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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FRACTURE-ME / Tahereh Mafi
FRACTURE-ME / Tahereh Mafi

 

 

                                                                                                                                                

 

 

 

 

— Addie? Addie, acorde. Addie...

Eu me viro com um resmungo e me espreguiço, esfregando os dois olhos com a base da mão. Está muito cedo para essa merda.

— Addie...

Ainda meio dormindo, eu agarro James pela gola e puxo-o para baixo, enfiando a cabeça dele debaixo do cobertor. Ele grita e eu rio, enrolando-o nos lençóis até ele não conseguir sair.

— Paaaaare com iiiiiiisso — ele reclama, pequenos punhos batendo contra os lençóis. — Addie, me deixe sair...

— Ei... Quantas vezes eu já disse para você não me chamar assim?

James tenta me dar um soco através da coberta. Eu o pego e o viro em meus braços, e ele grita, suas pernas chutando loucamente.

— Você é mau — ele berra, remexendo-se enquanto eu o seguro. — Se o Kenji estivesse aqui, ele nunca deixaria que v...

Com isso, eu congelo, e James consegue sentir. Ele fica quieto nos meus braços e eu o solto. Ele se liberta dos meus cobertores e nós encaramos um ao outro.
James pisca. Seu lábio inferior treme e ele o morde.

— Você sabe se ele está bem?

Eu faço que não com a cabeça.

 

 

 

 


Kenji ainda está na ala médica. Ninguém tem certeza do que aconteceu ainda, mas as pessoas têm conversado. Sussurrado.

Eu olho na direção da parede. James ainda está falando, mas estou muito distraído para prestar atenção.

Para mim, é difícil acreditar que Juliette poderia machucar alguém assim.

— Todo mundo diz que ele foi embora — James está falando agora.

Isso eu ouço.

— O quê?

Eu me viro, alarmado.

— Como?

James encolhe os ombros.

— Não sei. Disseram que ele escapou do quarto dele.

— Do que você está falando? Como ele poderia escapar do quarto...?

James encolhe os ombros de novo.

— Eu acho que ele não queria mais ficar aqui.

— Mas... o quê?

Eu faço uma careta, confuso.

— Isso significa que ele está se sentindo melhor? Alguém disse para você que ele estava se sentindo melhor?

James franze as sobrancelhas.

— Você queria que ele se sentisse melhor? Pensei que você não gostasse dele.

Eu suspiro. Passo uma mão pelo cabelo, na parte de trás da cabeça.

— É claro que eu gosto dele. Nós nem sempre nos damos bem, mas é muito apertado aqui e ele sempre tem tantas opiniões, maldição...

James me lança um olhar estranho.

— Então... Você não quer matá-lo? Você sempre diz que quer matá-lo.

— Eu não falo sério quando digo coisas assim.

Tento não revirar os olhos.

— Ele e eu somos amigos há muito tempo. Na verdade, estou preocupado com ele.

— Certo — James diz com cautela. — Você é estranho, Addie.

Não consigo deixar de rir um pouco.

— Por que eu sou estranho? E, atenção, pare de me chamar de Addie... Você sabe o quanto eu odeio isso...

— É, e eu ainda não sei por quê — ele me interrompe. — A mamãe sempre costumava chamá-lo de Addie...

— Bem, a mamãe está morta, não está?

Minha voz ficou dura. Minhas mãos estão fechadas em punhos. E, quando eu vejo a expressão de James, arrependo-me na mesma hora por ter sido tão ríspido. Solto as mãos. Respiro fundo.

James engole a seco.

— Desculpe — diz, em voz baixa.

Eu faço que sim com a cabeça, desvio o olhar.

— É. Desculpe também.

Eu puxo uma blusa por cima da cabeça.

— Então o Kenji foi embora, hein? Não acredito que ele simplesmente foi embora assim.

— Por que o Kenji iria embora? — James pergunta. — Pensei que você tivesse dito que nem sabia se ele i...

— Mas pensei que você tivesse dito...

Nós paramos. Encaramos um ao outro.

James é o primeiro a falar.

— Eu disse que o Warner foi embora. Todo mundo está falando que ele escapou na noite passada.

O simples som do nome dele e eu já estou furioso.

— Fique aqui — digo, apontando para James e agarrando minhas botas.

— Mas...

— Não se mexa até eu voltar! — grito antes de sair correndo pela porta.

Aquele cretino. Não acredito.

Estou martelando na porta de Castle quando Ian me vê ao descer pelo corredor.

— Ele não está aí — Ian diz, ainda andando.

Eu pego o braço dele.

— É verdade? O Warner escapou mesmo?

Ian suspira. Enfia as mãos nos bolsos. Finalmente, faz que sim com a cabeça.

Eu quero atravessar a parede com um soco.

— Tenho que ir vestir meu traje — Ian fala, libertando-se. — E você deveria fazer o mesmo. Vamos sair depois do café da manhã.

— Você está falando sério? — questiono. — Ainda vamos sair para lutar... Mesmo com todas essas merdas acontecendo?

— É claro que vamos — Ian responde com aspereza. — Você sabe que não podemos esperar mais. O supremo não vai reprogramar seus planos de lançar um ataque contra os civis. É tarde demais para recuar agora.

— E quanto ao Warner? — pergunto. — Não vamos tentar encontrá-lo?

— Talvez.

Ian encolhe os ombros.

— Veja se consegue encontrá-lo no campo de batalha.

— Jesus.

Estou tão cheio de raiva que mal consigo enxergar direito.

— Eu poderia matar o Castle por deixar isso acontecer... Por ter sido tão mole com ele, droga...

— Controle isso, cara — Ian me interrompe. — Temos outros problemas. E, ouça — ele agarra meu ombro, olha nos meus olhos —, você não é o único que está furioso com o Castle. Mas agora não é o momento.

Eu me chacoalho para me soltar dele e volto correndo pelo corredor.

* * *

James tem todo tipo de perguntas quando eu volto, mas ainda estou tão bravo que não estou pronto para lidar com ele. Não parece importar; James é teimoso como o diabo. Estou amarrando coldres e colocando minhas armas presas no lugar e ele não recua.

— Mas, então, o que ele disse? — James está perguntando. — Depois de você dizer que a gente deve procurar o Warner?

Eu arrumo a calça, aperto os cadarços das botas.

James bate no meu braço.

— Adam.

Ele bate no meu braço de novo.

— Ele falou a que horas vocês têm que sair hoje?

Mais batidas.

— Adam, quando v...

Eu o pego no colo e o levanto, e ele solta um guincho; coloco-o em um canto distante do quarto.

— Addie...

Jogo um cobertor em cima da cabeça dele.

James grita e briga com o cobertor até conseguir tirá-lo e jogá-lo no chão. Seu rosto está vermelho e os punhos estão apertados, e ele finalmente está bravo.

Eu começo a rir. Não consigo evitar.

James está tão frustrado que tem de cuspir as palavras quando fala:

— O Kenji disse que eu tenho tanto direito de saber o que está acontecendo aqui quanto todo mundo. O Kenji nunca fica bravo quando eu faço perguntas. Ele nunca me ignora. Ele nunca é cruel comigo e você está sendo c-cruel comigo, e eu não gosto de quando você r-ri de mim...

A voz de James falha, e é apenas então que eu levanto o olhar. Reparo nas lágrimas riscadas nas suas bochechas.

— Ei — digo, encontrando com ele do outro lado do quarto. — Ei, ei.

Agarro os ombros dele, abaixo-me apoiado em um dos joelhos.

— O que está acontecendo? Por que as lágrimas? O que aconteceu?

— Você vai embora.

James soluça.

— Ora, vamos.

Eu suspiro.

— Você sabia que eu iria sair, lembra? Lembra-se de quando conversamos sobre isto?

— Você vai morrer.

Outro soluço.

Levanto uma sobrancelha olhando para ele,

— Eu não sabia que você conseguia prever o futuro.

— Addie...

— Ei...

— Eu não o chamo de Addie na frente de outras pessoas! — James diz, protestando antes de eu ter uma chance de fazê-lo. — Não sei por que isso o deixa tão bravo. Você disse que adorava quando a mamãe o chamava de Addie. Por que eu não posso?

Eu suspiro de novo enquanto me levanto, bagunçando o cabelo dele no caminho. James solta um som engasgado e se afasta depressa.

— Qual é o problema? — pergunto.

Levanto a perna da calça para prender uma pistola semiautomática ao coldre embaixo dela.

— Eu sou soldado há muito tempo. Você sempre soube dos riscos. O que mudou de repente?

James fica em silêncio por tempo suficiente para eu reparar. Levanto o olhar.

— Quero ir com você — ele diz, limpando o nariz com uma mão trêmula. — Quero lutar também.

Meu corpo fica rígido.

— Não vamos ter essa conversa de novo.

— Mas o Kenji disse...

— Eu não dou a mínima para o que o Kenji disse! Você é uma criança de dez anos — digo. — Você não vai lutar em guerra nenhum. Não vai entrar em nenhum campo de batalha. Você me entendeu?

James me encara.

— Eu perguntei se você me entendeu.

Eu ando direto até ele, agarro seu braço.

James se encolhe um pouco.

— Sim — ele sussurra.

— Sim o quê?

— Sim, senhor — ele fala, olhando para o chão agora.

Estou com a respiração tão pesada que meu peito está arfando.

— Nunca mais — digo, em voz baixa. — Nós nunca mais vamos ter essa conversa. Nunca mais.

— Certo, Addie.

Eu engulo a seco.

— Desculpe, Addie.

— Coloque os sapatos.

Eu encaro a parede.

— É hora do café da manhã.


Capítulo 2

— Oi.

Juliette está parada perto da minha mesa, encarando-me como se talvez estivesse nervosa. Como se nunca tivéssemos feito isto antes.

— Ei — digo.

O simples fato de ver o rosto dela ainda faz meu peito doer, mas a verdade é que eu não tenho mais ideia do que está acontecendo entre nós. Prometi a ela que encontraria uma maneira de passarmos por isto — e tenho treinado como um condenado, como sempre fiz —, mas, depois da noite passada, não vou mentir: estou um pouco apavorado. Tocar nela é mais sério do que eu já pensei.

Ela poderia ter matado Kenji. Ainda não tenho certeza se não matou.

Porém, mesmo depois de tudo isso, ainda quero um futuro com ela. Quero saber que, um dia, poderemos nos acomodar em algum lugar seguro e ficar juntos em paz. Eu não estou pronto para desistir desse sonho ainda. Não estou pronto para desistir de nós.

Faço um aceno da cabeça para um lugar vazio.

— Quer se sentar?

Ela se senta.

Ficamos em silêncio por um tempo, ela cutucando sua comida, eu, a minha. Costumamos comer a mesma coisa todas as manhãs: uma colher cheia de arroz, uma tigela de caldo de legumes, um pedaço de pão duro como pedra e, em dias bons, uma pequena caneca de pudim. Não é incrível, mas dá conta do serviço, e geralmente ficamos gratos pela comida. No entanto, hoje, nenhum de nós parece estar com apetite.

Ou com voz.

Eu suspiro e desvio o olhar. Não sei por que é tão difícil conversar com ela nesta manhã — talvez seja a ausência de Kenji —, mas as coisas parecem diferentes entre nós ultimamente. Quero tanto estar com ela, mas estar com ela nunca pareceu mais perigoso do que parece agora. A cada dia, nós nos sentimos mais distantes. E, às vezes, eu penso que, quanto mais tento segurá-la, mas ela tenta se libertar.

Eu queria que James se apressasse e pegasse seu café da manhã. Tê-lo aqui poderia deixar essa situação mais fácil. Eu me endireito no assento e olho ao redor pelo salão, mas o vejo conversando com um grupo de amigos. Tento acenar para chamá-lo, mas ele está rindo de alguma coisa e nem repara em mim. Esse menino é meio incrível. Ele é um cara tão sociável — e tão popular por aqui — que eu me pergunto de quem puxou isso. De muitas formas, ele é meu exato oposto. Ele gosta de dar abertura para muitas pessoas; eu gosto de manter a maioria das pessoas longe.

Juliette é a única verdadeira exceção a essa regra.

Olho de volta para ela e percebo os círculos vermelhos em volta dos seus olhos, a maneira como eles se mexem depressa observando o salão. Ela parece tanto bem acordada quanto loucamente exausta e aparentemente não consegue ficar sentada quieta; seu pé está batendo depressa no chão debaixo da mesa e suas mãos estão tremendo um pouco.

— Ei, você está bem?— pergunto.

— Sim, com certeza — ela fala, rápido demais.

Mas está fazendo que não com a cabeça.

— Você, hum, dormiu o suficiente a noite passada?

— Sim — ela diz, repetindo as palavras algumas vezes.

Ela faz isso de vez em quando, fala a mesma palavra de novo e de novo. Nem tenho certeza se ela percebe.

— Você dormiu bem? — ela pergunta.

Seus dedos ficam tamborilando contra a mesa e, depois, contra seus braços. Ela continua olhando ao redor pelo salão. Nem espera que eu responda antes de dizer:

— Já soube da alguma coisa sobre o Kenji?

É quando eu entendo.

É claro que ela não está bem. É claro que ela não dormiu nada na noite anterior. Na noite anterior ela quase matou um dos seus amigos mais próximos. Ela havia acabado de começar a confiar e a não ter medo de si mesma; agora, está de volta ao começo. Merda. Já me arrependo de ter tocado no assunto.

— Não, ainda não.

Eu me encolho.

— Mas — digo, esperando mudar de assunto — ouvi dizer que o pessoal está furioso com o Castle por causa do que aconteceu com o Warner.

Eu limpo a garganta.

— Ficou sabendo que ele fugiu daqui?

Juliette deixa sua colher cair.

Ela faz barulho no chão, mas Juliette não parece notar.

— Sim — ela diz em voz baixa.

Está piscando os dois olhos em direção à sua xícara d’água, segurando o guardanapo, dobrando-o e desdobrando-o.

— As pessoas estavam falando sobre isso nos corredores. Sabem como ele escapou?

— Acho que não.

Eu franzo as sobrancelhas olhando na direção dela.

— Ah.

Ela fica repetindo isso também.

Sua voz está estranha. Até assustada; Juliette sempre foi um pouco diferente de todas as outras pessoas — ela parecia uma gatinha enlouquecida e assustada quando a vi pela primeira vez naquela cela —, mas vinha melhorando bastante nos últimos meses. Assim que ela finalmente começou a confiar em mim, a situação mudou. Ela se desenvolveu. Começou a conversar (e a comer) mais e até ficou um pouco arrogante. Eu adorei vê-la voltar à vida. Eu adorei estar com ela, observando-a se encontrar.

Acho que essa experiência com Kenji a fez recuar muito.

Posso notar que só metade dela está aqui, porque seus olhos estão sem foco e suas mãos estão se mexendo de forma mecânica. Ela faz muito isso. É como se, às vezes, simplesmente desaparecesse, recuasse para um canto do seu cérebro e ficasse lá por um tempo, pensando em alguma coisa sobre a qual ela nunca falaria. Agora, está agindo de uma forma bastante parecida com a maneira como agia antigamente, agora ela está comendo o arroz frio do prato um grão por vez, contando cada mordida em voz baixa.

Estou prestes a tentar falar com ela de novo quando James enfim volta para a mesa. Eu me levanto na mesma hora, grato pela oportunidade de acabar com o constrangimento.

— Ei, amigão... Por que não nos despedimos do jeito certo?

— Ah — James diz, deslizando sua bandeja para a mesa. — Certo, é claro.

Ele dá uma olhada para mim antes de olhar para Juliette, que agora está mastigando um grão de arroz com muito cuidado.

— Oi — ele diz para ela.

Juliette pisca algumas vezes, seu rosto se abrindo em um grande sorriso no instante em que ela repara nele. Eles a transformam, esses sorrisos. E são esses momentos que me matam um pouco.

— Oi — ela fala, tão feliz tão de repente que seria de imaginar que James é a pessoa mais incrível do mundo para ela. — Como você está? Dormiu bem? Quer se sentar? Eu só estava comendo um pouco de arroz; você quer arroz?

James já está corando. Ele provavelmente comeria seu próprio cabelo se ela pedisse. Eu reviro os olhos e o arrasto para longe, dizendo a Juliette que voltaremos logo.

Ela faz que sim com a cabeça. Eu olho por cima do ombro e conforme nos afastamos percebo que ela não parece se importar de ficar sozinha por um tempo. Ela enfia o talher em alguma coisa em seu prato e erra, e é a última coisa que a vejo fazer antes de contornarmos o canto da parede.


Capítulo 3

— O que está acontecendo? Por que precisamos conversar?

Mais perguntas de James.

— Está tudo bem? Você pode dizer para a Juliette não comer o meu café da manhã?

Ele inclina o pescoço para dar uma olhada nela, ainda sentada à mesa.

— Às vezes ela come o meu pudim.

— Ei — eu digo, agarrando os ombros dele. — Olhe para mim.

James se vira para me olhar.

— Qual é o problema, Addie?

Ele procura em meus olhos.

— Você não vai morrer de verdade, vai?

— Não sei — digo a ele. — Talvez sim, talvez não.

— Não fale isso — ele diz baixinho, virando o olhar para o chão. — Não fale isso. Não é bacana falar assim.

— James.

Ele levanta o olhar de novo, devagar desta vez.

Eu me abaixo apoiado nos joelhos e o puxo para perto, descansando minha testa contra a dele. Estou olhando para o chão e sei que ele também está. Posso ouvir nossos corações batendo depressa em silêncio.

— Eu amo você — por fim, digo a ele. — Você sabe disso, não sabe? Você sempre vem em primeiro lugar. Tudo o que eu faço é para cuidar de você. Para protegê-lo. Para sustentá-lo.

James faz que sim com a cabeça.

— É você em primeiro lugar — falo para ele. — Sempre é você em primeiro lugar e todas as outras pessoas depois. E isso nunca vai mudar. Tudo bem?

James faz que sim de novo. Uma lágrima cai no chão entre nós.

— Tudo bem, Addie.

— Venha aqui — eu sussurro, envolvendo-o em meus braços. — Nós vamos ficar bem.

James se agarra mim, agindo mais como criança do que tem agido há muito tempo, e estou feliz por ver isso. Às vezes eu me preocupo que ele esteja crescendo rápido demais neste mundo de merda, e, embora eu não consiga protegê-lo de tudo, ainda assim eu tento. Ele tem sido a única constante na minha vida desde que consigo me lembrar; acho que eu seria destruído se algo acontecesse a ele.

Nunca vou amar ninguém da maneira como amo este menino.


Capítulo 4

Depois do café da manhã, o salão de refeições fica praticamente vazio. James tinha que se apresentar no Salão Seguro com as outras crianças — e os idosos — que ficarão aqui e todos os outros estão se aprontando para sair. Algumas famílias ainda estão fazendo as últimas despedidas. Juliette e eu estamos evitando o contato visual há alguns minutos. Ela está encarando suas mãos, estudando seus dedos como se estivesse verificando se ainda estão lá.

— Mas que droga. Quem morreu?

Deus do céu. Essa voz. Esse rosto.

Impossível.

— Puta que pariu. Puta merda.

Estou em pé.

— É bom vê-lo, Kent.

Kenji abre um largo sorriso e faz um aceno da cabeça para mim. Ele está horrível. Olhos cansados, rosto pálido, mãos tremendo um pouquinho conforme ele se segura à mesa. E, o que é pior, ele já está com seu traje; como se realmente pensasse que vai sair para o campo de batalha.

— Está pronto para dar umas porradas?

Ainda o estou encarando admirado, tentando achar uma forma de responder, quando Juliette dá um pulo e praticamente o ataca. É apenas um abraço, na verdade, mas que medo.

Um pouco cedo demais para isso, eu penso.

— Opa... Ei... Obrigado, é... Isso é... Hã...

Kenji limpa a garganta. Ele tenta ser gentil, mas está claro que está tentando se afastar de Juliette e, sim, ela repara. Seu rosto murcha e ela fica pálida, os olhos arregalados. Ela esconde as mãos atrás das costas, apesar de estar usando as luvas. Não há realmente uma ameaça óbvia para Kenji neste momento, mas eu entendo sua hesitação.

O cara quase morreu. Ele tentou separar uma briga ao mesmo tempo em que Juliette e, bam, ele caiu na hora. Foi superassustador; e, embora eu saiba que Juliette não teve a intenção de fazer isso, na verdade não há nenhuma outra explicação. Deve ter sido ela.

— É, hã, talvez você devesse não tocar em mim por um tempinho, sim?

Kenji está sorrindo — mais uma vez, um cara gentil —, mas ninguém está acreditando.

— Ainda não estou muito firme.

Juliette parece tão mortificada que meu coração se parte. Ela está se esforçando tanto para ficar bem — para deixar essa merda toda bem —, mas, às vezes, é como se o mundo simplesmente não permitisse. Os golpes continuam chegando, e ela continua se machucando. Odeio isso.

Preciso dizer alguma coisa.

— Não foi ela — digo para Kenji,

Viro para ele um olhar cortante. Deixe-a em paz, digo sem soltar nenhum som.

— Você sabe que ela nem tocou em você.

— Eu não sei, na verdade — Kenji diz, ignorando meus toques mais sutis para mudar de assunto. — E não é como se eu a estivesse culpando... Só estou dizendo que talvez ela esteja projetando e não saiba, tudo bem? Porque, da última vez em que eu verifiquei, não achei que tivéssemos nenhuma outra explicação para o que aconteceu ontem à noite. Com toda a certeza não foi você — ele diz para mim —, e, que merda, até onde sabemos, o fato de o Warner poder tocar na Juliette pode ser apenas sorte. Não sabemos nada sobre ele ainda.

Uma pausa.

— Certo? A menos que o Warner tenha tirado algum tipo de coelho mágico da bunda enquanto eu estava ocupado morrendo ontem à noite.

Eu franzo as sobrancelhas. Desvio o olhar.

— Certo — Kenji diz. — Foi o que eu pensei. Então. Acho que é melhor, a menos que seja absolutamente necessário, eu me manter afastado.

Ele se vira para Juliette.

— Certo? Sem querer ofender, tudo bem? Digo, eu quase morri. Acho que você poderia pegar leve comigo.

— É, é claro — Juliette diz em voz baixa.

Ela tenta rir, mas sai completamente errado. Eu queria poder reagir por ela; eu queria poder envolvê-la em meus braços. Quero protegê-la... Quero poder cuidar dela, mas isso parece impossível agora.

— Então, de qualquer forma — Kenji diz. — Quando partimos?

Isso chama minha atenção.

— Você é louco — digo a ele. — Você não vai a lugar nenhum.

— Pro diabo que eu não vou.

— Mal consegue ficar em pé sozinho!

— Eu prefiro morrer lá fora a ficar sentado aqui como um idiota.

— Kenji... — Juliette tenta dizer.

— Eeeeei, então, fiquei sabendo pelas conversas nada discretas que o Warner se mandou daqui ontem à noite.

Kenji olha para nós.

— Como é isso?

— É — digo, meu humor ficando pior. — Quem sabe? Eu nunca achei boa ideia mantê-lo como refém aqui. Foi uma ideia ainda mais idiota confiar nele.

Kenji levanta uma sobrancelha.

— Então, em primeiro lugar você insulta minha ideia, e depois você insulta a ideia do Castle, hã?

— Foram decisões ruins — falo para ele, recusando-me a recuar. — Ideias ruins. Agora, temos que pagar por isso.

Foi ideia de Kenji manter Warner como refém, e foi ideia de Castle deixá-lo sair do quarto. E, agora, todos nós estamos sofrendo. Às vezes eu acho que todo este movimento é liderado por um bando de idiotas.

— Bem, como eu poderia saber que o Anderson estaria tão disposto a deixar seu filho apodrecer no inferno?

Eu me retraio involuntariamente.

A lembrança do meu pai e do que ele estaria disposto a fazer ao seu próprio filho é demais para mim nesta manhã. Eu engulo de volta a bile que sobe devagar pela minha garganta.

Kenji repara.

— Ah, ei... Desculpe, cara... Não quis dizer dessa maneira...

— Esqueça — digo a ele.

Estou contente por Kenji não ter morrido, mas, às vezes, tudo o que eu quero mesmo é dar uma porrada nele.

— Talvez você deva voltar para a ala médica. Vamos partir daqui a pouco.

— Não vou para nenhum lugar além de fora daqui.

— Kenji, por favor... — Juliette de novo.

— Não.

— Você não está sendo racional. Isto não é uma piada — ela diz para ele. — Pessoas vão morrer hoje.

Kenji ri para ela.

— Desculpe, você está tentando me ensinar as realidades da guerra?

Ele faz que não com a cabeça.

— Está se esquecendo de que eu era soldado do exército do Warner? Você faz alguma ideia de quantos absurdos nós já vimos?

Ele faz um gesto para mim.

— Sei exatamente o que esperar de hoje. O Warner era louco. Se o Anderson for até mesmo duas vezes pior que o filho, estamos mergulhando direto em um banho de sangue. Não posso deixá-los na mão assim.

Juliette está congelada, os lábios um pouquinho abertos, os olhos arregalados e horrorizados. Sua reação parece um pouco exagerada.

Definitivamente, há algo errado com ela hoje.

Sei que parte do que ela está sentindo tem a ver com Kenji, mas, de repente, não tenho certeza de que não há mais nada. Algo que ela não está me contando.

Não consigo decifrá-la com clareza.

Mas, também, sinto que não tenho sido capaz de decifrá-la com clareza há algum tempo.

— Ele era mesmo tão ruim assim...? — Juliette pergunta.

— Quem? — Kenji e eu perguntamos ao mesmo tempo.

— Warner — ela diz. — Ele era mesmo tão impiedoso assim?

Meu Deus, ela está tão obcecada por ele. Ela tem alguma fascinação doentia pela vida distorcida dele que eu não entendo, e isso me deixa louco. Já consigo sentir que estou ficando bravo, incomodado — com ciúmes até —, o que é ridículo. Warner nem é humano; eu não deveria ficar me comparando a ele. Além disso, ela não é nem um pouco o tipo dele. Ele provavelmente a devoraria viva.

Kenji, no entanto, não parece ter o meu problema. Ele está rindo tanto que está praticamente ofegante.

— Impiedoso? Juliette, o cara é doente. Ele é um animal. Acho que ele nem sabe o que é ser humano. Se existe um inferno por aí, acho que foi criado especialmente para ele.

Eu tenho um vislumbre do rosto de Juliette logo antes de ouvir barulhos de passos apressados pelo corredor. Todos nós olhamos uns para os outros, mas eu olho para Juliette por um segundo a mais, desejando poder ler a mente dela. Não faço ideia do que ela está pensando ou do porquê de ela ainda parecer tão horrorizada. Quero falar com ela em particular — descobrir o que está acontecendo —, mas, neste momento, Kenji acena com a cabeça para mim e sei que tenho que limpar minha mente.

É hora de ir.

Todos nós ficamos em pé.

— Ei... Então, o Castle sabe o que você está fazendo? — pergunto a Kenji. — Acho que ele não vai concordar que você saia hoje.

— Castle quer que eu seja feliz — Kenji fala. — E não vou ficar feliz se ficar aqui. Tenho trabalho a fazer. Pessoas a salvar. Moças a impressionar. Ele respeitaria isso.

— E quanto a todos os outros? — Juliette pergunta para ele. — Todos estavam tão preocupados com você... Você pelo menos já os viu? Para dizer que está bem?

— Não — Kenji diz. — Eles provavelmente mijariam nas calças se soubessem que vou subir. Achei que seria mais seguro manter em segredo. Não quero apavorar ninguém. E Sonya e Sara... Pobrezinhas... Estão completamente acabadas. É culpa minha elas estarem tão exaustas, e ainda estão falando em sair hoje. Querem lutar apesar do fato de que vão ter muito trabalho a fazer assim que acabarmos com o exército do Anderson. Nós estávamos tentando convencê-las a ficar aqui, mas elas sabem ser muito teimosas, maldição. Precisam economizar sua força — ele comenta —, e já desperdiçaram muito dela em mim.

— Não foi um desperdício... — ela diz.

— Eeenfim — Kenji fala. — Podemos, por favor, ir? Sei que vocês estão totalmente focados em caçar o Anderson — ele fala para mim —, mas, pessoalmente? Eu adoraria pegar o Warner. Atravessar uma bala por aquele pedaço de merda inútil e acabar com isso.

Estou prestes a rir — finalmente, alguém que concorda comigo — quando vejo Juliette dobrar o corpo ao meio. Ele se recompõe bastante rápido, mas está piscando depressa e com a respiração pesada, os olhos voltados para o teto.

— Ei... Você está bem?

Eu a puxo de lado e examino seu rosto. Às vezes ela me deixa completamente assustado. Eu me preocupo com ela quase tanto quanto me preocupo com James.

— Estou bem — ela diz vezes demais.

Fazendo que sim e que não com a cabeça de novo e de novo.

— Só não dormi o bastante a noite passada, mas vou ficar bem.

Eu hesito.

— Tem certeza?

— Absoluta — ela responde.

Depois, ela agarra minha blusa, os olhos enlouquecidos.

— Ei... Só tome cuidado lá fora, tudo bem?

Eu faço que sim com a cabeça, mais confuso a cada instante.

— É. Você também.

— Vamos vamos vamos! — Kenji nos interrompe. — Hoje é o dia da nossa morte, mocinhas.

Eu relaxo e dou um empurrãozinho nele. É bom tê-lo por perto para quebrar a monotonia deste lugar.

Kenji me dá um soco no braço:

— Então, agora você está batendo no menino aleijado, hein?

Eu rio e mostro o dedo para ele.

— Guarde sua angústia para o campo de batalha, irmão.

Ele ri.

— Você vai precisar.


Capítulo 5

Está uma chuva dos infernos.

O dia está frio e úmido e lamacento e uma merda, e eu odeio isto. Faço uma careta feia para Kenji e Juliette, com inveja dos seus trajes pomposos. Essas coisas foram criadas para lhes dar proteção contra este tempo louco de inverno. Eu devia ter pedido um.

Já estou congelando.

Estamos na clareira, o terreno estéril na entrada do Ponto Ômega, e a maioria das outras pessoas se dispersou. Nossa única defesa é a luta de guerrilha e, assim, fomos divididos em grupos. Eu, Kenji mal-conseguindo-andar-em-linha-reta e Juliette (que oficialmente se trancou na sua própria mente hoje); essa é a nossa equipe.

É, definitivamente, estou preocupado.

De qualquer forma, pelo menos Kenji está fazendo o que sabe: já estamos invisíveis. No entanto, agora está na hora de encontrar a luta e entrar nela. O som de tiros soa alto e claro e, assim, já temos uma direção na qual nos movermos. Ninguém conversa, mas nós já sabemos as regras: lutamos para proteger os inocentes e lutamos para sobreviver. É isso.

Entretanto, a chuva está mesmo atrapalhando. Está caindo com mais força e rapidez agora, golpeando-me no rosto e embaçando minha visão. Mal consigo ver direito. Tento tirar a água dos olhos, mas não adianta. É muita.

Sei que estamos nos aproximando dos aglomerados e, assim, pelo menos temos isso. O contorno dos prédios ganha foco e eu sinto que estou ficando agitado. Estou armado até os dentes e pronto para lutar — pronto para fazer o que for necessário para derrubar O Restabelecimento —, mas não vou mentir: ainda estou um pouco preocupado por estarmos com alguém debilitado.

Juliette nunca fez isto antes.

Se dependesse de mim, ela estaria lá na base com James, onde sei que estaria segura, mas ela nem me ouviria se eu pedisse isso. Kenji e Castle sempre a estão paparicando quando não deviam e, para ser sincero? É perigoso. Não é bom fazê-la pensar que ela pode fazer esse tipo de coisa quando, de verdade, isso provavelmente vai matá-la. Ela não é um soldado; ela não sabe lutar; e ela não faz ideia de como usar seus poderes, não de verdade, o que piora ainda mais a situação. É basicamente como dar uma banana de dinamite a um bebê e mandá-lo ir para o meio de um incêndio.

Então, sim, estou preocupado. Estou com muito medo de alguma coisa acontecer a ela. E talvez a nós, por consequência.

Porém, ninguém me escuta e, assim, estamos aqui.

Eu suspiro e avanço, irritado, até ouvir um grito muito alto a distância. Grande alerta. Kenji aperta minha mão e eu aperto a dele de volta para avisar que entendi.

Os aglomerados estão bem à frente, e Kenji nos puxa até estarmos colados contra a parede dos fundos de uma unidade. Há apenas uma saliência suficiente do telhado para conter a chuva. É puro azar meu estarmos fazendo isto em um dia chuvoso. Minhas roupas estão tão molhadas que eu sinto como se tivesse mijado nas calças.

Kenji me cutuca com o cotovelo, de leve, e estou prestando atenção de novo. Ouço o barulho de uma porta sendo batida e fico duro; coloco a mão na arma automaticamente. Parece que já passei por isto um milhão de vezes, mas nunca me acostumo.

— Esta é a última deles — uma voz grita. — Ela estava se escondendo aqui.

Um soldado está arrastando uma mulher para fora da casa dela e ela não para de gritar. Meu coração acelera e eu seguro a arma com mais força. É doentia a maneira como alguns dos soldados tratam os civis. Entendo que eles receberam ordens — entendo mesmo —, mas a pobre mulher está implorando por misericórdia e ele a está arrastando pelos cabelos e gritando para ela ficar quieta.

Kenji mal está respirando ao meu lado. Olho na direção de Juliette antes de perceber que ainda estamos invisíveis, e, conforme viro a cabeça, tenho o vislumbre de outro soldado. Ele vem correndo do outro lado do campo e manda para o primeiro homem um sinal. Não o sinal que eu estava esperando.

Merda.

— Jogue-a junto com todos os outros — o outro soldado está dizendo agora. — Depois vamos dar a área como limpa.

De repente ele se vai, vira uma esquina, e não resta ninguém além de nós, um soldado e a moça que ele está mantendo como refém. Outros soldados devem ter reunido o restante dos civis antes de chegarmos aqui.

Depois, a mulher enlouquece. Ela está completamente histérica e não parece mais estar no controle do seu corpo. Virou um completo animal, arranhando e fincando as unhas e se agitando, tropeçando nos próprios pés. Está perguntando pelo marido e a filha e quase tenho que fechar os olhos. É difícil assistir a essas coisas quando já sei o que vai acontecer. A guerra nunca fica mais fácil se você não concorda com o que está acontecendo. Às vezes eu me deixo ficar animado para ir para a batalha — tenho de me convencer de que estou fazendo algo que valha a pena —, mas lutar com outro soldado é muito mais fácil do que lidar com uma moça que está prestes a ver a filha levar um tiro na cabeça.

Juliette provavelmente vai vomitar.

A ação está tão perto de nós agora que eu instintivamente aperto minhas costas contra a parede, esquecendo de novo que estamos invisíveis. O soldado agarra a moça e joga o corpo dela contra o lado de fora da unidade, e eu sinto que nós três ficamos apavorados por um segundo, acalmando-nos bem a tempo de ver o soldado apertar o cano da arma no pescoço da moça e dizer:

— Se você não calar a boca, eu atiro em você agora.

Que imbecil.

A moça desmaia.

O soldado não parece se importar. Ele a tira de vista — na mesma direção em que seu colega foi — e essa é a nossa deixa para segui-lo. Posso ouvir Kenji falar palavrões em voz baixa. Ele tem um estômago sensível, esse cara. Sempre foi fraco quando se trata dessas coisas. Eu o conheci em uma das nossas rondas; quando voltamos, Kenji perdeu a cabeça. Simplesmente perdeu a cabeça por completo. Ele foi colocado no confinamento solitário por um tempinho e, depois disso, diminuiu suas crises emocionais. A maioria dos soldados sabe que não deve reclamar em voz alta. Eu devia ter sabido na época que Kenji não era de verdade um de nós.

Eu tremo contra o frio.

Ainda estamos seguindo o soldado, mas é difícil ficar muito perto dele nesse tempo. A visibilidade é pouca e o vento está soprando a chuva em círculos com muita força. Assim, é quase como estarmos presos em um furacão. A situação vai ficar feia bem depressa.

E, então, uma voz baixa:

— O que vocês acham que está acontecendo?

Juliette.

É claro que ela não faz ideia do que está acontecendo... Por que faria?

O mais inteligente a fazer seria escondê-la em algum lugar. Mantê-la em segurança. Longe do perigo. Um elo fraco pode mandar tudo por água abaixo, e não acho que seja hora de correr riscos. Mas Kenji, como sempre, não parece concordar. Aparentemente, ele não se importa de tirar um tempo para dar a Juliette uma aula sobre como é estar em Guerra no Setor 45.

— Eles os estão reunindo — Kenji explica. — Estão criando grupos de pessoas para matar ao mesmo tempo.

— A mulher... — Juliette diz.

— É — Kenji a interrompe. — É — ele repete. — Ela e qualquer outra pessoa que eles achem que possa ter ligação com os protestos —diz. — Não matam apenas quem incita. Eles matam os amigos e os parentes da pessoa também. É a melhor maneira de manter as pessoas na linha. Nunca falha e dá um susto dos infernos nos poucos que são deixados vivos.

Prefiro interferir antes de Juliette fazer mais perguntas. Aqueles soldados não vão esperar pacientemente que cheguemos lá; temos que tomar uma atitude agora, e precisamos de um plano.

— Tem de haver uma maneira melhor de tirá-los de lá — digo. — Talvez possamos derrubar os soldados encarregados...

— É, mas ouçam, vocês sabem que vou ter que soltá-los, certo? — Kenji pergunta. — Já estou meio que perdendo a força; minha energia está se esgotando mais rápido do que o normal. Então, vocês vão ficar visíveis. Vocês vão ser um alvo mais claro.

— Mas que outra opção nós temos? — Juliette pergunta.

Ela parece uma segunda versão de James. Coloco a mão na minha arma, dobrando e desdobrando os dedos em volta dela. Precisamos seguir em frente.

Temos que ir agora.

— Poderíamos tentar derrubá-los no estilo “atirador de elite” — Kenji diz. — Não precisamos entrar em combate direto. Temos essa opção.

Ele faz uma pausa.

— Juliette, você nunca esteve neste tipo de situação antes. Quero que saiba que eu respeito a sua decisão de ficar fora da linha de fogo direta. Nem todo mundo tem estômago para o que podemos ver se seguirmos esses soldados. Não há vergonha nem culpa nisso.

Isso. Ótimo. Que ela fique para trás onde não vai ser ferida.

— Vou ficar bem — ela diz.

Eu falo um palavrão baixinho.

— É só que... Certo... Mas não tenha medo de usar suas habilidades para se defender — Kenji diz.

Ele parece um pouco nervoso por causa dela também.

— Sei que você é toda estranha e não quer machucar as pessoas ou sei lá. Mas esses caras não estão brincando. Eles vão tentar matá-la.

— Certo — Juliette concorda. — É. Vamos.

 

 

                                                         CONTINUA