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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


IRREVOCABLE / Addison Jane
IRREVOCABLE / Addison Jane

                                                                                                                                                  

 

 

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

 

Nossos passados são parte de nós.
Definitivamente.
Irrevogavelmente.
O meu rouba meus sonhos todas as noites, afoga-me em culpa e mancha minhas mãos de vermelho. Não é apenas parte de mim, roubou um pedaço meu – o pedaço que me impede de deixar as pessoas chegarem muito perto.
E me tornei muito bom em fingir ser um idiota apenas para mantê-las longe.
Mas aparentemente, Dakota Samuels não se convenceu.
A partir do momento em que acidentalmente me encontrou nu, ela começou a demolir toda e qualquer parede que já construí. Ela é sexy e persistente. E estou viciado na maneira como ela me olha.
A maneira que ela luta por mim.
A sensação de seu corpo sob o meu.
Nós dois cansamos de fugir dos demônios do passado.
Eles vão nos encontrar.
Eles vão tentar nos destruir.
E podem ter vencido antes, mas não vou deixá-los tirá-la de mim.
Porque se tentarem, desta vez o sangue que vejo nos meus sonhos será o deles.

 

 

 

 

 

 

PRÓLOGO

DAKOTA

Estou desesperada para usar o banheiro. Até o ponto em que quase considero sair para os fundos do clube de motoqueiros fora da lei onde atualmente estou, e apenas agachar em seu gramado.

Há uma grande parte minha que sabe que eles não irão aceitar, então aqui estou, tentando meu melhor para não fazer xixi nas calças enquanto passo apressadamente de uma porta para a outra, girando a maçaneta e rezando para que—

Clique!

Finalmente!

Empurro a porta, e ela lentamente abre, revelando um dos quartos mais bagunçados que já vi. Não posso dizer que sou a rainha da perfeição, ou que sou sequer uma princesa. Mas, merda, alguém precisa tirar um tempo, juntar as roupas, arrumar a cama e pegar uma lixeira gigante para a quantidade de embalagens de preservativos cobrindo a beirada da cama.

Quase me sinto tentada.

Exceto que ouço água corrente, e todo mundo sabe o que água corrente faz com você quando precisa fazer xixi. É como o inferno na terra.

Olhando para o lado, vejo uma porta entreaberta. Tudo dentro é branco e sei que é um banheiro. A água parece vir de um chuveiro, mas não me importo, respiro fundo e corro para a porta. Empurro com força e ela bate forte contra a parede, e embora já tenha planejado um discurso de ‘Desculpe’ para quem está lá dentro, em vez disso, eu congelo.

Minha boca abre, e imagino-a batendo no chão como uma péssima caricatura.

“Que porra é essa?” Ele resmunga, seus olhos escuros e sombrios, ameaçando lançar uma tempestade furiosa em mim. Mas é difícil ter medo quando tudo que posso ver é esse homem sexy e divino, com seu longo e grosso pau na mão. Um pau que instantaneamente faz minha buceta apertar enquanto imagino o quão gostoso iria me esticar enquanto entra e –

“É melhor ter uma boa explicação para estar aqui”, ele exige, seu rosto vermelho, e os músculos por todo o corpo tensos, quase como se eu o tivesse interrompido pouco antes dele chegar à parte boa.

O fato de que posso molhar minha roupa a qualquer momento é rapidamente substituído por uma umidade diferente em minha calcinha, e estou quase pronta para puxar uma cadeira e implorar para ele continuar.

“Eu... hum...” Gaguejo, algo que não costumo fazer. Sempre tenho uma resposta espirituosa, algum comentário improvisado em situações embaraçosas, mas agora... estou em completo e absoluto choque.

Estou pau-chocada.

E não tenho ideia do que diabos fazer.

A tempestade em seus olhos começa a acalmar um pouco quando ele percebe que não sou apenas uma piranha loira que gosta de interromper caras se masturbando no chuveiro. Ele tem tatuagens decorando seu peito e percorrendo os ombros e braços. Ele é largo e musculoso, mas tem uma cintura fina e pernas fortes – a terceira entre elas não é contada, mas certamente poderia.

De repente, todo seu comportamento muda, e o canto da boca contrai. Ele abre a porta do box, sua mão tocando o pau enquanto me encara.

Ele parece perigoso.

Como alguém que devo ficar longe.

Deveria obedecer esses instintos.

“Vai simplesmente ficar aí? Ou vai ajoelhar?”

Essa é a bofetada na cara que preciso.

Quase engasgo com minha própria saliva. “Desculpe-me, Sr. Idiota?”

Faz muito tempo desde que deixei um cara me tratar como se pudesse mandar em mim. Este imbecil quer que as mulheres caiam a seus pés e o idolatrem como se seu pau fosse feito de ouro. E sou mais uma espécie de puta que chutaria suas bolas se me olhasse como se eu estivesse abaixo.

Endireito a postura, finalmente voltando ao meu normal. “A única razão para eu ajoelhar agora seria para rezar a Jesus e pedir para remover esse pau do seu corpo e enfiá-lo na sua bunda, seu bastardo arrogante.”

Seus olhos se arregalam com minha resposta, mas o sorriso em seu rosto só aumenta. “Isso é verdade? Porque o que acho que vai acontecer, é que vai envolver sua boca atrevida no meu pau até engasgar, e eu gozar direto em sua garganta.”

Minhas mãos se fecham ao lado.

Puta merda.

Não sei se estou com mais raiva ou tesão.

“Então, seu pau precisa de um aviso de perigo?” Respondo, dando um passo à frente e deixando-o saber que não pode me intimidar, mesmo que ele seja mais alto e provavelmente muito mais perigoso do que eu.

Devo lembrar que estou num clube de motoqueiros.

“Posso engasgar com um pequeno-” Antes que possa soltar o resto da objeção, suas mãos agarram meu rosto em cada lado. Sua boca cobre a minha, roubando o suspiro chocado dos meus lábios e reivindicando-os para si. Seus dedos se movem, entrelaçando meu cabelo e me segurando para que não possa escapar.

Meu corpo, porém, não quer fugir.

Meu corpo é um traidor. Ele pressiona para frente implorando por mais e totalmente traindo o ato que mantive nos últimos minutos.

Ele sabe o que quer – eu sei o que quero.

Sua língua desliza dentro da minha boca, pressionando contra a minha, lutando e mostrando seu domínio arrogante. Uma de suas mãos se move, traçando o meio do meu corpo, entre meus seios e sobre a barriga até que ele alcança a bainha do vestido curto que uso.

Ele agarra-o, puxando até a cintura, deixando minha calcinha de renda a mostra para o mundo – ou pelo menos para qualquer um que passar pelo corredor – antes de deslizar a mão entre minhas pernas e traçar círculos por cima da renda, provocando meu clitóris e fazendo-o implorar por mais. E eu aceito porque é tudo que quero. Tudo o que amo e odeio de uma só vez.

Odeio que ele seja um babaca, mas ao mesmo tempo, não quero um garotinho que não sabe o que está fazendo. Quero um maldito homem que saiba assumir o controle.

Nunca deixei um homem me degradar, ou me fazer sentir inútil. Mas quando isso realmente acontece com esse que incendia meu corpo, quero algo imprevisível e chocante. Quero alguém que me pressione, alguém que me deixe louca de várias maneiras.

Eu quero emoção.

E isso é emoção em sua forma mais pura.

Ele se afasta de repente, uma mão ainda segurando meu cabelo, os dedos entre minhas pernas, segurando-me exatamente onde quer. “Vai ajoelhar agora?” Ele pergunta, parecendo quase divertido e me olhando diretamente nos olhos.

Eu deveria concordar.

Eu quero, ele quer.

Mas sou mais forte do que ele me dá crédito.

“Foda-se.”

Ele ri baixinho, afastando a mão do meio das minhas pernas e usando a outra para trazer meu rosto para perto. “Talvez da próxima vez”, ele sussurra antes de dar um passo para trás. “Agora dê o fora do meu banheiro, puta.”

Meu corpo inteiro está corado, as roupas ligeiramente úmidas de onde ele me tocou.

Puxo meu vestido sobre a bunda e olho diretamente em seus olhos.

Hora de recorrer à artilharia pesada antes de deixar o constrangimento e a vulgaridade realmente me afetarem. “Tudo bem”, anuncio, virando em direção à porta – o fato de que precisava fazer xixi, há muito esquecido. “Eu me pergunto como os garotos do andar de baixo reagirão quando eu lhes disser que é tão patético que nem consegue ter uma garota aqui. Está simplesmente passando tempo no chuveiro, masturbando-se.”

Eu deveria ter imaginado.


CAPÍTULO 1

RIPLEY

Um Ano Depois

Estreito os olhos, tentando me concentrar na tarefa a minha frente, apesar do sol escaldante estar praticamente assando minha pele. O suor se formou na testa e escorreu pelos lados do meu rosto, embora já tenha tirado cada peça de roupa que posso remover sem ser preso por atentado ao pudor.

Até o colete do clube, que geralmente uso, faça chuva ou faça sol, está pendurado a alguns metros de distância. Um lugar onde está a salvo de danos, mas ainda posso vê-lo.

Faço parte do Exiled Eight MC - não apenas parte, o clube está no meu sangue. Meu pai é o presidente e seu avô foi um dos fundadores.

Meu colete é uma declaração sobre quem sou e minha história. Fico nervoso não o tendo em minhas costas, mas não posso nem começar a explicar por que para ser completamente honesto. Não é como se fosse à prova de balas. E não é como se não o usar signifique que sou menos parte do clube.

Mas é importante.

É uma parte minha.

Não tê-lo em mim quase parece que está faltando uma parte do corpo.

É impossível usar meu colete nesse calor, porém, o couro preto apenas o torna ligeiramente mais frio que o inferno.

Reviro os ombros, eles estão doendo e cheios de tensão. Estou nesse projeto há mais de quatro horas, e esta é a segunda vez que faço uma tentativa. A primeira joguei fora na metade porque sou meu maior crítico, e aos meus olhos, parecia uma merda.

Estamos trabalhando num antigo hotel nos arredores de Las Vegas. Os proprietários demoliram a maior parte e instalaram novos apartamentos, mas para o saguão, querem manter muito da originalidade – ou o mais próximo possível do original – para dar personalidade e criar um diferencial.

Esse é meu trabalho.

Há uma razão pela qual as pessoas pagam um bom dinheiro para que eu faça estranhas decorações em madeira e molduras. Porque sou muito bom nisso e um perfeccionista. Trabalho com madeira e entalho desde que me lembro, e tenho as cicatrizes para provar. Houve muitas vezes em que me acertei com o cinzel ou com a faca de cortar.

Valeu a pena.

Isso ajuda a aliviar minha mente e acalmar a ardência dentro do meu peito, que sinto estar continuamente tentando me consumir.

“Uau, isso é lindo.”

Olho por cima do ombro, encontrando uma empresária alta e cheia de curvas, seus olhos examinando meu trabalho enquanto caminha ao redor da minha estação de trabalho. Ela estende a mão para tocar o trabalho sobre a mesa, e meu lábio curva quando seus dedos deslizam sobre a peça.

“Não está pronto”, resmungo, esperando que ela ouça o tom da minha voz e vá embora.

Ela não vai.

Em vez disso, ela se aproxima, inclinando-se para ver melhor.

“Pronto ou não, parece impressionante”, ela responde com admiração, movendo os olhos para encontrar os meus. “Ouvi que a pessoa que faz isso é boa com as mãos, mas é bem mais do que esperava.”

“E você é?” Pergunto, endireitando a postura e cruzando os braços sobre o peito.

Ela se surpreende por um momento, mas encontra a compostura rapidamente, segurando a grande pasta preta em suas mãos. “Drake me contratou.” Claro que ele fez. “Sou designer de interiores, e ele quer que eu dê uma olhada no tamanho dos apartamentos menores e faça planos de design para os donos usarem nos pôsteres promocionais.” A maneira como a língua dela passa sobre os lábios antes de dar um sorriso sedutor geralmente é algo que instantaneamente deixaria meu pau duro e eu a arrastaria para o escritório do meu irmão e a foderia sobre a mesa.

Infelizmente para ela, reconheço seu tipo instantaneamente.

A saia lápis colada à pele é a primeira a revelar. Ela está tentando se comportar como se fosse uma mulher de negócios conservadora, porque vai até abaixo do joelho, mas propositadamente comprou dois tamanhos menores para que os homens fiquem obcecados em imaginar como pode ser tão apertada e não haver marca de calcinha.

As longas unhas brilhantes são pontudas e afiadas demais. Elas brilham ao sol como armas e parecem absolutamente ridículas. Sem mencionar o fato de que ela usa saltos agulha e brincos caindo até os ombros.

Em um maldito canteiro de obras.

Não há maneira no inferno que qualquer pessoa que trabalhe nesse tipo de ambiente regularmente – como um designer de interiores – não conheça as regras sobre o que vestir e o que não vestir, então é óbvio que ela faz tudo para desrespeitá-las.

Preciso de todo o autocontrole que tenho para lembrar que estou num local de trabalho, onde preciso manter a boca fechada, e simplesmente ignorar essa cadela sedenta que não para de me olhar de cima a baixo como se eu fosse um pedaço de carne.

“Drake não está”, digo por entre os dentes cerrados antes de voltar para meu trabalho, esperando que ela entenda a dica e vá embora. “Seu voo atrasou e não sei quando ele vai chegar.”

Acontece que ela não é tão esperta quanto rezei para ser.

Um toque no meu ombro e sua mão escorrega por meu braço até cobrir meu cotovelo. Ela se aproxima tanto que seu corpo está quase pressionado contra meu lado. “Tenho um pouco de tempo e estou realmente interessada no que você pode fazer com as mãos.”

Olho diretamente para frente.

Nunca me considerei a porra de um santo, ou alguém de recusar uma mulher que implora para eu fodê-la, mas não gosto de desrespeito, e não gosto de pessoas que fazem de tudo para desconsiderar as regras que temos aqui.

“Está querendo ser fodida?” Pergunto, virando a cabeça para ela e percebo o modo como seus olhos se iluminam com minhas palavras. Suas unhas afundam em minha pele com excitação quando viro o corpo para encará-la, apenas ligeiramente inclinando-me para frente. “Deixe-me adivinhar. Está procurando um passeio pelo lado selvagem. Algo para te fazer se sentir levemente desobediente. Ou talvez seu namorado baunilha e seu pequeno pau não te façam gozar e esteja farta de fingir?”

Ela engasga e recua com as bochechas coradas.

Porém, eu continuo.

“Ou está tentando irritar seu pai que aposto que te deu esse trabalho ou subornou alguém porque é óbvio que você não dá a mínima para regras, leis, ou colocar minha empresa na merda aparecendo aqui sem o equipamento de segurança.”

Um passo para trás, e o salto dela enrosca num grande pedaço de madeira. Sua pasta voa e com espaço quase insuficiente para andar naquela maldita saia, ela luta para se manter em pé, e logo sua bunda está caindo numa pilha de lascas de madeira enquanto observo com um sorriso.

“Melhor ir encontrar outro bad boy para te fazer se sentir melhor sobre sua vida, porque não terá isso no meu pau.”

Seu grito agudo enche todo o canteiro de obras e faz os garotos colocarem suas cabeças pelos cantos e janelas, sorrindo para a mulher formal demais sentada na maldita sujeira.

“Jesus Cristo”, Drake amaldiçoa quando sai de dentro do hotel balançando a cabeça.

Oh, ele está aqui. Devo estar tão envolvido no trabalho que não o vi chegar.

Apesar da maldita temperatura, ele usa seu traje habitual. Um terno completo, camisa de mangas compridas e um par de abotoaduras chiques para mantê-las apertadas e seguras. Tudo porque quando ele está a negócio escolhe esconder tudo que o liga ao clube. Incluindo os dois braços cheios de tatuagens.

“Kara”, ele declara, estendendo a mão para ela enquanto eu simplesmente inclino meu quadril contra a mesa e cruzo os braços sobre o peito. Ela aceita, mesmo que seu olhar escuro ainda esteja em mim como se tentasse me incendiar com os fodidos olhos. “Eu peço des–”

Ela levanta a mão, interrompendo-o antes de se esforçar para ficar de pé. “Drake, sei que meu pai ignorou o fato de você ter–”

“Ding, ding, ding”, digo. “Acredito que é a terceira opção.”

Eu sabia.

Ela ganhou tudo e espera que as coisas – ou, eu acho, os homens – simplesmente caiam em seus malditos pés perfeitos.

Seus olhos se voltam para mim e os lábios curvam de desgosto como se ela não tivesse simplesmente implorado para que eu a foda. “O fato de você ter membros do clube trabalhando aqui. Mas eu digo que precisa tomar melhores decisões de negócios, porque nem todos estão dispostos a trabalhar com criminosos.”

Solto uma risada alta e desagradável. Como se ela não tivesse estragado sua chance de trabalhar conosco, fodeu sua chance de trabalhar com qualquer construtora em Nevada.

Drake inclina a cabeça para o lado. “Sinto muito, não posso acreditar que não te apresentei ao meu irmão mais novo, Ripley.” Ele vira o corpo e estende a mão. Levanto a minha e aceno, adicionando uma piscada só porque sou um idiota mesquinho. Quando ela não responde, Drake limpa a garganta. “Pode dar o fora agora.”

Se há uma coisa que meu irmão não gosta, são pessoas chamando o clube – sua família – de criminosos. Enquanto a maioria de nós não dá a mínima para o que as pessoas pensam, Drake é particularmente protetor com o clube.

Sim, ele é um membro e tem orgulho disso. Mas também é o CEO da empresa que o clube possui, o que significa que muitas vezes ele precisa desempenhar um papel diferente, e ele garante que as pessoas saibam que se querem trabalhar conosco, elas nos respeitarão como qualquer outra empresa no país.

Motoqueiros ou não.

Kara, a designer de interiores, nem se incomoda em discutir. Ela se vira nos saltos pontudos e cambaleia para o outro lado do canteiro de obras, murmurando para si mesma.

“Quando chegou?”

Drake revira os olhos. “Algumas horas atrás. Sabe que vou precisar encontrar uma nova designer de interiores, certo?”

Volto para o meu trabalho. “Você pode me agradecer mais tarde, quando ela não aparecer grávida daqui a um mês, alegando que o bebê é seu, e tentar tirar metade das suas coisas, porque seu pai vai deserda-la.”

Eu o ouço suspirar enquanto se afasta. “Você é mais dramático que uma mulher, sabia?”

“Você vai me agradecer!”


CAPÍTULO 2

DAKOTA

“Juro por Deus, Dakota”, Meyah xinga quando está quase até a cintura dentro de um dos meus armários na cozinha. “Se não tiver café aqui, vou enlouquecer.”

Suspiro alto com a ameaça patética e bebo meu chá. “Você é esperta o suficiente para vir aqui e esperar encontrar cafeína.”

É verdade. Devo ser a única universitária da história que não é viciada em café. Honestamente, não entendo como as pessoas gostam do sabor. É amargo e desagradável, mas a principal razão que não bebo é porque já tenho problemas para dormir à noite.

Durante o ensino médio, meus pais, em certa altura, levaram-me a vários médicos e até a um ou dois hipnoterapeutas, só para tentar descobrir o que há de errado comigo. Acontece que, provavelmente, é algo da minha genética que me fez desse jeito, e não é um problema tão grande como todos pensam.

O que eu poderia ter dito a eles em primeiro lugar se tivessem perguntado.

Não me importo de ser uma coruja noturna.

“Se farei a tarefa esta noite, preciso de café”, resmunga a voz de Meyah de dentro do armário. “Nós duas sabemos que você tem, então desista e pare de me fazer sofrer.”

“Nunca”, exclamo, soltando uma gargalhada maldosa.

Há uma razão pela qual Meyah é minha melhor amiga. Porque ela me conhece muito bem. Nós somos o tipo de amigas que empurram a outra em poças de água e riem antes de ajudá-la a levantar.

“Você poderia simplesmente ir para casa”, acrescento, sabendo exatamente por que ela está aqui, mas apenas cutucando a ferida.

“Eu te disse, os garotos estão dando uma festa, e não é só o trabalho que devo entregar amanhã ao meio-dia, mas algumas das garotas que estão trazendo para o clube não são nada agradáveis.” Eu praticamente a vejo estremecer.

O namorado de Meyah, Hamlet, é um motoqueiro.

Não apenas um motoqueiro.

Um tatuado, musculoso e meio bruto, que usa colete de couro. Que por acaso também é o vice-presidente da seção local de um conhecido clube de motoqueiros – o Brothers by Blood MC.

Shake é seu nome de estrada, é como a maioria das pessoas o chama, mas eu me recuso. Para mim, ele sempre será Hamlet ou Ham. É parte do relacionamento que temos. Ele zomba do quão baixa sou, e eu o incomodo sobre como seu nome é uma carne do almoço1.

O tio de Meyah faz parte do clube no Alabama, de onde os dois vieram.

O pai dela também é o presidente de um notório clube fora da lei em Las Vegas chamado The Exiled Eight. Então couro e asfalto praticamente correm em suas veias. Não que diria isso, porque ela é muito fofa.

Coloco minha caneca na mesa e cruzo os braços sobre o peito. “Então diga a elas para dar uma volta.” Embora adore atormenta-la em todas as oportunidades que tenho, também sou extremamente protetora. Não só porque a amo, mas por causa da merda que passamos juntas e as vezes que ela me apoiou.

“Ah, huh!” Ela grita, a celebração é seguida por um estrondo que me faz estremecer. Seguro o riso quando ela lentamente se arrasta das profundezas do meu armário segurando um pote de café instantâneo e esfregando a cabeça. “Eu sou um monte de coisas, Dakota, mas empata foda não é uma delas.”

Ela faz um trabalho rápido em preparar seu café. Fico surpresa por ela simplesmente não pegar uma colher e comer diretamente do pote. “Aqueles garotos te amam, Meyah. Se disser a eles que uma cadela está sendo um pé no saco, eles vão expulsa-la sem pensar duas vezes.”

É verdade. E não só porque o homem dela, Hamlet, é o vice-presidente.

Ela ganhou o respeito deles e trouxe muitos negócios para o clube. Com seu pai sendo o presidente de outro MC, e os Brothers by Blood sendo os novos garotos da cidade, os clubes se uniram rapidamente para aproveitar ao máximo a situação. Eles já são donos da maior boate da cidade e estão considerando abrir outra para atender a demanda.

“Obrigada, Senhor”, Meyah murmura quando finalmente toma sua dose de cafeína e se junta a mim na pequena mesa da cozinha onde estamos estudando. “Nem me importo que isso tenha gosto de merda absoluta, vai fazer o efeito que deve.”

Tomo outro gole do meu chá e levanto a sobrancelha. “Você tem sérios problemas psicológicos. Percebe isso, não?”

Sua mão levanta, a palma a apenas centímetros do meu rosto. “Eu preciso que você cale a boca agora enquanto me concentro.”

Ela está certa, nós duas temos relatórios para escrever. Eles são da mesma aula, mas onde Meyah já está na metade do dela, estou prestes a começar. É como se estivesse presa – acho que se pode dizer que trabalho melhor sob pressão. E uma página vazia menos de vinte e quatro horas antes do prazo final de entrega é tão cheia de pressão quanto possível.

Depois de três xícaras de chá, duas canecas de café ruim e três pedaços de bolo de chocolate consumidos enquanto fazemos nossos relatórios, o telefone de Meyah começa a vibrar na mesa. Estremeço com o barulho e franzo o nariz.

Meyah olha a tela e sua expressão muda. Ela o pega e vira a tela para baixo antes de voltar a atenção para o computador como se nada tivesse acontecido.

Sei quem é instantaneamente.

Ela é uma atriz de merda.

Seus olhos estão concentrados intensamente na tela do laptop, como se o telefone não zumbisse sobre a mesa à sua frente.

Eu reviro os olhos. “Vai atender?”

Ela olha para cima novamente e encolhe os ombros. “Atender o que?”

“A ligação do seu irmão detestável”, digo, olhando incisivamente para o objeto ofensivo. “Nós duas sabemos que quando ele quer algo, é um bastardo persistente, então pode simplesmente atender agora.”

O telefone para de zumbir e seus ombros cedem de alivio.

Eu conheço Ripley embora. “Três, dois, um...”

E começa de novo, o celular vibrando sobre a mesa, fazendo um barulho horrível. Como a imitação de uma vaca morrendo.

Reviro os olhos novamente, desta vez para um efeito dramático. “Jesus Cristo”, gemo, pegando-o da mesa e deslizando o polegar pela tela para atender. A boca de Meyah abre quando encosto o telefone na orelha e sorrio. “Prostibulo de Satanás. Você tem o dinheiro, nós temos a diversão. Como posso te ajudar hoje?”

Infelizmente para mim, Ripley é quase tão rápido em sua inteligência quanto eu, e não perde tempo. “Talvez possa me ajudar a encontrar uma garota”, ele começa, sua voz áspera como uma lixa. A maneira como soa através da linha instantaneamente faz eu me arrepender de atender ao telefone e de repente desejo estar sozinha. No meu quarto. Com meu brinquedo favorito. Idiota sexy e maldito.

“A garota, ela é baixinha. Ela é forte. E tem um bico que simplesmente jorra palavras por toda parte, como–”

“Acho que está procurando o pequeno bule”, interrompo, dando um olhar atento para Meyah, que franze a testa em confusão. “Seu irmão acabou de te chamar de gorda.”

“Oh Deus”, geme Meyah, balançando a cabeça.

Juro por Deus que se colocar o telefone no meu olho neste momento e conseguisse ver através do aparelho encontraria o sorriso no rosto de Ripley. Ele sabe que me pegou dessa vez.

“Eu disse forte”, argumenta.

“Mesma coisa.”

“E o que te faz instantaneamente pensar que falo sobre Meyah? Só porque disse que ela é baixa?” Quero dar um soco em seu rosto estúpido e arrogante. “Muitas coisas são curtas2, Dakota. Mangas podem ser curtas. Relacionamentos podem ser curtos. A grama pode ser curta.”

“Estou prestes a deixar sua vida realmente curta se não parar de dizer curto”, ameaço, sentindo minha pressão arterial começar a subir.

Sua risada divertida me provoca. “Crianças são baixas.”

“Mas aposto que não as chamaria de gordas.”

“Forte.”

“Espero que pise num Lego.”

“Eu realmente gosto das nossas conversas.”

“Beba alvejante”, respondo alegremente antes de finalmente afastar o celular da orelha e entregá-lo para Meyah.

Ela aperta a ponta do nariz e fecha os olhos enquanto o coloca na orelha. “Você precisa irritá-la assim?” Ela pergunta ao telefone enquanto desliza a cadeira para trás e sai rapidamente da cozinha. Não importa, no entanto. Meu apartamento é tão pequeno que pode basicamente cuspir de um lado para o outro.

Quero estrangular Ripley nos melhores momentos.

Não nos falamos frequentemente.

Nos momentos em que o fazemos, muitas vezes consiste em eu perguntar-lhe em voz alta no meio de um grupo de mulheres se a erupção cutânea está melhorando e se o creme ajudou. Ou ele constantemente me pedindo para pegar coisas de prateleiras ou lugares que sabe que não posso alcançar.

Nós brincamos um com o outro.

Nós damos golpes baixos.

Nós atormentamos.

Nós nunca nos sentamos e conversamos.

Nunca tivemos uma conversa casual.

E eu sei porquê.

Porque nenhum de nós sabe o que acontecerá se o fizermos. Não acho que qualquer um de nós seja alheio à tensão sexual que irradia ao nosso redor. Somos como duas crianças na porra do parquinho. Empurrando um ao outro. Um provocando o outro sobre ter piolhos.

Agindo como se nos odiássemos, assim ninguém notará a ridícula química rodando no ar ao nosso redor.

Nós fingimos que não há nada acontecendo.

E não há, porque nós dois pensamos estar fazendo a coisa certa por Meyah. Ela passou por merda o suficiente recentemente. Ter sua melhor amiga e seu irmão fodendo provavelmente não está no topo da lista de coisas que ela gostaria de lidar.

Pelo menos, essa é a desculpa que uso.


CAPÍTULO 3

RIPLEY

“Mamãe?” Chamo enquanto corro do quintal.

Ela me mandou sair para brincar há muito tempo e comecei a ficar com fome. Meu estômago está roncando e roncando, e tenho certeza que já deve ser hora do almoço. Franzo os lábios, prendendo a respiração enquanto caminho na ponta dos pés até a sala de estar. Percebendo que está vazia e quieta, vou até a cozinha.

Há pratos ainda jogados numa água turva dentro da pia, com alguns empilhados no suporte ao lado, como se ela tivesse acabado de lavá-los e se distraído. A espuma de sabão que gosto de apertar ao mesmo tempo em que ajudo meu irmão, Drake, a limpar depois do jantar acabou há muito tempo, e quando mergulho meu dedo na água, ela está fria.

Você não pode lavar pratos em água fria e sem sabão.

Lambo meus lábios secos e saio da cozinha para o vestíbulo.

O único outro lugar onde mamãe pode estar é no andar de cima.

Minha mão roça o corrimão, meu pé flutuando um pouco quando penso em dar o primeiro passo. Eu hesito, porém, lembrando como ela fica com raiva se interrompo seu cochilo, ou se eu a surpreender no meio de um dos seus... Drake os chama de 'momentos'.

Ela chora, chora e chora.

Às vezes eu me pergunto se vai parar.

Ela quebra coisas também.

Ela joga coisas do outro lado da sala, e elas batem nas paredes, quebram as janelas e, quando papai está em casa, ela às vezes tenta machucá-lo também.

Ou a si mesma.

Ela diz a ele o tempo todo que o fará.

Nunca realmente entendi porque ela quer se machucar. Não gosto de me machucar. Caí da bicicleta várias vezes e esfolei os joelhos. Uma vez, até caí do parquinho no clube e bati com a cabeça. Isso doeu muito e precisei de pontos.

Papai segurou minha mão enquanto me costuravam, e nem sequer chorei. Ele disse que quando eu fosse mais velho, as garotas adorariam a cicatriz que ficou no alto da minha testa.

Mamãe apenas balançou a cabeça quando chegamos em casa. Ela não me abraça com frequência, mas tinha certeza de que aquela seria a única vez em que o faria.

Um degrau de cada vez, subo a escada e meu coração começa a bater forte. Não quero que ela fique com raiva. Só quero fazer mamãe feliz. Ela sempre parece tão triste ou zangada. Ela nunca ri, sorri ou fala em outra coisa que não sejam ordens gritadas.

Ela é diferente das mães que vejo pegando seus filhos da escola ou as Old Ladies no clube. Elas são duras e meio assustadoras, mas ainda beijam e abraçam seus filhos. Ela nunca nos beijou na bochecha e perguntou como foi nosso dia. Ela nunca nos puxou para perto, nunca jogou a cabeça para trás e riu de nossas piadas – não importando o quanto sejam idiotas. Ela nem nos leva para a cama à noite ou conta histórias.

Papai diz que é porque ela está doente.

Drake diz que é porque ela não gosta de nós.

Mas eu a amo mesmo assim.

Um dia, quando for mais velho, serei médico e ajudarei a encontrar um medicamento para curá-la. Vou ajudá-la a melhorar.

Chego ao topo da escada e me inclino para a frente, espiando seu quarto e olhando em volta, mas ela também não está lá. Então ouço a água e noto a porta do banheiro ligeiramente aberta.

Andando na ponta dos pés, torço as mãos sabendo que provavelmente devo deixa-la sozinha. Mas meu estômago está realmente dolorido agora, torcendo, virando e implorando por comida.

Respiro fundo e pressiono minha boca na fresta da porta. “Mamãe... posso fazer um sanduíche, por favor?” Estou acostumado a fazer minha própria comida, mas terei problemas se o fizer sem pedir primeiro.

Meu corpo curva enquanto espero uma resposta dura ou aguda, então me preparo para o impacto e para correr.

Mas não há resposta.

Mordo o lábio e puxo a bainha da camisa, esperando e esperando. “Mamãe?”

Quando não há resposta, começo a pensar no que ela pode estar fazendo. E se estiver doente? E se ela dormiu? E se o chuveiro transbordar como pai fez na lavanderia lá embaixo uma vez?

Estufando meu peito e empurrando os ombros para trás, decido que preciso ser corajoso. Para ter certeza de que ela está bem, e que papai não ficará zangado quando chegar em casa, porque mamãe esqueceu de desligar a torneira.

Então pressiono a mão contra a maçaneta.

E abro a porta.


Meu corpo se curva na cama.

Meu coração dispara.

Meu estômago revira dolorosamente.

Suor escorre no meu couro cabeludo, algumas gotas perdidas deslizando pelo rosto enquanto luto para recuperar o fôlego. Sei que vai passar rapidamente. É um sonho com o qual me tornei acostumado. Acontece várias vezes, não todas as noites, mas com mais frequência do que gostaria.

E toda vez, termina ali.

Como um suspense dramático. Um que meu cérebro cria para me proteger do que aconteceu em seguida. Infelizmente, embora meus sonhos não me façam reviver aquele momento em anos, não significa que esqueci.

Frustrado, afasto os cobertores e saio da cama, pegando um moletom com capuz do armário e um short de academia que está jogado no chão depois da minha corrida de ontem de manhã. Meu colete do clube escorrega como uma luva por cima – um ajuste perfeito. O couro pesado instantaneamente cria uma espécie de calma sobre meu corpo. É mais do que apenas um show de cores.

Meu colete é um lembrete de que não estou sozinho.

Pegando um maço de cigarros da mesa de cabeceira, saio do quarto e sigo pelo corredor em busca de café. Vou precisar disso para passar o dia sem matar alguém.

Não é piada.

O sol brilha através das portas abertas enquanto os homens demoram ao redor, comendo o café da manhã e banqueteando-se com pelo menos três xícaras de café preto antes de saírem para trabalhar no canteiro de obras.

Reviro o pescoço, a tensão que sobrou do sono – se é que pode se chamar assim – ainda permanece em meus músculos. Esse mesmo sonho aparece quase todas as noites, pelo menos uma vez, mas muitas vezes mais. Acho que se pode dizer que meu corpo se acostumou a viver com pouco ou nenhum sono. Talvez seja devido ao fato de que estou constantemente acordando com a adrenalina alta e o coração acelerado.

Pelo menos hoje, dormi até o amanhecer.

Há momentos em que acordo às duas ou três da manhã, e saio para o meu galpão onde começo a cortar pedaços de madeira. Não é o ideal para se fazer a esta hora, mas acho que é uma das únicas coisas que ajuda. Passo uma hora lá fora, esculpindo, trabalhando duro, forçando meus músculos, então volto para a cama, sentindo-me exausto.

“Conversou com Meyah na noite passada?” Papai pergunta quando passa por mim, indo para seu escritório.

Olho com saudades para o maço de cigarros na minha mão e gemo em aborrecimento antes de segui-lo até lá, fechando a porta atrás de mim.

Ele senta em sua cadeira de couro e pega os óculos, colocando-os no nariz. Tento não abrir um sorriso, mas a aparência do meu pai de óculos parece irreal. Eles foram necessários há alguns anos, e poucas pessoas sabem que ele usa porque ele odiava. Ele diz que os óculos o fazem parecer velho, o que acho ser um pouco verdadeiro. Ele parece diferente. Não necessariamente velho, mas talvez, menos como alguém que passou muitos anos de sua vida literalmente caçando pessoas, e mais como o avô muito musculoso de alguém.

“Brevemente”, suspiro, balançando a cabeça. Sou eu quem mais mantém contato com Meyah, ligando para ela pelo menos duas vezes por semana, se não mais. Papai liga pelo menos uma vez por semana para verificar, e Drake e ela parecem ter uma estranha conversa por mensagem onde falam principalmente por emojis e memes engraçados. “Dakota atendeu ao telefone. Aquela mulher fodida, eu juro por Deus...” Não consigo encontrar palavras para descrever o que há sobre ela que me deixa tão louco. Talvez seja o atrevimento que sai daqueles lábios perfeitos e suaves – os que quero desesperadamente ver sorrindo de prazer enquanto a fodo. Ou talvez se abrindo e envolvendo meu pau.

Meu pai começa a rir quando volta para o pedaço de papel que segura nas mãos.

Faço uma careta. “O que?”

“Você e Dakota.”

Instantaneamente, estou na defensiva e fico um pouco mais ereto, cruzando os braços sobre o peito. “Eu te proíbo de falar essa porra de frase de novo.”

Ele tira os óculos e coloca-os sobre a mesa. “Ela é a única mulher que já foi capaz de mexer em qualquer coisa dentro de você que não seja apenas a necessidade de ter seu pau molhado.”

Abro a boca para discutir sobre como ela definitivamente mexe com a necessidade de molhar meu pau, e isso ser tudo. Mas ele me dá um olhar que diz para eu calar a boca e ouvir antes de falar demais. Um olhar que aprendi há muito tempo a não discutir.

“Dakota te irrita, e você ama irrita-la também.”

Eu me irrito pra caralho.

Vê-la ficar toda bravinha faz algo comigo. Faz o ar crepitar ao nosso redor como se fosse elétrico, e quanto mais faíscas voam, mais posso imaginar como seria se realmente colocasse as mãos nela. Não posso deixar de me perguntar se podemos realmente destruir um ao outro com a energia pulsando ao nosso redor.

De qualquer forma, não pode acontecer.

Dakota não é o tipo de garota que você fode e depois abandona.

Não, ela é muito mais do que uma garota do clube ou sexo casual.

Ela merece mais também.

E não vai encontrar aqui.

O que significa que preciso ficar longe, em vez de lidar com o quanto machucará Meyah se eu magoar sua melhor amiga.

“Não terei essa conversa com você.” Pressiono o dedo na testa e mantenho meus olhos fechados. Está recente demais, o sonho ainda passeando por minha cabeça, e se começarmos agora, realmente não tenho certeza do tipo de dano que pode causar.

“Então dê o fora do meu escritório”, ele me dispensa, recostando-se na cadeira e cruzando os braços sobre o peito. “Vá e continue fingindo que você é um bastardo frio e sem coração que nunca pretende escolher uma Old Lady.”

Mordo a língua, lutando contra o desejo de dizer ao meu pai onde ele deve enfiar sua opinião. Conheço sua intenção. Ele está tentando provar algo e honestamente, não sei se quero ouvir. “Quem disse algo sobre fingir?”

Ele suspira alto e balança a cabeça. “O garoto que me disse uma vez que nunca deixaria uma mulher chegar perto o suficiente para ele se importar.”

“Qual o seu propósito, velho?”

Ele aponta uma foto que ocupa lugar de destaque em sua mesa. Uma moldura que costumava ter uma foto de Drake e eu, mas que foi trocada recentemente por uma nova. Com uma pessoa extra. “Prova A... sua irmã.”

Cerro meus punhos, odiando que o velho esteja certo, mas determinado a não deixa-lo vencer. “Meyah é diferente.”

Ela é.

Nenhum de nós sabia de sua existência até cerca de doze meses atrás, quando ela apareceu com os olhos do meu pai e um exame de DNA para provar isso. Fui relutante em me aproximar, mas quanto mais tempo passei com ela, mais percebi que ela estava ali procurando uma parte de si mesma que sempre sentiu faltar.

Eu entendo isso.

Porque sinto que uma parte minha está desaparecida desde que tinha seis anos.

Amava minha mãe, mesmo quando ela me olhava com ódio ou quando falava comigo, cheia de desgosto, como se eu fosse o único arruinando sua vida.

Quando ela morreu, roubou uma parte minha e levou para seu túmulo.

Era a parte que queria uma Old Lady ao meu lado.

Tudo o que ela deixou foram pedaços que estão com muito medo de deixar alguém chegar perto o suficiente, apenas no caso de destruírem o que sobrou. Porque, honestamente, como pode esperar que alguém realmente se importe com você, quando a pessoa que deveria ama-lo incondicionalmente escolheu a morte?

Como se eu fosse uma opção que ela simplesmente não poderia aceitar.

Se eu deixar alguém fazer o mesmo, não sei se sobreviverei.

Minhas mãos começam a apertar o maço de cigarros e meus dedos começam a se contorcer.

“É muito cedo para essa merda. Jesus Cristo”, gemo, afastando meu longo cabelo do rosto. Já é hora de cortá-lo, está começando a ficar tão comprido quanto o de Drake e, se chegar a esse tamanho, perderei a capacidade de provocá-lo sobre como ele está começando a parecer uma mulher.

Eu me viro para a porta.

“Princesa do caralho”, meu pai murmura atrás de mim, e endureço a coluna, mas não viro.

“Vou fingir que não ouvi isso.”

“Desculpe, precisa que eu diga um pouco mais alto, vossa majestade?” Ele pergunta pouco antes de eu bater à porta atrás de mim. Aprendi há muito tempo que meu pai é um bastardo – alguém que se importa muito com sua família e clube – e que não tem nem um pouco de medo de dizer o que quer. Ele não acredita em não falar sobre as coisas, não importando o quão dolorosas possam ser. Quanto mais cresci, mais entendi o porquê.

Minha mãe poderia estar quebrada, mas meu pai a amava de qualquer maneira – tanto quanto um homem pode amar uma mulher que foi forçado a casar. Ele tentou ajudá-la, mas não havia nada que pudesse fazer naquela época. Ele não tinha qualificação. Ele não tinha o poder de mudar as coisas.

Ele precisou vê-la ficar cada dia mais ressentida e autodestrutiva.

Ele precisou vê-la implodir.

A mulher que ele amava, destruindo a si mesma.

Ninguém ouviu sua voz e quanto mais ela era sufocada pelos outros, mais se fechava, mais dor sentia e menos ela falava sobre isso.

Ele não dará a mais ninguém essa oportunidade. E embora muitas vezes me incomode que ele tente me convencer a falar sobre minhas coisas ou até mesmo às vezes me deixe com raiva e me incite a isso, tenho que respeitar o fato de que ele não vai deixar outra pessoa sentir como se não tivesse voz.

“Pai do caralho”, murmuro enquanto vou para a porta, puxando um cigarro de dentro do maço e colocando-o entre os lábios. “Sempre certo sobre essa merda.”

Maldito seja ele e suas estranhas tendências sabe tudo de motoqueiro.


CAPÍTULO 4

DAKOTA

“Preciso de dois cosmos, um Cocksucking Cowboy3 e um Redheaded Slut4”, Meyah exige em voz alta quando senta num banquinho no bar.

O canto da minha boca se curva quando automaticamente alcanço uma garrafa de Jager5. “Não sabia que estava animada assim.”

Ela levanta o dedo do meio e o mostra para mim. “Eu tenho uma despedida de solteiro lá, e tenho a sensação de que eles estão apenas começando a se aquecer com os nomes das bebidas.”

Esta é apenas uma das alegrias de trabalhar numa das maiores e mais movimentadas boates da cidade – sempre há um idiota bêbado que acha que acha engraçado pra caralho pedir um boquete.

Faço o trabalho rápido com as bebidas que ela pediu. Meus dedos deslizam na tela do computador, adicionando cada uma das bebidas à conta do grupo. A quantia sobe rapidamente, e posso ver por cima do ombro de Meyah que alguns dos caras já estão sentindo os efeitos da quantidade de álcool inundando seus corpos. A noite está apenas no início, mas eles começaram a tropeçar e a falar arrastado.

Nós abrimos as portas para o clube cedo, especialmente para esses caras – eles são cheios de grana e dinheiro fala por aqui – mas parece que vamos expulsa-los tão rapidamente quanto chegaram.

Há cerca de vinte deles, e embora o resto do clube esteja se preparando para uma noite de sábado movimentada, Meyah, outra garçonete chamada Khloe, e eu estamos ocupadas atendendo aos bêbados na área VIP sozinhas.

“Avise se quiser trocar de lugar”, digo quando coloco as bebidas em sua bandeja.

Seu doce sorriso brilha para mim. “Tudo bem, posso lidar com eles”, ela me assegura. Então aponta uma mesa reservada no canto. “E se eles ficarem barulhentos demais, Hamlet colocou alguns dos meninos de guarda.”

Olho nessa direção e vejo dois rapazes, muito sérios, ocupando a pequena mesa num canto escuro, com o colete e os patches fazendo-os parecerem menos acessíveis e mais assustadores. E eles olham os fregueses barulhentos e bêbados como se estivessem apenas esperando uma razão para espanca-los.

Reviro os olhos e olho de volta para Meyah. “Alguém vai sair daqui esta noite numa ambulância, não é?”

Ela me mostra um sorriso perfeito de rainha de concurso de beleza quando se vira com a bandeja de bebidas.

“Posso lhe pagar uma bebida?” Paro por um segundo, virando para ver que um dos garotos bonitos saiu do seu bando, e agora está encostado ao bar. Seus olhos estão brilhando e seu rosto está vermelho, ambos os sinais de que ele está bem alterado e provavelmente está vendo duas de mim. “Você é sexy como o inferno, sabe.”

Eu respiro fundo antes de forçar um sorriso no rosto e virar para encará-lo. “Ei... desculpe, não entendi seu nome?” Decido ser simpática.

Outra hora ou duas e a maioria dos caras não será capaz de ficar em pé, então irão embora, e esperançosamente não serão mesquinhos com as gorjetas.

“Caleb”, ele diz com dificuldade, a palavra seguida por um arroto estrondoso. “Eu sou o noivo.”

Eu me encolho, mas consigo manter o sorriso forçado no rosto. “Bem, sua noiva é uma mulher afortunada, aposto que se sente como se tivesse ganho na loteria com você.”

Ele revira os ombros e corre os dedos pelos cabelos loiros acinzentados, envaidecido por meu comentário. O jeito bêbado que ele está balançando faz parecer que a qualquer momento vai acabar no chão.

Talvez ela não tenha ganho na loteria, apenas no bingo.

“É minha última noite como um homem solteiro, sabe...” Ele se inclina para frente, apoiando-se no balcão. Há pelo menos um metro e meio entre nós, e ainda posso sentir o cheiro da colônia cara em que tomou banho.

Prendo a respiração e me inclino para trás. “Não tenho certeza se é assim que funciona. Esta é sua última noite como um homem solteiro... não um homem sem compromisso.”

“Mesma coisa”, ele diz, um sorriso doentio surgindo em seus lábios.

De repente, começo a me sentir realmente horrível por sua noiva. Ela sabe no que está se metendo? Não há algum tipo de código de garota onde preciso tentar avisa-la que o cara com quem vai se casar é um completo idiota?

Puta merda, ele está tentando pular o bar?

“Senhor!” Grito, imediatamente dando um passo para trás e procurando algum tipo de ajuda, mas nenhum dos motoqueiros está na mesa do canto, e posso parcialmente ver uma comoção acontecendo sobre o ombro do bêbado enquanto ele tenta subir no balcão. É uma luta, mas ele está lentamente conseguindo subir na bancada de mogno, com os olhos colados em mim, enquanto lambe os lábios.

“Você não terá permissão para voltar aqui.” Minha voz é forte e determinada quando minha mão alcança minhas costas, deslizando ao longo da parte inferior do balcão atrás de mim.

Geralmente não sou uma garota que recua. Sou baixa em estatura, mas compenso com ousadia e uma dose justa de teimosia.

“Eu te disse”, Caleb murmura, seus olhos continuam colados em mim. “Sou um homem solteiro por mais uma noite, e aposto que não será a primeira vez que se diverte atrás desse bar.”

“Você não é meu tipo”, respondo quando minha mão encontra o coldre da arma que foi colada na parte inferior do balcão.

Abro e pego a pistola de metal frio na mão.

Isso terá que servir.

O riso de Caleb é tão alto que realmente machuca meus ouvidos, e ele gira o corpo então está sentado na beirada do balcão do meu lado, balançando para frente e para trás. “Eu sou jovem, sexy, rico... sou o tipo de todas.” Ele esfrega a mão sobre a protuberância menos do que impressionante na frente de seu jeans e arqueia as sobrancelhas. “Agora venha aqui e me chupe como uma cadela de bar.”

Puxo a arma e aponto diretamente para sua virilha, onde ele ainda está acariciando-se suavemente por cima de calça jeans branca – provavelmente de mais de quinhentos dólares que mamãe comprou. “Oh, vou dar um jeito em você. Vou estourar seu patético micro pênis se não der o fora do meu bar e voltar para seus amiguinhos lá.” Balanço a cabeça em direção ao grupo de homens que parecem ter se acalmado significativamente, todos os olhos focados em mim. Alguns com espanto, alguns em estado de choque, estão parecendo poder gozar nas calças a qualquer momento.

Meu coração dispara quando vejo um brilho sombrio domina-lo, e de repente imagino se ele está tão bêbado quanto imagino. Ou se isso é alguma encenação que ele faz para tentar cobrir o fato de que é um fodido psicopata.

“Você não quer fazer isso, puta”, ele grunhe baixinho, então só eu posso ouvir. Não é exatamente nervoso, no entanto. É agitado, mas calmo. “Se me fizer de bobo, e vou fazer de você um exemplo.”

Eu destravo a arma, colocando meu dedo no gatilho. “Eu já sou um exemplo. Chamam-me de o tipo de vadia que garotos bonitos como você não devem foder.”

Conheço o olhar em seus olhos.

Também conheço as regras sobre segurar uma arma – não coloque o dedo no gatilho a menos que queira disparar. O negócio é que pretendo fazer exatamente isso se esse idiota vir até mim. Não sou uma vítima, ele não me tornará uma.

Ficamos num impasse mexicano, nenhum de nós se movendo ou desviando o olhar. Sei que no segundo que dar a ele um momento, ele vai aceitar, e provavelmente vou me arrepender. De repente, ele parece extremamente sóbrio.

As coisas pioram rapidamente.

Uma sinfonia de botas pesadas soa contra a escada que leva até a área VIP onde estamos, junto com o estalo de saltos agulha. Recuso-me a desviar o olhar, até que Hamlet contorna o bar e pressiona seu corpo entre nós, de costas para mim.

Meu coração diminui os batimentos acelerados, e abaixo a arma ao meu lado no momento em que o Presidente dos Brothers by Blood, Shotgun, aproxima-se e pega na minha mão. “Vá”, ele ordena severamente. “Nós vamos lidar com isso.” Ele aponta para Meyah que está do outro lado do bar, olhando-me. Shotgun pressiona sua mão nas minhas costas, guiando-me para a frente e forçando minhas pernas a se moverem. Elas estão congeladas no local.

Acho que subestimei o quão assustador essa situação era.

“Pegue seus amigos e dê o fora”, Hamlet ordena atrás de mim, e luto contra a vontade de parar e ver a situação desenrolar. “Olhos em mim, filho da puta, não nela. Eu sou a pessoa com quem precisa se preocupar agora.”

Quando chego perto o suficiente, Meyah estende a mão e agarra meu braço, puxando-me para seu corpo. Mais alguns homens do MC aparecem na nossa frente, e quando finalmente paro e olho para a sala, noto o quão quieto – a música foi desligada – e quão cheia está com os membros do MC. Eles superam em número a despedida de solteiro em mais que o dobro.

“Você não quer fazer isso”, ouço Caleb avisar.

Ham ri, mas o som é um que não ouço com muita frequência e provoca calafrios em minha espinha. Eu vou ao clube muitas vezes, mas quando se trata de negócios do MC, sempre fico longe. Meyah diz que é melhor assim, e eu concordo, especialmente porque venho de uma família de policiais.

Mas, aos poucos, começo a perceber por que as pessoas tendem a andar na outra direção quando veem um membro do clube na rua.

“Se tem um problema com isso, pode falar com Huntsman quando ele chegar amanhã. Ele é o dono deste lugar e Presidente do Exiled Eight MC em Vegas. Mas tenho certeza que já sabe disso, não é?” Ham acrescenta, e mesmo que não possa mais vê-lo, ouço o sorriso em sua voz. “Tenho certeza que ele ficará muito feliz em saber como estava agindo em relação a melhor amiga de sua filha.”

A sala fica em silêncio.

O ar está espesso, parado e difícil de respirar.

“Talvez eu faça exatamente isso”, Caleb responde, mas depois de alguns instantes olho para cima para vê-lo passando, percebendo seus olhos quando passa por três membros do clube que estão entre nós. O canto de sua boca curva num sorriso, e ele pisca, franzindo os lábios e jogando um beijo enquanto passa.

Isso me faz estremecer, mas tento manter meu corpo o mais imóvel possível para que ele não veja.

Toda a despedida de solteiro acabou num minuto, e os três homens que estão nos protegendo finalmente se afastam quando Ham e Shotgun se aproximam.

“Você está bem?” Shotgun pergunta, os olhos inspecionando meu corpo como se procurasse por ferimentos.

Engulo o nó nervoso na garganta e empurro meus ombros para trás, forçando-me a ficar um pouco mais alta. Não quero que esses caras pensem que estou abalada.

Eu estou.

Mas não preciso deles me olhando como se eu fosse uma criança.

“Estou bem. Então, que tipo de merda acabei de começar?” Pergunto, respirando fundo e puxando meu cabelo para longe do rosto. Suor cobre meu couro cabeludo, e preciso desesperadamente de ar fresco para organizar meus pensamentos.

Ham balança a cabeça. “Você não começou nada, ele começou. Tudo bem, vamos conversar com Huntsman, e ele vai resolver. Não foi culpa sua.” O olhar normalmente descontraído no rosto de Ham é substituído por uma linha profunda de preocupação, então sei que ele está apenas tentando me fazer sentir melhor.

“Os homens são psicopatas”, tento brincar, apontando para todos os irmãos tatuados e musculosos de aparência intimidante na sala. “Vocês são psicopatas.”

“Vamos lá...” Meyah ri, pegando minha mão e me puxando para a porta. Ela baixa a cabeça então sua boca está ao lado da minha orelha. “Vamos preparar algumas doses antes que esses idiotas vejam o quanto suas mãos estão tremendo e tentem te mandar para casa.”

Eu engulo o nó na garganta e balanço a cabeça.

É por isso que Meyah é minha melhor amiga.

Ela percebe na hora.

E graças a Deus, porque preciso de algo forte para aguentar as próximas horas.


CAPÍTULO 5

RIPLEY

Entro no complexo com um rugido alto, não importando se vou acordar todos os idiotas ali dentro.

Texas segue minha liderança, estacionando sua moto ao lado da minha. Tex é um cara enorme, e tem um transporte grande para combinar – feito sob medida para se adequar à sua estatura. Sua personalidade, no entanto, é completamente o oposto do que se esperaria, e é por isso que preciso lutar contra a vontade de bater em seu estúpido rosto sorridente enquanto nós dois recuamos em nossos espaços.

Desligo o motor e arranco meu capacete. “Limpe esse sorriso de merda do seu rosto antes que eu o faça”, digo enquanto desço da moto e penduro meu capacete no guidão. Passo os dedos pelo cabelo, balançando-o antes de pressionar dois dedos no canto da minha boca.

Dói, mas é superficial.

Neste caso, o ditado ‘você devia ver o outro cara’ é o ponto.

O clube tem as mãos em várias coisas. Embora muitos dos membros trabalhem para a construtora durante o dia, alguns também negociam uma possibilidade para o trabalho noturno em alguns dos cassinos mais antigos da avenida.

Os proprietários nos contratam para grandes eventos ou noites agitadas como segurança extra.

Muitos dos fregueses não sabem realmente que é por isso que estamos lá, o que torna mais fácil pegarmos os idiotas sendo idiotas.

E adivinhem, passei perto de um grande bastardo que maltratava uma das garçonetes.

“Irmão, você não viu o rosto dele. Ele bateu e você mal se moveu,” Tex recorda com uma risada rouca e gutural. “Você o acertou e foi como ver um prédio ser explodido. Ele simplesmente foi direto para o chão.”

“Talvez pense da próxima vez antes de tentar agarrar um dos peitos da nossa garota”, respondo enquanto sigo para a porta da frente do clube em busca de um cigarro e um pouco de café.

Tex suspira alto. “Improvável.”

Ele está certo, bastardos assim nunca aprendem. Eles acham que têm o direito de fazer o que quiserem porque são maiores, ou mais velhos, ou mais ricos, ou famosos. Eles acham que as mulheres têm o dever de cair aos seus pés. Eles estão errados pra caralho e merecem ter seus paus amarrados em nós para que não possam se reproduzir. Não tento dizer que sou um anjo, mas qualquer garota que fodi sempre se aproximou primeiro. Não preciso ir pegar em suas bundas ou peitos para que saibam que quero fode-las.

Há uma luz acesa na cozinha me dizendo que pelo menos outro babaca já está acordado. Entrando na cozinha de tamanho industrial, a Old Lady de Diddit, Mouse, pressiona a mão no coração e ofega. “Puta merda, Rip”, ela amaldiçoa, em seguida, pega uma toalha de papel e começa a limpar o café que derramou na lateral de sua xícara. “O que diabos está fazendo? São 4:00 da manhã.”

“Acabei de chegar de um turno na cidade”, resmungo, passando por ela para pegar uma caneca e empurrá-la sob a cafeteira. “Você acabou de chegar ou está saindo?”

Mouse é enfermeira, trabalha por turnos e frequentemente vai e vem em horários estranhos. Ela é uma das únicas Old Ladies em todo esse maldito lugar – ela e Diddit são casados há quase quatro anos. Com ele aos vinte e seis e ela com trinta e um anos, ela é cinco anos mais velha. E o garoto é tão fiel a sua Old Lady quanto possível.

“Indo”, ela responde com um suspiro, seguido por um grande gole de café, como se fosse sua tábua de salvação. “Meu turno começa às cinco. Diddit só chegou às duas.” Ela levanta a caneca tentando esconder um sorriso cansado, mas satisfeito.

“Isso vai te ensinar a passar duas horas fodendo e não recuperando o atraso no sono”, falo quando puxo minha xicara e seguro o líquido quente nas mãos.

Ela revira os olhos, recostando-se no balcão e girando os quadris enquanto caminho para a porta. “Não me arrependo de nada.”

Vou para a sala principal, puxando meus cigarros do bolso e abrindo o maço. Tiro um com a boca antes de enfiar a mão no bolso para pegar o isqueiro. Uma brisa fresca atinge meu rosto, e olho para cima com uma carranca, encontrando a porta de correr de três metros para o pátio dos fundos já aberta.

Ninguém dorme nesta porra de lugar?

“Isso vai te matar.”

Zombo quando meu irmão, Drake, sai das sombras balançando a cabeça. Sem seu traje típico de negócios, e suas tatuagens visíveis – as mesmas que ele se esforça para disfarçar quando está fazendo negócios longe do MC – ele realmente parece se encaixar um pouco aqui.

“Preciso morrer de alguma coisa.” O cigarro na minha boca para de girar enquanto falo, e acendo-o. “Porra, você não está dormindo?” Saio para o ar fresco da manhã, inalando profundamente. Ainda está escuro como breu, o sol nem mesmo dando uma espiada no horizonte.

Drake esteve em Dubai garantindo negócios para a construtora que o clube possui. Ele saiu há pelo menos três semanas e senti falta de tê-lo por perto. Nós crescemos juntos. Ele tem apenas dois anos a mais do que eu, mas precisou crescer mais rápido que a maioria das crianças.

Papai tinha enormes responsabilidades dentro do clube, então embora ele tentasse ao máximo estar por perto depois que mamãe morreu, Drake resolveu cuidar de mim quando papai não podia. Ele fez um bom trabalho, eu acho, mas a única coisa que ele não conseguia impedir eram os pesadelos e a culpa diabólica que vinha com eles.

Noite após noite.

“Fuso horário é uma puta do caralho.” Ele estende a mão e pega o maço de cigarros da minha mão e retira um.

“Você está de volta há dois dias”, digo. “Deve ser a velhice chegando. Ouvi dizer que demora mais para superar essas coisas quando...”

Antes que possa atacar e aproveitar o momento, ele joga o pacote de cigarros de volta. Eu o pego, meu café derramando e queimando minha mão. Eu me encolho e franzo os lábios para evitar soltar uma infinidade de palavrões contra meu irmão mais velho. “Você é uma puta”, consigo resumir para apenas um. Em resposta, ele acende o cigarro e sorri. “Você precisa transar ou algo assim.”

“Só dando um tempo, irmãozinho.” Ele sorri antes de tragar profundamente. “Eu ouvi que Lauren está de volta.”

Reviro meus ombros. Lauren é filha de um dos membros mais velhos do clube, agora aposentado. Nós crescemos juntos, e ela é uma das poucas pessoas que acho que chamaria de amiga. Ela suporta minha necessidade de ser um babaca para poder esconder a dor. Ela não se importava de não ser uma das crianças populares na escola, embora pudesse ter sido uma líder de torcida e estar na lista de honra.

Em vez disso, ela escolheu ficar junto com as crianças do clube.

Os esquisitos e os excluídos.

As crianças que as outras crianças sussurravam por trás das mãos e tinham muito medo de fazer contato no caso de as fazermos explodir em chamas ou essa besteira.

Ao contrário de nós, Lauren sempre falou sobre faculdade. Ela queria trabalhar com animais e adorava aprender como poderiam ser usados para ajudar as pessoas. Ela desapareceu por alguns anos para conseguir seu diploma universitário, voltando apenas algumas vezes por ano para grandes eventos e feriados, e algumas semanas atrás, finalmente se formou e voltou para casa de vez.

Por um minuto, pensei que ela fosse a mesma pessoa que partira. Doce, energética, descontraída. Esperava sair com a amiga com quem conversava sobre meus pesadelos. A garota que confiei sobre quantas vezes eles me assombraram. A garota que me apoiava numa briga, não importando quem estava do outro lado.

Mas as coisas são diferentes.

Ela está diferente.

“Ela está”, respondo a Drake simplesmente. Ele ergue a sobrancelha, esperando por mais, não prestes a me deixar escapar. “Não é a mesma garota que foi embora. Eu não conheço essa Lauren.”

“Hmm... pensei que as coisas entre vocês dois estavam boas quando ela veio para o Natal?”

Eu concordo. “Estavam, eu acho. Ela continuou fazendo comentários sobre como estaria em casa em breve... dicas.”

Posso ver o momento em que ele entende.

“Ela está pensando se agora que está de volta, vocês ficarão juntos.”

Meu corpo inteiro encolhe, e rapidamente dou uma tragada na nicotina, segurando-a em meus pulmões o maior tempo possível antes de soltar.

As coisas nunca foram assim entre nós – pelo menos, não para mim. Outros costumavam comentar o tempo todo sobre como éramos um ótimo casal – eu por estar na fila para assumir um dia e ela por ser filha de um membro do clube. Eu ri tantas vezes que eles simplesmente pararam de falar. Nunca houve sequer algum indicio de romance ou sexo, e ela sabe exatamente como me sinto sobre o assunto, ela sabe que nunca foi algo que busquei.

Não só com ela.

Com ninguém.

“No segundo em que ela voltou, as coisas deram errado”, explico, balançando a cabeça. “E depressa pra caralho. Ela está agindo como uma completa puta e não do tipo que eu gosto.”

Se ela fosse outra pessoa, eu teria dito para dar o fora, amiga de infância ou não. Mas como ela é filha de Pound, o único lugar que isso me levaria é para a porra do ringue com ele e provavelmente com o nariz quebrado.

“Você precisa ser sincero com ela”, diz Drake, um olhar escuro aparecendo em seu rosto. Pensei que ele acharia essa merda divertida, mas em vez disso, ele parece preocupado. “Você precisa garantir que ela saiba qual a sua posição.”

“Bom, você já voltou”, diz a voz grave do meu pai enquanto sai do clube em direção a nós, ainda usando seu colete.

Com isso, a conversa termina, mas ainda gira no fundo da minha mente. Sei que meu pai tem problemas para dormir também, mas seus problemas são por razões diferentes das minhas.

Huntsman passou anos na Forças Especiais da Marinha antes de voltar e ocupar seu lugar no MC.

Foi o motivo do seu nome no clube.

Papai era o homem que enviavam para encontrar pessoas que não queriam ser encontradas. E ele era muito bom em seu trabalho.

“Você precisa de mim?” Pergunto, recostando-me contra o prédio tentando decidir o que mais preciso, minha cafeína ou a nicotina.

“Estava te esperando entrar”, papai responde fazendo-me levantar as sobrancelhas, pedindo-lhe para continuar. “Reúna os meninos, quero as bundas de todos na igreja em trinta minutos.”

“São quatro da manhã”, observa Drake, olhando para o pai como se o velho finalmente tivesse enlouquecido.

Ele olha de volta para Drake, seus lábios pressionados numa linha dura, e o permanente vinco entre os olhos. “Este é o meu rosto carinhoso, não pode ver?” Então ele vira-se e vai embora, dizendo por cima do ombro, “Acorde os fodidos e vá para a igreja.”

“Ele ficou senil”, resmungo baixinho para meu irmão, pensando que fui discreto, mas percebendo que não, quando papai para e olha de volta para nós.

“Você quer ser espertinho? Não é velho demais para eu tirar meu cinto e bater no seu traseiro com ele”, resmunga, batendo na fivela do cinto antes de sair novamente, em direção à cozinha.

Drake joga o cigarro no concreto, a ponta ainda brilhando na escuridão antes de sorrir e me dar um tapinha no ombro enquanto volta para dentro.

Papai me deu mais responsabilidades ultimamente. Ele está me preparando, deixando-me entrar e assumir algumas responsabilidades e mostrar ao resto do clube do que sou feito. Já tenho o respeito dos homens, e não tenho medo de dar a esses filhos da puta um chute na bunda quando precisam. Mas ao dizer isso, também existe duas coisas que não deve fazer se aprecia o jeito que seu rosto é...

Interromper um irmão quando ele está a 15 centímetros de profundidade dentro de uma buceta apertada.

E acordar um irmão às 5 da manhã, quando deveriam ter um dia de folga.

E estou prestes a fazer pelo menos uma dessas.

Incrível, porra.

 


A sala onde realizamos a igreja é algo para ser admirado. Ela contém muita história, e apenas dando um passo para dentro, você é plenamente consciente do que é e como nossa irmandade é importante.

Os oito coletes do clube que estão pendurados orgulhosamente na parede atrás da cabeceira da mesa são um lembrete de como chegamos onde estamos hoje, e a estrada pela qual nossas famílias e irmãos passaram. Meu bisavô é um desses homens – os oito homens originais que fundaram o clube – ele era o vice-presidente, entretanto.

“Sentem-se, agora”, papai ordena enquanto cada membro arrasta as bundas pelas portas, entrando na sala, alguns acordados e prontos para ouvir o que está acontecendo, outros nem notando o fato de que não estão mais dormindo.

Cada um de nós se senta à mesa, todos os vinte e cinco. A sala está começando a ficar bem menor com os membros que adicionamos. Nós já colocamos uma extensão na mesa porque meu pai não acredita que nenhum membro não seja capaz de sentar e dar sua opinião ou voto. Somos uma irmandade e, quando votamos ou discutimos assuntos relacionados ao clube, a palavra de cada membro é tão forte quanto qualquer outro homem naquela sala.

Os Exiled Eight podem ter começado originalmente como um grupo de párias – ridicularizados porque suas crenças e valores não eram os mesmos que os outros – mas se recusaram a ficarem quietos e serem tratados como se fossem inferiores. De jeito nenhum. Não conseguimos nos tornar uma das gangues mais famosas de Nevada, sendo ingênuos.

Nós lutamos muito, trabalhamos juntos e mantemos nossa posição.

Este clube não é para homens à procura de uma carona grátis. Este clube é para homens que querem viver para si, para suas famílias e provar que são mais do que a porra da sociedade ou qualquer outra pessoa acredita que sejam.

Papai bate o martelo na mesa grande, o som de madeira batendo em madeira ecoa no vasto espaço, chamando toda a atenção diretamente para ele. A mesa ressoa abaixo das minhas mãos, a madeira envernizada e padronizada tão brilhante que posso ver meu reflexo nela.

Meu pai ganhou o nível de respeito que muitos homens buscam por toda a vida.

“Houve problemas no Empire na noite passada”, meu pai explica, forçando-me a sentar um pouco mais reto, meus ouvidos se animando. “Shake não me deu todos os detalhes, mas um babaca tentou alguma merda com Dakota, e ela apontou uma arma para ele.”

Meus dedos se contraem, eles querem pegar um cigarro, mas meu avô proibiu fumar dentro da igreja muitos anos atrás.

Droga.

Aperto meus punhos, tentando acalmar meus músculos que já estão tensos como se estivessem se preparando para uma luta. “Quem foi?”

Não perco o olhar que meu pai e meu irmão mais velho me dão, obviamente ouvindo um pouco mais do que curiosidade em meu tom. Mas a última coisa que preciso agora é ter outra discussão com qualquer um deles sobre como Dakota e eu não somos e não seremos nada.

Fico em silêncio, grato quando ele continua, “Esse é o problema”, meu pai fala, passando a mão sobre a barba, pensativo. “Shake disse que eles pegaram os detalhes da carteira de motorista que ele que usou para a reserva VIP. Então, procuraram-no depois do incidente, e parece que a informação e a identificação eram falsas. Shake disse ao babaca que eu estaria lá esta noite, então estarei lá.”

Já posso ver os rostos na sala começando a se iluminarem com o som sinistro da voz do meu pai, um que diz a cada filho da puta dentro de um raio de 160 quilômetros para agarrar suas bolas porque há uma grande chance de serem cortadas se não o fizerem.

O que aquele idiota fez não é simplesmente um passo além da linha, ou o suficiente para irritar o clube – não, isso é desrespeitoso. E o desrespeito ao clube vem com fortes repercussões. Mas primeiro, precisamos descobrir quem é o idiota, e mesmo que meu pai representasse a mesa, sei que ele nunca teria anunciado essa reunião para que o clube soubesse o que está acontecendo se ele achasse que seria facilmente resolvido. Não, ele espera algo mais.

“Eu vou”, anuncia Drake, inclinando-se em sua cadeira e assentindo pensativamente. “Finalmente tive notícias do dono do prédio que procurava. Será uma boa chance para todos vermos se é um avanço.”

O MC Brothers by Blood e nosso MC são sócios na maior boate em Phoenix. Funciona bem para nós dois, já que o último cara que administrava estava negociando pela porta dos fundos. O clube ganha dinheiro, não precisamos nos preocupar em viajar constantemente para lá e manter um olho. E, como continua crescendo e trazendo imensas quantias de dinheiro, decidimos que seria um excelente momento para abrir um segundo clube em outra parte da cidade.

“Parece bom”, meu pai concorda com um aceno de cabeça. “Estejam prontos para saírem ao nascer do sol. Reúnam algumas das garotas, vamos aproveitar o fim de semana. Apenas certifique-se de que estão prontos para partirem quando eu estiver, porque não vou esperar.”


CAPÍTULO 6

DAKOTA

Tento evitar olhá-lo a qualquer custo. Ele está ocupando a mesa no canto da área VIP, que esta noite está cheia de membros dos clubes Brothers by Blood e Exiled Eight. Ele não está sozinho, enquanto seus outros irmãos se misturavam por aí, uma jovem morena está sentada ao seu lado, falando muito rapidamente enquanto luta para manter sua atenção.

Seus olhos desviam aleatoriamente, no entanto.

Ele não está ouvindo e quase sinto pena da garota.

Rip é um idiota na melhor das hipóteses, mas ela parece uma menina doce com corações em seus olhos.

“Quem é a garota sentada com Rip?” Pergunto, sentando ao lado de Meyah enquanto ela mistura uma bebida para Drake. Eu a vejo adicionar duas doses a mais dos nossos bourbons mais caros e não posso deixar de olhar para o irmão mais velho de Meyah e sorrir. “Acha que pode entrar aqui e beber toda a boa bebida de graça, hein?”

Todo mundo sabe que os sócios do clube não pagam por nada. Eles não precisam. Empire é basicamente uma peça icônica de Phoenix. Estamos abertos todas as noites e recebemos dinheiro suficiente para sustentar o consumo de álcool deles.

Drake pega a bebida de Meyah e toma um gole – nem mesmo vacilando, mesmo sabendo o quão forte é essa merda. Ele me dá um sorriso brilhante ao invés disso. “Eu ia deixar uma gorjeta.” Deus, ele é bonito como o inferno. Hoje à noite, ele usa uma camiseta e seu colete, seus braços cheios de tatuagens coloridas estão em exibição orgulhosa. Elas fazem com que ele pareça em todas as partes o motoqueiro valentão, que não dá a mínima que ele é, mas honestamente, esse homem pode usar um terno completo e uma gravata e parecer muito sexy.

Quando ele está no trabalho, ele é todo negócios, com Armani e Prada. Quando está com o Exiled, ele é todo couro e jeans. Ele domina os dois visuais com fodida perfeição.

“Uma de vocês precisa ir salvar Rip,” Drake ordena antes de se virar.

Faço uma careta. “Do que está falando?”

Ele sorri por cima do ombro e seus olhos se iluminam. “Essa é minha gorjeta!”

Meyah ri enquanto limpa seu local de trabalho, balançando a cabeça. “A garota é Lauren. Ela é filha de um membro do clube. Ela e Ripley cresceram juntos, são da mesma idade. Pelo que Drake sugeriu, ela tem uma paixonite, e tem conversas do seu pai sobre ela ser a Old Lady de Ripley.”

Levanto minha sobrancelha. “E por que diabos qualquer pessoa sensata quereria dar este pesadelo horrível para a filha?” Ela franze a testa em confusão. “Estou falando de ser a Old Lady de Ripley. Desde quando você não entende minhas piadas?”

Ela para o que está fazendo e vira para se inclinar contra o bar, jogando em mim seu olhar ‘eu te amo, mas por favor, seja legal com meu arrogante irmão bastardo’. Recuso-me a fazer promessas. “Então, voltamos ao dia em que altos membros do MC... presidentes e vice-presidentes e às vezes outros oficiais... deveriam se casar dentro do clube. Então basicamente, a filha de outro membro. Coisas relacionadas com linhagem sanguínea e besteiras. Eu realmente não conheço todos os detalhes.” Ela franze o nariz, as mãos apertando o pano em suas mãos. Posso dizer que há algo que ela realmente não gosta sobre a situação também.

Quem diria que os motociclistas têm merdas como casamentos arranjados?

Olho para Rip e Lauren com curiosidade. A mandíbula de Rip está cerrada, posso dizer que ele não a quer lá, mas é quando ele força um sorriso e um aceno de cabeça, fazendo-a sorrir de volta, que começo a ficar desconfiada. “Por que Rip não diz para ela se afastar? Vamos admitir, você não pode forçar o Rip a fazer nada.”

Eu tentei.

“Respeito principalmente”, explica Meyah, seu corpo cedendo ligeiramente. “Essas chamadas regras não escritas foram uma das razões pelas quais Huntsman e a mãe dos meninos, Josie, nunca deram certo. Ela foi forçada a essa relação que nunca desejou por causa do seu pai. Meu pai não reforça mais essa merda, não depois do que fez com sua esposa. Mas ainda tem que haver um nível de respeito entre membros mais jovens e membros mais velhos, e entre as crianças do clube. Se ele disser para ela se afastar, pode estar dando um tapa no rosto de seu pai.”

O mundo deles é deles.

O MC vive de acordo com suas próprias regras, e embora possam ser completamente assustadores como o inferno e um pouco rudes, não acho que encontrará pessoas mais leais ou respeitáveis quando se trata de sua família.

“É melhor eu ir-”

“Ei Meyah”, Scarlett, uma das outras garçonetes, desliza pelo bar com um sorriso amigável. “Shake quer te ver por um minuto lá embaixo em seu escritório. Eu te cubro.”

Meyah olha Ripley, posso ver que ela está relutante. O que não espero é que os olhos dela venham para mim e ela faça beicinho, como um cachorrinho abandonado.

“Uh uh, de jeito nenhum.” Balanço a cabeça furiosamente, mas seu rosto implora ainda mais.

“Por favor, Dakota.”

Ela sabe que Rip e eu não tivemos um bom começo. Na verdade, esse é provavelmente o eufemismo do século. Sempre que estamos em Vegas, há uma tempestade que nos cerca, e nós dois gostamos de ridicularizar isso como se um dia não fosse entrar em combustão espontânea e nos destruir.

Acaba que nenhum de nós se importa.

A atração é forte demais.

Eu gemo alto, então ela sabe o quão doloroso será. “Pode ir”, digo a ela a contragosto enquanto corro para pegar um monte de garrafas de álcool diferentes e fazer misturas. Eu as coloco numa bandeja e equilibro na palma da minha mão. “Vou aceitar a missão de resgate.”

“Você tem certeza?”

É tarde demais, já estou saindo do outro lado do bar e caminhando em direção à mesa silenciosa escondida na parte de trás da seção VIP num canto com pouca iluminação. Muitas vezes, é onde casais se escondem, ou onde Huntsman conduz qualquer tipo de negócio que tem enquanto está na cidade. Sei que não há câmeras apontadas diretamente para o local. É semiescondido ou protegido, você escolhe.

Ripley não me vê chegando, mas posso ver o momento, nos olhos de Lauren, em que ela percebe que o pouco tempo que tiveram sozinhos está prestes a acabar. E definitivamente não é a aparência de princesinha perfeita que a vi ter durante a última hora.

Ela está prestes a ficar puta.

E sabe, ela pode ser a filha de um membro do clube, mas eu não faço parte do clube, então realmente não dou a mínima.

Ripley e eu não somos exatamente amigos.

Nós temos um relacionamento de amor e ódio.

Ele odeia que a primeira vez que nos encontramos, eu o interrompi se masturbando no chuveiro.

E eu adoro lembrá-lo disso.

De qualquer forma, porém, ele é irmão de Meyah e é importante para ela. Então, acho que isso o torna importante para mim por padrão.

Pelo menos, é o que digo a mim mesma para tentar justificar o que estou prestes a fazer.

“Ei, bonitão! Estou tão feliz por você estar aqui!” Jogo a bandeja de bebidas na mesa e inclino meu quadril. Ripley se vira e me olha, o canto de sua boca curva-se enquanto Lauren continua a me estudar como se não conseguisse descobrir se sou uma ameaça ou apenas uma garçonete rude.

Talvez eu seja as duas.

“Nós precisamos conversar sobre aquelas receitas secretas de coquetel que quer que eu faça. Tenho algumas que realmente gostaria que experimentasse, mas...” deixo as palavras pairarem no ar, meus olhos seguindo rapidamente para a morena e de volta dramaticamente, “...Eu prefiro não fazer na frente de outra pessoa. Elas são muito importantes para mim.”

A contração no canto de sua boca fica maior quanto mais tagarelo. Seu corpo está menos tenso, e ele se recosta no assento de couro, cruzando os braços sobre o peito. Essa é a parte em que ele entra no jogo ou me deixa passar vergonha antes que ele me diga para ir me foder, então ele pode passar um tempo com essa mulher, e Drake, Meyah e eu entendemos tudo errado.

“Desculpe, Lauren”, ele finalmente diz, sem nem mesmo se importar em tirar os olhos de mim e movê-los para ela enquanto fala, “Eu prometi a Dakota que aprovaria algumas de suas bebidas para serem adicionadas ao cardápio.”

Tento manter meu rosto inexpressivo e não parecer aliviada ou presunçosa, mas essa garota sabe que algo mais está acontecendo. E quando Ripley a dispensa casualmente, posso ver um pequeno lampejo de dor em seus olhos antes que ele fique escuro e focado em mim.

“Tudo bem, você tem trabalho a fazer. Vou descer e ver se alguma das outras garotas querem dançar.” Seu tom é relutante, mas se ela está tentando conseguir algum tipo de resposta de Ripley, está latindo na porra da árvore errada. Ela sai da mesa, arrumando seu vestido vermelho justo, que quero desesperadamente perguntar onde comprou, antes de ficar ao meu lado. Seus seios de tamanho impressionante roçam contra meu braço, fazendo-me sentir um pouco desajeitada e estranhamente agitada. Ali, ela para por um segundo e baixa a voz para um sussurro, “Posso te fazer ser demitida daqui num segundo.”

Ripley franze a testa enquanto observa.

“Eu gostaria de te ver tentar, princesa”, sussurro em resposta, continuando a sorrir quando desvio e ocupo seu assento na mesa. Lauren, obviamente, não tem ideia de com quem está falando.

Ela nem sequer se preocupa em olhar por cima do ombro, simplesmente soltando um suspiro irritado antes de se afastar.

“O que ela disse?” Rip exige, inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos na mesa.

Balanço a cabeça e pego a bandeja de álcool, começando a abrir cada uma e preparando o misturador. Posso muito bem tornar isso genuíno. “Nada. Está tudo bem. Você parecia estar em apuros, então fui enviada para te resgatar.”

Ele zomba e recosta-se novamente em seu assento, obviamente perdendo um pouco da tensão em seu corpo. “Estou surpreso que não tenha trazido sua arma desta vez e ameaçado fazer buracos em seus peitos falsos.”

Ofego dramaticamente e me inclino para frente. “Eles são falsos?”

“Você não conseguiu notar quando ela os esfregou em você?”

Reviro os olhos e pego uma garrafa de álcool, servindo uma quantidade generosa casualmente no mixer, antes de pegar outra. “Então, ouviu falar da noite passada, hein?”

“É a razão pela qual estamos aqui.”

Bem, essa é uma nova informação. Eu pensei que Ham disse que Huntsman estivesse planejando vir aqui hoje, mas ele devia estar blefando e ligou depois do incidente.

“Ouvi dizer que se saiu muito bem”, ele acrescenta.

Não foi muito. Apenas algumas palavras. Mas o comentário soou honesto e quase cortês. Paro o que estou fazendo por um momento, olhando para cima e encontro-o me encarando. Seu rosto completamente sério e os olhos castanhos levemente fechados e aparentemente cheios de sinceridade e instantaneamente fazendo meu corpo corar.

Pressiono os lábios rapidamente antes de sorrir, tentando esconder o modo como meus mamilos instantaneamente endurecem, e minha buceta aperta com força. “Obrigada. Desculpe-me por ter arrastado vocês para cá, no entanto.” Isso também foi honesto. Tenho muito respeito por Huntsman, e acho que no final, tenho por Ripley também. Vi o quanto eles estão dispostos a proteger as pessoas que amam, e honestamente, não posso dizer que todos estão dispostos a fazer o mesmo.

“Você sabe que ninguém pode arrastar o rabo teimoso do meu pai para qualquer lugar”, Ripley diz. “Ele vai resolver essa merda.”

Eu franzo o nariz. “Foi uma situação estranha. Num momento ele estava bêbado e agindo como um tolo, no momento seguinte ficou completamente sóbrio e me olhando como se eu não tivesse uma arma em minhas mãos, ele teria... bem, eu não sei.”

Ripley senta um pouco mais reto, empurrando os ombros para trás. “Parece que ele estava aqui por um motivo. Você tem sorte de que Shake passou por toda a segurança e precauções com suas garotas. Isso vale a pena, e você ficou segura.”

Tento não deixar o elogio crescer dentro de mim, mas talvez eu deva. Porque toda vez que ele me olha, estou de repente muito consciente de quão impressionantes seus olhos parecem e quão acentuados são seus traços. Sem mencionar, parece que a largura de seus ombros expandiu dramaticamente desde a última vez que o vi, alguns meses atrás. Ripley está se tornando mais como um homem todos os dias, e estou achando muito difícil não notar.

“Huh.” Sorrio, tentando brincar com o jeito que meu corpo está reagindo e parecer um pouco normal. “Bem, quem diria, podemos ter uma conversa normal.”

Ripley coça a mandíbula, a barba que a cobre o faz parecer mais velho do que é e um pouco mais perigoso. “Sim, tão casual quanto posso enquanto você está sentada aí esfregando as pernas e tentando fingir que todo o seu corpo não está pegando fogo.”

Um arrepio sobe por minha espinha, e luto para controlá-lo – esperando que ele não note – mas estou me enganando seriamente, se achei estar mantendo a calma antes, e ele notou cada movimento do caralho.

Eu limpo a garganta. “E aí está você de novo, o idiota retorna.”

Meu rosto está queimando, posso sentir. Não costumo ser assim, precisa de alguma habilidade para qualquer cara me fazer corar. Sou um pouco franca e meio louca. Não fico envergonhada facilmente.

Excitada? Sim.

Envergonhada? Não.

E Ripley faz tudo isso e basicamente acende fogos de artifício dentro de mim, apenas me encarando do outro lado da mesa. E ainda assim, não consigo afastar os olhos dele.

“Dakota...” ele grunhe baixinho, continuando a olhar diretamente através de mim, seus olhos se tornando mais escuros e mais perigosos. Engulo o nó na garganta e agarro o mixer. Não tenho ideia do que coloquei nele, mas começo a agitá-lo de qualquer maneira. “Porra, não me olhe assim!”

Eu pisco e balanço a cabeça, forçando um sorriso. “Como o que...”

“Como se caso eu estendesse a mão e te tocasse agora, você fosse gozar nesse assento de couro.”

Fico surpresa e de repente meu corpo inteiro parece ter sido mergulhado em querosene e incendiado. Ele provavelmente nem precisa me tocar, apenas suas palavras quase me fazem chegar lá.

“Vá para o inferno, Rip”, consigo responder, recusando-me a deixá-lo levar a melhor.

Foda-se ele.

Ele não tem permissão para fazer isso.

Este é o tipo de merda que devemos evitar.

Rapidamente despejo a mistura tóxica da coqueteleira num copo e deslizo sobre a mesa para ele. Ele a pega antes de escorregar pela beirada. “Tenho coisas para fazer. Você está salvo. De nada. Faremos isso de novo algum dia.” Reúno tudo rapidamente.

“Dakota—”

“Ou não.” Deslizo para longe antes que ele possa dizer qualquer outra coisa, mas seus olhos me seguem. Coincidentemente, assim que a Meyah sobe a escada vindo pelo caminho mais curto até nós. Sorrio, mas escapo antes que ela chegue à mesa, voltando para o bar antes de ouvir meu nome.

“Dakota!”

Congelo, uma parte querendo apenas dar o fora de lá, a outra parte gostando de como meu nome soa vindo de seus lábios, e a outra mentalmente me dá um soco na garganta por ser tão estúpida.

Olho por cima do ombro enquanto Meyah se aproxima dele.

“O gosto é bom.” Ele ergue a bebida na mão como se quisesse brindar.

Gargalho alto antes de responder por cima do meu ombro, “Veneno sempre tem!”


CAPÍTULO 7

RIPLEY

Sento num dos velhos bancos no bar. Pelo menos, o que costumava ser um bar. Está um pouco úmido e empoeirado, e pelo que posso dizer, eles provavelmente só servem vinho – talvez uma cerveja, mas aposto que era uma porra chique.

Drake e seu arquiteto estão falando de coisas técnicas e apontando as diferentes partes do lugar, concordando com a cabeça em algumas coisas, sacudindo-a para outras.

O vestíbulo desse antigo teatro é grandioso e, pelo que pude perceber da breve discussão que tive com meu irmão, Shake e seus homens sobre o assunto antes de virmos até aqui, ele quer manter grande parte exatamente do jeito que era e apenas seguir o tema.

O lugar fechou permanentemente há cerca de três anos. É enorme e fica numa grande parte da cidade onde a vida noturna é viva e pulsa, o que torna a oportunidade perfeita para alguém entrar e transformá-lo em algo incrível.

E há muitas pessoas querendo fazer exatamente isso, e todos tem o mesmo problema – o prédio é protegido pelo Escritório de Preservação Histórica de Phoenix. O que significa que nenhum desses idiotas pode derrubá-lo e colocar no lugar o arranha-céu de vários andares que planejam.

A única maneira de alguém colocar as mãos nesse bebê é se forem restaurá-lo. E é aí que a merda fica séria. Mas também é onde temos uma vantagem. É algo que fizemos antes, algo que temos habilidades e algo que somos muito bons.

“Acha que pode fazê-lo?” Drake pergunta quando senta ao meu lado, papai se juntando a nós.

Eu já dei uma boa olhada ao redor, examinei as luminárias e as muitas, muitas peças diferentes de madeira decorativa que deram a esse lugar sua identidade. “Pelo menos metade está em boa condição e não precisaria ser tocada além de um pouco de verniz. O resto é complicado, mas possível, dependendo da rapidez com que quer isso pronto.”

“O mais rápido possível”, confessa papai, seus olhos ainda examinando o vasto espaço. “Se vamos fazer isso, faremos agora, e teremos tudo pronto perto do ano novo.”

Estamos em agosto, então ele nos dá pouco mais de quatro meses.

“Será apertado”, diz Drake, expressando minhas preocupações. “Nós não vamos conseguir terminar com o hotel por mais três semanas.”

Bato meus dedos sobre o balcão. “Isso é o que será necessário para que possamos realizar as negociações, permissões e consentimentos de qualquer maneira”, interrompo, começando a ver como isso pode realmente acontecer, mesmo que seja difícil.

Papai concorda. Ele não fala muito, mas posso dizer que está feliz.

Ele tende a ficar longe dos negócios de construção. Ele nos disse que não quer manchar seu nome, mas nem Drake nem eu ficaríamos mais orgulhosos de tê-lo como membro da nossa equipe. Huntsman é um homem difícil de se aproximar. Ele se mantém fechado de muitas pessoas e gosta de viver nas sombras.

O clube em si ainda não é totalmente honesto, e ele opta por manter esse lado dos negócios. Sei que seu passado pesa. Ele não apenas ganhou a vida caçando pessoas com o objetivo de acabar com suas vidas – como se fossem apenas animais – mas como Drake e eu, ele carrega o peso da morte de mamãe em seus ombros.

Ele se sente responsável.

Ele se sente fraco.

Mas ele nunca demonstra.

Tanto quanto qualquer um sabe, Huntsman é implacável, notório e não dá a mínima.

Jamais.

“Vou fazer a oferta”, diz Drake finalmente. “Este lugar valerá o estresse que vai causar.”

Tudo, desde os padrões no teto até o corrimão na escada, as aberturas que levam de um espaço para outro e até as paredes, tudo tem detalhes.

O edifício é magnífico. É extravagante pra caralho. É exatamente o que precisamos para fazer uma declaração.

Drake tem uma visão clara de como podemos usar esse lugar em nossa vantagem. Ele quer utilizar o saguão como um bar mais sossegado e de classe alta. E no teatro arrancar os assentos e criar uma pista de dança, mantendo o palco para DJs, bandas e dançarinas. O mezanino no andar de cima será uma área VIP, envidraçada para dar mais privacidade. As varandas que eram usadas pelos frequentadores mais ricos, como a porra da rainha, também vamos manter, e usa-las como salas para festas e convidados VIP que queiram aproveitar a boate, mas não precisam se misturar com os plebeus.

É perfeito.

E se pudermos fazer tudo e cumprir as diretrizes do Escritório de Preservação Histórica de Phoenix, esse lugar pode se tornar um ícone.

As portas da frente do prédio abrem, deixando entrar mais luz que ilumina toda a poeira e porcarias flutuando no ar.

“Este lugar é lindo”, Meyah diz com espanto quando entra, com os olhos arregalados enquanto luta para absorver tudo.

“Porra”, Dakota ecoa, sua reação muito menos elegante.

Não posso deixar de sorrir. A garota não é sutil ou elegante, mas honestamente, acho que é por isso que as pessoas gravitam em sua direção. Ela é honesta e real, não há um osso falso em seu corpo. Ela entra pela porta atrás de Meyah, com os olhos arregalados enquanto se maravilha com o espaço. “Sinto como se tivesse voltado para a década de 1920.”

As meninas circulam pelo espaço enquanto Shake anda direto em nossa direção, com um olhar severo no rosto. Ele para bruscamente, seus olhos se movendo para verificar onde as garotas estão antes de falar, “Precisamos conversar.”

Meyah e Dakota já despareceram na parte do teatro do prédio.

“Bem, é melhor falar rápido”, Huntsman ordena, a contração em sua mandíbula deixando-me saber que ele está se preparando para o pior.

“Nosso amigo, Caleb, do bar”, Shake começa respirando fundo antes de continuar, “Ele é um policial do caralho.”

Meu corpo começa a aquecer instantaneamente. “Como diabos você não sabia disso?”

Shake rola seus ombros. “Porque primeiro, ele usou uma identidade falsa para fazer a reserva e em segundo, ele não é apenas um policial normal. Ele faz parte de uma força-tarefa de combate a gangues que está de olho na nossa maldita cidade... ou talvez apenas em nós. Meu cara na polícia disse que ninguém sabia que ele estava vindo ou que tinha negócios aqui.”

“Talvez ele não tenha”, papai responde rispidamente, cruzando os braços sobre o peito.

Vejo o momento em que se torna claro na cabeça de Shake, e ele gira o corpo, seu punho voando e atingindo a parede à sua esquerda. A força foi suficiente para sacudir um pouco de poeira e soltar o gesso, mas, mesmo com pequenos pedaços de detritos flutuando, ele apenas balança a cabeça. “A despedida de solteiro foi apenas uma maneira de sondar as coisas? Ou de começar alguma coisa?”

Drake solta uma respiração profunda. “Meu palpite é que foi planejado demais para ele não estar lá por um motivo. Dakota e Meyah disseram que achavam que ele estava completamente bêbado. Ele estava balbuciando. Ele tropeçava.”

“Então, no instante em que Dakota apontou a arma, ele desistiu de fingir”, continuo adicionando aos pensamentos de Drake, juntando as peças. “Ele estava com raiva por ter sido pego e não conseguiu escapar do radar.”

Papai assente. “Porque agora sabemos que ele está bisbilhotando.”

“Então, o que acha que ele procura?” Shake pergunta, parecendo ter se acalmado um pouco. Entendo porque ele está tão chateado. Os Brothers cuidam da Empire, então não temos nenhum problema, e assim as coisas correm bem. E ele deixou isso passar.

Não foi culpa dele, mas quando perde algo que deveria ser quase óbvio, é difícil não querer se dar um soco na cara por ser tão idiota.

No entanto a coisa é, Shake não é idiota.

Nenhum dos garotos do clube dele é.

Isso foi algo que aconteceu e algo que agora tentaremos consertar.

“Eu não sei do que ele está atrás.” Suspiro. “Mas o que eu sei é que precisamos realmente nos conformar e garantir que de agora em diante as nossas bundas fiquem completamente limpas. Precisamos ter certeza de que não exista nada para ele encontrar.”

Todos concordam com a cabeça, mas meu pai tem uma opinião diferente, “Eu não ataco se não precisar.” Papai diz, ficando mais alto e ereto. “Consiga o endereço do bastardo porque vamos pegar informação diretamente da fonte antes de começarmos a correr como galinhas com as cabeças cortadas. Nós não somos assim.”

Ele está certo.

Encontramos os fatos e descobrimos como usá-los em nossa vantagem.

Nós não somos fugitivos.

Somos lutadores.


CAPÍTULO 8

RIPLEY

Encosto-me na parede nas sombras de um quarto de hotel barato, cutucando o carpete surrado e gasto com minha bota. Olho Shake que está fazendo a mesma coisa, seu nariz franzido em desgosto. “Acha que eles poderiam comprar algo um pouco melhor”, ele zomba da cobertura ofensiva do chão.

Diddit suspira alto, sua bunda magra sentada no balcão tirando o cascalho de suas botas. “Sim, talvez eles devessem ter usado algum tipo de tema para torná-lo mais atraente.”

“Há um, é um filme chamado The Shining”, respondo, enrugando meu nariz.

“Não sei o que é, mas soa brilhante.”

“Você é um idiota”, brinca Strip, bagunçando o cabelo de Diddit enquanto ele caminha pela minúscula cozinha e entra na sala que é tão pequena quanto. Ele senta numa das poltronas de estilo anos 80 que parecem estar na casa da avó de alguém. “Seu menino está estacionando o carro.”

“Bom.” Papai acena com a cabeça quando sai do corredor. “Espero que ele tenha visto a fileira de motos na frente.”

A maioria das pessoas presume que estamos aqui para surpreender nosso novo amigo, mas simplesmente não trabalhamos desse jeito. Nós não nos escondemos ou nos esgueiramos. Se nós temos um problema, você vai ouvir sobre isso, e vai ouvir cara a cara.

“Acha que ele vai correr?” Strip pergunta, ajustando seu colete em torno dos ombros. Strip é o melhor amigo do meu pai e vice-presidente. Ele apoiou meu pai por um longo tempo, e quando meu pai renunciar, ele vai me apoiar também até que sua hora chegue. Ele se tornou um tio, todos os membros mais velhos são, na verdade. Eles nos viram crescer, tratam-nos como seus, ajudam quando precisamos de seu apoio e nos corrigem quando somos bastardos.

“É uma possibilidade, mas será um bom teste para ver o quão grande são suas bolas e o que estamos enfrentando”, observa papai, e aceno em acordo. Se ele correr, estamos apenas encarando um covarde com uma atitude ruim e complexo de deus.

Mas se ele entrar aqui... a porta abre... temos um filho da puta arrogante com um complexo de deus.

“Falando do Diabo”, Diddit murmura quando pula do balcão com um largo sorriso.

“Não esperava convidados”, comenta o garoto bonito quando chega ao final da pequena entrada que dá acesso à sala de estar e joga as chaves casualmente no balcão de onde o traseiro de Diddit acabou de sair. “Se soubesse que viriam, teria comprado um lanche.”

“Caleb Corrigan, suponho”, papai resmunga, dando um passo para a sala. Sua presença é inquestionavelmente assustadora. Ele se posiciona como se fosse indestrutível, e sempre me ensinou a fazer o mesmo. A vida é como um jogo de pôquer, mesmo se estiver em desvantagem, jogue para superar o adversário, e não há jeito de você sair, se entrar lá como se tivesse a melhor mão.

Às vezes, um simples blefe pode ganhar a porra do jogo.

Noto o jeito que os olhos de Caleb se movem ao redor da sala como se ele estivesse um pouco inseguro de onde deve se posicionar, mas uma coisa é certa, ele não recua. “O infame Huntsman, posso presumir”, diz ele, finalmente decidindo enfrentar o presidente de frente. “Posso pegar uma bebida para você?” Ele estende a mão, mas quando papai nem se incomoda em olhar e reconhecer o gesto, ele simplesmente a recolhe e a limpa na calça com um sorriso.

“Dispenso. Realmente gostaria de pensar com clareza para poder tentar entender por que um homem como você decidiu ir ao meu local de trabalho na noite passada e assediar uma de minhas garçonetes.” Nós não estamos para brincadeiras. “Nós geralmente não recebemos policiais, mas se quiser reservar uma reunião de Natal ou algo assim, tenho certeza de que Shake ficará feliz em ajudar.”

Shake suspira alto com a ideia, mas assente de qualquer maneira. “Sim. Certo. Conheço um lugar onde posso conseguir um grande pernil, ou podemos até fazer um porco assado no espeto.”

Nem sequer tento impedir o riso estrondoso que começa na minha barriga, a imagem fica ainda mais cômica quando o rosto de Caleb começa a ficar vermelho beterraba com raiva, suas orelhas praticamente fumegando.

Papai estende os braços. “Veja, estamos sempre felizes em trabalhar com você. Mas primeiro, precisa nos dizer o que diabos quer.” Seu tom muda de jovial e brincalhão para sério em menos de dois segundos.

Caleb leva um momento para responder. Ele continua puxando a bainha da camisa e rolando o pescoço como se estivesse lutando para se controlar. “Você quer o plano? Tudo bem, aqui está.”

Eu sorrio e balanço a cabeça. Sabia que haveria alguma coisa, ele está procurando fazer um acordo, e está tentando investigar o clube primeiro para ver se pode descobrir que tipo de negócios administramos e como pode usar isso em sua vantagem.

Papai cruza os braços sobre o peito e espera. “Faça isso rápido.”

“Fui arrastado para esta cidade para lidar com as gangues e toda essa besteira. É o que eu faço. É no que sou bom.” A máscara está começando a cair. O educado policial é deixado para trás, e ele começa a ficar arrogante. “Às vezes é simples... às vezes precisa ser um pouco mais difícil.”

Shake revira os olhos e entra na sala, mais perto de Huntsman. “Você está realmente nos dando o discurso ‘podemos fazer isso da maneira mais fácil ou da maneira mais difícil’? Porque não acho que percebeu com quem está lidando.”

Caleb vira a cabeça em direção a Shake. “Hamlet Matherson. Os pais foram mortos por um motorista bêbado quando tinha dezoito anos, os tribunais se recusaram a dar a custódia de seus irmãos mais novos. Romeo foi enviado para o orfanato, Ophelia para um abrigo... na verdade vários abrigos, antes que ela finalmente decidisse se arriscar nas ruas, em vez de aturar os cuidadores masculinos em casa, estuprando-a todas as noites.”

Eu me pergunto se devo intervir. Os punhos de Shake estão fechados com força, e esse é um cara que não perde a paciência com frequência. Shake é jovem, mas ele não é imaturo. Ele é esperto, tático e nunca se descontrola numa situação tensa.

Agora, no entanto, estou imaginando se em vários minutos teremos uma nova tática. Como tirar um cadáver daqui sem ser detectado.

“Então, você sabe um pouco sobre mim, sobre minha família”, Shake consegue finalmente dizer, seus músculos parecendo um pouco menos restritos. “Gostaria de uma salva de palmas?”

Sorrio abertamente. Ele reencontrou seu controle.

Caleb encolhe os ombros como se não fosse grande coisa, mas seus lábios estão apertados com tanta força que a pele ao redor deles está branca. Ele está lutando para manter a calma, lutando para fazer parecer que é um homem que vale a pena fazer um acordo.

Não que viemos aqui para fazer um em primeiro lugar.

Escolhemos com quem negociamos na polícia, e geralmente são caras que provaram ser confiáveis ou caras que podemos usar e manipular quando a necessidade surgir.

Se ele acha que simplesmente vai aparecer lançando ameaças e se vangloriando e vamos recuar e fugir, o idiota obviamente tem um sério distúrbio mental que muda a realidade.

“Você disse que eu não sabia com quem estava lidando, mas garanto a você que conheço todos os membros dos dois clubes. Conheço suas Old Ladies. Conheço os pais delas. Seus primos. Seus médicos. Seus barbeiros. O bastardo da loja da esquina que vende leite para vocês...” O tom dele é duro e seco. Esse é o problema de dar um tapa no rosto de um cara como Caleb Corrigan, ele leva para o lado pessoal, e parece preparado para golpear porque seu ego é grande demais para permitir que alguém o faça parecer um idiota.

“Bom discurso, mas sou um homem ocupado... como provavelmente sabe,” Huntsman brinca, pouco antes de revirar os olhos. “O que quer?”

Caleb parece um pilar de confiança enquanto levanta o queixo e fica mais alto, mas posso garantir que possivelmente ele sujou a cueca. Especialmente se ele for tão meticuloso quanto disse que é e ainda está de pé frente a frente com meu pai.

“É meu trabalho limpar a sujeira e a escória das cidades. Fazer as pessoas se sentirem seguras.”

“Então, você é o papel higiênico que vem e limpa o cocô na bunda”, comenta Strip casualmente, falando pela primeira vez.

Caleb nem sequer o reconhece, seus olhos permanecendo firmes em meu pai e Shake, que está bem na frente dele. Apesar de tecnicamente os Brothers by Blood serem o único MC que realmente possui território aqui, The Exiled estão aqui frequentemente por causa da nossa propriedade no Empire e a nova casa noturna que vamos construir. Acho que isso nos une.

Tecnicamente, todos estaremos ligados como família em breve quando Meyah começar a ter pequenos bebês mestiços.

“Vocês, garotos, mantenham seus narizes limpos e evitem problemas e façam o que eu disser, e podem ficar na cidade. Eu direi a todos como é seguro, como não precisam se preocupar com vocês e seguirei em frente.” Oh Deus, ele faz um bom jogo, mas está prestes a mostrar o quão idiota realmente é.

Shake começa a rir.

Não posso deixar de me juntar a ele, é contagiante.

Diddit não está muito atrás de nós.

Papai ergue a mão para nos acalmar, mas acho muito difícil. “E a outra opção?”

“A outra opção? Aquela em que elimino completamente cada vestígio de um MC ou qualquer coisa que se pareça com isso dentro de Phoenix? Essa opção? Porque a maioria das pessoas não a aceita.”

Papai não recua, no entanto. “Não. Quero dizer a opção onde atiro em você agora. Então te carrego pelo saguão como se estivesse um pouco bêbado pelas margaritas que tomou, porque suponho que é um idiota certinho que gosta disso, e te jogamos na parte de trás da minha caminhonete e o levamos para o deserto onde te deixaremos sangrar enquanto os abutres circulam acima.”

Caleb parece estar prestes a chorar, ou prestes a puxar sua arma e tentar atirar em todos nós. Ele está com raiva, mas papai não para.

Ele pegará esse imbecil por tudo.

Ele pode ter feito sua lição de casa e sabe o tipo de pessoas que somos no papel, mas não tem ideia de quem somos de verdade, ou até onde vamos quando algum filho da puta vem até nós com ameaças.

“Ou a opção de sair daqui e não quebro sua mandíbula agora mesmo por ousar abrir a boca e soltar essa porcaria.”

“Não deixe seu ego ficar no caminho de fazer um acordo, Huntsman”, Caleb avisa com os dentes cerrados. A veia em sua têmpora está saliente e seu corpo está tenso e pronto para uma luta.

Afasto-me da parede, aproximando-me no caso dele realmente ser tão estúpido quanto imagino.

“Eu destruí homens como você por menos e suas famílias apenas por um bônus adicional. Se não aceitar, recomendo que fique atento.”

“Então eles não eram como eu, porque você não quer saber o que vai acontecer se vier atrás das pessoas que me importam”, responde papai, apontando para a porta e indicando que é hora de ir.

“A mesma coisa que sempre acontece”, Caleb diz atrás de nós enquanto caminhamos em direção à porta. “Boas vitórias, más perdas.”

“Veremos.”


CAPÍTULO 9

DAKOTA

“Vamos, baixinha, estou faminto”, brinca meu irmão enquanto me guia para dentro do restaurante e se aproxima da garçonete que espera com os cardápios. Austin levanta três dedos fazendo-me franzir a testa, mas antes que possa dizer qualquer coisa ou questioná-lo, estamos seguindo-a através do labirinto de mesas para o lado oposto do salão.

Olhos nos observam, mas nós dois ignoramos a maneira como as pessoas olham. Todo mundo sabe que um uniforme da polícia chama a atenção. Você se acostuma com isso. Especialmente quando seu pai é o chefe da polícia, você é pequena e seu irmão seguiu os passos dele no momento em que saiu do ensino médio.

“Você não é legal só porque você usa a palavra faminto, Austin”, zombo quando finalmente paramos numa mesa quadrada, e sento na cadeira perto da parede. Há oito anos entre meu irmão e eu, e gosto de lembrá-lo desse fato com a maior frequência possível. O que acontece tão frequentemente quanto ele gosta de me lembrar quão baixa sou.

Nosso relacionamento basicamente gira em torno de quem pode conseguir doses mais baratas. Sempre foi assim, mas nunca tirou o amor que sentimos um pelo outro. Posso provocá-lo e atormentá-lo por muito tempo, mas Deus ajude qualquer outra pessoa que tente.

Austin puxa a cadeira ao meu lado enquanto a garçonete deixa alguns cardápios e sai novamente como se tivesse lugares melhores para estar.

Ele cai em seu assento, seu corpo obviamente cansado e dolorido. Seu nariz enruga quando ele revira os ombros e alonga as costas. “Eu sou legal. Vou usar a palavra faminto se quiser usar a palavra fome”, ele responde com um sorriso preguiçoso.

“Pare de tentar fazer faminto acontecer, isso não vai acontecer.” Ele ri, enquanto eu de alguma forma consigo manter uma cara séria, lutando contra o desejo de me parabenizar pela referência épica a Meninas Malvadas. “Então, eu perdi alguma coisa? Por que está sentado ao meu lado? Existe... uma outra metade da mesa e você escolheu roubar parte de mi...”

“Oi, desculpe, estou atrasado.”

No momento em que ouço sua voz, meu corpo inteiro tensiona. Não consigo nem olhar enquanto ele se senta em frente a mim – a razão óbvia por que meu irmão levantou três dedos para a garçonete, e por que escolheu o assento ao meu lado.

Caleb, o solteiro bêbado.

O mesmo cara que quase circuncidei com uma bala dois fins de semana atrás.

E pelo olhar presunçoso em seu rosto, isso não é coincidência.

“Está tudo bem, cara, nós nem pedimos ainda”, Austin responde enquanto seus olhos permanecem em mim, julgando minha reação ao visitante indesejado. “Dee, este é Caleb Corrigan. Ele é novo na cidade, está trabalhando em estreita colaboração com o departamento de gangues em algumas das atividades.”

As coisas estão começando a se encaixar.

Posso ver as peças do quebra-cabeça se unindo, uma por uma.

“Ei, Dakota”, Caleb diz com aquele tom suave e sexy que, em outras pessoas, imagino parecer de veludo. Mas para mim, é mais como alguém arranhando minha pele com suas unhas. Cerro os dentes, meus dedos puxando a borda da toalha de mesa enquanto tento meu melhor para não a arrancar e envolver no pescoço de Caleb.

“Seu irmão fala muito de você.”

Eu não respondo.

Eu me recuso a dar atenção ao bastardo presunçoso.

O restaurante está cheio, mas há uma estranha bolha de silêncio que se instalou ao nosso redor.

Austin limpa a garganta. “De qualquer forma... Caleb será um grande parceiro nos ajudando a finalmente derrubar algumas das gangues da cidade.”

A cabeça de Caleb balança com entusiasmo. “É isso aí. Você conhece o tipo. Os gangsters, as gangues de marginais, os MC...”

“Clubes de motoqueiros não são gangues”, argumento, sentando um pouco mais ereta.

Minha explosão o encanta. Posso ver em seus olhos. Ele ama o fato de que sabe como me irritar. “Desculpe, não quis te ofender. Você trabalha para eles, não é? Os Brothers by Blood, é isso?”

Preciso descobrir o que diabos está acontecendo aqui.

“Sim, eu trabalho. Eles são ótimas pessoas”, respondo com os dentes cerrados.

“Hmmm...” Caleb murmura, recostando-se no assento como se estivéssemos tendo uma conversa casual sobre o tempo. “Ótimas pessoas cujo vice-presidente conseguiu assassinar um xerife no Alabama e escapou das acusações. Ótimas pessoas, cujo atual presidente foi preso quando era mais novo por ter assassinado seu pai?”

Tento não deixar sua última acusação me surpreender. Conheço Shotgun há muito tempo agora. Ele é honesto e dedicado. O que ele fez em seu passado é uma parte de quem ele foi, não define quem ele é.

Caleb está procurando uma briga. Mas não vou aceitar a provocação.

Austin, entretanto, sim. Ele observa atentamente, seus olhos estreitando enquanto ouve essa informação que acho que não procurou.

Eu respiro profundamente e forço um sorriso. “Se é assim que se sente, sinto muito”, digo educadamente. “Mas eles não são nada além de bondosos e solidários comigo desde que me lembro, então teremos que concordar em discordar.”

Não é frequente que eu fujo de uma briga, mas essa é uma que eu me recuso a ter na frente de Austin. Ele já tem uma visão sobre o clube e seus donos, e embora não seja exatamente positiva, conhecer Meyah influenciou um pouco sua decisão.

Austin limpa a garganta para tentar quebrar um pouco da tensão. “Vou ao bar pegar uma bebida”, ele finalmente diz, ficando de pé. “Vocês querem alguma coisa?”

“Cerveja”, Caleb responde.

“Tequila.”

Austin torce o nariz com meu pedido e franze os lábios, mas se vira e vai para o bar do outro lado do salão. E quando sei que ele finalmente está fora de alcance, finalmente me solto.

“O que realmente acha que está fazendo aqui?” Exijo em voz baixa, mas mortal. Pressiono as palmas das mãos sobre a mesa e me inclino, então sei que ele pode me ouvir.

O canto de sua boca curva para cima, e as sobrancelhas levantam dizendo exatamente o que preciso saber. Isto é uma armadilha. Caí no fundo do poço e agora preciso me esforçar para chegar à beirada antes de me afogar.

“Mesmo? É assim que as coisas serão?” Ele pergunta com uma sobrancelha levantada. Apenas o tom casual em sua voz me faz querer atravessar a mesa e dar um soco em sua garganta. “Realmente achei que tivemos algo durante aquele primeiro encontro. Podemos realmente ter nos conectado.”

“A única conexão que gostaria de fazer com você é onde meu punho se conecta com seu nariz”, zombo, meu lábio curvando em desgosto. “Qual é sua intenção aqui?”

Ele se recosta na cadeira e bate os dedos na mesa. “Como disse ao seu irmão. Quero trabalhar com ele para ajudar a destruir a sujeira e lixo por aqui. E como não pode deixar de ser uma puta, acaba de colocar seus amigos no topo da lista.”

Sinto-me enjoada.

Não posso dizer se ele está apenas tentando me fazer sentir culpada.

Ou, se realmente sou.

De qualquer forma, fui responsável, e como já descobri, Caleb é um daqueles homens que procura o que quer e luta para capturá-lo, segurá-lo e efetivamente destruí-lo. Com as duas mãos ao redor da garganta.

“Você nunca esteve realmente bêbado naquela noite. E deixe-me adivinhar, não era sua despedida de solteiro”, respondo cruzando meus braços sobre o peito e me inclinando para trás na cadeira. Meu pé está saltando nervosamente debaixo da mesa, meu estômago se contorcendo em nós. Continuo olhando para o bar onde meu irmão espera por nossas bebidas perguntando-me como falar sobre isso sem que ele suspeite de algo.

Caleb inclina a cabeça para os lados, esticando o pescoço. “Não. Eu só queria ver como era o clube, se valia a pena examinar o MC, como lidam com as coisas, se parecia ter algo suspeito acontecendo nos bastidores.”

“Eles não são assim”, argumento com os dentes cerrados.

“Não importa agora se são ou não.”

“Deveria.”

“Tão ingênua.” Seus olhos brilham. É como se uma corrente elétrica saísse deles e subisse por minha espinha, forçando meu corpo a ficar um pouco mais ereto e meus músculos tensos.

Isso é tudo por arrogância.

É tudo pelo poder.

E quando ele veio para mim naquela noite, tirei isso. E então os garotos no clube ficaram do meu lado. Eles me apoiaram. E ele pareceu um idiota.

“Foda-se...”

“Tem certeza que tequila é o que quer?” Austin interrompe com uma carranca. Ele coloca cuidadosamente dois copos grandes de cerveja e um copo pequeno com uma fatia de limão ao lado da mesa. Não perco tempo, lambendo minha mão, pego o saleiro e deposito uma quantia generosa.

Antes que meu irmão possa dizer qualquer outra coisa, lambo o sal, bebo a dose e enfio quase toda a fatia de limão na boca. Isso acalma o ardor intenso, mas apenas um pouco, porque ainda me encolho. Meu nariz enruga, e fecho meus olhos enquanto eu chupo freneticamente o limão, tudo enquanto tento respirar pelo nariz. Dentro e fora enquanto o álcool potente desce até o meu estômago e entra na minha corrente sanguínea.

Estou prestes a cuspir o limão e pedir mais cinco para poder passar a noite quando meu cérebro brilha com uma ideia maravilhosa. Rapidamente procuro no meu bolso por meu celular enquanto meu irmão e o idiota começam a conversar. Segurando-o debaixo da mesa para que eles não vejam, ligo para Meyah, deixando-o tocar algumas vezes antes de desligar e colocá-lo de volta no bolso. Quase instantaneamente, meu toque desagradável e alto vibra pelo ar ao nosso redor, fazendo todos num raio de seis metros se encolherem. Prazerosamente, eu o pego do meu bolso.

Deslizando a tela para atender, rapidamente coloco no meu ouvido. “Meyah!”

“Você acabou de me ligar? Tocou apenas três vezes, nem sequer tive tempo de sair do...”

Eu ofego dramaticamente. “Oh meu Deus, quando isso aconteceu? Você está bem?”

“... sofá. Uhh... sim, estou bem? Você está bem? Você ligou...”

“Não, está tudo bem.” Levantando-me da mesa, tento forçar um rosto realmente preocupado. “Austin tem um amigo aqui, então ele não ficará sozinho. Eu te encontro do lado de fora.”

“Um... Dakota, o que diabos está...”

Rapidamente desligo e empurro o telefone de volta no bolso, sabendo que Meyah provavelmente ligará de volta em um momento para me perguntar se enlouqueci, ou se estou usando alguma droga, então preciso sair daqui bem rápido. “Eu sinto muito. É Meyah. Ela está muito chateada... algo sobre a família na outra cidade. Ela realmente precisa de mim, e já está a caminho.” Hesito em tentar evitar o contato visual com Austin. No momento em que ele examinar atentamente, saberá instantaneamente que estou mentindo.

Não tenho dúvida em minha mente que Caleb já sabe.

Respirando fundo, saio da mesa e finalmente olho meu irmão, que me encara com uma expressão preocupada e quase suspeita.

Porra, ele vai me dar um sermão.

Apenas quando penso que vou precisar dar uma explicação, ele balança a cabeça. “Eu te disse, Dee. Meyah é uma garota doce, sabe que gosto dela, mas você realmente precisa manter distância quando se trata de sua família e namorado. Os clubes com os quais ela está associada são encrenca.”

Tento não respirar aliviada. Ele estava preocupado sobre eu sair com o clube, não sobre o fato de que eu estou inventando uma história.

“Que clube?” Caleb pergunta casualmente como se já não soubesse sobre o que diabos estou falando, ou quem é Meyah.

Quero chutá-lo nas bolas, mas meu irmão o olha como se ele fosse algum tipo de herói. Acho que é compreensível. Austin é todo garoto malvado contra mocinho. Você está conosco ou contra nós. Ele se importa em tornar a cidade mais segura. E Caleb está bem ali com ele, incentivando-o, jogando com o que ele ama.

Isso me deixa enjoada.

Dando a volta na mesa, inclino-me e dou um beijo na bochecha do meu irmão, colocando as mãos em seus ombros enquanto me afasto e olho diretamente nos seus olhos. “Tudo bem, eu posso lidar com isso”, asseguro a ele. Até agora, ele ficou em paz, mas deixou claro que não gosta quando passo um tempo na casa do clube ou trabalho no Empire.

Acho que preciso entender que ele tem fé suficiente em mim para acreditar que posso fazer isso.

Eu o amo por isso.

Quando meu celular começa a tocar de novo, rapidamente digo adeus, ignorando Caleb o idiota e correndo pela porta da frente antes de atender, “Meyah, preciso que venha me buscar agora.”

“Você está bem?” Ela pergunta rapidamente. Já posso ouvi-la se movendo, o balanço das chaves do carro e os passos dela na escada enquanto desce correndo.

“Sim, estou bem, só preciso sair daqui. Meu irmão trouxe um convidado surpresa para jantar, estou no Sullivans.”

“Sem problemas. Vejo você em alguns minutos.”

O telefone fica mudo, e inalo profundamente enquanto paro no estacionamento na parte de trás do edifício para esperar por Meyah. O clube está a alguns quarteirões, mas embora poderia simplesmente ter andado ou o que quer que fosse, meu estômago está se contorcendo e girando com tanta força, que luto para me manter no controle.

Desejo ter tomado outra dose.

“Escondendo-se?”

Eu pulo, meu coração salta na garganta quando Caleb vira a esquina com um sorriso pomposo. Seus dedos ajustam os punhos do traje caro que ele usa. Quero provocá-lo, zombar de como ele não deve ser bom o suficiente para usar um uniforme da polícia, sobre como é bom que ele não usa, dado que iria desrespeitá-lo de qualquer maneira.

Em vez disso, decido que este momento provavelmente não é a melhor hora para cutucar a fera.

Eu estou vulnerável.

E ele veio aqui procurando por uma briga.

“Esperando minha carona”, respondo, segurando meu celular na mão como se fosse minha tábua de salvação.

“Sabe, Dakota, minha oferta ainda está de pé”, ele diz, estendo a mão e coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha antes dele dar um passo mais perto. “Quer uma carona? Vou felizmente dar-lhe uma.”

Minha mão se move antes que possa pensar sobre o que estou fazendo, a palma encontrando sua bochecha e jogando seu rosto para o lado. O som ressoa no grande espaço aberto e até na pequena floresta que fica na parte de trás do Bar Sullivan. “Você é um pedaço de merda”, respondo. Leva um momento para o ardor na palma da minha mão intensificar.

Caleb se recupera rapidamente e antes que eu possa gritar, ele pressiona uma mão contra minha boca e a outra ao redor do meu pulso. Ele aperta com força, e deixo escapar um pequeno gemido que ele aparentemente não gosta porque empurra minha cabeça contra a parede, a pancada forte, não o suficiente para me derrubar, mas o suficiente enviar uma dor excruciante por todo meu corpo.

“Não seja uma cadela, Dakota”, ele avisa em um sussurro. “Eu disse antes que iria fazer de você um exemplo. Deveria aprender a me levar mais a sério.”

Sua mão lentamente sai da minha boca, e respiro fundo, assim que o som de uma moto ruge a distância.

As orelhas de Caleb se erguem como um cachorrinho, e ele recua.

Covarde.

“É todo homem quando estamos sozinhos, mas não pode enfrentar um motoqueiro?” Zombo, tentando manter o foco enquanto minha cabeça bate dolorosamente com a batida do meu coração. Minhas palavras saem um pouco arrastadas, mas não posso evitar, dou um último golpe. “Você é patético.”

Seu lábio curva enquanto ele caminha pela lateral do prédio até as portas da frente do bar. “E você já era.”

Ele desaparece no canto, e tão rapidamente quanto apareceu, ele se foi.

Mas sei que não é para sempre.

Essa merda acaba de começar.

Se é assim que ele é quando meu irmão – um policial – está a poucos metros de distância, então sei que isso não é o pior.

As coisas vão ficar ruins antes de melhorarem.

Só não sei o quanto.

Ou se em algum momento vai melhorar.


CAPÍTULO 10

RIPLEY

“Isso foi trapaça”, protesto quando Lauren bate na mesa de sinuca com o quadril e sua bola que estava precariamente equilibrada na beirada cai na caçapa.

Ela levanta as mãos em sinal de rendição, mas não discorda.

Resmungo baixo enquanto caminho ao redor da mesa, procurando por uma boa jogada então posso acabar com isso. Miro com cuidado e, com uma tacada, coloco duas bolas em caçapas diferentes. “Quando vai para casa?” Pergunto, dando um passo para trás e olhando a mesa um pouco melhor.

Ela muda de um pé para o outro, e a olho com uma sobrancelha levantada. “Eu não sei. Quando você vai voltar?”

Essa dança que ela está tentando fazer comigo, não funciona a seu favor. Não conheço essa garota. Essa não é a garota com quem cresci. A Lauren que eu conhecia não era tímida ou envergonhada com as coisas, ela não ficava esperando que alguém lhe dissesse o que diabos fazer.

“Não tem problema, vejo você em alguns minutos”, anuncia Meyah em seu celular enquanto corre escada abaixo, com as chaves na mão. É seu rosto preocupado que me faz largar o taco e ir direto para ela.

“Meu pai pensou-”

“Espere um pouco.” Já estou correndo para minha irmã antes que ela possa chegar até a porta. Agarro seu cotovelo e a giro para mim. “Ei, o que está acontecendo?”

Ela bufa. “Eu preciso ir, Rip. Dakota ligou e pediu para ir busca-la agora, e ela parecia muito estressada.”

Abaixo minha cabeça e olho em seus olhos. “Como se ela teve um dia muito ruim ou como se estivesse em apuros?” Meu estômago já está apertado com o pensamento de qualquer um. Nem posso explicar por que, se alguém perguntar. Como explicar que uma garota que parece um duende e está constantemente te provocando e atormentando, de alguma forma entrou na sua cabeça e montou acampamento?

Meyah não responde de imediato, seus olhos se movendo para o chão. “Rip, eu só preciso ir.”

Pego as chaves da mão dela, e seu olhar volta para mim. “Acha que ela está em apuros?”

Ela geme de aborrecimento. “Talvez. Não tenho certeza.”

Sem pensar duas vezes, passo por ela, levando as chaves comigo enquanto saio pela grande porta de correr até onde minha moto está orgulhosamente estacionada. O clube dos Brother by Blood é uma antiga oficina mecânica que, com a ajuda de Drake, restauraram e transformaram num clube. É muito parecido com o nosso, muito aberto – quando queremos que seja. O que é bom, agora que passo um pouco mais de tempo aqui, ter uma pequena sensação de casa.

“Rip! Espere”, ela chama quando jogo minha perna sobre a moto e ligo o motor, efetivamente abafando sua voz.

Meyah percebe nesse estágio que isso não é uma negociação e corre para o meu lado. “Ela está no Sullivan. O bar onde comemos na outra noite. São alguns quarteirões nessa direção.” Ela aponta para a rua que me levará até o bar, e eu concordo com a cabeça. “Posso pegar minhas chaves?”

Eu balanço a cabeça. “Se alguma coisa está acontecendo, não há nenhuma maneira no inferno que você vá até lá. Vou trazê-la de volta inteira.” Inclino e pressiono um beijo em sua testa preocupada. Sei que isso a acalmará pelo menos um pouco. Sempre acalmou.

As coisas entre nós foram tensas no início, dada a relação dela com Shake – membro de um clube diferente. Mas nós enfrentamos o diabo juntos, e não importa o que, ela é meu sangue. Só demorei um pouco para me lembrar disso. Desde então, ficamos bem próximos. Mais perto do que eu acho que jamais seriamos se tivéssemos crescido juntos.

Finalmente, ela assente e dá um passo para trás. Rapidamente coloco minha moto em movimento, deixando uma linha grossa de borracha no concreto cinza enquanto saio do complexo como um morcego fugindo do inferno. Minha Harley retumba sob minhas coxas, seu grunhido profundo sempre me lembrando algum tipo de predador, como um leão ou um jaguar rugindo à noite. Avisando todos os idiotas lá fora que não querem foder com isso.

E quando o clube viaja junto, é como se minha tribo – ou talvez meu orgulho – lutasse lado a lado, de pé e sem medo.

Sinto pena de qualquer filho da puta que tente vir atrás de nós.

Não tem como eles ganharem.

Demoro menos de três minutos para chegar ao Sullivans, e quando não consigo localizar Dakota na frente, continuo e sigo pela lateral do prédio onde o estacionamento fica nos fundos. Ela está encostada na parede, seu corpo ligeiramente caído, parecendo derrotado.

Dakota nunca pareceu derrotada.

Essa é a garota que invadiu meu banheiro pessoal como se fosse dona do lugar, só porque queria fazer xixi, e então começou a me insultar sobre o tamanho do meu pau e não de um jeito bom, mesmo que estivesse olhando diretamente. E eu provavelmente posso parti-la ao meio.

Dakota é baixa, mas é poderosa pra caralho. E gozei vendo aquela pequena faísca de sua excitação e é por isso que estou constantemente tentando pressiona-la, forçá-la a aceitar a provocação. É como um fodido afrodisíaco.

Estaciono no meio-fio onde ela está de pé e abaixo o suporte da moto antes de descer.

Ela olha para cima quando dou um passo mais perto, seus olhos azuis gelados me perfurando, criando uma dor aguda no meu peito. “Onde está Meyah?” Ela pergunta. “Eu não liguei para você, Rip. Não preciso que venha aqui como um cavalheiro.”

Os pelos do meu pescoço arrepiam. “O que diabos aconteceu?”

Ela tenta dar um passo para escapar de mim, mas agarro seu braço. Movimento ruim. Seu corpo inteiro salta, e seu reflexo instantâneo é se virar e atacar. Felizmente, seus reflexos também são lentos e um pouco fora de ordem, então consigo segurar sua mão antes que ela possa acertar meu rosto.

“Eu vou perguntar de novo”, resmungo, apoiando seu corpo contra a parede para que ninguém possa nos ver da rua ou do bar e se aproximar pensando que a estou machucando. Ela olha para mim como um animal ferido em uma gaiola. “O que diabos aconteceu para você precisar que alguém venha com tanta urgência?”

“Você não é-”

“Pare com isso!” Repreendo, pressionando seu corpo. Levanto a mão, pegando a mecha de cabelo que caiu em seu rosto. Não deixo de notar o jeito que ela se encolhe com o movimento, mas cerro meus dentes e corro meus dedos pelo cabelo dela de qualquer maneira. Alguém a machucou. Seus olhos estão vidrados, ela está instável em seus pés e não quer ser tocada.

“Não preciso de você para me resgatar”, ela sussurra, sua voz ainda firme, mas a luta desaparece lentamente quando inclina a cabeça na minha palma, a reação de seu corpo em completo contraste com suas palavras. Seus olhos se fecham quando ela se inclina mais perto.

“Bem, muito ruim”, argumento suavemente, enquanto continuo a acariciar seu cabelo.

Seu corpo de repente salta, seu rosto se contorcendo de dor quando ela se afasta. Antes que possa questioná-la, uma mancha vermelha nas pontas dos meus dedos faz minha pressão sanguínea disparar.

Ela está sangrando.

Sua cabeça está sangrando.

“Quem fez isso, Dakota?” Exijo com os dentes cerrados, pronto para destruir este lugar se precisar. Eles não podem ter ido muito longe, só passaram cerca de cinco minutos desde que Dakota ligou.

Uma moto ruge ao longe, e sei que Meyah pediu a alguém para vir atrás de mim – provavelmente Shake.

Meu corpo inteiro está formigando quando estendo a mão tentando puxar Dakota de volta para mim, mas ela balança a cabeça e levanta as mãos para tentar me forçar para trás. “Esquece isso, Rip. Só quero ir para casa”, ela diz, seus olhos brilhantes não mais cheios de punhais, mas em vez disso cheios de lágrimas.

Vê-la assim é difícil. É angustiante. Isso me faz sentir protetor e furioso, e um monte de outras emoções que honestamente não posso nem rotular. Provavelmente porque nunca senti antes, não por alguém que não fosse da família.

Parte de mim não se importa que ela chore, grite e implore, quero exigir saber quem diabos fez isso, então posso caçá-lo e cortar seu pau. A outra parte só quer envolvê-la em meus braços e protegê-la de qualquer bastardo que tentou ir atrás dela. E posso dizer honestamente – isso é novo para mim.

A Harley ruge pela rua e, conforme se aproxima mais e mais, posso dizer quem é. Pela maneira que dirigem, a maneira como a moto está sintonizada. Uma vez que conhece um homem e sua moto, você pode distinguir seu som facilmente numa corrida.

Alguns abrandam rápido quando param, outros gostam de trocar de marcha um pouco antes de parar. Alguns pilotos são bons em manter as coisas suaves, outros usam o acelerador de forma intermitente.

Quando Shake se aproxima e estaciona ao meu lado, não fico surpreso.

Fico surpreso que ele não trouxe minha irmã junto, no entanto.

“Tudo bem?” Ele pergunta depois que desliga o motor. Ele não se incomoda em descer, apenas estreita os olhos em nós. “O que aconteceu?”

“Nada–”

“Sua cabeça está sangrando, e ela está nervosa”, interrompo, ganhando um olhar irritado da pequena duende.

Os olhos de Shake se arregalam. “O que aconteceu?”

“Só quero ir para casa”, ela retruca, jogando as mãos no ar. “Vocês podem parar e me tirar daqui como pedi em primeiro lugar quando não liguei para nenhum de vocês? Na verdade, chamei minha melhor amiga. Não o irmão dela ou o namorado.”

Ela está voltando a ser insolente, e embora queira coloca-la sobre meu joelho, realmente me faz sentir um pouco melhor.

Não afasta a necessidade de matar alguém com sangue quente.

Mas melhora.

“Terá que se contentar com o clube”, argumenta Shake, levantando a sobrancelha como se desafiasse Dakota a discutir. Ela tem respeito por ele. Não só porque ele é o vice-presidente do clube, mas por causa da maneira como ele lutou para proteger sua amiga. Ela confia nele.

Talvez um dia ela confie em mim.

Ou talvez eu deva recuar nisso tudo.

Ela desvia de mim e vai direto para a moto de Shake. Normalmente, irmãos com mulheres não se atrevem a ter outra garota em sua moto, mas não será a primeira vez que Dakota anda com ele e Meyah anda comigo. Esses são os esforços que precisamos fazer a fim de negar as faíscas que voam toda vez que estamos na mesma sala. A cadela me deixa muito frustrado.

E, no entanto, a ideia de alguém tocá-la – de qualquer maneira – me deixa ainda mais louco do que sua boca esperta.

Olho para baixo, assim que Dakota sobe com Shake, e ele liga sua moto. Seu sangue ainda está manchado a ponta dos meus dedos.

O sangue dela.

Pelo menos sei de uma coisa.

Eu vou matar alguém – eventualmente.


CAPÍTULO 11

DAKOTA

“É apenas um pequeno corte”, Ella me tranquiliza enquanto limpa o sangue. “Não vai precisar de pontos.”

Não consigo falar, a quantidade de dor que pulsa na minha cabeça agora é intransponível. É como se tivesse seu próprio ruído, mas não se consegue explicar como soa. Apenas enche sua cabeça, faz você se sentir como se tivesse três vezes o tamanho normal e, ao mesmo tempo, alguém acaba de explodir um balão e lentamente deixa o ar sair, com aquele ruído estridente.

Ah, e então, um bando de elefantes também estão correndo.

E para completar, há muitos e muitos nevoeiros.

Como tudo isso veio de um pequeno corte ou de um pequeno solavanco, não tenho ideia.

Talvez não seja só isso. Talvez seja o fato de que aquele idiota do Caleb me pegou e teve o melhor de mim. Ele sabe quem é meu irmão, e ele o puxou para seu mundo, conseguindo colocar minha própria carne e sangue do seu lado, contra esse grupo de pessoas com quem me importo.

E isso é apenas o começo.

Eu sei que não acabou.

Estou de repente desejando ter disparado em seu pau quando tive a chance. Pelo menos isso me daria vantagem.

“Ferimentos na cabeça sempre sangram muito e parecem dramáticos, mas vai sarar em uma semana ou duas”, Ella continua enquanto tira as luvas e as joga na cesta de lixo com as outras coisas que usou para me limpar.

Ella é uma amiga que está treinando para ser uma enfermeira. Meyah e eu a conhecemos numa aula de ética na faculdade. Ela também mora em Phoenix e ocasionalmente aparece para remendar um dos garotos quando se machuca trabalhando ou quando são simplesmente idiotas. Os garotos todos simpatizam com ela, mas um em particular é o presidente do clube – Shotgun.

“Como conseguiu fazer isso?” Ela pergunta com uma carranca enquanto arruma suas coisas.

Olho para Meyah, que balança a cabeça uma vez – um movimento que a maioria das pessoas provavelmente notaria, mas é forte, e me diz para inventar algo antes de arrastar Ella para nossos problemas também. “Eu estava conversando com Meyah ao telefone e andei, sem perceber que havia um meio-fio atrás de mim. Tropeçando de costas, cai e bati a cabeça no canto do tijolo.”

Ela se encolhe. “Sim, eu suponho que isso serve.”

Meyah se levanta da cama quando Ella pega sua bolsa de material médico. “Sabe, vamos precisar começar a te pagar por vir aqui. Eu juro que está aqui tanto quanto Dakota hoje em dia.”

Ella ri, o som doce e leve, que imediatamente diz que tipo de garota é. “Eu não me importo. Estou conseguindo muito mais prática nessas coisas do que os outros alunos que estão treinando. Não que possa declarar isso, mas pelo menos quando se trata de testes práticos e coisas, estarei tão preparada que vou me dar bem.” Ela se vira, olha para mim e acena. “Avise se as coisas piorarem, Dakota. Darei outra olhada.”

Balanço a cabeça e forço um largo sorriso. “Obrigada, Ella, eu te vejo mais tarde.”

Antes que ela possa sair pela porta, dois grandes corpos lotam o espaço.

“Ella”, Shotgun cumprimenta com um leve aceno de cabeça. Vejo o rubor instantâneo assentar sobre as bochechas de Ella, e ela parece afundar em si mesma. Ella é uma alma calma e gentil, enquanto Shotgun é um cara alto, tatuado e de aparência montanhosa que fala em tons profundos e rudes.

Ela lambe os lábios e baixa a cabeça. “Shotgun.” Então ela se vira para Ham. “Hamlet. Vejo vocês meninas mais tarde.”

“Eu vou te acompanhar–”

“Nós precisamos de você aqui”, Ham interrompe, enviando uma sensação terrível diretamente para a boca do meu estômago.

Ella apenas acena e sai rapidamente pela porta, obviamente sentindo a mesma tensão que eu. “Está tudo bem, eu conheço o caminho.” Então ela desaparece rapidamente, mas não perco o jeito que os olhos de Shotgun a seguem antes de voltar para mim.

“Ela é muito bonita, hein?” Provoco quando ele e Ham entram no quarto.

Ele me acerta com um olhar sombrio, mas não dá resposta. Em vez disso, vai direto ao assunto. “Então o que aconteceu?”

Franzo meu nariz. Eu sabia que não conseguiria me afastar disso, mas achava que pelo menos teria algum tempo para descobrir como contar para ele. “Caleb”, respondo, com um suspiro pesado, decidindo pela simplicidade.

“Você está brincando, porra”, Ham diz. “Como?”

Não estou acostumada com isso. Mal tive tempo para processar tudo.

Esse cara é calculista, ele é sorrateiro, e do que posso dizer, está disposto a ir muito longe para conseguir o que quer. E ele quer me punir por enfrentá-lo, machucando as pessoas com quem me importo e indo atrás do clube.

Minha cabeça começa a latejar, parecendo como se meu cérebro estivesse se expandindo e pressionando contra o crânio. Gemo de dor e dou alguns passos para trás até sentir a cama em meus joelhos.

Meyah se aproxima rapidamente, com a mão nas minhas costas, acariciando de cima a baixo num gesto bem maternal. Um que realmente preciso nesse exato momento.

“Dakota...” Ham começa, seu tom um pouco mais suave agora. “Eu preciso saber o que está acontecendo para que possamos abordar isso da maneira certa. Não vou deixar esse cara te machucar. Sabe que pode confiar em mim.”

Engulo o caroço em minha garganta e balanço a cabeça. “Ele apareceu para jantar com meu irmão. Acho que só foi um tipo especial de tortura. Basicamente, ele não gostou que eu tenha visto seu pequeno jogo no bar naquela noite e o obriguei a falar.”

Não tenho dúvida que se não fosse por ele ter deixado sua máscara cair quando puxei a arma, garanto que estaria trabalhando em segredo para entrar na Empire ou ao redor do clube.

Ele odeia que estraguei seu disfarce.

E agora que ele não precisa se esconder, estou quase com um pouco de medo do que ele fará.

“Ele está focado em mim, mas acho que tem olhos no clube também”, continuo, minha testa franze firmemente enquanto tento me lembrar de suas palavras. “Ele disse algo sobre como o que eu fiz colocou vocês no topo de sua lista.”

Ham corre os dedos através do seu cabelo. Isso o deixa completamente bagunçado, e posso dizer que isso está pesando em seus ombros. Ele se sente responsável por deixar Caleb entrar na Empire e não perceber que algo estava fora do lugar.

Ele olha para Shotgun, e não deixo de notar a ligeira sacudida de sua cabeça em resposta.

Há algo mais acontecendo, algo que eles não vão me incluir. Algo que não estou a par.

“Eu não consigo descobrir se esse babaca é inteligente ou realmente estúpido”, diz Shotgun, coçando a cabeça.

“Ele não é estúpido, mas pelo que parece, fica facilmente irritado e não consegue manter a calma muito bem”, resmunga Ham.

Shotgun assente. “O que é um bônus para nós, porque significa que, mais cedo ou mais tarde, ele vai foder alguma coisa, e há sempre algum idiota maior no topo da cadeia não querendo que um idiota como Caleb Corrigan o faça parecer mal.”

Ouço o que o presidente do clube está dizendo e faz sentido. Se há algo em que esses garotos eram bons, é encontrar uma fraqueza nos outros e usá-las contra eles. Alguns podem chamar isso de desonesto, eu chamo de genial.

Shotgun é exatamente o tipo de cara que você quer na sua equipe quando se trata dessa merda também. Ele é calmo, equilibrado e extremamente inteligente. Não consigo imaginar nada no mundo que o afaste da irmandade.

“Então, qual é o plano?” Meyah pergunta ansiosamente, suas mãos ainda subindo e descendo por minhas costas. Meu corpo cedeu contra o dela buscando o afeto, mas também meio que querendo apenas se esconder.

Há um olhar rápido entre Ham e Shotgun que instantaneamente faz toda aquela calma e paz que Meyah criou em volta do meu corpo simplesmente sumir.

“Onde está Rip?” Pergunto, esperando que ele não tenha voltado e feito algo estúpido.

“Ele está arrumando suas coisas”, responde Shotgun, olhando-me diretamente nos olhos, o que por um momento me faz sentir um pouco nua.

Franzo meus lábios.

Bom, ele está indo embora.

Estava na hora.

Uau! Porque isso foi convincente.

“Ele está pronto para caçar um idiota e assassiná-lo”, explica Shotgun, seus olhos indo para Ham por um momento antes de voltar para mim. “Por enquanto, nós preferiríamos se não contasse a ele que foi Caleb quem fez isso, porque se ele descobrir, teremos um problema maior em nossas mãos, e desta vez vai incluir um policial morto.”

Estremeço.

Claro que não quero isso para ele.

Não por minha causa.

Eu me viro e olho Meyah. Ela força um sorriso de apoio, mas posso dizer que está preocupada.

“Vocês vão lidar com isso?” Pergunto, minha voz um pouco rouca.

“Nós vamos ter alguém te vigiando por uns dias enquanto buscamos um pouco mais e vemos o que podemos encontrar”, explica Ham. “O que será muito mais fácil se não tivermos que nos preocupar com o fato de Ripley destruir a cidade para vingar sua dor.”

Eu me encolho. “Não sei o que você...” Minhas palavras desaparecem quando percebo que todos na sala estão revirando os olhos e suspirando coletivamente. Calo a boca depois disso. Ainda soa ridículo pensar que Ripley possivelmente tentará defender minha honra quando, no passado, simplesmente provocamos um ao outro sem parar.

Mas o jeito que ele me olhou quando viu meu sangue espalhado em seus dedos... isso é novo.

Isso é diferente.

Naquele momento, acho que senti as coisas mudarem.

E não foi uma mudança sutil.

Mais como um terremoto, e antes que possa perceber, o chão está prestes a desaparecer de debaixo dos meus pés.


CAPÍTULO 12

DAKOTA

Ham se recusou a me deixar ir para o meu apartamento ontem à noite. Ele disse sobre algo a ver com minha cabeça, e querer que eu fosse checada durante a noite, mas sei que é porque eles estão com medo do que Caleb pode fazer agora que decidiu mostrar um pouco de suas cartas.

Acho estranho, e um pouco difícil de compreender.

Eu pensei saber o que é a lei.

Claro, não sou ingênua em pensar que não há policiais por aí que andam na linha entre o certo e o errado, mas nunca precisei lidar com eles cara a cara antes. Nunca precisei olhar nos seus olhos e fingir que não vi o demônio sorrindo para mim.

É uma sensação estranha ser ameaçada e ferida por uma figura que aprendeu desde pequena a confiar e a honrar.

Mesmo falando normalmente, suas palavras pingam arrogância e privilégio. Ele pode ser um oficial da lei, mas aposto que nunca lutou um dia em sua vida. Aposto que ele nunca soube como é para aquelas pessoas que não tem nada, e aposto que nunca pensou uma vez em como ajudá-las.

Ele não é um policial de verdade.

Não é como meu pai.

Meu pai adora o seu trabalho. É assustador, perigoso, e às vezes francamente traumático. Não quero nem pensar nas coisas que ele vê. Havia noites em que ele chegava em casa, mas não era seu eu normal. Naquelas noites, minha mãe nos levava para nossos quartos e nos deixava assistir televisão, porque papai tinha um olhar vazio em seu rosto, e ele apenas sentava no balcão da cozinha com um copo e um pouco de bebida alcoólica.

No entanto, ele abraçou isso todos os dias com entusiasmo e amor pelo fato de ter tido a oportunidade de ajudar pessoas que não podem se defender. Ele sempre foi tão calmo, tão compreensivo, e se via algo dentro de você, ele lutava como se fosse um dos seus. Não havia nenhum problema lá fora que ele se sentisse superior. Ele pegou todos os trabalhos que surgiram através do rádio, e fez isso com dignidade, entusiasmo e convicção.

Até aquela chamada final.

Faz pouco mais de seis anos desde que o vi – desde que ele foi morto.

Ele foi pego num tiroteio sem qualquer reforço.

Eu era a garota do papai. Ele era meu tudo. Ele me ensinou todas as suas piadas ruins. Ele me ensinou como ser forte e não deixar as coisas que as pessoas dizem me derrubar.

Ele é a razão pela qual sou quem sou hoje.

Ele é a razão pela qual estou viva.

Ele é o que um policial deve ser.

Caleb Corrigan é um embaraço para o nome.

E ele virá atrás das pessoas com quem me importo? De jeito nenhum.

Olho para o relógio ao lado da cama. Um pouco depois das 2:00 da manhã, e ainda não consegui dormir. Geralmente o sono não chega até por volta das 3h, razão pela qual frequentemente estamos atrasadas para as aulas, porque eu sempre durmo e Meyah sempre bate na porta tentando me acordar.

Honestamente, é apenas uma coisa que fazemos agora.

Ela bate o pé com impaciência enquanto espera que eu salte por aí calçando sapatos e tentando escovar os dentes ao mesmo tempo.

Nós fazemos isso funcionar.

Mais ou menos.

Gemendo, jogo os cobertores para o lado e me arrasto na beira da cama, escolhendo apenas usar um moletom preto grande que Ham me emprestou mais cedo quando estava com frio. Vai até abaixo da minha bunda e deixa minha calcinha boxer aparecendo sobre a barra.

Honestamente, não tenho certeza do que estou procurando, mas só preciso sair e andar por aí. Minha cabeça está melhor, mas alguns movimentos ainda doem. Atualmente, está latejando suavemente enquanto desço as escadas. Normalmente, você pode ter certeza que, a menos que haja algum tipo de festa, a maioria dos homens já está na cama.

Não passei muito tempo no clube, mas enquanto estive lá, percebi que me sinto segura. Eu me sinto quase intocável.

Há um ponto em que diria a você que é porque Ham ameaçou todos os garotos lá com suas vidas se eles me olhassem de cima a baixo, mas quanto mais tempo fico, mais percebo que tudo se resume a respeito.

Esses caras acreditam em quatro coisas acima de tudo...

Família.

Fraternidade.

Fidelidade.

Respeito.

Mostrei a eles nada além de aceitação e respeito pelo clube, então eles devolveram o gesto.

Ao descer as escadas na ponta dos pés, congelo quando meu pé atinge o chão de madeira no final da escada. Há uma única luz acesa ao lado da porta, que então noto estar ligeiramente aberta.

O cheiro de fumaça flutuando pela porta chama minha atenção, e faço uma careta. É fumaça de cigarro e, até onde sei, nenhum dos irmãos aqui fuma.

Mas eu conheço alguém que fuma.

Aquele que não tenho certeza se quero enfrentar agora.

Fui uma cadela antes.

No momento em que Ripley apareceu, eu estava com raiva, fiquei confusa e fiquei na defensiva. Isso somado ao fato que nunca o vi agir assim antes, certamente não comigo, onde estava pronto para matar alguém instantaneamente, minha cabeça não conseguiu acompanhar.

Eu só sabia que estava chateada, e que odiava ele me ver assim.

Já faz muito tempo desde que deixei alguém me ver quebrada. É por isso que montei uma casca tão dura. É por isso que sempre fui rápida em dar uma resposta ou algo que os fará pensar duas vezes antes de chegar perto de mim. Quero que as pessoas vejam a mulher brilhante, divertida, sarcástica e atrevida que apresento, não a garotinha que tento abrigar e proteger lá dentro.

Devo a Ripley um pedido de desculpa pelo menos.

Ele pilotou sua moto como um cavaleiro, pronto para saltar e me salvar do mal, e basicamente disse a ele para dar um salto voador de um penhasco.

Muita classe.

Caminho em direção à porta aberta, pressionando a mão contra ela e empurrando-a um pouco mais quando entro.

Leva um momento para meus olhos se ajustarem, mas logo percebo sua figura encostada no edifício, os olhos fechados e o cigarro preso nos dedos, a ponta brilhando intensamente na escuridão. Levo apenas um momento para perceber que ele não está usando camisa, toda sua parte superior do corpo está nua, enquanto o jeans está baixo nos quadris esbeltos, posicionados tão precariamente que me pergunto como sequer estão no lugar.

Não é a primeira vez que o vejo pouco vestido, mas, honestamente, não tenho certeza de que alguma vez o vi... em paz. É como um Ripley diferente, uma versão menos intensa que parece me aquecer um pouco.

O ar da noite está quente contra minhas pernas quase completamente nuas, mas isso não me impede de falar quando saio das sombras e finalmente consigo formar uma palavra. “Ei”, murmuro baixinho. Rip nem sequer recua, mas por que ele iria, estou parada olhando para ele por quase um minuto. Claro, ele sabe que estou aqui.

Seus olhos se abrem lentamente, e ele abaixa o queixo antes de se virar ligeiramente para mim. “Como está a cabeça?”

Eu aceno. Não sei por que, porque o movimento agudo doí como o inferno, instantaneamente fazendo com que eu pare e me encolha, meu rosto inteiro estremecendo como se acabasse de morder um sorvete e conseguisse congelar o cérebro.

Quando finalmente foco meus olhos novamente, noto que Ripley virou todo o corpo para mim, e seus músculos estão tensos como se estivesse se preparando para uma luta.

“Desculpe”, gemo baixinho. “É uma dor de cabeça.”

Ele dá uma longa tragada em seu cigarro, seus olhos queimando diretamente através de mim ao mesmo tempo. “Você precisa voltar a dormir, descansar um pouco”, ele ordena, imediatamente me fazendo querer retroceder.

“Tanto quanto aprecio sua preocupação, oh sábio, eu não dormi, então não posso voltar a dormir, posso?”

O canto da boca dele contrai. “Oh, sábio?”

“Desculpe, prefere mestre do conhecimento? Talvez rei do raciocínio, ou o sabe tudo?”

Ele ri baixinho, claramente encantado em como pode facilmente me irritar. Em seguida, outra tragada em seu cigarro que não posso deixar de admitir que acho estranhamente sensual, isso pode causar câncer, mas faz com que ele pareça um bad boy que eu adoraria pegar uma carona, de certo modo.

“Você não dormiu?” Ele pergunta, pequenas baforadas de fumaça saindo de sua boca com cada palavra. Parece um truque de festa, e não posso deixar de rir baixinho para mim mesma. Bem, não inteiramente para mim mesma. Ripley me olha como se eu tivesse perdido a cabeça, mas continua esperando até que eu responda.

Solto um longo suspiro. Às vezes é difícil explicar às pessoas que não durmo. Às vezes ficam apenas fascinados, outros tentam oferecer todos os remédios que viram no Pinterest para ajudar com o sono – e tentei cada um deles. “Eu não durmo muito. É uma longa história”, respondo quando uma brisa fresca passa por nós. Ripley não move um músculo, mas um arrepio percorre meu corpo inteiro, indo dos dedos dos pés até minha cabeça. “Jesus”, xingo, puxando as mangas do moletom sobre as mãos antes de puxar a bainha, o que acaba sendo uma perda de tempo desde que sei que não vai descer mais.

“Você precisa voltar para dentro”, Ripley resmunga, me assustando por um segundo com o estrondo profundo de sua voz. Ele joga seu cigarro pela metade na área de estacionamento de cascalho do clube, nem mesmo se incomodando em pisar nele com a bota.

Sua mão afunda no bolso da calça, puxando-a para baixo o suficiente para que eu possa ver um pouco de pelo escuro logo acima da Calvin Klein. Mordo meu lábio, amaldiçoando-me em minha mente por estar tão excitada neste momento.

O único som no ar é o barulho de embalagem sendo aberta antes dele jogar o chiclete na boca e empurrar o resto de volta no bolso.

Faço uma careta, finalmente conseguindo fazer meu cérebro funcionar novamente. “Por que sempre tem que dar ordens? Alguma vez machucaria você só me perguntar gentilmente?”

Vejo o jeito que sua mandíbula cerra com força antes que ele fale. Ripley não sente como se devesse algo a ninguém. Há poucas pessoas que já vi serem capazes de dizer a ele para fazer algo, ou repreende-lo quando está sendo um idiota. Huntsman, Drake, Meyah e ocasionalmente Ham, mas Ham gosta de evitar esse tipo de coisa.

Quando ele finalmente fala, fico surpresa. “Você não acha que deveria entrar?”

Um sorriso surge em meus lábios quando percebo o quanto de esforço isso precisou, o quão difícil é para ele não ser um idiota e apenas fazer exigências. Então, só sei o quanto vai irritá-lo se eu argumentar de volta.

“N—”

Ele nem me dá tempo para terminar a palavra ‘não’.

Grito alto quando ele se aproxima e apoia seu ombro em minhas costelas antes de me levantar. Minha boca está aberta, meu cérebro ainda um pouco tonto enquanto tenta descobrir o que diabos está acontecendo.

Ele me carrega pela porta, deixando-a bem aberta atrás de nós.

“Rip, coloque-me no chão!”

Há alguns passos pesados descendo rapidamente na escada, mas não consigo ver quem é até que ele fala.

“Tudo bem?” Ham pergunta, nem mesmo tentando esconder o tom divertido em sua voz.

Ah, fantástico.

Não apenas estou sobre o ombro do irmão de Meyah, seu namorado também olha minha bunda que está atualmente fora do moletom que ele me emprestou e para o mundo ver. “Não está tudo bem–”

Tapa!

Uma ardência na minha nádega esquerda, e eu ofego alto.

“Está tudo bem. Magnifico. Certo, Dakota?” Ripley responde num tom áspero que é seguido pela risada profunda de Ham antes que seus passos desapareçam na escada.

Traidor.

Bato meus punhos nas costas de Rip – suas costas perfeitamente bronzeadas, tonificadas e musculosas.

Fodido Cristo.

“Coloque-me no chão, Ripley”, retruco, precisando dar o fora daqui e sair desta situação antes das coisas se intensificarem. Porque, se acontecer, há uma chance que posso não conseguir impedi-las. Como sei disso? Porque já estou molhada como o inferno, e com a mão de Rip sobre a parte de trás das minhas coxas para me impedir de cair de cara no chão, posso sentir os dedos rastejando muito perto do limite da minha calcinha.

“Descer?” Ele finalmente pergunta.

“Sim, descer”, digo, tentando não acordar todo o clube. A última coisa que preciso é que todos os caras, e quem quer que esteja aqui, apareça para ver minha bunda no ar e um óbvio ponto molhado na minha calcinha rosa.

Meu corpo começa a se mover na outra direção, mas quando estou me preparando para meus pés atingirem o chão, minha bunda seminua pousa na polida – e fria pra caralho – bancada do bar. Estreito meus olhos em Rip e bato as palmas contra seu peito, o que mal o faz balançar, irritando-me ainda mais. “Que diabos?”

“Você disse descer.” Ele sorri, colocando as mãos no balcão de cada lado das minhas pernas.

“Você é um babaca, sabe?”

“Mesmo?”

“Sim, com certeza.”

Boa resposta, Dakota.

“Talvez deva dizer isso à sua buceta, que parece estar agora em ligeira discordância.” Sua mão sobe por minha coxa, seus dedos fazendo cócegas na minha pele. Já estou mortificada, não consigo nem pensar numa reposta. Não consigo formar qualquer tipo de palavra para argumentar, protestar, ou tentar lutar contra o fato de que ele está completamente certo. Minhas bochechas simplesmente coram igual o que imagino ser um nariz de palhaço vermelho, e minha boca abre em choque quando suas mãos gentilmente agarram minhas coxas e as separam.

Jesus Cristo.

Seu polegar esfrega diretamente sobre minha calcinha encontrando meu clitóris inchado. Eu ofego, minha mão descendo e envolvendo seu pulso enquanto luto para encontrar a compostura novamente.

Ele sabe que tem a vantagem, sabe o que está fazendo comigo.

Ele está me deixando louca e funciona perfeitamente.

“Não posso esperar para ver você gozar”, ele resmunga. “Observar essa feroz leoa que sempre parece vir para mim, de repente se transformar numa gatinha enquanto te enlouqueço.” Estendo a mão, pronta para bater no bastardo arrogante, mas ele é muito rápido. Ele agarra meu pulso e torce-o atrás das minhas costas, pressionando nossos corpos mais perto enquanto seu polegar move-se sobre meu clitóris inchado e sensível.

Minha respiração está pesada, e me esforço para manter qualquer tipo de dignidade e não implorar a ele para por favor, apenas me deixar gozar enquanto ele apenas me provoca. “Droga, Ripley”, reclamo, movendo meus quadris e deixando escapar um gemido suave quando sinto que vou gozar. É ali, quase posso sentir.

Ele se inclina, seus dentes mordicando a pele sensível sob minha orelha, enquanto ele ri levemente. “Goze, Dakota”, ele provoca. “Apenas deixe ir. Goze para mim.”

Eu gozo.

Gozo tão forte que minhas costas se curvam, e acabo inclinando-me para o outro lado do balcão.

Rip me pega com o braço em volta da minha cintura e sua testa pressiona entre os meus seios enquanto eu luto para respirar através dos tremores que percorrem meu corpo inteiro. Um após o outro, mesmo depois que ele afastou a mão, é o cheiro dele, o jeito que seu corpo continua a tocar o meu, o jeito que ele me segura tão perto e ternamente quando me vê desmoronar.

Não há observação arrogante, nenhum sorriso presunçoso.

Seus olhos me encaram. Eles estão escuros e turvos. Não consigo identificar ou dizer o que ele está pensando.

O ar ao nosso redor é diferente.

Não está cheio de tensão.

Parece calmo.

É bom.

“O que foi isso?” Eu me atrevo a sussurrar enquanto nos encaramos. Meu coração ainda está acelerado contra o peito, mas não me importo. Eu estou confusa. Quero respostas. Eu preciso saber. Ele tenta se afastar, mas estendo a mão, envolvendo seu pescoço. “Rip–”

“Se você não me deixar ir agora, Dakota, vou levá-la para o meu quarto e te foder a noite toda”, ele responde com intensidade, suas mãos segurando minha cintura como se fosse uma tábua de salvação. Suas palavras provocam uma nova luz dentro de mim. Talvez seja o fato de que ainda estou sentindo os efeitos do meu orgasmo. Ou que ainda estou naquele estado em que a ideia de mais soa tão maravilhosa, então foda-se todo o resto.

Talvez seja isso.

Ou talvez seja a maneira como Ripley está me olhando ser tão nova, tão diferente, e é um olhar que me faz sentir... bem.

E isso me faz querer mais.

Muito mais.

“Eu não deixei você ir ainda”, provoco. Suas mãos apertam novamente, e ele me levanta do bar, prendendo minhas pernas ao redor de sua cintura. Suas mãos se movem para minhas nádegas, apertando-as com força e pressionando-se contra minha buceta.

Minha boca abre, e respiro fundo quando envolvo meus braços em seu pescoço. Sua boca está muito perto da minha, seus olhos praticamente me desafiando. “É melhor estar certa sobre o que quer agora. Este é seu único aviso.”

Eu não paro para pensar.

Sei o que quero.

“Parece que você está procurando uma desculpa”, provoco, lambendo os lábios.

Ele não está.


CAPÍTULO 13

DAKOTA

Agarro-me firmemente a Rip enquanto ele me carrega sem esforço pela escada. Ele chuta a porta do seu quarto antes de fechá-la atrás de mim.

O quarto está vazio. É uma sorte que os Brothers by Blood ainda são uma sede razoavelmente pequena aqui e tem muitos quartos extras.

Este é um que Rip parece ter reivindicado permanentemente, já que ele está visitando a cada dois meses fazendo negócios com o clube e passando tempo com Meyah.

Não o vejo com muita frequência quando está por perto, e sei que isso é parte do motivo.

A tensão sexual entre nós dois aumenta mais e mais a cada vez que chegamos perto. É como eletricidade estática. Quanto mais nos esfregamos um contra o outro, mais fagulhas criamos, e mais sabemos que um único choque será enorme.

E parece que finalmente chegamos a esse ponto.

“Última chance, Dakota,” Rip murmura quando estamos no meio do seu quarto, meu corpo ainda grudado nele. Seus olhos diretamente nos meus. Agora, eles me lembram de mel, doce e suave, a cor dourada no interior afastando os tons geralmente escuros que obscurecem as bordas. Eles me fazem sentir quente, dão conforto e é como se eu não conseguisse chegar perto o suficiente.

Ele me segura com tanta facilidade, os braços embaixo de mim mesmo quando libero seu pescoço e passo os dedos por seus cabelos, ele nem sequer oscila ou vacila.

“Por que continua me oferecendo fugas?” Pergunto com um sussurro, surpresa com a forma como o tom entre nós mudou um pouco.

Estou excitada, desesperada para tocá-lo, senti-lo e testar esta óbvia e louca onda de energia que nós dois tentamos lutar contra até agora. Mas também estou curtindo esse ritmo lento, esses poucos momentos em que há paz rodopiando ao nosso redor, em vez de nuvens de tempestade e o modo como nenhum de nós está realmente com pressa.

“Porque você é linda e é incrível. E é uma garota que merece um homem que vai fazer todos os tipos de promessa para você”, ele explica, suas palavras passando por mim como uma suave brisa de verão, uma que você só quer aproveitar e desfrutar. “Eu nunca fui o tipo de cara doce com as palavras e confissões, Dakota. Você sabe disso. Sou um idiota.”

“Um idiota sexy”, provoco.

“Um idiota que quer te foder até você gritar meu nome, qualquer coisa além disso eu não posso prometer.”

“Não quero que me peça em casamento”, brinco enquanto meus dedos deslizam ao lado do seu rosto, apreciando a sensação de sua barba contra as pontas dos meus dedos. “Você alguma vez me viu sendo esse tipo garota? Aquela que quer elogios, ou a garota que precisa saber que ela é especial.”

“Você é especial”, ele argumenta, franzindo a testa. “Porra! Você é sexy, é feroz, é forte e, caralho, se não odeio a ideia de qualquer outro idiota te tratando como menos do que merece.”

Minha língua aparece e molho os lábios quando eles ficam ligeiramente secos. Não tenho certeza do que está acontecendo. Este Rip, ele é diferente, e não tenho certeza de onde ele veio.

“É uma coisa boa que sou o tipo de garota que nunca deixaria um homem me tratar desse jeito”, provoco, segurando seus longos cabelos entre os dedos e puxando-o suavemente até que seus olhos brilham. “Não preciso de promessas, não preciso ser questionada. Aqui estão minhas expectativas. Você me faz gozar. Eu te dou a mesma cortesia. E quando terminarmos, você pode dizer como sou incrível.”

Estou ignorando isso, e fazendo um ótimo trabalho também.

Fico petrificada.

Apenas o beijo dele me faz perder a cabeça, e penso que pular na cama com ele não mudará nada?

Estou brincando comigo mesma.

Seus olhos se abrem, apenas um pouco, mas o suficiente para me deixar saber que ele está surpreso com a minha resposta.

Ele vira meu corpo, pressionando minhas costas contra a porta e empurrando seus quadris para frente. A espessa saliência do seu pau sob o jeans pressiona contra minha buceta. Está duro. É enorme. E meu ritmo cardíaco subitamente sobe mais um pouco.

“Que tal agora. Expectativas. Eu faço você gozar. E vou gozar dentro dessa bucetinha gostosa. E depois que sua voz estiver bem rouca de gritar meu nome, você pode me implorar para fazer tudo de novo?”

Mordo meu lábio inferior enquanto tento não sorrir como uma maluca. “Oh meu Deus”, sussurro, puxando meu corpo para frente, então fica colado no peito nu dele. “E eu pensei por um momento que te perdi. Mas aí está você.”

Seu sorriso de merda aumenta mais.

Eu deveria ser mais esperta por pensar em subestimar um cara como a porra do Ripley.

O baque de seu jeans batendo no chão me surpreende, não só porque eles soam tão pesados, mas porque não tenho ideia de como ele conseguiu abaixá-los. Então uma de suas mãos escorrega entre as minhas pernas, instantaneamente me fazendo ofegar quando ele agarra a parte interna da minha calcinha e a puxa para o lado.

Nem sequer tenho tempo de perguntar o que diabos ele está fazendo antes de seus braços escorregarem de debaixo da minha bunda para debaixo dos meus joelhos, instantaneamente me espalhando e praticamente me deixando cair em seu pau. Ofego alto, minhas unhas afundando em sua pele quando ele empurra o pau dentro de mim, usando a porta nas minhas costas para me segurar.

Ele ri baixinho, o som me deixando mais louca porque ele sabe que estou totalmente à sua mercê. Ele empurra dentro de mim com força, a umidade do meu orgasmo ainda está muito presente e tornando quase fácil demais para ele entrar e sair e atingir exatamente o ponto que está procurando.

“Foda-se, sim”, ele sussurra, parando por um momento antes de empurrar com força dentro de mim e me fazendo agarrá-lo enquanto meu corpo incendeia. “É isso que queria?”

“Sim”, eu ofego, meu corpo tremendo quando ele faz de novo.

“Parece que vou te quebrar”, ele sussurra entre os dentes quando ele começa a fazer movimentos lentos e torturantes.

Não me importo, no entanto. “Então, quebre.”

Seus olhos se iluminam de surpresa. “O que é isso?”

“Apenas me foda, Rip”, sussurro, sabendo que as palavras são quase inaudíveis, mas me recusando a deixá-lo ganhar ainda.

“Maldição”, ele xinga, de repente, afastando-me da porta e levando para a cama, chutando o jeans no processo. “Tire suas roupas e fique de quatro.”

Ele me deixa cair na cama, e rastejo para o centro, minha bunda no ar balançando e minha buceta brilhando, desesperada para gozar.

Ficando de quatro, agarro a parte inferior do moletom que estou usando e puxo para cima. Exatamente quando me pergunto como vou tirá-lo sem me machucar, duas mãos empurram as minhas para longe, e ele assume.

Inconscientemente, levanto meus braços sobre a cabeça e permito que ele retire o moletom, seu toque suave me surpreende, mas estou apreciando isso enquanto ele cuidadosamente manobra o moletom sobre minha cabeça sem puxar meu cabelo.

A roupa ofensiva é jogada no canto do quarto.

Olho por cima do ombro enquanto ele se afasta um pouco, os olhos parecendo de um predador, observando-me, percorrendo cada parte da minha pele nua, pronto para me agarrar, caso eu tente fugir.

Eu não posso evitar. “Olhar para ele não vai fazer isso acontecer.”

“Desculpe?” Ele pergunta quase empolgado quando se arrasta para mais perto, abrindo minhas pernas enquanto se acomoda atrás de mim, seu pau pressionado contra minha bunda. Sua mão percorre o lado da minha cintura e sobre meu peito. “Eu não ouvi muito de você?” Ele brinca, assim que passa os dedos por meu mamilo duro.

Apenas isso pode me fazer gozar.

Minhas costas arqueiam, e me inclino contra ele, a cabeça descansando em seu ombro.

“Foda-se”, Ripley xinga. “Porra, você é perfeita. Como uma maldita duende.” Uma de suas mãos continua a provocar meu mamilo, enquanto a outra arrasta meu cabelo para o lado, expondo o pescoço.

O quarto fica subitamente muito quieto.

Ele não está exigindo minha obediência.

Ou testando para ver até onde pode me pressionar antes que eu ceda.

“Dakota, porra, você fode com a minha cabeça. Isso deveria ser diferente”, ele sussurra, seus dedos puxando suavemente meu mamilo antes de descer por minha cintura e deslizar entre as minhas pernas. Respiro fundo quando ele passa o dedo sobre meu clitóris. Então ele se inclina para frente, seu corpo cobrindo o meu, a boca salpicando beijos nos meus ombros enquanto mais uma vez incendeia meu corpo e me força a buscar apoio em minhas mãos. “Parte de mim quer fodê-la com força.”

Eu quero acenar ou gritar sim, faça porra, por favor.

Posso senti-lo alinhando seu pau, deslizando a cabeça em minha entrada algumas vezes, só para me atormentar.

“Mas sei que se eu fizer, vai acabar, estará terminado, e não estou pronto para parar de te tocar.”

“Então não pare”, sussurro, não pronta para que ele pare também.

Posso ver que ele está lutando.

Eu também estou. Isso é mais do que antes. Antes éramos nós compartilhando nossos corpos, agora estamos descobrindo mais uma coisa sobre o outro, e isso é algo que não poderemos desfazer depois.

Antes nós fingíamos não notar a tensão sexual ao nosso redor. Falamos a nós mesmos que não era nada, apenas nossa imaginação. Mas nós dois sabemos agora que não é. E nós dois sabíamos que a faísca que sentimos antes era capaz de acender um fogo.

Meu corpo já anseia mais de seu toque.

O fogo está furioso em torno de nós, caberia a nós decidir se abandonamos e voltamos a fingir, ou deixamos ficar furioso ao nosso redor e esperar que não nos queimasse inteiros.

“Eu preciso ouvir as palavras, Duende”, ele murmura. O apelido é novo, mas ainda assim me aquece.

Eu lambo os lábios. “Ripley”, murmuro baixinho. “Eu quero que você me foda, por favor”, imploro, não me importando que ele venceu agora.

Eu o quero.

Meu corpo o deseja.

E essa é possivelmente a única noite em que eu o terei.

“Maldição”, ele xinga quando empurra dentro de mim, suas mãos segurando meus quadris quando ele se afasta e empurra novamente.

“Foda-se!” Xingo, jogando a cabeça para trás. Minhas mãos agarram os lençóis debaixo de mim, torcendo-os em meus dedos, tentando me segurar enquanto ele me fode mais forte do que posso lembrar de alguém usando meu corpo. E adoro isso, com toda certeza eu adoro.

Ouvi-lo amaldiçoar em voz baixa só me deixa mais excitada. Não sei o que ele está dizendo, mas sei que está tão louco quanto eu.

“Ripley”, eu gemo.

“Não posso te ouvir, Dakota.”

Sei que estava muito alto e minha melhor amiga que mora a cerca de cinco quartos daqui pode ouvir, mas neste momento, farei qualquer coisa que ele pedir se isso significar que ele continuará fazendo com que eu me sinta assim.

“Rip!” Gemo, meu corpo começando a superaquecer, pegando fogo. Minha buceta começou a apertar, e meu coração parece saltar do meu peito a qualquer momento.

Então só para me excitar mais, ele alcança meu seio e belisca o mamilo. Todas as terminações nervosas de repente estão formigando, meu corpo tremendo enquanto luto para me segurar enquanto prazer me inunda. Caio nos meus cotovelos, enterrando meu rosto nos lençóis enquanto luto contra o desejo de soltar uma linha muito longa de palavrões.

Ripley continua a impulsionar o pau dentro de mim enquanto tremo ao seu redor. “Droga!” Ele resmunga, mantendo o movimento intenso e roubando minha respiração. Apenas quando penso que terminou, tudo volta a crescer, mas desta vez tão rapidamente que não tenho tempo para me preparar para o quão forte me atinge.

“Oh, Deus!” Grito enquanto todo meu corpo estremece, e caio em pedaços debaixo dele. Minhas mãos doem por segurar os lençóis com tanta força, e sinto que nunca vou encontrar a respiração.

Ele grunhe alto, empurrando forte e segurando meus quadris. “Puta merda, mulher”, ele amaldiçoa, inclinando-se para frente e pressionando a testa nas minhas costas. Está quente e não faz nada para esfriar meu corpo em chamas.

Cada movimento com ele ainda dentro de mim faz meus músculos tremerem.

Tudo está tão sensível. Um leve toque em minha pele parece intenso.

Ele dá um tapa forte na minha bunda, provocando uma ardência em minha pele antes de sua mão se mover, acariciando-a.

“Ripley!” Repreendo, parcialmente me perguntando por que isso na verdade é bom, parcialmente pronta para arrancar sua cabeça.

Ele ri baixinho quando sai e se afasta, deixando-me exausta e incapaz de me mover no meio da cama com a minha bunda no ar.

Tapa!

Outra ardência, rapidamente acalmada pela pressão de seus lábios.

Homem maldito.

Cada parte de Ripley me dá um golpe. Desde os momentos em que ele é condescendente e arrogante até os momentos em que ele é tão gentil e atencioso que minha alma aquece.

Nunca quis tanto socar alguém e depois beijar para melhorar.

Várias vezes.

Entre suas pernas.

Seus lábios se movem para cima e sobre o meu quadril. “Fique aí, vou pegar alguma coisa para te limpar.”

Ele sai da cama e me deixa, mas vou te dizer uma coisa, acho estranhamente sexy ter um homem oferecendo algo depois que ele fodeu e gozou dentro de você.

Não é exatamente sexy colocar a mão entre as pernas e correr para o banheiro então você não faz bagunça por todo o lugar.

Poucos caras entendem isso, e para ser honesta, nunca teria imaginado que ele seria um deles. Mas parece que hoje à noite Ripley está destruindo muitas ideias pré-concebidas que tinha sobre ele.

Isso me faz querer saber mais.

Não há dúvida em minha mente que Ripley é o idiota que ele mostra para todos, mas começo a ver coisas abaixo da superfície que não é toda a sua história. Deveria saber porque costumo usar muitas das mesmas táticas para esconder as minhas. Sei que é perigoso ir mais fundo. Mas, estranhamente, não é porque estou com medo de encontrar algo que me aterrorize, ou que não goste.

E se eu encontrar mais que isso?

E se eu encontrar algo que posso amar?

Em que diabos eu me meti?


CAPÍTULO 14

DAKOTA

“Tia Dee!” Uma vozinha chama com alegria da porta.

Então vejo minha sobrinha, Evie, tentando descer a escada que leva até a casa de Austin e Amelia.

Eu fico aqui sorrindo de orelha a orelha enquanto a observo subir um degrau de cada vez, a concentração e determinação em seu rostinho tão intensos que não quero roubar sua persistência ao correr e pega-la em meus braços como tão desesperadamente desejo. Precisa pelo menos um minuto inteiro para ela descer a escada, mas quando chega no último degrau, sai correndo a toda velocidade em minha direção.

Ajoelho e abro os braços para pegá-la, faz algumas semanas que a vi, e juro por Deus que ela cresceu cerca de sete centímetros nesse período. Então, quando ela me atinge, isso desequilibra todo meu corpo, e caio para trás com um baque na calçada de concreto. Evie pousa em cima de mim com um sorriso largo, as mãos no ar como se estivéssemos brincando.

Eu gemo. “Ai, garota. O que diabos seu pai tem te ensinado? Como ser um zagueiro?”

O riso suave da casa chama minha atenção, e olho nessa direção para ver Amelia correndo em nossa direção. “Você não está totalmente errada.” Ela sorri quando levanta a enorme criança de três anos do meu colo. “Austin decidiu que aulas de autodefesa para crianças são uma boa ideia, e ela passou as últimas duas semanas praticando seus novos movimentos em nós.”

Eu me encolho. “Só Austin.”

Ela segura Evie no quadril e revira os olhos. “Nem me fale. Felizmente, porém, a lição da semana passada foi um pisoteamento e ele sofreu com isso.”

“Bom trabalho.” Gargalho enquanto tranco meu carro e a sigo para dentro.

Evie corre para a sala de jogos, enquanto Amelia e eu conversamos e andamos pela casa.

Contornando o corredor e entrando na cozinha, sinto instantaneamente um aroma que me pega e joga de volta na infância – a torta de frango da minha mãe. “Graças ao Senhor”, gemo de prazer quando vou para o seu lado e passo os braços em torno da mulher que não só me deu a vida, mas é a razão pela qual estou viva. “Ei, mamãe.”

Sua risada suave é quente e reconfortante. Apesar de ficar no clube não ser tão ruim, eles realmente precisam ter uma mulher lá que sabe cozinhar porque sinto que ganhei aproximadamente dez quilos esta semana.

“Ei, minha linda menina”, ela responde, virando a cabeça e pressionando os lábios na minha bochecha. Ela congela por um segundo antes de se afastar e estreitar os olhos. “Por que você cheira a fumaça de cigarro?”

Amelia olha para cima, a sobrancelha levantada em dúvida enquanto minha mãe estreita o olhar, esperando uma resposta.

A resposta é porque fiquei sentada do lado de fora com Ripley pelas últimas duas horas enquanto ele tentava ao máximo evitar Lauren. Eu posso dizer que ela está o deixando louco, constantemente lutando por sua atenção, mas também olhando para os outros membros do clube em todo o lugar como se fossem menos do que eles são, mesmo que a deixem ficar lá quando realmente não há necessidade.

Claro, não é o clube de Ripley, mas ele respeita o fato de que estão deixando todos ficarmos. Mesmo que Meyah seja irmã de Rip, eles ainda não são obrigados a deixar todos esses estranhos entrarem.

“Não, não estou fumando”, defendo-me, inclino para trás quando ela avança ainda mais na minha direção. “Estive no clube, e um dos meninos fuma.”

“E quão perto esteve deste garoto que a fumaça dele ainda está em sua roupa?” Amelia questiona com um sorriso brilhante ‘te peguei’ em seu rosto. “Ele é sexy?”

“Ele é legal?” Mamãe acrescenta um pouco mais alto.

Ao contrário do meu irmão, Amélia e mamãe não tem estranhos sentimentos anti-MC. As duas conheceram Meyah e Ham junto com Austin, e ambas concordam que são doces e educados. Ham pode ser o VP do clube, mas foi criado com boas maneiras e um bom coração.

“Não terei essa estranha conversa com você”, respondo me afastando de minha mãe e dando a volta ao fogão onde há uma panela de sopa cozinhando.

“Então, há alguém?” Amelia ri de emoção antes de parar no meio do riso. “Oh, Senhor nos ajude quando disser a Austin que está namorando um motoqueiro.”

“Eu não estou namorando ninguém”, protesto, pegando a concha de dentro da grande panela de sopa e apontando para ela. “Não estou namorando ninguém. Só estou passando um tempo no clube.” Se considerar se esgueirar pelo clube à noite e dormir com o irmão de Meyah como passar um tempo lá, como fiz nos últimos quatro dias, então com certeza.

Mamãe pega a concha de sopa da minha mão e a joga de volta na panela. “Seu protesto patético está jogando sopa no meu chão.”

Evie corre para a cozinha e sobe no balcão ao lado de sua mãe, com livros de colorir e giz de cera na mão. Ela olha para mim com uma carranca. “Por que a cara da tia Dee está assim?”

“Porque tia Dee tem um caso sério de negação”, Amelia responde em diversão, olhando para mim como se estivesse me desafiando a sair dessa.

“O que é negação?” Evie pergunta curiosamente depois de alguns momentos de pensamento.

“Um rio no Egito”, respondo antes que Amelia possa abrir a boca.

Evie olha entre nós duas como se estivesse confusa e tivesse mais perguntas, mas minha mãe entra em cena para me salvar. “Isso é o suficiente meninas”, diz ela, balançando a cabeça. Ou pelo menos pensei que ela iria me salvar. “Não vamos provocar Dakota sobre a negação... Tenho certeza que ele é muito legal.”

“Foda-se a minha vida...” murmuro baixo enquanto Amelia ri.

Evie apenas me encara com uma expressão preocupada. Posso vê-la tentando entender as palavras em sua cabeça, e vejo o momento em que ela finalmente percebe que tem três anos e tem merda mais importante para se preocupar, como a cor da ave em seu livro.

Volto-me para o fogão e começo a mexer a sopa novamente, minha barriga roncando alto e chamando a atenção da minha mãe, que se aproxima e para ao lado do balcão. “Ele é legal?”

“Mãe...” Suspiro, mas ela me olha com um daqueles olhares de mãe que instantaneamente te faz lembrar por que foi criada para ser um membro respeitoso da sociedade – porque pode levar umas palmadas na bunda se não for. Eu gemo. “A questão é irrelevante porque agora, não há nada acontecendo.”

“Você quer que haja algo acontecendo?” Ela pergunta, passando as mãos sobre o avental casualmente. “Ele é o tipo de homem que cuidaria de você, protegeria, faria rir e me daria netos?”

Engasgo com uma risada e balanço a cabeça para minha mãe, que apenas me encara inocentemente. A parte dos netos não tenho certeza, mas estou começando a perceber que o resto é verdade. Ele já provou que iria me proteger e lutar por mim, se necessário, e não apenas isso, mas aprendi que a inteligência de Ripley é quase tão rápida quanto a minha, e ele realmente me faz rir.

Mas tudo é novo demais.

Estou começando a ver os lados de Ripley que tenho certeza que ele não deixa muita gente ver. Ele está me deixando entrar, mas a porta ainda não está aberta.

Já imaginei estar num lugar onde ele é para quem anseio voltar? De jeito nenhum. Mas estranhamente, estou feliz que seja.

Batida.

Batida.

Batida.

As batidas fortes na porta da frente afastam meus pensamentos e, depois de alguns instantes, começo a sorrir.

Amelia revira os olhos antes de me olhar.

“Ninguém está em casa”, respondo com um largo sorriso enquanto continuo a mexer a panela de sopa no fogão.

Batida.

Batida.

Batida.

Ninguém atende a batida. Amelia continua a colorir com Evie no balcão, enquanto minha mãe abre o forno e verifica sua torta, lutando contra um sorriso.

Isso é como uma tradição para nós, e é por isso que ninguém corre para abrir a porta. Austin e eu estamos sempre em competição para ver quem consegue trancar um ao outro primeiro, ou quem pode ter vantagem sobre o outro.

“Não há ninguém em casa”, grito quando meu irmão mais velho surge no canto do corredor com uma expressão irritada. “Droga, quem te deu uma chave?”

“É a minha casa.”

Austin parece intimidante como o inferno. Ele é alto, largo e um pouco desalinhado. Mas é essencialmente o uniforme da polícia que atraia a atenção das pessoas. Naquele uniforme, ele parece com meu pai. Eles são tão parecidos em sua aparência, mas seu temperamento e abordagem ao trabalho são muito diferentes. Acho que principalmente porque meu irmão foi tão contaminado pela morte de papai que se tornou menos focado em ajudar pessoas como meu pai, e se concentrou mais em como derrubar todos os criminosos como aqueles que roubaram papai de nós.

Meu coração aperta um pouco mais forte.

Austin apoia o ombro contra a parede e suspira. “Honestamente, querida. Essa merda está ficando meio velha.”

“Você sabe tudo sobre as coisas serem velhas, não é?” Respondo, virando as costas para ele e mergulhando o dedo na panela que estou mexendo antes de trazer a mistura até minha boca.

Ele revira os olhos. “Você sabe que todos precisamos comer isso e acaba de enfiar o dedo.”

“Eu não tenho germes.”

“Isso é discutível.”

“Isso é o suficiente de vocês”, minha mãe ri quando se aproxima e beija meu irmão na bochecha antes de afastar e bater no mesmo lugar suavemente. “Seja legal com sua irmã.”

Meus olhos se iluminam, e mostro a língua, rapidamente puxando-a de volta antes de minha mãe se virar e ir verificar o jantar.


???


“Como está seu apartamento?” Minha mãe pergunta quando nos sentamos para comer um pouco mais tarde. Evie já está enchendo suas bochechas com a torta da mamãe e saltando na cadeira.

“É bom, mamãe”, respondo, começando a atacar meu prato.

“Engraçado, porque fui ao seu apartamento no outro dia e você não estava em casa”, meu irmão interrompe, usando o tom sério de quando tenta fazer uma observação. “Tentei todos os outros dias também. Você não esteve lá por quase uma semana.”

Cinco dias, na verdade, rainha do drama.

Amelia o cutuca com o cotovelo e sussurra algo em voz baixa, mas ele continua a olhar para mim, esperando por uma resposta.

“Estou hospedada no clube”, finalmente respondo, tentando fazer parecer casual. Como se não fosse grande coisa. E para todos os outros na sala, além do meu irmão, não é. “Austin, está tudo bem. Meyah e eu estamos fazendo alguns trabalhos da faculdade juntas, e o irmão dela está hospedado com eles, então ela não quer sair.”

Oh, como a mentira sai fácil da minha língua.

“Isso parece ótimo, Dakota. Você percebe que Caleb Corrigan está prestes a prender esses caras, e o último lugar que te quero enquanto isso acontece é lá no meio.”

Apenas o som do nome de Caleb dispara fogos de artifício dentro de mim, e desvio o olhar da comida, minha língua formigando com algumas palavras que definitivamente não são dignas de usar a mesa de jantar, mas que claramente definem minha opinião sobre esse idiota.

“Caleb Corrigan não tem ideia do que ele está falando”, consigo resumir enquanto olho para o meu irmão do outro lado da mesa.

Ele levanta a sobrancelha para mim. “Ele disse algo para você no jantar?”

Ele disse muito, mas nada que eu possa repetir.

“Eu posso ler as pessoas, Austin”, começo, sabendo que isso nunca vai convencê-lo, mas arriscando de qualquer maneira. “Ele me dá arrepios. Não confio no cara.”

“No entanto, está feliz em ficar num clube onde pelo menos um desses membros cumpriu pena, foi condenado ou suspeito de um crime e misteriosamente libertado.”

“Isso é o suficiente, Austin”, mamãe silencia, olhando seu filho mais velho do outro lado da mesa de jantar.

“Você não tem ideia de quem são essas pessoas ou o que elas fizeram”, respondo, tentando manter minhas mãos debaixo da mesa. “Nenhuma vez eles fizeram algo além de me dar um emprego, cuidar de mim e me proteger, não importando o custo. Se tirasse um momento para realmente entender o MC, perceberia que as leis pelas quais eles vivem são respeitáveis e honrosas, assim como as leis pelas quais você vive.”

“Você não está segura lá, Dee”, ele responde como se tivesse simplesmente ignorado todas as outras palavras que eu disse. “Estou pedindo a você, por favor, apenas me escute uma vez, porque agora só espero todos os dias pelo dia em que a merda vai bater no ventilador naquele lugar e você será pega no fogo cruzado.”

Abro a boca para discutir e tento dizer a ele que está tudo bem, que eles me manterão a salvo, mas então vejo o rosto de Austin. O cansaço em seus olhos e o jeito como seu cabelo está em pé, como se ele tivesse com preocupação passado os dedos por ele muitas vezes hoje. E então lembro que sou uma cadela egoísta. Desde que era criança, fiz com que ele se preocupasse comigo. Ele atura minha besteira, minha boca, minha incapacidade de seguir as regras e obedecê-las, e minha necessidade de ser diferente e única.

Entrei nesta família recém-saída de uma cama de hospital onde quase morri, e desde aquele momento, Austin me apoiou. Ele me protegeu, cuidou de mim, fez com que ninguém mais me machucasse assim novamente. E você sabe o que, ele não precisava.

No entanto, foi ele quem me ensinou como dar um soco, como dirigir um carro como se tivesse o roubado e como não deixar as opiniões de outras pessoas serem importantes.

Não sou sua irmã de verdade.

Nós não temos o mesmo sangue.

Meu irmão, porém, ele está sempre lá. Ele é o forte.

Eu inalo profundamente pelo nariz. “Eu te entendo, vou voltar para casa.”

Seus ombros relaxam. Austin se levanta com o prato vazio e caminha ao redor da mesa. Ele coloca o braço em volta do meu pescoço e pressiona os lábios no topo da minha cabeça. “Amo você, macaquinha.”

Eu empurro minhas mãos contra seu estômago duro como pedra, e ele se afasta, rindo para si mesmo.

“Só quero que saiba, no entanto”, acrescento antes que ele possa seguir em frente. “Caleb está aqui para se livrar dos bandidos e os garotos do clube... eles não são ruins, Austin. Eles são leais, confiáveis e nunca me trataram com nada além de respeito. Então, lembre-se disso, ok?”

Posso vê-lo rangendo os dentes, mas finalmente, ele suspira. “Sim, eu entendo.”

Solto o ar que estava segurando, preparando-me totalmente para uma luta.

Austin confia em mim, mas sei que está apenas tentando me proteger. E sabe o que, isso não é uma coisa tão ruim.

Ele está me protegendo.

Posso não ser uma parte da família que o universo planejou para mim, mas estou tão feliz por ter a que tenho.


CAPÍTULO 15

RIPLEY

Estufando meu peito e empurrando meus ombros para trás, decido que só preciso ser corajoso. Ter certeza de que ela está bem, e que papai não ficará bravo quando chegar em casa porque mamãe esqueceu de desligar a torneira.

Então, coloco minha mão contra a maçaneta.

E eu abro a porta.


Respiro fundo e sento bruscamente na cama. Suor escorre por minha testa, e levanto a mão, enxugando-a.

Você pensaria que um dia ficará mais fácil, que meu coração não vá acelerar ou que não me sentirei constantemente doente por alguns minutos depois do pesadelo, mas todas as vezes, isso me atinge como uma marreta no peito, e simplesmente não consigo respirar.

Caio de volta na cama, totalmente acordado, mas só preciso de um momento extra para organizar meus pensamentos. Os lençóis farfalham ao meu lado e uma mão cobre meu peito. É quente e aceito seu toque, algo que parece estranhamente normal e reconfortante. Sinceramente pensei que se nós apenas cedêssemos à tensão por uma noite, então talvez o jeito que sentisse fosse desaparecer. Pensei que seria capaz de arrancá-la da minha cabeça e corpo, mas acabou que isso apenas a levou mais fundo na minha pele, e começo a gostar de tê-la lá.

Onde posso protegê-la.

Onde posso mantê-la apenas para mim.

Onde nenhum babaca pode machucá-la.

O cabelo loiro de Dakota está sobre o travesseiro enquanto ela acaricia o rosto contra meu braço, e a ponta do dedo faz cócegas no meu estômago. Foi uma sensação estranha de me acostumar nos últimos dias – ter alguém dormindo ao meu lado. Nunca quis isso antes, sempre petrificado, se teria um pesadelo, e elas fariam perguntas.

Não quero precisar explicar a ninguém.

Não quero que ninguém veja o meu ponto fraco.

E é assim que meus demônios e pesadelos me fazem sentir – fraco.

Tanto quanto só quero rolar e afundar meu pau profundamente na mulher ao meu lado, preciso sair daqui. Preciso limpar a mente. Preciso descobrir o que diabos estou fazendo, porque esta é a melhor decisão que tomei ou estraguei tudo dez vezes mais.

Inclino e pressiono os lábios na têmpora de Dakota, fechando os olhos por apenas um minuto. Não posso deixar de sorrir, enquanto recuo, balançando a cabeça. “Que porra você fez comigo, Duende.”

Então levanto da cama e coloco meu colete e jeans e desço as escadas para a oficina que é ligada ao clube.

Parte de mim sente falta de casa.

Mas outra parte sabe que não há maneira no inferno que vá embora ainda.

Felizmente, com as renovações do teatro esperando para começarem em breve, não precisarei, e isso por si só me dá mais tempo com Dakota, para realmente ver se esse é o caso que pensei que seria, ou se o que lutei por tanto tempo está mudando.

Uma coisa que realmente sinto falta de casa é o meu galpão.

O pequeno galpão na parte de trás do clube em Vegas – é o meu refúgio. É onde vou quando preciso organizar meus pensamentos.

Por mais que tente manter a cabeça calma, não nego que há momentos em que posso ser um idiota. Odeio desrespeito, odeio ver minha família ferida, e odeio as pessoas que menosprezam as pessoas com quem me importo, o que é algo que Drake e eu temos em comum. A diferença entre nós é a maneira como lidamos com as coisas.

Enquanto Drake prefere realmente considerar como pode machucar alguém e ir até eles num lugar que ele sabe que vai quebrá-los, sou mais do tipo de usar meu punho e pensar no resto mais tarde.

Quando sinto que as coisas estão aumentando - seja por causa de algo acontecendo com o clube, por causa de memórias e pesadelos, ou talvez uma pequena garota perfeita que se enterrou na minha pele – esculpir ajuda a clarear minha mente.

E agora, realmente preciso disso.

Vou até o canto da oficina dos irmãos. Felizmente, trouxe algumas ferramentas comigo para poder tentar recriar alguns dos desenhos do teatro antes de Drake fazer uma oferta pelo local. Mas não vamos visitar novamente por mais alguns dias depois que ele terminar as coisas em Las Vegas com os apartamentos.

Também trouxe pedaços pequenos de madeira de Aspen. É mais fácil trabalhar com minhas grandes ferramentas, e já tem algo que começou a surgir alguns meses atrás, mas parece fazer mais sentido agora.

Minha mente frequentemente se perde na direção das fibras da madeira, nos padrões já feitos, na maneira como fluem tão perfeitamente. Minha faca de corte é afiada, e quando fico realmente animado com uma criação, tenho que constantemente dizer a mim mesmo para diminuir a velocidade para que não corte a mão se errar a madeira.

Começo a sentir que meu corpo e mente estão livres do nevoeiro, e posso ver claramente. E desde que a névoa desapareceu, a única coisa em que consigo pensar é Dakota. Só de pensar nela um sorriso domina o canto da minha boca. Ela é como a porra de um vício que sei que será ruim, mas não tenho intenção de desistir. Ainda não.

Ela me mantém na ponta dos pés. Ela é perspicaz. Ela é inteligente pra caralho. E atrás da casca impetuosa que parece se esconder, há a quantidade perfeita de doce e suave. Como se ela me diria para ir para o inferno, mas provavelmente me seguiria porque se sente mal por eu ter que ir sozinho. De repente sinto uma merda que nunca senti antes e nem sei o que diabos fazer com isso.

“Uau! Ripley, essa coisa é incrível.”

Sento rapidamente, mal desviando meu polegar da faca. “Porra!” Eu digo, balançando a cabeça, meu coração parecendo ter parado e está demorando um segundo para voltar a bater. Meus músculos ficam tensos, ainda mais quando a observo se mover em direção a um grupo de coisas que esculpi. A camisa que ela usa é grande e larga, não é uma das minhas, como me vejo desejando ser. Noto o nome do seu irmão escrito nas costas e presumo que é uma das dele.

Preciso corrigir isso.

Seus olhos examinam os objetos na bancada de trabalho. Alguns são pequenos, coisas como animais ou objetos e formas que achei interessantes. Outras são pedaços maiores e maciços de madeira com desenhos e formas intricadas e delicadas.

Realmente não tenho controle sobre o que estou produzindo. Apenas acontece que quando começo a trabalhar com a madeira. A única coisa que odeio são pessoas tocando-as.

Minha pele arrepia quando ela se aproxima. Espero que ela as toque. É assim a reação das pessoas – passar os dedos por cima, sentir e memorizá-lo com o toque. Mas toda vez que alguém faz isso, eu fico doente.

Não tenho certeza de porque alguém tocar um pedaço do meu trabalho me deixa no limite, talvez seja apenas falta de respeito ou reconhecimento. Se um pintor lhe mostra seu trabalho, ninguém aproxima e coloca os dedos na tinta molhada. Ou uma pessoa que molda com argila, você não se aproxima e cutuca a obra, pressionando os dedos na maldita coisa.

Assim que estou prestes a repreende-la, noto que Dakota não tocou a peça que olha. Sua mão levanta, os dedos no ar, mas nunca realmente colocando as mãos na escultura.

Apenas fico aqui e a observo com total admiração.

De onde diabos essa garota veio?

Ela congela por um segundo e me olha com um sorriso gentil. “Eu não sabia que era tão criativo”, brinca ela. “Quem diria que alguém tão bruto poderia produzir algo tão...”

“Épico?” Sugiro, cruzando os braços sobre o peito e encostando-me na bancada enquanto a observo vagar mais perto.

Ela toca nas pernas nuas, sacudindo a cabeça. “Eu ia dizer bonito, mas é bom ver que seu ego cobre mais do que apenas sua aparência e habilidades sexuais.”

Gargalho. “Por que não está dormindo?”

“Na outra noite vim aqui dizer alguma coisa... e, hum... Eu nunca consegui dizer.” Não posso deixar de sorrir quando suas bochechas coram. Recosto-me contra a bancada e espero divertido enquanto ela luta para encontrar as palavras certas. Mesmo que parece ser meio fofo, logo começo a perceber que na verdade ela está se sentindo desconfortável. “Eu realmente vim pedir desculpas por ser uma vadia no dia em que foi ao bar me resgatar. Você não precisava ir lá, poderia ter deixado Meyah me buscar, não se importando se estava com problemas ou o quê. E fui rude com você de novo. Não é desculpa, mas acho difícil deixar as pessoas me verem quebrada ou como se eu fosse incapaz ou menos do que isso.”

Faço uma careta e cruzo os braços sobre o peito. “Dakota, a última coisa que usaria para te descrever é incapaz ou menos que isso.”

“Pode te surpreender quando digo que nem sempre fui assim...” ela lambe os lábios enquanto luta para encontrar a palavra certa.

“Exuberante? Ultrajante? Louca?”

“Todas as opções acima”, ela responde com um sorriso. “Eu fui adotada. Meus... meus pais de verdade me deixaram nos degraus da delegacia quando eu tinha uns três anos. Eles nem se incomodaram em deixar alguém saber. Não ligaram para o 911 nem bateram na porta. Eles apenas me deixaram lá.”

Porra.

Cerro os punhos com raiva enquanto observo o brilho de seus olhos escurecerem um pouco.

Só isso causa uma dor no meu peito.

A história parece familiar.

Soa como a minha.

Eu fico chocado.

Não posso imaginar como alguém iria querer se afastar de alguém tão bonita, tão cheia de vida, porque agora, estou me perguntando se serei capaz de fazê-lo.


CAPÍTULO 16

DAKOTA

Seus punhos estão cerrados e lábios curvados em desgosto. “Filhos da puta...” A acidez do seu tom me diz o quão furioso ele está com a ideia, que por si só me deixa um pouco quente, mesmo que nunca conheci uma pessoa que ouviu minha história e foi nada exceto simpático. Vindo de Ripley, parece diferente.

“Meu pai tinha acabado de voltar de uma chamada e viu o pacote nos degraus. No momento em que chegou a mim, eu estava hipotérmica, e era duvidoso se iria sobreviver.” Posso sentir a queimação na parte de trás da garganta. Eu luto para afastar as lágrimas que estão brotando nos meus olhos, e quando não funciona, tento disfarçar com uma risada. “Então, meu pai nunca saiu do meu lado. E, eventualmente, ele e minha mãe decidiram que eu já era deles e só precisavam oficializar.” Respiro fundo e encolho os ombros como se essa história não roubasse uma parte de mim toda vez que a conto.

“Você se lembra de seus pais?” Ele pergunta curioso, com a cabeça inclinada para a direita. Ele parece uma pequena coruja, isso me faz sorrir.

“Na verdade, não. Não os conheceria se passasse por eles na rua. Eu não os conheceria se os encontrasse numa loja.” Isso realmente não me incomodou. “Cresci com dois pais incríveis e uma família que amo. O fato de que eles estavam tão dispostos a me abandonar diz muito sobre quem eles são como pessoas. Então, depois de anos e anos chorando e imaginando, eu precisei lembrar que não queria fazer parte de uma família que poderia facilmente me jogar no frio e não importar se eu fosse viver ou morrer.”

Ripley está quieto.

Seus olhos estão presos em mim, mas posso dizer que há uma parte do seu cérebro que está repetindo, processando as informações que disse a ele.

“Minha mãe também não me quis”, ele murmura finalmente, colocando a mão no bolso e tirando um pacote de chiclete. Quero dizer algo, dizer-lhe que sinto muito, mas sei que não significaria nada. “Drake sempre teve a mesma atitude que você... por que ele iria querer estar perto de alguém que não queria ficar perto dele.”

Engulo o nó emocional na minha garganta, impedindo as palavras, sabendo que não é o que ele precisa. “Mas você sente falta dela?”

A testa dele franze e ele baixa a cabeça por um momento, de modo que seu queixo está quase no peito.

Este é um Ripley que eu não conhecia há uma semana.

Ele está aberto, exposto e há uma vulnerabilidade que nunca vi antes. Sei o que ele está sentindo. É assustador compartilhar com alguém a única coisa em sua vida que realmente te quebrou e derrubou. Às vezes parece que apenas o reconhecimento disso vai te destruir novamente.

Mas isso é diferente.

Eu dei a ele um pedaço de mim, e agora ele está me dando um pedaço dele em resposta.

“Eu não sinto falta dela”, ele finalmente responde, parecendo mais seguro de si mesmo. “Eu só queria ter ajudado. Gostaria que não tivesse sido assim. Não precisava ser.”

Meu peito doí por ele. Ouvi a história antes. Eu ouvi Meyah e Huntsman falarem sobre isso, e Meyah explicou algumas coisas aqui e ali, mas isso me dá uma nova perspectiva. Não apenas sobre o que aconteceu, mas como fez de Ripley o homem que ele é hoje.

“Eu gostaria de poder dizer algo para melhorar”, declaro em voz baixa. “Mas sei o quão irritante pode ser quando as pessoas tentam adoçar isso.”

Ele solta uma risada e assente entusiasticamente. “Eu sei como é.”

“Como aww... aposto que eles pensam em você todos os dias. Aposto que estão orgulhosos de você.” Zombo das palavras que ouvi um milhão de vezes. Elas me incomodam, elas me deixam louca vindo de pessoas que nunca experimentaram esse tipo de perda.

Isso não é a morte de um avô, não é alguém que está doente, que não tem escolha porque seu corpo está falhando. Isso é sobre pessoas que escolhem se afastar. Escolhem dizer que você não é suficiente para elas, e que preferem seguir um caminho diferente.

Um que não te inclui.

“Por que estariam orgulhosos? Eles foram embora. Eles não voltaram. Eles não lutaram por mim.” Estou começando a ficar emotiva. Eu normalmente não sou. Normalmente, posso falar sobre isso com uma piada e uma risada, mas em vez disso, posso sentir meu coração começando a bater um pouco mais rápido e minha garganta queimando com lágrimas. “Droga, desculpe”, xingo, virando-me para a porta.

Antes que possa me afastar, Ripley estende a mão, agarrando e girando-me de volta. Ele me puxa para seu corpo enquanto pressiona minhas costas contra a parede.

O ar ao nosso redor rodopia e zumbe enquanto ele me segura aqui, nossos corpos iluminados pelas luzes brilhantes na oficina, aqui para todo mundo ver e não posso me esconder nas sombras. Ele apoia as mãos em ambos os lados de mim, abaixando a cabeça então posso ver claramente seus olhos. “Eles estão perdendo”, ele sussurra, sua voz áspera e rouca, mas ao mesmo tempo nunca poderia ser confundido com fraqueza.

Eu respiro fundo.

Quando ele me toca, não posso deixar de me inclinar quando ele segura meu rosto.

Aquele sentimento está retornando. Sinto-me segura. Eu me sinto quente. Sinto como se pudesse permanecer neste momento para sempre com ele me cercando, e nunca ter que me preocupar com mais nada.

“Não há muitas pessoas por aí que lutam por mim”, murmuro, levantando a mão e colocando a palma contra seu peito quente. Eu avanço, tanto quanto ele permite, até que estou perto o suficiente para ficar na ponta dos pés e pressionar um beijo em sua bochecha. Ele fica congelado. “Então, obrigada.”

Eu tento me afastar, mas ele mal me deixa mover dois centímetros. “Porra, Duende”, ele amaldiçoa em voz baixa, estendendo a mão e envolvendo os dedos no meu cabelo, nem mesmo me permitindo a chance de respirar antes de seus lábios colidirem com os meus. Estranhamente, posso dizer que ele está sendo gentil, tentando não me machucar, o que tanto me aquece quanto irrita.

Eu não quero Ripley suave.

Ripley suave não é o cara que me deixa louca, ele não é o cara que pode me transformar instantaneamente numa vadia indecente no momento em que fala.

Ele recua um pouco para suspirar. “Duende?” Pergunto, pressionando para frente, buscando mais. Não é a primeira vez que diz isso, mas está se tornando mais comum. “Isso deve ser mais uma piada sobre eu ser baixa?”

Ele sorri e puxa meu rosto para mais perto, sua mão segurando meu queixo. “Talvez, mas eu meio que gosto.”

Não vou admitir, mas eu também.

Sua boca captura a minha, provavelmente com medo de que eu faça algum tipo de protesto se ele não o fizer.

Meu coração está acelerado, batendo no peito e forçando todo o sangue para o que parece um lugar – meu clitóris. Ele pulsa cada vez mais forte enquanto sua boca engole cada maldito gemido involuntário. Ele mantém uma mão no meu cabelo quando me empurra de volta, segurando-me contra a parede, enquanto a outra desliza pela curva do meu corpo até que encontra minha bunda. Ele aperta com força, puxando meus quadris para frente e me fazendo ofegar.

Minha cabeça está embaçada e estou confusa pela maneira como meu corpo reage a ele. Eu não deveria, no entanto. Passei muito tempo pensando que queria namorar os bons garotos, os garotos da casa ao lado, os garotos com futuro seguro, os garotos que se lembrariam do nosso aniversário e me comprariam flores no Dia dos Namorados.

Acontece que os bons garotos nunca vão ganhar.

Porque nada, porra, se compara a forma como meu corpo incendia com um só beijo maldito.

O beijo dele.

Puta merda.

Ele se afasta, deixando-me ofegante por ar, mas buscando seus lábios por mais, não me importando se desmaiar agora mesmo por falta de oxigênio. Meu corpo inteiro parece estar faiscando e efervescente com estática nos cercando e cada vez que nos tocamos, outro choque passa por mim.

“Porra, Dakota”, ele resmunga enquanto me olha, seu peito pesado com cada respiração, combinando com a minha e seus olhos brilhantes e perigosos.

Estou fora do meu elemento nisso.

Provocar Ripley sobre seu cabelo ou suas roupas. Claro. Fácil.

Fazer comentários idiotas sobre como tive que usar óculos depois de vê-lo nu porque ele queimou minhas retinas. Sem problemas.

Percebo o quanto meu corpo deseja seu toque, seu beijo, enquanto tento não implorar a ele para me levar de volta para a cama como um homem das cavernas e me foder loucamente. Problema do caralho.

“Diga-me que quer isso tanto quanto eu”, ele exige. Seus lábios percorrendo minha mandíbula, e os dedos traçando o limite da minha calcinha, deixando-me louca de antecipação.

Todo o resto é esquecido. Agora, estou apenas desesperada para sentir, e Ripley faz meu corpo ganhar vida e não posso evitar. Minha boca abre e meus olhos fecham quando ele morde meu pescoço. Sou completamente incapaz de formar qualquer tipo de resposta, o que ele obviamente não está disposto a aceitar.

Ele puxa o elástico da calcinha em minha coxa, em seguida, solta, então isso bate contra minha pele. A ardência me faz pular e instantaneamente o empurro para longe.

“Ripley”, repreendo, olhando-o.

Ele sorri em resposta, seu corpo apertando o meu novamente, mas desta vez estou parcialmente na defensiva.

“Eu fiz uma pergunta”, ele diz, prendendo-me de novo.

Eu permaneço firme, de pé, apesar disso nos aproximar. Sorrio docemente. “Não, você não fez, você exigiu que eu lhe dissesse algo.”

Rip está acostumado a ser o alfa, ele está acostumado com as mulheres caindo de joelhos e implorando para que ele apenas as foda. Não posso culpá-las na verdade. Ele é sexy, é arrogante, e mesmo que esteja tentando não olhar, posso ver o contorno do que sei ser um pau muito grande e muito duro escondido dentro do seu jeans.

“Você está certa, eu fiz isso”, ele responde com um sorriso arrogante. “Você vai responder?”

Estreito os olhos para ele.

Este é o Rip que conheço. Ele é um espertinho e sabe como me irritar. E sei que está tramando algo.

“Não.”

“Esperava que dissesse isso.”


CAPÍTULO 17

DAKOTA

Meu corpo está um pouco dolorido, mas não consigo parar de sorrir pelo motivo. Cada passo distende um músculo diferente, mas eu nem me importo. Consigo sair do quarto de Ripley e sigo pelo corredor até o quarto que uso quando fico no clube.

Percebi que Meyah forçou os garotos a se certificarem de que eu tenha meu próprio quarto, mas ainda assim me faz sentir como se me encaixasse aqui. Como se pudesse estar em casa.

Entro rapidamente, pensando que consegui me safar.

Acontece que não tenho tanta sorte.

“Isso nunca vai funcionar.”

Meu coração salta e meu corpo inteiro treme com a intrusão. Congelo e respiro fundo antes de me recostar na porta para ver Lauren encostada na parede a apenas algumas portas de distância. Ela se afasta e caminha na minha direção. Empurro meus ombros para trás, forçando-me a ficar um pouco mais ereta quando ela para bem na minha frente. Seus olhos me analisam de cima a baixo com óbvio desdém.

Eu apenas suspiro e sorrio. “Se acha que vai me intimidar com um olhar, querida, é melhor repensar. Com licença.” Recuo, colocando minha mão na porta pronta para fechá-la. Antes que eu possa, a cadela pressiona a palma da mão contra ela e enfia o pé dentro.

Cerro os dentes. “Tudo bem, você tem algo a dizer, vá em frente e diga porque tenho coisas para fazer... tipo, tirar um cochilo.”

Incomoda-me que Lauren parece ter acabado de sair de um ensaio fotográfico. Seu cabelo está perfeitamente arrumado, nenhuma mecha fora do lugar, as ondas castanhas fluindo soberbamente por cima do ombro. Seu jeans parece ser colado e moldado ao corpo, e sua camiseta preta é fofa demais com os rasgos que gritam rock and roll.

A razão pela qual tudo me aborrece é porque são cinco da manhã, e ninguém deveria ser tão perfeito a esta hora. No entanto, ela parece estar pronta para ir até a cidade ou voar para Milão para a porra da semana de moda. E aqui estou eu, parada na porta com o velho uniforme de futebol do meu irmão e meu cabelo num daqueles coques bagunçados que faz algumas garotas parecerem sexy como o inferno, mas me faz parecer que moro nas ruas.

Quem diabos é essa garota?

Ela não dorme?

Quanto tempo leva para ela conseguir deixar o cabelo tão incrível?

“Isso nunca vai funcionar.”

Suspiro alto, já cansada dessa conversa e pronta para ir tomar um banho quente muito longo e escaldante. “Você já disse isso. Preciso ouvir novas informações antes de bater à porta na sua mão e quebrar cada um dos seus dedos.”

A ameaça é muito real. Considero agora mesmo se este é um daqueles momentos em que será mais fácil pedir perdão do que permissão.

O que me surpreende, porém, é o fato dela começar a rir, e isso me deixa ainda mais furiosa porque é melódico e bonito, combinando com o resto.

“Sabe, eu cresci no clube. Há uma maneira que as coisas funcionam aqui. Obviamente, ninguém te avisou, então aqui está seu aviso justo e o único que receberá. Fique bem longe de Ripley.”

Eu levanto a sobrancelha. Parte de mim quer dizer a ela onde eu estava e o que estava fazendo, mas tenho certeza que ela já sabe. Posso ver a luta em seu rosto, mas seus olhos estão enevoados e cansados.

A coisa é, se ela tivesse vindo a mim alguns dias atrás com este discurso, eu provavelmente teria rido e reclamado até que ela estivesse tão irritada que iria embora. Mas, em vez disso, a merda mudou – dramaticamente. E agora, a ideia de Rip e eu sermos algo mais do que éramos, não parece tão engraçado.

Limpo a garganta e sorrio enquanto balanço minha cabeça. “Ripley é adulto. Tem idade suficiente para fazer suas próprias escolhas. Estúpido o suficiente para sair com quem ele quer sair.”

“E nos últimos dias, tem sido você.”

Faço uma careta quando percebo que a única maneira que ela sabe sobre isso é se sabe que estamos passando as noites juntos. Nós estamos basicamente evitando um ao outro como a peste durante o dia, ainda incertos se devemos contar a Meyah.

“Você parece uma garota esperta, Lauren. Você é linda, é inteligente, tem atitude.” Posso dizer pelo olhar em seu rosto que ela fica extremamente surpresa com meus comentários. “Por que diabos está por aqui correndo atrás de um cara como Rip, que deixou bem claro que, em sua mente, as mulheres servem para ser fodidas e não para casar?” Fico surpresa com o quanto me custa dizer as palavras. Talvez porque parte de mim espera que elas não sejam verdade. Mas nesta fase, esta é a única maneira que posso descobrir como chegar até ela, apelar ao fato de que Rip é um babaca, e ela não merece isso.

Ela sorri, não de forma fria, mas não exatamente me faz sentir aconchegada. “Como disse, as coisas funcionam de algumas maneiras com o Exiled. Todo mundo faz sua parte, todo mundo tem um emprego e um lugar”, explica ela. Depois da maneira como Meyah explicou a história das filhas do clube se casando com oficiais e linhagens e toda essa besteira, fiquei mais curiosa sobre a vida que eles têm.

As pessoas não entendem como as leis funcionam dentro de um MC.

Eles fazem suas próprias leis, eles as cumprem. E o que acontece se alguém quebra uma? Bem, um estranho nunca saberia porque é algo que não é compartilhado fora dos muros do clube.

“Conheço minha parte dentro do clube desde que era pequena”, Lauren continua, seu comportamento parecendo muito mais casual. Para ela, o jeito que está falando não é estranho, não parece estranho porque é como ela foi criada. “Não é diferente para Ripley saber que um dia ele assumirá a presidência do clube. Essa é a parte dele e seu lugar, e ele sabe disso desde criança, e Drake concorda.”

Eu odeio admitir, mas isso realmente faz sentido para mim. As famílias de todos têm tradições, têm coisas da família que são passadas, seja um nome, um objeto ou um anel.

O clube apenas faz as coisas um pouco diferente.

“Sei o que é preciso para ser uma Old Lady”, explica ela, com a mão no quadril. “Sei o que esses caras precisam, que tipo de mulher precisam atrás deles. Sei que tipo de mulher Ripley precisa, e essa é a parte que eu sempre desempenhei, desde que éramos crianças.”

Sinceramente parece um roteiro. Como se fosse algo implantado nela. Como se fosse algo que ela foi forçada a repetir tantas vezes que acaba saindo robótico.

“Sorte sua, então, porque a ideia de estar sempre atrás de um homem não me atrai”, digo a ela com um sorriso quando apoio meu ombro contra a moldura da porta. “Essa não é a parte que quero desempenhar, e se acha que eu, por algum motivo, estou aqui para tirar isso de você, está seriamente enganada.”

Ela suspira e balança a cabeça. “Veja este é o problema com pessoas que vêm de fora do clube e tentam ficar com os membros do clube, você não tem ideia. Acha que nos faz fracas e desiguais querer defender nossos homens e apoiá-los. Acha que não é certo para nós saber o que o futuro nos reserva. Mas está tão errada.”

Deveria haver algum tipo de regra não escrita que diz que nunca confie numa cadela que não vai usar a palavra porra. Porque essa merda é esquisita.

“Certo, então você me diz como não é errado alguém como a mãe de Rip e Drake ser forçada a um relacionamento com um homem que ela nunca escolheu. Que ela não teve a opção de escolher.”

“Não se atreva”, Lauren sibila, dando um passo à frente.

Mas eu me atrevi.

Eu ousei.

Não me importa se estou machucando seus preciosos sentimentos ou destruindo a fantasia de seu mundo perfeito, onde Rip é o rei e ela sua rainha.

Este é o mundo real, não o mundo dos clubes, não seus sonhos.

O mundo real em que forçar alguém a amar outra pessoa é ridículo e cruel.

“Você me diz como não é errado uma mulher sentir que não há escapatória. Ou ela ser tratada como se não fosse nada mais do que uma cadela de raça pura que, jogada com algum membro do clube de alto nível, é esperado ter a porra de crianças...”

“Pare!” Ela retruca, o rosto vermelho de raiva, mas as lágrimas caindo de seus cílios.

Eu recuo, a raiva que irradia dela é o suficiente para aquecer o ar ao nosso redor, e embora não esteja com medo de ficar de pé e revidar por minhas convicções se ela tentar me atingir, também não quero desrespeitar Huntsman e o clube entrando numa briga física com a filha de um membro – se puder evitar.

“Apenas mantenha suas mãos longe de Ripley.”

Eu levanto o queixo, incapaz de ficar quieta e deixar essa garota pensar que ela tem algum tipo de poder sobre mim. “Ele parece ser o único que não pode manter as mãos longe de mim, então talvez deva conversar com ele.” Foi um golpe baixo, mas nunca disse estar acima de atingir injustamente a fraqueza de alguém quando essa pessoa decide ser rude comigo.

“Sua put-”

“Isso é o suficiente”, uma voz áspera interrompe. Lauren começa a se afastar, seus olhos estreitos em mim tão intensamente que fico surpresa que lasers não saem deles. “E nem pense em ir embora porque eu e você estamos prestes a ter uma conversa fodida.”

Nem sequer me preocupo em olhar para Ripley quando ele vem em nossa direção, meus olhos grudados nessa garota que parece tão ingênua, tão incapaz de ver outra coisa além do que foi informado a ela.

Eu não entendo.

Essa é a mesma garota que acaba de voltar da faculdade, onde se formou sendo uma das melhores da turma – eu a ouvi se gabar com alguns dos meninos. Quando muito, essa experiência não deveria ser aquela em que ela realmente explora o mundo? Usar nossas próprias mentes para tomar nossas próprias decisões?

Meyah disse que eles não fazem mais esse tipo de merda, forçando um membro a se casar com outro. Ela disse que Huntsman parou com essa estranha prática com um 'inferno, não' muito pesado, mas ainda assim, Lauren parece tão determinada a me convencer de que é assim que as coisas funcionam. Que ela deve ficar com Ripley, e que são basicamente prometidos.

Ripley se aproxima, caminhando silenciosamente pelo chão de madeira. Ele está vestindo um pouco mais de roupa do que quando o deixei, com uma camisa branca e calça jeans - que noto estar desabotoada e mostrando um pouco mais do que acho que ele pretendia.

Eu lambo os lábios e tento desviar o olhar, incapaz de não sorrir.

Apenas quando penso que ele está prestes a enlouquecer, ele entra no meu quarto e pressiona os lábios na minha testa, sua barba curta fazendo-me estremecer quando faz cócegas na pele. “Vá tomar seu banho, eu volto daqui a pouco”, ele sussurra, apenas alto o suficiente para eu ouvir antes que ele se afaste.

Tanto quanto odeio o fato de que ele está prestes a ir embora com ela, não odeio porque estou com ciúmes, odeio porque em sua mente eu estaria. Lauren é doce, ela é elegante, é linda, mas também é uma amiga de infância, e Ripley é inflexível que é onde ela vai ficar.

“Precisamos conversar”, ele ordena quando agarra seu braço e a leva de volta para o quarto onde está hospedada.

Ela sorri, dando um sorriso satisfeito por cima do ombro antes de balançar a cabeça.

Ela achou que venceu. Claramente.

Mas ela nem está no jogo.

E nem eu.

Até agora.


CAPÍTULO 18

RIPLEY

Quando a porta do quarto de Dakota fecha, viro para Lauren com os olhos estreitos. Ela tem um sorriso no rosto e seu corpo relaxou consideravelmente. Ela pensa que esta batalha terminou e que ela ganhou, mas na verdade, estou prestes a perder a paciência se ela não me contar o que diabos está acontecendo.

Eu não conheço essa garota.

Ela é malvada e mal-intencionada, e desde que voltamos, foi cruel com qualquer garota que se aproximou de mim como se fosse minha guarda pessoal.

Eu me cansei.

“Precisamos conversar”, ordeno, girando e voltando para o quarto. Eu seguro a porta e a fecho atrás dela, fazendo-a pular. “O que foi isso?”

“Com Dakota?” Ela pergunta, agindo como se não tivesse ideia do que acaba de acontecer. Ela encolhe os ombros. “Sabe quão protetora posso ser com o clube. Você se lembra de quantas brigas eu costumava ter na escola... crianças achando que nos conheciam, julgando-nos. Não gosto de pessoas que pensam saber quem somos ou como as coisas funcionam. Eles são de fora, são preconceituosos.”

Essa é a Lauren que sinto conhecer. Ela está certa, nós entramos em muita briga quando estávamos na escola, todas as crianças do clube passaram por isso, porque fomos escolhidos, rotulados como párias, e tratados como tal. A coisa é, porém, onde as crianças que eram assediadas muitas vezes eram tímidas e solitários ou se escondiam, nós não somos assim. Nós crescemos perto de homens e mulheres que eram orgulhosos e que estavam dispostos a lutar por quem eram.

Então, nós lutamos também.

E se um de nós lutasse.

Então, os outros o faziam.

“Dakota pode não ser do clube, mas ela nunca fez nada para desrespeitá-lo. Ela ganhou o direito de estar aqui, e o respeito que merece dos membros do clube.”

A atitude casual de Lauren logo desaparece. “Isso é ridículo, Ripley, você não ouviu? Ela estava falando sobre sua mãe. Ela estava chamando as mulheres do clube de cadelas e comparando-as com os cachorros.”

“Pare!” Resmungo, e ela respira profundamente. Ela está pegando o que Dakota disse e distorcendo o contexto. Eu a ouvi. Ela não tentava falar mal do clube, ela tentava fazer Lauren ver que esses caminhos não são legais, e eu a apoio.

Nós dois apenas nos encaramos por um momento. Posso instantaneamente ver a dor em seus olhos.

Nunca falei com ela com nada menos que o respeito que ela merece. Nós somos amigos e nunca precisei. Mas parece que de repente ela está irritada comigo.

Muitos dos membros do clube decidiram vir conosco no último final de semana. Não só porque ouviram que havia problemas, mas porque tudo é desculpa para uma festa. No entanto, por alguma razão, quando se dirigiram para casa quase uma semana atrás, ela decidiu ficar.

Jogo a cabeça para trás e fecho meus olhos, apertando a ponta do nariz. “Honestamente, Lauren, por que ainda está aqui?”

Meu corpo ainda está formigando.

Estou agitado.

Minha arma está carregada e Lauren se tornou o alvo.

“Agora você vai ficar quieta?” Exijo quando ela não responde. Eu jogo as mãos no ar, pronto para perder a cabeça.

“Eu só queria passar um tempo com você, ok?” Ela finalmente responde, a garota que não conheço mais uma vez mostrando seu maldito rosto. “Mas ao invés de sairmos, fui empurrada de lado para abrir caminho para essa estranha... paixonite que você tem por Dakota.”

O calor em mim aumenta, e dou um passo em direção a ela, meu corpo em chamas. “Você quer repetir isso?”

Ela apenas ri, se alguém é imune ao meu temperamento de merda é ela. “Certo. Vamos esfregar o vinagre na ferida até que realmente comece a queimar”, ela dispara sarcasticamente. “Estou falando sobre essa porra de obsessão que você tem com Dakota. E como finge que a odeia e que ela te deixa louco, e como...”

“Chega!” Eu grito, batendo minha palma contra a parede.

Sim, Dakota é um pé no saco num dia bom. Mas estou lá, apertando os botões para fazê-la assim, porque agora percebi o quanto amo ver o fogo e a faísca em seus olhos.

Ela não facilita as coisas para mim, e não quero isso também. Dakota me desafia. Ela não me deixa ser um bastardo, e está muito feliz em chamar minha atenção se preciso. Ela também é respeitosa, genuína, honesta, e acima de tudo, como estou percebendo, conhece minha dor e sabe disso pessoalmente, o que significa que não sinto ter que esconder ou ser uma pessoa diferente para ela.

Porra.

“Você sabe que é verdade”, ela grita, vindo em minha direção. “Estive aqui o tempo todo, Ripley. Desde que éramos crianças, eu estava ao seu lado, apoiando você, e agora estou bem aqui dizendo que me importo com você e que quero ser sua Old Lady.”

Estendo a mão para a cama agarrando minha mochila – a coisa mais próxima que consigo encontrar – e jogo do outro lado do quarto. Atinge a parede provocando uma rachadura antes de cair no chão.

Ela se mantém firme, eu não esperaria nada menos de uma garota que cresceu num clube cheio de motoqueiros temperamentais. As filhas dos membros do clube sempre são de um jeito ou de outro. Elas se tornam Old Ladies ou vão embora e só aparecem quando necessário. Sempre pensei que Lauren escolheria a última opção.

No entanto, aqui está ela, expondo seus sentimentos, como se estivesse lançando uma vara de pescar e apenas esperando pela graça de Deus que eu morda o anzol. Há algumas falhas nisso, no entanto. Uma delas é o fato de que vê-la como outra coisa que talvez uma irmã, é quase impossível para mim. Ela é linda, deslumbrante, mas não deixa meu pau duro. Essa é uma verdade infeliz, mas simples. Simplesmente não consigo me imaginar sendo outra coisa senão o que somos.

Estou tentando manter a respiração lenta e uniforme, mas ainda há um fogo queimando em minhas veias. “O que está acontecendo com você? O que diabos aconteceu nos últimos meses para simplesmente voltar para casa pronta para o que? Estabelecer-se?”

Lauren começa a rir no segundo que as palavras saem da minha boca, e ela joga as mãos para cima em derrota. “Sim, ótimo trabalho. Mude o foco para mim. Ignore todo o resto, Ripley. Esconda-se do seu maldito problema porque é nisso que você é bom, não é?”

Estreito os olhos, a queimação sob minha pele ficando mais quente. “Eu vou fingir que não está sendo uma puta agora.” Ela é esperta pra caralho, amigos ou não, ela não pode falar assim comigo. Acontece, que ela não recebeu o fodido memorando, no entanto.

“Fingir é o que você é bom, certo? Fingir que não é constantemente assombrado por lembranças de sua mãe. Fingir que é perfeito, e simplesmente olha furiosamente para as pessoas para mantê-las longe.”

Só preciso de dois passos para chegar onde ela está. Ela tropeça para trás, suas costas pressionadas contra a parede enquanto a prendo. Uma das minhas mãos se apoia ao lado de sua cabeça enquanto a outra aperta sua mandíbula com força.

Lauren olha para mim, pânico em seus olhos. Ela pensou me conhecer, e tenho certeza que ela conhece bem esse lado meu, apenas nunca foi direcionado para ela.

“Não dou a mínima para quem você é, se nós fomos amigos, se seu pai é um fodido membro do meu clube”, sussurro, inclinando-me para que ela possa ouvir cada palavra e sílaba que sai da minha boca. “Não dou a mínima se sabe coisas sobre mim, sobre meu passado, que outras pessoas não sabem. Você mantém sua maldita boca fechada.”

Ela engole com força enquanto pressiono meu corpo ainda mais para frente, apertando minha mão apenas ligeiramente em sua mandíbula e pescoço. “Eu conheço você, Rip.”

Eu bato a palma da minha mão na parede ao lado de sua cabeça e ela pula. “Você não me conhece nem um pouco. Se me conhecesse, saberia que jogar esses joguinhos não é o jeito de me deixar do seu lado, é o jeito de me irritar pra caralho.” Eu me afasto, liberando-a completamente e dando alguns passos para longe. Preciso de distância entre nós. “Saia.”

A boca dela abre, e seus olhos se arregalam, mas a surpresa dura apenas alguns segundos antes de encontrar a luta novamente, e ela endireita sua postura, erguendo o queixo. “Este não é o seu clube. No entanto, você está aqui, agindo como se aqui fosse o seu lugar, não em casa com seus irmãos.”

A culpa aumenta.

Esse é o caminho que ela escolheu.

Eu balanço a cabeça. “Meus irmãos sabem exatamente onde estou. E meu presidente também. Estou aqui por um motivo, mas você não sabe disso porque parece que esqueceu seu lugar. Que é... filha de membro. Não... Old Lady. Não... membro aceito. Então não está a par dessa informação.”

Ela limpa a garganta e fica um pouco mais ereta, tentando mais uma vez. “Aqui não é o nosso lugar.”

“Jesus Cristo, você soa como aquele maldito policial que está tentando se livrar do clube”, resmungo, e ela engasga. Se houvesse qualquer coisa que pudesse dizer que a teria magoado mais, é compará-la a um policial com uma vingança contra o clube. “Nosso lugar é onde quer que decidirmos ser nossa casa. E seja no clube ou na estrada, não dou a mínima. Eu pensei que saberia disso.”

“Ripley-”

“Dê o fora daqui. Vá para casa, Lauren. Volte para Vegas.”

“Rip... vamos-”

“Dê. O. Fora!” Grito, mal conseguindo controlar a necessidade de pegá-la e jogá-la pela maldita porta.

Lágrimas caem de seus olhos, e tanto quanto me importo com ela, essa versão da garota que conheço é diferente, e não consigo encontrar em mim o sentimento para me importar que ela deixou meu quarto soluçando.

Sou um idiota.

Eu sei disso.

Ela sabe.

E ainda tentou foder comigo.

Preciso de uma bebida.


CAPÍTULO 19

RIPLEY

Felizmente, passam apenas dois dias antes de recebermos notícias dos donos do teatro, e eles estão ansiosos para vender. É uma jovem mulher com várias crianças pequenas que recentemente o herdaram de um avô que faleceu. E ela precisa mais do dinheiro do que de um velho teatro decadente.

O projeto está indo em frente, mas Drake contratou um corretor de imóveis especializado em vendas para passar pelo prédio e anotar coisas que precisam de conserto e coisas que não estão dentro da lei, então poderemos tentar negociar um preço menor.

Nós não queremos ser injustos e tentar enganar uma mãe solteira, mas também queremos compensar alguns dos custos de reformar o lugar.

Estou tirando fotos dos detalhes e da marcenaria para poder praticar e ver quanto tempo levará para replicar.

“Por que está sorrindo exageradamente?” Drake pergunta atrás de mim.

Eu me viro e levanto a sobrancelha para ele. “Do que está falando, esquisito. Estou tirando fotos de um fodido teto e tentando não ter poeira e merda em meus olhos. Precisa examinar seus olhos?” Aponto minha pequena lanterna para ele, acertando-o bem nos olhos. “A velhice finalmente te atingiu?”

Ele bloqueia a luz com a palma da mão, piscando várias vezes antes de estreitar o olhar para mim. “Você estava sorrindo, idiota.”

Talvez eu esteja, na verdade não tenho ideia, então escolho apenas ignorá-lo.

“Eu notei que Dakota está sorrindo muito também.”

Eu zombo e solto uma risada suave. “Você precisa trabalhar em sua sutileza, irmão.”

“Talvez não estivesse querendo ser sutil. Mas é bom saber que vocês dois finalmente cederam à tensão sexual com a qual estavam constantemente nos fazendo viver quando estavam próximos.” A provocação em seu tom me faz virar novamente e cruzar os braços sobre o peito. Meu irmão mais velho apenas sorri, recostando-se no bar de estilo antigo, tão descontraído como se não tivesse acabado de mencionar algo importante.

“Você só fala merda.”

Ele ri. “Meyah vai ficar animada quando perceber que Dakota e ela vão ser família.”

“Não se atreva a dizer qualquer coisa para Meyah”, ameaço.

Ele fecha os lábios e joga uma chave invisível por cima do ombro antes que seu rosto se torne mais sério. “Isso é mais do que apenas uma foda e correr?”

“Pensei que sua boca estava fechada”, provoco, levantando as sobrancelhas e esperando alguns segundos antes de responder. “Eu não vou correr.”

“Isso é bom de ouvir e-”

Bang.

O barulho alto vibra através das paredes e do chão. Todo o grupo vira para as enormes portas duplas na frente do teatro. Minha mão instintivamente se move para a arma que está no meu quadril, meus olhos procurando na sala por Meyah e Dakota, mas percebendo rapidamente que elas ainda devem estar na parte de trás brincando no armário de trajes de teatro que entraram.

“Todos parados”, vem a ordem muito distinta enquanto vários policiais passam pela entrada agora aberta, arma na mão como se viessem para uma invasão ou algo do tipo.

O agente imobiliário está congelado no local parecendo poder fazer xixi nas calças a qualquer momento enquanto lentamente levanta as mãos no ar.

“Posso ajudá-lo, policial?” Shake pergunta, dando um passo à frente, alguns de seus homens logo atrás e seu corpo tenso.

Eu fico quieto, minha mão apertada em volta da arma, mas confuso sobre o que está acontecendo. Olho para Drake que está calmo e deixando Shake lidar com o problema. Seus punhos estão cerrados firmemente ao seu lado me deixando saber que ele não está feliz com essa porra de intrusão e os caras entrando assim.

Drake tem um pavio curto quando se trata de policiais – ou qualquer um nesse assunto – desrespeitando sua família. É uma das razões que ele escolheu se afastar de sua parte no MC e começar o negócio. É, eu acho, a maneira dele provar a todos os idiotas que nos pintaram como estúpidos motoqueiros que não tem educação e são idiotas.

Como esses caras.

“Recebi uma informação dizendo que existe atividade ilegal acontecendo aqui”, uma voz diz do lado de fora enquanto entra pela porta espanando seu terno barato como se fosse Armani.

Fodido Caleb Corrigan.

Seus olhos continuam a varrer a área até ele falar como se estivesse procurando algo. Um sorriso sutil no seu rosto me diz que ele está cheio de merda. “Você tem permissão para estar aqui?”

“Você tem?” Eu desafio, recostando-me no bar empoeirado.

Seus olhos se movem para mim, iluminando-me como uma porra de holofote. Suas feições se apertam em agitação. Ele obviamente não gosta de ser questionado.

“Uh... eu... uh, sim”, o agente imobiliário finalmente gagueja, interrompendo o olhar sombrio do policial idiota que agora está focado em mim. As mãos do agente tremem enquanto ele a enfia do lado de dentro do paletó antes de retirar alguns papéis dobrados, que presumo serem a permissão para este prédio e sua identificação. “Só estou mostrando a esses cavalheiros o lugar. Eles... uh... eles estão interessados em comprar.”

Caleb nem sequer se incomoda em pegar os papéis ou checar as informações, o que me diz uma coisa – ele não está aqui para ter certeza de que estamos aqui legalmente, ele está aqui para outra coisa.

“Saia.” Os cabelos no meu pescoço ficam em pé quando Dakota entra na sala, caminhando rapidamente na direção do idiota. Ela para bem na frente dele, seus olhos estreitos e os músculos tensos com raiva.

Meyah tenta segui-la, mas Shake é rápido em interceptá-la, agarrando sua mão e puxando-a para trás dele. Protegendo-a.

“Dakota...” Shake alerta, puxando Meyah para trás ao mesmo tempo em que tenta avançar para proteger sua melhor amiga.

Sem pensar, já estou me movendo para frente, pronto para pegar Dakota e dar o fora dali antes que sua boca saia do controle.

“Você precisa sair”, Dakota ordena novamente, a nitidez em sua voz deveria ter deixado o babaca com medo, mas em vez disso, ele sorri.

“Como está sua cabeça, Dakota?”

Inconscientemente, ela toca a parte de trás da cabeça, o corte que está inflamado e doloroso, e ainda lhe dá dor de cabeça.

Demora um momento para meu cérebro processar exatamente como ele saberia disso. Mas uma vez que entendo, é como se tudo à minha volta começasse a desaparecer. “Maldito bastardo”, xingo alto. A raiva em mim ardendo como um fogo quente, e nem sequer me preocupo em tentar esfriá-la. Este filho da puta.

Dou um passo à frente, forçando Shake a sair e agarro a mão de Dakota. Então eu a puxo para trás, esperando que alguém a pegue porque não terminei. Assim que a solto, fecho meu punho e forço meu corpo para frente, o impulso e força batendo em Caleb com um golpe pesado na bochecha esquerda.

“Ripley!” Dakota grita. “Pare!”

Ele tropeça para trás, seus olhos revirando como se fosse desmaiar. Eu avanço novamente, fúria queimando dentro de mim, não me importando com nada além de fazê-lo pagar pelo que fez com ela. Continuo dando socos, não me importando com o fato das pessoas estarem agarrando meus braços e corpo.

Dakota é brilhante, confiante e animada, mas vê-la na outra noite tão quebrada – porra, isso quase me arruinou. Não achei ser possível ver algo tão lindo, ficar tão arruinado. Pelo menos, não achei ser possível ver isso acontecer... novamente.


Pressiono minhas costas contra a parede, esperando que eles não me vejam.

Eu deveria ter ficado na cama, não deveria ter descido para tomar um copo de água, mas achei que a moto que me acordou era do papai.

“Papai, por favor!” Mamãe implora. “Huntsman, ele me comprou passagens de avião, ele quer que eu viaje, ele sabe o quanto preciso disso. Só preciso fazer algo para mim, então vou voltar para casa, eu vou...”

“Pare com isso, Josie! Esse absurdo. Isso não é sobre você, é sobre o legado de nossa família dentro do clube.” A moto que ouvi não era do papai, era do meu avô e ele está furioso. “Você não vai a lugar nenhum, você não vai desrespeitar nossa família e me envergonhar. Você é uma Old Lady, sua dedicação é para seu homem e elevar o futuro do clube.”

Eu não sabia que minha mãe queria ir embora.

Isso me deixa triste.

Meu estômago revira de repente, ouvindo-a falar sobre querer ir embora. Sei que ela não está feliz de vez em quando. Ela chora muito. Ela discutia muito com meu pai também. Mas nunca pensei que gostaria de nos deixar.

“Estou morrendo por dentro”, mamãe soluça. “Esta não sou eu, não é assim que quero viver minha vida. Está literalmente me matando. A maioria das manhãs não quero sair da cama. Eu te dei seus netos, eu te dei seu legado. Agora, por favor... deixe-me ir!”

O som da pele batendo na pele ressoa pela casa. Ofego, então rapidamente cubro minha boca com a mão, esperando que eles não me ouçam enquanto tento encontrar o equilíbrio e me arrastar de volta para a escada. Papai sempre nos diz para sermos respeitosos com vovô, para tentar evitá-lo quando pudermos porque ele gosta de usar os punhos para mostrar sua opinião.

Outro baque fez meu coração quase parar, mas é rapidamente seguido pelo som das lágrimas da minha mãe. Ela está chorando, não apenas chorando, ela está absolutamente quebrando.

“Todos nós fazemos sacrifícios pela nossa família, Josie”, meu avô grunhe no tom profundo e áspero que nunca parece mudar. Posso ouvi-lo caminhando de um lado para o outro no chão da sala, as botas pesadas provavelmente estragando o tapete. “E antes que pense em fugir, vou dizer agora, não há nenhum lugar onde você possa ir e não vou te encontrar.”

Realmente não entendo o que vovô está dizendo, mas definitivamente sei que ele não está dizendo isso gentilmente. Não importa para mim se mamãe não é como todas as outras mães. Gostaria de mais abraços às vezes? Claro. Talvez uma história à noite antes de dormir, se for realmente egoísta. Mas eu a amo.

E papai me disse que o amor é mais forte que qualquer outra coisa na terra. Sei que se a amar o suficiente, talvez conserte a parte dela que quer nos deixar.

Ouvi-la chorar queima minha garganta. Deixa-me triste, e um pouco zangado que vovô não vai abraçá-la e dizer que está arrependido.

“Você diz que todos nós fazemos sacrifícios...” Ela chora baixinho, sua voz embargada. “Bem, não se surpreenda se um dia esses sacrifícios incluírem minha vida. Porque aquelas passagens aéreas eram a única luz que eu podia ver.”


“Ripley!” Ouço Dakota gritar de novo quando minha visão clareia, e a luz e as cores regressam.

Eu desmaiei?

Ainda posso ouvir gritos.

Não apenas de Dakota.

Talvez de Meyah.

Meu irmão está gritando?

Raiva me consume.

Não deixarei outra mulher com quem me importo ser derrubada e destruída. Meu avô fez isso com minha mãe. Ele a forçou a casar com meu pai. Ele a forçou a ter filhos para poder viver com eles. Ele era egoísta, dissimulado e cruel.

Se ele a deixasse fazer o que queria, se ele a deixasse recuar por um momento, talvez fosse diferente. As coisas poderiam não ser perfeitas, mas se ela não estivesse encurralada, talvez não sentisse como se precisasse...

Meu corpo inteiro está exausto, mas continuo lutando, mesmo quando mãos me agarram, tentando me afastar.

Caleb é fraco, assim como meu avô. Eles usam mulheres para conseguir o que querem. Porque meu avô não era importante o suficiente para deixar seu legado no clube, ele obrigou a filha a se casar com o futuro presidente para poder ter um nome para si.

É por isso que Caleb foi atrás de Dakota quando provocou aquela confusão no bar. Pensando nisso, ele prefere intimidar uma mulher em vez de ficar cara a cara com um homem. Não tenho tempo para homens que não podem ser homens. É patético. E não vou deixar que ele fuja com isso.

Olhando o bastardo em questão, ele finalmente entra em foco quando a escuridão ao meu redor começa a se dissipar. Causei um estrago, seu lábio está sangrando, e a bochecha está vermelha, sem mencionar os poucos golpes que consegui acertar em seu estômago. Mas não posso mais lutar, posso sentir os outros policiais me puxando para trás, um usando seu bastão contra minha cabeça e braços enquanto lutam para me afastar do seu líder idiota. Finalmente me solto, e eles me arrastam através do velho piso de madeira, batendo minhas costas contra a parede mais próxima com um baque.

Caleb fica de pé imediatamente – um pouco vacilante – mas vem na minha direção com os punhos fechados. O pequeno homem assustado que estava deitado debaixo de mim há um momento desapareceu. Agora, ele tenta salvar a cara e sei exatamente como.

Ele ataca.

“Eu não penso assim”, Drake resmunga, agarrando o pulso de Caleb antes que possa acertar os nós dos dedos no meu rosto. Caleb olha para cima do ombro para o meu irmão mais velho. “Se colocar um dedo nele, juro que farei da sua vida um inferno. Pelo menos o que resta dela.”

Caleb arranca o braço do domínio de Drake e cambaleia para trás. Dois outros policiais se apressam em torcer minhas mãos nas costas e envolver meus pulsos em algemas. Algo que não me é completamente estranho, mas que jurei há muito tempo que nunca deixaria acontecer.

Eles me arrastam, empurrando-me para as portas da frente.

Pouco antes de sair para a luz do sol, um pequeno corpo corre diretamente para mim, arrancando um pouco do ar dos meus pulmões. Seus braços envolvem minha cintura enquanto pisco pelo brilho da luz do sol, seu rosto finalmente entrando em foco. Ela está me olhando, as lágrimas manchando suas bochechas. “Por que você tem que ser tão estúpido?” Ela diz irritada, batendo o punho no meu peito.

Eu cerro os dentes, irritado por não poder tocá-la com minhas mãos algemadas. “Porque ele te machucou. Então, eu o machuco. Olho por olho.”

Porque ninguém toca em algo que me pertence.

Não posso dizer isso. Todo mundo pensaria que sou louco. Talvez eu seja.

Mas, no que me diz respeito, é exatamente o que ela é.

Minha, porra.

E não importa qual o preço para protegê-la – eu vou pagar.


CAPÍTULO 20

DAKOTA

“Preciso falar com Caleb Corrigan”, resmungo, pressionando as palmas contra o grande balcão na minha frente e inclinando-me para frente. A policial, uma mulher de cabelos grisalhos que parece ter visto dez décadas a mais, olha para mim confusa, como se eu falasse outra língua. “Caleb Corrigan. Agora.”

Não gosto de ser rude com a velha senhora, meus pais me criaram melhor do que isso. Eles me criaram para respeitar os mais velhos. Mas eles também me criaram para defender o que acredito, não importa o que.

Ela balança a cabeça lentamente para frente e para trás. “Sinto muito, eu não po-”

“Está tudo bem, Meredith. Ela pode entrar.”

O som da voz de Caleb imediatamente faz meu sangue bombear um pouco mais rápido pela raiva, sinto meu coração lutar para acompanhar e que talvez possa parar a qualquer momento.

“Você vem, Dakota?” Ele pergunta quando não saio do lugar onde estou. Sei que isso é má ideia. E sei que se não me apressar e fazer algo, não haverá volta. Rip está numa cela suja lá nos fundos em algum lugar, e ele só está lá porque não consegui manter a boca fechada.

“Sim, estou indo.”

Ele assente e se vira, caminhando através de um mar de mesas ocupadas e uma sinfonia de vozes. A delegacia está tão ocupada que ninguém me nota, a jovem que está prestes a entrar numa sala com um policial que quer se vingar.

Nenhuma testemunha

Nenhum registro da minha presença além da velha Meredith na recepção.

Porque isso é uma boa ideia, certo?

Ele segura a porta aberta para um pequeno escritório. Parece semelhante ao que imagino ser uma sala de interrogatório, uma mesa, algumas cadeiras, mas falta a janela de vidro. É velho, mofado e tem uma minúscula janela gradeada no topo de uma das paredes.

Sento numa das cadeiras duras, e Caleb alegremente senta-se em frente, claramente incapaz de controlar o sorriso em seu rosto, apesar do modo como Ripley conseguiu atingi-lo. Há um corte no canto da boca e sua bochecha no lado oposto está inchada e vermelha.

Meu palpite é que doí sorrir. Mas Caleb está morto por dentro, então acho que essa suposição é nula.

“O que tenho que fazer para você soltar Ripley?”

Seu sorriso desaparece apenas por um breve segundo. Essa não é a pergunta que ele pensou que eu ia fazer, mas está satisfeito, no entanto. “Quer que eu solte Ripley depois que ele me agrediu? Depois que ele veio até mim e tentou me matar...”

“Oh, pelo amor de Deus, não seja uma rainha do drama.”

Sua máscara cai por um breve segundo, e seus dedos que estão casualmente entrelaçados na mesa se contorcem. Caleb não gosta de ser questionado ou insultado. Aprendi isso na primeira noite que ficamos cara a cara. Apenas mais uma prova de que ele acha ser bom demais para que as pessoas não o sigam cegamente.

Ele estala a língua e recosta-se na cadeira. “Dakota, Dakota... você não está fazendo um bom trabalho em implorar.”

Cerro meus dentes. “Eu não imploro.”

Caleb se inclina para frente, os olhos divertidos. “Agora é uma boa hora para começar, porque se quiser que seu precioso namoradinho saia das celas, vou precisar puxar algumas cordas, e será um trabalho duro tirá-lo sem acusação.”

Neste estágio, meu corpo está tremendo n uma mistura de raiva e medo, mas tento disfarçar para que Caleb não perceba que sou fraca. No instante em que me ver como qualquer outra coisa que não seja uma pessoa astuta, ele irá me comer viva.

“Apenas me diga o que quer”, exijo.

Seu sorriso aumenta, como um tipo de vilão dos desenhos animados. Ele recosta-se na cadeira de metal duro e coloca as mãos atrás da cabeça como se estivesse na praia no feriado, não numa sala escura e sombria prestes a tentar me destruir. “Quero que você seja minha pessoa lá dentro.”

Minha boca abre e antes que eu possa formar as palavras, estou balançando a cabeça.

Ele levanta um dedo, tentando me calar. “Agora, Dakota... eu quero que pense sobre isso com cuidado”, ele tenta me acalmar, sua voz quase se tornando suave e calorosa. Essa é a voz que ele usa com as pessoas quando quer algo e a intimidação não funciona. Esta é a sua voz ‘Sou seu amigo e estou tentando te ajudar.’

“Pensar nisso?” Pergunto com admiração, ainda incapaz de fechar a boca apesar da ameaça iminente. “Quer que eu seja uma fodida informante. Não, você quer que eu seja a sua informante.”

Ele ri baixinho, a voz calorosa e amigável se dissipando novamente.

Juro por Deus, esse idiota tem algum transtorno mental. Há momentos em que sinto que estou literalmente na sala com o Diabo – a maneira como ele sorri, zomba e ri da destruição. E outras vezes, é como se ele se tornasse meu melhor amigo, e está aqui por mim, onde quer apoiar e ajudar.

“Você pode-”

“Não”, argumento, batendo a palma da minha mão na mesa. “Isso é com certeza um não. Isso é um fodido não. Isso é um eu-espero-que-você-vá-para-o-inferno-e-satã-enfie-abacaxis-em-seu-traseiro-por-toda-a-eternidade de não.”

Com cada palavra, seu rosto fica um pouco mais vermelho e ele se senta um pouco mais reto. Ele não está tão seguro de si agora. Ele está ficando agitado e estou ganhando. Pelo menos, penso estar. “Eu não queria fazer isso com você, Dakota”, ele murmura, balançando a cabeça. Ele levanta o corpo ligeiramente e enfia a mão no bolso de trás. Minhas unhas afundam através da calça jeans, ferindo minhas pernas para que eu me concentre mais nessa dor do que o que quer que ele faça ou diga, porque praticamente cobri todas as minhas...

Ele desliza uma foto sobre a mesa.

Uma foto do meu irmão.

Segurando minha sobrinha.

Seu braço ao redor da namorada, Amelia.

Eles estão sorrindo alegremente.

Como se não tivessem ideia que a foto seria usada para prejudicá-los.

E eu? Para me torturar. Para tentar me obrigar a fazer algo que nunca imaginei fazer.

Lágrimas escorrem por meu rosto, e mesmo que tente olhar para cima e para os olhos de Caleb com força, não consigo impedir a voz de falhar e fungar. “O que quer?”

Desta vez, a questão é diferente. Não estou perguntando o que ele quer de mim para tirar Ripley daqui. Estou perguntando que informação ele quer – o que ele precisa que eu faça para acabar logo com isso.

“Vou soltar Ripley”, Caleb barganha, empurrando o cabelo para trás da testa antes de apertar as mãos sobre a mesa, obviamente, sentindo que está mais uma vez no controle. “Eu vou fazer esta merda sumir. Vou perder o relatório que diz que ele me atacou, e ele não será preso por agredir um policial.”

Eu me encolho.

Conheço as punições por esses tipos de crimes.

A pena para a agressão comum contra um policial é de menos de um ano – algo que sei que Ripley cumpriria num segundo se soubesse o que Caleb tentou usar contra mim.

Mas se Caleb tentar colocar isso como um crime, ele pode pegar dez anos mais.

Não vou deixar acontecer.

“E em troca?”

“Esta é a parte divertida, a parte em que pode ter que ser um pouco criativa”, Caleb explica entusiasmado, praticamente saltando em seu assento. “Eu quero os Brothers by Blood fora da minha cidade. Se isso significa que vou expulsa-los, ou colocar suas bundas na prisão, não me importo. Solto Ripley e você me dá uma causa provável.”

Faço uma careta. “E se não houver nada para encontrar? Aqueles garotos sabem o que fazem. Eles estão completamente limpos.”

Caleb suspira e revira os olhos. “Você entende o significado de ser criativa? Se não consegue encontrar algo, crie. Faça alguma coisa. Falsifique. Esconda algo. Você é uma linda garota, Dakota.” Ele se inclina sobre a mesa, sua mão estendida para mim. Assim que seus dedos deslizam por minha mandíbula, empurro minhas duas mãos diretamente em seu peito enquanto ao mesmo tempo fico de pé.

Ele consegue se equilibrar antes que sua cadeira tombe para trás com a força, o olhar divertido em seu rosto transforma-se rapidamente num furacão pronto para me rasgar em pedaços.

“Bonita”, ele retruca quando fica de pé também. “Mas não é tão esperta aparentemente. Você vai me encontrar algo, Dakota, ou essas pessoas...” ele bate a palma da mão na foto que estava no meio da mesa que geme sob a força, “...eles são os próximos.”

Ele pensou em tudo.

Uma vez que soltar Ripley, ele não será capaz de pega-lo e acusá-lo novamente se eu me recusar a fazer seu trabalho sujo. Ele precisa ter algum outro tipo de garantia. Algo que supera meu amor pelo clube e pelas pessoas que estão nele.

Eu me sinto mal. Eu me sinto uma pessoa horrível.

“Você tem uma hora para tirar Ripley daqui, então temos um acordo.” Com isso, eu me viro e sigo em direção à porta. Preciso ser forte. Preciso sair daqui não me sentindo como se fosse fraca, sem sentir como se ele tivesse ganho, porque, na minha cabeça, ainda não acabou.

Minha mão está na maçaneta quando ele me chama. “É melhor manter a boca fechada, Dakota. Se descobrir que falou qualquer coisa sobre isso... e acredite em mim, eu vou saber... não vou nem te dar uma chance de dizer adeus.”

Pressiono minha mão livre na boca para tentar impedir que o vômito suba pela garganta.

Eu preciso fazer algo.

Eu preciso resolver essa merda.

E preciso disso para ontem.


CAPÍTULO 21

RIPLEY

Meus dedos estão dormentes. O gelo que seguro neles não faz nada além de me fazer sentir como a porra de um picolé enviando um arrepio pelo corpo inteiro. Ou talvez seja apenas a adrenalina finalmente saindo.

Estou numa cela sozinho. Uma que acho que eles reservaram para os criminosos bêbados ou loucos, então não podem machucar ninguém, ou a si mesmos. Eles me colocaram aqui quando enlouqueci depois que tiraram meu maldito colete.

O colete do meu clube é um pedaço meu. Caleb sabe disso e está dando seu jeito de me chutar nas bolas.

Continuo olhando para a porta esperando que ela abra e meu pai apareça com um olhar irritado no rosto. Mas até agora nada. Já faz pelo menos três horas desde que me deixaram aqui. Não fui processado. Ninguém veio me fazer perguntas ou me deixar telefonar para um advogado.

Sei o que é ser preso e algo está errado.

Enquanto penso sobre isso, o clique alto das fechaduras da porta ecoa no ambiente, e a porta abre com um gemido. Dois policiais entram. Eles são altos, grandes e musculosos pra caralho. Eu sou forte, mas contra esses dois idiotas? Não vou sobreviver.

Presumo ser para isso que estão aqui. Imagino que vieram para acertar as contas por atingir um dele. Mas depois de entrarem, os dois encostam na parede, como se nem sequer quisessem estar ali.

Então sei o porquê.

Caleb entra.

Ele vestiu roupas novas, livrou-se daquela com as manchas de sangue. Seus sapatos sociais brilhantes entram primeiro, fazendo-me rir. Drake os usa o tempo todo, e se não conhecesse meu irmão e o que ele fez para chegar onde está hoje, riria dele toda vez que entra numa sala também. Pelo menos ele tem um pouco de poeira neles, um pouco de algo para mostrar que não tem medo de sujar as mãos. Os sapatos de Caleb tem um tipo de brilho que só se consegue se outra pessoa faz o trabalho sujo por você.

“Não pode nem entrar aqui como um homem?” Zombo, recostando-me contra a parede de tijolos e balançando a cabeça. Meu corpo anseia por nicotina. Preciso acalmar as coisas antes que a situação se transforme em outra coisa.

Uma merda.

“Você precisou trazer seus ajudantes caso eu use meu punho em seu rosto novamente.”

Os lábios de Caleb franzem. Daquele jeito onde os lábios das pessoas acabam parecendo uma bunda de gato. O policial loiro a esquerda sorri e rapidamente cobre a boca.

Obviamente não sou o único que não gosta desse pequeno otário, então como diabos ele está aqui balançando seu pau ao redor como um fodido King Kong? Qual é o jogo desse cara? Ele pode estar sujo? Ou talvez trabalhando para alguém. Talvez possa ser um negócio ou talvez até outro clube, então eles poderão entrar e assumir o dinheiro da Empire quando ele nos exterminar.

Caleb respira fundo, seus lábios de bunda de gato esboçando um sorriso, antes de dramaticamente olhar para a calça. “Oh, quão embaraçoso. Meu zíper está aberto.” Ele alcança e fecha o zíper, enquanto sorri para mim como um maldito gato Cheshire.

Ele tem algo na manga e os pelos no meu pescoço começam a ficar em pé enquanto espero que ele entregue o golpe que está segurando.

Ele limpa a garganta e dá um passo para o lado. “Damien aqui vai mostrar a você.”

O policial com o cabelo mais escuro sai da cela, acho que espera que eu o siga, mas estou congelado no local.

Isso foi uma piada?

“Você está brincando, certo?” Pergunto cautelosamente enquanto fico de pé. Meu corpo está dolorido, mas estou pronto para uma briga se chegar a isso. Talvez ele queira que eu saia pela porta para poder fingir que eu estava fugindo e torcer para me matarem.

Caleb balança a cabeça. “Sem brincadeira. A moça da recepção vai entregar sua vestimenta.”

“Colete.”

Ele acena com a mão pelo ar. “Colete, que seja. Nós terminamos aqui, então...” Ele arrasta a palavra quando aponta para a porta.

Ainda não me mexo.

Essa merda não acontece.

Eu ataquei um policial.

Conheço as penalidades que dão àqueles que vão contra um membro da lei. Eles os pegam para foder tudo o que tem, arrasta-os pela lama e pela sujeira, espancando e depois levando para fora.

“Diga-me o que diabos está acontecendo”, peço. “Não dou a mínima para quantos homens tem neste lugar, vou destruir essa porra.” Minha ansiedade está aumentando. Sim, quero apenas dizer foda-se e sair pela porta, não dando a mínima para por que ele está me entregando este passe livre quando apenas algumas horas atrás ele estava determinado a infligir tanta dor em mim quanto possível.

Quando ele não se incomoda em responder, dou um passo para a frente, e o policial uniformizado entra imediatamente. Ele parece entediado, mas obviamente, recebeu ordens para proteger o filho da puta. Sorrio, olhando diretamente para ele enquanto tenta controlar a contração agitada em sua mandíbula. Ele sabe que parece um idiota. Um covarde. Na frente dos próprios policiais.

A tensão está fervilhando na cela como abelhas, zumbindo ao redor de nós dois, esperando para atacar.

“Tenho isso sob controle, Evans. Você pode esperar lá fora”, Caleb finalmente diz com os dentes cerrados. Não posso deixar de sorrir ainda mais. Eu o irrito e adoro. O policial uniformizado encolhe os ombros, vira-se e sai da cela.

Caleb rola seus ombros, um depois o outro. Então a tensão em sua mandíbula começa a se soltar e um sorriso desonesto toca os cantos de sua boca. Sua mão levanta para tocar o lábio, onde está cortado no canto. “Dakota veio me ver.”

Meu punho aperta.

Não dou a mínima se está dolorido.

Não dou a mínima se está quebrado.

Só ouvir o nome dela em seus lábios é o suficiente para me fazer querer começar a segunda rodada, bem aqui na minha cela. Otário um e otário dois lá fora não se importariam. Porra, é óbvio que eles realmente não podem se importar menos se Caleb fosse espancado. Ele provavelmente é um idiota com eles.

Dou outro passo para frente, meus dedos se contorcendo para envolver seu pescoço. Ele não recua, seu sorriso só aumenta. Porque ele sabe que virou o jogo.

“Sim, nós tivemos uma conversa. Ela estava muito... entusiasmada sobre não deixar você ir para a prisão”, ele diz, puxando as mangas do seu terno antes de ajustar o colarinho. “Ela foi inflexível que devia ter algo que pudesse fazer para-”

Avanço, meu antebraço pressionando sua garganta enquanto jogo seu corpo contra a parede de tijolos. Ele tosse e balbucia, o ar instantaneamente saindo de seus pulmões e incapaz de inalar um pouco mais com o braço pressionado contra a garganta. Mãos me agarram, lutando contra a pressão que estou colocando. Precisa de muito esforço, mas eles finalmente conseguem me puxar de volta com uma força que não posso ir contra. Eu me viro para bater, pensando que é dos dois policiais, mas em vez disso, meu pai pega meu punho antes que eu consiga atingi-lo. Shotgun está com ele também, os dois respirando pesadamente.

“Isso é o suficiente”, papai resmunga, olhando para mim com um olhar que diz que é melhor calar a boca antes que ele a feche por mim. Depois de alguns momentos, ele larga minha mão, confiando que tenho minha raiva sob controle. Ele coloca seu corpo na frente do meu, forçando-me para trás apenas um pouco. “Nós terminamos aqui?”

Caleb ainda está debruçado, suas mãos esfregando a garganta quando finalmente consegue um pouco de oxigênio. “Seu...” ele consegue grunhir entre respirações.

Idiota?

Desgraçado?

Filho da puta?

Sou todas as coisas acima e mais um pouco.

Mas também sou leal, inteligente e mais forte do que ele pode acreditar. Não, não sou o cara legal, mas se esse idiota é o que é bom, serei o vilão todo dia.

“Nós vamos embora”, meu pai afirma enquanto Caleb ainda luta para recuperar o fôlego. Ele agarra meu braço e me empurra para a porta, mas não posso evitar de deixar para o policial um pequeno conselho de despedida.

“Antes de tentar vir atrás da minha família, aqui vai uma pequena dica ... não faça.”


CAPÍTULO 22

DAKOTA

Abro a porta do meu pequeno apartamento. Muitas vezes ela fica presa, especialmente quando chove e a umidade entra no antigo batente de madeira, fazendo-o expandir. Sim, é chato, mas amo este lugar. O apartamento é pequeno, mas é aconchegante e só meu.

Meu corpo está completamente exausto. Depois do que aconteceu na delegacia, avisei Meyah, pedindo para mandar alguém buscar Rip quando ele fosse solto, e então fugi. Fui à biblioteca local, onde muitas vezes faço trabalhos quando não tem aulas.

Encontrei a seção no canto de trás que ninguém usa, e eu chorei. Tanto que, mesmo três horas depois, meus olhos ainda estão inchados, e não consigo parar de fungar.

Eu me sinto quebrada.

E eu me sinto suja.

E ainda não decidi o que diabos vou fazer.

Eu me inclino contra a porta até que ela se fecha. Deixando escapar um suspiro satisfeito, viro e tranco antes de apertar o interruptor de luz. A sala ilumina brilhantemente, a luz repentina me forçando a piscar várias vezes enquanto luto para voltar ao foco.

“O que diabos você fez?”

Eu grito, meu corpo girando com o susto e minha mão instantaneamente indo para o coração enquanto tenta saltar da porra do meu peito. Vejo o rosto de Ripley enquanto ele se inclina na entrada da minha cozinha, os olhos presos em mim, sua boca pressionada numa linha reta provoca calafrios em meu corpo inteiro.

Ele está furioso.

Isso rapidamente aumenta minha pressão arterial enquanto meu coração dispara para acompanhar a súbita onda de adrenalina percorrendo minhas veias. Seus braços estão cruzados sobre o peito como um pai esperando que seus filhos voltem sorrateiramente pela janela do quarto. Eu não sou criança, sou uma adulta, capaz de fazer escolhas em sua vida. Especialmente quando incluí proteger as pessoas com quem me importo.

Instantaneamente, meu medo se transforma em raiva, e quando isso acontece, não perco um segundo. “Não faça essa merda!” Jogo minha pilha de chaves que pesam uma tonelada diretamente em seu rosto. Infelizmente, seus reflexos são mais rápidos e ele se abaixa. Elas batem na parede atrás dele com um baque forte e caem no chão.

Quando ele endireita a postura novamente, o brilho escuro em seu rosto é tão intenso, e revira meu estômago, provocando outro arrepio na minha coluna, este mais forte e mais intenso que o anterior. Ele está com raiva. Obviamente, ele sabe que eu de alguma forma o liberei de uma possível sentença de prisão.

Claro que sabe.

Caleb gostaria que ele soubesse.

Ele quer que Rip saiba que eu precisei dar alguma coisa.

Senhor, acho que vou vomitar.

Suspiro pesadamente quando as batidas no meu peito começam a voltar ao normal, mas meu conteúdo estomacal começa a girar mais rápido e forte.

“Diga-me o que fez, Dakota.” Ele dá um passo à frente, e fico imediatamente na defensiva, segurando minha mão e pressionando as costas contra a porta. “Você chupou o pau dele? Você fodeu com ele, Dako–”

“Pare com isso!” Meu coração se move do peito para a garganta, tornando difícil respirar. “Saia, Rip”, ordeno severamente, tentando agir como se a ideia de estar em qualquer lugar perto dos genitais daquele homem não me fizesse querer vomitar. Viro meu corpo, pegando a fechadura, destravando-a novamente. Minha mão segura a maçaneta da porta, mas antes que possa girar e abrir, a mão tatuada de Ripley bate contra a madeira a poucos centímetros do meu rosto.

Eu suspiro. Lágrimas já estão transbordando nos meus olhos. Tento evita-las, mas ele rapidamente me prende, pressionando a mão na porta do outro lado da minha cabeça. Meu nariz franze enquanto luto para manter a compostura, e olho o bastardo briguento me encarando.

“Vai. Embora.” Minha voz treme, mas não me importo.

Não posso fazer isso.

Não com ele.

“O que você fez?” Ele pergunta novamente, desta vez com os dentes cerrados.

Levanto meu queixo desafiadoramente, e seus olhos instantaneamente se movem para meu pescoço exposto, sua língua deslizando pelo lábio inferior como se pudesse me provar em sua boca. Mesmo sentindo que meu coração pode sair do peito, e sem mencionar sentir que a qualquer momento alguém do clube vá aparecer e me acusar de traí-los antes de me punir, ainda consigo ficar excitada pelo jeito que ele me olha. Minha buceta aperta pela maneira que sua língua desliza pelos lábios, e a maneira como ele mostra os dentes como uma espécie de animal. Não tenho coragem de contar a verdade, não até ter tempo para pensar nisso sozinha.

Então, talvez isso seja o melhor.

Talvez ele pensar que usei meu corpo não seja a pior ideia.

Eu me abaixo sob seu braço, pronta para correr até o quarto, ou para o banheiro, em algum lugar com uma porra de tranca na porta onde posso escapar desse homem e do jeito que ele atormenta meu corpo. Ele é mais rápido, sua mão forte agarra meu pulso e puxa-o, virando meu corpo então minhas costas são empurradas contra a parede e minhas mãos forçadas acima da cabeça. Luto por alguns momentos enquanto ele apenas me olha com uma intensidade que invade minha alma enquanto me segura sem esforço em cativeiro.

“Não faça isso, Ripley. Por favor”, imploro, minha voz rouca quando minha garganta arde com lágrimas. Seus olhos castanhos parecem duros e escuros. Suas mãos são firmes, não há nada da delicadeza que senti antes. Tudo acabou. Ele pensa que sou o inimigo, e não está longe da verdade.

“Eu não preciso que faça papel de herói”, ele sussurra, mas posso perceber que um pouco da irritação desapareceu.

“Ele estava ameaçando acusá-lo de um crime, Ripley”, resmungo, sentindo estar lutando uma causa perdida, como se estivesse prestes a perder a única pessoa que nunca pensei que seria mais do que um pé no saco. “Eu não ia te deixar ser enviado para a merda da prisão por dez anos porque ele está tentando me punir por não ficar de joelhos atrás do bar naquela noite.”

Ele se inclina, sua boca apenas a um centímetro longe da minha. O cheiro de menta em sua respiração é a sua marca, e a maneira como se mistura com o cheiro do cigarro em seu colete é um dos aromas mais surpreendentemente sexy.

Ripley só fuma quando está estressado ou com raiva.

O que me diz uma coisa – ele se importa.

Mais do que quer admitir.

Ripley provoca tantas emoções malditas dentro de mim que constantemente me sinto num tornado quando ele está por perto. Justamente quando penso que ele vai me beijar, ele se afasta e solta um profundo grunhido antes de bater seu punho na parede ao lado da minha porta da frente.

Sufoco um grito assustado e pressiono meu corpo contra a parede, observando-o com os olhos arregalados. Por um momento, eu me pergunto se ele vai enlouquecer e ter um blecaute como fez com Caleb no teatro. Eu sei que ele não estava lá. Ele não estava ciente do que fazia porque estava revivendo algum pesadelo em sua cabeça.

Tentei chegar até ele, mas Shotgun me segurou. Ele tentou me dizer que Rip não teria me reconhecido, ele teria continuado a golpear, e eu poderia me machucar, mas honestamente, não me importava.

Ele para, levantando uma sobrancelha. “De repente você está com medo de mim, Dakota?”

Eu realmente suspiro com a perspectiva. É forçado. Ripley me petrifica, mas não pelas razões que acho que está sugerindo. Estou com medo do jeito que meu corpo o deseja sempre que ele me toca. Estou com medo de quão facilmente caio. E estou com medo de quão forte posso atingir o chão quando isso acontecer.

Há uma razão pela qual comparar se apaixonar a cair. A queda é a parte mais importante. É onde você se solta, onde dá um salto no penhasco na esperança de que a outra pessoa possa te pegar lá embaixo.

Há dois tipos de caras neste mundo.

Os apanhadores e os que não são.

Homens como Ripley não são apanhadores.

É por isso que preciso dar um passo para longe da beirada e parar de fingir que o que temos é mais do que dois corpos que compartilham uma corrente elétrica, diferente da que já experimentei com qualquer outra pessoa.

Sem aviso, ele avança, pressionando meu corpo contra a parede enquanto captura minha boca. Eu me agarro a ele, meu corpo desejando segurá-lo, deitar-me com ele e ouvi-lo falar sobre aquele lugar escuro onde esteve hoje. Quero que esse seja a porra de um relacionamento normal, como se não fossemos duas pessoas que precisam continuamente da tensão para se incendiar. Mas nunca será assim.

Ele se afasta, sua respiração forte e a testa pressiona contra a minha. “Eu prefiro ir para a prisão do que saber que ele te usou assim. Saber que ele te tocou”, murmura Ripley, com um ligeiro tremor. Ele me olha diretamente nos olhos. Ele precisa que eu confirme que não fiz isso, que sua liberdade não é o resultado de uma transa com Caleb. Ele precisa dessa segurança, e não posso dar a ele. E isso me mata.

Não posso arriscar que ele faça mais perguntas. Preciso protegê-los. A Ripley, especialmente, porque já usei meu passe livre da cadeia, então se não tomar cuidado e ele enlouquecer de novo, será um problema.

Quando não respondo, ele bate a palma da mão contra a parede ao lado da minha cabeça. “Porra, diga, Dakota!”

A parede treme e respiro fundo. Meus lábios ainda permanecem fechados, enquanto lágrimas deslizam por minhas bochechas.

Ele começa a recuar, e dou um passo à frente para ir atrás dele, mas ele levanta a mão, forçando-me a parar. “Não... eu só não posso brigar agora.” Ele está me olhando de uma maneira que nunca vi antes, balançando a cabeça como se não quisesse acreditar que é verdade.

Não é!

Ele se vira e abre a porta da frente, nem mesmo se incomodando em olhar para trás quando sai. O vento entra, uma brisa fresca atingindo meus braços nus. Com lágrimas caindo silenciosamente por minhas bochechas, corro e uso meu ombro para fecha-la. A pesada peça de madeira fecha em minhas costas, a força vibrando em meu corpo quando afundo no chão.

Eu me sinto zangada, excitada e confusa.

Nada disso é divertido por conta própria, muito menos sozinha.

Não importa quanto lutei, Rip não joga limpo, ele joga sujo, e preciso lembrar disso. Especialmente dado que não tenho ideia do que fazer ainda. Entrei nisso cega e confusa pra caralho.

Não vou deixar Caleb ferir as pessoas que amo. Não vou deixar que ele destrua Ripley. E não vou dar a ele uma razão para ir atrás da minha família também.

Preciso proteger a todos.

Mas no processo, posso me destruir.

Preciso descobrir uma maneira de sobreviver – e bem rápido.

Foda-se minha vida.


CAPÍTULO 23

RIPLEY

Estar de volta a Vegas pelo menos entorpeceu a coceira que tenho para colocar meu dedo no gatilho. Mas apenas ligeiramente. Caleb é um homem morto, isso já é algo que sei com certeza. Colocarei as mãos nele eventualmente, e ele irá se arrepender de vir atrás do clube.

“Você está péssimo”, meu sempre honesto pai comenta secamente, de pé na porta do meu quarto enquanto me observa arrumar todas as minhas ferramentas. Preciso ir até o meu galpão e concentrar meus pensamentos em outra coisa.

“Veio até aqui só para me dizer isso?”

Ele falava com o advogado da empresa no andar de baixo quando cheguei. Pensei que seria capaz de entrar e sair sem ter que ouvir a opinião dele sobre qualquer coisa, mas deveria ser mais esperto.

“Voltamos há algumas horas, onde você esteve?”

Decidi não voltar para Vegas com papai e Strip, precisava de espaço e ar para limpar a cabeça. Felizmente, isso é algo que eles entendem muito bem então não me impediram.

"Tive que ir ao local e pegar algumas das minhas ferramentas”, murmuro, tentando me concentrar em colocar uma coisa após a outra na maleta e tentar encaixar cada peça de cinzel em seu lugar de direito como um maldito quebra-cabeça. Um que meu cérebro não pode montar hoje.

“Ei”, papai ordena, fazendo-me congelar. “Que porra está acontecendo com você?”

“Nada.”

“Não me faça perguntar de novo.”

Eu me viro, estreitando os olhos para o meu pai que me encara ferozmente. Há uma razão pela qual Huntsman está na posição que ocupa, e há uma razão pela qual ninguém conversa ou o questiona sobre qualquer coisa. Porque ele é muito assustador às vezes. Ser seu filho não é uma exceção, quando muito, ele repreende Drake e eu mais do que os outros homens, porque não estamos apenas representando o clube, estamos representando a ele – seu sangue, sua linhagem.

Ele nos mostra se está orgulhoso, mas também demonstra quando fica chateado. E também não está acima de nos colocar de castigo caso não o tratemos com respeito. Essa é uma lição que Drake e eu aprendemos da maneira mais difícil.

“É sobre essa merda com Dakota, certo?” Ele diz depois de alguns momentos de silêncio, quando ainda não falei. “Então, o que diabos fez?”

Esfrego a palma da mão esquerda sobre os nós dos meus dedos da mão direita. O estalo que provoco neles me faz sentir apenas um pouco melhor, combinado com o fato de que não há nada realmente aqui para socar e significa que preciso enfrentar meus problemas. “Eu transei com ela.”

As palavras têm gosto de veneno e imediatamente quero pegá-las de volta. Sei que foi mais que isso. É por isso que a última conversa que tivemos ainda me deixa desorientado.

Ele se encosta ao batente da porta. “Você a fodeu.”

“Não é isso o que disse?”

“Sim, mas é o que não está falando que me preocupa”, ele resmunga bruscamente, nem perto de me deixar escapar. Dakota se juntou à família ao mesmo tempo em que Meyah, por associação. Elas meio que vieram num pacote por assim dizer. Meu pai cuidou dela como outra filha, e Drake a trata como uma irmã. Eu, por outro lado, a vejo muito diferente.

“Então, basicamente, você a fodeu, agora está começando a ter sentimentos, e não tem ideia do que diabos fazer com eles.”

Essa é a verdade absoluta do caralho. Cada parte minha quer conhecer mais de Dakota. Quero saber o que faz dela a mulher que é, o que gosta e não gosta, e tentar descobrir em que ela me envolveu.

No começo, foi a maneira que ela não demonstrou medo de se levantar contra mim. Isso me deixou ainda mais determinado a domina-la, ver se eu podia coloca-la debaixo de mim. Talvez isso seja ego, talvez arrogância, mas foi aí que começou, e definitivamente não é onde termina. Quando se encontra a pessoa cujos demônios são os mesmos que os seus, é um sentimento e uma emoção estranha que não consegue explicar. É como se pudesse ver a destruição da outra pessoa. As rachaduras que passam por elas, a dor que irradia, mas que ninguém pode ver, porque passou muito tempo disfarçando. Tudo isso, está em exibição. E você pensa que parece um pedaço de vidro quebrado, todas as bordas irregulares, afiadas e não agradáveis com peças faltando.

Então percebe que é lindo como o inferno. E você entende. Elas têm a necessidade de se esconder, necessidade de se proteger, e a maneira como às vezes luta para mostrar seu rosto ao mundo.

Elas te entendem.

Ela entende, porra.

E, droga, isso me assusta pra caralho.

“O amor não é uma fraqueza, Ripley. Nós tivemos essa conversa antes.”

Meu pai me conhece melhor do que quase todos – exceto talvez Drake. Ele conhece minhas razões pela maneira que sou. Tomei a decisão há muito tempo que nunca deixaria alguém chegar tão perto, que nunca iria permitir estar numa posição onde posso ter outra mulher que amo tirada de mim dentro do curto espaço de uma respiração. Tomei uma decisão consciente de não dar a eles a oportunidade de me destruírem. Ou colocar alguém com quem me importo numa posição onde posso destruí-los.

“Sim, e não quero tê-la novamente.” Cada vez isso volta para uma coisa – mãe. Eu a assisti viver através do inferno. Eu a assisti chorar todos os dias. Eu a vi desmoronar até que ela era uma casca de nada.

Eu ainda a amava.

Eu a amava quando ela me ignorava.

Eu a amava quando ela me disse que odiava estar perto de mim.

Eu a amava quando ela me culpava pelo inferno que passava.

E eu orava todo dia para que as coisas melhorassem e ela ficasse feliz. Que talvez um dia eu tivesse uma mãe que me desse um beijo de boa-noite ou um tapinha nas costas e me dissesse que fiz um bom trabalho.

“Cansei dessa conversa”, respondo, virando as costas para o meu pai. Um movimento que deveria saber que ele nunca permitiria. Um estrondo me faz congelar.

“Volte aqui e pare de fugir dos seus problemas.”

Cerro os dentes enquanto me viro. Seu punho ainda está pressionado contra minha parede, e sei que essa merda deve doer muito.

“Você vai ouvir o que tenho a dizer.”

“Eu já ouvi isso antes.”

“Bem, então pode ouvir mais uma vez, e desta vez entender o que estou dizendo, porque um dia, seja agora ou no futuro, alguém vai aparecer e ser perfeita para você. Merda, Rip, não estrague tudo. Porque se ignorar a maneira como se sente sobre essa pessoa, vai perder algo que pode ser incrível, e desta vez será sua culpa.”

Ouvi o discurso antes. Geralmente, acontece no dia em que vamos visitar minha mãe. Meu pai é inflexível que nós o façamos, mesmo sabendo que Drake odeia. Ele e eu vemos a situação de forma diferente. Ele a culpa pelo que aconteceu, eu culpo todos os outros.

“E se Dakota for isso? E se ela for essa pessoa?” Ele continua a pressionar, apertando todos os botões certos para conseguir uma resposta.

“O que quer que eu diga?” Pergunto frustrado, jogando minhas mãos no ar. “Sim, por um momento talvez ela tenha começado a me fazer mudar de ideia. Talvez haja uma parte de mim considerando algo diferente. Mas sabe o que? Isso é exatamente o que eu sabia que aconteceria.”

“E o que exatamente seria?” Papai pergunta, parecendo não estar preocupado por minha raiva aumentando.

“Isso”, respondo irritado, ficando mais e mais frustrado a cada minuto, sentindo meu coração começar a doer no peito, e não é um sentimento que gosto. É um que realmente passei anos tentando evitar. Uma Old Lady é algo que nunca quis, algo que nunca imaginei sequer desejar.

“Somos uma bomba prestes a explodir. Estava tentando protegê-la e, no processo coloquei minha bunda numa cela”, explico, caminhando de um lado para o outro no meu quarto. “E então Dakota achou que precisava fazer o mesmo.” Esfrego minha mão sobre o rosto e volto para minha caixa de ferramentas, fechando-a. “Eu não sei o que–”

“Rip”, ele interrompe, seu tom suavizando um pouco. Este é meu pai, não o presidente do MC. Este é o cara que me criou, que sabe quando estou prestes a enlouquecer e quando não estou no controle.

Bato minha palma contra a mesa. “Ele fez parecer que ela o fodeu para me tirar de lá”, finalmente admito, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos com força. “Ela transou com ele ou não? Eu não sei! Mas o que sei é que ela fez alguma coisa por mim, e isso a machucou. Ela estava quebrada, e ficou assim porque escolheu me proteger.”

“Mas ela não fez isso para tentar machucá-lo”, meu pai insiste, balançando a cabeça como se estivesse se esforçando. “Quantas mulheres acha que iriam ao extremo como ela fez, para conseguir tirar da cadeia alguém com quem se importam? Quantas mulheres conhece que lutariam tanto?”

A verdade é, com certeza que nenhuma das outras mulheres em que enfiei meu pau.

Mas isso significa que tudo faz sentido?

Não.

“Onde você estabelece limites?” Respondo. “Onde diz que é suficiente? Ela precisa desistir de sua liberdade então? Talvez de sua vida?”

Seu olhar é intenso. Sei que este é um assunto difícil. Mas ele não vai me deixar ir até eu ouvir o que tem a dizer. “Quando você encontra alguém com quem quer estar, nunca haverá um ‘é o suficiente.’ Nunca haverá um passo longe demais quando se trata de protegê-los.” Suas palavras começam a fazer sentido, e a neblina ao redor de mim começa a clarear. “Você me diz, até onde iria para protegê-la? O que arriscaria para garantir que Dakota esteja segura e feliz?”

Não é uma pergunta difícil de responder, mas é ter que reconhecer o fato de que sinto que de uma certa maneira estou lutando contra isso.

Dakota já existe há um tempo. E durante esse tempo, nós argumentamos, nós brigamos, provocamos até um enlouquecer, e não percebi o quanto amo isso.

A verdade é que eu arriscaria tudo. Eu iria para o inferno e voltaria feliz se isso significasse que ela não precisaria fazê-lo.

Papai está certo, não acho que 'o suficiente' exista. Mesmo que ela decida que não quer nada comigo, eu ainda lutarei por ela.

Papai coça a barba – é algo que ele faz quando algo pesa em sua mente. Então, quando não respondo imediatamente, fico surpreso quando ele começa a falar sobre mamãe.

“Quando sua mãe e eu nos casamos, era basicamente um acordo comercial. Nós nos conhecíamos há muito tempo, mas nunca fomos amigos, e com certeza nunca houve uma conexão.” Ele limpa a garganta, e meu corpo congela quando absorve suas palavras. “Mas quanto mais a vi machucada, e quanto mais via seu maldito pai forçá-la ao inferno, mais queria lutar por ela, mais queria protegê-la, e mais eu me apaixonava.”

Engulo o caroço que se forma na minha garganta.

Sua voz é rouca e grossa. Há homens por aí que diriam que meu pai não tem emoções. Isso, por causa das coisas que fez em sua vida, ele não é capaz de sentir. Mas a porra da verdade é que tudo que precisa fazer é ouvi-lo falar sobre minha mãe, e verá exatamente o tipo de homem que ele é e o quão profundo suas malditas emoções são.

Papai não gosta de falar sobre mamãe. Sei que o machuca até hoje não poder ter feito o suficiente para ajudá-la, e que ele permitiu que as coisas ficassem tão ruins quanto foram. Ele odeia não ter sido capaz de mudar as coisas porque leis são leis, e ele precisava respeitar os membros mais antigos do clube.

Ele se sente responsável pelo impacto que teve sobre Drake e eu também. Mas mesmo que a situação seja uma porcaria, ele é um pai incrível.

“Sabe, às vezes é preciso ver uma pessoa sofrendo para perceber que faríamos qualquer coisa para protegê-la dessa dor.”

Um calafrio percorre meu corpo. Odeio que ele esteja certo.

Ver o sangue de Dakota na minha mão me provocou. Quis encontrar o bastardo que a machucou e matá-lo, e, além disso, quis levá-la e escondê-la, Deus sabe onde, até poder fazer exatamente isso, então saberia que ela não iria se machucar novamente. Meu sangue ainda está fervendo, mas agora a tampa se abriu e as coisas subiram num nível totalmente novo. Tento ignorar o fato de que meu pai me conhece tão bem, e está cutucando a ferida. Ele sabe disso também.

“Nós terminamos?”

Posso dizer que ele quer falar mais. Ele quer pressionar porque meu pai é um idiota, mas é um idiota que se importa o suficiente com seus filhos para investigar os lugares que nenhum de nós gosta de visitar, a fim de ajudá-los em seus problemas.

Ele respira fundo e assente, dando um passo para o lado, assim eu agarro a maleta com força na mão. Preciso trabalhar em algo, preciso atacar algo com as mãos.

Porra, eu odeio quando ele está certo.


CAPÍTULO 24

DAKOTA

“Farinha. Uma xícara...”

“Dakota!” A voz alegre de Meyah chama da porta da frente.

Assopro um pouco de ar para cima tentando magicamente coçar a ponta do meu nariz, sabendo que se tiver que fazer isso com meus dedos, acabarei parecendo ter aspirado uma substância ilegal.

Ainda não recorri a isso, mas não é opção.

“Estou na cozinha”, finalmente consigo responder, imediatamente me perguntando por que, quando há apenas meia parede entre minha cozinha e a porta da frente, e Meyah já aparece sob a abertura do arco estranho e desatualizado.

“Ham disse que estava doe-” O sorriso desaparece do seu rosto e seus olhos instantaneamente ficam ligeiramente mais largos quando ela percebe a bagunça. Sua boca faz o mesmo quando finalmente vê os quinze a vinte potes que estão empilhados na minha pequena mesa da cozinha com vários assados dentro. E esses nem sequer incluem os vinte e quatro bolinhos que tenho no forno e o quarto lote que tenho na tigela.

Eu fiquei doente.

Faz cinco dias desde que a merda aconteceu, e evitei todos desde então. Meyah, Ham, Austin, mamãe e até Amelia quando deixou uma mensagem de voz de Evie dizendo o quanto sente minha falta.

Ela me olha com cuidado enquanto se abaixa lentamente e coloca a sacola de compras que carrega no chão. “Você está cozinhando. O que está errado?”

Tento ignorar o fato de que ela me conhece tão bem e despejo a medida perfeita de farinha na peneira que está flutuando acima da tigela. “Não sei do que está falando”, murmuro. Meus olhos examinam a receita no livro gasto que está ao lado. “Pode me passar o leite, por favor?”

Ela nem sequer questiona, jogando a bolsa na pequena quantidade de espaço livre no balcão antes de abrir a geladeira e pegar a garrafa de leite. “Não minta para mim, Dakota.” Estico o braço para a garrafa, mas ela se afasta, mantendo-a fora do alcance e forçando-me a realmente olhar em seus olhos.

A maldita cadela sorrateira.

Levanto as mãos dramaticamente, nem mesmo me importando que o pó branco deixado em minhas mãos se espalhe pelo ar. “Posso pegar o leite, por favor?”

“Você só cozinha quando está estressada, triste ou zangada”, ela continua ignorando meu tom suplicante. Normalmente, ela teria me dado um chute usando a palavra mágica ‘fodida’, mas está muito focada na tigela de bolinhos de mirtilo que estou tentando fazer.

“Eu cozinho sempre que me sinto bem”, tento corrigi-la. Abandonando o leite, procuro os outros ingredientes molhados. "Tive um desejo ardente de bolinhos frescos e frutados. Então, processe-me.” estou tentando ser Betty Crocker6, mas tudo está saindo como uma Betty de merda.

“Vou te dar um soco se não me contar o que diabos está acontecendo”, ameaça Meyah, arrancando uma gargalhada da minha boca.

Eu me viro para encará-la, colocando um mirtilo congelado na boca. “Você acabou de ameaçar me dar um soco?” Por um momento, realmente esqueço de todo o resto. “Você esteve no clube por muito tempo. Nem todos resolvem os problemas com os punhos, Rocky Balboa.”

Ela inclina o quadril contra o balcão e revira os olhos. “Bem, talvez precise começar porque isso...” ela balança a mão em torno do completo e absoluto desastre que está minha vida agora, “...não é saudável.”

Eu levanto uma sobrancelha. “Claro, não é saudável. Sabe quantos quilos de manteiga tive que comprar esta manhã? Eu não pretendo comer tudo.”

Ela aponta para mim e estreita os olhos. “Não é isso que quis dizer, e você sabe.” Odeio o quão bem ela me conhece. Odeio que não possa me esconder dela, especialmente num momento em que estou quase enlouquecendo, e toda a razão para essa porra épica de proporções históricas é seu irmão.

Sou uma melhor amiga de merda.

E esta é a razão pela qual Rip e eu evitamos as coisas entre nós por tanto tempo. Porque segredos são merda que causam um buraco dentro de você. Especialmente quando esse segredo é algo que precisa esconder da única pessoa que normalmente iria buscar conforto e a única pessoa que instantaneamente sabe quando algo não está certo.

Ela deve ter visto algo na minha cara porque estende a mão e toca meu braço, seu rosto suavizando. “O que está errado?”

O que está errado?

Respiro fundo. E realmente machuca meu peito.

O que está errado é que dormi com seu irmão, comecei a ter sentimentos por ele, e agora ele odeia minha coragem porque acha que dormi com o policial que está me chantageando para ser uma informante e destruir todas as pessoas que você ama.

Em vez de lançar essa pilha de merda nela, tento atenuar.

“Eu me sinto responsável por tudo o que está acontecendo”, respondo, puxando o avental de bolinhas rosa que uso, e tento limpar um pouco da mistura pegajosa em minhas mãos. “Fui eu quem irritou Caleb naquela noite no bar. Eu deveria ter chamado alguém, deixá-lo lidar com isso, mas não, eu falei demais e trouxe mais atenção ao clube.”

Passo correndo por ela, pegando a garrafa de leite de onde a colocou no balcão e voltando para minha tigela. Uma medida disso, uma xícara daquilo... apenas começo a jogar os ingredientes na maldita tigela.

“Dakota...”

“Sei que estou sendo psicótica, mas é como eu enfrento”, tento explicar enquanto continuo a medir os ingredientes que preciso. Quanto mais rápido me movo e quanto mais me concentro nas medidas e quantidades, mais afasto minhas emoções e sufoco a ansiedade.

“Dakota, pare,” Meyah exige, sua voz um pouco mais forte do que antes. “Você acabou de colocar meia xícara de sal na tigela.”

Olho a bagunça que fiz. “Porra!” Xingo, batendo as palmas das mãos no balcão e abaixando a cabeça.

Isso dói.

Mais do que quero que alguém veja.

Culpa se agita dentro de mim.

O que só me lembra o quanto sinto falta de Ripley e o quanto estraguei tudo. O que, por sua vez, faz-me querer cozinhar mais.

Não sou um tipo de garota ‘sente e ouça sobre meus sentimentos'. Eu os escondo, empurro para o lado e cubro com outras coisas. Enquanto estou apenas olhando o desastre na minha frente balançando a cabeça, Meyah pega o celular e começa a apertar botões.

A cadela intrometida e ligeiramente nervosa dentro de mim não consegue manter a boca fechada. “O que está fazendo?”

“Ligando para a pizzaria na cidade e vendo se posso reservar uma festa de piedade para um.”

Droga.

Cruel.

Quase quero odiá-la por me conhecer perfeitamente. Isso é o que faço quando começo a sentir pena de mim mesma. Infelizmente, não é um incidente isolado. Algumas pessoas bebem, outras usam drogas quando sentem que estão presas num buraco. Não eu, no entanto. De qualquer forma, escolhi me esconder – cozinhando, assisto a repetições de Full House e tento não enlouquecer – e depois de alguns dias, geralmente me sinto um pouco melhor.

Fiz isso a vida toda. E pensei estar funcionando bem. Até recentemente.

Meyah tem sido minha melhor amiga por pouco mais de um ano. Desde que ela praticamente caiu na porta do nosso dormitório compartilhado no primeiro ano. Nós duas mudamos muito desde então, mas não muda o fato de que ela é minha rocha. E também, ela não me deixa escapar com nada.

“E se isso não funcionar”, acrescenta ela com um sorriso de satisfação. “Vou ligar para sua mãe.”

Estreito os olhos para a traidora. “O que quer?”

“Quero minha amiga de volta.”

Bem, bela maneira de realmente me atingir.

Cadela.

“Ok, desculpe”, respondo com tristeza, franzindo o lábio dramaticamente.

Ela avança com os braços abertos. “Tudo bem, Dakota”, sussurra Meyah enquanto me abraça com força. Tento manter uma cara séria, mas não consigo parar as risadas que borbulham. Meyah levanta a mão, acariciando meu cabelo como se eu fosse uma criança pequena. “Shhh, pequena. Não lute contra isso, apenas sinta o amor.”

Nós duas começamos a rir, e consigo finalmente soltar meu corpo de seus braços. “Você é tão estranha!”

“Eu aceito isso”, ela responde com um largo sorriso. “Agora, precisa tomar um banho e arrumar suas coisas porque vamos ao clube.” Meyah levanta e caminha até a sacola de supermercado, há muito esquecida, que ela deixou no chão.

“Sabe, deveria realmente pegar as reutilizáveis. É melhor para o meio ambiente”, provoco.

Ela me ignora – ela é boa nisso – enquanto a coloca no balcão da cozinha antes de me olhar novamente. “Não mais deprimida, chega de cozinhar e se esconder neste lugar por uma semana.” Maldita seja ela por ser tão incrível. “Você pode comer essa mistura desagradável de bolinho. Ou podemos ir e preparar novos coquetéis para o novo bar, comer nosso peso em bolo de chocolate...” Ela tira um bolo inteiro de dentro da sacola e minha boca saliva instantaneamente – ela conhece o caminho para o meu coração. Ela faz uma pausa, e sei que é apenas para efeito dramático quando pega a última coisa na sacola. Finalmente, ela tira três DVDs. “E assistir a todos os filmes de Cinquenta Tons de Cinza.”

“Está me pedindo para ficar bêbada, gorda e excitada com você?” Questiono quando a tensão no meu corpo começa a sumir, meus ombros cedem e não sinto mais como se meu coração estivesse sendo estrangulado.

“Não seria a primeira vez.”

Isso não é mentira. E honestamente, já é hora de fazermos de novo.

“Oh, quão bem você me conhece.”


CAPÍTULO 25

DAKOTA

Paro meu carro no estacionamento do clube sentindo uma mistura de nervoso e felicidade ao meu redor. Meyah sabe como me tirar da depressão, e já posso respirar melhor e sinto poder enxergar com mais clareza.

Não dura muito tempo.

Meu celular toca no banco do passageiro, e olho de relance, pensando que provavelmente é apenas minha mãe verificando ou Amelia enviando uma foto fofa de Evie. Mas, em vez disso, um número desconhecido aparece com uma mensagem de texto. Meu corpo começa a aquecer, e fecho os olhos com a esperança de controlar um pouco do mal-estar no meu estômago antes de pegar o telefone para abrir a mensagem.

NÚMERO DESCONHECIDO: Já que está ao clube, espero que tenha alguma informação para mim depois. Jantei com Austin e Amelia na noite passada. Ela é realmente linda. E Evie também.

Sinto que vou vomitar.

Meus dedos tremem enquanto excluo a mensagem. Não quero reler isso. Uma vez é o suficiente.

Tento lutar contra o desejo de fugir, recolocar meu cinto de segurança e sair daqui como um morcego fugindo do inferno. Mas, obviamente, ele tem alguém me seguindo, se não estiver o fazendo pessoalmente.

Ou ele tem alguém dentro do clube – esse pensamento é aterrorizante.

Estou efetivamente evitando o clube. Parcialmente porque fiquei envergonhada com o que aconteceu – ou pelo menos o que pensam ter acontecido. E parcialmente porque meu cérebro me diz que se não estiver aqui, não posso dar nada a Caleb. Deveria ter escolhido a segunda opção.

No momento em que saio do carro, já posso sentir meu corpo tremendo. Meus olhos procuram por Meyah, mas não consigo vê-la. Ela teve mais de uma hora de vantagem antes que eu conseguisse fazer a cozinha parecer um pouco normal e ter infinidade de ingredientes de bolinhos fora do meu corpo.

Meyah sabe que estou bem atrás dela, mas em vez dela sair, vejo Ham saindo da oficina e limpando as mãos num pano sujo. Meu estômago aperta quando ele vem em minha direção, e respiro fundo.

“Ela vai descer em breve”, explica Ham quando se aproxima e encosta na parede ao meu lado. “Você está péssima.”

Franzo os lábios querendo responder com petulância como normalmente faço, mas sei que ele está completamente certo. Estou péssima, e não importa quanta maquiagem coloque ou quanto tente forçar um maldito sorriso no rosto, os últimos dias de choro constante e pena de mim mesma cobram seu preço.

“Quanto ela sabe?” Eu me atrevo a perguntar quando endireito a camisa e puxo nervosamente a bainha.

Talvez isso tenha sido má ideia.

Ham me olha com o canto do olho. “Você transou com ele?”

Meu coração para, e meus instintos de luta ou fuga entram em ação. Eu giro e corro para longe da porta e de volta para o meu carro.

Ham está logo atrás. “Dakota! Porra, pare!”

Eu giro estreitando os olhos e lutando contra as lágrimas, mas tentando manter minha voz baixa no caso de haver alguém por perto. “Não queria que isso acontecesse ok? Não sou um membro do clube. No entanto, de alguma forma, de repente estou no meio de alguma guerra, vingança ou o que diabos é isso, e não é onde quero estar, Hamlet.”

As emoções com as quais estive lutando toda a manhã se espalham por todos os lugares. Há lágrimas, coriza, palavras duras, mas não posso evitar.

“Não queria que Caleb aparecesse aqui causando problemas. Não queria que ele tentasse me machucar para chegar até vocês. E definitivamente não queria que Ripley perdesse a cabeça tentando defender minha honra e ser preso por quase dez anos por causa disso.”

Há membros do clube atentamente observando nossa interação. Mas estou num ponto em que não me importo com mais nada.

“E sabe o que”, Ham interrompe, ficando mais perto de mim enquanto luto para respirar. “Se houvesse alguma maneira de mudar as coisas e você não estar nem perto dessa bagunça, então eu faria. Mas não tenho uma máquina do tempo, não posso mudar o passado, então agora, preciso descobrir o que diabos está acontecendo no presente, então saberei com o que estou lidando.”

Posso dizer a ele. Posso dizer que não transei com Caleb. Posso dizer sobre o acordo que Caleb quer – sobre como ele está perseguindo o clube e vai me usar para tentar derrubá-los.

Mas Caleb diz que saberá se eu contar. E se é um blefe ou não, simplesmente não é algo que posso arriscar. Ham é o VP, ele tem a responsabilidade de levar tudo para Shotgun, e o que eles farão com a informação, eu não tenho ideia. Não conheço Shotgun bem o suficiente para saber que não vai simplesmente começar uma guerra, e não posso arriscar a vida das pessoas que eu amo.

“Dakota, eu só preciso saber o que aconteceu”, Ham insiste, seu tom mudando agora, a firmeza se foi.

Lambo os lábios, tentando decidir o que ou como dizer. “Eu fiz o que tinha que fazer”, sussurro, sentindo-me completamente derrotada. Caleb está ganhando, e realmente parece que alguém tem o pé nas minhas costas, e está lentamente pressionando cada vez mais forte, e eu luto para respirar. Olho Ham diretamente nos olhos, algo que não serei capaz de fazer se for mentir. E tecnicamente não vou. “Por favor, não me faça reviver isso. Por favor, não me peça para passar por isso novamente.”

Nós nos encaramos no meio do estacionamento do clube.

Lágrimas escorrem por meu rosto.

Estou quebrada.

Estou completamente destruída, e não sei que diabos fazer para consertar isso. Se fosse um cara, diria que Caleb me pegou pelas bolas porque é exatamente assim que me sinto nesse momento. Ele quer que eu destrua o clube, as pessoas que me protegeram, que ficaram ao meu lado e que não me mostraram nada além de completo amor e aceitação.

“Você realmente se importa muito com Ripley?” Ele pergunta, a questão me surpreendendo.

A verdade? Sim, eu me importo, e honestamente, sinto que dói.

“O quê?” Pergunto. Não porque não ouvi, mas porque honestamente não sei como responder. Ele não repete a pergunta, apenas levanta a sobrancelha e espera por uma resposta. “Eu não sei. Sim. Talvez.” Balanço a cabeça, meu cérebro levemente mole e a pergunta direta que ele fez é extremamente complicada.

Como me sinto sobre Ripley? Não é uma pergunta simples. Está longe de ser, porque Ripley não é nada simples.

Ele é complicado.

Ele está quebrado.

Ele é um idiota.

Ele me deixa louca.

Mas ele também é muito mais do que isso, e é o que dói.

“Preciso sair daqui”, falo, dando um passo para trás e me afastando.

Ham agarra o meu braço. “Não. Meyah ficou muito preocupada com você, e passou aqui uma hora atrás com o maior sorriso no rosto. Não tire isso dela. Você não é a única com quem ela está tendo dificuldade. Ela não conseguiu muitas respostas do seu namorado.” Eu me viro para dar a ele meu discurso de negação e o encontro sorrindo.

O bastardo sabia que conseguiria uma resposta. “Eu te odeio.”

Ele revira os olhos e balança a cabeça. “Essa é uma palavra forte vinda de uma garotinha.”

“Hilário, carne de almoço, simplesmente hilário.”

“Eu acho, Dinamarca.”


???


Meyah tem uma linha de copos espalhados pelo bar, e tenho certeza de que, ao final desse experimento, ou ficarei realmente bêbada, ou sem amiga, por lhe dizer que todas as bebidas que ela inventou são horríveis.

“Eu imaginei desde que vamos abrir o novo bar, que devemos colocar algumas bebidas que são... especiais”, ela diz enquanto puxa cada garrafa de álcool que posso nomear debaixo do balcão. Ham senta perto, parecendo meio divertido, enquanto sua mulher fala a cento e cinquenta quilômetros por minuto e olha meio preocupado para seu celular. “Então, as pessoas precisarão vir até nós se quiserem uma, por aquele ingrediente especial que não podem reproduzir em casa.”

Giro no banco incapaz de ficar parada. Mesmo que Meyah não mencione o que aconteceu, o fato de que me escondi, ou como pareço péssima – ao contrário do seu namorado barulhento. Ela me conhece muito bem.

Levanto a sobrancelha com seu comentário. “Que tipo de ingrediente especial pretende colocar nelas?”

Os olhos de Meyah se iluminam. “Podemos colocar qualquer coisa. Li sobre algumas que têm especiarias como canela e páprica.” Isso não parece totalmente horrível. “E então li sobre um bar cujo ingrediente secreto são grilos cozidos.”

Não. Ela enlouqueceu.

“Meyah...” Começo, mas ela levanta a mão.

“Não, espere. Vou correr e pegar meu celular e te mostrar o artigo”, ela insiste, saindo do bar e subindo as escadas em segundos.

Eu me viro e olho para Ham. “Você está ouvindo sua mulher? Grilos cozidos. Essa é a pessoa por quem você se apaixonou.”

Ele apenas começa a rir e sacudir a cabeça. “Ei, ela é sua melhor amiga. O que diz sobre você?”

“Que faço muito trabalho social e tenho piedade de estranhos e daqueles que não podem receber ajuda?”

Seu celular começa a vibrar sobre o balcão e ele o pega, virando para mim por apenas um segundo. “Desculpe, preciso atender.”

“Sim, sim, chefe. Vá. Deixe-me aqui para sofrer.”

Ele ri e balança a cabeça antes de atender. “Ei, conseguiu o que pedi?” Ham pergunta antes de descer da banqueta e sair para a garagem conectada.

Meu coração salta e aperto meu celular firmemente na mão. Meu pé salta nervosamente enquanto penso se deveria ir atrás dele e ver que tipo de informação posso descobrir. Sei que Caleb não vai esperar muito tempo.

Ele ainda está envolvendo meu irmão em suas investigações e esquemas contra o clube, ele deve ter feito se jantou com eles. Amelia e Evie são o mundo inteiro de Austin. Eles estão juntos desde que ele tinha dezoito anos e ela dezesseis. O que eles têm é mais do que especial, é um amor em dez milhões. Se ele perder uma dessas garotas, não posso imaginar o que fará com ele. Mas eu tenho medo.

Fico furiosa ao pensar que alguém pode ser assim. Que há pessoas lá fora, que machucariam uma criança para mostrar sua opinião ou encurralar alguém.

Caleb é um idiota mentiroso, e vamos encarar, não tenho ideia se ele vai fazer o que prometeu, ou se eu realmente sou capaz disso. Ele faz parecer que não há ninguém em quem eu possa confiar e honestamente, com os Brothers by Blood, realmente não conheço todos tão bem.

Nunca quis ser uma daquelas garotas em filmes que tentam consertar as coisas sozinhas, e não pedem ajuda, embora as coisas pudessem ser resolvidas com menos mágoa se abrissem o jogo. Nunca me vi como esta garota.

Estou prestes a ser esta garota?

Saio da banqueta e caminho em direção à porta por onde Ham saiu, tentando parecer casual, tentando fingir que estou apenas caminhando por aí.

“Sim, cara, não nos importamos em pegá-lo e levá-lo para Cali”, diz Ham quando se encosta à parede do outro lado da porta. “Alguns dos meninos precisam adquirir experiência nos meios de transporte, então vou levar alguns dos prospectos.”

Escuto por alguns minutos, fazendo uma anotação no meu telefone dos horários, dias e lugares que ele combina, mas tento ser o mais vaga possível na esperança de que será suficiente para satisfazer Caleb, mas ainda manter os garotos fora de problemas se ele os pegar.

“Eu te disse”, Meyah diz alegre enquanto desce a escada.

Meu coração salta e corro para o bar, minhas mãos tremendo. Ela empurra o telefone na minha cara, mas estou estranhamente imperturbável com a foto de um homem decorando um coquetel com um grilo morto. Minha mente está em outro lugar, e estou ciente de que minha melhor amiga pretende me deixar muito bêbada para podermos assistir a filmes e comer bolo. Então, se vou fazer essa merda, preciso fazer agora.

“Ei, preciso ligar para minha mãe”, minto enquanto ela se concentra nas bebidas. “Eu já volto, ok?”

“Depressa”, ela insiste enquanto subo as escadas. “Os garotos vão chegar em breve, e se conseguir que uma funcione, quero que eles experimentem.”

“Sim”, respondo, subindo rapidamente a escada e seguindo pelo corredor até chegar ao que ainda é considerado meu quarto. Entro e fecho a porta, trancando-a e depois me afastando.

Meus dedos tremem enquanto luto para discar o número certo. Um que memorizei, então não preciso explicar a ninguém por que está no meu celular. Não posso acreditar que as coisas chegaram a um ponto em que eu estou prestes a trair pessoas e não posso confiar nelas para fazer o que é melhor para mim, ou dizer quão envolvida nessa bagunça estou e espero que elas me tirem de lá.

Porque eu não sei.

Eles não podem garantir isso, e continuo vendo o rosto sorridente de Evie em minha mente, um lembrete das consequências se não fizer essa porra.

Coloco o celular no ouvido e o ouço chamar. Uma, duas, três vezes. Ele atende no quarto, e o áspero alô instantaneamente me deixa na defensiva. Quero desligar e vomitar, mas consigo manter o conteúdo do estômago no lugar.

“Ei, é Dakota.”

Não faça isso.

Não faça isso.

Não faça isso.

“Dakota?” Ele pergunta com agradável surpresa. “Precisa de algo?”

Evie.

Amelia

Mamãe.

Austin.

Eu limpo a garganta, mas a emoção ainda está ali, e uma lágrima escorre por meu rosto enquanto me forço a falar.

“Há algo acontecendo.”


CAPÍTULO 26

RIPLEY

Sento num banquinho no bar. A viagem até aqui foi uma merda, e consegui ser pego no meio do tráfego por causa de um engarrafamento, e então, se isso não fosse frustrante o suficiente, uma tempestade começou pouco antes de eu chegar a Phoenix. Tudo o que quero é tomar um banho quente e dormir.

Shake se aproxima e me dá um tapinha nas costas antes de afastar a mão e sacudir a água. “Cara, você está encharcado”, ele aponta como se por alguma razão eu não soubesse. Ele entra no bar, pega uma garrafa de uísque da prateleira e enche um copo. Ele o empurra sobre o balcão. “Aqui, isso vai te aquecer.”

Não perco um segundo, pego o copo e bebo toda a dose. Mal toca na minha língua tempo suficiente para me fazer estremecer com o agudo sabor amadeirado.

“Obrigado, cara”, agradeço, balançando a cabeça quando ele levanta a garrafa para me oferecer outra. “Não, eu vou subir. Vamos falar sobre a Empire depois?”

Ele assente. “Ou amanhã. Não há pressa.”

“Amanhã seria ainda melhor”, digo, batendo no balcão em agradecimento enquanto pulo do banquinho e vou para o andar de cima. Meu quarto está exatamente do jeito que deixei.

Quase.

A pessoa sob os lençóis – isso é novo. Fecho a porta com um clique abafado antes de caminhar ao lado da cama, de repente, realmente não me importando que estou encharcado e cansado como o inferno. Consigo alcançar a cama com poucos passos.

“Você está de volta”, sua voz murmura.

“Eu estou de volta.” Não sei mais o que dizer, e o desprezo que ela está me dando nesse momento é inteiramente justificado. “Por que está na minha cama?”

“Porque sua irmã me fez experimentar todos os seus coquetéis horrendos esta tarde”, Dakota murmura, mantendo o cobertor em torno de seu rosto e se recusando a virar e me olhar. “Tenho certeza de que foram os grilos que me colocaram no limite. Estava um pouco tonta e seu quarto é mais perto do que o meu.”

“Grilos?”

“Grilos”, ela confirma, eu não ouvi errado.

“Meu quarto é cerca de vinte metros mais perto do que o seu”, indico, não acreditando no resto. “Seu traseiro bêbado não pode tropeçar alguns metros extras?”

Há um botão. É brilhante, radiante e vermelho. E eu o apertei.

Ela joga o cobertor de lado, a bainha bate no meu rosto enquanto ela rola para fora da cama e fica de pé. “Pode ficar com sua cama, Rip”, ela responde, parada ali e me encarando como se não estivesse usando apenas um sutiã e uma calcinha de renda que estão completamente visíveis. Não. Ela apenas fica um pouco mais ereta. Levanta o queixo um pouco mais alto. Ela possuiu isto. E mesmo quando percebo o momento em seus olhos que ela nota estar quase nua, ainda assim se mantem firme.

“Espero que da próxima vez que for comprar biscoitos com gotas de chocolate, acidentalmente pegue biscoitos de aveia e passas em vez disso”, ela se irrita. “E então dê uma mordida e cuspa porque não é chocolate, mas aí loja estará fechada, então não poderá ir e comprar outro, e vai chorar até dormir.”

“Eu gosto de aveia e passas.”

“Ninguém gosta de aveia e passas!”

“Uma uva passa te machucou?”

Dakota levanta o dedo do meio. “Eu vou para casa.”

Ela vira para ir embora, mas agarro seu braço e a giro de volta. “Ei, Duende. Você não vai a lugar nenhum. Pode estar ficando sóbria, mas sei que ainda há muito álcool nesse corpinho.”

“Então eu vou caminhando”, ela interrompe, puxando seu braço do meu aperto e recua. A nuvem escura em seus olhos começa a se desfazer, e é quando vejo a dor através da dureza. Sim, eu estraguei tudo.

“Dakota, eu sinto muito, tudo bem.”

Gostaria de ter algo para tirar esse gosto amargo. Desculpas são como morder limões.

Ela ri e balança a cabeça enquanto vai até o final da cama e pega o jeans do chão. “Você sente muito? Isso é ótimo, Ripley.” Ela começa a se vestir, mas seu equilíbrio ainda não está bom, e ela cai sobre a cama. “Eu também sinto muito, sabe. Sinto muito por aquela parte estúpida de mim que acreditou por um momento que isso poderia ser algo mais do que você enfiando o pau em mim.”

Elegante.

Tão elegante com as palavras.

Mas essa é Dakota.

Ela não enfeita a situação. E honestamente, não quero que o faça, quero a verdade. Ela é de verdade.

“E essa é a parte que me assusta pra caralho, porque é mais”, eu respondo, contornando a cama, então estou bem na frente dela, enquanto ela continua a lutar com a calça.

Ela para pôr um momento, as mãos congeladas no jeans amontoado ao redor de seus joelhos. “Estou com uma ressaca enorme para ter essa conversa agora. Só quero ir para casa.”

“Fique comigo”, peço, sabendo imediatamente que é o movimento errado.

Mulherzinha teimosa.

“Não.”

Cerro os dentes e luto contra a vontade de puxar o jeans e jogá-la sob as cobertas, mas agora, isso não resolveria nada, e ela provou em mais de uma ocasião que há momentos em que se pressionar muito, ela vai recuar. Com toda certeza.

“Pelo menos deixe-me levá-la para casa.”

Ela lambe os lábios, mas finalmente olha para mim e assente. “Ok.”

Porra.

Pequenas vitórias.


???


Claro, ela me faz levá-la em seu carro. Isso é aparentemente inegociável, tento argumentar, e ela ganha como uma profissional.

Ela boceja longa e ruidosamente enquanto abre a porta da frente. Eu a sigo até a cozinha completamente extasiado por como essa garota pode ficar ainda mais teimosa com um pouco de bebida, mas quando ela acende as luzes, tudo estava no balcão e minha boca bate no chão.

“Puta merda, você roubou uma padaria?” Exclamo, caminhando até a pequena mesa de duas pessoas que tem três ou quatro andares de Tupperware empilhadas em diferentes tamanhos, formas e cores. Elas são todas de plástico transparente semi-colorido, então chego bem perto e posso ver o que há dentro. Algumas têm cupcakes, alguns têm bolos, bolinhos, outras estranhas sobremesas. Algumas estão congeladas e outras não.

“Eu cozinho quando estou num mau momento”, ela geme, caindo numa das pequenas cadeiras e pegando um recipiente de bolinhos com cobertura rosa e abrindo a tampa.

O meu cérebro precisa desses poucos segundos para calcular o que ela disse. “Por que não estava num bom momento?”

Ela congela por um breve momento antes de começar a rir. “Por causa disso, Ripley!” Ela diz, pegando um bolinho do recipiente e empurrando-o entre nós. “Porque nem mesmo sei que porra é essa. Mas o que sei é que ver você sair por aquela porta semana passada, esmagou uma parte de mim que eu nem sabia existir.”

De repente ela parece muito sóbria.

“Além disso, porque não tenho a mínima ideia de como você se sente sobre as coisas porque é tão bom em esconder suas emoções, e apenas me mostrar o Ripley que zomba de mim, ou que conhece as partes do meu corpo que ficam excitadas quando as toca.”

Porque posso sentir partes de mim mudando. Há coisas sobre as quais estou falando que nunca apareceram antes e, francamente, não sei o que fazer com elas. Estou imaginando quão incrível nossos filhos seriam. Quero saber se Dakota é do tipo que se casaria. Se ela quer algum tipo de compromisso e como estou disposto – não, não apenas disposto – como estou ansioso para mostrar a ela minha lealdade. Porque nunca me senti assim com outra garota. E também não consigo imaginar sentir isso por mais ninguém.

“Apenas... volte para o clube, Ripley”, diz ela tristemente, levantando e virando quando não consigo responder. Agarro seu braço, girando seu corpo para mim. Ela afasta a mão, e a pego novamente. “Rip, pare!”

“Sem chance”, respondo, puxando o seu braço e girando seu corpo então suas costas estão contra meu peito. “Eu estraguei tudo. Eu me afastei. Mas só porque estou apavorado.”

“Apavorado? De que diabos está com medo?”

“De como você está tão disposta a se machucar para me proteger”, sussurro em seu ouvido. Isso fica preso na minha garganta por um segundo e preciso limpá-la. Eu a giro de volta, e ela tropeça por um segundo, encarando-me com olhos arregalados. “E apavorado de que faria exatamente a mesma coisa.” Agarro seu rosto com as mãos e a puxo para mim, pressionando os lábios contra os dela e beijando-a. Ela derrete como manteiga sob minhas mãos. Pelo menos por alguns minutos.

Estou pronto para ela me afastar, mas o que não espero é o cupcake que vem voando no meu rosto e encontra minha bochecha, glacê rosa manchando meu rosto. Ela dá um passo para trás, a boca aberta enquanto me olha com horror, como se não esperasse essa situação quando decidiu me dar um tapa com um cupcake com cobertura rosa. Ela continua a recuar, a boca aberta e chocada lentamente começando a se curvar num sorriso.

Enquanto isso, não sei o que fazer. Apenas espero que o glacê caia, ou preciso limpá-lo? O que diabos alguém faz nessa porra de situação?

“Dakota...”

“Oh meu Deus, desculpe, eu esqueci... eu juro”, ela tenta explicar ao mesmo tempo em que tenta não rir, a mão se movendo para cobrir a boca.

Passo a língua pegando um pouco do glacê e puxando-a de volta para dentro da boca. É bom pra caralho. E ela olha com admiração, sua própria língua se movendo entre os lábios abertos como se quisesse provar o que estou provando.

“Venha aqui”, peço, meu tom áspero.

Ela endireita a postura, sua boca abrindo enquanto seu instinto natural é discutir quando a mandam fazer algo. Mas não, não desta vez. Eu limpo a sujeira do rosto e dou dois passos para frente. Ela recua na pequena cozinha, as costas batendo no balcão antes que possa ir a qualquer lugar. Passo o dedo na cobertura que ainda está na minha bochecha e pressiono-a em seus lábios.

Seus olhos se fecham, e a língua desliza para roubar a substância açucarada e, assim como ela fez, seguro o cupcake que agarrei com a mão livre e esmago contra seu peito, logo acima dos seios.

Ela ofega.

Está frio.

É uma sensação meio molhada e estranha. Mas terá um gosto incrível.

“Você tem mais dessa cobertura?” Pergunto, pegando suas mãos e puxando-as sobre a cabeça enquanto me aproximo e deslizo a língua sobre a curva do seu seio.

“Sim”, ela resmunga. “Na geladeira.”

Deslizo a língua, subindo de seu pescoço até a orelha. “Bom. Espero que goste da cor rosa, porque está prestes a tê-la sobre você.”


CAPÍTULO 27

DAKOTA

A ressaca que começa a aparecer, some rapidamente quando Ripley de repente me solta e caminha até a geladeira, deixando-me de pé contra o balcão com a porra de um cupcake no meio do peito.

Eu pego-o e coloco de lado no balcão, deixando a cobertura. É pegajosa e úmida, mas tenho a estranha vontade de passar os dedos por ela. Passo um dedo, mas antes que possa leva-lo aos lábios, uma mão envolve meu pulso.

“Não se atreva.” Ele puxa minha mão para a boca e chupa a cobertura da ponta do meu dedo. Meus mamilos instantaneamente endurecem e minha boca abre. Parece estranho, mas porra, provoca uma chama. Meu corpo já está excitado, os batimentos cardíacos ficando um pouco mais rápidos quando ele coloca o saco de cobertura no balcão.

“Tire as roupas”, ele ordena, agitando a fera dentro de mim.

“O que?” Seus belos olhos escurecem, e percebo que provavelmente não é a hora nem lugar para exigir que ele tenha bons modos. “Roupas, entendi.”

Pego a bainha da blusa puxando-a sobre a cabeça antes de fazer um trabalho rápido ao soltar o botão do meu jeans, ficando em pé no meio da cozinha apenas com um sutiã e uma calcinha de renda. Seus olhos percorrem meu corpo em apreciação, e sinto minhas bochechas começarem a esquentar. “Rip...”

O canto da boca dele se curva. “Perfeita, você sabe disso”, ele murmura, andando em minha direção e segurando meu rosto, puxando-me contra ele. Seus lábios exploram, a língua passando sobre meus lábios. Posso provar a doçura neles.

Isso ilumina meus sentidos.

Eu quero mais.

Ele vira meu corpo, andando de costas para a mesa que está cheia de bolos e cupcakes, e antes que possa protestar, ele se afasta, passando o braço por toda a mesa e jogando tudo no chão.

Eu suspiro.

Alguns se abrem, há bolos no chão e um arco-íris de glacê colorido por todo lado. Ripley nem sequer me dá tempo de ameaçá-lo e dizer que ele vai limpar tudo antes de me pegar e sentar na mesa.

“Deite”, ele ordena, e lentamente deito soltando um suspiro alto quando a mesa fria toca minhas costas. Ele ri. “Boa garota.”

“Não sou um cachorro”, argumento, olhando-o.

Ele desliza entre minhas pernas pressionando a virilha contra minha buceta e esfregando com força. Jogo meus braços para o lado e agarro as laterais da mesa enquanto luto para simplesmente não gritar com ele e pedir para me foder agora. “Não, você está certa, mas hoje, será a minha tela. Vou pintar você e, em seguida, se for uma boa garota e permanecer imóvel... vou lamber tudo.”

Deus.

Foda-se ele e seus malditos jogos.

“E se eu me mexer?” Murmuro, achando difícil falar qualquer coisa enquanto meu corpo já está tão excitado e vivo.

Ele apoia as mãos em ambos os lados do meu corpo e inclina-se, olhando-me com o sorriso mais indecente. “Toda vez que se mexer, vou bater em você antes de te deixar ter meu pau.” Ele pressiona contra mim, desta vez mais forte, apenas para reforçar as regras.

“Você é um bastardo”, respondo, movendo meus quadris e deixando escapar um gemido. Totalmente involuntário.

Ele pressiona os lábios no meu pescoço fazendo todo o meu corpo estremecer. "Vou contar isso como um”, ele sussurra, e posso ouvir o sorriso em sua voz.

“Foda-se”, murmuro.

“Dois”, ele ri, afastando meu cabelo do rosto com a mão. “Você quer continuar?”

Aperto meus lábios, mas deixo-o saber quão infeliz estou sobre isso, estreitando os olhos, o que na verdade só o diverte mais quando ele se afasta e alcança o saco de glacê. “Eu te entendo, gatinha, com seu olhar zangado”, ele brinca. “Agora vamos ver se podemos te fazer ronronar.” Ele coloca o glacê na mesa ao meu lado, e com as mãos, puxa o sutiã para expor meus seios antes de enganchar os dedos dentro da minha calcinha e arrastá-la por minhas pernas antes de jogá-la sobre seus ombros com um sorriso brilhante.

Eu me sinto aberta, exposta e excitada como o inferno. Droga.

Estou excitada e absolutamente aterrorizada ao mesmo tempo, e para ser honesta, aceitei o fato de que minha bunda ficará dolorida depois disso, porque não há como eu ficar parada com suas mãos no meu corpo.

No momento em que Ripley me toca, mesmo apenas para pegar minha mão ou me beijar, instantaneamente eletrifica meus sentidos. E ele está prestes a não apenas explorar a parte mais sensível, mas numa missão para me enlouquecer ao mesmo tempo. Porque ele é um idiota assim. E fica excitado em atormentar meu corpo. Mas o mais assustador é, eu também fico.

Ele pega um pouco da cobertura com os dedos, e embora sei que isso saiu da geladeira, quando ele a passa no meu mamilo direito, minhas costas instantaneamente arqueiam, e grito. “Oh, meu, merda!” Engasgo, olhando o meu mamilo que agora parece estar completamente congelado e formigando de uma maneira que nunca senti antes.

“Três”, Ripley conta com prazer quando se inclina e lambe a cobertura. Preciso de tudo dentro de mim para segurar meu corpo nessa porra de mesa e impedir que minhas mãos agarrem seu pau. Sua língua gira em torno do mamilo duro por um momento antes que ele o coloque inteiro na boca, calor aliviando a dor do frio e fazendo meu corpo estremecer. “Mais?”

“Por favor”, concordo.

Desta vez, ele passa glacê ao redor do meu outro mamilo antes de arrastá-lo pelo centro do meu abdômen, meus olhos colados ao modo como seus dedos percorrem minha pele. Sua outra mão pega seu jeans, desabotoando e arrastando o zíper antes de deixá-lo cair no chão. Não há nada embaixo. Seu pau salta livre, e ele se aproxima, permitindo roça-lo contra minha buceta.

Meu corpo estremece e minha reação instantânea é segurar meus seios. Quero tocá-los. Aperta-los. Pressiona-los. Sabendo que estão tão sensíveis, que fariam meu corpo explodir como um maldito foguete. Mas antes que possa fazer algo, ele segura minhas mãos e as prende sobre minha cabeça. Seu corpo vem por cima do meu, seu pau agora deslizando entre as dobras da minha buceta, que o cobre com umidade, e ele empurra os quadris para frente e para trás.

“Ripley...” Gemo, mas ele rapidamente rouba isso também, deslizando a língua na minha boca, duelando com a minha enquanto tento lutar contra. Ele se afasta apenas o suficiente para deixar uma lufada de ar entre nossos lábios.

“Com este é quatro.”

“Espanque-me, foda-me, não me importo, por favor”, imploro, inclinando-me para frente e pressionando os lábios nos dele, não conseguindo o suficiente de seus beijos e a doçura em sua língua. Ele move os quadris novamente, e seu pau roça no meu clitóris, e pelo jeito que meu corpo está aceso, já é o suficiente para quase me fazer gozar. Ele se afasta, nem mesmo se incomodando em responder enquanto pega a cobertura e despeja um punhado.

“Rip–”

Ele passa a cobertura do meu abdômen até a buceta antes de jogar um pouco sobre minha bunda e me olhar com um sorriso. Seus olhos permanecem conectados aos meus quando sua cabeça abaixa e a língua alcança meu clitóris por um breve segundo – uma provocação fodida, apenas para me atormentar – acendendo cada terminação nervosa em meu corpo antes que ele continue subindo por meu abdômen, limpando a cobertura no processo. Seu pau provoca minha buceta enquanto ele lambe os lábios, sua língua cor de rosa me fazendo sorrir.

Então ele empurra para frente, enterrando seu pau profundamente dentro de mim sem aviso prévio. Minhas costas arqueiam, e ele puxa meu lábio inferior com os dentes quando recua e empurra bruscamente fazendo a mesa inteira tremer.

“Droga”, murmuro, agarrando seu colete e apertando-o com força enquanto ele continua a me foder, cada impulso aumentando a explosão, pedaço por pedaço.

Ele se levanta, agarrando minhas pernas e puxando minha bunda em direção a ele, então estou pendurada na beirada da mesa. “Não consigo me controlar perto de você, Dakota”, ele resmunga. Gemo alto quando ele pressiona o polegar sobre meu clitóris, fazendo todo meu corpo tremer. Ele ri baixinho. “É isso, Duende? Isso que quer?”

Ele faz de novo.

“Sim”, gemo, jogando a cabeça para trás e ofegando enquanto correntes elétricas disparam por mim.

Esse é seu interruptor. Ele pressiona novamente, movendo-se mais e mais rápido.

“Por favor, Rip”, gemo, minhas mãos se movendo para meus seios. A cobertura os deixou escorregadios e lisos, e meu dedo desliza pelos mamilos da maneira mais deliciosa.

“Porra!” Rip amaldiçoa, e se afasta, recuando e pegando minha mão para me puxar da mesa. Ele segura meu cabelo, não se importando que estou sujando seu colete com glacê enquanto devora minha boca e desliza a mão entre minhas pernas. Seus dedos encontram meu clitóris, e ele começa a acariciar enquanto me mantem presa.

Minhas pernas começam a tremer instantaneamente, e a necessidade de gozar é como uma onda gigante atingindo meu corpo.

Nenhum aviso.

Não há tempo para eu me preparar.

Ele puxa meu cabelo para trás, deixando cair a boca no meu peito enquanto eu gozo, meu corpo inteiro tremendo como se fosse desmoronar no chão. Seguro-o firmemente, e apenas quando penso que terminou, ele agarra meus quadris e me gira, forçando minha frente contra a mesa e minha bunda no ar. Minha buceta ainda está apertando e contraindo quando ele empurra o pau dentro de mim.

“Oh meu Deus”, gemo, pressionando a testa na mesa e a segurando com força enquanto ele me fode.

A ardência de sua mão na minha bunda me obriga a pular e faz minha buceta praticamente gritar de alegria. Então ele bate na outra nádega. “Porra!”

“Isso é dois, Duende. Quer o resto?” Ele pergunta, respirando pesadamente. Posso dizer que ele está perto, sua mão apertando meu quadril como se tentasse se segurar.

“Sim, por favor”, gemo alto, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos quando posso sentir a segunda onda começar a me atingir.

Três, quatro, cinco, seis.

A ardência é forte e exatamente o que preciso.

“Goze, baby”, ele resmunga quando minha buceta aperta seu pau, sufocando e puxando. Ele empurra com força, mantendo-se lá e quando goza, o gemido profundo e grosso que deixa seus lábios quase é o suficiente para me fazer querer gozar novamente.

Se meu corpo parasse de formigar.

E minhas pernas parassem de tremer.

Estou segurando a mesa, com medo de soltar porque sei que vou desmoronar direto no chão. Meu coração parece que nunca vai diminuir a velocidade, e quando Rip sai de dentro de mim, solto um gemido suave, meus quadris balançando por conta própria como se sentissem sua falta.

“Foda-se isso é uma vista e tanto” ele admira por trás de mim. “Minha mulher. Completamente fodida. Coberta de glacê. E querendo mais.”

Tapa.

Meu corpo salta. “Maldito bastardo”, respondo, mas ainda não me mexo.

“Esse foi para dar sorte.” Ele ri.

Rip se move ao redor da mesa, pegando um recipiente que parecia ter permanecido intacto e o abre. “Por que fez tantos? Eles vão para o lixo.” Ele balança a cabeça, levantando um e dando uma grande mordida. Ele mastiga um pouco antes do seu rosto franzir e ele vira para o lado, jogando o cupcake no chão. “Oh, meu Deus, está tentando matar alguém?”

Olho para ele e sorrio. “Então, eu nunca disse que era uma boa cozinheira. Apenas disse que assava.”

Ele me olha, horrorizado.

“Jesus Cristo, em que diabos eu me meti?”


CAPÍTULO 28

RIPLEY

Ligo o chuveiro, segurando minha mão debaixo da água e esperando que ela esquente enquanto observo Dakota lutar para tirar pequenos pedaços de glacê do cabelo. Seu nariz está franzido como um coelhinho enquanto ela se concentra num fio específico, os olhos estreitos e determinados. Eu nem tenho certeza de como a substância rosa e açucarada chegou lá.

Acho que finjo bem estar no controle, mas também estou com muito medo de voltar para a cozinha e realmente avaliar o dano. Essa merda entre Dakota e eu, é um maldito perigo, eu juro. No momento em que a alcancei, todo o senso comum pulou pela maldita janela e deu nisso.

Nunca foi assim com mais ninguém. Sempre sou o único no controle, sempre sou quem dita os papéis. Mas com Dakota, o jogo inteiro mudou.

“Você realmente vai entrar no chuveiro? Ou está apenas esperando que a água fique fria para acalmar seu soldado?” Ela se aproxima, olhando diretamente para mim com um brilho nos olhos, desafiando-me a responder.

“Meu soldado gosta de estar preparado, caso seja necessário novamente”, respondo, enganchando o dedo sob seu queixo e inclinando a cabeça ligeiramente em questão.

Ela suspira e balança a cabeça antes de subir na beirada da banheira e entrar na água quase escaldante. “Você pode dizer ao seu soldado para se afastar. Tenho glacê em lugares que nunca foram feitos para cobertura e agora, tudo que preciso é de alguém que vá me ajudar a lavar e não piorar.”

Sorrio quando entro na banheira e me acomodo atrás dela, pegando o sabonete de suas mãos antes que ela comece a usá-lo. Ela parece deixar isso passar, encostando a cabeça no meu ombro enquanto passo o sabonete em sua barriga. A água instantaneamente fica rosa enquanto gira pelo ralo.

“Obrigada”, ela sussurra suavemente enquanto meticulosamente movo as mãos sobre sua pele pálida e ligeiramente sardenta e lavo o cheiro doce e doentio. Seu corpo se recosta no meu e ela boceja alto.

Eu sorrio. “Isso é o que ganha por beber durante o dia.”

“Sua irmã...” Ela solta as palavras, e posso ouvir sua mente trabalhando demais para encontrar a frase certa que explicaria como se sente, sem insultar ninguém. Porque, embora Dakota seja um pouco rude às vezes, e geralmente não dá a mínima para quem ou o que diz, quando se trata das pessoas mais próximas, doí pensar que ela pode machucá-las. “Ela é uma maldita máquina. Mas cara, ela dormiu às 3 da tarde e não vai levantar antes do alarme de amanhã.”

Minha mão roça seu mamilo enquanto subo pelo peito e cada músculo se contrai, seu corpo tremendo um pouco. “Você bebeu menos?”

Ela balança a cabeça. “Eu simplesmente não durmo.”

“Mas eu te encontrei na minha cama.”

“E eu estava dormindo?”

Não, ela não estava.

“Por que você não dorme?” Pergunto curiosamente enquanto viro seu corpo. Ela pressiona a testa contra meu peito e coloca seus braços ao redor da minha cintura enquanto lavo o glacê meio endurecido que está grudado em suas nádegas. A maneira como ela envolve seu corpo ao redor do meu e se inclina é tão natural que nem me importaria agora se a água esfriasse.

Eu ficaria aqui.

Porque me sinto bem.

E porque foda-se. Quero me permitir apenas parar e ficar por um momento onde realmente me sinto bem.

Dakota encolhe os ombros. “Sempre fui assim desde pequena. Meu pai pensou que talvez quando eu era mais jovem fosse porque esperava que minha mãe e meu pai voltassem e me pegassem.”

“E você esperava?”

Seus olhos encontram os meus. “Não. Não me lembro deles. Seus rostos, suas vozes, o cheiro, mas mesmo quando criança, eu sabia que não voltariam.” O nariz dela enruga um pouco, e ela franze os lábios, balançando-os de um lado para outro enquanto pensa sobre o que ela está dizendo. “É quase como... algo aconteceu enquanto eu era jovem, algo muito ruim, mas meu cérebro decidiu que iria me proteger, então apagou a memória, e me deixou com esse conhecimento estranho.”

Meu corpo inteiro estremece dramaticamente, e ela imediatamente se afasta em surpresa.

“Você está bem?” Ela pergunta, olhando-me com preocupação.

É como se ela lesse a minha história, é como se ela conhecesse minha mente. Não posso responder imediatamente. A água neste estágio está morna, e sei que não vai demorar muito até estar completamente fria, então coloco o sabonete na beirada da banheira e saio, pegando uma toalha e abrindo-a para ela. Ela me olha arduamente por alguns segundos antes de finalmente desligar a água e se aproximar da toalha, permitindo que eu a envolva antes de pegar a minha.

Posso dizer que ela acha isso um pouco estranho, ela ainda está se acostumando com esse meu lado que não ultrapassa os limites com ela ou é um idiota. Em vez disso, estou sendo a porra de um cavalheiro. Não, estou sendo o homem que meu pai me ensinou a ser quando se trata das pessoas que ocupam mais do que um lugar especial em nossas vidas. E está se tornando óbvio que essa pessoa é Dakota.

Nós nos movemos através do corredor para o quarto, e Dakota começa a mexer numa de suas gavetas, tirando um novo conjunto de calcinha e sutiã, colocando-os antes de vestir uma camiseta folgada que parece um pouco grande demais.

Coloco minha cueca e deixo o resto de lado. Terei que esperar até voltar ao clube para me vestir, desde que deixei minha mochila lá na pressa de trazer essa mulher para casa.

“Eu tenho pesadelos”, murmuro antes de limpar a garganta e tentar forçar o resto. Odeio falar sobre eles. Os pesadelos me fazem sentir fraco como se não fosse forte o suficiente para superar o que aconteceu, ou como se as pessoas apontassem e rissem se soubessem que ainda tenho pesadelos.

“Eu sei”, ela diz, sentando na cama e dobrando as pernas como se fosse uma criança no colchonete da escola.

“Você sabe?” Questiono, de repente me sentindo um pouco exposto demais. Tento sair da cama, mas ela agarra meu braço, seus pequenos dedos envolvendo meu pulso. Olho para eles, meu olhar subindo pelo braço dela até chegar ao seu rosto.

Ela tenta sorrir. “Quando estávamos no clube... houve algumas vezes em que acordei com você falando, pensei que falava comigo.”

Eu deveria esquecer isso.

Mas minha boca se move por conta própria. “O que foi que eu disse?”

“Mamãe”, ela sussurra, olhando-me diretamente nos olhos com a tristeza e pena que odeio. Desta vez eu me afasto completamente, saindo da cama de Dakota e colocando espaço entre nós. “Rip, honestamente, conte-me... eu quero ouvir sobre eles.”

O constrangimento ganha, minha mente volta instantaneamente para o local de autodefesa. Estou indo para a porta quando viro e olho por cima do ombro. “Se pensou ser um momento de confidencias na cama então está enganada, porra.” Eu seguro a maçaneta.

“Não se atreva”, Dakota retruca. Ela se move para sair da cama, sem vergonha de sua nudez e olhando diretamente para mim do outro lado do quarto, ela empurra os ombros para trás como se estivesse pronta para encarar qualquer coisa. “Se sair por essa porta não precisa voltar, Rip. Eu não preciso de outro covarde na minha vida, que me abandona no segundo que as coisas ficam difíceis ou complicadas.”

Eu me viro, meu coração saltando quando dou dois passos gigantes em direção a ela. “Que porra acabou de dizer?”

“Eu já fui deixada de lado na minha vida. Se quer sair, vá em frente, mas só saiba que não vou atrás de você, e não vou ficar à noite te esperando.” Posso ver o jeito que seus olhos estão brilhando com lágrimas não derramadas.

Ela me desafiou.

Claro que ela fez.

Por que diabos esperaria algo menos?

Não posso responder, minha garganta está fechada, e olho para essa mulher em pé na minha frente como se fosse uma guerreira. Pronta para permanecer firme mesmo que eu possa ver o jeito que as lágrimas caem por suas bochechas com essa afirmação.

Continuo apenas a olhando, meu coração e mente em total conflito um com o outro. Meu coração não está pronto para soltá-la – a pessoa que parece conhecer minha dor quase tão bem quanto eu – mas minha mente não tem certeza se está pronta para compartilhar os pensamentos e imagens que há tanto tempo enterro tão profundamente quanto possível.

“Você conhece meus demônios, então por que não me mostra os seus?” Ela sussurra, seu peito arfando.

“Porque seus demônios ainda estão onde os deixou, bem no passado. Os meus estão aqui.” Aponto para minha têmpora com o dedo, fechando meus olhos com força. “E eles continuam me arrastando de volta para aquela noite. Quase todas as noites, tenho que voltar a ser aquela criança petrificada de seis anos, aquela que encontrou o corpo de sua mãe no banheiro, aquela que ficou sentada ali por horas imaginando por que não era bom o suficiente para ela ficar.”

Ela me olha fixamente.

Sei que já ouviu a história.

Dakota se inclina para frente, agarrando minhas mãos e ficando direto no meu rosto, então não deixo de ouvir o que ela diz. “Eu lamento por você ter que passar por isso”, ela sussurra, seus dedos apertando quando tento me afastar. “Eu te disse antes, não vou embelezar essa merda e fingir que vai ficar melhor. Mas preciso que saiba que eu não me importo.”

Minha sobrancelha franze numa expressão confusa.

Mas antes que possa questioná-la, ela continua. “Eu entendo, eles te fazem se sentir como uma criança novamente, eles te fazem se sentir vulnerável e com medo, e são um lembrete constante da dor.”

Foda-se, foda-se, foda-se. É como se ela pudesse ver cada maldito segredo que tento esconder. É como se ela soubesse, como se pudesse não apenas ler minha mente, mas ler minha alma. E não tenho certeza se devo estar morrendo de medo ou me amarrar a ela e nunca deixá-la ir.

“Entendo que é parte de você, mas é uma parte que eu nunca mudaria, porque isso te fez se tornar o homem que é hoje, e estou me apaixonando loucamente por esse homem.” Uma lágrima escorre por sua bochecha quando ela fica na ponta dos pés e enfia o rosto no meu pescoço. “Então, se precisar sair, saia. Mas saiba que se ficar, eu vou te aceitar, a esses malditos demônios, e a atitude ruim que sei vir com o pacote quando me inscrevi para isso.”

Fodido Cristo.

Essa mulher.

Se há uma coisa que aprendi com meu pai, é que a mulher que você escolhe para ser sua Old Lady, precisa honrá-la como se fosse sua rainha. Você mostra a ela o respeito que ela merece por tolerar suas besteiras, e a protege tantas vezes quanto necessário.

Dakota porém, ela já é uma rainha. Um tipo de rainha sem enrolação, que cria suas próprias regras, construindo um império e é revolucionária.

O jeito que ela pega fogo e queima tão forte, sempre me faz querer afastar com um sorriso e vê-la brilhar. É lindo e encantador. Ela é o tipo de mulher que os homens do clube querem. Ela é orgulhosa, ela não recua e se segura, e é muito forte.

“Espero que saiba que agora que disse que se inscreveu para isso, essa merda é legalmente vinculativa”, murmuro, fazendo-a se afastar e sorrir para mim com essa porra de luz em seus olhos. “Não tem mais volta.”

Ela sorri. “Não tem mais volta.”


CAPÍTULO 29

DAKOTA

“Dakota, rápido, vamos nos atrasar!”

Eu me encolho com a voz impaciente de Meyah. Todo o conceito de tempo não é algo que meu cérebro calcula muito bem, então, chegar atrasada para a aula é geralmente uma parte natural do meu dia, hoje há uma razão real. Uma que Meyah não vai gostar.

“Estou indo”, respondo do banheiro antes de enfiar minha escova de dentes de volta na boca. Luto para calçar meu tênis branco, pulando pelo corredor até a porta da frente.

Abro a boca para deixar escapar uma explicação muito apressada, extremamente arrependida, no estilo por favor não me mate, mas percebo que minha boca ainda está cheia de pasta de dente. Arranco a escova e me inclino sobre a pequena planta ao lado da porta da frente, decorando-a com pasta de dente verde.

“Cara”, repreende Meyah. “Isso é nojento, mesmo para você.”

Jogo a escova de dentes na mesa lateral, e rapidamente amarro meu cadarço antes de deixar isso ainda mais estranho e tropeçar ou fazer algo estúpido. Então respiro fundo. “Olha, estou cansada, não li as páginas que deveria ter lido, e há algo que preciso dizer -”

“Pode me dar uma carona até o clube para eu pegar minha moto?”

E aí está.

A expressão de Meyah muda, sua boca praticamente bate no chão quando seu irmão sai do corredor atrás de mim, ajustando seu moletom e sorrindo muito satisfeito. Quero dar um soco em seu rosto idiota e estúpido, mas neste momento, meu coração está tão preso na garganta que luto para respirar. Sem mencionar o fato de que acho que vou vomitar a qualquer segundo, e esse medo está me mantendo congelada no local.

Seus olhos se movem para Ripley e depois para mim antes de voltar ao irmão, quase como se seu cérebro tentasse colocar as duas peças do quebra-cabeça juntas e formar uma imagem. Uma que sei que não é exatamente o que ela quer ver numa manhã de segunda-feira às 8:00.

“Está brincando né?”

Posso sentir lágrimas queimando na minha garganta.

Sinto como se a tivesse traído. Como se houvesse alguma regra não escrita sobre dormir com os irmãos das suas melhores amigas ou essa merda.

Ripley, por outro lado, não sente nenhum remorso. Ele usa seu colete de couro do clube. Então quando penso que ele está prestes a sair pela porta sem olhar para trás, ele coloca o braço em volta do meu pescoço e me puxa para seu lado. Seu corpo é quente, e não posso deixar de sorrir quando me aconchego nele.

Ele pressiona um beijo na minha bochecha e meu corpo inteiro instantaneamente cora. Estou esquentando, minha pele pegando fogo quando sinto essa doçura percorrer meu corpo, excitando-me e aquecendo de uma só vez. Não consigo ver esse Ripley com frequência, na maioria das vezes é apenas entre nós dois quando não há ninguém por perto, mas sua irmã – e minha melhor amiga – está de pé a poucos metros com a boca praticamente no chão, e ele ainda se recusa a me soltar.

Isso é novo.

Mas meio que gosto.

“Quando foi... há quanto tempo...” Meyah murmura antes de desistir de tentar entender o que acontece e mudar o foco do seu questionamento. “Eu não posso agora, Dakota. Carro. Imediatamente. Nós vamos nos atrasar.” Sinto como se fosse uma criança sendo repreendida. E não é legal. “E você, meu irmão, não tenho tempo para levá-lo ao clube onde imaginei que devia ter dormido depois de conversar com Ham ontem à noite sobre a Empire, então terá que pegar um Uber.”

Posso ouvir a dureza em seu tom, e decido que neste momento é melhor sair do seu caminho. Então, quando ela abre a porta do apartamento, rapidamente saio e corro até o carro. Tento não olhar enquanto Meyah fala, seus olhos em mim, mas as palavras dirigidas a ele. Não tenho ideia do que ela está dizendo, mas meu estômago revira de um jeito diferente, com uma mistura de culpa, mentiras e traições.

No momento em que ela entra no carro e começamos nossa viagem de noventa minutos até a faculdade, estou prestes a vomitar em seu novo SUV.

Estou analisando o que devo dizer quando ela de repente toca no assunto.

“Há quanto tempo estão...”

“Estamos o quê?” Pergunto, tentando não sorrir para a maneira estranha que Meyah tenta ser respeitosa e não intrusiva. Ela é boa assim, mas torna estranho ter conversas como essas. Não que planeje dormir com mais irmãos dela.

Drake não é meu tipo.

“Juro por Deus, não me faça dizer, Dakota”, ela resmunga, os olhos tentando me olhar e estreitos ao mesmo tempo.

Decido que provavelmente devo simplesmente tirar sua dor. “Desde que te liguei para me buscar depois do jantar com meu irmão e Caleb apareceu.”

Suas mãos agarram o volante com força e ela balança a cabeça. “Deus, espere até eu contar ao Ham.” Suspiro e rapidamente tento esconder com a mão. “Ele sabe!”

Meyah já está em cima de mim, e embora deva sentir pena por envolve-lo nisso, sei que Meyah ficará brava por um momento e então Ham será o homem perfeito, e ela acabará se apaixonando mais por ele.

Então, a lição é que eu uno as pessoas.

Ela ainda está falando sobre isso enquanto caminhamos pelo campus da faculdade para a aula. “Você sabe, ele esteve muito estressado porque tiveram um carregamento parado, e os meninos que estavam cuidando disso foram presos por algumas horas enquanto resolviam o que estava a bordo.”

Não pergunte.

Não pergunte.

Não é da sua conta.

Ela vai saber.

“Eles foram liberados?”

Meyah assente. “Sim, a remessa era de mini-helicópteros projetados para leiloarem. Eles só queriam que alguns dos meninos viajassem para deixar o leilão representar o clube.”

Jesus Cristo, eu entendi tudo errado.

Estou muito feliz que não há nada para colocá-los em apuros, mas me sinto mal por terem passado por esses problemas e levados sob custódia, mas puta merda, estou feliz em saber que não há nada lá para eles serem presos.

“Ham acha que Caleb deve ter alguém no GPS deles ou apenas seguindo-os.” Ela balança sua cabeça. “Assustador, certo?” Ela para pôr um segundo e estreita os olhos no meu cabelo. “Há cobertura rosa em seu cabelo?”

Estou prestes a responder com total negação quando algo chama minha atenção no lado do prédio. Para qualquer outra pessoa, ele parece um professor ou membro da equipe apenas esperando a aula começar, mas não é.

“Vou ao banheiro”, digo a Meyah rapidamente quando chegamos à porta da sala de aula. A essa altura, ele dá um passo para fora da vista e estou agradecida, mas ela ainda me olha com a sobrancelha arqueada.

“A aula começa literalmente em dois minutos.”

Começo a recuar. “Eu sei! Não pode esperar, meu estômago está muito dolorido.” Esfrego em círculos que parecem mais com um sinal de 'estou com fome' do que tenho que fazer cocô porque comi algo ruim'.

Eventualmente, ela apenas balança a cabeça e abre a porta da sala atrás dela.

Corro pela estreita calçada e viro a esquina para encontrar Caleb encostado na parede parecendo à parte do colegial. Paro bruscamente e ele começa a estalar a língua para mim. “Dakota, Dakota”, ele diz. “Estou desapontado.”

Fico de pé, mas mantenho distância, recusando a me aproximar e entrar num espaço onde ele possa atacar. De jeito nenhum. O campus tem estudantes constantemente em movimento, e preciso usar isso em minha vantagem, porque posso dizer pelo olhar tempestuoso que ele não está feliz. E ele já provou o quanto está disposto a usar as mãos quando não recebe a devida atenção.

“Eu te dei a informação”, defendo-me.

“A informação errada”, ele sussurra, o corpo balançando para frente. Suas mãos estão fechadas ao lado e imediatamente recuo. Estou num lugar aberto. Há alunos não muito distantes sentados num banco e dois caras do lado de fora de uma sala conversando. Enquanto eu ficar à vista, ele não vai me tocar.

Ele fica parado na sombra do prédio, o lábio curvado enquanto luta para retomar o controle.

Meu coração parece que a qualquer momento pode explodir no peito, e realmente posso sentir a adrenalina bombear nas minhas veias fazendo todo meu corpo formigar e a pele começar a esquentar.

“Eu não sabia”, consigo finalmente responder. “Pensei ser outra coisa. Não é minha culpa. Estou fazendo meu melhor, ok?”

“Seu melhor não é bom o suficiente”, ele retruca, batendo com força a palma da mão contra a lateral do prédio. Mesmo que ele não tenha me atingido, praticamente posso sentir o contato com minha bochecha se estivesse perto demais. “Consiga-me algo, Dakota.”

“Estou tentando”, respondo, dando mais um passo para trás.

Seus olhos estreitam. Ele sabe o que estou fazendo. “Este é seu aviso, não tente brincar comigo.”

Preciso dar o fora daqui. “Eu tenho aula”, respondo com urgência, afastando-me, um passo após o outro.

“Dakota!” Ele avisa, sua voz baixa e ameaçadora. “Você não quer foder comigo.”

“Eu preciso ir”, respondo rapidamente antes de virar e correr para minha sala, não me importando que sinto seu olhar queimando minhas costas. Ele está aborrecido por eu encontrar uma brecha e por ter medo de se mostrar em público. Isso me dá uma vantagem, pelo menos por hoje, mas sei que não será o fim. Preciso de algo mais, algo que vai agrada-lo, mas não prejudicará o clube, e estou ficando sem ideias.

Eu preciso de tempo.

Eu preciso de ideias.

E não tenho nenhuma.


CAPÍTULO 30

RIPLEY

Irmã fodida, fazendo-me pagar um maldito Uber até o clube para pegar minha moto.

O carro para do lado de fora do complexo, e saio, agradecendo rudemente ao garoto de óculos que dirige e parece precisar sair dali o mais rápido possível. O que ele faz, as rodas girando no cascalho solto enquanto acelera para fugir.

Passo pelos portões. Shake, Shotgun e Repo estão de pé sob a porta de correr rindo. “Os idiotas podem calar a boca”, ordeno enquanto caminho em sua direção.

Sei o quão engraçado acham isso pelo fato de que o sorriso de Repo é tão grande que você pode ver claramente por baixo de sua barba monstruosa. Honestamente é uma das mais impressionantes que vi, rivalizando com a do meu pai.

Ele ri enquanto limpa as mãos num pano que parece ter visto dias melhores porque está tão encharcado de óleo e outras merdas que nunca irá limpar nada de sua pele. Quando muito provavelmente vai deixa-la mais suja do que está.

“Então, a venda foi aprovada hoje”, Shake me informa. “Drake já foi assinar a papelada e contestar a recusa para nossas licenças.”

Eu amaldiçoo. “Elas foram recusadas novamente?”

Shotgun bufa. “Sim, por uma merda estúpida. Alguém está jogando, tentando desacelerar. Alguém que tem posição e um pouco de poder.”

Sei exatamente quem ele insinua. “Filho da puta”, murmuro, balançando a cabeça. “Se ver Drake antes de mim, peça para me ligar. Ficarei feliz em ir ao centro com ele e informar o que diabos penso deles negarem nossas licenças.”

Shake ri. “Como foram as coisas com Dakota na noite passada? Vocês dois se beijaram e fizeram as pazes?”

Suspiro enquanto sigo para minha moto, pronto para dar o fora. Honestamente, com toda certeza motoqueiros fofocam mais do que vadias. Às vezes me pergunto como conseguimos fazer algo no clube.

“Estou certo que Meyah vai te contar hoje à noite o que presenciou esta manhã, e então descobrir que você já sabia”, respondo por cima do ombro antes de ligar a moto e deixar o ronco baixo afogar a quantidade de palavrões que ele solta enquanto me afasto do clube.

Fodido Caleb e seu traseiro estúpido pensando que pode enfiar sua merda em lugares que não lhe dizem respeito.

Espero que ele receba a mensagem em breve, porque, sinceramente, minha corda está ficando um pouco mais fina e, se ele não tomar cuidado, vou envolvê-la em seu pescoço. Já estou com um péssimo humor, mas meu dia está prestes a piorar.

O barulho alto de uma sirene de polícia enquanto volto para a casa de Dakota não me surpreende. É um som que me tornei acostumado ao longo dos anos.

Imediatamente estaciono a moto ao lado do meio-fio, o ronco baixo da minha Harley quando está parando é algo que sinceramente gosto mais do que quando está se movendo rapidamente. É profundo e posso sentir bem no peito, e ao longo do restante do corpo quando o motor desliga.

Tiro o capacete e o penduro no guidão antes de jogar a perna e me levantar para poder pegar meus documentos no bolso. Quando a porta do carro fecha, olho para cima, franzindo a testa, quando vejo o irmão de Dakota, Austin, andando na minha direção. Seus olhos estão estreitos e ele está bons quatro centímetros mais alto, mas me pergunto se posso soca-lo.

“Como posso ajudar hoje, policial?”

“Você é o idiota fodendo minha irmã?”

Cruzo os braços sobre o peito para tentar evitar socar o filho da puta. “Que tal tentar de novo, e desta vez perguntar sem desrespeitá-la falando assim?”

Já sei que essa conversa não será boa, e se sair daqui sem ser preso, classificarei como vitória.

“Você está me falando sobre desrespeito?” Austin ri, balançando a cabeça enquanto puxa seu caderno e uma caneta de dentro do bolso do colete. “Posso verificar seus documentos, por favor?”

Cerros os dentes, mas dou a ele tudo que precisa, e com isso ele se vira e caminha de volta para o carro, ordenando que eu espere enquanto verifica meus dados, procurando registros de prisões, mandados, qualquer coisa que possa usar.

Como é possível esse bastardo ser parente de Dakota?

Você não pode ter polos mais opostos.

Onde Dakota é engraçada, despreocupada, relaxada, seu irmão parece ter tem uma cenoura enterrada na bunda e o pau amarrado num nó. Ele caminha de volta da viatura com uma expressão severa e sei por quê.

“Não encontrou nada? Não é uma puta do caralho quando quer me fichar, espancar, ter alguma desculpa para me matar aqui no meio do dia, mas não consegue?” Sorrio e volto para a moto, pegando meu capacete.

“Dakota tem um bom coração”, anuncia Austin em voz alta, forçando-me a congelar. “Ela não precisa de um cara como você destruindo sua vida.”

“Entendo que é irmão dela, e é por isso que não te disse para ir se foder ainda”, informo casualmente. Isso alcança o limite, posso ver imediatamente. “Mas não pode escolher o que ela precisa ou não precisa. Se não notou, Dakota pode escolher e lutar suas próprias guerras.”

Ele ri e balança a cabeça. “Sim, ela pode, mas sempre parece estar usando seu esforço para lutar pelas pessoas erradas.”

“Você tem algo a dizer? Pode abrir o jogo agora!”

Ele não perde tempo. “Não vou deixar que Dakota seja arrastada e machucada por uma escória como você.”

A risada que vem da minha boca é totalmente desagradável. “Desculpe. Machucada por mim? Ao contrário de como seu amigo Caleb bateu a cabeça dela contra uma parede de tijolo semanas atrás, enquanto você estava sentado dentro do restaurante o esperando, todo agradável e aconchegante do outro lado da parede.”

Ele avança, agarrando meu colete e puxando meu corpo para o dele.

Meu temperamento vai as alturas. “Não toque meu colete, porco”, grunho, olhando-o diretamente nos olhos.

“Você é um mentiroso”, ele sussurra, bem na minha cara.

“Eu sou? Ou está sendo enganado por um idiota que vai de cidade após cidade fazendo questão de destruir pessoas, clubes e famílias? É nisso que está dentro?” Zombo, parado bem em seu rosto e, então, fico na ponta dos pés, porque sou um filho da puta. “Seu pai não ficaria orgulhoso?”

Ele me empurra de volta, e tropeço, mas consigo me manter firme.

“Cai fora da minha vista”, ele responde antes de virar e caminhar apressado para a viatura.

Sinto uma brisa forte, a tempestade que estava se formando acima de nós ainda ameaça furiosa. Viro para voltar à moto assim que meu celular começa a vibrar no meu bolso. “Fodido Jesus”, xingo, puxando-o e vendo o número do meu irmão. “O que?” Atendo, segurando o telefone no ouvido.

“Preciso que volte”, diz ele, ignorando meu tom.

“Por quê?” Pergunto ríspido. Então balanço a cabeça em confusão. “Você não deveria estar por perto para lidar com as permissões do teatro?” Pergunto, subindo na moto com uma carranca.

A viatura de Austin passa por mim, levantando pedras soltas e jogando-as no meu bebê. Cerro os dentes e luto contra o desejo de ir atrás dele e esfregar minha faca na lateral do carro.

“Sim, mas Lauren apareceu espancada e seu pai está convocando uma fodida reunião para descobrir quem fez isso, e o que será feito para proteger sua preciosa menininha.” O sarcasmo em seu tom não é ignorado.

“Ela está mal?”

“O rosto está um pouco machucado e está meio nervosa. Ela realmente não respondeu a nenhuma pergunta. Ela acha que desmaiou por um tempo. Então, Mouse a levou ao hospital para ser verificada”, Drake explica, dizendo o que ele não pode pronunciar.

Eles precisam fazer um teste de estupro.

Esfrego minha mão no rosto.

Jesus Cristo.

Não importa a briga que tivemos, preciso garantir que ela está bem.

“Papai está convocando a igreja?” Pergunto, afastando o celular da orelha por um segundo para verificar a hora. São apenas 11 horas. Se sair agora, posso estar em casa às 17h.

“Ele disse que esperará até você chegar, mas sim”, ele responde. Posso ouvir o ceticismo em sua voz. Ele e Lauren muitas vezes não se entendem. Pode ter sido porque Drake cresceu muito mais rápido do que nós, sua idade e sabedoria se estendem muito além dos anos em que viveu e ao contrário de Lauren e eu, seu foco não está inteiramente no clube.

Drake está determinado a criar algo incrível. Ele está determinado a provar que não importa de onde vem ou qual é a percepção das pessoas, você ainda pode conquistar o mundo.

“Vou sair agora”, digo, rolando os ombros e sabendo com certeza que vou sentir dores no corpo hoje à noite depois de dois dias pilotando.

“Viaje com segurança.”

“Sempre.”


CAPÍTULO 31

DAKOTA

“Ripley?” Chamo quando entro no apartamento, jogando minha bolsa na mesa do corredor e seguindo para o quarto. “Rip?” Olho dentro do quarto, mas a cama ainda está desarrumada como a deixamos esta manhã. A imagem me faz sorrir, um formigamento se instalando sobre minha pele enquanto penso sobre o jeito que Rip passou a noite toda me explorando e saboreando como se eu fosse um pirulito do seu sabor favorito.

Arrepios percorrem meus braços, e estremeço ao mesmo tempo que deixo escapar uma risadinha. Ele foi gentil, mas também foi ele mesmo. Estou começando a amar a mistura dos dois.

Todo dia aprendo algo novo sobre ele, descobrindo coisas que me dizem mais sobre a pessoa que ele era, e como ele se tornou o homem que é hoje. Estou fascinada com esse cara e estou me apaixonando. Ainda não tenho certeza se ele estará lá para me pegar.

Mas honestamente, pela forma que ele me faz sorrir e rir e a maneira que me atormenta, alegremente enfrentarei a queda e correrei o risco de ser esmagada no chão porque começo a perceber que é durante a queda que me sinto livre.

Jogo meu celular na cama e atravesso o corredor. Entro no banheiro e fico de pé em frente à penteadeira e ao espelho e solto meu cabelo da trança apertada em que Meyah o prendeu durante nosso intervalo de estudos. É algo que fazemos com frequência. Meyah gosta de fazer coisas com as mãos enquanto estuda, ela diz que ajuda a processar as informações. Então, ela trança meu cabelo enquanto leio as anotações ou discutimos as palestras. É uma vitória para nós duas porque adoro que mexam no meu cabelo, e ela encontrou um jeito de se concentrar.

Meus dedos puxam as mechas separando cada uma e soltando todo o cabelo que agora ondulado cai ao redor do meu rosto. Tento ignorar as bolsas escuras sob meus olhos. Elas estão ficando muito escuras e proeminentes e agora se viajar para qualquer lugar, provavelmente terei que pagar uma quantia extra de bagagem.

Olho para cima para começar a prender meu cabelo num rabo quando meus olhos pegam um pequeno movimento. No meu minúsculo apartamento, o chuveiro está sobre a banheira e posso vê-lo no espelho atrás de mim.

Estreito meus olhos.

Talvez seja só...

A cortina se move e prendo a respiração, todo meu corpo congelando enquanto a parte lógica do meu cérebro tenta convencer a parte cética que há algo...

Meus olhos seguem para a pequena parte da banheira e quase grito.

Há uma sombra.

A sombra de uma pessoa.

Corra.

Não, não corra.

Aja normal.

Simplesmente saia.

As vozes na minha cabeça gritam uma com a outra, uma me dizendo para dar o fora e correr em direção à porta da frente, enquanto a outra me diz para sair como se não tivesse visto ninguém.

Posso sentir minha respiração começar a ficar mais pesada e forte.

Eu me sinto paralisada.

Pegue seu telefone.

Se puder chegar ao meu quarto e trancar a porta, posso ligar para alguém. Talvez Ripley esteja no clube. Ele pode chegar em minutos.

A cortina se contorce novamente, e respiro fundo enquanto tento recuperar o controle dos meus membros. O movimento chama minha atenção, e olho para cima a tempo de ver a cortina se afastar e um rosto coberto por uma touca ninja preta aparecer.

Meus olhos encontram os dele no espelho.

Corra.

Escorrego no chão de azulejos quando corro para a porta, o homem de preto saltando da banheira assim que entro no corredor. Eu me viro, alcançando a porta, mas antes que posso abri-la, uma mão enluvada agarra a porta e a empurra de volta.

Eu giro, pressionando as costas contra ela e apoiando com força meus pés no carpete, dando um poderoso empurrão que é apenas o suficiente para forçar os dedos do agressor entre a porta e o batente.

Ele grita, o som um rugido profundo e grave. “Puta fodida”, ele amaldiçoa com um baque como se caísse contra a parede. Uso o momento para fechar a porta completamente e girar a fechadura frágil que não confio muito. “Sua puta estúpida!”

Minhas pernas cedem e me apresso para a cama onde posso ver meu telefone. Meu primeiro instinto é chamar Rip, ele deve estar por perto. Ele disse que estaria aqui quando eu voltasse.

Meus dedos tremem quando tento desbloquear a tela e escolher os comandos, batendo no errado várias vezes antes de conseguir encontrar o nome dele.

Estrondo.

Meu corpo inteiro salta, e começo a olhar em volta, perguntando-me o que diabos posso usar como arma.

Estrondo.

O telefone chama. E chama. E chama.

Ele não atende.

Oh Deus, ele não atende.

Quando a mensagem do correio de voz finalmente surge, desligo rapidamente. Posso ligar para Meyah, Ham ou outra pessoa, mas não tenho garantia de que algum deles vá atender. A única maneira que sei com certeza que vou conseguir ajuda é ligar para o 911.

Estrondo.

Ele está se jogando na porra da porta, e com cada baque posso ver ela se mover um pouco mais, ameaçando ceder.

“Alô, 911, qual sua emergência?”

Minhas mãos tremem quando seguro o celular e corro para o outro lado do quarto, tentando colocar espaço entre nós. “Polícia”, respondo. “Tem alguém na minha casa. Estou trancada no quarto, mas eles estão tentando entrar.”

Falo meu endereço mesmo sabendo que já o tem pelo GPS do meu celular.

Batida!

A madeira ao redor da fechadura da porta estilhaça completamente em pequenos pedaços, deixando a estrutura rachada e jogando a porta contra a parede com um baque retumbante que abala toda a casa.

“Socorro”, grito quando não apenas um, mas dois criminosos mascarados entram no quarto.

Não sei o que fazer, então jogo o telefone, o objeto acerta um dos homens no nariz e quase o obriga a ajoelhar instantaneamente. O outro homem vem até mim, estendendo as mãos. Tento empurrá-los, procurando por algo mais, qualquer coisa.

Ele agarra um dos meus braços e começa a puxar, mas pressiono meus pés no chão e pego o abajur da cabeceira e consigo arrancá-lo da parede antes de bater a ponta dura em seu rosto.

“Eu vou te matar, cadela”, ele grita enquanto segura o rosto.

Ataco de novo, mas desta vez sou muito lenta, e ele consegue agarrá-lo com a mão, então, em vez disso, preparo meu punho e o acerto bem no nariz.

“Porra!” Ele grita, aliviando o aperto o suficiente para eu soltar meu braço. Tropeço para trás, olhando ao redor, procurando uma fuga enquanto ambos seguram as feridas no rosto.

Eu apenas corro.

Evito o primeiro cara, minhas pernas como geleia me fazendo tropeçar nas portas do armário antes de reencontrar o equilíbrio, mas já é tarde demais. O segundo cara agarra meu braço e me puxa de volta. Viro e tento atingi-lo, mas ele desvia do soco antes de usar o punho para acertar meu estômago. Todo o ar sai dos meus pulmões e não consigo respirar. Por alguns segundos, fico com medo – petrificada – que seja assim que vou morrer.

Ser incapaz de respirar me assusta pra caramba. É um dos meus maiores medos morrer num incêndio ou debaixo d'água. Algum tipo de situação em que estou extremamente ciente do fato de que não há mais ar nos pulmões para me manter viva.

Lágrimas ardem em meus olhos quando finalmente consigo respirar, mas é de curta duração quando o cara que atingi com o abajur afasta o pé e chuta-me com força nas costelas. “Puta estupida.”

Grito de dor e caio de lado no tapete, segurando meu estômago e sentindo vontade de vomitar, como se estivesse enjoada.

“Acha que é uma puta fodona? Quer me bater como se fosse um homem, e então esperar que eu não revide?” O cara do abajur provoca enquanto fica de pé sobre mim. Ele se inclina e dá um tapa na minha bochecha. É forte o suficiente para provocar ondas de choque em meu cérebro enquanto ele sorri.

O idiota número dois se aproxima segurando a mão e olhando para mim. “Você quebrou a porra dos meus dedos, puta”, ele balbucia, levantando uma mão turva por causa das minhas lágrimas, mesmo assim ainda posso dizer que não parece certo. Ele tira a luva e pelo menos três dos dedos estão curvados num ângulo que não é normal.

“Sai da minha casa”, tento ordenar, as palavras saindo um pouco trêmulas, mas ainda alto o que é pelo menos alguma coisa. "Eu chamei a polícia.”

“Ooo, a polícia", mão quebrada provoca, virando-se para o rosto de abajur e os dois começam a rir. Eles são como os dois idiotas que tentaram pegar o garoto no filme Esqueceram de Mim. Não posso ver seus rostos, mas eles parecem ingênuos e somente violentos.

Ouço sirenes ao longe, e consigo respirar profundamente, dolorida, quando percebo que posso simplesmente dar o fora daqui sem morrer. A porta da frente está destrancada, e ouço o guincho dos pneus parando no meio-fio seguido por uma porta batendo com força.

“Socorro”, grito a plenos pulmões. “Por favor, estou aqui!” Sou instantaneamente recompensada com outro tapa forte na bochecha. Dói e mais lágrimas começam a arder, ameaçando cair. Sou teimosa, no entanto. Estou lutando contra eles. Recuso-me a ser fraca e recuso-me a deixá-los pensar que venceram.

A porta da frente abre.

“Polícia”, uma voz profunda e familiar anuncia.

Sinto desespero.

Não.

Isso não está certo.

“Ooo... eles estão aqui. Vamos dizer oi!” Mão quebrada agarra meu punho e começa a me arrastar pelo tapete. Queima minha coxa quando ele me puxa, lutando, pelo chão enquanto tento meu melhor para evitar que ele arranque um punhado do meu cabelo.

Meus dedos afundam em seu pulso, e ele resmunga antes de usar o domínio que tem em mim para bater minha bochecha no batente da porta, fazendo minha cabeça girar e os olhos revirarem enquanto luto para ficar consciente.

“Oops”, ele brinca e os dois homens gargalham como se fosse a piada mais engraçada que ouviram num longo tempo antes de continuar a me puxar para o vestíbulo.

Agora, quando os criminosos não fogem dos policiais, você sabe que é ruim. Especialmente, quando o policial tem uma reputação por usar os punhos para mostrar seu ponto de vista. Já sei que isso vai acabar mal quando o filho da puta me joga contra a parede da entrada do meu apartamento e dá um passo para trás, segurando a mão quebrada. Minha bochecha já começa a inchar, dor irradiando e fazendo minha cabeça bater como se alguém estivesse tocando guitarra no máximo. Pelo menos, afasta a dor nas minhas costelas e a maneira que luto para respirar.

“Oh querida, Dakota”, Caleb exclama em fingida surpresa quando fecha a porta. “O que aconteceu?”

Lambo os lábios, provando uma pequena quantidade de sangue no canto, do qual não tinha a mínima ideia. Estou péssima, e ainda assim luto para ficar de pé. A sala inteira está embaçada, confusa, mas posso distinguir os dois homens de preto, o rosto presunçoso de Caleb, e o jeito que todos assistem maravilhados quando lentamente me levanto do chão.

Muito devagar.

Meu corpo inteiro parece estar pegando fogo, e com a quantidade de dor percorrendo meu corpo, realmente preciso lutar contra o desejo de me enrolar numa bola e chorar.

Mas não vou fazer isso.

Não na frente dele.

De jeito nenhum.

Ele me quebrou, mas não vou deixar que veja. Não lhe darei o prazer.

Quando finalmente levanto, todo meu corpo balança enquanto seguro a parede em busca de apoio, olho-o diretamente nos olhos. “Seus serviços não são mais necessários. Então, pode dar o fora.’

Ele sorri, o deleite absoluto e doentio em seu rosto é um sinal revelador de que não estou lidando apenas com um policial enlouquecido com um ego e a necessidade de ser um deus entre os homens, estou lidando com um fodido psicopata. “Mas... você me chamou para vir e ajudar”, ele provoca enquanto se move ao redor da pequena sala.

“Eu liguei para a polícia”, zombo, o esforço que exige só para deixá-lo saber que estou com raiva, dói mais do que poderia imaginar. Honestamente, sinto como se meu rosto estivesse quebrado. “Você não é um policial, é uma fraude, um impostor, e um dia eles saberão.”

Ele ri baixinho. “Sabe, preciso dizer que você foi muito divertida até agora. Eu gostaria que todos lutassem tanto, tornaria as coisas muito mais divertidas.”

Pressiono minhas costas com força contra a parede quando começo a perceber que isso não é uma coisa única, não é apenas algo que ele decidiu fazer por capricho, na tentativa de tirar os garotos da cidade. Não, isso é algo que ele constantemente faz. Ele vai para a cidade prometendo ajudar, prometendo limpá-la e se livrar do crime e das gangues. Mas em vez de fazer isso da maneira legal, ele parte para destruir qualquer pessoa próxima a eles e usá-las contra as pessoas que você ama.

“Dê o fora da minha casa”, ordeno, tentando o melhor para não deixar as lágrimas caírem quando percebo o que isso significa. Os homens vestidos de preto se afastam e riem enquanto os olhos de Caleb se iluminam como se estivesse completamente fascinado por mim.

“Você é tão linda, Dakota”, ele elogia, se aproximando e estendendo a mão para tocar minha bochecha. “É uma pena”

Afasto a mão dele.

Ele balança a cabeça, estalando a língua para mim como se eu fosse uma criança travessa. “Talvez agora comece a me ouvir quando lhe disser que sou muito sério”, ele avisa, o brilho em seus olhos rapidamente dá lugar à escuridão, sendo completamente engolido e sufocado. Agora eu entendo. Este foi um aviso, um show de que tipo de poder ele tem. Como não posso escapar mesmo chamando a polícia. Este é um castigo por não me curvar como ele quer. “Porquê da próxima vez que tentar ser uma puta, vou mandar esses caras para a casa de Austin para fazer uma pequena visita a Amelia e Evie.”

Quero desmoronar agora.

Quero ceder à dor e a deixar me consumir, esperando que isso ocupe meu cérebro e as imagens que tenho do que esse homem pode fazer com minha família.

Isso seria fácil.

Apenas desistir.

Desistir.

Mas tenho orgulho demais nas minhas veias, e sou muito teimosa para simplesmente recuar e desistir. Então, ele pode me enforcar e queimar na fogueira, se é isso que pode acontecer, mas se ele me incendiar, vou destruir essa porra de cidade e levá-lo comigo.

“Vamos jantar na noite de quinta”, acrescenta ele, enquanto mão quebrada e o rosto de abajur saem pela porta. Ele chega mais perto, tira um cartão do bolso com o nome do restaurante, a hora e a data nele.

Ele desliza para dentro da minha blusa, onde cutuca meu peito antes de recuar com uma piscada.

“Use algo bonito.”

“Apodreça no inferno.”

Ele sorri. “Talvez eu te veja lá quando acabar destruindo seus amigos.”

Ou talvez eu já esteja lá.


CAPÍTULO 32

RIPLEY

Sinto como se estivesse no piloto automático quando chego aos limites da cidade de Vegas e deixo minha moto encontrar seu caminho para o hospital. A enfermeira do balcão dá instruções vagas para uma parte do hospital que é um tanto isolada. Não demora muito para encontrar Drake do lado de fora da porta, no entanto. O hospital não é meu lugar favorito no mundo, embora estive lá mais vezes do que posso contar com as duas mãos.

Para algumas pessoas, a morte é escura, um lugar sombrio, com nuvens de tempestade e homens em longas capas negras com adagas.

Para mim, isso é a morte.

É branca.

Limpa.

E cheira a desinfetante.

Os homens usam longas capas brancas e seguram pranchetas e estetoscópios.

“Você não precisava vir, sabe disso”, diz Drake, no instante que me apoio contra a parede ao seu lado. Ele me olha preocupado, mas minha testa rapidamente franze em confusão.

Lauren e eu podemos não estar nos entendendo recentemente, mas ainda me importo com ela. Há algo acontecendo, não sei o que ainda, mas espero que talvez esse seja o despertador que ela precisa para me deixar entrar, então posso ajudá-la como fez por mim há muitos anos atrás. E espero que isso signifique que ela deixou suas emoções de lado.

Essa é uma forte esperança.

“Onde ela está?” Pergunto, meus olhos vagando pelo corredor vazio.

“No quarto lá no final. Ela começou a surtar quando viu minha sombra passando pela porta de vez em quando.” Posso vê-lo lutando contra o desejo de revirar os olhos, mas ele consegue se impedir. Não sou o único que notou a mudança em sua atitude.

Isso não significa que qualquer um de nós pense que ela precisa ser espancada, no entanto. Nós nos preocupamos com nossos membros. Todos somos um pouco loucos às vezes, e sei que há momentos em que os garotos provavelmente querem me jogar debaixo de um trem em movimento, mas a família não seria uma porra de família se não levassem um ao outro à beira da insanidade. Honestamente, às vezes acho que só gostamos de fazê-lo por causa da vista.

“Eu cuido disso, cara. Vá, faça uma pausa.” Dou um tapinha em seu ombro, e ele balança a cabeça esticando o corpo e revirando os ombros. Ele provavelmente esteve aqui por pelo menos algumas horas. Ele levanta uma sobrancelha, questionando-me.

“Vá. Pegue um café, chame alguém para vir buscá-la. Você tem merda importante para fazer.”

“Você está certo”, ele murmura em voz baixa. Sei que Drake não gosta de Lauren, ele não gosta desde que éramos crianças. Mas o desdém se fortaleceu recentemente.

Eu o ignoro e caminho até a porta do final e bato.

“Sim?” Sua voz é tensa e insegura.

“É Ripley.”

Apenas alguns segundos depois a porta se abre e respiro fundo. Um de seus olhos está inchado e injetado de sangue, com um tom roxo por baixo. Seu lábio está completamente dividido no centro, está em carne viva e parece muito doloroso. Ela está com um moletom grosso e calça de moletom, então não consigo ver muito, mas o jeito que seus ombros se curvam me dizem mais que preciso saber.

Ela recua, e entro, deixando-a fechar a porta enquanto pego meu celular do bolso de trás e o coloco no balcão ao lado antes de me sentar na beira da pequena e dura cama.

Isso sou eu dando a ela a minha atenção.

Lauren curva seu corpo, os braços cobrindo o peito e seus ombros cedem. “Sinto muito que teve que dirigir de volta. Sei que você chegou ontem lá. Tentei dizer a todos que poderia esperar, mas meu pai...” ela se encolhe e balança a cabeça, “...ele não aceita um não.”

“O que aconteceu?”

A pergunta a faz imediatamente desviar o olhar, seus olhos seguindo para o chão. Deixo-a ter um momento, e ela respira fundo antes de me olhar novamente, desta vez com lágrimas nos olhos. “Eu fiz uma merda estúpida enquanto estava na faculdade, Rip. Pensei ser invencível. Pensei ser a hora de fugir dos meus pais. Ser a pessoa que queria ser por um tempo. Descontrair.”

Eu concordo.

Eu entendo.

O pai dela, Pound, é uma pessoa que simplesmente não gosto. Ele é mais velho, duro em suas maneiras. Lauren é, o que acho que pode chamar, uma reflexão tardia em sua vida. Ela só apareceu quando ele tinha mais de cinquenta anos, e é o produto de uma transa com uma viciada e ele a pagou para ir embora depois que ela teve o bebê.

Lauren não teve o melhor começo, mas ela tem família ao seu redor. Old Ladies, garotas do clube, outros membros que ajudaram a criá-la para ser forte, apesar das lições rígidas que o pai lhe dava. É por isso que não me surpreendeu ouvir que ela se rebelou na primeira chance que teve.

“Eu consegui me meter em algo com um dos revendedores locais, e tenho a sensação de que essa merda pode ter me seguido até em casa”, explica ela em um sussurro, evitando completamente o contato visual. “Os caras que me atacaram na noite passada, eles me conheciam, meu nome, o clube, e falavam sobre pagar o que eu devia.”

Os pelos na parte de trás do meu pescoço começam a arrepiar. Eu me importo com Lauren, ela é como uma irmã. Mas se foi arrastada de volta para cá porque estragou tudo e não pagou pela droga, vai acabar com algo mais que simpatia.

“Dê-me o nome e vou resolver”, digo a ela com firmeza quando meu celular começa a tocar no pequeno balcão.

Levanto, mas ela se aproxima, lágrimas escorrendo por suas bochechas agora. “Rip, por favor. Eu preciso de ajuda. Mais do que apenas resolver isso.” Congelo, olhando-a e para o jeito que ela me encara como se eu fosse seu herói. Não sou o herói de ninguém. “Eu não sei a quem pedir, porque o meu pai, ele vai apenas ignorar, mas estou tão cansada da pressão que está sobre meus ombros todos os dias.”

Ela está quebrando e, de repente, o telefone tocando é esquecido. “Do que está falando?”

“Chega um ponto em que me pergunto se vale a pena. Nunca serei a pessoa que ele quer que eu seja. Nunca serei a Old Lady que ele quer que eu seja.”

Eu agarro seus ombros e a seguro, olhando em seus olhos. “Ei! Olhe para mim. O que está acontecendo?”

Ela se abaixa, puxa as pulseiras e mostra o braço.

Cicatrizes.

Cortes recentes.

Ainda vermelhos.


Mordo meu lábio e puxo a bainha da camisa, esperando e esperando. “Mamãe?”

Quando não há resposta, começo a pensar no que ela pode estar fazendo. E se estiver doente? E se ela dormiu? E se o chuveiro transbordar como pai fez com a lavanderia lá embaixo uma vez?

Estufando o peito e aprumando os ombros, decido que preciso ser corajoso. Ter certeza de que ela está bem, e que papai não ficará zangado quando chegar em casa, porque mamãe esqueceu de desligar a torneira.

Então, pressiono minha mão contra a maçaneta.

E abro a porta. “Mamãe?” Eu murmuro, entrando enquanto o vapor que enche nosso minúsculo banheiro escapa. É molhado contra minha pele, e tenho que apertar os olhos para tentar ver através dele.

Outro passo para dentro, e instantaneamente, recuo quando sinto ter pisado numa poça no chão. O movimento rápido me faz escorregar e embora tente me segurar, caio com um baque no azulejo duro, as lágrimas rapidamente surgindo em meus olhos quando um forte choque sobe por minhas costas.

Fico atordoado por um momento, tentando não chorar. Levanto a mão para afastar a fuga de várias lágrimas, congelando um pouco antes de passar a palma da mão no rosto, o líquido vermelho vivo manchado na minha pele chamando a atenção.

Ele escorre pelo meu braço, pingando da ponta dos dedos, e quanto mais o sigo com os olhos, mais eu encontro. Está todo em mim, está em todo o chão, está espalhado em meu short, camisa e pernas, e ainda não tenho ideia do que...

Eu paro.

A névoa nebulosa sumiu do banheiro, esvaziando-se no corredor, significando que posso ver tudo.

Tudo.

Posso ver a pilha de roupas ao lado da banheira.

Posso ver a cortina de chuveiro rosa e verde afastada até a metade.

Posso ver a lâmina de barbear que papai sempre me diz para nunca tocar no chão.

E posso ver o braço pálido que paira sobre a lateral da banheira, com sangue escorrendo das pontas dos dedos.

Não está se movendo.

E eu também não posso.


Eu recuo, lutando arduamente para respirar e tentando focar meus olhos. “Lauren”, resmungo. “Diga-me que não está... que você não iria...” não consigo encontrar as palavras. Não sei o que dizer.

Meu peito dói para bater e falar, e estou olhando essa garota que considero uma amiga – da minha fodida família – dizendo que ela está desistindo. Sinto como se fosse aquela criança de novo, olhando para a mãe como se pudesse fazer qualquer coisa para ajudá-la, como se fosse lutar com o maior dragão se isso significasse que ela sorriria novamente. Eu era muito pequeno naquela época, não tinha uma voz forte o suficiente ou uma espada forte o suficiente, mas as coisas são diferentes agora. Não posso deixar outra pessoa em minha vida seguir esse caminho e entrar naquele lugar assustador onde a vida se torna dolorosa demais para suportar.

Ela me olha, seus olhos implorando. “Você sabe como é, não sabe? Tentar viver de acordo com as expectativas de outra pessoa? Lutar com tanta força para fazê-los felizes, e vê-los te olhar como lixo.” Ela soluça, e estendo a mão e a agarro, puxando-a antes que seu corpo desmorone no chão.

Cada maldita palavra atinge sua marca.

Eu amava minha mãe. Lutei tanto para fazê-la me ver de forma diferente, para fazê-la se importar, mas ela ainda me olhava como se eu fosse a escória que arruinou sua vida. E até hoje, teria feito quase tudo só para ela sorrir para mim uma vez.

Nós dois desmoronamos, minhas costas contra a parede enquanto ela se aconchega, chorando, lutando para respirar através das lágrimas. Lágrimas muito reais.

“Lauren, prometo que sempre estarei aqui para te ouvir”, digo honestamente, apesar do fato de que quero ficar de pé e destruir esse quarto. Tudo o que posso ver nesse momento é o rosto da minha mãe, e o quanto desejei que alguém estivesse lá por ela, dizendo a ela que havia mais. “Eu tenho responsabilidades que às vezes me levam embora, tenho merda acontecendo, mas prometo que se ligar, eu vou atender.”

Isso é família.

Família te enlouquece num dia, mas você promete protegê-los quando precisam de você no dia seguinte. E espera que eles saibam disso.

“Você entende?”

Leva um momento para ela recuperar o fôlego, mas a sinto acenar contra meu peito. “Eu entendo.”

Não vou perder mais ninguém.


CAPÍTULO 33

DAKOTA

A luta para evitar alguém e todos nos últimos três dias foi difícil.

Após o ataque, fiquei com hematomas em todo o abdômen e um olho roxo que, não importa o quanto tentei cobrir com corretivo no dia seguinte, não desapareceu. Os remédios caseiros foram meus melhores amigos nos primeiros dois dias. Tentei de tudo e qualquer coisa para tirar o inchaço da bochecha e esconder alguns dos hematomas.

Tentei vinagre. Eu experimentei abacaxi – que mantive em meu olho por mais de uma hora antes de reler o artigo que apenas sugeria comê-lo. E tentei uma estranha mistura de vaselina e pimenta caiena, que só me fez chorar.

Disse a todos que estava com uma virose e era altamente contagiosa, o que funcionou até ontem, quando no estilo Meyah, ela bateu, e precisei colocar o abacaxi de volta no olho e fingir que usava um novo rejuvenescedor facial. Ela saiu depois que comecei a dizer a ela como a diarreia ainda está horrenda.

Graças a Deus, Ripley está em Las Vegas lidando com o ataque de Lauren. Porque me fez querer vomitar mentir para Meyah, e se tivesse sido Rip, não acho que teria conseguido pronunciar as palavras.

E embora queira estar com raiva de como ele largou tudo e foi embora no momento em que a merda bateu no ventilador com Lauren, e como isso nunca teria acontecido se ele estivesse aqui – a culpa que aumenta ao passar duas semanas é a única emoção que posso sentir no momento.

Isso está me consumindo.

E sou grata por ele ter algum tipo de distração porque está chegando ao ponto em que não tenho certeza de que posso mais fazer isso.

Na quinta, consigo sair de casa parecendo menos machucada e mais como uma prostituta de classe baixa com a quantidade de maquiagem que uso, mas já é mais do que Caleb merece de qualquer maneira, e espero que as pessoas o julguem por estar em público comigo.

Caleb coloca a mão nas minhas costas enquanto me orienta para o restaurante de classe alta.

Instantaneamente me afasto, estreitando os olhos. “Eu concordei em fazer isso, mas nunca concordei em te deixar me tocar. Então, mantenha as mãos para si pelo resto da noite”, aviso, antes de acrescentar, “Ou pode se encontrar na sala de emergência com um garfo enfiado em uma.”

Vejo o jeito que seu lábio se contrai, deixando-me saber que minhas palavras o agitaram, mas estamos num lugar agradável, um lugar onde ele não gostaria de fazer uma cena, e é exatamente por isso que o escolhi. Ainda assim, sei que não devo testar a sorte, porque uma vez que eu ultrapassar essa linha, estarei numa pilha de problemas.

Caleb agradece ao garçom que rapidamente nos acomoda numa pequena e íntima mesa antes de sair correndo, murmurando algo sobre água e copos limpos. Caleb está um pouco mais tenso que o normal, posso ver o jeito que seus olhos se movem ao redor da sala como se esperasse alguém pular nele a qualquer momento. Isso me deixa nervosa, mas também me pergunto o que diabos ele fez ou está prestes a fazer que poderia deixá-lo em apuros.

Demora alguns minutos, mas seu corpo começa a relaxar na cadeira. Ele casualmente pega o cardápio, seus olhos examinando-o. Eu me recuso a fazer o mesmo, em vez disso, escolho bater o pé ruidosamente no chão de madeira.

Seus olhos baixam e voltam para o meu rosto. “As pessoas estão olhando, Dakota.”

“Então por que não me diz o que diabos quer, então posso sair daqui e te deixar jantar”, respondo, odiando isso tanto quanto ele, mas recusando-me a deixá-lo saber como estou realmente petrificada.

“Fico feliz em ver que apesar de tudo, você não perdeu a petulância que tanto amo.” O sarcasmo pinga de suas palavras, misturado com confronto, desafiando-me a responder. “Talvez seja hora de começar a pensar em crescer, Dakota.”

Não posso me conter. “Talvez seja hora de você tirar essa cenoura enorme da bunda, Caleb”, respondo com absolutamente nenhuma hesitação. “Deve estar muito podre agora.”

É tudo o que precisa. Suas mãos agarram a borda da mesa, e antes que tenha tempo de me proteger, a pequena mesa de duas pessoas é repentinamente empurrada, a borda encontrando minhas costelas e tirando o ar dos meus pulmões. Eu tusso e engasgo segurando a mesa e tentando empurrá-la para longe enquanto luto para recuperar o oxigênio. Meus olhos lacrimejam com a dor e tento não deixar a onda de náusea me dominar.

A mesa volta ao lugar assim que o garçom aparece de repente ao meu lado. “Oh querida, você está bem?” Ele pergunta em pânico enquanto coloca o jarro de água e dois copos sobre ela. Eu aperto os olhos com força enquanto luto além da dor para respirar.

“Aqui, querida, tome um pouco de água.” A voz doce e falsa de Caleb me faz querer virar a porra da mesa inteira e atingi-lo com ela. “Não quer fazer uma cena, não é?”

Minha respiração lentamente começa a voltar, e consigo olhá-lo quando ele se recosta na cadeira, bebendo sua água, a sobrancelha arqueada em desafio.

O garçom ainda me encara com uma expressão preocupada, olhando entre nós dois como se não conseguisse descobrir o que diabos aconteceu, ou por que meu acompanhante não me ajudou.

“Estou bem”, consigo finalmente falar, forçando um sorriso agradecido ao jovem. “Obrigada pela água.”

O garçom dá um passo para trás, os olhos passando rapidamente entre Caleb e eu. Ele sabe que algo não está certo, mas não consegue descobrir o que, então em vez disso, ele apenas abaixa a cabeça e se afasta, a testa franzida em confusão.

“Minha paciência está se esgotando, Dakota. Então, pode ser inteligente da sua parte ficar de boca fechada e não ser uma puta tão espertinha”, Caleb ordena em voz baixa, suas palavras suaves, mas intensas, então ele sabe que entendi a mensagem, mas que não será ouvida pelas pessoas sentadas à nossa volta.

“Só quero ficar bem longe de você, então o que diabos você quer?” Eu murmuro, minha mão pressiona com força nas costelas para tentar conter um pouco da dor.

Ele sorri e balança a cabeça. “Você realmente não tem ideia de quando parar, não é?”

“Não, só não vou deixar um idiota como você me quebrar”, digo ferozmente, obrigando-me a sentar um pouco mais ereta.

“Ainda há tempo”, ele medita, tomando um grande gole de água e colocando o copo sobre a mesa. “Infelizmente para você e suas técnicas amadoras, tenho outros empregos para voltar, outros criminosos para destruir.”

“E outras vidas inocentes para rasgar em pedaços?” Adiciono.

“Não tenho tempo para joguinhos”, ele termina, ignorando meu comentário. “Então, vamos intensificar as coisas um pouco.” Seus olhos se movem ao redor da sala, verificando se não há ninguém por perto.

Só isso me deixa angustiada, então quando ele enfia a mão no bolso e coloca algo sobre a mesa na minha frente, já estou pronta para vomitar.

Ele afasta a mão, e engasgo, instantaneamente pegando a pequena sacola e a pressionando no colo. “Que porra acha que está fazendo?” Eu pergunto com a voz baixa. “Você não pode simplesmente me entregar um pacote de drogas numa mesa de jantar no meio de um restaurante.”

Sei exatamente o que tem na sacola. Trabalhei em bares e discotecas por muito tempo para saber quando se trata de substâncias ilegais. Os Brothers são na verdade muito abertos com a equipe para nos mostrar como são, então, se vermos pessoas com algo suspeito, podemos avisar os meninos para removê-los. Essa é uma maneira segura de evitar má reputação ao clube, ser alvo da polícia, ou ter um idiota estupido com overdose em seu banheiro.

Caleb se recosta no assento e ri. “Isso é o que te assusta? Uau! Deveria ter usado primeiro. Talvez tivesse feito isso muito mais rápido.”

Cerro meus dentes. Não quero perguntar, mas sei que ele não está apenas me dando um pacote de drogas por diversão. “Para que serve?”

Seus olhos se iluminam, e se eu já não soubesse, seria nesse momento que perceberia que há algo seriamente errado com a cabeça desse homem. “Você vai usá-la para conseguir o que quero.”

Fico nervosa e posso sentir minhas mãos tremendo. “Não sei o que isso significa”, respondo com os dentes cerrados, mesmo sabendo o que ele pretende fazer.

Ele revira os olhos e balança a cabeça de um lado para outro. “Dakota, vamos lá... Sei que não é tão estúpida.” Quando não respondo, ele suspira dramaticamente e se inclina. “Vou dar-lhe mais, você vai levar ao clube e plantar. Nos armários, nas motos dos garotos, em algumas das bebidas do pessoal, qualquer maldito lugar onde possa me dar uma causa provável para destruir as coisas deles até encontrar algo útil.”

“O clube é contra esse tipo de coisa”, respondo, apertando o pequeno pacote na mão, desesperada para jogá-lo em seu rosto. Talvez em sua água e rezar pelo melhor.

Ele ri alto. “E eu pensei que você não fosse ingênua. Não conheço um MC na vida que não tenha drogas pela cidade. Estará lá e eu encontrarei, mas preciso de uma entrada.”

Não sei mais o que dizer ou fazer. Meu corpo inteiro treme de raiva e medo, e os dois misturados fazem tudo estremecer. Preciso sair daqui. “Nós terminamos?” Pergunto, empurrando minha cadeira para trás.

Ele bufa. “Certo. Tudo será entregue no seu apartamento. Sábado à noite, 11h00 é quando o ataque vai acontecer. É também quando estarei de olho em sua sobrinha, então se não for feito...” ele deixa a frase incompleta, e engulo um soluço antes de me levantar e caminhar em direção à porta.


CAPÍTULO 34

DAKOTA

O punhado de pequenos pacotes queimam no meu bolso. Eles estão me assombrando desde quinta. Fiquei olhando por cima do ombro, pensando que alguém sabia que estavam lá e que estou escondendo algo.

O tempo continua passando e a cada minuto, sinto-me cada vez pior.

Às 20h30 o clube já está em plena movimentação e as pessoas começam a entrar. Tenho dificuldade em me concentrar nas bebidas, e algumas pessoas já gritaram porque acidentalmente entreguei triplos porque esqueci que já havia colocado duas doses no copo. Só preciso aguentar mais um pouco.

“Quer me dizer por que seu nome está na lista de dança para o andar de cima mais tarde?” Um resmungo baixo soa perto da minha orelha.

Eu sorrio e balanço a cabeça, virando-me para encarar a sobrancelha franzida de Ripley. Ele está obviamente infeliz com o fato que vou dançar no palco. Eu, por outro lado, acho divertido. “Desculpe. Eu não sabia que não tinha ideia de como funciona uma lista. Então, nós, garotas...” pressiono minha mão no peito antes de apontar para um punhado de outras garçonetes atrás do bar que estão correndo como loucas tentando acompanhar os pedidos de bebida. “Veja... nós nos revezamos dançando. Eu costumo fazer o Satur...”

Ripley pressiona sua boca na minha, roubando as palavras dos meus lábios. Não o vi desde terça-feira quando precisou voltar para Vegas no último minuto para lidar com as coisas do clube. Ele me contou sobre o que aconteceu com Lauren, e embora parte minha esteja irritada que ela conseguiu arrasta-lo para isso, obviamente há algo acontecendo, e Rip está determinado a conseguir a ajuda que ela precisa. Pareceu-me muito conveniente que esse problema tenha acontecido extremamente perto da casa de Ripley. Ah, e não confio na cadela tanto quanto posso chutar sua bunda mentirosa.

Culpa sobre o que aconteceu enquanto ele estava longe me impediu de apresentar as objeções, e mantive a boca fechada, não querendo balançar o barco.

Precisei de poucos dias e de todos os remédios caseiros para hematomas que fossem humanamente capazes de esconder o fato de que por dois dias minha bochecha estava tão grande que parecia que enchi a boca de comida como um esquilo.

Posso sentir-me lentamente começar a curar.

É lento e doloroso.

As mentiras irão me alcançar em breve.

As mãos de Ripley alcançam minha bunda, agarrando-a com força e me levantando para o balcão enquanto ele continua a roubar minha respiração. No momento em que recua, várias pessoas ao redor do bar estão gritando e batendo palmas, inclusive a equipe, e minhas bochechas estão vermelhas.

Bato em seu ombro, irritada com o quão presunçoso ele parece quando me coloca de pé novamente. “Vamos falar sobre a dança amanhã, mas da próxima vez que quiser ser espertinha, vou simplesmente te curvar aqui e deixar sua bunda vermelha”, ele diz bem perto do meu ouvido, incendiando meu corpo. Mordo o lábio, não totalmente contra a ideia se for honesta. “O que diabos enfiou nesses bolsos apertados a proposito? Pacotes de açúcar?”

Ele tenta alcançá-los e meu coração para.

“Rip, estou ocupada”, tento protestar, afastando-me numa tentativa de fuga, mas ele é muito rápido e coloca o braço em volta da minha cintura e me puxa de volta, sua mão deslizando em minha pele nua. “Ripley...”

Ele ri no meu ouvido, e não posso deixar de sorrir quando ele pressiona um beijo no lado do meu pescoço, enviando um choque através do meu corpo eletrificado. “Eu preciso deixar todos os idiotas aqui saberem o que é meu”, ele sussurra, sua mão deslizando para baixo e fazendo meu ritmo cardíaco aumentar mais ainda quando seu polegar se encaixa no cós do meu short.

Eu me inclino contra seu corpo, apenas curtindo o momento. Sei que nunca ficarei satisfeita o suficiente do toque de Ripley contra minha pele. Conheço suas mãos ásperas, mas quão gentil ele pode ser com elas quando pode me fazer desmoronar. E sei quão rudemente ele pode lidar comigo quando pressionamos um ao outro até o limite, e então quão intensa a explosão é quando finalmente nos atinge.

Nunca pensei que seria esse tipo de garota, do tipo que ama atormentar seu homem em busca de punição, mas é aí que minha esperteza me leva e eu adoro. Este é um lugar onde não me importo de dar poder a Ripley, deixando-o assumir a liderança porque é seguro. Não se trata de tentar esconder minha fraqueza ou mostrar às pessoas que sou mais do que aquela menina que foi deixada para morrer na neve, e não é sobre forçar um rosto feliz ou uma observação maliciosa para esconder a dor.

Posso ser vulnerável com Rip, e ele não vai usar isso contra mim ou me olhar de forma diferente.

Ele me mantém segura.

Ele me protege.

E é nos dois sentidos.

E estou prestes a destruir completamente isso de uma só vez.

Oh Deus.

“Vou te dar dez segundos para me dizer que porra é essa”, Rip resmunga em meu ouvido, o tom áspero não mais brincando. Olho para baixo e vejo um pequeno saco de plástico na sua mão, mostrando apenas o suficiente para eu ver e não as pessoas do outro lado do bar ou ao nosso redor. “Cinco segundos, Dakota.”

“Por favor, apenas espere”, imploro, meus joelhos tremendo como se a qualquer momento fossem ceder.

“O que diabos está acontecendo com vo-”

Um grito na parte de trás do bar corta a frase, e ele imediatamente se vira e vai para a pequena sala dos fundos, onde guardamos o álcool extra da noite e barris reserva então não precisamos mandar alguém até a despensa.

Quando meu coração acelera, corro para a sala atrás de Ripley, meus joelhos instantaneamente caindo quando vejo Keela, uma das garotas do bar, e uma das minhas amigas, no chão convulsionando enquanto Leigh fica de pé ao seu lado com a mão sobre a boca, lágrimas escorrendo pelo rosto. Uma garrafa de água está ao lado, seu conteúdo lentamente caindo no chão.

“Ela está tendo uma overdose, chame uma ambulância”, Ripley ordena enquanto luta para colocá-la numa pose de recuperação assim que mais dois membros do clube correm para a sala atrás de nós.

Leigh se atrapalha com o celular, e tudo que posso fazer é olhar minha amiga, seu corpo contorcendo e tremendo, os olhos revirando enquanto me sento no chão, meus olhos arregalados e coração na garganta.

“Dakota! Você precisa falar comigo”, Rip grita sobre o som e atividade enchendo a pequena sala. “O que há na sacola? O que deu a ela?”

“Nada! Eu não dei nada a ela.” Fico de joelhos e rastejo em direção a eles. Não consigo parar as lágrimas agora, elas correm por meu rosto, e Ripley me olha como se não tivesse ideia de quem sou, e como se não quisesse estar perto de mim.

“Eu juro por Deus, Dakota...”

“Rip!” Crush, um dos prospectos do The Exiled aparece na porta, com os olhos arregalados. “Cara, os policiais estão aqui, e têm um mandado.”

Viro para Ripley, mas ele já está de pé.

Eu me agarro a porta, erguendo-me com pernas trêmulas e olho diretamente nos olhos castanhos pelos quais comecei a me apaixonar, que não quero viver sem, que me entendem, que me aceitam, e isso me deixa louca, mas da melhor maneira que poderia imaginar.

“O que é que você fez?”

“Rip, eu juro, apenas ouça—”

“Não, Dakota! Eu confiei em você, mas agora, tudo que estou vendo é traição, e Deus nos ajude, se é isso que está acontecendo aqui.” Seus olhos estão acesos com o fogo que só vi apontado para os outros, e ele rapidamente passa por mim e sai pela porta quando Leigh se ajoelha ao lado de Keela e tenta acalmá-la enquanto fala com os paramédicos ao telefone.

Quero correr atrás dele, contar tudo, mas ele não vai ouvir, ele não vai dar atenção ao que tenho para dizer e obviamente o ataque foi antecipado.

Isso significa que o plano antigo foi por água abaixo, e estou prestes a fazer qualquer coisa para manter as pessoas que amo protegidas. Então, corro para fora, notando rapidamente a fila de policiais indo para a parte de trás do clube. Eles vão começar com os funcionários, o primeiro golpe, fazer parecer que os funcionários do clube são viciados, fazer parecer que o clube está fornecendo drogas para seus empregados.

Então descobrir uma testemunha.

Ding. Ding. Ding.

Sou eu.

Meu coração bate forte no peito enquanto corro em direção à parte de trás do prédio, indo para o vestiário. Há policiais por todo o lado, de pé na porta, apalpando membros da equipe e do clube e qualquer pessoa que conseguem por as mãos.

Um deles tenta me agarrar, mas desvio e entro no vestiário das meninas, onde espero encontrar Caleb com um sorriso presunçoso falando com Ham e Shotgun.

Ham e Shotgun estão aqui, mas quando termino de virar no corredor percebo que Caleb não está.

“Austin.”

Ele ergue os olhos do maço de papéis parecendo tão surpreso em me ver quanto eu. “Dakota, o que diabos faz aqui, você não deveria trabalhar hoje à noite.” Ele olha para baixo, folheando a papelada até que puxa uma folha que tem nomes de funcionários.

“O que está acontecendo?” Pergunto, dando um passo à frente.

“Dakota, esqueça isso”, ordena Ham, estendendo a mão para mim.

“Mantenha as mãos longe dela”, meu irmão ordena, aproximando-se, o ambiente já pequeno parece ficar menor a cada segundo. Meu cérebro está lutando para acompanhar.

Onde está Caleb?

O que aconteceu com Keela?

Por que eles chegaram aqui mais cedo?

Os policiais começam a abrir as portas dos armários no vestiário, mas balanço a cabeça. O que eles estão procurando? O material ainda está em...

Eles abrem armário por armário e dentro de cada um deles há um pequeno embrulho como os que tenho no short.

Eu quero amaldiçoar e xingar.

Aquele maldito bastardo do Caleb.

Ele tinha um segundo plano caso eu desistisse, e conseguiu colocar outra pessoa aqui para fazer o trabalho sujo. Meu coração bate tão rápido que soa como um motor de partida. Logo chegará a toda velocidade, e isso irá me forçar a apagar ou explodir, e vou ficar em pedaços no chão do vestiário. Qualquer um neste momento soa melhor do que o que está acontecendo.

As poucas garotas que foram arrastadas para o vestiário estão olhando em volta, confusas, e tanto Ham quanto Shotgun parecem que vão arrancar a cabeça de alguém quando descobrirem quem diabos colocou isso ali. Embora, aposto que não será difícil para adivinharem.

“Então, de onde veio toda essa merda? Um pouco de metanfetamina?” Meu irmão exige bruscamente. Seus punhos fechados ao lado, e ele está se recusando a me olhar como se estivesse muito desgostoso ao pensar que trabalho aqui. Que nós podemos ser família e que estou incluída em algo tão devastador.

Sei que é exatamente o que ele está pensando.

E também sei que as coisas só vão piorar.

Ele foca o olhar escuro em Ham. “É assim que paga suas garotas?”

Ham imediatamente dá um passo para frente, revirando os ombros e procurando uma briga. Dois policiais ficam entre os dois, mas ele não recua. “Nós não usamos essa merda aqui. De onde veio essa merda não tenho a menor ideia, mas não é de nenhum dos meus homens, nem da minha equipe.”

Austin balança a cabeça e ri baixinho. “Sabe quantos criminosos usam esse discurso? Não é meu. Não sei de onde veio. Alguém colocou aí.”

“Todos eles?” Ham pergunta com os dentes cerrados.

Austin sorri. “Você é esperto, preciso confessar. E sabe quantos idiotas eu prendi?” A sala fica completamente silenciosa, o único barulho que posso ouvir é meu coração batendo nos ouvidos, e o som do meu estômago revirando enquanto tento evitar que o conteúdo dele suba por minha garganta e esparrame no chão. “Não adivinha desta vez? Uma vergonha. A resposta é todos. Então, pode falar qualquer merda sobre como essas drogas não serem suas, mas realmente não importa, porque as evidências não mentem.”

É por isso que Caleb enviou meu irmão.

É por isso que ele não veio sozinho.

Este jogo – ele é muito bom nele. Ele conhece as jogadas a fazer e os botões para apertar. Ele sabe quando, onde e porquê, cada maldito passo que posso dar, e como me impedir de fazer. Ele é como o mestre das marionetes, e não tenho ideia de quão firmemente as cordas estão amarradas, quanto poder ele tem sobre mim, apenas como está controlando o jogo.

Ele enviou Austin, então preciso seguir adiante. Porque isso não será mais eu infringindo a lei do clube, será eu traindo minha família pelo clube. Virando as costas para as pessoas que me salvaram, que me amaram quando ninguém mais o fez, e que me acolheram e nunca me consideraram nada além exceto um deles.

Ele está me fazendo escolher lados.

Dizer aos policiais que peguei as drogas do clube e que eles estão traficando.

Ou ficar ao lado do clube e tentar provar que a droga foi plantada.

Caleb nunca esperou que eu tomasse a rota número dois por causa da ameaça que ele fez contra Evie se eu ousasse ir contra ele. Então, em sua mente, ele só me deu uma opção – ficar do lado de Austin e dar a Caleb a causa provável que precisava para destruir o clube.

A coisa é que não há apenas dois lados.

E estou prestes a escolher a porta número três.

“Eles são meus.” A comoção ao meu redor ameaçando explodir a qualquer momento simplesmente para. Policiais de um lado olham, Ham e Shotgun congelam, eles estão perturbados. E meu irmão, apenas um olhar em seu rosto e lágrimas atacam meus olhos. Elas pingam no meu rosto enquanto tento manter a cabeça erguida e aceitar as consequências de minhas decisões de frente.

Eu fiz isso.

Eu criei isso.

E agora estou prestes a enfrentar as consequências.

“Dakota”, Austin resmunga, os olhos passando rapidamente para o punhado de policiais atrás dele. “Sei que não é isso que quer dizer. Você precisa ser bem clara aqui.”

Afasto as bochechas com as costas da mão e limpo a garganta. “As drogas são minhas. Eu as plantei. Adicionei à bebida de Keela então o teste de drogas daria positivo quando a levassem para o hospital. Eu as coloquei nos armários das meninas. Eu as coloquei nas motos dos homens do lado de fora.” Arranco os poucos pacotes no bolso de trás e os levanto no ar. “Aqui. Viu. Eles são iguais. E são meus.”

Jogo os pacotes no chão lutando contra o desejo de pisar neles em sinal de protesto e desgosto.

O silêncio é ensurdecedor.

Ninguém sabe o que dizer ou fazer, então todos ficamos ali em silêncio absoluto.

“Dakota...” Austin tenta, mas balanço a cabeça.

“Não me ouviu? Eles são meus. Qualquer coisa que encontre no clube, eu assumo a responsabilidade. Eu os coloquei aqui. Eu escondi aqui.” Quando ninguém se move, fico frustrada e com raiva, e isso se mistura com o fato de que estou completamente petrificada. “Quanto tempo quer que eu fique aqui e confesse? Por quanto tempo tenho que ficar no meio desta sala e dizer que sou completamente responsável? Que plantei todas as drogas para incriminar o clube. Prenda-me!”

Preciso dar o fora daqui. Não consigo olhar para cima, não consigo olhar Ham ou Shotgun – os homens que me trataram como família e que agora sabem exatamente o que sou.

Um policial finalmente avança com uma algema, mas meu irmão rapidamente as arranca e joga do outro lado da sala, atingindo um armário. “Não precisa disso, vou levá-la para fora.”

Ele pega meu cotovelo e me leva para a porta. Deixo que ele me puxe ao lado enquanto lágrimas transbordam em meus olhos e luto para respirar.

Eu me pergunto se valerá a pena ser honesta. Porque estou prestes a perder todas as pessoas com quem já me preocupei.

Meu irmão me deserdará. Minha família também.

E o clube... bem.

Isso dói. Muito.

Mas não tanto quanto a dor no meu peito quando passo por Ripley, e ele me olha como se eu fosse uma estranha e por um momento, penso que realmente posso sentir meu coração quebrar.


CAPÍTULO 35

DAKOTA

“Dakota, o que diabos está errado?” Meu irmão pergunta irritado enquanto ele senta na pequena mesa de interrogatório. “Não posso ajudar se não sei o que está acontecendo.”

Ele não pode ajudar de qualquer maneira.

Eu cavei o buraco.

Está frio e triste na sala, e o frio que lambe minha pele não é apenas por causa da atmosfera desagradável e deprimente. Acho que devo aproveitar enquanto posso, porque logo eles vão me enfiar num ônibus e me mandar direto para o inferno.

E no momento em que pensar no que estou fazendo, será quando perderei a cabeça. Por agora, preciso lembrar que sou responsável, que isso está nas minhas costas, e que preciso esperar que seja o suficiente para proteger as pessoas que me importam da tempestade de merda.

Não posso olhar meu irmão nos olhos.

Eu me sinto uma fraude.

Não mereço tê-lo sentado aqui comigo, disposto a tentar descobrir como estraguei tudo e me ajudar nisso. Não há nada que possa dizer agora para ajudá-lo a se sentir melhor sobre o que está prestes a experimentar. Caleb tentou me forçar a escolher os lados e, infelizmente, escolhi o que ele achava que nunca faria. Só posso esperar pelo melhor, porque se as peças não caírem no lugar certo, então estou fodida.

Então, ao invés de ficar aqui, discutindo com meu irmão claramente furioso e confuso sobre minhas escolhas de vida e repassando os momentos em minha mente, onde todos os meus amigos me olharam como se eu fosse um monstro, e como se os tivesse traído da pior forma, estou apenas esperando. Pensando sem parar sobre o que eles podem me acusar. Quanto tempo ficarei presa. E que tipo de aulas posso ter na prisão para me manter entretida.

“Posse de classe A. Intenção de distribuir. Conspiração para conseguir uma prisão falsa...” Austin fala quando não consegue uma resposta. “Devo continuar, ou isso é o suficiente para lhe dar uma maldita ideia sobre o tamanho do problema que está?”

Eu não respondo.

É melhor nesta fase que não diga uma única palavra.

No momento em que tentar falar com ele, vou quebrar, cair em pedaços, e ele saberá.

Ele saberá que não fiz isso, e na grande maneira de Austin, vai procurar a pessoa que fez. Ele vai acusar as pessoas com quem me importo, e não vai desistir até destruir alguém. Mesmo que esse alguém seja a si mesmo.

Ele abre a boca para continuar o sermão assim que a porta se abre e um sapato polido entra. Caleb está fora o dia todo hoje. Ele parece ter acabado de sair da passarela na semana da moda com seu terno impecável e cabelo perfeitamente penteado. É isso que acontece quando um homem perde o contato com o que é preciso para estar na lei e passa muito tempo tentando ordenar e manipular as pessoas para fazer sua vontade.

Meu pai sempre disse para nunca confiar num policial num terno que custa mais do que um carro com preços razoáveis. Os ternos são uma parte cotidiana na lei. Os detetives os usam todos os dias, mas são muitas vezes feitos localmente e adaptados por homens de confiança que sabem como produzir um traje que esconde a arma de um policial e muitas vezes sua identidade. Esses homens não têm medo de perseguir um criminoso. Eles não têm medo de se sujar. Eles não deixam que isso afete o bom desempenho do seu trabalho, porque estão com muito medo de estragar o material ou precisar enviá-lo para a lavanderia por causa de sangue. Homens como Calebe usam porque o fazem parecer mais poderosos, mais importantes, e os fazem se sentirem melhor do que todos os outros.

“Preciso falar com Dakota, Austin”, diz ele severamente quando entra na sala e segura a porta aberta, esperando que meu irmão simplesmente levante e saia.

Austin vira para ele. “Eu preciso de mais tempo”, ele responde com os dentes cerrados.

É inútil, na verdade.

Nunca vou dar a ele as respostas que precisa.

Ainda não, pelo menos.

“Está tudo bem, Austin”, digo, minha voz calma e pouco acima de um sussurro. Parece fraca e quebrada, mas preciso que ele saia então posso enfrentar ao idiota sozinha, e não arrasta-lo para minha bagunça mais do que ele já está.

“Você precisa de um advogado”, ele responde, balançando a cabeça. “Não deve falar com ninguém sem um advogado.”

“Dakota, gostaria de um advogado presente?” Caleb pergunta, a dureza em sua voz pode facilmente ser interpretada como ameaça. Não passa despercebida e balanço a cabeça.

“Não”, respondo asperamente, olhando Caleb diretamente nos olhos. “Estou dispensando meu direito a um advogado.”

“Certo.”

“Dakota...” Austin tenta novamente, mas o interrompo com um aceno de cabeça.

“Pare, Austin. Eu sou adulta. Sou capaz de enfrentar as consequências do que fiz. Então, por favor, pode ir e me deixar fazer isso?” Imploro, abaixando a cabeça e rezando que por um segundo ele me ouça. Preciso dele fora daqui. Não posso deixa-lo aqui enquanto enfrento Caleb porque não tenho certeza do que vai acontecer. Mas pela maneira como seus punhos estão fechados ao lado, só posso imaginar. “Por favor.”

Os olhos de Austin estão vítreos e isso é quase o suficiente para colocar meu estado mental na beira do penhasco e deixa-lo oscilando. Parece que sou muito boa em destruir as pessoas que mais se importam comigo. Entre o jeito que meu irmão mais velho está me olhando agora e a maneira que Ripley me encarou enquanto fui arrastada do maldito clube, esse é o meu tipo especial de inferno. Este é o inferno onde pegam tudo o que você ama, e viram contra você.

Usem qualquer coisa para me causar dor, por favor.

Eu aceitarei qualquer coisa para não passar por isso.

Eventualmente, Austin se levanta e empurra seus ombros para trás até poder sair pela porta sem desmoronar. Ele não olha para trás e fico agradecida por isso.

A porta fecha e o som da fechadura girando do lado de fora ressoa no escuro e monótono espaço.

Essas portas não podem ser trancadas por dentro. Talvez seja uma coisa boa. Isso significa que as pessoas podem entrar se as coisas piorarem. Essas salas são frequentemente usadas para pessoas que foram presas se encontrarem com os advogados. Então significa que não há câmeras e nenhum tipo de janela que permita ser vigiada. Não há nada para me salvar a não ser uma janelinha na porta, e um cara do outro lado que sei que recebeu instruções estritas para abri-la apenas para uma pessoa.

Caleb ocupa o assento de Austin, desabotoando o paletó enquanto se senta.

Pressiono meus lábios. Minha língua afiada nesse exato momento não vai me levar a lugar nenhum. Preciso ser inteligente, e preciso sair daqui enquanto ainda estou respirando – algo que tenho certeza que ele está pensando em não me deixar fazer dado o quanto tem a perder.

“Isso foi um erro realmente estúpido, Dakota”, diz ele finalmente com um aceno de cabeça como se fosse um pai decepcionado repreendendo seu filho. “Realmente estúpido.”

“Você não me deu outra escolha”, respondo, cruzando os braços sobre o peito.

Ele zomba. “Eu pensei que fosse mais esperta, eu realmente pensei. Eu pensei que fosse inteligente o suficiente para me levar a sério.”

“Quando disse que ia machucar minha família?”

“Quando te avisei sobre o que poderia acontecer”, ele responde como se não tivesse controle sobre o que acontece a seguir.

Eu me inclino para frente. “Com quantas pessoas fez isso? Quantas vezes chegou numa cidade e usou chantagem e ameaças de violência para conseguir o que queria?” Um sorriso sádico se forma em seu rosto, e imediatamente me sento um pouco mais ereta. “Você é patético. Você não é um policial de verdade. Você força os outros a fazerem o trabalho sujo e fica de braços cruzados esperando.”

O sorriso desaparece num piscar de olhos. E nesse mesmo momento, sua mão dispara sobre a mesa e agarra minha garganta. Tento me afastar, mas seus dedos afundam em meu pescoço, as unhas forçando em minha pele, e a palma pressiona contra minha traqueia tornando difícil respirar. Ele se levanta, apertando com força antes de me empurrar para trás com força suficiente para fazer a cadeira cair comigo sobre ela. Caio no chão, a cadeira dura afundando nas minhas costas quando bato no piso com um baque e um gemido.

Caleb começa a se mover ao redor da mesa, e forço meu corpo a rolar, lutando para recuperar o fôlego novamente enquanto tento ficar longe. Consigo me apoiar nas mãos e joelhos, engasgo e tusso, respirando fundo, tudo enquanto luto para manter distância entre nós.

Ele está procurando por sangue.

Eu arruinei seus planos.

Arruinei sua reputação de fazer as coisas e ele está com medo do que vou falar.

O que significa que ele procura uma maneira de me calar – possivelmente permanentemente.

Consigo me levantar antes que ele possa chegar muito perto, meu coração acelerado quando o encaro.

“As pessoas me procuram para fazer um trabalho, exterminar os vermes e faço o que é preciso para realiza-lo.”

“Então, você mente e engana o sistema, machucando pessoas inocentes no processo?”

“É assim que a vida funciona, Dakota. Sacrifícios precisam ser feitos para conseguir os melhores resultados”, ele responde com um encolher de ombros. “Perder alguns para tornar a cidade melhor para a maioria? Você não pode discutir com isso.”

Balanço a cabeça incapaz de não sorrir.

Vejo o momento em que ele sabe que algo está acontecendo. Ele pensou que eu ficaria com medo, ou com raiva, ou talvez até esperasse que eu caísse a seus pés e implorasse para que ele poupasse minha vida. Mas a coisa é, ele veio atrás da garota errada. Isso pode ter funcionado a seu favor antes, mas não hoje. E nunca mais.

“Eu espero que tenha pego tudo, Huntsman”, digo, surpreendendo-o.

Seus olhos examinam a sala, procurando uma câmera escondida ou algum tipo de dispositivo de gravação.

Uma voz profunda murmura no meu ouvido. “Eu peguei, nós estaremos aí em breve.”

Nós estaremos aí em breve.

Nós.

Por favor, traga Rip.

Eu preciso dele.

Neste momento, nem me importo que Caleb esteja prestes a me matar. Porque pelo menos sei que ele não vai se safar do que fez.

Eu armei tudo.

E não fiz isso sozinha.

Pego o comunicador do ouvido e me inclino para a frente, colocando-o na mesa. É minúsculo, mas nós dois sabemos o que é. Ele ficou desleixado depois de fazer isso tantas vezes que nunca pensou que alguém ousaria ir contra, nunca pensou que alguém se arriscaria a assumir o risco.

Mas eu ousei.

Porque, foda-se ele.

“Que diabos você fez?” Ele sussurra, o olhar intenso apenas fazendo meu sorriso aumentar.

“Eu te arruinei, é isso.”


CAPÍTULO 36

RIPLEY

Observo Austin levá-la para fora do clube. Uma maca com Keela não está muito atrás, os paramédicos estão dizendo que ela ficará bem.

O clube continua enfurecido ao nosso redor, as pessoas na pista de dança e na área VIP completamente alheias à destruição que acaba de acontecer. Quero ir atrás dela, exigir a verdade, exigir saber o que ela fez e por que diabos fez isso.

Seguro com força o copo em minha mão e giro, lançando-o na parede do corredor assim que Shake e Shotgun saem, os dois protegendo o rosto com as mãos antes de olhar a bagunça espumante e perigosa no tapete.

“Vai limpar essa merda?” Shake pergunta, o tom um pouco sarcástico e parcialmente cansado.

“Estou esperando que um de vocês possa me dizer o que diabos acaba de acontecer, e por que diabos aqueles idiotas uniformizados saíram daqui tão rápido quanto entraram”, exijo, sabendo que meu tom é forte e áspero, mas nesta fase, não dou a mínima. Meu clube possui a metade deste lugar, o mínimo que podem nos dar é a cortesia.

“Dakota disse que todas as drogas são dela”, responde Shotgun, enquanto Shake parece querer me derrubar no chão bem aqui. “Policiais pegaram as provas... incluindo os pacotes que esconderam em nossas motos.”

Isso é novidade.

Parece que há estática em meus ouvidos.

Que tudo que posso ouvir é o chiado que sai da televisão quando não consegue encontrar um canal.

“Isso não está acontecendo...” murmuro, balançando a cabeça.

“Está acontecendo”, argumenta Shake. “Mas não acredito nem por um segundo.”

Nem eu.

Mas ignorei e perdi o controle com Dakota quando deveria ter confiado nela. Não tenho ideia do que diabos está acontecendo, mas vou descobrir. “Eu vou pará-la”, respondo, desviando de Shake e Shotgun e indo para as portas da frente, onde acabaram de arrastar a mulher que pretendo fazer minha Old Lady.

Eu, o maldito idiota que passou a vida toda fazendo o humanamente possível para evitar chegar perto o suficiente de alguém e me permitir apaixonar.

“Rip!” Uma voz chama, e congelo por um segundo, virando com uma sobrancelha levantada. Lauren corre, um olhar preocupado em seu rosto ainda machucado. “Está tudo bem? Existe algo que eu possa fazer?”

“O que está fazendo aqui? Você recebeu alta há alguns dias.”

Ela respira fundo. “Eu queria pedir desculpas a Dakota por ser uma vadia. Estava procurando por algo, e descontei em vocês. Isso não foi justo, só quero que saibam disso.”

Essa é a garota que conheço.

Essa é a garota com quem cresci.

“Eu...” minhas palavras são logo cortadas por meu celular zumbindo no meu bolso. Pego e verifico a tela antes de responder. “Papai, a coisa tá feia, Dak...”

“Eu sei, preciso que todos tragam suas bundas ao clube dos Brothers. Agora.” Quero discutir e ir atrás de Dakota, mas sei que ela está com seu irmão, e se nos entendemos ou não, ele a ama mais que a vida. Confio que ele vai cuidar dela. E não há maneira nenhuma que eles vão me deixar vê-la até fazerem o interrogatório de qualquer maneira.

“Agora, Ripley,” papai retruca. Não há espaço para discordância ou resposta, mesmo porque ele desliga, o telefone apitando com uma linha morta no meu ouvido.

Viro para Shake e Shotgun. “Nós precisamos ir, papai quer nos ver no clube, agora.”

O clube fica a menos de dez minutos, mas posso sentir a urgência em sua voz, e sei que precisamos fazer esse trajeto em menos tempo.

Olho para Lauren que reveza encarando nós três. “Lauren você pode ajudar no bar”, peço, sabendo que ela é capaz, já que foi um dos seus trabalhos quando ela era mais jovem e morava no clube.

Ela se assusta por um segundo. “Uh... sim, já faz alguns anos, mas com certeza.” Ela dá alguns passos para trás pelo corredor curto. “Tem certeza que vai ficar bem?”

Eu forço um sorriso. “Sim. Obrigado.”

“Vamos”, Shake ordena, indo em direção aos fundos do prédio onde nossas motos estão estacionadas. Shotgun e eu corremos para acompanhar. “Tenho uma sensação muito ruim sobre isso.”

“Não me diga”, concordo enquanto corremos para a porta dos fundos. “Sinto que estou em pé num maldito liquidificador apenas esperando alguém ligá-lo.”

Shotgun assente. “Então, precisamos dar o fora do liquidificador, não?”

Shake bufa. “Sim, não quero virar comida de peixe hoje.”


???


Chegamos ao complexo em tempo recorde, a cintilante Harley do meu pai está orgulhosa na frente, mas o resto do lugar parece razoavelmente quieto. Com alguns homens trabalhando na segurança do Empire, estou começando a pensar que já é hora dele trazer novos membros e começar a encher um pouco.

Estaciono ao lado da moto do meu pai e desço, não perdendo tempo enquanto corro para dentro.

Papai está sentado sozinho numa das mesas redondas e vou direto para ele. “Empire foi invadida. Dakota foi presa. Eles a levaram...”

“Eu sei, apenas cale a porra da boca”, ele responde, apontando um rádio transmissor parecendo sofisticado em cima da mesa. Está repetindo uma conversa e franzo o cenho.

Está acontecendo agora ou é gravada?

Demora outro momento, mas quando Shake e Shotgun se juntam a nós, eles prestam atenção e suas sobrancelhas se unem entre os olhos. Eles estão tão confusos quanto eu porque, como eles, reconhecem as vozes.

“Eu pensei que fosse mais esperta do que isso, realmente pensei.”

Cerro a mandíbula com força e reviro os ombros ao som de Caleb falando. Vou matá-lo, seja hoje, amanhã ou na próxima terça, vou fazê-lo sofrer.

“Eu pensei que fosse inteligente o suficiente para me levar a sério.”

“Quando disse que ia machucar minha família?”

Porra! Dakota está com ele.

“Machucar a família dela?” Shake pergunta, olhando de mim para papai com os olhos arregalados.

“Quando eu te avisei sobre o que poderia acontecer.”

Jesus Cristo.

“Há quanto tempo sabe?” Pergunto para o meu pai que ainda observa o dispositivo atentamente, sem prestar atenção em mim, o que me incomoda ainda mais. Isso é importante, porra. Esta é Dakota. Essa é a única mulher que deixei entrar, que deixei chegar perto, que me transformou de dentro para fora e me forçou a encarar meus demônios. “Eu preciso saber, porra.” Minha voz ecoa na sala, e ainda demora alguns segundos para que seus olhos se movam do rádio transmissor para mim.

“Cale a boca e sente,” ele ordena num tom que não gosto e preciso me impedir de responder. “Você pode não perceber, mas essa garota esteve te protegendo todo o tempo. Ela esteve protegendo todos nós sem uma maldita pergunta, então o mínimo que pode fazer é sentar e escutar o inferno que ela está passando nas últimas semanas, então ela poderia de alguma forma tentar te manter longe do perigo.”

Nós nos sentamos e ouvimos. A cada minuto meu sangue ferve mais. Eu deveria estar protegendo-a, mas em vez disso, ela não sentia que poderia vir a mim.

“Por que ela não veio até mim? Por que diabos foi até você?”

“Porque você tem muito a aprender quando se trata de manter a calma, e não explodir como fogos de artifício no quatro de julho7”, papai responde, batendo com o dedo contra a mesa.

Fecho a boca lutando contra o desejo de responder e desrespeitar meu pai. A única razão pela qual resisto é porque ele está certo. Especialmente quando se trata de Dakota, porque os sentimentos que tenho por ela ainda são desmedidos, ainda são novos, e o que temos é algo que ainda preciso experimentar. Preciso lutar contra os instintos que me dizem para fazer qualquer coisa para mantê-la segura.

Percorri um longo caminho, mas ainda há muito quando se trata de aprender a ser como meu pai. Ele não perde o controle, ele não perde a cabeça, não importa a situação. Não finjo que não é uma parte da minha vida onde não tenho o controle. E não tento culpar o fato de que tive problemas que outras crianças nunca tiveram.

Estou lutando para me tornar uma pessoa melhor porque está tudo bem ser um idiota às vezes, mas chega um ponto em que precisamos crescer. Sou o próximo na fila para ser presidente deste clube. E nenhum membro quer um presidente que não consegue manter a calma ou ser esperto sobre as decisões que toma.

Claro, posso não assumir por dez anos ou mais, mas há um ponto em que devo começar a priorizar isso e mostrar aos membros ao meu redor que posso fazer o trabalho, e que posso fazê-lo bem. E se posso fazer tão bem quanto meu pai.

Mas sei que há uma razão para Dakota ter ido até ele.

Há uma razão pela qual ela não me disse quão envolvida estava.

Porque ele sabia o que fazer.

Nós nos concentramos no rádio transmissor sobre a mesa, ouvindo a conversa, ouvindo Dakota lutar com esse idiota, ouvindo a comoção dentro da sala e ouvindo o que soa como ela lutando para respirar. Meu pé bate rapidamente enquanto desesperadamente a espero falar novamente.

“Vamos, precisamos ir”, insisto, meu coração acelerado.

Não vou perdê-la.

De jeito nenhum vou permitir que ela seja roubada de mim.

“Ela é uma lutadora, Rip, confie nela para lutar”, argumenta papai. Eu sei que ele está tentando ter o máximo de informação possível, quanto mais conseguirmos, mais ele pode usar, mas estou numa situação difícil aqui.

A voz profunda de Caleb ressoa através do alto-falante. “As pessoas me procuram para fazer um trabalho, exterminar os vermes e faço o que for preciso para realiza-lo.”

“Então, você mente e engana o sistema, e machuca pessoas inocentes no processo?”

Solto um suspiro de alívio quando a ouvi falar.

“É assim que a vida funciona, Dakota. Sacrifícios precisam ser feitos para ter os melhores resultados. Perder alguns para tornar a cidade melhor para a maioria? Você não pode discutir com isso.”

As coisas ficam em silêncio por alguns minutos, e me levanto, inclinando-me, pedindo para Dakota falar, então saberei que ela está bem.

Quando ela fala, é como a porra de uma música.

“Espero que tenha pego tudo, Huntsman.” Posso ver o sorriso em seu rosto, e já estou empurrando a cadeira e indo para a porra da minha moto, os meninos e papai atrás de mim carregando um enorme arquivo na mão que estava na mesa à sua frente.

Ele aperta o botão ao lado do rádio transmissor e aproxima-o da boca enquanto seguimos para a saída na missão de destruir o idiota que pensou poder aparecer aqui e foder com a gente.

“Peguei tudo, estaremos aí em breve”, responde papai antes de olhar diretamente para mim. “Vamos pegar sua mulher e enterrar esse bastardo.”

Dakota fez tudo, ela sabia que Caleb não ia ganhar, e não posso deixar de me sentir orgulhoso do fato de que ela é minha, mas também, não posso estar mais petrificado que esse não será o caso por muito mais tempo. Preciso deixar de ser idiota.

“Tirou as palavras da minha boca.”


CAPÍTULO 37

DAKOTA

Posso dizer pelo jeito que Caleb continua olhando para a porta que ele espera que ela abra a qualquer momento. Ele puxa o celular do bolso de trás e disca rapidamente. “Vamos iniciar o plano número dois, encontre-me na parte de trás no compartimento de carga.”

Acalmo meus pés, preparando-me para sair daqui se precisar. Ele está na defensiva agora, e quando somos encurralados é o momento que precisamos lutar. Há suor em sua testa e ele rapidamente o limpa com a manga do Armani.

“Pensei que fosse uma garota esperta, Dakota.” Ele ri, mas o som é instável e não tão confiante como antes. Ele olha o relógio, depois para cima novamente, balançando a cabeça como se estivesse desapontado. “Que parte do eu vou atrás de sua sobrinha você não parece entender? O que te faz pensar que não cumprirei essa promessa?”

“A parte em que comprei passagens de avião para ela e Amelia irem até Montana visitar a família durante o fim de semana”, respondo presunçosamente, meu ritmo cardíaco aumentando quando seu rosto se torna vermelho de raiva. “E também, a parte em que deixei uma mensagem para Meyah dizendo a ela que estão em apuros e pedindo aos
Brothers que cuidassem delas.”

Seu rosto fica nublado e a tempestade começa a se enfurecer. Ele avança novamente, e desta vez eu recuo.

Fique alerta.

Não deixe que ele ganhe.

“Por que está correndo?” Ele pergunta, parecendo divertido, o som tão estranho em contraste com a tempestade escura em seus olhos, a tempestade que ameaça me rasgar em pedaços. Ele provoca enquanto segue cada passo.

Quero ficar de pé e lutar, então ele saberá que não vai ganhar, e mesmo que me destrua, esse não é o fim.

Meu tornozelo enrosca na perna de uma das cadeiras e tropeço. Caleb avança e agarra meu braço com uma mão enquanto a outra segura o cabelo ao lado da minha cabeça.

“Você não é nada no esquema das coisas, Dakota”, ele diz, dolorosamente puxando minha cabeça para trás e provocando lágrimas nos meus olhos. Ele bate na minha bochecha com a outra mão e ri. “Você era apenas um meio para um fim, e quando eu girar toda essa provação para fazer parecer que estava apenas tentando levar a culpa por um membro do Exiled que está fodendo, eles ainda vão me conceder todos os mandados e cada pedaço de papel que preciso.”

Tento olhá-lo nos olhos, mas é difícil com o ângulo estranho que ele está segurando minha cabeça e a dor que irradia por meu couro cabeludo e pescoço. “Todo mundo sabe o que fez”, murmuro, tentando não deixar as lágrimas em meus olhos escorrerem pelo rosto.

Ele sorri, puxando meu rosto muito perto do dele e abaixando a voz. “Tanto quanto estou preocupado, é a sua palavra contra a minha, e garotas mortas não podem falar.”

Meu coração para.

Seu telefone toca.

Ele saca a arma e aponta diretamente para minha cabeça.

Então ele atira.

O tiro passa de raspão pela minha cabeça, sinto a bala cortar alguns cabelos soltos e meus ouvidos vibram de forma estridente. É ensurdecedor, e não posso deixar de agarrá-los e me inclinar enquanto tento parar o toque agudo.

Isso não é o fim.

Estou confusa e vacilante, mas sinto o momento em que a agulha afiada afunda na minha coxa, como uma picada de abelha. Engulo em seco e tento afastá-la, mas o choque de ainda não ser capaz de ouvir deixa meu corpo em curto-circuito. Então o calor do que quer que esteja na agulha começa a percorrer minhas veias. É como quando toma uma bebida quente num dia frio, e pode sentir o líquido escorrendo em seu estômago. Posso sentir o veneno se mover enquanto meu corpo o bombeia com cada batida do coração, meu corpo fica mais leve, tornando-se entorpecido.

Caleb agarra meu braço e me puxa para a porta. Tento lutar contra, mas sou apenas uma confusão de membros. Com cada movimento, sinto não ter força suficiente, como naqueles sonhos estranhos onde tenta correr, mas só consegue se mover muito devagar, e não faz sentido.

Meus olhos continuam fechando, entre o que diabos ele injetou, misturado ao fato de que acaba de disparar uma arma ao lado da minha cabeça e jogou todos os sentidos que tenho na porra do lixo. Nós tropeçamos pela porta e entramos no corredor, os braços de Caleb me seguram e tento lutar contra, mas provavelmente, na verdade, parece que mal estou me movendo. Finalmente consigo abrir completamente os olhos, tudo é um borrão das distintas paredes azul-bebê da delegacia enquanto passam apressadas, lampejos de pessoas, portas e formas se juntando a elas.

Abro a boca para gritar por socorro, mas o barulho que sai é incompreensível, e para qualquer um que passe, parece um policial tentando prender uma viciada.

Uma mão agarra meu pulso e empurra meu corpo para trás, jogando-me no chão. Sombras e figuras se movem ao meu redor, alguém prende suas mãos e me puxa de pé. Minhas pernas parecem geleia, e mal consigo manter os olhos abertos.

Vozes, tantas vozes malditas, ao meu redor.

Elas estão ficando mais altas.

Elas estão discutindo, mas não consigo entender o porquê.

Meu corpo é repentinamente empurrado contra a parede, meu pescoço fraco incapaz de proteger a cabeça de ser jogada para trás também. Então um rosto aparece.

Austin?

É confuso, mas ele está me olhando, os olhos preocupados e injetados, sua boca se movendo, mas sem palavras saindo. “Ausimmm”, tento dizer seu nome, mas todas as letras se misturam, e simplesmente não consigo fazer minha língua funcionar. É como uma reação alérgica, e minha língua está grande demais para se mover na boca.

Sua cabeça cai de repente.

Isso faz meu coração disparar.

Dói pra caralho.

Ele está quebrado.

Houve apenas uma vez que o vi desse jeito, e foi quando meu pai morreu. Meu irmão sempre foi tão forte, tão poderoso, uma força da natureza que luta arduamente para tornar o mundo um lugar melhor. Mas às vezes ele deixa que isso o supere, às vezes não vê o outro lado das coisas e as pessoas boas.

Quando o vejo de novo, há uma única lágrima em sua bochecha. Quero jogar os braços ao seu redor. Quero perguntar por que ele está chorando. Quero dizer a ele que tudo vai ficar bem porque peguei Caleb. Eu tenho provas e podemos derrubá-lo.

Mas não posso. Preciso assistir quando ele dá um passo para trás e permite que Caleb volte, e mesmo que o mundo esteja girando e as paredes parecem que vão desmoronar sobre mim a qualquer momento, posso ver o jeito que ele está lutando contra um triunfante sorriso.

E posso distinguir algumas das palavras que diz.

Hospital.

Algemas.

Seguro.

Ele puxa as algemas da calça e começo a lutar.

Eu luto.

Não. Não posso deixa-lo fazer isso, não posso deixa-lo me levar. Preciso ficar aqui. Este é o lugar onde Huntsman virá. Este é o lugar onde Ripley me encontrará. Uma vez que ele me tirar daqui, estarei acabada, há uma possibilidade de nunca ser vista.

Sim, Austin simplesmente recua, balançando a cabeça, olhando-me com horror quando Caleb envolve as algemas ao redor dos meus pulsos.

Eu choro.

Sinto as lágrimas em minhas bochechas e provo o sal em meus lábios. Então observo meu irmão ser consolado por seus colegas enquanto sou arrastada pelo corredor, meus pés mal se movendo pelo carpete enquanto Caleb levanta meu corpo. Nós seguimos por vários corredores e uma escada antes de chegarmos a uma grande sala com uma porta de correr. Ela abre quando nos aproximamos e, ao sair, avisto uma ambulância.

Meu cérebro não consegue juntar dois mais dois quando ele abre as portas traseiras e leva meu corpo para dentro. Ele realmente vai me levar ao hospital? Que diabos é o jogo aqui?

Ele deixa meu corpo cair na maca e senta ao meu lado, bufando e ofegando.

Meu estômago começa a revirar e meu corpo está cansado. Tudo parece estar se movendo mais devagar, meu coração, meu cérebro, meus membros não muito diferente.

O movimento nas portas da ambulância chama minha atenção, e assim quando espero que um paramédico entre e comece a me avaliar, ao invés disso vejo um rosto aparecer, um que é muito familiar e que não deveria estar em nenhum lugar perto de uma delegacia ou de Caleb.

Eles sorriem, olhando-me nos olhos antes das portas se fecharem.

Isso de repente me diz o quanto estou com problemas.

E me diz agora, quando a escuridão toma conta do meu cérebro, forçando meus olhos a fecharem e minha respiração a desacelerar, que posso não ver a luz novamente.


CAPÍTULO 38

RIPLEY

Não posso acreditar que fui tão idiota. Eu os deixei fugir com ela. E não fiz nada. Deveria ter confiado no meu instinto que disse que as coisas não estavam certas, deveria ter a deixado explicar antes que a merda batesse no ventilador. Eu deveria tê-la protegido, é o que eu deveria ter feito.

A viajem até a delegacia é uma bagunça maldita. Entro e saio do tráfego, arriscando tudo porque se chegar lá e ela estiver ferida – não posso sequer pensar sobre isso, só posso culpar a mim mesmo.

Essa garota, ela passou por um inferno nas últimas semanas, tentando lutar pelas pessoas que iam contra tudo o que ela achava saber. Ela foi criada para acreditar no certo, e passamos nossas vidas fazendo coisas que contornam as regras, que empurram os limites e são erradas. No entanto, ela nenhuma vez me olhou como se eu fosse menos ou como se não fosse digno de estar perto dela. Ela não é como seu irmão.

É estranho como duas pessoas que foram criadas na mesma casa podem desenvolver visões tão diferentes de mundo. Mesmo com o jeito que ela foi machucada no passado, Dakota é mais propensa a ver o bem nas pessoas. Ela está mais disposta a dar a alguém uma segunda chance e aproxima-las do que afasta-las e deixá-las por conta própria. Sim, ela é confiante, e fez bem em proteger seu coração, e colocar uma barreira em volta de si para que não pudesse se machucar com facilidade, mas também estava disposta a se certificar de que ninguém mais sentisse o tipo de dor que passou.

Austin, por outro lado, viu a irmã ser trazida à sua vida por causa de como alguém a tratou, por causa de como a maltrataram, e isso o deixou mais protetor, mais inflexível de nunca deixar acontecer de novo. Isso significa para ele que os laços que ela faz com qualquer coisa que possa ser destrutiva precisam ser cortados.

O relacionamento que ela tem com Austin é muito parecido com o que tenho com Drake. Talvez seja coisa da idade, os irmãos mais velhos sempre sentem a necessidade de atacar para proteger.

Sinceramente não tenho certeza, mas o que sei é que não importa o que diabos ele sinta em relação a mim, não o deixarei atrapalhar em garantir que Dakota fique segura, mesmo que tenha que derruba-lo para chegar até ela.

Respeito-o por ser seu irmão e até esse ponto, era seu trabalho protege-la. Mas já é hora dele respeitar que sou eu quem fará esse trabalho a partir de agora.

O coro de motos ruge ao se aproximar da delegacia, não dando a mínima quando estacionamos na calçada, derrapando até parar quase alinhados com as portas da frente, antes que eu desça o suporte e apoio a moto como se esse lugar fosse um estacionamento e eu seu dono.

Posso ver várias pessoas lá dentro me olhando, algumas curiosas, algumas bravas como o inferno. Arranco o capacete e coloco-o no guidão antes de descer e ir direto para a porta da frente com fúria queimando em minhas veias, meu pai e os garotos logo atrás.

Eles estão me protegendo.

A velha senhora da recepção levanta, os olhos arregalados e a boca se movendo como se não tivesse certeza do que dizer, mas não importa, porque uma rápida olhada à minha direita, e já posso ver Austin de pé e caminhando em minha direção de um longo corredor, fogo em seus olhos.

Eu me viro para encará-lo. “Onde diabos ela está?”

Ele avança, a raiva nele domina o ar. Vejo o momento em que ele escolhe dar um soco, mas está deixando a raiva liderar e não pensa, então eu me abaixo e esquivo, empurrando-o para trás e jogando-o no chão.

Ele bate com os punhos no chão antes de usá-los para levantar seu corpo.

“Não tenho tempo para lidar com seus acessos de raiva agora”, grito. “Eu quero minha maldita Old Lady, e a quero agora.”

“Se não fosse por você, ela não estaria aqui”, ele grita de volta, seu corpo arfando quando respira fundo. Outros policiais correm, tentando se colocar entre nós.

“Veja que engraçado quando na verdade é um de vocês que a chantageou neste plano idiota em primeiro lugar, e quanto mais a deixa numa sala com ele, menos provável é que ela saia viva.” Preciso manter a cabeça nisso. Porque pode ser fácil alimentar sua raiva e discutir sobre a porra da culpa, mas tudo o que quero é Dakota em meus malditos braços, então saberei que ela está segura.

“Do que diabos está falando? Você está usando drogas demais.”

“Ele está falando disso”, papai interrompe, sua voz baixa, mas capaz de calar a sala inteira com sua clareza. Ele aperta um botão no rádio transmissor que começa a tocar.

“Eu pensei que fosse mais esperta do que isso, realmente pensei. Pensei que você fosse inteligente o suficiente para me levar a sério.”

“Quando disse que machucaria minha família?”

“Quando te avisei sobre o que poderia acontecer.”

O ambiente está congelado.

Posso ver a compreensão dominando o rosto de Austin.

“Essa não é a única coisa”, observa papai. “Tenho fotos, gravações, mensagens. Até tenho os caras que atacaram Dakota há alguns meses. Com um pouco de persuasão, eles deram declarações sobre como Caleb Corrigan os pagou para invadir o apartamento de Dakota e machucá-la, a fim de assustá-la para fazer o serviço mais rápido.”

Meu coração está na minha garganta.

Vou matar o idiota.

Austin, entretanto, não está se movendo, e os outros policiais o observam procurando algum tipo de pista.

“Olha, podemos passar por tudo isso, mas agora, só preciso tirar Dakota da sala com aquele bastardo maluco e leva-la para tão longe dele quanto possível.” Não estou acima de implorar se isso significa que ela estará em meus braços.

Eu até os deixarei lidarem com o bastardo.

Por enquanto.

Mas pela expressão no rosto do jovem Austin, sei que não será tão fácil assim.

“Onde diabos ela está?” Exijo, dando um passo à frente. Papai segue meu movimento, obviamente preocupado que vou enlouquecer. E está perto agora. “Austin!”

Ele pisca, e o olhar de horror em seu rosto me provoca arrepios. “Ele a levou ao hospital. Disse que ela estava tentando pegar sua arma e se matar. Houve um tiro. Ele a sedou. Eu discuti, mas ele disse que eu estava muito envolvido. Estava muito perto porque sou seu irmão.”

“Ele a sedou?” Pergunto. “Então, onde eles estão?”

“O compartimento de carga”, diz ele com pressa. “Saiu apenas alguns minutos atrás, literalmente antes de entrar pela porta.” Sem pensar duas vezes, ele sai correndo e sigo logo atrás.

“Shake, Shotgun, deem a volta no prédio até a área de carga”, papai ordena, os garotos não desperdiçam um segundo antes de saírem correndo pela porta da frente enquanto seguimos pelo corredor atrás de Austin em direção à escada.

Minha garganta está apertada, e acho difícil manter a calma.

Nós descemos correndo a escada, minha arma pronta, porque se ver aquele idiota, não vou deixá-lo ir. Não me importo se vou para a prisão por atirar nele. Preciso ter certeza de que ele não vai conseguir escapar ou sair ileso.

Austin digita o código para a grande porta. É onde trazem infratores em vans. E também onde a ambulância viria pegar qualquer um que precisasse ser hospitalizado. É facilmente acessível com a porta larga e o espaço é grande o suficiente para remover os ofensores mais indisciplinados.

Eu me abaixo e passo pela porta antes mesmo de terminar de subir, meus olhos examinando o pequeno espaço de carga do lado de fora, meus olhos rapidamente se ajustando ao escuro, mas está completamente vazio.

Há um clique alto e dois holofotes iluminam a área do prédio acima de nós. Um punhado de policiais surge, todos confusos sobre o que diabos está acontecendo. Caleb deveria ser uma lenda, o policial incrível que erradica e extermina criminosos. No entanto, agora eles estão de repente começando a perceber que ele não é o homem que imaginam. Especialmente Austin, que o idolatra e o trabalho que faz como homem da lei.

Passos ao lado do prédio chamam minha atenção, e agarro a arma um pouco mais forte. Shake e Shotgun surgem, mas não estão sozinhos. Carregam um paramédico muito fraco com sangue escorrendo de uma ferida na cabeça.

“Ele está vivo”, observa Shake quando se aproximam e o colocam no chão de concreto. “Ele tem pulso, mas está completamente inconsciente.”

“Ele teve ajuda”, observa Shotgun, limpando o sangue em suas mãos. “Esse cara foi nocauteado na calçada, então não é preciso nem falar que Caleb foi capaz de arrastar Dakota até aqui, nocautear o paramédico, despejar seu corpo atrás de uma lixeira e, em seguida, levá-la nos últimos dez minutos.”

“Foda-se”, amaldiçoo. Shotgun está certo. Ele teve pelo menos uma pessoa ajudando. Se Dakota não adicionou droga na bebida de Keela no bar, alguém precisou fazê-lo. Mas porra, quem? “Eles não vão levá-la ao hospital, podemos ter certeza.”

“Existe uma maneira de conseguir o número da placa? Ou saber se a empresa de ambulância tem GPS nos carros?” Shake questiona, pensativo.

Olho o topo do prédio e localizo exatamente o que preciso. “Onde está a gravação disso?” Pergunto, apontando para a câmera com vista para o espaço.

Os olhos de Austin seguem os meus antes que ele concorde. “Eu tenho autorização. Podemos ver através do meu computador.” Ele sai correndo, e estou bem atrás, todos ficando onde estão.

Demora menos de um minuto para subir a escada até o escritório de Austin. Ele senta rapidamente na cadeira e os dedos se movem rapidamente sobre o teclado como se fosse um homem numa missão. Tudo muda rapidamente. Não tenho tempo de acompanhar o processo, mas de repente um visor aparece, uma imagem granulada da parte de trás do prédio. Ele clica no play então move o pontinho para a frente até a ambulância surgir na tela dando ré encostando o mais perto possível da porta de correr.

Meu estômago contrai enquanto observo Caleb despejar o corpo flácido de Dakota, seus membros e a cabeça flexíveis e sem resposta. Ela parece uma boneca de pano, e imediatamente me odeio por deixar isso ir tão longe.

“Aqui, alguém sai e vem fechar as portas”, observa Austin, apontando a tela. É uma mulher do caralho. Ela para por um momento segurando as portas antes de fechá-las e depois vira para olhar por cima do ombro.

Austin faz uma pausa na imagem.

Minha respiração para imediatamente.

O vídeo pausado é um pouco ruim, mas o que vejo me encarando é um rosto que conheço muito bem. Um com quem cresci, um com quem compartilhei meus segredos, um que confiei para me proteger por anos.

“Puta merda”, xingo, apoiando as mãos na mesa e balançando a cabeça.

“Imagino que saiba quem é?” Austin murmura, soando quase nervoso.

“Sim, eu sei quem é.”

Lauren.


CAPÍTULO 39

DAKOTA

Pisco até a escuridão desaparecer. Tudo está nebuloso, e sinto como se tivesse bebido demais, como se meu cérebro estivesse cheio de algodão. Posso sentir meu corpo, o que agradeço silenciosamente até perceber que talvez prefira continuar entorpecida.

Minhas mãos ainda estão algemadas e, para acrescentar, elas estão algemadas a algo agora. E todos os meus músculos doem, e estão se contorcendo e enlouquecendo. Gemo alto quando tento rolar de lado antes de sentir um puxão doloroso nos pulsos, amarras de plástico afundando em minha pele. Puxo de novo, ainda tentando recuperar a visão e não tendo ideia de onde estou ou no que estou amarrada. O que quer que seja, não cede nenhum centímetro.

“Você não vai a lugar nenhum”, diz uma voz feminina e suave, suas palavras seguidas por outro som e um cheiro forte.

Eu pisco tentando afastar a névoa, conseguindo identificar o contorno de seu corpo e o que ela segura.

"Isso...” murmuro, minha língua ainda parecendo grande demais. “Isso é... gasolina?” O cheiro é forte e do jeito que ela está encharcando a frente do palco perto das cadeiras, imediatamente tenho um mau pressentimento.

Sim, palco.

Quando minha visão fica mais clara, percebo exatamente onde estamos.

O teatro que o clube está reformando.

Estou amarrada a uma barra de metal grossa que cruza o palco de um lado para o outro, e é geralmente usada nos caibros para segurar lustres e cenários para apresentação. O clube conseguiu recentemente as chaves do local, e começou a separar as coisas que vão manter e usar mais tarde, e estes parecem praticamente novos.

“Sim, é gasolina”, responde Lauren, virando e me olhando, então pode revirar os olhos antes de continuar pelo corredor em direção às portas. “Caleb queria ficar e assistir, mas saiu para roubar um carro para nós e me deixou começar as coisas.”

“Por que está fazendo isso?” Pergunto ao me sentar, meus olhos freneticamente procurando por algo que possa usar para me livrar disso, mesmo que já saiba que é inútil. As barras de metal são soldadas num retângulo que me impedem de deslizar as algemas para fora, e não há maneira de quebrá-las.

Há muito tempo li algo sobre como cortar amarras de plástico com cadarços de sapatos, mas as sapatilhas que uso para trabalhar não ajudam muito nesse caso.

Apenas preciso tentar convencê-la a não deixar Caleb vencer.

E não incendiar a maldita gasolina.

Ela solta um suspiro pesado antes de atirar o contêiner de gasolina, agora vazio, de lado e vem desfilando pelo corredor com uma confiança que me surpreende. “Porque você ficou no meu caminho”, ela acusa, apontando diretamente para mim. “Minha vida foi planejada desde que eu era pequena. Ripley tem sido meu desde então. Por que você não entende? Por que não entende que é assim que as coisas funcionam no clube?”

Porque não é como as coisas funcionam no clube.

É apenas como funcionam na sua cabeça.

“E como vai ganhar Ripley com isso? Como destruir este lugar e a mim, de repente, vai fazê-lo se apaixonar por você?”

Ela ri, jogando as mãos no ar. “Ripley já me ama, estive lá por ele por um longo tempo. No momento em que você morrer, não vai demorar muito para ver o quanto é importante ter uma Old Lady. E com este lugar destruído, ele não tem razão para ficar em Phoenix e estará mais em Vegas que é onde precisa estar. Em casa com sua família, com seus amigos.”

Lauren é uma das pessoas mais confusas que já conheci, e começo a perceber que é porque ela tem algo muito mais complicado acontecendo em seu cérebro do que uma pessoa normal.

“Lauren, você é mais esperta do que isso”, apelo, tentando convencê-la de que ela é melhor do que o que faz atualmente. “Você foi para a faculdade, você se formou...”

“Eu fui reprovada.” Ela ri com um leve aceno de cabeça, e minhas sobrancelhas se erguem de surpresa. Ela olha a reação no meu rosto e sorri. “Eu sei, certo? Meus professores pensaram que havia algo errado. Eu quis ser veterinária porque conheço animais, sei o que eles precisam. Eles não entendem isso.”

“Tipo... os animais te contaram?”

Sua risada ressoa no grande teatro. ‘Oh meu Deus, acha que sou louca e posso ouvir os animais?” Ela ri. “Não. É só um sentimento. Como quando sente uma vibração das pessoas, ou quando simplesmente sabe que tem uma conexão com alguém. Como Rip e eu.”

Estou conversando com uma louca.

“Veja, é algo que eu sei. Algo que posso sentir, e não posso te deixar atrapalhar.” Ela sobe no palco, tirando um isqueiro do bolso e sacudindo-o na mão enquanto caminha na minha direção.

“E o que acontece quando descobrirem que queimou o teatro e matou a filha de um policial?”

Ela franze a testa enquanto se agacha na minha frente. “Eles não vão descobrir. Eles vão pensar que é Caleb fazendo tudo. Ele vai me tirar daqui, depois aparecerei mais tarde como se não soubesse de nada.”

Ok, por mais atraente que seja usar a lógica, nunca funcionará. Lauren parece inteligente. Ela parece uma garota normal, e às vezes parece completamente razoável, mas há algo estranho, uma conexão que não se encontra em seu cérebro, e ela luta para ver a diferença entre o real e o falso.

Então, preciso ir por um ângulo diferente.

O cheiro da gasolina está me deixando tonta, e este não é um bom momento para me permitir ser qualquer coisa além de esperta e melhorar meu jogo.

“Lauren, Caleb te deixou aqui, ele não vai voltar”, sussurro, tentando mais uma vez fazê-la ouvir, sentindo que talvez possa fazê-la acreditar que Caleb é o inimigo. “Ele te deixou aqui para levar a culpa e criar uma distração enquanto ele foge.”

Ela fica de pé, pairando sobre mim com um olhar intenso. “Não. Ele vai voltar. Isso pode não ser como planejamos, mas vai funcionar.”

Meu coração acelera. Está batendo no peito com tanta força que ficaria surpresa se não desse para notar. “Há quanto tempo está planejando isso?” Pergunto, e então as coisas começam a fazer sentido. “As drogas hoje à noite no clube. A bebida de Keela... foi você?”

Ela revira os olhos e balança a cabeça. “Agora ela entende.”

“E a surra que levou?”

Eu me sinto enjoada.

“Falsa. Um plano para tirar Ripley da cidade, então Caleb poderia te dar o aviso para ser mais rápida. Nós dois ficamos impacientes.”

Deus, ela está nisso há mais tempo do que pensei.

Ela queria Ripley longe de mim e em Vegas.

Ela o queria de volta com o clube porque isso é importante em sua mente, que ele esteja com a família com quem precisa estar, para que possam gerar futuros membros do clube.

“Você é louca.”

Ela encolhe os ombros, olhando-me por cima do ombro com um sorriso sádico. “E num momento, você estará morta.”

E aí está.

Ela se perde.

Eu falhei.

“Lauren, pare!”

Ela caminha até as cortinas esfarrapadas ao lado do palco e arranca um pedaço antes de segurar o isqueiro na beirada e vê-lo acender, seus olhos brilhando como se hipnotizados pela chama.

“Por favor! Pare!” Imploro, puxando com força as amarras ao redor do meu pulso. “Você não precisa fazer isso.”

É como se ela não pudesse me ouvir. Ela desligou, e está no automático andando diretamente para o fundo do palco, onde encharcou o tapete de gasolina.

Luto com as amarras nos meus pulsos, tentando me levantar enquanto as puxo, o plástico agora rasgando a pele, mas não posso sentir a dor. A adrenalina percorre meu corpo, o coração bombeando cada vez mais rápido quando percebo que talvez não vá conseguir escapar.

Lauren me olha por cima do ombro, respirando fundo e segurando a parte rasgada da cortina.

“Por favor!” Eu grito, mas sou ignorada enquanto a vejo soltá-lo e sair correndo.

“Não”, sussurro, vendo o tecido atingir o chão, o impacto criando um grande e alto som de chamas, forçando-me a virar e proteger o rosto do calor.

Lauren vai embora.

Ela sai pela porta lateral e me deixa ajoelhada no palco enquanto o interior do teatro lentamente começa a incendiar. As chamas seguem a trilha que ela deixou na frente do palco e pelo corredor. O lugar é todo velho e empoeirado e tudo é um maldito risco de incêndio. Desde o velho material desgastado dos assentos até as cortinas e o carpete. Vai queimar muito rápido.

E nesse momento, a única coisa que posso esperar é estar morta ou inconsciente quando as chamas atingirem meu corpo.

Lágrimas caem rapidamente, e choro alto, continuando a interminável luta contra as amarras de plástico que me mantem cativa, esperando que se puxar com força o suficiente elas podem ceder sob a pressão, mas parte de mim sabe que não vai acontecer. Elas precisam ser cortadas. As chamas estão ficando maiores à medida que se movem pela sala, a fumaça sobe até o alto teto e caibros.

“Socorro!” Eu grito. “Por favor, ajudem-me!”

Eu basicamente sei que será inútil.

As chamas são muito agressivas.

Já está quente demais, e posso sentir minha pele começando a esquentar como quando se senta muito perto de uma fogueira. Arde sua pele e te avisa para se afastar.

Mas não há como eu me afastar.

Não há como sair.

Não há escapatória.

“Dakota!”

Minha cabeça levanta e vejo Drake correndo pelo palco e caindo de joelhos ao meu lado. “Puta merda, graças a Deus eu te encontrei.”

“Você precisa ir Drake. Eu não posso sair”, digo a ele, segurando meus pulsos agora sangrentos para ele ver. “Por favor, vá.” A fumaça está começando a diminuir enquanto enche a parte superior do teto curvo, quase grossa o suficiente para eu não ver o desenho magnífico que o modela, fazendo parecer que há um céu noturno acima de nós.

É bonito.

É algo que implorei a Drake para manter.

E agora está sendo destruído.

“Isso vai soar como uma fala clichê de filme, mas não vou te deixar aqui para morrer”, ele responde enquanto os olhos examinam onde estou amarrada. “Preciso de algo para cortar isso. Ele usou mais de uma, e é forte como o inferno.”

Eu quase gargalho.

Mas não seria engraçado.

Recuso-me a roubar mais da família de Ripley. Não posso tirar outra pessoa dele. No mês passado, realmente comecei a perceber o quão importante as pessoas são na vida de Ripley. Eles o ajudaram, e essa parte foi essencial para criar o homem mais incrível que já conheci.

Huntsman é sua verdade, aquele que o forçou a ser honesto consigo mesmo. Drake é sua rocha, aquele que o segurou quando sentiu que estava perdido, e Meyah despertou a alma mais incrível e bonita que por um longo tempo ele se recusou a admitir estar lá.

Ripley pode não ser educado, carismático ou um bom homem. Mas ele é esperto, engraçado, leal e honesto até demais. E se for sortudo o suficiente para sentir o amor que ele normalmente mantém trancado, precisa segurar isso e apreciar cada momento porque é muito precioso.

“Você precisa ir”, sussurro, fechando os olhos com força e tentando afastar a sensação de ardor.

Ele balança a cabeça, os olhos buscando ao nosso redor algo que possa usar para cortas as amarras. “Você é parte da família agora, e temos essa coisa onde não deixamos ninguém para trás”, ele explica em voz alta antes de virar para mim com determinação em seus olhos. “Rip vai assumir o clube um dia, Dakota. Ele precisa de alguém que vá lutar por ele, e alguém que vá ficar ao seu lado de cabeça erguida. Ele precisa de alguém que vá testá-lo em cada passo e não tentar forçá-lo a ser perfeito, mas amá-lo porque ele não é. Ele precisa de você.”

E eu preciso dele.

Lágrimas escorrem por minhas bochechas e, quando a fumaça se torna mais forte e densa, vejo-me querendo lutar. Isso não pode acontecer.

Nós não passamos por dificuldades em nossas vidas para que isso aconteça.

“Não sei mais o que fazer”, digo em voz alta.

“O que acha sobre fazer uma oração?”


CAPÍTULO 40

RIPLEY

Austin liga para qualquer um e todos em quem pode pensar, pedindo para procurar uma ambulância e dando o número da placa.

Ligo para Drake que acaba de chegar de Vegas, ele perdeu tudo e não tem ideia do que aconteceu no clube ou o que está acontecendo agora. Ele e alguns dos meninos estão circulando nas ruas em suas motos. Quanto mais olhos tivermos lá fora, mais difícil será para eles se esconderem.

A cada minuto, eu quero vomitar.

Mais uma vez, porra, falhei em proteger alguém que amo.

Eu amo?

Puta merda, estou nessa?

Shake aparece de repente na porta, apoiando as mãos contra o batente enquanto luta para recuperar o fôlego.

“É Lauren”, digo a ele, apontando para a tela do computador.

Mas ele nem sequer reconhece o que disse. Em vez disso, ele respira fundo antes de falar. “Drake ligou. Ele estava indo a Empire pegar mais garotos. Passou pelo teatro e adivinha o que estava estacionado na frente?”

Dou um passo à frente. “Ok, vamos lá!”

Ele não se mexe e, de repente, a urgência se transforma em outra emoção.

“Ele encontrou galões de gasolina na parte de trás.”

Perco o ar em meus pulmões. “Eles vão tentar queimá-lo.”

Com Dakota dentro.

Tudo a partir desse ponto parece um borrão.

Minha cabeça está cheia de neblina enquanto corremos pela porta da frente da delegacia com Austin chamando cada fodido policial disponível para nos encontrar lá, junto com toda a porra da brigada de incêndio na cidade.

Seria o momento perfeito para cometer um crime. Todos os policiais estarão num só lugar. E, geralmente, acharia divertido, mas não agora porque há duas peças nesse quebra-cabeça – Dakota e um prédio em chamas. E quando as coloco juntas, tudo que posso ver é o meu coração sendo arrancado da porra do peito e jogado naquele fogo junto com ela.

A viagem parece demorar, mas na verdade, provavelmente gastamos pouco mais de cinco minutos, porque o departamento de polícia central está quase no meio do centro de Phoenix, perto da Empire e do novo prédio.

A ambulância ainda está estacionada do lado de fora, metade sobre a calçada e ao lado dela está a Harley do meu irmão. Todos nos apressamos para chegar perto do prédio. Posso ouvir sirenes dos bombeiros à distância avisando que eles estarão aqui em breve, mas ainda não temos ideia do quão ruim o incêndio é, dado que a única indicação é um pouco de fumaça circulando na entrada.

“Onde está Drake?” Pergunto, olhando em volta com urgência.

“Ele está lá dentro”, Meyah responde enquanto surge pelo beco lateral. “Eu estava o seguindo quando percebemos. Ele entrou pelos fundos. Eu disse para não fazer, mas ele não ouviu.”

Papai e eu saímos correndo na direção de onde Meyah veio. Ela tenta vir atrás de nós, mas Shake a agarra pela cintura e a puxa.

“Não deixe que ela morra, Rip, por favor”, minha irmã grita, arrancando meu coração do peito.

Eu não posso responder.

Este edifício é antigo, robusto e forte, mas não é páreo para um incêndio, uma vez que começa a criar força. E pelo que sei, tudo o que precisaria é uma faísca, e a coisa cairia ao nosso redor.

Nós corremos até parar ao ver uma porta quebrada por onde Drake deve ter entrado, e nem papai nem eu paramos para considerar o que poderíamos encontrar. Nós dois corremos pelo labirinto dos vestiários dos camarins, salas de adereços e corredores, na esperança de que algo vá saltar sobre nós.

“Drake, saia!” Ouço Dakota gritar sobre o crepitar e estalar de madeira queimando. Ela começa a tossir. “Droga, apenas vá embora!”

“Inferno, porra não, não sem você.”

Subimos a escada dos fundos e entramos no palco a tempo de ouvir gritos e pancadas no outro lado do teatro e a equipe de bombeiros anunciando sua entrada. Graças a Deus que estão aqui porque a área dos assentos inteira está em chamas. Cada maldito assento em cada fileira está aceso e furioso, as chamas atingindo a frente do palco. O calor que provocam é o suficiente para tirar meu fôlego.

Avisto Dakota no palco e meus pés inconscientemente me levam para lá. Paro e caio de joelhos, segurando seu rosto nas mãos e pressionando a testa na dela. “Porra, eu pensei...”

“Ripley... estou presa”, ela sussurra, sua garganta rouca e grossa com lágrimas. Eu me afasto um pouco e franzo a testa. “Não posso sair.”

Olho as mãos dela. Estão machucadas, a pele ferida e sangue mancha as amarras de plástico brancas. Ela lutou, ela não desistiu, minha garota lutou contra essas coisas com força suficiente para a fazerem sangrar.

“Estamos perdendo tempo, Rip”, Drake fala, apontando a borda do palco, que agora está em chamas e o fogo rapidamente corroendo a madeira.

“Papai, jogue sua faca!”

Ele enfia a mão no bolso – papai não vai a lugar algum sem a faca – é como um escoteiro experiente e acredita em estar preparado.

Ele a desliza pelo palco, batendo na minha perna quando a madeira entre nós começa a crepitar e queimar. Partes do palco começam a desmoronar e minhas mãos trêmulas lutam para abrir a faca enquanto Dakota tenta seu melhor para não ceder às lágrimas que continuamente se formam em seus olhos vermelhos.

“Rip, vamos lá, cara, você não vai conseguir”, Drake grita do outro lado das cortinas. Finalmente abro a faca e agarro os pulsos de Dakota, tomando nota para quando sairmos daqui pedir desculpas por ser rude. A faca mal cabe entre seus pulsos e as amarras estão muito apertadas, fico surpreso que ela possa sentir as mãos. Esfrego de um lado para o outro algumas vezes antes de finalmente rompê-las.

O som é como uma porra de sinfonia musical, mas antes que tenha tempo de saboreá-lo, outro som surge, parte do palco desmorona onde o fogo deve ter começado a queimar debaixo de nós, destruindo tudo que toca.

Puxo Dakota em meus braços e a levanto.

Olho em volta, tudo está aceso no lado do palco e há um buraco entre minha família e nós. Dakota e eu começamos a tossir e levantar as mãos para tentar proteger o rosto enquanto ficamos em completo e absoluto choque.

Tremor.

Ela grita, e nós dois pulamos para trás lutando para ficar o mais longe possível da destruição, mas sabendo que não há mais nenhum lugar para correr.

Um pedaço inteiro da parede abaixo do palco cai como uma maldita bola de demolição.

Nós não podemos sair.

Não há como sairmos sem caminhar ou pular através de chamas.

“Entre no suporte de iluminação”, meu pai grita através do crepitar. Eu mal posso vê-lo através da fumaça e das chamas que agora atingem as cortinas entre nós. ‘Pegue a porra da grade de metal.”

Dakota segura meu braço apontando especificamente para a engenhoca de iluminação que ela estava amarrada. “Eles querem nos levantar. Se conseguirmos chegar às vigas, há uma saída que leva aos fundos pelos camarins.”

“São quinze metros ou mais no ar.”

Um grito alto me faz puxar o corpo de Dakota para o meu e virar de costas quando as chamas atingem as cortinas, e elas sobem em menos de alguns segundos. Dakota me encara, os olhos injetados e as mãos segurando meu colete. Eu já sabia antes de entrar nesse lugar que não sairia sem ela.

“Ripley”, Drake grita, e Dakota e eu saltamos para as barras de metal quando elas levantam do chão, sem perder um segundo quando começam a subir. Elas caem de lado, então ficamos em uma barra e enganchamos nossos braços na outra. É lento e elas estão muito quentes, e com uma ponta completamente imersa no fogo pelo último minuto ou mais, o calor a percorre.

Nós estamos a poucos metros no ar quando olho e vejo que eles estão lutando para nos mover.

“Eu preciso descer!” Grito sobre o fogo alto e furioso.

“Não se atreva”, Dakota grita, segurando meu corpo mais forte, suas mãos em punho no meu colete, desesperadas para não me soltarem.

Eu me movo para separar meu corpo enquanto ela soluça e balança a cabeça. “Pegue-a primeiro!”

“Rip!” Meu pai adverte em voz alta.

“Por favor!”

Posso ver a devastação em seu rosto. Há todas as chances de não conseguirmos sair. Que o fogo nos pegue. Ou que o prédio esteja muito fraco e ceda ao nosso redor.

Mas ele assente de qualquer maneira.

Porque ele sabe.

Papai lutou por mamãe, e lutou muito, por mais que tivesse o poder naquele estágio de sua vida, mas sabia que ele ainda se arrependia de não fazer mais. Ele se arrependeu de não ajudá-la a fugir, ou não tomar o controle mais cedo, mesmo que o clube pudesse deserda-lo por ir contra.

Se ele tivesse feito isso, talvez ela ainda estivesse aqui.

Talvez não.

Quem sabe?

Mas não estou disposto a ficar sentado pelo resto da vida com os mesmos arrependimentos.

“Não se mova, idiota!” A voz é nova e nossas cabeças levantam para ver Shake e Shotgun com a corda por cima dos ombros atrás de papai e Drake, lutando contra o chão de madeira enquanto ajudam a nos levantar no ar. De repente, estamos nos movendo rapidamente e as vigas se aproximam.

“Prepare-se!”

Dakota concorda, e no momento em que vemos as vigas de madeira, nós dois nos jogamos sobre elas, agarrando com força e tentando fingir que não estamos olhando um poço de madeira queimando quinze metros abaixo de nós que não apenas vai nos engolir, mas quebrar nossos corpos e nos queimar até a morte.

Um estalo alto faz meu corpo estremecer de susto quando o suporte de metal em que acabamos de usar começa a cair, a visão parece mover-se em câmera lenta enquanto ele colide com o palco, fazendo tábuas de madeira e fumaça voarem pelo ar.

Dakota grita e agarra a viga de madeira que está segurando ainda mais forte. Provavelmente eu preciso parar e checar minha calça, mas não consigo.

Os bombeiros estão apagando as chamas, mas não é rápido o suficiente, e simplesmente não posso arriscar deixar nossas vidas em suas mãos e ficar aqui esperando pelo melhor. “Nós precisamos ir.”

Dakota balança a cabeça, foi corajosa até esse ponto, mas há um limite que uma pessoa pode suportar e ela está desmoronando. E quando olha para mim, vejo o medo em seus olhos. Ela está petrificada, está congelada, e já passou pelo inferno, e agora estou pedindo para ela foder com o maldito diabo também.

“Duende”, peço, vendo uma pequena faísca em seus olhos. “Eu prometo que não vou te deixar cair, mas precisamos nos mover.”

Há uma plataforma a poucos metros, e não vou contar a ela, mas posso sentir as coisas começando a tremer. É agora ou nunca.

“Eu sei que te decepcionei antes”, digo, balançando a cabeça. “Eu não sou perfeito, e vou estragar as coisas no futuro, provavelmente pelo menos uma vez por semana. Mas posso prometer que nunca vou te deixar ir embora.”

A fumaça está se formando ao nosso redor agora, começando a encher o ar sobre nossas cabeças e estou com medo de que se não sairmos agora, cair será a segunda preocupação, a primeira será sufocar.

“Nunca?” Ela finalmente responde.

“Nunca.”

Eu a vejo engolir o nó na garganta e respirar fundo. “Aposto que não posso morrer mais rápido do que você.”

Aqui está minha maldita garota.


CAPÍTULO 41

DAKOTA

Sei que Ripley teria ficado comigo até que o fogo nos consumisse se eu não me movesse. Não há como ele se afastar. E tanto quanto estou completamente aterrorizada – estando apenas Deus sabe o quão longe do chão e também observando o prédio em torno ceder à total e absoluta destruição do fogo – não há maneira no inferno que vou deixá-lo simplesmente desistir por mim.

“Por aqui.” Ele aponta para o que parece ser uma ponte de pedestres que os técnicos de iluminação costumavam usar para pendurar as luzes. Estou lutando para enxergar, meus olhos sendo atacados por fumaça, mas posso dizer que é mais larga que as vigas em que estamos, e tem corrimãos de cada lado. São bem patéticos para corrimãos, mas a esta altura não me importo, desde que leve a uma saída.

Nós dois nos arrastamos sobre as vigas.

Eu me recuso a olhar para baixo.

Posso sentir o fogo queimando, e sei que não vai demorar muito para que ele engula as vigas que seguram o teatro, mesmo parecendo que os bombeiros começaram a vencer a batalha.

Não importa.

Este lugar já está destruído.

Cada pedaço da história foi consumido e transformado em cinzas.

Finalmente chego à passarela e Ripley me puxa de pé. O movimento do prédio não passa despercebido. Cada crepitar e estalar do fogo parece sacudi-lo um pouco mais, fazendo-o balançar.

“Vá!” Ripley ordena, colocando-me na frente e empurrando.

Nós corremos pelo caminho frágil. Passo pela parte de trás da parede do palco, que agora está totalmente em chamas. Elas estalam aos nossos pés como crocodilos famintos num rio quando o cruzamos. Continuamos correndo, estou tropeçando, lutando para ficar em pé enquanto meu corpo ameaça desabar e tudo que posso ver é um borrão. Consigo distinguir a escada no final, pisando em cada degrau com cuidado quando seguimos para o fundo.

A mão de Rip fica em contato com meu corpo o tempo todo como se ele estivesse pronto para me agarrar e me puxar de volta, ou me empurrar para frente. Como se ele estivesse pronto para qualquer coisa, e preparado para me proteger.

Meu corpo dói, minha cabeça pulsa, minha pele parece estar se soltando dos ossos, e posso sentir fumaça em meus pulmões tornando difícil respirar, mas no momento que alcanço o chão e vejo a porta que leva para fora, eu corro.

Corro com força e rapidez e posso sentir Ripley atrás de mim.

As lágrimas já começam a cair dos meus olhos quando sinto o ar fresco do lado de fora. Está frio, congelando contra minha pele superaquecida, mas puta merda, cada respiração parece o céu. Eu tropeço, tossindo e lutando para manter o bom ar entrando e forçando a mistura tóxica dos meus pulmões para fora. Posso ouvir Ripley fazendo o mesmo, nós dois arfando.

Minhas pernas cedem, mas alguém me pega, passando um braço em minhas costas e o outro sob meus joelhos, levantando-me do chão. Pisco, tentando clarear os olhos, mas eles doem, e as lágrimas ajudam a aliviar a dor, então deixo a pessoa me carregar, com o colete de couro e um conjunto pesado de botas batendo no cascalho debaixo de nós é o sinal claro que posso confiar nele. Sei que Ripley está por perto. Posso ouvir sua respiração pesada e passos mais pesados nos cercam enquanto somos conduzidos para a segurança.

Meus batimentos não reduzem. Meu coração continua acelerado mesmo sabendo que vamos ficar bem. Ele troveja dentro do meu peito, e não tenho certeza se vai diminuir de velocidade em breve.

“Precisa lavar seus olhos, ela esteve em contato com muita fumaça e está lutando para respirar”, Huntsman fala rapidamente quando se aproxima e deposita meu corpo no que imagino ser uma maca.

Estou lutando para respirar?

Acho que o chiado não é exatamente normal.

“Graças a Deus!” A voz do meu irmão me deixa ainda mais histérica, e sinto a ambulância oscilar quando ele se joga dentro e me abraça. Não posso vê-lo além do borrão de cores, mas continuo a chorar quando afundo a cabeça em sua camisa. Seu cheiro é confortante e me lembra de casa, e imediatamente sinto que posso respirar um pouco melhor. Mas a ansiedade mantém meu coração acelerado, e posso ouvir o paramédico dizendo a alguém que precisam me levar ao hospital porque minha pressão sanguínea está muito alta, e precisam trazer meu corpo de volta à Terra.

“Eu preciso, Rip”, peço, limpando freneticamente os olhos, tentando clarear a visão então posso vê-lo. Preciso que ele fique comigo.

“Dakota, está tudo bem”, meu irmão argumenta, mas balanço a cabeça.

“Por favor, encontre-o.”

Posso sentir o pânico chegando. Nunca tive um ataque de pânico na vida, mas posso senti-lo pelo meu corpo. Pisco rapidamente, a penumbra começando a clarear, mas não consigo respirar.

“Ei, Duende, estou aqui”, Ripley me acalma, passando por meu irmão e sentando do outro lado da ambulância. “Está tudo bem, vamos ao hospital.”

Olho Austin quando ele se senta na beira da maca, olhando-me, sua mão afastando o cabelo do meu rosto. “Quando estava no hospital quando bebê, eu me lembro de papai dizendo, somos tudo o que ela tem, precisamos cuidar dela, precisamos protegê-la, para que ela nunca mais precise passar por isso.” Sua voz está oscilando, e pego sua mão, apertando-a na minha. “Eu prometi a ele que não deixaria nada te machucar assim novamente, e até agora pensei ter feito um bom trabalho.”

“Austin”, digo, balançando a cabeça.

“Posso ver agora que há alguém aqui disposto a assumir e fazer um trabalho muito melhor,” ele diz, olhando para Ripley.

É nesse momento estranho que Austin finalmente dá sua bênção, numa forma bem característica do Austin – como se houvesse alguém arrancando seus dentes ao mesmo tempo.

Meu irmão se inclina e pressiona um beijo na minha testa antes de dar um rápido aceno a Rip e sair da ambulância. Um paramédico entra na parte de trás conosco enquanto outro assume o banco do motorista e liga as sirenes.

Meu corpo relaxa na maca com Ripley segurando minha mão enquanto o paramédico verifica meus sinais vitais novamente.

Eu poderia ter ficado sem as sirenes.

Mas honestamente, se esse é o preço que preciso pagar no momento para ter minha bunda a caminho do hospital e não cair num buraco em chamas, então acho que preciso me acalmar.


CAPÍTULO 42

DAKOTA

Dia seguinte

“Mãe, juro por Deus. Pare”, peço enquanto ela tenta encher o quarto do hospital que estou com comida recém feita. Tortas, bolos e uma sopa caseira que ela acabou de ir ao posto das enfermeiras e pedir para aquecer no micro-ondas. O vapor disso tudo já está embaçando as janelas.

“Você precisa comer”, ela retruca, minha mãe não atura nada quando um seu filho quer ser arrogante. Ela coloca a bolsa na cadeira no canto e puxa um cobertor macio, colocando-o na cama do hospital.

“Você é secretamente Mary Poppins?” Pergunto com uma sobrancelha levantada quando ela começa a procurar dentro da bolsa novamente.

“Sabe”, ela suspira olhando por cima do ombro para mim com uma sobrancelha levantada. “Você nunca foi espertinha com seu pai quando ele estava por perto. Era a garota do papai.”

Não posso discutir com isso.

Eu realmente era.

“Mesmo antes de saber quem éramos, costumava se agarrar a ele”, ela murmura, abandonando a bolsa e voltando para a cama. “Você tinha esse dom especial de saber em quem podia confiar e com quem estava segura. Soube instantaneamente que era ele. E acho que sabia bem antes de admitir, que é o mesmo com Ripley.”

Meu corpo aquece, e relaxo na cama, as mãos tocando as ataduras em meus pulsos. Eu aparentemente me feri. Lembro de ver sangue, mas não pensei que fosse tão ruim assim.

Ripley quase enlouqueceu quando os viu, mas não posso dizer que o culpo. Ele conseguiu se acalmar muito bem, no entanto. Ripley se apresentou à minha mãe no momento em que ela entrou no prédio. Mesmo que ele estivesse do outro lado do corredor com as costelas imobilizadas – porque quebrou uma pulando do suporte de iluminação e depois nas vigas – ele ainda arrastou sua bunda até aqui para dizer oi com o médico logo atrás dele dando sermões. Você precisa admirar um homem que, mesmo com costelas quebradas e a possibilidade de envenenamento por cianeto, está disposto a fazer um esforço para mostrar respeito à sua mãe.

Ripley não é exatamente o que chamaria de ‘tipo para levar para casa dos pais’. Mas não pode culpá-lo pelo respeito que ele mostra. Algo que é importante para ele quando se trata das pessoas que são essenciais em sua vida. Vi isso em Huntsman, com Drake e Meyah, mas também com Ham e Shotgun e os membros do seu clube.

Minha mãe viu, e acho que Austin está começando a ver também.

Sim, ele ainda é um imbecil, e sim, nós vamos brigar, e provavelmente vou querer espanca-lo na maioria dos dias, mas pelo menos as coisas nunca serão chatas. E pelo menos sempre me sentirei segura.

“Não sei por que trouxe tudo isso, espero ser liberada em algumas horas, quando minha pressão arterial finalmente voltar ao normal.” Ainda está alta, e os médicos disseram que é mais provável ser apenas o estresse e a situação, mas o que não disseram com a boca, mas sim com os rostos é que já deveria ter começado a diminuir.

Eles me ligaram a uma máquina, o que alertaria as enfermeiras se, por alguma razão, isso piorar, porque a outra preocupação são as drogas que Caleb me deu. Eles não têm ideia do que era, o quanto ele me deu, ou que tipo de problemas já causaram em meu corpo.

Essa é a parte assustadora. Não saber o que está acontecendo dentro de mim ou por que, e estar assim por causa das ações de outra pessoa. De qualquer maneira, eles estão fazendo testes, e espero que em algumas horas os testes voltem limpos, meu coração desacelere e eu possa ir para casa.

Com Rip.

E meus amigos.

E minha família.

Mamãe fica inquieta de novo e simplesmente a ignoro. “Eu me pergunto se algum dos meninos sentados na sala de espera quer um pouco dessa comida”, ela questiona a ninguém, olhando as quantias que trouxe.

Antes que possa responder, a porta abre e vejo o clarão de um jaleco branco. Recosto-me na cama e respiro fundo, rezando para que seja o médico com os resultados, e eu esteja prestes a sair deste lugar. Sei que Ripley odeia hospitais, então, quanto mais fico aqui, mais isso exige que ele fique, embora tenha certeza de que nesse estágio ele está realmente mais machucado do que eu.

“Dakota Samuels,” o médico anuncia, e juro que nesse momento o meu estômago atravessa a cama e cai no chão.

Eu me sento.

Isso dói.

Cada parte de mim está doendo.

E dói por causa dele.

Meus olhos encontram os de Caleb enquanto ele segura minha prancheta na mão como se soubesse o que diabos faz. Não há sorriso nem amabilidade. Ele não está desempenhando um papel, ele está aqui para me destruir.

“Dakota...” Mamãe murmura, dando um passo para perto, os olhos estreitos no médico. Ela o conheceu, ele foi jantar na casa do meu irmão, ele passou um tempo com sua neta, determinado a usar todos eles contra mim.

O sorriso arrogante que costumava ver estampado em seu rosto sumiu. É inexistente. Tudo o que resta é um olhar estreito e o lábio curvado enquanto ele zomba de mim do outro lado do quarto.

“Quem diria que uma garotinha poderia destruir dez anos de trabalho duro”, Caleb diz, dando um passo mais perto da cama. Estendo a mão para a minha mãe, agarrando seu braço e puxando-a para perto, determinada a não deixá-lo machucá-la. “Dez anos, Dakota. Eu tinha uma reputação. Eu construí minha vida. Eu tinha respeito. E por sua causa, agora tudo o que tenho é um preço em minha cabeça.”

“Não me culpe. Você fez tudo isso”, argumento.

Mamãe agarra meu braço, apertando minha mão como se estivesse me dizendo para calar a boca. Este é um momento em que não quero fazer isso.

Sua mão sai de um dos enormes bolsos do jaleco de médico, revelando uma grande agulha. Meu coração instantaneamente parece que vai parar.

Não posso passar por isso de novo.

Não vou deixa-lo fazer isso novamente.

“Você é um covarde”, grito. “Escolhe pessoas inocentes, força-as a fazer coisas que machucam quem elas se importam, tudo para que possa fazer o que? Parecer um herói? Sentir-se bem consigo mesmo?”

Ele arranca a tampa da agulha e dá outro passo para frente. Eu jogo o cobertor para longe e pulo para o lado da cama, o monitor de batimentos cardíacos no meu dedo voa enquanto fico na frente da minha mãe. O medo aumenta, acendendo meu corpo mais uma vez quando Caleb avança.

“Desta vez, não é um sedativo”, ele zomba, seguindo-nos, combinando cada um dos nossos passos com um dos seus, que são muito maiores. “Desta vez, não haverá despertar. E sabe de uma coisa? Esse será apenas o primeiro passo. Em seguida, vou levar cada fodido desses membros do clube para a sepultura, começando com o presidente, Huntsman. Provavelmente vou deixar Ripley para o fim, e deixá-lo se destruir enquanto ver cada membro de sua família morrer, assim como sua mãe.”

É isso.

Não há mais passos.

Não vou deixa-lo fazer isso.

Não vou deixa-lo ir atrás deles.

Vejo a porta se abrindo atrás dele, mas já tenho meu plano. Não vou ser vítima desse idiota novamente. E não vou deixar ninguém mais ser.

Eu me viro, pegando o grande prato de sopa que minha mãe trouxe, não me importando que instantaneamente queima as palmas das minhas mãos, e jogo diretamente em sua cabeça. O líquido quente cobre todo seu rosto e o grito que ele solta é um que sei que todo o hospital ouviu, incluindo os dez a vinte motoqueiros sentados na sala de espera. Não que isso importe porque o quarto já está começando a encher de homens que procuram uma desculpa para matar o bastardo.

A agulha cai da mão de Caleb, e a chuto para longe quando ele cai de joelhos como se estivesse derretendo. Suas mãos tremem quando ele tenta limpar a sopa com temperatura quase nuclear de seu rosto e olhos, e eu me encolho, observando quando pedaços de pele parecem instantaneamente começar a se soltarem.

Ripley, Huntsman e Drake estão parados, as armas prontas para fazer um milhão de buracos no idiota, o que quase desejo que façam, mas eles são muito lentos.

Austin entra correndo, sua arma em punho e apontada, com os olhos arregalados enquanto ele observa a cena, assim que Caleb cai com um baque no chão.

“Deixe-me acabar com seu sofrimento e o nosso”, Ripley resmunga baixinho, o dedo se contorcendo no gatilho, os olhos em Austin apenas esperando a permissão. “Nós dois sabemos que o mundo será um lugar melhor.”

Mas conheço meu irmão.

“Se atirar nele, eu vou prendê-lo, e isso fará minha irmã chorar”, Austin resmunga, estreitando os olhos em Rip.

Um punhado de médicos invadem o quarto, empurrando todos para trás enquanto correm para chegar a Caleb, que não está se movendo desde que desmaiou de dor.

Nós rapidamente explicamos a situação, e Austin os avisa que ele é um fugitivo e precisa ser algemado para evitar a fuga, e os segue para o mais próximo bloco operatório conversando sobre cirurgia reconstrutiva.

Ripley me pega e sobe na cama comigo em seus braços, ignorando a maneira como bato em seu ombro, repreendendo-o por ferir as costelas ainda mais do que já estão. “Pode parar de reclamar comigo por um momento mulher e me deixar apenas curtir o fato de estar aqui. Seu monitor cardíaco de repente desligou, e todas as malditas sirenes no posto das enfermeiras começaram a soar.” Ele balança a cabeça.

“Nós pensamos que tinha sofrido uma parada cardíaca”, acrescenta Drake quando Rip não diz mais nada.

Instantaneamente sinto-me um pouco mal e movo a cabeça sob o seu queixo, apreciando a maneira estranha, mas confortável do seu corpo ao meu redor.

Todos parecem relaxar por um segundo e respirar coletivamente.

Todos precisamos disso.

Não é frequente que fique perante os olhos da morte duas vezes em vinte e quatro horas. Se é você enfrentando o ceifeiro, alguém com quem você se importa, ou a pessoa que ama, nunca fica mais fácil. Nunca é mais simples. Então, quando recebe outra chance, outro dia, outro fôlego, você aceita. Não perde, não vive com arrependimentos.

Você encontra o que te faz feliz e o vive.

Simplesmente vive.

“Alguém já encontrou Lauren?” Pergunto, imaginando se terei que ficar nervosa de haver uma terceira tentativa contra minha vida.

Todos os garotos se entreolham.

Eles sabem.

“Onde ela está?”

“Ela consumiu muitas drogas enquanto fingia estudar”, explica Huntsman, balançando a cabeça. “Achamos que elas podem ter causado sintomas psicóticos ou algum tipo de doença mental subjacente. Às vezes, isso realmente não vem à tona sem um catalisador.”

“Ela apareceu no teatro logo depois que você foi levada, cheirando a gasolina e agindo como se não tivesse ideia do que acontecia”, Drake responde. “Ela foi presa e fará avaliações para determinar se precisa de ajuda, ou se é apenas uma cadela que gosta de matar pessoas.”

“De qualquer forma, ela foi para longe, e prometo que não voltará”, acrescenta Huntsman com um aceno de cabeça, e acredito. Porque ele me protegeu. Ele me ensinou. Ele se certificou de que tudo que passei para pegar Caleb não fosse em vão.

E odiei fazer isso escondido de Ripley, mas às vezes não se trata de ficar atrás do seu Old Man ou ao lado. Há momentos em que precisamos ficar na frente deles, ser a razão e ser a voz, e protegê-los de si mesmos.

Ripley se afasta, seus olhos vermelhos não voltaram ao normal, mas o brilho neles é muito presente. “Sabe, toda essa coisa de ser família não vai funcionar bem se seu irmão ameaçar me prender toda vez que eu quiser atirar em alguém.”

Minha mãe ri alto, e até vejo o menor sorriso no rosto de Huntsman enquanto ele balança a cabeça.

“Nós vamos resolver isso”, digo com um largo sorriso.

“Bom.”


CAPÍTULO 43

DAKOTA

Dois meses depois

“Lembre-me de novo por que concordei em ajudá-la a fazer isso?” Resmungo enquanto olho as centenas de malditos balões espalhados pelo bar no clube Exiled Eight, apenas esperando para serem enchidos. “Por que não pegou uma daquelas máquinas de hélio que os enche? Pelo menos elas são divertidas.”

Meyah me olha, as sobrancelhas juntas. “Você viu esse lugar? Todos os balões acabariam lá em cima”, ela diz, apontando para o teto ridiculamente alto enquanto ainda me olha como se eu fosse maluca. “E conhecendo meu pai e os meninos, eles provavelmente começariam a atirar para tentar estourá-los.”

“Atirar no teto?”

“Tudo é à prova de balas aqui.”

Eu franzo a testa. “Mesmo?”

Ela balança a cabeça. “Deus te ajude quando se mudar na próxima semana.”

Abro a boca para objetar e defender meu conhecimento de clubes de motoqueiros e suas necessidades de ter tudo à prova de balas, mas antes que possa, recebo um tapa forte na bunda. A dor é instantânea, e grito, girando e pronta para socar, apenas para encontrar Ripley de pé com um sorriso no rosto. “Quantas vezes eu te disse... isso dói!”

“Eu sei”, ele responde, olhando para mim como se eu fosse louca. “De qualquer forma, sou dono dele, posso fazer o que quiser com isso.”

“Sim, bem, eu mudei os documentos de propriedade.” Encolho os ombros, virando e pegando outro balão. “Agora é propriedade de Meyah.”

“Sim!” Meyah canta, pulando no ar antes de se virar para o irmão e mostrar a língua. “Tome isso, sou dona da bunda da sua namorada.” Ela estende a mão e aperta-a, eu rebolo contra ela.

Ele franze a testa, e posso ver por alguns segundos as engrenagens em seu cérebro girarem. Isso nunca é bom porque, por mais que as pessoas gostem de acreditar que Ripley é um motoqueiro da pior espécie sem cérebro e com um dedo no gatilho, o idiota também é inteligente.

O que ele instantaneamente prova quando enfia a mão no bolso de trás e tira uma nota de cinquenta dólares e estende para a irmã.

“Dou cinquenta dólares pelo traseiro de Dakota.”

Os olhos de Meyah se iluminam e ela pega o dinheiro da mão dele. “Feito.”

“Ei”, protesto, mas é rapidamente descartado quando Ripley avança e me pega, levantando sobre seu ombro. “Rip, me coloca no chão, porra!”

“Nós precisamos ir a um lugar”, ele responde, batendo em minha bunda e fazendo todo o meu corpo tremer e meus mamilos instantaneamente endurecem. Então ele baixa a voz. “Pode parar de fingir agora que não está molhada como o inferno.”

Eu respiro fundo.

“Se for uma boa menina, vou te deixar montar meu pau depois que terminar o que preciso fazer.”

Pressiono os lábios, desejando que meu corpo fosse tão teimoso quanto meu cérebro porque, tanto quanto quero dizer a ele para enfiar seu pau numa piscina de piranhas, minha buceta é uma puta, e está gritando, sim, por favor.

“Eu te amo”, brinco. Sua resposta é uma gargalhada triunfante quando me coloca de pé e depois puxa para o estacionamento do clube. “Rip, se nos atrasarmos, Meyah vai nos crucificar”, reclamo enquanto ele me arrasta em direção a sua moto.

“Nós voltaremos a tempo”, ele promete, pegando meu capacete rosa de sua moto e colocando-o na minha cabeça, cegando-me. Levanto a viseira percebendo que ele já virou para pegar o seu e me deixou fazer o resto sozinha.

Homens.

“Onde vamos?”

Seus dedos param por um minuto com a pergunta. Ele ficou quieto por alguns dias, e fingi que não notei o aumento do número de pesadelos que ele teve na noite passada. Não tenho certeza se ele estava dormindo ou não, para ser sincera, mas sei como ele odeia pensar nisso. Quando tem pesadelos, ele só quer que eles terminem.

Alguns podem achar estranho viver como Ripley, tendo a maioria das noites assombrada por lembranças de eventos traumáticos. Para muitas pessoas, posso imaginar que enlouqueceriam tendo que viver isso várias vezes. Mas Ripley apenas continua no seu ritmo, ele aceita que é algo que ele precisa conviver e que é um pedaço seu. E eu aceito também.

“Confia em mim?” Ele pergunta, olhando por cima do ombro e chamando minha atenção. Parece que com essas três palavras ele abre uma represa, e a tensão em meu corpo parece fluir correnteza abaixo. Elas se tornam uma parte importante de nós. Elas são uma garantia de que ele estará lá para cuidar de mim e que me manterá a salvo, não importando o que estamos prestes a fazer, ou para onde vamos.

“Ok”, concordo. “Mas se chegarmos atrasados para a festa de Meyah, vou te culpar. Não tem ‘estamos juntos nisso’.”

Ele bufa e joga a perna sobre a moto me esperando subir atrás antes de dar partida. “Traidora”, ele diz acima do rugido do motor, e minha risada nos segue para fora do complexo até a estrada.


???

 

RIPLEY

Engulo o nó na garganta, aquele que está lá desde ontem quando decidi fazer isso. Não sei como explicar o que está acontecendo na minha cabeça ou até mesmo por que estamos prestes a fazê-lo, e sei que as palavras não significam muito de qualquer maneira até que ela veja.

A viagem leva apenas alguns minutos. É um borrão de edifícios industriais que lentamente se torna mais claro até que surge uma parte mais suburbana de Las Vegas.

O clima está ameno, nada muito verde, e o fato de que é inverno também significa que tudo tem uma aparência sem graça.

Eu não deveria estar esperando arco-íris e margaridas embora.

O estacionamento está vazio, então escolho uma vaga aleatória e estaciono. Então abaixo o suporte antes de desligar o ronco baixo do motor. Instantaneamente o ar ao nosso redor parece diferente. O ar está frio, não há folhas nas árvores ou pássaros cantando para preencher o silêncio. Mas não precisamos disso.

As coisas nunca foram difíceis, estranhas ou estagnadas com Dakota. Ela me faz sentir como se pudéssemos conquistar o mundo, como se eu pudesse enfrentar qualquer coisa, e sei que quando virar, ela estará ali.

Seus braços não se afastam quando o motor desliga. Ela realmente me aperta um pouco mais e pressiona os lábios no meu colete, bem entre minhas omoplatas. E eu sei, sem sombra de dúvida, que se ficar aqui sentado e não me mover pela próxima hora, ela não irá questionar, ela vai ficar exatamente assim. Sem nenhuma pergunta.

E honestamente, por um momento, é tudo o que sinto que posso fazer. Mas há uma razão pela qual trouxe Dakota comigo. Porque ela me faz mais forte. Ela me apoia. Ela luta por mim. Ela me protege.

Depois de alguns momentos, consigo encontrar minhas bolas de onde quer que estejam, e nós dois descemos e tiramos os capacetes.

Caminhamos pela grama, a mão de Dakota segurando a minha com força. Quando vejo a lápide à frente, paro por um momento e Dakota para ao meu lado. Ela não olha para mim em confusão ou pergunta por que de repente me sinto diferente, ela apenas fica de pé e espera que eu assuma a liderança, ela apenas espera que eu decida o que quero fazer.

Posso ver as flores orgulhosamente ao lado de sua lapide negra, que mesmo neste dia escuro e nublado ainda brilha a luz do sol. Não venho aqui desde que era pequeno, desde que eles a colocaram no chão e nos afastamos. Meu pai sempre se certifica de que passássemos esse dia do ano lembrando dela, mas nunca nos forçou a vir com ele trazer flores ou apenas conversar. E estava bem com isso, até agora. Até agora, não tinha nada a dizer. Mas as coisas mudaram, eu mudei, meu coração mudou e não sou mais aquele garotinho.

Então, agora tem algumas coisas que preciso dizer. E para dizê-las, preciso da força de Dakota enquanto ela está ao meu lado.

Eu respiro fundo e continuo caminhando até ficar bem na frente da lapide, seu nome escrito em meio a um magnífico texto que me lembro de pensar, quando era um garotinho, ser muito chique para minha mãe. Mamãe não era chique, ela não era extravagante, ela não era nada parecida com a lápide que a retrata.

Mas agora entendo porque o fizeram.

Minha mãe estava triste. Ela estava deprimida. Ela estava com raiva. Rancorosa. E vingativa.

Mas quem coloca isso numa lápide?

Ela pode ter sido todas essas coisas em algum momento de sua vida, mas não definem sua história.

“Ela era líder de torcida quando estava no ensino médio”, digo em voz alta, sem saber exatamente por quê. “Ela tinha uma cadela chamada Bella. Era branca e dormia ao pé de sua cama todas as noites. Ela era a melhor em sua aula de arte. E ela fazia parte do coro porque adorava cantar.”

Ela nem sempre foi amargurada. Ela nem sempre foi uma mulher forçada a uma vida que nunca desejou. Não foi culpa dela que se tornou a mulher sem coração e odiosa que conheci, mas as pessoas em sua vida nunca lhe deram a opção de ser qualquer outra coisa.

“Eu te amei, mesmo que você nunca tenha me beijado ou abraçado. Houve momentos em que fiquei com raiva, que fiquei frustrado por você não ser como as outras mães, mas eu nunca te odiei. Só queria algo melhor, não só para mim, para nós dois.” As palavras simplesmente saem, e saem porque minha cabeça está clara. E elas surgem porque tenho alguém ao meu lado me dando a força que preciso. “Eu quero que saiba que não te culpo. Eu não te culpo pelos pesadelos constantes, ou pela maneira como afetou minha percepção de como amar. E não te culpo por ir embora.”

Houve momentos em que culpei.

Houve dias em que fique com raiva e a acusei de ser egoísta. Mas por que deveria ser juiz e júri? Por que deveria querer que ela se forçasse a ser alguém que nunca quis?

A luz do sol brilha em sua lapide e de repente sinto uma brisa, passando rapidamente por meu cabelo e beliscando a pele nua.

“Esta é Dakota”, consigo finalmente dizer, apesar do jeito que minha boca e garganta estão secas. “Se houve uma coisa que me ensinou, foi que não devemos deixar as pessoas tentarem nos forçar numa caixa. E Dakota é a primeira a se recusar a entrar em qualquer tipo de caixa, mas eu a amo de qualquer maneira, mesmo que ela seja estranha e desajeitada, e tenha mau hálito de manhã.”

Recebo um soco no estômago e fico sem ar por um segundo antes de olhar para o lado sorrindo para encontrá-la me olhando com irritação.

Posso praticamente contar os segundos, até quando ela percebe o que eu disse.

“Rip”, ela sussurra, seus olhos se tornando vítreos.

Olho diretamente em seus olhos, mas falo com minha mãe. “Dakota ouve minha dor. Ela vê meus demônios. Ela não tenta me consertar. Ela não tenta dizer que é errado. Ela aceita como um pedaço de mim. Um pedaço quebrado, mas um pedaço, no entanto.” Não se atreva a chorar. “E queria que você a conhecesse então saberia. Talvez você se importe, talvez não. Mas isso é por mim.”

Dakota abraça minha cintura e encosta a cabeça no meu peito. “Quer sentar um pouco?”

Olho para ela. “Você está bem com isso?”

Ela assente, e nós dois nos sentamos na grama morta. “Em quais outras coisas sua mãe era boa?” Ela pergunta, fazendo-me rir.

“Queijo grelhado. Comentários sarcásticos. Fazer meu pai quase enlouquecer.”

Não é muito. Mas é alguma coisa.

Ficamos sentados por mais de uma hora. É estranho que isso pareça tão normal, e espero que se torne algo regular.

“Você está pronto?” Dakota pergunta quando nos levantamos.

Eu concordo. “Sim, você pode ir, estarei lá em um segundo.”

Ela apenas sorri e acena antes de voltar para a moto. Enfio a mão no bolso e tiro o pequeno pedaço de madeira que tenho há anos, mas nunca tive realmente certeza do que fazer com ele. É uma das primeiras coisas que esculpi.

Não é muito bom, mas nunca pensei em muda-lo. Coloco na lapide o pequeno coração de madeira balançando precariamente no topo. A palavra “mãe” foi esculpida no meio. As letras são trêmulas e difíceis de ler.

“Tchau, mãe”, digo antes de virar e ir embora.

Talvez eu volte, talvez tente fazer disso algo regular. Talvez ela odeie que estou aqui, vivo, feliz, aborrecendo seu espírito, bem como quando ela estava viva. Mas acho que nunca saberei.

Ou vou me importar.

O que quer que tenha acontecido naquela época, doeu, mas moldou a pessoa que sou hoje. Então se precisou daquela dor e mágoa para me trazer aqui – não estou com raiva. Porque o cara que sou hoje tem família, amigos, irmãos.

E eu tenho Dakota.

Minha parceira em tudo.

Definitivamente

Inexplicavelmente.

Irrevogavelmente.


EPÍLOGO

HUNTSMAN

Se tivesse dito há alguns anos que eu estaria comemorando o fato de minha filha ter um bebê – com um membro de outro MC – eu riria na porra da sua cara.

Em primeiro lugar, pelo fato de que nem sabia ter uma filha.

Em segundo, porque a ideia de um dos meus filhos estar com alguém de outro clube é algo que eles sabem que não é certo. Mas porra, se não consigo parar de sorrir enquanto observo o rosto de Meyah se iluminar quando seu homem a levanta e a gira num círculo. É assim que deve ser.

A sede do clube está no início, a merda vai começar em breve, e amanhã teremos muitas cabeças doloridas. Incluindo a minha.

Não estou pronto para ser avô.

Ou vovô.

Ou vozinho.

Estremeço e balanço a cabeça.

Um zumbido no meu bolso me afasta das celebrações, e pego o celular enquanto vou para algum lugar um pouco mais quieto. Abro a porta da igreja e a fecho atrás de mim, o isolamento acústico instantaneamente deixa a sala silenciosa. O número no meu telefone está listado como desconhecido, e faço uma careta por alguns segundos antes de decidir atender.

Coloco-o na orelha. “Sim?”

“Huntsman, é Judge." Minhas sobrancelhas levantam em surpresa. Provavelmente já faz quase dez anos desde que ouvi falar de Judge. Ele trabalhava para o FBI, principalmente disfarçado. Ele quase nunca aparece.

“Está tudo bem?”

“Tenho um favor para pedir”, ele responde, seu tom sério e direto. “Tenho uma testemunha que está em proteção há quase dezesseis anos. O agressor deveria estar em prisão perpetua. E recebi uma ligação de um amigo na penitenciária dizendo que ele será liberado na próxima semana.”

Meu punho fecha ao lado.

Essa merda não está acontecendo.

“Ela não pode ir até você?” Pergunto, sabendo o quão sério pode ser se esse idiota tiver pessoas lá dentro.

“Cara, estou tão atolado agora que mal posso ver a ponta do meu nariz. Se eu a trouxer para cá, haverá perguntas, que não posso responder, que podem destruir quatro anos de trabalho.” Praticamente posso ver a preocupação no rosto do velho. Judge e eu nos conhecemos há muito tempo. Nós trabalhamos juntos em mais de uma ocasião antes de decidirmos deixar o exército, e ele se juntou à polícia, enquanto eu... bem, peguei a rota oposta.

Quando não respondo imediatamente, ele começa a pressionar, usando qualquer coisa que pode. “Ela tem uma menina com ela, mãe solteira, filha adolescente.”

Droga.

Algo chama minha atenção através do vidro da porta, e vejo Meyah correndo com uma arma na mão, saindo pelos fundos. Abro a porta. “Que diabos pensa estar fazendo?” Pergunto preocupado, fazendo-a congelar e virar lentamente em minha direção. Posso ouvir Judge rindo ao telefone, mas ignoro o idiota e estreito os olhos para minha filha.

“Drake apostou cem dólares que não posso acertar nada a uma distância de trinta metros.” Ela levanta a arma com um brilho desonesto nos olhos. Ela sabe que pode. Drake também sabe. Ele também sabe que, se tentar dar a ela ou a seu Old Man dinheiro para ajudar a criança, eles recusarão.

Ela pensou estar ganhando.

Ele achou estar ganhando.

Jesus Cristo.

Balanço a cabeça e volto para a sala e fecho a porta. “Tudo bem, farei isso.”

Eu o ouço soltar lentamente o ar. Como se estivesse aliviado. Não tenho certeza do que este caso é para ele, mas é obviamente importante o suficiente para ele me pedir – um fora da lei – para ajudar.

Com Meyah tendo seus bebês, acho que pode dizer que é um pouco de carma. Se não estivesse por perto e ela estivesse com problemas ou precisando de ajuda, gostaria de ter esperança de que alguém dissesse sim e fizessem todo o humanamente possível para protegê-la.

“Bom, ela estará aí amanhã”, Judge ri.

“Amanhã?”

“Ouvi dizer que precisa de uma nova designer de interiores”, ele responde casualmente. “Bem, parabéns, acabou de contratar uma. Acho que vai gostar dela. Seu nome é Zoey. O nome da garota é Blair.”

“Fantástico”, digo, percebendo que acabei de entrar nisso. Ele não tinha intenção de me deixar dizer não. “Você é um bastardo sorrateiro.”

“Eu aprendi com os melhores.”

Então ele desliga.

“Filho da puta”, xingo.

Acho melhor me preparar.


???

 

ZOEY

“Blair, mexa-se”, chamo da porta da frente do nosso pequeno apartamento de dois quartos.

Meu pé bate impacientemente no chão, enquanto mais uma vez dou outra olhada na hora no telefone. Vou me atrasar. Nada de novo aí.

“Calma”, minha filha adolescente grita de volta para mim, forçando-me a dar duas respirações profundas, esperançosamente calmantes.

A garota é a luz mais brilhante da minha vida, mas também é a dor mais aguda na minha bunda. Ela é como uma aula ambulante de carma.

Segundos depois, ela vem correndo do seu quarto, a mochila pendurada em um dos ombros enquanto pula para colocar um dos sapatos. “Eu vou falar de novo...” ela protesta, um pouco sem fôlego, “...não estou feliz com isso.” Ela finalmente domina o sapato desafiador e solta um suspiro exausto.

“Notável, pela octogésima vez.”

Ela mostra a língua para mim enquanto segue para a porta da frente, e devolvo o gesto – porque sou madura assim – antes de fechá-la atrás de nós.

“Por que não posso simplesmente ir para a escola pública local?” Blair continua a gemer quando saímos do estacionamento do complexo de apartamentos no meu fiel Toyota. Este carro nos levou pelo país em vários momentos. Estou esperando há anos que ele quebre, mas ainda está aguentando.

Blair puxa desconfortavelmente a gola da camisa polo, o nariz franzido de desgosto. “Você sabe... escola pública”, ela continua em aborrecimento quando não respondo. “Onde não usam saias xadrez e camisas de colarinho que me fazem sentir como estar sendo lentamente decapitada.”

“Uau! Onde está sua coroa, rainha do drama?” Bufo.

Ela dá um tapinha no topo da cabeça. “Ah, caramba, devo ter deixado no apartamento com a minha varinha do tipo ‘me tire desse inferno’.” Tento não sorrir. “Tenho a sensação de que vou precisar disso hoje, então podemos voltar e pegar?”

“Desculpe, sua majestade. A carruagem está quase no reino”, informo a ela com voz esnobe, apontando para o grande prédio à frente.

“Fantástico.”

Ela vê isso como punição. E apesar de sempre lutar com unhas e dentes para ter certeza de que Blair esteja feliz, esse é um daqueles momentos em que preciso colocar o pé no chão e me lembrar que ela me agradecerá mais tarde.

Depois de seis escolas públicas diferentes em três anos, cinco das quais em bairros onde temia que ela fosse morta a tiros por gangues, estou finalmente num ponto da minha vida em que meu negócio está prosperando, e sou capaz de dar-lhe a educação que não recebi. Sim, ainda estamos morando num apartamento minúsculo, mas o complexo tem segurança, uma piscina e é agradável. Agora, todo meu dinheiro vai para a escola de Blair e meus anúncios pela cidade.

Estamos aqui há apenas três semanas. Consegui um emprego muito importante fazendo o design de interiores para cerca de vinte novos apartamentos que estão sendo construídos a poucos quarteirões da nossa nova casa.

É meu maior trabalho até o momento – daí a mudança de Montana.

É uma oportunidade que não pude recusar. Isso nos manterá pelos próximos meses, então preciso cruzar os dedos e esperar que eles gostem de mim o suficiente para me deixar fazer outros projetos, ou que recomendem meu trabalho. Basicamente, é um salto de fé, que Blair deu comigo mais vezes do que posso contar com as duas mãos.

Desde que nasceu somos ela e eu contra o mundo. Em alguns meses, ela terá a mesma idade que eu quando engravidei – doce dezesseis anos – mas, na realidade, ela já é uma alma velha.

Precisou crescer muito rápido.

Nós duas precisamos.

E estou determinada a fazer esse lugar ser o último. O lugar onde poderemos finalmente nos estabelecer e parar de fugir.

Eu preciso fazer isso funcionar.

Eu vou fazer funcionar.

Haja o que houver.

 

                                                                  Addison Jane

 

 

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