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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A MUDANÇA DO VENTO CALDER / Janet Dailey
A MUDANÇA DO VENTO CALDER / Janet Dailey

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

A negritude rugia em sua volta e ele lutava para ficar à superfície de alguma forma, sabendo que se não o fizesse iria morrer. Os sons chegavam a ele como se viessem de uma grande distância, numa mensagem, como o raspar de sapatos no pavimento, a batida metálica de uma porta de carro e o zumbido agudo de um tiro.

Alguém estava tentando matá-lo.

Tinha que sair dali, mas no instante em que tentava se mover, a escuridão o invadia com uma força estonteante. Ele ouviu o estrondo da rotação de um motor de carro partindo. Incapaz de se levantar, rolou para longe do som dos pneus na fiação queimada da borracha quando outro tiro ecoou.

As luzes piscavam em um clarão brilhante. Havia perigo em si, ele sabia e tinha que chegar às sombras lutando contra a fraqueza que dominava seus membros, então se arrastou para longe da luz.

Sentiu a sujeira debaixo de suas mãos e enfiou os dedos dentro dela. Sua força se esvaia, e permaneceu deitado ali por um momento, tentando se orientar, e determinar a localização do homem que tentava matá-lo. Mas a dor lancinante na cabeça tornava difícil pensar logicamente. Estendeu a mão e sentiu a umidade quente em seu rosto e foi quando soube que tinha sido baleado. Resumidamente, seus dedos tocaram o vinco profundo onde a bala tinha rasgado o lado de sua cabeça. A dor o percorreu imediatamente em ondas negras.

 

 

 

 

Consciente que poderia perder a consciência a qualquer momento, pelo ferimento na cabeça ou pela perda de sangue, convocou os últimos vestígios de sua força e se atirou mais profundamente na escuridão. Com o sangue borrando sua visão, sentiu mais que viu os contornos sombrios de um poste e um corrimão. Parecia ser um curral de algum tipo. Empurrou-se em direção a ele, querendo qualquer tipo de barreira, não importando sua fragilidade, entre ele e seu perseguidor.

Houve um sussurro de movimentos à sua esquerda. Seu alarme interno disparou, mas não conseguia fazer seus músculos reagirem. Estava muito fraco quando olhou para o lado, e mesmo assim, viu um homem abaixado com um chapéu de vaqueiro, se esticando com uma pistola na mão.

Em vez de disparar, o vaqueiro estendeu o braço livre para ele. — Vamos lá. Vamos, segure aqui, meu velho, — o vaqueiro sussurrou com urgência — ele está lá em cima na passarela procurando uma posição melhor.

Ele agarrou o braço do vaqueiro e cambaleou como um bêbado aos seus pés, sua mente ainda tentando se envolver em torno da frase "meu velho". Apoiando-se pesadamente em seu salvador, cambaleou para frente, lutando contra a falta de jeito de suas pernas.

Depois de uma eternidade, o vaqueiro o empurrou para dentro da cabine de uma picape e fechou a porta. Ele caiu contra o assento e fechou os olhos, incapaz de convocar um mínimo de força. Estava ciente do deslizamento do vaqueiro atrás do volante e do motor começando a funcionar em seguida, e das vibrações do movimento.

Através dos olhos semicerrados, olhou no espelho lateral, mas não viu nada para indicar que estavam sendo seguidos. Estavam fora de perigo agora. Espontaneamente veio a advertência de que seria apenas temporário; quem quer que estivesse tentando matá-lo iria tentar novamente.

Quem teria sido? E por quê? Ele procurou as respostas e não conseguiu chegar a qualquer uma.

Era necessário usar muito esforço para pensar. Escolhendo conservar os remanescentes de sua força, olhou pela janela para os edifícios desconhecidos que ladeavam a rua.

— Onde estamos? — Sua voz hesitante tinha um tom gutural.

— De acordo com os sinais, deve haver um hospital em algum lugar à frente de nós. — Respondeu o vaqueiro. — Eu vou deixá-lo próximo à entrada de emergência.

— Não. — Foi uma resposta puramente instintiva.

— Senhor, querendo ou não, sua cabeça ferida tem necessidade e você perdeu muito sangue.

— Não. — Ele começou a sacudir a cabeça com ênfase, mas no primeiro movimento, o mundo começou a girar.

A velocidade da picape desacelerou sensivelmente. — Não me diga que você está sendo procurado pela lei? — O vaqueiro virou um olhar aguçado e especulativo sobre ele.

Ele teria sido? Pela segunda vez, viera para cima contra uma parede vazia. Era outra resposta que não saberia, então evitou a pergunta.

— Ele deve saber que fui atingido e serei obrigado a procurar o atendimento médico, então vai esperar por mim. O hospital mais próximo será o primeiro lugar onde ele irá verificar.

— Você provavelmente está certo sobre isso, — concordou o vaqueiro — então, aonde você quer ir?

Onde? Onde? Onde? A pergunta martelava em sua mente, mas seria impossível responder por que nem sabia em qual inferno de cidade estavam. Aquela descoberta trouxe uma onda de pânico, que se intensificou quando percebeu que não sabia seu próprio nome.

Firmemente em pânico, disse: — Eu não sei ainda. Deixe-me pensar.

Fechou os olhos e se esforçou para trazer à tona alguma lembrança. Mas ele estava vazio de qualquer uma. Quem era ele? O que era ele? Onde ele estava? Cada pergunta era devolvida no vazio. Sua cabeça latejava de novo. Ele sentia como se estivesse deslizando mais profundamente na escuridão e não tinha forças para lutar contra ela.

Tornou-se simultaneamente consciente com uma luz brilhante pressionando contra seus olhos e o chilrear de um pássaro. Grogue, abriu os olhos e viu a luz solar filtrando-se por uma janela com cortinas. A luz do dia, e aquela última lembrança de ter viajado em uma picape nas ruas escuras à noite chegaram a sua consciência. Instantaneamente alerta, lançou um olhar pesquisador em torno da sala. As cortinas das janelas e o papel estampado num padrão rosa nas paredes confirmavam o que seu nariz já lhe dissera: não estava em um hospital. Estava em um quarto estranho para ele.

Seu olhar parou no vaqueiro tombado em uma velha cadeira de balanço de vime no canto, com o chapéu derrubado sobre a parte superior de seu rosto, seu peito subindo e descendo em um ritmo normal. Presumindo que o homem fosse o seu salvador da noite anterior, estudou a linha limpa e cinzelada da sua mandíbula e a cor marrom dos cabelos, detalhe que não tinha notado durante a escuridão e confusão da noite anterior. A frente da camisa do homem parecia nova, mas os jeans e as botas ambos mostravam sinais de desgaste.

Jogou as cobertas para trás e começou a se sentar. A dor derrubou-o de volta para o travesseiro e lhe arrancou um gemido. Em uma ação reflexiva, ergueu a mão para a cabeça e sentiu as tiras de gaze que o limitavam.

Como um raio o vaqueiro rolou a seus pés e cruzou para a cama. — Apenas se deite e fique quieto. Você não vai a lugar algum por um tempo, meu velho.

Ele se mostrou indignado com o comentário. — Essa é a segunda vez que você me chama de velho.

Depois de um instante de silêncio, o vaqueiro respondeu em tom de desculpas divertido: — Eu não quis cometer qualquer crime com isso, mas você não é mais exatamente um jovem.

Incapaz de lembrar quem ele era e muito menos quantos anos tinha resmungou uma resposta sem sentido.

— Onde estou afinal? Em sua casa?

— Ela pertence a alguns parentes pelo lado da minha mãe. — O vaqueiro respondeu.

Ele estudou o cowboy de olhos azuis e sorriso fácil. Havia um traço de boa aparência de menino por trás do restolho de crescimento com as características endurecidas pelo sol. A busca visual não encontrou nenhum sinal da pistola que o vaqueiro estava carregando na noite anterior.

— Quem é você? — Seus olhos se estreitaram sobre o vaqueiro.

Houve uma pequena pausa, um frio de repente apertou os olhos azuis do vaqueiro. — Acho que a pergunta deveria ser: quem é você?

— Talvez seja, — ele parou, esperando que um nome pudesse lhe ocorrer, mas não aconteceu nada — mas gostaria de saber o nome do homem que muito provavelmente salvou minha vida ontem à noite para que eu possa lhe agradecer corretamente.

— Você se esquivou da pergunta tão habilmente como um político. — Os olhos azuis brilharam na especulação tranquila. — Mas não acho que você seja um deles. Você me parece um homem acostumado a fazer as perguntas em vez de respondê-las.

— Agora você é o único a se esquivar das perguntas.

— Meus amigos me chamam de Laredo. Como seus amigos chamam você?

Sua cabeça latejava com a tensão de tentar recordar. Automaticamente tocou as bandagens novamente.

Observando a ação e o silêncio estendido, o vaqueiro chamado Laredo adivinhou: — Você não se lembra, não é?

— Não sei quem eu sou.

— Não, mas vou lhe dizer o que eu sei e a roupa que você estava vestindo, o terno não era barato, e aquelas botas customizadas em seus pés levaram muito dinheiro para comprá-las, me levando a pensar que você não seja um homem pobre. Não há nenhum sotaque texano em sua voz, o que me diz que você não é daqui, pelo menos não inicialmente.

— Nós estamos no Texas? — Repetiu para confirmar. — Onde?

— Sudoeste de Fort Worth.

— Fort Worth. — Pareceu-lhe familiar, mas não sabia por quê. — Isso era onde estávamos ontem à noite? — Perguntou, recordando as ruas da cidade por onde tinham viajado.

— Sim. Em Old Downtown, ao lado dos currais.

— Há um antigo cemitério não muito longe de lá. — Disse ele com uma estranha sensação de segurança.

— Você não poderia prová-lo para mim. — Laredo disse com um encolher ocioso de seus ombros largos.

Ele disparou um rápido olhar para o vaqueiro. — Você não é daqui?

— Não. Estou apenas de passagem. Agora me parece que você está voltando para viver e eu estarei saindo em breve.

— Ainda não. — Ele estendeu a mão para detê-lo com uma rapidez que o enviou a cama novamente. Afundando fracamente contra o travesseiro, ele engoliu a náusea que subia.

— Eu lhe disse para ficar quieto. — Laredo lembrou-o. — Essa bala arrancou por um caminho profundo. Não me surpreenderia se tivesse roçado seu crânio.

Ele lutou contra a dor, insistindo: — Antes de ir, tenho que saber sobre a noite passada e o homem que atirou em mim. Você o viu?

— Acho que se você não sabe quem você é, não vai saber quem era ele. — Eu... — Laredo adivinhando. — Eu tenho medo que não possa ajudá-lo muito. Tudo o que vi foi a figura de um homem com um rifle com escopo. Não poderia dizer se era velho ou jovem, alto ou baixo, só que ele não me parecia gordo.

— Diga-me o que você viu. — Ele fechou os olhos, esperando por alguma coisa que pudesse desencadear alguma lembrança.

Depois de uma pequena pausa, Laredo começou: — Não tenho certeza sobre o que me chamou a atenção em primeiro lugar. Talvez fosse a porta do carro ao ser aberta e toda a luz inundando o interior, enquanto o resto do estacionamento estava tão escuro. Você estava de pé ao lado dele, diante de outro homem. Ele estava de costas para mim, então eu não tive uma visão completa dele. Levei um segundo para perceber que você estava sendo assaltado. Ele fez um bom trabalho também. Você não tem nenhuma identificação em seu poder..., sem carteira, sem relógio, sem anel, nada. Ele levou seus documentos e agora você não tem um centavo no bolso.

— Mas este ladrão não foi o homem que atirou em mim. — Ele se lembrou de Laredo mencionar um homem com um rifle com escopo. Ele não podia imaginar um ladrão comum carregando um rifle.

— Não, não foi ele. O tiro veio por trás de você. No instante eu soube que não vinha de qualquer arma. Você caiu como uma rocha. Seu ladrão pulou no carro e saiu de lá histericamente.

— Eu me lembro de ouvir um barulho fora do veículo. Alguém gritou. Foi você?

— Sim. Eu queria que o seu atirador soubesse que alguém estava na área. Eu vi você se movimentando, então sabia que não estava morto. Ele atirou na minha direção. Eu vi o focinho do rifle e disparei de volta.

— Você costuma carregar uma arma?

Divertido, puxou o canto da boca. — Como eu disse, estamos no Texas, e a definição de controle de armas aqui é um objetivo constante.

Ele conseguiu um breve sorriso na pequena piada de Laredo. — A que horas foi isso?

— Tarde. Em alguma hora entre onze e meia noite.

Perguntou-se o que ele estava fazendo ali naquela hora. — Existem alguns bares na área?

— Um colosso deles.

De algum lugar fora veio o mugido do gado familiar. — Onde estamos?

Laredo o informou: — Na fazenda Ludlow. É um pequeno espalhado, não muito mais do que uma centena de acres. Não merece ser chamado de rancho.

— Por que você me trouxe aqui?

— Eu não tinha muitas opções. Você me proibiu de levá-lo a um hospital como eu planejava em primeiro lugar. Mas com você inconsciente, não podia simplesmente deixá-lo na porta. Levando-o para dentro significava que teria de responder muitas perguntas e eu não queria responder. Então o trouxe aqui. — Ele se permitiu mostrar um pequeno sorriso. — Eu pensei que se você morresse, eu poderia enterrá-lo no quadragésimo com ninguém mais que o sábio.

— Exceto o Ludlow?

— Eu não estava preocupado com Hattie falando.

— Quem é Hattie? — O latejar em sua cabeça aumentou, dificultando a sequência de mais de dois pensamentos ao mesmo tempo.

— Desde que Ed morreu, ela é dona do lugar. — Depois de uma pequena pausa, Laredo observou: — Sua cabeça não o está incomodando?

— Um pouco. — Estava relutante em admitir mais do que aquilo.

— Não há necessidade de exagerar. Por que você não descansa um pouco? Podemos falar mais tarde, se quiser. Nesse meio tempo, vou ver se consigo lhe arranjar algo para comer.

— Você disse que estaria saindo em breve?

— Eu disse, mas não vou ainda.

Afastando-se da cama, Laredo foi até a janela e abaixou a cortina, escurecendo o ambiente. Ele fechou os olhos contra a dor, mas não era fácil excluir o vazio de sua memória. Quem era ele? Por que não conseguia se lembrar? Dormiu irregularmente, acordando muitas vezes para ouvir as agitações ocasionais das atividades em outras partes da casa. No instante em que ouviu o ruído do trinco da porta do quarto, abriu os olhos, ficando totalmente alerta.

Concentrou-se sobre a mulher que encheu a porta com um tabuleiro equilibrado em sua mão. Era alta, com traços fortes, bonita, mostrando a cor das longas horas passadas ao sol. Usava botas, calças jeans e uma blusa xadrez dobrada na altura da cintura, revelando a figura firmemente embalada de uma mulher madura e ativa.

— Você está acordado. Isso é bom. — Sua voz tinha um que de contrassenso para ele, gentil, mas firme. — Eu trouxe um pouco de sopa. Pensei que seria melhor mantê-lo com uma dieta líquida para começar.

— Você deve ser Hattie — Adivinhou enquanto ela se aproximava da cama.

— Isso é certo. Eu suponho que você ainda não saiba quem você é então não vou perguntar o seu nome. — Colocou a bandeja de comida na mesa de cabeceira ao lado da cama. — Você acha que pode se sentar sozinho ou quer alguma ajuda?

— Eu posso controlar. — Inspirando o rico aroma do caldo de carne, ele sentiu os primeiros sinais da fome. Com cuidado lento, se alavancou em uma posição elevada. Uma vez sentado na posição vertical, Hattie arrumou alguns travesseiros atrás dele como um encosto. — Obrigado, a sopa cheira bem.

— É caseira. — Ela colocou a bandeja em seu colo. — Existe alguma coisa que você precise?

— As minhas roupas.

— Desculpe Duke, mas penso que elas estão bem arruinadas. Estou lavando a camisa, tentando tirar as manchas de sangue. Talvez um profissional de limpeza possa tirar as manchas do seu terno, mas...

— Por que você me chama assim? — Ele olhou para ela com curiosidade.

— O que? — Ela lhe deu um olhar vazio.

— Agora você me chamou de Duke.

— Eu fiz isso? — Ela parecia quase envergonhada, então deu de ombros. — Eu acho que é porque você me lembra dele.

— Quem? — Ele insistiu, determinado a saber de quem ela se lembrava, ciente de que poderia não significar nada, ou tudo.

Ela o olhou fixamente nos olhos. — John Wayne. O Duke. Você sabe quem ele é?

— O ator de cinema. — Ele mergulhou a colher na sopa.

— Está certo.

— E você acha que eu me pareço com ele? — Começou pensando que rosto iria descobrir no espelho.

— Não é tanto que você se pareça com ele, mas você me faz lembrá-lo. — Ela respondeu, e explicou: — Vocês dois são grandes de ombros e de peito largo com características escarpadas. Um tipo que assume o comando, sem medo de cair, não é? — Ela inclinou a cabeça para um lado. — Isso ajuda?

— Não, na verdade. — Ele respondeu, mais irritado do que decepcionado.

— Eu não me preocuparia muito sobre isso. — Ela o estudou pensativa. — Amnesia causada por um trauma na cabeça é geralmente temporária. Na maioria das vezes, a memória volta em pedaços e fragmentos, mas em casos raros, pode voltar completamente cheia.

Ele achou suas frases profissionais lastimáveis. — Parece que você sabe algo sobre isso.

— Antes de mudar de carreira para me tornar uma senhora fazendeira, eu era uma enfermeira.

— Então foi por isso que Laredo me trouxe aqui na noite passada. — Fazia sentido agora.

Hattie sorriu de maneira desdenhosa. — Ele sabe que eu tenho uma fraqueza para cuidar de animais feridos e estáticos.

— Onde está Laredo?

— Ele foi para a cidade pegar algumas roupas para você.

— Eu tenho a impressão que ele deve ter tido alguns problemas com a lei. Ele tem?

Sua boca se curvou em um sorriso que não coincidia com a medição do olhar frio, de seus olhos.

— Laredo disse que você fez muitas perguntas, mas não respondeu quase nada. — Ela estava usando seu tempo, avaliando-o. Ele tinha a sensação que era uma mulher que fazia alguns erros de julgamento. — Se, — frisou a palavra — Laredo teve qualquer problema com a lei, aconteceu do outro lado da fronteira. Eu suponho que seja um desses casos de estar no lugar errado na hora errada com as pessoas erradas. Se ele quiser que você saiba mais do que isso, ele mesmo poderá lhe dizer. Mas eu acho que você já descobriu que ele é o tipo de homem que você vai desejar ao seu lado quando houver problemas.

— Nós dois sabemos que eu não estaria vivo hoje se não fosse por ele. — Afirmou isso como um fato, sem qualquer demonstração de emoção.

— Espero que você se lembre disso. — Ela começou a se virar em seguida, balançou de volta. — Assim que Laredo chegar de volta com um conjunto de roupas para você, eu as trarei. Elas provavelmente não terão a qualidade das que você está acostumado a usar, apenas jeans, camisas, e algumas roupas de baixo.

— Elas ficarão bem. — Cortou suas palavras, um pouco irritado porque ela parecia acreditar que ele estivesse vestindo roupas de trabalho comuns. — Eu vou pagá-las de volta assim... — Parou a sentença, lembrando que Laredo havia lhe dito que ele não tinha um centavo nos bolsos. Ficou irritado pensando que estava dependente de outra pessoa.

— Não se preocupe com o dinheiro agora. Basta comer a sopa. — Hattie apontou para a tigela em um gesto de censura. — E não tente se levantar sozinho. Com todo o sangue que você perdeu, é provável que esteja tão instável quanto um bezerro recém-nascido. Eu voltarei mais tarde para pegar a bandeja.

As primeiras colheradas de sopa acabaram com sua fome, mas mesmo assim, tomou cada colherada até o final, determinado a recuperar sua força. No entanto, o esforço o cansava. Com os olhos fechados, relaxou contra os travesseiros de apoio.

Todas as perguntas sem resposta vieram como uma enorme bola. Com algum esforço, conseguiu ignorá-las e se concentrou nos poucos fatos que sabia sobre si mesmo, procurando por algo que lhe parecesse familiar e certo.

A picape chacoalhou no pátio do rancho. Ele ouviu o rangido da abertura e fechamento da porta, seguido pelo som de passos que se aproximavam da casa, já com um som familiar para ele, e tinha certeza que pertenciam a Laredo.

Em poucos minutos, o vaqueiro entrou no quarto, carregando uma grande sacola. Os olhos de Laredo foram rápidos em notar a tigela de sopa vazia.

— Bom até a última gota, eu vejo. — Observou Laredo.

— Preencheu os lugares vazios. — Ele respondeu, e olhou para a sacola. — Hattie disse que foi comprar algumas roupas para mim. Você tem alguma calça aí?

— Claro que sim. — Laredo jogou a sacola na cama e retirou a bandeja de comida. — Antes eu vou tirar isso do caminho.

Ele sabia que não devia fazer nenhum movimento brusco que pudesse fazer a cabeça girar novamente, e empurrou os travesseiros com cuidado. A sacola de papel sussurrava enquanto Laredo a revolvia e tirava um par de calças Levis. Ele balançou as pernas nuas para fora da cama e pegou o jeans.

— Eu vou lhe dar uma mão para vesti-las, — disse Laredo — não quero que você caia no chão, porque você, Duke, é uma carga para levantar.

— Foi assim como Hattie me chamou. — Ele se lembrou.

— Até que você possa se lembrar do seu próprio nome, Duke é tão bom quanto qualquer outro. — Laredo colocou as pernas das calças sobre seus pés e manteve uma mão firme sobre ele enquanto se levantava para vestir o resto para cima. — E você não aceitou muito gentilmente quando eu o chamei de meu velho.

Ele viu o brilho malicioso nos olhos azuis do vaqueiro e não se ofendeu. — Ninguém gosta de ser chamado de velho. Você vai descobrir isso... — Fez uma pausa e varreu um olhar sobre Laredo fazendo uma avaliação. Era difícil identificar a idade do vaqueiro, mas pensou que deveria estar na casa dos trinta anos. — E não vai haver muitos anos mais antes disso.

— Eu tenho receio que você esteja certo sobre isso. — Laredo admitiu com um sorriso triste.

Com os movimentos, a cabeça começou a latejar a sério novamente. Rangendo os dentes contra aquilo, olhou em volta. — Há um banheiro por perto?

— Apenas no final do corredor. É melhor eu andar com você, apesar de tudo. A casa é antiga e o piso é irregular. — Laredo advertiu.

Instável em suas pernas, ele teve que contar com o apoio de Laredo mais do que gostaria e quando atravessaram o quarto, passaram por um curto e estreito corredor. Quando Laredo abriu uma porta à esquerda, ele dispensou mais assistência e entrou no banheiro sozinho.

Depois de se aliviar, mudou para a pia e examinou o rosto no espelho acima dela. Seus traços eram ásperos e crus, afinados pelas linhas da idade, esculpidas profundamente em torno da boca e dos olhos. Camadas de gaze estavam enroladas em torno da cabeça como um turbante. Os cabelos castanho-escuros mostravam uma pesada mistura de tom cinza. Estudou todos os detalhes, mas os olhos marrons que olhavam para ele pertenciam a um estranho.

Laredo o havia chamado de "velho". As linhas dos cabelos cinza pareciam confirmar aquilo, mas havia muito tônus muscular em seu peito e ombros largos, indicando que ele ainda tinha ampla força e vitalidade. Examinou a variedade de cicatrizes em seu torso. A maioria delas era velha e desbotada, com uma linearidade que sugeriam incisões cirúrgicas. Mas, ao longo do lado de suas costelas, dando um novo olhar, havia uma sugerindo que não tinha muito mais do que um ano de idade. Mas ele não tinha nenhuma lembrança de como chegara a nenhuma delas.

Sua própria mente o bombardeava com perguntas que não tinham respostas. Quem era ele? Onde morava? O que fazia?

Teria uma esposa? Uma família? Alguém procurando por ele? Houve uma batida sobre a porta. — Está tudo bem, Duke?

Ele se afastou do espelho e manteve uma mão firme na parede quando caminhou para a porta. — Estou bem.

Laredo correu um olho afiado sobre ele quando a porta se abriu. — Por que você demorou tanto?

— Estava tentando me acostumar com esse rosto no espelho.

— Deve ser um inferno não ser capaz de se lembrar quem é. — Laredo falou, mais como uma declaração de fato do que uma expressão de simpatia. — Eu vou ajudá-lo de volta para a cama.

— Eu vou sentar-me por um tempo.

— Você tem certeza? — Havia ceticismo no olhar que Laredo lhe enviou. — Você ainda está muito fraco.

— Eu não vou conseguir qualquer postura mais forte naquela cama.

— Isso é verdade.

— Se Hattie tiver qualquer café feito, eu poderia tomar um copo.

— Vou verificar. — Uma vez que Laredo o ajudou a se sentar na cadeira de balanço no canto, foi ver o café. Retornou com duas canecas, entregou uma para o homem que chamava de Duke e levantou a outra. — Pensei em acompanhá-lo, se estiver tudo bem.

— Sente-se. — Fez um gesto em direção à cama. Laredo se sentou de lado no colchão, seu corpo inclinado em direção ao canto.

— Então, quais são seus planos? — Laredo levantou a caneca e tomou um gole cauteloso do café fumegante.

— Isso importa? Você vai sair em breve.

— Você é definitivamente bom em evitar perguntas. Talvez você seja um político. — Laredo disse com um sorriso.

— Posso ser um quando você o comprar?

As palavras mal saíram de sua boca, quando ele soube que estava ecoando um sentimento que tinha ouvido antes. Quase podia ouvir a voz do homem.

— Isso tem o sentido da experiência falando, — observou Laredo — e a julgar pelo terno que você estava vestindo, provavelmente tem os dólares para comprar uma meia dúzia de políticos.

— Se for esse o caso, então alguém deve estar se perguntando onde estou. Eles já podem estar tentando me derrubar.

— Você quer dizer, alguém que não seja o cara que tentou matá-lo. — Laredo inseriu secamente.

— Sim, ele é o coringa no baralho. — Murmurou pensativo.

— Algo me diz que ele está suando um pouco agora, se perguntando se você está vivo ou morto e se obrigando a ficar louco, por você não ter aparecido ainda em qualquer lugar.

— Ele poderia ter atirado e corrido.

— É possível, mas não provável.

Era a certeza na voz de Laredo que o levava a desafiá-lo. — Por que não?

— Porque não é certo ainda como deve estar assustado por não o ter executado. Ele sabe que foi atingido, e até agora não veio à tona, mas tem de fazê-lo pensar que você morreu. Se eu fosse ele, iria desaparecer apenas o tempo suficiente para descobrir.

— É preciso um homem com nervo legal para fazer isso. — E, refletiu, dizendo-se que Laredo pensava dessa forma.

— Acho que ele já estabeleceu a frieza de sua coragem quando se colocou em espera por você. Foi pura sorte de sua parte que ele não obtivesse sucesso. — Laredo de braços cruzados rodou o café em sua caneca. — Parece-me que você tem duas opções. Pode ficar perto do rancho e aguardar a sua memória voltar.

— Isso pode levar dias, semanas ou até meses. — Ele se interrompeu com sua voz afiada pela impaciência.

— Eu tive a impressão que seria a forma como você reagiria. — Um pequeno sorriso aguçou os cantos da boca de Laredo. — Ao mesmo tempo, se você se mostrar em torno das antigas cercas dos currais, fazendo perguntas e tentando encontrar alguém que possa reconhecê-lo, estaria erguendo sua mão outra vez e talvez até mesmo lhe dando outra chance.

— Eu sei. — Reconheceu tristemente, consciente de que estava entre aquela rocha proverbial e um lugar duro.

— Há uma alternativa. — Laredo falou.

— E qual é? — Ele estudou o cowboy com um olhar atento.

— Eu poderia fazer as perguntas.

— Eu pensei que você estaria partindo em breve. Isso foi o que você disse.

Laredo moveu seus ombros, encolhendo-os indiferente. — Se estiver com poucos dias de atraso para atravessar a fronteira, meus amigos não se preocuparão comigo.

— Entendo. — O senso comum lhe dizia que a sugestão de Laredo era boa, no entanto, irritava-se em não ter nenhuma parte ativa nela.

— Eu sei que você odeia a ideia de ficar sentado aqui esperando, mas é a solução mais prática. Até agora os outros terão notado que está faltando e começarão a fazer perguntas. Isso não despertaria suspeitas de ninguém se eu estivesse xeretando ao redor, também.

— Não, não iria, — ele concordou — mas, eu não posso deixar de me perguntar por que você quer se envolver em meu problema.

— Curiosidade, pura e simples. — Laredo respondeu. — Eu não posso deixar de me perguntar quem é você. Além disso, — ele acrescentou em tom de brincadeira — eu salvei sua vida. De modo que descobri que isso me faz responsável por você.

Hattie entrou no quarto, viu Laredo sentado na cama, e fez um pivô afiado para Duke. — O que você está fazendo fora da cama?

— Tomando café.

— Você pode terminar isso na cama. — Ela tirou a caneca de sua mão e colocou-a em cima da cômoda antes que ele pudesse levantar uma objeção.

— Eu fiquei demais nela. — Protestou.

— Eu vou ser o juiz disso, — Hattie informou — e digo que esta tarde você vai descansar. Hoje à noite você poderá ter a ceia na mesa conosco.

— Não, Hattie. — Laredo inseriu. — Eu não estarei aqui para o jantar.

— Você está indo embora, então? — Sua expressão se fechou para esconder seu desapontamento com a notícia.

— Não permanentemente. — Laredo respondeu. — Irei para Fort Worth e verei se posso encontrar alguém que se lembre de Duke.

— Você vai ter cuidado, não vai? — Ela perguntou com toda a seriedade.

— Eu sempre tenho. — Ele combinava seu tom com o olhar.

Capítulo Dois

Os relâmpagos corriam em estrias irregulares entre as nuvens negras. Nos saltos deles, os trovões ressoavam e rolavam através das planícies do leste de Montana enquanto as chuvas caiam em folhas, impulsionadas pelo vento forte.

Os limpadores do para-brisa do carro de patrulha trabalhavam em alta velocidade, o ritmo rápido adicionando-se à tensão. Logan Echohawk, o xerife, agarrou o volante com as duas mãos enquanto as vigas dos faróis lutavam para penetrar além da cortina de chuva e da escuridão prematura. As partes altas e difíceis das maçãs do seu rosto e a cor de breu dos seus cabelos mostravam sua ascendência Sioux, mas era a cor cinza de seus olhos e a expressão neles que sempre atraia um segundo olhar, geralmente cauteloso.

Apenas a tempo viu a interseção lateral da estrada e desacelerou o carro patrulha para fazer a volta na entrada leste da fazenda Calder. Um brilhante facho de luz iluminou brevemente o sinal que pairava sobre a estrada. Logan teve apenas um vislumbre do cartaz que estabelecia como Companhia de Gado e o nome Calder antes de passar sob ele. Era uma entrada pouco atraente para um rancho que abrangia cerca de 600 milhas quadradas dentro de suas fronteiras, tornando-se mais ou menos do tamanho de Rhode Island. A partir da entrada do portão leste, era uma unidade de trinta milhas para a sede da fazenda.

E Logan sabia que a unidade nunca parecera maior do que hoje. Ele não estava ansioso para chegar lá, não com a notícia que trazia. Era um grupo coeso que habitava a fazenda pecuária, ou Rancho Triplo C., como era mais conhecida. A maioria dos rancheiros era descendente dos vaqueiros que tinham trabalhado para o fundador do rancho, Chase Benteen Calder, e que apostara numa reivindicação para a terra há bem mais de cem anos.

A história do rancho era longa e legendaria. Embora relativamente novo na área Logan sabia muito sobre ele. Há mais de três anos, ele havia se casado com Cat Calder, filha de Chase Calder, um neto e homônimo do fundador da fazenda.

Este último ano tinha sido bem acidentado para todos no rancho, mas especialmente para a família, que ainda estava de luto pela perda do filho e herdeiro, Tyrone Calder. Sua morte tinha sido trágica e violenta, e o motivo ainda não fazia sentido para Logan. Mas a lógica distorcida de um assassino raramente se levantava ao escrutínio.

A morte de Ty tinha sido um golpe esmagador para Chase; nenhum homem jamais esperava viver mais que seus filhos. Mas o fardo mais pesado caiu sobre a viúva de Ty, Jessy. Não só ficara com a difícil tarefa de criar seus gêmeos de três anos, Trey e Laura, por si mesma, mas também com a responsabilidade de gerir o Triplo C. que acabaria sendo passado para ela. Ninguém duvidava, no entanto, que Jessy tinha as qualidades de uma líder capaz. Nascida e criada no Triplo C., ela podia montar e laçar como o melhor deles. Sob a tutela de Chase, ela foi rapidamente aprendendo a lidar com homens tão facilmente como ela o fazia com o gado.

Os relâmpagos continuavam bifurcando-se nas nuvens em línguas ofuscantes de luz, iluminando brevemente a vasta extensão de planícies sem árvores. Um trovão sacudiu o ar. Logan manteve os olhos na estrada de terra à sua frente. Tão violenta quanto à tempestade, ele sabia que era o que estava prestes a se quebrar sobre o Triplo C. A notícia que ele estava trazendo era susceptível de abalar o rancho em sua fundação.

Na sede do Triplo C., a luz brilhava nas janelas dos celeiros, galpões, comissário e chalés que abrigavam a ajuda contratada. Mais luz se reunia em torno das luzes do quintal imponente, com o brilho esmaecido pelas folhas inclinadas pela chuva. Na escuridão da tempestade, o brilho dos numerosos edifícios do rancho dava à sede a aparência de uma cidade pequena.

Dominando tudo estava à Casa Grande, uma imponente casa de dois andares, liderada por colunas brancas que ficavam em uma alta colina. Construída no local da herdade original do rancho, resultando em seu nome, a casa da família dos Calder sempre fora o coração do rancho. A partir dela, os negócios do rancho eram realizados tal como tinham sido há mais de cem anos.

Os hóspedes eram poucos e distantes entre si naquele canto vazio de Montana, onde a cidade mais próxima ficava a centenas de milhas de distância. Mas aqueles que o visitavam sempre eram bem-vindos. Esta noite não seria exceção.

Outro estrondo retumbante de trovão sacudiu as janelas na sala. Repleto de história contadas do rancho, o quarto se tornara o lugar tradicional para entreter os convidados.

John Montgomery Markham, irmão do conde de Stanfield, sentou-se em uma cadeira, observando os raios irregulares que riscavam as nuvens escuras. Tomou um gole do uísque com gelo e água do seu copo. Alto e atleticamente guarnecido, ele se afastou da janela com uma graça natural.

Seu sorriso alcançando Jessy, que estava perto da lareira de pedra maciça. — Uma exposição fascinante. Eu ouvi muito sobre a ferocidade de suas tempestades de verão. Esta excede em muito qualquer coisa que já vi na Inglaterra.

— Você vai se acostumar a elas, agora que fixou residência nessa parte do país. — Jessy respondeu, referindo-se a compra da fazenda Gilmore há quatro meses, que o tornava o mais novo vizinho do Triplo C.

— Espero que eu consiga. — Ele admitiu. — Ainda assim, é uma sorte ter chegado antes da tempestade. Eu detestaria estar dirigindo nela.

— É definitivamente perigoso, mas estas tempestades tendem a ser como os viajantes, muito rápidas. Felizmente o pior deve passar breve.

John Montgomery Markham, que preferia ser chamado de Monte, foi rápido para pegar a sua escolha de advérbios. — Por que felizmente?

— Porque nós perdemos mais gado com os raios do que por qualquer outra causa. Em terreno plano como este, eles se destacam como para-raios.

— Eu não tinha considerado essa possibilidade. — Admitiu com franqueza típica. — Parece que cada vez que eu visito o Triplo C., vou aprendendo algo novo sobre a criação de gado na América.

Sua abertura a novos métodos ou ideias era apenas uma das muitas coisas que Jessy admirava em seu novo vizinho. Outra fora seu fracasso em adotar o vestuário ocidental desde que se mudara para Montana. Nenhuma calça jeans, botas de cowboy, chapéu Stetson ou algo parecido. Em vez disso ele optava por botas de montaria inglesa, culotes, e um chapéu australiano. Monte Markham era um inglês por completo, e se orgulhava disso.

Jessy passou a olhar por cima do nariz aquilino. Pensando, não pela primeira vez, que a lembrava de um poeta ou um estudioso. Seus cabelos castanhos tinham um toque avermelhado, e seus olhos castanhos ocasionalmente mostravam o brilho de sua inteligência britânica seca. Como ela, tinha apenas quarenta anos e único, no seu caso, o resultado de um divórcio há vários anos.

Fazia quase dois anos desde que Ty fora morto, e a dor ainda era muito forte. Ty tinha sido seu primeiro amor. Havia momentos, especialmente à noite, em que ela ansiava por sentir o toque das suas mãos e o aperto de seus braços em torno dela. Também sabia que era natural que o sentisse. Era uma mulher com as necessidades de toda mulher. O que com a correria do rancho e dois filhos para criar, na maioria das vezes com sucesso, empurrava totalmente para o lado. No entanto, em momentos estranhos tudo vinha à tona.

— Há sempre algo a aprender nos negócios de gado. — Jessy disse.

— De fato. — Monte levantou a bebida no reconhecimento do fato enquanto outro estrondo afiado do trovão sacudia os vidros nos caixilhos das janelas.

— Mamãe, diga a tempestade para ficar quieta, está muito barulhenta. — Aos três anos de idade, Laura sentou-se com as pernas dobradas sob o corpo na grande cadeira de couro, enquanto tentava diligentemente colorir a imagem em seu livro de atividades, com o lápis vermelho na mão.

— Eu penso que não vai me ouvir. — Jessy sorriu para a menina atrás da mesa; parecida com sua mãe, mas com mais luzes douradas nos cabelos do que os de Jessy, mesclados com as sombras de cor mogno.

Laura fez uma pausa longa o suficiente em seu trabalho para liberar um suspiro dramático. — Eu gostaria que o vovô estivesse aqui. Ele diria a esses cowboys para perseguir o gado para longe.

— O que é isso? — Monte mudou seu sorriso indulgente de Laura para Jessy. — Eu acredito que perdi alguma coisa.

— Chase disse-lhes que o gado no céu corria ao ouvir o trovão dos cascos — explicou Jessy.

— E os relâmpagos são seus cascos nas pedras. — Laura foi rápida para inserir, e depois inclinou a cabeça para um lado, olhando para ele com seus profundos olhos castanhos. — Você não sabia disso?

— Confesso que sou totalmente ignorante da causa. — Monte declarou com pesar simulado.

Com as sobrancelhas franzidas de Laura junto a uma carranca perplexa. — O que quer dizer inorante?

— A palavra é ignorante, — Jessy corrigiu, enunciando-a com cuidado — e isso significa que ele não sabe.

— Oh. — Satisfeita, ela inclinou a cabeça sobre o livro de colorir. — Vovô pode falar sobre isso quando ele voltar.

— Eu vou fazer um ponto e perguntar a ele. — Monte respondeu com uma ligeira curva em direção da criança. Uma série de gritos, aglomerados, e bang-bangs vocalizados vieram da sala de estar. Monte arqueou as sobrancelhas. — Eu acredito que há um tiroteio em andamento.

Jessy fez uma pausa para ouvir. Há muito tempo tinha aprendido um truque de mãe de bloquear sons de jogo violento, permitindo filtrar apenas gritos de dor ou pânico.

— Trey e Quint. — Disse ela, desnecessariamente identificando seu filho e o sobrinho. — Acho que finalmente apanharam os bandidos.

Sua boca se curvou em um sorriso divertido. — E quem é o bandido?

— Trey, é claro. Ser o xerife seria manso demais para ele.

Monte riu tudo o que pretendia, terminando com uma sacudida leve de sua cabeça. — Eu acho que você não percebe como gosto de passar tanto tempo aqui e suspeito que possa perder minha própria família. Meu irmão e sua esposa têm três crianças muito barulhentas. Mais velhos do que os seus, é claro; são meninos cheios de brincadeiras e jogos ásperos e quedas. Sempre procuro uma desculpa para vir aqui. Eu temo que acabe por abusar da sua tolerância.

— Eu não me preocuparia com isso. — Jessy falou, rejeitando a sugestão. — Você sempre será bem-vindo no Triplo C.

— E eu prometo que vou fazer o possível para não abusar da hospitalidade concedida.

Seu ar de formalidade tinha um tom de simplicidade que tornava mais fácil para Jessy tolerar. Ela sempre fora uma pessoa simples e frequentemente falava com a franqueza de um homem.

E foi o que fez. — Para ser honesta, quando eu o conheci, assumi que se houvesse alguém em Montana com quem você gostaria de passar o tempo seria Tara.

Ele fingiu um arrepio de desgosto.

— Por favor, — ele arrastou a palavra com ênfase, — não me diga que eu dei essa pobre primeira impressão.

Disse-o tão secamente, com tantos tons de crítica a Tara que Jessy riu calorosa e ricamente. Se nada mais, o fato de Monte compartilhar de sua antipatia pela primeira esposa de seu falecido marido era suficiente para encará-lo melhor.

— Não foi qualquer coisa que você disse ou fez, — Jessy assegurou — foi apenas uma suposição da minha parte.

— Francamente, eu não sei se Tara ficou fascinada pelo título ou a esperança de que eu pudesse apresentá-la ao atual conde de Stanfield, meu irmão.

Laura se sentou sobre os calcanhares, com os olhos brilhantes de emoção. — A tia Tara vem à noite?

— Não, ela está fora em uma viagem em algum lugar. — Felizmente, — Jessy acrescentou para si mesma.

— Ela está no Texas com o vovô?

— Eu não sei onde ela foi desta vez, querida. — Jessy respondeu em desespero por sua filha não conseguir superar sua idolatria pela primeira esposa de Ty.

Os cantos da boca de Laura virados para baixo. — Eu quero um vestido vermelho como este. — Ela se referiu à foto que estava colorindo. — Se tia Tara estivesse aqui, ela me daria um.

— Laura, eu não quero ouvi-la pedindo um para Tara. — Jessy advertiu-a, pensando que talvez fossem apenas os presentes que Tara despejava sobre os gêmeos que os atraíam para ela.

Suprimindo um sorriso, Monte perguntou: — Quantos anos você disse que ela tem?

— Ela vai fazer quatro.

— Ah, isso explica tudo. Ela é quase uma mulher adulta.

— É muito particular sobre o que ela usa. Tudo tem que estar combinando. — Pior ainda é que ela adora os vestidos. — Jessy culpou Tara por aquilo. Quando criança, Jessy tinha sido muito moleque e nunca queria usar um vestido. O desejo de sua filha para tudo e qualquer coisa feminina era totalmente estranho para ela.

— Boas notícias. — Cat entrou no escritório, carregando um prato de servir cheio com aperitivos. — Sally diz que o jantar estará pronto em quinze minutos. Com alguma sorte, Logan vai estar aqui até lá, mas com esta tempestade eu não ficaria surpresa se ele for chamado para algum acidente.

Ela ofereceu a variedade de aperitivos a Monte, e a Jessy. Lado a lado, as duas mulheres eram um contraste. Cat, pequena e belíssima com seus reluzentes cabelos pretos e olhos verdes, dotada de uma grande capacidade de emoção, que raramente escondia. Por outro lado, Jessy de cabelos louros e olhos avelã, alta e magra, projetando uma calma estável e força inata. Era raro ela revelar o que estava acontecendo dentro de sua cabeça, enquanto Cat era um livro aberto.

— As duas entendem que estou aceitando este convite para jantar apenas com a condição de que vocês irão ao meu rancho no domingo. — Depois de uma pausa escassa, Monte pediu: — Chase estará de volta até lá, não é?

Jessy assentiu. — Quando falei com ele ontem, disse que planejava voar para casa na sexta-feira.

— Bom. — Ele assentiu decisivamente. — Estou ansioso para que ele veja minhas recém-chegadas.

— As novas chegadas? — Perguntou Cat.

— Seu gado chegou, então? — Jessy usou sua voz forte para transformar a declaração em uma pergunta.

— Elas chegaram. — Ele confirmou.

— Você importou gado — Cat adivinhou e serviu-se de um biscoito coberto com salada de caranguejo.

— Não, apenas os bois. — Monte afirmou com uma pitada de orgulho. — Estes são registrados como gado das montanhas.

— Highland. — Cat repetiu. — Não são aqueles que têm pelos desgrenhados pendurados em torno de seus chifres, parecendo que têm franjas?

— Sua aparência é bastante distinta, — Monte concordou com seu estilo típico de eufemismo — mas, seus atributos são muitos e valiosos. Uma vez que os apresente ao público americano, a demanda pela carne dos Highland vai subir de preço.

— O que torna a carne de Highland melhor do que qualquer outra carne? — Cat mostrou seu ceticismo.

— Em minha opinião o gosto é melhor, e a rainha concorda comigo. Mas, mais do que isso, é uma carne naturalmente magra com quantidades mais baixas de colesterol. Em suma, é o produto ideal para os consumidores que gostam de carne, mas têm que prestar atenção na ingestão de colesterol por razões de saúde.

— Isso é verdade? — Cat franziu a testa e olhou para Jessy. — Ele está puxando a minha perna?

— Delicioso como o exercício poderia ser, eu lhe asseguro que tudo o que eu disse é absolutamente verdadeiro. — Sua boca se curvou em um sorriso de compreensão. — Mas, por favor, não tome minha palavra como verdade. Leia sobre a raça para ver.

— Eles não são o gado das montanhas os que têm chifres longos? — A carranca de Cat se aprofundou em um esforço para recordar mais sobre a raça.

— Sim, mas nada tão impressionante como esses. — Monte fez um gesto para o conjunto montado acima da lareira.

Eles eram impressionantes. Tomados de um boi longhorn, chamado de capitão, os chifres eram longos e torcidos, a extensão deles medindo mais de um metro e meio de ponta a ponta. O boi rajado havia liderado o primeiro rebanho de gado Calder do norte do Texas à Montana e cada rebanho organizado subsequente. Quando o longhorn morreu de velhice, Benteen Calder manteve seus chifres e montou-os acima da cornija em sua honra, tornando-o para sempre uma parte do folclore da família.

— Poucos longhorns modernos crescem conjuntos como aquele par de chifres velhos. — Jessy comentou.

Na sala de estar, Quint o filho de nove anos de Cat, soltou um grito que ecoou na casa grande com a rápida batida de pés correndo pelo chão de madeira. Quint correu pela porta em direção ao vestíbulo. Trey correu atrás dele, bombeando os braços magros, sua expressão sombria com determinação para recuperar o atraso com seu primo mais velho.

— Olá pai! — O cumprimento feliz de Quint atingiu todo o caminho de volta para o escritório.

— Logan deve ter chegado. — Cat percebeu, lançando um olhar para os cílios baixos de Jessy. — Eu não o ouvi dirigindo.

— Com todos os relâmpagos e trovões, é surpreendente. — Jessy disse.

A voz de Quint veio do vestíbulo. — Deve estar chovendo muito forte lá fora. O tapete ficou todo molhado onde você está.

— Olá, xerife. — A voz pertencia ao Trey, que insistia em chamar Logan por seu título oficial, em vez de tio.

— Já pegou qualquer bandido hoje?

— Não Trey. — Foi à resposta baixa de Logan.

— Talvez amanhã você pegue. — Trey sugeriu otimista como sempre.

— Talvez. — Logan concordou, e perguntou a Quint; — Onde está sua mãe?

— No escritório com a tia Jessy e o Sr. Markham.

Três conjuntos de passos de pesos variados se aproximaram do escritório. Ladeado pelas caras de dois meninos, Logan entrou na sala, sem o chapéu e a capa de chuva, com o rosto ainda molhado.

Ao vê-lo, Laura pegou seu livro de colorir e saltou da cadeira. Correu até ele. — Veja o meu vestido vermelho que eu pintei tio Logan.

Os olhos cinzentos destacaram os três adultos em pé perto da lareira, antes de inclinar a cabeça para olhar para a foto. — Bom trabalho, Laura. — O comentário tinha um som superficial. Virando-se, colocou a mão no ombro de Quint. — Leve os gêmeos ao outro quarto, Quint, e os mantenha ocupados por um tempo.

Alertado por algo em sintonia com seu pai, Quint inclinou a cabeça para trás e inspecionou o rosto de seu pai. Quando Quint mal saíra da fase de criança, os cowboys do Triplo C., o haviam apelidado de "homem pequeno" pela sua tranquilidade e seriedade de adulto. Sua natureza básica tinha mudado pouco durante os anos seguintes. Como resultado, Quint foi rápido em perceber as sutilezas que a maioria dos meninos de nove anos de idade não teria percebido. A expressão sombria de seu pai o deixava inquieto.

— Há algo de errado, papai?

Logan respondeu com um aceno lento. — Eu vou falar sobre isso mais tarde. Leve os gêmeos para a sala de estar para mim.

Quint sabia que algo ruim tinha acontecido. Por mais que ele quisesse ficar e descobrir, entendeu que lhe tinha sido dada a responsabilidade dos gêmeos, e a ele fora ensinado que um homem carregava sua responsabilidade nos ombros; não iria protestar ou tentar mexer com aquilo.

Sem outra palavra, Quint levou os gêmeos para o corredor. A uma curta distância da porta, a curiosidade levou a melhor sobre ele. Guiou os gêmeos até a parede e levantou um dedo a sua boca para calá-los. Trey foi rápido em obedecer, certo de que era o início de um novo jogo, mas Laura girou sobre ela, fazendo a saia de seu vestido de verão alargar para fora.

— Nós ainda vamos deslocar alguém sobre nós? — Trey perguntou em um sussurro, fazendo Quint perder a pergunta de sua mãe.

— Sssh! — Ele advertiu e inclinou a cabeça para ouvir, grato por seu pai não ter fechado as portas do escritório.

O timbre da voz de seu pai respondeu. — Cerca de uma hora atrás, recebi um telefonema da polícia de Fort Worth. A notícia não é boa.

— Papai! — Havia medo na voz de sua mãe. — Alguma coisa aconteceu com ele.

— Houve um acidente...

No instante em que ouviu as palavras, Quint se sentiu todo doente e assustado por dentro. Era seu avô, aquele grande homem, alto, que sempre parecia tão sólido e forte. Ele tinha sido ferido.

— Ele está bem, não é? — Sua mãe correu as palavras, e não deu ao seu pai a chance de responder. — É melhor chamar e ter o avião abastecido para que possamos decolar assim que a tempestade passar.

— Cat. — O nome foi falado com comando firme, e algo morreu dentro de Quint. Ele nem percebeu Trey fazendo imitação de um monstro, com os dentes à mostra e os dedos se enroscando em ameaça enquanto ele espreitava sua irmã fazendo piruetas. — Não adianta. Ele morreu no impacto.

Não querendo ouvir mais nada, Quint correu cegamente para longe do escritório. Parecia que uma mão em sua garganta, o sufocava, que não deixava escapar um único som. Em uma espécie de transe, se mudou para a sala de estar, apenas consciente das corridas de Trey para chegar lá na frente dele enquanto Laura pulava ao lado dele com os cachos loiros saltando.

Ele se jogou no sofá, caindo como uma pilha, consciente das lágrimas em seus olhos e a dor horrível no peito. Trey subiu na almofada ao lado dele e saltou sobre os joelhos.

— Vamos, Quint. Vamos jogar. — Trey instou com crescente impaciência.

— Não. — Sua voz soava estrangulada até aos seus próprios ouvidos.

Trey empurrou o seu rosto perto de Quint e olhou fixamente para ele. — Você está chorando? — Disse ele, incrédulo.

Laura inclinou a cabeça para um lado. — Você se machucou?

— Não. — Quint lutou para recuperar sua voz. — É o vovô. Ele morreu.

Laura apoiou imediatamente as mãos nos quadris e declarou com desprezo exagerado. — Ele não está morto, está no Texas.

Olhando para os gêmeos, ele se esqueceu de sua própria dor e lutou para encontrar uma maneira de fazê-los compreender. — Você está certa, Laura. Ele foi para o Texas, mas teve um acidente enquanto estava lá, e morreu. Agora ele está no céu com o seu pai.

Seus olhos castanhos cresceram e escureceram ficando sem brilho. — Mas o vovô disse que ia voltar.

— Quando ele disse isso, não sabia que sofreria um acidente. — Explicou Quint.

— Ele morreu e foi para o céu como meu pai. — Laura falou as palavras lentamente, como se tentasse entender o significado exato delas. — Isso significa que ele só vai ser uma imagem para eu e o Trey olhar?

— Está certo. — Mas o pensamento de que nunca mais veria seu avô, nunca mais brigaria com ele, nunca o ouviria contar as histórias sobre as movimentações do gado, estava além da imaginação de Quint. Seu avô sempre esteve lá com ele. Sempre.

— Não! — A negação de Trey foi imediata e explosiva. Seu rosto tomou uma forma emburrada. — Meu avô não está morto.

— Ele está sim, Trey. — Laura declarou com grande importância. — Ele está no céu com o papai.

— Ele não está!

— Está também!

— Não!

Enquanto ouvia a sua guerra de vontades, os seus próprios sentimentos de tristeza tomaram conta dele. De repente Quint não sabia como parar aquela batalha de temperamentos. Quando seu pai entrou na sala de estar, ele olhou para cima com gratidão.

— Tudo bem, já chega de gritos. — Logan rompeu o par.

Trey olhou para ele, o queixo tremendo numa mistura de raiva e mágoa. — Eu não me importo com o que ela diz, mas o meu avô não está morto! — Com isso, ele correu para as escadas.

Logan jogou um olhar aguçado, sondando Quint que abaixou a cabeça, admitindo: — Eu ouvi na porta.

— Entendo. — Logan sentou-se na beira do sofá ao lado dele e segurou sua mão sobre o joelho do menino num conforto silencioso. — Eu sou culpado, me desculpe Quint. Eu sei como você era próximo e o quanto você vai sentir a falta dele. Qualquer pessoa que o conhecia vai sentir inclusive eu.

As lágrimas vieram seriamente. Quint tentou fungar de volta. — Por que, papai? — Murmurou entrecortadamente.

Logan enrolou uma mão no pescoço do menino de nove anos de idade e puxou-o, em seus braços. — Eu gostaria de saber. — Ele deslizou os dedos nos cabelos pretos do filho, inconscientemente bagunçando-o. — Sua mãe e eu vamos voar até Fort Worth amanhã. — Ele continuou a falar com calma, mesmo enquanto a voz de Quint soluçava contra seu ombro. — Precisamos tomar providências para que seus restos mortais venham para casa para o enterro. Enquanto estivermos fora, Jessy quer que você fique aqui e a ajude a cuidar dos gêmeos. Você pode fazer isso?

— Eu acho que posso.

Logan sorriu com a resposta e resmungou. — Eu gostaria que pudéssemos ficar aqui com você, mas a partir de agora todos nós temos que contribuir e ajudar Jessy por um tempo. É o que seu avô iria querer.

Afastando-se, com a cabeça ainda para baixo, Quint enxugou as lágrimas com as costas da mão. — Isso significa que nós vamos mudar para cá?

— Não. — Ele penteou os cabelos escuros caídos na testa de Quint com os dedos. — Jessy está no comando aqui. Ela vai fazer isso bem.

Mas aquilo não significava que ela teria uma vida fácil, e Logan sabia disso. Distraído pelo som de pés ligeiros descendo as escadas, ele olhou para cima para ver Laura.

Quando ela chegou ao fim da escada, fez o caminho mais curto para Logan.

— Trey está no quarto do vovô. Eu disse a ele para sair, mas ele não quis me ouvir. — Seus olhos escuros estalaram nervosos.

Ele só tinha que olhar para a angústia no rosto de seu próprio filho para saber que aquelas três crianças eram jovens demais para suportar aquele tipo de dor. Os gêmeos não tinham idade suficiente para entender quando Ty foi morto, mas isso não era mais verdade. Ele olhou na direção do quarto do segundo andar.

— Está tudo bem se Trey permanecer no quarto de seu avô por um tempo. — Logan disse a ela.

Insatisfeita com a resposta, Laura se virou. — Eu vou dizer a mamãe. — E lá se foi ela.

Capítulo Três

Com o anoitecer arroxeando o céu sobre Fort Worth, as luzes da rua se acenderam. A mistura de néon e sinais de contraluz se destacava acima das vitrines. Mas as temperaturas escaldantes da tarde ainda não tinham diminuído.

O ar condicionado na picape de Laredo estava trabalhando poderosamente para arrefecer o interior do carro. Ele conseguiu um alívio modesto enquanto cruzava pela Main Street com uma carranca conturbada vincando sua testa.

Aquele negócio de bancar o detetive tinha acabado por ser um pouco mais difícil do que pensava. Até agora tinha andado em cada salão, bar, restaurante e no Distrito de Stockyards, certo que o homem que ele chamava de Duke deveria ter passado por um deles na noite anterior. A cada vez, mostrava o seu discurso cuidadosamente ensaiado, e que deveria ajudá-lo a encontrar alguém lá que o informasse sobre um homem que havia perdido o seu cartão de visita, e não conseguia se lembrar do seu nome, mesmo oferecendo a sua descrição, não conseguia nenhuma informação.

O que o deixava mais perturbado. Duke era o tipo de homem que se destacava no meio da multidão, mesmo com sua idade. No entanto, ninguém se lembrava, mesmo harmonizando sua descrição. Talvez fosse possível que ele não tivesse encontrado o informante certo. Se necessário fosse, ele faria as rondas de novo mais tarde.

Agora seu foco estava nos hotéis. A julgar pelo corte caro do terno que Duke estava usando, Laredo decidiu conferir os mais elegantes hotéis em primeiro lugar. Entrou no estacionamento do próximo em sua lista e estacionou a picape em um espaço vazio.

Dentro do saguão, localizou a mesa de registros, mas fez uma pausa antes de se aproximar dela. Nos dois outros hotéis, tinha observado que os funcionários eram mesquinhos, com as informações sobre os possíveis clientes, algo que seus clientes provavelmente apreciavam, mas que não poderia ajudá-lo. Laredo olhou ao redor e observou que a campainha da recepção era usada por um mexicano-americano. Ele se virou em sua direção.

— Buenas noches, amigo. — Cumprimentou o homem, fazendo uso de sua fluência em espanhol.

— Buenas noches, señor. Como posso ajudá-lo? — Perguntou o homem em inglês com forte sotaque.

Laredo não fez a mudança para a sua própria língua nativa. Em vez disso, continuou conversando em espanhol, colocando para fora seu discurso habitual, mas dando-lhe alguns novos destaques. Especificamente, confessou tempos difíceis, alegando que precisava desesperadamente do trabalho que o homem lhe oferecera.

Diante da carregada descrição que Laredo repetia do homem que apelidara de Duke e acrescentado mais alguns detalhes na forma de uma pergunta, o semblante do mexicano se iluminou imediatamente.

— Si, ele é um hombre mucho hombre.

— Ah, señor. — O mensageiro olhou para ele com pesar abjeto. — O homem que procura é o señor Calder, e me entristece lhe dizer, mas está muerto.

Assustado, Laredo repetiu em descrença: — Morto? Tem certeza?

— Si. A polícia esteve aqui esta tarde. Eu os ouvi falar com o gerente. Eles dizem que seu carro tombou na última noite e ele morreu.

— Gracias. — Sua mente correu com uma dúzia de possibilidades. Começou a se virar e então parou. — O señor Calder, de onde ele é? Talvez este seja o homem errado.

O mensageiro levantou os ombros com incerteza. — Algum lugar para o norte, eu penso. Talvez Montana. Eu não posso dizer com certeza.

— Gracias. — Laredo bateu a mão na mesa, e saiu do Hotel.

Voltou para sua caminhonete e se dirigiu para fora do estacionamento. Aquela mudança inesperada dos acontecimentos significava que havia apenas um lugar onde poderia obter informações adicionais. A próxima parada seria na delegacia de polícia.

O sargento olhou com desinteresse quando Laredo entrou, mas com o olhar sempre pratico, percorreu-o numa avaliação do mesmo jeito.

— O que posso fazer por você? — A pergunta era como um desafio.

— Um homem com o nome de Chase Calder foi morto em um acidente de carro em algum momento na noite passada. A família ligou e perguntou se eu poderia vir e identificar o corpo, lhes poupando essa provação. Você poderia me levar até o necrotério? — Laredo contou com o fato de que ninguém tivesse se adiantado ainda.

— Será que eles sabem que você veio?

— Não.

— Qual era o nome do cara?

— Calder.

— Qual o seu nome?

— Richard Hanson. — Esse era o nome na sua carteira de motorista.

— Só um minuto. — O sargento chamou alguém ao telefone, repetiu a essência do pedido de Laredo, depois assentiu com a resposta que recebeu. — Certo, — ele disse, e desligou — o detetive Stabler virá aqui, senhor Hanson.

— Obrigado. — Laredo se afastou, arrefecendo os calcanhares na área de espera.

Cerca de cinco minutos depois o detetive Stabler fez sua aparição; um homem corpulento em mangas de camisa e gravata, caminhou até Laredo e estendeu a mão.

— Hanson, não é?

— Está certo. — Laredo brevemente lhe apertou as mãos. — Você deve ser o detetive Stabler.

O homem acenou com a cabeça em confirmação. — Você não teria qualquer relação com os Hanson da Hanson Oil, não é?

— Eu gostaria. — Laredo sorriu suavemente.

— Não é o que nós fazemos. — Ele concordou. — Mas pensei que deveria perguntar. Parece que o senhor Calder era um homem importante.

— Sim. — Laredo respondeu, e reiterou o seu pedido anterior para identificar o corpo em nome da família.

O detetive lhe deu um olhar de soslaio. — Você sabe que deve ser inútil.

— Por quê? — Laredo perguntou cauteloso.

— Eu acho que você não ouviu, mas parece que o tanque de combustível do carro se rompeu com o impacto e a coisa toda ficou em chamas. No momento em que as unidades de fogo chegaram ao local, não foram capazes de apagar o fogo, o corpo foi queimado além do reconhecimento.

— Então, como você foi capaz de determinar que fosse o senhor Calder?

O detetive começou a assinalar as razões, algumas das quais, Laredo já tinha imaginado.

— Primeiro, o carro era de aluguel. Quando verificamos os registros da agência, o recibo estava assinado por um senhor Benteen Calder, com carteira de motorista de Montana. Entre os objetos pessoais que foram recuperados estava uma carteira mal carbonizada, e a carteira de motorista ainda estava legível. Estava emitida para Chase Calder. A chave do hotel também foi encontrada, e fomos capazes de rastrear o hotel onde ele estava hospedado. — Ele parou apertando os olhos sobre Laredo com uma pitada de desconfiança. — Por que você acha que não seria o senhor Calder?

— Por nenhuma razão. Acho que foi apenas o choque de ouvir sobre o incêndio, passou-me a ideia por um minuto.

Satisfeito, pelo menos temporariamente, com a explicação, o detetive assentiu. — Eu entendo. Alguém da família deverá voar amanhã para reclamar o corpo. — Era uma daquelas observações exploratórias para ver o quanto Laredo sabia e o tanto que era próximo realmente daquela família.

— Isso é certo. Eles estão ansiosos para finalizar os requisitos para levar o corpo para casa em Montana. Eu não sei se eles planejam voar de volta em seu aeroplano ou não. — Acrescentou para reforçar a sua credibilidade aos olhos do detetive. — Obrigado pelo seu tempo, detetive. Desculpe-me se tomei tanto do seu tempo para nada.

— Não tem problema, senhor Hanson.

Um raio de luz do sol entrando através da janela anunciava a chegada da manhã. O homem chamado Duke sentou-se na beira da cama, aliviado ao descobrir que o quarto não girava, embora sua cabeça continuasse a latejar sem piedade. Vestiu o jeans pobre e a camisa e se aventurou para fora do quarto, seguindo o cheiro de café.

Ainda estava um pouco fraco, mas definitivamente mais forte e mais seguro do que estivera no dia anterior. Mas essa era a única melhoria. Sua memória estava tão branca como estivera até então.

Quando cruzou o limiar para a cozinha, Hattie Ludlow entrou pela porta dos fundos. O olhar dela fez uma rápida inspeção nele. — Eu não esperava você tão cedo. Está se sentindo melhor, não é?

— Um pouco. — Ele confirmou e olhou para fora da janela. Não havia nenhum sinal da picape. — Onde está Laredo? Eu não o ouvi voltar na noite passada.

— Era quase meia-noite quando ele chegou. Gritou para mim a poucos minutos e disse que estava indo para a cidade, mas voltaria logo. Sente-se que vou lhe dar uma xícara de café. — Ela apontou para uma das cadeiras na mesa da cozinha.

Sentou-se à mesa. — O que ele descobriu ontem? Qualquer coisa?

— Eu não sei. Só o escutei chegando a casa. Eu não me levantei. — O vapor subiu do copo colocado diante dele. — Você está com fome o suficiente para bacon e ovos?

— Estou.

— Como você gosta dos ovos? Mais fácil estrelados ou mexidos?

— Fácil, eu acho. — Respondeu irritado ao descobrir que nem sabia como gostava dos ovos.

O bacon em breve chiou em sua própria gordura, enchendo a cozinha com o seu cheiro característico. Como tantas coisas, o cheiro era familiar, mas não desencadeava nenhuma lembrança, apenas mais perguntas.

Ele viu quando Hattie quebrou dois ovos na tigela e habilmente colocou-os em uma frigideira quente. Com um par de pinças, levantou as tiras de bacon de outra frigideira de ferro e colocou-as sobre uma toalha de papel para escorrer. Ela verificou os ovos de novo, então olhou para trás e o viu observando-a.

— Eu não estou acostumada com as pessoas me observando tão de perto enquanto cozinho. — Hattie comentou com um toque de diversão. — Você está com tanta fome, ou nunca viu alguém preparando seu desjejum antes?

— Tudo o que você tem feito é familiar para mim. Eu devo ter visto uma mulher cozinhar antes, mas não sei quem ela era.

— Poderia ser sua mãe ou sua esposa. — Hattie pegou os ovos com uma espátula e colocou-os em um prato. Levou-o e o prato de bacon para a mesa, colocando-os na frente dele.

— O que faz você ter tanta certeza que eu sou casado? — Ele não se sentia casado. Laredo e o espelho apontavam que ele estava nos anos sessenta. Mas não era tão velho que não pudesse achar uma mulher como Hattie atraente.

— Eu não posso imaginar uma mulher deixando-o ir embora. — Ela o informou com um sorriso seco. — Embora duvide que qualquer mulher casada com você tivesse uma vida fácil.

— Por que você diz isso? — Ele perguntou, sem saber o que ela queria dizer com aquilo.

— Por um lado, você está muito acostumado a ser o único no comando, — Hattie respondeu. Hesitou, avaliando-o com um longo olhar — e suspeito que você mantenha seu próprio conselho. Se houver um problema, você não fala sobre isso até que tenha uma solução. As mulheres preferem ser uma parte desse processo de decisão, uma vez que irá afetar as suas vidas também. E pode ser muito irritante ser informada do problema e da solução após o fato.

— Eu suponho que seria. — Ele pegou uma fatia de pão.

— A título de curiosidade, Duke, — Hattie serviu-se de uma xícara de café e se sentou à mesa em frente a ele. — como você está pensando em descobrir quem você é?

— Eu tenho uma certeza. — Ele quebrou a gema de ovo com seu garfo e mergulhou o pão nela.

— Você deve ter algumas ideias. — Ela espalhou a geleia sobre um pedaço de torrada.

— Poucas. Vai depender do pouco que Laredo foi capaz de descobrir na noite passada. — Um instante depois, ele percebeu seu jogo e lhe enviou um olhar divertido. — Você está feliz que provou o seu ponto e se recusou a discutir o meu problema?

— Você foi mais lento para entender do que pensei que seria. Sua cabeça deve estar doendo.

— Não está tão ruim quanto ontem.

— Me desculpe, mas eu não tenho nada mais forte do que a aspirina para isso.

— Eu sobreviverei. — Ele deu outra mordida nos ovos e mastigou. — Que tipo de serviço você faz aqui?

— O que você quer dizer? — Hattie franziu a testa.

— Laredo disse que você tem um pequeno rancho. Trabalha com vaca e bezerro?

— Você sabe alguma coisa sobre uma operação com estrume e vaca? — Ela estudou atentamente os olhos escuros e brilhantes com interesse.

Ele pensou um minuto. — Eu acho que sei.

— Essas botas de vaqueiro não são apenas para mostrar, então. — Hattie observara antes de responder à sua pergunta original. — Na minha posição, eu realmente não posso correr o risco financeiro que se passa com a pecuária. Eu preciso de uma renda que seja um pouco mais de confiança. Fiz um acordo com um fazendeiro local para cuidar do seu gado no meu rancho. Ele me paga o aluguel para os custos da pastagem e do trabalho para cuidar de seu rebanho, bem como me reembolsa o dinheiro do feno e dos alimentos para os animais.

— Não é um arranjo incomum. Eu entendo completamente que alguns pequenos pecuaristas estão optando por ofertas como essa. É um pouco como meação nos velhos tempos. — Ele se ouviu dizendo. Não entendia como podia ter conhecimento de tais coisas se ainda não se lembrava de sua identidade pessoal.

— Ele mantém os lobos longe da porta. — Hattie respondeu.

— O tipo financeiro, de qualquer maneira. — Disse ele com um sorriso conhecedor.

— Por que, Duke, eu acredito que você está flertando comigo? — Hattie escarneceu, mas não mascarou o olhar satisfeito em seus olhos, um olhar que sugeria seu interesse por ele.

Um cachorro latiu lá fora, parecendo um alarme enquanto um veículo se aproximava. Levantando-se da cadeira, Hattie olhou para fora da janela. Os latidos se transformaram em ganidos excitados.

— Laredo está de volta. — Ela anunciou.

A nova tensão tomou conta dele, aumentando seus sentidos. Cada som de fora chegava bruscamente para ele; a trituração do cascalho pelos pneus, o borrifamento de um motor morrendo, a batida da porta da cabina, e a abordagem dos degraus pelos pés na porta traseira. Recusando-se a trair sua ânsia para ouvir os resultados da investigação de Laredo, não olhou para cima quando o cowboy entrou na cozinha.

— Você está melhor. Isso significa que eu não vou ter que acordá-lo. — Laredo chegou até a mesa, jogou um jornal em cima dela, puxou uma cadeira, girou ao redor, e se sentou.

— Você teve alguma sorte? — Ele empurrou o prato e se inclinou para trás na cadeira, pegando sua xícara de café.

— Eu poderia dizer isso. — Os olhos azuis firmes sustentaram seu olhar. — Localizei um carregador que se lembrou de você; disse que seu nome é Chase Calder e infelizmente, de acordo com o jornal da manhã, — Laredo deu um empurrão em direção a ele — você morreu em um acidente de carro na noite de anteontem.

Ele pegou o papel, mas o tipo era turvo. Ele estendeu o braço, tentando conseguir o foco.

— Precisa de uns óculos de leitura, não é? — Hattie adivinhou, levantando-se da cadeira. — Eu vou lhe emprestar um par dos meus. Eles podem ser uma força.

Perguntas zumbiam em sua cabeça, mas ele segurou seu silêncio até ler o artigo. Os óculos de Hattie funcionavam bem o suficiente para permitir que ele visse a impressão. O artigo era pequeno, entre duas a três polegadas de comprimento. Seu tamanho era principalmente devido à identidade da vítima naquele acidente especial de trânsito. Mesmo assim, havia poucos fatos para recolher a partir dele, mas apenas que o falecido era Chase Calder, proprietário do Rancho Triplo C., no leste de Montana.

— Chase Calder. — Ele falou o nome, mas não tinha mais significado do que se dissesse John Doe. Colocou o papel de lado e os óculos em cima dele. Hattie pegou ambos.

— Você não se lembra de nada sobre o homem que o roubou? — Laredo o estudou pensativo.

— Não. Eu só me lembro de você me dizendo que viu um homem me segurando. Minha memória começa com a batida de uma porta de carro, tiros, e um veículo descascando para fora.

— Esse foi o homem do assalto, fugindo o mais rápido que pôde, — Laredo afirmou — levando com ele a sua carteira com sua identificação e dirigindo o carro que você alugou e ainda conseguindo pegar a chave para o seu quarto de hotel.

— Também é possível que a vítima fosse Chase Calder.

— É. É possível, — admitiu Laredo — mas não acredito que o artigo no jornal omitisse um detalhe importante. Segundo o acidente, o carro explodiu em chamas e o corpo foi queimado além do reconhecimento. Pensando que não tive chance de observar o seu ladrão, o melhor da minha lembrança é que ele era quase da sua altura e compleição. Poderia até mesmo ter sua idade. Nunca saberemos, a menos que a família peça uma autópsia. Neste ponto, as autoridades definitivamente não encomendaram uma. Por que se eles estão convencidos que sabem a identidade do homem e a causa da sua morte?

— Mas há alguém que conhece o homem morto e sabe que não é o Chase Calder. — Ele murmurou, pensando em voz alta.

— É isso mesmo, — disse Laredo com um aceno decisivo — o homem que tentou matá-lo. É possível, mas não provável que ele possa não saber que o ladrão saiu em seu carro de aluguel.

— Ele não vai saber com certeza a menos que eu o veja pela frente, supondo que eu realmente seja Chase Calder.

— Os arquivos de jornais podem ter uma foto do Chase Calder. — Laredo lhe disse. — Essa é uma maneira de você descobrir. Naturalmente, não há outra maneira.

— O que é isso?

— Alguém de sua família está voando nesta manhã para providenciar que o corpo seja enviado para casa para o enterro. Eu tenho o nome do necrotério que eles usarão no final em Fort Worth. Tudo o que tem a fazer é se mostrar lá e esperar para ver se você é reconhecido.

— Eu poderia, mas isso só iria responder se ele era ou não Chase Calder. Não resolveria nada, se a sua situação pudesse ser pior, o assassino poderia saber que ele estava vivo, mas não queria saber quem era aquele homem.

— Você poderia, mas não vai. — Laredo adivinhou.

— Não, eu não penso assim.

Hattie olhou por cima do artigo, os óculos de leitura empoleirados na ponta do nariz. — Por que não? Pense o que sua família está passando agora. — Ela protestou.

Ele experimentou uma pontada de culpa, mas não mudou sua decisão. — Eu lamento isso, mas...

— Você vai se arrepender! Essa é a coisa mais cruel que eu já ouvi. — Ela o olhou com desaprovação.

— Talvez pareça, mas acho que é a melhor agora. — Ele respondeu calmamente.

Hattie olhou para ele séria e longamente, seus lábios pressionados firmemente juntos. — E quanto tempo você acha que seja melhor, que são só perguntas, não é?

— Este não é o momento de vir para frente. — Foi uma decisão por instinto. Agora seus instintos eram a única coisa nas quais podia confiar.

— Pode levar meses para a sua memória retornar. — Hattie advertiu.

— E, enquanto isso, — Laredo falou, — há um homem lá fora que quer vê-lo morto. Por tudo que ele sabe, poderia ser um membro de sua própria família.

Essa possibilidade claramente não ocorreu para Hattie, e ela mostrou na dúvida repentina que brilhou em sua expressão.

— Ainda assim, — ela começou — você deve estar curioso sobre a sua família. Não quer saber se você tem uma esposa? Crianças?

— Claro que eu quero. — A impaciência crivava em sua voz, mas nascia de sua incapacidade de recordar de si mesmo.

— Eu posso descobrir as respostas a essas perguntas. — Laredo se empurrou para fora da cadeira e se levantou. — Esperamos que, sem levantar muita suspeita.

A gratidão tingiu o olhar que deu a Laredo. Tinha plena consciência do quanto já devia a aquele homem. Mas, além disso, havia uma conexão entre eles que não poderia explicar completamente. Talvez fosse o sentimento de respeito mútuo.

A ironia não passou despercebida para ele. Era um homem sem memória, em busca de sua identidade. Laredo, por outro lado, tentava esconder sua identidade sob um nome falso.

— Eu não sei onde você está pensando ir, — disse Hattie, — mas não vai deixar esta casa até que tenha o café da manhã.

— Eu perguntei quanto tempo levaria até que você me oferecesse aquele bacon e os ovos que serviu a ele. — Laredo caminhou até o balcão e se serviu de um pouco de café.

Ao meio dia a temperatura havia subido para bem mais de quarenta graus, e se fazia sentir ainda mais quente do que nas ruas e calçadas de concreto de Fort Worth, sinalizando o maior de outro escaldante verão do Texas.

Dentro do saguão do hotel, o ar estava frio. Confortavelmente acomodado em uma cadeira de couro na entrada do hotel, Laredo fingiu ler o jornal que ele segurava aberto, mantendo um olho na porta da frente. Estava jogando as chances de que os membros da família que chegassem ficassem no mesmo hotel onde Calder tinha estado. Uma viagem de manhã cedo nos arquivos dos jornais tinha mostrado uma foto de Chase Calder. Não havia mais dúvida de que era mesmo ele.

Quando o saguão foi ocupado com pessoas indo e vindo e se reunindo, ninguém prestou atenção na sua presença, apesar de Laredo estar lá há uma hora. Descobriu que tinha mais uma hora antes que alguém da segurança do hotel viesse "conversar" com ele.

Um homem e uma mulher entraram pela porta da frente, seguidos por um porteiro com a sua bagagem. O homem era alto e magro, com cabelos pretos parcialmente cobertos por um Stetson preto. Seu olhar fez uma varredura completa do saguão, observando as pessoas e os detalhes com o estado de alerta vigilante. Laredo geralmente observava aquilo na aplicação da lei.

Laredo levantou o jornal um pouco mais alto e voltou sua atenção para a mulher pequena ao lado do homem. Ela tinha um rosto e uma figura que qualquer homem iria notar.

Laredo teve um anseio estranho de ver seu sorriso, mas seu rosto era inexpressivo, quase pedregoso e sem vida. No começo, ele se perguntou se os dois estariam brigados, mas em seguida, outra possibilidade lhe ocorreu.

Depois de dobrar o jornal, Laredo se levantou e se aproximou do balcão de registo para observar secretamente o par. A mulher ficou de lado, olhando sem ver para o chão, enquanto o homem arranjava um quarto do hotel. Ela olhou para cima uma vez, em linha reta na direção de Laredo, no entanto, ela não pareceu estar olhando para nada. Seus olhos eram verdes, e cheios da maior dor que ele já tinha visto nos olhos de uma mulher.

Com a atenção sobre o casal, Laredo não percebeu a mulher que entrou no hotel. Sua primeira consciência dela foi quando ela deslizou para sua visão.

— Cat, querida, eu sinto muito. — Ela estendeu a mão para a morena pequena para lhe apertar as mãos. — Acabei de ouvir sobre Chase. Como deve ser horrível para você.

Chase. Laredo escondeu um sorriso ao ouvir o nome. Seus instintos sobre o casal tinham razão; eles eram parte da família Calder.

— Tara. — A surpresa registrada brevemente no rosto da mulher diante de sua expressão entorpecida novamente. — Como você sabia que estaria aqui?

— Depois que Brown Smith me ligou com a notícia, telefonei para o rancho. — A mulher chamada Tara explicou. — Sally disse-me que você e Logan tinham saído esta manhã e tinham o objetivo de ficar aqui. Assim que soube que você não tinha se registrado ainda, vim direto para cá. É tolice você passar a noite em um hotel quando eu tenho uma grande e antiga casa com todos aqueles quartos vazios. Deixe-me levá-los para lá. Vocês não devem ficar em um frio e impessoal hotel, não em um momento como este.

— Eu... — A mulher Calder não parecia muito emocionada com o convite.

— Eu insisto Cat. — A outra mulher usou seu tom mais persuasivo. — Ninguém sabe melhor do que eu a agonia que você está sentindo agora. Não foi há muito tempo que eu perdi o meu pai. Acredite em mim, eu sei como você está sofrendo profundamente.

Aquela mulher disse que Cat era a filha, percebeu Laredo, e fez um estudo mais profundo para que pudesse descrevê-la mais tarde para Duke. Corrigindo, Chase Calder.

Quando o homem se juntou às duas mulheres, a filha se virou para ele. — Tara está nos convidando para ficar em sua casa.

— Tarde demais. Nós já estamos registrados, e nossa bagagem está subindo. Mas nós agradecemos o convite, Tara. — Sua recusa foi calorosamente educada, mas firme.

A mulher Tara recebeu aquilo melhor do que Laredo esperava. Fez uma pequena careta de pesar e olhou para Cat com empatia genuína. — Por mais que eu quisesse argumentar contra sua decisão, não o farei. Esta não é a hora para a família brigar.

Assim, Tara tinha algum tipo de relação com Calder e Laredo arquivou esse pedaço de informação.

— Bem, — Cat afirmou — porque eu simplesmente não tenho forças para discutir.

As lágrimas brotaram em seus olhos verdes, e seu lábio inferior tremeu com o esforço para manter suas emoções sob controle, mas conseguiu deixar o queixo erguido. Talvez ela não se parecesse com seu pai, mas tinha herdado claramente alguns de seus modos.

Para surpresa de Laredo, uma lágrima delicada deslizou pela bochecha de Tara. Graciosamente ela a limpou, mostrando-lhe num movimento as suas unhas bem cuidadas discretamente.

Sorrindo em uma demonstração forçada de compostura, Tara perguntou: — Você já foi para a funerária?

— Não, — respondeu o homem — viemos direto do aeroporto para o hotel.

— Nesse caso, eu tenho o meu carro aqui. Deixe-me levá-los. — Quando viu a hesitação conjunta, se apressou, — Por favor. Eu gostaria de ajudar de alguma forma. Você e Ty estiveram aqui quando meu pai morreu. Deixe-me devolver o favor e a bondade que você me mostrou.

— É claro. — A mulher chamada Cat parecia lamentar sua hesitação inicial em aceitar a oferta. — Vai ser muito mais simpático do que depender de táxis.

— Eu vou pedir ao manobrista para trazer o meu carro.

O homem parou. — Ainda não, — disse — primeiro Cat e eu precisamos ir para nossos quartos e nos refrescarmos um pouco. Foi um longo voo. Vamos nos encontrar aqui em baixo, digamos, em quarenta e cinco minutos a uma hora.

— Claro. Eu espero por vocês no bar. — Tara respondeu, então hesitou e com um olhar de tristeza pairando sobre sua expressão. — Oh, Cat. Eu simplesmente não posso acreditar que Chase esteja desaparecido.

Resumidamente as duas mulheres se abraçaram em um momento de dor e perda compartilhadas. As umidades das lágrimas brilhavam em suas bochechas. Com o braço circulando-a, o homem levou Cat para o elevador. Tara os observou por um momento, então se virou em uma curva graciosa e se dirigiu para o bar do hotel.

Depois de deixar passar alguns segundos, Laredo continuou sua observação. Tara se sentou em um banquinho alto no bar, conseguindo projetar certa aura de elegância inata. Àquela hora havia poucos clientes e Laredo sentou-se em um banco distante, mas perto do bar.

Em voz baixa se destinando apenas a audição do barman, Laredo disse: — Eu vou pagar a bebida da senhora e vou tomar uma cerveja. — Retirou uma nota de vinte dólares da carteira e a colocou sobre o balcão.

O barman olhou para o dinheiro e assentiu. Quando o homem pôs um copo de vinho branco gelado na frente de Tara, ela disse: — Quanto lhe devo?

— O cavalheiro já pagou por ele, senhora. — Acenou com a cabeça na direção de Laredo.

Ela endureceu, lhe lançando um olhar fresco de suspeita. Laredo levantou o copo de cerveja em uma saudação. — As minhas simpatias, senhora.

Sua observação dissolveu sua frieza em um instante, deixando-a confusa e incerta. — Sinto muito, eu o conheço?

— Não, senhora, mas aconteceu de eu vê-la no saguão um minuto atrás com alguns membros da família Calder.

— Você conhece os Calder? — Perguntou com o início da curiosidade.

— Só Chase Calder. — Laredo respondeu com sinceridade. — A notícia de sua morte foi um choque real.

— Para todos. — Tara concordou e suspirou profundamente.

— Você é relacionada com eles? — Ele injetou uma nota ociosa na pergunta.

— Eu fui casada com seu filho. — Tara levantou a taça de vinho e tomou um gole delicado.

Ele observou o uso do verbo no passado e imaginou que em algum momento eles obtiveram um divórcio. — Para dizer a verdade, eu pensava que o filho seria aquele que viria para reclamar o corpo.

— Você não sabe? — A angústia aprofundou a escuridão aveludada dos olhos. — Ty foi morto há quase dois anos.

— Mataram-no? — Não fez nenhuma tentativa de mascarar sua surpresa. — Como foi?

— Ele foi assassinado. — Sua voz tremeu com uma raiva rigidamente controlada e tingida com os pensamentos.

Ele pensou imediatamente no atentado à vida de Chase. — E não pegaram o assassino?

— Sim.

Sua resposta cortada, e com uma palavra só serviu para alimentar suas suspeitas. — O motivo foi estabelecido no julgamento do assassino?

— Não houve julgamento. Ballard foi morto por Buck quando ele tentava esfaquear Chase.

— Quem é Buck? — Laredo estava determinado a reunir o máximo de informações possíveis para ajudar Chase a preencher algumas das lacunas e, eventualmente, provocar o retorno de sua memória. E se isso não funcionasse, ele iria conhecer pelo menos alguns dos jogadores em sua vida.

— Buck Haskell. Ele trabalha para mim.

Laredo arqueou as sobrancelhas em confusão.

— Você não mora aqui em Fort Worth?

— Sim, mas eu também tenho uma casa de verão no Triplo C. Buck cuida dele quando não estou lá. — Ela percebeu a incongruência de sua declaração. — Eu sei que deve parecer estranho eu manter uma casa lá depois do nosso divórcio, mas ainda considero os Calder como minha família. Cat é como uma irmã para mim. E há os gêmeos. Eles são tão preciosos para mim como se fossem meus.

— Os gêmeos, — repetiu ele — com certeza estes são mais crianças do Chase.

— Sim. Eles são de Ty pelo seu segundo casamento. Um garoto e uma menina bonita.

— Netos do Chase. — Laredo balançou a cabeça como se estivesse se recordando apenas naquele momento. — Quais são os seus nomes mesmo?

— A menina é Laura e o menino é Trey. Na verdade, o nome dele é Chase Benteen Calder, depois de seu avô. Mas Chase se refere a ele como o seu pequeno Trey quase desde o momento em que ele chegou da maternidade. — Ela rodou o vinho em seu copo. — Foi muito bom ele fazer isso. Ficaria confuso ter duas pessoas chamadas de Chase na casa, especialmente para a criança.

— É, certamente seria. — Ele se aproveitou de sua vontade de falar sobre a família, reconhecendo que as pessoas sempre se sentiam mais à vontade com um estranho. — Eu não quero parecer intrometido, mas não posso ajudar perguntando por que você parece tão certa que este homem Ballard matou o filho do Chase quando ele nunca foi a julgamento. Eu sei que é lógico pensar assim, mas uma vez que ele fez uma tentativa contra a vida de Chase... — Ele deixou a frase pendurar com um ponto de interrogação.

— Porque Ballard admitiu para a Jessy antes de morrer. — Algo em sua expressão lhe disse que a morte de Ty era um assunto que ela achava particularmente doloroso. Ela ainda estava apaixonada pelo homem, ou havia outra razão para isso?

— Quem é Jessy? — Ele perguntou, mudando o foco.

— A segunda mulher de Ty. — Sua voz tinha uma vantagem para ele. Claramente Jessy não era popular com ela, mas algumas ex-esposas agiam assim com as mulheres que as suplantavam no afeto de seu marido.

— Eu acho que o Rancho Calder vai passar para as mãos da filha. — Comentou Laredo, buscando informações sem perguntar.

— Pelo que entendi, Jessy vai estar no comando. — A aversão em sua voz engrossou.

— Sério? — Ele arqueou as sobrancelhas com a nitidez suspeita. — E de quem foi à ideia?

— Na verdade, era o que Chase queria. — Ela tomou um grande gole de vinho como para lavar o gosto ruim.

— Realmente. — Laredo murmurou, com menos ceticismo. — Eu acho que ele saberia se ela estava qualificada ou não para dirigi-lo.

— Oh, ela tem as qualificações. — Tara concordou com um tom de sarcasmo. — Ela nasceu e foi criada na fazenda, assim como seu pai e o avô antes deles.

— Parece um clã. — Seu comentário evocou apenas o silêncio dela, que serviu como uma espécie de confirmação. Laredo pensou que boas-vindas Tara recebera chegando lá como uma nova noiva. E ele também pensou o que àquela elegante mulher teria sofrido nas mãos do pessoal do rancho. Sem dúvida, ela estava mais em casa, na sociedade de Fort Worth do que num cenário de rancho. — Quando será o funeral? Eles disseram?

— Está provisoriamente previsto para terça-feira. — Ela passou a olhar por cima do seu rosto, curioso e medindo-a. — Você planeja participar?

— Eu estava pensando sobre isso. Onde fica o aeroporto mais próximo?

— Comercialmente? Isso seria a cidade de Miles.

— Você costuma voar para lá?

— Não. Minha empresa tem uma pista de pouso no Blue Moon. Eu uso quando vou lá. — Tara explicou. — É muito mais perto do rancho. Eu imagino que a maioria das pessoas faça uso da pista de pouso no Triplo C.

— Eu esqueci. A fazenda tem sua própria pista de pouso, não é? — Ele adivinhou.

— Sim. — Ela segurava o copo de vinho, distraidamente por seu caule e passou um olhar despreocupado sobre suas botas, jeans e chapéu. — Em que negócio você está? Gado ou óleo?

— Em Fort Worth, geralmente é um ou o outro, não é? — Ele sorriu, desviando a questão. — Não foi Amon Carter, quem disse: “Fort Worth é onde começa o Ocidente. Dallas é o lugar onde o Oriente segue afora. ”

— Algo assim. — Tara concordou com clara falta de interesse. — Então, qual é? Gado?

— Sim. — Ele mentiu. — Eu conheci Chase há vários anos em uma reunião da Associação de Criadores de Gado. — Tomou um gole rápido de cerveja e levantou-se do banco. — É melhor eu ir ou vou me atrasar para a minha nomeação. Foi bom falar com você. Fale da minha simpatia para a família. Talvez eu a veja novamente no funeral.

Ele deixou o bar do hotel antes que ela pudesse perguntar seu nome, um plano de ação começando a tomar forma em sua mente.

As longas lâminas do moinho de vento rodavam e rodavam, empurradas por uma forte brisa do sul. Cada rotação era pontuada por um guincho de moagem, um sinal claro de que precisava de lubrificação.

Muito inquieto para permanecer na casa e fraco demais para se aventurar muito longe, Chase se sentou em uma velha cadeira de balanço de madeira de espaldar alto na varanda da frente. A brisa constante mantinha o calor da tarde sem se tornar demasiado insuportável e trazia os cheiros familiares da terra para ele. Seu olhar vagou sobre a paisagem do Texas com suas altas montanhas, cobertas de rolamentos com grama queimadas pelo sol. As árvores eram poucas, confinadas principalmente perto dos cursos de água.

Tranquilo, ele estudava o gado se alimentando nos pastos cercados; na maior parte eles eram mestiços, uma mistura de Brangus e preto Baldies. Nenhum estava marcado Com o C., apenas com uma marca nas orelhas. A observação o levou a olhar de novo para o velho ferro de marcar o gado, pendurado em um poste da varanda como decoração de sorte.

Num impulso, ele saiu da cadeira de balanço e decidiu tomar conta daquilo, levantou o ferro de marcar fora de seu gancho, e virou-o de cabeça para baixo. C era a marca. Ele teve a estranha sensação de que deveria significar algo para ele, embora não soubesse por que uma marca do Texas deveria ser familiar para ele, não quando ele supostamente seria de Montana.

Ele decidiu que era a letra C. Talvez ele realmente fosse Chase Calder, mesmo que o nome soasse tão estranho para ele como Duke. Suspirou frustrado pelo vazio de sua mente.

À sua esquerda, Hattie deu uma cotovelada na tela aberta e caminhou para a varanda carregando dois copos altos. — Eu pensei que você pudesse querer um copo de limonada.

— Parece bom. — Ele enganchou o ferro de marcar de volta sobre o seu prego. — Onde você encontrou o ferro velho?

— Em uma vertente velha, quero dizer, do velho que costumava se sentar onde é o celeiro. — Hattie parou ao lado do poste e olhou para o ferro em brasa de uma lembrança. — Quando estávamos transportando o material para fora antes de jogá-lo para baixo, peguei uma pilha de velhos sacos de alimentação que pensava poder usar para alguma coisa, e o ferro de marcar estava imprensado entre eles. — Virando-se, ela lhe deu um sorriso irônico. — Eu acabei jogando os sacos de alimentação fora e mantive o ferro.

— Tem sido bem utilizado.

— Sim. Se ele pudesse falar, aposto que teria um monte de histórias para contar sobre os velhos tempos.

Ele sabia que deveria ter histórias próprias para contar, mas não conseguia se lembrar delas. Tomou um longo gole da limonada acidamente doce, seu olhar correndo para a pista de terra, aparentemente por sua própria vontade.

Abaixando o copo, ele ponderou em voz alta: — Eu me pergunto quando Laredo estará de volta.

— Você sabe o que dizem sobre uma panela vigiada. — Hattie olhou para ele com um olhar compreensivo.

— Ponto tomado. — Ele se aliviou para trás na cadeira de balanço, consciente do fraco tremor em seus músculos das pernas.

— Ainda está fraco, não é? — Hattie observou.

— Um pouco. — Contrariado para admiti-lo, mas não havia como esconder daquela mulher.

— O seu corpo vai levar algum tempo para construir novamente o fornecimento de sangue aos músculos. Provavelmente deveria ter feito uma transfusão. Assim que você terminar a sua limonada, vou refazer o curativo e ver como está o ferimento.

— Talvez desta vez você possa enfaixar com algo menor do que esse turbante. —Levantou a mão para as tiras de gaze que circulavam parte de sua cabeça.

— Provavelmente poderia raspar a cabeça, mas eu acho que você não ficaria bem careca. — Hattie respondeu com um brilho malicioso nos olhos escuros.

Entortou a boca em um sorriso de resposta. — Vou manter meus cabelos, muito obrigado.

— Eu pensei que você deveria gostar deles.

No topo dos degraus da varanda, o cão amarelo levantou a cabeça para olhar para baixo da pista, as orelhas atentas em algum som distante. Um rosnado começou no fundo de sua garganta, em seguida, lhe escapou um gemido ansioso enquanto sua cauda abanando batia no assoalho de madeira.

— Laredo deve estar chegando. — Hattie adivinhou, com seu próprio olhar se deslocando para a pista da fazenda.

Quando a picape apareceu à vista, o cão saltou da varanda e correu para encontrá-lo, latindo em boas-vindas. Correu ao lado dele até ele parar perto da casa, então dançou com impaciência pela porta do motorista à espera de Laredo sair. Laredo o obsequiou amarrotando suas orelhas e caminhou no concreto rachado até a varanda da frente.

— O que foi que você descobriu? — Chase perguntou quando Laredo subiu os degraus.

— Eu sei que o seu funeral está marcado para terça-feira. — Juntando-se a eles na varanda, Laredo enganchou um quadril no corrimão, seu corpo inclinado em direção de Chase, e jogou o chapéu para a parte de trás de sua cabeça.

Sua boca se curvou brevemente no humor irônico da observação de Laredo. — Suponho que tenho de voltar a Montana.

Laredo assentiu. — Os serviços serão realizados no seu rancho. A cidade mais próxima é um lugar chamado Blue Moon. Isso parece um sinal?

— Não. O que mais você descobriu?

— Eu vi sua filha. Felizmente ela não se parece nada com você. Ela é magra e pequena, com cabelos pretos e olhos verdes, e deve ter seus vinte e poucos anos, talvez no início dos trinta. Chamam-lhe Cat. — Mas não houve nada na expressão do Chase que sugerisse a Laredo que ele se lembrasse de algo. Ele passou a descrever o genro e a ex-nora Tara; em seguida, explicou sobre a morte do filho Ty, a esposa e os gêmeos que ele deixou para trás, e o pressuposto de que a viúva de Ty iria assumir a direção da fazenda. Quando terminou, fez uma pausa, deu-lhe uma batida nos ombros. — Isso é sobre ele, eu acho.

— Você não mencionou a mulher de Calder. — Ainda achava difícil pensar nele próprio como Chase Calder.

— Ninguém a mencionou também, e eu não consegui pensar em uma forma de perguntar sobre ela quando afirmava conhecer você. Mas eu acho que é seguro dizer que ela provavelmente morreu há alguns anos. Mas se a sua filha se parece com ela, deve ter sido uma beleza.

Os nomes giraram em sua cabeça Ty, Cat, Jessy, Trey, Laura, Tara, todos eles sem sentido. Lançou um olhar desafiante em Laredo. — Você ainda acha que eu sou esse Chase Calder?

— Eu não ouvi nada para me fazer mudar de ideia. — Respondeu calmamente.

— Você mencionou que meu filho foi morto. Você acha que há alguma conexão entre sua morte e a tentativa contra a minha vida?

— Não parece ter, — Laredo respondeu — mas você é o único que pode falar com certeza sobre isso.

— E eu não me lembro. — A frustração dele era irritante.

— Eu acho que você teve todas as respostas que poderia a partir daqui. — Laredo declarou. Se você quer descobrir mais, precisa voltar para Montana.

— Eu concordo. — Ele também sabia que seria a única maneira de descobrir se ele era realmente Chase Calder. Mas como iria chegar lá, sem dinheiro, quando estava falido?

— Tem alta quilometragem até lá, mas eu acho que vai ter que ir para Montana. — Laredo olhou-o com interesse tranquilo.

— Você não está sugerindo que Duke tente dirigir até lá em suas condições, não é? — Hattie olhou para ele horrorizada.

— Não. — Laredo não piscou um olho. — Na verdade, eu estava pensando que poderia levá-lo ao longo das linhas até lá. Quais são as chances de você conseguir alguém para fazer suas tarefas para você, Hattie? Eu me sentiria muito melhor se você viesse junto com a gente. Eu sei que Duke está melhorando, mas... — Deixou a frase sem terminar.

Sua proposta a pegou de surpresa, mas nada derrubava Hattie por muito tempo. Seu olhar escuro fez uma apreciação crítica de seu paciente.

— Essa ferida terá de ser vigiada de perto contra a infecção por esses próximos dias. — Hattie murmurou mais para si mesma. Com o assunto resolvido em sua mente, ela fez um giro abrupto e caminhou até a porta. — Vou ligar para McFarland. Eu fiz suas tarefas enquanto ele e Joy Ann foram para o casamento de seu filho em Phoenix. Ele me deve isso.

Por um longo momento Chase simplesmente olhou para Laredo. Finalmente, disse: — Você não tem que fazer isso.

— Eu sei. — Um lento sorriso se espalhou pela sua boca enquanto seus olhos azuis permaneceram sérios. — Mas é a única forma de descobrir como a história termina.

— Eu não posso lhe pagar ainda. — Chase disse, pensando no dinheiro que logo seria necessário para pagar por gasolina, refeições e alojamentos.

— Eu tenho a sensação que você é bom para isso. — Laredo se endireitou longe do corrimão, ficando ereto. — Nós também podemos começar a jogar algumas coisas em uma mala de viagem. O caminho para Montana é longo. Quanto mais cedo sairmos, mais cedo nós vamos chegar lá.

Segunda Parte

Com a mudança do vento, ela esconde o rosto,

Mas ninguém pode tirar o lugar de uma Calder.

Capítulo Quatro

A brisa da manhã balançava a bandeira negra que cobria a frente da Casa Grande. O movimento do tecido criava um som que era como um gemido suspirando e combinava com a mortalha que pairava sobre todo o Rancho Triplo C.

Jessy sentiu o peso dela enquanto subia os degraus da varanda. Seu olhar tocou na grinalda preta pendurada na porta da frente, sinalizando uma casa em luto. Parou no topo da escada e se virou para correr seu olhar sobre a sede do Triplo C. se alastrando pela terra.

Em todos os lugares havia uma agitação das atividades quando os rancheiros realizavam suas tarefas matinais, mas as braçadeiras negras que usavam tiravam qualquer aparência de normalidade. O choque e a tristeza eram profundos, tão profundos como o vazio que reinava.

Nem um único deles tinha questionado o seu direito de assumir o controle do Rancho. Eles reconheciam quem estava no comando agora e a aceitavam. Mas as coisas não eram as mesmas. E nada seria a mesma até que as rédeas fossem mais uma vez para as mãos de alguém que fosse um Calder pelo sangue. Mesmo Jessy sentia isso. A responsabilidade de manter o rancho em conjunto lhe tinha sido confiada para que pudesse passá-la intacta para seu filho.

Trey já tinha começado o trabalho sutil de aliciamento. Uma dúzia de vezes nos últimos três dias Jessy havia notado a atenção especial dos mais velhos ensinando Trey, não de uma forma que fosse estragá-lo, mas treinando-o nos caminhos de um Calder e nos códigos que seriam esperados dele. Jessy sentiu um misto de orgulho e gratidão para com aqueles homens, e os sentimentos a impulsionando, apesar do dia longo e difícil que tinha pela frente, para todos eles.

Ela voltou seu olhar para o cemitério privado localizado a uma curta distância da curva do rio. Um dossel azul tinha sido erigido sobre o túmulo aberto, que logo se tornaria o lugar de descanso final de Chase Benteen Calder.

Atualmente, o caixão fechado que continha os seus restos mortais estava na sala onde um espaço tinha sido arrumado para ele. A partir do momento em que fora colocado no lugar, alguém permanecia sentado com ele dia e noite. Os peões tinham iniciado a vigília, em parte Jessy suspeitava que fosse um modo de fazer sua morte parecer mais real, algo que o caixão fechado tinha tornado difícil para muitos.

O ruído de um trinco a alertou para a abertura da porta da frente. Virando-se, ela viu Monte Markham quando saia da casa com Trey para um passeio de pijama em seus ombros.

— Cuidado com a cabeça, agora. — Ele avisou Trey em seu distinto sotaque britânico, então notou Jessy em pé no topo da escadaria. — Ah, não é a sua mãe? Isso é uma sorte? Nós a encontramos de frente.

— Bom Dia. — O olhar de Jessy tocou nas características esteticamente belas do inglês antes de se deslocar para a carranca escura de seu filho. Ele perturbava o caminho de Trey que se transformara de um malandro selvagem em um menino sombrio, quase com raiva, por saber da morte de seu avô. — Olhando para mim, não é? — Ela estendeu a mão e o levantou dos ombros de Monte. Como sempre, Trey lembrava um potro espigado, só braços e pernas. — Qual é o problema?

Trey fechou a boca em um silêncio amotinado e fixou seu olhar sobre a costura do ombro de sua camisa de cambraia.

Monte calmamente forneceu a resposta. — Ele está um pouco relutante em participar do funeral.

A explicação lhe valeu um olhar de Trey. — Meu avô não está morto.

Jessy já havia discutido o assunto com Trey longamente. Ela não queria recomeçar com ele. — Se você preferir, não tem que ir. — Jessy respondeu com calma, bem consciente de que sua ausência seria uma decepção para os trabalhadores do rancho, que queriam um Calder feito de material mais duro. — Tenho certeza que Quint vai entender.

Seu olhar escuro ficou fixo nela. — Quint está vindo?

— Sim. — Jessy foi cuidadosa para não dizer mais do que isso. Trey podia não ter quatro anos ainda, mas era inteligente e rápido para reconhecer quando estava sendo manipulado.

— Talvez eu vá. — Ele disse com cautela.

— Isso é com você. — Ela mostrou não dar muita importância. — Mas agora eu acho que você deveria ir lá para cima e colocar algumas roupas. — Colocando-o no chão, Jessy apontou a porta da frente e lhe deu um golpe leve no traseiro. — Ande.

Ele correu para a porta, com os pés descalços batendo no assoalho de madeira da varanda. Agarrou-a com o punho e deu um poderoso puxão à porta pesada, abrindo-a, e desaparecendo no interior. Quando a porta se fechou atrás dele, Jessy voltou sua atenção para Monte.

Seu olhar era suave e compadecido. — A morte é sempre difícil para uma criança pequena aceitar.

Ela assentiu com a cabeça. — O caixão fechado apenas torna tudo mais difícil.

— Sim. Ele elimina um desses ritos finais que nos fornecem um senso de encerramento. — Monte concordou pensativo.

— Os funerais foram sempre para a vida. — Quase automaticamente pensou no de Ty e do vazio que sua morte havia criado em sua vida. Mas ela se tornou adepta de mudar o foco de seus pensamentos. — Quando saí de casa esta manhã, notei seu Range Rover. Percebi então que você devia ter se oferecido para assumir o turno do amanhecer sentado em vigília. Isso foi muito gentil da sua parte, Monte.

— Acredite em mim, eu gostaria que houvesse mais que eu pudesse fazer, — disse ele com a máxima sinceridade — mas seria inútil sugerir para você me ligar se precisasse de ajuda com alguma coisa. Estou certo que inúmeros outros com muito mais conhecimento e experiência do que eu, já teriam oferecido seus serviços. Sinceramente, nunca conheci uma mulher que parecesse mais capaz de executar uma operação desta magnitude do que você. Muito provavelmente eu é que estaria vindo para o conselho. — Seu sorriso era quente com uma diversão triste.

Ela alargou a curva de sua boca em resposta. — A qualquer hora, Monte. Você sabe disso.

— Obrigado. — Ele inclinou a cabeça — E espero que, se você quiser alguma companhia pouco exigente para o jantar ou uma noite de conversa fiada, vai se sentir livre para me ligar.

— Eu vou fazer isso. — Jessy assegurou.

— Você diz isso facilmente, mas espero que diga mesmo. — Apesar do ligeiro brilho nos olhos, ele a estudou pensativo. — Este não é o momento adequado para falar de tais coisas, mas com a imprensa e pessoas que estarão presentes ao funeral hoje, eu duvido que tenha outra chance de falar em particular com você. Este novo papel que assumiu traz consigo responsabilidades e obrigações consideráveis, dos quais estou certo que você está ciente. Talvez também saiba que vai colocá-la além daqueles que a rodeiam. Haverá ocasiões em que você vai querer ser uma mortal comum. Eu sei que é um desejo que meu irmão, o conde de Stanfield, expressou para mim mais de uma vez. Nesses momentos, eu peço que você se lembre da minha oferta. Não, — concluiu ele, seu sorriso assumindo uma qualidade cativante — eu fiz meu pequeno discurso e sem dúvida está terrivelmente furado.

Ela riu baixo em sua garganta. — Você não é chato, Monte.

— Estou aliviado ao ouvir isso. Desde que cheguei aqui, ouvi mais de uma observação local que eu pareço abafado e pomposo. Suspeito que seja este meu sotaque que dá essa impressão.

— Você fala claramente e nem te conheço muito bem. — Jessy respondeu.

— Estou feliz por você se sentir assim. — Disse ele, depois parou. — Eu não sei bem por que, mas a partir do primeiro momento, eu sempre me senti confortável com você. Se eu dissesse uma coisa dessas para a maioria das mulheres, elas se sentiriam insultadas, mas acho que você sabe que quero dizer um elogio com isso.

— Eu sei. — Pensando nos últimos três anos, Jessy percebeu que Monte tinha passado um tempo considerável na Casa Grande, uma presença calma em algum lugar no fundo, nunca forçando nada; sem estar no caminho atrapalhando, dando uma mão sempre para algo útil como responder aos telefonemas ou receber algum telegrama. Mesmo na noite, quando Logan trouxe a notícia da morte de Chase, Monte estava lá, mas não se intrometeu. Naqueles primeiros momentos depois, ela se lembrou do toque da mão em seu braço, a sensação de uma força estabilizadora. E o olhar em seus olhos tinha sido um dos reconhecimentos para a mudança no estatuto que a morte de Chase significava para ela. Na época, ela tinha dado pouca atenção. — Acho fácil lidar com você, Monte. — Jessy admitiu livremente.

— Obrigado. — Ele secamente arqueou as sobrancelhas deixando os olhos mais cintilantes, parecendo membros de alguma sociedade de admiração mútua. — Por isso é tão difícil expressar emoções honestas?

— Eu não sei. — Com despreocupação típica, ela encolheu os ombros jogando para longe a questão. Essas coisas nunca a tinham incomodado. — Você pode me deixar louca tentando analisar o motivo. Mesmo se você descobrir isso, o que é que muda?

Monte jogou a cabeça para trás e riu. — O que muda, na verdade, — ele declarou — é que você é uma maravilha, Jessy, sempre tão reta e direta, mas de alguma forma tão difícil de entender.

— Eu não sou um bem. — Disse ela secamente, achando a conversa ridiculamente fantasiosa.

Monte apenas sorriu. — Se você fosse provavelmente seria um fundo. Mas..., — ele fez uma pausa e parecia se reunir, — eu o terei por muito tempo. Eu simplesmente costumo ter certeza se você sabe que eu entendi a posição única agora que você espera, e que eu estou disponível se você quiser companhia.

— Obrigada.

Ele não pressionava por uma resposta mais definida. — Eu te vejo mais tarde no funeral. — Passou-lhe a mão sobre o braço num gesto de despedida e desceu se dirigindo para o seu Range Rover.

Jessy não se demorou vendo-o sair. Ela tinha dúzias de diferentes tarefas para realizar antes de chegar à hora do funeral. Não se incomodou em ficar pensando sobre a oferta feita, nem mesmo se chegaria um dia a querer tal companhia e se o fizesse, ele seria Monte.

Uma enorme multidão de rezadeiras lotou o pequeno cemitério à beira do rio que tinha sido o repositório para os mortos do rancho. Era um grupo notável que se reunia para prestar suas últimas homenagens a Chase Calder, enumerando-se entre eles o governador, bem como senadores e congressistas, tanto estaduais como nacionais.

Versos do antigo hino "Devemos nos reunir no rio" encheram o silêncio, cantado por um coro da igreja local. À esquerda de Jessy, Laura cantou junto com um lá, lá, lá, as inúmeras palavras que ela não conhecia. Trey se sentou na cadeira à sua direita, balançando as pernas para trás, batendo-as contra a cadeira em um ritmo discordante com a música. Quint calmo e solene se sentou ao lado dele, com as mãos cruzadas no colo, seus olhos cinzentos fixos no caixão coberto de flores. Além dele estavam Logan e Cat pálida e com os olhos secos segurando uma bíblia nas mãos.

Um som fungado atraiu o olhar de Jessy para Sally Brogan, a ex-proprietária do restaurante e bar solitário de Blue Moon e atual governanta na Casa Grande. A cabeça branca estava curvada na tristeza quando limpou as lágrimas do seu rosto com um lenço de rendas. Com a recente perda de seu próprio marido, Jessy bem compreendida a dor do luto de Sally. Sally nutrira um amor tranquilo por Chase durante anos. Houve um tempo em que Jessy tinha pensado que os dois pudessem se casar, mas isso não tinha acontecido. Agora ele se fora. E todas as esperanças que Sally pudesse ter tido de um dia se tornar sua esposa tinham ido embora com ele.

Jessy deixou seu olhar vagar sobre os rostos solenes dos enlutados reunidos. Ela conhecia todos lá. Poderia não se lembrar dos nomes de alguns dos fazendeiros de fora do Estado, mas seus rostos lhe eram familiares.

Enquanto seu olhar vagava entre as pessoas, tocou em um desconhecido em pé algumas linhas depois do lugar em volta do túmulo. Era alto e de ombros largos, vestido com uma camisa branca, sem gravata e casaco esporte marrom. Um chapéu de cowboy puxado para a testa para sombrear os olhos do sol brilhante da manhã. O costume não impediu Jessy de dar uma boa olhada em seus fortes ossos, característicos de corte limpo. Seu rosto tinha um frescor juvenil que desmentia pelo profundo condicionamento de linhas de caráter. Jessy adivinhou sua idade na casa dos trinta ou quarenta anos, um contemporâneo de si mesma. Que só a deixou mais curiosa sobre quem poderia ser.

Ela verificou as pessoas em ambos os lados dele, pensando que o estranho poderia ser parente de um deles. Mas conhecia ambas as famílias, se ele estivesse relacionado com qualquer um deles, teria que ser uma conexão superficial.

Com sua curiosidade aumentando, Jessy começou a lhe lançar olhares à distância. Naquele momento, ele fez contato visual com ela, e ela se viu olhando para um par de olhos azuis e firmes. Ainda que levemente, ele abaixou a cabeça em reconhecimento da troca. Jessy sentiu um lampejo de algo. Com um traço de consciência, quebrou o contato e se aproximou ainda mais das pernas balançando de Trey.

Ao lado dela Laura cantava a palavra de encerramento do hino com confiança: — Amém.

No silêncio que se seguiu, o corpulento reverendo Pattersby se adiantou, levantando sua voz para entoar: — Vamos inclinar nossas cabeças em oração.

Houve uma agitação circulando em toda a multidão enquanto os homens tiraram o chapéu e correram os dedos rápidos, penteando seus cabelos. Jessy lançou um olhar rápido para o estranho, um vislumbre de cabelos castanhos queimados pelo sol, antes de curvar a cabeça também em atitude de oração.

Após o serviço fúnebre, alimentos e bebidas foram servidos no grande celeiro de madeira localizado não muito longe do cemitério. Laredo se juntou à multidão para dentro, onde uma propagação pródiga os aguardava, uma série de mesas de comidas estrategicamente colocadas repletas de alimentos.

Laredo provou alguns itens e flutuou entre os convidados, escutando conversas e histórias que as pessoas trocavam sobre Chase Calder. Deliberadamente evitou a família, embora tivesse o cuidado de manter o controle do paradeiro de todos, especialmente da viúva do filho.

Ele não tinha descoberto o que fazer com aquilo, uma mulher alta e esbelta. Secretamente a estudou novamente à distância, observando a pureza clássica de sua mandíbula forte, limpa e a crista proeminente de suas bochechas. Seus cabelos longos, da cor de caramelo escuro, estavam puxados para trás de seu rosto, presos na nuca com um fecho de casco de tartaruga. Ela exalava uma confiança calma e uma força tranquila que parecia um jogo para o trabalho à sua frente.

Mas Laredo permanecia um pouco cuidadoso. Com o controle da fazenda passando para ela, ficava óbvio que seria a única a ganhar o máximo com a morte de Chase. No entanto, a partir dos fragmentos de informações que ele conseguira recolher, Chase havia preparado sua posição desde a morte de seu filho. O que parecia indicar que ela tinha a sua confiança total.

Alguém o empurrou por trás. Laredo olhou para trás quando um homem disse: — Estou terrivelmente arrependido.

O sotaque distintamente britânico do homem prendeu brevemente o interesse de Laredo, fora do lugar, uma vez que estava entre os pronunciamentos lentos ocidentais em volta dele. Olhou-o firme, descartando a vista do homem antes que ele continuasse andando fornecendo a Laredo menos do que um vislumbre de um perfil aquilino finamente esculpido.

Laredo cutucou um vaqueiro com uma braçadeira preta de pé ao lado dele. — Quem é o inglês? — Perguntou curioso.

O vaqueiro lançou um olhar para as costas do homem. — Esse é Markham. Ele comprou o rancho do velho Gilmore na primavera passada. Seu irmão é um barão ou duque na Inglaterra.

Laredo agradeceu a informação e a arquivou longe, não tendo certeza se queria dizer algo.

Cansado da aglomeração das pessoas e convencido que haveria pouco a ganhar ainda em torno delas, Laredo saiu lentamente por uma saída traseira.

Emergindo do celeiro, ele automaticamente olhou na direção do cemitério. Algo branco se movia entre as lápides não muito longe do dossel azul. Ele se concentrou no pequeno menino de cabelos escuros vestido com uma camisa branca e calças pretas, e o reconheceu imediatamente como o neto de Chase.

Uma varredura da área não revelou nenhum adulto na vizinhança. Não tinha certeza se o destino final do rapaz seria o cemitério ou apenas o rio além dele; Laredo hesitou apenas uma fração de segundo antes de sair para o cemitério. Quando se aproximou do túmulo, ele diminuiu o ritmo dos passos.

O menino estava ao lado da pedra de granito que marcava o túmulo adjacente, inscrito: À Maggie — amada esposa e mãe. Abaixo estava escrito seu nome completo: Mary Frances Elizabeth O'Rourke Calder seguido pelas datas de seu nascimento e morte.

— Olá. — Laredo fingiu apenas notar o garoto. — Eu não sabia que havia mais alguém aqui.

O menino olhou para ele com desconfiança. — Quem é você?

Ele era um garoto desengonçado, um pouco alto para sua idade. Com respeito à suavidade infantil de seu rosto, tinha os indícios de Chase; mandíbula quadrada e as trevas dos seus olhos.

— Meus amigos me chamam de Laredo. — Ele empurrou o chapéu para a parte de trás de sua cabeça e se abaixou ao nível do menino.

— Laredo é um nome engraçado.

— Eu suponho que seja. — Admitiu. — Qual o seu nome?

— Trey.

— Prazer em conhecê-lo, Trey. — Laredo estendeu a mão para apertar a mão dele, de adulto para adulto. O rapaz aceitou o gesto com a gravidade adequada. — Trey é um bom nome.

— Meu avô o deu para mim.

Laredo deslizou um olhar para o caixão reluzente. — Eu imagino que você perde muito com ele.

A raiva brilhou em seus olhos. — Meu avô não está morto. Ele está no Texas.

— Como você sabe disso? — Laredo perguntou curioso para saber a origem daquele conhecimento.

— Eu só sei. — Foi uma declaração enfática, mas um fato sem qualquer base clara de fato.

— Entendo. — Laredo acenou com a cabeça, com cuidado para não iniciar inadvertidamente um assunto.

Satisfeito por sua declaração não ser desafiada, Trey apontou para o caixão. — Quint diz que eles vão colocar isso no buraco e cobri-lo com terra.

— Sim, mas ainda demora um tempo. Quem é Quint? — Perguntou vagamente.

Trey franziu a testa sobre a questão. — Ele é Quint. — Estabeleceu claramente o assunto em sua mente.

Abaixando a cabeça, Laredo escondeu um sorriso e acenou com a cabeça novamente. — Claro que ele é.

— Quando meu aniversário chegar, eu vou ter o meu próprio cavalo como Quint.

— Quint tem um cavalo, não é?

Trey balançava a cabeça em afirmação. — O nome dela é Molly. Quint me permite montá-la algumas vezes, embora ela seja meio lenta.

— De que cor é Molly?

— Marrom. — Trey respondeu, e inclinou a cabeça para o lado. — Os cavalos marrons são sempre Sioux?

— Nem sempre. De que cor você quer o seu cavalo?

Trey ergueu os ombros elevando o pescoço indiferente. — Vermelho. Ou talvez amarelo como meu avô disse que ia encontrar um bom para mim.

— É por isso que ele foi para o Texas?

Com os olhos arregalados e aumentando visivelmente o brilho de antecipação, com a pergunta, Trey disse: — Talvez.

Uma chamada de pesquisa veio da área do celeiro, com o vento trazendo o chamado longe deles. Laredo olhou para cima e viu a viúva apontando em uma posição de alerta. — Sua mãe sabe onde você está?

— Não. — Trey respondeu com um lampejo de desafio.

— Eu acho que ela está olhando para você. — Endireitando-se, ele levou as mãos à boca e gritou: — Ele está aqui! — Acenou com o chapéu sobre sua cabeça até que ela começou a andar em direção ao cemitério. Quando ele olhou para o menino, percebeu que a rigidez puxava para baixo os cantos de sua boca. — As mães se preocupam muito, não é?

— Sim. — Trey concordou sem entusiasmo.

— Eu acho que é o seu trabalho.

— Eu acho. — Trey suspirou as palavras e lançou um olhar por cima do ombro para observar a abordagem de sua mãe.

Laredo fingiu não perceber o estudo aguçado de seu olhar quando ela se juntou a eles. No último minuto, ela olhou para baixo, para Trey. — Eu queria saber onde você estava.

— Eu estou bem. — Ele murmurou em resposta.

— Apesar de tudo eu não sabia. — Ela ergueu o olhar para Laredo, numa demanda silenciosa em seus olhos. — Não acredito que nós nos conheçamos. — Jessy desafiou.

— Seu nome é Refazer. — Trey inseriu, inchando um pouco o orgulho por saber algo que ela não sabia.

— Laredo Smith. — Dizendo o resto, Laredo tocou um dedo na aba do chapéu. — Um palpite que eu tenha a vantagem, porque sei que você é Jessy Calder.

Ela não respondeu em espécie, mas com o seu sorriso preguiçoso. Nem era frio ou hostil, mas o olhou com uma calma estável. — Como vai? — Ela estendeu a mão com uma franqueza que tinha uma facilidade masculina.

Seu aperto era firme e seguro e espinhou, mas a sensação de calor dele permaneceu na palma da mão. — Trey estava me contando sobre o cavalo que seu avô ia comprar para ele.

Um sorriso indulgente tocou os lábios dela, quando olhou para seu filho. — Sim, ele é louco por cavalos.

— Eu vou ser um vaqueiro, — afirmou Trey importante — eu tenho um laço e tudo. E sou realmente bom em pegar coisas com ele. Não sou, mamãe?

— Você está definitivamente ficando melhor.

— Posso ir pegar a minha corda? — Perguntou esperançoso, e fez uma ligeira careta. — Eu não quero voltar ao celeiro.

— Sim, você pode se quiser, mas tem que ficar perto do celeiro. — Disse ela, enquanto ele decolava em uma corrida. — E não tente laçar qualquer um dos cavalos no curral. — Ela avisou.

— Eu imagino que meninos sejam um peso com essa idade. — Laredo comentou quando ela se virou para ele.

— Ele está se entediando facilmente. — Jessy admitiu.

— Eu o vi assim mesmo, aqui. Com o rio tão perto, pensei que alguém deveria manter um olho nele.

Ela mostrou apreciar o gesto, que era de atenção. — Mas O'Rourke estava em algum lugar entre os choupos. Ele teria a certeza que Trey não caísse no rio.

Assustado, Laredo fez uma varredura rápida do banco arborizado, observando a silhueta de um cavalo e cavaleiro que ele tinha esquecido anteriormente. — Quem é O'Rourke? Um de seus empregados do rancho? — Seu primeiro pensamento foi que ela tivesse alguém vigiando.

— Não. Ele é irmão de Maggie. — Ela inclinou a cabeça em direção à lápide da falecida esposa de Chase. — Sempre que Cat está fora de casa, você pode contar com O'Rourke em algum lugar por perto. Laredo, não é?

— Sim.

— Você é do Texas?

— Eu passei algum tempo lá. — Respondeu, deliberadamente evasivo. — Esta é a minha primeira vez em Montana. É um grande lugar, em todo o país. Isso me lembra um pouco do Texas da maneira que rola para sempre. Eu posso entender porque todo mundo diz que o Triplo C. é o primeiro país do gado.

— É uma boa terra. — Automaticamente ela deixou o olhar fazer a varredura sobre a vasta extensão de grama que se estendia desde o rio. Sua expressão se suavizou com um orgulho misturado ao amor e profunda afeição.

— Você ama esta terra, não é? — Laredo observou.

— Tem sido minha casa durante toda a minha vida. Não há uma polegada de terra em que eu não tenha andado.

Ele tinha que admirar aquela mulher com sua combinação incomum de força e calma. — Eu entendo que você está no comando do Triplo C. agora. Um lugar deste tamanho deve ser um pouco assustador.

Ela o olhou nos olhos com a franqueza de um homem. — Você simplesmente leva cada dia como deve e mantem um olho no amanhã. Enquanto você cuidar da terra, ela vai cuidar de você.

Aquela declaração tinha um som profundo. Será que Chase lhe ensinara aquilo? Laredo se perguntou.

— Essa tem sido sempre a forma de fazer as coisas Calder. — Jessy respondeu com o olhar se voltando para uma tranquila sondagem. — Onde você o conheceu?

— No Texas.

— Não me lembro que tenha mencionado o seu nome. — Ela respondeu.

Laredo sorriu facilmente. — Eu imagino se alguma vez houve uma razão pela qual ele deveria. — Algo em sua linguagem corporal avisou que ela estava prestes a trazer a conversa para um fim. Com todos os seus instintos lhe dizendo para confiar nela, assumiu um risco calculado. — Você está absolutamente certa que Chase está morto?

— Por que você pergunta isso? — Disse claramente surpresa com a pergunta.

— E se eu lhe disser que ele quer falar com você?

A raiva fria queimou seus olhos. De repente, ela se afastou e saiu para o celeiro. Com dois passos, Laredo a agarrou pelo braço e a virou para ele. — Ouça-me.

— Por que eu deveria? — Ela desafiou acaloradamente, mostrando um temperamento mantido sob controle apertado. — Se Chase Calder estivesse vivo, ele estaria aqui mesmo.

— Acredite em mim, ele tem suas razões para ficar longe.

— Eu não acredito em você. — Os músculos de seu braço ficaram tensos quando ela se esforçou para se afastar dele.

— Você viu o corpo dele? Alguém viu? — Laredo exigiu.

— Não, ele estava... — Ela hesitou com a primeira centelha de dúvida aparecendo em sua expressão.

— Queimado além do reconhecimento. — Completou a frase para ela. — Você, a polícia, todos pensaram que o homem morto fosse Chase.

— Por que você está fazendo isso? — Seu olhar se apertou sobre ele, tornando-se duro e frio. — Qual é o seu jogo?

— Não é nenhum jogo. Chase precisa falar com você. Sozinha. Você escolhe a hora e o local, mas não pode ser um lugar onde ele possa ser visto.

Um canto de sua boca se curvou em desprezo frio. — Você é um estranho total e realmente não acredita que eu seria tola o suficiente para encontrá-lo, sozinha, em algum lugar afastado, não é?

Laredo sorriu em aprovação e deixou a mão cair longe de seu braço. — Você é sábia em ser cautelosa. O que me diz que você também vai ser sábia o suficiente para escolher um lugar que seja seguro para você e Chase.

— Esta é uma configuração para um pedido de resgate? Você sequestrou Chase? — Jessy exigiu.

— Pelo menos você está disposta a admitir que Chase esteja vivo. — Seus olhos se enrugaram nos cantos.

— Ainda não, eu não estou. — Ela declarou com firmeza. — Só estou tentando descobrir o seu jogo.

— Não há nenhum jogo. E para responder à sua pergunta, se eu tivesse sequestrado Chase, eu teria enviado uma nota de resgate ou chamado. Eu não poderia mostrar a minha cara por aqui.

— Talvez não, mas as pessoas têm feito coisas estúpidas, senhor Smith. Se esse é realmente o seu nome.

— É um pouco comum para ser verdadeiro, não é? — Ele concordou.

— Diga-me por que eu deveria confiar em você? — Ela desafiou.

— Você não deveria. Você deve confiar em Chase. Este é o modo como ele quer.

Ela o estudou com um olhar longo e firme, enquanto mentalmente revisava suas opções.

— Que tipo de veículo você está dirigindo?

Jessy observou o salto repentino de cautela em seus olhos. — A caminhonete azul Ford com placas do Texas.

— Espero que isso seja verdade, — disse ela, — porque amanhã de manhã, exatamente às nove horas, eu quero ver uma picape Ford azul com placas do Texas conduzindo devagar, passando o portão leste na rodovia principal. Se Chase estiver na picape, dez minutos mais tarde vou deixar um bilhete no portão informando quando e onde irei vê-lo.

— Justo. — Ele balançou a cabeça em concordância. — Nós vamos estar lá às nove horas em ponto. Só mais uma coisa... Chase está confiante que você não vai falar sobre esta conversa com ninguém, o que significa, qualquer um.

— Por quê? — Jessy perguntou incapaz de achar sentido naquilo tudo.

— Eu vou deixar para Chase explicar isso para você. Até amanhã. — Balançando a cabeça, tocou seu chapéu e se afastou sem pressa.

Ainda perturbada e duvidosa, Jessy o observou por um momento, notando que ele parecia estar indo em direção as filas de veículos estacionados que enchiam a garagem. Resumidamente, brincou com a ideia de ter um dos homens seguindo Laredo Smith quando ele saiu, mas suspeitava que ele estivesse lá, observando.

Os passos se aproximando rangeram através de uma seção de cascalho. Voltando-se para o som, Jessy viu Monte vindo em sua direção, olhando preocupado e franzindo a testa. — Onde está o Trey? Você não o encontrou ainda?

— Sim. Ele foi até a casa buscar sua corda.

Sua expressão estava apagada. — Estou aliviado por que ele já não está entre os desaparecidos. Você parecia estar em conversa profunda com o cowboy; pensei que talvez você estivesse prestes a organizar uma busca pelo Trey.

— Felizmente, não. Ele só queria falar comigo sobre Chase. — Ela respondeu triunfante. — É melhor eu falar com o governador antes que ele saia.

Quando Jessy começou a andar para o celeiro, lançou um olhar atrás do misterioso Laredo Smith. Ele tinha a aparência de um cowboy e o estilo de um, mas lembrou-se do aperto de mão. Ele não possuía os sulcos distintivos dos calos pelo trabalho com a corda. Em sua mente, um vaqueiro que não pudesse lidar com uma corda não era um cowboy.

Laredo Smith levantou mais questões do que respostas. A principal delas era por que ele iria insistir que Chase estava vivo, se não estivesse?

Capítulo Cinco

A estrada de duas pistas era o único sinal de civilização por milhas em qualquer direção. A picape solitária viajava sobre ela enquanto sua sombra corria ao lado. Os raios fortes do sol da manhã se derramavam pela janela do passageiro da picape, aquecendo o ombro e o braço de Chase.

Mas ele estava apenas vagamente consciente do efeito do calor do sol enquanto olhava pela janela para as planícies ao redor. Não havia engano na aparência da planicidade da terra, tornando-se fácil negligenciar os montes solitários e as ravinas errantes. Ele esperava sentir algum sinal de casa, mas diferente de experimentar um desejo de montar, ele não sentia nenhum sinal que pertencesse ao lugar.

Vagamente descontente, olhou para Laredo. — Quanto demora ainda?

— O portão está chegando à nossa esquerda. — Laredo respondeu e olhou para o relógio. — Mais cinco minutos até lá. Vamos mais duas milhas e viramos. Deveremos chegar lá na hora certa.

Chase avistou um par de postes altos com um sinal suspenso entre eles, marcando a entrada do rancho. Ele ficou impressionado com sua simplicidade.

— Isso não é muito pretensioso. — Laredo comentou, como se estivesse lendo seus pensamentos. — Ninguém pode acusar os Calder de serem cheios de si mesmos.

— Se o rancho é tão grande como você diz, por que gritar sobre isso? Todo mundo deve saber.

Um sorriso irônico puxou a boca de Laredo. — A julgar por alguns dos comentários que ouvi sobre você no funeral ontem, parecia com algo que Chase Calder costumava dizer.

Enquanto seguiam para o portão, Chase esticou a cabeça para olhar para fora da janela traseira e digitalizar a estrada de terra que levava até o portão de entrada. — Não parece que alguém esteja aqui ainda.

— Jessy Calder me pareceu uma mulher cautelosa. Meu palpite é que ela vai escolher um ponto de vantagem e assistir de lá. Eu não acho que ela vá se mostrar.

— A questão é, o quanto ela pode ser confiável? Ela poderia estar em uma das colinas nos olhando, com um rifle. — Seu tom era sombrio e seco.

— Se ela estiver você vai ser literalmente um alvo fácil. — Laredo respondeu com um toque de humor negro. — Mas você vai precisar de alguém no interior, e a lista de escolhas era magra. — Ele passou por cima deles de novo: — Sua filha é forte e uma sucateira, mas tende a desgastar suas emoções em sua manga e, segundo alguns, tende a ser impulsiva e temperamental. Seu marido é o xerife local e agente do tesouro. Tanto quanto eu estou preocupado é motivo suficiente para eliminá-lo. Ele gostaria de transformar tudo em uma investigação legítima. Pelo que consegui descobrir, praticamente todos os seus empregados no rancho nasceram no lugar e são supostamente leais ao núcleo. Mas parece que você dirigia o rancho com uma mão solitária até seu filho morrer e você tomar Jessy em sua confiança e começar sua preparação para assumir. Eu acho que você fez uma boa escolha. — A estrada à frente deles estava vazia de tráfego. Laredo retardou a picape e fez uma inversão de marcha no meio da estrada. — Ela é experiente e acolhedora, capaz de pensar em seus pés. Ela não é guizo fácil, isso é certo. E definitivamente me impressionou.

— Boa aparência, não é? — Chase lhe lançou um olhar compreensivo.

— Vamos apenas dizer que seu filho tinha bom gosto. — Laredo viu o portão à frente deles e retardou a picape novamente. — A entrada está chegando. Não se esqueça, ela vai querer dar uma boa olhada em seu rosto quando passarmos por ela.

Aninhada deitada entre a grama marrom do verão, Jessy ajustou o foco dos binóculos, centrando-o no homem no lado do passageiro. O choque vibrou sobre seu corpo. Abaixou os binóculos para olhar sem a assistência de sua ampliação, e os levantou novamente. Era impossível. No entanto, não havia dúvida que aqueles traços duros e angulares eram definitivamente de Chase naquela picape. Ela manteve os binóculos fixos sobre ele até a picape passar do portão. Por um momento atordoado simplesmente estava lá. Mesmo que tivesse chegado esta manhã, Jessy nunca teria dado qualquer verdadeira credibilidade à alegação de Laredo Smith de que Chase ainda estava vivo. Logico tinha insistido que era apenas o começo do lance em algum tipo de golpe.

Mas se esse não era Chase na picape, o homem seria um sósia morto para ele. Ela fugiu para trás do inclinado lado do morro, deslizou os binóculos de volta em seu estojo de couro, e correu se abaixando de volta para onde havia deixado a caminhonete reboque estacionada e o cavalo. Subiu para a cabina e pegou a caneta e o bloco de notas que se encontrava no assento. Ficou surpresa ao descobrir que suas mãos tremiam. Fez uma pausa e tomou uma respiração profunda, escrevendo então a mensagem, ainda afetada pelo conhecimento que não era o que ela esperava escrever.

Acabando, Jessy arrancou a folha e começou a subir na picape, congratulando-se mentalmente por ter a presença de espírito para aconselhar Sally que ela poderia não estar de volta a tempo para o almoço.

Quando chegou à estrada, não havia nenhum sinal da caminhonete azul. Dez minutos, ela havia dito. Apressadamente ela pregou a mensagem a um mourão e subiu de volta a picape. Depois de anos de experiência com reboques, não teve dificuldade em fazer o balanço, reverter às direções e voltar pela estrada da fazenda com uns bons cinco minutos de sobra.

A estrada levava diretamente à sede do Triplo C., cerca de alguns minutos, mas Jessy não permaneceu nela. Virou para o norte na primeira intersecção da estrada, parte dos quase duzentos metros de estradas que ligavam os alcances distantes da fazenda.

Quase exatamente dez minutos depois de ter passado o portão, Laredo se aproximou novamente. Desta vez, ele puxou para a entrada e parou, com o olhar fixo em uma folha de papel tremulando na brisa da manhã. Deixando o motor em funcionamento, desceu da picape e recuperou a mensagem do poste do portão, destacando-o, e amaldiçoando suavemente. Quando deslizou atrás do volante novamente, passou a folha para Chase.

— A má notícia é que ela concordou em nos encontrar no antigo cemitério ao norte de Blue Moon. — Disse ele, mudando a transmissão. — A boa notícia é que temos duas horas para encontrá-la. Você não iria, por acaso, se lembrar de onde está, não é? — Eu pensei que você disse que passamos por Blue Moon ontem. Chase fez uma careta para ele.

— Sim, mas não me lembro de ter visto qualquer cemitério. Deve ser fora da estrada em uma lateral em algum lugar. Não há provavelmente um modo de alcançá-lo sem passar pela cidade, mas eu não sei onde é. — Laredo disse severamente. — Agora eu queria que Hattie estivesse conosco, em vez de ficar no motel na cidade de Miles para lavar nossas roupas. Se você pode descobrir uma maneira de se acocorar no banco quando chegarmos à cidade, é melhor fazê-lo.

Chase preferiu se deitar para o lado contra a moldura da porta e cobrir o rosto com o chapéu, consciente de que ninguém seria susceptível de prestar atenção ao passageiro de Laredo cochilando.

O cemitério não foi difícil de encontrar. O local era adequado a todas as exigências de privacidade. Era um local isolado ao longo de uma estrada pouco utilizada e sem residências por perto.

Laredo estacionou a picape no cascalho em volta e examinou o crivado de erva daninha do cemitério cheio de mato. Um par de árvores solitárias ficava vigiando as lápides desbotadas.

— Eu me pergunto onde ela está neste momento. — Laredo murmurou, principalmente para si mesmo, olhando para Chase. — A mensagem diz que ela quer vê-lo sozinho. Eu acho que ela ainda acha que eu poderia ter sequestrado você.

— É lógico que a possibilidade iria atravessar sua mente. — Chase abriu a porta do passageiro. — Onde você acha que está o jazigo da família O'Rourke?

— Estou apostando que ela vai estar em algum lugar perto de uma dessas árvores. Com toda a vegetação rasteira crescendo em torno delas, seria um bom lugar para esperar fora da vista. — Ele saiu da picape. — É melhor eu lhe dar uma mão. Você pode estar mais constante em seus pés, mas esse chão parece horrível e áspero.

Quando eles tinham ultrapassado o capô da picape, Jessy saiu de trás de uma moita de vegetação, segurando um rifle no ponto. — Você não me disse que ele estava ferido. — Seu olhar brevemente entediado em Laredo, mudou sua atenção para Chase para inspecionar o curativo no lado esquerdo da cabeça.

— Esse foi o primeiro erro que você cometeu Jessy. — Laredo respondeu. — Por tudo que você sabe, eu poderia estar segurando uma arma para ele.

— Você poderia, — ela admitiu — mas você seria um homem morto se a usasse. Este rifle já está armado, e eu atiro mais do que a minha quota de coiotes. Um a mais não me intimida.

Sua boca se curvou em um sorriso torto. — Quer saber? Eu acredito em você.

Cansado de sua troca, Chase estudou a mulher menina, alta e magra nas calças de brim e um Stetson de palha bem colocado, observando as altas maçãs do rosto fortes e afiadas e o queixo angular. A descrição anterior de Laredo sobre Jessy não havia transmitido a beleza interior que brilhava através de seus traços fortes. Não seria o rifle que ela agarrava nem as roupas masculinas que disfarçariam o fato de que ela era toda mulher.

— Você ainda insiste em falar comigo sozinha? — Chase desafiou sem problemas. — Porque eu não estaria aqui sem esse cara. Laredo salvou minha vida. Ele é a única pessoa em quem confio agora.

A hesitação de Jessy foi ligeira. — Se você confia nele, então eu também confio. — Ela travou a segurança do rifle. — Não há nenhum lugar para se sentar aqui. Talvez seja melhor se ficar na picape.

— Boa ideia. — Chase prontamente se virou e começou a voltar para a picape, com Laredo ao seu lado.

— Por razões de segurança, você pode querer deixar o rifle fora. — Laredo sugeriu quando manteve uma mão de apoio em Chase, enquanto ele subia no lado do passageiro.

— Eu planejei isso. — Jessy respondeu e a colocou na cama da picape aberta.

— E para sua informação, eu tenho uma arma. — Laredo se afastou da porta para permitir a Jessy deslizar ao lado de Chase.

Ela passou um olhar sobre sua calça jeans e camisa confortável de encaixe, identificando todos os seus contornos musculosos para o que eram. — Mas não em você. — Ela concluiu.

— Sim. — Ele levou a mão por trás das costas. Quando sua mão reapareceu, havia um trinta e oito nela. Sua única demonstração de surpresa foi um leve alargamento dos olhos. — Como você, Jessy, eu jogo cautelosamente. — Com ambas as mãos, ele voltou à arma para seu esconderijo.

— Eu não vou ser enganada uma segunda vez. — Ela pisou no estribo e se puxou para dentro da cabine. Com as temperaturas do meio dia subindo, eles deixaram as portas abertas para manter o ar interior em circulação. Jessy correu um olhar crítico sobre Chase, a preocupação nublando seus olhos.

— Quanto você foi ferido? — Ela perguntou.

— Bastante. — Chase respondeu sem elaboração.

— Como isso aconteceu? E por que você não quer que ninguém saiba que você está vivo? — Ela tinha vindo com uma dúzia de explicações possíveis na rota para o cemitério, o que a deixava ansiosa para ouvir a verdadeira.

— É uma longa história, que eu vou deixar Laredo contar.

Particularmente ele a irritava por escolher Laredo, mas ela manteve sua irritação para si mesma.

Sentado de lado, Laredo se inclinou para frente, colocando um braço por cima do volante, e lhe contou todos os eventos que os levaram até aquele momento. Quando ele terminou, Jessy olhou para Chase, não fazendo nenhuma tentativa para mascarar seu choque.

— Você realmente não se lembra de quem você é? Nem mesmo agora?

— Minha memória não vai mais longe do que o parque de estacionamento. — Chase disse a ela. — De acordo com Hattie, na maioria dos casos como o meu, ela vai voltar, talvez em alguns dias ou alguns meses, aos poucos ou completa. Ou poderá haver partes das quais nunca me lembrarei especialmente o momento certo antes do tiro.

— E Hattie é algum amigo ou parente de vocês? — Ela olhou para Laredo para confirmação.

— Algo como isso. — Ele assentiu.

— Mas como você pode ter certeza se ainda não viu um médico? — Jessy fundamentou.

— Hattie é uma enfermeira. E procurar um médico é muito arriscado. Por lei, ferimentos à bala devem ter um relatório. Eu não preciso desse tipo de problemas. — A expressão de Chase avisou que ele estava firme sobre aquela decisão.

— Mas o que você vai fazer? — Jessy perguntou consciente das miríades de complicações que sua amnésia criava.

— É aí que você entra. — Chase falou. — Eu preciso de um lugar perto do rancho onde possa ficar até, que minha memória retorne ou nós descubramos quem tentou me matar. O mais importante é que precisa ser um lugar onde eu não precise me preocupar com os vizinhos ou a senhoria perto, e Laredo me disse que o Triplo C. é grande e está dividido em distritos. Existe uma velha casa ou cabana vazia assentada em algum lugar?

— Eu posso me lembrar de três, mas seria muito fácil para um dos vaqueiros observar que está ocupada. Além delas, não há realmente nenhuma... espere um minuto. — Ela parou com uma possibilidade aparecendo para ela. — Costumava haver um velho barraco na altura do sopé. Para o melhor de meu conhecimento ninguém vai lá há muito tempo, provavelmente não desde que meu pai e eu estávamos lá em cima caçando. Eu deveria ter uns doze ou treze anos. Nós não a conhecíamos até levarmos o gado mais no alto.

— Parece perfeito. — Chase declarou. — Como nós podemos chegar lá?

Com o passar do estouro inicial de excitação, Jessy ficou hesitante. — Eu não posso até verificar que ainda esteja de pé, muito menos se o poço ainda funciona, ou se poderia habitá-la. Não há definitivamente água corrente ou eletricidade.

— Eu vivi sob condições mais extremas. — Laredo disse com despreocupação. — Se você puder me fornecer às ferramentas necessárias, madeira serrada, e talvez até mesmo um gerador, posso torná-la habitável.

— Eu vou descobrir um modo. — Jessy sabia que não seria fácil fazê-lo sem despertar suspeitas de alguém. — Não acho que as direções farão algum bem. A menos que você saiba onde ela está, seria pura sorte se você a encontrasse. Eu terei que levá-lo lá. Mesmo assim, a estrada velha do fogo só chega até a meia milha dela. Eu não consigo lembrar como é o terreno e saber se você pode dirigir mais perto do que isso.

— Nesse caso, vamos descobrir quando chegarmos lá. — O relincho de um cavalo pontuou o fim da declaração de Laredo. Em reação rápida, ele chegou ao estado de alerta total, seu olhar fazendo um levantamento, cortando a área fora da picape.

— Esse foi o meu cavalo. — Jessy disse em garantia rápida. — Eu lhe fiz piquetes no fundo além da árvore.

— Você andou até aqui? — Laredo questionou surpreso. — Por quê?

— Eu não queria correr o risco de alguém passar dirigindo e ver uma picape do Triplo C. estacionada por aqui. Nada iria movimentar o boato mais rapidamente. — Esse pensamento provocou outro. — Vou precisar perto de uma hora para andar de volta até onde deixei o caminhão e o reboque estacionado. Se eu tentar levá-lo para a linha do barraco esta tarde, não haverá muito da luz do dia no momento em que chegar lá. Você tem um lugar para passar esta noite?

— Nós temos dois quartos de motel em Miles City. — Laredo respondeu. — Deixamos Hattie lá para lavar nossas roupas.

— Isso resolve, então. Nós vamos voltar aqui ao encontro amanhã de manhã. — Jessy fez uma pausa para considerar a unidade aonde iriam a partir de Miles City. — Gostaria de marcar às nove horas se não for muito cedo?

— Nós podemos fazer isso. — Chase não hesitou.

Um sorriso preguiçoso curvou a boca de Laredo. — Acho que ele está cansado de se esconder dentro e fora dos quartos do motel.

— Eu não o culpo. — Houve empatia no olhar que Jessy deu a Chase. Em seguida, o lado prático veio à tona. — Se não há mais nada, eu preciso voltar. Todos nós teremos muito que fazer antes de amanhã de manhã.

Ela estava a meio caminho para sair do caminhão quando Chase a parou. — Antes de ir, eu tenho uma pergunta para lhe fazer. O que eu estava fazendo no Texas? Por que fui para lá?

— Você disse que tinha uma reunião com alguém chamado Brewster. Tom Brewster, eu acho. Sua lembrança do primeiro nome do homem era nebulosa.

— Quem é Brewster? O que ele faz?

— Para ser honesta, eu não sei. — Jessy admitiu. — No melhor do meu conhecimento, a fazenda nunca teve quaisquer contatos com ele no passado. De alguma forma ele está envolvido com o gado, mas eu não sei se ele é um comprador, um fazendeiro, um corretor ou o quê.

— Eu não quis dizer por que estava indo vê-lo? — Chase sondou.

— Só disse que queria falar com ele sobre algumas cabeças de gado.

— Geralmente sou vago? — Chase franziu a testa ceticamente.

— Não. — Jessy admitiu com um leve sorriso. — Mas você também me disse que estaria longe por alguns dias e me daria uma oportunidade para cuidar sozinha do rancho. Eu pensei que provavelmente essa fosse sua principal razão para ir para o Texas. Você não me deu a impressão de que a viagem fosse de grande importância. Agora eu desejaria ter feito mais perguntas. — Disse ela com pesar.

— Talvez a viagem fosse uma desculpa para ir embora. — Chase foi forçado a admitir essa possibilidade. — Mas até que possamos ter a certeza, vamos ver o que mais você pode descobrir sobre este Brewster. — No minuto em que as palavras saíram de sua boca, ele as retirou. — Não, nós não queremos colocar nossa mão caso ele seja uma conexão importante. Portanto, não faça perguntas sobre ele, mas veja se eu escrevi seu endereço ou número de telefone em algum lugar. Se eu o fiz, consiga essa informação para mim. Nesse meio tempo eu vou descobrir a melhor maneira de lidar com isso.

— Seria lógico que Chase o tivesse chamado do hotel. — Laredo inseriu. — Olhe nas cobranças e anote os números de telefone que você não reconhecer.

— Logan cuidou de sua conta enquanto eles estavam em Fort Worth. Tenho quase certeza que me deram o recibo discriminado. Vou ver o que posso encontrar. — Jessy prometeu. — Algo mais?

— Por enquanto, só um. Eu vou precisar de algum dinheiro. — Chase lhe disse. — Não tenho um centavo comigo. Eu não sei exatamente o quanto devo a Laredo e Hattie, mas estou adicionando mais todos os dias.

— Eu vou trazer um pouco de dinheiro para você amanhã. — Jessy se virou e pegou seu rifle, virando-se para eles, extraordinariamente solene. — Virei encontrá-los aqui às nove horas amanhã. Tenham cuidado.

— Pode contar com isso. — Chase fechou a porta do passageiro. Em silêncio, eles saíram do velho cemitério. Só depois que estavam na estrada em direção a Blue Moon, Chase falou novamente. — Você está certo sobre Jessy. Eu odiaria saber que ela não possa ser confiável.

— Eu também. — Laredo disse. — Ela é uma mulher fácil de se gostar.

— Eu só espero que ela não lhe dê razão para se lamentar deixá-la saber que você está armado.

— Se ela for tão boa como penso, precisa estar alerta para isso. — Ele deslizou um sorriso irônico na direção de Chase. — Talvez você possa lhe ensinar os prós e contras da criação de gado, mas posso lhe ensinar as habilidades para se manter viva.

Distraidamente divertido e interiormente satisfeito, Chase passou a olhar por cima do perfil limpo do homem. — Isso parece como se você estivesse assinando o período de duração.

— Você tem algum problema com isso? — Laredo rebateu, com um leve brilho em seus olhos azuis.

— Não nenhum. — Sorrindo, Chase se acomodou no assento, se pondo confortável para a longa viagem de volta para Miles City.

O cavalo marrom se arrastava em um trote fácil, seu cavaleiro sem pressa e com destino a nenhum lugar em particular. Mas as andanças de Culley O'Rourke raramente tinham um propósito. A única exceção a essa regra envolvia sua sobrinha Cat Calder Echohawk. Desde que sua irmã fora morta em um acidente de avião, quando Cat ainda era adolescente, ele tinha como missão vigiar a filha de Maggie. Mas naquele dia Cat estava em casa, ainda envolta em luto pela morte recente de seu pai.

Mas a morte de Calder tinha motivo para pesar tanto quanto Culley estava preocupado. Houve um momento em que ele fora consumido pelo ódio para o homem. O ódio tinha se extinguido, e ele tolerava a existência do homem, pelo amor de Cat.

Sem dúvida, os anos haviam feito muitas mudanças em Culley O'Rourke, mais notavelmente em sua aparência. Seu cabelo que era preto brilhante, tinha se tornado acinzentado como a cor de uma placa de celeiro. Seus ombros largos diminuíram e pareciam permanentemente curvados em um palpite de proteção. A energia no gatilho nervoso, tantas vezes pronta na ponta da violência havia mudado para uma inquietação constante.

Era nessa inquietude inata que ele estava vagando sem fim que não conhecia limites. Há muito tempo os cavaleiros do Triplo C. tinham se acostumado a vê-lo como um fantasma sobre vastas participações do rancho, invariavelmente lutando tímido contra qualquer contato.

Se sua presença atraia qualquer comentário, ele se tornava geralmente irônico como: — Viram o velho louco Culley hoje, inclinando-se fora da vista atrás de um monte? — E sempre se via uma sacudida divertida da cabeça.

Mantendo-se em uma campina nas planícies e deliberadamente evitando o céu se alinhando em terreno mais elevado, Culley tomou uma rotunda para acompanhar na direção de um portão da cerca. Ele ainda tinha que decidir se iria fazer uso dele ou andar em outra direção. Provavelmente seria o último. Culley nunca viajava muito ao longo das estradas, e havia um portão sobre o outro lado da cerca.

O cavalo castrado marrom ergueu suas orelhas e seu nariz para sentir o perfume do ar. Culley andava a cavalo por muitos anos e aprendera a ler corretamente a sua linguagem corporal. Havia algo nas proximidades. Ao observar as ligeiras variações do cavalo, Culley poderia dizer se aquela coisa era uma vaca, um coiote, ou um cavalo. Desta vez, o cavalo castrado estava reagindo a um ser de sua própria espécie. Neste particular, na área do Triplo C., Culley sabia que, se houvesse um cavalo na área, em noventa por cento do tempo haveria um cavaleiro, também.

Obedecendo ao seu impulso inicial, Culley freou sua montaria. Não que ele não gostasse das outras pessoas. Ele simplesmente não ficava confortável perto delas. A conversa fiada que chegava tão facilmente para os outros era estranha para ele, quase dolorosa.

Mas, para evitar tais situações, ele tinha que saber a localização do cavaleiro e o destino para que pudesse ir para a direção oposta. Foi esse desejo que o levou a controlar seu cavalo até a subida inclinada nas planícies. Ele parou quando conseguiu ver por cima dele.

A picape e o cavalo no reboque estavam estacionados ao longo da beirada da estrada de terra do rancho a um quarto de milha distante. Perto da parte traseira do mesmo, um cavaleiro desceu da sela. Os raios luminosos do sol brilharam as luzes loiras na longa cauda de cabelos que pendiam abaixo do chapéu do cavaleiro, tornando mais fácil para Culley reconhecer Jessy Calder.

Culley viu quando ela destravou a porta traseira para carregar seu cavalo no trailer. Quanto mais pensava nisso, mais lhe parecia incomum Jessy estar ali sozinha. — Houve um tempo antes de se casar com Ty que ela trabalhava para o Triple C. como um vaqueiro ordinário, mas com Calder morto, ela estava cuidando das coisas agora.

Sabendo disso, Culley não poderia deixar de se perguntar o que ela estava fazendo tão longe da sede. Essa curiosidade o empurrou para frente justamente pelo fato de Jessy ser uma das poucas pessoas que o deixava se sentir confortável, principalmente porque ela não se importava se ele falava ou não.

Até o momento em que chegou à linha da cerca, Jessy tinha carregado seu cavalo e prendido o portão do trailer. Movendo-se com passadas longas propositais, ela se dirigiu para o lado do motorista da picape, tão envolvida em seus pensamentos que não o notou. Como Culley era o que estava se aproximando, decidiu fazer a jogada de abertura, gritando: — Claro que não deve ser o que está parecendo.

Jessy se interrompeu com um início quase de culpa. Um instante depois a boca se curvou em um sorriso. — Olá, Culley o que faz aqui? Você sabe como cansa ficar preso e decidi que queria estar sobre um cavalo de novo, agora ele está de volta do trabalho, veja... — Ela esboçou um sorriso e subiu na picape.

Culley levantou uma mão em troca e observou a picape se afastar. — Suas razões pareciam o suficiente, — ele comentou com sua montaria — mas com certeza não explicavam por que ela estava de carro a só uma hora da sede.

Havia momentos em que Culley não podia deixar de ser intrometido, embora nunca pensasse nisso como bisbilhotice. Ele só queria que a velha curiosidade parasse de importuná-lo.

Tão frescos como estavam seus rastros, seriam fáceis de seguir. A leitura dos sinais, como os veteranos chamavam a capacidade de identificar uma pessoa ou animal pelos rastros que deixavam, era uma habilidade autodidata para Culley, algo que ele tinha aprendido ao longo dos anos. Uma das primeiras coisas que tinha aprendido era como dizer se um cavalo ou uma vaca tinha deixado uma trilha no meio da grama. Era uma diferença fácil de detectar, uma vez que uma vaca deixava os talos de grama dobrados na direção que tinha acabado de passar e um cavalo colocava-a na direção em que ele estava indo.

Culley não tinha chegado à trilha de Jessy muito longe antes que ele percebesse que ela não tinha saído para um passeio sem rumo. Ela tinha um destino, e tinha tomado o caminho direto para alcançá-lo.

A trilha levou-o diretamente para o muro da fronteira norte. Seus olhos afiados notaram um lugar onde o fio superior tinha sido consertado. Ele andou mais perto dele e para os lados, dobrado na sela para examiná-lo. As marcas brilhantes sobre o metal lhe diziam que o fio fora cortado antes e as pontas torcidas juntas novamente, muito recentemente.

O couro de sela rangeu quando ele se endireitou para se sentar ereto, intrigado por sua descoberta. — Eu tenho que lhe dizer Brownie, — murmurou para o cavalo, — é uma coisa de andar todo o caminho até aqui para corrigir uma ruptura na cerca, ou ele é um cavalo de uma cor diferente para montar por todo o caminho até aqui, cortar o fio, e depois corrigi-lo. Por que ela iria fazer aquilo?

O cavalo castrado bufou e balançou seu nariz em uma mosca traquina mordiscando seu ombro. Absorvido em resolver aquele quebra-cabeça, Culley olhou fixamente para um tufo de linha marrom grudado em uma farpa no fio, por um longo tempo antes de realmente o notar.

— Bem, agora, o que é isso? — Virou-se no chão e pegou o fio. Havia outro pedaço de fio em uma farpa ao lado da primeira. Só que este era mais como um pouco de fiapos. Enquanto Culley ponderava sobre o significado deles, o castrado aproveitou a pausa para morder alguma grama.

— Se bem me lembro, — disse ele, pensando — havia um cobertor marrom amarrado atrás da cabeça da sela. — Uma resposta começou a se formar. — Agora um cavalo não é capaz de saltar o que ele não pode ver... como um único fio de arame, mas se jogar um cobertor sobre ele, poderá ver o que precisa para deixar claro, por que ela queria saltar uma cerca aberta em torno da faixa Dugan?

Antes de concluir o que Jessy tinha feito, Culley estudou o chão do outro lado da cerca. Tão claro como o céu lá em cima, um par de marcas entalhadas frescas era visível, revelando o lugar onde seu cavalo tinha saltado.

Enquanto ele nunca respeitava uma cerca de fronteira, Culley teria jurado que Jessy o faria. Uma coisa era certa, ele não tinha ido até lá para parar agora.

Depois de liderar seu cavalo bem longe da cerca, ele pegou um par de cortadores de fio de ferro em seu alforje. — Nenhuma dessas coisas fica pulando para nós. — Disse ele e começou a cortar os três fios, com cuidado para evitar seu chicote de volta.

Mais uma vez a trilha de Jessy seguia mais ou menos em linha reta. Pareceu-lhe que apenas um lugar estaria naquela direção, e ele não conseguia descobrir por que Jessy iria lá.

Perto do antigo cemitério, Culley encontrou o lugar onde Jessy havia deixado seu cavalo. Uma pilha de excrementos de cavalo lhe dizia que o cavalo fora deixado ali por um bom tempo.

Desmontando, ele deixou cair às rédeas ao chão, amarrando seu cavalo castrado. Após sua fuga a pé não era tão fácil quanto seguir as pistas do cavalo. Mas as marcas ocasionais os simples que encontrava o levou para alguma grama.

A grama bem achatada lhe mostrava onde ela ficara por um tempo. Era um lugar que a teria ocultado da vista. Ele ficou pensando se ela tinha ido espionar alguém, ou esperar por alguém. Que também o fazia pensar se Jessy tinha mais de um Calder do que ele pensava.

Com nada mais a descobrir ali, começou a refazer seus passos. Estava quase na moita espessa de vegetação quando sua consciência o cutucou.

Por perto estava o jazigo da família O'Rourke. Tinha passado um longo tempo desde que Culley tinha estado lá e teve problemas para localizar as lápides que marcavam os túmulos de seus pais. Finalmente, ele os encontrou, quase escondidos entre o mato alto. Afastou os aglomerados mais altos na frente deles e afastou um pouco da sujeira embutida na inscrição esculpida.

Endireitou-se e recuou, tirando o chapéu. Não havia palavras extravagantes na lápide de sua mãe, e nada para identificá-la como qualquer esposa ou mãe. Havia apenas o nome dela, Mary Frances Elizabeth O'Rourke, seguido da data de seu nascimento e morte. Culley não tinha mais do que catorze anos quando ela morrera, mas ainda podia sentir o toque suave de suas mãos em concha nas bochechas.

Um sorriso tocou sua boca em lembrança, mas desapareceu quando sua atenção foi desviada para a sepultura de seu pai. A pedra era tão simples, apenas com o nome escrito em relevo: Angus O'Rourke. Como sempre, a memória mais forte de Culley de seu pai era a de sua morte. Alguma coisa da velha amargura ressurgiu.

— Talvez você roubasse algum gado do Triplo C., — disse ele — mas aquilo não dava direito ao velho Calder de fazer a lei com as próprias mãos e pendurá-lo. Antes que a lembrança daqueles longos dias pudesse perturbá-lo novamente, Culley virou e empurrou o chapéu para trás em sua cabeça. Hesitou, olhando para o enredo de erva daninha embargada.

— Não era justo deixar aquele lugar ficar no mato. — Disse e experimentou uma pontada de culpa por não ter verificado aquilo antes. — Eu vou voltar amanhã e arrumá-lo um pouco.

Explorando mais, ele encontrou algumas marcas frescas de pneus e mais pegadas, um conjunto em ambos os lados do veículo. A julgar pela profundidade das impressões, Culley adivinhou que foram feitas por homens. Entre eles vinculou uma das pegadas à Jessy. O que significava que ela deveria ter se encontrado com eles.

Quem ou por que, ele ainda não sabia e não seria fácil encontrar o porquê, também. Mas pelo menos tinha descoberto as respostas a algumas de suas perguntas.

Capítulo Seis

Na manhã seguinte Culley tomou a melhor parte de uma hora para pesquisar através do celeiro e barracão, antes de finalmente encontrar a foice de mão. Depois passou vinte minutos no rebolo, afiando a lâmina.

Era um pouco antes das nove horas quando finalmente jogou a foice na parte traseira de sua velha caminhonete e subiu ao volante. Levou-a para o fim da pista e virou de cabeça para o cemitério.

O motor da velha picape empacou quando ele pisou no acelerador. A velocidade máxima da picape era geralmente entre quarenta e cinquenta milhas por hora. Mas naquela manhã, ela teve problemas para começar em trinta e cinco.

Quando viu outra picape viajando em sua direção, Culley olhou no espelho retrovisor, aliviado ao ver que não havia ninguém atrás dele. Não queria se encontrar em um acidente, se algum idiota tentasse ultrapassá-lo.

Com sua atenção mais uma vez na estrada à frente, Culley deixou seu maravilhado olhar na picape que se aproximava. Ele foi rápido em reconhecer a insígnia do Triplo C. na porta. Olhou para o para-brisa, tentando identificar o motorista, mas não conseguiu uma boa olhada até que o carro passou por ele. No minuto em que viu Jessy Calder atrás do volante, decidiu que ela deveria estar em seu caminho para o Círculo Seis para visitar Cat.

Ele não teria outro pensamento se não tivesse notado uma segunda picape seguindo-a de perto. Culley viu logo que tinha outras placas. Era raro que alguém viajasse naquelas estradas muito menos um não residente de Montana.

Parecia haver duas, talvez três pessoas viajando nela, mas Culley teve uma boa visão apenas do motorista. Imediatamente sentiu que havia algo familiar nele. Então se lembrou do vaqueiro que tinha falado com Jessy no cemitério do Triplo C. Começou a pensar se aquele cowboy também poderia ser o mesmo que ela conhecera ontem.

— Mas, — disse Culley a si mesmo com uma careta — por que ela iria encontrá-lo às escondidas?

Localizada no ombro que se projetava de um contraforte rochoso, a velha barraca da linha estava escondida na encosta, tomando vantagem de seu abrigo contra os ventos frios do inverno. O terreno era mais pedra do que solo, cravejado com vegetação baixa, atrofiados pinheiros, e os remendos de grama magra.

A queda brusca lhes tinha impedido de dirigir mais perto de uma centena de jardas do lugar. Jessy sentiu o puxão e estiramento dos músculos das pernas quando fez a subida inclinada.

Quando cobriu a ascensão ao ombro do monte, ela deu uma parada abrupta e simplesmente olhou para a estrutura em ruínas. Uma seção considerável do telhado tinha desmoronado; todas as janelas estavam quebradas, o batente da porta pendurado, balançando em suas dobradiças.

— Talvez aquela não fosse uma boa ideia. — Jessy, olhou ao Chase com uma mistura de pesar e preocupação. — Está pior do que eu pensava.

Por outro lado, Hattie murmurou em desespero: — Lordy, isso me lembra de onde ficamos no México.

Um “shhh” interrompeu a frase e lançou um olhar triste em Laredo, como se tivesse dito algo que não deveria.

— Agora, você não está olhando direito para isso. — Laredo sorriu preguiçosamente, as mãos nos quadris, uma perna inclinada em uma postura relaxada. — Este lugar tem uma claraboia, bom fluxo de ar, e um curioso toque rústico.

— Desorganizado, você quer dizer. — Hattie corrigiu com censura seca.

— Você está se esquecendo que sua casa não estava em muito melhor forma quando você e eu compramos o lugar. Quando a linha do barraco não caia quando você se inclinava sobre ele e podia ser reparado. — Ele colocou a mão em seu ombro incentivando-a tranquilamente e lhe pediu para ir em frente. — Vamos dar uma olhada.

— Eu vou olhar, — Hattie concordou com reservas óbvias — mas estou dizendo a você agora que estou feliz quando usou o último dinheiro para comprar aquela tenda. Você pode apostar que é onde vou dormir hoje à noite.

— Falando em dinheiro. — Jessy pegou no bolso da calça Levis um maço de notas e o entregou a Chase. — Isso é tudo o que tinha deixado no fundo da gaveta. Eu ainda não descobri como irei explicá-lo, mas irei.

— Que é facilmente manipulado. — Chase olhou para as notas antes de enfiá-las em seu próprio bolso. — Você tem um pedaço de papel?

— Eu tenho um bloco na picape. Por quê? O que você tem em mente?

— Eu vou escrever um “eu”, assiná-lo e datá-lo para a minha viagem para o Texas.

Jessy assentiu em aceitação imediata. — Dessa forma, eu não terei que explicar nada.

Quando Hattie percebeu que eles não estavam atrás dela, parou e olhou para trás — Você não vem, Duke?

— Nós estaremos lá. — Ele acenou com a cabeça e começou a avançar.

— Ela o chamou de Duke? — Jessy o olhou com curiosidade.

— Eles tinham que me chamar de algo quando eu não podia lhes dar meu próprio nome e Hattie veio com Duke. — Ele não acrescentou que se sentia mais confortável com aquele nome do que com Chase Calder, ainda mais sendo uma pessoa que ele não conhecia.

Após uma inspeção inicial da velha cabana da linha, Laredo concluiu: — O dano não parece pior do que é. Além de um pouco de madeira podre no telhado, o resto da estrutura parece boa. Alguém a construiu para durar.

— Essa é a única maneira Calder de construir coisas. — Disse Jessy, ecoando uma declaração que seu pai tinha feito uma vez.

Hattie enfiou a cabeça dentro da porta — Há bastante sujeira aqui para plantar um jardim. Vai levar uma semana para deixá-la limpa o suficiente para viver, e expulsar todos os insetos rastejantes. — Ela se afastou da porta com um leve estremecimento expressivo.

— Algo me diz que se alguém pode transformar o Ninho do Javali em uma casa, é você, Hattie. — Chase declarou em uma voz seca com diversão.

Jessy se voltou para ele com surpresa. — Você se lembrou do que nós costumávamos chamar este lugar.

— Será que eu? — Chase estava cético. — É possível, mas no jargão vaqueiro, cabanas de linha foram muitas vezes referidas como ninhos de javali.

— Talvez elas fossem, — Jessy admitiu — mas nós temos duas outras barracas de linha antigas, ainda utilizadas, e esta é a única que passou pelo nome do javali.

— Você pode dizer o que quiser Duke, — Hattie declarou — mas eu escolho acreditar que você acabou de recuperar o seu primeiro pedaço de memória, mesmo que seja uma peça insignificante.

— Enquanto vocês dois discutem sobre quem está certo — Laredo inseriu — Jessy e eu vamos descarregar as picapes, para que ela possa voltar para o rancho. Você pode querer dar alguma ideia de onde deseja que a barraca seja montada. Antes de eu enfrentar a fixação da cabana, planejo limpar a armadilha mortal para que possamos conduzir pelo caminho até aqui.

Jessy ficou impressionada com sua decisão eminentemente prática. Mas ela não disse nada até que eles estivessem em seu caminho para baixo, na colina. — É sensato limpar o caminho em primeiro lugar.

— Estou feliz que você aprove. — O divertimento brilhava em seus olhos azuis, ligeiramente zombando dela. O que a incomodava muito ligeiramente. — Você entende, não é que eu me oponha à longa caminhada, mas tenho certeza que não gostaria de arrastar toda a madeira compensada e madeira serrada que vou precisar para corrigir o buraco no telhado.

— Essa não foi à aprovação que você ouviu. — Jessy disse a ele, numa frieza em sua voz. — Foi alívio por parecer que você tenha algum senso comum. Tem que lembrar que você é um total estranho, tanto quanto eu estou preocupada.

— Incomoda-a que Hattie e eu estejamos cuidando do Chase, não é mesmo? — Laredo adivinhou.

— Eu sei que Chase confia em você. — Jessy respondeu, deliberadamente encobrindo.

— Mas você não confia.

Ela voltou para sua franqueza habitual. — Não inteiramente.

— Eu imagino que você esteja querendo saber se estou nessa pelo dinheiro que eu poderia estar esperando Chase me dar, numa contribuição considerável para a minha conta bancária, quando isto acabar. — A zombaria estava novamente em seu sorriso preguiçoso.

— Isso passou pela minha cabeça. — Admitiu e esperou Laredo negar que fosse o seu motivo.

— Em primeiro lugar, eu não tenho uma conta bancária de modo que qualquer contribuição que ele possa oferecer teria de ser feita em dinheiro. — Ele respondeu com uma cara perfeitamente séria.

Jessy parou em surpresa atordoada. — Você está realmente admitindo que esteja pensando apenas no dinheiro dele?

— O que há de errado com isso? — Ele respondeu com indiferença e continuou andando. — O Velho Oeste está repleto de histórias de pistoleiros que trabalharam para grandes empresas. No Ocidente de hoje, eles ainda o fazem, mas lhes dão nomes politicamente corretos como guarda-costas e investigadores. — Laredo olhou para ela e sorriu. — Eu a desapontei, não foi? Você queria que eu dissesse algo nobre como, eu estou aqui porque Chase é um bom homem.

— Não sei o que esperava, mas não era o que eu queria ouvir. — Ela retomou a sua descida do morro. — Eu o assumo e Chase sabe disso.

— O homem perdeu a memória, não a sua mente. — Ele repreendeu, e Jessy estava irritada consigo mesma por sequer fazer a pergunta. — A ideia de ser pago para cuidar de Chase realmente incomoda você, não é? Talvez eu precise colocá-lo em conversa de vaqueiro. Quando eu tomo o dinheiro de um fazendeiro, eu monto para a marca, e no meu trabalho, geralmente significa que vem o inferno de água alta. Desta vez é mais provável que seja o inferno de alta água.

Ele falou em um tom de brincadeira, mas o aço duro de seus olhos era tudo. Era uma qualidade que Jessy havia observado em Logan em raras ocasiões. Mas as semelhanças paravam por aí.

— Então, você trabalha como guarda-costas para viver. — Ela lutou para envolver sua mente em torno daquele pensamento.

— Lá vai você assumindo as coisas. Eu disse apenas que era o que eu estava fazendo agora. — Ao chegar às picapes, Laredo levantou um caixote de produtos enlatados da parte de trás e o içou em seu ombro, transportando até o saco da tenda. Ele fez uma pausa. — Mais alguma pergunta? Porque eu sou susceptível de soprar levando isto à colina. Eu não posso ter ar suficiente para falar.

— Apenas uma: Laredo Smith é seu verdadeiro nome?

Ele lhe deu um olhar irônico e balançou a cabeça com espanto trocista. — Você realmente acha que qualquer mãe vai nomear seu filho de Laredo? Eu não penso assim, mas você continua a fazer perguntas. É assim que se aprendem coisas. — Ele começou a subir a colina.

— Gostaria de saber se eu tenho mais respostas diretas. — Jessy rebateu, erguendo a voz para ter certeza de que ele a ouvia. Ela estava certa de que quase detectara uma risada baixa dele.

Depois de duas viagens, Laredo decidiu que eles tinham levado tudo o que seria necessário para a noite. O resto dos itens foi carregado na parte de trás de sua picape para ser rebocado mais tarde depois de ter varrido o caminho.

Preparando-se para sair, Jessy deslizou atrás do volante de sua picape. — Diga a Chase que vou vê-lo. Talvez não possa ser capaz de voltar amanhã, mas virei assim que puder escapar de novo.

— Eu vou fazer isso. — Laredo respondeu. — A propósito, você foi capaz de encontrar qualquer coisa sobre aquele sujeito Brewster?

— Ainda não. Entendi que você iria checar à conta do hotel. Havia várias chamadas locais sobre ele e umas poucas de longa distância, mas a maioria é dos que estão no Triplo C. Eu vou continuar tentando encontrar algo. — Prometeu e deslocou a picape em marcha à ré, fazendo a curva apertada para fazer o caminho acidentado de volta para a estrada velha do fogo.

Quando Jessy chegou à cabeça do Triplo C. quase duas horas mais tarde, foi rápida em perceber o veículo de Cat estacionado na frente da Casa Grande. Trey estava na varanda, demonstrando suas habilidades com a corda para Quint, enquanto Laura se sentava em uma das cadeiras de balanço, brincando com sua boneca.

No momento em que Trey a viu chegar à casa, abandonou seu laço em miniatura e correu para recebê-la. — Oi, mãe. Quint está aqui.

— Eu vejo isso. — Jessy disse e divertidamente puxou a aba do chapéu de cowboy de Trey sobre o rosto, em seguida, olhou para Quint. — Onde está sua mãe?

— Dentro com Sally.

Com ambos os braços envolvidos firmemente em torno de sua boneca, Laura pulou da cadeira e correu para o lado de Jessy. — Chorando com Sally. — Declarou Laura, anexando um elevado grau de importância à notícia. — Ela sente muita falta do vovô.

— Vovô vai me comprar um cavalo, — afirmou Trey e imediatamente partiu a galope, atirando a cabeça e relinchando em sua melhor imitação do animal.

Jessy foi diretamente para a cozinha para avisar Sally que estava em casa.

Como o esperado, encontrou Sally sentada em uma das cadeiras da cozinha, com um lenço enrolado acima e pressionado sobre a boca em uma tentativa de sufocar os soluços que sacudiam seus ombros. Cat estava abaixada ao lado da cadeira, uma mão reconfortante descansando no braço de Sally, enquanto as lágrimas corriam por suas próprias bochechas.

Quando Sally avistou Jessy, engoliu as lágrimas e enxugou a umidade em seu rosto. — Eu sinto muito, Jessy. — Fungou — Eu sei que não deveria continuar assim na frente das crianças, mas, — Seu lábio tremeu — eu perdi tanto com Chase.

— Todos nós perdemos Sally. — A voz de Cat tremeu com sentimento. — Mas você sabe que ele iria querer que fossemos fortes.

— Eu tento realmente ser, — insistiu Sally com lágrimas. — Mas quando você disse que queria... — Ela apertou o lenço à boca como se o resto da frase fosse doloroso demais para falar.

— Esqueça, — Cat disse a ela. — Nós não vamos limpar o seu quarto hoje. Ok? — Disse com incentivo tranquilo, e Sally concordou muda, balançando a cabeça. — Você parece exausta, Sally. Por que não vai se deitar um pouco?

— Mas os gêmeos... — Sally começou em protesto.

— Eu vou vê-los para Jessy. Você vai descansar um pouco. — Cat pediu.

— Vou tentar. — Sally se levantou da cadeira e se encaminhou em direção à porta, um peso acentuado em seus movimentos.

Jessy estava agradecida pelo silêncio de Cat enquanto esperava Sally sair da cozinha. Jessy precisava de tempo para recolher seu juízo. A declaração de Cat pode ter tranquilizado Sally, mas tinha alarmado Jessy.

Agora a tarefa de limpar o quarto de Chase de todas as suas roupas e pertences pessoais só tinha sido adiada. Jessy tinha que ir para cima com uma razão lógica para que se mantivesse assim.

— Estou preocupada com Sally. — Cat disse no momento em que a mulher estava em segurança, fora do alcance da voz. — Você notou os círculos sob os olhos e o peso que perdeu?

— Eu sei. Ela admitiu para mim que não foi capaz de dormir muito. — Jessy respondeu.

— Ela não pode continuar assim, não em sua idade, não sem danificar sua saúde. — Cat murmurou com preocupação. — Talvez ela deva fazer uma consulta na clínica. Talvez Dr. Brown possa lhe prescrever um sedativo para ajudá-la a dormir.

— Veja se você consegue convencê-la disso. — Jessy concordou. — Enquanto isso, não vai doer deixar o quarto de Chase como está por alguns meses, não só pelo amor de Sally, mas de Trey também. Ele ainda vai muito lá.

— Você está certa. — Cat concordou e suspirou profundamente. — Eu só queria ser útil. Você e Sally têm tanta coisa para fazer. Isto era ao menos o que eu poderia fazer para ajudar.

— Então me faça um favor: veja se você consegue encontrar alguém para cuidar dos gêmeos durante o dia. — Jessy sugeriu. — Sally não precisa ter a responsabilidade agora. Vou deixar em suas mãos. Quem você escolher vai estar bom para mim.

— Eu vou pegar nisso imediatamente. — Cat prometeu. — A propósito, Culley mencionou que ele a viu esta manhã.

— Sim. Eu passei por ele na estrada. Eu não o notei até que tivesse todo o caminho. — Jessy não ficou inteiramente confortável com o novo assunto.

— Ele disse que pensou que estava a caminho para o Círculo Seis. — Cat não perguntou diretamente aonde Jessy ia, mas a pergunta não formulada estava lá.

— Eu pensei em parar lá para ver você, mas tinha muitas coisas para fazer. — Jessy sorriu para si mesma, percebendo que ela tinha acabado de tomar uma página fora do livro de Laredo com sua evasão. — E eu ainda tenho muito que fazer, então é melhor eu começar.

Usando isso como sua linha de saída Jessy saiu da cozinha e foi para o escritório para enfrentar a papelada que tinha adiado.

O sol brilhava no verão quente e forte ao longo dos montes ásperos e rochosos. A transpiração rolava no pescoço de Chase quando ele ergueu um pacote de telhas em seu ombro, seus músculos esticaram sob o peso. Mas era uma espécie de suor e tensão que o fazia se sentir bem e vagamente familiar.

Depois de ajustar a sua carga para um melhor equilíbrio, ele mudou-se para a escada encostada na cabana. Laredo sem camisa estava no telhado, pregando por baixo o último lote de telhas. O bater rítmico de seu martelo ecoou no silêncio. Com a mão livre, Chase agarrou um degrau e começou a subir.

Ele estava a meio caminho do topo enquanto Hattie carregava um balde de água suja fora da cabana. No instante em que viu Chase, ela deu uma parada abrupta.

— Você se importaria de me dizer o que você está fazendo sobre essa escada, Duke? — Ela desafiou.

— Apreciando à vista. O que lhe parece? — Ele atirou para longe a sua pergunta. — Em seguida, apreciando-a daqui de baixo.

— Eu acho que vou ter que começar a chamar você — insistiu Hattie.

Chase respondeu, com os olhos brilhando. — Um pouco de trabalho honesto não vai me machucar.

— Ele não vai machuca-lo um pouco, — Hattie concordou, — contanto que você o faça no chão. O que você faria se tivesse uma tontura quando estiver na escada?

— Conto com você para me pegar. — Ele brincou.

— Você não me conhece muito bem. Eu iria deixá-lo cair só para lhe ensinar uma lição.

— Agora parece que Hattie tem um coração duro. — Laredo disse através das unhas colocadas entre os dentes.

— É chamado de amor duro. — Ela respondeu com sua habitual coragem e colocou o balde no chão. — Quando você descer pode esvaziar este balde e enchê-lo com um pouco de água limpa. Depois, eu tenho um trapo esperando por você dentro ou uma escova. Você pode fazer a sua escolha. — Ela se virou e voltou para dentro.

Laredo removeu o último prego de entre os dentes e olhou para Chase, a diversão seca brilhando em seus olhos. — Se não tivermos cuidado, ela vai se transformar em um motorista de escravo.

— Há algo sobre uma casa suja que parece ter caspa de uma mulher. — Chase atirou o pacote de cascalho para o telhado coberto de papel preto não muito longe dos pés de Laredo, fez uma pausa e virou o rosto para a brisa constante. Com os braços cruzados e seu olhar correndo, notou uma nuvem de poeira na distância.

— É melhor parar, Laredo. — Alertou. — Há alguém na estrada. Eles parecem estar a uma milha ou mais longe ainda, mas o som pode percorrer uma distância considerável neste país.

Laredo imediatamente se endireitou de sua tarefa e colocou o martelo na alça no seu cinto de ferramentas. Passando para o lado, ele examinou ao longo com as vistas, zerando dentro da nuvem de poeira. — Passe-me aquele estojo binocular da escada.

Depois de retirar os binóculos de alta potência de seu estojo de couro Chase entregou a Laredo e esperou em silêncio enquanto o outro homem os focava na fonte da nuvem de poeira. — Você pode dizer quem é?

— Uma picape do rancho com a insígnia do Triplo C. na sua porta. Eu não posso ver o motorista. Pode ser Jessy. Então, novamente, pode não ser. É melhor jogar pelo seguro. É hora de fazer uma pausa de qualquer maneira.

Ele esperou até Chase começar sua descida, e se mudou para a escada, virando um pé sobre o degrau. Quando chegou ao fim, passou os binóculos para Chase e se dirigiu para o jarro de água. Depois de beber uma grande quantidade do mesmo, derramou um pouco em seu lenço azul desbotado e usou o pano úmido para limpar o suor do rosto e pescoço, enquanto Chase rastreava o andamento do veículo através dos binóculos.

Laredo lançou um olhar de soslaio para ele. — Como está indo?

— Se ele se virar a oeste no próximo cruzamento, provavelmente virá aqui. O que deve dizer que seja Jessy. — Ele manteve os binóculos apontados para a picape. — É sobre o tempo que ela apareceu. Já se passaram três dias agora. Eu esperava que ela viesse ontem.

— Eu imagino que não seja fácil para ela escapar. — Laredo apareceu para ficar ao lado de Chase.

— Provavelmente não. — Mas a admissão foi monótona. Um segundo depois, ele anunciou: — Ela virou a oeste. — Ele abaixou os óculos. — É Jessy, tudo bem, eu só tenho uma boa olhada dela.

Quinze minutos depois, a picape saltou para o relativo achatamento de ombro largo do morro e rolou até parar ao lado da picape de Laredo. Jessy saiu do carro, deu um passo para a parte traseira da picape, e levantou uma mochila para fora da parte de trás, em seguida, se dirigiu à cabine onde Chase estava com Laredo.

— Oi. — Seu sorriso de saudação foi grande e quente quando ela passou a olhar por cima do Chase, notando as mudanças nele. — A bandagem está desamarrada e sua cor está de volta. Você deve estar se sentindo melhor. — Sem esperar pela resposta, ela colocou a bolsa no chão. — Eu joguei algumas roupas e um par de botas de uso diário aqui. Eu pensei que você iria precisar delas. Desculpe-me, não pude vir mais cedo, estive ocupada.

— Com o que? — Chase perguntou levemente irritado por não ter ideia sobre o que estava acontecendo.

— Na verdade, foi com quem. — Jessy respondeu. — Passei a maior parte dos últimos dois dias com advogados e contadores, manipulando todas as pontas soltas legais que não haviam sido amarradas. Falar sobre algo que era um total desperdício de tempo, foi isso. Eu não posso imaginar o que nós teremos que percorrer depois para chegar e declarar que você está legalmente vivo.

— Isso não será por um tempo ainda. — Chase afirmou.

— Você ainda não se lembrou de nada? — O olhar de Jessy se manteve estável em cima dele.

— Não. — Chase não mencionou os poucos itens desconexos que sacudiam em sua mente, nomes que eram sem sentido ou desconhecidos.

Jessy mudou sua atenção para a cabana, tomando nota das novas janelas, a porta refeita, e a porta de tela nova antes de olhar para o telhado parcialmente reparado. — Por que você não terminou o telhado antes de instalar novas janelas? — Ela se virou para olhar a Laredo.

— Hattie estava cansada de lutar contra as moscas. A lista de prioridades deixou a fixação do teto em baixo. — Explicou. — Fixar a bomba e produzir uma linha de água na cabana foi uma das primeiras coisas em sua agenda, as janelas vinham em segundo lugar.

Como se sugerindo, Hattie apareceu do outro lado da porta de tela. — Olá, Jessy. Eu não quero ser rude, mas estou até meus cotovelos de sujeira. Há um pouco de limonada na caixa de gelo. Peça a Laredo para lhe servir um pouco.

— Eu não me importo com qualquer direito agora, obrigada de qualquer maneira. — Disse Jessy.

— Está lá se você decidir tomar um pouco. Eu adoraria a visita, mas vai levar o resto da semana para tornar este lugar habitável. Laredo vai lhe mostrar o chuveiro que colocou lá atrás. É muito engenhoso. É claro que eu ainda tenho de aquecer a água para ele, mas é um chuveiro.

— Um banho? — Ela olhou com curiosidade para Laredo quando Hattie se afastou da porta para voltar ao trabalho.

— É uma engenhoca que poucos montaram... um balde de lona com um acessório de chuveiro na cabeça. Você puxa a corda e a água cai, e para quando você solta a corda.

— Parece prático e eficiente. — Jessy observou impressionada com sua engenhosidade.

— É. — Laredo concordou sem qualquer orgulho em sua voz.

Com um toque de impaciência, Chase interrompeu: — O que você descobriu sobre os telefonemas que fiz no Texas?

— Não muito, infelizmente. — Disse Jessy com pesar. — O homem que você iria ver era Tom Brewster. Alguns negócios a resolver e ele teve que adiar seu encontro com você até o dia seguinte. Quando você não apareceu para a reunião, ele disse que estava um pouco chateado. Foi só no dia seguinte que ele descobriu que você estava morto em um acidente de trânsito.

— O que ele faz? Será que ele sabe por que eu queria vê-lo? — Chase tinha certeza de que Tom Brewster seria uma importante chave.

— Ele é um vice-presidente do Banco Blanchard, e você não lhe disse por que queria vê-lo, só que era algo que preferia discutir pessoalmente. Já que ele está no departamento de empréstimos, assumiu que tinha um projeto que você queria financiar.

— Eu? — Chase não conseguia se lembrar.

— Não que você tenha mencionado para mim. — Jessy respondeu.

— E se você o fez, por que iria a um banco no Texas? — Laredo inseriu. — Eu não acho que iria até lá por um empréstimo.

— A não ser que minha conta bancária regular estivesse muito baixa.

— Depois de passar grande parte dos últimos dois dias com os contadores e guarda-livros, eu posso dizer com absoluta certeza que a fazenda tem uma quantidade suficiente de capital de giro. Realmente não precisava de um empréstimo de negócios. — Jessy disse-lhes. — Havia outra coisa com Brewster que poderia ser importante. Você lhe disse que tinha obtido o seu nome a partir de um amigo em comum, mas não identificou esse amigo pelo nome. — Ela fez uma pausa, outra possibilidade lhe ocorrendo. — Talvez não fosse um empréstimo, talvez fosse Tara. Seria lógico, afinal, ela é de Fort Worth. Devo perguntar a ela sobre isso?

— Pode não ser sábio você começar a fazer perguntas. A pessoa errada pode descobrir que você está ficando desconfiada sobre o que eu estava fazendo no Texas. E pode decidir que você sabe o que eu queria saber, supondo que essa foi à razão de alguém tentar me matar — Era tudo um grande e confuso quebra-cabeça para ele...

De repente, a buzina na picape de Jessy começou a tocar incessantemente, com o som estridente quebrando o silêncio. — Esse é o telefone móvel. — Ela correu para a caminhonete e pegou o telefone, silenciando a buzina.

— Sim, é Jessy. — Ela se preparou mentalmente para notícias sobre alguma emergência no rancho.

— Jessy. Aqui é o Monte. — Veio a resposta alegre. — No passado, eu teria conseguido movendo a terra.

— Olá, Monte. — Jessy relaxou. — O que você precisa?

— Eu propus ir ao rancho esta tarde, mas ninguém na casa sabia quando estaria de volta.

— Provavelmente em torno de uma ou duas da tarde.

— Você poderia me reservar uma hora do seu tempo?

— É importante? — Ela perguntou, pensando nos muitos e variados itens da agenda do dia.

— Tenho algo especial para lhe entregar.

Sua declaração despertou sua curiosidade. — E o que é isso?

— Isso será uma surpresa. — Declarou ele, com um traço de presunção. — E estou confiante que você vai ficar muito contente. Eu a verei às duas horas.

— Estarei lá. — Jessy prometeu e desligou.

Observando sua expressão um pouco confusa quando se aproximou deles, Laredo inclinou a cabeça para um lado, estudando-a de perto. — Há algum problema?

— Não. — Ela disse com um movimento rápido da cabeça, a boca se curvando facilmente em um sorriso. — Era só Monte. Ele irá ao rancho esta tarde e queria saber a que horas eu estaria de volta. Tem algo a oferecer, algo especial, ele disse, mas não quis dizer o que é. Provavelmente um bezerro de seu rebanho de gado registrado das montanhas, embora eu não possa imaginar por que ele acha que eu ficaria tão feliz em obter um.

— Quem é Monte? — Chase questionou.

— Monte Markham, nosso mais novo vizinho. — Jessy respondeu com uma descontração que indicava sua facilidade com o sujeito. — Ele comprou o rancho Gilmore na primavera passada e é originalmente da Inglaterra, como diz.

— Só desde a primavera, hein? — Laredo murmurou pensativo, — O que significa que ele é novo na área. Isso é interessante.

— Você acha que isso pode significar alguma coisa? — Chase adivinhando.

— Uma vez que você disse, é muito cedo para descartar alguém.

— Você realmente não acha que Monte possa estar envolvido no atentado contra a vida do Chase? — Jessy foi mais do que cética.

— É mesmo impossível? — O sorriso de Laredo fez questão de parecer menos que um desafio.

— Não é impossível, mas improvável. — Jessy respondeu. — Quero dizer, qual seria a razão? O homem é praticamente um estranho. Nós mal o conhecemos.

— Mas tenho a impressão que ele se tornou um visitante frequente. Estou certo? — O sorriso ficou, mas havia uma qualidade atenta aos seus olhos.

— Eu não sei se diria que é frequente, mas tem sido várias vezes desde que se mudou para cá. Para mim, nunca pareceu nada mais do que um desejo por alguma empresa. — Ela deu de ombros para enfatizar sua total ausência de preocupação.

— Obviamente ele não é casado. — Laredo concluiu. — Só por curiosidade, quantos anos ele tem?

— Trinta ou quarenta anos, eu nunca perguntei. — Rápida para ver onde seu pensamento estava liderando, Jessy acrescentou secamente: — E se você está sugerindo que ele possa estar interessado em mim, está errado.

— Talvez. — Laredo abaixou a cabeça num gesto de concessão, e segurou o olhar dela. — Qualquer homem em seu juízo perfeito é obrigado a gastar um pouco de tempo, considerando tudo o que a viúva Calder tem para oferecer.

Irritada, tanto com a sua implicação e seu uso da frase "viúva Calder," Jessy falou com um pouco mais de força. — Para sua informação, Monte gastou quase todo o seu tempo com Chase. Ele nunca disse ou fez nada para sugerir que esteja interessado em mim.

— Sim, — Laredo inseriu — ele provavelmente sabe que precisa ir devagar com você.

— Eu acho mais provável que saiba que eu não estou interessada. — Disse ela com um pouco de calor.

— Oh, se você está interessada, tudo bem. — Laredo afirmou com certeza absoluta e ergueu a mão para afastar seu protesto. — E por que, eu não estou sugerindo que você não estivesse muito apaixonada pelo seu falecido marido. Eu acho que vocês provavelmente estavam apaixonados, mas você é de carne e sangue, o mesmo que o resto de nós. É tão natural para uma mulher querer a companhia de um homem como é para um homem querer a de uma mulher. Isso não tem nada a ver com ser infiel ou desleal. Significa apenas que você é humana.

Ela teve que trabalhar aquilo, mas conseguiu responder com calma. — Estou bem ciente disso.

— Estou contente de ouvir isso. — Laredo disse sem problemas.

Ela se virou para Chase. — Se não houver qualquer outra coisa, eu realmente preciso voltar para a fazenda.

— Eu tenho só mais uma pergunta. — Chase inseriu.

— E o que é?

— Quem é o capitão?

Um sorriso iluminou o rosto de Jessy. — Você se lembrou dele.

— Apenas o nome. Eu não sei quem ele é.

— O capitão é um boi longhorn, famoso por liderar o primeiro rebanho na trilha do Texas à Montana, e todos os rebanhos que vieram depois. Ele se tornou uma espécie de lenda no Triplo C. Quando ele morreu de velhice, seus chifres foram montados em cima da lareira no escritório.

— Longhorn. — Foi divertido descobrir sobre o nome que o incomodava e que pertencia a um boi. Ao mesmo tempo, em alguma parte dentro dele, pareceu verdadeiro. — Assim, a Calder fora transferida do Texas. Qual o lugar do Texas?

— Em algum lugar fora de Fort Worth. Eu sei que seu bisavô, Seth Calder, foi enterrado em um cemitério velho em Fort Worth. Ty visitou seu túmulo, enquanto estava cursando a faculdade lá.

— Ainda temos quaisquer laços familiares no Texas?

— Nada que eu já tenha ouvido falar. — Jessy respondeu.

Mais tarde, quando ela foi embora, Laredo comentou com Chase, — Eu gostaria de saber mais sobre esse Monte. Ele parece ser a única nova carta no baralho. Isso pode significar alguma coisa, ou nada.

O cavalo marrom estava se movendo em um preguiçoso, trote embaralhado, cada passo marcado pelo farfalhar da grama do verão seco. Culley O'Rourke sentou-se solto e relaxado na sela, seu olhar passando um pente ocioso no lugar quebrado diante dele.

Mais cedo naquela manhã ele tinha montado para o Círculo Seis e tomara uma xícara de café com Cat. Saindo dali, cavalgara para o sul na área do Triplo C., contornando o sopé áspero onde seria muito fácil para seu cavalo acabar com uma pedra encravada sob sua pata. Essa pequena seção era a única parte do Triplo C. que não estava apta para o homem ou animal.

Como de costume, a direção que ele tomou foi um capricho do momento, uma decisão, muitas vezes, tomada pelo seu cavalo e, por vezes, por ele mesmo, Culley, mas sempre mantendo um estado de alerta natural para o seu entorno. A idade podia ter lhe roubado um pouco de sua força, mas ainda não tinha embotado os sentidos. Conhecia cada visão, cada som, cada cheiro que deveria estar lá, fazendo-o entender rapidamente qualquer coisa que estivesse fora de lugar.

As bruscas rajadas curtas do motor de um veículo em algum lugar ao longe foi um som estranho, que agarrou de imediato a atenção de Culley. Ele freou o cavalo castrado marrom com a cabeça abocanhando. A buzina não durou muito tempo, apenas o tempo suficiente para Culley determinar que ela estava fora de lugar.

O Triplo C. tinha uma estrada do rancho raramente usada a oeste daquela que parava perto da “linha da fronteira norte”. Ele não podia imaginar por que alguém estaria viajando pela estrada a menos que estivesse verificando as cercas. Era uma pergunta que teria que responder para sua própria paz de espírito.

Deitando as rédeas ao lado do pescoço do cavalo castrado, virou a montaria para o oeste e o levantou em um trote amplo. Era um desvio feito para satisfazer a sua curiosidade, mas empurrado sem nenhum sentimento de pressa.

A estrada era quase uma milha de distância em linha reta, mas como a trilha de Culley, era um pouco mais do que isso. Sobre o tempo que tinha dentro da sua vista, ouviu o zumbido constante de um motor. Ele andava com um ponto de vantagem, atingindo-o quando um reboque do rancho veio à tona. Foi pura sorte Culley observar os longos fios de cabelo ouro manchados de mogno aparecendo na janela do lado do motorista.

— Tem que ser Jessy. — Mesmo quando murmurava as palavras, uma expressão intrigada marcava os vincos em sua testa. — O que ela está fazendo por aqui? — Bufou em ceticismo, se lembrando. — Na última vez que perguntei a ela, me disse que alimentava uma linha de fixação de cerca final. Poderia apostar que ela fora se reunir com o cowboy novamente, Brownie? Pergunto onde foi o encontro dessa vez?

Não estando mais interessado na picape, Culley apontou seu cavalo em direção à estrada e a nuvem de poeira desacelerando que o reboque tinha deixado em seu rastro.

Capítulo Sete

Quente e cansada após a viagem com o carro empoeirado, Jessy entrou na Casa Grande e se dirigiu automaticamente para o escritório. Mas seus pensamentos ainda estavam na reunião com Chase. Desde que descobrira que Chase estava vivo, havia encontrado dificuldades para se concentrar no rancho e suas operações. Continuou desviando seus pensamentos do dilema em que sua amnésia a colocava. Ela estava animada, porém, quando ele conseguira se lembrar do capitão. Por certo não era muito, mas poderia ser um começo.

Quando chegou à porta do gabinete, percebeu um movimento em sua visão lateral e olhou para a sala de estar. Quando viu, Beth Trumbo de doze anos de idade, agarrar o corrimão para começar a subir ao andar de cima, por uma fração de segundo Jessy não conseguiu pensar por que a garota estaria na casa. Em seguida, lembrou-se que Beth estava lá para cuidar dos gêmeos. Quase no mesmo instante, Jessy notou o silêncio incomum na casa e percebeu que os gêmeos deveriam estar na sua sesta.

— Você vai verificar os gêmeos? — Ela perguntou a Beth, sentindo uma pontada de culpa pelo pouco tempo que conseguia passar com eles recentemente.

A menina sardenta e ruiva balançou a cabeça em reconhecimento. — Eles estão dormindo há muito tempo.

— Eu vou fazer isso. Você vai pedir a Sally que me prepare um sanduíche. Qualquer coisa; estou morrendo de fome.

— Ela disse que você estaria perdendo o almoço. — Beth lhe deu um sorriso tímido e reverteu seu curso para a cozinha.

Jessy andou para a escadaria larga de carvalho e subiu correndo os degraus, sua expressão se suavizando com o carinho de mãe com o pensamento em seus filhos dormindo. Quando chegou ao topo da escada, havia um indicador da maçaneta virada na fresta da porta do quarto de Chase. Quando a porta se moveu uma fração de polegada, Jessy soube imediatamente que Trey não estava dormindo, e não estava no quarto que dividia com Laura.

Alterando seu curso, Jessy virou para o corredor e se dirigiu para o quarto de Chase. Como se tivesse pressentido o resultado, Trey abriu a porta.

— Oi mãe. — Ele lhe deu um olhar direto de inocência. — Eu acordei.

— Eu vejo isso. — Ela também viu que ele tinha um par de botas de cowboy de Chase, os topos deviam chegar acima dos joelhos. Ela lutou contra um sorriso para a imagem cômica que ele mostrava. — O que você está fazendo com as botas do vovô?

— Eu estava tentando andar. — Ele olhou para elas. — Vovô tinha os pés grandes.

— Definitivamente, muito maior que os seus. — Jessy tirou as botas e colocou-as para baixo, em seguida, as pegou e as devolveu ao armário.

Trey observava da porta. — Alguém pegou a navalha do vovô.

— É certo isso? — Ela fingiu não saber o que ele estava falando. — Você não acha que alguém poderia ter guardado para você não se cortar acidentalmente com ela, não é?

— Eu olhei em todas as gavetas.

— Você não fique mais bisbilhotando nas coisas do seu avô. É muito errado fazer isso. — Ela plantou uma mão em sua cabeça e o levou para longe da porta, dirigindo-o pelo corredor enquanto fechava a porta atrás dela.

Com um bocejo, Laura saiu do quarto, quando viu Jessy, começou a correr. — Estou feliz que você esteja em casa, mãe. — Envolveu-se em torno das pernas de Jessy.

— Eu também estou. — Sorrindo, alisou a mão sobre os cachos loiros de Laura.

Laura inclinou a cabeça para trás de modo a olhar para ela. — Eu quero ir ver a tia Tara, mas Beth não quer me levar. — Seu lábio inferior saliente em um beicinho amuado.

— Isso é porque Beth não tem idade suficiente para dirigir.

Muito rápida Laura mudou de tática e deu seu mais encantador sorriso para Jessy. — Mas você tem mamãe.

— Desculpe, eu não posso hoje. Tenho muitas coisas para fazer.

Irada Laura se afastou dela e enterrou o queixo em seu pescoço. — Você sempre diz isso.

— Em breve nós vamos fazer algo, juntas. — Era uma promessa que Jessy fazia tanto para si mesma como para Laura. — Enquanto isso vamos descer para a cozinha. Sally está me preparando um sanduíche e eu aposto que nós podemos conseguir um pouco de leite e biscoitos para vocês dois. O que acham disso?

— Yuppie! — Trey deu a volta em seus pés com meias, escorregou no piso de madeira e caiu com um baque. Laura estava consideravelmente menos entusiasmada, já ciente do valor da chantagem emocional.

Jessy ajudou Trey a se levantar, verificou se o dano seria principalmente só para seu orgulho, e ordenou: — Você vai pegar suas botas e nos encontrar lá embaixo.

— Ah, mãe. — Com uma aventura descontente dos braços, ele se virou em direção ao quarto e como de costume, seu desespero não durou muito tempo; começou a correr e deslizou os últimos passos para a porta. Com uma sacudida leve de sua cabeça, Jessy começou a descer as escadas. Na verdade, ela se sentia muito mais confortável, às vezes, com as selvagens palhaçadas de Trey do que ficava com o equilíbrio e feminilidade delicados de sua filha. Olhou para Laura seguindo-a para baixo na escada, parecendo uma pequena princesa em treinamento. Ao invés de manter distância de Laura, Jessy retardou sua própria descida.

No momento em que chegaram ao final das escadas, Trey foi se aglomerando para descer os degraus a um ritmo imprudente por trás delas. Há apenas dois degraus do final, pulou e saiu em uma corrida. Quando a porta da frente foi aberta, Trey gritou em uma parada brusca e se virou para ela com um ar de expectativa mostrando claramente a Jessy que ele estava esperando para ver Chase de pé.

Mas era Monte Markham quem entrava no vestíbulo.

— Ah, você está aí. — Disse quando viu Jessy. Seu sorriso fácil se arranjou com a visão dos gêmeos. — Perfeito, os gêmeos estão aqui, também.

— Nós estávamos a caminho da cozinha para um lanche. — Explicou Jessy. — Por que você não se junta a nós?

— Mais tarde. Primeiro eu quero que todos vocês venham para fora ver a surpresa que eu trouxe. — Ele lhes acenou em direção à porta, uma faísca enigmática em seus olhos castanhos.

— Uma surpresa. — Trey repetia com crescente interesse. — Que tipo de surpresa?

— Venham e vejam. — Monte respondeu, aprofundando o mistério. A possibilidade de um presente foi o suficiente para fazer Laura esquecer que ela tinha também dado a sua mãe o tratamento do silêncio. Olhou ansiosa e com os olhos brilhantes.

— Podemos mamãe?

— Claro. — Ela assentiu com a permissão.

Ambos os gêmeos correram para a porta que Monte mantinha aberta para eles, mas esperou por Jessy.

— Eu só espero que o meu presente tenha sua aprovação. — Ele murmurou para ela. — Tenho medo de ter sido um pouco presunçoso.

Jessy suspeitava que ele fora muito presunçoso se pensava que estaria animada para receber uma de suas cadastradas vacas das montanhas. Por enquanto ela optava por não dizer absolutamente nada. Trey aproveitou no momento em que Monte pisou na varanda. — Onde está a surpresa? — Exigiu com desconfiança.

— Ali em baixo. — Monte apontou num gesto na direção do Range Rover que estacionara em um trecho plano de terra na base da colina.

Com o coração apertado, Jessy notou o trailer fixado a van fechada. Era tudo o que precisava ver para se convencer que sua surpresa seria um desgrenhado revestido de besta.

— Onde? — A decepção já estava começando a nublar a expressão de Laura.

— Eu vou lhe mostrar.

Monte assumiu a liderança, descendo os degraus e andando em direção ao trailer. Trey correu atrás dele, seguido de Laura, enquanto Jessy ficou para trás de todos eles.

Ele foi diretamente para a parte traseira do trailer fechado e parou com uma mão na porta. — Todos os três vão ficar lá e cobrir os olhos. — Ele dirigiu-os para um local perto da porta do trailer.

Obediente, Trey e Laura pararam e estenderam a mão para cobrir os olhos. Laura deu uma espiada em Jessy. — Você deveria cobrir seus olhos, mamãe.

Jessy abaixou a cabeça e segurou a mão sobre os olhos, atravessando os movimentos para a sua causa. Ela ouviu o ruído do trinco se abrindo e da rampa do portão sendo baixada ao solo. Não estava surpresa de ouvir o grupo de cascos na rampa.

— Vocês estão prontos? — Monte chamou, arrastando para fora o momento de irritação de Jessy.

Os gêmeos gritaram: — Pronto! — Em um coro animado.

— Muito bem. Vocês podem olhar agora. — Disse-lhes.

Jessy abaixou a mão e forçou um sorriso em seu rosto, em seguida, se congelou com a visão de um pônei de pelagem castanha escovado e com um alto brilho. O pescoço arqueado e as orelhas em pé, o pônei balançou sua cabeça em direção ao trio de espectadores, mostrando uma listra branca de neve que ia do nariz para o topete.

Laura olhou e juntou as mãos em delírio. Trey não perdeu a calma. Correu direto para o pônei e estendeu a mão para ele para acariciá-lo. Laura seguiu a um ritmo mais composto.

— Ele é lindo, mamãe. — Ela proclamou em uma inspeção mais próxima.

— Na verdade, ele é. — Jessy concordou e atirou um olhar para Monte, pegando-o com o olhar esperançoso. Ele estava olhando para ela.

— Eu avisei que estava sendo um pouco presunçoso. — Ele lembrou.

— Então você o fez. — Junto a eles, Jessy passou a mão sobre o pescoço elegante do pônei.

— Ele tem um nome? — Laura perguntou quando o pônei gentilmente deixou cair sua cabeça para seu nível, lhe permitindo pegar sua bochecha.

— Ele é chamado Sundance. — Monte respondeu antes de trazer sua atenção para Jessy. — Ele é uma criança de seis anos de idade. Welsh registrado, extremamente bem treinado, com uma disposição gentil extraordinária. A montaria perfeita para uma criança.

— E eu pensei que você estivesse trazendo mais uma de suas vacas Highland. — Jessy lembrou-se com diversão.

— Mas é uma raça de outra parte da Grã-Bretanha. — Disse Monte. Voltando sua atenção para Trey, ele disse: — Você quer que eu o coloque a bordo para montá-lo um pouco?

Trey imediatamente se afastou do pônei e deu a Monte um olhar que dizia que ele tinha perdido os sentidos. — Ele é muito pequeno ainda para andar.

Por um instante, Jessy estava atordoada demais para reagir. Então sua mente voltou para todas as vezes em que ela tinha dito algo semelhante ao Trey quando levava os gêmeos para ver um potro recém-nascido. Trey obviamente tinha levado suas palavras ao coração.

Monte respondeu a sua afirmação com uma risada baixa. — Sundance pode ser pequeno em altura, mas eu prometo a você que ele está pronto.

Quando Trey permaneceu cético, Jessy acrescentou a sua garantia. — Está tudo bem para montá-lo, Trey. Ele está tão grande como vai conseguir ser.

Uma carranca enrugou a testa quando Trey fez outro estudo crítico do pônei. Acabando com a sua avaliação, ele olhou para Jessy. — Menor que a Molly, mãe.

— Eu sei. — Jessy murmurou e percebeu imediatamente que, quando comparado com a Molly de Quint, o pônei não poderia ser medido. — Sinto muito, — disse ela ao Monte com uma voz cheia de pesar apologético — eu tenho medo que Trey tenha o seu coração fixo em um cavalo como o do seu primo.

— Meu avô vai me dar um. — Afirmou Trey pela enésima vez.

— Bem, esta é uma mudança inesperada dos acontecimentos. — Disse Monte, claramente em perda sobre o que fazer a seguir. — Parece que a minha grande surpresa acabou por ser apenas um fracasso.

Antes que Jessy pudesse dizer alguma coisa, Laura falou: — Eu posso montá-lo, mamãe?

— Claro que você pode. — Jessy imediatamente pegou-a e a colocou sobre as costas do pônei. Laura agarrou automaticamente um punhado da juba sedosa do pônei, com grande expectativa.

— Parece que alguém aqui aprecia você, Sundance. — Monte murmurou ao pônei e o levou para longe do trailer.

Foram ao redor do pátio do rancho e, na maior parte em uma caminhada, mas, ocasionalmente, em um trote de corrida que fez Laura dar uma risadinha. Aquilo mostrava bem em momentos como aquele, que Jessy estava convencida de que seu amor por cavalos era a única coisa que sua filha tinha herdado dela.

Um Trey invulgarmente abatido assistiu sua irmã em silêncio. Olhando para baixo, Jessy notou o toque de inveja em sua expressão.

— Tem certeza que você não gostaria de passear no pônei?

Era óbvio que ele estava tentado a mudar de ideia. Ainda assim, hesitou. — Será que Tony e Jobe irão montá-lo? — Perguntou, se referindo aos dois rancheiros que ele particularmente admirava.

— Eu penso que eles são grandes demais para montar Sundance. Mas quando tinham a sua idade, aposto que eles gostariam muito.

Enquanto Trey estava meditando sobre sua declaração, o pai de Jessy, Stumpy Niles, entrou no pátio do rancho e parou perto do trailer. Deixando o motor da picape em marcha lenta, enfiou a cabeça para fora da janela do lado do motorista com um braço enganchado sobre ele.

— Oi. Eu não esperava vê-lo esta tarde. — Disse Jessy em saudação.

— Preciso pegar algumas coisas no comissário para a sua mãe. — Respondeu ele, sua atenção mudando para Laura e um sorriso orgulhoso levantando sua boca. — Laura é com certeza uma imagem sobre o pequeno cavalo manchado. Olhe para isso. O cabelo dela está quase na mesma cor do pônei.

— Não é? — Mas Jessy foi rápida a notar a rigidez repentina na expressão de Trey. Ela suspeitava que era a frase pequeno cavalo manchado que causava aquilo, confirmando assim a sua própria opinião sobre o pônei.

— Eu vou pegar a minha corda, mãe. — Disse ele, e partiu para a casa.

— O que há de errado com ele? — Stumpy franziu as sobrancelhas em surpresa. — Nem sequer disse olá.

— Acho que está desapontado. Monte comprou o pônei como uma surpresa para Trey, mas ele quer um cavalo de verdade. — Jessy explicou. — Tem significado chamá-lo e ver se há um cavalo suave o suficiente para ele em nosso próprio rebanho?

— Sim, isso parte meu coração. O modo como ele continua dizendo que Chase vai lhe conseguir um. Eu vou ver ao redor e descobrir se os meninos sabem de um. — Stumpy prometeu. — Está tudo bem?

— Tudo bem. — Assegurou.

— Então é melhor eu ir antes que sua mãe tente um ajuste. — Ele esboçou um sorriso e partiu em direção ao comissário do rancho.

Sua partida coincidiu com o retorno de Monte com Laura e o pônei ao reboque. — Será que Poppy me viu? — Laura perguntou com seus olhos castanhos brilhando de emoção.

— Ele certamente o fez. — Jessy levantou a menina em seus braços. — Ele me disse que você estava linda em conjunto com Sundance.

— Eu sei. — Respondeu Laura sem um pingo de modéstia, e concedeu seu mais doce sorriso ao Monte. — Você pode trazer Sundance de volta amanhã para que eu possa cavalgá-lo de novo?

— Na verdade, Sundance é um presente para você e seu irmão. — Sua hesitação foi fracionada, mas Jessy o pegou.

— Ele é? — Laura quase gritou as palavras, e explicou a Jessy. — Ele é um presente. Isso significa que podemos ficar com ele, mamãe.

— Certamente que sim.

Laura se forçou para ser colocada no chão. — Eu tenho que ir dizer ao Trey. — No instante em que Jessy a colocou no chão, Laura correu para a casa com qualquer pensamento de decoro temporariamente esquecido.

Monte observava com uma irônica diversão prendendo sua expressão. — Pelo menos o pônei é um sucesso com sua filha.

— Sinto muito sobre Trey. — Disse Jessy com toda a sinceridade. — Ele está naquela idade em que quer a coisa exata que seu primo mais velho tem. Ele se recusa a ficar satisfeito com uma versão menor do mesmo. Calder pode ter conseguido dessa forma. Quando eles conseguem uma noção em se inventar herdeiro, é difícil que coloque para fora.

— Felizmente sua filha não é tão inclinada.

— Laura gosta de qualquer coisa bonita, e Sundance é definitivamente um lindo pônei. Foi muito generoso de sua parte comprá-lo... — Jessy começou.

Monte a cortou. — Que valor teria o dinheiro se você não pudesse gastá-lo para trazer um pouco de alegria para a vida de uma criança? — Ele não lhe deu chance de responder. — Vamos ajudar Sundance a se estabelecer em sua casa nova? Você assume a liderança, enquanto eu busco sua sela e arreios na van.

Mas Jessy não achou sua beneficência tão fácil de aceitar. Ela tentou novamente. — Ainda...

— Se você sentir a necessidade de me retribuir de alguma forma, me convide para jantar. — Seu sorriso foi rápido e provocante.

Desistindo, Jessy sorriu de volta. — Considere-se convidado.

— Quando? — Ele desafiou levemente.

— Hoje à noite, se você estiver disponível.

— Estou sempre disponível para jantar no Triplo C. A que horas?

— Por volta das sete.

— Eu estarei aqui.

Foi só depois que ele a deixou, que Jessy recordou as suspeitas que Chase e Laredo tinham manifestado sobre Monte. Era uma possibilidade que Jessy não tivera coragem de admitir na hora. Lembrou-se muito bem que uma vez ela tinha considerado ser completamente absurda qualquer sugestão de que Dick Ballard pudesse ter tido algo a ver com a morte de Ty. Isso a fez muito mais hesitante para saltar para conclusões sobre a inocência de alguém novamente.

Ao mesmo tempo, ela não teve nenhum pesar sobre convidar Monte para jantar, convencida que seria melhor para descobrir o máximo que pudesse sobre ele, e certamente seria o que Chase teria feito.

Como sempre, Monte era uma pessoa pouco exigente, mostrando-se ao mesmo tempo divertido e confortável por estar próximo. Qualquer coisa concernente ao que Jessy poderia ter sentido, se pudesse ler algo no fato de ser ele seu único convidado pela primeira vez, acabou por ser improcedente. Nada em seus modos indicavam que ele considerava como algo mais do que dois amigos que compartilhavam de uma refeição. À luz das insinuações de Laredo sobre Monte estar interessado na "viúva Calder," era uma observação que secretamente satisfazia Jessy.

Na conclusão do jantar, Jessy seguiu o costume Calder, pedindo a Sally para servir o seu café no escritório. Ela não pensou duas vezes sobre o pedido até que notou uma Sally pálida em pé congelada na porta, os olhos cheios de dor olhando para a cadeira vazia atrás da mesa. Nessa segunda vez Jessy percebeu que era a primeira vez que os hóspedes eram entretidos no escritório desde a suposta morte de Chase.

— Sally. — Jessy estendeu a mão em seu pedido de desculpas pela imediata irreflexão.

— Ah, o café chegou. — Monte imediatamente cruzou a soleira da porta, eliminando qualquer momento de constrangimento. — Deixe-me carregar a bandeja, Sally. Eu insisto. — Acrescentou, quando ela tentou protestar. — É muito pesada para você. — Evitando a mesa, ele a levou direto para a mesa do café. Sally o seguiu, toda confusa e chateada. Depois de colocar a bandeja sobre a mesa, ele se voltou para ela. — Perdoe-me por não a elogiar em um delicioso jantar. O bife a Wellington estava magnífico.

— Obrigada, eu... — Ela olhou de relance para a mesa e imediatamente se engasgou.

Monte pegou sua mão, apertando-a calorosamente entre as suas e, em seguida, lhe deu um tapinha reconfortante. — Eu sei. É muito difícil para você, não é? — Ele murmurou, com uma preocupação solícita. Incapaz de falar, Sally simplesmente assentiu. Gentilmente Monte passou o braço em torno do ombro e a virou distante da secretaria ao caminhar de costas para a porta. — Eu não vou lhe dizer que se torne mais fácil com o tempo, porque isso não acontece. Simplesmente se torna suportável.

Depois de Sally sair, ele voltou para o sofá de couro. Jessy serviu café para ambos e lhe passou um copo. — Foi muito gentil de sua parte, Monte. — Disse ela, tocada por sua sensibilidade.

— É bastante óbvio que ela gostava muito dele.

— Eles eram amigos há anos. — Foi um esforço consciente se referir a Chase no passado, e Jessy não estava acostumada a cuidar das suas palavras.

— Eu não conheço ninguém que não pense bem de Chase. — Monte agitava o leite em seu café e lhe lançou um sorriso rápido. — Mas vamos falar de outras coisas. Nós não podemos escapar da tristeza, mas não temos que pensar nisso.

— Eu concordo. — Com o copo na mão, Jessy recostou-se contra as almofadas do sofá.

— Meu irmão telefonou hoje. — Monte começou, depois parou, levantando um dedo para interromper a si mesmo. — Acabei de me lembrar de algo. Foi-me dito por... Eu não sei... alguém, que o Triplo C. tem um confinamento que não está sendo utilizado. Isso é verdade?

— Há um em cima da faixa norte, mas não temos nenhum gado nele há anos. Foi um experimento que nós tentamos, mas após as perdas que sofremos em uma tempestade, decidimos parar com a operação de vaca-bezerro. Por quê?

— Quando eu comprei o meu rancho, parece que despertei um pouco de inveja na volta para casa. Acho que você iria se surpreender ao saber o número de pessoas de várias esferas da vida que gostariam de entrar no negócio de gado. — Disse ele, divertido. — Vários ficaram importunando-me para montar alguma coisa para eles. Meu primeiro pensamento foi uma operação de confinamento, desde que eu não ache que eles queiram se comprometer com qualquer coisa em longo prazo. Saí à procura de um lugar para alugar para os dois últimos ou três meses. Então eu ouvi sobre o seu. Sua proximidade com meu rancho o torna ideal. — Ele fez uma pausa, com a boca numa torção triste. — Embora, para ser franco, tenho sido relutante até mesmo em trazer à tona o assunto. Eu valorizo muito nossa amizade. Não gostaria de qualquer acordo comercial interferindo com ela.

— Nem eu.

— Pense sobre isso, — ele inseriu antes que Jessy pudesse dizer mais. — Além de pagar um preço justo para arrendar o confinamento, os investidores também teriam um contrato com você para fornecer o trabalho e executá-lo. Financeiramente você não teria absolutamente nada a perder. De acordo com Ben Parker, acordos como estes se tornaram bastante comuns.

— É verdade, embora fosse uma primeira vez para o Triplo C. — Só isso já seria motivo suficiente para fazer Jessy relutar em dar sua resposta sem qualquer consideração.

— Não há dúvida que é. — Monte assentiu em entendimento. — Eu não o teria sugerido, exceto pelo fato que tenho total confiança em que você vai ver se os bovinos foram devidamente alimentados e cuidados. O que o torna muito fácil de lhe recomendar sobre algum fazendeiro, eu não sei bem.

— Eu posso ver isso.

— Como eu disse, acho que acabou. Se você decidir que não está interessada, vou simplesmente olhar em outro lugar. — Ele sorriu rapidamente e tomou um pequeno gole de café, e abruptamente abaixou o copo. — No entanto, isso só me ocorreu, porque um acordo como esse não seria tão diferente daquele quando o Triplo C. arrendou os direitos de perfuração para a empresa de petróleo.

— Eu tinha esquecido sobre isso. — Jessy murmurou pensativa.

Era um argumento que a levava a decidir discutir a proposta com o Chase, em vez de rejeitá-lo simplesmente.

O confinamento fora um dos projetos de Ty, construído para diversificar a operação pecuária, e tinha exigido despesas de capital consideráveis numa altura em que o Triplo C. tinha ficado amarrado por dinheiro. Os prejuízos causados pela tempestade, tanto em danos para a instalação como pelos bovinos mortos, tinha sido incapacitante. Tinha sido um golpe pessoal para Ty no momento, sacudindo sua confiança. A proposta de Monte oferecia uma oportunidade de realizar um retorno sobre o dinheiro investido no confinamento em todos aqueles anos atrás. Jessy gostava da ideia de que, Ty certamente ficaria satisfeito com o negócio.

Mas primeiro ela precisaria ver a situação em que estava. Além de ser pressionada em serviço como um curral de exploração durante os rodeios, a instalação não tinha sido utilizada em anos.

Capítulo Oito

Aquela velha curiosidade do diabo tinha se apoderado de Culley O'Rourke e não iria deixá-lo em paz. Dois dias atrás, ele havia passado a maior parte da tarde tentando acuar Jessy sem sucesso.

Incomodada pelas perguntas de onde ela tinha ido e por que, Culley tinha tornado a assombrar as áreas, principalmente as fora de suspeita. Ele continuou se lembrando da conversa de Jessy com o cowboy no funeral, sua reunião secreta com dois homens no antigo cemitério, e do cowboy a seguindo no dia seguinte em sua picape. Quando Culley adicionava tudo, não parava de se dizer que havia algo estranho acontecendo. E talvez estivesse acontecendo ali. Se fosse assim, Culley estava convencido que Jessy apareceria na área novamente. E ele estaria de plantão quando e se ela o fizesse.

Culley era um veterano em espera e observação. Quando havia uma razão para isso, ele saia tão naturalmente como em todas as suas andanças inquietas. No primeiro dia de sua vigília, tinha encontrado um lugar confortável, que oferecia alguma sombra à tarde, para seu cavalo pastar, e uma visão de longo alcance da estrada do rancho onde ele a tinha visto pela última vez.

Duas vezes nos últimos dois dias, Culley havia jurado ter ouvido o som de um veículo em algum lugar distante, mas nenhum tinha aparecido na estrada, o que significava que ele provavelmente estava viajando em outro lugar, tornando-se sem nenhum interesse para Culley.

Abaixando-se na sombra de uma pequena encosta de colina gramada, preguiçosamente ouviu o tilintar da cadeia de freio enquanto o cavalo marrom mastigava alguma grama. Em seguida, ouviu o zumbido fraco de um motor e mudou de posição para observar a estrada. O som cresceu de forma constante em volume. Segundos depois, ele avistou a nuvem de poeira e o reflexo da luz solar em algo brilhante. Logo não havia nenhuma dúvida, um veículo estava vindo em sua direção.

Culley rolou em seus pés e fez o caminho descendo a encosta para o cavalo marrom. Recolheu as rédeas e a lançou sobre o pescoço do cavalo, enfiou o pé no estribo e se virou para a sela. Sem perder tempo, chutou o cavalo castrado em um galope e definiu um rumo para interceptar a estrada bem ao norte, tomando cuidado para se manter fora da vista.

Quando Jessy se alinhou para a cabana, notou pela primeira vez as novas telhas na parte do telhado remendado, em seguida, o ar geral de asseio sobre o lugar. Não havia ferramentas ou escadas próximas. Todas as ervas daninhas ou grama alta que cresciam ao lado da fundação tinham sido cortadas curtas, e cortinas engomadas estavam penduradas nas janelas.

Quando desceu da picape, a porta de tela se abriu, e a forma alta de Laredo preencheu o quadro. — Seus ouvidos devem queimar. Nós estávamos falando sobre você.

— Nada de ruim, eu espero. — Ela respondeu de ânimo leve.

— Isso depende. Nós estávamos imaginando o que aquele cara inglês, o Markham entregou a você no outro dia. — Recuando ao interior, Laredo manteve a porta de tela empurrada para admiti-la.

— Um pônei. — Jessy passou por ele na cabana e fez uma pausa para passar os olhos admirando ao longo dos muitos toques caseiros que haviam sido acrescentados à cabana agora com o interior impecável; tudo, desde as almofadas de assento amarradas às cadeiras de madeira, até o par de cadeiras de balanço que ladeavam o antigo fogão de ferro. — Você tem andado muito ocupada. — Disse ela à Hattie.

— É um começo, — respondeu a mulher, distraída e se virou do curto espaço dos armários, com um prato de serviço em cada mão. — Nós estávamos apenas sentando para o almoço. Há uma abundância de comida, se você se juntar a nós.

— É tão tarde? — Jessy disse surpresa, então, tardiamente percebeu os talheres na mesa onde Chase estava sentado. — Eu acho que vou passar o almoço, mas vou tomar uma xícara de café se você tiver algum feito.

— Está no pote. — Hattie assinalou com a cabeça na direção de um velho bule de café de estilo coador projetado para uso em um fogareiro.

— Tem certeza que não quer se juntar a nós? Hattie faz um excelente goulash. — Laredo puxou uma cadeira e se sentou à mesa em frente de Chase.

— Não dê ouvidos a ele. — Hattie advertiu. — Ele está apenas dizendo isso, na esperança de me convencer que não preciso de nada maior do que esse fogão Coleman para cozinhar.

— Que história é essa de um pônei? — Chase queria saber.

— Não era para mim. Era para o Trey. — Jessy explicou enquanto enchia uma caneca com café. — Eu devo ter mencionado a Monte que Trey decidiu que você foi para o Texas para lhe comprar um cavalo. Monte se lembrou e comprou um pônei. Eu acho que ele pensou que Trey não se importaria com a diferença, mas ele o fez. Felizmente Laura caiu de amores pelo pônei. Eu teria odiado se tivesse que levar o pônei de volta, mas Monte não fez isso.

— Teria sido uma verdadeira vergonha. — Laredo falou em zombaria seca, — especialmente quando se considera que o caminho mais rápido para o coração de uma mulher é através de seus filhos.

Jessy se irritou com sua implicância de que Monte tinha os olhos postos nela. Certo de que o havia dito apenas para sair do assunto, ela concentrou sua atenção em Chase.

— Monte tinha uma proposta de negócio interessante que eu queria discutir com você. — Disse ela e começou a relacioná-la para ele. Incapaz de se lembrar de nada sobre o confinamento ou a razão pela qual ficou parado, Chase perguntou a Jessy sobre ele. Depois que ela lhe explicou tudo sobre aquilo, eles passaram a proposta de Monte novamente.

— Parece muito semelhante ao acordo que fiz. — Hattie interrompeu. — Eu arrendei minha terra de pastagem para uma empresa. Eles cuidam do gado sobre ela e me pagam para cuidar deles.

— Você tem um rancho no Texas? — Jessy disse com alguma surpresa.

Hattie assentiu. — Sudoeste de Fort Worth, mas é uma pequena expansão em comparação com o Triplo C. — Ela correu um olhar ocioso em torno da cabana. — Na verdade, a casa estava em pior forma do que esta cabana quando meu marido e eu compramos o lugar há mais de trinta anos. Os proprietários anteriores tinham usado para armazenamento de feno. Felizmente, a casa velha ainda era estruturalmente sólida, porque não podíamos nos dar ao luxo de construir uma nova, mas tivemos um monte de trabalho para torná-lo habitável. Um dos nossos vizinhos nos disse que tinha sido construído antes da guerra entre os Estados.

— Benteen Calder veio do sudoeste de Fort Worth. — Jessy lembrou pensativa. — É provável que ele tenha visitado o rancho em um momento ou outro.

Desinteressado em conjecturas ociosas, Chase assentiu num acordo ausente e trouxe a discussão de volta ao seu assunto original. — Eu sei que a proposta de Markham é financeiramente uma situação boa para o rancho, mas meu instinto me diz para recusá-lo.

— Por outro lado, — Laredo inseriu quando ele empurrou de volta seu prato agora vazio — pode ser sábio pegar as cartas que ele está lhe dando. Se ele corre o gado nesse lote, parece que vai ser um visitante mais frequente. Além disso, ele dá a Jessy uma boa razão para contratar algum ajudante extra, como eu.

— Mas você não é cowboy. — O que na mente de Jessy, se apresentava como um problema.

Laredo não negou. — Eu sei o suficiente sobre o gado para me passar por um cowboy de confinamento, e nenhum de seus empregados regularmente vai pensar duas vezes, quando um estrangeiro fizer um monte de perguntas intrometidas. Eu poderia descobrir coisas que você não pode.

— Isso é verdade. — Mas ela duvidava que ele fosse receber muitas respostas.

— Além disso, vai se tornar cada vez mais difícil você escapar e vir aqui. Desde que eu tivesse que voltar todos os dias, eu poderia trazer a Chase qualquer informação que você ou eu pudermos descobrir.

— Isso resolveria, tanto quanto eu estou preocupado, — Chase anunciou. — Diga a Markham que você vai fazer o negócio, mas eu não quero ver nenhum acordo feito antes de assiná-lo. — Acabando sua refeição, Chase se levantou, sinalizando o fim de qualquer discussão.

Jessy também se levantou. — Eu vou ligar para Monte logo que voltar para a Casa Grande.

Laredo alcançou a porta à frente deles e saiu para segurar a porta de tela aberta. Jessy estava na metade de abertura quando Laredo voltou em seu caminho, bloqueando a saída, a cabeça esticada, tenso e erguido em uma pose de escuta.

— Acho que ouvi alguém. — Murmurou em alerta, assim quando Jessy estava prestes a zombar com a noção que ninguém estaria ali, ela ouviu o rangido de couro de sela, seguido pelo tilintar maçante de um sapato de ferro sobre a pedra. Ela não tinha certeza, mas os sons pareciam vir de algum lugar ao redor da base da colina.

— Voltem para dentro. Vou ver se ele está perto. — Laredo ordenou em um tom baixo, mas crispado e deslizou para longe da porta.

Jessy hesitou apenas uma fração de segundo antes de segui-lo, copiando sua postura abaixada quando ele fez o seu caminho até a borda da encosta. Bem menos do que isso, ele caiu no chão e esperou por ela.

Quando ela se abaixou ao lado dele, ele a puxou no resto do caminho para baixo. — Eu disse para você ficar lá dentro. — Murmurou com seus olhos azuis.

— Você não saberia se era alguém para se preocupar ou não. — Ela sussurrou de volta.

— E você, eu suponho que sim? — Ele provocou em desgosto. — Certifique-se de se manter deitada. Eu gostaria de vê-lo antes que ele nos veja.

Ele tirou o chapéu e o colocou sobre a grama ao lado dele, então rastejou para frente em seu lugar. Copiando suas ações, Jessy avançou até o ombro e levantou a cabeça ligeiramente para olhar para baixo. Quase instantaneamente a mão de Laredo empurrou sua cabeça para baixo, mas não antes que ela tivesse um vislumbre do cavalo e cavaleiro. Breve como foi possível, fora o suficiente para Jessy identificar o homem a cavalo.

Ela sinalizou a Laredo para seguir e voltou para trás, seus pensamentos ponderados por uma certeza pesada que aquele esconderijo estivesse prestes a ser descoberto. — É O'Rourke. — Ela sussurrou quando ele se juntou a ela. — Eu acho que ele pode estar seguindo os rastros dos pneus. Ele deve ter me visto vir aqui.

Laredo demorou um segundo para se lembrar de onde tinha ouvido o nome antes. — O tio de Cat, o tímido nas árvores?

— Eu me esqueci de mencionar que ele também pode ser intrometido.

— Vamos. — Laredo pegou seu chapéu e rolou a seus pés se abaixando. — É melhor avisar Chase que estamos prestes a ter companhia.

Eles correram de volta para a cabana. Laredo parou com uma mão sobre a porta de tela e fixou seu olhar sobre ela. — O'Rourke, ele vai andar até a cabana ou em círculo em torno dela?

— Eu não sei, — admitiu Jessy — mas ele definitivamente vai chegar perto o suficiente para ver onde minha picape está. Em seguida, vou sair para a picape e esperar por ele.

— Não o deixe escorregar atrás da cabana. E antes que ele comece perguntando o que você está fazendo aqui em cima, se certifique se ele sabe que você me contratou para fixar o lugar.

— Mas que razão eu teria para fazer isso?

— Arrume um. — Laredo disse a ela e entrou.

O ruído de cascos de cavalo advertiu Jessy que Culley tinha começado a subir. Ela se moveu rapidamente para a picape e prestou atenção nele. Alguns ruídos tênues vieram da cabana. Jessy só podia adivinhar a fonte deles, mas suspeitava que Laredo estivesse levando Chase fora da cabana através de uma das janelas traseiras. Todo o tempo sua mente corria para chegar a uma história plausível, mas simplesmente não havia uma razão lógica para reparar a linha da velha barraca. A única opção era inventar uma história completamente ilógica.

Um minuto e meio depois, Jessy avistou o topo empoeirado do chapéu de Culley. Em poucos segundos mais o mesmo chegando. No instante de sair para a borda, Jessy se demorou nos movimentos, fingindo que colocava algo na parte de trás da picape, e fez um balanço natural ao redor para dar a impressão que o avistava no mesmo segundo em que ele a via.

— Oi, Culley! Não esperava vê-lo aqui. — Seu coração estava martelando como o de um coelho encurralado, mas conseguiu parecer despreocupada no tímido chamado para ele, plenamente consciente que sua voz alta alertaria Laredo. Culley puxou imediatamente para cima, e Jessy fez sinal para frente. — Venha ver o modo como estamos corrigindo a linha dessa velha barraca.

No instante em que o convite foi emitido, Jessy partiu para a cabana, confiante que seu modo de improviso juntamente com a curiosidade de Culley iria impeli-lo a segui-la. O estratagema funcionou quando Culley montou seu cavalo para o resto do caminho até a encosta.

Até então Laredo já surgia da cabana, comunicando a Jessy com um pequeno aceno tranquilizador que Chase tinha saído com segurança para fora da cabana. Um segundo depois, Laredo mostrou a Culley um sorriso ensolarado e fresco, enfrentado a inocência de maneira totalmente enganosa.

Jessy jogou um rápido olhar para Culley e viu a maneira suspeita, quando ele olhou para Laredo. — Oh, Culley, eu quase esqueci... Esse é Laredo Smith e eu o contratei para fazer os reparos, aqui. Laredo, este é Culley O'Rourke, tio-avô dos gêmeos.

— Prazer em conhecê-lo, senhor O'Rourke. — Laredo demorou.

Culley olhou para ele, não se incomodando com o grande sorriso. — Vi você no funeral.

— Oh, você quer dizer de Chase. Eu estava lá com certeza, mas não posso dizer que me lembro de ter visto você.

— Você fala como se fosse do Texas. — A declaração de Culley beirava a uma acusação.

— Parece, mas não é isso. — Laredo respondeu facilmente.

Hattie escolheu esse momento para sair, chamando a atenção de Culley. — Eu pensei que tinha ouvido você falar com alguém. — Disse ela, com um sorriso agradável, mas curioso.

Foi quando Jessy percebeu que ainda não sabia a relação exata entre Laredo e Hattie. Ela não tinha escolha a não ser fazer ela própria a apresentação.

— Esta é a mãe de Laredo, Hattie. Culley O 'Rourke.

— Como vai Mr. O'Rourke? Lamento você não chegar mais cedo. Você poderia ter se juntado a nós para o almoço. Mas o café ainda está quente se você quiser uma xícara.

— Não, obrigado. — Culley continuou sentado no cavalo Isis, ambas as mãos apoiadas na sela enquanto estudava abertamente a mulher. Ela era alta e musculosa com firmeza, mostrando-se um pouco gorda. Seu olhar continuou indo de volta para as botas de cowboy que ela usava enquanto ele tentava descobrir se elas eram grandes o suficiente para ter feito as marcas que ele vira no cemitério. Parecia possível que pudessem ser mesmo que não tivesse entrado em seus cálculos que a segunda pessoa poderia ser uma mulher.

— Ty estaria realmente satisfeito se visse este lugar agora. — Jessy murmurou, atraindo o olhar de Culley para ela. — Nós costumávamos falar sobre um dia que fixaríamos o velho Ninho do Javali para que pudéssemos ter um lugar para onde pudéssemos fugir, sem telefones ou interrupções.

Ouvindo tal loucura da boca de Jessy pensou em outro detalhe na estimativa de Culley. Uma coisa Culley sabia ao certo, se ainda estivesse vivo, Chase não teria jogado um bom dinheiro em reparos a esta afastada barraca velha. Ele se perguntou se Jessy sabia disso e se isso era parte da razão pela qual ela havia contratado uma pessoa de fora para fazer o trabalho.

Tudo levantava a questão de como Jessy havia se familiarizado com o texano. Mas não era parte da natureza de Culley perguntar diretamente. Sua abordagem era mais cheia de voltas.

— Acho que você está voltando para o Texas, agora que está feito. — Disse ele a Laredo.

— Não mesmo. — Ele respondeu.

— Laredo concordou em vir trabalhar para o Triplo C. — explicou Jessy. — Estou fazendo um acordo para alugar o velho confinamento ao Monte Markham, e ele vai pagar ao rancho para alimentar o gado, o que significa que vou precisar de algumas mãos extras.

Seu anúncio foi outra surpresa para Culley. Ele não pode deixar de pensar que Chase não estava em seu túmulo há um mês ainda e a face do Triplo C. já estava mudando. E não para melhor.

— Acho que você não tem nada para desejar voltar para o Texas. — Culley comentou, tentando descobrir o quanto aquele homem Laredo poderia ter influenciado as decisões de Jessy.

— Não mais. — Respondeu Jessy para ele. — Eles recentemente venderam o rancho que tinhamos lá, assim que souberam de Chase.

— Um bom amigo, ele era? — Culley disse em uma voz grossa com ceticismo.

— Obviamente, nós nunca vimos tudo, muitas vezes, — Hattie admitiu suavemente — mas nós o contávamos como um amigo.

Culley decidiu imediatamente que Hattie provavelmente tinha mostrado seu boné para Chase. Ela certamente não teria sido a primeira mulher que o fizera. Sua própria opinião sobre o Chase Calder nunca tinha sido alta, mas Culley nunca tinha sido capaz de culpá-lo, pelo amor que mostrava por Maggie.

Satisfeito por ter descoberto tanto quanto queria, Culley correu um último olhar sobre os três em pé em um grupo solto e freou seu cavalo à distância. Não passou pela sua mente lhes dizer que estava saindo e acabou de passar.

— Volte a qualquer momento, Mr. O'Rourke. — Hattie chamou depois dele, mas não recebeu resposta.

— Que tal um pouco de café, mãe? — Laredo perguntou, colocando ênfase em seu novo título a rir.

— Eu vou trazê-lo para fora. Você vai ficar o tempo suficiente para tomar uma xícara com a gente, não vai, Jessy? — Hattie perguntou por cima do ombro enquanto ela se movia em direção à porta da cabana.

— É claro que ela vai. — Laredo respondeu para ela enquanto olhava para o cavaleiro de partida. Seus lábios mal se moviam quando ele murmurou para Jessy: — O que você acha?

— Eu acho que menti mais nos últimos dias do que tenho feito na minha vida toda. — Ela respondeu com uma voz igualmente baixa. — Mais cedo ou mais tarde, vou ser pega em uma mentira.

— Você pode se preocupar com isso quando e se isso acontecer. Agora ele foi o único que me deixou preocupado. — Disse com um leve aceno de cabeça na direção de Culley. — Será que ele vai sair ou ficar rondando?

— Tudo depende se ele acreditar em qualquer coisa que eu disse. Meu palpite é que ele vai sair. Mas você provavelmente deveria jogar pelo seguro e trazer Chase de volta para dentro da cabana. Culley é conhecido em demarcar um lugar e manter o tempo por horas em um relógio.

Laredo pensou nisso um momento, depois balançou a cabeça em decisão abrupta. — Eu vou encontrar Chase. Há um empate de vegetação baixa sufocada ao sul daqui e ele mencionou que estava indo para lá. Enquanto isso vá mexer a sua picape e manter um olho em O'Rourke. Se parecer que ele vai ficar circulando ao redor, buzine uma vez, acidentalmente.

Os dois se separaram com Jessy cruzando no caminho e Laredo indo para a cabana. Ele fechou a porta de tela com um grande estrondo e com isso se fechou atrás.

— Esqueça o café, Hattie. Eu vou atrás de Chase, — disse Laredo e saiu pela janela traseira.

Usando tanto disfarce quanto pôde, Laredo fez um caminho em torno da encosta áspera que descia para uma torção. Era difícil conseguir andar em silêncio quando as pedras rolavam debaixo de seus pés e os ombros roçavam os ramos.

No minuto em que ele virou uma curva, viu Chase de joelhos no meio de um trecho aberto. Ele parecia estar olhando para algo no chão, mas Laredo não conseguia ver nada lá.

— Chase. — Ele o chamou em voz baixa, mas não houve nenhuma resposta, então Laredo se moveu rapidamente para o lado do homem e colocou a mão em seu ombro. — O que você está fazendo aqui na planície à vista? — Ele parou a demanda no instante em que viu a cor cinzenta da pele de Chase e o olhar cego de seus olhos. — A pressão está alta, Chase. — Ele deu uma sacudida no ombro duro. Quando isso não teve o efeito desejado, Laredo se agachou na frente dele e segurou o queixo de Chase para forçar o homem a se concentrar nele. Ele ficou chocado com a sensação pegajosa de sua pele. — O que diabos está errado Chase?

Chase não parecia registrar sua presença. Raios de dor cintilavam em sua expressão. — Tanto sangue. — Ele fechou os olhos, como se estivesse tentando expulsar alguma imagem ruim.

Laredo adivinhou imediatamente que ele tinha se lembrado de algo. — Vamos lá. Vamos sair daqui. — Ele enganchou um braço ao redor de Chase e tentou levantá-lo.

Durante grande parte do caminho de volta para a cabana, Laredo teve que ajudá-lo. Chase não ofereceu novas pistas sobre o que ele tinha recordado, mas era óbvio que tinha que o sacudiu. No momento em que chegaram à cabana, a memória parecia ter perdido o controle sobre ele. Ele já não tinha aquele olhar atordoado e sua cor estava de volta. Assim, Laredo optou por não o fazer rastejar de volta através da janela.

— Espere aqui. — Deixou-o ao lado da cabana e se abaixou para frente, imediatamente localizando Jessy. — Onde está O'Rourke?

— Ele simplesmente saiu da estrada de fogo e virou a curva. Queria encontrar Chase?

— Ele está bem aqui. — Respondeu Laredo e voltou para ele.

A atitude vigilante de Laredo em direção a Chase quando caminhou ao lado dele para a porta da cabana alertou Jessy que algo estava errado. Ela esqueceu tudo sobre Culley e correu para a cabana depois deles.

— O que aconteceu? — Ela exigiu.

— Ele se lembrou de algo. — O olhar de Laredo ficou em Chase, observando quando ele se sentou à mesa.

— O que?

Laredo balançou a cabeça. — Ele murmurou algo sobre tanto sangue, e isso foi tudo o que ele disse. Eu o encontrei ajoelhado no meio do mato, à direita no aberto.

— Ty. — Jessy murmurou em confirmação e se mudou para a mesa, abaixando-se em uma cadeira de frente para Chase. — Você viu Ty deitado lá, não foi?

— Eu vi um homem. Havia sangue em todo seu corpo, e no chão também. Deus, eu ainda posso sentir o cheiro. — Chase murmurou com os dentes cerrados, a imagem, obviamente, ainda nas bordas de sua mente.

— Você foi o único que encontrou o corpo de Ty depois que ele foi morto. — Jessy explicou em uma voz triste. — Foi em uma ravina sobre a área de Três Dedos. Ele tinha sido apunhalado.

— E Ty era meu filho. — Chase lembrou. — Deve ser por isso que eu sentia um medo terrível. — Ele enfiou os dedos nas palmas das mãos, cerrando os punhos de raiva inconsciente.

Consciente da picada repentina de lágrimas nos olhos, Jessy se levantou. — É melhor eu ir. — Ela murmurou e se afastou da mesa.

A mão de Laredo agarrou seu ombro, parando-a antes que ela chegasse à porta e virando as costas para ele. — Esta foi a primeira vez que ele descreveu o que encontrou, para você, não foi? — Seus olhos azuis fizeram um exame minucioso de seu rosto.

Jessy assentiu com a cabeça e engoliu o nó da garganta. — Depois que o cavalo de Ty foi encontrado com sangue por toda a sela, Chase me mandou de volta para o acampamento.

— Eu queria que Chase se lembrasse de algo que fosse menos doloroso para você. — Disse Laredo, com o aperto de arrependimento em sua voz. — Algumas lembranças não devem ser compartilhadas. É melhor se lembrar do jeito que ele vivia do que a forma como morreu.

Só por um instante a imagem que Chase tinha imprimido em sua mente foi substituída por uma de Ty içando Trey no ar e rindo com seu filho feliz e borbulhante.

Um pequeno sorriso tocou os cantos dos seus lábios. — Eu o faço. — E o brilho do amor nos olhos dela fez Laredo desejar que fosse para ele.

Capítulo Nove

Sentado no alto da grande varredura do céu de Montana, um sol indiferente ardendo sobre as super. Jovens e confusas vacas juntas no confinamento. O estrondo da marcha lenta do motor diesel mal podia ser ouvido acima do mugido do gado e do desconcertado barulho de cascos fendidos na rampa de madeira do reboque. Os gritos e maldições dos vaqueiros adicionados ao ruído quando eles mantiveram o jovem rebanho se movendo para fora do reboque e no confinamento. Outro reboque carregado com gado esperava para tomar o lugar do primeiro.

Jessy observava os processos do trilho superior. Trey subiu na cerca ao lado dela, totalmente absorvido pela ação diante deles. Quando um grande bezerro mestiço estourou fora da rampa e se chocou com a massa de gado, enviando-os espalhados em todas as direções, Trey deu-lhe um olhar sábio.

— Ele é um selvagem. — Observou sobriamente.

— Ele provavelmente está cansado de ter ficado enfiado naquele trailer.

— Se eu tivesse minha corda, eu o pegaria.

— Eu não acho que você precise se preocupar com isso. Ele não vai a lugar nenhum. — Seu olhar se desviou para o homem trabalhando com calma o rebanho à deriva recentemente descarregado longe da calha do portão.

Não havia nada sobre a maneira como Laredo estava com a tarefa com a qual ela pudesse encontrar falha. Jessy sorriu para si mesma, percebendo que ele tinha razão, poderia passar por um cowboy de confinamento. Oficialmente este era o seu terceiro dia na folha de pagamento, listado nos livros como Samuel Smith. Apesar do cartão de Segurança Social apresentado, Jessy ainda tinha dúvidas que fosse realmente o seu nome.

O último animal da carga trotou para fora da rampa e foi direto para junto de seus companheiros de viagem. O motor do diesel rosnou para a vida, jorrando fumaça escura de seu escapamento. Quando o motor diesel retumbou na distância da rampa para dar espaço para o outro caminhão, Laredo virou seu cavalo em direção a Jessy e orientado para o muro.

— Bom dia, Trey, Jessy. — Ele balançou a cabeça em saudação, em seguida, deixou seu olhar ficar no menino, observando: — Vejo que você deixou sua corda em casa.

— Mamãe disse que eu deveria. — A carranca em sua expressão revelou a sua discordância com a decisão dela.

— Sua mãe estava certa. — Disse-lhe Laredo.

Seu olhar mudou deles, fazendo uma varredura breve e ociosa aos veículos estacionados. — Eu pensei que Markham estivesse aqui.

— Ele provavelmente está em seu caminho. Alguém, do banco estava voando, e Monte tinha que pegá-lo. — Jessy foi rápida em observar a nitidez repentina de seu olhar enquanto ele se concentrou em algo além dela.

— O que é aquilo?

Ela olhou para trás.

— Não é O'Rourke logo depois do reboque?

— Parece que sim. — Jessy confirmou quando viu o cavaleiro de ombros caídos. Culley tinha uma perna enganchada sobre a sela, uma indicação segura de que ele não tinha intenção de sair em breve. — Às vezes, ele assiste à distância e às vezes ele leva um olhar mais atento. — Ela logo foi distraída por um veículo se aproximando que rapidamente identificou como o Range Rover de Monte. — Aí vem Monte agora. — Ela desceu de cima do muro e estendeu a mão para Trey. — Vamos, vamos atender Monte e o banqueiro.

Mas Trey recuou de seus braços estendidos e enfaticamente negou com a cabeça. — Laredo vai me dar uma carona em seu cavalo?

— Laredo está trabalhando.

— Não, ele não está. Ele está apenas sentado lá.

Laredo falou: — O motorista vai levar alguns minutos para chegar a sua plataforma de volta para a calha. Tempo suficiente para levá-lo em uma curta viagem ao redor de Monte. — Disse ele com um largo sorriso em seu rosto. — Além disso, qualquer garoto que descobre em uma idade tão precoce que os banqueiros são chatos merece um passeio.

Divertindo-se com a sua observação, Jessy cedeu. — Tudo bem, você pode ir para uma curta viagem. — Disse ela.

Jessy demorou o tempo suficiente para ver Laredo elevar Trey para a sela na frente dele. Para alegria absoluta de seu filho, Laredo o deixou lidar com as rédeas. A súbita percepção de que esta era apenas a segunda reunião de Trey com Laredo deu a Jessy um momento de pausa. Embora exuberante e extrovertido por natureza, seu filho tinha sido sempre desconfiado com pessoas que ele não conhecia. Nunca vira Trey realmente se afastar de alguém novo, mas sempre teve a impressão que ele tolerava ao invés de confiar nas novas amizades. Essa foi definitivamente a atitude que Trey tivera com relação a Monte. No entanto, ele parecia estar completamente confortável com Laredo. Recordando o quanto seu avô confiava em Laredo, Jessy não pode deixar de se perguntar se Trey de alguma forma sentia aquilo. Jessy se virou para atender os recém-chegados.

Apesar do chapéu preto de cowboy e botas, camisa branca pérola e calças boca de sino, Adam Weatherford de Denver parecia exatamente o que ele era, um banqueiro. Jessy perguntava se eram os óculos de aros de arame, que lhe davam distância.

— Bem-vindo ao Triplo C., senhor Weatherford. — Jessy apertou sua mão com um aperto firme de homem. Esta era uma parte de sua nova posição da qual ela não gostava, mas não se importava muito com sutilezas sociais.

— É bom estar aqui, senhora Calder. Eu tive o prazer de conhecer o seu sogro alguns anos atrás antes do final. Tal perda foi trágica, — acrescentou em um breve aparte — eu sempre esperei que tivesse uma ocasião para visitar seu famoso rancho. Então Monte encontrou uma maneira boa o suficiente para me fornecer isso.

— Eu acredito que a verdade está lá fora. — Monte declarou com diversão e luz. — Ele fez o empréstimo para ter uma desculpa para visitar o Triplo C., às expensas do banco. Adam gostaria de dar uma olhada nos bovinos que o seu dinheiro comprou? — Com um grande movimento de seu braço, ele gesticulou para o confinamento.

— Desde que estou esperando para confirmar que não tem garantia no casco, seria uma boa ideia. — Weatherford falou a verdade literal, mas em forma de brincadeira que fez a sua luz. — E é sempre melhor começar o negócio fora do caminho em primeiro lugar.

— Exatamente o meu pensamento. — Monte concordou.

Os dois homens se mudaram para a cerca e pisaram no trilho inferior para uma melhor visão dos animais no lote. Vestidos como estavam, o banqueiro em insucessos de vaqueiro e Monte em culotes de cor cáqui, uma camisa polo branca e um chapéu Aussie linha reta fora do Outback, os dois homens olharam tudo como um par de pelicanos fora de lugar no deserto. Jessy se juntou a eles.

— Iniciando-os um pouco jovem, não é senhora Calder? — Sorrindo, o banqueiro concordou com a cabeça na direção do rapaz pequeno orgulhosamente controlando o cavalo em direção a eles, com a assistência do cavaleiro adulto sentado atrás dele.

— Nunca é cedo para iniciar os jovens, senhor Weatherford. — Seu sorriso andou longe da sinceridade de suas palavras.

— Aquele é Trey, não é? — Monte disse.

— Sim. Ele insistiu em vir comigo esta manhã. — E Jessy havia passado pouco tempo com os filhos, recentemente, para recusá-lo.

— É seu filho? — O banqueiro perguntou com mais de um interesse passageiro.

— É, de fato. — Monte respondeu por ela e, em seguida, subiu para o topo da cerca para cumprimentar o garoto. — Olá, jovem Trey.

— Oi. — Trey acenou de volta.

Laredo assumiu as rédeas e manobrou o cavalo perto da cerca onde os três esperavam. — Desculpe amigo. Este é o lugar onde você sai e eu volto ao trabalho.

— Eu o tenho. — Monte levantou Trey da sela e por cima do muro quando o primeiro boi subiu para fora do próximo trailer. — Adam, eu gostaria que você conhecesse o mestre Chase Benteen Calder III, mais conhecido como Trey. Trey, este é o senhor Weatherford de Denver.

— Como vai? — Espontaneamente, Trey estendeu a mão.

— Como vai você, Trey? — Escondendo um sorriso, o banqueiro gravemente apertou as mãos dele. — Eu vejo que você deu uma boa olhada, pelo gado THC. O que acha deles?

— Eles não são de raça. — Trey respondeu. — Laredo diz que eles são do tipo para engordar.

Monte jogou a cabeça para trás, soltando uma risada rica. — Bem, ele está absolutamente correto.

— Eu sei. — Trey se voltou para Jessy, mais uma vez excitado e com os olhos brilhantes. — Você me viu mamãe?

— Eu certamente o fiz.

— Eu fiz bem, hein? — Ele caminhou até a cerca para ela.

— Muito bem.

Ele soltou um grande suspiro. — Rodeio é trabalho sedento de verdade, mamãe.

— Por que você não vai arranjar uma bebida. — Jessy sugeriu. — Há um jarro de água no caminhão.

— Ok. — Trey não perdeu tempo embaralhado em cima do muro e correndo para a picape.

De seu ponto atrás dos trailers, Culley observava os traços da criança Calder para o reboque do rancho, mas ele estava mais interessado em como o menino tinha sido aconchegante com aquele personagem Laredo. Desde que Jessy mencionou que iria deixar a ovelha gorda do inglês executar no lote e planejava contratar o cowboy para ajudar a cuidar deles, Culley tinha vindo fazer um balanço regular, após o confinamento. Dois dias atrás, ele tinha visto um cowboy fazer reparos à esgrima. Esta manhã ele tinha ouvido o barulho dos caminhões de gado que chegavam muito antes que viesse à tona.

Até que ele os viu com seus próprios olhos, Culley achava difícil acreditar que Jessy se destinava a permitir o gado de outra pessoa no lugar. Não fazia mais sentido para ele do que a fixação da linha da velha barraca. E ele se perguntava se aquele vaqueiro e sua mãe tinham algo em comum.

Parecia possível quando Culley se lembrava rigidamente furioso como Jessy o tinha olhado quando falou com o cowboy após o funeral. De alguma forma ou de outra o cowboy a tinha convencido a encontrá-lo na manhã seguinte no cemitério velho. Culley estava disposto a apostar que foi depois dessa reunião que Jessy decidiu esconder o par na linha da velha barraca.

Ele voltou sua atenção para o homem inglês. Talvez fosse apenas coincidência, logo após o cowboy aparecer, o inglês começar a transportar o gado para o Triplo C. Ou talvez o cowboy e o inglês estivessem em conluio. Fosse qual fosse o caso, algo sobre todo aquele negócio parecia esquisito para Culley.

O cavalo marrom bufou e virou um olhar atento sobre o reboque que era puxado para dentro da área de descarga com outro lote de gado. Passando a perna por cima da sela, Culley enfiou o pé no estribo e recolheu as rédeas para andar mais para obter um olhar mais atento a eles.

Assim como as cargas anteriores, o gado era muito jovem e misturado, e principalmente todos mestiços. E o mesmo que todos os outros, eles eram escorregadios, um termo de vaqueiro para um animal sem uma marca, ostentando apenas marcas auriculares.

Quando Culley se aproximou do trator da picape, o motorista desceu do carro. Ele lançou um olhar para Culley. — Quanto tempo terei de esperar antes de poder descarregar?

— Não muito. — Culley fitando os olhos negros sobre o homem. — Markham comprou todos esses animais?

— Não sei. — O motorista encolheu os ombros pela sua ignorância. — O manifesto diz que eles pertencem à High Plains Corporation. Isso é tudo que eu sei.

O nome não era familiar. Fazendo nenhum comentário, Culley simplesmente assentiu com a cabeça e andava mais perto da área da rampa, onde havia um pouco de comoção acontecendo.

O culpado era um grande bezerro negro que tinha decidido preferir o trailer sobre o confinamento. Sua tentativa de reverter às direções havia atolado até os que estavam atrás dele, para grande irritação dos vaqueiros que estavam xingando na tentativa de estimular o animal na direção oposta. Pessoalmente Culley admirava o animal contrariando o fluxo. No final, o jovem boi perdeu sua batalha e trotou para o confinamento com o resto do gado.

Mesmo que o resultado fosse uma conclusão precipitada, Culley se sentiu estranhamente triste com aquilo. Freou seu cavalo longe do confinamento e lançou um último olhar, tendo um vislumbre de Jessy e do inglês, mas não do outro homem.

— Algo não está certo. — Murmurou para seu cavalo. O problema era que ele não poderia colocar o dedo exatamente sobre o que era.

Normalmente ele não teria dado a mínima para o que Jessy fazia ou por que. Mas ele não podia deixar de se perguntar o que Cat sabia sobre aquilo. Com Calder em seu túmulo, o Triplo C. agora pertencia a ela tanto quanto a Jessy, se não mais.

Monte se inclinou sobre ambos os braços no trilho superior e examinou o gado no quintal com uma espécie de ar de proprietário, em seguida, olhou para o banqueiro que estava a alguma distância deles, verificando os certificados de saúde sobre o gado entregue. Ele trocou sua atenção para Jessy, piscando-lhe um sorriso agradecido.

— Foi muito gentil em convidar Weatherford para almoçar antes que ele voasse de volta para Denver. Obrigado.

Jessy deu de ombros fora de suas graças. — Teria sido rude deixá-lo sair de estômago vazio. Essa não é a forma como fazemos as coisas no Triplo C.

— E o rancho é, sem dúvida, famoso pela sua hospitalidade. — Concordou Monte e mais uma vez enfrentou o confinamento. — O homem da castanha, é novo? Eu não me lembro de vê-lo antes.

Seu pulso deslizou, tornando-se óbvio para Jessy que ela nunca iria se sentir confortável com esse negócio de mentiras. — Você quer dizer Laredo? — Disse com regularidade forçada. — Ele estará trabalhando aqui no confinamento. Você provavelmente deve conhecê-lo.

Quando ela emitiu um assobio agudo, com dois dedos, as cabeças se viraram na direção dela, mas acenou para Laredo, convocando-o para cima do muro. Só depois que ele virou seu cavalo em direção a ela Jessy lhe indicou o caminho e Monte olhou para ela de uma forma maravilhada.

— Surpreendente, — declarou ele — um dia você tem que me ensinar a assobiar assim.

— Não é tão difícil. — Ela encolheu os ombros pelo seu comentário, um pouco surpresa por ele ficar impressionado com algo tão insignificante.

Trey correu de volta para seu lado e se mexeu no topo do trilho em tempo para cumprimentar Laredo, enquanto subia. — Oi, Laredo. Posso montar o seu cavalo de novo?

— Desculpe-me, não desta vez. — Respondeu Laredo. Embora desapontado, Trey aceitou sua resposta sem protesto. — O que você precisa? — Ele perguntou a Jessy com uma abertura de menino na expressão.

— Laredo Smith, Monte Markham. — Jessy fez a introdução sem cerimônia — Eu penso que vocês dois devam se conhecer, uma vez que o confinamento é sua atribuição. — Ela explicou a Laredo.

— Eu acho que você é o proprietário deste grupo. — Laredo brindou Monte com um sorriso totalmente ingênuo.

— Tecnicamente falando, eu só represento os proprietários. — Monte corrigiu.

— Intermediou o negócio para eles, já fez. — Observou Laredo e lançou um olhar assertivo sobre o lote do estoque. Empurrou a aba do chapéu da testa, e disse: — Você estará virando um lucro rápido neste lote. Eles estão em boa forma. Acho que engordarão fácil.

— Haverá um lucro enquanto os preços dos grãos não subir. Mas Monte não mostrou nenhuma preocupação do que eles queriam. — Seu nome é Laredo. Penso que você seja do Texas?

— Não. Eu nasci no Novo México, Laredo é um identificador a que fiquei preso um longo tempo atrás. Eu sempre imaginei que animava o Smith do meu nome. É melhor do que ser chamado Smitty como meu pai foi, isso é certo. — Ele parou por um instante, depois perguntou: — Você já esteve no Texas?

— Texas, Arizona, Colorado, Wyoming e até no seu estado de Novo México para conhecer um pouco de Santa Fe. Então eu cheguei a Montana e sabia que esta grande terra sob um grande céu seria o lugar para mim.

— Sim, é o tipo de lugar que pode dar grandes ideias ao homem. — Não havia nada na voz de Laredo para sugerir que sua observação fosse mais que um comentário ocioso.

— Penso que o primeiro Calder concordaria com você. — Respondeu Monte.

— Eu aposto que ele o faria. — Laredo sorriu. — Acho melhor voltar para o meu trabalho. — Ergueu o chapéu e o arrumou de volta em sua cabeça antes de reunir as rédeas. — Se você tiver alguma dúvida sobre esses caras, basta me chamar, senhor Markham.

— Obrigado, eu vou. — Monte respondeu e o observou indo embora. — Cara comunicativo, não é? — Comentou com Jessy.

— Ninguém jamais chamaria Laredo de silencioso. — Parecia a resposta mais segura a fazer considerando que Jessy sabia o que Laredo fazia e muito mais do que bisbilhotar.

O amanhecer encontrou Culley acampado ao lado de um afloramento rochoso que permitia tanto a ocultação como uma vista panorâmica do quintal da fazenda Círculo Seis. A luz da cozinha estava acesa há aproximadamente dez minutos atrás. Culley percebeu que Logan provavelmente estaria lá, fazendo um pote de café.

Em algumas manhãs Logan tomava uma xícara em primeiro lugar, e em outras, ele ia direto para fora fazer as tarefas matinais. Às vezes, ele saia pela porta da frente, e às vezes pela parte de trás. Na profissão de Echohawk, rotinas poderiam ser um hábito perigoso, e ele tinha o cuidado de não seguir qualquer uma.

Sabendo disto sobre o homem, Culley se acomodou para esperar. Em poucos minutos, os grandes cavalos no curral característico dos projetos trotavam para a porta do celeiro. Culley não tinha visto Logan atravessar o pátio, o que significava que ele deveria ter saído de casa pela porta de trás.

Na maioria das manhãs Culley teria descido para dar a Logan uma mão com as tarefas, mas essa não era uma delas. Esta manhã, ele não se mexeu do seu lugar até que Logan partiu em seu carro de patrulha cerca de uma hora mais tarde. Mesmo assim Culley não foi diretamente para a casa, mas circulou ao redor para a parte traseira, deixou seu cavalo entre algumas árvores, e de mansinho entrou pela porta de trás.

Cat estava ocupada limpando a louça do café da mesa. Nem um pouco surpresa com sua súbita aparição, ela lhe lançou um sorriso rápido. — Você acabou de perder Logan. Ele saiu a menos de cinco minutos atrás.

— Eu o vi. — Culley permaneceu junto à porta, fazendo uma varredura em busca na sala de estar. — Quint ainda não acordou?

— Ele ficou até tarde na noite passada, então eu decidi deixá-lo dormir esta manhã. — Colocou os pratos sujos na pia e tirou um copo limpo do armário. — Quer café?

Depois de uma pequena hesitação, ele balançou a cabeça. — Certo. — Andou até o balcão e pegou a xícara cheia de café.

— Aposto que você não comeu esta manhã. Que tal um pouco de bacon e ovos? — Sem esperar por uma resposta, Cat coletou os itens na geladeira e começou a prepará-los. Pairando por perto, Culley observava em silêncio. — Eu não vi muito você estes últimos dois dias. — Seu olhar de soslaio o invadiu com curiosidade. — O que você tem feito?

— Não muito.

Mas Cat notou a maneira como ele evitava encontrar seus olhos. Ela virou o bacon na frigideira e lançou outro olhar para ele. Seu tio era um homem que nunca ficava inteiramente confortável dentro dos limites de quatro paredes, mas tinha a impressão que ele estava mais nervoso do que o habitual.

— Tem alguma coisa errada? — Perguntou em um tom deliberadamente ocioso.

— Não.

Cat tinha certeza que havia alguma coisa em sua mente, mas não pressionou a questão. Era um homem reservado, por natureza, mas ela era a única pessoa em quem ele confiava. Mais cedo ou mais tarde, lhe diria, mas sua abordagem do assunto era susceptível de ser indireta.

— Você foi para o Triplo C. ultimamente? — Ele perguntou.

— Não. — Tudo dentro dela se reforçou com a simples menção da fazenda. Era impossível para Cat pensar no rancho sem pensar em seu pai. Tudo sobre o rancho a lembrava dele.

— Eu imaginei que você não tinha ido. — Culley respondeu. — Acho que ainda dói muito.

— Toda vez que me dirijo até a Casa Grande, há uma parte de mim que ainda acredita que eu vá encontrar meu pai na sala, sentado atrás de sua mesa. Mas aqui, eu não me lembro a cada minuto que ele se foi, não como Sally. — Apenas falando lhe veio toda a dor nas costas.

Por um longo minuto, Culley não disse nada, então ele disse: — Você se lembra de alguma coisa sobre um fazendeiro do Texas com o nome de Smith?

— Eu acho que não. Por quê? — Ela correu um franco sorriso rápido, grata pela mudança de assunto.

— Não há razão em particular. — Seus ombros magros levantados em um sinal de indiferença. — Eu ouvi que era um amigo da família Calder.

— Ele poderia ter sido. Mas eu não me lembro dele. — Ela abriu um ovo na borda da frigideira e o esvaziou na gordura quente, em seguida, pegou o segundo ovo. — Isso não quer dizer nada, embora papai conhecesse muita gente que eu não sabia.

— Jessy sabe.

— Em seguida, o Smith foi provavelmente alguém, se meu pai se encontrava na função. Ty era um pecuarista e Jessy ia para muitos lugares com o meu pai.

— Eu vi Jessy conversando com ele no funeral.

— Você viu? — Cat respondeu sem qualquer interesse real.

— No dia seguinte ela se encontrou com ele no cemitério velho.

— No velho cemitério? — Cat franziu a testa em confusão. — Você quer dizer, onde seus pais estão enterrados?

— Naquele. — Ele assentiu.

— Por que ela iria encontrá-lo lá? — Ela usou a espátula para alinhavar os seus ovos.

— Não sei. — Culley respondeu.

— Que curioso. — Cat murmurou e removeu as tiras de bacon da frigideira, colocando-as em uma toalha de papel para escorrer.

— Eles se mudaram para cá.

— Sério? — Uma verificação rápida confirmou que seus ovos estavam prontos. Ela os distribuiu, pegou a torrada da torradeira, acrescentando o bacon drenado e levou seu prato para a mesa.

— Parece que eles venderam seu rancho no Texas. Eu acho. — Culley puxou uma cadeira e se sentou. — O velho homem morreu. É só a mãe e o filho. Ele é um homem crescido, porém, da idade de Jessy.

Cat serviu-se de uma chávena de café e se sentou à mesa com ele. — Onde eles estão vivendo? Em Blue Moon? — Foi só pelo interesse de Culley neles que Cat ficou curiosa sobre uma família que ela não conhecia.

— Não. Eles se mudaram para essa velha barraca no sopé.

— Você está brincando? — Disse ela em descrença — Aquela velha cabana estava vazia por anos.

— Jessy pagou-o para consertá-la. — Respondeu Culley entre as mordidas do alimento.

— A família deve ter caído em tempos difíceis, — Cat concluiu, antes de seus pensamentos saltarem para outra faixa — mas se eles precisavam de um lugar para viver, por que Jessy os colocou lá fora? O antigo lugar Stanton está vazio, e também a casa no acampamento médio. Deus do céu, não há nem mesmo uma estrada para o velho barracão. Embora, eu pense que ela poderia tê-los contratado para consertá-la para que não ficasse parecendo caridade. Eles poderiam ter sido orgulhosos demais para aceitar o contrário. E só Deus sabe que a fazenda não precisa de mãos extras nesta época do ano.

— Bem, o filho está na folha de pagamento do Triplo C.

— Naturalmente. Você disse que Jessy o contratou para consertar a cabana. — Cat ergueu a xícara para tomar um gole.

— Oh, ele terminou isso. — Culley pegou o último pedaço de ovo sobre o garfo. — Agora ele está trabalhando no confinamento.

— O confinamento? — Cat abaixou a xícara. — O que há para fazer no lote? Nós não alimentamos o gado desde quando Ty e Tara ainda eram casados.

— Ele está olhando as vacas do bacana inglês.

— Você quer dizer Monte Markham? Você deve estar enganado. — Cat balançou a cabeça, convencida que a idade de Culley estava começando a aparecer.

— Não. Vi os reboques com meus próprios olhos, há dois dias. Jessy disse que estava alugando o lote ao Monte, e ele iria lhe pagar para cuidar do gado. Parecia peculiar para mim. Não me lembro de uma época em que uma vaca que não carregasse a marca do Triplo C. fosse deixada no lugar. Agora há um lote inteiro delas. Se Calder soubesse sobre disso, ele se viraria em seu túmulo. — Ele se inclinou para trás em sua cadeira e deu um tapinha no seu estômago. — Poderoso e bom pequeno almoço, Cat. Mas você sempre soube como preparar os ovos, do jeito que eu gosto.

Cat estava muito atordoada por suas declarações anteriores e pelo elogio para se preocupar. Olhou para ele com crescente conhecimento. — Você veio aqui para me dizer isto, não foi?

Culley não podia negar. — Essa fazenda é sua também. Imaginei que gostaria de saber o que está acontecendo por lá.

— Você está certo. Meu pai nunca teria concordado com isso. — Quanto mais pensava nisso, mais Cat se convencia.

— Acho que alguém falou disso para ele. — Culley se levantou e se afastou da mesa.

— Quem? — No instante em que ela fez a pergunta, adivinhou a resposta. — O Smith.

— Pode ser. — Respondeu ele com um pequeno movimento inquieto de seus ombros estreitos. — Eu me pergunto por quê? — Ela murmurou. — Pode ser que eles tenham algo a ganhar alugando-o.

— Mas o que?

— Eu não percebi isso ainda, — admitiu Culley — mas parece estranho, não é?

Depois de lhe dar um momento de reflexão, Cat foi forçada a concordar. — Sim. — Ela assentiu com a cabeça.

Mas Culley não estava ali para ouvir sua resposta. Ele já tinha deslizado para fora da porta, deixando apenas um tênue sinal do barulho do trinco na sua saída.

Capítulo Dez

As moscas zumbiam ao redor dele, atraídas pelo cheiro de suor salgado, enquanto Laredo trabalhava para apertar a conexão da tubulação de água e impedir a sua fuga lenta. O chão aos seus pés estava escorregadio com a lama, tornando a tração fraca. Não era possível apertar a conexão outro centímetro mais; desengatando a chave, se ajeitou para assistir qualquer gota indicadora de umidade. Não vendo nenhuma, ele arrumou a chave na caixa de ferramentas, fechou-a, e limpou o suor do rosto em sua manga.

Preguiçosamente lançou um olhar para o gado no lote. Eles estavam contentes com suas barrigas completas com as rações da manhã. Os raios do sol transmitidos pelas suas costas criavam um matiz de destaques. Mas foi o elevado interesse em volta de suas cabeças que chamou a atenção de Laredo.

Quando olhou para além deles, notou a fervura rápida da propagação de poeira na estrada, sinalizando a aproximação de um veículo. Ciente que não era algum bicho que pudesse assustar o rebanho verificou a ligação do tubo pela última vez. Como ainda estava seca foi até a torneira. O dia estava apenas começando, mas ele já se encontrava quente e suado. Desejando nada mais do que se refrescar, Laredo rodou a alça de uma vez, e um jorro constante de água fluiu da torneira. Tirando o chapéu, não se preocupou em olhar ao redor quando o veículo mastigou uma parada em algum lugar por perto. Uma porta bateu quando ele enfiava a cabeça sob a água e deixava seu fluxo frio sobre ela, então se afastou, sacudindo o excesso de água.

Tinha uma mão na torneira, pronto para desligá-la quando percebeu um movimento em sua visão lateral. Olhando para ela, viu uma pequena morena andando a passos longos em sua direção com fogo em seus olhos. Soube imediatamente que ela era Cat a filha de Chase.

— Exatamente o que você acha que está fazendo? — Perguntou ela com veemência.

Um pouco surpreso com a hostilidade que emanava dela, Laredo em uma fração de segundo foi lento com sua resposta. — Só me refrescando, senhora.

— Você já fez isso. Agora feche a água.

— Sim, senhora. — Ele não se incomodou em lhe dizer que estava prestes a fazer exatamente isso. Simplesmente virou a alça de uma vez. O metal guinchou contra o metal, cortando o fluxo.

— Eu não preciso perguntar quem você é. — Os olhos verdes o atormentando com um olhar de desprezo e nojo. — Você é o novo homem de quem Tio Culley me falou. Aquele chamado Smith do Texas.

— É isso mesmo, senhora. Laredo Smith. — Usando seus dedos, ele penteou os cabelos molhados e colocou o chapéu de volta na cabeça. — E você é a filha de Chase, Cathleen. Eu a vi no funeral.

Mas Cat não aqueceu seu sorriso. — A água é um bem precioso nesta parte de Montana, senhor Smith. Eu não sei o que você faz no Texas, mas aqui nós não desperdiçamos, deixando correr pelo chão.

— Na verdade, minha senhora, nós também não.

As mãos dela estalaram para seus quadris quando ela adotou uma postura desafiadora. — Realmente, então como você explica toda essa lama?

Laredo olhou para a caixa de ferramentas, em seguida, decidiu não contar a ela sobre o tubo de escape que acabara de fixar. — Algo me diz que você não conduziu todo o caminho até aqui para me dar uma palestra sobre o desperdício de água. — Mas seria possível que ela tivesse vindo apenas para dar uma olhada sobre ele. Laredo desejava saber por que O'Rourke tinha falado a Cat sobre ele.

Ela pareceu momentaneamente perdida por ele não ter oferecido nenhum argumento em sua própria defesa. Recuperando-se rapidamente, ela disparou de volta uma resposta. — Na verdade eu não o fiz. — Com isso, ela se virou e começou a voltar para sua caminhonete.

— O que você desejava?

Ela empurrou a porta aberta do motorista, olhou para o lote de gado, e lançou um olhar em sua direção. — Eu já vi o que queria.

O motor da picape rugiu para a vida quase antes que ela tivesse a porta fechada. Um instante depois, ela foi embora com os pneus de banda larga levantando outra nuvem de poeira.

Em meio a toda a poeira em volta, Laredo pressentia problemas, mas não tinha certeza de que forma viriam. Uma coisa era certa, embora a filha de Chase não parecesse gostar muito dele, isso por si só não o preocupava, mas sabendo que ela era casada com um homem da lei o deixava um pouquinho desconfortável.

Caneta na mão, Jessy colocou a assinatura na parte inferior do cheque, prendeu-o com a sua fatura em anexo, e passou os dois, ao contador do Triplo C., que pairava ao lado de sua cadeira. Lembrou-se de todas às vezes no passado em que Ty e Chase tinham queixa sobre o fluxo aparentemente interminável de burocracia envolvida na direção do rancho. Era um sentimento ecoado agora por ela totalmente.

Quando ouviu o som do grito feliz de Laura vindo de fora, Jessy olhou para cima, dando boas-vindas mesmo para aquela distração momentânea. Mas ela não ficou exatamente feliz quando reconheceu a causa da emoção de sua filha, embora Tara sempre tivesse tornado um hábito aparecer sem aviso prévio.

— Parece que temos companhia. — Disse ao guarda-livros e colocou a caneta de lado. — Eu vou assinar o resto dos controles mais tarde. Você vá em frente e tome estes.

Deixando-o para recolher a pilha de cheques assinados, Jessy levantou-se da mesa e caminhou para o hall de entrada. Chegou quando Tara entrou pela porta, carregando Laura com as duas mãos presas em um presente brilhantemente.

— Olha mamãe. Tia Tara me trouxe alguma coisa. — Os olhos castanhos escuros de Laura brilhavam com prazer.

— Espero que você tenha lhe agradecido por isso.

— Eu tenho que o abrir primeiro — declarou Laura quando Tara a colocava no chão. Imediatamente, ela correu para a sala de estar.

— Gostaria que você não lhe trouxesse presentes o tempo todo. — Jessy não tentou esconder sua irritação. — Você a está estragando.

— Eu sei. Isso é o que fazem as tias. — Havia uma sugestão de provocação no sorriso que Tara deu antes de seguir Laura, movendo-se com sua graça deslizante habitual.

— Sente-se aqui, tia Tara. — Laura indicou a almofada do sofá ao lado dela.

Obediente Tara se sentou ao lado de Laura enquanto Jessy se juntava a elas com relutância na sala de estar, com a raiva fervendo um pouco.

— Vá em frente e abra-o, querida. — Tara pediu enquanto Jessy olhava de seu posto na poltrona estofada da sala de estar.

Os dedos ansiosos rasgaram o pacote, descartando o mundo de fitas. Laura arrancou o papel brilhante para expor uma caixa branca e fina. Com mal contida emoção, ela tentou mantê-la aberta e empurrou o tecido para o lado.

Surpresa pelo que viu, Laura jogou a decepção em Tara. — É calcinha.

— Uma muito, muito extravagante. — Tara pegou-a de cima, um par de rosas abertas de seda com fiação do laço exigente. — Você está velha demais para ainda usar aquelas velhas brancas e lisas. — Ela inclinou a cabeça mais perto dos cachos loiros de Laura em uma atitude confiante. — Nós meninas devemos ter sempre belas calcinhas como esta para vestir.

— Você usa assim? — Laura perguntou ainda emocionada com o presente.

Balançando a cabeça, Tara sussurrou: — Hoje estou vestindo aquelas que são verde menta, veja. — Delicadamente, puxou de lado a gola da blusa apenas o suficiente para dar a Laura um vislumbre de sua alça de sutiã, em seguida, puxou outro item da caixa. — E você tem uma camisola para combinar com sua calcinha, também.

A boca de Laura se arredondando em um "Oh!" quando ela começou a abraçar aquela nova ideia de moda. — Vou colocá-los agora.

Quando ela começou a pegá-los, Tara os segurou apenas fora de seu alcance. — Mas é preciso lembrar que depois que você colocá-los, você não deve mostrá-los a ninguém. Calças bonitas como estas são um segredo só entre nós meninas.

— Eu prometo. — Tudo em um só movimento, Laura levou as roupas de baixo de Tara, empurrou a caixa de seu colo, e saltou para fora do sofá.

— Você esqueceu alguma coisa, Laura? — Jessy solicitou, para lembrar Laura de suas maneiras.

Depois de uma breve hesitação, Laura virou-se de volta para Tara e lançou os braços ao redor dela. — Obrigada, tia Tara.

— Por nada, querida. — Ela beijou a criança de leve no rosto, em seguida, lhe deu um empurrão em direção às escadas. — Vá colocá-las.

Não necessitando de segunda insistência, Laura correu para cima para se vestir. Jessy esperou até que ela estivesse fora do alcance da voz, em seguida, deixou um pouco de seu temperamento transbordar.

— Eu poderia estrangular você por isso, Tara. — Disse ela com sua voz cheia de raiva contida. — Todas as manhãs, ela argumenta comigo sobre o que vai vestir. Agora eu vou ter que lutar com ela também sobre as roupas de baixo.

— Laura tem um senso natural de moda, não é? — Tara comentou com um sorriso felino que parecia se deliciar com a raiva de Jessy.

— Não haverá mais presentes. — Afirmou Jessy, determinada a estabelecer a lei. — Não é para você trazer mais uma coisa para Laura a menos que seja seu aniversário ou Natal. Se você fizer isso, juro que vou tirar dela e queimá-lo. Eu não me importo o quanto seja grande o ajuste que ela joga. Está claro?

— Você não acha que está exagerando um pouco? — Tara a repreendeu sempre ironicamente.

— Provavelmente, mas essa parece ser a única maneira de conseguir fazê-la entender o meu ponto de vista. — Respondeu Jessy, tomada por uma calma de aço agora. — Se você deseja escolher entre me ignorar e tentar dar a Laura algo às minhas costas, então, entenda que você não irá mais pôr os pés no Triplo C. Espero que você saiba que não é uma ameaça vazia.

Os lábios de Tara se diluíram em uma linha apertada de desagrado. — Isso significa o suficiente para fazê-lo mesmo que você saiba que quebraria o meu coração não ver as crianças de Ty.

— Há momentos em que tenho sérias dúvidas que você tenha um coração. — Lembrando-se de toda a miséria que ela tinha criado para Ty, Jessy ficou irritada de novo.

Como se sentisse que aquele não seria o momento de empurrar Jessy, Tara se levantou do sofá. — Mesmo que você não possa questionar se Sally tem um motivo, ela é a verdadeira razão por eu estar aqui. O presente era apenas uma reflexão tardia. Eu nunca sonhei que você ficasse tão ofendida por dar algo tão insignificante a Laura como uma roupa intima combinando.

— Não foram as roupas, mas as lições de moda que vieram com elas.

— Você gostaria que ela usasse jeans o tempo todo e fosse um pouco Tomboy, provavelmente como você. Se essa fosse a natureza de Laura, nada que eu pudesse dizer a influenciaria. Mas esse não é um caso, que realmente você ganha, não é? — Declarou Tara com enfurecida certeza.

Jessy não estava prestes a dar a Tara a oportunidade de salientar a sua falta de conhecimento de moda. — E quanto a Sally? Você disse que ela foi o motivo da sua visita.

O sorriso presunçoso de Tara indicava que sabia exatamente por que Jessy havia mudado de assunto. — Quando falei com Cat ontem, ela mencionou que Sally parecia à beira de um colapso. Cat sentiu que Sally está achando muito difícil trabalhar sendo cercada por lembranças constantes de Chase. Cat pensa que Sally deve ir embora por um tempo.

— Eu concordo, mas Sally não quer ouvir falar nisso.

— Eu entendo melhor que ninguém. — Tara disse e deixou seu olhar vagar familiarmente sobre o quarto. — É impossível estar em casa sem sentir a sua presença. Há dor em saber que eles se foram. Ao mesmo tempo, você se sente estranhamente perto deles aqui. E mais do que qualquer coisa, você quer se sentir perto deles novamente. — Ela nivelou seu olhar mais uma vez para Jessy, um leve brilho de desafio em seus olhos escuros. — Qualquer outra coisa que você pudesse pensar de mim, Jessy, eu fiz muito amor com Ty.

Jessy não deu o mínimo. — Tenho certeza que o amava tão profundamente como você pode amar alguém além de si mesma.

Por um instante, ela pensou que Tara iria liberar suas garras. — Você tem que acreditar, não sabe. — Tara ronronou em seu lugar. — Isso torna mais fácil para você justificar que o roubou de mim.

— Você o abandonou. — Jessy lembrou-a. — Você foi a única que insistiu para ele escolher entre você e o Triplo C. Somente um tolo emite um ultimato assim a um Calder. Não me culpe, pois se você o julgou mal.

— Eu nunca disse que não cometi erros.

— Mas você cometeu demasiados.

— E você não fez nenhum nunca, não é? — A amargura revestia o desafio que Tara arremessava.

— Eu sempre soube que Ty era o homem que eu pensava que fosse e mais cedo ou mais tarde ele iria ver além de sua beleza ofuscante. — Mesmo agora Jessy suspeitava que o interesse de Tara em Laura fosse baseado principalmente em um desejo de roubar algo de Ty.

— Você está sempre tão segura de si mesma, não é? — Tara cuspiu as palavras.

— Não. — Jessy respondeu calmamente. — Eu tinha sempre a certeza de Ty.

— Você parece repugnantemente nobre. — Tara murmurou com desprezo. — Nada disso tem a ver com Sally, exceto na forma mais indireta. E ela é a minha principal preocupação no momento.

— Estamos todos preocupados com ela. — Mas Jessy sabia que nada poderia ajudar a mulher, exceto o tempo.

— Sally precisa chorar Chase abertamente. Amar alguém sem ser amado em troca torna tudo difícil. De alguma forma, a obriga a manter sua tristeza. Sei disso por experiência própria. — Afirmou Tara. Jessy não conseguia se lembrar de Tara segurando algo de volta, mas ela estava muito cansada de farpas comerciais com a mulher para indicá-lo. — Sally entende isso, tenho certeza. — Continuou Tara.

— Acho que todos nós estamos conscientes que Sally adorava Chase. E saber que entendemos sua morte é uma perda profundamente pessoal para ela.

— Não há dúvida que você tem, mas vindo de sua família pode ser embaraçoso. — Disse Tara. — À sua maneira, é um lembrete que ela não tem realmente o direito de se lamentar. Eu pensei que se pudesse convencê-la a vir para Dunshill e ficar comigo por um tempo, ela finalmente seria capaz de falar livremente sobre seus sentimentos por Chase. Eu sei que seus arrependimentos devem ser enormes. Os meus eram. Ela não se sentiria à vontade para falar sobre eles com você.

— Não sou quem você precisa convencer que poderia ser bom ela ir embora, é Sally. Eu não sei se você vai ser bem-sucedida, mas está convidada a experimentar. Você provavelmente vai encontrá-la na cozinha.

— Não agora, eu não vou. — Tara disse com certeza absoluta. — Quando eu cheguei, Sally estava a caminho do cemitério. Eu não sei se você está ciente que ela passa grande parte do tempo no túmulo de Chase.

— Eu sei que ela garante as flores frescas em seu túmulo. — Jessy não pretendia saber mais que isso. — Obviamente, tenho estado muito ocupada.

— Obviamente. — Tara ecoou em uma voz seca com a crítica.

— Tia Tara! — Laura gritou quando espiou para fora da porta de seu quarto no andar de cima. — Venha ver.

Tara arqueou as sobrancelhas pretas em direção a Jessy. — É permitido?

Em resposta, Jessy respondeu para sua filha: — Ela já vai.

— Obrigada, — murmurou Tara — eu não quero ultrapassar os limites.

Jessy segurou a língua com esforço e olhou para as costas de Tara quando ela seguiu para a escada. Toda vez que ela se aproximava da mulher jurava que não lhe permitiria se irritar com Tara. Não adiantava. Onisciente que a atitude superior da mulher lhe esfregava o caminho errado. Suspirando, ela se virou para o escritório, mas antes de dar um passo, Trey explodiu em casa. — A mãe do Quint está aqui! Eu vou levá-la para o celeiro e lhe mostrar o pônei de Laura!

Lá fora ele não dava a Jessy nenhuma chance de responder, mas sua exuberância era como um tônico banindo o gosto ruim que Tara havia deixado em sua boca.

Não foi nada forçado ou falso no sorriso que deu a Cat quando ela entrou.

— Oi. — Ela começou, mas não obteve nada mais antes de Cat atacar.

— Por que você fez isso?

Jessy recuou em surpresa. — Fiz o que?

— Você acha que eu não iria descobrir? — Cat contestava com o temperamento cheio. — Para sua informação, eu vim do confinamento. Está cheio de gado, mas nem um único deles carrega a marca do Triplo C.

— Eu o arrendei a um grupo que Monte representa.

— Que direito você tem de tomar sobre si mesma uma decisão como essa sem antes me consultar?

— Eram negócios. Nós concordamos...

— Nós concordamos que você teria, digamos completa direção do rancho. — Cat impaciente acenou fora as palavras. — Mas isso vai muito além e você sabe disso.

— Isso é ridículo, — protestou Jessy, se esforçando para entender por que Cat se opunha tão fortemente. — Financeiramente você tem que ver que é um movimento sábio. Esta será a primeira vez que a fazenda vai ver um retorno sobre o dinheiro que investiu desde que o lote foi construído.

— O Triplo C. sempre foi uma operação de vaca vitela. Foi um erro construir o confinamento em primeiro lugar. Papai percebeu e por isso ficou vazio todo esse tempo. Ele nunca teria concordado com isso, e nem eu. — Cat fez uma pausa, os olhos verdes se apertando com desconfiança. — Algo me diz que você sabia disso. É por isso que teve o cuidado de não dizer nada para mim.

— Isso não é verdade. Simplesmente nunca me ocorreu que você pudesse objetar. — Jessy se sentia presa, incapaz de explicar que Chase fora o único que tinha tomado a decisão de ir em frente com o contrato de locação.

— Bem, eu faço objeção. — Cat foi enfática.

— Objeção por quê? — Tara perguntou no patamar da escada, seu olhar correndo entre as duas mulheres, com a intensificação de juros.

Cat não tirou os olhos de Jessy. — Ela alugou o confinamento sem a minha permissão.

— Como ela pôde fazer isso quando, tecnicamente falando, você possui metade do rancho? — Havia algo na voz de Tara que sugeria uma delícia no noticiário.

— Isso é exatamente o que eu gostaria de saber. — Cat afirmou.

— Eu não fiz isso deliberadamente. Simplesmente não considerei como algo importante.

— Não é importante? — Cat saltou sobre aquilo. — Como você pode não achar que seja importante mudar a política deste rancho?

— Eu não estava olhando dessa forma. — Tudo que Jessy dizia parecia fraco.

— Mas isso foi precisamente o que aconteceu. Não por muito tempo, no entanto. — Cat acrescentou. — Eu quero aquele gado fora daqui Jessy.

Ela estava pasma que Cat fizesse tal demanda. — Isso é impossível. O acordo foi assinado e é um documento legal. Até Monte decidir enviar o gado para o mercado, ele tem a posse do lote. Mesmo se eu pudesse quebrá-lo, não o faria. Eu dei minha palavra a Monte.

— Mas eu não dei a minha. — Cat lembrou. Durante todo o tempo Tara ficou de lado, uma espectadora muito interessada. — Eu não me importo como vai fazer isso, mas você vai conseguir esses caminhões aqui e enviar essas vacas para outro lugar.

— Cat, você não está sendo razoável. Eu admito que tenha cometido um erro em não discutir o assunto com você antes, e sinto muito por isso. Mas as últimas semanas não têm sido exatamente fáceis para mim.

— Eu suponho que você espera que eu ignore isso.

— Eu gostaria que você o fizesse.

Por um longo segundo Cat não disse qualquer coisa e simplesmente olhou para ela. — Eu poderia estar inclinada a fazer isso se fosse a única coisa que eu tivesse descoberto que você fez.

Jessy sabia imediatamente o que estava por vir. Culley tinha dito a ela sobre a fixação até a linha da velha barraca, bem como sobre Laredo e Hattie.

— Há mais alguma coisa? — Tara perguntou, quase sorrindo com prazer sobre a perspectiva.

— Jessy decidiu fixar essa linha do barraco abandonado, nos contrafortes. Até agora ela não tem eletricidade para isso, mas eu acho que agora tenha água corrente.

— Era algo que Ty e eu muitas vezes decidimos fazer. — Jessy repetiu a mentira que havia dito a Culley.

— Eu me pergunto por que você nunca fez algo sobre isso antes de meu pai morrer. — Cat murmurou friamente.

Posto desta forma, não parecia certo. Jessy se esforçava para chegar a uma explicação. — Principalmente porque não havia uma razão para fazê-lo. Mas os Smith necessitavam um lugar para viver. Não havia qualquer abertura aqui no rancho. Então me lembrei do Ninho do Javali. Eu sabia que Laredo era útil nessas coisas então o contratei para consertá-la e torná-la habitável novamente.

— Laredo, é um nome estranho. — Comentou Tara. — Quem é ele?

— O Smith é presumivelmente amigo do pai. Supostamente eles têm um rancho no Texas. O que aconteceu com ele? — Cat perguntou a Jessy.

— Eles venderam depois de algumas dificuldades financeiras... — Para a vida dela, Jessy não conseguia lembrar o nome do falecido marido de Hattie, ou se ela tinha sequer ouvido falar dele. — John faleceu e eles foram forçados a vendê-lo... — Não havia muito após as dívidas serem pagas.

— Então você teve pena deles e veio com esse esquema de reparar a cabana para poder ajudá-los.

— Eles são boas pessoas. — Ela descobriu que poderia dizer, com convicção. — E o rancho não está pagando os reparos. As verbas estão saindo da minha conta pessoal. — Mentalmente, ela cruzou os dedos, prometendo fazer exatamente isso. — Eu sei que Chase aprovaria minha decisão de ajudá-los, mesmo se você não o faça.

— Talvez ele fosse, mas eu não acho que meu pai iria correr para o velho cemitério para conhecê-los.

O alarme disparou em Jessy. O que Cat deveria saber sobre isso? Ela conseguiu mostrar um riso surpreso. — Que diabos você está falando?

— Você está dizendo que você não o fez? — Cat desafiou.

De repente Jessy lembrava-se de ter visto Culley naquela manhã, mas tinha sido depois que ela conhecera Laredo no cemitério. Culley a tinha seguido? Mesmo que ele tivesse, era apenas a palavra dele contra a dela. Ele não tinha nenhuma prova de que ela tivesse estado lá ou que tivesse conhecido alguém. Considerando que não havia nenhuma explicação racional para ela estar lá, Jessy sentiu que não tinha escolha, a não ser blefar.

— Isso é exatamente o que estou dizendo. — Ela insistiu em negação. — Por que eu conheceria Laredo ou qualquer outra pessoa no cemitério velho? Não faz sentido.

— Tio Culley afirma que você o fez. Você está sugerindo que ele mentiu sobre isso?

— Não, apenas que ele estava enganado. Se ele me viu lá, deve ter sido quando Laredo e sua mãe me seguiram para o Ninho do Javali. A maneira mais fácil de chegar lá é pela estrada passando o cemitério. — Jessy poderia dizer pelo pequeno lampejo de incerteza na expressão de Cat que ela tinha conseguido plantar uma semente de dúvida.

— Se você contratou este Laredo Smith para reparar a cabana, o que ele está fazendo no confinamento? Eu o vi esta manhã, descuidadamente deixando correr a água no chão.

— Eu precisava de alguma ajuda extra para executar o confinamento, assim eu contratei Laredo. Ele já tinha terminado o grosso dos reparos na cabana.

— Que conveniente. — Tara murmurou. — Quando ele aparece pela primeira vez, você não tem qualquer trabalho na fazenda para ele, para que você faça o trabalho de tomar a decisão de arrumar uma barraca velha. Então você sai correndo e faz um acordo para alugar o confinamento. E, de repente, você precisa de ajuda extra no rancho. Você parece ter procurado uma enorme quantidade de problemas para ter certeza que este Laredo Smith tenha um trabalho.

— Foi puramente uma coincidência. — Jessy insistiu, tornando-se cada vez mais desconfortável.

— Naturalmente. — Tara sorriu. — Ainda assim, ele deve ser um amigo muito próximo.

— Ele é. — Jessy respondeu; e viu a armadilha em que caia e correu para acrescentar: — Ambos são.

— Não é estranho que eu nunca tenha ouvido falar deles? — Cat não queria deixar sua raiva. Ela ainda estava lá, perto da superfície.

— Eu não acho que seja estranho. — Jessy continuou a transmitir calma apesar de seu emaranhado caótico por dentro. — Eu imagino que há um monte de gente que Chase conhecia e você não.

— Smith, com um rancho no Texas. — A cabeça para baixo, Tara fez uma demonstração de busca em sua memória. — Ty e eu estivemos dezenas de vezes no Texas e não me lembro de uma única vez, que ele tenha mencionado querer visitar um fazendeiro chamado Smith. Você não acha que se os Smith fossem amigos próximos a Chase, Ty não teria se sentido obrigado a pelo menos telefonar para eles?

Jessy foi rápida para responder a isso. — Naquela época, você se importava tão pouco com a pecuária, que Ty não lhe falaria sobre eles. Ele sabia que você não se incomodaria com pessoas comuns.

— Eu ainda acho difícil acreditar que ele nunca os tenha mencionado. Por outro lado, talvez eles não fossem amigos dele. Talvez fossem seus.

— Como eu poderia tê-los conhecido se não através de Chase ou Ty? — Jessy fundamentou.

— Como eu deveria saber? — Tara demitiu suas perguntas com um encolher de ombros, elegante. — Eu não acompanho o que você vê ou quando. Talvez alguém devesse fazer isso. — Segurando seu olhar sobre Jessy, ela disse para Cat, — Se eu fosse você, Cathleen, gostaria de olhar para isso.

— Eu pretendo.

Jessy soube imediatamente que ela só iria enfraquecer a sua posição, argumentando com Cat. Sua única escolha seria tomar uma posição firme e blefar através de todo o caminho. — Olhe para o que você quiser. Não vai encontrar nada diferente do que eu disse.

— Isso continua a ser visto, não é? — Murmurou Tara, claramente apreciando a situação de Jessy. — É claro, só há uma maneira simples de provar se as suspeitas de Cat são infundadas.

Jessy foi instantaneamente cautelosa. — E o que é?

— Livrar-se dos Smith. Deixe-os encontrar um lugar para viver em Blue Moon. Eu sei que a mina tem várias aberturas. Se ele precisa de trabalho, pode conseguir um emprego lá. Certamente eliminaria a necessidade do seu apoio.

— Eu poderia fazer isso, — Jessy concordou — mas não vou. Porque eu não sinto que precise provar nada para você ou qualquer outra pessoa.

— Eu acho que é bastante óbvio onde suas lealdades se encontram. Não acha Cathleen? — Tara lançou um olhar presunçoso a Cat.

— Minha lealdade é para com o Triplo C. Ela sempre foi, e sempre será. — Jessy declarou um tanto ferozmente, irritando-se por Tara sugerir o contrário.

— Você tem um jeito engraçado de mostrar isso. — disse Cat. Em seguida, entrou em erupção em uma mistura de raiva e frustração. — Como você pôde fazer isso, Jessy? Meu pai lutou toda a sua vida para manter o Triplo C. intacto, e menos de um mês depois de sua morte, você assina um contrato de arrendamento dando posse de parte dele a alguém. Como você pode traí-lo assim?

— Eu não o fiz. — Jessy insistiu. Chase tinha tomado a decisão, mas ela tinha a honra de manter aquilo em segredo.

— Você certamente não tinha o direito de fazê-lo sem a permissão de Cat. — Tara inseriu.

Jessy se virou para ela. — Você está errada. Eu tinha todo o direito. Chase me chamou para assumir a fazenda se acaso algo acontecesse com ele. Deixou claro que Cat não teria nada a dizer sobre o funcionamento do Triplo C. As decisões são minhas, não dela.

— Contanto que você faça as coisas certas, — Tara adicionou com falsa doçura — caso contrário, existe má fé. Se as ações que você toma não são consideradas as melhores no interesse do rancho, como proprietária, Cathleen tem o direito legal de intervir e assumir o controle.

— Nada disso é realmente da sua conta, Tara. — Jessy estalou com a paciência esgotada. — Por que você apenas não fica de fora?

— Você gostaria, não? — Tara combateu sem problemas. — Sem mim ao redor, você acha que tem uma melhor chance de fazer Cat aceitar sua decisão.

— Cat sabe que eu nunca faria nada para prejudicar o Triplo C. Ele representa o futuro dos meus filhos. Eu faria o que fosse preciso para protegê-lo.

— Eu sempre pensei que você faria, — disse Cat — mas também pensava que conhecia você, Jessy. Agora eu me pergunto se eu a conhecia mesmo.

Lutando contra as lágrimas, Cat virou e se dirigiu para a porta. Tara demorou um momento, um olhar satisfeito em seus olhos. Então ela correu atrás de Cat. O primeiro impulso de Jessy foi ir atrás de Cat, mas sentiu que estaria apenas dando a Tara outra chance para influenciar Cat.

Capítulo Onze

No escritório, Jessy continuou com os movimentos de comparação do total da fatura contra o montante do cheque antes de adicionar a sua assinatura, mas os números não coincidiam. Via apenas fora da janela às cabeças juntas de Cat e Tara. Jessy poderia imaginar os ruídos simpáticos que Tara estava fazendo enquanto adicionava algumas insinuações maliciosas. Como se a situação atual não fosse complicada o suficiente, agora Cat tinha colocado esta nova torção sobre ela. Alguma coisa tinha que ser feita antes que a rixa entre as duas se acentuasse, mas Jessy não sabia o que poderia fazer.

Não até que as duas mulheres tivessem subido em seus carros e deixassem Jessy repousar a caneta ao lado e pegar a agenda de telefone do rancho. Com um dedo sobre o número do confinamento, ela discou e esperou. Depois de uma dúzia de toques, Laredo atendeu.

— É Jessy. Nós temos problemas.

— Eu pensei que poderia. Ela estava muito irritada quando veio por aqui. — Ele não se incomodou em se referir a Cat pelo nome, confiante que ela era a fonte. — Achei que iria descarregar em alguém, e parecia muito provável que você seria essa pessoa. Qual é o problema?

Com a chance de alguém poder escutar, Jessy manteve sua voz baixa e lhe deu uma resposta completa. Quando ela mencionou o papel de Tara, Laredo respondeu com um apito suave.

— Eu não iria até a ex furar seu nariz. — Ele admitiu pensativo. — Ela não gosta de você, bem sabe.

— É mútuo. — Jessy respondeu severamente, e de repente se perguntou, — Como você sabe disso?

— Eu falei com ela uma vez.

— Quando? — Sentia-se mais desconfortável do que antes.

— Em Fort Worth.

Ela ouviu a porta da frente ser aberta, e em seguida o som de botas. Falando a um nível normal, Jessy disse: — É impossível eu fugir agora. Explique ao Duke para mim. — Acrescentou, usando o nome que Hattie dera a Chase. — Deixe-me saber o que ele diz.

— Tem de ir à empresa, não é? — Laredo adivinhou. — Nesse caso, por que não nos encontramos hoje à noite no antigo celeiro. Às dez horas é muito cedo?

— Isso vai ficar bem. — Ela olhou para cima quando Jobe Garvey entrou no escritório. — Eu vou falar com você depois.

Todas as janelas no Ninho do Javali foram escoradas abertas, permitindo fluir uma brisa de boas-vindas para o interior. Chase sentou-se em uma cadeira de madeira, com uma toalha sobre os ombros, os dedos a agarrando firmemente junto a sua garganta. Hattie estava atrás dele, um par de tesouras em uma mão e um pente na outra.

— Eu não posso acreditar como seu cabelo cresceu tão rápido. — Ela passou o pente para baixo na parte de trás e segurou as pontas planas com seus dentes — Você sabe que está quase o suficiente para cobrir a sua cicatriz? Que, por sinal, está sarando bem.

Quando ela fez o primeiro corte, Chase perguntou com cautela: — Tem certeza que você sabe como cortar o cabelo?

— Eu fiz isso por anos em meu marido.

— Eu vi uma foto dele na sua casa. Era careca.

— Só por cima. Ele ainda tinha que ter as laterais cortadas.

Enquanto a tesoura fazia progressos constantes ao longo da nuca, Chase advertiu: — Cuidado com minha orelha.

— Olhe para o lado positivo, — Hattie disse a ele — se for acidentalmente cortado, você tem uma enfermeira aqui. Agora, mantenha sua cabeça para baixo.

Chase enfiou o queixo para baixo e resmungou: — Algo me diz que você é uma enfermeira melhor do que um barbeiro.

— Você está sempre tão mal-humorado? — Ela o repreendeu.

Isso o acalmou. — Eu não sei e não me lembro.

— Agora, isso não é inteiramente verdade. — Hattie advertiu enquanto habilmente mudava do pente para tesouras, cortando, e penteando de volta. — Você se lembrou de mais algumas coisas.

— Sim, de quando eu era criança. — Admitiu impressionado. — Não é exatamente importante lembrar que uma vez eu peguei um peixe com as minhas próprias mãos quando Buck e eu fomos nadar pelados no rio.

No olho da sua mente, ele podia ver novamente o salpicado da luz solar na água, sentir os lados firmes, mas escorregadios do peixe, ouvir os gritos alegres de Buck, e sentir o cheiro do rio. Foi uma lembrança feliz, mas que não o trazia mais perto de saber quem tentou matá-lo ou por quê.

Apanhados no passado, Chase quase perdeu o zumbido fraco realizado pela brisa. No instante em que ele se tornou ciente daquilo, sua cabeça se ergueu e seu corpo ficou rígido.

— Será que você ainda espera? — Disse Hattie, exasperada.

— Espere um minuto. — Ele levantou uma mão. — Eu ouvi alguma coisa.

Hattie parou para ouvir. — É um veículo.

— Vindo desta forma. — Ele soltou a toalha e se levantou.

— Talvez seja Jessy. — Hattie lhe lançou um olhar ansioso.

— Talvez. — Mas foi a incerteza que o fez se mover em direção ao canto da cabana onde tinham improvisado um esconderijo para ele, debaixo de uma cama beliche, disfarçando-o para ser visto como um conjunto de gavetas de armazenamento.

Antes que ele tivesse dado três passos, uma buzina soou duas vezes. Após uma breve pausa, soou novamente.

— Esse é Laredo. — Disse Hattie com surpresa, reconhecendo o seu sinal previamente combinado. — O que ele está fazendo aqui no meio do dia?

— Duvido que ele esteja vindo para trazer boa notícia. — Chase respondeu com a mente já correndo e antecipando o que poderia ser.

De todos os potenciais problemas que ele tinha considerado, nenhum deles foi nem perto do que Laredo lhe disse. O conjunto de sua mandíbula endureceu quando ouviu falar sobre Tara e no confronto entre Cat e Jessy.

— Bom Deus, — murmurou Chase com desgosto — e o meu filho já foi casado com uma mulher assim.

— Ela é uma espectadora, Chase. — Disse Laredo em defesa de Ty.

— Ela é uma cadela divisionista. — Declarou Chase e lançou um olhar cético a Laredo. — Você teria sido levado por ela?

— Eu não sei. — Laredo pensou sobre aquilo. — Quando eu era mais jovem, se ela virasse aqueles olhos escuros em mim... talvez. Mas eu sou mais velho agora, e um pouco mais sábio. Espero que o que aconteceu com o seu filho...

— Isso não vem ao caso. Agora o nosso problema é com Cat. — Chase indicou quando seus pensamentos se voltaram para dentro, para examinar suas opções. — A última coisa que precisamos agora é uma batalha pelo controle do rancho.

— Jessy me deu a impressão de que é exatamente o que acha que vai acontecer se Cat não puder se estabelecer em breve.

— Quem teria pensado que a locação do confinamento causaria um alvoroço? — Chase murmurou para si mesmo.

— Eu não entendo por que sua filha iria considerá-lo uma traição, — admitiu Laredo — mas no caminho para cá, eu me lembrei de algumas fofocas que ouvi em seu funeral. Do que eu recolhi, você passou a maior parte de sua vida lutando para ganhar o título para os dez mil acres de pastagens dentro dos limites da fazenda. Tara estava envolvida de alguma forma, mas eu nunca tive a certeza disso. Eu sei que logo após seu filho ser morto, ela cedeu a escritura da terra para você, mas manteve o direito de viver na casa que ela construiu lá.

— Lobo Prado. A Dy-Corp tinha arrendado os direitos minerais do governo para eles para que pudessem retirar o carvão existente na mina. — Chase lembrou-se em um súbito lampejo de memória. — Lembro-me de Ty me dizendo sobre isso. — Ele tinha uma imagem de uma sala de hospital, de estar rodeado de tubos e monitores, e de um homem alto, de ombros largos, com um bigode escuro de pé ao lado da cama, o mesmo homem que tinha visto deitado morto na ravina. O filho dele. Ele sentiu uma profunda onda de ternura e orgulho e uma dor súbita de aperto no peito.

Hattie colocou a mão em seu ombro. — Você vê, ela está voltando, Duke.

— Eu gostaria que você pudesse se lembrar da sua filha. — Laredo serviu-se de um pouco de café. — Ela parece ser do tipo apaixonado. Tudo é preto e branco ou você está para mim ou contra mim. Orgulhosa era a palavra que as pessoas continuavam usando no funeral. — Com o copo na mão, ele voltou para a mesa, girou em torno de uma cadeira e se sentou. — Jessy não me disse tudo tintim por tintim do que foi dito, por isso estou apenas adivinhando. Mas a maioria das filhas pensam que seus pais não podem fazer qualquer coisa errada. No seu caso, provavelmente é mais verdadeiro do que em outros. Cat quer que tudo fique do jeito que era. De repente Jessy não está fazendo as coisas que Cat está convencida que faria. Além disso, está acontecendo muito rápido depois de seu funeral. Mais do que provável ela acreditar que está no comando que passou para a cabeça de Jessy. Eu estaria disposto a apostar que é isso o que Tara está dizendo a ela.

— Eu não posso culpar Cat por lutar por aquilo que ela acredita que seja o melhor para o Triplo C. — Enquanto ele poderia admirar sua razão, Chase ainda estava irritado por suas ações.

— Vai precisar de algo convincente para fazê-la se voltar para baixo. — Laredo advertiu.

— Pessoalmente, não acho que isso possa ser feito sem pelo menos você dar um passo à frente.

— Pode haver outra maneira. — Ele se virou para Hattie. — Você tem um papel e lápis?

— Eu vou buscar. — Ela afastou-se da mesa.

— Você disse que se encontraria com Jessy a noite? — Chase olhou para Laredo.

— Às dez horas.

— Bom eu vou ter uma nota para você dar a ela, e que ela poderá mostrar para Cat; espero que possa conseguir que de tal forma Cat seja convencida que Jessy tem atuado como eu o faria. — Sua boca se curvou em um sorriso seco. — Presumivelmente, a minha filha vai reconhecer a minha letra.

Laredo ergueu a taça, falando contra a sua borda. — Nossa sorte se ela não pensar em uma falsificação. Especialmente se Tara ouvir sobre ela.

— Se nada mais, devemos pelo menos ganhar algum tempo. — Disse Chase quando Hattie voltou com uma tabuinha e caneta esferográfica.

Com uma lentidão agonizante, o ponteiro dos minutos marcou o seu caminho mais perto das dez horas. Cinco minutos antes da hora, Jessy se levantou da grande mesa de trabalho, com uma alta tensão atravessando os nervos. Saindo do escritório, ela caminhou para a sala de estar. Como esperava, encontrou Sally sentada na cadeira favorita de Chase, assistindo televisão.

— Estou saindo para uma caminhada e um pouco de ar, Sally. — Disse Jessy, trotando para fora com a desculpa cuidadosamente ensaiada. — Você vai ouvir os gêmeos apenas no caso de acordarem enquanto eu estiver fora?

— Claro. — Sally conseguiu dar um sorriso amarelo de garantia que nem sequer chegava perto de atingir os olhos cheios de dor.

— Obrigada. Eu não demoro. — O olhar de Jessy brevemente sobre o tecido de algodão na mão de Sally, uma indicação segura de que ela estava chorando de novo.

Ela estava quase arrependida por Tara não ter seguido com seu plano e falado com Sally sobre ficar com ela. A mulher estava quebrando seu coração por causa de Chase.

No lado de fora da Casa Grande, Jessy parou no topo da escada e deslizou seu olhar sobre o pátio do rancho. Dez minutos antes, ela tinha ouvido falar de um veículo e assumiu que era Laredo. Mas não havia nenhum sinal de sua caminhonete.

Desceu os degraus e caminhou para o velho celeiro de madeira, adotando o que ela esperava que fosse percebido como um ritmo de passeio por qualquer pessoa que pudesse vê-la. A algumas jardas, luzes altas lançavam amplas piscinas de luz em intervalos, o seu brilho escurecendo o brilho das estrelas no céu noturno. Quando chegou ao celeiro, Jessy teve que se forçar a não olhar com culpa sobre seu ombro. Ela não achava que alguém estivesse prestes a vê-la, mas não podia ter certeza sobre aquilo.

Esforçando-se para fazer cada ação parecer normal, entrou no celeiro e imediatamente acionou o interruptor de parede, girando as luzes que corriam o comprimento do amplo beco do celeiro. Seus sentidos aguçados imediatamente registraram o farfalhar de palha e os odores de mofo de um pouco de feno e de cavalo. Fazendo uma pausa, ela esquadrinhou o interior, com especial atenção para as muitas áreas sombrias, ainda mais escuras pelas luzes do teto. O pônei Welsh empurrou seu nariz por cima de sua tenda e soprou suavemente. Era o único movimento que ela detectava.

Com os nervos tensos e em uma perda sobre a forma de matar o tempo até Laredo chegar, Jessy caminhou até a tenda do pônei. — Como você está hoje à noite, Sundance? — O pônei lambeu a mão que ela lhe estendeu. — Desculpe, não havia cenouras. Vou me certificar de Laura lhe trazer algum amanhã.

— Aqui embaixo. — A chamada em voz baixa veio de sua esquerda.

Seu pulso disparou instantaneamente, uma indicação do estado de seus nervos. Ela deu ao pônei um arranhão de despedida e desceu para a cabana ao lado. Estava vazia, a porta aberta, uma cama de palha fresca no chão. Quando ela olhou para dentro, viu Laredo empoleirado no beliche de alimentação, mastigando um talo de palha.

— Bem na hora. — Ele se afastou da cama, chegando silenciosamente ereto. Seus lábios se separaram em um sorriso que mostrava a brancura de seus dentes e a palha presa entre eles. Ele a removeu, com um brilho diabólico em seus olhos azuis. — Gosto de uma mulher que não mantém um homem a espera. — Ele olhou a cintilação de aborrecimento em sua expressão que lhe dizia que não se divertia com sua observação banal. — Sorria Jessy, — ele advertiu de ânimo leve — você não faz o suficiente.

— Conte-me algo para sorrir. — A linha de sua boca diluída em pura rigidez.

Ele enfiou a mão no bolso da camisa e tirou um pedaço de papel. — Eu posso ter uma resposta para o seu problema aqui.

— O que é isso? — Ela perguntou com um elevado de sobrancelhas de repentino interesse.

— Duke escreveu. — Ele lhe passou a folha e observou a maneira ansiosa que ela se moveu na abertura da tenda para permitir que a luz caísse sobre ela.

— Basicamente, isso indica que ele pretendia explorar a possibilidade de locação do confinamento. A ideia é você mostrá-lo a Cat, e lhe dizer que você o encontrou em uma das gavetas da mesa. Com alguma sorte irá percorrer um longo caminho para convencê-la que seu pai estava pensando ao longo das mesmas linhas.

Apoiando as costas contra a moldura da porta da tenda, Jessy estudou a nota. Pareciam lembretes ociosos, listando os pros e contras de locação do confinamento. — Realmente não diz que planejava alugá-lo.

— Não. Ele poderia ter achado conveniente demais que você o encontrasse, se ele o fizesse. Nós não queremos que Cat se torne ainda mais desconfiada. Nós só queremos que ela admita que ele havia considerado a locação. Isso deve tornar mais difícil para que ela seja contra.

— Acho que eu deveria esperar um dia ou dois antes de encontrar isso.

— Eu acho que sim. — Concordou Laredo.

Ela dobrou o papel e o colocou no bolso do jeans. — Esse é um problema resolvido. — Ela murmurou.

Laredo inclinou a cabeça, sentindo um peso nela. — Há mais?

— Vocês.

— Eu já fui chamado de muitas coisas, mas nunca de um problema. — Ele sentiu uma necessidade de aliviar o seu humor, levando alguns dos problemas dela.

— Tara não se lembra de um fazendeiro do Texas chamado Smith. Ela acha que é difícil acreditar que Ty nunca contatou você em qualquer uma das viagens que fez para Fort Worth. — Jessy puxou uma respiração profunda e segurou-a.

— E se isso não é ruim o suficiente, ela não compra a história que dei a O'Rourke sobre a fixação até o Ninho do Javali. Tara não consegue entender por que você não se candidata a um trabalho da Dy-Corps, se realmente necessitasse. Aparentemente eles têm várias vagas. Ela fez parecer que eu corri para alugar o confinamento para que pudesse mantê-lo no rancho.

— Você está dizendo que Tara acha que você está interessada em mim? A mulher ao homem.

Jessy deu-lhe um olhar assustado que o deixou apenas um pouco irritado. Então ela pareceu considerar sua pergunta. — Provavelmente, — ela concluiu. — Ou isso, ou ela pensa que você tem algo comigo. O que, eu não sei, mas plantou uma semente na cabeça de Cat. Para piorar a situação, O’Rourke disse a Cat sobre eu tê-lo encontrado no cemitério velho.

Laredo endureceu. — Ele estava lá?

— Eu não penso assim. — Jessy balançou a cabeça. — Eu o vi pouco tempo depois. É possível que ele pudesse ter voltado lá.

— Como você explica isso?

— Eu não sei. Basicamente neguei e insisti que ele estava enganado. Eu realmente não tenho escolha. — Ela nivelou um olhar para ele. — Eu posso explicar um monte de coisas, mas você não é uma delas.

— O que significa que provavelmente será a arma que Tara tentará usar contra você. — Ele murmurou, pensativo. — Nós vamos ter que ver o que podemos fazer sobre isso.

— No telefone, você mencionou que tinha falado com ela em Fort Worth, — Jessy se lembrou. — O que foi aquilo?

— Eu lhe paguei uma bebida no bar do hotel, onde Chase tinha ficado. Até então eu não tinha certeza que era Chase, e queria pegar informações para preencher algumas das lacunas para ele. Não demorou muito tempo para descobrir que eu não iria conseguir nada com Logan, não sem responder um monte de perguntas dele em primeiro lugar. Mas eu não tinha problema para falar com Tara. Escusado será dizer que seu nome veio à tona.

— Eu não preciso perguntar o que ela tinha a dizer. Eu sei que não teria sido nada de cortesia. — Jessy inclinou a cabeça para trás, descansando-a contra o quadro.

— Não foi tanto o que ela disse, mas a forma como disse, quando mencionou que a morte de Chase tinha deixado você no comando do rancho. Ela parecia pensar que sua única qualificação para o cargo era que você nascera e crescera no rancho. A inveja em sua voz se tornou fácil de ler entre as linhas e acho que ela se sentia mais adequada para o cargo.

— Deus nos ajude se ela tiver as mãos sobre o Triplo C. — Seu rosto estava metade na luz e meio na sombra, um estudo em força e compostura amolecida pelos cabelos de mel escuro que se encontravam soltos sobre os ombros; mas foi a linha do comprimento dos lábios cheios que Laredo ficou observando. — De certa forma, estou surpresa que Tara não jogasse o papel da mulher injustiçada e me acusasse de roubar Ty dela.

— Você o fez?

— Não. Ty tinha parado de me ver bem antes deles se separarem.

— Então vocês dois tiveram um caso enquanto ele ainda era casado com Tara? — Laredo realizava e se maravilhava de novo em sua franqueza, sabendo que era algo que a maioria das mulheres não iria admitir.

— Quer dizer que você não tinha ouvido falar? — As linhas de riso ao redor de seus olhos castanhos amendoados plissados em um sorriso. — É de conhecimento comum no rancho. Nada permanece sempre em segredo por muito tempo no Triplo C. O telégrafo sempre vê isso.

— Engraçado, eu nunca teria pensado que você fosse do tipo de se envolver com um homem casado. É notoriamente um relacionamento sem saída.

— Meus olhos estavam bem abertos quando eu fui com ele. Eu sabia que Ty nunca deixaria Tara por mim. Um Calder não faz isso, e Ty era um Calder. A vida não é nada, mas uma série de bons e maus momentos. Agarrei minha chance de um desses bons.

— Você o amava há um longo tempo, não é? — Laredo adivinhou.

— Desde que eu era criança. — Sua boca se levantou em um sorriso de recordação. — Ty até me deu meu primeiro beijo. Ele fez isso como uma piada, mesmo em frente do Buzz Taylor e Bill Summers. Foi tão embaraçoso que eu fiquei furiosa com ele.

— Mas você nunca se esqueceu de como se sentia.

Ela tocou as pontas dos dedos sobre os lábios em forma de lembrança e balançou a cabeça. — Não, eu nunca me esqueci.

Ele sentiu um afrouxamento nela. Aquela viagem mental, de volta aos tempos mais felizes a tinha relaxado, diminuiu um pouco da pressão e da tensão da situação atual.

— Se não foi por você, por que ele deixou Tara? — Laredo não podia deixar de ser curioso.

— Ela cometeu o erro de se aliar com seu pai contra Ty. Os Calder colocam um valor alto em lealdade, e ela não demonstrou qualquer uma. Mesmo assim Ty poderia ter esquecido, se o futuro do Triplo C. não tivesse sido ameaçado.

— Então, ele caminhou de sua ex diretamente para você?

— Algo assim.

— Pelo menos ele finalmente agiu sensatamente.

Ela soltou um suspiro suave de riso. — Obrigada. Isso parece distintamente um elogio.

— Isso foi.

— Obrigada. Você é bom para o meu ego. Mas nós dois sabemos que Tara é uma mulher incrivelmente bonita.

— Isso é o que a maioria dos homens provavelmente vê quando olha para ela, mas eu não sou a maioria dos homens.

— Não, você foi cortado de um tecido diferente, — Jessy concordou — eu só não descobri de que tipo.

— É bom saber que você já se perguntou sobre mim. Depois da maneira como reagiu quando eu sugeri que Tara pensou que estávamos tendo um caso, eu tinha acabado de decidir que você não pensava em mim como um ser humano, muito menos um homem.

Algo tinha mudado. Num minuto Jessy estava relaxada e à vontade pela primeira vez em dias. Então, de repente ela estava cheia de uma consciência de formigamento. Ela sentiu o incerto de seu pé, uma sensação que a fez inquieta e hesitante.

— Isso não tem nada a ver com você. Fiquei surpresa que alguém pensasse que eu poderia estar interessada em outra pessoa. — Explicou ela.

— Por causa do Ty. — Laredo ficou muito mais perto do que se lembrava.

— Isso é certo. Ele foi o único homem que eu amei.

Laredo assentiu com a cabeça como se tivesse antecipado o que sua resposta seria. — Ele deu o seu primeiro beijo, e, provavelmente, foi o seu primeiro amante, também. Isso contribui para uma competição difícil.

Preocupada que ele pudesse estar interpretando mal aquela mudança na conversa, Jessy desabafou: — Você está flertando comigo?

A diversão brilhava em seus olhos azuis. — Eu estou. Alguma objeção?

Sua garganta parecia estranhamente apertada. Ela teve de engolir para conseguir as palavras. — Acho que sim.

— Isso é encorajador. — Ele sorriu torto, numa espécie de sensualidade em seu sorriso. — Você não tem certeza, só pensa assim.

Ela lhe deu um olhar longo, ao nível. — Você sabe o que eu realmente acho?

— O que? — Os cantos de sua boca se aprofundaram em um quase sorriso.

— Eu acho que você passou muitas noites, sozinho no Ninho do Javali. O que você realmente precisa é uma viagem para a cidade, algumas cervejas, e uma mulher fácil.

Ele jogou a cabeça para trás e riu. Era um som rico e saudável, genuíno e impossível de resistir. Jessy se encontrou rindo baixinho junto com ele. Por fim, os risos terminaram, com um leve tremor da cabeça.

— Você pode muito bem admitir que eu esteja certa. — Disse ela, sentindo-se confortável e segura de suas pernas novamente. — Eu passei muitos anos trabalhando lado a lado com os homens para não saber quando um começa a vagabundear por passar muitas noites fora no rodeio.

— Ah, Jessy, isso é o que eu gosto em você. Você acabou de cortar todas as guarnições e ir direto para o cerne das coisas. É uma arma muito eficaz. Estou surpreso que mais mulheres não descubram isso.

— Arma? — Sua escolha de palavras a intrigou.

— Claro, é apenas como aquela sua serenidade que de alguma forma empurra um homem de volta a sua conversa sem corte, corta as pernas de um homem para fora e debaixo dele. Aqui estou eu, trabalhando as coisas em torno de como eu posso roubar um beijo, e você... — Laredo fez um movimento de corte com a mão, — destrói completamente o clima romântico que eu estava tentando criar declarando que devo estar excitado.

— Você não? — Jessy desafiou.

— Desculpe isso não vai funcionar desta vez. — Informou ele. — Estou ficando sem meu beijo.

Por uma fração de segundo esteve demasiado muda e afundada para reagir. Na próxima respiração parecia que seu rosto estava a polegadas dele, o incrível azul de seus olhos brevemente a hipnotizando. Ele enganchou um dedo sob o seu queixo e se inclinou. Então sua boca desceu e ela a sentiu quente, levemente explorando a pressão nos lábios dela, mais curioso do que exigente. Se ele tivesse sido um pouco mais forte, ela teria sido mais rápida em se opor. Como aconteceu, ele estava levantando a cabeça e voltando atrás antes que tivesse uma chance de acabar com ela. Com olhos brilhantes, ele ergueu seu queixo e virou-o ligeiramente para o lado.

— Vá em frente. — Disse ele.

Ela deliberadamente fingiu não entender. — Vá em frente o que?

— Eu achei que você poderia querer me bater.

— Se eu o fizesse, o meu objetivo seria muito melhor. E eu não estaria usando minha mão. — Jessy respondeu irritada sem ter a certeza por que. — O que prova que você não me conhece tão bem quanto pensa.

— Eu acho que você não percebeu que eu tive o cuidado de manter as pernas juntas quando a beijei. Eu não estava prestes a dar ao seu joelho um fácil acesso ao alvo. Acho que isso significa que você estava um pouco distraída pelo meu beijo. — Seu sorriso se alargou um pouco. — Agora você quer me bater?

— Acredite em mim, é um pensamento tentador por nenhuma outra razão do que apenas descobrir como você iria explicar um olho negro para Chase.

— Você está certa. Isso poderia se revelar difícil, não poderia?

— Você é realmente um bastardo arrogante, não é?

— Olhe para o lado positivo, Jessy. Pelo menos eu levei sua mente fora de seus problemas por um tempo.

— Você certamente fez isso. — Ela concordou com uma voz ultra seca. — Perdoe-me se eu não agradeço por isso. — Ela se endireitou longe da barraca e não fez nenhum esforço para evitar colidir contra seu ombro enquanto abria caminho por ele para o corredor.

— Está pensando que esta é uma complicação que você não precisa no momento. — Laredo disse pelas suas costas, não fazendo nenhuma tentativa para segui-la.

— Você está errado, não complica nada para mim. — Jessy retorquiu.

— Você está ficando muito boa neste negócio, Jessy. — Observou ele. — Talvez você não veja isso como um problema, mas complica as coisas para mim. Quando eu cheguei aqui, eu não pensava em ser atraído para a viúva Calder.

— Você vai superar isso. — Respondeu ela por cima do ombro e se esforçou para demitir um sentido inesperado da depressão.

— Talvez. — Laredo admitiu com sua voz seguindo-a enquanto Jessy caminhava até a porta. — Eu só sei que sempre pensei que iria passar os meus anos de declínio sozinho, da mesma forma que sempre vivi. E agora essa perspectiva não apela para mim.

Ela parou na porta e se virou para olhar para ele, com uma abertura dos braços levantados, uma mão apoiada em cada lado da entrada. — Vá tomar umas cervejas. Talvez as coisas fiquem um pouco mais brilhantes.

— Essa ideia está parecendo cada vez melhor o tempo todo. Eu acho que posso fazer isso. Não se esqueça da sua nota no bolso.

O lembrete sacudiu seus pensamentos de volta para seus problemas atuais com Cat. Ela tocou o bolso para verificar se o pedaço de papel dobrado ainda estava lá. — Eu não vou. — Ela se virou e saiu pela porta, desligando o interruptor de luz em seu caminho para fora.

Laredo ficou na escuridão de breu do celeiro e se amaldiçoou por ser aquele tipo de tolo. Quando olhou para o passado, tudo o que viu atrás dele foi um erro atrás do outro. Tinha feito o primeiro quando resgatou Chase, e o segundo, quando não tinha feito o caminho para o México deixando Chase aos cuidados de Hattie. O terceiro veio quando ele se ofereceu para trazer Chase para Montana. E o quarto tinha sido extraordinário quando ele mostrou a atração que sentia por Jessy. Ele era um tolo para sequer pensar nessa direção. Era um homem sem futuro, sem nada para oferecer a ela ou qualquer mulher, nem mesmo seu nome. Problemas, isso era tudo o que tinha. Muito provavelmente era tudo que ele teria. No passado, a escuridão sempre tinha sido uma amiga. Hoje à noite pressionava sobre ele, intensificando aquele sentimento vazio, só que ele a agarrou. Ficando inquieto por isso, se afastou da abertura da tenda.

Deixou o celeiro do jeito que tinha entrado, através da porta traseira da tenda que abria para o curral. Após a escuridão do celeiro fechado, a noite realizava a ilusão de brilho para ele. Fazendo uma pausa, fechou a porta, sem permitir que nenhum clique da trava traísse sua presença. Mantendo-se nas sombras, se moveu ao longo da parede do celeiro para a cerca do curral. Abaixou-se entre os trilhos, e seguiu-os longe do celeiro, caminhando para a picape que havia deixado estacionada atrás do comissário do rancho. Quando deslizou atrás do volante, decidiu seguir o conselho de Jessy, de cabeça para Blue Moon e tomar uma cerveja.

O clangor da televisão recebeu Jessy quando ela entrou na Casa Grande. Após pausar um momento, dirigiu-se a sala de estar para deixar Sally saber que estava de volta. Encontrou Sally ainda abrigada na cadeira velha de Chase, dormindo, sua cabeça branca pendendo para um lado, com a boca aberta e os olhos fechados.

Um leve sorriso de empatia curvou a boca de Jessy para a foto de esgotamento da mulher feita. Sabendo da dificuldade que Sally tinha em dormir ultimamente, Jessy odiava acordá-la. Ao mesmo tempo, ela não queria que Sally ao acordar mais tarde começasse a se preocupar se ela havia retornado ou não.

— Estou de volta, Sally. — Ela chamou, mas a mulher não se mexeu. Jessy se aproximou e desligou a televisão para que não tivesse de competir com ela. — Sally. — Repetiu o nome dela. Quando a mulher ainda assim não respondeu, Jessy deu ao seu ombro uma agitação suave. Mas, com o primeiro impulso da mão dela, Sally caiu de lado. Alarmada agora, Jessy sentiu o pulso e não o achou.

— Sally. Querido Deus, não.

Capítulo Doze

Uma varredura pesada de estrelas brilhava no céu à noite. Nenhuma luz brilhava no quintal perto da casa ou nas dependências do Círculo Seis para escurecer o seu brilho. Com o mistério da noite diante dele, Logan Echohawk inclinou a cadeira de balanço para trás e apoiou os pés calçados com botas sobre o parapeito da varanda. Levantou um cachimbo na boca e puxou uma tragada, mas estava apagado e ele não estava inclinado a reacendê-lo.

O lugar além no pátio do rancho era um emaranhado de sombras em diferentes graus de escuridão. Uma brisa preguiçosa carregava o cheiro selvagem da terra, tocando alguma faísca elétrica dentro dele.

Como era seu hábito, sentou-se nas profundas sombras da longa varanda, bem longe da luz que se derramava através da porta de tela. Os passos leves se aproximaram. Um sorriso de boas-vindas levantou automaticamente os cantos de sua boca, enquanto ele olhava para o lado.

A porta de tela se abriu sob o impulso da mão de Cat, seu movimento acompanhado por um leve chiado das dobradiças.

— Quint está dormindo? — Ele adivinhou.

— Finalmente. — Cat foi direta para o corrimão e se inclinou com ambas as mãos sobre ele para olhar para a noite. Ficou ali por um momento, então se afastou e caminhou em direção à sua cadeira. Estava inquieta e tensa. Os sentimentos emanavam dela em ondas, perturbando a paz da noite.

Logan nem precisava perguntar o que a estava incomodando. Já sabia que era Jessy. Cat mal tinha lhe dado a oportunidade de caminhar através da porta naquela noite antes de se lançar em contar tudo o que havia acontecido.

— Já decidiu o que vai fazer? — Ele sabia que ela queria falar sobre isso, então lhe deu a abertura.

— Não. — Sua voz estava cheia de impaciência e confusão. — Eu odeio pensar essas coisas sobre Jessy. — Ela caminhou de volta ao corrimão e apoiou as mãos sobre ele novamente. — Mas há algo errado lá, Logan. Eu posso sentir isso.

— Uma coisa é sentir algo em seu instinto, e outra coisa é provar isso. — Ele se baseava em seus próprios instintos muitas vezes para aceitar o dela. Ao mesmo tempo, sabia que o instinto não era o suficiente, especialmente não naquele caso.

Cat se virou para enfrentá-lo, a tensão em cada linha de seu corpo. — Eu gostaria que você estivesse lá hoje. No início, quando eu a confrontei sobre a locação do confinamento, Jessy pareceu genuinamente surpresa e contrita que não tivesse discutido comigo antes. Eu estava pronta para acreditar nela. Ainda pensei que estivesse errada, mas acreditava que ela tinha agido como pensava ser o melhor, mas no minuto em que a desafiei sobre os Smith, ela mudou. Eu não sei como explicar isso exatamente, mas... — Cat fez uma pausa para procurar as palavras. — Algo sobre ela endureceu. Era como se de repente jogasse contra uma parede.

— Tara poderia ter tido algo a ver com isso. — Logan apontou.

— Eu sei. — Admitiu e soltou um suspiro pesado. — Parte de mim desejava que Tara não estivesse lá. Mas se ela não estivesse então eu não saberia que Ty nunca mencionara qualquer família chamada Smith, enquanto eles eram casados. No entanto, Jessy insistiu que eles eram amigos íntimos. Isso não faz sentido.

— Pode ser a diferença de idade. Talvez fosse Chase quem estivesse mais perto. — Logan sugeriu.

Cat girou longe do corrimão para enfrentá-lo. — Mas o filho está próximo a idade que Ty teria. Você deve tê-lo visto. — Ela lembrou com desgosto. — Foi tudo minha senhora e esta senhora, mas havia algo sobre sua atitude que eu não gostei. O tempo todo eu tinha a sensação de que ele sabia algo que eu não conhecia. Mas Jessy se recusa a ouvir uma palavra contra ele.

— Isso não me surpreende. — Logan respondeu com uma voz razoável. — Jessy é o tipo de pessoa que sempre defende seus amigos.

— Ainda. — Cat deixou a frase inacabada e cruzou os braços com força em seu corpo.

O tilintar duro do telefone veio de dentro da casa. Logan puxou seus pés da grade e se balançou fora da cadeira. — Eu vou atender. — Disse ele. — A esta hora da noite, deve ser para mim.

Quando chegou à porta, Cat se lembrou. — Pode ser Tara. Ela disse que iria chamar para me dar o nome e número de telefone de um advogado, que acha que eu deveria consultar.

— Você quer falar com ela? — Logan perguntou quando o telefone tocou novamente.

Cat balançou a cabeça. — Diga a ela que eu estou ocupada e peça-lhe para dar a você.

— Sem problemas. — Ele entrou na casa e abriu a porta de tela que se fechou atrás dele.

Sozinha na longa varanda de sua casa do rancho, Cat logo foi distraída por seus próprios pensamentos conturbados. Há muito tempo atrás, ela descobrira que havia pouco a ser aprendido em ouvir somente o lado de Logan de uma conversa telefônica.

Seu olhar estava tranquilo quando voltou à varanda. — Foi despachada?

— Temo que sim.

— Você não tem que me contar. — Ela murmurou, oscilando entre a decepção e a preocupação por sua segurança.

— Não. Desta vez, foi mais ou menos uma ligação de cortesia. — A firmeza de seus olhos cinzentos parecia avisá-la para estar pronta para alguma notícia desagradável. — Jenna achava que ela deveria deixar-nos saber que eles receberam um telefonema do Triplo C. Sally Brogan faleceu há pouco tempo.

O choque deixou Cat imóvel por um longo momento. — Ela estava tão perturbada desde que papai morreu. Você só tinha que olhar para ela e ver o quanto estava sofrendo, mas eu nunca... — Ela interrompeu a frase com um balançar de cabeça atordoado e de repente se moveu em direção à porta. — Precisamos ir até lá.

Logan pisou em seu caminho. — Não há nada que possa ser feito agora. Além disso, significa acordar Quint. Ele teve um tempo duro o suficiente ao lidar com a morte do avô. Não necessita ser exposto a isto.

— Eu não pensei em Quint. — Cat admitiu. — Não seria o melhor lugar para ele. Você fica aqui com ele e eu vou sozinha.

— Por quê? — Seu desafio era calmo, mas firme. — O que você vai fazer?

— Não é uma questão de fazer qualquer coisa, Logan. É o meu lugar estar lá, especialmente agora que meu pai se foi. É simplesmente algo que se espera de mim. — Explicou Cat com uma faísca de determinação nos olhos.

— Talvez seja, — admitiu Logan — mas, devido as suas diferenças presentes com Jessy, nós dois sabemos que se você for lá agora, vai acabar brigando com Jessy antes que a noite termine. E não seria o momento ou o lugar para isso.

Ela sabia que ele estava certo, e isso a deixava furiosa. — Tudo bem, então, você vai. — Ela estalou em mau humor. — Certamente não vai parecer certo se nenhum de nós aparecer, especialmente quando eles sabem que fomos avisados de seu falecimento. E você pode apostar que comentarão que eu sabia e não cuidei de aparecer. Eu não quero ter pessoas falando sobre mim. Talvez eles vão entender que eu tinha que ficar aqui com Quint, embora eu tenha a certeza que vão ter algo a dizer sobre isso, também.

Logan riu suavemente e puxou seu corpo rígido em seus braços. — Não é de admirar que Jessy reclamasse em cima de você hoje. Às vezes o silêncio é a melhor maneira de lidar com a cabeça quente quando se está à beira das lágrimas.

— Às vezes eu não posso ajudá-lo. — Cat declarou com a voz apertada com impaciência. — Eu trabalhei duro para ganhar o respeito de todo corpo do Triplo C. Eu odeio a ideia que possam pensar menos de mim por não estar lá hoje à noite.

— Pessoalmente, eu não dou a mínima para o que eles pensam. Estou preocupado com nosso filho que é o mais importante, do que com as suas boas opiniões.

A tensão fluiu fora dela. Sorrindo, ela relaxou contra seu peito. — Essa é a verdade absoluta. Obrigado por me lembrar.

Ela inclinou a cabeça para trás e Logan gentilmente se inclinou para beijar a suavidade de seus lábios curvados. O calor de seu beijo a lembrou que a única coisa com a qual ela jamais iria realmente se preocupar estava bem ali em seus braços.

— Ainda quer que eu vá? — Ele brincou e se aninhou no canto de sua boca.

— Não realmente. — Cat admitiu. — Mas eu ainda acho que um de nós deveria estar lá. Quero dizer, é Sally. Eu a conheço de toda a minha vida.

Desta vez Logan não discutiu.

Com sua mente em branco de pensamento consciente, Laredo olhou para a estrada do rancho à frente dele. As luzes do farol da picape revelaram seus mergulhos se aproximando e inchando antes que ele os alcançasse. O sinal de sobrecarga que marcava a entrada leste do Triplo C. formava uma barra preta contra o céu noturno.

Reduzindo a velocidade da picape para fazer a volta para a estrada, Laredo digitalizou automaticamente a rodovia e viu imediatamente as luzes azul-e-branco piscando ao norte. A silhueta correta do veículo fazia aquilo constantemente reconhecível como uma ambulância. Laredo freou a picape para uma parada no cruzamento e esperou que a ambulância passasse. Em vez disso, ela abrandou e fez o balanço para a entrada do rancho.

Surpreso, segurou-se imóvel por uma fração de segundo. Hesitou um momento mais longo, em seguida, fez uma inversão de marcha girando os pneus e decolou depois. Havia uma dúzia de explicações possíveis para uma ambulância ser convocada àquela hora da noite, tudo a partir de uma doença de um dos trabalhadores a um acidente em uma das estradas da fazenda. Mas havia sempre a possibilidade do suposto assassino de Chase ter mudado seu foco para Jessy, e Laredo sabia que ele não teria qualquer paz de espírito até que se assegurasse que Jessy estava bem.

Foram longas quarenta milhas de volta para a sede do Triple C. Quando ele puxou para o pátio do rancho por trás da ambulância, as luzes brilhavam nas janelas do primeiro andar da Casa Grande. Três veículos estavam estacionados em frente a ela, os veículos que não estavam lá quando Laredo a deixara há mais de uma hora atrás.

A ambulância estava parada próxima aos degraus da varanda. Laredo estacionou sua caminhonete ao lado da casa, parcialmente escondida nas sombras e fora do caminho. Sem perder tempo, saiu da cabine e foi direto para a varanda. Quando chegou às escadas, os paramédicos estavam chegando à porta da frente.

Laredo seguiu-os para dentro, sua própria tensão crescente com a falta de pressa. Breve notou que toda a atividade parecia centrada na sala de estar, dirigiu-se naquela direção, inconscientemente, farejando o ar para distintamente sentir o odor de sangue. Antes de chegar à sala de estar, ele foi parado no corredor por um homem baixo, atarracado construído em algum lugar na casa dos sessenta.

— Você está com a ambulância? — Ele perguntou com ceticismo cauteloso.

— Não, eu... — Laredo teve um vislumbre de Jessy na sala de estar, viva e ilesa.

Laredo sentiu um afrouxamento instantâneo de seus músculos.

— Estava verificando se Jessy estava bem. O que aconteceu?

Mas o homem não respondeu de imediato. — Quem é você?

Sua atitude era de desconfiança indiferente em direção a um homem que ele considerava como um estranho. Antes que Laredo pudesse responder, Jessy reparou nele e rapidamente se desculpou, deixando uma mulher mais velha falando com os paramédicos.

— Está tudo bem, papai, — ela disse ao homem e se plantou no caminho de Laredo — eu o conheço. É o novo homem que eu contratei para trabalhar no confinamento, Laredo Smith. — Seu olhar ricocheteou em Laredo. — E acredito que você não conheceu meu pai, Stumpy Niles.

— Mr. Niles. — Laredo acenou com a cabeça em reconhecimento, mas nenhuma mão foi empurrada para frente, tremendo. Sua única resposta foi um breve aceno de cabeça e um olhar de nível que parecia exigir uma explicação. — Passei pela ambulância e vi que estava vindo para cá, — Laredo começou forçando as palavras — e naturalmente, comecei a me perguntar qual seria o problema.

Jessy veio em seu socorro. — Foi bom você parar se caso puder ser de ajuda.

— Não quero ser intrometido, mas o que aconteceu? — Laredo formulava a pergunta para o benefício de seu pai.

— É a nossa governanta, Sally Brogan. Eu saí para uma caminhada curta antes de dormir. — Desta vez Jessy olhou para os olhos, fornecendo-lhe a desculpa que ela tinha usado para cobrir sua ausência da casa. — Quando voltei, a encontrei. Ela deve ter tido um ataque cardíaco. Liguei para Amy Trumbo imediatamente. Ela é uma enfermeira, — acrescentou em explicação rápida — e nós tentamos, mas não conseguimos reanimá-la.

— Sinto muito. — Disse ele, com sinceridade.

— Nós todos sentimos, — disse ela e encolheu os ombros — mas realmente não há nada que possamos fazer agora a não ser esperar o médico legista chegar.

— Eu posso ver isso. — Laredo entendeu o recado. — Acho que estarei saindo em seguida.

Quando ele se virou para sair, Jessy se mudou para o seu lado e andou no passo com ele. — Obrigado mais uma vez por parar. — Disse ela, alto o suficiente para o pai ouvir.

— Obrigado não é necessário.

— Provavelmente não. — Jessy concordou. Quando chegaram à entrada da frente, ela empurrou Laredo para fora da porta e saiu atrás dele, lançando um olhar furtivo e um pouco ansioso atrás dela. — Certifique-se de dizer a Chase sobre Sally, — disse ela em um tom apressado. — Ele provavelmente não se lembra, mas Sally esteve apaixonada por ele por anos, mesmo antes que ele e Maggie fossem casados.

— Ele estava apaixonado por ela? — Laredo perguntou curiosamente.

— Afeiçoado seria provavelmente a palavra certa. Eu não acho que Chase já sentiu algo mais do que amizade por ela. — Jessy admitiu, ficando pensativa. — Depois que Maggie morreu, eu realmente pensei que chegaria o dia em que ele iria voltar para Sally, mas ele nunca o fez. Em vez disso, Sally ficou triste até a morte em cima dele. Você vê a ironia nisso? Ela morreu sem descobrir que ele ainda está vivo.

Não era uma questão que exigia uma resposta verbal, e Laredo não fez nenhuma. Havia pouco na expressão de Jessy que revelasse a tristeza e pesar que sentia por ela, mas entendeu o estoicismo que ela usava para conter seus sentimentos. Ela não via nada a ganhar com o que lhes deu origem.

— Eu vou me certificar que ele saiba sobre Sally, — Prometeu e se virou quando um conjunto de feixes de farol cortava um arco em todo o pátio do rancho, mirando na Casa Grande. Jessy os notou bem e jurou baixinho: — Droga. É Logan. É melhor ir. Rápido. Cat deve ter falado algo sobre você a ele.

Mas Laredo sabia que a pressa indevida era o caminho certo para levantar suspeitas de um homem da lei. Esse conhecimento o levou primeiro a tocar o chapéu para Jessy e passear do outro lado da varanda para os degraus. No meio da varanda ele se encontrou com Echohawk em seu caminho.

— Boa noite, — Laredo acenou para ele como se não tivesse nada no mundo para se esconder. Mas sentiu o toque daqueles olhos cinzentos nos seus quando passou por ele. Projetando cada porção de calma que pôde reunir, Jessy esperou Logan alcançá-la. — Acho que você ouviu falar sobre Sally. — Disse ela, em vez de uma saudação.

— Jenna me chamou no rancho. — Logan respondeu com um aceno de cabeça, em seguida, olhou na direção de Laredo quando ele desapareceu perto do lado da casa. — Será o novo homem sobre o qual Cat estava me contando?

— Sim, é Laredo Smith. — Jessy confirmou e soltou um suspiro audível. — Acho que não preciso perguntar o que Cat disse sobre ele.

— Acho que você não deve. — Havia algo gentil sobre a breve curva de sua boca. — Eu não esperava vê-lo aqui agora à noite. — Logan também não esperava ver a protuberância na bota do vaqueiro quando ele desceu os degraus.

— Uma ambulância estacionada na frente da Casa Grande tende a atrair a atenção. — Jessy respondeu. — Eu teria pensado mal se ele não tivesse parado para descobrir o que estava errado.

— Você está certa, é claro. — Logan reconheceu.

— Cat sabe sobre Sally?

Ele assentiu. — Ela queria vir, mas Quint já estava na cama dormindo.

— É melhor assim. Não teria qualquer coisa que ela pudesse fazer.

— Isso foi o que eu disse a ela. — O rugido do motor do recolhimento virando chamou a atenção de Logan ao lado da casa. Eles ficaram lá para observar a picape de Laredo de volta para o pátio do rancho. Quando Jessy se virou para voltar para dentro, Logan perguntou: — Ele sempre carrega um refúgio?

Jessy balançou de volta, franzindo as sobrancelhas em perplexidade genuína. — Um o quê?

— Um refúgio. — Logan repetiu a palavra e então esclareceu: — Essa é outra palavra para uma arma escondida.

— Do que você está falando? — Ela deixou sua carranca aprofundar e mascarar o eixo súbito de mal-estar.

— Eu notei o volume em sua bota direita quando ele estava descendo os degraus. Eu trabalhei com um texano uma vez, que sempre carregava um refúgio em um coldre de tornozelo. Sua bota parecia com isso. É algo que você se lembra se quiser permanecer vivo no meu negócio. — Seu tom tinha uma qualidade de improviso, mas Jessy não se deixou enganar pela sua naturalidade. — Espero que ele tenha uma licença para usar aquilo.

Ela fingiu um encolher de ombros de indiferença. — Você deveria ter perguntado a ele.

— Estou aqui como família esta noite. Mas haverá outra vez. — Logan copiou seu encolher de ombros, enquanto seus olhos cinzentos continuaram a estudá-la com muita atenção. — Quanto você o conhece, Jessy?

— Não comece isso comigo, sobre ele, Logan. — Jessy disse exasperada. — Não esta noite. Eu recebi questionamento suficiente de Cat sobre Laredo e não preciso mais agora.

— Ela me disse que esse personagem Laredo era um assunto delicado. — Logan observou com aparente ociosidade.

Mas Jessy se colocou em guarda. — Logan, você tem alguma ideia de como é difícil defender seus amigos quando as acusações contra eles não têm nenhuma base na realidade? É impossível. E Tara não ajudou a situação, como de costume.

— Um excelente ponto. — Um sorriso irônico puxou um canto de sua boca. — Tara adoraria ver você falhar. Principalmente porque ela tem inveja de você e desejaria estar no seu lugar.

— Tara encarregada do Triplo C., agora é um pensamento assustador. — Jessy declarou com sentimento.

A porta da frente se abriu atrás dela.

— Jessy, o que diabos você está fazendo aqui? — Ao som familiar da voz de sua mãe, Jessy se virou para enfrentar a mulher delgada que a favoreceu. — Logan, — Judy Niles disse surpresa quando finalmente o percebeu — eu não sabia que você estava aqui.

— Eu só cheguei há alguns minutos.

— Não é simplesmente terrível sobre Sally? — Judy Niles declarou, fazendo tudo, mas estalando a língua. — Parece que é apenas uma tragédia após a outra. Minha mãe sempre me disse que a morte vem em três. Eu não posso ajudar, mas pergunto quem poderia ser o próximo.

— Isso não é nada, só conto da carochinha, mãe.

— Eu sei. — Ela murmurou não convencida, e pareceu perceber que estava com a porta aberta. — Meu Deus, qual é o problema comigo? Venham para dentro, vocês dois. — Ela deu um passo atrás para admiti-los e continuou falando. — Amy e eu estávamos discutindo se Sally deve ser enterrada ao lado de seu falecido marido. Qual é a sua opinião, Jessy? Você acha que seria apropriado?

— Eu não sabia que ela havia sido casada. — Disse Logan.

— Anos e anos atrás, — declarou Judy — com um cavaleiro de rodeio. Ele vinha trabalhando no Triplo C. a menos de um ano quando morreu em um acidente de carro. Stumpy disse que estava no lado inútil. Naturalmente, ele não tinha seguro. Então Chase pagou pelo funeral e sepultaram-no aqui no rancho. Ike diz que o lugar ao lado dele está disponível. Mas eles estavam casados há muito tempo, e não muito felizes. Eu só não sei se Sally iria querer isso.

— Não é algo que temos de decidir agora. — Jessy fez uma pausa na entrada, enquanto sua mãe fechava a porta.

— Eu sei, mas a decisão tem que ser feita em breve. — Judy Niles observou, em seguida, rapidamente levantou um dedo quando outra coisa lhe ocorreu. — Antes que eu esqueça, pensei em alguém que você pode considerar contratar para cozinhar e cuidar da casa. DeeDee Rains. Ela fazia quase toda a cozinha quando Sally tinha o restaurante da cidade. Eu não sei o que ela está fazendo agora, mas sei que não está trabalhando no Harry.

— Eu me esqueci da DeeDee. — Jessy admitiu — Vou falar com ela e ver se está interessada em trabalhar aqui.

— Espero que ela aceite, porque nós, mulheres podemos preencher por um tempo, mas você terá que encontrar alguém permanente. — Judy parou com um olhar de contrição alegando sua expressão. — Não é horrível? Aqui estamos nós, falando sobre essas coisas e Sally ainda está deitada ali.

— É verdade, mamãe. Sally iria fazer suas próprias sugestões agora se ela ainda estivesse viva. — A conversa com a mãe usou apenas metade da atenção de Jessy. O resto foi em Logan quando ele entrou na sala de estar onde os outros estavam reunidos. De alguma forma, ela precisava alertar Laredo dos comentários que Logan tinha feito. E assim por diante.

A noite camuflava o interior da cabana na escuridão. A única luz vinha do brilho das estrelas na cinzenta vidraça; inquieto, Chase rolou para o lado e olhou para a escuridão. Ele não tinha ideia do tempo, mas sabia que tinha que ser algo em torno de meia-noite. O sono lhe fugira. O melhor que tinha conseguido era um cochilo intermitente que caíra em algum lugar entre o sono e a vigília.

Fechou os olhos e tentou novamente. Depois de alguns segundos, desistiu do esforço, jogou para trás o cobertor de verão, e balançou as pernas para fora da cama. Não teve nenhuma dificuldade para localizar as roupas que havia tirado apenas algumas horas atrás. Colocou-as e pisou em suas botas. Depois de um olhar sobre a cama de solteiro ao longo da parede oposta, onde Hattie dormia, calmamente atravessou a cabana e saiu para a noite repleta de estrelas.

O hálito frio da brisa o tocou, o que levou Chase a fechar o botão da frente de sua camisa que deixara aberta. As sombras cobriam a paisagem, aprofundando o preto nos lugares baixos e de carvão ao longo das áreas mais elevadas. Havia silêncio ali para acalmar um pouco do seu nervosismo.

Era uma terra grande e vazia que se estendia diante dele, uma terra que ainda estaria ali, ainda imutável, muito tempo depois que ele fosse embora e ficasse esquecido. Não era um pensamento que o incomodava; em vez disso encontrava algum conforto naquilo, um senso de retidão.

O alongamento da mola da porta de tela fez um som fraco, mas no silêncio da noite, foi alto para seus ouvidos. Girando nos quadris, Chase olhou para trás quando Hattie saiu com as mãos amarrando o cinto do seu robe de algodão.

— Tem alguma coisa errada? — Seus olhos escuros eram rigorosos em sua rápida inspeção dele.

— Não consegui dormir. — Chase se ajeitou ao redor para levar seu olhar sobre a ampla extensão de terra para além deles.

— É quase abafado demais para obter qualquer descanso. — Ela se aproximou e, de pé ao lado dele, mostrou as estrias dramáticas de cinza em seus cabelos prateados pela luz das estrelas.

Chase localizava a Estrela do Norte e calculava o tempo pela posição da estrela em torno dele. — É bem depois da meia-noite.

— Doze e trinta e seis, para ser exata. — Hattie respondeu. — Eu olhei para o despertador quando me levantei.

— Eu me pergunto o que está prendendo Laredo. Eu pensei que ele estaria de volta agora.

— Ao longo dos anos eu aprendi a não me preocupar com ele. Ele sempre aparece quando menos espero.

Chase sentiu o afeto em sua voz. — Você gosta muito dele, não é?

— De certa forma, ele é como o filho que nunca tive. Dói saber que um erro cometido há muito tempo tirou o seu futuro. Poderia ter tido uma boa vida.

— Ele tem uma casa no Triplo C., desde que ele queira. — Afirmou Chase, mas no minuto em que ele mencionou a palavra "casa", lembrou-se que aquela não era dela. — Eu acho que você vai voltar para seu rancho em breve.

— Eu acho, — ela concordou e lhe deu um sorriso de lado — e com certeza não precisa mais de ninguém para cuidar de você.

— Depois de ter ido tão longe, você provavelmente está ansiosa para voltar.

— Não tanto quanto pensei que estaria. — Hattie respondeu. — Eu não sei, vindo aqui para um lugar novo, todo o trabalho que levou para arrumar a cabana da forma que eu queria; isso me fez sentir jovem de novo. Parece loucura, não é...?

— Não para mim. — E ele não podia explicar o porquê. — E com certeza vou sentir sua falta quando você for. — Ele descobriu que não estava ansioso por aquilo. Hattie tinha sido uma constante em sua nova vida sem memória.

— Bem, você vai ter que esperar, porque eu ainda não o deixei. — Hattie retrucou.

Chase riu. — Isso é o que eu gosto em você, Hattie. Você nunca está em uma perda para um retorno.

— Com um homem como você, uma mulher não tem uma escolha. Ela quer se ver frente a frente com você ou se aproximar. E você não está andando em cima de mim, Duke.

O sorriso ficou. — Eu não iria tentar.

— Sim, você iria, se eu deixasse.

— Você não tem uma opinião muito elevada de mim, não é? — Ele não podia dizer exatamente por que isso o incomodava, mas o fazia.

— Isso não foi uma crítica, Duke. — Hattie o admoestou de ânimo leve. — Nem sequer é algo que você faria com conhecimento de causa. Iria simplesmente acontecer, porque você seria muito, ocupado para notar. Deus sabe que existem falhas piores que um homem poderia ter.

— Vou aceitar sua palavra para isso. — Buscando mudar de assunto, Chase voltou para o anterior. — Quanto tempo mais irá o seu vizinho cuidar do seu lugar?

— Ele provavelmente vai começar a gritar em uma semana.

Chase começou a pensar no tempo que passou ali, no conforto da sua cozinha velha e na velha cadeira de balanço de madeira na varanda. Aqueles pensamentos levaram-no a recordar o velho ferro de marcar. De repente, outra lembrança foi clicada no lugar.

Abruptamente, ele se virou e a agarrou pelos braços. — Aquele velho ferro de marcar era um Bar C. Aquela era a marca do rancho de Seth Calder no Texas. Já no seu antigo lugar. — A certeza brilhou através dele. — Meu Deus, eu posso ter dormido e comido na mesma casa que ele, e Benteen, também. — Um riso atordoado veio dele com a incrível coincidência daquilo.

Hattie olhou para ele como se ele tivesse perdido o juízo. — O que você está falando, Duke? Quem é Seth Calder?

— Meu bisavô, eu acho. — Ele sorriu com a percepção de que se lembrava daquilo. — Ele era o pai de Benteen. — Em uma explosão de exuberância, Chase levantou-a do chão e a girou em torno, ignorando o suspiro de surpresa.

— Seu idiota. — Hattie protestou, rindo.

Mas ela não teve a chance de dizer mais. No minuto em que seus pés tocaram o chão, a cabeça dele desceu, e reivindicou sua boca em um beijo silenciador. Não era algo que ele tivesse planejado, mas no instante em que fez contato com o macio, dando o calor de seus lábios, ele não só se sentiu bem, como despertou desejos que tinham ficado adormecidos por muito tempo.

O que tinha começado como um provável tapa boca se transformou em algo mais quando ele explorou suas curvas arredondadas. Seus braços se enrolaram em torno dela, moldando-a contra ele enquanto suas mãos se estenderam em suas costas e seu corpo se arqueou, buscando uma maior proximidade. Seu sangue se aqueceu, as necessidades antigas surgiram com jovem vigor. Ele sentiu satisfação na descoberta da respiração dela áspera como a sua própria. Chase foi lento para se desembaraçar de seus lábios e levantar a cabeça para olhá-la, apenas para o puro prazer. Seus olhos permaneceram fechados, os lábios ligeiramente inchados das demandas de seu beijo.

— Uau! — Hattie lançou um instável respirar e abriu os olhos para olhar para ele um pouco atordoada e deslumbrada. — Você embala completamente um perfurador, Duke. — Declarou ela, a rouquidão de sua voz lhe dizendo que ela sentia a mesma perturbação que ele.

— Eu não estou surpreso, no entanto. De alguma forma eu sabia que você ficaria.

— Você está dizendo que isso é algo que você tem pensado? — A possibilidade a agradava.

— Como você parece modesta. — A suave risada borbulhou dela.

— Isso foi inesperado. Apenas uma fêmea imatura não seria suficiente para achá-lo atraente e me pergunto o que seria ser beijada por você. Ela distraidamente endireitou o colarinho de sua camisa, um gesto que transmitia uma intimidade confortável. — E eu definitivamente queria saber. — Seu olhar se demorou um momento na linha masculina de sua boca, em seguida, olhou-o nos olhos. — Ou isso é algo que você acha que eu não deveria admitir? Você parece viver por um código antigo. Talvez não acredite que uma mulher deva admitir que às vezes sinta desejo, também.

— Sabe de uma coisa, Hattie. — Um sorriso enrugou as linhas ao redor dos olhos castanhos. — Você fala demais.

— E você não fala o suficiente. — Ela respondeu. — Por exemplo, eu não sei se o fato de eu ser viúva incomoda você. Você acha que eu estou sendo infiel à memória de Ed por querer beijá-lo?

— Cale a boca. — Chase grunhiu e tomou medidas para ter certeza de que ela o fizesse.

O beijo foi longo e profundo; cada um dando livre curso às suas paixões. Cada um havia sentido aquela corrida aquecida antes, mas ser novo para o outro lhes dava um toque inebriante.

Seus lábios se separaram pela segunda vez, e novamente eles se apertaram no abraço, cada respiração difícil e sorrindo um pouco naquele sentimento estranhamente tonto que tinham. Suas mãos percorriam suas costas. Chase estava vagamente irritado com o robe de noite a envolvendo quando ele não queria nada entre eles.

Desta vez Hattie não disse uma palavra, deixando Chase falar primeiro. — Eu não posso prometer nada, Hattie. — Ele se sentiu obrigado pela honra a dizer aquilo. — Nem mesmo amanhã.

Ela colocou um dedo em sinal de silêncio em sua boca. — Eu não iria prendê-lo mesmo que você quisesse. Não seria justo, não quando você não recuperou totalmente a sua memória. Como mulher, eu aprendi a não contar muito com o amanhã. É muito mais sensato aproveitar o máximo esta noite. Pode ser tudo que podemos conseguir. — Ela fez uma pausa de uma respiração, então amaldiçoou suavemente e com tristeza: — Oh, inferno.

Chase recuou. — O que está errado?

— Laredo está vindo. — Ela assinalou com a cabeça na direção da estrada.

Virando a cabeça, Chase viu os faróis da picape antes de ouvir o zumbido constante de seu motor. Hattie saiu de seus braços e rapidamente endireitou à frente de seu robe e amarrou o que estava solto. Quando ela começou a colocar o cabelo em ordem, ele riu.

— Essa modéstia à moda antiga. Isso é inesperado. — Disse ele com um sorriso, voltando suas palavras para ela.

Ela lhe deu um tapa no braço em retaliação brincando. — Fique quieto.

— Não são muitas mulheres da sua idade que precisam fazer esse tipo de reparos na sua aparência. — Chase brincou rápido ao perceber que ela estava um pouco nervosa.

— E de quem é a culpa? — Hattie respondeu, colocando as mãos ao rosto. — Oh, meu Deus, eu estou realmente corando. Não acho que eu ainda sabia como.

Ela riu baixinho para si mesma, e Chase juntou-a, envolvendo um braço em volta dos ombros para aninhá-la contra seu lado. Esse foi o modo como eles se levantaram quando Laredo dirigiu até a linha do barraco.

Mas Laredo estava preocupado demais com seus próprios pensamentos para notar.

— Você está acordado até tarde. — Seu olhar ricocheteou quando ele escorregou as chaves do caminhão no bolso. — Você não estava esperando por mim, estava?

— Na verdade não. — Respondeu Chase. — Mas, considerando como é tarde, por que você demorou tanto?

Laredo puxou uma respiração profunda e a soltou. — Sally Brogan, a governanta, está morta. Parece que foi um ataque cardíaco. O legista não tinha chegado lá ainda quando eu saí, mas Echohawk sim.

— Ele falou com você?

— Não. — Ele estudou Chase por um momento. — Você não se lembra de Sally, não é?

Após uma breve pausa, Chase respondeu com um pequeno movimento negativo de cabeça.

— Jessy disse que ela estava apaixonada por você há anos. Eu acho que a sua morte realmente acabou com ela. Agora é a morte dela que está pesando sobre Jessy. — Não havia nenhuma emoção na voz de Laredo.

Mas Hattie o conhecia muito bem, e compreendeu as coisas que ele tinha deixado por dizer. Instintivamente tinha se movido de um lado do Chase e estabelecido uma mão reconfortante no braço de Laredo.

— Deve ser horrível para Jessy. — Disse ela. — Eu não sei mesmo de Sally, e dói saber que ela passou por toda essa angústia sem nunca saber que Chase ainda estava vivo. Eu imagino o sentimento de culpa que Jessy deve estar sentindo.

— Sim. — A voz de Laredo era baixa, quase cortada. — No entanto, ela não pode ser ajudada.

— E Jessy sabe disso, também.

— Sim. Ela vai superar isso. — Um músculo repuxou em sua mandíbula, um aperto por um sentimento.

Com um súbito lampejo de intuição, Hattie, percebia que era outra emoção inteiramente nova que ele estava mascarando. Suave como um sussurro, ela disse: — É Jessy, não é?

Ele lhe deslizou um olhar para baixo, um sorriso sardônico torcendo sua boca. — Eu vou superar isso.

— Duke e eu estávamos conversando antes de você chegar. — Ela falou com uma voz normal, olhando ao Chase para incluí-lo. — Ele disse que você tem uma casa aqui o tempo que quiser.

— Isso é generoso. — Disse ele com um aceno de cabeça na direção de Chase. — Mas não é provável que seja para mim. Agora, se vocês me dão licença, eu acho que vou dormir. Foi um longo dia. Com a cabeça baixa, ele se dirigiu para a cabana.

Seu coração se penalizou por ele quando Hattie o viu desaparecer dentro do escuro interior da cabana. Chase se mudou para o lado dela.

— Algo está errado?

Ela sentiu a sondagem curiosa de seu olhar. Antes, ela teria hesitado em compartilhar o segredo de Laredo com ele. Mas beijá-lo mudou tudo.

— É o inferno amar alguém quando você sente que não tem o direito. — Ela confidenciou.

— E estamos falando de quem? — Chase questionou.

— Laredo e Jessy.

Chase ergueu a cabeça com a compreensão súbita. — O vento está soprando desta forma, não é?

— Se você tem um problema com isso, diga-lhe agora, Duke. — Não era um pedido. A firmeza de sua voz tinha a fronteira com a ameaça.

— Não é a minha decisão fazê-lo. — Chase respondeu. — Para qualquer um deles.

Hattie sorriu, aliviando sua preocupação. — Você é mais esperto do que eu pensava.

— Estou feliz que você tenha percebido isso. — Havia um anseio indizível na maneira como seu olhar se movia possessivamente sobre seu rosto. — Eu acho que poderia muito bem virar em nós, também. Se eu tiver problemas para dormir desta vez, pelo menos ele vai ser por um motivo diferente.

Ela riu, sentindo a alegria de um novo amor, e enganchou seu braço no dele. Lado a lado, eles caminharam para a cabana.

Capítulo Treze

O sol da tarde brilhava quente e forte na fachada imponente da Casa Grande. No interior, o zumbido do ar condicionado mantinha um fluxo constante de ar frio que circulava através do escritório. Depois de uma manhã caótica cheia de telefonemas e idas e vindas sem fim, a casa estava abençoadamente silenciosa.

Aproveitando a pausa na atividade, Jessy recuou para o escritório para ver se havia qualquer negócio do rancho que precisasse de sua atenção. Tinha acabado de sentar quando a porta da frente foi aberta. Mentalmente cruzando os retardatários imaginou que não seria alguém para falar com ela, e continuou a atravessar a pilha de mensagens telefônicas, mas os passos tranquilos no salão vieram em linha reta em direção ao escritório.

Jessy olhou para cima quando eles pararam na soleira da porta. Monte Markham ficou na abertura, vestido com um par de culotes e uma camisa branca lisa em vez de suas habituais calças de montaria e botas. Suas feições finamente desenhadas tinham um olhar de preocupação.

— A casa estava tão quieta, que eu imaginei que não houvesse ninguém aqui. — Disse ele e hesitou. — Eu vim em um momento ruim para você?

— Claro que não. Entre. — Ela se levantou da cadeira e deu a volta na mesa para cumprimentá-lo. — Eu estava passando um olhar por minhas mensagens para ver se havia alguma coisa urgente que precisasse ser resolvida. Não havia. Você ouviu falar sobre Sally. — Ela adivinhou.

— Sim. Essa tristeza parece não terminar para você. Eu sinto muito, Jessy. — Havia uma mistura de compaixão e compreensão em sua expressão.

— Obrigada. — Jessy murmurou automaticamente.

Sua boca se curvou levemente. — Quantas vezes você já ouviu hoje as mesmas palavras e respondeu da mesma maneira? Muito pouco que eu poderia imaginar.

Seu sorriso era largo na admissão. — Depois de um tempo, isso se torna uma espécie de reflexo.

Monte assentiu. — Compreendo.

— Eu acho que você faz. — Isso a surpreendeu um pouco. No entanto, pensando bem, ela percebeu que ele era sensível daquela forma.

— Atrevo-me a perguntar onde está todo mundo? Eu esperava ver mais veículos estacionados fora quando cheguei.

— Havia poucas pessoas aqui mais cedo. Mas nem de longe os números que chegaram a Casa Grande, quando a notícia da morte de Chase tinha se espalhado. Quase todos eram mulheres do rancho, vindos para oferecer a sua ajuda de qualquer forma que pudessem. Sally era benquista, mas não era Chase Calder.

— Você já decidiu quando será o funeral?

— Depois de amanhã. — Jessy respondeu. — Cat está resolvendo todos os detalhes. Na verdade, ela e Amy Trumbo foram agora para o cemitério selecionar um local para o enterro.

A simples menção do nome de Cat fez Jessy se sentir desconfortável. Cat tinha sido legal para ela quando chegara naquela manhã. Felizmente havia outros ao redor, e nada foi dito. E ninguém parecia notar que havia alguma tensão entre elas.

— Estou feliz que você não tenha que lidar com essa responsabilidade. Você tem ombros fortes, mas já está carregando uma carga pesada ao dirigir este rancho. — Monte observou. — Eu gostaria que houvesse algo que eu pudesse fazer para ajudar, mas sei que não há nada.

— As contagens de pensamento servem para alguma coisa. — Jessy respondeu, sentindo-se súbita e mentalmente cansada.

Como se pressentisse, Monte estendeu a mão e a recolheu para dentro do círculo solto de seus braços. — Você tem passado por tanta coisa, Jessy. — Ela aninhou a cabeça no ombro dele e apoiou o queixo em cima dele. O abraço foi também uma reminiscência de um de seus irmãos envolvendo-a em seus braços, em um gesto de conforto para Jessy levantar qualquer objeção a ele. — Eu não sei como você mantem a cabeça erguida, às vezes.

— Eu acho que sabendo que isto também passará. — Quando ela se afastou Monte não fez nenhuma tentativa de segurá-la.

Só então registrou algo em sua visão lateral, algo que não deveria estar lá. Ela olhou além do ombro de Monte e viu Laredo de pé, imóvel na soleira da porta, os olhos azuis de aço sobre ela sem expressão.

O choque a segurou imóvel por não mais do que um instante, mas foi o tempo suficiente para Monte perceber que algo a distraíra. Quando seus braços caíram longe dela, ele fez meia volta e olhou para o hall.

— Desculpe interromper. — Laredo disse em voz branda. — Você deixou uma mensagem que queria me ver.

— Eu deixei, sim. — Jessy confirmou rápida em adotar uma estimulante postura profissional. — Você se importaria de nos desculpar, Monte?

— De modo algum. — Ele foi rápido a concordar, mas o olhar que lançou entre eles era claramente curioso. — Não há problemas no confinamento, eu espero?

— Não, senhor. — Laredo respondeu. — Seus bovinos estão alimentados e em forma.

— Minha mãe está na cozinha, Monte. — Jessy disse a ele. — Por que você não vê se consegue convencê-la a preparar um chá?

— Eu farei isso. — Com um aceno de despedida para Jessy, Monte saiu do escritório com um passo desenvolto.

Laredo demorou a entrar, deixando seu olhar vagar sobre o interior da sala, tomando nota do velho mapa na parede e do conjunto de chifres montado acima da lareira. Ele parou a alguns pés dela, seu olhar vagueando e finalmente parando em cima dela.

— Qual o problema? — Ele não disse uma palavra sobre ver os braços de Monte em torno dela, mas, mesmo inocente como o gesto tinha sido, ela sentiu sua desaprovação. Ele mostrou sua raiva. Jessy não sentia que lhe devia uma explicação e se recusou a oferecer uma.

— Eu pensei que você deveria saber que Logan me perguntou ontem à noite se você sempre carregava um refúgio na sua bota.

Suas sobrancelhas subiram ligeiramente. — O homem tem os olhos afiados.

— Eu pensei que deveria avisá-lo sobre isso, e sabia que seria mais fácil para você explicar do que seria para mim.

Laredo balançou a cabeça em compreensão, ficando pensativo. — Acho que vou ter que andar nu por algum tempo. Talvez ele vá mostrar que realmente viu o que pensou que fosse. — Laredo fez uma pausa, seu olhar direcionado para dentro dela. — Cat disse mais alguma coisa?

— Não.

Da entrada da frente veio a tagarelice de vozes. Jessy reconheceu a voz de Cat entre elas. — É melhor você voltar ao trabalho. — Disse ela, desejando que ele tivesse saído antes de Cat retornar.

— Eu farei isso. — Ele cruzou para a porta, fez uma pausa e se virou, mostrando uma indiferença marcada pela presença de Cat. — A propósito, você estava certa. Duke não se lembrava de Sally.

Com isso, ele desapareceu no corredor, mas seu lugar foi quase imediatamente tomado por Cat.

— Quem é Duke? Outro amigo da família? — Cat perguntou. Seus olhos verdes brilhavam de desafio.

— Pessoalmente, eu não o conheço. Acho que Chase sim. — A prática constante havia permitido que as mentiras viessem facilmente. — Você escolheu um terreno para Sally?

No final, foi decidido enterrar Sally ao lado de seu falecido marido, evitando assim quaisquer dúvidas futuras a respeito do porque ela não estava lá. As únicas pessoas da cidade que fizeram a longa viagem para o Triplo C., para o funeral, foram aquelas que eram residentes de longa data de Blue Moon. Todo o resto das rezadeiras eram do rancho, exceto Monte Markham e Tara.

Para alívio de Jessy, Laredo ficou longe. Ainda menos enlutados escolheram participar da recepção na Casa Grande após a cerimônia fúnebre.

Como sempre em tais encontros, pequenos ou grandes, os homens deslocaram-se para uma área e as mulheres para outra, com as crianças correndo reivindicando de tudo. Jessy ficou nas franjas exteriores de um grupo de mulheres e fingiu interesse em sua discussão. Na verdade, ela não tinha ideia do que estavam falando. Estava muito distraída pela visão de Cat e Tara com as cabeças juntas.

Desde que ela chegara para o funeral, Tara mal tinha saído do lado de Cat. A julgar pelos olhares que as duas mulheres mantinham deslizando em sua direção, Jessy adivinhava que ela era o assunto da conversa. E não tinha dificuldade em imaginar que era em relação a sua posição como chefe do Triplo C. Não teria ficado surpresa se Tara tivesse torcido as coisas para insinuar que ela não tinha feito o suficiente para impedir a morte de Sally, embora fosse óbvio para todos que a saúde de Sally tinha se deteriorado seriamente.

Jessy pensou novamente sobre a nota que Chase tinha escrito para benefício de Cat. Simplesmente não houvera qualquer oportunidade para Jessy mostrá-la a Cat nestes últimos dois dias. Jessy decidiu que era hora de fazer acontecer aquela oportunidade e imediatamente uma calma desceu sobre ela.

Sem hesitação, Jessy deixou o pequeno grupo e atravessou a sala de estar para Cat e Tara. Elas pararam de falar no instante em que ela estava ao alcance da voz.

— Desculpe-me, Cat, — Jessy começou sem problemas — você se importaria de entrar no escritório comigo por alguns minutos? Eu tenho algo que quero lhe mostrar.

— O que é? — Cat perguntou friamente indiferente.

— Algo que encontrei na mesa. — Jessy respondeu.

Confiante que a curiosidade natural de Cat iria forçá-la a segui-la, Jessy se moveu na direção do escritório. Caminhou diretamente para a secretária, abriu uma gaveta e tirou a nota escrita à mão da sua gaveta. Ela não ficou de toda surpresa ao ver que Tara tinha vindo junto com Cat. Já esperava por aquilo.

— Aqui. — Estendeu a nota para Cat. — Eu encontrei esta nota no outro dia quando estava olhando dentro de uma das gavetas. Ela pode não mudar sua opinião, mas me tranquilizou sobre a decisão que tomei ao locar o confinamento.

Claramente cética e um pouco cuidadosa, Cat pegou o papel da mão dela e desdobrou. Tara avançou mais perto para olhar sobre seu ombro.

— Eu acho que você vai concordar que é a letra de seu pai. — Jessy adicionou para uma boa medida.

Depois de desdobrar a nota, Tara moveu um passo de Cat. — Exatamente o que você está tentando sugerir, Jessy? — Ela desafiou claramente impressionada com o que tinha lido.

— Não é nada mais que escritas desconexas.

Jessy esperou um pouco, mas Cat não fez nenhum comentário e continuou a estudar as anotações. — Não estou tentando sugerir qualquer coisa. A nota de Chase sugere que parecia estar considerando operar o confinamento. Parece que ele poderia mesmo estar pensando sobre leasing, assim, lhe permitindo receber um retorno e eliminar qualquer risco. No final é a mesma decisão que tomei.

— E você conseguiu interpretar tudo a partir desses poucos rabiscos. — Tara zombou.

— Não é possível que alguém estivesse tentando vender a ideia, e ele distraidamente fizesse as anotações da conversa sem nenhuma intenção de fazer alguma coisa?

— Claro, é possível. — A sugestão imediatamente solicitava a Jessy pensar sobre Monte e as vagas suspeitas que tanto Chase como Laredo manifestaram a respeito dele. Ela pensou se Monte tinha levantado a possibilidade de Chase alugar o lote e fora recusado. Tinha certeza que Chase teria dito alguma coisa para ela na época se tivesse falado com Monte.

Mas também era possível que ele não fizesse isso.

— Eu não daria nenhuma atenção a essa nota se fosse você, Cat. — Tara declarou positivamente exultante sobre a concessão que ela tinha obtido de Jessy. — Isso não significa absolutamente nada. Você pode muito bem rasgá-la e jogá-la fora.

— Não, acho que vou ficar com ela. — Cat dobrou a nota, ainda imersa em seus pensamentos, em seguida, olhou para Jessy. — Você se importa?

— Não, você pode tê-la. — Jessy sabia que não tinha convencido Cat de qualquer coisa, mas fez sua maravilha. Isso, em si, foi uma vitória da sorte. — Tara está certa, no entanto. Significa apenas que nós sabemos o que ela quer dizer. Eu sei como entendê-la. Você me fez duvidar no outro dia que eu tinha feito a melhor decisão para o Triplo C. Estou convencida agora que o meu raciocínio era bom. Sei que você o vê como uma traição, mas para mim, era estritamente uma decisão de negócios. E este é um negócio, Cat. Seu pai me ensinou isso.

— Você me disse isso. — Cat respondeu.

A frieza ainda estava lá, mas não parecia ter aquela vantagem combativa. Jessy achava que havia uma possibilidade distinta de chegarem a um cessar fogo não declarado. Tempo, era tudo o que ela esperava ganhar, tempo suficiente para Chase recuperar sua memória, identificar seu assassino, e assumir as rédeas do Triplo C. mais uma vez.

— Aqui está, Jessy. Eu deveria saber que você estaria no escritório. — Monte parou um pé dentro da sala, hesitando diante da visão de Cat e Tara. — Estou interrompendo alguma coisa?

— Nem um pouco. — Tara declarou com uma elevação régia da cabeça. — Nós estávamos saindo, não estávamos Cat?

A única resposta de Cat foi um aceno de cabeça e um rumo a saída. Tara caminhou com ela, fez uma pausa para colocar a mão no braço de Monte. — Nós deveremos nos reunir em breve. Talvez para jantar uma noite em Dunshill na próxima semana?

— Talvez. — Monte respondeu, comprometendo-se a nada.

Tara não o pressionou por uma resposta mais definitiva, lançou um breve olhar sobre Jessy que estava cheia de advertência velada, e foi atrás de Cat.

— Estou errado, ou você está tendo alguns problemas na lei? — Monte aventurou e se apressou a acrescentar: — Eu não teria dito nada, mas a atmosfera aqui estava elétrica. Ela me parou no momento em que entrei.

— Costuma ser assim sempre que Tara e eu estamos na mesma sala. — Jessy poderia deixar o assunto morrer aí, mas ainda havia aquela pergunta em sua mente, quanto ao fato de Monte ter ou não conversado com Chase sobre a locação do confinamento. — Neste caso, Cat estava questionando se deveríamos ter assinado o contrato de locação com você. Não é preciso dizer que Tara teve uma visão contrária.

— Que surpresa. — Monte murmurou com uma voz seca.

— Exatamente. — Seu sorriso foi de diversão. Em seguida, ela inclinou a cabeça interrogativamente. — Por acaso, você já tinha falado com Chase sobre a locação do confinamento?

— Não, claro que não. — Ele reagiu com surpresa. — Eu pretendia, mas nunca tive muito tempo para isso. Por que você pergunta? — Ele acrescentou com uma careta um pouco intrigado.

— Eu corri todas as anotações que Chase tinha feito. — Ela fez um gesto em direção à mesa. — Parecia que ele poderia ter pesado os prós e os contras de qualquer locação ou iniciá-lo.

— Sério? — Sua expressão era de interesse curioso.

— Naturalmente, eu pensei que você tivesse falado com ele.

— Claro que sim. — Monte foi rápido a concordar. — É uma suposição lógica, mas no meu pensamento. — Ele automaticamente levantou a mão direita. — Eu nunca disse uma palavra com ele sobre isso.

— Tenho certeza que você não o fez. Provavelmente não foi nada mais do que uma estranha coincidência.

— Agora estou curioso. Você tem ainda suas notas, não é? Eu estaria interessado em ver o que ele escreveu.

Jessy balançou a cabeça. — Não. Eu dei o papel para Cat. Não havia nenhuma razão para mantê-lo, e significava algo para ela, uma vez que estava com a letra de seu pai.

— É incrível, não é? — Ele murmurou com uma pontinha de tristeza, como itens triviais de repente se tornam lembranças preciosas após a perda de um ente querido.

— Parece que sempre acontece dessa forma. — Jessy concordou.

— Falando de coisas triviais, — Monte começou — como você está progredindo em sua busca por um cavalo para Trey? Eu acho que posso ter encontrado um adequado para ele, se você ainda estiver procurando.

— Na verdade, meu pai mencionou ontem que tinha um e queria que eu o visse.

— Então foi certo eu perguntar, e me poupa um pouco de embaraço mais tarde. Jamais esquecerei o choque que senti naquele dia quando Trey anunciou que o pônei não era grande o suficiente para montar.

Eles compartilhavam suas lembranças distintas sobre o incidente. A passagem do tempo permitiu aos dois ter um bom motivo para rir sobre ele. Privadamente Jessy ficou maravilhada com o fato de estar muito mais relaxada agora que tinha passado a nota de Chase para Cat. Ela se sentiu confiante de ter alcançado o resultado desejado. Tara podia fazer tudo o que quisesse, mas Cat tinha uma mente própria, que Tara não iria balançar facilmente.

Com essa complicação fora do caminho, Jessy esperava que as coisas pudessem ir mais suaves agora. Mas era uma esperança de curta duração.

Após o último dos convidados deixar a Casa Grande, seus pais e duas outras esposas do rancho ficaram para ajudar com a limpeza. Ao fazer uma varredura pelas salas, Jessy viu um copo de café que havia sido deixado em uma janela na sala de jantar. Ela o pegou e olhou em volta para qualquer outro item da rua. Seu pai veio da sala caminhando para a cozinha, com uma pilha de pratos de sanduíche na mão. Ele parou quando a viu. — Eu desejo saber Jessy, como é que Logan foi fazer tantas perguntas hoje sobre esse novo homem que você contratou. O Laredo Smith?

— Que tipo de perguntas? — Jessy perguntou, de repente com seu estômago revolto.

— As coisas gerais, onde trabalhou antes, coisas assim, que ninguém naturalmente poderia dizer muito, porque Smith não foi daqui o tempo suficiente para que alguém saiba muito sobre ele. — Deu-lhe um olhar meio preocupado. — O que você sabe sobre ele, Jess?

— Eu sei que ele é um bom homem e um bom trabalhador. Nós nunca pedimos mais do que isso no Triplo C. — Era mais um daqueles códigos antigos, que ainda eram seguidos na fazenda; ninguém pesquisava muito profundamente a vida de um homem.

Stumpy Niles concordou com a cabeça.

— Logan, no entanto está questionando. — Disse ele.

— Talvez, mas eu sei que Chase... pensava muito bem dele. — Jessy quase se esqueceu de colocá-lo no passado. — Isso é toda a recordação que eu preciso.

— Você está certa lá. — Ele disse e se dirigiu para a cozinha.

Jessy sabia que numa dessas vezes iria tropeçar por um pequeno deslize da língua. Também sabia que se seu pai tivesse notado todas as perguntas de Logan, outros vaqueiros do rancho teriam feito o mesmo.

O que significava que eles estariam observando Laredo o mais perto que pudessem. Ela suspirou convencida que toda aquela situação tinha mais nós do que um broto verde em uma manhã fria. Exigiria uma equitação hábil para não ficar contrariada.

Partículas de poeira dançavam no eixo da luz solar da manhã que se derramava pela janela da cozinha. Culley observava seus erráticos movimentos, consciente, como sempre de todas as coisas ao seu redor não se importando se fosse insignificante. Cat não pertencia a nenhuma categoria. Na maioria das manhãs ela ficava longe quando acordava, mas essa não era uma delas.

Ela ficou de pé no balcão, metodicamente folhando a massa de biscoito em uma assadeira. Culley se serviu de outra xícara de café e se demorou mexendo no pote só para observá-la.

— Não apareceram muitas pessoas para o funeral de Sally no outro dia. — Ele observou.

— Não. — A resposta de sílaba única pouco fez para incentivar a conversa.

— Eu pensei que Laredo pudesse estar lá, mas ele não apareceu.

— Não. — O relvado plano de sua voz não mudou, mas havia algo de selvagem na forma como Cat mergulhava a próxima colher na massa de biscoito.

— O que Logan diz sobre ele?

Depois de um movimento vago de seus afazeres, Cat respondeu: — Vai chamar alguém que ele conhece no Texas e ver se pode descobrir mais sobre a família Smith.

Com a assadeira cheia de biscoitos, ela enfiou a colher na massa restante e controlou a temperatura do forno.

A abertura da porta do forno lançou aromas de uma nova flor de baunilha e chocolate para a cozinha, mas o que Culley notou foi a vivacidade nervosa de seus movimentos.

Deixando os cookies para assar um pouco mais, Cat foi para longe do fogão, fez uma pausa, e exalou um suspiro perturbado.

— Eu não sei tio Culley. Talvez eu tenha sido muito rápida para encontrar a falha em Jessy. E com certeza papai iria odiar se soubesse que Jessy e eu estávamos em desacordo sobre o rancho. Ouvi dizer que a raiva é muitas vezes uma manifestação de pesar.

— Talvez, — admitiu Culley, convencido — mas não explica a presença dos Smith.

— Não, não explica. — Disse Cat, uma nova consciência do amanhecer em seus olhos verdes. Um instante depois, ambos ouviram o som de um veículo chegando ao pátio do rancho. Cat imediatamente gemeu. — Provavelmente seja Tara. Quando eu falei com ela ontem, ela disse que poderia passar aqui esta manhã. — Mas quando olhou para fora da janela, viu que não era Tara chegando da caminhada. — É o Monte. — Disse surpresa e rapidamente escovando a farinha branca em sua blusa. — Eu me pergunto o que ele quer. — A pergunta retórica foi dirigida a Culley, mas quando ela se virou para olhar, ele já tinha deslizado para fora pela porta traseira.

Era tão típico ele evitar o contato casual com pessoas que não conhecia muito bem, que Cat simplesmente balançou a cabeça divertida e foi até a porta da frente para receber o visitante inesperado. Monte bateu de leve na porta de tela assim que chegou a ela.

— É uma surpresa ver você fora de casa esta manhã, Monte. — Cat empurrou a porta aberta. — Por favor, entre.

Ele hesitou. — Eu não vim em um momento inconveniente, não é?

— De modo algum.

Elevando ociosamente a mão, ele fez um gesto na direção do celeiro antes de entrar. — É que vejo Quint no curral.

— Sim. Ele está fazendo algumas coisas com a nossa colt Appaloosa. É o seu projeto de verão.

— Ele não é um pouco jovem para fazer isso por si mesmo? — Um ligeiro franzir na testa de Monte.

— Normalmente eu supervisiono, embora ele realmente não precise de ninguém. Além disso, meu pai diria que uma criança nunca é muito jovem para assumir a responsabilidade. — O nariz dela lhe avisou que os biscoitos estavam prontos. Cat foi até a cozinha, dizendo por cima do ombro, — Desculpe-me um minuto. Eu tenho um lote de biscoitos no forno que preciso cuidar.

Monte cheirou o ar. — Ah, esse aroma é delicioso. — Ele se arrastou atrás dela na tipicamente grande e espaçosa cozinha do rancho. — Faz-me lembrar de meus dias de colegial quando eu costumava descobrir os biscoitos na despensa do cozinheiro.

— Biscoitos são o que vocês britânicos chamam de cookies, não são? Eu quase me esqueci disso. — Cat foi diretamente para o fogão e colocou a luva isolante que tinha deixado no balcão.

— Na verdade, eles são. — Monte contornou a longa mesa de madeira com suas cadeiras espalhadas em escada e andou até a velha escrivaninha na alcova fora da área de jantar. — Esta é uma mesa velha maravilhosa. É uma herança de família?

— Não. Na verdade, eu acho que Logan me disse que encontrou em uma loja de móveis usados em Miles City. — Cat removeu a assadeira do forno e colocou-a em cima do fogão. Sorriu quando notou Monte examinando os muitos escaninhos da mesa. — Quando Quint era mais jovem, ele era fascinado por todos os seus pequenos recantos e gavetas.

— Será que ela tem compartimentos escondidos? — Ele se perguntou. — Eu sei que muitas dessas mesas velhas os trazem.

— Não que eu saiba. — Com uma espátula, Cat retirou os biscoitos quentes da assadeira, um por um, e os colocou em uma grade para esfriar. — Eu tenho um pouco de café feito se você quiser uma xícara. Ou posso lhe fazer um pouco de chá.

— Infelizmente eu não posso ficar muito tempo. Tenho um compromisso na cidade. Só parei para ver se você tem quaisquer planos para o próximo domingo. Muitas coisas têm acontecido ultimamente, forçando o adiamento do jantar no qual eu planejava recebê-los. Talvez todos vocês, sei que não é apropriado agora, mas depois do funeral de Sally, conclui que nunca pode ser um momento adequado, então decidi fazê-lo no domingo, assumindo que todos estejam disponíveis, é claro.

Um pouco tensa Cat se manteve de costas para ele. A perspectiva de passar uma tarde social na companhia de Jessy ainda não era uma ideia confortável. Tinha dito algumas coisas duras para ela, e Cat ainda não se decidira se queria retirá-las.

— Eu não acho que nós temos algo no calendário, mas provavelmente verificarei com Logan antes de me comprometer a ir. — Deu um olhar longe de Monte quando escorregou outra assadeira de biscoitos no forno. — Está tudo bem se eu te ligar amanhã para confirmar?

— Amanhã vai ficar bem. — Ele se afastou da mesa. — Eu ainda tenho que falar com Jessy, mas pretendo telefonar para ela depois do meio-dia. Portanto, nada é definitivo ainda.

— Compreendo. — Particularmente Cat esperava que Jessy não estivesse disponível.

— Seus... uh... biscoitos... cheiram deliciosos. — Sua hesitação sobre a escolha de palavras foi deliberada, aguçadas com um sorriso. — Por mais que eu gostasse de ficar e desfrutar de um mimo, eu realmente preciso ir.

— Espero que você passe novamente quando puder ficar mais tempo. — Preparando-se para caminhar até a porta, Cat escorregou a luva e colocou-a sobre o balcão.

Mas quando ela começou a se aproximar dele, Monte levantou uma mão parando-a. — Não há necessidade de me acompanhar. Eu posso encontrar o caminho.

— Vou te ligar amanhã e informá-lo sobre o jantar, — Cat prometeu.

Ele inclinou a cabeça em reconhecimento e saiu da cozinha. Ouvindo seus passos ao sair pela porta da frente, Cat se voltou para o balcão, enfiou a luva novamente e pegou a assadeira ainda quente para colher mais massa para ela. Até o momento em que ela tinha o próximo lote pronto para o forno, o veículo de Monte tinha saído do quintal.

Quando ela se virou para verificar os biscoitos do forno, se surpreendeu ao ver Culley parado lá. — Meu Deus, você está me assustando. — Disse ela com uma risada. — Pensei que tivesse ido embora.

— Eu não fui longe. — A dureza em seus olhos era um pouco desconcertante. Nesse instante Cat percebeu que ele tinha ficado perto para protegê-la, não querendo deixá-la sozinha com um homem que não conhecia. — Você estava na sala de utilidade, não estava? — Ela adivinhou.

Em dias anteriores era como uma pequena varanda de trás e desde então fora fechada para abrigar a máquina de lavar e secar roupa. A porta que dava da cozinha para ela ainda era a porta antiga, a metade superior com uma janela de vidro.

— Pensei que deveria ficar por perto, caso ele tivesse uma noção sobre algo com você. — Disse Culley em uma admissão indireta.

Aquecida pelo seu gesto de profundo carinho, Cat sorriu. — Não era necessário, mas estou feliz que você tenha ficado.

— Ele não ficou muito tempo.

— Não. Ele só parou para nos convidar para sua casa no domingo. — Depois de verificar os biscoitos na prateleira, Cat decidiu que eles teriam que esfriar antes de empilhá-los para dar espaço para o novo lote do forno.

— Você vai?

— Eu ainda não decidi. Disse-lhe que iria ligar amanhã para confirmar.

— O que ele estava fazendo bisbilhotando em torno dessa mesa velha?

— Estava apenas admirando-a.

— Ele cutucou em torno dela como se estivesse olhando para comprá-la. — Culley observou.

Um pequeno sorriso se aprofundou nos cantos de sua boca. Cat não podia deixar de achar um pouco divertida aquela atitude de proprietário que Culley usava em qualquer coisa que considerava dela. — Algumas pessoas são fascinadas por móveis antigos, tio Culley.

Ele respondeu com um bufo desdenhoso. — Ele provavelmente gosta de pinturas e umas estátuas, também. Parece do tipo.

Cat riu alto. — Vindo da maioria das pessoas, isso seria um elogio. Mas algo me diz que você só o insultou.

Culley não negou. — Ao meu modo de pensar, isso me parece mais um pouco dândi.

Cat suspeitava que Culley baseasse seu parecer sobre a finura patrícia dos recursos de Monte e o forte sotaque britânico, mas ela não disse isso. — Os biscoitos ainda estão quentes do forno. Gostaria de um com seu café?

— Não, obrigado. — Culley nunca gostara muito de doces, embora sempre mantivesse uma caixa de algo à mão em seu rancho, o Shamrock. Cat era a pessoa que os desejava, especialmente qualquer coisa de chocolate. — Ele comprou o antigo lugar Gilmore, não foi?

— Está certo. — Cat localizou sua caneca e a encheu com café.

— É verdade que existe um feitiço por lá? Acho que mudou alguma coisa.

— Eu sei que ele fez várias mudanças lá.

Culley brincou com a ideia de andar qualquer dia destes pelo caminho e dar uma olhada para ver.

Capítulo Quatorze

Os sinos da igreja tocavam alegremente sobre a pacata cidade de Blue Moon enquanto um vento brincalhão dançava entre os paroquianos que saiam do santuário, puxando as camisas e as bainhas das saias e qualquer item solto que pudesse encontrar. Com as mãos ocupadas segurando os gêmeos, Jessy simplesmente cumprimentou o Reverendo Pattersby quando passou por ele, evitando o aperto de mão habitual.

Eles estavam a meio caminho descendo os degraus quando o vento arrebatou o desenho da escola dominical dos dedos de Trey e o enviou vibrando pelo gramado. Trey imediatamente se livrou de sua mão e correu atrás dele. Laura estava muito preocupada em arranhar seu sapato de verniz branco da Mary Janes, para acelerar um pouco. Ansiosa pensando que Trey pudesse correr para a rua em sua pressa para recuperar o papel, Jessy olhou para seus pais. — Olhem Laura para mim. — Pediu e foi atrás de Trey.

Para alívio de Jessy, o vento bateu o papel contra a perna de um colega rancheiro, George Seymour. Quando Trey se lançou sobre ele, assustando o fazendeiro, o homem de peito largo olhou para baixo, identificou a causa, e recuperou o papel de Trey. Jessy chegou ao local, quando o fazendeiro retornava o desenho para seu dono.

— Diga obrigado ao senhor Seymour, Trey. — Ela deu um empurrãozinho a Trey.

Mas Trey não tinha a intenção de suavizar as rugas e fazer mais do que murmurar sua gratidão. Quando Jessy olhou para cima para adicionar sua voz para as palavras mal inteligíveis de Trey, o largo sorriso tinha ido embora do rosto do fazendeiro.

Seu olhar repentino de reserva legal causado por Jessy temperou a simpatia ao seu modo. — Obrigado. Eu imaginei Trey correndo na frente de um carro tentando pegar seu papel.

— Você precisa manter um controle mais apertado sobre ele. Mas acho que um Calder descobre cedo que eles podem fazer o que desejam.

Jessy foi rápida para desafiar sua declaração. — Você não está falando sobre o meu filho quando diz isso. Fora com isso. O que tem sua parte traseira, senhor Seymour?

— Como se você não soubesse. — Ele bufou.

— Na verdade, eu não sei.

O desprezo endurecido em sua expressão não vacilou. — Suponho que você vai me dizer que não sabia que Markham veio a mim antes na primeira vez com seu contrato de locação. — Ele respondeu. — Meu erro foi chamar Chase para verificar esse cara inglês de fora. Chase disse que iria verificá-lo para mim. Ele fez isso tudo bem e arrebatou o negócio para si mesmo. Não deveria me surpreender. Os grandes sempre gostam de ficar maior e para o inferno com os pequenos.

Havia um toque de sarcasmo na maneira educada em que ele tocou seu chapéu para ela antes de ir embora. Atordoada, Jessy permaneceu imóvel, deixando que a implicação de suas palavras corresse sobre ela.

A expressão de ressentimento não era nova. Seu rancho poderia ser tão grande quanto o Triplo C. sem semear a inveja entre os ranchos menores. O que o tornava incomum desta vez era o envolvimento de Monte. Parecia ser quase demais para uma coincidência.

Trey puxou sua mão. — Podemos ir, mãe?

Depois de uma breve hesitação, Jessy assentiu. — Primeiro, porém, temos de encontrar a vovó e Poppy.

— Por quê? — Trey queria saber.

— Porque nós estamos andando com eles. — Mas quando ela olhou para a igreja, foi Monte quem apareceu em sua linha de visão, deslizando em linha reta em direção a ela. Pela primeira vez Jessy sentiu uma nova cautela sobre ele.

— Bom dia. — Sua saudação foi tipicamente quente e amigável. — Adorável o sermão de hoje, não foi?

— Eu gostei. — Curiosa, ela inclinou a cabeça para um lado. — Você devia estar sentado em frente. Eu não me lembro de vê-lo.

— Na verdade eu estava. — Confirmou Monte. — Um hábito de casa, eu acho. A nossa família sempre ocupa o banco da frente no culto de domingo. — Quando Jessy quase se convencera de uma simples coincidência houve uma base para a suspeita, Monte olhou na direção do sedan de Seymour quando ele saiu do estacionamento da igreja. — Não é George... George... — Com um estalo de seus dedos impaciente, ele tentou lembrar o sobrenome do fazendeiro.

— George Seymour. — Jessy forneceu. — Sim, eu estava falando com ele apenas um minuto atrás. O vento soprou para longe o papel de Trey e George o segurou.

Jessy não disse mais do que isso. Monte parecia esperar uma batida para ver se ela tinha alguma coisa a acrescentar.

Antes que o silêncio se tornasse maior, ele ofereceu com ironia: — Eu sempre lembro nomes e rostos, mas nem sempre juntos.

Jessy preferiu não comentar sobre aquilo.

— Sinto muito, não seremos capazes de chegar ao seu lugar para o jantar hoje.

Ele acenou seu pedido de desculpas. — Eu entendo, embora pareça que as circunstâncias estejam conspirando para me impedir de retribuir sua hospitalidade. Apenas o mesmo. — Monte fez uma pausa, olhando para Trey com um toque de carinho na curva de sua boca. — Concordo que Trey já esperou tempo suficiente para sua surpresa.

— Eu tenho uma surpresa? — Trey perguntou, de repente, todo ouvidos. — Onde? O que é? — Imediatamente ficou cauteloso. — Não é mais um pônei, é?

Monte riu. — Eu tenho boa autoridade sobre ela e não é definitivamente um pônei.

Seus pais se juntaram a eles. Após a costumeira troca de cumprimentos com Monte, Stumpy se virou para Trey. — Vejo que você se encontrou com o seu desenho. Ele amassou?

— Não. — Trey alisou o papel novamente, então lançou um olhar para Monte. — Ele diz que eu tenho uma surpresa, Poppy. Você sabe sobre isto?

Um sorriso contraiu a boca de Stumpy. — Eu acho que sei um pouco sobre isso.

— O que é? — Laura entrou na conversa. — Eu tenho uma?

— Não desta vez, não é um animal de estimação. — Disse a ela. Laura pensou nisso um minuto, em seguida, decidiu. — Tudo bem. Trey pode ter um desta vez.

— Estou feliz que você se sinta assim. — Stumpy declarou, ainda lutando para não sorrir.

— Onde está minha surpresa, Poppy? — Trey queria saber.

— Na minha casa. — Ele respondeu. — Você está pronto para ir nessa direção? Acho que deveríamos. Sua avó deixou o jantar no forno, e nós não o queremos queimado antes de chegar lá.

— Vou receber minha surpresa antes ou depois do jantar? — Convencido agora que seu avô era a fonte de sua surpresa, Trey ficou mais ansioso para tê-lo.

— Após.

A surpresa de Trey era uma criança de dois anos de idade, cavalo castrado de um quarto, Ruão vermelho na cor e nomeado morango por Joe. Trey não poderia ser mais feliz se tivesse sido apresentado à lua. Confiante que seria uma longa tarde, com cavalo e cavaleiro se conhecendo um ao outro, Jessy sabia que provavelmente não seria desperdiçada. Como sempre, seus pais estavam ansiosos por qualquer oportunidade para cuidar de seus netos. Sua mãe era especialmente feliz por ter, enfim, um pouco da menina que adorava bonecas e festas de chá, ao contrário da filha Tomboy que ela tinha levantado.

Stumpy prontamente aceitou a desculpa de Jessy que precisava conduzir ao redor e ter uma ideia das condições de alcance para si mesma. Mas quando deixou o acampamento South Branch, Jessy se dirigiu diretamente para o Ninho do Javali. Era próximo ao meio da tarde, quando ela chegou, no calor do dia. Mas no alto das colinas, um vento refrigerado diminuía o efeito de um sol escaldante.

Pisando fora da picape, Jessy olhou em volta. Não havia nenhum sinal da picape de Laredo em qualquer lugar. Todo o lugar tinha uma sensação de deserto.

— Olá? — Sua chamada de busca parecia áspera na quietude. — Sou eu, Jessy!

Uns ruídos tênues vieram de dentro da cabana de linha. Imediatamente ela se aproximou. Um Chase bronzeado de aparência ajustada abriu a porta de tela para admiti-la.

— Eu me perguntava quando você seria capaz de escapar de novo. — Havia um sorriso de boas-vindas em seus olhos castanhos.

— Não foi fácil. — Ao entrar no interior, Jessy olhou ao redor. — Onde estão todos?

— Hattie e Laredo foram para a cidade para compras. Eles devem estar de volta a qualquer momento.

Chase andou para a pia e começou a fazer um pouco de café. — Você já teve a chance de mostrar a Cat a minha nota?

Vagamente inquieta Jessy apareceu para olhá-lo. — Eu o fiz, na recepção que se seguiu ao funeral de Sally. — Ela mal começou a enchê-lo de detalhes quando ouviu o buzinar distante da picape. Imediatamente endureceu-se em alarme.

Observando a reação dela, Chase, explicou: — É Laredo. Ele sempre sinaliza da estrada, então eu sei que é ele e não outra pessoa.

— Isso é outra coisa. — Jessy lembrou. — Na recepção, Logan estava fazendo perguntas sobre Laredo.

— Eu estava com medo daquilo. — A rigidez diluiu a linha de sua boca. — Talvez possamos conseguir que Cat sossegue antes que ele receba quaisquer respostas que possam levá-lo a olhar o passado de Laredo por conta própria. — Chase acendeu o fogo sob o coador de café e se afastou. — Nós também podemos lhes dar uma mão para descarregar esses mantimentos. O café deve estar pronto no momento em que nós terminarmos.

Jessy o seguiu consciente de uma tensão de estranho formigamento através dela com a perspectiva de ver Laredo. Ela sabia que era o beijo que ele roubara no celeiro o responsável pelo vago desconforto que sentia. Principalmente porque ela não tinha encontrado ofensiva. Depois de Ty, ela não esperava ser fisicamente atraída por outro homem. Era desconcertante descobrir que aquela parte dela estava viva.

Hattie estava fora da picape antes mesmo dela parar. Laredo foi mais lento para sair. — Oi, Jessy. — Ela acenou e foi diretamente para a porta traseira da picape. — Sempre fico feliz que leve o cooler com a gente. Se não o tivéssemos, metade do que nós compramos seria estragado na longa viagem com este calor.

Hattie fechou a porta do bagageiro e arrastou o cooler pesado para ele. Enquanto o manobrava ao redor para levantá-lo para fora do chão da picape, Chase andou para ajudá-la. — Eu vou pegar isso para você. — Disse ele.

— Tem certeza que não é muito pesado para você?

Mas o olhar de soslaio que ela lhe deu mostrou que estava brincando, ao invés de preocupada.

Chase sorriu para ela, com os olhos brilhando. — Não deveria ser. Você não é.

Atordoada pela troca íntima, Jessy olhou para o par. Ela não se lembrava de ouvir Chase dizendo qualquer coisa remotamente parecida a Sally. Ela estava muito distraída para notar quando Laredo veio por trás dela. Jessy foi consciente de sua presença quando ele murmurou perto de seu ouvido: — É melhor fechar a boca, a menos que você esteja pensando em comer moscas.

Sua boca se fechou, mas se abriu quando se virou para dar uma resposta afiada. Laredo foi rápido se afastando. Jessy manteve a boca fechada e se mudou para a picape para ajudar com os mantimentos.

Hattie correu à frente para segurar a porta de tela para Chase enquanto ele maltratava o cooler volumoso através da abertura. Jessy enrolou o braço em torno do segundo saco de mantimentos e partiu para a cabana. Laredo desacelerou seus passos, lhe permitindo recuperar o atraso com ele. Seu olhar de lado era preguiçoso, mas legal.

— Você não vai perguntar a quanto tempo isso vem acontecendo? — Perguntou ele com um aceno de cabeça na direção de Chase e Hattie.

— Não é da minha conta.

— Estou feliz que você tenha percebido, — ele respondeu — quando você pensa sobre isso, acha natural. Um homem e uma mulher, sozinhos em uma cabana, hora após hora, dia após dia, sem rádio, sem televisão. Nada além de um e outro.

— Eu poderia descobrir isso por mim mesma. — Jessy respondeu firmemente. — Não preciso de você para me mostrar as imagens.

— Eu não imagino muita coisa para as quais você precise de mim. — Laredo declarou com um sorriso levemente irônico. — Mas Chase não precisa de mim. — Quando chegaram à cabana, Laredo esperou, deixando-a entrar na frente dele.

Jessy descobriu que não gostava do toque de frescor ácido em sua atitude para com ela. Ela preferia muito mais o seu escárnio preguiçoso e os olhos risonhos. Teve o cuidado de não examinar muito de perto a razão para aquilo.

Mais tarde Jessy não pôde deixar de notar a maneira como Laredo descansava se encostando nos armários, não se juntando a eles na mesa. Depois que ela trouxe Chase até a data sobre a reação de Cat com a nota, Jessy continuou com o incidente depois da igreja, que continuava a importuná-la.

— Você se lembra de George Seymour? — Perguntou a Chase.

— Seymour? — Chase repetiu o nome, pensativo. — Um rancheiro corpulento, — disse ele com um aceno lento — que tem uma pequena propagação no sudeste de Blue Moon, não é?

— Sim, o Rafter J. — Disse ela, fornecendo a marca do rancho.

— O que tem ele?

Jessy lhe contou sobre sua breve reunião com o fazendeiro, depois da igreja, e os comentários que Seymour tinha feito. — Talvez isso não signifique nada, — ela admitiu — mas parece que você poderia ter feito alguma discreta verificação em práticas de negócios de Monte. Talvez essa seja a conexão com o banqueiro em Fort Worth. Acho agora que eu tinha pensado em perguntar a George se ele lhe tinha dado o nome de Brewster. Talvez eu devesse chamar George e perguntar. — Jessy hesitou, recordando. — Apesar de Monte me ver conversando com Seymour.

— Será que Markham vai perguntar sobre isso? — A pergunta veio de Laredo.

— Não, não foi uma pergunta, na verdade, apenas fez um comentário improvisado. Não era que George Seymour, nunca dissera nada. — Uma carranca ausente nublou sua expressão. — Você poderia pensar que se ele estivesse preocupado por George dizer algo para mim, ele teria tentado descobrir.

— Você pensaria assim. — Chase concordou. — Mas ele também pode ser mais esperto do que isso. As perguntas podem despertar suas suspeitas, enquanto a falta de interesse no que foi dito não.

— Você percebe como parece tortuoso, Duke? — Hattie declarou.

— Eu só estou tentando pensar o caminho que Markham poderia fazer. — Chase rebateu — Na verdade, usar em seu pronunciamento.

— Mas você não sabe se Markham fez algo errado, — disse Hattie em uma espécie de protesto, e parou por uma fração de segundo — ou, não é?

Jessy imediatamente entendeu o pensamento. — Você se lembra de alguma coisa sobre Monte?

— Eu sei que há algo. Eu recebo lampejos dele, mas nada definido o suficiente para que eu possa realmente dizer que me lembro de algo específico. No entanto, tenho esse instinto de certeza que Markham está envolvido.

— Como é frustrante. — Hattie murmurou em empatia.

Jessy o sentiu também. — Então, — disse ela, soltando um suspiro — o que você acha? Devo chamar Seymour e ver se posso saber quais as informações que ele lhe deu?

— Eu não penso assim. — Chase foi lento em sua resposta, refletindo sobre suas opções. — Há sempre uma chance de George mencionar a sua chamada para outra pessoa e a conversa chegar a Markham. Eu não quero Markham começando a se perguntar se você é uma ameaça para ele. Chame Brewster e use o nome de Markham para isso, descubra se ele tem quaisquer contatos com ele.

— Mas Brewster vai querer saber por que. O que eu digo a ele? — Jessy franziu a testa, incerta de sua abordagem.

— Faça alguma coisa, — respondeu Chase. — Ou, utilize a locação do confinamento como uma razão.

Laredo se endireitou do gabinete.

— Talvez eu deva fazer a chamada. Inventar histórias convincentes não é exatamente o forte de Jessy. E Brewster pode ser mais rápido se for chamado a falar com outro homem. Sem ofensa, Jessy, mas pode funcionar dessa maneira.

— Não me ofendi. — Ela respondeu. — Você é mais do que bem-vindo para falar com ele.

— É melhor fazer a chamada da Casa Grande. — Chase instruiu. — Haverá menos chance de um espectador ouvindo parte da sua conversa.

Laredo assentiu com a cabeça e olhou para Jessy. — Existe um problema se eu for amanhã de manhã, digamos, entre nove e dez?

— Pode ser mais perto de nove. Eu disse a Jasper que iria andar pelo acampamento leste amanhã de manhã.

— Eu estarei lá às nove horas. — Laredo afirmou.

— Enquanto isso, Jessy, — Chase começou, — acho que você precisa ter uma conversa privada com Cat e fazer as pazes com ela. Explique que não há nada que você possa fazer sobre a locação atual, mas se ela ainda se sente fortemente duvidosa sobre isso, você não irá renová-la sob quaisquer circunstâncias. Se ela desafiar você sobre Laredo, simplesmente diga a ela que sem gado no confinamento, você não terá qualquer trabalho para ele, então terá que o despedir. Com alguma sorte Cat ficará satisfeita com isso e espero que deixe Logan de fora.

Concordando com a cabeça. Jessy disse: — Eu vou correr pelo Círculo Seis e falar com ela antes de pegar os gêmeos. Mais alguma coisa?

— Eu penso que não. — Disse Chase. — Se houver, Laredo poderá dizer sobre isso amanhã.

— Se vou falar com Cat, o melhor seria sair, então. — Levantou-se da cadeira.

— Conte para Laredo o que ela disser. — Chase disse a ela.

— Eu vou. — Jessy prometeu.

— Eu vou levá-la para sua picape. — Sem pressa, Laredo colocou seu copo de café vazio na pia antes de segui-la para fora.

Jessy foi direto para sua picape, sem parar, mas o tempo todo consciente de Laredo que ia ao seu dela, tentando ignorar o cheiro fraco de tensão que sentia.

— Você quer alguma coisa? — Ela perguntou quando Laredo não conseguiu quebrar o silêncio.

— Na verdade não. — Ele manteve seu olhar para frente. — Embora eu esteja curioso sobre algo; estou errado, ou Markham passou mais tempo no Triplo C. do que o habitual?

— Entre o confinamento e o funeral de Sally, ele provavelmente passou. — Jessy admitiu. — Por quê?

— Porque eu acho que ele está tentando alguma coisa.

Jessy suspeitava que soubesse exatamente o que ele pensava. — Você está de volta a essa noção louca que Monte está interessado em mim?

— Talvez não em você em particular, mas em uma viúva rica com um rancho quase tão grande como alguns estados do Leste. Isso é um tentador pacote para um homem com ambição.

— O que faz você pensar que ele é ambicioso? — Alcançou a picape, abriu a porta e colocou um pé no estribo. Laredo segurou a porta. — O gado em confinamento. Ele lhe indicou que alguns de seus amigos ingleses queriam entrar no negócio de gado, mas trouxe um homem no confinamento no outro dia que era supostamente um dos investidores. O homem era um texano.

Jessy não conseguia ver o que aquilo provava. — Assim?

— Então, não acho que ele coloque o negócio em conjunto, como um favor. Ele fez isso para ganhar dinheiro.

— E nós alugamos o confinamento para ganhar dinheiro. Isso não é um crime. É negócio.

Jessy manteve seu próprio controle sobre a porta, a polegadas de sua mão.

— Mas você está na frente sobre o seu motivo. Markham gosta de se passar por um fazendeiro cavalheiro, alguém que não está preocupado com o dinheiro. Faz-me perguntar se ele não está com problemas financeiros. Como é que ele está pagando suas contas? Você já ouviu qualquer conversa?

— Não, mas eu provavelmente não iria. É algo que as pessoas não iriam conversar com um Calder. Se alguém é lento em pagar as suas contas, a palavra iria passar por Blue Moon muito rápido. Um dos vaqueiros pode ter ouvido algo. Eu vou perguntar sobre isso.

— Melhor não. Eles iriam perguntar por que você quer saber. Deixe-me perto de Blue Moon em seu lugar.

— Você é um estranho. Eles não irão lhe dizer.

Laredo sorriu torto. — Depende de como posso ser convincente e da minha história.

— Você é bom em alimentar as pessoas com histórias, não é? — O pensamento deixou Jessy estranhamente irritada.

De repente, ele não estava mais sorrindo enquanto a fixava com seu olhar com nova intensidade. — Eu não dou de comer a qualquer um. Ou Chase.

Ela piscou de volta para a sua afirmação no celeiro quando admitiu que estivesse atraído por ela. Sentiu uma onda mista de calor e desconforto.

Sua expressão endureceu com uma espécie de raiva. — Não se preocupe Jessy. Não tenho nenhuma intenção de persegui-lo.

Nunca ocorreu a ela ser tímida e fingir que não sabia o que ele estava falando. Ela disse a si mesma que estava feliz em saber que não haveria repetição daquela cena no celeiro, mas tinha dificuldade em acreditar.

Rápido como o beijo fora, ela se lembrou de como se sentira viva por dentro depois de tantos meses se sentindo morta e vazia.

— Bom. — Jessy disse e se virou para deslizar atrás do volante.

Mas ficou mais longe daquilo quando Laredo a agarrou e a puxou contra ele, com os olhos azuis em chamas. — O que diabos é tão bom sobre isso. — Ele desafiou, então não lhe deu oportunidade de responder. — Não há uma maldita coisa sobre isso que seja boa. Mas é necessário. Você sabe por quê?

Jessy balançou a cabeça, muda pela ferocidade da emoção que viu em seu rosto, uma combinação impressionante de desejo cru e necessidade.

Com as mandíbulas cerradas, ele moeu a resposta para sua pergunta. — Porque o inferno de tê-la e ir embora seria pior do que o inferno de nunca ter você. — Ele a segurou mais um instante, os dedos apertando na carne de seus braços. Em seguida, foi empurrando-a para longe dele. — Agora vá.

Não foi o medo, mas a sabedoria que manteve Jessy em silêncio. Ela sabia que se lhe dissesse algo, teria que saber melhor e exatamente o que queria dele; se devia ser deixado sozinho ou sentir o calor da paixão que ele mostrava. Não era uma decisão que ela estava pronta para tomar ainda.

Sem dizer uma palavra, subiu na picape e fechou a porta. Teve o cuidado de não olhar em sua direção quando começou a reverter a picape para longe da cabana. Quando foi embora, o reflexo dele em pé na pista, a observando sair, ficou lá no seu espelho retrovisor.

A indecisão nunca tinha sido um problema de Jessy. A partir do momento que teve idade suficiente para entender sua própria mente, sabia o que queria. Como uma criança que tinha sido cowboy para o Triplo C. Depois disso, era Ty que ela queria. Depois que ele fora morto, ela não esperava querer mais nada, exceto a saúde e a felicidade de seus filhos.

Então Laredo apareceu e interrompeu o caminho calmo e resolvido de sua vida. Da mesma forma, Jessy sabia que nenhum homem poderia fazer isso a menos que ela permitisse. Mas isso ela não sentia como algo que pudesse controlar.

Pontualmente às nove horas da manhã seguinte a caminhonete de Laredo parou na Casa Grande. Jessy estava olhando para ele, esperando por aquilo, mas tudo dentro dela acelerou da mesma forma. Ela escutou o ruído de seus passos em toda a varanda da frente e quando entrou na casa. No instante em que Laredo entrou no escritório, a tensão subiu mais um ponto. Mas ela era muito hábil em esconder seus sentimentos por trás de uma máscara de calma para se deixar mostrar.

Consciente da sondagem em busca do seu olhar, Jessy não ofereceu nenhuma saudação. — Bem, você está na hora certa. O número de telefone do Brewster está bem aqui. — Ela tocou um pedaço de papel sobre a mesa e se levantou da cadeira. — Você pode usar o telefone.

— Obrigado. — Mas ele hesitou antes de se aproximar da mesa, esperando para ver o caminho que ela tomava, para se deslocar na direção oposta.

Sua ação de tranquilizar Jessy era porque Laredo compartilhava a mesma desconfiança de qualquer contato próximo. Ignorando as cadeiras lastreadas em asa que enfrentavam a mesa, Jessy se dirigiu para a porta.

A voz de Laredo parou-a antes que chegasse a porta. — É melhor ficar enquanto eu faço esta chamada. Se alguém entrar e eu estiver aqui sozinho atrás da mesa, não vai ficar bem, especialmente com todas as perguntas que Echohawk fez sobre mim.

— Estou só indo à cozinha para pegar um pouco de café. Estarei de volta. — Jessy disse-lhe e continuou seu caminho.

Até o momento em que Jessy retornou com a garrafa do café e dois copos, Laredo ficou ao telefone com Brewster.

Ela derramou um copo para cada um deles, colocou o seu sobre a mesa, e levou o dela a uma das cadeiras ao lado da mesa.

Havia pouco que Jessy pudesse recolher da conversa ao lado de Laredo. Ele fez mais ouvir do que falar, e as poucas perguntas que fazia não eram particularmente informativas. Por duas vezes ele anotou algo no papel com o telefone de Brewster. Quando desligou, uma carranca ausente cortou uma única ruga de concentração na testa. Ele esperou um segundo ou dois, em seguida, lhe deu um olhar cheio de pensamento.

— Será que o nome de Ben Parker diz qualquer coisa para você? — Ele perguntou.

— Ele tem um grande rancho no Wyoming. Chase o conhece há anos. — Jessy respondeu sem hesitação. — Na verdade, — ela recordou, — ele foi a pessoa que trouxe Monte para a nossa venda de ações registrada. Por quê?

— Seu nome surgiu em minha conversa com Brewster.

— Brewster queria saber sobre Monte? — Devido à menção de Ben Parker, Jessy não esperava a resposta de Laredo para ser outra coisa do que uma afirmativa.

Como esperava, ele acenou com a cabeça. — Ele o conhece, e falou muito bem dele.

— O que agora?

— Acho que vou chamar Parker. Você tem o número dele em algum lugar?

— Acredito que sim. — Jessy levantou a xícara colocando-a de lado e deu um passo para a mesa, virou o arquivo ao redor, folheou os cartões, e tirou um rolamento de endereços, com o número de telefone de Ben Parker. Passou-o por cima da mesa para Laredo e se sentou. Ele discou os números e esperou por vários toques. Trey galopou no escritório quando ela ouviu Laredo se identificar como um advogado e recitar o nome de uma empresa fictícia. Jessy rapidamente pressionou o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio ao filho. Pela primeira vez Trey não anunciou sua chegada e simplesmente se jogou contra suas pernas.

— Oi, mãe. — Sussurrou.

— Oi. — Ela amarrotou o topo de seu cabelo.

Avistando alguém atrás da mesa, ele se virou para olhar. — Laredo está aqui.

— Eu sei. — Jessy respondeu suavemente. — Ele está fazendo uma chamada importante. É por isso que nós temos que ficar quietos. O que você precisa?

— Posso ir à casa de Timmy jogar? Becky disse que eu tinha de lhe perguntar.

— Onde está Becky? — Ela olhou para o hall.

— Ela e Laura estão colorindo. — Ele torceu o nariz, fazendo uma careta para mostrar sua opinião sobre o passatempo. — Isso é chato, mãe.

— Eu sei. — Jessy sorriu. — Você não pode ficar parado tanto tempo, não é?

— Posso ir para Timmy?

— Eu acho que devemos perguntar a mãe de Timmy se está tudo bem em primeiro lugar.

— Ela não vai se importar. — Trey se apressou a lhe garantir.

— Mesmo assim, acho que devemos chamar e perguntar. Vamos usar o telefone na sala de estar. Vamos lá.

Tomando-o pela mão, Jessy o levou para a sala e ligou para o número dos Rasmussen que viviam em uma das casas na sede, que eram previstas para os casados do rancho. Ela ficou enquanto Trey fez o seu pedido.

Ainda segurando o receptor, ele olhou para ela. — Ela disse que eu poderia ir. Eu lhe disse que estaria tudo bem.

Tomando o telefone, Jessy confirmou a resposta e fez com que Connie Rasmussen entendesse que Trey iria voltar para a Casa Grande para o almoço. Em vez disso, ouvia os parafusos da porta de correr da casa de seu companheiro de brincadeira, Trey esperou até que ela tivesse desligado.

— Será que Laredo viu meu novo cavalo? — Perguntou com entusiasmo indisfarçável.

— Eu não acredito que ele tenha visto.

— Devo pegar Laredo para ver Joe quando ele acabar de falar? — Era uma perspectiva que apelava claramente a Trey.

— Talvez outra hora.

— Mas nós poderíamos ir montados. — Desta vez, ele não teria que compartilhar seu cavalo.

— Eu acho que ele tem que voltar a trabalhar no confinamento quando terminar sua chamada.

— Eu e Joe poderíamos ajudá-lo. — Trey sugeriu.

Jessy franziu as sobrancelhas em surpresa. — Eu pensei que você queria jogar com Timmy.

— Mas se Laredo quiser que eu o ajude, eu poderia fazer isso.

Não parecia importar para Trey que Laredo fosse essencialmente um desconhecido. Ele ainda queria passar mais tempo com ele. Ela culpou a ausência de qualquer outra figura masculina em sua vida, mas ainda não explicava por que ele tinha escolhido Laredo, quando havia tantos outros homens no rancho, a maioria dos quais ele conhecia desde sempre, mesmo com sua curta vida.

— Timmy está esperando você. Acho que você deveria ir lá esta manhã. — Disse Jessy.

Ele aceitou sua decisão sem argumento. — Ok. Olhe, mamãe. — Ele decolou em uma corrida.

Quando Jessy voltou ao escritório, Laredo já havia desocupado a cadeira atrás da mesa. Ele estava ao lado da bandeja de café, a garrafa posicionada acima do seu copo.

— Você descobriu alguma coisa de Ben Parker?

— Muita coisa, mas eu não sei como será útil. — Acabando de reabastecer seu copo, Laredo apertou a tampa na garrafa e a colocou de volta na bandeja de servir, enganchou uma perna sobre o canto da mesa e se reclinou contra ela. — Esta não foi a primeira leva de gado que Markham montou. Tanto quanto eu posso dizer, ele agiu como um corretor de gado nos últimos cinco, talvez seis anos. Parker investiu em vários e não tem nada além de coisas boas a dizer sobre Markham, de confiabilidade e honestidade. E o banqueiro ecoava praticamente tudo o que Ben Parker dissera.

— Isso é um alívio. — Jessy declarou, mais uma vez depois de sentar em uma das cadeiras laterais. — Era desconfortável não saber se eu deveria confiar em Monte.

— Não parece haver qualquer mancha em sua reputação. — Laredo admitiu, não mostrando nenhum prazer naquilo. — De acordo com Parker, Markham tem investidores que esperam na linha. Eu posso ver porque, apesar de tudo, é um negócio e tanto que ele lhes oferece, também.

— O que você quer dizer? — Observando sua expressão preocupada, Jessy adivinhou o veio de falta de vontade de Laredo para deixar Monte sair como suspeito.

— Quero dizer, é um daqueles negócios doces sem qualquer risco para o investidor. — Laredo respondeu. — O preço do gado de compra é estabelecido. Markham garante engordá-los para o mercado com uma determinada porcentagem de peso. O gado é vendido no mercado para entrega futura em quatro ou seis meses, estabelecendo o seu preço de venda. O que significa que o investidor sabe exatamente qual será seu lucro. Se houver qualquer aumento nos custos de grãos durante esse período de tempo, Markham terá de absorvê-lo, não o investidor. Talvez ele tivesse de absorver muitas perdas ultimamente.

— Mesmo que tivesse, o que isso tem a ver com Chase? — Jessy fundamentou.

— Talvez ele soubesse que Markham estava financeiramente em água quente.

— Eu não acho que isso seja um motivo para matar alguém.

— Eu sei. — Laredo suspirou em frustração. — Há uma razão, no entanto, teremos que descobrir isso ainda.

— Talvez não seja Monte. — No minuto em que a declaração saiu da boca, Jessy sabia que Laredo estava convencido de quem era. — Mas o banqueiro em Fort Worth o conhece.

— Chase deve saber algo específico. — Laredo concluiu. — Alguma coisa que ele não queria discutir ao telefone com Brewster ou algo que ele não podia; algo que exigia uma reunião cara a cara. O que Chase sabia, devia ser muito contundente.

— Ele parece se lembrar mais a cada vez que o vejo.

— Mas até agora nada sobre o motivo de ter ido ao Texas. — Laredo lembrou.

— Ele irá, com o tempo. — Jessy declarou com confiança.

— Tempo e esperança permanecem ao nosso lado. — Declarou ele e bebeu um gole de café.

— Você foi capaz de descobrir alguma coisa em Blue Moon sobre Markham? — Perguntou.

— Não. A verdade é que parece não fazer muitos negócios lá. — Laredo a olhou com a especulação tranquila. — Há muita conversa, porém, sobre a quantidade de tempo que ele tem passado no Triplo C. Algumas pessoas estão convencidas que há um começo de romance.

Jessy deu de ombros para as fofocas. — Bem, eles estão errados.

— Embora seja uma boa história, o rico inglês de uma família nobre cortejando a viúva rica e bela de uma dinastia de gado. Eu acho que a surpresa seria se eles não tentassem casá-la com ele. — Sua boca torta em um breve sorriso, algo que Jessy tinha visto pouco ultimamente. — E sobre Cat? — Ele perguntou. — Como foi o seu encontro com ela?

— Isso não aconteceu. Ela não estava em casa quando parei no Círculo Seis ontem. — Explicou Jessy. — Deixei um bilhete pedindo-lhe para me chamar. Fomos jogando conversas pelo telefone desde então. Infelizmente eu estarei dentro e fora a maior parte de hoje. Eu provavelmente não serei capaz de falar com ela até hoje à noite ou amanhã.

— Deixe-me saber quando você for para que eu possa passar os resultados para Duke. — Ele esvaziou o último café e colocou a xícara vazia na bandeja. Através de tudo isso, sua expressão tinha sido como um pensamento pesado. — É melhor eu ir até a estrada. — Disse ele distraidamente e se endireitou da mesa. Mas ele estava ali, ainda refletindo sobre alguma coisa.

— O que está errado? — Jessy sentiu sua preocupação.

— Eu acho que posso ter cometido um erro chamando Parker. — Afirmou, olhando para a distância média. — Se ele falar com Markham é provável que mencione ter recebido um telefonema de um advogado. Markham vai saber quem é meu suposto cliente. Depende de como ele seja paranoico, e o que vai fazer sobre isso.

— O que você quer dizer? — Ela sentiu um mal-estar crescente.

— Quero dizer, se ele fizer qualquer averiguação de tudo, vai descobrir que não há tal escritório de advocacia de Cummins, Fitch e Stillwater na metrópole de Denver. — Seu olhar fixo no dela. — Na próxima vez que você o vir, Jessy, tenha muito cuidado com o que diga. Um deslize, não importa se pequeno, pode fazê-lo começar a se perguntar o que você sabe. Isso pode ser perigoso, Jess.

— Eu sei. — Ela assentiu com a cabeça, sentindo a primeira lambida fraca do medo.

— Esteja atenta para qualquer pergunta dele sobre Chase, independentemente de parecer casual ou inocente. — Laredo advertiu.

— Eu estarei. — Ela lhe mostrou a calma pedregosa que fora por muito tempo a sua proteção contra as perguntas de sondagens em áreas fechadas.

— Avise-me se houver alguma mudança em sua atitude para com você. Qualquer uma. — Sublinhou.

Terceira Parte

Na mudança do vento, ela o vê morrer,

E Calder sabe que o tempo está próximo.

Capítulo Quinze

Um grande sol amarelo se afundava mais perto do horizonte ocidental, sua cor dourada sangrava no céu e adicionava um toque de âmbar à luz do final da tarde. Retardando o Suburban, Cat fez a volta na pista do rancho Círculo Seis. O odor característico de feno cortado invadiu o veículo muito antes que ela chegasse à vista da ponta dos quarenta acres plantados com alfafa.

Quando se aproximou do portão do campo, notou Logan que estava dentro da abertura. Culley estava lá também, largado em cima de seu cavalo marrom com uma perna enganchada sobre a cabeça da sela. Ambos os homens tinham sua atenção atraídas para algo no campo. Olhando para além deles, Cat viu o par de grandes cavalos de baia puxando o cortador engatado atrás deles. Quint segurava as rédeas, empoleirado no assento do cortador.

Puxando para o acostamento, Cat parou o Suburban e se juntou a Logan no portão para testemunhar aquele grande evento na vida de seu jovem filho, seu primeiro tempo de corte com a equipe de cavalos. Logan deslizou um braço em volta dos seus ombros em boas-vindas, puxando-a para perto dele.

— Como ele está? — Cat perguntou ansiosa. — Ele teve algum problema?

— Como é que ele poderia ter qualquer problema quando Jake e Angel conhecem a rotina melhor do que ele. — Disse, se referindo aos dois Clydesdales.

— Como foi o seu encontro com Jessy?

— Não podia ter corrido melhor. — Cat admitiu. — Na verdade, eu gostaria agora que não tivesse adiado a reunião, mas eu temia só de pensar em discutir com ela de novo.

Quando a equipe se aproximava do final do campo, Logan chamou Quint, dizendo-lhe para fazer a volta. — E não se esqueça de levantar a lâmina.

— Eu não vou. — Quint gritou de volta e sorriu para Cat. — Oi mãe.

— Bom trabalho, Quint. — Ela sorriu com o orgulho inchando o peito. — Mantenha. — O turno foi feito sem incidentes, devido, em grande parte, pela equipe de cavalos bem treinados.

— Ele está fazendo muito bem, não é? — Cat murmurou para Logan.

— Ele está ótimo. — Seus olhos cinzentos brilharam com o orgulho que sentia pela realização de seu filho.

— Então, o que Jessy tinha para lhe dizer? — Perguntou Culley.

Cat relacionou a decisão de Jessy de não renovar a concessão do confinamento, o que acabaria por resultar na demissão de Laredo. — Ela me convenceu em mais do que meio caminho. — Concluiu. — Como eu poderia continuar a me opor sob essas circunstâncias?

— Assumindo que ela faça o que diz. — Disse Culley, mantendo-se cético.

— Eu tenho que lhe dar o benefício da dúvida, tio Culley. — Cat insistiu. — É o que papai iria querer que eu fizesse.

— E ter certeza que nada tem sido a mesma coisa no Triplo C. desde que ele morreu. E não vejo isso mudando, nem ela. — Ele concluiu. — Se ela não está se deslizando para ver o caráter de Laredo, então está rondando por aí com aquele cara inglês.

Cat nunca tinha visto o tio dizer nada sem razão. — Você viu Jessy com Laredo de novo?

— Eu a vi indo embora daquela velha cabana de linha onde ele está vivendo, na tarde de domingo. Ele devia estar lá antes que ela aparecesse por aqui e deixasse essa nota para você. Pode ser apenas uma coincidência ela ter dito que Laredo falou antes que ela viesse aqui. Poderia ser que ambos estivessem ansiosos para lhe evitar criar uma confusão maior.

— Eu acho que você está fazendo algo do nada, tio Culley. — Mas suas dúvidas a fizeram pensar.

— Talvez. Mas há algo sobre todo esse negócio com aquele cara Laredo que ainda não estou certo. Eu só não consigo saber o que é. — Concluiu e olhou para baixo da pista, ouvindo o som de um veículo se aproximando. — Parece que o negócio está chegando.

No momento em que Culley reconheceu a Land Rover sabia que era Tara. Sem pressa, ele passou a perna por cima da sela e enfiou uma bota no estribo. Uma volta das rédeas destinava o cavalo marrom na direção oposta. Partiu, deixando Logan e Cat para saudar sua convidada. Como de costume, ele não viajava mais longe do que o seu habitual. No nível de desenho com o portão, Tara parou e abriu a janela. — É Quint lá no campo?

— Sim. É a sua primeira vez dirigindo a equipe sem Logan cavalgar com ele. — Cat explicou com orgulho considerável.

— Parece que ele está fazendo bem.

— Ele está fazendo muito bem. — Cat expressou.

— Não é maravilhoso? — disse Tara com uma demonstração de entusiasmo.

— Sim. — Cat conhecendo Tara, duvidava que aquela fosse uma visita social. — Então, o que a traz aqui?

— Eu vou dizer tudo na casa. — Tara respondeu e moveu o Land Rover para frente.

— Acho que você deve segui-la. — Logan murmurou secamente.

— Eu sei. — Cat suspirou aborrecida. — Por dois centavos eu ficaria aqui, mas ela simplesmente irá esperar até eu aparecer. Então, devo ir descobrir o que ela quer.

— Quint tem apenas mais uma varredura do campo para terminar o corte. Eu vou ficar aqui até ele terminar. — Fez uma pausa, atirando-lhe um olhar interrogativo. — A menos que você ache que vá precisar de mim.

— Não. Mais provável que ela queira falar com seu advogado sobre Jessy. E não há nenhuma razão para fazer isso agora. — Cat disse a ele. Ela acabou sendo parcialmente certa sobre o propósito da visita de Tara. Era indiretamente sobre Jessy, mas Tara escolheu uma abordagem diferente.

— Você ainda tem aquela nota que Jessy lhe deu? A que foi supostamente escrita por seu pai? — Tara perguntou no minuto em que entrou na casa.

— Sim por quê?

— Porque eu passei a maior parte das últimas duas horas conversando com um especialista em caligrafia — Tara começou.

Cat fez uma parada abrupta no meio da sala e se virou para enfrentar Tara. — Quantas vezes eu tenho que lhe dizer que quero largar isso agora? Falei com Jessy hoje e estamos resolvendo tudo. Eu não tenho mais problemas com ela.

Imperturbável, Tara rebateu: — Você realmente acredita que Chase rabiscou aquelas coisas naquele papel?

— Eu acho que é muito possível que ele tenha feito, sim.

— Mas e se ele não o fez? Ou se Jessy o falsificou em seu benefício? — Tara desafiou.

— Ela não o fez.

— Você tem certeza disso? De acordo com Allen Thornton, o especialista com quem falei, seria relativamente fácil falsificar algo assim. Tudo o que uma pessoa precisa fazer é tomar vários exemplos de alguma escrita, selecionar palavras pertinentes ou números, e traçar sobre eles para criar um novo exemplo que parece autêntico. Só Deus sabe as muitas oportunidades de fazer exatamente isso que Jessy teve, para não mencionar o acesso a quem sabe quantas notas Chase poderia ter escrito ao longo dos anos.

— É claro que é possível. — Cat admitiu com crescente impaciência.

— Certamente é. É por isso que eu quero pegar a nota. Thornton explicou que amadores muitas vezes cometem erros rudimentares. Ele mencionou duas coisas muito óbvias e sugeriu para eu olhar para eles antes de ter a despesa de mandar examiná-la.

— Tara, eu disse que não estou contratando um especialista em caligrafia ou falando com um advogado. Fim da discussão. — Cat levantou as duas mãos em um gesto de encerramento.

— Se essa é a sua decisão, naturalmente eu vou aceitá-la. — Tara levantou os ombros num encolher elegante. — Embora não veja o que prejudicaria me deixar olhar para a nota. Você não está um pouco curiosa para saber se é real ou algo que Jessy criou para enganá-la? Se for descoberto que ela mentiu sobre a nota, as chances são de que ela está mentindo sobre outras coisas.

O comentário era muito próximo ao que Culley tinha feito. Se fosse apenas Tara, quem tivesse dito, Cat teria ignorado, mas ela confiava em Culley.

— Tudo bem, você pode olhar para ela, mas não vai encontrar nada. — Acrescentou em uma tentativa de se convencer daquilo.

Deixando a sala de estar, entrou na cozinha e foi direta para a escrivaninha no escritório, mas a nota não estava deitada ao lado da lista telefônica. Ela verificou abaixo de mais alguns papéis sobre a mesa.

— Você não consegue encontrá-la? — Tara estava junto, observando a pesquisa.

— Logan estava fazendo alguns trabalhos nos livros na outra noite e provavelmente mudou as coisas de lugar. — Ela olhou em muitos lugares da mesa, e nas gavetas.

— Não me diga que a perdeu, Cat. — Tara afirmou em uma nota crítica. — Você percebe como poderia ser valiosa para você?

— Não está perdida. — Cat insistiu, mas estava começando a sentir um pouco de pânico. — Eu simplesmente não a encontrei ainda. — Trocou sua atenção de volta para o ambiente de trabalho, em que tendia a verificar metodicamente cada pedaço de papel sobre ela.

— Diga-me uma coisa, Cat: Jessy tem vindo aqui? — A voz de Tara estava cheia de suspeitas.

Cat sentiu a pressão e interrompeu sua busca. — Eu não tenho tempo para isso agora. Quint e Logan virão a qualquer momento, e eu ainda não comecei a ceia.

Quando ela se mudou para a cozinha adequada, Tara bloqueou seu caminho. — Você não me respondeu. Jessy esteve aqui?

— Eu não a vi, está satisfeita? — Não era realmente uma mentira. Cat não tinha visto Jessy quando ela parou no domingo.

Desapontada não descrevia a reação de Tara a sua resposta. Ela parecia positivamente irritada. — Isso não significa que ela não possa ter deslizado por aqui e pegado.

Ao invés de admitir que o mesmo pensamento lhe ocorrera, Cat simplesmente balançou a cabeça em exasperação fingida. — Eu vou olhar isso depois do jantar. Assim que encontrá-la, vou chamá-la. — Prometeu. — Agora, a menos que você queira descascar algumas batatas, eu sugiro que saia do caminho para que eu possa fazê-lo. Pediria a você para ficar para o jantar, mas tenho certeza que Brown Smith está ocupado cuidando dos preparativos para a sua refeição da noite. — Ela passou por Tara, cruzou com uma bandeja de copos, tirou uma panela de três quartos, colocou-a na pia e começou a enchê-la com água, consciente do silêncio atrás dela. Após momentos intermináveis, ouviu o estalido seco dos passos de Tara que saia da cozinha. Cat esperou até ver o carro de Tara deixar o pátio do rancho, e voltou para a mesa retomando a busca.

Ela ainda estava com aquilo quando Logan e Quint entraram. Ela estava tão absorta em olhar para a nota que mal registrou a sua presença na casa.

Logan entrou na cozinha. — Espero que tenhamos tempo para um chuveiro antes do jantar. Nós poderíamos usá-lo.

Quint cobrava atrás dele. — Papai disse que a equipe tratada é muito boa para mim, mãe. — Mas foi a palavra ceia que fez com que Cat de repente percebesse que a tinha esquecido. Um pouco agitada, se levantou da mesa.

— Você tem tempo de sobra. Eu... — fez uma pausa. — Eu pensei que teríamos espaguete, então eu ainda nem sequer comecei a ceia.

— Parece bom. Eu liguei para Culley e lhe disse para se juntar a nós. — Logan permaneceu na cozinha, assistindo enquanto Cat colocava o pote de água no fogão e ligava o fogo abaixo dele. — O que Tara queria?

— Nada realmente. — Ela acrescentou sal à água, uma carranca distraída segurando a cabeça à tona. — Você se lembra da nota que Jessy me deu? Aquela em que o papai anotou algumas coisas sobre o confinamento? Eu poderia jurar que a coloquei em cima da mesa. Agora eu não consigo encontrá-la.

— Eu me lembro de você mostrar isso para mim quando chegamos em casa depois do funeral de Sally, mas não me lembro de vê-la desde então. — Ele andou até a mesa. — Você tem certeza que não a colocou em uma das gavetas?

— Eu tenho certeza. — Junto com ele, Cat novamente começou a peneirar os papéis sobre a mesa. — Eu estava prestes a passar pelo cesto de lixo quando você entrou, apenas no caso de acidentalmente ter sido jogado fora.

— Eu não joguei nada fora, exceto alguns lixos. — Logan respondeu quando Culley escorregou para dentro da casa através da porta traseira.

Ele fez uma pausa, olhando para eles com curiosidade. — O que vocês estão procurando?

— Eu perdi um papel, algo que papai escreveu. — Ela não olhou por cima de sua tarefa. — Foi aqui em cima da mesa na semana passada, e agora não consigo encontrá-lo.

— Era importante? — Culley adivinhou.

— Principalmente para mim. — Ela lançou um olhar seco a Logan. —Tara acusou Jessy imediatamente de pegá-la.

— Por que não estou surpreso com isso? — Logan respondeu com um sorriso divertido.

— Poderia ter sido o inglês bacana. — Culley apontou. — Ele estava em torno da mesa, lembra?

— Monte? — Cat rejeitou a ideia como absurda. — Ele nem sabia que eu a tinha. Além disso, não teria qualquer significado para ele.

Ofendido por sua rejeição, Culley olhou para cima. Para ele, era tão óbvio como um salgueiro em um deserto que se Jessy não quisesse a suspeita caindo sobre ela, provavelmente colocaria Markham até consegui-lo. Na mente de Culley, Jessy, Markham, e Laredo estavam entrelaçados de alguma forma. Em primeiro lugar, o cara Laredo apareceu no funeral; em seguida, Jessy em segredo no sopé. Não muito tempo depois, o inglês em seu gado no confinamento. Tais acontecimentos estranhos voltavam à mente de Culley perguntando se Laredo e Markham estavam em conluio. E com certeza Jessy era horrivelmente amigável com os dois, o que deveria significar alguma coisa. Culley teria dito a Cat e Logan tudo isso se eles se dessem ao trabalho de perguntar o que ele pensava. Mas eles não o fizeram, e ele não se voluntariou.

A calma do meio da manhã tomou conta da cidade de Blue Moon. Era uma hora em que suas ruas estavam vazias de tráfego. Aqueles com trabalhos já estavam em seu local de trabalho, e os veteranos estavam reunidos em torno da sua mesa habitual no Harry, bebendo café e trocando histórias do passado. Culley estava tão familiarizado com o fluxo e refluxo da atividade da cidade, como estava com a grande terra que o cercava. Ele tinha deliberadamente escolhido àquela hora do dia para fazer uma viagem para a cidade, plenamente consciente que era um momento em que iria encontrar poucas pessoas. O medidor de gasolina em sua velha caminhonete tinha parado há muitos anos, mas ele sabia que seu tanque deveria estar quase vazio. Nenhum outro veículo estava nas bombas quando ele saiu da rodovia para o posto de gasolina combinado e mercearia, de Fedderson. Parando ao lado da bomba regular, ele desligou o motor e ouviu a tosse moribunda e por pulverização catódica. Quando ele saiu da picape, lançou um olhar furtivo ao redor, mas não viu ninguém. Puxou o pano de algodão que servia como tampa para o tanque de gasolina e enfiou o bico. Deixou o valor de cinco dólares fluírem para o tanque antes de desligar a bomba. Não havia clientes quando entrou na loja. Culley se aproximou do balcão e empurrou as cinco amassadas notas de um dólar em direção à mulher com cara de tédio atrás do balcão. Costumava ser sempre o próprio Emmett Fedderson quem recebia o seu dinheiro, mas Culley raramente via o proprietário hoje em dia.

— Quer o recibo? — A mulher perguntou, enquanto conseguia manter sua mandíbula trabalhando a bola de goma de mascar em sua boca. Culley respondeu com um aceno de cabeça e se virou, andando rapidamente para escapar da loja. Assim que saiu para o ar aquecido pelo sol, uma poderosa Range Rover se dirigia até a ilha da bomba, parando no lado oposto da picape enferrujada de Culley. A pulverização da poeira entorpecida nos lados elegantes do veículo mostrava a evidência das estradas de terra em que havia viajado recentemente.

Os olhos negros de Culley se apertaram pensativamente quando o alto e magro inglês saiu do veículo. A memória da busca infrutífera de Cat do papel desaparecido ainda estava fresca em sua mente. E sua opinião de que o inglês o havia roubado não tinha mudado. As duas coisas trabalharam juntas em sua mente animando-o.

Em vez de correr apressadamente ao volante de sua picape e conduzir para fora, Culley permaneceu fora dela até que conseguiu atrair os olhos do inglês.

Houve um momento em que pensou que o estrangeiro arrogante estivesse olhando para ele como se ele não estivesse lá. Então o reconhecimento piscou e imediatamente a expressão do homem assumiu uma expressão de boas-vindas.

— Bom dia, O'Rourke. Devo dizer que não esperava vê-lo na cidade, — Declarou Markham enquanto o medidor da bomba girava, assinalando os galões para seu veículo beberrão.

— Necessitava gasolina. — Culley respondeu em explicação cortada, e depois acrescentou maliciosamente: — Será que Jessy colocou você para roubar o papel na mesa de Cat?

De boca aberta, Markham olhou para ele por uma fração de segundo. — Papel? — Ele repetiu com uma grande demonstração vazia. — Eu não acredito que saiba do que você está falando.

— Você sabe. — Culley pronunciou. — E eu sei, também. Eu vi você rondando em torno de sua mesa naquele dia.

— Eu estava apenas admirando-a. — Monte repreendeu levemente. — É um belo exemplo de mão de obra, e eu sempre valorizei muito as coisas antigas. Eu suspeito que isso se deva ao fato de ser britânico.

Culley não esperava que o homem desse a mão à palmatória. Ao mesmo tempo, se irritava com Markham pensando que ele era ingênuo o suficiente para acreditar em tal fingimento. Aquilo empurrou Culley para dar um passo além da verdade.

— Era a mesa que você estava admirando ou o papel que você escorregou em seu bolso? Eu posso ser idoso, mas meus olhos são tão nítidos como sempre foram.

Markham se forçou a dar uma breve risada. — Meu bom homem, eu não tenho ideia do que você acha que viu, mas eu não tirei nada da mesa.

Culley ignorou a negação. — Estou curioso se você entregou o papel para Jessy ou para Laredo?

— Você está se referindo a Laredo Smith? — Monte franziu as sobrancelhas em surpresa. — O cowboy que Jessy contratou para trabalhar no confinamento?

— Sim. Ele é o seu parceiro, não é?

— De onde foi que você tirou essa ideia? Você tem uma imaginação muito extraordinária, senhor O'Rourke. — Declarou Markham com diversão.

— É justa e faz sentido. — Culley respondeu implacável. — Ela mostra o outro lado. Jessy o escondeu naquela antiga barraca de linha abandonada nos montes, e se mantém deslizando para vê-lo. Então, crescendo, depois de anos sem uma vaca no lugar que não usasse uma marca Calder, você está preenchendo o confinamento com o seu gado. Eu lhe digo que Laredo tem algo com Jessy.

— Obviamente não posso falar pelo senhor Smith, mas você está errado sobre o meu envolvimento. Foi um acordo de negócios simples que eu fiz com Jessy relativo ao confinamento. Não havia absolutamente ninguém mais envolvido nele.

— Então você diz. — Culley manteve o seu ceticismo. — Você faz todas as ofertas que quiserem, mas mantenha Cat fora. Você mexe com ela e estará mexendo comigo.

— Eu não tenho vontade de mexer com qualquer um de vocês, como diz. — Markham lhe garantiu, então inclinou a cabeça em um ângulo curioso. — Mas o que foi que você disse antes sobre um o que você chama isso? Uma velha barraca de linha? Eu não estou familiarizado com esse termo. É um edifício?

— É uma cabana que construíram nos velhos tempos, nos arredores da fazenda para que um vaqueiro não precisasse andar demais no final do dia. — A mudança repentina respondendo a perguntas, em vez de perguntar deixou Culley desconfortável. Ele se aproximou de sua picape.

— E está localizada no sopé, você disse. Parece um local ideal para um pavilhão de caça. Onde está exatamente? — Imediatamente Monte sorriu e levantou uma mão parando-o. — Seria inútil me dizer. Com o tipo de instruções que as pessoas dão aqui, eu acho impossível seguir. Talvez você pudesse me mostrar onde está. Não precisa ser hoje, no entanto. Tenho vários compromissos. Talvez amanhã de manhã nós pudéssemos encontrá-la. Digamos, por volta das nove horas?

— Jessy pode levá-lo. — Culley virou-se para sua caminhonete.

— Eu prefiro muito mais o que você pegou. Eu posso fazer isso valer a pena.

Culley hesitou. Mas a curiosidade levou a melhor sobre ele e se virou para ouvir.

Capítulo Dezesseis

Uma brisa forte girava em torno do Ninho do Javali, em busca de uma abertura. Uma janela se levantava de uma entrada, e Chase estava folheando o bloco de cartas sobre a mesa na frente dela. Hattie sentou-se diante dele, segurando duas cartas do baralho na mão. Posicionada entre eles estava uma placa de cribbage.

Chase retirou uma dezena de corações de seu jogo na mão e a colocou sobre a mesa. — Dez.

Hattie previu um oito de paus. — Dezoito.

— Nove de vinte e sete. — Chase disse enquanto colocava um nove de corações em sua pilha.

— Uma bagatela presunçosa. — Hattie jogou sua última carta, um quatro de diamantes. — E quatro para trinta e um, e dois. — Disse ela, movendo o branco para duas posições no tabuleiro.

— Você está em uma raia quente esta manhã. — Chase acusando na denúncia leve, começou a contar a pontuação em sua mão. — Quinze dois, 1504, 1506... — Fez uma pausa, sintonizando-se com o som distante de um veículo. — Alguém está na estrada. — Comentou à toa.

Hattie parou para ouvir. — Parece que parou. Devo ir olhar?

Chase balançou a cabeça. — Não há necessidade. Não está perto de nós. — Ele se moveu e pegou o número necessário de furos. — O que você tem em seu jogo?

— O suficiente para vencê-lo novamente. — Declarou ela, os olhos brilhando quando lhe mostrou as cartas. — Você quer tentar por três dos cinco?

— Com a sua sorte nas cartas, eu vou passar, obrigado. — Reuniu as cartas do baralho e as devolveu para o pacote enquanto Hattie tirava a placa de seu jogo.

— Quer café?

— Não, obrigado. Eu já tive o suficiente esta manhã. — Com muito pouco para fazer e muito tempo em suas mãos, Chase se levantou da cadeira e vagou sem descanso até a janela. — Vai ser mais um dia quente hoje.

— Não tão quente como seria no Texas. Por que eu não corto os restos do frango e faço uma salada fria para o almoço? Parece bem para você?

Chase se afastou da janela, arqueando as sobrancelhas em sua direção. — Você já está pensando no almoço? Não foi há muito tempo que nós terminamos o desjejum.

— Eu detectei uma nota irritada? — Ela respondeu de ânimo leve. — Não me surpreenderia se você viesse com um toque de febre da cabana considerando quanto tempo você tem estado enfiado aqui. Se o veículo se foi, por que você não vai dar um passeio?

A brisa trazia o ronco de um motor fraco virando. — Parece que está saindo agora. E, para a caminhada, eu gostaria tanto de sair e me movimentar, mas é melhor não. O'Rourke não tem aparecido por aqui há algum tempo, mas isso não significa que ele não se escondeu em algum lugar olhando para cá.

— Ele está sempre bisbilhotando, não é? — Hattie disse com desaprovação e colocou um recipiente de sobras de frango em cima do balcão.

— Ele não tem mais nada para fazer e mesmo que fizesse, ele é muito parecido com seu pai para ficar amigável com o trabalho duro.

— Você se lembra de mais, não é? — Hattie comentou quando começou a desossar e cortar o frango.

— Talvez, mas eu ainda não consigo me lembrar por que eu precisava ver o banqueiro em pessoa. Havia uma razão, e tinha a ver com Markham e algo sobre o gado. — Chase franziu a testa, se esforçando para lembrar os detalhes exatos. Eu estava confuso sobre alguma coisa.

— Isso virá para você. — Disse ela, confiante.

— Não há outro nome girando na minha cabeça também. Pauley ou Monte, alguma coisa assim.

Ela lhe deu um olhar assustado. — Você não está pensando em Carlo Ponti, o diretor de cinema italiano. O marido de Sophia Loren.

Chase puxou sua cabeça para trás, surpreso. — Eu não penso assim.

— Você está começando a me preocupar, Duke. — Hattie olhou para ele com os olhos apertados. — Uma coisa é ficar em dia e sonhar com Sophia Loren e outra estar pensando em seu marido.

Chase riu com diversão genuína e se colocou atrás dela, deslizando os braços ao redor da sua cintura. — Se eu estivesse pensando sobre ele, seria provavelmente com inveja, ele murmurou perto de sua orelha e inclinou a cabeça para mordiscar seu pescoço.

— Pare com isso. — Disse Hattie em falso protesto, enquanto um sorriso satisfeito curvava seus lábios. — Se isso não é apenas um homem. Aqui estou eu, tentando consertar alguma coisa para o almoço e você começa a se sentir brincalhão.

— Isso é ruim? — Chase brincou.

Passando as mãos em seus braços, curvou-os em volta do seu pescoço, ainda segurando a faca. — Agora, eu não falei isso. — Disse ela, inclinando a cabeça para trás para convidá-lo ao seu beijo.

Cat ficou no alongamento da sombra do celeiro e ansiosamente escaneando o lugar quebrado para o sul e leste. Com o sol se abaixando, a brisa da tarde tinha morrido, deixando uma qualidade sensual no ar que era adicionado à tensão que sentia.

— O que você está olhando, mamãe? — Ao se juntar a ela, Quint olhou na direção em que ela estava olhando.

— Eu pensei que poderia pegar um vislumbre de seu tio Culley. — Admitiu com cuidado para não expressar o mal-estar que sentia por sua ausência continuada. — Você já terminou a forragem dos cavalos?

— Tudo feito. — Ele anunciou. — Papai vai se surpreender quando chegar em casa e descobrir que já fiz as tarefas da noite para ele, não vai?

— Ele certamente o fará. — Cat conseguiu dar um sorriso e lançou outro olhar para a terra vazia. Ela sabia que Culley não estava em qualquer lugar lá fora; era uma sensação persistente. — Vamos para casa e sair deste calor. — Disse a Quint.

Lado a lado, eles partiram para a casa. — Papai disse que o feno deve estar pronto para embalar neste final de semana. — Quint anunciou em um tom profissional. — Parece que vamos ter uma boa colheita este ano.

Cat usou seu tom adulto para saber que ele tinha conhecimento do assunto. — Vamos esperar que seja suficiente para passarmos o inverno e não termos que comprar mais. — Quando chegaram perto da casa, Cat automaticamente olhou para o grupo de árvores além deles.

— Ele não está lá, mamãe. — Quint disse.

Com um sobressalto de culpa, empurrou o olhar para longe dele, em seguida, sorriu tristemente para o filho. — Você vê muito.

— Por que você não chama o papai e pede a ele para passar em Shamrock a caminho de casa? — Sugeriu. — Tio Culley poderia estar lá.

— Essa é uma boa ideia. Eu vou fazer isso. E você pode ir tomar um banho. Está coberto com feno e mato. — Ela escovou os sinais aderidos à manga de sua camiseta.

— Sim. — Ele balançou a cabeça em concordância. — Já está começando a coçar.

Uma vez dentro da casa, Cat esperou até Quint ligar o chuveiro antes de ir para o telefone e ligar para Logan. — Oi, sou eu. — Disse quando ele atendeu.

— O que foi? Precisa que pegue algo na loja?

— Não. Se você não se importar, poderia parar na casa do tio Culley e verificar se ele está por perto? — Acrescentou rapidamente. — Provavelmente não há nada para me preocupar, mas ele não veio esta manhã e não estava aqui ontem à noite e sei que tio Culley provavelmente se acampa durante a noite em algum lugar.

— Você acha que algo aconteceu com ele? — A pergunta de Logan foi realizada sem nenhum vestígio de desacordo.

Cat estava aliviada por ele não duvidar de sua preocupação. — Não é próprio dele ficar longe tanto tempo, Logan. Tio Culley é um homem velho. O céu sabe onde ele poderia estar ou o que poderia ter acontecido. — Ela ouviu a nota frenética em sua voz e não se importou. — Eu não sei nem por onde começar a procurar. Ele anda por todo o lugar.

— Você tem razão. Ele poderia estar em qualquer lugar. Só para ficar seguro, chame pela Jessy e lhe peça para espalhar o recado e manter um olho sobre ele. — Logan sugeriu. — É melhor fazer papel de bobo quando ele vier para cima do que deixar o tempo passar e viver com o remorso depois.

— Vou ligar para ela imediatamente. — Cat prometeu quando a dobradiça da porta de tela rangeu. — Espere, alguém acabou de entrar. Talvez... — Ela se virou, mas o volume dos passos cruzando a sala de estar já lhe dizia que não eram feitos pelos macios pés de seu tio. — Não importa. — Disse ela ao telefone. — É Tara e vou falar com você quando chegar à casa.

— Honestamente, Cat, você prometeu que iria me chamar. — Tara começou com impaciência no instante em que ela desligou o telefone. — E ainda tenho o que ouvir de você. O que só pode significar que você não encontrou a nota.

— Não, eu não a tenho. E não tenho tempo para discutir isso com você. — Cat respondeu com igual nitidez e rapidamente discou os números para o Triplo C.

— Quem você está chamando agora? — Tara perguntou com exasperação dramática.

— Jessy, se é da sua conta. — Respondeu ela e ouviu o toque do outro lado da linha.

— Já estava na hora. — Tara se sentou graciosamente e cruzou as pernas. — Pelo menos você finalmente percebeu que foi ela a pessoa que pegou a nota.

Havia uma sensação de peso no ar que parecia avisar uma tempestade se aproximando, mas o céu sobre a sede do Triplo C. mostrava apenas algumas nuvens inchadas. Jessy suspirou com pesar, mesmo sabendo que não havia muito feno para baixo e a chuva não seria um evento bem-vindo no momento. Mais tarde, depois de seco, embalado e armazenado, poderia chover tudo o que quisesse. Ela também sabia que a mãe natureza nem sempre prestava alguma atenção ao que era certo para o momento ou não. Enquanto ela aproximava os passos da Casa Grande, a porta da frente foi aberta e Trey saiu da casa correndo em toda a varanda para encontrá-la.

— Você foi embora há muito tempo, mamãe. — Ele declarou em umas boas vindas de volta.

— Eu sei disso. Então o que você fez todo o dia?

— Nada. — Ele esperou no topo da escadaria.

— Você deve ter feito alguma coisa. — Jessy repreendeu.

— Nada divertido. Da próxima vez eu posso ir com você?

— Vamos ver. Onde está Laura?

Ele caiu ao lado dela quando ela cruzou para a porta. Seu aceno foi para uma festa de chá. O estresse derivou quando ele disse as duas últimas palavras, deixando claro o que pensava dele.

O frescor do ar condicionado da casa cumprimentou Jessy quando ela entrou e caiu sobre ela como um bálsamo. Quase podia sentir o cansaço correndo para longe.

— Jessy, — Becky chamou-a da sala de estar — Cat está ao telefone. Ela quer falar com você e diz que é importante.

— Eu vou atendê-la no escritório. — Jessy falou de volta e fez uma pequena alteração em seu curso, apontando para o quarto. — Você pode ir para casa quando quiser Becky. Estou de volta para o resto da noite.

Ela não se preocupou em perguntar se a menina tinha tido quaisquer problemas. Jessy sabia que ela iria obter uma relação pormenorizada das atividades do dia a partir de Laura e especialmente qualquer mal que Trey pudesse ter causado.

— Você tem certeza que não quer que eu espere até que tenha falado com Cat, apenas no caso de precisar algo? — Becky disse, saindo do sofá da sala de estar onde Laura estava fazendo sua festa de chá.

— Não, você pode ir, eu vou conseguir. — Jessy lhe assegurou e caminhou para o escritório.

Trey se virou à direita sobre os calcanhares. — O que nós vamos ter para o jantar, mãe? Eu estou com fome.

— Você está sempre com fome. — Mas a sua pergunta serviu como um lembrete de que ela ainda teria que encontrar alguém para preparar as suas refeições.

— Então, o que vamos comer? — Ele repetiu.

— Nós vamos discutir isso depois que eu falar com sua tia. — Foi até a mesa e pegou o telefone. — Oi, Cat. É Jessy. O que você precisa?

— É o tio Culley. — Cat disse em resposta. — Eu não o vejo há mais de um dia e meio agora. Provavelmente ele esteja muito bem, mas estou preocupada com ele. Eu queria saber se você poderia...

Adivinhando o pedido, Jessy disse: — Eu vou pedir para manterem uma vigilância sobre ele.

— Obrigada. Ele provavelmente vai aparecer, mas... — Cat deixou a sentença inacabada.

— Eu sei.

— Isso é tudo que eu queria. — Cat disse. — Eu vou deixar você ir em frente e começar a fazer suas chamadas.

Do fundo chegava a voz de Tara. — Você não vai perguntar a ela sobre a nota? — Exigiu. — Pelos céus, Cat, você sabe que ela pegou.

A tensão correu ao longo de suas terminações nervosas. — Essa é Tara? — Jessy perguntou já certa da resposta.

— Sim. — Mas houve uma hesitação na resposta de Cat.

— Ela mencionou uma nota. O que foi aquilo? — Inconscientemente, ela prendeu a respiração, com pequenos alarmes correndo por sua mente.

— Aquela nota que papai tinha escrito e que você encontrou e eu perdi. — Cat explicou. — Mas essa é a menor das minhas preocupações agora. Faça as suas chamadas, e deixe-me saber se alguém o viu.

— Eu vou. — Jessy prometeu e pressionou o botão desligando o fone da base.

— Que tal espaguete, mamãe? — Trey sugeriu.

— Vamos. Mamãe vai fazer algumas chamadas antes. Então, falaremos sobre isso.

Ignorando o suspiro e o rolar exagerado dos olhos de Trey, Jessy telefonou para seu pai em primeiro lugar e passou o pedido de Cat. — Você vai começar a espalhar o recado? — Depois de receber uma resposta afirmativa, ela desligou.

— Só mais uma chamada. — Disse a Trey e discou para o confinamento. Um dos rapazes do rancho, um confuso Kirby atendeu. — É Jessy Calder.

— Sim, Jessy. O que você precisa?

— Eu falei com Cat há poucos minutos. O'Rourke está sumido.

— Você está organizando em conjunto um grupo de busca? Encontrá-lo poderia ser uma tarefa difícil. Não há como dizer onde o levam suas andanças.

— Ela não planeja organizar uma pesquisa ainda. Por enquanto ela quer todos mantendo um olho por fora.

— Nós podemos fazer isso.

— Obrigada. E Laredo ainda está aí?

— Ele está se preparando para sair. Vou ver se ainda não saiu.

Segundos depois ele tampou o telefone e Jessy ouviu um assobio agudo, seguido de uma mensagem dizendo a Laredo que era procurado ao telefone. Houve um breve murmúrio de vozes. Então Laredo atendeu.

— Será que Kirby o informou sobre Culley? — Ela perguntou.

— Sim.

— Bom. Há mais. E pode não significar nada. — Jessy ainda tinha uma sensação desconfortável do que fazer. — Eu descobri que está faltando a nota com todas aquelas anotações sobre o confinamento que Chase escreveu. Agora Cat diz que ela perdeu, mas Tara está tentando convencê-la que eu a peguei.

— Maravilhoso. — Ele murmurou secamente enquanto Trey se mexia até a janela.

— Alguém está aqui, mamãe. — Ele anunciou.

— Eu queria que você soubesse sobre isso. — Disse ela ao telefone. — Trey me diz que temos companhia, assim é melhor eu ir. — Ela olhou para fora da janela para identificar o visitante e se esticou um pouco com a visão do veículo de Monte estacionado em frente a herdade. — É Markham.

— Cuidado. Observe a si mesma. — Laredo advertiu.

— Eu irei.

Quando ela colocou o fone no gancho, Trey se afastou da janela.

— Ele está carregando algo realmente grande, mãe. — Ele declarou com grandes olhos excitados.

— Talvez devêssemos ir ver o que é.

Não necessitando de segunda insistência, Trey galopou pela frente para o hall de entrada. Jessy chegou quando Monte entrou, carregando uma cesta de piquenique enorme. Trey olhou para ele. — O que você tem aí?

— Como eu entendo, — Ele dirigiu a sua resposta à Trey, mas mantendo seu olhar cintilante correndo para Jessy — sua mãe ainda tem de contratar alguma ajuda na cozinha. Então pensei que poderia trazer tudo para uma festa especial da minha cozinheira, preparado especialmente para vocês. Você acha que eu poderia convencê-la a se juntar a nós para um piquenique?

Ceia. Na última Trey ouviu uma palavra que ele entendeu. — O que você vai ter?

— Frango frito, salada de batata, milho, uma bandeja de picles, e para a sobremesa, eu acredito que a cozinheira disse que incluiu um bolo de chocolate.

— Humm! — Trey proclamou.

Monte riu. — Isso é um sim? — Ele perguntou a Jessy.

— Um muito claro. — Jessy respondeu, consciente que a reação de seu filho não deixava espaço para a recusa. Ela se perguntou se Monte contava com isso, então percebeu que não poderia conhecer Trey quando fez o convite.

— Eu compreendo que há uma área de piquenique para baixo ao longo do rio. — Ele começou.

— Sim, é onde vamos nadar. É lá que vamos comer? — Trey perguntou, entusiasmado com a ideia.

— Esse era o meu plano. — Monte lhe disse, e em seguida, disse a Jessy: — Em minha opinião, uma refeição descontraída é mais bem apreciada longe do alcance de telefones e das pressões de negócios. E esta casa tão bonita, tem ambos.

Não lhe foi dada a oportunidade de responder quando Trey puxou sua mão. — Vamos, mãe. Eu estou com fome.

— Nós precisamos pegar sua irmã antes.

— Nós temos que chamá-la.

— Sim, nós fazemos isso. Por que você não leva o senhor Markham ao rio enquanto eu pego Laura?

— Ok. — Prestes a concordar, Trey apontou para Monte. — Vamos.

Como Jessy esperava, a perspectiva era de comer fora sem chamar Laura. Mas mudou de ideia quando chegaram ao rio e viu o pano branco de neve que cobria a mesa de piquenique perto do gazebo. Em cima dela, pratos de porcelana brilhavam, refletindo o brilho dos copos de cristal. Quando Monte colocou uma meia dúzia de velas votivas, Laura ficou completamente encantada.

A mente de Trey corria ao longo de linhas muito mais práticas. — Por que as trouxe? Vai demorar um longo tempo para escurecer.

— Disseram-me que ajuda a manter os mosquitos afastados. — Monte começou a acender as velas uma a uma.

— Eles vão picar de qualquer maneira. — Trey declarou e imitou um mosquito zumbindo em torno de Laura, chegando a se esgueirar com pequenos beliscões.

Tanto quanto Jessy conseguia pensar, os filhos eram uma dádiva de Deus. Pela primeira vez, ela se viu incapaz de relaxar na companhia de Monte. Mas a presença viva das crianças eliminava quaisquer pausas embaraçosas na conversa.

Ela observava constantemente qualquer mudança de atitude de Monte em direção a ela, mas ele parecia exatamente o mesmo, amigável, considerado, e totalmente pouco exigente.

Logo Trey se desculpou na mesa e saiu para procurar rãs. Sem seu irmão para atormentá-la, a atenção de Laura se voltou para sua boneca. De repente, sobrou a Jessy manter a conversa e ela nunca tinha sido adepta de bate-papo social.

Felizmente Monte assumiu a liderança. — Seus filhos são uma alegria.

— Você não os vê nos seus piores momentos.

— Eu suponho que não. — Ele concordou. — Ainda assim, em torno deles percebo o quanto eu perdi por não ter uma família própria.

Jessy recordou as insinuações de Laredo sobre o fato de Markham estar interessado nela. — Vindo de um bacharel, parece que é hora de você começar a procurar uma esposa. — Ela comentou.

— Isso é muito mais fácil dizer do que fazer. — Monte declarou, ficando pensativo. — É incrível o quanto nós mudamos à medida que envelhecemos. Quando eu era jovem, o aspecto e a aparência de uma mulher eram uma atração física. Reputado como um adulto mais velho agora, eu acho que o mais importante, na verdade, é como ela é. Para desfrutar de sua companhia seria muito melhor ter o calor dessa relação que o fogo de alguma grande paixão. No entanto, eu descobri ser mais fácil encontrar alguém que você ame do que encontrar alguém que goste de você. — Um sorriso triste puxou sua boca. — Espero que não pareça muito aborrecido.

— De modo algum. — Mas Jessy não podia deixar de pensar que apenas algumas semanas atrás, ela teria dito que ele descrevia sua relação perfeitamente. Ela gostava de estar com ele. Mais importante, ele tinha sido bom com as crianças, mostrando uma paciência ilimitada com suas perguntas intermináveis. Agora ela se perguntava se a paciência tinha sido sincera ou apenas uma tentativa de congraçar-se.

— Você ficaria surpreso com o número de mulheres que têm seus sentimentos feridos por essa conversa. Mas você é diferente, Jessy. — Ele lhe deu um olhar longo e profundo que dizia muito mais do que as palavras poderiam.

De repente, ela sentiu um calafrio. — Não, eu não sou. — Jessy respondeu determinada a desviar sua atenção. — Você simplesmente não conheceu a mulher certa. Vou ver o que posso fazer para mudar isso. Aqui, — ela se levantou e começou a recolher os pratos — eu vou ajudá-lo a colocar tudo isso longe.

— Não há pressa, com certeza. — Monte disse em protesto suave.

— Eu gostaria que não houvesse, mas tenho alguns telefonemas para fazer. Logo antes de você vir, eu falei com Cat. Ela está preocupada por não ver seu tio há quase dois dias.

— Isso é incomum?

— Um pouco. O suficiente para que Cat fique preocupada. Eu prometi que iria alertar a todos no Triplo C. para prestar atenção para ele. Agora eu tenho que passar a palavra a você, também.

— Na verdade eu vi O'Rourke ontem de manhã.

— Onde? — Jessy imediatamente lhe deu a sua total atenção.

— Em Blue Moon. Parei no Fedderson pela gasolina e ele estava lá. Ele parecia bem. — Monte acrescentou. — Embora com um cavalheiro de idade, acho que a saúde seja sempre um problema.

— Sim, mas Culley é um cara velho e resistente. — Jessy voltou a raspar qualquer sinal restante de comida dos pratos em um recipiente vazio. — As pessoas já tentaram matá-lo antes, e ele sobreviveu.

Monte reagiu com surpresa. — Você certamente não suspeita que houve algum jogo sujo envolvido no seu desaparecimento, não é? Eu assumi que você pensava que ele pudesse ter tido um ataque de coração. Eu não posso imaginar por que alguém iria querer machucar um velho inofensivo assim.

— Nem eu... na verdade, nunca me passou pela cabeça que alguém fizesse isso. — Ela admitiu. — Eu suponho que mencionei isso simplesmente para salientar a sua capacidade de resistência.

— Desculpe, parece que eu coloquei uma interpretação literal em seu comentário anterior. — Monte colocou o cesto para fora. — Eu diria que é mais provável ele ter sofrido um ataque cardíaco ou uma queda.

— Provavelmente. Mas eu não posso imaginar que o velho cavalo marrom que ele monta tenha tentando derrubá-lo.

— Como algum destes lugares são ásperos, pode ter sido o cavalo que levou a queda e acamparam-no. Ou seu cavalo pode ter ficado coxo, e esse seja o motivo de sua demora em voltar para casa.

— É possível. — Jessy concordou.

Uma brisa se levantou, sussurrando através das folhas dos choupos e chicoteou nas extremidades da toalha da mesa. Um canto virou perigosamente perto de uma das velas acesas.

Quando Jessy se inclinou para apagá-la, Laura disse: — Coloque a vela para que eu possa ver minha boneca melhor.

Jessy de repente notou a escuridão prematura que não tinha nada a ver com a sombra fresca das árvores. Para o oeste, nuvens negras haviam bloqueado a definição do sol. De dentro delas saíam relâmpagos. Ela estudou as nuvens por um momento, observando sua construção e expansão.

— Temos uma tempestade que se aproxima e está viajando rápido para cá. — Quando ela se voltou para a mesa de piquenique, avistou a picape de Laredo estacionada no celeiro. Nesse instante ela sabia que ele estava em algum lugar por perto, observando, mas não tentou localizá-lo.

Capítulo Dezessete

Apesar do filme empoeirado sobre o vidro da janela do celeiro, Laredo tinha uma boa visão do local do piquenique à beira do rio. Sem chances de ser visto, levantou-se para um lado do quadro e ficou observando a cena familiar.

Ele não podia dizer honestamente que estava lá porque antecipara que Markham fizesse algum movimento contra Jessy. Embora tivesse havido uma possibilidade remota, ele disse a si mesmo que simplesmente queria conhecer o que Markham tinha a dizer. Mas as torções de ressentimento e inveja que o corroíam pareciam fazer uma paródia da ideia. Não adiantava lembrar a si mesmo que não tinha nenhum direito sobre Jessy. A tensão dentro dele permanecia áspera e crua.

Houve uma ligeira diminuição da mesma quando os observou arrumando os itens de piquenique de volta ao cesto. Laredo ficou perto da janela até ter certeza que eles se dirigiam para a Casa Grande. Em seguida, caminhou para fora do celeiro para sua picape. Ele levantou o capô e fingiu mexer no motor, o tempo todo observando para ver se Markham entrava, mas Jessy disse suas despedidas sobre os passos, cercada pelos gêmeos.

A brisa endureceu, trazendo o cheiro de chuva para ele. Um estrondo distante do trovão foi perdido no rugido do motor poderoso do Range Rover virando. Laredo deixou a capa acima da picape até a vista de Markham ser expulsa na pista do rancho. Ele baixou o capuz, verificando o trinco, e deu um passo em direção a Casa Grande, mas então pensou melhor. Ele queria falar com Jessy a sós, sem interrupções dos gêmeos, o que significava que esperaria até que eles estivessem na cama.

Resumidamente Laredo pensou em fazer a viagem para a cabana de linha e voltar mais tarde à noite. Mas se ele fizesse isso, estaria dirigindo para dentro da tempestade que se aproximava. O senso comum lhe disse para esperar até a tempestade passar. Em vez disso, se dirigiu para o barracão da cozinha, onde eram fornecidas refeições à noite para os solteiros do rancho. As primeiras gotas da chuva gorda bateram em seu para-brisas quando ele estacionou em frente ao prédio.

No meio da terceira leitura de Jessy da história para dormir favorita de Trey, ela lançou um olhar para o seu filho. Seus olhos estavam fechados e sua boca estava aberta, atraindo as lentas respirações. Um estrondo rápido do trovão sacudiu as vidraças. Trey se mexeu um pouco e se aconchegou mais sob as cobertas. Ciente que ele estava dormindo, Jessy fechou o livro e o colocou sobre o criado-mudo. Após colocar o cobertor em torno dele e fazer uma verificação final sobre Laura, saiu do quarto na ponta dos pés. As batidas constantes da chuva mascaravam qualquer som que ela fizesse. Enquanto descia a grande escadaria de carvalho, o brilho de um relâmpago atingiu a casa. Jessy não podia ajudar fazendo círculos se Culley estivesse lá fora em algum lugar no meio da tempestade. Pensando na chance de que ele pudesse ter aparecido no Círculo Seis, Jessy atravessou a sala e pegou o telefone para ligar para Cat.

— Não. Ela teria me avisado. — Murmurou distraidamente para si mesma e desligou o telefone. Um telefonema agora só poderia aumentar a preocupação de Cat. Jessy foi para a cozinha. No início da noite, Trey tinha informado que eles estavam sem cookies, algo que Sally nunca tinha permitido acontecer. Jessy sabia que um simples telefonema para a mãe poderia corrigir a deficiência, mas assar um lote de cookies parecia a ela mais importante que a papelada que esperava por ela na sala.

Empurrou a porta para a cozinha e se congelou ao ver a abertura da porta traseira. O sopro de alarme a pegou de volta e navegou fora dela quando Laredo entrou, encharcado até os ossos, despejando água da borda do seu chapéu.

— Essa porta estava trancada. — Jessy lembrou. — Como você entrou?

— É uma fechadura velha e esses tipos são facilmente abertos. — Ele tirou o chapéu e deu uma sacudida. — Se você quiser dificultar a entrada de alguém, precisa pegar na tenda um parafuso morto.

— Eu irei. — Mas foi à visão da camisa grudada contra seu torso musculoso que enviou Jessy para o cesto de roupa suja. Ela voltou com uma toalha limpa e a empurrou em suas mãos com a admoestação: — Você está encharcado.

— Está chovendo. — Laredo respondeu em uma declaração irônica do óbvio.

— Sem brincadeiras.

— Pensei que você talvez não tivesse notado. — Laredo zombou com um brilho malicioso em seus olhos azuis.

Era um olhar que a esquentava. — Notei anteriormente que sua picape tinha ido embora. Eu pensei que você tivesse ido para o Ninho do Javali.

— Fui até o carroção cozinha para jantar. — Usou a toalha para absorver o excesso de umidade, diminuindo os pingos.

— Queria lhe dar tempo para colocar os gêmeos na cama antes de parar e descobrir o que Markham tinha a dizer.

— Ele realmente não tem nada a dizer, pelo menos, nada importante. — Ela foi até a pia. — Eu vou colocar um pouco de café.

— Você não tem nada mais forte, não é?

Jessy hesitou. — Há uísque no escritório.

Mas um olhar para sua magra forma de mulher advertiu Laredo que o uísque não seria uma escolha sábia, não quando havia muitas necessidades materiais caindo dentro dele.

— O café está bom o suficiente. — Disse-lhe — Então Markham veio unicamente para levá-la em um piquenique?

— Ele não fez nenhuma pergunta se é isso que você está pensando. — Pegou motivos frescos na cesta da cafeteira. — Ele mencionou que viu O'Rourke na cidade na manhã de ontem, nada mais que isso.

Mas O'Rourke era o menor dos interesses de Laredo. — Você já falou com Cat de novo?

— Não. Pensei em ligar para lhe dizer que Monte tinha visto Culley, mas não parecia ter muito sentido, uma vez que foi ontem que o viu. Por quê?

— Eu pensei que ela poderia ter dito algo mais sobre a nota perdida. — Uma carranca conturbada cavou uma linha entre as suas sobrancelhas de areia quando Laredo continuou a mover distraidamente a toalha sobre suas roupas molhadas. — Quem mais sabe da existência da nota? — Ele perguntou em voz alta.

— Tara é claro, e imagino que Cat contou a Logan, mas é só isso. — Jessy parou, recordando com um toque de culpa. — Monte sabe sobre ela.

— Markham! — Laredo explodiu. — Como diabos ele descobriu sobre ela?

— Eu lhe disse.

— Você o quê? Droga, Jessy, você deveria prestar atenção ao que diz ao seu redor. — Sua voz era firme e ameaçadoramente baixa.

— Para sua informação, eu disse a ele sobre a nota antes que você me avisasse para ter cuidado com o que dissesse. — Jessy disparou de volta calorosamente. — Monte entrou no escritório logo depois de eu entregá-la a Cat. Quando ele me perguntou sobre aquilo, eu disse exatamente o que tinha dito a Cat. Não era como se a nota fosse algo que eu realmente encontrara. Chase fez tudo para o benefício de Cat.

— Mas Markham não sabia disso!

O temperamento no rosto de Laredo estava ardente.

— Claro que não! Ninguém sabia, exceto nós. Na época, não tínhamos mais do que uma suspeita contra ele, com absolutamente nada para apoiá-la!

Laredo foi intocado por seu argumento. — Eu peço a Deus que não tenha lhe falado que Chase está vivo. Eu tive a ideia ridícula que você sabia como manter a boca fechada. — Virou-se para longe dela, murmurando, — Só Deus sabe o que mais você tagarelou.

Ele atirou a toalha de lado e pegou seu chapéu fora do balcão caminhando para a porta. Demorou um segundo para Jessy perceber que ele realmente tinha a intenção de sair. Furiosa, ela foi atrás dele e empurrou a porta da sua mão quando ele tentou fechá-la atrás de si.

— Eu nunca disse nada a ninguém. — Ela declarou com a voz plana e dura.

Laredo parou nos degraus, lateralmente para olhá-la com a chuva forte sobre ele. — Sim, assim como você não disse nada para Markham. — Ele zombou.

— Que diferença isso faz? — Ela estava na porta, indiferente às gotas geradas pelo vento que a atingiam. — Eu não lhe disse qualquer coisa que ele não pudesse saber pedindo a Cat.

— Mas ele não teria perguntado a Cat se você tivesse feito alguma história para tirá-lo da pista. Você poderia ter dito a ele que a nota não era nada, e ele teria acreditado em você. Pare de ser tão malditamente orgulhosa, e admita Jessy: você estragou tudo, um grande momento! — Laredo se afastou e foi até os dois últimos degraus.

Jessy hesitou e olhou para a cortina de chuva, em seguida, desceu os degraus atrás dele. Pegou-o pelo braço e o virou de volta para encará-la. — Explique o que você quis dizer. Como é que eu o explodi? — Ela exigiu.

Ele olhou para ela por um longo momento, a umidade brilhando na linha tensa de sua mandíbula estriada. — Quando Markham descobriu sobre essa nota, ele deve ter começado a se preocupar que Chase poderia ter escrito tudo o que sabia sobre ele. Cinco leva a dez e Markham pegou aquela nota. Eu não sei como ou quando, mas não importa. Pelo que sabemos Chase poderia ter, sem saber, rabiscado algo condenável nela. Mesmo que ele não o tenha feito, estou apostando que Markham está se perguntando se há mais por aí. E ele sabe que, se houver você é a única que poderia saber sobre elas.

— Mas não há. — Jessy protestou. — Eu olhei e não consegui encontrar nada. Oh, meu Deus. — Ela inclinou a cabeça com a agitação súbita de uma lembrança.

— O que? — Laredo agarrou seus braços, lhe dando um aperto de enrijecimento.

— Antes do funeral, alguém se sentava com o caixão em torno do relógio. Monte levou um dos turnos da madrugada. Ele teria ido ao escritório por si mesmo por duas ou três horas. E poderia facilmente ter ido através do balcão e destruído qualquer coisa condenável. — A umidade da chuva perdeu qualquer significado em face desta nova revelação.

Laredo a levou pensando um passo adiante. — Então você produziu uma nota que Markham sabe que nunca viu na mesa. — Seus dedos apertaram em seus braços. — Você tem certeza que ele não pediu. Não, ele não faria isso. — Disse ele, respondendo à sua própria pergunta. — Ele não iria querer que você começasse a se perguntar por que ele queria saber onde Chase mantinha seus documentos pessoais. Markham é demasiado esperto para isso. Tenho a sensação que você está vendo muito mais dele a partir de agora, Jessy. — Alertou.

— Por quê?

— Para começar, ele vai se perguntar se há mais notas como a que você supostamente encontrou. E ficar observando-a, à procura de qualquer mudança em sua atitude para com ele. Inferno, ele não pode fazer isso. Ele pode já ter decidido que você é um risco muito grande.

— Não seja ridículo. — Jessy ergueu os braços para se libertar de sua espera.

— Este não é um homem que tenha chances. — O trovão rolou sob as palavras de Laredo. — Olha como ele agiu rapidamente para conseguir deixar Chase fora de cogitação. Ele não deu qualquer aviso. Se o tivesse feito, Chase teria dito o que sabia... ou suspeitava. — Seus dedos se cravaram em sua carne. — De agora em diante, você vai ficar perto de casa, Jessy.

— Isso é impossível. — Ela retrucou. — Eu tenho um rancho para cuidar. E não posso me esconder no buraco como Chase.

— É melhor, se você quiser permanecer viva.

— Eu posso cuidar de mim mesma. — Jessy insistiu impaciente.

— Como diabos você pode. Esse cara não age em cima das pessoas, Jessy. Ele faz a sua matança em um âmbito de longa distância, com um rifle. A menos que você tenha um pouco de sorte como Chase, você nem vai saber o que a atingiu.

A selvageria próxima de sua expressão gelou. — Se você está tentando me assustar, você conseguiu. Está satisfeito?

— Sim, eu quero que você tenha medo. — Laredo estalou quando um relâmpago iluminou o céu atrás dele. — Se você está com medo, você pode ficar viva. Se alguma coisa acontecesse com você, Jessy... — Ele fechou o resto da frase e trouxe sua mão para cima, achatando-a contra a lateral de seu rosto molhado, seu polegar deslizando no queixo.

Foi o único aviso que ele lhe deu antes de sua boca se dirigir contra a dela. A rapidez e o calor foram um choque. Num momento houve espaço entre eles e, no seguinte, ela foi pressionada contra o comprimento dele, coxa com coxa, quadril com quadril, estômago com estômago, enquanto a boca em túnel pressionava contra os lábios com insistência de fome, despertando uma onda de sensações inesperadas.

Esforçando-se para voltar a superfície, Jessy começou a virar o rosto, mas Laredo interrompeu abruptamente o beijo e levantou a cabeça por escassas polegadas, a chuva canalizando para fora da aba do chapéu sobre sua cabeça.

— Não me dê alguma palestra sobre um maldito precisando de uma mulher. — Laredo rosnou, enquanto seu olhar a devorava com o rosto virado para cima. — Se qualquer mulher o fizesse, seria onde eu ficaria. Mas é você que eu preciso.

— Você não entende. — Mas Jessy não tinha certeza do que ela fazia, também. Queria dizer a ele que estava acontecendo rápido demais, exceto que ela tinha percebido isso. Mas não tinha decidido se era o que ela queria.

— O quê? Que você amou seu marido? — O calor de sua respiração abanou o rosto. — Eu entendo isso. Mas ele se foi e eu estou aqui. Se isso é errado, então eu não sei o que é certo. Eu só sei que Deus não fez homens e mulheres para viverem sozinhos.

Naquele momento Jessy entendeu que a questão não era de lealdade, mas de vida e de viver. O amor sempre usava muitas faces na vida de uma pessoa. Ela nunca conheceria outro Ty Calder, mas isso não significava que não haveria espaço em sua vida para um homem que se chamava Laredo Smith.

Ela lhe deu uma resposta que não precisava de palavras, empurrando o chapéu e puxando sua cabeça para baixo, entregando-se ao seu beijo e para ele, sem reservas. Seu gemido baixo, inarticulado de necessidade, lhe disse tudo quando ele exigiu seus lábios.

Em um ato que nunca foi novo nem velho, eles fizeram amor na chuva da tempestade. Suas roupas jaziam em um monte encharcado na grama. O relâmpago iluminou o céu, refletindo fora de seus corpos molhados, um esbelto e outro musculoso, dando-lhes um brilho prateado. Era difícil para qualquer um deles dizer onde os trovões terminavam e as batidas de seus corações começavam. A tempestade dentro deles construindo em intensidade, o calor e a pressão, até que ambos tensos chegaram a um clímax. Ele veio em um estremecimento, cegando o acidente de luz.

Por um longo momento eles permaneceram ali, lavados pela chuva, toda a tensão solta e drenada, ainda presos no formigamento no arrebol da tarde. Laredo foi o primeiro a quebrar o feitiço, sua mão deslizando para cima e virando seu rosto para ele.

— Meu Deus, o que eu estive perdendo durante todo esse tempo. — Murmurou densamente.

Movido pela profundidade do sentimento em seu olhar, Jessy se sentiu de repente estranhamente tímida. — As roupas, para começar, e uma toalha seca.

Ele começou a rir e rolou Jessy de costas, inclinando-se sobre ela, seus ombros largos protegendo-a da chuva. — Você está sempre tão maldita sem corte e prática.

Seu riso fez a diferença. Essa confiança calma retornou, aquecidos por novos sentimentos. — Um de nós precisa estar. — Os cantos de sua boca se aprofundando com um sorriso travesso. — Caso você não tenha notado, está chovendo.

— É por isso. — Laredo penteou o cabelo molhado do rosto. — Você acha que nós deveríamos sair dela?

— Provavelmente. — Ela uniu as mãos atrás do pescoço admirando novamente as linhas fortes e magras de seu rosto.

— Este é um daqueles momentos em que você não quer terminar, — ele admitiu — mesmo que você saiba que deve.

— Isso se chama vida, eu acho. — Mas por dentro ela concordou com ele.

— Esta é a primeira vez que eu me lembro da esperança que a minha fosse longa. — Laredo disse a ela.

— Nesse caso, é melhor você começar na esperança de não pegar pneumonia, porque você tem uma longa viagem pela frente em algumas roupas muito molhadas. — A esperteza de sua pele facilitou a Jessy sair debaixo dele, e Laredo pouco fez para impedi-la.

Ele permaneceu no chão, deitado de lado, apoiado por um cotovelo, observando enquanto ela pegava suas roupas molhadas. — E você só tem que ir para dentro para conseguir um lugar quente e seco.

Ela segurou o pacote molhado na frente dela, mas não fora de qualquer senso de modéstia. — Você poderia entrar por um tempo. — Jessy sugeriu com um toque de hesitação. — Eu poderia jogar suas roupas na secadora.

— Não, obrigado. — Ele rolou sobre seus pés e recolheu os seus jeans.

Jessy assistiu a luta dele para puxá-los para cima. — Você tem certeza? Não vai demorar muito tempo para secá-las.

— Penso positivo. Se eu entrar, não poderei sair. — Laredo vestiu sua camisa, mas não se incomodou em abotoá-la. — Por outro lado, já é tarde, e Chase deve estar preocupado pensando onde estou. — Com as botas na mão, ele se mudou para o lado dela.

— Eu vou levá-lo até a porta, apesar de tudo. — Jessy não pôde deixar de sorrir. — Meu Deus, mas parece antiquado.

— Esse é o tipo de sentimento que eu tenho.

Quando ele parou no final das escadas, ela se virou para ele, ainda segurando suas roupas. Uma respiração mais mudou sua boca com uma ternura evocativa que tinha mais poder nele do que a paixão poderia possuir. Jessy a sentiu através de seu curso, enchendo todos os lugares vazios com algo quente e duradouro. Ela andou ao seu lado sem dizer uma única palavra, pois elas pareciam desnecessárias e, consciente de Laredo observando cada passo que ela dava.

Ao amanhecer, Laredo assobiou baixinho enquanto fazia a barba. Ele se conteve e sorriu certo que nunca tinha sido tão feliz em sua vida. Era como se o mundo tivesse assumido um sabor fresco. Tudo parecia ter um gosto melhor para ele, desde o café até o prato de bacon e ovos que Hattie colocou diante dele. Demorou mais no final da xícara, o tempo suficiente para informar Chase de todos os acontecimentos do dia anterior, exceto o jeito como terminara a noite.

Tão grave quanto eram aqueles assuntos que não demorou a ligeira rejeição de seu passo quando ele caminhou para fora. Fez uma pausa, enchendo os pulmões com uma profunda inspiração do revigorante ar lavado pela chuva. Era uma manhã de cristal claro que dava uma definição nítida para a paisagem se alastrando diante dele. Sorrindo de novo, Laredo se dirigiu para sua picape, convencido que nunca tinha sentido aquela ansiedade para um novo dia começar. Só havia uma razão para isso, e seu nome era Jessy.

Quando ele se virou para a estrada de terra do rancho, inconscientemente começou a assobiar novamente. Uma sombra percorreu a estrada a frente dele. Inclinando-se sobre o volante, ele olhou para o céu. Seu olhar procurando, finalmente localizou o urubu flutuando em uma manhã térmica. Um instante depois, ele notou um segundo, em seguida, um terceiro e um quarto, todos em uma espiral descendente, com a intenção de alcançar algo a oeste da estrada. O que provavelmente significava que tinha manchado o café da manhã. Laredo parou de assobiar e reduziu a velocidade da picape, dizendo a si mesmo que poderia ser qualquer coisa desde um coelho morto a um boi. Mas com O'Rourke desaparecido, ele sabia que precisava ir verificar. Estacionou a picape na beirada e se dirigiu a pé.

Em pouco tempo, estava de volta, empilhando para o recolhimento e para fazer uma nítida inversão de marcha. Ele deu a buzina duas longas explosões e se dirigiu de volta para o barraco de linha. Chase saiu esperando por ele enquanto chegava. — E aí, o que foi?

— Nós temos problemas, — afirmou Laredo. — Mataram O'Rourke lá. Ele está morto com um buraco de bala nas costas.

Cantarolando baixinho para si mesma, Jessy estava ao lado da cadeira de Trey e cortava sua panqueca em porções do tamanho da mordida. Ele se sentou caído em sua cadeira e distraidamente esfregou os olhos de sono.

— Preciso de mais xarope, mãe. — Anunciou Laura depois de dar a primeira mordida na panqueca.

— Você tem certeza? Eu acho que você está doce o suficiente. — Jessy brincou.

— Eu sei, mas as panquecas não estão. — Laura explicou pacientemente.

— Desculpe. — Jessy reprimiu um sorriso e estendeu a mão para a garrafa de xarope, quando o telefone tocou. Parou de se mover por um segundo, então foi em frente e regou mais calda sobre a panqueca de Laura. No quarto toque, ela pegou o telefone.

— Rancho Calder.

— Oi, Jessy. É Cat. — Foi à resposta, emitida em voz repleta de tensão.

Inconscientemente Jessy apertou sua mão no telefone, a preocupação banindo algum do bom humor que ela sentia. — O que está errado?

— Tio Culley e aquele cavalo marrom que sempre monta. Quando Logan passou pelo Shamrock esta manhã, o cavalo estava no celeiro. Ele ainda estava usando sua sela e a rédea. — O fraseado desarticulado quando a voz de Cat indicava o nível elevado de sua preocupação. — Logan me pediu para ligar. Ele quer iniciar uma procura.

— Vou chamar todo mundo. — Jessy prometeu e pegou uma caneta e bloco de notas. — Apenas me diga quando chamar Logan e onde.

Rancho Shamrock de O'Rourke seria o ponto de partida e o tempo de encontro seria às nove e meia, quase duas horas mais tarde.

Logan planejava convocar o helicóptero e o piloto de Tara em uma busca aérea e pediu que o avião do Triplo C. tomasse parte nela também. Até o momento em que Jessy concluía sua conversa com Cat, tinha feito uma lista mental dos contatos que precisaria fazer, e sua ordem. Mas não teve chance de fazer o primeiro, quando Laredo entrou na cozinha.

— Não há café no pote. Ajude seu amigo. — Jessy acenou com a mão na direção da cafeteira, ainda segurando o receptor do telefone na outra.

— Com quem você está falando? Desligue. Eu tenho que fazer uma chamada.

Jessy estava distraída demais para notar em Laredo o absurdo tom usado. — Você vai ter que esperar. Isso é importante.

— Não é tão importante como isto. — Ele pegou o telefone dela e apertou o botão de desligar.

Recuperando-se de seu choque inicial a sua mão alta em ação, Jessy chegou a pegar o telefone de volta, exigindo: — O que você está fazendo?

Ele facilmente verificou sua tentativa e segurou o olhar dela. — É sobre O'Rourke, Jess. — A gravidade do seu tom de voz mostrou uma riqueza de significado.

Jessy recuou atordoada em um instante de silêncio. — Onde e como?

A voz petulante de Laura interrompeu-os.

— Mamãe, eu preciso de mais xarope.

Laredo jogou ao jovem par na mesa um olhar sombrio e desligou o telefone. — Eu vou fazer a chamada no outro quarto. Eles não precisam ouvir isso. — Ele se moveu na direção da sala de estar. Jessy demorou tempo suficiente para despejar mais xarope nas panquecas de Laura e sentar Trey perto de seu prato, advertindo-o para comer. Em seguida, ela se juntou a Laredo na sala de estar.

Ele já estava ao telefone. — Estou chamando do Triplo C. Um corpo foi encontrado. É Culley O'Rourke. — Ele fez uma pausa, seu olhar deslizando para Jessy. — Parece que a causa da morte foi um buraco de bala. Os urubus estão sobre ele, por isso é difícil dizer com certeza. — Após uma segunda pausa mais longa, Laredo respondeu: — Quando tive certeza que ele estava morto, deixei tudo do jeito que encontrei. — Mais perguntas se seguiram. — Está em uma área remota a noroeste da sede do Triplo C. Tenha os seus homens e me encontre aqui na casa principal que os levarei para o lugar.

Quando desligou, Jessy teve problemas para encontrar seu olhar. Ela se sentia mal por dentro, seus músculos se atavam com incredulidade. A necessidade de remover qualquer sombra de dúvida a fez perguntar: — Você está absolutamente certo que era Culley. Não há qualquer dúvida em toda sua mente?

— Nenhuma.

— Ele sempre foi um galeão velho tão difícil, — Ela murmurou. — Eu pensei que a única maneira pela qual ele iria morrer seria quando o seu coração parasse. Eu não acho que qualquer outra coisa poderia matá-lo. — Ela olhou para cima. — Você acha que Markham fez isso, não é?

— Eu acho que seja provável, especialmente se ele disser que O'Rourke não foi baleado à queima-roupa.

— Mas por quê? — Jessy procurou por um motivo e não encontrou nenhum. — O que poderia Culley possivelmente saber que seria prejudicial para Monte?

— Talvez alguma coisa. Talvez nada. Se Markham for o único suspeito, O'Rourke sabia algo que poderia ser usado contra ele.

As mãos de Laredo fechadas em seus braços em uma demanda pela sua total atenção. — Pense em sua cabeça, Jessy. Este homem é tão cruel como vê. O Markham não espera uma ameaça na superfície. No minuto em que ele acha que há uma, ele a elimina.

O sangue gelado provocou sua raiva. — O que o faz pensar que pode fugir assim?

— Por que alguém iria suspeitar dele? — Laredo rebateu. — Se Chase não tivesse sobrevivido, não é?

Ela não tinha que responder. Ele já sabia que ninguém teria suspeitado de Monte, nem em um milhão de anos.

Laredo estava à frente, as mãos escondidas nos bolsos da calça jeans, no quadril, uma perna inclinada em uma pose descontraída. Estava de costas para o sol, sua sombra se estendendo para longe dele. Em ambos os lados dele havia duas sombras menores expressas pelos investigadores uniformizados que o ladeavam. Com o calor dos raios do sol penetrando sua camisa e aquecendo a pele, Laredo observava em silêncio enquanto Logan Echohawk trabalhava lentamente seu caminho para o corpo que jazia de bruços no buraco, estudando cuidadosamente cada polegada do chão, enquanto andava. Uma leve brisa enrolando na área, sussurrando através das hastes esparsas da grama e arrepiando os cabelos grisalhos em corda de O'Rourke. Por fim, Echohawk agachou-se ao lado do corpo, olhando, mas não tocando. — Você o moveu?

— Não. — Laredo respondeu. — No minuto em que verifiquei seu pulso para ver se vivia, eu poderia dizer que o rigor me deteve.

— E você não viu quaisquer outras faixas?

— Não. Se houvesse alguma, a chuva provavelmente as teria lavado.

Logan se endireitou, vindo ereto e nivelando um olhar de medição em Laredo. — Então você acha que o corpo estava aqui antes da tempestade cair?

O riso difícil levantou um canto da boca de Laredo. — Você não acha?

Echohawk sorriu sem humor. — Na verdade, eu acho. — Ele se afastou do corpo, se virou e refez seu caminho até o início do buraco. Parou a alguns pés de Laredo e olhou para a cena. Então levantou o olhar para as pistas ásperas e rochosas a oeste deles. — Você diz que mora por aqui.

— Eu moro na velha barraca de linha lá em cima nos montes. — Laredo indicou a sua direção com um aceno de cabeça.

— A que horas você voltou na noite passada?

Este era o velho chão. Eles já estavam sobre ele, já durante a ida para o lugar. Por sugestão de Echohawk, Laredo foi cavalgado com ele para o local. Mas ambos sabiam que não tinha sido uma sugestão que Laredo pudesse se recusar a aceitar.

Familiarizado com a rotina, Laredo repetiu sua resposta anterior. — Deve ter sido por volta de dez horas.

— E antes disso?

— Eu deixei o confinamento em torno de cinco horas, dirigi-me para a sede e jantei no carroção cozinha, esperei por ali até a tempestade passar, e sai em torno de nove horas mais ou menos.

— É onde você costuma comer?

— Não. Foi a primeira vez. — Laredo admitiu, voluntariando a informação que ele sabia que Echohawk teria descoberto rapidamente por conta própria.

— Pena que você não voltou antes da tempestade. — Echohawk comentou com uma voz que apontou a conveniente mudança na rotina de Laredo. — Você poderia ter encontrado o corpo antes que a chuva fizesse o seu trabalho.

— Esse pensamento passou pela minha cabeça mais de uma vez. — Laredo respondeu.

— Eu compreendo que a sua mãe vive lá em cima com você. Será que ela mencionou ver ou ouvir algo incomum ontem?

— Não. Mas eu vou perguntar a ela.

— Eu acho que vou fazer isso. — Respondeu Echohawk, um humor seco no olhar que lhe dizia saber que aquele era um jogo que eles estavam jogando.

— Faça como quiser.

— Na verdade, acho que nós vamos fazer um passeio até lá agora enquanto esperamos o legista chegar. — Ele anunciou.

O investigador à direita de Laredo se agitou.

— Quer que eu ande junto com você?

A pausa de Echohawk foi ligeira enquanto ele pensava; Laredo sentiu a sondagem daqueles olhos cinzentos, avaliando o grau de ameaça representado por Laredo. — Não, você e Garcia ficam aqui. Não deve ser demorado.

A caminhada de volta para o veículo de patrulha foi feita em silêncio. Laredo deslizou para o lado do passageiro e esperou enquanto Echohawk apertava o cinto de segurança. Nem uma palavra foi dita até que eles saíram em direção à estrada velha do fogo.

— Eu recebi um telefonema interessante ontem de manhã. — O comentário foi feito por Echohawk casualmente, sem alteração da expressão em suas feições. — Foi de um amigo meu no Tesouro. — Laredo se preparou mentalmente para o pior. — Parece que o governo mexicano está muito interessado em um homem que, por vezes, usa o nome de Laredo.

— Eles disseram por quê? — Laredo perguntou como se Echohawk não tivesse dito nada fora do comum.

— Ele é procurado pelo assassinato de um guarda da prisão. Pelo que entendi, este Laredo fazia parte de um pequeno grupo que atacou dois americanos fora de uma prisão mexicana, matando um guarda no processo.

— É uma boa coisa que eu não seja tão Laredo. — Afirmou sem problemas. — A prisão mexicana é o último lugar onde eu gostaria de passar o resto da minha vida. — Laredo concentrou sua atenção na estrada à frente deles. — Sua vez está à frente.

— Você se encaixa na sua descrição geral: olhos azuis, cabelos castanhos claros, alto.

— Então, parece com muitos outros homens.

— Vai ser interessante descobrir se existem impressões digitais em arquivo.

Laredo amaldiçoou interiormente. — Esperemos que não haja. — Ele mentiu suavemente. — É a maneira mais rápida para provar que você está falando de duas pessoas distintas.

— Eu concordo.

Muitas viagens de Laredo subindo e descendo na inclinação para o barraco da linha tinha formado um conjunto de pistas paralelas em todo o terreno áspero para apontar o caminho. Segundos após o veículo de patrulha parar na crista do monte, Hattie saiu da cabine, com uma expressão de curiosidade leve.

Ela sorriu agradavelmente quando Echohawk se apresentou. — É um prazer conhecer você. — Ela deu a mão num aperto firme. Embora eu tenha esperado por você.

— Sério? — Ele conseguiu injetar um pedido de explicação em sua resposta de uma única palavra.

— Não você em particular, mas depois de Laredo encontrar o corpo, pensei que alguma autoridade viria para descobrir o que eu poderia ter visto ou ouvido falar. — Hattie explicou.

— E o que foi que viu, senhora Smith?

— Não muito, eu penso. Lembro-me de ouvir um veículo na estrada em algum momento ontem. Ele parou por um tempo, em seguida, começou a rodar de novo. Não pareceu tão incomum na hora. — Ela lhe disse. — Eu pensei que era um dos peões de fixação de cerca ou verificação de gado.

— Que tipo de veículo era?

Ela balançou a cabeça. — Eu não tenho nenhuma ideia. Não estava curiosa o suficiente para olhar. E, como você pode observar a visão da estrada a partir daqui é um pouco limitada.

— Sim, eu notei. Você se lembra de ouvir qualquer outra coisa?

— Como o quê?

Laredo fornecia a resposta. — Eu acho que ele quer saber se você ouviu um tiro.

Hattie soltou um suspiro e riu negando. — Definitivamente não. Eu teria mencionado como a primeira coisa. Não seria algo comum como ouvir um caminhão na estrada.

— Você mantém quaisquer armas aqui?

Ela lançou um olhar rápido a Laredo. — Nós temos uma Winchester.

— Você se importaria de mostrar isso para mim? Echohawk observou de perto.

— Nem um pouco. Vou pegar para você.

Quando ela se virou em direção à cabana, uma voz veio de dentro. — Peça a Logan para entrar, Hattie.

A reação de Logan para a descoberta de uma terceira pessoa foi pequena, mas significativa, um súbito enrijecimento do músculo e um rápido movimento da mão direita para o coldre da arma em sua cintura. Mas foi a centelha de confusão e dúvida em sua expressão que trouxe uma ligeira curva para a boca de Laredo.

— Eu acho que nós saltamos uma pequena surpresa para você, não é? Então, novamente, talvez não seja tão pouco. — Laredo disse e passou por ele em direção à porta.

— Por favor, entre xerife. — Hattie parou na porta, segurando a porta de tela aberta para ele.

— Não. Diga ao seu amigo para sair. — Logan se mexeu um pouco mais perto da parede da cabana, pronto para procurar a sua proteção e se tornar um alvo menos fácil.

Deslizando e passando Hattie, Laredo entrou com o olhar deslizando para Chase. — Eu disse que ele era um homem cuidadoso.

Chase tomou o lugar de Hattie na abertura, fazendo-se totalmente visível sem colocar o pé para fora. — Eu não posso fazer isso, Logan. É melhor se eu não for visto aqui.

— Chase? — Logan ainda questionou o que ele estava vendo. — Você está vivo?

— Sim, e eu planejo ficar desse jeito por mais algum tempo. Entre. — Chase se moveu para longe da porta.

Logan seguiu-o até a linha do barraco.

— O que você está fazendo aqui? — Ele exigiu, mostrando a raiva no modo como ele e todos tinham sido enganados, tanto naquela época quanto agora. — Por que você deixou todos nós acreditarmos que estivesse morto?

— Na época, era adequado ao meu propósito. — Chase cruzou para a mesa e puxou uma cadeira.

— Eu sempre soube que você era um homem duro, Calder, mas não acho que você percebe que colocou sua filha e netos nisso, para não mencionar... — Logan parou, apertando os olhos. — Jessy sabe que você está vivo? — Era uma afirmação, não uma pergunta. — Todas as vezes que Culley a viu escorregar até aqui, ela via você?

— Ela sabe. — Chase confirmou. — Mas ela é a única que sabe fora deles aqui nesta cabana.

— Por quê? — Seu olhar cinza se fixou no vergão vermelho quando ele enfiou a mão no couro cabeludo acima da têmpora de Chase. — E o que aconteceu com sua cabeça?

— Você pode muito bem se sentar. Isto pode demorar alguns minutos. — Chase gesticulou para uma das outras cadeiras e se sentou. — Hattie, você vai trazer um pouco de café para nós?

Mantendo-se fiel aos fatos, Chase contou a Logan, tudo quanto sabia sobre o atentado contra sua vida e suas consequências. Em ocasiões, ele deixava para Laredo, permitindo-lhe preencher eventuais lacunas que podiam ocorrer. Logan ouviu sem interrupção até que ele acabou.

— Eu tenho dificuldade em acreditar que Markham seja posterior a isso. — Logan continuou a meditar sobre aquilo. — Existem algumas circunstâncias que parecem apontar na direção dele, mas você não construiu nenhum caso contra ele, ou me deu um bom motivo para fixar as minhas suspeitas sobre ele.

— Lembro-me de alguma coisa, mas... eu não consigo lembrar o que é. — A frustração que escorregou na voz de Chase dava-lhe um motivo para isso.

— Então, por que você decidiu fazer o seu ato conhecido agora? — Logan ergueu sua xícara de café.

— O assassinato de O'Rourke.

Logan balançou a cabeça em compreensão. —Tão perto como o corpo foi encontrado, seria apenas uma questão de tempo antes que você fosse descoberto.

Laredo discordou. — Se Chase não quisesse que você soubesse que ele estava aqui, teria levado os cães para se esconder.

— Laredo está certo. — Chase confirmou. — A minha decisão de vir para frente não tem nada a ver com o medo da descoberta. A morte de O'Rourke mudou as coisas porque estou certo que Markham o matou.

— Agora você realmente está chegando, Chase. — Logan disse com um aceno levemente divertido de sua cabeça. — Markham tinha ainda menos razões para matar O'Rourke do que você.

Chase respondeu com uma pergunta. — O que você pode dizer sobre a nota que está faltando? A única que Jessy deu a Cat. Eu entendo que Tara está convencida que Jessy a roubou.

— Você acha que Markham está por trás disso? — Logan adivinhou.

— Por que não? — Chase rebateu. — Ele não teria sabido o que estava escrito nela. Por tudo que Markham sabia, poderia ter sido algo que teria apontado para ele.

Logan cuidadosamente esfregou a mão na boca, em seguida, olhou para Chase, com uma dureza de pedra em seus olhos cinzentos. — Você pode acabar me convencendo, Chase. Lembro-me agora que após a nota sumir, Culley fez questão de lembrar a Cat que tinha visto Markham pisando ao redor da mesa.

— E Markham mencionou para Jessy que ele tinha visto O'Rourke no Fedderson na outra manhã. Meu palpite é que, quando Culley acusou Markham de roubá-lo, finalmente selou o seu destino. — Chase declarou: — Eu não sei quando ou onde Markham fez a matança, mas acho que ele provavelmente jogou o corpo por aqui em uma tentativa de lançar a suspeita sobre Laredo, especialmente se ele tivesse alguma forma de saber que você o estaria verificando.

— E encontrar algumas respostas, também. — Logan empurrou seu copo a distância, olhando para cima quando Hattie respirou bruscamente. — Exatamente o que você sabe sobre ele, Chase?

— Eu sei que ele salvou minha vida. E se você está se referindo a esse negócio no México, que aconteceu há muitos anos atrás. — Chase respondeu. — Eu não vou lhe pedir para ignorá-lo. Nenhum de nós teria muito respeito pelo outro, se eu o fizesse. Mas eu vou pedir para você esquecê-lo por um tempo. O que quer que você possa dizer contra ele, Laredo é o tipo de homem que está a sua volta quando as coisas ficam quentes. E elas vão ficar quentes muito em breve. Essa nota deixa Markham com medo agora, mas é um medo inteligente. Laredo e eu concordamos que ele provavelmente já escolheu seu próximo alvo. Mas não sabemos se é Jessy ou Cat.

— Agora eu entendi. — Logan assentiu. — É por isso que você decidiu voltar dos mortos, para fazer Markham reajustar suas vistas. Você planeja se tornar um chamariz.

— É a maneira mais rápida que eu vejo para atrai-lo. — Afirmou Chase. — A morte de O'Rourke me fez perceber que eu não tenho o luxo de esperar até recuperar completamente minha memória.

Logan se virou para Laredo. — Então, por que você não me contou nada disso a caminho daqui? Você poderia ter nos poupado um tempo enorme.

Laredo acenou para Chase. — Era sua peça, não era minha. Eu só segui as ordens e ele disse para trazê-lo aqui sozinho, e foi isso que eu fiz.

A fim de fazer isso, Logan percebeu que Laredo havia se tornado um suspeito na morte de O'Rourke. Aquilo falava em voz alta da lealdade e confiança que Laredo tinha em Chase. E tinha Logan olhando para ele com um novo respeito.

Ele levou sua atenção de volta para Chase.

— Então, qual é o seu próximo passo?

— Você vai me ajudar a organizar o meu regresso ao Triplo C. — Chase respondeu calmamente. — Ninguém mais deve saber que eu tenho me hospedado no Ninho do Javali, e isso inclui Cat. Não podemos nos dar ao luxo de ter alguém pensando que Laredo foi parte disto. Você vai fazer isso?

— Conte comigo. — Logan concordou sem hesitação.

Laredo falou. — Espero que isso signifique que você não vai se opor se eu começar a carregar meu refúgio.

A pausa de Logan foi deliberada. — Eu não ouvi você dizer isso.

O sorriso de Laredo foi lento e preguiçoso. — Obrigado.

— Então, quando você quer voltar, Chase?

— Quanto mais cedo melhor. — Ele respondeu. — Mais tarde, hoje você pode dizer a Cat que eu chamei você e que eu estarei voando em Miles City amanhã. Explique grande parte da verdade como ela precisa saber; que eu fui assaltado e sofri de amnésia, e finalmente me lembrei quem eu era. Laredo pode me deixar no aeroporto na parte da manhã, e vou esperar lá até que você vá me pegar.

— Parece bastante simples. — Logan assentiu. Depois de uma pausa, acrescentou: — Embora, para ser honesto, Chase, não está claro na minha mente por que eu estou sentado aqui agora. Você realmente não precisa da minha ajuda para organizar seu retorno. Você poderia ter feito isso em seu próprio lugar e me manter no escuro.

— Eu considerei isso. — Chase admitiu. — Mas você não teria sabido que havia uma possibilidade de Cat estar em perigo. Isso não era um risco que estava disposto a correr.

— Eu deveria ter adivinhado. — Logan murmurou.

— Laredo vai chamá-lo em algum momento no final da tarde. Vocês dois podem decidir a hora que for melhor. Essa será a alegada chamada minha. O que quer que você faça, não mantenha a chamada em segredo. Quanto mais cedo Markham receber a notícia que eu ainda estou vivo, menos provável que ele vá olhar para qualquer outra pessoa até que tente me liquidar.

Capítulo Dezoito

Em todo o Triplo C. havia uma espécie de eletricidade no ar. O telégrafo central tocava. As pessoas em todos os lugares pareciam caminhar com um passo mais leve. O nome que raramente tinha sido mencionado desde o dia de seu enterro prematuro estava na boca de todos.

Chase Calder estava vivo.

O rumor e o fato se espalhavam de uma extremidade do rancho para a outra. E ninguém parecia se importar em disfarçar com o outro. Congratulavam-se com qualquer desculpa para chamar alguém e passar à frente sem tardar.

No meio da manhã Jessy recebeu dúzias de chamadas. Independentemente do seu conteúdo inicial, cada uma terminava com a mesma pergunta: quando é que Chase chega? Todos estavam frustrados pela sua incapacidade de ser mais específicos do que algo em torno de meio dia ou uma da tarde.

Mesmo sua própria mãe achava difícil acreditar que ela não poderia ser mais exata. Judy Niles tinha chegado à Casa Grande pouco antes das nove horas da manhã, aparentemente para dar a casa uma ordem completa para que tudo estivesse limpo e arrumado quando Chase chegasse. Ela passou quase tanto tempo conversando com Jessy como fazendo a limpeza.

Encontrando dificuldades para manter o pretexto de que sabia pouco mais sobre Chase do que ninguém, Jessy deixou sua mãe para atender ao telefone enquanto fazia sua fuga da casa. Sem destino, Jessy foi em direção aos currais.

Estava do outro lado do pátio do rancho quando reconheceu a picape de Laredo que vinha para baixo da pista. Parou e esperou até ele chegar. Ele parou ao lado dela, um braço sobre a janela aberta do lado do motorista.

— Bom Dia. — Seu sorriso era quente e levemente íntimo.

— Bom Dia. — Jessy se aproximou e casualmente colocou a pele da mão no metal da picape aquecido pelo sol. — Você o deixou no aeroporto? — Ela perguntou, referindo-se ao Chase.

— Entregue são e salvo. — Confirmou Laredo.

— O telefone não parou de tocar durante toda a manhã. Você sabia que Chase tinha estado em coma até poucos dias atrás? — Ela perguntou, passando em um dos muitos rumores que faziam o circuito.

— Eu não sabia disso. — Laredo sorriu.

— Alguém me disse que tinha ouvido falar que ele estava no México todo esse tempo.

— Incrível. E sobre Markham? Ele chamou?

— Não. Pergunto-me se ele já ouviu.

— Ele ouviu. Você pode apostar nisso.

A simples menção de seu nome alterava o teor da conversa, adicionando uma tensão a ela. — Cat chamou antes de partirem para o aeroporto. — Disse Jessy. — O funeral de O'Rourke está definido para as onze horas no sábado de manhã. O sepultamento será realizado no antigo cemitério.

Para a maior parte das pessoas, a morte de Culley tinha se perdido na excitação do iminente retorno de Chase. Quando alguém se preocupava em lembrá-lo, era geralmente em conexão com Cat, invariavelmente enquadrada em uma observação que notava a ironia de perder seu tio no mesmo dia em que descobria que seu pai estava vivo. Nem mesmo o fato de que O'Rourke morrera ferido por tiro parecia despertar muito interesse. A maioria das pessoas parecia disposta a acreditar que alguém estava atirando em um chacal, cão ou pradaria e a bala se desviara, um daqueles trágicos acidentes estranhos. Considerando a forma de O'Rourke andar como fantasma sobre o campo, deixava dúvidas que o atirador tivesse conhecimento da presença de alguém na área.

— Ouvi dizer que há um grande churrasco planejado para domingo para acolher Chase de volta. — Laredo comentou.

Jessy assentiu. — Minha mãe me falou sobre isso. Parecia uma onda sobre ter que fazer algo para marcar a ocasião. — Ela fez uma pausa, seus pensamentos se voltando para outra preocupação que nunca ficava longe de sua mente.

— Eu ainda acho que Chase deveria descansar por mais algum tempo. Eu sei que a morte de Culley tornou tudo difícil. Mesmo assim, porém, não acho que seja sábio ele vir para frente agora.

— Foi sua decisão. Se for sábio ou não, não importa mais. Está feito. — Foi uma declaração que assinalou a futilidade de adivinhar agora. Jessy entendeu o raciocínio por trás da decisão, para forçar Monte a fazer outra tentativa contra Chase, esperando entrar em pânico como em um uma erupção. Havia sempre a possibilidade de Monte esperar para ver quanto de sua memória Chase tinha recuperado, mas de alguma forma Jessy sabia que não seria provável.

— Pelo menos não deve haver quaisquer problemas no churrasco. Monte não está apto a tentar qualquer coisa com tantas pessoas ao redor.

Ela encontrou algum alívio nesse pensamento.

— Não conte com isso. — Laredo advertiu. — Markham sabe que terá dificuldade para atrair Chase para longe do rancho. E não há muitos lugares nos quais eles possam se encontrar à espera de Chase por aqui, sem correr o risco de serem vistos. A multidão e a confusão de um churrasco pode ser apenas o tipo de configuração que ele espera.

Ela sentiu um arrepio de presságio. — Você vai ficar aqui na sede a partir de agora, não vai?

— Não se preocupe. — Ele a tranquilizou. — Eu pretendo ficar tão perto de Chase como se fosse sua sombra.

— Onde você está indo agora?

— Voltando para o Ninho do Javali. Se eu ficar por aqui, Hattie vai precisar da picape. Se Markham aparecer enquanto eu estiver fora, deixe-me saber sua reação.

— Vou deixar. — Jessy prometeu e deu um passo atrás da picape, olhando quando ele foi embora.

A rodovia cortava as planícies do leste de Montana através de uma longa linha cinza. O tráfego engrossava, sinalizando a proximidade de uma cidade. Um letreiro luminoso em frente e Cat se inclinou no banco do passageiro, sua expressão uma mistura de ansiedade e excitação.

— Mais sete milhas. — Ela anunciou. — Graças a Deus. Esta é a mais longa viagem de carro para Miles City que eu me lembro de fazer. Eu gostaria agora que tivesse voado para cá no aeroplano do rancho.

— Não teria sido diferente. O voo iria parecer o dobro do tempo. — Logan elevou seu olhar para a estrada o tempo suficiente para examinar um olhar por cima de Cat. Durante a viagem ela estivera como um feixe de energia inquieta, raramente ainda, com todas as extremidades nervosas e as emoções funcionando até o centro.

Ela virou o rosto para a janela do lado por um momento. Balançando de volta para ele, pediu, pela décima vez: — Você está absolutamente certo que foi o papai quem conversou com você?

— Com certeza. Sua voz é inconfundível. Na hora em que ouvi sabia que era Chase, embora a minha mente me dissesse que seria impossível. — Respondeu Logan. — Foi um momento assustador.

— Mas e se ele for um impostor? Você mesmo me disse que o homem alegou ter amnésia. Ele podia se lembrar de algumas coisas, mas não de outras. Não havia nenhuma maneira de provar que ele era Chase Calder.

— Vamos saber em breve se ele é ou não um impostor. — Logan fez a curva na estrada que levava ao aeroporto. — Mas tenho certeza que vai ser o Chase genuíno.

— Espero que você esteja certo. — Cat apoiou um cotovelo no parapeito da janela e fechou a mão, segurando-a contra seu queixo. — Eu só estou com medo de acreditar, apesar de tudo.

Acelerando mais, Logan cobriu a mão dela, consciente da montanha russa emocional que ela vivia durante as últimas vinte e quatro horas, primeiro ao saber da morte de seu tio, em seguida, receber a notícia impressionante de que seu pai estava vivo.

Do banco de trás, Quint perguntou: — Você acha que ele vai se lembrar de nós, papai?

Logan olhou para o reflexo de seu filho no espelho retrovisor, observando a luz conturbada em seus olhos. — Acho que vai.

— A que horas você disse que seu voo deverá pousar? — Cat concentrou toda a sua atenção no edifício do terminal. Era pequeno para os padrões da cidade grande.

— Em cerca de quinze minutos. — Logan respondeu. — Eu vou deixar vocês dois e vou estacionar no parque.

— Mãe, olha! — Quint apressadamente soltou o cinto de segurança e se inclinou sobre a parte de trás do banco da frente. — Não é o vovô?

Cat olhou para o homem alto e forte, de peito largo em pé perto da entrada do edifício, a massa de cabelos escuros e prateados, com uma mochila aos seus pés. Ela respirou bruscamente em reconhecimento.

— É ele, Quint. — A emoção do momento fez sua voz se tornar pequena e fina. Lutou freneticamente com o fecho de seu próprio cinto de segurança. Quase não deu a Logan a chance de chegar até o meio-fio antes de pular para fora pela porta do passageiro e sair correndo para abraçá-lo. Quint não estava muito atrás dela. Logan levou o seu tempo, o suficiente para observar o momento da reunião. A alegria desenfreada no rosto de sua esposa e do filho mudou o dele, mas sabia muitas coisas que não lhe permitiriam participar dela.

De modo infantil, Cat se atirou nos braços de Chase e o abraçou apertado. — Você está vivo, realmente vivo. — Ela murmurou, tranquilizada pela sua solidez. — Eu estava com tanto medo que não fosse verdade.

Chase alisou uma grande mão sobre seus cabelos pretos e lustrosos e inclinou sua cabeça para cima. Seu olhar escuro se moveu sobre seu rosto e parou sobre o brilho das lágrimas em seus olhos verdes.

— Eu tinha esquecido o quanto você se parece com sua mãe. — Havia uma nota de admiração na sua voz. Fechando os olhos, Cat agarrou sua mão e lhe deu um beijo na palma, um sentido profundo de alegria e gratidão, misturados em conjunto para roubar sua voz. Ela sentiu o leve toque de sua mão em seu ombro e abriu os olhos para beber de novo aos olhos de suas feições escarpadas e familiares.

— Logan me contou sobre O'Rourke. Sinto muito, Cat.

Ela assentiu com a cabeça em resposta. A perda de seu tio ainda estava muito recente. Culley tinha sido uma presença constante em sua vida por muitos anos, nem sempre visto, mas sempre lá, seu próprio anjo da guarda pessoal. Cat duvidou que poucas pessoas entendessem o quanto ela iria perder sem aquele chamado louco homem velho.

— Oi, vovô. — A voz calma de Quint a lembrou que a reunião não era só dela. Cat se virou nos braços de seu pai, deixando uma mão atrás das costas, enquanto dirigiu sua atenção ao filho. Incerta da quantidade de memória que ele tinha recuperado, disse: — Eu não sei se você se lembra, mas este é o seu neto, pai.

Um sorriso suavizou suas feições duras. — Tem certeza que esse é Quint? Este jovem está cerca de uma polegada mais alto do que o garoto que eu conheci.

— Eu não estou vovô. — Quint conseguiu sorrir para a observação meio provocando e olhou para o homem com o coração nos olhos.

Chase se abaixou ao nível dos olhos. — Pode não ser uma polegada cheia. — Ele revisou seu parecer anterior. — Estou feliz com isso. Significa que você não é grande demais para me dar um abraço.

Quint estava em seus braços quase antes de abri-los. Chase teve apenas um vislumbre das lágrimas que brotaram nos olhos de Quint antes que o menino escondesse o rosto na curva do pescoço dele, envolvendo os braços ferozmente ao seu redor.

— Eu senti sua falta, vovô. — Sua voz estava embargada por um sussurro rouco.

O sol estava se aproximando de seu auge quando Jessy voltou para a Casa Grande para o almoço. Os gêmeos mal tiveram tempo para fechar a porta antes que eles próprios plantados na frente dela a agredissem com perguntas.

— Onde está meu avô? — Trey exigiu com uma carranca impaciente.

— Você disse que ele estaria voltando para casa esta manhã. — Acrescentou Laura em lembrete rápido.

— Sim. — Trey ecoou o pensamento. — Da manhã. Como é que ele não está aqui?

— Ele está a caminho. Eu prometo. — Jessy lhes assegurou quando o telefone tocou. Judy Niles respondeu, com a voz que vinha da sala de estar.

Laura suspirou com grande aborrecimento. — Isso foi o que vovó disse, também.

— Como é que ele está demorando tanto tempo? — Trey colocou as mãos na cintura, adotando uma postura desafiadora.

— Porque sua tia Cat teve que dirigir todo o caminho para Miles City para buscá-lo, em seguida, conduzir todo o caminho de volta. — Jessy explicou.

Os olhos escuros de Trey se apertaram com desconfiança. — Quint foi com ela?

— Provavelmente. — Jessy admitiu e se preparou mentalmente para o alvoroço que a notícia iria causar.

— Como é que ele consegue ver o vovô primeiro? — Trey protestou.

— Isso não é justo. — O lábio inferior de Laura se projetava. — Ele é o nosso vovô, também.

— Eu sei. — Ela tentou uma mudança de assunto. — O que a vovó fez para o almoço de hoje? Vamos ver?

Trey não estava prestes a ser dirigido para a sala de jantar. — Eu não quero o almoço. Eu quero o meu vovô.

— Vou ver se ele já está aqui. — Laura correu para a porta.

Trey correu atrás dela. Rodando, Jessy começou a chamá-los de volta, então suspirou derrotada e deixou-os ir. Dois conjuntos de mãos brevemente lutaram para puxar a pesada porta. Antes que ela conseguisse cruzar o limiar, Laura gritou com entusiasmo: — Eu vi! Ele está aqui, mamãe! Ele está aqui!

Quase no mesmo instante Jessy ouviu o rangido dos pneus no rolamento através do cascalho. Ela andou rapidamente em direção à porta quando sua mãe saiu correndo da sala.

— Você é estúpida, Laura. — Trey acusava com desprezo. — Ele não é o vovô, é o senhor Markham.

O anúncio vibrou nos nervos de Jessy terminando como uma descarga elétrica, interrompendo-a no meio do caminho por uma fração de segundo. Com a cabeça erguida, Jessy continuou até a porta, alcançando-a quando Trey voltou para dentro, com os ombros caídos em desapontamento. No meio do caminho para o corredor, Judy Niles mudou de direção. — Eu vou encontrar outro lugar para o almoço. — Disse a Jessy. Não oferecendo nenhuma resposta, Jessy caminhou para a varanda, ciente que não poderia deixá-la mostrar nova cautela com Markham. A presença de Laura o tornou mais fácil. Como uma borboleta social, Laura correu para o topo da escada para acolher o seu hóspede que chegava.

— Olá, senhor Markham. — Laura emitiu sua saudação alegre quando ele se aproximou dos degraus da frente. — Eu pensei que você fosse meu vovô. Ele está voltando para casa hoje.

O olhar vagamente preocupado desapareceu de sua expressão quando Monte parou com um pé nos degraus com os olhos castanhos bloqueados em Jessy. — Então é verdade, — Disse com uma carranca um pouco incrédula. — Chase está vivo.

— Incrível, não é? — A réplica veio facilmente para Jessy, graças a toda a prática que tinha conseguido com os telefonemas de outros que procuravam confirmação.

— Incrível dificilmente o descreve. — Declarou ele, subindo os degraus. — Deveria ser justamente chamado de um milagre. Como pode isso acontecer? Onde ele esteve todo esse tempo?

— No Texas, eu acho. Nós não temos muitos detalhes. — Jessy disse. — Eu não tenho certeza do que Chase fez. Ele tem amnésia, o Logan me disse que nem toda sua memória está de volta. Ainda há peças que estão faltando para ele.

— O que deve ser uma experiência assustadora não saber quem você é ou onde você vive. — As sobrancelhas arqueadas na contemplação ociosa daquilo.

— Deve ter sido horrível. — Jessy concordou. — Estávamos prestes a nos sentar para almoçar. Por que você não se junta a nós?

— Parece que eu sempre chego na hora das refeições. — Monte respondeu com um toque de diversão triste.

— Você não pode recusar. Mamãe já colocou um lugar para você na mesa. — Jessy disse a ele.

— Sim, se você ficar, você pode ver o vovô quando ele vier. — Laura inseriu.

— Eu não quero me intrometer em um momento tão pessoal. — Monte começou, então bruscamente virou a cabeça para olhar o Suburban chegando ao pátio.

— Essa é tia Cat. — As palavras mal tinham saído da boca de Laura até que o significado foi registrado por ela. Ela respirou bruscamente, sua boca arredondando em um silencioso "oh" de excitação quando ela olhou para Jessy. — Vovô está aqui, — ela murmurou. — Eu tenho que dizer a Trey. — Ela avançou para a varanda, abriu a porta e enfiou a cabeça dentro, emitindo um grito pouco feminino: — Desta vez é realmente o vovô!

— Acho que ela está animada. — Disse Jessy a Monte, usando o comentário como uma desculpa para observá-lo, alerta para qualquer sinal de apreensão.

— Ela deveria estar. — Declarou ele e se virou para o carro com um olhar de ávido interesse.

Trey correu para fora da casa, quase derrubando Laura para baixo em sua pressa, lançou-se para baixo a passos largos e alcançou a porta do passageiro abrindo-a. Chase balançou as pernas para fora. Mas Trey não lhe deu a chance de sair, pulando para seu colo.

— Eu sabia que você iria voltar vovô. — Afirmou Trey quando Laura chegou perto, procurando reivindicar a atenção de seu avô. — Eu sabia o tempo todo.

Jessy estava contente em observar o reencontro comovente entre seus filhos e seu avô. Até sua mãe saiu da casa, às pressas enxugando as mãos no avental, e Jessy se lembrou que ela deveria estar mostrando alguma ansiedade para receber Chase em casa também.

— Meu Deus, mas ele parece maravilhoso, não é? — Sua mãe comentou com um misto de surpresa e alívio.

— Certamente está. — Jessy caminhou para os degraus, consciente que Monte ficava para trás.

— Oh, querida, vê a cicatriz horrível em sua têmpora? — Judy Niles murmurou.

Jessy fez um som afirmativo, mas estava muito ocupada olhando para Laredo enquanto cruzava o pátio do rancho com passadas longas, mas sem pressa. Mesmo naquela distância, ela podia dizer que era para Monte que ele estava olhando.

Quase tão rapidamente como Trey subiu no colo de Chase, desceu dele e agarrou sua mão para puxá-lo para fora do Suburban. — Vamos, vovô. Vai gostar de ver o meu novo cavalo. Joe é o seu nome.

— Joe. É um bom nome. — Chase se levantou um pouco duro após a longa viagem.

— Você pode lhe mostrar o seu cavalo mais tarde. — Jessy colocou brevemente uma mão na cabeça de Trey, detendo-o, e deu um passo adiante para dar um leve beijo na bochecha de Chase. — Bem-vindo a casa, Chase.

— É bom estar de volta. — Disse a ela, mas cada um sabia que era parte de um ato que estavam representando e só eles sabiam disso.

— Vovô não está doente, mamãe. — Informou Laura e inclinou a cabeça loira no caminho de volta para olhar para Chase. — Vovó disse que você tem amnésia, mas você se lembra de mim.

Jessy experimentou um momento de mal-estar, ciente que Monte deveria ter ouvido cada palavra. Mas Chase simplesmente riu.

— Lembro-me de algumas coisas, e estou muito feliz que você seja uma delas. — Disse a Laura.

Com isso resolvido, Laura passou para assuntos mais importantes. — Você me trouxe um presente, vovô? Você esteve no Texas por longo tempo.

Chase não respondeu imediatamente e olhou para Jessy. — Eu costumo trazer presentes para eles?

Jessy não poderia dizer se ele realmente não se lembrava ou estava apenas fingindo. — Não, você não. E não deve ficar se perguntando por que. — Ela admoestou Laura e a puxou de lado, abrindo espaço para a mãe.

Não querendo correr nenhum risco, ela se apresentou: — Eu sou Judy Niles, mãe de Jessy, Chase. — Ela sorriu bastante ao vê-lo. — É tão bom ter você de volta.

— Eu me lembro de você, Judy. — O sorriso de Chase era grande. Seu olhar passou por ela. — E Stumpy está aqui, também?

— Não, mas espero que ele chegue. — Declarou Judy. — Ele é como todos nós com o Triplo C. É um milagre ter você de volta com a gente, nós estamos com medo de ser mentira até vê-lo com nossos próprios olhos.

Enquanto sua mãe tagarelava com Chase, Jessy lançou um olhar para Monte. Ele ficou perto do pilar no topo da escada, olhando, perfeitamente à vontade, mas seu olhar estava fixo em Chase.

— Ele não parece bem, Jessy? — Cat murmurou perto de seu cotovelo, puxando a atenção de Jessy para longe de Markham.

— Ele certamente parece. — Ela sorriu com o brilho de felicidade de Cat.

— Ele me disse no caminho para cá que uma das primeiras coisas que se lembrou foi do capitão. Um boi do longhorn, pelo amor de Deus. — Cat balançou a cabeça em diversão. — Não é apenas um Calder?

Percebendo um movimento em sua visão lateral, Jessy virou a cabeça. Monte estava descendo os degraus com um ritmo casual. Ela soube imediatamente que ele tinha a intenção de se aproximar de Chase. Ele esperou até que Judy Niles terminasse sua conversa antes de se adiantar. — Eu não quero me intrometer, — ele interrompeu com uma suavidade que era completamente natural para ele, — mas queria acrescentar minhas boas-vindas às de todos os outros. Eu sou Monte Markham. — Estendeu a mão em saudação formal. — Estou contente que, como Lázaro, você voltou a andar entre nós.

— Senhor Markham. — Chase pegou sua mão e olhou fixamente para ele. A impressão que lhe deu foi a de alguém se esforçando para lembrar algo importante.

— Monte é o mais novo vizinho do Triplo C., pai. — Cat inseriu em uma tentativa de ajudá-lo a identificar Monte. — Ele comprou o velho lugar Gilmore.

Chase respondeu com um aceno lento e pensativo. — Foi bom você estar à mão hoje, Markham.

— Pura coincidência. — Monte assegurou-lhe com uma falsa cordialidade.

Havia um leve estreitamento dos olhos de Chase. — Você está em algum negócio de gado.

— De fato, senhor, eu estou. Na verdade, você seria meu convidado quando voltasse do Texas. Um convite que eu lhe estendo novamente. Estou muito ansioso para que você veja o rebanho de gado Highland que eu importei recentemente.

— O gado das montanhas. — Chase repetiu.

— O melhor, eu lhe asseguro, — Monte insistiu, e depois acrescentou com desdém: — Mas não me deixe começar exaltando os muitos atributos da raça. Vamos guardar isso para outra ocasião. Estou certo que você está ansioso para entrar e relaxar depois de seu longo voo. Eu não vou prendê-lo.

Quando Monte recuou em direção ao seu veículo, Judy Niles protestou. — Não vai se juntar a nós para o almoço? Eu coloquei um lugar para você a mesa.

— Outra vez. — Disse Monte e olhou para Chase. — Suas primeiras horas em casa devem ser gastas com a família.

— Se você não vai ficar para o almoço, então tem que vir para o churrasco que faremos para Chase no domingo. — Judy insistiu. — Vai começar à uma hora e durar até o cansaço.

— Gostaria de aproveitar isso. Obrigado. — Monte acenou com a aceitação e continuou até o Range Rover.

Laredo chegou, quando Monte ligou o motor. — Olá, Chase. Lembra-se de mim? — Um brilho de humor travesso estava em seus olhos azuis.

Chase olhou para ele por um segundo antes de murmurar com espanto: — O que você está fazendo aqui? — A surpresa dele parecia tão genuína que Jessy queria aplaudir.

— Trabalhando. — Laredo respondeu e fez um gesto na direção de Jessy. — Sua nora me colocou na folha de pagamento.

Chase ergueu o braço com um aceno de duas mãos. — Onde está sua mãe? Ela veio com você?

— Ela veio.

— Maravilhoso. Vai ser bom vê-la. — Chase se virou para Cat. — Eu encontrei a solução para o problema que você mencionou sobre Jessy encontrar alguém para tomar conta das tarefas da casa e cozinhar. A mãe de Laredo é uma excelente cozinheira, se bem me lembro. Você já a conheceu?

— Não. — Um lampejo de desconforto cruzou a expressão de Cat. Jessy suspeitou que Cat estivesse recordando seu ceticismo sobre Chase conhecer aquelas pessoas. Foi um ceticismo bem fundamentado, mas isso não era algo que pudesse lhe dizer ainda. — Eu não tive o fundamento certo.

— Nós vamos corrigir isso em breve. — Disse Chase com um sorriso fácil e olhou para Jessy. — Enquanto isso, você pode querer falar com Hattie e ver se ela estaria interessada em assumir a responsabilidade.

— Essa é uma boa ideia. — Jessy concordou. — Eu vou falar com ela.

— Por falar em comida, o que estamos fazendo em pé aqui fora. O almoço está pronto. — Judy Niles empurrou-os em direção à porta.

Jessy ficou para trás para falar rapidamente com Laredo. — Chase merece um Oscar. — Disse em um tom baixo.

— Foi um bom desempenho, não foi? — Laredo disse com um sorriso. — Apenas se iguala a Markham.

— Ele disse que virá para o churrasco. — Disse-lhe.

— Eu esperava por isso.

— Estou meio surpresa por ele não ficar para o almoço. — Seu olhar se desviou para a nuvem de poeira levantada que permanecia sobre a pista do rancho, deixada pela partida de Monte.

— Agora eu imagino que ele esteja preocupado, não tanto sobre o que Chase pode se lembrar, mas quando. Este é um momento em que Monte tem que ter a esperança de que fora da vista realmente signifique fora da mente.

— Então, por que ele viria no domingo?

— Eu não sei. Mas, enquanto isso, você pode apostar que ele estará fazendo alguns planos. Fique alerta. — Era mais um lembrete do que um aviso.

— Eu estarei. — Ela fez uma pausa, inclinando-se em direção aos degraus. — É melhor eu ir. Vai ser uma luta sobre quem irá se sentar ao lado do vovô na mesa.

Laredo acenou com a compreensão. — Eu vou falar com você depois. E não se preocupe, vou me manter por perto.

Quando Jessy subiu os degraus da varanda, não podia deixar de pensar que um homem com um rifle nas mãos não precisaria chegar perto.

Capítulo Dezenove

Os filés mignon tão grandes quanto os pratos, chiavam lado a lado com costelas grossas na grade maciça. Três rancheiros que viraram chefes de cozinha, vigiavam a carne. Um estava armado com um frasco de spray para extinguir os incêndios de óleo que frequentemente entravam em erupção. Fumaça e calor rolavam da área da grade, mas ninguém se preocupava. O encontro era uma grande comemoração, e o clima era de festa. Galhardetes foram amarrados sobre o grande gazebo perto da margem do rio, as suas cores brilhantes tremulando com a brisa leve, enquanto uma enorme bandeira caseira estava pendurada acima de sua entrada. Escrito nele em letras corajosas e grandes estavam as palavras: Bem-vindo a casa, chefe! Alguns dos vaqueiros que estavam musicalmente inclinados tinha assumido o gazebo, transformando-o em uma posição de banda de country-western.

Misturando-se com o riso e o constante zumbido de vozes, o dedilhar de guitarra rítmica e animado violino, marcado pelo baque de um contrabaixo com uma gaita, ocasionalmente, faziam um passeio.

A maioria dos vaqueiros descansava em suas cadeiras no gramado, cuidando de uma cerveja gelada, alternadamente trocando histórias e ouvindo a música. Alguns dos mais velhos do rancho montavam guarda nos barris de cerveja para ter certeza de que não houvesse jovens tentando prová-la. O que fazia alguns deles tentar mais determinadamente.

Como sempre, as mulheres estavam encarregadas de servir a comida. Cada um levara alguma coisa, geralmente dois ou três pratos diferentes. Ao todo, três mesas de banquete foram criadas para manter a variedade de saladas, legumes, pães e sobremesas. A chegada de cada novo hóspede exigia uma reorganização das tigelas e pratos já nas mesas.

Jessy fez uma pausa para enxotar uma mosca longe da borda de um prato coberto de celofane. Com o canto do olho, ela notou uma pequena mão atingindo a bacia de batatas-chip.

— Não lanche antes da refeição. — Ela advertiu rápida ao intervir. Em reuniões daquele tamanho, todos eram parentes e as crianças eram de todos.

— Mas eu estou com fome. — O menino Simmons fez uma careta em protesto.

— Pegue uma cenoura. — Ela pegou uma tira de uma das muitas bandejas de picles e lhe entregou.

Ele a pegou, murmurou um "obrigado" descontente e saiu não muito feliz com uma cenoura, mas decidiu que seria o melhor que poderia fazer. Jessy automaticamente examinou a multidão para um vislumbre dos gêmeos. Rapidamente descobriu Trey girando a corda a alguns metros de Chase. Desde que Chase havia retornado Trey raramente o deixava fora de suas vistas.

O olhar de Jessy fez outra varredura sobre a área, mas não conseguiu localizar Laura entre a dispersão de cabeças loiras. Se Trey tivesse saído, ela não se surpreenderia, mas Laura não costumava vaguear para fora.

Decidindo que ela deveria estar em algum lugar ao redor do gazebo, Jessy começou a olhar naquela direção e viu Amy Trumbo caminhando de volta para as mesas de comida. — Por acaso, você viu Laura? — Ela perguntou.

— Não, eu não vi. — Mas a pergunta levou Amy a começar a procurar por ela.

— Ali vem ela. — Apontou para a área leste do celeiro que fora transformada em um estacionamento.

Jessy virou seu olhar que se iluminou instantaneamente com os cachos loiros familiares de Laura quando ela alegremente pulou ao lado de Tara. Buck Haskell arrastava os dois, carregando uma grande cesta e um jarro isolado. Outros homens tinham arrastado suas esposas, carregados com pratos. No entanto, havia algo na maneira de Tara que deixou claro que aquele homem trabalhava para ela, tornando-a, assim, uma rival com a simples entrada. Como de costume, Tara parecia um manequim de alta moda em óculos escuros de grife e um vestido de estilo, seus cabelos pretos lustrosos longe de seu rosto e presos na nuca; no pescoço um cachecol de chiffon diáfano. E lá estava Laura, tendo tudo aquilo. Jessy se perguntou como a mulher teve a ousadia de aparecer no churrasco depois de tudo que ela tinha feito para minar sua posição. Mas o fel era algo que Tara tinha em abundância.

— Que festa maravilhosa, Jessy. — Tara fez um levantamento real da cena. — Tem anos desde que o local foi tão decorado e festivo. Isso me faz lembrar todas as festas que Ty e eu costumávamos fazer aqui.

— Você vai encontrar um presente muito mais simples. Nós não importamos um chef ou contratamos uma equipe de categoria para isso. O trabalho foi entregue sem problemas, mas eficaz da mesma forma.

— Que pena. — Tara falou com doçura ácida. — Se soubesse do retorno de Chase teria mandado um esforço bem especial.

— Neste caso, são os vaqueiros que estão dando a festa. E eles estão fazendo isso com seus corações, não com suas carteiras. Isso torna tudo muito mais especial. — Jessy informou-a.

— O que é algo que nunca entendi muito bem. Considerando que você sempre faz, não é? Afinal, você nasceu e foi criada aqui. — O sorriso de Tara era todo açúcar.

Mas Jessy deu pouca atenção a ele. Laredo havia se mudado para sua linha de visão. Com uma inclinação elevada de sua cabeça, ele sinalizou que Markham tinha chegado. Jessy olhou em direção ao celeiro da fazenda, procurando localizá-lo. Ela foi rápida para achá-lo. Nunca se misturava, Monte usava uma nítida camisa polo branca, bermudas de cor cáqui, meias, sapatos combinando, e óculos de aviador, traje que garantia que iria se destacar no mar de chapéus de cowboy, calça jeans e botas. Novamente Monte carregava o mesmo cesto de grandes dimensões que tinha trazido para o piquenique, alguns dias antes.

— O que é isso? — Curiosa para saber o que tinha e chamava a atenção de Jessy, Tara se virou para olhar. — É Monte. — Erguendo a mão, ela acenou alegre. Quando ele alterou seu curso em direção a eles, Tara murmurou para Jessy. — Que bom que você também convidou alguém civilizado.

Cansada dos insultos comerciais com a mulher, Jessy ignorou o comentário e se concentrou em Monte. A nova tensão amarrada aos seus nervos. Após a habitual troca de cumprimentos, que Tara conseguiu monopolizar, Monte examinou a multidão. — Onde está o nosso convidado de honra?

— A última vez que o vi ele estava pelos choupos falando com o Garvey. — Jessy assentiu com a cabeça naquela direção geral.

— Eu o vejo. — Monte confirmou.

— Não é incrível tê-lo conosco novamente? — Tara disse. — Eu sei que todo mundo está muito aliviado por ele estar mais uma vez encarregado do rancho. — Ela olhou incisivamente para Jessy. — Bem, talvez não todos. Afinal, Jessy perdeu o emprego. Mas eu tenho certeza que ela irá se ajustar a receber ordens de novo, em vez de ser a única a ordená-las.

— Estou certo que Jessy terá uma adaptação fácil. — Monte afirmou, com a indiferença total.

— Claro. — Murmurou Tara, deixando claro que ela mantinha seu ceticismo. Com a cabeça alta, ela se virou para Jessy. — Buck tem alguns itens que eu tinha pedido ao meu chef para preparar. Vou deixá-los com você. Mas vejo essas mesas que parecem ser estritamente de alimentos. Onde estão as bebidas?

— Bem ali. — Jessy fez um gesto para os barris de cerveja. — Há cerveja na torneira, e o tanque está preenchido com uma variedade de refrigerantes no gelo.

— Isso é tudo? — Tara conseguiu injetar uma grande quantidade de críticas na frase. Em um sotaque exagerado do Texas, ela acrescentou: — Querida, você não sabe que um churrasco não é completo sem um jarro de margueritas? Que sorte que eu trouxe um. — Ela fez uma curva graciosa esperando pacientemente por Buck Haskell. — Deixe-me o jarro para que eu possa entregar pessoalmente esta adição muito necessária para o bar. — Ele entregou-o aos seus cuidados sem uma palavra. — Vejo você logo, Monte, Tara prometeu e foi para longe, enquanto Amy Trumbo aliviava Buck dos outros itens que ele carregava.

— Tara está em boa forma hoje, não é? — Disse Monte secamente. — Mas o ciúme raramente permite que uma pessoa mantenha a sua língua.

— Não acho que eu vá comentar sobre isso. — Jessy respondeu consciente que sua observação era muito verdadeira, e incidiu sobre a cesta de piquenique. — Obviamente você trouxe mais comida para nós.

— Eu o fiz, na verdade. — Ele colocou o cesto no chão e começou a descarregá-lo, passando os pratos para Jessy. — Desta vez eu decidi trazer uma amostra de pratos tradicionais britânicos, incluindo a torta do pastor e alguns banger.

— Bangers? Que diabos é isso?

— Eu imagino que o equivalente americano seria salsichas.

— Elas devem ser um sucesso com as crianças. — Jessy murmurou momentaneamente distraída pela visão de Chase e Hattie à deriva em direção a área da churrasqueira.

— O homem com Jessy, o de calção, — Hattie olhou de relance para o par, tendo o cuidado de não o fitar — é o Markham?

— É ele. — Chase confirmou sem se preocupar em olhar.

— Laredo definitivamente não terá qualquer dificuldade em manter o controle sobre ele naquela roupa. Ele se destaca como uma haste de milho em uma plantação de algodão. — Hattie observou.

Chase riu baixo em sua garganta. — Ele faz isso.

Ela suspirou profundamente. — Ficarei feliz quando isso acabar.

Ele viu a preocupação em seus olhos. Começou a lhe dizer que tudo iria dar certo, mas Hattie não era uma mulher para ser levada por garantias vazias. Ela sabia que, assim como ele fazia, a vida não vinha com nenhuma garantia.

Em vez disso, Chase a pegou pelo braço e a conduziu em direção à grade, mantendo-a no sentido contrário da fumaça. — As carnes cheiram bem, não é?

Travando sua observação, Stumpy Niles se virou. — É melhor escolher um, chefe. Não temos marcas auriculares para marcá-lo, mas podemos queimar sua marca nele com um ferro de execução.

Chase congelou, não ouviu nada depois de "marcas auriculares." Houve um clique quase audível em sua cabeça, abrindo a porta a uma sala cheia de memórias.

— Está tudo bem, chefe? — Stumpy perguntou, preocupado com o olhar de Chase.

Chase piscou, e esperou, mas tudo aquilo ainda estava lá. — Eu estou bem, Stumpy. — Seu sorriso era tão legal quanto o determinado brilho em seus olhos.

— Você quer escolher um bife?

— Não há necessidade. É carne Calder. Não há um bife ruim naquela grelha. — A observação atraiu os sorrisos de orgulho dos vaqueiros que equipavam a grelha, mas Chase não ficou por ali para conversar com eles. Em vez disso, se afastou, com seu olhar digitalizando a multidão até que localizou Laredo.

— Você se lembrou de algo, não é? — Hattie adivinhou.

— A única coisa maldita que me iludiu todo esse tempo. — Levantando uma mão, ele fez um gesto para Laredo acompanhá-lo.

— Você vê Logan?

— Não. — Mas Hattie começou a procurar por ele.

— O que você precisa Chase? — Laredo parou ao lado dele e manteve seu olho em Markham, que ainda estava colocando as comidas nas mesas e conversando com Jessy.

— Eu acho que acabei de me lembrar o que é isso tudo. — Chase disse a ele. — Quando eu estava verificando Markham para George Seymour, eu tinha duas pessoas diferentes me dizendo que eles possuíam o mesmo curral de gado. Markham tinha intermediado o negócio para ambos. Havia uma pasta no carro alugado que tinha uma lista de marcas auriculares. O banqueiro no Texas tinha feito o empréstimo em um dos negócios. Eu queria comparar a minha lista com a que ele tinha dado como prova de garantia para ver se elas combinavam. Eu queria ter a certeza dos meus fatos antes de confrontar Markham.

— E ele travou o vento de alguma forma. — Laredo supôs. — Parece um golpe e tanto, vendendo o mesmo gado para duas partes diferentes.

— Meu palpite é que aquela não era a primeira vez. — Disse Chase. — Mais do que provavelmente era uma espécie de negócio de pirâmide. Um esquema de Ponzi, eu acho que é como eles o chamam.

— Ponzi. — Uma risada borbulhava na garganta de Hattie. — Essa é a palavra que você estava tentando lembrar. Não Carlo Ponti.

Laredo franziu a testa. — Do que você está falando?

Ainda sorrindo, Hattie balançou a cabeça, descartando o assunto. — Nada de importante, apenas uma conversa privada entre Duke e eu.

Ele tomou sua palavra. — Melhor rastrear Logan e dizer-lhe o que você lembrou. — Ele disse para Chase, sua atenção mais uma vez dirigida a Markham. — Lá vai ele. — Observou, já mudando para a ação. — Parece que voltou para seu Range Rover. Vou atrás para ter certeza. Vá encontrar Logan. — Disse ele novamente e se afastou.

Com cuidado para ficar bem atrás de Markham, Laredo definiu um rumo inclinado em uma direção um pouco diferente ainda mantendo Markham em seu campo de visão. Ele fez uma análise rápida dos veículos, tentando identificar onde Markham havia estacionado. Tão tarde quanto Markham tinha chegado, Laredo duvidava que ele tivesse encontrado um lugar perto do local do churrasco. Mais do que provável teria sido em algum lugar no pátio do rancho.

Laredo entrou no labirinto de picapes estacionadas, satisfeito apenas em vislumbrar Markham. Ele não viu Markham observando em volta para ver se estava sendo vigiado. O homem simplesmente continuava andando carregando o cesto de grandes dimensões, sem pressa aparente para alcançar seu veículo.

Como Laredo suspeitava, Markham se virou para a linha de picapes estacionada em frente ao celeiro e em segundos o perdeu de vista. Só então Laredo acelerou o passo, mas era uma coisa automática, não feita com qualquer senso de urgência. Quando empatou com o local, olhou para baixo da linha. O Range Rover de Markham era o quarto veículo a partir do final. Laredo foi em direção geral de uma caminhonete azul estacionada além dele perto do curral. Continuou lançando olhares na passagem estreita do lado do motorista do Range Rover, tentando avistar Markham. Quanto mais se aproximava, mais se tornava inquieto. Markham não estava lá, não no veículo ou em qualquer lugar perto dele.

Laredo sombriamente digitalizava toda a área. Não havia ninguém ao redor, exceto dois meninos carregando varas de pesca em uma caixa. O que deixava apenas o celeiro como um lugar onde Markham pudesse estar. Esse sentimento inquieto se transformou em um medo de pleno direito que se manifestou como uma espécie de raiva. Laredo amaldiçoou amargamente em silêncio, dividido entre querer advertir Chase e parar Markham. O instinto lhe disse que não havia tempo suficiente para chegar a Chase. Sabendo que só tinha uma escolha, tirou a pistola de sua bota.

Gritou para os dois meninos: — Procurem Logan e tragam-no rápido. Digam-lhe que temos problemas. — Parados, eles o olharam com os olhos arregalados para a arma em sua mão. — Andem! — Laredo ouviu a caixa de equipamento cair no chão, mas eles não pararam antes de decolar. Ele se mudou para o lado da porta e entrou. Não havia luzes acesas, deixando o interior com uma escuridão sombria.

Deu um passo para o lado e ouviu o silêncio assustador. Markham devia estar em algum lugar na parte traseira, mas onde?

Colando-se perto das barracas, Laredo começou a se mover ao longo do corredor, constantemente analisando as sombras e a parte superior do celeiro. Seus sentidos aguçados ampliavam cada som ou sussurro de sua roupa com o martelar de seu pulso. Havia muitos lugares para Markham se esconder no maciço e antigo celeiro. Laredo sabia que estava correndo contra o tempo para encontrá-lo.

— Eu sei que você está aqui, Markham! — Ele ergueu a voz, deixando-a ecoar através das vigas de madeira. Laredo se esforçou para ouvir algum som que traísse a localização de Markham, mas tudo que ouviu foi um leve arranhão, vindo de algum lugar à esquerda. — Desista, Markham! Mesmo se você chegar a Chase terá que passar por mim!

Houve um leve som misturado com um espaço de silêncio. A sala de aderência. Laredo se lembrou que havia uma janela que dava vista para o rio e o local do churrasco.

Laredo caminhou em direção a ela, afundando cada vez mais nas sombras que escondiam a parede oposta. Markham deveria estar suando agora. Determinado a aumentar a pressão, Laredo chamou novamente, — Mesmo se você tiver sorte e passar por mim, Logan estará esperando por você. Chase recordou tudo. Agora Logan já ouviu a história toda. E nós dois sabemos que a balística irá conferir a bala que retiraram de O' Rourke com a do seu rifle. Você está acabado, Markham.

Ele ainda estava em meio do caminho quando a porta se abriu raspando. Simultaneamente com o focinho da arma foi o som reverberante de um rifle de alta potência. Quase no mesmo instante em que Laredo apertou o gatilho, uma placa de três polegadas acima de sua cabeça explodiu em uma chuva de estilhaços. O rifle caiu ruidosamente através do corredor de concreto.

O repentino silêncio foi ensurdecedor. Tufos de pólvora pairavam no ar, com seu odor acre misturado com o cheiro do feno.

Laredo manteve a arma apontada para o homem de pernas nuas, deitado imóvel em frente ao limiar da sala de aderência. O suor escorria do rosto de Laredo, e os seus ouvidos ainda soavam com o som estrondoso do rifle enquanto sua respiração superficial corria rápida. Ele caminhou para fora. A porta do lado do celeiro se abriu, deixando entrar uma longa inundação de luz. Laredo rodou quando Logan se abaixou para dentro com a arma pronta.

— Está tudo bem, Logan. — Laredo levantou sua arma em direção ao céu. — Acabou.

Ainda cauteloso Logan saiu das sombras e lentamente se aproximou do corpo.

Ele chutou o rifle para bem longe do alcance, abaixou-se ao lado de Markham, e verificou o pulso.

Endireitou-se. — Ele está morto.

— Eu não posso dizer que sinto muito. — Laredo se juntou a ele quando Logan olhou para a sala de aderência.

No topo da cesta de piquenique estava uma caixa de madeira com partes desmontadas do rifle. Vendo-a, Laredo comentou: — Quer apostar que o cesto tem um fundo falso?

— Não, obrigado. Eu não gosto das probabilidades.

Logan se afastou da porta e olhou para a arma na mão de Laredo.

Depois de um instante de hesitação, Laredo a entregou, a coronha em primeiro lugar. — Eu imagino que você vai precisar disso. Essa placa caída ali irá lhe dizer que foi um caso claro de autodefesa.

— Eu sei. Eu ouvi você gritando para atrair o fogo de Markham. — Logan segurava a arma, por um momento indeciso, depois estabilizou seu olhar em Laredo. — Suponho que ela não esteja registrada.

— Não é pouco. — Ele respondeu secamente.

— Isso foi o que eu pensei. — Logan a enfiou no cós da calça jeans. — Pode ser um pouco mais fácil eu explicar o que estava fazendo com uma arma de fogo não registrada do que seria para você, considerando que você não estava aqui quando o tiroteio ocorreu. Certo?

— Há dois meninos que poderiam contar de forma diferente, — Laredo lembrou — embora eu lhe seja grato pelo gesto.

Ambos sabiam que seu passado não iria sobreviver a um exame minucioso. Mesmo que os disparos fossem governados para serem justificáveis, não haveria provavelmente papéis de extradição esperando por ele.

— Esses são meninos do Triplo C. Eles não dirão uma palavra. — Logan lhe disse. Balançou a cabeça em direção à porta. — Vá em frente. Saia daqui, e conte para Chase o que aconteceu.

Quarta Parte

O vento mudava em golpes suaves e frescos,

E uma vez mais as regras Calder dominavam.

Epílogo

O rebanho de cavalos percorreu um elevado nas planícies, os casacos de verão elegantes ondulando com força no sol da manhã. Com Hattie ao seu lado, Chase sentou em cima do muro, os saltos das botas usadas em um trilho inferior. Em ambos os lados deles estava um dos irmãos gêmeos.

— Ali vêm eles, vovô! — Muito animado para ser atendido ocupando o topo dos trilhos, Trey levantou-se para apontar para o rebanho que se aproximava.

— Eu os vejo. — Era algo que Chase havia testemunhado inúmeras vezes em sua vida, mas era novidade para aqueles três, lhes permitindo desfrutar o espetáculo através de seus olhos.

— Olhe para todas as cores, vovô. — Laura ficou maravilhada, olhando com olhos arregalados para a mistura brilhante de baias, cinzas e buckskins.

— O que é uma visão. — Exclamou Hattie quando a batida dos cascos chegou até eles, o som como um trovão baixo. — Estou feliz por você insistir para eu vir assistir.

Seu olhar se moveu para o lado sobre ela com carinho íntimo. — Eu não queria que você passasse todo o seu tempo na cozinha quando sugeri que fizesse a arte culinária na Casa Grande.

— O que você vai fazer com todos aqueles cavalos, vovô? — Laura franziu a testa curiosamente enquanto o rebanho corria na direção dos portões abertos para o grande curral, acompanhado por um quarteto de cavaleiros.

— O tempo do rodeio está para começar. Vamos precisar dos cavalos extras para preencher a sequência de cada cavaleiro. — Mas a sua resposta passou por cima de sua cabeça, exigindo uma explicação adicional.

No momento em que ele terminou, o último dos cavalos trotou no curral e as portas foram fechadas. Dois dos cavaleiros desceram longe das portas e rodearam para se juntar a eles.

— Oi, mãe. Oi, Laredo. — Trey apressando-se na saudação. — Da próxima vez eu posso ajudar a conseguir os cavalos? Eu e Joe poderíamos fazê-lo.

— Vamos ver. — Jessy respondeu.

Trey tomou aquilo como um "sim". — Yuppii! — Ele gritou e se lançou de cima do muro. — Vamos, Laura. Vamos olhar para os cavalos.

Hattie assistiu a corrida do par ao grande curral. — Oh, estão com muita energia novamente.

— Chega de ter uma memória fraca, não é? — Laredo brincou, mas sua expressão era muito mais grave quando dirigiu sua atenção para Chase. — Eu vi Logan vir mais cedo. O que ele queria?

— Ele parou para me dar uma atualização sobre o que descobriram até agora sobre o alcance da operação de Markham. A notícia da morte de Monte tinha causado uma enxurrada inicial de manchetes que se apagaram em poucos dias. A investigação em curso sobre as suas atividades tinha atraído pouca atenção da mídia, mas as ramificações que foram provando atingiram muito mais atenção. Os números que têm direito indicam agora que Markham supostamente vendeu perto de 150 mil cabeças de gado. Até agora, eles localizaram cerca de trinta mil. O que deixa mais de cem mil cabeças faltando, em um valor de cerca de cinquenta milhões de dólares. E isso pode ser apenas a ponta do iceberg.

Laredo assobiou quando ouviu a quantia dos dólares. — Não admira que ele estivesse tão ansioso para calar você.

— O que o fazia pensar que poderia fugir com tudo? — Essa era a parte que Jessy não entendia.

— Ele o fez durante pelo menos os últimos sete anos, sem ninguém ficar desconfiado. — Chase respondeu. — Talvez até mais do que isso.

— E sobre o tiroteio? Alguém já questionou isso? — Laredo perguntou com certa cautela.

Apenas três pessoas sabiam das circunstâncias exatas: Logan, Chase e Laredo. E esse era o modo como Chase queria que ficasse. — Sempre que um funcionário estiver envolvido em um tiroteio haverá uma investigação. Logan explicou o que aconteceu e as provas serão levadas para fora.

— Fico feliz em ouvir isso. — Jessy foi muito sábia nos caminhos de um Calder em não ler entre as linhas e adivinhar a história real. Mas ela também era sábia o suficiente para não perguntar. Entendia que não seria necessário saber a verdade dos fatos. — Então finalmente acabou, não é? — Jessy disse.

— Acabou. — Chase confirmou. — Você sempre me dizia que estava ficando para sempre, Laredo. Eu espero que saiba que tem uma casa aqui o tempo que quiser. Mas isso é você quem irá decidir.

Quando Laredo não respondeu imediatamente, Jessy sentiu um aperto no peito. Ela queria falar e insistir em que ele ficasse, mas não era tola o suficiente para acreditar que poderia segurá-lo se ele quisesse sair. Então esperou por sua resposta, tensa, e se preparou para o pior.

Laredo inclinou a cabeça para a brisa fresca que vinha do Norte. — Se eu chegar imediatamente, conseguirei a cabana com isolamento antes dos jogos do inverno.

O alívio subiu por Jessy e ela o cobriu com uma risada de surpresa. — Você não tem que ficar lá. — Ela protestou.

— Combina com um solteirão como eu, tranquilo e pacífico, longe de olhares indiscretos. — Havia um brilho nos olhos azuis quando Laredo olhou para ela, do tipo que fazia seu coração pular um pouco mais rápido. Ele acrescentou quase como um aviso: — E, com certeza eu não pertenço a casa. — Balançou a cabeça em direção à grande casa branca que dava para o conjunto da sede do Triplo C.

Era sua maneira de se certificar que Jessy não teria falsas expectativas sobre o que o futuro poderia trazer para eles. Ela entendeu que provavelmente não seria incluído o casamento não por causa de seu orgulho, mas por causa de seu passado.

Jessy dirigia sua resposta para Chase. — É o melhor plano para ter uma estrada construída para o Ninho do Javali assim que pudermos ter uma tripulação nela.

— Boa ideia. — Chase concordou. — Enquanto isso, você precisa se juntar a nós no jantar desta noite para uma pequena celebração, Laredo. No início desta manhã, recebi um telefonema do meu advogado.

— Não me diga. — Jessy interrompeu. — Os tribunais estão declarando que você está legalmente vivo?

— Na verdade, eles o fizeram, mas estava ligando para me informar que concluíram a pesquisa do título e confirmaram que Seth Calder foi um ex-proprietário do rancho de Hattie no Texas. — Chase explicou. — Ela concordou em vendê-lo para mim e colocá-lo sob a marca Calder novamente. Dessa forma, ela não pode me acusar, mais tarde, de me casar com ela para colocar minhas mãos nele.

Jessy estava muito chocada com a sua decisão de comprar o rancho e com o significado de seu último comentário para registrá-lo. — Você está falando sério? Você realmente vai comprá-lo? Eu achava que o dia de um Calder voltar para o Texas nunca iria chegar.

— Então talvez seja a hora. — Ele olhou de soslaio para Hattie, seu sorriso vivo com calor e diversão compartilhada.

 

 

                                                                                                    Janet Dailey

 

  

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