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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


LIAM / Juliana Dantas
LIAM / Juliana Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Arquivos de Amy Grant para a biografia de Liam Hunter
Gravação 1
A noite era sempre pior.
Eu podia aguentar toda aquela merda interminável enquanto a claridade dos dias ardia em minha pele e queimava os pensamentos fodidos da minha mente.
Conseguia passar pelas malditas horas, naquele colégio infernal, saturado de crianças com rostos e vidas iguais. Pais relapsos, lares desfeitos, violência doméstica. Frutos de uma sociedade que as marginaliza que, sem ao menos se importar, estava criando seus futuros delinquentes juvenis, viciados em heroína e ex-detentos, no melhor dos casos.
Eu era um deles agora.
Meu futuro era uma roleta-russa. O destino apontando uma arma para minha cabeça, onde eu teria o desprazer de poder escolher entre as maravilhosas opções de traficante, assaltante ou um fodido subemprego qualquer, como Lonnie. E então eu poderia seguir os passos de meu honorável pai adotivo e adotar alguma criança órfã e viver da pensão do governo.
Mas seja qual futuro decadente o destino me reservasse, pelo menos eu estaria livre daqueles sanguessugas.

 


 


— Que diabos, esta criança não dorme? — A voz irritada de Susan chegou até mim seguida de um palavrão de Lonnie.

— Ei, seu pestinha, pare com esses gritos de bicha, que preciso dormir! — Lonnie gritou batendo na porta do meu quarto e eu me encolhi sob as cobertas, suando frio.

As noites eram as piores, porque elas me traziam pesadelos.

Lonnie e Susan Wheeler. O quarto lar adotivo em três anos. Eu me perguntava quando eles se cansariam de mim e me mandariam para o quinto.

Não que eu me importasse. Eles não eram meus pais. Nem um daqueles malditos sanguessugas era. Nem minha primeira “mãe”, Donna Sullivan, uma senhora de sessenta anos que tinha uma casa velha cheia de gatos e a paciência de uma carcereira. Que acordava à noite tão irritada como Lonnie estava agora depois de ouvir meus gritos, e me mandou embora quatro meses depois.

Então viera Pastor Sloan e sua Bíblia. Éramos seis crianças, de diferentes idades e cedo aprendi que era melhor seguir as regras do Pastor Sloan, se não quiséssemos sentir a ira do seu cinto. Eu tomei minha primeira surra ao defender Caroline, a garota de apenas seis anos que iria ser punida por deixar cair um copo de vidro no chão.

Foi a primeira de muitas surras que tomei até o momento em que decidi fugir.

Eles me encontraram horas depois e sobre as marcas no meu corpo não tinham desculpas. E todas as crianças foram tiradas de Sloan e sua ira divina.

Eu nunca mais vi Caroline.

Então viera Moira e Ross. Nem me lembro do sobrenome deles. Eles eram jovens e pareciam legais. Pareciam.

Não se importavam com meus pesadelos. Aliás, eles não se importavam com nada, a não ser o dinheiro que receberiam no fim do mês e poderiam manter seu padrão de vida, sem muito esforço. Eles não se importavam se eu estava em casa ou não. Se eu comia ou não. Se ia para escola ou se cabulava a maioria das aulas.

Parecia um bom acordo para mim. Eu só queria ficar sozinho.

E eles me deixaram em paz até Moira engravidar e não achar mais conveniente ter que cuidar de uma criança arisca e taciturna de 13 anos.

Fazia seis meses que eu estava com Lonnie e Susan, e minha definição de inferno que tanto o Pastor Sloan pregara era aquela casa.

Lonnie e Susan eram um casal modelo para quem visse de fora. Nos seus quarenta anos, eles mantinham o sorriso no rosto e a casa limpa para os assistentes sociais.

Mas quando a porta se fechava, eles não passavam de um casal insensível e interesseiro.

Eles deixaram bem claro que eu deveria seguir na linha, porque não queriam perder a pensão. Seu último “filho”, tinha sido preso roubando a loja de conveniência da esquina.

E eu tentava ser invisível. Eu tentava.

Mas eu estava naquela idade em que o mundo começa a parecer algo vivo e em movimento. E se antes eu me contentava em ser apenas um espectador omisso, agora começava a ter vontades próprias. A me questionar porque a vida era tão ferrada a minha volta.

Eu comecei a me revoltar.

Fim da gravação


Amy Grant

— E aí?

Encaro o homem à minha frente, quando ele para o relato do nada, sem conseguir esconder o quanto ele ainda me intimida.

Liam Hunter é um soberano em seu reino.

Estamos em seu escritório e passa das duas da manhã.

Contenho um bocejo enquanto desligo o gravador e o observo passar os dedos longos pelo cabelo acobreado que lhe confere um ar selvagem e lhe rendeu a alcunha de Leão de Wall Street.

Ele ainda veste um de seus indefectíveis ternos caros enquanto se recosta na cadeira com um olhar vago e irritado.

Não quer estar aqui. Sente-se acuado. Pronto para atacar.

Isso me dá um certo medo, confesso.

Óbvio que é um pensamento ridículo, afinal, Liam é chamado de leão, mas é uma coisa metafórica. Ele não vai pular por cima da mesa com os dedos em garras e rasgar minha pele com seus dentes.

Embora, certamente, ele deva desejar isso em algum lugar de sua mente intrigante.

Intrigante é uma boa palavra para descrevê-lo.

Liam mal tem trinta anos, fez sua fortuna do nada, contando com um faro quase sobrenatural para investir em Wall Street. Tornou-se rico com apenas 19 anos. Bilionário não muito tempo depois.

Conhecido por ser implacável, frio e amedrontador, sua figura se tornou quase mítica, não só nos meios financeiros, mas também para os reles mortais que seguem admirados e intrigados por sua passagem pelos sites de fofoca. Afinal, ele não é só podre de rico. Ele é bonito, sexy como um modelo e ainda com um passado nebuloso e traumático, que pouco se conhece a respeito.

Justamente por isso, o desejo de que ele conte sua trajetória de sucesso em uma biografia está deixando o mundo em polvorosa.

E serei eu, Amy Grant, quem vai realizar esse feito.

Ainda tenho vontade de me parabenizar com batidinhas camaradas no meu próprio ombro toda vez que me dou conta disso.

Claro que não foi fácil chegar onde cheguei: sentada no escritório de Liam Hunter em sua cobertura maravilhosa no Upper East Side, com meu gravador e meu bloco de notas, esperando que ele conte, finalmente, toda a sua vida pra mim.

A ideia de escrever sobre Liam Hunter não foi minha, e sim do meu ex-chefe cretino, Carl, editor da Carl&Davis. Porém, Liam não estava nem um pouco disposto a ter sua vida dissecada por um repórter em uma biografia e bateu a porta na cara amassada de Carl. E foi aí que eu, até então uma assistente sem nenhuma perspectiva de sucesso na carreira, tive a brilhante ideia de ajudar Carl a conseguir informações, já que minha meia-irmã, Ariana Colombo, e o marido frequentavam a casa de Liam Hunter.

Claro que foi um plano burro e suicida. Convenci Ariana a me indicar como babá e entrei na casa do casal Hunter para cuidar do bebê deles, com o único intuito de espioná-los, e em troca, Carl me deixaria ser a coautora da biografia do Leão de Wall Street, o que mudaria minha vida.

Só que no meu caminho tinha um certo segurança sexy, que não só protegia Liam com unhas e dentes como também era seu melhor amigo.

E no final não foi Liam Hunter quem mudou minha vida, e sim Ethan Coen, o segurança.

Agora meu lindo namorado — relanceio o olhar para a mensagem no celular — que já deve estar de saco cheio de me esperar em sua cama, está perguntando por que Liam está me prendendo ali até tão tarde.

Ora! Ethan, mais do que ninguém, conhece Liam Hunter e sabe que é ele quem dita as regras.

Suspiro, tentando não demonstrar impaciência.

Afinal, eu sou muito, muito sortuda de Liam não só não ter me matado e me jogado em uma vala depois que descobriu minha presepada, como também no fim ter concordado em contar sua vida pra mim, me dando a oportunidade de escrever — sozinha — sua biografia. Agora autorizada.

Depois de toda a confusão que criei, Ethan tinha me perdoado, assim como Emma, a esposa de Liam, de quem eu me tornei amiga.

E para o meu assombro, Liam também me perdoou e deu carta branca para escrever sobre ele.

Isso foi há algumas semanas e depois de uma merecida lua de mel com meu segurança preferido, eu tinha contatado Liam e indagado sobre quando poderíamos começar.

Ele não parecia muito feliz e, obviamente, nem se deu ao trabalho de responder, resmungando algo sobre estar ocupado demais para dar atenção a uma jornalista fofoqueira como eu.

Ok, eu deveria ficar ofendida, mas já começava a conhecer Liam, agora que eu era uma das melhores amigas de sua esposa e namorava seu melhor amigo. Embora ainda me tremesse de medo às vezes. Ethan e Emma riam dos meus receios, afirmando que Liam só rosnava, mas não mordia.

Eu tinha minhas dúvidas.

Então, quando ele mandou uma mensagem sucinta hoje pouco mais de meia-noite, dizendo, ou melhor, ordenando, que eu subisse até a cobertura, deixei meu namorado na cama e não hesitei em correr ao chamado do leão, munida do meu gravador e de minha animação por finalmente começar a minha tão sonhada carreira de biógrafa fodona.

Liam havia chegado de uma reunião de negócios há mais ou menos uma hora, sei disso porque Ethan como sempre estava com ele e foi a hora que chegou, e não imaginava que Liam iria me chamar justamente àquela hora, afinal, ele deveria estar com Emma e o filho do casal, Leo, de pouco mais de sete meses.

E com certo receio, eu entrei na cobertura e indaguei onde Emma estava. Liam não parecia de bom humor e disse que não fazia ideia enquanto se sentava atrás da imponente mesa e perguntava se eu queria “começar logo aquela merda”.

Eu suspirei e liguei o gravador, pedindo que ele me contasse sobre sua infância.

Eu achei que ele iria me contar sobre os pais, que haviam morrido de forma trágica quando ele tinha apenas dez anos, mas ele me surpreendeu começando aquele relato sombrio sobre seus primeiros anos nos lares adotivos.

E obviamente não era um assunto fácil para ele, eu podia sentir a tensão que emanava de sua figura imponente e deduzi com certa preocupação que não seria tarefa fácil fazer Liam se abrir pra mim.

E como é que eu ia conseguir lidar com aquele cara?

Eu não faço ideia.

— Quer parar por hoje? Está tarde. Deve estar cansado e querendo dormir — arrisquei.

— Eu não durmo.

Soltei uma risada.

— Como assim? Todo mundo dorme.

— O dinheiro nunca dorme.

— Você não é dinheiro.

Ele me lança um olhar impaciente que me faz engolir o riso.

— Me desculpe. — Não consigo me conter em me desculpar, receosa. E é sua vez de soltar um suspiro cansado.

— Tudo bem. Acho que não estou no meu melhor humor.

Quero dizer que ele sempre parecia de mau humor, mas não é verdade.

Eu aprendi que mesmo quando parecia irritado, Liam podia estar bem-humorado. Era o jeito dele.

Ele ficava quase manso quando estava com Leo, por exemplo. Ou divertido com Ethan.

E claro, amoroso com Emma.

Mas comigo a coisa ainda é meio tensa.

E eu não posso culpá-lo por isso. Ainda não sei se ele confia em mim totalmente.

— Fiquei surpresa por me chamar aqui hoje. A essa hora.

— Eu e Emma tivemos uma briga.

Opa.

Ele vai me fazer confissões sobre a Emma? Isso é inédito.

Na verdade, Emma e eu somos amigas, mas seu relacionamento com Liam não é algo sobre o qual ela me conta e eu até agradeço por isso.

Eles são aquele tipo de casal bizarro e estranho que por mais que eu tentasse entender, era difícil.

— Vocês tiveram uma briga ou você brigou com ela? — A censura está impressa no meu tom, por mais que eu tente me conter.

Liam me lança um olhar enviesado que pode congelar o inferno.

Ah merda.

— Você não entende, não é?

Eu sei do que ele está falando.

Quero negar, mas decido ser honesta.

Acho que vamos precisar de uma boa dose de honestidade ali — minha e de Liam — se quiser ver aquela biografia pronta.

E seu relacionamento com Emma certamente é algo que estará presente no livro, embora ainda não tenhamos decidido o quanto.

— Desculpa, eu realmente não entendo — confesso.

Certo, agora Liam vai se enfurecer com minha honestidade e me pôr pra fora a pontapés. Talvez chame o Ethan para fazer isso.

Eu quase tenho vontade de rir do absurdo — ou nem tanto assim.

— É, muita gente não entende — ele resmunga e percebo uma certa incredulidade.

— Eu nunca achei que se importasse.

— Eu não deveria, mas me preocupo em como isso pode afetar Emma. Não gosto que pessoas como você a julguem.

— Eu não...

— Senhorita Grant, não comece com mentiras. Sabe que odeio.

— Claro, é só que... Eu não quero julgar. Mas é o que as pessoas fazem quando não entendem. E tenho certeza que, embora você não se importe, isso afeta sua imagem também. As pessoas especulam e tiram suas próprias conclusões de acordo com suas crenças e ideologias. E aí vem o julgamento e até mesmo o tão temido cancelamento, que está na moda.

— Que porra está dizendo? Cancelamento?

Eu solto uma risada.

— Não agora, mas vamos combinar que eu só posso desconfiar de todas as coisas que vai me contar e que estarão na sua biografia e é óbvio que vão falar sobre isso.

— E me cancelar.

— Bem... talvez. Não que isso importe, claro. Você é bilionário. Pode comprar uma reputação se quiser.

— E o que quer que eu faça? Que invente um monte de merda pra dourar a pílula no seu livrinho?

— Não. Eu quero que você seja honesto.

— Honesto? E contar tudo?

— Claro.

— E me diga, Amy Grant, o que você está esperando que eu conte?

— Sua história. Quem é o verdadeiro Liam Hunter.

— Talvez eu não esteja disposto a contar nada.

— Então teremos um problema.

— Eu não... me sinto à vontade com certas partes da minha vida.

Noto uma vulnerabilidade inédita em seu tom de voz que me desconcerta.

Recordo-me de que aquele homem imponente já foi um garoto órfão. Sozinho.

Sinto uma certa pena.

E percebo que é isso que eu quero. Quero humanizar O Leão de Wall Street.

Mas sei que não será fácil. Desconfio que Liam Hunter vá resistir e dificultar muito meu trabalho e preciso dar um jeito de lidar com o Leão sem ser engolida por ele.

— Olha, vamos fazer assim.

Eu me levanto e coloco o gravador em sua mesa.

— Vou deixar o gravador aqui. Você grave quando quiser, quando se sentir à vontade. Apenas... deixe as memórias virem.

— E acha que vai ser mais fácil sem a sua presença de Pennywise me atazanando?

Rolo meus olhos por ele me chamar de palhaço assassino. Maldito Ethan que inventou aquele apelido.

— Eu sei que não vai ser fácil. Talvez deva começar com algo mais agradável, em vez de começar pelos tempos difíceis.

— E o que sugere?

— Quando conheceu Emma, por exemplo — arrisco, e os lábios de Liam se distorcem levemente.

Ah. Acho que consegui.

— Pode ser...

Certo.

Arrumo minhas coisas e agora não consigo conter o bocejo ruidoso, o que faz Liam Hunter me encarar com censura.

— Eu vou dormir. Boa noite, Liam.

— Boa noite, Senhorita Grant.

Eu me afasto do apartamento silencioso, suspirando cansada.

Espero que Liam consiga lidar com seus demônios a ponto de eu ter material para aquela biografia.

Fazê-lo começar com Emma Jones foi uma boa tirada.

É, eu sou mesmo uma biógrafa fodona.


Liam Hunter

Assim que a Senhorita Pennywise deixa a sala, solto um suspiro profundo e abro meu laptop. Deixar minha atenção se voltar para os números de alguma Bolsa de Valores me acalma mais do que qualquer coisa.

Quer dizer. Sexo também me acalma, mas se levar em conta que minha esposa está puta comigo porque prometi chegar cedo para uma merda de jantar que ela inventou, sexo está fora de questão.

Inferno.

Eu deveria ter me casado com uma submissa de verdade. Que porra de Dom eu sou que aceito que batam a porta na minha cara?

A risada de Paul Red vem a minha mente. Ele gosta de ouvir minhas reclamações sobre Emma. Isso o diverte, e depois de escutar meus impropérios, ele sempre diz a mesma coisa: “Você não é um dominador de verdade, eu bem que tentei te ensinar, mas você não tem a disciplina suficiente. Por isso não está no cenário, e sim à margem. Vive conforme suas próprias regras e não aceita que seja diferente. É claro que ia arranjar uma submissa tão indisciplinada quanto você.”.

Certo. Paul tinha razão. E eu ainda me casei com ela.

Paul esteve presente no meu casamento, há mais de um ano, quando não fazia nem seis meses que eu vi Emma pela primeira vez. Eu e ele éramos sócios em algumas boates, voltadas ao público BDSM. Eu entrava com o dinheiro e Paul com seus conhecimentos. Ainda era bizarro pensar que ele, além de um dominador conhecido na cena SM, também era um respeitado professor universitário.

Olhei a hora e pensei em ligar para Paul agora, mas era tarde. O gravador que Amy deixou sobre a mesa parece me chamar, mas, sinceramente, voltar ao passado não é algo divertido pra mim.

Lembro de sua sugestão de começar com o relato de como conheci Emma. Um sorriso relutante se distende em meus lábios.

A inocente e inconsequente Senhorita Jones.

Péssima jornalista, vestida como uma grunge faminta, e sem noção alguma de onde estava se metendo quando entrou na minha sala para uma entrevista de dez minutos.

Dez minutos, que foram suficientes para eu perceber que ela estava ansiosa por aquele tipo de dominação que eu amava exercer sem nem mesmo perceber.


Gravação 2


Volto para a realidade com um solavanco do avião e abro os olhos, percebendo que estou naquele momento nebuloso entre o sono e a vigília. Em que não estava exatamente sonhando, mas era assim que eles vinham. Quando eu baixava a guarda, deixava minha mente divagar e ir para aquele lugar proibido, acessando os arquivos da memória, onde se guardavam as mais remotas lembranças. Aquelas em que não me permito pensar quando estou acordado e dono dos meus pensamentos.

Não, eles vinham quando eu dormia.

Sempre vinham. Há fodidos 18 anos.

Eu estava fodido há 18 anos.

— Senhor Hunter, está tudo bem?

A melodiosa voz feminina me faz voltar de vez ao presente e focalizo meus olhos na comissária de bordo.

E com algum assombro noto que ela está muito perto, com seu corpo inclinado sobre mim, o rosto de sorriso polido emoldurado por cabelos loiros elegantemente presos num coque.

— O senhor precisa de algo? — repete em meio ao meu silêncio ainda meio sonolento. — Senhor?

Então eu desperto. Com aquela simples palavra saída dos lábios vermelhos da comissária, começo a assimilar a atmosfera além das palavras.

— Obrigado, Stacy. — Quase me regozijo ao lembrar o nome da funcionária. Era a segunda vez que ela voava comigo. A primeira fora na ida para o Japão há alguns dias.

Eu não havia olhado mais do que o necessário para a bonita e eficiente comissária. Ela era uma funcionária. E se havia uma regra que eu seguia à risca era a de jamais me envolver com membros do meu staff.

Uma vez foi o suficiente para perceber o erro que era misturar negócios e prazer.

Então a loira e educada Stacy poderia ser uma ex-miss Alabama e ter posado para um catálogo de calcinha ou algo do tipo, eu não dava a mínima. Mulheres bonitas e disponíveis existiam em todos os lugares. Eu não precisava criar problemas desnecessários com funcionárias.

Stacy deveria ter sido avisada disso.

Eu já tive meu quinhão de garotas iludidas à minha volta. Mulheres que achavam que ao trabalharem para mim, iriam se transformar numa nova Ivana Trump.

Eu ignorava seus avanços sutis, ou nem tão sutis assim. Se insistissem, e acredite, não eram poucas as que prosseguiram com seus planos, deixava claro em poucas palavras que o tipo de trabalho que eu esperava delas nada tinha a ver com tê-las de quatro na minha frente. E para aquelas que ainda se apegavam à malsucedida ideia, eu demitia.

Então depois de perder algumas promissoras funcionárias, pedi ao meu gerente de RH, Hugh Price, que deixasse claro as regras para todas aquelas que lidariam comigo.

E até agora, parecia que elas tinham entendido que era melhor garantir um bom salário trabalhando para a Hunter Enterprises, do que serem demitidas sem prévio aviso.

Mas a garota a minha frente não parecia ter entendido isso. Agora já não estava inclinada sobre mim, com seu indefectível uniforme escuro, que não conseguia esconder porque ela figurava num catálogo de calcinhas. Stacy Buono tinha todos os atributos, certamente. Mas continuava com seu sorriso sedutor, talvez o mesmo que usava nos concursos de Miss América.

E porra. Estava me irritando pra caralho.

Eu perdi um punhado de grana no Japão. Milhões para ser mais exato. E se tinha algo que me deixava puto era perder dinheiro.

E não fazer sexo quando tinha vontade.

E inferno, eu estava bem disposto agora, olhando para o rosto ansioso de minha comissária, que não deixava dúvida que também estava bem disposta.

Por um momento, minha mente analítica começou a catalogar todas as possibilidades.

Todos os prós e contras de levar o negócio adiante. Perdas. Danos. Lucros.

Era assim que a vida era.

Uma questão de enxergar o que se poderia ter de vantagem no final.

Eu poderia inclinar a eficiente Stacy sobre um banco e fodê-la com força. Talvez lhe deixe algumas marcas roxas em seu traseiro de propaganda de lingerie, por ter sido insolente.

Hoje estou me sentindo especialmente maldoso.

— O senhor tem certeza de que não posso ajudá-lo em algo? Eu estou... totalmente a seu dispor.

Aí está. Mais claro que água.

Seria fácil. Rápido.

Um negócio que não levaria a lugar algum.

— Quer manter seu emprego, Stacy? — Tive certeza em imprimir na minha voz o timbre ameaçador e frio que fazia meu staff se mijar.

Stacy percebeu seu erro na hora e ajeitou o corpo, sacudindo a cabeça em afirmativa.

— Perdão, Senhor Hunter, não queria incomodá-lo.

E quase tive vontade de rir por ver a pobre Stacy se afastando como um coelhinho assustado.

— Você é cruel. — Ethan riu há alguns bancos à frente.

— Nunca disse que era bonzinho — resmungo abrindo o celular para verificar minha agenda.

Merda.

Tudo o que eu queria era ir direto para meu apartamento em Upper East Side e afogar minha fúria com sexo punitivo da melhor qualidade.

Cheguei a enviar uma mensagem a Karen, a última mulher com quem saí antes de ir para o Japão, mas observando agora minha agenda, noto que esqueci a maldita coletiva de imprensa marcada para aquela tarde.

Eu terei que desmarcar com Karen, embora ela tenha dito que estaria à minha disposição. Muito bem. Karen não havia se assustado com os roxos que deixei em sua bela bunda, embora fosse um tanto previsível na cama.

Inferno. Ela foi fácil demais. E continua sendo. Na verdade, ultimamente, todas pareciam fáceis demais, sempre dispostas a se dobrarem a mim ao meu menor sinal.

Onde está a emoção da caçada?

Observo Wall Street pela janela do carro com apreciação.

Ali é minha casa.

Meu reino.

Meu habitat natural. O lugar onde eu caço, mato e venço.

Ethan bate os dedos no volante cantando junto com Trent Reznor e eu lanço um olhar impaciente. Ethan não canta bem.

— Não parece de bom humor. — Ele ri ao notar meu olhar enquanto estaciona em frente ao prédio onde estão os escritórios da Hunter Enterprise.

— Perdi dinheiro. Claro que estou de mau humor.

— E aposto que preferia estar dando uns tapas na bunda da tal Karen em vez de encarar os jornalistas financeiros.

— Acertou. Lembre-me de demitir Gillian por ter me colocado nessa enrascada.

— O que sua secretária tem a ver com isso? Foi você quem concordou com essa coletiva, Liam.

Saio do carro ignorando o comentário assertivo de Ethan, assim como a horda de turistas histéricas que se digladiam para pegar no saco do touro, na ilusão de que conseguirão dinheiro fácil como diz a lenda.

Mas o dinheiro não vem fácil.

Ele é conquistado.

Com fúria e sangue.

Eu sei disso por experiência própria de quem veio do nada e conquistou tudo.

Adentro no recinto onde acontecerá a coletiva e todos já estão lá me aguardando. Gillian balbucia instruções e guardo minha raiva por enquanto, porque Ethan tem razão e ela não tem culpa se o Japão não foi como eu esperava. E nem tinha culpa se eu preferia estar trepando agora.

Respondo as perguntas de forma objetiva e rápida, deixando claro que ficarei ali apenas uma hora e nem mais um segundo.

Cumprimento Warren Buffet, um dos homens mais ricos do mundo e quem eu admiro e sigo os passos, e que vai entrar na coletiva depois de mim, e saio da sala disposto a dar as caras no escritório por alguns instantes antes de ir embora.

Fiquei fora alguns dias e é bom dar as caras para meus funcionários saberem que estou por perto novamente e de olho neles. Ethan dizia que eu gostava de apavorar as pessoas e que isso poderia ser considerado abuso de poder, mas eu mandava ele se foder com sua opinião.

Não ganhei bilhões sendo bonzinho.

O dinheiro tinha suas próprias regras e eram as únicas que eu seguia além das minhas.

De repente, sou tirado dos meus pensamentos quando me choco contra alguém. A colisão é rápida e inesperada, uma onda de cabelos escuros bate em meu rosto, antes de começar a se afastar, indo ao chão, como se estivesse em câmera lenta.

Pensando rápido, seguro o braço da pessoa, antes que caia, a equilibrando no lugar, escutando o som de algo batendo no chão de mármore atrás de mim.

Que porra — rosno mentalmente, irritado por aquele ser ousar se colocar no meu caminho.

E enquanto o indivíduo leva alguns segundos para se aprumar, varrendo do rosto a cortina de cabelos revoltos eu analiso a situação.

É uma mulher.

Uma garota. Pálida e de assustados olhos castanhos como um corvo que agora me encara enrubescendo enquanto sussurra uma interjeição surpresa.

— Cuidado — aviso com frieza, a soltando, enquanto a garota desliza os olhos, agora curiosos, pela minha figura, sem se dar ao trabalho de pedir desculpas ou de pelo menos sumir à minha frente.

— Pode sair da minha frente, por favor? — exijo impaciente.

Ela volta a prender os olhos em mim, enquanto dá um passo atrás.

Há algo mais ali agora do que o susto e a confusão.

Algo que reconheço de pronto e que sem que eu consiga evitar me faz desejar curvar a senhorita desastrada sobre meus joelhos e puni-la por sua desatenção.

Esta imagem se forma e se desfaz na minha mente em questão de segundos, me irritando ainda mais.

— Vê se olha por onde anda! — rosno ao passar pela garota e entrar no elevador, ainda com Ethan em meu encalço.

— Assustou a menina, Liam. — Ele ri.

— Odeio gente distraída. Ainda mais as que se colocam no meu caminho.

Saio do elevador e sigo para minha sala cumprimentando com frios acenos de cabeça os funcionários pelo caminho.

— Achei que iria embora — Ethan observa.

— Vou apenas checar algumas coisas e já vamos. No máximo dez minutos.

— Ok, eu te espero lá embaixo então.

Entro na minha sala e abrindo o laptop digito um e-mail para minha equipe, marcando uma reunião geral para o próximo dia. Gillian poderia fazer isso, mas gosto de fazer pessoalmente para deixar claro que não estou satisfeito com alguma coisa.

E estou abrindo as informações da Bolsa de Valores quando Gillian entra na sala.

— Sr. Hunter, me desculpe, mas uma jornalista chamada Emma Jones do New York Morning está solicitando uma entrevista.

— O quê? Quem é essa?

— Ela alega que perdeu o horário para a coletiva e está pedindo para ser atendida agora. Eu disse que não seria possível, mas ela está insistindo muito lá embaixo.

Enquanto Gillian fala, já estou digitando Emma Jones New York Morning no Google, para ver a cara da incompetente que nem conseguia chegar a um compromisso profissional no horário, e qual não é a minha surpresa ao ver que Emma Jones é a garota grunge desastrada que colidiu comigo lá embaixo.

Ora, ora. Se pela segunda vez a tal Senhorita Jones não está testando minha paciência?

De repente sinto um frêmito de antecipação.

O mesmo que sinto quando estou prestes a iniciar uma caçada. Seja por um bom negócio. Ou uma conquista.

Eu amo este prazer de perseguição.

E Emma Jones é minha mais nova presa.

— Peça para ela subir e avise que tenho apenas dez minutos.

Que a caçada comece.

Alguns minutos depois, a garota grunge entra na sala, depois de um sinal de Gillian, que fecha a porta atrás dela.

Ela parece um coelho assustado, parada ali com os grandes olhos castanhos arregalados.

Meu Deus, que vontade de mandar ela ajoelhar e vir rastejando até mim. Quase posso salivar ao imaginar a assustada Senhorita Jones se insinuando para baixo da minha mesa, abrindo minha calça e tirando a ereção que já começa a se formar exigente entre minhas pernas, colocando-a entre seus lábios vermelhos.

Inferno. Estou de pau duro e faz apenas alguns segundos que ela está na minha presença.

— Tenho dez minutos, Senhorita Jones, não o dia inteiro — alerto de forma brusca.

Ela sai do estupor e avança de forma incerta até minha mesa, enquanto tamborilo os dedos impacientes sobre a mesa. Para, como se estivesse confusa se deve sentar ou não e com um rolar de olhos, e aponto para a cadeira em frente.

Minha nossa, ela está realmente assustada e isso me enerva e me delicia ao mesmo tempo.

A fera em mim está rosnando de fome e a Senhorita Jones parece a refeição mais suculenta que eu poderia provar em muito tempo.

Eu a observo sentar-se.

— Nove. — Sibilo, sabendo que a estou assustando ainda mais e me divertindo com isso.

— Claro, eu... — balbucia, corando. — Só preciso ligar...

Pega um gravador e noto que os dedos que se atrapalham para ligar o aparelho estão trêmulos.

Ela respira profundamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, finalmente ergue o olhar, me encarando.

— Podemos começar? — Sei que ela tenta soar profissional, mas acho que também tem noção que não está adiantando.

Em outras circunstâncias, eu teria enxotado alguém incompetente como a Senhorita Jones da minha sala. Não tenho a menor paciência com gente que não sabe fazer bem o que é pago pra fazer.

Mas, já não me importo com as habilidades profissionais de Emma Jones.

Estou no modo fera agora. Puro instinto.

— Já deveria ter começado. — Minha voz gelada não condiz com o fogo que está queimando meu íntimo.

Esse sou eu, uma combinação perigosa de gelo e fogo que a Senhorita Jones estava prestes a experimentar.

Ela abaixa o olhar para o bloquinho ridículo de questões à sua frente.

— O senhor estudou na Universidade de Nova York há alguns anos, como essa experiência contribuiu para o seu sucesso?

— Em nada.

— Nada? — Ela me encara confusa.

— Sequer terminei meu curso, fiquei naquela merda dois anos e pulei fora.

Eu não tinha tempo a perder com regras e professores fodidos, quando já tinha dinheiro para comprar metade daqueles prédios.

— Por quê?

— Eu já era rico, por que iria ficar lá aguentando aqueles putos?

— Certo. — Ela parece chocada, mas volta às perguntas. — O senhor obteve seu primeiro milhão aos 19 anos, pode nos contar como conseguiu esse feito?

Não contenho um sorriso arrogante.

Modéstia é para gente medíocre.

— Apenas sei onde investir, é muito simples.

— Como assim você “sabe”?

Não me passa despercebido que algo brilhou nos olhos assustados da Senhorita Jones.

Um lampejo de interesse que combinou com o seu discreto mover-se na cadeira.

Ela está inquieta.

Eu a estou inquietando.

Ah sim.

O jogo está em curso.

— Acho que é um talento natural para ler o universo, como o mundo vai girar e se transformar — respondo quase entediado. Já estou ficando de saco cheio daquelas perguntas de trabalho de quinta série da Senhorita Jones. — Digamos que eu sei que uma empresa, que apesar de parecer com qualquer outra, vai se transformar numa fonte de milhões em pouco tempo e é nela que eu tenho que investir.

“Assim como sei quando uma mulher quer ser dominada por mim, sem nem mesmo abrir a boca e dizer, cara Senhorita Jones.”

— Alguns atribuem seu sucesso à sorte.

E lá vem. A explicação simplista de pessoas sem um pingo de ousadia para mudar o próprio caminho. Sorte.

Eu nunca tive sorte.

Cunhei meu nome nas paredes de Wall Street com minhas garras afiadas.

Garras que o menino que eu fui ganhou nas ruas depois de descobrir que a sorte não existia.

E se um dia existiu me abandonou muito cedo.

— Não tem nada a ver com sorte. Não sou um homem de sorte. A sorte me abandonou há muito tempo. Se é que um dia eu a tive. — Minha voz sai com amargura e eu me irrito com isso.

Eu me irrito com a Senhorita Jones que com uma simples pergunta idiota me fez lembrar de coisas que não gosto de lembrar.

— Então a que atribui o seu sucesso?

— Ao talento. Ao trabalho. E a seguir minha intuição.

— Intuição? Parece arriscado. — Hum, a Senhorita Jones está ficando corajosa?

Vamos acabar logo com isso.

— Entenda uma coisa sobre mim, Senhorita Jones. — Eu me inclino para frente. — Gosto de correr riscos. E amo um desafio. A emoção de uma boa caçada.

— Caçada?

— Investir em ações para mim é como uma caçada. Eu escolho a presa. Eu a persigo. Estudo seus movimentos me preparando para o ataque. — Minha voz adquire um tom de desafio.

Os olhos da Senhorita Jones estão mais próximos agora e ela ofega.

Com regozijo, noto o exato momento em que ela percebe a verdadeira natureza de nossa conversa.

Não estamos em uma entrevista.

Ela não é a jornalista e eu o entrevistado.

Ela é a presa.

Minha caça. E eu, seu caçador.

Suas pupilas se dilatam e o rosto se tinge de vermelho.

Por alguns segundos, aguardo em suspense.

Aguardo se ela vai se levantar e fugir do desafio.

Ou vai ficar, como suspeito.

Se vai desafiar seu predador.

Fuja, Senhorita Jones.

Se for capaz.

— Então tudo se resume a isso? Ao desafio da caçada? — ela indaga e meu pau se contorce ao tom rouco da voz que ela não consegue disfarçar.

Seu olhar sustenta o meu.

Há temor ali, mas também há desafio.

Curiosidade.

Excitação.

Submissão.

Eu me inclino ainda mais.

Tenho certeza que tudo o que quero fazer com ela está escrito em meus olhos, mas também tenho consciência de que ela não entende a magnitude.

Ainda.

— Sim, Senhorita Jones. A caçada me excita.

Ah sim, Senhorita Jones.

Renda-se a seu caçador.

Observo sua respiração começar a sair por arquejos.

Minha própria respiração está curta e dura.

Porra, sim!

Então, com seu olhar incrível ainda preso no meu, eu ataco.

— Quer ser caçada por mim, Senhorita Jones?

Eu me recosto na cadeira, os barulhos de Wall Street fervilhando atrás de mim enquanto Emma Jones me contempla em choque.

Ainda espero, com certo temor que me surpreende, que ela vá se levantar e correr. Como qualquer pessoa normal com o mínimo de senso de preservação. Porém, se meus instintos estiverem corretos — e eles quase sempre estão — Emma Jones não vai fugir.

— Não está fugindo. — É uma constatação.

O rosto bonito está em brasa.

Sim, Emma Jones é bonita. Embora isso, no fundo, não faça diferença.

Gosto de coisas belas.

Quando se tem muito dinheiro, é fácil nos cercar de beleza. Isso nos confere um certo status de poder.

Obras de arte, carros, casas.

Mulheres.

Só que quando se adquire tudo isso com apenas um piscar de olhos, o prazer da posse se torna um tanto enfadonho.

Há algum tempo comecei a olhar além da estética.

Um carro bonito também tinha que ser veloz. Uma casa incrível tem que me dar uma sensação de lar, pertencimento. Uma mulher bonita tem que ter atributos escondidos para prender meu interesse por mais de uma noite. Aí que está. Quando se busca algo além da superfície, percebemos que a maioria das coisas e pessoas não têm profundidade suficiente. Não passam de um lago raso que, quando ousamos mergulhar, quebramos a cabeça.

Talvez por este motivo, ultimamente eu sinto mais tesão por ganhar dinheiro do que gastá-lo.

Há poucas coisas que vejo graça em gastar dinheiro hoje em dia.

Eu gastaria um bom dinheiro transformando a Senhorita Jones em uma mulher deslumbrante, por exemplo.

Ela se veste como uma estudante morta de fome e não há um pingo de maquiagem em seu rosto. Embora a falta de maquiagem me permita ver o rubor delicioso em sua face. Os cabelos compridos são incríveis, devo admitir, seriam perfeitos para puxá-los com força por meus punhos quando estivesse a tomando de costas.

— Sabe, Senhorita Jones, hoje não foi um bom dia para mim. — Solto um longo suspiro. — Ontem eu estava em Tóquio. Viajei vinte horas para chegar e descobrir que perdi muito dinheiro. Oscilações da Bolsa. Lembra o que falamos sobre riscos?

Ela sacode a cabeça em afirmativa.

— Claro, eu gosto dos riscos. Apesar disso, odeio perder. E perder milhões me deixou puto... Eu sei, alguns diriam que não é nada para quem tem bilhões. E eu estava irritado, Senhorita Jones.

Eu me inclino para mais perto dela de novo e dessa vez sinto seu perfume. Não parece nada caro, apenas... shampoo e sabonete.

— Sabe o que eu gosto de fazer quando estou irritado? Sexo. — Observo sua reação com cuidado.

Ela ofega, ficando ainda mais vermelha, se é que isso é possível.

Será que ela percebe que seus olhos são transparentes? Que eles sussurram para mim?

— Quente. — Agora estou quase rosnando. — Rápido... e duro. — Eu me afasto, estou me sentindo quase feroz agora ao me lembrar dos meus planos desfeitos por aquela entrevista idiota. — Mas eu não podia. Eu tinha que vir para a maldita coletiva. E quando penso que estarei livre, me deixo convencer a conceder uma entrevista a uma repórter de um jornal de merda qualquer. E isso me deixou ainda mais irritado. Muito. E, enquanto eu concedia meu precioso tempo a esta entrevista, me deparo com algo muito interessante. — Sorrio. Astutamente. — Uma presa em potencial. Então o dia que estava sendo uma merda se torna uma agradável surpresa.

Ela morde os lábios, ansiosa e confusa.

Excitada e amedrontada.

Uma combinação que está fazendo meu pau pulsar dentro da calça.

— Olhos castanhos que me desafiam a caçá-la. Quer fugir, mas não consegue. Você quer a adrenalina da caça também. Saber como é ser caçada. Ter a opção de se virar e correr e mesmo assim não se mexer. Quer saber até onde pode ir. Até onde pode resistir sem ser pega. Dominada e por fim abatida. E isso, Senhorita Jones, é definitivamente um desafio do qual eu não posso declinar.

— Eu não, eu... — Ela finalmente encontra sua voz, numa vã tentativa de me contradizer.

Só por isso ela merecia umas cinco chibatadas.

— Faça um favor a nós dois, Senhorita Jones. Não tente mentir pra mim. Outra coisa em que sou muito bom é em detectar uma mentira. Você está aí sentada, com seu bloquinho de perguntas inúteis e seu olhar que, embora pareça assustado, no fundo está cheio de cobiça. Não lhe disseram o quanto é perigoso cobiçar seu predador? Eu sou atraente a você, não é? Está curiosa, fascinada. Deslumbrada.

— Não. Eu...

— Não... O que conversamos sobre mentiras? — Porra, ela quer ser punida tão cedo? — Não me deixe com vontade de puni-la, Senhorita Jones.

Ao ouvir a palavra punição seu olhar se arregala.

E tenho certeza que está se imaginando inclinada sobre meus joelhos enquanto defiro duros golpes com minha mão em sua pele branca.

Estudo sua expressão para ver o resultado disso e quase rosno de satisfação quando vejo seu rosto corar de lascívia. E embora eu não possa ver, tenho certeza que ela está apertando suas coxas uma contra a outra para aplacar a súbita vontade de ter meu pau entre elas.

Ah sim.

Eu também estou ansioso por isso, Senhorita Jones.

Mas tudo a seu tempo.

— Oh, você gostou da ideia. — Não consigo conter o sorriso. — Ah, Senhorita Jones, que grata surpresa está me saindo.

Ela desvia o olhar, meio envergonhada.

— Você está vermelha. Está nervosa. E este seu rubor... É delicioso.

Seu olhar volta a capturar o meu como se fosse impossível agora desviá-los. Suas pequenas mãos apertam o bloquinho ridículo e a caneta com força.

— E suas mãos estão segurando com força a caneta, mesmo assim estão trêmulas. Onde mais está tremendo, Senhorita Jones?

— Estou tremendo inteira.

Sua resposta sincera surpreende a nós dois.

Meu sorriso de predador se alarga, divertido.

Ela tapa os lábios traidores com a mão.

Mas é tarde. Parece que a boca gostosa da Senhorita Jones está traindo seu cérebro que tenta se manter no comando.

Em breve ela vai perceber que o único no comando ali sou eu.

Eu me levanto, dando a volta na mesa.

Chega de conversa.

Vamos ao ataque.

— Levante-se, Senhorita Jones!

Ela hesita por alguns segundos, antes de colocar as coisas que segura sobre a mesa e se levantar.

— Venha até mim — ordeno.

E ela vem.

Caminho a sua volta, avaliando minha presa.

Ah minha nossa.

Ela é perfeita para o que eu tenho em mente.

Seu olhar amedrontado e excitado.

Sua submissão silenciosa.

Ah sim.

Vou me refestelar com a Senhorita Jones.

Mas primeiro preciso ver o que ela esconde.

— Tão simples... Preciso tirar esta pele que não faz jus a seu corpo. Levante os braços! — Ela faz como mandei e tiro a camisa barata por sua cabeça, revelando a mim sua pele branca como leite, o sutiã simples de algodão cobrindo os seios que antes mesmo de eu tocá-los já sei que serão perfeitos para minha mão.

Porém, eu me irrito quando ela tenta se cobrir.

— Não mandei se cobrir, Senhorita Jones.

— Por que, por quê...

— Eu quero vê-la. Descruze. Os. Braços. Agora! — exijo.

Ela obedece.

Ergo as mãos e a toco sobre o tecido, meus dedos roçando levemente, fazendo seu mamilo enrijecer e a Senhorita Jones me brindar com seu primeiro gemido tímido.

O suficiente para que eu sinta um desejo quase ruidoso percorrer meu sangue e encher minhas mãos com seus seios.

Como eu previ. Perfeitos para mim.

— Perfeitos para as minhas mãos.

Emma fecha os olhos, os lábios entreabertos. Gosto de ficar olhando para ela, ver sua expressão de excitação enquanto meu toque desce por seu estômago, por sua pele quente e convidativa, até pousar na cintura do jeans horrível.

Ela abre os olhos enquanto hesito por um momento, esperando um consentimento que a fera em mim não concorda.

A fera toma aquilo que quer.

Porém, ainda há um resquício de humanidade dentro de mim, mesmo nesse momento em que o instinto impera.

Eu jamais domino uma mulher que não quer ser dominada.

Emma quer. Porém, preciso que saiba exatamente que eu vou tomar o que ela está oferecendo.

E quando ela não me interrompe, abro seu jeans, ainda com meus olhos presos nos seus, e mergulho meus dedos dentro de sua calcinha.

E como eu previ, encontro calor.

Umidade.

E reciprocidade.

É quase como se Emma Jones fosse um condutor de energia que causa um choque em meus dedos, a eletricidade percorrendo meu braço, minha pele, tomando meu sangue de assalto.

Seu gemido rouco faz eco com meu rosnar feroz e retiro os dedos, levando-os aos lábios e provando o gosto de Emma Jones.

— Hum... doce. — Abro um sorriso em vista a seu rubor de choque, prazer e contrariedade.

Ela está sentindo falta dos meus dedos dentro dela.

E isso me enche de uma satisfação furiosa.

Toco seus lábios que se abrem num convite. E decido naquele momento que ainda quero ver meu pau dentro deles.

— Quero morder você inteira. — Inclino-me perto do seu ouvido. — Quero provar você inteira. Quero fazer tudo o que seus olhos estão implorando, Senhorita Jones.

— Sim... — Ela solta um gemido de rendição que acho que nem percebe.

Ela está além da razão agora. Está naquele subespaço perfeito, onde apenas as minhas ordens importam.

E isso me deixa inebriado de poder.

E eu uso esse poder para tirar suas roupas mundanas do caminho. O jeans velho, a calcinha tão sem graça quanto o sutiã. Até que Emma Jones se revela inteira para minha apreciação.

Perfeita.

Eu me levanto, aspirando seu cheiro no caminho, meus instintos gritando para debruçá-la contra minha mesa e fodê-la vezes sem fim com força.

Mas há muito eu aprendi a controlar aqueles instintos.

Um bom dominador, domina primeiro a si mesmo.

Eu estou no controle.

Não só da Senhorita Jones, mas, sobretudo, sobre o que ela me faz sentir.

Com uma respiração profunda, toco seu pescoço alvo, sinto sua pulsação acelerada.

— O que você quer, Senhorita Jones?

— Preciso que faça essa dor em meu íntimo parar... — ela sussurra e sei que nem se deu conta.

— Eu sei, está doendo, não é?

Meus dedos passeiam por sua pele, bem de leve, causando pequenos tremores.

— Sua pele é tão macia, tão branca. Quero. Marcá-la. Inteira.

Ela ficaria maravilhosa cheia de marcas roxas dos meus dentes.

Dos meus tapas.

— Talvez eu faça uma marca aqui. — Toco sua cintura. — E outra aqui. — Toco um ponto acima do seu mamilo. — E este seu pescoço... — Minhas mãos rodeiam sua garganta. — Quero vê-lo vermelho por causa de meus dentes. Todos vão saber que você foi marcada.

Então eu a empurro em direção à mesa e num movimento ágil passo os braços sobre os objetos em cima da mesa, que vão ao chão, numa bagunça ruidosa.

Como se antevendo meu pedido, Emma se inclina para trás, os braços erguidos, numa pose submissamente graciosa.

Os olhos ainda fechados, os lábios entreabertos e ofegantes, os seios empinados e implorando, a umidade entre as pernas denunciando sua excitação.

Nunca vi algo tão lindo na vida.

E sem pensar, pego meu celular e eternizo aquela imagem com uma foto.

Ela abre os olhos.

Escuros e maravilhosos.

Submissos.

À espera.

E eu tenho certeza de que, poderiam se passar mil anos, e eu nunca esqueceria o momento em que Emma Jones se transformou na presa mais perfeita de todas.

E eu nem tinha noção que seria a última.

— Está com medo?

Ouso perguntar, embora já saiba a resposta.

Sim, ela está com medo. Mas o desejo é mais forte que qualquer receio que Emma Jones sinta.

E essa constatação me inebria.

Porém, ela sacode a cabeça em negativa.

Ah, ela não tem medo? Está me desafiando com sua pequena mentira?

Deixo meus olhos percorrerem suas formas perfeitas me perguntando se ela continuaria dizendo que não tem medo se a obrigasse a se virar enquanto eu tirava meu cinto.

Umas dez cintadas seriam suficientes, creio.

— Você está pronta para ser devorada, Senhorita Jones? — indago sentindo meu pau quase doendo, implorando por alívio em alguma cavidade da Senhorita Jones.

Por qual eu começaria?

Cerro minhas pálpebras novamente.

Toco meu pau por cima da calça.

Ela está pronta. Eu estou pronto.

Então escuto como se vindo de muito longe o som além das portas fechadas da minha sala.

Merda.

Terei que ser rápido.

Preciso.

Insuficiente.

Não.

Inferno.

Demoro alguns segundos para decidir, ouvindo a respiração curta de Emma Jones, seu corpo me esperando. Implorando.

Certo. Às vezes é preciso recuar. Recalcular a rota. Fazer novos planos de negócios e mudar as estratégias.

Não era uma derrota, apenas um adiamento.

Eu ainda estou no controle.

Respiro fundo.

— Vista-se, Senhorita Jones! A entrevista acabou.

Com essa ordem, eu me viro e me afasto, entrando no meu banheiro.

Ainda escuto os sons de Emma Jones através da porta. Agora ela estará se vestindo rapidamente. Talvez esteja acordando da sedução hipnótica que eu a coloquei. Talvez esteja chocada consigo mesma. Ou não.

O que eu sei sobre a Senhorita Jones, afinal?

Nada, dou-me conta e me surpreendo por isso me irritar.

Não gosto de agir no escuro. Não gosto de não saber com o que ou quem estou lidando.

Escuto seus passos se afastando.

Meu pau reclama. Dói.

— Merda.

Com um grunhido quase furioso, abro minha calça, tomando minha ereção entre os dedos, movendo meu punho com força sobre ela.

O desejo ainda é urgente. Ainda sinto o cheiro da submissão da Senhorita Jones impregnado em mim.

Sei que não vou esquecer tão cedo.

E gozo com um rosnado feroz.

**

— Você parece de bom humor.

Ethan me olha pelo espelho retrovisor quando entro no carro na hora do almoço no dia seguinte.

Eu ignoro seu olhar de malícia.

— Para onde vamos?

Ele dá partida, o carro deslizando pelas ruas apinhadas de Manhattan.

— Vamos ao Del Posto. Mas antes, passaremos no New York Morning.

Ethan franze a testa.

— Onde?

— New York Morning, ponha no GPS que deve ser fácil de achar.

Ethan faz o que pedi, mas continua com um olhar intrigado.

— Hum, é um jornal? Não sabia que tinha alguma reunião antes do almoço. Gillian não me informou de nada.

Gillian era orientada a passar toda a minha agenda para Ethan, porém, deste compromisso ela não estava a par.

Sorrio com meu humor aumentando consideravelmente. Quase posso salivar ao imaginar que eu comeria muito mais do que um bom bife naquele almoço.

A Senhorita Jones hoje será abatida.

E ela nem faz ideia. Isso me deixa mais empolgado ainda.

É divertido imaginar a surpresa dela, por eu estar indo caçá-la no seu empreguinho de merda.

Pego o celular, apreciando a foto que tirei ontem, e com um sorriso divertido resolvo enviar para a Senhorita Jones com uma mensagem.

“Minha mesa nunca mais será a mesma depois de você, Senhorita Jones.”

— Está rindo? — Ethan questiona. Ele ri também, embora não faça ideia do que estou rindo. — Me conta a piada?

— Não sou o piadista aqui.

— Alguma coisa está divertindo você e só pode ser duas coisas: a iminência de ganhar dinheiro ou a iminência de foder.

— Segunda opção. — Guardo o celular.

— New York Morning?

Eu suspiro. Ok, posso divertir Ethan um pouco também.

— Vamos encontrar a Senhorita Emma Jones.

Ethan franze a testa.

— Quem? Espera, não é a jornalista que você recebeu ontem. A que perdeu a hora?

— A mesma. Você a viu. A garota malvestida que tropeçou em mim no saguão.

— Ah... Ela? Está me dizendo que vai trepar com a jornalista?...

— Não seja indiscreto, Ethan.

— Só estou curioso. Ela não me pareceu o seu tipo, se bem me lembro. Na verdade ela parecia... — Então de repente ele entende. — Claro. Acho que entendi.

Ele estaciona o carro em frente ao prédio onde estão localizados os escritórios do New York Morning. Não preciso pedir que me acompanhe, Ethan sabe quando eu quero sua presença e quando não quero.

As pessoas ficam olhando para nós quando me dirijo à recepção.

Penso numa abordagem.

O que deixaria a Senhorita Jones mais propensa a aceitar seu destino? Sim, ontem ela estava muito disposta a qualquer coisa, mas tenho que estar preparado para o caso de ela reagir não tão receptiva em um outro ambiente.

Talvez ela não tenha gostado de ter sido dispensada sem maiores explicações, e confesso que me arrependo um pouco disso.

Eu poderia ter pedido para ela se vestir e marcado um jantar. Posso ser minimamente cordial e educado quando preciso, e até alimentar minha presa com boa comida em um restaurante fino regado a uma boa conversa. Na verdade, eu estava até um pouco ansioso para conhecer um pouco mais da Senhorita Jones.

— Preciso falar com o editor do New York Morning, Matt Thomas.

A recepcionista demora alguns segundos para fechar a boca enquanto me encara.

— A senhorita é surda? — indago impaciente a fazendo sacudir a cabeça.

— Oh, certo, me desculpe. A quem devo anunciar.

— Liam Hunter.

Ela abre a boca de novo, mas dessa vez tem o bom senso de pegar o telefone e me anunciar.

— Certo. Quinto andar, Senhor Hunter. — Desliga e me fita com um sorriso que ela considera sedutor.

Eu não retribuo.

Ethan me segue ainda com um olhar divertido.

— Às vezes eu tenho pena das pessoas que são obrigadas a lidar com você.

— Cale a boca.

— Às vezes eu tenho pena de mim, na verdade.

As portas do elevador se abrem no andar e escuto os barulhos da redação do jornal em plena atividade e um homem jovem loiro vem em minha direção muito vermelho.

— Sr. Hunter, que... surpresa. Sou Matt Thomas.

Ele estende a mão e eu o cumprimento.

— Obrigado por me receber, preciso conversar com você sobre Emma Jones.

Os olhos de Matt se arregalam, confusos.

— Emma? Algum problema?

— Podemos ir até sua sala?

— Claro.

Matt lança um olhar acuado a Ethan, que está sério como um segurança de máfia agora, enquanto seguimos para a sala de Matt Thomas.

Ethan se posiciona na porta, e posso sentir os olhares e sussurros curiosos.

Quando entramos, noto que há uma moça lá.

— Matt, preciso falar com você sobre... — ela interrompe o que ia dizer ao me ver e seu queixo cai. — Minha nossa senhora, Liam Hunter.

— Erica, por favor. — Matt quase engasga.

— Uau — A tal Erica se recompõe logo e vem em minha direção estendendo a mão. — Muito prazer em conhecê-lo. Sou Erica Steves. Repórter...

Eu a cumprimento enquanto ela joga os cabelos de forma espalhafatosa.

— Erica, pode nos dar licença? O Senhor Hunter tem assunto para tratar... enfim, eu estou confuso. Emma me disse que você lhe concedeu dez minutos e somos muito gratos. E claro, eu já peço desculpa pelo atraso dela. Entenda que Emma é uma estagiária aqui e infelizmente não tínhamos ninguém para mandar à coletiva. Ela me disse que a entrevista não ocorreu como deveria...

— Eu deveria ter ido — Erica se intromete.

— Sim, infelizmente Emma Jones se atrasou e perdeu a coletiva. Um fato desagradável — concordo.

— Nós vamos demiti-la! — Erica quase gritou.

Meu Deus, ela tem uma voz de gralha bem irritante.

— Foi inconcebível se atrasar e tomar seu tempo.

— Será que pode chamar a Senhorita Jones aqui? — Decido que já deu pra mim aqueles dois palhaços.

— Claro, claro. — Matt pega o telefone e pede que chame Emma Jones. — De novo eu peço desculpas pelo comportamento da Emma. Ela é só inexperiente. Mas se preferir, podemos demiti-la. Na verdade, ela nem ia continuar conosco, já que não conseguiu a vaga para ser efetivada.

— Ela é péssima. — Erica se intrometeu de novo.

— Mas o senhor não precisava ter vindo aqui, apenas para isso. Sinto-me péssimo que tenha usado seu tempo que deve ser precioso e..

— Na verdade, gostaria de conceder uma entrevista à Senhorita Jones, já que ontem não foi possível.

Matt e Erica arregalam os olhos surpresos.

— Por isso estou aqui. Acho que não será problema conceder hoje mesmo em um almoço.

Antes que eles possam responder, escuto passos e Matt olha através de mim.

— Aí está ela.

Eu me viro e vejo a Senhorita Jones parada na porta da sala de Matt Thomas com um olhar assustado.

E isso me deixa mais satisfeito ainda.

Tenha medo, Senhorita Jones.

— Senhorita Jones, eis que nos encontramos novamente.

Emma dá um passo para trás, e tenho a impressão que ela vai correr.

— Emma, não é fantástico que o Liam tenha vindo nos visitar? — Erica diz animada. — Não se importa que o chame de Liam, não é? Você é tão jovem, não me parece certo chamá-lo de senhor...

— Erica, não exagera. — Matt lança a ela um olhar de advertência. — O Senhor Hunter foi mesmo muito atencioso nos prestigiando, apesar de seu escasso tempo, com sua visita ao nosso jornal.

— Claro, o Senhor Hunter é mesmo muito ocupado. Deve ter muito trabalho sobre a sua mesa. — Emma parece ter recuperado a voz e a coragem.

— Na verdade, deixei um trabalho inacabado sobre minha mesa ontem, lembra-se Senhorita Jones? — Decido brincar um pouco, só para ela saber exatamente quem está no comando ali.

Seu rosto se tinge de vermelho.

— Não faço ideia do que está falando, Senhor Hunter.

— Da nossa entrevista, claro. Eu estava com meu tempo limitado, com... muitas... distrações. Eu fico assim quando estou... faminto.

— O almoço estava sobre a mesa, por que não comeu?

Wow! Isso me surpreende.

Ela pode brincar com as palavras também?

— Porque eu não queria apenas um aperitivo rápido. Bastou ver o que me era oferecido para decidir que queria um banquete completo. Com muito, muito tempo para degustação, Senhorita Jones.

— Talvez devesse ter aproveitado aquele momento, agora é tarde. Acredito que a refeição não esteja mais disponível para o senhor. — Hum, como eu imaginava, ela não gostou de ser dispensada.

— Acho que temos opiniões diferentes sobre este assunto. Na verdade, estou me sentindo faminto novamente neste momento...

Ela empalidece e se vira, como se realmente fosse fugir, mas se depara com Ethan.

Desista, cara Senhorita Jones.

— Emma, o Senhor Hunter se mostrou muito contrariado por não ter conseguido lhe conceder a entrevista ontem e está disposto a fazê-la hoje, durante um almoço. — Matt Thomas esclarece minhas intenções.

— Isso é ótimo — Ela se vira para Erica. — Acho que Erica ficaria muito feliz em acompanhá-lo.

Erica se anima tanto que dá alguns pulinhos ridículos.

— Sim, sim!

— Não! Prefiro que a Senhorita Jones continue a entrevista.

— A Erica é a repórter. Eu sou apenas estagiária.

— Nós já começamos a... entrevista. — Eu pego o celular no bolso. Certo. Se ela quer me provocar, vou lhe mostrar como se faz uma verdadeira provocação. — Acho que tenho até um registro. Posso mostrar a seus colegas...

— Não! — Sua negativa sai desesperada.

Levanto a sobrancelha com ironia.

— Então, podemos ir senhorita? — Guardo o celular.

Emma ainda hesita, mas ela sabe que não vai adiantar.

— Claro que a Emma vai — Matt responde por ela. — Mais uma vez estamos muito agradecidos, Senhor Hunter...

Mas eu já não escuto e caminho para fora.

Não preciso olhar para saber que Emma e Ethan estão me acompanhando.

E certamente não podem ver meu sorriso arrogante de satisfação.

Emma Jones parece um coelho acuado quando eu me viro ao chegar ao carro.

— Por que essa cara de quem está indo para o sacrifício, Senhorita Jones? — Não consigo parar o sorriso. Emma Jones e sua ridícula tentativa de resistência me divertem.

— Porque nós sabemos que é exatamente para onde estou indo, Senhor Hunter.

Eu abro a porta traseira para ela.

— Não se preocupe, Senhorita Jones, ao final da refeição eu prometo que estará viva.

Tomo meu lugar ao seu lado.

— Ethan, podemos ir — aviso antes que Ethan suba a divisória, isolando a mim e a Senhorita Jones.

Observo o olhar agora deslumbrado de Emma passear pela sofisticação do carro.

— Impressionada?

Ela enrubesce e dá de ombros.

— Sem dúvida nunca vi um carro desses.

— É um Maybach Landaulet, tem um motor biturbo que oferece 620 cv de potência.

— Claro, faz todo sentido pra mim — rebate com ironia. — Aposto que deve ser ridiculamente caro.

— 1, 35 milhões.

Seu queixo cai.

— Eu gosto de saber que posso ter o melhor, Senhorita Jones — explico, quase impaciente, enquanto Ethan dirige pelas ruas apinhadas da cidade.

— Percebo que gosta do melhor. Por isso não entendo o que estou fazendo aqui.

— Por quê?

— Olhe para mim. Não acho que posso ser colocada na categoria de “melhor”. Acho que “comum” seria a categoria certa.

Ela está de brincadeira?

Emma pode ser tudo menos comum.

Na verdade, é um poço de contradições ambulantes que me deixa ávido para desvendar, como um complexo problema matemático.

Ela se veste como uma mendiga e não parece se importar se está sexy ou não — e devo frisar que hoje sua calça desbotada com um grande rasgo no joelho e seu suéter azul que já teve dias melhores é quase um clássico do mau gosto. Porém, seu rosto limpo é como um sopro de ar fresco. Gosto de vê-lo se tingir de rubor quando está excitada, amedrontada ou com raiva. Gosto de saber que poderei beijar os lábios que ela passa o tempo mordiscando sem me preocupar em pedir que limpe o batom. Há pequenas sardas em seu nariz pequeno e os olhos são dois poços escuros e tão expressivos que quase posso imaginar ser possível ler sua mente.

Quase, infelizmente.

Eu tenho muitas habilidades, mas ler mentes é uma que ainda não domino.

Ainda.

Porém, sou bom em ler pessoas e seus sinais.

Emma Jones pode ainda nem saber, mas está louca para ser espancada.

E fodida.

Não necessariamente nessa ordem.

— Acredite em mim, Senhorita Jones, está bem longe de ser comum. — Eu me inclino em sua direção, aspirando seu cheiro único contendo a vontade de enfiar meu nariz em sua pele e farejar feito um animal faminto.

Sou premiado por seu ofegar surpreso e excitado.

— Por que parou ontem? — ela questiona.

— Achei que estaria curiosa para saber por que comecei. Ou será possível que eu me enganei e que entrou na minha sala com o intuito de me seduzir, Senhorita Jones?

Confesso que isso me passou pela mente.

Não seria a primeira vez. Porém, havia algo em Emma Jones e suas roupas horríveis que não combinavam com uma sedução premeditada.

— Não! Eu nem te conhecia!

— Acredite, não colocaria nenhum empecilho. — Sua resposta me satisfaz porque estava certo em meu julgamento.

E gosto muito de estar certo.

Eu me afasto, voltando ao lugar.

— Certo. Então por que começou? — ela insiste.

— Porque você queria. — Eu a encaro, desafiando-a a negar.

E não consigo conter um sorriso quando ela não nega.

— Estou vendo que a lição sobre mentira foi aprendida. É uma pena. Estava quase ansiando para abaixar suas calças e lhe dar algumas palmadas para aprender.

Ela parece ligeiramente chocada com minha sugestão.

— Como sabia?

— O que você queria? Estava escrito em seus olhos. Está escrito em seus olhos agora. — Ergo a mão e toco seus cílios. São lindos e longos. Emma Jones não precisa de truques de maquiagem para isso.

Ela é um diamante bruto. Para ser esculpido por mim.

Por minhas mãos.

Meus dentes.

Ela fecha os olhos, sua respiração saindo com dificuldade. Seu hálito doce banha meu rosto. Sinto seu gosto na minha língua, excitando meus sentidos e toco seu lábio inferior.

— E sua boca...

Ela abre os olhos. Famintos e ansiosos.

Ela quer ser beijada.

Gosto de saber que ela está ansiosa. Excitada com as possibilidades infinitas de prazer que eu posso lhe dar.

E eu vou dar.

Muito.

Mas vou tirar também.

Tudo.

— E esse seu rubor... — Acaricio seu rosto em fogo — é delicioso. — Desço o toque até a veia que pulsa selvagem em sua garganta. — Seu coração está disparado. Está com medo?

— Estou — confessa num fio de voz.

— Não estava com medo ontem. Achei que fosse fugir correndo com meu ataque, mas você ficou. Que tipo de presa se coloca à mercê de seu caçador tão docilmente?

— Por que parou? — seu questionamento deixa claro que ela lamenta.

E quase me sinto arrependido agora.

— Por um mísero segundo, enquanto estava ali, deitada sobre minha mesa, nua e a minha disposição, eu me perguntei se bastaria apenas um ataque breve. Apenas satisfazer a minha fome. Só que eu estava curioso... intrigado. Você, Senhorita Jones, era um mistério. Era uma... possibilidade. Eu poderia foder você e mandá-la embora para sempre. Seria rápido e fácil. No entanto, queria mais.

— Mais? Eu não entendo. — Sua voz está cheia de confusão, assim como sua expressão.

Isso me dá uma certa impaciência.

Ela não entende mesmo?

Não pode ser tão inocente assim, senão não estaria aqui.

Irritado, eu me afasto, pegando o celular e fazendo uma reserva no Del Posto e depois mando uma mensagem de voz a Ethan.

— Ethan, vamos ao Del Posto — ordeno.

— Eu não estou vestida para ir num restaurante desse nível.

— Podemos facilmente dar um jeito nisso. — Pego de novo o celular. — Ethan, Quinta Avenida primeiro. Precisamos deixar a Senhorita Jones apresentável.

Ela parece afrontada agora, mas não me importo.

Emma Jones está mesmo precisando de um banho do que de melhor o dinheiro pode proporcionar a uma mulher.

E ela pode estar irritada, mas toda mulher gosta de ganhar presentes, isso eu posso garantir. Eu tinha grana e experiência suficiente para saber que ter um homem gastando dinheiro com elas era um dos maiores fetiches femininos.

— Em que posso ajudá-lo? — A vendedora se aproxima solícita quando entramos na loja.

— Olá, sou Liam Hunter.

A mulher arregala os olhos ao reconhecer meu nome.

— A Senhorita Jones precisa ser vestida.

— Claro. Meu nome é Kate. Por favor, me acompanhem. Eu os levarei até o nosso salão privativo.

Uma outra vendedora se junta a nós, também mais solícita do que o normal e nos leva até uma sala privativa.

— Fiquem à vontade, desejam beber alguma coisa?

— Apenas nos traga as roupas para a Senhorita Jones — exijo.

— Claro. Se o senhor nos disser o que gostaria.

— O que você tiver de melhor. E lingeries.

— Realmente não é necessário... — Emma finalmente encontra sua voz, quando as vendedoras se afastam.

— Disse que não estava vestida adequadamente para nosso almoço.

— Eu nem achei que fôssemos almoçar de verdade!

— Não seja impertinente, Senhorita Jones.

— Concordei em sair com o senhor para uma entrevista para o jornal e não...

— Ainda terá sua entrevista. Quando almoçarmos no Del Posto. Depois que estiver vestida adequadamente.

— Aqui está. — As vendedoras entram no recinto empurrando uma arara cheia de roupas. — Podemos ajudá-la e explicar...

— Deixem-nos a sós. — Eu as dispenso com um aceno.

As moças se apressam em sair sem questionar.

— Não tenho o dia inteiro, Senhorita Jones.

Ela me encara atordoada.

Sinceramente, achei que Emma Jones estaria pulando de alegria pela oportunidade de ganhar algumas roupas caras para substituir aqueles trapos que usava, mas ela apenas parece confusa e perdida.

— O que quer que eu faça?

— Que experimente as que lhe agradarem.

— Na sua frente? — Seu olhar é de horror e não consigo evitar o sorriso com sua surpresa.

Óbvio que não perderia a oportunidade de vislumbrar o corpo perfeito da Senhorita Jones novamente.

— Eu já a vi nua, Senhorita Jones. E quero ver de novo.

Percebo que o tom de desejo em minha voz a instiga.

Mesmo assim ela ainda hesita, o olhar sustentando o meu enquanto eu a vejo lutar contra seus instintos.

Por fim, ela se levanta e caminha até a arara cheia de roupas, passeando os dedos pelas lingeries finas.

— Não sou um homem paciente, Senhorita Jones. Você não vai querer que eu me levante para colocar essa roupa em você. — Ameaço apenas porque isso me diverte.

Então assisto Emma Jones se despir, ainda timidamente.

Deus, ela é mesmo perfeita como eu me lembrava e apenas vislumbrar seus seios empinados faz meu pau se agitar de um desejo quase urgente e levo a mão à frente da calça, observando Emma me lançar um olhar receoso quando engancha os dedos na calcinha, hesitando por alguns segundos.

Eu me acaricio lentamente e o olhar tímido dela é substituído por uma chama que queima diretamente em mim.

E simples assim, acontece de novo, estamos naquela mesma onda magnética que nos atraiu ontem e com uma certa surpresa, a observo avançar em minha direção, vestindo apenas uma calcinha. Não consigo desviar o olhar de sua pele alva e perfeita. Os cabelos escuros e grossos dançando em volta dos seios que quero abocanhar até deixar marcas.

Quero deixar marcas em todos os cantos de Emma Jones.

Ela para na minha frente, eu me inclino, meu nariz deslizando por seu ventre, e aspiro seu cheiro, como um animal. Ou como um drogado aspirando a droga mais viciante do mundo.

E por um momento estranho, sinto-me vulnerável ali, à mercê daquele vício inesperado.

Seguro seus pulsos e os levo para trás de suas costas, quando ela tenta me tocar.

— Por que estou aqui. De verdade? — ela indaga e sei que também está chocada, talvez até mais do que eu, com o que está acontecendo.

É rápido demais. Intenso demais. Até para mim.

— Eu quero você. Você quer que eu queira você. — Minha voz sai abafada contra seu ventre macio e a sinto estremecer.

— Eu não... — Ela ia negar mas parou a tempo, desistindo de tentar mentir.

— Ah, você entendeu.

Levanto a cabeça, a encarando.

— Então vamos ser honestos. Você não pensou nisso? Não imaginou como seria? Eu e você?

— Eu tive muitos orgasmos pensando em você. Tantos que nem posso contar. É o que queria ouvir?

Sua confissão sussurrada num tom de desejo proibido faz um rosnado feroz escapar da minha garganta e mordo sua barriga, adorando ouvir seu gemido de dor e prazer.

Lambo onde mordi, seu gosto se espalhando pela minha língua.

Ela força os braços para se libertar.

E eu a encaro, inebriado com a força do desejo que emana dela.

Uma força inesperada e irresistível que faz com que, por um instante, me sinta destituído do meu controle.

E eu não gosto de perder o controle.

— Esse seu olhar ainda vai ser a sua morte, Senhorita Jones. Ou a minha. — Solto seus braços, sentindo uma súbita necessidade de me afastar dela. — Agora vá se vestir como uma boa menina. Nós nos encontraremos para o jantar — aviso, me levantando e pegando meu celular que vibra no bolso.

Gillian querendo que eu confirme a reunião das 15 horas com Brady.

Hum, meus pensamentos se voltam para os negócios, já se afastando da tentação da Senhorita Jones e sem nem me dignar a me despedir, eu a deixo sozinha no provador, respondendo para Gillian no caminho e pedindo que Brady me encontre no Del Posto.

A perspectiva de fazer bons negócios desanuviando minha mente caótica e me dando a suave sensação de poder sobre mim mesmo de novo.

— Senhor Hunter, algum problema? — A vendedora me intercepta.

— Eu tenho que ir. A Senhorita Jones talvez precise de ajuda. Ela pode escolher o que quiser e diga que não precisa se preocupar com o preço. Meu segurança cuidará do resto.

— Claro, nós cuidaremos dela — a moça garante, provavelmente muito feliz com a comissão que vai ganhar.

Ethan levanta a sobrancelha quando me vê.

— Cadê a Senhorita Jones?

— Mudanças de planos. Me leve ao Del Posto, e depois volte e espere a Senhorita Jones terminar suas compras.

Ele senta ao volante e ainda parece intrigado.

— Terminou? — Sei o que ele está perguntando.

— Ainda não.

— O que tem essa garota que o interessa tanto? Ela parece um coelhinho assustado.

— Talvez a perspectiva de pegá-la numa armadilha. De vê-la se contorcendo para fugir.

Ethan solta uma risada.

— Seu filho da puta.

— Terei que cancelar nosso treino hoje.

— Por quê?

Eu e Ethan nos encontrávamos regularmente na academia do prédio que sou dono e onde tenho uma cobertura, e Ethan ocupa um apartamento alguns andares abaixo do meu, para trocarmos socos.

— Tenho um jantar com a Senhorita Jones.

— Ah, começo a entender.

Meu celular vibra e vejo uma mensagem de Karen, a garota com quem eu deveria ter saído ontem.

Bem, agora ela é a garota com quem não vou sair nunca mais, decido, lhe mandando uma mensagem curta de adeus.

Karen perdeu totalmente a graça pra mim. No momento, meu único interesse é a Senhorita Jones e sua submissão inesperada e deliciosa.

Mal posso esperar para hoje à noite.

Porém, quando estou saindo do meu escritório naquele começo de noite me surpreendo ao receber uma mensagem de Emma Jones desmarcando comigo.

Não, ela não pode estar falando sério.

Não é ela quem diz que já chega.

Sou eu.

“Espero que não esteja querendo dizer que está cancelando nosso jantar, Senhorita Jones. Eu não gosto que cancelem os meus compromissos. Passarei às 21h na sua casa.”

Ela não responde, mas acredito que tenha entendido o que quis dizer, só que sou surpreendido novamente quando Ethan volta ao carro, onde eu o aguardo ir buscar a Senhorita Jones em seu apartamento, e ele diz que o porteiro avisou que ela não está em casa.

— O quê?

— Foi o que o cara disse.

Irritado, saio do carro e marcho para a portaria com Ethan ao meu encalço.

“Senhorita Jones, estou em frente a sua casa, por favor, não me faça ir até aí te buscar. Não irá gostar disso.”, digito, para o caso dela ter ousado mentir que não está.

Porém, quando interrogo o porteiro, ele afirma que Emma e uma tal de Zoe, provavelmente uma amiga com quem ela divide o apartamento, saíram a cerca de uma hora e não é difícil persuadir o homem a contar exatamente em qual boate elas estão.

Uma boate?

Boate?

Emma Jones me deu um bolo para ir dançar com sua amiga em uma merda de boate?

— E aí, vamos embora? Talvez ligar para a tal Karen? — Ethan sugere e eu lhe brindo com um sorriso astuto e raivoso.

— Não. Vamos até a boate que a Senhorita Jones está.

— Liam, sinceramente, essa garota está zoando com a sua cara...

— Ninguém zoa com a minha cara.

— Eu sei. Mas ela está. — Ethan quase se dobra de rir. — É engraçado ver alguém te desafiando pra variar. Sabe o que ela me disse hoje? Que você é grosso e mandão e não sabe como eu te aguento.

— Emma Jones é muito impertinente.

E ia levar uma boa surra por isso, defino.

Digito uma mensagem para ela.

“Seu porteiro é um cara legal, Senhorita Jones. Para sua segurança, talvez sua amiga devesse ser mais discreta e não mencionar onde estariam indo esta noite.”

Quando chegamos à boate, vou até o bar e peço uma bebida, Ethan rastreia o lugar em busca da fujona Senhorita Jones.

— Ela está com alguns amigos. — Ele retorna alguns minutos depois. — Vai até lá?

— Não. Me consiga uma mesa próxima.

Não é difícil conseguir um camarote onde eu tenho uma visão privilegiada da Senhorita Jones bem diferente do que estou acostumado a ver.

Ela usa um vestido verde, provavelmente comprado hoje, e me pergunto se também está usando uma das lingeries caras.

Seu cabelo está mais brilhante e volumoso e o rosto bonito está maquiado de forma sexy.

Há uma garota morena com luzes no cabelo ao seu lado e mais outra que beija um cara. Além delas, há outro homem ao lado esquerdo da Senhorita Jones que ri o tempo inteiro de algo que ele sussurra em seu ouvido enquanto ela dá longos goles em sua bebida.

— A Senhorita Jones parece estar se divertindo. — Ethan ri.

Eu não estou rindo enquanto digito uma mensagem.

“Está bebendo muito, Senhorita Jones. E sorrindo muito. Embora eu deva admitir que está deslumbrante com esse vestido.”

Demora alguns minutos para que ela pegue o celular e mesmo àquela distância posso ver que ela está nervosa quando lê minhas mensagens, até a última, que a faz olhar em volta, apavorada.

Tenha medo, Senhorita Jones.

— Acha que fomos notados? — Ethan continua se divertindo.

— Ainda não. Mas ela vai notar.

Digito outra mensagem.

“Estou muito, muito furioso com você, Senhorita Jones. Lembra sobre o que eu disse a respeito de punição?”

Ela procura em volta de novo.

Agora eu começo a me divertir, imaginando todos os jeitos que posso punir a Senhorita Jones.

“Não te contaram que não se deve provocar um predador, Senhorita Jones? Não pense só por um minuto que eu desisti de caçá-la. Sua vã tentativa de fuga apenas tornou a caça mais... interessante.”

Ela lê a mensagem e pega sua bebida a tomando quase inteira.

Então uma de suas amigas a puxa pela mão e as duas desaparecem no meio da pista de dança.

— Já se divertiu o suficiente apavorando a pobre Senhorita Jones? — Ethan indaga.

— Ainda nem comecei.

Eu me inclino e lhe explico o que deve fazer.

Ethan hesita.

— Liam...

— É uma ordem, Ethan.

— Ok, chefe.

Ele se levanta e vai fazer o que mandei.

Sinto-me ansioso agora que não consigo distingui-la na horda de corpos suados na pista, mas de repente ela surge. Há um pequeno palco com um poste de pole dance e algumas garotas se divertiam ali e é onde Emma Jones começa a dançar também.

E percebo que ela sabe que estou ali. Observando-a. Está escrito no sorriso lânguido e alcoolizado em seu rosto. Em seus movimentos sinuosos e sensuais e não demora para que seu olhar encontre o meu.

E mesmo àquela distância, ela está dizendo sem palavras que se rende.

Estou vencendo a caçada.

A adrenalina percorre minhas veias quando a música para de súbito e as luzes se acendem.

— Por favor, a casa está fechando. Temos um problema técnico. Pedimos que todos se retirem. Os seguranças os ajudarão a encontrar a saída mais próxima — a voz do DJ anuncia.

Ethan está cumprindo minhas ordens.

As pessoas começam a passar por mim, ansiosas para saírem enquanto reclamam, inclusive os amigos da Senhorita Jones, que ainda não voltou à mesa. Espero que Ethan tenha a encontrado.

Quando não há mais ninguém na boate, as luzes voltam a se apagar e a música retorna. E Ethan caminha em minha direção com uma surpresa Senhorita Jones ao lado.

— Você mandou esvaziar a boate. — Não é uma pergunta.

Levo meu copo de uísque à boca enquanto faço um sinal para Ethan nos deixar a sós.

— Estava apreciando seu show.

— Eu dancei só pra você...

Não contenho um sorriso lento.

— Eu sei. Embora não tenha gostado de ver outros apreciando o mesmo que eu. O seu corpo, Senhorita Jones, é só para meus olhos a partir de agora.

Eu me recosto no sofá, apreciando quando ela vem em minha direção. Sexy pra caramba naquele vestido que molda suas curvas.

Eu sabia que a Senhorita Jones ficaria deslumbrante com as roupas certas. Roupas que meu dinheiro podia comprar.

A sensação de posse me extasia.

Ela para na minha frente, fechando os olhos e começando a se mover ao som da música, os braços erguendo os cabelos gloriosos.

Ela me hipnotiza.

— Você é a criatura mais bonita que eu já vi. — Eu a puxo pela cintura, a obrigando a se virar de costas, para que eu aprecie os movimentos de seus quadris.

Linda.

Ela continua a se mover, abaixando os quadris sinuosamente até meu colo. Meu pau se ergue instantaneamente e solto um gemido rouco.

Puta. Que. Pariu!

— Está gostando de me provocar, Senhorita Jones? — sussurro em sua orelha em resposta e ela roça ainda mais em mim.

Mas de repente ela se afasta quando tento segurá-la.

— Não deveria me tocar. Não há regras para este tipo de dança? — Seus olhos brilham em desafio.

— Então é essa brincadeira? — Eu me recosto. — Confesso que é inesperado. Eu vou permitir que brinque comigo hoje, Senhorita Jones. Só esteja ciente que cobro em dobro depois.

Sim, posso deixar que se divirta um pouco, que pense que tem algum poder sobre mim, apenas para virar o jogo e mostrar exatamente quem manda na hora certa.

Ela hesita por um momento, mas em seguida morde os lábios e desliza para o meu colo.

Como prometido, mantenho minhas mãos longe, deixando que toque meu rosto.

— Você é lindo. — Ela toca as olheiras embaixo dos meus olhos. — Você não dorme.

— O dinheiro nunca dorme.

— Todo mundo precisa dormir.

— Não sou todo mundo.

Seu olhar desce ávido para minha boca, antes que ela cerre as pálpebras, os lábios se aproximando dos meus. O beijo paira entre nós por alguns segundos, enquanto nós respiramos.

Mas meu celular vibra no bolso.

Contendo um palavrão, retiro a Senhorita Jones do meu colo e pego o aparelho, o nome de Brady brilha no visor.

Negócios sempre primeiro.

— Estamos com problemas com as ações da Spirit — Brady comunica.

Brady Furly é um investidor jovem e ambicioso que está salivando para me agradar. E eu tinha lhe deixado a cargo de conseguir o melhor negócio com os papéis da Spirit Airlines Inc., que estavam decolando nos últimos meses, e previ um retorno de 1, 486% de lucros para os acionistas.

— Ao que parece Carlton não está disposto a negociar suas ações, como tinha alardeado. Provavelmente está querendo ver a melhor oferta e...

— Eu quero que resolva — eu o interrompo. Inferno, eu lhe dei apenas uma ordem. — Se quiser estar vivo amanhã — completo.

Óbvio que não vou assassinar Brady, mas se ele não conseguir aqueles papéis, pode dar adeus a Hunter Interprises.

— Me desculpe, mas...

— Não quero saber de suas desculpas, não te pago para me dar desculpas, e sim resultados, porra!

— Liam, seja razoável. Talvez devamos esperar. Eu sei que quer essas ações ao seu portfólio e... — Brady continua a dar suas desculpas ridículas, como se houvesse alguma maneira de saber mais do que eu o momento certo de agir, quando me surpreendo com Emma Jones se movendo novamente para meu colo.

Que Porra?...

Ela aproveita minha desorientação momentânea para enganchar seus braços em volta do meu pescoço, lançando os quadris audaciosamente contra meu pau, que acorda novamente.

Tento manter a concentração em Brady, embora o que ele diga seja uma bobagem que irei refutar depois, mas Emma parece determinada a provar um ponto, quando se inclina e morde minha orelha, rolando os quadris contra minha ereção de novo. Engulo um gemido.

— Desliga o telefone — sussurra com uma petulância que não lhe permiti ter.

— Porra — rosno, irritado e excitado.

Sua língua quente e úmida desliza por meu pescoço, arrepiando minha nuca.

Levo a mão livre a seu quadril, ainda sem saber se devo apertá-la contra mim, ou empurrá-la e ela me encara em desafio, nem um pouco preocupada com meu olhar raivoso.

— Por favor, Liam — ela percebe que disse meu nome pela primeira vez? — Por favor...

Seus quadris estão se movendo num ritmo alucinante agora, e ela fecha os olhos, perdida no prazer que aquela fricção lhe dá.

E observar a Senhorita Jones se esfregando em mim em busca de saciedade, os lábios entreabertos, a respiração pesada e os dedos puxando meu cabelo define tudo.

Com um rosnado raivoso, seguro seus quadris com mais força e aperto contra mim, desejando que não houvesse a barreira das roupas.

— Sim — ela joga a cabeça para trás, gemendo de prazer.

— Brady, nos falamos depois.

Desligo o telefone, já começando a ofegar também.

Enrosco meus dedos em seu cabelo e ela abre os olhos.

— É isso que deseja, Senhorita Jones?

Minha outra mão continua em seu quadril, apertando e ditando um ritmo mais forte.

E a fricção de nossos sexos poderia causar um pequeno incêndio.

— Oh, inferno, sim!

Ela se move com mais avidez, quase feroz, os olhos presos nos meus, enquanto seu rosto demonstra todo o prazer que tira de mim.

E basta para que eu rosne e me embriague com seu hálito, seus gemidos, seu roçar libidinoso em meu pau que adoraria estar dentro dela agora.

E eu estarei em breve. Ainda não sei se antes ou depois de lhe dar uma bela sova por ser tão impertinente.

Imaginar minha mão desferindo tapas ardidos na bunda da Senhorita Jones faz com que meus movimentos se tornem mais agressivos, mais urgentes.

E gozo forte e inesperadamente, puxando seu cabelo e ouvindo-a gozar também, seus lábios entreabertos em um grito mudo, o suor cobrindo seu rosto.

Porra, que foi isso?

Encosto a testa na dela, nós dois sem ar, o mundo parecendo desintegrado por um momento.

Ela abre os olhos, surpresa e ofegante.

— Oh Deus — murmura. Parecendo constrangida de repente e se afasta.

Eu a deixo ir.

— Eu preciso... — Ela se senta ao meu lado e observo seu rosto empalidecer. — Oh Droga, estou muito bêbada...

— Sim, você está bêbada, Senhorita Jones. — Noto somente agora que ela não está só um pouco bêbada.

Ela está muito embriagada.

Eu a observo se recostar e fechar os olhos. Talvez por isso a coragem de vir pra cima de mim.

Sinto-me enfurecido agora.

Primeiro que não gosto que ditem as regras no meu lugar. Segundo que Emma Jones parece que vai desmaiar ou vomitar a qualquer momento.

E se ela passar mal isso vai arruinar meus planos.

Não posso bater numa mulher desmaiada.

— Senhorita Jones? — eu a chamo, mas ela continua de olhos fechados.

Toco seu rosto, agora um pouco preocupado.

— Emma?

Ela não responde, nem quando eu lhe dou alguns inocentes tapinhas no rosto.

Merda.

Ela desmaiou.

Pego o celular e digito uma mensagem para Ethan que aparece minutos depois.

— O que aconteceu aqui?

— Ela está bêbada. Vamos embora.

Ethan ri, mas se aproxima e pega Emma no colo como se ela não pesasse nada. Seguimos para o carro e ele a coloca no banco traseiro, eu me sento no banco da frente e Ethan me lança um olhar intrigado e divertido.

— Não pergunte — resmungo.

— Devo levá-la para a casa dela?

— Não. Vamos pra casa.

Ethan levanta a sobrancelha, mas não questiona.

Em outras circunstâncias eu estaria despachando a senhorita embriagada para sua própria casa, mas ainda não quero me desfazer dela.

Posso esperar algumas horas, afinal.

Quando chegamos ao meu prédio, Ethan estaciona na garagem subterrânea e carrega a Senhorita Jones para meu apartamento.

— Onde eu a coloco?

— No meu quarto.

Ele a coloca sobre minha cama.

— Vai querer que eu jogue um balde de água na cara dela?

— Boa noite, Ethan — dispenso, ignorando sua piadinha.

Porém, ele hesita.

— Ela é uma garota legal, Liam.

Eu me surpreendo com sua defesa da Senhorita Jones.

E me irrito um pouco.

— Está falando como se eu fosse violentá-la bêbada ou algo assim.

— Não disse isso. Sei que não vai. Mas também sei que quando quer algo, não hesita até conseguir, a qualquer custo.

— Eu quero a Senhorita Jones acordada e de posse de suas faculdades mentais, Ethan. Não precisa se preocupar com sua virtude. Eu vou deixá-la dormir. Talvez segurar seu cabelo se ela vomitar e eu espero que não seja no meu tapete.

— Certo, se precisar de algo, me chame.

— Não vou precisar. — Eu lhe garanto.

Ethan se vai e eu olho para a garota adormecida na minha cama. Eu me aproximo e retiro seus sapatos e depois retiro o vestido apertado.

Ela não acorda em nenhum momento, completamente apagada.

Eu a cubro com um lençol e abaixo a luz, saindo do quarto.

Tiro minhas roupas e entro no chuveiro, deixando a água morna deslizar por meus ombros cansados. A conversa com Brady me volta à mente, assim como minhas outras conversas do dia. É sempre assim, ao fim do dia eu retomo meus movimentos, analiso minhas ações e posso ficar satisfeito ou não com meus objetivos cumpridos.

Não foi um dia de cem por cento de aproveitamento, desligo o chuveiro contrariado. Brady está com dificuldade com os papéis da Spirit.

E Emma Jones desmaiou antes que eu pudesse concluir nossa transação.

Escovo os dentes e vou para meu closet, achando uma calça de moletom, depois volto ao meu escritório, abrindo o laptop e verificando os movimentos das Bolsas de Valores. Porém, os movimentos dos números hoje me deixam sonolento e bocejo, surpreso.

Eu não gosto de dormir. Por isso controlo minhas horas de sono, para apenas o necessário e meu corpo se acostumou com apenas algumas horas de descanso.

Ainda é cedo para eu ter sono, mas talvez o fato de saber que a Senhorita Jones está na minha cama seja uma distração.

Irritado, fecho o laptop e volto ao quarto. Emma está inquieta na cama, as cobertas jogadas, quando me deito ao seu lado.

Sua pele está gelada de frio e puxo as cobertas para cima dela de novo, a cobrindo direito para que não congele.

Ela resmunga algo no sono e eu a observo.

— Não, Matt... Eu não acho uma boa ideia...

Caramba, ela fala dormindo?

— Eu não quero chá, mãe...

Rolo meus olhos, o sono me abandonando.

Pego o celular, verifico meus e-mails e minha agenda enquanto Emma continua a tagarelar coisas sem sentido em seu sono.

— Liam...

Eu paro o que estou fazendo quando escuto dizer meu nome com um suspiro.

O que será que ela está sonhando?

Gosto de fantasiar que é um sonho erótico.

Um sonho bom.

E tenho inveja de Emma Jones por poder dormir e sonhar.

Pesadelos é tudo o que eu consigo quando tento me desligar do mundo.

Porém, acabo dormindo um sono sem sonhos naquela noite.

Talvez pela quantidade de álcool que ingeri.

Acordo cedo, o dia mal amanheceu e deixo a cama, lançando um olhar curioso para Emma Jones que ainda dorme profundamente. Os lábios entreabertos e os cabelos em desalinho. Ela empurrou as cobertas para longe de novo e deixo meu olhar percorrer seu corpo vestido apenas com a lingerie de renda e seda.

Faz meus dedos coçarem de vontade de retirá-la do caminho para vê-la por inteiro de novo, agora sobre meus lençóis.

Será que ela estaria tão faminta quanto eu se a acordasse agora?

Eu poderia ser um cavalheiro e fodê-la devagar para começar, respeitando sua ressaca.

E deixaria para depois a fúria guardada para os jogos de dominação que eu adoraria fazer com a Senhorita Jones. Onde eu lhe mostraria exatamente quem tinha o poder e como eu usaria este poder para domá-la e submetê-la.

Para meu prazer.

E o dela também.

Eu amei ver o gozo dominando seu corpo e quero ver muitas vezes ainda.

Até me cansar.

Porém, ela parece ainda desmaiada e decido que posso esperar.

A Senhorita Jones em breve iria acordar e então não haveria mais para onde fugir. Ela está nos meus domínios.

Uma hora depois, Nine Inch Nails está tocando alto enquanto eu ando de um lado para o outro na minha sala, observando o Central Park lá embaixo, com meu headset no ouvido, dando ordens a minha equipe na Bolsa de Valores.

— Quando chegar em 18 compre tudo...

— Vai demorar para dar lucro — meu corretor deduz.

— Sim, vai levar uns cinco anos para ela dar lucro, as coisas boas às vezes levam tempo. Este índice fechou em alta de noventa ontem, o mercado dobrou...

Então eu me viro e a vejo.

Emma Jones está parada na porta da sala. Os cabelos recém-lavados, uma toalha em volta do seu corpo enquanto os grandes olhos capturam os meus.

— E as ações da Air Group? Caíram dez por cento, ainda quer vender? — o corretor continua.

— O quê? Venda logo pelo amor de Deus!

— Talvez devêssemos esperar...

— Não quero saber da sua opinião... É um lucro expressivo, então dê um jeito!

O corretor continua a falar e observo Emma caminhar até a cozinha.

Suspiro e embora meu instinto seja ir atrás dela, farejando seu cheiro de banho tomado, arrancar a toalha ridícula de seu corpo e fodê-la sobre a bancada, eu me controlo e dou atenção aos negócios.

Negócios e dinheiro primeiro.

Prazer depois.

Quando finalmente termino a ligação, vou até minha presa preferida.

Ela está colocando ovos mexidos em um prato. Quando nota minha presença, enrubesce.

— Bom dia. — Sorriu timidamente, mastigando a comida. — Fiz ovos.

— Estou vendo.

— Você pode comer...

— Eu não como de manhã. Que bom saber que está viva, Senhorita Jones. — Cruzo os braços, deixando claro minha censura por sua bebedeira de ontem que estragou meus planos.

Ela parece confusa.

— Eu... Desmaiei?

— Escolha certa de palavras.

— Oh, que vergonha, eu sinto muito... não faço ideia de como vim parar aqui...

Eu me aproximo.

— Apesar de não ser um bom samaritano, não te deixaria caída num bar, Senhorita Jones.

— Podia ter me levado para casa. Afinal, sabe onde eu moro.

— Sim, eu poderia.

Eu me inclino sobre a mesa. Até que nossos rostos estejam próximos.

— Aquele quarto onde acordei... é o seu quarto, nós... dormimos juntos?

— Dormir também é a palavra correta.

— Então... Por que estou aqui? — pergunta baixinho.

— Por que você acha que está aqui? — Respiro Emma Jones, me deliciando com seu cheiro fresco. Meu desejo renasce forte e exigente.

Eu a observo morder os lábios.

— Me responda! — exijo ante sua mudez.

— Nós vamos transar.

Ah, Senhorita Jones. Sim, para começar...

— Tire a toalha, Senhorita Jones — ordeno.

Quero vê-la nua de novo.

— Pare de me chamar de Senhorita Jones.

— Emma... — Faço sua vontade a chamando pelo nome. —Tire a toalha!

Porém ela aperta o tecido com mais força em volta do corpo.

— Será que eu posso... Eu preciso... Preciso de um momento.

Assinto, um tanto impaciente, notando ela pular da bancada e quase correr em direção ao quarto.

Emma Jones será punida mais rápido do que eu imagino, se aquele comportamento continuar. Meus dedos quase formigam de vontade, quando caminho devagar atrás dela, lhe dando tempo de fazer seja lá o que ela achava que tinha que fazer.

Entro no quarto, e ela não está lá e caminho até o banheiro, me surpreendendo ao encontrá-la sentada no chão, com a cabeça entre as mãos, sacudindo para frente e para trás.

— Que diabos? Está passando mal? Por que não me disse...

Ela se levanta, aturdida.

E de repente me sinto preocupado, estudando seu rosto pálido.

— Não estou passando mal eu... Nunca fiz isto antes.

— Como é?

— Quero dizer que eu... nunca fiz sexo antes.

Que merda?...

— Você é virgem? — questiono incrédulo.

Ela sacode a cabeça em afirmativa para meu assombro.

Como é possível?

Emma Jones tem 22 anos, está no último ano da faculdade de jornalismo, foi o que apurei. Ela não pode ser virgem porque não existem mais mulheres virgens naquela idade em Nova York, pelo menos.

Não uma mulher que fica nua depois de dez minutos com um homem.

Ok, eu talvez tivesse chegado à conclusão que Emma Jones não tinha noção de sua natureza submissa. Talvez nunca tivesse passado pelo crivo de algum dominador. Mas nunca ter feito sexo antes?

E estar com o rosto pálido e em pânico na iminência de fazer, como ela está agora?

Puta que pariu!

A fúria domina minha mente.

Eu tinha me enganado com a Senhorita Jones. Ela não é quem eu achei que era, afinal. Não saio com garotas inocentes que têm um histórico sexual de uma menina de 13 anos.

Gosto de mulheres que sabem aonde vamos chegar. Que não se importa em desafiar seus limites em nome do prazer.

Mulheres que estão cientes que terão algumas boas horas de prazer — alguma dor — e depois sairão da minha vida. Talvez com algum presente caro como agradecimento, se tiverem sorte.

E Emma Jones não é esse tipo de mulher.

Uma virgem? Pelo amor de Deus, de onde diabos ela saiu?

Irritado, caminho até o quarto, junto suas roupas e jogo em sua direção.

— Vista-se, Senhorita Jones!

— O quê? — Ela me encara confusa.

— Vou pedir para Ethan levá-la para casa.

— Está me mandando embora?

O que ela esperava?

— Sim, estou.

— Por quê? Eu pensei que...

— Isso tudo é um erro.

— Um... erro?

— Sim. Por favor, vista-se — repito e saio do quarto.

O que Emma Jones estava pensando?

Que sou alguma espécie de príncipe encantado que ficaria feliz em tirar-lhe a virgindade?

Não. Eu estou furioso, frustrado e me sentindo um idiota por não ter percebido antes.

Maldita Emma Jones e seus sinais confusos!

Eu odeio errar em um julgamento, porque isso quase nunca acontece.

Pego meu celular e mando uma mensagem para Ethan subir para levar a Senhorita Jones embora de vez.

Não quero mais vê-la por ali, não quero mais ver seu olhar confuso e vulnerável.

No fim, acho que nós dois nos confundimos. Mesmo eu nunca tendo dado nenhum sinal de que seria um homem feito para um tipo de mulher como Emma Jones — muito pelo contrário — ela continuou ali, à minha mercê.

Muito satisfeita em ser caçada por mim e quase abatida.

Inferno.

Sinto vontade de socar alguma coisa e infelizmente nunca vai poder ser Emma Jones.

Mil vezes inferno!

“Mas não foi você quem insistiu? Que a dominou? Que a perseguiu? Emma Jones é mais inocente nesse jogo do que você supunha. Ela não tem culpa de ter sido uma presa ingênua de seu destino.”, minha consciência grita.

E eu a esmurro mentalmente.

Não quero ouvir. Não gosto de estar errado e não vou estar.

Quero apenas me livrar da Senhorita Jones e esquecer aquele fiasco.

Ethan chega alguns minutos depois e me encontra no escritório.

— Leve a Senhorita Jones embora — resmungo sem o menor humor.

Não preciso dizer o que está errado, porque Ethan me conhece.

Ele sabe que algo deu errado, mas também sabe que não estou a fim de falar e não vai insistir por hora.

— Ela está bem?...

Não me admira Ethan se preocupar com a integridade de Emma Jones.

Este é Ethan.

— Ela está tão pura como chegou aqui se quer saber. E sem nenhuma escoriação também.

— E pelo o que estou entendendo, é a última vez que vemos a Senhorita Jones?...

— Sim.

— Hum... Vivi para o dia que você levou um fora?

— Se quer saber, eu a estou mandando embora. E guarde a sua opinião pra você.

Ethan parece que quer dizer mais alguma coisa, mas meu olhar gelado é o suficiente para entender que não quero falar.

Ele apenas assente e sai do escritório.

Escuto a porta da frente bater alguns minutos depois denunciando a partida da Senhorita Jones.

Pra sempre.

Abro meu laptop, verificando se Brady conseguiu as merdas das ações como ordenei e tento ficar de bom humor quando vejo que sim, ele conseguiu.

Infelizmente, aquela vitória não me faz esquecer o fiasco com Emma Jones.

A merda toda é que eu ainda quero bater nela. Agora mais do que nunca, por ter me irritado.

E me dou conta que, mesmo sem perceber, eu tinha feito planos muito elaborados para Emma Jones.

Sua submissão natural e aquela química magnética que nos ligava me fizeram acreditar que seríamos perfeitos juntos.

Infelizmente, errei em meu julgamento.

E odeio isso.

Fim da gravação


Desligo o gravador quando escuto passos se aproximando e em seguida Ethan entra no escritório.

— Posso saber o que está fazendo aqui a essa hora? — resmungo.

— Amy me disse que estava de mau humor.

— Sua namorada ainda não sabe que estou de mau humor a maior parte do tempo?

Ele ri, divertido.

Eu acho incrível essa capacidade que Ethan tem de achar graça em tudo. Às vezes eu me surpreendo em como podemos ser tão bons amigos, sendo tão diferentes.

— Ela me disse que tinha brigado com a Emma.

Solto um palavrão baixo.

— Ela ficou brava porque esqueci de um jantar.

Ele levanta a sobrancelha.

— Esqueceu? Você não esquece de nada, Liam. Você escolheu ignorar. Preferiu continuar trabalhando.

— Emma deveria entender.

— Emma entende muito mais do que você merece.

É minha vez de levantar a sobrancelha.

— Está aqui para me irritar?

— Só te jogando algumas verdades.

— Não estou a fim de ouvir suas asneiras sentimentais agora.

— Talvez devesse ser um pouco mais sentimental.

— Não foi sendo sentimental que me tornei bilionário.

— Eu sei. Mas Emma te pede muito pouco, Liam.

— Está de brincadeira? Emma só falta exigir que eu arranque meu coração do peito para ela cozinhar e comer!

Ele ri da minha alegoria.

— Então acho que têm algo em comum. Por sua vontade Emma viveria algemada na sua cama 24 horas, esperando você terminar de ganhar mais dinheiro e voltar para casa.

— Não seria má ideia. Mas ela sabe com quem se casou.

— E você sabe com quem você se casou?

Eu suspiro, passando a mão pelos cabelos.

Eu sei?

Às vezes acho que não faço ideia.

— Deveria ir dormir.

— Eu prometi gravar algumas coisas para o livro da sua namorada. Mas se ela continuar fazendo fofoca, provavelmente irei me arrepender de ter concordado com isso.

— Amy está com medo que você desista.

— Isso me passou pela cabeça.

— E então?

— Vai ficar puto se eu acabar com os planos de sua namorada?

— Claro que sim. Se ela ficar chateada eu também fico. Mas também sei o que custa a você se abrir assim. É a sua história. Se decidir que não quer contar a ninguém, Amy terá que aceitar.

— E o que você pensa disso?

— Você vai fazer do seu jeito, como sempre fez tudo. E eu estarei te apoiando e defendendo como sempre. Boa noite.

Eu o observo se afastar e ligo o gravador, me recordo de como nos conhecemos.


Gravação 3


— Você quebrou o meu nariz, porra!

Faz dez minutos que aquele cara grandalhão tinha sido apresentado a mim pela minha “mãe adotiva” Megan, como meu “irmão” e agora eu estava urrando de dor enquanto meu sangue respingou no tapete vagabundo da casa dos Walters.

Eu vivia com o casal Walters, Megan e Tim, há pouco mais de um ano. Um marco no meu histórico de garoto órfão que vivia transitando entre lares adotivos. Um pior que o outro. Sinceramente, com quase 16 anos, eu estava pouco me lixando onde eu dormia. Eu contava as horas para fazer 18 anos e nunca mais precisar aguentar aqueles sanguessugas.

E certamente não esperava chegar da escola e encontrar um garoto alto e musculoso, de cabelos raspados, e olhar ameaçador deitado na minha cama. E ainda por cima mexendo no meu discman.

— Ei, quem é você e o que está fazendo mexendo nas minhas coisas?

Avancei para dentro do quarto, arrancando os fones de ouvido do grandalhão sem imaginar que, se ele se irritasse comigo, eu sairia perdendo já que era bem maior que eu.

O cara me encarou com um olhar de desdém, dando de ombros.

— Pelo menos você tem um gosto bom pra música.

— Sai da minha cama! — ordenei.

O cara se sentou, mas não saiu da cama.

— Já se conheceram. — Megan, uma mulher baixinha e com olhar bonzinho, que enganava os assistentes sociais, apareceu na porta do quarto.

— Quem é esse idiota? — indaguei.

— Seu novo irmão. O nome dele é Ethan.

Novo irmão?

Ela estava de brincadeira? Desde que eu vim morar na casa deles, nunca houve outro garoto ou garota. O que eu preferia.

— E por que ele está no meu quarto?

— Porque vão dividir. — Ela sorriu. A imbecil estava se divertindo com a minha irritação. — Seja bonzinho com seu irmão, Liam.

Ela saiu do quarto e eu encarei de novo meu “irmão”.

Agora ele estava de novo recostado na minha cama.

Só havia uma merda de cama no quarto.

E era minha e ele que fosse dormir no porão ou voltasse para o bueiro de onde tinha saído.

— Sai da minha cama.

— Você ouviu a mamãe, cara. Vamos dividir. — Sorriu com escárnio.

— Essa cama é minha. Dê o fora.

Ele levantou a sobrancelha.

— Vai encrencar comigo, cara?

Sem pensar, levantei o pé e chutei a canela de Ethan.

O movimento de contra-ataque foi rápido e preciso. E num instante eu estava reunindo todo meu dicionário de palavrões para detonar aquele intruso filho da puta e no momento seguinte estava recebendo um murro no nariz.

— Você quebrou o meu nariz! — repeti.

— Não quebrei seu nariz bonitinho, cara! — Ethan estava rindo.

Rindo!

O que me irritou ainda mais.

Porém, estava tão atordoado de dor e humilhação, que decidi que seria mais seguro não revidar.

Ele pegou uma mochila imunda no chão.

— Tem chuveiro nessa merda de casa? — indagou enquanto tirava a blusa.

Caramba, ele era mesmo forte.

Talvez eu devesse começar a fazer alguns exercícios se quisesse bater nele. Ou ao menos tentar.

Eu só sabia que as coisas não iam ficar assim. Eu não gostava de apanhar e muito menos de ceder a quem quer que fosse.

A vida na casa dos Walters era longe de ser perfeita, mas eu gostava das coisas como estavam. Não queria dividir meu espaço com um cara que mais parecia saído de algum reformatório.

— Eu te fiz uma pergunta, ruivo! — ele insistiu.

Pisquei, querendo sumir por sentir lágrimas nos meus olhos por causa da dor.

— No fim do corredor — resmunguei.

Ele se encaminhou para a porta.

— Eu vou dormir na sua cama. Ou melhor, minha cama. Acho que Megan falou algo sobre um colchão que o tal de Tim vai trazer. Pode se acostumar — anunciou como se tudo fosse muito divertido e saiu do quarto.

Grunhi irritado, ainda segurando o meu nariz machucado.

Não. Aquele brutamonte não ia me intimidar. Eu poderia ser menor que ele e menos musculoso, mas iria dar o troco.

Naquela noite, Ethan se deitou na minha cama, ainda me deu um boa-noite cheio de sarcasmo enquanto eu me encolhi no colchão encardido, tramando minha revanche.

Ele podia dormir, mas eu não dormia e quando comecei a ouvir seu ronco, me levantei e desferi um chute, certeiro, dessa vez em seu nariz.

Olho por olho. Dente por dente, filho da puta.

Ele acordou atordoado, resmungando palavrões e tocando o nariz sangrando até que seu olhar pousou em mim, ainda ao lado da cama.

— Isso é pra aprender a não mexer comigo! Pode ficar com essa merda de cama, mas saiba que sempre que estiver dormindo, eu posso te machuc... — nem terminei de falar, e Ethan estava de pé, me empurrando. Fui parar na parede e desviei quando ele tentou me esmurrar de novo. Segurando sua cintura eu o empurrei, nós dois caímos na cama, que se quebrou com o impacto, engalfinhados numa luta.

Eu podia ser menor e menos forte, mas não estava disposto a arregar para aquele cara.

Megan e Tim apareceram minutos depois nos separando.

— Tudo isso por causa de uma cama? — Megan se irritou ao perceber o motivo da briga.

— Uma cama que vocês dois quebraram, seus pestinhas! — Tim riu.

— Eu não vou dormir com este babaca! — rosnei limpando o sangue da minha boca que Ethan tinha conseguido esmurrar em algum momento.

— Não tem escolha, garoto! Já falei para parar de ser metido. Não somos ricos e tem que agradecer por te darmos um teto. — Megan apontou para a cama. — Agora os dois vão dormir no chão, porque não vou comprar outra merda de cama para delinquentes como vocês! E se brigarem de novo talvez prefiram ir para um reformatório, lá tem camas!

Ela saiu do quarto batendo a porta.

E naquela noite, eu e Ethan passamos a dormir no chão.

Mal nos falamos por algumas semanas, mas pelo menos não brigamos mais. Às vezes batíamos boca por motivos idiotas como quem demorou demais no chuveiro de manhã.

Na escola, que Ethan começou a frequentar comigo, ele logo fez amigos. Ou melhor, acredito que ele era tão ameaçador que ninguém ousava não querer ser amigo dele.

Eu não tinha amigos. A maioria dos garotos da minha idade me irritava. Eles não pareciam ter qualquer perspectiva, passando as horas na escola fumando, brigando ou fazendo bullying uns nos outros.

Ao contrário da maioria, eu curtia estudar. Era fácil pra mim entender rapidamente o que os professores explicavam e eu ousava imaginar que talvez conseguisse fazer uma faculdade, embora não tivesse grana ou pais ricos.

A única coisa que eu sabia era que não queria acabar como eles. Futuros presidiários, membro de gangues, ou traficantes, na melhor das hipóteses. Às vezes alguns deles encrencavam comigo e eu me defendia como podia. Às vezes com os punhos, às vezes com inteligência. Eu era bom de insultos. De provocação. E era bom em negócios. Como ninguém ali gostava de estudar, eu muitas vezes cobrava para passar cola, ou fazer trabalho pelos outros. Era uma grana boa, que eu guardava para quando eu saísse da casa dos Walters.

Era um tanto assustador pensar em estar por conta própria, mas não havia outra opção pra mim.

As coisas começaram a mudar quando um cara chamado Prince se enfureceu comigo porque eu comi a namorada dele. Bem, ele deveria ter ficado puto com a garota, não comigo, mas era assim que as coisas funcionavam, o que me lembrava que esse era um dos motivos por que eu não tinha namorada.

Ele veio tirar satisfação comigo em um intervalo e eu apenas ri dizendo que se a namorada dele estava insatisfeita com o pau dele não era minha culpa.

Ele me empurrou e eu fui pra cima, porém, ele estava com mais dois amigos. Percebi que iria apanhar, mas não tinha nada que pudesse fazer. Apenas tentar me defender. Porém, a situação mudou em poucos segundos, quando Ethan surgiu e começou a bater nos três. Eu fiquei ali, atordoado ainda, vendo aquele cara que parecia me odiar me defender.

Quando a briga terminou com Prince sendo levado desmaiado pelos amigos igualmente machucados que gritavam ameaças para Ethan, eu ri e lhes mostrei o dedo.

— Se baterem no meu irmão de novo, vão sair mortos daqui — Ethan me surpreendeu ao gritar.

Eu o encarei.

— Agora somos irmãos?

— Podia me agradecer por defender seu traseiro magro, ruivo.

— Podia não me chamar de ruivo?

— E você podia ser menos metido a besta?

— Se me odeia podia ter deixado aqueles caras acabarem comigo.

— Não te odeio, Liam.

Bem, eu queria dizer que eu o odiava ainda, mas acho que seria mentira.

E não podia negar que estava surpreso e agradecido por ele ter me defendido.

Só não queria dar o braço a torcer. Eu não estava acostumado a ter ninguém me defendendo.

— Só tome cuidado em escolher melhor as bocetas. Nem sempre estarei por perto para ser seu segurança.

— Seria legal se fosse.

— Eu não trabalho de graça.

— Quando eu for milionário, eu lhe darei um salário.

— Não duvido que fique bilionário mesmo, ouvi dizer que é inteligente e essas coisas. Vejo você à noite estudando.

Como eu odiava dormir, sempre ficava estudando à noite até ser vencido pela exaustão, assim os pesadelos me davam uma trégua.

— Quero mais dessa vida do que virar um traficante de merda. Deveria fazer o mesmo, embora talvez ache seu caminho através dos punhos.

— O que eu poderia fazer com meus punhos? Virar leão de chácara de alguma boate?

— Talvez um lutador de MMA.

Nós dois rimos.

Naquela noite, depois que Megan nos serviu um jantar, que sempre era alguma sopa que mais parecia lavagem ou algum bife de segunda com suas batatas sem tempero, eu vi Ethan resmungar, como sempre, que iria morrer de fome vivendo ali. Megan mandou ele calar a boca e agradecer por ter comida no prato antes de se afastar para assistir seus programas de fofoca.

Ethan era um cara enorme e certamente aquela pouca comida que Megan nos servia era nada pra ele.

Peguei meu prato e empurrei para seu lado.

— Pode comer o meu.

Tomei um gole de água.

— Não vai comer? — ele indagou de boca cheia.

A comida era ruim, mas era comida.

— Não estou com fome.

Era mentira. Mas Ethan precisava mais daquela comida do que eu.

Eu podia lidar com o estômago vazio por algum tempo.

Depois eu me levantei e peguei o dinheiro cuidadosamente escondido na minha gaveta e saí da casa, indo até uma loja de conveniência e comprando algumas porcarias gordurosas.

Entrei no quarto e joguei para Ethan, que jogava um gameboy.

— Que isso, cara?

— Hambúrguer. Vamos fazer um banquete.

— Você roubou?

Eu ri, me sentando ao seu lado.

— Tenho uma grana guardada. Faço trabalhos para os outros e essas merdas.

— Um cara de negócios. — Ele riu pegando o hambúrguer. — Muito bom. Não sei como aguenta a comida da Megan.

— Amanhã a gente pode ir ao supermercado e comprar algumas coisas decentes.

— Com a sua grana?

— Sim, eu posso ganhar mais.

— Está sendo legal comigo porque eu bati naqueles caras?

— E por que me defendeu?

— Porque é meu irmão. — Ele riu com a boca cheia.

Parecia uma piada. Talvez eu não tenha levado a sério naquele momento, mas em algum momento naquela noite, talvez levado pela nova tranquilidade vinda da camaradagem estabelecida entre nós dois, eu adormeci.

E os pesadelos vieram atropelar minha paz. Acordei suado e com o coração disparado, Ethan estava ao meu lado com um olhar assustado.

— Cara que foi isso? Estava gritando e se debatendo...

Lutei para respirar, para sair daquele lugar de lembranças escuras que estava mergulhado em meu sono.

— Pesadelos? — ele insistiu.

Sacudi a cabeça em afirmativa, encostando minha cabeça na parede.

Ethan se sentou ao meu lado.

— Por isso não dorme?

Eu não sabia que ele já tinha sacado que eu evitava dormir.

— Eu odeio lembrar.

— Lembrar o quê?

— O assassinato dos meus pais.

Não sei por que estava contando a ele algo que não contava a ninguém.

Ethan também não forçou a barra pedindo de forma curiosa que eu lhe contasse mais ou me lançou aquele olhar de pena que me irritava.

Mesmo assim, eu me vi contando sobre o garoto que um dia eu fui.

— Era meu aniversário de dez anos. Minha mãe era assistente social e ajudava mulheres com relacionamentos abusivos. Um desses maridos um dia foi na nossa casa, muito puto. Ele atirou nela. E depois no meu pai. Eles pediram para eu ficar no quarto, mas eu era teimoso. E vi ele atirando na minha mãe e depois no meu pai. Ele fugiu em seguida.

— O que aconteceu com esse cara?

— Ele foi pego. Está na cadeia. E desde então estou sozinho.

O vazio que eu sentia e que temia nunca ser preenchido estava mais sombrio do que nunca naquele momento, era por isso que eu não gostava de lembrar.

— Não quero dormir.

— Pode fazer meus exercícios de matemática — Ethan sugeriu —, mas não vou te pagar.

— Não cobro da família — resmunguei e ele riu quando entendeu as implicações do que eu dizia.

Peguei seu caderno e comecei a resolver os complicados problemas.

Ethan se deitou e fechou os olhos, mas antes de dormir, ele resmungou.

— Não está mais sozinho.

Fim da gravação


Eu me levanto e vou até a janela observando Manhattan a meus pés. As recordações do tempo na casa de Megan e Tim ainda estão frescas na minha mente. Os dias ficaram um pouco mais fáceis depois de Ethan chegar. Nós nos protegemos do mundo e mesmo sem perceber criamos um laço que era mais forte que os de sangue, que não tínhamos mais.

Até a gangue de Prince nos pegar, eu ser mandado a um hospital com um braço quebrado e Ethan para um reformatório.

Eu achei que voltaria à casa de Megan e Tim, mas eles não me queriam mais. E assim, me vi acolhido por David Hunter, um dos médicos do hospital.

Acreditei que seria temporário, mas eles me adotaram de verdade e até me deram o sobrenome deles.

Eu ainda demoraria anos até reencontrar Ethan.

Senti falta dele, mesmo sem perceber, mesmo achando que nunca mais íamos nos ver. Mas a gente se reencontrou num bar escuro, num momento em que estava cheio de raiva e, mais uma vez, me metendo em brigas que não poderia vencer. E lá estava Ethan, para me proteger, cuidar das minhas feridas e da minha ressaca. Achando muito divertido quando lhe contei sobre a traição de Vanessa e até se oferecendo para dar um pau no Vanderbilt, o cara rico por quem Vanessa me trocou.

— Eu te disse que era para escolher melhor as bocetas, cara.

Vanderbilt apanhou. Ethan virou meu guarda-costas oficial. Eu fiquei feliz em lhe dar mais dinheiro do que qualquer segurança ganhava. Ele poderia ter o que quisesse. Afinal, no fundo, era família.

Embora os Hunter tivessem tentado preencher aquele espaço também.

Minha memória volta para os dias com os Hunter, o colégio católico, e por fim, Vanessa. A mulher que eu pedi em casamento, mas que ficou marcada em minha vida apenas como o estopim da minha ambição.

E eu achei que depois de Vanessa nunca mais iria querer qualquer tipo de compromisso.

Até uma certa estagiária de jornalismo incompetente insistir em entrar na minha vida.


Gravação 4


— Não parece que teve uma boa noite de sono.

O comentário de Nora feito de forma evasiva enquanto eu comia meu cereal matinal me deixou irritado.

Eu sabia que eles deveriam ter escutado meus gritos depois de um pesadelo na última noite.

Eu estava na casa deles há pouco mais de dois meses e sinceramente, a todo dia eu esperava que fossem me comunicar que eu deveria ir embora para algum outro lar fodido.

Mas os Hunter estavam me surpreendendo. Nora era uma mulher doce e paciente, mesmo quando eu lhe tratava com grosseria ou frieza, dependendo do meu humor. Eu não me esforçava para ser legal, porque tinha certeza que mais dia menos dia, eles revelariam a verdadeira natureza de seus sorrisos pacientes, assim como os outros “pais”. Embora a casa dos Hunter fosse bem diferente dos outros lares que vivi.

Eles viviam em uma casa geminada bonita que ficava em uma rua arborizada e com vizinhos legais. E não os traficantes e gangues que eu estava acostumado. Eu tinha um quarto com uma cama. Uma cama grande, uma TV e uma janela com vista para o jardim de Nora.

Ela cozinhava bem e não ficava dizendo que eu deveria comer menos porque dinheiro não dá em árvore. Na verdade, os Hunter tinham grana. Não eram ricos, mas David era médico e pelo que percebi ele ganhava muito bem. Nos primeiros dias naquela casa, eu me mantinha calado e distante e só respondia quando solicitado. Sentia falta de Ethan e David me disse que infelizmente ele tinha esfaqueado um dos garotos da gangue e por isso estava em um reformatório e provavelmente não sairia tão cedo.

Por um tempo, lamentei não ter enfiado uma faca em algum daqueles babacas e ter ido com Ethan. Até planejei roubar algumas daquelas pratarias caras da casa dos Hunter e assim eles me denunciariam e eu iria para um reformatório também. Mas os dias passaram e comecei a apreciar os pequenos luxos na casa dos Hunter, como os lençóis limpos, a comida boa e até mesmo os sorrisos de Nora. Ela sempre tentava conversar comigo, saber o que eu estava sentindo, mas depois de um tempo parou de insistir quando sacou que eu não estava disposto a falar. Quando eu fiquei bem, me matriculou na escola que ela dava aula, um colégio católico de ricos. E há algumas semanas eu estava frequentando a escola cheia de garotos esnobes que me olhavam de cima a baixo como se tivesse lama no meu uniforme. Sim, eu tinha que usar um uniforme ridículo também. No primeiro dia, respondi mal um professor e fui parar na diretoria. Nora foi chamada e pediu desculpas ao diretor por mim, explicando que eu estava há pouco tempo com eles, mas que iria melhorar.

E percebi que me senti culpado. Nora era uma boa pessoa. E eu podia não curtir aquela gente chata da escola, mas pelo menos o ensino era muito superior ao da escola pública em que eu estudava. E de repente, a ideia de que eu poderia ir para uma universidade começou a ser real.

Eu era um cara prático, mesmo naquela idade, gostava de estudar as melhores opções. E ficar com os Hunter era minha melhor opção no momento.

Então, pedi desculpas a Nora e tentei me manter na linha no colégio. Usando aquele uniforme idiota e não xingando os professores. Eu não queria que eles me mandassem embora.

Se eu gostava dos Hunter? Eu tentava não gostar. Não queria me apegar a eles, primeiro porque de alguma forma sentia que estava traindo meus pais verdadeiros, e segundo que todo mundo que eu gostava ia embora. Foi assim com meus pais e foi assim com Ethan. Mas ao menos eu podia ser grato à chance que eles me davam de viver de forma melhor.

Agora eles me encaravam na mesa de café da manhã, enquanto eu tentava engolir o cereal. Mesmo não gostando de comer àquela hora, eu o fazia para Nora ficar menos preocupada.

— Você tem pesadelos? — David continuou enquanto trocavam olhares ante meu silêncio.

— Está tudo bem — resmunguei.

— Não parece bem — Nora insistiu com sua voz doce. — E eu David conversamos e achamos que poderia fazer terapia.

— Não. — Eu me levantei e coloquei o prato na pia, querendo encerrar aquela conversa. — Não vai se repetir — garanti.

Eles voltaram a trocar olhares preocupados.

— Você sempre tem esses pesadelos? — Nora ainda insistiu.

— Não, claro que não — menti.

Não sei se acreditaram.

— Não estamos atrasados? — Eu ia todos os dias com Nora para a escola.

Eles aceitaram que eu não queria falar sobre o assunto e torci para que me deixassem em paz. Eu deveria voltar a arranjar alguma atividade para não adormecer até que fosse inevitável. Quem sabe assim eles me deixassem em paz.

Quando estávamos saindo, Nora e David trocaram um selinho amoroso e Nora me passou as chaves.

— Acho que você pode dirigir hoje.

— Eu?

— Sim. David disse que você está indo muito bem nas aulas de direção. Em breve vai tirar sua autorização para dirigir.

— Mas eu ainda não tenho.

— A escola é próxima, sair um pouquinho da linha faz bem de vez em quando. — Ela piscou, entrando no carro.

Eu me sentei no banco do motorista, me sentindo importante enquanto dirigia.

— Eu e David pretendemos conversar com você hoje à noite sobre algo importante, mas já quero adiantar o assunto.

Apertei os dedos no volante sentindo um medo inevitável.

Eles iam me mandar embora.

Claro que não iam querer um garoto boca-suja que gritava feito uma criança com medo de Bicho-papão à noite.

— Nós gostaríamos de adotá-lo.

Tirei a atenção do trânsito por um momento para encará-la, surpreso.

— Adotar?

Ela sorri.

— Sim, sei que em breve vai fazer 18 anos, mas queríamos que fosse nosso filho de verdade, inclusive usando nosso sobrenome.

— Você e David querem me adotar? — repeti ainda estupefato.

— Por que o espanto? — Nora sorriu. — E olhe para frente.

Voltei a atenção ao tráfego, ainda sem saber o que pensar.

— Claro que não queremos fazer nada contra sua vontade, mas pense nisso.

— Por quê? — insisti.

— Não podemos ter filhos, e você perdeu sua família. Mesmo já sendo quase adulto, queremos que se sinta um membro de uma família de novo. Sei que é um menino machucado, mas queremos te dar segurança novamente. Nada mais de outros lares, brigas de gangue e futuro incerto. Nós acreditamos em você, Liam.

A partir daquele momento, a tarefa de não gostar dos Hunter se tornou bem árdua.

E eu ainda passaria muitos anos negando uma parte de mim a eles, mas aceitei que me adotassem.

Fui grato por terem mudado minha vida e ajudado a moldar meu futuro.

E me tornei Liam Hunter.

**

Eu odiava ter que usar o uniforme do colégio, porém, não podia negar que achava sexy o mesmo uniforme nas garotas.

E as garotas do colégio não demoraram a me notar também. Em um colégio de garotos ricos metidos, a chegada de um bolsista, mesmo sendo filho de uma das professoras, causou certo alvoroço na escala social. Obviamente um grupo de idiotas adorava me provocar com seu bullying que, para um cara como eu, soava quase como ofensa pueril de jardim de infância. Depois da briga em que fui parar na diretoria envergonhando Nora, decidi ignorar todos eles. Assim como tentei ignorar as garotas. Elas não gostavam de serem vistas comigo, afinal, eu era o pé-rapado boca-suja, mas podia perceber os olhares de interesse onde quer que eu fosse. A verdade é que eu tentava evitar confusão. Só queria estudar e quem sabe conseguir sair dali para uma boa universidade.

Até o dia em que uma garota chamada Barbara Blackwood decidiu que não queria ser ignorada. Ela era rica, bonita e mimada, daquelas acostumadas a ter tudo o que queriam. E ela decidiu que queria transar comigo. Em outros tempos, eu teria aceitado a oferta de bom grado, mas Barbara namorava um dos cretinos mais populares da escola que certamente não gostaria de perder pra mim. Eu já não tinha nem Ethan pra me defender caso aqueles babacas se juntassem pra me bater e também não queria me encrencar de novo. E eu disse claramente a Barbara que não ia rolar. Ela não gostou e como boa menina mimada, começou a me infernizar junto com seus amigos tão cretinos quanto ela. Eu tentei ignorar, a raiva começando a me consumir, até que fui parar na diretoria novamente, depois de me irritar e empurrar o namorado de Barbara, Thomas.

Naquele dia, eu fui parar na sala de uma das freiras que decidiram que ausência de disciplina era movida pela falta de religião. Jesus e aquele blá-blá-blá religioso que eles adoram pregar ali e que os alunos fingiam seguir, para cheirar coca e fazer orgias assim que elas viravam as costas.

Eu escutei seu sermão, cada vez mais irritado, notando que atrás dela havia um armário com alguns apetrechos religiosos. De repente algo me chamou a atenção e eu me levantei, pegando o objeto pesado em minhas mãos.

— Senhor Hunter, por favor, sente-se, eu não terminei. É disso que estou falando, precisa prestar atenção, temos regras aqui e...

— O que é isso? — indaguei curioso.

Ela se virou para mim.

— Uma palmatória.

— Para que serve? Parece um objeto de tortura medieval.

— Há alguns anos os padres acreditavam que os alunos deveriam ser punidos fisicamente.

Levantei a sobrancelha.

— Sério? Batiam nos alunos com isso aqui?

— Não fazemos mais isso, claro. Embora alguns certamente mereçam...

Ela se voltou, mexendo nos papéis a sua frente.

— Suas notas são ótimas e Nora Hunter tem muito crédito conosco, por isso vamos esquecer esse incidente. Mas espero que não se repita...

Ela continuou, mas eu não escutava.

Eu coloquei a palmatória no meu bolso.

Alguém ia receber uma lição.

Naquele fim de dia, segurei o braço de Barbara Blackwood e disse em seu ouvido que ela deveria me acompanhar, pois precisávamos conversar.

Ela rolou os olhos com desdém.

— Achei que não ficava com garotas com namorado.

— Só estou dizendo que temos que conversar.

— Sobre o quê?

— Sobre o quanto você foi uma garota má, Barbara.

Eu não esperava falar daquele jeito com ela, mas o peso da palmatória no meu bolso me lembrava porque eu a tinha roubado.

Eu queria dar um susto em Barbara. Pelo menos era o que eu dizia a mim mesmo, quando ela concordou em me acompanhar à sala de aula vazia.

Fechei a porta e Barbara encostou na mesa. Eu a medi, ela era bonita, com longas pernas sob a saia cinza do uniforme terminando em meias três quartos. Era sexy pra cacete.

— Eu fui parar na diretoria por sua causa.

— Você empurrou o Thomas.

— Vocês me provocaram.

Ela riu, jogando o cabelo loiro.

— Você é muito esquisito, Liam.

— Por quê?

— A maioria das garotas acha você interessante. Acho que é o mistério que te envolve, ou o desprezo no seu olhar, como se fosse superior a todos nós.

— Talvez eu seja.

Ela riu.

— Você é um menino órfão que a professora Hunter tirou da rua. Todo mundo sabe.

Aquilo me irritou.

— E mesmo assim você quer meu pau.

Achei que iria negar, mas ela enrubesceu.

Eu não queria ter ficado excitado, mas fiquei.

Excitado e irritado.

Barbara era uma mimada esnobe.

— Por que estou aqui, Liam?

— Porque estou puto com você.

— Eu já falei que...

— Cala a boca — rosnei baixo a fazendo parar.

Na mesma hora eu percebi que tinha passado dos limites, mas Barbara não se mexeu. Na verdade, ela estava ofegante, seu peito subindo e descendo.

Peitos que pareciam ser muito bonitos.

Ela percebeu meu olhar descendo e sorriu.

— Se você me quer, por que resiste? — sussurrou se aproximando e levantando a mão para tocar meu rosto, mas eu segurei seu pulso.

— Por que eu deveria foder você? Como disse, tem muita garota disponível que quer o mesmo.

— O que você quer, Liam Hunter? É só me dizer.

Ah, era tentador.

— Eu não gosto de você.

— E daí? Ouvi dizer que sexo feito com raiva é mais gostoso...

— É disso que gosta? De agressividade? — Apertei mais seu pulso sem resistir. Seus olhos escureceram.

Ah sim, ela gostava. E de repente eu quis ver quais os limites de Barbara Blackwood.

— E se eu disser que quero bater em você?

— O quê? — Ela engasgou num riso nervoso, mas não se afastou. — Tipo dar umas palmadas?

— Isso te deixa molhada?

— Talvez.

Ela se afastou e, virando de costas, levantou a saia.

Porra.

— Se apoie na mesa — ordenei tirando a palmatória do bolso.

Barbara soltou um risinho se inclinando, eu abaixei sua calcinha de renda branca quase pueril e acariciei sua pele.

Ela gemeu.

E então eu desferi o primeiro golpe.

Ela se voltou surpresa.

— Ai, o que foi isso?

Eu sorri diabolicamente e segurei seu cabelo.

— Isso, Senhorita Blackwood, é o que merece por ser uma riquinha mimada. Agora, conte... Talvez cinco bastem para mim.

Eu esperei, entre divertido e excitado, que ela fosse se afastar e fugir correndo. Talvez fosse até a diretoria me dedurar e aí sim eu seria expulso da escola.

Mas ela arquejou, os olhos brilhando de excitação.

— Um...

Ah...

Eu amei cada momento em que tive Barbara Blackwood gemendo de dor. Assim como amei cada gemido de prazer que ela emitiu enquanto eu a fodia, ainda na mesma posição sobre a mesa.

Houve muitas garotas depois de Barbara. Umas que amaram cada momento comigo, seja fodendo ou apanhando.

Outras, não gostavam quando o lance ficava agressivo. Com o tempo eu aprendi a reconhecer àquelas que estavam dispostas a jogar comigo, ou as que preferiam apenas serem fodidas convencionalmente.

Na verdade, nem me importava. Eu era um garoto cheio de hormônios e sexo era sexo. Eu podia apreciar de todas as maneiras.

Mas sabia que algo dentro de mim se satisfazia mais quando eu podia exercer algum domínio. Naquela época, eu não sabia bem aonde isso iria me levar, eu gostava cada vez mais de ter controle sobre tudo e quanto mais adulto me tornava, a minha vida tomando um rumo que eu podia prever que meu futuro seria bem longe da mediocridade, mais aprendia sobre mim mesmo.

Eu queria ser alguém. Queria ter controle. Queria ser temido. Só ainda não sabia bem como.

Então, entrei na universidade. Mudei-me da casa de Nora e David para o dormitório e um tempo depois conheci Vanessa.

Ainda me lembro a primeira vez que a vi. Havia um bar que os estudantes frequentavam e onde eu ia para beber, espairecer e conhecer garotas.

Uma noite, eu vi Vanessa entrando com uma amiga.

Ela era loira, linda e naquele momento, me pareceu irresistível.

Eu me aproximei, flertei com arrogância, porque eu sabia que podia ter a garota que quisesse. Vanessa parecia divertida e atraída também enquanto me cravava de perguntas que naquela hora não entendi. Ela queria saber quem eu era, quem era minha família.

Eu lhe contei que tinha pais adotivos, sem entrar em detalhes sobre a morte dos meus pais verdadeiros.

— Seu pai é médico? Então você é rico?

Eu ri.

— Não. Os Hunter não são ricos. Eles vivem bem, pagam minha faculdade, mas eu trabalho na biblioteca algumas vezes por semana para conseguir uma grana.

Acho que foi naquele momento que Vanessa decidiu que eu era pobre demais para seus padrões. Quando ela disse que precisava ir embora e eu a chamei para um encontro, ela sorriu e disse sem preâmbulos que não saía com estudantes pobres.

Fiquei boquiaberto por um instante enquanto ela acenava e se afastava.

Deveria ter mandado Vanessa e sua ambição para o inferno, afinal, eu podia mesmo ter qualquer outra garota. Mas acho que seu olhar de desdém e o fato dela nem titubear em me dar o fora pelo simples motivo que eu não era rico me irritaram sobremaneira.

Foi naquela noite que eu descobri que era um cara orgulhoso e decidi que iria conquistar Vanessa de qualquer jeito.

No dia seguinte, eu a vi pela universidade e a cerquei. Decidi que podia ser charmoso e envolvente, porque era o que uma garota como Vanessa parecia gostar. Não me importava se ela iria gostar de levar uns tapas algemada ou não, mesmo porque eu já tinha feito muitas garotas começarem a gostar quando estavam na minha cama.

Porém, Vanessa parecia imune a qualquer tentativa de conquista.

— Qual o seu problema? — Eu me irritei um dia enquanto a seguia pelo campus, mais uma vez levando um fora.

Eu não conseguia admitir que ela não quisesse ao menos ir pra cama comigo.

— Eu já falei, Liam. Você é pobre. Eu sou uma garota cara, gosto de bons jantares, presentes... Você é bonito e há milhas de distância já dá pra sacar que é bom de cama. E já ouvi sua fama por aí. Mas eu não sou como as outras garotas. Não é o sexo que me move. É o dinheiro.

— Então é isso que quer? Dinheiro? Eu posso conseguir.

Ela riu.

— Nunca vai ter o suficiente.

— E quanto seria o suficiente?

Ela achava que eu não estava falando sério quando parou e inclinou a cabeça, divertida.

— Um milhão.

Eu abri um sorriso astuto.

— Espera e veja.

Eu ainda almoçava com David e Nora aos domingos e David gostava de me explicar sobre investimentos. Eu prestava atenção, talvez um dia eu tivesse grana o suficiente para tanto.

Depois do desafio de Vanessa, decidi que precisava ganhar um milhão. Óbvio que eu sabia que era impossível e me perguntava o que aquela garota tinha de diferente que me desafiava a tanto.

Eu não sabia dizer. Mas queria esfregar aquele dinheiro na cara bonita dela.

David depositava todo mês uma mesada para mim, que eu nunca usava, pois trabalhava nas horas vagas para conseguir uma grana, já que ele já pagava minha faculdade.

Quando eu olhei o saldo, percebi que era um dinheiro bom.

Nem perto de um milhão, claro, mas era um começo.

Comecei a estudar investimentos na Bolsa de Valores e a investir aquele dinheiro. E percebi que era fácil pra mim, antever as ações que iam subir, o que ia descer, o que ia dar lucro.

Eu ainda via Vanessa perambulando pela universidade, às vezes entrando em carros de garotos ricos com um sorriso de deboche. Mas eu não me importava. Sabia que uma hora minha vez iria chegar.

Em menos de um ano, juntei um milhão de dólares.

E a primeira coisa que fiz foi chamar Vanessa para sair.

Ela não acreditou. Mas eu apareci em frente a seu dormitório em um carro caro. Eu a levei a um restaurante fino.

E depois ao apartamento que aluguei em Upper East Side.

Onde a fodi da maneira que eu vinha sonhando há um ano.

Eu era, finalmente, um cara rico.

E era só o começo.

Dali pra frente comecei a viver para ganhar dinheiro, farejar bons investimentos, aumentar cada vez mais meus lucros.

Vanessa se tornou minha namorada. Ela era uma das garotas mais bonitas e difíceis da universidade e adorei começar a circular com ela, ostentando quase como um troféu. E ela amava gastar meu dinheiro.

Eu não me importava. Apreciava arrancar de seu corpo as roupas de grife, puxar seus cabelos perfeitos entre meus dedos enquanto eu a fodia com força. Ela até mesmo não se importou em levar uns tapas ou ser algemada.

Nós dois nos divertimos juntos, como se o mundo fosse nosso.

Cheguei a acreditar que aquilo fosse o tal do amor romântico que todos falavam. Vanessa gastando o dinheiro que eu ganhava me dava tesão.

E assim, com vinte anos, eu ficava cada dia mais rico e tinha uma namorada perfeita.

Quando eu disse que Vanessa deveria se mudar para meu apartamento, ela sugeriu que devíamos nos casar. Por que não?

Talvez eu fosse jovem demais, mas eu também era jovem demais para ser milionário. E de alguma forma sentia como se Vanessa fosse meu amuleto de sorte.

Assim, eu coloquei um anel em seu dedo e ela se mudou para meu apartamento.

E aí foi onde as coisas começaram a desandar.

Eu estava determinado a me tornar tão rico como Warren Buffett.

Saí da faculdade, aluguei um escritório em Wall Street, formei uma equipe e de repente eu era o nome mais quente das finanças no momento.

E Vanessa rapidamente deixou de ser uma excitante novidade para se tornar uma namorada chata que cobrava minha atenção. E não adiantava eu dizer que estava trabalhando e ganhando o dinheiro que ela amava gastar.

— É este tipo de marido que você vai ser? Que só vejo de vez em quando? — gritava enfurecida.

Eu revirava os olhos, irritado, e na maioria das vezes a deixava gritando sozinha. Não tinha tempo para suas cobranças sem sentido e percebi que talvez me casar com Vanessa não seria tão bom assim.

A verdade é que Vanessa era uma chata. Era aquele tipo de mulher que só era divertida enquanto estava no jogo da conquista. Depois se tornava egoísta e exigente se não lhe desse atenção suficiente.

Mesmo assim, algo em mim se negava a ver o que Vanessa certamente viu antes de mim. Não fomos feitos para ficar juntos.

E um dia, ela me comunicou que estava indo embora.

Fez as malas e disse que estava indo para o hotel onde seu amante, um empresário 15 anos mais velho, chamado Elliot Vanderbilt, a estava aguardando.

— Você me traiu, Vanessa? — Eu não podia acreditar.

— Sim , traí! E foi pouco! Você nem é tudo isso, Liam! Enquanto fica ali brincando de investidor se sentindo muito rico porque tem quase dez milhões, eu estava fodendo com Elliot que tem bilhões! Sabe que ele produz filmes em Hollywood também? Você não é nada perto dele.

Ela foi embora naquela noite, levando as joias e roupas que eu lhe dei.

Eu me senti passado para trás.

Meu relacionamento com Vanessa podia não ser perfeito, mas eu não gostava do fato de ela ter me deixado, me trocado por um cara mais rico.

Inferno, eu odiava perder.

Fui até um bar, bebi muito e cerquei uma garota que ficou muito feliz em me deixar comê-la ali mesmo na despensa, enquanto lhe dava uns tapas para extravasar.

Depois continuei bebendo, indo a outros bares, até começar a causar confusão. Acabei num bar sujo no Brooklin resgatado por ninguém menos que Ethan depois de me envolver numa briga. Ethan era o segurança do lugar.

Ele me levou pra minha casa e no dia seguinte, eu lhe contei sobre os últimos anos. Sobre os Hunter, Vanessa e todo o dinheiro que eu tinha agora.

Ethan me contou que, depois de sair do reformatório, trabalhou usando os punhos, como segurança em bares e ainda praticava luta para ganhar uns trocados. Ele estava maior do que eu me lembrava e fiquei feliz em vê-lo de novo.

— Cara, toda essa confusão por causa de uma mulher. — Ele riu. — Olhe pra você, milionário, pode ter a mulher que quiser.

Ele tinha razão.

Eu era rico, jovem e podia ter a mulher que eu quisesse.

E foi assim que eu comecei a agir a partir daquele momento.

Até Emma Jones.


Gravação 5


Eu odeio perder dinheiro, mas perder a oportunidade de ter Emma Jones me deixou furioso por alguns dias.

Só isso justifica a frustração que me acompanha desde então.

Às vezes eu me pergunto se não fui consciencioso demais. Eu não a obriguei a estar ali comigo. Ela teve várias oportunidades de dizer não. Eu teria aceitado? Provavelmente não também, foda-se. Eu teria até gostado mais da situação, fazia a caça ser mais prazerosa. Mas Emma, apesar de seus sinais confusos, nunca pareceu estar sendo coagida a nada.

Então que mal haveria se eu a fodesse? A única diferença é que seria a primeira vez que ela faria algo assim. E como dizem, para tudo tem sua primeira vez. Emma Jones inclusive já passou da hora.

Não faço ideia do que a levou a estar assim até hoje. Não me pareceu convicção religiosa, ou falta de interesse em sexo. Interesse ela tinha e muito. Talvez uma pressão familiar? Ou ela era uma daquelas garotas bobas que eu nem sabia que ainda existia e que estava esperando um príncipe encantado?

Bem, eu não sou este cara e percebi naquela semana que era exatamente este um dos motivos mais fortes que me fizeram recuar e mandá-la embora. Garotas românticas costumavam achar que sexo era amor e compromisso.

Eu não tenho compromissos com mulheres. Não a longo prazo e muito menos românticos.

Mesmo quando era jovem, eu me considerava cerebral demais para me deixar levar por paixões. Não entendia aquele conceito de amor romântico. Eu via isso nas pessoas à minha volta, óbvio, mas nunca entendi. Sim, eu já me senti atraído por muitas mulheres. Perdi a virgindade com 14 anos com uma colega de escola e desde então, percebi que sexo era algo bom e que podia tê-lo com qualquer garota que estivesse disposta. E geralmente elas estavam. Chegava a ser entediante. Algumas se diziam apaixonadas por mim. Choravam. Insistiam. Eu não entendia porque aquela obsessão em andar de mãos dadas comigo pela escola, fazer programas juntos, transar sempre com a mesma pessoa. Só me parecia um conceito muito chato.

Naquela época, não havia muitos pensamentos em mim sobre o futuro. Eu era um garoto fodido que vivia em lares adotivos com gente que não gostava nem um pouco de mim. As únicas pessoas que eu amei e precisei estavam mortas e talvez tenha sido até natural que eu buscasse apenas relacionamentos superficiais.

Até Ethan.

Mas Ethan era meu amigo. Meu irmão.

Era diferente de uma mulher.

Com 17 anos, depois de já estar na casa dos Hunters, com uma situação muito diferente, descobri minha verdadeira natureza. O sexo passou a ser mais divertido desde então. E mesmo assim, ainda era algo apenas superficial.

Até Vanessa.

Eu estava na faculdade e talvez movido por uma sensação de querer ser algo, ou decidi que queria ter algo. Até aquele momento, eu não era possessivo com nada.

Começou com Vanessa.

Depois veio o dinheiro.

E o poder do dinheiro, passou a ser a verdadeira mola que girava minha vida. O sexo ainda era divertimento. Uma compensação.

Algo a se apreciar como um belo jantar. Um luxo.

Ainda não entendo o conceito de amor romântico.

Talvez tenha me confundido com Vanessa. Por um período achei que aquilo era amor. Não podia estar mais enganado. E depois dela, não houve mais necessidade de querer ter uma mulher e apenas ela.

Eu era um homem rico, poderoso e jovem.

E havia muitas mulheres no mundo que estavam dispostas a entrar no meu jogo por um tempo curto e depois serem dispensadas. Algumas ainda caem na bobagem de dizer que estão apaixonadas, mas sinceramente, não passa de mentiras. Elas não ficam tempo suficiente para se apaixonarem.

Eu não sou nenhum idiota que não admite que existe amor verdadeiro entre duas pessoas.

Meus pais se amavam.

Os Hunter se amam.

Talvez algumas pessoas encontrem outras que as completem, que a definam. Que as fazem querer ficar junto para sempre, pelo menos.

Mas não acredito que aquele tipo de relacionamento seja pra mim.

Não me imagino deixando uma mulher ser mais importante que meu trabalho, por exemplo. Ou gostar mais de estar com uma mulher do que ganhar dinheiro.

Uma vez, coloquei uma mulher quase neste patamar, mas ela me retribuiu me deixando por outro cara mais rico. Ou seja, o conceito de dinheiro mais importante que tudo continua mais válido do que nunca. Então, eu gosto de mulheres e mulheres gostam de dinheiro. E eu gosto de proporcionar a elas o que o dinheiro pode comprar. É quase uma forma de compensação por elas me divertirem.

Acreditei que Emma Jones estava neste nível. Ela apreciaria estar na minha cama tanto quanto apreciaria alguns pequenos luxos que eu lhe daria. Algumas roupas caras. Um jantar fino.

E enfim, lhe mostraria o meu jogo.

Só que Emma Jones não fazia ideia de onde estava se metendo. Talvez fosse mesmo aquele tipo de garota ingênua o bastante para me confundir com um príncipe romântico. Então, se eu fosse em frente e lhe mostrasse o que eu queria — o que nós poderíamos ter juntos — o que aconteceria depois?

Sempre haveria a possibilidade de ela fugir correndo. Mas vamos combinar, Emma Jones não fazia o tipo que fugia. Inferno, não foi isso que me atraiu nela? A vontade de se submeter que eu via em seu olhar?

A verdade é que eu já estava há dias demais remoendo sobre o fiasco que foi a conquista da Senhorita Jones. Sou um cara pragmático e não perco meu tempo com questões que não podem ser mudadas. Então por que diabos continuo pensando em Emma Jones espalhada na minha mesa?

Agora mesmo, estou naquela merda de conferência de negócios no Rockefeller Center, cercado dos homens mais ricos e influentes da cidade, e enquanto Milo Firestone e seu filho discorrem sobre suas impressões sobre as próximas ações que devem decolar nos próximos meses, em vez de prestar atenção me vejo pegando o celular e admirando a foto da garota nua na minha mesa.

— Senhor Hunter.

Por um instante, acredito que estou em alguma espécie de delírio quando levanto a cabeça e Emma Jones está parada em frente ao sofá que estou sentado com os Firestone.

Ela está bem diferente do habitual. Usando um terninho preto e uma camisa verde chamativa. O rosto bonito está maquiado e os cabelos presos em um profissional rabo de cavalo.

Sim, não estou sonhando. Emma Jones está parada na minha frente me encarando em desafio.

Mas. Que. Porra?

— Senhorita Jones — digo seu nome, tentando reagir àquela aparição inesperada. Minha mente analítica tenta achar sentido para sua presença ali.

— O senhor me deve dez minutos — ela diz com desafio.

Ah sim.

De repente eu entendo.

Emma Jones veio atrás de mim.

Ela entrou — sabe Deus como — em uma conferência de negócios, vestida como uma profissional de jornalismo séria e não mais como a estagiária morta de fome grunge, exigindo minha atenção.

Perplexo, eu a observo sentar-se no lugar vago ao lado de Milo Firestone. Os dois homens parecem aturdidos e curiosos.

Milo Firestone é dono do Banco Firestone e seu filho é diretor geral.

— Ah, me desculpe, interrompi alguma coisa? — Emma sorri. — Sou Emma Jones. Trabalho para o Jornal New York Morning e o Senhor Hunter nos concederá uma entrevista. Como sabem, o Senhor Hunter é muito ocupado e é difícil encontrar algum tempo livre em sua agenda, nós chegamos a iniciar a entrevista, mas não foi possível terminá-la, tivemos alguns... contratempos... no decorrer. — Agora ela olha diretamente para mim e não consigo conter minha expressão de fúria. Como ela ousa? — E aqui estamos. Afinal o senhor termina tudo o que começa, não é? — Sua voz pinga sarcasmo e ela não parece intimidada por minha expressão consternada.

— Algumas vezes abortar a missão é o mais indicado — respondo com frieza e vejo seu olhar de desafio vacilar.

Sim Senhorita Jones. Eu não admito que me cacem e me intimidem.

Encerrei nossas negociações e achei que tinha entendido. Pelo visto, não.

E o pior é que estou furioso, mas também há uma parte de mim que está apreciando vê-la de novo.

Que percebe que sentiu falta de sua impertinência.

Meus dedos começam a coçar de vontade de fazê-la pagar por isso.

Inferno.

Eu ainda quero jogar com a Senhorita Jones.

— Oh, claro, sem problemas. — Felix sorri enquanto se levanta e não consigo evitar de perceber que seu olhar para Emma é de sutil interesse. — Sou Felix Firestone e este é meu pai, Milo.

— Das empresas Firestone? — Emma se levanta para segurar a mão estendida de Felix.

E sou surpreendido por uma onda ácida de ciúme.

— Senhorita Jones, eu só tenho dez minutos e eles estão passando enquanto está bajulando os Firestone — rosno friamente, me levantando pronto para arrastar Felix para longe.

— Liam Hunter realmente não perde tempo. — Milo esboça um sorriso astuto. — Foi um prazer conhecê-la, Senhorita Jones, vamos deixá-la fazer o seu trabalho, afinal só tem dez minutos — brinca enquanto se afasta com Felix, que ainda lança mais um olhar para Emma.

Idiota.

Vamos ver o que ele vai achar quando eu tirar meu dinheiro do seu banco.

— Parece que tem um admirador, Senhorita Jones — ironizo.

— Eu tenho muitos, na verdade. Teria descoberto se tivesse ficado mais cinco minutos! — ela rebate, me irritando.

— É por isso que está aqui? É algum tipo de vingançazinha por eu tê-la dispensado?

— Não. Estou aqui porque me deve uma entrevista. — Ela se senta, retirando o gravador da bolsa e colocando-o na mesa de centro. — Dez minutos, não é? Melhor começarmos, porque como o senhor mesmo disse, o tempo está passando.

Por um instante, desejo dizer-lhe exatamente o que fazer com aquela merda de entrevista, que nós dois sabemos ser apenas uma desculpa esfarrapada. Emma Jones está com raiva. Mas continua atraída.

Tanto que está aqui. Meu pulso acelera com as possibilidades.

Fúria e fogo subindo por meu sangue, que corre mais rápido, intoxica minha mente com imagens da Senhorita Jones levando exatamente o que merece.

Certo. Vamos ver até onde vai sua coragem.

Ela quer brincar? Eu sou mestre naquele jogo.

— Irei lhe conceder sua entrevista, Senhorita Jones, satisfeita? — Eu me sento também.

— Longe disso — murmura como se fosse para si mesma antes de respirar fundo e me encarar com o que ela acha ser um olhar profissional.

Eu tenho vontade de rir.

Ela mais parece uma adolescente apresentando um trabalho de escola.

— O que o motivou a investir na Bolsa?

Ah, a famigerada pergunta que todos fazem. Não consigo evitar um sorriso amargo. O que Emma Jones acharia se eu lhe contasse sobre Vanessa e o desafio que ela me lançou. Um desafio que eu cumpri com prazer pela chance de estar entre suas pernas?

Não gosto de lembrar de como deixei meu pau dominar minha mente e minhas ações, mas não posso deixar de agradecer a Vanessa por ter feito a ambição nascer em mim.

— O que motiva a todos, Senhorita Jones. Dinheiro. Eu apenas queria ganhar dinheiro. — Opto pela versão superficial. O que não deixa de ser verdade.

— O seu pai é médico e sua mãe é professora. Não era de uma família pobre.

— Sim, meus pais adotivos não são pobres, acho que podemos dizer que são de uma boa classe média — corrijo.

— Adotivo?

— Ah, vejo que o Google ainda é falho em minha biografia. Sim, David Hunter e Nora Hunter me adotaram quando eu tinha 16 anos.

— O que aconteceu com seus pais verdadeiros?

— Morreram.

Não há emoção na minha voz ao dizer isso.

Não mais.

Eu aprendi a esconder o menino órfão num lugar onde nem eu mesmo podia encontrá-lo.

— Sinto muito... Quantos anos tinha?

— Dez.

— Você disse que foi adotado com 16 pelos Hunter...

— Passei por muitos lares adotivos fodidos antes disso.

— Ah, entendo. E o que os seus pais verdadeiros faziam?

— Não tenho certeza da relevância dessa pergunta, em todo caso, meu pai era contador e minha mãe assistente social — respondo a contragosto.

— Contador? Talvez tenha herdado dele o fato de gostar de mexer com dinheiro. — Ela sorri.

— Não herdei nada do meu pai. — Minha resposta soa ríspida pelo fato de que eu não me lembro do meu pai direito, não tem como eu saber se herdei algo dele.

— E de sua mãe, não herdou nada também?

— Ela era bonita. — A imagem da minha mãe flutuando acima de mim, volta à minha mente. Seus cabelos ruivos roçando meu rosto enquanto ela se abaixava para beijar minha testa antes de dormir.

A dor aperta meu peito e eu me irrito, afastando aquela lembrança.

Eu raramente me permito lembrar.

— Isso explica muita coisa — Emma diz com ironia.

— E você, Senhorita Jones. A quem puxou mais, sua mãe ou seu pai?

Ela fica confusa.

— Sério?

— É só uma pergunta.

Vamos voltar os holofotes para a Senhorita Jones e afastá-los de mim.

— Meu pai é policial numa cidadezinha fria de Washington e minha mãe uma dona de casa natureba da Califórnia.

— Divorciados?

— Sim. Desde que eu tinha cinco anos. Passei meus anos de infância e adolescência me dividindo entre os dois.

— Como veio parar em Nova York?

— Faculdade. Foi onde me aceitaram. Meu pai insistiu em jornalismo, embora eu quase tenha entrado em Literatura. Ele achou que eu fosse morrer de fome sendo uma professora ou algo assim.

Provavelmente vai morrer de fome sendo jornalista também, se levar em conta suas habilidades neste momento, penso com ironia. Talvez este fosse o problema dela, a falta de interesse real na profissão. Provavelmente ela seria mais competente se seguisse a profissão que queria e não a do seu pai.

— Minha mãe é professora de literatura.

— Acho que já gosto da sua mãe. — Ela fica animada com a informação.

— Ela iria gostar de você. — E é verdade. Nora iria adorar alguém como Emma.

Obviamente as duas nunca se conheceriam.

— Bem, sua mãe não morreu de fome. Direi isso ao meu pai.

— Minha mãe se casou com um médico. Ela trabalha num bom colégio católico.

— Por isso estudou num colégio católico.

— Sim, eu era bolsista. Tive que aprender a me comportar para as freiras não me expulsarem. Não que eu me importasse com aquelas putas, porém Nora ficaria arrasada.

— Você era um garoto terrível?

— Fui criado praticamente nas ruas. Não se pode dizer que tinha a melhor educação. Eu era mal-educado e boca-suja.

— Era? — ironiza e não consigo evitar uma risada.

— Algumas coisas não mudam.

— Imagino que não — ela sussurra com um olhar enlevado que me faz parar de rir.

Por que merda ela faz aquilo? Fica me olhando como se eu fosse algum príncipe de desenho da Disney?

Ela parece perceber o que está fazendo, pois cora e pigarreia, voltando a suas anotações.

— Acredita que o colégio católico lhe deu a formação necessária para ser quem é hoje, já que a faculdade não lhe serviu de muito como me disse anteriormente?

— Ah, eu aprendi muitas coisas num colégio católico misto. Aprendi que gosto de garotas de uniforme. Meias três quartos são muito sensuais. Gostava de imaginar que tipo de roupa íntima as garotas usavam por baixo da saia. Consegui descobrir boa parte delas e convenci uma boa parcela a não usar nada enquanto estivesse comigo. Aprendi também que algumas garotas acham estimulante alguns tipos de punição.

Os olhos escuros de Emma Jones estão arregalados em choque agora.

O que será que diria se lhe revelasse que ela gostaria muito se eu fizesse o mesmo com ela?

— Já apanhou de palmatória, Senhorita Jones?

Ela sacode a cabeça em negativa e eu abro um sorriso maldoso.

— As freiras costumam usar no colégio para punir os infratores. Roubei uma delas um dia e usei numa garota que precisava de uma lição.

— Você bateu numa garota?

Ela está horrorizada.

— Ela gostou. Muito. Principalmente quando eu a fiz gozar depois.

— Oh. Meu. Deus.

Eu a observo pegar o gravador com as mãos trêmulas e tentar desligá-lo.

— Minhas palavras a chocam, Senhorita Jones? Está pensando em quão horrível eu sou neste momento?

Por fim, desiste de desligar o gravador e me encara.

— Você ainda faz isso? — pergunta num fio de voz. — Você ainda... Bate em mulheres?

— Tudo para o prazer.

— Você quer dizer seu prazer — rebate com ironia.

— Eu poderia lhe mostrar o quão prazeroso pode ser este jogo, Senhorita Jones.

Claro que ela está chocada. Emma Jones nunca fez sexo e muito menos o tipo de sexo que eu gostava de fazer. Ela não faz ideia de que o fato de ela estar ali, brincando de jornalista comigo, diz muito sobre sua verdadeira natureza.

Ela não faz ideia, mas seu corpo faz.

Por um momento, eu me delicio com essa constatação. Talvez Emma Jones não seja um negócio perdido, afinal.

Eu poderia mostrar a ela?

Por um momento eu me deixo levar pela fantasia.

— Você me mandou embora. — Ela não esconde o ressentimento.

— Você não é quem eu pensava que fosse. — De repente quero lhe contar. Quero lhe dizer por que eu a mandei embora.

Nunca foi falta de interesse.

Eu apenas tinha sérias dúvidas de que Emma Jones aguentaria o tipo de jogo que eu jogava.

Mas agora... Inferno. Eu ainda a quero.

Mais do que achei que quisesse. E isso me irrita e me inebria ao mesmo tempo.

Emma Jones é um desafio. Que está rapidamente se transformando em um projeto promissor.

Porém, me surpreendo quando ela guarda o gravador e se levanta.

— E você é exatamente quem eu pensava. Obrigada pela entrevista, Senhor Hunter. Adeus.

Estupefato, eu a observo se afastar, sumindo no meio dos engravatados da conferência.

Que porra?...

Eu me levanto, ainda irritado pela Senhorita Jones ter me deixado falando sozinho, e me encaminho para as mesas, onde a maioria dos executivos já está se acomodando para o brunch. E qual não é minha surpresa ao ver a Senhorita Jones na mesa, rindo com os Firestone.

— Algo engraçado? — Tomo meu lugar na mesa e posso notar a surpresa na expressão de Emma Jones.

— A Senhorita Jones estava dizendo que o Leão de Wall Street não é tão feroz quanto dizem — Milo responde.

— Realmente, Senhorita Jones? — Eu a encaro com frieza.

— Felix comentou que eu não fui devorada pelo leão, tive que concordar com ele.

Ela está fazendo piadinhas?!

— Hum, já estão se tratando pelo primeiro nome? — Não dá pra não notar que Felix está interessado em Emma. E ela parece lisonjeada com o fato.

— Oh, me desculpe. — Ela enrubesce. — Senhor Firestone.

Puta. Que. Pariu.

Eu preferia que ela o chamasse pelo nome. Não quero que ela chame ninguém de senhor além de mim.

— Imagina, pode me chamar de Felix. Sempre acho que estão chamando meu pai, quando me chamam assim, faz eu me sentir velho.

— Pode me chamar de Emma, então.

— Que lindo nome — Milo Firestone comenta. — Insisto que me chame de Milo também, mesmo sendo um velho.

— O senhor não é velho!

O homem se desmancha em sorrisos.

— É muito bom ouvir isso de uma linda jovem mulher como você, Senhorita Jones!

— Emma, eu insisto.

— Não deixe o velho flertar com você, Emma — Felix brinca —, senão terei que flertar também.

— Oh Deus, por favor, não briguem por mim. — Emma leva a mão no coração fingindo pesar e sorrindo.

Ela está flertando com pai e filho?

Começo a me enfurecer, mas rapidamente percebo que há um intuito ali. Emma está me provocando. Para me irritar. E está conseguindo.

Meus dedos coçam enquanto o garçom aparece com os pratos e Emma me fita de esguelha, porém, quando percebe que a estou encarando, desvia o olhar, vermelha.

— Nos fale de você, Emma — Milo pede. — Disse que é repórter?

— Estagiária, na verdade. Estou no último ano de jornalismo. Vou me formar dentro de dois meses.

— E já pensou no que vai fazer depois? Vai continuar no jornal?

— Eu confesso que ainda não pensei sobre o assunto...

— Ela não gosta da profissão que escolheu — comento.

— É verdade? — Felix pergunta intrigado.

Emma está corada agora.

— Não é bem assim.

— Não é verdade que gostaria de fazer literatura? — insisto.

— Sim, este foi um sonho adolescente — desconversa —, eu vim pra Nova York me formar em Jornalismo.

— Você é de onde? — Felix indaga.

— Aberdeen, Washington.

— Que interessante. Temos uma filial da empresa em Washington — Felix sorri. — E meu pai e eu gostamos de pescar naquela região.

— Sério? Meu pai ama pescar! Acho que é o que ele mais gosta de fazer.

— Olha só que interessante, filho. Se formos para lá nos próximos meses, podemos visitar o pai da Emma e pedir a mão dela em casamento, o que acha Felix? Estou mesmo querendo netos antes de morrer.

O quê? Aquele velho estava insinuando que a Senhorita Jones deveria se casar com o filho dele?

A minha Senhorita Jones?

A possessividade que permeia minha mente por um momento me assusta.

— Papai, por favor. — Felix cora como um colegial virgem.

Aperto meus dedos na taça à minha frente, para conter a vontade de apertar as bolas de Felix.

— Não acho uma boa ideia. — Eu me intrometo na conversa. — O pai da Senhorita Jones é policial.

— Nossa! Pode ser perigoso, pai. — Felix ri.

— Não seja frouxo. Homens Firestone honram as calças que vestem!

Todos riem de novo da piada idiota, mas eu não estou com o menor humor agora.

Estou irritado com aquela conversa.

— Talvez antes de fazer planos devesse perguntar a Emma se ela não tem um namorado, papai — Felix diz enquanto Emma enrubesce, bebericando a água de sua taça, como se estivesse pensando na resposta.

— Diga-nos Emma, existe um homem sortudo que devemos tirar do páreo? — Milo insiste.

O olhar de Emma captura o meu através da mesa.

— Até poderia haver. Embora eu acredite que ele não me queira.

E há pesar em seu tom de voz.

Um pesar que parece ser mais profundo do que esperava.

E a merda é que faz eco com meu próprio pesar.

Como ela ousa falar que eu não a queria?

— Como assim? Este homem é louco? — Milo ri. — Não querer uma linda jovem como você? Bonita, educada, inteligente e simpática?

— Parece que nada disso é o bastante para alguns homens. Na verdade, eu não sei o que ele quer de mim.

— Homens são criaturas simples, senhorita — um senhor sentado do outro lado da mesa diz. — Ou eles querem ou não querem.

— Então talvez ele não me queira mesmo... — ela murmura abaixando o olhar.

— Talvez ele queira, mas a senhorita seja inocente demais para ele. — Eu me surpreendo ao ouvir minha própria voz, firme e quase furiosa.

Emma arrasta o olhar para meu rosto de novo. Ela está surpresa.

— Inocência era um prêmio na minha época — Milo diz, e acho que está um tanto embriagado. — Já hoje em dia...

— Papai! — Felix ralha.

— Eu fiquei interessada em sua opinião, Senhor Hunter — Emma diz por cima da discussão de Felix com o pai, os outros dois homens entraram num debate e não estão prestando atenção em nós —, explique-se.

— Alguns homens jogam com as mulheres. Talvez ele acredite que a senhorita não se encaixa neste jogo. — Opto por uma sinceridade evasiva.

“Eu quero te algemar na minha cama e amordaçar essa sua boca impertinente, Senhorita Jones. Quero te bater com as minhas mãos ou com a coleção de chicotes que tenho guardados em casa, até deixar sua pele vermelha e seu corpo ardendo. E então mergulhar meu pau em você e fazê-la gozar tão forte que nunca mais vai esquecer a sensação. Nem do meu pau e nem dos golpes da minha mão.”

— Como ele pode saber se eu não estou interessada em jogar?

— A senhorita está?

— Ele poderia me mostrar. — Sua voz vacila. Mas seu olhar é firme. É desafiador. Curioso e ansioso. Talvez depois da nossa conversa sobre as garotas do colégio católico ela tenha entendido uma parte do que eu sou capaz. E mesmo assim, ela está aqui. Ansiando pelo desconhecido. — Talvez eu queira muito... que ele me mostre...

Meu pulso acelera. Meus dedos coçam. O desejo que voa como faíscas dos olhos inocentes de Emma Jones atinge meu peito como uma lança de fogo. Incendiando meus sentidos.

Levando meu controle.

Inferno!

— Duvido que esteja preparada para o que ele gostaria de fazer com você. — Ainda tento manter a racionalidade enquanto faço pequenos nós no guardanapo em minhas mãos, imaginando como Emma Jones ficaria magnífica amarrada na minha cama.

E de alguma maneira ela sabe os pensamentos sacanas que permeiam minha mente, pois arfa, o rosto vermelho de excitação, enquanto se move inquieta na cadeira e toma um gole de água.

Eu faço o mesmo.

Mas nem toda água do mundo seria capaz de apagar o incêndio que a Senhorita Jones está causando em meus pensamentos.

— O que estão dizendo? — Felix volta para a conversa.

— Nada importante. — Emma força um sorriso.

— A senhorita estava nos contando sobre o homem burro que a dispensou. — Milo ri.

Sim, ele está bêbado.

— Na verdade, eu preciso ir. — Ela se levanta.

Felix se levanta junto.

— Já?

— Eu tenho um compromisso.

Óbvio que é mentira.

— Fique com meu cartão. Talvez possamos marcar um jantar a qualquer hora.

— Claro. — Ela sorri pegando o cartão que eu decido que vou queimar assim que possível.

Acenando em despedida e sem me encarar, ela se afasta para a saída.

— Que linda moça. — Milo se desmancha em elogios. — Deve chamá-la para sair, filho.

— Sim, Emma é mesmo linda — Felix concorda.

Irritado, eu me despeço também, ignorando os olhares surpresos e saio da mesa.

Apanho meu celular enquanto me encaminho para a saída e digito uma mensagem furiosa.

“Você acha que flertar com a família Firestone inteira é um bom negócio, Senhorita Jones? Tem noção de como eu quis te punir por me fazer sentir ciúme daqueles babacas babando em cima de você? Me imaginei te colocando em meu colo na frente de todas aquelas pessoas, tirando sua linda calça preta justa e deixando a marca dos meus dedos na pele branca do seu traseiro.”

Alguns segundos depois a resposta chega e não é a que espero. Eu paro aturdido.

“Você sentiu ciúme de mim?”

Que diabos?...

“Não. Não estou com ciúme.”, é o primeiro pensamento que me vem à mente.

Mas assim que a negativa se forma, percebo que é uma mentira. Sim, estou com ciúme. Eu mal conheço a Senhorita Jones. Eu lhe dei o fora e, mesmo assim, tive vontade de arrastá-la para longe dos homens Firestone.

Principalmente Felix com sua sedução gentil.

Não sou um cara gentil. Nem romântico.

E nem sensível. Tudo o que a virgindade bem guardada da Senhorita Jones deveria estar esperando.

E saber que, em algum nível, Felix seria o homem certo para Emma, me deixa furioso.

A mensagem dela chega antes que eu lhe responda.

“Está com medo de responder, não é? Porque nós dois sabemos que você se arrepende de ter me dispensado. Você sabe que estou livre para aceitar convites de homens como Felix Firestone e até do pai dele se eu quiser.”

A verdade contida em suas palavras me irrita e me vejo respondendo com fúria.

“Não sabia que gostava de ménage em família, Senhorita Jones.”

A resposta dela também vem furiosa.

“Você é um grande babaca, cretino, egocêntrico, filho da puta...”

Respiro fundo, olhando em volta. Como se ela estivesse ali em algum lugar. Eu posso sentir.

“Como ousa me dizer este tipo de coisa? Eu não sou uma de suas putas!”

— Merda! — rosno irritado.

Eu deveria sair daquele lugar e da vida dela pra sempre. Deixá-la seguir flertando com homens como Felix Firestone. Que lhe daria atenção e romance. E não apenas prazer e algumas escoriações.

“Mas é só isso mesmo que quer dar a Senhorita Jones?”, uma voz desconhecida se intromete em minha mente.

Eu conseguiria farejá-la em algum lugar daquele prédio, caçá-la pelos corredores, e quando finalmente a encontrasse, arrastá-la para minha cama, onde faria tudo o que desejava desde que ela tropeçou em mim em Wall Street e depois a deixar ir, como fazia com todas as minhas conquistas?

Então de repente eu entendo.

Compreendo o motivo que me fez mandá-la embora.

Sou um homem de negócios astuto e meticuloso.

Eu leio os sinais. Decodifico uma realidade que poucos conseguem enxergar. É assim que eu farejo dinheiro.

Faço previsões quase sempre acertadas do futuro.

E em algum nível da minha mente, eu tinha previsto que Emma Jones estava ali para ficar.

“Eu sei que você não é. Creia-me, eu sei.”, respondo por fim.

— Ei, já vamos?

Levanto a cabeça e Ethan está me encarando.

— Você sabia que ela estaria aqui?

Porque posso intuir que a presença dela na conferência pode ter dedo do meu segurança.

— Ela foi muito persuasiva. — Ethan não nega.

Ele nunca mente pra mim.

— Onde ela está?

— Eu a vi indo ao toalete.

Por um momento, eu volto ao modo analítico.

Organizo meus pensamentos. Estudo minhas opções.

As consequências. As perdas e danos.

E os lucros.

Ah os lucros...

— Você percebe que está fora de controle? — Há certa crítica na voz de Ethan.

— Eu sempre estou no controle.

— É impossível controlar tudo, mesmo agora quase posso ver as engrenagens da sua mente trabalhando. Você quer Emma Jones, mas já sacou que ela é confusão. Se ficar com ela não vai ter mais controle de nada.

— Está enganado.

Ethan tenta conter um sorriso de deboche.

— Ela te caçou até aqui. Já era, Liam. Você pode até tentar, mas vai perder. E mesmo assim, talvez adore cada minuto.

— E o que acha que devo fazer?

Chegamos ao carro e eu me recosto, cruzando os braços. Raramente peço conselhos para Ethan, mas me sinto frustrado e acuado.

Não estou acostumado a me sentir assim.

— Vai ser divertido assistir Emma Jones e Liam Hunter neste jogo. Você achando que tem todas as regras, e ela destruindo suas estratégias uma a uma. E acho que é bom pensar no que decidiu, pois ela está vindo aí.

Ethan se afasta e vejo Emma Jones surgir por entre as portas giratórias do hotel. Não veste mais a sua fantasia de jornalista séria, e sim seu habitual jeans velho e suéter mais velho ainda.

Pela primeira vez, não me importo. É ela. Faz parte de quem ela é.

Assim como sua inocência. Sua impertinência.

E sua paixão que está clara como água cristalina em seu olhar escuro.

— É melhor que fique longe de mim — ainda me vejo dizendo.

Agora não mais por alguma tentativa de resguardá-la de mim.

Mas ao contrário.

As palavras de Ethan ressoam em minha mente.

"Você pode até tentar, mas vai perder. E mesmo assim, talvez adore cada minuto".

— Talvez eu não queira. — Há desafio e súplica em sua voz.

— Você enumerou todos os motivos em sua mensagem.

— Talvez eu não me importe.

Os primeiros pingos de chuva começam a cair enquanto permanecemos travando uma luta silenciosa com nosso olhar.

— Eu me importo... — Mas antes que possa sequer tentar explicar, ela se irrita.

— Vá pro inferno! — Ela se afasta pela rua com passos decididos.

Afasta-se de mim.

Não.

Não posso deixá-la ir.

— Emma! — E enquanto me apresso atrás dela, a chuva caindo a nossa volta, percebo o que Ethan quis dizer.

Já era.

E enquanto ela se volta, e eu me aproximo o suficiente para segurar seu rosto entre as mãos, digo a mim mesmo que não é uma rendição.

É apenas uma batalha. A guerra está sendo travada e a meu favor eu tenho o fato de que Emma não faz ideia do que eu sei. Eu só não posso deixá-la saber a extensão do poder que tem em suas pequenas mãos.

Eu gosto do poder.

Amo o controle.

E estou inebriado com a ideia de controlar essa garota na minha frente.

— É uma merda que eu não consiga evitar querer você... — sussurro quase que para mim mesmo. Porque eu sei que Emma Jones vai ser a batalha mais árdua de todas.

Ela me tira do sério.

Ela me desafia.

E me faz ter medo daquele sentimento de posse e necessidade que faz crescer em mim.

Eu nunca me permiti precisar de ninguém.

— Então fica comigo... — antes que ela termine de falar, eu já mergulho meus lábios nos seus.

Assim me permitindo me perder em seu beijo.

Mal sabia eu que estava perdido para sempre.

Fim da gravação


Poderia ter sido fácil e rápido, mas foi doloroso e complicado.

A cada passo que dávamos, eu achava que ela ia sair correndo, mas ela ficou. A cada camada horrível da minha personalidade que eu lhe mostrava, ela reagia com uma coragem quase inconsequente. Uma fé inabalável em nós dois que assombrava e deslumbrava.

Ela me aceitou do jeito que eu era.

Assim, como eu a aceitei. Mas pra mim, nunca houve alternativa. A Senhorita Jones se embrenhou em meio a meus pensamentos, testando meu controle férreo e fazendo com que eu reavaliasse minhas estratégias.


Gravação 6


O dia está escuro lá fora, uma chuva forte começa a cair de novo, deixando o ambiente numa suave penumbra.

Meus olhos vagueiam pelo quarto feminino, minha atenção se prendendo em pequenos detalhes que denunciam a personalidade da Senhorita Jones. A cama de ferro branca está desgastada como se tivesse sido comprada numa dessas vendas de garagem. Uma estante cheia de livros clássicos. Cortinas de renda romântica. Há óculos largado em cima de uma escrivaninha bagunçada, um porta-retratos com a Senhorita Jones vestida em uma beca de formatura ao lado de um casal que julgo ser seus pais.

— O que acontece agora? — ela pergunta impaciente atrás de mim.

Eu me viro para contemplá-la.

De repente ela parece mais nova do que seus 22 anos, parada ali, mordendo os lábios entre curiosa e excitada.

Eu disse a ela que não seria hoje que começaríamos nossos jogos, mas voltei atrás. Que ironia que eu lhe disse que ela deveria aprender a cumprir regras, mas eu mesmo era péssimo em segui-las.

Foda-se.

— Vamos tirar essa roupa molhada.

Eu me aproximo e tiro sua blusa, revelando o sutiã simples. Sinto um déjà-vu da primeira vez em que tirei sua roupa, quando fazia apenas minutos que nos conhecíamos.

Nossos olhos se encontram e eu sei que ela está pensando o mesmo.

Eu a livro do sutiã.

— Quando decidiu que queria tirar a minha roupa?

— Quando me olhou com estes olhos incrivelmente deslumbrados — eu me abaixo para tirar seu tênis e jeans e a sento na cama, acariciando seu rosto. — Nunca tinha visto um desejo tão transparente nos olhos de alguém. Seus olhos estavam me chamando como agora. Estavam pedindo para eu tirar sua roupa, como agora. Para entrar em você, como vou fazer agora. Deite-se — ordeno.

Ela obedece quase docemente. A fera em mim se regozija.

Tiro minhas roupas até ficar apenas de cueca boxer e sem desviar os olhos dos seus, pego um preservativo da carteira e coloco sobre a mesa de cabeceira.

E então tiro a cueca. Noto a Senhorita Jones abaixar o olhar, ruborizando ofegante e sinto um prazer perverso de puro orgulho masculino.

A porta ainda está aberta, e eu caminho até lá, a trancando, pois lembro que ela mora com uma amiga.

Não quero que sejamos interrompidos.

— Está com medo? — Eu me ajoelho na cama, diante dela.

— Não.

— Não minta pra mim.

— Não estou mentindo. O único medo que eu tenho é de você desaparecer. — Sua voz vacila.

— Venha aqui!

E ela ajoelha na minha frente.

— Você vai me bater ou algo assim?

Eu não contenho um sorriso.

Sim, eu quero estrear minha mão no traseiro da Senhorita Jones. Mas não hoje.

A espera vai ser doce.

— Não hoje. Hoje eu vou nos livrar de sua inconveniente virgindade.

— Inconveniente?

— Não é algo agradável.

— Como sabe? Já tirou a virgindade de muitas garotas?

— A primeira garota com quem eu transei era virgem.

— Quantos anos tinha?

— Nós tínhamos 14.

— Nossa...

— Não foi algo... agradável. Não tive vontade de causar aquela dor a alguém novamente.

Eu mal me recordo da primeira garota com quem transei. Éramos quase crianças sem saber o que fazíamos com nossos hormônios. Foi rápido e pra ela, dolorido.

— Achei que gostasse de punir...

— É bem diferente. Eu prefiro mulheres que saibam onde estão se metendo.

— E eu não sei.

— Não, ainda não sabe, mas saberá em breve. — E eu a empurro para a cama, abocanhando seu seio em meus lábios, a língua deslizando em volta do mamilo antes de usar os dentes para puxá-lo quase rudemente.

O gemido de dor e prazer que escapa dela faz meu pau doer e faço o mesmo com o outro seio. A Senhorita Jones tem seios lindos, perfeitos para minhas mãos e minha língua.

Subo beijando sua clavícula e coloco um chupão em seu pescoço, antes de beijar os lábios entreabertos e escorregar a mão pelo seu ventre até pousar entre as coxas, acariciando devagar, enquanto observo seu gosto se desmanchar de prazer.

Isso. É assim que eu a quero. Perdida no que eu posso lhe causar.

Rendida. E ansiando por mais.

E eu posso dar mais.

Eu posso dar tudo.

E tirar tudo ao mesmo tempo.

A fera em mim está salivando.

Ela choraminga, arqueando os quadris em busca de mais contato, cerrando as pálpebras, rodeio o dedo em volta do seu clitóris e o mergulho mais abaixo, testo sua entrada intacta.

Ela é úmida, quente e pulsa em meus dedos.

Por um momento, o desejo em mim é tão forte que penso em virá-la de quatro e fodê-la com tanta força que ela nem saberia o que a tinha atingido, mas amaria cada segundo, assim como eu. Mas sei que não posso.

Não hoje.

Não é difícil pra mim me manter no controle.

Aliás, é uma das partes mais divertidas da sedução. Vê-las se contorcer, implorar enquanto eu as levo ao limite, apenas para parar e começar tudo de novo. Divertindo-me com seu desespero.

A espera era sempre doce, assim como o prazer que vinha depois, muito mais intenso e recompensador, para ambos.

Sim, eu sou este tipo de predador, que gosta de brincar com a sua presa.

— Goze para mim — ordeno roucamente aumentando o ritmo dos meus dedos.

— Oh Deus... — Ela fica tensa, e em poucos segundos goza em meus dedos, estremecendo e gemendo embaixo de mim.

É lindo de se ver.

Emma Jones é linda e é minha.

Já chega de esperar. Escorrego o preservativo em minha ereção dolorida enquanto Emma volta à realidade ainda ofegante, me encarando com os olhos escuros e curiosos. Ajoelho entre suas pernas, pequenos tremores ainda reverberam em seu corpo quando seguro meu pau e deslizo do seu clitóris até a entrada úmida e pulsante.

Ela prende a respiração e fecha os olhos com força.

Ela está com medo e não é o tipo de medo que eu gosto de suscitar, mas agora é tarde.

Eu dei todo o espaço para escapar.

Mas ela quis ficar.

E este é só o começo.

Empurro para dentro e ela solta gemido ofendido de dor.

— Abra os olhos — ordeno, tenso. — Tudo bem?

Ela sacode a cabeça afirmativamente. Recuo e impulsiono de novo. E de novo.

E mais uma vez.

Sinto a tensão de me segurar em cada músculo do meu corpo enquanto penetro Emma Jones devagar, mas com a firmeza de um conquistador fincando a bandeira em um território inóspito conquistado pela primeira vez.

— Me diga o que fazer... — ela murmura.

— Continua doendo?

— Um pouco... Mas quero mais.

A ansiedade em sua voz faz o controle escapar um pouco de minhas mãos e com um gemido eu a beijo intensamente, meus quadris batendo nos seus com força agora, quando eu passo os braços a sua volta e nos viramos na cama para que ela fique em cima.

Ela arqueja, surpresa e eu rio.

— Vamos improvisar...

Minhas mãos varrem suas costas e pousam em seus quadris e lhe desfiro um tapa. Ela grita de surpresa.

— Olhe pra mim — ordeno e ela obedece.

Aperto sua pele, ensinando os movimentos, enquanto ela me fita por entre os cabelos escuros, até que começamos a nos mover no mesmo ritmo.

Ah sim... Ergo o tronco, seus seios roçando no meu peito em seu subir e descer no meu colo e retiro os cabelos do seu rosto para que meus lábios encontrem sua garganta e adoro quando ela puxa meus cabelos, intensificando o ritmo.

— Isso é bom? — Mordo sua orelha.

— Sim...

— E isso? — Escorrego o dedo entre nossos corpos e acaricio seu clitóris.

Ela se contorce em resposta, enfiando as unhas em meus ombros.

— Oh Deus, sim...

Eu a jogo na cama de novo sem aviso, a prensando contra o colchão e segurando suas mãos acima da cabeça, investindo os quadris contra os seus com fúria e velocidade agora, e observo o exato momento em que Emma Jones se desmancha embaixo de mim e, com um grunhido de satisfação, encosto a testa na dela e deixo meu próprio prazer dominar meu corpo e minha mente.

Desabo em cima dela, largando suas mãos, satisfeito de um jeito que nunca me senti antes.

Ainda respirando com dificuldade, descanso meu olhar no rosto suado da mulher embaixo de mim.

Emma Jones.

E me surpreendo com a súbita vontade de abraçá-la forte e nunca mais soltar.

Ela abre os olhos sorrindo languidamente.

Linda.

Minha.

A sensação de possessividade não é nova.

Mesmo todos os meus casos sendo curtos e efêmeros. Eu gosto de sentir que elas são minhas, pelo menos naquele curto espaço de tempo em que estão sob meu domínio. Porém, assim que eu me satisfaço — e as satisfaço também — a sensação passa.

E eu só quero que elas desapareçam da minha frente.

Costumo ser minimamente cordial e educado na despedida, porém firme e sincero em deixar claro que acabou.

Se elas insistirem em querer ficar, ainda mais com aquela melação romântica que acho insuportável, eu posso perder a paciência e ser um tanto ríspido para me fazer entender.

Mas certamente Emma Jones não se encaixa no padrão.

Talvez por ser a primeira vez que ela transe com um homem. Não sou conhecido por ser gentil, mas domino a habilidade de me adaptar a novas situações quando preciso. Possivelmente é isso que está acontecendo com Emma Jones.

— Preciso perguntar se está bem? — indago estudando seu rosto.

— Acho que nunca estive tão bem... — Ela levanta a mão e acaricia meus cabelos, passando os braços à minha volta em seguida.

O gesto — comum na maioria das mulheres depois de uma foda — como sempre me irrita e eu me desvencilho, saindo da cama. Na verdade, sinto-me mais irritado do que o habitual, com mais vontade de evitar aquele tipo de intimidade.

Controle.

Eu preciso estar no controle.

— Ótimo.

Vou para seu banheiro e retiro o preservativo e enquanto lavo minhas mãos, planejo o que vou fazer com a Senhorita Jones.

O sexo foi incrível.

Eu já devia saber que seria, embora não desse para prever, sendo a primeira vez da Senhorita Jones com um homem, se já começaríamos tão bem.

Mas aparentemente fomos mais do que bem.

Eu mal posso esperar para vê-la algemada e se contorcendo na minha cama. Sinto-me excitado novamente ao imaginar todas as possibilidades de prazer que teremos.

Talvez eu deva pedir para ela se vestir e levá-la agora para casa, mas sei que não é aconselhável.

Primeiro que ela estaria dolorida, talvez até por alguns dias e sinceramente minha dose de delicadeza está se esgotando.

Minhas mãos já estão coçando para se apossarem da Senhorita Jones.

Mas eu posso esperar. A recompensa vai valer a pena.

Volto para o quarto, e começo a me vestir, sem olhar pra ela.

— Vai embora? — Seu tom é surpreso e queixoso.

— Eu nem deveria estar aqui, Senhorita Jones.

E é verdade. Eu lhe disse quando a trouxe que ela teria que esperar, mas perdi a luta contra o desejo e me vi batendo à sua porta.

Merda. Não gosto disso.

Pego o celular e digito uma mensagem para Ethan, informando que estou pronto para ir embora.

— Eu queria que ficasse.

Eu finalmente olho pra ela.

Está sentada na cama, os cabelos despenteados, segurando um travesseiro contra o corpo nu.

Minha.

Surpreendo-me com a onda de possessividade que invade minha mente de novo.

Certo. A Senhorita Jones vai durar um pouco mais. Na verdade, eu nem comecei com ela.

Mas certamente, uma hora vou me cansar como todas as vezes.

E eu me certificarei de deixar minha marca nela. Eu a ensinarei a se submeter e obedecer. A receber e dar prazer.

Ela aprenderá que dor e prazer andam lado a lado.

E que nos meus jogos, sou eu que determino as regras.

— Tenho mais uma lição para você, Senhorita Jones. — Eu me aproximo e seguro seu rosto. — Sou sempre eu quem dita as regras.

— Tenho que concordar com elas?

Hum. Ela está me provocando. Talvez já esteja pronta para punição, afinal.

A impertinência da Senhorita Jones é perfeita para minha mão.

— Lembre-se que foi você que pediu para eu mostrar. — Minha mão envolve sua nuca.

— Então vamos continuar com isso?

— Pode ter certeza que sim. — Aperto meus lábios contra os seus com força por um momento e depois a solto. — Ainda nem comecei com você, Senhorita Jones. — Eu sorrio e me afasto, abrindo a porta.

— Emma, me chame de Emma.

Ainda escuto-a dizer.

Ah, Emma, não me dê ordens.

Ethan está sorrindo de forma maliciosa quando entro no carro.

— Devo entender que veremos a Senhorita Jones novamente?

Eu não consigo evitar um sorriso. Ainda sinto o cheiro dela em mim.

Inocência e impertinência.

Até que era uma combinação bem estimulante.

Sinto-me energizado agora. Ansioso para as possibilidades.

— Sim, veremos — respondo pegando o celular.

Mais cedo do que Ethan imagina.

“Hoje à noite. Na minha casa. Ethan irá buscá-la.”, digito.

Foda-se que é cedo.

Eu já sinto o desejo me impulsionando de novo.

Uma vez foi pouco.

Que os jogos comecem.

**

— A Senhorita Jones não ficou feliz de jantar sozinha — Ethan comenta quando entramos no elevador naquela noite.

Eu tinha pedido que ele buscasse Emma e instruísse Eric para que lhe servisse o jantar enquanto estaria em um jantar de negócios com Félix Firestone.

Nem me passou pela cabeça desmarcar. Eu jamais deixava o prazer vir antes dos negócios. E seria bom para a Senhorita Jones aprender sobre espera e paciência. E também aproveitei para comunicar a Félix que o flerte com Emma terminava ali, pois ela estava comigo agora.

Felix me surpreendeu dizendo que desconfiava que houvesse algo mais entre nós no fatídico almoço. E ainda ousou me provocar garantindo que enquanto Emma estivesse comigo ele não a seduziria, mas que em breve, ela estaria livre, afinal, meus casos nunca duravam muito.

Eu queria refutar que Emma nunca estaria disponível para ele, mas aquele pensamento me desconcertou.

Claro que Emma seria livre em algum momento, quando eu me cansasse de jogar com ela. Porém, pensar em outros homens usufruindo de tudo o que eu lhe ensinaria me irritou pra cacete.

— Por que sinto um tom de censura na sua voz? — indago a Ethan e ele ri.

— Não estou censurando nada. Mas já deve ter percebido que Emma é diferente.

— Diferente em que sentido?

— Você deve saber, mas não quer admitir. Boa noite.

O elevador para em seu andar e ele sai antes que eu possa perguntar o que ele quer dizer.

Sim, talvez Emma seja diferente, porque era virgem antes de mim, mas agora já não era mais. Questão resolvida.

Agora ela será apenas mais uma mulher à minha disposição pelo tempo que eu quiser.

Entro no apartamento e sou surpreendido por risadas vindas da cozinha.

Avanço naquela direção, intrigado e paro, surpreso, ao ver Emma e Eric lavando a louça.

— Que diabos está acontecendo aqui?

— Liam! — Ela se vira e sorri.

— Você estava lavando a louça?

Ela enxuga as mãos no pano de prato que Eric lhe passa.

— Sim, achei justo, já que Eric fez o jantar.

Eu nunca precisei dar qualquer bronca em Eric. Ele tinha uma disciplina oriental que combinava com minhas exigências.

Mas que merda ele estava pensando em colocar Emma para lavar louça?

— Eu disse a ela que não precisava, porém a Senhorita Jones parece ser um tanto teimosa — Eric esclarece divertido.

Claro. Só podia mesmo ser ideia de Emma Jones, para ser tão absurda.

— Sim, ela é. Eric, você pode ir.

Eric faz uma mesura discreta e sai da cozinha, nos deixando a sós.

— Por favor, não fique bravo com ele. Fui eu que pedi para ajudá-lo... — explica enquanto caminha em minha direção.

— Não estou bravo com ele, Senhorita Jones. Estou bravo com você.

Ela interrompe os passos, um tanto alarmada. Sim, tenha medo, Senhorita Jones.

Meus dedos começam a coçar quando além do medo, eu vejo também uma fagulha de excitação em seu rosto corado.

— Vai me punir? — pergunta num fio de voz.

Ah, sim. A fera fica alerta.

— Me espere no meu quarto, Senhorita Jones.

Vou até o escritório e como eu tinha instruído a caixa estava lá me aguardando. Quando estávamos voltando ao escritório hoje à tarde, pedi a Ethan que me levasse até uma loja da Quinta Avenida. Queria comprar um presente para a Senhorita Jones.

Eu pego a caixa e rumo para o quarto.

Passo por ela, que parece deslocada e hesitante, esperando suas instruções e coloco a caixa sobre a cadeira.

— É pra você.

Ela arregala os olhos, surpresa, enquanto retiro a gravata.

— Um presente?

— Eu adivinhei que viria com essas suas roupas mundanas.

— Roupas mundanas? Eu achei que não teria a menor importância a roupa que eu usasse, já que você iria tirá-la. E eu gosto das minhas roupas e odeio presentes.

— Está realmente me desafiando, Senhorita Jones? — Levanto a sobrancelha.

— É só... Estou sendo sincera. Não quero que fique me dando presentes. Não estou aqui por esse motivo.

Franzo o olhar, surpreso. Ela está mesmo dizendo que não quer uma roupa de grife cara de presente?

— Você é a criatura mais estranha que eu já conheci, Senhorita Jones. — Eu me inclino e tiro o bonito laço cor de rosa da caixa.

— Isso é algo bom ou ruim?

— Ainda estou avaliando. Me dê suas mãos.

— O quê?

— As mãos, Senhorita Jones — insisto impaciente e ela estende as mãos. Eu uso o laço para amarrar seus pulsos juntos.

Emma parece surpresa quando fita meus olhos.

— Você é tipo um... um...

— Pergunte, Senhorita Jones.

— Eu não entendo muito do assunto, mas como você vive dizendo que quer me punir, que gosta de bater em mulheres, é maníaco por controle e agora está me amarrando, por acaso você é o que chamam de Dominador? E isso faria de mim uma espécie de submissa ou algo parecido?

— Quer saber se eu sou um praticante de BDSM?

— Basicamente.

— Eu gosto de jogos, Senhorita Jones. Gosto de ver a dor se misturar ao prazer. Não tem noção de como um está próximo ao outro. Gosto de testar esses limites. Gosto de estar no controle. E sim, eu estive envolvido no mundo BDSM por um tempo, mas não estou mais. Então não, não sou um dominador.

Red tinha deixado bem claro que eu não me encaixava no perfil. Mas quem se importa?

Odeio rótulos. Estou além deles.

Eu faço minhas próprias regras.

— Por que não está mais?

— Eu não sou bom com regras. — Eu a brindo com um sorriso astuto.

— Devo me preocupar ou ficar aliviada?

— Vá para a cama. E irá descobrir.

Ela obedece, sentando-se.

Toco seu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Inclino-me até que meus lábios toquem sua bochecha corada até seu ouvido.

— Quando se trata de sexo, Senhorita Jones, eu faço minhas próprias regras.

Ela arfa.

Ah sim. Ela está começando a entender.

— Deite-se.

Eu a empurro gentilmente pelos ombros a fazendo deitar no centro da cama, jogando seus braços para cima da cabeça e afasto-me para meu closet.

Retiro a camisa e abro meu armário.

Tenho uma coleção de apetrechos sexuais e de dominação e mal posso esperar para usar boa parte deles na Senhorita Jones. Porém, talvez hoje não seja o momento. Ainda.

Quando volto ao quarto, com uma tesoura e a gravata, ela parece assustada e cerra os olhos com força.

Não é este tipo de medo que eu quero.

— Abra os olhos, Emma! — Saio um pouco do roteiro a chamando pelo nome.

Ela me encara, ainda apreensiva.

Sento na cama e me inclino em sua direção.

— Eu não vou te machucar, confia em mim?

Ela não responde. Seu peito sobe e desce em expectativa enquanto hesita.

Isso me deixa frustrado.

— Emma? Quer ir embora? Basta uma palavra e eu desamarro você e nunca mais precisamos nos ver.

Por um momento, ela pondera minhas palavras e meu coração para de bater esperando sua resposta.

O que eu vou fazer se ela quiser ir embora?

Não posso impedi-la se tiver desistido do jogo que lhe propus.

Ou melhor, do que ela praticamente exigiu que eu lhe propusesse.

— Não, eu não quero ir embora — responde por fim, para meu alívio e abro um sorriso satisfeito.

Ainda não estou preparado para abrir mão de Emma Jones.

— Vou perguntar de novo. Confia em mim?

Ela sacode a cabeça em afirmativa e eu a vendo com a gravata.

— Não se mexa — aviso e começo a cortar suas roupas quase com precisão cirúrgica.

Eu estava ansioso para fazer isso desde que a despi no meu escritório. Livrá-la daquela monstruosidade barata.

Emma Jones é linda e merece ser coberta dos mais soberbos e caros tecidos. Talvez algumas joias.

Sim, eu posso providenciar isso.

Ela se mexe, tentando perceber o que estou fazendo.

— Eu mandei não se mexer. Não gostaria de cortar esta sua pele branca e perfeita, Senhorita Jones.

Ela finalmente aquieta e continuo meu trabalho, adorando ver sua pele perfeita surgindo finalmente.

— Você tem seios lindos.

Eu me inclino e sopro seu mamilo, notando-a se arrepiar e deposito um beijo quase casto sobre ele, apreciando o gemido baixo que escapa de sua garganta enquanto ela serpenteia o corpo e sem resistir eu a mordo e ela grita de dor.

— Não mandei se mexer.

Começo a cortar seu jeans. Retiro seu tênis e meia e, por fim, levo a tesoura a sua calcinha.

Emma Jones está nua, amarrada e vendada a minha disposição.

E eu estou excitado e louco para mergulhar nela de novo. Mas não ainda.

Não hoje, na verdade. Respiro fundo, controlando meus desejos.

Hoje, o jogo é para a Senhorita Jones.

Ela terá um aperitivo do que vai ganhar em minha cama.

Sob meu domínio.

Eu me afasto e retiro minhas roupas e subo no colchão, ajoelhando sobre ela.

— Não sabe como fica deslumbrante assim. Nua e amarrada na minha cama.

Ela serpenteia o corpo inquieta e pouso a mão em sua barriga, a segurando no lugar.

Ela começa a arquejar.

— Não se mova. Respire. Devagar.

Eu a observo tentar controlar a respiração.

Está perdida na escuridão e isso a deixa ansiosa e confusa.

Ainda não sabe que pode confiar em mim. Que eu tenho o controle sobre ela, quando está assim, privada de alguns sentidos.

— O que está esperando? — questiona impaciente.

— O que eu te falei sobre paciência?

Eu me abaixo lambendo sua barriga, tão lentamente que seu ventre ondula em tremores. E aspiro o cheiro de sua excitação.

Meu pau está pulsando e eu me acaricio para acalmá-lo.

— O que acha que vai acontecer agora?

— Você disse que ia me punir — ela sussurra.

E eu abro um sorriso. Sim, amaria deixar algumas marcas em sua pele imaculada.

— Eu disse? Sim, eu deveria. Você é tão impertinente. — Meus lábios tocam seu estômago, subindo por seu pescoço. — E teimosa e... insolente. — Respiro em seus lábios. — Eu tenho vontade de bater em você desde que tropeçou em mim naquele saguão.

Roço meus lábios nos seus. Ela arqueia o corpo com um gemido angustiado e ansioso que me deixa mais duro ainda.

— Não. — Eu a encho de beijos curtos. — Se. Mexa. De novo.

Deslizo meus lábios por seu rosto.

— Você cheira tão bem. — Enterro o rosto em seu pescoço, aspirando. — Quero cheirá-la inteira... Como cocaína... — Mordo sua orelha e me movo para baixo de novo, com meus lábios e língua a provando e provocando, até que ela esteja trêmula e fraca em expectativa.

— Ah, por favor... — suplica.

Então separo suas coxas e mergulho entre elas, aspirando seu cheiro único.

— Isso... Implore. — Assopro seu clitóris. E por um momento é só o que eu faço. Respiro nela.

Olho pra cima, ela ofega e treme.

— Por favor... — implora num gemido rouco, tentando se mover, mas eu seguro suas coxas com força. — Por favor...

Sorrio e a acaricio com minha língua.

Eu sabia que ela seria perfeita implorando.

— Diga meu nome... — peço, entre lambidas.

— Liam...

— De novo... — Arrasto os dentes devagar.

— Oh Deus, Liam... — Sua voz é só um sussurro ofegante.

E lhe dou um chupão com mais força. Ela se arqueia inteira, gemendo alto. Todo seu corpo vibra enquanto prossigo com minhas investidas, e não paro até que ela goze contra minha língua. E ainda continuo ali, absorvendo seus tremores com beijos delicados, até que sua respiração vai se acalmando e seu corpo relaxando.

— É isso que chama de punição? — indaga me fazendo rir.

Retiro a gravata dos seus olhos e ela pisca se acostumando à luz fraca do quarto novamente.

— Este foi somente um aquecimento, Senhorita Jones. — Retiro a fita do seu pulso, massageando a pele sem circulação.

— Não sei se entendi.

— Tudo tem o seu tempo.

Ela abre um sorriso satisfeito com algo que falei.

— Você vai fazer amor comigo agora?

— Não hoje. — Eu a solto, ignorando minha ereção ainda insatisfeita.

— Mas... Você disse que foi apenas um aquecimento, eu pensei...

Sem aviso, eu a jogo de costas na cama de novo, com uma mão seguro seus pulsos acima da cabeça e com a outra desço até o meio das suas coxas, introduzindo dois dedos nela.

Ela geme, surpresa com a dor.

— Não vou foder com você hoje porque ainda está sensível — afasto meus dedos e saio da cama.

— Então... o que acontece agora? — Ela se senta em meio aos tecidos picados do que foi a sua roupa.

— Vou tomar um banho. Você pode se vestir, que eu chamarei Ethan para te levar.

— Vestir o quê? Você picotou minhas roupas, Liam mãos de tesoura! — Joga para cima os tecidos picotados.

— Eu lhe trouxe uma roupa. — Aponto para a caixa, enquanto me afasto para o banheiro.

Entro no boxe e ligo o chuveiro, levando a mão a minha ereção eu começo a me masturbar. Preferia estar dentro da Senhorita Jones, mas como eu lhe expliquei, hoje não seria possível.

E pra falar a verdade eu não gosto nada daquela vontade de não a deixar ir. Mas ninguém dorme comigo. Não gosto que as mulheres permaneçam perambulando pelo meu apartamento depois do sexo.

E Emma Jones não seria diferente.

De repente eu abro os olhos e ela está ali na minha frente.

E sem aviso, dá um passo em minha direção e cobre minha mão com a sua, sobre meu pau.

— Deixe que eu faço... — fica na ponta dos pés até que sua boca alcance meu ouvido — senhor.

Por um momento, não me mexo, surpreso. Porém, o desejo já está além do meu domínio e retiro a mão deixando só a dela.

— Sabe como fazer, Senhorita Jones?

Ela me encara, mordendo os lábios.

— Me ensine...

Cubro sua mão com a minha e lhe ensino o ritmo. Nossos olhos não se desgrudam, nem mesmo quando sinto o prazer crescer de forma violenta, enquanto a obrigo a aumentar o ritmo, começando a arquejar. Enfio os dedos em seus cabelos, puxando. Machucando. Ela não se importa. Meus dentes encontram seus lábios, mordem, beijam e ela geme comigo.

— Mais rápido — ordeno bruscamente e ela acelera. Encosto a testa na sua, meu corpo tensionando. — Porra, Emma! — Solto um grunhido e gozo forte em sua mão.

Ficamos ali, trêmulos e ofegantes, até que consigo respirar normalmente e pego sua mão levando-a para debaixo do chuveiro para que a água lavasse os resquícios de meu gozo. Ela fica me olhando meio fascinada.

Que diabos?...

Ainda estou meio aturdido por seu ataque sorrateiro.

— Estou encrencada? — indaga baixinho.

— Acha que está?

— Não sei. Não é você quem dita as regras?

— Você é uma criatura muito absurda, Senhorita Jones.

— Isso é bom ou ruim?

Sim, qual meu veredicto?

Por enquanto eu sei que deveria estar bravo porque não lhe dei nenhuma ordem para entrar ali, mas a verdade é que estou com vontade de rir de sua desobediência.

— Ainda não me decidi.

Saímos do chuveiro e enquanto me enxugo ela fica ali, agarrada à toalha, hesitante.

— Enxugue-se e se vista — peço, antes de sair do banheiro.

Porém, ao chegar ao quarto, meus olhos percorrem, estarrecido, o tecido picotado no chão.

Emma picotou o vestido que eu lhe dei?

Que merda é aquela?

— Que diabos significa isso?

Emma entra no quarto, segurando a toalha em frente ao corpo.

Eu a encaro, horrorizado.

— Você fez isso?!

— É... sim.

— Por que demônios faria algo assim?

Ela dá ombros, muito vermelha.

— Você cortou minhas roupas também...

— Por isso cortou o vestido? É algum tipo de revide?

— Não, eu... só... É só um maldito vestido e não vi você ter a mesma consideração com minhas roupas! — dardeja em desafio.

Puta. Que. Pariu.

Quão absurdo aquilo era?

Quem em sã consciência picota um vestido Gucci que acabou de ganhar?

Eu a estudo, ainda perplexo.

Ela queria me enfurecer?

Ah, sim.

Ela queria, entendo afinal.

Ela está me desafiando. Chamando minha atenção.

Isso me irrita. E me excita.

Muito bem. A Senhorita Jones tem minha atenção.

— Está me provocando, Senhorita Jones? Está tão ansiosa por sua punição que quis me irritar?

— Não, eu...

— Certo. Eu estava sendo paciente com você. Esperando que se acostumasse ao jogo. Você está passando do limite. E eu não gosto que passem dos limites comigo, Senhorita Jones. Não nos meus jogos. Nos meus jogos ninguém quebra as regras a não ser eu.

Eu me sento sobre a cadeira do quarto.

— Venha aqui!

Ela hesita por alguns segundos, mas vem em minha direção, parando na minha frente. Arranco a toalha com um movimento rápido do seu corpo. Ela solta um gritinho de susto e eu a puxo, a colocando deitada atravessada em meu colo.

Meus dedos acariciam sua bunda nua.

— Eu vou te bater, Senhorita Jones. Apenas para que saiba que não gosto de ser provocado.

— Ai! — Ela geme com o primeiro tapa, mas eu continuo. Não estou batendo forte, é apenas uma surra de aquecimento.

— Porra, isso dói — reclama depois de alguns tapas e eu tenho vontade de rir.

A Senhorita Jones não tinha visto nada ainda.

E então, eu acho que basta e acaricio sua pele vermelha.

— Está vermelha. Sua pele é sensível.

Desço os dedos para o meio de suas pernas e ela geme quando eu acaricio sua boceta molhada.

Sim, porra.

Ela tinha ficado excitada com meus tapas.

Dor e prazer.

Isso é só o começo, Senhorita Jones.

Com um movimento ágil, eu a coloco sentada em meu colo, de frente para mim, e afasto com cuidado os fios de cabelo do seu rosto.

— O que está sentindo? — Estudo sua expressão. Tento ver ali algum medo. Ou repulsa.

Mas ela franze a testa, confusa.

— Dor? — Levanta a sobrancelha com ironia.

— Não pode estar doendo tanto. Foram somente cinco tapas, Emma.

— Não pode saber o que eu sinto!

— Por isso perguntei.

— E eu estou respondendo!

Desço as mãos e acaricio de novo suas nádegas.

— Cinco tapas com minha mão não são nada.

Ela fica me olhando, um tanto confusa.

Claro que ela está confusa. Tudo isso é novo para ela.

Tanto o prazer quanto à dor.

— Por que picotou o vestido?

— Porque eu não queria que me mandasse embora.

— Está falando sério?

Ela sacode a cabeça em afirmativa.

Sua confissão me pega de surpresa, imaginei que fosse algo em desafio, claro, mas não que ela tenha chegado a tanto apenas para eu não a mandar embora.

Embora não fizesse muito sentido.

Mas estou descobrindo que Emma Jones não é lá muito coerente em suas decisões.

Afinal, ela tinha corrido atrás de mim, quando deveria se afastar correndo.

E está aqui comigo. Submetendo-se a mim.

Com um gemido de satisfação, eu a beijo devagar, saboreando seu gosto e depois a pego no colo e a coloco na cama.

— Não vou mais embora? — Boceja sonolenta.

— Não, não vai.

— Aonde vai? — indaga quando me afasto.

— Apenas durma, Senhorita Jones.

Apago a luz e saio do quarto. Visto uma calça de pijama e quando volto, Emma está ressonando profundamente.

Eu poderia ir para meu escritório trabalhar, mas em vez disso, me deito ao seu lado.

A Senhorita Jones teve uma pequena vitória esta noite. Tudo bem, eu posso permitir que ela fique. Apenas hoje.

Na verdade, enquanto a observo dormir, percebo que gosto de saber que ela está ali, em algum lugar perto. Ao meu alcance.

Ao meu dispor.

Eu acordo suando e sem ar.

Sento-me na cama, arfante, meus olhos confusos percorrendo o quarto na penumbra. Meu quarto. Meu apartamento em Upper East Side. E não um cafofo malcheiroso que eu dividia com outras crianças na casa do Pastor Sloan.

Mesmo assim, eu me sentia sozinho, principalmente depois de algum pesadelo. Eu sempre me sentia sozinho.

Convenci a mim mesmo que não me importava com a solidão. Ela me tornava mais forte. E era eu contra o mundo e todos aqueles lares fedorentos pelos quais passei. Por um breve período encontrei em Ethan um igual, outra criança perdida, mas ele foi tirado de mim. Na casa dos Hunter, havia acolhimento, certa paz que eu não via há muito tempo e sentia que eles também queriam me dar algum tipo de afeto. Aceitei ser acolhido, mas rejeitei qualquer tentativa de afeição.

Eu achava que não tinha medo de nada, mas a verdade é que tinha pavor de depender da afeição de alguém.

Ethan era como eu, embora lidasse de forma mais leve com toda essa merda de perda e solidão. Ele sabia os meus limites e se mantinha nele.

Agora, enquanto luto para voltar ao presente, para esquecer as atrocidades que o pesadelo me trazia, me surpreendo ao perceber que não estou sozinho.

Emma está dormindo ao meu lado.

Ela se mexe, balbuciando coisas sem sentido em seu sonho, revirando as cobertas. Eu a cubro, sentindo que está gelada. Sem pensar, aproximo meu corpo do seu e ela se move em minha direção em seu sono. Em outras circunstâncias, talvez me sentisse incomodado, até mesmo irritado, mas ainda estou tremendo e com frio, ainda não me sinto ali, seguro em minha cobertura rica no topo do mundo. Talvez por isso, deixe que meus braços a envolvam, a trazendo para mais perto, nossos corpos se moldando facilmente. Naturalmente.

Fecho os olhos. Escuto seu ressoar tranquilo e minha respiração vai voltando ao normal e pouco a pouco meu coração se acalma.

Eu volto a ser Liam Hunter. O Leão de Wall Street.

Mas mesmo assim, eu não a solto. Ao contrário, eu a prendo ainda mais.

Merda.

Não quero mais soltar.

Eu acordo ainda grudado em Emma Jones.

E agora, à luz do dia, sinto-me um tanto irritado com isso. Eu me desvencilho e saio da cama.

Ela não acorda.

Pego o celular, e digito ordens para Ethan e para Sarah, uma das minhas funcionárias, para que ela venha me encontrar ali, antes de irmos para o escritório. Sei que ainda é cedo, mas não gosto de perder tempo.

Entro no chuveiro, tirando o cheiro de Emma Jones da minha pele. E percebo que estou irritado porque gostei de dormir com ela.

É algo inédito para mim. Mesmo com Vanessa, que morou comigo, eu raramente dormia a noite inteira com ela. Vanessa não se importava, ela gostava do seu sono da beleza e detestava quando eu a acordava em meio a um pesadelo.

Mas Emma Jones tinha me convencido a deixá-la ficar e ainda, mesmo sem perceber, acalmou meu sono.

E quão tentador é deixar que ela fique mais?

Quando volto para o quarto passo por cima do vestido picotado, me lembrando de sua atitude temerária. Pego o celular e enquanto me visto ligo para a gerente da loja e peço que mande outro vestido igual. Se ela estranhou que eu ligasse àquela hora, não comentou.

Sarah chega meia hora depois e nos sentamos na minha sala enquanto lhe passo algumas instruções.

Ela me lança olhares estranhos.

— Algum problema? — indago impaciente.

— Não, só que... parece mais irritado do que o habitual. — Ela sorri.

Sarah trabalha comigo há muito anos. Eu aprecio muito seu trabalho e ela era uma das poucas pessoas que tinha certa liberdade comigo.

— Talvez porque você ficou duas semanas de férias, eu acho que foi muito.

— Liam, fazia dois anos que eu não tirava férias. Você pode ser viciado em trabalho, mas as pessoas normais precisam descansar de vez em quando.

— Bobagem — resmungo notando o anel brilhando em seu dedo e levanto a sobrancelha. — Você ficou noiva.

Ela sorri.

— Sim, Peter fez o pedido em um lindo jantar em Barbados.

Sarah namora Peter, um corretor da Hunter Enterprises há uns três anos.

— Espero que não pense em largar o trabalho para se casar.

— Claro que não. Mulheres podem trabalhar e serem casadas. Até serem mães, Liam.

— Quer ser mãe?

Sarah é jovem, mas sempre foi muito eficiente. Não consigo imaginá-la sendo mãe.

— Sim, ainda vai demorar alguns anos, não se preocupe.

— E como vai sua mãe?

A mãe de Sarah teve um câncer raro há mais ou menos um ano.

— Ela está bem agora. Graças a você.

— Graças aos médicos.

— Mas você quem pagou os médicos. Vou ser grata pra sempre, Liam.

— É para isso que serve o dinheiro. Agora vamos ganhar mais — rebato impaciente e começo a lhe ditar ordens, até que escuto passos e levanto o olhar para ver Emma Jones parada na porta da sala.

Ela veste uma camiseta minha.

Por um momento, enquanto trabalhava com Sarah, me esqueci da presença dela ali.

— Me desculpe. — Ela enrubesce. — Não queria atrapalhar, eu... Vou procurar alguma coisa pra comer... — E se afasta rapidamente na direção da cozinha.

Quando volto o olhar para Sarah, ela parece surpresa.

Sarah já esteve em meu apartamento muitas vezes, mas certamente ela nunca viu uma mulher ali.

— Essa é Emma Jones — explico. — Agora vamos continuar.

Percebo que Sarah está curiosa, mas sabe quando não deve fazer perguntas.

Continuamos o trabalho até que de repente escuto uma música ensurdecedora invadir o ambiente.

— Puta que pariu — sibilo.

Emma Jones está mexendo no meu sistema de som.

A intrometida.

Sarah contém um riso.

— Por favor, vá desligar isso — resmungo.

— Claro.

Ela se levanta e vai para a cozinha e em alguns segundos, a música parou.

Ela retorna, ainda com um olhar divertido.

— Sua namorada está com ciúme de mim.

— O quê? — Franzo o olhar, confuso.

— Eu lhe expliquei que sou só sua funcionária.

Que inferno?

Emma Jones estava intimidando uma das minhas assistentes?

— Então tem uma namorada, agora?

— Ela não é minha namorada — eu a interrompo. — E limite-se a seu trabalho, Sarah.

— Claro. — Ela não faz mais perguntas, mas percebo que ainda tem um sorriso divertido nos lábios.

Algum tempo depois, dispenso Sarah e Ethan entra na sala, segurando uma caixa.

— Entregaram pra você.

— Ah sim, é um vestido para a Senhorita Jones.

Eu pego a caixa e levo para o quarto.

— Vamos? — Ethan indaga quando volto.

— Precisamos levar Emma Jones embora. — Eu me encaminho para a cozinha e Emma está sentada na bancada com uma xícara de café nas mãos e o semblante pensativo.

A cozinha recende a bolo ou algo assim.

Emma assou alguma coisa?

— Parece preocupada.

— Na verdade, estou preocupada com minhas roupas. Ou a falta delas.

Só depois de falar é que ela parece notar a presença de Ethan e fica vermelha feito pimentão.

— Ethan lhe trouxe roupas — respondo.

— Ah... Obrigada, Ethan. — Ela sorri ainda vermelha. — E eu preparei o café. Fiz muffins — anuncia bem orgulhosa e noto a bandeja cheia de muffins na bancada.

Puta. Que. Pariu.

— Eu disse que não como de manhã. — Eu me obrigo a me manter impassível.

— Tudo bem. — Sem perder o sorriso, ela pega um saquinho e coloca diante de mim. Eu o pego, aturdido. — Fiz um lanche pra você levar para o trabalho. E este é para o Ethan — completa apontando para o outro pacote. — Vou me arrumar para não atrasar vocês...

Ela se afasta e quando olho pra Ethan, ele já tem um muffin inteiro dentro da boca.

— Bom pra cacete.

— Sabia que este vestido ficaria incrível em você.

Eu a admiro quando entra na sala usando o Gucci.

— Sim, é um vestido bonito. Até me sinto meio mal por ter picotado o outro.

— Não parecia arrependida ontem.

Eu avanço até parar a sua frente, mantenho as mãos nos bolsos do terno enquanto descanso meu olhar em seu rosto bonito.

Estou com raiva da Senhorita Jones.

Estou me sentindo acuado e perdendo o controle que não admito perder.

Há algo nela que me atrai, ainda não sei se é sua submissão cheia de impertinência e desafio. Como se dissesse “sim, tome o que quiser, mas eu vou tomar de você coisas que nem faz ideia, quando menos esperar.”.

Será que ela tem noção disso?

Sei que ela sente a mesma atração, o mesmo desejo, não pode evitar.

Emma Jones não mede consequências e isso pode ser o seu fim.

Ou o meu.

— Podemos ir? — Ela limpa a garganta, desviando o olhar.

— Sim — respondo friamente e seguimos para o elevador.

Estou levando um saquinho de muffin.

— Sarah parece ser uma funcionária eficiente — ela comenta depois de alguns minutos no carro.

Estou distraído já enviando alguns e-mails no celular.

— Todos os meus funcionários são eficientes.

— Ela me ajudou com o som. Disse que já passou pela mesma situação.

— Quer dizer alguma coisa com isso? — Eu a encaro, lembrando que Sarah disse que Emma a intimidou.

— Não, claro que não. — Ela dá de ombros, desviando o olhar. — Há quanto tempo conhece o Ethan? — pergunta depois de mais alguns minutos de silêncio em que volto à atenção para o celular. A divisória entre o motorista e o passageiro está levantada.

— Muito tempo.

— Muito tempo, quanto?

— Desde quando éramos adolescentes.

— Antes dos Hunter?

— Sim, antes dos Hunter.

— Ah... É realmente muito tempo...

O carro para em frente a seu prédio.

— O que acontece agora? — ela indaga insegura.

Sim. É uma boa pergunta.

Todos meus instintos de defesa gritam para correr em direção contrária, mas sei que não farei isso.

Eu ainda quero jogar com Emma Jones.

Só preciso deixar claro quem manda naquele jogo.

— Vai me ligar?

— Sim, eu entrarei em contato.

Ethan abre a porta.

— E se eu quiser te ligar? — desafia.

Inferno, ela não vai me dar trégua.

Toco seu rosto, sua expressão se suaviza e ela fecha os olhos, apreciando meu toque. Eu me inclino e a beijo. Um beijo breve, porém intenso.

— O que eu disse sobre regras, Senhorita Jones?

Ela sorri quando eu a solto.

E percebo que parece aliviada. Ela sacou minha hesitação. O quão perto estava de eu dispensá-la quando nós apenas começamos.

A merda é que estou aliviado também.

Porém, Emma não precisa saber.

Uma semana depois eu me surpreendo ao vê-la tomando um lugar entre os jornalistas que acompanham a coletiva de imprensa.

Ela sabia que eu estaria ali?

De repente me sinto sendo perseguido por Emma Jones.

Embora ela tenha se mantido em minhas regras e não tentou entrar em contato uma única vez naquela semana.

Ethan me perguntou todos os dias quando seria designado para buscar a Senhorita Jones de novo e sempre me lançando um olhar de deboche quando eu lhe dizia para cuidar de sua própria vida.

— Eu achei que gostasse dela. — Ele ria.

— Agora você fala como se estivéssemos na quinta série. Emma é só uma mulher com quem estou jogando. Sou eu quem dita quando e onde.

— Claro, Senhor Hunter. Vá acreditando nisso.

— O que quer dizer?

— Nada. Mas Emma é uma garota bonita. E muito esperta. Talvez ela não esteja disposta a aguentar seus desmandos. Se demorar muito para entrar em contato, pode ter pedido o posto.

— Vá se foder! — eu resmungava irritado.

A verdade era que eu estava ansioso para ter Emma Jones sob meu domínio de novo, mas algo nela me apavorava.

E eu só queria ter certeza de que eu ainda estava no controle. E deixar Emma esperando para quando eu bem entendesse me dava poder.

Agora ela fixa o olhar raivoso em mim e percebo que talvez Ethan tenha razão.

Emma pode não estar curtindo tanto os meus desmandos como eu gostaria.

De repente, um cara ao seu lado lhe indaga algo e ela desvia o olhar, se inclinando para sussurrar algo no ouvido dele. Eu reconheço que é Matt Thomas, o chefe de Emma no jornal.

Mas que merda é aquela?

Matt está corado feito um colegial agora, pela atenção de Emma. E ela está sorrindo em desafio para mim.

— E esta aquisição alinha-se aos planos como um de seus pilares estratégicos de crescimento — concluo meu raciocínio quando noto um pigarrear a minha frente. — Estou aberto a perguntas.

Escuto alguns murmúrios confusos.

Certamente eles não esperavam que eu acabasse minha explanação tão cedo, mas a única coisa que eu quero agora é arrastar Emma Jones dali e lhe dar uma lição.

Meus dedos começam a coçar.

Um monte de gente levanta a mão, inclusive a tal Erica, que está ao lado de Emma também.

Eu respondo a algumas perguntas bobas sobre mercado financeiro e me inclino para meu RP, pedindo que encerre tudo.

— Uma última pergunta — ele diz e me surpreendo ao ver Emma Jones levantar o braço.

— Senhorita Jones... — Eu lhe dou a vez.

Ela se levanta.

— Senhor Hunter, o que o senhor diria se estivesse interessado em um investimento e, por um motivo qualquer, o senhor recuasse e o perdesse?

Ah sim. Ela está brava.

— Eu nunca perco um investimento. Eu escolho a hora de abandoná-los e não o contrário, Senhorita Jones — respondo friamente e tenho certeza que ela entendeu o que quis dizer.

— Isso só seria possível se o investimento ainda estivesse disponível, não concorda? De qualquer forma obrigada pela resposta, Senhor Hunter. — Ela se senta e todos murmuram sem entender.

O que ela quis dizer?

Que não está mais disponível pra mim?

Ah, ela não ousaria.

O diretor dá a palestra por encerrada e um bando de jornalistas cerca o palco para ter a chance de falar comigo.

Eu lanço um olhar para Ethan que está na porta, gesticulando em direção a Emma Jones, que agora está pedindo licença e se afastando.

Consigo me livrar dos repórteres e sigo para a saída.

Ethan está em frente ao carro.

— Ela está aqui. — Solta um risinho. — E está puta contigo. Eu te disse.

— Cala a boca e dirige.

— Para onde?

— Vamos levar a Senhorita Jones na sua casa.

— Sério?

Entro no carro e encaro a Senhorita Jones. Ela sustenta meu olhar e há uma miríade de emoções em sua íris escura.

— Explique-se — exijo quando o carro começa a deslizar pelas ruas. A divisória entre nós e Ethan está fechada. — O que quis dizer lá dentro?

Ela joga as mãos para cima, incrédula.

— Que merda você pensa que está fazendo? Sumiu por uma semana e acha que eu é que devo alguma explicação?

— Eu não sumi.

— Não sumiu? Então chama o fato de não dar notícias por uma semana inteira do quê?

— Eu te disse que as regras...

— Fodam-se as suas regras! — ela grita furiosa, me deixando furioso também.

Emma Jones não vai falar assim comigo. Ela está nervosa sendo que concordou com as minhas regras.

— Em que mundo você vive que este tipo de comportamento é normal? — continua. — Acha mesmo que eu iria ficar a semana inteira sofrendo ao lado do telefone esperando você ligar? — Ela cruza os braços virando o rosto para o vidro, como uma criança magoada.

E algo se quebra dentro de mim quando eu entendo que o meu sumiço a magoou.

Eu não deveria me importar. Mas me importo.

— E o que você fez nessa semana, Emma?

— Eu fiquei sofrendo ao lado do telefone, esperando você ligar — confessa e com um grunhido eu a puxo para perto, embrenhando a mão em seus cabelos e colidindo meus lábios com os seus.

E Emma me beija de volta com a mesma intensidade, não opondo resistência quando eu a puxo para meu colo.

Deslizo as mãos por cima do vestido de verão que ela usa, a puxando para mais perto. Apertando. Marcando.

Quero me apossar dela inteira. Aqui. Agora.

E Emma parece tomada pelo mesmo desejo incontrolável, enquanto geme e devora meus beijos.

E eu adoro isso.

Adoro essa falta de controle em suas mãos, em seus lábios.

Ela para de me beijar e segura meu rosto, respirando pesado. Sinto-me vacilar com o peso do desejo que reconheço em seu olhar transparente. Ele diz sem necessidade de palavras que sentiu minha falta.

Porra. A constatação que eu senti o mesmo bate em mim como um soco no estômago, sugando meu ar por um momento.

Não estou preparado para a onda de adrenalina que percorre meu sangue e pulsa em meu peito.

Antes que eu consiga falar o que quer que seja, ela me beija mais uma vez. Intensa e selvagemente.

Dane-se.

Puxo seu vestido para baixo e aperto seus seios desnudos.

Ela geme baixinho, lançando os quadris contra os meus enquanto aperto seus mamilos entre os dedos.

— Eu vou foder você agora, aqui — rosno em seu ouvido.

— Sim... por favor... — murmura ansiosa e num movimento ágil eu a tiro do meu colo e a coloco de quatro no banco de couro creme.

Levantando seu vestido, arranco a calcinha em seguida impaciente e enfio dois dedos entre suas pernas, para senti-la molhada e pronta para meu pau que agora se contorce de ansiedade dentro. Abro a calça, apanho um preservativo na minha carteira e deslizo por minha ereção antes de segurar seus quadris e penetrá-la com força, fazendo gritar várias vezes enquanto estoco sem dó para dentro e para fora de sua boceta apertada.

As sensações dominam meus sentidos e me esqueço de tudo o mais. As estocadas dos meus quadris contra os seus vão se intensificando, assim como os espasmos de prazer dentro de mim. Nossos gemidos se misturam dentro do carro em movimento, enquanto a fodo com força, seu corpo sendo lançado para frente a cada batida do meu pau dentro dela.

Meu clímax explode, se espalha por meu abdômen e coxa, cegando meus sentidos. Muito vagamente, percebo que Emma está gozando também e depois caindo fraca sobre o banco.

Porra, foi muito bom.

Saio de dentro dela e me sento, tirando a camisinha e jogando no lixo, enquanto pego um lenço e me limpo, ajeitando a roupa. Instantes depois, eu puxo Emma para se sentar no banco, ainda fraca e lânguida. Eu a limpo e ajudo a recolocar a calcinha e ajeitar o vestido. E então noto um hematoma em sua testa.

— Está doendo? — Toco seu rosto, meio irritado com isso.

— O quê? — pergunta ainda meio ausente.

— Acho que você bateu a testa no vidro.

— Oh! — Toca a própria testa e solta uma risada.

— Não é engraçado, Emma — eu a repreendo.

— É sim. Você está preocupado que eu tenha me machucado, quando quer me bater com chicote ou sei lá o quê!

— Quem disse que eu uso chicote?

— Usa?

— Descobrirá em breve.

Eu me afasto quando o carro para em frente ao seu prédio.

Saímos do carro e de repente me senti frustrado.

Eu não tinha planejado transar com a Senhorita Jones em meu carro em movimento, mas não lamento.

Eu adorei cada segundo de descontrole.

E de repente me dou conta de que é assim que as coisas vão ser.

Ethan tinha razão. Emma Jones era mesmo diferente.

E isso me enfurece e me atrai da mesma maneira.

— Tenho que voltar ao trabalho.

— E vai me dizer algo como “eu ligarei para você, não me liga.”. — Ela sorri com certo deboche das minhas regras que, para meu assombro, me faz rir também.

Eu me inclino e a beijo. Quando o beijo termina, toco sua testa, contrariado.

— Não gosto quando te machuco.

— Mesmo assim quer me machucar — murmura.

— Eu te disse que não seria bom pra você.

Emma tem razão. Não faz muito sentido que esteja bravo porque a machuquei quando estou ansiando por lhe dar alguma dor para meu prazer. Mesmo que este prazer seja para ela também.

São essas as regras do jogo.

Mas já estou começando a perceber que as minhas regras bem definidas não funcionam com Emma Jones.

Eu preciso criar outras especialmente para ela.

Para minha Senhorita Jones.

— E eu que não me importava. Posso lidar com algumas escoriações, Liam. Acho que estou até ansiando por algumas... — murmura fazendo algo quente, perigoso e irresistível deslizar por meu íntimo.

É mais que desejo.

É como saber que encontrei alguém perfeita para minha loucura.

Ela fica na ponta dos pés e me dá um beijo antes de se afastar.

Eu volto para o carro e abro a porta, mas ela me chama.

— Liam.

Eu a encaro.

— Estou descobrindo que sou capaz de aguentar muitas coisas vindas de você. Mas também descobri que há um limite. E meu limite é a sua ausência. — Sua voz está firme como nunca vi antes. — Se você sumir de novo, melhor nem voltar. Eu não estarei mais disponível. Nunca mais.

Nunca mais. A expressão se repete em meu íntimo como uma ameaça quando entro no carro, dessa vez ao lado de Ethan.

— Então passaremos a ver a Senhorita Jones com frequência agora?

Um sorriso lento se distende em meu rosto.

Emma não precisa se preocupar. Pois acabei de descobrir que temos os mesmos limites.

Eu não quero mais me afastar dela.

Pelo contrário.

Eu deveria estar com medo. Mas não consigo mais encontrá-lo dentro de mim. Em vez disso, sinto-me desafiado. Motivado.

Ansioso para o que vem a seguir.

Não é só mais um jogo.

Minha mente começa a trabalhar rápido, traçando novas estratégias.

— Por quanto tempo? — Ethan provoca e eu o encaro com um sorriso astuto.

— Muito tempo. Talvez para sempre.

Fim da gravação


Era irônico pensar que eu sequer queria um relacionamento e de repente menos de dois meses depois eu a estava pedindo em casamento.

E ela reagiu fazendo seu próprio contrato do que acreditava ser um relacionamento perfeito.

Puta. Que. Pariu.

Eu aceitei, acreditando que concessões sempre podem ser feitas, se for visando um lucro maior.

E eu não estava disposto a perder a oportunidade de ter Emma Jones na minha vida.

Algemada na minha cama, de preferência levando uns bons tapas por ser tão impertinente.

De repente, eu me levanto, disposto a acabar com aquela sua guerra fria.

Eu sei que ela não se oporia se eu entrasse no quarto e lhe punisse. Ela iria gostar, como sempre gostava.

Era onde nós nos conectávamos na maior parte das vezes, embora eu ainda me lembre do dia em que ela disse não para mim pela primeira vez. Dizendo que não poderíamos resolver tudo com sexo e jogos de punição.

E acho que hoje é um desses dias, concluo, quando entro no quarto e ela não está ali.

Provavelmente está no quarto de Leo.

Entro no chuveiro e deixo a água morna acalmar meus pensamentos caóticos e quando saio de lá, coloco uma calça de pijama e me sinto mais calmo.

Caminho até o quarto de Leo, e ele está dormindo tranquilo.

Acaricio seu cabelo do mesmo tom do meu, sentindo aquele tipo de amor que nunca pensei que seria capaz de sentir.

Como um cara que perdeu os pais com apenas dez anos, de forma tão brutal, eu nunca tinha pensado sério em ter filhos. Eu vivia apenas para ganhar dinheiro e poder. Mulheres e sexo eram diversão e recompensa.

E mesmo quando Emma surgiu e mudou meus planos, eu ainda não conseguia chegar até aquele nível de comprometimento. Mas ela engravidou rápido e sem que nenhum de nós planejássemos. Leo quebrou os protocolos e me fez perceber que, por mais que eu fizesse planos e quisesse agir como se minha vida pessoal fosse como a aquisição de algumas ações, isso era impossível.

A vida nos surpreende o tempo todo.

E lá se vai o controle que gosto tanto de ter.

Mas valeu a pena. Leo é a prova disso.

Assim como Emma.

Escuto um barulho vindo do cômodo adjacente e abro as portas do closet para encontrar Emma lá dentro, sentada no chão, enquanto dobrava roupinhas minúsculas de Leo.

Fecho a porta para não acordar Leo e sento a sua frente, a ajudando a dobrar. Com mais rapidez e mais bem dobradas, devo dizer.

— Ele precisa mesmo desse monte de roupa?

— Provavelmente não, mas perdi o controle sobre Zoe.

Zoe é a melhor amiga de Emma, com quem ela dividiu apartamento. Um gnomo intrometido e interesseiro que adora o fato de poder gastar meu dinheiro. Eu até mesmo tinha pagado todo o suntuoso casamento dela em um castelo na Irlanda. Agora ela se autointitula personal style não só de Emma como de Leo também.

Observo o rosto compenetrado de Emma na tarefa, mas percebo que seu olhar está triste.

Inferno. Eu posso lidar com Emma brava, mas triste eu odeio.

— Ainda está brava?

Ela suspira, descansando o olhar no meu.

— Nunca vou ser prioridade pra você.

— Você fala como se não gostasse do que minha dedicação ao trabalho pode lhe proporcionar.

— E você fala como se eu fosse uma mercenária, esposa troféu de milionário.

— Bilionário — corrijo.

— Você entendeu. Estou pouco fodendo para dinheiro.

— Então acha que seríamos felizes morando em um apartamento pequeno com problemas de aquecimento?

Ela ri enquanto pega a pilha de roupinha e se levanta para colocá-la em um dos armários. Ela reclama, mas adora gastar dinheiro comprando aquele monte de roupas para Leo. Mais do que aprecia comprar coisas para si mesma.

— Contanto que continue transando comigo.

Ela volta e se senta à minha frente.

— Desculpa querida, mas não sirvo para ser pobre. — Eu me deito sobre o carpete, olhando o teto.

— Aff Liam, que esnobe!

— E o que eu iria fazer se não trabalhasse mais?

— Podia cuidar do Leo.

— Leo vai crescer e em breve terá a própria vida.

— Meu Deus, ele nem tem um ano. Isso vai demorar pra caramba, fala como se ano que vem ele estivesse por aí fumando com os amiguinhos.

— Você é uma mãe muito possessiva. Acho bom começar a se acostumar com Leo sendo independente.

— Ou posso ter outros filhos...

— Emma, não começa.

Eu odeio quando ela começa com este assunto.

A gravidez de Leo foi um inferno e eu nem gosto de lembrar que Emma esteve em perigo o tempo todo. Eu achei que ela tinha entendido que engravidar novamente estava fora de questão, mas de uns tempos pra cá ela vinha trazendo o assunto à tona.

— Ok, não quero mais brigar com você hoje.

— Então tira a calcinha e vem aqui.

Ela ri, mas faz o que pedi, tirando a calcinha e o short junto e sentando em mim. Meu pau se agita no mesmo momento enquanto ela se abaixa e beija minha barriga e afasta minha calça de pijama, lambendo minha ereção de cima a baixo enquanto me encara com os olhos travessos.

— Eu te amo. — Toco seu cabelo de forma gentil.

Tenho certeza que toda a devoção que sinto está escrita em meus olhos.

Gosto de ver refletido nela os mesmos sentimentos.

Quando estamos assim, eu nem consigo me lembrar do tempo que ela não estava na minha vida.

Ela sorri enquanto se move para se encaixar em mim.

— Eu sei. — Pisca enquanto desliza sobre minha ereção.

— Porra. Muito bom! — rosno segurando seu quadril.

Ela morde os lábios, subindo e descendo devagar a respiração ofegante, os olhos escurecendo de prazer enquanto se inclina e beija meu queixo e os lábios percorrendo meu rosto até minha orelha.

— Eu não estou tomando pílula...

— Emma, que merda!

Ela ignora minha raiva e continua a se mover, agora com mais força e rápido.

— Por que não?

Eu a viro, segurando seus braços acima da cabeça e estocando com fúria agora.

— Não vou gozar dentro de você.

Ela sorri passando as pernas por meus quadris, se erguendo na mesma fúria para me encontrar.

— Eu não vou deixar você sair. — Há suavidade em sua voz. E desafio.

— Veremos.

Eu me afasto, saindo de dentro dela, ignorando seu gemido de frustração. E a viro de costas, dando um sonoro tapa em sua bunda antes de erguê-la, e enfiar a mão embaixo dela, acariciando seu clitóris de forma precisa, até vê-la gozar rápido, se contorcendo embaixo de mim e então seguro minha ereção, movendo minha mão rápido para cima e para baixo, até o clímax explodir e meu gozo se espalhar por sua pele branca.

Emma desliza para o chão, não consigo ver seu rosto, encoberto pelo cabelo.

— Às vezes você esquece quem manda aqui — digo duramente, me levantando e pegando uma toalha no banheiro retorno e ela ainda está do mesmo jeito.

Eu a limpo, até não restar nenhum resquício, ainda estou com raiva até que percebo seu corpo tremendo e o barulho do seu choro.

Seus soluços são como cortes em meu peito e me enchem de algo que não estou acostumado a sentir.

Culpa.

Eu me deito ao seu lado, retirando os cabelos do seu rosto, vermelho e molhado.

— Me desculpe.

Ela abre os olhos.

— Vai se foder! — Ela se afasta, se levantando, enquanto limpa o rosto.

— Emma, seja razoável...

Eu me levanto devagar enquanto ela veste o short do pijama e se afasta, eu vou atrás e a encontro na banheira, abraçando os joelhos junto ao corpo, enquanto lágrimas silenciosas rolam do seu rosto ainda.

— Ainda estou com raiva de você. — Vira o rosto.

— Eu sei.

Eu me sento ao seu lado.

— Mas temos que resolver isso. Não é você que diz que não devemos jogar nossas merdas para debaixo do tapete?

Ela me encara com raiva.

— Não pense nem por um segundo que você manda no meu corpo a este ponto. A ponto de definir se eu vou conceber ou não. Porque está muito errado. Você manda em mim, o quanto eu permito. E se eu quiser revogar isso, não há nada que você possa fazer. Então se você se sente o macho dominante a maior parte do tempo saiba que é porque eu deixei e não porque você tem este poder. Achei que já tinha entendido isso, Liam Hunter!

Não finjo que suas palavras não me irritam. Porém, ela tem razão.

Eu realmente entendi há tempos que Emma tinha tanto poder em nossa relação quanto eu. Que ela escolheu aquele estilo de vida, de relacionamento, me permitindo o papel de dominador e ela de submissa. Nós nos sentíamos confortáveis a maior parte do tempo com nossos papéis, sabendo que, bem no fundo, a única coisa que importava era que estávamos juntos.

Do mesmo jeito que tinha entendido há tempos que não queria viver sem Emma. Então se resolvesse que o jeito com que lidamos com nossa relação não era o suficiente para ela, eu acabaria aceitando e me adaptando. Talvez eu lutasse um pouco, afinal, não sou chamado de Leão de Wall Street à toa.

Mas Emma lutaria também.

As pessoas confundiam a personalidade de Emma, sendo doce e compassiva as minhas vontades como falta de força. E era justamente o contrário.

Emma escolhia lutar com unhas e dentes pelo o que acreditava.

Ela lutou para que eu me moldasse a ela, quando lhe conveio, fez com que eu mudasse alguns hábitos e maneiras de viver.

E eu o fiz por ela. Porque no fim, ela tinha razão. Eu realmente me sentia melhor hoje.

Mas o que ela estava pedindo era um limite rígido pra mim.

— Não pode pedir para que eu concorde, Emma.

— E o que eu quero? Não conta?

— Eu quero você aqui.

— Mas às vezes parece que não quer.

— O que quer dizer?

— Você nem pediu desculpas por ter se atrasado hoje.

— Ah, Emma, sério que vamos voltar a essa discussão idiota? Por causa da merda de um jantar?

Ela se irrita, se levantando e saindo da banheira.

— Não se faça de desentendido, que não combina com você! — Ela se enrola numa toalha.

Eu tento não me irritar.

— Então qual o real motivo?

— Você não parece dar valor às escolhas que eu fiz pra ficar com você.

— Vamos continuar a brigar por causa disso? É a Amy de novo enfiando coisas na sua cabeça?

Eu ainda me recordo de quando Amy veio trabalhar como babá de Leo e deixando claro que não concordava com nosso estilo de vida.

— Ah para! A Amy não tem nada a ver com isso. Não foi por causa dela que eu comecei a perceber que queria mais.

— Mais o quê? Você queria trabalhar e eu disse que tudo bem.

— Pra começar você nem deveria ter voz ativa nisso.

— Por que não? Somos casados. E eu sou muito rico Emma, não precisa trabalhar.

— Se eu quiser eu posso!

— Você nem gosta de ser jornalista! Então por que insiste?

— Talvez eu esteja cansada de ficar sozinha em casa, preparando jantares para um cara que nem se dignou a aparecer!

— Você não prepara nada, e sim Eric! — rebato.

— Você entendeu o que eu quis dizer!

— Sinceramente, Emma você está começando a ficar incoerente. — Eu me levanto a encarando com firmeza. — Eu queria muito saber que merda vai te fazer feliz, porque acho que me perdi aqui! E acho que nem você sabe. E quer saber? Mais do que ninguém eu queria saber por que não tem nada mais importante do que você.

— Mentira! Você sabe o que te faz feliz. E é ganhar dinheiro. É ser o poderoso e temido Leão de Wall Street.

— E você sabe o que te faz feliz?

— Talvez tenha razão e eu ainda não saiba. — E ela sai do banheiro, me deixando ali confuso e frustrado.

Dói ouvir aquelas palavras saírem de sua boca.

Eu achava que Emma era feliz comigo. Como eu sou feliz com ela. Embora ela cisme em dizer que não é a razão de tudo.

Sim, eu sou o Leão de Wall Street. Achei meu lugar no mundo. Amo o poder que isso me proporciona.

Mas Emma agora é parte de mim. É a família que eu achei que não precisava.

O amor que eu achei que não queria.

Como ela ousa não acreditar?

Saio do banheiro e a encontro no enorme closet, jogando roupas em uma mala.

Meu coração para de bater por um instante.

— Que porra está fazendo?

Ela vai embora?...

Ela se volta em minha direção, para os movimentos e respira fundo.

— Tem razão. Eu não sei o que quero. — E começa a chorar.

Eu me aproximo e a abraço, deixando-a chorar em meu peito.

— Que merda, Emma! O que está acontecendo?

— Eu não sei...

— Não vai a lugar nenhum, entendeu?

— Não pode me impedir.

— Posso sim.

— Eu posso fugir quando estiver trabalhando, você nem vai ver! Talvez passe dias sem perceber que nem estou mais aqui, afinal, estará muito ocupado com sua fábrica de dinheiro!

Eu rio de sua piada idiota, mas verdadeiramente preocupado de que esteja falando sério. E por um momento, eu imagino minha vida sem Emma.

E não encontro nada que valha a pena.

Merda.

De repente eu entendo o que ela quer dizer.

Eu ainda teria todo o dinheiro. Ainda seria o Leão de Wall Street.

Poderia até arranjar outra esposa mais dócil, mais bonita, mais submissa as minhas vontades.

Mas eu não quero.

Ela vai se acalmando e eu a levo pra cama, onde deitamos olhando o teto.

— Vanessa disse algo muito parecido quando foi embora.

Ela me lança um olhar irritado por eu tocar no nome de Vanessa.

Emma odeia Vanessa e as duas chegaram a se engalfinhar numa briga certa vez.

— Ela me acusou de viver para o trabalho.

— Nunca pensei que ia concordar com a Vanessa — ela sussurra.

— E ela tinha razão. Eu amo o que eu faço e não posso parar, Emma.

— Nunca te pediria para parar de fazer algo que ama.

Eu deito em seu peito.

— Eu amo mais você. Por que não entende?

Ela toca meus cabelos.

— Eu queria amar algo assim também. Como ama Wall Street. Amar só você é assustador. Porque é tudo o que eu tenho. E se você um dia se cansar de mim, eu não terei nada.

Eu levanto a cabeça, sentido sua insegurança boba.

— Wall Street é meu trabalho. Eu poderia viver sem ele, mas não sem você.

Ela sorri.

— Se eu fosse embora você arranjaria uma esposa mais bonita.

— Provavelmente. Alguém menos impertinente com certeza.

— Acha que daqui a dez anos ainda estaremos aqui, com os meus problemas?

— Então ainda estará aqui?

— Achou mesmo que eu ia embora?

— Estava arrumando a mala.

— E você me deixaria ir?

— Sei que gosto de espalhar aos quatro ventos que você me pertence, mas nós dois sabemos que não é bem assim. Você me pertence enquanto quiser ficar. Se não estiver feliz, seria livre para ir.

— Talvez eu devesse mesmo e levaria metade do seu dinheiro. Te deixaria na miséria!

— Mesmo com metade do meu dinheiro eu não estaria na miséria e eu sou tão bom em ganhar dinheiro que conquistaria tudo de novo em pouco tempo.

— Mas não teria mais a mim.

— Sim, eu seria insuportável. Então, por favor, não me deixe. Eu faço as concessões que quiser.

— Eu queria ter um bebê.

Eu rosno, frustrado por ela voltar àquele assunto.

— Achei que quisesse trabalhar.

— E as mulheres não podem trabalhar e terem filhos?

— É isso que quer? É o que a deixaria feliz?

— Acho que é este o problema. Eu não sei o que está faltando. Eu amo você, amo ser a mãe de Leo, mas às vezes parece que eu posso ter mais.

— Quem está sendo ambiciosa agora?

— Me sinto culpada por ter tanto e ainda almejar mais.

— Emma, não é pecado algum. Eu conquistei meus objetivos com apenas vinte anos, mas a maioria das pessoas demora para achar um propósito. Você é muito jovem para se angustiar com isso. Vai achar um propósito e é só pedir que compro pra você. Consigo qualquer coisa que quiser.

Ela riu me puxando para me beijar.

E é sempre como voltar para casa.

— Se eu pedir outro bebê você me dá?

— Tem certeza que é só isso que a faria feliz?

— Neste momento, é a vontade do meu coração.

— Emma, não posso te perder.

— Não vai.

— Sabe das implicações. Não tem como garantir. E eu já perdi muita gente. Não posso perder você também. Me peça tudo menos isso.

Ela suspira.

— Tudo bem, por ora. — Ela concorda, mas sei que Emma não vai desistir.

— Então não está mais brava comigo?

— Até a sua próxima mancada.

— O que quer que eu faça?

— Pare de me deixar sozinha. Sei que ama Wall Street, mas não casei com você pra me deixar sozinha.

Não gosto disso. Não gosto que ela me imponha o quanto devo me dedicar aos meus negócios.

Mas sei que ela tem razão.

E só me lembrar dela fazendo as malas que já me faz querer concordar com tudo.

— Tudo bem. Posso tentar. Temos um acordo?

— Talvez deva fazer um novo contrato. Só pra deixar oficializado.

Eu rio me lembrando do contrato de noivado.

— Se isso te deixa feliz.

Ela boceja e eu me levanto.

— Aonde vai?

— Não estou com sono, vou fazer mais algumas gravações para Amy.

Seus olhos brilham de interesse.

— Eu vou com você!

Eu não consigo impedir que ela me siga até o escritório e sente a minha frente na mesa.

Ela pega o gravador de Amy.

— Isso faz me lembrar de quando te conheci. Da entrevista. Sabe que ficou gravado, não é? Toda sua sedução sacana.

— Eu gostaria de ouvir.

— Eu apaguei tudo apavorada! Imagina o Matt ouvindo?

Nós dois rimos, nossas mentes infestadas de lembranças.

— Você só me deu dez minutos.

— Eu te dei minha vida toda.

Ela sorri, ligando o gravador.

— Então me conta. Quando foi que se deu conta de que queria me conceder todas as suas horas, Senhor Hunter?

Eu sorri de volta, me recostando.

— Quando você me disse que se eu sumisse de novo, nem precisaria voltar. Por um momento eu imaginei mesmo não voltar, não estava acostumado a mulheres me dando ultimatos. E percebi que a opção de nunca mais te ver era inconcebível.

Ela parece satisfeita com a resposta.

— Te conhecendo imagino que ficou muito bravo.

— Eu fiquei. Quis te dar uma surra.

Ela morde os lábios, excitada com minha sugestão.

— Tem mesmo que gravar isso agora, Senhor Hunter?

Eu aceito sua provocação.

— Desliga isso e vem aqui.

Ela morde os lábios, enquanto coloca o gravador na mesa.

— De joelhos, Senhorita Jones.

Sim ela pode ser a Senhora Hunter para o mundo. Mas ali, ao meu dispor, ela seria sempre a Senhorita Jones.

A minha Senhorita Jones.

**

O dia já amanheceu quando desligo o gravador. Emma está dormindo com a cabeça em meu colo no escritório.

Acaricio seu cabelo, ouvindo-a ressonar. Depois de alguma atividade sacana, eu ainda queria gravar algumas memórias para Amy e Emma insistiu em ficar comigo e ainda fez algumas anotações, sobre quais informações seriam importantes. Leo acordou em algum momento, e Emma o trouxe para o escritório. Ele acabou adormecendo no carrinho, e em algum momento Emma também dormiu.

Escuto passos se aproximando e Ethan e Amy entram no escritório. Eu mandei uma mensagem a Ethan há alguns minutos pedindo que ele subisse à cobertura com Amy.

— Longa noite? — ele brinca enquanto Amy boceja com cara de poucos amigos. Sim, ainda é bem cedo, mas eu tenho que dizer algumas coisas a eles.

— Fala baixo, não quero que Emma acorde.

— Algum problema? Sei que pra você qualquer hora é hora de tirar as pessoas da cama pra fazer suas vontades, mas isso está meio esquisito.

— Sentem. — Aponto para o outro sofá no escritório.

— Você conseguiu gravar alguma coisa? — Amy indaga, vendo o gravador.

— Sim. E Emma me ajudou a organizar, inclusive.

Ela parece aliviada.

— Nossa, então essa biografia vai mesmo sair.

— Amy estava achando que ia desistir — Ethan diz.

— Sim, vamos em frente. Mas tenho algumas condições.

Amy troca um olhar aflito com Ethan.

— Eu sabia que estava fácil demais...

— Penny, escute o Liam antes.

— Certo, quais suas condições?

— A primeira é que metade do lucro com o livro irá para a Instituição White, em Chicago.

— A instituição de Jack White?

— Sim, eu já faço doações, e é um trabalho incrível com órfãos.

— Bem, isso depende da editora que publicar...

— Isso é uma condição que não abro mão.

— Certo. Acho que qualquer editora vai querer lançar uma biografia sobre o Leão de Wall Street mesmo com a metade do lucro.

— A segunda condição é que contrate Emma para te ajudar.

— A Emma?

— Sim, ela é péssima jornalista, mas acho que até que ache algo que goste mesmo de fazer, ela pode te ajudar.

— Tudo bem, não vejo problema, se ela quiser. Mais alguma condição, Senhor Hunter?

— Eu lhe comunicarei se tiver, Senhorita Pennywise.

Mais de um ano se passou até que eu comunicasse a Senhorita Pennywise que eu tinha uma condição.

— Mas acabamos de lançar o livro — ela reclamou confusa quando eu a chamei junto com Ethan no meu escritório depois do evento de lançamento da Biografia.

— E todo o seu sucesso se deve a quem? — Levanto a sobrancelha de forma arrogante e Amy revira os olhos, mas percebe pelo tom da minha voz que não é algo tão trivial quanto o que lhe pedi até agora.

E quando termino de falar, tanto ela quanto Ethan estão meio em choque. Mas eu digo que têm tempo para pensar.

— E se eu disser não? — Amy indaga.

— Quer mesmo me dizer não depois de tudo o que aprontou pra mim e Emma, e eu ainda te aceitei nas nossas vidas?

Ela fica vermelha e Ethan segura sua mão, onde ele acaba de colocar um anel de noivado.

— É algo sério, Liam.

— Por isso te chamei aqui, de certa forma diz respeito a você também, já que a Senhorita Pennywise agora é sua noiva.

Amy e Ethan trocam um olhar.

— Certo. Eu não preciso pensar.

Um ano depois eu e Emma recebemos da barriga de Amy Grant nossa filha, Lilly Mary Hunter.

Eu pergunto se agora ela está feliz quando entramos no carro para levar Lilly para casa.

Ela me responde com um impertinente “por enquanto”.

— A sua sorte é que não fujo de um desafio, Senhora Hunter.

— Eu não esperava menos do Leão de Wall Street.

 

 

                                                   Juliana Dantas         

 

 

 

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