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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


BANIDO / Blake Pierce
BANIDO / Blake Pierce

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Os olhos de Robin se abriram.

Estava deitada e bem acordada em sua cama. Primeiro pensou que tinha sido despertada por um barulho vindo de algum lugar em sua pequena casa.

Vidro quebrando?

Mas ao ficar escutando por um momento, não ouviu nada além do ronco reconfortante da fornalha na cave.

Certamente apenas imaginara o som.

Nada de preocupante, Pensou.

Mas quando ela se virou para tentar voltar a dormir, sentiu uma dor súbita e aguda na perna esquerda.

Isso novamente, Robin pensou com um suspiro.

Ligou a lâmpada na mesa de cabeceira e afastou as cobertas.

Ela não se sentiu mais surpresa ao ver que não tinha perna esquerda. Já se acostumara com isso meses atrás. A perna havia sido amputada acima do joelho depois que seus ossos tinham sido esmagados até a polpa em um terrível acidente de carro no ano anterior.

Mas a dor era muito real - um aglomerado de sensações latejantes, dolorosas e ardentes.

Ela se sentou na cama e olhou para o coto sob a camisola de dormir. Ela sofria de dor do membro fantasma assim desde a amputação, principalmente à noite, quando estava tentando dormir.

Olhou para o relógio na mesa de cabeceira e viu que eram quatro horas da madrugada. Soltou um gemido de desânimo. Já tinha sido muitas vezes despertada pela dor a essa hora ou mais cedo, e ela sabia que não havia chance de voltar a dormir enquanto aquela sensação a atormentasse.

Ela considerou pegar sua caixa de espelho, um dispositivo de terapia que muitas vezes a ajudava em episódios como esse. Envolvia colocar o coto no final de uma longa caixa em forma de prisma com um espelho de um lado, de modo que a perna que lhe restava fizesse um reflexo. A caixa de espelho criava a ilusão de que ela ainda tinha as duas pernas. Era uma técnica estranha, mas eficaz, para diminuir ou mesmo se livrar da dor fantasma.

Ela observava o reflexo enquanto manipulava a perna que restava, apertando e abrindo os músculos dos pés, dos dedos e da barriga das pernas, enquanto enganava o cérebro a acreditar que ainda tinha as duas pernas. Imaginando que ela estava controlando a perna que faltava, podia muitas vezes trabalhar a dor e as cãibras que sentia ali.

Mas nem sempre funcionava. Requeria um nível de concentração meditativa que nem sempre conseguia atingir. E ela sabia por experiência que tinha poucas chances de sucesso logo depois de acordar nas primeiras horas da manhã.

Mais vale levantar-me e fazer alguma coisa, Pensou.

Considerou colocar a perna protética que mantinha ao lado de sua cama. Isso significaria esticar um forro de gel de nylon sobre o coto, puxar algumas meias sobre o forro para compensar o encolhimento do coto, depois prender a prótese no lugar, colocar o peso nela até que encaixasse.

Mal parecia valer a pena naquele momento - especialmente se tivesse sorte e a dor desaparecesse sozinha e ela pudesse voltar para a cama e dormir mais um pouco.

Em vez disso, vestiu o roupão de banho, pegou as muletas, enfiou os pulsos nos apoios e segurou as manoplas, depois saiu mancando do quarto para a cozinha.

Uma pilha de papéis a esperava na mesa com tampo de fórmica.

Ela trouxera para casa um enorme pacote de poemas e contos para ler - inscrições para a Sea Surge, a revista literária na qual trabalhava como editora assistente. Tinha lido mais de metade das peças na noite anterior, antes de ir para a cama, selecionando apenas algumas que poderiam ser dignas de publicação, deixando muitas outros de lado para serem rejeitadas.

Agora folheava um lote de cinco poemas especialmente ruins de um escritor notavelmente sem talento, o tipo de verso de cartão de felicidades que a revista muitas vezes recebia. Ela riu um pouco enquanto colocava os poemas na pilha de rejeição.

O próximo lote era completamente diferente, mas também típico do tipo de coisa que frequentemente tinha que avaliar. Aqueles poemas imediatamente lhe pareceram secos, sem nervo, obscuros e pretensiosos. Enquanto tentava entendê-los, sua mente começou a divagar e se viu pensando em como acabara morando sozinha naquela pequena mas confortável casa alugada.

Era triste lembrar como o casamento tinha terminado no começo do ano. Logo após o acidente e a amputação, seu marido, Duane, foi atencioso, carinhoso e solidário. Mas com o passar do tempo, tornou-se cada vez mais distante até que praticamente parou de lhe mostrar qualquer intimidade ou afeição.

Embora Duane não admitisse, Robin percebeu que ele simplesmente não a achava mais atraente fisicamente.

Ela suspirou quando se lembrou do quanto estavam apaixonados durante os primeiros quatro anos de casamento.

Sua garganta apertou quando se perguntou se alguma vez voltaria a experimentar esse tipo de felicidade. Mas sabia que ainda era uma mulher atraente, charmosa e inteligente. Certamente havia um homem maravilhoso lá fora que a veria como uma pessoa inteira, não meramente como uma amputada.

Ainda assim, a superficialidade do amor de Duane por ela tinha sido um golpe na sua autoconfiança e fé nos homens em geral. Era difícil não se sentir amargurada em relação ao ex-marido. Lembrou a si mesma como sempre fazia...

Ele fez o melhor que pôde.

Pelo menos o divórcio fora amigável e eles continuaram amigos.

Ouviu um som familiar vindo do exterior - o caminhão de lixo que se aproximava. Sorriu enquanto ansiava por um pequeno ritual que desenvolvera em tais manhãs sem dormir.

Levantou-se da mesa, colocou as muletas, andou até a janela da sala e abriu as cortinas.

O caminhão estava estacionando na frente de sua própria casa agora e o enorme braço robótico preso no caixote, levantou-o e despejou seu conteúdo no caminhão. E a caminhar ao lado do caminhão estava um jovem estranho.

Como sempre, Robin notou algo carinhosamente sincero nele enquanto seguia o caminhão em seu caminho, olhando atentamente em todas as direções como se estivesse mantendo algum tipo de vigilância.

Ela imaginou que ele deveria trabalhar para o departamento de saneamento da cidade, embora não tivesse certeza de qual seria o seu trabalho. Ele não parecia ter nada para fazer além de caminhar e garantir que a grande máquina fazia seu trabalho e não derrubava nenhum pedaço de lixo perdido.

Como sempre fazia quando o via na rua iluminada, sorria, tirava um braço do punho e acenava para ele. Ele olhou diretamente para ela, como sempre fazia. Ela achou estranho que ele nunca acenasse de volta, apenas ficou lá com os braços inertes devolvendo seu olhar.

Mas daquela vez fez algo que nunca tinha feito antes.

Ele levantou o braço e apontou na direção dela.

Para onde está apontando? Perguntou-se.

Então ela sentiu um calafrio quando se lembrou do momento em que acordou...

Eu pensei ter ouvido um som.

Ela pensou que poderia ser vidro quebrado.

E naquele momento percebeu...

Ele está apontando para algo atrás de mim.

Antes que ela pudesse se virar e olhar, sentiu uma mão poderosa agarrar seu ombro direito.

Robin congelou de medo.

Ela sentiu uma dor súbita e profunda quando algo penetrou em seu ouvido e o mundo ao redor dela rapidamente se dissolveu.

De seguida, já não sentiu absolutamente nada.

 

 

 


 

 

 


CAPÍTULO UM


No momento em que Riley se sentou no sofá da sala de estar e tirou os sapatos, a campainha tocou. Calculou que fosse alguém promovendo uma causa, querendo que ela assinasse uma petição ou passasse um cheque ou algo parecido.

Não é o que eu preciso nesse momento.

Acabara de deixar as filhas, April e Jilly, na escola para o seu primeiro dia de aulas. Estava ansiosa para relaxar por um tempo.

Só então ouviu Gabriela, sua governanta guatemalteca, chamá-la da cozinha...

“No te muevas, señora. Eu vejo quem é.”

Enquanto ouvia os passos de Gabriela na direção da porta da frente, Riley recostou-se e apoiou os pés na mesinha de centro.

Então ouviu Gabriela tagarelando alegremente com a pessoa na porta.

Um visitante? Riley se perguntou.

Riley se esforçou para calçar os sapatos quando ouviu passos se aproximando.

Quando Gabriela levou o visitante para a sala, Riley ficou surpresa e satisfeita em ver quem era.

Era Blaine Hildreth, seu namorado.

Ou é meu noivo?

Por aqueles dias não tinha certeza e aparentemente Blaine também não. Um par de semanas atrás ele tinha mais ou menos feito um pedido de casamento, então na semana anterior ele dissera que queria levar as coisas devagar. Ela não o via há alguns dias e não esperava que aparecesse naquela manhã.

Quando Riley começou a se levantar do sofá, Blaine disse, “Por favor, não se levante. Vou para junto de você."

Blaine se sentou ao lado dela e relaxou no sofá da sala da família. Riley sorriu e tirou os sapatos novamente.

Com uma risada leve, Blaine tirou os seus sapatos, e ambos apoiaram os pés na mesinha de centro.

Estar tão confortável com ele parecia muito legal para Riley, mesmo que ela não tivesse certeza do ponto em que se encontrava o seu relacionamento.

"Como foi sua manhã?" Blaine perguntou.

"OK" Disse Riley. "Acabei de deixar as meninas na escola."

"Sim, eu acabei de deixar Crystal também."

Como sempre, Riley podia ouvir uma nota de afeto sempre que Blaine mencionava o nome de sua filha de dezasseis anos. Ela gostava disso nele.

Então, com uma risada, Blaine acrescentou, “Ela parecia muito ansiosa para eu ir embora quando chegássemos lá. Acho que queria que eu saísse da vista de suas amigas.”

Riley também riu.

" April é igual" Disse ela. “As crianças parecem constrangidas em ter seus pais por perto nessa idade. Bem, a partir de amanhã, a minha vai pegar um ônibus.”

"Minha também."

Blaine colocou as mãos atrás da cabeça, se inclinou para trás e soltou um suspiro profundo.

"Crystal estará dirigindo em breve" Disse ele.

"Também April" Disse Riley. “Eu acho que ela pode solicitar sua licença em novembro. Não sei como me sinto sobre isso.”

"Nem eu. Especialmente porque ensinar Crystal a dirigir me deixou nervoso.”

Riley sentiu uma pontada de culpa.

Disse, "Receio não ter passado muito tempo ensinando April. Quase nunca, na verdade. Terá que se contentar com o treinamento na escola.”

Blaine encolheu os ombros e disse, "Você quer que eu passe algum tempo ensinando-a?"

Riley se encolheu um pouco. Ela sabia que Blaine conseguia ser mais um pai prático do que ela. Seu trabalho na UAC a manteve longe das habituais rotinas de mãe e filha, e ela se sentia mal com isso.

Ainda assim, era meio gentil da parte de Blaine se oferecer para ajudar, e ela sabia que não deveria sentir ciúmes se ele passasse mais tempo com April do que ela. Afinal, ele podia acabar sendo o pai de April dali a pouco tempo. Seria ótimo para April e Jilly terem um pai que lhes desse muita atenção. Isso seria mais do que o ex-marido de Riley, Ryan, alguma vez havia feito.

"Isso seria bom" Disse Riley. "Obrigada."

Gabriela entrou na sala carregando uma bandeja. A mulher corpulenta habilmente se movimentou quando o cachorro pequeno e de orelhas grandes de Jilly, Darby, e o gatinho preto e branco de April, Marbles, brincaram à volta de seus pés. Então Gabriela colocou a bandeja sobre a mesa de café na frente deles.

“Espero que estejam com vontade de café e champurradas.”

"Champurradas!" Blaine disse com prazer. "Que mimo!"

Enquanto Gabriela servia duas xícaras de café, Riley pegou um dos biscoitos amanteigados enrolados em sementes de gergelim. As champurradas tinham sido assadas há pouco e, claro, estavam absolutamente deliciosas.

Assim que Gabriela se virou para voltar para a cozinha, Blaine disse, "Gabriela, não vai se juntar a nós?"

Gabriela sorriu. “Por supuesto. Gracias.”

Foi até a cozinha buscar outra xícara, depois voltou, serviu-se de café e sentou-se em uma cadeira perto de Riley e Blaine.

Blaine começou a tagarelar com Gabriela, metade em inglês e metade em espanhol, perguntando-lhe sobre sua receita de champurrada. Enquanto chefe e proprietário de um restaurante de luxo, Blaine estava sempre interessado em ouvir os segredos culinários de Gabriela. Como de costume, Gabriela resistiu timidamente a dizer muito a princípio, mas finalmente lhe deu todos os detalhes sobre como preparar os deliciosos biscoitos guatemaltecos.

Riley sorriu e ouviu quando Blaine e Gabriela passaram a discutir outras receitas. Ela gostava de ouvi-los falar assim. Pensou que era incrível estarem os três juntos em casa.

Riley procurou em sua mente a palavra para descrever como as coisas pareciam bem ali e naquele momento. Então lhe ocorreu.

Aconchegante..

Sim, era isso. Ali estavam ela e Blaine, descansando sem sapatos no sofá, sentindo-se completamente aconchegados juntos.

Então Riley se sentiu um pouco melancólica quando percebeu algo.

Algo que a situação não era, era romântica.

No momento, Blaine não parecia o amante apaixonado que ela às vezes sabia que ele era. Claro, aqueles momentos românticos tinham sido poucos e distantes entre si. Mesmo quando eles passaram duas semanas em uma bela casa de praia naquele verão, tinham dormido em quartos separados por conta de seus filhos.

Riley se perguntou...

É assim que as coisas vão ficar entre nós se nos casarmos?

Riley reprimiu um suspiro ao pensar que eles já estavam agindo como um velho casal. Então sorriu enquanto considerava...

Talvez não haja nada de errado com isso.

Afinal, ela tinha quarenta e um anos de idade. Talvez fosse hora de desistir de um romance apaixonado. Talvez fosse hora de se acostumar com aconchego e conforto. E no momento, essa possibilidade realmente parecia a melhor.

Ainda assim, ela se perguntou...

Estamos realmente destinados a casar?

Ela desejou que pudessem tomar uma decisão de um jeito ou de outro.

Os pensamentos de Riley foram interrompidos com seu celular tocando.

Riley desanimou um pouco quando viu que o telefonema era de seu parceiro de longa data da UAC, Bill Jeffreys. Por mais que ela gostasse de Bill, tinha certeza de que aquela não era apenas uma ligação amigável.

Quando atendeu, Bill disse, “Riley, acabei de receber uma ligação do chefe Meredith. Ele quer ver você, eu e Jenn Roston em seu escritório imediatamente.”

"O que está acontecendo?" Riley perguntou.

“Houve alguns assassinatos em Connecticut. Meredith diz que parece obra de um assassino em série. Eu não sei detalhes ainda.”

"Eu estarei lá" Disse Riley, desligando a ligação.

Ela viu que Blaine e Gabriela estavam olhando para ela com preocupação.

Blaine perguntou, "É um novo caso de assassinato?"

"Parece que sim" Disse Riley, calçando novamente os sapatos. "Eu provavelmente vou para Connecticut imediatamente. Posso estar fora por um tempo.”

Gabriela disse, “Ten cuidado, Señora Riley”.

Blaine assentiu em concordância e disse, "Sim, por favor, tenha cuidado."

Riley beijou Blaine levemente e saiu da casa. Sua mochila já estava pronta e preparada no carro, por isso não precisou fazer nenhum outro preparativo.

Sentiu invadir-se por uma onda de antecipação. Ela sabia que estava prestes a sair de um mundo de aconchego e conforto rumo a um reino muito familiar de escuridão e mal. Um mundo habitado por monstros.

A história da minha vida, Pensou com um suspiro amargo.


CAPÍTULO DOIS


Riley sentiu um formigamento agudo de urgência no ar quando entrou no gabinete do Agente Especial Responsável Brent Meredith no edifício da UAC. Impressionante e maciço, Meredith estava sentada em sua secretária. Na frente dele, Bill Jeffreys e Jenn Roston seguravam suas malas.

Parece que esta vai ser uma reunião curta, Pensou Riley.

Calculou que ela e seus dois parceiros provavelmente estariam saindo de Quantico em poucos minutos, e estava feliz em ver que todos estariam trabalhando juntos novamente. Durante o seu caso mais recente no Mississippi, os três tinham quebrado mais regras do que o habitual e Meredith não escondeu seu descontentamento com todos eles. Depois disso, Riley temia que Meredith pudesse separá-los.

"Fico feliz que todos terem chegado tão rapidamente" Disse Meredith com sua voz rouca, girando ligeiramente em sua cadeira. “Acabei de receber uma ligação de Rowan Sturman, agente especial responsável do escritório do FBI em New Haven, Connecticut. Ele quer a nossa ajuda. Presumo que tenham conhecimento da recente morte de Vincent Cranston.”

Riley assentiu e seus colegas também. Ela lera nos jornais que Vince Cranston, um jovem herdeiro da família multibilionária Cranston, havia morrido na semana passada em circunstâncias misteriosas em New Haven.

Meredith continuou “Cranston tinha acabado de começar seu primeiro ano em Yale e seu corpo fora encontrado no começo da manhã na pista de atletismo de Friendship Woods. Ele tinha acabado de sair para uma corrida matinal e no começo a morte dele parecia ser de causas naturais - uma hemorragia cerebral, parecia.

Bill disse, "Parece que o médico legista chegou a uma conclusão diferente".

Meredith assentiu. “Sim, as autoridades não revelaram nada até agora. O médico legista encontrou uma pequena ferida que atravessou o ouvido da vítima diretamente até ao cérebro. Ele aparentemente foi esfaqueado com algo afiado, liso e estreito.”

Jenn olhou para Meredith com surpresa.

"Um picador de gelo?" Perguntou ela.

"Era o que parecia" Disse Meredith.

Riley perguntou, "Qual foi o motivo?"

"Ninguém tem idéia" Disse Meredith. “Claro, você não pode crescer em uma família rica como os Cranstons e não ter inimigos. Faz parte da sua herança. Parecia provável que o pobre garoto fosse vítima de um ataque profissional. Restringir uma lista de suspeitos parecia ser uma tarefa formidável. Mas então…"

Meredith fez uma pausa, tamborilando os dedos na mesa.

Então ele disse, “Ontem de manhã, outro corpo foi encontrado. Desta vez, a vítima foi Robin Scoville, uma jovem que trabalhava para uma revista literária em Wilburton, Connecticut. Ela foi encontrada morta em sua própria sala de estar - e no início a causa de sua morte também parecia ser uma hemorragia cerebral. Mas, novamente, a autópsia do médico legista revelou uma ferida aguda no ouvido e no cérebro.”

Riley processou o que estava ouvindo.

Duas vítimas com picador de gelo em um pequeno estado, no espaço de apenas uma semana.

Não lhe parecia mera coincidência.

Meredith continuou, “Vincent Cranston e Robin Scoville eram tão diferentes quanto duas pessoas podem ser - uma delas um herdeiro rico em seu primeiro ano em uma escola da Ivy League, a outra uma jovem divorciada de meios marcadamente modestos”.

Jenn perguntou, "Então, qual é a conexão?"

"Por que alguém iria querer que ambos morressem?" Bill acrescentou.

Meredith disse, "Isso é exatamente o que o agente Sturman quer saber. Já é um caso desagradável - e é muito mais desagradável se mais pessoas forem mortas dessa forma. Nenhuma conexão de qualquer tipo apareceu e é difícil entender o comportamento desse assassino. Sturman se sente como se ele e sua equipe do FBI de New Haven FBI estivessem a navegar em águas estranhas. Então ele me ligou e pediu ajuda da UAC. É por isso que eu chamei os três.”

Meredith levantou-se da cadeira e rosnou...

“Entretanto, não há tempo a perder. Um avião está pronto e esperando por vocês na pista. Vocês voarão até o Aeroporto Regional de Tweed-New Haven e Sturman irá encontrá-los lá. Começam imediatamente a trabalhar. Escusado será dizer que quero que isso seja resolvido rapidamente”.

Meredith fez uma pausa e nivelou seu olhar intimidador para cada um dos agentes.

"E desta vez, quero que façam tudo segundo as regras" Disse. “Não há mais travessuras. Estou a falar a sério."

Riley e seus colegas murmuraram timidamente, "Não, senhor".

Riley disse-o com convicção. Ela não queria enfrentar a raiva de Meredith novamente e tinha certeza de que Bill e Jenn também não.

Meredith escoltou-os para fora de seu gabinete e alguns instantes depois estavam caminhando pelo asfalto em direção ao avião que os aguardava.

Enquanto caminhavam, Jenn observou, “Dois assassinatos com picador de gelo, duas vítimas aparentemente não relacionadas - talvez até aleatórias. Isso soa bem estranho, não é?”

"Por essa altura já devemos estar acostumados a coisas estranhas" Disse Riley.

Jenn zombou. “Sim, devíamos. Eu não sei vocês dois, mas eu ainda não consegui me habituar.”

Com uma risada, Bill disse, “Olhe dessa maneira. Eu ouvi que o tempo em Connecticut é adorável nessa época do ano.”

Jenn riu também e disse, "Com certeza deve ser melhor do que no Mississippi".

Riley fez uma careta ao se lembrar do calor pesado e sufocante na desagradável cidade costeira de Rushville, no Mississippi.

Ela tinha certeza de que o clima do final do verão na Nova Inglaterra não poderia deixar de ser muito melhor.

Pena que provavelmente não teremos muita chance de aproveitá-lo.


*


Quando o avião pousou no Aeroporto Regional de Tweed-New Haven, o agente especial responsável Rowan Sturman cumprimentou Riley e seus colegas na pista. Riley não conhecia Sturman, mas conhecia sua reputação.

Sturman tinha quarenta e poucos anos, mais ou menos a mesma idade que Riley e Bill. Em sua juventude, fora considerado um agente promissor que se esperava subisse na hierarquia do FBI. Em vez disso, ele se contentou em administrar o escritório do FBI de New Haven. Havia rumores de que simplesmente não queria se mudar para a sede de D.C., Quantico ou para qualquer outro lugar. Suas raízes e família estavam ali no Connecticut.

É claro que, segundo Riley, ele poderia não ter tido apetite pelas manobras políticas que poderiam desempenhar um papel nesses centros de poder.

Ela compreendia essa possibilidade.

Riley gostava de estar na Unidade de Análise Comportamental porque investigar personalidades estranhas permitia colocar em prática suas habilidades únicas. Mas odiava o modo como o poder das altas esferas às vezes interferia nas investigações. Perguntava-se quanto tempo demoraria até suceder esse tipo de intervenção porque tinha morrido o herdeiro de uma fortuna.

Riley imediatamente considerou Sturman caloroso e agradável. Enquanto ele os levava para uma van que esperava, falou em um agradável sotaque da Nova Inglaterra.

"Estou levando vocês direto para Wilburton, para que possam ver onde o corpo de Robin Scoville foi encontrado. Essa é a cena do crime mais recente e liguei ao chefe de polícia local para nos encontrar lá. Mais tarde, mostrarei onde Vincent Cranston foi morto. Espero que possam descobrir o que está acontecendo, porque minha equipe e eu não estamos conseguindo.”

Riley, Bill e Jenn sentaram-se juntos na van enquanto Sturman dirigiu para o norte. Jenn abriu seu laptop e começou a procurar por informações.

Sturman disse a Riley e seus colegas, "Estou feliz que estejam aqui. Minha equipe e eu só podemos fazer o que nossas habilidades e recursos nos permitem. Mas estamos dando o nosso melhor. Por um lado, estamos entrando em contato com lojas de ferragens em toda a região para obter as informações que pudermos sobre compras recentes de picadores de gelo.”

"Essa é uma boa ideia" Disse Riley. “Alguma sorte até agora?”

"Não e temo que seja complicado" Disse Sturman. “Neste ponto, não estamos recebendo muitos nomes, sobretudo apenas pessoas que compraram seus picadores de gelo com cartões de crédito, ou os lojistas tinham algum outro registro. Fora desses nomes, não temos certeza do que podemos estar procurando. Nós apenas temos que continuar tentando.”

Riley comentou, "Usar um picador de gelo como arma de crime parece meio estranho para mim".

Ela pensou por um momento, depois acrescentou, “Por outro lado, para que mais serve um picador de gelo?”

Jenn franziu o sobrolho enquanto examinava a informação que estava aparecendo em sua tela.

Ela disse, “Não muito - pelo menos não por um século ou mais. Em tempos anteriores aos refrigeradores, as pessoas mantinham seus perecíveis em geladeiras antigas.”

Bill assentiu e disse, “Sim, minha bisavó me contou sobre isso. De vez em quando, o homem do gelo vinha a sua casa para entregar um bloco de gelo para manter sua geladeira fresca. Você precisaria de um picador de gelo para retirar lascas do bloco de gelo.”

"Isso mesmo" Disse Jenn. “Depois que as caixas de geladeira foram substituídas por refrigeradores, os picadores de gelo chegaram a ser uma arma popular para a Murder Incorporated. Corpos de vítimas de assassinato às vezes tinham cerca de vinte feridas provocadas por picadores de gelo.”

Bill zombou e disse, "Parece uma espécie de arma desleixada para trabalhos profissionais".

"Sim, mas era assustador" Disse Jenn, ainda debruçada sobre a tela. “Ninguém queria morrer assim, com certeza. A ameaça de ser morto por um picador de gelo ajudou a manter os mafiosos na linha.”

Jenn virou a tela para compartilhar suas informações com Bill e Riley.

Ela disse, “Além disso, olhem aqui. Nem todos os assassinatos com picador de gelo foram confusos e sangrentos. Um mafioso chamado Abe Reles era o assassino mais temido de sua época e o picador de gelo era sua arma de escolha. Ele esfaqueava suas vítimas através do ouvido - assim como nosso assassino. Ele ficou tão bom que às vezes suas vítimas nem pareciam ter sido assassinadas.”

"Não me diga" Disse Riley. "Parecia que as vítimas tinham morrido de uma hemorragia cerebral."

"Isso mesmo" Confirmou Jenn.

Bill coçou o queixo. “Você acha que nosso assassino teve a ideia de ler sobre Abe Reles? Como se os assassinatos dele fossem algum tipo de homenagem a um velho mestre?”

Jenn disse, “Talvez, mas talvez não. Os picadores de gelo estão voltando em grande estilo com gangues. Muitos bandidos jovens estão utilizando picadores de gelo nos dias de hoje. Eles são usados ??até mesmo em assaltos. As vítimas são ameaçadas por picador de gelo em vez de uma arma ou uma faca.”

Bill riu sombriamente e disse...

“Outro dia entrei em uma loja de ferragens para comprar fita adesiva. Reparei em uma prateleira com novos picadores de gelo à venda – ‘qualidade profissional’, diziam as etiquetas, e ‘aço de alto carbono’. Pensei na altura, para que alguém usa algo assim? E eu ainda não sei. Certamente nem todo mundo que compra um picador de gelo tem o assassinato em mente.”

"As mulheres podem usá-los para autodefesa, eu acho" Disse Riley. "Embora spray de pimenta é provavelmente uma escolha melhor, se você me perguntar."

Jenn virou a tela em direção a si mesma novamente e disse, “Como você pode imaginar, não houve muito sucesso em aprovar leis para restringir vendas ou posse de picadores de gelo. Mas algumas lojas de ferragens voluntariamente identificam os compradores de picadores gelo para garantir que tinham mais de vinte e um anos. E em Oakland, na Califórnia, é ilegal andar com picadores de gelo – tal como é ilegal transportar canivetes ou armas de corte similares.”

A mente de Riley se emaranhou no pensamento de tentar regular os picadores de gelo.

Pensou...

Quantos picadores de gelo existem?

No momento, ela e seus colegas sabiam da existência de pelo menos um.

E estava sendo usado da pior maneira possível.

O agente Sturman logo dirigiu a van para a pequena cidade de Wilburton. Riley ficou impressionada com a singularidade do bairro residencial onde Robin Scoville vivera - as filas de casas de ripas bonitas com janelas fechadas, lideradas por fileiras e mais fileiras de cercas de madeira. O bairro era antigo, possivelmente até histórico. Mesmo assim, tudo brilhava com tinta tão branca que se poderia pensar que ainda estava fresca.

Riley percebeu que as pessoas que moravam ali se orgulhavam do ambiente, preservando seu passado como se o bairro fosse um grande museu ao ar livre. Não havia muitos carros nas ruas, então foi fácil para Riley imaginar a cidade em uma época passada, com carruagens puxadas por cavalos e carruagens passando.

Então ocorreu-lhe...

Um homem do gelo costumava fazer suas rondas regulares aqui.

Ela imaginou o carrinho volumoso carregando cargas de gelo e o homem forte que arrastava os blocos para as portas da frente com alicates de ferro. Naquela época, toda dona de casa que morava ali possuía um picador de gelo que empregava perfeitamente.

Mas a cidade experimentara uma amarga perda de inocência há duas noites.

Os tempos mudaram, Pensou Riley. E não para melhor.


CAPÍTULO TRÊS


Os nervos de Riley aceleraram quando o agente Sturman estacionou a van na frente de uma pequena casa em um bairro bem cuidado. Este era o lugar onde Robin Scoville vivera e onde havia morrido nas mãos de um assassino. Riley sempre sentia esse estado de alerta quando estava prestes a visitar uma cena de crime. Às vezes, sua capacidade única de entrar em uma mente distorcida entrava em cena no local onde o assassinato ocorrera.

Isso aconteceria ali?

Se assim fosse, não estava ansiosa para que ocorresse.

Era uma parte feia e inquietante de seu trabalho, mas ela precisava usá-la sempre que possível.

Quando saíram da van, Riley notou que a casa era a menor do bairro - um modesto bangalô de um andar com um pátio compacto. Mas, como todas as outras propriedades do bloco, aquela fora pintada e mantida de forma imaculada. Era um cenário pitoresco, marcado apenas pela fita amarela da polícia que impedia a entrada do público.

Quando Riley, Jenn, Bill e o agente Sturman entraram pelo portão da frente, um homem alto e envergando um uniforme saiu da casa. O agente Sturman apresentou-o a Riley e seus colegas como sendo Clark Brennan, chefe da polícia de Wilburton.

"Entrem" Disse Brennan em um sotaque agradável semelhante ao de Sturman. "Eu mostro onde aconteceu."

Eles subiram uma longa rampa de madeira que levava à varanda.

Riley perguntou a Brennan, "A vítima foi capaz de se movimentar de forma independente?"

Brennan assentiu e disse, “Seus vizinhos dizem que ela não precisava mais da rampa. Depois do acidente de carro no ano passado, sua perna esquerda foi amputada acima do joelho, mas ela estava se dando muito bem com uma prótese.”

Brennan abriu a porta da frente e todos entraram na casa aconchegante e confortável. Riley não notou mais sinais de que uma pessoa com deficiência tivesse morado ali - sem móveis especiais ou pegas, apenas uma cadeira de rodas arrumada em um canto. Parecia óbvio que Robin Scoville se orgulhara de viver uma vida o mais normal possível.

Uma sobrevivente, Riley pensou com amarga ironia.

A mulher deve ter pensado que suportara as maiores dificuldades que a vida lhe trouxera. Certamente não tinha ideia do destino sombrio que a esperava.

A pequena e arrumada sala de estar estava mobiliada com móveis baratos que pareciam novos. Riley duvidou que Robin tivesse morado nessa casa por muito tempo. O lugar parecia transitório de alguma forma e Riley pensou saber o motivo.

Riley perguntou ao chefe de polícia, "A vítima era divorciada?"

Brennan pareceu um pouco surpreso com a pergunta.

"Bem, sim" Disse ele. "Ela e o marido se separaram no começo do ano."

Era exatamente como Riley suspeitava. Aquele lugar se parecia muito com a pequena casa onde ela e April tinham vivido depois que seu casamento com Ryan terminara.

Mas o desafio de Robin Scoville fora muito maior do que o de Riley. Ela tivera que enfrentar um divórcio e um acidente incapacitante enquanto tentava recomeçar a vida.

Um ontorno gravado no piso de madeira mostrava a posição do corpo. Brennan apontou para uma mancha pequena e escura no chão.

"Ela sangrou da orelha só um pouco. Perfeitamente consistente com uma hemorragia cerebral. Mas por causa do recente assassinato de Cranston, o médico legista suspeitou imediatamente. E sua autópsia acabou por mostrar que Robin fora assassinada da mesma forma que Cranston.”

Riley pensou...

O mesmo método, mas circunstâncias bem diferentes.

E ela sabia que quaisquer diferenças provavelmente seriam tão importantes quanto as semelhanças.

Riley perguntou a Brennan, "Havia sinais de luta?"

"Absolutamente nada" Disse Brennan.

Sturman acrescentou, "Parece que ela foi pega de surpresa, atacada rapidamente por trás".

Bill perguntou, "Ela usava a prótese da perna no momento de sua morte?"

"Não" Disse Brennan. "Ela estava usando suas muletas para se movimentar."

Riley se ajoelhou e examinou a posição marcada no chão. Ela havia caído bem na frente da janela. Robin provavelmente fora atingida enquanto olhava pela janela.

Riley perguntou a Brennan, "Qual a hora provável da morte?"

Brennan disse, "Por volta das quatro da manhã".

Riley se levantou e olhou pela janela para a rua calma e agradável e se perguntou...

Para onde estava olhando?

O que estava a acontecer na vizinhança a tal hora que pudesse chamar a atenção de Robin? E isso era significativo? Estava relacionado com a sua morte?

Riley perguntou, "Como seu corpo foi encontrado?"

Brenan disse, “Ela não apareceu na manhã seguinte no seu trabalho como editora em uma revista literária local. E ela não respondia as ligações do chefe. Ele achou isso estranho e preocupante. Estava preocupado que talvez tivesse tido algum tipo de acidente por causa de sua deficiência. Então enviou um empregado para a casa dela para ver como ela estava. Quando não atendeu a porta, o funcionário deu a volta por trás da casa e descobriu que a porta dos fundos havia sido arrombada. Ele entrou na casa, encontrou o corpo e ligou para o 911.”

Riley ficou parada por um momento, ainda se perguntando o que Robin poderia estar olhando.

Acontecera alguma coisa lá fora que a despertou e a trouxera para aquele lugar?

Riley não tinha ideia.

De qualquer forma, o que a vítima tinha experimentado pouco antes de sua morte era de interesse marcadamente menor para Riley do que o que estava acontecendo na mente do assassino. Ela esperava que talvez pudesse ter uma pista disso enquanto estivesse ali.

"Mostre-nos onde o assassino entrou" Disse Riley.

Brennan e Sturman levaram Riley e seus colegas através da pequena casa até uma porta que dava para as escadas da cave. Perto do topo da escada havia um patamar do qual outra porta se abria para o quintal.

Riley viu imediatamente que a vidraça mais próxima do ferrolho e da maçaneta fora quebrada. O assassino obviamente quebrou o vidro conseguindo destrancar e abrir a porta.

Mas Riley notou algo mais que lhe pareceu importante.

Pedaços de papel de contato estavam presos aos cacos que permaneciam no quadro.

Riley tocou cuidadosamente um pedaço com algum papel.

O assassino colocara cuidadosamente a fita adesiva no painel, esperando não fazer muito barulho, mas também...

Talvez ele não quisesse fazer muita bagunça.

Riley estremeceu com uma súbita certeza.

Ele é exigente.

Ele é um perfeccionista.

Era o tipo de lucidez de percepção intuitiva que ela esperava.

Que mais poderia ela descobrir sobre o assassino ali naquele momento?

Tenho que tentar, Pensou.


CAPÍTULO QUATRO


Enquanto Riley se preparava mentalmente para entrar na mente de um assassino, seus olhos se encontraram com Bill por um momento. Ele estava em pé com os outros colegas, observando-a. Viu Bill anuir com a cabeça, obviamente entendendo que ela queria ficar sozinha para fazer seu trabalho. Jenn sorriu um pouco quando também pareceu perceber a intenção de Riley.

Bill e Jenn se viraram e levaram Sturman e Brennan de volta para a casa, fechando a porta da cave atrás deles.

Sozinha no pequeno patamar, Riley olhou novamente para a janela quebrada. Então saiu, fechou a porta e ficou no quintal bem cuidado. Havia um beco logo depois da cerca na beira do pátio.

Riley se perguntou – será que se aproximou vindo do beco?

Ou tinha vindo pela frente, entre a casa de Robin e uma das casas de seus vizinhos?

O beco, provavelmente.

Ele poderia ter estacionado um veículo em uma rua lateral próxima, caminhado pelo beco e deslizado silenciosamente pelo portão dos fundos. Então esgueirara-se pelo quintal estreito direto para a porta dos fundos e...

E depois?

Riley respirou lenta e demoradamente para se preparar. Ela visualizou cuidadosamente como o quintal estaria aquela hora da manhã. Podia imaginar o som de grilos e quase podia sentir o ar agradável e frio de uma noite de setembro. Haveria algum brilho das luzes da rua, mas provavelmente pouca luz das próprias casas.

Como o assassino se sentiu ao se preparar para sua tarefa?

Bem preparado, Pensou Riley.

Afinal de contas, obviamente escolhera sua vítima com antecedência e saberia algumas coisas cruciais sobre ela, incluindo o fato de que ela era uma amputada.

Riley olhou novamente para o painel de vidro quebrado. Agora podia ver que o adesivo tinha sido cortado quase exatamente na forma da vidraça. Isso certamente significava que ele estava bem aqui e cortou o adesivo para caber mesmo na penumbra, provavelmente com uma tesoura.

Mais uma vez essa palavra passou pela cabeça de Riley...

Exigente.

Mas mais do que isso, ele fora calmo e paciente. Riley sentiu que o assassino tinha sido totalmente desapaixonado - nem um pouco zangado ou vingativo. Se ele conhecia a vítima pessoalmente ou não, não nutria nenhum sentimento de animosidade em relação a ela. O assassinato ocorrera a sangue frio no sentido mais amplo possível.

Quase clínico.

Riley fechou o punho e imitou o golpe gentil mas firme que ele deve ter usado para quebrar o vidro. Antes de atravessar o painel quebrado, de repente sentiu um espasmo de desconforto.

Terá feito mais barulho do que esperava?

Ela se lembrou de ter visto um pedaço de vidro no chão dentro da porta. Um pedaço caiu apesar dos cuidados que ele tinha tomado, causando um som tilintante.

Ele hesitara?

Teria considerado desistir de seu plano e silenciosamente escapado do jeito que viera?

Nesse caso, rapidamente recuperou sua determinação.

Riley cuidadosamente atravessou o painel e reabriu a porta, e pisou no patamar, tirando os sapatos como ele certamente tinha feito para se mover silenciosamente.

E depois...

Ele ouviu um barulho no andar de cima.

Com certeza, a mulher acordara com o som e ele podia ouvir barulho e batidas quando ela colocou as muletas e começou a se mover pela casa.

Riley pensou que talvez ele tivesse esmorecido por alguns momentos.

Talvez esperasse se aproximar de Robin enquanto ela estava deitada na cama dormindo, introduzindo depois o picador de gelo em seu ouvido sem que ela soubesse que ele estava lá.

Não seria como o assassinato anterior, quando matara o jovem Vincent Cranston enquanto ele estava correndo ao ar livre. Mas Riley sentiu que o assassino não tinha interesse em um MO consistente. Tudo o que ele queria era matar da forma mais limpa e eficiente possível.

Mas agora...

Com a mulher em movimento no andar de cima, ousara continuar?

Ou deveria fugir antes que ela voltasse e o encontrasse?

Riley sentiu que ele congelou ali no patamar por um momento, lutando com sua indecisão.

Mas então...

A mulher não veio para a porta dos fundos. Ela dirigiu-se para outro lugar da pequena casa. Talvez não tenha ouvido o vidro quebrando, afinal. O assassino poderia ter respirado de alívio ao perceber, mas ainda assim vacilou. Ousaria atacar a mulher acordada?

Por que não? Deve ter pensado.

Desabilitada como ela era, ele certamente seria capaz de dominá-la com muito mais facilidade do que sucedera com sua vítima anterior.

Ainda assim, ele não queria ser desleixado ou descuidado. Uma luta podia estragar tudo.

Mas lembrou a si mesmo que isso era urgente. Ele foi impulsionado por algum imperativo profundo que só ele poderia entender.

Não podia voltar atrás - não agora. Quando ele teria outra chance assim?

Convocou sua vontade e decidiu seguir em frente.

Seguindo o que ela imaginou ser os passos do assassino, Riley subiu os degraus até a porta que dava para a cozinha. Rodou a maçaneta e abriu a porta...

Perfeito!

A maçaneta não rangeu e as dobradiças também não.

Sentindo-se cada vez mais ligada ao assassino, Riley entrou na cozinha. Ignorando o fato de que Bill, Jenn, Sturman e Brennan estavam todos parados próximos a observando, ela olhou ao redor. Riley sabia que a cena estava intocada desde o assassinato. Então, da mesma forma que agora, a mesa da cozinha tinha sido empilhada com pilhas de papel que a mulher estava lendo.

Mas onde estava a mulher?

Riley imaginou olhar através dos olhos do assassino, espreitando através do arco da cozinha para a sala de estar. Com certeza, ela estava parada ali, olhando pela janela, sua atenção inteiramente direcionada para o que quer que visse lá fora.

Riley imaginou ter o picador de gelo na mão. Então atravessou o chão de madeira, os pés descalços movendo-se silenciosamente, até que ficou bem atrás de onde Robin Scoville estivera.

E depois...

Um movimento rápido, preciso e impecável foi o suficiente.

O ponto longo do picador de gelo mergulhou sem esforço através da passagem desossada de sua orelha até seu cérebro, e o assassino puxou o picador da mesma maneira sem esforço para fora novamente, então observou sua vítima cair no chão.

E finalmente...

Riley tinha certeza de que ele estava satisfeito com o seu feito.

Ele estava orgulhoso de si mesmo por superar suas incertezas e passar por isso.

Mas ele parou por um momento para admirar sua própria obra?

Ou fugiu imediatamente?

O sentido da mente do assassino de Riley diminuiu naquele momento enquanto olhava novamente para o contorno gravado no chão.

Havia muito - demasiado - que ela ainda não sabia.

Mas tinha certeza de uma coisa.

Disse em voz alta para seus colegas, agora reunidos em torno dela...

"Ele é um filho da puta frio".

Bill disse. "Conte-nos mais".

Riley pensou por um momento, depois disse, “Não posso ter certeza de nada ainda. Mas acho que é pessoal para ele e, no entanto, não é pessoal ao mesmo tempo. Eu não acho que ele odiava essa mulher. Ele podia nem saber o nome dela. Mas tinha razões para querer que ela morresse - razões importantes, quase como se matá-la fosse algum tipo de...”

Riley fez uma pausa, tentando pensar na palavra certa.

Então Jenn sugeriu, "Dever?"

Riley olhou para sua colega mais nova e assentiu.

“Sim, é exatamente essa sensação que eu tenho. Um sentido de obrigação, quase.”

Riley percebeu agora que o chefe Brennan estava olhando para ela com a boca aberta. Ela há muito se acostumara com a surpresa das pessoas quando a observavam passando por esse estranho processo. E ela sabia que tinha acabado de parecer muito estranha, andando pela casa de meias, fingindo os movimentos do assassino.

O agente Sturman, ao contrário, não pareceu surpreso. É claro que, como um experiente agente do FBI, Sturman certamente ouvira falar das propensões singulares de Riley, bem conhecidas em todo o FBI.

E de fato, Sturman cutucou Brennan com o cotovelo e disse, “Eu explicarei depois”.

Bill tinha ido para o patamar nos fundos da casa. Agora voltava com os sapatos de Riley e os entregou. Quando Riley se sentou em um banquinho e os calçou, dúvidas começaram a surgir em sua mente.

Eu entendi tudo errado?

Ela muitas vezes se sentia varrida por tais incertezas após esses exercícios.

Afinal, não era uma leitora da mente, e não havia nada mágico ou paranormal no processo que ela usava. Era pura intuição, nada mais. Ela errara algumas vezes no passado e podia estar errada naquele momento.

Riley se levantou do banquinho e se perguntou...

Escapou-me alguma coisa?

Olhou para a janela e imaginou a jovem de pé olhando para o exterior, alheia ao perigo que se insinuava atrás dela.

Para onde estava olhando?

Riley não tinha ideia.

Mas sabia que tinha que descobrir.


CAPÍTULO CINCO


Riley estava olhando pela janela, tentando imaginar como era a rua nas primeiras horas da manhã, no exato momento em que alguém havia colocado picador de gelo no crânio de Robin Scoville.

O que estava lá fora? Perguntou-se.

O que Robin viu naquele momento?

A questão incomodava Riley cada vez mais.

Ela disse ao chefe Brennan, “Não me apercebi se esta casa tem câmeras de segurança. Tem?”

"Não" Disse Brennan. “O proprietário não se incomodou em instalá-las em um pequeno apartamento como este. Que pena, porque talvez tivéssemos uma gravação de vídeo do que aconteceu. Ou melhor ainda, as câmeras poderiam ter impedido o assassino de fazer o que fez”.

Seguida por seus colegas, Riley saiu pela porta da frente. Ela estava na calçada olhando para cima e para baixo na rua. Mais uma vez percebeu que a casa de Robin era a mais pequena em um bairro de luxo.

Riley disse a Brennan, "Eu suponho que você tenha entrevistado todos os vizinhos".

"O máximo que pudemos" Disse Brennan. “Ninguém estava acordado quando aconteceu, então ninguém notou nada incomum.”

Ela podia ver câmeras em algumas das varandas da frente. Em vários pátios, placas avisavam que essas casas estavam protegidas por uma ou outra empresa de segurança.

"Dá para ver que alguns vizinhos têm câmeras de segurança em suas casas" Comentou Riley.

"A maioria deles, tenho certeza" Disse Brennan com um encolher de ombros. "Mas não me parece que nos vão ajudar."

Riley percebia o que Brennan queria dizer. Nenhuma das câmeras parecia estar voltada para a casa de Robin, então não poderiam ter pegado nada relacionado com o arrombamento ou o assassinato. Ainda assim, uma câmera Nest fixada em um poste de varanda da casa mais próxima atraiu seu interesse.

Riley apontou para a casa e disse, "Você falou com as pessoas que moram ali?"

Brennan sacudiu a cabeça. “Não, vive ali um casal de aposentados chamados Copeland, mas não estão em casa há uma semana. Os vizinhos dizem que estão de férias na Europa. Devem voltar daqui a algumas semanas. Então definitivamente não poderiam ter visto o que aconteceu. E a câmera deles também não está voltada para a casa de Robin.”

Não para a casa, Pensou Riley. Mas para a rua em frente da casa.

E o que tinha acontecido na rua era exatamente o que intrigava Riley agora. Como o casal tinha ido embora por um longo período, talvez tivessem deixado o sistema de vigilância programado para manter um registro contínuo de tudo o que acontecia na ausência deles.

Riley disse, "Eu quero ver o que essa câmera pegou".

O agente Sturman respondeu, "Vamos ter que localizar os Copeland e obter sua permissão. Para ver a gravação, precisaremos da senha. Ou teremos que obter um mandado e obtê-la através da empresa.”

"Faça isso" Disse Riley. “O que for necessário. O mais rápido possível.”

Sturman assentiu e deu um passo para o lado, pegando o celular para fazer uma ligação.

Enquanto isso, antes que Riley pudesse decidir o que ela e seus colegas deveriam fazer, Jenn falou com o chefe Brennan.

“Você disse que Robin era divorciada. O que pode nos dizer sobre o ex dela?”

Brennan disse, “O nome dele é Duane Scoville e toca em uma banda de rock local chamada Epithets.” O chefe riu um pouco e acrescentou, “Eu os ouvi tocar. Não são ruins, mas parece que é melhor manterem seus empregos.”

Jenn perguntou, "Onde vive Duane?"

Brennan apontou. "No lado leste da cidade."

Jenn disse, "Presumo que o tenha entrevistado."

"Sim, não achamos que ele seja um suspeito viável" Disse Brennan.

"Por que não?" Jenn perguntou.

Duane disse que ele e os Epithets estavam tocando em Crestone, Rhode Island, na noite do assassinato de Robin. Ele diz que ele e a banda passaram lá a noite, e nos mostrou um recibo do motel. Não temos nenhum motivo para não acreditar nele.”

Riley viu que Jenn parecia em dúvida.

E com razão, Pensou Riley.

Não parecia que a polícia local tivesse feito um trabalho muito completo ao entrevistar Duane Scoville, muito menos ao eliminá-lo como suspeito. E mesmo que Duane não fosse o assassino, ainda poderia ter informações importantes para oferecer.

Jenn disse, "Eu gostaria de falar com ele um pouco mais."

"OK, eu vou ligar para ele" Disse Brennan, pegando seu celular.

"Não, eu prefiro não o avisar" Disse Jenn.

Riley sabia que Jenn estava certa. Se houvesse a menor chance de que Duane fosse o assassino, era melhor tentar pegá-lo desprevenido.

Riley disse a Brennan, "Você poderia nos levar até onde ele mora, ver se podemos encontrá-lo em casa?"

"Certamente" Disse Brennan.

O agente Sturman terminou seu telefonema e se juntou a eles. "Eu tenho um agente localizando os Copeland" Disse ele. "Mas tenho outro caso em andamento e preciso voltar para a sede."

"Você nos avisará assim que souber alguma coisa?" Perguntou Bill.

"Absolutamente" Sturman prometeu e caminhou em direção a sua van.

O chefe Brennan disse, “Meu veículo está aqui. Eu posso levar vocês a casa de Duane Scoville.”

Quando Riley e seus colegas entraram no carro da polícia de Brennan, Riley notou a expressão determinada no rosto de Jenn Roston. Foi bom para Riley ver sua jovem protegida parecer tão comprometida. Riley olhou para Bill e percebeu que ele se sentia da mesma maneira.

Ela está se transformando em uma grande agente, Pensou Riley.

E os três juntos estavam se tornando um time notável.

Riley decidiu que ela e Bill deveriam deixar Jenn assumir a liderança na entrevista com Duane Scoville. Poderia dar a ela uma chance de brilhar, Riley calculou.

E ela definitivamente merece isso.


*


Durante a curta viagem pela cidade, Jenn Roston se viu lembrando das ações de Riley na casa de Robin Scoville e a conclusão que ela tirara sobre o assassino...

"Ele é um filho da puta frio".

Jenn não duvidou que Riley estava certa. Ela já tinha visto Riley entrar na mente de assassinos várias vezes, mas nunca deixava de ficar impressionada.

Como ela faz isso?

Ninguém na UAC parecia saber, exceto talvez o mentor de Riley, um agente aposentado chamado Jake Crivaro que agora morava na Flórida. A própria Riley não parecia ser capaz de explicar o processo ou até mesmo como se processava.

Parecia ser puro instinto.

Jenn não pôde deixar de invejar Riley por isso.

Claro, Jenn tinha seus pontos fortes. Era inteligente, engenhosa, dura, ambiciosa...

E bastante autoconfiante, Pensou com um sorriso.

Agora estava contente que Riley tivesse concordado com ela sobre a necessidade de entrevistar Duane Scoville. Jenn sentia-se ansiosa para contribuir de forma significativa para resolver aquele caso. Ela lamentava o seu comportamento durante o caso anterior em que trabalhara com Riley e Bill - o caso do chamado "carpinteiro", que matou suas vítimas com um rápido golpe de martelo na cabeça.

Uma observação amarga que Jenn fizera em resposta às críticas de Riley continuava ecoando em sua mente...

"Suponho que é aqui que você me acusa de não ser objetiva."

Tinha sido incorreta - especialmente porque Jenn sabia perfeitamente que Riley tinha bons motivos para duvidar de sua objetividade. Enquanto uma agente afro-americana, Jenn tinha sido alvo de racismo bastante evidente enquanto trabalhava no Mississippi. Não o tinha encarado bem e teve que admitir que isso afetou seu julgamento.

Ela esperava poder compensar tudo isso agora.

Ela esperava poder compensar muitas coisas.

Ansiava pelo dia em que, finalmente, poderia deixar seu passado conturbado para trás.

Enquanto o chefe Brennan dirigia, memórias mais sombrias começaram a se amontoar na mente de Jenn - os pais disfuncionais que a abandonaram quando ela era criança, depois seus anos sob os cuidados de uma brilhante mas sinistra mãe adotiva que se chamava “Tia Cora”. Tia Cora havia treinado Jenn e seus outros filhos adotivos para se tornarem criminosos em sua própria rede criminosa.

Jenn fora a única entre as pupilas da tia Cora a escapar de suas garras, na esperança de ter uma vida diferente e melhor. Ela se tornara uma policial condecorada em Los Angeles, depois de ter feito uma pontuação fenomenal na Academia do FBI antes de se tornar agente da UAC.

Mesmo assim, não tinha conseguido se livrar da tia Cora completamente. A mulher tinha estado em contato com ela no início desse ano, tentando puxá-la de volta para sua esfera de influência, mesmo tentando fazer Jenn se entregar a ela ajudando em um caso do FBI.

Jenn não não sabia nada de tia Cora há algumas semanas. Teria a sua antiga mentora desistido dela para sempre?

Jenn só esperava que assim fosse.

Entretanto, a gratidão de Jenn em relação a Riley não conhecia limites. Riley era a única pessoa que sabia a verdade sobre o passado de Jenn. Mais que isso, Riley a compreendeu. Afinal de contas, a própria Riley já havia se envolvido com um criminoso mentor, o brilhante fugitivo condenado Shane Hatcher.

Jenn sabia mais do que qualquer outra pessoa sobre o segredo de Riley, assim como Riley sabia tudo sobre o dela. Era uma das razões pelas quais Jenn sentia um vínculo tão íntimo com sua nova mentora - um vínculo baseado em compreensão e respeito mútuos. Por causa desse vínculo, Jenn queria viver de acordo com as expectativas de Riley em relação a ela.

Os pensamentos de Jenn foram interrompidos pelo som da voz de Brennan quando virou uma esquina.

"Estamos quase lá."

Jenn ficou surpresa ao ver uma grande mudança na comunidade ao redor. Todas as casas brancas, dignas e reluzentes, estavam com suas impecáveis ??cercas retas. Eles passaram por uma rua repleta de empresas de tamanho modesto que incluíam restaurantes veganos, lojas de alimentos orgânicos e uma loja de artigos de segunda mão.

Então eles continuaram em um bairro cheio de casas menores, um pouco surrado, mas ainda assim bastante charmoso. Os pedestres eram muito variados, de jovens tipos boêmios de diversas raças a velhos tipos hippies, que pareciam ter vivido ali desde os anos sessenta.

Jenn se sentiu imediatamente mais confortável aqui do que na área homogênea, ultra-branca e de classe alta que tinham acabado de deixar. Ainda assim, este era um pequeno bairro e Jenn achou que estava ficando cada vez menor.

A gentrificação está se aproximando, Pensou um pouco tristemente.

Brennan estacionou na frente de um antigo prédio de tijolos. Ele levou Jenn e seus colegas até a porta da frente. Lá, Riley deu a Jenn um olhar que lhe disse que ela deveria assumir a liderança naquele momento.

Jenn olhou para Bill, que acenou para ir em frente.

Ela engoliu em seco com antecipação, depois tocou a campainha do apartamento de Duane Scoville.

Ninguém respondeu a princípio. Jenn se perguntou se talvez ele não estivesse em casa. Então tocou de novo e ouviu uma voz resmungando no intercomunicador.

"Quem é?"

A voz falou por apenas alguns segundos. Mas Jenn achou que ouvia música no fundo.

Jenn respondeu, "Nós somos do FBI. Gostaríamos de conversar com você.”

"Sobre o quê?"

Jenn se sentiu um pouco surpresa com a pergunta. E dessa vez ela teve certeza de ouvir música.

Ela disse, "Hum... sobre o assassinato da sua ex-mulher."

“Eu conversei com os policiais sobre isso já. Eu estava fora da cidade quando aconteceu.”

Ouviu-se outro trecho de música e, dessa vez, pareceu familiar para Jenn - quase misteriosamente.

Brennan interveio, “Aqui é o chefe de polícia Brennan. Eu falei com você antes. Os agentes ainda gostariam de fazer mais algumas perguntas.”

Um silêncio caiu, então a campainha tocou e a porta clicou. Jenn abriu a porta e ela e seus colegas entraram.

Ela pensou...

Não parece que somos bem-vindos.

Jenn pensou por que não.

Decidiu que iria descobrir.


CAPÍTULO SEIS


Jenn seguiu o chefe Brennan até o edifício e subiu a escada até o segundo andar. Riley e Bill seguiram atrás enquanto caminhavam pelo corredor em direção ao apartamento de Duane Scoville.

Jenn ficou alerta quando ouviu o som flutuando de algum quarto próximo.

Aquela música de novo.

Dessa vez, ela tinha certeza de que já tinha ouvido aquilo antes, mas fazia muito tempo, e ela não tinha certeza onde ou quando. Era uma peça clássica - algo lento, suave e incrivelmente triste.

Chegaram ao apartamento de Scoville e o chefe Brennan bateu na porta.

Uma voz gritou, "Entre".

Quando ela e seus colegas entraram, Jenn ficou surpresa com a aparência do apartamento. O lugar estava uma bagunça, todo cheio de latas de cerveja e embalagens de comida.

Cerca de dez guitarras estavam à vista, algumas em bancos, outras em caixas abertas, outras em qualquer lugar. Algumas eram acústicas, outros elétricas. Havia também amplificadores, altifalantes e diversos equipamentos eletrônicos espalhados.

O próprio Duane Scoville estava sentado em um puf muito usado. Usava cabelos compridos e barba, e usava jeans, uma camisola colorida, um símbolo da paz em um cordão no pescoço e óculos de vovó em forma redonda.

Jenn teve que reprimir uma risadinha. Scoville parecia estar em seus vinte anos, mas estava tentando o seu melhor para parecer um hippie dos anos sessenta. A decoração do quarto incluía contas, tapeçarias baratas, tapetes falsos persas, velas acesas e desordem geral. Alguns dos cartazes na parede eram imagens psicodélicas, outros promovendo grupos de música rock e artistas que tinham sido populares muito antes do tempo de Jenn.

Havia um forte odor no ar - de incenso e...

Outra coisa, Jenn percebeu.

Duane Scoville estava sentado olhando para o espaço como se ninguém tivesse chegado. Ele estava obviamente muito chapado, embora Jenn não visse sinais de drogas em lugar algum.

O chefe Brennan disse-lhe, “Duane, estes são os agentes do FBI Paige, Jeffreys e Roston. Como eu acabei de dizer, eles têm mais algumas perguntas para você.”

Duane não disse nada e não ofereceu a seus visitantes um lugar para se sentarem no local lotado.

Jenn se sentiu perplexa quando se lembrou de como a pequena casa da vítima fora imaculadamente limpa. Ela mal podia acreditar que Robin Scoville conhecia esse homem e muito menos estivera casada com ele.

E depois havia a música...

Em vez dos Doors ou de Jefferson Airplane, ou Jimi Hendrix ou de qualquer outra coisa mais apropriada a esses ambientes, Duane ouvia música suave de câmara barroca, com um solo assombroso de instrumento de sopro, como um triste canto de pássaros.

De repente, reconhecendo a peça, Jenn disse a Duane, “Isso é Vivaldi, não é? O movimento lento de um piccolo concerto.”

Ainda sem olhar para Jenn ou seus companheiros, Duane perguntou, "Como você sabia?"

Jenn sentiu-se abalada com a pergunta. Ela lembrou vividamente onde tinha ouvido a música antes.

Fora no lar adotivo de tia Cora, onde crescera.

Tia Cora sempre tinha música clássica tocando quando ensinava seus filhos a serem criminosos.

Jenn estremeceu um pouco. Ela achou estranho e inquietante ouvir essa melancólica melodia novamente depois de tantos anos. Isso trouxe de volta lembranças estranhas e perturbadoras dos dias que Jenn tentou se esforçava para esquecer.

Mas ela sabia que não se deveria deixar distrair por isso.

Mantenha sua cabeça no jogo, Jenn disse a si mesma com firmeza.

Em vez de responder a pergunta de Duane, ela disse...

"Você não me parece um cara que goste de Vivaldi, Duane."

Duane finalmente olhou para ela e encontrou seu olhar.

Ele disse com uma voz monótona, "Por que não?"

Jenn não respondeu. Pelos estudos na academia e por sua experiência trabalhando com Riley e Bill, ela sabia que tinha alcançado algo só só pelo fato de ele olhar para ela. Agora tinham pelo menos uma conexão preliminar. Jenn decidiu esperar e deixar Duane falar em seguida.

Mas ele não disse nada imediatamente.

O movimento lento e triste chegou ao fim e um movimento rápido e cintilante começou.

Duane carregou num botão de seu rádio para que o mesmo movimento lento começasse a tocar novamente.

Finalmente disse, “Robin gostava muito dessa peça. Era o seu movimento favorito. Ela não se cansava de o ouvir.”

Então, com um traço de escárnio, acrescentou...

"Espero que a toquem no funeral dela."

Jenn ficara gelada por uma nota reveladora de raiva e amargura em sua voz. Ela se perguntou - o que havia por trás daquelas emoções sombrias?

Ela olhou para Bill e Riley. Eles deram seus leves acenos, silenciosamente encorajando-a a continuar seguindo seus instintos.

Ela aproximou-se de Duane e perguntou, "Você vai ao funeral de Robin?"

Duane disse, "Não, eu nem sei quando ou onde vai ser. No Missouri, eu acho. Foi aí que Robin cresceu, onde a família dela ainda vive. St. Louis, Missouri. Não me parece que seja convidado.”

Então, com uma risada quase inaudível, ele acrescentou, "E acho que não seria bem-vindo se fosse."

"Por que não?" Jenn perguntou.

Duane encolheu os ombros. "Por que você pensa? Os pais dela não gostam muito de mim.”

"Por que não gostam de você?"

Duane desligou abruptamente a música. Seu rosto se torceu um pouco com o que parecia ser nojo.

Então falou diretamente para os três agentes. "Olha, vamos direto ao assunto, ok? Vocês querem saber se eu a matei. Não a matei. Já passei por tudo isso antes com o chefe Brennan aqui. É como eu disse a ele, eu estava em Rhode Island, fazendo um show com minha banda. Passámos lá a noite.”

Ele enfiou a mão no bolso do quadril, tirou um pedaço de papel e ofereceu a Jenn.

“Eu preciso mostrar isso de novo?” Perguntou. "É a nossa conta do motel."

Jenn cruzou os braços e deixou que ele segurasse o papel em sua mão.

O que quer que estivesse escrito lá, ela duvidava que fosse convincente. Pode significar apenas que alguns membros da banda estivessem lá naquela noite.

Ela disse, "Seus companheiros de banda podem atestar que você esteve com eles a noite toda?"

Ele não respondeu. Mas parecia desconfortável com a pergunta. As suspeitas de Jenn estavam no auge naquele momento.

Ela disse, "Você poderia nos dizer como entrar em contato com eles?"

"Sim" Disse Duane. "Mas prefiro não o fazer."

"Por que não?"

"Não estávamos bem. Eles tinham acabado de me expulsar do grupo. Eles podem não cooperar.”

Jenn começou a caminhar de um lado para o outro.

"Pode ser uma boa idéia você cooperar" Disse ela.

Duane disse, "Sim? É isso que um advogado me diria? Preciso de um advogado?

Jenn não respondeu imediatamente. Mas quando passou por um armário fechado, notou que Duane se sentou desconfortavelmente. Ela olhou para a porta e se aproximou, depois se virou e percebeu que a ansiedade de Duane parecia estar aumentando.

Ela disse, "Eu não sei, Duane. Você precisa de um advogado?"

Duane se recostou e tentou parecer relaxado novamente.

Ele disse, "Olha, eu realmente gostaria que vocês saíssem agora. Este é um momento difícil para mim, sabe? Vocês não estão facilitando isso. E eu tenho direitos. Tenho certeza de que não preciso responder às suas perguntas.”

Jenn ficou lá olhando para frente e para trás entre Duane e o armário. Ela se sentiu muito perto de descobrir o que Duane não queria que ela soubesse.

Ela estendeu a mão e tocou a maçaneta do armário, e Duane estremeceu bruscamente.

Jenn viu Riley balançando a cabeça rapidamente, avisando-a silenciosamente para não abrir o armário.

Claro, Jenn não precisou de um aviso. Ela sabia que não devia abrir o armário sem um mandado. Seu movimento foi apenas um blefe, uma tentativa de obter mais uma reação do homem.

E ela definitivamente estava tendo sucesso.

Duane levantou a mão para o armário e disse com uma voz trêmula...

"Não faça isso. Eu tenho direitos.”

Jenn sorriu para ele, mas não se afastou da porta do armário.

Ela estava prestes a pedir ao músico retrógrado para ir à delegacia para responder a mais perguntas quando Riley disse, “Obrigada pelo seu tempo, Sr. Scoville. Nós agora vamos embora.”

O sorriso de Jenn desapareceu.

Ela se sentiu confusa. Mas viu que Riley, Bill e o chefe de polícia estavam todos indo para a porta.

Obedientemente, Jenn os seguiu para fora do compartimento.

Quando voltaram pelo corredor e desceram as escadas, Riley disse para Jenn...

“O que pensa que estava fazendo lá atrás? Você não pode andar por aí sem um mandado.”

Jenn disse, “Eu sei disso, Riley. Eu não ia abrir o armário.”

Riley disse, "Bem, fico feliz em ouvir isso."

"Não vamos levá-lo para interrogatório?" Jenn perguntou.

"Não" Disse Riley.

"Por que não?"

Riley suspirou e disse, "Estou com fome. Vamos pegar algo para comer. Podemos falar sobre isso então.”

A discussão foi interrompida quando o chefe Brennan os levou para um local de fast food próximo. Jenn e seus colegas pediram seus hambúrgueres e sentaram-se em uma mesa juntos.

Então Riley disse para Jenn, "Agora me diga seus pensamentos sobre Duane Scoville".

Jenn sentiu que Riley estava prestes a dar-lhe uma pequena lição de perguntas e respostas sobre o trabalho policial.

Não fique na defensiva, Jenn disse a si mesma com firmeza. Afinal, ela provavelmente iria aprender alguma coisa, gostasse ou não.

Pensou sobre a pergunta de Riley

Quais são os meus pensamentos sobre Duane Scoville?

Ela pensou na entrevista e repassou algumas partes dela em sua mente.

Ela se lembrou de seu sorriso quando mencionou que a peça de Vivaldi tinha sido a favorita de Robin...

"Espero que a toquem no funeral dela."

Por que um roqueiro como ele estaria sequer ouvindo Vivaldi, aparentemente o mesmo excerto repetidas vezes?

Exceto talvez para se vangloriar.

Então ela se lembrou de seu olhar de nojo quando desligou a música.

Auto-repugnância.

Jenn poderia pensar em uma boa razão para ele se sentir assim.

"Eu acho que ele é culpado" Disse Jenn.

Riley sorriu um pouco e disse, "Eu também penso que sim".


CAPÍTULO SETE


Riley podia ver o choque no rosto de Jenn com o que ela acabara de dizer. A boca da agente mais jovem ficou aberta por um momento.

Jenn deu uma rápida olhada para Bill e o capitão Brennan, que estavam ouvindo atentamente, em seguida, olhou para Riley.

Riley reprimiu um sorriso e esperou Jenn dizer alguma coisa.

Finalmente Jenn perguntou, "Você acha que ele é culpado também? Culpado de assassinato?”

"Eu não disse isso" Disse Riley.

"Então o que você quer dizer?"

Riley viu que Bill agora estava sorrindo largamente e Brennan apenas parecia perplexo. Mas ela não queria dizer exatamente o que dissera, pelo menos não de forma definitiva. Ela queria espicaçar sua jovem protegida com perguntas. Afinal, Jenn ainda tinha algumas coisas para aprender sobre como pensar como um agente da UAC. E talvez Riley pudesse persuadir Jenn a ver as coisas na sua perspetiva em relação a Duane Scoville.

Riley perguntou, "Quais foram suas primeiras impressões quando você entrou no apartamento?"

Jenn pensou. “Bem, foi estranho. Quer dizer, a música era estranha o suficiente para um músico de rock. Mas a maneira como o lugar parecia... a casinha de Robin não era assim. Tudo lá estava tão limpo. E conservador.”

"Difícil de acreditar que já foram casados, hein?" Riley disse.

Jenn encolheu os ombros e disse, "Não foram felizes, de qualquer maneira."

Riley sorriu um pouco.

"Não é tão difícil para mim acreditar" Disse Riley. "Eu tenho uma ideia de como é se casar quando você é jovem e estúpido. É praticamente a história da minha vida. Robin e Duane provavelmente estavam loucos de amor e felizes por um tempo. O casamento deles pode não ter durado o suficiente para que percebessem o pouco que tinham em comum.”

Jenn disse, "Mas... mas ele parecia tão..."

Riley disse, “Culpado. Sim, eu sei. Ele tinha suas razões. Por que você acha que o casamento deles acabou? Além dessas diferenças que provavelmente os teriam separado de qualquer forma?”

Jenn olhou para seu hambúrguer intocado, obviamente tentando pensar em uma resposta.

Riley disse, "Bem, não é muito difícil descobrir. O que você sabe sobre o passado recente de Robin?”

Jenn disse, "Ela sofreu um acidente de carro no ano passado e perdeu uma perna e..."

Riley podia ver uma luz nos olhos de Jenn.

"Oh meu Deus" Disse Jenn. “Duane não conseguia lidar com isso. Ele se casou com uma linda jovem, casou com ela porque ela era linda, mas de repente ela estava... bem, mutilada. Ele simplesmente não a considerava mais atraente.”

Riley assentiu. "Em suma, ele era um idiota superficial."

Jenn assentiu lentamente e disse, “E ele também sabe disso. Que ele era um idiota, quero dizer. Ele se sentiu culpado por isso assim que a largou. Mas agora que ela está morta...”

Jenn parou por um momento, depois continuou.

“Ele continua pensando, se ao menos tivesse sido um marido melhor, um ser humano melhor, Robin ainda estaria viva hoje. E ele pode muito bem estar certo. Então, sua culpa está devorando-o agora.”

Jenn balançou a cabeça e acrescentou, “Não é de admirar que ele tenha agido assim. Mas... e o armário? Por que ele ficou tão nervoso quando eu agi como se fosse abri-lo?”

Riley riu e disse, "Você também ficaria nervosa se tivesse dois agentes do FBI e um chefe de polícia em seu quarto, e tivesse um cachimbo escondido em seu armário".

Jenn revirou os olhos. "Claro. Eu deveria saber."

Riley não disse nada. A verdade era...

Nós realmente não sabemos de nada.

Por tudo o que Riley realmente sabia, Duane Scoville poderia ter matado sua esposa. Talvez matá-la fosse uma tentativa desesperada de apagar sua vergonha em abandoná-la - uma tentativa que falhara miseravelmente.

Riley não achava que seria o caso, mas não tinha certeza. Eles realmente não tinham nada e ela estava apenas tentando evitar que Jenn tirasse conclusões precipitadas. E ela estava feliz por Jenn não estar ficando brava e defensiva como tinha acontecido quando estavam no Mississippi.

Naquele momento, o celular do chefe Brennan tocou. Ele atendeu a chamada, então rapidamente segurou o telefone com a mão para dizer a Riley e seus colegas...

“É o agente Sturman no telefone. Ele diz que sua equipe entrou em contato com os Copeland na Europa. Eles disseram que sua câmera foi configurada para gravar continuamente e salvar tudo o que gravou durante sua ausência. Sturman diz que eles entendem a urgência da situação e nos deram permissão para analisar seu feed de segurança. Eles também entregaram todas as informações necessárias para visualizá-lo.”

Riley viu o rosto de Bill se iluminar.

"Isso significa que não teremos que ir atrás de um mandado, e depois lidar com a empresa de segurança" Disse ele.

Riley também estava excitada. Ela perguntou, "Como acessamos o feed?"

Jenn sugeriu, "Pelo que sei sobre esses sistemas, devemos ser capazes de nos conectar online, de qualquer computador ou até mesmo de celular".

"Eu vou descobrir" Disse o chefe Brennan.

Ele falou novamente com Sturman no telefone e tirou algumas notas. Então terminou a ligação e mostrou ao grupo suas anotações.

Ele disse, “Sturman me deu um link, um nome de usuário e uma senha. Nós deveríamos poder dar uma olhada aqui e agora.”

Riley olhou para Jenn, que obviamente entendia melhor esses sistemas do que ela ou Bill. Ela disse para Jenn, "Vá em frente, veja o que você pode fazer."

O chefe Brennan entregou suas anotações para Jenn, que tirou o laptop da bolsa e abriu-o na mesa. Demorou apenas alguns segundos para ela fazer a conexão. Todos na mesa se aglomeraram ao redor do laptop para que pudessem ver a imagem na tela.

A imagem não estava nítida ou clara. Mas foi exatamente o que Riley esperava com base na posição da câmera.

Ela apontou e disse, “Olhe, esta é a rua bem em frente à casa dos Copeland. Embora você não consiga ver, a casa de Robin Scoville está fora da imagem, do outro lado da rua.”

"Então o que estamos procurando?" Perguntou o Chefe Brennan.

Riley reprimiu um suspiro.

Essa é uma boa pergunta, Pensou.

Ela pensou em sua tentativa de se conectar com a mente do assassino na casa de Robin Scoville. Lembrou de imaginar como o assassino encontrou Robin olhando pela janela da frente, depois se arrastando atrás dela e a pegando de surpresa.

Robin estava olhando para alguma coisa lá fora. Riley tinha certeza disso.

Ela disse aos outros, “Estamos procurando por qualquer coisa nas primeiras horas da manhã. Não é provável que vejamos o verdadeiro assassino na rua, mas podemos ter sorte. Parecia que Robin estava olhando pela janela da frente quando foi atacada. Talvez possamos ter uma pista do que ela viu lá fora. Eu não sei o que pode ser. Espero que saibamos se virmos nós mesmos.”

Então ela disse ao chefe Brennan, "Você disse a morte de Robin tinha ocorrido por volta das quatro da manhã, certo?"

Brennan encolheu os ombros. "Essa é a hora aproximada que o médico legista nos deu" Ele respondeu.

"É algo em que podemos trabalhar" Disse Riley. “Jenn, comece a filmagem às, digamos, três e meia. Passe rápido até vermos algo interessante.”

Jenn avançou rapidamente a filmagem. No início, a rua estava vazia. Então um carro passou sem parar. Alguns minutos depois, outro carro passou e a rua ficou vazia novamente.

Então Jenn parou o feed.

"O que é isso?" Ela perguntou, apontando para algo grande e volumoso que tinha aparecido.

Olhando para a imagem parada, o chefe Brennan disse, “É só um caminhão de lixo. Nada sinistro.”

Talvez não, Pensou Riley.

Mesmo assim, ela disse para Jenn, “Recue e passe devagar”.

Jennifer recuou a imagem antes do caminhão de lixo aparecer. Então percorreu cada frame. O caminhão era do tipo com braços mecânicos que pegavam automaticamente latas de lixo. Embora a câmera não mostrasse a casa de Robin, ela mostrou a máquina pegando o caixote e jogando o lixo no caminhão.

Mas Riley viu algo muito mais importante que isso.

Ela apontou para a tela e disse, "Está um homem ali".

Os companheiros de Riley olharam mais de perto para a tela enquanto Jenn continuava a percorrer as imagens quadro a quadro. Com certeza, um homem estava andando ao lado do caminhão. A imagem de baixa resolução não mostrou nada claramente. Ele parecia pouco mais do que uma silhueta confusa.

Quando o caminhão terminou de despejar o lixo de Robin, ele se dirigiu para a casa seguinte. Mas o homem ficou parado ali.

Riley percebeu com um formigamento...

Ele está olhando para a casa de Robin.

Então Riley disse para Jenn...

"Pare nesse frame!"

Jenn parou o feed, olhou para a imagem e perguntou...

"O que ele está fazendo agora?"

A figura sombria parecia ter levantado um braço.

"Quase parece que ele está apontando uma arma" Disse Brennan. "Mas a vítima não foi baleada."

"Parece que ele está apontando para alguma coisa" Disse Bill.

"Apontando para a vítima?" Jenn perguntou. “Ameaçando ela?”

Riley disse, "Continue correndo devagar."

Jenn correu o frame de imagens quadro a quadro. Riley e seus colegas puderam ver o homem parado ali por um momento, com o braço levantado, olhando na direção da casa da vítima. Então ele abaixou o braço e saiu da imagem.

Riley disse para Jenn, "Faça tudo novamente."

Jenn recuou as imagens para o ponto onde o caminhão estava aparecendo, então correu devagar. Mais uma vez, Riley e seus colegas viram o caminhão parar para pegar o caixote de lixo de Robin. Mais uma vez, eles viram um homem andando ao lado do caminhão. Viram o caminhão começar a sair de vista, depois o homem de pé, gesticulando e finalmente deixando a cena.

"Quem era aquele cara?" O chefe Brennan perguntou com uma voz espantada.

"O que ele estava fazendo?" Jenn acrescentou.

E para onde é que ele foi? Perguntou-se Riley.


CAPÍTULO OITO


Riley suspirou desanimada. Simplesmente não havia mais nada para ver.

Ela e seus colegas estavam olhando fixamente para a tela enquanto Jenn mostrava as imagens da câmera de segurança várias vezes. Mas a câmera não estava bem focada para essa distância da casa que foi montada para proteger. O homem andando ao lado do caminhão permaneceu um borrão indistinto.

Não encontraram nenhuma pista que indicasse por que ele subitamente saíra do quadro ou para onde tinha ido. Não voltou a aparecer.

Riley disse, "Temos que descobrir quem é esse homem. Ele e o motorista do caminhão parecem ser os únicos seres vivos naquela rua naquele momento ”.

"Esse cara estava em movimento no momento aproximado do assassinato" Acrescentou Jenn. "Nós podemos estar aqui a ver o assassino."

"O caminhão parece ter continuado seu caminho sem ele" Disse Bill. "Não podemos ter certeza de que estavam juntos."

"Eu acho que sei como encontrar algumas respostas" Disse o chefe Brennan. Ele pegou o celular. "Eu tenho um número direto para Roger Link, diretor de obras públicas aqui em Wilburton."

Brennan digitou um número e ligou o viva-voz para que Riley e seus colegas pudessem ouvir.

Quando Brennan colocou o diretor na linha, disse, "Roger, fala Clark Brennan".

A voz respondeu alegremente, "Ei, como você está, Clark?"

Brennan coçou o queixo e disse, “Bem, espero que você possa me ajudar com um problema. Tenho certeza que você sabe sobre o assassinato que aconteceu na noite anterior.”

"Sim. Coisa horrível.”

Brennan disse, “Alguns agentes do FBI e eu estamos olhando para um feed de segurança e vemos que um caminhão de coleta de lixo passou pela casa da vítima mais ou menos na altura do assassinato. Havia um cara a pé ao lado do caminhão e ele agiu de forma um pouco estranha”.

Ele disse, "Certamente você não suspeita de nenhum dos nossos caras de saneamento".

Brennan disse, "Honestamente, Roger, não sabemos o que diabos pensar. Mas precisamos saber quem estava trabalhando naquela rota em particular naquela noite.”

"Nossos homens geralmente trabalham sozinhos" Respondeu o diretor. "Agora que estamos usando esses veículos de captação de braço robótico, eles nem interagem mais com as pessoas em suas rotas. De um modo geral, as coisas são melhores assim.”

Brennan deu-lhe o endereço de Robin Scoville.

"OK, vou ver o que posso descobrir" Disse o diretor.

Riley e seus colegas ouviram barulho em um teclado. Então o diretor falou novamente.

“Eu posso ter descoberto algo para você. Isso é um pouco incomum. O nome do motorista dessa rota é Dick Abbott. Naquela noite, ele teve alguém trabalhando com ele, um jovem chamado Wesley Mannis. Parece que Wesley mora em Wilburton House, uma instalação do DID.”

Jenn perguntou, "DID?"

"Deficiências intelectuais e de desenvolvimento" Disse o diretor.

O chefe Brennan perguntou, "Então isso significa que ele é retardado ou deficiente físico ou...?"

"Eu não sei" Disse o diretor. “Mas a instalação e a cidade organizam um programa para moradores residentes no DID. A cidade contrata os residentes para trabalhos fora das instalações, ajudando-os a ter uma vida normal. Esse Wesley Mannis fazia parte desse programa e seu trabalho era algo não muito exigente. Realmente, ele apenas caminhava ao lado do caminhão e garantia que nenhum lixo caísse. Não é muito trabalho, mas deu a ele algo para fazer até...”

O diretor fez uma pausa. Riley teve que morder a língua para não perguntar...

"Até o quê?"

Depois de outro barulho de teclado, o diretor disse, “Dois dias atrás, o motorista apresentou um relatório dizendo que Wesley havia desaparecido em algum momento durante o turno daquela manhã. Somos obrigados a fazer isso quando esses trabalhadores não aparecem.”

"Essa foi a manhã em que Robin Scoville foi assassinada" Disse Jenn.

"Você consegue identificar o tempo?” Perguntou Brennan.

"Não" Respondeu o diretor. "Isso não diz exatamente quando, onde ou por que Wesley desapareceu. Aparentemente, Wesley apenas se afastou em algum lugar ao longo da rota e o motorista não sentiu falta dele imediatamente. O Departamento de Obras Públicas alertou Wilburton House que um de seus moradores tinha saído em um emprego e... bem, isso é tudo que o relatório diz.”

Riley perguntou, "Nada sobre se Wesley acabou aparecendo na Wilburton House?"

"Não, eu acho que você vai ter que descobrir isso com a equipe lá."

"Nós vamos fazer isso, obrigado" Disse o chefe Brennan.

Ele terminou a ligação e olhou para Riley e seus dois colegas.

"O que acham?" Perguntou aos três agentes. “Talvez este Wesley Mannis seja nosso assassino?”

Riley não tinha ideia e, a julgar pelo silêncio dos colegas, parecia-lhe que nem Jenn nem Bill tinham.

"Se é" Jenn finalmente disse timidamente, "já o apanhamos."

"Não seria legal e fácil?" Bill murmurou.

Mas a possibilidade não convencia Riley. Será que o mesmo residente da mesma instalação foi para New Haven há uma semana e matou Vincent Cranston durante sua corrida matinal na trilha Friendship Woods? Riley achou isso difícil de acreditar.

Ela disse a Brennan, "Precisamos ir a Wilburton House".

Brennan assentiu e digitou outro número em seu celular.

Quando a recepcionista da instalação atendeu, ele disse, “Chefe de polícia Clark Brennan aqui. Eu tenho três agentes do FBI ouvindo essa ligação. Nós precisamos saber - você tem um morador aí chamado Wesley Mannis? ”

"Sim."

"Ele está na instalação agora?"

"Eu vou verificar." Depois de uma breve pausa, a recepcionista disse, "Sim, ele está em seu quarto."

Aparentemente inseguro sobre o que perguntar em seguida, Brennan olhou apelativamente para Riley e seus colegas.

Riley disse à recepcionista, "Precisamos saber sobre as atividades de Wesley Mannis há dois dias, durante as primeiras horas da manhã".

Um breve silêncio caiu.

Em seguida, a recepcionista disse, "Sinto muito, e espero que você entenda, mas não me sinto muito à vontade para compartilhar informações sobre um paciente por telefone. Você poderia vir falar com alguém da equipe pessoalmente?”

"Nós vamos para aí" Disse o chefe Brennan.

Brennan conduziu Riley e seus colegas pela cidade até Wilburton House. Enquanto Brennan estacionava seu carro, Riley ficou impressionada com o tamanho da instalação que parecia uma pequena mansão projetada com bom gosto.

Quando todos entraram, foram imediatamente recebidos por uma mulher alta, esbelta e sorridente, vestida com alegres tons pastel.

Ela deu um passo em direção ao chefe de polícia, apertou sua mão e disse, “Você deve ser Clark Brennan. Creio que não nos conhecemos. Eu sou a Dra. Amy Rhind e sou a diretora das instalações.”

Riley, Bill e Jenn mostraram seus distintivos e se apresentaram a ela. A Dra. Rhind convidou-os a se sentarem no confortável saguão.

Ela disse, "Sei que estão aqui por causa de um de nossos residentes, Wesley Mannis".

A testa dela se franziu de preocupação e acrescentou, "Estou feliz que estejam aqui. Talvez nos possam ajudar a entender o que aconteceu com ele. Receio que seja um mistério.”

Essa palavra alarmou Riley um pouco.

Um mistério.

Ela estava esperando por respostas, não perguntas.

Riley ouviu Bill perguntar baixinho.

Um mistério?

Isso pode não ser tão legal e fácil, afinal.


CAPÍTULO NOVE


Riley estava começando a se sentir preocupada. Eles tinham ido ali procurar uma solução, não outro mistério. Ela não podia imaginar o que a Dra. Rhind queria dizer quando declarou...

"Talvez nos possam ajudar a entender o que aconteceu com ele."

A recepcionista não dissera a Riley e seus colegas ao telefone que Wesley Mannis estava em seu quarto?

Riley perguntou, "Você está dizendo que Wesley está desaparecido?"

A Dra. Rhind sacudiu a cabeça. "Não, ele está aqui, mas..." Ela ficou em silêncio por um momento e disse, "Por favor, poderiam explicar por que estão aqui?"

Chefe Brennan disse, "Dra. Rhind, nós temos conhecimento que Wesley faz parte de um programa que faz parte de um acordo entre sua instituição e a cidade. Ele está trabalhando com um motorista de saneamento durante um turno matinal. Isso está certo?"

"Isso mesmo" Disse a Dra. Rhind.

Brennan continuou, “Bem, nós o pegamos em um vídeo de segurança. Ele estava em frente à casa de uma mulher que foi assassinada naquela noite. Depois desapareceu.”

Os olhos da Dra. Rhind se arregalaram.

Ela disse, “Oh, não. Certamente não suspeitam que Wesley...”

Sua voz sumiu e ela olhou em seu redor desconfortavelmente.

Tentando parecer reconfortante, Riley disse, "Não sabemos o que pensar, Dra. Rhind. Nós só precisamos conversar com Wesley.”

Dra. Rhind disse, "Eu não tenho certeza se é possível. Wesley é severamente autista. E como muitas pessoas autistas, ele tem sérios problemas com habilidades sociais e de linguagem. Ele estava fazendo um grande progresso por um tempo e o programa de trabalho parecia estar fazendo muito bem, realmente tirando-o da concha”.

Com um suspiro, a Dr. Rhind acrescentou, “Então, há duas noites, o Departamento de Obras Públicas ligou para informar que ele desaparecera. Nós estávamos terrivelmente preocupados, mas ele apareceu aqui algumas horas depois. Aparentemente andou todo o caminho de volta de onde quer que estivesse. Mas..."

Ela apertou as mãos preocupada e continuou. "Ele teve algum tipo de revés terrível. Ele estava se dando muito bem, mas agora voltou a ser completamente incomunicativo. Não sabíamos por quê, apesar de raramente sabermos com nossos residentes autistas. Seu progresso é muitas vezes irregular e temos que lidar com nossa parcela de decepções. Mas pelo que você está dizendo, talvez o revés dele tenha algo a ver com...”

A Dra. Rhind parecia profundamente perturbada agora.

Ela acrescentou, "Eu realmente não posso acreditar que Wesley machucaria alguém. Ele não é propenso a violência”.

Jenn disse, "Não temos motivos para pensar de outra forma, Dra. Rhind."

Bill acrescentou, "Mas precisamos conversar com ele se for possível."

A Dra. Rhind pensou em silêncio por um momento.

Então disse, “Sua mãe está com ele em seu quarto. Ela tem tentado ajudá-lo nesse contratempo. Vamos ver como está correndo.”

Enquanto a Dra. Rhind levou Riley e seus quatro companheiros para a instalação, Riley ficou surpresa com o que viu. Lembrou-se muito bem da última vez que estivera naquele tipo de instituição. Fora no Mississippi quando ela, Bill e Jenn entrevistaram um homem que sofria de demência.

Era um lar para os idosos e o lugar deixara Riley desconfortável. Tudo parecia falso de alguma forma, e mais parecia uma casa funerária do que um lugar onde pessoas vivas eram realmente tratadas.

Mas esse lugar era totalmente diferente.

Por um lado, as pessoas nos corredores eram de diferentes idades, variando de crianças a idosos. E muitos dos rostos eram rostos felizes. Vários moradores acenaram e sorriram para Riley e seus companheiros.

Espere - eles são residentes ou funcionários? Riley se perguntou.

Ninguém parecia estar usando uniformes de qualquer tipo, então Riley não podia ter certeza de que seriam residentes ou funcionários.

Eles passaram por uma confortável sala de estar onde as pessoas sentavam-se conversando e jogando jogos de tabuleiro e comendo lanches, e uma sala de aula onde um pequeno grupo de estudantes tomava notas e ouvia atentamente o professor.

Enquanto continuavam atravessando compartimentos espaçosos de estilo apartamento, Riley disse a Dra. Rhind...

"Estou impressionada. Isso parece mais uma combinação de escola e dormitório do que um...”

Riley não terminou sua frase, mas a Dra. Rhind sorriu amplamente.

"Não tenha medo de dizer isso” Disse ela para Riley. "Você quer dizer uma instituição psiquiátrica."

Riley assentiu, corando um pouco.

A Dra. Rhind disse, “Nós tentamos não tratar nossos residentes como… bem, pacientes. Em vez disso, nós os tratamos como indivíduos, com seus próprios problemas, esperanças, mudanças, desafios, habilidades, limitações e necessidades. Nós tentamos promover um sentimento de família para os moradores e funcionários. Isso leva a uma rede positiva de relacionamentos que podem durar uma vida inteira, mesmo depois de alguns deles saírem daqui para viver no mundo exterior. Nossos ‘ex-alunos’ geralmente voltam para ajudar os outros, ensiná-los habilidades valiosas para a vida e outras lições que aprenderam. Acima de tudo, tentamos promover a independência ”.

Com um suspiro, acrescentou, "Nós tínhamos tais esperanças para Wesley. Ele parecia estar indo tão bem.”

A Dra. Rhind parou e bateu na porta de um dos quartos.

Riley ouviu a voz de uma mulher dizendo, "Entre".

Riley e seus três acompanhantes seguiram a Dra. Rhind até o apartamento grande e agradável. Uma mulher de meia-idade e um jovem estavam sentados em uma mesa perto de uma área de cozinha totalmente equipada.

A mulher observava o jovem com uma expressão de preocupação e carinho. A atenção do jovem estava concentrada em um objeto girando em cima de um pequeno suporte na mesa.

Um giroscópio de brinquedo, Percebeu Riley.

Ela mesma tivera um quando era uma garotinha.

O foco de Wesley Mannis no giroscópio parecia passar além do mero fascínio. Ele parecia positivamente absorto, quase hipnotizado. Ele nem sequer piscou os olhos quando o objeto girando na vertical diminuiu de velocidade, depois se inclinou e finalmente se imobilizou na mesa.

Sem uma palavra, Wesley enfiou um pedaço de corda em um buraco no eixo do giroscópio, girou meticulosamente o eixo até que a corda estivesse bem enrolada em volta dele, e puxou a corda para que a roda girasse novamente.

Depois colocou o giroscópio de volta no suporte e observou de novo enquanto girava e zumbia.

A Dra. Rhind perguntou calmamente a mulher. "Houve alguma mudança?"

A mulher balançou a cabeça e disse, "Pelo menos ele não teve mais colapsos. Ele tem estado assim absorto desde que você esteve aqui pela última vez.”

Essa palavra chamou a atenção de Riley...

Absorto.

Ela ouvira isso em referência a pessoas com autismo, mas não tinha certeza do que significava. Em voz baixa, a Dra. Rhind apresentou Riley e seus companheiros à mãe de Wesley, Gemma Mannis.

Mas a Dra. Rhind hesitou, como se estivesse procurando uma maneira de explicar uma visita do chefe de polícia e de três agentes do FBI.

Com razão, Pensou Riley.

A mulher já tinha mais do que o suficiente para se preocupar sem ter que ser informada de que seu filho poderia ser um suspeito de assassinato.

Em vez disso, Riley disse para Gemma, tão casualmente quanto possível...

"Nós só queremos fazer-lhe algumas perguntas sobre a noite antes da anterior, quando ele desapareceu por um tempo."

Gemma olhou curiosamente para Riley, depois para os seus colegas.

Não era uma grande explicação e Riley sabia disso. Ela esperava que Gemma não fosse começar a fazer perguntas. Mas para alívio de Riley, a mulher simplesmente assentiu. Riley imaginou que ela simplesmente não queria ouvir toda a verdade naquele momento.

Seja qual for "a verdade".

Pareceu a Riley que Gemma Mannis teria a sua idade, embora os anos não tivessem sido gentis com ela. Seus olhos eram ocos e preocupados, e seu rosto estava profundamente enrugado de ansiedade. Riley também notou que ela não estava usando uma aliança de casamento, embora houvesse uma ligeira indentação no dedo onde um anel costumava estar.

Divorciada, Pensou Riley. Parecia provável que muitos anos de criação de um filho deficiente tivessem cobrado seu preço, tanto no bem-estar emocional de Gemma quanto em seus relacionamentos.

Riley se perguntou se o marido de Gemma poderia ter sido como Duane Scoville, muito superficial e egoísta para aguentar a parte “para o melhor ou o pior” de seus votos matrimoniais. Se assim fosse, Gemma podia ter tido que perseverar sozinha.

Riley nem conseguia imaginar as dificuldades que enfrentara.

Quanto ao filho de Gemma, Wesley, Riley achou que ele era uma presença desconcertante.

Parecia ter vinte e poucos anos, embora tivesse os olhos ocos e ansiosos de sua mãe. Suas feições eram longas e finas e tinha uma leve barba no queixo. Riley se perguntou...

Ele consegue se barbear?

O apartamento estava equipado para alguém com boas habilidades para a vida, por isso talvez conseguisse. Mas provavelmente não tinha se barbeado desde o que acontecera algumas noites atrás.

Riley e seus colegas permaneceram em pé enquanto a Dra. Rhind se sentou ao lado de Wesley.

A Dra. Rhind disse baixinho, "Wesley, você tem visitas".

Enrolando a corda do giroscópio novamente, Wesley disse com uma voz firme...

"Eu posso ver isso."

"Eles gostariam de falar com você" Disse a Dra. Rhind.

"Eu não quero falar com eles."

"Por que não?"

"Eu não quero falar com ninguém."

Ele puxou a corda e colocou o giroscópio girando no suporte novamente.

Desde a sua chegada, Riley não viu seus olhos se moverem uma vez do giroscópio.

Ainda mais inquietante, Wesley Mannis era simplesmente um vazio para ela.

Não só os poderes de empatia de Riley a ajudaram a entrar na mente dos criminosos, mas também a ajudaram a se comunicar com vítimas e testemunhas. Ela muitas vezes conseguia atrair pessoas, às vezes, apesar de si mesmas.

Mas ela não podia sentir nada naquele jovem intenso.

A Dra. Rhind falou de novo. “Wesley, sabemos que algo aconteceu com você há duas noites. Precisamos que você nos fale sobre isso.”

"Não há nada para falar" Disse Wesley. “Eu quero que você vá embora. Exceto mamãe. Eu quero que o resto de vocês vá embora.”

"Wesley..." Dra. Rhind começou.

“Estou falando sério” Disse Wesley, sua voz tremendo agora. "Vá embora."

"OK" Disse a Dra. Rhind.

Então ela levou Riley e seus companheiros para o corredor.

"Eu esperava que ele pudesse ter melhorado um pouco" Disse a Dr. Rhind. "Mas não. Estou realmente preocupada que esse revés possa ser irreversível.”

O chefe Brennan pareceu intrigado. Ele disse, "Certamente ele não vai dizer nada enquanto estiver brincando com esse brinquedo. Você não pode simplesmente dizer a ele para parar? Não pode simplesmente dizer a ele para olhar para nós?”

A Dra. Rhind suspirou. “Um dos nossos novos membros da equipe cometeu esse erro há pouco tempo - educadamente pediu-lhe que parasse de ficar absorto e fizesse contato visual com ela. Ele teve um colapso terrível. Acredite em mim, não queremos que isso aconteça novamente se pudermos evitar.”

"Absorto?" Riley perguntou.

"Comportamento auto-estimulante" Explicou a Dra. Rhind. “As pessoas com deficiências de desenvolvimento são frequentemente estimuladas como forma de lidar com a superestimulação do mundo exterior, o ataque aterrador de informações sensoriais. Isso é o que ele está fazendo com o giroscópio. É sua maneira favorita de absorção. Acredite em mim, é muito benigno em comparação com outras situações que vi em pacientes, que podem incluir bater com a cabeça e outras formas de auto-mutilação.”

"Então você não pode fazer com que ele pare?" Perguntou o chefe Brennan.

"Nós não queremos" Disse a Dra. Rhind. “Agora, ele sente que realmente precisa daquilo. E precisamos respeitar esse sentimento - isso é parte da nossa filosofia aqui na Wilburton House. Quanto a fazer contato visual...”

A Dr. Rhind encolheu os ombros e continuou, “Wesley é avesso ao contato visual, mesmo quando está bem. Tentar fazer esse tipo de conexão pessoal sobrecarrega-o, possibilita um colapso. Isso é comum com pessoas autistas. E nós não acreditamos em tentar forçar a questão.”

Riley ficou desiludida com o que estava ouvindo e percebeu que o chefe Brennan estava prestes a protestar. Riley o silenciou com uma sacudida de cabeça.

Ela perguntou à médica, "Então você está dizendo que não temos como chegar a ele?"

"Não agora" Disse a Dra. Rhind. "Estamos analisando todas as possibilidades, mas não podemos apressar isso." Ela apertou os lábios e acrescentou com firmeza, "Não vamos apressar. Eu vou lhe avisar se houver alguma mudança.”

Ficou claro para Riley que não havia mais nada a ser feito agora. Ela e sua equipe apenas atrapalhariam se ficassem por perto. Mas antes de deixarem Wilburton House, ela pediu a Dra. Rhind para verificar o paradeiro de Wesley na manhã do assassinato de Vincent Cranston em New Haven. De acordo com os registros, Wesley havia voltado para a instalação após seu turno e passou o dia inteiro exatamente onde deveria estar.

Já era noite quando deixaram o edifício. Apesar de seu sucesso em acessar a gravação da câmera de segurança e rastrear Wesley Mannis, não fizeram nenhum progresso real no caso. Enquanto Riley tentava pensar no que fazer a seguir, percebeu que Bill a observava.

Ele disse, "Devemos nos reagrupar, discutir o que temos e dormir um pouco".

Riley assentiu, mas soava a derrota.

O chefe Brennan levou os três agentes para um charmoso hotel da era colonial chamado Ramsey Inn. Quando os deixou, disse que mandaria um carro mais tarde para eles usarem enquanto estivessem em Connecticut.

Depois que Riley, Jenn e Bill se instalaram em seus quartos, todos desceram para o restaurante. O lugar era aconchegante, com grandes pinturas penduradas em painéis de madeira antiga e escura. O cardápio era mais caro do que a comida habitual, já que eles geralmente tentavam não cobrar demais do FBI. Mas decidiram se deliciar com alguns pratos de frutos do mar de excelente aparência.

Enquanto esperavam por sua comida, Jenn demonstrou preocupação.

"O que você está pensando?" Riley perguntou.

Depois de um momento, a jovem agente murmurou, "Eu tenho um mau pressentimento sobre Wesley Mannis".

Bill zombou e disse, "Com certeza você não acha que ele é nosso assassino".

Jenn encolheu os ombros e disse, "Bem, ele aparentemente não matou Vincent Cranston em Newport. Mas Robin Scoville? Essa é outra história. A maneira como ele desapareceu naquela noite pareceu-me muito estranha.”

Riley olhou com ceticismo. Bill também parecia duvidoso.

Bill disse, "Ele não me pareceu agressivo".

"Talvez não" Disse Jenn. "Mas eu vivi perto de uma criança autista... onde eu cresci."

Riley sabia, é claro, que Jenn se referia ao lar adotivo de tia Cora.

Jenn continuou, “Ele era um garoto brilhante, um verdadeiro sábio. Mas seus colapsos eram terríveis. Nós não conseguiamos controlá-lo e ele machucou bastante alguns de nós. Ele realmente poderia ter matado alguém. E a Dra. Rhind disse que Wesley tem colapsos.”

Riley poderia muito bem imaginar tia Cora recebendo um garoto autista com habilidades extraordinárias.

Ela o acharia útil para seus propósitos insidiosos, mas qual teria sido o fim de uma criança assim?

Pelo menos Jenn escapara às garras daquela mulher, Pensou Riley.

Jenn acrescentou, "Eu não acho que não devemos excluir Wesley como suspeito".

Bill sacudiu a cabeça. "Não é uma coincidência, dois assassinatos tão próximos no tempo, ambos em Connecticut, ambos com a mesma arma do crime incomum, realizada por dois perpetradores completamente independentes?"

Jenn acenou em direção a Riley e disse, “Uma coincidência, talvez, Bill. Mas Riley me ensinou que as coincidências são um fato da vida no trabalho investigativo. Não podemos descartar uma possibilidade só porque parece coincidência.”

Riley encolheu os ombros em silêncio. Era verdade que ela havia ensinado esta lição a Jenn. O próprio mentor de Riley, Jake Crivaro, ensinara-lhe a mesma coisa há muitos anos. Segundo seus ensinamentos sabiam, Jenn poderia estar certa.

Se nós ao menos soubéssemos.

Durante o jantar, discutiram seus planos para o dia seguinte. Parecia não haver mais nada para eles fazerem em Wilburton, pelo menos naquele momento.

Riley disse, "Nós também podemos voltar para New Haven de manhã, dar uma olhada na trilha onde Vincent Cranston foi morto."

Bill assentiu, pegou o celular e digitou um número. Ele disse, "Vou mandar mensagem para o agente Sturman agora e marcar um encontro com ele".

Depois do excelente jantar e da sobremesa, todos voltaram para seus quartos. Esperando relaxar e ter um bom começo amanhã, Riley tomou um banho quente e foi direto para a cama.

Mas ela ainda estava pensando nas palavras de Jenn...

"Eu não acho que devemos excluir Wesley como suspeito."

Riley sabia que Jenn estava certa, é claro, sobre coincidências. E como picadores de gelo estavam voltando em grande estilo como armas de assassinato, talvez não fosse uma coincidência como parecia.

E ainda assim...

Ela imaginou aquele jovem estranho encarando um giroscópio girando. Ele ficava violento quando tinha um colapso?

Na casa de Robin Scoville, Riley sentiu que o assassino era frio, calculista e eficiente. Não poderiam ser essas as características de alguém com autismo?

Riley não tinha ideia.

Seus pensamentos foram para Gemma, a mãe de Wesley.

A pobre mulher.

Riley sentiu-se grata por estar criando duas adolescentes saudáveis, nenhuma delas com problemas de desenvolvimento. É verdade que tanto April quanto Jilly apresentaram seus próprios tipos de desafios parentais, às vezes incluindo mais do que sua parcela de rebeldia adolescente.

Mas nada como Wesley.

Riley pegou seu telefone e enviou mensagens de texto para ambas as filhas.

“Saudades de você” Escreveu a April.

"Orgulhosa de você" Escreveu para Jilly.

Então Riley hesitou. Ela também não deveria escrever para Blaine algo pessoal, talvez até algo sexy? Mas se sentia cansada demais para pensar em algo inteligente. Finalmente, acabou por digitar as palavras "Espero ver você em breve".

Agora, o sono começava a apoderar-se de Riley.

Mesmo assim, uma imagem permaneceu vivamente com ela.

O giroscópio giratório.


*


O giroscópio percorreu os sonhos de Riley a noite toda. Estava girando perto dela, tornando-se cada vez maior...

Então o celular dela tocou.

Os olhos de Riley se abriram.

O sol do início da manhã iluminava a janela.

Ela estendeu a mão para o telefone e olhou para ele. Não reconheceu o número, mas aceitou a ligação.

A voz de um homem dizia, "Olá, estou falando com a agente especial Riley Paige, do FBI?"

"Sim” Disse Riley.

"Meu nome é Bayle" Disse o homem. “Kevin Bayle. Penso que nunca ouviu falar de mim.”

Sentindo-se intrigada agora, Riley disse, "Não, receio que não".

"Bem, eu ouvi falar de você. Na verdade, eu sei um pouco sobre você. E estou ansioso para conhecê-la pessoalmente. Hoje, se possível.”

Riley sentiu um arrepio de irritação na voz quase plana e sinistra do homem.

Um stalker? Perguntou-se.

Começava a parecer que sim.

De qualquer forma, encontrar-se com ele naquele dia certamente estava fora de questão. O agente Sturman estava esperando Riley e seus colegas em New Haven dali a pouco, e eles tinham um trabalho importante para fazer lá.

"Lamento mas não é posível" Disse Riley. Tentou pensar no que lhe dizer se ele insistisse ou quisesse encontrá-la em outro momento. Ela tinha certeza de que não queria nada com ele.

O homem disse, “Isso é uma pena. Eu pensava que estaria interessado em saber mais sobre Wesley Mannis.”

Riley foi surpreendida.

Quem é esse cara? Questinou-se.


CAPÍTULO DEZ


Sentindo-se grogue e desorientada, Riley se esforçou para entender aquele telefonema.

"Como você conseguiu esse número?" Ela exigiu.

"Oh" Disse o homem, parecendo um pouco surpreso. "Eu acho que não disse, não é? A Dra. Amy Rhind me contou como entrar em contato com você. Na verdade, ela espera que você e seus colegas venham até Wilburton House agora. Estou aqui. Podemos conversar mais então.”

Sem outra palavra, o homem terminou a ligação.

Ela estava prestes a ligar para a Dra. Rhind para dizer que os agentes tinham outros planos para a manhã e não podiam se encontrar com quem quer que fosse esse Bayle.

Mas Riley percebeu que estava intrigada e irritada.

O homem disse "estou aqui" como se isso fosse uma boa notícia.

Riley olhou para o relógio e viu que ela e seus colegas só eram esperados em New Haven dali a um tempo. O que quer que estivesse acontecendo, ainda havia tempo para dar uma olhada. Riley pegou o celular e ligou para Bill e Jenn para acordá-los.


*


Bill e Jenn não fizeram muitas perguntas quando Riley insistiu em ir para Wilburton House sem parar para o café da manhã.

"Espero bem que esse cara cumpra sua promessa" Ela murmurou enquanto dirigia para a reunião que Kevin Bayle havia solicitado.

Quando entraram no saguão, encontraram a Dra. Rhind esperando ansiosamente por eles.

"Oh, estou tão feliz por terem vindo!" Disse. “O Dr. Bayle disse que entrou em contato com você, agente Paige.”

Riley trocou olhares assustados com Bill e Jenn.

“Dr. Bayle? ”Perguntou. O homem não se identificou como profissional.

"É claro" Disse a Dra. Rhind. “Ele é um terapeuta de Bridgeport, especialista em casos graves como o de Wesley. Eu liguei para ele ontem. Ele é bem brilhante e muito requisitado, e é extremamente exigente com seus casos. Quando lhe liguei pela primeira vez, não parecia interessado em vir aqui. Mas então…"

A Dra. Rhind inclinou a cabeça para Riley e acrescentou, “Assim que eu mencionei seu nome, agente Paige, ele ficou ansioso por vir. Disse que estava ansioso para conhecê-la. Não me disse porquê.”

Riley ficou parada ali sem palavras. Oouviu Bill rir.

Então a Dra. Rhind disse vigorosamente, "Vamos lá, ele está esperando por você".

Riley e seus colegas seguiram a Dra. Rhind pelo edifício até o quarto de Wesley. A cena foi muito semelhante ao dia anterior. Wesley estava brincando com o giroscópio e sua mãe estava sentada à mesa ao lado dele.

Mas agora, um homem alto com uma jaqueta de veludo cotelê estava por perto. Riley calculou que ele teria trinta e poucos anos, apesar de seu cabelo prematuramente grisalho. E pareceu-lhe surpreendentemente atraente.

A Dra. Rhind apresentou-o como Dr. Kevin Bayle. Quando Riley e seus colegas mostraram seus distintivos e se apresentaram, o Dr. Bayle olhou atentamente para Riley. Ela considerou o seu olhar bastante inquietante.

Ele ficou ali com os braços cruzados, não se oferecendo para apertar a mão dela.

"Estou muito feliz por conhecê-la, finalmente, Agente Paige" Disse ele em uma voz nítida, estranhamente eficiente. "Temos muito que conversar juntos, tenho certeza. Enquanto isso, no entanto, temos trabalho a fazer. Vamos direto ao assunto.”

O Dr. Bayle foi até a mesa e Gemma Mannis se levantou para deixá-lo sentar. Então, sem dizer uma palavra, o Dr. Bayle sentou-se e observou Wesley brincar com o giroscópio.

Enquanto esperava que algo acontecesse, Riley olhou ao redor do pequeno estúdio de Wesley. De um lado da sala havia um objeto estranho que não estava lá no dia anterior. Era uma moldura de madeira em forma de um caixão que estava aberto em cada extremidade. As partes de baixo e os lados estavam cobertos com estofamento parecido com um colchão.

Percebendo a curiosidade de Riley, a Dra. Rhind murmurou para ela, "Chamamos isso de 'máquina de apertar'. O Dr. Bayle disse que deveríamos ter uma pronta para o caso de precisarmos."

Riley se perguntou...

Uma "máquina de apertar"?

Ela não podia imaginar para que seria usado.

Então o Dr. Bayle falou com Wesley quase num sussurro...

"Eu amo giroscópios."

"Eu também" Disse Wesley, puxando a corda para fazer o giroscópio girar novamente.

O Dr. Bayle então disse, "Posso tentar uma coisa?"

Ainda sem olhar para o Dr. Bayle, Wesley não protestou enquanto o terapeuta pegou a corda e envolveu cada extremidade em torno de seus dedos indicadores. Depois, enfiou a corda sob o giroscópio giratório e levantou-a para equilibrar a corda como um equilibrista.

Enquanto manobrava o giroscópio, o Dr. Bayle continuava a falar numa voz quase hipnótica.

“Incrível, não é? Quase como magia. Olha como eu posso fazer isso de lado a lado. Quase como se estivesse desafiando a gravidade. Mas não está desafiando a gravidade, não realmente.”

O giroscópio desacelerou e caiu da corda, oscilando em volta da mesa até que parou. Desta vez, o Dr. Bayle enfiou a corda pelo eixo e a enrolou de volta.

"Você sabe como funciona um giroscópio, Wesley?" Ele perguntou.

Wesley abanou a cabeça quase imperceptivelmente.

"É simples física" Disse Bayle, fazendo o giroscópio girar novamente. “Tem a ver com a conservação do momento angular...”

Com a voz agora suave e delicada, o Dr. Bayle explicou como o giroscópio funcionava e apontou suas partes, depois passou a falar sobre os usos práticos dos giroscópios, especialmente nos sistemas de navegação.

Riley percebeu que estava achando a pequena palestra fascinante. Mais uma vez, ela se lembrava de brincar com seu próprio giroscópio quando era pequena.

Mas de alguma forma, ela se lembrava de ser mais do que apenas brincar.

As rodas giratórias tinham sido muito importantes para ela, embora ela não conseguisse se lembrar de como ou por quê.

De repente, o Dr. Bayle olhou diretamente para Riley e segurou seu olhar por um momento.

Quase como se ele estivesse lendo meus pensamentos, Pensou com um calafrio.

Para alívio de Riley, o Dr. Bayle rapidamente voltou sua atenção para Wesley e continuou sua palestra.

Muito em breve, Riley ficou surpresa ao perceber...

Wesley está olhando para ele!

Na verdade, os dois homens estavam realmente fazendo contato visual.

O giroscópio estava imóvel na mesa agora, enquanto o Dr. Bayle dizia...

"Ouvi dizer que você trabalha na coleta de lixo."

Wesley assentiu.

O Dr. Bayle disse, “Bem, quando eu era mais jovem, trabalhava como lavador de pratos. Então eu acho que você poderia dizer que tenho experiência em trabalhar com lixo.”

Sua voz permaneceu estável, como se não quisesse dizer isso como uma piada.

Então disse, "Conte-me um pouco sobre a sua rota, Wesley."

“O que você quer saber?” Wesley perguntou.

“Qualquer coisa que você queira me dizer. Que tipo de coisas você vê quando está trabalhando? ”

O rosto de Wesley se enrugou em pensamentos.

Então ele disse, “A maior parte do meu percurso é na Victoria Street e vejo muitas coisas em endereços diferentes. Às dez, eles têm um portão quebrado. Há um balanço na varanda às duas e vinte e outro às duas e quarenta e cinco. As pessoas que moram no 352 deixam a porta da garagem aberta a noite toda, não sei porquê… ”

As palavras de Wesley começaram a fluir cada vez mais rápido enquanto ele continuava descrevendo incontáveis ??detalhes estranhos que havia notado na Victoria Street. Ele parecia quase frenético em dizer o máximo que podia. Depois de alguns minutos, o fluxo de palavras diminuiu e parou - muito parecido com o giroscópio.

Então o Dr. Bayle disse...

“E quanto ao 365 de Victoria Street?”

Riley sentiu uma agitação de antecipação. Ela sabia que era o endereço de Robin Scoville.

Wesley subitamente ficou pálido e sua boca ficou aberta.

"Eu não sei" Disse ele.

"Tem certeza?" Perguntou o Dr. Bayle.

O rosto de Wesley se torceu violentamente, e ele disse...

"Eu não sou um voyeur."

"Ninguém disse que você era" Disse Bayle.

"Eu não sou um voyeur" Repetiu Wesley.

O Dr. Bayle assistiu e escutou silenciosamente enquanto Wesley repetia essas palavras repetidamente, mais alto e violentamente de cada vez...

"Eu não sou um voyeur... eu não sou um voyeur... eu não sou um voyeur..."

Wesley começou a tremer como se tivesse uma febre terrível ou estivesse em um estado profundo de choque. Finalmente desabou no chão e se enrolou em posição fetal, soluçando incontrolavelmente.

Bayle levantou-se da cadeira e se ajoelhou ao lado de Wesley, oferecendo-lhe a mão.

"Venha comigo, Wesley" Disse o Dr. Bayle.

"Não-o-o-o!" Wesley gemeu de desespero.

O Dr. Bayle calmamente segurou a mão de Wesley e disse novamente...

"Venha comigo."

Ele persuadiu Wesley a se agachar, então o ajudou a rastejar pelo chão até o estranho objeto que a Dra. Rhind havia chamado de “máquina de apertar”.

Ele guiou Wesley para a estrutura acolchoada.

Para surpresa de Riley, o paciente agitado simplesmente se deitou de costas em meio ao acolchoamento e cruzou os braços sobre o peito.

Então o Dr. Bayle puxou uma alavanca e os dois lados se fecharam ao redor de Wesley, segurando-o firme mas gentilmente.

Os soluços de Wesley desapareceram. Em vez disso, ele suspirou, arrulhando sons de alívio.

Riley se virou para a Dra. Rhind e perguntou baixinho, "O que aconteceu?"

A Dra. Rhind sorriu levemente e disse, “Algumas pessoas autistas sofrem de um problema paradoxal. Eles precisam desesperadamente de segurança física, um abraço ou um aconchego - e ainda assim não podem tolerar o contato humano. Irônico, não é? Bem, esse é um tipo de mecanismo de abraços que dá a esses pacientes exatamente o tipo de conforto que eles precisam. Como você pode ver, funciona muito bem com o Wesley.”

Olhando para Bill e Jenn, Riley podia ver que eles estavam tão surpresos e abalados quanto ela.

Jenn disse, "Isso parece um revés muito ruim".

O Dr. Bayle colocou as mãos nos quadris e olhou para Wesley, que parecia estar ficando mais calmo.

"Não necessariamente" Disse Bayle. "Isso significa que não posso parar agora. Significa que vocês devem deixar-nos sozinhos.”

Com um olhar penetrante para Gemma Mannis, acrescentou, "Isso inclui você".

Parecendo prestes a chorar, Gemma saiu do compartimento.

Riley estava prestes a insistir em ficar quando Bill tocou no braço dela. "Temos que ir para New Haven."

Riley assentiu com relutância. Mas enquanto a Dra. Rhind conduzia Jenn e Bill para fora do quarto, Riley cruzou olhares com o Dr. Bayle novamente.

Riley sentiu um arrepio profundo naquele olhar.

Ela se perguntou quando se virou e seguiu os outros para fora da porta - o que havia naquele homem que a perturbava tanto...?

E por que ele parece tão interessado em mim?


CAPÍTULO ONZE


Enquanto Bill dirigia seu carro emprestado para sul em direção a New Haven, Riley sentiu suas emoções ainda se recuperando da cena chocante que tinham acabado de testemunhar. A imagem do jovem torturado rastejando para ser consolado naquela estranha caixa acolchoada se repetia em sua mente.

Ela sentiu que tanto Bill quanto Jenn tinham sido atingidos por aquele encontro também. Depois de alguns minutos na estrada, ela sentiu que era hora de expressar alguns de seus sentimentos abertamente.

Riley disse para Jenn, "O que você pensa sobre Wesley Mannis agora?"

Jenn parou por um momento, depois disse...

"Ainda não estou pronta para o excluir como suspeito."

Jenn fez uma pausa novamente, depois acrescentou...

“Para os dois assassinatos, não apenas para Robin Scoville.”

Riley ficou surpresa. Ainda ontem, Jenn havia concordado que era improvável que Wesley tivesse matado Vincent Cranston em New Haven. O que a fizera mudar de opinião?

"Por que você acha isso, Jenn?" Riley perguntou.

Jenn encolheu os ombros, então disse, “Bem, eu tive um mau pressentimento sobre ele ontem. E o que acabou de acontecer me deixou ainda mais preocupada. Ele parece ter uma personalidade muito errática”.

Bill disse, "Mas sabemos que Wesley estava na instituição quando Cranston foi morto".

“Será?” Jenn disse. "É apenas uma curta viagem de Wilburton até New Haven. E ele não está propriamente trancado no lugar. Ele poderia ter saído se quisesse. Talvez se trabalhasse com um parceiro...”

"Você está exagerando, Jenn" Disse Bill abanando a cabeça.

“Estou mesmo? Aquele garoto autista que eu conhecia onde cresci - seus colapsos eram muito parecidos, e ele poderia ser realmente ameaçador. Ele não tinha empatia e manipulava as pessoas, enganando-as, fazendo-as pensar que era mais incapacitado do que na verdade era. Ele era altamente organizado, obsessivo e até astuto”.

Riley sentiu um arrepio quando imaginou como tia Cora teria explorado tal criança - alguém que seguisse todos os seus pedidos sem deixar quaisquer sentimentos morais atrapalharem.

Riley disse, "E Wesley lembra-lhe dele?"

"Muito" Disse Jenn.

Os três ficaram em silêncio. Por mais que tentasse, Riley não podia acreditar nas suspeitas de Jenn. Ela tinha certeza de que Bill estava certo e Jenn estava exagerando, se debatendo cegamente enquanto procurava por uma hipótese plausível.

E isso não é uma coisa ruim, Pensou Riley.

Riley sabia que pelo menos um deles precisava estar pensando muito fora da caixa agora, e poderia muito bem ser Jenn. Eles precisavam se divertir até mesmo com as possibilidades mais improváveis ??até conseguirem pistas mais sólidas do que aquelas que tinha até o momento. Mas era importante que não se entregassem a nenhuma dessas ideias ainda.

Era apenas uma viagem de vinte minutos até o parque em New Haven, chamado Friendship Woods. Quando Bill parou na entrada da frente do parque, Riley e seus colegas encontraram o agente Rowan Sturman em pé ao lado do carro, esperando por eles.

Enquanto ele os conduzia ao longo da trilha onde Vincent Cranston fora morto, Sturman disse...

"Nós ainda estamos fazendo o melhor que podemos para manter oculta a notícia de que Cranston foi assassinado. Deus sabe que não queremos ter que lidar com muita histeria da mídia.”

Bill perguntou, "Alguém da sua família sabe?"

Sturman disse, “Sim, seu tio, Niles Cranston, o patriarca da família. Como você pode imaginar, ele tem contado connosco para resolver o caso. E com o dinheiro dele, poderia nos causar muitos problemas se não resolvermos o caso em breve. A propósito, ele espera que lhe façamos uma visita hoje e provavelmente é melhor fazermos isso assim que terminarmos aqui. Seria realmente útil se pudéssemos reportar algum progresso real.”

Enquanto caminhavam, nada no cenário verde e pacífico deu a Riley alguma noção do que havia acontecido. Corredores magros, em forma e vestidos elegantemente trotavam a várias velocidades, alguns conversando juntos, outros mais focados em seus exercícios.

Riley olhou ao redor e viu inúmeros lugares onde alguém poderia ter espreitado, à espera no mato ao lado do caminho. Sem dúvida, o agente Sturman e sua equipe vasculharam toda a área em busca de pistas. Então Riley se perguntou - o que ela poderia esperar encontrar que ainda não tenha sido encontrado?

O agente Sturman parou o grupo em um lugar onde o caminho tomava uma curva acentuada. Ele apontou para o chão.

"O corpo de Vincent foi encontrado aqui" Disse ele.

Ele entregou a Riley uma pasta com algumas fotos do corpo. Riley desfolhou as fotos e a cena real, tentando visualizar exatamente como o corpo havia caído no caminho.

Ao fazê-lo, ela notou algo sobre a expressão no rosto do homem morto. Seus olhos estavam abertos e seus lábios formavam o que quase parecia um sorriso - ou talvez um esgar.

Ela não sabia ao certo por que isso lhe pareceu estranho, exceto que os músculos faciais tendiam a afrouxar logo depois que alguém morria.

Isso provavelmente não significa nada, Pensou.

O que importava agora era se ela conseguiria sentir o assassino. Podia não ser fácil uma semana após o assassinato, sem pistas físicas e com corredores passando de olho nela e em seus colegas com curiosidade.

Primeiro ela se perguntou - a vítima e o assassino se conheciam?

Riley perguntou ao agente Sturman, "Alguém esperaria encontrar Vincent aqui?"

Sturman encolheu os ombros. "Talvez. Vincent não esteve em New Haven por muito tempo. Ele estava apenas começando seu primeiro ano em Yale. Mas pelo que me disseram, essas corridas matinais já faziam parte de sua rotina. Ele esperava se tornar um corredor de maratona.”

Por que um atleta e depois uma mulher amputada? Riley se perguntou. Como esse assassino está escolhendo suas vítimas?

Bill observou, "Se essa fosse sua rotina, várias pessoas saberiam que ele estaria aqui".

Riley assentiu em concordância. Quando ela olhou para o cenário, começou a sentir uma coisa sobre o assassino...

Ele não se escondeu.

Ele não tinha feito uma emboscadoa a Vincent. Ele não sentiu necessidade disso. Em vez disso, ele se encontrou com Vincent abertamente.

Isso também parecia uma contradição. O assassino se esgueirara na casa de Robin Scoville e aparentemente fizera-lhe uma emboscada.

Riley andou uma curta distância na direção oposta de onde Vincent tinha vindo. Então ela refez os passos, imaginando que ela era o assassino se preparando para o encontro com Vincent. Ignorou o som do celular do Agente Sturman tocando e como ele se afastou do grupo para atender a ligação.

Ela sentiu apenas um lampejo de conexão com o assassino, mas depois desapareceu. Riley nem sabia se ele conhecia Vincent ou não. Mas quando se aproximou do local onde a vítima havia caído, obteve uma breve imagem que a parou em seu caminho.

Por um instante, foi como se os olhos de Vincent Cranston estivessem olhando para os dela.

Então a visão se foi também e ela não sentiu nada sobre a cena do assassinato. Mas agora Riley tinha certeza de uma coisa importante sobre Vincent e seu assassino.

Eles olharam diretamente um para o outro.

Eles fizeram contato visual.

Riley disse para Bill e Jenn...

"Wesley Mannis não matou esse homem."

"Como você sabe?" Jenn perguntou.

Riley estava prestes a explicar que o fato de Wesley fazer contato visual com o Dr. Bayle tinha sido uma situação pouco comum e um sinal de progresso em sua terapia. Em circunstâncias normais, Wesley não seria capaz de olhar diretamente nos olhos de outra pessoa.

Mas então ela ouviu a voz do agente Sturman.

"Eu tenho notícias. E não são boas.”

Riley se virou e viu Sturman segurando seu celular.

"Houve outro assassinato com picador de gelo" Disse Sturman.


CAPÍTULO DOZE


Riley e seus colegas trocaram olhares sombrios.

Sturman acabara de anunciar a pior notícia que poderiam ouvir naquele momento.

Outro assassinato com picador de gelo!

Outra pessoa morta.

Riley sabia que ela, Bill e Jenn estavam todos pensando a mesma coisa. Isso significava que a investigação estava desesperadamente atrasada.

Quantas mortes se seguiriam antes de resolverem este caso?

Sturman disse, “Temos que ir agora mesmo. Temos que chegar antes que a maré suba.”

A maré? Riley se perguntou.

Enquanto voltavam pelo caminho em direção à entrada da frente do parque, Sturman explicou, “Estava a falar com o médico-legista do estado, Alex Kinkaid. Outro corpo foi encontrado em Wickenburg Reef. Ele e sua equipe estão na cena do crime agora.”

Bill disse, "O corpo ainda está lá?"

Aceleraram o passo quando Sturman respondeu, “Sim, e eu disse a ele para não o retirar. Mas não temos muito tempo. Quando a maré estiver muito alta, Kinkaid e sua equipe terão que tirar o corpo, quer estejamos lá ou não. Isso é tudo que eu sei. Não tive tempo para fazer perguntas.”

Riley e seus colegas entraram em seu carro emprestado e seguiram atrás do veículo de Sturman.

Enquanto Bill dirigia, Jenn ligou para Wilburton House para verificar o paradeiro de Wesley Mannis. Quando terminou a ligação, disse, "A equipe diz que Wesley ainda está em seu quarto se recuperando de seu colapso."

Então, com um suspiro, Jenn acrescentou, “Acho que isso põe fim às minhas suspeitas sobre ele. Eu me sinto idiota por mencionar isso. Da próxima vez que pensar em uma hipótese maluca como essa, vou ficar de boca fechada.”

Riley disse, "Não se atreva, Jenn. Temos que colocar todas as hipóteses, mesmo as loucas. Pela maneira como as coisas estão acontecendo, meu palpite é que a verdade vai parecer muito louca quando resolvermos este caso.

Riley se impediu de adicionar...

"Se conseguirmos resolver o caso."

O fracasso não era uma opção, afinal de contas - especialmente agora que havia outra vítima. Não havia razão para acreditar que esse assassino pararia em breve.

A viagem viagem de New Haven para Wickenburg, uma cidadezinha na costa do Long Island Sound, era curta. Uma pitoresca cidade colonial como Wilburton, Wickenburg era uma pitoresca vila verde com um gazebo hexagonal que parecia bem adequado para dançar e para eventos musicais.

O Quatro de Julho deve ser muito animado aqui, Pensou Riley.

Eles seguiram Sturman pela pequena cidade até a praia, onde vários veículos oficiais haviam estacionados. Riley viu a van do médico legista entre eles.

Sobressaindo da costa, uma fileira curva de enormes rochas se projetava das ondas. Além das rochas, um pequeno farol estava em uma pequena ilha isolada.

Saíram do carro e juntaram-se ao agente Sturman, que se aproximava de um homem com um uniforme da polícia e um oficial de jaqueta branca.

As apresentações foram trocadas. Os dois homens eram Terry Nilson, chefe de polícia de Wickenburg e Alex Kinkaid, o médico-legista do estado. O ML era um homem enorme com um bigode estilo morsa.

Com uma voz áspera, mas quase alegre, Kinkaid disse, “Definitivamente parece um serial killer, não é? E eu estava pensando em me aposentar este ano. Eu posso ter que pensar melhor se as coisas continuarem interessantes.”

Em contraste, o chefe Nilson parecia muito abalado. Ele parecia ser muito mais jovem que o ML, e Riley calculou que nunca tinha lidado com nada tão sombrio antes.

Nilson e Kinkaid levaram Riley e seus colegas para o longo e rochoso recife. Kinkaid pareceu a Riley notavelmente ágil para um homem do seu tamanho, enquanto Nilson caminhava nas pedras com considerável cautela.

O mesmo fizeram Riley e seus colegas. As rochas eram traiçoeiras e escorregadias e, embora as ondas não estivessem tão altas quanto no mar, elas batiam com força contra o recife.

Um punhado de policiais e a equipe do ML estavam reunidos na extremidade do recife, cercando um corpo que estava em uma pedra. O homem morto estava virado para a esquerda, a mão direita estendida em direção a uma cana de pesca que estava entre duas pedras.

Parecia a Riley que a vara devia ter voado de suas mãos no momento do ataque.

O chefe Nilson disse, “Este é Ron Donovan, coitado. Era um viúvo que possuía uma loja de presentes aqui em Wickenburg. Ele vinha aqui pescar de manhã cedo quando podia. Esta manhã deve ter vindo aqui pouco antes do amanhecer, quando a maré estava começando a descer.”

Riley podia ver que a maré estava definitivamente subindo agora e as ondas levantavam uma névoa no ar. Ela adivinhou que restavam apenas alguns minutos para que a equipe do ML tivesse que mover o corpo de Ron Donovan e seu equipamento de pesca antes que fossem submersos ou flutuassem para longe.

Riley olhou para o corpo. O homem não parecia ser muito velho - talvez apenas cinquenta anos. Seus olhos abertos fitavam a água.

Bill perguntou, "Quem encontrou o corpo?"

O chefe Nilson explicou, “Um casal de amigos de pesca de Ron veio para se juntar a ele e o encontrou assim. Ron tinha um problema no coração, então naturalmente pensaram que tinha morrido de um ataque cardíaco. Eles ligaram para o 911 e uma ambulância veio com alguns paramédicos”.

Jenn perguntou, "Por que alguém achou que poderia ser um assassinato?"

Kinkaid disse com um grunhido de auto-satisfação, “Sou um pouco responsável por isso. Claro, não é do conhecimento público que Robin Scoville foi morta com picador de gelo - ou que Vincent Cranston foi assassinado. Estamos tentando controlar tudo isso para que a mídia não fique louca por isso. Ainda assim, eu alertei o pessoal médico apropriado para ficar de olho em certos tipos de mortes - especialmente aquelas que envolviam sangramento do ouvido.”

O homem grande se abaixou e apontou. A orelha esquerda de Ron Donovan estava cheia de sangue escuro e espesso.

Kinkaid disse, “Não há dúvida que esse cara não morreu de ataque cardíaco. Os paramédicos ligaram para o meu gabinete imediatamente. Minha equipe e eu chegamos aqui o mais rápido possível. Então liguei para o chefe Sturman e ele trouxe vocês aqui.”

Riley olhou ao redor, tentando avaliar sua situação. Normalmente, uma nova cena de crime como essa lhe daria a oportunidade perfeita de tentar entrar na mente do assassino. Mas a maré já estava visivelmente mais alta do que quando tinham chegado. Riley sabia que teria que ser rápida.

Apontando para o balde de plástico do pescador morto, perguntou ao chefe de polícia...

"Como foi a pescaria dele esta manhã?"

Por um momento, o chefe Nilson pareceu surpreso com a pergunta. Riley sabia que devia parecer estranho que ela estivesse interessada em um detalhe aparentemente irrelevante. Mas então ele abriu a tampa e olhou para dentro.

Disse, “Parece que Ron pegou cinco anchovas de bom tamanho. Ele devia estar muito feliz com isso.”

Riley assentiu, então refez seus passos a cerca de dez metros de volta ao longo do recife. Então se virou e olhou para o fim do recife, tentando imaginar a cena pouco antes do amanhecer, quando a maré estava descendo e a luz brilhava do leste sobre as ondas.

O assassino teria visto Ron Donovan de pé lançando sua linha para a água. Ela imaginou...

O assassino o conhecia?

Ele o havia escolhido como vítima antes mesmo de vir aqui?

Riley não tinha como saber.

Mesmo assim, ela tentou se imaginar no lugar do assassino enquanto voltava para o recife.

Ela se colocou outra pergunta...

Ele chamou Ron Donovan quando se aproximou?

Teria Donovan se virado e o cumprimentado?

Ela não podia ter certeza, mas de alguma forma duvidava disso. Com o som das ondas e das gaivotas, era fácil imaginar o assassino vindo até o recife sem que Ron Donovan sequer o notasse. E o assassino poderia ter desejado que assim fosse.

Finalmente chegou ao local onde Donovan estava pescando.

O que aconteceu aqui? Pensou.

Ela se lembrava da sensação que tinha tido na casa de Robin Scoville - que a mulher havia sido atingida pelo picador de gelo antes mesmo de ter percebido a presença de um intruso.

Algo semelhante aconteceu aqui?

Riley olhou para o corpo novamente, tentando determinar como a vítima teria se posicionado daquela forma em particular quando caíra morto.

Ela rapidamente percebeu...

Donovan estava sentado quando foi atacado.

Ela não sabia muito sobre a pesca na praia, mas sabia que era feita de pé, assim como a pesca com mosca que ela fazia com o pai nas montanhas da Virgínia.

Então ele se sentou quando o assassino chegou.

Um cenário hipotético, mas notavelmente vívido, começou a aparecer em sua mente.


Sentindo-se preparado e pronto para este novo assassinato, o assassino fala com o pescador quando ele fica diretamente atrás dele...

"Parece que vai ser um bom dia, não é?"

O pescador se vira surpreso quando lança a linha.

Os dois homens não se conhecem. O assassino pensa que o pescador o toma por um turista que está hospedado ali em Wickenburg. O assassino percebe uma expressão irritada no rosto do pescador e supõe que está prestes a dizer-lhe para se ir embora e deixá-lo em paz.

Mas o assassino fala antes que o pescador tenha uma chance.

"Como vai a pesca esta manhã?"

O pescador sorri, aparentemente satisfeito com a pergunta.

"Dê uma olhada no balde" Diz ele.

O assassino tira a tampa do balde e vê cinco peixes grandes.

"Impressionante" Diz o assassino. "Que tipo de peixes são estes?"

"Anchovas" Diz o pescador, sentando-se na rocha. "Sente-se comigo, vou mostrar-lhe as iscas que tenho usado."

O assassino se senta ao lado do homem, satisfeito que as coisas estão indo tão bem.

Eles conversam agradavelmente por um momento. O pescador claramente gosta de exibir seu equipamento, falando sobre a pesca para alguém que não sabe nada sobre isso. Entretanto, o assassino segura o picador de gelo escondido, esperando pelo momento perfeito para atacar.

Então o assassino aponta para além do recife e diz...

“Esse é um bonito farol. Há quanto tempo está ali?

O pescador olha para onde ele está apontando e acena com a cabeça. Ele abre a boca para dizer algo sobre a história do farol.

Mas não tem a chance de falar, porque é esse o momento que o assassino estava esperando.

Ele levanta seu picador de gelo e o introduz no ouvido do pescador...


Riley estremeceu quando saiu de seu devaneio.

Desta vez, seu senso do assassino foi extraordinariamente vívido.

Ela teve que se acalmar um pouco e lembrar a si mesma...

É apenas conjectura.

Por mais vívido que o cenário parecesse, ela sabia que tudo não passava de adivinhação intuitiva, especialmente detalhes da conversa. Por tudo o que ela realmente sabia, Donovan e o assassino não tinham falado um com o outro. Mas isso não lhe pareceu provável. Afinal, Donovan estava sentado no momento de sua morte, o que sugeria que ele achara o encontro relaxado e amável - pelo menos no começo.

Ela tinha certeza de que tinha conseguido reconstituir bem a cena.

Riley ouviu Bill perguntar...

"Então, o que você acha?"

Quando Riley se virou para ele, viu que todos os outros, exceto Bill e Jenn, estavam olhando para ela com surpresa mistificada.

Isso de novo, Pensou.

Como tantas vezes acontecia, aqueles que não estavam acostumados a seu comportamento estranho, parecido com um transe, não sabiam como o encarar.

Riley reprimiu um suspiro. Ela não queria explicar isso agora.

Riley respondeu à pergunta de Bill com uma suposição de que tinha certeza...

"Eu não acho que Donovan conhecia o assassino pessoalmente."

Jenn perguntou, "Mais alguma coisa?"

Quando Riley tentou pensar em outra coisa para dizer, olhou novamente para o corpo. A maré estaria a alcança-lo a qualquer momento. E aquilo eram algas nas costas da mão direita?

Ela se abaixou e olhou atentamente para a mão e viu que não eram algaa. Era uma mancha na própria pele. Ela puxou a manga um pouco e viu que a mancha se espalhava no pulso da vítima.

Ela apontou para a mancha e perguntou a Kinkaid, "O que você acha que é isso?"

O grande médico legista se abaixou ao lado dela e disse, “Eu percebi isso antes. É apenas uma marca de nascença. Nada de preocupante. Não tem a ver com nada. De qualquer forma, temos que tirar esse cara daqui.”

Enquanto Kinkaid dava ordens para sua equipe remover o corpo, Riley viu o agente Sturman olhando para o celular.

"Acabei de receber uma mensagem da minha equipe em New Haven" Disse ele a Riley e seus colegas. “Eles estão a tentar rastrear pessoas que compraram picadores de gelo recentemente e três nomes chamaram sua atenção. Eles não parecem muito promissores para mim, no entanto. Nós podemos lidar com eles mais tarde.”

Sturman guardou o telefone no bolso e acrescentou, “Niles Cranston está nos esperando em sua mansão para o atualizar. Eu estava esperando que pudéssemos relatar algo positivo. Ele com certeza não vai ficar feliz em ouvir que houve outro assassinato.”

Bill disse a Sturman, "Vamos seguir seu carro até sua casa".

Quando Riley e seus colegas entraram em seu veículo emprestado, a imagem daquela marca de nascimento passou pela sua cabeça e ela lembrou o que o médico acabara de dizer...

"Não tem a ver com nada."

Riley sentiu um arrepio de ansiedade quando pensou...

Por que tenho a impressão de que não é bem assim?


CAPÍTULO TREZE


Quando Bill começou a dirigir, seguindo atrás do carro do Agente Sturman, Riley ficou olhando pela janela. Mesmo enquanto ela observava o recife deslizar atrás deles, não conseguia tirar outra imagem da cabeça.

Aquela marca de nascença.

A forma escura nas costas da mão e do pulso da vítima continuava piscando em sua mente como uma imagem posterior de uma explosão de luz brilhante. Ela não sabia por que isso a importunava.

Riley disse para Bill e Jenn, "Vocês ficaram incomodados com a marca de nascença de Ron Donovan?"

Seus colegas olharam para ela com surpresa.

Jenn disse, "Não, por quê?"

Riley sacudiu a cabeça. "Eu não sei. Apenas me preocupa de alguma forma.”

Bill zombou um pouco e disse, "Não consigo imaginar por quê. É como o ML disse, não tem a ver com nada.”

Jenn acrescentou, "Não é como se fosse uma ferida infligida no momento do assassinato. Ele teve-a toda a vida. A menos que você pense que o ML está errado e não era realmente uma marca de nascença. Mas o que mais poderia ser? O que poderia ter causado aquilo ali?”

Riley disse, "Eu tenho certeza que é uma marca de nascença, mas..."

Sua voz desapareceu por um momento.

Então ela disse, "Robin Scoville era uma amputada".

"E então?" Jenn perguntou.

“Então,” Disse Riley, “Robin e Ron eram... imperfeitos.”

"Eu não entendo o que você está dizendo" Disse Bill.

Riley não respondeu. A verdade era que ela também não tinha certeza do que estava dizendo. Mas sentiu como se tivesse entrado na cabeça do assassino bem vividamente naquele momento. E por alguma razão, pensou que essas duas imperfeições tinham importância para ele de alguma forma.

Bill disse, "Eles não são nada parecidos, Riley - uma marca de nascença e uma perna amputada, quero dizer. Eles simplesmente não se comparam”.

"E quanto a Vincent Cranston?" Jenn perguntou. “Ele estava treinando para ser um corredor de maratona. A julgar pelas fotos da cena do crime, ele parecia bastante perfeito.”

Riley reprimiu um suspiro. Ela não conseguia explicar seu sentimento para Bill e Jenn. E isso realmente não fazia sentido, nem para ela mesma. De qualquer forma, ela sabia que Jenn estava certa. Riley não notou nada de estranho nas fotos de Vincent Cranston, exceto aquela expressão muito leve, mas peculiar no rosto. E, claro, isso certamente fora o resultado da surpresa de Vincent ao ser atacado de repente. Tirando isso, ele parecia um jovem saudável e extraordinariamente bonito.

Apenas tente tirar isso da sua mente, Riley disse a si mesma.

Não que ela achasse que isso seria fácil de conseguir. Uma vez que um vislumbre de uma ideia entrava em sua cabeça, Riley raramente conseguia se livrar disso.

Ainda assim, Riley tinha outras coisas para pensar no momento. Por um lado, ela se perguntou como seria Niles Cranston.

A família Cranston era famosa desde o século XIX. Eles faziam parte da história americana. Os primeiros milionários desse nome eram bem conhecidos por sua filantropia, uma tradição que seus descendentes defendiam até hoje.

No entanto, os herdeiros da fortuna da família eram notoriamente reclusos. Riley não se lembrava de ter visto fotos de nenhum deles. Ela não tinha ideia do que esperar de Niles Cranston além do que a agente Sturman lhe dissera ontem.

"Ele está realmente contando que nós resolvamos o caso."

Riley sabia por experiência que milionários poderiam ser problemáticos quando se tratava de resolver casos. Será que Niles Cranston seria diferente?

Bill seguiu o carro do agente Sturman de volta a New Haven, depois mais a leste até a cidade de Levering. Na extremidade da pitoresca e definitivamente luxuosa cidadezinha, eles chegaram à propriedade de Cranston. Seguiram o Agente Sturman até o portão da frente, onde Sturman se identificou com um guarda que lhes deu acesso à propriedade.

A princípio, Riley não viu sinal de nenhuma casa ou edifício enquanto os veículos seguiam pela estrada sinuosa entre vários acres de árvores altas e frondosas. Finalmente, a casa da família Cranston apareceu de repente.

A visão do lugar tirou o fôlego de Riley.

Seu trabalho já a levara a propriedades de pessoas ricas antes, mas a mansão de Cranston ofuscava qualquer casa que ela pudesse lembrar. Parecia quase como o centro de uma aldeia feudal - um enorme edifício semelhante a um castelo cercado por estruturas e casas menores.

Os dois motoristas estacionaram os veículos e todos caminharam até a imponente entrada da frente, onde foram recebidos por um severo mordomo que obviamente os esperava. Enquanto o mordomo os escoltava para dentro, seus passos ecoavam misteriosamente no chão de pedra de um longo corredor.

Os quatro agentes silenciosamente seguiram o mordomo ao longo do corredor, semelhante a uma catedral, até um par de portas escancaradas no final. Sem uma palavra, o mordomo acenou para o bando e depois fechou as portas, fechando-se do lado de fora da sala.

Encontraram-se em um grande aposento com teto alto, paredes com painéis escuros e uma longa mesa de banquete de madeira. Na parede do outro lado da mesa, pendia uma gigantesca pintura a óleo de um homem de barba grisalha e rosto sombrio, vestido com roupas antiquadas. Riley imaginou que devia ser um retrato de Brenton Cranston, o magnata do aço da Era Dourada que construíra a fortuna da família.

No final da mesa mais próxima deles, um homem de cinquenta e poucos anos estava olhando para o retrato, como se estivesse conversando com o patriarca da família. Ele estava vestindo um elegante roupão de seda e chinelos caros, e estava fumando um cachimbo.

Ele se virou ao som de passos se aproximando e disse, “Olá, agente Sturman. Vejo que trouxe alguns visitantes. Espero que também tenha trazido algumas novidades.”

"Receio que não sejam boas" Disse Sturman. Ele apresentou Riley e seus colegas e disse, “Sr. Cranston, lamento dizer que houve outro assassinato.”

Cranston pisccou os olhos com surpresa e desânimo.

“Quem foi desta vez?” Perguntou.

"Um homem que estava pescando esta manhã no Wickenburg Reef."

“E ele foi morto da mesma maneira que meu sobrinho... e a jovem?” Perguntou Cranston.

"Com um picador de gelo, sim" Confirmou Sturman.

Cranston olhou silenciosamente para Sturman por um momento, depois sentou-se no final da longa mesa, olhando para o retrato novamente como se esperasse que ele falasse.

Quando Riley olhou para ele com cuidado, notou sua semelhança com o homem do retrato - uma sugestão de criação aristocrática, uma sensação de privilégio. Mesmo assim, Niles Cranston não tinha o mesmo olhar vigoroso que seu ancestral. De alguma forma, ele não pareceu a Riley um homem especialmente notável. No entanto, herdara uma fortuna muito mais do que notável.

Finalmente, Cranston disse aos seus visitantes...

"Sentem-se. Me falem sobre isso.”

Riley e seus companheiros sentaram-se à longa mesa perto dele. O agente Sturman contou-lhe a notícia do assassinato de Ron Donovan sem entrar em detalhes desnecessários.

Quando Sturman terminou, Cranston deu uma longa tragada no cachimbo.

Então ele disse, "Então você ainda não tem idéia de quem matou meu sobrinho."

Riley podia ver Sturman estremecer um pouco.

"Não" Disse ele. "Eu sinto Muito. Estamos fazendo tudo que podemos.”

Cranston olhou para Riley, Bill e Jenn e disse a Sturman, “Mesmo com a ajuda da UAC, não estão chegando a lado nenhum”.

Riley disse, "Eu não pensaria assim, Sr. Cranston. Meus colegas e eu acabamos de começar este caso ontem.”

Cranston assentiu. “Sim, depois do assassinato daquela pobre mulher em Wilburton. Um pouco tarde demais, parece.”

Cranston parecia amargo para Riley, mas não muito zangado. Ela sentiu que ele sentia uma profunda decepção e frustração com o que acabara de ouvir - e isso não era de admirar. Ela compartilhava seu desânimo.

Então Cranston disse, “Agente Sturman, durante sua última visita, conversei com você sobre os inimigos da minha família. Eu te dei uma lista de pessoas que podem querer prejudicar alguém da minha família, incluindo Vincent.”

O agente Sturman assentiu e disse, “Nós checamos sua lista completamente. Acreditamos que nenhuma dessas pessoas estava conectada, pelo menos não com os dois primeiros assassinatos”.

A testa de Cranston se franziu com ceticismo.

Ele disse a Sturman, "Então você está absolutamente certo de que Vincent não foi alvo porque... bem, porque era um Cranston?"

Riley falou novamente. "Sr. Cranston, não temos certeza sobre nada. Mas temos boas razões para acreditar que as três vítimas foram assassinadas pelo mesmo assassino. Você sabe de alguma conexão entre seu sobrinho e Robin Scoville de Wilburton ou aquele infeliz pescador de Wickenburg Reef?”

Cranston se levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro.

"Eu não vejo como isso é possível" Disse ele. "Ele havia acabado de se mudar para cá de San José, na Califórnia - é onde mora seu ramo da família. Ele mal conhecia alguém em Connecticut, exceto os estudantes que estava começando a conhecer em Yale. Duvido que tivesse estado em Wilburton ou em Wickenburg. Esses não são lugares que ele provavelmente visitaria.”

Cranston olhou duro para Riley novamente e disse, "Agente Paige, acho difícil acreditar que o destino iria escolhesse meu sobrinho... junto com..."

Sua voz se desvaneceu.

Riley entendeu que ele se sentia desconfortável para terminar sua frase.

Ela disse em uma voz tranquilizadora, "Junto com duas pessoas perfeitamente comuns, você quer dizer."

Cranston assentiu.

Riley disse, “Você tem todos os motivos para se sentir assim. Mas por favor, tente entender, Sr. Cranston... o destino não escolheu nenhuma das vítimas. Um ser humano cruel e retorcido é que o fez. Pelo que sabemos, essa pessoa não tinha ideia de quem era seu sobrinho quando o escolheu para primeira vítima.”

"Mas você não pode ter certeza disso, não é?" Cranston perguntou.

Bill falou desta vez. "Não, não podemos ter certeza de nada neste momento."

Jenn acrescentou, "Por favor, tente ser paciente, Sr. Cranston."

Riley estremeceu abruptamente. Ela sabia que Jenn tinha boas intenções, mas não era uma coisa delicada para dizer no momento. Um agente mais experiente não o faria. E ela pôde ver que Cranston ficara irritado com a observação.

"Acredito ter sido paciente" Disse Cranston a Jenn. Então, voltando-se para Sturman, acrescentou, “Eu cumpri seus desejos até agora. Eu não contei a ninguém que Vincent foi assassinado, nem mesmo a família. Deus sabe, tem sido difícil para qualquer um acreditar que um espécime perfeito como o meu sobrinho caiu morto de algum tipo de causa natural, mas é exatamente isso que eu tenho deixado as pessoas acreditarem. Deverei continuar assim para sempre?”

Sturman sacudiu a cabeça e disse, "Não, só até resolvermos o caso".

"E quando será isso?" Cranston perguntou, sua voz tremendo um pouco. “O FBI não me inspirou nenhuma confiança até agora. Estou começando a pensar que devo contratar meus próprios investigadores - pessoas que realmente sabem fazer seu trabalho.”

Riley podia ver que o agente Sturman se sentira picado com aquela observação. Felizmente, ela sabia que não deveria encarar aquela informação de forma pessoal

Ela disse para Cranston, “Eu entendo como você se sente. Mas devemos pedir-lhe para não trazer mais ninguém para a investigação. Eu prometo a você, isso só vai levar a confusão e erros e tornar as coisas muito piores. Nada de bom viria disso.”

Riley viu o rosto de Cranston amolecer um pouco. Ele perguntou Riley, "Quanto tempo esse pesadelo vai continuar?"

Riley engoliu em seco. A última coisa que ela queria naquele momento era fazer promessas que não tinha certeza se poderia cumprir.

Em vez disso, ela disse, "Eu não sei".

Cranston assentiu silenciosamente. Riley sentiu que pelo menos apreciava sua honestidade. Então ele se sentou novamente e olhou para o espaço. Riley sentiu que ele tinha algo em mente que queria desesperadamente dizer. Mas ela sabia que não deveria perguntar-lhe imediatamente.

Deixe-o falar.

Finalmente, Cranston disse...

"Foi minha culpa - o que aconteceu com Vincent, quero dizer."

Riley sentiu um calafrio com a nota profunda de culpa em sua voz.

O que ele quer nos dizer? Perguntou-se.


CAPÍTULO CATORZE


Riley esperou ansiosamente pelas próximas palavras de Cranston. Ela olhou para os colegas e viu que eles também estavam ansiosos para ouvir o que o homem estava prestes a dizer.

O rosto de Cranston se contorceu de angústia por um momento.

Finalmente ele falou. “Esqueça que eu disse qualquer coisa. Não importa."

Claro que não era o que Riley esperava ouvir, mas ela se forçou a esperar. Ela podia ver que Jenn estava prestes a insistir e parou a jovem agente com um gesto sutil. De sua própria experiência conduzindo milhares de entrevistas, Riley sabia que o mínimo de estímulo poderia fechar certos tipos de pessoas.

O silêncio era a melhor maneira de atrair Cranston.

Finalmente, ele disse em voz lenta e agonizante, “Foi ideia minha. Vincent ter vindo para Yale, quero dizer. Ele queria ficar perto de seus pais - meu irmão e minha cunhada - na Califórnia. Ele queria ir para Stanford. A verdade era que eu mal conhecia o garoto. Eu não o via desde que ele era um bebê, não mostrava nenhum interesse real nele. Não era da minha conta. Ainda assim, eu insisti. Eu disse a seus pais que ele tinha que ir para Yale.”

"Por quê?" Riley perguntou.

Os lábios de Cranston se contorceram em um sorriso amargo, doloroso e irônico.

"Tradição" Disse ele.

Então ele apontou para o retrato. “Meu tataravô, Brenton Cranston, recebeu apenas uma educação de terceiro grau. Ele foi um bilionário que se fez a si próprio - um titã de homem. Ele enviou seus filhos para Yale e declarou que queria que todos os descendentes do sexo masculino que levassem seu nome também fossem para lá. Ele fez disso uma condição de herança em seu testamento. E assim começou. E por alguma maldita razão, eu...”

Ele soltou um longo e sombrio suspiro.

Ele disse, “Se não fosse por mim, Vincent teria ido para Stanford. E ele estaria vivo hoje. Isso parece a forma do destino me dizer o quanto eu estava errado, como sou indiferente à felicidade dos outros. Nunca me ocorreu... que uma tradição poderia matar.”

Riley sentiu uma profunda pontada de simpatia. Ela costumava ver esse tipo de culpa entre parentes e entes queridos de vítimas de assassinato. O assassinato tinha uma maneira terrível de lembrar as pessoas de seus fracassos pessoais, fazendo com que se culpassem.

E agora ele está preocupado com o destino novamente, como se tivesse dado ao destino a oportunidade de derrubar o jovem.

Ela disse em uma voz lenta e gentil...

"Sr. Cranston, é como eu te disse antes. O destino não teve nada a ver com o assassinato do seu sobrinho. Mas eu entendo como você se sente. Isso é uma coisa terrível para se ter que lidar sozinho. Você tem alguém com quem possa compartilhar esses sentimentos, alguém que possa entender e ajudar?”

Cranston se levantou e reacendeu o cachimbo.

Ele disse, “Eu consigo lidar com a situação. Eu ficarei bem.”

Reprimindo um suspiro, Riley pensou...

Presumo que não.

"Nós vamos agora" Disse Riley. "Prometo que entraremos em contato assim que tivermos novidades".

"Espero que sim" Disse Cranston.

Quando Riley e seus colegas se levantaram para sair, algo que Cranston acabara de dizer cdesperou em seu cérebro. Fora o jeito com que descrevera seu sobrinho.

“... Um espécime perfeito.”

Jenn também havia dito algo parecido sobre as fotos da cena do crime...

"... ele parecia bastante perfeito."

Riley hesitou, depois disse...

"Sr. Cranston... o seu sobrinho tinha alguma ...?

Ela fez uma pausa e perguntou a si mesma...

Alguma quê?

O que ela queria perguntar exatamente?

E como ela poderia dizê-lo com tato?

Riley continuou cautelosamente, “Ele tinha alguma característica distintiva? Algum tipo de visível… imperfeição?”

Cranston pareceu intrigado com a pergunta.

“Imperfeição?” Perguntou.

"Uma marca de nascença, por exemplo" Disse Riley.

"Não, nada disso" Disse Cranston. “Ele era... bem, muito atraente. Todos que o conheciam o diziam. E claro, ele também era um aspirante a atleta”.

Riley agradeceu novamente, e se juntou a Bill e Jenn a caminho das portas duplas por onde tinham entrado. Bill girou a maçaneta e abriu a porta. O mordomo que os guiara até ali estava de pé no corredor, aparentemente esperando que saíssem, parecendo tão ameaçador quanto antes.

Riley parou no corredor para olhar novamente para Cranston. Ainda estava sentado no final da mesa, olhando de novo aquele retrato austero na parede como se esperasse que falasse.

A incomodava pensar no isolamento do homem nessa casa vasta, deserta e pouco acolhedora. Havia o mordomo, é claro, e também devia haver pessoal doméstico por perto. Mas algum deles realmente se importava com seu patrão?

Niles Cranston parecia não ter nenhuma companhia a não ser aquela imagem sombria e fantasmagórica de seu antepassado na parede.

Um homem tão solitário, Pensou.

Sua fortuna herdada não lhe trouxera nenhuma felicidade. Em vez disso, parecia mais um fardo de que nunca poderia se livrar.

E agora o sobrinho está morto.

Enquanto Riley e seus colegas estavam no corredor, o mordomo fechou as portas duplas de novo e disse friamente...

"Permitam-me acompanhá-los à saída."

Riley e seus colegas seguiram o mordomo de volta pelo caminho que tinham vindo, pelo vasto corredor e pela impressionante porta da frente.

Quando saíram da casa e caminharam em direção a seus carros, o agente Sturman perguntou...

"O que faremos a seguir?"

Riley trocou olhares com Bill e Jenn. Ela percebia que eles também se sentiam frustrados.

Riley disse a Sturman, “E aqueles nomes que você mencionou há pouco? A lista de pessoas que compraram picadores de gelo?”

O agente Sturman pegou o celular novamente e olhou a mensagem que havia recebido antes.

Ele encolheu os ombros e disse...

"Bem, como eu disse, os três nomes não parecem muito promissores. Minha equipe encontrou compras de picadores de gelo feitas por pessoas com antecedentes criminais, mas nenhuma delas envolvida em crimes violentos. Um cara foi preso há cinco dias por violação da liberdade condicional.”

Jenn disse, "Bem, ele certamente não matou Robin Scoville ou Ron Donovan".

"E os outros?" Perguntou Bill.

O agente Sturman sacudiu a cabeça e disse, “Outro cara comprou seu picador de gelo na semana passada - muito recentemente para ter matado Vincent Cranston. Mas o terceiro cara... eu não sei...”

"Conte-nos sobre ele" Disse Riley.

Sturman disse, “Bem, o nome dele é Bruno Young e ele comprou um picador de gelo há uma semana e meia, tempo suficiente para ter matado as três vítimas. Ele está em liberdade condicional depois de cumprir pena por vender heroína.”

"Venda de heroína" Resmungou Bill. "Você está certo, isso não parece promissor."

Riley disse, "É melhor dar uma olhada de qualquer maneira."

"Isso será fácil" Disse o agente Sturman. "Eu tenho o endereço dele aqui. Ele mora em New Haven.”

"Vamos visitá-lo" Disse Riley.

Riley e seus colegas voltaram para o carro emprestado e seguiram o veículo do agente Sturman de volta a New Haven. Sturman os conduziu a um bairro decadente e decrépito. Riley calculou que já fora uma área pitoresca e charmosa, com pequenas lojas e edifícios de apartamentos agradáveis. Mas agora as empresas estavam quase todas fechadas e muitos dos edifícios estavam em péssimo estado.

Riley viu mulheres à espreita nas portas - prostitutas, calculou, embora não estivessem exibindo abertamente seus corpos. Os carros de polícia estavam rondando as ruas em patrulha, de modo que as mulheres provavelmente ficavam nas sombras o máximo que podiam, atraindo os clientes em vez de se aproximarem audaciosamente.

Bill estacionou o carro atrás do agente Sturman enquanto ele estacionava em frente a um decrépito edifício de apartamentos, um de uma fileira que provavelmente já constituíra casas individuais. Sturman levou Riley e seus colegas para o prédio e para o segundo andar. Quando encontraram o apartamento que procuravam, viram que a porta tinha várias fechaduras. Ouviram os sons de uma TV e vozes de crianças barulhentas dentro do apartamento.

Sturman bateu na porta e a voz de uma mulher ouviu-se vinda de dentro...

"Quem é?"

"FBI" Sturman respondeu. "É aqui que Bruno Young vive?"

Depois de uma pausa, a mulher disse...

"Sim."

Sturman trocou olhares com Riley e seus colegas.

Riley falou, "Podemos entrar?"

Depois de outro silêncio, ouviram a mulher dizer...

"Deixe-os entrar, Andy."

Depois do estrépito de várias fechaduras, a porta foi aberta por um adolescente com uma expressão vazia no rosto. O apartamento era minúsculo e apresentava uma bagunça terrível, com roupas sujas espalhadas por toda parte e uma montanha de louça suja na área da cozinha. Quatro crianças mais jovens e barulhentas corriam de um lado para o outro fazendo muito barulho.

Uma mulher de aparência exausta estava sentada em uma poltrona surrada, olhando para uma velha tela de televisão, fumando um cigarro e assistindo o que parecia ser uma novela. Ela não desviou o olhar da tela quando Riley e seus colegas entraram.

Resmungou, "FBI, você diz?"

Sturman, Riley e seus colegas mostraram seus distintivos e se apresentaram.

Ainda olhando para a TV, a mulher disse...

"E estão procurando por Bruno?"

"Isso mesmo" Disse Bill.

Com um suspiro rouco e asmático, a mulher disse...

"Então devem estar aqui para prendê-lo."


CAPÍTULO QUINZE


Riley trocou olhares assustados com seus colegas.

O que essa mulher sabe que nós não sabemos? Interrogou-se.

A mulher na poltrona surrada presumira imediatamente que ela e seus colegas estavam ali para prender Bruno Young. Eles realmente vinham apenas conversar com ele, para tentar determinar se era um possível suspeito.

Agora Riley não sabia o que pensar.

A mulher olhou da tela da TV para os quatro agentes e acrescentou...

"Bem, não é por isso que você está aqui? Bruno matou alguém, não é?”

A perplexidade de Riley se aprofundou.

Bill perguntou à mulher, "Bruno Young está aqui?"

Olhando para a TV, a mulher disse, “Não, mas você não precisa acreditar na minha palavra. Dê uma olhada em volta. Esteja à vontade. Talvez arrume um pouco da bagunça.”

Nem Riley nem seus colegas se incomodaram em se mover de onde estavam. O apartamento era minúsculo e estava lotado, não era um lugar provável para alguém se esconder. Riley tinha certeza de que a mulher não estava blefando. Aparentemente, os outros agentes também sentiam isso, porque nenhum deles estava examinando os armários.

A mulher parecia estar apática por pura exaustão - e Riley achava que ela parecia muito jovem para ter tantos filhos.

Ela perguntou à mulher, "Você é esposa dele?"

"Claro que sim" Disse a mulher. "Meu nome é Doris."

Então, com um aceno de mão na direção das crianças barulhentas, acrescentou, “E esses são os filhos de Bruno. Não que ele se importe muito com eles - ou comigo. Raios, ele provavelmente não conseguiria dizer os nomes de todos.”

Doris olhou rapidamente ao redor e disse bruscamente para o garoto adolescente...

"Andy, ajude sua irmãzinha a não engolir essa coisa."

O menino pegou um pequeno brinquedo de plástico da boca da menina. Ela imediatamente começou a chorar. A mulher silenciava a televisão, mas continuava olhando.

Falando sobre o crescente barulho das crianças, Riley disse para a mulher...

"Por que você acha que seu marido matou alguém?"

Doris encolheu os ombros e disse, “Ele continua falando sobre isso, é por isso. Ele é um homem furioso desde que saiu da prisão de Danbury alguns meses atrás. Você mal o reconheceria de como ele era antes. Era mais fácil conviver com ele quando era viciado em droga.”

Ela apontou para a área da cozinha e disse...

"Dê uma olhada no tampo da mesa."

Riley e seus colegas se aproximaram para dar uma olhada na mesa da cozinha. A toalha de mesa xadrez estava entalhada e rasgada, e o tampo de fórmica abaixo dela estava muito marcado por algo pontiagudo e duro.

Doris disse, “Ele continua indo e vindo, às vezes desaparece um dia ou dois. Sempre que está em casa, ele simplesmente fica sentado ali, dizendo que vai se recuperar, alguém vai pagar pelo que aconteceu com ele. Todo o tempo ele continua esfaqueando a mesa com aquele maldito picador de gelo dele. Me assusta a mim e as crianças.”

Riley sentiu um arrepio profundo de antecipação.

Um picador de gelo.

A busca por compras de picador de gelo conduzidas pela equipe do agente Sturman teria afinal encontrado o assassino?

Riley não ousava ter esperanças, mas agora estava começando a parecer provável.

Bill disse, "Você tem alguma idéia de onde Bruno está agora?"

Doris disse, “Ele mencionou estar na esquina de Redmond e Wilson, a cerca de meio quarteirão a leste daqui. Não sei porquê.”

Riley e seus colegas apressadamente agradeceram a Doris Young, depois saíram do triste apartamento, desceram as escadas e saíram do prédio. Enquanto continuavam a caminhar ao longo da rua, o agente Sturman observou...

"É melhor descobrirmos como ele é.”

Sturman usou seu celular para entrar em um banco de dados de fotos. Logo encontrou uma de Bruno Young, um jovem barbudo com olhos vazios.

Quando chegaram à esquina que Doris Young mencionara, não viram ninguém à vista. Havia lotes vagos em três dos cantos onde os edifícios tinham sido recentemente demolidos. Na outra esquina, havia um prédio estreito de quatro andares, com varandas caídas em cada um de seus andares. Um sinal amarelo na frente dizia...


ESTA PROPRIEDADE ESTÁ CONDENADA


Era certo que as janelas estavam todas fechadas.

Riley se lembrou de algo que Doris havia dito...

"Era mais fácil conviver com ele quando estava viciado em drogas."

Riley tinha a sensação de que sabia o que encontraria lá dentro.

Estou preparada para lidar com isso? Perguntou-se.

A única alternativa era esperar do lado de fora enquanto seus três companheiros entravam. E ela não podia aceitar isso como opção.

Apontando para o prédio, ela disse para seus colegas...

"É melhor procurarmos nesse lugar."

Riley sacou sua arma enquanto eles se dirigiam para a estrutura em ruínas e subiam na varanda. Ela viu que os outros agentes haviam feito o mesmo.

A porta da frente estava solta em dobradiças quebradas, então todos entraram. O corredor estava cheio de lixo e gesso desmoronando. Havia três portas de apartamentos no térreo.

Jenn bateu bruscamente em uma das portas e gritou...

“FBI. Abra."

Quando não houve resposta, Riley, Bill e o agente Sturman se agruparam em cada lado da porta, com as armas prontas.

Jenn abriu a porta e ofegou com o que viu.

"Jesus" Disse ela. "É melhor verem isso."

Riley sentiu um profundo arrepio de ansiedade. Ela já achava que tinha uma boa ideia do que esperar.

Com certeza, quando todos atravessaram a porta, descobriram que a sala estava iluminada apenas por velas. O chão estava coberto de cinco corpos humanos. Alguns deles pareciam estar mortos, mas Riley tinha certeza de que não estavam. Eles estavam cercados por detritos que incluíam sacos de pó branco e agulhas hipodérmicas.

"Qual é o problema deles?" Jenn murmurou.

"É o efeito da heroína" Disse Riley.

Os habitantes da sala estavam praticamente inconscientes, exceto um homem e uma mulher que se agachavam num canto. O homem estava dando uma injeção na mulher, ali mesmo. Ele olhou para Riley e seus colegas quando puxou a agulha.

"Você disse que era do FBI?" Disse com uma voz estranhamente distante. "O que você quer?"

Riley tinha certeza de que o homem estava demasiado sob o efeito de uma euforia induzida por drogas para se preocupar com a chegada de agentes da lei.

Bill disse, "Estamos procurando um homem chamado Bruno Young".

Jenn acrescentou, "Ele está aqui?"

O homem sentou-se pesadamente ao lado da jovem e fechou os olhos.

“Bruno Young, você diz?” Perguntou. "Talvez eu não esteja certo. Nomes não contam muito em um lugar como este.”

Riley sentiu um arrepio perante essas palavras...

“... um lugar como este.”

Tal como suspeitava, ele queria dizer que o prédio inteiro era uma chamada “galeria de chuto” - um lugar onde os viciados em heroína se reuniam para continuar recebendo suas doses. Riley percebeu que as pessoas daquela sala praticamente moravam ali...

E provavelmente vão morrer aqui.

Sua arma estava tremendo em sua mão agora e ela realmente não tinha certeza se poderia lidar com o que estava vendo.

A última vez que estivera em um lugar como esse fora em novembro do ano passado. Ela estava procurando por sua filha April, que havia sido sequestrada por um delinquente. Ele tinha injetado ela e depois tentou vender seu corpo. Quando Riley os encontrou, ela teve que lutar contra sua inclinação para matar o jovem monstro.

Bill pegou Riley por um braço e a conduziu para fora do quarto e de volta para o corredor. Sua voz era plana quando ele disse, "É melhor verificar o resto do prédio."

Riley acenou com a cabeça e acrescentou, "Devemos nos separar, cada um com um andar."

Quando Jenn bateu em outra porta do outro lado do corredor, Riley, Bill e o agente Sturman subiram as escadas. A cada passo parecia que o chão ia colapsar.

Bill começou a verificar os quartos no segundo andar e Sturman no terceiro andar, enquanto Riley continuava a caminho do último andar.

Ela estava ofegante e sentia o suor escorrendo de sua testa, mas ela sabia que não era apenas da escalada.

Os odores desagradáveis ??da casa estavam desencadeando uma lembrança sombria - de como ela havia entrado em um quarto de outra galeria de chuto e descoberto que April estava drogada em um colchão nua, choramingando "não, não, não" enquanto um jovem tentava despir-la para satisfazer o prazer doentio de outro homem.

Ela também se lembrou da raiva violenta que a visão desencadeou nela - como brutal e deliberadamente esmagou a mão do raptor, primeiro com um taco de beisebol e depois com o pé.

Estremecendo profundamente, ela se lembrou...

Mantenha sua cabeça no jogo.

Ela tinha um trabalho a fazer e não podia deixar-se sobrecarregar pelo passado.

Riley gritou perto do topo da escada, “É o FBI. Estamos procurando por Bruno Young. Apareça, com as mãos à vista.”

Quando ela chegou ao topo da escada, viu três portas abertas. Ela olhou para uma delas e viu apenas um homem sentado encurvado contra uma parede com uma agulha e uma colher no chão ao lado dele.

É ele? Interrogou-se. É Bruno Young?

Riley entrou no quarto.

Alguém a agarrou por trás, girou-a e encostou-a com força contra a parede.

Sua arma voou de sua mão.

Um homem forte e sombrio segurou-a rapidamente, e ela sentiu algo afiado contra sua garganta.

Um picador de gelo, Percebeu com alarme.

"O que você quer comigo?" Perguntou o homem.


CAPÍTULO DEZASSEIS


Riley olhou para o rosto zangado que apareceu a poucos centímetros do dela. Ela imediatamente reconheceu aqueles olhos vazios e aquela barba desgrenhada.

Bruno Young.

Ela tinha visto foto dele há alguns minutos e agora ele a tinha presa contra a parede.

Ele pressionou a ponta de um picador de gelo contra sua garganta.

Por alguns momentos, tudo pareceu se suspender.

Riley queria gritar para seus companheiros nos andares abaixo, mas ela mal ousava respirar. Ela sabia que, com um único soco, Young poderia espetar o picador de gelo em sua traqueia até as vértebras do pescoço.

Ela provavelmente estaria morta antes de cair no chão.

O homem rosnou, “Responda minha pergunta, senhora do FBI! O que você quer de mim?"

"Eu só quero lhe fazer algumas perguntas" Disse Riley com voz rouca.

"Perguntas, hein?" Ele rosnou. "Por que você precisa de uma arma só para me fazer perguntas?"

Riley sentiu-se a ficar em pânico enquanto tentava decidir o que fazer. Qualquer movimento que tentasse fazer poderia ser o último.

Só então Riley ouviu outra voz na sala.

"Bruno, seu filho da puta."

Riley percebeu que era o homem que ela viu quando entrou pela primeira vez no quarto - o homem que estava encolhido contra a parede em um estupor induzido por drogas.

Bruno gritou de volta para ele, “Cala a boca, Jim. Não é da tua conta."

A distração foi breve, mas era exatamente o que Riley precisava.

Ela empurrou todo o corpo para a esquerda, em seguida, ouviu o baque surdo do picador de gelo a embater na parede.

Um rápido olhar ao redor da sala não revelou sua arma. Devia ter desaparecido em algum lugar nos escombros profundos da sala.

O homem no chão chorou fracamente...

"Cuidado, senhora."

Riley virou-se a tempo de evitar uma investida de Bruno Young.

Ele havia puxado o picador de gelo da parede e investia contra ela, mas o peso de seu corpo o levou inofensivamente a passar por ela.

Então o homem pesado se virou para ela novamente, segurando o picador de gelo em seu punho com a ponta para cima. Desta vez ele parecia estar pensando no que fazer a seguir.

Riley reconheceu a postura de um lutador de rua experiente. Ela também sabia que ainda estava atordoada com o ataque inicial. Ficou de frente para ele, esperando pelo próximo movimento.

Quando chegou, ela aproveitou sua chance. Habilmente agarrou o braço dele e torceu-o.

O picador de gelo caiu de sua mão.

Dali a pouco, colocou o homem de joelhos no chão, segurando o braço atrás das costas.

Em uma onda violenta de adrenalina, o corpo inteiro de Riley estava perigosamente carregado de energia.

Ela relembrou de novo como havia esmagado a mão do raptor de April e se lembrou de como estivera perto de matá-lo.

A mesma raiva incontrolável sentia agora.

Ela sabia que uma torção seria suficiente para deslocar o cotovelo de seu agressor e então com outra ela poderia quebrar seu puls ...

E depois disso...

Imagem após imagem sádica encheu sua imaginação.

Ela não sabia se poderia controlar o impulso de atacar esse homem, feri-lo gravemente ou talvez matá-lo.

A voz do agente Sturman surgiu.

"Agente Paige, você está bem?"

Riley se virou e o viu parado na porta.

Riley se perguntou há quanto tempo ele estaria lá. Ela esperava que tivesse sido tempo suficiente para ver que Bruno tentara matá-la.

Riley quase disse...

"Sim, mas você provavelmente salvou a vida desse desgraçado."

Em vez disso, ela ofegou e disse, “Eu estou bem, mas preciso de ajuda com esse cara. Coloque algemas nele. Ele está preso.”

Quando Jenn e Bill entraram no quarto, Riley se agachou e procurou por sua arma perdida. Encontrou-a e a colocou de volta no coldre. Então seus olhos caíram sobre o outro homem ainda sentado ao lado da parede - o homem que Bruno havia chamado de "Jim".

Ele estava assistindo a cena com a estranha e imparcial tranquilidade de alguém imerso em heroína.

Riley disse, “Sturman, chame os policiais locais para virem limpar esse buraco. Têm muitas prisões a fazer. Então você e a agente Roston levam Bruno Young para a sede local do FBI. Bill e eu já vamos ter com você.”

Jenn arrastou Bruno para fora do quarto e Sturman a seguiu, chamando a polícia pelo celular. Riley podia ouvir o homem protestando em voz alta enquanto o arrastavam escada abaixo.

Riley viu que Bill a observava de perto. Ela sabia que seu parceiro estava ciente de que algo dramático acontecera ali. Ela se afastou dele e sussurrou..

“Nós precisamos conversar com esse cara. Espero que ele possa nos dar algumas respostas.”

Bill pareceu um pouco surpreso com a sugestão, mas depois voltou sua atenção para o homem no chão.

Os dois agentes se agacharam diante do homem drogado.

Riley disse para ele, "Creio que você se chama Jim".

O homem assentiu e seus olhos se reviraram.

"Sim" Disse. “Jim Gibney. Quem é você?"

As esperanças de Riley vacilaram. Ela sabia que tinha dito que era do FBI quando chegou ao topo da escada. Jim ainda estava sob profunda influência de drogas.

Será que ele se lembra do que aconteceu? Perguntou-se Riley.

Riley disse, "Eu sou a agente especial Riley Paige, do FBI. Este é meu parceiro, o agente Jeffreys.”

O homem parecia estar fazendo um esforço para manter a cabeça erguida. Quando falou de novo, soou como se estivesse falando durante o sono.

"Não me prenda, ok? Quer dizer, se é para isso que você está aqui. Eu não valho a pena. Este lugar está cheio de outros viciados. Você não precisa de mim. De qualquer forma, eu salvei sua vida agora, não é?”

Riley não respondeu. Mas a verdade era...

Ele podia ter razão.

Sob o efeito de drogas como estava, ele conseguiu alertá-la bem a tempo de impedir que Bruno Young a apunhalasse com aquele picador de gelo. Ainda assim, ela não iria atender ao pedido dele. Logo a polícia estaria aqui e Jim seria levado junto com todos os outros no prédio.

Riley disse-lhe, "O que você pode me dizer sobre Bruno Young?"

Jim piscou os olhos e disse, “Bruno estava aqui? Novamente?"

Riley reprimiu um suspiro. A memória de Jim do que acabara de acontecer parecia ser muito fraca. Seria possível obter alguma informação útil dele?

Ela disse, "Jim, ele acabou de me atacar com um picador de gelo, lembra?"

"Você também, hein?" Jim disse.

Riley disse, "Você está dizendo que ele te atacou com seu picador de gelo?"

Jim respirou profundamente.

"Não exatamente" Disse ele. “Mas ele está ameaçando me matar com isso. Está acontecendo há dias e dias, talvez um par de semanas. Ele vem até aqui e se senta ao meu lado e segura o picador de gelo na minha garganta, fala sobre como seria fácil acabar comigo e como ele faria isso mais cedo ou mais tarde. Às vezes ele realmente me assusta, mas...”

Ele respirou profundamente de novo e disse...

"Outras vezes eu digo a ele para ir em frente, não quero saber."

Bill disse, "Por que ele continua ameaçando matar você?"

"Você teria que perguntar isso a ele" Disse Jim. “Se você puder encontrá-lo. Você disse que ele estava aqui agora? Se não, com certeza não sei onde ele está. Talvez você possa pegá-lo em casa.”

"Nós o prendemos agora" Disse Bill. "Bem aqui na sua frente."

Jim sorriu muito ligeiramente.

"Prenderam?" Perguntou. “Ei, bom para você. Ele é um filho da puta malvado. Tem sido desde que saiu da prisão. Isso realmente mudou ele. É como se eu não o conhecesse mais. Nós costumávamos ser amigos...”

Jim parecia estar se desvanecendo em um estupor semiconsciente. Riley o sacudiu pelo ombro.

"Precisamos que você nos conte mais" Disse Riley.

Jim balançou a cabeça e disse, "Eu não sou delator."

"Por que ele queria te matar?" Riley perguntou.

Jim repetiu, "Eu não sou um delator."

Então ele fechou os olhos e pareceu se afastar completamente deles.

Riley estava prestes a sacudi-lo novamente quando ouviu o som de passos e vozes no térreo.

Bill disse, “Os policiais chegaram. Talvez devêssemos levar esse cara em separado. Talvez possamos interrogá-lo quando ele estiver em seu estado normal.”

Riley disse, "Você sabe que isso não vai acontecer tão cedo. Assim que passar o efeito da droga, ele vai querer mais. Quando não conseguir, entra em abstinência, e continuará a não ser objetivo. De qualquer forma, saberemos onde ele está se acharmos que precisamos dele.”

Bill assentiu.

"Pensamento ilusório" Admitiu.

Ambos voltaram a se levantar.

Riley disse, "Além disso, acho que ele já nos disse alguma coisa."

Bill zombou um pouco e disse...

"Sim? Como o quê?"

Riley ainda não tinha certeza. Mas ela percebeu que algo estava incomodando sua mente.

Ela disse. "Vamos à sede do FBI".

Quando ela e Bill desceram as escadas, várias prisões já estavam em andamento. Riley se sentiu incomodada com o que estava acontecendo ao seu redor. Lembrou-se muito bem de como fora difícil para April se recuperar de sua experiência fugaz com heroína. Foi necessária uma reabilitação rigorosa, mas April passou por isso e agora deixara toda a experiência feia para trás.

E agora Riley não podia deixar de se perguntar...

E se April tivesse ido para a cadeia, como as pessoas daqui?

Ela teria melhorado?

Essas pessoas melhorariam na prisão?

Riley tentou tirar esses pensamentos da cabeça enquanto ela e Bill saíam do edifício e caminhavam em direção ao carro emprestado.

Agora ela continuava ouvindo o protesto de Jim em sua mente...

"Eu não sou um delator..."

Por um lado, ele obviamente queria dizer que não falaria de Bruno a um agente do FBI.

Mas Riley suspeitava que ele queria dizer outra coisa também.


CAPÍTULO DEZASSETE


Enquanto caminhavam em direção ao quartel-general do FBI em New Haven, Riley analisou o episódio da casa de drogas em sua mente. Seus pensamentos foram interrompidos pelo profundo suspiro de desespero de Bill.

"Já começou" Resmungou.

Riley olhou para cima e imediatamente viu de que ele estava falando.

Um pequeno grupo de repórteres, alguns com câmeras de TV, estavam reunidos em torno da entrada da frente do edifício. Suas esperanças de manter a mídia longe deste caso estavam prestes a ficar destruídas.

Quando Riley e Bill passaram por eles, os repórteres fizeram perguntas.

"Vocês são agentes do FBI?"

"Você está investigando o assassinato desta manhã em Wickenburg Reef?"

"É verdade que a morte do pescador está ligada a um assassinato anterior em Wilburton?"

"Você tem um suspeito para os dois assassinatos?"

Riley e Bill continuaram dizendo "Nenhum comentário" e conseguiram entrar no edifício sem responder a qualquer pergunta. Então pediram a uma recepcionista indicações para irem para a sala de interrogatório. Enquanto continuavam a caminhar, Bill disse...

"Não parece que eles saibam alguma coisa sobre o picador de gelo."

"Ainda não" Disse Riley. “Mas eles descobriram que esses dois últimos assassinatos têm algo em comum. A arma usada pode ser revelada muito em breve. Espero que possamos manter a causa da morte de Vincent Cranston oculta por mais algum tempo.”

Bill riu um pouco e acrescentou, “Pelo menos, nenhum deles pareceu reconhecer você.”

Riley entendeu o que ele queria dizer. Ela tivera uma publicidade indesejada pelo seu trabalho brilhante em alguns casos. Alguns repórteres de crime sabiam muito sobre ela. Ela esperava que tudo isso não fosse um entrave enquanto trabalhavam neste caso.

Quando Bill e Riley chegaram à entrada da sala de interrogatório, encontraram Jenn e o agente Sturman olhando através de um espelho duplo para Bruno Young. O agressor de Riley fora algemado e sentado em uma mesa.

Bill perguntou a Jenn e ao agente Sturman...

“Já pediu um advogado?”

Agente Sturman zombou. "Ainda não. Ele é um bastardo arrogante. Diz que não precisa de um advogado porque não fez nada de errado.”

Riley disse, "Bem, ele atacou um agente da lei".

Sturman assentiu e disse, “Sim, cheguei a tempo de vê-lo atacar você com aquele picador de gelo. Você o subjugou antes que eu pudesse ir em seu auxílio. Você sabe o que faz, agente Paige.”

Riley se perguntou - Sturman também tinha visto a raiva em seus olhos quando ele a chamou? Saberia quão perto Riley estivera de o magoar a sério - talvez até mesmo matá-lo?

Se sabe, não está dando importância a isso, Percebeu.

Ela sentiu uma onda renovada de alívio por Sturman tê-la salvado de seus próprios impulsos violentos.

Bill perguntou a Sturman e Jenn, "O que você conseguiram descobrir sobre Bruno Young desde que o trouxeram para aqui?"

Sturman disse, "É como a esposa dele disse - ele estava em liberdade condicional da prisão de Danbury há alguns meses. A acusação era tráfico de drogas. Ele cumpriu apenas dezoito meses de uma pena muito mais longa. Saiu por bom comportamento, mas os termos de sua liberdade condicional são tão rígidos quanto o inferno. Frequentar um lugar como essa casa de chuto é o suficiente para mandá-lo de volta à prisão.”

Jenn assentiu e disse, “E é claro que ele não tem permissão para possuir uma arma de fogo. Mas um picador de gelo é outro assunto ”.

Bill disse, "Agora precisamos saber o que ele está fazendo com isso".

"Talvez possamos fazê-lo nos dizer" Disse Sturman. “Todos nós deveríamos interrogá-lo? Talvez possamos intimidá-lo com números.”

Riley pensou por um momento. Ela sabia que precisaria de algumas habilidades de interrogatório bem apuradas para arrancar a verdade de Bruno, se fosse possível fazê-lo. E ele ainda poderia exigir um advogado a qualquer momento. Muitos interrogadores provavelmente estragariam as coisas. Ela não queria que todos se juntasse neste caso.”

Ela disse, “O Agente Jeffreys e eu vamos entrar e conversar com ele. Agente Roston, Agente Sturman, vocês dois ficam aqui e assistem. Acompanhem tudo o que for dito.”

Quando Riley e Bill entraram na sala, Bruno olhou para Riley e rosnou...

"Você novamente! Você é que devia estar algemada agora, não eu.”

"Por que você diz isso?" Perguntou Bill.

Bruno disse a Bill, “Porque ela me atacou, é por isso. Foi brutalidade policial”.

Riley sabia, claro, que aquilo não fazia sentido. Ela não o machucara de nenhuma maneira e, além disso, o agente Sturman tinha visto o suficiente do incidente para testemunhar a seu favor.

Bill e Riley mostraram seus distintivos e se apresentaram formalmente.

Bruno encolheu os ombros e bocejou, tentando parecer entediado.

“Então o que você quer saber?” Ele perguntou.

Riley disse, "Primeiro de tudo, o que você estava fazendo nessa casa de chuto?"

Bruno tamborilou os dedos na mesa.

"Era terapia" Disse ele.

"Terapia?" Bill zombou.

“Sim, terapia. Você provavelmente sabe que eu sou um viciado em heroína em recuperação. Ultimamente tenho lidado com desejos muito ruins. Eu imaginei que ajudaria se eu voltasse para o meu antigo reduto, me lembrasse como era minha vida nos velhos tempos. Acredite, funcionou. É o suficiente para me manter sóbrio, deixe-me dizer-lhe.”

Riley sentiu um arrepio de excitação. Ele estava mentindo e ela sabia disso. O truque agora era deixar ele continuar a mentir até ele tropeçar.

Isso não deve ser difícil, Pensou Riley.

Ela disse a Bruno, "Você sabe que quebrou a liberdade condicional voltando para aquele lugar".

Bill acrescentou, "Nós poderíamos mandar você de volta para Danbury só por isso."

Bruno zombou. "Então, eu estou sendo questionado pelo FBI por causa de uma desprezível violação de liberdade condicional? Não me parece. Você tem peixe maior para apanhar. O que você realmente quer de mim? Diga.”

Riley sabia que não devia ser muito direta, pelo menos não ainda. E Bill também o sabia.

Ela perguntou, "O que você estava fazendo com esse picador de gelo?"

Bruno encolheu os ombros novamente e disse, “Nada. Encontri-o no chão.”

"E depois você me atacou com isso" Disse Riley.

"Isso foi legítima defesa" Disse Bruno.

Bill se inclinou sobre a mesa em direção a ele e disse, “Nós sabemos que você está mentindo, Bruno. Esse picador de gelo é o motivo pelo qual o procuramos. Sabemos que você o comprou há algumas semanas.”

Pela primeira vez durante a entrevista, Bruno começou a parecer desconfortável.

"Eu não sei do que você está falando" Disse ele.

Riley disse, "Fale-me sobre o outro cara que estava naquele quarto."

"Só um viciado" Disse Bruno. "Eu nunca o vi antes na minha vida."

"Eu ouvi você chamá-lo pelo nome" Disse Riley. "’Cala a boca, Jim’, você disse.”

"Ok, então ele acabara de se apresentar" Disse Bruno. "Grande coisa. Por que você se importa se eu o conheço? E já agora, o que interessa se tenho um picador de gelo ou não? Não é contra a lei.”

Riley disse, "De acordo com Jim, você esteve ameaçando-o com aquele picador de gelo por algumas semanas".

Bruno soltou uma risada sarcástica que soou forçada.

"E você acredita nele?" Perguntou. "Ele é um viciado mentiroso."

A curiosidade de Riley estava crescendo a cada mentira.

E as mentiras sáo sucessivas.

Ela conhecia o tipo do homem. Como muitos viciados que ela encontrara, se recuperando ou não, Bruno Young era um eficaz artista de merda. Mentir era sua reação padrão até mesmo nas perguntas mais mundanas...

Mas o que está tentando esconder?

A mente de Riley se apaziguou enquanto Bill continuava fazendo perguntas e recebendo como resposta uma mentira atrás da outra. Ela se viu lembrando de algo que Jim havia dito a ela naquela sala, sobre o quão malvado Bruno se tinha tornado desde que tinha saído da prisão...

"É como se eu não o conhecesse mais. Nós éramos amigos.”

Ela perguntou-lhe, "Por que você está ameaçando Jim?"

"Eu não o tenho ameaçado" Disse Bruno, sua voz começando a ceder sob a tensão. "Eu te disse, ele mentiu."

Riley voltou novamente para outra coisa que Jim havia dito...

"Eu não sou um delator."

Ela tinha um pressentimento vago desde que tinha ouvido Jim dizer aquilo.

Agora esse pressentimento estava começando a realmente fazer sentido.

Ela disse a Bruno, “Diga-me, Bruno - qual é a pior coisa que você poderia dizer sobre outra pessoa? A pior coisa que você poderia chamá-lo?”

"Huh?" Perguntou Bruno.

"Eu acho que você sabe o que quero dizer" Disse Riley. "Qual é o pior tipo de ser humano, na sua opinião?"

O rosto de Bruno se contorceu em uma expressão de repulsa violenta.

Ele disse, "Um maldito delator."

Riley bateu com o punho na mesa e disse...

"E é isso que Jim é, não é?"

Bruno retrucou, “Você está certa, ele é um delator. Ele me entregou para a polícia, me mandou para a prisão.”

Bill entrou na conversa...

"E como isso aconteceu, Bruno?"

De repente, Bruno parecia ansioso para contar a história.

"Ele me ligou no meio da noite, disse que ficara sem droga, perguntou se eu tinha alguma sobra. Como eu ia saber que ele fizera um acordo com a polícia? Ele próprio foi preso. Mas os policiais ofereceram-lhe a possibilidade de sair da prisão se se tornasse delator, denunciasse seus amigos. E eu entrei direto na armadilha. Os policiais estavam esperando por mim ali mesmo à porta.”

Ele estava tremendo de raiva agora.

Disse, “Tráfico de drogas, disseram! Até aquela noite, eu não fizera nada além de usar a droga. Eu só queria saber de mim, mantinha meu próprio estoque. Eu não era um traficante, nunca vendi um grama para uma alma viva. Mas Jim parecia tão desesperado naquela noite e eu me senti mal por ele, então estava disposto a compartilhar alguma da minha, só isso. Eu estava apenas tentando ser um bom amigo. E olha onde isso me levou.”

Bruno zombou e acrescentou, “E sim, o picador de gelo era meu. Eu comprei isso. Tudo o que eu queria fazer era assustá-lo com isso, fazê-lo se arrepender do que me fizera.”

Bill disse, "Mas isso não foi tudo o que você fez com aquele picador de gelo, foi?"

"Eu não sei do que você está falando" Bruno rosnou.

"Oh, eu acho que você sabe" Disse Bill. “E você também pode nos dizer a verdade. Mesmo se você tenha limpo essa coisa muito bem, ainda podemos obter amostras de ADN.”

Os olhos de Bruno se arregalaram com alarme.

"Aonde você quer chegar?" Perguntou.

Bill inclinou-se para perto dele e disse, "Onde você estava na madrugada de hoje?"

"Eu não preciso te dizer isso" Disse Bruno.

"E há uma semana?" Perguntou Bill. "Onde você estava quando Robin Scoville foi morta?"

"Robin quem?" Disse Bruno

"Você sabe exatamente de quem eu estou falando."

Bruno parecia em pânico agora.

"Eu quero um advogado" Disse ele.

"Por quê?" Bill exigiu. "Eu pensei que você não tivesse feito nada de errado."

"Eu não vou dizer outra palavra sem um advogado" Disse Bruno

Bill estava prestes a insistir, mas Riley deu-lhe uma cotovelada. Quando Bill olhou para ela, ela abanou a cabeça, silenciosamente dizendo a ele...

Temos que parar agora.

Bill soltou um grunhido de nojo. Então ele e Riley saíram da sala para se juntar a Jenn e ao agente Sturman.

Bill resmungou para Sturman, "Parece que o melhor é você ligar para um defensor público".

Sturman disse, "Ele é o nosso homem, não é?"

"Teremos que obter informações forenses para verificar aquele picador de gelo" Disse Bill.

No entanto, Riley sentiu no tom de Bill que ele tinha certeza da culpa de Bruno.

Mas agora que a entrevista fora interrompida...

Não tenho tanta certeza, Pensou Riley.


CAPÍTULO DEZOITO


Enquanto Riley trabalhava duro em Connecticut, seu ex-marido, Ryan Paige, estava entrando no carro depois de seu voo. Ele encontrou-se perguntando...

Tenho certeza de que quero fazer isso?

Isso é realmente uma boa ideia?

Mesmo quando se fazia essas perguntas, percebeu como era estranho estar tão hesitante. Não muito tempo atrás, ele nunca duvidava de suas próprias decisões. Mas agora muita coisa mudara em sua vida.

Por longos minutos, Ryan ficou sentado no Mercedes que acabara de alugar no aeroporto de New Haven e tentou pensar no assunto.

Sua vida como a conhecia - sua carreira de alto salário como advogado, seu prestígio e reputação, as inúmeras jovens mulheres com quem estivera envolvido - tudo isso terminara agora.

Seu pequeno caso idiota com uma associada chamada Kyanne provocou um processo de assédio sexual e o levou a ser expulso de sua própria empresa de advogados.

Sua última tentativa de se reconciliar com Riley foi pior do que humilhante.

Ele endireitou-se no banco do motorista e sacudiu sua indecisão.

O que mais poderia fazer? Ligou o carro, grato por alguns de seus cartões de crédito ainda estarem disponíveis.

Agora era hora de começar a juntar os pedaços de sua vida.

Mas como poderia fazer isso sem Riley?

Que outra escolha ele tinha, exceto tentar resolver as coisas com ela?

Ryan programou sua navegação turn-by-turn para a sede do FBI em New Haven. Enquanto dirigia pela cidade seguindo as instruções de voz, ele se lembrou de acordar naquela manhã na casa vasta e vazia que compartilhara com Riley e April.

Começara a chorar ao pensar em sua solidão. Então ele se recompôs, tomou uma xícara de café e reuniu coragem para ligar para Riley. O telefone tinha sido atendido por Jilly, a garota do Arizona que Riley havia adotado no começo do ano.

Quando Jilly disse que sua mãe não estava em casa, Ryan tinha insistido com a garota para lhe dizer onde Riley estava. Jilly relutantemente disse a ele que Riley estava em Connecticut, mas não explicou o que estava fazendo lá.

Não que Ryan precisasse de uma explicação.

Ela certamente está trabalhando em um caso.

Se ele estivesse certo sobre isso, alguém na sede do FBI em New Haven poderia dizer-lhe como e onde encontrá-la. Então ele poderia encontrar-se com ela e...

E o quê?

Ele realmente esperava ser recebido de braços abertos? Ele achava que ela ficaria feliz em vê-lo? Não, claro que não. Ele chorara e estava bêbado da última vez que ela o vira – nada parecido com o jovem por quem ela tinha se apaixonado muitos anos atrás. Ele sabia que era forte e atraente naquela época. Bem, ele não achava que tivesse perdido todo o seu charme. Não completamente. E talvez ela ficasse impressionada com o seu gesto romântico.

Mesmo assim, Ryan sabia que era ridículo imaginar que isso seria fácil. Nem ele merecia que fosse assim tão fácil, depois de todo o desgosto e desapontamento que causara a Riley por tantos anos.

Era justo que fosse necessário algum trabalho para reconquistá-la.

E isso era o que ele ia fazer.

Ryan estacionou em frente ao edifício do FBI e saiu do carro. Enquanto caminhava em direção à entrada, notou um grupo de pessoas aglomeradas ali, algumas delas empunhando câmeras de TV.

Repórteres, Percebeu.

Ele imaginou que algo importante deveria estar acontecendo.

Teria algo a ver com Riley?

Ele não ficaria surpreso.

Ryan sabia que Riley costumava trabalhar em casos de alto perfil que atraíam a mídia. Se sim, este era um bom momento para voltar a sua vida?

Talvez não, mas por outro lado...

Talvez ela precise do meu apoio.

Por outro lado, talvez aquele namorado dela - o dono do restaurante, Blaine - já estivesse ali.

Mas qual era a probabilidade disso? Ryan não se lembrava de ter viajado com Riley para estar com ela quando estava trabalhando em um caso. As coisas seriam diferentes com Blaine? Riley o encorajaria a ir junto?

Ryan duvidou disso - o que lhe deu novo motivo para ter esperança. Agora podia ser sua chance perfeita de provar que estava mais interessado em seu trabalho do que jamais estivera.

Ainda mais do que esse namorado dela.

Além disso, ele se deu ao trabalho de se certificar de que estava no seu melhor. Seu cabelo, ainda notavelmente preenchido para um homem da sua idade, estava perfeitamente penteado, e ele estava usando seu melhor terno. Afinal, ainda tinha um guarda-roupa decente.

Ao se aproximar do edifício, Ryan ficou surpreso e um pouco alarmado quando os repórteres de repente se aglomeraram em torno dele e começaram a importuná-lo com perguntas.

"Você é um agente do FBI?"

"Você está investigando o assassinato esta manhã em Wickenburg Reef?"

"A morte do pescador está relacionada a um assassinato anterior?"

Ryan gaguejou...

"Eu sinto muito, eu... não sei nada sobre..."

Mas as perguntas continuaram e Ryan não conseguiu fazer o resto do caminho através dos repórteres para a porta da frente.

Finalmente, sem saber mais o que dizer, ele gritou...

"Tenho certeza de que a situação está em boas mãos."

"Como você sabe?" Um repórter perguntou.

Ryan deixou escapar: "Porque tenho a informação de que a agente especial Riley Paige está aqui trabalhando no caso."

Naquele momento os repórteres realmente enlouqueceram. Começaram a gritar o nome de Riley para ele e uns para os outros.

Um repórter colocou um microfone à sua frente e perguntou...

"Quem é você?"

Ryan se sentiu completamente sobrecarregado agora.

"Eu sou o marido da agente Paige" Disse ele. "Ryan Paige"

Os repórteres se fecharam ao redor dele e Ryan pensou...

Oh meu Deus.

Acabei de cometer um erro realmente estúpido?

Ele deveria parar e explicar que ele era na verdade o ex-marido de Riley?

Não, lembrou a si mesmo. Estou aqui para reconquistá-la.

E talvez isso estivesse acontecendo exatamente como ele precisava.

O repórter com o microfone no rosto de Ryan abordou-o num tom de voz mais alto que os outros .

"Sr. Paige, eu tenho uma fonte anônima no gabinete do Médico Legista de Connecticut. Ele diz que a recente morte de Vincent Cranston foi na verdade um assassinato e as autoridades estão encobrindo isso. Além disso, Cranston foi morto da mesma forma que a vítima em Wilburton - com um picador de gelo. Você pode confirmar isso?”

A sensação de surpresa nos outros repórteres era palpável. O repórter mais próximo de Ryan aparentemente sabia de algo que os outros não sabiam.

“Isso é verdade?” Outro repórter perguntou a Ryan.

“Todas essas três mortes estão conectadas?” Outro perguntou.

"Existe um serial killer à solta?"

Um estranho sentimento começou a tomar conta de Ryan. Ele estava começando a gostar de ser o centro das atenções. Parecia muito como expor um caso na frente de um tribunal.

Apenas mantenha a calma, Disse a si mesmo.

Apenas faça o que tem a fazer.

Com uma onda de autoconfiança, ele respondeu...

"Sinto muito, mas não tenho a autorização para falar sobre isso."

Ryan exibiu seu sorriso mais vitorioso diante de um novo ataque de perguntas e conseguiu acalmar os repórteres pelo menos um pouco com um gesto autoritário que costumava usar no tribunal.

Então ele disse...

"Mas não me importo de responder a outras perguntas sobre a agente Riley Paige."


*


Riley estava sentada em uma sala de reuniões com Bill, Jenn e o agente especial Sturman, discutindo o interrogatório que acabara de acontecer. O advogado público de Bruno Young já havia chegado e estava conversando com ele em privado na sala de interrogatório.

O Agente Sturman pareceu a Riley estar excessivamente entusiasmado.

"Eu acho que nós o apanhamos" Disse Sturman. "Eu acho que nós temos o nosso homem."

"Talvez" Disse Riley

"O que você quer dizer com talvez?" Perguntou Sturman. “Ele ameaçou um viciado com um picador de gelo e tentou matar a agente Paige com ele. É apenas uma coincidência que ele tivesse um picador de gelo?”

Riley reprimiu um suspiro. Ela teria que explicar a esse experiente agente que as coincidências eram um fato da vida no trabalho investigativo?

Ela ficou aliviada quando Jenn falou.

"Não necessariamente. Os picadores de gelo estão voltando como armas. Os membros de gangues estão usando muito esses dias. Eles gostam deles porque são assustadores. Eles fazem com que se sintam bandidos dos velhos tempos. Talvez Young estivesse dizendo a verdade - que ele estava apenas tentando assustar aquele drogado.”

Então Bill disse, “Mas Young certamente agiu como culpado. Ele parecia absolutamente assustado quando falamos no assassinato de Robin Scoville. Pena que ele tenha pedido um advogado antes que pudéssemos falar sobre Vincent Cranston e o pescador de Wickenburg Reef esta manhã.”

Riley abanouu a cabeça e disse, "Talvez ele estivesse apenas com medo, porque realmente não sabia nada sobre nenhum dos assassinatos até aquele momento e pensou que poderia ser condenado por um crime que não cometeu. Isso seria uma possibilidade assustadora, especialmente para um condenado em liberdade condicional.”

Jenn tamborilou os dedos na mesa e disse, “Você pode estar certa. Ainda assim, você se lembra do que a esposa dele nos contou? Ela disse que ele vem e vai a todas as horas, às vezes desaparece por um dia ou dois. E ainda agora, ele nem tentou pensar em um álibi para seu paradeiro ao amanhecer desta manhã.”

O agente Sturman soltou um grunhido de desânimo.

Ele disse, “Se não fosse pelo maldito advogado, talvez pudéssemos insistir mais sobre o paradeiro dele. Vai ser preciso um trabalho sério para tentar rastrear seus movimentos passados. Se é que será possível.”

"Pelo menos temos o seu picador de gelo" Disse Bill. “Se ele matou alguém com isso, a perícia ainda poderia encontrar vestígios de sangue. E se encontrarem sangue, também encontrarão o ADN das vítimas. Então nós o teríamos apanhado.”

Riley e seus colegas ficaram em silêncio por alguns momentos.

Então Riley disse, “Olha, eu senti que tinha pelo menos algum senso do assassino em todas as três cenas do crime. E Bruno Young não se encaixa nas minhas impressões.”

"Por que não?" Perguntou o agente Sturman.

Riley estava prestes a tentar explicar suas dúvidas e sentimentos quando alguém bateu na porta.

"Entre" Disse Sturman.

Um jovem funcionário do FBI entrou.

Ele disse nervosamente, "Estou procurando a agente especial Riley Paige".

Riley sentiu um arrepio de alarme.

Algo está errado em casa? Pensou.

"Eu sou Riley Paige" Disse ela.

O funcionário disse, “Temos uma situação na entrada. Um homem que diz que é seu marido está falando com a imprensa.”

Riley olhou para ele confusa.

"Eu não sou casada" Disse ela.

O funcionário encolheu os ombros e disse, “Bem, é o que ele continua dizendo. Por favor, venha comigo. As coisas estão realmente saindo do controle.”

Quando Riley se levantou e seguiu o empregado para fora da sala, ela se perguntou quem poderia estar se chamando de seu marido.

Blaine, talvez?

Certamente Blaine não faria nada tão ridículo.

Então ela sentiu um choque quando lhe ocorreu...

Oh meu Deus! É o Ryan!


CAPÍTULO DEZANOVE


Quando Riley seguiu o jovem funcionário do FBI pelo corredor em direção à entrada, sua mente estava repleta de perguntas.

"Quão ruim é isso?" Perguntou sem fôlego.

"Muito ruim" Respondeu. "Seu marido..."

Riley interrompeu, "Ele não é meu marido".

“Bem, quem quer que seja, ele parece ter dito aos repórteres que Vincent Cranston foi assassinado e que há um serial killer à solta.”

Riley mal podia acreditar em seus ouvidos.

Ela disse, "Mas Ryan nem sabe nada sobre o caso!"

O funcionário disse, "Não sei o que te dizer. É o que ele disse. E agora é aquilo em que muitos repórteres acreditam.”

Riley e o jovem saíram pela entrada da frente.

Por um momento, Riley parou e olhou fixamente.

Ela viu que consideravelmente mais repórteres estavam agora reunidos ali. Pior ainda, alguns deles tinham câmeras de TV. Pior ainda, eles estavam agrupados em torno de seu ex-marido.

Ainda pior, Ryan parecia estar se divertindo...

Como se estivesse no tribunal.

Riley avançou e agarrou-o pelo braço.

"Venha comigo" Ela ordenou.

Enquanto tentava afastar Ryan dos repórteres, eles começaram a clamar...

"Você é Riley Paige?"

"O que você pode nos dizer sobre o assassinato de Vincent Cranston?"

“É verdade que o assassino dele também assassinou outras duas pessoas?”

Ignorando as perguntas e esperando não ser filmada pelas câmeras de TV, Riley empurrou Ryan pela porta e entrou no edifício.

Felizmente, alguns guardas de segurança estavam logo do lado de dentro e impediram os repórteres de entrar.

Ryan pareceu chocado e surpreso quando ela o arrastou para dentro do edifício.

"Você não parece muito feliz em me ver" Disse ele.

Riley não se incomodou em responder. Enquanto caminhavam pelo corredor, ela procurou por um lugar onde pudessem conversar em particular. Passaram pela porta aberta da sala de conferências, onde Bill, Jenn e o agente Sturman estavam olhando para eles.

Sturman levantou-se e gritou para ela, "Agente Paige, aonde você está indo?"

Riley parou Ryan com brusquidão.

Boa pergunta, Pensou.

Ela perguntou a Sturman, "A sala de interrogatório está vazia?"

"Tanto quanto eu sei" Disse Sturman.

Arrastando Ryan pelo braço novamente, Riley disse a Sturman...

"É aí que você pode nos encontrar."

Ela levou Ryan para a pequena sala e empurrou-o para dentro, depois fechou a porta atrás deles.

"Sente-se" Disse bruscamente para Ryan.

Com a boca aberta, Ryan se sentou na mesma cadeira onde Bruno Young estivera sentado há pouco tempo. Riley andava de um lado para o outro na frente da mesa, tentando controlar sua raiva.

"Em primeiro lugar" Disse ela. "Como você sabia que eu estava em Connecticut?"

Ryan franziu a testa com preocupação.

"Oh, Riley, eu não sei se eu deveria te dizer isso."

"É melhor dizer" Riley rosnou.

Ryan suspirou profundamente e disse, "OK, se você quer saber, Jilly me disse."

Riley estava horrorizada agora.

“Jilly?” Perguntou Riley.

"Não fique brava com ela" Disse Ryan. “Ela tinha boas intenções. Acho que ela quer que voltemos a estar juntos.”

Riley duvidou muito disso. Ryan desapontara Jilly no passado. Jilly nunca o perdoou por tratá-la como uma filha verdadeira durante algum tempo, depois se livrando dela como sempre fizera com sua família.

Ela perguntou, "Por que você ligou para as crianças?"

Ryan sorriu aquele seu sorriso familiar e devasso.

"Vamos, Riley" Disse ele. “Você sabe o quanto eu amo as crianças. Eu sempre tento manter contato.”

Riley sentiu um pouco de ansiedade. Ryan parecia estar genuinamente fora de contato com a realidade. Ele parecia ter se convencido de que estava agindo com as melhores intenções. Ela se perguntou - quanto mal seus delírios tinham causado agora?

Riley perguntou, "Como você soube que Vincent Cranston foi assassinado?"

"Eu não sabia" Disse Ryan.

"Você tinha que saber" Disse Riley. "Foi o que você disse a eles, não foi?"

Ryan parecia confuso com a pergunta.

"Não, eu não contei nada disso" Ele disse. "Eu nunca ouvi falar de Vincent Cranston."

"Você deve ter dito algo sobre ele" Disse Riley. "O que foi?"

"Bem, um repórter disse algo como..."

Ryan pareceu para pensar por um momento.

Então ele disse, “Oh, sim. Ele disse que tinha uma fonte no gabinete do médico legista que disse que Cranston foi assassinado e que o assassinato estava sendo encoberto. Ele queria saber se eu poderia confirmar isso.”

"Então, o que você disse a ele?" Riley perguntou, temendo a resposta que ouviria.

Ryan encolheu os ombros e disse, "Eu disse a ele que não tinha a liberdade de falar sobre isso".

Riley soltou um gemido de desespero.

Ela sabia que na ótica de todos os repórteres, Ryan tinha confirmado que Cranston havia sido assassinado.

"Qual é o problema?" Ryan perguntou com um olhar nervoso. "Foi a coisa certa a dizer, não foi?"

"Não, não foi!" Riley disse. "Você deveria ter dito: 'Eu não sei'. Melhor ainda, você não deveria ter dito nada."

Ryan pensou por um momento e depois encolheu os ombros.

"Bem, de qualquer maneira, não se preocupe" Disse ele. "Eu mudei de assunto imediatamente."

"O que você disse a eles?" Riley perguntou, seu medo aumentando a cada segundo que passava.

Ryan sorriu novamente.

"Apenas o que é ser casado com a grande Riley Paige" Disse ele. “Eu tive eles comendo da minha mão, Riley. Eu estava apenas começando a contar a eles sobre como você teve que resgatar April e eu daquele assassino louco em novembro passado. Lembra-se disso?"

Claro que me lembro, Pensou Riley.

Riley foi perseguida por um psicopata em busca de vingança porque ela havia matado sua namorada em uma prisão muitos anos antes. O homem havia ameaçado a família de Riley, então ela havia escondido April em um quarto de motel seguro, guardado por agentes do FBI. Então Ryan teve a ideia esperta de que April seria mais feliz em uma boa casa alugada em Chincoteague e a levara para lá - onde, é claro, o assassino achara fácil encontrar os dois. Ela nunca disse a Ryan que o criminoso Shane Hatcher fora quem parara o assassino e o amarrara para que Riley pudesse libertar sua família.

Se Hatcher não tivesse chegado quando ele...

Ela não suportava pensar sobre o que teria acontecido antes que ela pudesse lá ter chegado.

Ela disse para Ryan, "Você disse a eles que quase matou você e April?"

Ryan disse, "Eu não tive a chance de lhes dizer muita coisa antes de você sair e acabar com as coisas. Riley, eu não tinha ideia de como você é tão conhecida. Você realmente deve explorar isso a seu favor. Eu poderia ajudar com isso. Você sabe o que eles dizem - não existe publicidade ruim.”

Riley resmungou, “Na sua linha de trabalho, talvez. Na minha linha de trabalho, não existe boa publicidade. É essencial que eu seja capaz de operar sob o radar. E é essencial manter algumas informações fora da mídia. As vidas das pessoas estão em jogo. Você tem alguma ideia de quanto dano você causou agora?”

"Não, eu não sei" Disse Ryan. "Talvez se você tivesse falado mais comigo, eu soubesse mais sobre o seu trabalho. De quem é a culpa?”

Riley sentiu-se picada. Era verdade que Riley tinha tentado evitar falar nos fatos sombrios de seu trabalho no FBI, para proteger sua família deles. Ela talvez tivesse levado sua renitência longe demais?

Mas então ela percebeu o que estava acontecendo.

Pare com isso, Ela se repreendeu. Não deixe ele manipular você de novo.

Ryan olhou em volta, inquieto.

"Eu não gosto desta sala" Disse ele. “Eu me sinto como um dos seus suspeitos. Estou sendo interrogado ou algo assim? Eu não fiz nada ilegal, pois não?”

Riley rosnou, "Você é o advogado, Ryan. diga-me você. Que tal perseguir? Porque parece ser esse o caso.”

Os olhos de Ryan caíram no espelho de face dupla.

"Alguém está assistindo?" Perguntou. "Alguém está ouvindo?"

Riley se viu pensando a mesma coisa. Ela disse a seus colegas que estava vindo para cá. Eles seguiram e se reuniram em torno desse espelho para assistir e ouvir? Ou ainda estavam na sala de conferências discutindo o caso? Ela não sabia e percebeu que realmente não se importava muito. Ela estava feliz por ter algo que pudesse impressionar Ryan com a seriedade da situação. Talvez ele precisasse se sentir um pouco paranóico.

Riley cruzou os braços e exigiu...

"Diga-me agora mesmo. O que diabos você está fazendo aqui?"

“Riley, eu só quero resolver as coisas entre nós. Eu não gostei de como deixamos as coisas da última vez que estivemos juntos.”

Riley mordeu a língua para não dizer...

"Você quer dizer com você bêbado e chorando?"

Ryan se inclinou sobre a mesa com o queixo nas mãos, olhando para Riley tão casualmente como se estivesse sentado à mesa da cozinha.

Ele disse melancolicamente, "Você sabe qual foi o nosso problema, Riley?"

A mente de Riley começou a divagar...

Por onde posso começar?

Ryan continuou, "Nós nunca fizemos planos para todas as mudanças que teríamos que enfrentar. Porque, você sabe, a vida é toda sobre mudanças. Nós nos deixamos entrar em uma rotina. Nós nunca enfrentamos o futuro.”

A boca de Riley ficou aberta com descrença.

Ela disse, "Não, nosso problema era que eu não podia contar com você – para nada".

Ryan disse, "Riley, quantas vezes eu tenho que te dizer, eu posso mudar?"

Riley sufocou um suspiro.

“E quantas vezes você vai me decepcionar e as garotas? Já tivemos o suficiente, Ryan - as três. As quatro, se você contar com Gabriela.”

Ryan se recostou na cadeira e disse, "Você não entende, não é? Nosso problema é o futuro. Quer dizer, aqui estou eu, entre carreiras...”

Riley interrompeu, “Entre carreiras? Você foi expulso da sua própria empresa! E por um bom motivo!”

Ryan continuou como se não a tivesse ouvido.

"E você? Você não pode passar o resto da sua vida a fazer de heroína. Tudo bem quando você era mais jovem. Mas você não pode continuar arriscando sua vida para sempre. Você terá que parar em algum momento por causa das pessoas que amam você. Sua sorte se esgotará e então onde estaremos todos nós?”

Riley sentiu-se picada novamente. Ryan tinha atingido outro nervo - as dificuldades que sua carreira haviam causado a sua família.

Não deixe que ele desoriente você, Disse a si mesma novamente.

Ryan disse, "Vamos começar do zero, fazer as coisas como antigamente. Nós éramos uma ótima equipe, lembra?”

Então ele estalou os dedos e disse...

“Ei, eu tenho uma ótima ideia. Com sua fama e todas as suas aventuras passadas, você deveria escrever um livro. Claro, você precisa da minha ajuda. Eu fiz muita escrita, você sabe, fazendo o meu tipo de trabalho. Eu sou bom nisso. Entre nós dois, poderíamos escrever um best-seller infalível. Eu nunca mais teria que trabalhar em um escritório de advocacia. E você nunca mais teria que sair para o campo.”

Riley podia ouvir uma mudança na voz de Ryan enquanto ele continuava balbuciando. Ficou cada vez mais distante, como se Ryan soubesse o quanto suas fantasias de reconciliação eram exageradas, sabia o quão patético ele realmente estava soando.

Espero que ele não chore de novo, Pensou. Eu não posso lidar com isso agora.

Então ela percebeu que sua própria garganta estava apertada e seus olhos estavam ardendo.

Ela estava prestes a chorar.

É hora de acabar com isso, Pensou.

"Ryan, eu não tenho tempo para isso" Disse ela. “E nem você. Eu tenho uma família para criar - uma nova família, com um novo homem. E você, bem, você tem que pegar as peças da sua própria vida. Eu não posso fazer isso por você. Ninguém pode. Você precisa encontrar forças para fazer isso sozinho.”

Por mais que tentasse sentir o contrário, ela se compadeceu dele. Riley queria muito chegar ao outro lado da mesa e pegá-lo pela mão ou tocá-lo no ombro...

Não faça isso.

Então, com uma voz trêmula, acrescentou, “E sei que você pode fazer isso, Ryan. O homem com quem me casei há tantos anos ainda existe. Você tem forças para começar de novo.”

Ryan não disse nada, apenas olhou para ela com olhos suaves e tristes.

Riley disse, "Você tem que ir para casa agora, Ryan. Você sabe disso, não sabe?”

Ele assentiu devagar.

Agora, um novo problema ocorreu a ela. Como tiraria Ryan do edifício sem atrair a atenção da mídia?

"Fique bem aqui" Ela disse.

Ao sair da sala de interrogatório, Riley viu que ninguém estava olhando através do espelho de duas faces, afinal. A cena tinha sido dolorosa o suficiente para ela sem ter que enfrentar uma audiência depois.

Ela caminhou pelo corredor até a sala de conferências, onde encontrou Jenn e Bill em discussão séria.

Bill deu a ela um olhar preocupado. "Está tudo bem?"

Riley queria dizer sim, mas de alguma forma não conseguiu falar.

Em vez disso, perguntou, "Onde está o agente Sturman?"

Jenn disse, "Ele está na frente do edifício, tentando consertar as coisas com a mídia".

Riley sentiu um fugaz mas bem-vindo traço de alívio. Ela estava feliz por alguém estar tentando limpar a terrível bagunça que Ryan acabara de fazer.

Ela voltou para o corredor e viu que um dos jovens agentes estacionados ali estava se aproximando.

Riley disse para ele, "Você conhece uma saída pela parte de trás deste edifício?"

O agente assentiu. Riley levou-o para a sala de interrogatório, então chamou Ryan para sair. Ela instruiu o agente a escoltar Ryan para fora o mais silenciosamente possível. E ela aconselhou Ryan a deslizar pelo edifício e voltar para o carro dele sem chamar atenção.

"Não há mais entrevistas" Disse ela com firmeza.

"Não mais nada" Respondeu Ryan melancolicamente.

Obedientemente, ele se virou e seguiu o agente pelo corredor.

Enquanto ela o observava indo embora, Riley ficou impressionada com o quão curvado e quebrado seu ex-marido parecia visto por trás.

Ela lutou contra as lágrimas novamente quando se lembrou das palavras que lhe dissera na sala de interrogatório...

“O homem com quem me casei há tantos anos ainda existe. Você tem forças para começar de novo.”

Mas agora ela percebeu que estava mentindo para Ryan - e possivelmente para si mesma. O homem com quem ela pensara ter se casado nunca existira. Ele tinha sido uma ilusão - uma concha oca e vazia desde o começo.

E agora aquela concha estava irremediavelmente quebrada.

Riley sacudiu sua dor e disse a si mesma...

Coloque sua cabeça de volta no jogo.

Você tem um trabalho a fazer.


CAPÍTULO VINTE


Quando Riley atravessou o edifício do FBI, viu que Jenn e Bill estavam com o agente Sturman do lado de fora da sala de conferência, aparentemente esperando por ela.

Riley sentiu uma onda de expectativa.

Enquanto ela conversava com Ryan, Sturman estava lidando com os repórteres.

Ela esperava que ele tivesse conseguido salvar a situação.

“Como correu?” Perguntou.

Sturman respondeu, “Como se esperava. O Agente Jeffreys me diz que aquele cara que fez tanta bagunça é seu ex-marido. O que pensava ele que estava fazendo?”

Riley suspirou com culpa e resistiu à vontade de dizer...

"Pedindo ajuda."

Em vez disso, disse, "Sinto muito o que aconteceu, agente Sturman. Ryan, bem, ele está passando por um momento difícil. Ele não está pensando direito. Não que isso seja uma desculpa.”

Sturman perguntou, “Qual foi sua ideia de confirmar ou negar qualquer coisa sobre esse caso? Eu estava prestes a prendê-lo, mas o agente Jeffreys me garantiu que era inofensivo.”

Riley tentou novamente explicar, "Ele estava apenas tentando me fazer parecer bem".

Quando Sturman não comentou, ela acrescentou, "Ele é advogado".

Sturman franziu a testa e perguntou, "Será que ele achava que estava trabalhando nesse caso?"

“Na verdade, ele não sabia nada sobre o caso. Estava apenas respondendo às sugestões e perguntas dos repórteres.”

Sturman assentiu. “Eles continuaram me interrogando também. Um deles disse que uma fonte anônima no gabinete do ML disse a ele que um assassino de picador de gelo estava à solta.

Riley lembrou de Ryan mencionar a mesma coisa. Ela disse, "Bem, Ryan não deu nenhuma informação real porque ele não sabia nada."

Sturman encolheu os ombros e disse, “Bem, o que está feito está feito. Sem ofensa, Agente Paige, mas espero que não voltemos a encontrar seu ex por um tempo.”

Nem eu, Pensouy Riley.

Sturman continuou, “Naturalmente, os repórteres não paravam de perguntar se Vincent Cranston havia sido assassinado - e, em caso afirmativo, se fora morto pela mesma pessoa que matou Robin Scoville, há uma semana, e Ron Donovan, esta manhã. Eu continuei dizendo ‘sem comentários’, é claro. O que mais eu poderia dizer?”

Bill disse, "Parece uma mistura de fugas de informação anônimas e pura especulação".

"Certo" Disse Sturman. "Vou me certificar de que o ML Kinkaid sabe o que aconteceu. Se eu bem conheço Kinkaid, ele encontrará o delator em breve e o expulsará de seu time. De qualquer forma, eu não confirmei a coisa do picador de gelo de um jeito ou de outro, mas eu tenho certeza que os repórteres já acreditam nisso e vão continuar com isso. Na verdade, provavelmente já está na Internet.”

Parecendo completamente desanimada, Jenn disse, "Isso é ruim. Os picadores de gelo certamente assustam o público. É por isso que a máfia gostava deles nos velhos tempos e por que as gangues ainda gostam deles agora. Receio que possamos ter um pânico generalizado em mãos.”

Sturman riu um pouco e disse, "Eu não penso assim. Pelo menos eu fui capaz de dizer a eles que temos um provável suspeito sob custódia e que as mortes provavelmente acabaram. Isso deve manter o público razoavelmente calmo”.

Riley pensou nessas palavras...

“… Um suspeito provável…”

"... as mortes provavelmente acabaram..."

Sturman tinha decidido que Bruno Young era definitivamente o assassino deles?

Aliás, o que Bill e Jenn pensavam?

Antes de sua reunião ter sido interrompida pela chegada de Ryan, Riley sentiu que Bill estava bastante confiante quanto a culpa de Young. Ela não sabia exatamente o que Jenn pensava.

Sturman arrastou os pés e trocou olhares com Riley e seus dois colegas.

“Olhe, vocês três foram uma grande ajuda. Tenho certeza de que seu trabalho está concluído no que diz respeito a este caso. Cabe a minha equipe e aos caras da perícia daqui em diante verificar os álibis de Bruno Young e vasculhar o picador de gelo para amostras de ADN. Eu ficarei surpreso se não apresentarem provas sólidas de que Young é o assassino. Vocês vão em frente, voltem para Quantico, tenham um merecido descanso.”

Riley estava prestes a expressar seu desacordo quando Bill lhe deu uma cutucada e disse baixinho...

“Vamos, Riley. Vamos sair daqui.”

Riley reprimiu um suspiro. Ela sabia que Bill estava certo, claro. Nunca era uma boa ideia argumentar com as autoridades locais quando diziam que era hora de partir. Ela se despediu da agente Sturman e seguiu Bill e Jenn pela entrada dos fundos, onde Ryan havia saído. Eles contornaram o edifício até o carro emprestado sem serem notados pelos repórteres.


*


Riley e seus colegas disseram pouco durante a curta viagem de volta a Wilburton. Ela sentiu que todos se sentiam vagamente inseguros de como deixariam as coisas em Connecticut.

Era hora do jantar quando voltaram para o Ramsey Inn, então foram direto para o restaurante e pediram outra deliciosa refeição de frutos do mar. Enquanto esperavam pela comida, Bill olhou para Riley e Jenn e disse uma única palavra...

"Pensamentos?"

Riley sentiu-se aliviada por finalmente irem esclarecer as coisas.

Jenn disse, “Eu acho que realmente parece que Bruno Young é nosso assassino. Quero dizer, todas as evidências apontam para esse caminho, mas...”

Ela hesitou, depois encolheu os ombros e acrescentou...

"Mas não sinto que tenha muita moral para dar minha opinião. Afinal, eu estava praticamente convencido de que Wesley Mannis era nosso assassino. Então aquele pescador foi assassinado e nós sabíamos que Wesley não estava sequer perto do local da ocorrência, muito menos com uma condição mental que permitisse cometer um assassinato. Eu estava completamente errada.”

Riley se inclinou em direção a Jenn e disse, “Lembre do que eu te disse, Jenn. Temos que continuar a ter ideias, mesmo quando estão erradas. Conte-nos o que você está pensando agora.”

Jenn respirou lentamente, depois disse, "Eu não sei. Mas Bruno não me parece ser o culpado. Não sei porquê. É apenas um pressentimento, eu acho.”

Riley ficou mais aliviada por saber que Jenn estava pensando como ela.

"E você, Bill?" Riley perguntou.

Bill tomou um gole da cerveja e pensou por um momento.

Então ele disse, “Não sei ao certo. Mas ele agiu como culpado durante o nosso interrogatório. E ele realmente começou a entrar em pânico quando começamos a falar sobre as vítimas do assassinato. Isso geralmente é um sinal de culpa.”

Uma palavra que Bill acabara de dizer chamou a atenção de Riley.

Pânico.

Ela sentiu um formigamento agudo quando seus próprios sentimentos começaram a se focar.

Ela falou devagar e com cautela...

"Você está certo, Bill. Bruno começou a entrar em pânico. E eu não acho que nosso assassino é o tipo de cara que entra em pânico – em relação ao que quer que seja.”

Bill olhou para ela com interesse. Ele perguntou, "Isso tem a ver com as impressões que você teve nas cenas de crime?"

Riley acenou com a cabeça e disse, “Pense nisso, Bill - a frieza que é necessária para se aproximar de alguém com um picador de gelo e espetá-lo na parte mais macia do crânio humano - um alvo pequeno, se é que havia um, mas ele nunca falha. E todas as três vítimas estavam perfeitamente conscientes e alertas. Você precisa de uma mão firme e um temperamento ainda mais firme. Bruno Young te parece esse tipo de homem?”

Bill inclinou a cabeça e disse, “Visto dessa forma, eu tenho que dizer que não. Ele é um típico viciado em recuperação - defensivo, mentiroso e nervoso.”

Bill tomou outro gole de sua cerveja e acrescentou...

“De qualquer forma, Riley, eu aprendi há muito tempo a confiar em seus instintos. Eles muito raramente se enganam. Se você acha que Bruno não é nosso assassino, você deve estar certa.”

Jenn perguntou, "Então, onde isso nos deixa?"

Bill soltou um grunhido de desânimo e disse, “Exatamente onde começamos. Não temos nada tangível para provar que Bruno não é o assassino - nada para persuadir o agente Sturman ou qualquer outra pessoa a permanecer em Connecticut. Agora, se tivermos razão, a análise forense provavelmente nos sustenta. Seu picador de gelo não terá um traço de sangue e será óbvio que nunca foi usado como arma do crime. Mas até então...”

A voz de Bill sumiu, mas Riley sabia o que ele não dissera.

Temos que voltar para Quantico.

Não temos escolha.

Bill mandou uma mensagem ao agente especial responsável Brent Meredith dizendo que voltariam no dia seguinte e lhe dariam um relatório completo. Ele pediu a Meredith para ter um avião pronto para eles na parte da manhã no Aeroporto Regional de Tweed-New Haven para o vôo de regresso.

Durante a sobremesa, os três decidiram que devolveriam o veículo emprestado para a delegacia de Wilburton no início da manhã e depois pediriam ao chefe Brennan que alguém os levasse ao aeroporto.

Finalmente, terminaram de comer e voltaram para seus quartos.

Riley sentou-se na beira da cama, tentando juntar as peças em sua mente. Era de certo conforto saber que ela, Bill e Jenn tinham a mesma opinião sobre o caso. Mesmo assim, não havia nada que pudessem fazer, a não ser voltar a Quantico e esperar que a perícia provasse, como provavelmente aconteceria, que Bruno Young não tinha nada a ver com os assassinatos.

Então eles certamente voariam para Connecticut.

Riley estremeceu profundamente quando se perguntou...

O assassino vai atacar novamente nesse meio tempo?

Era uma corrida contra o tempo - uma corrida em que ela, Bill e Jenn não tinham permissão para correr, pelo menos não até a equipe forense terminar seu trabalho.

Enquanto isso, os nervos de Riley estavam no limite, sua respiração era rápida, seus músculos estavam contraídos e seus sentidos estavam desconfortavelmente aguçados.

Estou tendo uma resposta de luta ou fuga.

Ela estivera nessa situação muitas vezes ao longo dos anos - preparada e pronta para a ação, mas sem nenhum curso a ser seguido. Riley odiava esse sentimento.

Enquanto tentava tirar esses pensamentos da mente, percebeu que era hora de ligar para casa e verificar como estavam as coisas.

Quando pegou o celular, de repente se lembrou do que Ryan havia lhe contado sobre como ddescobrira que ela estava em Connecticut.

"OK, se você quer saber, Jilly me disse."

Riley estava desanimada.

Jilly!

Ela não tinha pensado nisso até agora, mas...

Por que Jilly faria uma coisa dessas?

Riley sentiu um flash de raiva. Ela receava que se ligasse para casa agora, gritaria com Jilly. E então pensou...

Jilly merece isso.

Ela sabe que não devia fazer algo assim.

Mas por que fizera aquilo?

Riley também lembrou Ryan dizer...

“Ela tinha boas intenções. Acho que ela quer que voltemos a estar juntos.”

Riley ofegou quando se perguntou - isso poderia ser verdade? Ela se lembrou das duas últimas vezes que Ryan estivera em casa, e as duas meninas tinham sido frias com ele a ponto de serem rudes. Nunca teria ocorrido a Riley que Jilly ainda desejasse que Ryan pudesse ser seu pai.

Mas estaria Riley errada? Jilly se tornou muito apegada a Ryan quando ele morou com elas por um curto período de tempo.

Riley agora se perguntava se deveria fazer a ligação. Que tipo de confronto ela poderia ter com Jilly? Poderia Riley lidar com tal drama, com tudo o mais que estava em sua mente? Seria melhor apenas esperar e lidar com as coisas quando chegasse em casa no dia seguinte?

Não, Decidiu Riley. Eu tenho que fazer isso agora. Esta é minha família.

O telefone balançou em suas mãos quando fez a ligação. Então ouviu a voz de April.

"Mãe! Fico feliz por você ter ligado! Algo está muito errado!”


CAPÍTULO VINTE E UM


Riley ficou apavorada com o som de desespero na voz de sua filha.

“O que é, April?” Ela perguntou.

“É Jilly. Ela está trancada no quarto dela. Não fala com ninguém.”

Riley ficou em pãnico. Menos de um mês atrás, ela descobrira que sua filha mais nova estava se cortando devido a sentimentos de inutilidade. Com a ajuda de um terapeuta e boa conversa mãe-filha, pareciam ter superado isso.

Ela conseguiu dizer, "O que aconteceu?"

"Eu não sei" Disse April. “Nem Gabriela. Tudo começou há pouco tempo quando estávamos assistindo as notícias na TV na sala da família. Um repórter começou a falar sobre um caso de assassinato em Connecticut - algo a ver com um serial killer de picador de gelo. E então, oh, mãe, eu pensei que tinha enlouquecido ou estava sonhando ou algo assim, mas...”

April hesitou, mas Riley tinha certeza de que ela sabia o que viria a seguir.

“Eles gravaram uma fita do pai e ele estava bem em frente ao edifício do FBI em New Haven, conversando com jornalistas sobre o caso! Então nós tivemos apenas um vislumbre de você puxar papai dos repórteres para dentro do edifício. Mamãe, o que papai estava fazendo lá, afinal?”

Riley não queria explicar tudo isso agora.

Em vez disso, ela disse, "E quanto a Jilly?"

“Bem, Jilly se assustou quando viu o pai na TV. Ela correu para fora sala e foi para cima. Ouvimos a porta do seu quarto bater. Gabriela e eu estamos tentando convencê-la a abrir a porta e nos deixar entrar e nos dizer o que está errado. Mas ela continua nos dizendo para irmos embora. Continuamos ouvindo ela soluçando lá dentro.”

Riley ficou preocupada.

Isso é pior do que eu imaginava, Pensou.

Ela disse a April, "Nós não podemos deixá-la sozinha. Você poderia dizer a Jilly que eu estou no telefone e quero falar com ela?”

"Eu vou tentar, mãe."

Riley podia ouvir os passos de April enquanto levava o telefone pelo corredor do andar de cima até o quarto de Jilly. Ela ouviu April bater gentilmente na porta e dizer...

“Jilly, a mamãe está no telefone. Ela quer falar com você.”

Riley ouviu a resposta abafada de Jilly dentro do quarto.

"Eu não posso falar com ela."

"O que você quer dizer com você não pode falar com ela?" Perguntou April.

"Eu simplesmente não posso. Não agora."

Riley ouviu April soltar um suspiro profundo e depois dizer...

“Jilly, você precisa falar com alguém. Se você não fala comigo ou Gabriela, então alguém. Eu realmente acho que você deveria falar com a mamãe. Ela está realmente preocupada com você.”

Um silêncio caiu. Então veio o som da porta de Jilly se abrindo.

Riley ouviu Jilly dizer, "April, eu tenho que falar com ela sozinha".

April disse:, "OK" E Riley ouviu a porta do quarto de Jilly fechar novamente.

Jilly soltou alguns soluços e disse, “Mãe, eu estraguei tudo. Eu fiz uma coisa terrível. É tudo culpa minha."

"O que é tudo culpa sua?" Riley perguntou.

"Nós o vimos na TV" Disse Jilly. "Pa... Ryan."

Riley percebeu que Jilly agora não era capaz de chamá-lo de “pai”. Ela começou a chamá-lo assim quando todos viviam juntos, mas Ryan desiludira Jilly demasiadas vezes.

“April, Gabriela e eu, todas nós o vimos. Tenho certeza de que você não queria que ele estivesse lá e eu pude ver como ele fez uma bagunça. E foi minha culpa que ele tivesse ido lá. Você vê, eu...”

Jilly engoliu em seco e acrescentou, “Eu disse a ele que você estava em Connecticut.”

Riley disse, “Eu sei isso, querida. Ele realmente me disse isso. Como isso aconteceu?"

“Ele ligou para casa e eu atendi ao telefone, e ele soou... bem, ele parecia ruim, é tudo, como se algo estivesse realmente errado. Ele disse que algo havia acontecido e precisava encontrá-la e conversar com você, e era realmente muito urgente. Eu não tinha ideia de que ele iria para Connecticut e agiria como...”

Riley não pôde deixar de sorrir quando terminou o pensamento de Jilly...

"Como um idiota delirante?"

Jilly ofegou um pouco e soltou uma risadinha nervosa.

"Sim, isso mesmo" Disse ela.

Riley estava começando a se sentir melhor.

Ela disse, “Tudo bem, Jilly. Compreendo."

"Mas eu disse a ele..."

"Eu sei e você não deveria ter feito isso" Disse Riley. "Você não deve dizer às pessoas nada sobre o que estou fazendo quando estou trabalhando em um caso. Mas desta vez você não pôde evitar. Você estava preocupada com Ryan, e tinha boas intenções e...”

Riley fez uma pausa, depois disse...

“E você tinha bons motivos para se preocupar. Ele não está muito bem, Jilly. Ele está passando por um momento ruim. E ele está fazendo algumas coisas imprudentes e estúpidas por causa disso. Eu gostaria que houvesse algo que pudéssemos fazer sobre isso, mas não há.”

Outro silêncio caiu quando Riley esperou por uma resposta.

Então Jilly disse, "Ele tem que resolver as coisas por si mesmo, não é?"

Riley se sentiu emocionada com as palavras de Jilly.

Que coisa madura para dizer!

Sua filha mais nova realmente estava crescendo.

Ela disse a Jilly, “Sim, tem. Tem mesmo. Mas ele está tendo problemas para entender isso. Ele continua se voltando para outras pessoas para consertar sua vida por ele. Ninguém pode fazer isso a não ser ele, e se algum de nós ceder e tentar consertar as coisas para ele, só pioraremos as coisas para todos nós, incluindo ele. Mas você tem um bom coração, Jilly. E estou muito orgulhosa de você por isso.”

Jilly soltou outro último soluço e disse, “Obrigada, mãe. Estou orgulhosa de você também.” Então ela acrescentou:“ Ei, um cara do FBI estava no noticiário depois que você e Ryan entraram no edifício. Ele disse que você apanhou o assassino. Parabéns."

Riley desanimou um pouco.

Dadas todas as dúvidas que ela compartilhava com Bill e Jenn, não se sentia bem em ser felicitada naquele momento.

Mas ela sabia que seria melhor não falar sobre isso com Jilly.

"Obrigada, Jilly" Disse ela.

"Isso significa que você voltará para casa em breve?" Perguntou Jilly.

Riley gaguejou, "Uh, sim, nós... nós estaremos de volta amanhã."

Jilly parecia muito feliz agora.

"Vai ser tão bom ver você! Eu sei que só se foi há alguns dias. Mas parece que já faz muito tempo que foi. Eu sinto mesmo a sua falta."

Riley ficou emocionada.

"Eu também sinto sua falta, Jilly" Disse ela. "E eu amo-te."

"Eu também te amo. Bem, até amanhã."

Terminaram a ligação e Riley sentou-se na beira da cama sentindo-se triste e desanimada.

As palavras de Jilly ecoaram por sua cabeça...

"Sempre parece muito tempo quando você se vai."

Isso deixou Riley triste por não poder se sentir da mesma maneira. Certamente sentia falta das filhas. Mas o trabalho dela sempre absorvia toda a sua atenção e o tempo muitas vezes parecia voar. Era difícil pensar muito em casa quando estava fora.

E agora...

Que tipo de mãe serei quando chegar em casa amanhã?

Sem dúvida, ela ficaria nervosa e ansiosa depois de deixar assuntos tão instáveis ??aqui em Connecticut. Ela teria dificuldade em dar toda a atenção para as garotas. E, claro, elas se sentiriam como se ela estivesse distante.

Se ao menos Bill, Jenn e eu pudéssemos ficar mais um ou dois dias, Pensou.

Se ao menos pudéssemos resolver este caso de uma vez por todas.

Então ela poderia ir para casa descansada e passar algum tempo maravilhoso com suas filhas - tempo que todas poderiam desfrutar.

Riley levantou-se da cama e foi ao banheiro para tomar um banho, depois foi direto para a cama. Estava cansada depois de um dia longo e difícil, e adormeceu rapidamente.


Riley se viu parada na beira de um precipício, olhando para uma escuridão aparentemente sem fim. Sons estranhos emergiram daquelas profundezas - gritos, gritos de tormento, risos perversos, correntes que rangiam, tiros...

"O que é este lugar?" Riley perguntou-se em voz alta. “O que tem lá embaixo?

Para sua surpresa, ouviu uma voz responder em resposta...

"É o abismo."

Ela se virou para ver quem havia falado. Também no precipício a poucos metros de distância estava Wesley Mannis, olhando fixamente essas profundezas.

Ela ficou surpresa ao perceber que ele estava certo. Era um abismo - seu próprio abismo pessoal, cheio de todos os males, dor, injustiça e horrores que enfrentara e lutara toda a sua vida. Também estava cheio de suas próprias falhas e fracassos, fraquezas e erros que haviam custado tanto para si mesma como para outras pessoas - às vezes até suas vidas.

Apavorou-a ??profundamente pensar...

Tudo isso.

Tudo que me assusta.

Tudo está lá embaixo.

Mas então ela se perguntou - o que Wesley estava fazendo aqui, ao lado dela?

E acima de tudo...

Perguntou-lhe em voz alta, “Como você sabe? Sobre o abismo?”

Wesley continuou olhando em silêncio. Riley lembrou o quão difícil fora chegar a Wesley, fazê-lo dizer uma única palavra. Certamente ele não falaria com ela agora.

Mas então, ainda olhando para baixo, Wesley disse...

"Eu sei porque eu estive lá."

Riley sentiu-se sacudida de espanto. Como era foi possível? Este era seu abismo, rastejando com seus próprios demônios e horrores pessoais. Como poderia Wesley saber algo sobre isso?

E ainda assim ela sabia...

Ele não mentiria.

Ela olhou para baixo e ouviu novamente. Desta vez, em meio ao emaranhado de barulhos e vozes, conseguia ouvir um pedido de ajuda. Alguém precisava dela. A vida de alguém estava em perigo e Riley tinha que salvar essa vida.

Mas como?

O abismo era tão profundo que ela não conseguia pensar em outra maneira de entrar, a não ser pular.

Mas mesmo se ela o fizesse, o que poderia fazer?

Ela estaria perdida, confusa e sem nenhuma ajuda.

Então ela percebeu algo. Virou-se para Wesley e disse...

"Temos que ir até lá - nós dois. Eu não posso fazer isso sozinha. Nós temos que pular, ambos ao mesmo tempo. ”

Wesley não respondeu, apenas ficou olhando.

“Você me ouviu, Wesley?” Ela disse. "Preciso da sua ajuda."

Wesley ficou em silêncio por mais alguns momentos, depois disse...

"Eu não sou um voyeur."

Riley ficou surpresa ao ouvir aquelas palavras que ele repetira tantas vezes no dia anterior.

Ela implorou, "Não se trata de espreitar, Wesley. Isso é sobre fazer a coisa certa. Isso é sobre salvar a vida de alguém ”.

"Eu não sou um voyeur" Repetiu Wesley.

Então, para alarme de Riley, ele se virou e começou a se afastar.

Ela disse-lhe...

“Wesley, por favor, não vá! Preciso da tua ajuda! Alguém lá embaixo precisa da nossa ajuda! Nós temos uma vida para salvar! Talvez mais que uma vida!”

Mas Wesley continuou andando, resmungando de novo...

"Eu não sou um voyeur... eu não sou um voyeur..."

Riley tentou correr atrás dele, mas seus pés não se moviam.

Ela se virou e olhou novamente para o abismo e pensou...

Eu tenho que ir até lá.

Mas não posso fazer isso sozinha.

Eu preciso que Wesley me ajude.

Mas como poderia convencê-lo?


Os olhos de Riley se abriram e ela ficou ofegante pelo pesadelo que acabara de ter. Viu a luz da manhã entrando pelas cortinas.

Enquanto se lembrava do sonho, pensou...

Wesley passou por um trauma.

Ele viu algo que acha que não deveria ter visto.

Provavelmente também sofreu outros traumas.

Riley tinha a sua quota de traumas e tinha experimentado ataques terríveis de SPT. Ela poderia alcançá-lo através de sua experiência comum? Poderia convencê-lo a dizer o que vira naquela noite?

Eu tenho que tentar, Riley pensou, saindo da cama e vestindo-se.


CAPÍTULO VINTE E DOIS


Quando Bill acordou ao som de uma batida na porta do seu quarto, ele soube imediatamente...

É Riley.

Ele disse com uma voz rouca e sonolenta.

“Me dê um minuto, Riley. Encontro você no andar de baixo para o café da manhã, ok?”

"OK” Disse Riley. "Eu vou acordar Jenn."

Bill sorriu quando saiu da cama. Isso não era surpresa. Quando ele tinha ido dormir na noite passada, estava ciente de que Riley ainda estava ruminando sobre o caso. Sua parceira de longa data costumava obter poderosos ataques intuitivos por meio de pesadelos ou insights noturnos. E essas perspetivas muitas vezes eram contrárias às expectativas de seus colegas de trabalho.

Naquele momento, Bill estava contente com isso.

Ele sabia que o ex-marido de Riley aparecendo do nada ontem a abalara um pouco. Apesar de todos os seus anos trabalhando com Riley, Bill nunca havia conhecido Ryan Paige muito bem. Mas Bill nunca gostara dele e Riley não fazia segredo de que Ryan também não gostava dele.

O que Ryan pensava estar fazendo aqui, afinal? Bill se perguntou.

O que quer que ele tenha em mente, o homem certamente causou sua parte de problemas. E Riley parecera desanimada durante o resto do dia.

Este despertar sugeriu a Bill que talvez ela estivesse de volta a si mesma. Se ela tivesse uma ideia nova, a equipe agradecia.

No dia anterior Riley tinha-o convencido de que Bruno Young não era o assassino, o que certamente significava que o verdadeiro assassino estava em algum lugar, pronto para atacar a qualquer hora...

Se não tiver atacado já.

Bill odiava a ideia de deixar Connecticut sem resolver o caso. Ele tinha certeza de que só teriam que voltar depois que alguém fosse morto. Se Riley tivesse pensado em algo novo, isso poderia lhes dar um novo começo.

Ele escovou os dentes, se vestiu e foi até o restaurante, onde Riley e Jenn já estavam se acomodando em uma mesa. Os três rapidamente pediram café, então Bill e Jenn olharam para Riley com expectativa.

Riley respirou profundamente e disse...

"Temos que ir falar com Wesley Mannis."

Bill ficou um pouco desiludido. A repetição de uma reunião infrutífera não era o que ele esperava.

Jenn perguntou sem rodeios, "O que isso vai trazer de bom, Riley?"

Soando um pouco ansiosa, Riley explicou, “Ele viu algo na noite em que Robin Scoville foi morta. Ele pode ter visto aquilo acontecer.”

Bill disse, “Nós já sabemos disso, Riley. Mas ninguém parece conseguir falar com ele agora, nem mesmo sua mãe.”

Jenn acrescentou, "Mesmo aquele terapeuta estranho, Dr. Bayle, não parecia estar fazendo muito progresso na última vez que estivemos lá."

Riley hesitou, depois disse...

"Eu posso chegar até ele."

Jenn olhou para Riley com uma expressão de descrença.

"Oh, Riley, eu não sei" Disse Jenn.

Bill acrescentou, "Não tenho certeza se você entende o que está dizendo."

Riley parecia impaciente agora.

"Eu sei o que estou dizendo" Disse ela. "Nós temos - bem, nós temos algo em comum, Wesley e eu. Algo que eu posso usar para estabelecer uma conexão.”

"O que é?" Jenn perguntou.

"Eu não sei" Disse Riley. "Isso é o que eu tenho que descobrir."

Bill trocou um olhar duvidoso com Jenn.

Riley disse, "Olha, deixe-me tentar, ok?"

Bill encolheu os ombros e disse, “Bem, depende se você consegue permissão para vê-lo. Isso depende da equipe da Wilburton House - Dra. Rhind e Dr. Bayle, especialmente. Não tenho certeza se eles vão querer que você faça isso.”

Os três ficaram em silêncio por um momento. A expressão tensa de Riley era familiar para Bill. Ela costumava usá-la quando estava construindo sua determinação de realizar algum tipo de ação, independentemente do que qualquer outra pessoa pensasse.

Bill sabia por experiência que isso poderia significar problemas.

O garçon chegou com o café e anotou os pedidos. Então Riley pegou abruptamente o celular e começou a fazer uma ligação.

"Quem você está ligando?" Perguntou Bill.

Riley não disse nada, apenas esperou que alguém respondesse.

Então ela disse, “Olá, aqui é a Agente Especial Riley Paige do FBI. Eu poderia falar com a Dra. Rhind, por favor?”

Ela está ligando para a Wilburton House, Percebeu Bill.

Ele sussurrou para ela, "Riley, você tem certeza de que é uma boa ideia?"

Riley não respondeu a sua pergunta. Ela esperou por um momento, depois disse...

“Bom dia, Dra. Rhind. Meus colegas e eu gostaríamos de fazer outra visita a Wesley Mannis.”

Depois de outra pausa, Riley disse...

“Eu entendo suas preocupações, Dra. Não faremos nada que você desaprove. Estaremos em Wilburton House em apenas alguns minutos e falaremos sobre isso.”

Bill também estava familiarizado com essa determinação em sua voz. Ele sabia que era muito difícil alguém dizer não a Riley quando ela manifestava aquela força.

"Obrigada, Dra." Disse Riley. "Vamos já para aí."

Riley terminou sua ligação e disse, "Vamos esquecer o café da manhã. Vamos lá."

Bill reprimiu um suspiro. “OK, mas pelo menos deixe-me ligar para Quantico e notificar o chefe Meredith. Eu também preciso deixar o chefe Brennan saber que não estamos levando o carro de volta imediatamente.”

Enquanto Riley pagava o café, Bill se afastou e pegou o celular. Ele ligou para a delegacia e deixou uma mensagem para Brennan, depois ligou para Quantico. Quando ele colocou Meredith na linha, a primeira coisa que o chefe disse foi...

"Já estão a caminho?"

"Hum, não exatamente" Disse Bill nervosamente.

Meredith rosnou, “Não tenho certeza se gosto do som disso, Jeffreys. Um avião já está a caminho de Tweed – New Haven para buscá-los. Vocês precisam ir para o aeroporto.”

Bill disse, "Receio que não estaremos lá imediatamente".

"Por que não?"

Bill disse, "A Agente Paige acha que pode ser capaz de... descobrir algo sobre o caso."

"Para quê? Não têm já um suspeito sob custódia?”

Bill hesitou, depois disse...

“Sim, temos. Mas a verdade é que Roston, Paige e eu não achamos que ele seja o cara certo.”

Um silêncio tenso caiu.

Então Meredith disse, “Lembre-se do que eu disse antes. Não há mais travessuras. Espero que façam segundo as regras.”

"Sim, senhor" Disse Bill. "Pode contar conosco, senhor."

A ligação terminou e Bill e suas duas colegas foram para o carro.

As próprias palavras de Bill sacudiram novamente em sua cabeça.

"Pode contar conosco, senhor."

Ele reprimiu um suspiro quando ligou o carro.

Espero que possamos manter essa promessa.


*


Durante a curta viagem de carro até Wilburton House, Riley não pôde evitar se lembrar...

Às vezes um sonho é apenas um sonho.

Talvez o pesadelo que ela tivera não significasse absolutamente nada e essa visita a Wesley Mannis seria uma perda de tempo - ou talvez pior, perturbadora e difícil para Wesley.

Ainda assim, ela não conseguia tirar essa imagem da cabeça, de ficar ao lado de Wesley em um precipício e ele dizendo para ela...

"É o abismo."

Parecia que ela e Wesley compartilhavam uma compreensão do lado sombrio da natureza humana. De alguma forma, o sonho parecia se encaixar com suas impressões de Wesley quando o conheceu. Se pudesse encontrar um terreno comum com ele, talvez pudesse convencê-lo a dizer o que quer que ele tivesse visto na noite do assassinato de Robin Scoville.

Quando Riley, Bill e Jenn chegaram a Wilburton House, encontraram a Dra. Rhind esperando por eles, não parecendo tão alegre quanto no encontro anterior.

A médica disse-lhes, “Receio que esta visita seja uma surpresa. Eu vi no noticiário ontem que você tinha um suspeito sob custódia. O caso não está encerrado?”

Riley não queria dizer abertamente que ela e seus colegas achavam que tinham o homem errado.

Em vez disso, disse, "Ainda temos algum trabalho a fazer. Estamos esperando que Wesley esteja pronto para nos ajudar.”

"Não tenho certeza se gosto disso" Disse Rhind, apertando as mãos ansiosamente. “Wesley está muito melhor. Ele está interagindo com outras pessoas novamente, funcionando muito bem. Nós esperávamos que ele pudesse começar a passar o tempo fora da instituição novamente, talvez até mesmo voltar ao seu antigo emprego, ou então conseguir um novo. A última coisa que quero é que ele tenha um revés.”

"Eu entendo" Disse Riley. "Eu prometo que vamos ter cuidado. Mas, diga-me, o Dr. Bayle conseguiu que ele dissesse alguma coisa sobre o que viu na noite do assassinato?”

A Drs. Rhind sacudiu a cabeça. "Tanto quanto sei não. Eu acho que ele teria me dito. O Dr. Bayle decidiu ficar aqui por mais um dia ou dois para ajudar, então nós demos a ele um quarto próprio.”

Bill perguntou, "Onde está o Dr. Bayle agora?"

A Dra. Rhind suspirou e disse...

"Quem me dera saber saber. Ele é um homem estranho. Absolutamente brilhante, mas com alguns hábitos peculiares. Ele vem e vai muito, aparentemente ao acaso. Ele estará falando comigo ou trabalhando com Wesley, então, de repente, ele se levantará e sairá, andará para a direita do edifício sem dizer nada. Às vezes vai embora por várias horas, depois volta e volta ao trabalho sem nenhuma explicação.”

Riley sentiu um arrepio de preocupação com o que estava ouvindo, embora não tivesse certeza do motivo. Ela se lembrava de se sentir perturbada pelo comportamento do terapeuta e, especialmente, pelo inexplicável interesse dele por ela própria.

"Eu sei muito sobre você" Ele disse quando conversaram pela primeira vez ao telefone.

E a Dra. Rhind disse que ele não estava interessado na condição de Wesley imediatamente, mas...

"Assim que eu mencionei o seu nome, Agente Paige, ele ficou ansioso para vir."

Sua curiosidade deixou Riley desconfortável, quase como se ele fosse algum tipo de perseguidor.

E por que aparecia e desaparecia de uma maneira tão misteriosa?

Ela e seus colegas deviamm tentar descobrir?

Talvez não seja o que parece, Pensou.

Enquanto Riley fazia uma nota mental para tentar saber mais sobre Bayle, a Dra. Rhind levou ela, Bill e Jenn para a agradável sala de estar em que Riley tinha reparado durante suas visitas anteriores. Entre os moradores relaxados que descansavam, brincavam e comiam lanches, viu Wesley sentado em uma mesa jogando xadrez com outro jovem. A mãe de Wesley estava por perto, ainda parecendo cansada, mas observando seu filho com atenção.

O parceiro de xadrez de Wesley parecia animado e amigável, e parecia estar conduzindo uma conversa unilateral com Wesley enquanto jogavam. Por outro lado, Wesley mantinha os olhos focados no tabuleiro de xadrez, aparentemente imperturbável pela tagarelice distrativa do parceiro.

Riley lembrou da última vez que vira Wesley, se recuperando de um colapso naquela estranha engenhoca chamada "máquina de apertar".

Sim, ele definitivamente está melhor, Pensou Riley.

A última coisa que ela queria era causar-lhe um revés. Ou, se perguntou, a última coisa que queria fazer era sair da cidade sem encontrar o assassino?

Alguém mais vai morrer se não conseguirmos isso, Pensou.

Quando Gemma Mannis olhou para cima e viu os agentes se aproximando com a Dra. Rhind, pareceu desconfortável.

"Eu não estava esperando vocês de volta" Disse ela. "Eu pensei que os assassinatos tivessem sido resolvidos."

Desta vez, Bill falou com tato, "Temos um suspeito sob custódia, mas ainda temos algumas coisas para resolver".

Riley sabia que seria melhor se ela pudesse falar com Wesley. Por um lado, ela ainda não tinha certeza do que esperava que pudesse realizar.

Riley disse a Gemma, "Eu não posso imaginar o quão dura a vida tem sido, tanto para você quanto para Wesley. Eu só preciso perguntar se você pode pensar em incidentes traumáticos específicos que possam ter um efeito de longa data sobre ele?”

Gemma suspirou profundamente e disse, “Incidentes traumáticos! Oh, Agente Paige, temo que a vida tenha sido um longo incidente traumático para o pobre Wesley.”

A Dra. Rhind assentiu e acrescentou: “Os pesquisadores apenas recentemente começaram a descobrir a extensão da síndrome do estresse pós-traumático entre os autistas. É um problema muito mais comum do que se pode imaginar.”

Gemma continuou, “As coisas estão apenas começando a melhorar para Wesley. Mas crescer com sua deficiência foi terrivelmente difícil. Ele sempre foi intimidado e evitado por outras crianças, nunca teve amigos de verdade e...”

Gemma hesitou por um momento, depois disse...

“Eu me lembro de quando ele era um garotinho, ele foi convidado para uma festa na piscina local. Meu marido e eu - nós ainda éramos casados ??naquela época - tínhamos esperanças de que ele se divertisse, talvez fosse atraído para fora de seu pequeno mundo solitário. Mas enquanto ele estava lá, nós...”

Gemma engoliu em seco e disse, "Recebemos um telefonema do salva-vidas dizendo que Wesley quase se afogara e que precisávamos ir buscá-lo".

Gemma parecia à beira das lágrimas agora.

“Nós nunca fomos capazes de descobrir exatamente o que aconteceu. As crianças com quem ele estava acabaram dizendo que fora um acidente. Wesley não sabia nos dizer nada, mesmo que ele entendesse o que acontecera. Mas eu sempre temi que ele tivesse sido vítima de alguma brincadeira que deu errado. As crianças podem ser terrivelmente cruéis, especialmente para uma criança diferente. Mas eu também temia... que algo ainda pior pudesse ter acontecido em algum momento. Algo que eu ainda não sei.”

Gemma se virou por um momento, tentando controlar suas emoções. Então ela se virou para o grupo e disse...

"Naquela época, ele me dizia de tempos em tempos, " Mãe, eu não quero mais viver. Eu só quero morrer.” A maneira como ele o dizia não era em tom de auto-piedade, mais como uma declaração de fato. E muitas vezes me pergunto se talvez naquela festa ele decidiu que bastava e...”

A voz de Gemma desapareceu, mas Riley sabia o que ela estava deixando por dizer. Talvez a sobrecarga sensorial da festa, todas aquelas outras crianças rindo e gritando e compartilhando alegrias que ele não conseguia entender, tenha sido demais para ele. E é claro, as crianças de lá provavelmente haviam evitado ou sequer brincado com ele.

Talvez estivesse farto, Pensou Riley.

Talvez tenha decidido se matar.

Chocou-a profundamente que ninguém que se importasse com ele pudesse ter certeza. O segredo estava trancado dentro da mente solitária de Wesley, provavelmente para nunca para ser revelado.

Riley engoliu em seco. Ela se sentia verdadeiramente fora de sua zona de conforto.

Talvez seja uma má ideia, Pensou.

Talvez eu nem devesse tentar.

Então Gemma disse a ela, "Presumo que queira falar com Wesley."

Riley assentiu e disse, "Só se você me der permissão."

Gemma suspirou novamente. "Bem, a minha permissão não conta muito, pois não? Tudo depende de Wesley.”

Naquele momento, o parceiro de xadrez de Wesley derrubou seu rei, concedendo o jogo com um sorriso bem-humorado. Wesley ficou olhando para o tabuleiro como se ainda estivesse analisando o jogo.

Gemma foi até Wesley e sussurrou algo em seu ouvido. Riley viu seus lábios se moverem enquanto ele sussurrava algo em resposta. Então ele se levantou de sua cadeira e caminhou com sua mãe para Riley e os outros.

Parecendo um pouco surpresa, Gemma disse...

"Ele diz que quer falar com você."

Wesley assentiu e disse em uma voz plana e sem tom...

“Em algum lugar mais tranquilo, no entanto. Nós deveríamos voltar para o meu quarto.”

Sem outra palavra, ele se virou e caminhou para o corredor.

Riley e os outros o seguiram.

Riley sentiu-se sem fôlego com a antecipação. Ela não tinha ideia do que esperar.

Quando chegaram ao quarto, Wesley continuou na frente dos outros. Riley olhou para Bill e Jenn. Os dois assentiram e se afastaram para esperar do lado de fora da porta. Depois de um momento de hesitação, a Dra. Rhind e Gemma também ficaram de fora.

Riley entrou no quarto. Wesley estava sentado em sua mesa, então ela se sentou em frente a ele.

Olhando para a mesa, Wesley disse...

"Mamãe diz que você é uma agente do FBI."

"Isso mesmo" Disse Riley.

"Acho que isso é realmente interessante" Disse Wesley. "Eu gostaria de saber mais sobre isso. Não que eu pudesse ser um agente do FBI. Obviamente, eu nunca vou poder fazer algo assim. Eu só não tenho as... habilidades. Ainda assim, gostaria de saber algumas coisas.”

Riley ficou surpresa com o fluxo de palavras. Embora sua voz ainda estivesse sem expressão, Wesley era obviamente mais comunicativo do que ela esperava.

Então ele ficou em silêncio, ainda olhando para a mesa.

Riley se perguntou se ele estava esperando ela dizer alguma coisa.

Como deveria começar?

Sem olhar para cima, Wesley falou novamente. “Você deve ver e experimentar muitas coisas terríveis, fazendo o trabalho que você faz. Coisas do mal. Coisas terríveis"

Riley balançou a cabeça lentamente e disse, "Isso mesmo".

Wesley levantou os olhos pouco, sem olhar diretamente para ela.

“Bem, o que eu gostaria de saber é… como você lida com isso? Como você lida com tudo isso? Emocionalmente, quero dizer.”

Riley sentiu um arrepio de fascinação quando se perguntou...

É este o seu modo de começar a se abrir sobre o que ele sabe?

Ou ele estava realmente apenas curioso sobre o que era ser um agente do FBI?

De qualquer forma, ele apenas fez uma pergunta muito boa - e surpreendentemente, era uma pergunta que poucas pessoas se davam ao trabalho de lhe perguntar.

Ela percebeu que não tinha motivos para não responder honestamente.

"É difícil, Wesley" Disse ela. "Há todos os tipos de maldades no mundo e é meu trabalho tentar impedir isso. Mas ninguém pode pará-lo, não realmente. Com certeza não toda a maldade.”

Wesley assentiu levemente e disse...

"Você não pode mudar a natureza humana."

Riley sentiu um choque de espanto com esta observação.

Tão perceptivo - tão certo.

No momento, era quase difícil lembrar que Wesley sofria de uma deficiência mental.

"Isso é verdade" Disse Riley, sentindo-se estranhamente livre para falar honestamente sobre coisas que normalmente mantinha para si mesma. "E às vezes faz meu trabalho parecer - bem, fútil, como se eu não estivesse fazendo nada de bom."

Olhando para um lado, Wesley disse...

“Mas você está bem. Você está apanhando assassinos. Você está colocando eles na prisão. Você está tornando o mundo um pouco mais seguro. O que mais você pode pedir de si mesma?”

Os olhos de Riley se arregalaram e sentiu sua respiração acelerar.

Sua monotonia estranhamente mecânica tornava seus comentários perspicazes ainda mais desarmadores.

"Eu não sei" Disse ela. “Mas vem com o trabalho, eu acho - esperando o impossível de você mesmo. De qualquer forma, em resposta à sua pergunta sobre como eu lido co isso... Eu tento compartimentalizar muito, manter diferentes aspectos da minha vida tão separados quanto eu posso. Por exemplo, tenho uma família, mas tento não levar todo esse mal para casa.”

Ela não conseguia manter um tom de desespero fora de sua voz quando acrescentou...

"Nem sempre o consigo."

A testa de Wesley se enrugou.

Então ele disse, “Você diz que compartimentaliza. Eu entendo isso. Eu também acho que isso faz parte do meu problema. Eu faço muito isso. Eu faço isso praticamente o tempo todo”.

Riley ficou ansiosa quando percebeu...

Ele realmente quer me dizer alguma coisa.

Essa estranha discussão que eles estavam tendo parecia ser sua maneira indireta de tentar dizê-lo.

Ela disse devagar e com cautela...

“Wesley, eu sei que você viu algo da última vez que saiu para trabalhar. Foi algo terrível, algo muito difícil de verbalizar. Mas eu preciso que você me diga... se você puder.”

Wesley olhou para o tampo da mesa novamente.

Em um sussurro quase inaudível, ele disse...

"Janelas."

Riley se inclinou para ele um pouco.

Ela disse, "Você viu algo através de uma janela, não viu?"

"Eu não sou um voyeur" Disse ele.

"Eu sei que você não é um voyeur" Disse Riley.

Wesley parecia estar se afastando dela.

Riley se perguntou: eu vou perdê-lo?

Então ele repetiu essa palavra novamente...

"Janelas."

Depois de uma pausa, acrescentou, “A primeira vez que olhei. A última vez que olhei.”

Ele respirou longa e lentamente.

Então ele disse...

“Eu acho que posso... Agente Paige. Eu acho que posso te dizer uma coisa que... nunca contei a ninguém.”


CAPÍTULO VINTE E TRÊS


O homem sentiu uma pontada no pé e no tornozelo enquanto passeava pela calçada. Gemeu um pouco ao perceber...

Está começando de novo.

Por que a dor sempre tinha que atacar quando ele estava no exterior, tentando ser discreto, procurando seu próximo alvo? Aliás, por que ele tinha que sofrer essa dor?

Essa lembrança cruel do sofrimento de sua infância havia chegado e desaparecido várias vezes durante sua vida, mas na década mais recente havia desaparecido completamente. Por anos ele pensou que tinha colocado isso para trás para sempre.

Mas a dor estava de volta. Durante vários meses, isso se repetira em momentos raros, mas inesperados.

Estava ficando pior.

O que eu fiz para merecer isso? Ele se perguntava.

Ele abanou a cabeça diante da inútil pergunta retórica. Ele sabia perfeitamente bem...

Nada. Eu não fiz nada para merecer isso.

A vida lhe fizera uma grave injustiça, pura e simples.

Ele também sabia perfeitamente o que faria a dor parar.

Felizmente, o homem podia ver um charmoso café na calçada no final do quarteirão. Mesas e cadeiras pequenas estavam agrupadas atrás de um muro baixo, e plantas floridas pairavam no alto. Era bom, ele pensou, que o tempo estivesse ameno o suficiente para que a parte externa desse restaurante estivesse aberta. Ele poderia sentar lá e aproveitar o sol e ar fresco por um tempo. Se tivesse sorte, a dor diminuiria um pouco antes que precisasse estar a caminho, procurando novas presas

Tomando cuidado para não mancar ou mostrar seu desconforto, ele caminhou até a entrada e esperou até que a garçonete o abordasse com um menu e lhe indicasse uma pequena mesa a um lado. Uma vez sentado, soltou um suspiro de alívio. Só sentado aliviava um pouco a dor. Mas o que aconteceria quando ele tentasse se levantar de novo? Ele tomava um comprimido para a dor quando o garçon lhe trouxe um pouco de água, mas ultimamente os comprimidos não lhe faziam bem.

Ele sabia o que era necessário. Ele sabia que quando cumprisse seu dever, a dor desapareceria como magia e ele teria pelo menos alguns dias de conforto.

Enquanto isso, ele estava feliz por ter chegado ali na altura certa. Uma fila estava começando a se formar na entrada do café. Ele foi poupado a provação de ficar ali esperando por uma mesa.

O segundo na fila era uma jovem que imediatamente captou sua atenção. Ela era incrivelmente bonita, com características faciais primorosamente esculpidas e um corpo igualmente bem formado.

Uma modelo? Interrogou-se.

Não, as roupas dela não sugeriam isso. Ela estava usando uma roupa bonita – mas possivelmente comprada numa loja de roupa barata, uma compra inteligente e sensata que revelava a inteligência da mulher. Agitado por sua beleza, ele desejou poder dirigir-se a ele e se apresentar. Mas então ele se lembrou...

Esses dias acabaram para mim.

Com a recente recorrência de sua dor, descobrira um propósito ardente na vida e impedia que emaranhados fugazes e agradáveis ??como a fantasia que agora estava se formando em sua mente se intrometessem.

Quando o garçom chegou, o homem pediu um sanduíche de atum. Ele engoliu um comprimido para a dor com um copo de água. Então viu que a garçonete escoltava a moça até a mesa dela. Ao vê-la por trás, notou algo que não poderia ter visto antes.

Havia pequenas cicatrizes avermelhadas nas dobras dos joelhos.

E logo percebeu...

Lipoaspiração.

A boa aparência dessa mulher fora fabricada muito recentemente. Apenas algumas semanas atrás ou talvez alguns dias atrás, ela tinha sido marcadamente menos elegante e atraente do que era agora.

Enquanto ele a observava, se perguntou - quanto trabalho cirúrgico ela tinha feito?

Muito, Adivinhou.

O que significava que aquelas duas pequenas cicatrizes que ele vira não eram as únicas. Ela estava destinada a ter cicatrizes semelhantes em todo o corpo - minúsculas picadas nas coxas, nas costas, nas nádegas e na barriga. Se ele pudesse vê-la mais de perto, certamente veria pequenas marcas semelhantes em seus braços.

Artificial, Pensou, suprimindo um tremor.

Agora que estudava o seu rosto com mais cuidado, notou uma rigidez parecida a um manequim em suas feições.

Cirurgia plástica.

Ele se perguntou como ela seria antes de toda aquela cirurgia? E por que ela fizera isso? Alguns cenários passaram por sua cabeça. Talvez ela tenha sofrido um acidente terrível e sido desfigurada. Ou talvez ela simplesmente não fosse muito bonita, com características desagradáveis ??e um corpo atarracado.

De qualquer maneira, ela fora o tipo de presa que ele estava caçando...

Imperfeita.

A cirurgia não corrigiu nada, não realmente, não abaixo da superfície. Essas velhas falhas ainda estariam lá, visíveis para qualquer um que soubesse como olhar. Ainda pior, ao tentar se aperfeiçoar, ela acabara por criar novas falhas. Suas várias cicatrizes podem curar e se tornar quase invisíveis, mas elas ainda estariam lá.

Ele sentiu um flash de raiva em relação a ela com o pensamento dessas falhas.

Ela mesma era uma cicatriz em um mundo que deveria consistir apenas do perfeito.

Mas ele rapidamente se lembrou...

Não fique com raiva.

Você deve permanecer composto.

Afinal, ele estava realizando uma espécie de cirurgia própria, extraindo imperfeições da sociedade humana. Um cirurgião nunca se deixa controlar pelas emoções. E seu modo de matar requeria um extraordinário grau de precisão e habilidade.

Até agora, ele conseguira realizar sua missão com a pureza de foco necessária.

Mas quando e como ele iria removê-la?

Uma possibilidade ousada lhe ocorreu...

Por que não aqui e agora?

Seria um desafio, claro, mas dificilmente impossível. Ele trazia seu picador de gelo na pasta e podia escondê-lo no guardanapo de pano e caminhar até ela. Ele poderia agir como se quisesse se apresentar e então se mover com tanta destreza que ninguém notaria seu rápido movimento no ouvido dela. Ela podia nem mesmo cair de imediato. Talvez ele pudesse sair do restaurante antes que ela misteriosamente desmoronasse, aparentemente por alguma causa natural.

Então ele silenciosamente se repreendeu...

Não seja ridículo.

Os clientes e funcionários tinham-no visto. Eles poderiam identificá-lo mais cedo ou mais tarde. Não, ele tinha que atraí-la para outro local e matá-la lá.

Sentiu uma súbita pontada de alarme quando seus olhos encontraram os dela.

Ela me vê olhando para ela.

Mas então ela sorriu e se levantou da mesa e caminhou na direção dele.

Ela disse com uma voz de flerte...

"Eu vejo que nós dois estamos aqui sozinhos. Você gostaria de alguma companhia?”

Ele sorriu de volta para ela e disse, "Obrigado, isso seria bom."

Ele às vezes esquecia que era considerado um homem razoavelmente bonito que era atraente para algumas mulheres. Como as coisas estavam acontecendo, sua boa aparência provavelmente seria bastante oportuna para seus propósitos.

A mulher sentou-se e apresentou-se como Dawn. Ele mentiu e disse que seu nome era Scott. Quando eles começaram a trocar gentilezas, ele se viu pensando em uma mulher diferente que tinha estado em sua mente ultimamente...

Agente Riley Paige.

Ela era muito mais intrigante do que essa beleza falsa que tagarelava sobre nada de interesse para ele.

Riley Paige era uma mulher saudável, vigorosa e bonita. Ele sabia que algumas pessoas a considerariam atraente. Embora ele tivesse certeza de que Riley Paige nunca havia usado a cirurgia para melhorar sua aparência, teve que se perguntar se ela abrigava imperfeições que não eram imediatamente visíveis. Sim, certamente uma vida de combate ao crime deixaria sua parte de cicatrizes, tanto emocionais quanto físicas.

Ele gostaria de descobrir.

Ele se perguntou se talvez devesse visar ela em seguida, depois dessa vítima.

Ou talvez devesse esquecer esta e ir atrás de Riley Paige.

A ideia de atrair uma delas para algum lugar mais privado estava começando a atraí-lo. Seria divertido brincar com sua presa por um tempo. Isso certamente seria uma mudança de ritmo, uma maneira de manter as coisas frescas e interessantes.

Mas ele se lembrou de que não estava fazendo isso para sua própria satisfação.

Ele estava realizando um serviço para a humanidade.

É claro que não poderia começar a livrar o mundo de todas as pessoas com falhas. Mas era seu dever fazê-lo quando e onde pudesse.

Parecia triste que ninguém soubesse o que ele estava fazendo pelo mundo. Mas tinha que ser suficiente ele saber e que pudesse ter satisfação em seu trabalho.

É um trabalho solitário, Pensou. Mas tem de ser feito.

E de qualquer maneira, ele conseguia uma recompensa particular.

Assim que matasse, a dor diminuiria. Ele se sentiria bem, pelo menos por um tempo.

Isso é algo desejável, Pensou com um sorriso.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Riley sentou-se em frente a Wesley Mannis, esperando que ele falasse novamente. Ele apenas dissera que achava que poderia contar...

"... algo ... que nunca disse a mais ninguém."

Mas então parou.

Ele estava apenas olhando para a mesa, sem dizer nada.

Seu silêncio persistente a preocupou. Ela se perguntou se deveria chamar a Dra. Rhind e a mãe de volta para a sala para ver se poderiam ajudar.

Não, Wesley tinha deixado uma coisa clara. Ele sentiu algum tipo raro de conexão pessoal com Riley. Ele acreditava que poderia se comunicar com ela de uma forma que não era possível com os outros.

Riley sabia que tinha que esperar até que ele estivesse pronto para dizer o que quer que estivesse em sua mente.

Será que lhe queria contar o que tinha visto na noite em que Robin Scoville fora morta? Se sim, ele realmente poderia fazer isso? Seria capaz de comunicar algo tão profundamente traumático? Ela entrevistou pessoas com muito menos problemas cognitivos que tiveram dificuldade em lembrar, e muito menos descrever, essas experiências perturbadoras.

Se era isso que Wesley estava tentando fazer, ela tinha que ajudá-lo sem auxílio externo.

Ela não se lembrava de se sentir tão assustada com uma entrevista, tão desesperadamente fora de sua zona de conforto.

Para piorar as coisas, Wesley parecia estar entrando em seu próprio mundo novamente. Ela desejou poder simplesmente pressioná-lo a fazer contato visual, como faria em qualquer outra situação do gênero.

Mas é claro que ela se lembrava do que a Dra. Rhind dissera sobre o contato visual.

"Só a tentativa de fazer esse tipo de conexão pessoal o sobrecarrega, pode levá-lo a um colapso."

Ela se lembrou de seu último colapso com pavor. Qualquer coisa assim acabaria com sua tentativa de se comunicar.

Não force as coisas, Pensou.

Riley viu que a "caixa de apertar" ainda estava na sala, pronta e disponível para o caso de ele ter um colapso. Mas ela também se lembrava de quão habilmente o Dr. Bayle o persuadira a ir para a engenhoca. Bayle não estava ali agora para fazer isso. A Dra. Rhind estaria à altura da tarefa?

E onde diabos está Bayle, afinal?

A Dra. Rhind dissera sobre Bayle: "Ele desaparece muito, aparentemente ao acaso".

Quanto mais Riley pensava sobre o Dr. Bayle, mais desconfortável se sentia - e vagamente suspeita também. Mas agora não havia tempo para se deixar preocupar com o terapeuta peculiar...

Mantenha-se focada.

A melhor tática parecia ser ficar alerta, atenta e silenciosa, e deixar Wesley falar quando se sentisse preparado.

Finalmente Wesley murmurou...

"Havia uma gaiola."

Aquelas quatro palavras ecoaram na cabeça de Riley...

Uma gaiola?

O que uma gaiola tem a ver com a morte de Robin Scoville?

Então Wesley disse...

“Havia uma gaiola. Havia uma janela.”

Riley tentou entender o que Wesley dizia...

Uma gaiola? Uma janela?

Então ela se lembrou de como esperava alcançar Wesley. Se pudesse encontrar um terreno comum, alguma experiência compartilhada, ele poderia confiar nela o suficiente para compartilhar o que havia testemunhado.

Ela engoliu em seco quando percebeu...

Uma gaiola.

Sim, ela sabia algo sobre gaiolas.

Mas deveria contar a ele sobre aquele episódio terrível em sua vida? Ajudaria ele a se abrir para ela?

Eu tenho que tentar, Pensou.

Com uma voz lenta e cautelosa, disse, "Wesley, eu estive trancada em uma jaula".

Wesley levantou a cabeça - e pelo que pareceu uma fração de segundo, seus olhos realmente se encontraram com os de Riley.

Olhando para a mesa novamente, ele disse, "Conte-me sobre isso."

Por onde poderia começar? Sam Peterson tinha sido um louco sádico que havia capturado e atormentado mulheres até finalmente as matar.

Uma das mulheres que ele havia capturado tinha sido a própria Riley.

Sua última vítima pretendida fora April.

Então Riley e April o mataram juntas.

Ambas sofreram de SPT terrível durante as semanas seguintes. Mesmo agora, essas lembranças eram cruas e aterrorizantes quando surgiam. O que Riley poderia dizer sobre essa experiência hedionda sem ficar muito instável naquele momento?

Forçando-se a falar com calma, ela disse, “Um homem terrível me trancou em uma jaula. Ele me manteve em total escuridão por dias a fio. Ele... me ameaçou com um maçarico, que foi a única luz que eu vi enquanto fui sua prisioneira. Eu pensei que nunca sairia dali. Eu pensei que ia ter uma morte horrível.”

Mas eu saí, Pensou Riley.

Então, mais tarde, depois de salvar April das garras de Peterson, ela o espancou selvagem e por vinhança até a morte. April a ajudara a derrota-lo e assistiu ao seu espancamento.

Teria que contar tudo isso a Wesley?

Que bem faria?

Riley ficou aliviada quando Wesley falou baixinho.

"Isso deve ter sido terrível."

Riley assentiu e disse, “Foi terrível. Acho que nunca passei por algo tão mau. E não falo sobre isso para a maioria das pessoas.”

Wesley movia o dedo de um lado para o outro na mesa, observando-o de perto.

Ele está tendo aquele comportamento novamente, Riley percebeu.

Então ele disse, “Foi diferente para mim. Você estava dentro de uma jaula. Eu não estava dentro. Eu estava do lado de fora. E eu..."

Sua voz sumiu.

"Diga-me" Disse Riley.

Ele piscou os olhos e franziu a testa, como se estivesse imerso em pensamentos.

"Eu tinha nove anos" Disse ele. “Eu estava olhando pela janela da sala. Estava um dia ensolarado. No quintal ao lado do nosso, as rosas da Sra. Roberts estavam florescendo. Ela as regara mais cedo naquela manhã. Havia dois carros estacionados na rua, um Chevrolet azul e um Volkswagen preto. O Volkswagen precisava de uma lavagem. Eu conseguia ver três garotos do outro lado da rua - eram valentões que sempre me tinham tratado mal. Eles tinham uma pequena gaiola com um cachorrinho trancado dentro. Eles estavam... atormentando o cachorro, provocando-o, cutucando-o com uma vara na gaiola. E eu…"

Mesmo que Wesley tenha descrito todos os detalhes no mesmo tom plano, Riley sentiu que ele estava lutando com a memória.

"Eu não fiz nada" Disse ele. “Eu fiquei dentro olhando pela janela. Eu não saí e tentei pará-los. Eu não saí porque minha mãe me disse para ficar dentro de casa. Eu não deveria sair porque os garotos eram ruins comigo. Mas eu..."

Ele parou de novo, depois falou com uma voz firme...

“Eu deveria ter saído. Eu deveria tê-los impedido de fazer o que estavam fazendo. Eles me intimidavam o tempo todo, mas isso não era tão ruim quanto o que eles estavam fazendo com o cachorrinho. O cachorrinho não merecia isso.”

Riley ficou chocada com seu comentário.

"Você também não merecia, Wesley" Ela disse.

"Talvez não" Disse Wesley. “Mas eu poderia pelo menos descobrir por que eles me odiavam. Eles me odiavam porque eu era diferente e não entendiam porque eu era diferente. Eu não os entendi também. Mas o cachorrinho não entendeu nada. O cachorrinho não sabia por que estava sendo maltratado. O que os meninos estavam fazendo era errado. Eu deveria ter feito alguma coisa.”

Seu corpo se curvou um pouco, como se estivesse soltando algum fardo interno.

Riley ficou de coração partido com pena do pobre rapaz. Ele carregava essa culpa dentro de si mesmo há muitos anos. Ele vivera com algum tipo de estresse pós-traumático muito mais tempo do que ela e, é claro, ficou ainda pior por sua incapacidade de contar a alguém. Tanto Riley quanto April procuraram um terapeuta para recuperar o equilíbrio em suas vidas. Wesley tinha visto muitos terapeutas, mas nunca fez uso total de suas habilidades.

O que quer que ele tenha visto na janela de Robin Scoville, renovou seu trauma com uma força ainda maior.

E a razão pela qual ele foi capaz de dizer a Riley foi porque...

Ele sabe algo sobre mim.

Ele sabe que também entendo como as pessoas podem ser cruéis.

As pessoas foram cruéis com ele a vida toda.

Como ele, olhei em um abismo.

Riley podia pressentir uma dor profunda na mente confusa deste jovem, diferente da escuridão que ela às vezes encontrava em si mesma. Por um momento, sentiu-se recuar enquanto o observava tentar encontrar o caminho através de uma estranha selva de emoções e pensamentos confusos.

Mas, apesar de seus próprios escrúpulos, ela teve que mantê-lo em direção a um evento específico...

Riley se lembrou de algo que ele disse no começo da conversa sobre janelas.

“A primeira vez que eu estava olhando. A última vez que eu estava olhando.”

Algo estava começando a fazer sentido para ela.

Ele estava tentando dizer que ele teve duas experiências traumáticas olhando através de janelas. A primeira vez que ele estava olhando para fora - era quando ele era criança observando esses valentões atormentando o cachorrinho.

A segunda vez ele estava observando...

O assassinato de Robin Scoville.

Enquanto ele continuava correndo o dedo para a frente e para trás sobre a mesa, Riley queria estender a mão e apertá-lo gentilmente.

Mas ela se lembrou de algo que a Dra. Rhind havia dito sobre pessoas autistas como Wesley.

"Eles precisam desesperadamente de segurança física, um abraço - e ainda assim não podem tolerar o contato humano".

Não toque nele, Riley disse a si mesma.

Ele certamente teria um colapso se ela o fizesse.

Riley disse a ele, “Wesley, você pode me contar sobre a segunda vez que olhou pela janela - quando estava olhando? Você pode me dizer o que viu?”

Seu rosto se contraiu, como se estivesse tentando reunir coragem e determinação.

Mas então descontraiu novamente.

"Não adianta, agente Paige" Disse ele. "Eu não posso te dizer isso. Eu quero te dizer, mas... é como se eu estivesse em uma gaiola. No escuro. Eu acho que você sabe... como é.”

Riley suprimiu seu próprio sentido de horror...

Sim eu sei.

Eu sei o que é isso muito bem.

Riley também sabia que ele havia dito tudo o que podia, pelo menos agora. Era desanimador, mas ela também reconheceu o seu alívio. Sabia que tinha que superar isso para ajudar Wesley a conseguir alcançar suas próprias memórias más.

O que seria necessário?

Nesse momento, alguém bateu na porta.

Este é um bom momento para ser interrompida, Riley pensou.

"Entre" Disse ela.

A Dra. Rhind entrou na sala com seu celular.

"Espero não interromper, agente Paige" Disse ela. "É só que eu tenho o Dr. Bayle na linha. E ele quer falar com você.”

"Comigo?" Riley disse com surpresa.

A Dra. Rhind assentiu e entregou o telefone a Riley.

Ela ouviu o Dr. Bayle dizer em sua voz estranha e plana...

“Eu estava ligando para falar com a Dra. Rhind. Ela diz que você está aí agora. Você tem conversado com Wesley?”

Riley sentiu um flash de preocupação.

Ele vai desaprovar? Perguntou-se.

Ela disse, "Sim, eu estava conversando com ele antes de você ligar."

"Você está falando com ele?" Bayle perguntou.

"Acho que sim."

Um longo silêncio caiu. Riley se perguntou se talvez a ligação tivesse sido desconectada.

Então Bayle disse em um tom que lhe pareceu vagamente sinistro...

“Quero me encontrar com você, agente Paige. Imediatamente. Você vai me encontrar no aquário Szymko.”

"Tudo bem" Disse Riley. "Os agentes Jeffreys, Roston e eu iremos ao seu encontro."

"Não" Bayle disse, sua voz um pouco afiada. “Eu devo insistir em falar com você sozinha. Particularmente.”

Agora Riley ficara intrigada.

Sozinha?

"Sobre o quê?" Riley perguntou.

"Eu só quero conversar" Disse Bayle. "Nos encontramos daqui a pouco."

Sem outra palavra, Bayle desligou a ligação.

Riley olhou para a Dra. Rhind e disse, "A que distância fica o aquário Szymko?"

A Dra. Rhind encolheu os ombros. “Não muito longe, logo à saída da cidade. Talvez a quinze minutos de carro. Eu posso te dar indicações.”

A Drs. Rhind explicou como chegar ao aquário e Riley colocou o trajeto no celular. Então ela saiu para o corredor, onde Bill e Jenn estavam esperando.

Riley disse a eles, “Eu preciso levar o carro por um tempo. Preciso ir até o aquário Szymko.”

"Para quê?" Jenn perguntou.

Quando Riley contou sobre o telefonema estranho, Bill e Jenn trocaram olhares cautelosos.

Bill disse, "Isso soa muito estranho, Riley".

Riley não respondeu, mas certamente não poderia discordar.

Jenn respirou longa e profundamente e disse, "Olha, eu não queria dizer nada, já que não temos nenhuma evidência apontando para ele... mas eu tenho suspeitado do Dr. Bayle desde que o conhecemos."

Bill olhou para Jenn com surpresa e disse, "Você também?"

Riley ficou surpresa ao ouvir as suspeitas mútuas de seus parceiros. A verdade é que, até agora, não havia ocorrido a Riley imaginar que o Dr. Bayle mais do que um mero excêntrico.

Jenn disse a Dra. Rhind, “Você mencionou que ele desaparece em momentos estranhos e de uma maneira estranha. Você sabe onde ele estava ontem de manhã, ao amanhecer?”

A Dr. Rhind ficou chocada.

“Você quer dizer quando aquele homem foi morto?” Ela disse. "Certamente você não acha...?"

Ela fez uma pausa, depois abanou a cabeça e acrescentou, “Não, você não deve suspeitar do Dr. Bayle. Ele tem uma excelente reputação. Tenho certeza de que ele nunca faria nada como… o que você imagina.

"Mesmo assim, você poderia verificar por nós?" Riley perguntou.

Usando seu celular, a Dra. Rhind conseguiu obter um registro de entradas e saídas do edifício.

Ela disse, "Eu não vejo nada que sugira que o Dr. Bayle não estava aqui, provavelmente em seu quarto".

A preocupação de Riley estava aumentando.

Isso não significa nada, Pensou.

Embora a segurança do edifício parecesse bastante adequada, era fácil imaginar alguém que conhecesse bem o edifício a entrar e a sair sem ser notado, especialmente naquela manhã.

Riley disse para seus companheiros, “De qualquer forma, ele está me esperando. É melhor eu ir para lá.”

Jenn piscou os olhos e disse, "Eu não tenho certeza se gosto disso, Riley".

"Eu também não" Disse Bill.

Riley forçou uma risada leve e disse...

"Olha, vocês dois estão preocupados com nada. Eu vou encontrar-me com ele em um aquário - um lugar público seguro. Ele não vai tentar nada lá. E de qualquer forma, haverá guardas de segurança por perto para ajudar se necessário. Não que eu não possa cuidar de mim mesma. Eu acho que vocês dois sabem disso.”

Bill arrastou os pés e disse, “Pelo menos vamos para lá juntos. Jenn e eu podemos sentar do lado de fora do aquário no carro. Nós estaremos lá caso você precise nos enviar uma mensagem para ajudar.”

Riley não viu razão para não concordar com esse plano.

Ela e seus colegas saíram da instalação e entraram no carro. Durante a curta viagem até o aquário, Riley repetia em sua mente o que Bayle havia dito a ela pelo telefone.

“Eu devo insistir em falar com você sozinha. Particularmente.”

Ela desejou saber por que ele dissera aquilo.

Mas parece que estou prestes a descobrir.


CAPÍTULO VINTE E CINCO


Seus parceiros estavam obviamente instisfeitos com sua decisão e Riley entendeu sua preocupação. Ela mesma se sentia apreensiva, no mínimo.

Quando Bill estacionou o carro em frente ao Aquário Szymko, Jenn fez mais uma tentativa para que Riley mudasse de opinião.

"Tem certeza de que não quer que Bill e eu entremos? Pelo menos no edifício? Podemos ficar fora do local onde você se encontrar com ele.”

"Não, acho melhor fazer exatamente o que Bayle diz" Disse Riley. "Eu não quero fazer nada que possa assusta-lo e levá-lo a fugir."

"Eu não estou preocupada que você o assuste" Jenn resmungou. "Eu continuo a não gostar disso."

"Nem eu" Disse Bill para Jenn. "Mas a decisão é de Riley e acho que ela está a altura de lidar com o médico se ele for a pessoa que procuramos. Além disso, nós estaremos bem aqui se ela precisar de ajuda.”

Riley saiu do carro, entrou no edifício e comprou um ingresso. Enquanto continuava no labirinto de monitores, ficou deslumbrada com as enormes janelas de vidro que revelavam coloridas criaturas do mar movendo-se graciosa e languidamente pela água. Ela percebeu que fazia um longo tempo desde que visitara um aquário.

Eu não estou aqui para passear, Lembrou a si mesma.

Riley encontrou o local do tanque de tubarões no mapa e andou diretamente para lá.

E logo viu o Dr. Bayle sentado em um banco olhando para o tanque. Nadando incansavelmente dentro do tanque havia vários tubarões, todos com seis ou sete pés de comprimento. Riley estremeceu um pouco. Ela se esquecera de como tubarões a perturbavam, com suas guelras sulcadas, olhos mortos e bocas famintas.

Ninguém mais estava na sala no momento. Riley lembrou a si mesma...

Se ele é o assassino, é rápido e preciso.

Ela tinha que estar alerta.

Riley colocou-se ao lado do Dr. Bayle, que disse sem sequer olhar para ela...

"Diga-me, agente Paige - como foi sua entrevista com Wesley?"

Parecia uma maneira abrupta de começar uma reunião que Riley já achava intrigante.

E de qualquer forma, o que eu devo dizer a ele?

Como o Dr. Bayle era o terapeuta de Wesley, ela deveria lhe dar todos os detalhes - incluindo a história de Wesley sobre os valentões que atormentavam o filhote de cachorro enjaulado? Isso não parecia certo de alguma forma. Ela se lembrava de Wesley dizer...

"Acho que posso contar uma coisa que nunca contei a mais ninguém."

E então ele disse a ela o que aparentemente achava ser um dos seus segredos mais profundos e sombrios.

Ele confia em mim, Pensou Riley.

Ela não queria violar essa confiança.

Por outro lado, não havia motivo para mentir.

Ela disse, "Ele não me disse o que eu precisava saber".

"Quem matou Robin Scoville" Disse Bayle, sem tirar os olhos dos tubarões. "Ou, pelo menos, dar-lhe uma descrição de seu assassino."

"Isso mesmo" Disse Riley.

“Sim, eu tenho tentado convencê-lo também. Estou satisfeito com o progresso que ele e eu temos feito em termos de sua condição. Mas quando se trata de contar a alguém o que ele viu naquela noite...”

Bayle fez uma pausa e acrescentou, “Bem, temo que isso nunca aconteça. No momento, ele não ousa nem pensar no que viu. Eu penso que ele nunca vai poder falar sobre isso.”

Então fixou o olhar em Riley e acrescentou, "Mas então, eu acho que é possível que você me considere um suspeito".

Riley se impediu de dizer...

"Sim, isso estava começando a passar pela minha cabeça."

Voltando para os tubarões novamente, Bayle continuou, “Faz todo o sentido sentido, na verdade. Eu entendo perfeitamente se acha que me devem investigar. Se fizerem isso, considerem minha vida um livro aberto - especialmente tudo o que tenho feito na última semana, minhas idas e vindas e assim por diante. Terei prazer em lhe contar tudo e terei certeza de que pode confirmar tudo o que eu disser. Quanto mais cedo você me eliminar como suspeito, melhor, tenho certeza.”

Riley estudou suas feições atraentes, mas inexpressivas, de perto, procurando alguma pista para o que ele estava realmente pensando.

Mas ele bem podia ser uma folha de papel em branco...

Não o consigo ler.

"Por favor, sente-se, agente Paige" Disse ele. "Penso que estaríamos mais confortáveis."

Riley ficou em pé por um momento, ponderando o risco.

Embora ainda não pudesse determinar se ele era o assassino ou não, ela tinha um pressentimento...

Ele não está interessado em me matar agora.

Ela não sabia por que se sentia assim tão fortemente, mas sentia que esse homem realmente queria falar sobre outros assuntos.

Riley se sentou no banco ao lado dele, mas virou-se ligeiramente para ele, de forma a não ser apanhada de surpresa por qualquer movimento súbito da parte dele.

Ela disse, "Dr. Bayle, poderia me dizer por que me pediu para vir aqui?”

Com um ligeiro traço de surpresa em sua voz, Bayle disse...

“Ora, para falar com você, é claro. Eu te disse ontem - eu sei muito sobre você e sempre quis falar com você. Claro, com tudo o que está acontecendo, não tivemos muita chance de nos conhecermos. Esta parecia uma excelente oportunidade.”

"Mas... sozinha?" Riley perguntou.

"Naturalmente. Por que eu não preferiria falar com você cara-a-cara?”

Riley ficou surpresa ao perceber...

Essa é uma resposta perfeitamente sensível.

Ou pelo menos parecia quase sensível. Ela ainda não entendia seu comportamento misterioso, especialmente porque escolhera aquele lugar para o encontro. Mas pouco a pouco, a personalidade do Dr. Bayle ia-se revelando. Ele era de alguma forma diferente da maioria das outras pessoas. Ela ainda não conseguia identificar em quê extaamente.

Ainda olhando para os tubarões, Bayle disse...

“Eu sou fascinado por essas criaturas - como maravilhosamente perfeitas elas são. A seleção natural os transformou em comedores perfeitos. Você sabia que eles têm sistemas digestivos incríveis? Seus estômagos em expansão quebram tudo o que comem com ácido que é forte o suficiente para dissolver o metal. Eles podem comer praticamente qualquer coisa.”

Apontando para um tubarão que passava perto do vidro, ele continuou...

“E olhe que grandes nadadores eles são. Eles têm cartilagem em vez de ossos, tornando-os flexíveis e resilientes. E eles têm aquela forma elegante e essa cauda e todas aquelas barbatanas de formato perfeito, quase aerodinâmicas. Não há nada desajeitado neles, nada que não seja gracioso e eficiente”.

Riley encolheu os ombros e disse, "Eu ouvi que eles têm que continuar se movendo para respirar".

"Isso é verdade para a maioria dos tubarões, incluindo estes" Disse Bayle.

"Isso não parece muito eficiente para mim" Disse Riley.

"Mas eles não querem estar parados" Disse Bayle. "Eles não desejam fazer isso. Não ocorre a eles que ainda existe algo assim. Está completamente fora da experiência deles. Movimento é tudo o que eles sabem.”

Então acrescentou sem um sorriso, "Então, eu acho que eles estão bem assim."

Bayle ficou em silêncio, depois tocou num assunto diferente.

“Eu acho que a Dra. Rhind lhe disse que eu tenho uma maneira de me afastar de vez em quando. Eu sei que isso confunde as pessoas. Mas eu realmente preciso desses intervalos. Onde quer que eu esteja trabalhando a qualquer momento, tenho certeza de que há um lugar próximo onde eu possa me afastar e me perder, de preferência na vida animal. Por exemplo, Bridgeport tem um zoológico maravilhoso com uma sala de répteis. Eu poderia olhar para lagartos e cobras por horas a fio.”

Riley piscou os olhos quando se apercebeu de algo.

“Você só pode lidar com pessoas durante algum tempo. Não é verdade? As pessoas sugam sua energia. Se você está perto de pessoas por muito tempo, você fica…”

Ela fez uma pausa quando a palavra surgiu...

"Sobrecarregado."

Bayle assentiu silenciosamente.

Riley conteve um suspiro, depois acrescentou...

"Você é autista."

Bayle inclinou a cabeça ligeiramente.

"Bem, eu estou no espectro, pelo menos. Existem muitos tipos e graus de autismo, por isso é útil considerá-lo como um espectro. Quando eu era criança, todos pensavam que eu era retardado. Mas acabei sendo diagnosticada com a síndrome de Asperger, se você quiser colocar um rótulo. Eu não me importo muito com os rótulos. De qualquer forma, eu provei ser... muito funcional, tenho certeza que você concorda.”

Funcional - e brilhante, Pensou Riley.

Bayle continuou, “Suponho que a ideia de alguém como eu se tornar terapeuta lhe pareça estranha. É verdade que sou extremamente carente de empatia. Mas eu compenso isso com minhas habilidades para análise. E os pacientes autistas muitas vezes apreciam ter um terapeuta que possa se relacionar com sua experiência. Isso pode funcionar especialmente bem para certos pacientes, incluindo Wesley Mannis.”

"Por favor, explique" Disse Riley.

"Bem, o problema de Wesley não é falta de empatia. Sua empatia é tão poderosa e esmagadora que ele não pode controlá-la. Inunda-o constantemente. Ele sente o que todo mundo ao seu redor está sentindo. Fica terrivelmente doloroso para ele e é por isso que ele se retira em sua concha e às vezes tenta ficar lá. Mas quando está perto de alguém como eu, ele não se sente sobrecarregado. Então ele não se importa em se abrir. Geralmente funciona assim.”

Riley tentava entender o que estava ouvindo. A condição de Wesley de repente fazia muito mais sentido para ela agora. Ele sentiu tal empatia por um filhote de cachorro atormentado que o assombrou por muitos anos - até que finalmente contou a Riley sobre isso.

Ela disse cautelosamente, "Wesley... se abriu para mim também."

"E por que você acha que foi?"

Riley pensou na conversa que tivera com Wesley e se perguntou...

Como posso colocar nossa conexão em palavras?

Em vez disso, ela disse a Bayle, "Talvez você possa me dizer".

Bayle virou a cabeça e olhou diretamente nos olhos de Riley. “Riley – não há problema se a tratar por Riley? Eu gostaria muito que você me tratasse por Kevin.”

"Tudo bem" Disse Riley.

“Como eu disse antes, estou muito interessado em você há muito tempo. Eu sou um estudante da natureza humana, afinal, e você é... bem, um humano muito singular. Eu li tudo o que pude sobre os casos que você resolveu. E sou fascinado pela sua capacidade de entrar na mente de um assassino. Essa habilidade rara que você tem, essa intuição estranha - meu palpite é que Wesley se relaciona com isso. Ele pensa em você como alguém semelhante. Assim como eu."

Os olhos de Riley se arregalaram com espanto.

"Você está dizendo que sou... autista?"

Kevin Bayle encolheu os ombros e disse, "Eu não diria dessa maneira. Como eu disse, não gosto de rótulos. Mas acho que podemos concordar que você não é o que alguém descreveria como normal - ou para usar um termo que prefiro, neurotípico. Sua experiência do mundo é diferente da de quase todos os outros. É tão diferente que você dá por certo - como os tubarões não sabem nada além de nadar, então não ocorre a eles que existe algo parecido com isso. Você nunca fica parada, Riley Paige. Você nem pensa em ficar parado. É por isso que estou fascinado por você.”

Riley ficou sem palavras.

Kevin inclinou-se um pouco para ela e disse, “Riley, eu sempre quis perguntar a você - como é? Entrar na mente de um assassino, quero dizer? Sentir sua presença tão fortemente que pode compartilhar seu ponto de vista?”

Riley estremeceu e disse, "É assustador. A maior parte do tempo eu desejo não poder fazer isso. Mas eu posso, então... eu acho que você poderia dizer que é meu dever fazer o melhor uso possível. Mas há sempre um perigo - de me tornar um monstro.”

Ela engoliu em seco e acrescentou, “Às vezes me preocupo se sou algum tipo de monstro. É difícil manter essas partes obscuras da minha mente escondidas das pessoas, protegendo as pessoas que amo de... mim mesma.”

Riley de repente se viu falando abertamente com Kevin, entrando em detalhes sobre casos sobre os quais ele havia lido, contando sobre momentos específicos em que sua habilidade aterrorizante entrava em ação. Ela também falou sobre coisas que ela mal falava com mais alguém. Ela descreveu momentos em que sua escuridão interior a consumira, por exemplo, quando ela esmagou a mão do jovem que havia injetado heroína em April, ou quando ela e April pulverizaram o homem que as havia aprisionado.

Quando ela terminou de falar, sentiu-se flácida e cansada, mas também estranhamente aliviada.

Fora bom conversar com alguém que realmente queria entender todas aquelas coisas terríveis sobre ela...

Alguém que nunca me julgaria.

Finalmente Kevin sorriu para ela - a primeira vez que ela o via sorrir, pensou.

Ele disse, “Obrigado por compartilhar tudo isso, Riley. Eu estou verdadeiramente grato e honrado por conhecê-la finalmente.”

Sem outra palavra, o Dr. Kevin Bayle levantou-se do banco e saiu da sala.

Riley percebeu que ela não estava mais surpresa com esse comportamento brusco. Era apenas a sua maneira de ser. Além disso, tinha certeza de que sabia que ele estava voltando para Wilburton House para cuidar do paciente. Esperava que ele pudesse continuar ajudando Wesley Mannis.

Quando Riley saiu do edifício, viu Bill e Jenn sentados no carro emprestado, olhando para Kevin enquanto ele caminhava em direção ao seu próprio veículo.

Bill parecia prestes a sair do carro e abordar Bayle. Então viu Riley e recostou-se no banco do condutor.

Quando Riley entrou no carro, Bill perguntou...

"O que aconteceu lá?"

Riley ficou surpreendida com a pergunta.

Por onde começar?

Em vez disso, ela disse simplesmente...

"Kevin Bayle não é o assassino."

"Então quem raio é?" Perguntou Bill. "Você não conseguiu nenhuma informação dele?"

"Ele não sabe nada sobre isso" Disse Riley, tentando não parecer defensivo.

Quando Bill começou a levá-los de volta para Wilburton, Riley se lembrou de algo que Kevin havia dito sobre Wesley.

"Agora, ele não se atreve a pensar no que viu. Eu acho que ele nunca vai conseguir falar sobre isso.”

Ela tinha certeza de que ele estava certo, o que significava que Wesley Mannis era outro beco sem saída em sua investigação.

Riley soltou um suspiro de desespero.

Estamos de volta à estaca zero, Pensou.

E eles estavam ficando sem tempo antes do assassino fazer outra vítima.


CAPÍTULO VINTE E SEIS


Enquanto Bill conduzia de regresso para o Ramsey Inn, a cabeça de Riley ainda estava girando devido ao seu encontro com o brilhante terapeuta. Ela estava tentando entender o que Kevin Bayle lhe revelara quando Bill resmungou...

"Você está nos dizendo que o Dr. Bayle não lhe deu nenhuma informação?"

Jenn acrescentou, “Você com certeza passou algum tempo com ele. Ele devia ter algo para lhe dizer.”

Ele tinha mesmo muito a dizer, Pensou Riley.

E eu disse a ele algumas coisas também.

Bayle, ele próprio no espectro autista, revelou a Riley algo que ela não tinha entendido - que sua mente não era exatamente normal...

Não é "neurotípica".

Era muito para processar. Mas Riley sabia que não era o momento de tentar lidar com isso. Ela precisava de algum tempo para pensar sobre o assunto. Ela sabia há muito tempo que tinha habilidades que a maioria das pessoas não tinha, mas nunca pensou nisso como uma diferença real em seu cérebro.

Ela respondeu a Bill e Jenn, "Ele não me disse nada útil sobre o caso."

Jenn disse, "E você tem certeza que ele não é o assassino?"

Riley se sentiu um pouco assustada com a pergunta. A mera idéia agora parecia totalmente impossível para ela.

"Tenho certeza absoluta" Disse ela.

"Você poderia nos dizer por que tem certeza?" Perguntou Bill.

Riley reprimiu um suspiro. "Você só tem que aceitar minha palavra."

Ela ouviu Bill soltar um grunhido.

Riley sabia que ele não gostava quando ela era enigmática. A verdade é que ela também não gostava. Ele era seu melhor amigo e ela gostava de pensar que poderia falar com ele sobre qualquer coisa. Talvez pudesse contar-lhe sobre a conversa em outro momento. Ou…

Talvez não.

Talvez fosse algo que ela deveria guardar para si mesma.

Bill disse, “Bem, Meredith enviou o avião para nós no início desta manhã. Nós o deixamos esperando em Tweed – New Haven por horas. Ele estava muito irritado com a demora quando conversei com ele antes de visitarmos Wesley Mannis. Ele provavelmente está furioso agora.”

Jenn acrescentou, "Temos que fazer as malas e sair daqui rápido. Ele provavelmente ficará bem quando souber que estamos de regresso.”

Riley ficou muito desanimada com essa ideia.

Ela disse, “Mas nós temos o cara errado sob custódia. Nós todos concordamos com isso, não é? Bruno Young não é o assassino e todos nós sabemos disso. O verdadeiro assassino ainda está à solta.”

Bill disse, "Não importa o que pensamos. O único suspeito está preso. Não temos outras pistas para seguir. Não há mais ninguém para entrevistar. Não temos mais nada para fazer aqui.”

Riley sabia que não havia razão para discutir. Afinal, Bill estava certo. Ela também sabia que eles quase certamente teriam que regressar - provavelmente depois de acontecer outro assassinato.

A vida de algumas pessoas desconhecidas estava em risco. Se ela pudesse descobrir alguma outra pista para investigar, talvez conseguisse evitar o próximo assassinato.

Quando voltaram para a pousada, Riley foi direto para o quarto e sentou-se na beira da cama. Ela sabia que Bill e Jenn estariam prontos para partir em poucos minutos. Mas de alguma forma ela não conseguia fazer as malas.

De fato...

Eu quero uma bebida.

Ela abriu a pequena geladeira do quarto e olhou para dentro. Estava abastecida com refrigerantes, nada alcoólico. Ela tinha vontade de descer as escadas para o bar...

Pare com isso!

Ela lembrou a si mesma que ainda não era meio-dia e o bar provavelmente não estaria aberto. Além disso, ela deveria saber que uma bebida não a faria se sentir melhor. As coisas tendiam a ficar fora de controle quando ela tentava driblar seus problemas.

Nem pense nisso, Disse a si mesma.

Riley olhou para a sala confortavelmente decorada com a colcha florida e a cadeira de pelúcia a condizer. Uma aquarela na parede mostrava as velas ondulantes dos barcos em uma regata. Ela percebeu que não tinha reparado nesses pormenores e que não sentiria falta deles quando saísse. Talvez fosse hora de voltar a um mundo mais prático, onde ela poderia realmente fazer algo de bom, talvez resolver os problemas de outra pessoa.

Com um suspiro, Riley pegou sua bolsa e foi até o banheiro para arrumar seus produtos de higiene pessoal.

Então ela ouviu uma batida na porta.

Já é Bill, Pensou. Ou Jenn.

Seus colegas deviam ter feito as malas mais rapidamente do que ela esperava.

Riley disse com impaciência, "Dê-me apenas alguns minutos".

Mas então surgiu outra batida. Desta vez, Riley notou que as batidas eram suaves e hesitantes...

Não como Bill ou Jenn.

Quem seria então?

Ela caminhou até a porta e perguntou...

"Quem é?"

Ela ouviu uma voz abafada do outro lado da porta.

"Quem é?" Perguntou novamente.

Mais uma vez veio aquela voz abafada, mas ela não entendia o que a pessoa estava dizendo.

De repente, cautelosa, Riley se perguntou se deveria ter sua arma pronta. Mas quando olhou pelo olho mágico, seu coração acelerou.

Wesley Mannis estava do lado de fora da porta dela.

Riley abriu a porta.

“Wesley!” Disse. "Entre."

Wesley trocou seu peso de um pé para outro timidamente por um momento, como se não tivesse certeza do que fazer.

"Entre" Repetiu Riley, ficando de lado.

Então ele disse, "Obrigado" e entrou no quarto.

Ele olhou em volta e disse, "Parece que você está se preparando para sair. Espero que este não seja um mau momento.”

"Não, de forma alguma" Disse Riley.

Ela pensou que Bill, Jenn e o avião teriam que esperar um pouco mais. Se Meredith acabasse zangado, ela assumiria a culpa por seus dois parceiros. Enquanto isso, ficou surpresa com o tom de voz perfeitamente normal de Wesley.

"Você gostaria de se sentar?" Perguntou, oferecendo-lhe a cadeira de pelúcia.

Wesley olhou para a cadeira por um momento, como se tentasse se decidir.

Então inclinou a cabeça e disse, "Não, não me parece."

Riley não pôde deixar de sorrir com sua resposta um pouco estranha. Então ela se lembrou da partida abrupta de Kevin Bayle do aquário Szymko. Assumiu que ele fosse para a Wilburton House.

Ela perguntou a Wesley, "O Dr. Bayle sabe que você veio aqui?"

Wesley ficou um pouco mais ereto. Riley sentiu que ele estava bastante orgulhoso de si mesmo.

"Sim, sabe" Disse. Ele ainda não estava fazendo contato visual com Riley, mas por outro lado parecia bastante seguro de si. “O mesmo acontece com a Dra. Rhind. O mesmo acontece com toda a equipe da Wilburton House. Eles estão todos satisfeitos por eu estar muito melhor. Eles dizem que eu posso começar a andar sozinho. O Dr. Bayle ficou especialmente satisfeito por eu querer falar com você.”

Riley perguntou, "O Dr. Bayle te trouxe aqui?"

Com apenas um lampejo de um sorriso, Wesley disse...

“Não, ele me ofereceu uma carona, mas eu disse a ele que preferia chamar um táxi. É bom ser independente novamente. Eu realmente passei por um mau bocado.”

Então ele assentiu e disse...

"Mas agora estou melhor."

Riley estava começando a ousar ter esperança. Ela imaginou que Wesley devia ter algum bom motivo para vir e vê-la.

A menos que esteja aqui para ser amigável.

O pensamento de repente a preocupou. Por muito feliz que estivesse por Wesley se sentir melhor, ela realmente não tinha tempo para visitas infrutíferas. Além disso, não tinha certeza se tinha habilidades para continuar uma conversa com ele. Mas o que aconteceria se ela pedisse a ele para sair? Seria mau para ele? Poderia ter outro colapso? Se assim fosse, ela não saberia lidar com isso.

Nesse meio tempo, Wesley apenas ficou parado, olhando em volta como se tivesse esquecido que Riley estava na sala. Ela estava se perguntando se deveria dizer alguma coisa quando ele falou.

“Eu continuo pensando nesta manhã, quando você me contou sobre estar trancada em uma jaula. Eu acho que foi muito corajoso da sua parte me dizer isso.”

Riley quase disse, "Não foi nada."

Mas claro, fora algo, e dizer a Wesley qualquer coisa menos que a verdade agora era certamente uma má ideia. Ela não teria ficado surpresa ao saber que Wesley nunca tinha mentido em sua vida e ele certamente não merecia que lhe mentissem, mesmo por educação. Tinha sido muito difícil para Riley compartilhar esse trauma com alguém que ela mal conhecia, ainda mais com alguém cuja mente ela não entendia.

Em vez disso, ela disse, "Foi gentil da sua parte escutar".

"Fiquei feliz em ouvir" Disse Wesley.

Wesley ficou quieto por um longo momento, depois acrescentou...

"Antes de sair, eu lhe disse... Eu senti como se estivesse em uma gaiola no escuro e eu não poderia dizer o que você queria saber."

Ele respirou longa e lentamente e continuou falando em sua voz plana e sem emoção.

“Mas me sinto melhor agora. Eu não sinto mais que estou em uma gaiola. Acho que posso contar o que vi.”


CAPÍTULO VINTE E SETE


Riley esperou sem fôlego que Wesley falasse novamente. Ele ainda estava de pé e por alguns momentos olhou para o espaço, novamente mudando seu peso de um pé para o outro.

Isso está realmente acontecendo? Perguntou a si mesma.

Ele vai me dizer...?

Quando se forçou a ser paciente, veio outra batida na porta - uma batida muito mais forte desta vez.

Riley reprimiu um gemido de desespero.

Agora deve ser Bill.

Ela realmente não queria nenhuma interrupção naquele momento. Não queria que nada estragasse a tentativa de Wesley de se comunicar.

Riley disse para Wesley nervosamente...

"Por favor, sente-se. Eu me sentiria melhor se você se sentar. Eu voltarei daqui a pouco.”

Wesley assentiu e obedientemente sentou-se na grande cadeira florida.

Ela abriu a porta só um pouquinho e viu que Bill e Jenn estavam no corredor. Riley sussurrou através da abertura da porta...

"Vocês precisam me dar mais tempo!"

Bill olhou para o relógio e olhou para Riley, incrédulo.

Ele disse, "Riley, estamos muito, muito atrasados".

"O que está acontecendo aí?" Jenn perguntou.

Riley soltou um gemido de frustração, saiu para o corredor e empurrou a porta quase fechada atrás dela. De costas para a porta, manteve a voz baixa quando disse aos seus parceiros...

“Wesley Mannis está ali. Ele diz que está pronto para me dizer o que viu.”

Bill e Jenn estavam lá com as bocas abertas.

"Dê-me apenas alguns minutos, por favor" Disse Riley.

Nenhum de seus parceiros fez qualquer objeção.

Sem outra palavra, Riley voltou para o quarto e fechou a porta. Ela puxou uma das cadeiras do quarto para perto de Wesley e sentou-se de frente para ele.

Para sua surpresa, ele parecia totalmente imperturbável, como se não tivesse notado que qualquer interrupção havia ocorrido.

"Agora, por favor, me diga o que você ia dizer" Disse ela.

Wesley assentiu e, olhando para algum lugar por cima do ombro, começou.

“Aconteceu na Victoria Street. Havia um portão quebrado no cento e quarenta. Vi um balanço no alpendre às duas e meia e outro às duas e quarenta e cinco...

Riley foi tomada por um estranho sentimento de familiaridade.

Isso é déjà vu?

Ela poderia jurar que ouvira Wesley descrever exatamente os mesmos lugares antes.

Riley ouviu enquanto ele continuava...

“A porta da garagem estava aberta no trezentos e cinquenta e dois como sempre...”

Enquanto ele continuava falando, Riley percebeu - ele estava repetindo quase palavra por palavra o que dissera para o Dr. Bayle no di anterior. Ela estava começando a entrar em pânico.

É tudo o que ele vai me dizer? Pensou.

Exatamente a mesma coisa que disse antes?

Mas ela sabia que não devia interromper o seu fluxo de palavras. Ele ia a toda a história ou não. Qualquer esforço para forçá-lo podia levar ao desastre. Ela sabia que tinha que deixá-lo fazer o seu próprio caminho.

Então Riley sentou-se em silêncio enquanto Wesley continuava...

“Nenhum carro pode estacionar em Victoria, mas havia um carro novo na na entrada no quatrocentos e sessenta. Eu não vi nenhum pedestre, mas vi o mesmo gato preto fofo que muitas vezes vejo andando pelo bairro...”

Enquanto ouvia, Riley não pôde deixar de ficar impressionada com os detalhes fotográficos de suas descrições. Parecia que tudo o que ele via estava permanentemente impresso em sua memória. Ela imaginou que ele poderia ser um grande detetive se não fosse sua deficiência.

Ele disse, "Eu tive que parar para pegar uma caixa de leite que havia caído do caixote do lixo, então tive que correr para alcançar o caminhão, e..."

Seu fluxo de palavras desacelerou até parar e ele pareceu se voltar para dentro. Riley se perguntou se talvez ele iria ficar preso novamente ao tentar reviver seu trauma.

Mas ele assentiu e disse...

“Então o caminhão e eu chegamos ao quatrocentos e sessenta e cinco na Victoria Street.”

Riley ficou entusiasmada.

O endereço de Robin Scoville!

Finalmente, olhando nos olhos de Riley, Wesley disse...

"Eu quero que você saiba, eu não sou um voyeur."

"Eu sei que você não é, Wesley" Disse Riley.

“É só que... bem, a mulher que morava no quatrocentos e sessenta e cinco às vezes tinha suas luzes acesas naquela hora da manhã. Sempre que isso acontecesse, ela estaria bem ali em sua sala de estar em sua grande janela. Ela usava algum tipo de algema nos braços - eram muletas, eu acho. Eu imaginei que havia algo errado com as pernas dela, embora nunca pudesse ver as pernas dela. Ela olhava direto para mim. E então tirava um braço da muleta e acenava para mim.”

Ele se inclinou para Riley e acrescentou...

"Então você pode ver, eu não sou um voyeur. Eu simplesmente não pude deixar de reparar nela. Eu sempre me preocupei que talvez ela pensasse que eu era rude, fingindo não vê-la, não acenando de volta para ela. Ela estava apenas sendo amigável. Mas eu não acenei porque não deveria estar olhando para as pessoas em suas casas. Eu não deveria estar olhando pela janela de ninguém.”

"Eu entendo" Disse Riley.

E, de fato, ela sentia que estava entendendo melhor Wesley a cada palavra que ele dizia. Ele não só notou detalhes físicos, como era extremamente sensível ao humor das pessoas.

Ele sabia que ela estava sendo amigável.

Ele estava com medo que ela pensasse que ele era rude.

Ela se lembrou de algo que o Dr. Bayle havia dito sobre ele.

"Sua empatia é tão poderosa e esmagadora que não pode controlá-lo. Inunda-o o tempo todo.”

Riley percebeu agora que devia ser doloroso para ele viver com esse tipo de empatia desenfreada. Não é de admirar que ele tentasse se isolar do mundo, tentasse ficar emocionalmente desconectado de todos ao seu redor.

Ele baixou os olhos e disse...

“Mas dessa vez, quando ela estava parada olhando pela janela, vi outra pessoa. Era um homem que vinha de outro quarto. Ele estava atrás dela. Ela estava olhando para mim, não para ele. Eu nunca o vira antes. Mas imaginei que ela pelo menos soubesse que ele estava em casa com ela. Eu pensei que talvez ele estivesse...”

Wesley fez uma pausa, parecendo procurar palavras educadas.

"Passando a noite com ela" Disse ele. "Eu não fazia ideia..."

Ele olhou para o espaço, como se estivesse entrando em seu próprio mundo novamente.

Riley disse em uma voz firme mas gentil...

"Então o que você viu?"

Ele parecia estar lutando com seus pensamentos agora.

“Antes, quando eu tinha nove anos de idade, aquele episódio que eu lhe contei... Eu estava olhando para fora através de uma janela, quando vi o que os meninos estavam fazendo com o filhote de cachorro...”

Tentando trazê-lo de volta ao tempo presente, Riley disse, “Mas desta vez você estava olhando. Por favor, me diga o que você viu. Como era o homem?”

Franzindo a testa com concentração, Wesley disse, “Ele era mais alto do que ela. Tinha cabelos castanhos, penteados para trás, separados à direita. E quando andou em direção a ela por trás, ele estava...”

Wesley ficou quieto novamente, então disse...

"Ele estava mancando."

Riley sentiu um arrepio de excitação.

"Mancando?" Perguntou. "Você tem certeza?"

"Sim eu tenho certeza. Ele mancou em direção a ela pelo quarto. Ele estava se movendo devagar e definitivamente mancava a cada passo.”

Ele mancou! Riley pensou.

Riley percebeu imediatamente que esse era um detalhe importante, mas não teve tempo de pensar no motivo.

Wesley continuou, “Eu percebi que ele devia estar se movendo muito calmamente e pensei que talvez fosse surpreendê-la com um abraço. Mas então ele levantou algo em sua mão esquerda. Ela brilhava um pouco sob a luz da luminária do teto. Eu pensei que talvez fosse uma faca, mas não era, era muito fino para isso.”

Um picador de gelo, Riley percebeu.

Ela suspeitava que ninguém havia mencionado a Wesley que Robin Scoville havia sido morta com um picador de gelo. Na verdade, provavelmente ninguém havia falado com ele detalhadamente sobre o assassinato. Isso deu a Riley mais certeza de que o seu relato era preciso e confiável - não que tivesse dúvidas até aquele momento.

Wesley disse, “Apenas quando ela levantou a mão para acenar para mim, percebi que ele ia fazer algo ruim com ela. Eu levantei minha própria mão e apontei... tentando dizer a ela que alguém estava atrás dela. Mas…"

Ele ofegou e disse...

"Ele a esfaqueou... no ouvido" Disse ele. “A coisa estreita e brilhante entrou e saiu de sua orelha. E quando saiu, ela caiu no chão.

Ele estava tremendo.

"Eu deveria ter feito alguma coisa" Disse ele em uma voz espessa e agitada. "Eu deveria ter…"

Ficou em silêncio de novo, tremendo quase convulsivamente.

"Não havia nada que você pudesse fazer" Disse Riley. “Você apontou. Você tentou avisá-la.”

Ele assentiu e repetiu as palavras de Riley...

"Eu apontei. Eu tentei avisá-la. Mas foi como com o cachorrinho. Havia uma janela entre nós. Eu não pude… atravessar a janela.”

Com medo de estar à beira de outro colapso, Riley disse, “Ouça-me, Wesley. Inspire e expire. Muito devagar. Você está bem aqui comigo. Tudo está bem.”

Wesley inspirou e expirou devagar.

Então, parecendo se recuperar de sua agitação, ele disse em uma voz mais calma, “Depois que ela caiu, o homem olhou pela janela, mas eu não acho que ele me viu. Acho que não estava visível.”

Riley perguntou, "Você acha que ele viu o caminhão de lixo?"

"Não, ele não poderia ter visto. O caminhão tinha dirigido enquanto aquilo estava acontecendo. O homem se levantou e sorriu para ela por um momento. Então ele simplesmente... se virou e voltou pelo caminho por onde tinha vindo, saiu do quarto e...”

Wesley piscou os olhos, como se algo tivesse acabado de se tornar claro para ele.

"Ele não estava mais mancando" Disse ele.

Riley sentiu aquele formigamento de excitação novamente.

“Você tem certeza?” Perguntou.

"Tenho certeza. Ele saiu da sala sem mancar.”

Ele abanou a cabeça e disse, "Depois disso, não me lembro de muito. Tudo ficou em branco e quando dei por mim estava de volta ao meu quarto. Eles me disseram que eu tinha saído do meu trabalho, mas que não lhes dissera por quê. Eu acho que não queria me lembrar.”

Então sentou-se na cadeira.

"É tudo que consigo lembrar" Ele disse. “Isso é tudo que posso te dizer. Eu gostaria de ter feito algo para ajudá-la.”

Riley queria com todo seu coração pegar sua mão e oferecer-lhe algum conforto.

Mas não, ele não consegue lidar com isso.

"Você não fez nada de errado" Disse ela.

"Talvez quando cheguei em casa, eu deveria ter chamado a polícia" Disse ele. "Eu acho que é o que você deveria fazer..."

"Você estava em choque" Disse Riley. “Você ficou traumatizado. Você não podia falar com ninguém sobre isso... então. Mas você falou comigo agora e foi muito corajoso...”

E isso pode salvar a vida de outra pessoa, Pensou Riley.

Ele parecia completamente exaurido agora, mas não à beira de um colapso.

"Estou cansado" Disse ele. "Eu acho que deveria voltar para Wilburton House."

Riley brevemente se perguntou se seria possível que ele lhe dissesse mais alguma coisa. Mas rapidamente decidiu que ele já havia dito tudo o que podia, até o mais ínfimo detalhe.

Ela sugeriu, "Meus parceiros e eu podemos levá-lo de volta."

Wesley abanou a cabeça. “Não, eu vou chamar um táxi. É importante para mim fazer coisas como esta por conta própria.”

Ele se levantou da cadeira e foi até o telefone do quarto e começou a digitar um número. Enquanto isso, Riley abriu a porta do corredor, onde Bill e Jenn ainda estavam de pé com expressões ansiosas em seus rostos.

Bill disse, "Riley, o que diabos está acontecendo aí?"

Por onde começo? Perguntou a si mesma.

Sua própria cabeça estava cheia de perguntas.

Ela só conseguia pensar em uma coisa que podia dizer com certeza a seus parceiros.

"Nós não vamos voltar para Quantico. Ainda não."


CAPÍTULO VINTE E OITO


Jenn Roston olhou para Bill. Ele parecia ainda mais espantado do que ela.

Enquanto estavam no corredor imaginando o que estava acontecendo, Riley saiu do quarto e anunciou...

"Nós não vamos voltar para Quantico. Ainda não."

Então Wesley Mannis saiu do quarto de Riley, falou com eles timidamente e caminhou pelo corredor até as escadas.

Isso tudo confundiu a mente de Jenn e ela não sabia o que dizer.

Bill não parecia ter esse problema.

"Do que você está falando?" Bill disse para Riley. “O que diabos aconteceu agora? Você e Wesley resolveram o caso entre vocês dois?”

"Não exatamente," Riley respondeu calmamente.

"Então o que está acontecendo?" Ele perguntou.

Riley disse com uma voz determinada, "Nós temos algum trabalho para fazer, é isso que está acontecendo. E nós temos que fazer isso aqui e agora.”

"Mas o avião..." Bill começou.

"O avião terá que esperar" Disse Riley. "Entrem no meu quarto e vamos começar."

Bill anunciou, "Vou ligar para Meredith. Ele vai ter um ataque com isso.”

"Isso é uma pena" Disse Riley. "Vou chamar o serviço de quarto. Nós não tomamos café da manhã, então é melhor termos comida em nossos estômagos. Coneguimos pensar melhor.”

Relutantemente, ambos seguiram Riley até o quarto dela. Enquanto Bill iniciava a ligação, Jenn foi até a janela e olhou para fora. Ela podia ver Wesley Mannis parado na rua com as mãos nos bolsos.

"O que Wesley está fazendo lá embaixo?" Ela perguntou a Riley.

"Esperando por um táxi" Disse Riley. “Foi assim que ele chegou aqui. Ele vai voltar para Wilburton House.”

Jenn estava perplexa agora.

Ele está pegando um táxi?

Como poderia Riley ter certeza de onde ele estava indo realmente?

A verdade era que Wesley dava arrepios a Jenn. Ela se sentiu assim desde a primeira vez que o conheceu. Ele a lembrou muito de Gerard, o garoto autista que ela conhecera quando morava no chamado "lar adotivo" de tia Cora.

Agora, olhando para Wesley de pé lá fora, ela se lembrou de Gerard segurando uma chave de fenda na sua garganta. Ele a encurralou sozinha na casa e estava ameaçando violá-la. Felizmente, uma das outras crianças apareceu e Gerard fingiu que nada havia acontecido.

A coisa que realmente assustou Jenn foi que Gerard não estava tendo um colapso.

Ele não parecia frenético, agonizante ou mesmo zangado.

Ele parecia legal e no controle perfeito de si mesmo.

Isso fez com que Jenn se perguntasse o quão “incapacitado” Gerard realmente era.

Estaria fingindo alguns de seus sintomas autistas?

Era por isso que ela não podia deixar de se perguntar agora - o colapso que Wesley tivera na véspera, fora real ou fingido? E por que Riley parecia confiar tanto nele?

Jenn se afastou da janela.

Riley estava no telefone do quarto pedindo sanduíches enquanto Bill falava com Meredith em seu celular.

Bill dizia, "Eu... eu sei, senhor... me desculpe, senhor... a Agente Paige parece realmente pensar que tem alguma coisa – um avanço no caso, talve ... eu vou dizer isso a ela, senhor."

Bill terminou a ligação, colocou o celular no bolso e disse..

“Meredith está chamando o avião de volta para Quantico sem nós. Ele disse que outros agentes da UAC precisam dele para os seus casos. E Riley, ele… fez algumas ameaças bastante coloridas. Ele disse que é melhor termos alguns resultados antes do final do dia. Estamos todos em cheque - especialmente você.”

Riley disse, "Se não obtivermos resultados antes do final do dia, alguém pode acabar morto. Estou mais preocupado com isso do que com as ameaças de Meredith. Sentem-se comigo.”

Jenn sabia que esta não era a primeira vez que o trabalho de Riley tinha sido ameaçado. Na verdade, ela fora demitida ou suspensa mais de uma vez. Jenn se perguntou se ela mesma estaria tão concentrada em seus objetivos e tão segura de suas decisões que tais ameaças não a impediriam de prosseguir.

Jenn e Bill sentaram em uma mesa com Riley.

Bill disse, “Riley, você realmente nos deixou no escuro. Primeiro houve aquela reunião que você teve com o Dr. Bayle. Quando você vai nos contar o que aconteceu com isso?”

"Não importa" Disse Riley.

"Bem, o que importa?" Bill exigiu.

Riley respirou fundo e disse, “O que Wesley me disse é o que importa. Ele finalmente conseguiu falar sobre o que viu pela janela naquela manhã, quando Robin Scoville foi morta.”

Bill ofegou de surpresa.

“Ele foi capaz de descrever o assassino?” Ele perguntou.

Riley respondeu, “De alguma forma. Ele disse que o homem era mais alto que a vítima. Ele havia penteado o cabelo castanho partido à direita.”

Bill olhou com ceticismo e disse, “É isso? Isso é muito pouco. Milhares de caras poderiam se encaixar nessa descrição.”

"Eu sei" Disse Riley. "Mas tenho certeza de que é tudo o que ele conseguiu ver, pelo menos no que diz respeito a uma simples descrição. Ele estava olhando pela janela da rua, muito longe.”

Jenn de repente teve uma imagem mental de Bruno Young, com sua barba e seu cabelo desgrenhado.

Ela disse, "Se a descrição dele estiver certa, Bruno Young definitivamente não é o assassino".

Riley assentiu e disse, "É o que eu tenho dito o tempo todo. Mas Wesley disse algo muito mais importante.”

Riley se inclinou para Bill e Jenn e acrescentou...

"Ele também disse que o assassino mancava."

"Mancava?" Jenn perguntou.

“Sim, mas só quando estava se aproximando da vítima por trás. Depois que a matou e se afastou, o mancar desapareceu.”

Jenn se perguntou...

Isso faz sentido?

Bill aparentemente teve a mesma reação.

Ele disse, "Eu não entendo. Por que um assassino, ou alguém, mancava e depois não mancava?”

"É isso que temos que descobrir" Disse Riley. "Mas o tempo todo eu tenho pensado..."

Riley parou, aparentemente procurando as palavras certas.

“Eu acho que o assassino é obcecado pela imperfeição. Ele escolhe suas vítimas porque elas têm... falhas.”

Bill tamborilou os dedos na mesa e disse...

“Sim, você disse algo assim quando olhamos para o corpo de Ron Donovan em Wickenburg Reef. Donovan tinha uma marca de nascença na mão e no pulso. Robin Scoville era uma amputada. E é como eu te disse antes, as duas coisas simplesmente não se comparam. Eles não somam nada. Além disso, Vincent Cranston não parece ter tido nenhuma imperfeição.”

O rosto de Riley estava tenso com determinação.

"Soma-se" Disse ela. “Eu posso sentir isso. E agora sabemos que o assassino é de alguma forma... imperfeito. Ele manca, pelo menos em parte do tempo.”

Jenn sentiu que não podia mais manter suas dúvidas para si mesma.

Ela disse, "Você está se agarrando a ninharias, Riley. Por um lado, não temos ideia se o que Wesley disse é verdade. Ele pode estar mentindo ou simplesmente ter imaginado o que alega ter visto. Ele está mentalmente incapacitado. Isso faz dele a testemunha menos confiável com que já tivemos que lidar.”

Riley olhou direto para Jenn e disse...

“Ele é confiável. E não está mentindo.”

"Como você sabe?" Jenn perguntou.

"Por um lado, ele tem uma memória fotográfica" Disse Riley. "Por outro lado... eu penso que ele é incapaz de dizer uma mentira. Ele simplesmente não consegue. Eu ficaria surpresa se ele já tivesse dito uma mentira em toda a sua vida.”

Jenn revirou os olhos e disse, "Oh, Riley, vamos lá..."

"Isso é suficiente, Jenn" Disse Bill, interrompendo-a.

Jenn olhou para ele, assustada com seu tom de voz agudo.

Bill disse a ela, “Quando Riley diz que está certa de alguma coisa, aprendi a confiar em seus instintos. Ela sabe do que está falando. E ela está certa - temos trabalho a fazer, aqui e agora. Então vamos fazê-lo."

Então houve uma batida na porta.

Jenn aproveitou a oportunidade para esconder sua confusão. Ela se levantou da mesa, foi até a porta e a abriu. Um funcionário da pousada chegara com seus sanduíches.

Enquanto ela e seus colegas preparavam a mesa para o trabalho e o almoço, Jenn pensou no que Bill acabara de dizer...

“Eu aprendi a confiar em seus instintos. Ela sabe do que está falando.”

Ela estava surpresa e comovida por Bill confiar tanto em Riley. E ela sabia que Riley sentia o mesmo em relação a ele. E…

Eu me sinto assim em relação aos dois.

Eles eram, afinal de contas, os melhores amigos que ela já tivera. Se não fosse por Riley especialmente, Jenn certamente teria caído nas garras de tia Cora bem antes disso. Mas não tinha. Essas duas grandes pessoas tinham sido sua salvação...

E agora estou livre da tia Cora para sempre.

Essa perceção, deixou Jenn à beira das lágrimas.

Ela disse a si mesma severamente...

Não chore, droga.

Ela abriu seu laptop na mesa ao lado de seu sanduíche e disse para Bill e Riley...

"OK, o que querem que eu faça?"


CAPÍTULO VINTE E NOVE


Dawn Bowen estava sentada em um sofá azul aveludado, olhando para fora de uma enorme janela de vidro, para o terreno cuidadosamente cuidado do lado de fora. Ela estava se perguntando...

Isso é um sonho?

Não, ela tinha certeza de que não era. Ela estava se fazendo essa pergunta uma e outra vez desde que tudo começara, e tinha certeza absoluta de que não poderia ser um sonho. Mas definitivamente havia outra palavra para isso...

Uma aventura.

Sim, é exatamente isso que deve ser.

Dawn não estava acostumada a aventuras. Ela realmente não sabia como esse tipo de coisa deveria acontecer.

Ela tinha que admitir que aquele tinha sido um começo emocionante. Foi também um pouco assustador, o que só tornou tudo mais delicioso.

Ainda mal podia acreditar que se sentara na mesa de um homem estranho naquele café ao ar livre em Holloway. Ela nunca teria ousado fazer uma coisa assim há alguns meses atrás, antes de ter feito as plásticas em seu corpo e rosto. Mas agora ela se sentia como uma nova mulher.

Então, também devo agir como uma.

Ela o ouviu chamar da cozinha, "O que você gostaria de beber?"

"Um uísque " Disse ela.

"Meu favorito também" Disse ele. "Eu vou fazê-los para nós dois. Também vou preparar um lanche para nós.”

"Obrigada, Scott" Disse ela.

Ela sentira desde o momento em que o conheceu que Scott não era seu nome verdadeiro. Isso também ajudou a tornar as coisas empolgantes. Ela quase desejou não ter dito a ele seu nome verdadeiro...

Dawn!

Deus, que nome chato!

Por que ela não adotou algum nome exótico e estrangeiro - algo do Leste Europeu, talvez...

Irina, Katya, Magda, Masha...

Ela sorriu quando imaginou fingir um sotaque estrangeiro, inventando uma história maluca sobre sua vida antes de vir para a América.

Era uma fantasia boba, claro. Ela nunca poderia levar isso por diante.

Mas esse homem que se chamava Scott - ela achava que ele era a verdadeira fantasia.

Enquanto o ouvia trabalhando na cozinha, ela se lembrou de como eles conversaram por mais de uma hora no café - quase inteiramente sobre ela, um assunto que ela não podia imaginar por que ele achava tão interessante. O que poderia ser interessante sobre a vida de uma corretora de imóveis de cidade pequena, uma mulher solteira com poucos amigos que mal pensava em algo além de trabalho?

No entanto, ele a conquistou com perguntas atenciosas, e ela acabou contando tudo...

Ou quase tudo.

Ela certamente não contou a ele sobre a cirurgia ou como era a vida quando ela era normal e com peso a mais. Ele poderia não gostar de saber tudo isso e ela estava feliz por ele não ter adivinhado.

Depois do almoço, as coisas ficaram muito estranhas e excitantes. Ele disse a ela que queria levá-la para casa dele - direto do café, naquele momento.

Fora uma proposta assustadora - quase assustadora demais.

Ela se lembrou de como haviam saído do café e caminharam mais ou menos um quarteirão até onde seu caro SUV estava estacionado. Antes de entrarem no veículo, ele lhe ofereceu um grande lenço de seda preta.

"Para quê isso?" Perguntou ela.

Com um sorriso gentil, ele respondeu...

“Uma venda para os olhos. Deixe-me ajudar a colocá-la.”

"Por quê?"

"Eu não quero que você veja para onde estamos indo."

Ela definitivamente fora apanhada de surpresa com isso. Mas quando hesitou, ele gentilmente, provocativamente pegou de volta o lenço e começou a colocá-lo de volta no bolso.

"Que pena" Ele disse, ainda sorrindo. "Eu tinha uma tarde encantadora em mente."

Dawn mudara de idéia naquele momento.

Ela virou-se para que ele pudesse amarrar o lenço ao redor de sua cabeça. Então ele a ajudou galantemente em um banco de trás do SUV. Ela já havia notado que o veículo tinha vidros escurecidos, então provavelmente ninguém veria que ela estava andando de olhos vendados com esse estranho atraente. Ela achava que isso também era bom. Se ela tivesse sido vista por qualquer pessoa que conhecesse, mais cedo ou mais tarde acabaria tendo que dar explicações constrangedoras e embaraçosas.

De qualquer forma, parecia bobo ter medo dele. Ele estava bem vestido e tinha maneiras perfeitas. Ela tinha certeza de que ele não lhe faria mal. Mas ele sabia como criar uma sensação de intriga romântica.

E ela gostou disso nele.

Ela gostou muito.

A viagem tinha sido surpreendentemente longa e ela não tinha ideia de onde estava. Finalmente, o SUV parou e ele a ajudou a tirar a venda. Ela ofegou de alegria quando se viu diante de uma pequena casa perfeitamente encantadora, como algo saído de um conto de fadas.

E ali estava ela agora, olhando pela janela para o terreno ao redor. Mesmo nessa época do ano, flores douradas e laranja ainda estavam florescendo no pequeno jardim do lado de fora das janelas. Fileiras de sebes altas e um bosque escondiam muito do que havia além e ela achava que o terreno parecia extraordinariamente espaçoso para uma casa tão pequena.

Enquanto continuava a esperar que ele voltasse da cozinha, ela se perguntou como ficaria o jardim dali a algumas semanas, quando as folhas mudassem de cor. E como seriam no inverno? Como seria estar ali olhando para a neve enquanto um fogo rugia na lareira?

Ela estava começando a alimentar uma nova fantasia - que ele logo lhe contaria seu nome verdadeiro e tudo sobre si mesmo, e o relacionamento deles floresceria em algo mais do que uma breve aventura, e...

Talvez eu nunca tenha que sair daqui.

Sua fantasia foi interrompida pelo som dos passos de Scott vindos da cozinha. Ela se virou e o viu carregando uma bandeja de prata com duas bebidas e um prato de queijo fatiado, azeitonas, bolachas e outras guloseimas.

Quando ele entrou no quarto, ela ficou surpresa ao notar que ele estava mancando.

Ela perguntou com preocupação, "Você se machucou?"

"Não, por quê?" Ele perguntou.

"Bem, é só isso porque..."

Ela encolheu os ombros e acenou em direção a perna dele.

Seu sorriso se alargou e ele disse, “Oh, isso. Apenas um velho... problema que me incomoda de vez em quando.”

Ele colocou a bandeja sobre a mesa de café na frente de sua cadeira e acrescentou...

"Desaparecerá muito em breve."


CAPÍTULO TRINTA


Riley deu um suspiro de alívio. Ambos os seus parceiros estavam dispostos a correr o risco de apoiá-la, apesar do caso estar supostamente fechado. Claro, agora a pressão estava na própria Riley.

Ela tinha que provar que estava certa.

Se não o fizesse, não seria a única a enfrentar a ira de Meredith. Riley não queria que Bill e Jenn terminassem lamentando sua lealdade para com ela.

Enquanto isso, Jenn e Bill olhavam para ela com expectativa. Jenn tinha acabado de perguntar a Riley...

"OK, o que você quer que eu faça?"

O laptop de Jenn estava aberto na mesa na frente dela, mas Riley não tinha ideia do que lhe dizer para fazer.

Ela pensou por um momento, depois disse...

“Olha, todos nós sabemos sobre uma grande falha na minha teoria. Robin Scoville era uma amputada, Ronald Donovan tinha uma marca de nascença. Mas, até onde sabemos, Vincent Cranston não tinha falhas físicas.”

Jenn tamborilou os dedos na mesa e murmurou...

"Até onde sabemos. Quão de perto alguém já checou?”

Bill encolheu os ombros e disse, "Bem, o médico-legista e sua equipe devem ter examinado seu corpo com muito cuidado".

Jenn perguntou, "Sim, mas estamos falando de algo que eles se incomodaram em perceber? Lembre-se, nenhum de nós ficou exatamente impressionado quando Riley apontou a marca de nascença na mão e no pulso de Donovan - incluindo o médico legista chefe. Mas se ela está no caminho certo, é melhor começarmos a pensar de forma diferente."

Riley não pôde deixar de sorrir.

Isso é o que eu quero ouvir.

Ela pensou nas fotos que tinham tirado de Vincent Cranston quando seu corpo ainda estava na cena do crime. Lembrou-se de ter percebido um certo detalhe que havia captado sua atenção rapidamente. O que fora?

Riley ficou com uma sensação de formigamento quando percebeu...

Oh sim. A sua boca.

Seus olhos estavam abertos e seus lábios tinham sido moldados em uma expressão que lembrava um leve sorriso. Riley achou aquilo um pouco estranho na altura, porque os músculos faciais geralmente relaxavam após a morte. Mas ela mal tinha pensado nisso desde então.

Riley pegou o celular e disse para seus parceiros...

“Eu quero ligar para o chefe ML. Talvez ele possa me dizer alguma coisa. Jenn, encontre o número de telefone do gabinete do ML em Farmington.

Jenn procurou em seu laptop e encontrou o número em segundos. Riley ligou e colocou no viva-voz para que seus colegas pudessem ouvir. Todos ouviram a voz ríspida, mas jovial, de Alex Kinkaid.

“Bem, vejam só se não é a agente especial Riley Paige. Está ligando de Quantico?”

“Não” Disse Riley, “meus parceiros ainda estão aqui em Wilburton. Os agentes Roston e Jeffreys também estão na linha.”

"Bem, como isso é interessante. Eu pensava que já não ia saber nada de vocês. Você não resolveu o caso do assassino do picador de gelo? Você não tem um suspeito infalível sob custódia?”

"Nós não achamos que temos o homem certo " Riley disse. "Nós precisamos da sua ajuda."

Kinkaid riu e disse, “Logo quando eu estava pensando novamente na aposentadoria. Bem, eu gosto de estar ocupado. Que tipo de ajuda você tem em mente?”

Riley pensou por um momento e perguntou, "Por acaso você notou alguma imperfeição física no corpo de Vincent Cranston?"

“Você quer dizer uma marca de nascença, como a que o pescador tinha? Eu ainda não sei porque você ficou tão animada com isso.”

"Não exatamente" Disse Riley. "Quero dizer... algo sobre seu rosto, especialmente seus lábios."

"Ah! Agora que você fala nisso..."

Ela podia ouvir Kinkaid folheando um arquivo.

Então ele disse, "Será que eu poderia enviar para vocês uma foto de autópsia anexada a um e-mail?"

Jenn falou em voz alta para que Kinkaid pudesse ouvi-la.

"Isso seria bom. Eu lhe dou meu endereço de e-mail.”

Jenn disse a ele o endereço e os três comeram seus sanduíches enquanto esperavam. O e-mail com a imagem chegou em apenas alguns minutos. Jenn virou o computador para que todos pudessem ver.

Era um close da autópsia do rosto da vítima. Riley notou aquela expressão estranha novamente. Mas quando olhou mais de perto, disse...

"Chefe Kinkaid, você ainda está no seu telefone?"

"Bem aqui" Veio a resposta.

"Não é uma pequena cicatriz que eu vejo no lábio superior?"

"Sim" Disse Kinkaid. "Ele nasceu com um lábio leporino."

Bill perguntou, "O que é isso ao certo?"

Kinkaid disse, “Bem é uma fenda labial que se desenvolve durante o início da gravidez, quando o lábio superior não se funde adequadamente. No caso de Cranston, a fissura era unilateral, uma única fenda sob uma narina. Ele teve sorte. Uma fissura bilateral é mais difícil de corrigir”.

Jenn perguntou, "Corrigir? Como?"

“Através da cirurgia. Parece que sua fenda foi acompanhada por uma leve deformidade do nariz e também por um desalinhamento dentário. Esses problemas são bem típicos. Cranston provavelmente teve a fissura e seu nariz operdaos quando tinha cerca de três meses de idade, mais tarde foram feitas algumas correções dentárias. Parece bom trabalho em geral. Mas não havia como os cirurgiões evitarem deixar uma leve cicatriz reveladora. Ele levou isso consigo toda a sua vida ”.

Riley ouviu o ML zombar um pouco. "Eu ainda não vejo o que isso poderia ter a ver com o assassinato dele - nem por que a marca de nascença de Donovan teve algo a ver com o assassinato dele. Quem iria querer matar alguém por pequenas coisas como essa?”

Riley não respondeu a sua pergunta. Mas podia perceber pelas expressões de seus colegas que agora compartilhavam suas suspeitas.

Todas as três vítimas tinham algum tipo de imperfeição.

Sem outras conexões de qualquer tipo, aquela tinha que significar alguma coisa.

Riley agradeceu o ML, que lhe disse para voltar a ligar se precisasse de qualquer outra informação. Então terminaram a ligação.

Riley, Bill e Jenn se sentaram olhando uns para os outros por um momento.

Então Jenn disse, "OK, agora temos uma teoria real. Temos um assassino que odeia imperfeições físicas e não importa se são grandes ou pequenas. Para ele, uma perna amputada e uma fenda labial reparada são igualmente intoleráveis??”.

"Isso mesmo" Disse Riley. "E meu palpite é que ele considera uma espécie de missão distorcida livrar o mundo de tais imperfeições."

Bill acrescentou com um grunhido, “Significa que ele mata quem as tem. Temos sorte de ele não ter matado muito mais pessoas. Mas a questão ainda permanece - como exatamente ele os escolhe?”

Jenn disse, “Talvez ele simplesmente vagueie de cidade em cidade olhando até alguém se destacar. Ele deve persegui-los por um tempo. Então planeja suas mortes com cuidado. Ele aprendeu a rota de corrida de Vincent Cranston, provavelmente o parou para uma conversa amistosa, depois atingiu-o com o picador de gelo no ouvido. Então ele planejou seu arrombamento na casa de Robin Scoville e a matou. Finalmente, ele sabia onde encontrar Ron Donovan pescando ontem de manhã.”

Bill coçou o queixo e perguntou...

"Então, que tipo de perfil temos do assassino?"

Riley pensou por um momento, depois disse...

"Ele é exigente, talvez até minucioso. Ele odeia bagunça. É por isso que gosta de usar um picador de gelo da maneira como usa. Um golpe cuidadosamente colocado. Ele não está realmente tentando fazer parecer que suas vítimas morreram de causas naturais. Ele só gosta da limpeza desse tipo de matança - apenas um fio de sangue, e é isso. Isso combina com ele.”

"Então, estamos descobrindo algo sobre essa pessoa" Jenn concordou.

Bill se levantou e começou a andar.

Ele disse, “Tudo isso faz sentido - mas apenas para nós três. Eu duvido que nós persuadamos o Agente Sturman a aceitar essa teoria, não enquanto ele ainda tiver certeza de que tem o verdadeiro assassino sob custódia. Então nós ainda estamos sozinhos.”

Jenn acrescentou, “O que é pior, todos os assassinatos sucederam em sítios diferentes. Ele parece viajar por essa parte do estado. Não temos ideia de onde ele poderá atacar a seguir. E em termos de uma descrição, não temos nada além de sua altura, seu cabelo e talvez um mancar ocasional. Como diabos nós vamos rastrear alguém assim?”

Riley e seus colegas ficaram a pensar silenciosamente. Riley levantou-se, caminhou em direção à janela e olhou para fora, deixando sua mente vagar na esperança de encontrar uma ideia.

Três vítimas... três deformidades.

Parecia muito ruim que eles só tivessem descoberto a fissura labial de Vincent Cranston agora. Por alguma razão, supuseram que Vincent não tinha essas imperfeições...

Mas por que ficamos com essa impressão?

Agora que ela pensava sobre isso, parecia-lhe estranho.

Certamente havia algum motivo para eles não terem pensado fora de outra forma...

De repente Riley se apercebeu de algo.

Ela se virou para os colegas e disse, "Niles Cranston mentiu para nós".

"O que você quer dizer?" Jenn perguntou.

Riley disse, "Você se lembra do que ele disse quando perguntei se Vincent tinha alguma marca ou imperfeição?"

Jenn piscou os olhos e respondeu, "Ele disse que seu sobrinho era um espécime perfeito".

"Não era verdade" Disse Riley. "Era mentira."

Bill ficou mais agitado.

"O que você está tentando nos dizer, Riley?" Ele disse. “Que Niles matou o próprio sobrinho porque tinha lábio leporino? Você está dizendo que ele descobriu que gostou ou que isso o satisfez ou algo assim, então ele escolheu outras duas vítimas?”

Riley mordeu a língua para não dizer...

"Sim, é exatamente isso que estou dizendo."

Ela sabia que Bill tinha bons motivos para ser cético.

Mas Riley se lembrou da descrição de Wesley do assassino...

"Ele tinha cabelos castanhos, penteados para trás, separados à direita."

Claro que era uma descrição inócua que poderia enquadrar-se em inúmeros homens.

No entanto, enquadrava-se com Niles Cranston.

Bill continuou, “Não mencionar o lábio leporino do sobrinho pode nem ter sido intencional. Niles Cranston mal poderia ter percebido isso sozinho. Ele disse que mal conhecia o garoto, lembra? Ou talvez ele não achasse que isso contava como uma ‘imperfeição’”.

Jenn balançou a cabeça e disse, "Eu estou Bill sobre isso, Riley. Eu acho que você está exagerando.”

Riley reprimiu um suspiro desanimado. Ela não podia culpar seus colegas por duvidarem dela.

Ainda assim, ela tinha um forte pressentimento sobre Niles Cranston.

Temos que encontrar alguma prova, Pensou.

E ela tinha uma vaga ideia de como fazer isso.

Ela disse para Jenn, “Eu preciso que você faça uma busca online. Encontre todas as fotos que puder de Niles Cranston.”

Jenn sentou em seu computador novamente e bateu no teclado enquanto Bill e Riley olhavam por cima do seu ombro.

Depois de alguns minutos, Jenn disse, “Uau, isso é mais difícil do que o esperado. Eu sempre ouvi dizer que Niles Cranston era um solitário. Mas parece que ele se deu ao trabalho de não ser fotografado em público.”

Sentindo uma sensação de urgência, Riley se inclinou na mesa ao lado de Jenn.

Tinha que haver alguma coisa.

"Recue no tempo, percorra a sua vida" Disse para Jenn. “Continue até encontrar alguma coisa. Qualquer coisa."

Jenn logo encontrou fotos de anuários dos anos de Cranston em Yale e na escola preparatória - nada que lhes mostrasse algo fora do comum. Finalmente, ela encontrou uma foto de grupo que havia sido tirada da aula de Niles Cranston em um jardim de infância privado de elite. Niles estava sentado na primeira fila de crianças.

Riley ouviu o espanto de seus colegas com o que viram.

Quando menino, Niles Cranston tinha um aparelho em uma de suas pernas.

A mão de Riley tremeu de excitação quando apontou para a tela e disse...

"É ele. Niles Cranston é o assassino.”


CAPÍTULO TRINTA E UM


Riley não conseguia parar de olhar para a fotografia na tela do computador de Jenn. Ela percebeu que Bill e Jenn também estavam fascinados com aquela imagem. A foto de grupo de Niles Cranston e seus colegas do jardim de infância de repente tornou tudo claro.

Cranston sofrera de algum tipo de deficiência quando criança - algo que afetara uma de suas pernas.

Jenn comentou, "Cranston é a única criança na foto que não sorri".

"Isso mesmo" Disse Riley. “O que quer que estivesse errado com sua perna, isso o fazia infeliz. E ele carregou essa miséria por toda a sua vida. É uma cicatriz psíquica permanente.”

Apontando para a tela, Riley perguntou:, "Então, algum de vocês tem alguma dúvida de que ele é o assassino?"

"Não me parece" Disse Jenn.

"Também não" Disse Bill. "Mas ainda tenho muitas perguntas. Você mencionou que Wesley disse que o assassino andava mancando. Quando nos encontramos com Cranston em sua mansão, ele não mancou nada.”

"Você está esquecendo uma coisa, Bill" Disse Riley. “De acordo com Wesley, o assassino só mancava quando se aproximava de sua vítima. Ele parou de mancar depois que a matou.”

Jenn assentiu e disse, “Quase como se o assassinato fosse algum tipo de terapia que o fez se sentir melhor?”

"Algo assim” Disse Riley. “De qualquer forma, sabemos que o assassino não manca o tempo todo. Então pode fazer sentido que Cranston não mancasse quando o conhecemos.”

Jenn disse, "A questão é: o que fazemos agora?"

"Comecemos pelo início" Disse Bill. “Precisamos informar Rowan Sturman disso. Como o agente do FBI responsável aqui em Connecticut, cabe a ele decidir como proceder. Vou ligar para ele.”

Enquanto Bill pegava seu celular e ligava para Sturman, Riley e Jenn se debruçaram sobre o computador, esperando encontrar mais informações sobre a condição de infância de Niles Cranston. Uma busca rápida não encontrou nada, mas Riley não ficou surpresa. O rico e recluso Niles Cranston havia se assegurado de que pouco sobre sua vida pudesse ser conhecida do público.

Enquanto isso, Bill estava conduzindo uma conversa animada com o agente Sturman.

Quando terminou a ligação, Bill resmungou, "Isso não correu bem. Por um lado, Sturman não tinha ideia de que ainda estávamos em Connecticut e ele não gosta de não ser informado. Além disso, ele acha que Wesley estava imaginando coisas ou inventando coisas. Ele ainda acredita que Bruno Young é o assassino. E com certeza não gosta da ideia de acusar o homem mais rico de Connecticut de assassinato”.

Jenn perguntou, "Devemos ligar para Meredith?"

Bill grunhiu e disse, “Não é uma boa ideia. Acredite, ele não está disposto a ouvir nenhuma de nossas teorias. Ele já está chateado conosco.”

Riley reprimiu um suspiro desanimado.

"Nós três teremos que fazer issso sozinhos" Disse ela, depois acrescentou, "de novo".

Bill soltou uma risada amarga.

Ele disse, “Bem, acho que já deveríamos estar acostumados a não ir na corrente. Por mais louco que seja Meredith, duvido que ele nos demita quando tudo isso acabar. Desde que seu chefe não descubra, devemos ficar bem.”

“Walder definitivamente adoraria nos demitir” Jenn observou. "Especialmente você, Riley."

Riley assentiu. Ela e o agente especial responsável Carl Walder eram inimigos há muito tempo, e ele a suspendera e até mesmo demitira temporariamente no passado.

"Nós não seremos demitidos se pudermos parar o assassino" Disse Riley. "Enquanto isso, acho que devemos fazer outra visita a Niles Cranston - desta vez sem aviso prévio."


*


Alguns minutos depois, os três estavam dirigindo para o sul, em direção à propriedade de Cranston. Com Bill no volante, Riley e seus dois colegas discutiram preocupações persistentes - inclusive se eles encontrariam Niles Cranston em casa. Se fosse o caso, estaria disposto a falar com eles? E se o assustassem a ponto de fugir?

Jenn sentrou em seu laptop e conseguiu algumas fotos de satélite da propriedade. Com certeza, eles poderiam facilmente ver que a propriedade Cranston estava totalmente equipada com uma plataforma de vôo e o que parecia ser um helicóptero.

Riley sacudiu a cabeça preocupada.

Ela disse:, "Precisamos ter cuidado ou ele sairá do país antes que alguém possa impedi-lo. E será por nossa própria culpa.”

"Mas se ele está em casa, como nos aproximamos dele?" Jenn perguntou. "O que dizemos a ele?"

Riley encolheu os ombros e disse, "Começamos de forma inocente - apenas garantimos a ele que estamos confiantes de que temos o homem certo sob custódia e só precisamos de um pouco mais de informação para ajudar a provar nosso caso contra ele."

"E então?" Jenn perguntou.

"Tentamos enganá-lo" Disse Riley. "Vemos se o conseguimos fazer tropeçar e levá-lo a se revelar."

Bill riu um pouco e acrescentou, “Isso significa que deixamos Riley falar, Jenn. Jogar jogos mentais com assassinos é com ela, você sabe. Há uma boa chance de que ela tire a verdade dele. Se tivermos muita sorte, poderemos fazer uma prisão naquele momento.”

Riley apreciou a fé que Bill tinha nela.

Eu só espero não desiludir todo mundo.

Quando chegaram à extremidade da propriedade de Cranston, descobriram que o enorme portão da frente estava fechado. Riley lembrou como fora fácil passar da última vez, quando eles eram esperados e Sturman simplesmente se identificou com o guarda.

Desta vez eles não tiveram escolha a não ser mostrar seus distintivos novamente. Quando o fizeram, o guarda fez um telefonema - para a casa principal, Riley tinha certeza. Então ele abriu o portão e deu entrada aos três agentes.

"Isso não é bom" Disse Jenn enquanto dirigiam para a vasta propriedade feudal, com suas muitas estruturas menores espalhadas em torno das enormes áreas arborizadas. "Ele está nos esperando agora."

Riley silenciosamente concordou.

Lá se foi o elemento surpresa.

Eles pararam no edifício principal, saíram do carro e tocaram a campainha. Foram recebidos pelo mesmo mordomo idoso e de aparência severa que haviam encontrado na última vez que ali tinham estado.

“Acabei de atender uma ligação do portão da frente” Observou ele. "Que negócio o FBI tem vindo aqui de novo?"

Riley disse, "Gostaríamos de ter falar um pouco mais com Niles Cranston. Nós vamos tentar não incomodá-lo. Estamos apenas tentando finalizar algumas pontas soltas.”

Um olhar preocupado cruzou o rosto do mordomo.

"Receio que ele não esteja em casa", disse ele. "Ele saiu aqui cedo esta manhã."

"Ele disse onde estava indo?" Jenn perguntou.

O mordomo hesitou, depois disse, "Ele disse que estava indo para Holloway".

Riley e seus colegas trocaram olhares desconfortáveis.

"Ele disse o que ia fazer lá?" Perguntou Bill.

"Não, eu temo que ele não tenha dito" Disse o mordomo. “Ele vai e vem muito nos últimos dias. Eu acredito que ele às vezes gosta de… dirigir e ver as coisas.”

Riley podia ouvir Bill falando em voz baixa.

Riley também estremeceu por dentro com essas palavras.

“Eu acredito que ele às vezes gosta de... dirigir e ver as coisas.”

Riley tinha certeza de que ela e Bill estavam pensando a mesma coisa...

Ele está perseguindo outra vítima.

Alguém mais pode já estar morto.

Bill murmurou para Riley e Jenn, "É melhor irmos para Holloway. Deus sabe como vamos encontrá-lo lá.”

Quando Bill e Jenn começaram a se afastar, Riley disse para eles em voz baixa...

"Esperem um minuto. Nós não vamos ainda.”

Ela se virou e fixou os olhos no mordomo. Ela sentiu que ele estava profundamente perturbado.

Este homem sabe alguma coisa, Pensou.

Ela tinha que descobrir o que era.


CAPÍTULO TRINTA E DOIS


O mordomo baixou o olhar por um momento, mas depois olhou para Riley novamente. Ela tinha a certeza...

Ele não só sabe de algo...

Ele quer nos contar sobre isso.

A última vez que tinham estado ali, ele os tratara com eficiência fria. Mas algo era diferente desta vez.

Com uma voz gentil, Riley disse, "Qual é o seu nome, senhor?"

O mordomo curvou-se levemente e disse, “Edward, senhora. Eu estou com a família Cranston desde antes do nascimento do senhor Niles.”

Riley pensou nos segredos de família que Edward certamente conhecia.

A questão era...

Quão profunda é a sua lealdade?

O que ele estará disposto a nos dizer?

Riley perguntou lentamente, "Edward, você notou se o Sr. Cranston tem se comportado... bem, de forma estranha ultimamente?"

Edward ficou em silêncio e seu olhar pareceu se perder.

Finalmente ele disse, "Eu penso que vocês três devem entrar".

Edward os levou até uma enorme sala de estar e os convidou a se sentar. Ainda de pé, ele disse, “Você perguntou se o senhor Niles estava se comportando de maneira estranha. De fato, tem. Algo o incomoda desde que suas dores recomeçaram há várias semanas.”

"Suas dores?" Riley perguntou.

“Sim, ele nasceu com um pé boto. Ele teve que usar um aparelho quando criança, até que a cirurgia pudesse ser realizada para corrigir sua... debilidade. Infelizmente, a dor é volta de tempos em tempos. Ele nunca diz nada sobre isso, mas eu sei porque ele começa mancando.”

Riley sentiu um arrepio de excitação.

Mancando!

Edward balançou a cabeça ligeiramente e disse em voz baixa...

“Temo que a dor dele… seja muito mais profunda que a meramente física”.

"O que você quer dizer?" Riley perguntou.

“Outras crianças brincavam e… o evitavam. Pior ainda, seu próprio pai o atormentava sobre isso. ‘Um Cranston deve ser perfeito’, dizia o velho senhor Lew. ‘Você é uma adição sem esperança para a família.’ Mesmo depois que a perna foi corrigida pela cirurgia, seu pai não deixou o assunto passar. Ele continuava a criticar a 'imperfeição' de seu filho - especialmente sempre que a dor retornava e o pobre menino não conseguia evitar mancar.”

Quando Edward ficou em silêncio novamente, uma pergunta cruzou a mente de Riley.

"Aconteceu alguma coisa para acionar seu mancar recente?"

"Eu acredito que sim" Disse Edward. “Cerca de um mês atrás, seu sobrinho Vincent veio para o leste para começar a faculdade em Yale. Vincent vem do ramo da Costa Oeste da família e não me lembro de o senhor Niles o conhecer. Quando Vincent chegou e o senhor Niles o conheceu, ele caiu em um humor estranho e pensativo.”

Riley perguntou, "Foi por causa do lábio leporino de Vincent?"

Edward pareceu surpreso com a pergunta.

“Bem, sim, tenho certeza de que foi esse o caso. O senhor Niles começou a coxear novamente e ele vagou pela casa murmurando para si mesmo... sobre a ‘imperfeição’ do sobrinho.”

Edward respirou longa e lentamente, como se quisesse recuperar sua determinação.

“Então Vincent morreu, tão de repente e estranhamente. O senhor Niles encarou o caso calmamente - com muita calma, pensei - e seu mancar desapareceu por um curto período de tempo. E ontem eu ouvi no noticiário que Vincent tinha sido assassinado - com um picador de gelo. Além disso, duas outras vítimas tinham sido assassinadas da mesma maneira. E tudo isso enquanto o senhor Niles ia e vinha, e mancando e não mancando, e ele sempre foi uma alma tão atormentada...”

O homem estremeceu profundamente e acrescentou...

"Eu não sabia em que acreditar. Mas fico feliz por estarem aqui.”

Bill perguntou, "Você tem certeza de que ele não disse nada sobre o que ia fazer em Holloway? Qualquer coisa sobre para onde poderia ir?”

"Não, ele não disse nada sobre isso" Edward disse.

Então Jenn perguntou, "Edward, você tem certeza que ele ainda está em Holloway? Tem certeza de que ele não voltou para a propriedade?”

Essa é uma boa pergunta, Riley percebeu.

Edward apertou os olhos e disse, "Eu não acho que ele poderia ter voltado para a mansão sem que eu soubesse, mas...”

Ele pensou por um momento, depois disse, "Deixe-me verificar".

Então tirou um walkie-talkie do paletó e afastou-se para falar por dois ou três minutos. Finalmente voltou para junto de seus visitantes e disse...

“O porteiro diz que o Senhor Niles voltou há pouco. Eu também falei com o pessoal da casa e ele definitivamente não está na mansão.”

"Onde poderia estar agora?" Riley perguntou.

Edward disse, "Lamento não ter ideia. Como você sabe, a propriedade é muito grande.”

Riley se levantou e disse...

“Edward, você precisa nos ajudar a encontrá-lo. Eu acho que você entende como isso é urgente.”

Edward estava pálido agora, quase como se estivesse em estado de choque.

A verdade está surgindo, Pensou Riley.

“Você me ouviu?” Ela disse.

"Sim, sim" Edward gaguejou. “Isso deve ser possível, mas pode levar algum tempo. Além da equipe aqui mesmo em casa, a propriedade como um todo emprega mais de cem pessoas. Eles estão espalhados por todo o terreno. Eu reunirei a equipe da casa e todos começaremos a fazer ligações até descobrirmos onde ele está.”

Riley reprimiu um suspiro desanimado.

Isso pode demorar muito tempo.

Então algo crucial ocorreu lhe ocorreu…

Ela disse para Edward, “Faça sua primeira ligação para o heliporto. Diga à equipe para alertá-lo se ele aparecer lá. E fale com o piloto do helicóptero. Diga a ele para não tirar Niles do terreno.”

Os olhos de Edward estavam arregalados de alarme agora.

Ele disse "Mas se Niles ordenar o piloto para levá-lo..."

Riley interrompeu bruscamente, "Isso não pode acontecer. Certifique-se de que o piloto sabe disso.”

Edward assentiu em silêncio, depois começou a fazer ligações.


*


Vestindo seu roupão e chinelos, Niles sentou-se na cama ouvindo Dawn cantar no banheiro.

Ele estava preocupado agora.

Eu deveria ter planejado isso melhor.

Isto não é como nas outras vezes.

Depois que ele e Dawn terminaram suas bebidas, começaram a se beijar apaixonadamente. Olhando para trás agora, Niles não tinha certeza de quem tinha começado, embora a mulher obviamente estivesse muito ansiosa.

Então Dawn sugeriu que se revezassem no banheiro para se despirem. Niles fora o primeiro e, quando voltou, Dawn entrou no banheiro. Ela levou um roupão de banho e chinelos que eram mantidos na casa para os visitantes.

Ela estava lá agora, cantando alegremente, aparentemente levando algum tempo para se preparar.

Enquanto isso, Niles sentia-se desesperadamente inseguro do que aconteceria a seguir.

Ele realmente faria amor com essa mulher antes de matá-la?

Ele era capaz de fazer uma coisa dessas?

As coisas pareciam estar saindo de seu controle.

E ele odiava sentir que não conseguia controlar as coisas. Os outros três assassinatos foram tão rápidos, limpos e eficientes. Quando ele encontrou o sobrinho na pista de corrida, o jovem naturalmente parou para falar com ele - e Niles enterrou o picador de gelo no ouvido dele com um movimento rápido e decisivo.

Antes de planejar e realizar esse ato tão bem, ele nunca pensou em matar ninguém. Tal cena nunca pareceu concebível em sua vida bem ordenada.

Mas ele obteve satisfação imediata e profunda na ação. Ele experimentou um sentido verdadeiramente profundo de retidão.

Ele nem se surpreendeu quando seu pé parou de doer. Isso parecia perfeitamente de acordo com a beleza de sua ação.

Que maravilha sentira em livrar o mundo da imperfeição do sobrinho!

Até mesmo seu pai poderia ter orgulho dele por isso!

Depois daquela primeira experiência extática, como poderia evitar querer fazer isso de novo... e de novo...?

Não se arrependia da jovem e do pescador. Mas ele estava começando a perceber que deveria seguir um rumo diferente com essa jovem - improvisar, por assim dizer, e ver como os eventos se desenrolavam.

Agora tudo parecia vago e incerto.

Tudo o que ele sabia com certeza era que, de um jeito ou de outro, ele teria que matá-la.

Felizmente, o picador de gelo estava pronto e esperando na gaveta do criado mudo.

Mas então, depois de o concretizar, quando ela estivesse morta...?

Ele estremeceu ao perceber que iria se deparar com um problema com que não tivera que lidar das outras três vezes...

Como se livrar do corpo.

Naquele momento, o canto parou e a mulher saiu do banheiro vestindo um roupão e chinelos. Ela sorriu quando começou a andar em direção a ele, mas quando se aproximou, ele disse...

"Pare aí mesmo."

Seu sorriso desapareceu e ela ficou parada.

Seu coração estava batendo tão alto que ele o podia ouvir e quase se perguntou se também ela o ouviria.

Ele disse, "Tire o seu robe".

Ela pareceu surpresa por um momento, depois sorriu novamente, aparentemente sentindo prazer com sua ordem. Deixou o roupão cair no chão e ficou nua diante dele, só de chinelos.

"Vire-se" Disse ele.

Ela obedeceu, ele se levantou da cama e se ajoelhou atrás dela.

Ela ofegou bruscamente quando ele tocou uma das cicatrizes nas curvas de seus joelhos e disse...

"Você fez uma cirurgia."

"Sim" Ela gaguejou.

"Aqui e em outros lugares" Disse ele. “Nas costas. No estômago."

Ele se levantou e colocou-se na frente dela. "No seu rosto também" Acrescentou.

Ela rapidamente se abaixou, pegou o roupão de banho e o colocou de volta, em seguida, olhou para ele silenciosamente.

Ele perguntou, “Você se sente melhor agora? Menos... imperfeita?”

Ela não disse nada, mas parecia chocada, espantada e triste.

Por que ela não responde? Ele se perguntou.

Ele tinha muitas outras perguntas que lhe queria fazer.

Ela foi provocada quando criança?

Ela foi evitada - não só na infância, mas também na idade adulta?

Acima de tudo, ele queria saber...

Ela não entende que não consertou nada?

Ela não sabe que não é nada mais do que uma falha viva que não tem razão para existir?

Antes que ele pudesse pronunciar qualquer um desses pensamentos, o telefone da sala tocou. Ele foi até o telefone e ouviu a voz de Edward.

“Senhor Niles? Você está aí?"

Com um sobressalto, ele percebeu...

Edward não pode saber.

Ele rapidamente desligou o telefone sem dizer uma palavra e ficou ali parado por um momento, abalado pela invasão.

Então ouviu um som suave atrás dele.

Ele se virou e viu Dawn saindo do quarto.

"Pare!" Ele ordenou.

Mas quando começou a persegui-la, seu pé foi tomado por uma dor intensa que quase o pôs de joelhos.

Ele ouviu os passos esvoaçantes de Dawn enquanto ela continuava escada abaixo, então a ouviu abrindo a porta da frente enquanto corria para fora.

Nem a mulher nem o seu próprio corpo obedeciam às suas ordens.

Abriu a gaveta da mesinha de cabeceira e tirou o picador de gelo, depois atravessou a sala mancando, ordenando a si mesmo...

Ignore a dor.

Você precisa pegá-la.

Mas então sua dor diminuiu um pouco quando algo lhe ocorreu.

Ele mesmo projetou os jardins ao redor desta casa e eles eram vastos e labirínticos…

E eu conheço o caminho muito melhor do que ela.


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS


Riley e seus colegas esperaram enquanto Edward entrava em ação, chamando a equipe de cinco pessoas da casa e dando-lhes ordens, designando chamadas para que todos fizessem, enquanto tentavam contatar o pessoal de toda a propriedade. Sua energia, eficiência e autoridade eram impressionantes.

E fico feliz que ele esteja do nosso lado, Pensou Riley.

Ela sabia que não seria fácil para um homem que servira lealmente a família Cranston por décadas, de repente se voltar contra seu atual patrão. Ela não teve a sensação de que Edward odiava Niles Cranston. Mas o mordomo deixara claro que tinha pena de Cranston por sua dor de infância e que sabia que tipo de cicatrizes a dor havia deixado para trás...

E ele entende o que Cranston poderia ser capaz de fazer.

Enquanto a sala zumbia com os criados falando em seus celulares, Riley lutou contra sua crescente impaciência. Ela esperava que Niles Cranston não percebesse que ela e seus colegas estavam ali em sua propriedade - e que seus próprios criados estavam tentando ajudá-los em sua apreensão.

Ele pode tentar escapar de helicóptero.

É claro que Edward já havia ligado ao pessoal da pista de pouso e ao piloto, alertando-os para não deixar Cranston escapar. Mas Edward não podia fazer promessas sobre o que eles realmente poderiam fazer.

Afinal, o próprio Cranston exercia a autoridade suprema ali.

No meio de toda a conversa, Edward veio correndo em direção a Riley e seus colegas.

"Acho que o encontrei" Desabafou.

"Onde?" Riley perguntou sem fôlego.

Edward disse, “Eu acabei de ligar para a casa de hóspedes principal. Alguém pegou o telefone e colocou de novo sem dizer uma palavra. Ninguém na nossa equipe deveria estar lá - e, além disso, nenhum deles desligaria assim.”

Riley, Bill e Jenn trocaram olhares rápidos. Riley podia ver que seus colegas compartilhavam sua onda de esperança.

Bill disse a Edward, "Como chegamos a essa casa de hóspedes?"

Edward diz, "É apenas um par de minutos de carro daqui..."

Ele deu algumas indicações cristalinas e sucintas.

Os agentes correram para o carro.

Com Bill dirigindo, logo chegaram a uma área onde jardins divididos por sebes altas se estendiam diante deles. As sebes bloqueavam grande parte da vista, mas Edward dissera que a casa de hóspedes ficava bem no centro dessa complexa rede de jardins.

É quase como um labirinto, Pensou Riley.

Finalmente chegaram à casa. Um SUV preto estava estacionado do lado de fora - o veículo da Cranston, Riley tinha certeza. O carro parecia vazio, mas a porta da frente da casa estava bem aberta.

"Eu não gosto da aparência disso" Disse Bill.

"Eu também não" Disse Jenn.

Os três sacaram suas armas.

Riley gritou para a casa...

“Niles Cranston, é o FBI. Nós só queremos conversar com você, fazer mais algumas perguntas. Achamos que podemos ter uma pista sobre o assassinato do seu sobrinho.”

Quando não houve resposta, deu a Bill e Jenn um sinal silencioso para ficarem juntos enquanto vasculhavam a casa.

Na sala de estar, a primeira coisa que Riley notou foi uma bandeja de prata com um par de copos vazios e um prato com sobras de lanche.

Ele não está sozinho.

Ele estava aqui com outra vítima?

Alguém já estava morto?

Toda essa cena não parecia lógica para ela. Até agora, o assassino havia cometido seus crimes de uma maneira muito menos complicada. Ele simplesmente se aproximara e atacara. Mas o que estava ele fazendo ali? Ele estava seduzindo sua próxima vítima?

Parece bem diferente do habitual, Pensou.

Mas na verdade, esse monstro estava mudando seu MO o tempo todo. Ele invadiu a casa de Robin Scoville no meio da noite, mas se aproximou das outras duas vítimas mais casualmente. E depois de matar seu sobrinho, passara a matar estranhos. Sua única consistência foi na escolha da arma e na forma como a usara.

Riley e seus colegas verificaram todos os quartos do primeiro andar, depois subiram silenciosamente as escadas.

O chinelo de uma mulher estava abandonado em uma das escadas.

O coração de Riley batia descompassadamente.

Isso não parecia bom.

Ela pegou o chinelo, e Bill e Jenn seguiram o resto do caminho até as escadas.

Quando entraram no quarto grande, Riley viu que as cobertas da cama estavam viradas para baixo, mas não parecia que alguém tinha realmente estado naquela cama.

Bill verificou o banheiro e disse...

“Tem roupas aqui - de homem e mulher. Parece que os dois se despiram.”

E depois o que aconteceu? Riley se perguntou.

Ela fez uma pausa e tentou imaginar como as coisas poderiam ter se desenrolado. Ela lembrou a si mesma...

Ele está procurando vítimas com imperfeições.

Isso significa que a mulher certamente deve ter alguma característica distintiva que o tenha perturbado.

Será que essa falha foi ainda mais aparente quando ela estava nua?

Por um momento, ela teve uma vaga sensação de conexão com o assassino...

Ele não resistiu em falar com ela sobre isso.

Ele só tinha que o referir.

E isso tinha sido estranho o suficiente para assustar sua vítima.

Riley segurou o chinelo abandonado e disse a seus colegas, “Ela fugiu dele. Ela perdeu este chinelo enquanto descia as escadas.”

Outro vislumbre da mente do assassino revelou...

“Ele foi embora depois dela. Mancando, mas...”

Bill terminou seu pensamento. "Nesses jardins intricados, ele é capaz de alcançá-la de qualquer maneira."

Jenn acrescentou, "Se não o tiver feito já. E tê-la morto.”

"Temos que nos separar e procurar" Disse Riley.

Os três agentes desceram as escadas e saíram da casa.

Armas na mão, eles se seguiram em direções diferentes.

Riley seguiu um caminho que serpenteava entre pequenos jardins que floresciam com rosas que desabrochavam e outras flores. As sebes altas demais para ver separavam os jardins e bloqueavam sua visão de qualquer coisa à frente. Quando ela virou uma esquina, encontrou um banco desocupado. Depois de outra virada, viu um balanço igualmente vazio.

Estes terrenos bem cuidados foram projetados para contemplação privada ou sociável da beleza da natureza. Agora suas torções e barreiras provavelmente escondiam uma cena de horror.

Quando ela virou outra esquina, Riley ficou surpresa ao encontrar uma forma humana.

Era apenas uma estátua, uma mulher nua segurando um pote.

A cada passo, ela se sentia quase subjugada pela grande dificuldade dessa caçada. Como diabos eles encontrariam alguém neste labirinto?

Especialmente alguém que não quer ser encontrado?

Ela temia que uma das pessoas que procurava estivesse morta. A qualquer momento, podia tropeçar no cadáver quase nu da mulher.

E Cranston podia já ter ido embora. Ele encontraria roupas sobressalentes facilmente. Ele poderia já ter chegado ao heliponto. Felizmente, não viu ou ouviu um helicóptero voando.

Então contornou uma cerca e se encontrou de frente para eles.

Cranston e uma jovem mulher, ambos usando roupões de banho.

E naquele momento, um brilho de metal chamou a atenção de Riley...

O picador de gelo.

Ele estava segurando-o junto do ouvido da mulher aterrorizada.

Cranston parecia assustado - o que só o tornava ainda mais perigoso.

Ele gritou para ela, “Baixe a arma, agente Paige. Se você não fizer isso, eu vou esfaquear ela - e ela estará morta antes de tocar no chão.”

Riley calculou mentalmente o risco de atirar contra ele. Mas não se atreveu. Ele segurava o corpo da mulher para protegê-lo. E seu braço estava tenso, pronto para atacar.

Ela se abaixou e colocou a arma no chão.

Com cuidado, ela se levantou e disse...

“Isso é impossível. Você sabe. Há mais dois agentes vasculhando a área. Você nunca sairá desses jardins.”

Cranston estava tremendo todo agora.

"O que faz você pensar que eu me importo?" Ele disse. "Você não entende o que é isso tudo, não é? Você não entende porque estou fazendo isso.”

Riley disse, "Talvez me pudesse dizer."

Cranston soltou uma risada sombria. "Ah não. Não há jogos mentais, Agente Paige. Você não pode me manipular. Eu te entendo melhor do que você imagina. Você tem suas próprias cicatrizes, não é? Você não pode viver a vida que viveu sem reunir sua parte de feridas - tanto por dentro quanto por fora.”

Riley sentiu um arrepio estranho e inesperado.

Ele está absolutamente certo.

Ele estava jogando jogos mentais com ela.

E se ela não tivesse cuidado, ele poderia ganhar.

"Largue o picador de gelo, Niles" Disse ela.

"Oh, eu largo, de bom grado" Disse ele com um sorriso de escárnio. “Mas só depois de a matar. E eu vou ter apenas um arrependimento - que você não seja minha última vítima. Eu estava esperando por isso desde que nos conhecemos. Mas temo que não seja. Que triste."

Riley manteve os olhos focados nos dele, com medo de desviar o olhar por um segundo sequer.

Se ela pudesse manter sua mente enlouquecida focada nela...

Mas o que poderia fazer, exceto adiar o inevitável?

Mais cedo ou mais tarde, seu olhar enfraqueceria e isso seria o fim de tudo.

Só então ela ouviu um barulho de passos correndo na trilha atrás dela.

Bill, Pensou. Ou Jenn.

Um ou os dois deviam ter ouvido suas vozes.

E perante aquele som, Niles Cranston olhou para o lado.

O picador de gelo em seu punho cerrado se afastou alguns centímetros da orelha da mulher.

Riley não teve tempo para pensar...

Agora!

Ela avançou e se jogou contra o homem e sua refém.

Os três caíram no chão.

Sentiu uma dor feroz em suas costas.

O picador de gelo!

Riled contorceu-se e rolou para o lado, apenas para perceber que não conseguia mais respirar.

A dor era esmagadora.

Em outro instante, Niles Cranston colocou-se em cima dela, o picador de gelo ainda apertado em seu punho.

Ele estava apontando para o ouvido dela.

Freneticamente, Riley torceu a cabeça, tentando impedi-lo de obter o ângulo certo.

Mas ela estava enfraquecendo e o mundo estava perdendo o foco...

Não vale a pena.

Riley tinha certeza de que ia morrer.

Então um tiro soou.

E tudo ficou preto.


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO


Quado Riley começou a acordar, ela se esforçou por um momento para lembrar...

Onde estou?

O pesadelo pelo qual passara parecia que tinha acontecido apenas momentos atrás.

Primeiro houve o emaranhado de corpos quando ela se jogou em Niles Cranston e sua vítima, então a dor terrível quando o picador de gelo mergulhou entre suas costelas, a certeza de que ia morrer e então o som de um tiro...

E depois?

Agora ela ouviu o som de uma voz familiar...

"Mãe..."

Ela abriu os olhos e viu April em pé na frente dela, sorrindo.

Ah, sim, Percebeu.

Estou em casa novamente.

Agora ela se lembrava de tudo com muito mais clareza.

O tiro fora da pistola de Bill. Ele atirou em Niles Cranston uma fração de segundo antes que ele pudesse mergulhar o picador de gelo no ouvido de Riley.

No dia seguinte, quando ela acordou em uma cama de hospital em D.C., Bill e Jenn contaram a Riley o que acontecera depois de ela perder a consciência.

Bill apontou diretamente para o centro do peito de Niles e Niles morreu em segundos. Então Riley foi levada para o hospital por um helicóptero de emergência. Felizmente, o picador de gelo não atingiu seu coração ou suas artérias, então ela logo se recuperou e foi autorizada a ir para casa três dias depois.

E ali estava ela agora, olhando nos olhos da filha...

Uma visão tão linda.

A vida certamente parecia especialmente preciosa agora.

Ela ainda estava enfaixada, mas não estava mais restrita a sua cama. Na verdade, estava confortavelmente apoiada no sofá da sala da família, onde cochilou por um tempo. Sua família estava cuidando de todas as suas necessidades.

April acariciou sua bochecha e disse, "Mãe, eu sinto muito em acordá-la, mas Blaine está aqui".

Riley quase riu, mas rapidamente lembrou o quanto ainda doía fazer isso.

"Novamente?" Ela disse com voz rouca.

Na verdade, ainda doía até falar.

"Mais uma vez" Disse April, rindo. "Eu imaginei que você gostaria de vê-lo."

Riley sorriu e assentiu. Blaine passara muitas horas ao lado da cama no hospital. E desde que ela estava em casa, ele tinha lá estado todos os dias.

April acompanhou Blaine até a sala da família. Ele puxou uma cadeira ao lado do sofá e sentou-se, então pegou a mão dela gentilmente e disse...

"Uau, você está melhorando muito. A cor voltou ao seu rosto. Você parece mais e mais com o seu antigo eu.”

"Blaine, eu estou bem" Disse ela. "Você não precisa ficar aparecendo o tempo todo."

"Preciso sim" Disse Blaine.

Seu sorriso desapareceu e um olhar de tristeza cruzou seu rosto.

Ele disse, "Eu acho que eu não disse a você - enquanto você estava no hospital, eu estava com muito medo de perder você".

Riley sentiu uma pontada de tristeza também.

Ela lamentou ter causado muita preocupação às pessoas que amava.

"Oh, eu sou durona, Blaine. Eu passei por pior. Está só demorando um pouco mais para ficar melhor. Eu devo poder voltar a trabalhar daqui a uma semana.”

Os olhos de Blaine se arregalaram e sua boca se abriu um pouco.

“De volta ao trabalho?” Ele disse.

Riley ficou perturbada por sua óbvia decepção. Não tinha percebido que ela gostaria de voltar ao trabalho assim que pudesse?

Blaine baixou os olhos e disse...

“Riley, eu tenho que ser sincero. Isto tem sido…"

Sua voz desapareceu, mas Riley teve a sensação de que ela entendia pelo menos um pouco do que ele queria dizer...

Tem sido difícil.

Talvez demasiado difícil.

Blaine tinha apoiado sua carreira por algum tempo. Ele até agira corajosamente uma vez, quando o emprego dela colocara ele e sua família em perigo. Mas Riley sabia que estar em um relacionamento com um agente da UAC não era fácil para ele. Ele finalmente alcançara seu ponto de ruptura?

Riley sentiu um nó na garganta enquanto se perguntava...

Podemos continuar assim?

Ela apertou a mão dele e disse, "Acho que temos algumas coisas que precisamos conversar."

"Sim" Blaine disse, sua própria voz cheia de emoção. “Não agora, no entanto. Em breve."

O celular de Riley tocou. Ela viu que estava na mesa de café e pegou para ver quem estava ligando.

"É Bill" Disse a Blaine.

Blaine assentiu e disse, "Eu vou deixar você falar".

Riley queria protestar e dizer-lhe que não falaria muito tempo, e que ele deveria ficar mais um tempo, mas...

Não, é melhor assim.

Blaine se levantou e foi para a porta da frente, e Riley atendeu o telefone.

"Estou apenas checando” Disse Bill.

"Você tem feito muito isso" Disse Riley.

Na verdade, Bill passara quase tanto tempo com ela quanto Blaine.

Bill disse, “Sim, bem. Você está meio que presa a mim. É uma coisa de parceiro, você sabe.”

Riley sorriu. Era bom ter um homem em sua vida que era simplesmente um amigo. E agora, “parceiro” soava como uma palavra muito legal.

Riley disse, "Estou ótima, mas estou cansada de não fazer nada. Diga-me que você tem um novo caso para nós trabalharmos.”

Bill riu.

“Riley, eu odeio te lembrar, mas você está de licença. Você precisa de algum tempo para melhorar.”

Riley suspirou e disse, "É o que me têm dito."

“De qualquer forma, acabei de receber outra ligação de Meredith. Ele continua perguntando como você está.”

Riley disse, "Eu espero que você tenha dito a ele que estou tão geniosa como sempre".

"Oh, ele já sabe disso" Disse Bill com uma risada.

Riley ficou comovida pela preocupação de Meredith. Ele fora ao hospital para visitá-la e parabenizá-la por um trabalho bem feito. Pela primeira vez, não estava com raiva de como Riley e sua equipe haviam se comportado. Afinal de contas, apesar de testarem um pouco sua paciência, eles tinham feito as coisas segundo as regras dessa vez - ou praticamente.

Então Bill acrescentou...

“Ah, e ouça isso. Eu também recebi uma ligação de Carl Walder. Ele envia seus melhores desejos. Ele diz que você fez um ótimo trabalho e espera que volte ao trabalho em breve. Acho que talvez ele tenha uma recomendação em mente para você.”

Riley ficou realmente surpresa.

"Eu devo estar sonhando" Disse ela.

“Estranho, huh? Bem, você parece cansada, então eu vou deixar você descansar um pouco mais.”

Riley agradeceu e terminou o telefonema.

Ela ficou lá sozinha na sala de estar pensando naquela visita desconfortável de Blaine. Riley se perguntou - o que seria necessário para manter o relacionamento deles? Deveria seguir outra linha de trabalho - investigação particular, talvez?

Não, Pensou. Eu sou uma agente da UAC. Eu não posso ser outra coisa.

E isso tinha um preço.

A vida certamente não funcionou do jeito que ela esperava há muitos anos.

Ela se viu lembrando quando era jovem e apaixonada por Ryan Paige, e todas as esperanças brilhantes que tivera para o relacionamento deles. Ficou triste por ter terminado tão mal. Apesar de Ryan certamente ter sua parte da culpa pelo fracasso do casamento, ela tinha que se perguntar até que ponto seu trabalho também prejudicara sua relação.

E o que seria de Ryan agora?

Ela ainda gostava dele o suficiente para se preocupar com ele. Ele ligou para ela uma vez quando estava no hospital, mas parecia mal - pior do que ela.

Ele vai ficar bem? Perguntou-se.

Ela esperava que ele pudesse encontrar o caminho para sair da bagunça que fizera em sua vida.

Suas reflexões foram interrompidas quando Gabriela, Jilly e April entraram na sala da família com um prato cheio de guloseimas. Ela passou um tempo comendo e conversando com elas e tentando não se machucar rindo de suas piadas. Mas se cansou rapidamente e logo se desculpou para subir ao quarto.

Ao entrar no quarto, viu um pequeno pacote quadrado na cama.

Lembrou-se de April dizendo-lhe que algo lhe chegara de Kevin Bayle e dissera a April para deixá-lo em seu quarto. Agora ela pegou o pacote e caminhou até a mesa, imaginando o que encontraria lá dentro.

Assim que chegou em casa, ligou para Kevin e Wesley para agradecer-lhes por toda a ajuda. Essas conversas foram previsivelmente breves e lacônicas. Nem Kevin nem Wesley eram muito faladores. Mas Kevin mencionara mandar um presente para ela.

Quando ela desembrulhou o pacote com os dedos ansiosos, ficou surpresa com o que encontrou lá dentro...

Um giroscópio!

Ver o pequeno brinquedo a fez se sentir feliz. Ela não sabia porquê.

Enfiou a corda no buraco no eixo do giroscópio, enrolou a corda com cuidado, depois a puxou para mandar as rodas girarem no alto da escrivaninha.

Ela ficou surpresa ao sentir uma calma agradável se instalar.

Lembrou-se do giroscópio com que brincava quando menina.

Agora percebeu - ela usara aquele brinquedo fascinante para afastar a mente das misérias de sua própria infância problemática, especialmente a crueldade emocional e o abuso verbal de seu pai. Como ela teria passado por aqueles momentos sem aquele brinquedo mágico?

Esse novo giroscópio podia oferecer conforto semelhante nos próximos tempos?

Se sim, o que isso diz sobre ela?

Ela se lembrou de algo que Niles Cranston lhe dissera durante o confronto fatal.

"Você não pode viver a vida que viveu sem reunir sua parte de feridas - tanto por dentro quanto por fora."

Era verdade, claro.

Mas que outra vida ela poderia esperar viver?

A normalidade não lhe parecia estar reservada.

Ela também se lembrava de Kevin dizer que ela não era "neurotípica", que sua experiência do mundo era tão diferente de todas as outras que ela nem tinha consciência disso.

Ela era como um tubarão nadador, Kevin havia dito...

“Você nunca fica parada, Riley Paige. Você nem pensa em ficar parado.”

O giroscópio desacelerou e tombou na área de trabalho. Ela pegou e enfiou a corda pelo olho novamente, ansiosa para vê-lo girar um pouco mais.

Ela se perguntou - o que mais ela ainda teria que aprender sobre si mesma?

De todos os mistérios que tivera que enfrentar e resolver, agora ocorria-lhe que talvez o maior mistério de todos fosse sua própria mente.

 

 

                                                   Blake Pierce         

 

 

 

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