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AS CONFISSÕES DO SENHOR HARRISON/Elizabeth Gaskell
AS CONFISSÕES DO SENHOR HARRISON/Elizabeth Gaskell

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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O fogo estava queimando brilhantemente. Minha esposa acabara de subir para colocar o bebê no berço. Charles sentou-se em minha frente, com semblante calmo. Estávamos certos de passar algumas semanas sob o mesmo teto, uma coisa que nunca tínhamos feito desde que éramos meros garotos. Eu estava quieto, com preguiça de falar, então, calado, comi nozes e olhei para o fogo. No entanto, Charles estava inquieto.
— Agora que sua esposa subiu, Will... Você pode me dizer o que perguntei quando cheguei nesta manhã em sua? Conte-me tudo! Quero saber como conseguiu uma esposa tão encantadora. Suas cartas deram os detalhes mais importantes. Mas queria ouvi-las!
— Se eu contar tudo, será uma longa história!
— Não me importo. Se me cansar, posso ir dormir, e sonhar que estou de volta, um solteiro solitário em nossos bons tempos...
— Bem...
Era uma vez, um galante jovem solteiro que estava muito intrigado em que lugar se estabelecer após completar seus estudos e se tornara cirurgião. Devo falar em primeira pessoa, porque é sobre a minha vida.
Andei pelos hospitais, quando você, Charles, foi para Ceilão[1], e, se você lembra, eu queria ir para o exterior como você, pensando em me oferecer para ser cirurgião nos navios, mas, descobri que eu perderia a casta devido à minha profissão, mas eu não tinha nenhuma, de fato.
Hesitei, e, enquanto eu estava balançando entre a dúvida, recebi uma carta do primo do meu pai, o Senhor Morgan, aquele velho, que costumava escrever cartas tão longas para dar conselhos à minha mãe, e que me deu uma nota de cinco libras, quando concordei em ser aprendiz do Senhor Howard, em vez de ir para o mar.
Bem, parece que o velho pensara o tempo todo em me tornar seu parceiro de trabalho, porque me saía muito bem em tudo que fazia. E, como ele ouviu um belo relato sobre mim, pela boca de um velho amigo dele, que era um cirurgião em Guy, ele escreveu para propor um acordo.
Eu teria um terço dos lucros por cinco anos, em seguida, metade, e depois, o sucesso se encarregaria do resto.
Não foi uma oferta ruim para um homem sem dinheiro como eu. O Senhor Morgan trabalhava na capital, e, embora eu não o conhecia pessoalmente, formei uma ideia muito boa sobre ele, como um honorável, bondoso, inquieto e solteiro intrometido. Realmente eu estava correto e isso se confirmou na primeira meia hora após vê-lo.

 


 


Pensei que eu ficaria hospedado em sua casa, já que ele era solteiro e amigo da minha família. Creio que ele estava com medo disso, pois, quando subi até a porta de sua casa, com o porteiro carregando minha maleta, ele me encontrou nos degraus, e, enquanto ele segurou minha mão e apertou, disse ao porteiro:

— Jerry! Espere um momento, o Senhor Harrison está pronto para ir com você para seus alojamentos, no Jocelyn, você sabe! — então, voltando-se para mim, dirigiu-se às primeiras palavras de boas-vindas.

Eu estava um pouco inclinado a pensar que ele era inóspito, mas entendi melhor depois.

— Jocelyn... — começou ele. — É o melhor lugar que fui capaz de encontrar, devido à febre tifoide, na parte mais antiga da cidade. Penso que você vai ficar confortável lá, por uma ou duas semanas. Tomei a liberdade em pedir à minha governanta para enviar uma ou duas coisas que dão ao lugar um pouco mais do aspecto caseiro, uma cadeira, mesa e alimentos que costumamos comer aqui. Mas, se você aceitar o meu conselho, tenho um plano que falarei amanhã de manhã. No momento, não quero mantê-lo aqui, de pé nos degraus, então, não vou detê-lo por mais tempo, vá para a pousada, onde minha governanta vai levar um chá para você.

Tentei entender a ansiedade do velho senhor sobre a preocupação em torno de sua saúde, que ele colocou sob cuidado, assim como a minha, uma vez que ele tinha um casaco cinza, e nenhum chapéu em sua cabeça. Me perguntei o motivo dele não conversar comigo dentro da casa e me segurando nos degraus.

Acredito, afinal, que cometi um erro em supor que ele estava com medo de tomar resfriado, ele só tinha medo de ser visto desarrumado, e, por sua aparente inóspita, já que vivendo pouco tempo em Duncombe, entendi o conforto em ter uma casa considerada um castelo, na qual ninguém se intrometeria, e vi uma boa razão para a maneira como o Senhor Morgan estabelecera em vir à sua porta para falar com os visitantes.

Foi só o efeito do hábito que o fez me receber assim. Em pouco tempo, eu podia andar livre em sua casa.

Havia todos os sinais de atenção gentil e premeditada por parte de alguém, a quem eu não podia duvidar que fora mandada pelo Senhor Morgan, em meus alojamentos.

Eu estava cansado e não quis arrumar minhas coisas naquela noite. Sentei perto da pequena janela de arco redondo, projetado sobre a loja de Jocelyn, olhando para cima e para baixo da Rua Duncombe que era considerada cidade, mas eu chamaria de vila.

Realmente, olhando de Jocelyn, era um lugar muito pitoresco. As casas eram tudo, menos regulares, com seus rústicos detalhes, bonitas em sua maneira peculiar. As casas não tinham essa frente plana, que muitas cidades possuem. Aqui e acolá, uma janela de arco, de vez em quando, uma empena, cortando-se contra o céu, e, ocasionalmente, um andar superior projetando, lançando um bom efeito de luz e sombra ao longo da rua.

Eles tinham um modo estranho e peculiar de colorir o branco de algumas casas, com uma espécie de tom rosa, feito papel manchado ou pedra da qual Mayence era construída, que qualquer outra coisa. Parecia de mau gosto, mas para mim, dava um rico calor à rua.

Então, aqui e acolá, uma casa tinha sua entrada, com um pouco de grama em cada lado da trilha que levava até à porta, e uma grande árvore ou duas, de limões ou castanhas, que enviavam seus grandes galhos superiores para abraçar a rua, fazendo locais de abrigo secos na calçada, em tempos de chuvas de verão.

Enquanto eu estava sentado na janela de arco, pensando no contraste entre este lugar e as pousadas no coração de Londres, que eu deixara apenas doze horas antes, senti, embora no centro da cidade, o exalar do cheiro das caixas de mignonette[2] no peitoril das janelas, em vez da poeira e fumaça da rua.

O único som ouvido nesta rua principal, eram as vozes das mães, chamando seus filhos que brincavam, e o sino das oito horas, da antiga igreja paroquial, que lembrava o toque de recolher. A porta se abriu, e a pequena empregada, soltando uma cortesia, disse:

— Com licença, senhor! A Senhora Munton ficaria feliz em saber como você está, depois de sua jornada.

Por que a pergunta? Será que algum amigo querido que no Guy pensara em fazer tal coisa?

A Senhora Munton, cujo nome eu nunca ouvira falar antes, estava, sem dúvida, sofrendo ansiedade até que eu afirmasse, enviando de volta, a palavra de que eu estava muito bem.

— Meus cumprimentos à Senhora Munton. Estou muito bem! Muito obrigado!

Eu devia falar tais palavras para que um simples muito bem não destruísse o interesse que a Senhora Munton evidentemente sentia por mim.

Ah! A Senhora Munton! Doce Senhora Munton!

Talvez, a Senhora Munton fosse jovem, bonita, rica e viúva. Esfreguei minhas mãos, retomando meu posto de observação, começando a me perguntar em que casa a Senhora Munton morava.

Mais uma vez o pequeno toque, e a pequena empregada falou:

— Com licença, senhor! A Senhorita Tomkinson, ficaria feliz em saber como você se sente, depois de sua jornada.

Não sei o motivo, mas o nome Senhorita Tomkinson não tinha tal auréola como a Senhora Munton. Ainda assim, achei gentil que a Senhorita Tomkinson também perguntasse sobre o meu estado. Eu só queria não me sentir tão perfeitamente robusto e mimado.

Me senti envergonhado por não poder enviar a palavra, da mesma maneira que enviei para a Senhora Munton, porque eu estava bastante exausto e desmaiara duas vezes desde a minha chegada.

Se não bastasse a enorme dor de cabeça. Soltei uma respiração profunda, para verificar se meu peito estava em perfeita ordem. Eu não pegara nenhum resfriado, então, respondi novamente:

— Agradeça à Senhorita Tomkinson. Estou cansado!

A pequena Sally mal descera, e voltava, brilhante e sem fôlego:

— Os cumprimentos do Senhor e da Senhora Bullock, senhor, e eles esperam que você esteja muito bem, depois de sua jornada.

Quem esperaria tal bondade de um nome tão pouco próspero? O Senhor e a Senhora Bullock eram menos interessantes, é verdade, que seus antecessores, em suas perguntas sobre como me sentia, mas graciosamente respondi:

— Meus cumprimentos para o Senhor e a Senhora Bullock. Um descanso de uma noite vai perfeitamente me recuperar.

A mesma mensagem foi trazida de um ou dois corações mais desconhecidos. Realmente corei e estava com medo de desapontar a cidade de coração terno, quando eles percebessem o que eu realmente era.

Fiquei envergonhado em confessar o grande apetite, quando Sally veio para perguntar o que eu queria para o jantar. Bifes eram tão tentadores, entretanto, talvez eu pediria um mingau, e ir para a cama.

Eu sentia a euforia tão gentil dos espíritos, como é a marca da atenção da cidade, dada a cada um, quando eles chegam depois de uma viagem.

Outras pessoas enviaram a mesma pergunta, mas Sally poupou me e elaborou respostas interessantes, sem precisar me consultar.


Capítulo 2


Na manhã seguinte, o Senhor Morgan veio antes que eu terminasse o café da manhã. Ele era o homenzinho mais elegante que já conheci. Via o carinho com que as pessoas se agarravam ao estilo, que estava em voga, recebendo assim, a maior admiração.

Ele não estava disposto a acreditar que sua juventude e beleza o deixaram, pensando sempre em se manter em um estilo atual. O Senhor Morgan segurava seu estilo em um casaco e seus bigodes, contudo, nutria o queixo bem barbeado, exibindo seu casaco preto e calça cinza-escuro. Era assim que ele saía para a rodada matinal de visitas aos seus pacientes da cidade. Ele, invariavelmente, usava as mais brilhantes e negras botas hessianas, com um tassel de seda, pendurado em cada lado.

Quando ele voltava para casa, perto das dez horas, para visitar seus pacientes mais distantes, ele colocava suas botas, as mais longas que já vi, que ele recebera de ótimo sapateiro, a uns 160 km de distância.

Sua aparência era o que chamamos de honesta, não há outra palavra que possa ser usada para descrevê-lo.

Ele estava, evidentemente, um pouco desajustado quando me viu no café da manhã, com os hábitos que trouxe comigo, frente os companheiros no Guy.

Meus pés contra a lareira, minha cadeira equilibrada em suas pernas traseiras, um hábito de sentar, que depois descobri que ele particularmente abominava, chinelos em meus pés, que, também, ele considerou um pedaço do meu estilo, muito indelicado, porque chinelos serviam apenas para o quarto. Em suma, pelo que aprendi depois, todos os preconceitos que ele tinha ficaram indignados com a minha aparição em sua primeira visita.

Coloquei meu livro para baixo e surgi para recebê-lo. Ele ficou de pé, chapéu e bengala na mão.

— Vim perguntar se seria conveniente para você me acompanhar na minha rodada matinal, e ser apresentado para alguns de nossos amigos.

Detectei o pequeno tom de frieza, induzido por sua decepção com a minha aparência, apesar que ele não imaginara ser de alguma forma perceptível.

— Vou estar pronto rapidamente, senhor! — afirmei, correndo para meu quarto, muito feliz por escapar do olho de meu examinador.

Quando voltei, fiquei ciente, por tosses e ruídos hesitantes, que minhas roupas não o satisfaziam. Eu estava como de costume, chapéu e luvas na mão, todavia, ele não se ofereceu para partir em nossa rodada de visitas. Voltei para o quarto e troquei de roupa. Por fim, ele falou:

— Desculpe-me, meu querido jovem amigo! Mas posso perguntar se você não tem outro casaco, além desse que parece que fora cortado ao meio? Somos bastante defensores do decoro. Acredito que em Duncombe, tudo depende de uma primeira impressão. Que seja profissional, meu caro, senhor! Preto é o traje da nossa profissão. Perdoe-me por estar falando tão claramente, mas me considero in loco parentis[3].

Ele era tão gentil, brando, e, na verdade, amigável, que senti que seria muito infantil de minha parte me ofender, porém, guardei um pouco de ressentimento em meu coração, pela maneira como fui tratado. Assim, murmurei:

— Oh! Certamente, senhor! Vou me trocar!

Voltei, mais uma vez, para trocar meu casaco, meu pobre casaco cortado.

— Esses casacos, senhor, dão para o homem um pouco de aparência esportiva, não muito condizente com a profissão da medicina. Quando anda com casacos assim, todos vão pensar que veio aqui para caçar, e não para exercer a medicina. — ele sorriu graciosamente.

Sufoquei um suspiro, uma vez que, para dizer a verdade, ele não estava errado e, de fato, me vangloriava em Guy, pelas corridas de cães que participava. Eu sabia que em Duncombe havia em um famoso distrito de caça. Mas, todas essas ideias foram bastante dispersas, quando o Senhor Morgan me levou para o pátio de pousada, onde havia um negociante de cavalos a caminho de uma feira vizinha, e ele fortemente me aconselhou, que em nossas circunstâncias relativas, era melhor comprar um útil, de trote rápido, como um cob[4] marrom, em vez de um bom cavalo vistoso, que pularia qualquer cerca que eu o colocasse, como o negociante de cavalos me garantiu.

O Senhor Morgan ficou evidentemente satisfeito quando me curvei à sua decisão, e desisti de todas as esperanças de uma caçada ocasional.

Depois desta compra, ele se sentiu mais confortável em conversar comigo. Ele me contou seu plano de me estabelecer em uma casa, que parecia mais respeitável, para não dizer profissional, que estar em alojamentos. Afirmou que ele perdera recentemente um amigo, um irmão cirurgião, em uma cidade vizinha, que deixara uma viúva com uma pequena renda, e ela ficaria feliz em nos ajudar.

— Ela é uma mulher respeitosa. — ponderou Morgan. — Ao julgar, a partir do pouco que vi dela, sua idade ronda a casa de quarenta e cinco primaveras ou mais. Ela pode realmente ser de alguma ajuda para você, nas etiquetas de nossa profissão, as pequenas atenções delicadas, que todo homem tem que aprender, se ele deseja seguir na vida. Ela se chama Senhora Munton, senhor! — disse ele, parando em uma porta verde muito pouco natural, com um batedor de latão.

Não tive tempo para perguntar quem é a Senhora Munton, porque estávamos diante da casa dela e seguimos o servo velho, até as escadas estreitas com carpetes, que levava até a sala de visitas.

A Senhora Munton era viúva de um vigário, acima de sessenta. Ela era quase surda, mas, como todos os surdos que já vi, muito gostava de falar. Ela estava doente de uma queixa crônica, que, muitas vezes, a incapacitava de sair, mas as pessoas gentis da cidade tinham o hábito de visitá-la e sentar com ela, e de trazer-lhe o mais novo e fresco rumor das notícias, de modo que seu quarto era o centro das fofocas de Duncombe, não de escândalo, pois, faço uma distinção entre fofoca e escândalo.

Agora você pode imaginar a discrepância entre o ideal e a verdadeira Senhora Munton. Em vez de qualquer noção tola de uma bela viúva florescente, ternamente ansiosa sobre a saúde do estranho, vi uma mulher falante, com um olho atento e marcas de sofrimento em seu rosto, simples em suas vestes, mas ainda inequivocamente uma senhora.

Ela falou com o Senhor Morgan, mas olhou para mim. O Senhor Morgan me irritou com sua ansiedade em me apresentar, e ela se alegrou, sabendo bem que o jornaleiro da cidade não tinha mais oportunidades de publicar tudo sobre mim, porque isso estava em seu encargo.

— O que foi essa observação que você repetiu para mim sobre o Senhor Astley Cooper? — perguntou ele.

Fora o discurso mais trivial do mundo que eu falara para o Senhor Morgan enquanto caminhávamos até a casa dela, e me senti envergonhado em ter que repeti-lo, mas respondi ao propósito do Senhor Morgan, e antes da noite chegar, toda a cidade ouvira que eu era o aluno favorito de Senhor Astley, mesmo eu o vendo apenas duas vezes na minha vida.

O Senhor Morgan estava com medo, que assim que todos soubessem o meu valor, eu seria retido pelo Senhor Astley para ajudá-lo em suas funções como cirurgião da Família Real. Cada pequena circunstância foi pressionada na conversa, que aumentaria minha importância, como uma vez ouvi o Senhor Robert Peel comentar com o Senhor Harrison, meu pai.

As luas em agosto são notavelmente cheias e brilhantes. Se você se lembra, Charles, meu pai sempre teve orgulho porque ele vendia luvas para o Senhor Robert, quando ele estava hospedado na Granja, perto de Biddicombe, e suponho que o bom Senhor Morgan fizera sua única visita ao meu pai nessa a época.

A Senhora Munton evidentemente olhou para mim com duplo respeito, após a observação incidental, que me diverti ao encontrar, alguns meses depois, disfarçada na declaração de que meu pai era um amigo íntimo do Primeiro-Ministro, e tinha, de fato, sido o conselheiro da maioria das medidas tomadas por tal ministro na vida pública.

Sentei-me, meio indignado e aborrecido. Porém, o Senhor Morgan parecia tão complacentemente satisfeito com todo o efeito da conversa, que não me importei em continuar as minhas explicações, e, de fato, eu tinha pouca ideia, na época, como pequenas conversas eram as sementes de grandes eventos na cidade de Duncombe.

Quando saímos da casa da Senhora Munton, ele estava em um humor comunicativo.

— Você vai achar um fato estatístico curioso, mas cinco sextos dos empregos em Duncombe, são de mulheres. Temos viúvas e velhas empregadas em abundância. Na verdade, meu caro senhor, acredito que somos quase os únicos cavalheiros no lugar, exceto, o Senhor Bullock, claro! Cavalheiros, quero dizer, homens profissionais. Cabe-nos lembrar, senhor, que muitas do sexo feminino dependem de nós para seu sustento.

A Senhorita Tomkinson, a quem depois chamamos, não me pareceu notavelmente exigindo proteção de qualquer homem. Ela era uma mulher alta, magra, de aparência masculina realmente, com um ar natural de desafio sobre ela. No entanto, ela suavizou e atenuou, tanto quanto ela era capaz, em favor do Senhor Morgan.

Ele, me pareceu, um pouco admirado pela senhora, que era muito brusca, falante e evidentemente despertou-se em sua decisão, de caráter e sinceridade de fala.

— Este é o Senhor Harrison, que ouvimos tanto você, Senhor Morgan, falar? Devo dizer, pelo que ouvi, que esperava algo um pouco mais... Mas ele ainda é jovem! Ele é jovem! Estamos todos acreditando que seja um Apolo, Senhor Harrison, pela descrição do Senhor Morgan, e um Esculapius combinado também, ou, talvez eu possa limitar-me a dizer Apolo, porque, acredito, ele era o deus da medicina!

“Como o Senhor Morgan teria me descrito sem me ver?” me perguntei.

A Senhorita Tomkinson colocou seus óculos, e os ajustou em seu nariz romano. De repente, relaxando a sua gravidade de inspeção, ela comunicou ao Senhor Morgan.

— Mas você deve ver Caroline! Eu tinha quase esquecido! Ela está ocupada com as meninas, porém, vou chamá-la. Ela teve uma dor de cabeça horrível ontem, e parecia muito pálida, isso me deixou muito desconfortável.

Ela tocou o sino, e pediu que o servo fosse buscar a Senhorita Caroline.

A Senhorita Caroline era a irmã caçula, mais jovem vinte anos, e assim, considerada uma criança pela Senhorita Tomkinson, que tinha cinquenta e cinco anos, no mínimo.

Se ela era considerada assim, também era acariciada e cuidada como tal, uma vez que fora deixada ainda bebê nas mãos da mais velha, quando o seu pai morreu.

A Senhorita Tomkinson assumiu todos os arranjos difíceis, e negou-se de todos os pedidos para colocar a pequena menina aos cuidados de pessoas estranhas, e fez todos os sacrifícios para que Carry não sentisse a mudança devido às circunstâncias.

Minha esposa me disse, que uma vez soube que as irmãs compraram um pedaço de seda, o suficiente, para fazer dois vestidos, mas Carry desejou outro, e sem uma palavra, a Senhorita Tomkinson desistiu de seu vestido para fazer como Carry desejava e ficara usando um velho vestido de veludo Genoa.

Isso diz qual relação existia entre as irmãs, e me considero capaz de nomeá-lo assim. Muito antes de descobrir a bondade real da Senhorita Tomkinson, tivemos uma grande briga.

A Senhorita Caroline parecia muito delicada, suave e sentimental ao entrar na sala, diferente da Senhorita Tomkinson, que era dura e tinha uma maneira de dizer:

“Oh! Irmã, como você pôde?” nos discursos surpreendentes dela. Falas estas que jamais gostei, especialmente porque foi acompanhado por uma espécie de olhar protestante, como se ela quisesse que entendêssemos que ela estava chocada com as maneiras de sua irmã.

Isso não era uma realidade rotineira entre elas. Um protesto em particular faria bem, vez ou outra, e de minha parte, comecei a gostar dos discursos e maneiras da Senhorita Tomkinson.

Sei que falei brevemente com a Senhorita Caroline quando ela perguntou se eu conseguia suportar a mudança de uma grande metrópole para uma pequena vila rural.

Em primeiro lugar, porque ela não podia chamar Londres de metrópole, sem nunca visitar o lugar. Ela não sabia que lá, ainda preservávamos algumas coisas do encanto campestre. E, na parte ao lado, porque ela não amava o lugar que era sua casa o suficiente para imaginar que aquele lugar não pudesse deixar alguém satisfeito.

Estava consciente que eu era bastante abrupto na minha conversa com ela, e vi que o Senhor Morgan estava me observando, embora, fingiu ouvir o relato sussurrado da Senhorita Tomkinson sobre os sintomas de sua irmã. Todavia, quando estávamos mais uma vez na rua, ele começou:

— Meu querido jovem amigo...

Estremeci, porque durante toda a manhã, eu notara que, quando ele ia dar um conselho, sempre começava com um: “Meu querido jovem amigo.”

Ele fez isso sobre a questão do cavalo.

— Meu querido jovem amigo... Há uma ou duas dicas que gostaria de dar para você sobre sua maneira de agir. O grande Senhor Everard Home, costumava dizer que médico deve ter uma maneira muito boa ou será um médico muito ruim. Agora, neste último caso, mesmo que esteja possuído de talentos e aquisições suficientes para garantir que procurado, qualquer que seja sua maneira. Mas a grosseria dará notoriedade as qualificações. Abernethy é um caso em questão. Prefiro questionar o gosto dos maus modos. Tenho estudado, portanto, para adquirir uma polidez atenta e ansiosa, que combina graça com um carinho e interesse. Não estou ciente se consegui, porque poucos homens conseguem chegar ao termo ideal, mas, recomendo que você se esforce, depois do que presenciei, para que seus modos sejam condizentes com a sua profissão. Identifique-se com seus pacientes, meu caro senhor! Você tem simpatia em seu bom coração, tenho certeza! Acredito que realmente possa sentir dor ao ouvir o relato sincero do sofrimentos de seus pacientes. Sentir a do paciente, o acalma, porque consegue ver a expressão desse sentimento tocando seus olhos. São, de fato, senhor, modos que fazem o homem em nossa profissão. Não me insto como um exemplo, longe disso.

Ele apresentou o Senhor Hutton, o vigário, que falou sobre um dos servos estar indisposto, e ficaria feliz com a oportunidade de me apresentar.

— Podemos retomar nossa conversa em outro momento. — o Senhor Morgan terminou.

Eu não tinha conhecimento de que estávamos mantendo uma conversa, na qual, acredito, a assistência de duas pessoas é necessária.

Por que o Senhor Hutton não mandou perguntar sobre minha saúde na noite anterior, de acordo com o costume do lugar?

Me senti um pouco ofendido.


Capítulo 3


O vicariato estava no lado norte da rua, no final dela, abrindo em direção às colinas. Era uma casa longa e baixa, recuando atrás de seus vizinhos, com um beirado entre a porta e a rua, e uma cisterna de pedra velha, no lado direito da porta, com o selo-de-Salomão[5] crescendo sob as janelas.

Alguém estava assistindo da janela, por trás da cortina. A porta se abriu, como se por magia, assim que chegamos em sua frente. Entramos em uma sala baixa, que servia como salão, e emaranhado por toda parte, profundas vitrines antigas, telhas holandesas no local do fogo. Depois do sol quente e vermelho na rua branca, aquele lugar era refrescante e agradável.

— Bessie não está bem, Senhor Morgan! — disse a doce garotinha de onze anos, que abrira a porta. — Sophy queria chama-lo, mas eu não sabia o que fazer. Papai disse ter certeza que você viria nesta manhã, e devíamos lembrar que há outras pessoas doentes querendo a sua ajuda!

— Aqui está o Senhor Morgan, Sophy! — afirmou ela, abrindo a porta para uma sala interna, para a qual descemos por um passo, como me lembro bem, já que quase caí, pego pela imagem diante de mim.

Era como um retrato, pelo menos, vista através da moldura da porta. Uma espécie de mistura de vermelho e verde-mar na sala, e um jardim ensolarado além, uma janela muito baixa, aberta para o ar âmbar, com aglomerados de rosas-brancas, espiando o frescor e Sophy, sentada em uma almofada no chão, a luz vindo de cima em sua cabeça, e um irmão, de olhos redondos, pouco robusto, ajoelhado ao seu lado, a quem ela estava ensinando o alfabeto.

Foi um alívio poderoso para ele, quando entramos, como eu podia ver.

Sophy subiu calmamente, e, claro, fomos apresentados, e isso foi tudo, antes dela levar o Senhor Morgan lá em cima, para ver sua serva doente, e fui deixado ali.

Era uma casa que me fez conhecer todo o encanto da palavra. Havia livros, símbolos do trabalho, brinquedos de uma criança no chão, e contra as paredes verde-mar, havia dois retratos feitos em cores d'água. Um, tenho certeza, era o da mãe de Sophy. As cadeiras e o sofá estavam cobertos de chita, o mesmo que as cortinas, com uma pequena rosa-vermelha, bonita, sobre a mesa, contrastando com o chão branco.

Não sei de onde o vermelho veio, mas tenho certeza que havia vermelho em algum lugar, talvez no tapete.

Havia uma porta de vidro, além da janela, que subia um degrau para o jardim. Este foi, primeiro, um enredo de grama, logo abaixo das janelas, e, além disso, passeios de cascalho, com canteiros estreitos de cada lado, mais brilhantes e alegres no final de agosto, com bordas de flores, e árvores frutíferas em um pequeno bosque.

Enquanto eu estava olhando em volta, um cavalheiro entrou, que, eu tinha certeza, era o vigário. Foi um pouco estranho, pois, tive que explicar a minha presença lá.

— Vim com o Senhor Morgan! Meu nome é Harrison! — falei, curvando-me.

Vi que ele não estava muito iluminado com a explicação, entretanto, sentamos e conversamos sobre a época do ano ou algum assunto qualquer, até que Sophy e o Senhor Morgan voltaram.

Então, vi o Senhor Morgan se aproximando de quem respeitava, e perdeu a maneira artificial que tinha, ficando calmo e digno, mas não tão digno como o vigário.

Nunca vi ninguém como ele.

Ele era muito quieto e reservado, quase ausente, às vezes, sem traços impressionantes, todavia, ele era um homem com quem você falaria sem chapéu, sempre que o encontrasse.

Foi seu personagem que produziu esse efeito, personagem que ele nunca pensou, mas que apareceu em cada palavra, olhar e movimento.

— Sophy! — começou ele. — O Senhor Morgan parece que está com calor. Vá e pegue algumas peras? Imagino que haja algumas maduras.

Sophy foi para o jardim ensolarado, e a vi tomar um ancinho e inclinar-se para as peras, que estavam acima de seu alcance, aparentemente.

A sala ficou fria, e descobri depois que tinha um piso de pedra, que explicava a sua frieza, e aquele frio me fez querer ir para o sol quente.

Eu disse que iria ajudar a jovem na colheita das peras e, sem esperar por uma resposta, entrei no jardim quente perfumado, onde as abelhas estavam beijando as flores, fazendo um som contínuo e feliz.

Acho que Sophy começou a se desesperar, ao perceber que não conseguia pegar a fruta, e ficou feliz com minha ajuda. Pensei que eu não devia derrubar as peras no chão, do modo que eu aprendera, mas eu quis ajudar rapidamente a jovem e assim, agi rápido.

Eu gostaria de andar pelo jardim, mas Sophy saiu com as peras, e eu não podia fazer nada além de segui-la. Ela se afastou, enquanto comíamos as peras, e logo que acabamos de mastigá-las, o vigário terminou sua conversa com o Senhor Morgan sobre algumas pessoas pobres, e nos levantamos para sair.

Fiquei grato pelo Senhor Morgan não passar o tempo todo falando sobre mim. Eu não suportaria ele introduzir o Senhor Astley Cooper ou o Senhor Robert Peel na conversa com o vicariato, nem mencionar muito as minhas grandes oportunidades para adquirir um conhecimento completo da minha profissão, que eu o ouvira descrever à Senhorita Tomkinson, enquanto sua irmã falava comigo.

Felizmente, ele me poupou de tudo isso diante do vigário. Quando saímos, era hora de montar nossos cavalos e ir para as rondas do campo, e eu estava feliz com isso.


Capítulo 4


Pouco a pouco, os habitantes de Duncombe começaram a celebrar em minha honra. O Senhor Morgan disse ser por minha causa, e acho que eu não perceberia isso, se ele não mencionasse.

Ele estava satisfeito a cada convite, e esfregou as mãos, rindo, como se fosse um elogio para si, como, na verdade, era.

Enquanto isso, o acordo com a Senhora Rose fora levado a uma conclusão. Ela ia trazer os móveis dela em uma casa, da qual eu pagaria o aluguel.

O Senhor Morgan tomou a casa e se encantou em aconselhar e resolver todos os meus assuntos. Eu era parcialmente indolente, gracejado e completamente passivo.

A casa que ele alugou para mim era perto da sua. Ela tinha duas salas de estar lá embaixo, abrindo-se uma após outra por portas dobráveis, que foram, mantidas fechadas na maioria do tempo. O quarto dos fundos era minha sala de consultoria, a biblioteca, por assim dizer. Ele me deu um crânio para colocar no topo da minha estante, em que os livros médicos estavam em prateleiras conspícuas, enquanto os livros da Senhorita Austen, Dickens e Thackeray foram, pelo Senhor Morgan, habilmente colocados de uma maneira descuidada, de cabeça para baixo ou com as costas viradas para a parede.

A sala da frente era para ser a sala de jantar, e a sala acima, fora mobiliada com as cadeiras e mesa, da Senhora Rose, embora, descobri que ela preferia sentar-se lá embaixo, na sala de jantar, perto da janela, onde, entre cada ponto, ela podia olhar para cima e ver o que estava acontecendo na rua.

Me senti um pouco estranho em ser o dono desta casa, cheia de móveis de outra pessoa, antes mesmo de avistar a senhora, cuja propriedade era.

O Senhor Morgan a encontrou na pousada, onde o trem parou, e a acompanhou até minha casa. Eu podia vê-los fora da janela da sala, o pequeno cavalheiro pisando delicadamente ao longo, florescendo sua bengala, evidentemente falando alto.

Ela era um pouco mais alta que ele, e em luto profundo de viúva, com véus, capas e mantos, ela parecia um feno preto enrolado.

Quando fomos apresentados, ela colocou seu véu grosso e olhou em volta, suspirando.

— Sua aparência e circunstâncias, Senhor Harrison, me lembram, à força, o tempo em que eu estava casada com meu querido marido, agora, em repouso eterno nos braços de Deus. Ele era então, como você, começando a praticar a medicina como cirurgião. Durante vinte anos simpatizei com ele e o ajudei por todos os meios ao meu alcance, até mesmo a inventar pílulas, quando o jovem aprendiz estava fora. Que possamos viver juntos em harmonia por igual espaço de tempo! Que a consideração entre nós, seja igualmente sincera, embora, não conjugal, será maternal e filial!

Tenho certeza que ela estava inventando este discurso no trem, pois, ela me confirmou, depois, ser a única passageira.

Quando ela terminou, senti que deveria beber uma taça de vinho e comer torradas. E, ainda duvido que eu esperasse viver com ela por vinte anos, porque isso tinha um som bastante triste. No entanto, só me curvei e guardei meus pensamentos.

Perguntei ao Senhor Morgan, enquanto a Senhora Rose estava lá em cima, tirando suas bagagens antes do chá, e continuou esfregando as mãos com satisfação, dizendo:

— Senhor! Ela é uma mulher muito boa e belas maneiras! Ela receberá seus pacientes, que podem querer deixar uma mensagem durante sua ausência. Ela deixará uma bela impressão.

O Senhor Morgan não podia ficar muito tempo depois do chá, porque havia um ou dois casos para serem visto. Eu teria ido voluntariamente com ele, porque tinha meu chapéu, de fato, com o propósito, quando ele concluiu que não seria respeitoso deixar a Senhora Rose na primeira noite de sua chegada, sozinha.

— Uma viúva, nos primeiros meses de sua solidão, requer um pouco de consideração, meu caro senhor. Vou deixar o caso da Senhorita Tomkinson para você, talvez o chame amanhã de manhã. A Senhorita Tomkinson é bastante particular, e pode falar se ela não se achar adequadamente atendida.

Eu tinha notado, muitas vezes, que ele colocara as visitas à Senhorita Tomkinson sobre minhas costas, e suspeito que ele tinha um pouco de medo dela.

Foi uma longa noite com a Senhora Rose. Ela não tinha nada para fazer, pensando que era civil, suponho, parar na sala, e não subir e dormir. Implorei que, se ela quisesse dormir, estava livre para descansar, mas, ao invés disso, para a minha decepção, ela sorriu de uma forma medida, subjugada e falou que seria um prazer para ela se familiarizar comigo.

Ela subiu uma vez, e meu coração, que respirou aliviado por alguns minutos, ficou desesperado quando ela desceu com um lenço de bolso dobrado.

Oh! Minha alma profética!

Ela começou a me dar um relato da doença de seu falecido marido, os sintomas e sobre a triste morte. Era um caso muito comum, mas ela evidentemente parecia pensar que fora peculiar.

Ela tinha apenas um pouco de conhecimento médico e usou os termos técnicos tão erroneamente, que eu mal podia evitar meu riso, porém, o segurei entre meus dentes, evidentemente, porque ela estava em sofrimento profundo e sincero.

— Tenho os relatos da queixa do meu querido marido na minha mesa, Senhor Harrison. Se você quiser elaborar o caso para Lancet. Creio que ele adoraria, pobre companheiro. Seu caso ajudaria outros na mesma situação.

Não quis falar que era apenas mais um caso comum, como pronunciei antes. No entanto, eu sabia, mesmo no curto tempo de prática, que esses ruídos que não comprometem um, e ainda pode ter uma construção muito significativa em outro, se o ouvinte optar por exercer um pouco de imaginação.

Antes do fim da noite, éramos tão amigos que ela me trouxe o retrato do falecido Senhor Rose para minha análise. Ela me disse que não podia suportar olhar para as características amadas e que evitaria seu rosto.

Me ofereci para guardar o retrato, mas ela pareceu ferida com a proposta, e ponderou que nunca confiaria o tal tesouro fora de sua posse, então, ela virou a cabeça sobre o ombro esquerdo, enquanto eu examinava o retrato.

O falecido Senhor Rose era um homem bonito, e o artista lhe deu um sorriso tão largo e um brilho tão intenso sobre os olhos, que realmente foi difícil não sorrir de volta para a figura. No entanto, me contive.

No início, a Senhora Rose se opôs a aceitar qualquer um dos convites que foram enviados, para me acompanhar às festas de chá da cidade. Eu tinha certeza que ela não tinha outra razão, além da declarada, justificando ser curto o tempo que transcorrera a morte de seu marido.

Depois de alguma experiência nos dias ao seu lado, creio que ela estava feliz com a desculpa.

Às vezes, eu costumava desejar ser viúvo também.

Eu chegava em casa, cansado de um dia difícil de cavalgar, e, se eu tivesse certeza que o Senhor Morgan não entraria, eu certamente colocaria meus chinelos, casaco, e me entregaria ao descanso no jardim.

Parecia um sacrifício cruel me adequar a sociedade, me vestir com botas apertadas com um casaco duro e ir me apresentar em um chá de cinco horas. Mas o Senhor Morgan me deu palestras sobre a necessidade de cultivar a boa vontade das pessoas, entre as quais eu estava estabelecido. Ele parecia quase ferido, quando uma vez, reclamei da estupidez dessas festas. Então, senti que não devia ser tão egoísta: recusei um em cada três.

O Senhor Morgan, se ele descobrisse que eu tinha um convite para a noite, muitas vezes, me levou até à ronda mais longa e as visitas mais distantes. Eu suspeitava dele estar realmente fazendo um sacrifício de suas inclinações, para o que ele considerava ser minha vantagem.

Capítulo v


Houve um convite que parecia prometer uma boa dose de prazer. Bullock, que era o advogado de Duncombe, estava casado pela segunda vez com uma senhora de uma grande cidade provincial. Ela queria liderar a moda, uma coisa muito fácil de fazer, pois, cada um estava disposto a segui-la.

Então, em vez de dar uma festa de chá em minha honra, ela propôs um piquenique em um salão antigo na vila, e realmente o arranjo soou tentador o suficiente.

Todos os pacientes que tínhamos, pareciam cheios do assunto, tanto aqueles que foram convidados, quanto aqueles que não foram.

Havia um fosso em volta da casa, com um barco sobre ele, e uma galeria no salão, a partir da qual a música soava deliciosamente.

A família a quem o lugar pertencia era do exterior, e ficava em uma mansão mais nova e maior, quando eles estavam na vila. Havia apenas um fazendeiro e sua esposa no salão antigo, e eles estavam a cargo dos preparativos.

A pequena cidade de coração bondoso ficou encantada quando o sol brilhou na manhã de outubro do nosso piquenique. Os lojistas pareciam satisfeitos quando eles viram a cavalgada reunida na porta do Senhor Bullock.

Estávamos em cerca de vinte em número e um pouco silenciosos.

Havia a Senhorita Tomkinson e duas jovens senhoras, uma delas, era de ums família do condado, que a Senhora Bullock me disse em um sussurro.

Então, veio o Senhor, a Senhora e a Senhorita Bullock, e uma tribo de crianças pequenas, a prole da atual esposa.

A Senhorita Bullock era apenas uma enteada.

A Senhora Munton aceitara o convite para participar da nossa festa, o que foi bastante inesperado pelos anfitriões e, imagino, de pequenas observações que ouvi, que ela era bem-vinda. A Senhorita Horsman, uma senhora solteira, foi outra a surgir. E por último, havia o vigário e seus filhos.

Fiquei muito feliz em ver algo mais da família do vigário. Ele viera ocasionalmente para as festas da noite, é verdade, falando gentilmente com todos nós, mas não era seu hábito ficar muito tempo nas festas, porque sua filha era, ele afirmou, muito jovem para ficar até tarde ali.

Ela tinha a responsabilidade de suas irmãos mais novos, desde a morte de sua mãe, que tomou boa parte de seu tempo, e usava as noites para estudar.

No entanto, o caso era diferente. Sophy, Helen, Lizzie, e até mesmo Walter, estavam lá, de pé, à porta da Senhora Bullock, porque nenhum de nós queria ser paciente para sentar na sala com a Senhora Munton e os mais velhos, e calmamente esperar pelos cocheiros que deveriam estar lá, duas horas antes.

— Vergonhoso! — ela falou.

O brilho do dia foi embora. Os simpáticos lojistas, de pé em suas respectivas portas, com as mãos nos bolsos, tinham suas cabeças viradas na direção de onde as carruagens estavam por vir.

Houve um estrondo ao longo da rua pavimentada, e os lojistas se viraram e sorriram, inclinando suas cabeças, parabenizando uns aos outros.

Todas as mães e crianças do lugar, ficaram agrupando-se em volta da porta para nos ver partir.

Eu tinha o meu cavalo esperando e ajudei as pessoas em suas carruagens.

A Senhora Munton foi entregue primeiro em sua carruagem. A maioria dos jovens queria ir caminhando, não sei porquê. A Senhorita Horsman, veio para a frente, e como ela era conhecida por ser a amiga íntima da Senhora Munton, sentou ao seu lado. Mas quem seria o terceiro acompanhante das duas velhinhas que gostavam das janelas fechadas?

Vi Sophy falando com Helen, e então, ela se apresentou e se ofereceu para ser a terceira. As duas senhoras velhinhas pareciam felizes, e ela sentou no meio das duas.

Assim que a carruagem estava saindo, a serva do vicariato veio correndo com um bilhete para seu senhor.

Quando ele leu, correu até a porta da carruagem e suponho que disse para Sophy, o que, depois ouvi da boca da Senhora Bullock, que o clérigo de uma paróquia vizinha estava doente e incapaz de ler o funeral de um de seus paroquianos, que seria enterrado naquela tarde.

O vigário foi, é claro, obrigado a ir, e pronunciou que ele não voltaria para casa naquela noite.

Parecia um alívio para alguns, percebi, pelo fato de estarem na presença digna de um homem santo.

O Senhor Morgan veio no momento, tendo cavalgado arduamente durante toda a manhã para estar a tempo de se juntar ao nosso grupo, então fomos resignados a cuidar da família do vigário, na sua ausência.

Acredito que em seguida lamentei por sua partida, porque eu o respeitava e admirava e gostava de sua companhia.

A Senhorita Tomkinson, a Senhora Bullock e a jovem do condado, estavam na carruagem seguinte. Acho que a última, preferiria caminhar com o conjunto mais jovem e alegre, mas imagino que foi considerado uma infração grave da parte dela, se ousasse pedir para sair.

O restante das pessoas foram a cavalo. Um conjunto mais alegre e dinâmico.

O Senhor Morgan e eu, estávamos a cavalo também. Levei o meu cavalo, com Walter montando sobre ele, com suas pernas gordas, uma em cada lado das costas largas do meu cavalo. Ele era querido e tagarelou por todo o caminho, e sua irmã Sophy, sendo a heroína de todas as suas histórias.

Descobri que ele só estava ali porque implorou, mas que sua cuidadora era contra o piquenique e falou:

“Cruz, credo!”

Ele falou que não se importou e nunca vi uma criança tão corajosa. O cavalo se esquivou de um tronco de madeira. Walter ficou vermelho, agarrou-se a mim, contudo, sentou ereto como um homenzinho, e não falou mais, enquanto o cavalo estava dançando, desviando dos obstáculos. Quando acabou, ele olhou para mim, e sorriu:

— Você não deixaria me machucar, Senhor Harrison, não é?

Ele era o rapazinho mais vitorioso que já vi.

Houve gritos frequentes para mim, daqueles que caminhavam.

— Oh! Senhor Harrison! Pegue esse ramo de amoras! Você pode alcançá-lo com o seu chicote.

— Oh! Senhor Harrison! Há nozes tão esplêndidas do outro lado da estrada!

Caroline Tomkinson foi, uma ou duas vezes, fraca com o movimento de seu andar e Walter era o companheiro mais agradável.

A estrada seguia pela areia. As árvores eram lindas, em seus tons laranja e vermelho, que variavam por grandes arbustos verdes, brilhando no sol de outono.

Eu pensaria que as cores eram muito vívidas, se eu as tivesse visto em um retrato, especialmente quando atravessamos a pequena ponte sobre o riacho. E, ao longe, as colinas surgiram em seus tons violetas.

Olhamos o velho salão a partir desse ponto, com suas madeiras ricas, se espalhando por trás e as águas azuis do fosso, ainda sob a luz do sol.

Rir e falar era um trabalho muito voraz. Havia uma petição universal para a refeição quando chegamos ao gramado em frente ao salão.

Vi a Senhorita Carry levar a Senhorita Tomkinson, sussurrar para ela e caminharam até mim. Eu estava ocupado, um pouco distante, fazendo um assento de feno, que eu buscara no celeiro do fazendeiro, ao lado do salão, para o meu amiguinho Walter sentar.

— Senhor Harrison! Caroline me disse que ela está muito fraca. Ela tem medo do retorno de um de seus ataques. Ela diz que tem mais confiança em seus poderes médicos que nos do Senhor Morgan. Perdão pela sinceridade, posso implorar que mantenha um olho sobre ela? Falei para ela não fazer esforço, se ela não se sente bem, mas ela, pobre menina, quer desfrutar deste dia. Me ofereci para ir para casa com ela, porém, ela diz que se o Senhor está por perto, ela prefere ficar.

Claro que me curvei e prometi todos os devidos atendimentos para a Senhorita Caroline.

Enquanto ela não me exigia ajuda, pensei que poderia muito bem ir e ajudar a filha do vigário, que estava tão bonita em seu vestido branco de musselina, andando aqui e ali e em todos os lugares, sob o sol ou sombra verde, ajudando cada um a ficar confortável, pensando em todos, menos nela.

Então, o Senhor Morgan surgiu.

— Senhorita Caroline não se sente muito bem. Prometi seus serviços para sua irmã.

— Sim, Senhor! Mas, a Senhorita Sophy não pode levar esta cesta pesada.

Eu não queria que ela ouvisse aquela desculpa, mas ela ouviu e disse:

— Oh! Posso carregar isso e tirar as coisas, uma por uma. Vá cuidar da pobre Senhorita Caroline, Senhor Harrison!

Fui, porém, relutantemente, devo dizer. Quando eu sentara perto da Senhorita Caroline, ela se sentiu melhor. Foi, provavelmente apenas um medo nervoso, que foi aliviado quando ela percebeu ter assistência perto da mão. Assim, voltou a apreciar a comida.

Pensei que ela nunca acabaria com seus modestos pedidos de apenas um pouco mais de torta, ou um feliz pedaço de frango.

Uma refeição tão saudável seria boa para refazer suas forças, e, de fato, ela afirmou conseguir andar em volta do jardim, para ver o velho pavão, se eu gentilmente lhe desse o braço.

Fiquei feliz por cuidar dos filhos do vigário. Aconselhei a Senhorita Caroline a deitar um pouco, e descansar antes do chá, no sofá na cozinha do fazendeiro, e persuasivamente, implorei para cuidar de si enquanto isso.

Por fim, ela consentiu, agradecendo-me pelo meu interesse, e que ela nunca esqueceria a minha atenção gentil para com ela. Ela mal sabia o que estava em minha mente na época.

Ela foi em segurança para a esposa do fazendeiro, e voltei correndo em busca de um vestido branco e uma figura acenando, quando encontrei a Senhora Bullock na porta do salão.

Ela era uma mulher bonita e feroz, um pouco descontente com as minhas relutantes atenções para a Senhorita Caroline na hora da refeição, mas vendo-me sozinho, ela voltou seus sorrisos.

— Oh! Senhor Harrison, sozinho? Como é isso? Como pode as moças permitirem tal grosseria? A propósito, há uma jovem que ficará muito feliz com sua ajuda, tenho certeza! Minha filha, Jemima. — sua enteada, ela quis dizer. — Bullock é tão particular, um pai terno. Ele se assustaria com a ideia dela entrar no barco no fosso, a menos que ela estivesse com alguém que pudesse nadar. Ele foi discutir o novo arado de rodas com o fazendeiro, você sabe que a agricultura é seu hobby, embora a lei, lei horrível, é o seu negócio. Mas a pobre garota está ansiando pelo banco. Posso ousar pedir que acompanhe gentilmente, e prometa, se algum acidente acontecer, preservá-la em segurança?

“Oh! Sophy, por que ninguém estava ansioso por você?”


Capítulo 5


A Senhorita Bullock estava de pé, ao lado da água, olhando melancolicamente, como pensei, para a água. O som da risada alegre veio agradável do barco, porque ninguém sabia como remar.

O barco era uma construção desajeitada de fundo plano, cerca de cem metros. Eles gritaram, entre os longos talos dos lírios d'água.

A Senhorita Bullock não olhou para cima até que eu chegasse perto dela. Ela levantou seus grandes e pesados olhos tristes, me encarando por um momento.

Pareceu-me, na época, que ela esperava encontrar alguma expressão no meu rosto que não estava lá, e que sua ausência era um alívio para ela. Ela era uma menina pálida, infeliz e quieta, mas agradável.

Quando nos aproximamos do barco, não havia lugar para nós e Senhorita Bullock disse que ficaria no prado para caminhar, e tenho certeza, pelo olhar em seu semblante, que ela falou a verdade, mas a Senhorita Horsman gritou com uma voz afiada, enquanto sorria de uma maneira muito desagradável:

— Oh! Sua mamãe vai ficar descontente se você não entrar, Senhorita Bullock!

Neste discurso, a pobre menina hesitou, e finalmente, de uma forma indecisa, como se ela não tivesse certeza se estava fazendo o certo, ela tomou o lugar de Sophy no barco.

Helen e Lizzie desembarcaram com sua irmã, de modo que havia muito espaço para a Senhorita Tomkinson, a Senhorita Horsman e todos os pequenos Bullocks. As três meninas saíram passeando, ao longo do prado e brincaram com Walter, que estava em um alto estado de excitação.

O sol estava ficando baixo, mas a luz em declínio era bonita sobre a água, e, para adicionar encanto ao momento, Sophy e suas irmãs, de pé no gramado verde, em frente ao salão, atingiram o pequeno canhão alemão, que eu jamais vira:

— Oh! Que noite feliz!

Finalmente fomos convocados para rebocar o barco para os degraus de desembarque no gramado.

Chá e uma fogueira em chamas, estavam esperando por nós.

Eu estava oferecendo meu braço para a Senhorita Horsman, já que era um pouco manca, quando ela falou novamente, em sua maneira peculiar e desagradável:

— Não quer ajudar a Senhorita Bullock, Senhor Harrison? Será mais satisfatório que pegar a mão de uma velha.

Ajudei Senhorita Horsman até os degraus, no entanto, ela repetiu seu conselho, e assim, lembrando que a Senhorita Bullock era, de fato, a filha dos anfitriões, fui até ela. Embora ela aceitasse meu braço, eu podia perceber que ela estava arrependida de aceitar a minha ajuda.

O salão foi iluminado pelo fogo da madeira, glorioso, na lareira da grande casa antiga, a luz do dia estava morrendo no oeste e as grandes janelas admitiam o pouco do que restou, através de seus pequenos quadros de chumbo, com brasões de armas estampados sobre eles.

A esposa do fazendeiro estabelecera uma grande mesa longa, que foi empilhada com coisas boas, e uma enorme chaleira preta cantou sobre o fogo brilhante, que enviou um calor alegre através da sala.

O Senhor Morgan, que voltava da visita aos seus pacientes, estava lá, sorrindo e esfregando as mãos, como de costume.

O Senhor Bullock estava mantendo uma conversa com o fazendeiro na porta do jardim, e me pareceu que ele tinha nas mãos, os nomes finos e as teorias, no entanto, o fazendeiro tinha todo o conhecimento prático e a experiência, e sei em que eu confiaria.

Acho que o Senhor Bullock gostava bastante de falar sobre Liebig[6].

A Senhora Bullock não estava particularmente plácida em seu humor.

Eu queria sentar ao lado da filha do vigário, e a Senhorita Caroline, decididamente, queria sentar-se ao meu lado também, com medo de seus desmaios, imagino. Contudo, a Senhora Bullock me chamou para um lugar perto de sua filha.

Tentei ser cordial com a garota que estava evidentemente irritada, em vez de satisfeita com minhas atenções. Fingi estar ocupado, me inclinando sob a mesa, procurando as luvas da Senhorita Caroline, que estavam faltando, mas não tive sucesso, porque os olhos severos da Senhora Bullock estavam esperando meu reaparecimento, e, ela me convocou novamente.

— Estou mantendo este lugar na minha mão direita para você, Senhor Harrison! — ela olhou para a filha, que puxou a ponta de seu vestido, possivelmente, implorando para que parasse de pedir a minha presença ao lado dela. — Jemima, fique quieta!

Fui até o posto de honra e tentei me ocupar em derramar café na xícara, para esconder o meu desgosto.

A Senhorita Horsman sentou em minha frente, sorrindo para longe, e a Senhorita Bullock não falou, porém, parecia mais deprimida do que nunca. Finalmente, a Senhorita Horsman e a Senhora Bullock chegaram a uma guerra de insinuações, que eram completamente ininteligíveis para mim, e eu estava muito descontente com a situação, enquanto, na parte inferior da mesa, o Senhor Morgan e o Senhor Bullock estavam fazendo os jovens sorrirem mais sinceramente.

Parte da piada foi sobre o Senhor Morgan, insistindo em fazer chá. Ao lado, Sophy e Helen estavam ocupadas apontando todos os possíveis erros para ele. Achei que honra era uma coisa muito boa, mas alegria, era melhor. Ali estava eu, no lugar da distinção, não ouvindo nada, além de palavras-cruzadas.

Finalmente chegou a hora de irmos para casa.

Sophy se ofereceu para caminhar, porém, ela parecia ansiosa, porque Walter devia ser protegido da neblina rolando no vale, entretanto, o pequeno sujeito afetuoso não seria separado de Sophy.

Ela fez um ninho para ele em seu colo e o cobriu com seu xale.

Tomkinson com o Senhor Bullock e alguns dos jovens caminharam, mas eu parecia acorrentado às janelas da carruagem, onde a Senhorita Caroline implorou para não deixá-la, porque ela estava terrivelmente com medo de ladrões, e a Senhora Bullock implorou-me para ficar atendo ao cocheiro, porque ele, certamente, bebera demais.

Voltei para casa irritado, mas tão irritado, que pensei ser o dia mais desagradável da minha vida, e mal consegui responder às perguntas intermináveis da Senhora Rose.

Ela afirmou que eu fizera o que era certo e isso seria bom para o que pensavam sobre mim na sociedade. Ela realmente pensou que seu querido Senhor Rose pensara o mesmo, e acreditava que a vontade de seu marido era lei para ela após sua morte, como sempre fora durante sua vida.

Ela era muito gentil, não apenas atenta a tudo o que ela achava que conduziria ao meu conforto, todavia, disposta em fornecer os caldos e alimentos nutritivos que, muitas vezes, achei conveniente pedir, sob o nome de cozinha beneficente, para meus pacientes mais pobres, e assim, ela começou a querer se misturar na sociedade mais pobre de Duncombe.

Deste modo, pedi que ela começasse a sair de casa, afirmando que o Senhor Rose ficaria feliz, assegurado que ele ficaria grato ao ver sua esposa se esforçar para desviar seus pensamentos de tristeza.

Ela sacrificaria suas inclinações e aceitaria o próximo convite que surgisse.


Capítulo 6


Fui desperto do meu sono, no meio da noite, por um mensageiro do vicariato. O pequeno Walter estava doente, e o Senhor Morgan estava em suas longas viagens para visitar os pacientes distantes.

Me vesti às pressas, e passei pela rua tranquila. Havia uma luz acesa, lá em cima no vicariato. A criada, que abriu a porta no instante em que bati, estava chorando tristemente e mal podia responder as minhas perguntas quando subi as escadas, dois passos de cada vez, para ver meu pequeno favorito.

O berço, no grande quarto, foi iluminado por uma vela, que deixou a outra extremidade, onde a porta estava, à sombra, então, suponho que a cuidadora não me viu, pois, ela estava falando.

— Senhorita Sophy! — exclamou ela. — Disse uma e outra vez, que não era adequado para ele ir, com a rouquidão que ele tinha, mas, você o levou. Vai partir o coração do seu pai!

O que Sophy sentiu, ela não falou em resposta. Ela estava de joelhos, segurando o menino na banheira de água quente, no qual o pequeno companheiro estava lutando para respirar, com um olhar de terror em seu rosto, que eu notara muitas vezes em crianças pequenas, feridas por uma doença súbita e violenta. Parece que essas crianças reconheciam algo infinito e invisível, em cujo lance, vem a dor e a angústia, da qual nenhum amor pode protegê-los. É um olhar muito comovente de se observar, porque vem nos rostos daqueles que são muito jovens para receber conforto das palavras de fé ou das promessas da religião.

Walter tinha os braços apertados no pescoço de Sophy, como se ela, até então, seu anjo do paraíso, pudesse salvá-lo da grave sombra da Morte. Sim, da Morte!

Ajoelhei-me ao lado dele e examinei-o. A própria robustez de seu pequeno quadro deu violência à doença, que é sempre uma das mais temerosas em crianças de sua idade.

— Não trema, Watty! — lamentou Sophy, em um tom suave. — É o Senhor Harrison, querido! Aquele que deixou você montar em seu cavalo.

Eu podia detectar o tremor na voz, que ela tentou fazer tão calma e suave, para acalmar os medos do pequeno menino.

O tiramos da banheira, e fui pegar as sanguessugas. Enquanto eu estava fora, o Senhor Morgan surgiu. Ele amava as crianças do vicariato como se ele fosse seu tio, entretanto, ele ficou parado e horrorizado ao ver Walter, antes, brilhante e forte, mas agora, correndo com a terrível mudança, para à terra misteriosa silenciosa, onde, com cuidado, ele estava deixando a Terra, sozinho.

Aplicamos as sanguessugas na garganta dele. Ele resistiu no início. Sophy, segurou a agonia de sua dor e pensou apenas nele, começando a cantar as canções que ele amava.

Estávamos todos parados. O jardineiro fora buscar o vigário, mas ele estava a doze milhas e duvidávamos se ele chegaria a tempo. Não sei se eles tinham alguma esperança, mas, no primeiro momento em que os olhos do Senhor Morgan se encontraram com os meus, vi que ele, assim como eu, não tinha nenhuma.

O tique-taque do relógio da casa soou através da casa escura e quieta. Walter estava dormindo, com as sanguessugas pretas ainda penduradas em sua garganta branca e pequena. Sophy continuou as canções de ninar, que ela cantara em circunstâncias muito diferentes e mais felizes. Lembro-me de um verso, porque me pareceu estranhamente aplicável.

“Durma, querido, durma! Teu descanso será velado pelos anjos. Enquanto, na grama, o cordeiro deve se alimentar e nunca sofrerá... Sonhe! Sonhe, bebê!”

As lágrimas estavam nos olhos do Senhor Morgan. Não creio que poderíamos falar em nossos rotineiros tons naturais, e ela, corajosa, continuou cantarolando, embora, em baixo tom. Ela parou finalmente e olhou para cima.

— Ele está melhor, não é, Senhor Morgan?

— Não, minha querida! Ele está... — ele não podia falar tudo de uma vez, porque as lágrimas o paravam.

Então ele continuou:

— Minha querida! Ele estará melhor em breve. Pense na sua mãe, querida Senhorita Sophy. Ela vai ficar muito grata, por ter um de seus queridos seguro com ela agora!

Sophy não chorou, mas inclinou a cabeça para baixo no rostinho dele e beijou-o de maneira longa e ternamente.

— Preciso chamar Helen e Lizzie. Elas precisam ver ele! — ela levantou-se e foi buscar as irmãs.

Pobres garotas! Elas entraram, em seus trajes de dormir, com olhos dilatados pela emoção súbita, pálidas de terror, roubando suavemente o ar, como se o som pudesse perturbá-lo. Sophy as consolou com carícias gentis.

O Senhor Morgan chorava como uma criança e pensou ser necessário pedir desculpas a mim.

— Estou um pouco cansado pelo trabalho de ontem, senhor. Tive uma ou duas noites ruins, e essas noites me aborreceram bastante. Quando eu tinha a sua idade, eu era tão forte que desprezaria este sofrido derramar lágrimas.

Sophy veio até onde estávamos.

— Senhor Morgan! Sinto muito por papai. Como devo dizer a ele?

Ela estava lutando contra sua dor, pelo bem de seu pai. O Senhor Morgan ofereceu-se para esperar a volta do vigário e ela parecia agradecida pela proposta.

Eu, o novo amigo, quase um estranho, não podia ficar mais.

A rua estava tranquila como sempre. Nenhuma sombra foi alterada, pois, não passara das quatro horas, mas durante o nascer do sol, uma alma partira.

De tudo o que pude ver e aprender, o vigário e sua filha se esforçaram para confortar um ao outro. Cada pensamento da dor do outro, cada oração sempre foi pelo outro e não por eles mesmos.

Os vimos saindo, partindo para algum lugar e ouvimos falar deles, nas casas dos pobres e depois eles voltaram.

Então, senti, a partir de algo indescritível que:

“Pessoas peculiares, que a Morte as tornara queridas.”

Lembrei que um dia, no antigo salão, eu fora, talvez, a última pessoa que dera ao pobre menino, algum sorriso feliz.

Pobre Walter! Eu gostaria de ter feito mais por ele, em sua curta vida feliz!


Capítulo 7


Houve uma pequena calmaria, em respeito à dor do vigário. Deu tempo à Senhora Rose para suavizar a angústia.

No Natal, a Senhorita Tomkinson enviou convites para uma festa. A Senhorita Caroline, uma ou duas vezes, se desculpou comigo, porque tal evento não ocorrera antes, mas, como ela afirmou:

— As avocações de suas vidas cotidianas impediram que eles fizessem reuniões, exceto nas férias.

E, com certeza, assim que os feriados começaram, veio o convite:

“As Senhoritas Tomkinson pedem o prazer da companhia da Senhora Rose e do Senhor Harrison no chá, na noite de segunda-feira, dia 23. Chá às cinco horas.”

O espírito da Senhora Rose despertou, como um cavalo de guerra ao som da trombeta. Ela não era de uma disposição repentina, mas creio que ela acreditava que a população partidária de Duncombe desistira de convidá-la assim que ela determinara a ceder e aceitar os convites, em conformidade com os desejos do falecido Senhor Rose.

Em um dia muito azarado, uma pequena caixa foi trazida para mim, por engano. Não olhei direito, porque nunca duvidei ser o pacote que eu esperava de Londres, então, o abri, e vi dentro de um pedaço de papel:

“Chega de cabelos grisalhos”, em letras grandes, sobre ele.

Dobrei-o com pressa, selei-o de novo, e dei-o à Senhora Rose, mas eu não renunciaria o desejo em perguntar a ela, depois, se ela me recomendaria qualquer coisa para evitar que meu cabelo ficasse grisalho, acrescentando que eu julgava que a prevenção era melhor que a cura.

Acho que ela percebera a impressão do meu selo no papel depois disso, e chorou, e falou sobre não haver nenhuma simpatia no mundo para ela, desde a morte do Senhor Rose, afirmando que contava os dias para que pudesse se juntar a ele no mundo melhor.

Creio que ela contou os dias para a festa Senhorita Tomkinson, também, já que ela falou tanto sobre isso.

As capas foram tiradas das cadeiras da Senhorita Tomkinson, as cortinas sacudidas, os sofás limpos, e um grande vaso cheio de flores foi colocado no centro da mesa, que, como a Senhorita Caroline me disse, era um arranjo floral, que ela gostava de cultivar.

O Senhor Tomkinson ficou ereto como um soldado em guarda, perto da porta, recebendo seus amigos, e sinceramente sacudindo-os pelas mãos, assim que eles entravam, e dizia que estava realmente feliz em vê-los. Eram realmente verdadeiras as suas palavras.

Tínhamos acabado de terminar o chá, e a Senhorita Caroline trouxera duas caixas com cartas, com perguntas intelectuais ou sentimentais em uma, e respostas igualmente intelectuais e sentimentais na outra, e, como as respostas eram adequadas para toda e qualquer pergunta, você pode pensar que eles eram um conjunto de coisas rotineiras.

Sendo assim, a Senhorita Caroline me perguntou:

— Você pode dizer o que seus amigos pensam de você neste momento?

Respondi:

— Como você pode esperar que eu revele tal segredo?

Foi neste momento que a criada anunciou que um cavalheiro, amigo meu, queria falar comigo lá embaixo.

— Está certo! — respondeu a Senhorita Tomkinson, em sua hospitalidade.

— Qualquer amigo de nosso amigo é bem-vindo! — afirmou a Senhorita Caroline, em um tom insinuante.

Pulei para fora do cerco de conversas, no entanto, pensando que o tal amigo seria alguém de negócios, e tentei me colocar em posição simpática, mas em minha frente surgiu Jack Marshland.

Ele veio de uma forma calorosa, curvando-se à Senhorita Tomkinson, e explicando que ele estava na vila para passar o Natal, e que ficaria em minha casa, mas que fora avisado sobre onde eu estava.

Sua voz, alta o tempo todo, soava estentóreo naquela sala, de uma forma ronronada, onde falávamos.

Ele não tinha inchaço em seus tons, porque eram fortes desde o princípio.

No início, parecia que os dias da minha juventude, voltavam novamente, quando o ouvia falando tão claramente e senti orgulho do meu amigo.

Ele agradeceu a Senhorita Tomkinson por sua bondade em pedir-lhe para ficar. Depois veio até mim, e ouso dizer que ele pensou que abaixara a voz, pois, ele parecia como se falasse confidencialmente, enquanto, na verdade, toda a sala ouvia.

— Amigo, meu rapaz! Quando jantaremos? Estou com fome!

— Jantar! Ora! Tivemos o chá uma hora atrás.

Enquanto ele ainda falava, a criada entrou com uma pequena bandeja, com uma única xícara de café e três fatias de pão e manteiga.

Seu desânimo e evidente submissão aos decretos do Destino, me fez cócegas, e desisti do meu plano de levá-lo para casa imediatamente e desfrutei da antecipação da risada calorosa, que deveríamos ter no final da noite. Fui incrivelmente punido pela minha determinação.

— Vamos continuar o nosso jogo? — perguntou a Senhorita Caroline, que não renunciara a sua série de perguntas. — Continuamos questionando e respondendo, com pouco ganho de informação para qualquer das partes.

— Sem apostas pesadas? Onde estão as libras? — perguntou Jack, que estava nos observando. — Você não perderá dez libras em uma sessão, creio, como você costumava perder em Short, certo amigo?

A Senhorita Caroline olhou para baixo. Jack não estava pensando nela. Ele estava pensando em outra coisa e continuou:

— Onde você estava neste dia, no ano passado, amigo?

— Não lembro! — respondi.

— Então, vou te dizer, porque me lembro bem. Foi o dia 23, do dia em que você surrou aquele sujeito, e que eu tive que pagar sua fiança para que pudesse celebrar o Dia de Natal. Você está em uma vila mais agradável agora.

Ele não pretendia que a reminiscência fosse ouvida, mas todos ouviram, e a Senhorita Tomkinson, com um rosto de surpresa terrível, perguntou:

— O Senhor Harrison foi preso, senhor Jack?

— Oh! Sim, senhora! Você pode ver que era tão comum ele ser preso, que ele não se lembra das datas de suas diferentes prisões.

Ele riu de coração, e assim eu deveria ter feito. A coisa era, na verdade, simples o suficiente e capaz de explicação fácil.

Minha prisão fora devido ao ficar com raiva, por ver um grande amigo quebrar a muleta debaixo de um aleijado, e bati no homem mais violentamente do que eu pretendia, ele saiu correndo, chamou a polícia, e me apresentei antes que a polícia fosse a minha caça.

Não quis dar essa explicação. Não era da conta deles o que eu fazia há um ano, e Jack podia segurar a sua língua. No entanto, aquele membro indisciplinado dele continuou a falar, e ele me disse depois que foi bom falar tais coisas, porque as velhinhas receberam um pouco mais de vida, e, consequentemente, ele lembrou de cada brincadeira que tivemos, riu e depois rugiu.

Tentei conversar com a Senhorita Caroline, com a Senhora Munton, qualquer um, mas Jack era o herói da noite, e todos estavam ouvindo ele.

— Então, ele nunca enviou nenhuma carta falsa desde que chegou aqui, não é? Bom garoto! Ele enviava cartas anônimas! Lembra-se da Senhora Walbrook, não é, amigo? Isso foi muito ruim! — o miserável estava rindo o tempo todo. — Não! Não! Não vou falar sobre a tal farsa vergonhosa! — rindo de novo.

— Por Deus! — exclamei.

— Oh! Não! Você estabeleceu um personagem melhor aqui. Não vou contar seus esforços florescentes. Vamos enterrar o passado no esquecimento.

Tentei dizer a história a que ele aludiu, e eles foram atraídos pela alegria da maneira de Jack, e não se importaram em ouvir a versão dos fatos.

Veio uma pausa. Jack estava falando quase silenciosamente com a Senhorita Horsman. De repente, ele olhou para o outro lado da sala:

— Quantas vezes você foi nas corridas com os cães?

— Não tenho tempo! — respondi, raivoso.

— Nunca! Ufa! Ora! Pensei ser a grande atração em Duncombe.

As bandejas da ceia foram postas, e houve um embaralhar de situações. Ele e eu estávamos juntos de novo.

— Digo, amigo! O que você colocar em meu prato, comerei sem pestanejar. Estou com tanta fome quanto um cão.

— Você terá uma rodada de carne bovina e uma perna de carneiro, quando chegar em casa. Apenas se comporte aqui. — belisquei seu braço.

— Bem... Para o seu bem! Mas, me mantenha longe dessas bandejas ou não responderei por mim. Direi como o irlandês um dia disse, que Me segure ou lutarei. Vou falar com aquela velhinha de azul, e sentar-me de costas para aqueles fantasmas que ela enaltece.

Ele sentou-se ao lado da Senhorita Caroline, que não teria gostado da descrição que ele fizera dela, mas começou uma conversa séria, razoavelmente tranquila. Tentei ser o mais agradável que pude, para acabar com a impressão que ele dera de mim, contudo, descobri que cada um elaborou sua descrição ao meu respeito, na minha abordagem, e não me encorajou a fazer quaisquer observações.

No meio das minhas tentativas, ouvi a Senhorita Caroline implorar a Jack para tomar uma taça de vinho, e o vi falar que era um vinho do porto, no entanto, no instante que colocou para baixo de seus lábios, exclamou ser ruim. Ele fez a cara mais horrivelmente feia e Senhorita Tomkinson veio com afobação severa para investigar o caso.

Descobriu-se que era algum vinho preto-groselha, e a mulher ficou envergonhada, mas bebi dois copos do maldito vinho, para me envolver em sua vergonha, e testemunhar a amargura daquele vinho.

Acho que ela não notou meus esforços, porque ela estava muito concentrada em ouvir as desculpas de Jack para sua observação.

Ele conversou com ela, com o rosto mais grave, afirmando que ele era um provador de vinhos, e que havia uma lembrança confusa da distinção entre vinho e vinagre, particularmente evitando este último, porque fora duas vezes fermentado, e que ele imaginara a Senhorita Caroline pedindo-lhe para tomar torrada e água, ou ele não tocaria o decantador.


Capítulo 8


Enquanto voltávamos para casa, Jack disse:

— Meu amigo! Me diverti tanto com a mocinha de azul. Disse a ela que você me escrevia todos os sábados, me contando os eventos da semana. Ela acreditou em cada palavra. — ele parou para rir. — Falei a ela que você estava profundamente apaixonado. — outra risada. — Que não me falara o nome da mulher, mas que ela tinha cabelos castanhos claros, em suma, dei-lhe uma descrição exata de da pobre, e que eu estava ansioso para vê-la, e implorei-lhe que nutrisse o segredo, porque você era fraco de coração com as mulheres. — ele riu até eu pensar que ele cairia. — Implorei a ela, se ela pudesse adivinhar quem era a mulher da minha descrição e ela falou que cuidaria disso, pois, afirmei que você descreveu um sinal na bochecha esquerda, da maneira tão poética, dizendo que Vênus tinha a beliscado por inveja, por ser tão adorável. Oh! Segure-me ou cairei! Riso e fome me fazem tão fraco! Bem, falei, implorei a ela, se ela soubesse quem seria a mulher, que essa mulher aceitasse o seu amor. Falei tantas mentiras, que até fantasiei você casado com a pequena senhora de azul.

Comecei a rir, mas de raiva. A Senhora Rose chegara em casa, e antes de ir para a cama, sentamos, comemos carne e conhaque, até duas horas da manhã.

Ele afirmou que eu entrara bastante no modo profissional de arrumação do quarto, e agindo de acordo como meus pacientes, se estavam doentes ou bem. Ele me imitou, e me fez rir. Ele saiu cedo na manhã seguinte.

O Senhor Morgan veio em sua hora habitual, ele e Marshland não eram sociáveis um com o outro, e fiquei desconfortável em ver dois amigos meus desprezando um ao outro.

O Senhor Morgan cumprimentou a Senhora Rose, e lamentou que ele não fora capaz de ir até à Senhorita Tomkinson, na noite anterior. Quando estávamos sozinhos, ele articulou:

— Fui até à Senhora Munton nesta manhã, os velhos espasmos. Posso perguntar para você sobre qual é a história que ela me contou sobre uma tal prisão? Confio, senhor, que ela cometeu algum pequeno erro, e que você nunca foi preso.

Comecei a rir, a história crescera como um cogumelo, de fato. O Senhor Morgan parecia nervoso. Mesmo assim, eu disse a verdade, com ele ainda mais nervoso:

— Não tenho dúvida, senhor, que você agiu corretamente, mas isso me parece estranho. Imaginei que era infundada a história. Infelizmente, há verdade nas palavras dela.

— Fiquei apenas uma noite na delegacia. Voltei novamente para lá, pela mesma causa, senhor.

— Senhor, seu bom espírito é muito parecido com Dom Quixote, mas você não vê que isso pode prejudicar sua profissão?

— Entendo!

— Tome minha palavra! Em pouco tempo, a história crescerá além das fronteiras da vila. No entanto, não anteciparemos o mal. Lamento que possa surgir em pouco tempo, um preconceito que a história pode excitar contra você. No entanto, não vamos pensar nisso. Não pense nisso, senhor!

Ficou claro que ele estava pensando muito sobre isso.


Capítulo 9


Dois ou três dias antes, recebi um convite dos Bullocks para jantar com eles no dia de Natal. A Senhora Rose ia passar a semana com amigos, na cidade onde ela morava anteriormente. Fiquei satisfeito com a noção de ser recebido em uma família, já que o Senhor Bullock, me parecia um companheiro de bom coração.

Mas, na terça-feira, antes do dia de Natal, veio um convite do vigário para jantar lá, que não teriam convidados, apenas sua família e o Senhor Morgan.

“Apenas própria família.”

Fiquei nervoso, por negar o convite do Senhor Bullock, de maneira grosseira e deselegante, lembrando dos ares de sua esposa, de pretensão e estupidez que ela sempre expressava.

Assim, pensei no que fazer.

Não! Não me daria tal dor de cabeça. O que me impedia de ir onde queria? Tudo o que eu podia fazer era juntar-me às meninas do vicariato, depois da igreja, e andar ao lado delas em um longo passeio pelo campo.

Elas estavam quietas, era evidente que o pensamento de Walter estava em suas mentes neste dia. Passamos por um bosque, onde havia um bom número de flores plantadas. A neve estava no chão, mas o sol era claro e brilhava sobre as folhas lisas. Lizzie me pediu para reunir algumas das frutinhas vermelhas, e ela começou com uma frase:

— Você se lembra?

Helen exclamou:

— Silêncio! — olhando para Sophy, que estava andando um pouco separada e chorando calada.

Havia evidentemente alguma conexão entre Walter e as frutas, uma vez que Lizzie jogou-as fora, de uma só vez, quando viu as lágrimas de Sophy.

Logo chegamos em uma brisa aberta. Ajudei as meninas e descemos pela encosta.

Peguei o braço de Sophy e ela me olhou, sabendo o que eu sentia por ela.

Eu mal pude suportar o adeus no portão do vicariato, porque queria entrar e passar o dia com ela.


Capítulo 10


Desabafei meu mau-humor no atraso em ir para o jantar dos Bullocks.

Havia um ou dois funcionários, para quem o Senhor Bullock era rude. A Senhora Bullock estava arrumada, sempre com as roupas da última moda.

Comecei a suspeitar que a mãe não se arrependeria se eu gostasse da enteada. Fui novamente colocado perto dela, no jantar, e, quando os pequenos entraram na sobremesa, fui obrigado a notar o quanto ela gostava de crianças, e, de fato, quando um deles ficou perto dela, seu rosto se iluminou, mas, no momento em que ela pegou este comentário alto, sussurrou, e a escuridão voltou novamente, com algo de raiva em seu olhar. Ela ficou bastante mal-humorada e obstinada, quando foi pedida para cantar na sala.

A Senhora Bullock virou-se para mim:

— Algumas moças não cantarão, a menos que sejam perguntadas por cavalheiros. Se você perguntar para Jemima, ela provavelmente vai cantar. Porque se eu pedir, é evidente que ela não vai.

Pensei que o canto provavelmente seria um grande tédio, mas eu, no entanto, fiz o que pedira. Fiz o meu pedido para a jovem, que estava sentada, um pouco separada. Ela olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e respondeu, em um tom decidido, se eu não tivesse visto seus olhos, eu pensaria serem como os de sua mãe.

— Não, senhor! Não vou cantar!

Ela se levantou e saiu da sala. Esperava ouvir a Senhora Bullock reclamar dela por sua obstinação. Em vez disso, ela começou a me dizer sobre o dinheiro que fora gasto em sua educação.

— Ela é muito tímida, mas canta bem. Onde quer que sua futura casa possa estar, não haverá falta de música.

Ela continuou elogiando-a até eu detestar cada palavra. Se eles pensavam que eu ia casar com aquela grande garota, eles estavam enganados.

O Senhor Bullock e os funcionários vieram. Ele trouxe Liebig em sua fala, e me chamou até ele.

— Posso entender uma boa parte dessa química agrícola. — ponderou ele — E colocá-lo em prática, sem muito sucesso, confesso. Mas essas letras desconectadas, parecendo um quebra-cabeças, suponho que apresentam algum significado.

— Acho que elas dão à página, uma aparência muito bonita. — analisou a Senhora Bullock, que se juntou a nós. — Herdo um pouco do gosto do meu falecido pai por livros, e devo dizer que gosto de ver uma boa tipografia, borda ampla e toda elegante vinculação. Meu pai desprezava a variedade, ele ficava horrorizado com a literatura barata desses tempos! Ele não exigia muitos livros, mas ele tinha vinte edições daqueles que ele gostava. Elegância era tudo para ele.

— Vá e faça chá, minha querida e deixe o Senhor Harrison e eu, sozinhos.

Expliquei o significado dos símbolos e a doutrina dos equivalentes químicos. Por fim, ele reclamou:

— Doutor! Você está me explicando rápido demais. Faça isso com calma! Isso é ser profissional, como o Senhor Morgan chamaria! Me explique, mas com tranquilidade. De tudo o que você tem me dito, só posso lembrar que “C” significa Carbono e “O”, vem de Oxigênio. Vejo que preciso saber o significado de todas essas letras confusas, antes que eu possa fazer algo correto.

— Jantaremos em seguida! — pronunciou a Senhora Bullock. — Sempre haverá uma faca e garfo para o Senhor Harrison, Bullock! Deve almoçar conosco também!

— Por que, você vê, sempre tiro um cochilo depois do almoço, então, não estudarei química após estufar minha barriga.

— Não seja egoísta, Senhor Bullock! Pense no prazer que Jemima e eu teremos na presença do Senhor Harrison.

Coloquei um fim à discussão, dizendo que eu viria no almoço, ocasionalmente, e daria ao Senhor Bullock uma lição, mas que os deveres profissionais me ocupavam invariavelmente até aquele momento.

Eu gostava do Senhor Bullock. Ele era simples e astuto, e estar com ele foi um alívio, depois de todo o contato com pessoas do sexo feminino.


Capítulo 11


Na manhã seguinte, encontrei a Senhorita Horsman.

— Então, você jantou no Senhor Bullock ontem, Senhor Harrison? Ouvi dizer que foi uma festa de família e tanto! Eles estão muito encantados com você e seu conhecimento de química. O Senhor Bullock me disse isso, na loja do Hodgson, agora mesmo. A menina Bullock é agradável?

Ela olhou bruscamente para mim. Claro! O que quer que eu pensasse, não podia fazer nada além de parecer favorável.

— Ela também tem uma pequena fortuna, de três mil libras!

O que me importava? Ela podia ter três milhões para mim. Eu começara a pensar em melhorar meus negócios, no entanto, sem qualquer conexão com ela.

Eu estava escrevendo sobre alguns termos médicos e pensando em ganhar uns trezentos por ano, e com essa perspectiva de aumento, pensei em Sophy. Quanto mais eu pensava em como ela era boa, doce e bonita, mais sentia que ela teria muito mais do que eu ofereceria.

Além disso, meu pai era um lojista, e vi que o vigário tinha uma espécie de respeito por minha família. Eu queria crescer em minha profissão. Seguindo todos os conselhos do Senhor Morgan.

Eu tinha meus olhos abertos para cada vislumbre de Sophy. Comprei luvas e tentei oferecer pudins que a Senhora Rose fazia.


Capítulo 12


Quanto mais eu sabia da Senhora Rose, mais gostava dela. Ela era afetuosa e maternal, isso nos protegia de qualquer atrito.

A machuquei, uma ou duas vezes, creio, a cortando, quando ela contava suas longas histórias sobre o Senhor Rose. Entretanto, descobri que quando ela tinha muito a fazer, ela não pensava muito nele, então, expressei um desejo por camisas novas, e, no quebra-cabeça de inventar como elas seriam cortadas, ela esqueceu o Senhor Rose por algum tempo.

Ela era uma boa costureira, um legado deixado por sua família. Quando o Senhor Morgan perguntou se ela ainda queria morar comigo, ela falou que sim, pois, tinha o interesse em ser uma irmã para mim.

A jovem do condado, a Senhorita Tyrrell, voltou para a casa da Senhorita Tomkinson, depois das férias. Ela tinha um alargamento das amígdalas, que precisavam ser frequentemente tocadas com cáusticas, então, muitas vezes, eu a visitava.

Caroline sempre me recebia e falava em seu estilo desolado, depois que eu visitava minha paciente.

Um dia, ela falou acreditar ter uma fraqueza sobre o coração, e ficaria feliz se eu trouxesse meu estetoscópio da próxima vez, e assim o fiz.

Enquanto eu estava de joelhos, ouvindo as pulsações, uma das moças entrou e disse:

— Oh! Meu Deus! Peço perdão, senhora! — e saiu.

Não havia problema com o coração da Senhorita Caroline, apenas um pouco fraco em ação ou algo assim, uma mera questão de fraqueza. Quando desci, vi duas ou três garotas espiando pela porta da sala entreaberta, mas fecharam imediatamente, e as ouvi rindo.

Na outra vez que fui até lá, a Senhorita Tomkinson estava sentada, me esperando.

— A garganta da Senhorita Tyrrell não parece fazer muito progresso. Você entende o caso, Senhor Harrison, ou devemos ter mais conselhos? Acho que o Senhor Morgan provavelmente sabe mais sobre isso.

Assegurei ser a coisa mais simples do mundo. Que ela devia fazer o que estava prescrito, e que era realmente um processo lento. Que o remédio que a jovem estava tomando, iodeto de ferro, eu tinha certeza que seria bem-sucedido, embora, o progresso não fosse rápido. Ela inclinou a cabeça, e bufou:

— Que seja assim, então!

Entretanto, ela confessou ter mais confiança em medicamentos que sabiam que tinha algum efeito.

Ela parecia esperar que eu lhe dissesse algo, mas eu não tinha nada a dizer, e consequentemente me despedi.

De alguma forma, a Senhorita Tomkinson sempre conseguiu me fazer sentir muito pequeno, por uma sucessão de esnobes atos, e, sempre que a deixava, tinha que me confortar sob suas contradições, dizendo a mim mesmo:

“Ela diz isso porque não sabe sobre o assunto. Jamais estudou sobre!”

Ou inventei boas retrucas que teria efeito aos seus discursos bruscos, se pensasse neles, na hora certa. Mas, eu não tinha a presença de espírito para encontrar estes argumentos quando eles eram procurados.


Capítulo 13


No geral, as coisas passaram bem.

“Quinhentas libras, mobiliaria a casa!”, pensei quando a Senhora Rose saiu e Sophy veio.

Fiquei encantado em imaginar que Sophy percebeu a diferença de meus modos para com ela, que divergiam de qualquer outra pessoa, e que ela estava envergonhada e tímida em consequência disso, mas não ficou irritada.

Tudo era tão florescente, que eu caminhava sobre asas, em vez de pés. Estávamos muito ocupados, sem ter cuidados ansiosos.

Meu quinhão foi pago pelas mãos do Senhor Bullock, que uniu um pouco de negócio bancário à sua profissão de direito.

Em troca de seu conselho sobre investimentos, que eu nunca quis tomar nada em troca, fui com bastante frequência à sua casa, para ensiná-lo sua química agrícola.

Eu estava tão feliz sobre o olhar de Sophy, que me tornei benevolente, desejoso de ajudar todos.

A Senhorita Bullock e eu, estávamos bastante amigáveis. Descobrimos que não gostávamos mutuamente um do outro, e estávamos satisfeitos com a descoberta. Se as pessoas valem algo, esse não gostar é um bom começo de amizade. Toda boa qualidade que é revelada naturalmente e lentamente, é uma surpresa agradável.

Descobri que a Senhorita Bullock era sensata, e até mesmo doce, quando não irritada com os esforços de sua madrasta para exibi-la. Mas ela ficaria mal-humorada por horas, depois de um elogio ofensivo da Senhora Bullock sobre seus pontos bons. Nunca vi uma raiva tão negra, quando ela entrou na sala, e a Senhora Bullock estava me contando sobre suas coisas.

Procurei no campo por uma gloriosa camélia, que enviei para Sophy, no Dia dos Namorados.

Não adicionei uma linha, mas desejei que as flores pudessem falar, e dizer-lhe como eu a amava.

Visitei a Senhorita Tyrrell naquele dia. Caroline estava mais simplista e afetada do que nunca, e cheia de alusões ao dia.

— Você segura muita sinceridade de significado, Senhor Harrison? — perguntou ela, em um tom definhando.

Pensei nas minhas camélias, e como meu coração ia com elas até Sophy, mas eu disse que aproveitaria o tal tempo sincero, para sugerir sentimentos que não se atreviam totalmente a serem expressos.

Lembrei-me depois, da exibição forçada que ela fez, após a Senhorita Tyrrell sair da sala, mas não tomei conhecimento na época, minha cabeça estava cheia de Sophy.

Foi nesse mesmo dia que John Brouncker, o jardineiro, de todos que tinham pequenos jardins para manter em ordem, caiu e machucou o pulso severamente, não lhe dou os detalhes do caso, porque eles não lhe interessariam, sendo muito técnico. Se você tiver alguma curiosidade, você vai encontrá-los em Lancet.

Todos gostávamos do John, e este acidente foi sentido como o infortúnio para a cidade, os jardins, também.

Morgan e eu fomos até ele. Foi um caso muito estranho, sua esposa e filhos estavam chorando tristemente. Ele próprio estava em grande angústia por ser afastado do trabalho, e implorou-nos para fazer algo que o curasse rapidamente, já que ele não podia se dar ao luxo de ser colocado de repouso, com seis filhos dependendo dele para comer.

Não falamos muito, e pensamos que a mão teria que ser amputada, e era sua mão direita.

Conversamos quando saímos da casa.

O Senhor Morgan não tinha dúvidas sobre a necessidade. Voltei depois do almoço, para ver o pobre coitado. Ele estava febril e ansioso, porque pegara alguma expressão do Senhor Morgan na parte da manhã, e adivinhara a medida que tínhamos em vista. Ele mandou sua esposa sair da sala e falou comigo sozinho.

— Por favor, senhor! Prefiro morrer que ter a mão arrancada. Serei um fardo para minha família. Não tenho medo de morrer. Mas não serei capaz de suportar ser um aleijado. Comer pão, e não ser capaz de ganhá-lo.

As lágrimas estavam em seus olhos com seriedade. Sempre tive mais dúvidas sobre a necessidade da amputação que o Senhor Morgan. Eu sabia de tratamentos melhores em tais casos. Havia algum avanço na prática cirúrgica, então, dei ao pobre coitado alguma esperança.

À tarde, encontrei o Senhor Bullock.

— Então, você vai tentar uma amputação, será amanhã? Pobre John Brouncker! Eu costumava dizer que ele não era cuidadoso o suficiente sobre suas escadas. O Senhor Morgan está muito entusiasmado com isso. Ele me pediu para estar presente, e ver o quão bem um homem de Guy operaria, e ele diz que tem certeza que você vai fazê-lo muito bem.

O Senhor Bullock foi uma sombra pálida de um pensamento triste.

— Curioso, como profissionalmente, um homem vê essas coisas! Aqui está o Senhor Morgan, que estava sempre tão orgulhoso de você, como se fosse seu próprio filho, absolutamente esfregando as mãos na ideia desta glória coroada! Ele me disse que sempre ficava nervoso nas cirurgias, portanto, preferia enviar os pacientes para Chesterton. Mas agora, qualquer um pode ter suas mãos em ajuda.

Falei ao Senhor Bullock, que poderíamos evitar a amputação, mas sua mente estava preocupada com a ideia disso, e ele não se importava em me ouvir.

A cidade inteira estava cheia desse rumor. Porque em uma cidade tão pequena, as notícias voavam.

A Senhorita Horsman parou-me para perguntar sobre o John Brouncker com interesse, mas ela me jogou água fria sobre a minha intenção em salvar sua mão.

— Quanto à esposa e família, cuidaremos deles. Pense que é uma boa oportunidade para se exibir, Senhor Harrison!

Isso foi exatamente o que ela falou. Sempre pronta com suas sugestões rudes.

O Senhor Morgan ouviu minha proposta, do modo de tratamento pelo qual achei possível salvar a mão, e agora eles pensavam em amputar também o braço, para meu desespero.

— Discordo de você, Senhor Harrison! — resmungou. — Me arrependo do que pretendo fazer, mas discordo de você. Seu coração gentil engana você, neste caso. Não há dúvida de que a amputação deve ocorrer. Não mais tarde que amanhã de manhã, devo dizer. Quero que seja meu assistente. Porque meu braço trêmulo me incapacita de algumas coisas.

Perdi minhas razões sobre ele novamente, porque ele estava obstinado. Ele tinha, de fato, se vangloriado tanto de minhas aquisições como um cirurgião, que ele não estava disposto em perder a oportunidade de mostrar minha habilidade.

Ele não podia ver que havia maior habilidade evidenciada em salvar o braço. Fiquei com raiva de sua velha mente limitada, mas, ao contrário dele, não tentei persuadi-lo em minha causa.

Nos separamos muito friamente, e fui até John Brouncker, dizer-lhe que acreditava que salvaria o braço, se ele se recusasse a amputá-lo.

Quando me acalmei um pouco, antes de entrar e falar com ele, não pude deixar de reconhecer que eu corria o risco e depois de pensar, séria e conscientemente, sobre o caso, eu tinha certeza que meu modo de tratamento seria melhor.

Ele era um homem sensato.

Expliquei a ele a diferença de opinião que existia entre o Senhor Morgan e eu, e que havia algum pequeno risco à não amputação, mas que eu seria capaz de preservar seu braço.

— Sob a bênção de Deus! — respondeu ele com reverência.

Abaixei a cabeça.

Eu queria falar sobre a dependência que senti naquela bênção sagrada, quanto ao resultado dos meus esforços, contudo, eu estava feliz em ouvir esse discurso de John, porque mostrou um coração calmo e fiel, e tive certas esperanças a partir desse momento.

Concordamos que ele falaria ao Senhor Morgan a razão de suas objeções à amputação e sua confiança na minha opinião.

Decidi reler todos os livros relacionados ao caso, para convencer o Senhor Morgan, se pudesse, da minha sabedoria.

Infelizmente, descobri depois, que ele encontrara a Senhorita Horsman, antes que eu pudesse vê-lo novamente em sua casa naquela noite, e ela sugerira meu esquivo em realizar a operação, por razões muito bobas. Ela ouvira que os estudantes de medicina em Londres eram ruins, e não notáveis para o atendimento regular nos hospitais. Ela estava enganada, pensando que, talvez, por ser John Brouncker pobre, não havia motivos para cuidar dele.

O Senhor Morgan fora tocado por suas palavras.

Só ficamos mais e mais irritados um com o outro, e a raiva surgiu diante de nós, embora ele, para fazer-lhe justiça, era tão civil quanto podia, pensando que assim, ele escondia a sua decepção.

Ele não tentou esconder sua ansiedade sobre o pobre John. Fui para casa cansado e desanimado. Fiz as pazes e levei as aplicações necessárias para John, e, prometendo voltar ao amanhecer, mesmo desejando ficar de vigília. Porém, eu não queria que ele se alarmasse ao me ver parado ao seu lado, a noite inteira.

Fui para casa, e resolvi sentar e estudar o tratamento de casos semelhantes.

A Senhora Rose bateu na porta.

— Entre! — respondi bruscamente.

Ela viu que eu tinha algo em minha mente o dia todo, e ela não podia ir para a cama sem perguntar se não havia nada que ela pudesse fazer.

Por sua gentileza, eu não podia deixar de dizer um pouco da verdade. Ela ouviu e apertei calorosamente sua mão, pensando que ela não pudesse ser muito sábia sobre os assuntos médicos, contudo, seu bom coração fez valer uma dúzia de pessoas inteligentes, como a Senhorita Horsman.

Quando cheguei lá, ao amanhecer, vi a esposa de John por alguns minutos fora da porta. Ela parecia desejar que seu marido estivesse nas mãos do Senhor Morgan, mas ela tentou ser cordial comigo e falou como ele passara a noite. Isso foi confirmado pelo meu exame, ao olhar o homem.

Quando o Senhor Morgan e eu o visitamos, juntos, mais tarde, John afirmou o que concordamos no dia anterior, e eu disse ao Senhor Morgan que foi pelo meu conselho que a amputação foi recusada. E, assim, ele não falou comigo até saímos de casa.

Então, ele reclamou:

— Agora, senhor! A partir deste momento, considero este caso inteiramente em suas mãos. Lembre-se que o pobre coitado tem uma esposa e seis filhos. No caso de você errar, o Senhor White poderia vir, como ele fez antes, para a operação.

Então, o Senhor Morgan acreditava que eu recusara operar porque me sentia incapaz e não porque era o certo para ser feito! Muito bem! Eu estava muito mortificado.

Uma hora depois que nos separamos, recebi um bilhete nesse sentido:

“CARO SENHOR, tomarei a longa viagem hoje, para deixá-lo em liberdade para atender ao caso de Brouncker, que sinto ser muito responsável. J. MORGAN”

Isso foi gentilmente feito. Voltei, assim que pude, para a casa do John.

Enquanto eu estava na sala com ele, ouvi as vozes da Senhorita Tomkinson lá fora, depois ela entrou, e, evidentemente, estava cutucando a Senhora Brouncker, que respondera que eu estava ali, e resolvi cumprimentá-la.

— O que é esse cheiro? — perguntou ela para a mulher. — Tenho medo que a casa não esteja limpa. É queijo! Cheira a queijo! Não admira que haja um cheiro desagradável. Você não sabe o quão particular a casa deve estar limpa quando há doença?

A Senhora Brouncker, sempre impecável em suas limpezas, ficara desapontada com essas observações.

— Por favor, senhora! Não pude deixar John ontem, e me privei de qualquer trabalho doméstico. Jenny guardou as coisas do jantar. Ela tem apenas oito anos.

Mas isso não satisfez a Senhorita Tomkinson, que estava, evidentemente, perseguindo o curso de suas observações desagradáveis.

— Manteiga fresca, declaro! Brouncker, sabe que não é permitido manteiga fresca nesta época do ano? Como você pode lidar, de fato, com tal extravagância?

— Por favor, senhora! — respondeu a Senhora Brouncker. — Você não acharia estranho, se eu tomasse tais liberdades em sua casa, como você está tomando aqui?

— Esperava ouvir uma resposta digna. Não uma afronta!

A Senhorita Tomkinson só tolerava respostas assim, de sua irmã.

— Vamos supor que esteja certa! — bufou. — Ainda assim, você não deve estar acima de mim em dar conselhos. Manteiga fresca é extravagante nesta época do ano. No entanto, você é uma boa mulher, e tenho um grande respeito por John. Venha, Caroline! Temos que ir até Williams.

Mas Senhorita Caroline disse que ela estava cansada, e descansaria ali, até Senhorita Tomkinson voltar.

Quando estava sozinha com a Senhora Brouncker, ela se desculpou:

— Você não deve ser ferida pela maneira abrupta de minha irmã. Ela tem boas intenções, mas modos estranhos de agir. Ela não tem muita simpatia, e não consegue entender a distração da mente produzida pela doença de um marido adorado.

Ouvi o suspiro alto de comiseração que se seguiu a este discurso, com a Senhora Brouncker respondendo:

— Por favor, senhora! A palavra adoro serve à Deus.

— Meu Deus! Você não acha perverso, acha? De minha parte, se ... Eu adoraria, eu deveria adorá-lo, Deus e não outro?

Pensei que ela não imaginava casos tão improváveis. Mas a resistente Senhora Brouncker falou novamente:

— Espero saber melhor o meu dever. Não aprendi meus Mandamentos à toa. Sei a quem devo adorar.

As crianças entraram, com suas roupas e rostos sujos e a verdadeira natureza da Senhorita Caroline espiava. Ela falou bruscamente com eles, e perguntou-lhes se eles não tinham maneiras, porquinhos como eles eram, para passar as mãos sujas contra seus vestidos daquela forma.

Ela adoçava-se novamente, e era tão açucarada quanto o amor, quando a Senhorita Tomkinson voltou para ela, acompanhada por uma, cuja voz era como ventos no verão suspirando, e eu sabia ser minha querida Sophy.

Ela não falou muito, mas o que ela articulou, e a maneira em que ela ponderou, foi terno e compassivo, no mais alto grau. Ela veio para levar os quatro pequenos de volta com ela para o vicariato, a fim de tirar o fardo do cuidado das crianças que a esposa de John carregava, os dois mais velhos podiam ajudar em casa.

Sophy se ofereceu para lavar as mãos e rostos, e quando fui embora, depois que a Senhorita Tomkinson saíra, a encontrei com uma criança gordinha de joelhos, borbulhando contra sua mão branca molhada, com um rosto brilhante, rosado e alegre sob a operação.

Assim que entrei, ela falou para ele:

— Lá, Jemmy! Agora posso beijá-lo com essa cara limpa e agradável.

Ela coloriu quando me viu. Eu gostava de sua voz, mesmo gostando do silêncio dela também.

Dei minhas instruções para a Senhora Brouncker, que se apressou a ultrapassar Sophy e as crianças.

Eu estava muito ansioso sobre o caso. À noite, voltei. A Senhorita Horsman estivera lá, mas ela não tinha, acredito, um ar gentil para os pobres, porém, não podia deixar de colocar sua marca em todos os lugares.

Ela fora assustadora para a Senhora Brouncker sobre seu marido, e foi, não tenho dúvida, expressando suas dúvidas sobre a minha habilidade.

A Senhora Brouncker começou:

— Oh! Por favor, senhor! Se você só deixar o Senhor Morgan tirar o braço, não vou pensar o pior de você, por não ser capaz de fazê-lo.

Eu disse a ela que era, sem dúvida, de minha competência a realização da cirurgia, porém, que eu queria salvar o braço, e que seu marido estava ansioso para poupá-lo também.

— Deus abençoe-o! Ele se preocupa em não ganhar o suficiente para nos manter, se ele estiver aleijado. Mas, senhor, não me importo com isso. Eu trabalharia meus dedos até os ossos, e assim como as crianças, tenho certeza que ficaríamos orgulhosos de fazer o trabalho duro por ele. Deus o abençoe! Seria muito melhor tê-lo apenas com um braço, que tê-lo no adro da igreja, pedindo esmolas como a Senhorita Horsman diz.

— Não dê ouvidos ao que a Senhorita Horsman diz! — respondi.

— Obrigada, Senhor Harrison! — disse a voz, bem conhecida, atrás de mim.

Ela saíra, no escuro, para trazer algum linho para a Senhora Brouncker, pois, como expliquei antes, ela era muito gentil com as pessoas pobres de Duncombe.

— Peço perdão! — falei.

Pois, eu realmente sentia muito pelo meu discurso, ou melhor, porque ela ouvira.

— Não há motivo para qualquer pedido de desculpas. — respondeu ela, desenhando-se e beliscando os lábios.

John estava indo muito bem. Antes que eu partisse, sua esposa me pediu para tirar o braço, ela torceu as mãos em sua súplica apaixonada.

— Poupe-o para mim, Senhor Harrison! — ela implorou.

A Senhorita Horsman ficou parada, humilhante o suficiente, mas pensei no poder que estava em minhas mãos, como eu acreditava firmemente, de salvar o membro, e eu era inflexível sobre isso.

Você não pode pensar como agradavelmente a simpatia da Senhora Rose veio em meu retorno. Com certeza, ela não entendia uma palavra do caso que eu detalhava para ela, mas ela ouviu com interesse, e, enquanto ela segurava a língua, pensei que estava realmente entendendo.

— Você está ansioso para salvar o braço dele. Vejo como isso será difícil. Meu falecido marido tinha um caso semelhante, e me lembro de sua ansiedade, mas você não deve se afligir muito, meu querido Senhor Harrison! Porque você, não tenho dúvidas, dará o seu melhor.

Eu sabia que ela não tinha motivos para a tal garantia, e ainda assim, ela me consolou.

Como esperado, John melhorou, porém, foi um longo tempo até reunir suas forças, e ele aceitou, com gratidão, a proposta da Senhora Rose em enviá-lo para Highport, por uma quinzena ou três semanas e assim tomar um ar fresco. Sua gentil generosidade neste assunto me fez mais desejoso de lhe pagar cada marca de respeito e atenção.


Capítulo 14


Nessa época, houve uma venda em Ashmeadow, uma bela casa no bairro de Duncombe.

Da mesma forma, os dias de primavera tentaram muitas pessoas que não tinham intenção de comprar nada, mas que gostavam da ideia de divagar pela floresta alegre, com flores selvagens, e de ver os jardins e a casa, que até então estavam calados, na entrada dos habitantes da cidade.

A Senhora Rose planejara ir, mas um resfriado a impediu. Ela me implorou para lhe trazer um relato muito particular, dizendo que ela gostava de detalhes, porque questionava o Senhor Rose sobre os detalhes dos jantares para onde ele foi.

A conduta do falecido Senhor Rose sempre foi mantida como modelo para mim, a propósito.

Caminhei até Ashmeadow, parando em algumas visitas na casa dos moradores da cidade, todos ligados na mesma direção.

Finalmente encontrei o vigário e Sophy, e com eles, fiquei. Sentei-me com Sophy, falei e ouvi.

Uma venda é uma reunião muito agradável, afinal. Havia ali um leilão, e o leiloeiro, tendo um conhecimento pessoal da maioria das pessoas, às vezes, pode fazer um sucesso muito aguçado em suas circunstâncias, e virar a risada contra eles.

Por exemplo, na ocasião, havia um fazendeiro presente, com sua esposa, que tinha uma égua cinzenta. O leiloeiro estava vendendo algumas selas de cavalos, e chamou para recomendar o artigo para ela, dizendo-lhe que ficaria belo no animal. Ela desenhou-se com dignidade, e disse:

— Venha, John! Tivemos o suficiente disso.

Houve uma explosão de risos, e no meio dele, John humildemente seguiu sua esposa para fora do lugar.

Os móveis nas salas de estar eram, acredito, muito bonitos, mas não notei muito. De repente, ouvi o leiloeiro falando comigo:

— Senhor Harrison, você não vai dar um lance para esta mesa?

Era uma mesa muito bonita de madeira de nozes. Achei que ficaria bem na minha sala de estudos, então, dei-lhe uma oferta. Vi a Senhorita Horsman dando lances contra mim, então, saí com força total, e finalmente ganhei. O leiloeiro sorriu e me parabenizou.

— Será um presente útil para a futura Senhora Harrison.

Todos riram. Eles gostavam de uma piada sobre casamento, e era tão fácil de compreender. A mesa que eu pensara, era para escrever, mas acabou por ser uma mesa de artesanato, tesoura e dedal, logo em seguida.

Não admira que eu parecia tolo. Sophy não estava olhando para mim, isso foi um desconforto para meus olhos. Ela estava ocupada, observando um alazão selvagem.

A Senhorita Horsman veio, com seus olhos curiosos.

— Não tinha ideia de que as coisas estavam longe o suficiente, para você estar comprando uma mesa de trabalho, Senhor Harrison.

Ri em meu constrangimento.

— Não sabia, Senhorita Horsman? Você está muito atrasada. Você não ouviu falar do meu piano, então?

— Não, de fato! — resmungou ela, meio incerta se eu estava falando sério ou não.

— Talvez, ela pode não estar querendo também! — disse eu.

“Ela não está querendo...” foi o que falei para deixar perplexa a sua curiosidade aguçada, que arrependimento!


Capítulo 15


Quando cheguei em casa, encontrei a Senhora Rose em alguma tristeza.

— A Senhorita Horsman falou comigo, depois que você saiu. Você já ouviu falar que John Brouncker está em Highport?

— Está muito bem! — respondi. — Falei com sua esposa agora, ela estava escrevendo uma carta para ele. Está tudo bem. Ela está trabalhando na Senhora Munton, porque sua serva está doente.

— Na Senhora Munton? Oh! Isso explica isso, então. Ela é tão surda, e comete tais erros.

— Sobre o quê? — indaguei.

— Oh! Talvez é melhor não lhe dizer. — hesitou a Senhora Rose.

— Me diga imediatamente! Peço perdão, mas odeio mistérios.

— Você é tão parecido com o meu pobre e querido Senhor Rose. Ele costumava falar comigo dessa maneira. É sobre a Senhorita Horsman, ela estava fazendo uma coleta de dinheiro para a viúva de John Brouncker.

— Mas o homem está vivo!

— Então... Parece, mas a Senhora Munton lhe disse que ele estava morto. Ela mencionou o Senhor Morgan e o do Senhor Bullock.

Entramos, eu e o Senhor Morgan, em uma maneira curta de falar um com o outro, desde que diferimos sobre o tratamento do braço de Brouncker. Eu ouvira uma ou duas de suas agitações da cabeça sobre o caso de John. Ele não falaria contra o meu método para o mundo, e imaginava que ele escondera seus medos.

— Senhorita Horsman é muito mal-humorada, creio. — suspirou a Senhora Rose.

Vi que algo fora dito, mas que eu não ouvira falar.

— Oh! Não sei se eu deveria te dizer. Só sei que ela me fez chorar. Pois, não estou bem, e não posso suportar ouvir coisas desse tipo.

— Fale! O que a Senhorita Horsman disse de mim? — perguntei, meio rindo, pois, eu sabia que não havia amor perdido entre nós.

— Oh! Ela só disse que se perguntava o motivo de você ir ao leilão, e gastar seu dinheiro lá, quando sua ignorância fizera Jane Brouncker uma viúva e seus filhos sem pai.

— Por Deus! John está vivo! E, provavelmente viverá a mesma quantidade que anos que eu e você.

Quando minha mesa de trabalho chegou em casa, a Senhora Rose ficou tão impressionada com sua beleza e completude, e, eu estava agradecido pela bondade de toda a sua conduta sobre John e identificação dos meus interesses com os dela, que lhe implorei para aceitá-la.

Ela parecia muito satisfeita.

Depois de algumas desculpas, ela consentiu em tomá-la, e colocou-a na parte mais visível da sala da frente, onde ela geralmente se sentava.

Passou um tempo e, de fato, John estava vivo e foi estabelecido para a condenação de todos que duvidaram, exceto a Senhorita Horsman, que, acredito, ainda duvidava.

Eu disse ao Senhor Morgan, que imediatamente foi recuperar o seu dinheiro das mãos da Senhora Horsman, e ficou grato pela informação, assim, ele me apertou calorosamente a mão, pela primeira vez, em um mês.


Capítulo 16


Alguns dias depois da venda, eu estava na sala de consultoria. As portas dobráveis estavam um pouco entreabertas, creio. A Senhora Munton veio para chamar a Senhora Rose, e surda, ouvi todos os discursos da última senhora, porque fora obrigada a falar muito alto para ser ouvida. E assim, eu só conseguia ouvir a sua voz:

— Este é um grande prazer, Senhora Munton. É raro vê-la sair.

— Oh! Muito bem, obrigada! Tome este lugar, e, então você pode admirar a minha nova mesa de trabalho, senhora. Um presente do Senhor Harrison.

— Quem disse isso para você, senhora? Senhorita Horsman?

— Oh! Sim! Mostrei para a Senhorita Horsman.

— Não entendo muito bem, senhora!

— Não estou corando, acredito.

— Oh! Sim! O Senhor Harrison e eu estamos mais confortáveis juntos. Ele me lembra o caro Senhor Rose, tão inquieto e ansioso em sua profissão.

— Tenho certeza que está brincando agora, senhora.

Então ouvi um barulho.

— Oh! Não!

— Ele? Realmente? Bem, não sei. Eu estaria arrependida de pensar que ele estava condenado a ser infeliz em um caso tão sério, mas sabemos o meu respeito eterno para o falecido Senhor Rose.

— O Senhor Rose sempre pensou mais na minha felicidade que na dele.

— Ninguém foi mais feliz que eu. Como você diz, é um elogio ao matrimônio.

— Oh! Mas você não deve repetir tal coisa! Harrison não gostaria. Ele não pode suportar ter seus assuntos falados.

Então, houve uma mudança de assunto, um inquérito, e ouvi a Senhora Rose dizer:

— Ela tem uma membrana mucosa, receio, senhora.

— Nem sempre fatal. Acredito que o Senhor Rose conhecia alguns casos que viveram por anos, depois que foi descoberto que eles tinham uma membrana mucosa.

Uma pausa houve. Então a Senhora Rose falou em um tom diferente.

— Você tem certeza, senhora, não há erro sobre o que ele disse?

— Senhora Munton?

A conversa se rompeu e ouvi a Senhora Munton dizer na passagem:

— Desejo-lhe alegria, senhora, com todo o meu coração. Não adianta negar. Pois, vi o tempo todo o que aconteceria.

Quando fui jantar, perguntei à Senhora Rose:

— Sobre Munton. Será que ela trouxe alguma notícia?

Para minha surpresa, ela sorriu e respondeu:

— Oh! Não pergunte, Senhor Harrison. São apenas fofocas tolas.

Não perguntei, como ela parecia desejar, e eu sabia dos relatos bobos, mas ela parecia irritada porque não perguntei.

Ela continuou tão estranha, que eu não podia deixar de olhar quando ela pegou seu bordado e segurou-o entre mim e ela. Realmente me senti um pouco ansioso.

— Você não está se sentindo bem? — perguntei inocentemente.

— Oh! Obrigada! Acredito que estou muito bem. Apenas preciso de um pouco de ar quente, porque está frio.

— Deixe-me colocar as cortinas para o lado.

O sol começava a ter uma boa dose de poder. Puxei as cortinas.

— Você é tão atencioso, Senhor Harrison. O Senhor Rose nunca fez mais para os meus pequenos desejos do que você faz.

— Eu gostaria de poder fazer mais. Eu gostaria de poder mostrar o quanto sinto sua bondade para com o pobre John Brouncker.

Antes de continuar, fui chamado para visitar um paciente. Porém, voltei e falei:

— Cuide-se, minha querida Senhora Rose. É melhor você descansar um pouco.

— Se deseja, irei. — disse ela, ternamente.

Realmente pensei que ela não estava muito bem, e precisava descansar, pela sua inquietude na hora do chá, mas que eu sabia a verdadeira bondade de seu coração.

Ela disse desejar adoçar minha vida como ela poderia adoçar o meu chá. Disse-lhe que ela era um conforto em minha ansiedade.


Capítulo 17


Na manhã seguinte, encontrei o Senhor Bullock para receber meu quinhão pelas aulas.

Quando saí do escritório dele, sentindo-me cheio de riquezas, encontrei a Senhorita Horsman. Ela sorriu severamente e começou:

— Oh! Senhor Harrison, devo parabenizá-lo, acredito. Não sei se deveria saber, mas como conheço, devo desejar-lhe alegria. Uma boa soma, também. Eu sempre disse que você teria dinheiro.

Então, ela descobrira sobre os valores que eu recebia? Bem, não era segredo, e todos gostam da reputação em ser uma pessoa de propriedade. Assim, sorri e falei que se eu pudesse alterar os números ao meu gosto, ela me parabenizaria ainda mais.

Ela disse:

— Oh! Senhor Harrison, você não pode ter tudo! Seria melhor para o outro lado, certamente. Dinheiro é a grande coisa, como você descobriu. Mas quando se morre, tudo se vai para os outros.

— Não tenho muitos parentes.

— Querido! Nenhum irmão?

Desejei-lhe bom dia e saí. Em pouco tempo cheguei na casa da Senhorita Tomkinson.

A Senhorita Tomkinson sentou-se em estado grave para me receber. Entrei com um ar calmo, porque sempre me senti tão desconfortável ao seu lado.

— É verdade que eu soube? — perguntou ela, de uma maneira inquisitorial.

— Pensei que ela aludiu as minhas quinhentas libras, então sorri.

— O dinheiro pode ser um objeto tão grande, Senhor Harrison? — perguntou ela novamente.

Eu disse que nunca me importei muito com dinheiro, exceto como uma assistência a qualquer plano de se estabelecer na vida, e então, como não gostei de sua maneira severa de tratar o assunto, expliquei que eu esperava que cada um estivesse bem, embora, é claro, eu soubesse que alguém estava doente ali, já que me chamaram.

A Senhorita Tomkinson parecia muito rígida e triste. Então, ela respondeu:

— Caroline está muito mal, as palpitações de idade machucam seu coração, mas é claro que isso não é nada para você.

Eu disse sentir muito, mas eu sabia que Caroline tinha uma fraqueza.

— Posso vê-la? Talvez eu possa pedir algo para ela.

Pensei ouvir a Senhorita Tomkinson dizer algo em voz baixa sobre eu ser um enganador sem coração. Então, ela falou:

— Sempre desconfiei de você, Senhor Harrison. Jamais gostei da sua aparência. Implorei à Caroline, várias vezes, para não confiar em você. Previ como acabaria. E agora, temo que sua preciosa vida será um sacrifício.

Implorei-lhe para não se afligir, pois, com toda a probabilidade, havia muito pouco para ser feito.

— Posso vê-la?

— Não! — disse ela, levantando-se como se me demitisse. — Pelo meu consentimento, você nunca a verá novamente.

Me curvei. Eu estava irritado, é claro. Tal coisa prejudicaria minha prática e eu devia controlar a minha raiva.

— Você não tem desculpas, nenhuma desculpa para oferecer?

Eu disse que fizera o meu melhor. Não senti haver qualquer razão para oferecer desculpas aos doentes. Desejei-lhe bom dia e me afastei. De repente, ela veio para a frente:

— Oh! Senhor Harrison! — gritou ela. — Se você realmente amou Caroline, não deixe um pouco de dinheiro insignificante fazê-lo abandoná-la por outra.

Fui atingido, porque eu amava a Senhorita Caroline e ainda assim eu não gostava dela. Ela continuou:

— Economizei quase três mil libras. Se você pensa que é muito pobre para se casar sem dinheiro, vou dar tudo para Caroline. Sou forte, e posso continuar trabalhando, mas ela é fraca, e a decepção vai matá-la!

Ela sentou-se e cobriu o rosto com as mãos, depois, olhou para cima.

— Você não está disposto, vejo. Não creio que eu insistiria se fosse para mim, mas ela teve tanta tristeza.

Ela chorou bastante em voz alta. Tentei explicar, mas ela não quis ouvir, e continuou dizendo:

— Retirar-se de minha casa, Senhor!

— Nunca tive nenhum sentimento mais caloroso do que respeito pela Senhorita Caroline, e nunca mostrei nenhum sentimento diferente. Nunca pensei em torná-la minha esposa, e ela não teve nenhuma causa em meu comportamento para imaginar que eu tivesse tal intenção.

— Isso está adicionando insulto a honra de Caroline! — resmungou ela. — Senhor, vá embora! Vá, neste instante!


Capítulo 18


Fui, e, infelizmente, em uma cidade pequena, tal ocorrência era certamente falada e distorcida.

Quando fui para casa, jantar, e para fazer a confidência à boa Senhora Rose.

Não consegui comer. Ela assistiu ao rito ternamente, e suspirou quando viu a minha falta de apetite.

— Tenho certeza que tem algo em mente, Senhor Harrison. Seria um alívio para transmiti-lo para algum amigo simpatizante.

Era exatamente o que eu queria fazer.

— Minha querida e gentil Senhora Rose... — falei. — Devo dizer-lhe, se você quiser ouvir.

Ela pegou a tela do bordado, e segurou-a, como ontem, entre mim e ela.

— O mal-entendido mais infeliz aconteceu. A Senhora Tomkinson acha que tenho prestado atenção à Senhorita Caroline... Posso lhe dizer, Senhora Rose? Minhas afeições são colocadas em outro lugar. Talvez, você já perceera isso! Pois, de fato, pensei estar muito apaixonado para esconder meu apego a Sophy de qualquer um que conhecia meus movimentos, bem como você, Senhora Rose.

Ela pendurou a cabeça, e disse que encontrara o meu segredo.

— Então, só pense como miseravelmente estou. Se eu tiver alguma esperança... Oh! Senhora Rose, você acha que tenho alguma esperança?

Ela colocou a tela mais diante de seu rosto, e depois de alguma hesitação, ela falou o que pensou:

— Se você perseverar, com o tempo, você terá esperança.

Então ela, de repente, se levantou e saiu da sala.


Capítulo 19


Naquela tarde, avistei o Senhor Bullock na rua. Minha mente estava tão cheia do caso com a Senhorita Tomkinson, que passei por ele sem perceber, e ele me chamou e disse querer falar comigo, sobre as minhas maravilhosas quinhentas libras, suponho. Mas não me importava com isso naquele instante.

— O que é isso que ouço? — falou ele, severamente. — Vai noivar com a Senhora Rose?

— Com a Senhora Rose? — exclamei, quase rindo, embora meu coração estivesse pesado o suficiente.

— Sim! Com a Senhora Rose! — respondeu.

— Não estou noivo da Senhora Rose. — repliquei. — Há algum engano!

— Estou feliz em ouvi-lo, senhor! Muito feliz. No entanto, requer alguma explicação. A Senhora Rose foi parabenizada e reconheceu a verdade do acontecido. É confirmado por muitos fatos. A mesa de trabalho que você comprou, confessando sua intenção em dar o presente à sua futura esposa, e agora é dela. Como você contabiliza essas coisas, senhor?

Eu não sabia o que falar, nem como explicar.

— Senhor, muito bem! Muito bem! — falou ele, ficando muito vermelho. — Vou cuidar para que o Senhor Morgan saiba a opinião que tenho de você. O que você acha que um homem merece ser chamado, quando entra em uma família sob o apelo da amizade, e se aproveita de sua intimidade para ganhar os afetos da filha, e, depois se envolve com outra mulher?

Pensei que ele se referia a Senhorita Caroline, e simplesmente disse que só diria que eu não estava comprometido, e que a Senhorita Tomkinson estava enganada em supor que eu estava prestando qualquer atenção para sua irmã, além daqueles ditados por mera civilidade.

— A Senhorita Tomkinson? Senhorita Caroline? Não entendo o que você se refere. Há outra vítima em sua perfídia? O que aludi são as atenções que você deu à minha filha, a Senhorita Bullock.

— Outra?

Eu poderia, com a isenção de responsabilidade, como eu fizera no caso de Senhorita Caroline, mas meu desespero tomou forma. A Senhorita Horsman também se apresentaria como vítima dos meus afetos?

O que o Senhor Morgan pensaria? Mas, no que diz a Senhorita Bullock, fui corajoso na minha inocência. Eu não gostava dela, mas não disse ao pai dela nesses tons, embora, em termos mais civis e medidos, acrescentando que eu tinha certeza que o sentimento era recíproco.

Ele olhou, como se ele quisesse me chicotear.

— Espero que minha filha tenha bom senso o suficiente para desprezar você. Espero que ela tenha, isso é tudo, confio que minha esposa pode estar equivocada quanto aos seus sentimentos.

Então, ele ouvira o relato pela sua esposa. Isso explicou algo e me acalmou bastante.

Implorei que ele perguntasse à Senhorita Bullock se ela pensara que eu tinha algum sentimento oculto na minha relação com ela, além da mera simpatia, e não muito disso, seria acrescentado.

— Meninas! — disse Bullock, um pouco mais silenciosamente. — Elas não gostam de reconhecer que foram enganadas e desapontadas. Considero o testemunho da minha esposa confiável, porque está mais perto da verdade que o da minha filha, por essa razão. E ela me diz que nunca duvidou, mas que, se não absolutamente engajados, vocês se entendiam perfeitamente. Ela tem certeza que minha filha está profundamente ferida por seu noivado com a Senhora Rose.

— De uma vez por todas, não estou noivo de ninguém! Até que você tenha visto sua filha, e ouça a verdade, vou desejar-lhe adeus.

Me curvei de uma maneira dura, arrogante, e saí para casa. Mas quando cheguei à minha porta, lembrei da Senhora Rose, e tudo o que o Senhor Bullock falara sobre ela reconhecer a verdade do meu noivado com ela.

Onde eu estaria seguro?

A Senhora Rose, a Senhorita Bullock ou Senhorita Caroline? Elas eram como se fossem três pontos de um triângulo equilátero, e eu estava no centro.

Eu iria ao Senhor Morgan e beberia chá com ele. Lá, de qualquer forma, eu estava seguro de qualquer uma casamenteira.

Como seria profissionalmente brando, sem ser mal compreendido? Mas lá, também, um contratempo me aguardava.


Capítulo 20


O Senhor Morgan parecia raivoso. Depois de um minuto ou dois cantarolando, ele falou:

— Visitei a Senhorita Caroline Tomkinson, Senhor Harrison. Lamento saber disso. Estou triste por descobrir que parece que houve alguma brincadeira com o afeto de uma senhora muito digna. A Senhora Tomkinson, que está triste, me disse que ela tinha todos os motivos para acreditar que você estava apaixonado pela irmã dela. Posso perguntar se você não pretende casar com ela?

Eu disse que não havia pensamentos sobre.

— Meu caro senhor! — exclamou o Senhor Morgan, bastante agitado. — Não se expresse tão fortemente e com veemência. É pejorativo falar assim. É mais respeitoso dizer, nestes casos, que você não se aventura a entreter uma esperança, tal maneira é geralmente compreendida, e não soa como objeção tão dura.

— Não posso, senhor! Tenho que falar da minha maneira natural. Eu não falaria de maneira desrespeitosa com qualquer mulher. Mas nada deve me induzir a casar com Senhorita Caroline Tomkinson. Mesmo que ela fosse Vênus ou a rainha da Inglaterra. Não consigo entender o que deu origem à ideia.

— De fato, senhor... Acho que é muito simples. Você atende o chamado, e invariavelmente faz dele um pretexto para ver e conversar com a senhora.

— Isso foi o que ela falou, não eu! — reclamei com veemência.

— Permita-me continuar... Você é visto, de joelhos diante dela, depois uma carta... Você reconhece a sinceridade do significado que você afixa a tais coisas?

Ele parou, pois, em sua seriedade, ele falara mais do que o habitual, e estava sem fôlego. Entrei com minhas explicações:

— Não sou seu namorado! Nunca escrevi cartas para ela!

— Está em sua caligrafia! — disse ele friamente. — Eu estou profundamente triste, na verdade, reconheci a sua caligrafia.

Tentei novamente, e finalmente consegui convencê-lo de que eu fora apenas infeliz, não intencionalmente culpado de ganhar o afeto da Senhorita Caroline. Expliquei estar me esforçando, era verdade, para praticar a maneira que ele recomendara, de simpatia universal, e lembrei à sua mente, alguns dos conselhos que ele tinha me dado.

— Mas, meu caro senhor, eu não tinha ideia de que você iria realizá-lo para tais consequências! Jamais passei por tal situação.

Eu ainda estava angustiado. O Senhor Morgan só ouvira falar de uma, contudo, havia três senhoras, incluindo a Senhorita Bullock, esperando para se casar comigo. Ele viu meu aborrecimento.

— Não fique muito angustiado com isso, meu caro senhor! Eu tinha certeza que você era um homem muito honrado desde o primeiro instante. Com uma consciência como a sua, eu desafiaria o mundo.

Ele ficou ansioso para me consolar, e eu estava hesitando se contaria a ele todos os meus três dilemas, quando um bilhete foi entregue para ele. Era da Senhora Munton. Ele jogou para mim, com uma cara de desânimo.

“Meu CARO Senhor MORGAN, eu sinceramente parabenizo-o pelo feliz comprometimento matrimonial que ouvi que você formou com a Senhorita Tomkinson. Todas as circunstâncias anteriores, como acabei de comentar com a Senhorita Horsman, combinam-se em prometer-lhe felicidade. Desejo que cada bênção possa assistir à sua vida de casado. Sinceramente, JANE MUNTON.”

Eu não podia deixar de rir, ele fora tão firme em parabenizar a si, que era um homem honrado e que jamais houve problemas daquela natureza. Ele resmungou:

— Senhor! Isso não é motivo de riso! Asseguro que não é.

Não pude resistir a perguntar, se eu deveria concluir que não havia verdade no relatório.

— Verdade, senhor! É uma mentira do começo ao fim. Não gosto de falar muito decididamente sobre qualquer senhora, e tenho um grande respeito pela Senhorita Tomkinson. Mas garanto-lhe, senhor, que logo elas falarão que me casaria com um dos protetores de Sua Majestade. A Senhora Tomkinson é uma senhora muito digna, mas, uma fofoqueira perfeita.

Ele ficou muito nervoso, evidentemente inseguro, pensando que não era impossível a Senhorita Tomkinson correr até ele e falar para casar.

Tenho certeza que ele tinha uma ideia fraca de sequestro em sua mente. Ainda assim, ele estava melhor que eu, pois, estava em sua casa, e relatório era de apenas uma senhora.

Na verdade, uma maçã da discórdia fora lançada em nossa pequena cidade.

Eu suspeitava, na época, o que sei agora, que era a Senhorita Horsman fazendo fofocas, mas não intencionalmente.

Ela gritara a história do meu comportamento com a Senhorita Caroline até as orelhas surdas da Senhora Munton, e aquela senhora, entendeu errado e acreditou que eu estava noivo da Senhora Rose, misturando o pronome masculino, o relacionando com o Senhor Morgan, a quem ela tinha visto naquela tarde com a Senhorita Tomkinson.


Capítulo 21


Sendo um covarde, não tive coragem em voltar para casa, mas, eu era obrigado a voltar.

Fiz tudo o que pude para consolar o Senhor Morgan, mas ele se recusou meu carinho.

Finalmente, fui para casa. Toquei a campainha. Não sei quem abriu a porta, mas acho que foi a Senhora Rose. Mantive um lenço na minha cara, e, murmurando algo sobre ter uma dor de dente terrível, voei até o meu quarto e tranquei a porta.

Eu esquecera a vela na sala, mas o que isso importava? Preferia o escuro a encarar a Senhora Rose.

Eu não conseguia dormir, e quando caí em uma espécie de cochilo, foi dez vezes pior para acordar. Não me lembrava se estava noivo ou não. Se eu estivesse noivo, quem era a dama?

Eu queria entender onde errara. Fascinante, eu certamente devia ser, para três mulheres estarem correndo atrás de mim, um belo homem.

Assim que amanheceu, levantei-me para verificar o fato no espelho, eu era mesmo bonito?

Mesmo com a melhor disposição para me convencer que eu era belo, eu não podia ver nenhuma beleza marcante na minha cara oval, quase quadrada, com uma barba fraca.

“Eu devia estar feliz!”

Tudo isso falei em segredo. Eu não queria o pouco da minha vaidade conhecida pelo mundo.

Voltei e dormi um pouco mais. Fui acordado por uma batida na minha porta. E na fresta, um bilhete, da criada que ajudava a Senhora Rose:

“MEU CARO SENHOR, já faz quase vinte anos que não tenho um pouco de descanso, e acho que minha saúde exige isso. Também tenho a maior confiança em você, e certeza que esse sentimento é compartilhado por nossos pacientes. Não tenho, portanto, nenhum escrúpulo em colocar em execução um plano formado às pressas, e ir para Chesterton, pegar o trem mais cedo a caminho de Paris. Ficarei longe, provavelmente por quinze dias. Direto para Meurice. J. MORGAN. Observação: Talvez seja melhor não citar para onde fui, especialmente para a Senhorita Tomkinson. Agradeço.”

Ele tinha me abandonado.

Ele, com apenas um relatório fofoqueiro me deixou para manter minha posição indigesta com três.

— A Senhora Rose colocou o café da manhã na mesa, senhor. São nove horas!

— Diga à Senhora Rose que não quero café da manhã. Se puder, traga a bandeja. Vou tomar uma xícara de chá aqui mesmo!

A menina trouxe a bandeja para a porta.

— Espero que não esteja doente, senhor? — murmurou ela gentilmente.

— Não muito, ficarei melhor quando eu tomar ar fresco!

— A Senhora Rose parece tristemente preocupada! — falou ela.

Tomei o chá e saí pela porta lateral do jardim.


Capítulo 22


Eu tinha a intenção de pedir ao Senhor Morgan para chamar o vicariato, e dar sua explicação de despedida, antes que eles pudessem ouvir o relatório fofoqueiro.

Pensei que, se eu pudesse ver Sophy, eu falaria com ela, mas não queria encontrar o vigário.

Fui ao longo da estrada, na parte de trás do vicariato, e veio, de repente, a Senhorita Bullock. Ela coloriu, e me perguntou se eu permitiria que ela falasse comigo.

Ela estava quase chorando.

— Devo lhe dizer, Senhor Harrison, o esperei aqui para falar com você. Ouvi com o maior arrependimento a conversa de papai com você ontem. — ela estava chorando bastante. — Acredito que a Senhora Bullock quer me casar. É a única maneira pela qual posso explicar uma deturpação tão completa como ela disse ao papai. Não me importo com você, nem sinto nenhum sentimento. Você nunca prestou atenção em mim. Você tem sido quase rude comigo e gosto desse jeito. Jamais gostei de você!

— Estou realmente feliz em ouvir o que você diz! — respondi. — Eu tinha certeza que havia algum erro.

Mas ela chorou amargamente.

— É tão difícil sentir que meu casamento, ou melhor, minha ausência, é desejada tão sinceramente em casa. Temo, a cada nova amizade que desenvolvo com qualquer cavalheiro. Com certeza, será o início de uma série de ataques contra mim, dos quais todos devem estar cientes, e pensam que sou uma moça disposta ao casamento com qualquer um. Mas não me importaria, se não fosse pela convicção que ela me deseja tão sinceramente longe. A minha querida mãe jamais faria tal coisa!

Ela chorou mais que nunca. Eu estava realmente triste, peguei a sua mão, e falei:

— Minha querida Senhorita Bullock...

A porta, na parede do jardim do vicariato, se abriu e surgiu o vigário com a Senhorita Tomkinson, cujo rosto estava todo inchado de choro.

Ele me viu, mas não se curvou, ou fez qualquer sinal. Pelo contrário, ele olhou para baixo como de uma eminência grave, e fechou a porta, às pressas. Virei-me para a Senhorita Bullock.

— Temo que o vigário ouvira algo da Senhorita Tomkinson, e é muito estranho...

Ela terminou minha frase:

— E perceber que estamos conversando? Sim! Não sei o que fazer, mas, desde que entendamos que não nos importamos um com o outro, não me importo com o que as pessoas dizem.

— Oh! Importo-me! — falei. — Porque estimo a Senhorita Hutton.

— Sophy! Oh! Senhor Harrison, estou tão feliz, tenho certeza de que ela é uma criatura doce. Oh! Desejo-lhe alegria.

— Ainda não me felicite! Nunca falei sobre isso com ela.

— Oh! Mas é certo que vai acontecer.

Ela saltou com a rapidez de uma mulher para uma conclusão. Então, ela começou a elogiar Sophy.

Andei ao seu lado, mas não passamos pela frente do vicariato. Olhei para cima, vi Sophy lá, e ela me viu.

Naquela tarde, ela foi mandada embora, enviada para visitar sua tia. Na realidade, era devido aos relatos da minha conduta, que foram regadas ao vigário, e um dos quais, ele viu confirmado por seus próprios olhos.


Capítulo 23


Ouvi falar da partida de Sophy, logo depois que acontecera. Não me importava com o constrangimento da minha situação.

Senti que algo estava errado, que Sophy foi tirada de mim. Me afundei em desespero. Se alguém gostasse de casar comigo, talvez, eu estava disposto a ser sacrificado.

Não falei com a Senhora Rose. Ela perguntou para mim, e lamentou sobre a minha frieza, mas eu deixara de sentir qualquer coisa.

A Senhora Tomkinson me encontrou na rua, e isso não quebrou meu coração, porque Sophy foi embora, era tudo o que me importava.

Para onde a mandaram?

Quem era a tia dela que ela visitava?

Um dia, vi Lizzie, que parecia que recebera um aviso para não falar comigo, mas não pude deixar de fazê-lo.

— Você ouviu falar de sua irmã? — perguntei.

— Sim!

— Onde ela está? Espero que ela esteja bem.

— Ela está no Leoms! Oh! Sim, ela está muito bem. Fanny diz que ela estava no baile na quarta-feira passada, e dançou a noite toda com os oficiais.

Perdi a força das pernas. Acho que não desejei adeus à Lizzie.


Capítulo 24


O que a maioria das pessoas consideraria algo mais sério do que a ausência de Sophy, aconteceu comigo.

Descobri que minha clínica estava caindo no desejo dos pacientes. O preconceito da cidade correu fortemente contra mim.

Munton me disse tudo o que fora dito. Ela ouviu através da Senhorita Horsman.

Foi dito, cidadezinha cruel, que minha negligência ou ignorância, fora a causa da morte de Walter, que a Senhorita Tyrrell piorara sob o meu tratamento, e que John Brouncker estava morto, sendo que ele estava bem vivo.

Todas as piadas e revelações de Jack Marshland, que foram, pensei, para o esquecimento, ressuscitaram até o meu descrédito.

Ele, para meu espanto, voltara para Duncombe, falando que meus amigos tinham má reputação.

Em suma, tão preconceituosos eram as boas pessoas de Duncombe que, acredito em muito pouco eles suspeitariam de mim, sobre um brutal assalto na estrada, que ocorreu na vila na mesma época.

A Senhora Munton me disse, quando mencionou o roubo, que ela nunca entendera a causa da minha prisão em Newgate. Ela tinha dúvida, a partir do que o Senhor Morgan lhe falara, que havia alguma boa razão para isso, e para acalmá-la, falei os detalhes.

A Senhorita Tomkinson pediu para o Senhor White, de Chesterton, visitar a Senhorita Caroline, e, como ele estava vindo, todos os nossos velhos pacientes pareciam tirar vantagem disso, e se apresentar para ele também.

Mas o pior de tudo, foi a maneira do vigário para mim.

Se ele falasse comigo, eu teria perguntado, contudo, a mudança congelante em seu comportamento foi indescritível, embora, amargamente sentida.

Ouvi falar da alegria de Sophy pela boca de Lizzie. Pensei em escrever para ela. E a quinzena de ausência do Senhor Morgan expirou. Fiquei cansado dos caprichos ternos da Senhora Rose, e não me confortava com sua simpatia, o que, de fato, eu preferia evitar.

Suas lágrimas irritadas me entristeciam.

Queria dizer para ela que não tinha intenção de casar com ela.


Capítulo 25


O Senhor Morgan mal chegou e foi direto para o vicariato.

Sophy voltara, sem que eu soubesse, estava doente e cansada, ansiava por descanso, e o resto parecia se aproximar com passos terríveis.

O Senhor Morgan esqueceu todas as suas aventuras parisienses, e o terror pela Senhorita Tomkinson, quando ele foi ver Sophy.

Ela estava doente, com febre, o que fez progressos temerosos.

Quando ele me disse, eu queria forçar a porta do vicariato, se eu pudesse, para vê-la. Mas me controlei, e só amaldiçoei minha fraca indecisão, o que impediu minha escrita para ela.

Eu não tinha mais pacientes, e se os tivesse naquele momento, teriam apenas uma baixa chance de atenção.

Fiquei com o Senhor Morgan, que podia me passar informações sobre minha amada e assim, ele fora meus olhos. Mas, pelo que ele me disse, percebi que as medidas que ele estava adotando eram impotentes para verificar uma doença tão súbita e violenta.

Ah! Não! Eu podia ajudá-la... Mas isso estava fora de questão. Não era apenas pelo meu personagem namorador que o vigário ouvira falar, mas, que minhas habilidades médicas eram precárias.

As coisas pioraram.

De repente, minha resolução foi tomada. O respeito do Senhor Morgan por Sophy o tornou mais magro, geralmente tímido em sua prática.

Eu tinha o meu cavalo selado e galopei para Chesterton. Peguei o trem expresso para a cidade. Fui ao Doutor que me ajudara tantas vezes. Eu disse a ele todos os casos. Ele ouviu, mas balançou a cabeça. Ele anotou uma receita, e recomendou uma nova preparação, ainda não em pleno uso, uma preparação de um veneno, na verdade.

— Pode salvá-la! — disse ele. — É uma chance, em tal estado de coisas como você descreve. Deve ser dado no quinto dia, se o pulso suportar.

Fui para a botica, quis ajudar, porém, minhas mãos tremiam, de modo que eu não podia pesar as quantidades.

Pedi ao jovem para fazer isso por mim. Me despedi, sem tocar na comida que o rapaz oferecera ao me ver tão pálido. Fui para estação, com meu remédio e minha receita no bolso.

De volta, corri pelo campo. Saltei na baía Maldon, e galopei até Duncombe.

Mas, parei quando cheguei ao topo da colina acima do antigo salão, de onde pegamos o primeiro vislumbre da cidade, pois, pensei que ela estaria morta, e temia chegar perto da certeza.

Os espinheiros estavam na floresta, nos prados, a canção dos tordos encheu o ar, mas só fez o pensamento vagava ainda mais terrível.

“Se, neste mundo de esperança e vida, ela estiver morta?” pensei.

Ouvi os sinos da igreja suaves e claros. Foi o sino que passou? Não! Estava tocando oito horas. Coloquei esporas no meu cavalo, descendo a colina. Corremos para a cidade, desci do cavalo e corri para o Senhor Morgan.

— Ela está... — falei.

— Muito doente! Meu pobre coitado, vejo como está você! Ela pode viver, mas temo. Meu caro senhor, temo muito!

Eu disse a ele da minha jornada e consulta, mostrando-lhe a prescrição. Suas mãos tremiam enquanto ele colocava seus óculos para ler.

— Este é um remédio muito perigoso, senhor! — afirmou ele, com o dedo sob o nome do veneno.

— É uma nova preparação. Ela depende disso! — garanti.

— Não ouso administrá-lo em Sophy! — respondeu ele. — Nunca tentei tal coisa. Deve ser muito poderoso. Não ouso tentar neste caso.

Eu estava impaciente, mas não adiantava muito. Minha jornada foi em vão. Quanto mais eu insistia no perigo iminente, do caso exigindo algum remédio poderoso, mais nervoso ele ficava.

Eu disse que largaria a nossa parceria. O ameacei com isso, porém, na verdade, era uma antecipação do que resolvera antes da doença de Sophy, porque eu perdera a confiança de seus pacientes. Ele só disse:

— Não posso ajudá-lo, senhor. Vou me arrepender pelo bem de seu pai, mas devo cumprir meu dever. Não me atrevo a correr o risco de dar à Senhorita Sophy este remédio violento. Isso é uma preparação de um veneno mortal.

O deixei, sem uma palavra. Ele estava muito certo em aderir ao seu ponto de vista, como posso ver agora, mas na época eu o achava brutal e obstinado.


Capítulo 26


Fui para casa. Falei rudemente com a Senhora Rose, que aguardava meu retorno na porta. Passei correndo e me tranquei no quarto. Não dormi.

O sol da manhã veio derramando, e me enfureci, pensando na recusa do Senhor Morgan. Puxei as cortinas para baixo tão violentamente que a corda rompeu. O que isso significa? A luz entrou. O que era o sol para mim? Então lembrei que aquele sol estaria brilhando sobre ela, já morta.

Sentei e cobri meu rosto. Rose bateu na porta. Abri. Ela também não dormira e chorara também.

— Senhor Morgan quer falar com você, senhor!

Corri de volta com o meu remédio, e desci para ver ele. Ele ficou na porta, pálido e ansioso.

— Ela está viva, senhor! — exclamou ele. — Mas isso é tudo. Chamamos o Doutor Hamilton. Receio que ele não chegue a tempo. Sabe, senhor, acho que devemos nos aventurar neste remédio. É apenas uma chance, a única, temo. — ele chorou bastante antes de terminar. — Peço perdão, senhor, pela minha recusa abrupta ontem à noite.

— De fato! Senhor! Mas não temos tempo para perder com falas. Sophy precisa de nós!

Ao chegar na porta da casa de Sophy, com uma mansidão que me surpreendeu, ele falou que eu não poderia entrar e administrá-lo.

— Não, senhor! — afirmou ele. — Receio que não deva entrar. Tenho certeza que seu bom coração não gostaria disso. Também pode agitá-la, se ela tiver alguma consciência antes da morte. Em seu delírio, muitas vezes mencionara o seu nome. Ouvi também, o nosso bom vigário falar um pouco fortemente sobre você, mas eu, na verdade, o ouvi amaldiçoá-lo. Você vê o mal que pode fazer na paróquia, se tentar entrar?

Dei-lhe o remédio, o vi entrar, e a porta foi fechada. Fiquei esperando naquele lugar, o dia todo.

Pobres e ricos, todos vieram perguntar. O povo do condado dirigiu-se em suas carruagens, até o homem manco veio de muletas perguntar.

A ansiedade deles fez bem ao meu coração.

O Senhor Morgan me disse que ela dormiu, e vi o Doutor Hamilton entrar em casa.

A noite acabou.

Ela dormiu.

Voltei para casa. Vi a luz no alto, queimando ainda e firme.


Capítulo 27


O Senhor Morgan saiu. Bom velho! As lágrimas corriam pelo rosto, ele não podia falar, mas continuava apertando minhas mãos. Eu não queria palavras. Entendi que ela estava melhor.

— O Doutor Hamilton diz que foi o único remédio que a salvou. Sou um velho tolo, senhor. Peço perdão! O vigário saberá tudo. Peço perdão, senhor, se fui abrupto.

Tudo aconteceu brilhantemente a partir daquele momento.

A Senhora Bullock chamando-me para se desculpar por seu erro, e, consequente, John Brouncker voltou para casa, corajoso e bem. Havia ainda a Senhorita Tomkinson nas fileiras do inimigo, mas eu não temia, porque eu tinha a Senhora Rose nas fileiras dos amigos.


Capítulo 28


Uma noite, ela fora para a cama, e eu estava pensando em ir dormir. Eu estava estudando na sala dos fundos. Li um bom número de livros cirúrgicos e também algumas revistas, quando ouvi um barulho, longo e continuo, batendo na porta, o suficiente para acordar toda a rua.

Antes que eu pudesse abrir a porta, ouvi aquela conhecida voz, era de Jack Marshland, porque uma vez ouvido, nunca seria esquecido.

— Quem bate à porta? — perguntei.

Embora estivesse chovendo muito no momento, e eu estivesse o esperando para entrar, ele quis terminar sua melodia ao ar livre, alta e clara, e, ao longo da rua soou. Vi a cabeça da Senhorita Tomkinson emergir de uma janela. Ela gritou:

— Polícia! Polícia!

Não havia polícia, apenas um policial reumático, mas era o costume das senhoras, quando alarmadas, à noite, chamar uma polícia imaginária, que tinha, como elas pensavam, um efeito intimidador, mas, como todos conheciam o estado real da cidade não vigiada, não importávamos muito com isso.

No entanto, eu queria recuperar meu caráter. Então, puxei Jack para dentro, tremendo, quando ele entrou.

— Você estragou a canção! — reclamou ele. — Sou quase um rouxinol.

Nos sentamos até tarde, e não sei como foi, mas eu disse a ele todas as minhas desventuras matrimoniais.

— Pensei que imitava sua mão muito bem! Era um Dia dos Namorados flamejante! Não admira que ela pensou que você a amava!

— Então, isso foi o seu trabalho, não foi? Agora vou te dizer o que você deve fazer para compensar isso. Você deve escrever uma carta, confessando sua farsa, uma carta que eu possa mostrar.

— Me dê pena e papel, meu rapaz! Você deve ditar. Devo escrever... Com um coração profundamente penitente? Será que isso faz um bom começo de um pedido de desculpas?

Eu disse-lhe o que escrever. Uma simples confissão.


Capítulo 29


Todo esse tempo eu sabia que Sophy estava se recuperando lentamente. Um dia, vi a Senhorita Bullock, que a visitara.

— Temos falado sobre você! — disse ela, com um sorriso brilhante, pois, uma vez que ela sabia que eu não gostava dela, ela se sentia mais confortável e podia sorrir muito agradavelmente.

Entendi que ela explicara o mal-entendido sobre os acontecimentos para Sophy, e quando a carta de Jack Marshlands chegou às mãos da Senhorita Tomkinson, respirei aliviado.

Mas o terceiro problema era o meu dilema. A Senhora Rose tinha muito do meu verdadeiro respeito por suas boas qualidades. Eu não gostava da ideia de uma explicação formal, na qual, seria dita sem feri-la.

Nos distanciamos muito, desde que ouvi falar do relatório do meu noivado com ela. Vi que ela estava triste por isso.

Enquanto Jack Marshland ficou conosco, senti meu caso na presença de uma terceira pessoa. Mas ele me falou, confidencialmente, que não ficaria muito tempo, por medo que algumas das senhoras o pegassem para casar.

Na verdade, eu não achava improvável que ele quebraria algum coração, se pudesse.

Quando ele conheceu a Senhorita Bullock quando eu ouvia seu relato esperançoso e alegre do progresso de Sophy, porque ela era uma visitante diária, ele me perguntou quem era aquela garota de aparência brilhante. E quando lhe disse que ela era a Senhorita Bullock de quem falara, ele observou que eu era um grande tolo, e me perguntou se Sophy tinha algo diferente em seus olhos esplêndidos.

Ele me fez repetir sobre as circunstâncias infelizes da Senhorita Bullock em casa, e depois tornou-se muito atencioso, um sintoma incomum e mórbido, no caso dele.

Depois que ele foi embora, pelos relatos gentis do Senhor Morgan e explicações, eu estava autorizado a ver Sophy.

Eu não podia falar muito, porque era proibido, por medo de agitar suas emoções.

Falamos do tempo e das flores, e ficamos em silêncio na maioria do tempo. Mas, sua mão branca estava na minha, e nos entendemos sem palavras.

Tive uma longa entrevista com o vigário depois, e saí feliz e satisfeito.

O Senhor Morgan apareceu à tarde, evidentemente ansioso, embora, ele não fizesse perguntas diretas para ouvir o resultado da minha visita no vicariato.

Eu disse a ele para me felicitar. Ele me apertou calorosamente pela mão, e depois esfregou as suas. Pensei em consultá-lo sobre meu dilema com a Senhora Rose, que temia ser profundamente afetada pelo meu noivado.

— Só há uma circunstância embaraçosa... — comecei. — É sobre a Senhora Rose.

Hesitei em como começar o assunto sobre ela receber parabéns por seu suposto noivado comigo, e seu apego manifesto, mas, antes que eu pudesse falar, ele invadiu:

— Meu caro senhor, você não precisa se preocupar com isso. Ela terá uma casa. Na verdade, senhor... — articulou, avermelhado um pouco. — Pensei em colocar um fim nos relatórios fofoqueiros que ligam meu nome com o da Senhorita Tomkinson. Pensei em casar com alguém. É uma contradição eficaz. Fiquei impressionado com admiração da Senhora Rose pelo seu falecido marido. Nesta manhã, recebi o consentimento da Senhora Rose para casar-me com ela, de fato, senhor!

Casamentos estavam na moda naquele ano.

Bullock me encontrou uma manhã, quando eu ia andar com Sophy.

Superamos nosso mal-entendido, graças a Jemima, e fomos amigáveis como sempre. Ele estava rindo em voz alta, enquanto caminhava.

— Pare, Senhor Harrison! — gritou ele, quando passei rapidamente. — Você já ouviu a notícia? Horsman acabou de me dizer que a Senhorita Caroline fugiu com o jovem Hoggins! Ela é mais velha que ele dez anos! É uma coisa muito boa para ela, no entanto... — acrescentou, de uma maneira mais séria. — O Hoggins pai é muito rico, e, embora ele esteja com raiva agora, logo se reconciliará com o filho.

Qualquer vaidade que eu teria entretido na partitura das três senhoras que foram, uma vez, cativadas pelos meus encantos, estava sendo rapidamente dispersada.

Logo após o casamento do Senhor Hoggins, vi a Senhorita Tomkinson cara a cara, pela primeira vez, desde nossa conversa memorável. Ela disse:

— Não se recuse a receber meus parabéns, Senhor Harrison, pelo seu mais feliz noivado com a Senhorita Hutton. Devo-lhe desculpas pelo meu comportamento, quando te vi pela última vez em nossa casa. Realmente acho que Caroline estava apaixonada por você, e isso me irritou, confesso, de uma forma muito errada e injustificável. Mas, a ouvi dizendo ao Senhor Hoggins ontem, que ela o amava, e que se apaixonou por ele depois de sua angústia ao ouvir aquele relatório falso sobre você e a Senhora Rose. Ela chorou e disse que eu não a entendia. Sinto muito por minha estupidez e maneira imprópria de falar. Espero que sejamos amigos agora, Senhor Harrison, pois, eu gostaria de ser cuidada pelo médico, marido de Sophy.

Para a Senhorita Tomkinson acreditar na substituição da indigestão por afeto decepcionado, apertei-a calorosamente pela mão, e fizemos as pazes.

E ela, virou a madrinha do nosso filho.


Capítulo 30


Tive alguma dificuldade em persuadir Jack Marshland a ser padrinho, mas, quando ele ouviu todos os pedidos, ele veio.

A Senhorita Bullock foi dama de honra.

Tomkinson disse que ele era um jovem reformado.

Jantamos todos na casa do Senhor Morgan, o vigário queria que fôssemos lá, assim falou Sophy.Helen não estava confiante que teria quantidade suficiente de carne e temia uma festa tão grande.

Tivemos um dia alegre.

Morgan foi gentil como sempre.

Horsman certamente estabeleceu uma história que o vigário estava pensando sobre a Senhorita Tomkinson.

Tivemos um feliz dia de Natal, e Jack Marshland se aproximou de Jemima.

Sophy desceu as escadas após colocar o bebê na cama, e Charles acordou.

 

 

 


[1] Colônia da coroa britânica entre 1802 e 1948, no que hoje é o Sri Lanka.
[2] Condimento geralmente feito com chalotas picadas, pimenta e vinagre.
[3] O termo in loco parentis, latim para "no lugar dos pais" refere-se à responsabilidade legal de uma pessoa ou organização de assumir algumas das funções e responsabilidades dos pais.
[4] Raça de cavalo para iniciantes, por ter personalidade mansa.
[5] Planta herbácea vivaz, que habita em solos frescos e florestas.
[6] Químico e inventor alemão.

 

 

                                                   Elizabeth Gaskell         

 

 

 

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