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DARKEST FLAME / Donna Grant
DARKEST FLAME / Donna Grant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Os Reis Dragões lutaram durante séculos para preservar sua magia dragão. Mas um dos mais poderosos guerreiros de sua espécie será posto à prova. Ele será forte o suficiente para resistir a sua maior tentação? Ou será forçado a se render de corpo e alma?
Sua beleza é uma arma. Denae Lacroix é uma linda agente do MI5 em uma missão mortal. Enviada às Terras Altas Escocesas para espionar a misteriosa Industrias Dreagan, ela descobre tarde demais que foi usada – como isca humana. Ela é uma tentação irresistível para um homem que não viu ou tocou uma mulher durante séculos. Ele é um homem com um destino e um desejo que poderia destruí-los... sua paixão é uma maldição.
Passaram-se mil e duzentos anos desde que Kellan andou entre os seres humanos e não havia como negar a atração carregada de erotismo que sentia por Denae. Mas, como Rei Dragão, jurou proteger seus segredos. No entanto, quanto mais perto ele ficava desta inteligente e incrivelmente atraente mulher, mais sua vida estava em perigo. Apenas foi preciso um beijo imprudente para desencadear uma avalanche de desejo, a fúria dos dragões e... O inimigo mais feroz de todos.

 


 


CAPÍTULO UM


Terras de Dreagan, 20 de abril.

A noite estava escura e tranquila quando Denae deslizou contra um carvalho e esperou seu parceiro Matt, recuperar o atraso. Eles saltaram de uma van em movimento na escuridão, duas noites atrás.

Enquanto ela tinha apenas uma faca — e mais duas que ninguém sabia — Matt carregava uma Glock. Ele tentou escondê-la, mas Denae a viu mesmo assim.

Uma coruja arrulhava nas proximidades e grilos cantavam na quietude. O vento agitava as folhas enquanto passavam pelas árvores. A lua estava escondida por densas nuvens que se moviam rapidamente como gigantes escuros no céu.

Uma noite perfeita para espionagem.

— O que está esperando? — Matt sussurrou irritado quando passou por ela para assumir a liderança.

Denae ajustou a mochila em suas costas e observou Matt através dos óculos de visão noturna. Ele era um idiota. Nenhuma vez, em todo seu tempo no MI5 ela questionou suas ordens. Mas se via fazendo isto agora.

O MI5 protegia o Reino Unido, seus cidadãos e seus interesses em seu próprio solo, bem como no exterior, contra as ameaças à segurança nacional. Denae pesquisou sobre as Indústrias Dreagan, como fazia com qualquer trabalho que lhe era dado. Dreagan fabricava uísque há muito tempo, segundo os relatórios e além do fato de que os arquivos eram bem reduzidos, não havia nada sobre Dreagan que levaria o MI5 a investigar.

No entanto, ali estava ela.

Fazia sentido a enviarem com Matt por sua memória fotográfica, mas... Algo mais estava acontecendo. Espiões raramente confiavam em alguém, especialmente em outros espiões.

Havia facções dentro das divisões do MI5 que eram mantidas em segredo ou tanto quanto poderiam em um prédio cheio de espiões. Isto não era o mais perturbador. Mas sim o fato de que havia uma seção secreta de Fantasmas — Black Ops — da qual apenas ouvia sussurros, depois de ter entrado nesta missão e isto a deixou bastante desconfiada.

Denae ficou paranoica e desconfiada quando soube que a divisão secreta havia dado ordens para se infiltrarem em Dreagan. Ficou ainda mais desconfiada depois que encontrou duas escutas em seu apartamento, bem como um dispositivo de rastreamento em seu carro.

Mesmo assim, optar por ficar fora da missão não era uma possibilidade. Então, ali estava ela, na calada da noite com um parceiro que não suportava.

Denae mantinha-se abaixada e seguia Matt pela espessa vegetação rasteira de samambaias. Desde que cruzou a fronteira para Dreagan, sentia uma sensação estranha, que fazia sua nuca se arrepiar. Quase como se estivessem infringido a lei mais do que apenas por uma invasão.

E isto a deixava alerta e tensa.

Não era uma boa mistura suas suspeitas e sua aversão por Matt — o idiota.

Havia consequências por romper as regras. Qual seria o preço se fossem pegos? Então novamente, eles eram agentes do MI5. Não seriam pegos.

Ela e Matt tinham algumas horas para chegar ao local designado pelo GPS que carregavam. Em dois dias, eles atravessaram pouco mais de vinte mil acres. Andavam rapidamente e em silencio, descansando um pouco e brevemente.

— Quão perto, Lacroix? — Matt perguntou quando ela o alcançou.

Ele não esperou que respondesse e correu para a próxima árvore. Denae correu até ele, sem parar. Matt nunca gostou dela, embora já tivessem trabalhado juntos antes sem incidentes, mas ele não ficou feliz quando ela foi designada a esta missão.

Matt manifestou seu descontentamento alto e claro para todos no departamento ouvir. Denae não se importou — aparentemente. O que ela queria saber era o porquê de serem apenas os dois. Mais equipes deveriam ter sido enviadas para diferentes partes da fronteira de Dreagan para garantir que nada se perdesse. Havia tantas coisas que poderiam dar errado, que não pode deixar de se perguntar porque Dreagan era um alvo.

Sua apreensão aumentou ainda mais. Declarações vagas de: você saberá o que procura quando encontrar — combinado com o departamento secreto que deu a ordem, mais a prova inexistente de que qualquer pessoa em Dreagan estivesse fazendo algo errado, a deixava ansiosa e tensa.

Denae reprimiu um grunhido quando Matt ironicamente bateu em seu ombro. Ela cortou-o com um olhar. — Três quilômetros. — Disse ela.

Matt era o menino de ouro do MI5. Ela ganhou sua posição depois de anos de trabalho duro, mas Matt subiu os degraus com muita facilidade. Sua irritação também era devido ao fato de que Matt tinha outras ordens, além das que foram dadas a ambos. E isto a deixava com um peso no estomago.

Quando o MI5 era reservado com seus agentes, pessoas morriam. Era disso que se tratava? Matt estava ali para assassinar alguém? Denae não chegaria a tanto e embora amasse seu trabalho, a única vez que tirou uma vida foi em autodefesa.

Ela parou no limiar da densa floresta, que lhes protegeu e converteu-se em um mar de grama que se estendiam infinitamente de uma ponta a outra do vale nas majestosas montanhas que se elevavam de ambos os lados.

Denae assumiu a liderança já que estava com o GPS. Mantinha-se tão perto da montanha quando podia, olhando rapidamente ao redor, esperando o ataque que sentia chegando.

Frank, seu superior, declarou que o pessoal de Dreagan era perigoso, mas não lhe deu detalhes sobre isso. Nem sua pesquisa sobre Dreagan mostrou algo.

Frank disse também que eram reservados porque estavam escondendo algo. O que exatamente, também não disse. Apenas imaginava que descobriria quando encontrasse.

Denae olhou sobre o ombro enquanto corria. Disseram a Matt? Será que ele sabia o que fazia o pessoal de Dreagan — todos eles — tão importantes para que o MI5 fosse enviado?

Seu devaneio foi interrompido quando se aproximaram do local designado. Denae desacelerou para uma caminhada e apontou uma piscina natural que ondulava quando o vento soprava. — Ali.

— Bom. — Matt disse e tirou os óculos de visão noturna antes de guardá-los na mochila.

Denae fez o mesmo e tirou a calça e a jaqueta preta. Por baixo, usava uma roupa de mergulho preta. Arrumou os tanques pequenos, mascaras e pés de pato enquanto Matt a olhava com uma expressão em branco.

Ela sentiu seu olhar de censura e lentamente contou até dez. — Sei que não gosta de mim, mas tente superar. E lembre-se de que o sentimento é mutuo.

— Entendi sua utilidade quando estava disfarçada nas universidades, mas não posso acreditar que eles a enviaram nesta missão importante.

— Porque? Não sou boa o suficiente? — Ela perguntou enquanto se arrumava.

Ele ficou em silencio por alguns segundos. — Você é boa o suficiente, eu acho.

— Você deveria ter permanecido na América e se juntado a CIA ou o FBI em vez de ser atraída para o MI5. Existem outros com memórias fotográficas.

— Assim, é porque eu sou americana.

— Você lamentará para sempre ter se juntado ao MI5— Disse enigmaticamente e saltou na água.

Não era a primeira vez que um colega tinha feito uma alusão dela ser americana, mas nenhum tinha chegado nem perto de ameaçá-la o quanto Matt tinha feito. Provava que foi posta nesta missão porque mereceu.

Denae colocou o tanque nas costas, a máscara sobre o rosto e o regulador na boca antes de mergulhar na piscina funda. Graças aos pesos em seu cinto, afundou rapidamente.

Nadar sempre foi fácil e ela usou sua habilidade e velocidade para cortar através da água. Pequenas luzes de cada lado de sua máscara iluminavam o caminho através da água escura.

Rochas enormes se projetavam do chão. Quanto mais se aproximavam da montanha, mais espessas as pedras se tornavam, até que foi passando por elas.

Denae alcançou Matt sem esforço. Quando passou por Matt nadando, ele esticou a mão e retirou seu regulador da boca. Com uma torção de seu corpo, ela se virou para ver o que acontecia quando viu a faca em sua mão.

Em um instante, ele cortou as correias de seu tanque. Ele afundou na água antes que pudesse agarrá-lo. Denae colocou-se de imediato na defensiva. Chutou e o acertou no queixo.

Matt ficou para trás, dando-lhe tempo suficiente para se virar e deslizar pela fenda estreita de onde a água jorrava da montanha para encher a piscina.

Seus pulmões queimavam. Ela se concentrou em nadar através da água de forma fluida como um peixe, assim como seu pai lhe ensinou. O som da arma foi alto na água. Denae virou a cabeça e viu Matt disparando sua Glock, as balas por pouco não a atingiram. Ela tinha que chegar em terra firme e ganhar vantagem.

Por duas vezes quase colidiu com as rochas. Passou poucos e preciosos segundos dobrando a perna até o peito, de onde tirou uma vareta luminosa escondida no bolso e a partiu.

Uma luz verde brilhante apareceu. Denae soltou algumas bolhas de ar e começou a nadar. Não havia dúvida de que Matt tentou matá-la. Desde que não sabia quão longo o túnel era antes de se abrir dentro da montanha, Matt poderia muito bem ter realizado o seu desejo.

Morte por afogamento. Ela esperava mais que isso, já que sua irmã morreu assim.

Denae se recusava a pensar em Renee e naquele dia que alterou sua vida, batendo as pernas com mais força. Matt ainda estava atrás dela e se tivesse alguma chance de sobreviver, precisava chegar à superfície antes dele.

Com a água tão escura, ela não sabia quando o túnel se abriria e nem senti-lo. Denae moveu-se tão perto do topo do túnel o quanto pode. A correnteza que estava se movendo para o lado oposto ao que ela seguia deixou sua progressão mais lenta e seu corpo tremulo com a necessidade de ar.

Denae apertou os olhos por um segundo antes de se concentrar. Quando os abriu, moveu-se para frente mesmo quando teve um vislumbre das luzes da máscara de Matt cortando a água.

Ela soltou mais algumas bolhas de ar e se perguntou se foi isto que Renee sentiu quando se afogou. Fazia anos desde que Denae pensou naquele fatídico dia que mudou a vida de sua família para sempre e a culpa permanecia como sua companheira constante.

Com seus pensamentos se agitando, levou um momento para perceber que o teto do túnel já não estava acima dela. Denae apontou a vara para cima e viu apenas água.

Retrocedeu duramente e deu um forte impulso para cima. Quando quebrou a superfície, engasgou aspirando o ar sofregamente antes que afundasse sob a água outra vez. Denae não desperdiçou seu tempo enquanto nadava até à borda. Lançou a vara do fulgor no assoalho da caverna e saiu rapidamente da água.

Matt estava logo atrás dela antes que ela tivesse tempo para retirar fora ambos seus pés de pato. Os dele, ela observou, enquanto estava brilhando tinham sido removidos na água. Eles circularam em torno da vareta de luz enquanto ela procurava retirar fora seu último pé de pato.

O sorriso de Matt era sinistro enquanto tirava o tanque de ar. — Deveria saber que seria uma nadadora rápida.

— Este foi sempre o seu plano me matar dentro da água?

— Não a matar Denae, apenas ferir.

Ela franziu a testa. — Ferir-me. Porque? Para receber toda a glória desta missão?

— Você é uma idiota.

— Esclareça-me então ou continue lutando.

Matt se equilibrou, a faca na mão apontada para sua perna. Denae bloqueou seu impulso com a lateral de seu braço e lhe deu um soco na mandíbula com seu outro punho.

Ele girou e esticou o pé, tentando derrubá-la, mas ela saltou e chutou, pousando um pé diretamente em seu peito.

— Você é a isca. — Disse ele com um sorriso de desdém, enquanto tropeçava alguns passos para trás.

Uma onda de medo fez seu coração disparar. Isca. Havia apenas uma razão para ser uma isca e nunca terminava bem. — Desde que sou uma idiota, explique para mim.

A emoção nos olhos de Matt dizia tudo. — Sua missão, resumindo, era morrer para que pudéssemos revelar quem realmente são estes que vivem em Dreagan.

Assim como ela esperava. — Irá me machucar, porque suspeita que aqueles em Dreagan irão me matar assim que descobrirem.

— Algo assim. — Disse Matt com uma risada. — Precisamos entrar em Dreagan. Sua morte irá garantir isso. Aqueles aqui em Dreagan nunca saberão que mataram um agente do MI5.

— Mas minha morte dará ao MI5 razão para investigar Dreagan. — Ela terminou.

Denae estava chocada. Não apenas porque queriam matá-la, mas porque significa que todo seu departamento planejou isto.

Ela não precisava responder. Matt tinha sua missão, mas Denae não iria se entregar facilmente. Desviou do soco de esquerda e chutou o lado da cabeça de Matt com o pé direito.

Ele assobiou e lançou-se para ela novamente. Desta vez, ela não foi capaz de bloqueá-lo e sentiu a dor quando a lamina deslizou através de sua roupa de mergulho e em sua pele do lado esquerdo.

Denae atingiu o braço de Matt, que segurava a lamina, para que soltasse a arma. Ela então lhe deu uma cotovelada na garganta enquanto se virava. Ele conseguiu chutar a parte de trás de seu joelho enviando-o para o chão.

Dobrou-se, rolou e quando se levantou, ela tinha a faca em sua mão. Ninguém gostava de treinar com ela quando se tratava de facas porque era muito boa. Agora que tinha sua arma, tinha uma chance.

— Saiba que sua morte irá libertar o mundo. — Disse Matt quando atacou uma vez mais.


CAPÍTULO DOIS


Kellan se manteve absolutamente imóvel em seu canto. O som de água espirrando contra a pedra acordou-o instantaneamente. Ele abriu um olho para ver a superfície normalmente como vidro, ondulando violentamente quando avistou um ser humano saindo da água.

Ele mal teve tempo de registrar que era uma mulher respirando violentamente antes de uma segunda pessoa se juntar a ela, uma do sexo masculino.

Kellan virou a cabeça para olhar melhor. Passaram muito séculos desde que viu um ser humano e francamente, poderia passar a eternidade sem ver outro. Tanto que os desprezava.

Também não gostava de ter seu sono perturbado. No entanto, sabia que Constantino não ficaria feliz se ele aparecesse em sua forma de dragão e comesse os dois intrusos... por mais tentador que pudesse ser.

Sua única outra opção seria se mudar para a forma humana e confrontá-los. E isso era muito desagradável para sequer considerar.

Kellan ficou no seu lugar e viu como os dois circulavam entre si. Nada mudou. Os seres humanos estavam sempre brigando.

Não importava quantos séculos se passassem, não importava em qual país estivessem, eram todos iguais. Egoístas, beligerantes, arrogantes e uns bastardos gananciosos.

Não que ele se importasse com os seres humanos se matando. Quantos mais morressem mais perto os Dragões estariam de voltar para casa. Era por causa dos humanos que os dragões não governavam mais.

Foram os seres humanos quem começaram a guerra.

Mas foram os dragões que acabaram com ela.

Os humanos estavam conversando. Kellan ouviu a troca com interesse. Ele voltou a pensar nas muitas vezes que Con o visitou, enquanto ele dormia e percebeu que se passaram muitos, muitos e muitos séculos desde a última vez que acordou.

As visitas de Con em poucas décadas mantinham aqueles dragões que queriam dormir durante séculos ou milênios atualizados sobre o mundo, por isso quando acordavam estavam bem informados sobre o momento. Assim, não foi difícil para Kellan saber o que os humanos estavam dizendo.

O macho não gostava da fêmea de acordo com o desdém que pingava de sua voz. Surpreendentemente, a fêmea não se acovardou. Ela lutou, movendo-se rapidamente para um mortal e golpeando o macho com destreza e precisão. Nenhum de seus socos ou chutes deixou de atingir o alvo.

Kellan sentia o cheiro de sangue. Passaram-se um longo tempo desde que o cheiro o assaltou. Isto o fez pensar na última vez que andou entre os humanos e porque escolheu dormir.

O par grunhiu. O macho tinha o nariz quebrado e um lábio cortado, mas o cheiro que Kellan sentia era forte, muito forte para estes ferimentos insignificantes.

Os olhos de seu dragão caíram sobre a fêmea e viu seu braço esquerdo protetoramente contra seu lado. O sangue escorria por sua perna e caía sobre as pedras.

Em um giro, a fêmea apareceu com uma arma em suas mãos.

O interesse de Kellan aumentou quando o macho disse que queria ferir a fêmea. Não era difícil adivinhar que era para atrair os dragões.

Ele interiormente bufou. Humanos estúpidos. Todos pensavam que dragões eram criaturas que queriam comer tudo à vista ou carboniza-los. Como ele e os outros Reis Dragões caíram tão baixo no conceito dos mortais?

Costumavam governar os céus, os mares e a terra. Cada dragão de cada cor chamou a Terra de sua casa. Reinavam de forma suprema.

E para Kellan e os outros Reis Dragões, era seu o direito de governar seus dragões e mantê-los na linha. Isso não queria dizer que não houvesse batalhas, mas com uma palavra de um Rei Dragão, todas as lutas acabavam.

Como Kellan almejava voltar para os dias passados. Perdeu seus dragões e perdeu a possibilidade de voar pelo céu quando quisesse. Era uma das muitas razões pelas quais decidiu passar o tempo dormindo. Não podia olhar para a Terra e os seres humanos sem querer matar todos.

Kellan ficou impressionado com a fêmea, mesmo que odiasse admitir isto. Ela era uma lutadora valente e embora ferida, estava ganhando.

Ela virou-se em um giro relâmpago antes de chutar seu oponente para o chão. Em seguida, ela caiu sobre ele e afundou a faca em seu coração.

Somente assim a batalha terminou.

No entanto, a fêmea estava perdendo muito sangue. Ela não podia nadar de volta para fora e não conhecia o caminho através das cavernas nas montanhas para procurar ajuda.

O único que poderia ajudá-la era Kellan. E isto não iria acontecer. Seria o inferno ter que lidar com Con, mas Kellan deixou de se preocupar com isto há muito tempo.

Não voltaria a dormir até que a humana desse seu último suspiro. Kellan esperava que ela caísse e morresse ou tentasse encontrar seu caminho de volta.

Em vez disso, ela chutou o macho para longe e se encostou contra uma pedra antes de puxar algumas varas de um bolso na perna de sua roupa apertada. Ela as dobrou e com um leve pop, uma luz verde brilhou ao seu redor.

Ela colocou-a de lado e tirou mais um pacote pequeno do bolso ao lado do tornozelo da outra perna. Sua respiração era ofegante e suor revestia sua pele.

— Merda. — Ela murmurou e engoliu seco.

Seu sotaque não era escocês ou britânico. Kellan passou por todos os dialetos que Con lançou para ele ao longo dos séculos em sua mente até que chegou ao americano.

Poderia ser por isso que o inglês não se importava com ela? Era um motivo bobo, mas novamente, os seres humanos raramente faziam sentido.

Kellan esqueceu os sotaques quando a fêmea chegou por trás e agarrou alguma coisa. Houve um barulho antes de sua roupa preta se soltar.

Com um grunhido ela puxou o braço direito para fora do material preto antes de puxar cuidadosamente o esquerdo. Ela empurrou o tecido grosso para baixo, dando a Kellan uma vista de um pequeno top que prendia seus seios. Um traje de banho lembrou.

Seu peito ofegava enquanto tentava respirar através da dor e sua pele ficava pálida. Mais uma vez ela pegou um pequeno pacote preto que tirou do bolso de sua perna e o abriu. Tirou um pacote branco que abriu com os dentes. Fechou brevemente os olhos antes de derramar uns grânulos sobre seu ferimento.

Um suspiro passou por seus lábios enquanto estremecia pelo contato. Kellan nunca teve muito a dizer sobre os seres humanos, mas tinha que dar crédito à fêmea. A mão dela estava cheia de sangue, seus braços tremiam, estava fraca e no escuro, mas ela não desistiu.

Seu interesse foi despertado quando a viu retirar uma agulha curva e linha. Com seu ferimento no lado esquerdo, precisou se torcer para vê-lo, mas conseguiu dar vários pontos antes de lentamente ficar inconsciente.

Por longos minutos, Kellan olhou para ela. A fêmea estava caída de lado, a respiração baixa e irregular. Sabia que uma febre em breve a alcançaria.

Se fosse por ele, iria esquecê-la. Ela iria morrer, como todos os mortais. Então, Kellan lembrou-se do porquê escolheu dormir. Fez uma promessa uma vez, a promessa que rompeu por causa do seu ódio pelos humanos.

Con poderia ter acabado com sua vida, mas permitiu que Kellan dormisse. Tinha sérias dúvidas de que Con lhe daria outra chance. Constantino era o Rei dos Reis Dragões. Ele era a última lei, embora isso nunca impediu qualquer outro Rei Dragão de fazer o que quisesse.

Con levava seu dever de proteger os humanos a sério. Se fosse por Kellan, ele teria limpado o mundo dos mortais há muito tempo. Era uma infecção que manchava tudo. Bastava olhar para o que fizeram com os dragões.

Todo o conhecimento sobre dragões não era nada mais que um mito, temido e fantasioso de algo que não estava nem perto de se assemelhar ao que um dragão realmente era.

Kellan vividamente se lembrava de estar de pé depois de uma batalha com os humanos para encontrar seus amados Bronzes espalhados pelo chão. Os dragões de Bronze eram os Portadores da Justiça.

Embora Kellan tivesse ordenado que protegessem os seres humanos, os humanos por sua vez os mataram. Uma traição que mesmo agora, milhares de milênios depois, Kellan não podia perdoar.

Porque mesmo que os dragões estivessem defendendo a humanidade, estes não queriam sua proteção. Os mortais procuraram desde o início trair os próprios seres que governaram a Terra em primeiro lugar.

Mas Kellan não foi o único traído. Ulrik, o Rei dos Pratas foi engando por um ser humano do sexo feminino e depois pelo restante dos Reis Dragões.

Kellan fechou os olhos com força enquanto pensava naquele dia. Se soubesse o que seria de seus Bronzes, teria ficado ao lado de Ulrik.

No final, os dragões foram os únicos a perder tudo. Con os enviou a outro reino.

E os Reis ficaram para trás.

Que diferença faria agora? As poucas vezes que Kellan acordou de seu sono e enfrentou o mundo, encontrou seus irmãos escondidos da vista de todos, esperando o cair da noite ou uma tempestade para ousar levantar aos céus.

Voar era seu direito, seu privilegio e o mesmo lhe foi tirado. Por causa dos seres humanos.

Horas se passaram enquanto pensava sobre seu ódio pelo homem, a fêmea não fez um único movimento. Kellan não tinha outra opção, além de levá-la para Con, porque não confiava em si mesmo para tentar cuidar de seu ferimento.

O ódio não se dissipou tão facilmente ao longo dos séculos.

Ele não estava pronto para acordar de seu sono, mas como os dois humanos invadiram sua montanha, Con iria gostar de investigar. Kellan também estava curioso sobre a invasão.

Usando sua capacidade telepática entre todos os Reis Dragões, Kellan chamou por Con, sabendo que seu amigo iria chegar rapidamente. Com apenas um pensamento, Kellan mudou para a forma humana. Ele girou os braços e balançou as pernas. Não havia roupas para vestir, porque não tinha a intenção de despertar por muitos milênios a mais.

Ele andou nu até a mulher e se agachou ao lado dela. Kellan não tinha o poder de curar como Con. O sangramento abrandou, mas não parou.

Kellan virou a mulher de costas, observando o quão quente a pele dela estava ao toque. Seu corpo, no entanto, respondeu instantaneamente a suavidade feminina, o que o enfureceu. Seu corpo precisava de alivio, mas não com esta mulher.

Prontamente ignorando sua ereção e as curvas suaves dos seios da fêmea, Kellan pegou a agulha que ela estava usando e terminou de fechar a ferida.

O macho conseguiu errar seus órgãos vitais, mas o ferimento era longo e profundo. Tão delicado como os seres humanos eram, Kellan sabia que Con era necessário se ela quisesse viver. A escolha de que se ela morresse ou não, seria de Con.

Quando Kellan terminou, ele cortou a linha com os dentes e amarrou-a antes de levantar a mulher nos braços. A sensação de suas curvas lembrou-lhe do anseio por um arrebatador alivio. Precisava cuidar disso. Não era por causa desta mulher em seus braços. Apenas se passou muito tempo.

Kellan repetiu isto para si mesmo por mais uma vez, por segurança, antes de sair de sua caverna.

Muitos de seus companheiros Reis Dragões tomaram fêmeas humanas como amantes. Kellan teve várias antes de seus Bronzes serem mortos. Depois, ele tomava uma mulher apenas quando não aguentava mais.

Era uma pena que seu corpo exigisse tal alivio. Olhou para a mulher em seus braços. Ela era magra, mas seus músculos tonificados. Seu cabelo escuro estava longe de seu rosto, preso em um coque, assim não tinha ideia de seu tamanho.

Kellan mal olhou para seu rosto. Não havia necessidade. Ele não planejava vê-la novamente depois que a colocasse aos pés de Con, embora Kellan admirasse sua coragem e tenacidade. Isto era tudo o que conseguiria dele.

Era tudo o que poderia lhe dar.

Era muito mais do que deu a um ser humano em milhares de anos.

Kellan andou pelos corredores de sua montanha facilmente até que chegou na entrada. Assim como esperava, Con, junto com Rhys e Kiril, estavam esperando por ele.

O rosto de Con estava sombrio, seu cabelo loiro molhado da chuva que caía do lado de fora. — Sabia que tinha que ser algo importante para você me chamar. Quem é ela?

— Não sei e não quero saber. — Kellan disse quando tentou entregá-la para Con.

Em vez de pegá-la, Con cruzou as mãos nas costas, recusando-se claramente a tocá-la e respirou fundo. — Você a encontrou ferida?

Claro que Con pensaria que ele a feriu. Kellan não podia culpá-lo, não depois do que o fez ir dormir em primeiro lugar.

— Não. Ela estava na minha caverna. — Kellan disse tentando manter sua raiva sob controle. Não queria segurar a fêmea por mais tempo ou sentir seu cheiro e suas curvas. — Leve-a para que eu possa voltar ao meu sono.

Rhys passou a mão pelo cabelo longo, antes de limpar a chuva do rosto. — As maiorias dos outros Reis estão acordados por meses. Não ouviu há vários meses o chamado de Con às armas?

— Se tivesse ouvido, teria permanecido dormindo? — Perguntou Kellan, uma sobrancelha levantada, enquanto olhava friamente para Rhys.

— Está não é a primeira vez que nossas fronteiras são violadas. — Con disse antes que Rhys pudesse responder. — Preciso de você por alguns dias, volte comigo para a mansão. Depois que curarmos esta mulher e apagarmos suas lembranças, poderá voltar a dormir, velho amigo.

Kellan não se incomodou em discutir. Não gostou de ouvir que as fronteiras de Dreagan foram cruzadas e se Con emitiu um chamado às armas, então deveria ser importante. — Tudo bem. Mas alguém a leve.

Os olhos verdes de Kiril dançaram com humor enquanto se afastava. — Parece que você a tem. Ela é gostosa. Sente-se tentado?

A cabeça da mulher se virou, levando o rosto dela para o ombro de Kellan. A febre aumentou, lembrando-lhe do porquê chamou Con.

— Ela está com febre. — Disse Kellan, o olhar fixo em Con quando ele ignorou a pergunta de Kiril.

Con não disse uma palavra quando diminuiu a distância entre eles e colocou a mão na testa da mulher. — Sim. Estou ansioso para saber o que aconteceu com ela.

— Há outro na minha caverna. Eles lutaram e a fêmea o matou.

— Isso não é uma boa notícia. — Con franziu a testa. — Neste caso, acho que poderia ser melhor se nossa visitante não se curasse completamente até que tenhamos informações sobre ela.

Ele não se importava com o que Con faria desde que pegasse a mulher. Kellan não queria ser responsável por ela. Cumpriu o seu dever e a levou para Constantino. Isso deveria ser o suficiente.

Tinha que ser o suficiente.

Quando Con usou sua magia e curou a mulher o suficiente para que sua febre diminuísse, Kellan olhou para o Rei dos Reis. Con usava uma calça preta e uma camisa branca com as mangas enroladas até o cotovelo. O cabelo loiro estava mais curto do que da última vez, mas seus olhos negros ainda viam tudo.

Kellan então olhou para Rhys e Kiril, que estavam na entrada da montanha de costas para ele. Cada um usava jeans e botas. Enquanto Rhys vestia uma camiseta fina verde oliva, Kiril usava uma camiseta branca simples.

— Isso deve ajudar. — Con disse e recuou. — É uma coisa boa que Kiril pode dirigir com esta tempestade.

Rhys riu. — Sua direção melhorou nos últimos seis meses desde que despertou e já não atropela as ovelhas.

— Eu apenas acertei uma, maldito. — Kiril disse irritado e empurrou Rhys.

Con caminhou entre eles e quando passou, o braço de Rhys rodou e levemente socou Kiril na mandíbula antes que corresse para a tempestade. Kiril deu um grito e seguiu-o.

Kellan olhou para o mundo exterior, ao qual não queria fazer parte e para a mulher em seus braços. Quanto mais cedo ele a tivesse na mansão, mais cedo poderia voltar para sua caverna e dormir.

No entanto, de alguma forma, no fundo de sua alma, sabia que assim que deixasse a montanha, sua vida mudaria para sempre.

Kellan foi até a abertura e olhou através da cortina de chuva para encontrar seus amigos esperando por ele em um carro preto que dizia ‘Range Rover’ na frente.

Ele encontrou o olhar paciente de Con antes de sair de sua montanha.


CAPÍTULO TRÊS


Devagar Denae acordou, mas manteve os olhos fechados. Mesmo sem olhar ao redor soube que já não estava na caverna na montanha escura, pelo cheiro de limpeza e a luz atingindo suas pálpebras. Quem a encontrou? E para onde a levaram?

Depois do que Matt disse, não podia voltar ao MI5. Eles a matariam de uma forma ou outra por causa do que imaginavam saber sobre o interesse do MI5 em Dreagan. Poderia informar aqueles em Dreagan, se acreditassem nela. Mas para onde poderia ir? A agencia facilmente a encontraria.

Ouviu um movimento ao redor e uma cadeira se movendo. Quando a porta se abriu um segundo mais tarde, uma voz masculina falou em tons baixos com alguém no quarto.

— Como ela está?

— Igual. — Disse uma profunda e grossa voz. Soava como se o homem não a houvesse usado por muito tempo.

— Está dormindo por doze horas.

— Eu sei. — A irritação e o incomodo estavam praticamente saindo da voz do homem.

Não a queria ali, quem quer que fosse. O outro homem que entrou no quarto parecia sinceramente preocupado com ela, no entanto. Se tivesse sorte, talvez ele não fizesse parte do MI5.

— Deixe-me saber no momento que algo mudar. — Disse o primeiro homem antes da porta se fechar atrás dele.

O piso rangeu quando o homem irritado andou ao redor de sua cama. — Pode abrir seus olhos agora.

Por um segundo, Denae pensou em ficar como estava, mas o homem sabia que estava acordada. Porque fingir? Abriu seus olhos e olhou para a cadeira coberta com uma manta vermelha. A cadeira na qual o homem estava sentado, olhando-a.

Estava perto da cama, dando-lhe acesso para cuidá-la? Para vigia-la?

Provavelmente o último.

Denae girou a cabeça para olhar pelo quarto e encontrou-o por trás dela, olhando fixamente para fora da grande janela do outro lado da cama. Seu cabelo solto caia no meio das costas, em volumosas ondas caramelo.

Ele continuava movendo os ombros como se a camisa laranja escura o estivesse confinando, enquanto moldava seus ombros, braços e costas com perfeição.

Seus braços estavam de cada lado, mas os dedos seguravam o parapeito da janela, dizendo-lhe que estar no quarto era o último lugar onde queria estar.

Seu olhar permaneceu nos ombros largos, grossos que afunilavam para os quadris estreitos. Mais abaixo, vestia um jeans escuro, que abraçava muito bem seu traseiro.

Por mais que apreciasse a vista, sua missão foi comprometida. Se sobrevivesse tempo suficiente para deixar Dreagan — porque não havia dúvida de que era exatamente onde estava, não viveria tempo suficiente para fazer as malas e pegar o primeiro voo de volta ao Texas.

— Está sentindo dor? — Perguntou.

Denae tentou olhar seu lado esquerdo antes de cuidadosamente se esticar contra a cabeceira da cama. — Muito pouca.

O silencio se alongou até que pensou que ele estivesse dormindo de pé. De repente girou para confrontá-la e sua respiração ficou presa nos pulmões. Sua boca ficou seca e seu coração acelerou.

O homem era tão bonito como um deus, todo irritado e iluminado pelo sol. Não podia deixar de olhá-lo.

Seu cabelo caramelo estava de lado e caia em ondas ao redor do rosto esculpido em granito. Ele tinha maçãs do rosto altas e bochechas ocas que lhe dava um aspecto duro e o queixo quadrado. Seus lábios eram grandes e sedutoramente cheios. Seus olhos, de um azul esverdeado surpreendente, a mantinha cativa com seu olhar intenso, quase cruel.

De alguma forma, ela afastou os olhos e olhou para baixo em seu peito, que era tão impressionante como as costas. A camisa moldava a espessura de seus braços e peito.

Ele era um homem de ação, um homem que não aceitava tolos. Um homem que não iria descansar até que tivesse todas as respostas que queria.

— Quem é você? — Perguntou ele.

Ela foi puxada mais uma vez para seus olhos verdes claros. — Meu nome é Denae Lacroix.

— Bem, olá Denae. — Disse uma voz da porta.

Sua cabeça se virou para a porta, para encontrar um homem alto, dominante, com cabelos loiros como um surfista e olhos negros. Ele era alto e tinha ombros largos e ela tinha a sensação de que suas roupas escondiam um corpo musculoso.

Ele ficou ali, confiante, seu controle sobre a casa era obvio. Era o líder, aquele que iria determinar se morreria ou não.

Atrás dele havia uma mulher segurando uma bandeja.

Como Denae não percebeu que havia alguém na porta? As dobradiças rangiam quando a porta se abria. Ela geralmente percebia tudo ao seu redor.

Olhou para o homem na janela, mas ele estava olhando para fora. Como se não pudesse olhá-la. A decepção contorceu seu ventre. Ficou tão impressionada com ele que o mundo ao redor desapareceu. Nunca passou por isso antes e em seu trabalho, aquilo poderia matá-la.

E evidentemente a atração era unilateral.

— Você sabe onde está? — O homem na porta perguntou quando entrou no quarto.

A mulher entrou e foi até Denae, colocando a bandeja em suas pernas. — Con, por favor. Ela está ferida e provavelmente morrendo de fome.

— Ela entrou sem autorização.

Isto veio do homem da janela. Denae queria saber seu nome. Mesmo quando olhou para os outros, não pode tirar completamente a atenção dele.

— Olá. — Disse a mulher com um sorriso brilhante e olhos cor de café. — Sou Cassie. Não sabia o que gostava, então trouxe um pouco de tudo.

Denae não pode evitar devolver o sorriso. — É americana.

— Sim. Do Arizona de fato. E você?

— Sul do Texas.

Os olhos de Cassie se abriram quando empurrou seu cabelo escuro sobre os ombros. — Temos que nos atualizarmos mais tarde.

— Gostaria disso. — E Denae quis dizer isto. Ela não pensou que iria sentir falta dos Estados Unidos, mas depois de ter saído de lá há tanto tempo, sentia. Limpou a garganta para se acalmar e olhou para o homem que Cassie chamou de Con. — Sim, sei onde estou. Em Dreagan.

— Chegaremos ao porque disse em um momento. — Disse ele e acomodou-se em uma cadeira alta perto da janela que parecia muito delicada para manter alguém do seu tamanho.

Ele sentou-se como se estivesse relaxado, porém lembrava a Denae um leão enjaulado, apenas esperando uma razão para atacar. E quando o ataque viesse, seria rápido.

E letal.

— Meu nome é Constantine. Já ouviu falar de mim?

Olhou para o outro homem. Outra vez. — Apenas nos relatórios. Não sei muito.

— Relatórios? — Perguntou o homem desconhecido, seu olhar piscando para ela por um breve momento.

Con apoiou-se para frente na cadeira e olhou para o segundo homem. — Este é Kellan, Denae. Foi ele... quem a encontrou.

Con fez uma pausa deliberada, mas não entendia o significado. Seu olhar voltou a Kellan para encontrá-lo olhando mais uma vez para fora da janela, dispensando-a de forma indiferente.

Merda, ele era lindo. Mesmo ficando parado ali no quarto todo irritado.

— Quem a enviou? — Con perguntou.

Denae pegou o copo de água da bandeja e tomou tudo antes de morder um pedaço de torrada, mastigou e engoliu. Aquele pequeno pedaço ajudou a aliviar a fome que sentia. — Queria que fosse tão simples assim.

— Está segura aqui. — Cassie disse.

Denae sorriu tristemente e desceu a torrada para a bandeja, de repente sua fome sumiu. — Fui traída.

— Por quem? — Cassie perguntou.

Que diferença faria se soubessem? Poderiam tê-la deixado para morrer. Em troca, a levaram ali e fecharam sua ferida. Era uma armadilha ainda assim? Foi enganada e traída pelo MI5. Denae já não sabia em quem confiar, mas suas possibilidades estavam naqueles em Dreagan no momento.

Em todas suas missões, em contato com tantas pessoas, aprendeu uma dura lição — podia confiar apenas em si mesma.

Ela olhou para Con. — Se contar, consegue me tirar do país com uma nova identidade?

— Quer desaparecer? — Perguntou, intrigado.

— Sim. Se puder sair do país, terei certeza de nunca ser encontrada.

Cassie sentou-se na cadeira ao lado da cama. — E se te encontrarem?

— Irão me matar. Isto foi o que Matt tentou fazer. Era uma isca.

— Isca. — Con repetiu devagar, seu cenho franzido. — Conte-me quem a enviou.

— MI5. — Denae quase esperava que os agentes do MI5 entrassem pela porta ao mencionar o nome. Eles alegavam saber tudo o que acontecia.

Con ficou de pé e calmamente andou pelo quarto em silencio. Pela primeira vez Denae de fato notou o quarto e não Kellan.

O quarto era espaçoso, com uma janela grande diante da cama e duas menores do outro lado deixando entrar muita luz. As paredes foram pintadas de um suave cinza azulado com eggshell2 em formatos de coroa tão grandes e intrincados que confundiam sua mente. O chão era de madeira escura e tapetes de diferentes tamanhos e de cores variadas foram distribuídos por vários lugares. Uma lareira de mármore branco estava situada a sua direita.

Um edredom de lã creme com um babado azul marinho estava sobre o colchão na cama de dossel com quatro postes. Ao lado da cama havia uma pequena mesa com um relógio de aparência antiga e um arranjo de narcisos amarelos e tulipas brancas.

As cortinas da janela eram do mesmo creme que a manta de lã e estavam puxadas de lado para deixar entrar a luz. Uma pintura do pôr do sol sobre um lago enchia uma parede, enquanto um espelho oval emoldurado ricamente adornava a outra parede e uma coleção de fotos pequenas e quadradas, que poderiam ser descritas como um exemplo do dia a dia de uma vida escocesa, preenchiam a outra.

Era um quarto neutro e achou que as suas cores eram suaves e calmantes. Ela nunca foi particularmente ligada a estampas florais ou a cores pastel.

— Porque o MI5 está nós espionando? — Con perguntou quando parou de pé ao lado da cama.

Olhou em seus olhos negros, notou uma raiva suprimida e encolheu os ombros. — Minhas ordens eram usar minha memória fotográfica para guardar o que estava na caverna.

— O que estava procurando? — Kellan perguntou.

Denae olhou para Kellan antes de olhar para a cama. — Meu superior disse que saberia quando o visse.

Con franziu mais a testa. — Isso foi tudo o que disse?

— Sim. — Respondeu. — Ao nadar para a caverna, Matt cortou as correias do meu tanque de ar. Consegui subir à superfície e lutamos. Disse que uma vez que ficasse ferida, que vocês me matariam e nunca ficariam sabendo sobre o envolvimento do MI5.

— E daria munição ao MI5 para vir atrás de nós. — Con terminou com uma maldição quando abaixou a cabeça.

— Porque trabalha para eles? — Perguntou Cassie.

Denae cuidadosamente moveu-se contra os travesseiros e escondeu um estremecimento de dor quando os pontos puxaram. — Fui recrutada por causa da minha memória fotográfica. Quando considerei me unir à Marinha e fiz os testes, o FBI e a CIA tentaram me recrutar. Não sabia o que fazer. Antes que pudesse tomar uma decisão, um agente do MI5 entrou em contato comigo. Era a mudança de cenário que precisava, assim aceitei.

— Deixou tudo para trás por causa de uma mudança de cenário?

Denae olhou para o chão sentindo uma dor antiga que sempre aparecia em seu peito quando menos esperava. — Não havia ninguém para deixar para trás. A verdadeira razão é que eles precisavam de mim para trabalhar disfarçada nas universidades por causa de assediadores, estupradores e aqueles que queriam derrubar o Reino Unido. Eu levei aqueles canalhas à justiça.

Ela lambeu os lábios e olhou para cima, para encontrar Kellan olhando para ela com aqueles olhos azuis desprovidos de emoção. Alguns poderiam considerá-lo frio, insensível. Ela o achava indiferente, como se observasse o mundo e realmente não fizesse parte dele.

Como ela desejou poder adotar este tipo de vida depois que seu pai morreu. Em vez disso, ficou à deriva, indo onde quer que a vida a levasse e nem sempre foi bom.

— Há quanto tempo está no MI5? — Con perguntou, felizmente puxando-a para fora dos seus pensamentos.

— Sete anos. Estava no segundo ano da faculdade quando aceitei a oferta. Trabalhei para eles, enquanto me pagavam para observar as universidades disfarçada. Isto funcionou muito bem, já que era americana e ninguém suspeitava que trabalhasse para o governo britânico.

— E a partir daí?

— Trabalhei e levei minha vida em frente como qualquer um. — Engoliu, tentando controlar o ritmo cardíaco enquanto Kellan a olhava. — Fiz progressos. Não queria ser uma agente de campo para sempre, mas até que pudesse encontrar um lugar para me encaixar no MI5, era um excelente ponto de partida.

Con sentou-se novamente. — Conte-nos sobre sua última missão.

Denae passou um dedo nos nós dos dedos da mão esquerda. Ela usava luvas quando atingiu Matt, assim não os machucou, mas estavam doloridos.

— Fui escolhida junto com Matt. Ele era um líder operativo, o favorito dos figurões no MI5. Ninguém ficou mais surpreso do que eu quando fui escolhida para trabalhar com ele. Dois dias depois, fomos deixados na fronteira de Dreagan.

— Foi deixada ali? — Repetiu Cassie. — Como atravessou?

Con apertou a mandíbula. — O mais importante, onde foi deixada?

— Estávamos a sudoeste da fronteira, aproximadamente a cento e vinte e nove quilômetros a oeste do povoado. Quanto à como cruzamos, fomos a pé. Por dois dias, Matt e eu seguimos as coordenadas que nos foram dadas.

Con ficou sentado passivamente enquanto ela falava, mas ao mencionar as coordenadas, fúria encheu o lugar. Denae ficou olhando para Cassie e viu as linhas de preocupação em sua boca. Olhou para Kellan até mesmo para ver se ele ficou surpreso com sua revelação.

— Não sei de onde as coordenadas vieram. — Disse depressa.

Cassie sentou-se na beirada da cadeira e olhou para Con com expectativa quando perguntou. — Pode descobrir?

Denae lentamente moveu a cabeça. — Matt não me passou esta informação. As coordenadas nos levaram a uma piscina pequena fora da montanha. Sob a piscina havia um túnel. Seguimos por ele até chegarmos dentro da montanha e em uma caverna.

— Isto é tudo o que era a missão? — Con perguntou. — Entrar em Dreagan para ser traída e usada como isca?

— Não sei qual o objetivo real. A missão de Matt era deixar-me para trás assim vocês poderiam me matar. Foi-me dito que estaríamos fazendo uma investigação de todos em Dreagan depois que encontrássemos o que estava naquela caverna.

— Investigação? Porque? — Cassie perguntou, surpresa.

— Aqui tem muitos segredos, eu suponho. — Denae encolheu os ombros. — Não me disseram.

Kellan bufou com hostilidade. — E você não perguntou.

— É meu trabalho seguir ordens, qualquer uma. Protejo os cidadãos do Reino Unido.

Con movimentou sua mão no ar. — Volte a nossa história. O que aconteceu na caverna?

— Como te disse, enquanto estava na água, Matt tentou me matar. Não queria morrer ou ser usada como isca e fiquei irritada por ele ter me traído. Apenas um de nós iria sair daquele ataque vivo. Garanti que fosse eu.

— Aí tem mais. — Kellan disse.

Denae abriu a boca para lhe dizer que não, quando se lembrou das palavras de Matt. — Matt disse que o mundo saberia a respeito de vocês e que todos seriam libertados.

Cassie levantou-se e andou ao lado da cama sussurrando. — Oh Deus.

— Mas ganhou a luta. — Con disse. — Matou-o. Porque devo acreditar no que diz? Isto poderia ser a isca. A maioria de nós aqui somos homens. Serviríamos ao propósito se a resgatássemos mais facilmente do que com um macho?

Denae não se surpreendeu com as palavras de Con. — Não tenho como provar nada. Não quero saber o que quer que seja que o MI5 está tentando descobrir. Eles me enviaram aqui para morrer. Se voltar a eles, seria como uma falha na missão, sei disso. Irão me matar. Se sair e tentar viajar para algum lugar com meu próprio nome, vai acontecer algum acidente que tirará a minha vida.

Um raro, pequeno e calculado sorriso apareceu nos lábios de Con. — Então, Denae Lacroix. Sua vida está em nossas mãos, verdade?

— Sim. — Disse ela, embora doesse dizê-lo.

— Bom. Considerando que estamos acreditando, eu conseguirei para você uma nova identidade, mas até que tudo isso passe, vai nos contar tudo o que sabe sobre o MI5 e quem está trabalhando ali.

Como se tivesse escolha. Precisava deixar Dreagan — o país — e sua melhor possibilidade era cooperar. — De acordo.

Con abriu a porta e Cassie passou na frente dele deixando-a sozinha com Kellan. Devagar ele foi em direção a cama e seu coração acelerou no peito. Não porque se sentia encurralada, mas porque ele a intrigava e fascinava.

Deixava-a paralisada.

Parou junto a cama e apoiou-se para baixo. Denae estava ainda paralisada como pedra quando sua cabeça abaixou. Os lábios se separaram em antecipação a seu beijo.

Suas mãos se fecharam na bandeja e ele a tirou de seu colo. Então girou nos calcanhares e deixou o quarto, a porta se fechou suavemente atrás dele.

Grande, Denae. Pensando que iria conseguir um beijo de um homem que nem sequer pode olhar para você.

Tanta coisa mais importante para se preocupar, como iria fugir do MI5 e MI6 pelo resto de sua vida. Mas mesmo em meio a tudo isso, ela não conseguia parar de pensar nos olhos azuis e cabelos caramelo.

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO QUATRO


Kellan fechou a porta atrás de si com o pé quando saiu do quarto. Não tinha certeza se conseguiria ficar perto de Denae outra vez.

Denae. Era um nome bonito, refinado que rodava em sua língua com facilidade. Tanto como odiava admitir, era adequado para a mulher que o despertou.

Viu como ela era bem treinada, mas mesmos com seus movimentos defensivos e sua confiança, era toda uma mulher. E odiava notar isso.

Notar tudo isso não era nada comparado com a sensação do corpo dela em seus braços. Todo o trajeto de carro por Dreagan foi com ela contra ele.

Seu calor e o cheiro limpo ainda não o deixaram. Nem ele foi capaz de deixar de lado a tentação que seu corpo incrível oferecia.

E seu rosto. Kellan quase gemeu em voz alta enquanto pensava em seus olhos cor de uísque que perfuraram sua alma.

Seu rosto em forma de coração era cativante, seus tentadores lábios carnudos e beijáveis. Como impediu suas mãos de tocarem seu rosto e queixo delicado, nunca saberia. Mesmo as sobrancelhas castanhas acobreadas o tentavam quando arqueadas sobre os olhos.

Ela era, odiava admitir, muito bonita. Havia uma fragilidade nela que guerreava com a força que presenciou.

Denae era um enigma, um pedaço irresistível que ele não queria morder.

Kellan foi até onde Cassie estava com os outros e parou na frente dela, a bandeja que segurava quase batendo nela antes que a pegasse. Ele esperava que seu corpo respondesse a Cassie, como respondeu a Denae, mas infelizmente, nada aconteceu.

— É melhor ter uma maldita boa razão para ficar tão perto de minha companheira. — Hal afirmou, gotejando gelo em cada palavra.

Kellan voltou seu olhar para Hal e levantou a sobrancelha. — Se não quer homens ao redor dela, talvez deveria ter pensado duas vezes antes de viver aqui, onde ela está rodeada de Reis Dragões.

— Chega. — Con disse antes que Hal pudesse responder.

Kellan olhou para Cassie. — Ela não irá comer agora. Dê a mulher uns trinta minutos e depois leve outra bandeja. Suspeito que ela irá comer então.

— Porque ela não vai comer agora? — Perguntou Cassie, com a sobrancelha franzida enquanto pegava a bandeja.

— Porque ela está assustada. — Con respondeu. — Isso ficou muito obvio. Está claro que está com medo não sei quem ela teme mais se nós ou o MI5.

Cassie olhou para a porta de Denae e franziu a testa. — Ela tinha as coordenadas da caverna de Kellan. Alguém nos traiu?

— Ninguém daqui. — Hal disse enquanto colocava um braço ao redor de sua companheira.

Con suspirou de forma ruidosa. — Foi Ulrik. Temos apenas que descobrir como o fez.

— Ele não esteve em Dreagan em milênios. — Kellan disse. — Como poderia fazê-lo?

— Quem mais poderia ser? Além disso, a disposição não mudou. — Disse Hal.

Cassie olhou para Hal, o amor brilhando em seu olhar. — A rapidez com que todos se esquecem. Não sabemos se foi Ulrik quem trouxe o PureGems até nos. Poderia ser outra pessoa.

— Não. — Con declarou enfaticamente. — Não poderia ser outra pessoa, Cassie. Ulrik é o único Rei Dragão que não está em nossas terras. Ele é o único que guarda rancor contra nós, o único que iria se beneficiar de nos ver destruídos.

Kellan ouvia atentamente. Havia coisas acontecendo que ele não sabia. Apesar de seu desejo de voltar para sua caverna e retomar o seu sono, poderia ser prudente se ficasse acordado tempo suficiente para garantir que quem quer estivesse causando este mal fosse eliminado. Mesmo sendo Ulrik.

Era um choque para Kellan descobri que Hal tinha uma companheira, mas Kellan ficou atordoado ao descobrir que Guy e Banan também tinham uma.

Será que nenhum deles aprendeu com a traição dos seres humanos? Será que o que aconteceu com Ulrik e sua mulher desapareceram de suas lembranças?

Lembranças de suas últimas relações com os seres humanos surgiram, mas Kellan empurrou-as rapidamente para o lado. Se pensasse naquele dia, poderia muito bem ficar furiosos novamente. Então onde isso deixava todos eles?

— PureGems? — Repetiu Kellan

Con assentiu. — Sim. Preciso atualizá-lo sobre algumas coisas. Siga-me.

Kellan acenou para Cassie e Hal enquanto seguia Con até seu escritório. Tanta coisa mudou em Dreagan e ainda assim permanecia a mesma coisa.

Os mesmos quadros de dragões estavam ainda pendurados pelo lugar, ainda assim em áreas diferentes. Dragões ainda podiam ser encontrados talhados em tudo, desde o corrimão esculpido até as pernas das mesas, mesmo dragões de metal salientes nas paredes desprendiam luzes.

Por mais que o acalmasse ver coisas familiares, Kellan ficou espantado com o quanto os seres humanos avançaram. Pelas visitas de Con a sua caverna, Kellan soube sobre cada guerra, invenção elétrica, aviões, veículos e armas. Aprendeu sobre roupas, discursos e potências mundiais.

Nenhuma delas colocava os mortais em boa situação.

Uma vez dentro do escritório de Con, Kellan sentou-se em uma das poltronas diante de Con na mesa grande, onde dragões foram esculpidos em formas únicas, por vezes, quase invisíveis.

— Você não disse muito. — Con disse quando se afundou em sua cadeira. — Está dormindo há muito tempo, meu amigo.

— Preferia ter permanecido desta forma.

— Realmente não ouviu o meu chamado?

Kellan balançou a cabeça. — Sabe que não teria ignorado se ouvisse.

— A maioria dos outros acordou. — Con disse quando pegou uma caneta e girou em seus dedos. — Existe outra história que preciso contar. Somos agora aliados dos Warriors3.

Kellan ficou surpreso com a notícia e não escondeu isso. — Acredito que tenha uma boa razão para isso.

— Sim. Vou contar-lhe tudo sobre como Cassie, Elena e Jane se acasalaram com Hal, Guy e Banan. Isto nos levará ao porque dos guerreiros saberem sobre nós e como nos aliamos a eles.

Isto estava ficando cada vez mais interessante. Kellan ficou quase feliz por ter acordado para ouvir estas histórias. Por muito tempo os Reis Dragões viram os guerreiros, mas Con foi inflexível sobre se manterem longe deles. Algo drástico deve ter acontecido para fazê-lo mudar de ideia.

— Antes que lhe conte tudo, preciso de algo de você.

De alguma forma Kellan não se surpreendeu. — Você não mudou.

— Não, acho que não. — O nariz de Con se abriu em uma respiração profunda. — Preciso que mantenha um olho em Denae. Descubra tudo o que pode sobre o MI5, suas implicações e suas armadilhas. Ganhe a confiança dela se for necessário.

— Eu prefiro que não. — As palavras saíram com dureza, pois Kellan era completamente avesso a passar mais tempo com Denae, pois a simples menção de seu nome fazia sua pulsação aumentar.

Foi a vez de Con levantar as sobrancelhas, incrédulo. — Prefere que não?

— Eu não... — Gaguejou.

— Importa-se de explicar?

Kellan mudou de posição, odiando as roupas limitando-o. Por ter passado tanto tempo dormindo, seu corpo se esqueceu de como era ficar na forma humana e usar roupas. — Não quero ter a chance de uma repetição... como da última vez que acordei.

— Não terá. — Con disse como se fosse a pessoa a tomar esta decisão. — Preciso lembrá-lo que eram as coordenadas de sua caverna que tinham? Você os viu lutar. Ouviu as palavras deles. Não eu, não qualquer pessoa. Você, Kellan. Precisa ganhar a confiança dela.

— Não gosto dela.

— Você não gosta de nenhum humano. Entendo e respeito isso, no entanto, há três fêmeas acasaladas aos seus irmãos.

Kellan agarrou os braços da cadeira para conter sua ira crescente. — Acha que vou machucá-las?

— Não. Estou apenas apontando um fato. Posso não querer Cassie, Elena ou Jane em Dreagan ou acasaladas a Reis Dragões, mas não há como negar o amor entre todos os três casais. Seja amistoso com as fêmeas. Nós já temos o suficiente para lidar.

— Não precisa se preocupar com as fêmeas acasaladas. Serei educado com elas.

Apoiando seu antebraço na mesa, Con disse. — Há outros humanos nas proximidades, Kellan. Contratamos muitos deles para trabalhar em Dreagan, em várias tarefas.

Rodeado por humanos. Era muito para enviar Kellan de volta à caverna. Então lembrou-se da ameaça aos Reis Dragões e sabia que iria demorar para voltar a caverna e ao seu sono precioso.

— Tem algum problema com isso? — Con perguntou, seus olhos negros fixos nele.

Kellan olhou para Con. — Se eles não me traírem, então não será um problema.

— É justo. Agora, sobre Denae.

Kellan levantou-se e andou ao redor do escritório. Precisava se mover para acabar com a tensão. Seu olhar chocou com a espada de Con do outro lado. Cada Rei Dragão estava marcado com uma tatuagem, mas também tinham uma espada.

— Compartilharei tudo o que sei e sobre o que testemunhei com Denae e seu parceiro, mas acho que seja sensato ficar longe dela.

— Discordo. — Disse Con.

Kellan olhou para ele e estreitou o olhar sobre o Rei dos Reis. — O que está fazendo, Constantine?

— Estou tentando proteger Dreagan e todos aqueles que a chamam de casa. Quero saber porque sua caverna, em particular, foi marcada e você é o melhor para descobrir a razão.

Kellan não comprou este argumento nem por um minuto. Con faria qualquer coisa para proteger Dreagan e os Reis Dragões, mas havia algo mais em seu pedido.

— Certo. — Con disse e jogou a caneta. — Acho que precisa de alguma interação com os seres humanos para ajudar a reduzir seu ódio. Nem todos eles são maus, Kellan.

— Não acredito. Vi por mim mesmo, lembra-se?

— Isso foi há muito tempo.

Kellan andou até ficar atrás da mesa de Con, olhando por uma das janelas, para o vale verde abaixo e os pontos brancos das ovelhas. — Sempre haverá ódio no meu coração pelos seres humanos. Massacraram meus Bronzes, que estavam ali para protegê-los. Traíram Ulrik, assim como cada um de nós.

— Será que matar aquela humana afastou a dor?

Ele ignorou Con e disse. — É devido a eles que não tenho nenhum Bronze para governar.

— Nenhum de nós tem dragões para governar. — Con disse tranquilamente. — Todos nós sentimos a perda deles.

Kellan estava tão perdido em sua própria miséria que se esqueceu deste pequeno detalhe. Ele não era o único Rei Dragão que foi traído. Ou o único a sentir a perda dos dragões.

Con não estava pedindo muito. De fato, apesar de Kellan ser o que mantinha a história dos dragões, Con o deixou dormir por quase treze séculos.

— Não sou o Rei Dragão que costumava ser. — Kellan disse a ele. — Já não sou paciente ou clemente. Não sei mais como ser misericordioso ou brando. Se for isso que você quer com Denae, então sugiro que peça a outro.

Houve um momento de silêncio antes de Con dizer. — Quero você, Kellan. Não teria pedido se não achasse que está à altura da tarefa.

Kellan cruzou os braços atrás das costas. — Tenho que avisá-lo, sinto uma aversão especial por Denae. Ganhar sua confiança não será tão fácil, já que ela sabe o que sinto por ela.

— Acho que você irá conseguir.

Foi o sorriso nas palavras de Con que fizeram Kellan se virar para o amigo. Ao ver o longo sorriso nos lábios de Con, Kellan gemeu. — O que?

— Acha que não vejo como evita tocá-la?

— Sim, porque não gosto dela.

Con balançou a cabeça, o sorriso ainda no lugar. — Quanto tempo se passou desde que aliviou seu corpo?

— Você sabe a resposta para isso. — Kellan resmungou. — Vou cuidar disso, assim que puder.

— Eu vi Denae olhando para você.

— Ela estava olhando para todos. Sua posição aqui é precária e ela sabe.

Con recostou-se na cadeira. — Seria tão ruim se aproximar de Denae?

— Sim.

— Hum. Então não se sente atraído por ela?

Kellan foi até a porta quando disse. — Não.

— Nenhum pouco?

— Não, nem sequer uma gota. — Afirmou enquanto saía do escritório de Con.

Não foi até Kellan estar no corredor que considerou exatamente o que Con estava pedindo a ele para fazer. Aproximar-se de Denae. Como Kellan iria fazer isso quando mal podia suportar ficar perto do sexo feminino?

— Pelos dragões. — Kellan murmurou.

Assim como Con sacrificou tanto e os outros Reis Dragões se esconderam a fim de preservar quem eram, Kellan não podia fazer menos.

Con faria qualquer coisa, diria qualquer coisa para garantir que Dreagan e os Reis Dragões sobrevivessem. Kellan deixaria de lado seu ódio para descobrir os segredos de Denae.

Mas se descobrisse que ela o traiu e aos outros Reis de qualquer forma, iria matá-la.


CAPÍTULO CINCO


Denae agarrou a pia com esforço para combater a dor de ter saído da cama para ir ao banheiro. Quando a dor estava sobre controle, levantou a camisa amarela claro para examinar seu ferimento.

Um grande curativo de gaze o cobria. Ela afastou a gaze e olhou estupefata para o ferimento no espelho.

— Algo está errado?

Ao som da voz profunda e sensual, Denae virou-se, esquecendo seu ferimento, surpresa. A dor a atingiu instantaneamente, fazendo-a ofegar e tentar agarrar qualquer coisa para ficar de pé.

Encontrou-se nos braços de Kellan enquanto a abraçava suavemente, mas de forma segura. Denae agarrou seus braços fortes, absorvendo o calor que irradiava dele. Olhou para cima e ficou presa em seu olhar esverdeado, seus cílios tão grossos e pretos que seriam considerados femininos em outra pessoa.

Seu corpo respondeu instantaneamente a seu contato. Seu sangue corria lento enquanto um calor firme fixou-se entre suas pernas. Denae não podia explicar a irresistível e sedutora atração que sentia por Kellan. Estava ali, como se estivesse esperando para se mostrar.

Tão lindo quanto seus olhos eram, não havia nenhuma emoção ali. Pareciam cubos de gelo em seu rosto. Denae tentou se afastar dele, ignorar os músculos rígidos de seu peito sob suas palmas.

— Pode me soltar agora. — Disse olhando para o espelho uma vez mais.

— Está pálida.

Denae agarrou a pia novamente. — Sim. Isso tende a acontecer quando uma pessoa está ferida e perde muito sangue.

— Era para estar se sentindo melhor.

Ela o olhou através do espelho. Suas palavras, combinadas com a forma como sua ferida estava, como se tivesse já uma semana se curando e não apenas horas, a fez franzir o cenho para ele. — O que fez comigo?

Denae recuou enquanto terminava. Tinha feito um exame minucioso e um trabalho meticuloso para eliminar todo o sotaque do Texas de seu discurso, especialmente todos do ‘y’.

— Cuidamos de você.

Girou para confrontá-lo, tomando cuidado para se mover devagar para não esticar o seu lado. — O que me fez? Sei que a ferida era profunda. Sei que tinha uma hemorragia.

— A caverna era escura. — Disse e apoiou o ombro no marco da porta antes de cruzar os braços sobre o peito.

O movimento fez sua camisa se esticar ainda mais sobre o peito. Denae teve que olhar para o lado. Maldição era muito gostoso, a ponto de querer o lamber da cabeça aos pés. — Estava passando pela caverna?

— É minha caverna.

Seus olhos se abriram e franziu a testa. — Sua caverna? O que quer dizer exatamente?

— Se eu não estivesse ali, estaria morta.

— Penso que seria o melhor para todos se este fosse o caso. — Denae apertou a pia novamente e abriu a torneira. Ela jogou água em seu rosto, de repente cansada até os ossos.

Secou seu rosto e pegou um pente. Sem pensar, começou a passá-lo pelo cabelo e o deixou cair ao redor dos ombros. Ainda estava molhado em alguns lugares enquanto passeava o pente sobre eles.

Denae viu Kellan olhando sua mão enquanto movia o pente pelo cabelo grosso. Algo brilhou em seus olhos, uma emoção sem nome que a fez parar.

Quando ela encontrou seus olhos e o calor foi embora, sentiu-se insegura. Durante um momento... Eles simplesmente olharam um para o outro. Ele deixou-a nervosa, como se houvesse algo primitivo e sexual que não podia entender.

Denae queria saber como usar seu corpo, como alguns agentes faziam. Sedução não era uma de suas habilidades e não foi treinada no MI5 para isso. Se ao menos tivesse prestado mais atenção aos agentes disfarçados que usavam seus corpos, poderia saber o que estava acontecendo com ela agora.

Colocou o pente no lugar e moveu-se, de repente insegura. A única vez que sentiu esta... Inquietação foi na presença de Kellan.

Ele estava fazendo isto com ela de propósito? Se fosse assim, era uma ótima tática, porque estava funcionando perfeitamente. Dupla maldição.

— Eu a deixo desconfortável? — Perguntou.

Ela se recusava a fazer contato visual com ele novamente, mesmo através do espelho. — Não é isso que você quer?

— Porque acha isso?

— Porque está no meu quarto?

— Não é obvio?

Denae balançou a cabeça e riu triste. — Já disse que contarei tudo o que sei sobre os planos do MI5 em relação a Dreagan. Não preciso de alguém me vigiando. Duvido que poderia escapar, mesmo se estivesse pronta para isso.

— Entrou em nossas terras e em minha caverna sem o nosso conhecimento.

— Acho que tivemos muita sorte. — Disse ela e começou a caminhar para a porta, certificando-se de olhar para qualquer lugar, menos para ele.

Assim quando pensou que poderia ir, ele bloqueou-a, forçando-a a olhar para ele. — O que estava procurando?

— Qualquer coisa. Tudo. Como lhe disse, disseram que eu saberia o que era quando visse. Isso foi tudo o que me disseram. Quando perguntei porque Dreagan era o alvo marcado, disseram que havia suspeitas. Matt sabia mais coisas.

— E você o matou.

— Era matar ou morrer. — Disse ela com os dentes apertados.

Sua força foi diminuindo rapidamente. Como se sentisse, Kellan moveu-se para fora do caminho e ela voltou aos poucos para a cama e sentou-se cautelosamente.

— Cassie trouxe-lhe medicação para dor. — Kellan disse enquanto se sentava na cadeira que Con ocupou mais cedo.

Denae reprimiu um estremecimento quando precisou se virar para colocar ambas as pernas no colchão. — Tenho uma alta tolerância à dor.

— Quer dizer que não confia no que há no remédio?

— Algo assim. Tenho certeza que me entende.

Para sua surpresa, os lábios dele suavizaram como se estivesse quase sorrindo. — Sim. Poderia dizer que você é obstinada.

— Não gosto de sentir dor. — Disse ela e puxou as cobertas sobre suas pernas nuas. O short que usava subiu muito. Se apenas pudesse convencer seu próprio corpo que ele não valia seu tempo, podia se sentir mais no controle das coisas.

— Se não gosta da dor, então tome o medicamento.

— Tudo bem. Vou tomar a porra dos remédios.

Uma sobrancelha caramelo se ergueu. — Você se irrita facilmente. Não é algo que esperava de um agente do MI5.

— Sim, você parece tirar o melhor de mim. — Assim que as palavras saíram de sua boca, Denae quis pegá-las de volta. — Olha, estou cansada, com dor e irritada com a traição de uma organização e país que protegi. Esta não sou eu.

— Na verdade, é mais você agora do que em qualquer outro momento.

— Por isso que quer me interrogar agora. — Ela inclinou a cabeça contra a cabeceira da cama e ficou confortável. — Chuta.

Por uma fração de segundos, ela viu a confusão em seu rosto antes de sua palavra ser registrada. — Não podemos apenas nos sentar e conversar?

— Não está apenas conversando. Está me pressionando.

— Está errada. Vim para ver como você estava.

Denae suspirou. Era frustrante tentar conversar com Kellan. Era quase como se estivessem duelando, exceto que com palavras em vez de espadas. E ela estava perdendo feio.

— Porque não enviou Cassie? Sei que não quer estar aqui comigo.

— Cassie está ocupada cuidando de seu marido.

Denae sorriu, sentindo-se como se tivesse conseguido uma pequena vitória. — Ah, mas você não nega que não quer estar aqui.

— Não nego.

— Sinto muito. — E era verdade. — Nunca é divertido ficar preso em um trabalho que não se quer.

Ele não respondeu e Denae descobriu que não conseguia manter os olhos abertos enquanto os minutos passavam.

Ela estava caindo no sono quando ele disse. — O que o MI5 procurava em Dreagan?

— Não me disseram. — Ela repetiu e bocejou enquanto seus olhos permaneciam fechados. — Pensei que estivesse fazendo reconhecimento. Não foi até Matt dizer que era a isca que soube que havia outra missão. Porque precisava ser a isca? E porque precisava que me ferissem? Será que achavam que algum animal iria me atacar?

— Poderia haver algo na caverna com vocês.

Denae abriu os olhos. — É sua caverna. Você disse. O que estava lá dentro?

— Eu.

— Você? — Sua mente sonolenta não conseguia dar sentido ao que ele dizia. — Você estava lá? Viu quando Matt e eu lutarmos?

Ele acenou com a cabeça uma vez.

— Isto fez Denae acordar instantaneamente. — Quando tempo me deixou sangrar?

— Está viva, não está?

— Não foi isso que perguntei. — Ela engoliu o desespero em sua garganta. — Realmente precisou decidir entre me salvar ou não? Quer tipo de pessoa é?

— Não me pareço com ninguém que conheça.

— Obviamente. — Disse ela, sem se preocupar em esconder a raiva. — É tão mau quanto Matt. Ele me usou e achava que não valia nada. O que aconteceu com o mundo?

Ele esticou as pernas e cruzou os tornozelos. — Eu me perguntei isso por anos. Sim, admito ter ficado em dúvida quanto a ajudá-la. De fato, o fiz.

— Lamenta a decisão? — Esperou tensa que ele respondesse, perguntando-se porque se colocava neste tipo de posição, onde poderia se machucar.

— Depende do que irá me dizer sobre o MI5.

— Está perguntando agora?

— Não.

Denae olhou para baixo, sobre a cama. — Planeja ficar aqui toda a noite então?

— Não queremos que pense que pode fugir, queremos?

Denae olhou para o teto. — Para onde irei? No momento, Dreagan é o lugar mais seguro para mim.

— Enquanto cooperar conosco está a salvo, ficará protegida aqui.

— Pode realmente me tirar do país?

— Há muitas coisas que podemos fazer.

Ela grunhiu. — Talvez seja por isso que o MI5 esteja interessado em vocês. Vi o arquivo sobre Dreagan. Não tem muitas informações. Um relatório tão pequeno que não fazia sentido.

— Qual o tamanho normalmente que recebe?

Levantou a mão e mostrou com o dedo índice e o polegar. — Aproximadamente sete centímetros e meio ou mais. Antes de qualquer missão, reunimos informações sobre tudo e qualquer conexão. Daí, determinamos como será a missão e quais as equipes que estarão envolvidas.

— Não era apenas Matt e você?

Denae abaixou a mão e olhou para Kellan. — Apenas nós dois. Aquilo deveria ser uma bandeira vermelha para mim, mas então pensei que as outras equipes poderiam ser enviadas depois para nos cobrir.

— Ninguém mais foi localizado.

Dizia com tanta certeza que a fazia pensar que o MI5 estava correto em querer mais informações sobre Dreagan e seus residentes.

— Dreagan tem sessenta mil acres. Não tem como cobrir toda área, desde que me descobriu, não sem um equipamento militar.

Kellan simplesmente endireitou-se na cadeira, recusando-se a falar ou admitir qualquer coisa.

— Vocês têm algum? — Perguntou e sentou-se muito rápido, fazendo seu lado se esticar e causando uma careta. — Roubou-o? O MI5 não irá parar até que tenha o equipamento de volta.

Kellan apoiou-se adiante na cadeira. — Nunca parou para pensar que há muitas formas de fazer algo que um humano não compreenderia?

Denae ficou com a boca aberta quando Kellan levantou-se e saiu de seu quarto, deixando sua mente correr.

E não tinha nenhuma resposta à vista.


CAPÍTULO SEIS


Em algum lugar na Escócia...

A masmorra estava escura, como todo o castelo desmoronando. Como se isto fosse lhe causar ansiedade. Ele pediu por um encontro para continuar cultivando uma união que não existiu em dez milênios.

Os Reis Dragões cometeram o erro de se aliar aos Fae. Um erro que não iria se repetir. Ele conhecia o segredo dos Fae que os Reis estavam desesperados para esconder.

Estava dando um passo além e aliando-se com os Fae mais letais— os Escuros. Estes eram os Fae que não duvidavam em usar seu considerável poder para qualquer coisa — e para tudo — que quisessem.

— Você me fez esperar. — Ele falou para a escuridão.

Não estava sozinho. Não esteve desde o momento em que cruzou a antiga ponte levadiça. Os Fae estavam por todas as partes. Dois não estavam a mais de trinta centímetros dele.

Não que estivesse com medo. Os Escuros tinham sua própria forma de fazer as coisas e ainda estavam aprendendo a confiar nele.

— Porque queria saber se foi seguido. — Disse a voz rouca do líder dos Escuros, Taraeth. Uma luz azul sobrenatural encheu rapidamente a masmorra. — Porque convocou esta reunião?

— O plano para entrar em Dreagan teve um problema.

O lábio superior de Taraeth se levantou com desprezo, seus olhos brilharam. — Sabemos. O humano falhou em sua busca. A fêmea está agora nas mãos dos Reis Dragões.

— Acha que confiarão nela? — Perguntou. — Claro que não. Tirarão dela toda informação que puderem e logo a deixarão ir.

Já os conhecia.

Ele encolheu os ombros. — Talvez, mas acho que não. Eles serão cuidadosos. Uma vez que a mulher for liberada, irei me assegurar que o MI5 esteja ali para pegá-la. Os reis estarão vigiando. Eles irão ajudá-la. Aí é onde você entra.

O sorriso de Taraeth era frio e calculista. — Você deixara que eu capture um Rei Dragão?

— Pegue tantos quantos puder capturar e os use como quiser.

Taraeth considerou o novo plano por vários minutos antes que dobrasse seus braços sobre o peito.

— Há apenas um que eu quero.

Ele assentiu. — Ah, sim. Kellan. Por que ele?

— Não é de seu interesse. Que acontece se este plano falhar?

— Não vai acontecer,— indicou. — Eu conheço os reis. Eu sei como pensam. Eles se jogarão direto em nossas mãos.

Taraeth assentiu e no instante seguinte desapareceu na luz azul. E também os Fae Escuros.

Saiu da masmorra e voltou passando pelas ruínas do castelo, sobre a ponte levadiça até seu carro. Deslizou para o lado do motorista e ligou-o antes de apontar em direção a Perth.


***

Banan olhou fixamente o grupo de ovelhas que foram reunidas para serem tosadas. Desde que lhe disseram que um agente do MI5 estava na mansão, não quis acreditar.

Foi Henry North, um agente do MI5 quem ligou algumas vezes, que os ajudou a rastrear os homens responsáveis pelo sequestro de Jane em Londres.

O som dos passos que se aproximavam foi abafado pelo barulho das ovelhas, mas Banan o ouviu assim mesmo.

— Poderia ser o momento de ligar para Henry. — Disse Constantine enquanto caminhava.

Banan olhou para cima para encontrar Con que trocou sua calça e camisa por uma camiseta branca, calça jeans desbotada e botas. — Não está vestido no seu estilo habitual.

— Poderia muito bem entrar no barro e lama com minha roupa habitual, verdade? — Perguntou Con irritado.

Banan fechou uma baia quando terminou e rapidamente abriu outra. — Não quero ouvir o que Henry tem a dizer.

— Poderia querer. Jane disse que agora está ligando para ela, já que não atende suas ligações.

Banan apoiou-se na cerca. — Gosto de Henry, Con. Cada vez que pedimos algo, sempre nos atendeu.

— O que te faz parecer que agora será diferente?

— Porque não nos contou? — Perguntou Banan enquanto virava a cabeça para Con. — Porque não nos avisou?

Con encolheu os ombros. — Pode ser que não soubesse. Sabe como os diferentes departamentos guardam segredos no mundo dos espiões.

Tinha um ponto, mas a agitação no ventre de Banan lhe dizia que se Henry os traiu, teria retribuição.

— Ligue para ele. — Disse Con. — Se Henry nos traiu, de verdade acredita que iria tentar ligar?

— Sim. Pode ser que não saiba o que somos, mas sabe que somos poderosos.

Con se inclinou sobre a cerca e deu uma palmada em uma das ovelhas gordas. — Se não ligar, eu o convidarei para vir a Dreagan. Sua escolha.

Banan olhou nos olhos de Con e viu a verdade em suas palavras. Uma onda de vento atravessou o vale, bagunçando o cabelo loiro de Con. Banan deu a volta e passou a mão por seu cabelo curto e escuro.

— Certo. — Disse e pegou seu celular.

Havia dez chamadas perdidas de Henry e três mensagens. Banan não se incomodou em ouvir as mensagens enquanto marcava o número de Henry.

Henry atendeu no primeiro toque. — Banan.

— Diga-me que não sabia.

— Não sabia. — Disse o britânico depressa. — Juro. Apenas descobri porque ouvi falar dos dois agentes desaparecidos. Quando eu tomei conhecimento de qual departamento eram, descobri a missão clandestina em Dreagan.

Banan fechou os olhos. — Quero acreditar.

— Então o faça. Liguei assim que descobri. Jane não me disse nada. Precisava falar com você eu posso estar em Dreagan em poucas horas.

Por que você viria aqui?

Porque eu sei que você não vai acreditar em nenhuma palavra que eu diga pelo telefone. Você precisa me ver.

Banan deu a volta e enfrentou Con. Sabia que Con podia ouvir a conversa. — Porque se importa com o que eu penso?

Passo a vida mentindo e me misturando para não ser visto. Não posso ser identificado em uma multidão, Banan. Sou bom em meu trabalho, mas há momentos que quero ser visto. Você e os demais em Dreagan me veem. Não sou um fantasma para vocês.

— A decisão é sua. — Disse Con a Banan.

Banan fechou a segunda baia antes de passar para outra ovelha. — Você será rastreando aqui?

— Não. Também não estão nos ouvindo nesta linha. Não sabem sobre este número. Estarei aí amanhã. Bem cedo.

— Um dos agentes está morto. — Disse Banan. — O segundo agente o matou quando a atacou.

Henry soltou um longo suspiro. — Isto é fodido. Iremos consertar.

— Podemos lidar com isto. A fêmea afirma que foi traída por sua organização. Não irá confiar em você.

— Ela nem sequer saberá que estou aí. Conheço o departamento para o qual trabalha. São conhecidos por deixar os agentes pendurados, assim como ter facções dentro do próprio departamento. Mantenha a mulher a salvo. Irão atrás dela.

Banan desligou e guardou o celular. — Tivemos sorte de permanecer escondidos durante todos estes séculos. Porque tenho a sensação de que tudo irá terminar?

— Sim, é verdade. — Disse Con. — Seguiremos nossos dragões a seu reino e viveremos com eles mais uma vez.

— E quanto a proteção dos humanos?

— Uma vez que descobrirem que somos dragões, irão nos caçar incessantemente. Olhe o que fizeram no Lago Ness, apenas porque alguém viu alguma coisa na água. Este algo poderia ser um de nós. Eles procuraram pelo Lago Ness sem parar e não irão se render mesmo que não tenham encontrado nada. O que acha que farão quando descobrirem que podemos nos transformar em dragão?

Banan apertou os olhos. — Nenhum esconderijo poderá nos ajudar então. Não quero os Reis divididos novamente. Poderíamos nos espalhar. Pedir a Jane que abandone seu reino será difícil. Se não estivermos aqui, terão dificuldades para saber quem são os Reis Dragões.

Con olhou sobre a terra. — Irão descobrir. Sempre o fazem. Sabe que não podemos ir por muito tempo. Se não estivermos aqui com nossa magia, os Prata despertarão e matarão aos humanos. Estes Pratas são os maiores dragões de Ulrik. Tivemos que mantê-los dormindo, já que não iriam com os demais depois da ordem de Ulrik.

— Não passará muito tempo até que nos cacem. Não tenho certeza de que poderia sentir pena pelo o que os Pratas fariam com os humanos.

— E o que pensaria Jane?

Banan estremeceu ao pensar em sua esposa humana que se converteu em sua companheira uns meses antes. — Agora é uma de nós. Ela entenderia.

— Duvido. — Disse Constantine enquanto se afastava.

Banan fez um gesto aos tosquiadores para que continuassem de onde parou e abriu a baia. Durante tanto tempo ficaram no anonimato. E achavam que estavam seguros.

Era uma coisa para Banan ficar fugindo e se escondendo dos humanos que o caçavam. Era muito diferente levar Jane com ele. Deixá-la tampouco seria uma opção.

Como sua companheira, ela agora era uma parte de Dreagan, mesmo se não pudesse se transformar. Estavam conectados, unidos por mais forças que simplesmente o amor e os votos. Viveria tanto quanto ele e morreria quando ele o fizesse. Posto que apenas pudesse morrer pela mão de outro Rei Dragão, ela poderia de fato, viver para sempre.

Poderiam deixar o reino? Parte de Banan queria partir neste instante. Ver seus Azuis novamente era algo com que sonhava frequentemente. Então pensou em Jane e soube que o seguiria a qualquer parte, mas seria feliz?

***

Con entrou na destilaria e respirou os muitos aromas envolvidos no processo de fabricação de seu famoso uísque. Con estava no alambique de cobre, o lugar era barulhento e ajudava a mascarar os pensamentos que corriam por sua cabeça.

Banan tinha razão. Seriam descobertos logo. Tudo dependia de quão rápido aconteceria.

O trabalho de Con era manter os Reis a salvo e Dreagan como um refúgio para eles. Como tudo estava dando errado? Seria fácil culpar as mulheres que estavam acasaladas com seus Reis, mas Con sabia que elas não tinham culpa disso.

Não, a culpa era de quem estava puxando as cordas atrás do cenário. Primeiro foram os PureGems e a tentativa de descobrir algo quando entraram sob o pretexto de espeleologia4.

Foi somente seguindo esta pista, com a ajuda de Elena e Jane, que os Reis descobriram que PureGems era apenas um disfarce, que alguém mais estava por trás de tudo. Jane conversou com o homem, mas nunca viu seu rosto.

Por instinto, Con sabia que Ulrik era uma parte disso, se não estivesse por trás de tudo.

Durante séculos Con esperou que Ulrik se vingasse, mas assumiu que ele atacaria somente a ele, não todos os Reis Dragões.

Con agiu corretamente ao matar a mulher de Ulrik centenas de milhares de anos atrás. Ela traiu Ulrik e os Reis. Como Rei dos Reis, era seu dever agir.

Pensou que pudesse falar com Ulrik e fazê-lo ver que não havia outra opção. Mas Ulrik ficou fora de controle.

Con subiu a escada até a plataforma para verificar os trabalhadores.

Apoiou as mãos no corrimão. Ulrik fez o que era proibido fazer: usou seus Pratas para começar uma guerra contra os humanos.

Não importava que os humanos estivessem matando os dragões. Eram os Reis Dragões os que tinham a intenção de manter a paz entre os dragões e os humanos.

Con fracassou nisso.

Ulrik estava além da conversa, deixando a Con apenas uma opção. Despojou Ulrik de seu direito de se transformar em dragão e pegou sua espada. Con então prendeu a magia de Ulrik para que não pudesse se comunicar com os Prateados.

O restante dos Reis prendeu os Prateados e os esconderam em uma das montanhas de Dreagan. Ulrik foi deixado para caminhar pela vida imortal, sem os outros benefícios de um Rei Dragão.

O enfrentamento entre ele e Ulrik estava por chegar. Esteve esperando por isso ha muito tempo. Seu único amigo o que chamou de irmão acima de todos, agora era seu inimigo.

Ulrik ansiava por vingança.

Con daria isto para ele.


CAPÍTULO SETE


Kellan não tinha certeza por que ele voltou ao quarto de Denae muito Tempo depois dela ter dormido. Ele ficou de guarda fora da porta durante horas, repassando sua conversa.

Quando amanheceu, entrou no quarto esperando que acordasse. Em vez disso a encontrou no meio de um sonho e não era um sonho bom, pois ela se sacudia e gritava.

Kellan se aproximou dela, pronto para acordá-la, quando ficou quieta. Parou, logo voltou sobre seus passos e sentou-se na mesma cadeira da noite anterior, sem querer incomodá-la.

Por mais que se esforçasse para afastar a vista, seu olhar deslizou pelo cabelo grosso e castanho com mechas cobre enquanto fluía sobre seu travesseiro.

Quando ela penteou o cabelo na noite anterior e ele o viu cair ao redor dela como uma cortina, Kellan sentiu a necessidade de passar os dedos através deles. Era mais longo do que esperava, caindo na metade das costas, brilhante e reto.

Os raios de luz do sol fluíam através das janelas. Uma vez que Denae se alimentasse, Kellan começaria a tirar informações dela. Con queria que usasse qualquer meio.

Kellan esperava que não chegasse a isto. Ficar perto dela era uma prova que não queria enfrentar. Não teve tempo para encontrar uma companheira de cama nas poucas horas que ficou acordado, mas precisava fazê-lo logo.

As coisas ficariam drásticas se Denae o tentasse como o fazia. Mesmo agora, quando viu uma de suas pernas fora dos lençóis, sentia louca necessidade de passar os dedos ao longo de sua pele, para afastar os lençóis e ver mais dela.

Kellan saiu de suas reflexões ao ouvir um gemido angustiado. Uma vez mais Denae estava presa no sonho. Ela se enrolou nos lençóis, suas palavras trêmulas e ele não entendia.

— Renne! — Gritou e logo abriu os olhos.

Ficou quieto, sem querer assustá-la.

Depois de um momento, Denae deixou escapar um suspiro enquanto seu rosto se enrugava. Cobriu o rosto com as mãos, mas não ouviu nenhum soluço e não parecia haver lágrimas. Logo se incorporou lentamente e passou uma mão por suas longas tranças, movendo as mechas que estavam de lado.

Sua mão se levantou e procurou o vidro de remédios. Kellan sabia que uma droga chamada codeína podia diminuir a dor. No entanto, a mão de Denae ficou no vidro por vários segundos, tremendo, antes de deixar cair a mão sobre sua perna.

De repente, levantou a cabeça e o olhou. Kellan não disse nada, sobre tudo porque não tinha certeza do que dizer. Obviamente Denae estava lutando contra a dor e deveria ter uma boa razão para que não tomasse o remédio.

— Tem pesadelos com frequência?

Ela suspirou. — Eles voltam quando fico estressada.

Kellan a observou atentamente enquanto perguntava. — Quem é Rennee?

— Minha irmã. — Os olhos de Denae se fecharam quando ela engoliu saliva. — Ela morreu por minha culpa.

Quando seus olhos se abriram. Kellan segurou seu olhar, esperando que continuasse. Não esperava que se abrisse, mas agora que o fez, queria saber porque se culpava pela morte da irmã.

— Rennee era apenas um ano mais velha e éramos próximas. Estava saindo com um rapaz mais velho escondida dos meus pais. Tudo ia bem até que de repente não mais. Ela sugeriu que fossemos a praia uma tarde quando então me disse que tinha terminado com o rapaz e que ele não a deixava em paz.

Ele permaneceu imóvel enquanto Denae colocava levemente a mão sobre a ferida e respirava fundo.

— Pensei que estivesse brincando. Não tinha ideia de que o rapaz se transformou em um perseguidor e nos seguiu. Ela era uma boa nadadora, melhor que eu. Mas quando o rejeitou, ele a afogou. Eu ainda posso ouvi-la chamando meu nome enquanto eu estava na fila para comprar um sorvete.

— Quantos anos você tinha?

Piscou como se isto a tirasse das lembranças. — Quatorze.

— Onde estavam seus pais?

— Estavam caminhando pela praia.

Não podia acreditar que estava a ponto de consolá-la, uma mortal. Kellan a olhou nos olhos e disse. — Não foi culpa sua, nem deles.

— Talvez. — Respondeu em um sussurro.

— Quer comer algo? — Perguntou para romper o silencio.

Seus ombros se afundaram como se houvesse levantando dali um grande peso. — Seria bom.

— Irei buscar algo. — Kellan se levantou e caminhou para a porta. Fez uma pausa ao abri-la. — Sei que não quer ouvir isto, mas está fraca. Se precisar de ajuda, não seja tola e peça.

— Quer que peça a você? — Perguntou com desconfiança.

Olhou em seus olhos cor de uísque e desejou que não estivesse com aquele olhar sonolento, como se houvesse passado a noite fazendo amor.

Sua necessidade era grande e ela parecia mais tentadora e sedutora quanto mais ficava perto dela. Tinha que ser apenas a necessidade de seu corpo por alivio e nada mais. Kellan apertou uma mão com a outra enquanto imaginava deslizando pelos fios de cabelo para poder segurar sua cabeça enquanto saqueava sua boca em um beijo selvagem.

— Eu ou alguém mais. — Disse depois de limpar a garganta. — Posso pedir a Cassie para subir, se quiser.

— Lidarei com isso.

Ela era tão teimosa quanto eles. Apesar de tentar afastar os olhos, não pode evitar que seu olhar deslizasse pelas longas e esbeltas pernas enquanto ficava de pé ou ver como seu short parava no alto, mostrando a deliciosa curva do traseiro.

Seu olhar continuou até a camiseta solta, escondendo seus quadris e cintura, mas não havia como esconder o volume suave de seus seios ou a forma como seus mamilos se endureciam e empurravam contra o tecido.

Com seu corpo já necessitado, seu pau ficou duro e dolorido no mesmo instante. O anseio assustador e devastador de aliviar sua necessidade aumentaram dez vezes apenas olhando para Denae.

Dedos longos e finos seguraram na porta do banheiro e seu olhar uísque se voltou para ele. — Não menti a noite passada. Posso suportar muita dor. Pode me deixar sozinha por um momento.

Maldição, se seu corpo não estava lutando para ir até ela. Era exasperante, mesmo se soubesse que era apenas o fato de que era uma mulher muito perto de um homem que precisava aliviar desesperadamente seu corpo. Não queria se sentir atraído por ela, sem importar o motivo.

Kellan saiu do quarto e fechou a porta atrás dele antes que a cabeça entre suas pernas o governasse em lugar da cabeça sobre o pescoço.

— Como está? — Perguntou Rhys ao subir os últimos degraus até o segundo andar.

Kellan não podia tirar da cabeça a imagem de seus seios balançando sob sua camiseta. Que fácil seria rasgar aquela frágil camiseta pela metade e deleitar-se com seus olhos sobre ela!

Tampouco podia deixar de pensar em sua história sobre Renne. Havia verdadeiro arrependimento e culpa em seus olhos. A dor da morte de sua irmã a perseguia.

— Kellan?

Estremeceu por dentro e olhou para Rhys. — Ela está com fome. Preciso pegar uma bandeja de comida.

Rhys estreitou os olhos nele. — Deixe Kiril trazer a comida. Pois acho que deveria levá-lo até Inverness5.

— Con quer que me aproxime dela. — Ainda que Kellan quisesse estar em qualquer lugar longe dali. Uma viagem a Invernes soava muito bem, sobretudo porque o afastaria mais de Denae, mas também porque poderia encontrar uma mulher disposta a cuidar de sua luxuria.

— Con sabe que mal está se segurando?

Kellan fechou brevemente os olhos. — Suspeito que sim. Também suspeito que fez de propósito porque fiquei dormindo tanto tempo. — Kellan não se incomodou em dizer a terceira razão, a principal pela qual decidiu dormir — a única que só Con conhecia.

— Ele pode ser um idiota. — Disse Rhys. — Eu não colocaria minha mão no fogo por ele. Nenhum de nós se incomodou com seu sono. Pode ir. Vou verificar Denae.

Sem dúvida, Rhys sabia exatamente o que dizia. Kellan estava fora de tudo. Con podia ser o Rei dos Reis, mas isto não significava que ele controlava os Reis Dragões.

Assim, quando Rhys lhe dava a desculpa para sair como ele queria, porque Kellan não a aceitava?

De repente, a imagem da mão de Denae tremendo sobre o vidro de remédio brilhou em sua mente. Havia muito que está fêmea estava escondendo. Podia ser algo ruim para os Reis, em cujo caso Kellan não podia voltar a dormir.

Ao menos era isso o que pensava.

— Ainda não. — Disse a Rhys. — Quero chegar ao fundo disso tudo.

— Con contou-lhe tudo?

— A noite. — Disse Kellan. — É uma grande história sobre como as mulheres se acasalaram como Hal, Guy e Banan. Os Pratas realmente se moveram?

Rhys assentiu com a cabeça. — Ainda não descobrimos como nem porquê.

— E os Guerreiros. — Kellan absorveu toda a informação sobre os Guerreiros e Druidas do Castelo MacLeod e suas muitas batalhas com os Druidas malignos ou droughs. — Con realmente disse aos Guerreiros o que somos. E lutou junto a eles.

Rhys sorriu amplamente enquanto colocava as mãos nos bolsos da frente de sua calça. — Kellan, foi maravilhoso lutar novamente. Além disso, Charon e Phelan são bons homens. Gostará deles, acredito.

— Muito mudou.

— E muito não mudou. — Disse Rhys suavemente. — Ainda esperamos o anoitecer para tomar os céus. Às vezes se a tempestade é muito intensa podemos voar durante o dia. Não somos livres.

Kellan coçou o queixo e notou o crescimento da barba. — Não somos livres desde que chegaram os humanos, meu amigo.

— Senti sua falta. Sei que foi seu ódio pelos mortais que o fez dormir por tanto tempo, mas é bom tê-lo de volta.

Suas palavras aliviaram algo dentro de Kellan e forçou seus lábios a um sorriso. — É bom vê-lo novamente também. Não diga a Con, mas senti falta de andar por aqui.

Rhys riu alto. — Qualquer coisa para irritar Con.

Kellan se encontrou sorrindo livremente. Rhys nunca deixava de irritar Con de uma forma ou outra. — Quantos de nós estamos acordados agora?

— Um terço. A maioria olhou ao redor e voltou para suas cavernas. Os outros ficaram um pouco mais curiosos. Revezamos ao longo dos séculos para manter seu trabalho, mas como não somos guardiões oficiais da história, pode ser que nem tudo esteja registrado ali.

Ao mencionar a história dos Reis Dragões, Kellan se afastou da porta e foi para a escada. Como Guardião, não precisava estar em um evento para gravá-lo. Mostrava-se em sua cabeça como um filme, que atualmente era tão popular. Continuava mesmo enquanto dormia pelos séculos. Tudo o que tinha que fazer agora era registrá-los.

Ser o Guardião da História era algo que Kellan sentia orgulho. Mas já não era o caso. Afastou-se deste pensamento quando ouviu algo bater na parede do banheiro. Fique atento para o caso de Denae cair. Ela é muito teimosa.

Kellan demorou dez minutos para encontrar Cassie no andar de baixo e logo voltou para Denae. Quando se aproximou do quarto, encontrou a porta aberta e não viu Rhys em nenhum lugar.

Então ouviu a risada de Denae e a voz de Rhys. Kellan abriu mais a porta para encontrar os dois na janela, olhando para fora.

— As ovelhas sobem umas nas outras. — Disse Denae, assombrada enquanto ria.

Rhys estava com o antebraço apoiado contra a parede. — Às vezes costumam fazê-lo. Os cães pastores correm por trás delas, especialmente quando ficam como agora.

— As ovelhas não serão sacrificadas, verdade?

A risada de Rhys foi longa e profunda. — Não garota. Serão tosquiadas.

— Mas e estas mantas? — Disse enquanto virava a cabeça para ele.

— Umas poucas. A maioria vendemos. São enviadas em um caminhão.

— Irá tosquiar todas? Vejo que são muitas e ao longe são como pequenas manchas brancas.

Rhys virou a cabeça e viu Kellan. — Sim. — Respondeu para Denae. — Acho que meu tempo acabou.

— Acabou? — Perguntou ela e se voltou para ver onde olhava.

Tão logo seu olhar fixou-se em Kellan, ele sentiu o calor em seu sangue. Tinha o cabelo ainda solto, chamando-o para tocá-lo, para tocá-la.

Rhys limpou a garganta em silencio. — Uh Kellan, disse a ela que iria lhe arrumar algumas roupas. Não está cômoda caminhando por aí... — Rhys apontou o short e a camisa em seu corpo. — Assim.

Kellan não entendia porque não. Não disse uma palavra no dia anterior e nem mais cedo sobre a necessidade de usar outra roupa. Ele, no entanto, queria sair de sua calça e botas.

Queria ficar nas nuvens, flutuando sobre as correntes de ar e olhando o mundo do alto. Queria suas mãos no cabelo de Denae, seu corpo no dele.

Queria estar dentro dela.

Kellan afastou o olhar de Rhys. — É uma boa ideia. Irei buscar algo.

— Eu irei. — Disse Rhys e saiu do quarto rapidamente.

Kellan ficou olhando a porta muito tempo depois que Rhys saiu. Não podia interrogar Denae até que controlasse seu corpo. Isto estava ficando obviamente — e de forma dolorosa — claro.

— Agora é minha vez de perguntar se eu o deixo desconfortável. — Ela disse.

— Não. — Foi tudo o que conseguiu tirar dele. E orou para que se mantivesse afastada dele. Não tinha certeza de quanta moderação poderia manter caso se aproximasse dele.

— Dreagan é um lugar lindo. Experimentei o uísque também. Não é de estranhar que seja tão bom.

Ele a olhou, compreendendo que chegaria a algum lugar com sua conversa. — Mas?

— Mas... tenho a sensação de que há muito mais neste lugar. Olhe você, por exemplo.

— O que tem eu? — Não deveria comprometê-la dessa forma, mas sentia curiosidade.

Ela lambeu os lábios, chamando a atenção dele para sua plenitude, os lábios que suplicavam para serem beijados. — É diferente. Quando olho em seus olhos, é quase como se... como se estivesse olhando para trás no tempo.

Kellan sabia que não podia permitir que ela continuasse. Tinha que virar as cartas, para que ela falasse sobre outras coisas, exceto como ele se parecia. Era muito perigoso para ela e para ele.

Decidiu repetir as perguntas já planejadas. Talvez descobrisse algo diferente, porque tinha que saber mais. Não queria que ela fosse uma mulher que precisasse de ajuda. Não tinha certeza de quanto tempo poderia ignorar suas doces curvas.

Admitir isso, mesmo para si mesmo, o enfurecia. Era uma humana. Deveria se lembrar do que fizeram a ele e seus dragões de bronze.

— O que achava realmente que iria encontrar aqui? Acha que Matt iria conseguir sair depois que a houvesse ferido e a usado como isca?


CAPÍTULO OITO


Denae não se deixou enganar. Kellan mudou de assunto porque algo que disse golpeou um acorde. Ela se negou a afastar o olhar dele quando a desafiou com suas palavras.

— Tenho a sensação de que Matt esperava que acontecesse algo. — Fechou os olhos e pensou na caverna. Denae tinha a intenção de manter-se com vida, mas seu treinamento e memória fotográfica lhe permitia captar cada detalhe. — A forma como disse que eu era uma isca. Era quase como se...

Seus olhos se abriram com um brilho estranho por trás.

— Como o que? — Perguntou Kellan.

— Como se Matt estivesse esperando um animal. Ele queria que sangrasse, ficasse ferida de tal forma que não pudesse escapar, nem me mover. A única razão para isto seria se algum tipo de ser estivesse ali e ele quisesse chamar sua atenção.

Kellan afastou o olhar, um músculo em sua mandíbula pulsou enquanto apertava os dentes. — Qual era o plano de Matt para quando este ser, que estavam tentando ver chegasse?

— Não sei.

— Imagino. — Disse firme.

Kellan podia ser tão bonito que não a deixava pensar bem, mas também estava irritado. Permitiu-se olhar um segundo antes de considerar a caverna e o que Matt poderia estar esperando, além de suas artes e armas. — Voltaria para a água. Os tanques de ar também tinham mais que o suficiente de oxigênio para fazer viagens de ida e volta.

— O MI5 não precisa de mais de uma testemunha presencial na morte de um agente?

Denae assentiu lentamente e apoiou-se na beirada da cama. — Eles iriam querer uma prova. Matt deveria ter algum tipo de dispositivo para tirar uma foto ou fazer uma gravação.

— E espera que acredite que não tinha ideia do que veria em Dreagan?

— Estou cooperando, mas não, não tenho nenhuma prova de que fui traída. Me queriam morta. Era prescindível. O Reino Unido podia não ser meu país, mas jurei protegê-lo.

— O MI5, no entanto, não fez um juramento para protegê-la, verdade?

Como odiava que ele tivesse razão. — Não. Poderia dizer o mesmo de qualquer agência de inteligência do país. Sabia que se alguma vez me pegassem durante uma missão, estaria por minha conta. Isto é diferente. Estava ali e meu próprio pessoal se voltou contra mim.

— Não é um bom sentimento, verdade?

A forma como disse, as palavras de fúria e o profundo ressentimento lhe dizia que fizeram com ele algo similar. — O sentimento é forte o suficiente para mudar alguém para sempre. — Disse e o observou de perto.

— Mais do que imagina. — Murmurou antes de respirar fundo. — O que mais pode me dizer sobre o que o MI5 sabe sobre Dreagan?

Neste momento, Rhys voltou sorrindo. — Trouxe roupas. Cassie disse que talvez não seja bom algo muito apertado contra seu ferimento, assim me entregou estes.

Denae observou Rhys segurando uma calça preta de yoga. — Está bem. Obrigada Rhys.

— Foi um prazer. — Entregou-lhe a roupa com uma piscada de olho.

Ela riu de sua brincadeira, porque sabia que era inofensivo. Rhys era um destes homens que paqueravam qualquer mulher até o momento que alguém capturasse seu coração, se alguma vez permitisse que isto acontecesse.

Ante o olhar estranho de Kellan, Denae andou lentamente para o banheiro para se trocar. Ficou feliz em ter uma blusa com um sutiã embutido. Ela tirou o short primeiro.

Quem quer que houvesse tirado sua roupa, tirou seu traje de banho e a vestiu com uma calcinha rosa de algodão.

Denae abriu a torneira do chuveiro e pegou uma toalha pequena. Podia não ser capaz de alcançar os pontos na ducha, mas iria tomar um banho.

— Precisa de ajuda? — Perguntou Rhys através da porta.

— Cara idiota. — Disse Kellan. — Estávamos conversando.

Suas palavras se silenciaram e mesmo quando fechou a água, ainda não podia ouvi-los. Um momento depois, ouviu Rhys sair do quarto.

Denae encontrou o sabonete e começou a se limpar o melhor que pode. — Este lugar tem muito segredos. — Disse levantando a voz para que Kellan a ouvisse.

— Todo lugar tem segredos.

Pensou na casa de praia que sua família possuía, neste terrível dia há anos e soube que tinha razão. — Irão me deixar ir realmente? Ou me entregarão ao MI5?

— O MI5 veio atrás de nós. — Disse Kellan com a voz dura e implacável. — Enquanto mantiver seu trato, manteremos o nosso.

— Há um problema. — Disse enquanto se secava e terminava de se vestir. Quando terminou, abriu a porta do banheiro para encontrar Kellan sentado na cadeira habitual. — Sempre há um problema.

— E o que acha que é o problema desta vez?

— Não sei ainda. Há algo em Dreagan que não posso colocar o dedo. É um lugar lindo com segredos, ainda que, como apontou, todos os tenham. Mas tem algo diferente neste lugar.

Kellan passou uma mão pelo cabelo longo e encolheu os ombros. — Fazemos uísque e criamos ovelhas e gado. Não há aqui o que deveria preocupar o MI5.

— Você estava na caverna. — O conhecimento a golpeou do nada. Como podia ter esquecido que ele falou que estava na caverna?

Uma sobrancelha caramelo se ergueu. — Disse que era minha caverna.

— Mas estava ali. Como sabia que estávamos ali?

— Foi uma sorte que estivesse ali e a encontrasse. Isso é tudo.

Denae sentou-se na cadeira perto da cama e jogou o cabelo sobre o ombro para trançá-lo. Pensou que tivesse encontrado outra peça do quebra-cabeças, mas Kellan tinha uma resposta coerente para cada pergunta ou declaração sua.

— O que aconteceria se você e Matt tivessem morrido e eu não a encontrasse?

— Suponho que o MI5 teria enviado outra equipe, mas provavelmente várias equipes. Teriam imaginado que o que nos enviou para encontrar nos matou.

— Assim admite que os enviaram para procurar algo?

Denae rodou os olhos ao terminar a trança. — Pela terceira vez, sim. Não sei o que, no entanto.

— Não tem uma via de comunicação com o MI5?

— Não. Estávamos a cega. O MI5 não queria que entrássemos em contato.

Kellan a olhou de forma irônica. — E dois agentes não nos levariam de volta a eles?

— Não tínhamos nada que sugerisse que trabalhássemos para o MI5. Poderíamos ser qualquer um. A única razão pela qual soube para quem trabalhamos, foi porque eu disse. O MI5 tem espiões por todos os lugares. Poderia pensar que está escondendo algo, mas posso garantir que sabem que estou viva.

Sentou-se mais para frente, com o olhar fixo, direto. — E iremos garantir sua segurança, sempre e enquanto coopere.

— Isto é o que estou fazendo. — Disse exasperada. Era difícil permanecer irritada quando Denae não sabia se a ira de Kellan estava dirigida a ela ou a algo mais.

Assegurou-se em manter distância dela. Quando se aproximava muito, logo se afastava. Era sutil, mas obvio.

— Você disse que o MI5 tinha um arquivo sobre Dreagan. — Disse Kellan, colocando a conversa de volta no lugar. — O que havia nele?

— Quase nada. Talvez umas vinte páginas, mais ou menos.

— Tinha fotos de alguém? Algum nome.

— Con. Seu nome apenas. Sem fotos. Havia uma foto de uma mulher loira de olhos verdes. Dizia que trabalhava para PureGems tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido.

O queixo de Kellan se abaixou. — Está é Elena. Agora está casada com Guy e vive aqui. O que mais diziam dela?

— Tinha um sinal de interrogação em seu nome.

Sua cabeça se levantou e o sombrio conjunto de traços dizia que suas palavras não eram o que queria ouvir. — Um sinal de interrogação? Por quê?

— Poderia significar algo. Por exemplo, podia ser que não soubessem se estava viva ou morta ou se ainda está no país.

— Ou se é uma parte do que está acontecendo em Dreagan, certo?

Denae cruzou as mãos. — É uma possibilidade.

— Mais nomes ou fotos no arquivo?

— Não e isso me pareceu estranho e muito diferente do que vejo no MI5. Quando perguntei, rapidamente me colocaram no meu lugar e disseram que meu trabalho era completar a missão que me deram.

Kellan se levantou para olhar para a janela, ficando de costas. O Jersey de cor bronze que usava estava tão justo quanto a camisa do dia anterior e como antes, parecia incomoda. Ainda que não mexesse tanto os ombros.

Denae retrocedeu em sua cadeira. — Não me deram muito tempo para olhar o arquivo, mas pelo que pude ver, era em sua maioria fotos de Dreagan tomadas por satélite.

— O que mostravam as fotos? — Perguntou enquanto virava a cabeça para ela.

— Tudo de Dreagan. Cada pedaço. Nada pareceu incomum para mim, mas percebi que algumas montanhas estavam marcadas, assim como alguns lugares. Sua caverna era um deles.

Quando ele não respondeu, ela empurrou a trança pelo ombro. Kellan estava tão quieto como uma estátua. Estava preocupado com o que revelou, pela emoção evidente em seu olhar e traços duros.

— Posso dizer como virão até vocês. — Disse. — Vamos. — Disse ela. — Mas preciso de algo em troca.

— Está viva. — Ele respondeu, virando a cabeça levemente de lado. — Nós a mantemos viva. Isso deveria ser o suficiente.

Era mais do que alguém lhe daria, mas ainda não era suficiente. — Pode me dar provas de que ficarei viva e com uma nova identidade?

— Sim, mas poderia ser uma mentira.

— Eu sei.

Virou-se lentamente para ela, franzindo o cenho. — Confia em mim?

— Tanto como qualquer um em minha posição poderia. Não confio plenamente em você, assim como na verdade, não confia em mim. Você tem minha vida em suas mãos. Estou a sua mercê.

— Con deu sua palavra. É toda prova que precisa.

Denae sabia pela mandíbula apertada de Kellan que ela não teria mais dele. Era uma aposta que fazia ao lhes dizer tudo o que sabia. Poderiam facilmente matá-la e esconder seu corpo, alegando que nem ela ou Matt chegaram naquela caverna.

Ou poderiam conseguir uma nova identidade e ajudá-la a sair do país para viver uma vida tão normal como qualquer outro fugitivo.

— Não deveria dizer nada. — Disse ela. — Fiz um juramento e levo tudo muito a sério.

Kellan apoiou um ombro contra a parede. — Eles a usaram.

— Como você está fazendo.

— Sim garota, mas não tentaremos matá-la quando terminarmos.

Denae não podia acreditar quão longe caiu fora de seu caminho. — Sei que não deveria dizer, mas por alguma razão que nem sequer posso explicar, quero fazê-lo.

Ela o fazia. Era Dreagan? Era Kellan?

De qualquer forma, queria ajudá-los porque gostava de Dreagan, com sua beleza e segredos. E por causa de Kellan.

Apesar de lutar contra, estava fascinada por seu frio olhar verde, atraída por seus amplos lábios e por seu corpo duro.

Era uma droga de posição, mas de alguma forma sabia que não era apenas uma causalidade que Kellan a houvesse encontrado na caverna ou que fosse o único a interrogá-la.

Seus caminhos continuariam cruzando no futuro. Denae só não sabia por quanto tempo.


CAPÍTULO NOVE


Kellan estava a ponto de arrancar a blusa de Denae pela gola larga que caia no ombro, dando-lhe uma visão tentadora de sua pele.

Permaneceu contra a parede enquanto ele mantinha o desejo preso em uma estreita correia que escapava de seu controle, queimando de dentro para fora. Maldição, mas porque Denae tinha que ser tão tentadora?

— Se prefere que eu traga Con para lhe dizer, eu o farei. — Kellan rezou para que aceitasse sua oferta, para ele ter uns poucos minutos a sós para se recuperar.

Sua cabeça se inclinou de lado e a longa trança caiu sobre seu ombro nu. Era quase demais. Kellan engoliu um gemido antes que passasse pelos lábios.

Em lugar de repreendê-lo, dispôs-se a contar todas as diferentes formas como o MI5 poderia — e o faria — para entrar em Dreagan. Uma vez que terminou, continuou explicando como o MI5 poderia se infiltrar sem que nenhum deles soubesse.

Quando terminou, Kellan tinha ainda mais razões para odiar os humanos. Afastou-se da parede e abriu a porta. Quando viu Con de pé no corredor, Kellan soube que Constantine ouviu tudo.

Con assentiu com a cabeça antes de entrar no quarto. — É o momento.

Kellan olhou para Denae antes de se virar para Con. Um arrepio de alarme percorreu sua pele. Moveu a cabeça com firmeza. — Não acho que seja uma boa ideia.

— É justo. Ela, depois de tudo, compartilhou seu segredo. Mesmo antes de descobrir o nosso.

Kellan não tinha certeza do que mais lhe incomodava. Quer iriam lhe dizer, assim como mostrar a Denae o que eram ou que justo antes de a soltarem, Guy iria apagar suas lembranças de qualquer coisa que tivesse a ver com Dreagan.

Ela esqueceria, esqueceria que seus olhos o seguiam pelo quarto e que o olhava como se tivesse todas as respostas.

Mas ele nunca se esqueceria do calor de seu olhar ou a sedução pura que exibia.

— Não quero saber. — Disse Denae rapidamente.

Kellan olhou para a cadeira onde estava sentada. Ela estava estoica, mas sentia o fio de medo atravessando-a. Era devido a seu treinamento que ela percebia em que tipo de posição estava.

— Se me contar, irá me matar. — Disse a Con. — Não quero saber. Não quero ver. Não quero ouvir.

Con simplesmente sorriu, ainda que não alcançasse seus olhos. — Vamos senhorita Lacroix. De verdade, acha que a machucaríamos?

— Sem dúvida. Teve muitos problemas para manter suas identidades em segredo.

Constantino abriu a porta totalmente. — Não a mataremos. Há outros métodos. Tenho um dom, algo que demonstrará que mantemos nossa palavra.

Kellan deu um passo até Denae, sem saber se era para ajudá-la ou não com Con. O olhar curioso de Con o parou em seco. Que merda estava acontecendo? Com certeza não estava a ponto de ficar entre Con e ela, para protegê-la. O pensamento tocou-o fundo.

Odiava os humanos, mesmo as bonitas.

Os olhos uísque se levantaram para os dele e Kellan fez um gesto para incentivar. É tudo o que ele lhe daria. Não podia se aproximar mais. Não tinha nem ideia de como uma camisa xadrez que caia nos ombros o deixava em chamas.

— Mostre-me sua ferida. — Disse Con.

Uma vez mais Denae olhou para Kellan antes que fizesse o que Con pediu, levantando a regata e a camisa xadrez grande para que o ferimento pudesse ser visto.

Kellan não viu a lesão desde que terminou de dar os pontos. Foi Cassie quem limpou e cobriu a ferida.

— Tem muita sorte que seu parceiro não atingiu nada importante. — Disse Con enquanto se agachava junto a cadeira e tocava a gaze.

Denae se afastou. — O que está fazendo?

— Quero ver sua ferida.

Kellan se virou para o outro lado, inseguro ante a repentina irritação que crescia dentro dele. Con queria que ele criasse uma conexão com Denae e aparentemente consigo próprio também.

Merda!

— Não sei. — Disse Denae.

O som do movimento fez Kellan olhar sobre o ombro para ver que Denae se levantou e aproximou-se dele. Seu rosto estava pálido e não podia esconder a dor pelos movimentos rápidos.

Sem pensar, Kellan pegou seu braço para estabilizá-la. — Não irá te machucar.

— Talvez devesse tirar a gaze, Kellan. — Disse Con enquanto se levantava.

Kellan olhou para Denae e em seus olhos. Ela estava muito perto, seus corpos se tocando. Seu desejo ardeu, a luxuria o montou duro enquanto ele começava a puxá-la mais perto. Seus olhos buscaram seu rosto. E outra vez levantou sua camisa, desta vez para ele.

Sua mão roçou a quente pele do estômago e sentiu que estremecia. Sua inalação aguda confirmou que não era imune a seu contato.

Era o olhar vigilante de Con que lhe devolvia a sanidade, se não a seu corpo. Fez todo o possível para ignorar o volume de seus seios quando suavemente tirou a gaze.

Mas seu pau não era tão obediente. Estava duro e dolorido, esforçando-se para se aproximar de Denae. Kellan inalou profundamente, respirando o aroma limpo e saudável de Denae.

A luz do dia, Kellan podia ver o corte de doze centímetros e os pontos irregulares que começou antes dele assumir o controle. A pele ao redor da lesão estava rosa, apontando que cicatrizava.

Olhou novamente para o rosto de Denae para descobrir que de algum modo seus corpos se aproximaram. Estavam tão perto que o único que teria que fazer, era se inclinar e beijá-la.

— Isto não vai doer. — Disse Con ao se aproximar deles.

As mãos de Denae agarraram Kellan quando Con colocou a mão perto de sua ferida. No seguinte instante, a magia de Con encheu o quarto. Enquanto observava, o corte se fechou e os pontos caíram no chão.

Seus olhos se arregalaram enquanto olhava de Kellan para Con. — O que você fez?

— Eu a curei, senhorita Lacroix. — Disse Con de forma arrogante. — É um de nossos segredos aqui.

— Todos podem fazer isso?

Kellan balançou a cabeça. — Este é o poder de Con.

— Poder? — Ela apertou os olhos fechados enquanto ainda se agarrava a ele. — Não entendo.

— Vamos mostrar a você. — Disse Con.

Kellan esperou que abrisse os olhos. Quando o fez, a incerteza lhe confundia. Na luta, estava segura de si. Mesmo enquanto estava deitada na cama ferida, sua confiança era inquebrantável.

Se observar uma ferida ser curada a perturbava, como poderia lidar ao vê-los se transformando em dragão?

— Con, não tenho certeza de que seja uma boa ideia. — Disse Kellan.

— Não acha que posso suportar? — Perguntou Denae, acomodando os ombros.

Kellan suspirou. — Não.

Inclinou-se para trás e voltou-se para Con. — Mostre-me.

Con caminhou para a janela e esperou que ela parasse ao seu lado. — Kellan? Quer fazer as honras ou devo pedir a um dos outros?

— Cai fora.

Con riu e olhou para a janela. — Olhe para o céu, Denae.

Um segundo depois, Kellan vislumbrou escamas vermelhas. Guy.

Denae deu um passo para trás, a mão sobre a boca, antes de se aproximar da janela, observando como Guy se elevava através do ar e nas nuvens. Seu rosto estava incrédulo e confuso, com um toque de medo e um rastro de excitação.

Kellan se perguntou o que faria. Viu humanos aterrorizados por eles, enquanto que outros não podiam se aproximar o suficiente.

Denae era prática, realista. Provavelmente nunca aceitaria completamente o que via.

— Dragões. — Sussurrou Denae, o medo fazendo sua voz tremer. — Aquilo é um dragão. Um dragão enorme.

Con se virou na janela e caminhou para a porta, virou-se e olhou para Kellan. — Sim, senhorita Lacroix. Agora já conhece nosso segredo.

Kellan viu Con sair do quarto. Ele o estava deixando para responder qualquer pergunta de Denae, como se isto lhe fizesse confiar mais nele... ou fazê-lo esquecer a vida que levava.

Sua cabeça se virou para Denae. Estava olhando para Guy com olhos brilhantes e grandes. Uma mão estava na janela enquanto ela se esforçava para segui-lo. Parecia desfrutar do espetáculo de Guy.

Mas ele sabia como os humanos podiam ser enganosos.

— É assustadoramente lindo. — Disse Denae. — É o único aqui? Por isso eu era uma isca? — Ela olhou sobre o ombro. — Irá me comer?

— Não. Sim. Não.

Ela o olhou, seus olhos brilhando com assombro. — Isto é incrível. Nunca me ocorreu que os dragões pudessem existir. Não há nenhum vídeo, nem blogs, nada sobre Dreagan.

— Nos gostamos de nossa privacidade.

— Isto deve ser o que queria o MI5. O mundo não pode saber que tem dragões. Espere. Ela piscou e logo franziu o cenho. — Você disse não à primeira pergunta. Isto significa...

— Há mais.

Respirou várias vezes enquanto o olhava. — Con te pediu que fizesse as honras. É... é um dragão?

Podia mentir. Ela nunca saberia. Mas por alguma razão, não foi uma mentira que cruzou seus lábios. — Sim.

— Pode se converter em um? — Perguntou e apontou para a janela.

— Posso.

— E sua caverna? Estava ali, certo? Estava em forma de dragão?

Ele assentiu lentamente.

— Eu era uma isca para você. — Disse e se deixou cair sobre a cama, com uma expressão de comoção. — Isca para um dragão. O MI5 sabia. Como sabem sobre os dragões?

— Reis Dragões, na verdade. — Ele a corrigiu.

Suas sobrancelhas se ergueram. — Reis Dragões. O que significa isso?

— Os dragões estão neste reino desde o princípio dos tempos. Todos os tamanhos, todas as cores governavam os céus, a terra e as águas. Cada classe de dragão tinha um Rei.

Seus lábios se suavizaram quando disse. — Você.

— Os dragões com mais magia, a maior habilidade e inteligência foram escolhidos, como Rei do seu grupo.

— E o seu?

— Sou o Rei dos Dragões de Bronze.

Ela esfregou as mãos, sua cor começou a voltar. — Onde estão todos os dragões? Estão escondidos nas montanhas?

Kellan olhou para as montanhas pela janela. — Gostaria que sim. Mas se foram. Foram para longe porque os seres humanos chegaram a este reino.

— Eu... Eu não entendo. — Disse ela hesitante.

— Os Reis Dragões foram responsáveis por manter a paz entre dragões e humanos. Durante um tempo funcionou, mas uma mulher humana traiu um dos Reis — Ulrik — e começou uma guerra. Os dragões — e os Reis — estavam divididos entre proteger os humanos ou matá-los. Con nos uniu.

— Por que Con?

— Porque ele é o Rei dos Reis. Ele é o Rei dos Dourados, mas ganhou o direito de reinar sobre todos os dragões.

Lambeu os lábios e assentiu com a cabeça. — Bom. Assim que os uniu. Houve uma guerra?

— Não. Os humanos queriam nos matar. Os dragões de Bronze eram os Guardiões da Justiça. Eu os deixei vigiando uma aldeia enquanto lutava contra outros humanos. Os humanos rodearam meus dragões e os mataram, os humanos a quem protegiam.

— Oh deus. — Murmurou ela. — Pensei que não gostava apenas de mim, mas são os humanos no geral. Agora entendo.

Deu um passo para ela. — Não pode entender a profundidade do meu ódio. Tentei viver com ele e consegui por séculos. Mas houve uma última traição.

Denae instintivamente sabia que Kellan tomou represálias. — O que fez?

— Tirei sua vida depois dele ter estuprado e assassinado uma garota que ele prometeu salvar. Depois disso não pude olhar para outro mortal.

Tudo em Kellan estava começando a fazer sentido agora. Quem poderia saber que alguém tão maravilhoso e com tal poder assombroso sofria assim? — E seus dragões? Onde estão? — Perguntou ela mudando de assunto.

— Não tivemos outra opção senão enviar nossos dragões a outro reino. — Continuou. — Uma vez a salvo, nos escondemos em Dreagan. Não foi difícil manter os humanos longe de nosso território. Transformamos-nos em lenda e logo em mito. E logo se esqueceram de nós.

— Pelo visto não. — Disse enquanto esfregava as mãos nas coxas. — Alguém sabe o que são e querem expô-los. Tudo tem sentido agora. O arquivo quase sem nada, a missão secreta, Matt me usando como isca. Estavam tentando vê-lo, para poder dizer ao mundo. — Engoliu saliva. — O mundo não pode saber. Sabe o que fariam?

— Fariam muito mais. Porque acha que tomamos tais medidas para ficar escondidos?

— Não acho que seja o suficiente. Agora sei que não. O que pensaram ao me mostrar?

— Para ganhar sua confiança, mas não se preocupe. Não poderá dizer nada a ninguém. Apagaremos sua memória de qualquer coisa que tenha a ver com Dreagan.

— Apagarão minha... — Interrompeu enquanto o olhava exasperada. Isso sumiu rapidamente enquanto suspirava em voz alta. — Provavelmente seja o melhor. Além disso, O MI5 continuara se aproximando até que consiga o que quer.

— Podem tentar.

Denae se levantou e caminhou até ele. — Deixe de ser teimoso. Estou tentando ajudar. Não podem ficar aqui. Devem ir.

— Chamamos Dreagan de casa por milhares e milhares de anos. Não iremos.

Ela torceu os lábios enquanto o olhava com olhos estreitos. — Podem lutar contra eles?

— Não precisamos.

— Obviamente não conhece o MI5.

Um lado de seus lábios se levantou em um sorriso. — Não podemos morrer. O único ser que pode nos matar é outro Rei Dragão.

— Bem. Isso certamente muda as coisas.


CAPÍTULO DEZ


Denae esfregou sua mão no lugar onde estava sua ferida. Estava um pouco sensível, mas toda a dor desapareceu. Tão maravilhoso e alucinante como era o pequeno truque de Con, não era nada comparado com o dragão que voava ao redor de Dreagan.

— Apenas um Rei Dragão pode matar outro Rei Dragão. — Repetiu. — Acho que o MI5 deveria saber isto. Se souberem, poderiam retroceder.

— Realmente acha isso?

Ela suspirou e negou com a cabeça. — Não. Então tentariam colocar um dos Reis contra vocês.

Kellan soltou um forte suspiro. — Isto não acontecerá. Não depois de tudo o que passamos.

— Confia em todos implicitamente?

— Sim.

A ideia daquilo a desconcertou. Tem sorte, sabia? Eles ensinam, como espião, que nunca deve confiar em ninguém. Mas precisa confiar em sua equipe. Eu fui a que se queimou desta vez.

— Aprendeu a lição.

— Sim. Realmente não posso confiar em ninguém. — Nem sequer em Kellan ou qualquer pessoa de Dreagan, Mesmo querendo tanto.

A cura foi uma demonstração de boa fé. Isto era uma carga de merda e ela sabia. Como compartilhar seu segredo em troca dela contar tudo sobre o MI5.

— E como será?

Por um segundo, a confusão tocou os traços de Kellan. — O que quer dizer?

— Minha morte. Como será? Veneno em minha comida? Uma facada pelas costas? Ou talvez um lanche de dragão?

— Con disse que não a mataríamos. Apagaremos suas lembranças.

Ela encolheu os ombros e se levantou para olhar pela janela novamente. — Não sou estupida. Guardaram seu segredo de todos. Porque contariam a mim? Alguém suspeita de ser o inimigo? A única conclusão lógica é que irei morrer.

— É verdade que não sabemos se podemos confiar em você. Já nos ajudou dando informações sobre o MI5 e sobre seu interesse em nós.

— Mas? — Perguntou ela.

— Não há mais que isso. — Disse Kellan.

Denae começou a rir e se virou para olhá-lo. — Então, quando posso ir?

— Se conheço Con, já está trabalhando em conseguir uma nova identidade.

— Será melhor que seja bom, porque o MI5 irá me procurar por todos os lugares possíveis e imagináveis. — Percebeu que teria que mudar sua aparência, se pudesse acreditar que realmente sairia. Não tinha outra opção que continuar pensando nisso. Como se pudessem apagar suas lembranças. Novamente, Con a curou justo ante seus próprios olhos. — Preciso de tesouras e tinta para o cabelo.

Kellan cruzou os braços sobre o peito, formando um leve cenho franzido. — Para que?

— Preciso mudar minha aparência.

— Irá cortar o cabelo? — Perguntou incrédulo.

Ela puxou sua trança. — É apenas cabelo. Voltará a crescer.

— Não precisa tomar tal decisão. — Disse Kellan enquanto girava sobre seus calcanhares e saía.

Denae balançou a cabeça depois que saiu. Kellan era certamente enigmático. Se não soubesse, pensaria que não queria que cortasse o cabelo.

— É apenas cabelo. — Repetiu ainda que também não quisesse cortá-lo. Seu pai sempre adorou seu cabelo. Costumava reclamar cada vez que o cortava.

Agora que se curou, Denae não tinha dificuldade para sair do quarto. Queria explorar Dreagan e provavelmente olhar mais de perto um dragão.

Queria olhar mais de perto Kellan. Que aspecto tinha como dragão? E seria corajosa o suficiente para descobrir?


***

Rhi se sentou na espreguiçadeira e olhou aos recém-pintados dedos dos pés e mãos. À luz da noite — a cor brilhante coral chamada Bright Light6 da Big Color7 — ficava muito bem com seu novo vestido de listras negras e prata.

Ninguém sabia do seu pequeno esconderijo, nem sequer sua rainha. Era para onde ela ia para escapar, um lugar que não precisava compartilhar com nenhum outro Fae. E a melhor parte — os Reis Dragões nunca seriam capazes de encontrá-lo.

— Jessie realmente se superou desta vez. — Rhi disse a si mesma sobre o esmalte de unhas.

Rhi inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. Não havia nada para fazer. Podia olhar para Phelan e Aisley, mas já os espionou na semana anterior. Não passaria muito tempo antes que sua rainha quisesse que vigiasse Phelan e Aisley por mais de uma hora.

Até então, Rhi deixaria o casal se divertir. Um enorme peso se levantou de seus ombros e de todos aqueles que viviam no castelo MacLeod com a morte de Jason Wallace, o malvado druida que tentou matar os guerreiros e outros druidas.

Desejava poder dizer a Phelan e aos outros Guerreiros que a paz entraria em suas vidas, mas não podia. Porque havia uma perturbação no ar que não ia embora. E apontava diretamente para Dreagan.

Durante semanas, Rhi se negou a pensar sequer nos inflexíveis Reis Dragão. Depois de tudo o que aconteceu entre os Reis e os Fae, Rhi sabia que era melhor não se envolver.

Mas havia uma história ali, que não importava o quanto Rhi quisesse esquecer — não podia.

— Verei os Reis Dragão por ele. Apenas ele.

Fechou os olhos enquanto pensava rapidamente nele. Era emocionante, glorioso.

Incrível.

Disse que era porque eram inimigos e não amantes. Mas Rhi sabia qual era o porquê...

Nem sequer podia pensar, porque se o fizesse se despedaçaria novamente em um milhão de fragmentos. Não importava o que aconteceu ou o quanto eram felizes. O único que importava era que se foi.

E ela encontrou seu esconderijo.

Durante meses Rhi não abandonou seu refúgio. Nem sequer quando sua rainha a chamou, rogando que voltasse. Nem sequer quando estes argumentos se converteram em ordens.

Não era suposto que uma Fae da Luz tivesse um coração partido por um Rei Dragão.

Não que Rhi se envergonhasse porque tinha caído em tentação por um rei. Não queria ouvir os outros Fae criticando os reis Dragão como sempre faziam. Quando ela finalmente retornou à corte, alguém tinha começado a usar expressões violentas e injuriosas contra os reis, e o nome do seu amante foi mencionado.

Rhi teria matado o Fae que se atrevia a caluniá-lo se não fosse por sua rainha, Usaeil. Mesmo agora, centenas e centenas de anos depois, Rhi ainda vivia a chorar por ele.

Ainda sentiria sua ardente paixão?

Desejava poder acreditar nisso, mas como não tentou entrar em contato com ela, a verdade estava olhando-a no rosto.

— Porque então devo contar aos Reis o que suspeito? — Perguntou.

Rhi se sentou e moveu as pernas pelo lado da carroça. Outros Fae ignorariam as urgências, mas não podia. Assim como não pôde deixar de ajudar Phelan quando ele precisou.

Tinha um dever como Guarda da Rainha de seguir seus instintos. Porque apesar de que poderia conduzir os Reis, significava que o que estava no ar era suscetível a afetar todos os seres mágicos. Incluindo os Fae.

— Mas eu odeio os Reis. — Murmurou.

Era uma aversão mutua, que crescia com o passar do tempo. E com ambos os lados sendo imortal, as coisas somente pioravam.

Rhi se levantou e caminhou pela varanda enquanto o sol brilhava em suas campainhas metálicas no vento. Era um lindo dia que estava a ponto de ser arruinado com uma visita a Dreagan.

Com um longo suspiro e um olhar melancólico em seu vestido, Rhi deixou seu santuário enquanto pensava em Dreagan.


***

Banan entrou em seu BMW 640i justo quando Henry North descia do trem com dezenas de outras pessoas. Banan parou o carro e o estacionou no parque, enquanto Henry se dirigia indiferente até ele.

Não foi até que Henry entrou no carro e o trem saiu que Banan o olhou. — O que sabe?

Os olhos avelã de Henry se encontraram com os seus. — Ainda não confia em mim.

— Neste momento não podemos nos permitir a confiar em ninguém.

— Entendo. — Henry suspirou e olhou pelo para-brisa. — Vir aqui me custará muito provavelmente meu trabalho.

— Então não deveria ter vindo.

Henry lhe lançou um olhar e continuou como se não tivesse ouvido. — Levou um pouco de escavação, mas descobri que Matt Dorsey e Denae Lacroix foram enviados juntos a uma missão altamente secreta a Dreagan por seu chefe, Frank. Confirmaram sobre isto com Denae?

Banan abaixou a cabeça em um movimento.

— Bom. Ninguém se preocupa com Matt, assim que sua morte não será sentida. Denae, no entanto, parece estar rumo ao topo. Ela é muito querida, apesar de ser americana e trabalhar para o MI5. Eu Não sei verdadeiramente porque ela foi enviada nesta missão.

— Entretanto, Matt e Denae sabiam o que deveriam fazer em Dreagan?

Henry passou uma mão pelo cabelo curto castanho. — Precisei usar todos os meus favores que acumulei durante quinze anos de carreira, mas posso dizer que Denae seria assassinada durante a missão. Matt reportaria sua morte como um ataque dos homens de Dreagan e logo o MI5 entraria. Neste caso iriam atacar todos em Dreagan, embora Frank não foi claro em seus relatórios, de como isso seria feito.

Banan ligou o carro e agarrou firmemente o volante. Ele refletiu sobre o que Henry disse quando começou a dirigir.

— Farei o necessário para que confie em mim. — Disse Henry.

— Porque se importa?

— Porque ninguém em Dreagan nunca me defraudou. Não posso dizer o mesmo de outros. Em meu trabalho, se aprende rápido em quem pode confiar e em quem não. Vocês, homens de Dreagan, nunca me disseram algo que não fosse verdade. Sua palavra é seu vínculo.

Banan se sentia um idiota por questionar a lealdade de Henry. — Alguém nos persegue, Henry. Ou melhor, querem expor alguns segredos que temos.

— Todos nós temos segredos.

— Talvez. Matt disse a Denae que deveria ser uma isca. A ferida que fez, estava destinada a um predador, não para matar.

Henry passou a mão pelo rosto. — Alguém mencionou a palavra isca, mas disseram que estava destinada a ser assassinada quando tudo estivesse pronto. Acham que ambos estão mortos. Disse um predador?

— Sim.

— Nada disso tem sentido.

Mas para Banan sim. Denae precisava sangrar para atrair Kellan em sua forma de dragão e logo o MI5 esperava ser testemunha de um dragão matando Denae para que tivessem uma desculpa para entrar em suas terras.

— O MI5 está chegando a Dreagan. — Disse Banan.

O rosto de Henry ficou duro enquanto olhava para Banan. — Sim, meu amigo, eles estão vindo. Esperam encontrar dois agentes mortos. Quem enviou Denae não ficará feliz ao descobrir que está viva e Matt morto.

— Denae não estará lá.

Os lábios de Henry se contorceram. — Não há lugar para onde ela poderia ir e eles não a encontrarem. Será melhor que se entregue. Posso tentar protegê-la, levá-la aos que querem que sua carreira siga adiante.

Banan o olhou enquanto girava pelo caminho e acelerava. — Acha que seus superiores podem mantê-la viva?

— Não.

Está palavra selou o destino de Denae. Banan apertou o acelerador na estreita estrada. — Quando o MI5 virá?

— Já estão a caminho. Nunca tiraram os olhos de Dreagan.

— Saberão que está nos ajudando.

Henry sorriu. — Sim, saberão.

Pela primeira vez em dias Banan sorriu. — Alegro-me de tê-lo ajudado naquela briga de bar há tantos anos.

— Eu também. — Disse Henry. — Estaria morto agora se não houvesse impedido aquele cara de me esfaquear.

— Reconheço alguém digno de amizade quando vejo.

— Não vou decepcioná-lo agora. — Disse Henry.

Banan sabia que não. Apenas esperava que não houvesse colocado Henry em um rumo que custaria sua vida.


CAPÍTULO ONZE


Rhi sabia que a merda estava a ponto de golpear o ventilador. Passaram-se séculos desde que um Fae — qualquer Fae — se atreveu a dar um passo em Dreagan. Não havia necessidade de que os Reis usassem a magia para proibir os Fae. O tratado assinado entre os Fae de Luz e os Fae Escuros, dizia que nunca deveriam se aventurar em Dreagan, a não ser que quisessem uma guerra entre os Fae e que Reis Dragões matassem a todos. Era o suficiente para manter os Fae longe.

Ou geralmente era. Quando se tratava de irritar Con, Rhi nunca retrocedia. Além disso, o que ela tinha a dizer bastava para impedir que declarassem guerra contra a Luz.

Hesitou um instante, pensando se deveria voltar para casa e esquecer-se de avisar aos Reis ou deixá-los saber o que sentia. Não seriam afetados apenas os Reis, mas todo o reino.

Rhi permaneceu velada quando apareceu no escritório de Con e viu um grupo de Reis, incluindo Con conversando. Ela permaneceu escondida, porque havia um ser humanos com eles. Era contra as “regras” estabelecidas entre os Reis e os Fae que ela permanecesse escondida ouvindo suas conversas. Mas ela não se importava muito.

Durante vários minutos ouviu escondida enquanto o humano falava sobre o MI5 e como chegariam a Dreagan. Rhi achou a informação particularmente interessante, sobretudo porque percebeu como Con estava irritado pela forma como se sentava.

Encontrou uma cadeira vazia e colocou as pernas sobre os braços da cadeira. Uma que se sentiu cômoda e deixou cair o véu.

— Temos que tirar Denae daqui agora. — Disse Kellan.

Rhi levantou as sobrancelhas quando viu Kellan. Passaram-se séculos e séculos desde que despertou pela última vez. E logo ouvi-lo falar de uma mulher? As coisas não eram mais as mesmas em Dreagan.

De repente, os olhos negros de Con se moveram para ela. Durante vários segundos se olharam sem dizer nada. Ninguém na sala sabia que ela estava ali. Rhi agitou os dedos ironicamente para Con e girou os pés, com suas botas novas Ralph Lauren de couro marrom.

— Temos visitante, cavalheiros. — Disse Con com um exagerado suspiro, a ira caindo de sua voz.

A cabeça de Kellan virou para ela e para surpresa de Rhi, um lado de sua boca se levantou em um sorriso. — Atrevida, Rhi. Mesmo para você.

— Passou-se muito tempo, Kell. Que bom vê-lo de pé e por aí. — Disse com uma piscadela.

Banan simplesmente balançou a cabeça enquanto a boca do mortal se abria. Banan teve que se aproximar e fechá-la fisicamente. Rhi lançou um sorriso deslumbrante para o mortal.

— O que faz aqui Rhiannon? — Perguntou Con.

Seu sorriso caiu. Sabia o quanto odiava ser chamada por seu nome completo. Seus olhos giraram para ele e ela o fulminou com o olhar.

— E dentro de Dreagan. — Disse Rhys com uma risadinha. — Está tentando iniciar uma guerra?

Rhi se moveu até que se sentou corretamente na cadeira. — Na verdade, estou tentando evitar uma.

— Está nos ajudando? — Perguntou Kiril surpreso.

Olhou para Rhys e logo Kiril. — Na verdade, agora que mencionou, não tenho que ajudar. — Rhi estava a ponto de sair quando Kellan disse seu nome. Ela fez uma pausa e olhou em seus olhos verdes claros. — O que? — Perguntou exasperada.

— Veio por alguma razão. — Disse Kellan. — Qual é?

Rhi sentiu o olhar de Con nela. Podia voltar facilmente para sua cabana e esquecer os Reis Dragões. A parte difícil seria ficar e ajudar. O mais provável era que deixasse sua rainha irada, mas isto não era nada novo.

O couro rangeu quando Con se inclinou para frente em sua cadeira para apoiar os braços sobre a mesa. — Não acho que tenha algo a dizer, Kellan. Ela veio nos irritar. Infantil, mas funcionou. Agora pode ir, Rhi. Na verdade, temos assuntos para discutir.

Rhi começou a rir para esconder sua fúria e jogou o cabelo pelo ombro. — Assuntos? Que piada. Estavam conversando sobre o MI5 e Denae. Não pense em me tratar como se fosse uma criança.

— O que sabe sobre Denae? — Perguntou o mortal.

Ela voltou o olhar para ele e uma vez mais sua boca se abriu. Rhi se levantou e caminhou até o humano. Seus amáveis olhos avelã nunca hesitaram. Não era mau. Com um novo corte de cabelo e algo mais que um terno cinza, poderia até mesmo ser bonito.

— Rhi. — Advertiu Kellan em voz baixa.

Parou junto a Kellan. — Quem é o mortal?

— Sou Henry North. E o que quer dizer com mortal?

Rhi ficou impressionada. A maioria dos humanos não podiam pensar além de seus desejos. Henry era diferente. Podia desejá-la, mas seu cérebro governava, não seu pau. Gostou dele no mesmo instante. — Encantada em conhecê-lo Henry. Não ficou curioso sobre como entrei aqui?

Henry franziu o cenho e olhou ao redor. — De fato, estou.

— Eu...

— Rhi. — Disse Kellan sobre ela. — Não agora.

Ela voltou ao assento e sentou-se. Kellan tinha razão. Não era hora de brincar. Precisava dizer o que sabia. — Há várias semanas que sinto uma... perturbação.

— Que tipo de perturbação? — Perguntou Kiril.

Rhi encolheu os ombros, mas não pode esconder o mal-estar que sentia. — Tentei localizá-lo, mas está em todas as partes e em nenhuma. Não posso dizer sequer que seja uma pessoa apenas.

— Então pode ser um grupo. — Responde Con e olhou para Henry. — O MI5 talvez?

Não precisava ser um gênio para perceber que Henry trabalhava para a agência. E quem era exatamente a Denae de Kellan? Trabalhava para o MI5 também?

Rhys passou uma mão pelo cabelo. — O MI5 teria que conseguir informações sobre nós primeiro.

— O que fez para incomodar o MI5 Con? — Rhi perguntou, assegurando colocar uma expressão inocente no rosto.

Os olhos de Con se estreitaram de forma perigosa. — Nada.

— Hum. Duvido. No entanto, nada que senti me levou ao MI5. Levou-me à Escócia, Gales e Inglaterra, se for nomear alguns lugares.

Kellan se moveu até ficar apoiado em uma parede. — E não a ninguém?

— Não. — Rhi moveu a cabeça lentamente. — O estranho é que, se não soubesse, diria que estão usando... magia.

O rosto de Henry ficou pálido. — Magia?

— Mais tarde. — Disse Banan.

— Algum tipo de magia? — Perguntou Con.

Rhi pensou nas vezes que tentou encontrar a fonte. — Não. Houve vezes que jurei sentir os Escuros e outras que poderia apostar minhas botas novas ser magia de dragão.

Se fosse possível, Henry ficou mais pálido, mas segurou-se ao olhar para todos.

— Quão perto estamos de conseguir uma nova identidade para Denae? — Perguntou Kellan a Rhys.

Rhys olhou seu telefone. — Em questão de horas.

— Precisa ser mais rápido. — Disse Henry. — Precisa se assegurar que não tenha rastro dela quando o MI5 vier buscá-la.

Kiril ficou de pé. — Estão se esquecendo de Matt.

— Precisa desaparecer também. — Disse Henry.

O sorriso de Kiril foi lento quando seu olhar caiu em Rhi. — Soa divertido.

Ela o viu sair da sala antes de voltar sua atenção para Con, cujo olhar parecia grudado nela. — Não precisa acreditar em mim. — Disse.

— Não preciso. — Disse Con.

— O faz por seu próprio risco. O que há por aí é forte. Forte o suficiente para senti-lo.

-Que meio você usou para estar neste domínio por tanto tempo.

Rhi levantou uma sobrancelha, desafiando-o a ordenar que se fosse. Porque ainda que os Reis pudessem ser poderosos e pudessem ter ganhado a guerra contra seu povo, não podiam fazê-la ir embora.

— A quem importa? — Disse Rhys. — Deixe Rhi. Temos um assunto mais urgente.

— Certo. Denae. — Disse ela. — Acho que gostaria de conhecê-la.

Kellan não se moveu, mas notou um movimento em sua mandíbula.

Fascinante.

Foi Con quem disse. — Não.

— Então, quem tem um fraco por esta Denae? — Rhi perguntou. — Kellan? Ou é Con?

— Suficiente Rhi. — Disse Banan.

Mas ela não terminou. Era muito fácil irritar Con e ela era muito boa nisso.

— Posso lidar com ela. — Disse Con.

Rhi revirou os olhos. Voltou sua atenção a Kellan, porque era evidente que Kellan estava cuidando da segurança de Denae ou realmente sentia algo. — Concordo com Henry. Se Denae é mortal, precisa sair daqui. Quanto mais rápido, melhor. Seja o MI5 ou algo mais, Dreagan não é segura por agora.

— A nova identidade de Denae está pronta. Vou pegá-la. — Disse Rhys enquanto caminhava para a porta. — Nos encontramos no cais?

— Uma hora, Rhys. — Disse Con quando Rhys se apressou em sair do escritório.

Aquela mesma terrível, mas poderosa magia fez cócegas nas beiras da consciência de Rhi. Fechou os olhos e tentou determinar de que direção vinha. O que sabia, era que estava se aproximando.

Seus olhos se abriram de golpe para encontrar o olhar treinado dos homens nela. Engoliu saliva e uma vez mais se virou para Kellan. — Tire Denae daqui. Agora.

— O que sentiu? — Perguntou Con.

Ela o olhou e disse. — Algo ruim está se aproximando.

Con respirou fundo e apontou o queixo para Kellan. — Faça o que Rhi sugere. Banan, você e os demais se assegurem que todos os mortais estejam longe de Dreagan em menos de uma hora.

— E você? — Rhi não pode evitar perguntar.

— Ficarei aqui para saudar quem se atreveu a vir.

Ela o viu na batalha. Constantine não era alguém a quem se enfrentaria de boa vontade se tivesse outra opção. Quase sentiu pena por quem chegaria batendo na porta de Dreagan. Quase.

Apesar dos Fae e Reis desprezarem um ao outro, na verdade coincidiam em sentimentos pelos humanos. Não eram dignos de confiança e destruíam tudo o que tinham em suas mãos.

Bom, a maioria deles fazia isto, de qualquer forma. Havia alguns humanos que eram diferentes.

— Ainda está aqui. — Disse Con com sua voz mais condescendente. — Porque?

Rhi disse o primeiro que lhe ocorreu. — Quem disse que vim para ajudá-lo? Por acaso o pensamento nunca entrou em sua mente de que poderia estar aqui para ajudar Denae?

Isto fez com que Con franzisse o cenho e se preocupasse. O que era exatamente o que queria. Um ponto para ela!

Rhi saiu do escritório, não surpresa por encontrar Kellan em seus calcanhares.

— Está realmente aqui para ajudar Denae? — Perguntou enquanto caminhavam pelo corredor.

Ela moveu a cabeça. — Vim porque queria alertar a todos sobre o que sentia. Provavelmente deveria ter vindo antes. É apenas...

— Eu sei. — Disse. — Poderíamos ter sido alertados do fato de que o MI5 tinha uma missão secreta em nossas terras. E em minha caverna.

— Ah. Assim é por isso que está acordado. — Então a compreensão do que disse, assentou-se em sua mente. — Foram a sua caverna? Porque?

— É algo que todos queremos saber. Denae foi ferida por seu parceiro e lutaram. Ela o matou, mas foi ferida.

— E a trouxe para a mansão. — Rhi esfregou a testa. — O MI5 não tem magia, Kell. Como se encaixa em tudo isso?

— Não sabemos, mas queremos nos assegurar que não tenham êxito no que estão planejando.

— E virão por Denae.

— Sim.

— Qual o plano?

Kellan parou e olhou para a porta que dava ao corredor. — Ela pediu uma nova identidade para que o MI5 não possa rastreá-la. Ela também sabe o que somos.

Os olhos de Rhi ficaram grandes quando ela parou. — Mostrou a ela?

— Foi Con quem mostrou.

Colocou os polegares no cinto. — Irá usar Guy para apagar as lembranças dela, verdade?

— Sim.

— Então, porque contar a verdade?

Kellan esfregou a mandíbula. — Tudo o que consegui dele é que pensou que se estivesse escondendo alguma coisa e ao ver o que somos, poderia assustá-la o suficiente para nos dizer.

— Esse homem. — Rhi rodou os olhos.

— Mesmo se o MI5 a encontrar, ela não poderá lhes dizer nada depois que Guy apagar suas lembranças. É o melhor.

— Kell, esteve dormindo durante tanto tempo, mas realmente acha que o MI5 encontraria sua agente depois de uma interminável busca e acreditaria que ela não se lembra de nada?

— Não há outra opção.

— Poderia haver. — Disse. — Havia uma casa abandonada a vários quilômetros daqui. — Rhi poderia vigiá-la e enquanto Denae estivesse ali poderia viver.

— Quer assumir a responsabilidade?

A surpresa em sua voz a fez olhar furiosa. — Está dizendo que não posso?

— Estou dizendo que pode ser chamada para seu reino. Quem vigiaria então Denae?

Rhi tinha que admitir que tinha razão. — Certo.

— Porque se ofereceu? — Sua voz era suave, muito para deixá-la cômoda.

— Loucura temporária. Não sei. Esqueça que disse alguma coisa. Vamos tirá-la de Dreagan.

Kellan a acompanhou até a porta do quarto e quando a abriu, Rhi encontrou uma linda mulher de cabelo escuro e um corpo que faria qualquer um notar.

— Denae. — Disse Kellan. — Está é Rhi. É uma amiga.

O sorriso de Rhi aumentou quando notou como os olhos da mortal suavizaram quando olhou para Kellan.

Mas a determinação de Kellan em não olhar para Denae fez com que Rhi mordesse a língua para não rir.

Homens!


CAPÍTULO DOZE


Denae apenas podia olhar com um silencio atônita a mulher mais linda que já viu. Seu cabelo negro parecia azul, mas eram seus olhos prateados que pareciam redemoinhos que a seguraram.

— Olá. — Disse Rhi enquanto entrava no quarto com um sorriso de boas-vindas.

Denae piscou e olhou para Kellan para ver se estava tão assombrado como ela, mas ele simplesmente se apoiou contra o marco da porta parecendo tão entediado como sempre. — Olá. — Finalmente disse.

— Está pronta para voarmos juntas? — Perguntou Rhi.

Denae ficou tão surpresa com o discurso que riu. — Quem é você?

— Bom, já sabe sobre os Reis Dragão, acho que é seguro dizer. Sou Fae.

Ela tinha uma resposta na ponta da língua, mas algo impedia Denae. Poderia ser o fato de ter visto Con curá-la e logo o grande dragão vermelho.

Mas de verdade. Poderia o dia ficar mais surrealista?

— Uma Fae?

Rhi assentiu e jogou o cabelo longo sobre o ombro. — Temos um longo caminho para percorrer, Biscoito. Acho que o melhor é se mover antes que seus amigos do MI5 apareçam.

— Nós? — Perguntou Kellan enquanto se afastava da porta.

Rhi revirou os olhos e o olhou. — Não você também, Kell.

Seu nariz se abriu quando a olhou. — Não, não eu, mas prefiro que vá ao cais explorar o lugar com antecedência.

— Hum. — Rhi olhou para Denae e piscou um olho. — Eu a vejo logo.

E assim, ela se foi. Denae ficou olhando o lugar onde Rhi estava segundos antes de olhar para Kellan.

— Um Fae?

— Sim. — Disse com um suspiro resignado. — Há uma história entre os Reis e os Fae e, não é boa.

Denae terminou de amarrar os tênis que Cassie levou antes. — E, no entanto, ela está aqui, assim que não deve ter sido tão ruim.

— Foi ruim. Houve uma guerra.

— Estou notando um tema recorrente com vocês, os Reis Dragão. — Disse meio em brincadeira, mas atingiu o alvo.

Os olhos de Kellan se endureceram. — Queriam dominar este reino. Nós fomos designados como protetores dos seres humanos. Preferia que os entregássemos ao reino dos Fae para que pudessem ser escravos de seus desejos?

Denae lambeu os lábios. Não sabia nada sobre os Fae, mas segundo Kellan, eram perigosos. Tão perigosos, que deixou um perto dela? — Então, porque Rhi está aqui se nenhum de vocês gostam dos Fae?

— Rhi é... Diferente. Uma vez foi amante de um Rei. Agora vamos. Temos que sair.

Denae estava morrendo para saber mais, mas se apressou para sair do quarto logo atrás de Kellan, agradecida por isso e assim ver mais de Dreagan. Tão logo entrou no corredor para seguir Kellan, notou as enormes pinturas que cobriam as paredes.

Se não soubesse, pensaria que estava em um museu. Pequenas luzes estavam sobre cada pintura para iluminar o suficiente para que uma pessoa pudesse ver tudo.

Ainda que estivesse com pressa, encontrou seus passos parando para olhar cada uma. Não foi até que quase chegaram na escada que seus olhos caíram sobre um dragão de bronze, as escamas metálicas mesmo na pintura.

Denae viu os dois chifres se estendendo para trás desde sua testa antes que Kellan a agarrasse pelo braço e a puxasse para ele.

— Não terminei de olhar. — Declarou.

— Prefere olhar as pinturas ou viver?

Bom, quando colocado assim, claro que queria viver. Mas o dragão de bronze era Kellan. Ela sabia. E queria olhar novamente.

A mão de Denae caiu no corrimão e ao descer a escada, pode ver mais da mansão e mais dragões. Estavam em todos os lugares. Seus favoritos eram os dragões de metal que se estendiam desde a parede onde a garra do dragão segurava as luzes.

Não foi até que chegou ao final da escada que viu a pilastra de dragão talhado e parou. Passou o dedo pelos dentes do dragão.

Virou a cabeça para Kellan. — Como pode alguém entrar neste lugar e não perceber o que todos vocês são?

— As pessoas veem o que querem. Poucos dão tanta atenção. Alem do que de fato muitos poucos veem o interior da mansão.

— Eu sim.

Sua mão caiu de seu braço e os dedos roçaram, enviando uma onda de desejo rugindo através dela. Sua pele esquentou, deixando-a muito consciente do homem muito viril e muito bonito ao seu lado.

— Você estava morrendo. — Disse enquanto seu olhar encontrava o dela.

— Con poderia ter me curado na caverna. Porque me trouxeram aqui?

Kellan afastou o olhar, mas houve uma mudança sutil nele, como se estivesse tentando encontrar a resposta certa.

— Não o faça. — Disse enquanto estava a ponto de responder. — Se for mentir, prefiro que não me responda.

— Alguma vez menti? — Perguntou suavemente. Muito suavemente.

Denae queria retroceder, mas a escada e o corrimão a bloqueou. A voz de Kellan era suave, mas em seus olhos via ira. — Não que eu saiba.

— Eu a maltratei?

— Não.

— Sofreu aqui?

— Justo o contrário.

Deu um passo perto até que seus corpos roçaram. — Então, porque acha que agora iria mentir?

Denae estava tendo dificuldade para se concentrar com ele tão perto. Especialmente quando o único que queria fazer era tocá-lo, passar as mãos sobre seu peito e sentir o calor dele, a força de seus músculos. Empurrar os dedos nos cabelos longos e gloriosos, cor caramelo.

— Poderia ter sido interrogada na caverna, depois que Con me curasse. Trouxe-me aqui para que me sentisse segura e para que baixasse minha guarda. Todos queriam que confiasse em você. Assim que quando me matassem, eu não iria ver chegando.

Seu rosto abaixou até que quase seus narizes se tocaram. — Dou minha palavra de que não planejamos sua morte.

Denae se encontrou inclinada para ele, seu magnetismo, seu inconfundível encanto muito grande para resistir. Seu corpo era uma bagunça de necessidade pulsante, que apenas Kellan podia satisfazer. Se a quisesse.

O que ele não queria.

Kellan não tinha a intenção de aproximar-se tanto de Denae. Suas palavras o irritaram, mas não era uma desculpa. Sabia que deveria manter distância dela.

Pararam muito perto um do outro, seus rostos tão próximos que podia se mover uma fração e beijá-la. Ao pensar, Kellan abaixou os olhos para seus lábios e engoliu um gemido.

Tinha os lábios mais surpreendentes, como se fosse feita para colocar os homens de joelhos somente com esta boca.

Ansiava prová-la, provar seus lábios como quisesse. Um beijo lento e úmido que aumentaria sua paixão. Mas não iria parar nesta boca. Queria aproximá-la e sentir as curvas tentadoras novamente, correr os dedos ao longo de sua garganta e ver a sedosa pele se arrepiar.

— O carro está esperando. — Disse Kellan e rapidamente deu um passo atrás antes de fazer algo estupido e beijá-la.

— Claro.

Ele colocou a mão na parte baixa de suas costas e a escoltou até o vestíbulo, sorrindo interiormente o tempo todo. Devido a ter visto seu desejo, o anseio que se refletia nos olhos cor de uísque.

Um negro Range Rover Sport os esperava do lado de fora. Kellan caminhou a seu lado. — Há um homem dentro, um amigo de Dreagan. Trabalha para o MI5 e está aqui para ajudar.

Ela parou em seco e o olhou com os olhos bem abertos. — Não. Não pode confiar nele. Ninguém no MI5 é confiavel.

— Confiamos nele. — Disse Kellan enquanto a olhava. Henry é um bom homem. Arriscou muito para chegar a Dreagan, assim como descobrir o que podia sobre sua missão.

Esperou enquanto Denae olhava nervosa para o SUV até o campo aberto. Estava alarmada e alerta, como qualquer um em sua posição ficaria. Se tentasse fugir, ele a teria colocado no veículo, mas esperava que não tivesse que fazê-lo.

— Como sabe que pode confiar nele?

— Demonstrou isso. Nós te curamos e mostramos quem nós somos. Agora estamos tentando tirá-la daqui para que o MI5 não a encontre. Debatemos mais ou vamos?

Sua cautela era algo que reconhecia e entendia. Não queria se conectar com ela desta forma, mas não podia negar o que via.

— Não quero morrer.

— Eu não deixarei. — Disse e abriu a porta traseira.

Uma vez que Denae subiu, fechou a porta e caminhou para o outro lado para entrar no assento traseiro. Apontou para Banan e Henry.

Henry deu a volta no assento e estendeu a mão para Denae. — Alegro-me de vê-la viva. Sou Henry North.

— Henry. — Disse Denae com um leve sorriso nervoso. Fosse qual fosse a reserva, desapareceu. Henry era conhecido em todo o MI5 como um homem de pé, um no qual podia se confiar. — Conheço este nome. É famoso em todo MI5.

Ele riu. — Mais como infame, tenho certeza.

— O que faz aqui? — Perguntou Denae enquanto olhava para Kellan.

Banan moveu o SUV e começou a sair quando disse. — Ele está aqui para o caso de encontrarmos problemas.

— Refere-se aos agentes do MI5. — Disse Denae. Seus lábios apertados com força.

— Duvido que seja parte da equipe, desde que saí do escritório a noite. — Disse Henry enquanto se virava para frente e colocava o cinto de segurança. — Descobri a verdade sobre sua missão, Denae. Matt pode ter dito que iria feri-la para usá-la como isca, mas a queriam morta de qualquer forma.

Ainda que Kellan tivesse aprendido a controlar suas emoções e reações, as palavras de Henry ainda o incomodava. Ela estava imóvel, exceto sua mão que descansava na perna onde ela esfregava a unha do polegar para frente e para trás.

— Meus superiores sabem o que aconteceu. — Continuou Henry. — Tinham grandes planos para você, mas uns poucos — quer dizer, os que dirigiam seu departamento — tinham outras ideias.

— O MI5 deveria limpar a casa. — Disse Banan enquanto saía de Dreagan por um terreno acidentado.

Henry riu. — Sim, mas nem sempre é feito o que se espera. O escritório satélite em Invernes já enviou seu pessoal aqui. Tem certeza que não saberão onde vamos?

Kellan agarrou a parte traseira do assento de Henry quando Banan passou por um terreno cheio de pedras grandes. — Podem tentar nos seguir.

— Sei que Jane não está feliz por não estar com ela e se algum de vocês lhe disser que estou me divertindo, eu os farei pagar. — Disse Banan, com um amplo sorriso no rosto.

Denae colocou a mão na janela para evitar que sua cabeça batesse contra ela quando o Range Rover se arrastou pelas pedras. — Não há nada como o perigo para fazer um homem sorrir.

— Passei por muitos perigos. — Disse Henry enquanto a olhava sobre o ombro.

Ela riu, o som disparou diretamente ao penis de Kellan e o fez morder o interior da boca para não gemer.

— O perigo se converteu em uma forma de vida.

Sua declaração fez com que Kellan se perguntasse quantas vezes sua vida esteve ameaçada e porque ela continuava se colocando ali. Mas quando a olhou, não viu nenhuma mulher covarde.

Era uma mulher que olhava seus inimigos nos olhos e pensava em como superá-los. Era capaz, astuta e inteligente.

Podia se preocupar se pensasse por um instante que se renderia a ela. Por maior que fosse a tentação, não se inclinava. Não com tudo o que viveu com os humanos.

Kellan tentou encontrar o ódio que sempre vinha tão facilmente quando pensava nos mortais e quando o fez, parecia... menor que antes.

O que não estava certo. Os humanos eram mentirosos, ladrões e assassinos. Violavam a terra sem um segundo pensamento ao futuro ou consequências. Lutavam pela terra e tronos como abutres lutando por um cadáver.

Porque os seres humanos viviam e os dragões se foram, era uma coisa que Kellan nunca entenderia.

De repente, os olhos de Denae se voltaram para ele e seu sorriso morreu a luz saindo dos lindos olhos uísque. Não queria pensar que eram bonitos, mas não podia negar.

— O que foi? — Sussurrou ela.

Kellan afastou o olhar, mas ela o impediu. — Nada. — Disse.

— Mentiroso.

— Cuidado! — Gritou Banan enquanto descia a colina.

Denae voou adiante, seu cinto de segurança o único que lhe impediu bater contra o assento de Banan. O SUV inclinou precariamente para a direita, fazendo com que seu corpo fosse lançado justo sobre Kellan.

Ele a agarrou sem pensar e a abraçou com força. Então cometeu o erro de olhá-la nos olhos.


CAPÍTULO TREZE


Denae levantou a mão sem pensar e tocou o rosto de Kellan. A surpresa brilhando em seus olhos fez seu corpo arder.

Antes que pudesse reunir a coragem para beijá-lo, Kellan a sentou e girou a cabeça para a janela. Quando olhou para frente, seu olhar enfrentou o de Banan enquanto este olhava pelo retrovisor.

Um olhar atrás dela mostrava as pedras que causaram a comoção enquanto passavam pela estrada.

Denae não sabia o que havia em Kellan que a provocava e fazia que seu coração batesse mais rápido ou porque se sentia atraída por ele de uma forma que não podia descrever. A única coisa que sabia era que queria seus braços ao redor dela, queria seus lábios contra os dela.

Não entendia porque esta atração lhe privava de pensamentos e palavras ou porque o fato de que seus lábios não se curvarem para cima num sorriso a fazia querer fazer coisas loucas apenas para vê-lo sorrir.

O passeio continuou em silencio durante a hora seguinte enquanto Banan os fazia percorrer um terreno cada vez mais perigoso. De vez em quando, Kellan ou Banan olhavam os céus.

Não demorou muito para perceber que procuravam dragões. Denae apenas podia imaginar o fácil que um dragão poderia derrubar um helicóptero ou um avião com apenas um golpe da pata.

— Estamos quase lá. — Disse Banan.

Cinco minutos mais tarde pisou no freio de uma vez quando chegou a um pequeno bosque, fazendo todos voarem para frente. O cinto de segurança se cravou em seu peito pela segunda vez neste dia.

— O que foi isso? — Perguntou Henry.

Kellan não disse uma palavra quando abriu a porta e saiu do carro. Foi quando fechou a porta suavemente atrás dele que Denae percebeu que estava procurando algo nas árvores.

Ela tinha alcançado a maçaneta da porta quando Banan apertou os bloqueios, impedindo-a de sair. — Destranque a porta. — Disse.

— Não vai acontecer. — Disse Banan.

— Então vá ajudá-lo.

Banan bufou. — Se acha que precisa de ajuda, então acho que não entendeu quem ele é.

— Oh, eu entendo. E se...? — Denae se calou quando se lembrou de que a única forma de matar um Rei Dragão era por outro Rei Dragão.

Banan voltou a olhar pelo retrovisor e assentiu com a cabeça ao perceber. — Exatamente. — Disse.

— Exatamente o que? — Perguntou Henry com seu sotaque britânico. — Tenho a sensação de que estou perdendo um fato importante.

— Denae acaba de se lembrar de que Kellan facilmente pode cuidar de si mesmo. — Disse Banan a seu amigo.

Henry inalou profundamente. — Ceeeerrrrto.

Denae não precisou esperar muito para que Kellan voltasse. Caminhou para o Range Rover como se tivesse ido dar um passeio. Quando voltou a sentar-se ao seu lado, notou as gotas de sangue em sua camiseta.

— Está tudo certo. — Disse.

Banan apertou o acelerador para movê-los novamente. Denae olhou para Kellan durante cinco quilômetros, até que ele finalmente a olhou.

— Como soube? — Perguntou.

Levantou um ombro. — Vocês são fáceis de detectar.

Ela não sabia se “vocês” queria dizer o MI5 ou os seres humanos, mas de qualquer forma entendeu como um insulto. Ainda que ela não pudesse culpá-lo depois do que ele disse que os humanos fizeram aos seus dragões. Se estivesse em seu lugar, também odiaria os humanos.

Não passou muito tempo antes de chegar a uma estrada e serem capazes de ir mais rápido. A paisagem acelerou quando Denae olhou pela janela. Uma leve chuva caia enquanto nuvens pálidas e cinzas a deixava em um estado de ânimo sombrio.

Passaram por alguns carros na estreita estrada, já que a velocidade na qual viajavam era boa. Quanto mais longe ficavam de Dreagan, mais preocupada Denae ficava.

Kellan podia ter dado sua palavra, mas o que sabia realmente sobre ele? Ele a viu lutar na caverna e a levou para a mansão. Ele lhe contou um pouco sobre seus dragões de Bronze e mesmo um pouco do seu passado, mas ela ainda não sabia quase nada sobre ele.

Que tipo de homem era? O que lhe fazia rir ou deixava irritado? O que o impulsionava a proteger alguém? O que lhe faria ir embora?

Ele tinha entrado no bosque e matou ao menos um homem sem sequer suar. Por outro lado, admitiu ter matado um homem por estuprar e matar uma garota. Tudo era branco e preto para Kellan?

Olhou-o para encontrá-lo a observando com seus olhos claros verde jade, um pouco de ira se mostrando. — Ainda duvida de mim?

— Pode ler pensamentos?

Levantou uma sobrancelha. — Não, mas posso ler você.

Ela o feria com sua desconfiança. O que era ridículo. Não era como se confiasse muito nela. Mas por um lado, estava tentando ajudá-la. Ao menos imaginava que sim. Esta coisa de confiança estava começando a desgastá-la. — Aonde vamos?

— Para o mar.

O fato dele responder sem hesitar aliviou algo de sua angustia. Também ajudava que Henry estivesse ali. Obviamente confiava muito em Banan.

A menos que Henry estivesse nisso tudo.

Denae impediu o curso destes pensamentos. Caso se deixasse levar, poderia encontrar centenas de cenários diferentes onde as pessoas a trairiam.

O que Matt e seu departamento fizeram, deixaram uma cicatriz mental e não sabia se poderia superar. Era ruim o suficiente que tivesse que fugir por toda sua vida. Como poderia confiar em alguém?

Cada refeição que ela comesse se não fosse feita por ela mesma, poderia estar envenenada. Cada pessoa um assassino em potencial. Em cada lugar uma possível armadilha mortal.

Não haveria noites de sono tranquilo. Teria que se mudar a cada poucos dias, assegurando-se de que onde quer que decidisse colocar a cabeça estaria protegida, assim como estabelecer um alarme de algum tipo para deixá-la saber se alguém entrasse.

Esta não era a vida que queria. Não era uma vida que poderia viver.

— Pare. — Disse a Banan. — Apenas pare e me deixe sair. Poderia ser melhor se o MI5 me matasse.

— Não a matarão. — Disse Henry enquanto se virava para olhá-la. — Iriam te torturar até que lhes desse informações. Então iriam matá-la e farão parecer que alguém de Dreagan o fez.

Denae fechou os olhos e soltou um suspiro forte. Sabia que isto era exatamente o que faria o MI5, mas nunca esteve do outro lado dos ataques. Caso se deixasse levar, começaria a questionar todas as operações. — Não quero fugir para sempre. Isto não é vida. É simplesmente sobreviver. Nunca poderei ter uma família, nunca irei confiar em ninguém.

— Ficará mais fácil.

Abriu os olhos para olhar Henry. — Não, não ficará. Nunca poderei ir para casa ou mesmo fazer amigos. Irei me perguntar se todos que conheço poderiam estar conectados ao MI5 e assim ser um inimigo em potencial.

— Irá se manter alerta. — Disse Banan.

— Será um inferno.

Kellan perguntou. — Prefere morrer?

Ela virou a cabeça para ele. — Não farei o que quase esteve fazendo? Apenas que você conseguiu permanecer em casa. O que iria preferir?

— Sua escolha é a vida ou a morte, Denae. — Disse. — A morte é fácil. A vida é dura. Mas tem a oportunidade de escolher que tipo terá.

O Range Rover desacelerou e girou. Denae olhou pela janela e viu o mar.

— Chegamos. — Disse Banan.

Ela permaneceu em silêncio enquanto passavam pelo cais até que Banan parou e desligou o motor. Por um momento, ninguém se moveu.

Banan soltou o cinto de segurança e se virou. — Henry e eu vamos dar uma olhada. Boa sorte, Denae.

Ela não pode devolver o sorriso, mas fez um gesto com a cabeça. — Obrigada.

Henry estendeu a mão e viu a faca coberta com couro negro. — Pegue. — Disse. — Sempre é bom ter uma arma escondida.

Denae aceitou o presente. — Obrigada.

— Kellan tem razão. Agora tem uma opção. Vá com segurança.

Seu estômago estava em nós quando ela e Kellan ficaram sozinhos no carro. Ela virou a faca em suas mãos várias vezes. — Quando apagarão minhas lembranças?

— Antes de entrar no barco.

— E se não estivermos sozinhos? Apenas somos quatro contra quem está ali fora?

— Sim. — Disse Kellan. — Não que precise se preocupar. Surpreender-me-ia se o MI5 nos seguisse até aqui. Estará no barco pouco depois com uma nova identidade e deixará tudo isso para trás.

— Faz com que pareça fácil.

— E é. Está pronta?

Denae lhe respondeu abrindo a porta e saindo. O cheiro de sal encheu seu nariz quando o vento roçou o mar e sobre ela. As gaivotas gritavam ruidosamente enquanto os barcos presos no cais gemiam contra as ondas.

Kellan a esperou na parte dianteira do Range Rover. Ela caminhou até ele, mas não podia se livrar da sensação de que algo daria errado.

— O que foi? — Perguntou quando continuou olhando ao redor.

— Escapamos muito fácil. Muito fácil.

Kellan franziu o cenho. — Planejamos isto.

— Não entende. Eles estão nos observando.

— São sessenta mil acres. Não podem ver tudo.

Queria acreditar, mas este sentimento persistente lhe salvou a vida antes. Ela não iria ignorá-lo agora. — Quando vou?

— Precisamos pegar com Con e Rhys sua nova identidade. Seu barco sai em meia hora.

Lançou um olhar para os barcos que podia ver, perguntando-se qual deles a levaria para longe de Kellan e seus fascinantes olhos verdes. — Onde me deixara?

— Há vários portos nos quais irá parar. Terá a oportunidade de escolher quando quiser sair. Vamos. — Disse e a levou a um edifício de madeira pintado com uma cor que parecia creme, mas havia tanta pintura se soltando que parecia cinza nas tabuas expostas.

Dentro, não estava melhor. Denae esperava que caísse ao redor deles. Sentou-se em uma caixa de madeira e olhou para Kellan. O vento bagunçava seu cabelo longo e a forma como passava os dedos através dele, era a coisa mais sexy que já viu.

Nunca gostou de cabelos longos em homens. Até que conheceu Kellan. Agora, ela queria passar os dedos entre as mechas e suplicar que nunca o cortasse.

— Quanto tempo ficou me olhando na caverna?

Ele balançou a cabeça para ela, a surpresa evidente em seu olhar. — Vi quando saiu da água.

— Em outras palavras, viu tudo.

— Sim.

— Não há nenhum ser humano de quem goste?

Encolheu os ombros, mas negou. — Houve poucos mortais que encontrei que seriam dignos de viver.

— Poderia ter sido melhor se me deixasse morrer naquela caverna. Poderia ter ficado e não estaria aqui.

— Você não está zangada comigo?

Por estranho que parecesse, não estava. — Tiveram que tomar uma decisão baseada em se protegerem e aos outros dragões. Porque ficaria irritada? Isto foi o que fiz todos os dias durante os últimos sete anos.

— Com certeza é diferente, Denae Lacroix.

Ela sorriu então. — Meu pai costumava dizer o mesmo.

— Quer que conversemos com sua família?

Denae olhou para seus pés. — Não precisa. Minha família está morta. Tenho apenas parentes e não converso com eles há anos. Há um banheiro por aqui? — Perguntou antes que pudesse falar novamente.

Kellan apontou uma porta atrás dela. — Ali no edifício seguinte.

Denae se apressou, odiando como as lembranças de sua família a golpeavam quando menos esperava. Ela não quis falar sobre seu pai, mas Kellan disse as palavras favoritas dele e as lembranças vieram sem poder segurar.

Ela seguiu as instruções de Kellan e entrou no edifício seguinte. Estava cheio de redes de pesca, caixas e outras coisas que não conhecia.

Depois de encontrar uma porta adiante, caminhou ao redor de um conjunto de caixas empilhadas e parou quando encontrou quatro homens com rifles apontando para ela. Tão assustador como era, não era nada comparado com os quatros homens que os acompanhavam.

Tinham cabelos longos e negros com mechas pratas e olhos vermelhos.


CAPÍTULO QUATORZE


Kellan olhou para a porta pela qual Denae desapareceu e andou pelo local antes de parar e olhar a porta novamente.

Suspirou. Quanto tempo demorava para uma mulher ir ao banheiro? Já se passaram vários minutos.

— Kellan. — Ouviu atrás dele.

Girou para encontrar Rhi, com os olhos muito abertos e a angustia apertando seu rosto. Ficou de imediato em guarda. — O que foi?

— Os Escuros estão aqui. Eles estão com Denae.

Ficou surpreso com a fúria que se levantou rapidamente dentro dele. Por um ser humano. No entanto, era ele quem deveria mantê-la a salvo. Falhou e não gostava nada desse sentimento.

— Onde ela está? — Perguntou ele.

Os saltos de Rhi soaram ruidosamente no lugar enquanto se apressava para as janelas traseiras. — Ali.

Kellan a seguiu e soltou um suspiro ao ver Denae de pé sozinha no cais. — Não a levaram?

Rhi afastou o olhar das janelas. — Os Escuros não estão sozinhos, Kell. Uniram-se ao MI5.

Agora estava realmente surpreso. — Os Fae e os humanos? Isso não pode ser.

— Não todo o MI5, apenas alguns. Estava vigiando as coisas quando vi Denae entrar no outro barracão. Eu os segui e a vi se encontrar com o pequeno grupo de Escuros e os espiões. Ela é uma isca novamente, Kell.

— Para mim. — Claro. Porque não percebeu isso antes? Está era a única razão pela qual Denae ainda estava neste reino e viva. A verdadeira pergunta era se Denae estava com os Escuros ou se era uma vítima.

— Os Escuros querem um Rei Dragão. O MI5 quer Denae.

— Kellan! — Gritou Denae sem entusiasmo. — Pode sair?

Kellan voltou a olhar para Denae e notou como seus olhos iam para qualquer lugar, exceto o barracão no qual estava. Estava sozinha, mas os Fae Escuros e os espiões se esconderiam o suficiente para atacar no momento em que tentasse correr ou aparecesse.

— Em forma de dragão poderia voar para baixo e pegá-la, mas seria um grande risco. — Poucos Reis queriam admitir, mas a magia dos Fae Escuros poderia impedir que permanecessem em forma de dragão, que era quando eram mais fortes.

Os Escuros não iriam atingi-lo. Houve casos em que sua magia podia fazer que um Rei ficasse quase tão fraco como um humano. Era por isso que os Reis raras vezes lutavam sozinhos contra os Escuros.

Mas Kellan deu sua palavra a Denae. Não podia se lembrar a última vez que salvou a vida de um humano, mas isso não parecia importar enquanto a olhava de pé ali.

— Não. — Disse Rhi em estado de choque. — Não está pensando de verdade em descer ali. Não pode. Ouvi os Escuros. Eles querem você.

Kellan olhou todo o cenário, determinando onde seus inimigos se escondiam. — Eu irei.

— Não te importa que tenham feito esta armadilha para você?

Encolheu os ombros e olhou para o esconderijo que os mortais usavam. — Claro que me importo. Eles querem algo e quero saber o que é. Não vou descobrir ficando aqui de pé.

— São Escuros, Kellan. — Disse ela em voz baixa.

— Eu sei. — Ele girou a cabeça para ela. Depois do que aconteceu com Rhi e seu amante Rei Dragão, ela poderia ter lhe virado as costas, mas não o fez. Isto demonstrava o profundo que era seu amor pelo Rei. Se apenas soubesse a verdade...

— Kellan! — Gritou Denae novamente.

Rhi bufou uma respiração áspera. — É um Rei Dragão. Sabe o que os Escuros lhe farão?

O tom de voz de Rhi era alto. Os Escuros podiam não ser capazes de matar um Rei, mas os efeitos a longo prazo de sofrer sua tortura poderiam causar um enorme dano.

Conseguiram capturar dois Reis durante as Guerras com os Fae. Kellan ainda se lembrava muito bem de ter que matar um Rei depois que os Escuros o libertaram e ele começou a destruir Dreagan.

O outro... Os Escuros tentaram o usar durante a batalha. Ver um Rei em poder dos Escuros foi horrível, mas nada comparado com o Rei pedindo aos irmãos que dessem fim a sua vida. Foi Con quem o alcançou primeiro e o matou.

— Tem razão. — Disse Con da porta enquanto ele e Rhys entravam. — Os Escuros não podem capturar outro Rei.

Rhi retrocedeu quando Kellan a olhou nos olhos. — Posso fazer isso com sua ajuda. — Disse. — Os Escuros não sabem que está aqui.

Kellan olhou de Con para Rhys e de volta a Rhi. Não podia explicar sua necessidade de salvar Denae, apenas precisava fazê-lo. Era uma estranha sensação depois de passar tanto tempo esperando a morte de todos os mortais. — Sou responsável por ela. Dei a Denae minha palavra de que não morreria hoje. Então... tenho que fazer isto por ela.

De repente Rhi piscou para ele. — Justo o que eu queria ouvir, garanhão.

— Não pode estar falando sério. — Disse Con enquanto se dirigia furioso a Kellan. — Nunca ficará livre dos Escuros.

— Obrigado pela confiança. — Disse Kellan sarcasticamente.

Con fechou os olhos e apertou as mãos como se estivesse buscando paciência. Quando seus olhos negros se abriram, olhou duro para Kellan. — Não quero ter que matar outro Rei que esteve nas mãos dos Escuros. Não posso. Não outra vez.

— Kellan! Venha ver isso! — Gritou Denae enquanto olhava uma pilha de caixas.

Kellan estava para responder Denae. Sabia exatamente como se sentia Con. Era estranho ouvir Con falar de salvar um Rei sobre um humano. Não era algo que fez antes. Então outra vez, não era todos os dias que um Escuro tentava capturar um Rei.

O que os Escuros estavam fazendo? Precisava descobrir se ela era parte da trama. Tinha que saber se estava sendo traído outra vez.

Em todos seus milhares e milhares de anos, houve apenas alguns mortais a quem ajudou. Havia algo em Denae — e não apenas sua beleza — com o qual se sentia conectado. Como desejava não tê-lo feito, mas uma vez que a conexão estava ali, bem, estava ali.

Afastar-se dela, no entanto, não era algo que faria. Ainda não.

— Farei isto. — Disse Kellan ao grupo. — Não planejo ser capturado pelos Escuros, mas não posso fazer isto sozinho. Ou me ajuda ou vai embora.

Rhys grunhiu. — Como se fossemos embora. O que quer fazer?

— Pegue os quatro rapazes do MI5. — Disse Rhi.

Rhys sorriu, seus olhos se acendendo com antecipação. — Posso cuidar deles.

Kellan viu Denae olhar nervosa para a pilha de caixas a sua esquerda. Um Fae Escuro deveria estar ali. Não tinha medo dos humanos, mas era inteligente o suficiente para compreender que os Escuros eram algo completamente diferente.

— Há alguns Escuros vigiando Denae. — Disse Rhi com cautela enquanto olhava Kellan. — Não acho que tenham a intenção de deixarem os humanos a levarem como planejaram originalmente.

— Podem ter qualquer mulher. — Disse Con. — Porque querem Denae?

— Porque estava conosco. — Disse Kellan.

Rhi assentiu com a cabeça. — Se querem um Rei, seria um trunfo ter uma mulher que passou um tempo com um.

— Mas Denae e Kellan não fizeram nada. — Disse Rhys.

— Não importa. — Rhi enrugou o nariz. — Seu ódio pelos Reis corre quase tão profundo como seu ódio pela Luz.

A mente de Kellan entrou em modo de batalha. Denae teria uma oportunidade de viver se os humanos a levassem, mas se os Escuros a levassem, estaria melhor morta. — É hora de deixar de conversa e libertar Denae. Então nos asseguraremos que os Escuros não possam pegá-la.

— Precisamos de um plano. — Disse Rhys. — Um que envolva Banan e Henry também.

Con deslizou as mãos nos bolsos da calça. — O MI5 não pode capturar Denae. Não apagamos suas lembranças.

Kellan apoiou os ombros. — Não importa desde que ela permaneça viva. Deixei isto muito claro quando a tirei de minha caverna.

— Então, sugiro que não seja pego pelos Escuros. — Disse Con.


***

Denae tentou acalmar seu coração acelerado, mas não se lembrava de ficar tão assustada. Não tinha medo dos agentes enviados pela Agência, mas dos outros. Aqueles quatro não eram humanos e nem mortais.

Seus cabelos eram parecidos com os de Rhi, com exceção das mechas prateadas, mas isto não era o que fazia seu sangue esfriar. Os olhos vermelhos e a forma como a olhavam, como se fosse uma refeição para desfrutar.

Nenhum dos oito — humanos e os outros — frearam sua conversa na frente dela. Sabia que queriam um Rei Dragão e Kellan em particular. E aparentemente os humanos iriam levá-la depois que capturassem Kellan.

A forma como os homens de olhos vermelhos sorriram enquanto conversavam sobre os Reis Dragões deixou Denae nervosa. Kellan disse que a única forma de matar um Rei Dragão era por outro Rei, mas não disse nada sobre tortura.

Ela olhou a água atrás de si. A maré estava se movendo e batendo forte, então havia uma possibilidade de poder escapar. Havia também uma possibilidade muito boa de levar um tiro antes de fazê-lo.

Denae levantou os olhos para encontrar um dos homens de olhos vermelhos vigiando-a com um sorriso irônico no rosto. Ela parou de tremer ante o evidente desejo sexual em seu olhar.

— Eu te desafio. — Disse e olhou para a água.

Sabia o que estava pensando. Como? Mal deu uma olhada na água. Denae afastou o olhar do homem e enviou uma oração silenciosa para Kellan se afastar, sem importar quantas vezes a fizessem chamá-lo.

Mas sabia que não o faria. Ela conhecia seu segredo e não a queriam nas mãos do MI5. A água poderia ser sua única opção. Se mergulhasse, liberaria Kellan de sua promessa.

Ela teria que ser rápida e dentro de um tempo perfeito. Dois dos quatro agentes estavam mais perto dela com seus rifles apontados para ela, esperando que fizesse um movimento. Os dois outros estavam nos telhados e a tinham na mira caso decidisse correr.

Dos quatro olhos vermelhos, apenas um estava perto dela. Não tinha ideia de onde estavam os outros e isso lhe preocupava. Poderiam estar em qualquer lugar.

Estava se preparando para mergulhar na água quando chegou o som de uma porta aberta. Denae viu então a forma alta e musculosa de Kellan avançando para ela como se não tivesse preocupação no mundo.

As ondas de seu longo cabelo caramelo se levantavam com a brisa e seus olhos estavam fixos nos dela. O que lhe roubou o folego foi o meio sorriso em seus lábios, o que lhe fazia parecer como se esperasse com ânsia o que estava para acontecer.

Transformava seu rosto robusto e bonito em um que a deixava sem folego e cheia de desejo. Com sua camisa verde oliva abraçando seus amplos ombros e sua calça jeans baixa nos quadris estreitos, era uma vista magnifica para contemplar.

A medida que se aproximava, suas sobrancelhas se levantaram uma fração, como se estivesse lhe dizendo algo. Seus lábios se abriram para dizer que não se aproximasse, mas então ele estava diante dela, seus braços ao redor dela.

E seus lábios tocaram os dela.

Denae ficou tão surpresa que colocou os braços ao redor de seu pescoço e estava devolvendo o beijo sem perceber.

Ele beijava bem e de forma pecaminosa. Era sensual e carnal, excitante e devasso.

E ela não queria que terminasse nunca.

Seus seios se incharam quando ele a apertou contra ele. O desejo a atravessou, juntando-se entre suas pernas enquanto sua paixão surgia. Tão logo como o beijo começou, Kellan terminou-o enquanto beijava sua mandíbula até que a boca ficou em seu ouvido.

— Confie em mim.

Seus olhos se abriram para dizer quem estava olhando quando ele a beijou novamente. Desta vez o beijo foi selvagem enquanto saqueava sua boca com uma experiência consumada.

Ela estava caindo sob eu feitiço novamente, mesmo com o perigo espreitando ao seu redor. Ela estava impotente para fazer qualquer outra coisa. Kellan tinha um controle sobre ela que não entendia.

Seus olhos se abriram quando suas mãos subiram a cada lado de seu rosto e ele levantou a cabeça. A realidade caiu sobre ela como um balde de água gelada quando não viu nenhum desejo em seus olhos verdes. Estavam duros e sem vida como sempre.

Se foi o leve sorriso. Os lábios que acabaram de beijá-la com tanto abandono e ternura estavam em uma linha dura. Algo bateu contra sua coxa dolorosamente. No momento seguinte, ele a empurrou para o chão.

No mesmo instante, um tiroteio explodiu ao redor deles, tendo Kellan como alvo. Denae se agachou inclusive enquanto Kellan a protegia com seu corpo.

— Fique quieta! — Gritou com ela sobre o barulho do tiroteio.

Sem arma de fogo, Denae não tinha escolha. Quer dizer, até que viu um dos agentes cair, sua arma escorregando de seus dedos sem vida. Ela rodou, apertando os dentes enquanto sua perna pulsava com a dor da bala alojada dentro e se levantava com a arma na mão, atirando em um agente no telhado.

Com este agente morto, Denae se virou para o outro apenas para que Kellan a agarrasse e a puxasse para trás de algumas caixas.

— Está louca? — Perguntou irritado.

Agora estava demonstrando emoção? Agora que ela estava em seu elemento e capaz de se defender? Queria rodar os olhos. — Treinaram-me para isso, lembra-se?

— Estes são Fae Escuros com o seu pessoal.

— Meu pessoal? — Repetiu ela e bufou enquanto olhava sua camisa cheia de buracos de balas e sangue. — Como se quisesse reivindicar os que estão atirando em você.

— Você poderia estar trabalhando com eles. Como sei que é o contrário? Tudo o que aconteceu em minha caverna poderia ter sido planejado.

— Sim. Descobriu-me. Planejei minha própria traição, sabendo que estava na caverna e que me levaria de volta para a mansão, assim, Con com sua magia que eu sabia que possuía, iria me curar, apenas para que disparassem novamente. — Denae rodou os olhos. Controle-se.

Suspirou alto e olhou ao redor das caixas enquanto as balas saiam lentamente de seu corpo e as feridas se curavam justo diante de seus olhos.

— Quão grave é o seu ferimento?

— Não me matará. — Denae levantou os olhos para seu rosto. Pensava que era parte da armadilha. Como se pudesse. Mas isto não a incomodava tanto como o beijo. O beijo que a sacudiu não significou nada para ele. Foi uma distração tanto para ela como para seus inimigos.

Ela se sentia usada, manipulada. E doía.

Deslizou pelo outro lado das caixas e apontou a um segundo agente no telhado. Com um disparo estava morto.

— Estou tentando mantê-la com vida. — Disse Kellan enquanto a movia fora do caminho.

— Os Fae Escuros querem você. — Disse.

— Eu sei. Rhi ouviu tudo enquanto estava seguindo você.

— Assim que, mesmo sabendo, entrou em uma armadilha enquanto pensava que eu fazia parte dela? — Denae balançou a cabeça. — E eu aqui pensando que era inteligente.

— Eu sou! — Exclamou.

Sua réplica morreu nos lábios quando o Fae Escuro que a vigiava antes se levantou por trás de Kellan.


CAPÍTULO QUINZE


Kellan viu os olhos de Denae se abrirem e soube que havia alguém atrás dele e pelo olhar de medo severo em seu rosto, sabia quem — um Escuro.

Se não fosse por Denae, iria se virar e lutaria contra o Fae, mas precisava considerar a fêmea. Em lugar de lutar, puxou seus braços e levou-a para cima com ele enquanto movia-se de lado e uma explosão de magia escura chegava a eles.

Kellan rolou até que ficou sobre ela. Seu corpo, quente já por seus beijos, rugiu de volta à vida quando ele apertou suas curvas suaves.

Não havia tempo para pensar, no entanto, com uma batalha acontecendo ao seu redor. Kellan levantou os olhos e viu algo golpeando o Escuro por trás. Rhi apareceu por um momento como nada mais que um resplendor quando sua magia se reuniu e concentrou-se em seu inimigo. Tirou o Escuro deste reino, deixando apenas os outros três para lutar.

Rhi o olhou justo antes de sumir novamente. Kellan se levantou de uma vez e puxou Denae com ele. — Está bem?

Ela assentiu com a cabeça quando seu corpo se sacudiu e caiu adiante. Kellan a agarrou contra ele, sua mão dando voltas em suas costas e encontrando algo pegajoso e úmido.

Ele a arrastou a salvo e afastou sua mão para vê-la coberta de sangue vermelho brilhante. Kellan ajoelhou-se com ela nos braços e a girou suavemente sobre as costas, com cuidado para manter sua mão cobrindo a ferida para estancar o fluxo de sangue.

Seu rosto estava pálido, os lábios incolores.

— Ficará bem. — Disse. — Eu prometi que não morreria hoje.

Ela sorriu levemente. — Nem sequer pode cumprir tal promessa.

— Quando deixará de duvidar de mim? — Sussurrou.

Suas pálpebras se fecharam sobre os olhos cor de uísque. Mesmo com a dúvida sobre ela ser parte da armadilha, Kellan convocou seu poder de dragão e encontrou as balas de metal dentro dela. Concentrou tudo no metal e os extraiu de sua coluna e sua perna.

À bala em sua perna saiu primeiro e logo a de suas costas. Mas isto não impediu o fluxo de sangue. Antes que pudesse chamar Con, o Rei dos Reis estava na frente deles.

Kellan levantou os olhos e viu Rhys, Banan e mesmo Henry rodeando-os enquanto se afastavam dos Escuros. Con se ajoelhou junto a Denae e sem dizer uma palavra, ele a curou.

O medo que deixava seu sangue gelado era novo. Passou tanto tempo desde que sentiu esta emoção em particular e ficaria feliz de não voltar a senti-la.

Os olhos de Denae se abriram, com um cenho franzido. — Já não sinto dor.

— Porque a lesão já não existe.

— Como?

Kellan viu um Fae Escuro vindo por eles, assim os colocou de pé e começou a correr. Parou junto a outro grupo de caixas em um canto. — Con é o único que pode curar uma ferida e ele fez justamente isso.

— Você fez algo, eu sei. O que foi? — Perguntou enquanto ele a empurrava atrás dele e corriam para outro lugar.

— Meu dom é encontrar metal.

Houve um silencio antes que ela dissesse. — As balas. Obrigada.

Kellan a olhou, surpreso ao ouvir estas palavras. Novamente, o assombrava constantemente. Havia coragem sob seus traços delicados, inteligência extrema atrás de seus olhos atraentes e doçura dentro dela.

Sem mencionar a paixão além de seus sonhos selvagens.

Seus beijos fizeram seu sangue já quente ferver. Se poderia fazer isso com um beijo, como seria entrar nela?

Kellan engoliu saliva e afastou o olhar de seu olhar sedutor. Os agentes do MI5 morreram, deixando apenas três Fae Escuros na batalha. Rhi se ocupou do outro um momento depois e justo assim, os outros dois desapareceram.

— Se foram? — Perguntou Henry enquanto se levantava detrás de algumas caixas.

Banan olhou ao redor da devastação. — Não por muito tempo.

— E essas coisas eram...? — Insistiu Henry.

Con olhou com desgosto para camisa branca arruinada com sangue e sujeira. — Eram Fae Escuros.

— Conheceu outro Fae antes. — Disse Kellan enquanto ele e Denae se aproximavam. — Rhi.

Os olhos de Henry suavizaram ante a menção da Fae. — É uma mulher linda.

— E fora dos limites. Não quer se envolver com ela. — Disse Con.

— Não acho que me importo... — Disse Henry com uma risadinha.

Rhys se aproximou e disse. — Precisamos sair daqui antes que apareçam as autoridades.

— Denae não pode voltar a Dreagan. — Disse Kellan.

Banan assentiu sombriamente. — Concordo. Estamos sendo seguidos.

— Falando nisso, onde está Rhi? — Perguntou Con.

Rhys levantou as mãos em um gesto de perplexidade. — Em algum lugar.

— Temos certeza que os Fae Escuros desapareceram? — Perguntou Denae.

Kellan a olhou e apenas então percebeu que ainda estava segurando seu braço. Ele soltou-se e logo segurou sua mão para manter o calor.

— Boa pergunta. — Disse Banan. — Uma que podemos verificar.

Rhi apareceu junto a Rhys. — Não precisa. Eles se foram, mas eu não ficaria por aqui. Estão irritados. Também estão decididos a capturar um Rei Dragão.

— Um o que? — Perguntou Henry.

Kellan o ignorou e olhou para Rhi. — Por quê?

— Estão procurando algo. — Ela respondeu.

Con suspirou forte. — Disseram o que?

Rhi torceu os lábios enquanto encolhia os ombros. — Manterei um ouvido por aí. Minha rainha me chama e tenho certeza que gostará de ouvir esta história.

E logo se foi.

— Isso facilitaria a viagem. — Disse Denae com um sorriso. — Eu iria gostar de entrar e sair dos lugares assim.

Kellan não sabia de nenhum mortal que pudesse brincar assim depois de quase perder sua vida. Denae o confundia constantemente, fazendo-o repensar tudo sobre os seres humanos... E isto o perturbava.

Mas não mais que seu desejo por ela.

Não quis beijá-la. Seu plano consistia em colocá-la a salvo antes que começasse a batalha, mas quando se aproximou dela, seus lindos olhos se encheram de tanto anseio e desejo que o fez.

O primeiro beijo foi um erro. O segundo, desastroso.

Agora tudo em que podia pensar era nela. Seu gosto em sua língua, tentando-o com seu cheiro e sensualidade. Suas mãos coçavam para soltar a trança e sentir seu cabelo entre os dedos.

— Mas gostaria menos de mim se fosse Fae no lugar de humana, já que odeia os dois? — Perguntou a Kellan.

— Não odeio Rhi.

Um sorriso triste tocou os lábios de Denae. — Claro que não.

Sem dizer mais uma palavra, virou-se e voltou ao Range Rover.

Kellan observou o movimento de seus quadris. Era fascinante sedutor e nem sequer sabia. Tudo nela era tentador, sedutor e provocante.

Era tudo isso e muito mais porque não tinha ideia de seu atrativo. E se o fizesse, não teria um homem — mortal ou imortal — que seria imune a ela.

Kellan já tinha dificuldade para manter as mãos longe dela e agora que conhecia o sabor de seu beijo, tinha um só objetivo: reivindicar seu corpo.

Henry se aproximou dele e coçou o queixo. — Há poucos homens no MI5 que não a quiseram em sua cama. — Disse a Kellan com um tom duro. Henry encontrou seu olhar. — Incluindo eu. Apesar de ser uma espiã, há algo puro e honesto nela que atrai as pessoas. Não há muitos que conservam a virtude depois de se tornar um espião. Denae é diferente.

Kellan pensou nas palavras de Henry. Denae era diferente.

— Há sangue em sua camisa. Muito disso. Está ferida?

Banan se aproximou de Henry. — Já não. Kellan e Con cuidaram disso.

Kellan não disse mais nada enquanto seguia Denae. Queria ficar sozinho com seus pensamentos, mas deveria saber que Con não iria permitir.

— Qual seu plano? — Perguntou Con enquanto parava do seu lado.

Kellan manteve o olhar em Denae enquanto encolhia os ombros. — Preciso levá-la a algum lugar seguro, longe do MI5 e dos Escuros.

— Eu o conheço, velho amigo. Suspeita que ela é parte disso.

— Sim, é verdade.

— Por quê? — Perguntou Con.

Kellan encolheu os ombros. — Não sei. Meu ódio pelos humanos pelo que nos fizeram, assim como com meus Bronzes, poderia nublar o meu juízo. Eles a atingiram, uma ferida que teria acabado com sua vida.

Con assentiu com a cabeça. — Este tiro era para você, mas te entendo. É difícil ignorar. Os Escuros estão atrás de você. Porque iriam querê-la?

Kellan olhou para o Rei dos Reis e encolheu os ombros. — Quem sabe o que os Escuros querem? No entanto, me sentiria melhor se descobrisse.

— Eu também. Talvez devêssemos colocar Ulrik no radar.

— E se for ele por trás de tudo isso, como acredita, o que vai fazer?

— Sinceramente, não sei e não importa.

— Compreendo seu ódio, mas foi você quem o traiu.

Con parou, com a mandíbula apertada enquanto o olhava. — Traiu a todos nós. Nunca se esqueça disso. Fiz o que era necessário para a sobrevivência dos dragões.

— Vocês eram tão próximos como irmãos. Ele era seu rival como Rei dos Reis e, no entanto, não lutou por esta honra.

— Não vou falar sobre isso. — Respondeu com firmeza. — Há um lugar na ilha de Raasay.8 Direi como chegar, já que não dirigiu antes.

Kellan se afastou antes de golpear Con. Concordou com Con sobre como lidar com a mulher que enganou Ulrik, mas nunca entendeu o ódio de Con por Ulrik. E parecia que nunca o faria.

Quando Kellan chegou ao SUV, Denae já estava no assento traseiro com seu cinto de segurança no lugar. Abriu a porta e entrou do seu lado.

— Suponho que minha ida a outro país com um nome falso está fora de questão. — Disse.

Kellan fechou a porta. — Sim.

— Se todos os Reis Dragões estão em Dreagan, não seria o lugar mais seguro para mim?

— Não com seu pessoal buscando-a. Temos que nos afastar. — Sua cabeça girou e ela cravou os olhos nele, fazendo seu pau pulsar uma vez mais. — Mesmo sendo tão poderosos, a magia Fae pode... dificultar.

— Como? — Perguntou ela.

— Somos fortes em forma humana. E forma de dragão, somos ainda mais fortes. Os Fae escuros podem evitar que nos transformemos em dragão.

Seu nariz enrugou. — Isto soa injusto. O que pode você fazer com os Fae Escuros?

— O mesmo que fazemos com os Fae, que é lutar contra eles. Todos os Fae podem morrer. Não são imortais. Apenas vivem um tempo excepcionalmente longo.

— Como quanto tempo?

— Milênios.

Suas duas sobrancelhas se levantaram. — Oh, só isso? Estava pensando em algo muito mais longo.

Sua ironia quase o fez sorrir. — Se os Fae Escuros se atreverem a pisar em Dreagan, haverá outra guerra. Isto revelaria ao mundo o que somos, assim como iria expor os Fae.

— Não pode Rhi e seu povo ajudar?

— A Luz odeia a Escuridão. Estão lutando constantemente entre si e por isso, em sua maior parte, os humanos não veem muito os Fae.

— E se os encontrarmos?

— A Luz, estes como Rhi, provavelmente já os viu e não soube. São proibidos de terem amantes humanos, mas acontece todo o tempo. Os Escuros, no entanto, gostam de roubar os homens e mulheres por igual.

— O que faz com eles?

— As meninas são suas favoritas. Aterrorizam e torturam, alimentando-se de sua inocência até que não resta nada além de uma concha. Logo as usam para o sexo.

— E os homens? — Perguntou ela com voz suave.

Kellan olhou pela janela para ver Banan e Henry se aproximando. - Os homens são usados para sexo até que suas almas serem exauridas deixando somente uma casca vazia. A única maneira de eles poderem sobreviver depois disto é tendo sexo com os escuros.

- Eles podem ser resgatados?

- Não uma vez que alguém se torna escravo dos escuros eles estão perdidos para sempre.

Denae olhou pela janela observando enquanto Banan e Hanry se dirigiam ao carro. Uma vez que SUV foi ligado Banan os levou rapidamente para fora das docas.

— Porque estão os Fae Escuros atrás de você agora? — Ela perguntou.

Kellan também queria saber.

— Eles nos desprezam por nos os colocamos numa situação que tiveram que assinar um tratado. — Disse Banan.

— Não tem sentido irem atrás de Kellan. — Disse Denae enquanto olhava para frente.

Kellan tinha que concordar com ela. — Apenas há uma razão pela qual me querem. Como Guardião da História, querem algo de nosso passado.

E Kellan tinha uma ideia exata do que era. Se os Escuros conseguissem colocar suas mãos nisto, não tinha certeza se os Reis poderiam salvar os humanos, muito menos a si mesmos.

— Rhys se reunirá conosco mais tarde para que possa levar você e Denae. — Disse Banan depois de um momento de silencio.

Henry apoiou seu cotovelo entre os assentos. — Não quero saber onde, assim assegurem-se de não mencionar. Enquanto isso, vou entrar em contato com meus superiores e ver se posso impedir os agentes de irem atrás de Denae.

Tudo soava como um bom plano, mas Kellan sabia com que rapidez os bons planos podiam explodir ao seu redor. Isto aconteceu a menos de uma hora atrás.

Encontrou-se olhando novamente para Denae. Era seu trabalho mantê-la a salvo de ameaças como os Fae Escuros e o MI5. Porque então esperava ter mais tempo com ela?


CAPÍTULO DEZESSEIS


Denae não podia deixar de pensar no que Kellan lhe contou sobre os Fae escuros. A luxuria nos olhos do Fae Escuro enquanto a olhava a fez se arrepiar.

Ela ficou muito perto do mal. A maldade ela reconhecia, mas não compreendia completamente. Até agora.

Em toda sua vida, a única coisa que sentia que precisava se preocupar era com os maus com quem trabalhava para derrubar. Agora descobriu que havia Reis Dragão, Fae de Luz e Fae Escuro.

Ao menos não era a única ali com uma expressão de surpresa. Henry não estava muito melhor e não sabia sobre os Reis Dragão. Mas suspeitava que os homens de Dreagan fossem algo mais que simples humanos. Estava nos olhos avelã de Henry quando olhava para qualquer um deles.

O passeio de quarenta e cinco minutos para encontrar com Rhys foi feito em silencio. A mente de Denae provavelmente estava sofrendo um ataque dos Escuros, porque a única coisa em que conseguia pensar, era em sua irmã.

Porque contou a Kellan sobre Rennee? Ninguém no MI5 sabia nada além de que sua irmã se afogou e seus pais morreram um pouco depois.

O que a fez se abrir com Kellan? Era seu magnetismo viril? Seus olhos irresistíveis? Seu corpo musculoso?

Seus beijos alucinantes?

Não queria confiar nele, mas entrou em uma armadilha por ela. Tirou as balas de seu corpo. Inclusive a protegeu com seu próprio corpo. Como não confiar nele?

Sua vida foi dedicada a encontrar homens maus que perseguiam, estupravam e matavam mulheres. Os escuros e o MI5 estavam atrás dela. Já não fazia parte do MI5, o que significava que teria que lutar por si mesma agora.

Não estava sozinha, pelo menos por agora. Poderia chegar uma hora em que os Reis Dragões iriam cortar os laços com ela e tinha que se preparar para este dia. Até então, ficaria do lado deles e lutaria contra o MI5.

Lutar com os Escuros era outra coisa completamente diferente. Nada a assustava como os Escuros. Ao menos nada em um longo tempo.

— Os Escuros continuarão atrás de mim? — Perguntou.

Kellan virou a cabeça para ela. — Depende se os Escuros e o MI5 continuarem trabalhando juntos.

— Eles me assustam. — Sussurrou ao olhar em seus olhos. Ela se sentia como aquela garota que enterrou sua mãe logo depois de sua irmã e viu seu pai morrer lentamente. Esta garota desesperada estava se aproximando de Kellan para que pudesse estabilizar seu mundo girando fora de controle. — Os Escuros me fazem sentir sozinha e perdida. Não me sentia assim desde que perdi minha família.

Começou a responder quando Banan parou atrás de um Mercedes Classe G branco. Em vez de palavras, Kellan colocou a mão sobre a dela e a apertou antes de saírem.

Henry se limitou a fazer um gesto para Kellan depois que os quatros saíram do SUV. Logo olhou para Denae. — Limparei seu nome de tudo isto.

— Ambos sabemos que minha carreira no MI5 terminou. Estou bem com isso. — O que era uma completa surpresa. Ela dedicou sua vida a eles. — Apenas quero que me deixem sem nenhum problema.

— Então será feito. — Henry disse com um sorriso.

Denae notou que Kellan e Banan trocaram um olhar, mas nada mais. A mão de Kellan apoiou a parte baixa de suas costas enquanto ele a acompanhava até o Mercedes enquanto Banan e Henry iam embora.

Rhys estava apoiado com um ombro no carro, com os braços cruzados sobre o peito. Ele lhe deu um sorriso enquanto se aproximavam. — Prontos para sua próxima aventura?

— Sempre. — Respondeu. Era uma mentira. Normalmente nunca se afastava de nada, mas o único que queria fazer era se aconchegar com uma taça de vinho e fingir que o dia não aconteceu.

O que estava acontecendo com a mulher que não temia nada? Olhou para Kellan. Podia tê-la deixado sangrando na caverna, apesar de sua situação atual, se alegrava que não o fez. Conseguiu ver um dragão.

E beijou Kellan.

Denae tocou os lábios enquanto se lembrava do calor e a paixão, o desejo e a necessidade que queimou intensa com aquele beijo.

Ela sentou-se atrás enquanto Kellan se sentava na frente com Rhys. Exceto que quando Rhys se sentou atrás do volante, não ligou o carro.

Kellan o olhou. — O que foi?

— Sabe que podem nos rastrear.

Denae assumiu que “eles” fossem o MI5.

Kellan passou uma mão pelo cabelo para tirá-lo do rosto. — Ela não pode nadar esta distancia.

— Não estava falando sobre nadar. — Disse Rhys e olhou para Kellan com conhecimento.

Kellan piscou e a olhou sobre o ombro. — Teríamos que esperar escurecer.

— Não necessariamente. Olhe. — Rhys apontou as nuvens escuras que se aproximavam.

Denae olhou de um para o outro, compreendendo um segundo depois. — Quer voar até onde vamos?

— Seria mais rápido. E mais seguro. — Apontou Rhys.

Denae bufou. — Mais seguro para quem? Já posso ver flashes dos raios nestas nuvens. Podem suportar uma explosão, mas eu não.

— Ela tem um ponto. — Disse Kellan. Sua decepção era palpável.

Ela apertou a ponte do nariz com o polegar e o índice. — Olhe. Porque um de vocês não voa e o outro dirige?

— Porque não vou deixá-la. — Disse Kellan. Fez uma pausa durante meio segundo e seu coração perdeu uma batida. Logo disse com firmeza. — Não sei dirigir.

— Eu sei. — Ela afirmou.

Rhys começou a assentir com a cabeça. — Gosto disso. Posso entrar e olhar antes que os dois cheguem. Também avistaria algo do céu.

— Certo. — Disse Denae.

— Não, não está. — Os olhos verdes claros de Kellan ficaram estreitos.

O sorriso de Rhys aumentou enquanto dizia. — Sabe que é o melhor.

Kellan olhou adiante sem uma palavra. Rhys riu e saiu do carro. A porta do passageiro foi aberta por Rhys, que esperou a que ela saísse antes que a fechasse.

— Aonde vamos?

A ilha de Raasay. Ao oeste de Skye. O trem leva a ilha. Eu estarei acima observando.

Denae olhou para o céu. — Suponho que ficará fora de vista.

— Claro.

Rhys tirou a camisa e os sapatos, lançou-os na parte de trás do Mercedes. Quando alcançou a cintura da calça, Denae rapidamente entrou no assento do motorista e o ajustou.

Tão logo como a porta traseira fechou, Kellan disse. — Podemos ir agora.

Denae apertou o botão do motor e este rugiu à vida. Foi para a estrada e começou a dirigir. Desde que conheceu Kellan, esteve sozinha com ele poucas vezes. Agora, tinha horas com ele.

Ela o olhou e viu uma mão em sua coxa e seu olhar no céu. — Prefere voar que ficar aqui, não é?

— Sim.

Denae ficou um pouco surpresa por ter respondido honestamente. — Rhys podia ter dirigido, sabe?

— Dei minha palavra de que a manteria a salvo.

— Eu estarei de um ponto de vista diferente. — Pelo canto do olho viu que a olhava fixamente.

— Logo irei aos céus.

— Quando foi a última vez que voou?

Seu suspiro foi longo. — Há quase três séculos.

Denae ficou tão surpresa que desviou o caminho enquanto olhava. Ela consertou o carro e piscou. — Está brincando?

— Não.

Dirigiu por quase três quilômetros enquanto esperava que ele explicasse. Quando não o fez, perguntou. — Pode me dizer o que fez por tanto tempo?

— Eu estava dormindo.

Realmente precisava deixar de se surpreender com tudo o que saía de sua boca. Havia seres sobrenaturais na Terra, compartilhando seu mundo com os humanos. Quem sabe por que tipos de código viviam ou mesmo como viviam?

— Devia estar muito cansado. — Era sua imaginação ou havia um fantasma de sorriso em seus lábios?

Kellan se moveu no assento. — Quando se é imortal, o tempo se estende sem cessar diante de você. Às vezes nos cansamos de tudo, mas temos responsabilidades como Reis Dragão. Ou ficamos acordados e passamos todos os dias ou dormimos.

— Em forma de dragão, imagino?

— Claro. É nossa forma natural.

Ela sorriu suavemente. — Assim, dormiu trezentos anos. O que te enviou à montanha?

— O humano que matei, porque mesmo depois que o fiz, ainda tinha que proteger os humanos.

Ele afastou os olhos, mas ela continuou dirigindo. Sabia que não gostava de sua raça, mas sua voz estava cheia de ódio.

— Não foi apenas o mortal. Eu me cansei deles e seus costumes. Nunca deixaria de odiá-los pelo que fizeram aos meus dragões. Era esperado que defendesse os mortais e, no entanto, eu queria expurga-los deste reino.

Ela ficou em silêncio, absorvendo tudo.

— Era direito de Con acabar com minha vida depois que matei o humano. Optou por não fazê-lo e escolhi dormir ao invés de olhar para outro humano.

— E logo aparecemos Matt e eu. — Disse e o olhou. — Não posso imaginar o que é perder os dragões, mas sinto por sua perda. Acho que não o culparia se houvesse me deixado morrer em sua caverna.

— Sinceramente não sei por que não o fiz. Talvez fosse a forma como lutou contra Matt.

O limpador de para-brisas começou a se mover quando uma chuva fina começou a cair sobre eles. Denae sabia que não deveria entrar no passado de Kellan, mas sentia curiosidade.

Ela lambeu os lábios, de repente nervosa. — Mencionou antes que é o Guardião da História. O que isso quer dizer?

— Cuidava do registro da história dos dragões. — Disse e golpeou a janela a seu lado enquanto a chuva corria. — Anotava cada nascimento, cada morte, cada desacordo, cada batalha. Passa por minha mente, permitindo-me escrever detalhes sem presenciar nada. Os números de cada clã de dragões. Alguns eventos dos quais fiz parte. Como quando descobrimos que a mulher de Ulrik o traiu e a caçamos.

Denae apertou o volante com mais força. Passou por alto aquela parte antes, mas ouviria tudo agora? — Era importante?

— Todos nós somos, a nossa maneira. Ulrik não era menos importante que eu. Poderia ter sido eu o traído por uma fêmea humana.

— O que aconteceu? — Perguntou ela.

— Ninguém nunca falou com ela, assim só quem sabe toda a história é Ulrik.

Denae ligou a seta e seguiu as indicações para o oeste até Skye. — Pensei que gravasse a história.

— Não vidas cotidianas. São os acontecimentos importantes que vem para mim.

— Alguém perguntou a Ulrik sobre sua mulher?

— Isso seria difícil. Quando soubemos da traição, Con nos reuniu para localizá-la e matá-la.

— O que? — Grunhiu Denae. — Matou-a sem lhe perguntar se as acusações eram verdadeiras ou mesmo ouvir seu lado da historia?

Kellan inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. — Vimos seu encontro com um grupo de caçadores de dragão e dando a localização de um pequeno clã de dragões rosados que viviam no desfiladeiro perto. Estes dragões não eram maiores que águias. Teriam sido assassinados.

— Alegro-me de que os tenham impedido, mas porque matar a mulher? E Ulrik estava com você?

Um músculo na mandíbula de Kellan ficou tenso. — Con enviou Ulrik para longe.

— Isso não foi nobre.

— Con e Ulrik eram tão próximos como irmãos. — Disse Kellan e logo abriu os olhos. — Estava tentando proteger Ulrik.

— E como resultou isto?

— Quando Ulrik voltou e encontrou sua mulher, ele... ele ficou furioso. Nada do que dizíamos poderia acalmá-lo. Con finalmente lhe disse o que aconteceu. Nunca me esquecerei do olhar de traição que brilhou nos olhos de Ulrik.

O coração de Denae pulsava com força enquanto esperava para ouvir o resta da história. — O que aconteceu?

— Não tenho certeza se Ulrik estava mais irritado conosco, porque matamos sua mulher ou com os humanos que se voltaram contra ele. Ao final, acho que não importava. Foi atrás dos humanos, limpando aldeias inteiras com seus dragões de Prata.

— Isto foi o que iniciou a guerra?

— Foi um ponto inflexível. — Disse Kellan. Esfregou a nunca e olhou pela janela. — Às vezes eu sinto como se tivesse acabado de acontecer, que ainda estou no meio dessa guerra.

Denae parou a Mercedes quando chegaram a uma interseção. Uma vez que continuou, olhou para Kellan. — Quanto durou a guerra?

— Muito. Os humanos começaram a matar dragões e os dragões começaram a matar humanos. Como Reis, tínhamos que manter a paz. Nem sempre funcionava.

— Foi como morreram seus dragões?

Sua voz estava rouca de emoção quando respondeu. — Sim.

— Sinto muito. O que aconteceu com Ulrik?

Kellan limpou a garganta. — Ele não ouviu ninguém, nem sequer Con. Con não teve outra opção que tirar a magia de Ulrik.

— Con pode fazer isto com vocês?

— Apenas com outros Reis usando sua magia. Ulrik permanece imortal, mas a conexão com seus Pratas terminou. Já não pode se comunicar com eles, nem com nenhum dragão.

Ela franziu o cenho, cheia de confusão. — Era um de vocês. Sofreu uma traição de ambos os lados e apenas pensaram em tirar sua magia e mantê-lo longe de seus Prateados? Isso foi estúpido.

— Como Reis estávamos divididos. Concordei com Con, porque não via outra forma. Outros tentaram falar com Con sobre isso e eu mesmo fui ver Ulrik novamente. Agora, quando vejo onde nos levou a guerra, também acho que Con deveria ter lidado com tudo de forma diferente.

— Onde está Ulrik?

— Em Perth. Ele tem uma loja de antiguidades e se move ao redor de cada poucas décadas para que as pessoas não notem que não envelhece.

— Falou com ele depois que o despojaram de sua magia?

Kellan ficou calado durante vários minutos. — Não, mas fui vê-lo. Estava mal. Sem ele para direcioná-los, os Prateados atacaram todos os humanos. Tivemos que rodeá-los e enviá-los para longe com os outros dragões. Capturamos alguns dos maiores e os mantemos enjaulados na montanha. Nossa magia os mantém dormindo.

— Sinto muito por Ulrik. Perdeu sua família, seus amigos e seus dragões.

— Con pode ser um bastardo de sangue frio.

Denae guardou esta informação. Se descobriu alguma coisa com a história de Kellan era que Con faria qualquer coisa para proteger a paz, sem importar quem tivesse que sofrer.


CAPÍTULO DEZESSETE


Em algum lugar na Escócia...

Ele fervia. O plano era perfeito. Como os Reis Dragões descobriram a armadilha? Deveria ser uma captura impecável de Kellan com a fêmea de isca.

Ainda que não tivesse tanta certeza de que os Escuros iriam permitir o MI5 levar a mulher. Ela era uma coisa bonita. Quase se arrependeu de colocá-la na frente dessa missão, mas a beleza era fugaz e havia uma dezena de fêmeas bonitas.

Seu plano foi colocado em movimento mil anos antes. Estava disposto como um jogo de xadrez, com ele controlando tudo.

Para sua amarga decepção, seu plano precisou de cuidadosos arranjos e um milênio de preparação. Logo teve que entender a modernização dos mortais e os avanços tecnológicos.

Se houvesse conseguido, sua vingança teria acontecido antes dos dragões serem enviados para outro reino. Em troca, esteve... Incapacitado.

Mas, não mais.

Ele retornou a autoestrada nove em direção a Perth. Os Escuros queriam retribuição contra os Reis pelas guerras Fae. Ele queria sua própria vingança. Raramente um de seus planos dava errado, exceto quando os Reis estavam envolvidos.

Em Londres um ano antes, queria ver até onde iam. Para sua surpresa, um dos Reis encontrou uma companheira. Passaram-se... Milênios desde que algo tão notável aconteceu com o grupo.

Deu-lhe uma pausa, mas apenas por um tempo. Logo, ficaria evidente até que ponto os Reis iriam por suas companheiras. O que seria a queda deles.

Dirigiu-se a Perth e parou em um estacionamento ao lado da Rua dos Reis. Milênios depois de milênios se passaram enquanto planejava sua vingança.

Entretanto sua rede de influências foi construída de geração a geração. Estava tão enraizado em algumas famílias que fariam o que lhes pedisse.

Infiltrar-se no MI5 foi muito fácil.

Entretanto sua rede de influencia não se limitava apenas ao Reino Unido estendia-se pelo mundo inteiro

Tinha muitos nomes, muitas caras. Ninguém sabia que era ele quem controlava as coisas. E ninguém vivo se atrevia a rejeitar uma ordem sua... Ou não a cumprir.

O plano para derrotar os Reis Dragões fora meticuloso, até o ponto de formar uma aliança com os Escuros.

Os Reis nunca iriam ver chegar.

Riu e procurou seu celular para marcar um número. Tocou uma vez antes que um homem atendesse.

— Então? — Perguntou.

— Foi como disse, senhor. — Respondeu o homem com sotaque britânico. — Levaram Denae para longe do cais rapidamente e entraram em outro carro.

Ah, mas os Reis eram previsíveis, mesmo depois de todos estes milenios. Deveriam proteger os humanos e isso era exatamente o que estavam fazendo.

Onde eles a estão levando?

Houve uma breve pausa antes de o homem dizer. — Um mercenário está na rota oeste, senhor.

— Oeste? Está de olho neles?

— Sim, tanto em terra como no ar.

Ele sorriu. — Bom muito bom.

— Quando atacamos? O MI5 está ansioso para recupera Denae e descobrir como foi torturada e o que aqueles em Dreagan fizeram com Matt.

— Não fará nada. — Ordenou com dureza. — Entendeu? Ficará quieto.

— Sim, senhor.

— Ligue quando chegarem ao seu destino. Entendeu?

— Claro senhor.

Desligou o telefone. Não seria o MI5 quem faria à humana e ao Rei Dragão uma visita.


***

Kellan não acreditava que chegariam a Raasay. Tiveram que esperar mais de uma hora pelo trem e logo mais uma hora dentro dele.

Uma vez em Raasay, Kellan levou Denae ao norte em uma das terras que os Reis reivindicaram como suas há dois mil anos atrás. Kellan a encontrou. Sabia então que poderiam precisar de lugares fora de Dreagan.

Con concordou e imediatamente os Reis estabeleceram lugares ao redor do mundo.

A última vez que Kellan foi a Raasay, não era mais que uma pequena cabana. Lembrou-se uma vez mais de quanto tempo ficou dormindo e o tempo que perdeu com seus irmãos.

Tudo por causa de seu ódio.

Ele olhou para Denae enquanto ela dirigia pela estrada de terra estreita com o bosque denso de ambos os lados. Kellan adorava o litoral de Raasay, mas sempre era importante ter um bom ponto de observação, assim escolheu o terreno nas montanhas.

— Quanto ainda falta? — Perguntou.

— Não tenho certeza. Passou-se muito tempo desde que estive aqui.

— O que te trouxe à ilha?

— Sempre fiquei aqui para explorar Skye e as outras ilhas.

O SUV balançou violentamente enquanto rodava sobre uma grande pedra que sobressaía na estrada. Denae estremeceu. — Desculpe. Não vi. Estava muito ocupada te olhando.

— Você sempre diz o que pensa.

— Normalmente não, mas aprendi que a única maneira de descobrir algo de você é dizendo a verdade.

— Foi uma declaração, não uma pergunta.

Ela encolheu os ombros e lhe lançou um olhar com seus olhos cor de uísque. — Isso te incomoda?

Curiosamente não, estava acostumado a que os mortais sentissem medo dele, ainda que não soubessem quem era, no entanto, Denae também era diferente neste aspecto. Pensando bem... gostava. — Não tem medo de mim, verdade?

— Tenho respeito por você. — Declarou. — Medo. Reservo para os Fae Escuros. Aquilo são coisas de pesadelos. Mas, mudando de assunto. De volta às visitas a Skye. Porque ali?

Kellan apontou uma placa que dizia Propriedade Privada com um pequeno dragão no canto inferior direito. — Vá por ali.

— Tem certeza?

— Há um dragão na placa, claro que tenho certeza.

Virou e logo levou o carro para uma parada em um portão fechado. Kellan saiu e caminhou para o portão. A fechadura não era humana. Não havia chave ou números. Era uma fechadura que não podia ser destruída.

A única forma de abri-la era ser um Rei Dragão.

Kellan colocou a mão na fechadura. Tão logo recebeu sua magia, fez um clic e o portão se abriu.

Quando voltou ao Mercedes, Denae o olhava fixamente. Fez um gesto para que continuasse. Ela o fez depois de hesitar alguns minutos.

— Ouviu falar alguma vez do Livro de Kell? — Ele perguntou enquanto desciam pelo caminho sinuoso.

— Claro. Não acho que alguém não tenha ouvido. Porquê? — Seus olhos se abriram e seus lábios se separaram repentinamente. Kell? Como Kellan?

Sua expressão de espanto levantou os lábios dele em um sorriso que rapidamente escondeu. Não estava preparado para que ela soubesse o quão profundamente o afetava, não quando não o fez tudo por si mesmo. Se apenas o desejo não complicasse as coisas, poderia resolvê-lo. — Sou eu.

Ela riu música soando em seus ouvidos. — Soa tão humilde. O Livro de Kell é uma parte importante da história. Isto é incrível. Você pediu que o chamassem assim?

— Não. — Disse ele, ofendido por ela pensar que faria algo assim. — Fizeram por conta própria. Então ainda está por aí?

— Com certeza. Há teorias em disputa sobre sua origem. Muitos dizem que é a Irlanda.

Fez um som de desgosto. — Esta é a influência dos Fae. Sempre tiveram um baluarte na Irlanda, assim como nos na Escócia.

— Tenho que perguntar, o livro contém os evangelhos da Bíblia. Porque isso? Porque não outra coisa?

— Era importante para os humanos. — Ele não se preocupava com o que havia dentro do livro, mas se impressionou com o objetivo dos mortais. Era a razão pela qual os ajudou a começar. Que este livro sobrevivesse por todos estes séculos era algo que nunca esperou.

— E você não acredita?

Pensou naquele momento turbulento no qual os humanos descobriam cada vez mais sobre si mesmos. — Não importa o que faça ou acredite. Os humanos o fizeram.

— Você começou o livro?

Kellan queria acabar com a conversa antes que ela percebesse o quanto amava a escrita e tudo o que a continha, mas não podia fazê-lo desde que apresentou o tema. Maldição queria saber se algumas coisas permaneciam enquanto dormia através do tempo.

— Certo. — Disse de repente. — Não precisa me dizer.

Fechou brevemente os olhos e se perguntou porque achava fácil conversar com Denae. Dormir através do tempo ajudou a diminuir seu ódio? Não. Tinha certeza que não. Havia algo único e excepcional em Denae.

— Sim. — Disse. — Também fiz a maior parte dos desenhos.

Seu sorriso era genuíno quando ela o olhou. — Uau. Simplesmente uau. Porque não continuou?

Kellan avistou uma casa de pedra à frente. Era maior que a cabana que construiu, mas a pedra clara e o telhado cinza coincidiam bem com o lugar ao redor.

Denae parou o carro na parte de trás da casa e desligou o motor. Voltar a Raasay trazia uma tonelada de lembranças que implicavam o Livro de Kell e suas viagens a Iona9 para visitar os monges.

Não tinha certeza se as lembranças eram boas ou ruins. Tampouco sabia muito bem como se sentia por estar tão perto de onde tudo desmoronou para ele. Foi por isso que Con o enviou ali? Estava empurrando-o para ver se a história se repetia?

Kellan olhou para Denae. Quis ficar no carro para ir até Raasay com ela. A revelação foi como um soco em seu estomago. Nunca pensou que iria querer ficar tão perto de um mortal.

Mas não era apenas ficar perto dela que ele queria. Ele a desejava... a ela.

— Eu me cansei. — Respondeu finalmente. — Imaginei que os monges terminariam o livro e as ilustrações.

— Era tão terrível ficar ao redor dos humanos? Eram monges. Quão ruim poderia ser?

Seus olhos tinham uma tristeza que ele sentiu como um soco no estomago. Doía muito que desprezasse sua espécie, porque pensava que também a incluía.

Podia dizer-lhe que estava excluída de seu ponto de vista, mas dar-lhe esta informação seria dar-lhe algo que não queria. No passado não teria se atrevido.

As coisas eram diferentes agora. Tudo por causa de uma linda espiã que saiu da piscina em sua caverna.

Sabia sequer como o manteve amarrando suas vísceras como nós? Sabia quanto queria puxá-la nos braços e devastar sua boca durante horas antes de explorar seu corpo?

Desviou o olhar da dor que se refletia em seus olhos e desejou poder dizer algo para fazê-la sorrir novamente. Em seu lugar, abriu a porta e saiu com Denae fazendo o mesmo. Com ela a seu lado, caminharam pelo lado da casa. Tão logo viu a água no pôr do sol, lembrou-se porque escolheu este lugar.

— Está é a coisa mais linda que já vi. — Disse Denae.

Ele a olhou então, desejando que ela soubesse a verdade. — Os monges não me mantiveram distante. Eu sentia falta dos meus dragões, sentia falta de voar quando queria. Sentia falta de ouvir os rugidos. E responder. Cada vez que olhava um ser humano, via meus Bronzes mortos.

— Cada dia era mais difícil não lutar, gritar... Matar. E logo, o homem estuprou e matou a jovem. Nem sequer parei e pensei. Apenas reagi.

— Acho que teria feito o mesmo. O homem lhe deu sua palavra. Mentiu e matou.

Kellan olhou para o céu. Os dragões se foram. Para sempre. — Não sabe como significa perder algo que se ama.

— Bom, porque vocês Reis não tem um monopólio de pena, dor e ira. Suas palavras estavam cortadas e cheias de irritação.

Deu um passo para ela. — Como se sentiria se sua família fosse embora e a deixassem para trás?

Ela sorriu com ironia, a fria sensação explodiu contra ele como o punho em sua mandíbula. — Ouve-me alguma vez? Ou é apenas ruído de fundo que ouve quando falo?

— Não sei por que está na defensiva.

Estava tentando acalmá-la, mas suas palavras pareceram deixá-la em seu lugar. Seu queixo se levantou e seus ombros se endireitaram, como fez antes quando estava lutando com Matt em sua caverna.

— Não sabe... — Ela se calou e franziu os lábios. — Minha família está morta, idiota. Sou tudo o que resta.

Kellan não podia acreditar que se esqueceu deste fato, mas ainda não estava à altura de perder seus dragões. Podia ser o mesmo se toda a raça humana desaparecesse, deixando apenas ela, mas não achava que mencionar isso, seria bom agora.

— Denae. — Disse ele.

Balançou a cabeça e girou sobre os calcanhares e voltou ao carro. — Nem sequer tente.

Olhou o pôr do sol e soube que a paz que Denae queria teria que esperar. Kellan alargou os passos para alcançá-la.

Ela mudou de rumo e se dirigiu para a porta traseira, mas tinha a mesma fechadura do portão. Ele a rodeou e abriu.

— Denae.

Sem olhar, ela passou diante dele e entrou na casa. A ira se elevou dentro dele. Prometeu protegê-la, até mesmo usou sua magia de dragão para tirar as balas dela. Como pagava? Ficando irritada quando tentou explicar seu amor pelos dragões e que sentia falta deles. Compartilhou com ela o que não falou com ninguém. Apenas com ela.

Kellan sabia que deveria ir para o outro lado da casa. Em troca, a seguiu pela escada e entrou em um dos quartos.

Ela alcançou a porta quando passou, mas ele a segurou antes que pudesse bater em seu rosto.

— O que... — Começou quando se virou para encontrá-lo ali.

Kellan a agarrou pelos ombros e a empurrou contra a parede. O desejo subiu como a maré. Envolveu-o e consumiu.

Todas as emoções cruas, as quais não sabia como lidar se converteram em uma cega e deslumbrante chama de anseio. E concentrava-se em uma única mulher.

Tão logo seus lábios se separaram, ele soube que estava perdido. Ele tomou sua boca em um beijo brutal, desenfreado, cheio de necessidade ardente e desejo sedutor.


CAPÍTULO DEZOITO


Denae queria afastá-lo. Queria girar a cabeça. Mas não podia. Porque estava recebendo o que desejou desde o primeiro momento em que colocou os olhos em Kellan... E ele entrou em sua cabeça.

Seu corpo se derreteu contra o dele, seus lábios se separaram ansiosamente para seu beijo. Seu duro corpo a prendeu contra a parede enquanto ele aprofundava o beijo.

Estava febril, frenético. Ele lhe roubava o folego e ao mesmo tempo em que seu beijo a despertava e cativava. Denae afundou os dedos em seus ombros para permanecer de pé.

Seu mundo estava girando fora de controle e no centro estava Kellan, firme e sólido.

Nunca um beijo foi uma sedução tão doce, uma persuasão tão tentadora... Uma tentação tão atraente. Toda esta potente virilidade de Kellan caiu sobre ela. Não era rival para sua potência dominante, seu toque magistral.

Seu peito se levantou quando ele ergueu a cabeça e seu olhar concentrou-se nela. Seus olhos verdes claros já não eram frios e carentes de emoção. Queimavam de desejo, queimavam-na com intensidade da necessidade que ele a deixava ver.

Arrepios percorriam sua pele, mas não a assustava. Apenas aumentava sua paixão.

Ele a confundia todo o tempo. Ele a fazia ansiar por seu toque, ansiar por seus beijos. Fazia com que sentisse dor por algo que não atrevia a mencionar, algo que pensava que nunca poderia ser seu.

Denae não podia afastar as mãos dele. Ela traçou a linha dura de sua mandíbula e o queixo quadrado. E finalmente, cedeu a necessidade e deslizou os dedos entre seu cabelo longo de cor caramelo.

Não havia palavras entre eles.

Não era necessário.

Podia sentir tudo, sentir... e compartilhar.

Ela instintivamente sabia que a chama da atração, do anseio inegável entre eles era raro e especial. O que lhes prendia era maravilhoso e espantoso.

Seu estomago estremeceu em antecipação quando o olhar caiu em sua boca. Mas não a beijou novamente. Em seu lugar, passou os dedos pelo ombro nu a blusa de gola aberta caía.

Sua caricia era terna e possessiva, suave e sensual. Seus olhos se fecharam quando a mão viajou pelo peito e logo entre os seios até a cintura.

Um gemido saiu dela quando os lábios encontraram seu pescoço. Denae girou a cabeça de lado para dar-lhe acesso. Enquanto seus lábios trabalhavam sua magia, suas mãos seguravam seus pulsos e os levantou sobre sua cabeça.

Suas pálpebras se levantaram e respirou o cheiro dele, uma embriagante combinação de especiarias, chuva e perigo. Ele segurou seus pulsos enquanto levantava a cabeça e apertava de leve.

Então, lentamente passou as mãos por seus braços até a barra da camisa grande, mas ela manteve os braços para cima, esperando impaciente.

Não tirou a camisa. Este não era o estilo de Kellan. Deslizou as mãos por baixo da barra e as apoiou em ambos os lados da cintura na parte superior de sua camisa. Como era grande ficou presa nos pulsos e ele passou as mãos pelos lados.

Denae engoliu um suspiro quando ele parou para esfregar os polegares na parte de baixo dos seios. Um leve sorriso brincou em seus lábios, mas foi o escurecimento em seus olhos que deixou seus joelhos fracos.

Ele continuou para cima, as mãos deslizando sobre os seios em um movimento frustrante e lento. Denae mordeu o lábio e gemeu quando passou sobre seus mamilos.

Ficaram instantaneamente duros, os seios inchandos e doendo por mais de seu toque. Ele persistiu no movimento lento de levantar sua camisa até que as mãos chegaram aos ombros, movendo os braços levantados e passando as mãos.

A camisa foi abandonada em uma cadeira próxima. E o olhar dele desceu aos seus seios, onde podia ver o contorno dos mamilos túrgidos.

Abaixou os braços e agarrou a parede com as mãos enquanto movia um dedo ao redor dos mamilos, mas nunca o tocava, brincando sem piedade.

Sua respiração era áspera, mesmo a seus próprios ouvidos. Ela estava se convertendo rapidamente em uma poça de necessidade e nem sequer chegou a tocá-lo como ela ansiava fazer.

Com isso em mente, Denae agarrou a barra da camisa dele. Os olhos de Kellan se enrugaram nos cantos como se a desafiasse. Ela colocou as duas mãos sobre a quente pele de sua cintura. Havia aço sob as pontas dos dedos e ela queria olhar para ele.

Denae não foi tão lenta ao tirar sua camisa. Empurrou-a até seus ombros e logo sobre sua cabeça o mais rápido que pode. Sua camisa permaneceu em sua mão enquanto deixava que seu olhar vagasse por seu peito e a impressionante e única tatuagem de dragão que ela encontrou.

Ela distraidamente jogou de lado sua camisa enquanto o olhava. Ele a observava atentamente, esperando para ver o que faria.

Apenas havia uma coisa a fazer. Estendeu a mão direita e a colocou sobre seu coração, sobre a cabeça do grande dragão, onde sua boca estava aberta como se estivesse rugindo.

Sua outra mão tocou o músculo duro de seu peito enquanto a mão direita contornava a tinta negra e vermelha sobre a tatuagem. Ela franziu o cenho enquanto jurava que a imagem se moveu sob sua mão.

Denae tocou toda a tatuagem. Estava mais do lado esquerdo, com apenas a metade do corpo do dragão visível no abdômen de Kellan. A outra metade estava do outro lado de Kellan.

No entanto, as asas do dragão eram assombrosas. Estavam abertas, cobrindo todo o lado direito do peito e a outra se estendendo sobre seu braço esquerdo para que quando os braços estivessem dos lados, aparecesse uma imagem perfeita.

Nunca viu algo tão chamativo, tão assombroso antes. Denae estava dividida entre observar mais a tatuagem e observá-lo mais. Não demorou muito a escolher.

Enquanto suas mãos o acariciavam, podia sentir cada estremecimento, cada movimento que passava por seus músculos. Justo quando alcançou o botão da calça jeans, a beijou uma e outra vez, até que mal pode ficar de pé.

Apenas então se ajoelhou diante dela e tirou seus tênis e meias. Não podia tirar os olhos dele. Nenhum homem, mortal ou imortal, cuidou dela, assim como Kellan.

Afastou uma mecha de cabelo que caia sobre seus olhos. Um sorriso apareceu em seus lábios quando deixou de lado os tênis e as meias antes de olhá-la. O fogo em seus olhos não diminuiu. Sob seu olhar, se sentia linda e... Querida.

Não foi até este momento que ela soube que antes estava buscando um olhar como este nos olhos dos homens. Sempre saiu sentindo-se um pouco decepcionada. Mas não agora, não com Kellan.

Seu folego ficou preso no peito quando os dedos deslizaram entre a calça e sua pele. Com seus olhares fixos e as chamas do desejo crescendo com cada batida do coração, pouco a pouco puxou sua calça de yoga pelas pernas até que ficaram a seus pés. Agarrou uma perna e tirou a calça, que se juntaram as camisas na cadeira.

Quando se endireitou, ela levantou-se nas pontas dos pés e o beijou. Seus braços eram como aço quando a rodeou, apertando-a contra ele.

Sua excitação se pressionou contra seu estomago, fazendo o desejo formar uma piscina entre suas pernas. Uma urgência a encheu, um desejo de tê-lo dentro dela neste instante.

Mas Kellan a impediu.

Ela afastou-se de sua boca e ficou sem folego enquanto se apoiava contra a parede. Quando abriu os olhos, de alguma forma ele estava sem as botas sem que ela percebesse que as tirou.

As mãos de Denae tremeram quando ela agarrou novamente a cintura de sua calça. Desta vez, não a impediu quando a desabotoou. Empurrou os lados e vislumbrou seu pau. De alguma forma não lhe surpreendeu que não usasse nada por baixo da calça. Ela achou sexy, excitante enquanto empurrava sua calça para baixo.

Logo estava completamente nu enquanto ela vestia a calcinha e sutiã. Estendeu a mão e puxou a trança para se soltar. Com o mesmo cuidado de quando tirou sua roupa, soltou seu cabelo até que ficou sobre os ombros.

Com o coração acelerado no peito, sua mão deslizou ao redor de seu pescoço e a puxou para outro beijo ardente.

Já não estava tão paciente e tranquilo. Seu sutiã foi rapidamente removido, o beijo interrompido apenas para jogá-lo de lado.

Quanto mais se beijavam, mais feroz ficava a paixão. Ele dobrou as pernas e a abraçou enquanto a levantava e os levava para a cama.

Ela esperava que a jogasse ali. Deveria saber que não. Ele a desceu suavemente sobre a cama, sem terminar o beijo.

Kellan não se lembrava de ser tão consumido por uma mulher. Não podia ter o suficiente dos deliciosos lábios de Denae, seu doce sabor e com certeza suas respostas apaixonadas.

Ela era todo fogo e suavidade em seus braços. Suas curvas femininas eram agradáveis, como os músculos tonificados que podia sentir sob sua sedosa pele.

Ele balançou os quadris contra os dela e gemeu ante a sensação deliciosa. Seu corpo exigia alivio imediato, mas queria ter seu tempo com Denae e saboreá-la. Não tinha certeza do porquê, nem queria se aprofundar nisso e descobrir.

Suas unhas curtas se cravaram em suas costas enquanto ela abria as pernas para que tocasse seu núcleo. Kellan podia sentir seu calor e umidade através da calcinha fina.

Necessidade, desejo... fome explodiu contra ele. Cavalgou-o forte, incentivando-o a rasgar sua calcinha e enchê-la uma e outra vez até que ela gritasse em êxtase.

Ele colocou uma mão no lençol e lutou para controlar a insistente necessidade. Mas se passou muito tempo desde que sentiu o núcleo de uma mulher ao seu redor, sentiu seu calor escorregadio.

Kellan terminou o beijo e se levantou sobre suas mãos, os braços se endireitaram até que ficou sobre ela. Ela piscou para ele, os olhos quase fechados e os lábios inchados por seus beijos.

Ele olhou para seu corpo para ver os seios firmes e perfeitos, os mamilos com as pontas rosadas. Era demais para resistir.

Inclinando-se sobre os braços, passou a língua sobre uma ponta dura e ouviu Denae gemer. Acomodou-se entre suas pernas e chupou um mamilo enquanto apertava o outro entre os dedos.

Seus quadris se esfregaram contra ele ao mesmo tempo que a chupava, fazendo o suor brilhar em sua pele enquanto lutava contra seus desejos.

Moveu-se de um seio a outro, brincando, acariciando e lambendo cada mamilo até que leves gritos saíram dos lábios de Denae.

Kellan beijou o vale entre seus seios e desceu pelo estômago até os quadris. Ele levantou os olhos e a prendeu em seu olhar enquanto segurava sua calcinha nas mãos.

Ajoelhou-se no chão e lentamente puxou o fino algodão sobre seus quadris até que viu os pelos escuros. Sua testa se franziu ao notar que os pelos não apenas estavam aparados, mas em apenas uma tira estreita.

Tal coisa não existia na última vez que tomou uma fêmea e achou a vista... Emocionante e excitante. Enquanto puxava a calcinha pelas coxas, sentiu o cheiro de sua excitação, fazendo seu já doloroso pau saltar em expectativa.

Kellan tirou a calcinha e passou as mãos pelas pernas bem torneadas, abrindo-as. Logo a empurrou suavemente até a beirada da cama para que seu sexo, que brilhava de desejo, estivesse perto de sua boca.

Ele se aproximou e a lambeu, causando um gemido baixo e enchendo o quarto com ele. Este sabor não seria o suficiente. Conhecia o sabor de seus beijos. Agora queria conhecer o sabor de sua essência.

Passando os polegares em uma caricia leve na união das coxas, ele encontrou seu clitóris e começou a rodar lentamente a língua ao redor dele.

Os quadris de Denae moveram-se contra ele, seus gritos suaves se converteram em gritos de prazer enquanto lambia seu clitóris inchado. Quando começou a se contorcer na cama e sua cabeça se virava de lado a lado, deslizou um dedo dentro dela.

Ela gozou com um grito.


CAPÍTULO DEZENOVE


Denae estava navegando, flutuando, subindo em uma nuvem de felicidade incomparável.

Um arrebatamento radiante e luminoso.

Uma euforia brilhante e reluzente se apoderou dela.

O êxtase incandescente e cadente a excitava.

Com seu corpo ainda na agonia de seu clímax, sentiu Kellan se levantar sobre ela. Ela o alcançou, precisando sentir seu peso sobre ela.

Tão logo suas mãos encontraram sua pele, abriu os olhos. Seu rosto estava perto do dela, rígido com uma necessidade crua e visceral. Ela puxou-o e ofegou quando seu pau roçou a carne inchada e sensível.

Sua mandíbula se apertou quando a grossa ponta de sua excitação encontrou sua entrada. Denae arqueou as costas enquanto ele deslizava lentamente dentro dela, enchendo-a, esticando-a. Mordeu o lábio inferior quando ele saiu, apenas para mergulhar dentro dela uma vez mais, mais duro, mais profundo.

Ela logo se moveu contra ele, seus corpos movendo-se juntos em uma dança tão antiga quanto o tempo. O suor brilhava sobre sua pele à medida que aumentava o ritmo.

Denae não o soltou. Ela estava descendo em um abismo de desejo que sabia que a mudaria para sempre. No meio desta tempestade estava Kellan.

Era tudo o que mantinha firme, tudo o que a mantinha ancorada.

E ela não queria soltá-lo, tão insegura e instável que estava.

A dor familiar tocou seu estomago, deixando-a tensa, estreitando-se enquanto a paixão aumentava com cada estocada de seus quadris, cada movimento do seu eixo.

Suas pernas a rodearam. Uma de suas mãos deslizou por baixo de seu traseiro e seus quadris se inclinaram mais para cima. Tão logo o fez, entrou nela, enchendo-a mais profundo que antes.

Denae gritou pela deliciosa sensação dele dentro dela, como se finalmente estivesse completa, finalmente inteira. Seus olhares se estreitaram, ficaram fixos enquanto seus quadris bombeavam de forma selvagem e implacável.

E logo a beijou.

Ela lhe rodeou o pescoço com os braços enquanto seu inquebrantável corpo a enchia uma e outra vez, cada golpe a levava cada vez mais perto de outro clímax.

Como se sabendo que estava perto, Kellan terminou o beijo e a olhou. Denae foi incapaz de afastar o olhar, mesmo enquanto seu corpo se endurecia e o orgasmo começava.

Ela gritou seu nome, cravando as unhas em sua carne quando foi levada para cima, flutuando mais que antes.

Kellan ficou cativo enquanto via o prazer nos olhos e rosto dela, sentia seu corpo apertando seu pau. Não segurou seu próprio clímax, não depois de ver e sentir o orgasmo dela por duas vezes.

Não podia afastar os olhos dos olhos cor de uísque. Estava preso, preso no olhar sedutor. E gostou muito.

Com seus quadris bombeando rapidamente, cedeu ao orgasmo, unindo-se a Denae enquanto sua semente a enchia. A atração que tentou negar, a necessidade que não podia ignorar se fortaleceu, se aprofundou em um grosso fio que os unia.

Suas respirações estavam ofegantes, seus corpos ainda estremecendo do clímax compartilhado. Com os membros ainda entrelaçados, Kellan saiu dela e rodou de lado. Surpreso ao ver que gostava... e a queria ao seu lado, contra ele.

***

Denae não soube quanto tempo ficou deitada em seu peito flutuando entre este curioso estado de sono e vigília quando sentiu que seu pau ficava duro contra a perna que jogou sobre ele.

Ela sorriu enquanto se inclinava sobre um cotovelo para encontrar seus olhos abertos. Denae se sentou sobre ele, levantando-se sobre os joelhos até que seu sexo ficou sobre sua excitação que se levantava.

A aprovação brilhou nos olhos como porcelana. Denae se apoderou de seu grande pau, amando a suave pele sobre o duro aço. Passou várias vezes sua mão por sua ereção, enquanto seu olhar se escurecia e ardia de desejo.

Ela o segurou e lentamente se deixou cair sobre seu corpo até que tomou sua impressionante ereção. Logo começou a balançar os quadris.

Um gemido baixo e profundo ecoou em seu peito. Nunca antes sentiu tal decadência, tal hedonismo. Estava necessitada, ardendo por ele. Tudo para Kellan.

Suas grandes mãos massagearam seus seios, tocando seus mamilos até que ficaram duros e inchados. Ela girava os quadris, seus movimentos cada vez mais rápido quanto mais aumentava seu desejo.

De repente ele se sentou e envolveu um braço ao redor dela. Passou as mãos pelo grosso tendão de seu peito, ombros, maravilhando-se com seu magnifico físico e o poder que sentia justo sob as palmas.

Ele apoiou as costas dela em seus braços, uma mão no quadril para mantê-la em movimento. Logo apertou os lábios sobre um mamilo e o chupou.

Denae gritou, seu desejo fez seu sangue se aquecer como fogo. Movendo a língua de um lado a outro sobre o pequeno bico, a empurrou mais alto, desafiando-a a segui-lo.

Era impotente para se negar. Seu corpo era um instrumento que ele sabia tocar a perfeição.

Moveu-se para o outro mamilo e mordeu suavemente o bico duro e logo girou a língua ao redor dele. Chegava outro clímax e não importava o que fizesse Denae, se negou a permitir que tentasse impedi-lo.

E então já não importava.

Ela gritou seu nome quando outro orgasmo a tomou.

Tão logo seus tremores pararam se encontrou em seu estômago com Kellan atrás dela. Levantou os quadris e entrou nela com um empurrão suave.

Denae gemeu, afundando os dedos no lençol. Seu pau golpeava fundo. Com o lençol se esfregando contra seu rosto, ela apertou-se contra ele, desejando mais, precisando de mais.

Kellan passou as mãos pelo traseiro perfeitamente formado. Cada vez que a tomava, pensava que seria a última vez. Mas cada vez que a enchia, queria mais.

Ela se via completamente deliciosa com seu traseiro movendo-se contra ele enquanto a empurrava. Seu corpo sensível apenas alimentou sua já voraz necessidade.

Esta necessidade, este anseio devastador de reivindicá-la o assediou. Não houve retenção, nem gentileza enquanto golpeava sem piedade seu sexo apertado. Seus gritos de prazer apenas o empurraram mais até o clímax.

Inclinou a cabeça para trás e gritou enquanto seus dedos se cravavam em seus quadris.

Caíram de lado juntos e ele colocou seu corpo junto ao seu, surpreso por sentir esta satisfação enchendo-o, mas sabia que não permaneceria saciado por muito tempo, não com alguém como Denae em seus braços.

Mesmo enquanto Kellan pensava em se levantar e revisar o perímetro e talvez o céu, ficou deitado de forma que Denae colocou a mão em seu peito e podia sentir seu coração batendo.

***

Denae acordou com Kellan beijando-a nas costas, sua língua e lábios brincando em sua pele, acordando-a com sua boca habilidosa. Sentiu sua ereção pressionar contra suas costas.

Não havia como impedir a quente e úmida onda de antecipação que a enchia. Ele queria mais.

Ele a queria.

Denae esfregou os quadris contra seu pau inchado e gemeu quando uma mão grande segurou seu seio para brincar com os mamilos. Não reconhecia seu corpo, porque já não era seu.

Era de Kellan.

Ela queria seu toque, precisava senti-lo dentro dela. Somente então ela estava completa, apenas então seu mundo tinha sentido.

Denae murmurou seu nome quando levantou sua perna e entrou nela. Enquanto sua excitação empurrava dentro dela, sua mão deslizou pelo ventre até que seus dedos tocaram os pelos curtos. Logo passou o dedo pelo clitóris.

— Goze. — Sussurrou em seu ouvido.

Como se seu corpo estivesse esperando sua ordem, gritou enquanto o clímax a atravessava. Seus quadris deixaram de se mover, mas não os dedos.

Prolongou o orgasmo até que ela lhe implorou para parar.

Kellan não respondeu. Em seu lugar, ele saiu dela e a rodou sobre suas costas para beijá-la de forma selvagem e brutal.

Ele levou-a a alturas que ela não sabia que existiam e queria satisfazê-lo. Denae moveu a mão entre eles e segurou seu pau.

Ele pulou com seu toque, fazendo-a sorrir por dentro. Ela empurrou contra o seu ombro com a mão livre até que ele rodou sobre suas costas.

Denae o seguiu e ajoelhou-se entre suas pernas enquanto bombeava ambas as mãos acima e abaixo pela impressionante ereção. Seu gemido, baixo e longo, foi tudo o que precisou ouvir para estimulá-la a ir adiante.

Ele sentou-se e a beijou antes de dar-lhe um leve empurrão na cabeça. Nunca gostou de chupar um homem, mas não podia esperar para prová-lo.

Kellan fechou os olhos e afundou os dedos em seu sedoso cabelo ao primeiro contato de seus lábios com seu pau. Ela lambeu sua ereção até que chegou a ponta e logo com um movimento da língua, brincou com ele primeiro, o tomando na boca.

Seu gemido encheu o quarto.

Ela deslizou da cama para se ajoelhar frente a ele, suas mãos e boca tocavam de forma experiente. Sua surpreendente boca chupou forte enquanto empurrava sua cabeça para baixo cada vez que chupava. E ela o tomava mais profundo.

Estava esperando a que ela ficasse rígida, se soltasse, mas ela o satisfez com vontade, mesmo quando ele tocou a parte posterior de sua garganta.

Sua boca era demais. Já outro orgasmo estava o atravessando e queria derramar-se dentro dela e reclamar outra parte dela, ver sua semente em seus lábios. Mas ainda havia muito que queria fazer com ela nesta noite.

Kellan tentou sair de sua boca quando sentiu o clímax se precipitar sobre ele, mas seus lábios ficaram implacáveis enquanto o chupava mais forte.

Soltou um grito quando sua semente brotou dele em um clímax forte que o sacudiu até o núcleo.

Denae continuou chupando e lambendo até que ficou seco. Quando levantou o rosto para ele, Kellan se surpreendeu por desejá-la mais uma vez.

Puxou-a novamente para a cama, salvo que manteve distância desta vez. A ferocidade que o enchia por ela era alarmante. Precisou colocar um pouco de espaço entre eles.

Exceto que depois de ter dormido um pouco, sua mão tocou seu braço. Em um instante, ficou duro.

E nunca lhe ocorreu entrar em sua mente para alcançá-la ou ceder ao desejo.

A medida que as horas da noite passavam, uma e outra vez se encontravam. Às vezes começava por ela e outras por ele. Mas sempre cediam ao desejo intenso e incontrolável.

O que fortaleceu a crescente conexão entre eles.


CAPÍTULO VINTE


Rhys voava pelas correntes de ar, desfrutando da alegria de voar, mas mesmo isto não lhe impediu de vigiar Kellan e Denae.

Não se incomodou em entrar na casa e comprová-los depois de chegarem. A atração entre eles era palpável, tangível... Descarada.

O único problema era se Kellan cederia. Rhys não tinha tanta certeza de que seu amigo o fizesse enquanto houvesse um amortecedor entre ele e Denae. Por isso Rhys permaneceu em forma de dragão.

Deu uma volta na área duas vezes, deixando sua aguda visão mover-se pelo solo abaixo procurando o mínimo movimento. Até agora não viu nada além dos habituais animais noturnos rondando.

Havia uma possibilidade de que o MI5 pudesse rastreá-los. Um estremecimento de intranquilidade o atravessou.

Os humanos e os Escuros estavam trabalhando juntos. Se o fizeram uma vez, poderiam fazê-lo novamente. Isto em si mesmo era motivo de grande preocupação. Os Fae da Luz e os Escuros não faziam negócios com os humanos.

Rhys queria rugir sua fúria. A única forma dos Fae e humanos se juntarem seria por que alguém mais os mediava. E apostaria mil anos de voo que a pessoa era a mesma a que Banan e ele quase pegaram em Londres depois que Jane foi sequestrada.

Olhou para o céu. O amanhecer estava chegando. Kellan e Denae tiveram tempo suficiente. Era hora de se moverem, porque Rhys não podia apagar a ideia de que foram encontrados.

***

Kellan não soube o que o acordou. Acordou instantaneamente alerta, com os olhos fechados enquanto ouvia a noite ao seu redor.

Ali.

Isto estava lá.

Silêncio completo fora. Não havia animais, não havia vento, apenas... silêncio.

Seus ouvidos não captaram nenhum ruído dentro da casa, mas isto não significava que a ameaça já não estivesse dentro. Abriu os olhos e virou a cabeça para Denae para encontrá-la olhando-o.

— O que foi? — Perguntou ela.

Fez um gesto para a cadeira onde estavam as roupas. — Apresse-se. — Sussurrou.

Afastou-se da cama sem um ruído e aproximou-se rapidamente de sua roupa. Kellan se incorporou e foi para a janela, com cuidado para não ficar à luz fraca da lua. Um olhar ao exterior não mostrou nada.

Seu olhar se voltou para Denae quando ouviu um movimento suave. Quando o fez, jogou a ele suas roupas. Kellan hesitou em vesti-las.

Se precisasse proteger Denae, a melhor forma era como dragão. Um Rei era mais poderoso em forma de dragão e podia voar se fosse preciso.

Kellan vestiu a calça e olhou para o céu para ver Rhys. O fato de não poder ver seu amigo no céu era preocupante.

A cabeça de Denae voltou-se para a porta. Kellan seguiu seu olhar para ver a fumaça entrando por baixo da porta. Exceto que não era humano. Eram os Escuros.

— Denae! — Gritou, mas já era muito tarde.

Da porta apareceram quatro Escuros e um a pegou, seu grito cortou o ar à medida que desapareciam. Kellan saltou sobre a cama para atacar os outros três Escuros que apareceram, mas apenas quando Kellan começou a se transformar foi que a magia escura o golpeou.

E tudo ficou negro.


CAPÍTULO VINTE E UM


Perth

Tão logo o seu telefone celular tocou, deixou de lado o livro que estava lendo e respondeu. — Sim?

— Terminou senhor. Os dois objetivos foram capturados pelos Escuros como ordenou.

Deixou escapar um longo suspiro. — Ah, finalmente. Alguém mais por lá?

— Não vimos senhor.

Sentou-se na cadeira de braços. — Tolos. Não deixariam Kellan e a humana sozinhos! — Estava tão irritado que não se importou que seu falso sotaque inglês caísse.

— Examinamos a área. Não havia nada...

A conversa foi interrompida pelo som de um grito masculino. Agarrou forte o celular, ouviu o ranger. Não havia necessidade de perguntar ao seu tenente que terminasse o relatório. Foram descuidados e este descuido seria sua morte.

— O que foi? — Ouviu a pergunta abafada de seu tenente a outra pessoa.

Mais gritos soaram através do telefone, cada vez mais perto até que não ouviu mais nada.

Permaneceu no telefone, perguntando se o Rei Dragão o pegaria. E como ele esperava, o Rei o fez. Exceto que não disse nada enquanto desligava.

Seu livro esquecido se levantou e apressou-se em marcar outro número, o qual atendeu imediatamente. — Dê-me um novo número de telefone e se assegure que sejam enviados a todos meus generais.

— Sim, senhor. Agora mesmo. — Respondeu a fêmea com seu pesado sotaque francês.

Saiu do prédio até seu carro estacionado na rua. A casa que comprou em Perth era uma de suas favoritas, mas era perigoso permanecer ali agora. Além disso, tinha centenas de lugares para escolher.

E com Kellan capturado, uma parte integral de seu plano cumpriu-se. A atenção dos Reis se desviaria aos Fae Escuros, deixando-o livre para fazer o que queria.

Com Perth em seu espelho retrovisor, sorriu, antecipando a eventual queda dos Reis Dragão.

Não havia nada que impedisse os Prateados de despertarem e aniquilarem todos os humanos do planeta, consertando um erro cometido há muito, muito tempo.


CAPÍTULO VINTE E DOIS


Rhys parou no meio do bosque, o sangue cobrindo seu corpo nu enquanto os corpos dos agentes sem vida do MI5 cobriam o solo. Não precisava olhar na casa.

Kellan e Denae desapareceram.

Rhys viu os agentes e rapidamente se transformou em humano para pegá-los, mas quando percebeu que os Escuros estavam dentro da casa, era muito tarde.

Precisava alertar Dreagan, mas não podia se mover. Kellan era prisioneiro dos Escuros. Rhys sabia o que significava, sabia que provavelmente nunca veria Kellan novamente.

— Não está tudo perdido. — Disse uma voz feminina atrás dele.

Rhys fechou as mãos. — Não estou com humor para uma visita, Rhi.

— Estava vigiando do céu. Eu estava vigiando daqui. Acordei Kellan e Denae a tempo para que saíssem da casa, mas os Escuros foram mais rápidos.

Rhys girou a cabeça para encontrar Rhi apoiada contra uma árvore, com os braços ao redor dela, parecendo vulnerável e um pouco doente. — Obrigado por tentar.

— Não, não me agradeça. — Afastou-se com uma expressão dura no rosto, fazendo seus olhos prateados quase brilhar com fúria. — Deveriam ter saído. Porque não o fizeram? Eu dei-lhes tempo suficiente.

— Kellan. — Disse Rhys. — Ele não sairia com a possibilidade de que alguém o estaria esperando.

— Ele poderia ter matado os humanos! — Ela fechou os olhos e respirou fundo. Quando seus olhos se abriram, ela estava mais tranquila, mais concentrada. — Tenho que informar Usaeil. Minha Rainha irá querer saber.

— Não pode dizer que nos ajudou. Sabe o que farão. — Advertiu.

Ela encolheu os ombros e deixou seu olhar vagar por sua forma nua. — Ela já sabe que ajudei os Reis, bonito. Não fui repreendida ainda. — Ela piscou um olho, seu sorriso trêmulo e logo desapareceu.

Rhys abriu seu vínculo mental com os outros Reis. — Kellan e Denae foram capturados pelos Escuros. Matei os agentes do MI5 que estavam aqui, mas não foi o suficiente.

— Estamos a caminho. — Respondeu Con.

Em forma de dragão, Con e os outros poderiam chegar ali em meia hora. Era uma meia hora muito longa para Rhys.

— Rhi! — Gritou pela Fae. — Rhi! Rhhhiiii!

— O que? — Se queixou quando apareceu diante dele. — Estava a ponto de ir para minha Rainha quando seus gritos me deixaram surda.

Ele sorriu muito feliz por ela ter voltado. — Ah, assim ainda pode nos ouvir quando a chamamos.

Ela ficou quieta e o olhou com os olhos brilhantes como prata. — Não me empurre bonito.

— Isto não deveria acontecer depois das Guerras Fae.

Rhi encolheu os ombros e cruzou os braços sobre seu peito. — Se isto foi apenas um teste, tenho que ir.

— Espere. — Disse bem depressa, antes que pudesse desaparecer. — Leve-me até os Escuros.

— Está louco? — Perguntou ela, com os olhos muito abertos. Logo balançou a cabeça. — Não importa. Sei que está. Não seja estúpido, Rhys. Não posso levá-lo ali. Coisas ruins acontecem a vocês Reis Dragão quando entram no reino Fae. Por isso nenhum o faz.

— Assim não sabe onde estão?

— Claro que sei. Todos os Fae sabem onde estão os Escuros.

— Onde? — Perguntou ele.

Ela suspirou e deixou cair os braços, sua frustração visível. — Sabe onde.

— Sei que todos os Fae têm afinidade com a Irlanda, mas onde Rhi? Não deixarei Kellan e Denae com estes monstros.

— Nunca entrará. — Disse trêmula. — Saberão que está ali antes de encontrar Kellan.

Rhys deu um passo ameaçador para ela, deixando-a ver a ira que estava escondendo até agora. — Tenho minha própria magia. Ou esqueceu?

— Como poderia? — Perguntou ela ríspida. Logo suspirou e seus ombros caíram. — Poderia lutar contra a Escuridão, mas contra um exército? Em um instante estaria preso junto a Kellan.

— Ao menos ele não estaria sozinho.

— Não estará. Já decidi ir atrás deles.

Rhys piscou completamente desconcertado. — Por quê? É um Rei Dragão e uma humana.

— Devo um favor que nunca paguei.

Seus olhos se arregalaram quando percebeu o que estava falando, mas antes que pudesse mencionar, ela se foi outra vez. Uma vez mais deixando Rhys olhando a casa vazia, uma lembrança de como ele não pode proteger seu amigo e a mortal.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS


A cabeça de Denae se sentia pesada e nebulosa, como se estivesse revivendo a véspera do Ano Novo durante o primeiro ano na Universidade quando ficou bêbada. Este episódio foi o suficiente para se assegurar que nunca voltaria a beber muito.

O que aconteceu?

Ela colocou a mão de cada lado da cabeça para tentar impedir o latejar. Não foi até que rodou sobre suas costas e sua camisa começou a se molhar, foi que abriu os olhos.

Estava escuro, apenas uma pequena luz refletia-se nos azulejos e pedras úmidas, dando a todo o lugar uma sensação misteriosa e sinistra.

O lugar não era reconhecível e Denae começou a temer à medida que se lembrava. O último que se lembrava era de Kellan empurrando-a contra a parede e beijando-a.

Kellan.

Apenas um pensamento e sua noite juntos voltou quase de forma real. Seu corpo ruborizou, sua respiração acelerou ao se lembrar de cada toque, cada beijo, cada caricia.

Ela empurrou para longe sua lembrança de amor para se voltar ao que aconteceu depois. As mãos de Denae caíram de sua cabeça enquanto tudo voltava, despertando-a em silencio, correndo para se vestir e logo os Escuros.

Denae se sentou e estreitou os olhos através da Escuridão. Havia uma forma no chão do lado oposto do lugar. Estava imóvel, uma mancha negra de algo que não podia distinguir.

Mas podia ouvir sua respiração.

Piscando através da escuridão, colocou as mãos no chão e sentiu as pedras frias e úmidas por baixo. Começou a engatinhar até a forma quando um gemido encheu o espaço ao seu redor.

Denae parou bruscamente e levantou a cabeça para tentar ver. Nem sequer podia distinguir de onde vinha o pequeno fragmento de luz que caía na parede e muito menos discernir de quem era o gemido.

O som voltou a soar, mais fraco. A fez estremecer. Adorava filmes de terror, mas depois desta pequena caminhada, iria ter que rever sua escolha de filmes se alguma vez quisesse dormir novamente.

Denae começou a engatinhar uma vez mais. Ignorou a umidade que se filtrava por sua roupa e pele. A necessidade de encontrar Kellan era forte e se duplicou, porque queria se assegurar que ele estivesse bem e porque não queria ficar sozinha com criaturas que não conhecia.

Arrastou-se um pouco mais antes de perceber que a forma era uma pessoa. Denae se moveu mais rápido, rezando para que fosse Kellan ou ao menos alguém que pudesse ajudá-la.

Onde está você Kellan?

Não deveria estar ali para protegê-la? Foi capturado com ela? Ou os Fae Escuros apenas a pegaram? Kellan iria buscá-la? Ou era apenas outro humano para ele?

As perguntas a golpeavam como ondas insistentes rompendo sua confiança em si mesma. Com cada pergunta, com mais força sentia como se nunca a deixariam sair livre de onde quer que esteja.

Denae alcançou a pessoa que estava deitada de lado, de costas para ela. A escuridão lhe impedia de distinguir qualquer traço da forma. Ela apertou o braço, mas nada. Este toque lhe mostrou uma coisa: era um homem.

A esperança a encheu. Também lhe deu a coragem para olhar acima do braço, para o rosto. Suavemente, afastou o longo cabelo que cobria o rosto do homem e viu o suficiente pela luz fraca para saber que era Kellan.

Ela apoiou a cabeça em seu ombro e mordeu o lábio para não chorar. Denae não sabia o quanto estava assustada até este momento. Manteve-se atrás do muro mental para poder manter a calma e esfriar-se sob tal pressão.

Se não tivesse o treinamento do MI5, tinha certeza que estaria em um canto chorando.

Aquela sensação de impotência e vulnerabilidade que a assaltava lhe lembrava muito de quando tentou alcançar em vão sua irmã antes que Renee descesse pelas ondas, para não voltar nunca mais.

Não podia voltar a passar por algo assim. Uma pessoa apenas podia tomar um tanto antes que se rompesse. E ela estava perto deste precipício.

— Kellan. — Sussurrou ela. Queria falar com ele antes que alguém aparecesse, porque sabia que alguém apareceria.

Os Escuros não os seguiram através da Escócia apenas para deixá-los sozinhos.

— Kellan, por favor. — Suplicou enquanto o sacudia.

Denae olhou ao redor, perguntando-se onde estaria a porta. Não sabia se estava sobre o chão, sob o solo ou o que? A única coisa que sabia era que mal podia ver, estava frio, úmido e sentia medo.

Independente do treinamento que recebeu, nada a preparou para ser capturada pelos Fae Escuros.

O som das dobradiças oxidadas que se abriram foi ouvido no desconcertante silencio. Não podia ver nada mais, mas Denae instintivamente sabia que alguém estava ali com ela.

Não tinha que adivinhar quem era, um Escuro. Seus dedos ficaram tensos no braço de Kellan, pedindo-lhe silenciosamente que acordasse e ajudasse.

De repente, o corpo de Kellan sacudiu e ele ficou imediatamente de pé. Denae ouviu o som das correntes sacudindo e capturou o brilho da luz de um elo.

Então, prenderam Kellan. Porque ele e não ela? Como se tivesse que fazer esta pergunta. Era um Rei Dragão. Não eram mais fraco que um mortal.

Tinha que chamar sua atenção e fazê-lo saber que não estavam sozinhos.

***

Kellan não podia conter sua ferocidade, sua ira. Os Escuros se atreveram a voltar para buscá-la. E levaram Denae, alguém sob sua proteção, alguém a quem ele... alguém com quem se preocupava.

Sentiu algo contra sua perna e sem olhar, instintivamente o derrubou.

Pelo canto do olho viu um corpo voar. Apenas depois de ouvir o grunhido suave que percebeu ser Denae.

A escuridão não era rival para os olhos de um Rei Dragão, sem importar a forma que estivesse. A ira de Kellan aumentou — quando reconheceu Denae.

Ela tocou sua mandíbula onde ele a bateu e o olhou. Queria dizer-lhe que ficaria bem, mas não podia. Não quando os Escuros estavam observando.

Kellan não tinha a intenção de bater nela, mas ao final, poderia ser para seu benefício. Se acreditassem que não tinha nenhum significado para ele, não a usariam contra ele.

Isto não significava que estaria a salvo dos vis caminhos dos Escuros. A única forma de libertar a ambos era que Kellan se transformasse em dragão e os levasse a Dreagan.

Apenas pensou em se transformar, mas nada aconteceu. Kellan se virou e ouviu as correntes. Tranquilizou-se, cada fibra de seu ser se negava a acreditar no que sabia ser certo.

Kellan voltou a provar seu braço esquerdo, mas não podia negar o corte das algemas em seu pulso ou o peso e o barulho das correntes. Eles estavam usando magia para evitar que se soltasse.

Nenhum Fae Escuro, não importava quão poderosa fosse sua magia, poderia matar um Rei Dragão. Para o que o queriam? Para usá-lo como brinquedo sexual? As mulheres Escuras logo descobririam que ele não cairia em seus insaciáveis apetites sexuais.

Não o fez antes, mas desde logo não poderia fazê-lo depois de uma noite nos braços de Denae. Kellan lutou para não a olhar. Sabia que a feriu quando a golpeou e odiou a si mesmo por isso.

O som da água pingando dos antigos ladrilhos e pedras eram incessante e irritante. Não precisava perguntar onde estava, sabia que os Escuros os levaram para a Irlanda.

O mar da Irlanda estava justo do outro lado da Escócia, mas poderia ser em outro reino que não faria nenhuma diferença. Cada Rei sabia que os Fae tinham numerosos portais para seu reino na Irlanda, mas nenhum dos Reis encontrou algum.

Isto não era verdade. Havia um Rei, um que se atreveu a se expor a ira tanto dos Fae como de seus próprios irmãos quando seguiu Rhi.

Mas não havia tempo para pensar nisso agora. Kellan precisava se concentrar em manter os Escuros focados nele e longe de Denae. Porque uma vez que se virassem contra ela, não havia nada que pudesse fazer enquanto estivesse acorrentado.

Notou uma pequena fissura de luz que vinha de algum lugar e batia contra uma parede chorando água. Havia uma saída. Os Fae sempre tinham uma saída. Kellan apenas precisava averiguar onde estava, soltar-se das malditas correntes mágicas e tirar Denae dali antes que a tocassem.

Com muita clareza, lembrou-se das Guerras Fae, quando os Reis e Fae lutaram na Terra para ver quem a reivindicaria. Centenas de milhares de humanos foram deixados como conchas — vivos, mas sem alma — quando os Escuros se viram obrigados a ir embora.

A ideia de que Denae fosse uma destas conchas, sem a luz em seus olhos cor de uísque, sua inteligência, seu sorriso... sua paixão, fez sua raiva aumentar.

Com milhares de milênios de prática, Kellan freou sua raiva quando um deles se concentrou em Denae. Kellan podia estar acorrentado, mas ainda tinha magia. Não sabiam, claro. Poderia usá-la agora ou esperar até que tivesse vantagem. A decisão inteligente seria esperar, mas novamente, não gostava da forma como o homem grande olhava para Denae.

— Kellan?

A voz de Denae — e o leve fio de medo que ouvia nela — o impediu de fazer algo precipitado. Virou levemente a cabeça para ela, mas não afastou os olhos dos machos.

— Onde estamos? — Perguntou ela.

— Irlanda.

Ela suspirou desamparada. — Irlanda? Como chegamos aqui?

— Usaram magia.

— Claro que sim.

Ele devolveu um sorriso a seu sarcasmo. Denae mantinha sua inteligência e permanecia tranquila. Não era do tipo que desmaiava. E sempre seria grato por isso.

— Porque nos colocaram aqui juntos?

Fez a si mesmo a mesma pergunta e não gostava da resposta. Tampouco ela descobriria que seria usada por eles para conseguir que ele respondesse a qualquer pergunta que os Escuros tivessem, assim decidiu guardar a informação por enquanto. — Poderiam ter muitas razões.

— Entendo. — Ela se moveu levemente. — Porque está acorrentado?

— Usaram magia para evitar que me transforme.

Houve uma longa pausa e logo disse. — O que devo fazer?

— Não acredite em qualquer coisa que ver ou ouvir de agora em diante. — Kellan sabia que os Escuros encontrariam seu maior temor e o usariam contra ela de qualquer forma que pudesse.

— Então não devo acreditar que estou conversando contigo agora?

— Sim. Apenas sou um produto de sua imaginação, criado pelos desgraçados que nos capturaram.

Ao ouvir suas palavras, um dos Fae Escuros mostrou os dentes e deu um passo ameaçador até ele. Kellan conseguiu uma reação, tal como pensava que o faria.

Se fosse apenas ele quem os capturou, Kellan eventualmente teria usado suas habilidades e se soltado, mas não o faria, não enquanto Denae estivesse com ele. Ele lhe fez uma promessa e não tinha intenção de rompê-la.

— São muito feios. E você diz que os homens e as mulheres caem por estas criaturas? — Denae perguntou, conversando como se estivessem falando sobre o chá. — Este povo deve ter baixas expectativas.

Kellan mal reprimiu uma risada. Achava que nenhuma vez um ser humano rejeitou um Fae, fosse de Luz ou Escuro.

Ela estava tentando ajudá-lo, mas tudo o que conseguiu foi que os três homens se concentrassem nela.

Ao ritmo que ia, a alma de Denae não duraria pelas próximas horas.

— Chega! — Gritou Kellan. — Mostrem-se. Agora.

Ao instante, um resplendor azulado encheu o lugar, permitindo-lhe ver onde caiam as sombras e permitiu que Denae pudesse ver onde estava.

— Está será a última ordem que nos dá, Rei Dragão. — Disse um dos Fae Escuro enquanto levantava uma mão e a magia golpeava o ventre de Kellan. — Agora é nosso brinquedo.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Denae observou com horror como Kellan se dobrava ao ataque mágico vicioso. Seu cabelo caiu sobre seu rosto, mas não antes que vislumbrasse a fúria que enchia seus traços.

Ela estremeceu, porque era apenas questão de tempo antes de Kellan se soltar. Quando o fizesse, iria rasgar os Fae.

E não podia esperar para ver.

Saber que não estava sozinha ajudou a acalmar alguns de seus medos, mas não tanto como queria. Como desejava ter sua própria magia para ajudar Kellan, mas era simplesmente uma mortal. O único que tinha em mente era seu treinamento e sua inteligência. Iria precisar de ambos para permanecer viva.

Com a mandíbula ainda dolorida pelo golpe, Denae permaneceu em silencio, esperando que os Fae se esquecessem dela. Dois deles se concentraram em Kellan. Mas o terceiro, um homem alto, de cabelo longo negro, com mechas prateadas e marcas brancas em todo o peito nu, que pareciam tatuagens, tinha seu olhar vermelho nela.

Denae dividiu sua atenção entre Kellan e os Fae Escuros. Kellan se endireitou e levantou o queixo, desafiando-os a usar magia novamente.

Os três Escuros eram atraentes e ela podia entender porque tantos seres humanos caiam por eles. Eram altos, esbeltos com corpos esculpidos, ainda que não se comparassem com a forma musculosa de Kellan.

Os cabelos dos Escuros eram da cor negra como o de Rhi, mas eram diferentes nas mechas prateadas no deles. Um dos Fae, o que falava com Kellan, tinha o cabelo curto, o que apenas acentuava a prata no cabelo e seus olhos vermelhos.

O segundo tinha o cabelo até o queixo com duas grossas mechas de prata caindo de cada lado do rosto.

Denae não queria voltar a olhar para o terceiro. Era o mesmo que esteve no cais, o mesmo que a olhou, como agora. Seu cabelo negro caia em suas costas quase até a cintura com a prata misturando-se ao negro.

— Não pode me matar. — A voz de Kellan ecoou pelo lugar com força e comando.

O líder Fae simplesmente sorriu. — Fará com que nossa diversão dure infinitamente, Dragão.

— Enquanto estiver me prendendo. Quando eu me soltar...

— Quando? — Interrompeu Kellan. Bufou e olhou seus companheiros antes que seu olhar vermelho voltasse para Kellan. — Isto nunca acontecerá. Ou se esqueceu do que aconteceu com os dois Reis que capturamos antes?

Kellan disse. — Quando eu me soltar, terei um grande prazer em arrancar cada um dos seus membros.

— Não vai acontecer. — Disse o segundo Fae com um sorriso astuto. — Temos planos para você, Dragão.

Denae viu o terceiro Fae caminhando até ela. Levantou-se apressadamente e se virou. Cada instinto lhe dizia que enfrentasse a criatura e chamasse sua atenção para ela, mas queria ignorá-lo, mostrar-lhe que suas artimanhas não funcionavam com ela. Para fazer isto, tinha que olhar a qualquer parte menos para ele.

— Acha que pode me ignorar? — Sussurrou em seu ouvido, movendo seu cabelo para que os dedos roçassem sua orelha. — Isso não é possível.

— Estou fazendo-o, não notou? — Respondeu.

Houve uma pausa embaraçosa e logo uma suave risada. Ele colocou-se as suas costas para que ela pudesse sentir sua ereção. — Nossas mulheres usam seus homens para o sexo e também gostamos de possuir uma mulher mortal. Mas sabe por que atraímos coisinhas muito jovens como você?

— Não me importa.

— Esperança. Otimismo. Aspirações. Estas coisas são as emoções que sinto dentro de você. Possuímos os mortais, porque são muito bons para resistir. Mas, conhece a emoção mais deliciosa?

Denae freou um estremecimento, mas ela se negou a encolher-se. Poderia mais tarde, mas não agora, não quando isto acabava de começar.

— Amor. — Disse. — É como um farol. — Ele a fez girar até que o enfrentou e logo suavemente passou a parte de trás dos dedos por sua bochecha. — É linda, Denae Lacroix.

— Vá embora.

Sua expressão de espanto longo deu passo para a ira. — Atreve-se a me dizer para ir embora? É uma mortal. Sua mente fraca e corpo se romperiam sob meu ataque.

Denae levantou o queixo desafiante. — Nunca.

Era muito provável que fosse um movimento tolo, mas estava cansada de que lhe dissessem que era inferior. Os seres humanos estavam muito bem e ela podia não ter magia ou ser imortal, mas se negava a cair sem uma luta.

O Escuro olhou para Kellan antes de se apoiar nela e passar a língua por sua orelha. — Eu a terei de joelhos, implorando para que a possua. — Sussurrou em tom sombrio e sedutor.

Isto apenas a enfureceu. Como se atrevia a pensar que poderia fazer o que quisesse como quisesse? Enfurecia-a saber, que os humanos não eram mais que brinquedos para os Fae. Para os Reis Dragões, eram intrusos que os Reis tinham que proteger.

Malditos os dois.

Iria salvar a si mesma.

Denae se afastou do Escuro. Ela não se incomodou em dizer algo, porque apenas iria lhe irritar mais, mas estava na ponta da língua para dizer-lhe que fosse à merda.

Obviamente foi o movimento correto quando o homem sorriu e agarrou seu seio e apertou. Não sentia nada. Nada de prazer ou necessidade.

Os lábios do macho se abriram em um grunhido quando ela não respondeu a seu toque. — Que magia é esta?

— Não tenho magia. — Disse ela com uma voz tão doce e inocente como pode se forçar a dizer. Todo o tempo fervendo por dentro. — Sou uma mortal fraca, lembra-se?

***

Kellan precisou de toda sua força para ficar ali e ver como o Fae colocava as mãos sobre Denae. Estava mais que surpreso por ela não tirar a roupa na primeira vez que a tocou.

Quanto mais observava Denae, mais Kellan percebia que realmente não desejava os Fae Escuros. Como era isto possível? Não havia um ser humano vivo que houvesse sido capaz de rejeitar os Fae de Luz ou Escuros.

O que fazia de Denae especial?

Fosse o que fosse, poderia acabar custando sua vida. O Fae não lidaria bem com o a rejeição.

— Deixe-a em paz agora, Emil. — Disse o primeiro Fae. — Haverá muito tempo para que brinque com ela.

Kellan não sabia qual era o jogo, mas se surpreendeu com os Fae deixando-a. Algo não estava bem. Acomodou-se como chumbo no estômago, cheio de nós.

Emil deu a Denae um último olhar antes de virar seus calcanhares e voltar para perto dos outros dois. Então os três simplesmente desapareceram.

O único som que rompia o silencio era a água pingando. Kellan não tinha certeza se estavam realmente sozinhos. Talvez os Escuros saíssem para ouvir a sua conversa com Denae.

Não podia se arriscar, por muito que quisesse ir até Denae e ver se estava bem. Não podiam falar sobre planos, não podiam falar sobre nada, na verdade.

Kellan puxou as correntes, desprezando tudo o que lhe impedia de se transformar em sua verdadeira forma. O ferro oxidado mordia sua carne, cortando-o. O sangue escorria por suas mãos até as pontas dos dedos antes de cair no chão.

— Não faça isto.

Parou e lentamente virou a cabeça para Denae. — O que?

— Não se machuque apenas porque não pode morrer.

— Te incomoda a visão de sangue?

Ela rodou os olhos. — Sabe que não.

Agora que a olhava, não pode afastar o olhar. Tinha o cabelo bagunçado, a camisa pendurada em um ombro uma vez mais e a sujeira manchava sua bochecha. E ainda a achava linda.

— Você os enfureceu. — Advertiu.

Ela levantou uma sobrancelha escura. — Então queria que o deixasse me acariciar? Acho que não, amigo.

— Entram em sua cabeça.

— Tenho certeza que já o fizeram.

Kellan não gostou da nota de incerteza que detectou em sua voz. — O que quer dizer?

— Nada. — Disse ela. — Agora o que? Ainda estão aqui? Ainda estão ouvindo?

— Provavelmente.

— Irão me usar contra você.

Kellan engoliu saliva e olhou em seus olhos cor de uísque, odiando a distância que os separava e o fato de que às vezes era muito inteligente para seu próprio bem. Ainda podia saboreá-la em sua língua, sentindo ainda sua pele sob suas palmas, ainda ouvindo seus gritos de prazer ecoando em seus ouvidos.

— Logo descobrirão o pouco que significo para você.

Ele viu o sorriso forçado e como cambaleou um pouco. Tal como esperava, descobriu algumas coisas. Sua inteligência era surpreendente e bem recebida.

— Quero dizer, sou humana. — Continuou. — Todo mundo sabe como os Reis Dragão odeiam os humanos. Está bem para nos usar para sexo, a quem mais iriam?

— Podem não me matar, mas podem matá-la.

— Tenho certeza que o farão.

Disse com tanta tranquilidade que um rugido de negativa quase passou por seus lábios. A ideia de que a vida abandonasse seu corpo era repulsiva para ele. Não queria que morresse. Agora não.

Nem nunca.

Kellan não sabia o que acontecia. Odiava os humanos. Ou ele o fez.

Como podia se sentir diferente sobre Denae depois de uma noite em seus braços? Passou muitas noites com fêmeas, mas ninguém o tocou tão completamente, tão absolutamente como Denae.

— Não se preocupe comigo. — Disse e caminhou para ficar ao seu lado. Ali inspecionou as correntes presas no muro de pedra. — Há coisas muito mais importantes que uma vida humana. Como o que querem os Escuros com um Rei Dragão.

Kellan queria passar as mãos pelos cabelos outra vez. Queria arrastá-la contra ele e apenas abraçá-la. Queria beijá-la e prometer que a tiraria dali com vida.

Em vez disso, apenas a olhou.

Ela virou o rosto para ele e sorriu. — Na Guerra com os Fae, lutou contra os Escuros?

— Sim.

— Eles capturaram algum de vocês?

— Dois.

— Isto não foi bem, verdade? — Perguntou com um leve cenho franzido.

Encolheu os ombros, pensando em tantas eras atrás. — Ambos Reis tiveram que ser mortos. Eu matei um e Con o outro.

— O que os Escuros lhe fizeram?

— Suspeito que logo descubra.

Ela limpou a garganta. — Sua magia te impede de se transformar. Usaram-na durante a guerra?

— Claro.

— E como os combateu?

— Havia muitos de nossos Reis e ainda havia os dragões.

Ela assentiu com a cabeça, uma expressão pensativa caiu sobre seu rosto. — Não é estranho que tenham esperado até agora para capturar a um de vocês?

— De certa forma.

Seu olhar ficou agudo sobre ele. — Não está surpreso com o movimento. O que significa que tudo isto se remonta a informação que o MI5 recebeu de Dreagan e minha missão em suas terras.

— Sim.

— Alguém quer expô-lo. Alguém que se aliou aos Escuros, MI5 e sabe Deus com quem mais.

— Isto é o que eles têm.

— E não se preocupa? — Perguntou ela exasperada.

Kellan respirou fundo e disse. — Não.

— Diria que é um tolo se não tivesse visto de primeira mão o que pode fazer. Como vai se soltar daqui?

Não lhe passou despercebido que ela não se incluiu nesta declaração. Kellan deixou que deslizasse. Por agora.

— Com prazer.


CAPÍTULO VINTE E CINCO


Ilha de Raasay

Depois de um rápido olhar na casa, Rhys voltou para sua casa, com o rosto para o céu. E nas nuvens que se moviam rapidamente viu uma visão que não presenciou em milhares de milênios.

Um grupo de dragões.

Os Reis descobriram há muito tempo como se mover habilmente dentro das nuvens e permanecer escondidos, mas um dragão sabia distinguir a outros.

Rhys vislumbrou as escamas de ouro. Constantino. O Rei dos Reis estava desafiando sua própria ordem e voando à luz do dia. Se a situação não fosse tão grave, Rhys teria toda intenção de chamar sua atenção sobre isto.

Era fácil para um dragão permanecer escondido nas nuvens, mas teria que ser visto quando aterrissasse. E não passaria despercebido o grande tamanho de um Rei Dragão.

Sem chuva à vista, corriam um enorme risco de serem vistos, um que, para Rhys, valia a pena depois que Kellan foi capturado pelos Escuros.

Con foi o primeiro a descer. Abriu suas enormes asas de ouro e se lançou como um míssil ao solo. Justo antes de golpear o chão, ele mudou, abaixando seu corpo em uma bola apertada e rodando até que ficou de pé, seu rosto para o céu.

Rhys lançou um olhar para o mar desde a casa e afortunadamente, não viu barcos à vista. Quando voltou a se virar, Guy e Kiril já estavam no chão junto a Con.

Um borrão de âmbar acelerou através do céu e Rhys reconheceu seu novo membro dos Reis — Tristan. Ele nasceu apenas uns poucos anos antes, ainda que não soubessem como. Não havia novos Reis Dragão desde que os dragões foram enviados a outro reino.

Tristan mudou para a forma humana e aterrissou com tanta graça e controle como Con. Então, como um, os quatro se voltaram para Rhys e começaram a caminhar para ele.

Rhys aumentou seus passos e jogou para eles calças guardadas em todas as casas das propriedades dos Reis para tais eventualidades. — Todos vocês se arriscaram. Uma foto de qualquer um poderia sair na capa de todos os jornais amanhã.

— Conte-me o que aconteceu. — Exigiu Con enquanto vestia a calça.

O fato de Con nem sequer dar ouvidos a declaração de Rhys dizia o quanto ele estava irritado. Rhys balançou um pouco a cabeça. — Durante horas não aconteceu nada. Fiquei no céu vigiando.

— Obviamente Kellan não percebeu nada. — Kiril vestiu a calça e viu os agentes do MI5 mortos.

Rhys franziu o cenho para Con. — Kellan fez exatamente o que Con queria que fizesse, aproximou-se de Denae.

— Por se aproximar, suponho que quer dizer que fizeram sexo. — Disse Tristan enquanto se vestia.

Guy já tinha vestido sua calça, mas não a abotoou enquanto caminhava até os cadáveres. — Claro que fizeram sexo. A atração era evidente para todos. — Virou-se para Rhys e o olhou com olhos castanhos claros. — Kellan estava ocupado, mas isto não o teria impedido de notar que algo estava errado.

— Porque nada estava errado. — Disse Rhys. — Não foi até o amanhecer que vi o primeiro movimento nas árvores. Fiquei no céu olhando a casa para ver se iriam se aproximar, mas se mantiveram longe. Sabia que Kellan seria capaz de lidar com qualquer coisa, assim que ataquei os humanos. Apenas então vi a magia das janelas.

— Porra! — Gritou Con e se virou.

Todos ficaram surpresos ante a demonstração de emoção de Con. Era o que sempre mantinha a calma, o que podia ordenar a morte de alguém sem hesitar.

Rhys deixou que a suave brisa se precipitasse sobre a pele quente. Desejava poder terminar de explicar, mas tinha más notícias. — Há mais. Rhi estava aqui.

Constantino girou ao redor, seu cabelo loiro movendo-se com o vento e seus olhos negros duros como gelo quando alcançou Rhys com o olhar. — O que?

— Não sou nenhum empregado que pode ameaçar com este tom suave de sua fúria. — Disse Rhys enquanto dava um passo ameaçador para Con.

Guy se colocou entre eles, com as mãos abertas, olhando primeiro para Rhys e logo para Con. — Tem razão, Con. Controle-se ou Rhys não será o único que vai bater a merda fora de você.

Con afastou a mão de Guy, com as narinas aberta em chamas. — O que ela queria?

— Rhi? — Perguntou Tristan. — É a fêmea Fae de quem ouço falar que apareceu em Dreagan?

Kiril assentiu com a cabeça. — Sim.

— Então deve estar ajudando.

Con girou a cabeça para o Rei mais jovem. — Ajudar? Esta Fae não fez mais do que desgarrar os Reis Dragões? Ela não conhece o significado da palavra ajuda.

— Então, porque acordou Kellan e Denae antes que os Escuros chegassem? — Gritou Rhys.

Con girou em seco. — Sempre acredita em tudo o que diz.

— Vá a merda também, Con. — Disse Rhys.

Guy ignorou Con e enfrentou Rhys. — Onde está Rhi agora?

Rhys se virou e passou uma mão pelo cabelo, frustrado fortemente. — Pedi que dissesse onde estava um de seus portais para poder ir atrás de Kellan.

— Idiota. — Disse Kiril, mas não havia calor em suas palavras. — Espero que não planejasse ir sozinho.

Rhys rodou os olhos. — Cai fora idiota.

Guy tirou o olhar de Kiril e olhou para Rhys. — E?

— Rhi se negou.

Con riu. — Claro que sim. Que tolo de mim em duvidar.

Rhys estava achando cada vez mais difícil não plantar seu punho na mandíbula de Con. — Disse que encontraria Kellan e Denae e os ajudaria a escapar.

— Ela está arriscando sua própria vida. — Kiril disse suavemente,

Con cruzou os braços sobre o peito. — Se pensa isso, então se lembra dos Fae.

— Lembro-me perfeitamente. — Disse Kiril com dureza. — Talvez você que esteja com sua visão nublada.

Guy tirou o cabelo longo dos olhos e murmurou palavras de maldição. — Temos sorte de que Rhi esteve aqui e ainda está disposta a nos ajudar. Sabe que se entrarmos no reino Fae, a guerra começará novamente. Os Fae de Luz e os Fae Escuros o tomarão como uma demonstração de força. Não queremos uma guerra novamente.

Rhys tirou algo do bolso traseiro. — Uma coisa mais. Um agente estava no telefone descrevendo a cena a alguém. Precisamos rastrear o número para ver a quem pertence. Poderia ser o idiota que está tentando nos derrubar.

— Não teríamos esta sorte. — Disse Tristan.

Kiril estendeu a mão para o celular. — Poderíamos. Deixe-me ver.

Rhys estendeu o telefone e Kiril se dirigiu a casa até os computadores dentro. Rhys se virou para olhar para Con. — Temos que ir para a Irlanda.

— Maldição. — Disse Guy.

— Quanto tempo ainda temos? — Perguntou Tristan.

Rhys trocou um olhar com Guy. — Para Kellan não há limite de tempo, não realmente. Iram torturá-lo repetidamente, mas não podem matá-lo. Ele sabe o que acontece aos Reis nas mãos dos Escuros. Resistirá o quanto puder.

— Mas não Denae. — Disse Tristan com um gesto de assentimento.

Rhys olhou para casa, se perguntando se poderia ter feito tudo de outra forma. — Prometeu a Denae que a manteria com vida.

— As promessas são quebradas todo o tempo.

Guy esfregou a nuca. — Kellan ainda estava dormindo quando veio a nós Tristan, assim que não o conhece. Kellan rara vez dá sua palavra a alguém e quando o faz, não a quebra.

— Então sugiro levar nossos traseiros a Irlanda. — Disse Tristan sem rodeios, seus olhos castanhos escuros se encontraram com os de Rhys.

Rhys não poderia concordar mais. Iria com ou sem o consentimento de Con.

— Se eu for, os Fae tomarão isto como uma afronta. — Disse Con.

Rhys não pode conter o sarcasmo quando disse. — Não sei por quê. Você é um sujeito tão agradável em uma guerra.

— Tente ser responsável por uma raça inteira e deixe-me observar suas decisões. — Disse Con com firmeza enquanto dava um passo até ele.

Rhys não retrocedeu. Inclinou-se para frente, a ira irradiando dele. — Eu era responsável por meus Amarelos. Mas você nos convenceu a mandá-los embora.

— Para mantê-los vivos!

— Sim! E olha onde estamos agora!

Eles estavam nariz com nariz, o ar rangia de tensão. Rhys não retrocedeu. Nem sempre concordava com as decisões de Con, mas sempre o apoiou.

— Suficiente. — Disse Guy firme. — Temos que nos unir, não nos afastar. Kellan e Denae precisam de nós e não os deixarei cair.

— Eu vou para a Irlanda. — Disse Rhys antes que Con pudesse pronunciar uma palavra.

— Precisamos de um plano. — Advertiu Con.

Rhys bufou e girou sobre os calcanhares para caminhar até a casa. — Então construa um. Vou para a Irlanda.

Guy esperou que Rhys estivesse na casa antes de se virar para Con. — Não vou para a Irlanda com ele, mas apenas por Elena. Mas entenda isto Con, ela é a única razão pela qual não vou. Por enquanto.

— Acha que deveríamos ir em massa, então? — Perguntou sarcástico.

Guy engoliu e manteve sua irritação pelo o que aconteceu com Kellan. — Acho que alguns de nós teríamos uma nova oportunidade, mas se isto não funcionar, então vamos até a Rainha.

— Usaeil? — Perguntou com incredulidade. — Perdeu a cabeça?

O controle de Guy se rompeu. Girou sobre Con e apontou a casa. — Um dos nossos foi capturado. Um ser humano sob sua proteção foi capturado. Pelos Escuros. Preciso dizer mais?

Con sorriu repentinamente. — Apenas se assegure que Kiril fique com Rhys e mantenha o temperamento dele controlado. Então volte para Elena e rapidamente.

Guy piscou surpreso.

— Também irei com Rhys. — Disse Tristan.

Con suspirou. — Sim, mas ainda não. Deixe Rhys e Kiril irem primeiro e envie informações. Quero todos os demais prontos se houver uma batalha.

***

Banan pisou de golpe nos freios, fazendo com que Henry ofegasse quando o cinto de segurança prendeu seu peito. — Inferno sangrento Banan. É a segunda vez que faz isso em poucas horas. — Disse Henry quando o SUV parou.

Os nós dos dedos de Banan estavam brancos enquanto agarrava o volante. Justo como antes, olhou fixamente para o céu, seu peito se levantou e sua mandíbula se apertou.

De repente Banan se virou para olhar Henry. — Kellan e Denae foram capturados.

— Pelo MI5?

— Não. Os Escuros. Mas o MI5 estava lá.

Henry esfregou os olhos. — Como os encontraram? E como inferno sangrento, sabe disso?

— Comunicação telepática.

Não podia acreditar que Banan lhe disse a verdade. Henry sempre suspeitou que Banan não fosse completamente humano e depois do dia passado com ele, agora sabia que era um fato. — Irá me contar o que é?

— Logo. — Banan evadiu. — O MI5 é bom, mas não tão bom.

— Os Fae poderiam tê-los encontrados e avisado aos agentes?

Banan balançou a cabeça de cabelos curtos e escuros. — Não. Os Fae podem perder as pistas como qualquer um. Não são oniscientes. O fato do MI5 e os Fae estarem trabalhando juntos é preocupante. Tinha a esperança de que fosse apenas uma vez, mas parece que não.

— Quando trabalhamos com outras agências, é apenas para uma missão. Deve haver uma boa razão para isto.

— Temos que descobrir.

Henry pegou seu celular e marcou seu chefe antes de colocar no modo viva-voz. — Já pedi todos meus favores, mas ainda posso ter uma oportunidade.

A linha soou seis vezes antes de Stuart atender e dizer. — Melhor ter uma boa razão para me ligar.

— Quando o defraudei? — Perguntou Henry.

O suspiro de Stuart foi forte. — Nunca.

— Estou despedido?

— Não. — Disse Stuart. — É muito bom para isto. Se o fizermos, a CIA ou alguém mais poderiam recrutá-lo.

Henry fechou os olhos brevemente e soltou um suspiro. — Stuart, eu acho que alguém está usando o MI5 para atacar certas pessoas.

— Depois de sua última ligação fiz algumas pesquisas. Todo aquele departamento no qual Lacroix trabalhava parece ser corrupto. Temos uma limpeza a fazer.

— Fico feliz em ouvir. Enquanto isto, você tem o nome de quem dirige o departamento? E sabe com quem estaria trabalhando este departamento?

— Não estão autorizados a trabalhar com outra agência.

Henry podia ouvir a mistura de papeis e logo o som de Stuart golpeando o teclado. — Achamos que o chefe do departamento, Frank, é o corrupto.

— Vai além de McCall. Tenha cuidado Stuart. Quem está puxando as cordas tem um grande alcance e é perigoso.

— E um tolo ao pensar que pode usar o MI5.

Henry desejava estar no escritório. Stuart era um bom homem, mas era mais velho e estava na agência há muito tempo. Funcionava por um código que já não era reconhecido.

— Não faça nada sozinho. Tenha alguém com você em todo momento, Stuart.

— Fui um operador antes que fosse um brilho nos olhos de seu pai, filho. Não me diga o que fazer.

Henry passou uma mão pelo rosto e olhou o telefone de Banan. Banan lhe entregou seu celular. Henry rapidamente leu o texto. — Uma coisa mais Stuart. Tenho um número que precisa ser rastreado.

— Diga.

Henry leu o número e ouviu quando Stuart o digitou. Alguns minutos mais tarde disse a Henry. — Não temos nada. Tem certeza que é o número correto?

— Sim. Obrigado Stuart. Ligue se souber de algo.

Henry desligou e balançou a cabeça enquanto devolvia o telefone a Banan. — Uma rua sem saída com o número. O que é?

— Um agente do MI5 estava falando com alguém enquanto Kellan e Denae estavam sendo capturados. Rhys ouviu o agente dando detalhes.

— Quem quer que fosse mudou o número rápido o suficiente. Quem quer que seja o bastardo, é bom.

— Não tão bom quanto nós.

Henry observou como o carro circulava ao seu redor. — Isto volta a quando o ajudei em Londres, não?

— Sim.

— Se quer minha ajuda, preciso saber todos os fatos. Não posso continuar lidando com as lacunas.

— Bem. Somos dragões.

Henry soltou um suspiro. — Preciso que você seja honesto, Banan. Quero ajudar.

— Estou sendo honesto.

Olhou para Banan para ver que seu amigo não estava brincando. — Um dragão?

— Sim. Provarei mais tarde. Agora mesmo temos que chegar a Dreagan. Vários vão para Irlanda tentar encontrar Kellan.

— Como sabem que Kellan e Denae estão na Irlanda?

Banan voltou à estrada. — Porque é ali que estão os Fae.

— Claro. Porque não pensei nisso? — Henry se recostou no assento, perguntando-se como iria encarar o mundo novamente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VINTE E SEIS


O estomago de Denae retumbou de fome, mas não iria pedir comida. Não sabia o que os Escuros lhe dariam de qualquer forma.

— Tome um pouco de água. — Disse Kellan.

Olhou para a água pingando pela parede e sabia que precisava se manter hidratada. Ela juntou as mãos e deixou que a água enchesse antes de levar aos lábios.

Uma vez que bebeu, limpou a boca com parte de trás do braço e perguntou. — Continuam aqui?

— Provavelmente. Não sei.

— Não pode senti-los ou algo assim?

Kellan balançou a cabeça e puxou as correntes, tentando puxá-la da parede. — Não.

Não sabia quanto tempo se passou desde que os Fae fizeram uma visita. Parecia interminável, mas ao menos deixaram acesas as luzes ou o que fosse que mantinha o lugar claro.

Denae foi para o lado oposto de Kellan e se sentou contra a parede. — Nunca sairemos daqui, verdade?

Quando Kellan não respondeu, ela o olhou para vê-lo ainda puxando as correntes.

— Uma falta de resposta é o equivalente a uma resposta verbal.

— Não mentirei. — Disse ele e puxou novamente.

Ela inclinou a cabeça para trás. — O silêncio é o melhor que tem? Prefiro a honestidade.

— Deixe de pensar nisso. Concentre-se em se manter viva.

— Por quê? — Perguntou. — Tenho que ir para casa? Não tenho trabalho agora, não depois que o MI5 ficou contra mim. Não tenho família. Nem sequer tenho uma casa para ir.

De repente, a melancolia a oprimiu, afundando-a em uma poça de desespero tão densa e pegajosa como o alcatrão. Sua vida não iria mais a nenhuma parte. Conseguiu fazer tudo o que queria, o que não era muito.

Ela estava sozinha. Seu peito ficou tenso com a onda de desolação. Não havia amigos para chorar por ela. Não havia companheiros de trabalho, sobretudo porque a traíram. O único amante que teve em anos não podia suportá-la porque era humana.

— Não tenho nada. Não sou nada.

A miséria era profunda, a desesperança profunda.

Uma angustia sem fim.

Deveria simplesmente se render. O que pensou ao rejeitar os Fae Escuros? Podia dar-lhe um pouco de prazer, talvez até mesmo um pouco de felicidade.

Quando voltasse a vê-lo, iria se lançar contra ele e implorar perdão.

— Denae.

Ela afastou o rosto. — Deixe-me em paz. Porque se importa, de qualquer forma? Apenas sou uma humana.

— Denae, está em sua cabeça.

— O que te importa? Dê-me uma boa razão.

— Apenas ouça-me...

Ela suspirou sobre suas palavras. — Justo como pensei. Não pode me dar uma razão, porque não tem uma. Não se importa se eu morrer aqui e morrerei aqui. Você sabe. Simplesmente não tem bolas para me dizer.

— Denae, não deixe que te controlem.

— Ele tem razão. — Sussurrou alguém em seu ouvido. — Os Escuros estão brincando com sua cabeça. E está de verdade demente se acredita que os Escuros são mais sexy que seu Rei Dragão. Esqueceu-se rapidamente da noite explosiva que vocês tiveram juntos?

Denae levantou a cabeça e franziu o cenho. Não podia ver ninguém, mas reconheceu esta voz como de Rhi.

Estava realmente Rhi ali? Ou também estava ouvindo coisas?

Olhou para Kellan. — Ele tenta não a olhar, mas esta o fazendo. Não pode permitir que os Escuros soubessem o quanto se preocupa com sua segurança. Eles a usarão contra ele, Denae. Prepare-se para isto, porque não será bonito. Será duro e pode ser que eles a incomodem mentalmente, mas Kellan não a deixará.

Denae olhou para Kellan para encontrá-lo observando-a com uma expressão suave. Ou ao menos parecia suave, mas ela via a forma como seus olhos não saiam de seu rosto, como seu olhar a atravessava como se tentasse dizer algo sem palavras.

Como podia querê-la? Ela era humana. Não significava nada.

Denae balançou a cabeça para tentar limpá-la, mas a depressão não ia embora.

— Você é forte. — Disse Kellan. — Pode expulsá-los.

Poderia? Ela se atreveria? Denae fechou os olhos e pensou em Kellan, mas cada vez que uma imagem deles juntos tentava aparecer, era rejeitada.

— Não posso.

— Pode sim.

Sua insistência o fez olhá-lo e viu sua mão acorrentada de lado, com um dedo estendido para ela. O braço se esticou até onde a corrente permitia a apenas três metros de distância. Mas se sentia como se fossem quilômetros.

— Lutou contra Matt. Lembra-se?

Matt? Logo se lembrou de sua luta com Matt na caverna de Kellan. Denae já não queria ficar sozinha. Queria ter os braços consoladores ao redor dela e sabia exatamente quais os braços que queria — Os de Kellan.

Tentou ficar de pé, mas era como se algo continuasse empurrando-a. Seria tão fácil ficar ali e não lutar, tão fácil de... Apenas dar-se por vencida.

— Denae.

Kellan não deixou de dizer seu nome até que se moveu novamente. Conseguiu chegar até ele em suas mãos e joelhos, arrastando-se, mas logo suas pernas se sentiram como se estivessem duras, formigando como se estivessem envolvidas por concreto. Ela caiu.

Simplesmente era demais. Já não era tão forte. Nunca foi a mais forte. Esta era Renee. Quantas vezes sua mãe disse estas palavras exatas?

— Lute maldição.

As palavras eram fortes, irritadas. Sussurradas. Denae levantou a cabeça para ver Kellan olhando-a fixamente, como se estivesse disposta a movê-la com os olhos.

Uma chispa de algo a fez usar os braços para se aproximar dele, centímetros por agonizantes centímetros. Até que não pode mais. Caiu pronta para fazer todo o necessário para que tudo parasse.

Fortes dedos se envolveram ao redor de seu pulso e puxou-a pelo chão até que ela ficou aconchegada contra um peito quente com grossos braços ao redor dela.

— Lute, Denae. — Sussurrou em seu ouvido. — Não posso fazê-lo por você. Apenas você pode controlar sua mente.

Controlar sua mente. Queria dizer que alguém estava em sua mente? Com certeza não. Esta depressão era algo com o qual lutou quando sua irmã morreu e de novo quando sua mãe desapareceu e logo seu pai teve um ataque do coração e a deixou. Tudo em um período de quatro anos.

— Em quem está pensando?

— Rennee. — Respondeu ela automaticamente. — Ela era tão linda.

Algo lhe acariciou o rosto. — Os pesadelos não podem tocá-la aqui.

Os pesadelos. Sim, os conhecia bem. — Éramos inseparáveis.

Seus braços ficaram tensos ao redor dela. — É forte. Diga.

— Não. — Balançou a cabeça. Não iria dizer nada que não fosse certo.

O calor se estendeu instantaneamente através de seu corpo. As imagens de sua noite brilharam em sua cabeça, empurrando além da nevoa que se filtrava em cada rachadura em sua mente.

— Diga, Denae. Diga-me que é forte.

— Sou forte. — Ela precisou forçar as palavras, eram tão difíceis de dizer, mas uma vez dito, empurrou a nevoa.

E o que tomou sua mente, já não estava ali.

— Denae?

— O que aconteceu? — Perguntou enquanto começava a tremer pelo frio do lugar e sua roupa molhada.

Kellan esfregou as mãos por seus braços. — Entraram em sua cabeça. Eles o farão outra vez também.

— Isso foi horrível. Tudo o que senti foi a mesma coisa quando Renee morreu.

— É o que o faz tão real.

Denae fechou os olhos, agradecida por estar em seus braços. Se não houvesse sido por Kellan, os Fae a teriam tomado. Este pensamento gelou seu sangue nas veias.

— Pode lutar agora? — Perguntou em voz baixa.

Encolheu os ombros. — Não sei.

— Não posso estar sempre por perto. Precisa mantê-los fora a todo momento, mas não será fácil.

— O que veio a mim antes, Emil. Disse que se alimentavam da esperança e outras emoções semelhantes.

O queixo de Kellan descansava sobre o ombro dela. — Sim. Assim não tenha pensamentos felizes para sair do poder deles. Eles não apenas tomariam o controle completo de sua mente, mas sugariam seu espirito.

— Se está tentando me assustar, está fazendo um bom trabalho.

Seus dedos acariciaram levemente seu braço. — Se não sentisse medo, estaria preocupado.

Abriu os olhos e piscou enquanto compreendia o que significava estar em seus braços. — Está mostrando a eles que podem me usar contra você.

— Podem tentar.

Suas palavras a fizeram se arrepiar.


CAPÍTULO VINTE E SETE


Kellan deixou Denae dormir sem movê-la. Logo o inferno cairia sobre eles.

A luz que aliviava seus temores e lhe permitia ver os cantos mais escuros desapareceria.

A ilusão de segurança que sentia em seus braços ficaria destroçada.

A compaixão, a doçura que se atreveu a mostrar agora pararia.

Os Escuros a atormentariam sem cessar enquanto o observavam.

Não importava o que os Fae quisessem, ele não daria, não se fosse informação sobre Dreagan ou alguém ali.

Kellan despertou de seus trezentos anos de sono com o ódio pelos seres humanos ainda se agitando dentro dele. Mas uma mulher valente e linda o seduziu, o cativou.

Estava absolutamente encantado.

No entanto, com certeza mudaria de opinião sobre ela e talvez uns quantos outros mortais no processo.

Ele não se arrependia de sua noite juntos. Muito pelo contrário. Desejava ter mais tempo com ela, mas inclusive se ambos saíssem vivos, ela estaria mudada para sempre.

A pureza que manteve de alguma forma, apesar de trabalhar como espiã desapareceria, estaria borrada como se nunca houvesse existido.

A proteção que lhe prometeu não valia nada enquanto estavam nas mãos dos Escuros. Especialmente com ele acorrentado. Era poderoso, imortal, letal e, no entanto, estava incapacitado para fazer qualquer coisa, além de manter em seus braços a mulher da qual não podia obter o suficiente.

Kellan afastou uma mecha de seu cabelo e passou os dedos pelos fios sedosos. Deixou-a acreditar que os Escuros estavam observando-os todo o tempo, porque não queria que ela baixasse a guarda.

O que era exatamente o que fazia dormindo em seus braços. Ela esperava que ele cuidasse dela. E não estava errada. Ela precisava disso, mas era a última vez que ele permitiria isto.

Pelo bem de ambos, não podia abraçá-la novamente.

Kellan não sabia se — ou quando — seus irmãos o encontrariam. Não contava com eles. Tinha que se soltar. De alguma forma. Fazê-lo antes que tomassem a alma de Denae seria a parte difícil.

Afastar-se antes que pudessem chegar a ele como fizeram com os outros dois Reis também pesava muito em sua mente. Os Reis por natureza eram os mais fortes dos fortes, os mais mortais dos mortais.

Saber que dois de seus irmãos foram quebrados era mais que preocupante. Era angustiante. Olhou para Denae e soube que quando os Escuros voltassem, não reteriam os golpes a nenhum dos dois.

Não havia como Kellan poder ver os Escuros tocando-a e, no entanto, teria que fazê-lo. Era a única oportunidade que tinha e era muito pequena.

Gostava de abraçá-la, gostava que confiasse nele o suficiente para dormir neste lugar. Ainda que não tivesse prometido que a manteria viva, não a deixaria.

Havia algo completamente diferente em Denae que nunca encontrou em uma mortal. Kellan não podia identificar exatamente o que era, mas o mantinha em sintonia com ela de forma que o mantinham girando, desorientado.

E procurando alcançá-la.

Já a abraçou por muito tempo. Pensar em afastá-la era cada vez mais difícil, até que seu corpo exigiu que a reclamasse novamente, para que todos vissem. Deixar que os Escuros percebessem que poderiam tentar tomá-la, mas seria para sempre sua, tal como ele estaria impresso nela.

O impulso de marcá-la como sua para que ninguém se atrevesse a tocá-la, muito menos olhá-la, era tão forte que sua mão estava sob sua camisa antes que percebesse.

Kellan fez uma pausa e apertou os dentes. Se os Fae soubessem o quanto a queria, não iriam parar até destruí-la.

E isso poderia rompê-lo como nunca nada o fez.

Nem quando viu seus Bronzes morrer.

Nem quando viu seus dragões sair deste reino.

Kellan fechou os olhos e saboreou a sensação dela em seus braços. Era o último que dava a si mesmo e a ela, porque deveria ser frio e calculista se quisesse salvá-los. Precisou arrancar o ódio que foi seu companheiro constante durante séculos, apesar de não sentir ódio pela mulher linda e incrível em seus braços.

Ele afastou sua mão e permitiu um rápido toque de seus lábios sobre os dela. Logo a moveu levemente. — Denae. Hora de acordar.

***

Denae acordou no mesmo instante, ainda que permanecesse quieta, com o olhar fixo em Kellan enquanto jurava que a beijou. Mas não havia paixão brilhando em seus olhos. Apenas a mesma frieza que viu quando a conheceu.

— Estão de volta? — Sussurrou.

— Ainda não. Precisa ir para o outro lado. Não precisam ficar diante de você para entrar em sua cabeça, assim se prepare.

Sentou-se, grata pelo tempo que lhe deu, mas a falta de calor e de seus braços foi sentida. — Algo mais pelo qual deveria me preparar?

— Podem usar ilusões.

— Genial. — Murmurou enquanto ficava de pé e caminhava para seu lado do lugar. — Fala de uma vantagem injusta sobre alguém que não tem magia. Diga-me outra vez porque todos caem a seus pés. São monstros, isto é o que são.

Como ela esperava, não houve resposta de Kellan. Denae permaneceu de pé, esticando os braços e as costas. Não podia lutar fisicamente com os Fae Escuros, mas iria blindar sua mente para mantê-la um passo adiante dos idiotas.

Além disso, não podia ficar quieta e não olhar para Kellan.

— Poucos os chamam de monstros. Apenas os Reis se atrevem a isto. — Disse Kellan. — E alguns de Luz.

Denae rodou os olhos. — Falando de Luz, onde estão? Não deveriam estar aqui para nos resgatar?

Kellan bufou forte. — Como se os de Luz se humilhassem para ajudar um mortal.

— Ou um Rei Dragão. — Ela disse. — Tenho razão, verdade?

— Sim.

— Ninguém sabe onde estamos. — A completa compreensão de sua situação se assentou nela como uma tonelada de tijolos. A traição a fez se sentir como se fosse atropelada por um carro. Este era um novo nível de inferno ao qual podia prescindir. — Poderia ter sido melhor que o MI5 me capturasse ao invés destes brutos.

— Brutos? — Entrou uma voz no lugar quando o som de fechadura rompeu o silencio.

Aporta se abriu e os Fae Escuros entraram. Denae imediatamente reconheceu Emil. O bastardo a olhava novamente como um homem faminto, como se ela lhe oferecesse quatro pratos.

— Acho que bruto é muito forte. — Respondeu o outro Escuro.

Denae moveu seu olhar ao que falou. Seu cabelo tinha mais prata, de modo que mal podia ver o negro e caia pelas costas. As mechas foram tiradas de se rosto para cair em uma trança pelas costas, dando-lhe uma ampla visão da cicatriz que corria vertical de sua testa sobre a sobrancelha até a parte superior do rosto.

De alguma forma, o que lhe cortou também roçou a pálpebra. Mas era a própria cicatriz, algo que nenhum dos outros Fae Escuros tinha, o que chamava sua atenção.

— Ah. — Disse o Escuro com um leve sorriso enquanto tocava a cicatriz. — Está se perguntando como a consegui.

— Realmente não. Apenas estou me perguntando por que é visível. Nenhum dos outros tem uma.

Seu sorriso aumentou, seus olhos vermelhos se estreitaram um pouco. — É verdade, mas então eu estava lutando contra um Rei Dragão.

— Conte a verdade, Taraeth. — Exigiu Kellan.

Taraeth lançou um olhar para Kellan. — Não vê nenhum outro com tal cicatriz, pequena humana, porque os que se atreveram a lutar contra os Reis foram assassinados.

— Você fugiu. — Disse Denae com facilidade.

Ele riu e caminhou ao redor dela. — Sou o líder aqui. Nenhum dos outros se atreve a dizer isto.

Denae não queria ficar quieta. Se pensava que Emil a estava exasperado com sua evidente sedução, não era rival para Taraeth.

Ondas de luxuria saiam dele. Ela as sentiu e, no entanto, curiosamente, seu corpo não respondeu como pensou que o faria. Ela não sentia... Nada, por nenhum dos Escuros.

O líder Escuro parou quando se virou para olhá-la. — Diga-me, pequena humana. O que está fazendo com um Rei Dragão?

— Invadi sua propriedade e me prenderam.

Taraeth gargalhou. — Oh que maravilhoso. Trocou o uso de seu corpo com ele. — Apontou para Kellan. — Por sua liberdade?

— Não. Senti-me atraída por ele.

Os olhos vermelhos de Taraeth a percorreram da cabeça aos pés e de novo com sexualidade descarada. — Espere até que me tenha entre suas longas pernas. Esquecerá seu dragão.

Denae não pode conter seu sorriso. — Isto funciona normalmente?

Os olhos de Taraeth se estreitaram em linhas perigosas, seu sorriso desapareceu quando a ira se apoderou. Olhou para Emil que se limitou e encolher os ombros.

— Eu te disse meu senhor.

Taraeth se virou para ela. Ele se aproximou dela, seu corpo roçando o dela. A forma como a olhava parecia que estava tentando empurrar sua vontade sobre ela.

Mais de ondas sexuais — como começou a pensar nelas — se aproximaram. As sentiu, sabia o que era, mas não sentiu nada.

Denae moveu a cabeça para um lado e suspirou em voz alta. — Conhece a definição de espaço pessoal? Porque invadiu o meu.

— Deveria tirar suas roupas agora. — Disse Taraeth consternado, enquanto se inclinava para trás.

Denae encolheu os ombros. — Não. Não o farei.

— Fará. — Protestou em voz baixa. — Eu a tomarei quantas vezes quiser, enquanto Kellan olha.

— Para que me forçar ao sexo quando outros humanos caem aos seus pés? — Denae revirou os olhos. — Não vejo o ponto. E quanto a Kellan? Tivemos um caso rápido no feno. Apenas uma noite, se quiser chamar assim. Todos vocês estão pensando mais do que é.

Taraeth deu um passo atrás e olhou para Kellan. Denae o olhou e viu Kellan sentado na parede, como antes, com ambos os antebraços descansando sobre os joelhos dobrados. E nem sequer a estava olhando.

— De verdade acha que não tem sentido para ele? — Perguntou Taraeth.

Denae engoliu saliva, mais ferida do que gostaria, que nem sequer se preocupou o suficiente para observá-la. Esperou encontrar seu olhar e ganhar coragem. — Sei que não. Odeia os humanos. O despertei depois de séculos de sono e ele estava com tesão.

Emil lançou um olhar para ela. — Caiu na cama com um dragão, mas não quer conosco?

Taraeth não pronunciou uma palavra, apenas estendeu uma mão para que Emil parasse, o que o Escuro fez prontamente. Taraeth girou a cabeça primeiro em um sentido e logo no outro enquanto a olhava solenemente.

— Você me intriga pequena humana. Não estou convencido de que não sente nada pelo dragão, mas guardarei isto para meu prazer.

— Não.

Uma das sobrancelhas de Taraeth se levantou. — Não?

— Não. Não quero você. Não quero nenhum de vocês. Encontre outro ser humano que queira.

O sorriso de Taraeth era astuto enquanto dizia. — Bem, pequena humana. Isto é um desafio. Um que estou ansioso para superar.

Denae queria gritar. Ela pensou em usar sua indiferença a sua sedução como um meio de soltar-se. Em seu lugar, selou seu próprio destino.

Com um sorriso ainda no rosto, se voltou para Kellan e enviou três descargas de magia, golpeando-o na cabeça até que Kellan caiu.

Denae permaneceu quieta, lutando contra a urgência de correr até Kellan e ajudar. Então se lembrou que era imortal, um Rei Dragão tão velho como o tempo. Não precisava se preocupar com ele. Precisa se preocupar consigo mesma.

No entanto, era difícil vê-lo ser torturado. Mas era apenas o começo para os dois.

Kellan se incorporou, seus olhos verdes claros lançavam punhais de ódio a Taraeth. Kellan ficou de pé e sacudiu a corrente que o segurava.

— Vejo que ainda tem medo de lutar contra um Rei Dragão. Como os demais seguem semelhante covarde? — Kellan perguntou friamente, sua voz desfazendo-se com a raiva que chegava aos seus olhos.

Taraeth caminhou lentamente para ele. — Por que tenho mais poder. Não é por isso que Constantino, Rei dos Reis, governa a todos, quando não tem mais seus preciosos dragões?

— Con não me governa.

— Onde foram enviados os dragões? — Perguntou Taraeth.

— Em algum lugar onde nunca os encontrará.

Em resposta, as mãos de Taraeth explodiram em fogo e as colocou nos ombros de Kellan. Denae mordeu o interior da boca enquanto Kellan grunhia através dos dentes apertados por sua pele ardendo.

O cheiro era horrível e ela sabia que Kellan estava sentindo dor. Mas não demonstrava.

Finalmente, Taraeth extinguiu as chamas em suas mãos, mas deixou a pele de Kellan ardendo. Sem uma pausa, de repente, uma longa e curvada lamina caiu na mão de Taraeth. Afundou-a no estomago de Kellan e a torceu.

Kellan se inclinou, o sangue brotou da ferida e pingou pelo canto de sua boca.

— O primeiro Rei dos Reis escondeu algo porque o temia. É o Guardião da História. Sabe o que busco. Diga-me onde está escondido. — Exigiu Taraeth.

Kellan levantou a cabeça e sorriu. — Vá à merda.

Taraeth afundou uma segunda lamina que arrancou do ar em Kellan. Uma e outra vez Taraeth apunhalava Kellan com laminas até que Denae apenas viu sangue e Kellan estava de joelhos, ainda desafiante.

As perguntas continuaram, cada vez que Taraeth perguntava onde estava escondido o artigo secreto e cada vez que a resposta de Kellan era uma negativa, Taraeth ficava mais furioso.

Mas se Denae pensava que iria apenas ver a tortura, estava errada. Emil se aproximou dela e agarrou seus braços com força.

— Taraeth não será o único que estará dentro de você.

CAPÍTULO VINTE E OITO


Rhys manteve um olhar enquanto Kiril rompia facilmente a fechadura da porta de trás de uma loja no coração de Cork. Deslizaram silenciosamente dentro e se dirigiram diretamente às roupas. Não podiam levar nada.

Teriam que infiltrar-se entre os Fae Escuros de Cork, o que significava se vestir de forma impressionante.

— Encontraremos Kellan e Denae. — Sussurrou Kiril enquanto abotoava um jeans rasgado.

Rhys não se incomodou em responder. Pegou uma camisa azul clara do manequim e a vestiu rapidamente. Depois, escolheu um jeans escuro.

Olhou pela janela da loja e balançou a cabeça. — Este lugar está cheio de Escuros.

— Eu sei. — Disse Kiril enquanto olhava sobre seu ombro inspecionando uma estante de camisas. — Deixa-me doente. Se algo não for feito, isto é o que poderia ser em todo o nosso reino.

Rhys não podia deixar de pensar no porque os Escuros queriam um Rei Dragão. Era algo que envolvia os dragões. Era a única explicação.

Ainda estava refletindo sobre este fato quando encontrou os sapatos e escolheu um par de botas de couro de seu tamanho. Depois de calçá-las, endireitou-se para encontrar Kiril esperando-o.

Rhys olhou para a camisa de Kiril com um desenho de águia com asas abertas nas costas em veludo negro.

— Sempre poderia usar algum sinal.

— Já pensei nisso. — Brincou. O sorriso sumiu. — Pronto?

Rhys apertou os nós dos dedos. — Oh sim. Vamos nos encontrar com a escória dos Fae Escuros.

***

Rhi ficou todo o tempo que pode com Denae e Kellan. Um Fae podia permanecer invisível durante apenas um período de tempo e quando o faziam, ficavam incrivelmente fracos.

Se aparecessem entre os inimigos, podiam ser cortados em pedaços.

Rhi não queria ir a Dreagan no estado em que estava, mas não tinha outra opção. Precisava saber o que estava acontecendo. Cada vez que enfrentava os Reis, gostava de estar em seu melhor momento. Neste momento, ela estava no seu pior.

Logo pensou em Phelan e o buscou. O fato do Guerreiro, um imortal Highlander10 que tinha um deus primitivo dentro dele, ser meio Fae lhe ajudava a localizá-lo com muita facilidade.

Não foi até justo antes de se materializar que ela olhou aos arredores e se encontrou em... Dreagan.

Estava muito fraca para permanecer incorpórea por mais tempo. No entanto, conseguiu se assegurar que estivesse sozinha na cozinha quando deixou cair o véu.

Suas pernas começaram a se dobrar tão logo se materializou. Rhi alcançou a cadeira para se levantar, mas apenas conseguiu golpeá-la quando caiu no chão.

Rhi estava no chão frio de azulejos e fechou os olhos. Nunca usou tanto de sua magia em outro momento e estava pagando preço agora.

— Deve ser a Fae de quem todos falam.

Rhi ficou rígida ante a voz profunda e girou a cabeça para encontrar profundos olhos castanhos olhando-a. Seu longo cabelo castanho de mechas douradas estava preso em um rabo de cavalo e usava jeans e uma camisa negra justa.

— E você deve ser Tristan. — Ela tentou sorrir, mas não tinha certeza de ter êxito.

Ele agachou a seu lado, com a cabeça inclinada para um lado enquanto ele a olhava ansioso. — Parece um pouco verde. Deveria me preocupar?

— Apenas preciso de um minuto. — Realmente precisaria de uns dez anos para dormir, mas isto não iria acontecer.

O som de passos se aproximando nem sequer pode levantá-la. Permaneceu de lado, o rosto grudado no chão.

— Rhi?

Ela encolheu ao som de preocupação na voz de Aisley. Parecia tão mal? Antes que pudesse responder, a esposa de Phelan estava ao seu lado.

— Rhi? O que aconteceu? — Perguntou Aisley enquanto acariciava os cabelos de Rhi. — Phelan!

Ao instante, o som de passos pesados se aproximou. Pararam na porta e Rhi soube que Phelan estava olhando Tristan.

Bom, iria acontecer logo. Con apenas poderia esconder os Guerreiros de Tristan por um tempo. Se apenas se sentisse forte o suficiente para esfregar isto na cara de Con, mas mesmo o esforço era demais.

Rhi abriu os olhos e virou a cabeça para Tristan, que ainda a olhava fixamente. Ela sabia que este momento chegaria e parte dela não queria estar perto quando acontecesse. No entanto, já era tempo. — Conhece Phelan, Tristan?

Tristan olhou para Phelan, mas balançou a cabeça enquanto se voltava para ela. — Não. Precisa de algo para beber? Comer? Está pálida como a morte.

— Pode ser que queira você mesmo tomar uma bebida. — Disse e tentou se levantar. — Vai precisar mais do que eu.

Aisley chamou o nome de Phelan e no momento seguinte ajudou Rhi a se sentar em uma cadeira. Uma vez que estava na mesa, Rhi deixou a cabeça cair entre as mãos e desejou voltar com notícias melhores.

O silêncio na cozinha foi quebrado pelo som de Aisley puxando uma cadeira junto a Rhi e sentando-se. Phelan pegou a que derrubou e sentou-se do outro lado de Rhi, sua apreensão e incomodo palpável.

— Rhi? — Perguntou Phelan com tom rígido.

Levantou a cabeça e ainda que houvesse falado com ela, os olhos cinza de Phelan estavam concentrados em Tristan, que voltou a cozinha com copos e uma garrafa. Rhi cobriu a mão de Phelan e a apertou até que a olhou. — Não te conhece. Não se lembra de nada.

— Nada? — Perguntou Phelan com um profundo cenho franzido. — Ian sabe?

— Não. Você é o primeiro Guerreiro que o vê.

Tristan colocou um copo de uísque diante dela, mas ficou segurando a garrafa. — E ele está na sala junto com você.

— Sim. — Phelan disse e limpou a garganta. — Quando chegou a Dreagan?

— Há dois anos.

Phelan olhou para Aisley. — É... Um Rei Dragão?

— Sim. — Disse Tristan com um sorriso torto. — O mais novo.

— Sua cor?

— Âmbar.

Rhi observou Phelan apertar a ponte do nariz com o polegar e o indicador. — O dragão âmbar. Eu o vi lutar na batalha com Selmyr.

— Sim e eu o vi. O que acontece? — Perguntou Tristan.

— Porque é...

— Isso virá mais tarde. — Disse Con sobre Phelan.

Rhi ficou rígida ao sentir o negro olhar de Con. Ela agarrou o uísque e o tomou, esperando se sentir mais forte para a inevitável batalha de palavras. O bastardo sempre soube como deixá-la irritada.

— Os encontrou? — Perguntou Con.

Ela assentiu. — Estão na Irlanda, em uma casa abandonada perto de Cork.

— Quem? — Perguntou Phelan.

Con suspirou e apoiou as mãos no encosto de uma das cadeiras. — Kellan e uma americana chamada Denae Lacroix.

Phelan levantou as sobrancelhas. — Kellan? O Kellan de quem tanto ouvi falar? Quando despertou?

— Denae o despertou. — Explicou Rhi. — Trabalhava para o MI5 e a enviaram para uma missão em sua caverna. Para encurtar a história, o MI5 a traiu, ela matou seu parceiro em uma luta e Con a tomou como prisioneira para descobrir o que o MI5 sabia.

Con voltou a colocar a cadeira sobre o azulejo e se sentou, com um olhar escuro sobre ela. Rhi rodou os olhos e notou que uma de suas unhas estava quebrada. Maldição, iria precisar fazer as unhas novamente e passar outra cor.

— Antes que pudéssemos tirar Denae do país com uma nova identidade e apagar suas lembranças, fomos atacados. — Concluiu Con.

Phelan olhou de Rhi para Con. — Por quem?

— MI5. — Rhi engoliu saliva e levantou o olhar para Phelan. — E os Fae Escuros.

Phelan se sentou na cadeira e passou as mãos pelo rosto. — Merda.

— Levaram Kellan e Denae? — Perguntou Aisley, com o cenho franzido.

Con negou com a cabeça. — Os superamos no cais, mas de alguma forma seguiram Kellan a Raasay e os capturaram ali.

— Hal e Faith me contaram sobre os Fae. — Disse Tristan. — Continuo dizendo que devemos ir atrás deles e pegar Kellan e Denae.

Rhi pegou a garrafa de uísque da mão se Tristan e voltou a encher o copo, tentando não notar como sua mão tremia. — Se violarem o acordo, haverá guerra.

— Levaram um dos nossos. — Disse Tristan.

Con pegou a garrafa e Rhi lhe deu um empurrão através da mesa. Levantou-se e encontrou mais copo, colocando-os na mesa e logo os enchendo e entregando a cada um dos presentes.

— Os Fae Escuros os levaram. — Disse Con depois de tomar um gole de uísque. — Os da Luz raras vezes prestam atenção.

— Não é verdade. — Disse Rhi irritada. — Estamos lutando contra eles desde sempre e continuaremos pela eternidade. É nossa sina. Assim como nunca nos derrotarão e nunca os derrotaremos.

— E se alguma vez decidirem unir suas forças? — Perguntou Aisley.

Rhi olhou a bonita esposa de Phelan e encolheu os ombros. — Foi feito uma vez antes. A guerra dos Reis. Isto não funcionou bem.

— Esqueça o passado. — Disse Con. — O que está fazendo aqui? Achei que iria ajudar a libertar Kellan e Denae.

Ela não queria brigar, especialmente agora que estava tão cansada. Estava muito cansada para negociar com Constantino, mas não podia demonstrar nenhuma fraqueza. Ele se lançaria sobre ela e nunca a deixava esquecer.

— Seu ódio te cegou? — Perguntou Phelan a Con. — Não pode ver que está esgotada?

Rhi se endireitou e forçou um sorriso brilhante. — Estou bem. Vim informar que os encontrei.

— Já nos disse onde estão. Volte e vigie. — Ordenou Con.

Foi demais. Ofereceu-se a ajudar por seu amor a um Rei Dragão, mas ela não era empregada de Con para ser mandada. Rhi tentou ficar de pé, mas suas pernas ainda se negavam a segurá-la. Em lugar disso, ela tentou jogar nele o copo.

Inclinou-se para o lado no último segundo e caiu no chão atrás dele, o vidro quebrou. Não podia impedir a ira que a enchia, nem queria.

— Rhi. — Disse Con com voz suave e serena. — Acalme-se.

— Me acalmar? — Repetiu consternada. — Não precisava adverti-lo de que o perigo se aproximava. Não tinha que ficar e advertir Kellan e Denae que os Escuros estavam chegando. Não tinha que segui-los a esta desagradável casa. Não tinha que voltar aqui e dizer nada. E cada vez, o que faz? Exige mais e tenta mandar em mim!

Phelan segurou uma de suas mãos. — Rhi.

— O que? — Gritou e o olhou.

Olhou a mão que segurava. — Está brilhando.

Rhi olhou para baixo para ver que de fato sua pele irradiava a brilhante luz branca que se mantinha dentro de alguns Fae de Luz, uma luz que poderia se usar para dar vida... Ou tirá-la.

Fechou os olhos e se concentrou em afastar sua raiva. Quando Rhi voltou a ficar tranquila, abriu os olhos e viu que todos a olhavam.

— O que foi isso? — Perguntou Phelan.

Con se inclinou sobre a mesa e serviu mais uísque em um copo antes de entregar a Rhi. — É algo que apenas uns poucos Fae têm. Em poucas palavras, Rhi poderia ter acabado com esta mansão e com todos dentro.

— Ou trazer a vida um reino moribundo. — Acrescentou com um olhar sombrio para Con.

Logo olhou para Phelan, Aisley e Tristan. — Deixei que minha irritação me vencesse. Por isso, me desculpo.

— Não precisa. — Disse Aisley com um sorriso tranquilizador em seu rosto e em seus olhos castanhos. — Estava a ponto de falar de Denae e Kellan.

Rhi se inclinou na cadeira e jogou o cabelo sobre o ombro. Ela queria tomar um banho e vestir uma outra roupa depois de passar tanto tempo com os Escuros. — Os Escuros os mantém juntos. Sabem que não podem matar Kellan, assim seu plano é torturar Denae até que fale.

— Não o fará. — Respondeu com seriedade, com os olhos cheios de ira e arrependimento. — Não nos trairá, não importa que promessas fez a Denae. E isto... Isto o destruirá.

Rhi assentiu com a cabeça. — Sim. Irá.

— Como superou todos os Fae Escuros? — Perguntou Tristan.

Ela mordeu a unha quebrada. — Precisei permanecer invisível.

Con franziu o cenho. — Está dizendo que entrou e saiu deste lugar com a esperança de que não a vissem?

Ela não queria dizer. Este era seu segredo, ninguém mais sabia. Se contasse agora, Con sempre saberia.

E nunca o esqueceria. O bastardo tinha a memória de um maldito elefante.

— Não. — Disse ela, esperando que deixasse por isto.

— Ficou invisível por um longo tempo? — Perguntou Con incrédulo, com a mandíbula frouxa.

Rhi se moveu em sua cadeira. Maldito Con por fazê-la escolher entre a mentira e a honestidade. Claro que se lembraria de que detestava mentir. Ela conseguiu isto do lado de sua mãe, um traço que todos os Fae de Luz não tinha.

— Rhi. — Pressionou.

Estava na ponta da língua mentir, mas mesmo enquanto tentava, sua pele começou a arder. Ela silenciosamente amaldiçoou o dom e enviou a Con seu pior olhar.

Apenas levantou uma sobrancelha loira.

— Sim. — Respondeu finalmente e golpeou um punho uma vez sobre a mesa. — Maldição Con. Porque tinha que pressionar?

Aisley olhou para seu marido através da mesa. — Porque não mentiu?

— Rhi não pode. Não sem muita dor. — Disse Con.

Rhi drenou o copo e o encheu novamente. — Os Escuros entraram na mente de Denae. Continuava falando de sua irmã Renee, que se afogou e de como todos a deixavam. Estava se afundando em depressão. Tentei ajudá-la, mas no final foi Kellan quem o fez.

— Ele o fez? — Perguntou Phelan. — Isto é impressionante.

— É apenas uma parte disso. — Rhi olhou através da mesa para Con. — Ela é imune a sedução dos Fae Escuros.

O rosto de Con ficou branco por um momento enquanto a surpresa surgia. — Como?

— Nem mesmo os Escuros sabem. Estão tão desconcertados como eu. Nunca ouvi falar disso antes.

Aisley disse. — Isto é uma boa notícia, não?

— Não. — Disse Con e Rhi ao mesmo tempo.

Rhi engoliu saliva e olhou para a mesa. — Sua... Aversão... A eles chamou a atenção de Taraeth. Considera Denae um desafio e não descansará até fazê-la sua.

— Porque os deixou, então? — Perguntou Con, com palavras curtas e duras.

Rhi levantou seu olhar para ele e logo girou a cabeça para Phelan. — Vim por você.


CAPÍTULO VINTE E NOVE


Cork, Irlanda

Rhys soube no momento em que viu o Pub11 Doras que era um pub para os Fae Escuros. Ele e Kiril trocaram olhares e atravessaram a rua.

Os postes estavam iluminados, a noite era escura. Música tocava ruidosamente e os jovens lindos enchiam o pub. Rhys viu os grandes Fae Escuros que vigiavam a porta.

Estava de pé na rua, com as mãos cruzadas na frente, com seu longo cabelo prateado preso em uma trança.

— Vou perguntar de onde tirou estas lentes de contato vermelha. — Disse uma jovem, correndo até o Escuro.

— Acha que nos reconhecerá como Reis? — Perguntou Kiril enquanto ambos homens diminuíam a velocidade uma vez que chegavam na calçada.

Rhys encolheu os ombros enquanto observava o Escuro com a fêmea perguntando sobre suas lentes. — É uma possibilidade. Mas tenho uma ideia.

Kiril levantou uma sobrancelha, mas se limitou a sorrir quando Rhys fez um gesto para quatro meninas de uns vinte anos que estavam ao redor de um poste. — Oh, gosto de sua forma de pensar.

Como um, os dois mudaram de direção e foram para as mulheres. As fêmeas os viram se aproximar e cada uma ficou mais reta, empurrando para cima os seios.

Era muito ruim que estivessem ali a negócios, porque Rhys não gostaria de nada além de pegar duas das garotas e se afastar dali na noite.

— Olá. — Disse uma fêmea de cabelo vermelho escuro e brilhantes olhos verdes. Ela tentou cobrir suas sardas com uma tonelada de maquiagem.

Rhys parou junto a ela. — Sempre fui parcial com ruivas, o cabelo vermelho e as sardas.

— Sardas? — Perguntou com os olhos grudados nele.

Rhys assentiu. — Sardas.

— O que as garotas estão fazendo esta noite? — Perguntou Kiril enquanto se aproximava entre duas garotas, piscando a cada uma.

Uma loira alta e de pernas longas olhou para Kiril de cima abaixo. — Escocês? O que iriamos querer contigo?

Rhys riu e puxou a ruiva contra ele. — Depois de provar um escocês, nunca irá querer outro.

Uma morena sorriu sedutoramente. — Isto que é orgulho.

— Sou um homem. — Disse Rhys. — Porque não entramos encantadoras damas e podemos... Conversar... Mais sobre isto?

— Estou dentro. — Disse a ruiva.

As outras se apressaram em aceitar. Mesmo quando os seis se dirigiram para a porta do pub, Rhys soube que poderia haver uma oportunidade de ter que usar magia contra os Fae Escuros que estavam ali.

Mas como qualquer homem governado por seu pau, um dos Escuros mal olhou para ele ou Kiril e apenas para as quatro fêmeas jovens ao redor.

Uma vez dentro, Rhys precisou se segurar enquanto olhava ao seu redor a todos aqueles Fae Escuros entre os homens e mulheres de Cork por trás das portas escondidas nas paredes.

Alguns saíram novamente, suas almas quase desaparecidas.

Aos demais nunca mais se ouvia falar.

Rhys olhou para as fêmeas ao redor. Não havia como deixá-las de boa consciência. Ante o olhar sombrio de Kiril, chegou a mesma conclusão.

— Este lugar não é para vocês. — Kiril disse sobre a música.

As mulheres imediatamente se ofenderam, todas falando ao mesmo tempo. Antes que Rhys pudesse falar, um Fae Escuro com o cabelo curto e um terno caro se aproximou.

— Há algum problema aqui? — Perguntou suavemente, olhando para a ruiva.

Rhys segurou Sardas perto dele. — Não. — Quanto menos dissesse, mais poderia afastar-se sem que o Escuro percebesse que era Escocês.

Os olhos vermelhos do Escuro se levantaram para ele. — Estava perguntando as damas.

Sardas, como se notasse que algo estava errado, segurou a mão da fêmea mais perto dela. — Nada está errado. Apenas queríamos sair.

— Sair? — Perguntou o Escuro, seu olhar estreito nela. — Porque quer sair?

— Tiveram uma longa noite. — Disse Rhys enquanto se colocava entre a ruiva e o Fae Escuro.

Os olhos vermelhos arderam completamente focados em Rhys. Todo o tempo Kiril foi rápido e silenciosamente tirando as quatro mortais do bar.

— É escocês. — Disse o Escuro, com os lábios apertados, como se apenas isto fosse repugnante.

— E você é irlandês. Estou contente por termos resolvido isto. — Disse Rhys com um falso sorriso. — Agora, conte-me porque todos usam lentes de contato vermelho?

Ia contra todo instinto de Rhys não matar o Escuro, mas precisava de informação sobre eles, seus planos, mas o mais importante era onde estavam mantendo Kellan e Denae.

O Fae Escuro rodou os olhos e girou sobre seus calcanhares para desaparecer entre a multidão.

Kiril bateu em suas costas. — Pensamento rápido.

— As mulheres estão a salvo?

— Sim. Também ficaram com medo. Acho que não virão mais a este lugar.

— Bom. — Rhys explorou o bar até que encontrou dois bancos. — É hora de começar a trabalhar.

Kiril esfregou as mãos. — Com prazer.

***

Denae não podia se mover. Emil usou magia para mantê-la contra a parede, as pedras frias e úmidas que estavam a fazendo tremer.

Havia uma luz antinatural em seus olhos vermelhos, uma que lhe dizia que era seu momento de brincar e que iria tirar o máximo proveito disso.

Queria olhar para Kellan e ver como se portava com Taraeth, mas não se atrevia. No segundo que o fez, foi o segundo no qual Emil entrou em sua mente.

Kellan lhe disse para permanecer alerta e isto era o que iria fazer. Não importava quanto a matasse fazê-lo.

Ouviu um grito de raiva saindo de Kellan. Pelo canto do olho o viu saltar, ficar de pé e lançar-se contra Taraeth, mas as correntes o impediram justo à altura do líder Escuro.

Houve um forte barulho e Denae fez uma careta porque sabia que era o ombro de Kellan saindo da articulação. E ainda assim atacou Taraeth.

Não podia ver o rosto de Taraeth, mas imaginava que se parecia com o de Emil, que estava aceso com júbilo e satisfação. Pensavam que ganharam.

Talvez tivessem.

Pelo menos no momento.

Mas Denae não tinha nenhuma dúvida de que um dia Kellan se soltaria. Quando o fizesse, não deixaria mais que destruição e morte no caminho.

Ela não sabia muito sobre Reis Dragões, mas reconhecia o perigo, a capa escura de ameaça a espreitava justo sob a pele e o músculo grosso.

Um pouco de imprudência o mantinha firme.

Até que alguém o empurrou.

Era um poder absoluto, um domínio absoluto.

Seguro, um controle impressionante.

Inclusive com raiva e ensanguentado, era magnifico. Neste instante, Denae o compreendeu completamente como um Rei Dragão. Era protetor, defensor e guardião do reino.

Também era juiz, jurado e carrasco de qualquer um que se atrevesse a machucá-lo.

— Você me olha, mas pensa nele. — Disse Emil enquanto a olhava. — Não pode tê-lo.

Denae engoliu e concentrou-se totalmente nos Fae diante dela. Era um incomodo, uma praga que podia causar um dano incalculável a seu corpo e mente se não fosse cuidadosa.

— Tem certeza de que estou pensando em Kellan? — Perguntou ela com um olhar astuto.

Emil abriu os lábios enquanto olhava sua camisa. Com um puxão, rasgou sua camisa grande em duas, deixando-a pendurada precariamente em seus braços.

As únicas coisas que separavam sua pele nua dos Fae eram seu sutiã e a calça de yoga. Em questão de segundos, mesmo estes se foram.

Denae ficou presa contra uma parede, nua e incapaz de se defender contra seu possível atacante. Era humilhante.

E exasperante.

Denae nunca sentiu tanta raiva feroz. Substituiu o medo, deixando-a fria e calculadora. Deixou que seu olhar caísse sobre os Fae Escuros com desprezo.

— Que triste. Nem sequer pode fazer com que um ser humano insignificante te queira um pouco. Seus dois amigos o presenciaram antes. Aposto que estão falando de você agora. Com que rapidez se estende os rumores entre seu povo, me pergunto?

A risada e o desejo sumiram instantaneamente de seus olhos, substituídos pela má intenção. Sua mão se envolveu ao redor de sua garganta e começou a apertar.

Atrás deles, viu Taraeth olhando sobre o ombro. Seus olhos brilharam vermelhos justo antes de gritar o nome de Emil.

— Ela é minha! — Gritou Taraeth.

A mão de Emil caiu e ele se afastou dela, mas com o olhar, prometeu retribuição.

Se Denae pensasse que se soltaria e teria controle sobre seu corpo novamente, estava totalmente errada. Com a atenção de Taraeth agora sobre ela, ele a olhou e sorriu perverso.

— Ah, sabia que seu corpo me agradaria, pequena humana.

Denae podia sentir medo de Emil, mas estava aterrorizada com Taraeth. Havia algo no líder dos Escuros que a fazia querer se aconchegar em um canto e cobrir a cabeça com as mãos.

Ele era o mal na Escuridão, a malevolência que espreitava nas sombras, esperando para capturar as mulheres desprevenidas. Era a morte disfarçada de prazer, mas ela o via como realmente era.

E a aterrorizou.

Desejou que sua roupa estivesse com ela. Denae se sentia impotente e incapaz, indefesa e fraca. Ao instante pensou em sua irmã e em como seus olhos imploraram a Denae que acreditasse em seu perseguidor.

O peito de Denae se apertou quando as emoções caíram como avalanche. Ao instante, ignorou estas lembranças e se concentrou em si mesma.

Tinha que haver uma forma de afastar Taraeth dela. Atacá-los com palavras não ajudou. Tampouco sua aversão a eles. De fato, isto pareceu excitá-los. O único que sobrava era fingir ceder.

Taraeth deu três passos para ela, seus olhos vermelhos a acariciaram dos pés à cabeça e novamente.

— Já terminou comigo? — Perguntou Kellan.

Taraeth parou ao ouvir as palavras de Kellan. Denae teve um respiro, mas não tinha certeza de que seria muito pela ansiedade nos olhos do líder.

— Descanse dragão. Vou tomar um pouco de prazer. — Disse Taraeth com um amplo sorriso dirigido a ela.

Denae enrugou o rosto. — Acho que poderia ficar decepcionado.

Tanto para fingir ceder. O pensamento de suas mãos sobre ela a deixava doente fisicamente e as palavras caiam de seus lábios antes que pudesse pensar melhor.

— Não com você. — Taraeth deixou as espadas em suas mãos desaparecerem e segurou seu pênis grosso. — Acho que vamos nos divertir muito, pequena humana.

— Você me interpretou mal. Ficará decepcionado porque não o desejo.

Taraeth parou. — Talvez a princípio, mas não pensará isto depois do prazer.

Denae não teve tempo de dar outra resposta enquanto rapidamente diminuía a distância entre eles e a beijava.

***

— O que quer dizer com que veio por mim? — Perguntou Phelan a Rhi.

A Fae tinha círculos escuros sob seus olhos e sua pele estava pálida. As linhas de fadiga ao redor de sua boca era outra indicação de que se empurrou a seus limites.

— É metade Fae, Phelan. — Explicou. — Pode encontrar os portais e entrar.

Virou o olhar para Aisley, que o olhava com olhos claros sem piscar. Era sua forma silenciosa de lhe dizer que o apoiaria em qualquer decisão que tomasse.

— Nunca encontrei um portal antes. Como tem certeza? — Perguntou.

O sorriso de Rhi foi pequeno. Os portais estavam fechados na Escócia. Havia um ou dois na Inglaterra, mas se realmente quisesse encontrar um, deveria ir para Irlanda.

Phelan não conhecia Kellan ou Denae, mas os Reis Dragões pediram ajuda, a ele e aos outros Guerreiros e Druidas do Castelo MacLeod em várias ocasiões. Como poderia afastá-los agora?

— O que preciso fazer?

Rhi fechou brevemente os olhos, o alivio saindo dela em ondas. — Isto não será fácil, garanhão.

— Quando foi fácil combater os druidas malvados? — Ele piscou e estendeu a mão sobre a mesa para Aisley. Uma vez que a segurou, uniu seus dedos. — Disse que os Escuros estavam em uma mansão abandonada?

Rhi lambeu os lábios. — Sim. Para entrar, terá que encontrar o portal.

— Será uma matança. — Disse Tristan.

Phelan voltou a olhar novamente para o Rei Dragão. Ainda não podia acreditar no rosto que lhe devolvia o olhar. Por muito que quisesse falar com Tristan a respeito, teria que esperar até que evitassem esta crise.

Con bateu os dedos sobre a mesa. — Sim, será. Há outra fora, Rhi?

— Sim. — Disse rodando os olhos. — Como se enviasse meu príncipe a uma armadilha mortal. Dê-me um pouco de crédito.

Phelan tossiu para cobrir uma risada enquanto Aisley colocava sua cabeça contra seu ombro, com um amplo sorriso.

— Bem? — Perguntou Con, com a voz cheia de desgosto.

Rhi voltou seus olhos prateados para Phelan. — O portal que necessita te levará a um labirinto de túneis subterrâneos.

— Os Escuros o usam? — Perguntou Aisley.

Rhi balançou a cabeça. — Os tuneis sim, mas não a porta. Criei o portal antes de vir aqui.

Tristan cruzou os braços sobre o peito e se apoiou contra a parede. — E estes túneis? Disse que os Escuros usam?

— Sem os Fae, não seriam mais que túneis subterrâneos rodeados por água. No entanto, os Escuros permitiram que a parede entre nosso reino e o deles... — Fez uma pausa e encolheu os ombros. — Tudo desaparecesse.

Con soltou uma série de maldições quando se levantou e começou a caminhar. Phelan olhou do Rei dos Reis para Rhi que estava observando suas unhas.

— Acha que haverá coisas desagradáveis nestes tuneis? — Perguntou Phelan.

Rhi assentiu em silencio.

Con girou sobre ela. — Quanto tempo faz que os conhece. Sabe o que poderia acontecer se alguma destas criaturas encontrarem seu caminho à superfície? Ou se um mortal decidir se aventurar por estes túneis?

Tão logo Con começou a gritar, os olhos de Rhi se estreitaram nele. Ela empurrou sua cadeira para trás e se levantou enquanto apoiava suas mãos sobre a mesa. — Eu os destruí. Nem sequer tomei tempo para alertar minha Rainha sobre o assunto. Vim aqui primeiro e sim, sei muito bem o que poderia acontecer!

Phelan olhou para Aisley que balançou a cabeça. Ele soltou sua mão e ficou de pé. — Quando antes irmos melhor, mas Rhi, precisa descansar um pouco.

— Não há tempo. — Protestou e virou a cabeça.

— Preciso que esteja bem. — Ele a olhou até que ela cedeu com um forte suspiro.

Tristan se afastou da parede. — Vou com você.

— Eu também. — Disse Aisley.

Phelan caminhou ao redor da mesa e puxou sua esposa a seus braços. — Sabe que a quero comigo, mas não desta vez, beleza. Se estes Escuros capturam você, uma Fênix não sabe o que fariam.

— Phelan tem razão. — Concordou Con. — É mais seguro para você aqui, Aisley.

Aisley levantou a cabeça e suspirou. — Encontrem Kellan e Denae, matem tantos os Escuros que ameaçarem a eles e vocês e logo voltem aqui o mais rápido que puderem.

— Sempre. — Prometeu e a beijou nos lábios.

Con olhou para Rhi. — Quanto tempo precisa... Para se recuperar?

— Estou recuperada.

— Isto é uma merda. — Disse Con, com irritação torcendo seu rosto. — Posso ver como está. Não teria uma oportunidade contra um Fae Escuro.

— Quer provar sua teoria? O que acha se deixar cair seu traseiro entre eles e ver quanto tempo dura antes que tenha que salvá-lo?

— O que há entre eles? — Perguntou Aisley em um sussurro. — Apenas a guerra?

Phelan colocou o cabelo longo dela atrás da orelha e se inclinou para dizer. — Pelo que entendi, Rhi se envolveu com um dos Reis antes.

Aisley abriu muito os olhos. — Foi com Con? Com certeza a odeia.

— Ninguém me deu um nome.

Con empurrou sua cadeira com calma, seu rosto uma máscara de indiferença. — Não é indestrutível Rhi. Talvez queira se lembrar disso quando estiver com seu príncipe e um Rei Dragão nestes túneis.

— Phelan e Tristan podem se ocupar de tudo o que encontrarem. — Respondeu com a mesma calma.

Tristan franziu o cenho. — Se estaremos nestes túneis, onde estará você?

— Com Denae e Kellan. — Respondeu Phelan enquanto a olhava. — O lugar onde os estão mantendo não tem acesso aos tuneis, verdade?

Rhi fez um leve movimento de cabeça, enviando o longo cabelo negro sobre suas costas. — Não. Terei que levá-los até eles.

— Enquanto permanecer invisível. — Acrescentou Con. Respirou fundo e lentamente o soltou. — Pode fazer isto novamente tão rápido?

— Eu farei.

— Pode? — Repetiu com mais firmeza. — Não quero que Usaeil me culpe por sua morte.

Em lugar de responder, Rhi se virou para Phelan. — Dê-me quinze minutos e logo iremos.

Antes que pudesse responder, se foi. Con se virou e saiu da cozinha, Tristan o seguiu. Phelan usou este precioso tempo com Aisley.

— Tem certeza disso. — Perguntou.

— Nunca estive no reino Fae. Não sei o que esperar ou o que poderíamos encontrar, mas tenho que fazê-lo.

— Eu sei. Apenas estou preocupada. Se eles podem capturar um Rei Dragão, o que fariam com você?

Ele a olhou nos olhos e sorriu. — Sou parte Fae, lembra-se? Logo descobrirão com quem estão lidando.

Não houve mais palavras enquanto se beijavam, o mundo sumia enquanto a paixão se elevava. Ele beijou-a uma e outra vez aprofundando o beijo cada vez.

Então, muito rápido, Rhi voltou.

— Eu te amo. — Disse Aisley.

Phelan piscou um olho. — Eu também te amo, beleza.

Seguiu Rhi para fora da mansão até onde Con esperava no vale. Mal caminharam quando um dragão com escamas âmbar passou pelo céu para aterrissar suavemente ante eles.

— Ele pode levá-lo em sua pata ou pode montar em seu pescoço. — Disse Con. — Sua escolha.

— Vou montar. — Disse Phelan enquanto caminhava para o dragão.

Tristan o olhou com olhos de dragão verde e estendeu sua grossa pata com cinco dedos e longas garras.

Phelan subiu no braço oferecido e colocou-se na base do pescoço grosso. Olhou para trás e viu a cauda, que tinha um ferrão na ponta.

— Como pode ter começado como um Guerreiro e agora se converteu em um Rei Dragão é um mistério. — Sussurrou Phelan.

Tristan girou a enorme cabeça e olhou para Phelan antes de abrir e fechar as asas.

— Está pronto. — Disse Con. — E você?

Phelan mal assentiu antes que Rhi se fosse. — Como saberá Tristan onde ir?

— Não saberá. Você sim. — Disse Con com um sorriso.

Phelan se segurou quando Tristan saltou no ar e subiu sobre as nuvens a medida que a noite descia.


CAPÍTULO TRINTA


Precisou de cada pedaço de controle, cada força de vontade para Kellan não puxar as correntes e tentar alcançar Denae. A fúria absoluta que o enchia, a pura possessividade que se apoderou dele por Denae o tomou de surpresa.

Não podia suportar vê-la nua e vulnerável por causa de um Escuro, mas pior que isso era que Taraeth a beijasse. A autodisciplina de Kellan estava diminuindo rapidamente enquanto mais tempo observava Taraeth com Denae.

Kellan sabia que isto viria, mas não esperava que o... Afetasse tanto. Quando Denae foi deixada no mesmo cômodo que ele, ficou obvio que sabiam que ela significava algo para ele.

Ao menos este era o pensamento de Kellan.

Até que Taraeth a beijou.

Então a única coisa que restou, foi a vontade de afastar Taraeth e Denae. E matar lentamente o líder dos Fae Escuros.

Kellan escondeu o rosto quando Denae abriu um de seus olhos e olhou diretamente a ele. Depois da noite que passou em seus braços, conhecia sua paixão. E agora não havia nada nos olhos cor de uísque.

Apesar de não devolver o beijo de Taraeth.

Kellan moveu seu olhar a Emil e viu o Fae observando-o com aberta malicia. Kellan levantou uma sobrancelha antes de girar e caminhar para a parede na qual estava acorrentado, o som do metal contra a pedra ecoando no cômodo.

Sentou-se e se inclinou para trás. Sua pele quente entrou em contato com a pedra fria e lhe ajudou a reprimir sua ira. Por agora.

Fervia a fogo lento.

Ardendo.

Denae era sua para proteger, sua para defender. Sua para... tocar. Kellan não era o tipo de compartilhar, especialmente com um Fae. Compreendia o interesse do Fae. Denae era única, valente, bela e tentadora.

Era seu atrevimento, sua coragem que originalmente atraiu a atenção de Taraeth, mas agora que o Escuro viu os tesouros do corpo de Denae, nada o impediria.

Kellan se concentrou na respiração deixando seus pulmões e logo os encheu novamente. Dentro e fora, dentro e fora. Sentiu que seus pulmões se expandiram quando Denae devolveu o beijo de Taraeth. Seus pulmões se comprimiram quando o ar saiu de seu corpo para ver Taraeth agarrar o traseiro dela.

— É difícil olhar? — Perguntou Emil, com uma careta de irritação fazendo seu lábio superior se levantar, mostrando os dentes.

Kellan se obrigou a afastar os olhos de Denae para olhar Emil. — Não sei. É? Quanto incomoda olhar a humana que Taraeth quer?

— É meu líder.

Kellan pensou em Constantino. Poderia ser o Rei dos Reis, mas Kellan não ficaria de pé e permitiria Con ter uma mulher que queria. Não, lutaria contra Con por ela.

— Apenas outra diferença entre nós. — Disse Kellan e fingiu bocejar. — Não compartilhamos nossas mulheres, nem sequer com Con.

O olhar de Emil se inclinou para Taraeth. — Nem sequer se Con exigir?

— Não, mesmo assim.

Enquanto Emil olhava furioso Taraeth, Kellan estava tentando não perceber como Denae não afastava o rosto do Escuro. Acabou caindo na lendária atração dos Fae como não fez inicialmente?

Kellan ainda não entendia porque Denae resistiu a sua sedução. Nenhum outro humano o fez antes. Nunca.

Taraeth terminou o beijo e olhou para Denae enquanto segurava seu seio. — Beija bem, pequena humana. Irei desfrutar de meu tempo contigo.

O sorriso de Denae era amplo enquanto ela o olhava com adoração. — Solte meus braços. Deixe-me tocá-lo. — Implorou.

Taraeth riu entre dentes e apertou o mamilo. — Tudo o que precisou foi um beijo e agora é minha.

Não!

Kellan freou o grito. Quase não conseguiu. Muitas vezes viu fêmeas humanas caírem desamparadas sob o feitiço Fae, mas desta vez cortava mais profundo que qualquer lamina.

Depois da luta de Denae, Kellan esperou que ela continuasse resistindo. Realmente precisava de apenas um beijo? Denae agora era sua sexualmente e mentalmente até que a destruísse?

— Eu a vi primeiro. — Disse Emil. — Eu a quero, Taraeth.

Taraeth não prestou atenção nele. — Pode tê-la quando terminar. Se alguma vez me cansar desta pequena humana. Acho que posso mantê-la pela eternidade.

Kellan cravou as mãos em suas costas e imaginou encontrar um dos muitos inimigos dos Fae e entregar Taraeth a eles. Assim ele saberia o que era ser um prisioneiro e torturado pela eternidade.

— Taraeth. — Começou Emil com voz mais firme.

Taraeth girou sobre ele, seus olhos brilhando. — Por acaso está questionando minhas ordens?

— Eu a quero. — Continuou Emil enquanto sua irritação aumentava.

Taraeth olhou para Denae. — Mas ela não te quis. Lembra-se? Ela o rejeitou.

— A você também.

Kellan sorriu. Era tão fácil dividir os Escuros. Se apenas o argumento evoluísse a uma batalha e então talvez Denae tivesse um tempo para respirar.

Quando ele a olhou, os olhos de Denae estavam sobre ele. Estava de pé com a cabeça no alto enquanto os Fae Escuros discutiam sobre quem usaria seu corpo.

Seus olhos cor de uísque estavam claros enquanto mantinha seu olhar fixo. Foi então quando percebeu que estava atuando para Taraeth. Fez um trabalho tão bom que inclusive o convenceu.

Então piscou um olho.

Kellan queria devolver a piscada, mas de repente a discussão terminou e ambos os Escuros o olharam. Esticou as pernas na frente e cruzou os tornozelos. — Não é um bom sinal quando um de seus homens o questiona, Taraeth. Não para alguém que afirma ter o controle absoluto.

— Gosta de fingir que não se importa com minha pequena humana, mas acho que se importa. — Disse Taraeth. — Acho que se importa muito. Quer chamar a atenção de volta para você uma e outra vez. Diga-me Dragão, como se sente ao saber que pode tê-la possuído, mas serei eu quem permanecerá em sua mente?

— Não vai deixar que fique em sua mente. — Disse Kellan com suavidade.

Taraeth se voltou para Denae e começou a brincar com seu cabelo. — Acho que poderia. Ela é excepcional, rara. Irá me agradar muito. — Seus olhos vermelhos se moveram para Kellan. — Limparei todas as lembranças dela até que acredite ser um Fae Escuro.

A apreensão se instalou no ventre de Kellan. Uma vez, há tanto tempo que era apenas uma lembrança, Kellan se lembrou de um Fae querer converter um humano. Não sabia se teve êxito ou não, mas o mero fato de Taraeth o mencionar não era um bom pressagio para Denae.

— Ela seria uma excelente Rainha. — Disse Taraeth. — Mas isto está em seus ombros, Dragão.

— Como?

— Você me dá as respostas que quero e não terei que machucá-la. Quanto mais a ferir, menos provável ela sobreviverá. Não posso fazer dela minha rainha se sua mente se foi.

Denae voltou a olhar para Taraeth como se ele pudesse lhe dar a lua. Kellan sabia que Denae era forte, tanto mental como fisicamente, mas sob o ataque da magia escura? Ao final, ela era ainda uma mortal e mais fraca que um Fae. Poderia lutar contra ele?

— Não direi nada. — Disse Kellan.

Por muito que quisesse protegê-la, não trairia seus irmãos. Havia muito em jogo. A ideia dos Escuros se aliarem aos humanos para capturar Kellan, dizia que algo grande estava a ponto de acontecer e dependia do conhecimento que estava oculto.

— Oh, mas o fará. Uma oportunidade mais. Diga-me onde está escondido.

Kellan sabia exatamente o que Taraeth estava perguntando. O primeiro Rei dos Reis o encontrou e escondeu. Não muito depois o mataram, também foram os três seguinte em rápida sucessão até que Constantino ocupou o lugar.

Apenas havia dois Reis Dragões que sabiam o que os Escuros procuravam, ele e Con. Mas Kellan suspeitava que os Escuros — ou quem quer estivesse aliado a eles — queriam os Pratas que estavam presos e permaneciam dormindo. Os estragos que estes dragões podiam causar no mundo seriam catastróficos.

Manter os Pratas dormindo era uma das muitas razões pelas quais nenhum dos Reis Dragão nunca se aventuraram a sair de Dreagan por muito tempo.

— Não. — Respondeu Kellan.

Taraeth colocou a mão sobre a cabeça de Denae e de imediato ficou branca, seu corpo tremia quando começou a gritar e se mover contra a magia que a mantinha no lugar.

— Posso machucá-la. Dolorosamente. — Disse Taraeth. — Logo bocejou e tirou o pó de suas botas.

Kellan apertou os dentes enquanto permanecia onde estava. Tudo dentro dele gritava para ir até Denae e salvá-la do sofrimento que apenas podia imaginar que estava suportando.

Neste momento, Kellan não podia compreender como pensou que poderia odiar Denae. Parecia que passou-se séculos desde que entrou em sua vida. Mudou muito e, no entanto, a mudança foi tão lenta que não a reconheceu até agora.

Vê-la com tanta dor foi pior que encontrar seus Bronzes mortos. Era insondável, imensurável.

Kellan tentou engolir enquanto a olhava, com a esperança de dar-lhe forças da forma que pudesse. Tinha que suportar, porque se não o fizesse, Kellan não tinha certeza se conseguiria.

Depois de uns segundos, Taraeth levantou a mão e seus gritos pararam. — Ou posso fazer isto.

Kellan mal teve tempo de registrar que Denae já não sentia dor antes que Taraeth passasse lentamente suas mãos por seus seios, por seu estomago até seu sexo. Sua mão parou nos pelos negros e um gemido baixo saiu dos lábios de Denae.

Sua cabeça caiu contra a parede e seu peito se levantou. Seus quadris se moveram levemente para frente, seus gemidos ficaram cada vez mais forte até que ela gritou enquanto um clímax oscilava através dela.

Frieza, fúria mortal encheu Kellan. Denae era dele. E o escuro se atreveu não apenas a torturá-la, mas dar-lhe prazer contra sua vontade.

Kellan iria matá-lo. Adoraria ver Taraeth morrer. Talvez deixaria que Denae o ajudasse e lhe permitisse se vingar do Escuro que invadiu sua mente e seu corpo. Poderia ajudá-la a se curar.

Nem sequer se permitiria pensar no que poderia acontecer se ela não saísse dali por si mesma. Ela era forte, uma sobrevivente. Repetia silenciosamente para si mesmo. Dava-lhe esperança, esperança que não sabia sequer que sentia.

— Isto foi lindo. — Disse Taraeth enquanto acariciava sua orelha. — Este é o primeiro de muitos, pequena humana.

Kellan não sabia o que era mais difícil de ver: a tortura ou o prazer. Ambos o afetavam de maneiras que ele desejava poder ignorar, mas não podia. Ambos o perseguiriam muito depois que escapasse daquele lugar.

— Todos os dragões se foram deste reino? — Perguntou Taraeth.

Kellan sorriu com frieza. — Claro que não, imbecil. Está vendo um.

— Não um Rei. — Disse Taraeth duro. — Seus dragões. Se foram?

— Sim.

— Todos eles? — Perguntou Taraeth.

Kellan assentiu com a cabeça.

— Quantos Reis Dragão permaneceram?

— Como se fosse dizer.

— Falou-me dos dragões.

Kellan começou a rir. — Porque isso, é uma tolice, um conhecimento comum. Não há nenhum segredo sobre isso. Enviamos nossos dragões para protegê-los.

— E o que faria se seus dragões já não estivessem protegidos?

Kellan tentou manter o sorriso no lugar, mas sabia que caiu. Não havia irritação, apenas uma frieza que se estabelecia ao redor como sempre o fazia justo antes de uma batalha. Estava concentrado, focado.

E pronto para matar.

— Nunca os encontrará. No entanto, se um dragão for machucado, saberá o que se sente ao ter cada Rei Dragão caçando-o e aos seus Escuros, Taraeth.

Suas palavras não pareceram perturbar Taraeth que usou magia para fazer Denae gritar novamente. — Na primeira vez usei magia. Desta vez colocarei minha marca nela e reclamarei seu corpo como meu Dragão. Diga-me onde o objeto está escondido.

— Mantenha-o falando. — Uma voz sussurrou em seu ouvido, uma voz que reconheceu.

Rhi.

— A ajuda está chegando, mas precisa tirá-lo daí para poder soltar-se e a Denae. — Continuou.

Kellan olhou ao redor. Podia sentir a presença de Rhi agora que se mostrou, mas não tinha certeza de como seria capaz de manter-se invisível por muito tempo.

Denae gemeu novamente, seus olhos longe dele. Estava envergonhada e tentando lutar contra algo que não podia. Kellan pensou que odiasse os humanos. Agora percebia que a verdadeira repugnância se concentrava unicamente nos Escuros.

— Você sabe onde está. — Disse Taraeth enquanto deixava seus dedos deslizarem entre as pernas de Denae. — Pode impedir isto se me disser.

Kellan não era estupido. Taraeth iria tomar Denae sem importar o que dissesse. Um olhar a Emil mostrou a fúria crescente do Escuro enquanto observava Taraeth tomar a humana que queria.

— Não tenho certeza de que tomar Denae diante de Emil seja uma boa ideia. — Kellan não escondeu sua presunção quando o olhar de Taraeth caiu sobre ele. Qualquer um que olhasse para Emil poderia ver sua fúria e a morte que desejava para Taraeth.

Taraeth olhou de Kellan para Emil. Todos os pensamentos de Denae foram cortados quando Emil soltou um baixo retumbar e atacou. Taraeth o bloqueou no primeiro assalto, mas em questão de segundos, a magia estava voando por todas as partes.

Kellan viu que Denae se encolheu o quanto podia, enquanto Taraeth rapidamente ganhava a mão e tinha os dedos ao redor da garganta de Emil.

Taraeth respirava ofegante, seu lábio em uma linha apertada e perigosa. — Voltarei depois de lidar com isto. — Prometeu e rapidamente desapareceu.

Por um tempo de quatro segundos Kellan não se moveu. Então Rhi se materializou. — Merda, já era tempo! — Exclamou.


CAPÍTULO TRINTA E UM


Denae queria ficar dentro do pequeno cômodo em sua mente que criou, esquecer que estava em um lugar que nenhum ser humano deveria estar jamais, sendo tocada por um Fae Escuro com intenção maligna.

Taraeth não apenas a tocou, ele invadiu seu corpo, deu-lhe um orgasmo com apenas sua magia. Ela foi assaltada de uma forma que nunca deveria ter acontecido. Sabia como se defender, como lidar com os predadores. Mas ninguém lhe falou dos Fae nem de como podiam controlar seu corpo e sua mente, sem importar o quanto lutasse contra.

Ela se sentia minúscula, insignificante. Usada. Era o mais horrendo que suportou. Não ajudou que sua pele ainda se arrepiasse pelo orgasmo feroz que Taraeth lhe impôs. Queria esfregar sua pele para apagar seu toque, seu cheiro dela.

A ideia de talvez nunca acontecer isso a fez retroceder mais neste pequeno quarto em sua mente.

— Denae. — Disse a voz de Rhi em seu ouvido. — Taraeth se foi. Está livre. Concentre-se em Kellan e lembre-se da noite especial em seus braços.

Ela virou a cabeça. Não queria ouvir Rhi e nem enfrentar Kellan. Um grito se levantou dentro dela quando percebeu que ele presenciou seu ataque. Ela se converteria realmente no ser humano fraco agora.

— Olhe para Kellan. — Sussurrou Rhi com urgência. — Olhe a ira em seus olhos pelo que te fizeram. Ambos estavam à mercê dos Escuros. Mantenham-se unidos.

Denae não tinha certeza de que poderia fazer o que Rhi lhe pedia. Era demais. Tudo era demais.

Rhi soltou um suspiro. — Maldição. Precisa ir até Kellan. Por favor, Denae. Isto o está matando. Pode ser que nunca demonstre ou diga, mas você o veria em seus olhos se o olhasse.

Denae queria ignorar a Fae de Luz, mas não podia ignorar a necessidade por Kellan. Estar em seus braços foi a melhor coisa em sua vida. Sentir seu toque, saborear seus beijos. Foi o céu na terra, algo que nunca imaginou existir.

Abriu os olhos para encontrar Rhi junto a Kellan. Falava em voz baixa com Rhi e não podia distinguir o que diziam.

Denae concentrou-se nos lábios de Kellan. Tinha os lábios cheios, os lábios que um homem como ele podia usar como uma arma. Pensou em seus beijos e em como os sentiu todo o tempo através de seu corpo, em sua essência e em sua alma.

O mesmo não podia dizer de Taraeth. Ele era no mínimo um anormal.

Denae bufou interiormente. Com muita intensidade para a sedução dos Fae. Mas os Escuros ainda não tinham ganhado.

Denae girou a cabeça, os últimos vestígios de seu controle se esvaindo quando se encontrou ainda presa pela magia Fae. Não podia se cobrir, não podia abrir caminho entre as pedras ou mesmo cobrir os olhos em uma tentativa de esconder as lágrimas que ameaçavam.

— Está indo bem. — Disse Rhi ao seu lado outra vez. — Concentre-se nisso. Muitos poucos poderiam enfurecer Taraeth como você fez. Bravo!

Denae ficou grata pela Fae não tentar se aproximar. Em seu lugar, Rhi estava do outro lado e colocou algo sobre ela enquanto falava sem parar e sorria com frequência.

Este gesto amável foi demais para Denae. Fechou os olhos e lutou contra a umidade que se acumulava em seus olhos. A última vez que chorou foi quando enterrou seu pai. Seu coração foi arrancado do peito enquanto observava como o terceiro membro de sua família descia ao solo em um período de quatro anos. Jurou não voltar a chorar.

— Está ferida? — Rhi perguntou suavemente.

Denae engoliu duas vezes antes de encontrar sua voz. — Não.

— Não sei quanto tempo temos. — Disse Rhi. — Tristan e Phelan estão vindo, mas tenho que tirar os dois daqui.

— Denae.

Ela virou o rosto mais longe nas pedras frias quando Kellan disse seu nome em uma voz suave e muito amável para vir de alguém como ele. Estava tão suja? Sabia que estava mal e a ponto de cair?

— Olhe para mim. — Disse ele.

Não tinha certeza se poderia. Não depois do que Taraeth fez. Era pior que o momento de dor que Taraeth a fez passar.

Dor que ela podia suportar. E ainda que não fosse estupida e não sentisse desejo pelo Fae, Taraeth foi capaz de manipular seu corpo com prazer.

Era doente, sujo e... Mau.

Quantas vezes mais Taraeth lhe faria isto? Pior ainda, quando a possuiria como prometeu fazer?

— Denae.

Desta vez a voz de Kellan era dura e exigente, quase fazendo-a enfrentá-lo.

Agora era o homem que conhecia. Frio, astuto e feroz. Aquele homem que ela podia entender. Dedicado aos Reis, dedicado a Dreagan e o único com o propósito de ambos na mente.

Abriu os olhos e lentamente girou a cabeça até que o olhou. Seus olhos como porcelana eram penetrantes, pontiagudos. Não fez perguntas, apenas o olhou. Então sua cabeça abaixou levemente como se perguntasse sem palavras se ela estava bem.

Denae respirou fundo e assentiu com a cabeça. Se ela pensava que Kellan teria compaixão por ela ou mostrasse um toque de compaixão, estava errada. Era algo bom também, porque teria desmoronado se houvesse feito.

— Rhi, tire as malditas correntes. — Disse ele com os dentes apertados.

A pequena Fae correu até ele e envolveu suas duas mãos ao redor de seu pulso. Sob suas mãos, procedente de todo o ferro, Denae poderia ter jurado que viu uma luz brilhante. No entanto, nem sequer isto pode soltar a algema.

Em lugar de ficar irritado, Kellan simplesmente deu a Rhi um leve empurrão de lado. O seguinte que Denae soube, foi que Kellan levantou sua mão, a palma para frente, justo nela.

Ela fez uma careta como se esperasse um golpe. Em vez disso, seus braços caíram dos lados e ela foi capaz de afastar-se da parede. Seu olhar foi para Kellan.

Os olhos prateados de Rhi ficaram grandes enquanto ela o olhava fixamente. — Pode fazer magia enquanto está acorrentado?

— Sim. — Disse irritado. — Simplesmente não posso me transformar.

Denae pegou a camisa masculina que Rhi colocou sobre ela e a vestiu. Chegou a parte superior de suas coxas, mas ao menos estava coberta.

Estava no processo de abotoar quando sentiu o perfume de Kellan. Esta era sua camisa. Rhi lhe deu sua camisa. Seus olhos foram aos dele para encontrá-lo olhando-a fixamente.

A camisa lhe lembrou os membros emaranhados, os longos beijos, os gritos de prazer e o desejo que jamais conheceu. Ela inalou seu cheiro outra vez e apertou a camisa. Agora era sua armadura.

Sem palavras, sem contato, Kellan lhe deu a coragem de ficar de pé novamente. Denae deu um passo para ele. Seu olhar não abandonou o dela e lhe deu a coragem de caminhar até ele.

Encontrou-a no caminho, até onde a corrente o permitia. Logo foi arrastada contra seu peito e seus braços ficaram tensos ao redor dela. Denae fechou os olhos e enterrou o rosto em seu pescoço enquanto se agarrava a ele com força.

Rhi tinha razão. Kellan não demonstrava suas emoções, mas se uma pessoa soubesse onde buscar, podia vê-la e senti-la. Como Denae o fazia agora. Seus braços tremeram e seu peito se levantou e caiu rapidamente. Suas mãos a agarravam com firmeza, como se temesse que nunca a abraçasse novamente.

— Está quase acabando. — Sussurrou Kellan.

Antes, seu olhar claro e sua inclinação de cabeça lhe deixaram envergonhada. Agora seu tato e suas palavras tranquilizadoras lhe davam o meio de se lembrar a profissional treinada que era.

Uma das mãos de Kellan deslizou por seu cabelo e segurou sua nuca. Ele a segurava com cuidado, como se estivesse tão afetado como ela pelo que aconteceu.

Neste momento, todo o medo que esteve cultivando se dissipou como se nunca o tivesse sentido. Devido a Kellan, porque era forte e poderoso, resistente e perigoso.

E porque lhe importava.

— Vá com Rhi. Ela a levará para fora. — Disse.

Denae afastou-se para olhá-lo. — O que? Você vem conosco. Apenas use sua magia nas algemas.

— Tentei. Estas foram feitas para bloquear um Rei Dragão. A magia escura usada não reconhece minha magia, nem sequer a de Rhi. Apenas um Escuro pode me soltar.

Denae não podia acreditar no que estava ouvindo. Depois de tudo o que aconteceu, era Kellan quem a segurava. Ela não iria sem ele.

— Leve-a. — Ordenou a Rhi. — Leve-a o mais longe possível daqui e assegure-se de que eu volte a vê-la.

Rhi franziu a testa e afastou o olhar. — Kellan.

— Resistirei ao que tem reservado para mim. — Disse. — Sem Denae, eles não terão como me influenciar.

Denae esperou para ouvir o seguinte argumento de Rhi, mas a Fae simplesmente agarrou sua mão e a levou para a parede de trás, onde a água pingava.

— Não. — Disse Denae e tentou retroceder, mas a Fae era mais forte do que parecia.

Denae olhou novamente para Kellan. Ficou de pé ali, um brilho tristeza em seus pálidos olhos verdes justo antes de Rhi puxá-la através da parede.

Encontrou-se de pé na beira de um córrego que serpenteava através dos tuneis dos Escuros. O frio a fez estremecer e enquanto ela esfregava as mãos para cima e abaixo em seus braços, Denae olhou furiosa para Rhi. — Não podemos deixá-lo.

— Não temos escolha. Se algum dos Escuros volta e descobre você antes de sairmos dos tuneis, sabe o que podem fazer. Sem você, Kellan pode suportar qualquer coisa. É uma responsabilidade.

— Porque lhe importa? — Perguntou ela com cuidado, sem saber se queria que fosse verdade ou não.

Rhi suspirou e balançou a cabeça. — Fez uma promessa. Kellan irá cumpri-la custe o que custar. Também fez uma promessa a seus irmãos. Dreagan e todos os Reis Dragões devem ser protegidos não importa como. As duas promessas podem destroçá-lo.

Denae deveria saber que não significava nada para Kellan. Era tola por ficar irritada, especialmente quando escolheu seu povo e sua forma de vida. Sua noite juntos significou algo para ela. Mudou-a.

E sem importar como se sentia, não se arrependia de nada.

— Eles Irão torturá-lo mais? — Disse. — Usarão as fêmeas?

Rhi olhou primeiro para um túnel e depois o outro. — Provavelmente. Temos que ir por este caminho. — Disse ela e apontou para a esquerda.

— Não. — Denae cruzou os braços sobre o peito. — Não irei a menos que Kellan vá conosco.

Rhi lhe deu uma palmada na coxa. — Maldição Denae. Não seja estupida. Ficar aqui não é exatamente seguro. Este túnel permite que o mundo Fae sangre o seu. Há perigo por todas as partes, mesmo atrás da parede onde está Kellan. Está tentando salvá-la para que possa cumprir suas promessas. Não deixe que isto seja em vão.

Denae abaixou os braços e olhou para a parede pela qual passaram. — Deve haver uma forma de desbloquear as algemas. Tudo tem uma fraqueza. As fechaduras podem ser quebradas, metal corroído.

— Se entrar novamente, não sei se poderei sair.

— Então não o faça.

Rhi rolou os olhos. — De verdade? Depois do episódio com Taraeth quer voltar para mais? Há uma possibilidade muito real de que nunca escape novamente. Confie em mim quando digo, que se Taraeth a pegar, nunca mais a deixará ir.

— Quer dizer se fizer sexo comigo. — Foi o suficiente para que Denae hesitasse. As sequelas de seu abuso ficariam com ela durante muitos, muitos anos.

Não queria ficar perto de Taraeth novamente.

Como se sentisse sua incerteza, Rhi disse. — Sim. Foi forte até agora, mas viu o fácil que usou seu corpo contra você. Pense nisso, mas multiplique por cem. Isto é o que será.

— Se não puder resistir.

— Quanto mais resistir, mais empurrará até que fique louca.

— Mencionou converter-me em Fae para ser sua Rainha.

Rhi pareceu horrorizada. — O que? Tem certeza que disse isso?

— Sim, tenho certeza. Pode fazer isto?

— É apenas outra razão para se afastar daqui.

— Ainda virá por mim, não?

Rhi esfregou a testa, a agitação a obrigou a bater o pé direito no chão. — Sim, o fará, maldição. Enquanto estiver em algum lugar, ele a encontrará.

— O que significa?

A Fae dirigiu seu olhar prateado para Denae e a olhou diretamente nos olhos. — Em qualquer lugar que não esteja um Fae de Luz ou um Rei Dragão.

Durante vários segundos Denae simplesmente devolveu o olhar enquanto sua mente repassava parte por parte. Ela olhava para tudo como se fosse uma missão do MI5.

— Está me dizendo que não posso viver minha vida agora? Que terei que ficar à mercê de seu povo ou os Reis Dragões? Baseando-me no que ouvi, não acho que seu povo me aceite e se deixar Kellan para trás, não acho que os Reis se alegrarão em me ver.

— Protegerão você. Por Kellan.

— Uau. Isto faz com que tudo seja melhor. Sua voz estava cheia de sarcasmo. Não quero voltar ali. Taraeth e cada um dos Fae Escuros me assustam a morte. Mas não posso deixar Kellan. Ele não me deixaria.

— O faria se isto significasse que os outros Reis Dragões e Dreagan estivessem em perigo.

A declaração de Rhi doía, mas ainda porque Denae sabia que era verdade. Mas era uma agente altamente treinada pelo MI5. Enfrentou cenários de medo antes. Isto, fosse o que fosse, era mais importante que qualquer coisa da qual fez parte alguma vez.

— Sou apenas uma humana. Não me importa o grande esquema das coisas. Os Reis Dragões são necessários. Precisam da ajuda de Kellan. Independente do que fizer, serei perseguida.

— É uma tola. — Disse Rhi, mas havia um sorriso em seu rosto. — Gostei de você desde o momento em que a conheci, Denae Lacroix e este momento é exatamente o motivo. Queria que todos os mortais fossem como você.

Denae riu o som cheio de medo e ansiedade. — Poderia estar caminhando para minha morte.

— Pelo menos não morrerá de dor.

Depois do que Matt e o MI5 fizeram por ela, era um plus. — Não sei se posso enfrentar Taraeth novamente.

— Conseguirá. É forte, como disse Kellan. Uma sobrevivente. Não deixe que a toque. Não é você quando está com ele. Está em uma missão e interpretando um papel.

Aquilo poderia funcionar. Era uma forma de Denae se distanciar de seu atacante, mas preferia matá-lo. — Precisei de todo o meu treinamento para fingir que desejo o toque de Taraeth.

— Será melhor que ele se aproxime de você, porque se suspeitar que é imune a seus encantos, irá entregá-la aos outros Escuros.

Isso foi o suficiente para colocar as coisas em perspectiva para Denae. Ela enfrentou a parede e respirou fundo. — Tem algum conselho para mim?

Rhi colocou as mãos nos ombros de Denae enquanto ficava atrás dela. — Seja forte garota e desejo sorte. Vai precisar.

Denae não teve oportunidade de comentar quando foi empurrada para trás através da parede.


CAPÍTULO TRINTA E DOIS


Kellan enviou Denae para longe sabendo que era o correto, mas lhe incomodava que foi tão facilmente. Ela era uma guerreira, uma que nunca deixava alguém para trás.

Mas ela o deixou.

Concedido, ele e Rhi não lhe deram uma opção, mas esperava que os humanos pensariam primeiro em si mesmo, sabendo que era imortal e poderia sobreviver. Por não falar do que aconteceu nas mãos de Taraeth. Era natural que quisesse ir.

Ela lutou contra o MI5, lutou contra os Escuros e venceu Taraeth sem que ele sequer soubesse. Ela era especial.

Ao menos Rhi, Phelan e Tristan a afastariam da Irlanda e dos Escuros para que Taraeth nunca pudesse colocar as mãos nela.

Kellan se perguntou se Denae continuaria viva quando finalmente conseguisse escapar. Con e os demais se assegurariam que ela fosse cuidada. Nem o MI5 nem os Escuros jamais conseguirão pegá-la. Disso tinha certeza.

Apoiou-se contra a parede e olhou as lembranças onde guardava cada minuto que compartilhou com Denae. Pensou em seu sedutor corpo, em sua boca sedutora e em seus gritos sedutores de prazer. Suas mãos se lembravam da sensação sedosa de seu cabelo, a pele suave como creme e cada curva e contorno.

Assombrosamente, ele encontrou tristeza, tristeza por ela ter ido embora. Deveria estar feliz por tê-la longe de Taraeth, mas tudo em que podia pensar era em tê-la com ele novamente.

Houve um momento depois que Taraeth se foi e pensou que Denae se rompeu, mas a mulher forte que ele conhecia enfrentou o mundo com cara valente.

Viu a incerteza em seu olhar cor de uísque e foi tudo o que pode fazer para permanecer onde estava. Uma parte dele foi arrancada quando a viu engolida pela magia, nua e fechando os olhos.

Kellan nem sequer percebeu que chamou seu nome até que a viu estremecer. Foi um sussurro, um sopro de necessidade que passou por seus lábios.

Foi então quando soube que precisava de força e poder. Escondeu sua raiva e suas emoções destroçadas e deu a Denae o que queria. Uma vez em seus braços, Kellan não queria deixá-la ir.

Ela tremeu, segurando-o como se fosse um salva-vidas. Se apenas as malditas correntes não lhe impedissem de se comunicar com os outros Reis através de sua conexão, se asseguraria que Guy apagasse as lembranças de qualquer coisa a ver com Taraeth para que Denae não tivesse que passar por este sofrimento.

Kellan deixou cair o queixo contra seu peito e fechou os olhos. Mesmo mentalmente não podia se despedir de Denae, não quando seu cheiro ainda estava grudado nele.

Como se seus pensamento a houvessem conjurado, Denae tropeçou através da parede, seus selvagens olhos cor de uísque indo diretamente para ele. Ela não disse uma palavra enquanto caminhava até ele e começava a puxar suas algemas sem sucesso.

— O que faz aqui? — Perguntou mais duro do que pretendia. Kellan estava irritado e satisfeito por vê-la. Uma vez mais o surpreendeu fazendo exatamente o contrário do que esperava.

Olhou para cima e lançou lhe um olhar severo. — Não atue como se não estivesse feliz por me ver. Vi seus olhos brilharem.

— Meus olhos não brilharam.

— Claro que não. — Disse ela com voz tensa quando colocou um pé contra a parede e puxou. — O que estava pensando?

Kellan a agarrou pelos ombros e a sacudiu diante dele. — O que está fazendo aqui? — Perguntou pela segunda vez.

— Alguém tem que salvar seu traseiro.

Tentou afastá-la, mas em vez disso a puxou para mais perto, seu olhar desceu até sua boca. Tinha o gosto de vinho e mel, sabia que seus lábios eram suaves.

— Sim. — Ela sussurrou sem folego enquanto seus dedos se cravavam em sua nuca.

— O que?

— A pergunta em seu olhar.

Mal podia pensar nela tão perto. Seu quente folego lhe acariciou a bochecha antes de dar-lhe um beijo na mandíbula. Era tão descaradamente sexual que lutou para não tomá-la neste momento, para afundar-se em seu calor úmido. Sua camisa parecia bem nela e era tudo que o separava de seu incrível corpo.

— Qual a pergunta? — Finalmente falou.

Seus olhos se encontraram, chocando-se. O desejo brilhava em seu olhar. — Está perguntando se poderíamos fazer amor. Minha resposta é sim. Preciso de você. Preciso senti-lo dentro de mim.

Como se pudesse negar este simples pedido. Mas ele sabia que era mais profundo que isso. Queria que o gosto de Taraeth fosse apagado de suas lembranças, tal como ele queria apagar tudo isto.

Sua mão tocou suas costas enquanto ele a apertava contra ele. Suas curvas, sua suavidade apenas estimulou sua paixão. Logo abaixou a cabeça e tomou seus lábios em um beijo sedutor que era ao mesmo tempo feroz e suave, selvagem e terno.

Selvagem e indômito.

Queria colocar a mão dentro de sua camisa, tocar seus seios. Mas parou. Ela não estava no controle com Taraeth. Para devolver o que foi tomado, ele a deixaria ter o controle.

Suas mãos permaneceram em sua cintura até que rapidamente desabotoou a camisa e tocou seu seio. Ela gemeu em sua boca, o mamilo ficando duro sob sua palma. Enquanto brincava com a ponta dura, desabotoou a calça e puxou pelas pernas.

A necessidade de conduzi-los era muito grande para ir lento, muito esmagadora para se segurar. Não importava os perigos.

Sentiu a necessidade de conduzi-la, dominá-la. Nenhuma vez Kellan cedeu o controle a uma fêmea, mas com cada beijo, cada toque de Denae decidiu ver a incerteza desaparecer e a mulher segura de si voltar.

— O que quer? — Perguntou.

— Você. Quero você aqui mesmo, neste momento. — Disse entre beijos.

Precisava entrar nela, precisava sentir suas paredes apertadas e escorregadias envolvendo-o.

Kellan sorriu quando empurrou seus ombros até que se sentou. Ela ficou sentada com as pernas abertas sobre ele, com um olhar feroz e provocante em seus olhos. Suas mãos ficaram em seus quadris enquanto segurava seu folego e ela se levantava sobre seu pau inchado.

Moveu-se, esperando ansiosamente que o calor úmido o rodeasse. Ela ofegou e gemeu, sua cabeça caiu para trás quando ela esfregou seu sexo contra a ponta de sua excitação.

Estava tão úmida, com o peito levantado e os mamilos duros. Uma mulher ruborizada pelo desejo e no controle uma linda vista para contemplar.

— Preciso senti-lo dentro de mim.

Algo profundo se moveu em seu peito. O que era aquilo que o puxava para Denae uma e outra vez? O que a fazia diferente dos demais mortais? Cada vez que pensava ter descoberto, ela o surpreendia novamente.

Sua cabeça se levantou e seus olhares se encontraram. Esperou que ela decidisse se isto era realmente o que queria. Quando um lento sorriso tocou seus lábios, suas bolas ficaram tensas.

Logo ela desceu devagar até que seu pau ficou completamente dentro dela. Ela gemeu tentadoramente e seus lábios estavam inchados por seus beijos, mas foram os olhos vidrados de prazer concentrados nele que roubou seu folego.

Ela começou a balançar os quadris, o desejo empurrando-a para frente. Suas unhas se cravaram em seus ombros enquanto mais duro lhe montava. Quando ela empurrou um seio em seu rosto, ele com impaciência tomou seu mamilo duro na boca e chupou profundamente.

O perigo era um elemento a mais que os enviava rapidamente ao clímax. Suas bolas ficaram tensas quando Denae sussurrou seu nome justo enquanto seu corpo se apertava ao redor de seu pau. Endureceu com a força do clímax.

No instante que suas paredes se fecharam ao redor dele, ele deu as boas-vindas ao seu próprio orgasmo enquanto viajavam juntos pelo caminho do prazer.

Tomou-os, os arrastou a um paraíso de luz, a um êxtase tão violento que fez Kellan estremecer até sua essência.

Ficaram como estavam, respirando pesado, com a cabeça de Denae sobre seu ombro. Lentamente levantou a cabeça e a beijou suavemente, de forma tranquila.

Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas suspeitava que fosse profundo. No entanto, não havia tempo para pensar agora.

Quando levantou os olhos para ele, Kellan soube de alguma forma que estava irreversivelmente conectado a ela. Deveria tê-lo horrorizado, mas tudo o que ele sentia era... uma constância que não podia entender.

— Quer saber porque os Escuros não têm controle sobre mim? — Perguntou Denae. — É você. Estava em seus braços. O tinha dentro de mim. Você quem me impediu de cair sob o feitiço.

Ele deslizou os dedos sobre os lados da camisa e puxou-a contra ele. Gostava de ter o controle e agora era sua vez. — Vou enchê-la uma e outra vez até que este bastardo seja apagado de sua mente.

— Já foi. Você fez isso. — Disse com um leve sorriso.

Kellan observou como ela ficou de joelhos e logo ficava de pé. Estando de pé a ajudou a abotoar a camisa até que seu lindo corpo ficou coberto uma vez mais. Não esperava sua declaração e o fazia sentir coisas estranhas e assombrosas. Limpou a garganta para ter tempo de recolher seus pensamentos. — Não deveria ter voltado.

— Cale-se e me ajude a descobrir como soltá-lo.

Sorriu apesar de tudo. — Não há fechadura, garota obstinada. Precisa de magia.

Ela olhou para ele e logo mostrou a língua. — Eu me nego a deixá-lo aqui, assim mantenha um olho aberto para quando estes idiotas voltarem e me deixe trabalhar.

Kellan subiu a calça, não surpreso ao descobrir que já estava duro para ela novamente.

Maldição, ela era linda.

***

Phelan limpou a roupa e olhou ao redor do vale irlandês. Não era tão diferente da Escócia, mas faltava certa... Selvageria que a Escócia possuía.

Um som por trás fez Phelan se virar. Viu Tristan caminhando através da pequena copa de árvores com nada além de uma calça.

— Na próxima vez, me avise antes de decidir aterrissar e me jogar no chão. — Disse Phelan.

Tristan encolheu os ombros friamente. — Deixe de se queixar. Nunca tive ninguém em minhas costas antes. Além disso, é imortal. Com o que está preocupado?

— Obviamente não tem uma mulher em sua vida. Irá explicar as coisas a Aisley quando voltarmos.

— Explicar o que? — Perguntou Tristan bufando. — Irá se curar, idiota.

Phelan passou a mão pelo cabelo. — Não irei Dragão.

— É exatamente o ponto. — Ele olhou para Phelan. — Agora, porque não para de resmungar e encontra o portal? Por isso está aqui, certo?

Phelan não conheceu Duncan antes de ser decapitado, mas passou muito tempo com Ian para reconhecer a teimosia da família Kerr que corria no sangue de Tristan. No entanto, Phelan se manteve à margem, já que o tema de onde vinha Tristan parecia ser um assunto complicado.

Deixaria isto de lado por agora, Phelan se concentrou na área. Na escuridão deixou que seu olhar realçado passasse pelo terreno como se fosse à luz do dia. Não viu nada à primeira vista, assim decidiu caminhar ao redor.

Havia uma mansão abandonada na seguinte descida. Mesmo nas nuvens, Phelan detectou milhares de portais Fae em toda Irlanda.

Não foi até que estivessem sobre Cork que ele os percebeu abaixo, mas havia um que se destacava mais brilhante, como se Rhi houvesse colocado luzes intermitentes ao redor dele.

— Ali. — Disse Phelan e apontou para a direita. — Está justamente ali.

Tristan coçou o queixo, precisando se barbear. — Vamos, então.

Caminharam ao lado do portal. Phelan fez uma pausa e olhou para Tristan. — Pode vê-lo?

— Não.

— Quantos Reis atravessaram um portal Fae?

Um músculo marcava a mandíbula de Tristan. — Três. Dois capturados pelos Escuros que mais tarde foram assassinados.

— E o outro?

— Entrou por sua conta.

Phelan sabia que estava escondendo algo. — Quem foi?

— Isso eu não sei. Mas já sabe a quem seguiu.

Quando Tristan não encontrou seu olhar, Phelan balançou a cabeça ao perceber a resposta. — Rhi.

Tristan soltou um suspiro. — Sim. O Rei seguiu Rhi.

— O que aconteceu?

— Está parte da história não sei. Apenas consegui a pouca informação que lhe dei.

Phelan pensou em Rhi e no quanto odiava interagir com os Reis. No entanto, agora os estava ajudando. Qual era a história entre Rhi e seu Rei amante? Virou-se para a porta e respirou fundo. — Suponho que será o quarto Rei a passar por um. Pronto?

— Estou pronto para matar um Escuro.

— Siga-me. — Disse Phelan enquanto avançava.

Deu um passo para o portal e sentiu o brilho mágico ao seu redor. Tão logo terminou, a umidade dos tuneis explodiu contra ele.

Tristan estava justo atrás dele. Soltou uma maldição amortecida. — Desculpe.

— Sim. Rhi disse que havia animais Fae caminhando, assim vamos manter um olho aberto.

— Certo. Por onde quer começar. — Perguntou Tristan, olhando primeiro em um sentido e logo no outro.

Phelan levantou as mãos. — Não sei.

— É parte Fae, verdade? Não pode senti-los?

— Não. — Exclamou Phelan. — Se pudesse, faria com que as coisas fossem muito mais fáceis. — Também podemos nos separar.

— Este é mais seu território que o meu, assim o deixarei escolher o caminho, Guerreiro. Apenas escolha corretamente.

— Certamente tem a disposição de um Rei Dragão.

Um lado da boca de Tristan se levantou em um sorriso. — Vá.

Phelan decidiu ir para a direita. Caminharam uns duzentos metros quando chegaram a uma encruzilhada. Phelan, uma vez mais, optou por ir para a direita e tão logo o fizeram se encontraram com a água correndo no meio do túnel.

Havia um pequeno córrego pelo qual a água passava. O pé de Phelan deslizou sobre uma pequena rocha e um de seus pés caiu na água.

Olhou para baixo para encontrar sua perna até o joelho completamente mergulhada. Ele e Tristan trocaram um olhar. Justo quando Phelan estava a ponto de sair, o olhar de Tristan ficou mais agudo.

— Há algo na água. — Sussurrou Tristan.

As ondulações moveram-se sobre a água, enquanto o que estava embaixo corria até eles. Phelan chamou seu deus. Sua pele ficou dourada e garras saíram de seus dedos. Levantou o braço, pronto para golpear qualquer coisa que saísse da água.

De repente, uma criatura grande como uma serpente com uma cabeça do tamanho de um cão pequeno se levantou e apontou sua boca aberta com impressionantes dentes para Phelan.

Ele moveu o braço para baixo, suas garras cortando a cabeça. Quando levantou os olhos, Tristan estava dentro da água e encontrou uma segunda cabeça, que arrancou com suas próprias mãos.

Tristan soltou a cabeça cortada e o corpo frouxo, voltando-se para Phelan. — Vamos seguir.

— Não me estranha que Con estivesse tão preocupado. Se alguma destas criaturas chegar à superfície, os mortais não terão nenhuma possibilidade escapar. — Disse Phelan enquanto voltavam a caminhar.

— Ainda sou novo em ser um Rei Dragão, mas descobri mais depois de uma visita a Rhi. Os Escuros não devem ter tanta liberdade neste reino. Parece como se os Reis assumissem que a Luz deveria manter os Escuros sob controle.

— Não parece como se fosse certo.

— Não. E é preocupante.

— Sim. Como a ideia dos Escuros aliarem-se com os mortais, especialmente o MI5. Com quem mais se aliaram?

Tristan encolheu os ombros. — Essa é uma pergunta que gostaria de ter uma resposta.

Phelan deixou a conversa enquanto percorriam os tuneis procurando qualquer rastro de Rhi, Kellan ou Denae. — Então realmente não se lembra de nada antes de se converter em Rei Dragão?

— Não. Deixe-me adivinhar, quer preencher os espaços em branco?

— Não tem vontade saber que vem de um grupo de homens conhecidos como Guerreiros? Quem é seu gêmeo?

— Não tenho gêmeo. — Tristan o empurrou quando fez uma pausa. — Não sei se me importa Guerreiro, responder a nenhuma de suas perguntas.

— Do que tem medo, dragão? Tem medo de saber o que aconteceu? Que é realmente Duncan Kerr?

Tristan parou e se virou para Phelan. — Chamo-me Tristan.

— O que se lembra de seu passado antes de se converter em Rei? — Perguntou Phelan.

Havia uma leve linha ao redor da boca de Tristan. — Nada. Você disse que tenho um gêmeo. Não me lembro disso. Para mim, minha existência começou quando caí naquela montanha completamente nu na neve. Pode ser que me pareça com este Duncan de quem fala, mas não sou ele.

— Ian descobrirá cedo ou tarde. O que dirá quando ele aparecer e você se encontrar olhando num espelho? — Phelan não sabia o que fazer com Tristan. Era Duncan, disso tinha certeza, mas não tinha lembranças de seu passado. Isto golpearia Ian.

— Não sei.

— Não conhecia Duncan. No entanto, conheço bem Ian. É um bom homem que sofreu a perda de seu gêmeo. Pode não se lembrar, mas ele te reconhecerá. Faça um favor a todos e não seja cruel com ele. É um bom homem.

Os olhos escuros de Tristan se estreitaram. — Acha que eu seria cruel?

Phelan estava começando a pensar que não. Tristan era tão parecido com Ian na ação e aparência, até o cabelo longo, que lhe incomodava. — Mas se houver um fragmento de sangue Kerr em você, fará o correto.

— Não faço promessas, Guerreiro.

Phelan deu um palmada nas costas dele e sorriu. — Isto é tudo o que posso pedir. Vamos, Dragão. Vamos procurar seus amigos. Talvez tenhamos sorte e encontraremos mais criaturas para matar.

— Agora isso soa divertido. — Disse Tristan se unindo a ele.


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS


Rhi ficou perto de Kellan e Denae. Sabia que era suicida, mas por alguma razão não podia deixar para trás o dragão.

— Estúpido estúpido dragão. — Murmurou enquanto caminhava pelos corredores fora do lugar onde estavam presos.

Rhi permanecia invisível. Ainda que pensasse ficar perto do casal, era o grito que vinha de algum lugar da arruinada mansão que chamava sua atenção.

Fae por natureza, eram criaturas sexuais que podiam ser benevolentes, mas normalmente não eram. Pensavam em seus próprios interesses em primeiro lugar, o que significava que na maioria das vezes os seres humanos eram vítimas.

Era uma das muitas razões pelas quais os Reis Dragões lutaram tão duro para manter os Fae fora de seu Reino. Rhi entendia seus argumentos, mas ela defenderia seu povo até o último suspiro. Ninguém era perfeito, menos ainda todos os Reis Dragão.

Tão lutadores como os Fae de Luz, não eram nada comparados com os Fae Escuros. Os Escuros eram agressivos, beligerantes e confrontadores. Buscavam sua presa e pensavam em sua tortura, ainda que os pobres mortais nunca soubessem o que os golpeou.

Mas quando os Escuros lutavam entre si, podiam ser francamente ruidosos. Baseado nos gritos que ouvia, definitivamente estava a ponto de ser uma luta.

Rhi tinha que saber se era Emil e Taraeth. Durante muito séculos esteve esperando que matasse Taraeth, mas até agora ninguém em seu grupo conseguiu derrubá-lo. Uns poucos tentaram, mas Taraeth os matou rapidamente.

Não demorou em encontrar o grupo no que restava de um quarto grande. Taraeth e Emil estavam no centro enquanto dezenas de Fae Escuros os rodeavam gritando enquanto esperava a luta começar.

Taraeth era o mais poderoso. Apenas mantinha sua posição ao derrubar qualquer oponente que se atrevia a desafiá-lo. E muitos o fizeram. O fato de ter escapado durante a batalha com os Reis Dragão e tivesse sido marcado, isso fora o pesadelo de sua existência. Apesar disso, conseguiu liderar os Escuros desde então.

Rhi se acalmou quando um Fae Escuro subiu atrás dela. Não se virou, nem sequer respirou. Estava invisível, mas isto não significava que um Fae não pudesse vê-la. Se concentrassem o suficiente, alguns podiam detectar outro Fae.

— Sei que está aqui. — Disse.

Rhi amaldiçoou interiormente o que estava perto e atrás dela. Se não estivesse tão decidida a desejar que Taraeth fosse derrubado, não seria pega desprevenida.

O último que queria era ficar presa na Escuridão. Podiam ser cruéis com os mortais, mas eram mortais para um da Luz. Sua tortura duraria até o infinito e seria horrível.

— Porque não vem brincar? — Perguntou, com a voz ofegante de sotaque irlandês.

Rhi lentamente se moveu a sua direita até que ficou longe. Logo virou a cabeça para olhar e sentiu que seu estômago caía a seus pés como chumbo quando o reconheceu.

Balladyn.

— Há apenas uma pessoa que pode ficar invisível tanto tempo. O que faz aqui, Rhi? — Perguntou suavemente, seus olhos vermelhos dançando ao redor para tentar localizá-la. — São tempos perigosos.

Engoliu saliva e lutou para não responder. Balladyn era um de seus melhores amigos. Foi o único a ajudá-la e a seu amante Rei Dragão. Pensava que tinha morrido na batalha com os Escuros.

Agora sabia a verdade.

E isso a fez querer chorar.

Balladyn, robusto e leal. Jamais teria imaginado que se voltaria à Escuridão.

— O que vai acontecer favorita, quando estiver muito fraca para permanecer invisível? — Perguntou suscintamente. Fez uma pausa por alguns segundos e levantou o braço.

Estava a apenas alguns centímetros. E ainda não podia se mover. Saber que Balladyn estava vivo foi um choque. Chorou por ele. Como queria abraçá-lo, logo lhe golpear por não a deixar saber que estava vivo.

De repente, sua cabeça se virou para ela e seus olhos vermelhos arderam quando a olhou diretamente. Rhi quase deixou cair o véu, mas se o fizesse, centenas de Escuros a veriam.

Com um último olhar a seu amigo, desapareceu novamente no túnel. Apenas então deixou cair o véu enquanto apoiava as mãos na parede de pedra e abaixava a cabeça.

Oh Balladyn.

***

Denae olhou para a fechadura e suspirou. Claro que não era uma fechadura tradicional que poderia abrir. Não, tinha que ser mágica como as de Raasay.

— Como disse, apenas um Escuro pode abri-la. — Disse Kellan.

Ela levantou um dedo para acalmá-lo enquanto olhava fixamente a fechadura. — Não. Deve haver outro caminho e vou encontrá-lo.

— Não há outro caminho sem magia. É o que é.

— Não acredito. — Ela não podia acreditar nisso, porque se o fizesse, morreria ali. E se negava a fazê-lo.

As correntes se agitaram quando Kellan a alcançou. Suas mãos a seguraram nos braços enquanto a fazia se virar para ele. — Não esperava que voltasse. Obrigado por isso.

— Esperava que o deixasse?

— Sim. Sou imortal.

Ela balançou a cabeça enquanto a ira aumentava. — Então é isso? Isso faz com que seja mais fácil eu ir embora?

— Sim.

Uma palavra. Uma simples palavra tinha o poder de fazê-la ver vermelho. — Você, asqueroso e obtuso. Golpeou cada ser humano que conheceu e pensou no pior. Deveria deixá-lo aqui por pensar isso, mas não deixo meus amigos.

— É isso o que sou? — Sussurrou casualmente, como se a ideia o divertisse.

— Não passo uma noite maravilhosa nos braços de um homem sem nenhuma conexão. Senti algo e ainda que saiba que você não, não poderia viver em paz se o abandonasse. Independente se é imortal ou não. Não é justo.

Quando não disse nada, Denae se afastou dele para que não a tocasse. Ela agarrou as correntes com ambas as mãos. Eram pesadas, os elos com um centímetro de espessura. Seria difícil até mesmo cortar os elos.

Que idiota pensaria que poderia haver algo entre ela e Kellan. Odiava os humanos e ainda que compartilhasse uma noite incrível, quando pensava que poderia haver algum tipo de conexão entre eles, ele não sentia nada.

Foi apenas sorte encontrar finalmente alguém que a afetasse como Kellan e ele não a queria. A injustiça de tudo isso a fez apertar as correntes para liberar parte de sua ira.

— Nunca tive um ser humano que me chamasse de amigo.

Denae disse a si mesma que não o olharia, mas não pode se conter. Quando o viu olhando-a com o olhar quente e cheio de emoção, quis envolver os braços ao redor dele e não o soltar nunca.

— Não me olhe assim. — Advertiu.

Ele franziu o cenho. — Como?

— Como se estivesse surpreso, como se na verdade gostasse um pouco de mim. Fará com que minha ira dissipe e gostaria de me agarrar a ela um pouco mais.

Kellan sorriu de repente. — Surpreende-me constantemente. Nunca sei o que vai dizer ou fazer.

— Bom. Odiaria me converter em um aborrecimento. Agora fique quieto para que eu possa resolver isto.

Suas mãos cobriram as dela. — Quanto mais tempo ficar, mais possibilidades tem de ser pega. Rhi arriscou sua própria vida para ajudá-la.

Denae não soltou as correntes. Deu outro puxão. Sua mão apertou e Denae ouviu uma rachadura.

Seus olhos foram para ele. — Ouviu isso?

Ele assentiu com a cabeça, surpreso por fazer com que seu rosto relaxasse. — Deixe-me tentar.

Denae soltou a corrente e deu um passo atrás, mas não importava o quanto tentasse usar sua magia, nada acontecia. — Minha vez. — Disse ela e afastou suas mãos do caminho.

Segurou a corrente no mesmo lugar que antes e a apertou, mas foi como se uma pulga estivesse tentando mover a Grande Muralha da China.

— Vamos tentar os dois. — Disseram juntos.

Kellan se moveu ao outro lado da corrente para que ficassem de frente e uma vez mais cobriu suas mãos com as dele. Ela assentiu enquanto apertava seu agarre e ele usava sua magia.

Houve um forte ruído antes de vários mais leves e logo a corrente se romper pela metade.

Denae cobriu a boca para esconder o sorriso. — Conseguimos.

Olhou a corrente quebrada e rapidamente agarrou sua mão. — Podemos celebrar mais tarde. Temos que sair daqui.

— Transforme-se em dragão.

Ele levantou seu pulso enquanto ainda mantinha as algemas. — Não é possível.

Denae rolou os olhos e colocou a mão nas algemas. — Não seja estúpido. Coloque sua mão sobre a minha. Se vamos sair daqui, precisa conseguir se transformar em um dragão.

Houve um momento de pausa antes de cobrir sua mão. A algema demorou mais que os elos. Os dedos de Denae começaram a adormecer, mas ela não se entregou.

Sentiu-se como uma eternidade mais tarde, quando as algemas se abriram e caiam no chão. Denae limpou o suor da testa e puxou Kellan da parede.

Ele agarrou a algema caída e eles correram pela parede, parando quando encontraram um túnel escuro.

— Porque trouxe isto? — Perguntou ela e apontou a algema.

Kellan levantou o ferro em sua mão. — Quero que pensem que ainda estou impedido.

— Gosto da forma como pensa. Agora, em que direção?

— Esquerda.

Ela foi atrás dele, com os pés batendo na água. Uma urgência a empurrava com força, fazendo-a sentir como se os cães do inferno estivessem em seus calcanhares.

Denae explodiu contra as costas de Kellan quando ele parou de repente. Olhou ao redor e viu o que parecia ser uma mariposa do tamanho de um carro com algum tipo de resplendor que estava pousada do lado do túnel, bloqueando o caminho.

Era impressionante, uma réplica exata das mariposas que ela perseguia nos verões quando era criança. Salvo que aquelas cabiam na palma da mão.

A mariposa gigante moveu as asas sem cuidado enviando uma onda de vento tão forte que teria golpeado Denae se Kellan não estivesse diante dela.

Denae deu um passo atrás e seu pé deslizou na água, espirrando forte. A mariposa levantou a cabeça e olhou diretamente para eles. Então abriu a boca e mostrou os dentes afiados.

Deixou escapar um rugido com saliva voando. Denae foi empurrada no chão por Kellan enquanto se lançava contra a mariposa justo quando empurrava a parede.

Denae não podia tirar os olhos de Kellan enquanto avançava habilmente, seu corpo movendo-se fluido, agilmente enquanto esquivava as garras da mariposa.

A escuridão dos túneis lhe impediu ver tudo, mas sua visão estava acostumada a presenciar o impressionante ataque de Kellan.

Correu até a mariposa, logo desviou até a parede. Justo quando a alcançou, se voltou e bateu, rodando a seus pés por trás da criatura gigante.

Com a mariposa limitada em seu movimento devido a seu tamanho, Kellan inteligentemente se manteve fora do seu alcance. Saltou sobre as costas da mariposa e agarrou sua cabeça, dando-lhe um puxão de lado.

A criatura caiu morta.

Kellan saltou quando caiu e aterrissou em seus pés perto dela. Estendeu a mão com um sorriso nos lábios.

— Deveríamos continuar?

Denae segurou sua mão e olhou a enorme mariposa enquanto passavam junto a ela. — Isso foi impressionante.

— Eu sei.

Ela fez um som na parte de trás da garganta. — Alguém te disse que é engraçadinho?

— Muitas vezes.

Denae não queria entrar nos tuneis com ninguém mais a seu lado. Kellan poderia ser engraçadinho, mas com movimentos como ele acabava de mostrar, tinha todo o direito de ser.


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO


A pele de Kellan se sentia muito apertada, sua irritação demais.

Sua fúria também era ilimitada.

Queria se transformar em dragão, mas não era o momento. A fim de ter sua retribuição com os Escuros por causa de Denae, queria encontrar com quantos pudesse antes que se transformasse e os eliminasse.

Denae tropeçou e com a mão segurando a sua, pode mantê-la de pé. Deixou sair uma série de maldições que o fizeram sorrir.

— Está sorrindo, verdade? — Queixou-se quando parou e tocou seu pé nu. — Ria da humana porque não pode ver na escuridão.

Franziu o cenho enquanto considerava suas palavras. — Poderia iluminar o caminho.

— Não. — Disse ela balançando a cabeça, seu cabelo castanho e cobre deslizando sensualmente sobre seus ombros. — Avisaria que estamos aqui.

— Se estiverem prestando atenção, nos ouvirão de qualquer forma.

— Não é inteligente contar exatamente onde estamos porque estou atrapalhando seu movimento.

Normalmente, Kellan teria concordado. Enquanto a olhava fixamente, achava que sua forma de pensar estava mudando quando se tratava dos humanos... rapidamente. E tudo por Denae.

— Os Escuros não a tocarão novamente. Nunca.

Kellan se surpreendeu ante a veemência de suas palavras. E a verdade nelas.

O rosto de Denae suavizou quando colocou a mão em sua bochecha. O que iria dizer parou antes que passasse por seus lábios. Ela abaixou o braço e olhou pelo túnel que estavam viajando.

— Rhi está perto?

— Não sei. — Disse Kellan enquanto lutava para suplicar que dissesse as palavras que guardava. — Porque?

— Ela poderia ficar comigo para que pudesse seguir adiante. Irá se mover mais rápido sem que eu o retarde.

— Não.

Ela rolou os olhos. — Oh, não fique louco. Estou tentando ser prática. Tenho treinamento, sabe disso.

— Não há treinamento para lidar com os Fae Escuros.

— É verdade. — Admitiu sem vontade.

Ele agarrou sua mão novamente e começou a caminhar. — Estamos perdendo tempo. Devemos avançar.

Ela não discutia enquanto seus passos se alargavam para manter-se com ele. Nenhuma vez se queixou do ritmo extenuante, do terrível fedor do lugar, nem do fato de que tivesse que descansar. Ela seguiu o ritmo dele enquanto ele fazia o possível para mantê-los se movendo silenciosamente e ajudando-a a não tropeçar em nada.

Caminharam durante meia hora antes que parassem enquanto algo maligno e furioso se precipitava pelo túnel que inclusive ela sentiu.

— O que foi isso? — Perguntou Denae enquanto estremecia.

Kellan a olhou, perguntando-se como ela sentia a magia dos Fae Escuros. — Sabem que fugimos. Taraeth vai nos procurar nos tuneis.

— Agora era o momento de se transformar em dragão. Pode nos tirar daqui.

Olhou acima deles. O túnel era alto, mas não sabia onde estavam. — Há uma possibilidade de estarmos sob uma cidade. Poderia matar dezenas de seres humanos enquanto explodo desde o chão. E se for dia, irão me ver.

— E se for apenas um campo?

— Não posso ter certeza. Permanecemos ocultos durante todos estes milênios porque não ousamos mudar em todas as oportunidades. — Inclusive quando queria tirar Denae da escuridão.

Maldição, mas era difícil não sucumbir à sua necessidade e se transformar.

— Então é melhor nos movermos. — Disse Denae e começou a correr.

Kellan a alcançou e a tirou de uma bifurcação com a qual quase topou. Mantiveram-se neste ritmo enquanto se moviam de um túnel a outro.

— Como sabe aonde ir? — Perguntou sem folego.

Não podia dizer que era tudo por coincidência. Em seu lugar disse. — Minha magia.

Uma risada suave saiu dela. — Mentiroso. Apenas está adivinhando.

Um som soando a distância logo à frente os fez parar. Ele a pegou nos braços e sussurrou. — Estou. Com medo agora?

— Estou com medo desde o momento que vi o primeiro Fae no cais.

Ela escondeu bem, o que o fez a apreciar mais ainda. Seria quase impossível lidar com ela se fosse histérica.

— O que foi? — Sussurrou ela.

Inclinou a cabeça perto de seu ouvido. — Ouço algo se aproximando na curva.

Ela assentiu com a cabeça para dizer que entendia o perigo e esperou enquanto ele se movia na frente dela. Kellan se surpreendeu com a facilidade que funcionavam como uma equipe. Ela parecia saber exatamente o que queria ou o que faria sem nenhuma palavra pronunciada entre eles.

Soltou sua mão e relaxou quando sentiu que seus dedos agarraram a cintura da calça. Ela não puxou enquanto caminhava atrás dele. Permitiu que suas mãos ficassem livres e que a mantivesse a salvo. O único inconveniente era que se moviam lentamente.

Quanto mais Kellan se aproximava de onde ouviu o som, mais seus músculos se agrupavam, prontos para lutar. Moviam-se passo a passo, silenciosamente, sigilosamente.

Justo antes de chegar ao lugar, Kellan tocou sua mão. Instantaneamente, ela o soltou e ficou atrás enquanto seguia para a leve curva do túnel.

Kellan lutou para não se transformar em dragão. Esperava que fosse um Fae Escuro. Queria matar cada um deles pela tortura que Denae suportou em suas mãos.

Apertou a mão direita e se lançou no canto da curva ao mesmo tempo que dois homens se aproximaram dele. Um macho o agarrou pela garganta enquanto o outro deixava sua pele dourada.

— Kellan? — Perguntou o macho que segurava sua garganta.

Estreitou o olhar e reconheceu Tristan. — Sim.

Tristan o soltou e deu um passo atrás. — O encontramos Phelan.

Kellan olhou além de Tristan para o Guerreiro que estava olhando-os. — Phelan. Você que é parte Fae?

Phelan assentiu com a cabeça. — Viu Rhi?

— Não por um tempo. Os Escuros sabem que Denae e eu estamos nos tuneis. Não podemos ficar.

Phelan se virou e indicou que os seguissem. — Podemos levá-los de volta.

— Espere. — Disse Kellan enquanto atraia Denae a seu lado. — Não vou.

O sorriso de Tristan era amplo e astuto. — Sabia que não o faria. Posso não ter participado da primeira guerra contra os Fae, mas serei parte desta.

— O que seja. — Disse Phelan. — Vamos.

— E Rhi? — Perguntou Denae. — Poderia os Escuros a terem capturado?

Phelan balançou a cabeça. — Rhi é muito inteligente para isso. Está em perigo, sem dúvida, mas sairá quando souber que estamos livres dos túneis.

— Quanto falto para sairmos? — Perguntou Kellan.

Tristan encolheu os ombros. — Dependendo do rápido que formos, poderíamos estar fora em três quartos de hora.

— Está o portal afastado de qualquer cidade?

— Sim. — Tristan disse com um sorriso. — Está situado em um campo aberto.

Denae colocou o cabelo atrás das orelhas. — O que te parece agora? Estamos sob um campo.

Foi Phelan quem negou com a cabeça. — Estamos indo na direção da cidade mais próxima.

— Maldição. — Murmurou Denae.

Kellan pegou sua mão, sabendo exatamente o quanto estava frustrada. — Phelan, vá na frente. Vou seguir com Denae atrás de mim.

— Ficarei na retaguarda. — Disse Tristan.

Kellan assentiu. — Quero proteger Denae sem importar o que for preciso.

Phelan esfregou as mãos, suas longas garras douradas fazendo clic. — Ela está protegida. Agora, vamos sair deste lugar desagradável.

***

Rhi voltou ao quarto onde Kellan e Denae estavam presos apenas para descobrir que desapareceram. Olhou surpresa para a corrente quebrada.

Não importava o forte que fosse um Rei Dragão, não podiam quebrar uma corrente feita por um Fae Escuro. Mas algo — ou alguém — foi capaz de fazê-lo.

Rhi se ajoelhou junto a corrente e estendeu o braço para tocá-la quando a porta se abriu. Ela tinha poucos segundos antes de ser vista.

Seu poder estava se esgotando. Não podia permanecer invisível por muito tempo, mas tinha que descobrir o que podia. Levantou-se e afastou-se quando Taraeth, com a roupa enrugada e ensanguentada, parou na porta e ficou olhando com a boca aberta para o quarto.

— Onde estão? — Gritou.

Os homens atrás dele imediatamente se viraram e saíram correndo do quarto, gritando ordens para procurarem no castelo e nos túneis.

Taraeth passou junto a corrente quebrada até a parede traseira. Olhou-a durante vários segundos antes de murmurar. — Como se soltou Kellan? E o mais importante, como soube que era uma porta?

Rhi fechou as mãos. Taraeth derrotou outro rival. Ninguém o derrotaria nunca?

De repente, a cabeça de Taraeth girou em sua direção. — Quem te ajudou, Kellan? — Perguntou.

A magia de Rhi estava se desgastando. Podia odiar Taraeth, mas sem o véu não teria muita magia com a qual lutar. Não tinha outra opção que ir.

Apareceu nos túneis e deixou cair o véu. Seus joelhos enfraqueceram e ela golpeou o chão com força. Rhi fez uma careta de dor quando uma pedra cravou em seu joelho esquerdo.

Balladyn estava vivo. Taraeth matou outro rival depois de sequestrar um Rei Dragão e a mulher de Kellan. Sem mencionar o MI5 ter uma aliança com os Escuros.

Tudo o que Rhi precisava dizer a Usaeil. Não podia ir até sua Rainha ainda. Kellan e Denae, estava em algum lugar nos túneis e não tinha certeza se Phelan e Tristan os encontraram.

— Uma bagunça na qual se meteu. — Disse Rhi.

Ela ficou de pé cansada. Como odiava se sentir impotente quando sua magia estava esgotada.

— Não é um bom lugar para ser fraca, mascote.

O suave irlandês, com carinho. Rhi não precisava se virar para saber que Balladyn a encontrou.

— São tempos perigosos. — Disse. — Muito perigosos para pessoas como você.

— Muito mudou. — Rhi se virou lentamente e encontrou o olhar vermelho de Balladyn. — Para nós dois, parece. Pensei que estivesse morto. Chorei por você.

— Era melhor pensar que estava morto. — Seu olhar se moveu e ficou mais duro. — Sei o que acontece com os Fae de Luz que se debilitam aqui embaixo.

— Sim. Veio para me levar a Taraeth. — Ela se surpreendeu, até suas botas estavam arruinadas agora. Balladyn era seu amigo mais querido. O que aconteceu?

Balladyn inalou profundamente. Seu longo cabelo escuro estava agora na altura do queixo e tinha mechas prateadas. — Finalmente. Tenho algo mais para você.

A ameaça em suas palavras gelou o sangue de Rhi. — Porque sou tão especial?

— Como se não soubesse, mascote.

Rhi lambeu os lábios e esperou que sua magia fosse forte o suficiente contra uma tão poderosa como Balladyn. — Oh e o que é?

— Não deveria ter vindo aqui. Esperava rastreá-la, fazê-la correr e se preocupar. Já sabe como sempre adorei a emoção de uma caça.

Acreditava em cada palavra. Em todos os anos que conheceu Balladyn, nunca disse algo que não queria dizer. O fato de que estivesse ameaçando sua vida lhe dizia que era verdadeiramente um Escuro.

— A guerra está chegando, Balladyn. Guerra contra a Luz e guerra contra os Reis Dragões. De qualquer forma, lutarei contra a escuridão. Escolha seu lado sabiamente. Não me obrigue a matá-lo.

Ele sorriu, mas não alcançou seus olhos vermelhos. — O tempo para conversa acabou Rhi, porque o mundo como você sabe está a ponto de acabar.

Ela se agachou justo quando ele enviou várias explosões de magia para incapacitá-la. Com isso o último vestígio de sua magia desapareceu.

 

 


CAPÍTULO TRINTA E CINCO


Denae não tinha certeza se tratava de uma rocha ou algo mais que cortou a parte inferior de seu pé. Não disse nada a Kellan ou aos outros. Que bem faria? Precisavam sair rapidamente dos túneis e ela ainda podia caminhar.

Phelan e Kellan pararam frente a ela e se ajoelharam. Denae rapidamente seguiu o exemplo para que Kellan se movesse e ela permanecesse entre ele e Phelan que se moviam na escuridão.

— Quanto está sangrando? — Sussurrou Tristan.

Denae suspirou. Não podia esconder nada desses homens. — Estou bem.

— Está mancando. Não demorará Kellan perceber.

— Não vou diminuir o ritmo.

— Não disse que o faria.

Olhou atrás dela, mas não podia distinguir os traços de Tristan na escuridão. Sentia-se estranha ao estar na companhia destes homens. Reis Dragão e Guerreiro.

Eles eram protetores de uma forma que nunca experimentou antes. Diferente dos homens mortais que pensavam que deveria reconhecer seu lugar como uma mulher ou os que a consideravam como uma igual que podia cuidar de si mesma, Kellan a fazia se sentir protegida e em paz.

Era arcaico em seu pensamento de sexo frágil, mas isto não lhe impedia de permitir que lidasse com o que acontecia.

Era... Refrescante e totalmente incrível. Apoiou o ombro contra a parede do túnel e pensou em Kellan. Um Rei Dragão. Um Dragão e um Rei.

Um homem magnifico que beijava como se não houvesse amanhã e que fazia amor habilmente, muito habilmente. Poderia tê-la deixado morrer. Em seu lugar, a levou a uma viagem que abriu seus olhos a um mundo completamente novo, lindo e assustador.

Como não iria querer saber mais sobre ele?

Como não iria querer ficar em seus braços?

Como não iria se apaixonar por este homem?

Denae abafou uma risadinha. Estava apaixonada por Kellan. Era ridículo. Não apenas se apaixonou por ele, Ela caiu e se afundou de cabeça por Kellan. Impulsivamente, imprudentemente.

Conhecia o tipo de homem que era: honesto, seguro e vigilante. Não queria gostar dele e nem sequer tinha certeza de que ele gostava dela.

Desfrutou de seu corpo e lhe deu prazer indiferente do que acreditava possível. Mas ele era de outro mundo que não tinha lugar para ela nele. Ele a protegeu apenas porque deu sua palavra.

Uma vez que estivesse a salvo... bom, sabia exatamente onde estaria com ele.

Nem sequer sabendo que ela terminaria sozinha com apenas suas lembranças poderiam impedir seu coração de amá-lo.

Uma quente e grande mão cobriu a dela. Denae soube ao instante que era Kellan.

— Pronta? — Sussurrou.

Ela assentiu, sabendo que podia vê-la.

— O que foi?

Denae franziu o cenho. — Quero sair deste lugar.

Houve um momento de silêncio antes de dizer. — Vamos.

Levantou-se e voltou a agarrar o cinto. Caminharam pelo que parecia horas, de vez enquanto paravam para ouvir, enquanto em outras ocasiões corriam distancias curtas.

Duas vezes Kellan a empurrou fora do caminho enquanto ele, Tristan e Phelan lutavam contra qualquer monstro que cruzava seu caminho. O túnel ficou tão escuro que mal podia distinguir formas e muito menos saber do que se tratava. Uma parte dela não queria saber depois de ver aquela mariposa gigante.

Todo o tempo, ela se preocupou com Rhi. E não era a única. Phelan não ficou feliz quando Rhi não apareceu.

— Ela ficará bem. — Disse Kellan. — Acredite em mim.

— Como sabe? — Perguntou Phelan.

Denae sentiu Kellan encolher os ombros. — Conheço Rhi há muito tempo, Guerreiro. Se qualquer Fae é capaz de zombar de um Fae Escuro, é Rhi. Ela não está na Guarda da Rainha por nada.

— Guarda da Rainha. — Repetiu Tristan. — A Rainha de Luz precisa de um guarda?

— Desde que a Rainha rara vez sai de seu palácio, não. É mais uma posição de honra ocupada por guerreiros de Luz mais fortes e leais e Rhi ganhou este direito. — Explicou Kellan.

— Não a viu em Dreagan. — Apontou Phelan. — Tristan a encontrou colapsada no chão. Estava pálida e... fraca.

Tristan murmurou. — Sim, estava.

Denae esperou a resposta de Kellan, mas os segundos se passaram, fazendo-lhe acreditar que não iria dar uma.

— Há muito que não sabe de Rhi. — Disse finalmente.

— Quem era o Rei Dragão com quem teve um romance? — Perguntou Tristan.

Chegaram a uma parada instantânea, o que fez Denae bater nas costas de Kellan. Nem sequer se inclinou adiante com o impacto.

— O Rei a deixou? — Perguntou Phelan.

Denae percebeu que sua voz se aproximou e isto significava que provavelmente enfrentava Kellan agora.

— Foi há muito tempo. — Disse Kellan.

— O que aconteceu?

— Pergunte a Rhi.

— Estou perguntando a você.

— Não vou contar.

Denae rolou os olhos e se moveu ao redor de Kellan para parar entre ele e Phelan. Teve que abrir caminho entre eles e deu um leve empurrão em Phelan, que assim teve que retroceder. — Vamos. Não é a história de Kellan para contar. Se quiser saber, pergunte a Rhi.

— É você? — Perguntou Phelan a Kellan como se não tivesse ouvido Denae.

— Não. Não diria que é uma amiga, mas é o mais parecido ao que tenho de amigo, exceto os outros Reis Dragões. — Respondeu Kellan.

Depois de um momento, Phelan se virou e afastou. Denae estava a ponto de voltar ao seu lugar atrás de Kellan quando suas mãos caíram em seus ombros e ele a girou para enfrentá-lo.

— Pensou em me proteger do Guerreiro?

Era uma risada que ouvia em sua voz? Odiava que não pudesse ver seu rosto, mas ele podia ver cada emoção sua. — Proteger? Como se precisasse. É um Rei Dragão. Simplesmente queria acabar com o que estava crescendo rapidamente fora de controle. Se não notou, Phelan é muito parcial com relação a Rhi. Pensa nela como uma irmã.

— Percebi. — Disse suavemente.

Denae engoliu saliva, insegura de seu tom suave. Suas mãos subiram pelos ombros até seu pescoço enquanto seus polegares brincavam com seus lábios.

Não percebia que seu tato era tudo o que precisava para acalmá-la? O túnel com todas suas surpresas horríveis e o cheiro repugnante, sumiu. Apenas havia Kellan.

— Se colocaria entre um Rei e um Guerreiro?

Estava tendo dificuldades para manter seus pensamentos alinhados enquanto seu polegar traçava seus lábios. Diminuiu a distância entre eles e seu calor a rodeou. Incapaz de resistir, apoiou as mãos em seu peito.

— Não. Sim. — Fechou os olhos por um momento. — Não sei.

— Porque?

Porque? O quer queria saber? Estava tão perto que podia apoiar o rosto em seu ombro. Mas eram seus lábios que queria.

— Porque ficaria entre dois imortais? — Perguntou.

Denae encolheu os ombros. — Não gosto que o enfrentem.

— Então estava tentando me proteger?

Quando dizia assim, soava ridículo. Denae abriu os lábios para dizer que não, assim quando a boca dele caiu sobre a dela em um beijo feroz.

Agarrou-a, capturou-a.

Ele a dominou.

E ela amou cada segundo.

O beijo a deixou tonta e necessitada, mas acabou muito rápido. Manteve suas mãos de cada lado de seu rosto como se não pudesse afastá-la. Apenas então ouviu sua respiração ofegante.

— Quero você. — Ele sussurrou.

Denae sorriu porque sabia que isto era o mais parecido a uma confissão de afeto que Kellan faria.

E estranhamente, era o suficiente.

— Tire-me desse túnel e pode me ter.

Bufou e deixou cair as mãos. — É uma promessa?

— Pode apostar.

— Vou manter isto. — Disse ele enquanto segurava sua mão. — Tristan.

Denae ouviu o som de passos e percebeu que Tristan se afastou em algum momento durante sua interação, mas estava muito ocupada com Kellan para perceber.

Kellan era uma distração perigosa. Mas se alegrava de tê-lo. Deixava a vida interessante e divertida outra vez. A fazia querer abraçar a vida e ver onde a levaria.

E nada disso incluía fugir pelos seus dias do MI5.

Esqueceu seu pé machucado quando começaram a correr pelos túneis. Chegaram a uma bifurcação e Phelan suavemente chamou-os para a direita e depois esquerda.

E antes que Denae soubesse, Kellan atravessou pelo portal.

Ela piscou pela luz brilhante do sol e levantou rapidamente seu braço para proteger os olhos. Mas Kellan a manteve em movimento. Denae mordeu uma maldição quando seu dedo bateu em uma pedra. No entanto, era o perigo crescente que a mantinha de pé.

Havia algumas árvores perto e a empurrou contra uma. — Phelan?

— Não vejo nenhum deles. — Respondeu o Guerreiro, sua pele dourada brilhando ao sol.

Denae vislumbrou seus dentes e se perguntou o que mais podia fazer o Guerreiro. Era alto, seu longo e escuro cabelo selvagem. Seus olhos dourados, mantinham um olhar constante ao redor. Suas garras pareciam afiadas o suficiente para cortar uma cabeça e tinha a impressão de que era algo que fez antes.

Tristan olhou para Kellan do outro lado e balançou a cabeça. — Ainda não.

— Isto nos dá tempo. — Disse Kellan.

Phelan voltou seu olhar para Kellan. — Primeiro precisamos de um plano.

— Plano? — Kellan riu, o som gelado. — O plano é matar tantos como pudermos, enquanto nos asseguramos que Denae não seja capturada outra vez.

— Não somos os únicos Reis na Irlanda. — Disse Tristan de repente. Sorriu amplamente. — Rhys e Kiril vieram buscá-lo.

— Chame-os. — Disse Kellan e se virou para Denae. — Tudo ficará bem.

Ela o agarrou quando começou a se afastar. — Ficará bem quando sairmos daqui. Apenas quero uma promessa sua.

Pareceu surpreso por pedir tal coisa. — Que promessa?

— Que não deixe que o capturem novamente. Não importa o que aconteça.

Sua testa se franziu quando seus olhos foram para ela. — Não faço promessas facilmente.

— Eu sei.

— E se o capturam?

— Então me capturam.

— Cumpriu sua promessa uma vez. Tirou-me dali.

— Mas não está a salvo.

— Nunca estive a salvo, Kellan. Seja dos Fae, doenças, perigo ou meus inimigos. Prometa-me. Por favor.

— Por quê? — Perguntou, toda emoção apagada de seu rosto.

Denae podia inventar alguma mentira, mas queria que ele soubesse a verdade de como se sentia. Mesmo que fosse por nada. — O pensamento de você naquelas correntes outra vez me deixa doente. Não sei o que estão procurando, mas não pode ser nada bom. Você não está destinado a ser um prisioneiro. É potente e incrível.

— Não me viu em forma de dragão.

— Não preciso fazê-lo. Agora eu vejo o homem diante de mim.


CAPÍTULO TRINTA E SEIS


Kellan não podia fazer a Denae a promessa que ela queria, porque faria qualquer coisa para mantê-la fora das garras dos Fae Escuros.

A certeza, a irrefutável realidade era que Denae era dele. Deveria se surpreender, mas não estava. Ela provou uma e outra vez. No entanto, era mais que isso.

Havia uma parte dele que reconheceu Denae como sua no momento em que abriu os olhos e a viu em sua caverna. Foi seu ódio pelos humanos o que lhe impediu de reconhecer a verdade quando o fez.

— Prometa. — Disse Denae novamente.

Kellan balançou a cabeça e puxou seu longo e acobreado cabelo. — Não posso.

— Sou apenas uma humana, lembra-se? — Argumentou, com a testa franzida em frustração e um toque de preocupação. — Não espero nada.

Colocou seu dedo sobre os lábios dela para silenciá-la. — Nunca volte a dizer estas coisas. Não posso dar-lhe a promessa que pede porque ainda não está em segurança. Podemos estar fora destes malditos túneis, mas os Escuros estão a ponto de atacar. Qualquer coisa pode acontecer.

Ela afastou suavemente o dedo de seus lábios. — Certo. Qualquer coisa pode acontecer.

Procurou algo para mudar de assunto e afastou a mente da promessa que buscava. Foi então quando viu o sangue na grama a seus pés. — Está machucada?

— É apenas um corte mais fundo no pé.

O medo, uma emoção que não experimentou desde que viu seus Bronzes mortos, o invadiu. Um corte podia matar um humano. Com os mau cheiro dentro dos tuneis, não sabia em que pisou.

Não havia nada que ele pudesse fazer. Pela primeira vez desejou ter o poder de Con.

— É apenas um corte. — Disse novamente. — Estou bem. Mas a preocupação já se assentou ao redor dele como uma densa nevoa. Acabava de admitir o que significava para ele. Pensar que poderia perdê-la... nem sequer podia terminar o pensamento.

Como se sentisse sua preocupação, Denae disse. — Já passei por coisas piores, Kellan. Vá chutar o traseiro de algum Fae Escuro, então podem me ajudar a curar minha ferida muito pequena.

Sua atrevida atitude o fez sorrir. Ao menos se esqueceu da promessa. Ainda não tinha certeza de quão pequena era a ferida, mas era uma guerreira. Com um suspiro cedeu. — Com prazer.

— O que devo fazer?

— Fique aqui. Phelan estará por perto e espero que Rhi também. Tristan e eu manteremos os Escuros ocupados até que cheguem Rhys e Kiril.

Ela engoliu visivelmente e lhe entregou a algema que pegou na prisão. — Pensei ter visto mal antes, mas estava errada. O Fae Escuro encarna o mal de uma maneira que não sabia que existia.

Kellan já estava planejando meses sozinho com Denae, fazendo amor com ela e descobrindo tudo o que pudesse sobre ela.

Denae sorriu então. — Vá, já que não irá me prometer nada. — Disse e piscou para ele. — Os outros estão te esperando.

— Podem esperar. — Disse e a puxou contra ele para um beijo rápido e duro.

Tão logo derreteu contra ele, Kellan ficou tentado a levá-la para longe e deixar os demais lutarem. Logo se lembrou de como Taraeth tocou Denae.

Sua mulher. Violentada, torturada, tudo porque o Escuro procurava a única coisa que não podiam ter.

Kellan terminou o beijo enquanto sua mente se concentrava em matar um Fae Escuro em particular.

— Boa sorte. — Disse Denae antes de girar sobre os calcanhares e se afastar.

Kellan estava junto a Tristan enquanto abriam suas mentes e chamavam qualquer Rei Dragão que estivesse por perto. Se os Fae Escuros queriam guerra, iriam conseguir uma.

Tristan tirou a camisa e as botas. Havia um sorriso de antecipação em seus lábios que Kellan entendia muito bem.

— Você anseia pela batalha. — Disse.

Tristan riu. — De uma forma que a maioria não entenderia.

— Você acaba de chegar a nós, então não se deixe ser pego pelo traseiro. Prefiro não ter que encarar Con porque não voltou a Dreagan.

— Idem. Exceto que seria Denae quem não quero encarar. Pessoalmente, prefiro lidar com o Con que com ela.

Kellan sorriu enquanto olhava sua mulher. Ela era uma força que deveria considerar. Respirou fundo e sentiu o dragão dentro dele se contorcendo.

Não podia esperar para sentir o vento sobre ele, esticar suas asas e voar sobre as nuvens. Passou muito tempo. Não voaria por prazer por enquanto.

Os Fae Escuros tinham sido uma verdadeira praga em todos os reinos por onde passaram e agora resolveram se estabelecer na terra para onde viajaram e se estabeleceram. O erro foi confiar nos Fae de Luz para que pudessem manter os Escuros sob controle e empurrá-los fora do reino da Terra.

Com a intenção dos Reis de permanecerem em segredo, a Luz deixou de lutar contra os Escuros.

E os Escuros... se converteram em um grupo poderoso.

Tristan o olhou antes de tirar a calça e saltar no ar, transformando-se em um dragão âmbar.

Kellan observou como as asas de Tristan se abriam e moviam-se em uma corrente que o empurrava para cima. Havia poucas nuvens para se esconder, mas novamente, Kellan não planejava se esconder neste dia.

Moveu seu olhar para encontrar Phelan escondido perto de Denae, seu olhar concentrado no portal.

Denae tinha seus treinados olhos cor de uísque fixado nele enquanto ele colocava as algemas em seu pulso para que parecesse que ainda estava preso. A necessidade de proteger, defender e assegurar o que era seu o engoliu como uma maré.

Não lutou contra. Simplesmente deixou que o levasse, aceitando que de alguma forma um humano lhe abriu os olhos.

E conquistou seu coração.

Seu olhar foi bruscamente para a porta enquanto Taraeth avançava com seus olhos vermelhos acesos.

— Pensei que houvesse fugido. — Disse Taraeth quando viu Kellan no campo. — Perdeu o caminho a seu quarto? Está esperando que o leve de volta?

— Estou aqui para matá-lo. — Disse Kellan.

— Matar-me? — Taraeth começou a rir enquanto olhava seu companheiro Fae Escuro que estava constantemente ao redor dele. — Pode tentar, mas todos sabemos que nossas algemas evitam que um Rei Dragão se transforme. Não é mais que um imortal que pode morrer varias vezes para nosso divertimento. Como os últimos dois Reis que tivemos.

Os Escuros riram das palavras de Taraeth.

Uma expressão de satisfação e confiança tocou o rosto de Taraeth. — Eu o levarei de volta a sua prisão e o acorrentarei novamente. Então, encontrarei esta humana sua e a possuirei repetidamente diante de você até que já não se lembre de seu nome.

— Pode tentar, mas não terá êxito.

— E porque isso?

Kellan sorriu justo antes de se mover.

Parou no campo aberto e rugiu sua fúria. Suas asas se abriram e se agitaram quando uma dezena de Escuros se precipitou sobre ele. A força do ar de suas asas os fez caírem para trás.

Justo quando ficaram de pé, Tristan apareceu de repente do céu e segurou suas enormes mandíbulas ao redor da metade deles. A outra metade tentou voltar rapidamente, mas um golpe da cauda de Tristan os cortou em dois.

— Mate-os! — Gritou Taraeth.

Kellan manteve os olhos fixos em Taraeth inclusive enquanto se preocupava com Denae. Os Escuros estavam muito atentos a ele e Tristan. E Kellan queria se assegurar que permanecessem assim.

Kellan esperou que os Escuros estivessem perto antes de saltar no ar apenas para descer, suas garras rasgando os Escuros como uma faca quente passando por manteiga.

Moveu as asas e girou antes de disparar até o céu. Enquanto o fazia, sentiu uma explosão de magia.

O que apenas lhe deixou mais irritado.

***

Rhi saltou no campo para descobrir a batalha. Alegrou-se de ter permanecido invisível, especialmente com os Escuros ao redor.

Facilmente serpenteava através da grossa multidão de Escuros até que viu Phelan em um bosque, seu rosto uma máscara de fúria por ficar fora da batalha.

Mas isso era porque ele era a última linha de defesa de Denae.

Rhi usou sua magia e apareceu junto a Phelan, deixando cair o véu quando o fez.

Ele a olhou, seu rosto ainda sombrio. — Merda, já era hora. Onde esteve?

— Descobrindo mais do que queria.

Seu olhar moveu-se sobre ela enquanto franzia o cenho. — Está bem?

— Sim. — Ela esboçou um sorriso brilhante em seu rosto. — Lembre-se garanhão, sou Fae.

— Alegro-me que esteja aqui. Estava a ponto de voltar a este horrível lugar para buscá-la.

Ela respirou fundo. — Não faça nada estúpido garanhão. Aisley não o deixará vivo se entrar em problemas. Como Denae está aguentando? — Ela perguntou para mudar de assunto.

— Muito bem. Eu a ouvi ofegar quando Kellan se transformou, mas desde então não emitiu um som.

Rhi deu umas palmadinhas no ombro dele antes de dar a volta e caminhar até onde Denae estava de pé contra uma árvore bifurcada com uma base tão grande como um carro pequeno.

— Como está? — Perguntou Rhi, usando seu melhor sotaque sulista.

Denae sorriu ao olhá-la. — Chegou perto. Mas é muito sulista e não texano o suficiente. No entanto, eu o aceitaria lá.

Rhi realmente riu. — Aposto que sim. — Ela olhou para cima para ver a forma de um dragão de bronze mergulhando e voando ao redor dos Escuros. — Te assusta?

— Sim. E me emociona. Fico me contorcendo por dentro, faz com que esqueça meu nome e deixa meus joelhos fracos. É simplesmente... maravilhoso.

— Ugh. — Rhi disse e rolou os olhos. — Não diga isso a ele. Kellan já é muito presunçoso sem que saiba que pensa nele como um deus ou algo assim.

— Não sou estúpida. Sei que não pertenço a seu mundo.

Rhi não podia olhá-la, porque Denae dizia a verdade. Alguns dos Reis encontraram companheiras, mas foi apenas alguns deles durante milênios.

— Obrigada por não mentir. — Disse Denae.

Rhi olhou para baixo para ver que quebrou outra unha. Pensou de Balladyn e na dor que a consumiu quando pensou que estava morto.

O mundo tal como conheceu durante tanto tempo estava mudado. Uma batalha entre os Fae Escuros e os Reis Dragões não aconteceu em mais de cinquenta anos.

— Você faz parte deste mundo agora. — Disse Rhi a Denae. — Querendo ou não, faz parte. Viu coisas, ouviu coisas, experimentou coisas que nenhuma quantidade de tempo apagará. Acha que pode ir e se esquecer?

Os olhos de Denae seguiram Kellan durante vários segundos antes de olhar para Rhi. — Não. Nunca. Sempre me lembrarei.

— Não sei o que os Escuros planejam, mas seja o que for não é bom. Sempre existiu uma linha entre nosso mundo e o seu. Esta linha está sumindo rapidamente.

— Você e os Fae de Luz não podem fazer algo?

Rhi encolheu os ombros com impotência. Já não tenho certeza. Sempre tivemos um tempo difícil lutando contra os Escuros, mas agora são diferentes. Quase mais poderosos.

— Aconteceu isto antes?

— Não. Não acredito em coincidências e houve muitas recentemente. O poder dos Escuros, a associação do MI5 com eles e alguém tentando expor os Reis Dragões.

— Concordo. — Disse Denae e respirou fundo. — Suspeito que se cavarmos o suficiente encontraremos uma fonte conectando os três.

— Parece que quer este trabalho.

— Tenho uma história com o MI5. Com Henry ajudando-me e voltando a entrar no quartel general, não há conexão que não possa encontrar.

— E o resto? — Perguntou Rhi.

— Refere-se aos Fae Escuros e a pessoa desconhecida?

Rhi assentiu, com os olhos fixos nos Reis Dragões. — Con suspeita que a pessoa desconhecida que tenta expô-los é Ulrik.

— Kellan me falou dele. Certamente tem motivos para querer atingir Con, mas o restante? — Perguntou Denae com os lábios apertados. — Não sei o suficiente sobre ele.

— Não acho que Ulrik seja o culpado. Ele jurou se vingar de Con, mas apenas de Con. Passou-se milhares e milhares de anos, no entanto. A raiva de Ulrik poderia tê-lo deixado louco.

— Então também o olharei. — Disse Denae. — Quanto aos Fae Escuros, acho que tenho um aliado ali que pode me ajudar.

— Quem? — Perguntou Rhi com o cenho franzido.

— Você.

Rhi sorriu lentamente. — Oh, você é boa. Não é de estranhar que Kellan goste de você.

— Prepare-se. — Disse Phelan, grunhindo em sua garganta enquanto alguns Escuros se aproximavam do bosque.

Rhi passou junto a ele. — Oh deixe comigo. — Disse.

Enviou uma onda de magia que decapitou um Fae Escuro enquanto outro saía de entre as árvores e com uma longa lâmina ela transpassou seu coração, acabando com sua vida.

— Quero uma dessas. — Disse Denae com assombro.


CAPÍTULO TRINTA E SETE


Rhi limpou a lâmina e a segurou de lado. — Kellan talvez não goste, mas acho que precisa de uma arma.

Denae não podia esperar para colocar suas mãos em tal arma. Não estava nela ficar à margem e observar. Ela tinha um treinamento extenso e ainda que não fosse imortal ou capaz de criar magia, poderia cortar a cabeça de um Fae escuro ou perfurar seu coração.

Quanto mais pensava em deixar este novo mundo que encontrou, mais sabia que não queria. Talvez não pudesse ter Kellan, mas não se afastaria da guerra que obviamente acontecia.

Denae faria sua parte e descobriria quem estava atrás dos Reis Dragões. Descobriria porque o MI5 se aliava com os Escuros. Averiguaria qualquer coisa que representasse uma ameaça aos Reis.

E ela os impediria.

Agora ela tinha uma missão, algo para preencher sua vida e não podia esperar para começar.

— Kellan nunca permitirá que tenha uma arma assim. — Disse Phelan a Rhi.

Denae estreitou os olhos no Guerreiro. — Tomo minhas próprias decisões, obrigada.

— Boa sorte com isso. — Disse bufando. Então seu olhar foi além deles e endureceu.

Denae viu que os Escuros se aproximavam cada vez mais das árvores. Os dois Fae mortos chamaram a atenção.

Phelan não disse uma palavra enquanto empurrava Rhi de lado e usava sua incrível velocidade para matar quatro Fae mais.

Rhi soltou uma série de maldições. Ela lançou sua espada para Denae antes de agarrar um dos mortos pelo cabelo e desaparecer.

Um momento depois, Rhi reapareceu e sorriu ao ver Denae pronta para lutar. — Sim. Justo o que precisava. — Disse a Fae com uma piscada enquanto se apoderava de mais outros dois Escuros e desaparecia novamente.

Denae se surpreendeu com a leveza da espada. A lamina era estreita, se curvava levemente no final. O cabo estava feito de madeira escura com um nó de ouro gravado nela. A própria lamina tinha... um dragão.

O coração de Denae perdeu uma batida. Um dragão que estava sobre as patas traseiras, asas estendidas com a cabeça inclinada para trás em um rugido. Era uma coincidência que Rhi foi amante de um Rei Dragão e também tinha um dragão em sua espada? Era uma arma eficaz e uma que ela dominaria.

Em pouco tempo Rhi levou cada Fae morto e Phelan estava outra vez dentro do bosque com elas. Era obvio que queria estar no centro das coisas. Odiava que estivesse ali por culpa dela.

— Vá. — Disse. — Rhi está aqui e tenho a espada.

Phelan grunhiu. — Dei minha palavra a Kellan e não costumo rompê-la. Mataria qualquer um que jurasse proteger minha mulher e logo a deixasse indefesa.

— Não estou indef... — Começou a dizer, mas Rhi a impediu com a mão em seu braço.

Denae rodou os olhos. Ela não estava indefesa. Não estava.

Bom, não completamente, não agora que tinha a espada de Rhi.

Phelan levantou uma sobrancelha escura. — Sabe que está fazendo tudo isso por você, não?

Denae olhou através dos grossos galhos das árvores ao céu em busca de Kellan, mas era impossível vê-lo. — Está errado. Está fazendo isto porque o capturaram.

— Odeio dizer. — Disse Rhi com um suspiro. — Mas Phelan tem razão. Kellan poderia tê-la levado tão logo passou pelo portal. Os Reis teriam voltado em massa e poderiam dizimar os Escuros.

— Em troca, ele permaneceu. Reconheço que algo ruim aconteceu enquanto os dois estavam presos? — Phelan perguntou, seu olhar nunca deixando a batalha enquanto se agachava na frente delas.

Denae lambeu os lábios e moveu-se de um pé para outro enquanto tentava não se lembrar do que Taraeth fez. — Poderia ter sido pior.

— O fato de que algo aconteceu em absoluto é o ponto. — Continuou Phelan. — Ninguém toca minha mulher e sai impune.

Denae abriu a boca para falar quando viu o longo corpo de bronze de Kellan enquanto voava entre os Fae Escuros, dispersando e matando tantos quanto podia. Justo atrás dele estava Tristan que matava mais alguns. Todo o tempo esquivando a magia lançada pelos Escuros.

De repente, ouviu dois outros rugidos, claramente dragões. Denae esticou o pescoço para ver um dragão amarelo e um laranja soltando fogo.

— São lindos, não? — Perguntou Rhi.

Denae a olhou enquanto ouvia o anseio na voz de Rhi. — Quem era ele?

Rhi olhou-a e respondeu inocentemente. — Não sei do que está falando.

Denae deixou que mentisse. Rhi tinha o direito de manter em segredo esta parte de si mesma. Ela assentiu com a cabeça para a Fae da luz. — São lindos, mortais e impressionantes.

— Sim. Certamente são.

Denae olhou para Phelan para encontrá-lo observando Rhi atentamente antes que seu olhar fosse para ela. Havia uma conexão entre o Guerreiro e Rhi, uma de irmão e irmã, o que fazia com que Denae sentisse falta de sua irmã ainda mais.

Ela colocou a mão na árvore, a casca arranhando sua palma, enquanto Taraeth lançava sua magia contra Kellan. Era tão ágil como um falcão evitando o primeiro e segundo disparo. O terceiro o golpeou nas asas.

O coração de Denae saltou na garganta quando Kellan caiu do céu para aterrissar sobre a terra, o impacto sacudindo o solo sob seus pés.

O dragão amarelo aterrissou diante da forma imóvel de Kellan e soltou fogo em todos os Escuros que se aproximaram. Seu fogo logo erradicou qualquer magia que lançaram contra eles.

— Bom. — Disse Rhi suavemente. — Isto é algo que nunca vi.

Denae se dirigiu a Kellan apenas para que Phelan a segurasse.

— Não, garota. — Disse suavemente. — Se for até ele agora, tudo o que os Reis fizeram até agora será inútil, já que os Fae se concentrarão em você.

Denae percebeu que ainda que Kellan pudesse querer uma luta pelo que Taraeth fez a ela, estava na batalha para manter a atenção dos Escuros longe dela.

Ela se virou para Rhi. — Pode me tirar daqui?

Os olhos prateados de Rhi se voltaram a ela enquanto movia lentamente a cabeça. — Usei muita magia hoje para me esconder e logo carregando os Escuros para que pudesse fazê-lo.

Merda. Isto não era o que queria ouvir.

— Não se move. — Disse Denae a Phelan enquanto olhava Kellan.

O agarre do Guerreiro se negou a afrouxar. — O único que pode matá-lo é outro Rei Dragão. Não precisa se preocupar, garota.

Como se esperasse as palavras de Phelan, Kellan se moveu e levantou a cabeça antes que sua forma de dragão ficasse de pé e ao lado do amarelo.

O dragão âmbar caiu do céu para ficar junto a Kellan e o dragão laranja voou para ficar ao lado do amarelo.

A visão dos quatro dragões, seus corpos imensos, suas escamas brilhando sob o sol, era surrealista. Ela conseguiu dar uma boa olhada em Kellan e ficou impressionada.

Suas escamas bronze metálico eram da mesma tonalidade viva da tatuagem em suas costas e estômago. Brilhavam como tivessem sido polidas.

Seus olhos brancos eram como feixes de luz em sua grande cabeça. Dois grandes chifres se estendiam para trás de sua testa. O que parecia uma membrana pontiaguda saia da base do crânio pelas costas até a ponta de sua longa cauda.

Era impressionante e assustador ao mesmo tempo. E não se cansava de olhá-lo.

— Há sangue ruim entre os humanos e os Reis. — Disse Rhi do outro lado de Denae.

Denae olhou a Fae de Luz, perguntando-se quando se moveu.

— O ódio de Kellan é profundo. Ou talvez mais. — Rhi disse com um sorriso amável enquanto olhava Denae. — Diga o que acha dele em forma de dragão. É importante para eles.

— Como sabe? — Perguntou Phelan.

Rhi colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Continue perguntando, garanhão. Pode ser que tenha a resposta algum dia.

Denae retrocedeu um passo para o bosque e desta vez Phelan soltou-a. Ela se apoiou contra uma árvore com a espada ainda em sua mão direita enquanto olhava os quatro Reis Dragão sendo bombardeados com magia pelo exército de Taraeth que ia diminuindo.

Curiosamente, Denae não pode encontrar Taraeth no campo de batalha. Começou a afastar-se da árvore quando uma mão apertou sua boca.

— Faça um ruído e cortarei sua garganta quando ficar de pé. — Sussurrou Taraeth ao seu ouvido com seu sotaque irlandês.

O coração de Denae bateu em suas costelas como um tambor. O medo fez seu sangue correr como gelo em suas veias. Taraeth a tinha. Novamente.

Prometeu a si mesma que jamais voltaria a consumi-la e, no entanto, ali estava ela. Denae se permitiu acreditar que nunca voltaria a estar nas garras de um Fae Escuro. Como se tropeçar pelos túneis infestados de monstros e sujeira para se libertar não fosse o suficiente.

— Virá comigo. — Disse.

Balançou a cabeça tanto quanto pode, com a mão sobre a boca e a árvore atrás dela.

— Se quiser Kellan vivo, o fará.

Denae quase começou a rir em voz alta. Taraeth cometeu um erro ao ameaçar Kellan por duas coisas: Kellan era imortal, apenas podia morrer pelas mãos de outro Rei Dragão... e tinha a espada de Rhi.

Qualquer angustia e ansiedade que ela tinha ao ser mantida pelo líder escuro se evaporou. Era apenas outro idiota com um complexo de deus. E ela tinha os meios para impedi-lo como o fez com tantos outros.

Ela assentiu.

— Sabia que era uma garota inteligente. Eu a farei feliz, pequena humana. Apenas espere e veja. Vou tirar a mão. Sem um som, lembre-se.

Esperou que assentisse novamente.

Logo continuou. — Voltaremos pelo portal. Todos seus problemas com o MI5 acabarão. Não terá que se preocupar com nada. Acabarei com tudo.

Os olhos de Denae estavam em Kellan, rezando para que não a olhasse, enquanto caia contra a arvore. Tinha um bom plano.

— Exatamente. — Sussurrou Taraeth feliz. — Não deve mais lutar contra o inevitável. Mesmo se houvesse conseguido hoje, eu a teria encontrado novamente. É muito tentadora, pequena humana.

Ele lentamente afastou a mão de sua boca e quando ela não falou nada, Taraeth a alcançou. Denae girou, levantando a espada para segurá-la com as duas mãos.

O mundo se acalmou, ficando em câmera lenta enquanto ela via os olhos vermelhos de Taraeth se arregalarem ao ver a espada. Denae fez um arco com a espada, com a intenção de cortar a cabeça de Taraeth para que nunca mais a incomodasse.

Em sua irritação, esqueceu de sua magia, assim que não a viu se aproximar, golpeando em seu peito. A dor era forte. Os dedos de sua mão esquerda soltaram a espada e Denae lutou para manter a arma em sua mão direita, mesmo quando se sentiu cair para frente.

Ela estreitou os olhos quando os raios do sol golpearam contra um amuleto que Taraeth usava diretamente a seus olhos, cegando-a por um momento.

Taraeth afastou seu corpo enquanto levantava o braço. A última força de Denae a deixou enquanto seus joelhos se dobravam. Mas ela desceu a espada e a viu tocar o braço de Taraeth.

Tão logo a lâmina passou por seu braço, o mundo ao seu redor voltou a normalidade em um ruído ensurdecedor. Ouviu seu nome ser gritado atrás dela e tudo em que podia pensar era Kellan e como fracassou em matar Taraeth.

Denae viu a espada cair de suas mãos e Taraeth desaparecer diante de seus olhos. Ela se lançou adiante apenas para cair em braços que conhecia muito bem.

— Eu a tenho. — Sussurrou Kellan.

Ela piscou, mas não pode pronunciar nenhuma palavra.

— A dor passará. Apenas respire. — Disse enquanto seus braços se apertavam.

— Este foi um golpe mortal de magia. — Disse Rhi. — Deveria estar morta. Esta é a segunda vez que vejo Denae fazer algo que nenhum humano deveria ser capaz de fazer.

Denae não se importava enquanto sobrevivesse. Com cada batida do coração se sentia melhor. A grande mão de Kellan afastou seu cabelo para poder ver seu rosto.

Seus pálidos olhos verdes mostravam uma grande preocupação. — Não sei como o fez, mas cortou o braço de Taraeth.

— Apenas o braço? — Perguntou Denae. — Estava mirando sua cabeça.


CAPÍTULO TRINTA E OITO


Kellan não pode se obrigar a soltar Denae. O iate que Guy e Laith levaram a Cork abria caminho pelo mar da Irlanda até a Escócia.

Um trovão retumbou sobre o rugido do motor e um segundo mais tarde, uma impressionante exibição de raios iluminou o céu. As tempestades eram uma grande forma para os Reis voarem desapercebidos, mas por uma vez Kellan não estava pensando em fugir.

Estava pensando na mulher em seus braços.

— Ela não vai a nenhuma parte, sabe? — Disse Phelan enquanto se reclinava em uma cadeira com os braços estendidos nas costas.

Kellan olhou o Guerreiro na frente dele, notando sua irritada expressão que não se suavizou desde que Rhi se negou a voltar com eles. — Denae poderia ter morrido com a magia que Taraeth usou contra ela.

— Mas não morreu. Assim como, por alguma razão, ela não sucumbiu aos Escuros enquanto estava presa. Assim como de alguma forma te ajudou a romper as correntes mágicas.

Kellan apertou Denae com mais força. Não acordou desde que caiu inconsciente. Já procurou qualquer ferida, mas não encontrou anda. Isto era a única coisa que o mantinha tranquilo.

— Ela é especial. — Disse finalmente Kellan.

Phelan se voltou para ele com os olhos azuis. — Todos podem ver que ela significa algo para você.

— Não queria isto.

— Normalmente é assim que funciona. Eu não estava preparado para Aisley ou a forma como não podia deixar de pensar nela. Estava louco para tê-la, segurá-la. Não cedi até que foi minha.

Kellan simplesmente assentiu, porque entendia muito bem o que Phelan estava falando. Era apenas uma das razões pelas quais não podia colocar Denae no sofá ao seu lado, nem sequer em um dos muitos quartos do iate. Tinha que segurá-la contra ele, sentir seu folego tocando-o.

— O que acontecerá uma vez que voltar a Dreagan?

Kellan encolheu os ombros. — Não pensei muito nisso. Ainda estou tentando processar tudo o que aconteceu. E você? O que vai fazer agora que sabe que Tristan é o gêmeo de um de seus amigos?

O olhar de Phelan lançou-se imediatamente à estreita entrada que conduzia ao convés onde estava Tristan, que estava de costas para eles. — Diz que não se lembra de ser Duncan.

— Não acho que mente.

— Também não. É apenas... Difícil. Não conheci Duncan, mas lutei com Ian. Ouvi as histórias de Duncan e Ian enquanto Deirdre os mantinham na montanha de Cairn Toul. Conheço Ian. Sei que Tristan é seu gêmeo.

— Não tem lembranças de Duncan.

— Isso matará Ian. — Disse Phelan enquanto franzia o cenho e voltava a cabeça para Kellan. — Ian se perdeu despois que Duncan morreu. Ficará alegre ao saber que Duncan está vivo.

— Mas e ele? — Perguntou Kellan. — Nenhum de nós pode recordar qual a última vez que se criou um Rei Dragão. Não sei como Tristan se converteu em Rei, mas sei que ele é agora um dos nossos. Pode haver uma boa razão para que todas suas lembranças de sua vida anterior como Duncan Kerr tenham sido apagadas.

— E o que digo a Ian?

— Talvez nada.

Phelan moveu rapidamente a cabeça. — Pela forma como os Reis interagem com os Guerreiros, quanto tempo acha que levará para Ian se encontrar com Tristan?

— Não muito.

— Precisamente. Ian precisa saber.

Kellan gostava de Tristan. Muito. Não apenas porque era um Rei Dragão. Tristan demonstrou que era alguém em que Kellan poderia confiar. Faria o que Tristan quisesse com relação a Ian. Se Tristan não quisesse ver seu irmão, então Kellan se asseguraria que Ian não interferisse.

— Protegeremos Tristan.

Phelan levantou uma sobrancelha escura, uma luz ansiosa em seus olhos. — E protegeremos Ian.

— Isto deveria ser interessante.

— Sim.

O barco começou a diminuir a velocidade, o motor já não era tão forte como antes. A chuva golpeava a parte superior do iate. A ferocidade da chuva demonstrava que seria uma longa tempestade.

Kellan não se levantou até que o barco fosse amarrado e ancorado. Antes que pudesse dar o primeiro passo ao convés, Con bloqueou a entrada, seu cabelo loiro pingando água e sua camisa vermelha escura grudada no peito.

— Está bem? — Perguntou Con enquanto apontava com a cabeça para Denae.

— Ficará.

O olhar negro de Con se moveu brevemente para Phelan antes de assentir levemente e caminhou para ficar junto a Tristan no convés.

— Porque tenho a sensação de que não está feliz que tenha trazido Denae? — Perguntou Phelan.

Kellan apertou os lábios. Sentiu a mesma coisa com Con e não sabia se caia bem. — Não dou uma merda para o que este idiota pensa. Tomo minhas próprias decisões.

— Mesmo vivendo em Dreagan? Tenho a sensação de que Con faz as regras.

Kellan bufou. — Tente. Todos lhe dizemos quando não concordamos.

— Como eu.

Kellan deu um passo adiante de Phelan antes que pudesse sair. — Con é um bom homem. Cobrirá suas costas se um dia precisar.

— Sim, eu sei.

— Mas também tentará derrubá-lo mais rápido do que possa piscar se acreditar que é justificado.

Phelan franziu o cenho. — Pode me dar um exemplo?

— Ulrik.

— Ouvi este nome antes. Não é o Rei dos Pratas?

— Sim. Como soube?

Phelan fez uma pausa o suficiente para Kellan saber que Con deixou escapar algo. A ira encheu Kellan. — O que Con disse sobre Ulrik?

— Não disse o nome Ulrik. Perguntou se sabíamos sobre uma loja em Perth chamada O Dragão de Prata.

— Merda. — Disse Kellan e olhou para Denae nos seus braços. — Tome cuidado Guerreiro, quando se trata de Ulrik, os Reis sempre ficam divididos. Nos unimos a primeira vez para impedir a guerra com os humanos, mas se houvesse outra opção agora, nenhum de vocês iria querer ficar no caminho desta guerra.

— Entendido. Por muito que queira ouvir mais, quero voltar para Aisley. E sei que quer tirar Denae deste tempo chuvoso.

Phelan foi o primeiro a ir ao convés. Quando Kellan se virou para sair, encontrou Tristan caminhando pelo cais, sem pensar na chuva.

Guy colocou um abrigo sobre Denae, assegurando-se que cobrisse a cabeça. Quando Kellan seguiu Guy fora do barco, viu Phelan correndo pelo cais na direção oposta de Tristan.

Não foi até que Kellan entrou no Mercedes Classe G com Guy no volante e Con no assento dianteiro do passageiro que Tristan entrou atrás com ele.

— Ainda inconsciente? — Perguntou Guy.

Kellan assentiu enquanto puxava o abrigo. — Sim.

— Achei que não tivesse nada errado com ela. — Disse Con enquanto se movia para olhar o assento traseiro.

Tristan cruzou o tornozelo sobre o joelho e lentamente virou a cabeça para Con. — Ela foi golpeada com magia enquanto manejava a espada de Rhi e tentava cortar a cabeça de um Fae Escuro. Ela merece dormir enquanto precisar.

Con olhou de Tristan para Kellan. — Espera que acredite que Denae sobreviveu a magia de um Fae Escuro?

— Não me importa em que você acredita. — Disse Kellan. — Foi o que aconteceu quando Taraeth tento capturá-la novamente.

— Taraeth. — Con franziu o cenho. — Os humanos não podem sobreviver aos Fae Escuros.

Kellan ignorou Con. — Vamos Guy.

Houve um momento de silêncio antes que Guy arrancasse o motor, com um sorriso no rosto.

Nenhuma vez ninguém mencionou Rhys ou Kiril. Ambos optaram por voltar a Dreagan como dragões em vez de barco. Kellan disse a Tristan que fizesse o mesmo, mas o Rei Âmbar se negou.

Era obvio que Con não estava feliz. Se era pelo fato de alguns Reis terem ido à Irlanda para buscá-lo, por terem lutado contra os Escuros sem esperar por ele ou que Denae voltasse a Dreagan, Kellan não sabia e nem se preocupava.

Tudo mudou para os Reis Dragões no momento em que enviaram seus dragões. As mesmas regras que governaram os Reis durante centenas de milhares de anos já não se aplicavam.

Precisavam encontrar seu próprio caminho e era apenas com a esperança de que um dia os dragões voltariam ao seu reino, assim como manteriam os Prateados juntos.

Se não fosse pelos Prateados, Kellan acreditava que os Reis teriam se dispersado, não apenas pela Terra, mas através dos reinos.

Con mantinha viva a esperança com respeito aos seus dragões, mas Kellan sabia a verdade. Seus dragões nunca voltariam. Os humanos eram demais. Não havia lugar para os dragões na Terra e começava a se perguntar se inclusive havia lugar para os Reis Dragão.

A Terra foi sua casa por milhões de anos antes dos humanos aparecerem. O reino deveria ser compartilhado, mas foi tudo à merda em pouco tempo.

O orgulho de ser um Rei Dragão já não existia. Estavam escondidos, o segredo de sua mudança firmemente guardado. Ninguém sabia de seus poderes ou imortalidade.

Não culpava Con e os demais pelas decisões que tomaram com respeito a Dreagan. Os humanos sempre foram muito fáceis de matar, muito fáceis de assustar e muito estúpidos para pensarem por si mesmos.

Tinham uma mentalidade embrulhada que era muito fácil de serem manipulados por alguns seres humanos que podiam irritá-los e os deixarem em um frenesi para que pudessem fazer o que os manipuladores quisessem.

Mesmo agora, com toda a tecnologia e as coisas paranormais que encontravam e investigavam, os humanos não aceitariam a existência de Reis Dragão. Tampouco aceitariam um dos Guerreiros.

Os seres humanos afirmavam querer encontrar seres com habilidades paranormais, mas era apenas uma declaração. Alguns fugiam gritando de medo, outros tentavam matá-los e outros tentavam capturar um Rei Dragão para que pudessem “estudá-lo”. O que todo mundo sabia que era dissecar.

Agora Kellan compreendeu que havia uns poucos um seleção com muitos poucos, como Denae, Cassie, Elena e Jane que aceitariam os Reis Dragões por serem quem eram.

Olhou para Denae para encontrar seu rosto descansando contra seu ombro. Kellan suavemente dobrou seu longo e acobreado cabelo atrás da orelha.

No curto tempo que a conhecia, a apunhalaram, dispararam, foi abordada pelos Fae Escuros e segurou uma grande quantidade de magia dos Fae Escuros.

Ela recebeu tudo sem um gemido. Denae era uma lutadora treinada, com uma mente inteligente e astuta. Era de sorriro fácil, engenhosa e hábil com uma língua espertinha.

Seu corpo estava incrivelmente tenso, com todas as maravilhosas e femininas curvas que sempre desfrutou. Tinha o cabelo mais assombroso e os olhos que o mantinham paralisado desde o primeiro momento em que se atreveu a olhar as profundezas da cor uísque.

A pergunta do que aconteceria uma vez que chegasse a Dreagan não seria difícil de responder. Queria que Denae ficasse. Kellan podia não estar pronto para oferecer-lhe um para sempre, mas não estava pronto para que ela se fosse ainda.

Também tinha o argumento perfeito. O MI5 ainda a estava buscando e depois de cortar o braço de Taraeth, os Escuros também a perseguiriam.

Não havia lugar mais seguro que Dreagan.

Kellan tinha certeza de que poderia convencer Denae a ficar e se as palavras não funcionassem, estava preparado para usar suas mãos, boca e corpo para que mudasse de opinião.

Apenas pensando em deslizar em seu corpo apertado novamente o tinha duro e dolorido.

Soltou um suspiro e levantou os olhos para encontrar Tristan observando-o com um leve sorriso. Tristan fez um gesto de aprovação e se virou para olhar pela janela a paisagem que passava.

Kellan passou uma mão pelo cabelo molhado e começou a planejar a noite com Denae. Seria uma sem interrupções de nenhum tipo, uma que jurava se lembrar pelo resto da vida.

Tal como sabia que ela também o faria.


CAPÍTULO TRINTA E NOVE


Rhi não foi ver sua Rainha quando os Reis partiram da Irlanda. Em seu lugar, foi para sua casa. Tão logo entrou na pequena casa, caiu de bruços na cama de lençol negro e rosa, deixando as lágrimas que estava segurando cair.

Lágrimas por Balladyn, mas também lágrimas por si mesma.

Não percebeu o quão difícil seria ficar perto dos Reis e não pensar em... nele. Em seu tempo juntos e no amor selvagem dos dois.

Quanto séculos se passou desde que ela sentiu seus braços pela última vez?

Quanto tempo desde que tocou seus lábios?

Quanto tempo desde que se sentiu querida?

Amada?

Muito tempo.

Rhi rodou sobre as costas, mas não se incomodou em limpar as lágrimas que agora caiam em seu cabelo. Era estranho. Pensou que já passou das lágrimas, mas estar rodeada pelos Reis pareceu desencadear o passado, sem importar o quanto tentasse enterrá-lo.

E Balladyn. Ela não podia entender que agora era um Escuro. Sua Rainha ficaria devastada. No entanto, não como ela.

Balladyn sempre fez parte de sua vida, inclusive quando era uma criança. Foi sempre o melhor amigo de seu irmão.

Então começou a Guerra com os Fae. Rhi ainda podia se lembrar de estar junto à sua mãe, pai, irmão e Balladyn quando foram a guerra.

Balladyn foi o único a voltar.

Sua mãe sucumbiu à dor pouco depois, deixando Rhi sozinha no mundo. Balladyn se converteu em sua família, seu mentor e amigo. Ele a ajudou a manter tudo unido e, por sua vez, ela lhe ajudou a lidar com as guerras ao voltar para casa quando sua família não o fez.

Balladyn estava ali quando sua relação com o Rei Dragão foi colocada à prova. Estava ali para abraçá-la enquanto chorava até que já não restou lágrimas. Estava ali para consolá-la quando o mundo já não tinha sentido.

Estava ali quando quis que tudo terminasse.

Balladyn a obrigou a viver novamente. Ela lutou com ele a cada passo do caminho e por sua vez, ele a empurrou com mais força. Até que um dia, ela deu o primeiro passo no mundo novamente.

Não era de estranhar que todos pensassem que ela morreria de pena quando, durante uma armadilha que os Escuros armaram, viu Balladyn cair.

Quis recuperar seu corpo, mas os Fae Escuros eram muitos. Um de seus maiores arrependimentos. Agora sabia que não morreu. Foi ferido. Se apenas tivesse ido buscá-lo, hoje não seria um Escuro.

Rhi se encolheu quando sentiu o puxão de sua Rainha, um sinal de que Usaeil a chamava à corte. Rhi rodou sobre seu lado e se aconchegou como uma bola com os braços ao redor de sua cintura.

Ela não estava pronta para enfrentar ninguém ainda, não depois de suportar os Reis, além de estar em Dreagan, o que trazia muitas lembranças enterradas.

De repente, se sentou e começou a chorar. Se ela ficasse com as lembranças por mais tempo, elas a tomariam. Iria permitir um dia, mas não hoje.

— Ainda não. — Murmurou ela.

Rhi tirou a roupa suja e abriu as sacolas de lojas até encontrar uma roupa que ela queria. Tirou as etiquetas e vestiu uma calça com blusa preta.

Ela agarrou dois frascos de esmalte: um lavanda chamado: Do You Lilac It? E uma cor berinjela chamada: Vant to Bite My Neck? Os colocou em sua bolsa Louis Vuitton e se tele transportou a uma garagem. Acendeu as luzes e olhou para o Lamborghini cor cereja.

Podia ser um Fae de Luz, mas havia vezes que gostava de fingir ser humana. Não era como se pudesse tele transportar até seu salão favorito e aparecer de repente em um lugar tão lotado de gente.

Com certeza podia se tele transportar a outro lugar e permanecer invisível até que soubesse que ninguém a veria, mas era problema demais.

Rhi ligou o Lamborghini e sorriu ao ouvir o barulho agudo do motor. Acelerou, seu sorriso ficava cada vez maior quanto mais o motor rugia.

— Merda, adoro este carro.

Usou sua magia para abrir a porta da garagem. Depois de colocar o carro em marcha, saiu da garagem e fechou a porta com sua magia uma vez mais, indo para ruas cheias de pessoas em Austin.

Não havia no reino da Terra nenhum lugar que não houvesse visitado. Havia algo no salão de unhas que encontrou nas proximidades do Lago Travis, Texas, que se ajustava em seu ambiente. Era por isso que continuava voltando.

Além disso, caminhar e ser bem recebida pelas garotas, especialmente sua manicure Jéssica, podia apagar as lembranças do dia.

Rhi fechou a porta das lembranças que a envolviam e deixou que o motor do Lambo ronronasse enquanto entrava no tráfego.

***

Denae notou primeiro a suavidade dos lençóis. Kellan os levou de volta a Dreagan. Nunca duvidou que o faria. Abriu os olhos, com a esperança de encontrá-lo no quarto, mas ficou decepcionada.

Ela colocou o braço sobre os olhos. Voltar a Dreagan significava enfrentar seu futuro. Que fácil teria sido esquecer quando ficou presa na Irlanda com os Escuros.

Sem dúvida o MI5 já limpou tudo e guardou todos seus pertences em algum lugar que nunca encontraria. Tudo estava bem. As coisas que significavam algo para ela estavam a salvo em South Padre Island12.

Denae suspirou e se sentou. Seus músculos estavam doloridos, mas ela não sentiu nenhum efeito duradouro da explosão da magia de Taraeth. Afastou a manta e olhou para descobrir que ainda estava com a camisa de Kellan. Apesar de tudo o que aconteceu enquanto a usava, ainda podia sentir seu cheiro.

Tirou-a e dobrou cuidadosamente para escondê-la atrás de um travesseiro na cadeira. Assim, quando deixasse Dreagan, ela levaria uma parte de Kellan com ela.

Denae entrou no banheiro e ligou o chuveiro até que a água ficou quente. Sua mãe costumava rir dela, sem entender como podia estar quase cem graus fora, mas sempre tomava um banho quente.

Tão logo entrou no chuveiro e a água caiu sobre ela, Denae soltou um suspiro. Inclinou a cabeça para trás para molhar o cabelo enquanto fechava os olhos. Durante vários minutos permaneceu ali, desfrutando do calor da água antes de lavar o cabelo e o corpo.

Ela estava enxaguando o condicionador de seu cabelo quando foi arrastada contra a parede do chuveiro por uma forma musculosa. Kellan não lhe deu tempo para reconhecê-lo antes que a beijasse. O beijo era profundo e aguçou seu desejo e paixão facilmente.

Seu corpo se derreteu contra o dele. Ela ficava insaciável quando isto acontecia. Despertou com o toque hábil dele e seus vorazes beijos.

Suas mãos estavam de repente em todas as partes, tocando cada centímetro dele até que não sabia onde terminava ele e ela começava. Com mãos ambiciosas tocou seus músculos duros e a carne quente. Quente. Seu gemido de prazer apenas inflamava seus próprios desejos.

— Você não estava na cama. — Disse entre beijos em seu pescoço.

— Você não estava no quarto quando acordei.

— Não precisamos de uma cama.

Ela balançou a cabeça e logo ofegou quando ele se inclinou e fechou os lábios ao redor de seu mamilo antes de chupar. — Não, não precisamos de uma cama...

— Gosta disso? — Perguntou com a voz rouca de desejo.

Sua voz já não funcionava. Denae simplesmente movimentou a cabeça.

Ele começou a beijar seu estômago e ela o levantou depressa para um beijo. Sabia que se ela o deixasse fazer o que queria não iria conseguir pensar ou fazer nada e ela queria sua diversão com ele desta vez.

Denae o empurrou para trás até que ele ficou contra a parede, um brilho divertido apareceu em seus olhos. — O que é isso?

— Isto. — Disse ela enquanto passava as mãos pelo peito dele até que sua mão ficou ao redor de seu pau duro. — É minha vez.

Seus dedos flexionaram em seus braços, mas ele não a impediu. Em troca, ele a observou, o desejo crescendo em seu olhar até que os joelhos quase se dobraram quando a paixão a atravessou.

Denae se ajoelhou diante dele com a água caindo em suas costas. Olhou sua impressionante excitação, passando ambas mãos ao longo de sua ereção. Logo o olhou e lentamente envolveu seus lábios ao redor da cabeça de seu pau.

Quando ela o tomou na boca, soltou um longo e baixo gemido. Denae apertou as pernas e o chupou mais profundo, movendo a cabeça para que ele deslizasse dentro e fora de sua boca.

Mal alcançou um ritmo antes dele colocá-la de pé e contra a parede. Colocou um braço sob seus joelhos e a encheu com um empurrão.

— Sua doce boca estava a ponto de me fazer gozar e preciso entrar em você. — Disse com um suspiro.

As palavras que Denae ia dizer se perderam quando começou a se mover dentro dela. Ela se agarrou a ele, suas unhas se cravaram em seus ombros enquanto sua cabeça se inclinava.

Havia uma sensação apressada e frenética ao fazer amor. Percorreu-a como uma paixão interminável e frenética que tirou seu folego.

Com cada movimento ele entrava mais profundo, mais forte. Por mais que tentasse negar, Denae sentia a conexão entre eles cada vez mais forte.

A assustava a forma como estava e quando tentava se afastar, ele apertava seu mamilo, lembrando-lhe que era sua, ainda que fosse por um momento.

Denae não podia negar, nem sequer quando seu coração estava em perigo. Ela abriu seu corpo e coração, quaisquer que fosse as consequências.

Seus dedos se cravaram em seus quadris enquanto golpeava dentro dela, a água caia entre eles. O clímax chegou sem advertência, era selvagem e intenso, manteve-se com Kellan dentro dela.

Denae estava segurando-se em Kellan, perguntando-se como poderia permanecer de pé. Seu corpo zumbia de satisfação, mas deveria saber que ele queria mais dela.

Ele saiu e a colocou para que ficasse inclinada para frente com seu traseiro no ar. Aproximou-se dela e a encheu.

Denae gemeu, com as mãos estendidas sobre o vidro úmido enquanto balançava para frente com cada empurrão. A sensação de suas bolas roçando suas coxas enviou uma inundação de desejo diretamente a seu sexo já sensível.

Logo se aproximou e tocou seus seios, brincando e massageando seus mamilos. Como se estivesse pronto, seu corpo respondeu a seu toque.

Seu segundo orgasmo se aproximava, seu corpo em chamas mais uma vez. Uma das mãos de Kellan encontrou seu clitóris. Com um movimento de seu dedo, estava caindo em outro clímax, este mais forte que o primeiro.

Ela gritou seu nome, justo quando ele gritou e empurrou profundamente e cedeu a seu orgasmo.

Durante muito tempo ficaram como estavam. A qualquer momento o mundo iria se intrometer, mas cada segundo valioso era seu. Kellan a beijou na nuca e lentamente se afastou dela.

Denae se endireitou e se virou enquanto agarrava o sabonete e começava a se lavar.

A risada encheu o banheiro enquanto se lavavam, parando para longos beijos e brincadeiras.

Foi durante um beijo abrasador que uma série de golpes fortes se ouviram da porta do quarto. Um golpe mais tarde alguém gritou Kellan.

Afastou-se, com um leve cenho franzido. — Tenho que ir.

— Eu sei. — Disse ela e se assegurou que aceitasse seu sorriso forçado e trêmulo. Não queria que ele soubesse que estava apaixonada completamente por ele.

Ela esperou, seu coração na garganta, para que ele dissesse que precisavam conversar ou mesmo pedir que ficasse. Em seu lugar, desligou o chuveiro e estendeu a toalha.

Denae segurou a toalha contra ela enquanto saia do chuveiro e para o quarto.

Justo como sabia em seu coração que estava saindo de sua vida.


CAPÍTULO QUARENTA


Phelan entrou na cabana que compartilhava com Aisley para encontrá-la sentada na com Laura e Charon.

As três cabeças se viraram para ele quando passou pela porta. Charon, um companheiro Guerreiro e um amigo próximo, imediatamente franziu o cenho. Aisley ficou de pé e caminhou para Phelan antes que a porta se fechasse atrás dele.

Deu as boas-vindas a seus amorosos braços enquanto os envolvia ao redor dele. Phelan a abraçou com força, colocando a cabeça em seu pescoço.

— Está em casa agora. — Sussurrou Aisley.

Não tinham segredos um para o outro. Ela sabia porque foi a Dreagan e ele a mantinha a par das coisas tanto como podia. O que não quis lhe dizer até que voltasse para casa era que Tristan era Duncan.

Tal segredo pesava sobre ele e Phelan sabia que assim que compartilhasse com ela, as coisas iriam mudar para todos os Guerreiros e Druidas, mas sobretudo aqueles que viviam em MacLeod e seus arredores.

Aisley inclinou-se para trás e passou as mãos pelo rosto dele, seu olhar preocupado procurando um copo. — Parece que precisa tomar algo.

— Dois ou três, de fato. — Disse. — Beijou-a, deleitando-se com o fato de que tal mulher fosse realmente sua.

Ela não era apenas um druida, era uma Fênix — capaz de se regenerar depois da morte por fogo. Phelan a perdeu uma vez e pensou que teria que viver o resto de sua vida imortal sem ela. Mas quando queimaram seu corpo, ela voltou para ele. Foi assim como todos, inclusive Aisley, descobriram a herança rara de sua família.

Ao menos quando terminou o beijo e ela afastou os braços, estava sorrindo. Com ela em sua vida poderia enfrentar qualquer coisa, inclusive algo tão horrível como o que viria.

— Estávamos um pouco preocupados. — Disse Laura enquanto o saudava.

Phelan sorriu para a esposa de seu melhor amigo e companheiro Guerreiro, Charon. — Quero tomar um banho para limpar o fedor dos Fae Escuro de mim, mas não ainda. Há coisas que todos precisam saber.

— Isso soa ameaçador. — Disse Charon com o cenho franzido depois que estreitaram as mãos e voltou a sentar-se no sofá de frente a Phelan. — Pensei que iria a Dreagan conversar com Con e os demais.

Phelan olhou para Aisley na cozinha, que encolheu os ombros.

— Não sabia quanto tempo ficaria ou o que aconteceria. — Explicou. — Se houvesse contado tudo a Charon, ele mesmo iria para Dreagan exigir ficar ao seu lado.

Charon franziu o cenho enquanto olhava de Aisley a Phelan. — Estou irritado. De que porra estão falando?

Laura colocou a mão sobre a de Charon. — Parece que Phelan se envolveu em algo.

— Acho que tem razão. — Respondeu, continuando com seu olhar duro para Phelan. — E tenho a sensação que os Reis não se incomodaram em mencionar o quão fundo a merda estava antes de Phelan entrar nela.

Aisley se afundou junto a Phelan no sofá e estendeu a garrafa de cerveja aberta. Bebeu três goles enormes antes de colocar a garrafa sobre a mesa entre os sofás e encontrar o olhar de Charon. — Sabia que a merda era profunda quando concordei. Não fui enganado para ajudar.

Charon respirou fundo e lentamente deixou escapar. — Quão ruim é?

— Potencialmente devastador.

Phelan contou sobre Denae, a participação do MI5 e os Escuros, Denae e Kellan sendo capturados pelos Escuros e Rhi ajudando a localizar o Rei Dragão e a humana na Irlanda. Descreveu os portais Fae, como os Escuros se apoderaram da mansão abandonada e de alguma forma se abria ao mundo Fae sob os túneis e como Phelan e Tristan ajudaram a tirar Kellan e Denae dos túneis.

Contou sobre a batalha e como os Reis junto com Denae, conseguiram voltar à Escócia.

— Os Fae abriram seu mundo ao nosso? — Perguntou Aisley, com a voz trêmula.

Phelan segurou sua mão. — Não ainda. Rhi e os Reis estão preocupados que cheguem a isso. Por agora, está confinado aos túneis sob a mansão.

— Quão ruim é? — Perguntou Charon.

— Ruim. Muito ruim. — Disse Phelan. — As criaturas que encontramos eram enormes. Se o mundo Fae se infiltrar no nosso, os humanos não saberão o que fazer.

Os olhos inteligentes de Laura se encontraram com os dele. — Estão os Fae de Luz fazendo algo sobre os Escuros? Ou estão unidos nisto?

— São apenas os Escuros. — Disse Phelan. — Rhi estava do nosso lado lutando contra eles. Não há muito o que dizer, mas sei que os Reis suspeitam da aliança dos Fae Escuros com o MI5.

— E quem colocou esta aliança em movimento? — Perguntou Aisley.

Phelan sorriu. Sua esposa passou muito tempo com seu malvado primo para saber como pensavam os vilões. — Sua suspeita é Ulrik.

— Este nome outra vez. — Disse Laura com um movimento de cabeça. — Tenho a sensação de que ele foi aquele que entrou no bar há meses. Parecia perdido, perseguido. Não lhe poria maldade.

— Mas o mal tem muitas caras. — Disse Charon. — Descobrimos isso bem.

Laura colocou as pernas debaixo dela e torceu os lábios. — Não há palavras mais verdadeiras.

— Então. — Disse Aisley. — De onde sai isto?

Phelan se inclinou e olhou as três pessoas ao seu redor. Eram a sua família. Durante séculos os Guerreiros lutaram contra inimigos e maus Druidas. O primo de Aisley, Jason, foi o último a ser morto.

Seria fácil dizer para os Reis Dragões que lutassem suas próprias batalhas. Quantos séculos se passaram antes que os Reis se dignassem a dizer aos Guerreiros sobre sua existência? Nenhuma vez os Reis entraram e ajudaram na guerra dos Guerreiros.

Não até que pareceu que a guerra estava sangrando a vida dos humanos.

Justo como estavam as coisas agora.

Phelan soltou uma respiração áspera. — Os Reis são poderosos. Vi exatamente que tipo de dano podem causar a um Escuro. Também vi como os Escuros podem inibir os Reis, impedi-los de se transformar em dragão.

— Merda. — Disse Charon.

Phelan não poderia ter dito melhor. — Acho que temos que ficar prontos no caso de nos chamarem para algo.

— Concordo. — Disse Aisley.

Laura e Charon assentiram.

Phelan lambeu os lábios. Isto era uma carga sobre seus ombros. Teria que repetir isso no castelo MacLeod para os outros doze Guerreiros e suas esposas Druidas.

— Há algo mais. — Aisley se apressou em dizer.

Phelan passou uma mão pelo cabelo. — O que estou a ponto de dizer deve ser mantido entre nós três por enquanto. Não tenho certeza do que fazer ou como dizer aos outros afetará as coisas.

Charon terminou o uísque de Dreagan e deixou o copo sobre a mesa. — Bom, certamente chamou minha atenção. Que tipo de segredo descobriu? — Perguntou com um sorriso.

Phelan não pode compartilhar seu sorriso, não quando sabia o caos que iria aparecer.

— Apenas conte. A antecipação está me matando. — Disse Aisley com uma careta.

— Conheci um Rei Dragão chamado Tristan.

Laura levantou uma sobrancelha. — Certo. O que o preocupa?

Aisley abriu muito os olhos ao perceber o que estava a ponto de contar aos demais.

Phelan limpou a garganta. — Nas vezes que estivemos em Dreagan, lembra de conhecê-lo?

Charon riu. — Cada vez que vamos ali, há mais Reis. Não posso seguir todos eles. Mas seu nome não soa conhecido.

— Nem a mim. — Disse Laura. — A maioria dos Reis que não estão acasalados, tendem a se manter afastados da mansão.

Era como ele esperava. Suspeitava que Con se assegurou de manter Tristan longe dos Guerreiros. E estava certo.

— Algum de vocês se lembra de ver um Dragão Âmbar?

— Sim. — Respondeu imediatamente Aisley. — Várias vezes nas batalhas que tivemos com Jason.

O sorriso de Charon deslizou um pouco. — Eu também.

— Conte-me se é alguém que já vi. — Disse Laura.

Agora chegou a parte difícil. Phelan não tinha certeza de como reagiriam. Em retrospectiva, poderia ter lidado com Tristan de uma forma melhor.

— Phelan. — Disse Charon com voz baixa e perigosa.

Levantou o olhar para seu amigo mais próximo para encontrar o sorriso completamente longe. Phelan engoliu saliva, com a garganta apertada. — Há uma razão pela qual nenhum de vocês viu Tristan antes. Aisley e eu o vimos da última vez em Dreagan, mas foi por coincidência.

— Porque diz coincidência? — Perguntou Laura.

Aisley buscou a mão de Phelan e disse. — Porque se o tivesse feito, depois de apenas um olhar saberia quem é e o que é.

— E isso seria... — Perguntou Charon.

Phelan deixou que o silencio se prolongasse durante vários segundos antes de dizer. — Duncan.

— Tem certeza? — Perguntou Laura.

Phelan levantou a mão de Aisley a seus lábios, beijando o dorso de sua mão. — Sim. Pode ser que nunca tenha visto Duncan, mas não posso negar que é o gêmeo idêntico de Ian.

— Não entendo. — Disse Laura. — Como Duncan passou de um Guerreiro morto a um Rei Dragão?

Phelan encolheu os ombros. — Nem sequer os Reis podem explicar. Ao que parece, não havia novos Reis há séculos.

— E Duncan, quer dizer Tristan. — Perguntou Laura. — Sabe que é irmão de Ian?

Phelan sabia que a pergunta viria, mas nem sequer isso fazia com que a resposta fosse mais fácil. — Não. Tristan afirma que não tem lembranças de nada antes de despertar em Dreagan depois de cair do céu.

Phelan percebeu que Charon ainda não disse uma palavra. Seu amigo estava sentado imóvel como pedra, seu rosto pálido com o choque.

Laura olhou para Charon e limpou a garganta antes de olhar para Phelan. — Acho que Con não ficou feliz por você ter visto Tristan.

— Isso é pouco. Mas os Reis pediram minha ajuda contra os Fae. Não foi até chegarmos que descobrimos que Kellan e Denae foram capturados pelos Escuros. Então Rhi chegou tão fraca por ter ficado invisível por um longo tempo, que mal podia se sentar direito. Foi aí que entrou Tristan.

— Rhi está bem agora? — Perguntou Aisley preocupada.

Um laço especial se formou entre Aisley e Rhi, um que Phelan incentivou. Rhi não apenas lhe ajudou a aceitar sua metade Fae, mas também estava ensinando Aisley coisas sobre os Fae.

— Estava na última vez que a vi.

Charon se levantou de repente. — Tenho que dar um passeio.

Phelan e Aisley o observaram sair da casa, Laura seguindo-o rapidamente.

— Sabia que não iria tomar bem as notícias. — Disse Phelan.

Aisley se moveu até que ela ficou sentada na beira do sofá, seu corpo de frente para ele. — Agora que estamos sozinhos, pode me dizer o que está tentando esconder de mim.

— Bonita. — Começou, mas rapidamente o cortou com a mão no ar.

— Nem sequer tente. Rhi é como uma irmã para mim também. Diga o que sabe.

Phelan puxou Aisley em seus braços até que suas costas descansaram contra seu peito. Ele envolveu os braços ao redor dela e colocou o queixo em sua cabeça. — Nada mais do que já descobrimos sobre ela ter tido um romance com um Rei Dragão. As coisas não foram... boas para Rhi e o Rei.

— Algo mais que tenha descoberto que o faça pensar que seja Con?

— Não. Kellan sabe algo, mas não vai contar. Duvido que seja Con, bonita. Odeiam-se mutuamente.

— Há uma linha fina entre o amor e o ódio.

Phelan decidiu que abordaria o tema com Rhi na próxima vez que a visse. Com sorte, ela estaria mais disposta a compartilhar a informação que os Reis Dragão não quiseram fornecer.


CAPÍTULO QUARENTA E UM


Kellan foi ao escritório de Con, surpreso ao descobrir que eram apenas os dois.

— Eu o surpreendi. Não é algo que acontece com frequência. — Disse Con enquanto fechava a caneta e a deixava de lado antes de se inclinar para trás na cadeira.

Kellan não se deixou enganar pela atitude relaxada de Con. — O que é tão importante que não possa esperar até amanhã?

— Denae.

O instinto de Kellan se levantou instantaneamente. Foi o tom de Con, o que usava quando pensava que podia dar ordens ao restante dos Reis. Não funcionou no passado e com certeza não iria funcionar agora.

— Não é assunto seu.

— Não concordo. Está é minha casa.

Kellan conteve o folego durante duas batidas de coração, o tempo que levou para reprimir sua fúria. Não conseguiu, mas foi o suficiente para poder falar em lugar de socar o rosto de Con.

— Sua casa? — Perguntou Kellan baixinho. — Parece que lembro de colocar sangue e suor no planejamento e construção deste lugar como qualquer dos outros Reis. Está não é sua casa, Con. É nossa.

— Sou o líder aqui...

— Isso pode mudar rapidamente. — Disse Kellan sobre ele.

Em todos os anos que foi Rei dos Bronzes, Kellan se contentou em governar seus dragões. Mas ele sabia que ele — e qualquer dos outros Reis — tinham o direito de desafiar Con e governar.

— A qualquer momento.

Os olhos negros de Con se endureceram enquanto levantava o queixo. — É um desafio?

— Isso depende de suas seguintes palavras. Segui você mesmo quando não concordei. Está pisando fora da linha.

— Estou fazendo o que acho ser o melhor.

— Para você? — Kellan bufou. — Sempre fez o que era o melhor para você. Quando pensou em alguns de nós?

— Cada maldito dia! — Gritou Con ao sair de sua cadeira para se apoiar na mesa.

Kellan devolveu com um sorriso. Não era todos os dias que alguém conseguia irritar Con. De fato, o Rei dos Reis, era conhecido por seu controle. — Acertei um nervo?

Um músculo pulsou na mandíbula de Con enquanto se endireitava e passava a mão pelo cabelo para se assegurar que nenhuma mecha estivesse fora do lugar. Quando voltou a falar, estava mais contido e tranquilo. — Se Denae ficar, o MI5 continuará vindo atrás de nós.

— Eles não precisam saber que ela está aqui. — Kellan já pensou em todos os argumentos com os quais Con poderia aparecer e também tinha uma resposta para cada um deles.

— Eles saberão. — Con voltou a se sentar e apoiou os cotovelos nos braços da cadeira de couro antes de agitar os dedos. — O MI5 é um espinho no nosso lado. Tanto quanto eles podem perturbar nossas vidas, mas é com os Escuros com quem me preocupo mais. Ela cortou o braço de Taraeth.

Kellan se apoiou contra a porta e cruzou os braços sobre o peito. — Se algum de nós tivesse feito isto, nos daria palmadinhas nas costas. Uma mortal, uma que foi tocada e torturada por um Escuro o faz e ela é uma responsabilidade. É estranho que seu mantra de proteger os humanos a todo custo, não entre em jogo agora.

Quando Con simplesmente olhou, Kellan continuou. — Nos convenceu a enviar nossos dragões a outro reino para que os humanos pudessem viver. Despojou seu melhor amigo e rival de seus poderes para salvar os humanos. Quando se trata de você Con, faz o que é necessário para assegurar o que quer.

— Está dizendo que fiquei feliz em fazer aquilo com Ulrik? — Perguntou Con com frieza.

— Estou dizendo que não pensou nisto. Estou dizendo que não duvidou. Estou dizendo que viu uma oportunidade e a pegou.

— Não sabe de nada. — Con disse entre dentes apertados.

Kellan sorriu quando deixou cair as mãos e afastou-se da porta. — Eu registro a história dos Reis, sabia? Sei tudo.

A conversa foi interrompida por uma batida na porta e o nome de Kellan soou através da madeira.

— Acabou. Denae ficará o tempo que quiser. E se a afastar, eu irei atrás dela.

— Não pode. — Disse Con, com um pouco de surpresa no rosto.

Kellan usou toda sua ira em suas palavras quando disse. — Observe.

Virou-se a abriu a porta para encontrar Tristan. Kellan saiu do escritório, sem se incomodar em fechar a porta enquanto ele e Tristan se afastavam.

— O que foi? — Perguntou ao novo Rei quando se afastaram do escritório de Con.

— Rhys e Kiril não voltaram.

Kellan parou e olhou para o corredor até o escritório de Con. — Porque não contou a Con?

— Porque Con não queria que fossem, para começar. Banan está a caminho depois de deixar Henry e Guy está vigiando os Prateados.

Os Prateados. Kellan não foi ver os dragões desde que despertou. Era muito difícil olhar as magnificas criaturas e não os soltar para arrastar-se aos céus com seus rugidos, sem importar que significasse o fim para os humanos.

Eram dragões, a essência de quem eram os Reis. Os Prata eram a última ligação com os dragões que os Reis enviaram longe há tanto tempo.

— Deixe Guy por agora. Precisa ficar sozinho. — Disse Kellan. — Onde está Hal?

— Com Cassie lidando com algum problema de distribuidor nos escritórios de Dreagan. Não lhe incomodei. Laith, Ryder e os demais também estão ocupados. — Os olhos escuros de Tristan sempre estavam vigilantes, capturando cada olhar, cada gesto que uma pessoa fazia.

Kellan fez um gesto a Tristan e começou a caminhar novamente. — Rhys e Kiril já deveriam ter voltado. Tentou falar com eles usando sua voz de dragão?

— Sim.

— Vamos tentar novamente antes de ir buscá-los. — Era a preocupação de Kellan por seus amigos que lhe impedia de voltar para Denae, mas quando voltasse ao quarto iriam conversar sobre o futuro.

O que iria dizer ainda não descobriu. O que sabia era que a queria com ele.

***

Denae desligou o secador ao som da porta do quarto se abrindo.

— Con. — Disse quando olhou para fora da porta do banheiro.

— Me perguntava se poderíamos conversar.

Isto a colocou imediatamente na defensiva. Kellan enviou Con? Não. Ele não era assim. Cuidaria de seu próprio assunto, sem importar o quão desagradável fosse.

— Sobre o que? — Perguntou ela enquanto colocava o cabelo ainda úmido atrás das orelhas.

— As garotas arrumaram roupas para você, eu posso ver.

Lançou um olhar para a calça jeans e a camiseta vintage Dr. Pepper. — Sim. Sobre o que quer conversar?

— Quais são seus planos?

Não era como se pudesse dizer a Con que estava esperando que ela e Kellan conversassem primeiro ou que desesperadamente queria ficar com Kellan.

Em seu lugar, disse o que decidiu. — Entrarei em contato com Henry e verei se consigo me infiltrar no MI5 para que possa determinar quem é a conexão com os Fae Escuros. Então, vou me tirar da base de dados.

— De verdade? — Perguntou Con com uma sobrancelha levantada. — A parte de descobrir quem está atrás dos Reis Dragões não é assunto seu.

Ela não faria isto por ele. Estava fazendo por Kellan e seu tempo juntos.

— Pode ser que a julguei mal, Denae.

Ela rodou os olhos. — Tenho certeza que sim. Agora, pergunte o que realmente quer saber.

— E isso seria?

— Quando vou embora.

Ele a olhou em silencio durante vários segundos antes que seus amplos lábios se suavizassem a algo parecido com um sorriso. — Há algum lugar onde possa levá-la?

Denae se alegrou que ele não podia ouvir as batidas frenéticas e cheias de ansiedade de seu coração. Estava lhe custando muito não desmoronar. Mas havia trabalho a ser feito, trabalho que somente ela poderia fazer.

Pelos Reis Dragões

Pelo mundo como ela o conhecia.

Por... Kellan.

— Ficarei melhor sozinha. — Disse. — Não se preocupe. Sairei logo daqui. Ah e uma coisa mais. Vai apagar minhas lembranças como planejou?

Con respirou fundo e soltou lentamente. — Se o fizermos e os Escuros a encontrarem, não teria como se defender.

— Então vai se arriscar a que não diga ao mundo sobre os Reis Dragões? — Ela sabia que o empurrava, mas tinha que ter certeza.

— Sim. Sei que se importa com Kellan. Se deixar sair nosso segredo, o colocará em perigo.

Cruzou os braços sobre o peito e observou Con. — Nunca faria isso. Agora que já sabe, não terei que dizer.

— Boa sorte então. — Com um gesto de cabeça se foi com a porta se fechando suavemente atrás dele.

— Uau. — Murmurou para si mesma quando ela deixou cair os braços. Nem sequer uma oferta para ligar se precisasse de algo. — Pode ser um idiota, Con.

Era fácil para Denae concentrar sua ira em Con. Era melhor que revolver-se em autocompaixão porque estava deixando Kellan. Não era como se houvesse pedido que ficasse e isso era apenas uma parte da razão pela qual se agarrava a suas emoções.

Provavelmente deveria ter pedido a ajuda de Con para sair da mansão sem encontrar-se com Kellan. Ou talvez por isso exatamente Kellan a deixou sozinha, para dar-lhe tempo de sair sem que se encontrasse com ela.

Denae se sentou na beirada da cadeira e calçou as botas. O MI5 a treinou bem. Era inteligente e bem equipada para cruzar o mundo com apenas a roupa em suas costas se precisasse. Chegar a Londres e a sede do MI5 seria um desafio.

Ficou de pé e olhou o quarto mais uma vez. Quando se virou para a porta, viu Rhi apoiada contra ela olhando as unhas de cor purpura com toques lavanda.

— Vai a algum lugar? — Perguntou Rhi e moveu a cabeça para que seu cabelo longo deslizasse do ombro sobre as costas.

Denae encolheu os ombros. — Parece o melhor.

— Apenas precisava de um tempo de inatividade depois de usar tanta magia.

Denae já sabia o suficiente sobre Rhi para saber que os Fae de Luz eram tão amigáveis. — Quanto ouviu de minha conversa com Con?

Rhi suspirou dramaticamente e abaixou o braço enquanto enfrentava Denae.

— Cheguei enquanto estava secando o cabelo. Não me viu e quando Con apareceu não vi razão para advertir que estava perto.

— Porque veio?

Uma ponta de tristeza entrou nos olhos prateados. — Queria ver como estava. Foi incrivelmente valente e estupida depois do que fez a Taraeth.

— Queria me sequestrar. — Disse Denae e encolheu os ombros. — Não me deu opção.

— Oh, não me interprete mal. — Rhi disse com os olhos muito abertos. — Não estou incomodada pelo bastardo não ter agora um braço. Merece e muito mais. Foi estupido Denae, porque agora a perseguirá por toda eternidade.

Denae afundou-se na cadeira e deixou cair a cabeça entre as mãos. — Estupendo. O MI5 e os Fae Escuros. Alguém mais quer me caçar?

— Se for embora sem falar com Kellan, posso acrescentá-lo na lista.

Denae levantou a cabeça e olhou para Rhi. — Quão bem conhece Kellan.

— Melhor que qualquer Fae e em alguns casos melhor que alguns Reis. Porque?

— Se quisesse que fizesse, me pediria?

Rhi assentiu. — Disse algo?

— Não. Mas sei que com os Fae Escuros e o MI5 me caçando, se ficar aqui, continuarei colocando os Reis Dragões sob um microscópio até que o MI5 tenha uma razão para invadir como querem.

— Assim quer ir embora para protegê-lo?

— Não quero ir. Mas preciso.

Rhi sorriu alegremente, seus olhos brilhavam. — Posso ajudar.

— Poderia me tirar daqui sem que Kellan saiba?

— Posso levá-la aonde quiser. Mesmo outro reino se é o que quer.

Denae considerou por um momento. Toda sua família se foi. Não tinha amigos. Sua única conexão real era Kellan e ele era imortal e um Rei Dragão.

— Talvez. Mas primeiro, quero apagar qualquer registro que o MI5 possa ter. Quero fazê-los acreditar que estão ficando loucos.

— Oh garota. Posso ajudar com isso. — Disse Rhi com uma gargalhada. — Esqueça de entrar furtivamente no MI5. Posso levá-la exatamente aonde quer ir neste prédio.

Denae sorriu pela primeira vez em horas. — Primeiro preciso ir na sala dos servidores. Está no sótão com várias câmeras e meia dezena de guardas que patrulham os corredores.

— Tão fácil. — Rhi disse rolando os olhos. — Está pronta?

Denae segurou a mão oferecida por Rhi. — Sim.


CAPÍTULO QUARENTA E DOIS


Kellan passou os seguintes trintas minutos caminhando pelas montanhas tentando chegar a Rhys e Kiril soando seu vínculo mental. Um grande alivio passou por ele quando ambos Reis finalmente responderam.

— Deveria Kiril continuar na Irlanda? — Perguntou Tristan depois de ouvir as respostas através do vínculo.

Kellan encolheu os ombros. — É seu próprio Rei. Pode fazer o que quiser. Kiril está brincando com o destino ficando tão perto dos Fae Escuros, mas talvez isto é o que quer. Terá que perguntar a ele se quiser saber com certeza. No entanto, concordo em que ter um espião na Irlanda é uma boa ideia.

— E Rhys?

Kellan olhou para as montanhas que rodeavam Dreagan. — Sessenta mil Hectares soam como muita área para se perder, mas quando se é um Rei Dragão e só pode ser você mesmo nesta terra, então você pode o sentir tão pequeno como a menor das ilhas. Às vezes, precisamos ficar sozinhos, rodeados pela terra e o ar.

Tristan esfregou a mandíbula, coçando a barba de dois dias e ouviu o vento e o chamado de uma águia dourada. — O que fazemos agora? Não quero esperar que os Escuros façam o movimento seguinte.

— Todos os Reis sabem que a guerra está na nossa porta. Estivemos por este caminho tantas vezes que sabemos os nossos lugares.

— Não. — Disse Tristan com voz baixa.

Kellan deu uma palmada nas costas do Rei e sorriu. — Não se preocupe com o seu lugar. Cimentou seu direito a estar aqui. Mesmo se não, o fato de ter uma tatuagem, a espada e o poder de se transformar em um dragão, será o suficiente. Pode não conhecer toda nossa história, mas isso não importa quando defende nossa casa.

— E sobre minha... Vida antes?

— Quer dizer quando era um Guerreiro?

Tristan fez um som quase imperceptível.

— Isto demonstra que sabe o que é lealdade e família. — Disse Kellan. — Também significa que sabe lutar.

— Ian meu suposto gêmeo, irá querer falar comigo.

— Sim. Seria bom que se sentasse com ele.

— E dizer o que? — Disse Tristan irritado. — Que não me lembro nada dele e nem o meu passado? Que nem sequer sabia que existia até que Phelan me disse?

— Talvez. O que decidir será por você. Ian perdeu um irmão. Mesmo se não se lembra de sua vida anterior, ainda pode encontrar nele um bom amigo. Os gêmeos têm um vínculo que apenas outros gêmeos entendem. Este vínculo se rompeu quando se transformou em um Rei Dragão? Não pode responder a isto. Apenas conhecer e conversar com Ian lhe dará está resposta.

Tristan franziu o cenho ao olhar para baixo, no vale cheio de ovelhas. — Pensarei nisso.

— Bom. Vamos voltar à mansão. Quero conversar com Denae. Já estou fora há muito tempo.

Começaram a descer a montanha juntos. — O que vai acontecer com ela? — Perguntou Tristan.

— Se quiser viver, terá que ficar em Dreagan.

— Quer isso, verdade?

Kellan o olhou e grunhiu. — Para alguém novo para os Reis, pega as coisas facilmente.

— Observo as pessoas. Não é difícil conhecer seus verdadeiros sentimentos simplesmente observando-os. Trouxe Denae de volta da Irlanda. Havia muitos lugares nos quais poderia tê-lo deixado, mas quis fazê-lo. Preocupa-se com ela, mais do que ainda compreende.

Kellan não estava interessado na facilidade com que Tristan o lia, mas podia ser útil. — E Denae? O que observou nela?

— Ela se importa muito, mas não se sente como se aqui fosse seu lugar. Para ela, é um mito que veio à vida. Ela luta com seus sentimentos por você como se...

Quando Tristan não continuou falando, Kellan parou e o olhou. A inquietação ondulou por sua espinha. — Termine.

Tristan afastou o olhar e quando voltou a olhar para Kellan, não escondeu sua pena. — É como se em silêncio estivesse dizendo adeus.

Kellan permaneceu ali por um momento, as palavras de Tristan como alarmes de advertência em sua cabeça. Girou sobre os calcanhares e correu o resto do caminho de volta à mansão. Mesmo quando ele atravessou a porta da cozinha, surpreendendo Jane que deixou cair sua xicara de chá, a incessante necessidade de segurar Denae nos braços não diminuiu.

Subiu a escada e correu pelo corredor até o quarto. Kellan abriu a porta, esperando ver Denae ali.

Mas o quarto estava vazio.

Kellan não precisava registrar a casa ou os arredores. Sabia em seu interior que foi embora. Que estúpido foi pensar que o esperaria. Esta não era Denae.

Estava costumada a ser sua própria dona, tomar suas próprias decisões. Era mortal em combate corpo a corpo, inteligente e intuitiva.

Ainda quando algo se rompeu em seu peito, a fúria rugiu. Sabia quem era o responsável por Denae ter ido embora. Advertiu Con. Agora era o momento de se vingar.

Kellan se virou e empurrou Tristan, que finalmente o alcançou. Não havia tempo para conversar. Era hora de ação. Kellan não parou até que entrou em sua caverna mais uma vez.

Seu olhar foi para onde a viu pela primeira vez. Parecia como se fosse uma vida atrás dele. Ela o intrigava como ninguém o fez. Ela o entendia.

E a reconheceu pelo que era: sua companheira.

Talvez não quisesse admitir, mas sabia. Desde o início, ele sabia.

Como um tolo, combateu e tentou mantê-la longe. Quando isto não funcionou, continuou fingindo como se apenas fosse uma loucura, quando era muito mais que isto.

— Denae. — Sussurrou, com o peito dolorido onde estava seu coração.

Iria encontrá-la. Ele a abraçaria mais uma vez e então lhe diria o que havia em seu coração.

Mas primeiro, iria se vingar de Con.

Kellan caminhou até a parte posterior de sua caverna e colocou sua mão contra uma pequena rocha sobressaindo na parede. Com um leve empurrão de sua magia de dragão e uma gota de seu sangue, pequenos buracos e pó a rodearam.

O som da rocha deslizando sobre as outras encheu a caverna enquanto um painel se abria para revelar sua espada. Procurou o cabo envolto em couro, apto para o combate com apenas uma mão.

Kellan a tirou do esconderijo. Alguns Reis gostavam de mostrar suas espadas, mas ele não, não depois do que Con fez com Ulrik.

Com um olhar admirado, Kellan apoiou a lâmina reta na palma esquerda. Ramos e folhas estavam gravados na lâmina da espada em bronze profundo antes de envolvê-la e se misturar com um dragão.

Era uma lâmina bonita e mortal.

Um fato com o propósito de matar um Rei Dragão. Kellan estava preparado para lutar com Con em forma de dragão, mas também teria sua espada ali.

A única forma de matar um Rei Dragão era com outro Rei Dragão em forma de dragão ou com sua espada. Kellan tinha ambas as bases cobertas.

Com a espada na mão, caminhou com passos largos e seguros até a mansão.

***

Denae não podia acreditar no fácil que Rhi fazia as coisas. Conseguiu colocar Denae na sala de servidores em um abrir e fechar de olhos, enquanto desativava as câmeras.

— Vá trabalhar. — Disse Rhi e desapareceu novamente.

Não foi até que Denae chegou à parede onde o teclado e o monitor estavam ocultos que se perguntou se inabilitaram seu reconhecimento digital.

— Aqui vamos. — Murmurou enquanto colocava sua mão contra a tela branca e brilhante.

Os raios verdes apareceram e deslizaram por sua mão e logo retrocederam antes de ir lado a lado. Cinco círculos pulsantes apareceram ao redor de cada ponta dos dedos. Um momento depois, houve um silvo quando o painel prateado na parede se moveu e apareceu um grande computador de tela plana.

Houve um segundo silvo quando outro painel se abriu e o teclado deslizou para fora.

— Bom, suponho que isto responde à pergunta. Pensaram que nunca conseguiria passar pela segurança. Este foi o primeiro erro.

Os dedos de Denae voaram sobre o teclado, levantando todos seus arquivos, cada relatório que preencheu, cada missão na qual esteve, cada menção a seu nome e apagou tudo.

Ela substituiu seu nome por outro feminino de uma agente ascendente e se assegurou que não houvesse nada que o MI5 pudesse encontrar em seus arquivos.

Precisou eliminar tudo em três vezes e logo expulsar o disco do servidor para destruir mais tarde, apenas para se assegurar. Tinha o pequeno disco na mão e se maravilhou por algo tão pequeno poder salvar ou destruir sua vida.

— Está pronta? — Perguntou Rhi quando apareceu junto a ela.

— Sim.

— Isso é tudo? — Perguntou ela, olhando com ceticismo o disco.

— Sim.

Rhi lhe lançou um olhar irônico. — Não tem cópias de segurança? Algo feito à distância para o caso de alguém decidir fazer exatamente o que fez?

Denae balançou a cabeça. — Maldição. Esqueci deles.

— Quantos há?

— Que eu saiba, dois.

Rhi assentiu. — Quem sabe onde estão?

— Henry deve saber. Mas meu chefe Frank, com certeza.

Rhi de repente começou a rir. — Não me divertia há tanto tempo. Acho que é hora de fodermos com a cabeça de Frank.

Antes que Rhi pudesse tirá-las dali Denae se afastou bruscamente. — Porque ninguém entrou depois que as câmeras foram apagadas?

— Duh. — Disse Rhi estendendo os braços e apontando a si mesma. — Sou Fae. Minha magia pode fazer coisas maravilhosas e perigosas.

Denae poderia estar morrendo por dentro por causa de Kellan, mas sorriu com a ideia de deixar louca as pessoas que tentaram matá-la. — Vamos procurar Frank.

Dentro de cinco minutos estavam no escritório executivo, as câmeras mais uma vez congeladas e Frank sentado com um olhar total de desconcerto e medo.

— Onde estão as localizações remotas das cópias de segurança do servidor? — Perguntou Denae.

Frank se negou a olhá-la.

Rhi sorriu e se sentou na beirada de sua mesa, com uma longa perna vestida de jeans cruzada sobre a outra. Ela colocou suas mãos ao seu lado e se inclinou adiante até que seus rostos ficaram a centímetros de distância. — Responda.

— Nunca.

Rhi suspirou. — Olha, seu inútil, apenas direi isto uma vez. Responda e o deixaremos com um pouco de sanidade em seu cérebro pequeno. Obrigue-me a tirar de você e irei me assegurar que esteja em um quarto acolchoado pelo resto da vida. E então virei atormentá-lo como se estivesse no inferno.

— Como se pudesse. — Disse sarcástico.

Denae começou a rir quando, com um movimento da mão, Rhi colocou Frank deitado de boca para baixo no ar.

— Está bem, está bem! — Gritou. — Apenas coloque-me no chão.

Denae estava pronta com um lápis e papel enquanto ele lhe dizia os lugares e as senhas para entrar.

— Agora, isso não foi tão difícil, verdade? — Rhi lhe perguntou doce. — Deveria ter pensado duas vezes antes de tentar matar Denae, mas mais que isto, tomou a pior decisão de sua vida ao se misturar com os Fae Escuros.

Frank abriu muito os olhos. — Ah... É... Um... Um...

Rhi rolou dramaticamente os olhos. — Não, sou um Fae de Luz. Não aceito amavelmente os seres humanos que cavam onde não pertencem. E isto significa você. Assim que, agora que temos as localizações, é hora de apagar sua memória de qualquer coisa referente a Denae.

— Espere! — Gritou.

Mas era muito tarde.

Denae esperou um segundo antes de aproximar-se de Rhi, que tinha a mão na testa de Frank. — E se mentiu sobre os lugares ou deixou algum fora?

— Já pensei nisso. Estou procurando em sua mente agora. — Rhi disse com os olhos fechados e seu rosto concentrado. Uns minutos depois negou com a cabeça. — Disse a verdade. Agora, vou apagar de sua memória sua imagem e seu nome, substituindo pela agente que usou nos relatórios.

— Realmente o infernizará?

Rhi abriu os olhos e encontrou o olhar de Denae. — Não. Mas posso. Estou disposta, se for isso o que quiser. Ele ordenou que a matassem. E está envolvido com os Escuros. Sem mencionar que quer saber sobre os Reis dragões.

— Quero machucá-lo, mas não o farei. Que viva com suas lembranças substituídas. Sua vez chegará logo.

Rhi deixou cair sua mão e se moveu ao redor do escritório. — Nossa próxima parada é o Brasil. O Rio é lindo. — Disse justo antes de desaparecerem.


CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS


Kellan encontrou Con na montanha unida a mansão, a mesma montanha onde os Pratas estavam presos e dormindo.

Pode ouvir a discussão que vinha de uma caverna atrás assim que entrou na montanha. As vozes de Rhys e Con eram as mais altas de todas.

Kellan entrou na caverna sem ser visto, com os olhos de todos concentrados no centro do lugar, onde Rhys e Con estavam nariz a nariz discutindo. Kellan afastou a espada e entrou entre a multidão de Reis Dragões.

Ao instante se separaram, dando-lhe um caminho claro até Con. Rhys o viu e deve ter visto algo em seu rosto, porque ele deu um passo atrás.

— Não pode esquecer de se registrar. — Disse Con a Rhys. — Temos responsabilidades aqui.

Rhys o fulminou com fúria. — Não é meu pai. Tampouco meu guardião. Faço meus próprios deveres sem ter que me vigiar.

— Os Escuros poderiam tê-lo capturado como fizeram com Kellan. Não podia deixar dois Reis em suas mãos.

— Mas podia deixar um? — Rhys perguntou, seu rosto uma mistura de indignação e confusão.

O peito de Con se encheu quando ele respirou fundo, sua camisa verde menta se contraiu no movimento. — Isto não foi o que quis dizer e sabe disso.

Kellan estava quase perto deles neste ponto. Não parou, não disse uma palavra enquanto se aproximava e golpeou Con na mandíbula.

Con, com o golpe que não viu, cambaleou de lado. Ele tocou seu lábio sangrando e endireitou-se lentamente antes que sua cabeça se virasse para Kellan. — Sua raiva está fora de controle.

O golpe, o prazer de ver Con ensanguentado apenas aumentou sua ira. — Não tem ideia. Eu o adverti para se manter fora da minha vida. Disse que não queria que interferisse e decidiu ignorar minha ameaça.

Não deu a Con o tempo para responder enquanto lançava outro soco nos rins de Con e este lhe dava um soco em seu rosto. Kellan se endireitou e virou-se levemente para acertar o cotovelo duas vezes no nariz de Con. O sangue brotou por todas as partes enquanto o som de osso se quebrando ecoava pela caverna.

Um osso quebrado não iria derrubar Con. Lançou um ataque a Kellan com os punhos de forma rápida e mortal. Kellan conseguiu bloquear alguns, mas os outros acertaram justo onde Con queria.

***

Denae tirou o pó de suas mãos e examinou sua obra. Ela e Rhi trabalharam rapidamente no Rio antes que Rhi as levasse para Nova Guiné.

— Tudo pronto? — Perguntou Rhi enquanto caminhava para a sala dos computadores.

— Tudo pronto. Estou oficialmente fora do MI5. — Denae sentiu a tensão sumir de seus ombros. — Nunca teria sido capaz de fazer isto sem sua ajuda.

Rhi rodou os olhos. — Oh, por favor. Teria conseguido. Levaria mais tempo, mas teria conseguido fazê-lo.

— Talvez.

— Talvez nada. Tem habilidades, garota. — Disse Rhi com um sorriso. O sorriso rápido de converteu em uma careta de dor.

— O que foi?

Rhi passou seu longo cabelo negro sobre o ombro. — Minha Rainha me chama há algum tempo. Ela está... bem, está irritada agora e me deixou saber. Tenho que ir Denae, mas antes de fazê-lo, vou levá-la aonde quiser.

Não estava pronta para isso. Sem algo para se concentrar, tudo o que iria querer era Kellan. Seria tão fácil que Rhi a levasse a alguma ilha tropical ou mesmo a outro reino.

Mas ao final, nada mudaria.

Seu coração continuaria doente por Kellan, seu corpo ainda desejava seu toque.

Apenas havia um lugar onde uma pessoa sofrendo como ela poderia ir.

— Casa. Quero ir para casa.

O sorriso de Rhi era amável e compreensivo. — Casa então.

Com apenas um toque da mão de Rhi, Denae estava de pé no jardim dianteiro de sua casa em South Father Island. Virou-se para agradecer Rhi, mas a Fae já não estava mais alí.

Deixando Denae com seu passado e presente ameaçando engolir tudo.

***

Kellan perdeu a conta das vezes que foi golpeado. Também perdeu a conta das vezes que tirou sangue de Con. Cada vez que o acertava, seu sorriso aumentava.

Mas isso não o deixava mais perto de recuperar Denae. Era um começo, no entanto.

Levantou um golpe no abdômen de Con, dobrando-o antes que Kellan levantasse o joelho para golpear o rosto. Kellan estava se preparando para fazê-lo novamente quando os braços de Con se envolveram ao redor de sua cintura e o empurrou para trás, direto para a parede da caverna.

Foram separados de repente. Guy tinha Con enquanto Rhys segurava Kellan. Entre eles estava Banan que olhava irritado de Con para Kellan.

— Que porra está acontecendo? — Perguntou Banan.

Rhys soltou Kellan e encolheu os ombros. — Kellan queria uma briga. Quem sou eu para impedi-lo?

Kellan estava cansado de conversar. Queria ação. Queria justiça.

Queria Denae.

Kellan empurrou Banan fora do caminho e golpeou seu ombro contra o ventre de Con antes que Guy pudesse soltá-lo. E estavam de volta caindo na porrada.

— Por quê?

Kellan terminou o comentário com um golpe na mandíbula de Con.

***

Rhi apareceu na caverna, sentada no alto de uma grande rocha, o que lhe dava uma grande vista da luta entre Kellan e Con. Sua audiência com a Rainha foi rápida, uma coisa rara com certeza. Surpreendeu-se ao ver Kellan envolvido em uma luta.

— Acho que sei quem quer que ganhe. — Disse Tristan enquanto se apoiava contra a rocha.

Rhi bufou. — Acha isso? Me conhece tão bem, Dragão?

— Você detesta Con.

Era um fato. Encolheu os ombros. — Acho que isso balança em favor de Kellan.

— O que faz aqui Rhi? — Perguntou Banan enquanto se aproximava.

Ela preferia estar de volta junto com sua Rainha tendo seu traseiro mastigado do que em meio a tantos Reis Dragões em Dreagan. Mas Usaeil lhe deu uma ordem direta.

Rhi não podia ignorá-la.

— Porque estão lutando? — Perguntou ela.

Tristan lhe lançou um olhar. — Realmente precisa perguntar?

— Denae. — Disse ela balançando a cabeça. — Con queria que ela fosse embora.

Nenhum dos dois respondeu a seu comentário. — O que deveria ser feito?

— Não deveria ter pressionado Kellan. — Disse.

Banan suspirou em voz alta. — Não. Já tentei separá-los uma vez. Não acho que isto termine até que um deles esteja morto.

— Kellan desafiou Con? — Perguntou ela em estado de choque. Seu estomago caiu a seus pés em pavor.

Tristan tamborilou os dedos na rocha. — Não exatamente. Não o desafiou.

— Trouxe sua espada?

O rosto de Banan estava sombrio enquanto apontava com o queixo uma parede perto da entrada onde descansava uma espada. — Tristan me contou o que aconteceu. Con exagerou. Não fez tal coisa comigo, Hal ou Guy. Porque faria com Kellan?

— Porque é um idiota. — Disse, sentindo um temor que não se dissipava.

— Se alguém não impedir isto, um deles morrerá. — Disse Banan. — Perdemos tantos Reis durante a guerra quando tomamos partido entre Con e Ulrik. Já não temos nossos dragões Rhi. Não podemos perder mais Reis, não com uma guerra com os Escuros se aproximando.

Sabia que tinha razão, mas seu ódio por Con nublava seu juízo. Podia se anunciar, o que seguramente pararia a luta, ao menos por um tempo.

Mas Con...

— Deixe de lado sua aversão desta vez. — Disse Banan. — Por Kellan, porque acho que sabe onde está Denae.

Afastou o olhar da sangrenta luta para Banan e olhou em seus olhos. — Farei por Kellan e Denae.

— Certo.

Rhi inclinou a cabeça para o outro lado e olhou para Tristan até que assentiu. — Claro. Esta conversa não irá além de nós três.

Ela piscou para o bonito Rei. — Gosto de você Tristan. Faça-me um favor e não se converta em um bundão.

— Farei o melhor possível. — Disse e piscou um olho.

Rhi engoliu saliva e respirou fundo antes de limpar a garganta. No mesmo instante, os olhos negros de Con foram em sua direção. Franziu o cenho e com sua atenção desviada, não viu o punho de Kellan.

Não se incomodou em esconder o sorriso enquanto Con caia no chão. Rhi começou a aplaudir forte, o som penetrante na caverna que ficou subitamente em silencio.

Kellan estava inclinado para o lado enquanto o sangue e o suor cobriam seu rosto. Seu cabelo longo cobria um lado de seu rosto e suas roupas estavam rasgadas e ensanguentadas. Com tão rápido que os Reis se curavam, nenhum deles teria uma ferida.

— Muito bem, Kellan. — Disse ela e assobiou.

— Rhi. — Sussurrou Banan.

Inclinou-se para a esquerda para poder ouvir as palavras sussurradas. — Disse que faria por Kellan e Denae. Não disse que seria amável.

A cabeça de Kellan girou para ela e seus olhos se estreitaram. — Rhi.

Esta palavra continha tudo dentro de Kellan. Sua fúria, sua preocupação, sua tristeza e sua... Esperança.

As lágrimas encheram seus olhos. Lembrava-se deste sentimento de esperança. A fez passar por tanto. Até que se apagou, enfática e vigorosamente.

Ficou no alto da rocha enquanto Kellan se apressava até ela. Con estava muito perto dele quando ficou de pé com um salto.

— O que faz aqui? — Perguntou Con antes de Kellan poder falar.

— Foda-se. Idiota. — Disse ela rolando os olhos.

Con franziu o cenho em confusão quando a alcançou. — O que?

Rhi o ignorou e se concentrou em Kellan. Ela queria lhe contar tudo, mas a maioria precisava ser dito em privado. Seu afeto por Denae se converteu em algo assombroso e maravilhoso. Não precisava ser manchado por Con.

Olhou sobre a cabeça de Kellan e aos outros Reis na caverna. — Estou aqui porque minha Rainha me enviou. Ela está preparando seu exército para lutar contra os Escuros. Minha Rainha quer que os Reis dragões saibam que os Fae de Luz não ficarão de pé vendo como os Escuros destroem este mundo.

— Bem. É bom saber. — Disse Con com sarcasmo.

— Os Reis precisam ficar alerta. — Disse Kellan a seus irmãos. — Os Escuros querem um de nós e farão todo o possível para nos capturar.

Guy passou a mão pelo rosto. — Precisamos de mais informação. O que realmente precisamos é de um espião.

— Já temos um. — Disse Rhys e logo sorriu amplamente. — Porque acha que Kiril ficou na Irlanda?

Banan se afastou da rocha. — Entrarei em contato com Henry novamente. Também pode usar os computadores para rastrear o movimento ao redor do mundo e alertar-nos sobre qualquer coisa estranha.

— O que poderia ser muito. — Disse Tristan. — Vamos começar agora mesmo.

Quando os Reis começaram a sair da caverna, Rhi esperou que Con também se fosse. Deveria saber que não o faria. Em pouco tempo ficou sozinha com Kellan e Con.

— Porque continua aqui? — Perguntou Con.

Manteve seu foco em Kellan. — Denae está bem. Eu a ajudei a apagar qualquer evidência de que alguma vez esteve envolvida com o MI5. Não tem mais nenhum registro dela, não há fotos, nada. E logo apaguei a memória de seu chefe também.

— Os outros se lembrarão dela. — Disse Con.

Rhi encolheu os ombros enquanto o olhava. — Eles pensarão que a inventaram ou que não se lembram direito. O MI5, como uma organização de inteligência, mantém todos os registros em um computador. Para cortar papel, todos os relatórios são feitos eletronicamente e ficam armazenados em seus servidores.

— Apagou tudo? — Perguntou Kellan.

— Tudo em Londres. Logo tivemos que ir aos lugares remotos e destruir provas ali também. Denae é rápida, inteligente e astuta. O MI5 fez um movimento errado ao querer se desfazer dela.

Kellan deixou cair o queixo conta seu peito. Pelo canto do olho, Rhi viu Con observando-o. Se perguntou o que passava pela mente do Rei dos Reis. Percebia o quanto Kellan amava Denae?

Isto importava?

Quando Kellan levantou a cabeça, o olhar selvagem não estava mais ali. — Sabe onde ela está?

— Sim.

— Leve-me até ela.

Con estendeu a mão e segurou seu ombro. — Kellan.

— Não. — Disse Kellan e afastou-se bruscamente. — Ainda estou preparado para desafiá-lo Con. Neste momento estou concentrado em Denae. Se quer que lute até a morte, eu o farei. Apenas diga.

— Eu não a mandei embora. — Disse Con.

Rhi levantou uma sobrancelha. — Não o fez? Foi até ela perguntar quanto iria embora. Perguntou como poderia ajudá-la quando ela disse que iria. O que deveria ter feito era convencê-la que ficasse até que Kellan tivesse tempo de conversar com ela. Mas espere. — Disse com os olhos muito abertos e uma voz sarcástica. — Este é o ponto, não? Não queria que conversassem. Queria que Denae fosse embora. Independente do que tenha feito Kellan.

Con a olhou fixamente durante várias batidas de coração. Logo olhou para Kellan. — Denae é um alvo. Pode ter cuidado do MI5, mas os Escuros a tem em seu radar. Virão por ela.

— Deixe-os. — Disse Kellan com calma.

— Se ela concordar em voltar com você.

O sorriso de Kellan era frio. — Se o fizer, quero sua palavra de que irá aceitá-la. Ou o desafiarei.

Con fez uma reverencia e saiu da caverna.

Rhi deslizou da rocha enquanto a forma de Con girava na esquina, deixando-a sozinha com Kellan. — Vamos sexy. Adoro finais felizes.


CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

 

South Padre Island, Texas.

Denae entrou na varanda com seu copo alto de chá gelado e se sentou no balanço. Com um pé debaixo dela, vagamente balançou com o outro.

O ar estava quente e pegajoso com a umidade, mas a brisa que vinha do Golfo do México ajudava a esfriar. O ar condicionado estava dentro, mas a varanda sempre foi o lugar favorito de seus pais. Lembrava-se tantas noites quando criança que todos saiam à varanda depois do jantar e olhavam as estrelas.

Seus pais se sentavam no balanço de mãos dadas e sorrindo um ao outro como se estivesse juntos em meses e não em anos.

Denae e Renee ficavam no chão brincando com suas bonecas ou jogando cartas. Estas noites preguiçosas eram seu mundo.

Em um verão, sua idílica vida ficou destroçada.

Denae piscou contra as lágrimas que ameaçavam cair e tomou seu chá doce. Era difícil voltar para casa. Cada cômodo lhe trazia lembranças. Algumas boas, algumas ruins.

Um zumbido chamou sua atenção à direita. A árvore de murta que sua mãe plantou estava florida. As delicadas extremidades caiam ao peso das flores rosadas e as abelhas, assim como as borboletas, que se aproveitavam ao máximo.

Isto a fez rir. Sua mãe adorava trabalhar nos jardins. Eram seu orgulho e alegria. A murta, lhes dizia, ofereceria sombra e beleza quando crescesse.

— Tinha razão. — Disse Denae.

Ela suspirou e virou a cabeça. E quase deixou cair o copo quando seu olhar caiu em Kellan de pé na calçada, olhando-a fixamente.

Usava uma calça jeans preta que caia em seus quadris e uma camiseta cinza escura. Seu cabelo parecia úmido, como se acabasse de sair do chuveiro.

Ao vê-lo, Denae percebeu o quanto o amava. Foi muito difícil deixar Dreagan. O que estava fazendo ali? Não sabia que não poderia vê-lo novamente?

Deu um passo para ela e isto impulsionou Denae a ficar de pé. Seus pés descalços estavam em silencio enquanto descia a escada.

Tomou tudo dele, o poder, a virilidade e a sensualidade. Sabia o gosto de seus lábios, o delicado e persuasivo que era com as mãos e como era delicioso seu corpo.

Ficou de pé no degrau de baixo e logo sorriu lentamente. — O que faz aqui? — Perguntou incapaz de formar mais palavras.

Olhou ao redor. — Foi aqui que cresceu?

— Sim. — Disse ela distraidamente.

— É agradável. Precisa de uma pintura.

Denae franziu o cenho, ofendendo-se. — Eu sei. Uma pessoa cuidava do lugar enquanto estava fora.

— Porque não a vende? — Perguntou, seu olhar caindo nela uma vez mais.

— Eu ia fazer isto. Simplesmente não pude deixá-la ir. Tive que fazer o MI5 acreditar que o fiz, no entanto, assim transferi a casa para o nome de minha tia.

— Garota inteligente.

Ela se moveu e finalmente se aproximou dele. — Quer entrar?

Kellan subiu a escada até a varanda. Seu cabelo cor caramelo a tentava a passar os dedos por eles e puxar sua cabeça para um beijo.

De alguma forma, Denae conseguiu manter suas mãos para si mesma. Levantou o copo. — Quer chá doce?

— Não, garota.

— Um passeio então?

— Não.

Denae brincava com seu short de algodão grande que estava pendurado em seus quadris. Sua regata vermelha de repente se sentia muito pequena e se agarrava a sua pele suada.

Isto é como Kellan a deixava. Fazia com se suasse sempre que estava perto. Não podia formar um pensamento coerente nem dizer uma frase completa, porque sua mente e seu corpo estavam em sintonia com ele.

— O que você quer?

— Você. — Sua voz era suave. Baixa. Seus olhos estavam intensos e vigilantes.

Derreteu-se no ato. Com uma simples palavra estava disposta a se lançar em seus braços. Merda, a quem estava enganando? Esteve preparada para fazê-lo desde o momento em que o viu.

— Porque foi embora? — Perguntou.

Denae sentiu uma gota do copo de chá cair sobre sua pele. — Foi o melhor. Tinha planos.

— Planos que não compartilhou comigo.

Soava ofendido, o que a fez levantar as sobrancelhas. — Porque deveria?

— Porque estamos destinados a ficar juntos. E você sabe.

Ela balançou a cabeça lentamente. — Não. Não sei. Você é imortal. Eu não sou. É um Rei Dragão. Sou... bom, sou humana. Já sabe, o que despreza.

— Desprezava os humanos. — Disse enquanto diminuía a distância entre eles. — Até que conheci uma americana que trabalhava para o MI5 que entrou em minha caverna e me despertou.

Kellan não tinha certeza se algo do que dizia estava coerente. Nunca cortejou uma mulher antes, mas estava disposto a fazer qualquer coisa para levar Denae de volta a Dreagan com ele. Mesmo se significasse que tivesse que ficar de joelhos e suplicar.

Ela parecia deliciosa naquele short descolorido e regata. Tinha o cabelo solto pelas costas. Era a coisa mais bonita que já viu ou que jamais veria.

— Cuidei do MI5. Encontrarei uma forma de lidar com Taraeth.

Kellan sabia que era capaz de muitas coisas. No entanto, lidar com os Fae Escuros não era uma delas. Ele não lhe diria isto, não em tantas palavras pelo menos. Era uma mulher orgulhosa e tinha todo o direito de ser.

— Os Escuros são diferentes de qualquer outra coisa que tenha enfrentado antes. — Disse Kellan. — Teve um vislumbre deles na Irlanda. A diferença é que sua atenção se desviou entre nós dois. Taraeth irá caçar somente você. Nunca o verá se aproximar.

— Não sou uma idiota. — Disse e olhou para baixo. — Taraeth e todos os Escuros me assustam muito.

Isto era o que estava esperando. Ele segurou sua mão e disse. — Então me deixe ajudá-la a se proteger.

Em um instante afastou a mão. — É isso então? Ainda está pensando em sua promessa? Salvou-me Kellan. Afastou-me do MI5 e dos Fae Escuros. Sua promessa foi cumprida.

— Maldição mulher, está louca. — Disse e soltou um forte suspiro. — Quero protegê-la porque te amo. Quero me assegurar que ninguém possa machucá-la novamente e se alguma vez for tola o suficiente para entrar em problemas, quero estar ali para tirá-la deles.

Ela piscou. — O que disse?

— Eu disse que sempre estarei a seu lado.

— Não. A primeira parte.

— Que está louca? — Perguntou. Sabia exatamente que parte queria que repetisse. Não tinha a intenção de soltá-lo tão casualmente. Quis fazê-lo com delicadeza, o que saiu pela janela tão logo colocou os olhos nela sentada no balanço.

A pulsação na base de sua garganta era errática. — Não. No meio.

— Oh. Quando disse que te amo?

Ela assentiu. — Sim. Isso.

— Eu te amo.

— Não pode. — Parou e engoliu saliva. — Não pode vir aqui e dizer isso.

Não entendia as mulheres. Ela obviamente gostou de ouvir, assim porque estava lutando? — Explique então.

— Você não gosta dos humanos. Dormiu por séculos para que não tivesse que ficar perto de nós.

— Sim. — Admitiu Kellan. — Nunca contei com você, garota. É forte, honrada, inteligente, astuta, linda e resistente. Nunca se deixa derrubar. Então, porque renunciar a mim?

Ela virou a cabeça, mas Kellan viu as lágrimas se acumulando. Ele a segurou nos braços enquanto seus ombros começavam a tremer.

Havia tanto sobre esta mulher que ele não sabia, mas compreendia o suficiente para entender que ela estava destinada a ser sua. Sabia que a amava e se não percebesse nada mais, isso seria suficiente.

Então lhe golpeou que não o amava. Gostava de fazer amor, mas nunca insinuou nada mais.

— Se não sente o mesmo, não irei embora. Ficarei aqui e a perseguirei até que a ganhe.

Denae levantou a cabeça, com os cílios cheios de lágrimas. — Ficaria?

— Sim. Preciso de você, Denae.

— Con não me quer ali.

— Con pode ir para o inferno. — Disse Kellan com calma. — Tivemos uma... conversa... antes de vir aqui. Ele lhe dará as boas-vindas.

— Por conversa, quer dizer uma briga.

Kellan olhou para o teto e encolheu o ombro. — Poderia dizer que sim.

— Por quê?

— Porque pensei que a houvesse mandado embora.

— Homem tolo. — Disse e tocou sua bochecha. — Como não sabe que fui embora porque te amo? Queria me assegurar que o MI5 te deixasse em paz e queria afastar os Fae Escuros de você.

Kellan tomou sua boca em um beijo abrasador, derramando todo seu amor, seu desejo e sua necessidade por ela nele. Ele queria que ela soubesse através das palavras e do toque o quanto precisava dela com ele.

Quando finalmente terminou o beijo, seus lábios estavam inchados e ele a estava apoiando na porta. Pegou o copo e deixou-o no braço da cadeira antes de abrir a porta e foi golpeado pelo ar frio.

Denae envolveu os dois braços ao redor dele e fechou a porta quando entraram.

— Voltará comigo para Dreagan? — Perguntou.

Ela assentiu enquanto tirava a camiseta pela cabeça. — Sim. Agora se cale e me beije.

Kellan sorria quando seus lábios se uniram.


CAPÍTULO QUARENTA E CINCO


Denae não deveria ter ficado surpresa quando Kellan alugou um jato particular para voar de volta à Escócia. Não que prestasse muita atenção no interior na viagem de oito horas. Se não estava dormindo, estava nos braços de Kellan.

Uma vez que chegaram a Invernes, Tristan estava ali para pegá-los e levá-los de volta a Dreagan. Denae não sabia o que esperar de sua chegada a Dreagan, mas não era Con esperando para saudá-la.

— Eu disse que ele e eu nos entendemos. — Disse Kellan enquanto segurava a porta do Range Rover aberta enquanto ela saía.

Denae caminhou até Con com Kellan a seu lado. — Disse que cuidaria do MI5.

— Assim o fez. Com a ajuda de Rhi, ouvi dizer. Mas estou começando a pensar que o teria feito sozinha. — Disse Con.

— Sim.

Um lado de sua boca se levantou em um sorriso. — Bem-vinda a Dreagan.

E com isso, girou sobre os calcanhares e se afastou. Denae olhou para Kellan, que encolheu os ombros sem dizer uma palavra.

— Vamos para nosso quarto antes que as mulheres descubram que está aqui. — Disse.

Denae começou a rir quando a voz de Cassie se ouviu chamando seu nome. Kellan a agarrou pela mão e a rodeou pela parte traseira da casa para entrar pela cozinha. Subiram correndo a escada, sem parar até que estavam dentro do quarto com a porta fechada.

Voltou-se para olhá-la. — Temos que conversar.

— Não o fizemos no avião?

— Não me lembro de falar. Lembro-me de beijar, tocar e muitos orgasmos, mas não conversar.

Denae mordeu os lábios quando se aproximou. — Ah sim. Pode ser que tenha razão. Pensei que dissemos tudo o que era possível no Texas.

— Há algo mais que preciso perguntar. — Disse enquanto parava na frente dela e segurava suas mãos.

— Estou ouvindo.

Kellan hesitou um momento. — Eu te amo.

— Eu te amo também. — Denae levantou-se na ponta dos pés e o beijou. — Já nos entendemos, lembra-se?

— Sim, mas há algo mais.

— Seu sorriso caiu ao olhar para o chão. — Não sei quanto tempo ficarei contigo desde que sou mortal, mas não quero desperdiçar outro segundo.

— E se ficasse comigo para sempre?

Seus olhos ficaram arregalados e ele a observou com atenção. — Para sempre?

— Para sempre. A eternidade. Poderíamos ter isso.

— Como?

— Se aceitar ser minha companheira.

Ela franziu o cenho. — Quer dizer como se casar? Não entendo.

— É como uma casamento humano, mas quando um mortal aceita se converter em companheiro de um Rei Dragão, são marcados com o olho do dragão e lhes é concedida a imortalidade enquanto o outro esteja vivo.

— Assim podemos ficar juntos... Para sempre.

Ele assentiu ansioso. — No entanto, tem razão. Há uma armadilha. Não haverá crianças. Nenhum mortal foi capaz de levar uma gravidez adiante, isso se ficam gravidas.

— Mas eu serei sua e você meu.

— Sim, garota. Aceitando a cerimonia, eu serei sempre seu.

Uma explosão de pura alegria encheu Denae. Kellan estava lhe oferecendo mais do que ela acreditava possível. E pela forma como ele a estava observando, o homem tolo pensava que poderia dizer não.

— Deixe-me pensar. — Disse enquanto passava as mãos pelos braços. — Está me oferecendo eras ao seu lado, onde não envelheço e terei para sempre seus beijos e esse corpo maravilhoso para explorar em meu tempo livre? Hum. Minha resposta definitiva é sim.

Seu sorriso aumentou. — Tem certeza? Ouviu-me sobre filhos?

— Ouvi. Vamos descobrir algo se chegar a este momento de sentir necessidade de ter um filho, mas suspeito que você sempre será o suficiente para mim.

Ela foi empurrada contra seu peito e segurou-a firmemente ali. Para sua surpresa estava tremendo. Nunca questionaria a profundidade de seu amor.

Denae passou a mão por suas costas. Apesar da ameaça dos Fae Escuros, nunca conheceu tal felicidade.

***

Con olhou para os papeis em seu escritório sem vê-los. Outro de seus Reis se apaixonou. Não podia impedir a apreensão que se enroscava em seu estômago.

Nenhum deles nunca tinham se apaixonado por um humano.

Nunca.

Os Prateados se moveram há dois anos, seguidos de perto por Hal que se apaixonou por Cassie e logo Guy por Elena e Banan por Jane e tudo fora esquecido.

Então se concentrou em ajudar os Guerreiros a lutarem contra os Druidas malvados enquanto continuavam escondidos do mundo. Mas a ameaça que se manifestou em Londres os empurrou novamente.

E desta vez o inimigo recrutou o MI5 e os Fae Escuros. Era normal que todos se esquecessem de algo parecido ao movimento dos Prateados.

Não importava que os Prateados não houvessem se movido durante milhares e milhares de anos antes disso.

Os Prateados eram de Ulrik. Ele poderia ter encontrado uma forma de entrar em contato novamente com seus dragões? Isso não seria possível. Con tomou toda magia de Ulrik, incluindo sua capacidade de se comunicar com os Prateados.

Nenhum dos Reis Dragões compreenderiam os caminhos aos quais precisou percorrer enquanto se assegurava que tudo pelo qual trabalhou tão duro permanecesse em segredo. E era melhor que não soubessem.

Con olhou seu celular sobre a mesa. O número de Ulrik estava programado. Não que alguma vez o houvesse usado, mas Con gostava de estar preparado para qualquer eventualidade.

— Porque não ligar para ele?

Estremeceu ante a voz sedosa de Rhi. Como odiava quando aparecia em seu escritório. Estavam perdidos os dias em que a Fae de Luz se negava a mostrar seu rosto. Talvez deveria fazê-lo para que não pudesse entrar em Dreagan quando quisesse.

Con levantou o olhar para encontrá-la sentada em uma das cadeiras na frente de sua mesa. — Sobre o que está falando?

— Ulrik. Ligue para ele. Poderia se surpreender.

Con precisou chamar de volta a raiva que ardia dentro dele. Olhou em seus olhos prateados tentando ver sua mente, em vão. Maldita Fae. — Como sabe? Conversou com ele?

— Não. — Disse ela e rolou os olhos. — Sempre pensa o pior. Por isso está perdendo a lealdade de seus Reis.

Isto não era o que queria ouvir, especialmente dela. — O que quer, Rhi?

— Tomei uma amostra do sangue de Denae sem que ela soubesse.

Agora isso chamou a atenção de Con. — Porque?

— Queria saber se havia uma razão pela qual não se viu afetada pela sedução dos Escuros. Sim, Taraeth a obrigou a um orgasmo, mas ela lutou contra ele. Nenhuma vez esteve sob o feitiço dos Escuros.

— Kellan disse o mesmo, mas realmente não acreditei. Achei que estivesse cego por seus sentimentos.

— Ele não mentiu. — Rhi lambeu os lábios com preocupação. — Queria poder dizer que encontrei algo em seu sangue que demonstre que é parte Fae ou algo assim.

— Mas não encontrou nada. — Concluiu Con.

Rhi balançou o cabelo negro. — Nada. Ela é tão mortal como eles.

— Porque não foi afetada por eles?

Con franziu o cenho enquanto apoiava os braços em sua mesa. — Foi algo que Kellan fez?

— Não. Seus sentimentos um pelo outro. Denae e Kellan fizeram amor antes que os Fae Escuros os capturassem. Acho que foi durante seu tempo sozinhos que os laços do amor se enraizaram. Acho que isto impediu os Escuros de se apoderarem de Denae.

— Vi mulheres completamente apaixonadas por seus homens se esquecerem de que alguma vez se casaram, assim que se encontrou com um Escuro.

— Certo. Mas nenhum destes homens era um Rei Dragão.

Con piscou e se sentou lentamente para trás. — Se os Escuros tem uma vantagem com sua magia para evitar que nos transformemos em dragão, então apenas tem sentindo que uma mulher apaixonada por um Rei não seja afetada pela sedução de um Escuro.

— Exatamente. — Disse Rhi com um sorriso. — Não quero provar minha teoria sobre Cassie, Elena ou Jane, mas é algo a considerar.

Con olhou para a Fae de Luz durante vários minutos. — Não precisava me dizer nada disso. Porque o fez?

A gravidade caiu de seu rosto, substituída pelo desdém que guardava por ele. — Acredite em mim Con, não será o único Rei Dragão a saber.

— Seu ódio por mim vai tão longe?

— Pode fazer a si a mesma pergunta.

Como inumeráveis vezes antes, estavam em um ponto morto. — Obrigada pela informação Rhi.

— Não diga que nunca fiz nada por você. — Disse antes que desaparecesse.

Con passou uma mão por seu rosto justo quando sua porta se abriu. Levantou o olhar para encontrar Kellan e Denae de pé ali.

— Ela concordou em ser minha companheira. — Disse Kellan com um amplo sorriso nos lábios antes de olhar com adoração para Denae.

Denae riu para ele. — Sim.

Se Con tentasse impedi-los, Kellan o desafiaria. Con poderia perder outro Rei ou poderia ceder. Não era uma grande decisão a tomar. Tinha que manter os Reis unidos a todo custo.

Ele ficou de pé. — Felicidades. Quando querem a cerimonia?

— Amanhã. — Disse Kellan enquanto saia do escritório, fechando a porta atrás dele.

Tudo o que Con estava lutando contra estava chegando a um bom termino. O assentamento que os Reis tinham neste reino estava escorregando. Talvez muito rápido para que pudesse alterar o rumo ao qual se dirigiam.


CAPÍTULO QUARENTA E SEIS


Kellan nunca esteve tão nervoso. Ou tão emocionado.

Estava se prendendo a mulher mais maravilhosa e linda, não podia esperar um minuto mais até que ela fosse oficialmente sua.

A sua direita estava Con. Podia haver um sorriso no rosto de Con, mas Kellan sabia que não estava feliz com o acasalamento. Não importava a Kellan. Por fim estava feliz, algo que não sentiu desde a última vez que voou com seus dragões ao seu redor.

Nem todo o ódio pelos humanos desapareceu, mas Denae curou muito dele que agora era apenas um incomodo. Além disso, como poderia odiar os mortais quando estava apaixonado por uma?

— Tem certeza? — Sussurrou Con.

Kellan viu Denae caminhando pelo corredor da montanha. Con repetidamente lhe perguntou se esta era a decisão correta, ao fazer Denae sua companheira. Kellan tinha um nervo sensível e Con estava definitivamente o cutucando.

— Pergunte mais uma vez. E eu o desafiarei.

Esqueceu de Con e os outros Reis Dragões que se alinhavam na caverna uma vez que se concentrou em Denae. Seu cabelo castanho longo e acobreado estava solto, com grandes e grossos cachos.

Kellan sorriu ao notar o vestido cor de bronze moldando suas curvas. O vestido era tomara que caía e longo até os pés com uma abertura de lado.

Era costume de Con dar as fêmeas um presente, uma espécie de oferenda de boas-vindas. Kellan estava a ponto de se irritar até que viu algo em seu cabelo. Foi então quando Kellan viu os brincos de diamantes e quartzo.

Kellan olhou para Con para encontrá-lo olhando-o. Kellan deu uma leve inclinação de cabeça para mostrar que aprovava o presente.

E logo, finalmente, Denae o alcançou.

Kellan segurou sua mão e eles compartilharam um sorriso enquanto ele a levava pela caverna que era usada unicamente para cerimonias oficiais. Observou seus olhos irem para as paredes onde a luz das tochas se refletia. Ele sorriu por dentro quando ouviu o suave suspiro quando ela viu os intricados quadros enormes de dragões nas paredes.

Ele a parou quando enfrentaram Constantino, que os olhou durante um longo momento enquanto os demais se sentavam.

— Vivemos através de eras sem encontrar nossas companheiras e, no entanto, aqui estamos em outra cerimonia de vinculação com Kellan e Denae. Denae demonstrou ser digna de se casar com um Rei Dragão por sua luta contra um Fae Escuro... E soltá-lo de suas algemas.

Houve um forte coro que fez Kellan apertar a mão dela. Denae lhe sorriu, seu amor brilhando em seus olhos.

— Agora, oficialmente damos as boas-vindas a Denae como companheira de Kellan. — A voz de Con ecoou pela caverna.

Kellan encarou Denae e segurou suas duas mãos. Ainda se surpreendia por ter encontrado Denae. O que teria acontecido se houvesse entrado em outra caverna que não a sua? Nem sequer queria pensar nisso.

— Kellan, se une a humana, Denae Lacroix? — Perguntou Con. — Promete amá-la, protegê-la e cuidá-la acima de tudo o mais?

— Desafiarei a quem se atrever a me impedir. — Prometeu.

Kellan queria beijá-la neste momento, mas ele segurou seu olhar. Um segundo mais tarde, os olhos Denae se arregalaram e seu braço esquerdo se sacudiu quando a tatuagem que apenas uma companheira de um Rei Dragão carregava, apareceu em sua pele.

Denae abaixou os olhos para seu braço. Kellan não podia esperar para passar os dedos no dragão e as chamas que o rodeavam. A tatuagem era do tamanho do punho de Denae e com a mesma tinta vermelha e negra de sua própria tatuagem.

— A prova de seus votos e seu amor. Não há volta atrás. — Disse Con. Logo levantou a voz à multidão. — Denae está oficialmente marcada como de Kellan!

Eles ouviram ensurdecedores aplausos. Kellan puxou sua companheira para seus braços. — Não tem como escapar de mim agora.

— Nunca quis escapar de você. — Sussurrou sedutoramente.

Kellan selou sua união com um beijo que a deixou agarrada a ele.


EPÍLOGO

Castelo MacLeod

Charon entrou no castelo e parou tempo suficiente para encontrar Ian sentado na grande mesa com sua esposa, Dani. Ignorando os cumprimentos, Charon foi até ele.

— Tenho que conversar com você. — Disse Charon enquanto parava na frente de Ian, a mesa os separando.

O olhar castanho de Ian pousou nele, com o cenho franzido. — O que foi?

— É algo particular. Algo que talvez não queira ouvir com os demais.

Ian se levantou e puxou Dani com ele. — Ela vem.

— Claro. — Disse Charon enquanto se virava e voltava. Apenas chegou na metade da porta quando Fallon MacLeod ficou diante dele. Foi apenas um momento depois que os outros irmãos MacLeod, Lucan e Quinn ficaram de ambos os lados de Fallon.

— O que está acontecendo? — Perguntou Fallon.

Charon passou uma mão pelo rosto. O castelo pertencia aos MacLeod e estava aberto a qualquer Guerreiro e Druida. Devido a isso, Fallon era o líder não oficial do grupo.

— Charon. — Quinn insistiu.

Maldição, mas Charon não queria mentir. Fez o suficiente com Quinn enquanto ambos estavam sob o controle de Deirdre. Mas o que tinha a dizer era primeiro para os ouvidos de Ian. Depois, seria decisão de Ian o que fazer.

Lucan colocou uma mão no ombro de Charon. — Parece que não dormiu em dias. Está tudo bem com Laura?

— Sim. — Disse Charon e olhou o colar que usava Lucan. Os três irmãos MacLeod usavam antigos colares que seus pais lhe deram. — Está tudo bem com Laura.

— Então o que aconteceu? — Quinn perguntou.

Charon olhou sobre o ombro para encontrar Ian e Dani se aproximando. — Quero contar primeiro a Ian. Será decisão dele o que fazer depois.

Os olhos verdes de Lucan se encheram de preocupação. — Há algo que possamos fazer?

— Estejam aqui para ele. — Charon disse antes de passar pelos irmãos e sair pela porta.

Não passou muito tempo antes de Dani e Ian o encontrarem na garagem. Charon olhou ao redor para as muralhas e o piso a seus pés. — Estranho que este lugar costumava estar cheio de cavalos, carruagens e pessoas. Agora é usado para carros.

— Está me assustando muito. — Disse Dani. — Por favor, conte-nos logo o que aconteceu.

Agora que Charon estava diante de Ian, não tinha tanta certeza de compartilhar as notícias. Talvez Phelan tivesse razão e era algo que deveria acontecer.

Ian olhou para cima enquanto ouvia um trovão. — Explique Charon. O que o incomoda tanto?

— Duncan não está morto.

Charon pensou que fosse melhor não dizer nada, mas quando o rosto de Ian começou a perder toda a cor, estava duvidando.

— Como pode ser isso? — Gritou Dani enquanto ficava na frente de Ian e tocava seu rosto.

Charon esfregou a nuca. — É verdade.

— Como? — Perguntou Ian com a voz rouca e trêmula.

Esta era a parte que Charon não queria compartilhar. Depois de se converterem em aliados, as coisas poderiam se fragmentar dependendo de como Ian recebesse a notícia. — Phelan acabou de descobrir e compartilhou comigo.

— Espere. O que? — Dani perguntou enquanto se movia para olhá-lo. — Não tem nenhum sentido. Se Phelan descobriu, porque não está aqui?

— Porque ele acha que não preciso saber. — Suspirou Ian.

Charon balançou a cabeça. — Phelan não queria dizer como estou fazendo e ele tinha razão.

— Então, Phelan descobriu. Como? — A voz de Ian se endureceu, seus olhos como aço.

— Estava ajudando os Reis Dragões. Foi quando conheceu Tristan.

— Quem é Tristan? — Perguntou Dani.

Charon fechou os olhos brevemente. — Duncan. Parece que Duncan se converteu em um Rei Dragão.

— Está vivo? — Perguntou Ian em voz baixa, a comoção fazendo seu rosto relaxar ainda quando a alegria brilhava em seus olhos. — Meu irmão está vivo? Porque os Reis não nos contaram?

— Porque Tristan não tem lembranças de sua antiga vida como seu irmão.

A emoção que encheu o rosto de Ian desmoronou com as palavras de Charon. E odiou a si mesmo neste momento. Pensou que se encontrar com Ian fosse o correto. Agora sabia que não era assim.

— Quero vê-lo. — Disse Ian. — Sabe de mim?

— Phelan contou a ele. Agora já sabe. E isso é tudo o que sei.

Ian olhou sua esposa. — Devo ir vê-lo.

— Eu sei. Estarei a seu lado todo o tempo. — Prometeu enquanto acariciava seu rosto.

Charon os viu voltar ao castelo enquanto a chuva começava a cair. Esperou uns segundos antes de entrar no carro e voltar a Ferness.


Cork, Irlanda

Kiril abriu as portas duplas dianteiras e entrou em sua nova casa com um sorriso. Precisava de algumas reformas, mas encaixaria perfeitamente com suas necessidades. Especialmente a adega.

Acabava de entrar no vestíbulo quando seu celular tocou. Kiril respondeu sem olhar a tela, já que sabia ser um dos Reis dragões.

— Sim?

— Con explodiu como sabia que o faria. — Disse Rhys.

Kiril riu. — Faz bem em perder esta frieza infame que carrega.

— O que está fazendo?

— Acabo de comprar uma casa.

Houve uma pausa embaraçosa. — Fez o que?

— Comprei uma casa. — Disse enquanto vagava pelo andar principal. — Pense Rhys. Temos casas em todo o mundo, mas nenhuma na Irlanda.

— Isto é porque os Escuros estão aí. Ou preciso lembrá-lo?

— Eu me nego a viver em um hotel por muito tempo enquanto estiver aqui. Além disso, se as coisas acontecerem como queremos, sabe tão bem quanto eu que vamos precisar deste lugar.

Rhys suspirou pelo telefone. — Tem razão. Mais ainda não gosto disso.

— Tenho que estar sozinho se quiser espioná-los.

— Vai voltar ao pub?

— Claro.

Rhys murmurou algo que Kiril não pode entender. Então Rhys disse. — Há algum problema potencial?

— Há uma fêmea que estou olhando. Claro, ela poderia querer meu corpo.

Rhys começou a rir, mas ambos sabiam que as coisas poderiam mudar rapidamente de mal a pior.

— Ligue antes de ir a guarida do mal e quero que ligue quando sair.

— Sim mamãe. Se tiver a fêmea, lhe enviarei uma mensagem de texto. Ligar poderia ser um pouco difícil.

— Está caminhando para o inferno e intencionalmente brincando com os demônios. — O grunhido de Rhys retumbou através do telefone. — Não gosto disso.

Toda a brincadeira sumiu da voz de Rhys. Kiril parou na cozinha e se apoiou na parede. — Alguém precisava fazê-lo. Você foi muito notado da última vez. Tinha que ser eu. Ficarei bem. Se me capturarem, eu fugirei. Kellan o fez.

Rhys grunhiu. — Fique seguro, babaca.

— Você também, vadia.

Kiril desligou o telefone e o deixou sobre o balcão. Ele estava disposto a caminhar até o inferno, porque alguém precisava fazê-lo. Con não teria concordado com isso, pelo risco de um Rei Dragão ser capturado.

Sabia que isto era exatamente o que poderia acontecer e se lhe desse a informação que precisava para ajudar os outros Reis a descobrir quem os perseguia, Kiril se entregaria facilmente aos Escuros neste momento.

Houve um golpe atrás dele quando uma voz masculina com um forte sotaque irlandês disse. — Sr. Kiril. Onde quer que coloque suas bagagens?

E assim começou o engano. Kiril guardou o telefone e sorriu quando passou pela porta. — No quarto principal, claro.

 

Leia um trecho de:

FIRE RISING


Neste lugar entre o despertar e o sono, Sammy se encontrou pensando em Tristan e o Dragão, convertendo-os em um só.

Tristan com seu ar misterioso ao redor dele e o dragão, uma criatura mitológica e uma lenda cobrando vida.

Pensou nos olhos escuros de Tristan e o alarme e preocupação do dragão — o mesmo olhar de Tristan quando ela tentou sair de Dreagan e ele a impediu.

Os olhos de Sammy se abriram quando a percepção a golpeou. Ela sabia porque o olhar do dragão era tão familiar. Lembrava Tristan.

Pelo canto do olho, pensou ver um brilho âmbar nas nuvens. O sol estava baixo, atrás da ponta da montanha que projetava sombras do lado da montanha. Ela ficou quieta como se estivesse dormindo e fechou os olhos até que ficaram apenas linhas estreitas.

E então esperou.

Quase cochilando, acordou acreditando ouvir o dragão se aproximar cada vez mais. Esta última vez era diferente. Abriu os olhos para ver quando o dragão se deslizava sem esforço das nuvens até ela.

Sua respiração ficou presa em seus pulmões enquanto observava o dragão curvar a cabeça e rodar enquanto olhava as escamas âmbar se converterem em pele bronzeada beijada pelo sol.

O homem rodou enquanto golpeava o chão e se levantava com os joelhos dobrados e as mãos no chão, a cabeça ainda baixa, seu cabelo longo castanho claro caindo para esconder o rosto. Lentamente, quase com cautela, levantou a cabeça e seu cabelo caiu sobre os ombros em desordem.

Sammy o reconheceu antes de se levantar. Ela sabia pelo cabelo, pelo qual ansiava correr os dedos. Logo se endireitou.

Ela bebeu da vista dele desde os amplos ombros com músculos tensos até sua estreita cintura, seu duro traseiro e suas longas e musculosas pernas.

Seus olhos desceram pelas costas, onde viu o que parecia ser uma tatuagem, mas ela não podia distinguir o que era.

Logo se virou para ela. Sammy viu homens magníficos antes, mas nenhum deles se comparavam com Tristan em toda sua glória. Era como um espirito vingativo e como um deus. Era surpreendentemente lindo, deslumbrantemente forte.

Assombrosamente viril.

O vento se movia ao redor dele, como se acariciasse seu corpo como ela ansiava fazer. Afastou o cabelo do rosto. Sammi mordeu o lábio enquanto ele fechava os olhos e levantava o rosto para o céu como se estar em forma humana doesse.

Seu olhar desceu por seu rosto, peito e corpo impressionante, mas não era apenas os músculos que chamavam a atenção — era a tatuagem que cobria seu peito inteiro.

A tatuagem era um dragão. Estava sobre suas patas traseiras com as asas abertas. A cauda lhe envolvia da cintura as costas. Seus olhos deslizaram para baixo em seu pau em repouso e as longas pernas.

Seus olhos se abriram e a olhou antes que seu estreito olhar se movesse. Um músculo pulsou em sua mandíbula como se decidisse o que fazer.

A decisão já tinha sido tomada para Sammy. Desapareceu uma vez. Não queria que o fizesse outra vez. Quando deu um passo na nevoa, se levantou de um salto.

Sua cabeça girou para enfrentá-la e toda a emoção sumiu de seu rosto. Hesitou como se tentasse decidir ficar ou entrar na nevoa.

— Eu te vi. — Disse Sammy, esperando que o mantivesse perto. Não tinha certeza do porquê. Estava aliviada por não ficar louca, mas um pouco assustada ao saber que Tristan era um dragão.

Um dragão!

Quando ela poderia ter fugido dele antes, lembrou-se muito bem de como ele a acalmou onde outros nunca poderiam. Chegou a um lugar dentro dela que apenas sua mãe foi capaz de tocar.

— Está sonhando.

Um arrepio percorreu sua pele com o som de sua voz. Como amava sua voz. Sammy balançou a cabeça. — Não estou.

— Bateu a cabeça quando caiu antes. Está sonhando agora, Sammy. Dói seu ombro e tem uma concussão cerebral.

Sorriu enquanto percebia até onde iria para fazê-la acreditar que não o viu passar de um dragão a um ser humano. — Caí, mas não bati a cabeça. Um magnifico dragão âmbar me salvou. Você.

Seu peito estufou enquanto respirava profundamente, fazendo a tatuagem de dragão se inchar. — Com suas feridas, posso ver como sonhar te ajudaria a lidar com isto.

Ficou irritada. Sabia que não estava sonhando, assim como sabia que não bateu a cabeça. — Transforme-se novamente em dragão. Deixe-me ver novamente.

— Não posso.

Deu um passo para ele. — Não devo saber, verdade?

Tristan afastou o olhar.

Isto foi resposta o suficiente. — Esteve comigo este tempo todo, verdade? E não se atreva a dizer que estou sonhando. — Disse antes que pudesse voltar a esta tática.

— Merda, Sammy. — Grunhiu e passou a mão pelo cabelo.

Ela deixou escapar um longo suspiro. Muitas dúvidas começaram a aparecer. — Seu segredo está a salvo comigo.

— Isso não é tudo. — Disse. — E não. A perseguem por sua conexão com Dreagan.

— Dreagan? — Repetiu e compreendeu que se referia a sua irmã. — Jane.

— Sim. Jane.

— Querem a Jane? — Perguntou, mais confusa que nunca.

— Querem a nós.

Nós, como os dragões. Sammy abriu muito os olhos. — Banan também é um dragão?

— Na verdade, somos Reis Dragões. — Disse Tristan e logo franziu o cenho enquanto endurecia. — Merda!

Abriu a boca para perguntar o que estava mal quando diminuiu a distância entre eles em dois passos e agarrou seu braço intacto enquanto a arrastava atrás ele.

Prendeu-a contra uma rocha, pressionando o corpo contra o dele dos ombros a coxa. Sammy olhou nos olhos escuros e o encontrou olhando-a fixamente.

— O que foi?

Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eles te encontraram.

Ela tentou fugir, mas ele a manteve firme.

— Não, Sammy. Não tocarão em você. Eu prometo.

Mas ela não podia ouvir. Viu exatamente o que podiam fazer. Matavam indiscriminadamente, brutalmente. Eram viciosos.

— Ouça! Ouça! — Repetiu quando continuou lutando.

Sammy fez uma pausa e ouviu o inconfundível som de um helicóptero. Olhou ao redor de seu ombro antes de lançar o olhar para ele. — Oh meu deus.

— Não deveriam estar em nossas terras. Ninguém voa sobre Dreagan a não ser nós. — Disse.

Ela piscou. — Estamos em Dreagan?

— Sim. Saiu para ir ao povoado, mas voltou quando corria pelas montanhas.

Sammy inclinou a cabeça para trás e estremeceu quando o som do helicóptero ficou mais perto. — O que fazemos?

— Nada. Não a encontrarão aqui.

Ela sentiu sua mão em seu rosto enquanto seus dedos deslizavam por seu cabelo. Esqueceu de fugir com Tristan. Seus lábios se separaram enquanto ela ansiava beijá-lo, passar as mãos sobre o corpo esculpido.

Era magnifico, imponente. Irresistível, cativante.

Sedutor.

Com um olhar ou uma palavra, ela era massa em suas mãos. O mundo parecia estar a sua inteira disposição esperando que ele dissesse o que fazer.

Sammy estava completamente cativada pelo homem que era também um dragão. Um dragão que lhe salvou a vida.

Um dragão que fazia seu coração se acelerar e seu estomago se contorcer com antecipação e emoção.

— Se te encontrarem, não irão viver para machucá-la. — Prometeu em seu tom sedutor.

Ela se acalmou, porque não havia como pudessem ferir Tristan, ou seu dragão.

 

 

                                                    Donna Grant         

 

 

 

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