possuidora de uma feminilidade quase entristecedora. De repente, uma quebra de onda de luxúria atravessou o controle de Noah e fez com que ele estremecesse de pés a cabeça.

—Não vou negar que a desejo. —disse.

Ela aumentou os olhos.

—Não perguntei isso.

—Estou cansado de me esquivar do tema. — grunhiu ele.

— Estamos jogando um jogo que começa a me irritar, Sabella.

Um sorriso zombador curvou os lábios femininos.

—Não necessito de você, Noah. Se por acaso não se deu conta, tenho uma relação estável. Não necessito de outra.

—Não se deita com ele. — afirmou aproximando-se dela.

A cólera iluminou as profundezas dos olhos cinza.

—Como sabe?

—Porque, agora mesmo, tem os mamilos duros. — espetou ele, baixando a vista aos pequenos topos que se erguiam orgulhosamente contra o tecido.

— Porque está fazendo tudo o que pode para se afastar e se aproximar de mim ao mesmo tempo. Porque sente a química que há entre nós igual como eu.

Sabella respirou fundo e desejou não havê-lo feito, porque debaixo do aroma de óleo estava o aroma de homem. O suor úmido e luxurioso, poderoso. Aqueles penetrantes olhos, a tensão que enchia seu corpo, que a envolvia, recordava-lhe que fazia muito tempo que não estava com um homem. Desde a última vez que Nathan a havia tocado, recordou a si mesma com desespero.

—Não quero falar disso. — separou-se da mesa e se dirigiu à porta, só para encontrar-se com um corpo muito maior que o seu bloqueando seu caminho.

—Ignorar não vai fazer com que desapareça. — assegurou Noah com suavidade, agarrando-a pelos ombros e mantendo-a no lugar.

—Não tenho que ignorar algo que não vai ocorrer e que nem sequer existe. — replicou ela com aspereza, elevando a cabeça de repente para enfrentar a ele.

—Vai ocorrer.

Sabella ficou quieta. Deveria lutar contra Noah, correr, gritar ou algo pelo estilo. Qualquer coisa, salvo permanecer ali parada, sentindo como se afrouxavam as pernas enquanto ele baixava a cabeça para aproximar inexoravelmente seus lábios dos dela, sem deixar de lhe sustentar o olhar um só instante.

—Não o faça. — sussurrou a jovem quando seus lábios estavam a um fôlego dos seus. — Não o converta em uma guerra.

—Já é uma guerra. — sentenciou ele com aquela voz rouca e áspera. Estranhamente, ela percebeu nesse momento as cicatrizes que havia sob a barba.

— Beije-Me, Sabella. Está desejando. Os dois desejamos.

Estava falando contra seus lábios e ela os separou involuntariamente. Suas mãos se aferraram à cintura masculina, enquanto algo em seu interior palpitava com desejo, com ânsia.

—Já basta. —Deu um passo para trás, mas ele a atraiu para si.

Antes que Sabella pudesse reagir, antes que pudesse escapar, alagou-a uma quebra de onda de prazer.

Os lábios do Noah posaram sobre os seus, cobrindo-os e separando-os até que ela se sentiu perdida. O beijo fez com que vibrasse em lugares que não sabia que pudessem vibrar e se sentiu invadida por uma força escura, dominante e possessiva.

Ao cabo de alguns segundos, Noah a empurrou contra a porta, elevou-a para seu corpo e lhe introduziu a língua na boca enquanto Sabella ouvia seu próprio grito, mescla de medo e um entristecedor prazer.

—Isto é o que quer. — a acusou levantando a cabeça de repente, com a luxúria flamejando em seus olhos e fazendo com que o sangue ardesse nas veias dela.

— Quer isto, Sabella. Assim, quente e descontrolado. Tome cuidado, carinho, tenha muito cuidado, ou pode ser que o consiga antes que esteja preparada para isso.

O olhar de Sabella se cravou no dele com surpresa. O prazer a atravessava; o escuro poder daquele beijo dominante tinha despertado algo que ela não queria admitir. Algo para o qual não estava preparada.

Afastou-se lentamente.

—Diga a Rory que o verei na hora de fechar.

—Foge? —grunhiu ele quando ela se virou, encaminhando-se para a porta que dava ao estacionamento.

Sabella se voltou para ele e o percorreu com o olhar, vendo o grosso vulto nas calças, a voracidade que brilhava em seus olhos.

—Mantém afastado de mim, Noah. — disse em tom sombrio. — Não necessito de você. Não o desejo. Tudo o que quero é que vá embora.

Mentiras. Não eram mais que mentiras, o que ela dizia, e ela as reconheceu, enquanto saía do escritório e percorria quase correndo a distância entre a oficina e a casa da colina. A casa que tinha compartilhado com o único homem capaz de fazer o que acabava de fazer Noah. O único homem que tinha despertado um desejo que ela não podia controlar, que não podia combater. Se não se afastasse dele já, Sabella sabia que se exporia de novo à dor e à perda. Noah não era dos que ficavam. Não era dos que amavam para sempre. Não era seu marido.

 

Sabella conseguiu evitar Noah por dois dias. Podia sentir seu olhar sobre ela enquanto trabalhava no escritório. Quando ele entrava lá, ela escapava para a loja de conveniência. Se estivesse trabalhando na oficina, colocava-se o suficientemente longe dele para poder ignorar a áspera voz masculina.

Estava segura de que havia ocorrido algo na voz de Noah. Surgia do mais profundo de sua garganta e era muito áspero e rouco. As cicatrizes do rosto e a fina rede de marcas que se divisava sob o pêlo dos musculosos braços faziam com que ela se perguntasse por aquelas que havia vislumbrado sob o pescoço da camiseta. O que lhe tinha acontecido? Era difícil marcar um homem tão forte como ele de uma maneira tão horrível.

Não importava onde estivesse, Sabella sentia seu olhar sobre ela e recordava aquele beijo que a tinha feito arder e que a tinha deixado fraca durante horas.

Pôde sentir essa mesma tensão crescente na tarde seguinte. Cada vez que ele tentava falar com ela, cada vez que se movia em sua direção, Sabella se dirigia para outro lado. Não queria tratar com ele. Sua vida estava bem assim. Estava bem sozinha. Um encontro de vez em quando era suficiente. E embora Duncan quisesse mais, sua relação ainda não tinha chegado ao ponto onde teria que rompê-la. Gostava de sua companhia, sua risada. Pelo contrário, temia a intensidade de Noah.

Conseguiu esquivar-se durante um dia mais, até a hora do fechamento. Rory e outros já se foram, e ela estava sozinha no escritório quando Noah entrou.

—Temos que conversar. —disse enquanto ela colocava a carteira na bolsa e sentia como acelerava o ritmo de seu coração.

—Não tenho tempo. — se desculpou ela.

— Tenho um encontro esta noite e não posso me atrasar mais. —Nem pensar.

Fechou a porta de um chute e passou a chave com um estalo, fazendo-a sobressaltar-se pela ferocidade que demonstrava. Logo, antes que ela pudesse se esquivar, agarrou-a pelo pulso e a conduziu às escadas que levavam ao apartamento do primeiro andar.

—Que demônios... ?

—Deixe de fugir de mim, Sabella. — grunhiu Noah, levando-a a subir as escadas. — Vamos terminar com isto agora mesmo.

—Terminar o que? —Ela se soltou de sua mão assim que entraram no apartamento que uma vez tinha compartilhado com Nathan.

Sabella deveria gritar, deveria tentar chutá-lo, bater nele. Não deixar que a arrastasse até aquele apartamento sem opor a menor resistência.

Sobre o sofá repousava uma mochila de couro e havia uma caixa na cozinha com algumas provisões. Evidentemente, estava se instalando. Ali, onde Nathan e ela tinham feito amor, onde havia se declarado, onde se amaram pela primeira vez. De repente, pensar em outro homem naquele lugar foi intolerável.

—Quero que saia daqui. —voltou-se para ele, tremendo ao ver as posses de outro homem no espaço de Nathan. — Agora mesmo. Saia!

Uma neblina de calor a invadia. Era fúria. Disse a si mesma, apenas era fúria e nada mais.

Ele soltou um chiado.

—Rory teve a amabilidade de me trazer provisões enquanto eu estava me matando nesses carros para que ficassem prontos. — lhe disse. — Não vou partir.

—Não quero que fique aqui. Vá, antes que chame o xerife. —Sabella estava furiosa.

Ele sustentou seu olhar como se fosse o dono do apartamento, da oficina e dela, e o estivesse pressionando muito.

Mas Sabella não pensava render-se. Queria-o fora de sua vida já, antes que fosse muito tarde.

—Realmente crê que vou deixar que o xerife me expulse? —perguntou-lhe com aquela áspera voz que provocava calafrios nas costas de Sabella.

Ela ficou quieta e sustentou seu olhar. Noah parecia perigoso, inclusive a tensão que o envolvia era perigosa, então, por que não estava assustada? Em que momento tinha perdido todo o juízo que possuía?

—Por que está aqui? —Olhou-o, sentindo que a cólera e a incredulidade colidiam em seu interior. — Que demônios o faz pensar que pode entrar em minha vida e agarrar tudo o que queira?

Ele lhe deu as costas durante um segundo, para lhe ocultar algo, para controlar seu temperamento. Quando se virou para ela, ela retrocedeu um passo.

—Está fugindo de você mesma Sabella. Por quê?

De repente, ela foi consciente de que ele não iria a nenhuma parte. E só tinha que olhar a expressão de seu rosto para saber que tampouco podia obrigá-lo. Rory, o proprietário da metade do negócio, tinha-o contratado. Tinha tanto direito a lhe emprestar o apartamento como ela e podia contratar a quem quisesse.

Nathan e ela tinham chegado a esse acordo antes de casar-se. Se lhe ocorresse algo, então a metade do negócio seria de Rory, porque sabia que seu pai jamais lhe deixaria nada.

Tinha que agüentar Noah até que este decidisse por si mesmo que tinha chegado o momento de ir, e isso não ia acontecer por agora.

—Não estou fugindo de nada que não seja um homem disposto a tomar pela força mais do que querem lhe dar. Não é um Malone, senhor Blake. É um ninguém aqui e sempre o será. —virou-se com intenção de dirigir-se para a saída. Deu um passo e no segundo se encontrou pressionada, firme mas brandamente, contra a porta por um corpo grande e duro que se apertava contra o seu.

Conteve o fôlego. Sentia-se rodeada, repentinamente quente e débil. Ele tinha a cabeça junto à sua, roçava-lhe a bochecha contra o cabelo, imobilizando-a com as mãos enquanto a fazia consciente de sua ereção.

—Por que está tão assustada? — sussurrou.— Acaso tem medo de voltar a se sentir viva?

—Crê que me faz sentir viva? —burlou-se ela. — Não vale nem a décima parte do que valia meu marido, e se não necessito dele para me sentir viva, posso assegurar a você que tampouco necessito de você.

—Acaso Sykes a faz sentir viva? —inquiriu. —Diz quão perfeita é você? Acaricia-a como se fosse quebrar com um simples sussurro? —mofou-se. — É isso o que necessita, Sabella?

—É um bastardo!

Retorceu-se com violência e levantou o joelho para golpeá-lo só para sentir que Noah a elevava e separava suas coxas até que a dura longitude de sua ereção se apertou contra ela. Sem piedade, inclinou a cabeça e sua boca cobriu bruscamente a dela.

A aspereza da barba recortada de Noah sobre sua pele lhe era desconhecida. Seus lábios, duros e famintos, tomaram os de Sabella sem pedir permissão, sem vacilar. Como se soubesse que dentro dela havia uma necessidade que nem ela mesma conhecia.

Não foi um beijo suave. Foi voraz. Cheio de uma fome e de uma luxúria elementar que acendeu uma chama a partir de alguma faísca escondida dentro do corpo dela.

De repente, o corpo feminino não teve mais que uma meta. Sabella passou os braços pelo seu pescoço, enterrou os dedos em sua espessa juba, e o atraiu para si.

Fazia tanto tempo. Tanto tempo desde que um homem havia tocado seu corpo, desde que tinha necessitado de carícias que não fossem as de Nathan... Nem sequer tinha pensado nisso. E agora, o desejo estalava dentro dela.

Um gemido agudo e furioso emergiu de sua garganta quando Noah deslizou a língua por seus lábios antes de retirar-se. Puxou-lhe do cabelo com força e depois de lhe mordiscar o lábio inferior, afundou os dentes nele. Em apenas um batimento do coração, encontrou-se esmagada contra a porta pelo corpo do Noah, e se deixou devorar pela fome e a necessidade que invadia seu ser.

A enorme mão do Noah se enredou em seu cabelo e puxou sua cabeça para trás.

Ele não era suave, mas ela não desejava que o fosse. Sabella queria fogo e força, e aquele impossível desejo que crescia entre eles.

Apertou os joelhos contra os firmes e esbeltos flancos masculinos, moveu os quadris, e se contorsionou contra ele, apertando-se contra seu membro através do tecido dos jeans que os separava.

Sabella o ouviu soltar um grunhido, um gemido. Noah fechou o punho sobre os cabelos femininos e lhe puxou a cabeça ainda mais para trás, passando seus lábios pelo queixo, pela mandíbula, mordiscando-a e lambendo-a.

—Me monte. —murmurou Noah ao seu ouvido, lhe roçando a orelha com a aspereza de sua barba enquanto ela seguia movendo-se sinuosamente contra ele.

— Isto é o que eu quero, Sabella. Aqui e agora. —Embalou seu traseiro com uma mão para aproximá-la mais de si e ela se esfregou violentamente contra sua ereção.

A costura dos jeans roçou seu clitóris, e as agudas sensações que atormentavam Sabella se incrementaram. Estava cada vez mais molhada. Podia sentir como inchava seu clitóris, como se esquentavam as paredes de sua vagina e se voltavam escorregadias, cheias de necessidade.

—Me monte, Sabella. — repetiu. — OH, sim, pequena, se esfregue contra mim. — ele também empurrava os quadris contra ela, pressionando com dureza a suave carne que escondia a união entre suas coxas.

Sabella baixou as mãos e agarrou a camiseta do Noah para subi-la as pelas costas. Tinha que o tocar. Tinha que sentir sua pele sob as mãos. Gemeu quando os lábios masculinos cobriram de novo os seus, enquanto ela seguia puxando o tecido até que ele se afastou tempo suficiente para tirar a camiseta pela cabeça. Apenas um segundo depois, retornou junto dela para beijá-la de novo, embalando sua cabeça com uma mão e o traseiro com a outra.

Sim. Isso era o que ela necessitava. O calor do corpo de Noah parecia fundir-se com o seu. Sentia-o ardente sob as palmas das mãos quando acariciou seus ombros. Podia perceber a áspera rugosidade das cicatrizes que marcavam seu corpo sob as pontas dos dedos. Aferrou-se a ele lhe cravando as unhas na pele e gritou antes que a beijasse de novo.

Estavam se movendo. O mundo parecia estar do avesso, ondulava-se perigosamente, até que ouviu o golpe surdo da mochila caindo no chão e sentiu o couro do sofá contra as costas quando ele a estendeu sobre as almofadas.

Os lábios de Noah nunca abandonaram os seus. Não lhe deu a oportunidade de pensar e ela tampouco quis fazê-lo. As mãos masculinas agarraram a camiseta da Sabella para tirá-la e, antes que ela pudesse processar o que ocorria, lhe tinha subido o objeto de algodão e o sutiã por cima dos seios.

Sentiu a áspera barba sobre o mamilo. Ele a passou pela sensível ponta, fazendo com que ela se arqueasse um segundo antes de roçar-lhe com os lábios e tomá-lo em sua boca.

Noah empurrou os quadris com dureza contra os de Sabella. Montou-a sem piedade, sem lhe importar as capas de tecido que os separavam, levando-a mais perto do êxtase do que ela tinha estado em anos. A jovem se arqueou para ele, roçando-se contra seu corpo, afundando a cabeça nas almofadas do sofá e lhe cravando os dedos nos ombros para aproximá-lo mais dela.

Era tão bom. Como fogo líquido. Pequenas faíscas explodiram ante os olhos de Sabella e as sensações se expandiram através de suas terminações nervosas.

—Agora. —Ele se voltou para trás, agarrou-lhe a cabeça bruscamente e a atraiu contra seu peito. —Toque-Me, maldita seja. Toque-me, Sabella.

Mordeu-lhe. Enterrou os dentes nos músculos duros e poderosos antes que a ferocidade do ato tomasse o controle. Sabella mordiscou seus mamilos planos, lambeu-os, sugou-os. Deixou que suas mãos vagassem pelas costas de Noah, reconhecendo a rede de finas cicatrizes que a cobria.

Noah apertou ainda mais seus quadris contra ela e Sabella desejou que os jeans desaparecessem. Queria que estivessem nus. Queria sentir contra sua pele o grosso e pesado membro que podia notar esfregando-se contra ela. Empurrando-a e conduzindo-a a um ponto onde não podia distinguir o prazer da dor.

O sangue atravessava o corpo dela a toda velocidade, lhe palpitando na cabeça. Estava perto. Tão perto. Voltou a lhe morder no peito outra vez e Noah lançou uma maldição ao mesmo tempo em que se esticava.

De repente, ele se afastou e seu selvagem olhar se deslocou à porta traseira do apartamento ao mesmo tempo em que lhe baixava bruscamente o sutiã e a camiseta para lhe cobrir os seios.

Foi então que ela escutou os golpes na porta.

—Belle? Belle Malone? Sou o xerife Grayson. Belle, abra a porta ou a derrubarei.

Noah a ajudou a sentar-se enquanto ela tentava controlar seus alvoroçados sentidos e compor uma aparência tranqüila. Observou como, sem camisa, Noah cruzava a passadas largas o apartamento e passava pela cozinha para abrir a porta que conduzia à lateral da oficina e ao terraço.

As cicatrizes de suas costas não apresentavam um aspecto aterrador, mas era doloroso vê-las. Na omoplata esquerda tinha uma tatuagem, um sol negro atravessado por uma espada de cor escarlate. Parecia tão rude e excitante como o resto dele. E igualmente perigoso.

Sabella começou a sentir que o frio se apoderava dela. A gelada realidade a atravessou quando Rick Grayson entrou na cozinha, procurando-a imediatamente com seu olhar cor de mel ao mesmo tempo em que mantinha uma distância prudente entre Noah e ele.

—Está tudo bem, Belle? —Tinha os olhos entrecerrados e a mão apoiada na culatra de sua arma enquanto observava como Noah fechava a porta.

Sabella cravou os olhos em Noah. Seus olhos eram ainda mais ferozes que antes, mais brilhantes e aterradores, iluminados por um fogo interior, que conseguia fazer com que seu coração pulsasse a toda velocidade pela excitação e o pânico.

—Belle? Por que não vem comigo lá fora e falamos um momento? —Rick não tinha afastado os olhos de Noah.

Sabella negou com a cabeça antes de passar os dedos pelo cabelo e esboçar um sorriso zombador. Rick tinha falado com ela dessa maneira no enterro.

«Só deixa que Sienna e eu a abracemos, Belle». Sua esposa e ele estiveram a seu lado em todos os momentos enquanto ela cambaleava ante o ataúde do Nathan. «Tudo ficará bem, Belle. Verá. Tudo irá bem. Estaremos aqui em um minuto e logo tudo se acabará ».

Rick era o marido de sua melhor amiga. Sienna tinha chorado e sofrido com ela. E Rick tinha tratado de consolá-la como se fosse uma menina que necessitasse de uma mão que a guiasse.

—Rick, este é Noah Blake. —Indicou Noah com a mão. Estava apoiado contra o balcão da cozinha com os braços sobre o peito nu e dava as costas para olhar ao xerife. — Rory o contratou.

O xerife não tirou a vista de cima dele enquanto ela se obrigava a ficar em pé. Sabella não queria mover-se. Queria fazer um novelo e fazer desaparecer a dor que crescia em seu interior.

—Belle, carinho, tem o queixo machucado. — disse Rick. — Vêem fosse comigo um minuto, quer?

Belle se esfregou o queixo e franziu o cenho antes de aproximar-se do espelho que pendurava da parede. Passou os dedos pelo pequeno machucado e logo pelo pescoço, onde estava aparecendo outra marca.

—Também tenho meus próprios machucados. — afirmou Noah, dirigindo-se a Rick. — Me deu uma chupada e eu lhe dei outra.

Rick a olhou com os olhos entrecerrados e ela sentiu que uma profunda dor rasgava suas vísceras.

—Não temos nada sobre o que conversar, Rick. — Recolheu a bolsa e se dirigiu à porta.

—Eu acredito que sim, Belle. —O xerife se moveu entre ela e Noah. Para protegê-la? Sabella olhou a Noah e viu a advertência em seus olhos. Não, ninguém se interporia entre eles e sobreviveria a menos que ele o permitisse.

Mas, por agora, Noah se limitava a observar e esperar.

Ela se voltou para o Rick.

—Interrompeu-nos quando estávamos a ponto de cometer um engano e realmente o agradeço por isso. —Seu sorriso era quebro e trêmulo.

— Mas não foi culpa dele. Acredito que fui a primeira a morder, embora possa lhe perguntar sua opinião se quiser. No que diz respeito a mim, vou para casa.

—Belle, alguém ligou para informar que estava sendo acossada por este homem. —Rick a agarrou pelo braço quando passou por seu lado. — Tenho a meus ajudantes atrás dessa porta. Está protegida, carinho, sabe. Quer que prenda este homem?

Olhou-o surpresa.

—O que?

—Já o ouviu, Sabella. — disse Noah com voz áspera. — Acredita que a estou acossando e quer me colocar na cadeia por isso. Vai aproveitar a oportunidade de se desfazer de mim?

—Cale-se. —Rick se voltou para ele com uma tensa expressão de cólera. — Não o conheço, mas sei que já teve uma topada com um cidadão deste cidade. E não me importa quem você seja. Não permitirei que pressione Belle.

—Ele não tem feito nada exceto conseguir com que eu perca a paciência — interveio ela. — Pelo amor de Deus, Rick, usa os olhos em vez de se deixar guiar pelas suspeitas. Olhe-o nos ombros. —Agarrou o trinco e dirigiu ao Noah um olhar frio e duro.

— Prenda a mim pelos arranhões que fiz nele, mas o deixe em paz.

Isso era entre eles dois. Noah e ela. Sabella sabia. Não permitiria que ninguém mais interferisse naquele assunto. Não agora.

 

Quando a porta se fechou atrás dela, Noah olhou para o xerife e conteve um sorriso zombador. Rick Grayson era um bom homem. Tinha sido da marinha. Confiava na lei. Acreditava no condado que tinha jurado proteger. Mas isso não queria dizer que não estivesse na lista de nomes que Noah pensava checar, nem que confiasse nele. Noah tinha aprendido da pior maneira possível que não se podia confiar em ninguém

—Tem alguma identificação? —Rick estava o fulminando com o olhar.

Noah baixou a mão, ignorando a maneira em que o xerife segurava a culatra da arma. Tirou a carteira do bolso traseiro e a abriu antes de mostrar-lhe

Rick tomou a identificação, olhou-a e a devolveu lentamente.

—Belle é uma boa amiga, senhor Blake. —Era uma advertência. — E neste cidade cuidamos de nossos amigos.

—Sério? —Noah arqueou uma sobrancelha com ar zombador. Não tinha notado que se esmeraram muito em proteger a Sabella. — Bem, xerife Grayson, alegra-me sabê-lo. E estou seguro de que Sabella também o agradecerá.

Rick sustentou seu olhar com serenidade.

—Não faça mal a ela, ou se verá comigo. — advertiu finalmente antes de encaminhar-se à porta. Uma vez ali, virou-se e voltou a lhe brindar um duro olhar. — Ande com cuidado, senhor Blake, não é bom me ter como inimigo. E tenha por certo que se fizer mal a Sabella se converterá automaticamente em meu inimigo.

Rick abriu a porta e saiu. A porta se fechou a suas costas com suavidade, mas suas palavras tinham carregado o ar de tensão.

Noah baixou o olhar a suas mãos. Mãos cheias de cicatrizes. Tinha agarrado Sabella como se ela não fosse frágil, mas ele sabia que o era. Tinha-lhe deixado marcado. Em toda sua relação, jamais lhe tinha feito uma só marca; sempre tinha tomado cuidado com isso.

Esfregou o ombro e viu uma mancha de sangue nos dedos. Palpitava-lhe o lábio e a marca que lhe tinha deixado no peito.

Sabella tinha sido selvagem. Ambos o tinham sido. Como se de repente fossem libertados de alguma coisa que desatasse a luxúria de ambos.

Noah ia assegurar-se de liberá-lo de novo.

 

Sabella fechou a porta de sua casa com um estrondo. A grossa madeira de carvalho ressoou ante a violência do ato e atravessou seus nervos com uma esmagante quebra de onda de tensão. Podia sentir as sensações elétricas por todo o corpo, vibrando em sua mente e envolvendo-a em uma entristecedora maré de pânico.

OH, Deus, o que tinha feito?

Deixou cair a bolsa no chão e subiu a seu quarto a toda velocidade. Arrancou as roupas que a cobriam, jogou-as na cesta da roupa suja, e pôs a água da ducha tão quente como pôde antes de se colocar sob o jorro e esfregar o cabelo e a pele.

Queria arrancar de seu corpo as sensações que ele tinha provocado. Queria tirar seu aroma. Ainda podia cheirá-lo. Ainda podia senti-lo.

Apoiou a cabeça contra a parede da ducha e respirou fundo, contendo um soluço. Havia-a tocado outro homem. Outras mãos tinham embalado seus seios, outros lábios tinham chupado seus mamilos, outro membro se esfregou, dura e profundamente, contra seus clitóris, e ela tinha estado a ponto de suplicar mais.

—Nathan. —Apertou o rosto contra a parede e pôs-se a chorar.

A culpa invadia seu coração. Queimava-lhe a alma com um fogo que não podia apagar. Sofria. Sofria pelo homem que jamais voltaria a ter, que jamais imaginou que perderia; sofria por ter desfrutado de carícias que se negou a receber durante muito tempo.

Deslizou ao chão e apertou os joelhos contra o peito. Inclinou a cabeça e começou a chorar enquanto se balançava.

«Minha bruxa. Go síoraí. Ame-me, Sabella. Ame-me sempre».

A voz do Nathan abriu passo entre suas lembranças e os soluços se fizeram mais intensos. Ainda o amava. Amava-o tanto que não podia compreender como tinha podido seguir vivendo sem ele. Sem suas carícias, sem seus beijos.

Seis anos. Gemeu ante aquele pensamento e deixou cair a cabeça contra a parede da ducha enquanto a água caía sobre ela. Estava tão quente como suas lágrimas. Mas aquilo não aliviou a abrasadora sensação de culpa que ainda ardia em seu interior. Seu marido estava morto há seis anos e os votos que tinham compartilhado ainda a capturavam e atormentavam.

As lágrimas só faziam sua dor mais profunda. Poderia chorar todo um oceano e Nathan seguiria sem estar ali, abraçando-a e aliviando a dor que algumas vezes ameaçava devorá-la viva.

E agora, além disso, estava aquela sensação de culpa.

Tomou a esponja e o sabão, e se esfregou de novo. Esfregou-se até que sentiu a pele em carne viva, mas mesmo assim, seguiu sentindo as carícias de outro homem em sua pele, seguia sentindo-se excitada, ansiosa por alcançar a liberação.

—Abandonou-me, Nathan. — soluçou entre as ondas de vapor que a envolviam. — Prometeu-me isso, Nathan. Prometeu-me que jamais me deixaria.

Ele tinha jurado que sempre a abraçaria, que sempre estaria com ela. Mas não foi assim. Durante mais de seis anos tinha tido que viver sem o abraço de seu marido e ela sentia que a dor ainda a rasgava por dentro como se tivesse sido ontem. Como se Nathan a tivesse traído e, simplesmente, não houvesse retornado para ela. Como se ainda estivesse vivo e não quisesse tocá-la.

As lágrimas seguiram caindo, dolorosas, intermináveis, e uma vez que sentia a necessidade de alcançar o êxtase, de sentir as carícias e os beijos de outro homem.

Quando já não ficaram lágrimas, quando a água começou a esfriar-se, soube que tinha que mover-se, assim, se arrastou da ducha ao grosso tapete que cobria o chão e se envolveu em uma toalha.

Aproximou-se do espelho e ao olhar-se compreendeu por que Rick a tinha olhado surpreso. Tinha a pele avermelhada pelo roçar da barba de Noah e uma marca azul onde a tinha mordido. Pensar naquele chupão enviou uma quebra de onda de sensações a seu ventre ao mesmo tempo em que ao centro de seu ser. Lambeu os lábios inchados e quando seu olhar deslizou até o pescoço, lhe afrouxaram as pernas. Ainda tinha marcas que lhe desciam do pescoço aos seios. Uma leve vermelhidão, os sinais das carícias de Noah, de seus beijos, de seus dentes.

Sabella tampouco tinha sido suave. Tinha querido liberar-se da escura e furiosa necessidade que nem sequer sabia que habitava em seu interior e Noah a tinha ajudado.

Era óbvio que teria que cancelar o encontro dessa noite com Duncan. Não havia maneira de que pudesse estar com ele nesse momento. Não podia deixar que a visse assim. E, certamente, não podia voltar a sair com ele.

Sacudindo a cabeça, secou o cabelo e, depois de deixar cair a toalhas ao chão, colocou o robe antes de descer as escadas para chamá-lo.

Não se mostrou encantado. Como era de imaginar, estava irritado. Duncan gostava de seguir uma agenda e ela tinha desbaratado seus planos. Quando pendurou o telefone, soltou um suspiro de cansaço ao pensar na frustração na voz de Duncan. Tinha que romper logo com ele. A amizade não era uma boa razão para continuar com a relação. E além disso, não era suficiente. Havia tornado a saborear o desejo e queria mais.

Muito mais.

Sabella percorreu a casa fracamente iluminada até que finalmente se deteve na salinha, diante da enorme janela, ao lado da larga mesa onde estavam as fotos de suas bodas.

Nathan tinha sido tão incrivelmente atraente... Agarrou uma foto dos dois juntos. Sabella usava um vestido longo e branco que o tinha agradado e apoiava a cabeça em seu amplo peito. Quase podia sentir ainda o engomado uniforme sob a bochecha. Rodeava-lhe os ombros nus com um braço e baixava o olhar para ela como se tivesse encontrado em Sabella algo que jamais tivesse imaginado encontrar.

Tinha sido sua Belle. Sua Belle sulina. Estava acostumado a chamá-la assim devido aquele particular acento que ela tinha e do qual nunca tinha tentado desfazer-se.

Os olhos de Nathan tinham sido brilhantes. Tão azuis. Tão cheios de vida. Acariciou-lhe os olhos por cima do vidro deslizando o polegar por seu rosto, e logo levantou o olhar para a janela.

Escutou ao longe o ronrono da Harley na oficina e observou como a luz do farol da moto atravessava a escuridão dirigindo-se para a estrada principal.

Noah era só uma sombra quando a Harley acelerou e se afastou de sua vista. Não deixou de olhar os faróis traseiros até que já não pôde vê-los. Depois baixou de novo o olhar ao sorridente rosto do Nathan.

Uma lágrima caiu sobre o vidro.

Deixou-me. murmurou outra vez. O que vou fazer Nathan? Diga-me isso. Sentiu que ficava sem respiração e que lhe encolhia o estômago com a dor da perda. Diga-me, o que vou fazer agora?

 

Noah estacionou a Harley no estacionamento oculto onde estavam outros veículos da unidade de Operações Especiais. Desligou o motor e inspirou profundamente. Maldição, não desejava estar ali. Tinha querido subir a colina até a casa e passar a noite fazendo amor com sua esposa que o fazia sentir-se mais quente que o fogo no inverno e que o fascinava mais agora que há seis anos. Negou com a cabeça. Voltar a conhecê-la outra vez, descobrir tudo aquilo que lhe tinha oculto sua mulher quando estavam casados, só reforçava o temor de ter cometido o maior engano de sua vida ao ter acreditado que Sabella não poderia suportar o horror ao qual o tinham submetido.

Chegava tarde à reunião porque esteve dando voltas naquele condenado apartamento, jurando que podia sentir a Sabella. Ele teria jurado, teria jurado sobre uma pilha de Bíblias que a tinha ouvido sussurrar seu nome. E não tinha sido a primeira vez. Tinha ocorrido em muitas ocasiões ao longo dos últimos anos.

Durante os terríveis meses que passou no inferno de Fontes, tinha acreditado muitas vezes que sua Sabella estava a seu lado. Limpando-lhe a fronte, com os olhos cheios de lágrimas, lhe rogando com voz angustiada que a deixasse ajudá-lo. Então tentava tocá-la, e via suas próprias mãos ensangüentadas pelos intentos de escapar ou pelos guardas que tinha tentado matar. E ela chorava. Nesses horríveis pesadelos ela sempre chorava.

Apertou os dentes ante as lembranças quando entrou na sala de reuniões e fechou a porta a suas costas.

—Já era hora. —Jordan se levantou da cadeira e apagou a luz enquanto Noah tomava assento. — Temos informação sobre os homens que conforme suspeitávamos a semana passada pertenciam a BC.

Jordan não perdeu tempo perguntando a seu sobrinho por que se atrasou.

—Mike Conrad é o gerente do banco mais importante da cidade, que além disso resulta ser o mesmo banco onde se tiram os recursos que mantêm ao Black Colar.

A imagem do Mike apareceu na tela que estava pendurada na parede.

—Conheço-o. — disse Noah em voz baixa. — Poderia se encaixar perfeitamente em um perfil paramilitar. Inclusive quando eu vivia aqui, Mike era contrário às leis de imigração; dizia que deviam ser mudadas, ou reforçadas. Apoiava leis mais estritas e às tropas que as respaldavam.

—E eram amigos? —inquiriu Micah com curiosidade.

Noah encolheu de ombros.

—Crescemos juntos. Não fazia falta comungar com suas idéias para ser seu amigo. Mas isso foi faz mais de seis anos. Evidentemente, encontrou uma maneira mais radical de difundir suas idéias.

—Todos o têm feito, companheiro. — grunhiu John Vincent. Seus duros traços estavam concentrados nos dossiês que Tehya lhes tinha entregado.

—Como verão no relatório, ao menos dois dos mecânicos trabalham na Oficina Malone, Timmy Dorian e Vence Steppton, são suspeitos de ser membros de sub-nível da tropa. —Suas fotos apareceram na tela.

— Também os investigamos. — continuou Jordan.

— Fazem viagens de forma freqüente aos ranchos que possuem Gaylen Patrick e Mike Conrad nos subúrbios da cidade. Além disso, rastreamos a Conrad e a seus contatos.

A seguir a tela mostrou as fotos de vários homens; Duncan Sykes era um deles.

—Ontem à noite tentei me infiltrar no computador de Conrad. —interveio Tehya ante um gesto de Jordan.— Mas têm feito um bom trabalho. —admitiu com um suspiro.— Alguém instalou um sistema de segurança muito avançado em sua rede. Sykes possui conhecimentos e habilidade para havê-lo feito. Ao não poder me saltar seu código de segurança, tentei-o com o de Patrick e tropecei com mais do mesmo. Necessitamos que alguém carregue o programa que desenhei para sortear o código no computador.

—Posso me encarregar. — disse Noah. — Ajudei Mike a construir sua casa. Fez uma variação no projeto que ninguém, salvo nós dois, conhece. É um pequeno túnel de escapamento que dá a seu escritório. Suponho que não terá feito nenhuma mudança depois de minha morte. Sentirá-se mais seguro que nunca.

—Bom. —Jordan assentiu com a cabeça antes de exalar com cansaço. — Além disso, recebemos um relatório de outra caçada que aconteceu na semana passada. A patrulha da fronteira encontrou os corpos ontem à noite.

Esses corpos enchiam a tela agora. Um homem e uma mulher. Ambos tinham os olhos em branco e expressões de horror nos olhares cegos de seus rostos destroçados.

—Um casal mexicano. Supomos que eram imigrantes ilegais. —A foto do jovem mexicano era horrível. A mulher tinha sido claramente violada e torturada, e seu marido tinha recebido cortes em tantos lugares que seu corpo nem sequer parecia humano.

— Ao parecer levavam a seu filho com eles. Não achamos nem rastro dele e não temos fotos. Tem três meses e uma marca de nascimento no quadril esquerdo. É tudo o que sabemos.

—Conforme os informe com os quais contamos, esta é a forma habitual de proceder nas caçadas —seguiu Jordan.

— Muitos casais de imigrantes, legais como ilegais, desapareceram nas zonas de Dallas e Houston, e apareceram aqui, no parque nacional Big Bend. Todos os cadáveres apresentavam sinais de luta. Como recordarão de nossa última reunião, os agentes federais falecidos informaram sobre uma caçada na noite que desapareceram.

—É possível que estejam envoltos os membros da patrulha fronteiriça? —inquiriu Micah Sloane, antigo agente do Mossad, com seus olhos negros frios e calmos. O israelense era um dos homens mais mortíferos do grupo. O treinamento e as manobras que tinha ensinado ao resto da equipe tinham feito mais forte à unidade.

—Não podemos confirmá-lo. A patrulha fronteiriça encontrou muitos cadáveres nos últimos dois anos, mas também o têm feito rancheiros, excursionistas, a patrulha do parque nacional e alguns vaqueiros. Não aparecem nunca no mesmo lugar. Repartem-os. — lhes explicou Jordan. — Algo mais que acrescentar? —Passeou o olhar pelos outros homens.

—Amanhã começo a trabalhar na oficina. —Nikolai sorriu amplamente enquanto se reclinava na cadeira. — Ao que parece, Rory Malone convenceu a sua sócia para que me contrate durante um período de teste.

Noah lançou um bufo. Rory tinha discutido com Sabella aos gritos. Seu irmão era mais teimoso do que tinha suspeitado.

—Eu permaneci quase todo o tempo nas sombras. — lhes fez saber Micah. — Ouvi muitos rumores, como podem ver em meu relatório. Muitos falatórios, mas nada conclusivo ainda.

—Vamos, companheiro. — disse brincando o australiano. John Vincent podia ser um bastardo sarcástico quando queria.

— Todos esses bares e clubes foram uma soberana perda de tempo. Não vi mais nada que um monte de bonequinhas curiosas e muitos vaqueiros bêbados. Os poucos que conheci que me pareceram suspeitos, fechavam-se em banda assim que me apresentava.

—Cuida do acento e da atitude, John. — lhe advertiu Jordan com serenidade. — Micah, segue nas sombras e procure estar atento a qualquer conversação suspeita. Temos que saber quem são os cabeças e quais são os peões que executam suas ordens.

—Essas caçadas são coisa de profissional. — indicou Nikolai. — Não de peões. Possivelmente os peões saibam quem são seus cabeças, mas certamente não os conhecem em pessoa.

—Muitos desses peões, como no caso de Duncan Sykes, rondam pela oficina e falam de vez em quando com Timmy e Vence, os mecânicos que a BC tem lá. —disse Noah. — Como é loiro e parece americano poderiam confiar em você e falarem mais.

Nikolai soltou um grunhido.

—Estabeleceu muitos contatos? —perguntou-lhe Jordan. O enorme russo negou com a cabeça.

—Conhecem-me como Nik. Fui tomar algumas cervejas, mas não falei com ninguém. Embora, ao que parece, tenho um bom acento americano.

Noah sabia que o agente russo tinha praticado aquele acento antes de entrar na unidade de Operações Especiais.

—Nikolai, é Nikolas Steele, da Califórnia. — lhe disse Jordan antes de dirigir-se a Tehya.

— Arrume seus papéis. Faça-lhe uma árvore genealógica que remonte até o Mayflower. Que seja um empobrecido americano de sangue azul.

Tehya sorriu amplamente e piscou um olho a Nik.

—Terei preparado isso antes que se vá, Nicky.

Ele fez uma careta ante o apelido.

Jordan voltou a olhar a Noah com expressão séria.

—Ocorreu algo mais na oficina?

—Nada que mereça atenção. — encolheu os ombros. — Minha intenção é que Rory despeça Timmy para mover um pouco as coisas.

O mecânico era um inútil, pior inclusive: não sabia diferenciar uma chave inglesa de um gato. Noah não entendia por que demônios lhe tinham contratado Rory e Sabella.

Jordan assentiu com a cabeça.

—Os objetivos da missão são simples. Identificar aos membros da tropa e capturá-los se for possível. Retê-los se são capturados até que possam ser transferidos à agência e, se tudo isso fracassar, eliminá-los. Isso só no pior dos casos. Necessitamos de informação; temos que saber os nomes dos dirigentes e dos líderes da organização. A tropa está se expandindo e é necessário destruí-la, por isso conseguir informação é de vital importância. Terá que encontrar a maneira de averiguar o que precisamos saber.

Abriram as pastas que continham a informação que possuíam e passaram às duas horas seguintes trabalhando em situações e idéias. Jordan se recostou na cadeira, escutando e fazendo algum comentário quando necessário. O grupo trabalhava bem junto. Noah estava a fundo na missão, e procederia como o resto dos agentes em anos anteriores. Com segurança e firmeza.

Tinham sido adestrados individualmente até que tiveram que trabalhar juntos. Podiam levar a cabo missões sozinhos ou em equipes conforme fosse necessário. Naquele caso, trabalhariam melhor separados, exceto Nik, que estaria com Noah na oficina.

Para Noah não cabia dúvida de que alguém estivesse tentando sabotar o negócio de Sabella e Rory. Seu irmão tinha admitido na noite anterior que antes que Sabella se tomasse a frente do negócio, os veículos eram entregues sem que estivessem reparados completamente, o que em algumas ocasiões resultava perigoso. Assim, ela se dedicou a revisar todas as reparações procurando qualquer tipo de anomalia antes de devolver os carros a seus proprietários.

A fúria nublava a mente do Noah cada vez que pensava nos problemas que Sabella tinha tido na oficina. Não podia evitá-lo. Achava-se naquele estado desde que viu Mike Conrad aparecer no negócio completamente bêbado, insultante e violento. Não tinha visto Mike assim desde que eram adolescentes, e o fato de que ultrapassasse os limites com Sabella dessa maneira o tinha deixado estupefato.

Sabella nunca havia gostado de Mike. Deveria ter acreditado nos instintos de sua esposa, sobre tudo se levasse em conta que a amizade com Mike tinha sido fomentada por seu pai, Grant.

Os Conrad eram amigos dos Malone, assim Mike e Nathan, que tinham a mesma idade, cresceram juntos. Tinham caçado e pescado juntos. E Noah sempre tinha pensado que também criariam juntos seus filhos. Teria que perguntar a Rory se o pai de Mike e Grant Malone continuavam amigos.

—Tehya e Macey se encarregarão das comunicações e a eletrônica aqui no centro de operações. —lhes explicou Jordan. — Eu estarei hoje e parte de amanhã no rancho Malone. Espero conseguir alguma informação. Tenham os celulares à mão. Micah, você e John serão nosso respaldo. Agora mesmo todos os integrantes da unidade de Durango, salvo Macey, estão no parque vigiando como vão as coisas por lá. Serão nosso último recurso.

A unidade de Operações Especiais tinha sido especialmente desenhada e treinada para trabalhar sem apoio. Quanto menos pessoas soubessem que estavam ali e o que estavam fazendo, menos probabilidades teria de se produzir infiltrações. O melhor para todos seria que permanecessem «mortos».

Uma vez que a reunião finalizou e se acenderam as luzes, Noah não perdeu tempo. Sabella tinha tido um encontro essa noite, e ele queria assegurar-se de que sua esposa chegava em casa sem ter sido tocada por aquele bastardo do Duncan.

—Noah. —Jordan o chamou quando já passava a perna sobre a Harley e tinha os dedos postos na chave, preparado para arrancar.

Noah observou como se aproximava seu tio, perguntando-se, não pela primeira vez, por que Jordan o tinha escolhido para formar parte daquela unidade.

—Hoje recebi uma ligação. — informou seu tio.

Sim?

De Rick Grayson, o xerife. Noah levantou o olhar para ele.

—Grant lhe deu meu número. Disse-me que tinha chegado um desconhecido à cidade, — Jordan curvou os lábios— e que estava trabalhando na oficina. Comentou que o desconhecido ultrapassou os limites com Belle e que pensava que alguém da família deveria tomar conta do assunto.

Noah virou lentamente a chave da Harley, sem perder em nenhum momento o contato visual com o Jordan enquanto lhe dava um chute no apoio e girava a moto para sair do estacionamento. Logo pisou no acelerador e abandonou o pequeno cânion de pouco mais de um quilômetro de comprimento.

O parque nacional Big Bend estava cheio de abismos, gargantas, escarpados e montanhas. Noah manteve apagado o farol dianteiro; as luzes de freio podiam acender-se e desconectar-se manualmente, o que lhe permitia conduzir em meio da escuridão cada vez que o necessitasse.

E quando chegou à estrada principal, acendeu as luzes e tomou o caminho de volta à oficina. A casa na colina estava às escuras. Não havia luzes, nada que indicasse que ali houvesse alguém. Mas Sabella não dormia. Estava observando. Podia senti-la. E o carro de Duncan não estava ali, o que queria dizer que não o tinha convidado a tomar uma xícara de café.

Estacionou a Harley, desceu e ficou olhando a janela do dormitório que tinha compartilhado com Sabella. Sabia que sua esposa ainda dormia na mesma cama. Seguiria abraçando-se ao travesseiro de Nathan ou teria se desfeito dele?

Negando com a cabeça, subiu as escadas do apartamento que havia em cima da oficina, sabendo inclusive antes de desligar a moto o que o esperava lá em cima.

—Está procurando problemas. — lhe advertiu Rory quando pôs o pé no terraço.

Seu irmão se levantou da cadeira de plástico que havia junto à porta e o olhou fixamente enquanto Noah, com o cenho franzido, abria a porta e entrava.

O apartamento estava em silêncio, vazio. Justo como devia estar. A fina corda que servia para detectar a entrada de qualquer intruso permanecia intacta entre o marco e a porta dianteira, e Noah recuperou o palito que ainda estava pego na fechadura da porta traseira.

Mesmo assim, entrou sem fazer ruído, sentindo que Rory o seguia em silêncio, e revisaram juntos o apartamento antes de entrar na cozinha.

—Maldição, necessito algo mais forte que uma cerveja. — suspirou Rory enquanto tirava duas garrafinhas do frigorífico e oferecia uma a Noah.

—Duncan Sykes me ligou para me dar uma bronca por haver contratado você. Afirma que você é o responsável por que Belle tenha cancelado seu encontro desta noite.

Noah se permitiu sorrir com satisfação.

—Eu me encarregarei dela. —Virou a tampa da garrafa e o lançou ao cubo do lixo antes de tomar um longo trago.

—Isso é o que me disse na outra noite. — grunhiu Rory com os olhos azuis acesos de ira. — Maldita seja, tive que vê-la chorar cada vez que pousava seus olhos sobre mim durante quase dois anos. Não podia suportar me olhar. E agora que parece a ponto de recuperar sua vida, aparece você, e em lugar de lhe dizer quem é, põe seu mundo de pé para o ar.

—Não me irrite, Rory. —Noah não queria escutá-lo.— Para que veio aqui esta noite?

Rory soltou um suspiro.

—O vovô se cansou de me ver dar voltas pela casa. Disse-me que se me daria um tiro se eu não parasse.

Noah quase soltou uma gargalhada. Típico de seu avô.

—Posso usar o quarto de hóspedes? —

Noah encolheu os ombros.

— Como quiser, quero que despeça o Timmy. Que seja a primeiro coisa que faça pela manhã.

Rory o olhou cada vez mais irritado.

—Vamos, Noah. Timmy é o único suporte econômico de sua mãe.

—Não, não é. Só perde tempo fumando atrás da oficina quando ninguém olha e conta ao Mike Conrad tudo o que faz Sabella. Despede-o.

—Maldita seja. Foi Belle quem o contratou. Voltará a se irritar comigo.

—Não o morderá. —Noah voltou a encolher os ombros. Não, não mordia, mas podia conseguir que qualquer homem ficasse paralisado ante sua fúria. Se estivesse irritada, atirava para matar. Quando lhe enchiam os olhos de lágrimas e começava a atirar coisas, era o momento de retirar-se às colinas até que se acalmasse. Não era violenta; entretanto, sabia como fazer com que um homem se sentisse miserável com apenas um olhar.

—Pode ser que não morda, mas sabe muito bem como brigar como qualquer um. —comentou Rory. — A primeira vez que tentei afastá-la dos carros e colocá-la no escritório, deu-me um murro no queixo.

Noah dissimulou sua surpresa. Sabella jamais tinha batido nele. Nem sequer havia batido com o travesseiro nele quando estava zangado.

—Dorme um pouco. —Indicou o dormitório com a cabeça. — Tenho que sair de novo.

—Posso ir com você. —Rory ficou em pé. — Sei como dar cobertura. Você me ensinou.

Bom, isso era certo. Fazia toda uma vida disso.

—Esta noite não. —Noah negou com a cabeça. Não queria testemunhas, nem sombras, nem ninguém que lhe seguisse a pista. E sem dúvida alguma, não queria que Rory se visse envolto em tudo aquilo.— Dorme um pouco. Amanhã terá que lutar com Sabella.

—Maldito seja. — resmungou Rory fazendo uma careta. — Voltará a me dar outro murro.

—Não se aproxime dela quando disser. Tem um braço curto. —Noah se dirigiu à porta, abriu-a e deslizou na noite.

Mike Conrad não vivia longe. Tehya lhe havia passado os dados do programa que devia instalar no computador de Mike antes de ir e esperava que não fosse muito difícil.

Uma hora mais tarde, Noah atravessou o túnel subterrâneo de Mike e abriu o painel que dava ao escritório. Revisou o lugar em busca de câmaras ou microfones, leu o sinal do dispositivo eletrônico que usava com ele e sacudiu a cabeça. Ao que parece, o escritório contava com algumas medidas de segurança, mas, naquele momento, estavam desativadas. Deixando aceso o dispositivo que usava consigo para assegurar-se de que seguissem assim, Noah se moveu pelo escritório.

Mike sempre tinha sido um arrogante filho da puta, mas Noah nunca o tinha tomado por um estúpido. E ir atrás de Sabella tinha sido uma solene estupidez, embora tampouco de se surpreender que , como Noah acreditava, Mike fazia parte da BC.

Se não falhava a memória, quando Sabella trabalhava no banco, antes de suas bodas, Mike tinha sido muito amigável e a esposa deste sempre se mostrou muito fria com ela. Agora sabia por que. Naquela época, Noah tinha tentado negar as evidências posto que fosse um homem muito desconfiado. Tinha pensado que Mike não podia ser assim, embora possivelmente estivesse equivocado.

Aproximou-se primeiro da mesa e do notebook que repousava sobre ele. Introduziu a memória USB na porta correspondente e logo ligou o computador. Conforme lhe havia dito Tehya, o código que tinha preparado se auto instalaria com a ligação e acabaria com seus problemas.

Observou como o programa sorteava todos os protocolos de segurança e conseguia identificar a contra-senha e enviá-la à memória USB.

Quando terminou, desligou o note e se colocou a memória USB no bolso dos jeans. Logo observou o escritório, entrecerrando os olhos enquanto o examinava.

Sem fazer o menor ruído, forçou a fechadura da gaveta inferior do mesa e olhou friamente o conteúdo: uma pistola com munição, um capuz negro e três cachecóis da mesma cor.

Tinham aparecido cachecóis negros nos pescoços de todas as vítimas de caçadas dos últimos meses.

Noah voltou a fechar a gaveta com chave e retornou sigilosamente ao painel. Depois de deixá-lo encaixado, percorreu o passadiço uma vez mais, procurando não deixar rastros no chão poeirento. Não parecia que o túnel tivesse sido utilizado.

Uma coisa era certa: já tinham um membro da tropa Black Colar na lista.

 

Sabella não estava certa de poder manter afastado Duncan com a pobre desculpa que lhe tinha dado. Em princípio tinha pensado que não teria problemas porque ele jamais tinha protestado quando tinha tido que cancelar um encontro, ou porque a relação que mantinham era tão platônica que quase era ridícula.

Já era tarde quando ouviu seu carro parando no caminho de entrada. Estava sentada na salinha terminando a garrafa de vinho que Duncan tinha aberto alguns dias antes. Ao olhar para a janela onde se refletiam as luzes do veículo, Sabella se deu conta de várias coisas de uma vez.

Por alguma razão, os homens acreditavam que era uma pessoa fácil de dirigir. Nathan a tinha visto como uma fraca e indefesa mulher a que tinha que proteger. Duncan se burlava freqüentemente sobre seu «passatempo favorito», a oficina. E inclusive Rory parecia questionar cada movimento que fazia ultimamente. E agora, nem sequer podia cancelar um encontro sem que alguém questionasse sua decisão.

Levantou-se do sofá, estirou a camiseta que usava sobre um short curto de seda e se dirigiu à porta com a taça na mão. Ao abri-la, olhou fixamente a expressão de irritação que manifestava o atraente rosto de Duncan enquanto levantava os nódulos para bater na porta. Estava vestido com o mesmo esmero de sempre. Uma camisa de manga curta branca, calça de cor bege e mocassim negro. Sempre o tinha visto arrumado e perfeitamente penteado, e essa noite não era uma exceção.

Duncan observou a taça e o rosto de Sabella, antes de reparar no queixo e no pescoço feminino. Sim, ela sabia que as marcas seguiam ali. Uma na mandíbula e outra no pescoço. Eram marcas diminutas, mas pensar no prazer que tinha recebido em troca fazia que se revolvesse o estômago pela culpa... e o desejo.

—Posso entrar? — perguntou ele. Sua voz suave contradizia com o que sentia.

Soava paciente, afetuoso. Não obstante, Sabella podia ver a ira que irradiavam seus olhos.

—Claro. —A jovem deu um passo para trás, tomou um gole de vinho e permitiu que ele passasse.— Já é meia-noite. Não é um pouco tarde para sair de casa?

—Não tenho toque de recolher. —Agora já não dissimulava sua fúria.

Sabella passou os dedos pelo cabelo e retornou a salinha. Esse era seu santuário, um lugar em que Duncan poucas vezes entrava. Preferia a cozinha, e nunca tinha subido ao segundo andar.

Entretanto, seguiu-a, detendo-se na soleira, frente à chaminé, e cravou os olhos no suporte desta enquanto Sabella se sentava em uma das poltronas e dobrava as pernas sob o corpo.

Havia um indício de desconforto no rosto de Duncan, um brilho de dor fez com que Sabella sentisse uma opressão no peito. Ele tinha sido um bom amigo durante anos, e teria sido um bom amante ou marido, se seu corpo e seu coração, tivessem estados dispostos a lhe aceitar.

—Não retirou suas fotos. — disse Duncan em voz baixa. — Como se pensasse que, a qualquer dia, ele voltará para casa. Que entrará pela porta com os braços abertos.

Sabella olhou o suporte da chaminé e logo a larga mesa junto à janela onde havia mais fotos. Possivelmente deveria haver-se desfeito delas antes, mas não tinha podido.

—Deixar de pensar nele não foi fácil. —encolheu os ombros com desconforto. — Mas estou segura de que não veio a esta hora da noite para falar comigo sobre se meu marido voltará ou não para casa.

—Nathan está morto, Belle. — lhe recordou ele com impaciência. — Você jamais aceitou esse fato. Essa é a razão pela qual nossa relação não avançou. Porque você não pode aceitar que ele se foi.

Sabella tinha levado três anos para aceitar que Nathan não voltaria nunca e durante todo esse tempo tinha tido aqueles horríveis pesadelos. No princípio tinham estado cheios de sangue e, mais tarde, de fúria e dor. Ela esteve convencida de que seu marido seguia vivo, de que estava ferido, e nesses pesadelos Nathan lhe rogava que fosse a ele. Logo, uma noite, deixou os ter, e Nathan desapareceu de sua vida para sempre.

—Sim. — disse ela assentindo com a cabeça. — Aceitei isso faz muito tempo, Duncan. Mas o adverti, quando começamos a sair, que não estava procurando amor.

Ele apertou os lábios com ira.

—Nem sexo. — cuspiu.

— Apenas me deixa beijar você, embora, ao que parece os rumores de que se deita com o novo mecânico são certos. —Indicou-a com o dedo.— Reconheço uma chupada quando a vejo.

—Não estou me deitando com o Noah Blake. — Sabella teve que conter a frustração e a ira. — Não importa o que a pessoas dizem por aí.

—Pois asseguro a você que não está fazendo-o comigo. — replicou Duncan, entrando na sala. — Diga-me, Belle, todas estas fotos lhe dão calor a noite? —Levantou o braço para assinalar o suporte da chaminé e a mesa. — Darão filhos a você? A abraçarão quando chorar por ele?

Ia elevando a voz, à medida que a cólera aumentava em seu interior. Finalmente, Duncan se tinha dado conta de que as advertências que lhe tinha feito nos meses passados tinham sido sinceras. Não queria mais que sua amizade.

—Quer me abraçar enquanto choro por ele? —perguntou ela com frustração. Levantou-se da poltrona e agarrou a garrafa de vinho e o copo antes de sair da salinha. — É isso o que quer, Duncan?

Colocou a taça e a garrafa sobre o balcão em forma de L da cozinha antes de virar-se para ele.

—Acaso quando Noah a marca no rosto e no pescoço, chora por Nathan depois? —burlou-se Duncan de uma maneira odiosa e repulsiva, seguindo-a a bem iluminada cozinha.

—Pare. —Sabella o olhou com cautela por cima do ombro e se moveu ao outro lado do balcão, onde se sentia mais segura.

Jamais tinha visto Duncan tão furioso. De fato, não recordava sequer vê-lo ligeiramente zangado. Mas estava claro que nesse momento ele estava e muito.

Olhou-o depois do pobre amparo que lhe oferecia o balcão, observando aquela amarga cólera em seu rosto e também em seus olhos. Tinha os lábios apertados e a expressão tensa.

—Crê que não sei por que deixou que o mecânico chegasse tão longe, não é? —acusou-a com fúria. —Está se enganando, Belle. Sabe disso.

—Já é meia-noite, Duncan. —disse ela. — Não gostaria de discutir este tema agora, caso contrário, teria convidado você para vir aqui. Não esta em posição de questionar meus atos ou minhas decisões.

—Ele é como Nathan. — afirmou fulminando-a com o olhar. — Por isso o quer. Por isso permitiste que a marque, porque recorda a Nathan. Mas não é ele, Sabella.

Ela o olhou confusa.

—É obvio que não é como Nathan. — respondeu ela começando a sentir-se furiosa. — Nathan não era como ele. Nathan me amava, Duncan.

—Amava-a tanto que nem sequer lhe passou pela cabeça deixar os SEAL. — se burlou ele. — Tem idéia de quantas vezes disse a seu marido que ia terminar morto? Que a deixaria sozinha e sofrendo por sua ausência? Diga-me, crê que se importou?

Nathan tinha sido Nathan. Um homem e um SEAL. Simplesmente, tinha esperado que ela seguisse adiante se lhe ocorresse algo.

—Você também poderia acabar morto escalando esses condenados escarpados, mas mesmo assim o faz. Nathan era um SEAL, Duncan. Não só era um trabalho para ele. É o que o fazia ser quem era.

—E você não foi para ele mais que uma bela e indefesa sulina que lhe alimentava o ego cada vez que estava em casa. Punha-me tão doente que mal podia suportá-lo. —O asco se refletiu em sua voz, em sua expressão, quando ela o olhou com surpresa.

—Era sua esposa. — disse Sabella, confusa pela dimensão que estava tomando a situação. — Dava-lhe o que necessitava, como ele me deu o que eu necessitava Duncan. Não é algo que concerne a você e certamente não você não é ninguém para julgá-lo.

—OH, Nathan, tem que me trocar o óleo do carro. — a imitou Duncan com voz furiosa. — OH, Nathan, pode dar uma olhada nas rodas do carro? Agitava as pestanas, agindo como se ignorasse inclusive o que fosse uma chave inglesa. Logo ele morreu e você entrou na oficina e começou a trabalhar nesses carros como se fosse uma profissional. Demônios, Belle não se remói um pouco por haver mentido a ele dessa maneira?

Não. Nathan tinha necessitado protegê-la enquanto estava com ela, e Sabella tinha necessitado ser seu mundo entre uma missão e outra. Teria mudado isso com o tempo? Sem dúvida o teria feito. Mas nos dois anos que tinham estado juntos, não tinha importado. Arrumar carros não era o trabalho de sua vida. Pode ser que gostasse, mas gostava mais de Nathan. Enquanto ele estava em uma missão, ela trabalhava em seu próprio carro e algumas vezes o fazia inclusive no precioso Ranger de Nathan.

—Jamais menti a meu marido. — assegurou com voz baixa. — E jamais menti a você. Disse que não queria o que você, obviamente, queria de mim. Disse-lhe faz um ano e repeti isso muitas vezes.

—Mas quer esse mecânico filho da puta que fede a graxa e óleo. — grunhiu Duncan.

Sabella voltou a olhá-lo, cada vez mais encolerizada.

—Se houver algo no que você e eu devemos estar de acordo é que esse é um de meus perfumes favoritos.

—Maldição. — bramou ele. — Fede a isso continuamente. Possivelmente já esteja cansado de cheirar essa merda enquanto tento jantar.

Nunca tinha visto esse lado de Duncan. De fato, jamais tinha suspeitado sequer que existisse.

—Você pensou que tinha conseguido à esposa do Nathan. —Um sorriso amargo lhe curvou os lábios. — Viu uma mulherzinha em sua casa e acreditou que não havia mais nada. —Sabella negou com a cabeça— Não viveu nesta casa, Duncan. Não tem nem idéia das vezes em que Nathan tentou me dar ordens. E é mais que evidente que você nunca se incomodou em olhar sob a superfície.

Duncan lhe dirigiu um olhar furioso antes de virar-se e caminhar para a janela.

—Desfaz-se dele! —voltou-se para ela e lhe falou com voz controlada, dura e fria. — Despede-o, Sabella.

A jovem arqueou as sobrancelhas.

—Foi Rory quem o contratou, assim não posso despedi-lo. Mas a verdade é que tampouco o faria seguindo as ordens de alguém, Duncan, e muito menos as suas.

—Desfaz-se desse bastardo ou acabará lamentando-se. —Seu rosto estava sulcado por linhas de amarga fúria.

— Só precisa vê-lo para saber que é perigoso. Essa é a única razão pela qual o quer, e nem sequer tem o valor de admiti-lo. É tão perigoso como era Nathan.

—Saia. —Sabella se ergueu lentamente e se dirigiu ao telefone, seguida pelo desdenhoso olhar do Duncan. — Quero que vá agora mesmo.

—Porque não pode suportar a verdade?

Nesse momento, ele não parecia tão atraente como ela havia pensado que era, embora o fato de que fosse atraente ou não, tampouco fosse um requisito para ela. Duncan sempre tinha parecido sofisticado a ela; possuía uma elegância masculina que tinha estragado com aquele arrebatamento de ira.

Porque está fora de si . Respondeu Sabella. Agarrou o telefone e fulminou Duncan com o olhar antes de acrescentar:

—Suma.

Ele olhou o telefone.

—Vamos, chame esse filho da puta. — insistiu. — Vamos, Belle, faze-o. Estará por aí com qualquer prostituta porque você não é suficientemente mulher para prender um homem em casa. Não a um homem como Nathan, nem, certamente, a um desgraçado como Noah Blake.

Sabella sabia que aquelas palavras deveriam lhe haver feito mal, mas, estranhamente, não foi assim. Casou-se com um SEAL, não com um contador. Sabia ao que se arriscava quando uniu sua vida a de Nathan. Nunca existiram garantias e o perdeu com poucos anos de casamento.

—Então não se importará em ir, não é? —espetou ela friamente.

—Nem pensar! —Ele a surpreendeu ao aproximar-se rapidamente, e Sabella se deu conta de que Duncan estava muito mais furioso do que tinha acreditado a princípio.

Tinha digitado o primeiro número da emergência quando o telefone saiu voando de sua mão. Reagindo rapidamente, a jovem se voltou para trás para evitar a mão que tentava lhe agarrar o pulso.

No momento em que os dedos do Duncan se fecharam sobre ela, ouviu-se um grunhido furioso. Uma mão maior, mais larga e mais morena capturou o pulso do Duncan e, ante o olhar estupefato da Sabella, apertou-a e a retorceu até pôr a aquele bastardo de joelhos lhe obrigando a soltar um grunhido, quase feminino.

Sabella olhou alarmada a Noah, tomando nota da camiseta e do colete de couro, do jeans descolorido e as partes negras. Das botas de motorista e a expressão gélida daquele rosto que parecia cinzelado em pedra.

Se ela não interviesse de algum jeito, Duncan seria um homem morto. A fúria gelada de Noah era mais profunda desta vez que quando tinha apertado entre seus dedos o pescoço de Mike Conrad.

—Estou cansada de que se dedique a atacar os homens que me rodeiam, Noah —lhe disse com firmeza, sem cólera, como se simplesmente estivesse fazendo uma observação. — Poderia haver me encarregado dele eu mesma, sabe?

Noah a olhou enquanto Duncan ofegava a seus pés.

—Solte-o. —Ela enrugou o nariz como tinha feito com o Nathan nas poucas vezes que o tinha visto zangado de verdade,

— Não merece que manche o chão de sangue. Na verdade, isso só conseguiria me irritar.

—Sei como me desfazer de um corpo. —replicou ele, deslizando o olhar pela camiseta e o short que ela vestia.— Seria muito fácil.

—OH, estou segura disso, mas logo me doeria a consciência e teria que contar a Rory. —Sabella encolheu os ombros com despreocupação. — Embora, ao menos, teria uma boa desculpa para fazê-lo despedir você.

—Asseguro a você que ele me ajudaria. —rugiu Noah. Mas ela começou a vislumbrar uma greta em sua couraça de gelo. — Por que não deixa de rodeios e me diz o que quer na realidade, Sabella?

—Que deixe de se comportar como um valentão e que solte Duncan antes que jogue os dois aos pontapés de minha casa e chame o xerife. —lhe respondeu ela a gritos, porque já estava cansada de ter que tratar com homens teimosos.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—Solte-o, maldito seja. —Recolheu o telefone que tinha caído do suporte e o pendurou enquanto dirigia a ambos um olhar indignado. Ao menos, Noah tinha afrouxado os dedos que prendiam o pulso de Duncan. — Vai acabar vomitando se não o fizer e não quero ter que passar a noite limpando.

Duncan, certamente, parecia a ponto de vomitar. A pressão em seu pulso tinha que ser muito dolorosa, embora Noah parecesse sujeitá-lo como se não lhe custasse nenhum esforço.

—Saia daqui. —Noah o soltou lentamente e deu um passo para trás permitindo que Duncan se levantasse com dificuldade. Quem antes tinha sido um modelo de esmero, tinha agora a camisa enrugada e suas calças estavam suspeitosamente úmidas na região central, mas Sabella não se incomodou em olhá-lo.

Sentia-se como se ela mesma fosse a vomitar quando Duncan se apressou a sair da casa. Noah o acompanhou até a porta, fechou com força e logo retornou à cozinha.

Apoiando as mãos no balcão, ela inclinou a cabeça e tentou controlar a ira e a dor que a invadiam. Maldição. Até agora, sempre havia gostado de Duncan, e juraria que tinha discutido amplamente com ele sobre todas aquelas coisas irritantes do amor e do sexo, e as razões pelas quais não estava preparada para comprometer-se.

—Jamais deveria havê-lo deixado entrar em casa. —Noah se deteve diante do balcão. — Pelo amor de Deus, Sabella, acreditei que a esta alturas saberia que não é prudente permitir que esse filho de uma puta a visse enquanto leva minha marca.

Ela seguiu com a cabeça inclinada. Quantas vezes, havia rido de Nathan quando lhe havia dito uma coisa parecida? Sempre o fazia quando estava irritado com ela ou quando simplesmente se comportava como um homem.

Teria que ter sido mais prudente na vez em que saiu sozinha com Sienna, durante seu primeiro ano de casados, porque quando se embebedou e torceu o tornozelo, ele não tinha estado lá para impedi-la. Deveria ter sido mais prudente na vez que tinha tentado arrumar uma fuga de água do porão ela mesma, porque tinha acabado empapada e o porão alagado. E, como esses, tinha havido centenas de exemplos nos quais Nathan sempre lhe tinha reprovado sua falta de prudência.

—Por que não parte você também? —perguntou elevando a cabeça. — Já deveria saber que não é prudente irritar uma mulher que já está irritada.

E ela deveria ter sido mais prudente ao permitir que Rory cuidasse da contratação de pessoal.

—Sabella, pequena, me olhe. — disse ele com voz rouca.— Se ele fez alguma coisa a você, teria que o matar. Ficaria encantado em matá-lo.

—E logo eu teria que carregar a culpa. —Sabella inclinou a cabeça com um sorriso amargo nos lábios.

—Não. O único culpado aqui é ele, por ser o suficientemente estúpido para tocá-la. Acaso não sabe que os homens ainda não aprenderam a manter as mãos separadas daquilo que não lhes pertence?

Sabella elevou a cabeça surpresa.

—Crê que pertenço a você?

Não se sobressaltou quando Noah estendeu a mão para tocá-la. Embora, durante anos, tinha tido que conter um estremecimento cada vez que outro homem tentava acariciá-la e beijá-la.

—Não pertence a ele. —Acariciou com a ponta do dedo o arranhão que lhe tinha provocado sua barba no queixo. — A testosterona às vezes é muito perigosa. Deveria ter esperado antes de falar com ele.

Noah não só soava razoável, mas também tinha razão. Muita razão. Tinha pensado que Duncan a entendia. Que aceitaria que ela não poderia lhe dar o que ele queria.

—Ele superará. —murmurou ela finalmente.— Mas acredito que será melhor que você também vá. Estou cansada.

Rodeou o balcão para acompanhá-lo à porta principal, e se viu surpresa ao sentir que ele a rodeava com um braço e a estreitava com força.

Esse tipo poderia haver machucado você. resmungouEntretanto, sabe que está a salvo comigo. Admite-o.

—Também estava a salvo com ele. —lembrou ela baixo — Não sou estúpida, Noah. Sei como me proteger. E o farei quando for necessário.

—Demonstre-me isso.

Aquela voz rouca e áspera era uma escura tentação.

— Tente se liberar de mim, Sabella.

Ela quase riu ante a provocação. Mas algo em seu interior a fazia arder, implorar, estreitar-se mais contra ele quando a elevou contra seu duro corpo.

—Deseja-me. — afirmou Noah em voz baixa.

—Não quero desejar você. —sussurrou ela em resposta. — Duncan tinha razão em uma coisa: é perigoso. Muito perigoso e muito misterioso para o que eu necessito. Deveria me haver comportado com mais inteligência e me haver desfeito de você na semana passada.

—É uma mulher muito inteligente. —Inclinou a cabeça e lhe roçou os lábios com os seus. — Suficientemente inteligente para saber quais são os braços aos quais pertence. Suficientemente inteligente para saber onde está a salvo.

Noah não queria forçar as coisas. Sabia que agora não era o momento de fazê-la sua de novo. A razão de Sabella se rebelaria e a faria sentir-se culpada quando chegasse o dia, mas isso não mitigava a adrenalina que corria pelas veias masculinas. A mescla de «pó de afrodite» e luxúria torturava seu grosso membro enchendo-o de sangue, e seu testículo pulsava com força contra suas coxas.

Tinham passado seis anos desde a última vez que havia possuído sua esposa, desde que tinha desfrutado da calidez e suavidade que sempre achava ao introduzir-se nela. Desde que a tinha devorado e lambido dos pés à cabeça, desde que tinha ouvido os gritos de sua esposa lhe pedindo mais.

Tudo o que sentia agora era desejo. Um desejo voraz que lhe impulsionava a estreitá-la contra si e reclamar seus lábios. Inclinando-se sobre eles, colocou-lhe a língua na boca e saboreou aquele doce e delicado sabor de paixão feminina e vinho.

Queria derramar esse mesmo vinho sobre o corpo da Sabella e lambê-lo. Queria observar como o líquido deslizava pelas dobras femininas e enterrar os lábios entre suas coxas para bebê-lo. Queria embebedar-se dela, de luxúria, de necessidade e de um prazer que jamais tinha podido esquecer. Do que nunca tinha podido escapar.

—Deus, que sabor tem. —gemeu ele lhe mordiscando os lábios enquanto Sabella jogava a cabeça para trás e o agarrava pela nuca, afundando os dedos em seu cabelo.

OH, sabia o que ela queria. Um duro sorriso curvou os lábios de Noah quando, ao elevá-la entre seus braços, roçou-lhe o pescoço com a barba e a sentiu estremecer-se.

Sem prévio aviso, Noah a sentou sobre o balcão e se colocou entre suas coxas. O magro tecido do short dela não servia para protegê-la da dura longitude de sua ereção, coberta pelos jeans. Balançou-se contra ela, jurando que podia sentir o calor e a umidade de Sabella, recordando quão estreita e escura era e como tremia quando a penetrava.

Os gemidos dela incrementaram as chamas do fogo que ardia dentro dele. Lambeu-lhe o pescoço com a língua, acariciou-a com a aspereza de sua barba e sentiu como ela se apertava contra ele.

Agora não os deteria nenhum xerife.

Deslizou as mãos por sua camiseta e se precaveu de que Sabella não usava sutiã. Seus formosos seios estavam livres e seus mamilos duros e quentes. Queria saboreá-los. Precisava saboreá-los.

Sabella gemeu, gritou ante as sensações que lhe percorriam o corpo. Eram perigosas, carnais, e tão intensas que não podia pensar, não queria pensar. O roçar da barba de Noah representava para ela um prazer escuro e excitante, e seu beijo era como o vinho mais forte. Noah a fazia perder a cabeça, conseguia que se nublassem seus sentidos e que o coração martelasse com força no peito.

Necessitava de mais. Necessitava de suas carícias. Quando as mãos masculinas deslizaram sob a camiseta, ela se apertou contra ele, suplicando em silêncio que aquelas palmas calejadas lhe acariciassem os mamilos, porque nesse momento o necessitava mais do que nunca tinha necessitado nada. Mais que qualquer outra coisa no mundo. O desejo que agora sentia por esse homem era intenso e perturbador; se tinha cravado profundamente nas vísceras.

Desejava a Noah Blake mais do que podia recordar ter desejado a seu marido.

O medo a invadiu. A surpresa. A fúria. Uma fúria dirigida para si mesma e para ele.

Sabella reuniu todas suas forças para afastar-se dele e obrigá-lo a soltá-la, para saltar do balcão e pôr distância entre eles.

—Isto é o que não deveria acontecer. —Deu um passo para trás. — Isto é exatamente o que não necessito. Agora, por favor, se afaste de mim. Vá antes que termine fazendo algo do qual os dois acabarão se arrependendo.

Noah a olhou durante um bom momento. Podia possuí-la com facilidade. Podia tocá-la, abraçá-la, aliviar parte da dor que via em seus olhos. E queria fazê-lo. Necessitava-o.

Que Deus o ajudasse, o que tinha feito a sua esposa? Aí estava, diante dele, olhando-o como se fosse sua destruição em vez de um homem ao que desejava e ansiava. Noah podia ver a culpa que a invadia. Culpa de que outro homem pudesse conseguir com que respondesse, de que outro homem pudesse tocá-la como só ele, seu marido, fazia.

E a isso tinha que se acrescentar aquele maldito ciúmes. Havia partes de Nathan que não tinham morrido como ele tinha pensado. O homem que era Noah, mais escuro, mais dominante e arrogante, odiava ao homem que tinha sido Nathan. Porque era a Nathan quem ela queria. Mas era Noah quem estava vivo e faminto dela.

—Verei você amanhã na oficina. — disse finalmente, afastando da cabeça aqueles pensamentos enquanto se virava e saía da casa.

Torturado, assim era como se sentia. Com uma palpitante e dolorosa ereção e o pulso da luxúria ardendo como fogo líquido em suas veias.

 

Na manhã seguinte, Sabella se arrastou para fora da cama e caminhou dando tropeções para a ducha. Quando terminou de tomar banho e se dirigiu à cozinha, o café já estava pronto graças ao temporizador da cafeteira. Perguntou-se se conseguiria limpá-lo suficiente para chegar a tempo ao lugar onde tinha combinado com suas amigas, Sienna Grayson, a esposa do xerife, e Kira Richards.

Ian Richards tinha sido o melhor amigo de Nathan. Suas bodas com a famosa Kira Porter, há alguns anos, tinha sido uma surpresa na pequena comunidade. E ainda era mais surpreendente que retornassem em todos os verões à casa de Alpine em que Ian tinha vivido com sua mãe.

Eram amigas desde fazia muito tempo; entretanto, só durante o último ano se reuniu com elas para tomar o café da manhã. Sienna não gostava de madrugar.

Essa manhã, Sabella a compreendia bem.

Sentia-se destroçada pelos sonhos que a tinham atormentado durante a noite anterior. As acusações de Duncan, os ferozes olhos azuis de Nathan cravados nos seu com amor e dor, e Noah, que tinha alargado a mão para ela, e que estranhamente tinha os mesmos olhos de Nathan, a mesma voz. Esses sonhos tinham sido mais vividos, mais aterradores, que qualquer outro sonho que tivesse tido antes. Ou possivelmente só tivessem reaparecido porque não os tinha há algum tempo.

Estacionou o carro diante da casa dos Richards e vislumbrou o Jipe marrom claro de Ian estacionado no caminho de entrada. Os Richards viviam em um rancho térreo ao lado do parque nacional. Rodeado de escarpados e pinheiros, possuía a beleza inóspita e desolado característica dessa zona que sempre conseguia lhe roubar o fôlego.

Sienna estacionou atrás dele.

—Deveria ser ilegal levantar-se tão cedo, Sabella. — comentou sua amiga quando desceram dos carros.

— Teria que dizer ao Rick que a prendesse.

Sabella olhou a sua amiga atentamente. Apesar de sua perfeita maquiagem, Sienna tinha escuras olheiras sob seus olhos verdes lima e rugas de preocupação na fronte.

—Tenho que trabalhar esta tarde. — lhe recordou Sabella.

— Só posso escapar pelas manhãs. —Franziu o cenho enquanto dava um rápido abraço a sua amiga, precavendo-se de que tinha perdido peso nas últimas semanas.

— Se encontra bem?

—Eu? —Sienna esboçou um sorriso cansado. — Estou bem. Rick esteve muito ocupado e já sabe como fica quando não consegue resolver um caso. Todas essas mortes em um período de tempo tão curto o estão voltando louco.

—A tropa Black Colar. — grunhiu Sabella. — São uns bastardos. Conhecia uma das garotas que mataram. —Era agente do FBI. —Sienna suspirou enquanto se dirigiam para casa.

— Não pude acreditar nisso quando li no jornal. É obvio, Rick conhecia todos os detalhes, mas não me disse nada.

Sabella sabia que Sienna discutia a anos com o Rick porque ele se negava a lhe contar sobre os casos nos quais trabalhava, embora estivesse perto de solucioná-los, e que aquilo provocasse tensões em sua relação.

—Não pode lhe contar isso Sienna. — lhe recordou Sabella com suavidade. — Como Nathan não podia me contar nada de suas missões.

—Sim, mas você não tinha que viver com Nathan quando estava em uma de suas missões. — resmungou Sienna. — Algumas noites nem sequer retorna para casa. —acrescentou com tristeza.— Odeio que faça isso.

Sabella não sabia o que mais podia lhe dizer. Entendia o comportamento de Rick. Embora Sabella houvesse compreendido que Nathan fosse um SEAL, Sienna jamais tinha aceitado a dedicação de Rick a seu trabalho como xerife.

—Rick nem sequer me contou o problema que teve com seu novo mecânico. — disse Sienna com uma careta quando já estavam diante da porta. — Tive que me inteirar pelos rumores que correm na cidade.

Tentando controlar o rubor, Sabella bateu na porta e entreabriu os olhos.

—E asseguro a você que não se equivocaram com respeito ao chupão. —Sienna a olhou de esguelha e tentou dissimular sua risada.— Esse homem sabe fazer bem as coisas.

—Bom dia, garotas. —Kira escolheu esse momento para abrir a porta e as convidar a entrar. — O café da manhã estará preparado em alguns minutos. Só resta acabar as tortinhas e poderemos começar. —interrompeu-se e olhou para Sabella com os olhos muito abertos ao mesmo tempo em que esboçava um sorriso cúmplice.

— Então, Sabella, o que se ouve por aí é certo. Esse novo mecânico deixou uma boa chupada em você, não é assim?

Sabella olhou a sua amiga com os olhos entrecerrados.

—Não quero falar sobre o novo mecânico.

—O novo mecânico? —disse Ian, que apareceu nesse momento na porta.

— Belle, poderia lhe dizer que logo vou usar o Jipe? —deteve-se, observou as marcas do queixo e do pescoço de Sabella, e olhou a Kira arqueando as sobrancelhas.

Sua esposa sorriu com satisfação.

—O novo mecânico.

Ótimo.

—Será que acaso alguma vez viram uma chupada?

—Mas, olhou-se no espelho? —Sienna riu, embora o som parecesse forçado.— Ou está se tornando um hábito e ignora o que não quer ver?

Sabella se voltou para ela com os lábios apertados.

—O que quer dizer?

—Quero dizer que não só tem uma chupada. — se mofou Sienna.

— Carinho, seu mecânico deu a chupada do século, e o fez com consciência. —Estendeu a mão e tocou a marca sob o queixo da Sabella, negando com a cabeça.

— Oxalá, todas fôssemos tão afortunadas.

 

Sabella chegou à oficina no meio da manhã e observou que havia mais de meia dúzia de veículos esperando para serem arrumados. Toby se encarregou do fornecedor de gasolina e vários estudantes universitários esperavam seu turno na loja de conveniência do posto de gasolina.

Rory estava encarregando da caixa registradora na oficina quando Sabella entrou no escritório e fechou a porta a suas costas. Dirigiu-se para a cafeteira e, nesse instante, a porta que se comunicava com a oficina se abriu dando passo ao Noah.

Imediatamente, sentiu-se atraída por seus olhos. Sempre se sentia atraída por eles.

—Chegou tarde. Está tudo bem? —Noah fechou a porta detrás de si.

—Passei mais tempo de que deveria tomando o café da manhã com umas amigas. —Sabella encolheu os ombros, serviu-se de um café e foi até a mesa.

Quase sem dar-se conta, olhou a camisa que ela usava posta. Tinha sido de Nathan. Estava manchada de óleo e imaginou que podia cheirar a ele, embora soubesse que fazia muito tempo que o aroma tinha desaparecido. Era uma camisa confortável e também uma advertência para outros homens. Nesse dia, necessitava de algo que afastasse a Noah, e rezava para que isso funcionasse.

Observou como os olhos masculinos liam o monograma do bolso. O nome de Nathan estava bordado nele. Quando seu olhar se encontrou com a dela, Sabella pôde perceber um indício de cólera.

—Ainda segue se aferrando a ele? —perguntou-lhe brandamente com a voz mais áspera que o normal.

—Sempre. —Que pensasse o que quisesse. Tinha perdido as esperanças de que Nathan voltasse para casa três anos antes, mas não tinha esquecido o que tinham compartilhado. Não importava o muito que tentasse.

—Já passaram seis anos. —Noah se serviu de café e se sentou no canto da mesa. — Muito tempo para ser uma viúva frígida, não acha?

—Duncan deixou isso bastante claro ontem à noite. — recordou. — Não preciso que repita a mensagem.

Noah viu a dor que se refletiu nos olhos de Sabella e se enfureceu. Era muito consciente de que enfrentava a lembranças que ele mesmo compartilhava e isso o incomodava mais do que queria admitir.

Não tinha esperado que ela se fizesse isso. Paralisar sua vida de maneira que ninguém mais pudesse tocá-la, abraçá-la. Como se fosse um animal ferido gravemente, ela se tinha refugiado em uma toca para lamber as feridas, mas estas seguiam abertas e sangrando.

Não podia culpá-la por isso. Ele tinha feito o mesmo. Fechou-se a tudo, concentrando-se no presente e nas batalhas da vida diária. Tinha sido assim até que retornou para casa e compreendeu que nada era como ele tinha pensado que seria.

—Acredito que precisa viver um pouco. —Jamais tinha pretendido que ela estivesse sozinha se lhe ocorresse algo. Mas, como ele, Sabella tinha continuado obstinada aquele vínculo que existia entre eles. Noah tinha tentado rompê-lo, mas jamais tinha conseguido.

—E eu acredito que isso não é seu assunto. Não o conheceu e tampouco me conhece .

Noah grunhiu ao ouvir aquelas palavras. Bebeu seu café e olhou fixamente a cabeça de Sabella inclinada sobre o livro de contabilidade. Ele tinha passado por isso várias vezes, tentando criar uma ordem perfeita. Uma vez que ela tinha decidido sair de seu estupor, concentrou-se em levar a oficina adiante. E o tinha conseguido porque, segundo Rory, negou-se a dormir e vivia virtualmente na oficina.

—Não preciso conhecê-lo. — replicou Noah, apoiando o café no joelho sem deixar de observá-la. —Tive mais do que o suficiente dele durante todo o tempo que estou aqui. Cada uma das pessoas que conheci gostava desse «irlandês». —Quase cuspiu a palavra. Estava tão ciumento de si mesmo que quase não podia suportá-lo.

Quando demônios tinham decidido os habitantes dessa cidade que Nathan tinha sido um grande homem e que nenhum outro podia comparar-se a ele.

—Nathan tinha muitos amigos. —Ela encolheu os ombros, passando os dedos pelo bordo do livro de contabilidade com expressão tensa. —Amigos que deixam que sua viúva sofra. — recordou ele. — O que aconteceu, Sabella? Quem se deu conta, finalmente, de que a oficina estava tendo tantas perdas? Segundo Rory, esteve encerrada na casa da colina e nem sequer abriu a porta durante dias. Quando se deu conta de que os Malone estavam tentando te destruir?

Ela apertou os lábios.

—OH, sim, o velho Nathan, o amado Nathan. — se burlou Noah. — Tão bom, que sua viúva se sentiu abandonada e quase perdeu tudo enquanto se encerrava em sua dor. Que demônios aconteceu Sabella?

—Repito a você, isso não é seu assunto. —Mas sua voz soou mais tensa, mais aflita e sua dor rasgou as vísceras de Noah.

Sabia o que tinha acontecido. Sua família se voltou contra ela. Se dizia que Mike Conrad lhe tinha devotado ajuda em troca de ser seu amante. Noah tinha tido que conter sua fúria ao saber daquilo. Uma vez que os Malone e o banco se voltaram contra ela, era difícil que alguém tivesse estado disposto a ajudá-la. Só o fato de que Nathan tivesse tido amigos que não tinham deixado de ir à oficina, tinha-a salvado da ruína. Mas eram amigos que não tinham muito poder, e muitos deles também o eram de Grant Malone ou do Mike Conrad, por isso sua ajuda não tinha sido suficiente.

Sabia o que era o que tinha querido Mike Conrad de Sabella. A oficina era o lugar perfeito para lavar dinheiro e para que os membros da tropa se reunissem. Com o apartamento na parte de cima, a fama da oficina, e a boa reputação de Nathan Malone, teria funcionado.

O xerife e sua esposa tinham permanecido fiéis a Sabella, embora se ouvisse rumores que os amigos de Mike Conrad no conselho municipal pressionavam o xerife para que escolhesse um bando: o de Mike ou o de Sabella. Noah conhecia Rick Grayson, e ele não formava parte da BC, quanto menos levantava suspeitas. Por sorte, o programa que Noah tinha instalado no computador de Mike lhes proporcionaria as provas que necessitavam para derrotar aquele bastardo. A ele e a seus amigos.

O prefeito, um dos amigos da infância de Grant Malone, tinha anulado a licença da oficina de maneira ilegal, e Rory estava assessorando-se com um advogado de Odessa para demandá-lo. O que tinham feito a Sabella era inaceitável e ele não pensava tolerá-lo mais.

Os rumores e os falatórios que enchiam a vida da cidade estavam ali para qualquer em que quisesse escutá-los. E Noah tinha escutado a cada um dos clientes suficientemente curiosos e dispostos a falar com o homem ao qual tinham apelidado «o irlandês». Tinha prestado atenção e entre as falações tinha descoberto a verdade, uma verdade que só tinha conseguido enfurecê-lo ainda mais.

—Sim, é meu assunto. — afirmou Noah finalmente.

A batalha teria sido divertida se não fosse com sua própria esposa. Ter que roubar o coração de Sabella sua própria lembrança ia ser um verdadeiro inferno.

Observou como ela levantava a vista para olhá-lo fixamente, e sentiu como seus testículos se esticavam em resposta. Só tinha visto esse olhar uma vez nos dois anos em que tinham vivido juntos.

Sabella separou os lábios no momento em que a porta que comunicava o escritório com a loja de conveniência se abria para dar passo a Rory.

O olhar de Noah se cravou nele, exigindo que partisse, mas seu irmão lhe respondeu com um sorriso e logo desviou o olhar ao pescoço de Sabella. Ela já começava a ficar farta. Grande surpresa, um homem lhe dado uma chupada no pescoço. Acaso ninguém acreditava que era suficientemente mulher para despertar a paixão de um homem?

Curvou os lábios com ira antes de ficar em pé, rodear a mesa e sair batendo a porta.

—É um maldito estúpido. — resmungou Rory enquanto Noah olhava a porta pela qual ela tinha saído.

Noah se virou para ele.

—Será melhor que se ocupe desse contrato que está evitando todo o dia. O novo mecânico virá amanhã. Rory fez uma careta.

—Ótimo primeiro a irrita e depois me envia para que descarregue tudo em cima de mim.

—Faze-o. — grunhiu antes de ficar em pé e dirigir-se à porta da oficina.— E se mantém afastado de mim durante um momento.

Abriu a porta e encontrou Sabella junto ao balcão dos mecânicos, revisando a lista de turnos. A jovem franziu o cenho e logo olhou em direção ao mecânico que Rory estava a ponto de despedir.

Antes que ela pudesse agir, Noah lhe arrancou a prancheta da mão, jogou-a sobre a mesa e a arrastou de volta ao escritório.

—Perdeu o juízo! —gritou ela quando a porta se fechou atrás deles. — Por que não aparece o nome de Timmy na lista de turnos? Está ali, com as mãos metidas nos bolsos sem fazer nada, e quero saber por que.

—Rory tomou a frente no assunto. — lhe explicou, optando pelo caminho mais fácil. — O despediu.

Sabella entrecerrou os olhos.

—Foi decisão de Rory ou sua? —A doce fúria sulina aparecia em sua voz.

Noah cruzou os braços sobre o peito e a desafiou com o olhar.

—Rory compreendeu que não fazia bem seu trabalho e tomou uma decisão. —Mais ou menos.

—Nem pensar. — rugiu a jovem com o rosto pregado ao de Noah. Os olhos cinza estavam quase negros pela ira, as bochechas avermelhadas e os punhos apertados com força nos flancos.

— É minha oficina. Meus empregados. Minhas decisões.

Apertava a mandíbula com tanta força que Noah temeu que se desencaixasse. Seus lábios, formavam uma linha tensa, moveram-se, e ele pôde observar a fúria que ardia em seu interior. Fúria e desejo. O mesmo desejo que consumia suas vísceras, e que acendeu uma faísca na escuridão que ele tentava manter sob controle, no anseia voraz que lutava por não lhe revelar com tanta rapidez.

—Rory jamais teria feito nada sem me perguntar primeiro. — seguiu Sabella. — Foi coisa sua.

Noah encolheu os ombros.

—Só o sugeri.

—Bastardo!

—Me insulte outra vez, Sabella, e o lamentará. — lhe advertiu.

Ela jamais o havia insultado durante seu casamento. E nunca o havia amaldiçoado.

—É um inapto e um maldito arrogante. — espetou sem medir as conseqüências.

Aquilo foi tudo o que Noah necessitou para estalar.

Sem lhe dar tempo para reagir, inclinou o ombro, colocou-a sobre ele, e se virou para a escada que levava ao apartamento, ignorando durante o percurso os pequenos punhos que lhe golpeavam as costas, os gritos de fúria, os intentos da Sabella por liberar-se.

Sua esposa não amaldiçoava. Jamais tinha amaldiçoado. Tinha-lhe dirigido esse olhar recriminatório de jovem sulina cada vez que ele o fazia, lhe perguntando se queria que seus futuros filhos ouvissem aquela suja palavra de sua boca.

Quase tinha conseguido que ele não dissesse palavrões durante dois anos. Mas agora, se ela queria dizer palavrões, ia ter que arcar com as conseqüências, porque isso tinha posto mais quente. Perguntou-se que outras coisas diria se usasse a persuasão adequada.

Fechou a porta do apartamento de um golpe e logo a deixou no chão. Apanhou-lhe os punhos com os quais pretendia lhe golpear o rosto e lhe lançou um olhar feroz.

—Já basta!

Algo brilhou no olhar de Sabella, possivelmente uma faísca de temor quando lhe soltou os pulsos e se separou dela.

—Não vai despedir o Timmy. —espetou a jovem enquanto vestia aquela maldita camisa como se fosse um escudo.

—Rory despedirá o Timmy e você voltará para o escritório que é onde pertence. — grunhiu Noah, observando a dor repentina e entristecedora que atravessou o rosto de Sabella.

—Não, não o farei. —Endireitou os ombros, elevou o queixo em atitude desafiante e o olhou com raiva.— Nem você nem Rory poderão me obrigar, Noah. Antes queimo a oficina a permitir que me tire dela.

A expressão de Sabella era desafiante e furiosa, muito parecida com a que tinha na noite que ele tentou obrigá-la a ficar em casa em vez de sair com suas amigas.

Noah lhe devolveu o olhar com o cenho franzido.

—Maldita seja, Sabella, está se matando. É um trabalho duro e condenadamente sujo. Não tem sentido que trabalhe assim. Poderia ir a um Spa. Fazer as unhas. Acaso você não gostaria?

Sabella lutou por conter a ira que ameaçava afogá-la. Queria bater nele. Queria gritar e apagar, no tapa, aquela arrogante e condescendente expressão de seu rosto. Naquele momento, Sabella soube por que Duncan tinha tido a impressão de que Noah era como Nathan: arrogante, seguro de si e sempre disposto a sair-se com a sua. Ela havia permitido porque não tinha amadurecido o suficiente durante seu casamento para fazer frente a ele. Mas agora estava mais madura. E aquele homem não era Nathan. Noah não era um SEAL que pudesse ser requerido a qualquer momento para uma missão, e tampouco era o homem que uma vez tinha reclamado sua alma, assim, no que a ela concernia, podia ir ao inferno.

—Se quisesse fazer as unhas, faria isso. Se quiser me recostar em uma cadeira e me fazer de recepcionista todo o dia, também o faria. E se quisesse que um homem me dissesse como devo agir, vestir ou me arrumar, então teria um. Mas tudo isso não é parte de seu trabalho, senhor Blake, e se acredita que sim, pode ir por onde veio.

Noah a olhou fixamente, sem dar crédito ao que ouvia.

—Era seu marido quem ditava todas essas normas? —de repente sentiu que o gelo se estendia por suas vísceras, porque sabia que não o tinha feito.

Ela guardou silêncio, e Noah observou como sua expressão relaxava, entristecia-se. Seus olhos cinza brilharam de desejo e, repentinamente, o corpo da Sabella pareceu voltar-se mais suave, mais receptivo ante o que fosse que estivesse recordando.

—Não. — admitiu ela finalmente. — Fui eu quem quis assim, porque pensava que era isso o que ele queria. Gostava de ter uma esposa sempre arrumada. Com as unhas pintadas, bem vestida e maquiada. Uma boneca de porcelana. —A jovem sacudiu a cabeça com pesar e o coração do Noah se encolheu ao vê-la assim. — Estava acostumado a me chamar sua pequena Belle sulina e morreu antes de saber quão diferente eu era. Antes de saber que entendia tanto de mecânica como qualquer um de seus empregados. Amava a Nathan. Era minha vida e lhe dei tudo o que necessitava enquanto o tive comigo. —Então lhe lançou um olhar feroz.

— Mas você não é Nathan. E não me importa absolutamente o que necessite.

Acaso pensava ela que lhe tinha importado o fodido esmalte de unhas? A cólera o atravessou; não era fúria, nem raiva, a não ser orgulho ferido. Maldita, a única coisa que tinha procurado era agradá-lo? Tinha pensado Sabella que Nathan necessitava algo que ela não fosse?

Noah se esticou ao sentir que uma intensa quebra de onda de desejo alagava seu ser. Antes que pudesse conter-se, abateu-se sobre ela e a sacudiu com força.

—E o que acontece com o que você necessita? —disse-lhe com voz áspera.

— Me devora vivo cada vez que nos tocamos Sabella. Você fazia amor com Nathan como realmente necessitava ou também a tratava como uma boneca de porcelana?

—Nathan me deu tudo o que eu necessitava. — lhe respondeu ela com um grunhido.

Mas ele viu a verdade. A pequena mentira, a meia verdade. Noah recordou as noites em que ela se removeu inquieta na cama a seu lado, as vezes que tinha tido a sensação de que sua Sabella necessitava algo um pouco mais duro, mais escuro, do que o que lhe dava, mas logo pensava que aquele sentimento era só um produto de suas próprias fantasias e necessidades.

Entretanto, não tinha sido assim. Agora o via em seus olhos. Recordou a desenfreada luxúria da semana anterior, quando lhe tinha cravado as unhas nos ombros, e sua vida juntos antes do inferno, e então soube. Soube que Sabella tinha desejado mais do que ele se permitiu lhe dar. Pura e simples luxúria.

Um tenso e duro sorriso curvou os lábios de Noah quando ela finalmente se precaveu de que tinha liberado à besta que havia nele.

—É uma mentirosa. — sussurrou Noah, consciente da ardente necessidade que crescia no interior dela.— Diga-me isso Sabella. Alguma vez desejou mais? Alguma vez sonhou sendo possuída com força e rudeza? Tendo sexo selvagem com seu marido? Acaso temia ser a pequena tigresa que queria ser?

Tinha acertado. O rubor alagou o rosto de Sabella e seus olhos se obscureceram. Noah via como a luxúria a invadia desenfreadamente, mesclada com uma emoção que lhe oprimiu o coração.

Sabella queria mais que simples sexo. Queria algo mais que ser amada grosseiramente. Queria tudo o que ele tinha sonhado lhe dar. E ia dar naquele instante.

Sua esposa lhe tinha oculto coisas; bem, ele também o tinha feito. E a necessidade de ouvir como sua Belle lhe dizia o que queria que lhe fizesse o consumia.

—Pode ter sexo selvagem comigo, pequena. —Estreitou-a com mais força contra si, lhe permitindo sentir a rugente ereção sob o jeans.

— Desafio-lhe. Sou um desconhecido, Sabella. Não se reserve. Não seja comigo a bonequinha de porcelana que foi com seu marido. Seja quão selvagem queira e em troca mostrarei quão selvagem posso ser .

 

Ser selvagem com ele? Fazer realidade todas as fantasias que tinha tido quando se deitava com o Nathan? Ela levantou o olhar para Noah, consciente de que estava muito excitada e de que seu corpo clamava por ele.

Logo que pode respirar. O desejo lhe atravessou as veias e a tentação ardia no mais profundo de seu ser.

—Quer que lhe penetre com força, sem contenção, Sabella. —A voz de Noah era mais rouca, mais tentadora, quando a agarrou pelo cabelo e puxou para ele.

Sabella sentiu um fogo incontivel nas vísceras e piscou ao perceber que lhe afrouxavam os joelhos.

—Não quer me puxar pelo cabelo? Vamos, Sabella. Não me dará nada do que dava a ele. Assim me dê o que não lhe dava.

Ela se retorceu contra ele ao sentir seus lábios contra os seus, murmurando sobre eles. Tinha os olhos abertos, apanhados pelos profundos e ferozes olhos azuis de Noah.

—Exibo seus arranhões como outros homens exibem suas medalhas. — grunhiu ele antes de lhe mordiscar os lábios.

— Tive que me dar prazer mesmo enquanto recordava quão ardente foi entre meus braços. Enquanto imaginava sua boca. Seus olhos. Sabendo quão voraz podia chegar a ser.

De repente, ele a havia introduzido em suas fantasias.

Sabella lambeu os lábios e imaginou a cena. Sentia as mãos de Noah no cabelo, imobilizando-a, ao mesmo tempo em que se pressionava contra ela, lhe exigindo que tomasse, que o sugasse.

Noah observou seu olhar, viu seu desejo e seu membro ficou mais duro e grosso que nunca.

Mantendo uma mão nos cabelos da Sabella, usou a outra para lhe tirar a camisa pelos ombros. Sua esposa pôs essas roupas como uma defesa contra o mundo, mas Noah não ia permitir que se escondesse mais dele.

Debaixo tinha um Top sem mangas.

—Não penso...

—Não pense. — lhe ordenou em voz baixa sem afastar o olhar dela.

— A menos que queira pensar em mim possuindo sua boca. Porque o farei, Sabella. Observarei como esses lábios rosados se abrem para receber meu pênis no interior de sua boca.

Ela já o tinha tomado em sua boca antes. Tinha brincado, tinha-o lambido e chupado enquanto brincava com ele; inclusive tinha tragado seu sêmen e depois lambeu os lábios como uma gatinha. Mas aquilo não era a Sabella que queria agora, não era o que necessitava.

—Tire as botas. —Noah lhe sustentou o olhar ao mesmo tempo em que a empurrava e a deixava cair sobre o sofá.

— Tira isso agora, Sabella, ou terá o jeans nos tornozelos enquanto a penetro duramente. Não preferiria rodear minha cintura com essas preciosas pernas para me capturar dentro você?

Ela lambeu os lábios de novo observando como ele se afastava e se sentava sobre a mesa de café para tirar suas próprias botas. As desatou e levantou quando ela se moveu.

Mas Sabella não tinha se movido para tirar as botas, a não ser para jogar-se sobre ele. Noah caiu sobre a mesa, apanhando-a entre seus braços no processo e agarrando-a pelo cabelo enquanto ela assaltava seus lábios com um grito de necessidade e desejo.

—Demônios, sim! —Sabella deslizou sobre ele, montando-se escarranchada sobre seus quadris. Enterrou-lhe as mãos no cabelo quando ele abriu a boca e tentou controlar o beijo.

Ela se transformou em uma tigresa selvagem. Retorceu-se sobre ele, arqueou as costas para que seu clitóris se esfregasse contra a grossa ereção que era contida pelo jeans e lhe rasgou a camisa.

Ele as arrumou para tirar-lhe antes de levantar o Top e o sutiã por cima dos seios enquanto lhe chupava e mordia o pescoço, lhe deixando uma marca que ele sabia que todo mundo veria mais tarde, algo que não o importava absolutamente.

Não seria a única marca que lhe deixaria. Os lábios de Sabella se moveram por seu torso e se atrasaram nos mamilos.

Ela jamais tinha feito isso antes. Não tinha sugado e mordiscado os duros e planos mamilos, e aquilo excitou a Noah mais do que tinha conseguido o «pó de afrodite».

—Maldita seja, sim. — grunhiu quando ela se moveu mais abaixo, deslizando as mãos por seu jeans, lhe afrouxando o cinto, lutando com o zíper da calça.

— Tome Sabella. Minha pequena tigresa selvagem. Vou foder a sua boca até que me suplique que goze. Até que me implore que a deixe me saborear. Sentir-me. Foder-me com cada fôlego de seu corpo.

A Noah, lhe enredavam as palavras. Fechou os punhos sobre os cabelos da Sabella, dominando-a, deslizando-a para trás até que ficou sentada escarranchada sobre seu joelho dobrado e lhe liberou a grossa e palpitante ereção da braguilha.

Levantou o olhar por volta dele e Noah soube que sempre recordaria aquela expressão de seu rosto. Uma expressão faminta e voraz.

Sabella tentou rodear a palpitante ereção com a mão, mas sua grossura a impediu. A acariciou de cima abaixo, detendo-se na sensível glande, e o olhou com os olhos cheios de desejo enquanto ofegava, levantando e baixando aqueles seios duros e avermelhados com cada fôlego.

—Faze-o. — sussurrou ela então.

A ordem atravessou o cérebro de Noah, avivando sua imaginação e suas fantasias. Agarrou o pênis com uma mão, e com a outra a forçou a baixar a cabeça, observando como abria os lábios sobre a sedosa glande.

Sabella se deixou levar pela luxúria. Esfregou-se contra o joelho do Noah, sentindo as deliciosas sensações que lhe provocava o áspero tecido contra o clitóris inchado enquanto a quente e dura glande de Noah empurrava dentro de sua boca.

Deus... Seu sabor era ardente e masculino. Carnal e cheio de luxúria. Lambeu-lhe a glande, desfrutando de sua férrea dureza, da pele suave, da luxúria que palpitava embaixo dela.

Olhou-o aos olhos e vislumbrou naquele feroz olhar um brilho inquietante e perigoso, escuro, uma necessidade primitiva que a fez tremer. Precisava saboreá-lo, atormentá-lo.

Roçou-o com a língua sob a glande, acariciando-o naquele lugar que seu Nathan tinha querido uma vez que lhe acariciasse.

Noah se esticou, lhe contraíram os músculos das coxas, arqueou os quadris e enterrou o pênis profundamente em sua boca.

—Até o fundo, Sabella. —Havia uma estranha e formosa matiz naquela voz áspera e rouca.— Tome.

Ela obedeceu. Noah fechou com força os punhos sobre seu cabelo e lhe fez mover a cabeça para foder a boca e enchê-la com a dureza e calidez de sua ereção.

Sabella o necessitava, estava faminta dele. Podia sentir como o desejo crescia em seu interior enquanto acariciava seu próprio seio e beliscava o mamilo, criando um novo fogo e perdendo-se no prazer.

—Vou gozar pequena. —movia-se entre seus lábios com rapidez e dureza, quase a machucando enquanto se esticava embaixo dela. E Sabella adorou.

Noah estava sendo selvagem. Não continha sua excitação e isso era o que ela necessitava.

Sugou-o com mais força, com maior profundidade. Beliscou uma vez mais o mamilo, puxou-o, amassou-o e sentiu aquele furioso ardor que se concentrava em seus clitóris.

—Sim! Já! —grunhiu ele.

Sabella deslizou a língua contra a parte inferior da glande, roçando-a e acariciando-a, enquanto ele seguia falando com aquela voz áspera e se movia contra ela, penetrando entre seus lábios, endurecendo o corpo ainda mais quando a jovem sentiu sua liberação.

Elevou o olhar para ele e o viu mover-se ante seu próprio rosto. Observou a maneira proibida em que se estremecia, detendo-se de repente antes de ejacular.

O primeiro jorro estalou dentro da boca feminina e o segundo afogou o gemido da Sabella quando seu clitóris explodiu.

—Demônios, é uma pequena bruxa. — gemeu ele.

Sabella ficou paralisada. Sentia, saboreava e existia, mas cravou o olhar nos olhos masculinos como de repente tivesse retrocedido no tempo.

«Tome-me em sua boca, pequena bruxa. Minha doce e pequena bruxa.».

Quando Noah afastou as mãos de seu cabelo, ela se retirou tremendo e o olhou aturdida. O horror e a culpa a invadiam. Sentia que lhe rasgava a alma pelas conseqüências e a realidade do que acabava de fazer.

Ainda podia saboreá-lo em sua boca. Ele a estava olhando e seus olhos cada vez mais escuros refletiam compreensão enquanto a via colocar o sutiã e o Top com mãos trêmulas.

Noah se endireitou lentamente, observando como ela caminhava cambaleando-se para a porta.

—Não se atreva a partir Sabella. —ordenou bruscamente.

Ela negou com a cabeça.

—Não posso seguir com isto.

—Maldita seja, claro que pode. —ficou em pé, metendo o pênis ainda rígido no jeans e fechando o zíper com cuidado.

— Não vai partir.

Ela agarrou a maçaneta. Apesar do quão rápido e forte fosse Noah, ela saiu do apartamento e desceu as escadas antes que ele pudesse alcançá-la.

Amaldiçoando, Noah recolheu a camisa do chão e a passou pela cabeça antes de persegui-la escada abaixo, quase tropeçando nos cordões desatados de suas botas.

—Maldita seja, Sabella. — gritou ele ao irromper no escritório e ver como ela saía a toda pressa da oficina.

Rory lhe lançou um olhar de assombro, como Toby, cujo rosto estava tenso pela cólera. Aquele condenado jovem era muito protetor com Sabella.

Noah se sentou, amarrou os cadarços das botas com rapidez e se dirigiu à porta para onde a tinha visto correr colina acima em direção à casa. Não iria longe, disse-se a si mesmo, contendo a luxúria que o impulsionava a ir atrás dela, a obrigá-la a reconhecer o motivo que a fazia fugir.

Fechou os punhos com fúria e cravou os olhos na casa. Maldição, aquela era sua casa e Sabella sua mulher.

Obrigou-se a dar a volta e retornar à oficina. Obrigou-se a ler a lista de tarefas pendentes e a trabalhar. Obrigou-se a concentrar-se. Sabia como fazê-lo. Tinha passado seis anos fazendo-o. Podia esperar um pouco mais. Só um pouco mais. E logo, ela aprenderia que era dele. Já tinha sido sua antes, mas agora, voltaria a sê-lo de novo.

Uma hora mais tarde, levantou a cabeça do motor que estava arrumando ao mesmo tempo em que girava distraidamente a chave inglesa entre os dedos, enquanto observava como o carro da Sabella se afastava da casa em direção ao cidade.

Entrecerrou os olhos e apertou os lábios. Sabella estava fugindo e Noah odiava que o fizesse.

De repente, viu que seu irmão se aproximava dele e lhe tirava a chave inglesa.

Acredito haver dito em alguma ocasião, disse Rory com suavidade, assegurando-se de que ninguém mais o ouvisse. Meu irmão girava a chave inglesa entre os dedos da mesma maneira. Devolveu-lhe a ferramenta e se afastou de novo.

Sabella estava irritada . Rory estava irritado. Pois que se fodessem, porque Noah tinha voltado para casa e estava disposto a recuperar tudo o que pensava que tinha perdido. Logo se livraria da escória da cidade e reconquistaria a sua esposa.

 

Sabella já tinha tido suficiente. Voltou a estacionar o carro diante da casa da Kira pela segunda vez nesse dia e respirou fundo. Resultou-lhe estranho que Sienna ainda não houvesse partido. Sua amiga não estava acostumada há ficar muito tempo depois que Sabella partisse. Algumas vezes, perguntou-se inclusive se Sienna e Kira se davam bem.

—Belle vamos entrar. —O atraente rosto de Kira se iluminou com um sorriso quando lhe abriu a porta e a convidou a entrar.

Sabella alisou uma prega da camiseta. Havia mudado de roupa. Passou a trança por cima do ombro e pensou que possivelmente deveria haver arrumado também o cabelo.

—Sienna ainda está aqui? Vi seu carro. —Eram perto das três da tarde.

—Retornou de novo faz mais ou menos uma hora. — lhe explicou Kira com um sorriso. — Abrimos uma garrafa de vinho e estamos nos dedicando a esfolar os homens.

OH-OH. Era óbvio que Rick e sua esposa tinham tido outra briga quando Sienna voltou para casa.

Respirou fundo de novo e subiu as escadas que conduziam ao alpendre.

Vestida com jeans, uma blusa de pregas, e o cabelo escuro preso de qualquer maneira no alto da cabeça, Sienna parecia uma adolescente. Em comparação, Kira Richards parecia misteriosa e provocadora, com aquele cabelo negro e seus amáveis olhos cinza.

Com aquela regata e a calça de seda, Kira, cujo rosto refletia compaixão, tinha um aspecto simples e ao mesmo tempo sofisticado.

—Os planetas devem haver-se alinhado ou algo assim. —disse Kira com suavidade. — Deixe ver se adivinho, seu Noah agiu como um homem também.

—Me console dizendo que ao menos Ian mostra um pouco de juízo. —Sabella soltou um suspiro e se derrubou na cadeira frente a Sienna antes de levantar o olhar para sua anfitriã.

—Ian também é um homem, carinho. O que tinha acreditado? —riu Kira.

O vinho estava em cima da mesa. A anfitriã foi à cozinha e retornou ao fim de alguns segundos com outra taça na mão, seguida pelo olhar de Sabella.

—Rick se zangou outra vez porque deixei o bebê com sua irmã esta manhã. — suspirou Sienna. — Kent adora a sua tia.

E Sienna adorava a vida social. Sabella estava de acordo com Rick de que Sienna devia passar mais tempo com Kent, e em que sua tia era possessiva com seu sobrinho. Sem dúvida, Sienna enfrentava a uma difícil situação.

Sabella, odeio dizer isto, mas o roçar da barba desse mecânico deixa seu queixo completamente irritado. Deveria dizer-lhe. disse Kira, rindo.

—Falar não funciona. — resmungou Sabella.

—Acredito que você gosta disso. — se burlou Sienna entre risadas.

Não estive fora mais de três ou quatro horas, e já tive outro encontro com ele. E agora está se escondendo.

Sabella mordeu os lábios e evitou responder a Sienna.

Ouvi que Rick teve que ir à oficina para impedir que continuasse acossando a você. disse Kira um pouco depois. Ele realmente estava acossando você? inclinou-se para frente e olhou a Sabella com curiosidade.

— Falei com o Ian depois de que fossem. Parece pensar que é um homem estranho. Possivelmente deveria despedi-lo.

Sabella as olhou com o cenho franzido.

—Não entendo por que Ian acredita que é um homem estranho. — protestou finalmente.

Kira sentou com lentidão, encheu a taça de Sabella e a aproximou com um olhar de desculpa. Como esposa de Ian e membro da operação contra a tropa, sabia tudo o que estava ocorrendo. Estaria se divertindo se não fosse tão condenadamente triste que sua amiga viúva, não fosse, na realidade, viúva. Não gostava nada que Nathan Malone não tivesse contado a verdade a sua esposa. Não lhe parecia certo que sua amiga se sentisse tão desconcertada e perdida. E a amizade que se desenvolveu entre elas ao longo dos anos só aumentava a preocupação de Kira. Sabella jamais tinha esquecido seu marido, e agora ele havia retornado e a estava submetendo a uma nova tortura.

—Ian ficou preocupado quando a viu esta manhã. —disse a Sabella com um sorriso tranqüilo, quase suave. — Queria a Nathan como a um irmão. —E ainda o fazia, embora Kira preferisse lhe dar um bom chute no traseiro.

—Sei. —Sabella suspirou e levou a taça de vinho aos lábios enquanto sua anfitriã a observava com os dentes apertados pela ira.

Kira não queria ter que ser testemunha da conversação que se acontecia.

Sabella tinha permanecido fiel a seu marido, morto, durante mais de seis anos. As lembranças do amor que havia compartilhado com ele a tinham feito sofrer até limites inimagináveis e Kira pensava que, durante pelo menos a metade desse tempo, Nathan poderia ter aliviado sua dor.

Sabella lambeu os lábios, juntou os joelhos e pareceu estar contendo as emoções que a invadiam.

—Está-me voltando louca. — confessou. — Está tentando assumir o controle de tudo, como se tivesse direito a isso.

—E apesar disso o deseja. — indicou Kira.

O silêncio caiu sobre elas como uma pesada laje depois daquelas palavras.

—Não precisa dele. — afirmou ao fim Sienna. — Não é do tipo de homem que fica em casa e ela sabe.

—Não é isso. Sei reconhecer a expressão de uma mulher que se sente culpada e atemorizada porque finalmente conheceu um homem que poderia ameaçar o lugar que ocupava seu marido em seu coração. — indicou Kira com suavidade.

— E isso não tem nada que ver com o fato de ele ser dos que ficam ou não. Tem que a ver com Sabella deixar de pensar em Nathan ou não.

Kira não andava com rodeios. Sabella tinha aprendido fazia muito tempo que o pior que podia fazer uma mulher era enganar a si mesma.

—Sim, bom, mas isso não quer dizer que tenha que fazer nada a respeito. —Sabella franziu o cenho.

Kira se reclinou na cadeira e observou a sua amiga durante um bom momento.

—Pois deveria fazê-lo. —Negou com a cabeça. — Ian queria a Nathan como a um irmão. — Olhou fixamente a Sabella e continuou— Me contou que quando lhe disseram que ele tinha morrido, foi muito duro para ele. Chegamos a ser boas amigas, Sabella, e estive observando durante estes últimos anos. Ri, sai com suas amigas, e de vez em quando tem um encontro. Mas não teve um amante desde que Nathan morreu, não é certo?

—Foi o melhor. — disse Sabella sacudindo a cabeça. — Assim não tive que suportar que nenhum homem me dissesse o que tinha que fazer.

—Se embebede. — a aconselhou Kira, franzindo o cenho ao ver a dor que refletiam os olhos da Sabella. — Fique zangada, nos diga quão imbecil foi Nathan ao te abandonar.

—Kira! —gritou Sienna, com a ira brilhando em seus olhos verdes. — Já é suficiente.

—Cada vez que ela tentou afastar da lembrança Nathan, você há recordou o muito que perdeu, em vez de lhe dizer que há mais homens aí fora, não é verdade, Sienna? —disse-lhe Kira com suavidade.

— A vi fazê-lo durante todos estes anos. Sou uma espectadora neutra, mas tenho olhos e ouvidos e além disso, estou casada com o que foi o melhor amigo desse imbecil.

—Nathan não era nenhum imbecil. — a interrompeu Sabella.

—Era um SEAL, carinho. E estou casada com um. São tão dominantes e ferozes, tão seguros de suas habilidades e opiniões que às vezes se mostram tão teimosos como mulas. — indicou, divertida.

— Inclusive os mais ternos, como Nathan. Mas se foi. Já não existe. E aqui estamos nós, vários anos depois, vendo como se sente atraída por outro homem e como luta contra essa atração pela culpa que sente ao recordar seu marido.

—Não vou me colocar na cama com cada homem que conheço. — espetou Sabella.

—Mas tampouco tem que se enterrar em vida.

Sabella a olhou, vendo a simpatia nos olhos da outra mulher, a que não a uniam as lembranças que compartilhava com Sienna. As lembranças que a mulher do xerife e ela compartilhavam de Nathan.

Entretanto, Kira estava certa. Pode ser que Sabella não gostasse de reconhecê-lo, mas tinha que fazê-lo.

—Duncan disse que ele é como Nathan. — sussurrou. — E pode ser que tenha razão. É muito dominante. Entrou em minha vida e a pôs de pernas para cima.

Kira se inclinou um pouco mais para frente.

—É mais misterioso e perigoso do que foi seu marido, apesar de que Nathan fosse um SEAL. Ian me disse que este homem é mais duro e mais dominante. Mas você já não é a esposa formal de um SEAL não é?

—O que quer dizer com isso? —perguntou Sabella com o cenho franzido.

—Seu marido saía para uma missão e se negava a deixá-la chorar quando ia. Negava-se a deixar que se preocupasse enquanto estava fora. E como você tampouco queria que ele se preocupasse, reprimiu tudo o que sentia. Quando ele estava em casa, fazia tudo o que Nathan queria; consentia tudo. Mas esses dias já passaram, não é, Sabella? Porque, quando Nathan se foi, você descobriu muitas coisas sobre si mesma. Fez-se independente, amadureceu apesar da dor. E agora, este homem que poderia ser tão dominante como foi Nathan não vai acabar com essa veia independente, não é verdade?

—Cada vez que Nathan ia era um inferno. — replicou Sabella enfurecida.

— Desejo que volte. Não desejo isto. —ficou em pé de um salto e indicou a porta com a mão, como se reclamasse ao destino por aquela injustiça.

— Desejo o meu marido.

Não o fazia. Nathan tinha ido e ela sabia, mas não tinha mais desculpas para as emoções que a embargavam, para a fúria que fervia em seu interior. Noah Blake estava destroçando seu mundo. Com ele não estava a salvo. Não era um homem manejável e desejava mais do que ela estava disposta a oferecer a um homem nesse momento. Noah queria que se oferecesse a ele por completo. Incluídas essas partes de si mesmo que Sabella tinha ocultado a seu marido. Partes que a atormentavam. Partes que formavam parte de sua alma. Como aquela sexualidade com a qual nunca se sentiu cômoda, e que a levava a desejar ser selvagem e atrevida, a devorar Noah por completo e provocá-lo para que a possuísse com dureza, força e desespero.

—Seu marido não está. E você quase tem fez amor com outro homem. —Sua anfitriã ficou em pé lentamente.

— E você gostou.

Kira estava a semanas esperando aquilo. Fazia anos que cruzou nas vidas daquelas duas mulheres, que se tinha feito amiga de Sabella sabendo que chegaria esse momento. Nathan Malone tinha cometido um engano ocultando-se de sua esposa, e como Kira tinha sabido todo esse tempo, tinha sido Sabella a que tinha pagado o preço mais alto.

—Maldita seja, Kira? —resmungou Sienna, servindo-se de mais vinho e tomando um gole.— Não deveria haver dito isso.

Sabella voltou a olhar à esposa do xerife procurando apoio, mas apesar do olhar compassivo de Sienna, era óbvio que estava de acordo com Kira.

De qualquer maneira isto não é algo de sua incumbência. gemeu Sabella. Por que de repente todo mundo quer meter-se em minha vida?

—Porque nos cansamos de ver como tenta morrer com Nathan. — foi a dolorosa réplica de Sienna.

— Sente-se, Sabella. Vamos nos embebedar como estávamos acostumadas a fazer antes. Desafogaremos nossas mágoas falando sobre quão arrogantes são Rick e Noah, e logo poderá ir para casa e viver de novo. —murmurou entre lágrimas.

— Não me importa se Noah for um tipo estranho. Não tinha a visto assim desde muito tempo. Quase viva. Beijaria-o por ter conseguido que seus olhos brilhem dessa maneira.

Sabella se deixou cair na cadeira e as olhou, aturdida.

—Não o entendem. Nathan... —fez uma careta—... ainda me retém. Sonho com ele. Ainda segue formando parte de minha vida.

Kira voltou a sentar-se e serviu mais vinho a Sabella.

—Não o esqueça se não puder Sabella. Mas não se sinta culpado por se sentir mulher. Necessite que a toquem e que a abracem, assim aceita o que oferece Noah Blake. —reclinou-se na cadeira enquanto Sienna e Sabella esvaziavam seus copos de um gole e voltavam a enchê-los.

—Quer assumir o controle de tudo. — protestou Sabella. — Da oficina. De mim. É como se pensasse que tudo o que pertencia a Nathan devesse ser dele.

—Pode ser que só goste de ser dominante. —Kira fez um gesto com a mão lhe tirando importância. — Demônios faz amor com ele, se descarregue de uma vez. As coisas tendem a ser complicadas quando há sexo no meio. Libere-se da tensão sexual e todos os problemas se resolverão por si só.

Sabella olhou a Kira reflexivamente.

Sienna não disse nada. Bebeu o vinho e observou a Sabella por cima do bordo do copo.

—Podemos nos embebedar de uma vez? Se tiver que falar deste tema, prefiro ter uma desculpa para ser franca. De qualquer maneira, Rick vai se zangar por haver me metido nisto. E já sabem, tendo a prescindir do sexo quando ele está zangado.

Sabella esvaziou seu copo e o elevou para que lhe servissem mais vinho. Kira observou a ambas com diversão.

Beberam essa rondada e se serviram de outra antes que Sabella soltasse um longo suspiro.

—Fiz com que gozasse em minha boca.

Kira deu um salto quando Sienna cuspiu o vinho sobre a mesa. A esposa do xerife engasgou e tossiu, cobrindo a boca enquanto olhava para Sabella.

—Você fez o que?

Sabella acabou o vinho com um sorriso ao ver sua amiga tão chocada.

—Já ouviu.

—Foi bom? —perguntou Kira arrastando as palavras. OH, não podia esperar para que Ian estivesse em casa. Aquilo prometia. Melhor ainda, não podia esperar para ver Noah de novo.

—Foi bom. —Sabella estava meio bêbada. Não bebia assim há muitos anos. — Mais que bom. Inclusive diria que foi ótimo.

—E ele devolveu o favor? —disse Sienna com um suspiro. — Vamos ter problemas. Sabem não é certo? Rick vai se preocupar muito.

—Não irá contar lhe o que tenho feito a Noah, não? —murmurou Sabella horrorizada.

—Não poderei me conter se seguimos bebendo assim. —gemeu Sienna — e além disso temos uma aposta.

—Uma aposta? —indignou-se Sabella. — Que tipo de aposta?

—Ele apostou que o expulsaria a chutes da oficina. —Sienna lhe lançou um olhar irado. — E eu apostei que lhe arrancaria as orelhas.

Sabella piscou desconcertada.

—Por que apostou isso? Sienna pôs os olhos em branco.

—Já sabe carinho. Agarra-o pelas orelhas quando goza. —Arqueou as sobrancelhas. — Tudo por uma boa causa.

Sabella observou como sua anfitriã lançava um bufo, quase engasgando-se com o vinho.

—Será melhor que recordemos que não deve beber. — advertiu Kira a Sabella. — Volta-se maquiavélica. Recorda?

—Sim, como aquela noite em que Nathan tentou que não saísse de casa — riu Sienna. — Lembra Sabella? Disse-lhe que lhe compraríamos uma manta elétrica e um vibrador.

Sabella riu com pesar.

—Não sei se parecia interessado ou indignado.

—Definitivamente, sentia-se interessado pelo vibrador. —disse Sienna sem parar de rir.

Sabella sorriu. Era uma boa lembrança. Carregou-a sobre o ombro, tirou-a da casa da Sienna e a levou para casa para lhe fazer amor.

—Sinto sua falta. — murmurou com suavidade, terminando-se outro copo de vinho.

—Mas se foi. —recordou Sienna com voz fraca.

—Sim. — suspirou Sabella, observando como sua amiga preenchia sua taça. — Se foi.

E agora Noah invadia sua vida.

—O que vou fazer agora? —perguntou olhando a suas amigas.

—Estou totalmente a favor de que lhe arranque as orelhas. — respondeu Sienna.

—Nathan a deixou, Sabella —lhe disse Kira com suavidade. — Acaso pensa que a recriminaria por isso?

Sabella guardou silêncio um bom tempo antes de sussurrar:

—Prometi-lhe que seria para sempre.

—Para sempre enquanto estivesse aqui. Acaso está? —indicou Kira. — Não tem por que prometer a Noah que vai ser para sempre, Belle. Dê-lhe uma noite. Libere-se da tensão sexual e volte a viver.

—Isso é fazer uma armadilha. — disse Sabella, cravando o olhar em Kira. Mas, apesar de suas palavras, algo em seu interior se liberou e seu lugar foi ocupado imediatamente, embora houvesse bebido muito para dar-se conta do que era. — Não?

—Deus, confia em mim. — estalou Kira. — Não está fazendo armadilhas. Asseguro-lhe isso.

As taças tilintaram e foram preenchidas de novo. As três mulheres se recostaram e procederam a embebedar-se escandalosamente.

Bom, pensou Sabella horas mais tarde, quando Ian entrou e ficou olhando com a boca aberta, tinha que reconhecer que possivelmente passaram um pouquinho da conta.

 

—OH, demônios! —gemeu Rory. Desligou o telefone e depois cobriu o rosto com as mãos.

Noah, que estava observando a estrada através das janelas do escritório, virou-se e olhou a seu irmão com o cenho franzido.

—O que aconteceu?

Rory tinha aquele olhar tão dele. De inquietação, de advertência, de autêntica diversão.

—Belle está bêbada.

Noah ficou paralisado e sentiu que lhe encolhiam os testículos de medo. Medo puro e duro, propriamente masculino. Porque Sabella não parava de falar quando estava bêbada.

—Há dito que está na casa de Sienna Grayson?

—Não, na de Ian Richards. —Rory suspirou. — O xerife foi pegar Sienna e ameaça prender a Belle, a sua esposa e à esposa de Ian Richards durante toda a noite se não for procurá-la. Ao que parece, as garotas o estão ameaçando e falando mal dos homens em geral. Acredito que ouvi algo sobre a tensão sexual de fundo, e Ian rindo sem parar.

Sim, esse era um dos motivos pelos quais os testículos de Noah tinham encolhido.

—Volta a chamar. —Noah logo que respirava quando agarrou a jaqueta do cabideiro da parede e as chaves do Ranger de Rory da mesa.

— Diga-lhe que vamos buscá-la.

A oficina já tinha fechado suas portas por essa noite. Só estavam esperando a volta de Sabella.

—O que prefere? Que te deseje sorte ou que deixe rosas para sua nova tumba?

—Se limite a chamar a Ian e a lhe dizer que vamos para lá. —grunhiu, dirigindo-se para a porta. — Enquanto isso, tirarei o ranger e o pegarei lá na frente.

Deveria havê-lo suspeitado quando a viu sair. Demônios, claro que o tinha suspeitado. Uma parte dele tinha sido consciente de que sua esposa estava muito zangada e de que iria se reunir com Sienna. Mas não tinha esperado que também estivesse com Kira. Sabia que eram amigas, mas não a tal ponto. Ia ser um inferno, e não só por Sabella, mas também por Kira.

Quando Rory e ele chegaram à casa de Ian e estacionaram atrás do pequeno esportivo de Kira, Noah negou com a cabeça. Conhecia Kira. Era toda mulher. Tinha sido agente de segurança nacional, mas agora havia se retirado, tinha muito tempo livre. Voltou louco Ian até que ele se casou com ela no que Nathan teria jurado foi um intento desesperado por alcançar a paz.

A porta se abriu enquanto subia os degraus de entrada, e Rick Grayson o olhou com os olhos entrecerrados pelo desgosto do outro lado do aposento quando Ian deu um passo atrás para deixá-lo entrar na casa. A diversão aparecia nos olhos de seu amigo e no sorriso que lhe curvava os lábios. Maldita seja, Noah não necessitava daquilo.

Sabella estava enfraquecida em um extremo do sofá, como Sienna e Kira. E todas o olhavam fixamente.

—OH, Sabella. — disse Kira arrastando as palavras com ironia —Tenho que concordar, que parece suspeito. —Olhou a Sienna.

— Seu marido o investigou a fundo? Garanto que tem um bom histórico.

—Duas vezes. Está limpo. — anunciou Sienna alegremente, olhando por cima do sofá para ver como Noah fazia uma careta. — Sabe a quem me recorda?

—A um ladrão? —respondeu Kira com rapidez.

—Não. —Sienna franziu o cenho.— Sabe o que...?

—Crê que tem orelhas suficientemente grandes para poder arrancá-las?

Sabella apareceu também por cima do respaldo, entrecerrou os olhos e o olhou fixamente considerando o tamanho de suas orelhas.

As três mulheres estalaram em gargalhadas.

—Deveria prender você. —resmungou Rick dirigindo-se a Noah. — Tudo isto é sua culpa.

Noah soltou um grunhido, atravessou a sala e agarrou a sua esposa brandamente do sofá.

Ela o olhou com surpresa, mas não resistiu.

—Posso ir andando. — lhe assegurou.

—Claro que sim. —Assentiu com a cabeça com seriedade. — Mas Rory tem um encontro e não quer chegar tarde.

Sabella pensou que aquilo era engraçado, assim riu apoiando a cabeça contra seu amplo peito e a mão sobre seu coração.

—Boa noite, Rick, Ian. Foi divertido. —Se despediu ela ao passar junto a eles.

—Não se meta em problemas, Belle. — grunhiu Rick antes de sacudir a cabeça quando Noah os transportou.

—Sabe que todo mundo pensa que é um homem muito atraente? —comentou Sabella enquanto se aproximavam do Ranger.

—Realmente? —Baixou o olhar para ela. Sabella o estava observando, adormecida e muito bêbada.

—Realmente. —suspirou. — Sabe gaélico, Noah? —perguntou de repente.

Noah sentiu que lhe encolhia o coração de dor.

—Deveria? —perguntou ele por sua vez, aproximando-se do Ranger de Rory enquanto seu irmão se dirigia ao carro de Sabella. Por sorte, tinham encontrado a chave reserva do carro na oficina.

—Possivelmente não. — sussurrou ela ao mesmo tempo em que ele abria a porta do Ranger e a acomodava no assento do passageiro antes de colocar-se atrás do volante e pôr o veículo em marcha rumo a casa.

Durante o caminho, ela permaneceu calada, olhando fixamente pelo vidro como se estivesse interessada na paisagem. Quando Noah estacionou no caminho de entrada, ela olhou a casa em silêncio com uma expressão sombria.

—Algumas vezes me sinto muito só aqui. — disse de repente ao escutar que ele desligava o motor.

—Não tem por que estar sozinha. — replicou Noah com voz rouca, apertando furiosamente o volante com as mãos.

—Bom isso é o que parecem pensar Kira e Sienna. — suspirou Sabella com o olhar ainda fixo na casa.

Noah fez uma careta.

—Por que ficou aqui depois de que ele morreu? —inquiriu.

Sabella não o olhou, limitando-se a seguir observando a casa. O pesar que se refletia no rosto feminino retorcia a alma de Noah até o deixar seco.

Ao final, ela respondeu:

—É meu lar.

Negando com a cabeça, ele saiu do Ranger e o rodeou até chegar à porta que Sabella começava a abrir. Tirou-a do carro, ajudou-a a recuperar o equilíbrio e a sustentou enquanto se dirigiam à casa.

—Não pode entrar. — disse ela.

—Sabella, este não é o momento adequado para me irritar. —Noah já tinha tido suficiente. Suficiente do profundo vazio que o invadia, do desejo voraz que o rasgava.

—Estou bêbada. Pensa se aproveitar de mim? —perguntou-lhe ela alegremente quando ele abriu a porta e a empurrou ao interior.

—Esta noite não. Mas possivelmente o faça amanhã.

Deu-lhe um beijo suave na pequena careta que formavam seus lábios e a jovem lhe lançou um olhar irado.

—Começa a significar muito para mim, Nathan. Acredito que deveria sabê-lo.

Noah se sobressaltou ao escutar que ela utilizava seu nome de verdade. Sabella não podia saber o que dizia naquele estado. Sem dúvida, tratou-se de um deslize. Entretanto, um gemido cheio de dor lhe rasgou o peito. Havia-o dito com a mesma facilidade de quando discutia com ele. Como o tinha feito anos antes quando estava zangada. Como se soubesse ou intuíra a verdade.

Agarrou-a de novo nos braços e subiu as escadas com um nó de emoção na garganta. Aquele vazio que tinha sentido durante tanto tempo, parecia estar transbordado agora pelos sentimentos e as emoções. Pela dor.

Depositou-a sobre a cama, observando como apoiava a cabeça no travesseiro e agitava as pestanas adormecida.

Desatou-lhe as botas e as colocou ao lado da cama. Tirou-lhe os jeans e, como sabia que ela odiava dormir com sutiã, o desabotoou e o deslizou por debaixo da camisa.

Ela o olhou.

—Pode se aproveitar de mim. Prometo não me zangar.

—Mais tarde. — lhe prometeu ele, sentando-se na cama a seu lado.

—Vai abraçar-me?

Abraçá-la? Desejava muito mais que isso. Mas não era tão mesquinho para lhe negar um abraço quando lhe tinha devotado tanto.

Tirou as botas, tombou-se a seu lado e a estreitou contra si.

—Tenho pesadelos. — sussurrou ela aconchegada contra seu peito.

—Sei, carinho. —Desfez-lhe a trança e enterrou os dedos em seu cabelo.

—Vejo sangue. — murmurou. — Tenho as mãos cobertas de sangue. E você está agachado diante de mim. É você. Mas logo é Nathan e logo você de novo. Então Nathan se afasta e você ainda segue ali. E, de repente, eu sou você, e a dor é horrível. E tudo o que percebo é você pensando em mim. Rogando-me que o salve enquanto danço diante de você e o provoco para que tome. Mas não sou eu. É aterrador, Noah.

Ele estremeceu. Deus, ela também tinha padecido aquele inferno.

Fontes não tinha deixado de o tentar, levando mulheres que se pareciam com Sabella. Então estava sob os efeitos do «pó de afrodite», tão excitado que a dor o afogava, mas, de algum jeito, sabia. Sabia que as mulheres que usavam não eram sua esposa.

—Não pude salvá-lo. — murmurou ela enquanto adormecia. — Ele me rogou que o salvasse e não pude fazê-lo. —Sua voz era rouca pelas lágrimas e o sono. — Não pude o salvar...

Noah inclinou a cabeça sobre a dela e a estreitou com força, fazendo com que relaxasse.

—Salvou-o. — sussurrou contra seu cabelo. Sabella não tinha nem idéia de quão certas eram essas palavras. O homem que tinha sido já não existia, mas o homem que amava a Sabella, que chorava por ela, que tinha podido suportar o inferno graças aos votos que lhe tinha feito, tinha sobrevivido.

Embalou-a quando gemeu em sonhos, tranqüilizou-a e a abraçou. Ficou olhando a escuridão, desejando poder chorar ele também. Porque ela tinha sofrido em vez de seguir adiante com sua vida, tal e como ele tinha pensado que faria. Porque seu avô tinha razão. Tinha-a amado tanto que às vezes teria jurado que podia sentir seu coração pulsando junto ao dele. Porque sabia que seu avô não tinha mentido sobre os olhos irlandeses. Porque nas lembranças da infernal existência que ele tinha vivido, recordava ter visto imagens que não estavam ali. Estava em seu quarto, olhando o espelho, olhando a Sabella. E parecia que ela também tinha podido ver através dele o inferno ao qual lhe haviam submetido.

Esticou os braços e a balançou contra si. Inclinou a cabeça sobre ela e se obrigou a respirar apesar da dor, a reprimir a agonia que fluía em seu interior.

—Sabella. — murmurou saboreando seu nome.

Ela se arqueou contra ele. Adormecida, sensual, tentadora.

—Senti sua falta irlandês.

Noah ignorou a lágrima que lhe escorregou pelo rosto. Dor. Perda. Ela sabia a verdade. No mais profundo de seu ser se negava a ver quem era ele, mas sabia, porque aquele vínculo entre eles, aqueles votos, ainda seguiam ali. Ao haver-se mantido afastado de Sabella, tinha-a deixado vagando entre a realidade e o inferno. Ainda unida a ele, mas sozinha, enfrentando os pesadelos sem seu marido a seu lado. Resistindo apesar de ter vislumbrado o horror que ele tinha experimentado.

Noah tinha pensado que Sabella não seria suficientemente forte para assimilar o que lhe tinha ocorrido naquela maldita selva. Entretanto, agora, tinha a sensação de que ela era mais forte do que qualquer um teria acreditado. Possivelmente, em seu coração, em sua alma, Sabella fosse inclusive mais forte que ele.

 

Sentia calor. Sabella se mexeu na cama, quase gemendo ante o calor que a envolvia. Noah a tinha rodeado com os braços e apoiava sua cabeça na dela como Nathan estava acostumado a fazê-lo. Possivelmente fosse um gesto típico masculino. Nathan tinha sido seu único amante, assim não tinha como saber. O braço de Noah descansava sobre a cintura feminina, atraindo-a para seu peito e tinha colocado uma perna sobre as dela. Sabella tinha apoiado a cabeça em seu outro braço, assim não poderia liberar-se dele mesmo que quisesse. Mas tampouco desejava fazê-lo. Queria desfrutar daquele calor. Aferrar-se a ele. Entretanto, algo lhe aguilhoava a mente, esporeando-a, impelindo-a a despertar.

Moveu-se contra Noah sem querer abrir os olhos. Desejava ficar ali. Por muito que desejasse outras coisas, não queria perder aquela incrível sensação de paz.

Mas a mão do Noah começou a deslizar-se sob a prega da camiseta que ela ainda usava e se apertou contra seu ventre. Sabella se desprezou, pressionando-se com firmeza contra o quente corpo masculino que tinha atrás de si, e conteve a respiração, meio suspirando, meio gemendo ao dar-se conta de que não era um sonho.

Sentia-se débil e cheia de desejo.

Como havia dito Kira? Libere-se da tensão sexual e todos os problemas se resolverão por si só? Tinha sentido. Naquele momento, envolta no abraço de Noah, com a mão masculina lhe percorrendo o bordo da calcinha, tinha muito sentido.

—Não se mova. —Rouca e gutural, a voz do Noah retumbou em seu ouvido quando ela apertou o traseiro contra sua grossa ereção.

Ele estava nu. Em algum momento da noite se despiu e meteu-se sob as mantas com ela. Sabella estremeceu ao pensá-lo. Podia sentir a nua longitude do corpo de Noah atrás dela, forte e duro.

Abriu as pálpebras. Ainda era noite. A luz do amanhecer ainda não tinha entrado no quarto, e ela não tinha que enfrentar ao que devia ou não fazer. Podia limitar-se simplesmente a sentir.

Voltou a cabeça e acariciou com os lábios o pescoço masculino, debaixo do queixo. O roçar da barba recortada era excitante e erótico. Não tinha sabido até aquele instante que uma barba de vários dias podia proporcionar tanto prazer.

—Me beije. — sussurrou Sabella.

Ele ficou imóvel. Pressionou-lhe a mão contra o estômago e logo a moveu ao quadril, apertando-a para mantê-la quieta.

—Não me tente, Sabella. —Seu sussurro ressonou na escuridão, envolvendo-a, invadindo os sentidos dela.

—Desejo-o. —Não tinha sentido desejo desde a morte de seu marido. Mas agora sim. Desejava-o com uma força que sabia que teria que analisar mais tarde, mas não agora. Nesse momento, iria experimentar , desfrutar do prazer que o acompanhava.

A tensão cresceu ao redor deles, enchendo de calor o ar do quarto.

—Deseja-me? —grunhiu Noah, a virando.Inclinou-se sobre ela e a sombra de seus largos ombros encheu o campo de visão dela.

— Deseja-me, Sabella? Ou deseja a seu marido?

Sabella levou as mãos a seus ombros e os acariciou. Cravou-lhe as unhas, provando seus músculos.

—Importa? —perguntou-lhe, sentindo-se alagada pelo desejo por ambos os homens. Odiava essa confusão, essa sensação de não saber a que ou a quem tentava alcançar.— Importa-se?

Noah guardou silêncio durante tanto tempo que ela se perguntou se chegaria a responder.

—Não, não importa. — grunhiu ele finalmente. — A possuirei, Sabella, e quando gritar meu nome não terei nenhuma dúvida da quem deseja. Mas se espera que a tome como fazia seu marido, terá uma triste surpresa.

—Você não sabe como me tomava meu marido. —disse ela. Elevou a cabeça e passou a língua pelo peito dele, roçando com o rosto o pêlo que cobria o torso masculino.

— Tome como você me quiser, Noah.

Ele queria possuí-la com força e dureza. Sabella podia senti-lo. Tinha-o sabido antes desse momento. Não seria um amante terno, nem ela pretendia que o fosse. Ela queria saciar aquela necessidade escura e selvagem que tinha crescido em seu interior durante os últimos anos. O resultado dos sonhos escuros e sexuais, dos pesadelos que a atormentavam em noites como aquela. Queria satisfazer aquela inquietante e indolente sexualidade. Queria tocá-lo.

Estava cansada de lutar contra si mesma e contra ele. Tinha desejado Noah desde o primeiro dia em que entrou na oficina, provocando-a com sua feroz arrogância. O corpo de Sabella ansiava seu contato. Seu coração, tão quebrado e esmigalhado, desejava alívio. Só um pouco de alívio. Só durante o tempo que usaria para saciar o desejo que ardia nela.

—Sabella. —Noah murmurou seu nome e apoiou a fronte na dela. — Sabe o que me está pedindo?

—Desejo-o.

Tinha que estar dormindo. Ali, na cama de Nathan, na cama onde seu marido a havia possuído tantas vezes, ela desejava outro homem.

—Faz com que desapareça, Noah. —sussurrou ela desesperada. — Por favor, faz com que os pesadelos se vão. O desejo. Deixa de me torturar. Tome ou vai ao diabo...

A boca do Noah cobriu os ofegantes e famintos lábios femininos, ao mesmo tempo em que Sabella lançava um gemido selvagem e agônico.

Noah sentia que a escura necessidade de possuí-la o pressionava, consumia-lhe os sentidos. Beijou-a, parando o tempo suficiente para lhe tirar a camisa pela cabeça e lhe rasgar a calcinha.

Estava dolorosamente duro. Sua ereção se erguia resolvida e furiosa, e seus testículos estavam tensos pela necessidade de sentir uma liberação maior da que tinha encontrado no passado com sua própria mão.

Lutou por recuperar o fôlego e deslizou a mão entre as coxas, encontrando os suaves cachos molhados, escorregadios pelo desejo. Úmidos e quentes. Como o mel.

Pressionou mais com os dedos, acariciando as dobras inchadas do sexo de Sabella, procurando a entrada de seu corpo. Estava apertada, apertava-se em torno de seu dedo como na noite em que tinha tomado sua virgindade, fazia tanto tempo.

Separou-lhe as pernas e se localizou entre elas. Prometeu a si mesmo que a estimularia mais tarde. Tinham passado tantos anos... OH, Deus, tanto tempo... Meses intermináveis sob o jugo horrível de uma droga tão potente que a necessidade de foder com sua esposa quase havia lhe tornado louco.

O olhar cinza de Sabella estava cravado no seu, cheia de desejo, mas sua voz ressoava em sua mente, o detendo.

—Maldita seja. —Noah jogou a cabeça para trás para interromper o beijo e ficou olhando-a, percebendo apenas seus traços na escuridão que os rodeava. — Tem alguma idéia de quanto a desejo? —Apertou os dentes e mordeu a língua.

—Então, tome. — ofegou ela — Tome, Noah. Tome da maneira que necessita.

Da maneira que necessite.

Negou com a cabeça e jogou os ombros para trás, querendo uivar de fúria.

Queria amar a sua esposa, tocá-la, beijá-la e saborear cada centímetro de seu corpo. Noah estremeceu uma e outra vez, apertou a dura glande contra a pequena entrada ao corpo de Sabella e gemeu ao sentir a cálida, escorregadia e doce umidade com a qual o recebia.

Pressionou para frente, prometendo-se a si mesmo que só seria um momento. Tinha esperado muito tempo para possuí-la de novo. Podia esperar o suficiente para dar prazer a ela primeiro.

Também tinha querido fazê-lo no dia em que Rick Grayson os tinha interrompido. Ou no dia anterior, quando ela tinha tomado sua semente, lhe fazendo alcançar um prazer que esteve a ponto de destruí-lo.

Sabella o desejava, como ele desejava a ela. Noah desejava lhe dar tudo o que era, e no que se transformou. Empurrou um pouco mais e lhe agarrou os pulsos quando começou a lhe golpear o peito, apertando-lhe contra a cama enquanto a penetrava. Deteve-se ante as portas do êxtase, sentindo um prazer indescritível na ponta vermelha de seu membro.

—Diga que não agora. — resmungou ele. — Diga-o agora ou logo não poderá se retratar. Ouviu-me?

Ela elevou a cabeça para lhe mordiscar os lábios.

—Me beije. —sussurrou Sabella.— Beije-me enquanto me faz sua, Noah.

Então, não ia pedir que se detivesse? Então, não ia gritar seu nome querendo dizer outro?

—OH Sabella. —gemeu ele.— OH, Meu Deus, pequena.

Cobriu-lhe os lábios com os seus e se permitiu saciar o desejo que o consumia.

Tinha passado muito tempo desde que tinha tido sua esposa debaixo dele. Muito tempo desde que havia sentido o ardente prazer de seus músculos internos abrindo-se para o tomar, desde que tinha ouvido seus gritos sob seus lábios, sabendo que Sabella sentia a mesma quebra de onda de prazer que ele.

Impulsionou os quadris entrando nela com firmeza e rapidez, abrindo passo em seu interior enquanto ela se esticava e se arqueava debaixo dele.

Afogou os gritos de Sabella com os lábios, encheu-lhe a boca com a língua e fundiu seu corpo com o dela para introduzir ainda mais sua ereção na doce cavidade que o esperava entre aquelas coxas.

Seguiu empurrando, investindo, e quando não pôde suportar nem um minuto mais a tortura, jogou a cabeça para trás afastando a boca de seus lábios e lhe soltou os pulsos.

Aferrou-se aos quadris de Sabella e o manteve junto a seu corpo ao mesmo tempo em que ficava de joelhos. Elevou o traseiro para suas coxas e começou a mover-se com o ritmo duro e controlado que necessitava.

Noah ouviu os sons que saíam da garganta de Sabella, mas não lhe importaram. Sabia que aqueles gemidos roucos, profundos, eram produzidos pelo prazer. Fechou os olhos e seu corpo se cobriu de uma pátina de suor enquanto sentia a cálida e apertada capa do sexo de Sabella, palpitando e atendo-se em torno de seu membro.

Afundou-se completamente nela, incapaz de deter-se, gozando, amando cada penetração com sua alma maldita para sempre, oferecendo a sua esposa cada furioso centímetro, cada pedaço daquela agonizante luxúria que bulia em seu interior.

Sabella fechou os punhos sobre o edredom tratando de aferrar-se a algo. Aqueles duros movimentos que enchiam seu corpo a estavam levando ao perigoso abismo da loucura.

Nunca antes tinha estado tão excitada. Não necessitava de mais estímulos. Aquele beijo e as investidas quase brutais com as quais a estava possuindo, enchiam-na de um escuro e sedutor prazer que nunca antes havia sentido.

Sabella jamais tinha tido o que Noah estava oferecendo. Desejo puro e desesperado. Luxúria descarnada. As rápidas e duras estocadas a dominavam, a queimavam como flechas ardentes que atravessassem seu corpo.

Noah tomou com dureza, sem desculpar-se. A fez dele como um homem a ponto de perder a prudência, pensando só na liberação que ela podia lhe proporcionar. Só ela. Ninguém mais. Só isso, tomando-a, fundindo-se com ela até que Sabella gritou seu nome. Gemendo, suplicando, estalando debaixo dele quando sentiu que o orgasmo a alcançava em uma brutal quebra de onda de perturbadoras sensações.

Sentiu-se devastada. Como se a estimulação prévia tivesse sido eterna, quando, de fato, não tinha existido. Como se ele tivesse estado brincado com ela sem piedade, empurrando-a mais e mais alto, até que ela se sentiu flutuar. Moveu-se sensualmente sob seu corpo, sentindo que Noah emitia um gemido faminto e ejaculava em seu interior enquanto seguia investindo e lhe pedindo mais.

—Não é suficiente! —O grunhido de Noah rasgou o ar.

Retirou-se de Sabella e a fez virar sobre seu estômago para logo atrair seu traseiro para si. Voltou a penetrá-la imediatamente, fazendo-a arquear-se com estocadas profundas, incorporando-a até que a ela o sentiu contra as costas. Então Sabella estirou os braços para trás e o segurou pelo pescoço ao sentir suas mãos sobre ela, lhe percorrendo todo o corpo. Noah lhe acariciou as coxas e o ventre enquanto a fazia sua sem piedade, amassou-lhe os seios e lhe beliscou os mamilos com os dedos, lhe separando mais as coxas, balançando-os a ambos sem deixar de penetrá-la com rápidos movimentos.

O calor os envolveu e os atravessou, até que os gritos dela rasgaram o silêncio da noite.

—É tão estreita. — gemeu ele, detendo-se com a respiração ofegante. — Tão doce e apertada. Mova-se contra mim, Sabella. Ensina-me como você gosta.

Ela obedeceu e empurrou os quadris para trás, o rodando, o levantando e o baixando. Retorceu-se contra ele e não pôde evitar ofegar ao sentir os lábios de Noah no pescoço e o rude roce da barba contra sua pele.

—Diga-me isso.

Sussurrou Noah roucamente ao ouvido, ao mesmo tempo em que suas mãos se aferravam aos quadris femininos.

— Como você gosta? Duro? —enterrou-se em seu interior profundamente.

— Lento? —retirou-se um momento e logo voltou a enchê-la com um movimento lento e palpitante que a fez gemer em protesto.

—Duro. — confessou Sabella. — O desejo duro e rápido... Sabe.

Ela se estremeceu violentamente entre os braços masculinos, tremendo pela necessidade de alcançar o orgasmo de novo ao sentir que Noah baixava uma mão e começava a deslizar as pontas dos dedos sobre seu clitóris.

A tensão cresceu incontrolável de novo no interior de Sabella, rasgando-a como pontadas de ardente e doloroso prazer quando Noah voltou a mover os quadris com dureza e rapidez.

Ele lhe afastou os braços de seu pescoço e a empurrou pelos ombros com uma mão, fazendo que se inclinasse sobre a cama. Os movimentos se tornaram mais selvagens, mais descontrolados. Seus corpos, úmidos e quentes, uniram-se uma e outra vez. Os sons de seus movimentos, de seus gemidos e seus gritos se fizeram desesperados quando o clímax os fez estalar com uma detonação silenciosa de insuportável prazer.

Sabella ficou sem respiração. Só podia arquear-se e abrir os olhos totalmente aturdida, enquanto um gemido escapava de seus lábios e seu corpo voava livre para o êxtase mais puro.

A suas costas, Noah ficou rígido e gritou com força, fazendo ressoar no ar algo que podia ter sido seu nome ou uma maldição enquanto se derramava em seu interior outra vez. A cálida ejaculação fez com que Noah estremecesse dos pés a cabeça e que outra quebra de onda de prazer os alagasse por completo antes de remeter, lenta e brandamente, e os fizesse cair trementes sobre a cama.

Ele ficou estendido metade sobre ela, ainda duro em seu interior. Os corações de ambos retumbavam em seus peitos e, quando o esgotamento se apoderou deles, Sabella se deixou usar até que acreditou ouvir algo que sabia que não podia ter escutado.

—Go síoraí.

Abriu os olhos e piscou, escutando, tensa e cheia de medo. Mas não ouviu nada mais. As palavras se desvaneceram, como os sonhos tinham desaparecido para sempre, igual à esperança a tinha abandonado fazia muito tempo.

Entretanto, Noah ainda estava ali.

Arrastou-se sobre ela, envolveu-a em seus braços, e alguns minutos mais tarde, Sabella o sentiu respirar lentamente, como se estivesse adormecido.

Em silêncio, ela ficou olhando a escuridão, piscando para fazer desaparecer as lágrimas enquanto se aferrava ao braço que rodeava seu estômago e que a estreitava contra Noah.

—Para sempre. — sussurrou ela. Não foi mais que um suspiro, muito leve para que ninguém pudesse ouvi-lo.

Mas já não existia um para sempre. Escapou-lhe uma lágrima, silenciosa e inútil, porque as lágrimas não curavam e, finalmente, deixou-se levar por um sonho que jamais tinha acreditado voltar a conciliar. O sonho reparador que só tinha alcançado nos braços de seu marido e que agora voltava a alcançar nos braços de outro homem.

A suas costas, Noah permaneceu quieto e em silêncio. Totalmente imóvel. A tristeza e a dor na voz de Sabella lhe tinham provocado uma agonia na alma que quase o deixou sem respiração.

Abraçou-a, sentiu-a, e, em seu interior, aquele vazio dilacerador que uma vez tinha sido sua alma, chorou com ela.

 

—Não quero voltar a vê-la chorar por outro homem quando estiver na cama comigo.

Sabella soltou a cafeteira e se virou lentamente para observar o homem que entrava na cozinha. Noah era muito grande, muito forte, muito dominante mesmo a essa hora da manhã.

Ela não havia refletido, ainda, sobre o acontecido a noite anterior, e tinha se obrigado a escapulir da cama e a meter-se na ducha antes que aquilo voltasse a repetir-se de novo.

Agora, vestida com jeans e camiseta, e as botas postas, voltou a dar a volta ignorando-o, enquanto lutava por não fazer caso aos desbocados pulsados de seu coração.

Na noite anterior havia ocorrido algo que não podia explicar. Algo que a enchia de medo e de uma vibrante energia que não sabia dirigir. E estar com ele pela manhã não a ajudava absolutamente. Não era só pelo ar dominante de Noah. Havia algo em sua postura, no olhar de seus olhos, que oprimia o peito de Sabella e a excitava até limites que a assustavam.

Sabella estava segura de que a mescla de irritação e excitação que a fazia sentir não podia ser boa para ela.

—É minha cama. Minhas lágrimas. —separou-se da cafeteira para lhe dar lugar quando ele se aproximou do aparador para agarrar uma xícara. É obvio, abriu a porta correta.

—Deita-se comigo e logo põe-se a chorar? —rugiu Noah. — A próxima vez que isso ocorra, Sabella montarei-a até que deixe de chorar.

—Como sabe que estive chorando? —Observou o movimento de seus ombros, a tensão de seus músculos.— Estava dormindo.

—Tenho o sono leve. —Noah se serviu de café e se virou para ela, perigoso e inquietante, com o cabelo negro úmido e caindo sobre os ombros. A barba parecia mais escura depois da noite anterior e enfatizava ainda mais os profundos olhos azuis.

Vestia as mesmas roupas que tinha usado no dia anterior, e que lhe davam de um aspecto desalinhado e poderoso ao mesmo tempo. Não era o melhor aspecto para a paz de espírito de Sabella.

—Não vais ter que preocupar-se por isso. — disse ela ao cabo de alguns segundos, encolhendo os ombros. — Estou segura de que já nos liberamos dessa incômoda tensão sexual. Podemos voltar a guardar distância; e você a dormir em sua cama.

Colocou a xícara de café sobre o balcão e o olhou com determinação.

Noah a fez esperar. Estudou-a por cima do bordo de sua xícara enquanto tomava um gole da escura beberagem e seus olhos turbulentos, embora desprovidos de cólera, brilharam em protesto.

—Crê que foi coisa de uma só noite? —perguntou-lhe finalmente.

Sabella franziu o cenho ante o tom de Noah.

—Saciamos nossa curiosidade. — mentiu ela. — Agora você pode seguir com sua vida e eu com a minha.

—Para que possa seguir construindo esse santuário a seu marido morto? —grunhiu ele.

Aquela pergunta deveria lhe haver doído, mas, por alguma razão, não o fez, ao menos não como o teria feito antes que Noah aparecesse em sua vida.

Em que, demônios, estava pensando? Noah não estava há tanto tempo por ali. Deitou-se com ele, fez amor com um homem que conhecia a menos de um mês. Seu marido tinha demorado um mês inteiro para conseguir levá-la para cama e Sabella tinha sido virgem até esse momento. Mas aquele homem tinha aparecido na cidade com sua Harley negra, sua calça de motoqueiro e aquele olhar feroz, e a próxima coisa que ela soube era que tinha que devorá-lo vivo.

Sabella sacudiu a cabeça ante aquele pensamento.

—O que eu faça é única e exclusivamente meu assunto. Finjamos que o que aconteceu ontem à noite não ocorreu.

Mas Sabella era consciente de que isso não ia ser possível. Não podia ignorar a certeza de que entre eles tinha ocorrido algo que ia mudar sua vida para sempre.

—É isso o que quer? —terminou o café enquanto Sabella seguia ali, o observando, obrigando-se a parecer tranqüila. — Fingir que jamais afundei meu pênis profundamente em seu corpo? Que não gozamos como loucos?

Deixou a xícara na pia, apoiou-se contra o balcão e cruzou os braços sobre o peito sem afastar o olhar dela.

—O que quer dizer? —perguntou ela finalmente, sentindo como a tensão se fechava ao seu redor como um nó corrediço.

Ele curvou os lábios.

—Não vai funcionar, sabe. Pode lutar contra isso tanto quanto queira, Sabella, mas isto não acabou.

—Sim, acabou.

Noah negou com a cabeça.

—Vou para o apartamento. Tenho que mudar de roupa. Depois irei a cidade dar um recado, mas retornarei a noite.

—Não, não o fará.

Ele lhe dirigiu um olhar que quase a fez tremer. Quase.

Sabella cruzou os braços sobre o peito e sustentou seu olhar, desejando poder ignorar o brilho de luxúria nos olhos de Noah.

Finalmente, ele curvou os lábios o suficiente para provocar que ela alargasse as fossas nasais, inflamando-se ante a provocação que lhe lançava.

—Verei-a esta noite. — advertiu antes de atravessar a cozinha, passar junto a ela e sair da casa.

Sabella apertou os dentes e o seguiu com a vista.

Rory devia ter trazido seu carro em algum momento da noite anterior. O Ranger de seu cunhado não estava e o maldito Noah descia a pequena colina para a oficina, percorrendo o caminho com suas largas pernas enquanto ela fechava a porta da casa e se dirigia ao carro.

Entretanto, ele chegou antes que ela à oficina, como tinha feito Rory.

Sorrindo entre dentes, Sabella se encaminhou ao escritório, fechou a porta com suavidade e enfrentou a seu cunhado.

Rory levantou a cabeça dos documentos que tinha estado lendo. Seus olhos azuis a estudaram com cautela e seus traços duros se suavizaram adotando uma expressão neutra.

—Não se sai tão bem como saía a seu irmão. — disse ela com voz baixa, recordando como Nathan a olhava com aquele mesmo ar de superioridade masculina quando sabia que estava furiosa com ele.

—Não me sai tão bem o que? —perguntou Rory esclarecendo a garganta.

Sabella se apoiou contra a porta e o olhou atentamente.

—Esse olhar, — lhe explicou ela. — Como me desafiando a questionar algo que fez. Nathan o transformou em uma arte, mas você precisa praticar um pouco mais.

Pode ser que fosse diversão o que se via por um momento no rosto masculino. Rory levantou a mão e arranhou a bochecha, fazendo com que as mangas da camiseta se esticassem sobre seus bíceps.

—Está zangada comigo. — resmungou finalmente, dirigindo o olhar à porta que conduzia ao apartamento.

—Ele não vai ajudá-lo. — assegurou Sabella com suavidade sem tirar a vista de cima dele. — Diga-me, qual dos dois teve a brilhante idéia de que poderia me convencer de fazer qualquer coisa que quisessem?

A porta que dava ao apartamento se abriu de repente e Noah desceu as escadas. Mudou de roupa. Era condenadamente rápido nisso também.

—Rory, tem que ir a Odessa para conseguir essas peças. — disse Noah, olhando a seu irmão. — Agora.

Rory se levantou da cadeira.

—Nem pense. — advertiu Sabella com suavidade.

O pobre rapaz fez uma careta e engoliu em seco. Passeou o olhar de Noah a ela e se deixou cair de novo na cadeira. Bom. Tinha escolhido bem.

—De quem é a oficina? —perguntou ela então.

Rory arranhou a bochecha de novo, esclareceu a garganta e voltou a passear o olhar dela a Noah, como se naquele assunto ele fosse totalmente inocente. Inocente, certo. Aqueles dois estavam tramando algo, e ela sabia.

—Nossa?

Ela o olhou com os olhos entrecerrados.

—Acaso vendeu a ele sua parte? —inquiriu docemente, assinalando Noah com a cabeça.

Rory se precaveu de que seu irmão não afastava os olhos de Sabella. Aquele olhar deveria havê-la deixado nervosa e em guarda, mas não o fez. Fazia muito tempo, seu marido a tinha olhado dessa maneira.

—Não. —Rory franziu os lábios, observando-a com cautela.

Ignorando Noah, Sabella atravessou o escritório, apoiou as mãos na mesa e se inclinou sobre seu cunhado.

—Quer comprar minha parte do negócio? Posso fazer as malas agora mesmo e retornar para Geórgia, dessa forma, seria o dono de tudo. É isso o que quer?

A surpresa e o impacto alagaram os olhos de Rory.

—Não. Belle, maldição, não. — negou sacudindo a cabeça com firmeza. Depois olhou a Noah e lhe disse com voz furiosa— Que demônios fez com ela?

—Acaso ele é o proprietário de uma parte da oficina? —continuou Sabella.

Rory suspirou.

—Não.

—Assim, sua opinião não conta, verdade?

—Eu não diria isso. —Rory fez uma careta. — Vamos, Belle, sabe tão bem como eu que Noah conhece muito bem este negócio.

—E eu não? —Sabella se endireitou, elevando o queixo. — Onde esteve nos últimos seis anos? Acaso esteve aqui, tentando arrumar o inferno em que se transformou, tudo isto, quando Nathan desapareceu?

—Não, claro que não. —A voz de seu cunhado era firme e sua expressão tensa.

—Da próxima vez, Rory, me consulte primeiro. —exigiu ela. — Não volte a cometer o mesmo engano. Meu marido me deixou a metade deste negócio, e isso quer dizer que é a mim que corresponde tomar a metade das decisões. Não a um desconhecido ou a um intruso que acredita que pode chegar aqui e apropriar-se de tudo o que Nathan possuía. Ficou claro?

Rory esfregou a nuca.

—Muito claro. — disse finalmente, assentindo com a cabeça. Sabella não se incomodou em olhar para Noah nenhuma só vez. Deu a volta, agarrou uma camisa de trabalho do cabideiro e voltou para oficina, satisfeita de haver enfrentado ao menos aquele problema.

Noah ficou olhando a porta, cruzou os braços sobre o peito e logo se voltou para Rory. Seu irmão tinha um fino filme de suor na fronte e seus olhos azuis brilhavam com temor.

—Quem era essa mulher? —perguntou assinalando a porta com a cabeça.

Rory negou com a cabeça.

—A mesma entrou na oficina quase três anos depois de que seu marido desaparecesse e que se encarregou de tirá-la do buraco. —ficou em pé de um salto e o fulminou com o olhar.

— E tem razão. Onde demônios, estava você enquanto Sabella estava sofrendo e a ponto de perder tudo o que significava algo para ela? Se quiser que faça um trabalho sujo, faça-o você mesmo. —Agarrou as chaves da mesa e se dirigiu à porta. — E se for inteligente, manterá-se afastado dela. O último homem que a irritou dessa maneira, acabou com uma chave inglesa na cabeça. Tenho o pressentimento de que Sabella não se importaria fazer o mesmo com você. Eu o faria se estivesse em seu lugar.

Noah observou como seu irmão desaparecia pela porta que dava à oficina. Logo olhou a porta que se comunicava com o apartamento, e de novo aquela pela qual Rory tinha saído. Através do vidro pôde ver que Toby James atravessava o estacionamento e que franzia o cenho ao cruzar com Rory.

Noah se apoiou com calma contra a mesa quando Toby entrou no escritório.

—Por isso, vejo ainda segue irritando a todo mundo. — grunhiu Toby como se tivesse direito a fazê-lo.

Noah lhe devolveu o olhar com frieza.

—Ótimo. — resmungou Toby, negando com a cabeça enquanto se dirigia a mesa. — Pode mover o traseiro? Tenho que terminar com a papelada.

Noah virou a cabeça e ficou olhando o menino até que este empalideceu. Ao menos ainda podia intimidar a alguém.

—Bom, pode ficar se quiser. —Toby se sentou, agarrou um monte de faturas de um extremo da mesa e ligou o computador.

Só então, Noah se dirigiu à porta da oficina. Abriu-a e observou que os joelhos de sua esposa apareciam sob um carro. Imediatamente, seu membro se ergueu contra as calças.

Sabella tinha as pernas estendidas de ambos os lados de um carrinho mecânico. Fosse o que fosse que estivesse fazendo debaixo desse veículo não era algo que tivesse feito durante o tempo em que permaneceram casados.

Onde tinha se metido sua esposa? E por que demônios essa mulher que a substituía conseguia que o sangue lhe fervesse nas veias?

Estava furioso, excitado e intrigado. E muito decidido. Nessa noite, definitivamente, voltaria a fazer amor com sua esposa outra vez.

Elevando o olhar das pernas embutidas no jeans de Sabella, olhou a seu redor e viu Nikolai Steele. Aliás, Nikolas Steele. O russo, que media um pouco mais de um metro e oitenta e cinco, levantou a vista do motor no qual estava trabalhando, cravou seus duros olhos azuis em Noah e inclinou a cabeça ligeiramente.

Noah apertou os lábios. Tinha trabalho a fazer antes de se permitir o luxo de voltar a saborear Sabella. Mas quando tivesse terminado, sua esposa faria bem em tomar cuidado.

Transcorreu o dia e a oficina fechou. Noah se preparou para sua incursão noturna a cidade, embora não pudesse afastar Sabella de seus pensamentos.

Ela havia deixado as coisas claras tanto para Rory quanto para ele. Não tinha gritado, nem chorado. Não tinha perdido os nervos. Só tinha indicado os fatos e suas intenções com frieza. Se Rory voltasse a tomar mais decisões unilaterais, ia ter que se ver com ela. Não em vão tinha sido o motivo de que a oficina seguisse adiante.

A última pessoa que Noah tinha esperado encontrar a cargo da oficina era Sabella, com aquele cabelo tão bonito, que, obviamente, tinha sido tingido durante seus anos de casamento. Por que não havia se dado conta de que tingia o cabelo? Ainda o desconcertava ver que aquela trança loira que balançava sobre seus ombros era agora mais escura.

Já não ia a manicure. E tinha que admitir que, sentia falta disso, mas só porque tinha gostado que sua coquete mulher tivesse feito o possível para parecer mais coquete ainda.

Descobrir que não o era e que lhe tinha oculto partes de si mesma, enfurecia-o e, impulsionava-o a descobrir o que ainda desconhecia dela.

Mais tarde, enquanto permanecia sentado no balcão daquele bar cheio de fumaça e mal iluminado, falando com homens com os quais não queria falar e fazendo-se passar por um mecânico agradável, não pôde evitar pensar no olhar que lhe tinha dirigido antes.

Um olhar duro e implacável. Pode ser que não tivesse manifestado sua ira, mas nem Rory nem ele tinham duvidado em nenhum momento de que falava a sério. Muito a sério. Se não seguissem suas normas, estava disposta a vender sua parte da oficina e partir.

Sim, tinha muita guelra.

Por que nunca havia se mostrado dessa maneira ante ele? Por que lhe tinha oculto aquela faceta de sua personalidade?

Provavelmente pelas mesmas razões pelas quais lhe tinha oculto as partes mais escuras de si mesmo, pensou fazendo uma careta interna. Parecia que Sabella e ele haviam estado contendo-se mutuamente durante aqueles dois tempestuosos anos em que viveram juntos. Um tempo muito curto no qual realmente não tinham podido chegar a conhecer-se bem.

—Sabe? A tropa Black Colar não gosta que os estranhos andem fazendo perguntas por aí. — lhe comentava um vaqueiro de um dos ranchos mais afastados da cidade enquanto compartilhava com o Noah uma cerveja.

Jesse Bairnes era um antigo conhecido de Noah. Um amigo do vovô se se lembrava bem.

—Sei que não são amigos de ninguém. — grunhiu Noah. —Sobre tudo se a pessoas forem diferente deles — disse Jesse em voz baixa, sacudindo a cabeça.— Tenho um amigo que também é irlandês. Seu filho viveu um verdadeiro inferno.

Grant Malone tinha vivido um inferno?

—Realmente? —perguntou Noah.

Jesse voltou a sacudir a cabeça com uma expressão sombria.

—Perdeu a toda sua maldita família. — disse, suspirando. — A todos. A tropa o deixou sozinho e não levantou a cabeça. Já não vive mais que para seu rancho, e acabarão com ele se ao final não se une à causa. Embora o certo é que agora já não podem o obrigar de maneira nenhuma. — O ancião encolheu os ombros. — É uma vergonha.

Noah baixou o olhar a sua cerveja. Jesse não podia estar falando dos Malone.

—Como têm tanto poder para fazer isso? —inquiriu. — Não ouvi falar muito deles, e estou há muito tempo dando tombos por Telhas. — Demônios, havia vivido ali, havia trabalhado ali, casou-se ali. Como era possível que não houvesse se inteirado de nada?

—Manter tudo em segredo é sua melhor arma. —O ancião encolheu os ombros de novo. — São autênticos paranóicos da discrição. Os únicos que andam falando por aí são os mais jovens e estúpidos. Presumem serem membros da organização. Mas ninguém que se aprecie quer ter nada que ver com essas caçadas. —Jesse se voltou para ele; seus olhos escuros estavam cheios de sombras.

— As fazem durante anos e a ninguém se importou até que mataram aqueles agentes do FBI, não é uma vergonha?

Noah assentiu com a cabeça.

—Uma autêntica vergonha.

Terminou a cerveja, pôs fim à conversação com Jesse e saiu do bar. As últimas visitas aquele local tinham dado uma nova visão das mudanças que se produziram em sua cidade natal. Ou, melhor, das complexas tramas clandestinas que depois de tanto tempo começavam a sair à luz.

Agora se dava conta de que não havia muitos membros da tropa Black Colar ali, e por isso, precisamente, não ia resultar fácil descobri-los. Ou isso, ou se ocultavam melhor do que tinha imaginado.

Entretanto, depois de sua incursão no escritório de Mike Conrad, conhecia um dos membros. As máscaras negras dos membros e os cachecóis negros das vítimas o tinham delatado. Como diabos, tinha estado tão cego para não ver o que acontecia em sua cidade natal? Aquela não era uma organização nova. Existia fazia anos, possivelmente décadas.

E mais, disse a si mesmo, como tinha podido ser amigo durante tanto tempo de um homem como Mike? Tinha acreditado nesse homem. Tinha rido e bebido com ele e nunca tinha suspeitado de nada. Se alguém lhe houvesse dito que Mike formava parte de uma tropa, teria rido com rosto.

As tropas não eram algo novo. Demônios, havia um bom número delas repartidas por todo o oeste, mas nenhuma se dedicou ao que se dedicava esta.

Organizavam caçadas noturnas de imigrantes legais e ilegais e os perseguiam pelos cânions do parque nacional com o fim de torturá-los e assassiná-los.

Era um crime contra a humanidade.

Ao sair do bar, soube. Assim que saiu ao sufocante calor de final do verão, pôde sentir como lhe formigava a pele.

Noah quase sorriu. A necessidade de liberar-se da furiosa energia que o atravessava estava a ponto de encontrar uma válvula de escape. Evidentemente, havia alguém que não gostava das perguntas que estava a semanas fazendo. Nem que falasse com as pessoas. Não se esticou, não fez nenhum movimento que o delatasse. Sabia que vários pares de olhos o espiavam; tinha o pêlo eriçado pelo perigo que lhe espreitava no estacionamento.

Quantos eram? Usavam pistola ou faca?

Podia sentir a adrenalina em sua cabeça, e outras muitas coisas. OH, se sentia. Tinha conhecido essa sensação quando estava sob o jugo de Diego Fontes. Aquele maldito narcotraficante gostava de jogar com seus cativos. Apontar-lhes com suas armas, disparar a alguns centímetros de suas cabeças enquanto os tinha presos a uma parede com os olhos enfaixados, incapazes de evitar qualquer coisa que quisessem lhes fazer.

Sim, Noah pressentia a cercania das armas, como podia perceber o aroma da violência que o espreitava.

Estava preparado para a escura figura que saltou sobre ele. A faca apenas lhe roçou o bíceps, mas Noah utilizou o impulso de seu agressor para lançá-lo a um lado, lhe agarrar do braço e lhe arrancar a faca da mão.

Colocou a faca sob o pulso com rapidez e levantou o braço, disposto a luta.

Mais sombras surgiram da escuridão com brilhantes máscaras negras e facas na mão.

—Deveria ir da cidade, Blake —murmurou uma das sombras que se movia na escuridão enquanto seis figuras mais o rodeavam.

—OH, não sei. — disse Noah arrastando as palavras.

— Acredito que eu gosto muito deste cidade. Há muitas coisas excitantes. Possivelmente fique aqui algum tempo.

Permitiu que o rodeassem. Agora podia sentir como o sangue corria por suas veias, como o invadia uma fria e dura determinação. Não deixaria que o capturassem de novo e, certamente, não seria derrotado. Diego Fontes não tinha conseguido dobrá-lo e que o condenassem se permitiria que o fizessem alguns mal nascidos disfarçados.

—Isso seria prejudicial para sua saúde. — lhe informou outra sombra com acento nasal.

—Querem seguir conversando ou começamos a brincar? —replicou Noah com um amplo sorriso. — Voto por brincar. Estamos quase em mesmo número.

—Seis contra um. — riu outro.

— Parece-me que não sabe contar, imbecil.

Noah riu entre dentes. Nem sequer imaginava quão letal podia chegar a ser. Mas ele sim sabia. Sabia por que tinha matado durante muitos anos antes daquele briga.

—Venham por mim... —convidou-os, com um gesto das mãos—... se puderem.

Eram bons lutando. O baile mortal que teria lugar a seguir serviria para livrá-lo da adrenalina. Como estava acostumado a lhe ocorrer, sentiu o poder desta em seus músculos quando se equilibraram sobre ele.

Aço contra aço. Noah golpeava os pés de seus assaltantes e se afastava quando caíam, indo para o seguinte. Não os matou. Queria-os vivos. Queria saber a quem ir, de quem suspeitar quando acabasse com eles, e as bandagens, as lesões, não eram algo que pudesse ocultar-se.

Queria deixar testemunhas e que aqueles bastardos soubessem com quem demônios estavam tratando.

Assim enterrou a faca na coxa de um assaltante, apropriou-se de sua arma e a cravou no diafragma de outro homem. Foi ferindo um a um, saboreando a sensação do aço afundando-se na carne, do som dos grunhidos e os gritos de dor, do estalo dos ossos ao quebrar-se.

Dos seis só ficaram dois. Voltou o olhar para o único que enfrentava a ele e sorriu ante o aroma de sangue.

—Quer seguir com isto? —perguntou ao outro homem, cravando o olhar nos olhos escuros e memorizando o risco da mandíbula sob a elástica máscara negra.

— Vêem aqui, filho da puta. Posso passar a noite quebrando seus ossos um a um.

Cortou-lhe o antebraço com um rápido movimento e logo lhe afundou a faca no jeans para lhe fazer um profundo corte na coxa enquanto lhe dava um pontapé e se lançava para o outro bastardo que tentava lhe cravar a faca às cegas. Noah a tirou e o enterrou no ombro.

—Isso tem que doer. — se burlou com uma risada afogada, saltando para trás e observando como outros se afastavam coxeando.

O último tirou uma arma.

Virando-se, Noah saltou e enterrou o pé no estômago do assaltante de um só movimento. Sem perder um instante, agarrou-lhe pelo pulso e a retorceu até que a arma caiu ao chão.

Em troca, recebeu um golpe nos rins e soltou um grunhido antes de pressionar o cotovelo contra a garganta do homem que lhe tinha ferido. Bastardos. Deveriam ter usado primeiro as armas.

Seguiu apertando a garganta do agressor enquanto lhe incrustava o punho no ventre. Logo o soltou e observou como se voltava e corria para unir-se ao grupo. Alguns focos brilharam frente a ele quando se atirou rodando ao chão para agarrar a arma do cascalho antes e ficar em pé de um salto.

Noah retrocedeu e se escondeu entre vários veículos, sem perder de vista o Ranger no que se afastavam seus novos amigos.

Respirou fundo, moveu o ombro, e soube que logo apareceriam seus próprios machucados e dores. Demônios, não tinha saído ileso da briga. Podia sentir como o sangue lhe emanava do ombro e escorregava pelo braço. Muitas daquelas facas estavam bem afiadas e tinha tido que lutar com muitos de uma vez.

Sorriu amplamente enquanto tirava as chaves do bolso dos jeans e procurava a Harley. Fez uma rápida comprovação e não demorou para encontrar uma pequena bomba disposta para fazer estalar o depósito de gasolina. Teria acabado feito pedaços se aquele pequeno artefato tivesse explodido.

Abriu uma das malas da moto, colocou o dispositivo junto à pistola, revisou a Harley de novo e logo observou como Nikolas emergia das sombras. Seus olhos se cravaram nos de Noah durante um bom momento.

Era óbvio que o enorme russo tinha sido testemunha da briga.

—Esta sangrando. Necessita que o leve? —perguntou-lhe em voz baixa.

—Estou bem.

Nik assentiu com a cabeça e se dirigiu ao Ranger que conduzia. Não podiam permitir o luxo de demonstrar que se conheciam. Se Noah tivesse estado em perigo, Nik teria comprometido na briga. Mas não tinha sido necessário.

Noah montou escarranchado na moto, arrancou-a e se dirigiu ao apartamento.

Podia sentir como o sangue gotejava pela roupa, umedecendo-a. Nesse momento, desejava ter matado pelo menos a um daqueles filhos da puta. Porque, definitivamente, tinham-lhe quebrado o plano que tinha para essa noite e não poderia visitar sua esposa.

Possivelmente ela pudesse tolerar a visão do sangue, mas ia exigir respostas. E Noah não estava preparado para dar-lhe

 

Sabella observava pela janela, esperando. Tinha estado escutando com atenção desde que terminou o jantar, e quando ouviu o duro ronrono da Harley atrás da oficina, estava furiosa.

Era mais de meia-noite.

Passeou de um lado a outro da salinha, detendo-se ante as janelas e olhando o apartamento da oficina. Não se viam luzes. Por que Noah não as ascendeu ao chegar em casa?

Nathan também tinha esse costume.

Estava nervosa e não podia explicar por que. Quanto mais olhava o apartamento, mais sentia o impulso de descer para fazer amor com o Noah.

Já tinha se liberado da tensão sexual, disse a si mesma. Já tinha se deitado com ele, assim agora deveria estar bem. Mas não estava, e sabia que aquilo já não era só uma questão de sexo. Tratava-se de algo mais que a impulsionava a ir com ele, a comprovar se estava bem.

Maldição, Noah tinha mais de trinta anos, não necessitava de um guardião.

Na realidade, tinha trinta e quatro anos.

Sabella apertou o estômago com as mãos, por cima da fina camiseta que usava. Tinha a mesma idade que teria seu marido agora.

Sacudiu a cabeça. Não ia, não ia descer ao apartamento e fazer amor com ele, repetia-se uma e outra vez enquanto colocava com rapidez as sapatilhas.

Agarrou as chaves da bolsa, saiu de casa e ao cabo de alguns minutos estacionava seu pequeno carro atrás da oficina.

Com a chave do apartamento na mão, subiu com rapidez as escadas traseiras da oficina. Disse-se que não deveria entrar. Depois de tudo, Noah poderia estar com alguém ou na ducha. Não obstante, colocou a chave na porta e entrou. De repente ficou sem fôlego. Alguém a arrastou para o interior do apartamento, fechou a porta a suas costas e a empurrou contra a parede.

Por um momento, a tensão de que estivesse em perigo lhe apertou o estômago. Mas então se precaveu de que o duro braço que se apertava contra seu pescoço era o de Noah e de que o brilho quase febril de seus olhos azul brumoso era tão intenso como o de um predador.

—Você gosta de viver perigosamente? —perguntou-lhe ele brandamente, com o rosto muito perto do sua, e o corpo, quase nu, pressionando contra o dela.

— Eu não posso profanar essa sagrada cama matrimonial sua, mas você pode se deixar cair por aqui cada vez que tenha vontade, verdade?

O áspero som de sua voz provocou que se pusessem eriçados os nervos de Sabella, fazendo com que se estremecesse dos pés a cabeça e que levantasse o olhar para ele na escuridão.

Noah lhe afastou o braço da garganta, mas não a soltou. Agarrou-a pelos quadris e a atraiu bruscamente para si, ao mesmo tempo em que ela separava os lábios com um ofego.

Não estava semi nu. Estava nu por completo. E duro. A longitude palpitante de seu membro se pressionou contra o ventre de Sabella enquanto a observava com ardente desejo.

—Temos que falar. —ela pôs as mãos sobre os ombros masculinos e sentiu que Noah ficava tenso.

Era óbvio que ele acabava de sair da ducha. Sabella podia sentir a água em sua pele e algo escorregadio, possivelmente restos de sabão. Parecia ter a pele sensível. Tinha o cabelo molhado e sua escura expressão não pressagiava nada bom.

—Parece como se doesse algo em você. —Pressionou-lhe o outro ombro. — Noah, o que aconteceu?

—Ainda não. — grunhiu ele.

—O que quer dizer com ainda...?

Ele a interrompeu com um beijo. Cobriu os lábios dela com os seus e lambeu aquela curva plana, ao mesmo tempo em que emitia um rouco gemido de necessidade do mais profundo de sua garganta.

Sabella abriu os lábios e a língua de Noah deslizou entre eles. Mas ela não os tinha aberto para ele, disse-se a si mesmo, a não ser para respirar. Só para respirar, não para que aquela língua cálida e voraz roçasse contra a dela, saboreando-a.

—Noah, encontra-se bem? —perguntou-lhe sentindo que lhe acelerava o coração.

—Mais tarde. —Seus lábios se amoldaram aos dela, mordiscando-os e devorando-os com uma demanda faminta e ardente.

Sabella gemeu de prazer. Mentiu a si mesma. Sabia. Não tinha ido ali para lhe perguntar nada, mas sim para que ele a fizesse se sentir viva de novo.

—Leva muita roupa. — rugiu Noah, deslizando os lábios pelo queixo e a bochecha dela.

— A quero nua. —Percorreu-lhe o ventre com a mão em uma devastadora carícia até cavar a úmida calidez que Sabella sentia entre as coxas, por cima do tecido elástico do short.

— Tire a camiseta. —Ela não estava de sutiã. Algumas vezes dormia com essa roupa. Era cômoda e fresca e, ao que parece muito fina, porque o calor da palma do Noah contra seu monte de Vênus a estava voltando louca.

Ele pressionou a palma contra ela.

—Está ferido. — sussurrou Sabella sem fôlego.— O que aconteceu?

—Nada.

—Noah...

—Meu Deus, sim, volta a dizer meu nome dessa maneira. — grunhiu ele.

— Diga-me que me deseja selvagem e ardente uma vez mais. Que me quer dentro de você, te enchendo. Ahh... Sinto-a tão doce, tão quente e estreita em torno de mim enquanto a penetro...

Ela conteve o fôlego. Podia sentir seu sangue cálido sob a mão, seu membro nu através das capas de tecido que os separavam.

—Noah, pare. Está sangrando? —Acreditava estar cheirando sangue.

—Não. Confia em mim. É só um arranhão. —Roçou-lhe o queixo com os dentes e ela estremeceu ante a sensação que lhe produziu como se estivesse sendo atravessada por pequenas descargas elétricas.

—Que tipo de arranhão? —gemeu Sabella.

—Logo poderá me curar. —A voz de Noah era vibrante, mais dura e profunda que de costume. — Mais tarde.

—Noah. —Ela exalou seu nome ao sentir que afastava a mão da união entre suas coxas e a colocava dentro do short e da calcinha para acariciar a carne úmida e torcida que lhe esperava ali.

—Está molhada, Sabella. —Introduziu os dedos entre as suaves dobras e a acariciou de forma enlouquecedora.

— Diga-me que me deseja. Peça-me que a possua.

Sabella ofegou. Ali, contra a parede da cozinha, só podia pensar em senti-lo em seu interior.

—Quero sentir sua boca em meu pênis outra vez.

Excitava-a o ouvir falar assim, de uma maneira tão desinibida.

—Quero vê-la de joelhos ante mim, sentir sua boca me sugando a glande de novo. Deus, foi tão bom gozar em sua boca dessa maneira, vendo o quanto você gostava...

Introduziu um dedo no interior de Sabella. Só um dedo. Deslizou-o dentro dela roçando suas terminações nervosas, enquanto apertava a palma da mão contra sua tenra carne, virando-a sobre seus clitóris.

Ele estava sangrando, ferido. Tremendo, Sabella disse que deveria tratar de averiguar que tipo de ferida tinha, em vez de concentrar-se no dedo que agora bombeava em seu interior.

Fechou os olhos, separou ainda mais as pernas e um gemido tremente escapou de seus lábios quando ele começou a usar aquele dedo para voltá-la louca. Penetrando lenta e profundamente em seu interior, procurando, encontrando sua zona mais sensível e torturando-a.

—Noah. É perfeito. —Sabella moveu a cabeça de um lado a outro contra a parede, sentindo que lhe afrouxavam os joelhos. — É tão bom.

—Condenadamente bom. — realçou ele — A sinto molhada e tensa em torno de meu dedo, Sabella. Emitirá esses doces gemidos que fazem com que me excite ao ponto da dor? Gozara para mim, pequena? Com meus dedos em seu interior? Fará com que me volte louco pelo desejo de saborear cada milímetro de você?

OH, Deus. OH, Deus. Noah não deveria falar assim. Sabella podia sentir como seus fluidos seguiam emanando, molhando a mão masculina enquanto empurrava os quadris contra aquele dedo que se movia em seu interior.

—Agora vai ser uma boa garota. —ofegou ele.— Aperta meu dedo com os músculos internos de sua vagina, Sabella. Deixe-me sentir como goza a seu redor.

Ela gemeu. Aquilo era muito escandaloso. Muito perturbador. E ela jamais tinha feito nada assim, nunca tinha ouvido palavras como as quais sussurrava aquele homem enquanto a tocava.

Diga-me isso. lhe murmurou Noah ao ouvido.

— Fala comigo, pequena. Diga-me o que deseja. Rogue-me que a faça minha com os dedos e colocarei outro dedo mais. Penetrarei com dois dedos. Você não gostaria disso? Não quer arder por mim?

Não podia estar falando a sério? Ou sim?

—Poderia fazer com que goze desta maneira. —Mordiscou-lhe a orelha e pressionou seu membro contra o quadril de Sabella até conseguir que ela tremesse violentamente. — Tudo o que preciso é ouvir sua doce voz me pedindo isso.

Lambeu-lhe a sensível pele debaixo da orelha, arranhando-a com os dentes.

—Isto é uma loucura. — gemeu ela.

—Me diga quão excitada está. — exigiu, ofegando asperamente no silêncio da noite.

—OH, Noah, vou explodir... —Apenas as palavras abandonaram seus lábios, Sabella sentiu como seus sensíveis músculos internos palpitassem em torno dele, e que seu ventre se contraía com força.

Noah se apertou contra ela, penetrando-a dura e profundamente com o dedo.

—Não se detenha. —Sabella queria gritar, mas mal pôde emitir um gemido entrecortado quando Noah enterrou com rudeza o dedo de novo e logo se deteve.

—Me diga que lhe foda com os dedos. —Mordiscou-lhe o pescoço e ela se arqueou para ele. — Diga-me que quer ter dois dedos dentro de você. Diga-me que quer arder, Sabella.

—Me foda. —gemeu ela, sentindo que o calor crescia em seu interior— Por favor, Noah. Agora.

—Mais. —A ordem impressa na voz masculina avivou seus sentidos— Dê-me mais, Sabella.

Ela ofegou. O que lhe exigia era muito escandaloso. Muito escandaloso e muito tórrido.

—Dois dedos. —ofegou ela.— Noah, por favor, quero que me coloque dois dedos.

Ele tirou o dedo bruscamente, e quando voltou a colocá-lo, eram dois. Dois dedos pressionando-a, abrindo-a, estirando seus músculos internos e fazendo-a sentir ainda mais.

Sabella gritou ao sentir que seus fluidos internos deslizavam por seu corpo e cobriam os firmes dedos que se moviam lenta e brandamente em seu interior.

—Quero gozar. —sussurrou — Deixa que eu goze, Noah.

Ele gemeu. Penetrou-a com força com os dedos e ela quase explodiu em torno deles.

—Tire a camiseta. —Noah foi para trás para que ela pudesse elevar o olhar e ver o selvagem brilho de seus olhos. — Tire, pois quero ver seus mamilos.

—Noah.

—Deus, esses doces e duros mamilos rosados. Quero sugá-los.

Tire essa condenada camiseta. A dureza de sua voz, o desejo que parecia rasgá-lo, atravessou Sabella fazendo-a arder por dentro e fazendo com que um fogo devastador corresse a toda velocidade por suas veias.

Estremecendo, emitindo roucos ofegos que eram quase gemidos, a ela se agarrou a ponta da camiseta, a tirou pela cabeça e a deixou cair ao chão.

—Mantém os braços para cima. — lhe ordenou Noah quando ela começava a baixá-los. — Bem acima. —Agarrou-lhe os pulsos com uma mão e as apertou bruscamente contra a parede.— Assim, pequena. Assim. —Cravou o olhar em seus mamilos e ela sentiu como se os houvesse tocado.

—Por que me faz isto? —gemeu.

—Porque quero te devorar viva. Quero me ajoelhar ante você, Sabella. Beber e saborear esse quente néctar que me cobre os dedos. Lambê-lo com minha língua.

Ela se arqueou para ele.

—Quando tiver terminado, quero observar como se ajoelha ante mim. Ver como meu pênis se afunda nesses formosos lábios e foderei a sua boca até gozar em sua garganta. —Moveu os dedos em seu interior e o som das úmidas carícias alagou os ouvidos de Sabella, ressoando em sua cabeça.

—Você também quer isso, pequena?

—Sim. OH, sim. —Queria tudo isso e mais.

Sabella sentiu como Noah deslizava seu short pelos quadris, ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça. Ele dobrou os joelhos o suficiente para apanhar seu tenso mamilo com os lábios e, por um momento, a ela temeu desmaiar ante a intensidade do que sentia. Queria que a penetrasse. Queria sentir os lábios de Noah por todo o corpo e deslizar os seus por sua pele. Queria realizar todas e cada uma das escandalosas coisas que lhe tinha sussurrado ao ouvido.

Sabella se retorceu contra a boca que sugava seu dolorido mamilo e uma quebra de onda de prazer a atravessou por completo. Desesperada, arqueou-se contra ele ansiosa de receber mais.

Noah estava perdido em um mundo de perturbadoras sensações devido à violência anterior e à adrenalina que corria por suas veias. Durante os últimos anos, a recuperação tinha sido um inferno. O treinamento tinha provocado em seu corpo uma quebra de onda de luxúria tão forte, tão intensa, que nada tinha podido aliviá-la. Mais de uma vez, tinha acreditado que perderia o juízo por desejar precisamente aquilo. E Sabella entre seus braços. Ardente e selvagem por ele, lhe sussurrando aquelas atrevidas palavras ao ouvido, lhe exigindo que a possuísse, que fizesse todos esses atos carnais e pervertidos que tinham enchido sua cabeça enquanto esteve sob a influência do afrodisíaco que Diego Fontes lhe tinha injetado.

Agora Sabella estava ali com ele, e Noah ardia por ela como ela ardia por ele. Empurrou de novo dois dedos em seu interior, sentindo o calor de seu corpo enquanto lhe mordiscava sem piedade os mamilos.

Tudo em Sabella era pequeno, comparado a ele. Tão doce e curvilínea, tão delicada, e com aquela vontade de ferro que só conseguia o pôr mais duro.

—Noah, está me matando. — gemeu ela em seu ouvido, lhe fazendo arder à pele com seu quente fôlego.— Está me matando.

Só um pouco mais. Noah gemeu sobre seu mamilo, lambeu-o e o sugou. Queria ouvir mais. Queria ouvir a voz de sua Sabella rouca pela luxúria, exigente e carnal.

—Me diga como quer que a tome. —Mordeu-lhe a curva do seio. — Diga-me como você gosta.

Ela estremeceu, e ele quase perdeu o controle ao perceber que seus sucos lhe alagavam os dedos de novo.

—Duro. — ofegou ela — Muito duro. Agora. Faze-o agora.

—Aqui? Contra a parede?

—OH, Deus. Onde quiser. — ofegou ela. — Maldito seja. Me penetre já.

—Está suficientemente quente? —Beijou-a no ombro e logo o mordeu.

— Hum... Acredito que ainda não está.

Noah queria mais. Queria ouvi-la dizer. Jamais tinha necessitado ouvir as palavras antes, mas agora sim. Queria que ela estivesse tão quente que ele se esquecesse de si mesmo, que esquecesse como estava acostumado a amá-la, acostumá-la a aquela escura luxúria que agora o consumia.

—Estou o suficientemente quente. — murmurou ela.

—Me diga quão quente está. —Rodeou-lhe os quadris com o braço livre, elevou-a contra seu corpo e procurou colocá-la sobre a mesa, ignorando o gemido feminino quando colocou seu traseiro nu sobre o bordo e se ajoelhou entre suas coxas.

— Não, ainda não está preparada. Deixe-me te ajudar.

Colocou seus lábios sobre as dobras inchadas e teve que apertar a base de seu grosso membro para não gozar. Deus ia queimar. Podia senti-lo nos testículo, na glande palpitante.

Sentia tão doce. As coxas de Sabella se separaram quando Noah lhe levantou um dos pés e o colocou no ombro, abrindo-a ainda mais.

Ali havia mais luz, mas não suficiente para que ela pudesse ver a ferida que ele esteve limpando. Algumas navalhadas tinham sido bastante profundas para necessitar pontos e o mais lógico seria ir ao hospital para que alguém lhe curasse as feridas. Mas seguia ali, com os lábios enterrados nas úmidas dobras de sua esposa, e desfrutando de cada instante.

Lambeu e saboreou cada centímetro da sensível e rosada pele dela. Era tão doce... O sabor de Sabella explodia contra sua língua e ele parecia não ter o suficiente. Penetrou-a com a língua, sentindo como seus músculos internos se contraíam, ouvindo o gemido de Sabella quando foi para trás para lhe permitir um melhor acesso aqueles fluídos que era tão aditivos como qualquer droga.

OH, demônios. Queria passar a vida entre suas coxas. Queria inundar seus sentidos naquele doce e suave sabor e no limpo perfume feminino. Queria degustá-la no café da manhã, no almoço, no jantar, como lanche a meia-noite.

—Me fale. —As palavras de Noah eram duras, saíram bruscamente de seus lábios quando os deslocou ao broto endurecido em que se transformou o clitóris de Sabella.— Diga-me como o deseja. Suplique-me que a devore. Que não pare de torturar você.

Noah não agüentaria muito mais e antes queria arrancar essas palavras dos lábios de sua esposa, tal e como tinha sonhado. Como tinha imaginado tantas vezes.

—Noah, me lamba o clitóris. —gemeu ela — Faze-o.

OH, Deus. Sim. Gostava que lhe fizesse isso? Abriu-lhe mais as coxas para ter um melhor ângulo e riscou ardentes círculos com a língua ao redor de seus clitóris, dando o que ela pedia, o que necessitava.

Deslizou os dedos acima e abaixo pela grossa ereção, e um selvagem e agonizante gemido de desejo escapou de seus lábios enquanto ela retorcia os quadris, arqueando-se e gritando seu nome.

—Noah. OH, sim. Assim. — ofegou com voz quebrada. — OH, Deus. Vou gozar.

—Ainda não. —Ele se retirou e ela quase gritou.

Fechou seus dedos sobre o cabelo dele, retendo-o, e o atraiu para a úmida e cálida carne que ansiava por sua língua e seus lábios.

—Segue me lambendo. —O controle de Sabella tinha desaparecido, perdeu-se no prazer. Noah lhe colocou bruscamente a língua na escura abertura de seu corpo, a fodeu com ela e saboreou o doce e quente néctar que não deixava de fluir.

Maldita seja. Nesse passo, gozaria em sua própria mão, e não queria isso. Queria alcançar o prazer fundo até o fundo no corpo de sua esposa, enchendo-a, enchendo-a com ele.

Queria marcá-la com seu sêmen. Queria estar tão profundamente enterrado nela que Sabella jamais pudesse esquecer quem era o dono de seu corpo.

Mas antes, tinha que afastar-se de seu sabor. Céus, aquele sabor era tão doce... Seu aroma era tão quente em sua língua, tão líquido e cheio de vida que não queria deixá-lo. Não queria deter-se.

Se coloque dentro de mim. a voz da Sabella lhe avivou os sentidos Maldito seja, coloque isso já, Noah. Tome de uma vez. Quer que suplique. OH, Deus, suplicarei, mas me coloque isso já.

Noah ficou em pé com a mão ainda fechada em torno de sua ereção e com os sentidos alagados pelo sabor dela, por seu calor.

Impulsionou-se para frente e a viu abrir os olhos. Fez que a glande lhe acariciasse o clitóris e observou como Sabella ofegava, como deslizava a mão sobre o ventre. Logo, quando ele percorreu com a glande suas suaves malhas e começou a pressionar contra a escura abertura de seu corpo, aqueles dedos bonitos e graciosos se moveram para o clitóris. Timidamente. Com vacilação.

Durante seu casamento, jamais a tinha deixado tocar a si mesma enquanto ele a possuía. Tinha considerado que era sua responsabilidade lhe proporcionar todo o prazer. Mas agora, ela já não esperava, e vê-lo quase o fez gozar. Só tinha introduzido um par de centímetros de seu grosso membro no interior da Sabella e quase estava fora de controle.

Noah não deixou de olhar nem um só instante os dedos da Sabella enquanto a penetrava, apertando a base da ereção para conter a furiosa liberação pela qual clamavam seu testículo.

—Continua. —A voz de Noah era rouca e áspera. — Move os dedos. Ensina-me como você gosta, pequena. Maldição. Vou fodê-la tão dura e profundamente que jamais voltará a me rechaçar. Ouviu-me, Sabella? Jamais.

Ela o tinha rechaçado essa manhã lhe negando sua cama, negando o que ele sabia que havia entre eles. O porquê não importava. Noah a estava enganando, sabia. Mentia-lhe no mais elementar, e sabia que não poderia concertar isso com palavras. Mas mesmo assim não ia permitir que lhe negasse aquilo.

Agarrou-a pelos quadris sem deixar de observar seus dedos. OH, Deus, movia-os com agilidade e elegância sobre os cachos de seu monte de Vênus, sobre as úmidas dobras de seu sexo.

Noah se sentiu arder. Seu duro membro era puro fogo e aquilo o destruía. Investiu sem piedade apertando os dentes e fazendo uma careta ante o puro e intenso prazer de senti-la. De observá-la. Empurrou uma e outra vez, com estocadas duras e curtas, penetrando-a enquanto ela deslizava os dedos sobre o clitóris, rodeando-o, molhando-o com seus próprios sucos.

O ventre do Noah se esticou. Tinha os testículos tão duros que era uma agonia.

—Se acaricie. —grunhiu ele.— Toque seu clitóris, pequena. Não agüentarei muito mais. OH, demônios. —introduziu-se nela até o punho, sentindo que os músculos internos de Sabella palpitavam, rodeando-o com firmeza.

Não podia deter-se. Sustentou-a com força e a ela lhe rodeou os quadris com as pernas, pressionando os calcanhares contra seu traseiro quando ele começou a bombear com violência dentro dela.

Sabella gemeu seu nome. O dele. Não o nome de seu marido. Que Deus tivesse misericórdia de Noah, como tinha podido permanecer separado daquela mulher tantos anos? Cada dia tinha sido uma tortura.

—Tome. — gemeu Noah, quase sem poder conter as palavras que revelariam quem era na realidade.— Tome, maldita seja. Tome por completo.

Ela se arqueou e seus músculos internos se contraíram com firmeza em torno dele.

Sabella era pura sensação, só sentia um devastador e enorme prazer quando se derrubou nos braços de Noah. Morrendo e Renascendo neles. Gritando seu nome e sentindo-se arrastada para uma insondável escuridão por aquele prazer. Um prazer que só havia sentido uma vez. Com outro homem. Com outro coração.

Mas não pôde evitar senti-lo pulsar através de seu corpo e o de Noah. Pulsando entre os dois. Ele ejaculou no mais profundo de seu interior, enchendo-a com seu sêmen quente enquanto se afundava nela até que se fundiram em um só ser.

Sabella estremeceu com violência, retorceu-se, arqueou-se grosseiramente quando aquele intenso orgasmo a atravessou, e logo, finalmente, desabou-se sobre a mesa. Suando, muito cansada para mover-se, para respirar, para existir sem a ajuda de Noah.

E ele ainda estava duro.

Ela abriu os olhos quando Noah a elevou contra seu corpo para levá-la ao dormitório, permanecendo ainda em seu interior.

Depositou-a sobre a cama e se moveu dentro dela outra vez, com os olhos azuis tão escuros que doía olhá-los.

—Necessito de você. —Noah fechou os punhos, negou com a cabeça e apertou os dentes com força. Sua voz foi rouca e áspera ao voltar a sentir os músculos internos de Sabella contra a sensibilizada pele de seu membro.— Necessito de você outra vez.

«Para sempre».

Sabella afastou esse pensamento de sua mente. Nada durava para sempre. Nada exceto o amor pelo marido que a havia possuído.

Mas à medida que a noite avançava inexorável para a alvorada, ela sentiu como se aquilo fosse realmente para sempre. E quando, finalmente, Noah se deixou cair a seu lado com a respiração mais calma, úmido de suor, e a rodeou com seus braços estreitando-a contra seu peito, Sabella se perguntou sonolenta, se, talvez, ele se sentisse um pouco como «seu» Nathan.

 

Sabella estava furiosa quando retornou para casa na manhã seguinte para tomar um banho e vestir-se antes de ir trabalhar. Um arranhão sem importância havia dito Noah na noite anterior, lhe assegurando que estava bem.

Tinha sido muitíssimo mais que um maldito arranhão. Quando despertou, tinha-o surpreendido tentando enfaixar-se, acreditando que dessa maneira poderia lhe ocultar as feridas. Maldito seja.

Tinha três largos cortes na parte superior do corpo. Uma no bíceps, outra no abdômen e um terceiro no quadril. E todas bastante profundas. O suficiente para que ela tivesse insistido para que fosse ao médico.

Ele tinha se negado. Por um segundo, quando Noah lhe tinha deixado bem claro que as coisas se fariam a sua maneira, Sabella teria jurado que tinha o mesmo olhar, o mesmo gesto tenso, e inclusive a mesma maneira de apertar os lábios que tinha tido seu marido quando estava furioso e decidido a não ceder.

Aquilo era algo que a assustava reconhecer. Porque algumas vezes notava essas pequenas coisas, e temia estar tentando transformar Noah no homem que tinha perdido só para justificar seu desejo, sua necessidade dele.

 

E obvio, Noah não lhe tinha contado o ocorrido nem como tinha feito essas feridas. Limitou-se a lhe dizer que tudo tinha sido um «mal-entendido».

Estava tão zangada que, em vez de ir de carro trabalhar, tinha descido andando a colina para tranqüilizar-se.

Ao entrar na oficina observou que Noah saía pela porta da loja limpando-as mãos com um trapo, e que Cumprimentou Toby, que estava cruzando a rua nesse momento. Algumas vezes, Toby ia ao trabalho caminhando. Dizia que dessa maneira se mantinha em forma. De repente, Sabella viu que Noah cruzava o asfalto gretado frente ao posto de gasolina e que entrecerrava os olhos, esticando o corpo.

Ela se deteve de repente e olhou ao seu redor, perguntando-se o que tinha chamado a atenção de Noah, mas não viu nada estranho. Negou com a cabeça e deu um passo observando como Toby chegava à esquina da rua, descia a calçada e começava a atravessar pelo meio-fio. Foi então que escutou o som de um motor acelerando.

Um carro negro com os vidros negos se aproximava com rapidez do posto de gasolina, direto para o Toby.

—Toby! —gritou a ela ao ver como o carro seguia em sua direção.

O rapaz levantou a cabeça surpreso ante seu grito, e se viu, de cara com o veículo que acelerava para ele.

Sabella correu, embora soubesse que não chegaria a tempo. Como também sabia que o condutor tinha a intenção de atropelar Toby. Ela não conseguiria chegar ao meio-fio e o rapaz não alcançaria a calçada.

Como se tudo transcorresse em câmera lenta, viu como Toby dava um salto e punha-se a correr. O carro seguiu direto para ele enquanto Sabella gritava e tentava correr mais rápido.

Sob o implacável sol da manhã, ela se debateu entre o medo e a fúria. Não podia permitir que isso ocorresse. Não podia permitir que fizessem mal a Toby. Era um menino, só um menino.

Voltou a gritar seu nome, horrorizada, e então Noah cruzou como um raio a estrada colocando-se durante alguns instantes diante do carro, estirou o fornido braço em torno da magra cintura do Toby, e ambos rodaram pela calçada até cair em uma sarjeta. Os aros do carro roçaram o meio-fio da calçada antes de acelerar ainda mais e desaparecer.

Um segundo depois, o enorme gigante loiro que Rory tinha contratado para substituir o mecânico que tinha despedido, cruzou o meio-fio e se ajoelhou junto ao Noah e Toby.

Noah. OH, Meu Deus. OH, Meu Deus, Noah. Tinha que estar bem, disse, a si mesma, Sabella ao mesmo tempo em que cruzava a rua. Tinha-lhe visto cair na sarjeta antes que o carro golpeasse contra a calçada, assim era certo que estivesse bem, não?

Não se deu conta de que estava gritando seu nome até que alguém a agarrou por trás para detê-la, enquanto o resto dos mecânicos cruzavam a rua.

—Noah! —soluçou, tentando livrar-se dos braços que a retinham.— Noah!

—Sabella. Quieta. Já basta! —gritou Rory com a voz mais dura que nunca. Sacudiu-a, a fez se virar e baixou o olhar para ela.

—Me solte! —Golpeou-lhe com os punhos, na mandíbula, nas costas e quando por fim conseguiu soltar-se foi cambaleante para a sarjeta.

Viu que Toby se incorporou, mas Noah não se movia. O sangue lhe corria pelo braço, lhe obscurecendo a camiseta e a cintura dos jeans.

O enorme mecânico, Nik, estava inclinado sobre ele, lhe aplaudindo o rosto com mãos ásperas e duras.

—Não lhe toque! —Empurrou Nik, lhe fazendo perder o equilíbrio.

— Chamem uma ambulância! —gritou aos homens que a olhavam imóveis como se estivesse louca. — Chamem já, se não quiserem que despeça a todos!

Deslizou as mãos pelo corpo de Noah, levantou-lhe a camiseta e viu o sangue que emanava dos cruéis cortes que lhe tinham feito no abdômen e no flanco na noite anterior. O jeans estava empapado em sangue, muito sangue. Além disso, agora tinha um novo corte na perna. Maldito seja. Maldito seja. Sabia que suas feridas eram mais graves do que lhe havia dito nessa manhã. Sabia.

Sabella tirou a camisa de trabalho, rasgou-a pelas costuras e, fazendo uma bola com ela, apertou-a contra o corte da cintura ao mesmo tempo em que estendia ao enorme loiro a outra parte do tecido. Nik a olhou com aqueles olhos claros cheios de fúria e separou os lábios como se quisesse lhe dizer algo.

—Se não vai pressionar o ombro, afaste-se para que eu possa me encarregar. —lhe espetou Sabella.

Ele seguiu suas instruções enquanto ela examinava o corpo do Noah com as mãos. Braços, costelas, coxas. Não parecia ter nada quebrado.

Elevou a vista e deu uma rápida olhada aos homens que os rodeavam.

—Peçam uma ambulância.

—Nada de ambulâncias.

Parou ao ouvir aquela furiosa voz, Sabella virou a cabeça e enfrentou o aturdido olhar de Noah.

—Estou bem. —Noah sacudiu a cabeça e olhou para Nik. — Pôde ver a placa?

—Não tinha placa. — disse o outro homem com uma voz que parecia sair do mais profundo de sua garganta.

— Se ela me permitir isso o levarei a minha casa. Se não quiser ir ao hospital, eu posso curar essas feridas.

—Nem pensar! É obvio que irá a um hospital. —Sabella fulminou a ambos os homens com o olhar. Em seu interior se mesclavam o medo e a cólera.

—Nada de hospitais, Sabella. —Noah se incorporou.— Onde está Toby?

O rapaz estava bem, embora ainda seguisse sentado na sarjeta olhando a todos em estado de choque.

—Algum filho da puta tentou me atropelar. —conseguiu dizer.

—Sim, um maldito bastardo. — resmungou Noah, incorporando-se e cravando o olhar em Sabella.

Tinha os olhos acesos, febris. Resplandeciam com um brilho antinatural que a deixou paralisada e sem fala enquanto os mecânicos se moviam ao seu redor.

—Vêem aqui. —Estendeu-lhe o braço e lhe dirigiu um olhar exigente. — Vêem aqui, Sabella.

Ela se aproximou lentamente dele, sem afastar o olhar de seus olhos. Noah a rodeou com o braço e a estreitou com tanta força contra seu corpo, que se Nik não os tivesse segurando, ambos teriam acabado atirados na sarjeta.

—Mantém a calma. — sussurrou Noah em seu ouvido. — Nada de ambulâncias nem de hospitais. Não posso permitir, sob nenhuma circunstância, que ninguém suspeite que não estou em boa forma. Não se irrite, pequena. Ainda não. Explicarei isso tudo mais tarde.

Sabella estremeceu ante o rouco som de sua voz e assentiu com a cabeça. Possivelmente existisse uma boa razão para que Noah não quisesse ir a um hospital, mas ele teria que explicar-lhe com todos os detalhes.

—Venha, vamos. —Rory se colocou a um lado e Nik do outro. Sabella se sentiu esmagada quando moveram Noah pela estrada. Seu braço lhe rodeava as costas de tal maneira que ela se perguntou se ele era consciente de sua própria força.

—Temos que o levar a minha casa. — insistiu Nik. — Tenho um amigo que pode curar as feridas se realmente não quiser ir a nenhum hospital.

Noah negou com a cabeça.

—Ao apartamento.

—Levarei-o para cima. — disse Nik a Sabella com um grunhido que só ouviram Rory e ela. — Já pedi reforços. Rory fique aqui e vigia a oficina. Encarregue-se do xerife quando vier.

O que estava acontecendo ali? Que demônios tinham em comum Noah e Nik além dos carros? Os carros e os olhos perigosos.

A debilidade que Sabella percebeu no corpo do Noah quando o arrastaram pelas escadas da parte traseira a aterrorizou. Tinha a mão molhada com seu sangue, podia cheirar, forte e metálica aroma.

—A chave. — lhe pediu Nik chegando à porta.

Sabella rebuscou no bolso do jeans de Noah, e mal pôde conter um ofego ao precaver-se da grossa ereção que pressionava contra as calças.

Ao tirar as chaves, levantou de novo o olhar para ele. Os quentes e brilhantes olhos do Noah estavam cheios de luxúria apesar da debilidade que invadia seu corpo. Não tinha os olhos escuros, não eram do azul brumoso ao que ela estava acostumada. Eram brilhantes, quase da cor safira. Quase... OH, Deus. Eram, quase, olhos irlandeses.

Obrigou-se a virar-se, a colocar a chave na fechadura, e teria entrado no apartamento se Noah não a tivesse feito retroceder.

Apesar de suas feridas, apoiou-se contra a parede do terraço e colocou a cabeça no interior do apartamento enquanto fazia algum tipo de indicação a Nik. O gigante loiro deslizou no apartamento e o movimento recordou a Sabella o de um predador, ou algum daqueles condenados documentários do governo que mostravam militares ou agentes federais entrando em território inimigo.

Agora estava segura de que Nik e Noah eram agentes de algum tipo. Não era estúpida; tinha sido casada com um SEAL, pelo amor de Deus. Por acaso pensavam que não havia prestado atenção a seu marido?

Mesmo quando estava em casa, Nathan tinha sido muito cuidadoso. Comprovava os arredores da casa, as portas e janelas, com olhos sempre duros e cautelosos, até que se convencia, além de toda dúvida, de que não os ameaçava nenhum perigo.

Sabella sentava na salinha, lixava as unhas e fingia não dar-se conta de nada. Mas sempre tinha prestado mais atenção ao homem que amava que a suas unhas. Era parte de estar casada com ele. Uma parte escura e perigosa que tinha aceitado inclusive quando desejava seu tenso e duro corpo.

—Vamos levá-lo para dentro. —Nik não demorou mais de um minuto em sair para ajudá-la a sustentar Noah.

Colocaram-no no apartamento e foram direito para o dormitório. Quando abriu a porta, Sabella ficou olhando os lençóis com horror.

Estavam manchadas de sangue. Muito sangue. Noah Tinha que ter estado sangrando durante quase toda a noite.

Virou-se e cravou o olhar em Noah, observando como Nik o ajudava a sentar-se e lhe desamarrava as botas antes de tirá-las.

—Vá para sala. —Noah a olhava fixamente com olhos famintos e ferozes. — Vai. Agora, Sabella.

—Por que não me disse isso? —sussurrou ela com voz rouca. —Por que não me disse que estava sangrando desta maneira?

Nik a olhou e logo observou a cama.

—Quanta sangue tinha perdido quando despertou? —perguntou.

—Tentei me lavar enquanto ela dormia. — resmungou Noah sem deixar de olhar Sabella. — Vá para a sala e não se mova de lá. Agora.

Ela negou com a cabeça, aproximando-se dele para puxar a camiseta e tirá-la pela cabeça.

De repente, a mão do Noah saiu disparada e agarrou com força o pulso dela.

—Recorda o que aconteceu ontem à noite?

Sabella lhe devolveu o olhar sem dizer uma palavra, com o coração acelerado pelo medo.

—Se não for neste mesmo instante, voltará a ocorrer. E dará no mesmo se tivermos alguém olhando. Vamos ter companhia logo. Avise ao Nik quando chegarem à porta, mas não a abra, compreendeu-me?

—Se tranqüilize, Noah. — resmungou Nik com cautela, claramente preocupado.

—Me responda, Sabella. — rugiu. — Me compreendeu?

Ela mexeu inutilmente o pulso tentando de liberar-se.

—Sabella. —Noah disse seu nome com um grunhido em que estava implícita uma ordem, um indício da determinação que formava parte de seu ser.— Me compreendeu?

—Esperarei na sala. — disse ela com voz rouca. — Quando ouvir alguém na porta e avisarei ao Nik.

Noah lhe sustentou o olhar. Seus olhos ardiam, eram como fogo azul cravados nos de Sabella.

Finalmente, assentiu com a cabeça e a soltou, liberando-a dedo a dedo, até que ela pôde retroceder e sair lentamente do dormitório.

Aturdida, atravessou o corredor e entrou em silêncio na cozinha. Era a viúva de um SEAL. Tinha conhecido muitos agentes de vários organismos do Estado e seu pai tinha sido detetive no departamento de polícia de Atlanta. Sabia muito bem como se moviam aquele tipo de homens, como olhavam, e quando lhe estavam mentindo.

Engoliu em seco e observou a sala. As cortinas estavam jogadas e poderia jurar que as janelas estariam firmemente fechadas.

Que tipo de agentes seriam eles? Rebuscou em sua memória freneticamente e teve que sentar-se no sofá ao começar a tremer. Possivelmente da patrulha fronteiriça? Não, pareciam muito duros para ser da patrulha de fronteira. A única razão que lhe ocorria para que estivessem ali era o porquê daquelas mortes acontecidas no parque nacional durante o ano anterior. A caçada de imigrantes e o caso daquela garota que tinha desaparecido da universidade alguns meses atrás. Como se chamava? Lisa? Tinha sido amiga de Toby.

Seriam do FBI? Da RECUA? Sim, um agente da RECUA agiria assim, teria aquele olhar duro e inflexível, emanando poder em cada ordem que dava.

Ou possivelmente fossem SEAL’S. Sentiu um estremecimento. Um SEAL também atuaria assim; entretanto, sua presença em Telhas não estaria justificada. Os SEAL’s eram uma força de ataque, não uma agência de investigação. Possivelmente Noah tivesse formado parte dos SEAL’s em algum momento de sua vida. Um antigo SEAL tão alto como seu marido, que tinha a mesma idade que teria Nathan agora, que a abraçava como o tinha feito ele e que tinha olhos que tinham ardido como safiras só alguns instantes antes, como aos de seu marido.

Sabella negou com a cabeça. Deus se sentia tão culpada que tinha que acreditar que Noah era Nathan para desculpar a atração e o desejo que sentia por ele? Não havia desculpas. Sabia que existiam algumas similitudes ambíguas. Mesmo Duncan as tinha notado. Mas Noah não era Nathan. Nathan estava morto. O homem que ela amava se foi, não é verdade?

Sentiu que a tensão a rasgava por dentro e tentou procurar diferenças entre Nathan e Noah. Noah gostava do sexo duro, enquanto Nathan sempre tinha sido terno na cama. Não obstante, ela sempre tinha suspeitado que algo escuro habitava em seu interior, que havia mais do que parecia. Noah, pelo contrário, não se continha absolutamente. Mordiscou a unha do polegar. Seu Nathan não tinha cicatrizes e sua voz tinha sido clara e profunda, um som puro que lhe acariciava os sentidos.

Mas Nathan girava a chave inglesa da mesma maneira que o fazia Noah. E mascava chiclete quando trabalhava na oficina.

Estremeceu e apertou as mãos contra o estômago. Aquele homem não era seu marido, porque seu marido jamais se teria mantido afastado dela durante seis anos. Não a teria deixado sozinha chorando por ele. De maneira nenhuma.

Noah era um agente que se parecia com Nathan em alguns momentos, disse a si mesma. Pode ser que inclusive tivessem tido o mesmo treinamento. O que estaria fazendo em Alpine?

Possivelmente estivesse ali pela tropa. Corriam rumores de que a tropa Black Colar estava atrás das caçadas de imigrantes no parque nacional. Fazia anos que existiam esses rumores. Tinha que ser por isso ou por drogas. E não havia drogas em sua oficina, disso estava segura.

Esfregou as mãos antes de passá-la pelo rosto, e se deu conta de que suas bochechas ainda estavam úmidas pelas lágrimas. Foi à cozinha para pegar um pano da gaveta e, quando o tirou, notou algo estranho, um pequeno vulto no meio. Afastou outros panos e, para sua surpresa, encontrou uma arma.

Uma Glock. Conhecia a marca e o modelo. Era o mesmo tipo de arma que tinha usado seu marido. Além disso, Noah a guardava no mesmo lugar. Por quê? Acaso tinham uma maldita norma sobre onde guardar as armas?

Nathan jamais se deu conta de que ela sabia exatamente onde ocultava suas armas durante os dois anos que viveram juntos. Sabella nunca lhe disse nada, mas sempre tinha sabido em que lugar as encontrar, tanto na casa como no apartamento.

Fechou a gaveta lentamente, moveu-se para a pia e umedeceu o pano com água fria.

Não ia revistar o apartamento. Ainda não. Antes tinha que tentar acalmar-se. Mas podia sentir como o pânico a invadia, lenta e insidiosamente.

Quem era o homem que estava ferido no dormitório? Tinha conhecido Nathan? Estava investigando-a? Seria por isso pelo que Noah tinha começado a trabalhar em sua oficina e tinha invadido sua vida?

Formaria ela parte daquela investigação? Ou só a oficina?

Colocou o pano sobre o rosto e conteve o desejo de fugir, de ocultar-se. Só o tinha feito uma vez em sua vida, durante aqueles três primeiros anos infernais, quando os pesadelos e a dor alagavam cada parte de sua alma. Uma vez que conseguiu recuperar-se o suficiente para seguir vivendo, abandonou seu refúgio e lutou para seguir adiante.

Para que? Para que outro homem, outro viciado em adrenalina, tomasse o controle de sua vida e a destruísse?

O som de carros estacionando atrás da oficina fez com que levantasse a cabeça de repente. Estava a caminho do dormitório quando Nik saiu, agarrou-a pelo braço e a arrastou de volta a sala.

—Fique aí! —ordenou-lhe com o rosto e o corpo tensos enquanto se aproximava da porta e a abria.

Sabella deu um passo atrás e observou os dois homens que entraram. Não sabia seus nomes, mas recordava havê-los visto no posto de gasolina. Reconheceu-os apesar de que seus duros e inescrutáveis olhares transformavam seus rostos por completo.

Pouco depois, chegaram Ian Richards e sua esposa, Kira. Sabella quase riu. A histeria ameaçava tomar conta dela quando cruzou com o olhar compassivo e cheio de pesar de sua amiga. Maldição. Os Richards estavam envoltos em tudo o que estava acontecendo, e Sabella queria saber por que.

 

Dessa vez não estava sendo tão duro. Noah agarrou às correias que Nik tinha amarrado aos postes da cama, apertou os dentes e resistiu enquanto Micah lhe suturava as feridas. Podia sentir o sangue fluindo com força por seu corpo e engrossando seu membro.

Maldito «pó de afrodite» e maldito também Diego Fontes. Aquele bastardo estava vivo e sorridente, protegido pelo serviço de amparo a testemunhas, enquanto Noah lutava com suor e sangue por recuperar a prudência.

Os médicos lhe tinham advertido que os efeitos da droga em seu corpo tinham sido tais que jamais se livraria por completo deles. Haveria seqüelas. Em especial depois de uma dura quebra de onda de adrenalina como a que tinha sofrido na noite anterior. A febre também piorava seu estado. As navalhadas tinham sido mais profundas do que ele tinha querido admitir, e as feridas tornaram a abrir e a sangrar.

Tinha que acalmar a crescente luxúria que alagava seu corpo. Não queria que Sabella o visse assim. Como um animal, dependente só do sexo. Sexo duro, rápido e selvagem. A noite anterior tinha tomado todos os antibióticos, analgésicos e inibidores de desejo que os médicos do exército lhe tinham receitado, mas nada tinha funcionado.

—Não deveriam ter vindo. —disse ao antigo agente do Mossad. Todos estavam agora mortos para o mundo. Todos eram agora fodidos homens mortos.

—São ordens de Jordan. —lhe explicou Micah em voz baixa. — Viemos no carro de Travis. Não há ninguém vigiando a oficina. Travis se assegurou disso. Injetou algo em você?

Noah assentiu com a cabeça.

—Ontem à noite. Mas não serviu de nada.

—Necessitará de uma dose maior. Ian receberá mais medicamentos logo. Enviaram o novo carregamento ontem à noite.

—Deveria partir. —espetou Noah. — Não confio nos mecânicos. Além disso, Sabella vai fazer muitas perguntas.

—Jordan chamou seu irmão antes de vir e o ordenou que vigiasse os mecânicos e que não os deixasse da oficina. Quanto à senhora Malone... deveria haver sido informada sobre esta operação desde o começo. Vai fazer com que pague por sua obstinação, não o duvide. Mas agora deixa de preocupar-se. Parece minha mãe.

—Vou te dar um chute no traseiro.

—Não vai não, cara. —grunhiu. — Eu gosto das peles suaves, não essa espécie de couro que você tem.

—Bastardo. —A risada do Noah se transformou em tosse.

—Bom, acaso não somos todos? —Micah sorriu amplamente, imitando o acento miserável de Telhas.

Noah deixou cair a cabeça no travesseiro ao sentir que a luxúria ameaçava fazê-lo explodir ali mesmo. Juraria que podia cheirar o aroma de Sabella e queria apenas voltar a enterrar-se em seu corpo. A febre e a adrenalina eram uma mescla explosiva. Tinha pensado que teria tempo de repor as injeções cada vez que o ferissem, mas, evidentemente, equivocou-se.

—Ian tem seus remédios, Noah. — lhe disse Micah com suavidade.

— Não podemos te dar nada para a dor até que tome ou seu estado piorará. Mas os médicos enviaram algo novo, algo que acreditam que servirá para a dor e para... o outro.

Noah negou com a cabeça.

—Não quero mais drogas. —iria, escaparia a qualquer outro lugar até pudesse controlar seu corpo de novo. Estava a muitos anos lutando e tinha aprendido a passar por isso sem problemas, embora, ao que parece, não o tinha feito muito bem na noite anterior.

—Temos que fazer algo com a febre, Noah. —advertiu Micah com os olhos escuros e preocupados. — Temos mesclas de antibiótico e analgésico. O mesmo que utilizou quando recebeu esse balaço faz três meses. Então o aliviou. Por que não lhe dá uma oportunidade?

Nada poderia o aliviar naquela ocasião. Algumas vezes, a medicação que os médicos lhe proporcionavam o ajudavam a conservar a prudência, entretanto, não aliviava a necessidade, a ardente e imperiosa luxúria que sentia por uma mulher.

Não qualquer mulher. Só a sua; sua esposa.

Piscou ante o suor que lhe cobria os olhos e soltou as correias, tentando conservar a prudência. Tinha-o conseguido com uma vontade de ferro nos meses posteriores a seu resgate. Tinha lutado até a extenuação contra aquela luxúria selvagem e furiosa que tinha alagado seu corpo como uma praga.

Tudo o que precisava era de Sabella. Só conseguiria sobreviver com sua ajuda. A única coisa que tinha que fazer era permitir que sua doce esposa o envolvesse de novo em sua magia.

Soltou um gemido entrecortado ao pensar nela. Tão estreita e quente, tão rodeada em torno de seu membro, sugando-o e aceitando tudo o que lhe dava.

—Já está aqui Ian. —Nik saiu pela porta e voltou para a salinha junto à Sabella.

Um ciúme assassino invadiu a Noah. Sempre tinha tido que lutar contra o ciúme. Sabella jamais o tinha sabido, já que nunca se mostrou ciumento diante dela, mas tinha tido que conter-se cada vez que outro homem se aproximou muito de sua esposa.

E agora Nik estava em outra sala com ela. Grande, loiro, e, sem dúvida, muito mais gentil. Noah duvidava que o russo a possuísse sem preliminares, ou que a sentasse em uma mesa enquanto sangrava sem lhe importar nada exceto afundar o rosto entre suas coxas.

—Não se mova Noah. —Micah o obrigou a tombar-se na cama quando se incorporou de repente. — Faz com que se abram seus pontos e o deixarei fora de combate.

Noah soltou um grunhido de risada. Tinha sido Micah quem o tinha ajudado quando os médicos se negaram a lhe dar mais analgésicos e ele lutava por não desmaiar de dor. Seu amigo se aproximou de sua cama no hospital e depois só tinha havido escuridão. Uma escuridão sem dor.

Mas não podia permitir o luxo de perder o conhecimento agora. A vida de sua esposa estava em jogo. Se haviam atentando contra Toby, também poderiam fazê-lo contra Sabella. Era só questão de tempo. Deus deveria havê-la tirado daquele inferno.

—O que está fazendo? —Ian entrou no quarto. Tinha a voz rouca, quase tanto como a do homem que lhe observava da cama.

Noah o olhou fixamente nos olhos. Quando tinham dez anos, tinha ouvido os gritos de Ian no deserto que rodeava o rancho de seu pai. Desesperado, conseguiu tirar Grant da cama e o perseguiu até conseguir que o acompanhasse em sua angustiosa busca.

Seguiram os furiosos gritos de Ian e o encontraram embalando a sua mãe moribunda. Quando chegaram até ele, tinha a voz quebrada.

Tinham sido amigos desde essa noite e sua amizade nunca se quebrou. Nem sequer depois que Noah descobrisse que Diego Fontes era o pai de Ian. Nem sequer depois que Fontes quase destruíra a Noah.

—Não tem uma cara boa. —disse Ian aproximando-se da cama com os olhos obscurecidos pela dor e o pesar. —Deveria ter matado a esse bastardo quando tive a oportunidade. Sinto muito, amigo. Fontes deveria ter morrido.

—Irei até ele assim que esses bastardos da Segurança Nacional levantem a proibição. —Noah grunhiu e respirou fundo antes de olhar Ian com cólera.

— Tirem Sabella daqui. Que Jordan a leve ao centro de operações. Que a proteja até que tudo isto tenha terminado.

Podia cheirá-la, como chuva cálida e doce.

—Desta vez é pior. —disse Micah a Ian. — Os médicos deram alguma coisa?

—Isto. —Lançou Micah a pequena bolsa de couro negra que usava e se voltou para o Noah para lhe dizer: — Sua esposa não é estúpida, Noah. Sabe. Tanto ela como Rory necessitam que lhes explique parte da missão. De toda forma, é provável que Belle já tenha descoberto por sua conta que é algum tipo de agente.

—Odeio tudo isto. —Noah se incorporou na cama ignorando a advertência de seu amigo, e lançou um olhar irado aos dois homens quando Micah cravou uma seringa de injeção no ombro.

—Vamos, Noah, a última vez foi boa. —recordou Ian com brutalidade.

—Não. Crê que foi boa porque não me ouviu gritar. — grunhiu.

— Mas eu sim ouvi meus próprios gritos na cabeça.

—Quer que Sabella o ouça gritar? —perguntou-lhe então Micah.

Noah negou com a cabeça.

—É a única razão pela qual vou deixar que me injete essa merda.

Recostou-se na cama e observou como Micah lhe cravava uma segunda seringa de injeção.

—Vou quebrar seus dedos. Assim não poderá voltar a me injetar mais merda nenhuma.

Micah lhe brindou com um amplo sorriso. Era o normal. Amaldiçoavam-se, insultavam-se uns aos outros e ameaçavam aniquilar-se mutuamente todos os dias. Era o que os mantinha vivos.

—Segue assim e colocarei tanta merda desta que a droga de Fontes parecerá um brincadeira de meninos em comparação. Quer?

Noah assentiu ligeiramente com a cabeça, lambeu os lábios ressecados e suspirou.

—É um bastardo.

—Não posso levar a Belle ao centro. —disse então Ian.— Sabe que não podemos fazê-lo.

Noah fechou os olhos. Deus queria que ela estivesse a salvo. Que estivesse longe de toda aquela loucura, longe do perigo que ele havia trazido para sua vida. Não sabia se poderia responder às perguntas que sabia que lhe faria. No que tinha pensado? Jamais deveria ter aceitado essa missão. Teria sido muito melhor ir para a Sibéria.

—Seguimos o carro que tentou atropelar Toby. —Ian se sentou junto à cama.

— Alguns dos mecânicos acreditam havê-lo visto ontem à noite, perto do bar. Suponho que é de algum dos filhos da puta que o atacaram.

Noah assentiu com a cabeça.

—Sim, são estúpidos filhos da puta. Pensaram que poderiam me cortar em pedaços e me enviar ao inferno. O Toby foi só um aviso de que vão atrás de meus amigos.

—Bom, na realidade, o cortaram em pedaços. —bufou Micah. — Já o suturei e enfaixei, soldadinho, assim está preparado para brincar com todos esses meninos maus outra vez.

—-Que lhe dêem no rabo, bastardo. — disse Noah.

—-Se esqueceu que prefiro às mulheres. —riu Micah.

—Acaso não vai isso contra sua maldita religião? Não tem que estar casado antes ou algo assim? —espetou-lhe Noah.

Em geral, esse tipo de impropérios era como um jogo. Uma maneira de aliviar a tensão. De distrair a mente da dor, embora não funcionasse no caso de Noah.

—De que religião fala? —disse Micah pondo os olhos em branco.— Desde que conheci yuhoo, todas as minhas crenças foram ao diabo.

—Yahoo. —corrigiu Ian, sem deixar de olhar seu amigo.

Noah respirava lentamente, mas podia cheirar Sabella em cada inspiração. Podia sentir como o sangue fazia palpitar seu membro, como o desejo o atravessava de novo, tão selvagem como a primeira vez em que Fontes lhe tinha metido a agulha no braço.

Retorceu-se sobre a cama, desejando poder desfazer-se daquele maldito jeans que constrangiam sua ereção. Demônios, necessitava transar. E agora não era como há seis anos, quando tomar uma mulher teria significado quebrar os votos sagrados que lhe tinha feito a sua esposa. Agora significava possuir de novo a sua esposa. Senti-la doce e apertada em torno dele.

Significava amá-la, acariciá-la. Acalmar o fogo que consumia seu ventre e, provavelmente, acabar sangrando como um porco em cima dela outra vez.

Respirou fundo, sentindo como a medicação começava a surtir efeito. Odiava tudo aquilo, embora ao menos lhe permitisse pensar com claridade.

—Demônios. —Respirou fundo outra vez e olhou a Ian. — Leve Micah, Travis e Nik para fora daqui. Ponha Travis atrás do rastro de Mike Conrad. Quero saber por que me atacaram ontem à noite e por que tentaram atropelar Toby hoje. Diga ao Rory que Toby e ele não abandonem o escritório, Nik pode vigiá-los sem que ninguém se dê conta. Quero Micah cobrindo a oficina e a casa. Não lhes resultará estranho que Ian e Kira tenham vindo aqui, ou que Nik tenha ajudado a subir o amante de sua chefe. Mas qualquer outra coisa poderia lhes chamar a atenção. Que todos outros sumam daqui quando estiverem seguros de que ninguém os vê.

—E Belle? —perguntou Ian.

—Sabella fica aqui. —Era muito tarde para fazê-la desaparecer e ele sabia que a seguiriam onde fosse. Onde quer que a escondesse. E o centro de operações não era o lugar adequado para ela.

—Noah, agora não pode tomar esse tipo de decisões. — disse Ian em voz baixa.

— Sabe onde o levará tudo isto. Essas drogas não aplacaram sua luxúria, amigo. Ardem-lhe os olhos. Pode ser que a cirurgia o obscurecesse, mas agora mesmo, brilham como a antes de Fontes.

—Ainda conservo o controle. —Estava seguro disso. Sabia muito bem o que estava fazendo.

— Não lhe farei mal. — Jamais a machucaria. Antes fatiaria a garganta.

— E os olhos perderão intensidade assim que ao remédio faça efeito.

—Vai ter que lhe dar explicações. Conte o que está ocorrendo. — exigiu Ian com dureza. — Ou ao menos lhe diga no que a afeta esta missão. Acredite-me, está enganando a você mesmo se pensa que não terminará por dar-se conta de tudo o que está passando. Não viu como olhou a Kira e a mim quando chegamos.

Noah inspirou profundamente. Sabella o mataria, mas também se encarregaria disso. Sua esposa jamais suspeitaria quem era ele na realidade. Depois de tudo, seu marido nunca lhe tinha gritado, nem a tinha feito dele como um animal, nem a teria metido no meio de uma missão perigosa.

—Vai voltar a abrir os pontos e começará a sangrar de novo —grunhiu Micah.

Noah negou com a cabeça.

—Saiam daqui já. E que Nik desça à oficina e vigie o lugar. Não podemos nos permitir o luxo de ter toda a equipe aqui. Temos que estar preparados para o próximo movimento que façam esses bastardos. Até então, não poderemos descansar ou jamais os apanharemos.

—E se contar tudo a Belle? —disse Ian. — Se lhe disser quem é, o que aconteceu a você, o que ocorreria?

Noah o olhou fixamente. Aquilo não aconteceria nunca. Não poderia suportar que Sabella soubesse o que tinha ocorrido ao homem que tinha amado com tanto desespero para ir ao inferno com ele.

—Os mortos não falam. — sentenciou com voz rouca.

— Não saberá nunca. Seu marido está morto.

Ian lhe sustentou o olhar durante um instante, apertou os lábios e logo olhou Micah lhe indicando com a cabeça que saísse.

—Está mentindo a você mesmo. —disse o israelense.

— Não possui o suficiente controle para não lhe fazer mal.

OH, sim possuía o suficiente controle. Mais controle do que qualquer um deles acreditava.

—Vai e se encarregue de que outros saibam o que têm que fazer. — lhe ordenou Ian. — Isto só diz respeito a Noah.

Micah ficou em pé olhando furiosamente aos dois homens, curvou o lábio em uma careta desdenhosa e se dirigiu à porta. Como o russo, o inglês e o australiano, aquele israelita nem sempre compreendia as regras que se estabeleciam ou se rompiam. Fazer com que esses homens formassem uma equipe sólida não tinha sido fácil. Eram homens duros. Homens mortos que não tinham nada a perder salvo a honra. Mas eram homens nos quais se podia confiar.

Ian baixou a vista para seu amigo. Parecia cheio de luxúria, não cabia dúvida. Mas Ian o tinha visto antes em um estado pior que esse. Noah tinha desaparecido durante dias e Sabella jamais tinha sofrido dano algum.

Noah esteve padecendo durante intermináveis meses dos efeitos de uma droga que os médicos ainda não tinham podido neutralizar, e que o tinha transformado em um animal quase descontrolado pela luxúria. E, entretanto, jamais tinha feito o que Fontes tinha querido. Jamais tinha quebrado seus votos. Jamais tinha esquecido sua esposa.

Ian acreditava firmemente que Noah nunca machucaria a sua esposa.

Assentindo com a cabeça, dirigiu-se à porta, olhou a seu amigo e odiou a si mesmo e a Fontes com uma força que ainda tinha o poder de alagá-lo com uma fúria amarga.

Era seu pai quem tinha provocado tudo aquilo, o homem que o tinha gerado. E mesmo assim, Ian o tinha deixado viver. Tinha-o feito porque era seu pai ou porque o necessitava a Segurança Nacional? Onde estava o limite? Perguntou-se.

Deveria ter matado aquele bastardo quando teve a oportunidade.

 

Sabella estava de pé atrás do estreito balcão que separava a cozinha da sala, observando o corredor, quando Ian saiu do dormitório. Kira e ela não conversaram. Ambas sabiam que teriam que falar cedo ou tarde, mas nenhuma tinha quebrado o silêncio.

O agente do Oriente Médio — Sabella estava segura de que todos eram agentes— tinha saído do apartamento com o Nik e os outros alguns momentos antes, deixando atrás de si um tenso silêncio entre Kira e ela.

A outra mulher a olhava com atenção, com um olhar pensativo em seus olhos cinza. Nesse momento, quando Ian saiu do quarto, Sabella se endireitou e olhou a porta fechada do dormitório.

—Como ele está? —colocou as mãos nos bolsos do jeans e observou o que tinha sido o melhor amigo de seu marido. Que estranha coincidência que também parecesse ser amigo de Noah.

—Ficará bem. —Ian se ergueu em toda sua estatura e rodeou a sua esposa com um braço quando se aproximou dele.

Sabella lhe sustentou o olhar e foi direto ao ponto.

—Quem é? O que é?

Era surpresa o que brilhava nos olhos de Ian? Mesmo assim, não disse nada.

Sabella se aproximou da gaveta da cozinha, abriu-a bruscamente e deixou cair a Glock no balcão. Sem deixar de olhar o casal, inclinou-se, abriu as portas sob a pia e extraiu outra arma presa com fita adesiva na madeira.

Logo foi até o sofá, tirou outra pistola menor de bolso da parte inferior do assento e a acrescentou ao monte.

—Quem demônios é e por que irrompeu na oficina e em minha vida? —Golpeou o balcão com a mão.

— E o que tem você a ver com ele? Foi o melhor amigo de meu marido, Ian. Considerava-o quase um irmão. E agora coloca um agente secreto na vida de sua esposa.

—De sua viúva. — disse Ian com suavidade.

Sabella estremeceu.

—E isso o justifica? —espetou-lhe. — Maldito seja, Ian. Por que o trai dessa maneira?

—Eu não traí a Nathan, Belle. —Lançou-lhe um olhar feio e duro.— Nem tampouco dou ordens a Noah Blake. Seja o que for o que esteja fazendo aqui, é coisa dele. Conheço-o. Somos amigos. Igual sou seu amigo.

Sim, eram amigos. Durante dois anos, ela tinha sido testemunha da amizade que o unia a seu marido. Tinham sido como irmãos, possivelmente mais. E Ian tinha o mesmo particular costume que o pai de Sabella. Quando mentia, não piscava. Não mudava a expressão do rosto, não esticava o corpo; era tão antinatural que sempre tinha feito Sabella suspeitar.

—Não minta pra mim. —Apontou-lhe com um dedo tremente. — Não se atreva a mentir. Aqui acontece algo estranho, algo que vai mais à frente que umas quantas navalhadas e que todas essas tolices que acaba de dizer.

—Se pudesse dizer algo mais, faria-o. —lhe assegurou Kira.

Sabella voltou o olhar para a outra mulher. A que se devia aquela advertência em seus olhos? Sabia que queria lhe dizer algo, podia senti-lo.

—Kira pode me esperar lá fosse? —pediu-lhe Ian. Ao que parece, ele também tinha percebido a necessidade de falar de sua esposa.

—Não Ian, não posso. — respondeu. Em seus olhos e em seu sorriso se refletia o amor que sentia por seu marido, sem que isso subtraísse a força de sua determinação de ficar ali.

Ele quase pôs os olhos em branco.

—É minha amiga. — acusou Sabella com dureza. — Mas fica aí parada, deixando que ele minta. Será que você também mentiu pra mim ?

Ian suspirou.

—Sabella, me escute.

—Quem é? —perguntou a ambos de novo. — É um agente, verdade? —Sabella estremeceu, rasgada ante aquela certeza. — De que agência? Do FBI? Ian negou com a cabeça.

—Noah não pertence a nenhuma agência do governo, Belle.

—É um agente particular? —adivinhou. Não lhe respondeu. — O que isto tem a ver com você?

—Só vou esclarecer que há uma operação em marcha em Alpine. — disse Ian finalmente. — Só sabem Rory e você, ninguém mais.

Agora não estava mentindo. Sabella umedeceu os lábios com nervosismo.

—O que tem a ver Noah com tudo isto? —inquiriu com brutalidade. Fez aquela pergunta apesar do medo que lhe dava a resposta.

Ian apertou os lábios.

—Nada pelo qual deva se assustar. —Estava-lhe ocultando algo e ela sabia.

—Por que está aqui?

—Isso ele deve contar a você, Belle. —Ian suspirou. — Estou aqui porque os dois são meus amigos. Nada mais. Inteirei-me de que tinham tentado atropelar Toby e de que Noah estava ferido, e vim ver como estava.

—Está mentindo. —gritou ela. — Maldito seja, podem ir os dois ao inferno. Está mentindo da mesma maneira que mentiu quando morreu meu marido. —virou-se lhes dando as costas, cobriu o rosto com as mãos durante um instante, e depois se virou de novo.

— Não atiraram nele, não é verdade? —Sabella já não podia conter-se, estava tão desesperada por averiguar a verdade que não lhe importava nada mais.

— Diga-me, Ian, me conte o que aconteceu com meu marido e logo me diga o que diabos está fazendo esse homem em minha vida. —Indicou ao corredor, vendo como Noah aparecia por ele.

—Belle. —Ian negou com a cabeça.

—Não me deixaram me despedir de meu marido. — rugiu. — Não pude ver seu corpo...

—Não teria gostado de vê-lo, Belle —lhe assegurou Ian. — Confia em mim. Recorda-o tal e como era, e deixa-o partir. Está morto. Juro isso, não teria gostado de ver o que recuperamos dele.

Um soluço rasgou Sabella. Por um segundo, só por um segundo, quase tinha chegado a pensar que... Negou com a cabeça. Não, não deveria pensar nisso.

Cobriu a boca com a mão e deu as costas aos três.

—Belle. — sussurrou Kira atrás dela.

Sabella levantou a mão. Silêncio. Só necessitava de silêncio. Só um minuto para deixar morrer essa última chama de esperança.

—Quero ir para casa. — murmurou voltando-se para eles e procurando os olhos do Noah. Ele lhe devolveu o olhar com os olhos chamejantes e a expressão angustiada. Queria aproximar-se dele. Queria rodeá-lo com seus braços e que o mundo voltasse a ser normal uma vez mais.

—Realmente quer se afastar de Noah, Sabella? —perguntou-lhe Kira. Aproximou-se um pouco mais e lhe pôs uma mão no ombro enquanto ela estremecia com outro soluço.

— Pode ser que não seja seu marido, mas, realmente quer fugir do que poderia chegar a ser para você?

—É a que me disse que me deitasse com ele para me liberar da tensão sexual. — espetou, sorvendo pelo nariz para tentar conter as lágrimas. — E não serve para nada. Para nada.

—Realmente não serve para nada, Belle? —Kira sorriu; um triste e terno sorriso. — Seu marido se foi, mas você não morreu com ele.

—Kira, me diga a verdade. — sussurrou. Estava tão cheia de dor e de suspeitas que se sentia devastada.

—Basta.

Sabella levantou a cabeça e observou como Noah atravessava a sala cambaleando. Vestia o mesmo jeans que tinha usado antes, manchado e com a braguilha avultada por uma ereção.

Kira suspirou quando Ian se aproximou dela e lhe rodeou a cintura com o braço.

—Vamos, carinho.

Quando a porta se fechou atrás dos Richards, Noah se aproximou do balcão e olhou fixamente as armas que Sabella tinha amontoado.

—Como as encontrou? —perguntou-lhe com uma voz mais áspero que o normal.

Sabella apertou os dentes e logo esboçou um sorriso zombador.

—Escondeu-as nos mesmos lugares onde as teria escondido meu marido.

Pronto, havia-o dito, e teria jurado que ele quase se sobressaltou.

Noah guardou silêncio durante um bom momento antes de assentir lentamente.

—Sou um agente contratado por uma companhia privada. — reconheceu. Alargou o braço para agarrar a Glock, rodeou o balcão e guardou as outras duas armas.

—Um viciado em adrenalina. —se burlou ela. — Justo o que eu necessitava em minha vida. Diga-me, Noah, conhecia meu marido?

Sabella apoiou o quadril contra o balcão e cruzou os braços sobre o peito enquanto o observava, desejando descobrir algo que confirmasse ou desmentisse as suspeitas que cresciam em seu interior.

Ele baixou a vista por alguns segundos, pôs as mãos sobre o balcão e, finalmente, elevou os olhos para ela.

—Conheci seu marido. Não fomos exatamente amigos.

—Foram inimigos?

Ele arqueou os lábios em um gesto zombador.

—Não, não fomos inimigos. Só éramos conhecidos.

—Noah é seu verdadeiro nome?

Ele assentiu com a cabeça lentamente, observando-a em silêncio.

—Sim.

—Qual é o motivo de que tenha vindo a Telhas para se deitar com a esposa de Nathan Malone?

Noah estremeceu e Sabella pôde ver a dor que lhe produziram suas palavras. A traição. Sentia-se traído. Decepcionado.

—Não aconteceu assim. —Negou com a cabeça, e Sabella soube que mentia. Percebeu-o. Foi algo instintivo. Como um velho aroma que despertasse seus sentidos. Sabia, como sempre tinha sabido quando lhe mentia seu marido.

—Sabia quem éramos Rory e eu quando se aproximou de nós, não é certo?

Noah lambeu o lábio inferior. Não foi um ato de nervosismo, nem de indecisão. Foi algo sexual. O olhar em seus olhos era sexual. Tudo nele clamava por sexo duro.

—Sabia. —Ao menos nisso não lhe mentia.

—Por quê? —perguntou-lhe cheia de dor. — Por que me fez isto? Não sofri bastante? Acaso crê que quero estar com outro viciado em adrenalina que irá de missão em missão procurando algo que eu não posso lhe dar?

Ele a olhou surpreso.

—Crê que seu marido fosse um SEAL por essa razão? Por que procurava o que você não podia lhe dar?

—O que mais podia ser? Se olhe. —Indicou-o com a mão.— Admita. Você adora a subida de adrenalina. Você adora o que o faz sentir. É melhor que sexo. —se burlou. — Não é assim, Noah?

Seus olhos. Aqueles olhos. Tão ferozes e resplandecentes, tão ardentes que chegavam a partes no interior de Sabella, que ela não queria admitir que existiam, não eram de um azul brumoso, mas sim luminosos. Não eram olhos irlandeses, mas tampouco pareciam naturais.

O olhar de Noah deslizou pelo corpo feminino e Sabella sentiu como se a estivesse acariciando.

—Não há nada comparável ao sexo com você. —Sua voz era agora gutural. — Não há nada que me excite mais, nenhuma droga, nenhuma missão que me faça sentir o que sinto ao me afundar dentro de você. E daria até a última gota de meu sangue por voltar a gozar em seu interior uma vez mais. Mas não sou Nathan Malone.

Sabella ficou sem fôlego. Deu um passo para trás, sentindo uma terrível opressão no peito enquanto a necessidade de respirar lutava com o desejo que fazia arder suas vísceras.

—Quer recuperá-lo com todas as forças de seu ser, não é, Sabella? —apoiou-se no balcão. — Quer centrar sua vida nas lembranças de um homem que jamais retornará.

Ela negou com a cabeça e seu coração chorou de agonia, ante aquelas palavras. Palavras que matavam a frágil chama de esperança que vivia dentro dela. Uma esperança que se negava a pronunciar em voz alta, porque desejava desesperadamente que fosse real.

—Não a deixaram ver seu corpo, assim rezou para que estivesse vivo. —As cruéis palavras de Noah, o tom gentil de sua voz, atravessaram seu corpo como se a tivessem golpeado com um chicote.

—Não continue. —Sabella sacudiu a cabeça com os olhos cheios de lágrimas, sentindo uma dor devastadora que lhe rasgava a alma e destruía a última esperança de voltar a abraçar seu marido outra vez. — Por favor ,não o diga.

Noah estendeu as mãos para ela. Retirou-lhe o cabelo do rosto, secou-lhe as lágrimas com os polegares e lhe acariciou o rosto.

—Seu marido está morto. —A voz masculina também estava cheia de dor.— Se foi, Sabella.

—Não. — negou ela sacudindo a cabeça. — Não.

—Só está vivo em seus sonhos. —Roçou-lhe os lábios com os seus. — Mas eu estou aqui. Diante de você. Deixe-me entrar, Sabella. Deixe-me ter o que não teve Nathan Malone. Deixe-me estar com sua bruxa selvagem.

—Não! —gritou com uma agonia estremecedora. Queria lhe golpear. Queria lhe arrancar o cabelo, os olhos, mas podia apenas afastar-se dele, assim se obrigou a sair da cozinha.

—Não se ofereceu a ele por completo. — a acusou com voz rouca e suave enquanto a seguia. Segurou-a pelos ombros e apertou com força ao sentir que ela se esticava sob suas mãos. — Entregue-se a mim. Dê-me à mulher que não deu a ele.

—Eu o amo.

—Amou-o. —O fogo nos olhos de Noah ardeu de dor, de pesar, de desolação e luxúria.— Amou-o, Sabella. Porque ele se foi.

—Pare. —Ela negou com a cabeça.

—Não sou Nathan Malone! —rugiu golpeando-a com as palavras.

Sacudiu-a com firmeza e Sabella afundou os ombros e seguiu negando com a cabeça, soluçando, emitindo alguns gritos que rasgavam o peito do Noah.

—Coloque isso na cabeça, Sabella. Não sou Nathan Malone. Não sou o homem que amou, mas bem sabe Deus que sou o homem que vai fodê-la. Que a abraçará quando chorar a noite. O homem que a obrigará recebê-lo tão profundamente, tão duramente, que jamais voltará a tentar ocultar uma parte de você.

—Pare. Pára de uma vez. —Sabella chorava desconsoladamente. Tinha a respiração entrecortada e as lágrimas lhe nublavam os olhos enquanto as palavras a rasgavam com a mesma força que uma faca afiada.

—Não vou parar. —Suas mãos a seguravam com força, negando-se a soltá-la. — Olhe-me, Sabella.

Os olhos dela estavam alagados de lágrimas e os traços masculinos apareceram imprecisos ante ela. A necessidade de apoiar-se em Noah, de encontrar algo no que se sustentar, afrouxou-lhe as pernas.

—Não sou Nathan Malone. Mas sou seu amante, Sabella. E necessito de você. Necessito, mas não da maneira que necessitava seu marido. Necessito tanto de você que me voltarei louco se não voltar a sentir suas carícias, seus beijos.

Noah lhe segurou a cabeça com as mãos, baixou os lábios e os uniu ao dela para saboreá-la. Sentiu o sabor das lágrimas e a dor de sua esposa, e algo dentro de sua alma se quebrou.

OH, Deus. Tinha-lhe feito tanto mal... Os soluços de Sabella se cravavam nas vísceras do Noah como garras ardentes. Mas tinha tido que fazê-lo. Tinha tido que ser cruel porque, assim que a ouviu perguntar a Ian, soube que ela começava a suspeitar. De algum jeito, sua perspicaz esposa tinha sentido o fantasma de seu marido dentro dele.

Sabella estremeceu entre seus braços. O «pó de afrodite», a droga que ainda infectava seu corpo, bombeava em seu interior eclipsando tudo exceto o que o fazia sentir. As sensações que provocavam aqueles lábios suaves, o doloroso sabor de suas lágrimas.

—Sabella. —sussurrou Noah. — Toque-me. Só me toque. Feche os olhos e imagina que está com quem quer que precise estar, mas me toque.

Agarrou-lhe as mãos para apertar-lhe contra seu duro torso coberto por bandagens, e sentiu sua vacilação, sua resposta.

—Morro por suas carícias. —Beijou-a de novo nos lábios, observando como Sabella elevava a cabeça e o olhava com aqueles olhos cinza nublados pelas lágrimas, pelos sonhos perdidos.

Ela negou com a cabeça e ele a beijou outra vez. Apanhou-lhe os lábios de novo e, em vez de devorá-los como necessitava, limitou-se a acariciá-los, a recrear-se em seu sabor.

Finalmente, Sabella respondeu dividida entre o homem que amava e o que desejava. Mas ele não podia deixar que suspeitasse que ambos viviam e sofriam por ela.

—Por favor, não o faça. — murmurou ela quando Noah levantou a cabeça e a guiou pela sala, levando-a ao dormitório.

—Então, vai. —separou-se dela, desabotoou o jeans e cavou com a palma da mão aquela ereção engrossada pela luxúria.

O olhar de Sabella se cravou nele e estremeceu. Noah podia ver a luta interior de sua esposa em seus olhos. Sua bela e doce Sabella, que lutava contra a cólera, o medo e o desejo.

Noah se estendeu sobre a cama e acariciou seu duro membro sob o atento olhar feminino. Sabella fechou os dedos sobre sua camiseta, com o rosto úmido pelas lágrimas que ainda lhe brilhavam nos olhos.

—Comportarei-me bem. —lhe prometeu ele. — Serei um menino bom e deixarei que me monte, Sabella.

Conforme recordava, sua esposa costumava gostar daquilo. Tinha-lhe encantado elevar-se sobre ele, ir fazer aceitando-o pouco a pouco seu pênis em seu interior.

Observou o escuro olhar dela, percebendo claramente como o desejo crescia dentro de Sabella, como sua respiração se fazia mais profunda, mais pesada. Seus seios se ergueram contra a camiseta e os mamilos esticaram o tecido.

—Vêem aqui. —Noah lhe estendeu a mão. — Deixe-me dizer o que sinto quando estou dentro de você. Quando me toma em sua boca. Quando me acaricia.

Noah morria por sentir suas mãos sobre ele. Sofria. Estava possuído por uma necessidade que jamais o tinha torturado dessa maneira.

Sabella vacilou e Noah pôde ver a crua luta que se desenvolvia em seu coração. A batalha entre o que sentia por ele e as lembranças que se negava a abandonar.

Para sempre. Algo em seu interior se suavizou ao recordar o que lhe sussurrava quando faziam amor. Que o amaria para sempre. E lhe tinha jurado que sempre retornaria para ela.

Depois do que pareceu uma eternidade, Sabella agarrou a camiseta e a tirou lentamente.

Tinha o cabelo solto, e lhe caía sobre os ombros em espessas ondas que se agitaram quando deixou cair a camiseta para um lado, deixando os seios cobertos só pela seda transparente do sutiã.

Sabella se sentou, tirou as botas logo tirou o jeans. Não foi um strip-tease sedutor. Era só uma mulher deixando-se levar pelo que ardia em suas vísceras. Ou que desejava provar algo a si mesma. Noah não estava seguro; sua mente estava envolta pela neblina da luxúria que crescia dentro dele.

—Isto não é normal. —Ela se deitou na cama junto ao Noah e lhe passou a mão pelo interior da coxa. — Está muito duro. Muito excitado. E ontem a noite estava sangrando. Responda-me a isto ao menos. Diga-me o que acontece a você.

Ele apertou os dentes. Podia notar o suor que lhe alagava a pele, o umedecendo dos pés a cabeça enquanto a febre quase arrebatava a razão.

—Já ouviu falar do «pó de afrodite»?

Sabella piscou.

—É a droga que usam em estupros. Ou a usavam.

—Usavam-na. — afirmou ele. — Estávamos atrás do homem que a vendia e me capturaram. Injetaram-me isso durante algum tempo e ainda tenho pequenas quantidades em meu corpo. A adrenalina a acorda. E as feridas, e a febre. Ponho-me duro. Necessito transar.

—Com qualquer mulher? —Baixou as pestanas e lhe roçou brandamente o escroto com a ponta dos dedos.

Ele negou com a cabeça.

—Não.

—Com quantas mulheres esteve desde que fizeram isto?

—Importa? —Não pensava em mentir, não nesse momento em que seus dedos acariciavam seus testículos.

Noah separou as coxas, permitindo um melhor acesso a seu corpo enquanto emitia um gemido ofegante.

—Não agora. Mas mais tarde, sim. —Sabella inclinou a cabeça, e Noah sentiu uma descarga elétrica nas terminações nervosas quando ela utilizou a língua para o atormentar.

Sabella lhe deu um beijo úmido. Amoldou os lábios a seu testículo e lambeu até que Noah enterrou as mãos em seus cabelos, puxando-os, e lhe aproximando mais a cabeça, lhe massageando o couro cabeludo e arqueando-se sob seu toque.

Havia algo diferente nas carícias de Sabella, mas Noah não podia precisar o que era. Ainda não. Já o averiguaria mais tarde. Depois de lhe haver metido o pênis na boca. Deus, era uma delícia sentir seus lábios naquela zona tão sensível de seu ser. Tinha os testículos tensos, sempre era assim quando lhe subia a febre, quando a necessidade de sentir as carícias de Sabella era uma agonia, uma enfermidade.

Importava apenas senti-la. Só senti-la. Só um momento, antes que o desejo se tornasse muito agudo e tivesse que mover-se.

Sabella o lambeu uma vez mais os testículos e os beijou.

Tinha feito isso alguma vez quando estavam casados? Teria jurado que não. Mas tampouco tinha animado a sua esposa a aventurar-se nesse tipo de carícias. Além disso, ele sempre tinha estado muito ansioso por tomá-la.

Mas agora, agora Noah queria mais. Queria à mulher selvagem que podia vislumbrar. A que gostava que lhe dissessem coisas escandalosas. A que ardia entre seus braços quando a deixava fazer o que quisesse com seu corpo.

—É isto o que quer? —A voz de Sabella era aveludada, um prazer tão doce como o que sentiu que atravessava seu corpo quando passou a língua pela grossa ereção.

—OH, Deus, sim! —Levantou-a, observando com os dentes apertados e o prazer percorrendo grosseiramente suas terminações nervosas, como ela lhe percorria o membro centímetro a centímetro com a língua até fechar a boca sobre a glande.

OH, demônios, sim. Isso era o que queria. A boca da Sabella lhe chupando a ponta do pênis, apertada, quente e muito doce. Quase sem ser consciente, arqueou os quadris para ela quando sentiu sua língua na parte inferior da glande, lambendo-a, pressionando contra um ponto especialmente sensível daquela maneira que ela sabia.

Noah tremeu ante o que o fazia sentir. Maldição. Era tão bom. Tão condenadamente bom que começaria a gozar a qualquer momento se Sabella seguisse fazendo-o.

Então ela mudou de tática e começou a sugá-lo.

—Demônios. Maldita seja. —Noah fechou os punhos nos cabelos dela ante as estocadas prementes e profundas de sua boca.

—Sugue, pequena. Deus, sua boca quente é como o céu. Sugue-me e faze com que eu goze.

Sabella o fez entrar em sua boca numa profundidade que jamais recordava ter chegado e fez rodar a glande entre a língua e o paladar. Acariciou-lhe com aqueles lábios sedosos, submeteu-o a um doce martírio com sua língua e, quando ele pensava que estava a ponto de estalar de prazer, soltou-o.

—Ahhh... Adoro seus lábios, Sabella. — gemeu Noah. — Se enche quando se fecham ao redor de meu pênis. Sabe quanto me excita isso?

Sua pequena bruxa. Sua suave e ardente bruxa. Sabella o olhou com os olhos cinza obscurecidos, o rosto ruborizado e o cabelo desordenado ao redor do rosto e dos ombros.

—Muito? —sussurrou ela, umedecendo os lábios e logo lambendo a parte inferior da glande. — Suponho que sim.

Era uma provocadora. Uma pequena provocadora que lhe chupava o pênis e que saboreava a pérola de sêmen que apareceu na diminuta ranhura da glande.

E que logo gemia.

Noah esteve a ponto de gozar ao escutar aquele gemido ardente e cheio de matizes sexuais. Seu membro estremeceu entre as mãos femininas e ela sorriu. Um pequeno sorriso sensual e confiante. Um sorriso malicioso. O que esboça uma mulher que tem um homem em seu poder. Que não só possui sua alma, mas também seu pênis.

Sabella o possuía por completo. Noah sabia. Tinha-o sabido desde o primeiro momento em que a tinha visto, cansada, preocupada com o trabalho e o carro, e lhe pedindo uma chave inglesa.

Demônios, se ele tivesse sabido que ela necessitava só de uma chave inglesa e não que lhe arrumasse o carro...

E ali estava agora, montando-o escarranchado sem lhe tocar as feridas, deslizando-se lentamente sobre ele, envolvendo-o em suas úmidas e quentes dobras.

Sabella se inclinou para beijá-lo e Noah a recebeu ansioso, faminto. Desesperado. Morria entre seus braços e ela nem sequer sabia. Agonizava cada vez que a enchia com seu sêmen. Cada vez que a sentia palpitar em torno de seu membro quando gozava.

—Me beije, Noah. —Doce e sensual, sua voz afinava os sentidos masculinos como um músico com um instrumento. Atravessava-lhe o coração, arrancava-lhe a alma e ele o permitia.

—Nada de jogos. — grunhiu ele quando a ela lhe lambeu os lábios. Agarrou-a pelos quadris e a deslocou sobre seu corpo, sentindo como tremia de antecipação.

—Pensava me entregar. — lhe confessou olhando-o fixamente e lhe mordiscando os lábios.

—Será melhor que se entregue rápido. —Noah começava a ofegar, estava a ponto de fazer rodar Sabella sobre a cama para afundar a grossa e atormentada longitude de sua ereção em seu interior.

Ela levantou ligeiramente os quadris e conduziu a glande para a pequena abertura de seu corpo, enquanto ele deslizava as mãos por seu torso para tomar posse de seus inchados seios e inclinava a cabeça para os duros e pequenos mamilos.

Noah sentiu crepitar o fogo em seu duro membro. Começou pela ponta, quando Sabella o lubrificou com seus sucos, e desceu em uma premente chama até a base.

Sugou o mamilo dela com dureza, fustigando-o com a língua, e ouviu como ela gritava seu nome.

—OH, sim, pequena, assim. —Soltou-lhe o mamilo, embalou-lhe o rosto entre as mãos e a olhou fixamente nos olhos.

— É tão condenadamente apertada. Tão doce. Monte-me, carinho. Foda-me.

Ela se balançou sobre ele para tomá-lo mais profundamente ao mesmo tempo em que os quadris de Noah saíam a seu encontro. Olhou-a e de repente sentiu uma opressão no peito. Sua esposa o estava olhando da mesma maneira que o tinha feito antes que morresse. Antes que fosse afastado dela.

Havia dito a Sabella que lhe permitisse ser quem ela necessitasse. E aquilo era o que a ela tinha querido desesperadamente de seu marido. Do homem que tinha procurado a adrenalina em vez de um futuro com ela. Mas tinha encontrado mais que isso. Muito mais. E ali, finalmente, entre os braços de sua mulher, Noah soube que sua vida não tinha merecido a dor. Não havia nada que merecesse a dor que era a perda daquela mulher.

—Sim. Monte-me agora. Foda-me com força. Mas depois, depois vou colocar você sobre as costas e torturar seus clitóris outra vez. Encherei minha boca com seus doces sucos. Vou devorá-la inteira até que suplique Sabella.

Ela estremeceu sentindo como seus músculos internos, úmidos e escorregadios, contraíam-se em torno de sua ereção.

Ele jamais lhe tinha falado assim. Sempre a tinha abraçado com suavidade, tentando protegê-la do que ele era, daquilo que então só tinha sido uma escura sombra em sua sexualidade.

—Sim. —conseguiu murmurar ela. Jogou a cabeça para trás ao mesmo tempo em que se movia contra ele, deslizando-se sobre a dura longitude de seu membro, devagar, rápido, retirando-se e tomando, até que Noah esteve disposto a rugir pelo devastador prazer que Sabella lhe dava.

O «pó de afrodite» fazia a necessidade mais afiada, mais dura. Mas isso não tinha mudado o prazer. E lhe dava ainda mais, destruía-lhe com cada carícia, tomava como uma gata no cio e o fazia desejar muito mais.

Montava-o deslizando-se de cima a baixo, olhando-o ruborizada com os olhos entrecerrados enquanto Noah observava o prazer que também crescia dentro dela.

Sorriu. Era um sorriso duro. Rodeando-a com o braço, atraiu-a contra seu peito para capturar seus lábios, e fez algo que nunca tinha feito sendo seu marido. Deslizou os dedos entre os espessos sucos que rodeavam seu membro e os levou a um lugar que não havia tocado antes.

Um lugar que ainda não tinha explorado, embora tivesse sonhado em fazer, um lugar que ansiava proclamar como dele. Sabella se estava estremecendo agora contra ele, ofegando, tomando seu pênis com dureza enquanto ele acariciava e media aquela pequena e escura entrada, apoderando-se do controle.

Noah arqueou os quadris e deslizou o dedo no interior de seu traseiro. Brandamente. Introduzindo-o e tirando-o, lubrificando-o com os fluidos femininos o suficiente para permitir aquela penetração.

Sabella estava perdida em uma bruma de paixão. Arqueava-se e retorcia.

—Tranqüila. Mais devagar, Sabella. Lenta e brandamente. — Noah retirou o dedo para usar mais sucos a essa diminuta entrada e o deslizou dentro outra vez. Introduziu-o cada vez mais profundamente até que conseguiu alojá-lo por completo, sentindo que ela estava igualmente quente e estreita ali atrás.

Logo começou a movê-lo.

—Quero possuí-la aqui. —Estava fodendo com o dedo, penetrando-a, investindo-a com golpes duros e rápidos.

— Quero abrir você, estirar você. Quero me deslizar neste pequeno rabinho quente e a voltar louca de prazer.

Mediu com o dedo com extremo cuidado e o deslizou para fora para investi-lo com seu pênis. Logo o introduziu de novo até sentir a primeira quebra de onda de contrações na vagina. Sabella estava a ponto de estalar. Então a penetrou com mais dureza, mais profundamente, com seu rígido membro e com o dedo, sentindo que lhe ardiam os testículos.

Um entristecedor e quase insuportável prazer se apoderou com rapidez de seu corpo quando ela gritou contra seu peito, explodindo em torno dele e movendo-se grosseiramente entre seus braços.

Noah ouviu seu próprio grito. O nome dela. Só seu nome. Não a promessa que sempre lhe tinha feito. Mas foi seguido pelo mais perturbador e ardente orgasmo que tinha tido na vida. O sêmen surgiu de seu membro em jorros furiosos e violentos. Alagou-a, esvaziou-se nela, e Sabella gritou outra vez, palpitando e contraindo-se de novo em torno dele. Noah se sentiu docemente apanhado em seu interior quando ela estremeceu fracamente com as últimas sacudidas de prazer antes de derrubar-se sobre seu amplo peito.

 

Depois, muito mais tarde, Sabella ficou olhando a escuridão. Noah dormia a seu lado com um braço debaixo dela e outro por cima, e apoiava a cabeça junto à sua, respirando com suavidade.

Havia coisas, pensou Sabella, que os homens não consideravam quando se deitavam com as mulheres, porque elas eram o suficientemente prontas para não dizer-lhe.

As mulheres tomavam o tempo necessário para conhecer os homens que amavam. Fixavam-se nos pequenos detalhes. Gostavam de saber onde eram mais sensíveis seus homens, embora se tratasse de duros SEAL’s ou de agentes do governo.

Eram peritas em conhecer a maneira em que um homem tocava o corpo da mulher que amava. A pressão de suas carícias podia mudar, podia ser suave ou mais firme, ou desesperada e faminta, mas havia algumas coisas que sempre eram iguais. Certas sensações, certas maneiras de as provocarem.

Um homem podia tomar uma mulher com dureza e rapidez ou com suavidade e lentidão, mas sempre havia uma constante. E era o próprio homem.

As cicatrizes marcavam as mãos e o corpo de Noah. Tinha calos que seu marido não tinha tido e outros, que Nathan sim tinha tido, faltavam nas mãos de Noah. Mas a maneira em que a penetrava com seu membro, os pontos que roçava em seu interior, a maneira em que a enchia e a possuía, eram muito parecidos.

Havia muitas similitudes.

“Sabella. Bateu contra meu Ranger. Estava estacionado aqui, a plena vista».”

As lembranças do dia em que Nathan lhe tinha gritado retornaram de novo a ela. Arderam em sua memória. Nathan nunca tinha gritado antes. Sempre tinha se controlado. Mas o tinha pego de surpresa aquele dia. Tinha-a agarrado pelos ombros para afastá-la, e, mesmo assim, ela o havia sentido. Havia sentido como apertava as pontas dos dedos sobre sua pele, não com suavidade, mas sim de uma maneira definida. A maneira com em que tinha colocado os dedos, como a tinha agarrado para que ficasse de lado, tinha-o delatado.

Recordou seus olhos naquele momento. Aquele olhar feroz que se tornou ardente pela ira, o desejo e a luxúria enquanto a conduzia para casa.

Eram traços distintivos. Sabella recordava o lugar exato em que seus dedos lhe tinham pressionado os ombros, como a tinha feito sentir, como tinham mudado seus olhos.

E também tinha recordado onde escondia suas armas. Como as escondia.

Noah tinha sabido onde guardava Sabella as xícaras naquela cozinha na primeira manhã quando lhe tinha informado que não iriam compartilhar a cama. Tinha-o surpreendido, tinha conseguido lhe pôr furioso e ele se dirigiu direto às xícaras de café sem que ela tivesse que lhe dizer onde estavam.

Dormia contra ela como tinha feito seu marido. Abraçava-a da mesma maneira.

E nessa primeira noite, entre o sono e a vigília, estava segura, —agora sim— de que o tinha ouvido murmurar «go síoraí». Aquelas palavras que só seu marido lhe tinha sussurrado ao ouvido.

Virou a cabeça para o olhar e observou como lhe caía agora o cabelo sobre a fronte. Nathan sempre tinha usado o cabelo muito curto, mas o perfil não tinha mudado tanto. Havia pequenas diferenças, suficientes para despistá-la em um primeiro momento.

Ele era sua alma. Nenhum outro homem podia ter entrado em sua vida e tomar tudo o que queria dela. Só seu marido teria podido fazê-lo.

E tinha estado mentindo desde que chegou à oficina.

Tinha-lhe contado que tinha sido capturado. Que lhe tinham injetado aquela horrível droga que tinha saído nos noticiários alguns anos antes. Então recordou seus pesadelos. A absoluta certeza de que ele estava em perigo, não morto. Tinha-o ouvido gritar, lhe rogando para que o salvasse, que o ajudasse. Ela havia se sentido horrorizada e cheia de incerteza. Despertou no meio da noite gritando com uma agonia que não tinha princípio nem fim.

Noah lhe havia dito que seu marido tinha morrido. Ele havia dito com os olhos brilhando de dor e cólera. Não havia mentido. Realmente pensava que o homem que tinha sido estava morto. E possivelmente tivesse razão de algum jeito. Mas seguia sendo seu marido, seu amante, sua alma. Só tinha mudado seu nome. E ela seguia sendo dele embora lhe estivesse mentindo.

De repente se deu conta de que Rory estava a par do que ocorria. Entrecerrou os olhos e amaldiçoou. Que filho de uma puta. Noah havia dito a seu irmão quem era, mas não a ela.

Lutou contra o pânico ao pensar que Noah nunca tinha tido intenção de lhe contar a verdade, que possivelmente nem sequer tinha voltado para casa por ela. Rory era mais forte. Era um homem. E sabia a verdade, disso estava segura. Acaso necessitava que o ajudasse no que fosse que Noah estivesse fazendo?

Por que tinha começado a trabalhar na oficina? Para chegar a ela? Para fazer o que fosse que tivesse vindo a fazer?

Respirou fundo. Fosse qual fosse a razão, por muito que amasse e adorasse a seu marido, tinha chegado o momento de que este aprendesse que lhe mentir era algo muito, mas muito perigoso.

 

Na manhã seguinte, Toby ainda estremecia de vez em quando, mas estava decidido a trabalhar com normalidade. Havia dito que não ia deixar que ninguém o amedrontasse.

Sabella trabalhou na oficina durante várias horas, concertando um dos veículos que tinha entrado na noite anterior. Quando terminou, deu uma olhada ao relógio e sorriu.

Baixou o capô e olhou a Noah.

Ele estava concentrado na leitura do computador de um SUV novo, virando lentamente a chave inglesa entre os dedos e mascando chiclete. Demônios era uma sorte que já não trabalhasse na oficina nenhum de seus antigos empregados. Se tivessem se fixado nele, teriam suspeitado imediatamente. Era algo que Sabella tinha achado muito sexy nas poucas vezes que lhe tinha visto fazê-lo, fazia tantos anos.

«O irlandês». O coração lhe inchou no peito e as lágrimas ameaçaram alagando seus olhos; teve que dar a volta com rapidez para conter os soluços de alegria.

Seu irlandês. Havia retornado, estava ali. Estremeceu ante esse pensamento e também de cólera. Fosse o que fosse o que lhe tinha mantido afastado, era óbvio que tinha levado muito tempo para recuperar-se. Poderia ter estado com ele enquanto isso. Poderia o haver ajudado. Sabella teria dado sua vida para ter podido fazer isso, a cada dia, cada hora, mais fácil.

E ele a tinha impedido. Não a tinha levado onde fosse que estivesse, não a tinha deixado lhe consolar, e, ainda agora, seguia tentando ocultar-se dela.

Pela extremidade do olho observou como Rory se aproximava dele, tirava-lhe a chave inglesa e lhe lançava um olhar de advertência.

OH sim, Rory sabia. Era suficientemente inteligente para saber que aquilo delataria Noah. Sabella afastou o olhar e fechou os olhos ante a sensação de traição que a invadiu. Ele tinha contado a seu irmão, mas não a ela?

Virou-se e agarrou um trapo do balcão para limpar as mãos.

—Rory, tenho um encontro. — lhe gritou. — Retornarei por volta das cinco.

Tanto Rory como Noah a olharam, com expressões neutras. Bastardos.

—Temos muito trabalho atrasado, Belle. —Rory esclareceu a garganta enquanto Noah cruzava os braços sobre o peito e lhe dirigia um olhar criminoso.

—Não posso ficar. —encolheu os ombros. — Tenho que ir correndo para casa tomar banho e logo me reunirei com Sienna e Kira.

Sabella deixou o pano no balcão, tirou as chaves do carro do bolso traseiro e lhes dirigiu um olhar tenso e um duro sorriso.

—Estou segura de que sobreviverão sem mim.

Kira tinha ficado surpresa quando Sabella a tinha chamado essa manhã para lhe perguntar se queria ir com Sienna e ela ao balneário. A outra mulher se mostrou cautelosa mas, mesmo assim, tinha aceitado. Era uma das coisas que gostava dela. Kira não era nenhuma estúpida, mas pecava por ser tão curiosa como o demônio.

Sabella se dirigiu a seu carro, consciente de que Noah a seguia. Alcançou-a antes que ela chegasse ao pequeno BMW Z8 vermelho que seu marido tinha reconstruído para ela pouco antes de sair para sua última missão.

Ainda tinha o pára-lama amassado depois de ter se chocado contra a parte traseira do Ranger de Nathan. O quatro por quatro ainda seguia guardado na garagem, sem usar, e Sabella se perguntou se ele teria dado uma olhada naquele veículo do qual havia se sentido tão orgulhoso. Poderia havê-lo feito com facilidade sem que ela se inteirasse. Acabava de chegar junto ao carro quando sentiu que Noah a agarrava do braço, obrigando-a a deter-se.

Sabella ficou sem fôlego e fechou os olhos, sentindo-se aflita pelas emoções. Alegria, cólera, pesar e esperanças. Tantas esperanças que quase caiu de joelhos. Mas também sentia medo.

Acaso desejava tanto aquilo que estava vendo só o que queria ver? Uma ilusão?

Não. Não aquilo não era uma ilusão. Era seu irlandês.

—Por que vai? —A voz masculina era áspera e rouca. Tinha ocorrido algo naquela voz com a qual tinha cantado baladas irlandesas, com a qual tinha sussurrado tão brandamente seu nome.

Mas não era a voz que reclamava a alma de Sabella, era o homem.

Ela esclareceu a garganta e se virou para ele, cravando os olhos em seu queixo.

—Já disse, tenho um encontro no Spa. —Arrancou o braço da mão do Noah antes de olhar em seus olhos, lutando por dissimular o assombro que sentia ao voltar a ter o homem que amava de novo a seu lado.

Seu irlandês. Queria rodeá-lo com os braços e dizer seu nome, mas não podia fazê-lo.

Sabia quão perigoso que podia ser para ele, para todos. Mas sobre tudo para ele. Tinha que existir uma razão sólida para que tivesse retornado a ela com outro nome. Seu marido sempre tinha sido muito protetor, e seguia sendo-o sem importar como se chamasse. Lutava por manter a salvo seus seres queridos sem lhe importar o risco.

—Por que hoje? —inquiriu Noah com voz dura. Não queria que se fosse. Queria que ficasse ali, onde podia vigiá-la.

—Importa? Há alguma razão pela qual não deva ir?

—Bom, deveria bastar saber que ontem tentaram matar a um de seus empregados. —Tinha os lábios apertados e seus olhos brilharam ao olhá-la com uma mescla de preocupação e ira.

—O que ocorreu ao Toby está relacionado com o que aconteceu com você na noite anterior, Noah. Não comigo. Além disso, meu marido me ensinou que tomasse cuidado. —o recordou. — Não sou uma florzinha indefesa.

Sabella o viu estremecer.

—Não, mas sim é uma mulher teimosa decidida a fazer as coisas a sua maneira. — grunhiu Noah.

Ela abriu a porta do carro antes de voltar-se para ele.

—Ficarei com Sienna para almoçar e logo temos uma hora no Spa. Agora que você está aqui e que a oficina vai sobre rodas, acredito que posso tomar uma tarde livre e ter tempo para mim em vez de andar entre motores e óleo. Supõe-se que isso seja um problema?

Aqueles olhos azuis brumosos brilharam com o desejo que ardia em seu interior.

—Vai fazer as unhas? —Noah curvou os lábios ligeiramente.

—Pagar por uma manicure é um desperdício me dedicando ao que me dedico. —Indicou a oficina com a mão. — E não posso negar que prefiro andar entre motores que fazer as unhas. Mas espero desfrutar de uma massagem. Quero cortar o cabelo. —Sacudiu-o ante ele. — E possivelmente fazer uma limpeza de pele. —E pode ser que também se depilasse.

Sabella foi muito consciente dos pensamentos que cruzaram entre eles. Possivelmente depilasse o púbis de novo para poder sentir a barba de Noah contra a sensível pele nua, para sentir a língua masculina em suas dobras desprotegidas. Gostava que seu marido tivesse retornado, mas não estava disposta a perder a independência outra vez. «Havia algumas coisas das quais queria desfrutar na área de beleza», como Sienna e ela chamavam o Spa.

Noah a observou e ela soube o que ia dizer. Fechou os olhos lentamente e quando os abriu, sua expressão era dominante e resolvida. Ser dominante era uma nova faceta de seu caráter, ou possivelmente algo que lhe tinha oculto no passado.

—Preferiria que esperasse. — disse finalmente. — Ou que me deixasse te acompanhar.

—Não necessito de nenhuma babá, Noah. —Sabella negou com a cabeça. Precisava afastar-se dele um bom momento. — Evite as brigas de facas a noite, e possivelmente não tenha que preocupar-se tanto.

Tinha-lhe revisado as feridas essa manhã quando despertaram. Ao voltar a enfaixar-lhe se sentiu surpresa de que não tivesse morrido ou sangrado enquanto a possuía.

—Tenho que ir. —meteu-se no BMW. — Não esqueça que o carro de Becca Jean deve estar preparado para esta tarde. Tem que utilizá-lo muito durante os próximos meses e quero estar segura de que não a deixe na mão.

—Encarregarei-me disso. —resmungou. — Maldição, Sabella. Pelo menos, me prometa que tomará cuidado.

—Sempre tomo. —Agarrou o volante e virou a cabeça para ele, enfurecida. — É você quem não sabe manter-se afastado dos problemas.

Fechou a porta, consciente de que podia fazê-lo só porque ele o permitia, e logo pôs o carro em marcha.

Um segundo depois saía do estacionamento. Olhou pelo retrovisor e viu que Noah levava o celular ao ouvido.

Sabella se perguntou quem seria sua babá aquele dia.

 

Noah observou como o pequeno BMW estacionava diante da casa de tijolo de dois pisos e como sua esposa entrava nela.

Micah Sloane e John Vincent se alternavam para vigiá-la quando não estava com ele. E Noah não gostava absolutamente que estivesse fora de sua vista muito tempo. E tampouco gostava que fosse a cidade sem ele. Havia muitas incógnitas nessa missão e muito pouca informação ainda.

Negando com a cabeça, discou o número de Micah e retornou à oficina para dedicar-se ao carro que tinha deixado pela metade.

Delbert Ransome era primo de Mike Conrad. Tinha-lhes levado o Ranger quando averiguou que nas outras duas oficinas da cidade não podiam revisar as modificações que tinha feito no motor para lhe acrescentar potencial e controle de tração.

Delbert gostava de ir às montanhas com o quatro por quatro e dedicar-se a agir como um condenado louco. Trabalhava em um rancho vizinho, o de Gaylen Patrick, e alardeava como se dava bem com o diretor do banco, seu primo, e com um dos rancheiros mais poderoso do cidade.

Soltando uma maldição, Noah deu outro olhar irritado à casa antes de agarrar um carrinho de mecânico. Estendeu-se sobre ele e se meteu sob o Ranger para ver, que diabos, tinha feito Delbert no motor novo.

Estava limpo. Delbert gostava de manter o motor limpo e com aspecto brilhante. Não estava muito tempo sob o veículo quando identificou o problema. A lanterna que utilizava iluminou uma sombra estranha. Examinou-a atentamente e, sob a potente luz, descobriu algo que Ransome tinha passado por cima quando limpou o motor. Um pequeno amontoado de barro seco misturado com uma coisa mais escura, uma parte de cabelo negro e pele enrugada.

Saiu debaixo do Ranger e olhou ao seu redor para ver se outros mecânicos estavam emprestando atenção nele. Levantou-se e agarrou dois pequenos frasquinhos e um canivete da caixa de ferramentas junto com outros utensílios que em teoria não deveria estar utilizando.

Voltou a meter-se sob o veículo, raspou as provas do motor e as meteu nos frasquinhos de plástico, tampou-os e logo os guardou no bolso do jeans até que pudesse entregar a algum de seus companheiros para que os levasse a centro de operações.

Gaylen Patrick era um dos homens que estavam na lista de suspeitos de pertencer ou dirigir à tropa Black Colar. Possuía contatos e dinheiro. E agora, Noah acabava de relacionar um de seus empregados de confiança com as mortes.

Se o DNA correspondesse com algum dos corpos encontrados, tinham alguém a quem vigiar para obter mais informação.

E o perigo aumentaria.

Noah voltou a revisar a parte inferior do Ranger, procurando mais provas, e as descobriu em distintas partes do motor que Delbert tinha passado por cima.

Estúpido bastardo.

Recolheu as provas e saiu debaixo do veículo. Encarregaria a outro empregado que averiguasse se o problema estava na potência ou no controle de tração. Se Delbert acreditasse que os homens da oficina se limitaram a fazer uma prova global em seu veículo, quando o prendessem não poderia culpar nem a Sabella, nem a Noah.

Ocultando um sorriso de satisfação, chamou o mecânico que estava sob suspeita e o pôs a trabalhar no Ranger.

Noah sabia que tinha encontrado o suficiente para incriminar ao proprietário do veículo, como também sabia que o pequeno mecânico de pele cítrica que agora trabalhava nele não encontraria o resto das provas que tinha deixado, pois estavam muito escondidas. Tinha-as deixado para acusar a Delbert quando o detivessem.

Subiu ao apartamento e classificou as provas antes de envolver os frasquinhos em papel e prende-los com uma borracha elástica. Voltou a guardá-los no bolso e retornou à oficina.

Ainda faltavam algumas horas para que Nik pudesse sair sem ser visto e dirigir-se ao centro. Aproximou-se do carro da amiga de Sabella e o examinou com atenção, sem tirar o olho do mecânico que trabalhava no outro veículo.

Se encontrasse algo, Delbert agiria com rapidez e viria recolher o Ranger. Se não o fizesse, o mecânico continuaria realizando seu trabalho como até agora, quebrando a cabeça e checando a injeção de combustível. Mas as provas não estavam perto da injeção.

Viu que Sabella saía de casa. Alguns segundos depois, o carro de Micah saía de uma rua próxima e a seguia. Ela estava a salvo, mas o irritava sobremaneira não ser ele quem a vigiasse e protegesse.

Negando com a cabeça, voltou para sua tarefa e devolveu o sorriso que lhe dirigia Chuck Leon, o mecânico que estava arrumando o Ranger de Delbert. O homem sacudia a cabeça sem deixar de sorrir, com gesto de companheirismo.

—É toda uma mulher. — disse o mecânico com uma risada, mexendo no sujo cavanhaque que se sobressaía em seu queixo. — Embora não tem nada que fazer com ela.

—É possível. — grunhiu Noah. — Mas posso fazer que contrate outro mecânico se você não deixar de perder o tempo.

Algo brilhou nos escuros olhos de Chuck. Mas assentiu com a cabeça lentamente antes de inclinar-se sobre o motor e ficar a trabalhar.

Noah não estava ali para fazer amigos entre os integrantes da tropa, estava ali para identificá-los e colocá-los entre as grades. Embora tivesse que admitir que Leão era um bom mecânico quando queria.

Noah procurou Nik com o olhar. O russo estava inclinado sobre o motor de um terceiro veículo, enquanto outro mecânico trabalhava ao lado do mostrador. Nik não era um tipo sociável. O enorme russo, com seu cabelo loiro quase branco e esses gélidos olhos azuis, possivelmente fosse o mais letal de todo o grupo.

Noah olhou de novo à estrada apertando os dentes e voltou para o trabalho. Havia mais carros esperando. Nik parecia atrair às universitárias. Era evidente que gostavam de seu aspecto duro. Além disso, os amigos de Toby também levavam ali seus carros, como seus pais, e se deixavam ficar de vez em quando para saber como andavam as coisas.

Na oficina as coisas foram se desenvolvendo a bom ritmo e Noah supunha que iriam cada vez melhor. Justo como Sabella quereria que fossem.

O bastante bem para que ele começasse a perguntar-se como ia conseguir, quando a missão tivesse terminado, afastar-se de novo de sua esposa. Os membros do corpo de Operações Especiais estavam mortos para todos os efeitos salvo para os poucos membros da equipe do SEAL’s com os quais ele tinha trabalhado. Não havia possibilidade de Renascer. Nathan Malone jamais poderia voltar para Alpine com sua família e sua esposa.

Mas afastar-se dela outra vez ia resultar impossível.

 

—Isto é o que necessitamos. Uma noite só de garotas. —Sienna Richards se estirou sobre a maca deixando que umas mãos peritas massageassem seu corpo.

—Uma noite só de garotas. — grunhiu Sabella. — Lembrou muito bem. Eram um inferno. Sempre acabavam com uma horrível ressaca depois de ficar com você, Sienna.

Sua amiga riu.

—Estou farta de ficar em casa de noite. Rick sempre chega tarde, e quando volta, só quer dormir.

Havia algo na voz de Sienna, certo ressentimento que Sabella recordava ter notado várias vezes durante os últimos anos.

—Rick e você não conseguem ajustar as agendas? —lhe perguntou.

—A mesma história de sempre. —Sienna agitou a mão com indiferença. — Mas agora que você voltou para o mundo dos vivos, pensei que uma noite só de garotas seria uma boa maneira de nos divertir.

Sabella considerou a idéia durante um instante.

—Meu novo mecânico necessita de supervisão. — disse finalmente com ironia. — E, é obvio, penso fiscalizá-lo pessoalmente.

Kira soprou e Sienna lançou um gritinho.

—Ainda não posso acreditar que esteja pensando em ter uma relação com esse homem. Nathan teria tido um ataque, Sabella.

O comentário da Sienna foi seguido por um tenso silêncio. Sienna tinha sido amiga dela e de Nathan, mas tinha tido mais de uma topada com seu marido.

—Nathan teria querido que eu fosse feliz. — afirmou Sabella com voz baixa.

—Com um homem como esse? —burlou-se Sienna.

— Vamos, está com ele só porque tem olhos que recordam a seu marido e a mesma atitude ditatorial. Um homem assim não gosta de saber que é a segunda opção. Logo terá problemas.

—Terei-os de todas as maneiras. —Sabella encolheu os ombros como se aquilo não tivesse importância.

Por que não queria falar com a Sienna? Por que não queria compartilhar com ela a certeza que sentia em seu interior? Sempre tinha contado tudo a Sienna e tinha que reconhecer que a tinha ajudado muito quando Nathan «morreu».

Entretanto, agora não queria compartilhar sua alegria com ninguém, embora tivesse que reconhecer que tinha que morder os lábios para não crivar Kira de perguntas, porque sabia, no fundo de sua alma, que tanto sua amiga como Ian eram participantes do que estava ocorrendo.

—Disse-lhe isso, se libere da tensão sexual. — resmungou Kira de sua maca ao lado de Sabella. — Deixa-a desfrutar, Sienna. Estou segura de que se sentirá muito melhor.

A nota divertida na voz de Kira poderia significar alguma coisa.

—Um dia destes vou fazer te pagar por esse conselho. — lhe advertiu Sabella. — Esse homem é tão possessivo que conseguirá me voltar louca.

Sim, de fato, já o estava fazendo.

—Nathan era uma pessoa de trato fácil. —Sienna suspirou.— Não era ciumento.

OH, isso não era de todo verdade, disse Sabella para si. Nathan tinha sido ciumento, mas tinha ocultado muito bem, inclusive ante ela. Tinha sido cordial, alegre e educado, mas por dentro era um fervedouro de emoções. E o ciúme tinham sido uma delas. Ela soube durante anos que Nathan ocultava aquela emoção em particular. Controlou-se porque confiava nela. Porque sabia que não havia maneira de que Sabella ficasse encerrada em casa estivesse ele ou não em uma missão. Mas ela havia sentido claramente o eco de seu ciúme.

—Não. Ele jamais foi ciumento. —concordou Sabella, sem querer compartilhar nenhuma informação com Sienna.

Noah se ocultava, obviamente, por alguma razão, e Sabella não podia arriscar-se a pôr em perigo qualquer que fosse sua missão. Negava-se a arriscar sua vida.

—Não se parece em nada a Nathan? —Sienna levantou a cabeça e procurou os olhos de sua amiga.

Sabella sustentou o olhar, odiando a suspeita que crescia em seu interior. Não confiava em sua melhor e mais querida amiga. E isso doía.

—Não. — respondeu finalmente. E de certo modo, era a verdade. — Nathan era mais fácil de levar. Era mais alegre, mais carinhoso. Noah é mais intenso e calado. Possivelmente mais dominante.

—Uma fera. —Kira fingiu estremecer — Parece como se fosse um selvagem na cama.

—OH, cala a boca. —disse Sabella entre risadas.

—É um animal na cama, Belle? —Sienna ria dissimuladamente.

—Sim, é. —reconheceu. — Todo grunhido e gemidos, e o que gosta de fazer na cama é algo novo para mim.

Kira e Sienna levantaram a cabeça de repente e a olharam assombradas.

—Desde quando se deita com ele? —Kira arqueou uma sobrancelha com fingida surpresa.

—Está claro que, depois do casamento, tudo se resume a foder e dormir —resmungou Sienna.

Kira e a Sabella olharam fixamente a Sienna. Ela arqueou as sobrancelhas várias vezes, depois riu e apoiou a cabeça na maca acolchoada.

Mas havia algo em suas palavras, em sua risada, que fez com que Sabella se perguntasse se atrás do comentário da Sienna não haveria mais do que deixava entrever.

Depois, a conversação se fez mais ligeira. Assim que terminou a massagem, Sabella se vestiu e pagou a conta. Depilou-se, cortou o cabelo e fez as unhas das mãos e dos pés. Pela primeira vez em muitos anos, sentia-se como uma mulher de novo, como uma amante, quase como uma esposa. Estava excitada e feliz pelas sensações e a sexualidade que fluíam livremente dentro dela outra vez.

Sabella sentia que o desejo borbulhava em seu interior. Noah era distinto agora, tinha um lado duro e faminto que reclamava aquela parte dela que sempre tinha refreado durante seu casamento.

Dizia-lhe coisas escandalosas. Era um provocador e conseguia que também ela o fosse. Parecia querer pressioná-la, desafiá-la. Ele fazia coisas que Sabella jamais lhe tinha pedido antes. Porque antes, ele tinha controlado sua sexualidade. Seu trabalho como SEAL os tinha mantido separados durante semanas e quando ele retornava para casa, Sabella dava a seu marido o que necessitava, embora sempre houvesse sabido que conforme passassem os anos, essas necessidades iriam mudando. Infelizmente, não tinha tido tempo para descobri-lo.

Depois de despedir-se de Sienna, que tinha estacionado perto da entrada, Sabella e Kira caminharam lentamente em silêncio. A tensão entre elas não era hostil, mas estava presente, espessa e pesada.

—Como está Noah? —Kira colocou as mãos nos bolsos da calça curta enquanto caminhavam e a olhou de esguelha com curiosidade.— Estão sarando suas feridas?

—Até agora sim. —Inclinou a cabeça e tragou ar. Kira sabia algo, como Ian, e Sabella era muito consciente disso. Odiava as mentiras embora estivesse tentando as compreender.

—Não disse nada a Sienna sobre o ataque a Noah. —indicou Kira —Por quê?

Sabella se deteve atrás de seu carro e se virou para sua amiga.

—Porque não quero delatá-lo. Se não sabem que está ferido, não tentarão atacá-lo de novo. Ao que parece, só Toby sabe. Sienna me perguntou o que tinha ocorrido e eu... eu não considerei necessário lhe contar a verdade.

O ardiloso olhar de Kira sustentou o dela.

—O que lhe parecem umas taças de vinho e um momento de conversação? —perguntou Kira. — Ian estará fora de casa até manhã e, como diz Sienna, às vezes a casa é muito tranqüila.

Sabella duvidava. Observou o estacionamento um bom momento antes de voltar-se para a outra mulher.

—Por que não vem a minha casa? —perguntou por sua vez. — Meu marido tinha umas quantas garrafas de bom vinho no porão. Poderíamos abrir alguma de suas favoritas. —Estava segura de que aquilo horrorizaria a Noah. — Beberemos e falaremos mal dos homens.

—Ainda está zangada com ele? —inquiriu Kira com um brilho de curiosidade nos olhos.

—Sempre posso encontrar uma razão para me zangar com um homem que minta pra mim. —assegurou a sua amiga. — Está no regulamento. Está permitido.

Kira curvou os lábios e assentiu com a cabeça.

—Seguirei-a —decidiu — Sabe, Sabella? Tenho o pressentimento de que é muito mais perspicaz do que Ian ou Noah querem admitir. Com certeza que isso lhes faz sentir muito incomodados.

—Isso é problema deles. —Sabella riu, embora apertasse os dentes ao pensar nisso um momento depois.

Seu objetivo agora era averiguar com exatidão por que aqueles dois homens lhe mentiam. E se não o descobria logo, ia ter que utilizar a violência com um certo SEAL mentiroso, dominante e possessivo. Golpearia-o com a frigideira.

 

—Temos um problema. — disse Nik ao Noah na entrada da oficina, olhando a casa da colina com a mandíbula tensa.

Kira Richards tinha estacionado seu carro atrás do de Sabella uma hora antes. As duas mulheres levavam várias sacolas de supermercado e após isso não as tinham visto sair.

Sabella não tinha aparecido para levar o dinheiro ao banco. Tinha ligado à oficina para dizer a Rory que se encarregasse de tudo e nem sequer tinha querido falar com Noah.

—Que problema? —perguntou Noah cruzando os braços sobre o peito enquanto observava a casa com expressão áspera, desejando que Sabella saísse de uma vez.

—Micah ligou faz alguns minutos. Esteve rondando pela cidade depois que Sabella se foi com a esposa de Ian, e viu Mike Conrad no Spa, falando com os massagistas. Ao que parece, estava interrogando-os a fundo.

—Mas não averiguou nada. — disse Noah lançando ao gigante loiro um olhar significativo.

Sabella não sabia nada que significasse um perigo para eles. Além disso, não importava o que soubesse, jamais falaria de mais.

—Provavelmente não. — concordou Nik. — A questão é que Mike suspeita de algo. Poderia ir até ela. —Indicou com a cabeça a casa de Sabella.

—Então o matarei. —Noah se virou para olhar para Nik com uma expressão gelada.

O gigante russo assentiu com a cabeça lentamente, com uma expressão tão fria como a morte, e Noah soube que estava recordando a perda de sua própria família e os extremos aos quais tinha chegado para protegê-la.

—Serei sua sombra. —disse Nik então. — Não o duvide, Noah, serei sua sombra.

Virou-se e retornou ao trabalho enquanto Noah permanecia no mesmo lugar observando a casa, perguntando-se que demônios estavam fazendo Sabella e Kira.

—Toby, Nik o acompanhará até em casa. — gritou ao retornar ao escritório. — Vá se preparando.

Olhou o relógio e viu que eram quase sete horas, era hora de fechar. Sabella tinha ficado por várias horas no Spa e ele sabia perfeitamente o que ocorria durante aquelas sessões no balneário. Recordava muito bem o que o esperava nessa noite quando se localizasse entre o mais formoso par de coxas que tivesse visto alguma vez.

Pele depilada e escorregadia. Molhada com seus próprios fluidos. Deliciosa, deliciosa, com um leve indício de óleo de amêndoa, e nada que se interpor entre ele e o sabor de Sabella.

—Belle pensa que deveríamos ampliar o horário da loja de conveniência e do posto de gasolina agora que temos ajuda. — lhe disse Rory ao entrar na oficina alguns minutos mais tarde. — Vai trabalhar esta noite? —Havia um tom divertido em sua voz.

—Só se você estiver morto. —virou-se para seu irmão lentamente. — E me parece que ainda respira. Vai me dar alguma desculpa para não me substituir? Advirto-o que sua morte seria o único pretexto aceitável.

Rory fez uma careta enquanto metia as mãos no macacão de trabalho e dirigia a Noah um olhar furioso.

—Tenho um encontro.

—Eu também. — lhe informou Noah.

—Meu encontro é mais importante. — grunhiu Rory.

— Estou a meses atrás dessa mulher. Deveria vê-la, Noah. —Suspirou. — É realmente espetacular.

—Pois vai sentir se muito decepcionada esta noite, a menos que ignore a ordem de Sabella e fechemos já.

Rory olhou para a casa.

—Crê que se dará conta?

—Provavelmente.

Rory se virou para ele, entrecerrou os olhos e adotou aquele olhar calculador que Noah conhecia tão bem.

—Isto é o que faremos. Eu fecharei cedo enquanto você a distrai. — sugeriu. — E quando Sabella por fim se der conta de quão imbecil é, estarei aí para o apoiar.

—Se fechar cedo, terá que enfrentar à ira de Sabella. E se alguma vez se der conta de quão imbecil sou, não serei o único a ter problemas. — recordou Noah em voz baixa e resolvida. — Assim será melhor que reze para que isso não ocorra.

Depois de dizer aquilo, dirigiu-se ao apartamento que estava sobre o escritório. Subiu as escadas de dois em dois e, ao chegar à porta, agarrou o estreito palito que tinha deixado na fechadura.

Ao entrar, pôde ver a parte de fita na porta que dava ao exterior. Ainda estava em seu lugar. Ninguém tinha aberto essa porta.

Mesmo assim se moveu com cautela pelo apartamento e fechou a porta do banho detrás de si. Sabella tinha ido ao Spa e ele mal podia conter sua impaciência. Estava condenadamente excitado ante o que sabia que o esperava essa noite.

 

Havia uma garrafa de vinho vazia no balcão da cozinha e Sabella lhe dirigiu um olhar turvo a seu copo meio cheio. Por desgraça, estava se acabando muito rápido.

—Estou um pouco bêbada. — disse elevando a vista e olhando à outra mulher.

Kira estava sentada com as pernas cruzadas em um tamborete frente ao balcão, olhando seu copo.

—É um vinho excelente. Tem sorte de que seu marido não esteja aqui. Teria dado uma boa bronca. Essa garrafa deve ter alguns anos.

Sabella sorriu amplamente ao pensar nisso e em como se expressou Kira. Suas palavras tinham sido deliberadas. Não era o tipo de mulher que fizesse comentários corriqueiros. Era muito parecida com seu marido; muito prudente, muito consciente de quem era e o que era.

—Realmente crê que tenho sorte?

Kira arqueou uma sobrancelha.

—Ao que parece vai tudo bem com o mecânico.

—Ainda não lhe atirei nenhum copo. —Sabella se acomodou no tamborete e lançou a Kira um olhar cheio de curiosidade.

— Meu marido e eu mal tínhamos um ano de casados quando lhe lancei o primeiro. Era um bom homem até que cometeu o engano de pensar que eu necessitava de alguns conselhos.

—Que tipo de conselhos?

A diversão faiscou nos olhos cinza de Sabella. Tomou um gole de vinho e observou sua amiga. Havia um ar de confiança, de desafio, em Kira Richards que Sabella invejava mas que não gostaria de possuir.

—Sobre como ser a esposa de um SEAL. —Os lábios de Sabella se curvaram em um amplo sorriso. — Podia voltar para casa cansado, ferido e cheio de roxos e marcas, e desculpar-se dizendo unicamente que tinha tido «uma missão ruim», como se com isso eu tivesse que deixar de me preocupar. Não podia comprovar seus roxos nem lhe beijar as feridas. Essa foi a razão pela qual lhe atirei o primeiro copo. Pensei que isso ajudaria. Como pretende que não me preocupe quando chega em casa depois de ser espancado? —Arqueou as sobrancelhas. — Supus que uma marca a mais não faria nenhuma diferença.

—Disse «pretende», não «pretendia». —indicou Kira.

Aquele comentário recordou a Sabella que Nathan também tinha prestado atenção aquele tipo de coisas, e que ainda seguia fazendo-o.

—Um deslize. —Sabella encolheu os ombros, consciente de que ambas sabiam a verdade.

—Então, seu mecânico não trata de dizer a você o que tem que fazer? —perguntou-lhe Kira.

—Digamos que eu amadureci. —Tomou um gole de vinho. — Já não me dedico a atirar copos.

Kira arqueou uma sobrancelha.

—E agora o que faz?

Sabella olhou fixamente seu vinho antes de levantar a taça e terminar de beber.

—Faço o que quero. — respondeu finalmente. — Não voltarei a apoiar minha vida em um homem outra vez. —Procurou o olhar de sua amiga de novo. — E não tolerarei mais mentiras de ninguém.

—Eu não menti. —lhe assegurou Kira com um sorriso.

Sabella assentiu com a cabeça.

—E por isso conseguiu compartilhar este fantástico vinho de meu marido comigo. —Brindou-lhe um amplo sorriso. — Imagino a bronca que me daria se me visse bebendo isso o meu mecânico.

Em menos tempo que um piscar de olhos revelou a gargalhada que Kira estava contendo. Maldição, Sabella levava anos relacionando-se com ela, mas tinha sido nas últimas semanas quando se deu conta da força interior que possuía aquela mulher.

—Ian se retirou do SEAL’s pouco antes que Jordan, não? —perguntou-lhe.

—Sim. —assentiu Kira.— Já tinha tido suficiente.

—A que se dedica agora?

—A várias coisas. —Kira sorriu. — Às vezes tem algumas missões. Um pouco de segurança. —Agitou uma mão como se não tivesse muita idéia.

Sabella respirou fundo. Kira estava dizendo meias verdades, mas era suficiente para dar-se conta de que tanto Ian como ela trabalhavam com Noah. Era por isso pelo qual se fez amiga de Sienna e pelo qual tinha querido conhecer Sabella.

—Kira. —Sabella se inclinou para frente. — Se soubesse o que é que está fazendo Noah aqui, ou qualquer informação sobre a última missão de meu marido, mais especificamente sobre a recuperação de seu corpo, diria-me isso, não?

Kira a olhou com atenção um bom momento antes de franzir os lábios e dizer brandamente:

—Não. Não poderia fazê-lo. —Logo se inclinou para frente, como ela. — Eu gosto de você, Sabella. Considero-a uma boa amiga, e por isso, aqui, entre nós, direi uma coisa.

Sabella se incorporou. Sabia que não ia conseguir o que queria, mas escutou de todas as maneiras.

—É muito intuitiva. Contou-me que seu pai era detetive e que a ensinou a confiar em seu instinto.

—É verdade. —Seu pai tinha sido uma parte muito importante de sua vida até que morreu junto com sua mãe. Tinha-lhe ensinado muitas coisas.

—Então confie em seu instinto. Seu pai a amava. Ensinou-a como se proteger, como observar às pessoas e as conhecer. Confia no que seu pai ensinou. No que aprendeu de seu marido.

—Acredito que neste momento necessito mais de uma xícara de café que outra taça de vinho. —Sabella deixou a taça de lado e se levantou. Já sabia o que queria saber. Não ia pressionar mais a sua amiga. Kira e ela conheciam a verdade; não podiam falar sobre ela nem tampouco admiti-la, mas a conheciam. — Quanto tempo mais você e Ian vão ficar cidade?

—Não estou certa. —Kira deixou a taça no balcão enquanto Sabella se aproximava da cafeteira. — Ian não falou de nenhuma data em concreto, só estamos desfrutando de nosso tempo juntos.

Sabella assentiu com a cabeça. Em outras palavras, estariam ali até que finalizasse a missão.

Perguntou-se o que faria Noah quando a missão chegasse a seu fim. Diria-lhe então quem era e o que lhe tinha acontecido?

—Tem problemas com Noah? —perguntou-lhe Kira de repente. — Imagino que dever ser duro. Sienna me disse que não esteve com ninguém desde que morreu seu marido.

—A mesma Sienna que sugeriu que estou com Noah porque se parece com Nathan? —ironizou Sabella. — Não, não tenho nenhum problema.

Colocou as mãos nos bolsos traseiros da minissaia jeans e se aproximou da ampla janela da cozinha.

Podia ver a parte traseira da oficina. A Harley de Noah estava no estacionamento e resplandecia sob o sol de entardecer do verão.

—Sienna e você são amigas há muito tempo. —indicou Kira. — Eu nunca haveria dito isso a uma amiga. Sabella encolheu os ombros.

—Às vezes Sienna fala de mais, em especial, quando Rick e ela têm problemas.

—Não se dão bem?

Sabella se virou para ela.

—Dão-se bastante bem. Mas Sienna odeia o horário de trabalho de Rick, e se preocupa muito com seu trabalho.

—A maioria dos homens que trabalham com segurança são muitos intensos. —Kira inclinou a cabeça. — O almirante Holloran disse a Ian que ligou para Rissa Clay faz alguns dias. Foi uma gentileza de sua parte.

Sabella franziu o cenho e passou os dedos pelo cabelo com inquietação.

A última missão de seu marido tinha sido resgatar Rissa Clay e a outras duas jovens. Não haviam ligado para lhe perguntar nada sobre Nathan, já que a ela recordava muito pouco daquela noite. Tinham ligado porque a conhecia e se preocupava com ela. Graças a Deus parecia estar bem.

—Conheci Rissa antes que a seqüestrassem. —disse com voz baixa. — Nathan e eu íamos algumas vezes a Washington para visitar Jordan, o tio do Nathan, e Rissa estava acostumada a andar por lá. Vivia com seu pai em uma propriedade próxima, assim nos convidava a suas festas. É uma garota muito doce.

Não merecia o que lhe tinha acontecido.

—Sim é mesmo. — concordou Kira. — A vi faz algumas semanas e parece haver-se recuperado daquele horrível seqüestro. Suponho que estes seis anos lhe permitiram ver as coisas de outra maneira e assumir os fatos.

Sabella guardou silêncio; pensar no que Rissa tinha experiente lhe provocava calafrios. Supunha-se que Nathan tinha morrido durante o resgate de Rissa Clay e de outras duas jovens, filhas de outro senador. Uma daquelas jovens tinha morrido, enquanto a outra, Emily Stanton, casou-se com Kell Krieger, um SEAL amigo de Nathan.

Antes que pudesse dizer algo mais, Sabella se virou para ouvir o ronrono da Harley de Noah atrás da oficina.

Deus. Noah usava um jeans negro. Uma camiseta escura lhe cobria o torso. E se dirigia para lá.

—Há algo mais sexy que um homem com jeans negro sobre uma Harley? —perguntou Kira a suas costas. — Nenhuma mulher poderia resistir.

Certamente, não Sabella. Ela observou como rodeava a oficina e tomava o caminho de cascalho que conduzia à parte posterior da casa. O som ronronante da Harley estava cada vez mais perto, fazendo-a tremer de excitação.

—Acredito que chegou o momento de que me vá. — comentou Kira com uma risada. — Não se incomode em me acompanhar à porta.

Sabella não o fez. Escutou como a Harley se detinha atrás da casa e se aproximou da porta traseira. Abriu-a e saiu ao alpendre no momento em que ele descia da moto.

Aquelas largas pernas que caminhavam para ela com ar despreocupado fizeram com que estremecesse de antecipação. Fez-lhe sentir o batimento do coração na garganta enquanto o desejo iniciava um ardente percurso por seu corpo.

—Parece que fez bem a você ir ao Spa —disse ele, detendo-se ao pé dos degraus do alpendre e olhando-a fixamente. — Gostaria de mostrar o corte de cabelo novo e sair esta noite? Poderíamos jantar na cidade. Iríamos de moto.

Sabella não havia tornado a montar em uma moto desde que era uma adolescente. Olhou a Harley e logo a Noah.

—Teria que mudar de roupa.

—Seria uma verdadeira pena. — afirmou ele, deslizando o olhar pela curta minissaia jeans e a camiseta. — Devo lhe dizer, senhora Malone, que tem pernas incríveis.

Ninguém tinha sido nunca tão encantador como Nathan. Sabella recordou seus encontros, a maneira com que a olhava com aqueles olhos azuis, e como lhe sorria quando ia pegá-la. Tinha sido o epítome do menino mau, e tinha sido todo dela. E ainda o era.

—As saias curtas e as motos não são boa combinação. — indicou ela.

Noah assentiu com seriedade e seus olhos brilharam de forma inquietante.

—É certo. E com umas pernas tão bonitas como as suas, será melhor não nos arriscar.

Sabella se apoiou contra um poste do alpendre e voltou a olhá-lo.

—Sabia que tenho um Ranger? —colocou uma mão no quadril enquanto observava sua reação.

—Realmente?

Tinha sido interesse o que Sabella viu cintilar em seus olhos, ou só alegria ante a menção daquele condenado Ranger? Ele olhou a seu redor. —Não vi nenhum por aqui.

—Está na garagem. —comentou rápido. — Um enorme monstro negro com assentos reclináveis . Um quatro por quatro de cromo e aço que consome mais gasolina do que possa imaginar.

Noah sorriu amplamente. Sempre havia sentido muito orgulhoso daquele maldito Ranger.

—E o que faz alguém como você com um traste tão grande? —brincou.

Ela se encolheu de ombros.

—Pertencia a meu marido e agora é meu. —Essa declaração provocou que o duro olhar masculino se tornasse mais agudo.

—E o dirigi?

—Todo o tempo. — mentiu, o atormentando. — Não tenho que me preocupar de que se danifique agora que meu marido não está. Não gostava nada que o dirigisse

. Ele engoliu em seco.

—Está em boas condições agora?

Sabella soprou.

—Sim. Quer conduzi-lo ou prefere seguir me perguntando? Também posso pôr um jeans e ir na moto. Escolhe.

Escolher? Noah a olhou, quase incapaz de conter a surpresa de que ela tivesse conservado o Ranger. Sabia que durante os primeiros meses antes de sua «morte», Sabella não tinha podido pagar os recibos da casa e a oficina, já que sua pensão de viúva era ridícula. Mas mesmo expondo-se a perder ambas as coisas, Sabella tinha conservado aquele condenado Ranger. Sabê-lo o agradava mais do que podia expressar. Entretanto, que ela permitisse que outra pessoa o conduzisse o enchia de horror.

Aqueles contraditórios sentimentos colidiram em seu interior, e prometeu que faria pagar Sabella por isso.

—É muito generosa com as posses de seu marido. — lhe reprovou.

Brindou-lhe um amplo sorriso.

—Já se deitou com sua esposa, por que não conduzir seu quatro por quatro? Kira e eu bebemos hoje uma de suas garrafas. Um fantástico Cháteau Feytit Clinet de 1925.

Perceberia como estava pálido? Noah poderia jurar que tinha empalidecido. Um Cháteau Feytit Clinet de 1925? Não. Não podia haver bebido com Kira Richards. Era ele a única pessoa no mundo que podia horrorizar-se dessa maneira por ouvir que Sabella tinha desperdiçado um tesouro?

—Seu marido tinha um Cháteau Feytit Clinet de 1925? —resfolegou ele. Como conseguiu conservar a voz calma e controlada era um mistério. Demônios, todo seu treinamento não lhe servia de nada naquela situação.

— E o bebeu isso com a mulher de Ian Richards?

—Tenho montes de garrafas de vinho. —Sabella se virou e o olhou por cima do ombro. — Possivelmente uma destas noites compartilhe outra com você. E sobre o carro? Gostaria de me levar com ele para jantar?

Ia deixá-lo dirigir seu próprio Ranger? Acaso tinha perdido o juízo?

—Deixarei aqui a Harley. —Indicou-a com a cabeça enquanto subia ao alpendre. — A ajudarei a fechar tudo.

—De acordo. —O balanço dos quadris de Sabella quase o fez ofegar. E quase, só quase, esqueceu-se do vinho e do Ranger.

Bebeu seu vinho? Conduzido seu Ranger? E Rory não o havia dito?

Fechou a porta traseira e comprovou a casa aproveitando que ela estava pegando a bolsa e uma jaqueta jeans do dormitório. Reuniram-se ao pé das escadas onde ela sustentava em alto as chaves do Ranger. Noah esteve a ponto de lançar um suspiro de prazer quando as agarrou e seguiu Sabella à garagem.

Assim que viu o Ranger Rover quatro por quatro negro e cromado, soube que ela não o tinha conduzido desde o dia que o tinha levado de volta à garagem, depois de o haver amassado seu pequeno BMW e lhe haver dito que a culpa era dele porque estava cortando a grama sem camisa e a tinha distraído.

Aquele tinha sido o dia em que se deu conta de quanto amava a sua pequena e vivaz esposa. Em lugar de enfurecer-se, em lugar de preocupar-se com seu Ranger, agarrou em seus braços Sabella, levou-a para casa e lhe fez amor nas escadas porque foi incapaz de chegar ao quarto.

—Que maravilha. —Aplaudiu a lateral do capô e deslizou a mão pela armação curvada.

—Sim. Era o orgulho de Nathan. —Havia um tom de divertida indulgência em sua voz.

—E você? —Observou-a por cima do capô. Ela tinha sido sua vida. Ainda era sua vida.

Acaso não lhe tinha demonstrado o suficiente seu amor? Acaso Sabella não sabia que ela era o mais importante para ele?

—Eu era sua esposa. —Sabella se aproximou da porta do passageiro e a abriu antes de subir ao estribo e sentar-se no assento do passageiro.

Noah abriu a porta do condutor e se sentou atrás do volante, consciente de que a resposta de Sabella não o tinha satisfeito. Sim, tinha sido sua esposa, mas também muito mais. Tinha sido seu coração, sua alma. E durante o tempo de seu cativeiro, sua prudência.

—Quanto tempo faz que não o liga?

Ela ficou olhando o pára-brisa.

—Um pouco.

O estranho tom da voz dela fez com que Noah se detivesse quando estava a ponto de colocar a chave no contato.

—Ligo o motor a cada poucas semanas. — lhe explicou Sabella encolhendo os ombros. Inclinou a cabeça e a sacudiu pesarosa apertando os dedos que se retorciam em seu colo.

Passados alguns segundos, incorporou-se e fechou o cinto de segurança, apoiou o cotovelo no vidro e o olhou.

—Estava acostumado a passar a noite no Ranger quando não podia dormir.

—Sentia falta dele. —Noah agradeceu a escuridão da garagem, as sombras que havia entre eles.

—Sim, sentia falta dele. — concordou ela antes de levantar a mão e apertar um botão do painel. — É para abrir a porta da garagem. Fiz que o instalassem durante sua última missão. Supunha-se que devia ser uma surpresa.

A porta da garagem se abriu deslizando-se para cima e revelando as alargadas sombras do exterior.

—Vêem aqui. —Noah lhe desatou o cinto de segurança, agarrou-lhe o pulso e a aproximou de seu lado. Passou-lhe o cinto do assento do meio antes de colocar o seu e depois pôs o veículo em marcha.

Saiu da garagem e apertou o botão para fechar a porta, observando que se fechava com a mesma facilidade com que se abriu. Tinha querido instalá-lo ele mesmo antes de partir para a última missão. Mas tinha estado economizando para comprar outra coisa. Um presente para Sabella.

E ao final ela tinha instalado . Sentiu uma opressão no peito que lhe rasgou o coração. Cada minuto que passava com Sabella, via mais e mais coisas nela que não tomou o tempo necessário para descobrir quando tinha estado «vivo». Coisas que desejava ter descoberto antes.

—Está certa de que quer que conduza o Ranger de seu marido? —Estava-a pressionando e não sabia por que.

Tinha chorado por ele durante seis anos e, em só umas semanas, transformou-se em sua amante, tinha deixado que a possuísse , que passasse a noite em sua cama e agora deixava que conduzisse o veículo de seu marido.

O fato de que ele fosse seu marido não importava absolutamente. Estava ciumento.

—Sim. —Sabella assentiu lentamente.— Acredito que chegou o momento.

—O momento do que?

Ela virou a cabeça e o olhou de frente com expressão calma. Quase fria.

—Acredito que chegou o momento de esquecer meu marido. Não crê, Noah?

Que demônios se supunha que queria dizer com isso? Apertou os dentes, acelerou e se afastou da casa.

Esquecer a seu marido, até parece! Era ela quem estava pressionando ele de tal maneira que não sabia se ia ou vinha, e a oportunidade de lhe dizer a verdade há muito tempo tinha passado.

Não havia maneira de que ela compreendesse agora, depois de que tivessem passado tantos anos de seu resgate, por que não tinha enviado ninguém para procurá-la. Por que não tinha querido que estivesse com ele. Sabella jamais conheceria os demônios que tinham devastado sua mente então, e dava graças a Deus de que ela não soubesse quantas noites tinha passado desejando fazê-la sua de novo, desejando-a a seu lado. Nunca saberia quão duro tinha sido para ele não ter retornado a ela, não havê-la tomado e amado como estava fazendo agora.

E mesmo assim, seguia contendo parte das necessidades sexuais que o possuíam, que lhe alagavam a mente enchendo-o de escuras fantasias. Necessidades que temia que Sabella não pudesse entender se suspeitasse quem era realmente, quem tinha sido para ela.

O silêncio alagou a cabine enquanto se aproximavam da cidade. Agora se dava conta dos terríveis enganos que tinha cometido tanto em seu casamento como mais tarde, depois do resgate.

Sabella se tinha obcecado a cada aspecto de sua vida juntos. E embora ela não soubesse quem era ele, tinha retornado a seus braços, a seus sonhos, a sua vida, como se tivesse nascido para estar ali.

—Seu marido era um estúpido. — afirmou finalmente.

Ela não disse nada durante um bom momento. Logo o olhou com olhos tristes e sombrios.

—Por que diz isso?

—Porque só um estúpido se arriscaria a perder a vida, a perder você, como ele fez. —naquela época, tinha estado seguro de que aquela missão seria fácil de concluir, embora seu instinto lhe houvesse dito o contrário. Agora sim fazia caso a seu instinto.

Sabella virou a cabeça e olhou através do pára-brisa sem lhe responder. E depois de alguns tensos segundos, estudou seus dedos em um gesto que ele sabia que expressava tristeza e solidão. Mas fossem quais fossem as emoções que buliam em seu interior, as guardou para si mesma. E possivelmente fosse melhor dessa maneira. Aquilo era o melhor para Sabella. Esquecê-lo, refazer sua vida, ter um amante, esquecer do passado.

Quando acabasse o tempo deles... quando aquela missão finalizasse. .. Nem sequer podia pensar em perdê-la outra vez.

Noah Blake não tinha que morrer. Noah Blake podia reclamar Sabella Malone. Podia abraçá-la, protegê-la, casar-se com ela e mudar-se para aquela casa na colina.

Sacudiu a cabeça e colocou de lado esses pensamentos. Noah Blake não pertencia a si mesmo. Pertencia ao corpo de Operações Especiais. Tinha assinado aqueles documentos e tinha entregado o que deveria ter entregue a sua esposa.

Seu futuro.

Tal e como o tinham advertido, uma vez assinados aqueles papéis, era propriedade daquela escura organização que tinha pago por seu Renascimento, que tinha assumido o custo da cirurgia avançada, da reconstrução de seus ossos e seus músculos. Uma quantidade que ele jamais teria podido pagar de nenhuma outra maneira. Se tivesse retornado a Sabella, teria vivido pela metade. Não teria sido um SEAL, a não ser a sombra do homem que foi.

Tinha renunciado a sua vida como Nathan Malone e recuperar sua esposa não era uma opção. A única questão agora era se Noah Blake poderia ter uma vida própria.

 

Noah escolheu um restaurante novo. Os proprietários do Assador, Sally Bruckmeyer e seu marido Tom, tinham sido companheiros de Nathan do colégio.

Seus cinco filhos lhes davam uma mão. Sally, duas das garotas e o mais velho dos meninos trabalhavam no salão, enquanto Tom e os dois filhos menores, um menino e uma garota, ajudavam-no na cozinha junto com um par de primos que Sabella conhecia.

Quando entraram no restaurante, pareceu que todas as olhadas se voltavam para eles. Sabella tinha tentado passar despercebida durante os seis anos em que foi viúva, enquanto que agora passeava pela cidade com um homem de aspecto ameaçador que tinha uma Harley e que dirigia o Ranger de Nathan Malone. Sabia que havia rumores, mas não lhe importava absolutamente. Jamais tinha se preocupado pelos falatórios e estar com Noah a fazia se sentir bem.

Compartilhavam um segredo e ao mesmo tempo em que não o faziam. E aquilo fazia que a noite parecesse mais íntima.

—Sabella Malone mal posso acreditar que seja você. —Sally Bruckmeyer era alta e corpulenta, e vestia um enorme sorriso quando rodeou o caixa e a envolveu em um abraço. — Quem é este demônio tão atraente que vem com você?

Sabella era agudamente consciente da mão de Noah nas costas, de seus dedos estendidos.

—Sally, apresento um amigo de Rory e meu, Noah Blake. Noah, apresento minha amiga, Sally Bruckmeyer. Seu marido e ela são os proprietários do restaurante. —Como se Sally não conhecesse já seu nome. Sabella apostaria o que fosse a que todos na cidade sabiam quem era exatamente seu acompanhante e que Rory o tinha conhecido em um bar de Odessa. Certo!

—Senhora Bruckmeyer. —Noah estendeu a mão e os olhos castanhos de Sally brilharam em seu rosto moreno quando a estreitou.

—É um homem perigoso, Belle. —Sally se voltou para ela e agitou um dedo em sua direção. — Será melhor que tome cuidado com ele se não quer que roube seu coração.

—Sei, Sally. — riu Sabella dando uma olhada ao salão quase cheio. — Tem mesa para nós?

—Se estiver disposta a jantar ao ar livre sob a luz de velas, colocamos algumas mesas no pátio. —inclinou-se para ela e murmurou. — Assim haverá menos olhos que se fixem no que façam.

O sorriso de Sabella se ampliou.

—Parece-me perfeito.

—Vamos então. —Sally pegou dois menus e os talheres, e os guiou pelo salão. — Tenho a mesa perfeita para vocês.

Sabella sentia os olhares das pessoas fixos neles. Observavam a Noah; seu cabelo comprido e solto pelos ombros, emoldurando um rosto feroz e Barbudo, seu corpo duro e musculoso, coberto com uma camiseta e jeans. Parecia perigoso. De fato, exalava perigo. Tudo nele proclamava isso. E lhe encantava.

Não havia nenhuma pessoa naquele salão que pudesse confundi-lo com seu marido. Se era daquela segurança o que ele necessitava, estava a salvo.

Sally os conduziu pelas portas envidraçadas que conduziam ao pátio. Ali a luz era tênue. As mesas tinham guarda-sóis e estavam iluminadas com velas. Era romântico e encantador.

A música estava mais baixa e se desfrutava de uma maior intimidade, enquanto que dentro havia uma sensação de aglomeração.

—Aqui estão os menus. Enviarei Katy para que tome nota do pedido. Desfrutem do jantar. —Sally se inclinou para Sabella. — Será por conta da casa, carinho. Um presente de boas vindas, de acordo?

Sabella piscou ante o convite.

—Não tinha ido a lugar algum, Sally. — brincou, embora tivesse os olhos úmidos.

—Bom, carinho, deixou-nos depois do que ocorreu a Nathan. Sair com aquele chato dos Sykes não conta. —Sally a abraçou com força. — Pelo menos agora está conosco e nos traz alguém para que é um colírio para os olhos.

Piscou um olho a Noah e se foi.

Sabella ficou olhando a toalha e engoliu em seco. Não se tinha dado conta de que tinham sentido falta dela . Tinha estado ali, em Alpine, mas não em corpo e alma. Fechou-se no passado, em sua perda, em reconstruir o negócio do qual seu marido tinha estado tão orgulhoso. Era como se não tivesse vivido desde que ele desapareceu, e aquilo a assustava.

—Lamento tudo isto.—sussurrou. Abriu o cardápio e olhou para as portas que davam ao pátio. — Sally e seu marido, Tom, eram bons amigos de meu marido.

—Não importa. —Noah se reclinou na cadeira e observou o pátio enquanto ela olhava a ele.

—Sabella Malone. Estava certo de que era você. —Uma rouca voz masculina fez com que a ela se esticasse antes de levantar o olhar.

Gaylen Patrick, o proprietário de um dos maiores ranchos de Alpine, dirigia-se cambaleando para eles através das portas. Aos quarenta e cinco anos, Gaylen era ainda um homem corpulento, embora muito de sua corpulência estivesse na barriga e nas coxas. Caminhava com estupidez, mas Sabella o tinha visto lutando com novilhos e sabia que aqueles braços eram fortes apesar das rugas que começavam a lhe sulcar o rosto.

Estava calvo, tinha os olhos cor avelã e possuía espessas sobrancelhas escuras. Falava em voz muito alta e ria escandalosamente. E por alguma razão, tinha acreditado que Sabella deveria ter estado disposta a deitar-se com ele algumas semanas depois da morte de Nathan.

—Sim, parece que sou eu. — replicou ela quando o rancheiro se deteve na mesa, lançando a Noah um duro olhar.

—E quem é seu amigo? É novo na cidade, verdade? —Estendeu a mão a Noah. — Sou Gaylen Patrick. Ouvi que está resolvendo os problemas da oficina dos Malone. Isso é muito bom, filho.

—Noah Blake. —Noah lhe estreitou a mão, mas sua expressão era neutra e fria. — Não havia problema a resolver. Sabella tinha tudo sob controle.

—Graças a Rory, que lhe deu uma mão. —Gaylen inclinou a cabeça. — Pobre pequena. Estivemos muito preocupados com ela desde que ficou viúva.

Sabella mordeu a língua para não lançar uma dura réplica. Preocuparam-se tanto com ela que tinha tido que expulsar de sua casa aquele filho de uma puta depois que lhe fizesse uma oferta ridícula pelo posto de gasolina e a oficina. O rancheiro tinha querido ganhar com seu negócio e tal e como o tinha feito saber, não se importava ter que casar com ela para consegui-lo. Acreditava que o dinheiro comprava tudo e não entendia por que ela nem sequer tinha estado disposta a considerar sua oferta.

—Sabella cuidou de tudo muito bem. —afirmou Noah. — Só precisava contratar alguns poucos mecânicos dispostos a cumprir com seu trabalho.

Ela quase fez uma careta por ouvir aquilo. Timmy, o mecânico que Rory tinha despedido, era primo longínquo do capataz do rancho de Gaylen.

—É obvio que sim. — bramou o rancheiro, dirigindo a Sabella um olhar de lascívia mal dissimulada. — Foi uma desgraça que seu marido morresse. Nathan era um homem muito apreciado por aqui e Belle virtualmente se deixou morrer ante nossos olhos quando ele desapareceu.

Sabella apertou os lábios. Gaylen sempre atacava onde pensava que mais mal faria.

—Me parece que está muito viva, senhor Patrick. —-disse Noah, arrastando as palavras com aquela voz grave tão sua. — Passaram seis anos da morte de seu marido. Não acredito que necessite que ninguém se preocupe com ela.

—Quanto tempo disse que pensava ficar por aqui? —Gaylen enganchou os dedos no cinturão dos jeans e olhou a Noah com falsa cordialidade.

—Eu não disse. —Noah sorriu. — Ainda não decidi. —Deslizou o olhar pela Sabella.

— Ir não é algo que tenha em mente neste momento.

—É obvio que não. —O rancheiro riu de novo, mas o som pareceu forçado. — Suponho que devo retornar a minha mesa. —limpou a mão nas coxas e olhou para ela. — Seu sogro jantará esta noite conosco, Belle. Deveria se aproximar para saudá-lo.

Sabella apertou os punhos no colo. Levantou o olhar para Gaylen e não se conteve em expressar o que sentia.

—Acredito que Grant Malone pode prescindir de minhas saudações por esta noite. — disse com firmeza.

—A família é a família, Belle. —Gaylen negou com a cabeça. — O correto é ficar sempre tudo bem entre todos e remendar as ranhuras.

—Neste caso, não há nada que remendar. — lhe assegurou com um sorriso tenso. — Foi um prazer falar com você de novo, Gaylen. Obrigado por vir nos cumprimentar. —Mas, por favor, não se prenda por nós.

—Passa para me visitar em algum momento, menina —ladrou com aquela risada tão falsa que fazia chiar os dentes da Sabella. — Cuide bem dela. —O olhar que dirigiu a Noah estava cheio de aversão.

—É obvio que o farei. —Noah lhe dirigiu um amplo sorriso. — Ela vem em primeiro lugar para mim.

Gaylen inclinou a cabeça e logo retornou cambaleando para o interior do local.

—Grant Malone? —A voz de Noah era perfeitamente neutra. — O pai de seu marido?

Sabella assentiu com a cabeça.

—Está distanciada de sua família por parte de seu marido?

—Não de todo. —sussurrou ela.

— Rory sempre está perto, mas já sabe como é isto. Nathan e eu não tivemos filhos, e as família nesse caso não estão acostumadas a manter contato.

—O avô de Rory esteve outro dia na oficina. — lhe recordou Noah.

Sabella sorriu ao pensar no ancião.

—O vovô é um encanto, mas Rory e eu tentamos não lhe curvar. Estou acostumada a visitá-lo de vez em quando e algumas vezes passa por minha casa ou pela oficina. Ainda me chama «sua menina» quando me vê.

Sabella amava ao vovô e se perguntou se Noah teria ido ver lhe depois de que o ancião apareceu pela oficina, se lhe haveria dito quem era realmente. O havia dito a Rory, por que não ia dizer a ele?

Livrou-se de seguir se torturando com aquilo quando a filha de Sally, Katy, aproximou-se para tomar nota do pedido. A conversação diminuiu depois disso. Sabella bebeu o vinho, lutando contra a necessidade de lhe perguntar, de lhe exigir respostas.

Algumas pessoas entraram no pátio para conversar e saudá-los. A maioria só sentia curiosidade, outras, como Gaylen, metiam-se onde não deviam.

Aquilo transformou o jantar em uma experiência exasperante e Sabella desejou ter ido a Odessa. Era ali onde Nathan e ela estavam acostumados a sair para jantar, já que, em Alpine, o fato de que seu marido fosse tão popular implicava que outros casais se unissem a eles quando só queriam desfrutar de uma noite a sós.

—Está preparada? —perguntou-lhe Noah depois do jantar, observando como ela brincava com a taça de vinho e franzia o cenho.

—Sim, vamos.

Sabella deixou a taça sobre a toalha quando Noah se levantou depois de deixar uma boa gorjeta na mesa. Gostou que fosse tão generoso já que Sally havia dito que o jantar corria por conta da casa.

Segurou-a pelo cotovelo para guiá-la para fora do restaurante e ela se precaveu de que ele não tinha olhado nenhuma só vez à mesa do Gaylen, da qual seu pai os tinha seguido com a vista.

Algumas vezes, Sabella sentia realmente tristeza por Grant Malone. Durante os anos que compartilhou com Nathan, sempre teve a impressão de que aquele homem queria mais a seu filho do que demonstrava. Nathan acreditava que seu pai não sentia nada por ele e que apenas lhe importava seu rancho. Para sua surpresa, depois da «morte» de filho, Grant tentou por todos os meios tomar a oficina, embora Sabella jamais soubesse por que. Tinha estado tão resolvido a consegui-lo como Gaylen Patrick ou Mike Conrad. Como se fosse algum tipo de troféu. Ela jamais entendeu aquela postura e tampouco sabia se queria fazê-lo.

Sabella se perguntou muitas vezes ao longo dos últimos anos por que demônios ficou ali. Por que seguir lutando, por que tentar continuar sem Nathan.

Agora sabia por que, e aquela segurança tinha o poder de lhe estremecer o coração. Ficou porque sabia que seu marido retornaria.

O Ranger estava estacionado perto da entrada do restaurante. Noah a ajudou a subir sem dizer uma só palavra e logo se dirigiu ao lado do condutor.

Uma vez atrás do volante, Noah arrancou o motor e ficou observando o restaurante em silêncio. Ao cabo de alguns poucos segundos, Sabella se deu conta do que era o que estava olhando.

Grant Malone os tinha seguido. Estava no alpendre do local com as mãos nos quadris e os olhos azuis entrecerrados e cravados no Ranger.

—É seu sogro? —perguntou-lhe Noah com suavidade.

Sabella assentiu e sustentou o olhar de Grant durante um bom momento. O que viu em seus olhos a confundiu. Teria podido jurar que era dor.

Noah deu marcha ré antes de manobrar e sair do estacionamento. Não disse nada, nem olhou para trás. Não parecia haver nem um rastro de pesar em sua expressão nem em sua atitude. Mas ela o percebeu. Sentiu como o alagava.

Grant era seu pai, e ela sabia que Nathan sempre tinha esperado que chegasse o dia em que se reconciliassem.

—Por que ficou aqui depois de que seu marido morreu? —inquiriu ao mesmo tempo em que se incorporava à estrada em direção à casa da colina. — Poderia haver ido a qualquer parte.

Ela se encolheu de ombros.

—Meu marido estava aqui.

—Seu marido está morto. —sentenciou Noah. — Aferra-se a ele como um talismã, Sabella. Como se ainda estivesse vivo, e não é assim.

—Equivoca-se. —afirmou a ela sacudindo a cabeça. — Enquanto permaneça aqui, com as coisas que ele amava, seguirei conservando uma parte dele.

Olhou-o, percebendo claramente como fluía a dor entre eles.

—Crê que isto é o que ele teria querido para você? —espetou-lhe Noah com fúria. — Que ficasse aqui, chorando por ele? Sofrendo a mesquinha condenação que vi nessas pessoas? Crê que a amava tão pouco?

—O amor que sentia meu marido por mim não vem ao caso —replicou — Eu o amava muitíssimo. E em qualquer caso, o que pode importar a você, Noah?

Ele apertou o volante com as mãos.

—Então foi uma estúpida. — grunhiu ao cabo de alguns segundos. — Ou muito jovem para saber o que fazia. Quantos anos tinha quando morreu? Vinte? Casou-se com uma maldita garotinha.

Ela permaneceu em silencio durante longos segundos. Observou a noite, sentindo como a fúria crescia em seu interior.

—Passei mais de um ano imaginando de quantas maneiras podia ter morrido meu marido. — disse ao fim com frieza. — Tinha vinte anos quando ele partiu para sua última missão. Depois que me comunicaram sua morte, despertava toda noite gritando, rezando, vendo-o morrer uma e outra vez, sentindo uma dor que me impedia de respirar e seguir vivendo. —Sabella tinha visto o inferno de Noah, agora sabia. — Não me diga que fui estúpida. Amava-o. Nunca duvide. Pode ser que durma algumas noites em sua cama, ou que dirija seu Ranger e se deite com sua mulher, mas não tem os papéis que lhe dão direito a formar um julgamento sobre ela.

Sabella o estava pressionando e sabia.

Noah lhe lançou um olhar de canto de olho.

—Que demônios quer dizer?

—Não tem nenhuma licença de casamento, Noah. Não é meu marido, nem meu pai nem meu irmão. Não é ninguém para me dizer nada.

—Sou seu amante. —grunhiu ele com fúria.— Isso me dá direito. E estou cansado de ouvir falar de Nathan.

—No que me diz respeito, você não tem nenhum direito. — lhe informou ela. — E, no fim, é minha opinião a que conta. Você passou a casa.

—Já sei. —Voltou a apertar os dedos em torno do volante. — Foi de propósito.

Dirigiu-lhe um olhar cauteloso.

—É bom sabê-lo.

Noah virou a cabeça e a fulminou com o olhar antes de voltar a prestar atenção à estrada.

—Tem o maldito costume de ser um pouco sarcástica, Sabella.

E não tinha sido assim antes, ela sabia. Sabella conseguiu conter um sorriso.

—Só um pouco? Maldição, e eu pensando que era muito sarcástica. Devo praticar mais.

A expressão do Noah era tensa e furiosa enquanto olhava fixamente a estrada que se estendia ante eles.

—São uns bastardos. —amaldiçoou finalmente. — Não suporto ver como a tratam, como se não tivesse cérebro.

Ela riu.

—Meu marido pensava que eu não era mais que uma bonequinha. A típica loira burra. Ele era alto e musculoso, e adorava que eu parecesse indefesa.

Era a verdade e Noah não gostava que fosse assim. Odiava-o. Mostrava-lhe uma faceta do homem que tinha sido que não gostava absolutamente. Tinha querido que Sabella dependesse dele e jamais se deu conta de que tinha sido o contrário. De que tinha sido ele quem tinha dependido dela. Dependia por completo do amor de Sabella para seguir sendo humano, para recuperar a risada e o humor ao voltar de uma missão.

—E consentiu isso? —perguntou-lhe.

—Eu adorava parecer indefesa ante ele. Mas amadureci Noah. Não sou uma bonequinha nem tampouco uma estúpida. Posso sobreviver sem ter um homem grande e forte em quem me apoiar. Demonstrei isso a mim mesma e também a qualquer um que pensasse que não fosse mais que a loira burra que parecia. Só tinha dezoito anos quando me casei com o Nathan. Vinte, quando ele desapareceu naquela última missão. Amava-o com toda minha alma; entretanto, agora sou uma mulher e todos esses jogos não formam parte da pessoa que sou agora. Acostume-se a isso, porque já não estou disposta a fingir que não tenho cérebro.

—Seu marido não a merecia. —Noah tinha a mandíbula tão tensa que parecia a ponto de desencaixar-se.

—Ele era tudo para mim. —sussurrou Sabella. — O fato de que não me conhecesse por completo foi minha culpa. Minha e de minha juventude. Mas teríamos amadurecidos juntos um com o outro. Estou segura. Teríamos aprendido a nos conhecer com o tempo.

Observou com curiosidade como ele tomava um caminho de terra em vez de continuar para Odessa como pensava que estava fazendo. As luzes do Ranger atravessaram a escuridão como uma lança, iluminando os pinheiros e o caminho até que se detiveram frente a um pequeno cânion.

—Para que viemos aqui? —Sabella olhou a escuridão que lhes rodeava enquanto ele desligava o motor.

—Para isto. —virou-se para ela, abriu-lhe o cinto de segurança e um segundo depois o respaldo do assento do passageiro caiu sobre o assento traseiro, formando uma espécie de cama.

—Não sabia que se podia fazer isso. — comentou ela nervosa.

Ele a empurrou sobre o assento até que a cabeça dela descansou sobre o respaldo e logo a agarrou pela cintura. Noah respirava entre ofegos. Sabella viu um brilho selvagem em seus olhos e o desejo refletido em seu rosto.

—Não deveria haver ficado aqui. Não suporto ver como esses bastardos a olham a imaginando em suas camas. Como se você não fosse mais que um brinquedo.

O ciúme o atravessava. Brilhava em seus olhos e despertava um impulso de independência que Sabella não sabia que possuía.

—É isso o que sou para você? —Ela colocou as mãos por cima da cabeça. Não o afastou. Não lutou contra o desejo que crescia em seu interior. — Se queixa de algo que quer para você mesmo, Noah. Possuir-me.

Ele abriu a boca como se fosse falar. Responder. Um instante mais tarde baixou a cabeça e lhe capturou os lábios com ferocidade.

Como se tivessem aproximado um fósforo da gasolina, o desejo e a necessidade estalaram entre eles com rapidez.

Noah não podia explicar por completo a necessidade de fazê-la sua no Ranger. O fato de que lhe tivesse permitido conduzi-lo pensando que ele era outro homem, que tivesse sentado junto a ele, fazia com que sentisse um ciúme irracional que o devorava vivo. Queria deixar sua marca no Ranger e na mulher. Queria estar condenadamente seguro de que nenhum outro homem conduzia aquele veículo nem se deitava com aquela mulher.

Os dois eram deles.

O instinto de possuí-la se cravou em suas vísceras com cruéis garras. A injustiça que estava cometendo com ela o preocupava mais que qualquer outra coisa, mas a necessidade dominava seu corpo e o deixava incapacitado para lutar contra isso. Tinha sabido, antes de deixá-la, durante sua captura e depois dela, que haviam muitos homens dispostos a ocupar a cama de Sabella. Às vezes, ao longo dos anos, tinha chegado a pensar que se ela tivesse tido um amante depois de sua suposta morte, ele teria podido continuar seu caminho sem mais, sem voltar para a vida de antes.

Mas ao sentir a intensidade com que o beijava, o desespero com que o aceitava em seu corpo, com uma fome que não fazia mais que crescer em seu interior, sabia que isso não teria importado. Teriam acabado juntos, de uma maneira ou de outra. Tudo o teria conduzido para ela, cada segundo transcorrido. Seu desejo por sua esposa teria resultado, finalmente, muito poderoso.

Entretanto, nessa noite tinha ido muito longe. Só Rory sabia que Nathan tinha reajustado a alavanca dos assentos do Ranger de tal maneira que permitisse criar uma pequena cama dupla dentro do veículo. Tinha reduzido a altura dos assentos dianteiros para que se encontrassem ao mesmo nível que os de trás.

Os respaldos recuavam uma vez que o assento se baixava automaticamente, criando uma cunha entre ambos os assentos e o chão para sustentá-los.

Fazia esses ajustes com a intenção de terminar fazendo aquilo. De possuir a Sabella no Ranger. Jamais tinha tido a oportunidade de prová-lo antes. Salvo agora, quando a obsessão por sua esposa, contra a que sempre tinha lutado, crescia em seu interior sem freios, alagando sua mente por completo.

Ela pensava que seu marido tinha desaparecido. Que estava morto. E agora estava permitindo que outro homem a tocasse, abraçasse-a, conduzisse seu maldito Ranger.

Depois dessa noite, não importava o que lhe proporcionasse o futuro, nenhum outro homem teria o que era dele.

Aferrou-lhe os quadris com as mãos e emitiu um grunhido quase animal contra seus lábios. Acariciou-lhe o interior da boca com a língua, devorando-a, e estremeceu ante a necessidade que fluía através de seus corpos, esticando-os.

Não sentiu rigidez nem dor em suas feridas. Tampouco teria se importado. Tudo o que sentia era Sabella, suas mãos agarrando-se ao couro do assento traseiro enquanto o beijava, desejando-o ardentemente.

Jogou a cabeça para trás e ficou olhando fixamente. A luz da lua que entrava na cabine do Ranger, lhe iluminando o belo rosto, os olhos cinza e os lábios inchados. Debaixo da fina blusa de seda, os seios dela subiam e desciam quando tomava ar. Noah teve que apertar os dentes para conter-se e não lhe arrancar as roupas.

Elevando-se sobre ela, baixou o olhar pelo corpo de Sabella. A saia tinha subido pelas coxas, quase por cima da calcinha, provocando uma aguda reação no ventre do Noah que o deixou sem fôlego.

As coxas femininas brilhavam tenuemente sob a luz da lua, como se sua pele fosse do mais fino cetim, como magia doce e suave. Sabella sempre tinha sido pura magia para ele.

Amá-la tinha sido sua salvação e sua máxima tortura. Seu mais feroz desejo.

—É perfeita. —Noah pôs a mão sobre sua coxa e sentiu sob a palma como vibravam os músculos dela respondendo a sua carícia.

—Não é verdade. —murmurou ela com um som rouco que penetrou nos sentidos de Noah com uma quebra de onda de luxúria que mal pôde conter.

Noah deslizou a mão pela coxa em uma ardente carícia que foi para ele mais potente que qualquer droga.

—Quero despir você. —Não queria encher a cabeça com outra coisa que não fosse a visão e o tato de sua esposa.

— Mantém os braços em cima da cabeça. —Subiu-lhe as mãos até a parte superior do assento, observando como curvava os dedos na união entre o assento e o apoio de cabeça. — Muito bem, boa garota. Agora me deixe tocar você.

—Mas eu também quero tocar você. —Sabella se arqueou quando os dedos de Noah se dirigiram aos pequenos botões da blusa. Eram muito diminutos para aqueles dedos quase torpes.

Deus desejava-a tanto que tremia de antecipação. A adrenalina o atravessava. Podia senti-la. Podia sentir como a luxúria crescia em seu interior só ante o pensamento de vê-la nua.

Não lhe ocorria com nenhuma outra mulher. Só Sabella tinha o poder de lhe provocar dessa maneira. Mesmo durante sua estadia no inferno, quando a luxúria pulsava entre suas coxas em um estado de pura agonia, não podia suportar a idéia de tocar outra mulher.

Sempre tinha sabido. Não importava quão cego de luxúria e aturdido pela droga estivesse. Nenhuma das mulheres com as quais lhe tinham tentado era Sabella, sabia assim que as tocava. Sabia que não eram sua esposa, sua vida, no instante que as roçava.

—Sonho com você. — murmurou Noah quando a blusa se abriu, revelando a pele pálida. — Sonho que estou... —tinha que estar sonhando agora.—.... tocando você. Saboreando você.

—Por que sonhar? —Sabella observou os obscurecidos olhos do homem que amava, com a pestanas lhe sombreando o rosto.

— Não tem por que sonhar, Noah. Estou aqui.

Ele lhe abriu a blusa por completo e ficou olhando os seios dela, cobertos pelo fino encaixe do sutiã. Seus mamilos, duros e arrepiados, erguiam-se orgulhosamente. Conhecia sua forma. Sua cor. Seu delicioso sabor sob sua língua, em sua boca. Sabia e queria mais.

Nenhuma mulher deveria ter tanto poder sobre um homem.

Mas Noah tinha aceitado e amado fazia muito tempo. Era tão somente uma parte mais da necessidade e a paixão que fluíam entre eles.

Agarrou as mãos de Sabella para levantá-la e lhe tirar a blusa pelos ombros, e depois lhe acariciou a pele.

Teve que apertar os dentes quando os lábios dela encontraram seu pescoço. Atormentou-lhe com sua língua e lhe roçou com os lábios. Noah quis uivar ante o desejo que sentia no mais profundo dos testículos.

Afastou a blusa para um lado e lhe tirou o sutiã.

Deus, seus peitos. O que tinham os seios de uma mulher para fascinar aos homens até voltá-los loucos? Sabella tinha os mamilos duros e tensos. A resposta de uma mulher se mostrava em seus seios. inchavam-se, avermelhavam. Os mamilos se obscureciam, erguiam-se e lembravam o desejo, puros e doces.

Passou-lhe as mãos pelas costas, meio incorporando-a para poder baixar a cabeça para os ofegantes topos dos mamilos.

Curvou a língua em torno de um deles e o gemido de Sabella atravessou os sentidos de Noah como uma carícia.

—Adoro seus mamilos. — sussurrou, apanhando entre seus lábios aquele ponto tenso com um suave movimento de sucção. — São tão doces e tenros. Tão duros e quentes.

Sabella ficou rígida e se arqueou.

Noah a deslizou ao meio do assento, montou escarranchado sobre suas pernas para imobilizá-la e inclinou a cabeça outra vez.

—Vou chupar seus mamilos, Sabella. Vou chupá-los tão doce e profundamente que vai gozar só com isso.

Tinha-o feito antes, uma vez. Fazia muito tempo. Alguns meses antes de casar-se. Tinha-a posto tão quente, tão molhada, tinha brincado com aquele corpo perfeito de uma forma tão desumana que a doce sucção de um de seus mamilos a tinha feito gozar.

Noah queria que ocorresse de novo. Queria sentir a selvagem excitação de Sabella nos lábios ao lamber seus clitóris. Queria saborear os sucos espessos e escorregadios de sua esposa. Queria que estivesse tão úmida, tão excitada, que o rastro de sua luxúria ficasse gravada no interior desse veículo de tal maneira que jamais permitisse que outro homem estivesse ali dentro com ela.

Sabella se moveu sensualmente para baixo dele quando Noah inclinou a cabeça de novo. Lambeu-lhe o mamilo e o beijou. Roçou com os dentes a carne que circundava o mamilo. Mordiscou-lhe a pele cremosa e lhe deixou uma marca suave e avermelhada enquanto a atraía até sua boca.

A pequena dentada de amor se obscureceria, marcando-a como dele.

—Tão doce e excitada. —Noah tirou a camiseta pela cabeça sem deixar de olhá-la e a deixou de lado.

—Quero tocar você. —A voz feminina estava agora rouca de desejo, ávida, faminta. — Deixe-me tocar você, Noah.

—Ainda não. —Acariciou-lhe os braços com as palmas e apertou as mãos duramente entre o assento e o respaldo.

— Agarre aí. Não mova as mãos ou me deterei.

Maldição, claro que o faria. Se ela o tocasse, estalaria em chamas e a penetraria com tal rapidez e dureza que nenhum dos dois saberia o que tinha acontecido.

—Fica quieta Sabella. Fica quieta e deixe que eu ame você.

 

O que ele estava fazendo a ela? Havia alguns aspectos de Noah que não pareciam próprios do marido que ela recordava, que liberavam partes de Sabella que Nathan jamais havia possuído. Como ele revelava partes de si mesmo as quais ela não tinha conhecido durante seu casamento.

Sabella se arqueou quando as mãos do Noah lhe amassaram os seios com a dureza suficiente para despertar nela um pequeno alarme ante o perigo e um desejo entristecedor. Apertou-lhe os suaves montículos enquanto lhe lambia os mamilos, acariciando-os com os dedos e depois com a língua.

Nathan sempre tinha sido um amante minucioso, mas naquele momento, era quase como se o desejo que sentisse o fizesse estar furioso com tudo. Com cada parte dela, incluída sua alma.

Ela sempre tinha tido os seios muito sensíveis. Seus mamilos eram brotos duros e dolorosos. A barba curta de Noah lhe raspava a pele. Seus lábios e sua língua a acariciavam e lhe marcavam os seios. Sabella se arqueou, retorceu-se e tentou aproximar mais aquela língua diabólica que com cada movimento provocava relâmpagos de prazer que lhe rasgavam o ventre.

Estava tão molhada. Tão preparada para ele. Necessitava-o tanto que os gemidos que saíam de seus lábios se converteram em súplicas, em gritos de suplicante necessidade.

—Você gosta do que faço a você. —A confiança e o prazer enchiam a rouca voz masculina quando apanhou entre seus lábios um mamilo duro.

—Odeio você. —ofegou ela, sabendo que era mentira.

Noah riu entre dentes e, por um momento, ela retrocedeu no tempo. Aquela risada afogada, rouca e aveludada, era um som do passado e quase a fez alcançar o orgasmo.

—Garanto o que quiser que está molhada. —sussurrou. — Se agora deslizasse a língua por suas dobras, encheria-se de sucos. Quero saborear sua necessidade.

Apesar de sua dureza, sua voz estava impregnada de uma estranha ternura. Sabella estremeceu ante o som e sentiu que seus lábios mais íntimos se umedeciam ainda mais, empapando a pele nua.

—Quando chegar aí em baixo, seus cachos vão estar molhados, não é, Sabella?

Brindou-lhe com um sorriso.

—Teria que ter cachos para isso, Noah.

Ele ficou paralisado e lhe brilharam os olhos. Seu rosto se contraiu com tanto desejo e luxúria, que ao vê-lo Sabella sentiu um duro estremecimento no ventre.

OH, sim. Seu Nathan adorava que estivesse depilada. Tinha-lhe encantado lamber e morder as aveludadas e suaves dobras de seu sexo, livres de pêlo, acariciá-los, beijá-los.

A respiração de Noah se fez mais áspera, e apertou os dentes.

—Está depilada? —Os músculos de seu peito e dos braços se esticaram e incharam.

—Totalmente, Noah. —Sabella esboçou um sorriso lento e provocador. — Estou toda suave e sedosa. Sem rastro de pêlo.

Noah deu um pulo, como se lhe tivessem dado uma chicotada.

Levou uma mão ao jeans, afrouxou o cinto e os baixou quase rasgando-os. Inclinou a cabeça outra vez sobre os seios de Sabella e ela quase gritou quando seus lábios lhe cobriram o mamilo.

Ele estava acariciando a si mesmo. Sabella sabia e quis tocá-lo. Mas os lábios masculinos a estavam consumindo, lhe provocando um prazer tão intenso que enviaram brutais golpes de prazer a seu ventre, a seu sexo, até que explodiu.

Não foi um simples orgasmo. A não ser uma corrente de ardente êxtase que detonou em seu ventre e lhe fez contrair grosseiramente a vagina. Sabella gritou, estremecendo-se e retorcendo-se de prazer enquanto Noah seguia lhe lambendo o mamilo com a língua e emitia um gemido do mais profundo do peito.

Ele se incorporou de repente e avançou sobre o corpo da Sabella. Enterrou a mão no cabelo dela e lhe elevou a cabeça para lhe dar exatamente o que ela queria.

Seu grosso membro abriu passo entre os lábios femininos e ela o sugou com ânsia. Noah desabotoou o fechamento de sua saia, baixou-lhe o zíper e a deslizou pelas coxas.

Sabella elevou o traseiro para o ajudar a despojar a saia, ficando tão somente com a roupa íntima. A tanga de seda não ocultava a umidade que surgia incontrolável de seu corpo.

Brincou com a glande no interior da boca, lambendo a parte inferior, chupando-o e gemendo ao saborear o líquido pré-seminal que tinha saído pela diminuta ranhura da ponta.

—Sim. — vaiou ele com descarnado prazer. — Deus, sua boca é o paraíso. Tão quente e molhada. Sugue-me mais, Sabella. Toma tudo o que possa pequena.

Ela obedeceu, aplanando a língua quando ele deslizou profundamente no interior de sua boca com estocadas lentas e deliberadas, lhe alagando os sentidos com seu sabor.

Noah baixou o olhar para a ela, observando como o olhava, sentindo o movimento da boca de Sabella em sua dura e torturada ereção. Sua boca era tão quente. Tão perfeita. Deus sugava-o de uma maneira que demonstrava o muito que gostava de seu sabor e senti-lo em sua boca.

Ele adorava lhe colocar o pênis na boca. Adorava olhá-la; aquela expressão inocente de seu rosto o punha ainda mais duro, excitava-o ainda mais, se isso fosse possível. Como se ela fosse quase uma virgem. Quase tão inocente como na primeira vez em que a fez dele.

Noah se agarrou a base de sua ereção e esticou as coxas quando ela deslizou uma mão entre eles para amassar com suavidade seu testículo.

Grunhiu ante o êxtase que lhe produziu a carícia de sua mão e a sucção firme, úmida e quente de sua boca.

Noah lhe percorreu o abdômen com a mão, deslizou os dedos sob o bordo da tanga e se deteve. Ainda não. Se permitisse a si mesmo sentir a escorregadia umidade do sexo de Sabella nos dedos, gozaria. Derramaria-se entre seus lábios, encheria aquela cálida boca com sua semente e qualquer esperança de controlar-se iria ao inferno.

—Está brincando com fogo. — murmurou. Sorrindo com aprovação enquanto ela seguia brincando com seus lábios e sua língua. Sabella se retirou e passou a língua pelos lábios. Ao vê-lo, Noah estremeceu contra ela e emitiu um gemido dilacerador. Retirou os dedos debaixo da tanga e a olhou com uma inquietante promessa nos olhos antes de lhe dar uma ligeira palmada sensual no monte de Vênus, sobre a molhada seda da calcinha.

Ela ficou paralisada. Tinha os olhos cinza quase negros e voltou a albergar em sua boca a glande do Noah e a lambê-lo com voracidade e desejo.

—Você gosta que faça isso, pequena? —murmurou ele.— Quer que o repita?

Sabella se arqueou sob seu corpo e a doce pressão de sua boca se fez mais profunda, fazendo com que os testículos de Noah se esticassem de uma maneira quase dolorosa enquanto dava outra palmada no montículo coberto de seda dela, algo que quase extraiu cada grama de prazer que sulcava a dura longitude de seu membro.

Ela tentou gritar ao mesmo tempo em que o sugava. Os suaves tapas da mão de Noah não eram fortes, mas faziam arder sua carne sensível e excitavam as terminações nervosas de todo seu corpo.

Sabella queria que aquelas palmadas fossem mais fortes. Com cada ardente carícia lhe sugava com mais força, com mais firmeza, utilizando a língua para lhe açoitar a sensível glande e lhe dizendo com algo mais que palavras o prazer que a atravessava.

—Você gosta. —Noah lhe cavou o monte de Vênus e fez virar a palma da mão sobre seus clitóris.

— Você gosta que seja duro, não é? Quer que não me contenha tanto. Quer que a faça arder.

Sabella gostava de arder.

Não podia acreditar que ele estivesse fazendo isso, ali, no Ranger. Jamais lhe tinha feito nada parecido no tempo que tinham estado juntos antes de seu desaparecimento. Nunca a tinha amado dessa maneira, nem a havia possuído com essa luxúria e voracidade.

Santo céu. Noah sentia que a necessidade faria explodir sua cabeça. A adrenalina lhe fustigava o corpo. A luxúria nublava seus sentidos. Não ia poder conter-se. Se não tirasse o pênis da doce boca de Sabella ia explodir.

Retirou-se. Passou-lhe a palma por cima da tanga molhada e ouviu a rápida inspiração feminina. Deu-lhe outro acalorado tapa. Não foi tão suave como o anterior, a não ser um pouco mais forte, o suficiente para fazê-la arder, para que o clitóris palpitasse e pulsasse, mas não para que gozasse. Ainda não. Queria que ela gozasse em seus lábios, contra sua língua. Queria sentir que seu sexo se contraía, se liquefazia, envolvia-o em seus fluidos.

Noah foi para trás, elevou-a e a colocou de tal maneira que a cabeça da Sabella ficou situada frente ao volante. Abriu-lhe as pernas e olhou fixamente a seda molhada de cor pêssego claro que lhe cobria o monte de Vênus.

Deslizou a tanga pelas coxas, lhe acariciando as pernas e os joelhos, e a deixou de lado. Logo baixou o olhar às dobras rosadas e às nádegas.

Percorreu com os dedos a provocadora curva do traseiro feminino e o levantou mais para aplaudi-lo ligeiramente. Só um suave tapa.

A luz da lua brilhava sobre a pálida pele de Sabella quando Noah lhe passou os dedos pela estreita fenda, provocando-a, sentindo os sucos que também cobriam a diminuta entrada de seu ânus.

—Do que necessita, pequena?

—Noah. — gemeu seu nome com voz desfalecida, cravando as unhas sobre os assentos de pele e marcando-os para sempre.

Ver as marcas deixadas no assento o encheu de satisfação Noah. Estava marcado com sua paixão. Como tinha marcado a ele.

Baixou-lhe as pernas e as abriu de novo, cravando os olhos nas formosas dobras rosadas que protegiam a estreita entrada a seu corpo. Apertou os dentes. Tinha que vê-la melhor.

Acendeu as luzes da cabine, esticou a mandíbula e chiou entre os dentes ante a vista da sedosa umidade que cobria o sexo de Sabella.

—Vou devorar você. — resmungou ele, apoiando um joelho no chão do veículo e inclinando a cabeça para a carne doce e tenra que o esperava entre as coxas femininas.

Sua Sabella.

Molhada.

Quente.

—Meu Deus. Noah. Sim. —Ela arqueou os quadris para ele.

—O que quer Sabella? —murmurou sobre sua carne molhada. — Diga isso pequena. Diga-me o que quer. Quer suave e doce? —Lambeu as dobras inchadas para saborear os sucos que fluíam de seu frágil corpo, e gemeu ante o doce e quente sabor de sua esposa.

—Ou duro e profundo? —Elevou-a para ele, colocou-lhe a língua bruscamente na vagina e escutou que os lábios de Sabella deixavam escapar um guincho suplicante.

Noah sentiu os delicados músculos femininos lhe capturando a língua, apertando-a, e sua grossa ereção estremeceu em resposta. Pulsava-lhe a engrossada glande, palpitava-lhe. Demônios. Se não a tocasse, saboreasse, possuísse e se não a tivesse uma vez mais morreria sem dúvida.

Queria tudo dela. Cada carícia, cada matiz de seu sabor.

Sabella moveu as mãos e voltou a cravar as unhas no assento rasgando a superfície de pele. Outra marca. Ela nunca o esqueceria. Jamais deixaria de recordar a quem pertencia.

A ele.

Acariciou-lhe a tenra e sensível carne de seu sexo com um breve toque de sua língua. Lambeu a doce suavidade que se chocou com seu paladar, estimulou as terminações nervosas ocultas dela e sentiu como a excitação crescia no corpo de sua esposa, que se arqueava lhe pedindo mais.

Sabella tremia debaixo dele quando Noah se retirou por alguns instantes. Depois lhe beijou as dobras inchadas. Ele sugou, ele lambeu, aproximando-se cada vez mais do broto inchado de seus clitóris.

Separou suas dobras com os dedos, começou a torturar seus clitóris com a língua e deslizou um dedo pela cálida umidade de seu sexo, e mais à frente, movendo-o lenta e brandamente, até que penetrou a pequena entrada de seu ânus um par de centímetros.

—Noah. —Enredou-lhe as mãos no cabelo e levantou os quadris, pressionando com força o clitóris contra seus lábios.

— OH Deus, Noah. Por favor. Por favor, não me deixe. Segue me torturando. Faz com que eu goze. OH, Deus. Deixa que eu goze.

Ele lhe açoitou o clitóris com a língua, atormentou-o lenta e brandamente, e logo imprimiu mais dureza a seus movimentos, enchendo-os sentidos com o sabor da Sabella e percebendo em sua própria pele a explosão que a atravessou.

Depois de alguns segundos, Noah se incorporou. Agarrou a endurecida longitude de sua ereção com uma mão e a aproximou dela, sentindo como Sabella lhe rodeava os ombros com os braços quando introduziu a glande entre as escorregadias e quentes dobras que protegiam a pequena abertura de seu corpo.

—Quero possuí-la devagar. —Mal podia pronunciar as palavras devido ao prazer que sentia na glande. — Lenta e profundamente.

Ela se elevou contra ele, lhe roçando o torso coberto de pêlo com os mamilos. Noah podia senti-los, duros e quentes, cravando-se nele.

—É tão estreita, Sabella.

Ela o olhou com uma expressão de tenso prazer nos olhos entrecerrados e o rosto aceso pelo desejo.

Deus adorava olhá-la enquanto a possuía. Amava observar as expressões que atravessavam seu rosto, a quase dolorosa necessidade que a invadia.

Penetrou-a um pouco mais, vendo como ela continha o fôlego e, ao sentir que seus músculos internos se fechavam em torno de seu membro, lutou por conter-se. Tinha que conter-se. Só um pouco. Só alguns minutos mais antes de abandonar-se ao enlouquecedor prazer que lhe dava.

O olhar de Sabella se obscureceu quando Noah começou a empurrar em seu interior. A larga glande a encheu, inundando-se em seu interior cada vez mais profundamente até que ela sentiu que o fogo que a percorria ameaçava convertendo em cinzas.

Os olhos de Noah se cravaram nos dela com um leve rastro de melancolia. Brilhantes de emoção, mais escuros que nunca pelas enfurecidas emoções que titilavam neles. E mesmo assim, cheios de uma intensa luxúria.

Introduziu-se nela por completo e seu comprido cabelo negro cobriu os rostos de ambos.

—Posso sentir como me aprisiona em seu interior. —Sua dura voz continha um estranho e delicioso matiz, e uma careta de prazer retorcia seus traços.

Também Sabella sentia seus próprios músculos internos contraindo uma e outra vez sobre a grossa ereção que a invadia.

—É —murmurou entre ofegos— tão bom, Noah.

—É tão estreita e ardente. — sussurrou ele com suavidade. Roçou-lhe os lábios apenas um segundo e ela fechou os olhos.

— É como uma pequena boca quente me sugando até o fundo. Pode senti-lo, Sabella? Pode sentir como essa doce parte de você se fecha em torno de mim? Como adora o meu pênis?

Sabella gritou e se arqueou ante a punhalada de prazer que atravessou seu ventre.

—Você gosta disto, não é, pequena? Que te diga coisas escandalosas, que a surre um pouquinho. Só um pouquinho.

Encantava-lhe. Desejava-o. Ao que parece, aquilo era a única coisa que não tinha gostado de seu casamento, que ele se contivesse.

—É um homem perigoso, Noah. — gemeu ela. Moveu-se debaixo dele e sentiu o roçar de seus lábios enquanto falava.

—Se agarre bem, carinho. Vamos tentar esquentar ainda mais.

Sabella se aferrou ao cabelo de Noah.

Ele impulsionou os quadris para diante com uma estocada dura e profunda, e um rouco e dilacerador gemido escapou dos lábios de Sabella.

—Maldita seja, sim. Geme por mim.

Sujeitando-lhe o quadril com uma mão, tirou seu membro quase todo, deixando só a glande em seu interior antes de afundar-se nela outra vez com um selvagem e rápido movimento.

Sabella quase explodiu. Sentiu uma quebra de onda de vibrações em seu ventre antes que ele se detivesse, sem enchê-la ainda por completo, e deixou escapar seu nome com um rouco gemido.

—Outra vez. Grita por mim, Sabella. Grita meu nome. —Noah se retirou de novo. — Quem a está possuindo Sabella?

Encheu-a com uma forte investida e a ela levantou os quadris para sair a seu encontro.

—Noah. —gritou. — OH, Deus. Noah.

—Sim. Isso. —Arremeteu contra ela virando o osso púbico sobre o clitóris de Sabella e lhe levantou as pernas para que lhe rodeasse os quadris, enquanto ela lutava por conseguir o último toque de pressão que a faria alcançar a liberação.

—Vamos pequena, grita meu nome. Quero que saiba quem a está possuindo. Quem a possui. —Noah se retirou um pouco. — A quem pertence esta doce e quente concha ?

Voltou a empalá-la, a afundar-se nela com rapidez e violência, e Sabella gritou seu nome outra vez.

—Correto. Sou eu, Noah, quem a possui .

Sabella abriu os olhos e seu olhar lhe mostrou sem restrições a necessidade que a consumia, ao mesmo tempo em que observava a expressão desencaixada de Noah, os olhos brilhantes e cada vez mais escuros.

Cedendo ao fim ao silencioso rogo feminino, ele voltou a afundar-se até o fundo no interior dela com ferocidade, e desta vez não se deteve.

O som de carne contra carne, das firmes e úmidas investidas, e seus próprios gritos, encheram os ouvidos de Sabella. Cada uma daquelas furiosas estocadas impactou contra seus clitóris, levando-a cada vez mais alto, penetrando-a mais profundamente, até que seu corpo estalou de uma forma tão gloriosa e perfeita que Sabella sentiu que se perdia em uma névoa de interminável prazer.

Então ouviu ele. Noah gritou seu nome. Sua voz áspera soou quase agonizante quando com duas estocadas mais se enterrou nela até o punho, e logo palpitou em seu interior enchendo-a com os jorros de sua cálida liberação.

O Ranger ficou alagado pelo aroma de sexo e satisfação. Com o aroma do homem e a mulher que tinham feito amor nele. Ambos se mesclaram, marcaram os assentos e o interior da cabine, e também marcaram suas almas.

Quando Noah se derrubou sobre Sabella, rodeando-a com os braços, envolvendo-a em seu poderoso abraço, a ela teve que lutar para conter as lágrimas e a necessidade de lhe pedir explicações.

Possuía o corpo de seu marido, possuía aquela escura paixão que tinha vislumbrado nele tempos atrás, mas não possuía sua confiança.

A confirmação de que não confiava nela, e de que tinha contado o que ocorria a seu irmão, era um duro golpe para seu coração.

Apertou os braços em torno dele e uma lágrima solitária escorregou por seu rosto antes de poder contê-la.

Por alguma razão, Noah estava ali agora. Cheio de desejo por ela. Ainda duro dentro dela. Balançando a ambos brandamente e alagando seus sentidos com rápidos ofegos.

—Uma vez mais. —Sussurrou-lhe ele ao ouvido. Logo a beijou no pescoço e moveu os quadris para retirar a ereção de seu interior, ainda grossa e dura, até que só ficou a glande dentro de seu corpo, antes de voltar a penetrá-la uma vez mais.

Daquela vez a possuiu devagar, lenta e brandamente, sussurrando sobre seus lábios, bebendo deles. Saboreando-os com a aveludada aspereza de sua língua.

O olhar masculino estava cravado no seu. Feroz, brilhante.

Angustiada e cheia de emoções que —estava segura— ele não sabia que mostrava.

Noah apertava os dentes. Agora não falava. Continha as palavras. Continha esse voto gutural que sempre lhe havia dito em gaélico. A promessa que sempre lhe tinha feito com seu coração e com seu corpo.

—Não se contenha. — lhe suplicou ela, acariciando o áspero queixo masculino e atraindo-o para si, desfrutando das sensações que o corpo do Noah provocava no seu.

— Nunca se contenha. Jamais.

A respiração de Noah era ofegante na úmida e calorosa atmosfera da cabine do Ranger. Suas peles deslizavam uma contra a outra, e sobre os assentos de couro. Ele gemeu e acelerou o ritmo com a mandíbula tensa.

—Jamais se contenha. — gritou a ela ao sentir que o prazer consumia seu corpo de novo e se preparava para alcançar o orgasmo, estremecendo com força contra ele enquanto pronunciava seu nome. — OH Deus. Jamais se contenha.

Noah a penetrou uma última vez e ejaculou com agonizante prazer no interior de Sabella, sentindo-se esmigalhado por aquele assalto final a suas emoções.

Sua esposa sempre tinha provocado aquela reação nele. Sempre havia o tornado louco para que a possuísse quantas vezes pudesse. Mas agora, essa necessidade era como uma chama eterna no mais profundo de sua alma. Jamais teria o suficiente dela.

Embalou-a entre seus braços enquanto lutava por recuperar o fôlego no pesado ar da cabine do Ranger, notando o couro molhado sob seus corpos.

Deslizou as mãos pelas costas de Sabella em doces carícias e os seios dela se pegaram a seu peito, provocando que Noah curvasse os quadris contra ela. Deveria estar incômodo, mas não estava. Abraçou-a, lhe afastando o cabelo do rosto antes de beijá-la na fronte com suavidade.

—Está bem? —murmurou ele quando sentiu que a ela voltava a respirar com normalidade.

A risada de Sabella foi trêmula, quase chorosa.

—Estar viva conta? —Sabella falou em voz baixa, como ele. Como se falar mais alto perturbasse de algum jeito a intimidade que os rodeava.

—Definitivamente, quero-a viva. —Noah sorriu e lhe acariciou o braço nu enquanto ela apoiava a cabeça no outro.

Ela se sentia relaxada e lassa contra ele. Como uma gatinha preguiçosa. Faltava apenas ronronar.

—Foi maravilhoso. — sussurrou olhando-o nos olhos e movendo-se sinuosamente contra seus quadris. — Estava muito duro e excitado, não é certo, Noah?

Ele grunhiu.

—A isso chama estar duro? Pequena, isto foi só o aperitivo. Um lanche.

Noah sorriu amplamente ao ver que Sabella aumentava os olhos com surpresa.

—Então não sei se sobreviverei quando chegar o prato principal. —Franziu os lábios ao pensá-lo. — Terei que dobrar minha quantidade de vitaminas?

Ele lhe mordiscou a ponta do nariz, quase rindo de sua expressão quando deslizou os dedos pelo quadril.

—É uma garota má. —moveu-se com suavidade. — Poderia acabar recebendo uma boa surra.

—Possivelmente eu goste. —Olhou-o de soslaio. — É apenas uma ameaça, irl... —Sabella se interrompeu.

Deus santo! Ela passou a mão pelo cabelo. Quase o tinha chamado «irlandês». Quase tinha reconhecido que sabia quem era.

—O que? —disse Noah com um sorriso.

Sabella se conteve e seus lábios desenharam um sorriso pesaroso.

—Acredito que é um contista.

Ele entrecerrou os olhos.

—Demonstrarei o contrário a você.

—Esta noite? —Sabella riu com um som rouco e preguiçoso. — Antes voltemos para casa. A cama é mais cômoda.

Para casa. Ele guardou silêncio e baixou o olhar para ela.

—Para casa?

Os olhos de Sabella piscaram como se um pensamento incômodo tivesse invadido sua mente de repente, e a mente do Noah se encheu de inquietantes perguntas. Teria recordado ela de repente que ele não era Nathan? Que tinha deixado que outro homem a abraçasse, que a possuísse embora seu coração pertencesse a seu marido morto? Maldição, ia ter que deixar de pensar nisso. Voltaria-se louco se não deixasse de sentir ciúmes de... si mesmo.

—Temos que voltar para casa. — disse ela encolhendo os ombros. — Suponho que «casa» é o lugar aonde se queira ir. Não tema, não estou sugerindo que minha casa seja a sua. Se preferir a cama do apartamento, pode ser.

Separou-se dele, recolheu a roupa do chão do Ranger e começou a vestir-se.

—Ofendi você e não era minha intenção fazê-lo. —Noah lhe olhou as costas com o cenho franzido. Maldita seja. Tinha que controlar-se.

—Quanto tempo vai ficar por aqui, Noah? A pergunta o surpreendeu. Noah entrecerrou os olhos, consciente de que lhe dava as costas a propósito.

—Quer que vá embora?

Um pequeno som de irritação ressoou na cabine. Coquete e cheio de ira.

—Acaso pedi que vá embora? Possivelmente só sinta curiosidade por saber se tiver intenção de ficar aqui ou se já tiver feito outros planos. —Havia uma tensão na voz de Sabella que pôs em guarda Noah.

—Que tipo de planos?

—Por exemplo, sumir. —Ela encolheu os ombros. — Chegou a cidade procedente de Deus sabe onde e assume o controle de minha vida e de minha cama. Eu gostaria de saber se me considera algo mais que uma conquista.

Queria um compromisso. Sabella não era uma mulher fácil, tinha-o sabido desde o momento em que a conheceu. E ali estava ele, sabendo que teria que partir quando a missão finalizasse.

—Há algumas coisas das quais terei que me ocupar logo. — disse finalmente. Não podia lhe prometer nada, ainda não. Não podia lhe prometer um «para sempre» até que soubesse se ter entregado sua vida à unidade de Operações Especiais significava não poder voltar com sua esposa.

Sabella fechou os olhos e conteve a dor que ameaçava lhe despedaçar o coração. O que era pior — se perguntou— lhe perder por uma suposta morte ou que se afastasse dela voluntariamente?

O último doía mais, mas ao menos não faria mais perguntas. Saberia que Noah estava a salvo. Saberia que estava vivo.

Mas também aumentava a ira que ardia em seu interior.

—Entendo. —fechou a blusa com movimentos bruscos antes de inclinar-se a pegar a tanga e a saia.

—O que você entende? —Noah parecia sentir autêntica curiosidade.

—Que não pensa no futuro. Só procura uma transa de vez em quando. —encolheu os ombros com despreocupação.

Maldito fosse. Que sumisse de uma vez de sua vida. Já tinha tido suficiente de tudo aquilo. Mais que suficiente.

Colocou a saia com brutalidade.

—Vista-se. Quero ir para casa. Tenho coisas que fazer amanhã e nenhuma delas é passar aqui todo o dia. Já perdi muito tempo com tudo isto.

—Que demônios quer dizer? —A voz de Noah tinha mudado. Agora era furiosa e fria.

Sabella se voltou para ele e lhe devolveu o olhar com os olhos entrecerrados e cheios de ira, observando como se incorporava.

—Exatamente o que disse. Passei seis anos chorando por um homem que não me amava o suficiente para manter-se vivo e retornar para casa comigo. —Lançou-lhe um olhar desdenhoso.

— Que me condenem se for esbanjar um dia mais de minha vida com um homem que se importa tão pouco comigo que nem sequer é capaz de me dizer quanto tempo ficará por aqui.

—As promessas são para os idiotas, Sabella. —disse com aspereza. — Deveria havê-lo aprendido com seu marido.

—Tem razão. Deveria havê-lo feito. —Lançou-lhe a calça. — Deveria ter aprendido muitas coisas com ele. Começando pelo fato de que era um filho de uma puta que não sabia amar nada mais que a si mesmo e a seu maldito trabalho. Lição aprendida. Não cometerei o mesmo engano com você.

Lançou-lhe a camisa no rosto.

—Vista-se. Já transei e agora quero dormir. Em minha cama. Sozinha.

—Nem no inferno.

—Inferno o descreve muito bem. — resmungou ela. — Mas não penso dormir com um imbecil que só quer transar e sumir. Agora, me leve para casa.

Sabella tinha os olhos secos. Sem lágrimas. Observou como ele se vestia, e o bastardo nem sequer titubeou. Olhava-a com os olhos entrecerrados e ferozes.

Passarei a noite nessa cama com você. lhe prometeu. Pode ser que seja um bastardo e um desgraçado filho de uma puta, mas não esqueça: enquanto esteja aqui, é minha.

Devolveu-lhe o olhar.

—Segue sonhando, Noah Blake. Porque minha cama é o último lugar onde vai passar a noite.

 

Dois dias depois, Noah fazia virar a chave inglesa entre os dedos e mastigava distraidamente um chiclete enquanto observava Sabella.

Ela não tinha brincado. Tinha-o jogado de sua cama e, ao que parece, também de sua vida. Ao menos de momento.

A olhava de esguelha ao mesmo tempo em que fingia interessar-se pelo motor do SUV que em teoria deveria estar arrumando.

—Parece ter encontrado alguma dificuldade aí dentro. — disse Nik apoiando-se no pára-lama e dando uma olhada no motor. — Necessita de uma mão?

—Sim. — respondeu Noah com ar ausente. — Há notícias?

Referia-se às provas de DNA que tinham levado a ao centro para que Jordan pudesse examinar. Delbert tinha pegado seu Ranger naquela manhã. O bastardo tinha olhado a Noah como se tivesse saído dos esgotos quando este lhe informou que o motor estava em perfeitas condições.

Mas aquela expressão de suficiência se apagaria logo de seu rosto. Em algum momento os federais prenderiam a aquele filho da puta pelas provas que tinha encontrado, e o bom Delbert estaria muito ocupado para preocupar-se com outra coisa que não fosse seu ingresso na prisão.

—Nada novo. —respondeu Nik. — Embora precisarei que me ajude esta tarde se não estiver muito ocupado. —Os dois olharam Sabella, que estava no escritório.

Ela franzia o cenho por algo que Toby estava dizendo. Não tinha trançado o cabelo nessa manhã e tampouco tinha trabalhado na oficina com os veículos. Levava toda a manhã no escritório, dedicando-se a arquivar os documentos e a tirar Toby do sério.

—Não, ao que parece não vou estar muito ocupado. —disse arrastando as palavras, enquanto girava a chave inglesa entre os dedos sem deixar de olhar as ondas de cabelo cor mel que emolduravam o rosto da Sabella.

Ela estava ocupada com a papelada da oficina e seguia franzindo o cenho.

—Há algo errado entre vocês? —inquiriu Nik.

A chave inglesa se deteve um momento e logo voltou a mover-se lentamente entre seus dedos.

—Quem disse que há algo errado?

Havia-o dito sua esposa antes de jogá-lo do Ranger. E o que era ainda pior, tinha-o tirado de sua cama. Tinha chegado a lhe ameaçar chamando o xerife se não fosse. Maldita seja. Haveria alguém mais confuso que ele naquele momento?

Sabella tinha razão. Ele era um bastardo. Um filho de uma puta que não merecia estar perto dela.

Lançou a chave inglesa à caixa que tinha a seu lado, e a ferramenta caiu emitindo um som metálico.

—O que necessita? —perguntou ao Nik, limpando-as mãos no trapo cheio de graxa que tinha pendurado no pára-lama.

O enorme russo arranhou o queixo e olhou a caixa de ferramentas.

—Tenho que ir ver um amigo. — disse utilizando o código que tinham acordado.

Obviamente, convocou-se uma reunião no centro de operações.

—Que merda! —Noah passou a mão pelo cabelo e fez uma careta.

Tinha que pôr Rory de sobreaviso para que vigiasse Sabella. Depois do ataque a Toby, Noah entrava em pânico em pensar em deixá-la sozinha.

—Sinto muito, mas me prometeu que viria. —Nik lhe deu um tapinha no ombro. — Tenho que reconhecer que Sabella é uma boa garota. Seria a esposa ideal para qualquer homem. Eu o consideraria se fosse você. Se a deixar, acabará encontrando outro. É isso o que quer?

Noah apertou os lábios ao sentir que a fúria começava a arder em seu interior. Dirigiu a seu amigo um duro olhar e este lhe recompensou com um sorriso frio.

Não. Aquilo não podia ser. Tinha assinado com sua maldita mão aqueles papéis, entregando sua alma ao corpo de Operações Especiais em vez de retornar para sua esposa. Tinham-lhe advertido que jamais retornaria a sua antiga vida. Não podia renunciar, não havia mais opções que seguir «morto».

Resultava-lhe impossível revelar quem era e o que estava fazendo ali, mas não havia nenhuma cláusula que dissesse que Noah Blake não poderia casar ou apaixonar-se. Mas, poderia viver com Belle, ficar ali, em sua cidade natal, fingindo ser outra pessoa para sempre?

O corpo de Operações Especiais não era uma prisão, entretanto, as conseqüências de romper o contrato que tinha assinado não eram agradáveis. E acabar no Gitmo, a base naval do Guantánamo, não era precisamente o que Noah queria. Se revelasse quem era, o que era, sabia que o enviariam para lá e que o tratariam como um traidor. Ninguém mais voltaria a vê-lo com vida.

A questão era, poderia ficar com a Sabella sem lhe dizer que ele era o marido que tinha perdido? Ele poderia viver odiando essa parte de si mesmo que sua esposa ainda seguia desejando e que jamais tinha pensado que voltaria a ter?

O ciúme lhe carcomia a alma e, apesar de sua determinação de ficar com ela, Noah perguntou quanto tempo poderia viver com a Sabella sem revelar seus segredos.

Sua esposa já não era a bonequinha que tinha deixado seis anos atrás. A Sabella que enfrentou a ele umas noites antes sem lágrimas nem fúria, não parecia a jovem terna e sensível que tinha deixado em casa quando partiu para aquela última e desafortunada missão.

A mulher que ele recordava teria chorado ao ver as novas feridas em seu corpo depois de uma missão. Teria se horrorizado ante um corte profundo. Noah tinha visto os pesadelos nos olhos de sua esposa quando retornava, exausto, depois de ter estado seis semanas —às vezes mais — desdobrado em lugares cujos nomes nem sequer sabia pronunciar.

A Sabella que ele tinha conhecido teria desmaiado ao ver seu rosto, destroçado por tantas surras. Ou as costas, o peito e as coxas marcadas pelo chicote. Faminto e tão desesperado por sexo que parecia um animal.

A luxúria o tinha dominado durante os últimos anos. Masturbou-se tanto que chegou a ter o membro irritado. E nas missões de treinamento tinha sido a morte em pessoa. Não fazia perguntas. Não andava desprevenido. Não dava a ninguém a oportunidade de lhe atacar nem lhe capturar.

Noah tinha pensado que sua vida com Sabella havia acabado. A mulher que ele tinha conhecido não teria podido aceitar ao homem no qual se transformou.

Mas agora sabia que jamais tinha conhecido à mulher que tinha amado. Não por completo. Só tinha visto o que tinha querido ver dela. Sua mulherzinha sulina tão loira e indefesa. Tão sexy e vulnerável. E tão ela.

Não tinha querido ver mais à frente, porque se tivesse visto a força que Sabella realmente possuía, saberia que ela teria permanecido fiel a ele sem lhe importar seu estado. E ele não podia consenti-lo. Porque seu orgulho —seu condenado orgulho— não tinha querido considerar a idéia de que ela o visse como uma sombra do homem que foi.

Invencível.

Mas ele não tinha sido invencível. Tinha sobrevivido a Fontes durante meses; entretanto, antes que o resgatassem, Noah tinha sabido que não demoraria muito em perder a vontade de viver ou lutar. E apesar de tudo, Sabella tinha se mantido a seu lado. Em suas noites mais escuras, em seus dias mais desolados, ela tinha passado por tudo aquilo com ele, mantendo-o cordato.

Aquela condenada mulher era tão forte como o aço e possuía um olhar que podia esfolar a um homem a cem passos. Se se dignasse a lhe olhar, claro. Era a mulher que tinha estado com ele no inferno, em seus sonhos. E ele tinha pensado que ela não era o suficientemente forte para aceitá-lo, destroçado e dolorido.

Tinha sido um estúpido. E agora, só a idéia de afastar-se de Sabella podia matá-lo. Mas, acaso não a mataria se ficasse?

—A que horas? —perguntou finalmente ao Nik, afastando o olhar de sua esposa.

—Pouco depois de fechar a oficina. Ao cair da tarde.

Aproximariam-se do centro sob o amparo da noite, às escuras e com sigilo.

Noah assentiu lentamente.

—Direi a meu amigo que estaremos lá. —murmurou Nik.

Noah esfregou a nuca antes de aproximar-se da loja de conveniência onde Rory permanecia atrás do balcão.

A loja estava vazia. Era um desses poucos momentos de tranqüilidade.

Rory lhe observou aproximar-se com os olhos azuis apagados e o rosto inexpressivo. Estava o olhando assim durante toda a semana.

—O que necessita? —Seu irmão cruzou os braços sobre o peito e deu uma olhada à porta fechada entre a loja e o escritório.

—Tenho que sair esta noite. —Noah lançou a Rory um olhar de curiosidade.

Seu irmão também tinha mudado nos últimos anos. Tinha amadurecido. Noah sentiu uma opressão no peito ao pensar em tudo o que Rory tinha perdido. Quando mal tinha alguns meses, seu pai o tinha abandonado a ele e a sua mãe, negando-se a reconhecer o bebê de cabelo escuro e rosto aceso que tinha concebido com uma atendente morena de uma loja de Odessa.

Tinha sido o vovô quem tinha acolhido ao bebê gritão que ninguém queria salvo um ancião e um menino de dez anos.

Noah tinha ajudado a criar Rory, mas tinha perdido o momento em que seu irmão tinha deixado de ser um jovem preguiçoso e imprudente para transformar-se no homem que o olhava agora.

—De acordo. Você vai e eu a vigio. De qualquer maneira é o que tenho feito todo este tempo. —Rory encolheu os ombros, e o leve indício de ira em sua voz disse a Noah qual era exatamente o problema. O mesmo que tinha Sabella.

Respirou fundo e olhou à porta.

—Sabella não precisa saber. — disse finalmente com voz dura virando-se de novo para Rory. — Tem suas lembranças. Não precisa saber no que se transformou seu marido.

—Já disse que a vigiaria. — grunhiu Rory. — Não pedi explicações a você.

—Que demônios, quer me pedir então? —espetou Noah.— Cospe-o antes que me ferva o sangue.

—Antes que seu sangue ferva. —repetiu Rory zombador. — Não se preocupe irmãozinho. Não vou me queixar. É livre como um pássaro, de acordo? Livre e sem preocupações. Agora saia. Tenho trabalho.

Noah olhou à porta de novo. Nos últimos dois dias tinha podido sentir nas vísceras as lágrimas e a dor de Sabella.

—Eu não gosto dessa atitude, Rory. — advertiu a seu irmão. — Isto se está ficando cada vez mais perigoso. Tenho que poder confiar em você para qualquer eventualidade.

Quando tudo virasse um inferno, Rory tinha que tirar Sabella da cidade. Noah a queria longe dali.

—-Conheço minhas responsabilidades. — replicou Rory com brutalidade. — É uma sorte que um dos dois o faça.

Antes de poder conter-se, Noah apertou os dentes, esticou o braço e fechou os dedos com força sobre o pescoço de Rory. Os olhos de seu irmão aumentaram e Noah começou a soltá-lo muito lentamente.

—Não o esqueça. —Era muito consciente de que Sabella os olhava da porta, com a mão no trinco.

Estava pálida e havia sombras escuras sob seus olhos. Sem prévio aviso, o membro de Noah palpitou, erguendo-se. Ele podia jurar que se endurecia além do impossível apenas ao vê-la.

—Ocorre algo que devo saber?

Rory apertou os dentes.

—Nada, Belle. — respondeu pelos dois. — Suponho que Noah perde a calma em algumas ocasiões.

—Não me diga? —Sabella arqueou uma sobrancelha. — Vou estar fora hoje. Toby quer trabalhar no escritório e está me crispando os nervos.

—Há carros esperando. —espetou Noah.

—Vocês dão conta. —respondeu com serenidade fechando a porta do escritório atrás dela. — Verei vocês amanhã.

—Aonde, diabos, vai? —As palavras escaparam dos lábios de Noah antes de poder contê-las. Podia perceber claramente a tensão que crepitava entre eles. Sabella queria promessas. Mas deveria ter aprendido quão rapidamente se rompiam. Ele sabia. Sabia e lhe partia a alma, rasgava-lhe as vísceras saber que, de um momento a outro, qualquer promessa que fizesse a Sabella se converteria em pó. Como a morte.

—Não é assunto seu aonde vou, senhor Blake. —indicou ela — Mas se realmente quer sabê-lo, informo-lhe que tenho intenções de limpar a casa. —Seus olhos lhe sustentaram o olhar e ele sentiu que algo lhe oprimia a alma.

— Nos veremos amanhã.

Ela se aproximou da geladeira portátil, agarrou uma garrafa de água fria e saiu da loja. Noah a observou atravessar o asfalto do posto de gasolina e tomar o caminho que levava a casa da colina.

Movia-se devagar e com calma, meneando os quadris e o traseiro. Noah fechou os punhos ao recordar a sensação dessas curvas sob as mãos. Dois dias sem ela e parecia que tinham passado outros seis anos.

—Você a está matando. —disse então Rory. — Volta aqui, faz com que viva de novo e, de repente, tem olheiras e não diz nada. Odeio-o por lhe fazer isso.

Noah inclinou a cabeça. Sim, ele o compreendia. Entendia-o. Sentia-o. Odiava a si mesmo. Negou com a cabeça e saiu da loja, de volta à oficina. Tinha trabalho a fazer, uma missão a cumprir. As coisas eram melhores dessa maneira. Agora ela já não se encerrava em casa, não se encolhia na cama chorando por um homem que já não existia.

Estava zangada. Provavelmente ferida. Mas agora, disse a si mesmo, poderia sobreviver.

Agarrou a chave inglesa e apoiou as mãos no capô do SUV perguntando-se se ele também sobreviveria. A dor de Sabella o rasgava por dentro e abria uma ferida em seu coração que sabia que nunca se fecharia.

Partia-lhe a alma a necessidade de sentir suas carícias, de ouvir sua risada, de ver seu sorriso.

 

Sabella entrou em casa e fechou a porta de repente. Como sempre, foi recebida pelas fotos. Dúzias e dúzias de fotografias que enchiam o salão. De Nathan sozinho, de Nathan com ela, de Nathan com o vovô, de Nathan com Rory.

E todas a olhavam fixamente, burlando-se dela.

Aproximou-se do suporte da chaminé e levantou um marco com três fotos. Sorriu. Era sua foto de casamento. Quem ela tinha sido. Que tola. Deslizou a ponta do dedo pela firme mandíbula de Nathan. Agora já não era tão suave, era mais angulosa, mais afiada.

Passou toda a manhã diante do computador investigando que tipo de dano poderia ter ocasionado aquilo. A causa mais provável era que lhe tivessem quebrado os ossos e que estes não tivessem curado bem.

Fechou os olhos e engoliu em seco. A recuperação devia ter sido quase tão dolorosa como os ferimentos em si. Noah não tinha o lábio inferior tão cheio como antes, e havia uma fina rede de cicatrizes apenas perceptível ao lado de sua boca.

—Amo-o. —sussurrou apoiando a fronte no marco da foto do homem com o qual se casou.— Eu te amo, Noah. —Porque agora era Noah, e ela sabia. Nathan ainda vivia dentro dele, mas Sabella tinha a sensação de que Noah era o homem que Nathan sempre lhe tinha ocultado.

Deixou a foto em seu lugar antes de se dirigir lentamente às escadas para tomar um banho. Tinha prometido a Sienna e a Kira que se encontraria com elas mais tarde em um local da cidade. Um dos poucos lugares que Rick considerava seguro para sua esposa.

Sacudindo a cabeça, pensou que Rick era tão protetor com Sienna como Nathan o tinha sido com ela durante seu casamento.

Ainda ficavam várias horas antes de reunir-se com suas amigas.

Sabella entrou no dormitório e olhou fixamente a cama. Tirou as mantas e logo os lençóis. As capas dos travesseiros ainda cheiravam a ele.

Fez a cama e levou os lençóis à máquina de lavar roupa. Acrescentou o sabão e o amaciante e depois se aproximou do porão, pegou uma das garrafas mais caras de vinho e a levou para cima. Demônios, Noah não a necessitava. Não ia ficar lá, e estava condenadamente segura de que não ia voltar a pegar suas coisas.

Limpou a casa enquanto tomava o vinho. Tirou o pó e esfregou. Queria arrancar o aroma de Noah da casa. Agarrou o edredom e os lençóis do quarto de hóspedes e as levou a sua cama. Definitivamente, aquelas não cheiravam a Noah.

Subiu o volume da música. Godsmack, Nine Inch Nails. Grupos de rock pesado que Noah sempre tinha odiado. Nunca tinha escutado essa música quando ele estava em casa. Terminou o vinho e deixou que a sensação de bem-estar que lhe provocava a alagasse.

Lixou e pintou as unhas dos pés e das mãos. Tomou outro banho e hidratou a pele. Penteou-se e maquiou como não tinha feito desde que ficou sozinha.

Agarrou uma tornozeleira que tinha comprado quando saíam juntos e a pôs. Esboçou uma pequena careta zombadora enquanto fechava um colar de prata, e depois colocou o bracelete de prata combinando que lhe tinha comprado pouco antes de «morrer».

—Grande bastardo. —resmungou. — Assim, nada de compromissos, não é? Que vá para o inferno.

Nem sequer lhe tinha pedido que confessasse a verdade. Só tinha perguntado se pensava em ficar. Não era para tanto. Não era uma pergunta inadequada e, certamente, não o estava pressionando. Era seu marido.

Olhou a aliança de ouro que tirou alguns meses antes. Teve que piscar para conter as lágrimas quando a pegou. No interior estavam gravadas as palavras «go síoraí». As palavras que em gaélico significavam «para sempre». Isso era o que realmente lhe tinha pedido. Sua promessa de permanecer para sempre com ela.

—Para sempre tampouco é tanto tempo. —Mas deslizou a aliança no dedo anelar da mão direita.

Era viúva, não? Era nesse dedo onde as viúvas usavam suas alianças. Seu marido, sem dúvida, estava morto. Porque seu marido jamais lhe haveria dito que não queria comprometer-se.

Respirou fundo, tentado ignorar a sensação de consolo que lhe proporcionava a aliança, até estando no dedo equivocado.

Apertando os dentes, vestiu-se com um short curto e uma blusa sem mangas, obrigando a si mesma a ir naquela noite de garotas que Sienna estava empenhada em ter. Colocou o cinto e um anel no dedo do pé. Outra coisa da qual gostava. Moveu os dedos dos pés, observando com ar crítico o esmalte de cor vermelha cereja das unhas antes de calçar elegantes sandálias de tiras de pele.

Passou seu perfume favorito e depois desceu as escadas e se dirigiu ao alpendre dos fundos. Ao atravessar a cozinha, ouviu a Harley e se aproximou da janela para observar como a luz do farol dianteiro sulcava a escuridão, afastando-se velozmente da oficina.

Aonde iria Noah? A meter-se em outra briga?

Estava ali por uma missão, recordou a si mesma. Disso não cabia nenhuma dúvida; o que ainda não tinha averiguado era de que missão se tratava. Não tinha perguntado sobre isso, já que teria sido uma estupidez de sua parte. Mas não tinha podido evitar de perguntar o que ocorreria quando a missão finalizasse, quando ele já não tivesse razões para ficar em Alpine.

E agora ela já sabia. Teria que ir. Não queria nenhum tipo de compromisso.

Negou com a cabeça, agarrou o telefone e chamou um táxi. Nessa noite não queria conduzir. Queria desfrutar daquela noitada a que Sienna a obrigava a ir. Queria esquecer-se de tudo, rir com suas amigas, voltar a ser de novo a mulher que foi antes de casar-se.

Tinha passado muito tempo desde que havia se sentido assim, simplesmente uma mulher. Muitos anos desde que havia se sentido... livre. E essa sensação de liberdade feria. Doía como o inferno.

Pegou um cartão de crédito e as chaves de casa no bolso traseiro da calça e saiu ao alpendre dianteiro para esperar o táxi.

Sabella sabia que estava muito ébria para sair de casa. Muito doída. Deveria enfrentar Noah com tudo o que sabia, lhe gritar e lhe exigir a verdade, mas o orgulho a impedia. Não queria que ficasse apenas porque sua mulher o recordasse que estava casado.

Quando o táxi se deteve no caminho de entrada, observou que Rory saía da loja de conveniência e olhava em sua direção.

—Pare diante da oficina. — disse a Art Strickman, que conduzia o táxi. Seu pai possuía três, e era um lucrativo negócio. Em especial na noite de sextas-feiras.

—Sim, senhora Malone. —Ela lhe dirigiu um sorriso antes de virar e ir até a porta da loja de conveniência.

Seu cunhado a estava esperando.

—Aonde, demônios, vai?

Rory lhe deu um olhar e ficou boquiaberto. Deus santo, Noah ia se irritar.

Essa era a Sabella que tinha conhecido uma vez. A mulher que permanecia diante dele olhando-o como uma condenada deusa. Com o cabelo alvoroçado ao redor do rosto, o olhar nublado sob a tênue luz, as pernas intermináveis e as unhas pintadas de cor vermelha cereja.

—É a noite das garotas. —Sabella arqueou as sobrancelhas. — Voltarei tarde, assim se assegure de fechar tudo e se encarregue de levar o dinheiro ao banco. Até manhã.

—Demônios... hum, Belle. —Engoliu em seco. — Espera um pouco. Irei com você. Estarei preparado em uma hora.

—É a noite das garotas, Rory. —Aplaudiu-lhe a bochecha com um sorriso zombador. — Sienna e Kira Richards cuidarão de mim. Acabo de beber uma garrafa do vinho francês de Nathan de mil e oitocentos e pouco, e estou disposta a me divertir. Poderá sobreviver sem mim.

Merda. Merda. Rory passou a mão pelo cabelo e olhou ao seu redor enquanto escutava que a porta do escritório se abria a suas costas.

—Senhora Malone... está impressionante. —balbuciou Toby.— Vai sair esta noite?

—Ah, não é um encanto? —Sabella fez uma careta. — É a noite das garotas, Toby. Não volte para casa andando, promete-me isso?

—Pode apostar. —riu Toby— Diga-me aonde vai. Poderíamos ir depois.

Sabella lhe dirigiu um olhar penetrante.

—Tenho cara de necessitar de uma babá? —Deslizou a mão por seu corpo até apoiá-la no quadril com sensual arrogância. Seu cunhado e Toby quase babaram. Rory estava certo de que Noah estalaria como uma bomba nuclear quando a visse, assim se asseguraria de que soubesse que sua esposa passeava pelo cidade como uma deusa do sexo visitando antros de prazer.

Não era que Belle parecesse uma mulher qualquer. Ao contrário. Simplesmente estava espetacular. Muito espetacular. Ficava realmente linda quando se vestia como a mulher que era, e era muito inocente para saber que era uma loucura deixar que os Vaqueiros que saíam em matilha as sextas-feiras de noite lhe dessem uma olhada.

Era uma mulher machucada e irritada .

—Não senhora. —Toby foi o primeiro em falar. — Só quero estar perto para ver os foguetes depois.

Rory dirigiu a Toby um olhar de advertência. Um que ele ignorou.

—Que foguetes?

—Os que vão haver em Alpine quando o senhor Blake a encontre. —disse Toby, rindo. — Haverá briga nesta sexta-feira a noite.

—Sim, entendo... O senhor não-quero-compromissos Blake. Não se preocupe. Tenho o pressentimento de que não lhe importará absolutamente.

E acreditava realmente.

Rory viu em seu rosto, em seus olhos. Sabella acreditava no fundo de seu coração que para Noah não importava nada. Demônios. Alguém ia terminar ferido essa noite e só rezava para que não fosse Sabella. Nem Noah. Nem, Deus o quisesse, ele mesmo.

Com a sorte que tinha Noah lhe arrancaria a cabeça só por havê-la deixado partir.

Mas não tinha outra opção. Observou como o táxi se afastava e respirou fundo.

—Quantos anos tem Toby?

—Dezenove. Mas tenho amigos. — respondeu o rapaz. — Posso entrar em qualquer local do cidade.

Rory dirigiu um olhar crítico a Toby. Bom, poderiam lhe dar uns vinte e um anos, que era a idade exigida para entrar em locais noturnos.

—Estamos fodidos. Noah matará aos dois! —rugiu.

—Se esqueça disso e se centre no problema. Não pode deixá-la ir sozinha quando está em perigo. E não sou estúpido. Observei-lhes, a Noah e a você o suficiente para saber que, definitivamente, ela corre perigo. —espetou Toby.

— Temos que segui-la. Chame o Noah. As coisas acabarão por ficar feias. É sexta-feira, Rory. Sabe quantos homens lhe se insinuar para ela? É como soltar uma ovelhinha no meio de uma manada de lobos.

Rory deu uma olhada ao relógio e conteve uma maldição. Noah lhe havia dito que seu celular não teria cobertura até dentro de duas horas. Só estaria operando o celular do tio Jordan. Maldito seja. As coisas já estavam ficando feias.

—Vamos fechar.

Viraram-se e entraram. Fecharam o posto de gasolina e apagaram as luzes exteriores, ignorando o carro que entrava nesse momento buzinando imperiosamente antes de deter-se diante das bombas.

—Começa a chamar seus amigos. Averigua em que bar está. —ordenou Rory meia hora mais tarde enquanto subia no Ranger. — Vou tentar me pôr em contato com Noah. Que grau de estupidez pode alcançar um homem?

—Um grau muito alto. — afirmou Toby.

—Era uma pergunta retórica. — grunhiu Rory. — Se supunha que não tinha que responder.

 

Jordan escutou a frenética mensagem de voz de Rory, arqueou as sobrancelhas e olhou pela janela que dava acesso à sala de reuniões onde os agentes do corpo de Operações Especiais estavam discutindo as ações a seguir.

«Avisa a Noah. Rápido. Não sei o que fez a Belle, mas decidiu que hoje é a noite das garotas e saiu disposta a comer o mundo, vestida como a fantasia de qualquer homem. Foi para a cidade com Kira Richards e Sienna Grayson. Consiga-me algum apóio antes que esse bastardo psicótico que está com você se volte louco e diga que é minha culpa. Se voltar a me agarrar pelo pescoço outra vez juro Por Deus, Jordan, que conto tudo ao vovô. E seu nome também sairá na conversa. Não quererá que faça isso, verdade?»

A mensagem se interrompeu bruscamente.

Jordan pressionou o botão para ouvir a seguinte mensagem. Era tão frenética como a anterior e quase sorriu. Rory tinha perdido a cabeça e Noah seria o próximo.

«Advirto-lhe isso, se tiver que contar ao vovô todos acabaremos pagando. Todos. Diga a ele. Se voltar a me agarrar pelo pescoço outra vez juro que o vovô saberá tudo. Diga-lhe isso.» Se Noah não o matava primeiro.

A mensagem se cortou de repente.

Rory ameaçava delatá-los ante o vovô. Demônios, quase se sentia, como criança de novo. Rory sempre contava tudo ao vovô quando pensava que eles se colocavam em problemas.

O que Rory jamais soube foi que vovô já sabia. Mas ser consciente de que aquele menino o queria tanto como avô para confiar nele, sempre tinha feito com que o ancião se sentisse orgulhoso. Por desgraça, dessa vez, contar ao vovô não era uma opção.

Jordan se reclinou na cadeira com os olhos cravados em seu sobrinho e quase esboçou um sorriso. Quase. Porque Noah escolheu esse momento para lhe devolver o olhar como se soubesse que tinha passado algo, e Jordan sabia exatamente o que era esse algo.

Maldito seja, amava esse homem. Uma parte dele tinha morrido ao pensar que seu sobrinho estava desaparecido, e havia sentido como se lhe tivessem tirado um grande peso de cima ao inteirar-se de que Nathan seguia vivo.

Tinha estado muito preocupado por ele. Mais que preocupado, sobre tudo quando Nathan se negou a deixar que chamassem Belle.

Mas as coisas estavam saindo bem. Levantou-se do assento e entrou na sala de reuniões. A vida de seu sobrinho estava começando a se resolver. E quando o fizesse... assentiu para seus pensamentos. Bem. Quando o fizesse, todas as confabulações e manipulações às que tinha recorrido, teriam valido a pena. Cada uma delas.

Se Noah não o matasse antes.

—Aqui estão os dossiês. —Lançou as pastas sobre a mesa. — Verificamos o DNA. Amanhã na primeira hora o xerife e a polícia do estado receberão a ordem para prender Delbert Ransome. Temos que estar preparados.

 

Micah fazia fotos. Passou as noites anteriores observando várias caçadas noturnas, graças a Deus, sem presa. Mas tinha tirado fotos bastante claras e em uma delas se via o Ranger de Delbert Ransome.

—Kira e Tehya têm outras com alguns veículos ainda sem identificação. — seguia explicando Jordan uma hora depois.

Noah levantou a vista das fotos para olhar a seu tio.

—Já sabem que Tehya se encarregará das comunicações e a logística. —Jordan indicou com a cabeça à miúda ruiva que se apoiava contra o marco da porta. Tinha os braços cruzados sobre a camiseta e as pernas, embainhadas em jeans, cruzadas à altura dos tornozelos.

—-O que aconteceu? —perguntou então Noah.— A herdeira perdida decidiu ficar?

Tehya curvou os lábios com diversão.

—Jamais reclamei nenhum dinheiro e meu nome foi apagado dos informes da missão em que Joseph Fitzhugh morreu. Sua herança serve para cobrir as dívidas e assegurar o futuro de quem ele tinha sob sua tutela.

Não queria que todos soubessem que era filha de um terrorista e negociante de mulheres brancas tão miserável e perigoso, que até um senhor das drogas tinha pedido proteção para identificá-lo.

Usava o cabelo preso em um rabo e observava a sala de reuniões com um olhar de cinismo em seus olhos verdes.

—Também averiguamos que apareceu um recém-nascido na casa da governanta de Gaylen Patrick. —Jordan se centrou no dossiê.

— Um dos casais de imigrantes seqüestrados tinha um filho. Um bebê de só alguns meses. O corpo desse menino jamais apareceu. O DNA encontrado embaixo do Ranger de Ransome coincidia com o do pai, mas não com o da mãe.

—Poderão os federais lhe imputar ambas as mortes? —interveio Micah com o rosto rígido e os olhos brilhantes como gelo negro.

—Estão tentando. —respondeu Jordan.— Os federais e a polícia do estado se apresentarão amanhã no rancho de Gaylen Patrick. O xerife Grayson não se inteirará da ordem de prisão até que chegue o FBI. Os agentes estarão preparados para apanhar a Ransome caso tente escapar ou se desfazer do Ranger. Apostamos no segredo absoluto e há muitas probabilidades de que possamos monitorar as ligações desse maldito rancho.

—Qual será o motivo da detenção? —perguntou Noah.

—Uma denúncia anônima. —Jordan esboçou um sorriso zombador. — Parece que um excursionista solitário viu o Ranger de Ransome perseguindo alguém pelo vale uma noite.

Noah inclinou a cabeça. Era absolutamente necessário manter à oficina fora de suspeita.

—Pusemos John atrás da filha de Coalton James, o proprietário do banco que dirige Mike Conrad. Katy James trabalha ali e se encarrega das contas do Conrad. —Indicou ao australiano com a cabeça.

John Vincent dirigiu ao Jordan um olhar sarcástico antes de falar.

—Katy parece pensar que há algumas incongruências em algumas das contas de maior valor. Ao que parece isso pode se dever a fato de que várias das contas corporativas que dirige Conrad poderiam ter sido utilizadas para lavar grandes quantidades de dinheiro.

—E como é que lhe contou isso? —perguntou Noah. — Conheço Katy, e não é propensa a falar sobre assuntos do trabalho.

John fez uma careta zombadora.

—E não o fez. Mas tem um diário muito detalhado que algum dia acabará colocando-a em problemas se não tomar cuidado.

Noah negou com a cabeça. Deveria havê-lo imaginado. Perguntou-se se Sabella usaria um diário. Demônios. Deu-se conta de que não tinha nem idéia de se o fazia ou não.

—As provas achadas no escritório de Conrad junto com as suspeitas da lavagem de dinheiro e do Ranger de Ransome nos conduziram para Gaylen Patrick. —continuou John.

— Uma dessas contas, tão lucrativas, que Katy encontrou, indica diretamente a Patrick. Seu rancho se limita com o parque nacional e seria fácil para ele afastar qualquer suspeita.

—Patrick emprega imigrantes legais. — indicou Noah. — O que acontece com o programa que instalamos no notebook de Conrad? Encontraram algo?

—Ainda não. — respondeu Tehya. — Estamos tentando decifrar o código de alguns arquivos, mas, além disso, não pudemos rastrear informação através dele.

—John, quero que você e Micah, vão amanhã a cidade. — ordenou Jordan interrompendo o comentário que Noah ia fazer.

— John, segue com a senhorita James. Tente fazê-la falar. Micah, passe pela delegacia de polícia na primeira hora e tente averiguar algo. —Olhou a Travis Caine.

— Você se situe nas colinas que circulam o rancho de Gaylen Patrick. Vigie-o e se assegure de passar despercebido.

Travis assentiu com a cabeça e seus aristocráticos traços permaneceram frios e inexpressivos.

—Nik, seguirá com Noah na oficina. É uma boa fonte de informação. Mantenham os ouvidos abertos e se preparem se por acaso houverem complicações.

Nik assentiu enquanto Noah olhava a seu tio com uma expressão inquisitiva.

—Espera complicações? —perguntou-lhe.

—Sempre. — disse Jordan. — Revise o dossiê. Correm rumores por toda a cidade de que a BC quer ficar com essa oficina. Belle sempre foi considerada uma presa fácil, embora a tropa nunca tivesse intenção de matá-la. Sabem que eu jamais teria passado por cima do assassinato da mulher de meu sobrinho. Entretanto, depois da pequena incursão de Sabella na vida noturna da cidade, espero alguma reação. Temos que ver quem demonstra interesse.

Noah ficou paralisado. Cravou o olhar em seu tio e a tensa bola de fúria que se agitava em seu interior começou a liberar-se.

—Bom, sigamos com o resto dos suspeitos de participarem dessas caçadas. Se passarem à página...

—Como disse? —inquiriu Noah com suavidade, consciente do tom crispado de sua voz e da tensão que alagou o lugar quando Jordan se interrompeu e o olhou surpreso.

—Disse que se passarem à página...

—Que incursão na vida noturna da cidade? —Noah apertou os dentes, sentindo que algo estalava na sua cabeça. Jordan arqueou uma sobrancelha com calma.

—Importa isso? A única coisa importante aqui é a localização do negócio de Sabella e o interesse que a tropa tem nele.

Noah ficou lentamente em pé, apertando a superfície da mesa com tanta força que os dedos ficaram brancos.

—Que incursão? Que vida noturna?

—Agente Blake, não se esqueceu de algo? Nosso objetivo é levar a cabo a missão que nos encomendaram, não um bar onde as garotas solteiras se reúnem com suas amigas para tomar umas bebidas, de acordo?

Algo estalou. Detonou. Noah sentiu a explosão na cabeça.

Noite de sexta-feira. Em Alpine. Em um bar.

Noite das garotas, sei. Sabella tinha aprendido a lição seis anos antes. Sabia o que ocorria nos fins de semana nesses bares. Sabia que sair sozinha de farra numa sexta-feira a noite em Alpine era como jogar isca aos lobos.

—E uma merda. —A força da imprecação atravessou a estadia antes que Noah se levantasse de um salto, empurrasse a cadeira contra a parede e se dirigisse à saída com passo irado.

Ignorou a ordem de Jordan quando o chamou.

Tinha aceitado a missão. Tinha aceitado sua morte e renunciado a sua mulher. Isso era o que havia dito a si mesmo desde que tinha voltado para Alpine. Estava cumprindo uma missão. E estava ensinando Sabella a viver de novo, mas não a amar de novo. Ia sair de sua vida da mesma maneira em que tinha entrado. Sem lágrimas nem angústias. Tudo era muito simples. Pronto.

Deus. Amá-la o estava destroçando. Estava-o matando. E pensar, saber, que ela tomou ao pé da letra o nada de compromissos, fazia com que a cabeça lhe estalasse em pedaços enquanto descia a toda velocidade pelas escadas metálicas que conduziam ao estacionamento. Apertou o botão de segurança que abria o ferrolho das pesadas portas, montou escarranchado na Harley e ligou o motor.

Antes que as portas terminassem de abrir-se, saiu a toda velocidade com as luzes apagadas e o olhar fixo na escuridão.

Quando deixou para trás o cânion e o caminho de terra e chegou à estrada principal, acendeu as luzes e acelerou.

Uma incursão na vida noturna de Alpine numa sexta-feira de noite? Nem pensar.

Tirou o celular do bolso assim que se afastou do bloqueio de sinal que rodeava o centro. O ícone que indicava que tinha uma mensagem de voz piscava. Apertou o botão, levou o telefone à orelha e escutou as ameaças de Rory.

Em tão pensava em contar tudo ao vovô? Ia estrangular aquele pequeno bastardo. Em que diabos estava pensando ao deixar que Sabella saísse a noite? Maldita seja. Tudo aquilo estava a ponto de estalar e Sabella ia sair? Uma noite de garotas com Kira Richards e Sienna Grayson?

Que Deus as ajudasse.

Ou melhor, que Deus o ajudasse. Porque sabia o que pensava fazer. O que ia fazer. Ia tirar o traseiro de Sabella daquele bar e ia demonstrar quem mandava ali, inclusive a custo de destruir a ambos quando se visse obrigado a partir.

Não podia ficar. E se tentasse, cedo ou tarde delataria a si mesmo. Sabia que não poderia ocultar para sempre a verdade. E uma vez que ela soubesse de tudo, uma vez que ela soubesse no que se transformou seu marido, como ia perdoar-lhe? Não o faria. Tinha deixado sozinha a sua esposa durante mais de quatro anos desde que lhe tinham resgatado. Não tinha permitido que voltasse com ele, e tinha dedicado sua vida ao corpo de Operações Especiais em vez dela. Como ia perdoar-lhe isso? Tinha um contrato que não podia romper, missões que não podia rechaçar e cada vez mais possibilidades de não retornar.

Sabella tinha se afeiçoado a Noah Blake. Entretanto, ele não era mais que um amante substituto de seu marido morto. Ela teria se dado conta com o tempo, havia dito a si mesmo. Tinha tentado convencer-se disso. Convencer a ela.

Mas quando se aproximava da cidade, o instinto de posse, o desejo e a fúria arderam com mais força que nunca em sua mente, e então soube. Não tinha que convencer-se de nada, porque sabia a verdade.

Sabella lhe possuía fosse quem fosse ele. Sempre tinha sido dele e sempre seria. E logo teria que tomar uma decisão. Se partisse, teria que fazê-lo para sempre. E se ficava, teria que lhe dizer a verdade. Porque conhecia sua Sabella. E ela acabaria por descobrir quem era.

 

Passar a noite da sexta-feira no bar Primeira Fronteira não era algo que uma mulher devesse fazer sem seu marido ou sem seu noivo, pensou Sabella com diversão enquanto tomava um gole de vinho e observava aos vaqueiros que não tiravam o olho de sua mesa.

Já tinham convidado para dançar a Kira, a Sienna e a ela umas quantas vezes. Sienna estava dançando. Gostava de dançar e não lhe importava muito com quem o fazia.

Ian havia se unido a Kira não muito depois de chegar. Sentou-se atrás de sua esposa e apoiava o queixo em seu ombro com uma expressão divertida enquanto falava com ela, fazendo-se ouvir por cima da banda de música que interpretava grandes sucessos da música country.

—Não dança, Sabella. — comentou Kira olhando a pista de dança com um brilho de diversão em seus olhos cinza. — Pensei que você gostasse tanto quanto Sienna.

Sabella observou como Sienna dançava com dois vaqueiros.

Ela gostava de dançar, mas não com um monte de vaqueiros. Esboçou um sorriso. Nathan sempre tinha conseguido que dançar fosse divertido em vez de fazê-la se sentir como uma aventura de uma noite.

Apertou os lábios ante esse pensamento. Agora sim a fazia sentir como uma aventura de uma noite.

—Venha, Belle. Dança comigo.

Sabella levantou a cabeça e riu. Martin Sloes era amigo de Rory. Um menino grande. Os olhos cor avelã brilhavam divertidos e tinha bebido demais. Segurava uma garrafa de cerveja na mão.

Ele movia os quadris, usava jeans muito apertado no sexo e a camisa desabotoada até a metade do peito. Tinha o cabelo castanho cortado e tinha um cavanhaque.

Sabella negou com a cabeça enquanto ele deslizava o olhar por suas pernas nuas e arqueava as sobrancelhas de maneira lasciva.

Tinham a mesma idade, entretanto, ela se sentia muito mais velha.

—Esta noite não, Martin. Possivelmente em outra ocasião.

—É uma mulher cruel. — disse ele esboçando uma careta, mas partiu para tentar a sorte com a jovem da mesa do lado.

Sabella riu. Martin era um homem encantador, ou pretendia sê-lo. Um menino grande com muito mais dinheiro no bolso que juízo na cabeça. E Sabella sabia que tampouco tinha muito dinheiro.

—Este é uma cidade muito pequena. —Kira se inclinou para frente com um sorriso.

Sabella olhou a Ian. Por um momento, a expressão masculina se voltou dura e fria enquanto observava a pista de dança. Estava trabalhando. Sabella se perguntou que, diabos, estaria fazendo Kira.

—Tem seus momentos. — concordou enquanto Sienna se deixava cair na cadeira e passava a mão pelo rosto ruborizado.

—Ufff... Esses vaqueiros me deixaram esgotada. — comentou rindo.

Por um momento, Sabella ficou surpresa ante as mudanças que viu em sua amiga. Sienna sempre tinha gostado de dançar, mas agora o fazia como se dependesse disso e paquerava mais do que estava acostumada a fazer.

Quando a música deu lugar a uma melodia mais lenta, Sienna ficou em pé de novo, desta vez acompanhada por Martin, Kira e Ian também abandonaram a mesa para ir dançar.

Sabella rechaçou com a cabeça as três ofertas que recebeu e centrou a atenção na multidão que enchia o bar.

Fingiu não ter visto seu cunhado e Toby sentados no outro extremo do balcão. Rory bebia uma cerveja e parecia zangado, enquanto Toby dava conta de uma soda e olhava furioso a Rory. Evidentemente, seu cunhado não lhe tinha deixado pedir cerveja.

Por que diabos a seguiam? Acaso eram suas babás?

Golpeou ligeiramente a unha contra a mesa enquanto pensava nisso. Sem dúvida, Noah estaria preocupado se por acaso tentassem com ela algo parecido ao que tinha ocorrido a Toby. Todo aquele assunto a desconcertava, já que Noah não parecia fazer nada exceto trabalhar durante o dia na oficina e torturá-la pelas noites. Salvo algumas vezes em que desaparecia com o Nik, ela não tinha descoberto nenhuma só pista que indicasse que fosse outra coisa distinta do que fingia ser. Um mecânico. Obviamente, um ao que gostava de participar de brigas de facas.

Levantou o copo de cerveja, tomou um gole e fez uma careta ante o sabor amargo. Possivelmente no dia seguinte abrisse outro daqueles excelentes vinhos que tanto tinha apreciado Nathan. Ele nem sequer bebeu uma só daquelas condenadas garrafas. Só as tinha colecionado, tal e como tinha feito com o Ranger e sua esposa.

—Vamos, Belle. Dança comigo. —Jason Dugall, um dos vaqueiros do rancho Malone, aproximou-se dela quando a música mudou de ritmo de novo.

— Não pode passar toda a noite aqui sentada sem fazer nada.

Os olhos castanhos do homem brilhavam de diversão. Tinha o cabelo loiro umedecido e lhe caía sobre a fronte.

—Está bem, mas só uma dança. —Sabella agarrou a cerveja e tomou um longo gole, logo ficou em pé e permitiu que ele a pegasse pela mão para conduzi-la à pista de dança.

Fazia anos que Sabella não dançava, mas em seguida recordou como se fazia. Ao fim de alguns minutos, estava rindo e rebolando. Jason era um bom bailarino. E muito divertido. Não colocava a mão abaixo da cintura e ria quando ela perdia o ritmo, segurando-a até que recuperava o compasso.

Terminou a canção e dançaram outra, e logo outra mais. Sabella deixou que sua mente retornasse ao passado, recordando as noites em que Nathan e ela tinham passado dançando quando saíam com outros casais. Tinha sido divertido. Era algo que, por uma razão ou outra, não haviam tornado a fazer desde que se casaram.

Ao fim, com as pernas fracas e a boca seca, rechaçou com a mão a próxima dança e se dirigiu à mesa. Viu um movimento pela extremidade do olho e se virou naquela direção.

Abriu-se um corredor para a porta e Noah Blake o percorria como se fosse um predador. Usava jeans e perneira. Botas de motoqueiro e uma jaqueta de couro sobre uma camiseta negra. Os olhos azuis ardiam como as chamas do inferno e seu cabelo negro, que estava despenteado pelo vento, caía-lhe sobre os ombros em magnífica desordem. Como se o vento adorasse seu cabelo enquanto estava na moto. Como se dedos invisíveis o tivessem penteado para revelar a ferocidade dos ossos e ângulos que formavam seu rosto.

E vinha direito para ela.

A música se transformou nesse momento em uma melodia lenta e sensual que esquentou a pista de dança, e Sabella sentiu que sua respiração se voltava mais áspera e profunda.

Dois dias. Estava a dois dias sem ele. E tinha sido um inferno. O que ia fazer quando partisse definitivamente?

Aproximou-se dela com aquele ar perigoso que lhe secava a boca e lhe disparava o pulso, e, antes que Sabella se desse conta de sua intenção, rodeou-a com os braços e a guiou entre a multidão.

Era como fazer amor. Como sexo lento e prolongado.

Noah a agarrou pelos quadris e ela pressionou as mãos contra o forte torso masculino, curvando os dedos sobre a camiseta enquanto se moviam ao compasso da música.

—Divertiu-se? —Tinha os olhos cheios de fúria e a voz mais rouca e escura que o habitual.

—É obvio. —Sabella deslizou as mãos pelo peito de Noah até seus ombros, aproximando-se mais e permitindo-lhe sentir.

Oh Deus, o que ia fazer sem ele outra vez? Como se supunha que devia seguir vivendo quando partisse?

Estava casada. Não era viúva nem divorciada. Estava casada e ainda amava a seu marido, inclusive se seu amor por ela tivesse morrido.

Deixou cair a cabeça contra o peito do Noah e fechou os olhos. Viveria com as lembranças, disse a si mesma. Teria algo ao que se aferrar quando ele se fosse. Noah a estreitou com força contra si até que ela sentiu em suas pernas nuas a perneira de pele que recordavam aos assentos de couro do Ranger e o aroma de sexo que impregnava agora o veículo.

Sabella sentia como a chama de desejo que ardia em seu ventre começava a consumi-la, como lhe inchavam os seios e o clitóris. Sua pele se voltou dolorosamente sensível, e quando Noah deslizou as mãos sob a barra da blusa e lhe roçou a pele nua das costas, ela conteve o fôlego.

—Senti sua falta. —murmurou ele ao ouvido.

Ela se estremeceu ao escutar aquilo. Com os olhos fechados e o rosto enterrado em seu torso, Sabella não se preocupava que ninguém visse a dor que se refletia em seu rosto, em seus olhos. Ele a ocultava e a protegia.

—Não do que sentir falta. —respondeu finalmente, obrigando-se a recordar que ele ia deixá-la, que se afastaria dela de novo.

Noah lhe acariciou a cabeça com o queixo.

—Desejo-a, Sabella. Quero voltar para aquela enorme cama com você. Quero sentir você úmida e quente sob meu corpo.

—Por quanto tempo? —Ela sacudiu a cabeça contra seu peito. — Quanto tempo, Noah? Uma noite? Duas? Uma semana? O que quer de mim? O que o faz pensar que pode entrar em minha vida sem mais, dormir em minha cama, e depois partir ao entardecer sem olhar para trás?

Noah podia perceber claramente a dor em suas palavras, e se sentia esmigalhado pelo ciúme ante a lembrança do homem que tinha sido para ela e o homem que era agora.

Sabella não merecia a homem em que se transformou. Ela merecia um homem que não passasse as noites lutando contra os restos de uma condenada droga que o fazia perder o sentido, quando o desejo e a luxúria se apoderavam de seu corpo até tal ponto que lhe aterrava estar perto de qualquer mulher. Em especial de Sabella.

Mas não podia dizer-lhe Não podia lhe falar sobre o animal que morava dentro dele. Não podia contar a ela sobre seu acordo com o corpo de Operações Especiais, sem esquecer que, depois de que o resgatassem do inferno, não concordou em que ela fosse informada que seu marido ainda estava vivo.

A verdade a destruiria como o faria, finalmente, a mentira. Mas ao menos, com essas mentiras, Sabella teria as lembranças de seu marido e do que ela tinha significado para ele.

—Há muitas coisas que não sabe. — suspirou ao fim de alguns segundos contra a graciosa forma da orelha dela. — Por que estou aqui. E o que tenho que fazer.

—Então, conte-me Noah. —Sabella levantou a cabeça e o olhou com seus suaves olhos cinza cheios de cólera e necessidade.

— Não sou uma menina. Não sou nenhuma estúpida mulherzinha que não possa compreender nem aceitar as realidades da vida.

Noah lhe sustentou o olhar sentindo o selvagem e feroz batimento do coração do desejo crepitando entre eles e percebendo a necessidade de conhecer as respostas brilhando nos olhos de Sabella.

—Já conheço uma parte. — disse ela com suavidade. — Pode se deitar comigo, me torturar com tudo o que não posso ter, e não me dizer a verdade?

Isso só era uma parte, e ele sabia. Mas havia outras partes, como o que aconteceria no dia seguinte, que Sabella tinha que saber. Quando a operação começasse, desenvolveria-se com rapidez. Precisava saber que ela estava a salvo, tinha que saber que estava segura. Por ele e por sua prudência.

—Vêem comigo na moto. — a convidou, sabendo que essa noite teria que lhe dizer só meias verdades. Quem era e o que tinha sido, teria que seguir sendo um segredo para sempre.

—Estou usando short.

Ele negou com a cabeça.

—Tomarei cuidado. —Deu um passo para trás quando a música parou. — Vamos até a moto.

Sabella lhe segurou a mão com o coração pulsando pesadamente no peito e com a esperança crescendo em seu interior, embora uma parte dela soubesse e aceitasse que Noah não lhe diria quem era na realidade.

Mas era por isso que deixava de esperá-lo.

Foi consciente dos olhos que os observavam enquanto deixavam o local. Rory e Toby ficaram em pé quando passaram ante eles, e Sabella demorou um segundo em dirigir a seu cunhado um olhar contundente. Chegaria um dia em que ia ter que falar com ele. A fundo. E esse dia não estava muito longe.

Não o enfrentaria agora, mas sim o faria quando Noah se fosse, porque precisava entender. Tinha que saber o que tinha passado a seu marido, por que não tinha voltado para ela. Inclusive mais; Tinha que saber que não ia voltar a deixá-la. Não importava se Noah tinha coisas que resolver nem se sua intenção era a reclamá-la de novo.

Uma vez fora do bar, Noah tirou a jaqueta e a ajudou a vestir.

—Rory avisou você, não é? —perguntou Sabella enquanto a segurava para que subisse à parte traseira da Harley antes de montar ele mesmo.

—Sim. —Agora tinha a voz mais dura. Mais fria. — O que você acha de darmos uma volta pelo parque da cidade?

Ela assentiu lentamente.

—Tudo bem.

A Harley voltou a vida. O motor vibrou com renovada força antes que Noah levantasse o apoio, acelerasse e saísse do estacionamento.

O ar do verão alvoroçou o cabelo da Sabella. A sensação de liberdade fez com que esboçasse um sorriso ao mesmo tempo em que rodeava a estreita cintura de Noah com os braços e se apoiava nele enquanto se dirigiam ao pequeno parque.

Medina Park era pequeno, mas muito lindo. Noah se dirigiu ao estacionamento deserto e a ajudou a descer da moto.

Segurando-lhe a mão, guiou-a por um estreito caminho até uma zona protegida para piqueniques. Havia uma única mesa no centro ao lado de um forno de ferro para campistas.

Sabella colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e se sentou na ponta no banco de madeira da mesa.

—Por que aqui?

—Não há ninguém que possa nos ouvir. — respondeu ele, suspirando. — E se houvesse, saberia.

Entretanto, moveu a cabeça como se estivesse escrutinando as sombras.

—Acaso pode ver na escuridão? —Nathan sempre tinha tido uma vista de águia, inclusive na escuridão.

—Sabe que estou aqui por uma razão, Sabella. — disse ele finalmente, sentando-se depois dela e rodeando-a com suas poderosas pernas. Abraçou-a e fez com que se recostasse contra seu peito. — Ouviu falar dos corpos que encontraram no parque nacional? —inquiriu.

Sabella assentiu com cautela.

—No ano passado encontraram a alguns imigrantes, legais e ilegais, e a três agentes do FBI, vítimas de caçadas humanas. — continuou Noah.

— Estou tentando descobrir quem fez isso, conseguir provas, e entregar-lhes aos agentes federais que trabalham no caso.

—Não é um agente? —Algo no interior de Sabella se esticou formando um nó de dor.

—Não, sou independente. Trabalho por contrato. — lhe explicou, roçando os lábios contra a orelha. — Esses bastardos não só agem aqui, Sabella. O grupo se estendeu além deste pequeno condado e segue crescendo. Transformou-se em uma ameaça para a segurança nacional. Não sei qual será meu próximo destino.

Ela assentiu brandamente.

—Então, não ficará?

Sabella tremia por dentro. Não podia compreender como conseguia aparentar calma e tranqüilidade.

Sentiu-o se esticar a suas costas enquanto a pergunta ficava suspensa entre eles, enchendo o ar quente de tensão e pesar.

—É a melhor coisa que me aconteceu na vida.— sussurrou ele ao fim de alguns segundos. — Abraçar você, tocar você, é o melhor que me aconteceu na vida. Mas as coisas são assim, carinho. Nunca quis machucar você.

Sabella sentiu cair a primeira lágrima e se assegurou de que fosse a última.

Entretanto, podia sentir a dor em seu interior. Rasgava-a cruelmente, quebrava-lhe o coração enquanto continha os soluços que ameaçavam afogar. Tremeram-lhe os lábios, mas os conteve. Não soube como, mas o fez.

—Quero que esteja a salvo. — seguiu ele. — A quero fora daqui, longe dos bares e da cidade. Ali onde possa vigiar você, onde possa a proteger em caso de que alguém suspeite por que estou aqui ou o que estou fazendo.

—Então, vai ocorrer algo?

—Nesse ponto, pode ocorrer algo a qualquer momento. —assentiu ele. — Aceleramos as coisas e estou seguro de que é iminente. Uma vez que estale o inferno, não haverá volta e não quero que salpique em você as conseqüências.

Sabella assentiu com a cabeça ficando muito quieta e fechou os olhos com força quando os lábios de Noah lhe deram um beijo lento e suave no pescoço nu. Como era possível que não tivesse reconhecido esses lábios na primeira vez que a tinham beijado, quando o primeiro brilho de prazer tinha estalado em seu ventre? Só seu marido, o homem ao qual ela tinha entregue sua alma podia fazer com que se sentisse assim.

Antes de poder evitá-lo, Sabella inclinou a cabeça convidando-o a repetir o beijo. Que Deus a ajudasse, ia voltar a deixá-la. Deveria estar gritando, esperneando. Deveria estar chorando. Mas a esperança seguia viva em seu destroçado coração.

Tinha-lhe contado muito. Tinha-a preparado para o que poderia ocorrer. Mas não tinha por que afastar-se dela outra vez. Não seu Noah. Não o homem cujas mãos a estreitavam agora, cujo fôlego se voltava pesado, cujo desejo ardia sobre ela.

Seu Noah jamais voltaria a afastar-se de sua vida dessa maneira. Não de propósito. Não seu marido.

 

—A quem está perseguindo, Noah?

Sabella lhe fez a pergunta que ele esperava que não lhe fizesse.

—O que importa é que você esteja segura. —Deslizou os lábios brandamente pelo queixo. — E eu me assegurarei disso.

—O conhecimento é poder. —Ela inclinou a cabeça para um lado, permitindo que os lábios e a língua de Noah lhe acariciassem um ponto especialmente sensível na base do pescoço.

—Não neste caso. —ele lhe mordiscou o pescoço. — Neste caso, para você, o desconhecimento é sua melhor arma. E prefiro que siga sendo assim, Sabella.

Sentiu-a relaxar-se então, como se lhe tivesse dado algo que ela necessitava. O que tinha podido lhe dar além da segurança de que a protegeria, de que a queria a salvo?

Deus sabia que a queria a salvo. Poderia viver sem sexo. Poderia viver sem que Sabella formasse parte de sua vida. Mas não poderia viver se lhe acontecesse algo. Seu coração deixaria de pulsar. Qualquer vestígio de vida abandonaria seu corpo.

Tinha-o sabido desde antes de casar-se com ela. A noite que tinha compreendido que seu coração pertencia a aquela mulher miúda, Nathan tinha sabido que renunciaria ao estilo de vida despreocupado que tinha desfrutado durante tanto tempo e que se casaria com ela.

E agora, deixá-la outra vez lhe rasgava a alma.

Partia-o em tantos pedaços que estava seguro que não ficaria nada do homem que era essa noite.

—Senti falta de dormir com você. —Tirou-lhe a jaqueta e a deixou de lado antes de lhe acariciar os ombros nus e os braços.

As mãos do Noah roçaram o bracelete de prata que a tinha agradado. Maldição ficava bem. Como se fosse uma feroz princesa engajada para uma batalha sensual.

—Isto não resolve nada. — murmurou Sabella com voz débil, cheia de dor e desejo.

Esse rastro de pesar em sua voz rasgou o coração de Noah. Algo se quebrou em seu peito e teve que enterrar o rosto no pescoço de Sabella para tratar de conter a devastadora dor que o invadia.

Mas não podia deixar de tocá-la. Não podia evitar estreitá-la entre seus braços. Era como um vício, um desejo que não podia controlar. Necessitava daquilo, necessitava dela. Quando chegasse a hora de partir, queria levar consigo tantas lembranças como fosse possível. O suficiente para ajudá-lo a sobreviver à perda, às noites solitárias que sabia que o esperavam.

—Merece muito mais. —murmurou ele, passando as mãos sob a blusa e lhe acariciando a pele sedosa dos seios. — Um homem completo. Isso é o que merece Sabella. E eu já não o sou. Faz muito tempo que deixei de sê-lo.

A ela conteve o fôlego e ele soube que foi um soluço o que fez com que estremecesse dos pés a cabeça.

—Minha Sabella. —Fez com que se virasse, colocou-lhe as pernas sobre suas coxas e a embalou entre seus braços.

— Não vou mentir. Não posso fazê-lo. Não vou dizer que vou ficar nem que vamos fazer realidade nossos sonhos. —Enxugou-lhe as lágrimas.

— Não pode nos fazer isso. Não sou seu marido, Sabella. E os dois sabemos que ninguém mais vai ocupar o lugar que ele tinha em seu coração.

Pressionava-a, tinha que pressioná-la. Ela tinha que compreender o que podia ocorrer. Tinha que confrontá-lo.

Os olhos dela flamejaram e Noah lhe agarrou a mão que ia direta a seu rosto. Olhou-a e viu que a cólera alagava o rosto feminino.

—Sabella, tentou me dar uma bofetada? —perguntou-lhe arrastando as palavras.

Tinha sido uma das normas de seu casamento. Ela podia lhe jogar o que quisesse no rosto, podia gritar, lhe amaldiçoar, lhe chamar sujo filho de uma puta, mas não podia tentar bater nele. Nem lhe surpreender. Nem correr para ele, nem tentar lhe assustar.

Nathan possuía alguns reflexos muito agudos e o instinto de sobrevivência estava muito enraizado nele para que ela pudesse lhe fazer algo.

Não a machucaria de propósito, mas podia danificá-la por instinto lhe rodeando a garganta com as mãos ou atirando-a ao chão antes de saber o que estava fazendo.

—Tem sorte de que não tente dar um tiro em você! —levantou-se de seu colo e tropeçou com o banco de tal forma que teria caído se ele não a tivesse segurado.

Noah a olhou surpreso. Um segundo antes Sabella era doce e suave em seus braços e agora o rechaçava como uma gata selvagem.

—Aonde diabos vai? —Agarrou a jaqueta e a seguiu enquanto ela se dirigia com passo irado, quase correndo, ao estacionamento. — Maldita seja, Sabella.

—Vai para o inferno!

—Já estive ali, obrigado. — replicou ele. — E me acredite, prefiro não retornar.

—Então vá aonde demônios vá quando desaparece a tarde. —Agitou a mão diante dele. Tanto a expressão de Sabella como a tensão de seu corpo denotavam sua fúria. — Disse-lhe isso a outra noite, Noah Blake. Já tive o suficiente.

—Pode ser que eu não. —resmungou ele.

Noah não tinha tido bastante de suas doces carícias , sem dúvida alguma, de sua risada, de seus beijos nem de sua presença a seu lado.

—Bem, pois é uma pena. Porque eu não gosto das suas regras nem que jogue comigo.

Quando chegou ao estacionamento, virou-se para ele e Noah se deteve em seco.

Se não tinha visto determinação nos olhos de Sabella na outra noite, agora a via. Dor nua, ira e segurança em si mesma.

De novo voltou a perguntar-se onde, demônios, estava a mulher com a qual se casou. Essa não era sua pequena loira indefesa, mas maldição, excitava-o mais do que nunca.

—Não estou jogando com você.. —Noah pôs as mãos nos quadris e a fulminou com o olhar. — Maldita seja, Sabella, estou tentando ser honesto. Não quero machucar você.

Ela permaneceu sob as luzes do estacionamento com o cabelo caindo sobre o rosto e os ombros em grossos cachos. Tinha uma mão apoiada no quadril e a outra pendurando ao flanco.

—Não quero sua honra. —espetou com desprezo.— Fica com ela.

Virou-se e pôs-se a andar.

Aonde diabos vai? Alcançou-a em um par de passos, agarrou-a pelo braço e puxou-a para impedí-la de ir. Quer voltar a esse maldito bar no qual os vaqueiros possam cheirá-la como lobos uma gata no cio? Nem pensar.

—Oh meu Deus, o senhor nada-de-compromisos está ciumento? —O tom sarcástico na voz da Sabella lhe estava tirando do sério. Podia senti-lo. Como se a temperatura aumentasse em seu interior enchendo-o de luxúria, de um escuro e voraz desejo de dominá-la.

— Tem razão. Não é meu marido. Meu marido tinha o bom senso de não me dizer o que era eu podia ou não fazer.

Ela nunca o enfrentou dessa maneira durante seu casamento. Sarcástica e desafiante. Ela se conteve lhe ocultando sua verdadeira identidade. O amor que surgiu no interior de Noah ao compreender que agora estava frente à verdadeira Sabella ameaçou lhe afogar. Sentiu um imenso orgulho e, maldita seja, também medo.

Já não era o homem que ela tinha amado seis anos antes. O homem que lhe sussurrava canções de ninar irlandesas e que murmurava «para sempre» em gaélico porque sabia que escutá-lo fazia com que ela estremecesse de prazer.

Agora era um homem ferido, cheio de cicatrizes. Tinha mudado, e admiti-lo ante ela podia matá-lo. Sua esposa queria respostas. Exigia respostas. E quando descobrisse que quatro anos antes ele se negou a voltar para ela, odiaria-o. Odiaria-o porquê se daria conta de que ele tinha pensado que ela era fraca. Fraca e incapaz de dirigir ao monstro que tinha sido então. E aquilo destruiria o orgulho de Sabella.

Noah tinha tecido uma rede tão emaranhada que agora não sabia como sair dela.

—O que quer de mim? —gritou a ela, lhe provocando um estremecimento ao ver que seu rosto estava cheio de lágrimas.

—Não se atreva a chorar! —espetou-lhe. — Não use as lágrimas contra mim, Sabella.

Não podia suportar suas lágrimas. Eram lágrimas silenciosas. Jamais a tinha visto chorar.

Sabella negou com a cabeça e passou a mão pelo cabelo. Virou-se e começou a andar.

Noah levou alguns segundos para compreender exatamente o que era o que ela pretendia. Estava caminhando. Passando de lado da moto e afastando-se dele.

—Sabella, não. —Cortou a distância que os separava, agarrou-a pelo braço e se colocou frente a ela. — Temos que falar disto.

—Não há nada sobre o que falar. —respondeu a ela. — Não pode chegar a qualquer cidade, encontrar uma garota com quem transar durante umas poucas semanas e logo sumir. —Liberou o braço de um puxão. — Deus, Noah. Quebra-me o coração e nem sequer se importa.

—Como posso quebrar algo que pertence a outro homem? —gritou ele com ciumenta frustração. — Nessa maldita casa há fotos de Nathan por toda parte. Ainda tem sua roupa no armário que compartilhou com ele. E olhe isto. —Levantou-lhe a mão, mostrando a aliança de ouro que brilhava sob as luzes, com o coração quebrado porque a usava na mão direita e não na esquerda. — Olhe essa aliança, Sabella. Ainda usa sua aliança.

Sua própria aliança, que ela tinha deslizado em seu dedo, ardia-lhe contra a coxa. Noah o usava sempre com ele, dentro do bolso, formando parte de seu ser.

Sabella chorava agora desconsoladamente. A respiração se entrecortava pelos soluços e seus olhos cinza estavam úmidos e brilhantes como diamantes pela dor, partindo a alma de Noah.

Ela abriu os lábios, levantou a mão como se fosse dizer algo e, de repente, ressoou o eco de uma sirene.

Sabella se virou bem a tempo de ver o Ranger do xerife parar no meio do fio e Rick Grayson desembarcar dele. Dirigiu um olhar a ela e depois cravou os olhos com dureza em Noah.

—Entre no carro, Belle. —Rick lhe indicou com a cabeça o assento passageiro.

—Sabella, não o faça. —Noah permaneceu imóvel embora todos seus instintos lhe gritassem que não a deixasse ir com o xerife. Rick não era suspeito, mas Sabella seguia sendo sua esposa. Era dele e iria com ele. — Por favor. —Olhou-a fixamente, desejando que recordasse o perigo.

Ela passeou o olhar entre ambos os homens e Noah percebeu um brilho de dúvida em seus olhos.

Rick permaneceu em silêncio, observando-os com o cenho franzido e uma mão apoiada na culatra de sua arma.

—Deixa que eu a leve para casa. —disse então Noah. — Só a levarei em casa. Juro.

Sabella deixou escapar um soluço.

—Está me matando.

—Sei pequena. —É obvio que sabia. Sabella nem sequer imaginava que aquilo também o estava matando.

Ela assentiu com a cabeça e logo se dirigiu a Harley. Noah voltou a olhar o xerife com atenção, vendo o interesse e a preocupação que mostrava por Sabella enquanto a seguia com o olhar.

Rick se virou então para Noah, guardando silêncio um bom momento. Finalmente, soltou a culatra de sua arma e apoiou os antebraços sobre a porta aberta do veículo.

Havia algo no olhar do xerife. Algo que despertou a suspeita de Noah e que o fez se esticar.

—Sabe? —disse Grayson por fim. — Vi muitos perdedores de passagem pela cidade.

—Realmente? —resmungou Noah como se a opinião do xerife não lhe importasse absolutamente.

—Realmente. —Rick inclinou a cabeça. — Mas me deixe lhe dizer que sem dúvida você é o maior de todos os perdedores que conheci até agora. E por alguma razão, pensava que seria diferente.

—Não necessito de sua opinião. —grunhiu Noah. Deu uma olhada por cima de seu ombro e viu que Sabella estava enxugando as rosto com o olhar perdido no parque.

—Necessita que alguém lhe coloque uma bala em um lugar especialmente doloroso. —espetou Rick, sacudindo a cabeça.

— Não se meta em confusões, senhor Blake. Ou do contrário, vamos ter uma conversação muito séria.

Noah arqueou as sobrancelhas antes de dar as costas ao xerife e aproximar-se do lugar onde Sabella esperava junto à Harley.

Pô-lhe a jaqueta e lhe levantou o queixo observando seus olhos cheios de lágrimas. Embalou-lhe o rosto entre as mãos e lhe passou os polegares pelos lábios trementes.

—Uma noite mais, Sabella. —murmurou, tão duro, tão desesperado por ela que se perguntou se poderia sobreviver. — Nos dê uma noite mais.

Ela lhe sustentou o olhar. A cólera, a dor e o medo se mesclavam em seu interior junto com o desejo. Um desejo tão voraz que não pôde entender como tinha podido viver sem ele durante seis anos.

—É um bastardo! —soluçou.

—O pior dos bastardos. — murmurou ele, lhe beijando os lábios e as lágrimas.

Sabella respirou fundo e levantou as mãos para segurar os pulsos de Noah enquanto seus sensíveis lábios recebiam seu beijo, desejando mais. Muito mais.

—Me leve para casa, Noah. —sussurrou.— Por favor, me leve para casa.

Não ia chorar mais.

Agarrou-se ao Noah durante todo o trajeto e se permitiu apoiar a cabeça contra suas costas para sentir o batimento do coração masculino contra o rosto. E, sem que pudesse evitá-lo, sua mente se centrou no futuro. No futuro próximo e no futuro longínquo.

Levantou a cabeça quando se detiveram diante da casa e esperou que Noah a ajudasse a desmontar da Harley antes de fazê-lo ele mesmo.

—Onde está a chave?

«Seu marido».

Noah sempre se assegurou de checar seu pequeno apartamento cada vez que a acompanhava até em casa. Depois, quando se casaram, transformou-se em um costume. Sempre tinha sido muito protetor com ela.

Deu-lhe a chave e observou como ele abria a porta e entrava com cautela na casa antes de devolver-lhe. Ela também entrou e esperou na salinha enquanto Noah inspecionava os cômodos.

Envolveu-se ainda mais na jaqueta de Noah, aspirando seu aroma, e voltou a prometer-se a si mesma que não haveria mais lágrimas.

Mantendo-se firme em sua cólera ou lhe daria uma noite mais? Quantas noites mais ela poderia roubar antes que se fosse? Porque a próxima vez que a deixasse... Sabella de um olhar ao redor. A próxima vez que se fosse, ela sabia exatamente o que ia fazer.

Era a única maneira de sobreviver.

Sabella seguiu sem mover-se da salinha, com o olhar cravado no suporte da chaminé, nas fotos. Sua foto de casamento. Seus rostos sorridentes, os ferozes olhos azuis dominando o retrato. A pele escura de Nathan contra a sua mais clara, e a expressão tranqüila e confiante.

Aproximou dessa foto em particular sem deixar de dar voltas à aliança que usava no dedo anelar da mão esquerda. Não era viúva. Seguia estando casada. Sempre seria a esposa de Noah sem importar o nome que usasse. Não era patético? Não era de se admirar que ele não tivesse querido voltar para casa. Tinha tido uma esposa que não havia passado por nenhuma provocação. Uma esposa que só sabia o amar.

 

Noah entrou no dormitório, comprovou os armários que ainda continham suas roupas e o enorme quarto de banho que Sabella e ele tinham desenhado.

Quando retornou ao dormitório se deteve frente à mesinha e ficou olhando a fotografia deles dois juntos.

Sienna tinha tirado essa foto pouco depois de seu casamento. Nela, ele acariciava o rosto de Sabella e a larga aliança de ouro brilhava em seu dedo.

Colocou a mão no bolso dos jeans, tirou a aliança e a fez rodar entre seus dedos olhando-a fixamente. Já não era nova, mas ainda era brilhante e quente ao tato.

Segurou-a durante alguns segundos e logo a pôs no dedo. Fechou o punho com uma careta furiosa retorcendo seus lábios e conteve com muita dificuldade a imperiosa necessidade de contar tudo a Sabella. De possuí-la. De ser o homem pelo qual ela chorava. O homem que amava. Mas o homem que tinha surgido do fogo do inferno era muito distinto de Nathan. E a vida que levava agora, depois de incorporar-se à unidade de Operações Especiais, não era a vida que ela quereria viver. Uma vida a qual ele não podia renunciar. Nathan Malone sim poderia ter deixado os SEAL’s, mas se Noah Blake tentasse deixar a unidade de Operações Especiais, simplesmente desapareceria e jamais voltaria a se saber dele.

Era uma vida de mentiras. Sempre se escondendo. Maldição, como tinha podido acreditar por um momento que fosse que poderia ficar com Sabella e enganá-la durante o resto de sua vida? Tinha pensado que poderia fazê-lo; mas com sua aliança no dedo, perguntou-se se não teria se equivocado. Tentou imaginar algo distinto e não pôde. Ainda era o homem no qual se transformou. E embora Sabella fosse uma mulher diferente da qual ele recordava, jamais aceitaria à besta que habitava em seu interior.

Era teimosa e decidida. Pensava que sabia o que ele era, quem era, mas estava equivocava.

Tirou-se a aliança do dedo, olhou-a durante um bom tempo e logo voltou a colocá-la no bolso do jeans. Era seu talismã. Seu amuleto. Um aviso real do que poderia ter sido.

 

Sabella deu as costas à chaminé quando ouviu que Noah descia as escadas. Seus olhos se encontraram um instante antes que ele deslizasse o olhar às fotografias que havia atrás dela.

De repente, seu olhar parou e ela viu a sombria tristeza que titilou nos olhos masculinos durante um segundo.

—Foi uma noiva muito bonita. — disse ele com suavidade, detendo-se diante dela com as pernas solidamente plantadas e aquela negra perneira de motorista enfatizando a pesada protuberância na braguilha dos jeans.

Deus, sua grossa ereção ameaçava romper as calças e Sabella morria de desejo. Desejava-o como se tivessem passado anos desde a última vez que a havia tocado em vez de só alguns dias.

—Nathan fazia com que qualquer mulher parecesse linda a seu lado. — sussurrou a ela com tristeza. — A câmera o adorava.

—E ele adorava a você. —Não era uma pergunta.

—Amava-me. —Sabia que o tinha feito.— Mas algumas vezes me pergunto se me amaria agora.

Noah inclinou a cabeça, observou as fotografias durante um instante e sua expressão se suavizou enquanto assentia lentamente.

—Faria-o. —Procurou o olhar de Sabella de novo. — O homem dessa foto sabia como amar. Como viver. Vê-se isso em seu rosto. —Mas já não o fazia. Não amava e vivia para esse amor. Sabella o aceitava. Não ficava mais remédio que fazê-lo.

Deu um passo para ele deixando-o ver todo o desejo que sentia, a necessidade que a tinha atormentado durante os últimos dias. Noah tinha sido sincero com ela no parque, tinha-lhe aberto os olhos e lhe tinha mostrado o que enfrentava agora. Nada mais de sonhos, nem mais lindas lembranças do passado.

Noah entrecerrou os olhos quando ela deixou cair a jaqueta ao chão.

—Uma noite mais? —perguntou-lhe.

—Tantas quantas quiser me dar. —respondeu ele.

—Até que tenha que partir?

Noah umedeceu o lábio inferior com a língua e a ela sentiu que a atravessava uma quebra de onda de desejo.

—Até que tenha que ir. — concordou ele.

Sabella emitiu uma pequena risada mescla de amargura e provocação.

—E quem diz que me vai importar que vá? —Avançou lentamente para ele, o olhando com os olhos entrecerrados. — Sabe o que, Noah?

—O que, Sabella? —O modo com que arrastou as palavras a colocou de sobreaviso sobre o perigo que corria, mas não lhe importou.

Sabella estava fazendo algo que ia provocar que a surrasse, e ela queria que o fizesse.

Levantou o dedo e o deslizou por seu torso.

—Possivelmente seja melhor que vá.

—O que quer dizer? —Por debaixo do tom rouco e áspero de sua voz havia um indício daquele suave acento que ela sempre tinha amado.

Sabella sorriu, passou a língua pelo lábio superior e lhe lançou um olhar brincalhão.

—Só estava pensando em voz alta. Conseguiu que comece a esquecer meu marido, assim me sobrepor a sua partida deveria ser fácil. Tampouco é como se estivesse a muito tempo por aqui, não?

Obscureceram-se os olhos de Noah? Pareciam mais ferozes?

—Não me pressione pequena. —advertiu com suavidade.

Sabella sorriu lenta e docemente antes de morder o lábio inferior e o provocar com o olhar.

—Acaso não quer ouvir a verdade?

Noah a agarrou pelos quadris e uma luz selvagem e faminta iluminou aqueles ferozes olhos azuis.

—Essa não é a verdade. — grunhiu ele.

Sabella ficou nas pontas dos pés, acariciou-lhe o lábio inferior com a língua e logo o mordeu. Com força.

Ele deu um pulo. Entrecerrou os olhos e lambeu com a língua aquela pequena ferida antes de estreitá-la contra seu corpo, pressionando sua ereção contra o ventre dela.

—Mas irá, Noah. — seguiu ela. — Como o vento. Como meu marido. —Olhou de esguelha as fotos.

O sorriso carinhoso de Nathan se burlava dela nos marcos. Seus olhos azuis, tão cheios de amor, tão suaves pelo desejo, mentiam-lhe cada vez que os olhava.

Aquela era a parte mais difícil de aceitar. A que a fazia desejar nunca ter descoberto quem era Noah Blake. Tudo teria sido mais fácil. Não o teria amado com aquela profundidade e lhe dizer adeus não teria doído tanto como lhe doía agora. Poderia ter deixado que Noah partisse sem uma queixa, porque o teria odiado por roubar algo que pertencia a seu Nathan. Mas como podia odiar ao homem que Nathan era agora?

—Se despeça de mim, Noah. —lhe disse. — Tem toda a noite para fazê-lo. Porque se tiver intenção de sair de minha vida, este pode ser um bom momento para que nos digamos adeus. Não vou chorar por outro homem. Que me condenem se me converto em um santuário vivente para outro.

 

Aquilo o excitou ainda mais.

Noah sentia como o impulso de dominar se fazia mais forte ante a provocação de Sabella, ante seu desafio, ante o fato de que essa noite ia ser sua última noite.

Deslizou o olhar sobre seu rosto, notando o leve tremor no lábio inferior que lhe recordava que ela o estava pressionando de propósito.

Aqueles suaves olhos cinza estavam empanados por luzes e sombras, e pelas emoções que os rasgavam. Noah queria ser terno. Queria que a última lembrança de sua mulher estivesse cheia de ternura. Mas não era ternura o que ela queria. Não era ternura o que crescia no interior de Noah.

Era luxúria.

Uma luxúria que não era contida mas que tampouco era selvagem. Como a morte que brilhava em seus olhos quando ia a caça, a luxúria que crescia em seu interior por aquela mulher era paciente e determinada.

Sabella sorriu provocativamente como se não acreditasse que ele pudesse fazê-lo. Que pudesse dominá-la. Que pudesse lutar contra as lembranças do homem pelo qual ela se transformou em um santuário vivente.

O olhar de Noah se dirigiu às fotografias que havia atrás dela, e uma profunda dor, afiada e ardente, atravessou-lhe a alma. Ele já não era esse homem. Uma parte dele queria sê-lo. Precisava sê-lo. Mas aquele homem tinha morrido fazia muito tempo, deixando só o que tinha ressurgido de suas cinzas.

Afastou-se um passo dela e, sem tocar a perneira, abriu o zíper dos jeans e liberou a grossa e pesada longitude de seu membro. O acariciou para lhe oferecer a ponta e enterrou a outra mão no cabelo de Sabella ao ver que ela tentava retroceder.

—Quer isto, Sabella? —desafiou-a arrastando as palavras e sorrindo-lhe. — O quer ou só falou por falar, pequena?

Fulminou-lhe com o olhar, separando os lábios e chiando os dentes.

—Foi a esse bar por mim, não?

—Sim. —Noah inclinou a cabeça e lhe mostrou os dentes. — É minha. Aqui. Agora. Enquanto suas vísceras sigam clamando por mim, seguirá me pertencendo. Não a esse punhado de vaqueiros que a rondam como um garanhão perseguindo sua égua favorita. —A indignação era patente em sua voz. — Dançou com eles.

—Onde você estava? —perguntou-lhe Sabella deliberadamente, fazendo uma careta provocadora com os lábios.

— Onde estava, Noah? Aqui? Mantendo satisfeita da sua égua ou lhe dando liberdade para pastar?

Ele aumentou os olhos ao ouvir suas palavras.

—É uma bruxa —rugiu agarrando-a com mais força pelo cabelo.— Já encontraste alguém que me substitua?

—Ainda não procurei. Devo informar a você antes que o faça?

Noah teve que apertar a base de sua ereção para não derramar seu sêmen. Sabella o estava desafiando como nunca antes o tinha feito, lhe desafiando, avivando aquele lento e escuro desejo que surgia em seu interior.

—Não pode esperar que eu vá embora? —grunhiu, puxando para trás a cabeça de Sabella ao sentir suas mãos sobre o colete de couro que usava sobre a camiseta.

Ela tirou a mão com que Noah a retinha para poder lhe tirar o objeto pelos ombros.

—Acaso pensa que algum dos asnos dessa pista de dança pode te dar isto, pequena? —despojou-se do colete, soltando-a e a seu membro o tempo suficiente para que caísse ao chão.

Antes que Sabella pudesse retroceder, Noah a agarrou de novo. Com uma mão no cabelo e outra no quadril, empurrou-a contra o corrimão das escadas enquanto ela o olhava desafiadora, com os lábios abertos em uma careta zombadora. Mas Noah viu a dor em seus olhos e as lágrimas contidas.

O que estava fazendo a Sabella? E a si mesmo?

Imobilizando-a com seu corpo, agarrou a camiseta e a tirou de um puxão. Os olhos da Sabella pousaram em seu peito e sua respiração se fez mais pesada.

 

Meu coração palpita pelo seu.

Minha alma vive pela sua.

Meu corpo, minhas mãos, meus lábios,

amam só a você.

 

As palavras ressoavam na cabeça de Noah. Era a promessa que lhe tinha feito na noite em que se casaram, depois de perder-se no prazer, com os corpos lassos um ao lado do outro. Tinha-lhe sussurrado aquelas palavras que agora surgiam do mais profundo de sua alma e que tremiam em seus lábios.

Grunhiu uma maldição, estreitou Sabella contra seu corpo e cobriu seus lábios com os seus, beijando-a com o desespero de um homem a ponto de perder o controle.

O desejo de dominá-la o alagava.

A fome era como uma besta que se cravava nos testículos.

E o amor, o amor era uma espada de duplo fio que lhe partia a alma, lhe recordando com brutal eficácia tudo o que tinha perdido.

Beijou-a como um homem que sabia que aquele seria o último beijo que desfrutaria dos lábios da mulher que amava. Que seria o último roçar de suas línguas, o último gemido de desejo, a última vez que desfrutaria da suavidade de seu corpo.

Ela parecia possuída pelo mesmo espírito. Antes que a noite acabasse, Noah deixaria impresso em Sabella o rastro do homem que era agora. Tomaria as lembranças de Nathan Malone e as substituiria para sempre com as lembranças de Noah Blake.

E logo iria embora.

Era um bastardo. O pior filho da puta que existia. Mas não havia maneira de arrumar o que estava quebrado, como não havia maneira de apagar seu nome dos papéis que tinha assinado ou de superar os temores que tinha que ela não pudesse aceitá-lo tal como era agora.

Assim tomaria o que pudesse. Ali, em meio das fotos que representavam tudo o que ela tinha perdido, deslizou os lábios sobre os seus com voracidade, mordendo-os e beijando-os até que se sentiu submerso nela.

O membro do Noah pressionava contra o estômago de Sabella, grosso e ereto, com a pesada glande pulsando, vertendo gotas de sêmen contra a nua pele feminina, ali onde ele levantou a blusa.

Noah foi para trás e a olhou com ferocidade antes de agarrar a blusa e arrancar os botões.

Maldita fosse!

Deveria sentir medo. Deveria ter gritado, alarmada.

Tinha medo? Demônios, não. Tinha os olhos brilhantes e o desejo que refletia seu rosto quase, apenas quase, assemelhava-se à luxúria que sentia ele.

—Você gosta assim, pequena? —Arrancou os pedaços de tecido de seus ombros e observou o rubor da pele dos seios que o sutiã não cobria.

—Odeio-o. — se burlou Sabella. Mas seus olhos e seus mamilos, duros e erguidos, demonstravam o contrário.

—Está quente. — resmungou, lhe desabotoando o sutiã e deslizando-o pelos ombros. — Aposto o que quiser que está tão molhada que poderia me afogar em seus sucos.

—Estou tão molhada como você duro.

Noah respirou fundo quando ela fechou os dedos em torno de seu membro, sem abrangê-lo por completo. Ele baixou a vista e observou o espaço que seus dedos não cobriam, logo elevou o olhar e lhe brindou um amplo sorriso.

—Estou duro, Sabella. Muito duro.

—Está, não é? —Ela deslizou a mão pela longitude de seu pênis enquanto ele enredava os dedos em seu cabelo.

—Por que não o comprova por si mesma? —grunhiu.— Tome, Sabella. Faça-me enlouquecer de prazer. Demonstre-me quanto deseja que eu a possua .

Os olhos de Sabella brilhavam com uma mescla de desejo e desafio quando procuraram os de Noah. Mas no final venceu o desejo. Queria tomá-lo em sua boca com o mesmo desespero que ele queria afundar-se nela.

—Maldita seja, sim. — gemeu Noah, quase morrendo de necessidade quando ela começou a deslizar a boca por seu peito, por seus duros abdominais. Era uma bruxa. Conseguiria que explodisse antes que seus lábios o tocassem.

— Deus, pequena. Seus lábios...

Noah estremeceu ao sentir como se um líquido ardente lhe envolvesse a ponta de seu pênis, acariciando-a, fazendo-a vibrar com um gemido.

Baixou o olhar para a Sabella e se sentiu esmigalhado ao observar como sua carne dura penetrava os lábios rosados, como sua glande desaparecia naquela cálida boca.

Sabella lhe olhou o rosto. Viu a emoção que deformava os traços masculinos e suas vísceras se retorceram com uma mescla de dor e desejo, esperanças fúteis e medos escuros que mal podia conter.

Oh, Deus. Sabella lutou por enchê-lo de prazer. Sugou-lhe mais profundamente, com avidez, observando o fogo que ardia nos olhos masculinos, seu rosto cheio de escura luxúria e de uma agonia crescente. Noah adorava isso. Adorava exercer seu domínio sobre ela, adorava que ela se rebelasse contra seu próprio desejo de ser submetida. Precisava sentir esse poder, essa força em seu interior que obrigava Sabella a lutar contra isso e também a aceitar a dominação de Noah. Aceitar os prazeres contraditórios que ela sabia que converteriam as lembranças de seus encontros anteriores em pouco menos que uma pálida sombra. Ia possuí-la essa noite. Essa noite, Sabella teria tudo aquilo que ele esteve contendo. Essa noite, ela conheceria finalmente ao homem que lhe pertencia, mas cujo escuro coração ainda não tinha visto.

E Sabella adorava aquilo. Desfrutava daquela sensação de luta entre eles, de aceitação e submissão.

Porque ele estava se assegurando de submetê-la. Tinha as mãos enredadas em seu cabelo e a segurava com força enquanto seu membro penetrava entre seus lábios com movimentos duros e curtos.

—Deus, você adora. —Seguiu segurando a cabeça e tirou seu pênis antes de voltar a introduzi-lo em sua boca com uma série de violentas estocadas.

— Você adora isto, pequena. Encher sua boca com meu pênis enquanto arde por mim.

Sabella se aferrou a suas coxas, cravou-lhe as unhas na perneira e se impulsionou para o grosso membro emoldurado pelo couro e os jeans. Sugou-o com ferocidade e pôde sentir como sua própria umidade molhava a calcinha, fluídas e quentes, lhe atormentando o clitóris, empapando as suaves dobras de seu sexo.

Apertou as coxas com força e olhou aturdida como ele movia os quadris e jogava a cabeça para trás, com o cabelo alvoroçado ao redor do rosto. Pressionou os lábios em torno de seu pênis e deslizou a língua sobre a parte inferior, gemendo ao saborear seu sabor.

Podia haver algo mais erótico? Mais tórrido? Mais submisso e absolutamente dominante? Noah ia pressioná-la e ela sabia. Ia enterrar-se tão profundamente em seu interior que seus corpos se fundiriam até que não soubessem onde começava um e onde acabava o outro.

—Maldição. — ofegou ele, cravando o olhar nela uma vez mais. Deteve-se por um instante e logo se retirou lentamente, observando como a umidade da boca da Sabella brilhava em seu pênis antes de introduzir-se de novo nela. Perdeu o controle durante alguns poucos segundos e fodeu a boca como um homem agonizante de prazer.

O rude prazer, unido às sensações agudas e quentes que lhe envolviam a glande, golpearam-lhe os testículos e se estenderam por suas costas até lhe chamuscar a mente.

Jamais sentiu um prazer assim. Jamais antes de Sabella.

Noah se obrigou a deter-se, ofegando pesadamente.

Retirou-se apenas alguns centímetros e ejaculou grosseiramente em sua boca. Puxou-a para pô-la em pé, virou-a e lhe agarrou os pulsos, obrigando-a a segurar-se ao corrimão de cerejeira da escada.

—Aí quieta.

Quando ela arqueou as costas para roçar seu traseiro coberto pelo tecido contra seu pênis, Noah lhe mordiscou o ombro, afrouxou-lhe o cinto sem rompê-lo e abriu a zíper do short, deixando que escorregassem por suas pernas.

Deslizou a mão entre as coxas de Sabella e cavou a úmida calidez de seu sexo através da calcinha, sentindo o suculento desejo e o balanço de seus quadris enquanto seus dedos brincavam com seus clitóris.

Amassou um de seus seios com a outra mão e fez rodar o mamilo entre seus dedos.

—Deus, tem mamilos tão duros... —Roçou-lhe o ombro com os dentes, vislumbrando o perfil feminino.

Sabella tinha as pálpebras fechadas e as pestanas sombreavam seu rosto. Seu rosto avermelhado brilhava de prazer e seus lábios estavam inchados, inflamados por ter albergado seu pênis entre eles.

Noah gemeu contra seu ombro ao mesmo tempo em que lhe baixava bruscamente a calcinha pelas pernas para lhe embalar o sexo nu com a palma da mão.

—Está escorregadia e molhada. —Seus lábios percorreram um ardente atalho do ombro até o pescoço.

Sabella se perdeu no prazer. Aferrou-se ao corrimão, sentindo um desejo enlouquecedor atravessava seu corpo como uma poderosa lança.

—Que coisinha tão doce. —O cavou outra vez, deslizando a ponta dos dedos ao redor de seus clitóris, mas sem aproximá-lo suficiente para que alcançasse o orgasmo— Tão bonito e pequeno. Tão estreito e ardente que pode fazer com que goze por apenas pensar nele.

Ela sentiu que seu sexo se alagava de umidade. Abriu mais as pernas e estremeceu pela necessidade de gozar.

—Você adora quando digo coisas escandalosas, não, Sabella? —Lambeu-lhe o pescoço e a obrigou a jogar a cabeça para trás. — Olhe-me, pequena. Diga-me quanto você gosta que eu diga coisas sujas.

Ela elevou as pestanas e cravou o olhar no fogo azul brumoso que ardia nos olhos de Noah.

Ainda não estava preparada para submeter-se a ele, mas, mesmo assim, brindou-lhe um sorriso zombador.

—É tão mau. — se mofou arrastando as palavras e utilizando seu acento sulino para lhe provocar, para lhe recordar tudo o que tinham tido uma vez.— Possivelmente só esteja seguindo o jogo.

A mão do Noah aterrissou em sua nádega com um tapinha, provocando em Sabella um violento estremecimento que chegou a todas as suas terminações nervosas e que lhe proporcionou parte do fogo que necessitava. Ela desejava essa dor prazerosa, a intensa sensação que fazia arder sua mente.

—Deveria suplicar? —ofegou ela ao tempo que pressionava o traseiro contra a palma que o moldava e cavava.— Ou não se atreve a fazê-lo?

Sabella observou o sorriso que curvou os lábios masculinos. Arrogante. Perigoso. Confiante.

—Insulta-me com suas palavras, pequena. — grunhiu.

—Sim. Estou tremendo de medo.

A mão do Noah aterrissou de novo conseguindo com que ela ficasse nas pontas dos pés e que se aferrasse ao corrimão enquanto emitia um grito ofegante.

Antes de poder recuperar-se, a palma de Noah caiu de novo duas vezes mais. Uma em cada nádega.

Imobilizou-a agarrando-a pelo quadril com uma mão, e com a outra lhe acariciou com rudeza o traseiro, fazendo-a arder de prazer. Podia senti-lo ressoando em seu sexo, no clitóris. E, Oh, Deus, também nos mamilos.

Sabella se retorceu tentando escapar dele, mas sua mão a agarrava com mais força com cada ligeiro golpe no traseiro. Jogou para trás a cabeça, contra o torso de Noah úmido de suor, ao mesmo tempo em que gemia e mordia os lábios para não suplicar mais.

—Teve o bastante? —Noah lhe mordiscou a orelha.

—Cansou-se? —A voz dela era em parte soluço.

—Sabella, pequena, não sabe quanto me tenta. —Deslizou-lhe a mão entre as coxas outra vez, passando os dedos lentamente entre os espessos sucos e levando-os a sensível abertura entre suas nádegas.

— Como seguimos por este caminho, chegará a lugares aonde nunca chegou.

Ela abriu os olhos e lhe dirigiu um sorriso zombador.

—Como sabe até aonde cheguei, Noah? Possivelmente tenha medo chegar lá comigo.

Seus olhos se encontraram com os dela. Os entrecerrou e sua expressão se esticou.

Deslizou-lhe o dedo por completo no ânus e ela quase alcançou o clímax. Fecharam-lhe os olhos e estremeceu uma e outra vez.

—Acaso crê que vai conseguir gozar tão rápido, carinho? —sussurrou-lhe Noah no ouvido.— Oh, não, pequena. Nem pensar.

Com o dedo agasalhado dentro dela, imobilizou-a enquanto a outra mão aterrissava na nádega de novo. Uma palmada e o dedo se moveu em seu interior, apenas para fazê-la arder.

Ela ofegou seu nome, quase lhe implorou ao mesmo tempo em que tentava que a penetrasse mais profundamente.

Outra palmada e ela gritou seu nome, perdendo-se em uma neblina de prazer e pedindo por mais. Só um pouco mais. Cada dura carícia, cada pequena palmada, esquentava-lhe a pele e enviava quebras de onda de calor sobre seus clitóris, esticando-o ainda mais.

Sabella estava tão perto do clímax que podia sentir como a luxúria ardia em suas vísceras.

—Quer gozar, pequena? —Noah lhe beijou o pescoço, os ombros. Mordeu-a, lambeu-lhe a pele até que cada carícia se transformou em uma agonia de prazer. — Diga-me isso Sabella, minha pequena. Quer gozar por mim?

Deus, não havia nada que quisesse mais.

—Considerarei-o. — ofegou Sabella com voz rouca.

Noah riu surpreso.

—Vai fazer algo mais que considerar pequena. Vai suplicar .

Tirou-lhe o dedo do ânus e ela teve que morder os lábios para não gemer de frustração, até que ele ficou de joelhos.

Sabella ficou imóvel e tragou ar. Oh, Senhor, o que tinha provocado?

—Deus, adoro seu traseiro. —Beijou-lhe uma nádega ao mesmo tempo em dava tapinhas na outra e ela sentiu afrouxarem as pernas. Quase se derreteu diante dele. Quase estalou em chamas.— E vou fodê-lo inteiro.

Abriu-a com os dedos, e ela soltou um gritinho quando sentiu que deslizava a língua pela escura fenda e que a afundava com uma lambida rápida e dura na diminuta entrada que antes tinha penetrado com o dedo.

—Se agarre forte, Sabella. —Surrou outra vez, fazendo que lhe tremessem as pernas e que quase se dobrasse em duas pelo prazer. — Agarre-se bem forte, carinho. Ainda não terminei aqui.

Noah lhe separou mais as coxas, virou-a e, antes que ela pudesse assimilar a mudança de postura, tinha a cabeça masculina entre as pernas e a boca sobre seu sexo.

Os dedos largos e calosos lhe abriram a pele nua ao mesmo tempo em que saboreava as sensíveis e úmidas dobras. Deslizou a língua dentro, torturando-a, voltando-a louca pelo desejo que percorria seu corpo a toda velocidade, fazendo-a arder de prazer.

—É como sentir o sol em meu rosto. — grunhiu ele sobre seus clitóris. — É o sexo mais doce que tenha saboreado. Pura ambrósia. —Rodeou seus clitóris com a língua enquanto recolhia mais sucos com os dedos e os levava para trás, penetrando em seu ânus outra vez e deslizando um dedo da outra mão nas atormentadas profundidades de sua vagina.

—É tão estreita. Tão ardente. —Os dois dedos a penetraram de uma vez, enchendo-a, e Sabella jogou a cabeça para trás contra o corrimão da escada, soluçando de prazer.

Diga-me isso lhe exigiu. beijando e lambendo o clitóris.

—OH, Deus. Noah! —ofegou.

—Está tão molhada que me empapa... Tão excitada e selvagem, Sabella. Estala para mim, pequena. dê-me isso tudo.

Os dois dedos deslizaram profundamente, empalando-a e acariciando-a, mantendo-a em suspense. Dando-lhe o suficiente para que seu corpo se enchesse de desejo. Fodendo-a com os dedos e bebendo os fluidos de seu corpo.

—Está preparada para gozar para mim, Sabella? —Retirou os dedos para logo voltar a penetrá-la lenta e brandamente primeiro, e rápida e profundamente depois.

— Posso me afastar de seu pequeno clitóris por um momento? Ou prefere que siga? Poderia agüentar alguns poucos minutos mais. Ou poderia amarrar suas mãos ao corrimão e a manter neste estado durante horas.

Horas? Sabella piscou em meio daquele doloroso prazer. Sentia como começava a suar, a úmida necessidade que gotejava por suas coxas. Olhou fixamente as mãos, apertadas ao corrimão, e soube que não poderia suportá-lo. Jamais poderia seguir assim durante horas.

—Sabella. —Harmoniosa, rouca e profunda, a voz de Noah era como outra carícia. — Diga-me isso pequena. Tenho que prendê-la ou quer pensar um pouco mais?

—Noah. —Sabella tinha a voz entrecortada, ofegante. — Oh, Deus. Deixe que eu goze. Por favor, deixe que eu goze já.

—Que menina tão boa.

Em recompensa a sua súplica, voltou a lhe deslizar os dedos, pressionando dentro de seu ânus ao mesmo tempo em que aprofundava em sua vagina. Tomou o clitóris entre os lábios, chupando-o e torturando-o, e Sabella explodiu.

Lançou um grito e o êxtase estalou em seu interior, atravessando suas terminações nervosas, estremecendo-a e fazendo-a tremer enquanto se perdia em cada quebra de onda de prazer. O gemido que emitiu ressoou em sua cabeça. Tremeram-lhe as pernas e só as mãos que de repente lhe agarraram as coxas a mantiveram em pé.

E mesmo assim, ainda soluçava de necessidade. O prazer seguia percorrendo seu corpo, entretanto, necessitava de mais. Muito mais. Aquela necessidade se tinha colocado sob a pele e a tinha feito arder com um desejo tão desesperado como o que vislumbrava nos olhos de Noah.

—É uma gata selvagem. —moveu-se atrás dela, lhe soltando os dedos do corrimão e atraindo-a contra si. — Minha doce gatinha selvagem, tão sexy.

Os lábios de Noah descenderam sobre os seus; com feroz necessidade. Sabella gemeu e se arqueou contra seu corpo para lhe obrigar a penetrá-la com seu membro. Se não o fizesse já morreria de desejo, de necessidade.

—Tão formosa. —A voz do Noah era rouca agora, tão feroz como seu olhar. — Vamos pequena. Tenho outro presente para você.

Sabella lhe rodeou a palpitante ereção com os dedos tanto como podia, e quase gozou de novo ante a imagem de seu pênis, tão grosso e duro, sobressaindo-se entre a braguilha dos jeans e a perneira. Noah parecia um condenado deus do sexo enquanto ela se derretia como uma pequena escrava selvagem.

Ele lhe afastou os dedos, fez-a virar e a empurrou para as escadas. Ela subiu os primeiros degraus, desesperada por chegar ao quarto, mas Noah a deteve um segundo depois, obrigando-a a ficar de joelhos para penetrá-la com seu poderoso membro.

—Não posso esperar. —Aferrou-lhe os quadris com as mãos.— Deus, Sabella, não posso esperar.

Penetrou-a até o fundo, tão grosso e pesado, tão duro e profundamente que lhe roçou as paredes da vagina com as marcadas veias de seu membro, excitando terminações nervosas ocultas enquanto ela arqueava as costas e gritava seu nome.

Como se supunha que poderia sobreviver a isso? Noah piscou para afastar o suor dos olhos, ofegando com dificuldade ao sentir os músculos apertados e envolventes do sexo de Sabella ao redor de seu pênis.

Estava perdido na magnitude do prazer que a ela o fazia sentir. Aquela luxúria que sempre tinha contido se transbordava agora, totalmente livre. Tão selvagem e tão faminta que não podia nem queria controlá-la.

Bombeou sem piedade com o olhar fixo na união de seus corpos, observando como seu grosso membro saía dela, banhado em seus fluidos, para afundar-se de novo na vagina mais estreita e quente que ele tivesse conhecido nunca.

Como se supunha que ia sobreviver sem isso?

Como poderia sumir sem mais? Como poderia renunciar a ela?

Negou com a cabeça e a penetrou com mais rudeza, gemendo ao sentir a opressão escorregadia e desesperada dos músculos internos de Sabella ao longo de sua tensa ereção.

Enquanto investia tratando de chegar ao ponto mais afastado de seu interior, escutava os suplicantes gemidos de Sabella gritando seu nome. Ela se agitava em torno dele, atraindo-o para si. O roçar da carne contra a carne invadia os sentidos de Noah, como à pressão líquida dos músculos internos dela e a sensação do corpo feminino debaixo dele, oferecendo-se, entregando-se.

Noah sacudiu a cabeça e gemeu seu nome. Não podia pensar, quase não podia falar. Queria apenas possuí-la. Fazê-la sua total e completamente.

—Sim, maldita seja. —balançava-se dentro dela, roçando-a com cada centímetro de sua ereção e excitando cada ponto sensível em sua vagina— Maldita seja, pressiona meu pênis. Sabella. Demônios, sim. Goza em torno de mim, pequena.

Sabella gritava seu nome ao mesmo tempo em que sua vagina se contraía com violência ao redor do potente membro de Noah. Sua voz estava cheia de uma áspera emoção, com algo que era mais que luxúria, mais que necessidade, enquanto ele se derramava dentro dela até cair exausto.

Se tivesse que mover-se agora, quebraria-se em mil pedaços. Noah sentia como a emoção crescia em seu interior, lhe devorando. Que diabos ia fazer? Porque agora não sabia se poderia afastar-se dela, fossem quais fossem as conseqüências.

 

A cama de Sabella voltava a cheirar a ele. Quando despertou na manhã seguinte, Noah a embalava contra seu corpo como se fosse uma manta, e ela suspirou ante a certeza de que jamais deixaria de amá-lo. Nunca. E só Deus sabia o que ocorreria quando terminasse essa missão.

Roçou-lhe o braço com a mão sentindo a aspereza do pêlo escuro e por um momento se deixou levar pelo desejo que sentia por ele.

Noah tinha sido selvagem. Apaixonado. Depois de tomá-la nas escadas, tinha-a levado de novo à cama como se não pudesse ter suficiente dela. Como se Sabella não pudesse ter suficiente dele.

—Volte a dormir. — murmurou Noah a suas costas, e aquele tom, rouco pelo sono, recordou-lhe os tempos em que estavam casados.

—Mas já estou acordada. — replicou com voz baixa, quase em um sussurro.

—Ainda não é de dia.

Não, não o era. Mas ela não queria desperdiçar nem um segundo de seu tempo com ele.

—Alguma vez se levantou para ver o amanhecer? —Rodou sobre as costas e o olhou nos olhos.

As espessas pestanas lhe sombreavam as rosto. As maçãs do rosto de Noah não eram tão marcadas como tinham sido antigamente e podia ver o lugar exato onde lhe tinham quebrado o nariz.

Deus, que inferno devia ter suportado. E esteve sozinho. Como o tinha resistido?

—Às vezes. — disse ele entre dentes.

—Eu adoro o amanhecer. —Sabella olhou à janela. Dava para o leste e lhes permitia observar as primeiras luzes da alvorada.

— É quente, mesmo no inverno. É como ver um novo começo. Uma nova razão para levantar-se da cama. Se o sol pode sair a cada manhã, então há uma razão para a esperança.

Noah abriu os olhos. Por uma vez, seu olhar não era feroz. Nem escuro. Sabella mal pôde conter um grito de surpresa. Eram os olhos de Nathan. O olhar irlandês. Como pontas titilando com amor e risada em seu escuro rosto.

—É muito estranha. — resmungou antes de fechar os olhos de novo e estreitá-la mais contra si para apoiar a cabeça contra seu pescoço.

A ela lhe acariciou o braço que descansava sobre sua cintura e sorriu ante o gemido adormecido que ele emitiu antes de voltar a abrir os olhos e olhar de esguelha o relógio.

Noah tinha demorado em despertar tanto como pôde. Eram seis horas. Dentro de duas horas chegaria a ordem de prisão contra Delbert Ransome. Tinha que estar preparado.

Levantou-se da cama e ficou olhando para ela.

—Tenho que ir ao apartamento.

Ela afastou a vista, apertou os lábios e voltou a olhar para a janela. Noah soube que a estava machucando outra vez. E lhe encolheu o coração ao feri-la dessa maneira, lhe fazendo sentir que não era querida. Que não era amada. Quando era justamente o contrário.

—Ótimo. Vai. —Indicou-lhe a porta com a mão.

— Vou tomar banho.

Noah se inclinou sobre Sabella mantendo o lençol entre eles e lhe embalou o rosto com as mãos. Olhou-a fixamente nos olhos, daquela cor cinza suave, tão cheios de vulnerabilidade. Como se esperasse algo mais dele. Como se lhe suplicasse que fizesse realidade um sonho impossível. Ele não podia realizar os sonhos de Sabella, mas tampouco queria lhe fazer mais mal. Não podia permiti-lo. Feri-la o destroçava mais que quando pensou que morreria naquela cela onde Fontes o mantinha confinado.

—Gatinha. —Mordiscou-lhe os lábios. Os beijou. Permitiu-se saboreá-los só por um momento. — Se ficar, jamais estarei preparado a tempo. E sua segurança é a coisa mais importante para mim, pequena. Mais do que possa imaginar.

Sustentou-lhe o olhar, mais suave agora, com um estranho sorriso lhe dançando nos lábios, e lhe rodeou os ombros com os braços.

—Sentiria minha falta se algo me acontecesse, Noah?

Ele sentiu uma pontada nas vísceras ao pensar que pudesse lhe acontecer algo. Mesmo um simples arranhão.

—Estalaria um inferno se algo ocorresse a você, Sabella. — sussurrou olhando-a fixamente, sentindo que as emoções que tinha contido durante tanto tempo ameaçavam escapar a seu controle, e isso não podia acontecer. Não podia permitir. — Perderia a pouca prudência que restou, carinho. E nenhum de nós gostaríamos que acontecesse isso.

Enredou os dedos no cabelo de Sabella enquanto ela se movia sensualmente sob seu corpo, e não pôde evitar saborear seus lábios outra vez. Lábios doces e inchados pelos beijos que lhe tinha dado durante toda a noite. Que se fundiam com os seus e o faziam arder de paixão. Lábios que lhe recordavam a ereção que lhe palpitava entre as pernas.

—Deus, deixa-me sem fôlego. —separou-se dela, passou-se a mão pelo cabelo e pegou a cueca e o jeans do chão.

Os colocou enquanto ela se incorporava na cama e o olhava com aqueles quentes e sonolentos olhos cinza. Meteu o membro rebelde sob a cueca e o jeans, e subiu o zíper lentamente observando o provocador olhar de Sabella.

—Parece-me uma vergonha desperdiçar isso. — comentou ela levantando-se da cama e mostrando sua nudez com orgulho.

Noah sentiu que lhe secava a boca ao vê-la rodear a cama. A curva de seu traseiro o tentava. A pele nua da união entre suas coxas, àqueles seios altos e orgulhosos, e os mamilos duros e avermelhados. Maldição. Sentia tanta necessidade de fodê-la agora como na primeira vez que a tinha tomado.

—Vou tomar banho. — disse Sabella.

Ele gemeu.

—E eu ao apartamento. Chame-me antes de descer, assim poderei vigiar você.

—Farei-o.

Ela fechou a porta do banheiro e ele se obrigou a terminar de vestir-se.

Reticente, agarrou o celular, discou o número de Nik e esperou que respondesse.

—Sim? —Nik soava muito acordado.

—Onde está?

—No apartamento. Estou aqui toda a noite esperando que aparecesse.

Noah grunhiu ante o tom divertido do russo.

—Vou para aí. Necessito que vigie a casa enquanto tomo um banho. Depois falaremos.

—Entendido. —Noah desligou depois de Nik.

Colocou as botas e depois pendurou a perneira ao ombro com um amplo sorriso ao recordar o olhar no rosto de Sabella quando tinha visto seu pênis se sobressaindo do jeans como um ferro candente e as pernas embainhadas naquela perneira. Ela quase tinha chegado ao orgasmo ao tomá-lo em sua boca.

Sacudiu a cabeça antes de descer as escadas e pegar a camiseta do chão para colocar ,encontrou a jaqueta e o colete, e os deixou junto a perneira sobre uma cadeira.

Inspecionou a casa para maior segurança. Checou a parte traseira, a quarto de hóspedes e o banheiro, e logo retornou à porta principal.

Recolheu sua roupa e saiu. Fechou a porta com chave antes de dirigir-se a Harley, que comprovou também, assim como o pequeno BMW de Sabella, para ficar tranqüilo.

Não encontrou nada.

Deu uma olhada ao redor e respirou fundo. Delbert Ransome era um rato e não esperaria que os federais o prendessem. Descobririam quem eram os membros da tropa Black Colar e a toupeira, o homem que passava a informação.

No princípio tinha suspeitado de Rick Grayson, mas a informação que havia no dossiê dizia o contrário e o que sabia dele o confirmava. O homem que tinha sonhado ser xerife do condado desde que era um adolescente não teria vendido a si mesmo.

Entretanto, tudo apontava que havia um traidor no departamento de polícia. Alguém tinha delatado os três agentes federais, em especial aquela que tinha fingido ser estudante na universidade local. Ninguém deveria ter sabido nada dela. Ninguém.

Quando estacionou a Harley atrás da oficina, Nik desceu as escadas. O enorme russo se ocultou atrás de um canto do edifício para ter uma boa vista da casa da colina, mas mal ficava oculto por um álamo americano e as plantas de yuca.

Maldito viking russo. Era muito grande para poder esconder-se nesses locais.

Sacudindo a cabeça, Noah foi para as escadas para tomar um banho. O Ranger de Delbert não estava na oficina, mas assim que o prendessem, possivelmente suspeitassem de Sabella. Os rumores correriam como pólvora e se levantaria uma maldita fumaça. Noah tinha que estar atento se por acaso surja alguma complicação. Não podia permitir sob nenhuma circunstância que Sabella corresse perigo por tudo aquilo.

 

Nessa tarde, Sabella foi andando trabalhar. Vestida com jeans e uma das camisas velhas de trabalho de Nathan sobre uma camiseta sem mangas, entrou na oficina e agarrou do balcão a lista de trabalhos pendentes dos mecânicos.

Procurou Noah com o olhar e o encontrou inclinado sob o capô de um sedan antigo. Não estava tão interessado no motor como estava nos veículos que entravam no posto de gasolina e as pessoas que passavam pela loja de conveniência.

Rory se encarregava de abastecer, rindo e conversando enquanto colocava gasolina. E Toby estava fazendo o caixa na loja.

Finalmente, chegou a notícia da prisão de Delbert Ransome, acusado dos horríveis assassinatos de um jovem imigrante casado. Checou-se que o DNA achado em seu Ranger coincidia com o do marido. Segundo as notícias que estavam emitindo na rádio, Ransome teria tido que atropelar à vítima várias vezes para que as provas físicas tivessem ficado alojadas ali onde se encontraram.

A detenção se produziu graças a uma chamada anônima. Um excursionista que tinha estado na zona reconheceu o Ranger e Ransome como o homem que tinha atropelado o jovem casal.

O xerife, Rick Grayson, tinha confirmado a denúncia, os agentes federais tinham revistado a casa de Delbert e, ao fim de umas horas, encontraram as provas.

Noah se voltou para olhar Sabella e entrecerrou os olhos enquanto ela ouvia as notícias. Ela sabia muito bem quem tinha encontrado as provas ao revisar o Ranger de Ransome.

Sabella respirou fundo antes de passear o olhar pela oficina e dar-se conta de que um dos mecânicos não estava. Chuck Leão não era muito trabalhador, mas jamais tinha faltado um dia ao trabalho.

Aproximou-se de Noah com discrição e lhe perguntou:

—Onde está Chuck?

—Ainda não sei. — respondeu ele em voz baixa.

Sabella se aproximou ainda mais.

—Foi ele quem se encarregou do Ranger de Ransome, não é?

—Sim. —Noah assentiu com a cabeça antes de inclinar-se sob o capô para checar uma das conexões.

—Ligo para ele? —sussurrou.

—Sim, mas Toby já fez isso, embora não obteve nenhuma resposta. —A voz do Noah era ainda mais baixa que a dela. — Vá trabalhar Sabella. Não ande fazendo perguntas e não se preocupe.

Noah levantou o olhar do capô para ouvir que outro veículo entrava no posto de gasolina.

Sabella olhou a seu redor e fez uma careta ante a crescente multidão. A oficina de Nathan sempre tinha sido o lugar ideal para inteirar-se de tudo o que ocorria. Estava nos subúrbios da cidade, mas o estacionamento era o suficientemente grande para que os clientes não tivessem que preocupar-se com o espaço nem por quanto tempo ficassem. Alguns senhores idosos permaneciam de pé na porta da loja de conveniência com um café na mão enquanto trocavam rumores, e outros clientes se reuniam em outras zonas para fazer o mesmo.

—Fique onde possa ver você. — resmungou Noah a Sabella, lhe lançando um duro olhar. — Todo o tempo.

Ela assentiu com a cabeça antes de retornar ao carro esportivo que estava arrumando.

Noah observou às pessoas, tomando nota de boa parte da conversação que podia escutar.

Ransome gostava de correr com outros homens, nomes que não tinham aparecido na investigação, mas que a unidade investigaria agora.

Também lhes tinham chegado informe das provas achadas na casa de Ramsome, via Jordan e Tehya. De fato, havia um delegado interferindo na investigação. Um homem conhecido por sua amizade com Gaylen Patrick. Jordan o estava investigando também.

E Delbert Ransome seguia sem dizer nada.

E se por acaso fosse pouco, Chuck Leão, o mecânico suspeito de pertencer à tropa, tinha desaparecido. Quando Micah revistou seu apartamento na cidade, encontrou sinais de luta e o celular sob o sofá, aberto. A última chamada correspondia a um número sem identificar. Codificado.

Noah começava a pensar que Chuck Leão estava em sérios apuros e que possivelmente alguma agencia de Washington não tinham informado à unidade de Operações Especiais sobre seus agentes desdobrados na zona.

Negando com a cabeça, afastou-se do carro que estava reparando. Dirigia-se à parte traseira da loja de conveniência quando o sino tilintou de novo na porta de entrada e viu o homem que entrava na loja.

Grant Malone.

Noah observou através da porta de vidro da geladeira como Grant se aproximava de Rory, que estava pegando um refresco de outra geladeira.

—O que diabos acontece, Rory? —Grant agarrou a seu filho pelo braço e o sacudiu antes que este se soltasse.

—O que você faz aqui? —resmungou Rory. — De visita pelos bairros pobres?

—Não seja estúpido. — rugiu Grant. — Quando vai se desfazer desse lugar? Quantas vezes tenho que dizer a você, que acabará se colocando em confusões?

—Vai para o diabo. — lhe espetou Rory, e Noah pôde ver a cólera que começava a fluir entre ambos os homens.

— Ainda quer nos arruinar a vida verdade? Esqueceu a promessa que fizemos a Nathan antes que partisse na sua última missão e agora quer trair sua esposa.

Noah fechou a mão com força ao redor da garrafa de água que sustentava enquanto cravava os olhos nas costas de Grant Malone. Aos cinqüenta e cinco anos, ainda estava em boa forma. Tinha o cabelo completamente branco, mas seguia tendo a pele morena e os ombros erguidos. Os homens Malone não envelheciam mal, e Grant era a prova viva disso.

—Nem você nem ela entendem as razões. —grasnou Grant.— E você corre perigo aqui. Toda a cidade sabe de Ransome e que seu Ranger esteve nesta oficina. Que demônios encontraram?

A expressão de Rory era de absoluta surpresa.

—Perdeu a cabeça? —Empurrou a seu pai. — Se tivesse encontrado algo, teria me mantido afastado de Delbert. Maldito seja, é assim como pensa destruir Sabella? Pulverizando esses rumores para que venha alguém para lhe cortar a garganta?

Já era suficiente.

—Rory. —Noah se virou, cuspindo o nome de seu irmão.

Os dois homens o olharam. Grant entrecerrou os olhos e suas mãos se converteram em punhos quando Noah caminhou para eles lentamente.

—Deveria estar se ocupando do abastecimento. —Noah indicou o posto de gasolina com a cabeça. — Toby não pode encarregar-se de tudo sozinho.

Seu irmão passou a mão pelo rosto com irritação.

—Demônios. Justo o que me faltava. Que você também interfira nisto.

—Ele só se deita com ela. —Grant examinou Noah, olhando-o nos olhos ameaçadoramente. — Por que deveria lhe importar que Sabella morra?

Um segundo mais tarde, Grant Malone se afogava.

Noah ignorou as unhas que seu pai lhe cravava no pulso quando apertou com força uma mão em torno de sua garganta, empurrando-o e imobilizando-o contra a geladeira.

—Um dia destes, alguém cortará essa maldita mão. —resmungou Rory antes de sair furioso da loja.

Noah cravou o olhar nos olhos de seu pai. As bolinhas verdes brilhavam sobre o tom azul irlandês que se destacava contra o rosto repentinamente pálido.

—Saia—lhe ordenou Noah lentamente.— Vá e não volte por aqui.

Grant lhe devolveu o olhar. Não havia medo em seus olhos, mas sim um indício de reconhecimento que Noah não quis ver.

—Já é suficiente. —Foi a voz de Sabella que atraiu sua atenção.

Noah virou a cabeça devagar e a olhou.

—Solte-o. —pediu ela com os lábios pálidos. — Agora.

—Sabella, termina de examinar esse carro. — lhe sugeriu Noah. — O senhor Malone e eu só estamos mantendo um bate-papo amistoso.

Ela olhou fora da loja.

—Se não quer ter público, solte-o. Já.

Noah o soltou muito devagar, observando como Grant o olhava com o que parecia um pouco de horror. Levantou a mão e esfregou a garganta. Depois tentou falar, mas manteve os lábios selados.

—Isso mesmo. —disse Noah com suavidade. — Não vai dizer nada mais. Suba em seu carro e saia daqui agora mesmo. Porque não queremos ter nada a ver com você. Entendeu-me?

Grant piscou sem afastar o olhar dele.

—Embora, possivelmente, tenha algo que dizer. —Noah esboçou um lento sorriso. — Podemos discuti-lo mais tarde. O que lhe parece a meia-noite? —Baixou a voz. — Posso me deixar cair por sua casa quando estiver bem agasalhado na cama. Poderia me colocar em seus pesadelos e depois conversar sobre isso.

—Não se atreverá. —grunhiu Grant. — Não o fará.

Noah sorriu amplamente.

—Me teste. Caso se atreva.

—Deixe o partir, Noah. Agora. —A voz de Sabella soou inflexível, o advertindo que precisaria de mais provocação para se enfurecer.

Ele retrocedeu e Grant se apressou a abandonar o edifício.

—Não volte a interferir. — advertiu então Noah a Sabella, olhando-a com fúria.

Virou-se e passou junto a ela com passo irado, retornando à oficina enquanto uma fria cólera o corroia por dentro.

Seu pai. Aquele filho da puta era seu pai, e ele mal pôde controlar o ódio, o desejo de lhe matar quando lhe ouviu dizer a Rory que abandonasse Sabella. Que rompesse o último vínculo que ela tinha com a família. Sabia que seu irmão jamais o teria feito, mas mesmo assim o enfurecia até níveis perigosos que Grant seguisse tentado convencê-lo. E não sabia por que. Não entendia. Tirou a tampa da garrafa de água e a bebeu como se dessa maneira pudesse aplacar a sede de vingança que o fazia arder por dentro. Não funcionou e, antes de poder controlar-se, jogou a garrafa meio vazia contra a parede da oficina, onde impactou com um surdo ruído antes de cair ao chão.

Nik levantou a cabeça do veículo que estava reparando, observou a garrafa, Noah, e depois a porta do escritório.

Noah seguiu a direção de seu olhar e viu Sabella com os olhos cheios de dor fixos nele.

Aquela era uma das razões pelas quais não podia ficar, pela ardente necessidade de acabar com qualquer um que lhe fizesse mal. A fúria que crescia em seu interior, que o despojava da lógica e o controle, que o fazia querer saborear o sangue ou a luxúria. Algumas vezes, as duas coisas de uma vez.

Ela umedeceu os lábios e se aproximou dele. Seu rosto tinha perdido qualquer rastro de cor e os olhos cinza brilhavam como diamantes pelas lágrimas.

Deteve-se ante o Noah e, simplesmente, apoiou a cabeça contra seu peito, acalmando dessa maneira sua fúria. Rodeou-a com os braços e, atrás do capô do carro que os protegia, estreitou-a contra seu corpo enquanto uivava por dentro. Porque a realidade era que não sabia se poderia deixá-la.

—Volte para trabalho. —Noah deu um passo para trás e passou a mão pelo cabelo, lutando contra a sensação de traição que o tinha alagado por ouvir o que havia dito Grant sobre Sabella.

Em mais de uma década só lhe tinha pedido a seu pai uma coisa: «Se me acontecer algo, protege a Sabella. Cuide dela.» E Grant lhe tinha jurado que o faria. Mas lhe tinha mentido. Tinha permitido que Sabella sofresse. Fazia todo o possível por lhe arrebatar a casa e o negócio que Nathan lhe tinha deixado.

Sacudiu a cabeça e retornou ao trabalho. Relegou os pensamentos sobre Grant Malone ao fundo de sua mente e prometeu que lutaria com eles mais tarde. E também se encarregaria de seu pai, disso não cabia nenhuma dúvida.

 

Duas horas mais tarde, Noah estava encerrado no escritório e apertava a mandíbula com fúria enquanto sustentava um telefone de linha protegida contra o ouvido e escutava o relatório de Jordan.

—Delbert Ransome foi posto em liberdade por ordem do juiz federal Cari Clifford de Houston, Telhas. —o informou Jordan.

— Kevin Lyle, um delegado, aterrissou faz uma hora no aeroporto em um vôo particular, com a ordem em seu poder. Assumiu a investigação do caso.

—E o que opinam os federais? —perguntou Noah brandamente.

—Meus contatos estão que ardem. — cuspiu Jordan. — O juiz Clifford soltou Ransome com a desculpa de que seu Ranger tinha sido roubado e que esteve desaparecido durante vários dias na data dos assassinatos. Ao que parece, Delbert estava bêbado nesse momento, e quando passou a bebedeira, encontrou o veículo em um dos campos. Não deu queixa porque pensou que o tinha estacionado em outro lugar.

Noah soprou.

—Eu também acho que é uma merda. —grunhiu Jordan. — Entretanto, temos as pistas que necessitamos. E não temos que seguir as normas, Noah. Nossas ordens são pôr fim a tudo isto, sem importar o que tivermos que fazer.

Nem a quem tivessem que matar. Noah não era resistente a matar quando fosse necessário, mas gostava de ter provas antes de apertar o gatilho ou empunhar a faca.

—Vamos seguir vigiando-os. —disse ao Jordan em voz baixa. — Que Travis volte a ocupar seu lugar. Cedo ou tarde conseguiremos mais provas.

—Estamos investigando os nomes que deu a Tehya e a mim. E rastreando a zona com o satélite. Vigie suas costas. Quando atacarem, teremos que nos mover com rapidez.

Vigiar. Esperar. Quando começasse a próxima caçada, os caçadores iriam encontrar com muitas surpresas.

—Conseguiram tirar algo de Delbert durante o interrogatório? —perguntou Noah. Através da porta de vidro do escritório, observou que Sabella analisava com o computador de diagnóstico o esportivo no qual estava trabalhando.

Estava suada, cheia de graxa, com algumas mechas soltas, e mesmo assim, nunca lhe tinha parecido mais bela.

—Nada. Nem sequer pediu um advogado. Limitou-se a ficar lá sentado olhando os agentes até que chegou a ordem de sua liberação. Depois, o bastardo, sorriu.

Tinha sabido que o protegeriam. Qualquer um que participasse daquelas caçadas sabia que tinha as costas cobertas. Noah assentiu lentamente, pensativo.

—Terá que descobrir as cartas de interesse. — disse ao Jordan, falando em chave e lhe indicando que alguém devia seguir ao delegado.

—É necessário que tiremos o xerife do jogo. — indicou Jordan— Ouvi que quase deu um murro no delegado e que abandonou o escritório feito uma fúria. Ao que parece, houve uma fuga de informação. Alguém avisou à tropa de que as provas tinham sido recolhidas antes da detenção. E parece que a informação saiu de seu escritório. Tirou seu ajudante a empurrões, enviou sua secretária para casa e jogou a chave. Ninguém o viu após isso.

Noah entrecerrou os olhos. Possivelmente tinha chegado o momento de falar com o xerife.

—Encarregarei-me de repartir as cartas. — disse a Jordan, lhe indicando que localizaria os membros da equipe lá onde fosse necessária.

— Mas primeiro devemos procurar o último desaparecido. —Chuck Leão, de quem Noah suspeitava que era mais que um mecânico, ou que um membro da tropa.

—Descobriremos quem vazou a informação. — prometeu Jordan. — Aposto que o xerife também seguirá procurando. Porei você a par do que averigüemos.

Noah fechou o celular lentamente e continuou observando Sabella.

Ela retirou uma mecha do rosto, deixando uma mancha de graxa na têmpora.

Estava a vontade na oficina. Não parecia um mecânico, mas lidava à perfeição com um motor. Noah havia visto manuais de veículos na casa e sabia que ela se mantinha em dia com os últimos avanços e tendências. Inclusive se matriculou junto com Rory em um curso em Odessa sobre as novas tecnologias automobilísticas.

Sua grande e vivaz esposa era mais que capaz de cuidar de si mesma e ele jamais tinha suspeitado. Era forte e tenaz, e se afastava lentamente das lembranças do homem que a tinha amado com toda sua alma.

Tinha tomado um amante. Não importava que seu amante fosse seu próprio marido e que ela não soubesse. Tinha exorcizado o fantasma de Nathan de seu quarto, em sua casa e em seu Ranger.

Noah inclinou a cabeça e olhou o óleo que lhe manchava as mãos. Sabella tinha seguido adiante. Não tinha direito a mudar isso. Uma vez que ele se fosse, ela derramaria algumas lágrimas, mas superaria e encontraria a alguém que a merecesse. Alguém inteiro. Sem demônios. Sem um passado que ocultar nem um inferno a suas costas.

Levantou a cabeça de repente quando Rory entrou no escritório. Seu irmão ainda estava furioso e fechou com força a porta. Seus olhos ardiam de pura cólera enquanto lançava um bufo ao vê-lo olhar pelo vidro da porta.

Sabella o estava olhando agora. Noah sentiu seus olhos fixos nele e baixou a cabeça, quase assustado de enfrentá-la.

—Se voltar a deixá-la, não retorne. —advertiu Rory lhe dirigindo um olhar irado.

Noah passou a mão pela mandíbula antes de sacudir a cabeça lentamente.

—Faz seu trabalho, Rory. E deixa de me irritar.

—Vou dizer a você o mesmo que disse ao velho, vai para o diabo. —replicou. — E caso ocorra de você voltar a me agarrar pelo pescoço, contarei tudo ao vovô.

—Parece um pirralho de dez anos. — grunhiu Noah.

—Mas funciona. — resmungou Rory, agarrando um porta-pápeis e retornando à loja de conveniência.

Noah teria gostado de sorrir. Seu irmão não brincava e ele sabia. Teria que o matar para lhe fechar a boca estivesse empenhado em contar tudo ao vovô.

Maldição. O vovô. Sabella. Rory. Negou com a cabeça. O que estava fazendo a todos? Por que demônios havia pensado que poderia levar a cabo a missão e depois partir da cidade como se nada tivesse ocorrido?

Porque não era mais que um fodido imbecil.

 

Fecharam a oficina às sete. Tinham tido clientes durante todo o dia e depois que puderam descansar. Os rumores se estenderam por toda a cidade e tinham chegado até a oficina, e os que não o tinham feito, tinham-nos escutado Nik e Micah na cidade. Travis vigiava o rancho Patrick, ao qual, curiosamente, tinha chegado nessa mesma tarde o delegado, Kevin Lyle, acompanhado de Delbert Ransome.

Chuck Leão seguia sem aparecer e Rick Grayson se encerrou em seu escritório para revisar arquivos e gritar por telefone. Se dizia que exigia respostas sobre a informação vazada.

Noah sentia que a missão estava chegando a seu desenlace; seu sexto sentido lhe advertia que estava a ponto de ocorrer algo.

Quando entrou na casa precedendo a Sabella, Tinha os sentidos alerta e esquadrinhou cada canto, cada bolinha de pó, cada greta do chão.

Uma vez que checou que estavam a salvo, desceu as escadas e encontrou Sabella sentada na poltrona. Era algo que ela estava acostumada fazer antes. Mas não estava olhando as unhas nem vendo televisão. Em vez disso, tinha a cabeça encurvada enquanto brincava com a aliança que agora usava no dedo correto.

Olhava o anel com o cenho franzido e dava voltas no dedo como se tentasse adivinhar como diabos tinha chegado até ali.

—Tudo está em ordem. —Terminou de descer as escadas e se dirigiu à cozinha. — Tenho fome. O que te parece se pedir uma pizza?

Ao entrar na cozinha, seu olhar foi atraído de novo para aquela condenada garrafa de vinho centenário. Demônios, ele a tinha reservado para o dia em que terminassem de pagar a hipoteca da casa e a oficina. Tinha-lhe saído caro. Tinha-a trocado pelo Chevy 57 que tinha reconstruído peça a peça.

Também viu a garrafa que Kira e Sabella tinham dado conta. Não disse nada, mas estava seguro de que lhe tinha eriçado o pêlo. Franziu o cenho ao pensar nisso e de repente sentiu que Sabella entrava na cozinha atrás dele.

—Sinta-se em casa. — comentou a ela com sarcasmo ao ver que Noah pegava o telefone da cozinha e discava o número escrito no papel grudado na parede. Era evidente que Sabella pedia pizza freqüentemente.

—Do que quer a pizza? —perguntou-lhe Noah antes de terminar de discar.

Dirigiu-lhe um olhar zombador.

—De algo que a pia pudesse comer também. —encolheu os ombros.

Ao menos isso não tinha mudado com os anos.

Noah acabou de discar e pediu a pizza. Desligou, agarrou uma das garrafas e a levantou para ela.

—Tem mais?

Sabella olhou a garrafa e logo a ele.

—Muitas. Meu marido as colecionava.

—Poderíamos beber uma com a pizza. — sugeriu.

Ela observou a garrafa com o cenho franzido enquanto ele a deixava sobre a balcão.

—Estão no porão. —Indicou a porta— Pega qualquer uma que queira.

Havia uma em particular que ele queria derramar e saborear no corpo de Sabella. Um vinho antigo sem preço que tinha reservado para alguma ocasião muito especial como suas bodas de prata ou seu primeiro filho. Mas sempre com a intenção de compartilhá-lo com ela. O que, de fato, ia fazer agora.

—Não abra a porta a ninguém. — advertiu.

Ela pôs os olhos em branco.

—Não pensava fazê-lo.

Noah assentiu e se dirigiu ao porão. Abriu a porta e começou a descer as escadas de madeira que ele mesmo tinha feito.

Ao chegar na parte debaixo olhou a seu redor. O porão estava bem iluminado e pôde ver que o tecido plastificado que cobria a mesa de bilhar estava cheio de pó. A estante de madeira onde guardava sua coleção de vinhos se obscureceu e as garrafas também estavam cobertas de pó.

Era óbvio que Sabella não tinha descido muito freqüentemente. Não o tinha esperado tampouco. Ela tinha parecido compreender que aquele era seu espaço particular, um lugar onde pudesse refletir.

Escolheu uma garrafa de vinho e olhou a etiqueta, sentindo outra vez aquela opressão no peito. Havia quase duas dúzias de garrafas de vinhos antigos. Começou às colecionar ao completar a maior de idade. Tinha-as trocado ou comprado preços muito bons em algumas ocasiões. E cada uma tinha um significado especial para ele. Tinha previsto em que ocasião abriria cada uma delas.

Deu a volta e lançou outro olhar ao porão, observando como Sabella se detinha na porta e o olhava.

Seu rosto mal era visível entre as sombras, mas podia sentir a preocupação que a embargava.

—Não limpo há muito tempo. —disse brandamente enquanto ele voltava para as escadas.

— É só um porão. —Noah subiu os degraus resolutamente enquanto ela retrocedia à cozinha com uma expressão pensativa.

— Possivelmente deveria fazê-lo.

—Como disse, é só um porão. Não parece que o use muito.

—Não. Não estou acostumado a descer. —Negou com a cabeça antes de lhe dar as costas. — Tenho que tomar um banho.

Sabella subiu ao segundo andar com rapidez, apertando uma mão contra o estômago e tratando de conter as lágrimas que ameaçavam escapar de seus olhos.

Poderia consegui-lo, disse a si mesma. Poderia dirigir aquilo e sobreviver depois se Noah a deixasse.

Mesmo assim, seguia aferrando-se à esperança de que ele não se fosse. Podia fazer apenas isso para manter-se bem.

A pizza estava boa e a meia garrafa de vinho que consumiram foi pura ambrósia. Apesar de estar em meados de verão, Sabella diminuiu o ar condicionado e acendeu a chaminé.

Comeram a pizza diante do fogo, com o ar frio do ar condicionado sussurrando a seu redor enquanto se esquentavam nas chamas da chaminé.

Depois de comer, arrastaram as pesadas almofadas do respaldo do sofá e os estenderam sobre o chão para desfrutar daquele momento de paz. A Sabella não surpreendeu que a cabeça do Noah acabasse em seu colo. Assim era como tinham terminado sempre as frias noites de inverno. Com a cabeça masculina em seu colo e os dedos dela brincando com seu cabelo.

Perguntou-se se ele também recordaria aquilo enquanto olhava fixamente o fogo com as mãos cruzadas no estômago. Recordaria Noah as noites que tinham compartilhado fazendo simplesmente isso?

Além de outras coisas, claro.

Sabella esboçou um sorriso ante esse pensamento. O fogo que tinham acendido na chaminé tinha sido muitas vezes testemunha de como faziam amor. Tinham passado algumas noites só tocando-se e abraçando-se, e outras consumindo um ao outro, devorando-se com suspiros, beijos e paixão.

Olhou-o fixamente no rosto. As chamas se refletiam no feroz tom azul daqueles olhos sonolentos. Deslizou o olhar pelo corpo de Noah e sentiu a familiar pontada de desejo ante a imagem da pesada protuberância que avultava a braguilha do jeans.

—Está excitado? —A voz de Sabella era tranqüila, quase divertida.

Ele virou a cabeça e procurou seu olhar.

—Se estiver contigo, estou duro. — admitiu em tom sombrio. — Acredito que é uma má influência para mim, Sabella. Provoca-me pensamentos inquietantes e selvagens.

—Realmente? Que tipo de pensamentos inquietantes e selvagens são esses?

Se incorporou e a olhou.

—Penso em quão doce e molhada estará para mim. —Acariciou-lhe a bochecha com uma mão e enterrou os dedos no cabelo que lhe emoldurava o rosto. — Em como seria tomar e fodê-la até que grite meu nome sem parar.

—Isso você já fez. —sussurrou ela, recostando-se na almofada que tinha atrás de si. — E mais de uma vez.

—Mmm, realmente? —Noah inclinou a cabeça e pousou os lábios sobre os de Sabella. — Possivelmente queira voltar a repeti-lo.

Beijou-a com consciência. Ela gemeu contra seus lábios, sentindo que Noah se afundava nela com esse beijo, que fazia amor a seus lábios, a sua boca, que a saboreava, arrastando-a para um mundo no que só existiam eles dois.

Sabella lhe rodeou os ombros com os braços e lhe cravou as unhas enquanto ele se tendia sobre ela.

Aquela era outra lembrança, outro momento ao qual aferrar-se. Sentiu que Noah deslizava a mão por sua perna, debaixo do leve vestido do verão que pôs depois do banho.

A seda subiu por suas coxas com facilidade, ficando quase à altura dos quadris quando ele se separou dela para ficar em pé.

A luz do fogo titilou sobre o corpo do Noah. Havia tomado banho antes de colocar uma camisa e jeans limpo. Tirou toda a roupa com rapidez e ficou nu. Sua pele morena brilhava tenuemente sob a suave luz das chamas e seu membro se sobressaía de seu corpo, pesado e cheio de veias, mais escuro na glande.

—É sua vez. — ajoelhou-se ao lado de Sabella, agarrou a barra do vestido e o tirou pela cabeça.

Ela não pôs nem calcinha nem sutiã. Só usava uma tornozeleira e a aliança.

Estava casada. Maldita seja. Podia existir um monte de razões para que lhe ocultasse quem era, mas seguia sendo sua esposa. Por agora. Por agora, ela era Sabella Malone, e ele, Nathan Malone. Um fantasma. Uma visão do passado com outro rosto, com outro nome, mas seguia sendo o homem que ela amava.

—Me beije. — deitou-se sobre o grosso tapete, incrivelmente suave, que cobria o chão diante da chaminé.

Afastando as almofadas, Sabella arqueou as costas e viu a surpresa que brilhava nos olhos masculinos.

—Onde? —Noah esboçou um sorriso inquietante.

—Pode começar aqui. —levou os dedos aos lábios. — Daqui a pouco discutiremos o resto sobre o caminho.

Noah arqueou as sobrancelhas, deixando claro que a temeridade de Sabella ia ser recompensada. Deitou-se a seu lado, agarrou-lhe o quadril com a mão e a virou para ele.

—Não vou quebrar. —disse isso ela com um ligeiro sorriso. — Beije-me, Noah. Beije-me como se deve.

Os olhos do Noah arderam, voltaram-se mais escuros, mais ferozes.

—O que quer dizer? —A voz masculina era mais áspera e gutural que o habitual.

—Sonhou alguma vez com um beijo e desejado que esse sonho fosse realidade?

—Cada vez que sonhei que estava beijando você. —Roçou-lhe os lábios com o polegar.

—Me beije dessa maneira. Como em seus sonhos.

Noah lhe apertou o quadril. Seus olhos flamejaram e logo a beijou como nunca a tinha beijado antes. Inclinou-se sobre ela tocando-a unicamente com os lábios, com a língua. Beijando-a intensamente. Fez-lhe abrir a boca e a beijou com uma voracidade e um ânsia que rasgou o coração de Sabella.

Todos os sonhos reprimidos, a dor de suas noites solitárias, os pesadelos que a tinham deixado sem fôlego enquanto o chamava a gritos, tudo aquilo estava naquele beijo que lhe devolveu.

Sabella não o tocou de nenhuma outra maneira. Cravou as unhas no tapete e sentiu que o corpo de Noah se esticava sobre ela. Fizeram amor com suas bocas. Com suas línguas. Lambendo-se e gemendo com um desespero que incrementou o desejo que os consumia.

Quando se detiveram para tomar fôlego, não era oxigênio o que necessitavam. Sabella levantou os braços e rodeou as costas de Noah com eles para atraí-lo para si. Ele deixou um ardente rastro com os lábios em seu pescoço e lhe roçou o torso com os mamilos.

O desejo pulsava dentro deles. Alagava o ar, cobria-os com o brilhante suor que provocavam as ardentes chamas que cresciam em seu interior, que os envolviam.

—Preciso de você. — suspirou Sabella contra seu pescoço, mordiscando lhe deixando marcas sob a barba curta enquanto tentava aproximar-se mais dele. — Necessito-o por completo.

—Deus. Já me tem Sabella. —Noah deslizou os lábios por sua garganta. Lambeu-lhe as curvas dos seios e, um segundo depois, a ela se arqueava e gemia enquanto lhe chupava o mamilo.

Sabella morria pela necessidade de abraçá-lo, de conservá-lo em seu interior para sempre. Embora só fosse uma pequena parte dele.

Não podia permitir-se acreditar que Noah iria embora. Negava-se a pensá-lo sequer. Prometeu a si mesma que seu amor o reteria. Tinha que fazê-lo.

—Quente como o inferno. —gemeu ele percorrendo com seus lábios os seios de Sabella, seu ventre. — Abre as pernas, Sabella. Deixe-me ver se me necessita de verdade.

Ela abriu os joelhos e separou as pernas. Observou como ele se ajoelhava insistindo para abrir-se mais, via como lhe brilharam os olhos quando os cravou nas dobras inchadas da união entre suas coxas.

—Maldição, está molhada. —sussurrou. — Sempre está molhada para mim. Tão doce.

Os sucos de Sabella brilhavam em seu sexo. Consciente de seu poder como mulher, deslizou a mão por seu estômago para seu púbis e acariciou brandamente a carne que rodeava seus clitóris.

O membro do Noah pulsou em resposta. A ela observou a gotinha de fluido cremoso que apareceu na diminuta abertura da glande enquanto ele a olhava.

—É assim como você gosta? —grunhiu ele.— Suave e lento?

Sabella curvou os lábios com desejo.

—É assim como gosta você?

Noah umedeceu o lábio inferior com a língua e a olhou fixamente seus olhos.

—Quero tomá-la como um animal. —disse com voz áspera. — Com tal força e profundidade que você esqueça tudo exceto que estou fodendo-a.

Sabella moveu os dedos sob o atento olhar masculino e abriu as úmidas dobras, lhe permitindo observar como afundava um dedo em seu sexo e voltava a tirá-lo brilhante por seus sucos. Aproximou-o dos lábios do Noah e ele emitiu um gemido entrecortado antes de introduzir o dedo na boca.

Sem lhe dar trégua, Noah baixou a mão e Sabella soltou um grito torturado quando a encheu com dois dedos.

Penetrou-a com firmeza enchendo-a de prazer e alcançou com a ponta dos dedos o lugar mais sensível de sua vagina.

Sabella arqueou os quadris sem deixar de olhar um só instante a Noah. Foi a imagem mais erótica que tinha visto; ver como a penetrava com os dedos, para logo retirá-los antes de voltar a empurrar dentro dela.

—Vou saborear cada centímetro de você, pequena. —O tom erótico e cheio de matizes sexuais de sua voz atravessou o ventre de Sabella como uma lança. — Não conheci nada tão doce.

Torturou-lhe o clitóris com a língua sem deixar de observá-la, imobilizando-a com o olhar. Roçou-lhe com a ponta o tenso broto antes de mordiscá-lo e saboreá-lo com longas e lentas lambidas enquanto colocava e tirava os dedos de sua vagina.

—Vais me matar. —ofegou ela.

—Então foderemos até morrer —rugiu ele antes de sugar o sensível nó de nervos com os lábios fazendo que ela se retorcesse de prazer. Chupou-a com força, roçando com a língua sua carne mais sensível ao mesmo tempo em que ela gritava seu nome.

—Não é justo. — protestou Sabella.

—Mmm. É tão doce. —Seguiu lhe beijando o clitóris com suavidade.

—Quero tocar você.

—Volta-me louco de desejo quando me toca. —Mordeu-lhe a coxa. — Faz com que perca o controle.

—Sim. — gemeu ela, incorporando-se sobre os cotovelos sem deixar de olhá-lo. — Como você a mim. Deite-se Noah. Deixe-me tocar você. Deixe-me montar você. —Brindou-lhe um amplo sorriso. —Tem medo de não poder suportá-lo?

Demônios, sabia que não poderia suportá-lo. Mas era um desafio, uma provocação, e Sabella jamais lhe tinha desafiado dessa maneira.

Noah retirou os dedos de seu interior e sorriu antes de colocá-los na boca. Sabella tinha o rosto ruborizado e os olhos escuros, e era a visão mais linda que já tinha visto.

Logo se deitou como lhe tinha pedido Sabella. Observou-a com o corpo tenso enquanto ela se colocava entre suas pernas como ele tinha feito antes com ela.

—Oh, acredito que vou passar um tempo grande aqui. —Deslizou as mãos pelos músculos tensos das coxas até chegar à virilha, mas sem lhe roçar os testículos.

—Está jogando um jogo muito perigoso, pequena. —advertiu Noah com a voz mais áspera que o normal. O sangue bombeava com força e rapidez por todo seu corpo, e teve que pôr as mãos sob a cabeça para evitar colocá-la em cima dele e tomar o que sabia que ia lhe dar.

—Eu gosto de viver perigosamente. —Sabella inclinou a cabeça e posou o lábio em seu testículo.

—OH, Deus!

A boca dela deslizava de um a outro, gemendo, estimulando-o com a língua, lambendo o tenso escroto sem que ele pudesse evitar arquear os quadris.

O gemido de Sabella lhe alagou os sentidos enquanto a observava. Não podia deixar de fazê-lo. Esse era um aspecto de sua esposa que jamais tinha conhecido. Felino, sedutor. Acariciou-o com a língua o eixo venoso de seu pênis e logo se dedicou a brincar com a glande.

Viu como lhe lambia a ponta. Como o amava com sua boca. Como aceitava com gosto cada centímetro daquela ereção tão dura.

Noah sentiu que a fronte se cobria de suor e que o desejo que consumia seu ventre lhe rasgava por dentro.

Sabella gemeu e sugou a glande com mais força. Tragando-o. Torturando-o até que ele acreditou que morreria pela necessidade de fodê-la. De possuí-la, de afundar-se nela até que gritasse seu nome.

Finalmente, Sabella afastou os lábios e ficou em pé. Noah levantou o olhar aos sucos que brilhavam naquele precioso e nu sexo, e umedeceu o lábio, querendo saboreá-los. Sabendo que necessitava fodê-la.

Afastou as mãos debaixo da cabeça e se segurou o pênis, oferecendo-lhe enquanto lhe agarrava um tornozelo com a mão livre.

—Quero ver você. —grunhiu— Deixe-me ver como me toma, Sabella.

Com os pés plantados sobre o chão, ela abriu os joelhos e, mantendo as coxas abertas, desceu para ele. Noah lhe passou a mão pela perna até lhe agarrar o quadril, contemplando com agonizante prazer como a glande molhado separava as dobras inchadas.

Observou como os lábios do sexo de Sabella acolhiam a ponta de sua ereção e sentiu a ardente calidez feminina, o desejo nu e úmido que emanava dela ao começar empalá-la.

Sabella tomou só a glande, logo se ergueu, e ele pôde ver os sucos que cobriam a ponta de seu pênis antes que ela descesse de novo, para repetir depois todo o processo.

As pálidas e suaves coxas da Sabella se esticaram. Os inchados e duros topos de seus seios refulgiam sob a luz do fogo. Viu como tomava um pouco mais antes de retirar-se e deixar à vista o quente e escorregadio néctar que lhe cobria o membro.

Seguiu baixando sobre ele lentamente. Recreando-se em cada penetração, em cada contração de seus músculos internos em torno de seu pênis.

Noah sentiu que o suor lhe cobria o corpo, e como as unhas de Sabella lhe cravavam no peito antes de tomá-lo por completo descendo lenta e profundamente sobre seu corpo.

Percebeu claramente o momento em que ela se deixou levar pelo prazer, porque também ocorreu a ele. Quebrado seu controle, atraiu-a para seu corpo e lhe agarrou o traseiro impulsionando-se para diante enquanto Sabella fazia o que lhe tinha prometido. Montar-lhe com rápidos e duros vaivens de seus quadris, para logo mudar o ritmo e mover-se com lentidão, e logo rápido e duro uma vez mais. Noah elevou os quadris para ela, cobriu-lhe os seios com as mãos, amassou-os com as palmas e sentiu como o prazer de Sabella alcançava cada vez notas mais altas. Apanhou entre os dedos os duros mamilos e lhes aplicou a suficiente pressão para levá-la até o clímax.

Noah observou como ela se desintegrava, como o rosto feminino refletia um prazer delicioso e o suor lhe escorregava pelo pescoço e os seios. Perdido o último vínculo com a realidade, investiu com dureza e sentiu como seu sêmen saía a jorros e se derramava no interior de Sabella enquanto gemia seu nome e a estreitava contra seu corpo.

Apoderou-se dos lábios dela. Lambeu-a, saboreou-a, amou-a até que o prazer a deixou lassa e exausta. Como uma gatinha adormecida contra seu peito. Sua Sabella.

Quando pôde respirar com normalidade, quando pôde voltar a pensar, virou-se e a deixou sobre o chão. Ela gemeu um protesto que o fez sorrir enquanto a levantava entre seus braços.

Levou-a para cama, agasalhou-a e depois desceu as escadas de novo para apagar o fogo e fechar as portas de vidro da chaminé.

Nu, devastado pelo amor de Sabella, observou as brasas durante um bom momento antes de retornar para ela. Ela estava dormindo. Tinha um braço ao lado da cabeça e o outro descansava sobre o estômago por cima do lençol. A aliança cintilava em seu dedo como burlando dele.

Sabella pertencia a Nathan Malone. Aquela aliança era a prova. Sabia que ela havia tornado a colocá-la no dedo correto para recordar a si mesma a quem pertencia seu coração, embora outro homem possuísse seu corpo.

Noah deslizou sob os lençóis e observou seu rosto, sabendo que ela dormia profundamente.

Levantou-lhe a mão, beijou a aliança que ele mesmo tinha deslizado em seu dedo oito anos antes e fechou os olhos para enfrentar à dor que crescia em seu interior.

—Go síoraí. —Sussurrou o voto contra o anel de ouro e sentiu que uma profunda dor lhe rasgava a alma. — para sempre, Sabella. Sempre serei seu. Sempre.

Sem soltar sua mão em nenhum momento, apoiou a cabeça no travesseiro ao lado da dela e também se deixou levar pelo sonho.

Não viu a lágrima que deslizou pela têmpora de Sabella. Não viu como ela movia os lábios para formar as palavras «para sempre». E tampouco foi consciente de que sua esposa sabia que, sem importar quem fosse ele nem o quão longe fosse, aquele voto os uniria para sempre.

 

Na segunda-feira pela manhã tinham mais informação. Depois que Noah recebesse outra chamada de seu tio, a equipe foi convocada ao apartamento de cima da oficina antes do amanhecer. Jordan lhes tinha enviado umas fotografias do celular que Travis utilizava de seu lugar de vigilância no rancho, assim como outras imagens obtidas por um satélite comercial que Tehya tinha conseguido piratear durante a noite.

Definitivamente, algo estava acontecendo no rancho Patrick.

—Ali se encontram o juiz Cari Clifford e o delegado Kevin Lyle. —Jordan assinalava a foto que Travis Caine tinha tirado da casa de rancho do Patrick. — além de vários proprietários de ranchos vizinhos. —Outras fotografias apareceram na tela.

Noah não se permitiu sentir-se aliviado ao ver que Grant Malone não estava entre os suspeitos. Tinha terminado com o homem que lhe tinha dado a vida.

—Também temos isto.

«Isto» era uma foto de uma caminhonete negra estacionada na parte traseira da casa. Um homem estava sendo arrastado do veículo por dois vaqueiros. Tinha o rosto coberto por um tecido negro e as mãos atadas.

—É Chuck Leão. — disse Noah. — Nosso mecânico desaparecido.

—Melhor que nosso agente do FBI desaparecido. — soprou Jordan.— Se infiltrou nos estratos mais baixos da tropa e foi subindo de fila. Está no grupo a mais de seis anos. Até agora tinha passado despercebido, trabalhando em alguns ranchos. Seu disfarce foi descoberto faz dois dias e ninguém sabe como. Há uma toupeira ou aqui ou em Washington, e não sabemos quem é. É como uma praga e está começando a me irritar. A expressão de Jordan era brutal.

—Quatro agentes do FBI caíram, todos com identidades secretas totalmente diferentes. — resmungou John Vincent, olhando o resto da equipe com olhos duros.

— Isso não é uma toupeira, é um espião.

Noah dirigiu ao outro homem um olhar de curiosidade.

Vincent, vestido com calças de camuflagem e uma camiseta de cor verde oliva, inclinou-se para frente e indicou as fotos dos quatro agentes.

—Uma estudante universitária, um vendedor de carros, o farmacêutico e um mecânico. Essas eram suas coberturas. Todos trabalhavam em campos diferentes, que não se relacionavam entre si, e que lhes permitiam estar em contato com muitas pessoas. Não sei vocês, mas eu posso cheirar um agente, estrangeiro ou não, a distância. O mecânico era bastante bom. —Indicou ao Noah.

— Mas todos suspeitaram dele. Tinha esse ar que só outro agente ou um olho treinado podia reconhecer. —Inclinou a cabeça agitando seu cabelo cor castanha clara e olhou fixamente as fotos. — Está certo que o xerife está limpo?

—Sim. Sabemos que não é ele. — afirmou Jordan.

—Então tem que ser outra pessoa a sua volta. Um agente do corpo de polícia, um ajudante ou outro agente da lei com o treinamento necessário para identificar outros agentes. Já sabem que é necessário ter um sexto sentido para isso. Rick Grayson tem esse sexto sentido. Sei que é assim porque cada vez que esse mal nascido nos vê nos atravessa com o olhar, como se tentasse resolver um quebra-cabeça.

Noah esfregou o queixo, levantou-se do sofá e começou a passear-se de um lado a outro da sala.

—Se Grayson estiver limpo, quem resta? —voltou-se para seus companheiros, mas ninguém lhe respondeu. — Tem que ser alguém daqui. Alguém que tenha contato com esses agentes aqui ou em Houston.

—É como procurar uma agulha em um palheiro. — disse Nik antes de olhar Jordan. — Resgataremos Chuck Leão? —A antecipação alagava o rosto do russo.

—Por agora, nos limitaremos a observar. —A expressão de Jordan parecia serena, mas seus olhos seguiam sendo duros. — Eles não só matam; caçam. Vejamos se o levam para caçá-lo.

Noah se esticou ao pensar nos duros meses de treinamento. Tinha praticado para ser caçado. Todos o tinham feito. Tinham jogado intrincados jogos de fuga e evasão, trabalhando cotovelo com cotovelo para dar a ilusão de um único alvo enquanto se esquivavam dos SEAL’s que tentavam caçá-los. Não tinha sido fácil vencer à equipe de SEAL’s de Reno Chávez. Sua taxa de êxito com aqueles homens não era precisamente brilhante.

Mas Gaylen Patrick e seus amigos não estavam treinados e tampouco eram SEAL’S.

—Permaneçam alerta. —Jordan começou a recolher seu equipamento e a colocá-lo na maleta de pele que tinha levado. — Quando transladarem a Leão iremos até eles.

Noah cruzou os braços sobre o peito e passeou pela cozinha sem deixar de pensar em todas as possibilidades. Não podia tirar-se da cabeça que algo não encaixava.

—Está seguro de que Grayson está limpo? —voltou a perguntar a Jordan.

—Tão seguro como posso estar. —resmungou seu tio.

— Temos seu escritório cheio de microfones ocultos e Tehya revisou as fitas. Esse homem está deixando a pele tentando resolver isto. É consciente de que alguém, em alguma parte, vaza informação. Mas não sabe de onde provém a fuga.

—É alguém próximo. — grunhiu Noah. — Alguém tão insignificante que passamos por cima. Alguém que esteve em contato com o mecânico.

—Se descobrir, entraremos em ação. —Jordan encolheu os ombros. — Até então, tudo o que nós podemos fazer é nos arrumar com o que temos.

Jordan deu uma olhada para fora, aos débeis raios de sol que atravessavam a escuridão.

—Será melhor que nos despeçamos e que ocupemos de novo nossas posições.

A última coisa que precisavam era saírem todos do apartamento de uma vez. Enquanto Jordan, John e Micah saíam pela oficina, Noah ficou com o Nik.

O russo se deixou cair de novo na cadeira. Entrecerrou seus olhos gelados e seguiu com a vista Noah, que não deixava de passear de um lado a outro.

—Pressente-o, verdade? —grunhiu Nik— Toda esta merda vai estalar.

Noah respirou fundo.

—Sim. E não demorará muito. Tem tudo pronto?

Nik assentiu com a cabeça. Tinham um plano. Tinham colocado equipes e armas em algumas posições estratégicas nas montanhas onde sabiam que transcorriam as caçadas.

Ambos usavam rastreadores desativados nas fivelas das calças e lentes de contato de visão noturna de alta tecnologia. Aquele brinquedo em particular ainda não tinha sido utilizado pelo exército durante os três anos que tinham estado investigando.

—E sua mulher? —perguntou Nik.

Noah lhe lançou um olhar de soslaio.

—Tenho-a coberta.

Rory era todo o respaldo que tinha, mas Nik não tinha por que sabê-lo.

O agente russo esboçou um sorriso ante a resposta de seu amigo, mas assentiu com a cabeça enquanto se levantava da cadeira. Noah se aproximou da porta do apartamento, saiu e checou o lugar antes de descer as escadas e dirigir-se à casa da colina.

A luz da cozinha estava acesa. Sabella teria preparado café. Quando entrou pela porta traseira, o passado alagou Noah como uma maré devastadora, arrastando tudo a seu passo exceto as lembranças.

Ela, vestida apenas com um robe, estava fazendo omelete. O toucinho fritava na frigideira. Os ovos já estavam dispostos no balcão e o sorriso feminino era ainda sonolento quando o olhou.

Estava incrivelmente atraente com seu cabelo despenteada enquanto preparava o café da manhã. Tinha-a visto tantas vezes daquela mesma maneira durante os anos que tinha vivido com ela... Deus, aquela mulher possuía sua alma.

—Já tomou banho. —Fez-lhe uma careta.— Suponho que isso significa que vai trabalhar.

Noah permitiu que um sorriso lhe curvasse os lábios ao aproximar-se do balcão. Desligou o fogão, afrouxou o cinto das calças e se virou para a ela, lhe tirando a tigela de farinha da mão.

A surpresa aumentou os olhos de Sabella quando a agarrou pela cintura, subiu-a à ilhota da cozinha e se localizou entre suas coxas antes de abrir o zíper do jeans e tirar sua rugente ereção pela abertura.

—Está louco? —riu ela excitada e cheia de desejo. Noah podia cheirar sua excitação. E quando lhe separou mais as coxas e vislumbrou a trêmula doçura que o esperava entre elas, pôde ver até que ponto estava excitada.

Inclinou a cabeça e lhe passou a língua pelas úmidas dobras que guardavam todos seus segredos. Deliciosa como uma preguiçosa manhã de verão. Como o fogo no inverno. Como todos os sonhos que sabia que nunca poderia alcançar. Era seu oásis no meio do inferno e a necessitava outra vez. Nesse momento.

Rodeou o clitóris com os lábios e olhou seu rosto quando ela foi para trás, apoiando os pés nos ombros masculinos para receber aquele beijo tão íntimo.

Noah torturou o pequeno montículo com a língua, roçou-o, mordiscou-o e a observou, ouvindo-a gemer enquanto se arqueava para ele alcançando um clímax incompleto.

Quando aquele pequeno orgasmo fez palpitar o sexo de Sabella, ele se ergueu, segurou o membro pela base e se colocou entre suas coxas antes de penetrá-la com rapidez.

—Noah. — gritou ela.

Um abrasador prazer voltava a atravessar de novo as terminações nervosas de Sabella, ardendo entre suas coxas e ressoando através de seu corpo enquanto lutava por conservar a prudência.

Ele a segurou pelos quadris para atraí-la para si, e a ela se agarrou ao bordo da balcão ao sentir que suas pernas escorregavam pelos braços do Noah.

Houveram poucas preliminares, mas tampouco as necessitava.

Tinha estado preparada para ele quando despertou sozinha essa manhã quando não o encontrou. Desesperada por uma carícia mais, por um beijo mais, antes de ter que confrontar algo pudesse chegar.

—Maldita seja. É tão estreita que noto como se fecha ao meu redor. — gemeu Noah inclinando-se para ela e tomando posse de seus lábios.

— Como fogo e êxtase juntos.

Sabella ofegou quando seu corpo se adaptou à invasão, tomando e sentindo ao mesmo tempo prazer e dor, como um inferno de sensações que mal que podia assimilar e que a aproximavam do clímax. Colocou-lhe os dedos entre os cabelos e reteve sua cabeça contra ela enquanto faziam amor com suas bocas e suas línguas. Moveram-se e impulsionaram um contra o outro até que um prazer violento e desesperado os rasgou, e Sabella gemeu suplicando mais.

E Noah deu. Moveu-se entre suas coxas penetrando-a com rápidas estocadas, levando-a além de qualquer limite e enchendo sua mente com um estalo de cores quando a liberação explodiu em seus corpos.

Noah derramou sua semente dentro dela. O gemido masculino foi áspero, rouco e cheio de necessidade. Tremendo, estremecendo de prazer, envolveu-a entre seus braços e a estreitou contra seu corpo, enterrando o rosto em seu ombro.

Sabella não podia imaginar a vida sem Noah. Simplesmente não podia fazê-lo.

Ele a beijou lenta e profundamente, logo abriu os olhos e a encontrou olhando-o.

—Mmm, grande surpresa. —Sabella sorriu enquanto Noah se separava dela, mas teve que conter o fôlego ante a sensação de seu pênis saindo de seu corpo, roçando a pele hipersensível de seu sexo. Depois a levantou e a deixou no chão.— Se supõe que tenho que poder andar agora?

Ele inclinou a cabeça para lhe roubar outro beijo e ela acariciou seu amplo torso.

Finalmente, Noah lhe brindou um amplo sorriso antes de dar um passo para trás e colocar o jeans.

Sabella fez uma rápida viagem ao banheiro e, ao retornar, encontrou Noah tomando um café e olhando fixamente a oficina através da ampla janela da cozinha.

—Levantou cedo esta manhã. —comentou Sabella voltando-se para o fogão para acabar de fazer as omeletes.

—Queria tomar um banho e pegar um pouco de roupa. —Sua voz era mais distante agora. — Não esperava que estivesse acordada. —Havia uma pergunta implícita naquele comentário.

Sabella fez uma careta.

—Tenho um encontro com o médico e não devo faltar. —voltou-se para ele com o cenho franzido. — Se não for, não vamos poder nos divertir mais.

Noah esboçou um sorriso de pesar.

—Direi a Rory que a acompanhe. Não quero que vá sozinha.

—Sienna está acostumada a ir comigo. —encolheu os ombros ante a ordem de Noah. — Mas posso ir com o Rory. Encontrarei-me com ela lá.

A gripe que a tinha mantido na cama durante quase duas semanas no mês anterior tinha preocupado seu médico. Não tinha se recuperado de todo. Ao menos não antes que Noah tivesse retornado. Além disso, a consulta coincidia com a data das injeções anticoncepcionais que tomava a cada dois ou três meses para regular seu ciclo.

—Irá com o Rory. Pode usar o carro. Sabella assentiu com a cabeça.

—Está tudo bem? —perguntou finalmente, sabendo que estava preocupado por Delbert Ransome ter sido posto em liberdade no dia anterior.

—Até agora sim. —Noah se passou a mão pelo cabelo, retirando as largas mechas negras do rosto.

Deus, se excitava com cada movimento que ele fazia. Acabava de tê-lo em seu interior e já queria que a possuísse outra vez.

Sabella assentiu quando compreendeu que Noah não diria nada relacionado com a missão. Depois mantiveram uma conversação tranqüila. Falaram da oficina, o que era necessário fazer nela e do negócio que agora voltava a ressurgir graças a seus esforços.

Discutiram sobre o novo equipamento que ela queria comprar. Sobre os novos computadores que estavam à venda, o curso que Sabella queria fazer em Odessa, e os prós e os contra das mudanças que ela queria fazer no negócio.

Enquanto falavam, Noah se precaveu de quão perfeita tinha sido Sabella para ele todo o tempo. Ele não haver-se dado conta seis anos antes ainda tinha o poder de lhe retorcer as vísceras.

Os enganos que tinha cometido desde que o resgataram estavam cobrando a fatura agora. Jamais deveria haver-se oculto dela, em que diabos havia pensando? Mas enquanto não dissesse nada a Sabella, enquanto se mantivesse forte, não teria que enfrentar às conseqüências de sua decisão.

Tudo tinha sido produto de seu estúpido orgulho. Comportou-se como um condenado imbecil ao temer a reação de Sabella quando descobrisse o que lhe tinha ocorrido, e agora não havia volta atrás.

Nem sequer podia imaginar a expressão de seu rosto se lhe dissesse: «Por certo, carinho, sou seu marido. Já sabe, o que morreu. O que não voltou há seis fodidos anos». Sim, e ela o aceitaria assim sem mais.

Tolices.

A Sabella atual lhe arrancaria os olhos e lhe daria um tiro com sua própria arma. E depois lhe pediria o divórcio porque não poderia esquecer ao homem que ele tinha sido. Aquele por quem ela seguia usando a aliança. Aquele cujas fotos adornavam cada canto da salinha.

Maldição. A ira lhe queimava as vísceras enquanto ela tomava banho e se vestia para sua consulta com o médico. Noah não queria perde-la de vista.

Dirigiu-se ao telefone com passo irado para chamar a Rory e lhe dizer que tinha que levá-la à consulta com o médico, embora na realidade, queria ser ele quem a acompanhasse.

Mas Noah não podia se arriscar a se afastar da oficina quando aquela missão explodisse. Sobre tudo se não quisesse levantar suspeitas sobre Sabella. Sabia que Rory já a tinha levado antes ao médico. Dificilmente ia sozinha. Sabella odiava médicos e esperar sozinha que a atendessem. Sienna estava acostumada acompanhá-la, depois iam às compras e almoçavam juntas. Noah sabia que depois da «morte» de Nathan, Rory tinha cuidado de sua esposa, insistindo brandamente para que saísse ao exterior para fazer o que estava acostumado a fazer com Sienna.

—Já chegou minha babá. —Sabella sorriu ao entrar na cozinha vários minutos mais tarde e ver Rory com o Noah. — Quem vigia a oficina?

—Toby e Nik. — disse seu cunhado.

— Esse menino se está convertendo em um condenado maníaco. Acredita que parte da oficina é dele ou algo assim.

—Está aprendendo. —Sabella encolheu os ombros, ajustou a cintura do jeans e colocou sandálias. — Toby sabe o que faz e teremos sorte se conseguimos lhe reter outro ano.

Rory fez uma careta. Era algo que Noah também tinha pensado. Toby seguiria seu caminho e acabaria conquistando o mundo antes que se desse conta.

—Está bem, vamos. Já chamei a Sienna. Espera-nos no consultório. —Dirigiu ao Rory um amplo sorriso. — Subirá ao consultório comigo ou me esperará no carro?

Seu cunhado fez uma careta.

—Essas malditas mulheres da sala de espera... A gente chega a pensar que jamais viram um homem pela maneira com que agem quando entro lá.

Noah sentiu crescer a ira em seu interior. Rory estava a seis anos velando por Sabella, cuidando dela. Tinha-a acompanhado ao médico, tinha-a abraçado quando chorava, tinha-lhe feito saber que não estava sozinha. Que ia sobreviver. Deveria estar agradecido a seu irmão em vez de questionar seus motivos.

—Vamos, garanhão. — brincou Sabella com Rory. — Dê de presente às garotas um sorriso e uma piscada e desmaiarão ante você.

—Acabariam me violentando. —resmungou Rory, embora parecesse contente.

Saíram da casa, mas antes que Sabella subisse ao Ranger de Rory, Noah a atraiu para si e lhe devorou os lábios com um beijo que lhe nublou os sentidos.

—Mas como? —Ela se agarrou a seus ombros e lhe cravou as unhas na camiseta como uma gatinha, massageando sua carne com primitiva voracidade.

—Para que se lembre. —grunhiu ele.

—Do que? —Algo brilhou nos olhos femininos, uma labareda de ira, de determinação.

—A quem pertence. —rugiu. — Não o esqueça, Sabella.

Ela assentiu com a cabeça, olhando-o, entretanto, como se fosse alguma estranha criatura que não pudesse compreender.

—Vai embora daqui.—recordou-lhe isso brandamente. — Está me dizendo isso todo este tempo, Noah. Não pode me reclamar se não tem intenções de ficar.

É obvio que podia. Inclinando a cabeça de novo, aceitou o desafio de Sabella com outro beijo. Colocou-lhe ferozmente a língua na boca, reclamando-a, como tinha reclamado seu corpo cada vez que a possuía até fazê-la estalar de prazer. Estreitou-a contra seu corpo e apertou sua ereção contra seu estômago através do tecido dos jeans, tratando de conter a necessidade que lhe rasgava as vísceras.

Mas não podia. Não podia conter a furiosa necessidade de dominá-la, o instinto que o impelia a assegurar-se de que ela jamais o esquecesse. De que sempre recordasse que pertencia ao homem cuja alma ela tinha na palma da mão.

Finalmente, Noah a deixou livre e baixou o olhar furioso para a ela.

—Recorda-o.

Afastou o olhar dela negando-se a ver as lágrimas que enchiam os olhos de Sabella, porque as reconhecer o mataria. Movia-se em uma linha tão fina que algumas vezes nada tinha sentido, nem sequer para ele. Sabia, entretanto, que se aquela missão não acabasse logo, não teria forças para partir. Não seria capaz de afastar-se dela. E isso era algo que poderia destroçar aos dois.

 

—Er... está muito dependente dele, não?

Sabella virou a cabeça e olhou fixamente para Rory. Deus, parecia muitíssimo a Nathan. Os traços afiados, aquela perfeita beleza masculina com aqueles ferozes olhos azuis, as pestanas espessas e o longo cabelo negro.

Poderia ser o irmão gêmeo de Nathan. Parecia-se tanto a ele fisicamente que Sabella tinha demorado quase dois anos em poder olhá-lo ao rosto.

—Não deveria? —Sabella sabia que Rory era consciente de quem era Noah na realidade. Sentia-o nos ossos, e lhe doía.

E a irritava. Não entendia porque Noah tinha confiado em seu irmão e não em sua esposa. A mulher para quem tinha entregado seu coração. Noah tinha se atrevido a sussurrar aquelas palavras sagradas em sua cama quando acreditava que ela estava dormindo. Tinha sido uma temeridade lhe sussurrar aquele voto em gaélico, lhe mentindo como lhe mentia. Mentindo-lhe com cada carícia, com cada beijo, com cada áspera palavra que saía de seus lábios mentirosos.

Rory encolheu os ombros.

—Crê que vai ficar?

Teriam tido uma boa discussão nesse momento se ela não tivesse ouvido a dor em sua voz, se não tivesse visto a profunda dor que sulcava seu rosto.

Sabella virou a cabeça e olhou pelo vidro da janela . Observou as ruas da cidade, um lugar que, de repente, parecia-lhe estranho e alheio.

—Não. —sussurrou finalmente. Era a verdade, e tanto Rory como ela teriam que aceitá-la. — Não acredito que fique muito mais tempo.

Olhou as próprias mãos e tirou lentamente a aliança do dedo antes de guardá-la na bolsa. Sienna a crivaria de perguntas visse que a usava. Poderia levantar muitas suspeitas.

—Belle, sabe que... —esclareceu garganta e apertou as mãos no volante. — sabe que a quero como a uma irmã. Sabe, não?

—Nada de conselhos, Rory. — lhe advertiu enquanto ele estacionava ao lado do carro de Sienna. Não possuía o suficiente controle para escutar nenhum conselho bem-intencionado de seu cunhado. Não poderia suportá-lo.

Rory saudou com a cabeça a Sienna quando esta saiu de seu carro, vestida elegantemente com calça de pregas cinza e uma camiseta sem mangas. O cabelo castanho lhe caía solto pelos ombros em suaves ondas e seus olhos verdes brilhavam com a mesma excitação e amor pela vida de sempre.

—Por fim chegou. —Sienna riu e abraçou Sabella uma vez que desceu do Ranger do Rory. — E traz com você um dos homens mais bonitos da cidade. —Suspirou e enrugou o nariz como se tivesse uma repentina e escura suspeita.

— É quase igual a Nathan, Belle.

Era justo o que tinha pensado Sabella alguns minutos antes. Olhou a seu cunhado e viu um brilho de dor em seu rosto.

—Não, Rory é Rory. — disse com voz baixa. Parecia-se. Parecia-se muito. Mas não era como Noah. Já não.

—Não posso acreditar que quase tenha esquecido da consulta com o médico. —a admoestou Sienna mais tarde. — Esteve muito doente, Belle. Tem que se cuidar melhor.

Era verdade. A gripe se enfureceu com ela esse ano.

—Estou ciente. —lhe assegurou Sabella com um sorriso.

Entraram no consultório do médico, deram seus dados e tomaram assento na sala de espera.

Perguntou-se se estava tendo uma recaída. Não tinha se encontrado bem nos últimos dias. Sentia-se indisposta. Cansada. Mas sofria tantas reviravoltas emocionais ultimamente que seu estado não era de se espantar, absolutamente.

—Estão-me olhando. — resmungou Rory quando se sentou a seu lado.

Sabella sorriu, negando com a cabeça.

—Isso é porque é bonito.

Ele fez uma careta que se transformou pouco a pouco em um sorriso.

—Sou?

Sabella só pôde sacudir a cabeça ante aquele sorriso dos Malone, ante aquele olhar azul. Rory já era um perigo para as mulheres. Seu amigo. Seu irmão.

—Eu o protegerei. —sussurrou ela.

Rory a olhou com diversão.

—Quero que me proteja?

Sabella não pôde evitar rir.

Entretanto, não ria uma hora mais tarde. Estava a ponto de tornar a chorar, de gritar de alegria... e de medo.

—Tem um atraso de uma semana. Possivelmente mais. —informou com suavidade a doutora Amy Aiken, sentada em um tamborete frente à maca de consulta.

— As injeções que dei tinham uma dose muito baixa de hormônios porque me disse que não mantinha relações sexuais. Veio uma semana mais tarde a dei a outra dose com os antibióticos... —A doutora encolheu os ombros. — São coisas que ocorrem, Sabella.

Estava grávida.

Sabella apertou o ventre com a mão. Dessa vez... dessa vez, Deus tinha ouvido suas preces. Tinha-lhe dado uma parte de Noah a que aferrar-se, uma parte que amaria apesar de toda a dor.

Engoliu em seco.

—Poderia não dizer às enfermeiras? —pediu a Amy ao fim de alguns segundos. — Eu gostaria de poder manter isto entre nós durante um tempo.

As enfermeiras do consultório eram uma fonte de informação para a cidade. Sabella sempre tinha suspeitado que essa era a razão pela qual a doutora Aiken não delegava para elas nem sequer para realizar os exames mais simples. Tinha analisado seu sangue em um laboratório anexo à consulta enquanto Sabella esperava. Amy era muito conscienciosa e gostava de manter uma relação próxima com seus pacientes. Tentava ser uma amiga para as mulheres que iam a sua consulta e, além disso, conhecia muito bem a suas enfermeiras.

—Há algum problema, Belle? —perguntou-lhe com suavidade.

Sabella negou com a cabeça.

—Só quero dispor de um pouco de tempo para me ajustar à idéia antes que todo mundo se inteire —lhe respondeu. A doutora Aiken soltou um suspiro.

—É uma cidade muito pequena. —levantou-se e guardou os dados da análise em um envelope que logo levou a laboratório.

— Mas posso esperar algumas semanas antes de acrescentá-lo a seu histórico. —piscou os olhos .

— Às vezes me esqueço dessas coisas. Voltou a sentar-se no tamborete. —Deseja ter este bebê, Sabella? —inquiriu com amabilidade. Sabella levantou a cabeça de repente.

—Mais que tudo no mundo. — lhe assegurou com um suspiro.

— Não me passou pela cabeça que pudesse ocorrer. —Fez uma pausa e negou com a cabeça. — Me esqueci dos antibióticos porque as coisas fossem uma loucura na oficina. —Também sua vida pessoal era uma loucura. O impacto de ter Nathan de novo com ela a tinha alterado por completo.

Amy sorriu, mas seus olhos cor avelã com matizes azuis estavam sérios e sombrios. Mostravam preocupação.

—Quero voltar a vê-la dentro de três semanas. Voltaremos a fazer uma análise de sangue e logo a submeterei a um exame completo, incluindo ecografias. Não estava grávida quando esteve aqui no mês passado, assim sua gravidez tem apenas poucas semanas.

Sabella sacudiu a cabeça. Não, não eram mais que umas poucas semanas. Mas Sabella sabia. Sabia que Noah e ela tinham criado uma vida. Sabia que estava crescendo em seu interior. Inclusive podia jurar que o sentia agora. Agora entendia o estranho pressentimento que tinha sentido durante os últimos dias, a sensação de que algo não encaixava sem saber exatamente o que. Não era por Noah. Era pelo bebê, que lhe dizia que estava ali.

—Já pode se vestir. —Amy ficou em pé. Ficou parada e a olhou. — Se precisar falar, sabe que pode me chamar a qualquer momento. Ou vir a minha casa. Tomaremos café. —Sorriu. — Embora seja descafeinado para você.

Descafeinado para ela. Tinha que rever o que comia. Tinha que comer melhor e mais freqüentemente. E não tomar cafeína, embora isso fosse o menos importante.

Estava grávida de Noah.

Vestiu-se com rapidez, quase flutuando, sentindo como se uma quebra de onda de euforia tomasse conta dela e se negasse a soltá-la. Fez uma pausa enquanto fechava o zíper do jeans e tocava o ventre outra vez. Queria senti-lo. Precisava sentir a vida que crescia em seu interior.

Nathan e ela tinham falado de formar uma família, mas tinham esperado que a situação estabilizasse e a ter algumas dívidas pagas. Pensavam falar sobre o tema quando ele retornasse para casa. Mas não havia retornado, até agora.

Seus lábios desenharam um sorriso mescla de alegria e tristeza. Podia contar-lhe pensou. Podia lhe dizer do bebê e ele jamais a deixaria. Negou com a cabeça. Não. Não o reteria. Se ele se fosse, não saberia nunca. E ela mesma teria que ir também, porque Rory e Jordan diriam a Noah. Jamais lhe ocultariam aquela informação. E então Sabella estaria de novo onde tinha começado, com um homem que tinha retornado, mas não por ela, mas sim por seu filho.

Além disso, e se Noah se fosse apesar de saber do bebê? Aquilo destruiria o amor que ela sentia por ele e a destroçaria. Amar Noah era o melhor que lhe tinha ocorrido, junto com o bebê que esperava.

Terminou de vestir-se, saiu do consultório e retornou à sala de espera.

—Tudo bem? —Rory ficou em pé ao vê-la aproximar-se do balcão para pagar.

—Sim, tudo bem. —respondeu, obrigando-se a reprimir um sorriso. — Estarei pronta em um minuto.

A enfermeira lhe cobrou. Estava ocupada colocando informação no computador e, graças a Deus, não perguntou pela injeção que Sabella não tomou.

—Cheguei a pensar que ficaríamos ali para sempre. — brincou Sienna quando saíram do consultório e se dirigiram ao estacionamento. — Nunca demorou tanto.

—A doutora queria assegurar-se de que eu tinha me recuperado totalmente. —explicou Sabella encolhendo os ombros.

Morria por contar a alguém. Por que não contava a Sienna? A Rory? Por que não gritava para que todo mundo se inteirasse? Estava grávida. Por fim estava grávida e o bebê era de seu marido.

Tomou ar lentamente enquanto dobravam a esquina do edifício e cruzavam a rua para o Ranger de Rory. Estava tão feliz que lhe resultava difícil ocultar de seu cunhado e de Sienna. Manteve a cabeça inclinada e não viu a caminhonete.

—Sabella! —O grito de Rory fez com que levantasse a cabeça de repente. Ele tentava agarrá-la pelo braço para afastá-la do caminho da caminhonete negra que, de repente, deteve-se diante deles.

Sienna a empurrou, aproximando-a mais da porta traseira que acabava de abrir-se. Máscaras negras. Roupas negras. Uma arma apontou para Rory e soou um tiro amortecido. Sabella tentou gritar através da mão que lhe cobria a boca e lutou com todas as suas forças tentando se liberar do cruel braço que a lançou ao interior da caminhonete.

A última imagem que Sabella viu foi o horrorizado rosto de Rory e o sangue que emanava do ombro. Depois as portas se fecharam de repente, as encerrando, Sienna e a ela na parte traseira da caminhonete, que saiu do estacionamento com rapidez e acelerou para a cidade.

Aterrada, Sabella lutou contra as mãos que a seguravam e lhe colocavam os braços à costas com brutalidade. Oh, Deus. Seu ventre estava desprotegido. Não poderia cobrir-se, não poderia proteger seu bebê.

Puseram-lhe umas venda e uma fita adesiva sobre a boca enquanto cravava os olhos em sua amiga, em sua melhor amiga, totalmente aniquilada.

Sienna não estava algemada, nem amordaçada. Estava sentada no colo de um dos homens com um sorriso nos lábios e inclinava a cabeça para lançar a Sabella um olhar carregado de satisfação.

Sienna a observou durante um bom momento, logo se levantou, elevou a mão e, antes que Sabella pudesse dar-se conta do que ia fazer, lhe deu um tapa com tal força que sua cabeça se estrelou contra o lateral do veículo, fazendo que enjoasse antes de cair ao chão.

Sabella não se incomodou em levantar-se. Piscou sentindo que lhe saía sangue pelo nariz e olhou à mulher que sorria com fria arrogância.

—É uma fodida e estúpida puta. — cuspiu Sienna arrastando essas palavras é por todos os anos que tive que agüentar seus lamentos porque Rick insistia em que devia me preocupar com você. E por se casar com Nathan. Puta. Deveria ter deixado os meninos da cidade para as garotas do cidade. —Voltou a sentar-se no colo do mesmo homem de antes.

Olhos castanhos a olharam por debaixo da máscara negra. Os olhos castanhos de Mike Conrad. Estavam cheios de lascívia e satisfação. E também de um intenso ódio.

Sabella dobrou os joelhos e se colocou em posição fetal para proteger o bebê do Noah. Aturdida, observou Mike e Sienna com incredulidade.

De Mike podia esperar. Mas Sienna? Sienna tinha estado a seu lado quando enterraram Nathan. Tinha sido ela quem a abraçou quando chorou desconsolada, quem a tinha feito sair de casa à força enquanto fingia ser sua melhor amiga.

—Olhe para ela. —riu Sienna. — Não lhe disse isso, carinho? Sou a melhor. Jamais suspeitou de mim.

Sabella não tinha suspeitado, mas nesse momento se deu conta de que, de uma maneira inconsciente, sempre tinha sabido que não devia confiar nela. Como sabia, além de toda dúvida, que Sienna queria vê-la morta.

Mas não importava onde a ocultassem, não importava onde enterrassem seu corpo, Noah a encontraria. E quando o fizesse, nem sequer o fato de ser uma mulher salvaria Sienna. E no que se referia a Mike Conrad, sua passada amizade com o Nathan seria só uma lembrança.

Ele os mataria aos dois e se asseguraria de o fazer de forma dolorosa.

Sabella só rezava para que a encontrasse antes que a matassem.

 

Noah saiu da oficina para ouvir as sirenes ao longe, o chiar das rodas e os agudos assobios de uma buzina.

Foi consciente da presença de Nik e outro mecânico a suas costas, assim como Toby, que também tinha saído ao estacionamento. Seu coração deixou de pulsar ao ver o Ranger de Rory dobrar a esquina e entrar a toda velocidade na oficina, com as luzes resplandecentes do carro do xerife atrás dele.

Ficou paralisado enquanto ouvia Nik amaldiçoar a suas costas e percebeu claramente a tensão que alagou o ar ao irromper o carro de Rory no estacionamento, detendo-se de súbito.

Não foi consciente de haver-se movido, mas em apenas um segundo, abriu a porta do veículo e segurou seu irmão quando caiu em seus braços, com a camisa cheia de sangue e o rosto pálido.

—Noah! —gritou Rory com um olhar frenético. — Oh, Deus. Oh, Deus. Noah, sinto muito. Sinto-o tanto.

Noah sustentou seu irmão, arrastou-o ao interior da oficina e o levou ao escritório enquanto Rick os seguia com rapidez. Podia sentir que o sangue de Rory lhe empapava a camisa e a pele.

—Onde está Sabella, Rory? —Sentou a seu irmão em uma cadeira antes de agarrar um punhado de trapos limpos e apertá-los contra o ombro cheio de sangue. — Me diga onde está Sabella.

Rory emitiu um soluço. Jogou a cabeça para trás e gritou de fúria.

—A usaram! Agarraram-nas a ela e a Sienna. Tentei agarrar Sabella, mas Sienna tropeçou e as levaram.

Noah sentiu que a adrenalina palpitava grosseiramente em suas têmporas.

—Que demônios quer dizer com que as levaram? —Rick tentou afastar Noah, com a fúria ressoando em sua voz. — Que demônios está ocorrendo aqui?

Nik o arrastou para trás e lhe tirou a arma com um grunhido. Noah nem sequer lhes emprestou atenção. Não lhe importava absolutamente o que fizesse Rick.

—Quem as levou, Rory? —Sua voz era calma.

— Reconheceu a alguém?

—Usavam máscaras. — disse seu irmão negando violentamente com a cabeça. — Se ocultavam atrás de máscaras. Quando tentei agarrar Sabella, um desses bastardos tirou uma arma com um silenciador. Joguei-a para um lado para tentar protegê-la e atirou. —apertou o ombro e se balançou para frente. — Oh, Deus. Sinto muito, Noah. Sinto muito.

—Nik, já sabe o que tem que fazer. — resmungou Noah em voz baixa.

—Agora mesmo chamo.

—Rory. —Noah agarrou a mandíbula de seu irmão. — Rory, me olhe. Diga-me que mais viu.

Rory o olhou, enjoado pela dor e a perda de sangue. Tinha a camisa empapada.

—Era uma caminhonete escura. —Tinha os olhos cheios de lágrimas. — Usavam máscaras negras. Roupas negras. Detiveram-se do nosso lado e Sienna tropeçou. —Sacudiu a cabeça. — Não sei por que. Chocou-se contra Belle e ambas caíram para a porta da caminhonete enquanto eu tentava agarrar Belle. Eles as colocaram dentro. Havia barro nas rodas, na porta. Parecia fresco. Não tinha placa, chequei. E logo se foram. Tinha os olhos marrons. —Olhou fixamente ao Noah. — O homem que levou Belle tinha os olhos marrons. Eram olhos muito escuros. Eu conheço esses olhos... Os olhos de Conrad.

—Nik, chame uma ambulância. — disse Noah brandamente, consciente de que Rory ia necessitar de assistência médica. Logo se voltou de novo para seu irmão. — Disseram algo? Diga-me, Rory, algum deles disse algo?

Rory estremecia entre ofegos. Sustentou o olhar do Noah com muita dificuldade, tentando não perder a consciência.

—Disse algo. Algo sobre uma boa caçada. Quando as portas se fecharam, alguém riu e disse que seria uma boa caçada.

—A equipe está a caminho. —lhes informou Nik. — Chegarão em vinte minutos.

—Quanto tempo faz isso, Rory? —insistiu Noah. — A que hora ocorreu?

Rory sacudiu a cabeça e olhou o pulso. O sangue cobria a esfera do relógio. Noah o limpou observando seu irmão com atenção. A falsa calma que mostrava podia ser só um prelúdio. Ia desmaiar. Noah o pressentia.

—Faz uma hora. — sussurrou com um soluço. — Deus, Noah. Uma hora. Perdi os sentidos e não passou ninguém. Ninguém me viu. Sinto muito. Sinto-o tanto.

—Nik, o que disse Travis?

—Estão transladando a Leão. — resmungou Nik. — O tiraram faz cinco minutos. Estão tentando localizá-lo, mas «T» perdeu o sinal.

T era o apelido de Tehya.

Noah se virou e cravou os olhos em Rick. O xerife estava olhando fixamente a ambos os irmãos.

—Supõe-se que está morto. — disse Rick fracamente. — Vi quando o enterravam.

Um homem que se arriscava a retornar a sua cidade natal fazendo-se passar por alguém que não era e que reclamava à esposa que tinha deixado, corria o risco de ser descoberto.

—E ainda o estou. — afirmou com ferocidade. — Conto com você, Rick. Mas que Deus o ajude se fez parte disto.

Rory tremia violentamente quando Noah voltou a olhá-lo.

—Ela o chamou carinho.

Para ouvir aquilo, Noah centrou toda sua atenção em seu irmão.

—Quem?

Rory franziu o cenho.

—Quando a porta se fechou, Sienna chamou «carinho» ao cara dos olhos escuros.

—Tem que ter ouvido mal. — objetou Rick a suas costas. — Tem que ter ouvido mal, Rory. —Mas sua voz era apenas um sussurro e estava cheia de uma dor amarga.

Noah se virou para olhar o xerife e observou que Rick estava olhando a Rory com horror. Sabia que era certo. Sacudia a cabeça com seus olhos castanhos cheios de angústia, como se dessa maneira pudesse apagar o que sua razão lhe dizia.

—Ouviu mal.

Não, Rory não tinha ouvido mal. Havia uma toupeira na mesa do xerife de Alpine. E essa toupeira era Sienna, não Rick como tinham suposto a princípio.

—Nik o que temos?

—A ambulância está em caminho. —Noah lhe lançou um olhar de lado que deixou paralisado a Nik e que o obrigou a fazer uma careta.

— Maldito seja, não temos nada. A equipe vem aqui e Travis segue rastreando enquanto T trabalha nas comunicações. Isso é tudo o que temos.

—O que caralho é? —perguntou Rick segurando o braço de Noah.

Tratando de conter o impulso de agarrar a garganta do xerife, Noah se voltou para ele lentamente e sorriu.

Tinha o olhar agudo e injetado de sangue, e podia sentir como a adrenalina bombeava em suas veias, como lhe endureciam os músculos das coxas pela tensão. Tinha liberado o monstro que habitava em seu interior.

—Sou o pior pesadelo dessa, fodida, tropa Black Colar. —assegurou a Rick em voz baixa. — Sou um morto vivo que pensa levar ao inferno a cada um desses malditos bastardos.

 

Rory tinha se negado a ir ao hospital e tinha rogado a Noah que o deixasse ajudar, assim tinham tido que usar à força. Depois, a equipe se reuniu discretamente no apartamento. Ninguém os tinha visto entrar e ninguém sabia que estavam ali.

Rick aguardava na porta dos fundos olhando pela estreita janela, tenso e preparado para agir enquanto ouvia como preparavam o equipamento que os outros agentes de Operações Especiais haviam trazido. Rastreadores. Dispositivos de comunicação. Armas.

Noah estava escutando o relatório de Travis Caine sobre seus intentos de rastrear a caminhonete que tinha transladado ao agente do FBI, Chuck Leão, e, de repente, soou seu telefone.

O silêncio caiu sobre o apartamento quando Noah abriu o celular e sussurrou o nome que aparecia na tela: «Sabella».

Conectou o localizador GPS do celular e logo respondeu:

—Blake.

—Sinto muito. —sussurrou Sabella.

Estava chorando. Noah podia ouvir sua voz quebrada e chorosa.

—Está tudo bem, carinho. —lhe disse com suavidade. — Estão aí?

—Querem falar... —Sua voz se interrompeu e, se Noah não se equivocava, acabava de ouvi-la gritar.

Se alargaram suas fossas nasais, a necessidade de vingar-se fez rugir seu sangue e sentiu o bater da adrenalina nas têmporas.

—Sabemos que o xerife está com você. —disse uma voz mecânica.

—Sim.

A risada distorcida não ocultava a satisfação do interlocutor.

—Lhe diga que fique aí. Se sair, as duas morrerão.

—Muito bem.

Silêncio.

—Vejo-o muito colaborador. Isso é bom. Noah guardou silêncio de novo.

—Foi você quem encontrou as provas no Ranger, não é, Blake? —perguntou a voz arrastando as palavras. — Encontrou as provas e as enviou para analisá-lo, não é certo?

—Sim.

Era consciente de que sabiam, assim não tinha sentido negá-lo.

—Bem. Esse maldito agente ao qual interrogamos não nos convenceu de que as tivesse encontrado. A propósito, ainda segue vivo. Importa-se?

—Não particularmente.

Outra risada afogada.

—Não é um agente. Então, quem é?

—Digamos que sou um cidadão preocupado. — respondeu. — Minha mãe era mexicana. Não teria gostado disso.

Era mentira. Sua mãe tinha sido irlandesa.

—Então sua mãe era uma puta. E nós matamos as putas.

Noah esperou um par de segundos antes de seguir falando.

—O que quer? —inquiriu fria e calmamente. Ele mesmo estava frio. Não, sentia uma fúria ardente. Não sentia impaciência. Tinha sabido que o chamariam.

—Belle também é uma pequena puta. —A voz era pedante e zombadora. — Será um bom brinquedo enquanto não estiver morta.

—Primeiro terá que me matar. — indicou Noah.

Não olhou aos homens da sala. Tinha o olhar fixo na única foto de Sabella que conservava no apartamento. Uma fotografia deles dois antes de casar-se.

Na imagem, lhe rodeava os ombros com o braço enquanto sorriam à câmera. A expressão de Sabella era suave, vulnerável, cheia de amor por ele. Noah quase podia cheirar esse dia. O perfume de Sabella, o aroma sexual que ainda os impregnava.

—Sim, antes o mataremos. —A risada alagou a conexão. — É melhor que esteja sozinho com o xerife. Que todos os mecânicos sigam onde têm que fazer. São como formiguinhas atarefadas, não é, Blake? Já sabe que os estamos vigiando.

—É seu trabalho. — concordou ele.

Não sentia nada. Nenhuma emoção. Seguia com o olhar fixo na foto deles dois. Não, era a fotografia de Sabella e seu marido. O homem que era agora não se parecia com o que tinha sido então. Não tinha medo nem estava preocupado. Sabia, sem importar qual fosse o resultado, que o sangue que ia correr essa noite não seria unicamente dele. E, certamente, não seria o de Sabella.

—Nos vai oferecer uma caçada muito interessante. —disse o interlocutor para atormentar — Será um bom exemplar de minha coleção de troféus. Isso é o que o espera por ter interferido em nossos assuntos.

Ele assentiu lentamente. Aproximava-se o desenlace.

—Isto é o que vai fazer Blake. E o fará sozinho. Se virmos que alguém mais sai da oficina, as mulheres morrerão. Se não seguir nossas instruções ao pé da letra, morrerão. Se se atrasar, morrerão.

O tipo devia ter uma veia melodramática. Maldito seja, Noah odiava a espera.

—Entendi. Se respirar fora do tempo, as mata.

Foi consciente de que Jordan fazia uma careta e do olhar que lhe dirigiram outros.

Outra risada entrecortada.

—Conhece o parque nacional?

Como a palma da mão.

—Não muito bem. Não tive tempo de fazer turismo.

Produziu-se um longo silencio. Noah o esperava. Usou-o para continuar calmo, negando-se a pensar nos riscos. Ali era considerado um simples mecânico, nada mais.

—Sabe onde encontraram a mulher do FBI? Sei que está a tempo suficiente na cidade para saber ao menos isso.

Em um cânion a uma hora de distância.

—Sim.

—Nos encontraremos lá. Tem uma hora para chegar. Quer se despedir de sua noiva?

—Se quer desfrutar de sua caçada, verei-a viva antes do começo. Não me serve de nada morta.

Aquela risada de novo. Chiada, provocadora.

—Claro. Despedirá-se em pessoa. Pode apostar nisso. Tem uma hora para chegar.

Noah desligou e agarrou a jaqueta de uma cadeira. Já tinha posto as botas de campo e as perneiras; o suave couro se adaptava a suas coxas e se movia com ele. Tinha três rastreadores, um em cada lado da jaqueta e outro na fivela do cinturão. Todos desativados até que o necessitasse.

—Terá que sair com outros sem que o vejam. — disse a Rick ao mesmo tempo em que se dirigia à porta.

—Nem pensar. Se Sienna estiver em perigo, eu também me encarregarei disso. —Os olhos do xerife ardiam de cólera quando segurou o braço do Noah.

—Volta a me agarrar o braço e parto seu pescoço. —Afastou a mão do xerife. — Sairá com outros. E Sienna é a única explicação de que tenham podido capturar Sabella com tanta facilidade. Sabe tão bem como eu.

Rick apertou os dentes. Um músculo lhe palpitou na mandíbula.

—Necessitamos de alguém a quem processar, Noah. —recordou Jordan.— Recorda-o quando começar a caçada. Estaremos no lugar combinado e preparados para nos mover. T o rastreará.

Noah assentiu com a cabeça e saiu do apartamento fechando a porta com um estrondo.

Podia sentir que o vigiavam. Quando chegasse ao lugar do encontro seria noite. Então os outros poderiam abandonar o lugar. Sair pela oficina não suporia nenhum problema.

Todos tinham sido SEAL´S. Sempre havia uma rota por onde escapar e Jordan conhecia todas elas.

Montou na Harley e fez rugir o motor antes de levantar o apoio e sair do estacionamento.

O vento lhe açoitava o cabelo enquanto escutava em sua cabeça a risada suave de Sabella, seus gemidos de paixão. O som das lágrimas em sua voz quando o tinha chamado.

Sabella tinha medo. Ele tinha cheirado esse medo. Mas também tinha percebido algo mais. Confiança. Não estava histérica. Não tinha rogado que a salvasse. Tinha sabido que iria por ela. Tinha ouvido tudo isso em suas palavras. Sabia que podia confiar nele.

Era uma mulher que qualquer homem se orgulharia de chamar de sua. Mas Sabella era muito terna e vulnerável. Uma mulher que amava com todo seu coração. E assim era como amava ao homem que ele tinha sido.

Com todo seu ser.

Acelerou a Harley e seguiu a estrada. Sabia exatamente aonde se dirigia. Tinha rastreado o local depois de chegar com a unidade e conhecia cada centímetro quadrado do lugar. O corpo da agente do FBI tinha sido encontrado aos pés de uma pequena colina, destroçado pelos animais carniceiros. O lugar tinha sido amplamente divulgado pelos meios de comunicação.

Durante um segundo, apenas um segundo, apareceu em sua mente uma imagem de Sabella com os olhos abertos, sem vida, o rosto pálido e os lábios ressecados. Acelerou e deixou que a Harley voasse pela estrada. A fúria o alagou com força e rapidez antes de controlar-se, antes que uma gélida sede de vingança o invadisse de novo.

Não era um marido. Não era um amante. Era um homem morto. E estava a ponto de ter companhia no inferno. Era simples assim. Era como tinha sobrevivido durante os últimos seis anos e era como tinha ressurgido de suas cinzas, reconstruindo a si mesmo.

Mas era um marido. E um amante. E o que lhe pertencia tinha sido ameaçado. Arrebatado. Isso não voltaria a ocorrer de novo.

A noite já tinha caído quando Noah deteve a moto só a alguns metros do lugar onde foi encontrado o corpo da agente morta. Aos pés da colina lhe esperavam três homens com máscaras negras junto a seus Rangers.

Noah colocou o apoio da Harley, desligou o motor e apeou lentamente. Voltou o olhar para eles. Nenhum era Mike Comrad. Mas as pessoas eram Delbert Ransome, com aqueles brilhantes e castanhos olhos de rato. Aos outros dois homens os identificou pela forma de seus rostos e a cor dos olhos. Um era um peão do rancho Malone. O outro era o ajudante do xerife, Hershel Jenkins. Maldição. Rory ia se irritar. Hershel e ele tinham sido companheiros de farra em mais de uma ocasião.

Hershel se separou de seu quatro por quatro e indicou a parte traseira do veículo. Na mão levava uma corda.

Noah se moveu para onde lhe indicava e subiu no veículo, deixando que aquele filho da puta lhe amarasse os pulsos às barras do bagageiro traseiro. Alguns segundos depois, ligou o motor e atravessou a noite.

Sentiu esquentar o primeiro localizador eletrônico no braço esquerdo. Tinha cinco minutos de autonomia. Já os vigiavam. Podia senti-lo. Os SEAL’s estavam em seu lugar. Reno, Clint, Kell, Macey e Ian tinham saído do centro para rastreá-lo assim que conheceram o lugar do encontro.

O satélite estava programado para seguir o rastro do Ranger. As luzes dos faróis dianteiros do veículo atravessavam a escuridão, mas Noah sabia que ali havia mais olhos observando-os. Pessoas da tropa, para assegurar-se de que não tinha apoio.

Mas o tinha e mais que suficiente.

Tinham pensado que iriam a por ele, não por Sabella. Ao estranho que tinha chegado e assumido o comando de algo que se dizia que a tropa queria. A oficina. Ele a tinha controlado, como à sua proprietária. Não tinha esperado que levassem Sabella.

Noah se agarrou às barras do bagageiro para segurar-se e se balançou com os violentos vaivens daquela incômoda viagem. Aqueles malditos estúpidos pensavam que sabiam como fazer mal. Mas não sabiam nada sobre a dor. Da loucura. Da morte.

Noah sim. E também sabia que não tinham nem idéia do tipo de monstro enfrentavam.

As lentes de contato de visão noturna funcionavam, embora não tão bem como o fariam óculos. A cor verde da paisagem era claramente visível, e pôde ver a casa do rancho de Gaylen Patrick atrás de um pequeno pinheiral quando passaram.

Percebeu uma sombra atrás da casa e sorriu. Bem, haveria muitas sombras movendo-se entre as montanhas essa noite.

Dez minutos. Quinze. Vinte minutos.

Finalmente, os carros se meteram em um pequeno cânion e frearam ao pé de um escarpado, diante de uma caverna.

Não a conhecia. Estava perfeitamente oculta por arbustos e sarças e pelo declive do escarpado. Havia uma trêmula luz em seu interior.

Soltaram-lhe as cordas e ante seu rosto apareceu um rifle que lhe indicou a entrada à cova.

Que fácil seria se separar de um chute do cano da arma e matar seus captores. Em silêncio. Sem fazer nem um só ruído.

Em troca, limitou-se a sorrir e a virar-se em direção à entrada, esperando a que as lentes de contato se adaptassem à penumbra, o que seria possível graças às precauções que os captores de Sabella tinham tomado para não delatar sua posição com muita luz. Assim que entrasse na caverna poderia desfrutar de uma visão perfeita.

Entrou, e seu olhar cruzou com o de Sabella imediatamente.

Alguém tinha batido nela. Tinha a bochecha arroxeada e sangue seco no nariz, e os escuros olhos cinza estavam cheios de ira e medo.

A caverna era bastante grande. Tinham-na algemado à armação metálica de uma pequena cama de armar e ela permanecia sentada sobre ela.

Do outro extremo do lugar, Mike Conrad lhe dirigiu um sorriso. Não tinha se incomodado em cobrir o rosto. Sienna estava sentada entre suas pernas brincando com o cabelo enquanto o olhava com malícia.

—Tanto couro me põe quente. — disse arrastando as palavras. — Venha, Mike, deixa que atire nele antes que comece a caçada. Já fiz isso com aquele ilegal que seqüestraram no mês passado. Sua esposa chorava tanto que dava pena. Quero ver como Belle chora ao ver como atiro em seu amante, como fiz com seu marido.

Noah jamais a havia tocado. Sempre tinha havido algo em Sienna que o tinha mantido a distância. Era muito superficial e nunca o tinha atraído.

—Se dispa. — insistiu olhando-a e encolhendo os ombros. — Tenho tempo de sobra se quiser.

Jogos mentais. Ele conhecia melhor que ninguém esse tipo de jogos.

Ela fez uma careta e enrugou o nariz.

—Nem pensar. Garanto que pegou alguma doença depois de estar com essa pobre infeliz. — cuspiu, indicando Sabella com a cabeça.

Noah elevou os ombros com despreocupação e se voltou para Mike.

Aquele homem tinha sido seu amigo. Era estranho que nunca tivesse visto essa sede de sangue em seus olhos. O que tinha mudado?

Mike lhe dirigiu um amplo sorriso.

—Como pode ver, está viva. Embora não goste muito de falar.

Noah deu outra olhada em sua esposa enquanto sentia esquentar o localizador no braço direito. Sacudiu a cabeça e olhou a seu redor outra vez.

Mike e Sienna o observavam; pareciam pouco satisfeitos com sua reação.

—Você disse que este bastardo não era tão fácil de intimidar como pensavam. —disse uma voz a suas costas.

Noah não se esticou. Não se virou. Seguiu ali parado, excitado. Conhecia o dono daquela voz. Gaylen Patrick. Esperou um bom momento antes de virar o suficiente para olhá-lo.

Dirigia-se para ele cambaleando, com os grossos lábios curvados em um sorriso, e lhe seguiam outros dois homens. Um mais baixo e magro, o juiz federal Cari Clifford, e o pançudo delegado Kevin Lyle.

—Bonito trio. —disse Noah.

Uma arrogante satisfação apareceu nos pequenos e brilhantes olhos de Patrick.

—Sim, temos muito bons amigos que gostam de jogar. —deteve-se junto a Mike e a Sienna. Estendeu o braço para retorcer um dos duros mamilos da Sienna e ela que gemeu como uma puta no cio, apoiando-se nele.

Uma puta de acampamento. Maldição, como não tinha visto antes.

—Me conceda um minuto a sós com Sabella. —Noah cravou o olhar em Patrick, consciente de quem era o chefe.

—Por que teria que fazer isso? —O rancheiro lhe devolveu o olhar com diversão.

Noah sorriu; era o sorriso de um homem seguro de si mesmo e de suas habilidades. Os olhos de Patrick brilharam ante o desafio.

—Acaso isto não é uma caçada?

—Sim, e vamos caçar você. —O rancheiro lançou uma gargalhada.

— Se puder se manter com vida até o amanhecer, teremos piedade de você e lhe colocaremos uma bala na cabeça. Não violentaremos Belle nem faremos que presencie se ainda continuar vivo. Simples assim. Se o apanharmos antes do amanhecer morre e ela se converterá em nosso brinquedo, como foi aquela agente do FBI.

Noah assentiu com a cabeça sem deixar de sorrir.

—Assim espera que eu enfrente uma grande provocação.

—Nós adoramos as provocações. — riu Gaylen com satisfação.

—Me conceda um minuto a sós com ela e terá sua provocação. — Sua voz era cada vez mais baixa, permitindo que o monstro que morava em seu interior cobrasse vida.

Sienna estremeceu como se não pudesse conter o desejo.

—Se o apanharem antes do amanhecer poderei ser a primeira a violentá-la?

Gaylen cravou a vista nela como um homem que olha seu mascote favorito.

—A reservaremos para você. — lhe prometeu antes de centrar-se em Noah.

— Crê que pode ser uma provocação, verdade?

Noah arqueou uma sobrancelha.

—Jamais me apanhará.

Gaylen sorriu amplamente.

—Não é o primeiro homem que o diz.

—Eu não sou qualquer homem. —Ele já era um homem morto, e sabia quem o ia acompanhar ao inferno aquela noite.

Os grossos lábios de Gaylen se alargaram de novo em um sorriso antes de assentir brevemente com a cabeça.

—Tem três minutos. Sinto-me magnânimo. Deixarei que a beije antes que ela o ouça morrer.

Noah indicou com a cabeça o rádio colocado no canto da caverna.

—Será a você quem ela ouvirá gritar como um porco antes de morrer. — assegurou ao rancheiro olhando-o fixamente.

O velho bastardo pôs-se a rir antes de rodear os ombros da Sienna com um braço.

—Vamos pequena. Pode-me chupar antes que saiamos.

Ela riu bobamente, como a animadora de torcida que tinha sido.

Noah se aproximou de Sabella. Ajoelhou-se diante dela e embalou seu rosto entre as mãos. Tinha os olhos cheios de lágrimas. E durante um segundo, Noah se permitiu o luxo de sentir. Durante um momento, a ira ameaçou lhe arrebatando o controle. Sentiu-se invadido por uma raiva assassina ao pensar em quão assustada tinha que estar ela.

E ali, no mais profundo de sua alma, estava o amor que tinha sentido por Sabella desde a primeira vez que a viu. Desde que tinha entrado na oficina, com aquele sorriso tão brilhante como a luz do sol, com esses olhos misteriosos e atentos. Desde aquele dia, ele não tinha olhado a nenhuma outra mulher.

Aproximou-se ainda mais, apoiando sua fronte contra a dela e respondeu à muda pergunta de Sabella.

Morrerão. prometeu. Cada um deles.

Os lábios de Sabella tremeram e as lágrimas ameaçaram deslizar-se por seu rosto.

—Esteja preparada. — lhe disse em um sussurro, para que só ela ouvisse. — Mantém a cabeça inclinada. Não os irrite.

Ela assentiu temerosamente com os olhos fixos nos de Noah. Tinha medo, medo por ele. Por eles.

—Tudo vai sair bem, pequena.

Sabella assentiu outra vez e quando lhe tremeram os lábios de novo, Noah quis beijá-los. Queria cobri-los com os seus, fazê-la esquecer o passado e o medo por um momento. Mas era um desejo que não podia permitir-se. Beijar a Sabella deixaria seu escuro coração descoberto, onde pulsava o desejo e uma necessidade infinita. Só por ela.

—Noah...

Ele a interrompeu lhe pondo um dedo sobre os lábios.

—Não te ocorrerá nada. Juro isso pelo pouco que fica de minha alma, Sabella. Não permitirei que aconteça nada a você.

—E Rory?

—Está a salvo.

Ela voltou a assentir com a cabeça.

Noah lhe enxugou uma lágrima e levou o polegar aos lábios, degustando o sabor salgado da dor e do medo de Sabella, sentindo como lhe endurecia o coração com uma fúria gelada.

—Quem bateu em você? —Queria saber a quem tinha que matar primeiro.

—Sienna.

Ele assentiu e lhe roçou os lábios com o polegar. Acariciou-lhe o cabelo e logo se afastou com lentidão enquanto Mike entrava na cova.

Ficou em pé. O som do soluço afogado de Sabella se cravou em seu gélido coração. Endurecendo-o. Voltando-o cada vez mais frio. Sem rastro de calor. Não havia nenhuma fibra de ardor ou ferocidade em seu interior. Era a morte.

Voltou-se para o Mike.

—Vamos começar já ou está esperando sua vez para que Sienna o chupe também?

Mike entrecerrou os olhos antes de deslizar o olhar sobre Sabella.

—Quando estiver morto, vou gozar em sua boca. Morrerá tragando meu sêmen.

Noah grunhiu.

—Acabemos com toda esta merda de uma vez, Conrad. Nos coloquemos em marcha.

Encaminhou-se para a entrada deixando ele atrás de si. Por agora. Só por agora. O olhar que dirigiu a Mike era uma promessa. Seria um dos primeiros a morrer.

Matar-lhe seria muito fácil. Soube desde que retornou e viu como aquele homem bêbado tentava abusar de Sabella. Tinha acreditado em seus amigos e em sua família para que cuidassem da mulher que era sua vida e tinha sido traído.

Quando chegaram à estreita entrada, Noah observou como Gaylen Patrick entrava na caverna. Tinha o rosto vermelho e mostrava uma expressão de satisfação.

—Não demora muito a gozar, não? —disse-lhe zombadoramente.

Patrick lhe fulminou com o olhar.

—Menino, vou desfrutar matando você.

O monstro que havia nele rugiu e se sentiu invadido por uma fúria homicida. Não foi uma quebra de onda de adrenalina, mas sim de fria determinação. Um coração duro e brutal com uma única missão.

Noah sorriu amplamente.

—É engraçado. Eu pensei o mesmo.

 

Sabella inclinou a cabeça e conteve as lágrimas. Doía-lhe todo o corpo pelos maus tratos que tinha sofrido. Os ombros, as pernas e os quadris, as costas. Embora ao menos, Sienna não a tinha batido no ventre.

Era muito recente a gravidez para que um golpe no ventre machucasse o bebê? Que Deus a ajudasse se Sienna descobrisse que estava grávida de Noah.

Aquela mulher estava louca.

Sabella olhou como aquela imitação psicótica de sua melhor amiga brincava com Mike Conrad do outro lado da caverna. Roçando-lhe o sexo, deixando que ele enterrasse a cabeça em seu decote. Faziam de tudo menos copular diante dela. E não tinham nem idéia do que tinham desatado quando a tinham seqüestrado.

Sabella sabia. Tinha visto nos olhos do homem que amava. As bolinhas verdes em seus olhos azuis eram artificiais. Noah tinha os olhos da cor azul. Só azul. Um azul que tinha sido como gelo iluminado por dentro por um fogo frio e brutal.

Não tinha visto neles fúria, nem raiva. Só morte calculada.

Aqueles não eram os olhos de seu marido. O que lhe tinha acontecido durante o tempo que Diego Fontes o manteve prisioneiro o tinha mudado. E o tinha feito até tal ponto que a fazia estremecer. Seis anos antes, seu marido não tinha tido aquele coração duro e gelado em seu interior que fazia que a morte se refletisse em seus olhos.

Santo Deus, ele ia matar essa noite. Sabella sabia. Tinha-o visto em seus olhos. E não é que aqueles bastardos não merecessem morrer. Estavam muito confiantes. Tinham matado durante tanto tempo que nem sequer lhes importava que suas vítimas lhes vissem o rosto. Estavam tão seguros de si mesmos por ter vencido em todas aquelas caçadas que não temiam nada.

—Pobrezinha Belle. — cantarolou Sienna com fingida compaixão quando se aproximou dela. Agarrou o queixo de Sabella e lhe elevou a cabeça com força. Seus olhos verdes brilhavam de excitação, com um prazer quase demoníaco.

—Pobre Rick. —sussurrou Sabella. — Ele a ama, Sienna.

Não parecia que Sienna se importasse muito.

—Esse bastardo está há dois anos sem me tocar. — soprou apertando os lábios e pondo os olhos em branco. — A única razão de que ainda vivamos na mesma casa é para não levantar suas suspeitas.

Soltou o rosto de Sabella e se deixou cair pesadamente na cama de armar a seu lado. Sabella mudou de postura imediatamente para proteger o ventre, apertando-se mais contra o canto da parede.

—Faz muito tempo que quero dizer puta fraca é você. — riu Sienna.

— Chorando por seu Nathan perdido. Encerrada nessa casa como um condenado fantasma. —Elevou a mão e olhou as unhas antes de voltar a levantar a vista para a Sabella.

— Ele me teve em sua própria cama, sabia?

Não. Não o tinha feito. Nathan jamais teria se deitado com outra mulher. Sabella o teria sabido se ele o tivesse feito.

Mas agachou a cabeça e deixou que Sienna pensasse que sua provocação tinha tido efeito.

—É fodidamente aborrecida. —soltou Sienna com irritação. — Venha, Belle. Admite-o. Fica doente saber que deitei com seu marido. Teria-me deitado com seu mecânico também, mas estou segura de que nem sequer tem pênis.

Mike riu entre dentes do outro lado da caverna e se aproximou do equipamento que havia sobre a mesa da canto.

—Quero que me veja a violentar. —espetou Sienna com fúria enquanto Sabella a olhava com os olhos entreabertos.

— Vai-me encantar violentar você. Não poderei parar de rir quando a morder. —A voz tremia de desejo. — Farei com que grite e rogue a seu Noah que a salve.

—Não terá oportunidade. — disse Sabella com voz baixa. — Ele vai matar você .

Sienna umedeceu os lábios com lascívia.

—Ninguém sobreviveu a uma caçada, Belle. Seu mecânico não durará nem uma hora. Logo... —inclinou-se para frente e agarrou Sabella pelo queixo com tal força que provavelmente ficaria uma marca—, vou agarrar meu vibrador e vou colocar em você com ele enquanto outros o seguram. Rasgarei essa carne tão doce que Nathan e esse mecânico encontram tão condenadamente boa e o deixarei olhar enquanto grita.

Sabella negou com a cabeça.

—Não, Sienna. Não vais ter a possibilidade de me fazer mal diante dele. Nem sequer saberá quando voltar. Só saberá que está morta.

Sabella tinha visto a morte nos olhos de Noah. Algo do que tinha ocorrido, que formasse parte dele, tinha-o preparado para isto, e ela sabia.

Sienna sorriu burlonamente e antes que Sabella pudesse afastar-se, pousou seus lábios nos dela.

Sabella se afastou enojada e, sem poder conter-se, golpeou com sua cabeça o rosto da outra mulher.

Sienna gritou de fúria e mandou seu punho com força contra a bochecha de Sabella, fazendo que tremesse de dor.

Logo, Sienna saltou da cama e se aproximou de Mike, que não deixava de rir. Atraiu-a para ele e lhe acariciou o cabelo, beijando-a na bochecha que Sabella tinha golpeado.

—Minha pobre putinha. —cantarolou. — Não aconteceu nada. Quando tivermos terminado com ela, nos pode chupar a todos. Poderá limpar seu sangue de nossos pênis.

Sabella viu o pequeno estremecimento de prazer que atravessou Sienna. Santo Deus, estava louca. De algum jeito, Sabella tinha passado por cima do fato de que aquela mulher que tinha fingido ser sua amiga estava louca. Não era de se surpreender que Nathan nunca tivesse gostado da idéia de que fossem amigas.

Respirou fundo notando o sabor metálico de sangue na boca, e conteve a ansiedade que crescia em seu interior. Noah retornaria. E quando o fizesse, asseguraria-se de que aquela noite não fosse mais que uma lembrança desagradável.

 

Não o tinham levado muito longe do cânion para começar a caçada. Os membros da tropa estavam mascarados e haviam lhe trazido um companheiro de penúrias. Todo um detalhe por sua parte.

Não cabia dúvida que Chuck Leão tinha conhecido dias melhores. Tinha o rosto torcida e um torniquete na perna. Maldição, teria que encarregar-se disso antes de retornar à caverna.

—Pode se mover? —perguntou ao outro homem quando estavam no meio de um pequeno vale.

Noah olhou a seu redor. O vale estava dividido em dois por um riacho seco e várias gargantas. Ainda não tinha visto outros membros da equipe, mas era o mais lógico, já que a tropa utilizava óculos de visão noturna.

A área estava coberta por álamos e pinheiros que cresciam de maneira estratégica, muito juntos em um dos lugares, e separados em outros.

—Não muito. — disse Chuck movendo a perna boa. — Preferem caçar a mais de um. Gostam que o primeiro morra rapidamente e que o outro represente um desafio. Suponho que me matarão primeiro.

Entretanto, não parecia resignar-se. Seus olhos cor avelã brilhavam de ira.

—Darei-te um conselho. — resmungou Noah em voz baixa. — Desfaz-se da cólera. Use a cabeça e vigia as costas.

Chuck negou com a cabeça.

—Seremos alvos fáceis aqui fora.

Noah guardou silêncio e observou como outros veículos se aproximavam deles. Havia uma dúzia de Rangers e mais duplas de homens. Não eram muitos. Parecia que só tinham deixado participar a aqueles em quem confiavam.

—Tem um plano? —Chuck fez uma careta quando Noah se agachou e checou o torniquete. —Sempre tenho um plano.

—E me contar qual é.

Noah grunhiu. Não podia confiar em um agente desconhecido com a vida de Sabella em perigo

—Sobe a garganta e vai para o norte. —Alguém da equipe chegaria até ele e se ocuparia de que estivesse a salvo.

— Pode ser que assim sobreviva.

O agente o olhou com incredulidade.

—Está tirando o sarro da minha cara, não é?

Noah lhe devolveu o olhar com frieza.

—Tenho pinta de estar brincando?

—Santo Deus. —Chuck passou as mãos pelo cabelo. — Está bem. Farei o que você diz.

—Não se detenha em nenhum momento. Essa garganta dá a outra que termina na estrada principal. Se não lhe agarrarem antes, pode que saia vivo desta.

A unidade o deixaria passar e se encarregariam de ajudá-lo. Noah tinha visto que o mato que crescia ao bordo da garganta se agitava com muita força para o vento que soprava no vale. Um indício mais de que a unidade de Operações Especiais se dirigia para o cânion onde retinham Sabella.

Noah tinha intenção de retornar ali imediatamente. Deixaria que aqueles bastardos pensassem que Chuck e ele fossem facilitar lhes as coisas. A unidade jogaria com eles enquanto Noah voltava por Sabella e a tirava de lá. Assim que ela estivesse a salvo, Noah se dedicaria a caçar a sério.

—Parece que já chegaram todos. —A voz de Chuck tinha um tom resignado, mas agora vibrava com determinação.

Ele era, a presa menor. Noah saudou com a cabeça ao Gaylen Patrick quando saiu do Ranger com os olhos cobertos com óculos de visão noturna. Tecnologia para principiantes, pensou Noah achando graça.

—Preparados, meninos? —Patrick riu entre dentes, esboçando com aqueles lábios grossos o que parecia a careta zombadora de um palhaço psicopata enquanto se dirigia cambaleando-se para eles.

Noah deslizou os polegares sob o cinturão e ativou o rastreador. Tinha esperado até o último minuto. Tinham-lhe revistado e tirado a perneira e a jaqueta, mas seguia tendo o rastreador do cinturão. Embora fizesse o que tinha que fazer com ou sem ele.

Voltou o olhar para o Gaylen. Apesar das lentes de contato que usava, podia ver a maldade que brilhava nos olhos do rancheiro.

—Daremos a você uma vantagem de dez minutos. Pode correr na direção que queira. — riu entre dentes. — Nós gostamos de fazer as coisas difíceis. Em dez minutos iremos atrás de você.

Dez minutos. Noah sorriu por dentro. Os estúpidos lhe davam dez minutos.

—Normalmente damos a nossas presas mais tempo de vantagem. —explicou o rancheiro em meio das risadas dos outros membros da tropa.

— Mas nós não gostamos muito, assim faremos isso mais difícil.

Noah olhou para o vale. Tampouco meia hora seria muita vantagem, a menos que a presa conhecesse a região tão bem como ele. Noah tinha percorrido cada metro quadrado do parque nacional, tinha acampado e caçado ali. Conhecia-o como a palma da mão. Com meia hora teria chegado até o rancho Malone. Com dez minutos teria tempo suficiente para retornar ao lugar onde retinham Sabella.

—Não é muito falador, não é, menino? —Patrick o observou com diversão. — Você não gosta de esbanjar saliva, né?

Noah sorriu. Mas não foi um sorriso de diversão e, pela primeira vez, o rancheiro pareceu ficar um pouco nervoso.

Patrick grunhiu e olhou irritado o relógio.

—Tem dez minutos, filho de uma puta. Em marcha.

Chuck se afastou coxeando para a garganta. Noah permaneceu sem mover-se durante um momento, olhando ao rancheiro enquanto este arqueava as sobrancelhas e ria em seu rosto.

—Vigia suas costas. — disse ao Patrick. — Vigia-a bem. Porque quando menos esperar, terá-me atrás de você.

Sem mais, virou-se e se dirigiu para os veículos, esperando que Tehya pudesse rastrear a algum daqueles bastardos com o satélite. Se deixasse algum com vida necessitariam de provas para prendê-lo.

Depois começou a correr. Contava com menos de dez minutos.

Tinha que chegar ao cânion e rezou para que a unidade tivesse tido tempo de rodear o lugar.

Podia sentir os olhos cravados em suas costas e estava certo de que começariam a disparar antes que acabasse o tempo que lhe tinham dado. Afundou os pés no barro, correu para a garganta e se enfiou totalmente nela para ouvir o primeiro disparo.

A bala roçou seus bíceps e lhe produziu uma queimadura. A ferida era superficial, mas ia sangrar muito. Rodou sobre o duro leito rochoso do terreno baixo sem se importar com a dor que lhe produziam as afiadas pedras que lhe cravavam nas costelas e, um segundo depois, ficou em pé e seguiu avançando.

Podia ouvir as risadas atrás dele, os motores ronronando, um par de motos. Estavam completamente equipados, utilizavam tecnologia do exército e eles tinham tudo bem planejado. Tinham-no feito antes. Mas essa seria a última vez.

—Noah. —Nik saiu a seu encontro cinco minutos depois, quando rodeava a garganta.

— Temos o lugar coberto. Clint está sobre a garganta, protegido pelas árvores, e Reno ocupou o lugar de Leão, que está a salvo com Macey. Encarregamo-nos que tudo.

—Tenho que retornar à caverna. —Dirigiu um olhar irritado à ferida que Nik lhe estava enfaixando. —Aqui tem as armas.

Nik lhe entregou um rifle e uma pistola. Noah colocou a arma menor no cinturão e empunhou o rifle.

—Me dê uma faca. —Começava a ouvir o ruído de motores quando Nik lhe pôs uma adaga militar russa na mão.

—Colocaram muitos guardas no cânion. —informou Nik. — Ainda tem cinco minutos. Não posso cobrir você lá, mas Jordan e o xerife se dirigem para essa posição. Vão com um pouco de atraso. Parece que há muitos olhos postos na estrada que conduz até ali. Tiveram que dar uma volta.

—Terá que tirar esse fodido agente daqui. —Noah recebeu a informação enquanto ouvia uma buzina atrás deles.

Os motores e os veículos se ouviam cada vez mais perto.

—Aqui tem o comunicador. —Nik tirou um aparelho da orelha e o passou a Noah para que pudesse ouvir as indicações da unidade.

—Wildman em posição. — disse brandamente.

Era seu codinome. A missão estava a ponto de ser concluída e por fim tinham encontrado o informante, que tinha resultado ser Sienna. Matar a uma mulher não era algo que gostasse de fazer. Embora o que tinha visto na caverna não era uma mulher. Era uma doente.

—Wildman avança e Jordan o cobre. —A ordem de Reno ressonou no aparelho. — Todos estamos em posição.

—Vai. —Nik lhe deu uma palmada nas costas, recolheu sua arma e se afastou.

Ficar coberto não era fácil. Tinha que chegar ao cânion atravessando a garganta e logo pegar-se à parede do escarpado para não ser visto. A maior parte da tropa estava repartida pelo parque, enquanto o resto vigiava o centro de comando.

Jordan e Noah estariam em menor número, além disso, Jordan demoraria um pouco mais em chegar.

—Wildman, tenho você coberto. — disse Tehya.

— Tem dois inimigos aproximando-se, um a trinta e cinco metros pela esquerda e o outro a vinte e dois pela direita. Avança com precaução.

Noah se manteve agachado seguindo as instruções de Tehya enquanto ouvia o murmúrio ao fundo dos avanços de Reno e Clint.

—Derrubada a primeira moto. — informou Clint com satisfação apesar do tom tranqüilo de sua voz.

Noah deslizou pela garganta, amparado pelos pinheiros e os zimbros que o rodeavam. Os inimigos o seguiam nos calcanhares. Arrastou-se sobre o estômago até a próxima posição, mantendo-se coberto.

Quando alcançou a parede do escarpado ficou em pé, depois se agachou e deslizou por atrás das rochas e das árvores.

—Um inimigo no escarpado. — informou Tehya. — O tenho na mira. Dispararei se for necessário.

Mataria-o se fosse necessário.

Ainda não. Noah queria que todos os que tinham estado nessa agradável caverna pagassem por seus enganos.

—Necessito que o distraia. — resmungou. Fez-se silêncio e logo a voz do Micah encheu a linha.

—Estou nisso. Prepare-se para se mover. Houve um brilho na boca do cânion.

Noah observou como o sentinela, se voltava e mudava de posição, lhe deixando via livre para correr a toda velocidade para a entrada da caverna.

—Objetivo alcançado. — informou Tehya ao resto do grupo.

—Clint, tem um deles a doze metros à esquerda, cubra-o. —indicou Kira. — Ian move esse traseiro quente, tem um inimigo perto.

—Traseiro quente? —A voz de Reno estava cheia de diversão. — É seu novo nome codinome?

Noah escutou pelo aparelho a risada amortecida dos membros da unidade, enquanto atravessava a estreita entrada da cova e acessava o vestíbulo natural que tinham cavado no escarpado.

As lentes de contato se ajustaram à luz da caverna ao mesmo tempo em que abria passo para o centro de comando da tropa e escutava a informação que passavam entre eles através do radiotransmissor. Como à equipe de Noah, todos os homens da tropa levavam consigo um dispositivo de comunicação.

Estavam rastreando às duas «presas». Gritavam quando desapareciam e riam quando voltavam a aparecer.

—Está sendo uma boa caçada, meninos. —gritou o juiz com fanático prazer. — Fantástica, mas é hora de acabar com eles.

—Estão demorando muito. — protestou Sienna com voz rouca e desgostosa. — Gaylen disse que terminariam logo e que depois nos divertiríamos.

Mike riu ante suas palavras, mas Noah notou o nervosismo em sua voz.

—A estas alturas já deveriam ter apanhado algum. — bufou Sienna antes de suplicar— Venha, Mike. Segura-a. Prometo a você que não lhe farei muito mal. Só mostrarei quão boa posso ser.

—Não parece muito disposta. —Havia luxúria na voz de Mike. — Se fizer isso, tem que me ajudar a lhe manter a boca aberta enquanto me coloco.

—Oh, sim. —chiou Sienna.

Sabella permanecia em silêncio. Noah podia ouvir sua respiração pesada e ofegante.

—Quem dera Noah Blake pudesse ouvi-la quando a fizermos gritar. — disse Sienna arrastando as palavras.

Noah empunhou a adaga que Nik lhe tinha dado e segurou o rifle com a outra mão.

—Jordan e o xerife Grayson estão chegando. Esteja atento, Wildman, tem reforços perto. — informou Tehya.

—Sienna, não faça isso. Noah a matará. —lhe assegurou Sabella.

Noah a ouviu. O medo em sua voz lhe atravessou a alma.

—Segue suplicando. —ofegou Sienna. — Oh, sim Belle, vai suplicar quando eu a violente e Mike goze em sua garganta.

Noah não era da mesma opinião.

Deu um passo para eles, e Mike só teve um segundo para levantar a arma antes que Noah lhe enterrasse a faca no ombro enquanto Sienna chiava e se lançava furiosa contra ele.

Derrubar a aquela louca foi fácil. Nem sequer teve que imprimir muita força ao murro que lhe deu no queixo e que a fez cair ao chão como um fardo a seus pés.

Sem perder um segundo, deu a volta para enfrentar Mike. Seu antigo amigo arrancou a adaga do ombro e se equilibrou rugindo para ele.

A fúria alagava os olhos castanhos e avermelhava o rosto dele. Sabia brigar. Nathan e ele sempre tinham brigado. Pode ser que o outro homem tivesse ganhado um pouco de peso, mas se movia impulsionado pela fúria. Noah lhe agarrou com força o pulso e escutou, com uma parte distante de sua mente, como Mike deixava cair a adaga ao chão enquanto o grito de Sabella ressoava na gruta de pedra.

Noah recebeu o primeiro golpe nos rins e permitiu que Mike lhe desse outro murro no estômago antes de passar à ação. Cravou-lhe o cotovelo na garganta e Mike caiu de costas no chão. As habilidades de seu antigo amigo tinham melhorado. Lançou-lhe um chute do qual Noah se esquivou, mas a fúria de Mike não era nada comparada com os anos de treinamento e a frieza do homem ao que enfrentava.

Noah se agachou, rodou pelo chão e agarrou a adaga à espera de que o outro homem investisse. Aproveitou o impulso de Mike para lhe rodear os ombros com um braço e escutou um rangido quando a adaga atravessou o peito daquele que uma vez foi seu amigo, lhe rasgando o coração.

Mike ficou paralisado e aumentou os olhos ao olhar para Noah.

—Sou Nathan Malone. — murmurou para que só Mike o ouvisse. — O adverti faz anos que não tocasse o que é meu.

Algo cintilou nos olhos de seu antigo amigo. Remorso? Medo? Noah não esteve seguro. Mike levantou a mão, pronunciou seu nome e caiu lentamente no chão. Um fino fio de sangue escorregava pela comissura de sua boca.

Intuindo o perigo, Noah se virou para a Sienna e viu que esta segurava uma arma.

—Já matei antes. — afirmou a mulher do xerife. Sangrava pelo nariz e tinha um olhar ensandecido nos olhos verdes.

Drogas. Estava claro. Era uma condenada drogada.

—Não quero matar você, Sienna. —Noah era consciente de que Sabella, que se apertava contra um canto da parede, observava a cena com medo e dor.

Tinha feito ela passar por algo que nenhuma mulher deveria experimentar. Sua morte. Sua volta como outro homem. A sensação de que todo seu mundo se desmoronava ao seu redor.

—Mas eu sim quero matar você, Noah Blake. —brincou Sienna sorvendo pelo nariz. Seu rosto estava cheio de lágrimas.

— Matou o Mike. —Fez uma careta e logo gritou—: Quem demônios me dará a coca agora, maldito filho de uma puta?

Noah negou com a cabeça.

—Pode se reabilitar na prisão, Sienna.

Ela o desdenhou com sarcasmo.

—Com certeza que o cretino do Rick gostaria de me ver na prisão. Pobre desgraçado. Será o próximo e nem sequer sabe. Não vai sair daqui. —Agitou a arma com ênfase.

Noah ouviu que o comunicador se ativava em sua orelha.

—Centro de comando limpo. Objetivos eliminados.

Noah apertou os lábios.

No rádio se ouviu um disparo.

—Merda! —exclamou Sienna aumentando os olhos. — Merda! De onde veio? De onde veio?

Seu rosto refletia terror e a arma lhe tremia na mão. —Matarei você! —gritou a Noah.

—Só poderá disparar uma vez. — disse ele abrindo os braços. — Aproveita a oportunidade.

Sienna sorriu com um brilho demoníaco nos olhos, produto da cocaína, e apontou para a que tinha sido sua amiga. O medo de Sabella atravessou a caverna em um detestável silêncio, só quebrado por sua respiração ofegante.

Noah se esticou e saltou sobre Sabella ao mesmo tempo em que soava um disparo.

—Belle! —uivou caindo sobre ela e fazendo-a rodar contra a parede para protegê-la enquanto se esticava para receber uma bala que nunca chegou.

Noah se virou então lentamente e viu Jordan e Rick Grayson na entrada. A arma do xerife fumegava e Sienna estava tombada no chão, com uma grande mancha de sangre sob o pescoço.

Rick olhou a sua esposa com o rosto inexpressiva e os olhos vazios, inclinou-se e recolheu o rifle que Noah tinha deixado cair. Deu meia volta e abandonou a gruta enquanto Noah cortava com rapidez as cordas prendiam Sabella.

—Noah. Oh, Deus. Noah. —ele a rodeou com seus braços e a estreitou com força contra si.

— Sabia que viria. — sussurrou lhe cravando os dedos no peito e aferrando-se a sua sólida presença. Noah fechou os olhos ante a dura agonia que ressoava em seu coração. — Sabia. Sabia que viria.

Noah a beijou no topo da cabeça e viu que Jordan se aproximava.

—Leva-a para casa. —pediu a seu tio.

Jordan assentiu com a cabeça e disse:

—Rory está lá, e o vovô também. Ficarei com eles.

—Não! —Sabella se afastou bruscamente e levantou o olhar para seu marido.

Seus olhos pareciam nuvens de tormenta. Noah jamais os tinha visto assim. Estavam cheios de medo e surpresa. Seu rosto tinha perdido qualquer rastro de cor e se estremecia dos pés a cabeça.

—Não se atreva a me deixar! —Agarrou-o pela camisa e tentou lhe sacudir enquanto lágrimas incontáveis escorregavam por seu rosto. — Não se atreva a partir, Noah.

Ele inclinou a cabeça. Roçou os lábios de Sabella com os seus e soube que aquela mulher ficaria com a melhor parte dele. Com as lembranças do marido e do homem que tinha sido. Não podia destruir isso sob nenhuma circunstância.

Empurrou-a para o Jordan lentamente, sentindo sua resistência a deixá-la ir. A soltá-la. Sabia que afastar-se de sua esposa era a única maneira de salvar as lembranças que ela tinha dele.

—Não se atreva a me deixar! —gritou-lhe Sabella com os lábios trementes e os olhos cintilantes pelas lágrimas. A histeria ameaçava dominá-la. — Se me deixar, Noah Blake, se não voltar quando tudo isto acabar, não se incomode em voltar jamais.

Ele lhe acariciou o rosto e lhe passou o polegar pelos lábios.

—É a melhor parte de mim. — sussurrou. — Recorda-o sempre, Sabella. A melhor parte de mim.

Afastou-se antes que ela pudesse retê-lo, agarrou um dos rifles que Mike tinha deixado sobre a mesa e se dirigiu à entrada da gruta.

Nik estava ferido e os membros da tropa se dispersavam como ratos de um naufrágio. Tinha chegado o momento de ir por eles. Tinha chegado a hora de vingar às vítimas, e Noah seria a mão executora do diabo.

Saiu rapidamente da caverna, com os soluços de Sabella ressoando em sua cabeça. Odiava ouvi-la chorar por ele. Era algo que lhe arrebatava os sentidos, o controle, mas também reforçava sua fria determinação de exterminar a cada um dos homens que Gaylen tinha reunido e que tinham ameaçado sua esposa. Tinham arriscado sua vida. Seu mundo. Não voltariam a ter a oportunidade de fazê-lo de novo.

 

Sabella permitiu que Jordan a abraçasse e deixou de chorar. Cravou os olhos nos cadáveres de Mike Conrad e Sienna, e pôs uma mão sobre o ventre, sobre seu filho.

A caverna cheirava a morte e a sangue.

—Me leve para casa.

Noah tinha levado uma parte de Sabella sabia que jamais retornaria. Queria afastar-se dali o mais rápido que pudesse. Não queria que seu bebê estivesse exposto a esse aroma, às atrocidades que se cometeram nessa caverna. Quase podia ouvir os gritos das pessoas inocentes que tinha morrido naquele terrível lugar.

Sienna estava sobre um atoleiro de sangue. Seu corpo magro jazia deitado e o cabelo lhe cobria o rosto. Sabella sabia que teria que enfrentar depois às conseqüências de todo o ocorrido. Tinha amado a Sienna como a uma irmã. Tinha acreditado nela.

—Sabella, — disse Jordan brandamente— não pode falar sobre isto.

Ela levantou a mão para lhe fazer ficar em silêncio.

—Sei. Fui casada com um SEAL, lembra? —Jordan assentiu lentamente com a cabeça. — Não vi nada —sussurrou ela entre soluços. — Nada absolutamente. Agora me leve para casa. Tire-me daqui antes que me volte louca.

No rádio puderam ouvir os lamentos dos integrantes da tropa que corriam, que caíam em emboscadas. Suas maldições e gritos ressoaram na caverna quando Jordan a agarrou pelo braço e a guiou à saída.

Uma vez fora, pôde ver que uma parte do parque estava ardendo. Enquanto Jordan a ajudava a subir no SUV negro no qual tinham chegado Rick e ele, ouviu disparos que a fizeram tremer. Fechou o cinto e observou a escuridão que a rodeava.

O carro cruzou o cânion a toda velocidade e Sabella se viu obrigada a segurar-se. Jordan estava ladrando ordens embora ela não visse nenhuma rádio. Entretanto, observou que usava um aparelho na orelha.

—Nik, saca o traseiro daí. — ordenava Jordan — Importa-me uma merda que seja um berserker reencarnado. Saca o traseiro daí! —Logo soltou uma maldição.

Nik. O mecânico. Sabella cruzou os braços sobre o estômago, virou a cabeça para o vidro e começou a chorar. Enquanto percorriam o caminho de terra que levava a interestadual, permitiu que as lágrimas rolassem por seu rosto deixando para trás o passado.

Seu marido estava morto e o homem que ocupava seu lugar não ia voltar. Tinha-o visto em seus olhos, tinha-o sentido em sua carícia. Mas dessa vez, Sabella não estava sozinha.

Acariciou o ventre e fechou os olhos. Dessa vez, tinha-lhe ficado uma parte desse amor a que se aferrar.

Seu filho.

 

Jordan revistou a casa.

Sabella o esperou na salinha, enrodilhada na mesma poltrona em que se sentou no dia em que Jordan e o capelão tinham ido dizer lhe que Nathan tinha morrido.

Não chorava. Apoiava a cabeça no encosto da poltrona e o vovô a tinha envolvido em uma manta antes de aproximar uma cadeira e lhe segurar a mão.

Ficaram assim várias horas até que Jordan e Rory entraram na cozinha e um pesado silêncio caiu sobre eles.

Finalmente, o vovô soltou um suspiro. Seu rosto enrugado pela idade estava cheio de tristeza e lhe aplaudia a mão com pesar.

Sabella levantou o olhar para o ancião e observou de novo aqueles olhos azuis. O feroz olhar irlandês. Perguntou-se se alguma vez se livraria dele.

—Ama-o. —lhe disse com suavidade. — Sempre o amou, menina. Desde o dia que chegou aqui, até o dia em que ele retornou. —Sabella abriu a boca com surpresa e o vovô a fez calar com um gesto.

— Não o diremos. —Indicou com a cabeça o outro aposento.

— Já sabem, mas não vão inteirar de que nós também sabemos, não é?

Ela piscou para conter as lágrimas.

—Quando perdi a minha Erin, não pude ir com ela. —Sua voz se voltou rouca e triste — Senti sua morte em cada canto de minha alma. Mas tinha a Nathan e a Rory, e bom, também a Grant, embora este mudasse com os anos. E alguém tinha que velar por meus meninos.

Sabella conteve um soluço.

—Não vai voltar. —E isso doía. Doía tanto que só podia sentir dor; uma dor ainda mais terrível do que quando acreditou que ele tinha morrido. Esta dor a consumia. Anulava-a. Deixava-a sem forças para viver.

O ancião baixou o olhar e negou com a cabeça. Logo voltou a olhá-la.

—Ama-a com toda sua alma. Se não voltar, é por você, Sabella, não por ele. Não porque não queira. —Olhou o ventre dela.

— Te deixou sua vida. Não se amargure, menina. Não pense que não a ama. Sabe a verdade.

Sabella emitiu um soluço dilacerador. O vovô fez o mesmo que tinha feito quando chegou à casa depois de que lhe comunicassem a morte de Nathan. Rodeou-a com os braços e a embalou em sua dor antes que ela se afastasse e sacudisse a cabeça.

Sabella enxugou as lágrimas. Tinha chorado por ele uma vez. Não choraria mais. Possivelmente o vovô tivesse razão. Nathan sempre tinha tido um alto senso da honra. Seria capaz de deixá-la se com isso a protegesse. Ela tinha sabido desde que descobriu a verdade que Noah estava ocultando-se, que fingia estar morto. Se tivesse que escolher entre a segurança de Sabella ou sua felicidade, ele escolheria sua segurança com gosto. Como deveria fazer ela.

Mas Sabella não podia obrigar-se a levantar daquela poltrona. Esperou. Esperou até a saída do sol. Soou o telefone e ninguém respondeu. Depois chegou Rick.

Estava com olheiras e parecia ter envelhecido cem anos. Tinha as roupas manchadas de sangue, a dor gravada no rosto e os olhos vazios.

—A polícia estadual e os federais isolaram a região. — disse a Jordan. —Descobriram a implicação do juiz federal. Tentou escapar de lá assim que viu aparecer os primeiros dois agentes que chegaram à cena. O delegado está morto e encontraram Gaylen Patrick em uma garganta, semi morto. Também prenderam o prefeito Silbert. Quase todos os membros da tropa estão mortos e os que ficam vivos não seguirão assim por muito tempo. Ninguém da equipe ficou ferido.

Noah estava vivo.

—E você? —perguntou Jordan. — Vai manter tudo isto em segredo?

Rick apertou os lábios.

—Sienna e Sabella fossem seqüestradas. Sienna morreu ao tentar escapar. Essas são as ordens dos federais. —Apertou mais os lábios.

— E Kent não tem por que saber que sua mãe era uma fodida drogada assassina. Matarei a qualquer um que diga o contrário. Jordan assentiu com a cabeça.

Rick se voltou para a Sabella com os ombros erguidos e o olhar claro.

—Sinto muito, Belle. Se tivesse suspeitado... Ela negou com a cabeça.

—Ninguém suspeitou de nada, Rick. Já se acabou. Daremos tempo ao tempo.

Mas não tinha acabado. Sabella se voltou para a chaminé e olhou as fotos sentindo que algo murchava em seu interior.

—Rory. Vovô. Quero falar com o Jordan a sós.

—Belle... —começou a dizer o ancião.

Estava curvado e parecia ter envelhecido. Tinha-lhe quebrado o coração quando teve que aceitar que seu filho tinha mudado e que seu neto o tinha enganado. Noah, Nathan, tampouco tinha acreditado nele. Tinha-lhe perdido uma vez mais.

—A sós, vovô. — sussurrou ela. — Será só um minuto.

Rory sacudiu a cabeça e o vovô suspirou, mas saíram com Rick pela porta principal. Ela observou pela ampla vidraça como acompanhavam o xerife a seu carro.

Sabella se voltou então para Jordan e se aproximou dele lentamente.

—Onde. Está. Meu Marido. —ela perguntou claramente. Sem rodeios.

Jordan respirou fundo. Apertou os lábios e a olhou nos olhos enquanto mentia.

—Nathan está morto, Belle.

Sabella não foi consciente de que tinha fechado os punhos até que lhe deu um gancho de direita que teria orgulhado seu pai.

—Maldita seja! —Jordan deu um passo para trás, surpreso, com um brilho de incredulidade nos olhos. — Maldição, Belle. Me pegou.

—Tenho que voltar a lhe perguntar isso

Jordan lhe sustentou o olhar, mantendo uma distância prudente entre eles. Observou-a atentamente, com aquele olhar calculado dos Malone.

—Não vou mudar minha resposta, Belle.

O sorriso dela era tenso, duro.

—Vai para casa. Não necessito de você aqui.

—Belle. — protestou em um tom baixo e rouco.

Sabella pensou de repente que era quase tão atraente quanto Nathan. Ou como Rory. Os homens da família Malone eram homens quase perfeitos. Ou pareciam. E esse tinha sido seu amigo. Em outros tempos.

—Meu marido esteve morto durante seis anos. —lhe disse. — E nunca foi o homem que pensava que era. Não necessito de sua compaixão nem de sua simpatia por um homem que jamais se importou o suficiente para voltar para mim. Então vá.

Ele abriu a boca para dizer algo, mas ela o deteve.

—Vai! —gritou. — Por favor, vai.

Jordan não tentou objetar nada mais e partiu.

Sabella demorou mais tempo em convencer a Rory e ao vovô de que a deixassem sozinha. E lhe doeu muito fazê-lo. Mas ao fim, a casa ficou em silêncio. Desconectou o telefone, fechou as portas com chave e se aproximou da chaminé. Às fotos.

Sabella cravou o olhar nelas, observando o estranho que a tinha abraçado, o estranho com o qual se casou.Amaram-se; entretanto, jamais se conheceram de todo. Ela sempre havia sentido aquela escuridão que rodeava seu marido, embora ele jamais a tinha demonstrado. E ela... —apoiou a fronte na foto mais próxima— ela se limitou a ser o que pensava que ele necessitava que fosse. Mas nunca voltaria a ser aquela mulher outra vez. Não para ele. Não para o homem que era agora.

Ficou olhando as fotos sentindo que uma fúria cega crescia em seu interior, lhe nublando a mente, lhe rasgando a alma, até que gritou pela dor e a cólera que estalaram em seu interior.

Estendeu o braço e, de um momento, derrubou todas as fotos no chão. Centenas de vidros quebrados se amontoaram a seus pés. Sabella apertou os punhos contra o estômago e deixou escapar um soluço que saiu do mais profundo de seu ser. Um uivo de agonia que ressonou na casa e que fez estremecer o homem que estava na porta.

Noah sentiu a intensa dor de Sabella como se fosse dele. Mais aguda, mais profunda que qualquer uma que Diego Fontes lhe houvesse infligido.

Observou como ela se ajoelhava em meio aos pedaços de vidros, como levantava o porta retratos quebrado de sua foto de casamento e como o estreitava contra seu peito ao mesmo tempo em que se dobrava sobre ele.

Os soluços eram cheios de agonia e desesperados, e ele não podia suportá-lo. Sentia-se devastado desde que tinha saído da gruta.

Noah tinha perdido o controle. Tinha perdido aquele gelo cortante que lhe rodeava com uma couraça e acabou com a tropa com uma fúria tão desumana e ardente, que até ele mesmo ficou aterrorizado.

Atravessou a salinha ainda coberto de sangue. Não havia se trocado. A imundície e o sangue seco impregnavam toda sua roupa. Cheirava a morte. Fedia. Mas não tinha podido manter-se afastado dela. Não tinha podido esquecer o conhecimento que brilhava nos olhos de Sabella quando se afastou dela. Aquele último grito desesperado de sua esposa ainda ressoava em seus ouvidos.

Sabella tinha sabido durante todo o tempo quem era e, apesar de tudo, tinha-o amado. Tinha-o esperado. Tinha chorado e lutado por ele de todas as maneiras possíveis.

Dobrou os joelhos e se agachou ante ela, que olhava fixamente o passado destruído ante seus olhos.

Quando Sabella levantou a cabeça, as lágrimas corriam por seu pálido rosto e a fúria ardia em seu interior.

—Seis anos. — o acusou entre soluços. — Seis malditos anos. Onde esteve todo esse tempo?

Noah cravou os olhos nela, nas fotos, e desta vez não ocultou nada.

—Nathan morreu de verdade, Sabella. A única coisa que sobreviveu foi seu amor por você.

Nem ele estava morto, nem seu marido estava morto.

Sabella ouviu a admissão e a resignação calada em sua voz. Em parte, Nathan tinha razão. O homem que tinha sido tinha mudado por completo, mas, mesmo assim, era o homem que ela amava.

—Essa parte dele está aqui. —sussurrou. — Sempre esteve aqui. —Sabella não podia reprimir os soluços, as lágrimas, a agonia. — Essa parte estava viva em meu interior. Sem importar que nome tivesse, Noah, sem importar como queria se chamar, essa parte de você sempre esteve comigo.

As mãos do Noah penduravam entre seus joelhos dobrados. Tinha o cabelo enredado, cheio de pó, e lhe caía sobre os ferozes traços de seu rosto como se fosse seda.

Seus olhos eram mais selvagens e escuros do que tinham sido quando desapareceu, como os traços de seu rosto. E as sobrancelhas. O lábio inferior era um pouco mais fino. Mas ainda era seu irlandês. Era seu marido.

Noah olhou as fotos, agarrou uma delas e a segurou ante sua esposa.

—Este homem, —disse com voz baixa— Nathan Malone, não conhecia a escuridão, Sabella. Não conhecia o inferno ao que podiam conduzi-lo outros homens. Não conhecia o monstro que vivia sob sua pele.

Ela negou com a cabeça.

—Me escute pequena. O homem com o qual se casou não matava se não fosse para defender-se. Não procurava sangue em uma missão. Não julgava e sempre tentava ser justo. Até que se viu forçado a passar-se seis meses no inferno submetido a um brutal experimento no que lhe injetaram uma explosiva mescla de drogas. Tudo o que tinha que fazer era romper seus votos de casamento e encontraria a morte. Livraria-se de tudo aquilo. Tudo o que tinha que fazer era atirar-se a qualquer mulher que levassem a sua cela e teria achado a paz.

A surpresa e a incredulidade deixaram a mente de Sabella em branco.

Noah suspirou.

Era um SEAL, mas também um agente especial ao que encomendavam missões extremas. Sabia muitas coisas. Pensaram que poderiam me obrigar a quebrar meus votos e que logo poderiam fazer a mesma coisa com minha honra. Sacudiu a cabeça ao pensá-lo trouxeram mulheres que se pareciam com você, que imitavam seu acento sulino. Mas não me enganaram. Eu sabia que não era você. Olhava-as e minha mente retornava aqui. —Olhou a seu redor com uma expressão perdida e cheia de agonia.

— Via através de seus olhos. Sentia sua dor. Seu amor. E me voltava louco de dor. Mas você também via através de meus olhos, não é, Belle?

Belle. Tinha-a chamado Belle. Não a tinha chamado Sabella cheio de desejo e dor. A não ser Belle, como a tinha chamado antigamente.

—Sim. — murmurou ela entre lágrimas. — Jordan mentiu para mim. —Tremeram-lhe os lábios. — Como mentiu você, Noah.

Ele negou com a cabeça.

—Jamais menti.

—Disse-me que estava morto. — gritou ela cheia de fúria. — Mentiu me olhando nos olhos.

—Belle. Nathan Malone está morto. —Agarrou-a pelos ombros e a sacudiu.

—Não! —gritou em resposta. Não podia lhe pegar; queria fazê-lo, mas não podia.

—Me olhe —gritou ele por sua vez. — Olhe-me, Belle. O que me aconteceu matou ao homem que amava. Isto é tudo o que fica. O homem que vê agora. O nome que sou agora. Não há volta atrás.

—Não! —Sabella se separou dele e, cambaleando, ficou em pé impulsionada pela fúria que a atravessava. — Pode que tenha morrido o nome, mas você não está morto. E não foi só um SEAL —gemeu — Não foi só um amigo, nem um filho, neto ou irmão. Não foi só um guerreiro. —Apertou os punhos contra seu estomago sentindo que a dor surgia de cada célula de seu corpo. — Foi meu marido. Meu amante. E me ocultou isso tudo, Noah. Negou-me a escura paixão que nunca mostrou enquanto estávamos casados, a ferocidade com a que jurou me proteger nessas montanhas. Não importa a que nome responda, se a Nathan ou a Noah. É meu amante. Minha alma. Minha vida. E Por Deus, que não está morto. Porque se o estivesse, —lhe tremeram os lábios— se o estivesse, eu também estaria morta. Acaso não se dá conta? Não pode vê-lo? Se o homem que eu amo tivesse morrido, agora eu não seria mais que cinzas. Não estaria aqui gritando a um imbecil com mais orgulho que juízo.

Noah sentiu que seu coração se enchia de uma ternura dilaceradora, que aquela escuridão e raiva que tinham invadido sua alma, finalmente, estremecia antes de desaparecer. Ficou em pé com lentidão e sustentou o olhar de sua esposa reconhecendo sua força. Vendo a mulher que sempre o tinha olhado com o que agora sabia que era uma ponta de diversão. Porque ela tinha sabido quem era ele e Noah não se deu conta disso. Sabella sempre o tinha conhecido. Sempre havia sentido essa escuridão em seu interior. Sempre tinha sido consciente daquele orgulho que ele possuía em abundância.

—Sempre soube, não é? —perguntou-lhe.

—Sempre o conheci —gritou ela cheia de ira. Limpou-se as lágrimas do rosto e lhe dirigiu um olhar mordaz.

— O grande SEAL que aparecia por essa porta como se fosse o rei da casa. O enorme guerreiro que podia consertar tudo. —Sorveu pelo nariz. — Quantas vezes teve que consertar alguma coisa?

Jamais teve que fazê-lo, e a tinha acusado mais de uma vez de contratar a alguém quando estava ausente para arrumar as coisas que ele estava seguro que se danificaram.

—Belle, — negou com a cabeça— sempre foi minha razão de viver.

—Mas não depois de que o resgataram —lhe reprovou ela.— Onde esteve então?

—Me recuperando. Treinando.

—Sozinho. —Cravou-lhe o dedo no peito.— Sem mim.

Sem ela.

Deus, tremiam-lhe as mãos. Não podia afastar o olhar do rosto de sua esposa, e não parecia uma mulher disposta a perdoar e esquecer.

Noah tragou saliva. Teria esperado muito tempo? Não. Nem sequer podia considerar essa possibilidade. Tinha cometido enganos, sim. Mas Sabella perdoaria esses enganos. Tinha que fazê-lo.

—Amo-a, Belle. —sussurrou.

O olhar que lhe dirigiu, mesclava fúria, incredulidade e intolerância feminina, fez-lhe esboçar uma careta. Maldição.

—Por quê? —espetou-lhe — Por que esperou tanto para me dizer isso

—Porque me destroçaram. —respondeu com simplicidade. — Porque era um estúpido ignorante muito assustado de que sua mulher o visse tão fraco. É tão fodidamente difícil de entender?

—Fraca. E uma merda. —lhe gritou ela. — Estou segura de que foi um autêntico filho de puta e que insultou e grunhiu a tudo o que lhe colocaram na frente.

Noah sorriu quando na realidade deveria estar furioso.

—Acaso pensa que queria te tratar assim? —grunhiu.

—Estava em meu direito. — afirmou pegando seu nariz ao dele. — Me ouve, Noah? Estava em meu maldito direito. E o teria feito com gosto. Maldito bastardo! —Ela lhe deu um soco e ele ficou olhando incrédulo com os olhos entrecerrados.

—Sabella, não pode me bater. —lhe recordou brandamente, cravando os olhos no rosto arroxeado de sua esposa com um olhar enfurecido.

Deus, como a amava. Queria ficar de joelhos e dar graças a Deus por ela.

—Vai ficar? —Sabella levantou o queixo. — Porque se não for assim, pode ir agora mesmo ao inferno.

—Sim! —Estavam nariz contra nariz, deixando sair a cólera que sempre tinham contido em seu casamento. — Por Deus que não vai se desfazer de mim.

Nariz contra nariz. Ele jamais tinha acabado dessa maneira com ela. Tinha andado nas pontas dos pés a seu redor e se encerrou no porão. Mas gostava mais disso. De repente o desejo tinha estalado e ardia, atravessando-o como a tormenta enfurecida que brilhava nos olhos de Sabella.

—Acaso disse que queria me desfazer de você? —Rouca e furiosa, a voz da Sabella acariciou seus sentidos de forma devastadora.

—Não lhe teria permitido isso de todo o modo. — particularizou ele. — Mas já não serei um Malone, Belle. Meu sobrenome agora é Blake.

Ela entrecerrou os olhos.

—É pela unidade da qual faz parte? É esse o motivo?

—Falaremos disso mais tarde. —Agarrou-a pelos braços e a estreitou com força contra si. — Agora só somos você e eu, Belle. Nathan está morto. Entendeu-me?

Sabella conhecia seu marido. Conhecia aquele olhar em seus olhos. Isso era por sua segurança, não por orgulho.

—É o nome o que morreu, —soluçou ela— não o homem. —Tremeram-lhe os lábios. — O homem que é segue sendo minha vida.

Caíram-lhe duas lágrimas pelo rosto arroxeado. Sienna tinha morrido por aqueles machucados. Ninguém, fosse homem ou mulher, voltaria a atacar o que era dele.

Noah lhe embalou entre as mãos as feridas no rosto e sentiu uma opressão no peito.

—Minha Belle. —sussurrou com um nó na garganta. — Meu coração morria por você. Todos os dias, cada minuto. Cada segundo que pensava que acreditava que era de outro homem. Cada segundo que creste que eu estava morto.

Sabella lhe brindou um trêmulo e vulnerável sorriso que o encheu de paz.

—Sempre soube quem me tocava. — murmurou ela. — Só você, Noah. Só você pode me tocar. —Acariciou-lhe o rosto e lhe passou a ponta dos dedos pelos lábios. — Mas antes vai tomar um banho, carinho. Fede.

A gargalhada que Noah soltou surpreendeu inclusive a si mesmo. A quebra de onda de amor e de alegria que o atravessou deveria ter sido insegura, deveria ter estado cheia desse medo que o tinha consumido durante tanto tempo, pensando que Sabella não aceitaria o homem que era agora. Que poderia arrepender-se se o visse na realidade.

Agora compreendia que Sabella sempre o tinha visto dessa maneira, embora não lhe tinha dado a oportunidade de demonstrar-lhe por culpa do orgulho e por medo a perdê-la. Perdê-la tinha sido seu maior temor.

—Toma banho comigo. —Agarrou-a em braços e a estreitou contra seu corpo. — Esfregarei suas costas.

Pisando nos vidros do chão, Noah se dirigiu às escadas e as subiu com o coração cheio de sorte.

—Certo, discutiremos mais tarde as condições. —Sabella se aconchegou contra ele.

—Que condições?

—As de nosso casamento, senhor Blake. —lhe informou. — Nosso filho não nascerá sem que seus pais estejam casados. Nem pensar.

Uma arrogante satisfação a alagou quando ele se deteve ante o dormitório. Noah sentiu que lhe aumentavam os olhos e que o pânico lhe oprimia o peito.

—O que disse?

O sorriso de Sabella foi de puro triunfo feminino. Estava cheia de amor.

—Nosso filho, Noah. Inteirei-me ontem, quando fui ao médico. Os anticoncepcionais e os antibióticos não podem misturar-se. Simplesmente, não pensei nisso.

Ele negou com a cabeça.

—Um bebê?

Seu bebê? Santo Deus. Sabella estava grávida? Acariciou-lhe a mandíbula, beijou-o nos lábios e sussurrou:

—Nosso filho, meu amor. Estou grávida. Vamos ter um filho.

Noah a deixou lentamente em pé.

—Não posso esperar para tomar um banho. —Sentia como lhe endurecia o grosso membro com uma necessidade ardente, como lhe palpitava com uma força brutal.

—Ao chuveiro. —sussurrou Sabella lhe agarrando a mão e conduzindo-o ao banheiro.

Com a mente em branco, Noah se deixou levar. Seguiria-a aonde ela quisesse.

 

Estava vivo e era dela.

Sabella permaneceu sob o jorro da ducha, olhando-o dos pés a cabeça. Não podia deixar de lhe tocar. O rosto, o cabelo molhado, o peito cheio de cicatrizes, as musculosas coxas. A grossa e pesada ereção que, erguida, agitava-se de um lado a outro. Deliciosa e dura, escura e desejável.

Deixou que Noah lhe lavasse a cabeça. Era algo que ele sempre tinha feito anos atrás. Esfregava-lhe o cabelo com suavidade, lhe colocando os dedos entre as mechas enquanto os ensaboava. Depois a beijava na fronte atraindo-a para ele e lhe lavava o resto do corpo.

Sabella quase chorou quando lhe beijou os marcas do rosto, lhe sussurrando quanto sentia. Acaso Noah não sabia? Tinha merecido a dor. Tudo havia valido a pena para tê-lo ali, vivo e acariciando-a.

—Sonhei com você. —sussurrou ele contra seus lábios, cavando o rosto entre as mãos enquanto a água caía ao redor deles. — Cada vez que fechava os olhos, Belle, via-a como no dia em que fui. Brincando comigo. Rindo de mim. Provocando-me para que a possuísse uma vez mais; e me doía tanto que quase me destruía.

—Acariciei-o em sonhos —murmurou Sabella lhe roçando os lábios, a barba. — O beijei, abracei-o.

—Salvou-me. —Noah baixou a cabeça e o beijo que lhe deu se fez cada vez mais ardente, mais luxurioso, mais faminto. Era uma volta ao lar, e Sabella conteve o fôlego ante a cálida sensação que a atravessou ao ser consciente disso.

Os lábios do Noah fizeram amor, adoraram-na. Sua língua lambeu a de Sabella uma e outra vez, saboreando-a, afundando-se em sua boca até que a ela sentiu que se perdia nele.

Esse era seu marido. Não tinha morrido. Tinham-no ferido. Possivelmente tinha oculto dela algumas partes. Mas o homem que amava Sabella Malone ainda estava ali, e era dele.

—Belle, se não a possuo logo, minha cabeça vai explodir.

As mãos do Noah a agarraram pela cintura. Sua expressão era tensa e afiada, cheia de uma luxúria que não tentava dissimular.

A linguagem suja e provocadora nunca tinha aparecido em seus anos de casamento, mas ela gostava. E tinha a sensação de que se correspondesse com o nu e carnal desejo que escapava ao controle de Noah, a verbalização do que antes lhe tinha oculto.

Sabella deslizou a mão pelo torso masculino até fechar a mão em torno do grosso e duro membro.

—Mmm, o que vais me fazer? —Observou-lhe debaixo de suas pestanas. — Com todas as ameaças que me tem feito ultimamente, deveria tomar cuidado?

O olhar de Noah flamejou com um azul feroz e ardente.

—Eu não nunca faço ameaças, faço promessas. —advertiu olhando-a com uma clara demanda sexual que fez vibrar o corpo de Sabella.

Noah fechou o grifo antes de sair da ducha e agarrar uma das grandes toalhas do toalheiro.

—Apenas palavras. —provocou ela antes de lhe mordiscar o lábio inferior e de o brindar com um olhar que dizia que era dele. Como ele pertencia a ela.

Noah se limitou a guardar silêncio enquanto secava a ambos. O olhar em seus olhos, entretanto, era uma advertência. Advertia a ela que ia levar a cabo as promessas que lhe tinha feito durante as últimas semanas.

Ante esse pensamento, Sabella se excitou e seus sucos se derramaram entre suas coxas criando uma sensação cálida, sensual e erótica da qual não podia escapar. Da qual não queria escapar.

Seu marido sempre a tinha feito se sentir dessa maneira. Como uma mulher desejável, desenfreada e disposta a ser agradada. Exigindo ser agradada. Mas igualmente ansiosa por devolver esse prazer.

Observou como a secava, como se ajoelhava diante dela. E durante um segundo, um segundo eterno, Noah estendeu os dedos sobre seu ventre e piscou.

Sabella desejou poder ver seus olhos. Desejava ver neles um reflexo de suas próprias esperanças e o orgulho paterno que ela sabia que ele sentiria. Sempre tinham querido ter filhos, mas tinham querido esperar e pagar as dívidas e que ele passasse mais tempo em casa para ver crescer o bebê.

Esses pensamentos a afligiram. O prazer a atravessou como um raio, crepitando em suas terminações nervosas, investindo contra as pontas de seus dedos, seus duros mamilos e o tenso clitóris.

E ele só a tinha beijado. Tinha-a beijado no monte de Vênus, em cima do clitóris, lhe fazendo sentir seu fôlego sobre ele e enviando erráticos impulsos de prazer por toda sua pele.

Sabella lhe afundou os dedos no cabelo molhado quando os dedos do Noah deslizaram entre suas coxas, separando-os. As calosas mãos acariciaram a carne que ali havia, lhe roçando a sedosa pele, aproximando-se do centro úmido de seu corpo com o fôlego de sua boca, mas sem chegar a tocá-la com as mãos.

—Vai me matar.— sussurrou ela, ofegante.

A única resposta do Noah foi um «mmm» que resmungou enquanto lhe beijava o clitóris. Ela quase alcançou o clímax. Necessitava tanto desse clímax...

—Adoro esta vagina nua. — Noah levantou a cabeça e ficou olhando com aqueles profundos e inquietantes olhos azuis. — Está tão molhada, sua pele é tão suave...

Sabella tremeu ante o som de sua áspera voz.

—Poderia gozar com muito menos. — ofegou ela, abrindo ainda mais as pernas e ruborizando quando ele separou as dobras de seu sexo para observá-lo.

Noah cravou os olhos na carne exposta e seu olhar foi quase uma carícia física.

—Mas antes vou saborear você. — grunhiu umedecendo-os lábios com avidez.

— Como se fosse um doce, Belle. Lamberei todo esse néctar doce e molhado e escutarei seus gemidos ressoar em meus ouvidos.

Se Noah não tomasse cuidado, Sabella ia acabar por derreter-se como açúcar quente ante sua voz, rouca e quebrada, mas que ainda possuía aquele leve acento irlandês tão dele.

Noah se endireitou, passou-lhe as mãos pelas curvas do traseiro e a elevou até que as pontas de seus peitos se afundaram no pêlo de seu torso.

Sabella adorava aquele erótico arbusto de pêlo. Adorava sua calidez e seu tato contra a pele. Estremeceu entre ofegos enquanto a necessidade fluía em seu interior. Jogando a cabeça para trás, entregou-se ao imenso prazer de sentir a tenra carícia de seus lábios contra o pescoço e os machucados do rosto.

—Amo-a, Belle —lhe sussurrou ao ouvido, e conteve um gemido quando ela o abraçou com força, como se quisesse fundir-se com ele.

—Meu marido. —Rodeou-lhe o pescoço com os braços e se entregaram ao beijo que ambos desejavam com tanto ardor.

Foi um beijo intenso, avassalador, primitivo e voraz, que não se interrompeu nem sequer quando ele a levantou nos braços e a levou ao quarto. Foi um beijo que apagou o passado, deixando só o presente e o futuro. Um beijo que rompeu todos os limites. Um beijo que liberou as emoções que os consumiam.

Escuridão. Aquela necessidade até então inexplorada. Anos de brutais lembranças e fantasias escuras. Anos de dolorosa perda e lembranças de um terno amor.

Tudo aquilo os envolveu, estremeceu-os, virou desenfreadamente em torno deles, alimentou a luxúria crescente e os capturou até que acabaram devorando um ao outro enquanto Noah caía sobre a cama com ela em seus braços. Lábios e línguas, dentes e mãos, deixaram fluir desejos febris e desesperados.

A sombria e cruel dor que tinha destroçado Sabella quando pensou que ele não voltaria tinha deixado sedimentos amargos em sua alma. A gratidão, o amor, o brutal desespero por esse homem, por tê-lo de volta entre seus braços, afligiram-na até fazê-la soluçar. Aferrou-se a ele sentindo que a paixão se transformava em uma intensa emoção que não pôde conter. Soluçou contra seu peito, beijando-o, amando-o, sussurrando seu desejo.

—Oh, Belle. —Ele a sustentou contra seu corpo. Sua voz gotejava a mesma emoção quando a estreitou com força entre seus braços.

— Nunca mais, meu amor. Juro. Nunca mais voltarei a deixá-lo ir outra vez.

Sabella lhe golpeou o peito. O ombro. Primeiro com fúria e logo com desejo.

—Carinho, tem que deixar de me bater. —Segurou-lhe os pulsos e as estirou por cima da cabeça. — Bater vai contra as normas.

—Tinha morrido. —gemeu. — Se você pode morrer, então eu posso te bater quando retornar.

Ele não pôde evitar sorrir.

—Se não me bater mais, não voltarei a morrer.

—Não brinque com essas coisas. —Sabella conteve o fôlego; o temor quase a deixou paralisada. — Não se atreva a brincar com isso.

Noah a beijou no queixo.

—Farei com que esqueça tudo.

Moveu os lábios sobre a clavícula de Sabella. Era como seda áspera, uma carícia que não deveria ter nublado a mente dela, que não deveria deixá-la tremente, lhe fazendo arder a pele.

Sabella se moveu sensualmente e ele cobriu um mamilo com os lábios. Sugou-o dentro da boca, provocando uma descarga elétrica no clitóris. Ela ficou sem fôlego e se retorceu contra ele. Sentiu que o gemido de Noah fazia vibrar o sensível topo de seu seio e lhe iluminou o olhar quando um forte onda de prazer alagou seu corpo.

—Oh, eu gosto disso. —Sabella tentou liberar-se da mão com que Noah retinha seus pulsos. — Oh sim, Noah. Sim. Eu gosto muito. Muito.

Ele seguia torturando seu mamilo com a boca, raspando-o com a língua, com os dentes, tentando-o, abrasando-o.

—Quero saborear seu néctar, Sabella. —ofegou ele, lhe percorrendo o abdômen. — Todo esse doce néctar que emana de você. Adoro sua vagina. Poderia devorá-lo durante horas. Poderia me alimentar dela.

Soltou-lhe os pulsos e moveu a cabeça entre suas coxas para deslizar a língua pela estreita fenda de seu sexo e recolher os fluidos femininos.

Lambeu-a, sugando-a, passeando com a língua entre suas dobras e enchendo-a com os dedos. Ela se arqueou debaixo dele, se contorcendo, faminta, desesperada por seu contato.

—Não se mova.

Sabella obedeceu e ficou imóvel observando que ele pegava a bolsa de couro que tinha guardado dias atrás sob a mesinha de cabeceira.

Noah esboçou um amplo sorriso enquanto o agarrava, abria-o e tirava um pequeno pote de lubrificante.

Ela conteve a respiração. Sabia o que ele ia fazer. Podia senti-lo. Seu traseiro se contraiu de antecipação e desejo.

—Vire-se. —ordenou Noah.

Ela se virou lentamente e escutou o golpe da bolsa ao cair no chão. —Levanta o traseiro para mim.

Sabella se ajoelhou e se agarrou ao edredom enquanto ele se movia atrás dela, acariciava-lhe as nádegas com uma mão e murmurava com aprovação.

—Este é o bumbum mais bonito do mundo.

Ela gemeu quando Noah depositou um beijo ao final da fenda. Logo ele moveu os dedos entre as coxas femininas e recolheu os sucos espessos e abundantes que ali havia.

Quando tocou a entrada oculta de seu ânus, ela conteve o fôlego. Nathan jamais a tinha tomado por ali antes. Às vezes, durante seu casamento, tinha-a ameaçado brincando de fazer, mas jamais o tinha levado a cabo.

E ambos estavam cansados de esperar.

Acariciou-a com cuidado e Sabella sentiu que a paixão crescia em seu interior. Como se aquele ato finalizasse algo, completasse algo. Apesar daquela posição submissa em que se encontrava, a necessidade que ele provocava nela os conectava de uma maneira que Sabella jamais teria acreditado possível.

Noah a dilatou brandamente. Deitou-se debaixo dela e lambeu as dobras empapadas de seu sexo enquanto lhe abria lentamente o ânus com os dedos, dilatando-o, preparando-o, provocando em seu corpo estremecimentos com uma quebra de onda ardente de prazer.

Sabella estava faminta de necessidade.

O prazer a atravessou ao sentir que ele a lambia, chupava-lhe o clitóris antes de lhe colocar a língua entre os músculos tensos de sua vagina, ao mesmo tempo em que seguia lhe enchendo o ânus com os dedos, dilatando-o, lubrificando-o, enquanto com a outra mão lhe acariciava as nádegas, as amassando, lhe dando uma série de tapinhas sutis que lhe esquentaram eroticamente a pele.

Sabella nunca imaginou que pudesse lhe gostar disso. Nunca imaginou que poderia inundar-se em sua própria sexualidade, na de Noah, até o ponto de esquecer-se de tudo. Que necessitaria as ásperas carícias, cada vez mais luxuriosas, que seu marido lhe proporcionava.

Quando ele se localizou a suas costas entre suas coxas abertas, ela se aferrou às mantas. Estava empapada de suor pela tensão sexual que alagava seu corpo e as palpitantes sensações que consumiam seu ventre.

—Adoro foder sua vagina. —a provocou. — Eu adoro foder sua conchinha apertada, Sabella. Mas isto... isto vai conseguir que transpassemos limites que jamais alcançamos.

Sabella sentiu que os dedos do Noah comprovavam a flexibilidade dos músculos internos de seu ânus antes que seu membro o medisse. A tensão alagou o corpo dela quando a diminuta abertura se abriu para deixar passo a grossa glande.

O prazer e a dor se mesclaram em uma deliciosa sensação no interior de Sabella enquanto ele a penetrava, introduzindo o duro membro em seu ânus ao mesmo tempo em que lhe rodeava os quadris com o braço para poder deslizar os dedos sobre seus clitóris.

—Assim, carinho. Aceita meu pênis. — sussurrou Noah, acariciando-a até fazê-la gemer, até fazer com que se apertasse contra ele.

— Toma-o inteiro em seu interior, Sabella. Morro por você, pequena. Morro por isso. Dê-me isso. Dê-me isso tudo... —quebrou a voz. — Tudo, Belle. Minha doce Belle.

Ela gritou quando a glande transpassou por completo o apertado anel de músculos e um brilho de prazer próximo à dor quase a fez alcançar o orgasmo. Seguiu soltando fluídos, cobrindo os dedos do Noah com seus sucos enquanto sentia como seu duro membro começava a afundar-se nela.

Era uma sensação primitiva. Uma fome primitiva. Sabella não conseguia compreender as sensações, as emoções que a embargavam, mas as aceitava como aceitava a penetração que a obrigava a abrir-se cada vez mais.

Sempre tinha confiado em seu marido. Entretanto, até agora não se deu conta de que o tinha feito com toda sua alma. Noah não a tinha conhecido como o conhecia ele. Até esse momento. Agora, ele a conheceria. Na vida e na morte. Jamais voltaria a ocultar-se dele.

Noah apoiou a cabeça contra a de Sabella tentando controlar a respiração, ou simplesmente respirar. Nem sequer podia mover-se ainda. Se o fizesse, perderia o controle. Investiria com força dentro dela e perderia sua alma antes de ter sequer a possibilidade de lhe fazer perder a sua também.

Deus, era tão formosa. Fechou os olhos ao sentir como se contraíam os músculos de Sabella em torno dele, mas também sentiu algo mais. Um grau de intimidade que jamais tinha conhecido antes. A união que ele tinha sentido dentro de sua alma todos aqueles anos jamais tinha sido tão completa, e tinha sido um estúpido por não se dar conta antes. Até esse momento.

Até esse ato. Até que sua esposa lhe permitiu possuí-la daquela maneira.

Noah se impulsionou para frente com extremo cuidado e ouviu o gemido de prazer de Sabella. Aquela era uma aceitação total. Uma confiança e fé cegas.

Os dois tinham despido por completo suas almas. Noah introduzia o pênis dentro das sensíveis profundidades de seu ânus e ela o acolhia em seu interior, abria-se a ele e suplicava mais.

—Minha formosa Belle. —suspirou inclinando a cabeça para beijá-la no ombro, no pescoço.— Minha Belle... —De novo, lhe quebrou a voz.

Maldição. Morria por ela. Morria e voltava a Renascer quando a enchia. Como ela enchia seu coração e sua alma. Podia sentir as emoções que o alagavam, curando as feridas abertas, seu feroz orgulho e seus medos ocultos.

Moveu-se dentro dela, brandamente a princípio. Muito suave.

Incorporando-se, abriu-lhe as nádegas para observar como o tomava, como seu membro se afundava na carne rosada, penetrando-a devagar.

—Me dê mais. Muito mais. —implorou ela, suplicante.

Sabella gritava e o som de seu prazer acabou com qualquer intenção do Noah de mover-se lenta e brandamente. Seu controle desapareceu, evaporou-se junto com seus medos e rompeu qualquer limite que tivessem conhecido antes.

Sem piedade, acariciou e pressionou seu duro e inchado clitóris. Noah estava coberto de suor, gotejava-lhe pelo cabelo e o rosto enquanto investia com os quadris, sentindo como sua ereção ficava profundamente enterrada quando ela saía a seu encontro, gemendo por ele. Suplicando-lhe mais.

—Mais. Oh Deus, Noah. Dê-me isso tudo.

—Minha Belle. — ofegou ele tomando-a com mais força e lhe golpeando as nádegas com os quadris, ao mesmo tempo em que seus testículos impactavam contra as dobras molhadas de seu sexo. A tensão se apoderou de seu escroto e subiu implacável por suas costas.

Sabella estalou primeiro. Esticou-se, gritou, amaldiçoou, e rogou ao mesmo tempo em que ele sentia como ela alcançava o êxtase. Logo a seguiu.

Penetrou-a profundamente enquanto lhe introduzia dois dedos na vagina e, um segundo depois, seu membro explodiu.

Encheu-a de sêmen. Encheu-a com alguns fortes e estremecedores jorros que lhe rasgaram a alma e os testículos enquanto gritava seu nome.

—Minha Belle! —Deixou cair a cabeça sobre seus ombros. Aferrou-se aos quadris da Sabella e se perdeu em seu interior. Entregou-se a sua esposa por completo, esvaziando-se e gemendo seu nome até cair inconsciente sobre ela.

 

Sabella estava dormindo quando ele recuperou a consciência. Rodou para um lado e a atraiu para seu corpo. Viu a mão esquerda de sua mulher estendida sobre seu torso, sem a aliança, e a cobriu com sua própria mão, sentindo a força da união que ardia dentro de seu ser.

Afastou-se lentamente dela e sorriu ao escutar a queixa de Sabella. Ela ficou de costas e colocou a mão sobre o ventre como querendo proteger a vida que crescia em seu interior, até estando dormindo.

Noah atravessou o dormitório e entrou no banheiro para procurar sua aliança. Sabella a usava no dia anterior, quando se foi com Rory. Mas não a havia visto posta na caverna.

Dirigiu-se à cozinha e rebuscou em sua bolsa. Sua pequena Sabella era muito organizada. E ali estava, metida em um bolso interno fechado com zíper. A pequena aliança brilhava com força.

Subiu ao segundo andar, recolheu suas calças e tirou sua própria aliança do bolso antes de colocá-la no dedo.

Eram anéis simples. Apenas alianças de ouro. Sabella não tinha querido nada carregado. No interior da sua estava gravada a promessa gaélica «Go síorai».

Na dele se podiam ler as palavras «para sempre, minha vida». Seus votos de casamento, que expressavam o que havia em seus corações.

Levantou a mão de Sabella e deslizou o anel em seu lugar.

Sua esposa.

Entrelaçou seus dedos com os dela, observando o contraste da pele pálida e cremosa contra a sua. Sua esposa.

Baixou o olhar ao ventre plano de Sabella.

Sua esposa e seu filho.

Tremeram-lhe as mãos quando lhe tocou o abdômen. Estremeceu com força, custava-lhe respirar, pensar. Deus, tinham criado uma vida!

Ficou olhando o estômago de Sabella em estado de choque e logo com temor reverencial.

Estendeu a mão sobre o ventre feminino, sentindo um nó na garganta e uma forte pressão no peito.

Fechou os olhos e, ao abri-los, viu com incredulidade que uma pequena gota escorregava e caía sobre o estômago feminino.

Lagrimas?

Piscou e caiu outra lágrima.

Sentiu-se embargado por um amontoado de sensações. Amor, arrependimento, puro agradecimento a Deus quando levantou o olhar ao rosto de sua esposa, observando-a enquanto mais lágrimas deslizavam por seu rosto.

Os machucados se desvaneceriam, mas aquele momento permaneceria para sempre em suas lembranças.

—Go síoraí.—sussurrou ele, quase com sua voz de antigamente, repetindo a promessa que sempre lhe tinha feito.

—Para sempre, Noah —murmurou Sabella com lágrimas nos olhos, cobrindo a mão que ele tinha posto sobre seu estômago com a sua. Tinha a respiração entrecortada, não pela dor mas sim pela alegria.

— Para sempre, meu amor.

 

Quatro meses depois, em um radiante dia de setembro, Noah estacionou seu Ranger no caminho de entrada da cabana de seu avô e olhou os veículos estacionados com o cenho franzido e uma sensação de fúria contida. Grant Malone estava lá.

—Isto não fazia parte do trato. —disse ele friamente, olhando a Sabella.

Os machucados tinham desaparecido do rosto dela fazia há muito tempo, mas não a lembrança do quão perto tinha estado de perdê-la. Sabella estava sentada a seu lado, com a mão sobre a pequena proeminência de seu ventre enquanto olhava pensativamente pelo pára-brisa.

Finalmente, ela se voltou para ele e Noah viu a determinação naqueles olhos cinza.

—Já é hora, Noah. Seu avô quis que nos reuníssemos. Disse que tinha algo a nos contar e vamos escutar.

—Com ele aí dentro? —perguntou assinalando o Ranger de seu pai. — Não, Belle. De maneira nenhuma. Nem pensar.

Não tinha ido visitar seu pai para cumprir sua ameaça de meter-se em seus sonhos, mas que o condenassem se agora ia manter uma conversação civilizada com ele. Só lhe tinha pedido uma coisa na vida. Que protegesse Sabella. E sua esposa passou seis anos enfrentando-se ao mundo só com o apoio de Rory e sua própria força de vontade. Não pensava esquecê-lo.

Teve que conter uma maldição. Não poderia amaldiçoar diante do bebê quando nascesse, assim tinha começado a praticar já.

Algo se suavizou em seu interior quando voltou a baixar o olhar para o ventre de sua esposa. Apenas se notava, mas o bebê estava ali. Estremeceram-lhe as vísceras ante esse pensamento e em seu interior explodiu um mundo de sensações. Essa seguia sendo sua reação mesmo agora. Depois de quatro meses.

Respirou fundo e voltou a olhar os veículos. Rory e Jordan estavam lá, como seu avô, e Grant. Grant, não seu pai, disso estava seguro, condenadamente seguro.

—Isto não faz parte das regras deste casamento. — resmungou, pensando na larga lista que tinham negociado algum tempo antes que Sabella aceitasse casar-se com ele.

Negociado, como um condenado advogado regateando até o último centavo. Sabella o tinha excitado de tal maneira que a tinha tomado ali mesmo, na mesa da cozinha. Maldição, ficava duro em apenas pensar nisso.

—Sim, claro que sim. — replicou ela sem perder a calma.

—Onde? —virou-se para ela apertando com força o volante, sem temer que sua esposa se afastasse chorando se levantasse a voz mais que o devido. — Em que maldita regra?

—Naquela que dizia «Sabella sempre tem razão».

Noah apertou a mandíbula e olhou para fora. Maldita seja. Esqueceu-se daquela regra. Tinha sido a última. Teria se oposto nesse momento, mas tinha estado muito ocupado tentando penetrar sob a saia de seda de sua esposa.

—Fez uma armadilha. —inclinou-se sobre ela, nariz contra nariz. — Terá que voltar a renegociar essa regra.

—Muito tarde. Assinou e selou com seus votos matrimoniais. Perdeu senhor Noah Blake. —Sabella sorriu com satisfação, mas seus olhos estavam cheios de sombras e sua expressão lhe dizia que sabia muito bem quão difícil seria para ele enfrentar seu pai. Pô-lhe a mão sobre o braço.

— Seu avô é velho, Noah. Seja o que seja o que for que queira nos dizer, significa muito para ele. Dê-lhe uma oportunidade. Possivelmente obtenha resposta a essas perguntas que o corroem por dentro.

Por que Grant tinha abandonado Sabella a sua sorte? Por que não tinha sido um fodido pai para ele? Por que tinha enganado a sua mãe? Por que não tinha reconhecido Rory nem lhe tinha dado um lar? Deus, por que tinha renegado ao vovô e lhe tinha roubado tudo o que o ancião tinha conseguido em sua vida?

Eram tantas as perguntas que se fazia, que o perseguiam desde o dia que enfrentou ao Grant Malone fazia há quatro meses.

—De acordo. —aceitou sacudindo a cabeça. — Mas isso não mudará nada.

—Tudo o que peço é que escute ao vovô. Não a Grant. —pediu. — Amo você, Noah. Mas temos que virar as página sobre algumas coisas. Se não por nós, por nosso filho.

Virar a página. Noah respirou fundo antes de sair do Ranger e dirigir-se ao assento do passageiro. Ajudou a descer Sabella e ela apoiou a cabeça contra seu peito durante um segundo.

—Deve-me uma - espetou ele. — E essa é, definitivamente, outra regra. Se tiver que te dar a razão em tudo, então me deverá uma. E ponto.

—Sempre te devo uma —riu ela.

—-Sim, mas agora me deve uma especial.

Mas é que há uma forma especial de lhe dever isso.Seus olhos se iluminaram.

Gostava disso dela. Sempre parecia disposta a brincar ou a lhe lançar piadas sexuais.

—Depois discutiremos. — grunhiu. Brincariam até que ela suplicasse que lhe deixasse tomar seu pênis em sua boca. E aquilo seria especial para ele.

Colocou-lhe a mão nas costas enquanto caminhavam para o alpendre de seu avô. Noah adorava tocá-la. Tocava-a cada vez que tinha oportunidade, porque podia, porque era dele.

Jordan lhes tinha facilitado as coisas. E quem estivesse atrás da unidade de Operações Especiais nem sequer tinha piscado ante a situação. Noah se limitava a fazer respaldo nas poucas missões em que tinha participado dos últimos meses. Ainda seguiam esperando receber informação sobre as repercussões do desaparecimento da tropa. Mas fossem as que fossem, Noah não daria marcha ré. Pode ser que o sobrenome Malone estivesse morto para ele, mas era marido e logo seria pai, e não arriscaria nada disso outra vez. Nada ia ser como antes. Outra das regras de Sabella.

Tinha um trabalho arriscado, mas muito menos do que poderia ter sido. Deveria ter lido o contrato da unidade de Operações Especiais até o final. Não podia renunciar, certo, mas havia uma cláusula onde se indicava que uma vez que um membro da unidade alcançasse uma determinada idade ou fosse considerado incapaz de completar eficazmente uma missão, passaria a ocupar postos de apoio técnico ou respaldo.

Sempre pertenceria à unidade de Operações Especiais, entretanto, agora não possuíam sua alma. Sua alma era de Sabella.

O vovô os estava esperando. A porta estava aberta e entraram na pequena sala. Grant estava sentado no sofá e Jordan e Rory ocupavam cadeiras frente a ele. Havia duas cadeiras mais ao lado que Noah reconheceu como parte do mobiliário dos dormitórios.

Grant tinha a cabeça inclinada e suas mãos repousavam entrelaçadas sobre os joelhos. A expressão do Jordan era sombria e os olhos de Rory brilhavam de fúria.

—Tudo bem, vovô? —perguntou Sabella aproximando-se do ancião e lhe beijando na bochecha.

O vovô sustentou o olhar do Noah. Este tinha ido falar com ele no dia seguinte ao seu retorno com sua esposa. Abraçaram-se enquanto o ancião chorava e lhe dava tapinhas no ombro, e depois tinham caminhado até sua tumba para que Noah entendesse o alcance da verdade.

Na lápide só dizia «Nathan». Nada mais. O vovô jamais tinha acreditado que estivesse morto.

—Grant quer dizer algo a seu filho.

Noah se virou para Rory e logo olhou a Grant. Quando este levantou a cabeça, Noah estremeceu incrédulo.

Grant tinha os olhos cheios de lágrimas e reconhecimento. Sabia. Era a mesma expressão que tinha tido no dia que se enfrentaram na loja de conveniência. Grant Malone tinha sabido quem era.

—Quem disse? —grunhiu Noah.

—Sempre soube. —sussurrou Grant. — Soube assim que o vi. —Sacudiu a cabeça e lhe escapou uma lágrima. — Soube quando papai não escreveu nada em sua lápide. Soube quando ouvi que Sabella tinha um amante. —Meneou a cabeça. — Sempre soube.

—Isso não muda nada. —Abraçou a Sabella em um intento de endurecer-se, de convencer-se a si mesmo de que aquilo não lhe importava nada.

Grant negou com a cabeça.

—claro que sim. —Olhou o ventre da Sabella e outra lágrima escorregou por seu rosto. — Claro que importa, Noah. Grant cravou seus olhos nele. —Faz trinta e cinco anos, casei-me com uma mulher que não amava. Ela aceitou casar-se comigo pelo dinheiro que eu contribuiria ao rancho, embora isso já soubesse disso. Casei-me com ela porque queria deixar um legado aos filhos que tinha intenção de ter. Consegui o rancho, mas quando nasceu meu primeiro filho, fui consciente pela primeira vez do perigo que todos nós enfrentávamos.

Nathan sabia que seus pais não se casaram por amor. Antes de morrer, Tammy Malone tinha deixado claro que se casou com «um cão irlandês», como o chamava, para não perder o rancho familiar.

—Tivemos você, —sussurrou Grant— e a tropa começou a fixar-se em mim, Noah. Era irlandês. Não me queriam aqui, mas tampouco podiam me matar. Se me matassem, romperia-se o acordo que tinham com o pai de Tammy. Porque ele era um deles. Mas sim podiam fazer mal a você. E a meu pai. —Olhou ao ancião.— E a meu outro filho.

Noah ficou paralisado.

—Assegurei-me de que soubessem que não havia nada com o que me destruir. —Tragou ar. — Seu avô sabia de tudo. —Indicou ao ancião com a cabeça. — Os dois se asseguraram de que Rory, você e Belle, estivessem protegidos. Entende, Noah.

—Tirou-lhe tudo o que tinha! —rugiu Noah. — Não se atreva a negá-lo.

—Não. —Grant sacudiu sua cabeça grisalha.

— Fizemos com que parecesse isso. Deixamos que todos acreditassem nisso. —Tragou ar de novo. — A mãe de Rory morreu porque pensaram, com razão, que eu a amava. Tive que fingir que não me importavam. —Negou com a cabeça.

— Nem sequer sua mãe sabia por que era muito amiga das esposas dos outros rancheiros e eu não podia arriscar a vida de meu filho. De meus dois filhos. —Tragou saliva. — Fiz-lhes acreditar que não os queria, que não tinham com o que me fazer mal, e assim me deixaram em paz. Guardei silêncio para os proteger. Centrei-me em meu rancho e procurei a maneira de detê-los. —esfregou-se o rosto com as mãos. — Enviei fotografias das caçadas ao FBI e logo morreram esses agentes. No final, recorri a Jordan.

Noah olhou a seu tio, que assentiu lentamente com a cabeça.

—É por isso que reunimos uma equipe que não pudesse vincular-se a nenhuma agência —explicou Jordan.

— Já tinham morrido quatro agentes. Houve seis no total. Cada vez que enviávamos alguém o identificavam. Não sabíamos como o faziam, até que descobrimos que a informação vazava pela mulher do xerife.

Sienna tinha pirateado os arquivos de seu marido e, além disso, era boa observadora. Sabia escutar e enganar.

—Entre ela, o juiz e o delegado, nenhuma agência podia introduzir a ninguém nem obter provas. — concluiu Jordan.

—Todos estes anos foram um inferno. Quanto a Belle, —sussurrou Grant— protegi-a o melhor que pude, Noah. O vovô fazia os pagamentos hipotecários quando necessário, mas fazia ver seus amigos que eu era um bastardo que me negava a ajudá-la. Isso quase o destroçou.

—Deveria ter vendido tudo tal e como disse. — indicou o vovô.

—Nos teríamos perdido tudo, papai, sabe. Tudo o que tentei construir para meus filhos. Para meus netos. Tudo o que conseguimos durante tantos anos nos teria sido arrebatado.

—Ser pobre e feliz tampouco é tão mau, filho.

Grant só pôde sacudir a cabeça enquanto Noah se deixava cair em uma cadeira e colocava Sabella em seu colo. Não podia soltá-la. O que tinha pensado durante toda sua vida estava se desintegrando ante ele.

Não tinha conhecido bem a sua esposa, nem se tinha dado conta do que ocorria na cidade e com seu pai. Limitou-se a centrar-se unicamente nos SEAL’s e em Sabella.

Sua «morte» lhe tinha demonstrado o pouco que tinha vivido, o pouco que tinha sabido.

—Nunca me disse isso. —lhe reprovou em voz baixa.

—Porque tentava proteger você. —esclareceu Grant —Por isso, —indicou o ventre de Sabella— por seu futuro. Por sua esposa e seus filhos. Nada era mais importava para mim, Noah. Amava-o e também amava a Rory. Eu... fiz o melhor que pude. Não foi suficiente, admito-o. Mas pedi a papai que se ocupasse do resto.

E o vovô o tinha feito.

Noah negou com a cabeça.

—Não peço perdão, nem que aceite o que fiz —seguiu Grant. — Mas quero manter contato com o bebê, Noah. Quero que me chame de vovô. Ninguém me chamou papai desde que você era uma criança e tive que viver com isso. Mas quero ser o vovô de meus netos tanto como queria ser seu pai.

O silêncio caiu então sobre a sala. O vovô se colocou atrás do Noah e lhe pôs a mão no ombro.

—Nada é como pensamos, Noah. —disse repetindo as palavras que Noah tinha escutado tantas vezes. — Há matizes, filho. Não tudo é branco ou negro. Sempre há outra maneira de ver as coisas.

—Mas sempre fica o amor. — murmurou Sabella apertando a mão contra a de seu marido, que repousava onde crescia seu filho.

—Nathan Malone já não existe. —disse Noah a seu pai, pensando nele como pai apesar da determinação com que se negou a considerá-lo.

—Mas Noah Blake. —indicou Grant. — E todos sabem que Sabella Blake é uma mulher terna e compassiva. Se tiver que fingir, farei-o. —Sacudiu a cabeça de novo.

— De toda forma, todo mundo pensa que sou um tipo um tanto estranho. Comportei-me de uma maneira bastante inconstante ao longo dos anos, assim a ninguém surpreenderá a mudança. Faço-me velho e Rory está muito unido a você e a sua esposa. Ninguém fará perguntas.

Era certo.

Noah curvou levemente a comissura dos lábios.

—Há normas. —resmungou.

Ao escutar aquilo, Sabella inspirou pelo nariz com diversão.

—Sempre há normas —concordou Grant. Noah franziu o cenho enquanto todos o olhavam com impaciência.

—Carinho... —começou a dizer Sabella, que o conhecia bem. Noah esclareceu garganta. —Eu sempre tenho razão.

Grant franziu o cenho e Sabella estremeceu. Noah teve o pressentimento de que ria por dentro.

—Sempre tenho razão. —corrigiu Noah. — E não há mais o que falar.

—Com respeito a que? —O cenho do Grant se fez mais profundo.

—Com respeito algo sobre o que pense que tenho razão, maldita seja. —grunhiu. — Não tenho pai. Sou um bastardo. —Grant fez uma careta e empalideceu antes que Noah continuasse. — Mas se o pai de Nathan Malone precisa me considerar um filho... —encolheu-se de ombros. — Me casei com sua nora,dirijo seu Ranger. Demônios, suponho que posso reclamar também seu pai.

Nesse momento, sentiu um bater de asas. Baixou o olhar de repente até onde Sabella lhe apertava a mão contra seu ventre e depois a olhou nos olhos.

Havia-o sentido.

Ela sorriu. Tinha os olhos cheios de amor, de futuro. De «para sempre».

Seu bebê se moveu. Ali, contra sua mão, como se ele também estivesse de acordo. Tão brandamente, que não tinha estado seguro até que olhou os olhos de Sabella.

—Para sempre. —sussurrou Noah.

Os olhos de Sabella brilharam com lágrimas.

—Para sempre.

Quando Noah voltou a olhar a seu pai pensou que, talvez, só talvez, havia menos bolinhas verdes em seus olhos. Que eram um pouco mais irlandeses, que reluziam com o tom azul safira que era seu legado. Possivelmente agora pudesse chegar a conhecer o pai que jamais tinha conhecido.

Estendeu a mão a seu pai e observou como este piscava para conter as lágrimas antes de estreitar-lhe selando assim seu futuro.

Por fim, um futuro. Com seis anos de atraso. Tinha havido muito orgulho e muito tempo perdido. Mas Noah Blake não era estúpido. Não ia perder mais tempo. Não voltaria a perder o amor. Noah Blake tinha obtido tudo o que Nathan Malone tinha perdido e em troca oferecia tudo o que tinha.

O futuro.

 

 

                                                                  Lora Leigh

 

 

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