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O CÓDIGO CÓSMICO / Zecharia Sitchin
O CÓDIGO CÓSMICO / Zecharia Sitchin

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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PEDRAS DAS ESTRELAS

Foi necessária uma guerra - cruel e sangrenta - para trazer à luz, há poucas décadas, um dos mais enigmáticos sítios arqueológicos no Oriente Médio. Se não o mais enigmático, certamente o mais intrigante e, sem dúvida, enraizado em um passado muito distante. É uma estrutura que não possui paralelo entre as ruínas das grandes civilizações que floresceram no Oriente Médio no milênio passado - pelo menos o que foi descoberto até agora. As estruturas paralelas mais parecidas situam-se a milhares de quilômetros, além do mar e em outro continente; o que vem à mente é Stonehenge, na distante Inglaterra.

Lá, numa planície varrida pelo vento, a cerca de 130 km de Londres, círculos de imponentes megálitos formam o tesouro pré-histórico mais importante da Inglaterra. Enormes pedras erguidas em semicírculo estão ligadas na parte superior por lintéis feitos de outras pedras, contido num semicírculo de pedras menores, cercado por sua vez de dois círculos de outros megálitos. As multidões que visitam o local descobrem que alguns dos megálitos ainda estão em pé, enquanto outros caíram ou de alguma forma foram retirados do local. Mas os estudiosos e pesquisadores conseguiram descobrir as configurações dos círculos-dentro-de-círculos e observaram os orifícios onde dois outros círculos - de pedras ou de estacas de madeira - existiram numa fase inicial de Stonehenge.

Os semicírculos em forma de ferradura e um grande megálito caído, apelidado de Pedra da Matança, indicam, fora de qualquer dúvida, que a estrutura estava orientada segundo um eixo nordeste-sudoeste.

Eles apontam para uma linha de orientação que passa entre duas pedras eretas através de uma longa avenida de pedras, diretamente para a chamada Pedra do Calcanhar. Todos os estudos concluíram que os alinhamentos tinham propósitos astronômicos; foram primeiro orientados, em cerca de 2900 a.C. (um século a mais ou a menos), para o nascer do sol no dia do solstício de verão; foram reorientados, em cerca de 2000 a.C. e depois em 1550 a.C. na direção do pôr-do-sol no solstício de verão daquela época.

 

 

 

 

Um dos mais curtos, no entanto, mais sangrentos episódios de guerra recente no Oriente Médio foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando o Exército israelense, cercado e encurralado, derrotou os exércitos do Egito, da Jordânia e da Síria e capturou a península do Sinai, a margem ocidental do rio Jordão e as colinas de Golã. Nos anos que se seguiram, arqueólogos israelenses conduziram extensa pesquisa e escavações em toda a área, trazendo à luz acampamentos do período Neolítico, desde os tempos bíblicos até os períodos grego, romano e bizantino. Apesar de tudo isso, em nenhum lugar a surpresa foi maior do que na área escassamente habitada, o platô quase vazio chamado de colinas de Galã. Descobriu-se que fora uma área densamente habitada e cultivada no início das habitações humanas; eram restos de acampamentos do sétimo milênio que precede a Era Cristã.

Virtualmente no meio do nada, numa planície varrida pelo vento (que fora utilizada pelo Exército israelense para prática de tiro), pilhas de pedras arranjadas em círculo apareceram - quando vistas do alto - como uma espécie de Stonehenge do Oriente Médio.

A estrutura única consiste em vários círculos concêntricos de pedras, três deles circulares e dois formando semicírculos ou "ferraduras". O círculo exterior mede quase meio quilômetro de circunferência, e os outros diminuem à medida que se aproximam do centro da estrutura. As paredes dos três círculos principais elevam-se a dois metros ou mais, e a largura excede três metros. São feitas de pedras brutas, variando desde um tamanho pequeno até megálitos de proporções enormes, que pesam 5 toneladas e até mais. Em vários pontos as paredes circulares estão ligadas umas às outras por paredes radiais, mais estreitas porém com aproximadamente a mesma altura das pilhas circulares. No centro exato da complexa estrutura, ergue-se uma pilha grande e bem definida de rochas, medindo cerca de 20 m de largura.

Mesmo deixando de lado sua forma única, essa é, de longe, uma das maiores estruturas de uma só pedra na Ásia, tão grande que pode ser vista do espaço por uma nave orbitando a Terra.

Engenheiros que estudaram o sítio estimaram que, mesmo em suas condições atuais, contém mais de 3.540 m3 de pedras, pesando juntas cerca de 45 mil toneladas. Calcularam que teriam sido necessários cem trabalhadores durante pelo menos seis anos para construir aquele monumento - cortar as pedras de basalto, transportá-as até o local, arrumá-las segundo um plano arquitetural preconcebido, e erguer as paredes (sem dúvida, mais altas do que as ruínas agora visíveis) para formar a estrutura complexa.

O que nos leva a indagar: por quem foi construída a estrutura, quando e com que propósito?

A pergunta mais fácil de responder é a última, pois a própria estrutura parece indicar seu propósito - pelo menos seu propósito original. O círculo mais externo mostra claramente que havia duas interrupções ou aberturas, uma localizada a nordeste e outra a sudeste - localizações que indicam uma orientação de acordo com os solstícios de verão e de inverno.

Trabalhando para retirar rochas caídas e fora do desenho original, os arqueólogos israelenses expuseram na abertura a nordeste uma estrutura enorme e quadrada, com duas "asas" que protegem e escondem aberturas menores nas duas paredes concêntricas, atrás; assim, a construção servia como portão monumental, projetando (e guardando) uma entrada para o coração do complexo de pedra. Foi nas paredes dessa entrada que encontraram os maiores blocos de basalto, chegando a pesar 5,5 toneladas cada. O intervalo a sudoeste no círculo maior também serve de acesso ao interior da estrutura, porém lá os blocos não apresentam dimensões monumentais, mas pilhas de rochas caídas começam no interior e vão para fora, sugerindo o contorno de uma avenida de pedras estendendo-se para sudoeste - uma avenida que teria determinado uma linha de mira astronômica.

Essas indicações confirmam que, assim como Stonehenge na Inglaterra, a estrutura foi construída para servir de observatório astronômico (a princípio para determinar os solstícios), e a idéia é reforçada pela existência de observatórios em outros lugares - estruturas similares àquela em Golã, já que apresentam não apenas os círculos, mas as paredes radiais que os ligavam. O que impressiona é que estruturas semelhantes encontram-se do outro lado do planeta, nas Américas.

Uma delas são as ruínas de Chichén Itzá, na península do Yucatán, no México, apelidada de Caracol por causa do formato das escadas no interior da torre de observação. Outra é o observatório circular sobre o promontório de Sacsahuaman, no Peru, que domina a vista da capital inca, Cuzco; lá, assim como em Chichén Itzá, provavelmente existia uma torre de observação; os alicerces revelam os contornos e alinhamentos astronômicos da estrutura e mostram claramente os círculos concêntricos e radiais que os uniam.

Tais semelhanças foram motivos suficientes para que os cientistas israelenses chamassem o Dr. Anthony Aveni dos Estados Unidos, uma autoridade internacionalmente renomada em astronomia antiga, sobretudo em civilizações pré-colombianas das Américas. A tarefa dele não era apenas confirmar as orientações astronômicas do local em Golã, mas principalmente ajudar a determinar a idade da construção - assim, além de compreender a utilidade, também saberiam quando.

A orientação das estruturas - se alinhadas aos solstícios - pode revelar a época da construção, um fato aceito na arqueoastronomia desde a publicação de The Dawn of Astronomy ("O Alvorecer da Astronomia") por sir Joseph Norman Lockyer, em 1894. O movimento aparente do Sol entre norte e sul e de retorno, à medida que as estações vão e voltam, é causado pelo fato de que o eixo da Terra (ao redor do qual a Terra gira para causar o ciclo que produz o efeito dia/noite) está inclinado para o plano ("eclíptico") no qual a Terra orbita ao redor do Sol. Nessa dança celestial - embora seja a Terra quem se move, e não o Sol - aos observadores da Terra parece que o Sol, movendo-se para a frente e para trás, atinge um ponto distante, hesita, pára e depois, como se mudasse de idéia, retorna; atravessa o equador, vai até o outro extremo, hesita, pára lá, depois volta. As duas passagens anuais pelo equador (em março e setembro) são chamadas de equinócios; as duas paradas uma ao norte, em junho, e uma ao sul, em dezembro, são chamadas de solstícios ("paradas do Sol"), os solstícios de verão e de inverno para os observadores do hemisfério norte da Terra, como as pessoas em Golã e Stonehenge.

Ao estudar templos antigos, Lockyer dividiu-os em dois tipos. Alguns, como o Templo de Salomão, em Jerusalém, e o templo consagrado a Zeus, em Baalbek, no Líbano, foram construídos segundo um eixo leste-oeste que os orientava para o nascer do sol no dia dos equinócios. Outros, como os templos faraônicos no Egito, estavam alinhados num eixo sudoeste-nordeste, o que significava que eram orientados para os solstícios. Ele ficou surpreso, entretanto, ao descobrir que enquanto nos primeiros a orientação jamais mudava (por isso ele os chamava de Templos Eternos), os últimos - tal como os grandes templos egípcios em Karnak - mostravam que os sucessivos faraós precisavam enxergar os raios do Sol atingindo o santo dos santos no dia do solstício, portanto mudavam a direção das avenidas e corredores para um ponto ligeiramente diferente do anterior. Tais correções de alinhamentos também foram feitas em Stonehenge.

O que causava aquelas mudanças direcionais? A resposta de Lockyer foi: mudanças na inclinação da Terra, resultado de sua oscilação.

Hoje em dia a inclinação do eixo da Terra ("obliqüidade") em relação a seu caminho orbital ("eclíptico") é de 23,5 graus, e é essa inclinação que determina quanto ao norte ou ao sul o Sol parece mover-se regularmente. Se esse ângulo de inclinação permanecesse inalterado para sempre, os pontos de solstício continuariam os mesmos. Porém os astrônomos concluíram que a inclinação da Terra (causada por sua oscilação) varia ao longo dos séculos e milênios, aumentando e diminuindo repetidamente.

No momento, assim como nos vários milênios que nos precederam, a oscilação está em sua fase de diminuição. Era cerca de 24 graus por volta de 4000 a.C., diminuiu para 23,8 por volta de 1000 a.C. e continuou a diminuir até o patamar atual de 23,5 graus. A grande inovação de sir Norman Lockyer foi aplicar essa mudança da obliqüidade da Terra às várias fases de construção do Grande Templo em Karnak, assim como às fases de Stonehenge (como indicado pelas mudanças da Pedra do Calcanhar).

Os mesmos princípios têm sido usados desde então para determinar a idade de estruturas astronomicamente orientadas na América do Sul - no início do século XX, por Arthur Posnansky, a respeito das ruínas de Tiahuanaco, às margens do lago Titicaca, e por Rolf Müller, para o torreão semicircular em Machu Picchu e o afamado Templo do Sol, em Cuzco. As pesquisas meticulosas mostraram que, para determinar exatamente o ângulo de inclinação da Terra - o que indica, quando se leva em conta a posição geográfica e a idade da estrutura, é essencial determinar precisamente onde é o norte. Com isso, adquiriu significância especial o fato de que os pesquisadores descobriram que, nos dias claros, o monte Hermon fica precisamente ao norte em relação ao centro da estrutura. O Dr. Aveni e seus colegas israelenses, Yonathan Mizrachi e Mattanyah Zohar, puderam determinar que o local fora orientado de forma a permitir que um observador em pé no centro e seguindo uma linha de mira através do meio do portão nordeste assistisse ao nascer do sol numa madrugada de junho, em cerca de 3000 a.C.!

Os cientistas concluíram também que, por volta de 2000 a.C. o Sol teria parecido a um observador similar fora do centro, mas provavelmente ainda no interior do portão. Quinhentos anos depois, a estrutura perde seu valor como observatório astronômico de precisão. Foi nessa época, conforme foi confirmado pela datação de carbono dos pequenos artefatos encontrados ali, que a pilha de pedras centrais foi ampliada para formar um cairn (palavra celta que significa "pico"; túmulo celta, na Gália e na Grã-Bretanha) - um monte de pedras sob o qual uma cavidade foi escavada, provavelmente para servir de câmara funerária.

As datas dessas fases, sem estranheza, são virtualmente idênticas às datas atribuídas às três fases de Stonehenge.

 

A cavidade protegida pelo monte de pedras, a presumida câmara mortuária, permaneceu como a parte mais intocada do antigo sítio arqueológico. Foi localizada com a ajuda de sofisticados instrumentos sísmicos e de um radar que penetra o solo. Uma vez indica da uma grande cavidade, os trabalhadores (liderados pelo Dr. Yonathan Mizrachi) cavaram uma trincheira que os levou a uma câmara circular, com cerca de 2 m de diâmetro, 1,5 m de altura e 1,20 m de largura. Conduzia a uma câmara maior, com cerca de 3,30 x 1,20 m de largura. As paredes dessa última câmara foram construídas com seis camadas de pedras de basalto, erguendo-se em forma de corbelha (curvando-se para dentro à medida que as paredes se erguiam). O teto da câmara era formado por dois blocos enormes de basalto, cada um pesando cerca de 5 toneladas.

Não havia caixão ou corpo, nem quaisquer restos animais ou humanos no interior da câmara nem na antecâmara. Porém os arqueólogos encontraram, como resultado de peneiragem no solo, alguns brincos de ouro, várias contas de cornalina, uma pedra semi-preciosa, pederneiras, pontas de pedra feitas de bronze e cacos de cerâmica. Com isso, concluíram que realmente se tratava de uma câmara mortuária, porém uma que fora saqueada, provavelmente na Antiguidade. O fato de algumas das pedras usadas para pavimentar o assoalho da câmara estarem fora do lugar reforça a impressão de que o local fora arrombado por ladrões de sepulturas.

As descobertas foram datadas até o período conhecido como o final da Idade do Bronze, que se estendeu de cerca de 1500 a 1200 a.C. Essa foi a época do êxodo dos judeus do Egito sob a liderança de Moisés, e da conquista da Terra Prometida sob a liderança de Josué. Das doze tribos, as tribos de Rubem e Gad e metade da tribo de Manassés assentaram-se em locais da Transjordânia, desde o rio Amon ao sul até o sopé das colinas do monte Hermon ao norte. Tais domínios incluíam a serra montanhosa de Galaad, a leste do rio Jordão, e o platô onde hoje se localiza Golã. Era, portanto, inevitável que os pesquisadores israelenses se voltassem para a Bíblia a fim de responder à questão: quem?

Segundo os livros de Números e de Josué, a parte norte das montanhas Galaad era governada por um rei chamado Og, de sua capital, Basã. A captura dos domínios de Og é descrita no Deuteronômio (capítulo 3). A narrativa afirma: "Og e todos os seus homens saíram para dar batalha aos filhos de Israel". Ao vencerem a batalha, os israelitas capturaram sessenta cidades, "fortificadas com muros altíssimos, e portas e trancas, afora inumeráveis povoações que não tinham muros". A construção de muros altos e portões - aspectos do enigmático local em Golã - estava dentro das capacidades dos reinados na época do rei Og.

Og, segundo a Bíblia, era um homem grande e forte: "Sua cama de ferro mede 9 cúbitos de comprimento e 4 cúbitos de largura" (o equivalente a cerca de 4,5 m x 2 m). O tamanho gigante, afirma a Bíblia, era devido a ele ser descendente dos refa'im, uma raça gigante de semi-deuses que haviam vivido naquela terra. (Outros gigantes descendentes dos refa' im, inclusive Golias, são mencionados na Bíblia como ao lado dos filisteus, na época de Davi.) Combinando as referências sobre os refa' im e a narrativa bíblica a respeito da estrutura circular de pedra erigida por Josué após a passagem do rio Jordão, batizada de Gilgal- O Monte Circular de Pedras - alguns em Israel apelidaram o sítio em Golã de Gilgal Refa'im - O Monte Circular de Pedras dos Refa'im.

Ainda que os versos bíblicos não confirmem tal nome, nem apontem o túmulo do rei Og, as afirmativas bíblicas de que a área já fora domínio dos refa' im e que Og seria descendente deles eram bastante intrigantes, pois descobrimos que os refa' im e sua descendência foram mencionados nos mitos e histórias épicas dos cananeus. Os textos, que claramente ambientam eventos e ações divinas e semi-divinas na área que estamos estudando, foram escritos em tabletes de argila descobertos na década de 30 num sítio arqueológico na costa norte da Síria, cujo antigo nome era Ugarit. Os textos descrevem um grupo de divindades cujo pai era El ("Deus, o Magnificente") e cujos negócios centralizavam-se no filho de El, Baal (O Senhor) e sua irmã, Anat ("Aquela que responde"). O foco da atenção de Baal era a fortaleza na montanha, o lugar sagrado chamado de Zaphon (significando tanto "um lugar ao norte" quanto "o lugar dos segredos"), arena de Baal e de sua irmã, que hoje em dia é o norte de Israel, as colinas de Golã. Pelos céus do local andava com eles a irmã, Shepesh (o significado incerto do nome sugere associação com o Sol), a respeito da qual o texto afirma claramente que "ela governa os refa'im, os divinos" e reina sobre semi-deuses e mortais.

Vários dos textos descobertos lidam com esse envolvimento por parte do trio. Um, intitulado por acadêmicos A História de Aqhat, pertencente a Daniel ("Aquele a quem Deus Julga"), que, embora fosse um descendente dos refa' im, não podia ter filhos. Envelhecendo e agastado com o fato de não poder ter um herdeiro, Daniel apela a Baal e Anat, que intercedem junto a El. Concedendo o pedido do homem-refa'im, El instila nele um "rápido fogo de vida", que permite que ele tenha relações com sua esposa e a engravide, concebendo um filho, a quem os deuses chamaram de Aqhat.

Outra lenda, A Lenda do Rei Keret (Keret, "A Capital, a Metrópole", é aplicada para designar tanto o rei quanto a cidade), diz respeito à imortalidade de Keret, decorrente de sua ascendência divina. Ele cai doente, e os filhos ficam a pensar em voz alta: "Como é possível que um filho de El, o Misericordioso, morra? É possível que os divinos morram?". E antevendo a incrível morte de um semideus, os filhos não apenas divisaram o pico de Zaphon, mas também o Circuito do Grande Período, lamentando Keret:

 

Por ti, pai,

Irá chorar Zaphon, o monte de Baal.

O circuito sagrado, o circuito poderoso,

O circuito do grande período,

[por ti] irá lamentar.

 

Aqui está, então, uma referência a dois lugares altamente venerados que iriam lamentar a morte do semideus: o monte Zaphon, o monte de Baal, e uma renomada estrutura circular - o "circuito sagrado, o circuito poderoso, o circuito do grande período". Se o monte Zaphon, a "Montanha do Norte", era o monte Hermon, que fica precisamente ao norte do sítio de Golã, seria este o enigmático Circuito Sagrado?

Aceitando os pedidos de misericórdia, no último minuto El enviou a deusa Shataqat, uma "mulher que remove a doença", para salvar Keret. "Ela voa sobre centenas de cidades, ela voa sobre uma infinidade de vilas" em sua missão de salvamento; chega à casa de Keret exatamente a tempo de revivê-lo.

Porém, sendo apenas semideus, Keret termina morrendo. Teria sido afinal, enterrado no interior do "circuito sagrado, no circuito poderoso, no circuito do grande período". Embora os textos cananeus não forneçam uma pista cronológica, torna-se evidente que relatam eventos da Idade do Bronze - uma idade que poderia muito bem adaptar-se à datação dos artefatos descobertos numa tumba, no sítio de Golã.

Se algum daqueles governantes legendários terminou sepultado no sítio de Golã, pode ser que nunca saibamos com certeza; sobretudo depois que os arqueólogos que estudaram o local sugeriram a possibilidade de enterros intrusos, envolvendo remoção dos despojos anteriores em cerca de metade dos casos. Contudo estão certos de que (baseados em aspectos estruturais e várias técnicas de datação) a construção do henge - paredes concêntricas do que poderíamos chamar Pedras das Estrelas, por causa da função astronômica - precedeu em 1.000 a 1.500 anos a adição do cairn e de suas câmaras funerárias.

 

Como em Stonehenge e em outros locais megalíticos, assim também em relação ao sítio de Golã permanece o enigma sobre quem os construiu, agora intensificado pela determinação da idade e do sofisticado sistema astronômico embutido na orientação das pedras. A menos que fossem os próprios seres divinos, quem seria capaz de uma façanha dessas - cerca de 3.000 anos antes de Cristo, no caso do sítio em Golã?

Em 3000 a.C. só havia uma civilização na Ásia ocidental sofisticada e desenvolvida o suficiente, possuidora de extraordinários conhecimentos astronômicos, capaz de planejar, orientar astronomicamente e construir o tipo de estruturas gigantescas aqui consideradas: a civilização dos sumérios. Floresceu no local onde hoje em dia seria o sul do Iraque. "Repentinamente, inesperadamente, vinda do nada", segundo todos os cientistas. No espaço de alguns séculos - um instante breve em termos de evolução humana - demos todos os primeiros passos naquilo que julgamos essencial para a civilização, da roda ao fogo, dos tijolos aos prédios altos, da escrita e da poesia à música. Surgiram os códigos de leis e tribunais, juízes e contratos, templos e sacerdotes, reis e administradores, médicos e enfermeiras, além de um surpreendente conhecimento na área de matemática, ciências exatas e astronomia. O calendário, ainda em uso como calendário hebraico, foi inaugurado numa cidade chamada Nipur, em 3760 a.C. - envolvendo todos os sofisticados conhecimentos necessários para as estruturas que estamos discutindo.

Trata-se de uma civilização que precedeu a egípcia em 800 anos e em cerca de 1.000 a do vale do Indo. Os babilônios, assírios, hititas, elamitas, cananeus e fenícios vieram depois, alguns muito depois. Todos traziam a marca dos sumérios e utilizavam suas descobertas, assim como as civilizações que a seu tempo se iniciaram na Grécia e nas ilhas do Mediterrâneo.

Teriam os sumérios chegado até as colinas de Golã? Sem dúvida, pois seus reis e mercadores se deslocaram para o oeste, na direção do Mediterrâneo (que chamavam de mar Superior), e navegaram as águas do mar Inferior (o golfo Pérsico) até terras distantes. Quando Ur era a capital, seus mercadores eram conhecidos em todas as partes do antigo Oriente Médio. Um dos mais afamados reis sumérios, Gilgamesh - um famoso rei de Uruk (a Erech bíblica) -, passou lá com certeza. A época foi por volta de 2000 a.C. logo após a construção inicial do local em Golã.

O pai de Gilgamesh era o sumo sacerdote da cidade; sua mãe era a deusa Ninsun. Pretendendo ser um rei poderoso, para engrandecer sua cidade, Gilgamesh começou seu reino desafiando a autoridade da então cidade principal da Suméria, Kish. Um tablete de argila narra o episódio e cita o rei de Kish, Agga, descrevendo-o por duas vezes como "corpulento". Kish, naquela época, era a capital de um amplo domínio, que pode ter se estendido além do rio Eufrates. Ficamos conjecturando se o corpulento rei Agga poderia ser um antepassado do gigante rei Og, citado pela Bíblia, já que a prática dos reis usarem os mesmos nomes dos antecessores era comum no Oriente Médio.

Orgulhoso, ambicioso e impetuoso em sua juventude, Gilgamesh não aceitou bem o início da velhice. Para manter sua reputação, ele começou a usufruir as noivas jovens da cidade, reclamando o direito real de fazer sexo com a noiva antes do marido. Quando o povo da cidade já não podia agüentar, pediu ajuda aos deuses, que responderam criando um duplo para Gilgamesh, que fez com que o rei cessasse suas conquistas. Subjugado, Gilgamesh ficou acabrunhado e pensativo. Testemunhou a morte de pessoas de sua idade e mesmo mais jovens; afinal, ele era parte divino - não apenas um semideus, mas dois terços divino, já que era sua mãe a deusa, e não o pai!

Deveria ele, Gilgamesh, então morrer como um mortal, ou teria direito à vida eterna dos deuses? Apresentou o caso à mãe. "Sim", ela lhe disse, "você tem razão. Mas para conseguir o tempo divino de vida, você precisa subir aos céus, até a morada dos deuses. E os lugares de onde tal ascensão é possível estão sob o comando de Utu, seu padrinho [mais tarde conhecido como Shamash]".

Utu/Shamash tentou dissuadir Gilgamesh: "Por que, Gilgamesh, você quer ir até o céu? Só os deuses podem viver para sempre. Os humanos têm seus dias contados. Volte para junto de sua família e de seus amigos na cidade e aprecie o resto de seus dias", disse o deus a ele.

 

A história de Gilgamesh e sua busca pela imortalidade são narradas na Epopéia de Gilgamesh, um longo texto escrito em tabletes de argila e descoberto por arqueólogos, tanto no original sumério quanto em várias traduções. À medida que a história se desenrola, ficamos sabendo que Gilgamesh não foi dissuadido, e que um objeto que caiu dos céus foi tomado por ele como um sinal dos céus de que não deveria desistir. Concordando em ajudar, Ninsun revelou a ele que existe um lugar nas montanhas de Cedro - o Campo de Pouso - de onde Gilgamesh poderia subir até a habitação divina. Seria uma jornada cheia de perigos, avisou ela. Mas que alternativa tinha? Indagou ele. "Se eu falhar em minha busca, pelo menos as gerações futuras saberão que tentei."

Dando a bênção para a jornada de seu filho, Ninsun insistiu que um homem artificial, Enkidu, fosse à frente de Gilgamesh para protegê-lo ao longo do caminho. A escolha foi oportuna, pois o local de destino era o mesmo de onde viera Enkidu, as colinas nas quais convivera com os animais selvagens. Ele explicou a Gilgamesh quão perigosa poderia ser a empreitada; mesmo assim, Gilgamesh insistiu em partir.

Para atingir as montanhas de Cedro, onde atualmente se encontra o Líbano, partindo da Suméria (localizada no Iraque atual), Gilgamesh teve de atravessar Golã. E realmente encontramos a afirmação, no preâmbulo do épico, onde são louvadas as qualidades do rei, uma das referências é: "aquele que abriu os passos das montanhas". Foi um feito digno de nota, já que na Suméria não existem montanhas.

Durante o caminho, Gilgamesh parou várias vezes para procurar oráculos divinos do deus Sol. Quando atingiram a terra das colinas e dos bosques (que não eram daquela forma na Suméria), Gilgamesh teve uma série de sonhos premonitórios. Numa parada crucial, de onde já avistavam as montanhas de Cedro, Gilgamesh procurou induzir um presságio no sonho, em que estava sentado num círculo feito para ele por Enkidu. Teria sido este último, possuidor de força sobre-humana, quem arranjou as pedras para que Gilgamesh formasse suas Pedras das Estrelas?

Só podemos adivinhar. Porém evidências físicas atestando a familiaridade daqueles que moraram perto de Golã com Gilgamesh e sua história foram recentemente encontradas nas colinas.

Um dos mais recentes episódios das aventuras do rei foi o incidente que ele teve ao encontrar dois leões, lutar com eles e matá-los, usando apenas as mãos. O feito heróico era um assunto favorito entre os artistas do Oriente Médio. Ainda assim, foi uma coisa totalmente inesperada encontrar, num local próximo aos círculos concêntricos, uma lasca de pedra mostrando tal cena (O artefato está exposto no novo e interessante Museu Arqueológico de Golã, em Qatzrin).

 

Apesar de as referências do texto e a descoberta da pedra com a imagem não constituírem evidências conclusivas de que Gilgamesh atingiu o local em sua viagem para as montanhas de Cedro, no Líbano, existe uma pista ainda mais intrigante a ser considerada. Depois que o local foi identificado do alto, arqueólogos israelenses descobriram que estava marcado nos mapas do Exército sírio capturado com o nome de Rugum el-Hiri - um nome intrigante, pois significa em árabe "A pilha de pedras do lince".

Sugerimos que a explicação para o intrigante nome pode estar na Epopéia de Gilgamesh, refletindo uma lembrança do Rei Que Lutou Contra os Leões.

E, como veremos, é apenas o começo de associações entrelaçadas.

 

A SORTE POSSUI 12 ESTAÇÕES

Os estudiosos há muito reconheceram que no folclore de várias nações sobre um tema determinado, a mesma história básica aparece e reaparece por meio de disfarces, nomes e localidades diferentes. Talvez não seja tão estranho que a pedra de basalto na qual Gilgamesh é representado lutando com os leões tenha sido descoberta próxima a uma vila com o nome Ein Samsum - "A Fonte de Sansão". Pois, segundo a lenda, Sansão também lutou contra um leão com as mãos nuas e matou-o. Isso ocorreu cerca de 2.000 anos depois de Gilgamesh e certamente não foi nas colinas de Golã. Seria o nome do vilarejo uma simples coincidência, ou a lembrança de um visitante chamado Gilgamesh tornou-se Sansão?

De maior significado é a associação com o rei Keret. Embora o local da lenda Cananéia não seja mencionado, é presumido por muitos (por exemplo, Cyrus H. Gordon, Notes on the Legend of Keret - "Notas sobre a Lenda de Keret") que o nome combinado do rei com sua capital na verdade identificava a ilha de Creta. Lá, segundo as lendas gregas e cretenses, a civilização começou quando o deus Zeus avistou Europa, a bela filha do rei da Fenícia (onde atualmente é o Líbano) e, para aproximar-se, tomou a forma de um touro; raptou-a e nadou com ela nas costas, atravessou o Mediterrâneo e chegou à ilha de Creta. Lá, teve três filhos com Europa, entre os quais Minos, que a seu tempo seria associado com o início da civilização em Creta.

Imbuído em suas aspirações de usurpar o trono, Minos apelou a Posêidon, deus dos mares, para que lhe concedesse um sinal de favor divino. Em resposta, Posêidon fez um Touro Divino, branco imacu1ado, aparecer no mar. Minos anunciou que ofereceria o belo touro como um sacrifício aos deuses, mas ficou tão impressionado com ele que, em vez disso, conservou-o para si mesmo. Como castigo, o deus fez com que a esposa de Minos se apaixonasse pelo touro e copulasse com ele; o produto desse encontro foi o legendário Minotauro, uma criatura metade homem, metade touro. Minos então pediu que o arquiteto divino, Dédalo, construísse em Cnossos, a capital de Creta, um labirinto subterrâneo de onde o homem-touro fosse incapaz de escapar. Foi chamado de Labirinto.

Uma grande escultura em pedra mostrando chifres de touro saúda o visitante dos restos escavados nas ruínas de Cnossos, onde não encontramos as ruínas do Labirinto. No entanto sua lembrança permanece: a forma circular, com um caminho concêntrico com as passagens bloqueadas por paredes radiais, não foi esquecida.

Certamente lembra o sítio arqueológico descoberto em Golã, e faz com que nos voltemos outra vez para a lenda de Gilgamesh, na passagem do encontro com o Touro do Céu.

Conforme a narrativa do épico, durante a última noite antes de tentar entrar na Floresta de Cedros, Gilgamesh e Enkidu divisaram um foguete subindo aos céus em meio a labaredas, saído do Campo de Pouso. Na manhã seguinte encontraram a entrada oculta para o local proibido; mal haviam começado a percorrer esse caminho, quando um guardião bloqueou-lhes a passagem. Era "poderoso como os dentes de um dragão, o rosto de um leão feroz, seu avanço como o das águas de uma torrente". Uma "luz radiante" emanava da testa dele, "devorando árvores e arbustos"; dessa força letal, ninguém podia escapar.

Vendo a situação de Gilgamesh e Enkidu, Utu/Shamash "falou do céu aos heróis". Aconselhou-os a não correr, mas a se aproximar do monstro, logo que o deus produzisse um vento forte para atirar poeira sobre o guardião. Assim que isso aconteceu, Enkidu avançou e matou-o. Antigas representações dos artistas em selos cilíndricos mostram Gilgamesh, Enkidu e Utu/Shamash juntos contra o robô ameaçador; sua figura lembra a descrição bíblica do "anjo com a espada flamejante" que Deus postou à entrada do Jardim do Éden para certificar-se de que Adão e Eva não retornassem.

A luta foi também observada por Inana (mais tarde conhecida como Ishtar), irmã-gêmea de Utu/Shamash. Inana/Ishtar possuía um histórico de convencer machos humanos a passarem a noite com ela - uma noite à qual raramente sobreviviam. Cativada pela beleza de Gilgamesh, que depois da luta banhava-se, nu, numa cachoeira próxima, ela o convidou. "Venha, Gilgamesh, seja meu amante!" Sabendo da fama dela, ele recusou.

Enraivecida e ofendida pela recusa, Ishtar invocou o Touro do Céu para atormentar Gilgamesh. Correndo para salvar suas vidas, Gilgamesh e Enkidu apressaram-se para Uruk, porém o Touro do Céu alcançou-os às margens do rio Eufrates. Naquele instante de perigo mortal, foi Enkidu outra vez quem avançou e conseguiu atacar e matar o Touro do Céu.

Furiosa, Inana/Ishtar "mandou um grito para os Céus", exigindo que os dois companheiros morressem. Embora temporariamente poupado, Enkidu morre primeiro; mais tarde, morre também Gilgamesh (depois de uma segunda jornada que o levou ao espaçoporto na península do Sinai).

O que era o Touro do Céu - GUD.ANNA em sumério? Muitos estudiosos do épico, tal como Giorgio de Santillana e Hertha Von Dechend em Hamlet' s Mill, chegaram à conclusão de que os eventos do épico, acontecendo na Terra, não foram senão uma imagem espelhada dos eventos no céu. Utu/Shamash é o Sol, Inana/Ishtar é a que foi chamada mais tarde de Afrodite pelos gregos e de Vênus pelos romanos. O ameaçador guardião das montanhas de Cedro com o rosto de leão era a constelação de Leão, e o Touro dos Céus representa o grupo de estrelas que tem sido chamado, desde o tempo dos sumérios, a constelação de Touro.

De fato, existem representações da Mesopotâmia que mostram o tema do Leão e do Touro; e como foi afirmado pela primeira vez por Willy Hartner (The Earliest Story of the Constellations in the Near East), no IV milênio a.C. os sumérios teriam observado as duas constelações em posições-chave no Zodíaco: a constelação de Touro como a constelação do equinócio de primavera e a constelação de Leão era o solstício de verão.

As conotações zodiacais sobre eventos épicos na Terra, conforme os sumérios fizeram, implica que eles possuíam um enorme conhecimento do espaço - no IV milênio a.C., 3.000 mil anos antes de os gregos agruparem as estrelas em constelações e apresentaram os doze signos do Zodíaco. Na verdade, os próprios gregos (da Ásia Menor) explicaram que a sabedoria veio dos "caldeus" da Mesopotâmia, como atestam os textos e representações gráficas dos sumérios, que deveriam ter o crédito por isso. Os nomes e símbolos das constelações zodiacais permaneceram inalterados até o nosso tempo.

A lista zodiacal dos sumérios inicia-se com o signo de Touro, que realmente era a constelação na qual o Sol era observado nascendo ou se pondo, no IV milênio a.C. Era chamado em sumério de GUD.ANNA (O Touro do Céu, ou Touro Celestial), o mesmo termo usado na Epopéia de Gilgamesh para a divina criatura que Inana/Ishtar conjurou dos céus e que os dois amigos mataram.

Será que a morte representa ou simboliza um evento celestial, por volta de 2900 a.C.? Embora a possibilidade não possa ser verificada, os dados históricos indicam que eventos e mudanças importantes ocorreram na Terra nessa época, e o assassinato do Touro do Céu poderia representar um presságio celestial, predizendo ou mesmo acionando acontecimentos na Terra.

Durante a maior parte do IV milênio a.C. a civilização suméria não apenas foi a maior na Terra, mas também a única. Porém por volta de 3100 a.C. as civilizações do Nilo (Egito e Núbia) juntaram-se às do Tigre e Eufrates. Teria essa separação na Terra aludida também na história bíblica da Torre de Babel, ao final da era em que a humanidade falava uma só língua - encontrado expressão na descrição (feita pela Epopéia de Gilgamesh) do golpe de graça dado ao touro, quando Enkidu arrancou suas patas da frente? As representações zodíacos-celestiais dos egípcios de fato associam o início de sua civilização ao corte das patas dianteiras do Touro.

Assim como explicamos com detalhes em The Wars of God and Men, Inana/Ishtar esperava naquela época tornar-se senhora da nova civilização, porém isso foi arrancado dela, literal e simbolicamente. Ela ficou particularmente contente quando uma terceira civilização, a do vale do Indo, foi colocada sob sua tutela, por volta de 2900 a.C.

Por mais significativos que possam ter sido os eventos para os deuses, tiveram ainda mais conseqüências para os mortais na Terra; testemunharam a sina que caiu sobre seus dois camaradas. Enkidu, um ser artificialmente criado, morreu como mortal, e Gilgamesh, dois terços divino, não conseguiu escapar da mortalidade. Embora saísse numa segunda jornada, suportando provações e perigos, e tivesse encontrado a Planta da Juventude Eterna, voltou para Uruk de mãos vazias. Segundo a Lista de Reis Sumérios, "o divino Gilgamesh, cujo pai foi humano, sumo sacerdote do Templo, governou 126 anos; Urlugal, filho de Gilgamesh, governou depois dele".

Quase podemos escutar o filho de Gilgamesh gritando, como fizeram os filhos do rei Keret: "Como é possível que um filho de El, o Misericordioso, morra? Um ser tão divino morrer?". Porém Gilgamesh, que se considerava mais do que um semideus, brincou com seu destino. A Idade do Touro era dele, e ele a terminou; seu Destino, fabricado no céu, alterou-se de uma chance de imortalidade para o falecimento de um mortal.

Mil anos depois da provável estadia de Gilgamesh no local em Golã, ali esteve outro visitante ilustre da Antiguidade, que também enxergou o Destino nas constelações do Zodíaco. Foi Jacó, o neto de Abraão; a época, de acordo com nossos cálculos, foi por volta de 1900 a.C.

 

Uma pergunta ignorada com freqüência em relação às estruturas megalíticas ao redor do globo é: por que foram construídas no lugar em que se encontram? A localização obviamente está relacionada ao propósito de uso em particular. As duas Grandes Pirâmides de Gizé, conforme insinuamos em nossos textos, serviam como Guia de Aterrissagem para um espaçoporto na península do Sinai, e foram colocadas ali exatamente por sua ligação com o paralelo 13 norte. Stonehenge, conforme sugerido por astrônomos importantes, foi erigida onde está por ser ali exatamente o local que combinava observações solares e lunares. Até que mais alguma luz seja lançada sobre os círculos em Golã, o motivo mais provável para estar ali é que se trata de um dos poucos caminhos que ligavam duas rotas importantes (na Antiguidade e agora também): a Estrada do Rei, que corria ao longo das colinas a leste do rio Jordão, e o Caminho do Mar, que passava pelo oeste, ao longo do mar Mediterrâneo. As duas rotas ligavam a Mesopotâmia ao Egito, a Ásia à África, seja para comércio pacífico ou para exércitos invasores. As ligações entre os dois caminhos eram ditadas pelas condições geográficas e topográficas. Em Golã, isso pode ser feito por qualquer uma das margens do mar da Galiléia (lago Kinnereth); o preferido, naquela época e agora, é o do norte, onde a ponte ainda conserva seu nome antigo: a Ponte das Filhas de Jacó.

O local em Golã estava, dessa forma, situado onde os viajantes de diferentes países pudessem parar e observar o céu à procura de presságios em relação a seu Destino e talvez socializar num local neutro que era sagrado, e lá negociar questões de guerra e paz.

Baseados em dados bíblicos e da Mesopotâmia, acreditamos que era para isso que Jacó utilizava o local.

A história começou dois séculos antes, na Suméria; e não teve início com Abraão, o avô, mas com Taré, o bisavô. O nome sugeria que ele era um sacerdote do oráculo (tirhu); o cuidado da família em ser conhecida como ibri (hebreu) sugere que eles se consideravam nippurianos - pessoas da cidade de Nippur, que em sumério dizia-se NI.IBRU - "A Bela e Agradável Morada da Passagem". Centro religioso e científico da Suméria, Nippur era o local do DUR.AN.KI, a "Ligação Céu-Terra", situado no bairro sagrado da cidade. Era o ponto focal para a preservação, o estudo e a interpretação de dados astronômicos, do calendário e celestiais; o pai de Abraão, Taré, era um dos sacerdotes.

Por volta de 2100 a.C. Taré foi transferido para Ur. A época era um período conhecido pelos estudiosos da Suméria como Ur III, pois pela terceira vez a cidade se tornou a capital não apenas da Suméria, ou do que ficou conhecido como Suméria e Acádia, mas também de um império virtual que florescia e se mantinha junto não apenas pela força das armas, mas por uma cultura superior, um panteão (o que ficou conhecido como Religião) unificado e pelos negócios. Ur era também o centro cultural do deus lunar chamado Nanar (que depois ficou conhecido do povo semita como Sin). Acontecimentos que se desenrolavam com rapidez na Suméria e além deflagraram primeiro a transferência de Taré para Ur, depois para uma cidade distante chamada Haran. Situada no Alto Eufrates e seus tributários, a cidade era uma encruzilhada e um centro comercial (indicado por seu nome, Caravana). Fundada por mercadores sumérios, Haran também abrigava um grande templo em honra ao deus da Lua, tanto que a cidade era considerada uma "Ur fora de Ur".

Numa dessas mudanças, Taré levou consigo sua família. A mudança incluiu Abrão (como ele era chamado na época), um filho chamado Naor, as duas esposas, Sarai (mais tarde Sara) e Milca e o sobrinho de Taré, Lot (filho de Haran, irmão de Abrão, que morrera em Ur). Viveram em Haran muitos anos, segundo a Bíblia, e foi lá que Taré faleceu, com a idade de 205 anos.

Foi depois disso que Deus disse a Abrão: "Saia da tua terra e da tua parentela e da casa do teu pai e vem para a terra que eu te mostrarei. E eu te farei pai de um grande povo e te abençoarei: eu farei célebre o teu nome e tu serás bendito". E Abrão tomou sua esposa, Sarai, e Lot, seu sobrinho, e todo o povo de sua casa e todos os pertences, e partiu para a terra de Canaã. "Tinha Abrão 75 anos quando saiu de Haran". Seu irmão Naor ficou, com a família, em Haran.

Agindo por meio de instruções divinas, Abrão moveu-se com rapidez em Canaã para estabelecer uma base no Neguev, a terra árida que bordejava a península do Sinai. Numa visita ao Egito, foi recebido na corte do faraó; de volta, negociou com os dirigentes locais. Em seguida participou de um conflito internacional, conhecido na Bíblia (Gênesis 14) como a Guerra dos Reis. Foi depois disso que Deus prometeu a Abrão que sua "semente" herdaria as terras entre o rio do Egito e o rio Eufrates. Duvidando da promessa, Abrão lembrou que ele e sua esposa Sarai não tinham filhos. Deus disse que Abrão não se preocupasse: "Olha para o céu e conta as estrelas se puderes... assim numerosa será sua semente". Porém Sarai permaneceu estéril mesmo depois disso.

Portanto, segundo sugestão dela, Abrão tomou a serva dela, Agar, que lhe deu um filho, Ismael. Depois, miraculosamente em seguida à revolta de Sodoma e Gomorra, quando o nome do casal foi mudado para Abraão e Sara -, Abraão, com a idade de cem anos, teve um filho de sua mulher Sara, com noventa. Embora não fosse o primogênito, o filho de Sara, Isaac, era o legítimo herdeiro de acordo com as regras sumérias de sucessão, que Abraão respeitava, pois era filha da meia-irmã de seu pai. "Por outra parte, ela é verdadeiramente minha irmã, como filha que é do meu pai, ainda que não filha da minha mãe, e eu a recebi por mulher", disse Abraão, referindo-se a Sara (Gênesis 20:12).

Foi depois da morte de Sara, sua companheira da vida inteira, que Abraão, "velho e avançado nos anos" (137 anos, pelos nossos cálculos), preocupou-se com seu filho Isaac, ainda solteiro. Temendo que Isaac casasse com uma Cananéia, mandou o chefe de sua casa para Haran, a fim de lá encontrar uma noiva para Isaac entre os parentes que haviam permanecido na cidade. Ao chegar à vila onde morava Naor, Isaac encontrou Rebeca no poço, e ela revelou ser a neta de Naor e acabou indo para Canaã a fim de tornar-se esposa dele.

Vinte anos depois de terem se casado, Rebeca deu à luz irmãos gêmeos, Esaú e Jacó. Esaú foi o primeiro a casar, tomando duas esposas de uma vez, ambas hititas. "Eram uma fonte de preocupação para Isaac e Rebeca." O tipo de problema não é descrito na Bíblia, mas a situação entre mãe e noras era tão ruim que Rebeca disse a Isaac: "Estou desapontada com a vida por causa dessas mulheres hititas. Se Jacó casar com mais uma dessas mulheres hititas, das que moram por aqui, que prazer terá a vida para mim?". Então Isaac chamou Jacó e o instruiu a viajar até Haran, onde estava a família de sua mãe, para encontrar uma esposa lá. Prestando atenção às palavras do pai, "Jacó saiu de Beersheba e partiu para Haran".

Da jornada de Jacó do sul de Canaã para a distante Haran, a Bíblia conta apenas um episódio - embora bastante significativo. Foi uma visão noturna por parte de Jacó "como chegasse depois do sol posto a um certo lugar" de uma escadaria no céu, pela qual os Anjos do Senhor desciam e subiam. Acordado, Jacó percebeu que deparara com um "lugar dos elohim e um portão para o céu. Marcou o lugar com uma pedra comemorativa e batizou o lugar de Beth-El- "A Casa de El", o Senhor. Depois, por um caminho que não é descrito, continuou para Haran.

Nos arredores da cidade, viu pastores com seus rebanhos e um poço no campo. Dirigindo-se a eles, Jacó perguntou se conheciam Labão, o irmão de sua mãe. De fato nós o conhecemos, responderam os pastores, e ali vem sua filha Raquel, com os rebanhos dele. Irrompendo em lágrimas, Jacó apresentou-se como filho de Rebeca, tia dela. Assim que Labão ouviu a notícia, também veio correndo, abraçou e beijou seu sobrinho, convidando-o a ficar com ele e conhecer sua filha mais velha, Lia. O casamento estava nitidamente na mente do pai, mas Jacó apaixonou-se por Raquel, e ofereceu-se para trabalhar durante sete anos para completar seu dote e casar com ela. Porém depois do banquete nupcial, Labão substituiu Raquel por Lia no leito...

Quando, de manhã, Jacó deu pela identidade da noiva, Labão foi irredutível. Aqui, respondeu ele, não casamos a filha mais nova antes da mais velha. Por que você não trabalha por mais sete anos para mim e depois casa com Raquel também? Jacó concordou, pois ainda estava apaixonado por Raquel. Depois de sete anos conseguiu casar com ela, mas o ardiloso Labão sabendo como Jacó era bom pastor e trabalhador, não pretendia deixá-lo ir com facilidade. Para evitar que o genro partisse, deixou que ele começasse a pastorear os próprios rebanhos; devido ao sucesso obtido por Jacó, os filhos de Labão ficaram cada vez mais com inveja.

Dessa forma, quando Labão e seus filhos estavam fora para tosquiar os rebanhos, Jacó reuniu suas esposas, filhos e partiu para Haran. "Ele cruzou o rio (Eufrates) e se dirigiu para o monte Gilad."

"No terceiro dia, contaram a Labão que Jacó fugira; Labão juntou seus parentes e foi atrás de Jacó; depois de sete dias, ele o encontrou no monte Gilad".

Gilad - "O Monte de Pedras Eterno" em hebraico - o local do observatório circular em Golã!

O encontro começou com trocas de ofensas e acusações recíprocas. Terminou com um tratado de paz. À maneira dos tratados de paz daquela época, Jacó escolheu uma pedra e a erigiu para ser a Pedra do Testemunho, a fim de marcar a fronteira além da qual Labão não podia atravessar para os domínios de Jacó. Tais marcos de pedras eram chamados kudurru em acadiano por causa de seus topos arredondados, e foram descobertos em vários locais do Oriente Próximo. Como regra, continham inscrições com detalhes dos tratados e incluíam a invocação dos deuses de ambas as partes como testemunhas e fiadores. De acordo com o costume, Labão invocou "o Deus de Abraão e os deuses de Naor" para garantir o tratado. Apreensivo, Jacó jurou pelo Deus "que seu pai, Isaac, temia". Então acrescentou:

 

E Jacó disse a seus filhos:

Reúnam pedras;

E eles reuniram muitas pedras

E as arranjaram num monte...

E Jacó chamou ao monte de pedra

Galaad.

 

Por uma mera troca de pronúncia, de Gilad para Galaad, Jacó mudou o significado do nome do antigo "Monte de Pedras Eterno" para "Monte da Testemunha".

Qual a certeza que podemos ter de que o local era aquele do sítio em Golã? Aqui, acreditamos está a pista final: no texto do tratado, Jacó também descreve o local como Ha-Mitzpeh - O Observatório!

O Livro dos Jubileus, uma narrativa extra-bíblica que relata as mesmas histórias vindas de fontes mais antigas, adiciona um adendo ao evento narrado: "E Jacó fez lá um monte por testemunha, de onde o nome do local passou a ser Monte do Testemunho; porém antes a terra era chamada, em vez de terra de Gilad, a terra dos refa'im".

E assim estamos de volta ao enigmático local em Golã e seu apelido Gilgal Refa'im.

Os marcos de pedra chamados kudurru, que foram encontrados no Oriente Médio, como regra geral não ostentavam apenas os termos do compromisso e os nomes dos deuses envolvidos, mas também símbolos celestiais - algumas vezes o Sol, a Lua e os planetas, algumas vezes as constelações do Zodíaco - todas as doze. Esse, desde o tempo dos sumérios, era o número das constelações do Zodíaco (12), como ficou evidenciado pelos nomes:

 

GUD.ANNA - O Touro do Céu (Touro)

MASH.TAB.BA - Gêmeos

DUB - Tenazes, Espetos (Câncer)

UR.GULA - Leão

AB.SIN - Cujo Pai Foi o Pecado (A Donzela = Virgem)

ZI.BA.AN.NA - Destino Celestial (A Balança = Libra)

GIR.TAB - Que Agarra e Corta (Escorpião)

PA.BIL - O Defensor (O Arqueiro = Sagitário)

SUHUR.MASH - Peixe-Cabra (Capricórnio)

GU - O Senhor das Águas (Aquário)

SIM.MAH - Peixes

KU.MAL - Habitante do Campo (Áries/Carneiro)

 

Enquanto nem todos os símbolos representantes das doze constelações tenham sobrevivido dos tempos dos sumérios, ou mesmo dos babilônios, foram encontrados em monumentos egípcios, com idêntica atribuição de nomes.

Alguém duvida de que Abraão, filho do sacerdote astrônomo Taré, estava consciente dos doze signos do Zodíaco quando Deus lhe disse para observar os céus e assim prever o futuro? Assim como as estrelas que tu vês nos céus, será tua descendência, disse Deus a Abraão, e quando o primeiro filho nasceu da escrava Agar, Deus abençoou o menino, Ismael ("Ouvido por Deus"), com esta profecia:

 

Quanto a Ismael:

De fato eu o escutei.

Com isso eu o abençôo:

Eu o tornarei fértil

E o multiplicarei com fartura;

Dele nascerão doze chefes,

E sua nação será grande.

Gênesis 17:20

 

Com essa bênção profética, ligada aos céus estrelados observados por Abraão, pela primeira vez a Bíblia menciona o número 12 e seu significado. Relata então (Gênesis 25) que os filhos de Ismael - cada qual chefe de um estado tribal - realmente foram doze. Citando os nomes, a Bíblia enfatiza: "Estes foram os filhos de Ismael de acordo com suas cortes e fortalezas - doze chefes, cada um com sua própria nação". O domínio deles incluía a Arábia e os desertos ao norte.

A vez seguinte que a Bíblia emprega o número 12 é quando cita os filhos de Jacó, na época em que estava de volta à propriedade do pai, em Hebron. "E o número dos filhos de Jacó foi doze", afirma a Bíblia em Gênesis 35, citando os nomes que mais tarde se tornaram familiares como os nomes das Doze Tribos de Israel:

 

Seis de Lia:

Rubem, Simão, Levi, Judá, Issacar, Zabulão

Dois de Raquel:

José, Benjamim

Dois de Bilá, escrava de Raquel:

Dan, Naftali

Dois de Zelfa, escrava de Lia:

Gad, Aser

 

Existe, entretanto, uma alteração nessa lista: aquela não era a conta original de doze filhos que voltaram com Jacó de Canaã: Benjamim, o mais novo, nasceu de Raquel quando a família já estava em Canaã, em Belém, onde ela morreu ao dar à luz. Ainda assim, o número de filhos de Jacó era doze antes disso: o último bebê de Lia foi uma filha, Diná. A lista, talvez por mais do que uma coincidência -, ficou composta de onze homens e uma mulher, combinando com a lista das constelações do Zodíaco, formada por uma feminina (a Virgem) e onze "masculinas".

As implicações zodiacais dos doze filhos de Jacó (rebatizado Israel depois de lutar com um ser divino na travessia do rio Jordão) podem ser percebidas duas vezes nas narrativas bíblicas. Uma vez, quando José - um mestre para resolver sonhos proféticos - se gabou aos irmãos, dizendo que havia sonhado que o Sol e a Lua (os mais velhos, Jacó e Lia) e onze kokhavim se curvavam perante ele. A palavra geralmente é traduzida por "estrelas", porém o termo (cuja raiz é acadiana) servia igualmente para designar "constelações". Com a de José, o total seria doze. A implicação de que ele era uma constelação superior irritou profundamente seus irmãos.

A outra vez foi quando Jacó, sentindo que iria morrer, chamou seus filhos para abençoá-los e predizer-lhes o futuro. Conhecidas como a Profecia de Jacó, as últimas palavras do patriarca começam comparando o filho mais velho, Rubem, com Az - a constelação zodiacal de Áries (que, naquela época, era a constelação no equinócio de primavera, em vez de Touro). Simão e Levi foram colocados juntos como Gêmeos; por haverem matado muitos homens para vingar o estupro de sua irmã, Jacó profetizara que ficariam dispersos entre as outras tribos e desistiriam de seus próprios domínios. Judá foi comparado a um leão, e foi previsto que carregaria o cetro real - uma previsão do reinado da Judéia. Zabulão foi visto como um Andarilho dos Mares (Aquário), o que realmente aconteceu. As previsões do futuro dos filhos e das doze tribos continua, ligando os nomes aos símbolos das constelações do Zodíaco. Os últimos foram os filhos de Raquel: José foi descrito como o arqueiro (Sagitário); e o último,

Benjamim - tendo substituído sua irmã, Diná (Virgem) - foi descrito como um predador que se alimenta de outros.

A rígida aderência ao número 12, emulando as doze casas do Zodíaco, envolve outro aspecto que geralmente passa despercebido. Depois do Êxodo e da divisão da Terra Prometida entre as Doze Tribos, novamente voltaram a essa disposição. De repente, a conta das Doze Tribos que partilhavam seu território inclui os dois filhos de José - Manassés e Efraim. A lista, no entanto, permaneceu na contagem de doze; como fora profetizado por Jacó, pois as tribos de Simão e Levi não participaram da distribuição territorial, e como foi previsto, dispersaram-se entre as outras tribos. A exigência - santidade - do Doze Celeste foi outra vez preservada.

 

Arqueólogos que escavam os restos de sinagogas judias na Terra Santa algumas vezes ficam intrigados em encontrar o solo dessas sinagogas decorado com o círculo zodiacal das doze constelações, mostradas com seus símbolos tradicionais. Tendem a considerá-las aberrações resultantes de influência greco-romana nos séculos iniciais da cristandade. Tal atitude, derivando da crença de que a prática era proibida pelo Velho Testamento, ignora os dados históricos - a familiaridade dos hebreus com as constelações do Zodíaco e suas associações com previsões do futuro - com o Destino.

Por muitas gerações e até os dias de hoje, podem-se ouvir os gritos de Mazal-tov! Mazal-tov! Nos casamentos judeus, ou quando um garoto é circuncidado. Se você perguntar a alguém o que significa, a resposta será "Boa Sorte".

Poucos compreendem, entretanto, que esse desejo pode ser o de todos, mas não é a tradução correta. Mazal-tov literalmente significa "uma boa e favorável constelação zodiacal". O termo deriva do acadiano (a primeira ou Mãe das línguas semitas), em que manzalu significa "estação" - a estação zodiacal na qual o Sol "estacionava" no dia do casamento ou nascimento.

Tais associações de nossa casa zodiacal com o destino da própria pessoa estão na moda e representam a astrologia de horóscopo, que começa estabelecendo (mediante a data do nascimento) a qual signo alguém pertence - se é Peixes, Câncer ou outro signo qualquer. Retornando ao nosso assunto, podemos afirmar que, de acordo com a profecia de Jacó, Judá era Leão, Gad era Escorpião e Naftali era Capricórnio.

A observação dos céus para obter indicações precisas era uma tarefa realizada por vários astrônomos-sacerdotes, que desempenhavam um papel-chave nas decisões, nos tempos babilônicos. O destino do rei, o destino da terra e das nações era adivinhado a partir da posição dos planetas numa determinada constelação. As decisões reais aguardavam o parecer dos astrônomos. Teria a Lua, esperada na constelação de Sagitário, ficado oculta pelas nuvens? Teria o cometa visto em Touro se movido para outra constelação? O que resultaria para o rei ou para a terra da observação de que, na mesma noite, Júpiter tenha surgido em Sagitário, Mercúrio em Gêmeos e Saturno em Escorpião? Registros abrangendo centenas de tabletes revelam que esses eventos celestes eram utilizados para prever invasões, ondas de fome, enchentes, revolução civil - ou, por outro lado, longa vida para o rei, uma dinastia estável, vitória nas guerras, prosperidade. A maior parte dos registros de tais observações era escrita em prosa nos tabletes de argila; algumas vezes os almanaques astrológicos, assim como os manuais de horóscopos, eram ilustrados com os símbolos das respectivas constelações zodiacais. De qualquer forma, o Destino era indicado pelos céus.

As raízes atuais da astrologia de horóscopo remontam a tempos anteriores aos babilônicos, os caldeus mencionados pelos gregos. Junto com a noção do calendário de doze meses, de Destino e do Zodíaco, estão dois aspectos do mesmo curso de acontecimentos que sem dúvida se iniciaram no mínimo quando começou a contagem do calendário - em Nippur, em 3760 a.C. (no início da contagem do calendário judeu). Que tal associação seja tão antiga pode ser comprovada, em nossa opinião, por um dos nomes das constelações sumérias: ZI.BA.AN.NA. O termo geralmente traduzido por "Destino Celestial", significa literalmente "Decisão da Vida no Céu", ou "As Balanças Celestiais da Vida".

Esse era um conceito registrado no Egito, no Livro dos Mortos; era crença vigente que, se alguém esperava ter vida eterna, dependia do julgamento de seu coração no Dia do Juízo Final. A cena foi representada magnificamente no Papiro de Ani, no qual o deus Anúbis é mostrado no ato de pesar o coração na balança, no Dia do Julgamento, e o deus Tot, o Escriba Divino, registrando o resultado num tablete.

Um enigma não resolvido nas tradições judaicas é por que o Senhor escolheu o sétimo mês, Tishrei, como o mês em que é celebrado o Ano-Novo, em vez de iniciar no mês contado na Mesopotâmia como o primeiro, Nissan. Foi sugerido como explicação o desejo de indicar uma quebra da veneração de estrelas e planetas dos povos mesopotâmicos; mesmo assim, qual o propósito de iniciar no sétimo mês sem renumerar?

Parece a nós que o oposto seja verdadeiro, e que a resposta encontra-se no próprio nome da constelação ZI.BA.AN.NA e sua conotação de Balança do Destino. Acreditamos que a primeira pista importante é a ligação do calendário com o Zodíaco. Na época do Êxodo (a metade do II milênio a.C.), a primeira constelação no equinócio de primavera era Áries, não Touro. Se começarmos com Áries, a constelação da Balança Celestial da Vida era de fato a sétima. O mês em que o Ano-Novo judeu devia começar, o mês em que seria decidido no céu quem vive e quem morre, quem será sadio ou doente, mais rico ou mais pobre, mais feliz ou mais triste - era o mês em paralelo com o mês zodiacal da Balança Celeste.

E nos céus, o Destino tinha 12 estações.

 

GERAÇÕES DIVINAS

O Zodíaco de doze partes e sua antiguidade geraram dois enigmas: quem o originou e por que estava o círculo celestial dividido em doze partes?

As respostas requerem o cruzamento de uma fronteira para uma compreensão de que sob o delinear de um sistema factível de significado astrológico, o dividir o céu em doze partes representa uma astronomia altamente desenvolvida - uma astronomia, na verdade, tão avançada que o homem, por si só, não a poderia ter possuído quando a divisão do círculo celestial se iniciou.

Em sua órbita ao redor do Sol, este parece nascer a cada mês - um doze avos do ano - numa estação diferente. Porém a que importa mais, que era tida como crucial na Antiguidade e que determina a transição de Era para Era (de Touro para Áries, para Peixes e em breve para Aquário) é aquela em que o Sol é visto nascendo no dia do equinócio de primavera. Acontece que a Terra, em sua volta anual ao redor do Sol, não retorna exatamente para o mesmo local. Devido a um fenômeno chamado precessão, existe um ligeiro retardo; acumula-se 1 grau a cada 72 anos. O retardo (presumindo que cada um dos segmentos seja igual, de 30 graus cada) requer dessa forma 2.160 anos (72 x 30) para executar um giro do nascer do sol no dia do equinócio contra o fundo estrelado de uma constelação (Touro, por exemplo), para aquela imediatamente anterior (Áries, nesse caso) - enquanto a Terra gira ao redor do Sol num movimento anti-horário, o retardo causa um recuo para trás do dia do equinócio.

 

Agora, mesmo considerando a grande longevidade dos tempos sumérios/bíblicos, (Taré 205, Abraão 175), teria sido necessária uma vida inteira para reparar um retardo de 1 ou 2 graus (72 e 144) - um conhecimento altamente duvidoso sem os instrumentos astronômicos sofisticados necessários para medidas precisas. Ainda mais para compreender e confirmar o ciclo de uma idade zodiacal completa. Mesmo os patriarcas antediluvianos, para os quais os estudiosos consideram longevidades "fantásticas" - 969 anos para o recordista Matusalém e 930 para Adão -, não viveram tempo suficiente para observar um período zodiacal completo. Noé, o herói do dilúvio, viveu apenas 950 anos; ainda assim, os registros do evento pelos sumérios mencionam a constelação zodiacal envolvida - Leão - na qual aconteceu.

Foi apenas parte do conhecimento impossível possuído pelos sumérios. Como podiam saber tudo aquilo? Eles mesmos fornecem a resposta: Tudo o que sabemos nos foi ensinado pelos anunnaki - "Aqueles de Quem Veio à Terra". Eles, vindo de outro planeta com um enorme período orbital e uma longevidade na qual um ano corresponde a 3.600 dos terrestres, não tiveram dificuldade para perceber a precessão e idealizar o Zodíaco de doze partes.

Numa série de textos que formaram a base da antiga ciência e religião, que foram por sua vez copiados em outras línguas, incluindo o hebraico da Bíblia, as histórias sumérias sobre os anunnaki - os deuses antigos - têm sido o material do que a "mitologia" é feita. Nas culturas ocidentais, uma das que primeiro saltam à vista é a cultura grega. Porém como todas as mitologias antigas e panteões divinos de todas as nações - pelo mundo inteiro -, também deriva das crenças e textos originais dos sumérios.

Houve uma época, diziam os sumérios, quando o homem civilizado ainda não estava na Terra, quando os animais eram selvagens e não domesticados, e as plantas, não cultivadas. Nessa era, distante no tempo, chegou à Terra um grupo de cinqüenta anunnaki. Liderados por um chefe chamado E.A. (significando "aquele cujo lar é a água"), eles viajaram de seu planeta NIBIRU ("planeta da travessia"), e, ao alcançar a Terra, mergulharam nas águas do golfo Pérsico. Um texto, conhecido dos estudiosos como o "mito" de Ea e a Terra, descreve como o primeiro grupo caminhou para a terra firme, encontrando-se num pântano. A primeira tarefa foi drenar esse terreno alagado, limpar os riachos e regatos, verificar as fontes de comida (que revelaram ser peixe e aves). Começaram então a fazer tijolos com o barro da terra e fundaram o primeiro povoado extraterrestre do planeta. Chamaram sua cidade de ERIDU, que significa "Casa na Distância" ou "Casa Fora de Casa". Esse nome originou o nome Terra nas linguagens mais antigas. A época: 445.000 anos atrás.

A missão dos astronautas era obter ouro, extraindo-o das águas do golfo - ouro necessário para a sobrevivência em Nibiru, pois lá o planeta perdia sua atmosfera, colocando assim em perigo toda a vida existente. Porém o plano provou ser impraticável, e os líderes no planeta natal decidiram que o ouro poderia ser obtido da forma mais difícil - mineração onde ele era abundante, no sudeste da África.

Agora o plano pedia um aumento substancial no número de anunnaki na Terra, e com o tempo chegaram a seiscentos. Havia também necessidade de uma operação elaborada de embarque da Terra do ouro refinado e de entrega de suprimentos variados. Para isso, trezentos habitantes de Nibiru foram empregados como IGI.GI ("Aqueles Que Observam e Vêem"), operando plataformas orbitais e espaçonaves de carga. O governante de Nibiru, AN ("O Celestial" - Anu em acadiano), veio à Terra para supervisionar a presença expandida e as operações de instalação. Veio acompanhado de dois de seus filhos: EN.LIL ("Senhor do Governo"), um disciplinador rígido, para trabalhar como Chefe de Operações; e uma filha, NIN.MAH ("Senhora Poderosa"), como Chefe Médica Oficial.

A divisão de tarefas entre o pioneiro Ea e o recém-chegado Enlil provou ser espinhosa, e em determinado momento do impasse, Anu teve vontade de ficar na Terra e deixar um de seus filhos agir como vice-rei em Nibiru. Ao final, os três se acertaram. A missão de Enlil era permanecer na zona da aterrissagem inicial e expandi-la para E.DIN ("Lar dos Justos"). Sua tarefa era estabelecer acampamentos adicionais, cada um com uma função específica (um Espaçoporto, um Centro de Controle de Missão, um Centro Metalúrgico, um Centro Médico, e marcos para aterrissagem); a tarefa de Ea era estabelecer a operação de mineração no sudeste da África - uma tarefa para a qual ele, como cientista excepcional, estava sobejamente preparado.

O fato de a tarefa estar à altura de sua competência não significava que Ea gostasse dela, pois o mantinha longe dos outros. Como compensação da transferência, ele recebeu o nome-título de EN.KI - "Senhor da Terra".

Enlil pode ter pensado que se tratava apenas de um título simbólico; Ea/Enki, porém, levou-o a sério. Embora ambos fossem filhos de Anu, eram apenas meios-irmãos. Ea/Enki era o Primogênito e normalmente teria sucedido a seu pai no trono. Porém Enlil era filho de Anu com uma meia-irmã deste; segundo as regras de sucessão em Nibiru, aquilo tornava Enlil o Herdeiro Real, mesmo que não fosse primogênito. Agora, os dois irmãos encontravam-se em outro planeta, enfrentando um conflito em potencial: se a missão na Terra se tornasse prolongada - talvez até a fundação de uma colônia permanente de outro planeta -, quem seria a autoridade suprema, o Senhor da Terra ou o Senhor do Governo?

A questão tornou-se um problema agudo para Enki em virtude da presença na Terra de seu filho Marduk, assim como o filho de Enlil, Ninurta; enquanto o filho de Enki nascera da união com sua consorte oficial, Ninurta nascera da união de Enlil (em Nibiru) com a meia-irmã Ninmah (quando ambos eram solteiros; Enlil casou com Ninlil na Terra e Ninmah jamais se casou). Esse fato dava a Ninurta precedência sobre Marduk na linha de sucessão.

Mulherengo incorrigível, Enki resolveu remediar a situação fazendo sexo também com sua meia-irmã, esperando ter com ela um filho. Em vez disso, essa união produziu uma mulher. Sem se dar por vencido, Enki não perdeu tempo em dormir com a filha, assim que ela atingiu idade suficiente; porém ela também deu à luz uma mulher. Ninmah precisou imobilizar Enki temporariamente para que ele pusesse fim às suas escapadas conjugais.

Embora não conseguisse obter um filho de sua meia-irmã, Enki não tinha falta de outros filhos homens. Além de MAR.DUK ("Filho do Monte Puro"), que também viera de Nibiru, havia os irmãos NER.GAL ("Grande Observador"), GIBIL ("Ele do Fogo"), NIN.A.GAL ("Príncipe das Grandes Águas") e DUMU.ZI ("Filho que É Vida"). Não temos certeza se todos eram filhos da esposa oficial de Enki, NIN.KI ("Senhora da Terra"); é certo que seu sexto filho, NIN.GISH.ZID.DA ("Senhor dos Dispositivos/ Árvore da Vida") foi o resultado da ligação entre Enki e a neta de Enlil, quando ela embarcou em sua nave, de Edin para a África. Um tablete de argila representa Enki com seus filhos.

Uma vez casado com sua consorte oficial, uma jovem enfermeira que recebeu o nome-epíteto de NIN.LIL ("Senhora do Comando"), Enlil jamais vacilou em sua fidelidade por ela. Juntos, tiveram dois filhos, o deus lunar NANAR ("O iluminado"), mais tarde conhecido por Sin pelos povos de língua semita; e um filho mais novo, chamado ISH.KUR ("Aquele das Montanhas"), mais conhecido pelo nome de Adad, "O Amado". Essa escassez de descendentes, comparada com o clã de Enki, poderia explicar por que os três filhos de Nanar/Sin e sua esposa, NIN.GAL, ("Grande Dama"), a despeito de estarem fora de Nibiru por três gerações, foram rapidamente incluídos na liderança dos anunnaki. Eram os já mencionados ERESH.KI.GAL ("Senhora das Terras Vastas"), e os gêmeos UTU ("O Iluminado") e IN.ANA ("O Amado de An") - Shamash ("Deus do Sol") e Ishtar (Astarte/Vênus) de panteões mais recentes.

No auge de sua presença na Terra, os anunnaki totalizavam seiscentos, e os textos mencionavam um bocado deles - indicando suas atividades em cerca de metade dos casos. O primeiro texto se refere ao amerissar de Enki, com os nomes de seus oficiais e as tarefas designadas a eles. Os governadores de cada um dos agrupamentos estabelecidos pelos anunnaki eram mencionados, assim como os dez governantes antediluvianos. As mulheres nascidas das escapadas de Enki foram localizadas, assim como os maridos que lhes foram designados. Foram também lembrados os camareiros e os emissários dos deuses principais, assim como as divindades femininas e masculinas encarregadas de atividades específicas (por exemplo, Ninkashi, encarregado da produção de cerveja).

Ao contrário da total ausência de genealogia para Javé, o deus bíblico, os "deuses" anunnaki eram conhecedores de genealogias e das mudanças de gerações que existiam, como parte da sabedoria secreta das listas de deuses nos templos, nos quais os "deuses" anunnaki eram listados por ordem genealógica de gerações. Algumas dessas listas descobertas mencionam nada menos do que 23 Casais Divinos, que eram precursores de Anu (também de Enlil e Enki) em Nibiru. Algumas listas simplesmente mencionavam os nomes dos deuses anunnaki em ordem de sucessão cronológica; outras assinalavam cuidadosamente o nome divino ao lado do nome dos pais divinos, pois era a mãe quem determinava a Regra de Sucessão entre os anunnaki.

Acima de todos havia sempre um círculo de doze Grandes Deuses, numa prévia do que seriam os Doze Olímpicos do panteão grego. Começando com os Deuses Antigos, depois mudando com os tempos e as gerações, a composição do Círculo dos Doze variou - porém sempre permaneceu o número 12; quando alguém saía, outro tomava seu lugar instantaneamente; quando alguém era promovido, outro precisava ser rebaixado.

Os sumérios representavam seus deuses usando chapéus providos de chifres. Temos sugerido que o número de pares de chifres refletia a posição relativa na classificação geral das divindades. A classificação do panteão sumério começava em 60 (o número básico na matemática dos sumérios) para Anu, continuando com 50 para seu herdeiro oficial, Enlil, 40 para Enki, 30 para Nanar/Sin, 20 para Utu/Shamash e 10 para Ishkur/ Adad. As mulheres assumiam a classificação 55, 45, 35 e 25, para as esposas Antu, Ninlil, Ninki e Ningal, depois 15 para a solteira Ninmah e 5 para Inana/lshtar; esta última, refletindo a mudança de gerações, atinge depois a classificação 15, e Ninmah cai para 5.

É digno de nota que os dois candidatos à sucessão na Terra, Ninurta e Marduk, tenham ficado fora da lista "olímpica" inicial. Quando as coisas esquentaram, porém, o Conselho de Deuses reconheceu Ninurta como o sucessor legal e o incluiu na classificação 50 - a mesma que o pai, Enlil. Marduk, por outro lado, recebeu a classificação 10.

Essas classificações, porém, eram segredos divinos, revelados apenas a sacerdotes escolhidos e "iniciados". Os tabletes nos quais foram inscritos os "nomes secretos dos deuses" (tal como o tablete K.170, do templo de Nínive) continham uma proibição estrita contra mostrar aos la mudu'u - os "não-iniciados". Muitas vezes as informações sobre os deuses eram gravadas sem mencioná-los pelo nome; em vez disso, eram usados os números secretos, por exemplo, o número 30 para NanarSin.

Mas por que doze?

A resposta, acreditamos, está em outro problema que os anunnaki enfrentaram, tendo resolvido mudar sua missão de extração de minerais para uma colonização a longo prazo, com quase mil deles envolvidos. Do ponto de vista dos anunnaki, eles haviam saído de um planeta com uma órbita "normal" para um que corria loucamente ao redor do Sol, orbitando-o 3.600 vezes em um ano de Nibiru (um período orbital). Além dos ajustes físicos, havia uma necessidade de relacionar o tempo da Terra com o de Nibiru.

Ao instalarem seu sofisticado equipamento no Controle de Missão em Nippur (uma instalação conhecida como DUR.AN.KI - "Ligação Céu-Terra"), eles certamente se tornaram conscientes da retardação gradual que chamamos de precessão, e compreenderam que a Terra, além do ano rápido orbital, tinha também outro ciclo maior - os 25.920 anos que o planeta levava para retornar ao mesmo lugar do céu, um ciclo que ficou conhecido como o Grande Ano.

 

Como mostrado nos cilindros, os anunnaki consideravam a "Família do Sol" tendo doze membros: o Sol (ao centro), a Lua (pelos motivos já explicados), os nove planetas que conhecemos no presente e mais um - o próprio planeta Nibiru. Para eles, o 12 era um número básico, aplicado a qualquer assunto celestial que afetasse a Ligação Céu-Terra, incluindo a divisão do círculo de estrelas ao redor do Sol. Usando cartas celestes detalhadas, eles agruparam as estrelas em cada segmento do céu em constelações. Como as chamariam? Por que não dar nomes dos próprios líderes?

Ali estava Ea, "Cujo Lar É a Água", que adorava cruzar os pântanos num barco, que enchia os lagos com peixes. Eles o honraram nomeando duas constelações, a do Aguadeiro (Aquário) e de Peixes; na época dos sumérios, ele foi representado nos cilindros de argila, e os sacerdotes que conduziam seu culto vestiam-se como pescadores. Enlil - forte, temperamental e freqüentemente comparado a um touro, foi honrado com seu nome da constelação do Touro. Ninmah, desejada mas sem se casar, teve a constelação de Virgem em sua honra. Ninurta, muitas vezes chamado de Maior Guerreiro de Enlil, foi homenageado como o Arqueiro (Sagitário); o primogênito de Ea, teimoso e decidido, foi comparado a um carneiro atacando. Quando os gêmeos Utu/Shamash e Inana/lshtar nasceram, foi apropriado que lhes consagrassem uma constelação (Gêmeos). (Em reconhecimento dos papéis de Enlil e Utu nas atividades espaciais dos anunnaki, os sacerdotes enlilitas vestiam-se como homens-águia. À medida que os papéis hierárquicos se alteravam e uma segunda e uma terceira geração de anunnaki chegavam à Terra, as doze constelações do Zodíaco foram designadas aos novos colonizadores.

Não foram os homens, mas deuses, que idealizaram o Zodíaco. E o número, não importam as relações, sempre totalizava 12.

 

Depois de quarenta "Repetições" (órbitas) de Nibiru, desde a primeira chegada, os anunnaki designados para as minas de ouro se amotinaram. Um texto chamado Atra Hasis descreve os eventos que precederam o motim, a própria revolta e as conseqüências. A mais importante conseqüência foi a criação de O Adão; o texto narra como a Humanidade foi desenvolvida. Encorajado por Enki, o motim foi dirigido a princípio contra Enlil e seu filho NIN.UR.TA ("O Senhor que Completa a Fundação"). Enlil exigiu que os amotinados recebessem pena máxima; Enki descreve a impossibilidade de continuar a árdua tarefa; Anu estava a seu lado. Porém o ouro ainda era necessário para a sobrevivência; como poderia ser obtido?

No momento do impasse, Enki forneceu aos anunnaki sua surpreendente sugestão: "Vamos criar um trabalhador primitivo que seja capaz de fazer o trabalho!", disse ele. Quando o surpreso Conselho dos Deuses perguntou como poderiam criar um novo ser, Enki explicou que o ser que ele considerava "já existia" - um hominídeo que evoluíra na Terra, mas ainda não atingira o estágio evolucionário dos anunnaki. Tudo o que temos a fazer, disse ele, é "colocar a marca dos deuses" nele - alterá-lo geneticamente para que se pareça com os anunnaki.

A discussão e a solução sugerida são ecoadas na Bíblia:

 

E Elohim disse:

"Façamos o Homem à nossa imagem

E à nossa semelhança"

 

- um ser que pareceria um anunnaki tanto fisicamente quanto mentalmente. Esse ser, prometeu Enki, "será encarregado do serviço dos deuses, que poderão descansar". Tentados com o alívio da árdua tarefa, os deuses concordaram.

Vários textos sumérios descrevem como, com a ajuda de Ninmah, e depois de muitas experiências e erros, um Lulu - um "Misturado" - foi criado. Satisfeita por haver criado um modelo perfeito, Ninmah ergueu-se e gritou: "Minhas mãos fizeram isso!".

Ela considerou o momento um evento importante. Nós também - pois na representação do momento por um artista sumério num cilindro de argila, nos mostram o instante mais importante na história da Humanidade: o instante em que nós, Homo sapiens, surgimos na Terra.

Usando a bem-sucedida combinação genética, o lento processo de fabricar duplicatas - um processo que agora chamamos de clonação - havia começado. A reprodução, envolvendo a necessidade de que as mulheres anunnaki servissem como Deusas do Nascimento, clonou o Trabalhador Primitivo em grupos de sete machos e sete fêmeas. A Bíblia (capítulos 1 e 5) nos relata:

 

E um dia Elohim criou O Adão,

À imagem de Elohim Ele o fez;

Macho e fêmea Ele os criou.

 

A clonação foi um processo lento, exigindo o serviço de uma Deusa do Nascimento, porque o novo ser, como híbrido, não procriava sozinho. Para acelerar tudo, Enki realizou um segundo feito de engenharia genética - porém dessa vez por sua própria iniciativa. Utilizando o que chamamos agora de cromossomos X e Y, ele conferiu à raça humana a capacidade de se reproduzir. A Bíblia registrou o evento com a história de Adão e Eva no Paraíso (o E.DIN sumério), no qual Enki representou o papel de Nachash - um termo traduzido como "serpente", mas que também significa "Aquele que conhece/possui segredos".

Embora ele tivesse optado pela experiência genética, Enlil o fez com relutância. Ao contrário do grande cientista Enki, ele não se deixou arrebatar pelo desafio científico. Podemos até imaginá-lo dizendo: "Não viemos a outro planeta para brincar de Deus...". Enlil ficou furioso quando Enki realizou a segunda e não-autorizada alteração genética. "Você fez O Adão como qualquer um de nós, capaz de procriar", gritou. "Mais um pouco e ele vai querer partilhar a Árvore da Vida!"

Assim, a Humanidade foi banida do Jardim do Éden, para sobreviver por si mesma; porém em vez de desaparecer, proliferou e encheu a Terra. O desprazer de Enlil cresceu quando os jovens anunnaki começaram a fraternizar com as Filhas do Homem, chegando mesmo a ter filhos com elas. Na Bíblia (Gênesis, cap. 6) a história dos nefilim (Aqueles que Desceram), os "filhos de Elohim" que acasalaram com fêmeas humanas, serviu como preâmbulo da história do Dilúvio, a explicação para a decisão de varrer a Humanidade da face da Terra.

Enlil expôs seus planos perante o Conselho dos Deuses. Uma grande calamidade, disse ele, está a ponto de acontecer. Em sua próxima passagem, Nibiru causará uma onda enorme que cobrirá a Terra. Não vamos avisar a Humanidade - deixemos que toda a carne pereça! Os deuses concordaram e juraram segredo. Enki também; mas descobriu uma forma de avisar seu fiel adorador Ziusudra (Noé, na Bíblia) e o instruiu sobre como construir a Arca para salvar sua família e amigos, assim como preservar a "semente" dos animais vivos.

A história do Grande Dilúvio é uma das mais longas na Bíblia; ainda assim, é uma versão curta dos relatos maiores e mais detalhados dos textos sumérios e acadianos que relatam essa inundação. No tempo que se seguiu, até mesmo Enlil comoveu-se. Sendo que tudo o que os anunnaki haviam construído na Terra fora destruído, percebeu que precisavam da Humanidade como colaboradores para tornar o planeta habitável outra vez. Com o consentimento de Enlil, os anunnaki começaram a avançar a Humanidade culturalmente em períodos que duravam 3.600 anos (igualando o período orbital de Nibiru). O processo culminou com a grande civilização suméria.

 

Na véspera do Dilúvio, os anunnaki embarcaram em suas naves para evitar a calamidade e observar o desastre e a total destruição da atmosfera terrestre. O que os anunnaki haviam construído nos 432.000 anos anteriores fora varrido da face da Terra, ou enterrado sob camadas quilométricas de lama; isso incluía o espaçoporto que possuíam em E.DIN.

Assim que a onda descomunal começou a retroceder, as naves que orbitavam puderam aterrissar nos picos mais elevados do Oriente Próximo, no monte Ararat. Quando mais terra seca apareceu, puderam usar o Campo de Pouso - uma enorme plataforma de pedra que haviam erigido antes do Dilúvio nas montanhas de Cedro, onde atualmente é o Líbano. Porém para levar a cabo as operações espaciais, precisavam de um espaçoporto; tomaram a decisão de erigi-lo na península do Sinai. O Corredor de Aterrissagem foi incorporado; um novo Centro de Controle da Missão foi escolhido (para substituir o que existira na Nippur antediluviana); dois picos artificiais foram construídos para determinar o término do Corredor de Aterrissagem - as duas Grandes Pirâmides de Gizé, ainda existentes no Egito.

Preocupados com as rivalidades entre o que parecia dois clãs diferentes na Terra, fizeram com que a localização do espaçoporto e suas instalações auxiliares assumissem importância capital. Para minimizar os atritos, as divisões de domínio entre Enlil no Edin e de Enki em Abzu foram formalizadas, ficando o primeiro e seus descendentes com o domínio sobre a Ásia e parte da Europa, enquanto o último ficava com o continente africano. Isso significava que a Pista de Aterrissagem antediluviana e o novo Centro de Controle de Missão ficavam no território de Enlil, e as grandes pirâmides com seus intrincados sistemas de direcionamento permaneciam nas mãos de Enki. Portanto foi decidido que o Centro de Controle de Missão fosse erigido na península do Sinai, sob o controle neutro de Ninmah. Para marcar o evento, ela recebeu o epíteto de NIN.HAR.SAG - "Senhora dos Picos".

Nossa sugestão de que os deuses do Egito nada mais eram do que Enki e seu clã pode parecer inusitada à primeira vista. Não eram seus nomes, para começar, diferentes? O grande deus antigo dos egípcios, por exemplo, era chamado de PTAH, "O que Desenvolve"; porém esse era também o epíteto sumério de Enki, NUDIMMUD,"O que Faz Coisas Artísticas". Era o Conhecedor de Segredos, a Serpente Divina, em ambos os panteões; lembrando seu epíteto "cujo lar é a água", nosso Aquário. No panteão egípcio, a Senhora do Sinai era HATHOR, cognominada "A Vaca" em sua velhice; assim também Ninharsag era apelidada na Suméria à medida que envelhecia.

O filho principal de Enki no Egito foi RÁ, "O Puro", estabelecendo um paralelo com Marduk, "Filho do Monte Puro", na Mesopotâmia. As muitas outras similaridades entre os dois foram explicadas em As Guerras de Deuses e Homens, assim como os motivos para identificar o deus egípcio TOT, um filho de Ptah e guardião da sabedoria secreta dos deuses, assim como o deus Ningishzida dos textos sumérios.

A seu tempo, Ptah/Enki entregou o reino do Egito a seu filho Marduk/Rá; porém este não gostou. Seu direito de nascença era o de reinar sobre toda a Terra, costumava dizer; isso levou a conflitos com os enlilitas que descrevemos como a Guerra das Pirâmides. Em determinada época - por volta de 8700 a.C. segundo nossos cálculos -, ele foi forçado a deixar o Egito; segundo Máneton (um sacerdote egípcio que escreveu a história e a pré-história do Egito nos tempos gregos), o reino foi então designado para o irmão de Marduk, Tot. Aonde foi Marduk/Rá? A possibilidade de que tenha sido enviado de volta para Nibiru (os egípcios o chamavam de o Planeta de Um Milhão de Anos) não pode ser descartada. Um texto egípcio encontrado nas tumbas faraônicas, chamado A Atribuição de Funções para Tot, relata Rá transferindo poderes para Tot, e designando-o como "Tot, o Usurpador"; "Ficarás em meu lugar. Estou aqui no céu, meu lugar apropriado", anuncia Rá. O fato de que um segmento de ausência dos semideuses durava 3.650 anos - quase o mesmo período da órbita média de Nibiru, 3.600 anos - sugere que Rá/Marduk tenha passado lá sua ausência da Terra. Textos, tanto egípcios quanto mesopotâmicos, descrevem uma difícil viagem espacial que se tornou perigosa principalmente próxima a Saturno, e pode se referir ao retorno de Rá/Marduk para a Terra.

Ao voltar, Rá/Marduk quase não reconheceu a Terra. Durante esse período, a civilização suméria desabrochara. Lá, além da expansão dos quartéis-generais de Enlil e Enki na forma de templos sagrados cercados por cidades que se agrupavam (Nippur e Eridu respectivamente), as cidades dos Homens haviam se estabelecido. A nova instituição da realeza fora inaugurada em uma nova cidade, Kish, sob a proteção de Ninurta. Nanar/Sin ganhou domínio sobre um novo centro urbano chamado Ur. Um templo sagrado, construído para a visita de Anu e Antu, foi expandido para tornar-se a cidade de Uruk (a Erech bíblica), que foi dada de presente a Inana/Ishtar. As funções de sacerdote foram formalizadas; um calendário - o famoso Calendário de Nippur - foi introduzido, baseado em sofisticados conhecimentos astronômicos e festivais oficiais. Iniciado em 3760 a.C. ainda está em uso como calendário hebreu.

Ao seu retorno, Marduk deve ter perguntado a seu pai e ao Conselho dos Deuses: e quanto a mim?

Ele reparou num local não muito longe de onde fora o campo de pouso e determinou-se a fazer uma Bab-Ili - "Portão dos Deuses" (de onde se derivou o nome posterior de Babilônia). Seria uma expressão real e um símbolo de sua supremacia.

O que se seguiu é lembrado na Bíblia como o incidente da Torre de Babel; ocorreu no lugar chamado Shine'ar (o nome bíblico para Suméria). Lá, os seguidores do deus da Babilônia começaram a construir "uma torre cujo topo alcançasse os céus" - hoje em dia chamaríamos de Plataforma de Lançamento. "Vamos fazer um shem", disseram - não um "nome", como geralmente é traduzida a palavra, mas o significado original da palavra MU - um objeto em forma de foguete. A época, pelos nossos cálculos, era 3450 a.C.

Ao descer dos céus, o líder dos elohim ordenou que a torre fosse destruída. Tanto a versão bíblica quanto a mesopotâmica relatam que, no período que se seguiu a esse evento, os elohim resolveram "confundir a linguagem da Humanidade" para prevenir que ela agisse de comum acordo. Até então "Ora, na Terra havia uma mesma língua e um só modo de falar" (Gênesis 11:1). Até então, realmente, só existia uma civilização, a da Suméria, com uma linguagem simples e uma forma de escrita. No período que se seguiu ao incidente na Babilônia, uma segunda civilização, a nilótica (Egito e Núbia), estabeleceu-se, com sua própria linguagem e escrita; e vários séculos mais tarde, a terceira civilização, a do vale do Indo, iniciou-se com sua própria linguagem e escrita, ainda não decifrada. Assim, a Humanidade ficou restrita a três regiões; a quarta região permaneceu sob o domínio dos deuses: a península do Sinai, onde se localizava o espaçoporto.

Desafiado na Mesopotâmia, Rá/Marduk retornou ao Egito, para reassumir sua supremacia lá, como grande deus da civilização que emergia. A época foi 3100 a.C. Houve, naturalmente, um pequeno problema com Tot, a divindade reinante no Egito e na Núbia, enquanto Rá/Marduk estava fora. Sem a menor cerimônia, ele foi mandado embora... Em Os Reinos Perdidos, sugerimos que ele tivesse levado um grupo de seguidores africanos para a América Central, tornando-se Quetzalcoatl, o deus-serpente com asas. O primeiro calendário instituído por ele na América Central (o Calendário da Longa Contagem) inicia-se no ano 3113 a.C. Foi essa, acreditamos, a data exata da chegada de Tot/ Quetzalcoatl ao Novo Mundo.

Ainda ressentido por seu fracasso na Mesopotâmia, o amargurado Marduk voltou-se para outros objetivos. Durante sua ausência, formara-se um "Romeu e Julieta" divino - seu irmão Dumuzi e Inana/Ishtar, a neta de Enlil - e estava a ponto de resultar em casamento. A união era um anátema para Rá/Marduk; ele ficara especialmente preocupado com as esperanças de Inana tornar-se Senhora do Egito por meio do casamento. Quando os emissários de Marduk tentaram capturar Dumuzi, ele acidentalmente morreu ao tentar escapar. A culpa por sua morte foi atribuída a Marduk.

Foram descobertos textos em várias formas e versões narrando os detalhes do julgamento de Marduk e seu castigo: ser enterrado vivo na Grande Pirâmide, que foi selada de modo a criar uma prisão divina. Tendo apenas ar para respirar, mas sem comida ou água, Marduk foi sentenciado a morrer na tumba colossal. Porém sua esposa e sua mãe apelaram com sucesso para que Anu comutasse a pena de morte para a de exílio. Usando os planos originais de construção, um túnel de escape foi cavado e penetrou através dos orifícios de ventilação. A volta de Marduk da morte certa e sua saída da tumba eram aspectos da visão nos textos, chamada pelos últimos tradutores de "Morte e Ressurreição do Senhor" - foram precursores do Novo Testamento, no tocante à morte e ressurreição de Jesus.

Sentenciado ao exílio, Rá/Marduk tornou-se Amon-Rá, o deus invisível. Dessa vez, porém, ele percorreu a Terra. Num texto autobiográfico no qual o retorno foi profetizado, Marduk descreve suas andanças:

 

Sou o divino Marduk, um grande deus.

Fui afastado por meus pecados.

Fui para as montanhas,

Em muitas terras tenho sido um andarilho.

De onde o Sol se ergue,

Até onde ele se põe.

 

Onde quer que ele andasse, perguntava aos deuses do destino: "Até quando"?

A resposta com relação ao seu destino veio dos céus. A Idade do Touro, zodiacalmente pertencente a Enlil e seu clã, estava terminando. A aurora do primeiro dia em que o Sol se levantaria na primavera da Mesopotâmia, na constelação zodiacal de Áries a constelação dele. O ciclo celestial do Destino favorecia a supremacia de Marduk!

Nem todos concordavam. Seriam apenas cálculos, ou se tratava de um fenômeno observável? Marduk não podia importa-se menos; lançou uma marcha contra a Mesopotâmia enquanto os seguidores organizados de seu filho, Nabu, invadiam o Sinai para tomar o espaçoporto. O conflito em escala é descrito num texto conhecido como o Erra Epos; nos relata como, sem enxergar alternativa, os deuses em oposição a Marduk utilizaram armas nucleares para destruir o espaçoporto (e como espetáculo à parte, as cidades de Sodoma e Gomorra).

Porém o destino interveio para auxiliar Marduk. Os ventos dominantes de oeste levaram a nuvem mortal para leste, na direção da Suméria. Babilônia, mais ao norte, foi poupada. Porém ao sul da Mesopotâmia, o Vento Maléfico causou morte e desolação súbita. A grande capital da Suméria, Ur, tornou-se um lugar onde os cães selvagens reinavam.

Assim, a despeito dos esforços extraordinários dos oponentes de Marduk, a Idade de Áries iniciou-se com a ascensão de Babilônia.

 

ENTRE A SORTE E O DESTINO

Foi a Sorte ou foi o Destino que levou Marduk pela mão invisível através de todas as dificuldades e atribulações, ao longo dos milênios, até seu objetivo final: supremacia na Terra?

Não existem muitas línguas que possuam tal escolha de palavras para designar aquele "algo" que predetermina o desenrolar dos eventos antes que eles aconteçam, e mesmo em nossa língua seria difícil explicar a diferença. Os melhores dicionários usam um termo para explicar o outro, encarando-os como sinônimos para "fado", "sina" ou "fortuna". Tanto na linguagem quanto na filosofia e na religião dos sumérios existe uma clara diferença entre os dois. Destino, NAM, era o curso predeterminado de eventos que não podia ser alterado. A Sorte era NAM.TAR - um curso predeterminado de eventos que podia ser alterado; literalmente, TAR significava quebrar, cortar, interromper, mudar.

A distinção não era apenas um assunto semântico; ia até o cerne das coisas, afetando e dominando os assuntos de deuses e homens, terras e cidades. Era algo que estava para acontecer, ou mesmo que já acontecera - um Destino, o desfecho (e, se quiserem, os eventos aos quais aquele aspecto conduzia) era inalterável; ou então se tratava da combinação de eventos aleatórios, ou decisões intencionais, ou ascensões e quedas temporárias que poderiam ou não ser fatais, que outro evento ou Sorte, uma oração ou mudança do estilo de vida poderiam levar a um diferente resultado final. Nesse caso, o que poderia ter sido diferente?

A linha final de distinção pode ser mais indefinida hoje em dia, mas havia uma diferença bem definida para os sumérios, nos tempos bíblicos. Para os sumérios, o Destino começava nos céus, iniciando nas órbitas estabelecidas nos planetas. Uma vez que o Sistema Solar assumira sua forma e composição finais depois da Batalha Celestial, as órbitas dos planetas se tornaram destinos eternos; o termo e o conceito podiam ser aplicados ao futuro da Terra, começando com os deuses que possuíam correspondência celeste.

Nos reinos bíblicos, era Javé quem controlava tanto o Destino quando a Sorte, porém enquanto o primeiro era predeterminado e inalterável, a Sorte podia ser afetada pelas decisões humanas. Em virtude de poderes anteriores, o curso de acontecimentos futuros podia ser previsto com antecedência de anos, séculos e até milênios, como quando Javé anunciou a Abraão o futuro de seus descendentes, inclusive os quatrocentos anos de escravidão no Egito (Gênesis 15:13-16). Como a estadia se transformaria (foi uma procura por comida durante uma estação de grande carência de alimentos), era uma questão de Sorte; que começasse com uma boa acolhida (porque José, mediante uma série de ocorrências, se tornara uma espécie de ministro de todo o Egito), era uma questão de Sorte; mas que a escravidão terminasse com um Êxodo libertador numa época predeterminada era Destino, ordenado por Javé.

Como eles foram chamados à profecia por Deus, os profetas bíblicos podiam saber o futuro de reinos e países, cidades, reis e indivíduos. Porém tornavam claro que suas profecias eram apenas expressões das decisões divinas. "Assim falou Javé, o Senhor dos Exércitos", era uma forma comum de falar do profeta Jeremias como introdução sobre o futuro dos países e dos governantes. "Assim falou o Senhor Javé", dizia o profeta Amós.

Porém quando se tratava de Sorte, o livre-arbítrio e a livre escolha das pessoas e nações podiam e entravam em jogo. Ao contrário dos Destinos, a Sorte podia ser mudada e os castigos evitados se a reta intenção substituísse o pecado, se a piedade substituísse o profano, se a justiça prevalecesse sobre a injustiça. "Eu não quero a morte do ímpio, mas sim que o ímpio se afaste do seu caminho e viva", disse o Senhor ao profeta Ezequiel (Ezequiel 33:11).

A distinção feita pelos sumérios entre Sorte e Destino, assim como o papel que podem desempenhar na vida de um indivíduo, se torna aparente na história de Gilgamesh. Ele era, como já mencionamos, o filho do sumo sacerdote de Uruk e da deusa Ninsun. Ao ficar mais velho e começar a contemplar as questões de vida e morte, ele fez uma pergunta a seu padrinho, o deus Utu/Shamash:

 

Em minha cidade o homem morre; oprimido está meu coração.

O homem perece, meu coração fica pesado...

O mais alto dos homens não pode esticar-se até o céu;

O mais largo dos homens não pode cobrir a Terra.

Será que eu também vou "desaparecer por sobre o muro?"

Estarei também fadado a isso?

 

A resposta de Utu/Shamash não foi encorajadora. "Quando os deuses criaram a Humanidade, deram-lhe a morte. Retiveram a vida para si mesmos", disse ele. Esse é seu próprio Destino; portanto, enquanto você está vivo, o que faz nesse tempo é uma Sorte que você pode alterar ou afetar; aprecie e saiba extrair o melhor disso.

 

Que seu ventre esteja repleto, Gilgamesh;

Torne-o feliz de dia e de noite!

Em cada dia, festeje seu regozijo;

Dia e noite, dance e toque!

Que suas vestes sejam frescas e limpas,

Banhe-se na água, que sua cabeça seja lavada.

Preste atenção ao pequenino que segura sua mão.

Deixe que sua esposa se delicie em seu colo.

Esse é o Destino da Humanidade.

 

Ao receber essa resposta, Gilgamesh compreendeu que precisava tomar alguma atitude drástica para alterar o Destino, não apenas a Sorte. Do contrário, ele teria o mesmo fim de qualquer outro mortal. Com a relutante bênção materna, ele embarcou na jornada para o Local de Pouso nas Montanhas de Cedro e embarcou numa viagem, querendo encontrar-se com os deuses. Porém o Fado interveio mais uma vez. Primeiro na forma de Huwawa, o guardião robótico da Floresta de Cedros, depois na luxúria de Inana/Ishtar pelo rei, e na luta que resultou na morte do Touro dos Céus. O papel do Destino - Namtar - foi reconhecido e considerado por Gilgamesh e seu companheiro Enkidu naquela época, mesmo depois de ter matado Huwawa. O texto épico narra que os dois camaradas se sentaram e contemplaram a punição esperada. Como assassino, Enkidu pondera o que acontecerá com ele. Gilgamesh o conforta: "Não se preocupe, o Inquisidor Namtar pode devorar... mas também pode deixar que o pássaro apanhado retorne ao seu local, permitir que o homem apanhado retorne ao ventre de sua mãe". Cair nas mãos de Namtar não é uma ocorrência inalterável; a sorte se reverte um igual número de vezes.

Recusando-se a desistir, Gilgamesh embarca numa segunda jornada, dessa vez ao espaçoporto na península do Sinai. Suas atribulações e aventuras no caminho foram incontáveis e, no entanto ele perseverou. Finalmente conseguiu obter o fruto que lhe possibilitaria eterna juventude; exausto, Gilgamesh deita-se para dormir, e uma serpente a leva embora; ele volta para Uruk de mãos vazias, para lá morrer.

Uma série de perguntas do tipo E se? Vem com naturalidade à mente. E se as coisas tivessem ocorrido de forma diferente nas Montanhas de Cedro - Gilgamesh teria sido bem-sucedido em subir aos céus e juntar-se aos deuses em seu planeta? E se ele não tivesse adormecido e continuasse com a Planta da Eterna Juventude?

Um texto sumério, que recebeu dos estudiosos o nome de A Morte de Gilgamesh, é que fornece a resposta. O final, explicam eles, estava predeterminado; não havia nenhuma forma de Gilgamesh tomar o destino em suas próprias mãos e alterá-lo. O texto traz esta conclusão, referindo-se a um sonho premonitório de Gilgamesh que contém uma previsão sobre seu final. Aqui está o que dizia:

 

Oh, Gilgamesh,

Este é o significado do sonho:

O grande deus Enlil, pai dos deuses,

Decretou seu destino.

Seu destino para ser rei ele determinou.

Para a vida eterna ele não estava destinado.

 

A Sorte de Gilgamesh foi atropelada pelo Destino. Ele estava destinado a ser rei; não estava destinado à vida eterna. Assim, ele é descrito morrendo. "Ele, que tinha os músculos firmes, jaz incapaz de levantar... Ele, que subia montanhas, está deitado, não se ergue." "Na cama de Namtar ele jaz, não se ergue".

O texto menciona todos os bons acontecimentos que Gilgamesh experimentou - a realeza, vitórias nas batalhas, uma família abençoada, servos fiéis, belas roupas, mas reconhecendo o papel da Sorte e do Destino, conclui explicando a Gilgamesh: Ambos, "tanto a luz quanto a escuridão da Humanidade foram concedidas a ti". Mas, ao final, como o Destino sobrepujou a Sorte, "Gilgamesh, o filho de Ninsun, jaz morto".

A pergunta E se? Ao final pode ser expandida de um indivíduo para a Humanidade como um todo.

Qual teria sido o curso dos eventos na Terra (e em outros lugares do Sistema Solar) se o plano original de Ea para obter ouro das águas do golfo Pérsico tivesse sido bem-sucedido? Nesse ponto crucial dos eventos, Anu, Enlil e Ea tentaram ao máximo saber quem iria governar Nibiru, quem iria para as minas ao sul da África, e quem ficaria encarregado do Edin em expansão. Ea/Enki foi para a África, encontrou lá os hominídeos em evolução e voltou para relatar aos deuses reunidos que o ser do qual necessitavam já existia - tudo o que precisavam fazer era colocar a marca genética apropriada.

O texto do Atra Hasis, reunido de vários achados e muitos fragmentos por W. G. Lambert e A. R. Millard, descreve esse momento:

 

Os deuses esfregaram as mãos,

Fizeram previsões e se dividiram.

 

Teria esse feito de engenharia genética ocorrido se Anu ou Enlil tivessem sido os que governaram a África do sudeste? Teríamos aparecido no planeta de qualquer forma, por intermédio da evolução, apenas? Provavelmente sim, pois foi essa a forma como os anunnaki apareceram (da mesma semente de vida!) em Nibiru, só que bem à nossa frente. Porém na Terra surgimos por meio da engenharia genética, quando Enki e Ninmah abreviaram a evolução e fizeram de O Adão o primeiro ''bebê de tubo de ensaio".

A lição da Epopéia de Gilgamesh é que a Sorte não é capaz de alterar o Destino. Acreditamos que o surgimento do Homo sapiens na Terra era uma questão de Destino, um desfecho que teria sido adiado ou atingido de alguma outra forma, embora os anunnaki tivessem tomado a decisão por suas próprias necessidades, acreditamos ter esse fato sido pré-ordenado, encaixado num plano cósmico. Assim como acreditamos ser o Destino da Humanidade: repetir o que os anunnaki fizeram a nós indo até outro planeta para recomeçar o processo.

 

Um dos que entenderam a conexão entre a Sorte e as doze constelações zodiacais foi o próprio Marduk. Constituíram o que foi chamado de Tempo Celestial, a ligação entre o Tempo Divino (o período orbital de Nibiru) e o Tempo Terrestre (o ano, os meses, as estações, dias e noites resultando da órbita terrestre, da inclinação e das revoluções sobre o próprio eixo). Os sinais celestes que Marduk invocou - a chegada da Era Zodiacal de Áries - eram parte do Destino. O que ele necessitava para afirmar sua supremacia, para eliminar dela a noção de que, como a Sorte, podia ser mudada, alterada ou revisada, era um Destino Celestial. E que, nesse sentido, ele ordenou o que podemos considerar a maior falsificação jamais praticada.

Estamos nos referindo ao texto mais básico e sagrado dos povos antigos: a Epopéia da Criação, cerne e corpo da fé, da religião e da ciência dos sumérios. Algumas vezes chamado pelas linhas de abertura Enuma elish (Quando nas Alturas do Céu), era uma história de eventos no céu e uma Batalha Celestial, o resultado favorável que tornou possível todas as boas coisas na Terra, incluindo a criação da Humanidade.

Sem exceção, o texto foi encarado como um mito celestial pelos estudiosos que começaram a montá-lo a partir dos vários fragmentos, uma alegoria à eterna luta entre o bem e o mal. O fato de que esculturas descobertas na Mesopotâmia representassem um deus alado (portanto celestial) lutando contra um monstro alado (portanto também celestial) solidificou a noção de que ali se encontrava uma versão primitiva da história de São Jorge e do dragão. Realmente, uma das mais modernas traduções parciais do texto era intitulada Bel e o Dragão. Nesses textos, o Dragão era chamado Tiamat, e Bel ("O Senhor") não era outro senão Marduk.

Foi apenas em 1876 que George Smith, trabalhando no Museu Britânico, juntou fragmentos de tabletes inscritos da Mesopotâmia, publicou a obra-prima O Gênesis Caldeu, que sugeria a existência de uma história babilônica que se comparava às partes do Gênesis na Bíblia; seguiu-se então o Curador de Antiguidades Babilônicas do Museu, L. W. King, que publicou seu reconhecido trabalho, Os Sete Tabletes da Criação, para estabelecer de forma conclusiva a relação entre os sete dias bíblicos da criação e as fontes mais antigas da Mesopotâmia.

Porém, se fosse esse o caso, como poderiam os textos babilônicos ser chamados de alegorias? Ao proceder assim, caracterizava-se também a história do Gênesis como uma alegoria, e não um Ato Divino, que foi a base do monoteísmo e das crenças judaico-cristãs.

Em nosso livro de 1976, O 12º. Planeta, sugerimos que nem o texto da Mesopotâmia nem a versão bíblica condensada eram mito ou alegoria. Eram baseados numa cosmogonia muito sofisticada, apoiada em ciência avançada, que descrevia a criação de nosso Sistema Solar passo a passo; depois o surgimento de um planeta errante do espaço exterior que foi gradualmente introduzido em nosso Sistema Solar, resultando numa colisão entre ele e um membro antigo da família do Sol. A Batalha Celestial entre o invasor - Marduk - e o planeta mais antigo - Tiamat levou à destruição de Tiamat. Metade esfacelou-se em pequenos pedaços que se tomaram um Cinturão Pulverizado; a outra metade, forçada a uma nova órbita, tornou-se o planeta Terra, carregando com ela o maior satélite de Tiamat, que chamamos Lua. E o invasor, atraído para o centro de nosso Sistema Solar, com sua velocidade diminuída pela colisão, tornou-se permanentemente o 12° planeta do nosso sistema.

No livro publicado em seguida (1990), mostramos que nossos avanços em tecnologia astronômica corroboravam a antiga história dos sumérios - uma história que explicava satisfatoriamente a origem do Sistema Solar, o enigma de todas as terras [no nosso planeta] começarem agrupadas em um dos lados, com um enorme vazio do outro (a bacia do Pacífico), a origem do Cinturão de Asteróides e da Lua, o motivo de Urano orbitar o Sol "deitado" (o eixo de rotação de Urano é quase perpendicular ao plano de sua órbita, com uma inclinação de 88°, enquanto o da Terra é de 23,5°) e Plutão possuir uma órbita excêntrica (Às vezes Plutão chega mais perto do Sol do que Netuno, embora seja o planeta mais distante do Sistema Solar), e assim por diante. O conhecimento extra que conseguimos mediante o estudo dos cometas, a utilização do telescópio Hubble, os vôos tripulados para a Lua e não-tripulados para outros planetas continuou a corroborar os dados sumérios assim como os entendemos.

Ao chamar de suméria, e não de babilônica, a cosmogonia da Epopéia da Criação, fornecemos uma pista para a fonte e natureza verdadeiras do texto. A descoberta de fragmentos de uma versão suméria anterior do Enuma elish convenceu os estudiosos de que a Epopéia da Criação era originalmente um texto sumério, no qual o planeta invasor era chamado de NIBIRU, não "Marduk". Agora estão convencidos de que a versão existente, babilônica, era uma falsificação deliberada, destinada a fazer crer que Marduk estava na Terra com o "deus" celeste/planetário que alterou a forma dos céus, deu ao nosso sistema o formato atual, e - numa figura de linguagem - criou a Terra e tudo o que estava nela. Isso incluía a Humanidade, pois de acordo com a versão suméria original, foi Nibiru, vindo de outra parte do Universo, que trouxe com ele e transmitiu à Terra durante a colisão a "Semente da Vida".

(Sobre esse assunto, deveria ser compreendido que a ilustração que se acreditou por tanto tempo representar Marduk lutando contra o Dragão também está errada. É uma representação assíria, onde o deus supremo era Ashur, e não da Babilônia; a divindade está representada como homem-águia, o que indica um ser dedicado a Enlil; o chapéu divino que ele usa possui três pares de chifres, indicando o posto de 30, que não era o de Marduk; sua arma era um forcado de raios, que era a arma divina de Ishkur /Adad, filho de Enlil, não de Enki.)

Assim que Marduk conseguiu a soberania na Babilônia, os ritos de Ano-Novo foram alterados para incluir a leitura pública (na quarta noite do festival) do Enuma elish em sua nova versão babilônica; nele, a supremacia de Marduk na Terra só encontrava paralelo na supremacia dele nos céus, como o planeta com maior órbita, aquele que abraça todos os outros em seu percurso.

A chave para essa distinção era o termo "Destino". Este era o termo usado para descrever os caminhos orbitais. A órbita eterna e imutável de um planeta era o Destino desse planeta; era isso o que Marduk representava segundo o Enuma elish.

Uma vez que se compreenda que esse é o significado antigo para a palavra "órbita", é possível seguir os passos pelos quais Marduk chegou ao seu Destino. O termo foi usado pela primeira vez no texto em ligação com o satélite principal de Tiamat (que o texto chama de Kingu). A princípio é apenas um dos onze satélites (luas) de Tiamat; porém à medida que "cresce em estatura" se torna o "líder de seu hospedeiro".

Uma vez que o grande planeta e consorte de Apsu (o Sol), Tiamat, "ficou arrogante" e não gostou de ver outros deuses celestiais aparecerem aos pares: Lahmu e Lahamu (Marte e Vênus) entre ela e o Sol (onde existia apenas o mensageiro solar, Mumu/Mercúrio), e os pares Kishar e Anshar (Júpiter e Saturno, este último com seu mensageiro Gaga/Plutão); depois Anu e Nudimmud (Urano e Netuno). Tiamat e seu grupo de luas por um lado e os novos planetas do outro, num Sistema Solar ainda instável, começaram a invadir os domínios alheios. Os outros se tornaram especialmente preocupados quando Tiamat "de forma profana" estendeu a Kingu, seu maior satélite, o status privilegiado de possuir uma órbita própria - tomando-se um planeta completo:

 

Ela estabeleceu uma Assembléia...

Deu à luz deuses-monstros;

No total trouxe à existência onze desse tipo.

 

Entre os deuses que formavam sua Assembléia

Ela elevou Kingu, o primogênito,

Tornou-o chefe entre os deuses;

Exaltou Kingu e em seu meio tornou-o grande...

 

Deu-lhe uma Tabela de Destinos,

Prendeu-a no peito dele, [dizendo:]

"Agora a ordem nunca mais será alterada,

O decreto será "imutável"!

 

Incapazes de enfrentar a "haste irada" de Tiamat, os deuses celestiais enxergaram a salvação vinda de fora do Sistema Solar. Como foi o caso na criação de O Adão quando o impasse surgiu, assim foi nos céus primitivos: foi EA ("Nudimmud, o "Criador Artista" em sumério) quem trouxe a criatura salvadora. Como o planeta mais distante, em face ao "Profundo" - espaço exterior -, ele atraiu um estranho, um novo planeta. Passando na vizinhança do nosso Sistema Solar, como resultado de uma catástrofe, um acidente cósmico muito distante, o novo planeta foi o resultado da Sorte, e não orbitava nosso Sol - ainda não possuía Destino:

 

Na Câmara da Sorte,

No Saguão dos Projetos,

Bel, muito sábio, o mais sábio dos deuses,

Foi engendrado;

No coração do Profundo, o deus foi criado.

 

É digno de nota o fato de que o planeta recém-chegado, um deus celestial, foi chamado de Bel, "o Senhor", na versão babilônica; na versão assíria, a palavra Bel foi substituída por "Ashur". A mais comum hoje em dia, a babilônica, repete a última linha, e da segunda vez afirma: "No coração do puro Profundo, Marduk foi criado". Sem dúvida, a adição da palavra "puro" tenciona explicar a origem do nome MAR.DUK, "Filho do Lugar Puro". (Essa repetição é uma das pistas expondo a falsificação.)

Além de Ea (Netuno), Anu (Urano) deu boas-vindas ao forasteiro. O impulso gravitacional, que aumentava, fez com que o invasor criasse quatro luas e que se deslocasse mais para o centro do Sistema Solar. À altura de Anshar (Saturno), mais três luas brotaram e o invasor foi apanhado inexoravelmente pela força gravitacional do Sol. Sua trajetória voltou-se para o interior, começando a traçar um caminho orbital ao redor do Sol. O invasor, em outras palavras, estava preparando um Destino para si mesmo!

Recebera o ''beijo'' de Anshar /Saturno.

 

Os deuses, seus antepassados,

Determinaram então o destino de Bel;

Eles o colocaram na trajetória,

O caminho para o sucesso e a realização.

 

Com a trajetória determinada para ele, Bel descobriu que estava em curso de colisão com Tiamat. Queria aceitar seu destino, mas com uma condição. Tornando-se Marduk (tanto no céu quanto na Terra), ele disse a Anshar:

 

Senhor dos deuses,

Regente dos destinos dos grandes deuses:

Se realmente serei seu Vingador,

Para vencer Tiamat e salvar vossas vidas,

Convoque a Assembléia divina,

Proclame meu Destino supremo!

 

Os deuses aceitaram as condições de Marduk. "Para Marduk, o Vingador, decretaram um destino"; e esse Destino, essa órbita "será inigualada". Agora, disseram, vá e mate Tiamat!

A Batalha Celestial que se seguiu é descrita no quarto volume do Enuma elish. Sem sombra de dúvida, os dois estabeleceram suas rotas de colisão, Marduk e Tiamat lançando chamas e redes gravitacionais um contra o outro, "tremendo de fúria". À medida que se aproximavam um do outro, Tiamat movendo-se em sentido anti-horário, como todos os outros, Marduk aproximando-se em sentido horário. Foi uma das luas que se chocou com Tiamat primeiro; em seguida outra e uma terceira chocaram-se com Tiamat - "rasgando-lhe as entranhas, partindo-o". Um "raio divino", uma enorme fagulha elétrica saiu de Marduk para a fissura, e o "sopro de vida de Tiamat extinguiu-se".

Marduk, intacto, passou, realizou uma órbita e voltou ao local da batalha. Dessa vez ele mesmo atingiu Tiamat, com conseqüências maiores. Atingiu metade dele, que transformou em poeira e pequenos pedaços, que vieram a tornar-se o Grande Cinturão (o Cinturão de Asteróides); a outra metade, atingida pela lua de Marduk que se chamava Vento Norte, foi atirada para um novo local nos céus, tornando-se a Terra em outra órbita. Seu nome sumério, Ki (de onde deriva o acadiano/hebraico "Gei" e o grego "Gea"), significa "a dividida".

Enquanto as luas de Tiamat se dispersaram - muitas mudando de direção para uma órbita em sentido horário (retrógrada) - um destino especial foi determinado por Marduk para Kingu, a maior das luas de Tiamat:

 

Ele o apanhou da Tabela de Destinos,

Não era por direito de Kingu,

Selou-a com um selo,

E a atou ao próprio colo.

 

Então Marduk obteve permissão permanente e inalterável do Destino - um caminho orbital que, desde então, vem trazendo o invasor para o local da batalha, onde Kingu outrora existira. Junto com Marduk, e contando Kingu (nossa Lua), que agora possuía um Destino, o Sol e sua família alcançaram a contagem de doze.

Sugerimos que foi essa contagem que determinou o número celestial como 12, e assim as 12 estações ("casas") do Zodíaco, 12 meses do ano, 12 horas duplas no ciclo dia-noite, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus.

 

Os sumérios consideravam a habitação de Enlil (chamada de "centro de cultos" por muitos estudiosos) o Umbigo da Terra, o local onde localizações-chave eram eqüidistantes, o epicentro de locais concêntricos divinamente ordenados. Melhor conhecida por seu nome posterior acadiano/semita, Nippur, o nome sumério era NIBRUKI - "O Local da Travessia", representando na Terra o Local Celestial da Travessia, o local da Batalha Celestial ao qual Nibiru retorna a cada 3.600 anos.

Funcionando como Centro de Controle de Missão, Nippur era o local dos DUR.AN.KI, a "Ligação Céu-Terra" da qual as operações espaciais dos anunnaki eram controladas, e onde eram mantidos e calculados todos os movimentos celestiais dos membros do nosso Sistema Solar e o acompanhamento do Tempo Divino, Tempo Celestial e Tempo Terrestre, assim como a inter-relação entre eles.

Esse acompanhamento do que seriam tratados orbitais eram realizados com a ajuda das Tabelas de Destinos. Podemos ter uma noção de seu funcionamento e da câmara sagrada onde eram murmurados e recitados pelos iniciados; então a operação chegou a um final súbito, O texto sumério que descreve isso, batizado pelos tradutores de O Mito de Zu, lida com o plano do deus Zu (o nome completo, conforme descobertas posteriores revelaram, era AN.ZU, "O Conhecedor dos Céus") para usurpar a Ligação Céu-Terra, apossando-se e removendo as Tabelas de Destinos. Tudo cessou; "o brilho da luz apagou-se; o silêncio prevaleceu"; nos céus, aqueles que manejavam os ônibus e as naves espaciais, "os igigi, no espaço, ficaram confusos", (O épico termina com a dominação de Zu pelo filho de Enlil, Ninurta, e a reinstalação das Tabelas de Destinos em Duranki, além da execução de Zu).

A diferença entre o Destino inalterável e a Sorte que pode ser mudada ou desviada era expressa em duas partes num Hino a Enlil, que descrevia seus poderes como proclamador de Sortes e decretador de Destinos:

 

Enlil:

Nos céus ele é o Príncipe,

Na Terra é o Chefe.

Sua ordem tem longo alcance,

Sua decisão é sublime e sagrada;

O pastor Enlil decreta as Sortes.

 

Enlil:

Seu comando nas alturas faz os céus tremerem,

Abaixo produz um terremoto.

Decreta os destinos no futuro distante,

Seus decretos são imutáveis.

É o Senhor que conhece o Destino da Terra.

 

Os sumérios acreditavam que os destinos eram de natureza celestial. Mesmo sendo de grande autoridade, Enlil não pronunciava seus Destinos inalteráveis como fruto das próprias decisões ou planos. A informação era conhecida por ele. Era o "senhor que conhecia o Destino da Terra", era um "Eleito de Confiança", não um profeta humano, mas um profeta divino.

Isso era muito diferente das ocasiões nas quais, em consulta com outros deuses, ele decretava Sortes. Algumas vezes ele consultava seu vizir de confiança, Nusku:

 

Quando em sua inspiração, ele decreta as Sortes -

Sua ordem, a palavra que está em seu coração -

A seu nobre vizir, o camareiro Nusku,

A quem informa e consulta.

 

Não apenas Nusku, o camareiro de Enlil, mas também sua esposa, Ninlil, é representada nesse hino como participante da decisão das Sortes:

 

Mãe Ninlil, a esposa sagrada,

Cujas palavras são graciosas...

A eloqüente cujo discurso é elegante,

Tomou assento a seu lado...

Ela fala a ti com eloqüência,

Sussurra palavras a seu lado,

Decreta as Sortes.

 

Os sumérios acreditavam que todas as Sortes eram determinadas, decretadas e alteradas na Terra; a despeito das palavras de adoração ou consulta mínima, parece que a determinação das Sortes - incluindo a do próprio Enlil - era conseguida por um processo mais democrático, mais de acordo com a constituição monárquica. Os poderes de Enlil pareciam derivar não apenas de cima, de Anu e Nibiru, mas também de baixo, da Assembléia dos Deuses (uma espécie de Parlamento ou Congresso). As decisões mais importantes - que decidiam as sortes - eram tomadas por um Conselho dos Grandes Deuses, uma espécie de Gabinete Ministerial no qual as discussões algumas vezes se tornavam debates e metade das vezes se tornavam discussões acaloradas...

As referências ao Conselho e à Assembléia dos anunnaki eram numerosas. A criação de O Adão foi um assunto de discussão; da mesma forma foi a decisão de varrer a Humanidade da Terra na época do Dilúvio. A esse respeito, o texto afirma claramente que "Enlil abriu a boca para falar e dirigiu-se à Assembléia dos Deuses". A sugestão de aniquilar a Humanidade encontrou oposição por parte de Enki, que, tendo falhado para mudar a opinião da Assembléia, "ficou desgostoso com sua cadeira na Assembléia dos Deuses". Lemos mais tarde que, quando os deuses orbitavam a Terra em suas espaçonaves, observando o turbilhão abaixo, Ishtar gemeu com o que viu e perguntou-se como podia ter votado pela aniquilação da Humanidade: "Como pude, na Assembléia dos Deuses, eu mesma dar uma má opinião?".

Depois do Dilúvio, quando os remanescentes da Humanidade começaram outra vez a encher a Terra, os anunnaki resolveram civilizar a Humanidade e instituir a monarquia como forma de lidar com as crescentes massas humanas.

 

Os grandes anunnaki que decretam as Sortes

Sentavam-se trocando opiniões a respeito da Terra.

 

Essa forma de determinar as Sortes não se limitava aos negócios dos homens; também se aplicava aos próprios deuses. Assim, quando Enlil, nos primórdios da chegada à Terra, gostou de uma jovem anunnaki e tomou-a sexualmente, apesar das objeções dela, Enlil foi banido, primeiro pelos "cinqüenta Deuses Maiores" reunidos em assembléia, depois por "todos os sete deuses que decretavam a Sorte".

Tal foi a forma, segundo a versão babilônica do Enuma elish, que o Destino de Marduk, ser supremo na Terra (e no correspondente celeste), foi confirmado. Naquele texto, a Assembléia dos Deuses é descrita como uma reunião de Deuses Maiores, vindos de vários lugares (talvez não apenas da Terra, pois além dos anunnaki, a delegação também incluía os igigi). O número dos que se reuniram era cinqüenta - um número que combinava com a representação numérica de Enlil. Nos textos acadianos, eles eram designados como Ilani rabuti sha mushimu shimati - "Superiores / Grandes Deuses que determinam as Sortes".

Ao narrar como tais Grandes Deuses se reuniram para proclamar a supremacia de Marduk, o Enuma elish descreve um cenário de camaradagem, de amigos que não se viam havia muito tempo. Chegaram a um Local Especial; ''beijaram uns aos outros...Sentaram-se para banquetear-se; comeram pão comemorativo e tomaram o vinho escolhido". Então o clima de camaradagem tornou-se solene enquanto os "Sete Deuses do Destino" entraram no Saguão da Assembléia e sentaram-se para discutir o assunto a ser tratado.

Por motivos inexplicados, Marduk foi testado em seus poderes magnéticos. Mostre-nos, pediram os anunnaki reunidos, como você pode "ordenar destruição, assim como ordenar criação"!

Formaram um círculo e colocaram "no interior as imagens das constelações". O termo Lamashu sem dúvida significa os símbolos / imagens do Zodíaco. "Abra sua boca, deixe que as imagens desapareçam. Fale outra vez e que as constelações reapareçam!", disseram eles.

Concordando, Marduk realizou o milagre:

 

Ele falou, e as constelações desapareceram;

Falou outra vez, e as imagens foram restauradas.

 

Quando os deuses, seus superiores,

Viram o poder de suas invocações,

Alegraram-se e proclamaram:

"Marduk é supremo!"

 

"Eles lhe conferiram o cetro, o trono e o manto real" - um manto resplandecente, como a ilustração babilônica mostra. "Desse dia em diante, seu decreto não possui rival, sua ordem será como a de Anu... Ninguém, entre os deuses, deverá transgredir suas fronteiras."

Enquanto o texto babilônico sugere que a supremacia de Marduk foi testada, confirmada e reconhecida em uma só sessão, outros textos que se referem ao processo decisório sugerem que o estágio da Assembléia dos cinqüenta Grandes Deuses foi seguido por um estágio separado de uma reunião dos Sete Grandes Deuses Que Julgam; então veio o pronunciamento da decisão, da Sorte ou do Destino, que foi feito por Enlil em acordo ou com aprovação de Anu. De fato, a necessidade desse procedimento de estágio a estágio e o pronunciamento final de Enlil por parte de Anu foram reconhecidos até mesmo pelos seguidores de Marduk. O rei babilônico Hamurabi, no preâmbulo de seu famoso código de leis, exaltou a supremacia de seu deus Marduk com estas palavras:

 

Excelso Anu,

Senhor dos deuses que vieram do céu para a Terra,

E Enlil, Senhor do céu e da Terra,

Que determina os destinos da Terra,

Determinou para Marduk, o primogênito de Enki,

As funções de Enlil sobre toda a humanidade.

 

Tal transferência da autoridade de Enlil para Marduk, afirmavam os textos babilônicos, foi executada e simbolizada pela oferta a Marduk dos cinqüenta nomes. O último e mais importante dos nomes de poder ofertados a ele foi o de Nibiru - o próprio nome do planeta que os babilônios rebatizaram de Marduk.

 

As assembléias de deuses eram algumas vezes convocadas não para proclamar novas Sortes, mas para confirmar o que fora determinado anteriormente nas Tabelas de Destinos.

Afirmações bíblicas refletem não apenas o costume real de anotar as coisas num pergaminho ou tábua, e depois selando o documento como evidência preservada; o hábito era atribuído aos (e, sem dúvida, aprendido dos) deuses. A culminação dessas referências é encontrada no Cântico de Moisés, seu testamento e profecia antes de morrer. Exaltando o Todo-Poderoso Javé e sua capacidade de proclamar e prever Destinos, Moisés cita o Senhor referindo-se ao futuro:

 

Veja e contemple:

É um segredo oculto comigo,

Guardado e selado no interior de meus tesouros.

 

Textos hititas, descobertos na biblioteca real da capital Hatusas, continham histórias de conflitos entre os deuses que certamente serviram como fonte para os mitos gregos. Nesses textos, os nomes dos Deuses Antigos são fornecidos da forma como eram conhecidos da época dos sumérios (tal como Anu, Enlil e Enki); ou em hitita para os deuses conhecidos do panteão dos sumérios (tal como Teshub, "O Soprador de Ventos", para Ishkur/ Adad); ou algumas vezes para divindades cujas identidades permanecem obscuras. Dois cantos épicos pertencentes a deuses chamados Kumarbis e Iluiankas. No primeiro, Teshub determinou que as Tabelas da Sorte - "antigos tabletes contendo as palavras da Sorte" - fossem recuperadas dos domínios de Enki no sudeste da África e trazidas para a Assembléia dos Deuses. No outro, depois do conflito e da competição, os deuses se reuniram em assembléia para ter sua ordem e os postos definidos - uma ordem e cargos representados graficamente nas paredes rochosas do santuário sagrado agora conhecido como Yazilikaya.

Mas, sem dúvida, uma das mais importantes, longas, amargas e literalmente cruciais foi a Assembléia dos Deuses para a aprovação do uso de armas nucleares para vaporizar o espaçoporto na península do Sinai. Usando a princípio os dados extensos e detalhados conhecidos como Erra Epos, reconstruímos os eventos que se desenrolaram, identificamos os protagonistas e antagonistas, e apresentamos quase ao pé da letra (em As Guerras de Deuses e Homens) os procedimentos da Assembléia. Os resultados não intencionais, como já foi mencionado, foram a destruição da Suméria e o final da vida em suas cidades.

A ocorrência também é um dos mais claros e trágicos exemplos de como a Sorte e o Destino podem estar entrelaçados.

O maior golpe para a Suméria foi a destruição de sua gloriosa capital, Ur, centro e morada de seu amado deus Nanar/Sin (o deus da Lua) e sua esposa, Ningal. Os textos de lamentações (Lamentações Sobre a Destruição da Suméria e Ur, Lamentações sobre a Destruição de Ur) descrevem como, quando se percebeu que o Vento Mau, portador da nuvem mortal, se dirigia para a Suméria, Nanar/Sin apressou-se a pedir ajuda ao pai, Enlil, para que fosse realizado algum milagre divino a fim de afastar a calamidade de Ur. Pois não era impensável que a orgulhosa Ur, uma cidade de renome, desaparecesse? Ele apelou a Anu: "Declare ser o suficiente!". Pediu ele a Enlil: "Pronuncie uma Sorte favorável!". Porém Enlil não viu nenhuma forma de alterar o final inexorável.

Em desespero, Nanar/Sin insistiu que os deuses se reunissem em Assembléia. Enquanto os anunnaki mais respeitáveis se acomodavam, Nanar/Sin chorou para Anu, suplicou a Enlil. "Não deixem minha cidade ser destruída, eu disse a eles. Não deixem o povo morrer", recordou Nanar/Sin mais tarde.

Porém a resposta, vinda de Enlil, foi dura e decisiva:

 

Ur teve garantida a Realeza;

Não teve garantido o Eterno Reinar.

 

SOBRE MORTE E RESSURREIÇÃO

A lição da destruição da Suméria e de Ur foi que o acaso e a Sorte alterável não podem suplantar o inalterável Destino. Mas, e quanto ao inverso: pode a Sorte, sem importar por quem seja decretada, ser suplantada pelo Destino?

A questão certamente foi considerada na Antigüidade, pois de outra forma, qual seria o motivo para as preces e súplicas que então se haviam iniciado, e dos incentivos por parte dos profetas para o reto agir e o arrependimento? O bíblico Livro de Jó levanta a questão sobre se a Sorte - ainda que ocorra até o ponto de eliminar todas as esperanças - devia prevalecer, ainda que o reto agir e a piedade de Jó o houvessem destinado a uma vida longa?

É um tema cujas origens podem ser encontradas no poema sumério que os estudiosos chamaram de O Homem e Seu Deus, cujo assunto é o sofrimento dos justos, uma vítima da sorte cruel e de infortúnios não merecidos. "A Sorte me carregou nas mãos e levou o fôlego de minha vida", lamenta-se o sofredor anônimo; porém ele vê os Portões da Piedade se abrirem para ele, "agora que tu, meu deus, me mostraste os pecados que cometi". A confissão e o arrependimento fizeram o deus dele "virar o Demônio da Sorte", e o pecador arrependido vive uma vida longa e feliz.

Assim como a história de Gilgamesh demonstra que a Sorte não pode alterar seu Destino final (morrer como mortal), outras histórias apresentam a moral de que nem a Sorte pode trazer a morte, se assim não for destinado. Um bom exemplo é o próprio Marduk, que de todos os deuses da Antigüidade estabeleceu um recorde em sofrimento e reveses, de desaparecimentos e reaparecimentos, exílios e retornos, morte aparente e ressurreição inesperada; tantos que, quando todos os eventos em relação a Marduk se tornaram conhecidos depois da descoberta dos textos, os estudiosos debateram, na virada do século [1800-1900] se aquela história seria um protótipo da de Cristo. (A idéia baseou-se na afinidade entre Marduk e seu pai Enki por um lado e com seu filho Nabu por outro, criando a impressão de um protótipo da Divina Trindade).

O impacto do sofrimento de Marduk e sua moral para a humanidade ficaram evidenciados por uma Peça de Mistério na qual sua morte aparente e retorno dos mortos eram representados por atores. A Peça de Mistério era representada na Babilônia como parte das cerimônias de Ano-Novo, e vários textos antigos sugerem que ela também servia a propósitos mais escusos - apontar um dedo acusador nos inimigos e julgar quem eram os responsáveis pela sua sentença de morte e sepultamento. Como vários relatos comprovam, a identidade dos responsáveis mudava de tempos em tempos, para se adaptar ao cenário político-religioso.

Originalmente, uma das acusadas era Inana/Ishtar, e é irônico que ela mesma tenha genuinamente morrido e ressuscitado, apesar de sua experiência jamais ter sido encenada (como a de Marduk) ou lembrada no calendário (assim como a morte de seu amado Dumuzi, que deu o nome ao mês de Tamuz). Tratava-se de uma dupla ironia, pois devido à morte dele, Inana/Ishtar acabou morrendo.

Nem mesmo um Shakespeare poderia ter concebido a trágica ironia dos eventos que vieram depois do sepultamento e da ressurreição de Marduk, como resultado dos protestos de Inana. Ao final, como as coisas ocorreram, enquanto ele na realidade não morreu nem ressurgiu verdadeiramente, sua acusadora Inana encontrou a morte real, e depois a verdadeira ressurreição. E enquanto a morte de Dumuzi foi a causa oculta de ambas as ocorrências, a causa da morte e ressurreição de Inana foi sua própria decisão.

Porém Inana encontrou a morte por puro acaso, e não devido ao seu Destino; em virtude dessa diferença, Inana pôde ressurgir. A narrativa desses assuntos de Vida, Morte e Ressurreição ocorre não como na Epopéia de Gilgamesh, entre mortais ou semideuses, mas entre os próprios deuses. Em sua história de Sorte versus Destino, existem pistas para a resolução de enigmas que exigem soluções.

A história cheia de suspense sobre a morte e ressurreição de Inana/Ishtar revela, desde o início, que ela encontrou a morte - morte verdadeira, não apenas sepultamento - como resultado das próprias decisões. Ela criou a própria Sorte; porém desde que a morte (pelo menos naquele instante) não era seu Destino - ao final ela foi revivida e ressurgiu.

A princípio, a história foi registrada em textos sumérios, com versões posteriores em acadiano. Os estudiosos se referem à várias versões da Descida de Inana ao Mundo Inferior, embora alguns prefiram o termo Mundo do Inferno, implicando um domínio infernal dos mortos. Porém, na verdade, Inana estabeleceu o próprio curso para o Mundo Inferior, que em termos geográficos se localizava ao sul da África. Era o domínio de sua irmã Ereshkigal e de Nergal, seu esposo; este, como irmão de Dumuzi, tinha a incumbência de fazer os arranjos para o funeral. Embora Inana estivesse avisada para não ir até lá, ela resolveu fazer a viagem de qualquer jeito.

Comparecer aos ritos do funeral de seu amado Dumuzi foi o motivo que Inana deu para empreender a jornada, porém fica evidente que ninguém acredita nela... De acordo com nossas deduções, segundo um costume (que mais tarde orientou as leis bíblicas), Inana pretendia exigir que Nergal, como irmão mais velho de Dumuzi, dormisse com ela para que um filho nascesse como se fosse de Dumuzi (que morrera sem filhos). E que essa intenção enfureceu Ereshkigal.

Outros textos descrevem os sete objetos que Inana separou para seu uso durante as viagens no Barco do Céu - um capacete, "brincos" e um ''bastão de medir" entre eles -, todos presos firmemente por correias. Algumas esculturas também a representam equipada dessa forma. À medida que ela alcançava os portões dos domínios de sua irmã - sete deles -, cada guarda retirava suas proteções, uma por uma. Quando ela finalmente penetrou na sala do trono para ver a irmã, Ereshkigal teve um ataque de raiva. Houve uma discussão. Segundo um texto sumério, Ereshkigal ordenou que Inana se sujeitasse aos "Olhos da Morte" - algum tipo de raio letal -, que transformou o corpo de Inana em cadáver; esse cadáver foi pendurado numa estaca. Segundo a versão acadiana, Ereshkigal ordenou que sua camareira Namtar "aplicasse em Ishtar os sessenta sofrimentos" - a praga dos olhos, do coração, da cabeça, dos pés, "de todas as partes dela, contra seu corpo inteiro" - terminando por matar Ishtar.

Antecipando algum problema, Inana/Ishtar havia instruído o próprio camareiro, Ninshubur, para reclamar caso ela não retornasse em três dias. Quando de fato ela não deu notícias depois desse tempo, Ninshubur foi até a presença de Enlil a fim de suplicar para que Inana fosse salva da morte, porém Enlil não pôde ajudar. Ninshubur apelou para Nanar, o pai de Inana, mas ele também não pôde fazer nada. Então Ninshubur apelou para Enki, que foi capaz de ajudar: fabricou dois seres artificiais que não podiam ser danificados pelos Olhos da Morte e os enviou em missão de salvamento. Para um andróide, ele deu o Alimento da Vida; para outro, a Água da Vida, e dessa forma equipados eles desceram até os domínios de Ereshkigal a fim de reclamar o corpo sem vida de Inana. Então:

 

Por sobre o cadáver, pendurado numa estaca,

Eles dirigiram o Pulsador e o Emissor.

Por sobre a pele que fora ferida, aspergiram

Sessenta vezes o Alimento da Vida,

E sessenta vezes a Água da Vida;

E Inana ergueu-se.

 

O uso de radiação - um Pulsador e um Emissor - para reviver um morto foi representado num cilindro no qual vemos um paciente cujo rosto se encontra coberto por uma máscara, sendo tratado com radiação. O paciente que está sendo revivido (se é homem ou deus não fica claro), deitado numa laje, foi cercado por Homens-peixe - representantes de Enki. É uma pista que devemos combinar com os detalhes da história, pois nem Enlil nem Nanar puderam ajudar. Os andróides que Enki fabricou para retirar Inana dos mortos, entretanto, não eram os Homens-peixe/médicos/sacerdotes que aparecem na descrição acima. Sem pedir água nem comida, sem sexo e sem sangue, eles devem ter parecido mais com a representação de andróides mensageiros divinos. Como andróides, eles não podiam ser afetados pelos raios mortais de Ereshkigal.

Tendo ressuscitado Inana/Ishtar, eles a acompanharam em seu regresso ao Mundo Superior. Aguardando-a estava seu fiel camareiro Ninshubur. Ela teve muitas palavras de gratidão para ele. Depois foi até Eridu, onde habitava Enki, "aquele que a trouxe de volta à vida".

Se A Descida de Inana ao Mundo Inferior tivesse sido transformada numa peça teatral, assim como a história de Marduk, certamente teria mantido os espectadores eletrizados em seus assentos. Enquanto a "morte" de Marduk foi na verdade apenas um sepultamento em virtude de uma sentença de morte, e sua "ressurreição" na verdade foi um salvamento antes do ponto em que ele morreria, a morte de Inana/Ishtar foi verdadeira, assim como sua ressurreição. Porém se os espectadores estivessem familiarizados com as nuances da terminologia suméria, teriam percebido desde a metade da história que tudo daria certo... Pois aquele a quem Ereshkigal ordenou que matasse Inana foi seu camareiro Namtar - não NAM, o Destino imutável, mas NAM.TAR, a Sorte, que podia ser alterada.

Foi Namtar quem matou Ishtar, "liberando contra ela os sessenta sofrimentos", e também quem, depois da ressurreição, levou-a através dos sete portões, devolvendo a ela em cada um a peça especial que ali fora retirada, assim como os adornos e atributos de poder.

A imagem do reino de Namtar como o Mundo Inferior, um lugar dos mortos, mas ao mesmo tempo um local do qual se podia escapar e retornar ao convívio dos vivos, formou a base para um texto assírio que relatou a experiência de quase-morte de um príncipe chamado Kuma.

Como num episódio do seriado de televisão Além da Imaginação, o príncipe repentinamente se vê chegando ao Mundo Inferior. Logo enxerga um homem à frente de Namtar: "Em sua mão esquerda ele segura os cabelos na cabeça, e com a direita empunha uma espada". Namtaru, a concubina de Namtar, estava por perto. Animais monstruosos os cercavam: um dragão-serpente com pés e mãos humanos, um animal com cabeça de leão e quatro mãos humanas. Havia Mukil (O que Bate), parecendo um pássaro com mãos e pés humanos, e Nedu (O que Derruba), possuindo a cabeça de leão, mãos de homem e pés de pássaro. Outros monstros tinham membros de humanos, carneiros, pássaros e leões misturados.

Continuando, o príncipe aproximou-se de uma cena de julgamento. O homem sendo julgado possuía o corpo negro como azeviche e usava um manto vermelho. Numa das mãos levava um arco; em outra, uma espada, e com o pé esquerdo pisava numa cobra. Porém seu juiz não era Namtar, este sendo apenas o "vizir do Mundo Inferior"; o juiz era Nergal, senhor do Mundo Inferior. O príncipe o vê "sentado num trono magnífico, usando uma coroa divina". Dos braços partem raios, e o "Mundo Inferior se enche de terror".

Tremendo, o príncipe se curva. Quando se levanta, Nergal grita para ele: "Por que ofendeu minha amada esposa, Rainha do Mundo Inferior?!".

O príncipe ficou embasbacado e sem fala. Seria seu fim?

Mas não, não seria o fim. Revela-se o mal-entendido: tratava-se de um caso de identidades trocadas. A própria rainha ordenou sua libertação e que ele voltasse para o reino de Shamash, o Mundo Superior da luz solar. Porém Nergal interveio; a vida do príncipe poderia ser poupada, mas ele não poderia voltar incólume. Era preciso sofrer com a experiência quase mortal, afligir-se com dores e insônia... Precisava sofrer com pesadelos.

 

A volta de Dumuzi do Mundo Inferior foi muito diferente. Revivida e liberta para voltar ao Mundo Superior, Inana não esqueceu seu amado morto. Sob suas ordens, os dois mensageiros apanharam o corpo sem vida de Dumuzi. Levaram o corpo para Bad-Tibira, no Edin; lá, foi embalsamado a pedido de Inana:

 

Quanto a Dumuzi, o amante de minha juventude:

Lave-o em água pura,

Unte-o com óleo doce,

Vista-o com uma túnica vermelha

E deite-o numa mesa de lápis-lazúli.

 

Inana ordenou que o corpo preservado fosse colocado sobre uma mesa de lápis-lazúli e mantido num santuário especial. Deveria ser preservado, afirmou ela, assim num dia, o dia do Juízo Final, Dumuzi poderia retornar dos mortos e "vir até mim". Seria no dia quando:

 

Os mortos se levantassem

E sentissem o aroma do doce incenso.

 

É bom reparar que essa é a primeira versão de uma crença no Juízo Final, quando os mortos se levantarão. Era tal essa crença que originou a lamentação anual pelo Tamuz (o nome semita para Dumuzi), que continuou por milênios até a época do profeta Ezequiel.

A morte e a mumificação de Dumuzi, embora brevemente relatadas aqui, fornecem pistas importantes. Quando ele e Inana/Ishtar se apaixonaram - ele um enkita, ela uma enlilita - no meio dos conflitos entre os dois clãs divinos, a união recebeu a bênção dos parentes de Inana, Nanar/Sin e sua esposa Ningal/Nikal. Em um dos textos na série das canções de amor de Dumuzi e Inana, aparece Ningal "falando com autoridade" e dizendo a Dumuzi:

 

Dumuzi, o desejado e amor de Inana:

Darei a você vida em dias distantes;

Eu a preservarei para você,

Vigiarei sua Casa da Vida.

 

Mas, na verdade, Ningal não possuía essa autoridade, pois todos os assuntos sobre Destino e Sorte estavam nas mãos de Anu e Enlil. Como todos ficamos sabendo mais tarde, uma morte trágica e definitiva caiu sobre Dumuzi.

A falha de uma promessa divina em assunto de vida e morte não é o único aspecto perturbador no trágico destino de Dumuzi. Levanta a questão da imortalidade dos deuses; temos explicado em nossos textos que se tratava apenas de uma longevidade relativa, um período de vida resultante do fato de que um ano em Nibiru equivalia a 3.600 anos terrestres. Mas para aqueles que na Antiguidade consideravam os anunnaki deuses, a história da morte de Dumuzi veio como um choque. Seria porque realmente esperava que ele retornasse à vida no dia do Juízo Final que Inana ordenou seu embalsamamento e acomodação numa mesa de pedra, em vez de enterrá-lo, ou para preservar a ilusão da imortalidade para o povo? Sim, o deus podia ter morrido, parecia dizer Inana, mas se tratava de uma coisa transitória, passageira, já que na época devida ele ressurgiria, se ergueria e sentiria o perfume de doces incensos.

As histórias cananéias a respeito de Baal, "o Senhor", pareciam divulgar a posição de que era preciso distinguir entre os bons e os maus. Procurando afirmar sua supremacia e estabelecer o pico de Zafon (o Local Secreto do Norte), Baal lutou até a morte contra seus irmãos-adversários. Contudo numa feroz batalha com o "divino Mot" ("Morte"), Baal perece.

Anat, a irmã-amante de Baal, e a irmã Shepesh levam a notícia para o pai de Baal, El: "O Poderoso Baal está morto; o Príncipe, Senhor da Terra, pereceu!", disseram elas ao pai chocado. Nos campos da terra de Dabr "encontramos Baal caído no chão". Ao ouvir as novas, El sai de seu trono e senta-se num tamborete, como era um costume de luto naquela época e até agora (entre os judeus). "Passou a cinza da lamentação na cabeça, colocou uma túnica de aniagem". Com uma faca de pedra cortou a si mesmo; "ergue a voz e lamenta-se: Baal está morto"!

Anat, enlutada, retorna ao campo onde Baal havia caído e, como El, coloca uma túnica de aniagem, corta-se e depois chora "tudo o que havia para chorar". Em seguida, chama sua irmã Shepesh para ajudá-la a carregar o corpo sem vida até a fortaleza de Zafon, para enterrar o deus morto:

 

Atendendo, Shepesh, a donzela dos deuses, apanha o Poderoso Baal,

Coloca-o nos ombros de Anat.

Para a fortaleza de Zafon ela o carrega, lamenta-o e o enterra;

Deposita-o numa cova,

Para ficar com os fantasmas da terra.

 

Para completar os requisitos do luto, Anat retorna à habitação de El. Amargamente diz aos que ali estão reunidos: agora podem alegrar-se, pois Baal está morto, e seu trono está vago! A deusa Elath e os de seu clã, ignorando a ironia de Anat, alegremente começam a discutir a sucessão. Quando um dos filhos de El é recomendado, El nega, afirmando que era fraco. Mais um candidato recebe a permissão de ir para Zafon experimentar o trono de Baal: porém os pés não alcançam o solo ao sentar-se, e ele também é eliminado. Ao que parecia, ninguém poderia substituir Baal.

Aquilo dá uma esperança a Anat: a ressurreição. Mais uma vez solicitando a ajuda de Shepesh, ela penetra na morada de Mot. Usando subterfúgios, "se aproxima dele como uma ovelha de seu carneiro... Agarra o divino Mot e com uma espada ela o trucida". Depois queima o corpo sem vida de Mot, pulveriza o que restou e espalha as cinzas pelos campos.

E o assassinato de Mot, que matou Baal, realiza um milagre: Baal retorna à vida!

 

Verdadeiramente o Poderoso Baal morre;

Verdadeiramente o Senhor da Terra perece.

Porém veja e contemple:

Vivo está o Poderoso Baal!

Existe o príncipe, o Senhor da Terra!

 

Ao receber a notícia, El se pergunta se é tudo um sonho, "uma visão". Porém é verdade! Retirando a túnica de aniagem e deixando os costumes do luto, El se alegra:

 

Agora vou sentar e descansar,

E meu coração ficará tranqüilo;

Pois vivo está o Poderoso Baal,

Existe o príncipe, o Senhor da Terra.

 

A despeito da evidente incerteza de El, se a ressurreição é um sonho ou uma visão ilusória, o contador de histórias cananeu assegura ao povo que no final até mesmo El aceita o milagre. A certeza ecoa na história de Keret, que é apenas um semideus; ainda assim, seus filhos, vendo-o apanhado pela morte, não acreditam que "um filho de El deva morrer".

Talvez à luz da não-aceitação da morte de um deus é que a noção de ressurreição tenha vindo à tona. Se a própria Inana acreditava ou não que seu bem-amado devesse ressurgir dos mortos, a preservação elaborada do corpo de Dumuzi e as palavras que o acompanharam também ajudaram a preservar, entre as massas humanas, a imortalidade dos deuses.

O procedimento que ela pessoalmente delineou para a preservação, a fim de que no dia do Juízo Final Dumuzi pudesse erguer-se e juntar-se a ela, sem dúvida é o procedimento conhecido como mumificação. Isso pode ser um choque para os egiptólogos, que sustentam ter a mumificação surgido no Egito na Terceira Dinastia, por volta de 2800 a.C. Lá, o procedimento consistia em lavar o corpo do faraó, esfregá-lo com óleos e enrolá-lo num tecido - preservando o corpo de forma que o faraó pudesse empreender sua jornada para o Após-Vida.

Porém aqui temos um texto sumério que descreve a mumificação séculos antes!

Os detalhes dos procedimentos eram idênticos, passo a passo, aos que foram praticados mais tarde no Egito, até mesmo a cor do pano envolvente.

Inana ordenou que o corpo preservado fosse colocado sobre uma laje de lápis-lazúli e guardado num santuário especial. Batizou o santuário de E.MASH - "Casa/Templo da Serpente". Talvez se tratasse de um gesto simbólico para colocar o filho morto de Enki nas mãos do pai, pois Enki não era apenas Nachash - a Serpente, assim como o Conhecedor de Segredos - da Bíblia. Também no Egito, seu símbolo era a serpente, e o hieróglifo com seu nome, PTAH, representava a hélice dupla do DNA, pois essa era a chave para todos os processos de vida e morte.

 

Através de veneração na Suméria e na Acádia como o amado de Inana, e pranteado na Mesopotâmia e além como o Tamuz de Ishtar, Dumuzi era um deus africano. Sendo assim, talvez fosse inevitável que sua morte e embalsamamento fossem comparados pelos estudiosos à história trágica do grande deus egípcio Osíris.

A história de Osíris é semelhante à história bíblica de Caim e Abel, na qual a rivalidade terminou em fratricídio. Começa com dois casais divinos, dois meios-irmãos (Osíris e Seth) casados com duas irmãs (Ísis e Néftis). Para evitar recriminações, o reino do Nilo foi dividido entre os dois irmãos: o Baixo Egito (a parte norte) foi designado para Osíris e o Alto Egito (a parte sul), para Seth. Porém as complexas regras divinas de sucessão davam preferência ao Legítimo Herdeiro em detrimento ao Primogênito, e inflamaram a rivalidade até um ponto em que Seth, usando um pretexto, encurralou Osíris no interior de um baú, que foi trancado e atirado ao mar Mediterrâneo; Osíris afogou-se.

Ísis, a esposa de Osíris, descobriu o baú, que veio à terra firme no local que hoje conhecemos por Líbano. Ela apanhou o corpo do marido e levou Osíris de volta ao Egito, procurando a ajuda do deus Tot para realizar a ressurreição do marido. Porém Seth descobriu o que estava acontecendo, tomou posse do corpo e o partiu em catorze pedaços, que espalhou pelo Egito.

Sem se dar por vencida, Ísis procurou os pedaços e encontrou a todos, exceto (segundo a lenda) o falo de Osíris. Reuniu outra vez os pedaços, costurando-os num tecido púrpura, e assim dando origem à técnica da mumificação no Egito. Todas as representações de Osíris, dos tempos faraônicos, o mostram firmemente enrolado nesse manto.

Como Inana fizera antes dela na Suméria e na Acádia, Ísis mumificou seu marido falecido, fazendo nascer no Egito a idéia da ressurreição de um deus. Enquanto no caso de Inana havia uma negação pessoal da perda, assim como uma afirmação da imortalidade dos deuses, no Egito o ato se tornou um pilar para a crença faraônica de que o rei humano também poderia passar pela transfiguração, e, emulando Osíris, obter a imortalidade no pós-vida, com os deuses. Nas palavras de E. A. Wallis Budge, no prefácio de sua obra-prima Osiris & The Egyptian Resurrection ("Osíris e a Ressurreição Egípcia"), "A figura central da antiga religião egípcia era Osíris, e a parte fundamental de seu culto, a crença em sua divindade, morte, ressurreição e absoluto controle sobre os destinos e corpos dos homens". Os principais santuários de Osíris em Abidos e Denderah representavam os passos na ressurreição do deus. Wallis Budge e outros estudiosos acreditavam que essas representações eram retiradas de uma peça de Paixão ou Mistérios, que era encenada todos os anos nesses lugares - um ritual religioso que, na Mesopotâmia, atribuía-se a Marduk.

Os Textos das Pirâmides e outras citações funerárias do Livro dos Mortos relatam como o faraó morto, embalsamado e mumificado, era preparado para deixar sua tumba (considerada apenas um local temporário de descanso), através de uma porta falsa pela face leste, e começar a jornada para a Vida depois da Morte. Presumivelmente, era uma jornada simulando a viagem da ressurreição de Osíris para seu trono celestial na Habitação Eterna; era uma viagem que fazia o faraó voar em direção ao céu como um falcão divino, iniciando por passar através de uma série de aposentos e corredores subterrâneos repletos de visões e seres miraculosos. Em A Escada para o Céu, analisamos a geografia e topografia dos textos antigos e concluímos que seria uma simulação de uma viagem para o silo subterrâneo da península do Sinai - não muito diferente da atual tumba de Hui, um governador faraônico da península do Sinai.

A ressurreição de Osíris foi combinada com outro feito miraculoso, o do nascimento de seu filho Hórus, bem depois que o próprio Osíris morreu e foi desmembrado. Em ambos os eventos, que os egípcios consideram mágicos com razão, um deus chamado Tot (sempre representado na arte egípcia como tendo cabeça de íbis) representou o papel decisivo. Foi ele quem ajudou Ísis a juntar o desmembrado Osíris, depois a instruiu sobre como retirar a "essência" de Osíris do corpo desmembrado e morto, e em seguida emprenhá-la artificialmente. Assim fazendo, ela ficou grávida e deu à luz um filho, Hórus.

Mesmo aqueles que acreditam que a história seja apenas uma lembrança de acontecimentos verdadeiros, e não apenas um "mito", presumem que o que Ísis fez foi extrair do corpo morto de Osíris o sêmen, sua "essência". Porém isso seria impossível, já que a única parte que Ísis não conseguiu encontrar e reconstituir foi o órgão masculino. O feito mágico de Tot foi além da inseminação artificial, agora bastante comum. O que ele precisava fazer seria obter para ela a "essência" genética de Osíris. Os textos e as representações vindas até nós do Egito Antigo confirmam que Tot, na verdade, possuía a "sabedoria secreta" necessária para tais eventos.

As capacidades biomédicas - mágicas aos olhos humanos de Tot eram exigidas mais uma vez pelos cuidados com Hórus. Para proteger o rapaz do impiedoso Seth, Ísis manteve secreto o nascimento de Hórus, escondendo-o numa área pantanosa. Sem estar consciente da existência de um filho de Osíris, Seth - assim como Enki tentara obter um filho de sua meia-irmã Ninmah - tentou forçar Ísis, sua meia-irmã, a ter relações com ele a fim de que pudesse ter um filho com ela, que seria herdeiro inconteste. Atraindo Ísis para sua casa, ele a manteve cativa por algum tempo; porém Ísis conseguiu escapar e voltar ao pântano onde Hórus estava escondido. Para seu desgosto, o encontrou morto pela picada de um escorpião. Não perdeu tempo em pedir a ajuda de Tot:

 

Então Ísis gritou para os céus

E dirigiu seu apelo ao

Barco de Um Milhão de Anos...

E Tot desceu;

Ele era provido de poderes mágicos,

E possuía o grande poder que transformava

A palavra em realidade...

 

E disse a Ísis:

Eu vim nesse dia com o Barco do Disco

Celestial do lugar onde estava ontem.

Quando a noite vier,

Essa Luz (raio de) vai afastar (o veneno)

Para a cura de Hórus...

Eu vim dos céus para salvar a criança

Por sua mãe.

 

Assim revivido e ressuscitado dos mortos (talvez imunizado para sempre) pelos poderes mágicos de Tot, Hórus cresceu para se tomar Netch-Atef, o "Vingador" de seu pai.

Os poderes biomédicos de Tot em questão de vida ou morte também foram gravados numa série de textos egípcios antigos, conhecidos como Histórias dos Mágicos. Em um deles (Papiro do Cairo 30646), há uma longa história de dois descendentes reais que se apossam do Livro dos Segredos de Tot. Como castigo, Tot os enterrou numa câmara subterrânea, em estado de animação suspensa - mumificados como mortos, mas capazes de ouvir, ver e falar. Em outra história, escrita nos Papiros Westcar, um filho do faraó Khufu (Quéops) contou a seu pai sobre um velho "versado nos mistérios de Tot", que, entre outras coisas, possuía a habilidade de restaurar a vida aos mortos. Desejando ver essa maravilha, o faraó ordenou que a cabeça de um prisioneiro fosse cortada, desafiando o sábio a recolocar a cabeça e devolver o homem à vida. O sábio recusou-se a realizar a "magia de Tot" num ser humano; então a cabeça de um ganso foi cortada. O sábio "pronunciou certas palavras de poder" contidas no Livro de Tot. Em seguida admiraram-se todos, pois a cabeça voltou a unir-se ao corpo do ganso, que se levantou, cambaleou um pouco... E voltou a grasnar... Vivo como antes.

Que Tot realmente possuía a habilidade de ressuscitar uma pessoa morta que tivesse sido decapitada, e devolver a vida à vítima era sabido no Egito Antigo por causa de um incidente que acontecera quando Hórus pegara em armas contra seu tio Seth. Depois das batalhas que enfrentaram em terra e no ar, Hórus finalmente capturou seu oponente Seth e seus lugar-tenentes. Levado perante Rá para julgamento, este colocou o destino dos julgados nas mãos de Hórus e Ísis. Hórus começou a decapitar seus prisioneiros, cortando-lhes a cabeça; quando chegou a vez de Seth, Ísis não pôde ver aquilo feito a seu irmão e intercedeu para que Hórus não executasse Seth. Enraivecido, Hórus voltou-se para sua própria mãe e decapitou-a! Ela sobreviveu apenas porque Tot apressou-se para chegar ao local e recolocou-lhe a cabeça no lugar e a ressuscitou.

Para apreciar a habilidade de Tot em conseguir essas maravilhas, vamos lembrar que já identificamos esse filho de Ptah como Ningishzida (filho de Enki no folclore sumério), cujo nome significa "Senhor da Árvore/ Artefato da Vida". Ele era o guardião dos Segredos Divinos das ciências exatas, entre os quais estavam os segredos da genética e da biomedicina que haviam servido a Enki, seu pai, na época da Criação do Homem. Textos sumérios, na verdade, atestam que em determinada época Marduk queixou-se a seu pai Enki que não aprendera todos os segredos dele.

"Meu filho, o que você não sabe? O que mais eu poderia dar a você?", perguntou Enki. A sabedoria oculta, respondeu Marduk, o segredo da ressurreição dos mortos; aquela sabedoria que fora passada ao irmão de Marduk, Ningishzida/Tot, mas não a Marduk/Rá.

Essa sabedoria secreta, cujos poderes foram para Tot/Ningishzida, encontrou expressão na arte mesopotâmica e na adoração ao ser representada ao lado do símbolo das duas serpentes entrelaçadas - símbolo que já identificamos como representação da hélice dupla de DNA e que sobreviveu até os tempos atuais como emblema de medicina e cura.

Havia, sem dúvida, uma conexão entre tudo isso e a fabricação, por Moisés, de uma serpente de bronze para combater uma pestilência que ceifou incontáveis israelitas durante o Êxodo. Criado na corte do faraó e treinado por magos egípcios, Moisés, a mando do Senhor, "fabricou uma serpente de bronze e a colocou sobre um Poste Milagroso". E quando aqueles atingidos pela peste olhavam para a serpente de bronze, permaneciam vivos (Números 21:8-10).

Talvez seja mais do que uma coincidência que uma das maiores autoridades mundiais em mineração de cobre e metalurgia antiga, o prof. Benno Rothenberg (Midianite Timna e outras publicações), descobriu na península do Sinai um santuário remontando ao período midianita - época em que Moisés, tendo escapado da vastidão do Sinai para salvar a vida, lidou com os midianitas e chegou a casar com a filha do sumo sacerdote midianita. Na área onde as minerações mais antigas de cobre aconteceram, o prof. Rothenberg encontrou, nos restos de um santuário, uma pequena serpente de cobre; era o único objeto votivo lá. (O santuário foi reconstruído para exibição no pavilhão Nechustan do Eretz Israel Museum, em Tel-Aviv, onde a serpente de cobre pode ser vista.)

O relato bíblico e os objetos recuperados na península do Sinai possuem uma relação direta da representação de Enki como Nachash. O termo não tem apenas os dois significados que já mencionamos ("Serpente" e "Aquele que Conhece Segredos"), mas também um terceiro - "Ele do Cobre", pois a palavra hebraica para cobre, nechoshet, deriva da mesma raiz. Um dos epítetos de Enki em sumério, BUZUR, também possui duplo significado: "Aquele que conhece/resolve segredos" e "Ele das minas de cobre".

Essas várias ligações podem oferecer uma explicação da escolha, de outra forma intrigante, por Inana de um lugar de descanso para Dumuzi: Bad-Tibira. Em nenhum ponto dos textos relevantes existe qualquer indicação ou conexão entre Dumuzi (e também Inana) e a Cidade dos Deuses. A única conexão possível é o fato de que Bad-Tibira estabeleceu-se como o centro metalúrgico dos anunnaki. Será que Inana, então, colocou Dumuzi embalsamado perto não apenas de onde havia ouro, mas de onde o cobre era refinado?

Outra pequena informação possivelmente relevante se relaciona com a construção do Tabernáculo e da Tenda da Aliança no deserto durante o Êxodo, de acordo com todos os detalhes e as instruções explícitas dadas a Moisés por Javé: onde e como o ouro e a prata seriam usados, que tipos de madeira e em que tamanho, que tipo de tecido ou peles, como seriam costurados, como seriam decorados. Um grande cuidado nos detalhes é também tomado nas instruções em relação aos ritos que seriam realizados pelos sacerdotes (apenas Aarão e seus filhos nessa época): os objetos sagrados que usariam, a combinação explícita de ingredientes que formariam o incenso único cuja fumaça os protegeria da radiação mortal da Arca da Aliança. E ainda mais uma exigência: a feitura de uma pia na qual deveriam lavar as mãos e os pés "para que não morressem quando entrassem em contato com a Arca da Aliança". E a pia, conforme está especificado em Êxodo 30:17, devia ser feita de cobre.

Todos esses fatos dispersos, mas aparentemente conexos em detalhes, sugerem que o cobre de alguma maneira desempenhou um papel importante na biogenética humana - um papel que a ciência moderna está apenas começando a descobrir (um exemplo recente é um estudo, publicado no periódico Science de 8 de março de 1996, sobre a perturbação do metabolismo do cobre no cérebro, associado com o mal de Alzheimer.

Tal papel não é parte da primeira tarefa genética de Enki e Ninmah para produzir O Adão, mas parece ter entrado no genoma humano com certeza quando Enki, como Nachash, resolveu envolver-se na segunda manipulação, na ocasião em que a Humanidade foi dotada da capacidade de procriar.

Em outras palavras, o cobre era aparentemente um componente do nosso Destino, e uma análise dos textos sumérios por parte de peritos e estudiosos pode nos conduzir a progressos médicos capazes de afetar nossas vidas no dia-a-dia.

Em relação aos deuses, pelo menos Inana acreditava que o cobre podia ajudar na ressurreição de seu amado.

 

A CONEXÃO CÓSMICA: DNA

Mesmo antes da televisão, os dramas sobre tribunais atraíram muitos, e os tribunais fizeram história. Caminhamos bastante desde as regras bíblicas "por duas testemunhas será dado o veredicto". De testemunhos oculares, as provas na corte passaram a ser documentais, forenses e - o que parece ser a sensação do momento, para evidências de DNA.

Tendo descoberto que toda a vida é determinada pelos minúsculos pedaços do ácido nucléico, que transmite a hereditariedade e a individualidade em cadeias chamadas cromossomos, a ciência moderna adquiriu a capacidade de ler essas letras entrelaçadas de DNA para distinguir a individualidade das "palavras" formadas. Usar leituras de DNA para provar inocência ou culpa tornou-se o ponto alto dos dramas no tribunal.

Um feito sem paralelo da sofisticação de nosso século? Não, um feito da sofisticação do 100º. Século no passado - um drama de tribunal remontando a 10000 a.C.

O caso ao qual nos referimos ocorreu no Egito, numa época em que os deuses, e não os homens, reinavam sobre a Terra; não se referia a homens, mas aos próprios deuses. Era relativo aos adversários Seth e Hórus, possuindo suas raízes na rivalidade entre os meios-irmãos Seth e Osíris. Seth, conforme lembramos, recorreu à desonestidade para livrar-se de Osíris e assumir seus domínios. Da primeira vez ele levou Osíris a entrar num baú, que se apressou a selar e atirar nas águas do Mediterrâneo; contudo Ísis encontrou o baú e, com a ajuda de Tot, reviveu Osíris. Na outra oportunidade, Seth cortou Osíris em catorze pedaços, e Ísis os reuniu pelo Egito, juntou-os e mumificou Osíris para iniciar a lenda do Reino Após-Vida. Entretanto faltou o órgão sexual do deus, que ela não conseguiu encontrar, já que Seth livrara-se dele para que o deus não tivesse herdeiro.

Determinada a dar à luz um filho que pudesse vingar a morte do pai, Ísis apelou para Tot, o Guardião dos Segredos Divinos, pedindo que a ajudasse. Ao extrair a "essência" de Osíris das partes disponíveis do deus, Tot ajudou Ísis a emprenhar-se e ter um filho, Hórus.

A "essência" (não a semente), agora sabemos, era o que hoje em dia chamamos de DNA - os ácidos nucléicos que formam as cadeias de cromossomos, cadeias essas dispostas em forma de dupla hélice. No ato da concepção, quando o espermatozóide do macho penetra o óvulo da fêmea, a cadeia entrelaçada separa-se, e uma das metades do macho combina-se com uma da fêmea para formar a nova cadeia dupla do filho. Dessa forma, não apenas é essencial que se juntem as cadeias de hélices duplas, mas também que se consiga uma separação - um desenrolar - das hélices duplas, e depois que se recombinem utilizando uma parte de cada doador para o novo DNA.

As representações pictóricas do Egito Antigo indicam que Tot - o filho de Ptah/Enki - era conhecedor desses processos genético-biológicos, e os empregava em seus feitos genéticos. Em Abidos, um afresco no qual o faraó Seti I faz o papel de Osíris mostra Tot dando a Vida (a cruz Ankh) ao deus morto, enquanto obtém para ele as duas correntes distintas de DNA. Numa representação do Livro dos Mortos, que trata do subseqüente nascimento de Hórus, vemos como as duas Deusas do Nascimento que auxiliam Tot seguram um cetro de DNA cada uma, tendo a cadeia dupla de DNA sido separada de forma que apenas uma delas se recombina com a de Ísis (mostrada segurando Hórus recém-nascido).

Ísis criou o rapaz em segredo. Quando o filho atingiu idade suficiente, ela decidiu que era tempo de reclamar a herança do pai. Assim, um dia, para surpresa de Seth, Hórus apareceu perante o Conselho dos Grandes Deuses e anunciou ser filho e herdeiro de Osíris. Foi uma afirmação inacreditável, porém não se poderia ignorá-la. Seria aquele jovem realmente filho de Osíris morto?

Conforme gravado no texto chamado de Papiro Chester Beauty No. 1, o aparecimento de Hórus surpreendeu os deuses da Assembléia, e naturalmente Seth mais do que os outros. Assim que o conselho começou a deliberar sobre a afirmação, Seth apresentou uma proposta conciliatória: que cessassem as deliberações, de forma que ele tivesse chance de conhecer Hórus e talvez chegar a uma solução amigável. Convidou-o, "Vamos, passe um dia agradável em minha casa", e Hórus concordou. Mas Seth, que já conseguira enganar Osíris para matá-lo, tinha mais traições em mente:

 

Quando a noite chegou,

A cama estava posta para eles,

E os dois ali deitaram.

Durante a noite

Seth deixou seu membro rígido,

E o colocou entre as coxas de Hórus.

 

Quando a deliberação seguinte recomeçou, Seth deu uma notícia surpreendente. Fosse ou não Hórus filho de Osíris, argumentou ele, não importava mais. Agora a semente dele, Seth, estava em Hórus, e aquilo o tornava sucessor de Seth em vez de alguém disputando o poder atual!

Em seguida, Hórus fez um anúncio ainda mais surpreendente. Não sou eu quem está desqualificado para o poder, e sim Seth, afirmou ele. Continuou relatando que não estava verdadeiramente adormecido quando Seth derramou seu sêmen. Não entrou em meu corpo, explicou ele, porque "eu o apanhei entre minhas mãos". Pela manhã ele levou o sêmen para mostrar à sua mãe, Ísis, e tiveram uma idéia. Ela fez com que o membro de Hórus ficasse rígido e ejaculou o sêmen numa xícara. Depois espalhou-o num pé de alface na horta de Seth, já que era um dos pratos preferidos deste pela manhã. Sem saber, o anfitrião acabou ingerindo o sêmen de Hórus. Portanto, concluiu Hórus, é minha semente que está em Seth, e agora ele pode me suceder, porém não me preceder no trono divino...

Embasbacado, o Conselho dos Deuses entregou o assunto para Tot resolver. Usando seus poderes de sabedoria genética, ele verificou o sêmen que Ísis levara num pote, e descobriu que de fato pertencia a Seth. Examinou Hórus e verificou que não havia nele qualquer traço do DNA de Seth. Depois examinou Seth, e descobriu que ele ingerira o DNA de Hórus.

Agindo como um perito forense num tribunal moderno, porém evidentemente armado de habilidades técnicas que ainda iremos descobrir, ele submeteu a análise aos deuses do Conselho. Votaram unanimemente para que o domínio do Egito fosse entregue a Hórus.

(A recusa de Seth em permitir o domínio levou ao que chamamos de a Primeira Guerra das Pirâmides, na qual Hórus alistou, pela primeira vez, humanos numa guerra entre deuses. Detalhamos tais eventos em As Guerras de Deuses e Homens).

 

Recentes descobertas em genética esclareceram um antigo, persistente e aparentemente estranho costume dos deuses, e ao mesmo tempo enfatizam sua sofisticação biogenética.

A importância da esposa-irmã nas regras de sucessão dos deuses da Mesopotâmia e do Egito, evidente por tudo o que aprendemos até aqui, ecoou também nos mitos gregos relativos a seus deuses. Os gregos chamaram ao primeiro casal divino que surgiu do Caos, de Gaia ("Terra") e Urano ("Céu"). Deles nasceram doze Titãs, seis machos e seis fêmeas. Os casamentos cruzados e os vários descendentes estabeleceram o clima para as lutas pela supremacia. Depois dos primeiros embates, destacou-se o mais jovem dos Titãs, Cronos, cuja esposa era sua irmã, Rea; seus filhos foram Hades, Posêidon e Zeus, e as três filhas foram Héstia, Deméter e Hera. Embora Zeus lutasse para obter a supremacia, precisou partilhar o poder com seus irmãos. Os três dividiram os domínios entre eles - algumas versões dizem que foi feito um desenho para isso, muito parecido com o de Anu, Enlil e Enki. Zeus era o senhor do céu (ainda que residindo na Terra, no monte Olimpo), Hades ficou com o Mundo Inferior; e Posêidon com os mares.

Os três irmãos e as três irmãs, todos filhos de Cronos e Rea, constituíram a primeira metade do Círculo Olímpico de doze. A segunda veio quando Zeus ligou-se a uma série de outras deusas. De uma delas, Leto, teve seu primogênito, o grande deus grego e romano Apolo. Quando foi a época, entretanto, para obter um herdeiro homem de acordo com as regras de sucessão dos deuses, Zeus procurou as irmãs. Héstia, a mais velha, era idosa demais e estava sempre doente, portanto não se prestava para o casamento e a procriação. Zeus então buscou sua irmã do meio, Deméter, porém, em vez de um filho, ela lhe deu uma filha, Perséfone. Isso abriu caminho para que Zeus casasse com Hera, a irmã mais nova; dessa vez sim, ele teve um filho, Áries, e duas filhas (Ilítia e Hebe). Quando os gregos e romanos, que haviam perdido o conhecimento dos planetas além de Saturno, deram nomes aos planetas conhecidos, assinalaram um deles, Marte, para Áries, que, embora não fosse o primogênito, era o mais importante.

Tudo isso reforça a importância da esposa-irmã nos anais dos deuses. Em matéria de sucessão, a questão se apresenta repetidamente: quem será o sucessor do trono - o primogênito ou o mais importante, desde que esse último tenha nascido de uma meia-irmã e o outro, não? Essa questão parece ter se introduzido em nossa corrente de eventos na Terra desde que Enlil juntou-se a Enki neste planeta, e a rivalidade continuou com os filhos (Ninurta e Marduk, respectivamente). Nas histórias do panteão egípcio, um conflito por motivos semelhantes ocorreu entre os descendentes de Rá, Seth e Osíris.

A rivalidade, que de tempos em tempos terminava em guerra de verdade (Hórus, ao final, acabou enfrentando Seth em combate singular, nos céus da península do Sinai), por todas as narrativas não se iniciou na Terra. Havia conflitos similares pela sucessão em Nibiru, e Anu não chegou a reinar sem lutas e batalhas.

Como o costume de que uma viúva sem filhos poderia pedir que o irmão do marido a "conhecesse" como marido substituto para dar-lhe um filho, assim também as regras de sucessão dos anunnaki davam prioridade a um filho nascido de uma meia-irmã, o que influenciou os costumes de Abraão e seus descendentes. Nesse caso, o primeiro filho foi Ismael, nascido de Agar, criada de Sara. Porém quando numa idade incrivelmente tardia, depois de intervenção divina, Sara deu à luz Isaac, este passou a ser o herdeiro legítimo. Por quê? Porque Sara era meia-irmã de Abraão. "Ela é minha irmã, a filha de meu pai, mas não de minha mãe", explicou Abraão (Gênesis 20:12).

O casamento com uma meia-irmã tinha precedência entre os faraós do Egito, como forma de legitimar o reino e a sucessão. Esse costume também era encontrado entre os incas, no Peru, de tal forma que a ocorrência de calamidades durante o reinado era atribuída ao fato de o rei não ter casado com uma mulher que fosse sua meia-irmã. O costume dos incas teve suas raízes nas Lendas do Início dos povos andinos, em que o deus Viracocha criou quatro irmãos e quatro irmãs que casaram entre si e foram guiados a várias terras. Um desses casais de meios-irmãos recebeu um cajado de ouro com o qual pudesse encontrar o Umbigo da Terra na América do Sul, e fundou Cuzco (a antiga capital inca). Por esse motivo os reis incas - desde que tivessem nascido de uma sucessão de casais de irmãos - podiam alegar linhagem direta com o deus Viracocha, o Criador.

(Viracocha, de acordo com as antigas lendas dos Andes, foi um grande deus do Céu que veio à Terra na Antiguidade e escolheu as montanhas dos Andes como sua arena. Em Os Reinos Perdidos, nós o identificamos como o deus mesopotâmico Adad = o deus hitita Teshub, e apontamos várias outras semelhanças, além dos costumes de casamentos fraternos, entre a civilização inca e as do Oriente Médio.)

A persistência do casamento irmão-irmã e a importância, aparentemente fora de proporção dada a esse fato na Antigüidade, tanto entre mortais quanto entre os deuses, são um assunto intrigante. O costume parece ser mais do que uma atitude localizada, como "vamos manter o trono em família", e do lado pior lembra uma proximidade perigosa da degradação genética. Por que, então, as coisas que os anunnaki realizavam para conseguir um filho (como exemplo podemos lembrar os sacrifícios que Enki fez para ter um filho com Ninmah) com tal tipo de união? O que havia de tão especial nos genes de uma meia-irmã - a filha, vamos manter em mente, da mãe, mas, definitivamente, não do pai?

Enquanto procuramos a resposta, vai ajudar reparar em outros costumes bíblicos que afetam a questão materna/paterna. É hábito referir-se à época de Abraão, Isaac, Jacó e José como a Era dos Patriarcas, e quando perguntamos, a maior parte das pessoas responde que a história narrada no Velho Testamento tem sido apresentada de um ponto de vista orientado pela visão masculina. O fato é que as mães, e não os pais, controlavam o ato que, na visão dos antigos, conferia o status de "ser" - o nome da criança. Na verdade, não apenas uma pessoa, mas também um lugar, uma cidade, uma terra inteira não chegavam à existência real antes de receber um nome.

Essa noção, na verdade, remonta à origem do tempo, pois a abertura da Epopéia da Criação, desejando imprimir no ouvinte que a história começa antes que o Sistema Solar estivesse completo, declara que a história de Tiamat e os outros planetas se inicia

 

Enuma elish la nabu shamamu

Quando nas alturas o céu ainda não recebera um nome

Shapiltu ammatum shuma la zakrat

E abaixo, a terra firme (Terra) ainda não fora chamada

 

E num assunto importante como dar nome a um filho, ou eram os próprios deuses ou a mãe que possuíam esse privilégio. Dessa forma descobrimos que quando os elohim criaram o Homo sapiens, foram eles quem deram nome ao novo ser" Adão" (Gênesis 5:2). Porém quando o homem adquiriu a capacidade de procriar por si, foi Eva, e não Adão, quem teve o direito e o privilégio de dar o nome de Caim ao seu primeiro filho homem (Gênesis 4:1), assim como Seth, que substituiu Abel, assassinado (Gênesis 4:25).

No início da "Era dos Patriarcas", descobrimos que o privilégio de dar nome aos dois filhos de Abraão foi assumido por seres divinos. Seu primeiro filho, com Agar, a criada da esposa, foi chamado de Ismael por um anjo de Javé (Gênesis 16:11); e o herdeiro legítimo, Isaac (Itzhak, "O que causa riso"), recebeu esse nome de um dos três seres divinos que visitaram Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra (porque quando Sara escutou Deus lhe dizer que teria um filho, ela riu; Gênesis 17:19; 18:12). Nenhuma explicação é dada na Bíblia em relação aos dois filhos de Isaac com Rebeca: Esaú e Jacó (simplesmente se afirma que se chamavam assim). Por outro lado, afirma-se claramente que foi Lia quem deu nome aos filhos de Jacó com ela e com sua criada, assim como Raquel (Gênesis, capítulos 29 e 30). Séculos mais tarde, depois que os israelitas haviam se estabelecido em Canaã, foi a mãe de Sansão quem lhe deu nome Juízes 13:24); da mesma forma ocorreu com a mãe do Homem de Deus, Samuel (Samuel I, 1:20).

 

Os textos sumérios não fornecem esse tipo de informação. Não sabemos, por exemplo, quem deu nome a Gilgamesh - sua mãe, a deusa, ou seu pai, o sumo sacerdote. Porém a história de Gilgamesh fornece uma pista importante para a solução desse enigma: a importância da mãe para determinar a posição hierárquica do filho.

A busca da longevidade dos deuses, como lembramos, o levou em primeiro lugar até as Montanhas de Cedro; porém ele e seu companheiro Enkidu não conseguiram passar pelo guardião robótico e pelo Touro do Céu. Gilgamesh então viajou até o espaçoporto na península do Sinai. O acesso era guardado pelos espantosos homens-foguete, que apontaram para ele" o temido holofote que varria as montanhas" cujo "olhar era morte"; mas Gilgamesh não foi afetado; foi então que um dos homens-foguete gritou para seu companheiro:

 

Ele que vem,

Da carne dos deuses

É feito seu corpo!

 

Permitida sua aproximação, Gilgamesh confirmou a conclusão do guarda: de fato, ele era imune aos raios mortais porque seu corpo era feito de "carne dos deuses". Explicou que ele era não apenas um semideus - era "dois terços divino", porque não seu pai, mas sua mãe era divina, uma das mulheres anunnaki.

Aqui acreditamos estar a chave do enigma das regras de sucessão e outras ênfases na mãe. Foi por meio dela que uma "dose de qualificação" extra passava para o herói ou o herdeiro (fosse anunnaki ou um patriarca).

 

Aquilo não parecia fazer sentido mesmo depois da descoberta, em 1953, da estrutura de hélice dupla do DNA e da compreensão sobre como as duas metades se separavam, de forma que apenas uma delas viesse do pai e a outra, da mãe, tornando o filho uma combinação meio a meio entre a herança paterna e materna. De fato, essa descoberta confirmava a explicação dos semideuses, mas desafiava a afirmação de Gilgamesh sobre ser dois terços divino.

Apenas nos anos 80 tais afirmações começaram a fazer sentido. Veio com a descoberta de que, além do DNA guardado nas células tanto de homens quanto de mulheres das hélices duplas contidas nos cromossomos, formando o núcleo celular, havia outro tipo de DNA que flutuava na célula, fora do núcleo. Recebeu a denominação de DNA mitocondrial (mtDNA) e descobriu-se que era transmitido apenas pela mãe no estado em que se encontrava, ou seja, sem se partir nem recombinar com o do pai.

Em outras palavras, se a mãe de Gilgamesh era uma deusa, então ele também herdara tanto o DNA regular dela quanto o mitocondrial, tornando-se assim dois terços divino.

Foi a descoberta dessa existência e a transmissão do DNA mitocondrial que permitiram aos cientistas, a partir de 1986, traçar uma retrospectiva desde os humanos modernos até uma "Eva" que viveu na África há 250.000 anos.

No início, os cientistas acreditavam que a única função do DNA mitocondrial era servir como "usina de força" para a célula, produzindo a energia necessária para a miríade de reações químicas e biológicas. Porém descobriu-se que esse DNA era feito de mitocôndrias contendo 37 genes em círculo fechado, como uma pulseira; tal "pulseira genética" continha cerca de 16.000 pares de bases do alfabeto genético (por comparação, cada um dos cromossomos do núcleo celular, herdados metade de cada parte do casal, contém por volta de 100.000 genes e agrega mais de 3 bilhões de pares de bases).

Levou mais uma década para se compreender que problemas na formação ou no funcionamento do DNA mitocondrial podem causar doenças debilitantes no corpo humano, especialmente no sistema nervoso, coração, musculatura, ossos e rins. Nos anos 90, os pesquisadores descobriram que defeitos ("mutações") no mtDNA também alteram a produção de treze proteínas importantes, resultando em várias doenças graves. Uma lista publicada em 1997 no Scientific American começa com o mal de Alzheimer e continua com uma variedade de alterações na visão, audição, sistema muscular, medula óssea, coração, rins e cérebro.

Essas doenças genéticas se juntam a uma lista maior de disfunções e moléstias que defeitos no DNA nuclear podem causar. À medida que os cientistas decifram e compreendem o genoma humano - o código genético completo - (uma façanha que só recentemente foi conseguida para uma bactéria simples), o funcionamento de cada gene (e o outro lado da moeda, o problema causado pela ausência dele) está se tornando conhecido pouco a pouco. Pelo fato de não produzir uma determinada proteína, ou enzima, ou outro composto, o gene regulando esse aspecto pode produzir câncer de mama, obstruir a formação de ossos, causar surdez, perda de visão, problemas no coração, ganho ou perda excessiva de peso, e assim por diante.

O interessante a esse respeito é que encontramos uma lista de defeitos genéticos à medida que lemos os textos sumérios sobre a criação do Trabalhador Primitivo por Enki, com o auxílio de Ninmah. A experiência de combinar as linhagens de DNA dos hominídeos com as dos anunnaki, para criar um novo ser híbrido, era um processo de tentativa e erro, e os seres produzidos inicialmente muitas vezes não possuíam alguns órgãos ou membros - ou os tinham em excesso. O sacerdote babilônico Beroso, que no III século a.C. compilou para os gregos a história e a sabedoria dos sumérios primitivos, descreve os resultados falhos dos criadores do homem, afirmando que alguns dos seres "tentativa-e-erro" possuíam duas cabeças num só corpo. Tais "monstros" de fato foram desenhados pelos sumérios, assim como outra anomalia - um ser com apenas uma cabeça, mas dois rostos, chamado Usmu. Foi especificamente mencionado nos textos um ser que não conseguia segurar sua urina, e uma variedade de outros funcionamentos deficientes, incluindo visão e olhos defeituosos, mãos que tremem, problemas de fígado e coração e doenças da idade. Um texto chamado Enki e Ninmah: A Criação da Humanidade, além de listar outras disfunções (mãos rígidas, pés paralisados, sêmen gotejante), também mostrava Enki como um deus caridoso, que, em vez de destruir tais seres deformados, encontrava uma vida útil para eles.

Assim, quando um homem saía com a vista defeituosa, por exemplo, Enki lhe ensinava uma arte na qual a visão não fosse essencial - a arte de cantar e tocar a lira, por exemplo.

O texto afirma que, para todos, Enki decretava essa ou aquela Sina. Depois, então, desafiou Ninmah a experimentar ela mesma a engenharia genética. Os resultados se mostraram terríveis: os seres que ela criou possuíam a boca em lugar errado, cabeça alterada, olhos inchados, pescoço com dores, costelas sem firmeza, pulmões defeituosos, coração com problemas, incapacidade de os intestinos funcionarem, mãos curtas demais para alcançar a boca, e assim por diante. Mas à medida que as tentativas e erros prosseguiam, Ninmah conseguiu corrigir os vários defeitos. Na verdade, ela atingiu um ponto no qual ficou tão conhecedora dos genomas de anunnakis e humanos que se vangloriava de poder fazer o novo ser tão perfeito ou imperfeito quanto desejasse:

 

Quão bom ou ruim é o corpo de um homem?

Conforme meu coração aconselha,

eu posso fazer sua sorte boa ou ruim.

 

Também nós atingimos agora um estágio em que podemos inserir ou trocar um determinado gene, cujo papel descobrimos, e tentar prevenir ou curar um doença ou limitação. Na verdade, uma nova indústria, a biotecnologia, surgiu, com um potencial aparentemente ilimitado na medicina (e no mercado de ações). Chegamos a praticar o que chamamos de engenharia genética a transferência de genes entre espécies diferentes, uma tarefa realizada porque toda a vida deste planeta, desde a bactéria mais simples até o ser mais complexo (homem), todos os organismos que rastejam, voam, nadam e crescem, são fruto do mesmo material genético - os mesmos ácidos nucléicos que formam a "semente" trazida ao nosso Sistema Solar por Nibiru.

Nossos genes são, na verdade, nossa ligação cósmica.

 

Os avanços na genética se realizam em duas linhas paralelas, porém relacionadas. Uma é a investigação do genoma humano, a fabricação total de um ser humano; isso envolve um código que, embora escrito com apenas quatro letras (A-G-C-T, as iniciais dos nomes dados aos quatro ácidos nucléicos que formam todo o DNA), é feito de inúmeras combinações dessas letras, que formam "palavras" que se combinam em "sentenças" e "parágrafos", para completar por fim o "livro da vida". A outra rota de pesquisa é determinar a função de cada gene; uma tarefa ainda mais desafiadora, facilitada pelo fato de que o mesmo gene ("palavra genética") pode ser encontrado numa criatura simples (como uma bactéria primitiva ou um rato de laboratório) e essa função pode ser experimentalmente determinada, e é virtualmente verdadeiro que o mesmo gene em seres humanos teria as mesmas funções (ou uma ausência das mesmas funções). A descoberta dos genes relativos à obesidade, por exemplo, foi conseguida dessa forma.

O objetivo principal dessa busca pela causa, e, assim, a cura, se desdobra em duas partes: encontrar os genes que controlam a fisiologia do corpo e aqueles que controlam as funções neurológicas do cérebro. Encontrar os genes que controlam o processo do envelhecimento, o relógio celular interno - os genes da longevidade - e os que controlam a memória, o raciocínio, a inteligência. Experiências com ratos de laboratório por um lado e com gêmeos humanos de outro, além de muitos tipos entre esses dois, indicam a existência de genes e grupos de genes que fazem os dois. Quão tediosa e enganadora pode ser essa pesquisa é ilustrado pela conclusão da busca de um "gene da inteligência" comparando gêmeos; os pesquisadores concluíram que devem existir pelo menos 10.000 "locais genéticos" ou "palavras genéticas" responsáveis pela inteligência e pelas doenças cognitivas, cada um desempenhando um pequeno papel por si.

Em vista de tamanha complexidade, seria de desejar que os cientistas modernos se aproveitassem de um mapa fornecido pelos - sim! - pelos sumérios. Os admiráveis avanços em astronomia continuam corroborando a cosmogonia dos sumérios e os dados científicos fornecidos na Epopéia da Criação: a existência de outros sistemas solares, órbitas altamente elípticas, retrógradas, catastrofismo, água nos planetas exteriores... Além de explicações tais como por que Urano orbita "deitado", a origem do Cinturão de Asteróides e da Lua, a cavidade da Terra de um lado, enquanto os continentes estão do outro. Tudo isso é explicado pela sofisticada narrativa científica da Batalha Celestial.

Então, por que não levar a sério, como um mapa cientificamente acurado, a outra parte da narrativa da criação dos sumérios - a da criação de O Adão?

Os textos sumérios nos informam em primeiro lugar que a "semente da vida"- o alfabeto genético - foi transmitida para a Terra por Nibiru durante a Batalha Celestial, há cerca de 4 bilhões de anos. Se o processo evolucionário em Nibiru começou há mero um por cento desse tempo antes que eles viessem para a Terra, ainda assim a evolução lá teve início 40 milhões de anos antes de iniciar na Terra. Dessa forma, é perfeitamente plausível que esses avançados super-humanos, os anunnaki, fossem capazes de realizar viagens espaciais há meio milhão de anos. Também é plausível que, quando tivessem vindo aqui, encontrassem na Terra seres de inteligência paralela, ainda no estágio hominídeo.

Porém, vinda da mesma "semente", a manipulação transgênica era possível, como Enki descobriu e sugeriu: "O ser que procuramos já existe! Só precisamos colocar nossa marca [genética] nele".

É preciso presumir que a essa altura os anunnaki estivessem conscientes do genoma completo dos habitantes de Nibiru, e fossem capazes de determinar o mesmo no genoma dos hominídeos. Que características exatamente teriam Enki e Ninmah escolhido transferir dos anunnaki para os hominídeos? Tanto os textos sumérios quanto os versículos bíblicos indicam que os primeiros humanos possuíam um pouco da longevidade anunnaki (mas não toda), o casal criador deixou deliberadamente de colocar em O Adão o gene da imortalidade (como a enorme longevidade dos anunnaki, que combinava com o período orbital de Nibiru). Por outro lado, que defeitos permaneceram escondidos nas profundezas do genoma recombinado de O Adão?

Acreditamos com sinceridade que, se cientistas qualificados estudassem em detalhes os dados ocultos nos textos sumérios, poderiam obter valiosas informações biogenéticas e médicas. Um caso impressionante é o da deficiência chamada de Síndrome de Williams, cuja freqüência é de quase um caso para 20.000 nascimentos, sendo que suas vítimas possuem um QI muito baixo, beirando o de retardados mentais; ao mesmo tempo, porém, excelem em algum campo artístico. Uma pesquisa recente descobriu que esses "idiotas sábios", como às vezes são descritos, são assim devido a uma falha no cromossomo 7, privando a pessoa de cerca de quinze genes. Um dos efeitos mais comuns é a incapacidade de que o cérebro reconheça o que os olhos enxergam - diminuição de visão -, acompanhada com grande freqüência por um incrível talento musical. Esse é exatamente o caso gravado no texto sumério do homem com visão comprometida a quem Enki ensinou a cantar e a tocar música.

Como O Adão, a princípio, não podia procriar (exigindo que os anunnaki participassem com a clonagem), concluímos que, nesse estágio, o híbrido possuía apenas os 22 cromossomos básicos. Os tipos de doenças, deficiências (e curas) que a moderna biomedicina espera encontrar nesses cromossomos são os tipos listados nos textos de Enki e Ninmah.

A manipulação seguinte (ecoa na Bíblia na história de Adão e Eva no Jardim do Éden) foi a garantia da capacidade de procriar - a adição do cromossomo X (feminino) e do cromossomo Y (masculino) aos 22 básicos. Ao contrário das crenças antigas de que esses dois cromossomos não possuem outras funções que não determinar o sexo, pesquisas recentes revelaram que eles desempenham funções mais amplas e diversas. Por algum motivo isso surpreendeu os cientistas, em particular no que se referia ao cromossomo Y (masculino). Estudos publicados no final de 1997 sob o título de "Coerência Funcional do Cromossomo Y Humano" receberam grandes manchetes na imprensa, tais como "Cromossomo Masculino Não É Desperdício Genético, Afinal" (New York Times, 28 de outubro de 1997). (Tais descobertas tiveram como bônus inesperado a conclusão de que Adão e Eva vieram do sudeste da África).

Onde foi que Enki - o Nachash - obteve os cromossomos X e Y? E qual a fonte de DNA mitocondrial? Existem nos textos sumérios, sugestões no sentido de que Ninki, a esposa de Enki, desempenhou um papel importante no estágio final da criação humana. Seria ela, decidiu Enki, quem daria o toque final, mais uma herança genética:

 

A Sorte do recém-nascido

tu pronunciarás;

Ninki iria ali fixar

a imagem dos deuses.

 

As palavras ecoam a afirmação bíblica "à Sua imagem e semelhança Elohim criou Adão". Na realidade, foi a esposa de Enki, Ninki, mãe de Marduk, a fonte do DNA mitocondrial de "Eva". A importância dada à linhagem irmã-esposa começa a fazer sentido; constituía-se em mais um elo para as origens do homem cósmico.

Os textos sumérios afirmam que os deuses conservaram a "Vida Eterna" para si mesmos, e deram ao homem "Sabedoria", uma série extra de genes da inteligência. Acreditamos ser essa contribuição genética adicional o assunto que os estudiosos chamam de A Lenda de Adapa.

Claramente identificado no texto como "Filho de Eridu", o "centro de cultura" de Ea/Enki, em Edin, foi também chamado de "filho de Ea" - um resultado, assim como sugerem outros trechos de dados, do próprio Ea/Enki, por uma mulher que não era sua esposa. Pela natureza de sua linhagem, assim como por ação deliberada, Adapa foi lembrado por muitas gerações como o mais sábio dos homens e foi apelidado de o Sábio de Eridu:

 

Naqueles dias, naqueles anos,

Ea criou o Sábio de Eridu

como modelo para os homens.

Aperfeiçoou uma vasta compreensão para ele,

revelando os segredos da Terra.

A ele foi dada Sabedoria;

Vida Eterna não recebeu.

 

Esse embate entre Sorte e Destino nos leva ao momento quando o Homo sapiens sapiens surgiu; Adapa, também sendo filho de deuses, pediu imortalidade. Como recordamos da época de Gilgamesh, ela podia ser obtida subindo para os céus na direção das habitações dos anunnaki; foi o que Ea/Enki disse a Adapa. Sem se dar por vencido, Adapa pediu e recebeu o "mapa" para chegar ao local. "Ele fez com que Adapa partisse para o céu, e para lá ele ascendeu". Enki forneceu as instruções corretas sobre como se aproximar do trono de Anu; porém explicações erradas sobre como comportar-se quando lhe oferecessem o Pão da Vida e a Água da Vida. Se você os aceitar e partilhar, disse Enki, certamente morrerá! Assim, enganado pelo próprio pai, Adapa recusou a comida e as águas dos deuses e terminou sujeito ao destino mortal.

Porém Adapa aceitou uma roupa que lhe foi trazida e envolveu-se nela. Também aceitou o óleo que lhe deram, ungindo-se com ele. Portanto Anu declarou que Adapa seria iniciado na sabedoria secreta dos deuses. Mostrou a ele o espaço celeste, "do horizonte ao zênite do céu". Seria permitido que retornasse são e salvo a Eridu, e lá fosse iniciado pela deusa Ninkarrak nos segredos das "doenças que estavam destinadas à humanidade, as doenças que recaíam sobre os corpos dos mortais", e aprenderia a curar tais males.

Seria relevante aqui recordar as afirmações bíblicas por parte de Javé aos israelitas no sopé do monte Sinai. Vagando sem água por três dias, atingiram um ponto onde as águas não eram potáveis. Deus apontou para Moisés uma determinada árvore e mandou que a jogasse nas águas, que se tornaram potáveis. E Javé disse aos israelitas: "Se obedecerdes às minhas ordens, não imporei sobre vocês as doenças do Egito. Eu, Javé, serei vosso curador" (Êxodo 15:26). A promessa de Javé de agir como curador do povo escolhido é repetida em Êxodo 23:25, em que é feita uma referência específica a uma mulher que não podia ter filhos. (Essa promessa em particular foi mantida em relação a Sara e a outras heroínas das narrativas bíblicas).

Como estamos lidando com uma entidade divina, é seguro presumir que estamos lidando aqui também com cura genética. O incidente com os nefilim, que às vésperas do Dilúvio descobriram que as "filhas de O Adão" eram compatíveis o suficiente para que tivessem filhos juntos, também envolvia genética.

Teria sido tal conhecimento de genética, para propósitos de cura, revelado a Adapa ou a outros iniciados ou semideuses? Se assim foi - como? Como poderia o complexo código genético ser ensinado aos habitantes da Terra naquela época "primitiva"?

Para obter a resposta, acreditamos, temos de procurar entre letras e números.

 

SABEDORIA SECRETA, TEXTOS SAGRADOS

A ciência - a compreensão do funcionamento dos céus e da Terra - era posse dos deuses; assim as pessoas acreditavam, sem sombra de dúvida. Era um segredo dos deuses a ser escondido da Humanidade, ou revelado, de tempos em tempos e apenas parcialmente a indivíduos selecionados - iniciados nos segredos divinos.

"Tudo o que sabemos nos foi ensinado pelos deuses", afirmavam os sumérios em seus escritos; nisso estão os fundamentos, ao longo dos milênios e em nossos próprios tempos, da Ciência e Religião, do revelado e do oculto.

Em primeiro lugar havia a Sabedoria Secreta; o que foi revelado quando a Humanidade recebeu o Entendimento tornou-se Sabedoria Sagrada, o alicerce das civilizações e avanço humanos. Quanto aos segredos que os deuses guardaram, no final provaram ser os mais devastadores para a espécie humana. É preciso também considerar a busca infindável pelo que está oculto, algumas vezes sob a bandeira do misticismo, que não deriva do desejo de conseguir o divino, e sim de um medo da Sorte que os deuses - em seus conclaves secretos ou códigos ocultos - reservaram para a Humanidade.

Uma parte dessa sabedoria foi ou pôde ser revelada aos homens quando a Sabedoria e o Entendimento foram recuperados pelo desafio de Deus a Jó em relação ao que ele não sabia (mas Deus sabia). "Diz se tiver ciência", disse o Senhor a Jó, que sofria:

 

Quem mediu a Terra,

que se saiba?

Quem esticou uma corda sobre ela?

Em que plataforma foi erguida?

Quem lançou a pedra fundamental?

 

De onde veio a Sabedoria?

Qual o lugar da Inteligência?

Escondida está aos olhos

de todos os seres viventes.

 

Deus entende os caminhos,

Ele mesmo conhece o lugar.

Porque vê as extremidades do mundo,

vê tudo debaixo do céu.

 

Com tais palavras, o Senhor da Bíblia desafia Jó (no capítulo 28) para que pare de questionar sobre sua Sorte ou sobre o propósito principal; pois o conhecimento do homem - Sabedoria e Entendimento - fica tão longe do divino que não serve a nenhum propósito questionar ou tentar adivinhar os desígnios de Deus.

Esse tratamento antigo de Sabedoria e Inteligência (Entendimento) dos segredos do céu e da Terra - da ciência -, como domínio divino ao qual poucos humanos possuem acesso, encontrou expressão não apenas nos escritos canônicos, mas também no misticismo judeu, nos ensinamentos da Cabala. De acordo com eles, a Presença Divina, simbolizada pela Coroa de Deus, apóia-se nos dois penúltimos estágios, denominados Sabedoria (Hochma) e Entendimento (Binah). São os mesmos componentes da sabedoria científica em relação à qual Jó foi desafiado.

As referências à Hochma (Sabedoria) no Velho Testamento revelam que foi considerada um presente divino, porque o Senhor do Universo era o dono da Sabedoria necessária para criar o céu e a Terra. "Como são grandes Teus feitos, ó Senhor; com sabedoria os atastes", afirma o Salmo 104 enquanto descreve e louva, passo a passo, o trabalho do Criador. Quando o Senhor garante a Sabedoria a alguns humanos, afirma a Bíblia, ele na verdade partilha com eles sabedoria secreta em relação aos céus e à Terra, e a tudo o que está sobre a Terra. O Livro de Jó descreve tal sabedoria como "Segredos de Sabedoria" que não lhe tinham sido revelados.

Revelação, a partilha de sabedoria secreta com a humanidade por intermédio de iniciados escolhidos, começou antes do Dilúvio. Adapa, o filho de Enki a quem Sabedoria e Entendimento (mas não Vida Eterna) foram garantidos, conheceu por intermédio de Anu a extensão do céu, não como mera viagem excitante. Referências pós-diluvianas a ele lhe atribuíam a autoria de um trabalho conhecido como Escritos Relativos ao Tempo, Divino Anu e Divino Enlil - um tratado que lida com a passagem do tempo e o calendário. A História de Adapa, por outro lado, menciona especificamente que ele aprendeu, em Eridu, as artes da medicina e da cura. Assim, foi um cientista equilibrado, entendido tanto em assuntos celestes quanto terrestres: foi também ungido como o Sacerdote de Eridu - talvez o primeiro a combinar Ciência e Religião.

Os registros sumérios falam de outro Escolhido antediluviano, que foi iniciado nos segredos divinos ao ser levado à habitação divina dos anunnaki. Veio de Sippar ("Cidade dos Pássaros"), onde Utu/Shamash governava, e provavelmente era filho dele, um semideus. Conhecido nos textos como EN.ME.DUR.ANNA ou EN.MEDUR.AN.KI ("Mestre dos Divinos Tabletes que Falam do Céu" ou "Mestre dos Divinos Tabletes da Ligação Céu-Terra"), ele também foi receber sabedoria secreta fora da Terra. Seus patrocinadores e professores foram os deuses Utu/Shamash e Ishkur/ Adad.

 

Shamash e Adad o (vestiram? Ungiram?),

Shamash e Adad o colocaram num grande trono de ouro.

Mostraram a ele como observar óleo e água,

um segredo de Anu, Enlil e Ea.

 

Deram-lhe um tablete divino,

o Kibbu, um segredo do Céu e da Terra.

Colocaram em sua mão um instrumento de cedro,

favorito entre os grandes deuses.

Ensinaram-no a fazer cálculos com números.

 

Embora a História de Adapa não diga explicitamente, parece que lhe permitiram, senão exigiram, que partilhasse um pouco sua sabedoria secreta com seus companheiros humanos; por que outro motivo ele escreveria o renomado livro? No caso de Enmeduranki, a transmissão dos segredos aprendidos também foi ordenada porém com a restrição que se limitasse à linhagem dos sacerdotes,de pai para filho, começando com Enmeduranki:

 

O sábio que aprendeu

e guarda os segredos dos grandes deuses

comprometerá seu próprio filho com um juramento

perante Shamash e Adad.

Pelo Tablete Divino, com um estilo,

Irá instruí-lo nos segredos dos deuses.

 

O tablete no qual esse texto foi inscrito (atualmente guardado no Museu Britânico) possui um pós-escrito: "Assim foi criada a linhagem de sacerdotes, aqueles que podem aproximar-se de Shamash e Adad".

A Bíblia também guardou a ascensão do patriarca antediluviano Enoch - o sétimo dos dez listados, assim como Enmeduranki na lista de reis sumérios. Dessa extraordinária experiência, a Bíblia apenas aponta que, com a idade de 365 anos, Enoch foi levado para estar com Deus. Felizmente o apócrifo Livro de Enoch, passado ao longo dos milênios e sobrevivendo em duas versões, providenciou muito mais detalhes; quanto é originalmente antigo e quanto era especulação quando os livros foram compilados, no início da Era Cristã, não se pode dizer. Mas o conteúdo vale a pena ser sumariado, mesmo que não seja por outro motivo que a história de Enmeduranki, e por causa de uma narrativa breve em outro livro extrabíblico, o Livro dos Jubileus.

Dessas fontes emerge o fato de que Enoch não fez uma, mas duas jornadas celestiais. Na primeira vez em que ele aprendeu os Segredos do Céu, foi instruído para transmitir a sabedoria aos seus filhos em seu retorno à Terra. Ao ascender em direção à Habitação Divina, foi levado através de uma série de esferas celestiais. Do lugar no Sétimo Céu ele podia enxergar a forma dos planetas; no Oitavo Céu ele conseguia discernir as constelações. O Nono Céu era a "Casa dos Doze Signos do Zodíaco", e o Décimo Céu era o Divino Trono de Deus.

(Deve ser notado aqui que a habitação de Anu, segundo os textos sumérios, era em Nibiru, que já identificamos como planeta de nosso Sistema Solar. Na crença da Cabala, o caminho para a habitação de Deus passa através de dez sefirot, traduzidos como "brilhos", porém na verdade representados como dez esferas concêntricas, sendo a central denominada Yessod ("Fundação"), a oitava e a nona, Binah e Hochma ("Entendimento e Sabedoria"), e a décima e mais elevada, Ketter, a Coroa do Altíssimo. Além disso estende-se Ein Soff ("o Infinito").

Acompanhado de dois anjos, Enoch finalmente chegou a seu destino final, a Habitação de Deus. Suas vestes terrestres foram removidas; ele foi vestido com roupas divinas e ungido pelos anjos (como foi feito com Adapa). Por ordem do Senhor, o arcanjo Pravuel ditou os "livros do armazém divino" e deu a Enoch um estilo para que anotasse o que seria ditado. Por trinta dias e trinta noites Pravuel ditou e Enoch escreveu" os segredos dos trabalhos dos céus, da Terra e dos mares; e de todos os elementos, suas idas e vindas e o trovejar dos trovões; e [os segredos] do Sol e da Lua, e as mudanças dos planetas; as estações do ano e os anos, dias e horas... e todas as coisas dos homens, as línguas de cada canção humana... e todas as coisas que vale a pena aprender".

Segundo o Livro de Enoch, toda essa vasta sabedoria, "segredos de Anjos e Deus", foi anotada em 360 livros sagrados, quando Enoch os levou de volta à Terra. Enoch chamou seus filhos, mostrou-lhes os livros e explicou o conteúdo a eles. Ainda falava e ensinava quando sobreveio uma grande escuridão e o devolveu aos céus; eram precisamente o dia e hora de seu 365º. aniversário. A Bíblia (Gênesis 5:23-24) afirma simplesmente: "E todos os dias de Enoch foram 365; e Enoch caminhou com Deus, e cessou de ser, pois foi levado por Elohim".

Uma importante similaridade entre as três histórias (Adapa, Enmduranki e Enoch) é o envolvimento de dois seres divinos na experiência celestial. Adapa foi recepcionado no Portão de Anu, e acompanhado para entrar e para sair pelos dois jovens deuses Dumuzi e Gizida; os professores/patronos de Enmeduranki foram Shamash e Adad; Enoch foi levado por dois arcanjos. As histórias sem dúvida foram inspiração para uma representação assíria do portão celestial, guardado por dois homens-águia. O portão ostenta o símbolo de Nibiru; o disco alado e a localização celestial são indicados pelos símbolos celestiais da Terra (como sétimo planeta), a Lua e o completo Sistema Solar.

Outro aspecto que chama a atenção - embora não explicitamente no caso de Enoch - é a tradição de que a cessão da Sabedoria e do Entendimento tornava o indivíduo escolhido não apenas um cientista, mas também um sacerdote, e, além disso, progenitor de uma linhagem sacerdotal. Encontramos esse princípio representado no deserto do Sinai durante o Êxodo, quando Javé, o Deus bíblico, escolhe Aarão (irmão de Moisés) e seus filhos para serem sacerdotes (Êxodo 28:1). Já diferenciados por pertencer à tribo de Levi, tanto por parte de pai como de mãe (Êxodo 2:1), Moisés e Aarão foram iniciados em poderes mágicos que os capacitaram a realizar milagres, assim como a deflagrar as calamidades destinadas a convencer o faraó de que o povo israelita devia partir. Aarão e seus filhos foram então santificados - "elevados", segundo nosso vocabulário atual - e se tornaram sacerdotes dotados de um lastro respeitável de Sabedoria e Entendimento. O Levítico lança uma luz em uma parte da sabedoria que foi transmitida para Aarão e seus filhos. Incluía segredos do calendário (bastante complexo, já que era um calendário lunar-solar), de doenças e curas, tanto de humanos como de animais. Uma quantidade considerável de informações anatômicas é incluída nos capítulos relevantes do Levítico, e a possibilidade de que os sacerdotes israelitas recebessem aulas "à parte" não pode ser deixada de lado em vista de que modelos de partes anatômicas feitos em cerâmica, com instruções médicas gravadas, eram comuns na Babilônia mesmo antes da época do Êxodo.

(A Bíblia descreve o rei Salomão como o mais "sábio dos homens", que podia falar sobre a biodiversidade de todas as plantas, "desde os cedros do Líbano até o hissopo que cresce numa parede, de animais, pássaros, coisas rastejantes e peixes". Podia fazer isso porque além de Sabedoria e Entendimento, dados por Deus, ele adquirira Da'ath - o equilíbrio do conhecimento aprendido.)

A linhagem sacerdotal se iniciou com Aarão, que se sujeitou a várias leis impondo restrições matrimoniais e de procriação. Com quem eles podiam ter relações conjugais e, sobretudo, com quem poderiam casar para que "a semente sacerdotal não fosse profanada"; e se a semente de alguém fosse imperfeita - "tivesse uma imperfeição", uma mutação, um defeito genético -, então aquele homem estava proibido, por todas as gerações, de realizar deveres sacerdotais, "pois eu, Javé, santifiquei a linhagem sacerdotal" de Aarão.

Tais restrições intrigaram centenas de estudiosos da Bíblia; porém o verdadeiro significado tornou-se evidente com o advento das pesquisas sobre DNA. Foi apenas em janeiro de 1997, na revista Nature, que um grupo internacional de cientistas anunciou a existência de um "Gene Sacerdotal" entre os judeus, cuja linhagem podia ser seguida até Aarão. A tradição judaica requer até hoje que no Sabat e nos Dias Santos os serviços devam ser realizados por um Cohen. Este termo, que significa "sacerdote", foi usado pela primeira vez na Bíblia para descrever Aarão e seus filhos. Desde então, a designação tem passado de pais para filhos ao longo das gerações, e a única forma de ser um Cohen é nascer de um pai Cohen. Esse status privilegiado tem sido confundido pelo uso de Cohen como sobrenome (alterado também para Kahn, Kahane, Kuhn) ou como adjetivo acrescentado ao nome, ou como título: Ha-Cohen, "O sacerdote".

Foi esse aspecto da natureza patriarcal da tradição Cohen dos judeus que intrigou um grupo de pesquisadores de Israel, da Inglaterra, do Canadá e dos Estados Unidos. Focalizando-se no cromossomo Y, passado de pai para filho, testaram centenas de "Cohens" em vários países e descobriram a existência óbvia de dois marcadores únicos no cromossomo. Isso provou ser verdadeiro tanto para os asquenazes (do Leste europeu) quanto para os sefarditas (Oriente Médio/ África), judeus que se espalharam depois da destruição do Templo pelos romanos em 70 d.C. indicando a antiguidade dos marcadores genéticos.

 

"A explicação mais simples e direta é que esses homens possuem o cromossomo Y de Aarão", afirma o Dr. Karl Skorecki, do Instituto Israelita de Tecnologia, em Haifa [Israel].

 

As histórias daqueles que foram iniciados na sabedoria secreta testemunham que a informação foi escrita em "livros". Estes, na certa, não eram o que atualmente chamamos de "livros" - páginas escritas e presas juntas. Os muitos textos descobertos nas cavernas próximas ao mar Morto, em Israel, são chamados de Manuscritos do Mar Morto, pois eram textos inscritos em folhas de pergaminho (em sua maior parte elaborados em couro de cabra) costurados juntos para formar rolos, na forma em que os Rolos da Lei (os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica) são feitos e enrolados até hoje. Os profetas bíblicos (especialmente Ezequiel) mencionavam rolos como parte das mensagens divinas recebidas. Os antigos textos egípcios eram elaborados em papiros - folhas feitas de plantas aquáticas que crescem à beira do Nilo; e os textos mais antigos que se conhecem foram inscritos em tabletes de argila; usando um estilo de junco ou bambu, o escriba fazia marcas numa argila ainda molhada, que, depois de seca, tornava o tablete um documento.

Em que forma teriam sido os "livros" escritos por Adapa, Enmeduranki e Enoch (este último com 360 deles!)? Levando em conta que teriam sido elaborados antes do Dilúvio - milhares de anos antes da civilização suméria -, provavelmente em nenhuma das formas pós-diluvianas - embora o rei assírio Assurbanipal se jactasse de poder ler "escrita de antes da Enchente". Desde que a cada instância o que se escreveu foi ditado pelo Senhor divino, seria lógico imaginar que a escrita teria sido no que alguns textos sumérios e acadianos chamam de Kitab Ilani - "escrita dos deuses". Referências a tais escritos feitos pelos anunnaki podem ser encontradas, por exemplo, em inscrições que lidam com a reconstrução de templos caídos, nas quais é afirmado que a reconstrução fora baseada em desenhos dos tempos antigos e na escrita do "Céu Superior". Os sumérios mencionavam uma deusa, Nisaba (algumas vezes chamada Nidaba), como protetora dos escribas e dos que mantinham os registros para os deuses; seu símbolo era o Estilo Sagrado.

Uma das referências aos escritos dos deuses na época primitiva é encontrada num texto hitita duplicado por estudiosos, chamado A Música de Ullikummis. Escrito em tabletes de cera descobertos na antiga capital hitita de Hatusas (perto da atual aldeia de Boghaskoy, na Turquia central), relata a história intrigante de um "vigoroso deus feito de minério de diorito" que um antigo deus, a quem os hititas chamavam de Kumarbis, inventara para desafiar outros deuses. Os deuses desafiados, incapazes de enfrentar ou suplantar o desafiante Ullikummis, apresentavam-se na habitação de Enki, no Mundo Inferior, para obter dele os "antigos tabletes com as palavras da sorte". Porém quando o "antigo depósito" foi aberto, e depois foram removidos os "selos de antanho" com os quais os tabletes foram lacrados, descobriu-se que os escritos tinham sido redigidos na "escrita antiga", sendo necessários os Velhos Deuses para interpretá-los.

No Egito, era Tot o venerado como o Escriba Divino. Foi ele quem, depois do Conselho dos Deuses, resolveu reconhecer Hórus como herdeiro legítimo, inscreveu num tablete de metal o Decreto dos Deuses, e o tablete então foi colocado na "Divina Câmara das Gravações". Além das gravações para uso divino, os egípcios também acreditavam que Tot escrevia livros para instruir os mortais. O Livro dos Mortos, afirmavam eles, era uma composição escrita por Tot "com os próprios dedos". E nas Histórias dos Mágicos, ao qual já nos referimos anteriormente, era contado que o vivo mas inanimado rei e a rainha a quem Tot punira guardavam, na câmara subterrânea, "o livro que o deus Tot escrevera com a própria mão" e no qual revelava a sabedoria secreta referente ao Sistema Solar, à astronomia e ao calendário. Quando quem buscava tais conhecimentos penetrava na câmara subterrânea, via o livro "emitindo uma luz forte como se o Sol brilhasse ali no interior".

O que eram esses "livros divinos" e que tipo de escrita se podia encontrar neles?

O nome-epíteto de Enmeduranna, "Mestre dos Divinos Tabletes Concernentes ao Céu", chama atenção para o termo ME no nome, traduzido aqui como "Tabletes Divinos". Na verdade, ninguém sabia o que eram esses tabletes, se eram verdadeiros tabletes ou algo mais parecido com chips de memória de computador ou com disquetes. Eram objetos pequenos o suficiente para serem segurados com uma mão, pois foi dito que Inana/Ishtar, procurando elevar sua cidade Uruk até o status de capital, obteve de forma ardilosa de Enki trechos de ME que estavam codificados com segredos de Supremo Domínio, Realeza, Sacerdócio e outros aspectos de uma civilização avançada. E lembramos que o maldoso Zu roubou de Duranki os Tabletes dos Destinos e os ME que estavam codificados com as Fórmulas Divinas. Talvez possamos entender o que queriam se examinarmos a tecnologia alguns milênios à frente.

Colocando de lado a questão dos próprios escritos do deus e a conservação dos dados para propósitos próprios, a questão sobre que linguagem e que sistema de escrita estavam usando na ocasião em que a sabedoria secreta foi ditada aos habitantes da Terra se torna de grande significado quando chegamos à Bíblia - e sobretudo em relação aos eventos no monte Sinai.

Em paralelo à história de Enoch, que permaneceu em sua habitação celestial "trinta dias e trinta noites" fazendo um ditado, foi o relato bíblico de Moisés, que, tendo subido em direção ao Senhor Deus no topo do monte Sinai, "ficou com Javé quarenta dias e quarenta noites - "pão não foi consumido e água não foi bebida", enquanto escrevia nas tábuas as palavras do Pacto de Aliança e dos Dez Mandamentos que Deus ditava (Êxodo 34:28).

Aqueles, na verdade, foram o segundo conjunto de tabletes, substituindo o primeiro que Moisés atirara, num acesso de ira, quando descera do monte Sinai numa ocasião anterior. A Bíblia fornece intrigantes detalhes com relação à primeira apresentação dos textos sagrados; naquela oportunidade, afirma a Bíblia explicitamente, Deus em pessoa fez as inscrições!

A história começa no capítulo 24 do livro do Êxodo, quando Moisés, Aarão e dois de seus filhos, além de setenta dos Anciãos de Israel, foram convidados para aproximar-se do pico do monte Sinai, onde o Senhor aterrissara em sua Kabod. Lá, os dignitários perceberam a presença divina como uma densa nuvem, cegante como um "fogo devorador". Depois Moisés sozinho foi chamado ao topo para receber a Torá ("Os Ensinamentos") e os Mandamentos que o Senhor Deus já escrevera:

 

E Javé disse a Moisés:

Sobe ao alto do monte onde estou

e fica aí,

e te darei umas tábuas de pedra -

a Lei e os Mandamentos -

que eu escrevi,

para que instruas neles o povo.

 

Êxodo 24: 12

 

"E Moisés entrou no meio da nuvem e escalou o monte; ficou lá quarenta dias e quarenta noites." Depois:

 

Tendo Javé acabado de falar dessa forma no monte Sinai,

deu a Moisés as duas Tábuas do Testemunho -

feitas de pedra,

e escritas pelo dedo de Elohim.

 

Êxodo 31:17

 

Informações surpreendentes em relação às Tábuas e à maneira como foram escritas aparecem em Êxodo 32:16-17, descrevendo os eventos que aconteceram enquanto Moisés descia do monte, depois de uma longa e (para o povo) inexplicável ausência:

 

Regressou Moisés pois do topo do monte,

trazendo em sua mão as duas Tábuas do Testemunho -

inscritas em ambos os lados,

inscritas de um dos lados e do outro lado.

E as Tábuas eram obras de Deus,

E as tábuas eram o trabalho de Elohim,

como o era a escritura,

assim como era a caligrafia de Elohim

que estava gravada nelas.

 

Êxodo 32:15

 

Duas tábuas feitas de pedra, divinamente trabalhadas. Inscritas na frente e no verso na "escrita de Elohim" - o que deve significar tanto linguagem como escrita; e gravada na pedra pelo próprio Deus!

E tudo numa linguagem e num contexto em que Moisés podia ler e entender, já que precisava ensinar a todos os israelitas...

Como sabemos pelo restante do relato bíblico, Moisés arrebentou as duas tábuas quando, alcançando o acampamento, viu que em sua ausência o povo construíra um bezerro de ouro para ser adorado segundo os costumes egípcios. Quando a crise terminou:

 

Depois disse Javé a Moisés:

Corta duas tábuas de pedra,

que sejam iguais às primeiras,

e eu escreverei nelas

as palavras que estavam nas tábuas

que tu quebraste.

 

Êxodo 34:1

 

E assim fez Moisés, e subiu ao monte outra vez. Lá, Javé veio na direção dele, e Moisés se curvou e repetiu os pedidos para que desculpasse o povo. Em resposta, o Senhor Deus ditou a ele mandamentos adicionais, dizendo: "Escreve estas palavras, porque de acordo com elas fiz uma Aliança contigo e com o povo de Israel". E Moisés ficou no monte quarenta dias e quarenta noites, gravando nas tábuas "as palavras da Aliança e os Dez Mandamentos" (Êxodo 35:27-28). Dessa vez, Moisés estava escrevendo o que lhe era ditado.

Não apenas as seções do Êxodo, Levítico e Deuteronômio gravavam os Ensinamentos e Mandamentos; mas todos os cinco primeiros livros da Torá (os já citados mais Gênesis e Números) tiveram a intenção, desde o início, de ser escritos sagrados. Reunidos sob o termo geral Torá, também são conhecidos como Os Cinco Livros de Moisés, por causa da tradição que o próprio Moisés escreveu ou foi autor dos cinco como revelações divinas a ele.

Portanto os rolos da Torá que são retirados de suas arcas durante os Sabat e Dias Santos devem ser copiados (por escribas especiais) precisamente da forma que foram revelados ao longo das eras - livro a livro, capítulo a capítulo, versículo a versículo, palavra a palavra, letra a letra. Um erro de uma letra invalida o rolo inteiro.

Embora essa precisão letra a letra tenha sido estudada pelos sábios judeus e estudiosos bíblicos ao longo do tempo (muito antes do recente interesse pelos "códigos secretos" da Torá), existe um aspecto desafiador do ditado longo e da precisão letra a letra que tem sido completamente ignorado:

Tal método de escrita do monte Sinai não poderia ter sido a lenta escrita cuneiforme da Mesopotâmia, geralmente gravada com um estilo em argila molhada, nem o método hieroglífico pictórico para monumentos utilizado no Egito Antigo. O volume da escrita e a precisão letra a letra exigiam uma escrita alfabética!

O problema é que na época do Êxodo, por volta de 1450 a.C. a escrita alfabética não existia em nenhum lugar no mundo antigo.

 

O conceito de alfabeto é um trabalho de gênio; quem quer que tenha sido esse gênio, ele baseou-se em conhecimentos existentes. A escrita hieroglífica do Egito avançou de sinais pictográficos, que mostravam objetos, para sinais que representavam sílabas ou mesmo consoantes; porém permanecia um sistema complexo de inumeráveis sinais pictográficos. Os sumérios avançaram de seus primeiros sinais pictográficos para cuneiformes, e esses sinais adquiriram um som silábico; mas, para formar com eles um vocabulário, eram necessárias centenas de sinais diferentes. O gênio que combinou a facilidade cuneiforme com os avanços egípcios para consoantes conseguiu fazer isso com apenas 22 sinais!

Começando com aquilo, o engenhoso inventor perguntou a si mesmo, bem como a seu discípulo: qual a palavra para o que você vê? A resposta, na linguagem dos israelitas semíticos, foi Aluf. Muito bem, disse o inventor, vamos chamar esse símbolo de Aleph e pronunciar simplesmente "A". Em seguida, desenhou o pictograma para casa. Como chama a este? Perguntou ele, e o discípulo respondeu: Bayit. Muito bem, respondeu o inventor, daqui para a frente vamos chamar esse sinal de "Beth" e pronunciar simplesmente como "B".

 

Não podemos jurar que uma conversa assim tenha realmente acontecido, mas estamos certos de que foi esse o processo de criação e invenção do alfabeto. A terceira letra, Gimel (pronunciado "G"), era a imagem de um camelo (Gamal em hebraico); a seguinte, Daleth, que é o "D", representando Deleth, "porta" (em seus gonzos), e assim por diante por meio das 22 letras do alfabeto semítico, todas servindo de consoantes e três delas que podiam dobrar funções como vogais.

Quem foi esse gênio inovador?

 

Se formos aceitar a opinião corrente, terá sido algum trabalhador braçal, um escravo em alguma mina egípcia de turquesas no Sinai ocidental, próxima do mar Vermelho, porque foi ali que sir Flinders Petrie encontrou, em 1905, sinais desenhados nas paredes, que uma década mais tarde sir Alan Gardiner decifrou como "acrofônicas" (Relativas à acrofonia, sistema gráfico antigo, evolução da escrita hieroglífica, que consistia em atribuir ao desenho ou ao ideograma de um objeto o valor fonético da letra ou da sílaba inicial do nome desse objeto) - soletrando L-B-A-L-T; significava dedicado "à Senhora" (presumivelmente a deusa Hátor) - porém em semítico, não em egípcio! Escritos posteriores descobertos na área não deixaram dúvidas de que o alfabeto se originou lá; de lá, espalhou-se por Canaã e depois para a Fenícia (onde uma tentativa de expressar a engenhosa idéia com sinais cuneiformes não durou muito).

Executada com maestria, a "escrita do Sinai" serviu como escrita do Templo de Jerusalém e como escrita real dos reis judeus, até ser substituída, durante a época do Segundo Templo, por uma escrita quadrada emprestada dos aramaicos (a escrita usada nos Manuscritos do Mar Morto até os tempos modernos).

Ninguém ficou confortável com a atribuição da revolucionária inovação, no final da Idade do Bronze, a um escravo em minas de turquesa. Seria necessário um conhecimento extraordinário de fala, escrita e lingüística, sem mencionar a Sabedoria e o Entendimento, que dificilmente poderiam ser reunidas num simples escravo. E qual seria o propósito de inventar uma nova escrita quando, nas mesmas áreas de mineração, monumentos e paredes estavam repletos de inscrições hieroglíficas egípcias? Como podia uma inovação obscura numa área restrita a Canaã e pouco além substituir um método de escrita que vinha servindo bem havia dois milênios? Simplesmente não fazia sentido; porém na ausência de outra solução, essa teoria ainda resiste.

Mas, se imaginamos direito a conversa que conduziu a esse alfabeto, então teria sido Moisés a receber a primeira lição. Ele se encontrava no Sinai; estava lá na época certa; empenhou-se em escrever longamente; e teve o professor supremo - o próprio Deus.

 

Pouca atenção recebeu nas narrativas bíblicas o fato de que Moisés foi instruído por Javé a escrever as coisas mesmo antes de subir ao monte Sinai para receber as Tábuas. A primeira vez foi antes da guerra com os amalecitas, uma tribo que, em vez de agir como aliada, traiu os israelitas e os atacou. Aquela traição, afirmou Deus, devia ser lembrada por todas as gerações futuras: "E Javé disse a Moisés: Escreve isso num livro para servir de lembrança" (Êxodo 17:14). A segunda menção de um livro para lembrar-se ocorre em Êxodo 24:4 e 24:7, em que se afirma que o Senhor Deus, falando numa voz retumbante do alto do monte, enumerou as condições para uma Aliança eterna entre Ele e os Filhos de Israel: "Escreveu Moisés todas as palavras de Javé, e erigiu um altar no sopé do monte e doze pilares de pedra, conforme era o número das tribos de Israel". E, então, "ele pegou o livro no qual estava registrada a aliança e leu-o para o povo ouvir".

O ditado e as anotações, portanto, iniciaram-se antes que Moisés subisse ao alto da montanha para obter as tábuas escritas por duas vezes. É preciso examinar os primeiros capítulos do Êxodo para descobrir quando (e como foram as primeiras inovações alfabéticas) - a linguagem e os escritos empregados na comunicação entre o Senhor e Moisés - podiam ter ocorrido. Lá, ficamos sabendo que Moisés, adotado como filho pela filha do faraó, fugiu para salvar sua vida quando matou um oficial egípcio. Seu destino foi a península do Sinai, onde terminou se relacionando com o sumo sacerdote midianita (e casando com sua filha). E um dia, pastoreando, penetrou no deserto onde ficava o "monte de Elohim" e lá ele foi chamado por Deus, de uma sarça ardente, e recebeu a tarefa de liderar seu povo, os Filhos de Israel, para fora do Egito.

Moisés retornou ao Egito apenas depois da morte do faraó que o havia sentenciado (Tutmés III, pelos nossos cálculos), em 1450 a.C. e lutou com o faraó seguinte (Amenófis II, em nossa opinião) por sete anos até que o Êxodo fosse permitido. Tendo começado a ouvir sobre o Senhor Deus ainda no deserto, depois durante os sete anos, teve bastante tempo para inovar e dominar uma nova forma de escrita, uma que fosse mais simples e muito mais rápida do que a dos grandes impérios daquela época mesopotâmico, egípcio e hitita.

A Bíblia relata extensivas comunicações entre Javé, Moisés e Aarão desde o momento em que Moisés foi chamado para o arbusto flamejante. Se as mensagens divinas, às vezes envolvendo informações detalhadas, foram escritas ou não escritas, a Bíblia não afirma; parece significativo, porém, que os mágicos da corte do faraó acreditavam ser instruções escritas: "Então disseram os mágicos ao faraó: o dedo de Deus é o que obra aqui" (Êxodo 8:19). Lembramos que "O dedo de Deus era o termo usado no Egito para referir-se ao deus Tot, para indicar uma escrita pelo próprio Deus".

Se tudo isso leva à sugestão de que a escrita alfabética começou na península do Sinai - não deveria ser surpreendente que os arqueólogos tenham chegado à mesma conclusão, porém sem ter como explicar tal inovação tremenda e ingênua surgindo no meio do deserto.

Será que a conversa que imaginamos realmente se realizou, ou Moisés inventou o alfabeto por si mesmo? Afinal de contas, ele estava na península do Sinai naquela época, possuía a educação primorosa da corte do Egito (onde a correspondência com a Mesopotâmia e os hititas continuava) e sem dúvida aprendera a linguagem semita dos midianitas (se já não a conhecia por parte dos israelitas no Egito). Será que ele, nas perambulações pela península do Sinai, encontrou escravos semitas (israelitas escravizados pelos egípcios) esboçarem rudemente nas paredes das minas sua idéia de uma nova forma de escrita?

Seria bom atribuir a brilhante inovação a Moisés agindo sozinho; seria gratificante creditar ao líder bíblico do Êxodo, o único que conversara pessoalmente com Deus, segundo a Bíblia, a invenção do alfabeto e a revolução cultural deflagrada. Porém as repetidas referências à Escrita Divina, o próprio Deus escrevendo e Moisés apenas anotando, sugerem que a escrita alfabética e o sistema de linguagem falada e escrita eram um dos "segredos dos deuses". Sem dúvida, era o mesmo Javé ao qual a Bíblia atribuía a invenção/inovação de outras linguagens e escritas numa ocasião anterior - logo depois do episódio da Torre de Babel.

 

De uma forma ou de outra, sentimos que Moisés era o iniciado por meio do qual a inovação foi revelada à Humanidade. Assim podemos chamar de Alfabeto Mosaico.

 

Existe mais ainda sobre o primeiro alfabeto do que um mero "segredo dos deuses". Em nossa opinião, é baseado numa tecnologia mais sofisticada e importante - aquela do código genético.

 

Quando os gregos adotaram o alfabeto mosaico, mil anos depois (embora revertendo-o numa imagem espelhada), acharam necessário adicionar mais letras para cobrir todas as necessidades de pronúncia. Na verdade, dentro dos limites das 22 letras do alfabeto mosaico-semita, algumas letras são pronunciadas de forma "suave" (V, Kh, S, Th) ou "forte" (B, K, SH, T); e outras letras ainda dobram como vogais.

Na verdade, se contemplarmos esse número 22 - nem mais nem menos -, não podemos evitar de nos lembrar da restrição aplicada ao número sagrado 12 (requerendo a adição ou abandono de divindades a fim de manter o "Círculo Olímpico" em precisamente doze). Tal princípio oculto - divinamente inspirado - se aplica à redução do alfabeto original para 22 letras?

O número devia ser familiar naquela época. É o número de cromossomos humanos quando O Adão foi criado, antes da segunda manipulação genética, que adicionou os cromos somos sexuais "Y" e "X"!

Teria o Todo-Poderoso revelado a Moisés o segredo do alfabeto, usando o código genético como código secreto do alfabeto?

A resposta parece ser afirmativa.

Se essa conclusão se afigura estranha, vamos examinar a afirmação do Senhor em Isaías 45:11: "Fui eu quem criou as letras... Eu é que fiz a Terra e quem sobre ela criou o Homem", assim falou Javé, o Santo de Israel. Quem quer que estivesse envolvido na criação do Homem estava envolvido na criação das letras que formavam o alfabeto.

Os sistemas atuais de computadores para construir palavras e números a partir de apenas duas "letras", um sistema Sim-Não de zeros e uns combinando-se com um fluxo liga-desliga de elétrons (por isso chamado binário). Mas a atenção já se transferiu para o código genético de quatro letras e para a velocidade muito maior com a qual as mudanças se efetuam no interior da célula viva. Conceitualmente, a atual linguagem de computadores, expressa numa seqüência do tipo 0100110011110011000010100 etc. (e em incontáveis variações usando "O" e "I"), pode ser encarada como a linguagem genética de um fragmento de DNA, expressa como uma seqüência de nucleotídeos CGTAGAATTCTGCGAACCTT, e assim por diante numa corrente de ligações de letras do DNA (são sempre agrupadas em "palavras" de três letras) - A se liga com T, C liga-se com G. O problema e o desafio é como criar e ler chips de computador recobertos não por "0" e "1", mas por partículas de material genético. Avanços desde 1991 em várias instituições acadêmicas, assim como em empresas comerciais envolvidas em tratamento genético, tiveram sucesso em criar chips de silício recoberto com nucleotídeos. Ao avaliar a velocidade e as capacidades do computador de DNA, afirma uma pesquisa publicada em Science (outubro de 1997): "A capacidade de armazenamento de informação do DNA é enorme".

Na natureza, a informação genética codificada no DNA é decodificada, à velocidade da luz, por um mensageiro chamado RNA, que transcreve e combina as "letras" do DNA em "palavras" de três letras. Já foi estabelecido que esses agrupamentos de três letras encontram-se no cerne de toda a vida na Terra, porque soletram química e biologicamente os vinte e dois aminoácidos cujas cadeias formam as proteínas das quais toda a vida na Terra - e provavelmente em todos os outros lugares do cosmos - se forma.

O hebraico, uma linguagem rica e precisa, é baseado em "palavras-raízes", das quais derivam verbos, substantivos, advérbios, adjetivos, pronomes, tempos verbais, conjugações e todas as formas gramaticais. Por motivos que ninguém sabe explicar, essas "palavras-raízes" são constituídas de três letras. Essa é uma diferenciação do acadiano, a língua-mãe de todas as línguas semitas, que são formadas por sílabas - algumas vezes apenas uma, e em outras, duas, três ou mais.

 

O motivo para as palavras-raízes de três letras no hebraico poderia ser a linguagem de três letras no DNA - a fonte, conforme concluímos, do próprio alfabeto? Se assim for, então as palavras-raízes de três letras corroboram essa conclusão.

 

"A vida e a morte estão na linguagem", afirma a Bíblia em Provérbios (18:21). Essa afirmação tem sido tratada alegoricamente. Talvez seja hora de encará-la literalmente: a linguagem da Bíblia Hebraica e do código genético do DNA da vida (e da morte) não seria senão dois lados da mesma moeda.

Os mistérios codificados nesse interior são mais vastos do que se pode imaginar; incluem, entre outras descobertas maravilhosas, os segredos da cura.

 

CÓDIGOS OCULTOS, NÚMEROS MÍSTICOS

Foi provavelmente inevitável que, com o advento da moderna era dos computadores, alguns mestres dirigissem suas capacidades para um objetivo novo e inédito: a procura de um "código secreto" na Bíblia.

Apesar de ter sido apresentado em artigos científicos e até mesmo em livros como o auge da sofisticação moderna, a verdade é que essa busca está sendo renovada com ferramentas novas e avançadas, porém não é nova.

A Bíblia Hebraica consiste em três partes: a Torá (Ensinamentos), que engloba o Pentateuco (os Cinco Livros de Moisés) e, histórica e cronologicamente, vai desde a Criação até as andanças do Êxodo e a morte de Moisés; Neviyim (Profetas), que engloba os livros de Josué e Juízes, Samuel, Provérbios e Jó - historicamente desde o acampamento israelita em Canaã através da destruição do Primeiro Templo de Jerusalém; e Ketuvim (Escritos), começando com o Cântico dos Cânticos através dos livros atribuídos aos dois líderes que chefiaram os exilados de volta à Judéia para reconstruir o Templo (Esdras e Neemias) e terminando com Crônicas I e II. Juntas, as três partes são chamadas pelo acrônimo TaNaKh; e já na época dos Profetas foram feitas referências interpretativas à primeira parte, a Torá.

Discussões entre sábios judeus e líderes religiosos pretendiam "ler nas entrelinhas" as palavras da Torá, depois de Profetas, e isso se intensificou durante o exílio após a destruição (pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor) do Primeiro Templo e mais ainda depois da destruição do Segundo Templo (pelos romanos). O registro dessas considerações é o Talmude (O Estudo). O misticismo hebraico, conhecido como a Cabala, assumiu e intensificou essa busca por significados ocultos.

Esses significados ocultos existem realmente, atesta a própria Bíblia. A chave era o alfabeto, 22 letras.

Um dispositivo codificador simples, com o qual até crianças em idade escolar brincam, é a substituição de letras. Os sábios da Cabala na Idade Média usaram uma ferramenta de busca que consistia num sistema chamado A TBSh, no qual a última letra, Tav ("T"), é substituída pela primeira letra, Aleph ("A"); a penúltima, Shin ("Sh"), pela segunda, Beth ("B"), e assim por diante. O cabalista Abraham ben Jechiel Hacohen ilustrou o sistema e forneceu a chave para ele num livro publicado em 1788.

Porém, na verdade, tal sistema de códigos foi usado pelo profeta Jeremias (século VII a.C.), o qual, profetizando a queda do Império Babilônico, substituiu a grafia B-B-L (Babel) pelas letras Sh-Sh-Kh para evitar ser preso (Jeremias 25:26 e 51:42). O Livro das Lamentações, atribuído ao profeta Jeremias, no qual a queda e a destruição de Jerusalém são choradas, emprega outro código oculto, chamado de Acróstico, em que a primeira (algumas vezes a última) palavra de um verso forma uma palavra ou um nome, ou (no caso de Jeremias) revela a identidade das letras sagradas do alfabeto. A primeira palavra no primeiro verso começa com um Aleph, o segundo verso começa com um Beth, e assim por diante até o vigésimo segundo verso. O mesmo acróstico é repetido pelo profeta no segundo capítulo; depois cada letra começa dois versos no terceiro capítulo, revertendo a um no quarto. O Salmo 119 é construído com acrósticos óctuplos!

A autenticidade de certos versos nos Salmos pode ser verificada ao reparar que cada verso possui duas partes, cada uma delas começando em ordem alfabética (por exemplo, o Salmo 145); o mesmo recurso é usado no arranjo dos versos de Provérbios 31. No Salmo 145, além disso, os três versos (11, 12, 13) que louvam a realeza de Javé começam com as letras Kh-L-M, que, ao contrário, são lidas MeLeKh, "Rei" em hebraico.

O uso de acrósticos como código oculto, evidente em outros livros da Bíblia, é encontrado em livros pós-bíblicos também (alguns incluídos no arranjo cristão do Velho Testamento). Um exemplo famoso vem da época da revolta contra o domínio grego no século II a.C. A revolta leva o nome de seus líderes, os macabeus, nome que, na verdade, é um acrônimo baseado no verso do Cântico de Moisés (Êxodo 15:11) - "Quem dentre os heróis é semelhante a Ti, Javé?" -; as primeiras letras das quatro palavras hebraicas formam o acrônimo M-K-B-I, pronunciado Macabi.

Depois da destruição do Segundo Templo pelos romanos, no ano 70 d.C. o principal esteio religioso e espiritual para os judeus foram as Escrituras Sagradas - o tesouro das palavras divinas e proféticas. Estaria tudo predeterminado? Tudo previsto? E quanto ao que viria pela frente? As chaves para o passado e para o futuro podiam estar ocultas nas escrituras sagradas, canonizadas não apenas pelo conteúdo como por cada palavra e cada letra. Essa procura por significados ocultos obscurecidos por códigos secretos se tornou conhecida depois da destruição do Templo como "penetrar na cova proibida", sendo a palavra para "cova" - PaRDeS - um acróstico criado com as primeiras letras de quatro métodos para extrair a mensagem das Escrituras: Peshat (significado literal), Remez (sugestão), Drash (interpretação) e Sod (segredo). Uma história do Talmude pretende ilustrar os riscos de lidar prematuramente com o que deve permanecer oculto, ao revelar o que ocorreu com quatro rabinos que entraram em Pardes; um deles "olhou e morreu", outro enlouqueceu, um terceiro ficou violento e começou a "arrancar as plantas pela raiz"; apenas um, o rabino Akiba, saiu inteiro.

Essa procura de significados ocultos foi resumida na época medieval pelos cabalistas e seus acólitos. Como seriam as escrituras examinadas pelo código ATBSh? E se fosse possível ordenar as letras de outra forma? E se uma palavra tivesse sido incluída apenas para ocultar o sentido verdadeiro, porém deveria ser retirada para transmitir o texto original? Com esse método, por exemplo, seria possível provar que o Salmo 92 (Um Cântico para o Dia de Sabat) fora composto por Moisés no Sinai, e não pelo rei Davi. Em outra instância foi afirmado que o grande sábio judeu Maimônides (Espanha e Egito, século XII), era mencionado no livro do Êxodo, onde as primeiras letras das últimas quatro palavras no verso 11:9 criavam o acrônimo R-M-B-M, combinando o acrônimo resultante do nome completo de Maimônides, Rabino Moisés Ben Maimón (explicando a referência a ele como Rambam).

Contudo os sábios medievais se perguntaram se a busca precisava limitar-se apenas às primeiras ou últimas letras das palavras, ao início ou final dos versos. O que aconteceria se alguém procurasse sentidos ocultos saltando letras? Cada segunda, cada quarta, cada quadragésima segunda? Era inevitável que, com o advento dos computadores, alguém aplicasse essa tecnologia para realizar a busca metódica de um "código" baseado no espaço entre as letras. A última centelha de interesse no assunto de fato resultou de tal aplicação das técnicas de computação por vários cientistas israelenses: foi publicado, em agosto de 1994, no prestigioso periódico Statistical Science, por Doron Witzum, Eliyahu Rips e Yoav Rosenberg, um artigo intitulado: "Seqüências de Letras Eqüidistantes no Livro do Gênesis".

Análises, revisões e livros (O Código da Bíblia, de Michael Drosnin, e A Verdade por Trás do Código da Bíblia, de Jeffrey Satinover) lidam, em essência, com uma premissa básica. Se você listar todas as 304.805 letras do Pentateuco em seqüência e arrumá-las em "blocos" que segmentem essas letras em seções consistindo em um determinado número de linhas, cada linha contendo certo número de letras, e depois escolher um método de saltar as letras, determinadas letras formarão palavras que, inacreditavelmente, mostram previsões para a nossa época e para todas as épocas, tais como a previsão do assassinato do primeiro-ministro Rabin, de Israel, ou a descoberta da Teoria da Relatividade por Albert Einstein.

Entretanto, para conseguir essas alegadas "previsões" de eventos futuros em textos escritos milhares de anos atrás, os pesquisadores tiveram de atribuir regras arbitrárias e alteráveis para ler as "palavras do código". As letras formando as predições acabavam muitas vezes próximas umas das outras, algumas vezes espaçadas (com o espaço variando e flexível), algumas vezes se liam verticalmente, algumas vezes de forma horizontal, ou de trás para a frente, ou de baixo para cima...

 

Tais arbitrariedades em selecionar a extensão e número de linhas, a direção da leitura, saltar ou não algumas letras, e assim por diante prejudica um pouco a aceitação sem críticas dos não iniciados sobre basear-se unicamente nas letras da Bíblia; e fazer isso sem examinar a questão de o texto do Pentateuco ser precisamente o original, divinamente transmitido, letra a letra. Afirmamos isso por saber que desvios menores (exemplo: determinadas palavras com ou sem uma letra representando a vogal) ocorreram de fato, e também por ser nossa crença (afirmada em Encontros Divinos) de que existia uma letra a mais, um Aleph, no início do Gênesis. Colocadas à parte as implicações teológicas, a conseqüência imediata é a distorção da contagem das letras.

Apesar disso, a decodificação de palavras ou significados ocultos nos textos bíblicos deve ser aceita como uma possibilidade séria, não apenas pelos exemplos citados acima, mas também por outras razões importantes.

A primeira delas é que codificações e escritas cifradas foram descobertas em textos não hebreus na Mesopotâmia, tanto na Babilônia quanto na Assíria. Incluem textos que começam ou terminam com o alerta de que são secretos, para serem mostrados apenas aos iniciados (ou não serem expostos a olhos não-iniciados), sob pena de morte nas mãos dos deuses. Tais textos algumas vezes empregam métodos de codificação decifráveis (tais como acrônimos), outras vezes permanecem um enigma. Entre os primeiros, existe um hino do rei assírio Assurbanipal em louvor ao deus Marduk e à esposa de Marduk, Zarpanit. Nele, são utilizados os sinais silábicos cuneiformes no início das linhas para passar uma mensagem ao deus Marduk. Além do método de acrônimos, o rei empregou um segundo método de codificação: as sílabas que formavam a mensagem secreta começavam na linha 1, pulavam a linha 2, continuavam na linha 3, pulavam a linha 4, e assim por diante, até a linha 9. Daí em diante a mensagem saltava duas linhas por vez, retornando a uma na linha 26, retomando o espaço duplo na linha 36, depois voltando ao esquema inicial até o final do documento (inclusive o lado de trás).

Nesse código duplo, o rei assírio passava a seguinte mensagem ao deus (fornecemos a transcrição horizontal, embora a mensagem fosse lida verticalmente, de cima para baixo):

 

A-na-ku Ah-shur-ba-an-ni-ap-li

Eu sou Assurbanipal

Sha il-shu bu-ul-li-ta- ni-shu-ma Ma-ra-du-uk

Quem chamou a seu deus me deu a vida Marduk [e]

Da-li-le-ka lu-ud-lu

Louvo a vós

 

A descoberta de uma inscrição por um tal Shaggilkinamubbib, sacerdote do templo de Marduk na Babilônia, indica não apenas a acessibilidade do sacerdócio a tais códigos mas também levanta questões em relação à sua antiguidade. Naquele acrônimo (no qual existe um salto de onze linhas entre as sílabas codificadas), o nome do autor é claramente expresso. Tanto quanto se saiba, um sacerdote com esse nome serviu no templo de Esagil na Babilônia por volta de 1400 a.C. Isso iria datar o conceito de criptografia para a época do Êxodo. Como a maior parte dos estudiosos acha essa data muito remota para digerir, prefere datá-la no VIII século a.C.

Um método bastante diferente foi utilizado pelo rei assírio Esarhaddon, pai de Assurbanipal. Numa estela (conhecida pelos estudiosos como a Pedra Negra de Esarhaddon, atualmente no Museu Britânico, que comemorava uma invasão histórica realizada por ele no Egito, afirmava que lançara uma campanha militar não apenas com a bênção dos deuses, mas também sob a égide celestial das sete constelações que "determinam as sortes" - uma referência às constelações zodiacais. Na inscrição (localizada na lateral da pedra), ele afirmava que os sinais cuneiformes que davam nome às constelações "estão na semelhança da grafia do meu nome, Asshur-Ah-Iddin" (Asarhaddon ou Esarhaddon).

Como funcionava exatamente esse código não fica claro; porém, pode-se perceber o significado oculto mencionado pelo rei na mesma inscrição. Lidando com a restauração do templo de Marduk, na Babilônia, que o rei assírio assumiu como uma forma de ser também aceito como rei da Babilônia, ele lembra que Marduk, zangado com os babilônios, decretou que a cidade e seu templo deveriam permanecer em ruínas por setenta anos. Esarhaddon conta que "Marduk escreveu no Livro das Sortes". Entretanto respondeu aos apelos de Esarhaddon.

 

O misericordioso Marduk,

em um momento em que seu coração se agradou,

virou a tábua de cabeça para baixo

e, no décimo primeiro ano,

aprovou a restauração.

 

O que poderia ser deduzido ao observar esse oráculo oculto é que o ato do deus representou uma manipulação dos números - com os símbolos, também cuneiformes que representavam os números. No sistema sumério sexagesimal (de base 60), o símbolo para 1 podia significar tanto 1 como 60, dependendo da posição. O sinal para 10 era um símbolo que parecia uma divisa militar. O que Esarhaddon afirmou foi que o deus apanhou o Livro das Sortes, no qual o período do decreto era de 70 anos e o virou de cabeça para baixo, de forma que os caracteres cuneiformes representassem 11.

A associação entre mensagens ocultas e significados secretos não apenas com palavras, mas com numerais e números chamava ainda mais atenção nos escritos de Sargão II, o avô de Assurbanipal. Durante seu reinado (721-705 a.C.), ele fundou uma nova capital administrativo-militar ao lado de uma vila cerca de 32 km a nordeste da antiga capital real e centro religioso, Nínive. Seu nome assírio era Sharru-kin (Rei Justo) e batizou a nova cidade de Dur Sharrukin (Forte Sargão - um sítio arqueológico agora conhecido como Khorsabad). Na inscrição que comemora essa ocasião, escreveu que o sólido muro construído ao redor da cidade tinha o comprimento de 16.283 cúbitos, "que é o número do meu nome".

Tal uso de números para codificar palavras-sílabas aparece num texto conhecido como Exaltação a Ishtar, em que o autor assina seu nome não com letras, mas com números:

 

21-35-35-26-41

filho de 21-11-20-42

 

A chave para tais codificações numéricas permanece não-decifrada. Mas temos razões para crer que esses métodos de codificação mesopotâmicos eram conhecidos dos profetas hebreus.

Uma das passagens mais difíceis na Bíblia é a profecia de Isaías sobre o tempo da Retribuição, quando "uma grande trombeta será assoprada, e voltarão todos os que se perderam nas terras da Assíria e aqueles que se perderam nas terras do Egito, e serão submetidos a Javé na Montanha Sagrada em Jerusalém" Nesse tempo, Isaías profetizou, a confusão reinará e as pessoas perguntarão umas para as outras "quem terá o entendimento" da mensagem que de alguma forma foi alterada para ocultar o significado:

 

Porque manda e torna a mandar,

manda e torna a mandar;

espera e torna a esperar,

espera e torna a esperar -

Um pouco aí, um pouco aí;

porque em outra linguagem de lábio

e em língua estranha ele falará a este povo.

 

Isaías 28:10-11

 

Ninguém na verdade entendeu como "manda e torna a mandar" e "espera e torna a esperar" pode resultar em "língua estranha" e "outra linguagem". As palavras hebraicas eram Tzav (ordem) e Kav (fila) e em mais de uma tradução moderna apareceram como "lei" e "regra" respectivamente (The New American Bible), "preceito" e "murmúrio" (Tanakh, as Escrituras Sagradas) ou mesmo" gritos agudos" e "berros primais" (!) (The New English Bible).

Que linguagem pode ser confusa, ou seus sinais escritos assumirem um significado diferente, alterando a ordem e a espera, aqui e ali? É nossa sugestão que o que o profeta Isaías - contemporâneo de Sargão II e Senaqueribe - mencionava era a escrita cuneiforme dos assírios e babilônios!

Naturalmente não se tratava de uma linguagem desconhecida; porém, como o verso citado sobre os estados, as mensagens que trazia não poderiam ser compreendidas porque haviam sido codificadas de Kav a Kav, alterando uma linha aqui e outra linha lá, portanto alterando a "ordem" do que a mensagem dizia. A Tzav alterada sugere métodos de codificação (como o A/T-B/Sh) usando a ordem alterada das letras.

A solução sugerida para o enigma dos versos 28:10-11 pode servir para explicar as descrições subseqüentes pelo profeta (29:10-12) da inabilidade de qualquer um compreender os escritos porque "as palavras do livro se tornaram para você como um livro selado". A última palavra, hatoom, geralmente é traduzida como "selada", mas no uso bíblico possui a conotação de "oculto", um segredo. Era um termo empregado no mesmo sentido em que os mesopotâmicos guardavam escritos dos olhos dos não iniciados. Assim foi empregada no profético Cântico de Moisés (Deuteronômio 32:34), em que Deus afirma que as coisas que estão por vir "estão guardadas e seladas em meus tesouros". O termo também é usado no sentido de "oculto" ou "tornado secreto" em Isaías 8:17, e mais ainda no Livro de Daniel e no simbolismo das coisas que virão ao Final das Coisas.

Isaías, cujas profecias estavam ligadas à área internacional e à codificação de mensagens reais em seu tempo, talvez tenha revelado a "pista" para a existência de um "Código Bíblico". Três vezes ele corrigiu a palavra Ototh (sinais) para parecer Otioth - plural de Oth, que significa tanto "sinal" quanto "letra", combinando o significado de letras em sua profecia.

Já mencionamos a referência de Isaías a Javé como criador das Letras (do alfabeto). No verso 45:11 o profeta, louvando a unidade de Javé, afirma que foi Javé quem "dispôs nas letras tudo aquilo que virá a passar-se". E que tal disposição estaria codificada parece ser a forma para entender o enigmático verso 41:23. Descrevendo como as pessoas desconcertadas na Terra irão procurar adivinhar o futuro pelo passado, Isaías as menciona quando implora a Deus:

 

Diga-nos as letras de trás para a frente!

 

Em que a palavra Ototh teria significado: "Diga-nos os sinais desde o início das coisas". Porém o profeta escolheu - três vezes - escrever Otioth, "letras". O pedido claro é poder entender o plano divino enxergando as letras de trás para a frente, como num código, no qual as letras foram reordenadas.

Mas, como os exemplos da Mesopotâmia indicam, os acrósticos são um dispositivo simples demais, e o verdadeiro código - ainda não decifrado, no caso de Sargão II - apoiava-se no valor numérico dos caracteres cuneiformes. Já mencionamos o "segredo dos deuses" em relação ao número de classificação deles - números que algumas vezes eram escritos ou evocados em lugar dos nomes. Outros tabletes nos quais a terminologia dos sumérios ficou retida, mesmo em textos acadianos (muitos permanecendo obscuros por quebra das peças), apontam para o uso claro de numerologia como código secreto, sobretudo quando os deuses estavam envolvidos.

 

Não é de admirar que, quando as letras do alfabeto hebraico recebessem valores numéricos, tais valores desempenhassem um valor maior na codificação e decodificação de sabedoria secreta do que como letras. Quando os gregos adotaram o alfabeto, retiveram a prática de atribuir valores numéricos às letras; e é pelos gregos que a arte e as regras para interpretação das letras, palavras ou grupos de palavras [conferindo um valor numérico convencionado a cada letra] recebem o nome de gematria.

Começando na época do Segundo Templo, a gematria numerológica se torna uma ferramenta nas mãos dos estudiosos, assim como os gnósticos pesquisam os versos e palavras bíblicas buscando números e informações ocultas, ou para traçar novas regras onde as bíblicas ficavam incompletas. Assim, quando um homem jurava ser um nazirita, o período não especificado de abstenção devia ser de 30 dias, porque a palavra que o definia YiHYeH (será) em Números, no capítulo 6, tem o valor numérico de 30. A confrontação de palavras e suas implicações com seus equivalentes numéricos abria possibilidades incontáveis de significados ocultos. Por exemplo, foi sugerido que Moisés e Jacó tiveram uma experiência divina similar, por causa de que a escada para o céu (Sulam em hebraico), que Jacó enxergou em sua visão noturna, e o monte (Sinai), no qual Moisés recebeu as Tábuas da Lei, possuíam o mesmo valor numérico, 130.

O emprego da numerologia e especialmente da gematria para detectar significados secretos atingiu novos níveis com o crescimento, durante a Idade Média, do misticismo judaico conhecido como Cabala. Naquelas buscas, uma atenção especial era dada a nomes divinos. Um dos mais importantes era o estudo do nome que o Senhor Deus forneceu a Moisés, YHWH. "Eu sou aquele que sou, Javé é meu nome" (Êxodo 3:14-15). Se forem simplesmente adicionadas, as quatro letras do nome divino (o tetragrama) totalizam 26 (10+5+6+5), porém sob métodos mais complexos advogados pelos cabalistas, nos quais os nomes soletrados das quatro letras (Yod, Hei, Wav, Hei) foram adicionados, o total perfaz 72. Os equivalentes numéricos desses números formam outras palavras cheias de significado.

(No início da cristandade, um ramo de Alexandria sustentava que o nome do ser supremo e criador primordial era Abraxas, a soma de cujas letras perfazia 365 - o número de dias num ano solar. Os membros da seita costumavam usar camafeus feitos de pedras semi-preciosas, ostentando a imagem e o nome do deus - freqüentemente IAW (abreviatura de Javé). Existem motivos para acreditar que Abraxas derive de Abresheet, "Pai/Progenitor do Começo", que propusemos como a primeira palavra completa, iniciando com" A", do Gênesis, em vez da atual Bresheet que faz o Gênesis iniciar com "B". Se o Gênesis realmente tivesse mais uma letra, a seqüência de códigos agora vigente teria de ser reexaminada.)

 

Quanto valor se pode ligar a códigos ou significados numéricos - um código inerente às próprias letras, e não um espaçamento arbitrário entre elas? Porque essas práticas eram utilizadas no tempo dos sumérios, válidas entre os acadianos e em todas as épocas, eram consideradas um "segredo dos deuses" que não devia ser revelado aos não iniciados, e por causa da ligação ao DNA, acreditamos que os códigos secretos eram numéricos!

 

Na verdade, uma das pistas mais óbvias (e, como numa história de detetive, a mais ignorada) é o próprio termo para "livro", SeFeR em hebraico. Ele deriva da raiz SFR, assim como a palavra para escritor/escriba (Sofer), contar (Lesapher), e história ou narrativa (Sippur), e assim por diante.

Porém a mesma raiz também se refere a tudo que se relaciona com números! Contar é Lisfor, numeral é Sifrah, número é Mispar, contagem é Sephirah. Em outras palavras, desde o instante em que a raiz hebraica de três letras surgiu, escrever com letras e contar com números foram considerados a mesma coisa.

Realmente, existem momentos na Bíblia Hebraica em que os significados "livro" e "número" são intercambiáveis, como em Crônicas I, 27:24, onde, lembrando um censo conduzido pelo rei Davi, a palavra "número" foi usada duas vezes na mesma sentença, uma para mostrar o número (de pessoas contadas), outra para mencionar o livro de registros de Davi.

Tal significado duplo, talvez triplo, desafiou os tradutores do verso 15 no salmo 71. Ao procurar a ajuda de Deus, embora não conhecesse todos os milagres do Senhor, o salmista jurou contar todos os feitos de salvação e justiça, "embora eu não conheça Sefuroth". A versão do rei James traduz a palavra como "números"; tradutores mais modernos preferem a conotação de "dizer", - "contar". Porém nessa forma incomum, o salmista incluiu um terceiro significado, o de "mistérios".

 

À medida que a época se tomava mais turbulenta na Judéia, com uma revolta (aquela dos macabeus contra o domínio grego) seguida por outra (contra a opressão dos romanos), a busca de mensagens de esperança - augúrios messiânicos - intensificou-se. A leitura de textos antigos para encontrar números codificados desenvolveu-se para o uso de números como códigos secretos. Um dos exemplos mais enigmáticos e melhores codificados passou para o Novo Testamento: o número de uma "besta" codificou-se como "666" no Apocalipse.

 

Aqui há Sabedoria;

quem tem Inteligência

calcule o número da besta.

Porque é Número de Homem;

e o número dele é 666.

 

Apocalipse 13: 18

 

A passagem trata de expectativas messiânicas, da queda do mal, e em seguida de uma Segunda Vinda, o retorno do Reino dos Céus para a Terra. Incontáveis tentativas foram feitas ao longo dos milênios para decifrar o código numeral de "666" e assim compreender a profecia. O número aparece claramente no manuscrito (grego) do livro cujo título completo é O Evangelho Segundo São João, que começa com a afirmação: "No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" e está repleto de referências numéricas. Usando os valores numéricos das letras gregas (que seguem de perto o sistema hebraico) e os métodos de gematria, foi sugerido que a ''besta'' era o cruel Império Romano, porque o valor numérico da palavra LATEINOS era 666. Outros sugeriram que o código numérico era relativo ao próprio imperador (Trajano), cujo nome do meio, ULPIOS, também resultava no número 666. Outra sugestão ainda era que o código era em hebraico, para Neron Qesar (Nero, o Imperador), cuja grafia hebraica era N-R-W-N + Q-S-R, que também somava 666; e assim por diante, numa variedade de gematrias que usavam adição direta ou métodos de triangulação.

A possibilidade de que o segredo codificado de "666" seja relacionado com o hebraico em vez do grego ou romano pode ser a chave para resolver finalmente o enigma. Descobrimos que 660, em hebraico, é o equivalente numérico de SeTeR - uma coisa escondida, um mistério oculto; foi empregado na Bíblia em ligação com os divinos Sabedoria e Entendimento, ocultos do homem. Para torná-la 666, a letra Wav (6) precisa ser adicionada, trocando o significado de "segredo" para "seu segredo" SiTRO, "sua coisa escondida". Alguns acham que essa conotação de "seu segredo" descreve uma "escuridão aquosa" onde a Batalha Celestial com Tiamat é recordada:

 

A Terra balançou e tremeu,

os alicerces das colinas se abalaram...

Saiu fumaça das narinas dele,

um fogo devorador de sua boca...

Ele tornou a escuridão seu segredo,

com uma escuridão molhada e nuvens celestiais cobertas.

 

Salmos 18:8-12

 

Existem referências repetidas na Bíblia àquela Batalha Celestial, que na Epopéia da Criação mesopotâmica ocorreu entre Nibiru/Marduk e Tiamat, e na Bíblia foi entre Javé, como Criador Primitivo, e Tehom, uma "profundeza molhada". Tehom/Tiamat era algumas vezes referido como Rahab, o "apressado", ou escrito com uma inversão das letras: RaBaH ("O grande") em vez de RaHaB. As palavras no salmo 18 ecoam uma afirmação bastante anterior no Deuteronômio 29:19, no qual os julgamentos de Javé "na última geração" são profetizados e descritos numa época em que "sairá fumaça das narinas" de Deus. Essa época de narração final muitas vezes é referida na Bíblia pelo advérbio Az - "então", naquele futuro em particular.

Se o autor do Apocalipse, como fica evidente, também tinha em mente aquele Az, aquele "então" na época da Última Geração, quando o Senhor há de aparecer como fez quando o Céu e a Terra foram criados, na época da batalha com Tehom Rabah (um termo usado em combinação em Amós 7:4, Salmos 36:7, Isaías 5:10), depois uma aproximação numérica ao enigma do "666" iria sugerir que o Apocalipse falava da Volta do Senhor Celestial num renascimento da Batalha Celestial: pois a soma total do valor numérico de Az + Tehom + Rabah é 666.

Tal tentativa, feita por nós para decodificar o número "666", reconvertendo-o em letras e depois procurando palavras contendo essas letras no Velho Testamento, não cobre todas as possibilidades. A transmutação de Abresheet em Abraxas (com um valor numérico de 365) como uma divindade suave, as referências bíblicas (citadas anteriormente) a códigos em escrita cuneiforme ao alterar as linhas dos sinais, assim como a referência à leitura de trás para a frente, assim como o emprego do A-T-B-Sh para esconder identidades de deuses estrangeiros, levantam a questão: até que ponto, sobretudo quando o destino dos hebreus misturou-se tanto ao de outros povos e seus deuses, as informações bíblicas codificadas escondiam mesmo dados secretos de escritos estrangeiros e seus panteões? Se as histórias da criação no Gênesis eram mesmo versões mais curtas dos segredos da criação no Enuma elish, e quanto àquelas partes secretas, reveladas a Enmeduranki, Adapa (e Enoch)?

Lemos no Gênesis que, quando o faraó promoveu José, que interpretava sonhos, a ministro, deu a ele um nome apropriado para um egípcio ocupando aquele alto cargo: Zofnat-Pa'aneach.

Enquanto os estudiosos tentaram reconstruir a escrita hieroglífica e o significado egípcio do nome-epíteto, o que se torna óbvio é que na realidade aquele era um nome codificado em hebraico, pois nessa língua significava claramente "O que resolve" (Pa'aneach) "coisas secretas/escondidas" (Zofnot).

Tais transfigurações de linguagem/letra/número reforçam a questão (e a possibilidade) - não apenas em relação ao motivo para o "666" - dos códigos incluírem alusões a outras divindades e panteões conhecidos na Antiguidade.

 

Um dos aspectos inexplicados do alfabeto hebraico é que cinco letras são escritas de forma diferente quando colocadas ao final da palavra. Se formos nos aventurar em Pardes, a "alcova proibida", e adotar a premissa de um código combinando números e letras, diríamos que, lendo ao contrário (da esquerda para a direita), a razão codificada para essas cinco letras é um "código secreto" (Zofen) de "60" (M+Kh), que é o número secreto de Anu!

Se for assim, é apenas uma coincidência que a primeira letra da palavra hebraica para "segredo" - SOD - ("S") possua o valor numérico "60", e ainda mais que o valor numérico da palavra inteira seja "70" - o número secreto da desolação decretada por Marduk (depois revertida por ele mesmo) para a cidade de Babilônia? Sobre o mesmo assunto, a afirmação (em Jeremias e outros lugares) de que a desolação de Jerusalém e seu Templo duraria os mesmos setenta anos - uma profecia - foi apresentada como revelação de um segredo, um Sod, de Deus?

É uma abordagem que aceita a possibilidade de que o Velho Testamento, assim como o Novo Testamento foram aproveitados para conter antigos segredos mesopotâmicos, que poderiam levar a uma nova solução possível para o enigma "666".

Uma das raras circunstâncias em que o número "6" foi revelado como classificação divina foi num tablete reconstruído por Alasdair Lvingstone em Mystical and Mythological Explanatory Works of Assyrian and Babylonian Scholars ("Trabalhos de Explicação Mística e Mitológica de Eruditos Assírios e Babilônicos"). O tablete reconstruído - que apresenta o aviso em relação aos segredos que contém - começa com 60 como o número do "deus preeminente, pai dos deuses" e depois, numa coluna separada, revela sua identidade: Anu. Seguido por Enlil (50), Ea/Enki (40), Sin (30) e Shamash (20). Nessa lista, Adad, "deus dos raios e trovões", corresponde a "6". À medida que a lista continua, encontramos o "600" como número secreto dos anunnaki.

O que emerge do tablete mesopotâmico em relação aos números secretos dos deuses pode muito bem ser a chave para resolver por fim o mistério do "666", examinando-o como um número codificado à moda suméria:

 

600 = Os anunnaki, "Aqueles que Vieram do Céu para a Terra".

60 = Anu, o governante supremo.

   6 = Adad, um dos deuses que ensinam técnicas.

____

666 = "Aqui está a Sabedoria", "Contada por ele, que possui Entendimento".

 

(A proximidade de Anu e Adad começou no II milênio a.C. e não encontrou apenas expressões textuais, mas também expressou-se no fato de possuírem templos em conjunto. Por incrível que pareça, a Bíblia também lista Anu e Adad um junto ao outro numa lista de deuses de "outras nações" - Reis II, 17:31).

Os números secretos dos deuses servem como pistas para decifrar o significado oculto em outros nomes divinos. Assim, quando o alfabeto foi concebido, a letra "M" - Mem, de Ma'yim, água, igualava-se aos pictogramas egípcio e acadiano da água (um pictograma de ondas), assim como a pronúncia nessas linguagens para "água". Teria sido apenas coincidência que o valor numérico para o "M" no alfabeto hebraico seja "40" - o número secreto de Ea/Enki, "cujo lar é a água", o protótipo de Aquário?

Havia um código numérico igualmente secreto que se originou na Suméria para YaHU - a forma abreviada para o tetragrama YaHWeH? Havia um iniciado sumério que procurava aplicar o código secreto de números ao seu nome "teofórico" (como aqueles usados em prefixos e sufixos em nomes pessoais). Poder-se-ia dizer que YHU é um código secreto para "50" (IA = 10, U = 5, IA.U = 10x5 = 50), com todas as implicações teológicas.

 

Enquanto a atenção se focalizou no "significado" do "666", achamos no verso críptico do Apocalipse uma afirmação da maior importância. O código secreto se refere à Sabedoria, e só pode ser decifrado pelos que possuem Entendimento.

 

Esses são precisamente os dois termos usados pelos sumérios, e pelos que vieram depois deles, para indicar o conhecimento secreto que os anunnaki ensinavam apenas aos iniciados privilegiados.

 

Na base do conhecimento incrível e abrangente dos sumérios, está uma quantidade comparável de números. Como o assiriologista-matemático Herman V. Hilprecht observava no início do século XX, após a descoberta de numerosos tabletes mesopotâmicos sobre matemática - The Babylonian Expedition of the University of Pennsylvania ("A Expedição Babilônica da Universidade da Pensilvânia") -, "todas as tabelas de multiplicação e divisão das bibliotecas do templo em Nippur e Sippar, e da biblioteca de Assurbanipal em Nínive, são baseadas no número 12.960.000" - um número virtualmente astronômico, um número que requeria uma espantosa sofisticação para ser compreendido, e cuja utilidade para os humanos no IV milênio a.C. parece completamente questionável.

Porém ao analisar esse número - com o qual começavam alguns tabletes matemáticos -, o prof. Hilprecht concluiu que só podia ser relacionado ao fenômeno da precessão - o retardamento da Terra em sua órbita ao redor do Sol, que leva 25.920 anos para completar-se (até que a Terra retorne exatamente ao mesmo lugar). Esse círculo completo das doze casas do Zodíaco foi chamado de Grande Ano. O número astronômico 12.960.000 representa 500 Grandes Anos. Mas quem, a não ser um anunnaki, poderia entender isso? Ou para quem, também a não ser um anunnaki, poderia ser útil um período tão grande de tempo?

Ao considerar sistemas numéricos e de contagem, o sistema decimal (base dez) é obviamente agradável ao homem, resultado da contagem dos dedos das mãos. Mesmo o intrigante sistema do calendário maia, que divide o ano em 18 meses de 20 dias cada (mais 5 dias especiais no final do ano), pode ser relacionado com o número de dedos dos pés e das mãos, 20. Porém onde os sumérios foram buscar o sistema sexagesimal (base 60), utilizado na contagem do tempo (60 minutos, 60 segundos), em astronomia (o círculo celeste de 360 graus) e na geometria?

Em nosso livro When Times Began ("O Começo do Tempo"), sugerimos que os anunnaki, vindos de um planeta cujo período orbital (um ano em Nibiru) equivalia a 3.600 órbitas do planeta Terra, precisavam de algum tipo de fator determinante para períodos tão diversos - e encontramos um no fenômeno da precessão (que apenas eles, não homens com períodos curtos de vida, determinados pela órbita terrestre, poderiam ter descoberto). Quando dividiram o círculo celestial em doze partes, o retardo precessional - que poderia ser facilmente observado por eles - era de 2.160 anos por "casa". Sugerimos que isso levava à razão de 3.600:2.160, ou 10:6 (a proporção áurea dos gregos) e o sistema sexagesimal que progride segundo 6 x 10 x 6 x 10, e assim por diante (resultando em 60, 360, 3.600, e assim por diante até o imenso número de 12.960.000).

Nesse sistema, vários números de importância celeste ou sagrada parecem deslocados. Um é o número sete, cujo significado na história da criação é tão facilmente reconhecido, como o sétimo dia da Criação ou o nome da casa de Abraão Beer-Sheba ("O Poço dos Sete"). Na Mesopotâmia era aplicado aos Sete Que Julgam, Os Sete Sábios, os sete portões do Mundo Inferior, os sete tabletes do Enuma elish. Era um epíteto de Enlil (Enlil é sete, afirmavam os sumérios); e, sem dúvida, o que deu origem ao significado: era o número planetário da Terra. "A Terra (KI) é o sétimo" [planeta] afirmam todos os textos sumérios. Isso, como já explicamos, faz sentido apenas para alguém vindo do espaço exterior em direção ao centro do Sistema Solar. Para quem vem, por exemplo, do distante Nibiru, Plutão seria o primeiro planeta; Netuno e Urano, o segundo e terceiro; Saturno e Júpiter, o quarto e quinto; Marte seria o sexto, a Terra seria o sétimo; Vênus o oitavo - como, de fato, esses planetas foram representados nos monumentos e nos cilindros e tabletes.

 

(Em hinos sumérios para Enlil "o Todo-Benemérito", ele era invocado para prover comida e bem-estar à terra, e também para garantir tratados e acordos. Não é de espantar, então, que, em hebraico, a raiz de onde deriva o numeral sete - Sh-V-A - seja a mesma de onde derivam as palavras para "estar saciado" e para "jurar, fazer uma promessa".)

O número 7 é um número-chave em Apocalipse (7 anjos, 7 selos, e assim por diante). Da mesma forma, outro número extraordinário: o 12 e seus múltiplos, como 144.000 em Apocalipse 7:3-5, 14:1 etc.). Já mencionamos suas aplicações e seu significado como número de membros de nosso Sistema Solar (o Sol, a Lua e 10 planetas - os 9 que conhecemos mais Nibiru).

Então vem o número peculiar 72. Dizer, como já foi feito, que ele é simplesmente o resultado da multiplicação de 12 por 6, ou que, quando multiplicado por 5 resulta em 360 (como o número de graus num círculo), é afirmar o óbvio. Mas por que 72?

Já observamos que a Cabala chegou, por meio da gematria, ao número 72 como o número secreto de Javé. Embora obscurecido pela passagem do tempo, quando Deus instruiu Moisés e Aarão a se aproximarem do Monte Sagrado levando 70 dos anciãos de Israel, o fato é que Moisés e Aarão possuíam 72 companheiros: além dos 70 anciãos, Deus disse que convidassem dois dos filhos de Aarão (embora Aarão tivesse quatro), perfazendo um total de 72.

Entre outros lugares, encontramos esse número na história egípcia que narra a contenda entre Hórus e Seth. Ao relatar a história a partir de textos em hieróglifos, Plutarco (em De Iside et Osiride, em que compara Seth com Tifão dos mitos gregos) afirma que Seth enganou Osíris para entrar no baú na presença de 72 "camaradas divinos".

 

Por que então 72 nessas várias situações? A única resposta plausível, acreditamos, pode ser encontrada no fenômeno da precessão, pois o número 72 representa a quantidade de anos necessária para retardar a Terra em um grau.

 

Até hoje não é certo como surgiu o conceito de Jubileu, o período de 50 anos decretado na Bíblia e usado como unidade de tempo no Livro dos Jubileus. Aqui está a resposta: para os anunnaki, cuja órbita ao redor do Sol durava 3.600 anos terrestres, a órbita passava por 50 graus precessionais (50 x 72 = 3.600)!

Talvez fosse mais do que uma coincidência que o número secreto de Enlil - e o número buscado por Marduk - também era 50, já que era um dos números que expressavam o relacionamento entre o Tempo Divino (derivado dos movimentos de Nibiru), Tempo Terrestre (relativo aos movimentos da Terra e sua Lua), e o Tempo Celestial (ou zodiacal, resultado da precessão). Os números 3.600, 2.160, 72 e 50 eram números que pertenciam às Tabelas dos Destinos no coração de DUR.AN.KI, em Nippur. Eram números que expressavam a verdadeira "Ligação Céu-Terra".

A Lista de Reis Sumérios afirma que 432.000 anos (120 órbitas de Nibiru) se passaram desde a chegada dos anunnaki à Terra até o Dilúvio. O número 432.000 também é mencionado no conceito hindu de passagem das Eras e catástrofes periódicas que se abateram sobre a Terra.

O número 432.000 também representa 72 x 6000. E talvez seja interessante lembrar que, de acordo com os sábios judeus, a contagem de anos no calendário hebreu - 5763 em 2003 chegará a um término quando alcançar 6.000; completará então seu ciclo.

 

Parece evidente, dos antigos registros relacionados aos iniciados - Adapa, Enmeduranna, Enoch -, que o cerne da sabedoria e da compreensão revelado a eles, não importando o resto, era astronomia, calendário e matemática (o "segredo dos números"). De fato, como ficou demonstrado pelas práticas de codificação na Antiguidade, o elo comum entre eles, não importa qual a linguagem usada, eram os números. Se houve algum dia uma linguagem universal na Terra (como afirmam os textos sumérios e a Bíblia), teria de possuir uma base matemática; e se - ou melhor, quando - nos comunicamos com extraterrestres, como já foi feito com os anunnaki em suas visitas, e como faremos quando nos lançarmos ao espaço exterior, a linguagem cósmica será de números.

 

Na verdade, os sistemas atuais de computação já adotaram uma linguagem de números universal. Quando, numa máquina de escrever, a tecla para a letra "A" é pressionada, uma alavanca se move e atinge o papel com o tipo "A". Nos computadores, quando a tecla "A" é pressionada, um sinal eletrônico é ativado, usando "0s" e "ls" para expressar o "A": a letra foi digitalizada. Os computadores modernos possuem, em outras palavras, letras convertidas em números; pode-se afirmar que eles apresentam uma escrita "gematriada".

E, se levarmos a sério as afirmações bíblicas e sumérias sobre a inclusão de conhecimento médico na Sabedoria e no Entendimento passado a nós - em algum lugar dos textos meticulosamente copiados ou "canonizados", estará ali a chave para lidar com toda a sabedoria genética embutida em nossa criação, que ainda nos acompanha na saúde, na doença e na morte?

Atingimos o ponto em que nossos cientistas identificaram um gene específico - chamando-o, vamos dizer, P51 - num local específico no cromossomo 1 ou 13 ou 22, relacionando-o com uma doença específica. Esse gene e essa localização podem ser expressos em computadores - agora em números, ou em letras, ou em combinações entre ambos.

Já existe, naqueles textos antigos, especialmente na Bíblia Hebraica, essa informação genética codificada? Se apenas pudéssemos decifrar tal código, nos tornaríamos seres como o "Modelo Perfeito" que Enki e Ninharsag pretenderam criar.

 

PROFECIA: ESCRITOS DO PASSADO

A crença da humanidade de que alguém no passado poderia prever o futuro - o que, na linguagem suméria, significava conhecer o Destino e determinar a Sorte - era fundada na palavra escrita. Revelada ou secreta, direta ou codificada, a informação tinha de ser gravada e escrita. Um pacto, um tratado, uma profecia - que valesse para aqueles ali presentes e também para aqueles que habitassem o futuro.

Quando os arqueólogos escavam um local antigo, nada é mais excitante do que "alguma coisa" com sinais escritos - um objeto, um tijolo, uma superfície de pedra, cacos de argila e, desnecessário dizer, tabletes ou papiros com escrita cuneiforme ou hieroglífica. Qual era o lugar, qual o nome antigo, a que cultura pertencia, quem eram os governantes? Algumas cartas escritas e, claro, textos completos.

Um dos mais antigos antiquários, se não arqueólogo, foi o rei assírio Assurbanipal. Acreditando que seu próprio destino e o da terra estavam determinados havia muito tempo, fez registros escritos desde os primeiros saques das cidades por ele conquistadas; a biblioteca de Nínive talvez fosse, naquela época (século VII a.C.), a maior coleção de tabletes do mundo, contendo incontáveis textos antigos de "mitos" e epopéias, anais reais e o que seriam "livros" sobre astronomia, matemática, medicina e outros textos de valor incalculável. Os tabletes eram arrumados cuidadosamente em prateleiras de madeira, e cada prateleira começava com um tablete-catálogo, listando tudo o que se encontrava na prateleira. No total: um enorme tesouro de antiga sabedoria, registros e profecias. Boa parte dos textos agora conhecidos vieram desses tabletes, ou fragmentos deles, encontrados em Nínive. Ao mesmo tempo, os tabletes-catálogo revelaram o que ainda está faltando e ainda não foi descoberto.

Uma das coisas que faltavam - pois ninguém conseguira duplicatas em nenhum lugar - era o que o próprio Assurbanipal identificou como "escritos anteriores ao Dilúvio"; sabemos que existiram porque Assurbanipal se gabava de poder ler aquelas letras.

A afirmativa do rei, convém observar, não foi levada muito a sério pelos arqueólogos. Alguns corrigiram as afirmações reais em seus textos para "escritos em sumério", pois parecia incrível não apenas afirmar que havia escrita milênios antes das civilizações mesopotâmicas, como também que tal escrita e os tabletes houvessem sobrevivido a uma catástrofe global.

Ainda assim, outros textos e fontes, não relacionados a Assurbanipal ou ao seu tempo, faziam as mesmas afirmações. Adapa, um iniciado antediluviano, escreveu um livro cujo título, em sumério, era U.SAR Dingir ANUM Dingir ENLILA (Escritos do Tempo do Divino Anu e [do] Divino Enlil).

Enoch, outro ancestral antediluviano, voltou do céu com 360 "livros" - um número não apenas com uma alusão celestial/matemática, mas que, convertido em letras SeQeR (60 + 100 + 200) - "o que está escondido". O nome-lugar Sacara, no Egito, o "local escondido" de pirâmides e funerais primitivos, deriva da mesma raiz.

O Livro de Enoch (conhecido como Enoch 1) se apresenta como escrito pelo próprio Enoch, na primeira pessoa. Embora para todas as autoridades tenha sido compilado pouco antes do início da Era Cristã, citações dele em trabalhos mais antigos e outros textos extrabíblicos (Assim como o fato de ter sido canonizado no início da Era Cristã) atestam que foi baseado em textos verdadeiramente antigos. No livro em si, depois de uma breve introdução que explica quem eram os nefilim (do Gênesis 6), Enoch afirma que o que se segue é "o livro dos justos e de repressão ao nefilim eterno" ouvido por ele durante uma visão e que Enoch registra "em linguagem humana" - uma linguagem "que o Altíssimo deu para que os homens usassem naquele momento".

Tendo recebido conhecimento sobre os céus e a Terra com seus mistérios, Enoch recebeu ordem para escrever as profecias de eventos futuros (segundo o Livro dos Jubileus, Enoch viu "0 que foi e o que será"). Embora os estudiosos presumam que as "profecias" fossem percepções tardias, a incorporação de textos antigos em Enoch I e sua subseqüente canonização atestam que, na época do Segundo Templo, acreditava-se firmemente que o futuro podia ser previsto do passado por inspiração divina - mesmo ditado pelo próprio Senhor ou por Seus anjos para os humanos, a fim de ser registrado e transmitido para as gerações futuras.

Ainda mais enfática ao afirmar que Enoch trouxe com ele livros que continham não apenas sabedoria científica, mas também profecias sobre o futuro é a versão conhecida como Enoch II, ou pelo título completo de O Livro dos Segredos de Enoch. Afirma que Deus instruiu Enoch para "dar seus livros escritos à mão para seus filhos", de forma que pudessem ser passados "de geração em geração e de nação em nação". Então Deus descerrou para ele os "segredos da Criação" e os ciclos dos acontecimentos na Terra. "No início do oitavo milênio haverá uma época de não contagem [uma época] sem anos, meses ou semanas, dias ou horas." (Enoch II, 33:1-2)

Uma referência é feita a escritos ainda mais antigos que pertenciam aos ancestrais de Enoch, Adão e Seth - "escrita que não deve ser destruída até o final dos tempos". Existe também referência a uma "tabela" que Deus "colocou na Terra" e "ordenou que fosse preservada, e que a caligrafia de seus pais fosse preservada, e que não perecesse durante o Dilúvio que deverei produzir sobre tal raça".

A referência a um futuro Dilúvio, incluída em Enoch II como uma revelação profética de Deus a Enoch, menciona "caligrafias" tanto de Adão como de seu filho Seth, e uma divina "tabela" depositada na Terra e que sobreviveria ao Dilúvio. Se tais "caligrafias" existiram, devem ser contadas entre os escritos antediluvianos desaparecidos. Na época do Segundo Templo, considerava-se que entre esses escritos estava o Livro de Adão e Eva, no qual muitos detalhes eram fornecidos, aumentando a história bíblica.

Os estudiosos concordam que em Enoch I incorporou, ao pé da letra, partes de um manuscrito muito anterior chamado o Livro de Noé, um trabalho mencionado em outros escritos além do Livro de Enoch. Poderia bem ter sido a fonte dos enigmáticos oito versos no capítulo 6 do Gênesis, precedendo a narrativa bíblica do Dilúvio e seu herói, Noé, cujos versos falam dos nefilim, os "filhos do Elohim" que casaram com as Filhas de Adão, como motivo para a decisão divina de varrer a humanidade da face da Terra. Ali a história é contada inteira, os nefilim são identificados, a natureza da ira divina é explicada. Retornando ao tempo dos sumérios, inclui detalhes só conhecidos por intermédio do texto mesopotâmico Atra Hasis.

É mais do que provável que os dois livros mencionados acima - o Livro de Adão e Eva e o Livro de Noé - de fato tenham existido, de uma forma ou outra, e eram conhecidos pelos que compilaram o Velho Testamento. Depois de descrever a criação de Adão e Eva, o incidente no Jardim do Éden, o nascimento de Caim e Abel, e depois de Enoch, o Gênesis recomeça (no capítulo 5) o registro genealógico, afirmando: "Este é o livro das gerações de Adão", e narra outra vez a história da criação. A palavra hebraica traduzida como "gerações" (Toledoth) tem a conotação mais ampla do que apenas "gerações" - lembra "as histórias de" e os textos que se seguem dão a impressão de ser um sumário baseado em alguma lista bem maior.

O mesmo termo, Toledoth, começa a história de Noé e o Dilúvio. Mais uma vez traduzidas por "Essas são as gerações de Noé", as palavras realmente iniciam a história não só de Noé como a do Dilúvio - uma história baseada, sem dúvida, em textos sumérios (depois acadianos).

É interessante e intrigante imaginar o que o Livro de Noé continha para ser encontrado no Livro dos Jubileus, mais um livro apócrifo (extrabíblico) da época do Segundo Templo (ou anterior). Afirma que os anjos "explicaram a Noé todos os remédios, todas as doenças e como curá-las com as ervas da Terra, e Noé anotou essas coisas num livro, sobre todas as curas". Depois do Dilúvio, Noé deu tudo o que escreveu para seu filho Sem.

Iniciando um novo capítulo não apenas na Bíblia mas em todos os assuntos humanos, a palavra Toledoth é encontrada outra vez no capítulo 10 do Gênesis. Ao lidar com épocas pósdiluvianas, começa: "Essas são as 'gerações' dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé; deles nasceram filhos depois do Dilúvio". A lista geral, apelidada pelos estudiosos de Tábua das Nações, retrocede até Sem e seus descendentes e presta atenção especial à linhagem do filho do meio, Arpakhshad, no mesmo capítulo, retornando ao assunto no capítulo 11, com a abertura: "Essas são a geração de Sem". O significado, logo entendemos, é que ele era ancestral direto da família de Abraão.

A existência de um livro que podemos arbitrariamente chamar de o Livro de Sem, ou mais especificamente, o Livro de Arpakhshad, é sugerida por outra tradição em relação a escritos anteriores ao Dilúvio. A referência é encontrada no Livro dos Jubileus; nos informa que Arpakhshad, um neto de Noé, aprendeu com seu pai, Sem, a ler e escrever; ao procurar um local para se estabelecer, "encontrou um escrito que uma geração anterior havia deixado na pedra, leu e transcreveu o que estava escrito". Entre outras informações, "incluía os ensinamentos dos nefilim em relação a como observar os augúrios no Sol e na Lua, nas estrelas e nos sinais do céu". Essa descrição do conteúdo dos escritos dos nefilim - portanto anteriores ao Dilúvio - é um paralelo com as palavras no Livro de Enoch sobre o conhecimento do Sol, da Lua e das estrelas/planetas do céu, que ele aprendeu a partir das "tabelas celestiais, e o que estava escrito no interior". Tudo o que Enoch passou a seu filho Matusalém, dizendo a ele:

 

Todas essas coisas eu transmito a ti

e escrevo para ti;

revelei tudo a ti

e lhe dei os livros que contêm tudo isso.

Portanto preserve, meu filho Matusalém,

os livros da mão de teu pai

e os entregue às gerações do mundo.

 

Uma referência não ambígua a escritos antediluvianos e o que aconteceu a eles até a destruição pelas águas foi em relação aos escritos de Beroso. Um sacerdote-historiador da Babilônia que compilou uma história da Humanidade para os líderes gregos do Oriente Médio depois da morte de Alexandre, e teve acesso a uma biblioteca de textos antigos em acadiano (e possivelmente em sumério: no primeiro volume de seus escritos, descreveu eventos desde o pouso de Ea no mar até o Dilúvio, chamando o herói da Grande Enchente por seu nome sumério, Ziusudra). Nos fragmentos dos escritos de Beroso ainda disponíveis nos historiadores gregos, afirma-se que depois que Ea/Enki revelou a Sisithros (= Ziusudra) que haveria um Dilúvio, "ordenou que ele escondesse todos os escritos disponíveis em Sippar, a cidade de Shamash. Sisithros realizou todas essas coisas, velejou imediatamente para a Armênia e, então, o que o deus anunciara aconteceu". Os escritos eram sobre "inícios, meios e finais".

Beroso continuou a relatar que entre os que se encontravam na arca e sobreviveram estava Sambethe, a esposa de um dos filhos de Ziusudra/Noé - seu nome provavelmente era uma corruptela do sumério ou acadiano Sabitu (A Sétima). De acordo com Beroso, "ela foi a primeira das Sibilas e profetizou os acontecimentos relativos à construção da Torre da Babilônia e tudo o que aconteceu; isso se deu antes da divisão da linguagem".

A essa primeira de uma linhagem de profetisas de oráculo (a mais afamada foi a Sibila de Delfos) foi atribuído o papel de intermediária entre os deuses e os sobreviventes do Dilúvio. Ela transmitia a eles as palavras que "uma voz no ar" proferia, ensinando-os a sobreviver após o Dilúvio e a "como recuperar de Sippar os livros que descreviam o futuro da Humanidade".

 

As tradições e lembranças em relação aos escritos de antes da Enchente claramente persistiam em afirmar que, além de todas as formas de conhecimentos científicos, incluíam profecias em relação ao futuro. Incluíam, metade das vezes, não apenas eventos que afetariam alguns indivíduos ou nações, mas também a humanidade toda e o futuro da Terra.

Enoch viu o "que passou e o que será" e escreveu para as futuras gerações sobre os segredos da criação e os ciclos de eventos na Terra. Deus colocou uma "tabela" na Terra, determinando o destino do planeta e tudo o que havia sobre ele. Os escritos de antes do Dilúvio diziam respeito a "inícios, meios e finais".

De fato, quando se observam as crenças que dizem respeito a afirmações diversas, começa-se a entender por que a edição do Gênesis em seu original hebraico omitiu o Aleph para iniciar com o Beth. A própria noção de início traz com ela a idéia de fim. A própria admissão de que os escritos antigos, contendo tudo o que havia para conter - os antigos ''bancos de dados", para usar linguagem de computador -, devem ser preservados até o "final dos tempos" ou "final dos dias" implica que tal final está previsto. Ao começar com o Beth, os editores da Bíblia aceitavam essa crença.

Esses conceitos permeiam a Bíblia, desde o início no Gênesis, ao longo dos livros dos Profetas até o livro final (da Bíblia Hebraica). "E Jacó chamou seus filhos e disse: venham e vou contar o que se passará com vocês até o fim dos dias" (Gênesis 49:1). Temendo que os israelitas abandonassem seu comando após sua morte, Moisés os alertou para os "males que recairão sobre vocês nos últimos dias" (Deuteronômio 31:29). Além desse alerta, havia uma previsão - uma profecia - sobre a Sorte e o futuro de cada uma das tribos de Israel. As visões proféticas de Isaías começavam com a afirmação: "E isso se passará ao final dos dias" (2:2); e o profeta Jeremias explicou claramente que o que se passará "ao final dos dias" fora planejado no "coração de Javé" desde o início (23:20). "Ele sabe o Fim e o Começo", exaltou Isaías a Deus (46:10).

Deus é o maior profeta e fonte de todas as profecias. A visão bíblica encontra expressão mesmo onde o texto parece apenas relatar eventos. O castigo imposto a Adão e Eva depois de terem comido o fruto proibido no Jardim do Éden previa os caminhos futuros do homem. Caim recebeu uma marca de proteção, pois de outra forma ele e seus descendentes seriam vingados por 77 gerações. Em um pacto feito por Deus com Noé e seus filhos, Ele prometia que não haveria nunca mais outro Dilúvio. Em um pacto com Abraão, Deus previu-lhe o futuro como pai de uma profusão de nações, mas previu também o tempo em que essas nações se veriam escravizadas numa terra estrangeira - uma experiência amarga que duraria pelo menos 400 anos (como o jugo israelita no Egito de fato durou). Em relação à esterilidade de Sara, Deus previu que ela teria um filho e que de seu ventre sairiam nações e reis.

Ao abranger a história humana desde Adão e Eva através da destruição do Primeiro Templo de Jerusalém e sua reconstrução ao retornar do exílio no século VI a.C. o Velho Testamento também relata, indireta e quase imperceptivelmente, a mudança da comunicação direta com Deus para uma por intermédio de anjos (literalmente: Emissários) e depois por meio de profetas. Embora Moisés fosse designado um profeta de Deus, a universalidade do fenômeno é revelada pela história bíblica de Bile' am ou Balaam. Ele era um vidente renomado na época do Êxodo, e foi contratado pelo rei moabita para amaldiçoar os israelitas, que avançavam; porém a cada vez que se preparava um local e os rituais, Javé aparecia para ele e o avisava para não amaldiçoar Seu povo escolhido. Depois de várias tentativas, Balaam foi persuadido pelo rei moabita a tentar mais uma vez; mas então, numa visão divina, ele "escutou a voz de Deus e percebeu a sabedoria Daquele que é o Altíssimo".

"Embora não esteja próxima, posso vê-la. Embora não seja agora, ela avança", disse Balaam a respeito da estrela de Jacó. A mensagem divina é esta: os Filhos de Israel derrotarão e conquistarão as nações que ficarem em seu caminho. Incrivelmente, a lista dessas nações incluía a Assíria - uma nação não presente em Canaã na época do Êxodo, cujos reis atacaram muitos séculos depois os reis israelitas da terra ainda a ser conquistada.

Um caso de vaticínios baseados em profecias passadas foi a futura grande batalha de Gog e Magog, revelada ao profeta Ezequiel (capítulos 38 e 39), uma batalha que na literatura apocalíptica da época assumiu o papel da batalha final - o Armagedão do Novo Testamento. Embora em escritos posteriores Gog e Magog fossem tratados como pessoas ou nações diferentes, Ezequiel fala de Gog como governante da terra Magog e prediz que o final de seu domínio virá quando ele atacar a terra de Jerusalém, "o umbigo da Terra". Prevendo que isso acontecerá e que será um sinal do "Fim dos Dias", Javé declarou, por intermédio de Ezequiel: Embora isso deva se passar apenas no fim dos dias, Gog...

 

És tu

de quem falei

nos dias antigos

por meio dos profetas de Israel

que profetizavam naqueles dias.

 

Nos dias finais, Javé anunciou por meio de Ezequiel, haverá um grande terremoto e uma grande destruição e pragas e derramamento de sangue, e torrentes de chuvas, fogo e pedras caindo dos céus.

Outro profeta que lembrou os profetas anteriores - "Primeiros Profetas" - foi Zacarias (1:4, 7:7, 7:12), que também viu o futuro em termos de passado, os assim chamados "Primeiros Dias". Isso estava de acordo com todas as profecias bíblicas: ao predizer o futuro, os profetas afirmavam que o Fim estava ancorado no Começo. Prevendo as nações unidas para descobrirem juntas o que acontecia, o profeta Isaías as imaginou perguntando umas para as outras: "Quem dentre nós pode dizer o futuro ao ouvir sobre as Primeiras Coisas?". Zombando daquelas nações que perguntam sobre o passado e o futuro não a Deus, mas umas às outras, Isaías declara que apenas Javé, o Senhor dos Exércitos, tem esse conhecimento (Isaías, cap. 43). Há outra passagem em Isaías, cap. 48, em que Javé anuncia:

 

Sou o que disse as primeiras coisas,

de minha boca elas foram proferidas.

E devo anunciá-las de súbito;

e quando fizer isso, acontecerá.

 

A busca pelo passado oculto para adivinhar o futuro permeia não apenas os livros dos Profetas, mas também os livros bíblicos de Salmos, Provérbios e Jó. "Dêem ouvidos, meu povo, a meus ensinamentos, apurem os ouvidos para as palavras de minha boca; abrirei minha boca com parábolas e proporei enigmas dos tempos antigos", o salmista (78:2-3) dizia a propósito das lembranças passadas de geração em geração. Afirmava estar qualificado para propor tais enigmas, explicando: "Pois eu levei em conta os dias antigos" (77:6).

Essa abordagem, de "vamos descobrir o que aconteceu no passado para podermos saber o que virá", era baseada na experiência da Humanidade ao longo de milênios de memória humana - mitos para muitos, lembranças de eventos reais para nós. A qualquer um consciente das histórias antigas - qualquer um não apenas agora, mas também nos tempos bíblicos - deve ter sido óbvio que a cada volta do caminho, a Humanidade depende dos planos e caprichos de seus criadores, os elohim.

No Início, nós hoje e pessoas (certamente os profetas) milênios atrás temos sido informados de que viemos a existir como resultado de discussões num conselho de deuses, encontrando-se para resolver um motim nas minas de ouro. Nossa feitura genética foi determinada quando dois anunnaki - Enki e Ninmah - agiram tanto com seriedade quanto com frivolidade. Foi num conselho de Grandes Deuses que eles votaram e juraram dar um fim à experiência de criação, deixando a Humanidade morrer no Dilúvio. E foi assim, em conselho, que os deuses anunnaki resolveram, após o Dilúvio, dar ao homem "reinado" sobre três regiões - as civilizações da Mesopotâmia, do vale do Nilo e do vale do Indo.

Curioso sobre os registros do Princípio, da história humana desde a Criação através do Dilúvio e do surgimento de nações, o povo do último milênio antes de Cristo - a época dos profetas bíblicos - também se indagava a respeito dos Tempos Antigos, os eventos de um ou dois milênios antes - a época em que a Bíblia se desviou para Ur dos caldeus, na Suméria, e para Abraão, e para a Guerra dos Reis e o surgimento de Sodoma e Gomorra. Conte-nos sobre esses Dias Antigos, para que possamos saber o que esperar, as pessoas pediam aos que possuíam profecia e sabedoria.

A Bíblia menciona vários registros - livros - que podem ter contido as respostas, porém desapareceram completamente. Um é o Livro de Jashar, o Livro do Reto Agir, se traduzido literalmente, mas provavelmente significando o registro das Coisas Certas. O outro e mais importante era o Livro de Guerras de Javé, implicando, pelo título enigmático, que tratava das guerras e conflitos entre os elohim.

Tais conflitos, terminando às vezes em guerra aberta, apareciam registrados pelos sumérios; tais dados do passado eram verdadeiramente Palavras Divinas, pois ou eram escritas pelos Escribas Divinos ou ditadas pelos deuses para escribas humanos. Originalmente gravadas pelos próprios deuses eram os eventos em Nibiru que envolviam a disputa do trono lá por Anu e a continuação da luta por sucessão em outro planeta, a Terra; a história de Zu; a contenda entre Hórus e Seth (que foi a primeira vez que se usaram homens numa guerra entre os deuses). Na primeira categoria de escritos produzidos pelos deuses estava o "Texto de Profecia", que chegou até nós em versão acadiana e que não era nada menos que uma autobiografia de Marduk. Em outra categoria, a de livros ditados por uma divindade, estava um texto conhecido como o Erra Epos, um registro de eventos como foram narrados por Nergal. Ambos esses textos foram tentativas dos deuses de explicar para a Humanidade como dois milênios de civilização - os Dias Antigos - haviam chegado repentinamente a um fim.

Era mais do que irônico que os eventos que dispararam o final da grande civilização suméria coincidiram com sua época mais gloriosa. Um "livro antigo" - um texto sumério - registrava o Conselho dos Grandes Deuses no qual a concessão de reino (civilização) para a espécie humana foi decidida:

 

O grande Anunnaki que decreta as Sortes

sentava-se trocando idéias em relação à terra.

Aqueles que criaram as quatro regiões,

que estabeleciam os colonizadores, que supervisionavam a terra,

eram elevados demais para a Humanidade.

 

E decidiram que a instituição de reino devia ser criada, tanto para fazer o papel de amortecedor como de um elo de ligação entre os Sublimes e a massa da humanidade. De acordo com eles, os terrestres podiam viver ao lado dos territórios sagrados na cidade dos deuses, depois teriam suas próprias cidades, governadas por LU.GALs, "Grandes Homens" - reis -, que deviam agir como representantes dos senhores divinos.

Quando os anunnaki voltaram para Edin, a planície entre o Tigre e o Eufrates, já suficientemente seca após o Dilúvio, restabeleceram as Cidades dos Deuses exatamente de acordo com os planos antediluvianos. A primeira a ser reconstruída foi Eridu, a cidade de Enki; e foi lá, acreditamos, que surgiu a decisão de levar civilização à Humanidade; a época, segundo evidências arqueológicas, era aproximadamente 3800 a.C.

Porém, de acordo com a decisão dos deuses, o Reinado dos Homens tinha de começar numa Cidade de Homens, um novo local chamado Kish. A data estava marcada pela garantia de um calendário para a Humanidade, um calendário projetado no "centro de culto" de Enlil, Nippur. Começou em 3760 a.C.

A Lista de Reis Sumérios registrava a freqüente transferência da capital de uma Cidade de Homens para outra na Suméria. Tais mudanças eram relacionadas com a sorte e com alternâncias de autoridade entre os próprios deuses, ou mesmo com a rivalidade entre eles - tanto na Primeira Região (Mesopotâmia e terras vizinhas) quanto na Segunda Região (vale do Nilo) e na Terceira Região (vale do Indo) (onde civilizações se seguiram por volta de 3100 a 2900 a.C. Abaixo da superfície estremecia em crises o conflito entre Marduk e Ninurta - os herdeiros de Enki e Enlil, respectivamente, que assumiram como sendo deles a rivalidade entre seus pais. Não houve paz na Terra até que Marduk - tendo causado a morte de Dumuzi - teve sua sentença de ser enterrado vivo no interior da Grande Pirâmide alterada para exílio. Era o mesmo castigo - banimento para uma terra distante - que Marduk impusera a seu meio-irmão Ningishzida/Tot, que atravessara o oceano para se tornar o deus da Serpente Emplumada (Quetzalcoatl), na América Central.

Foi durante esse período relativamente curto de paz, no início do III milênio a.C., que a civilização suméria se expandiu para terras vizinhas e floresceu com vários reis, como Gilgamesh. No espaço de poucos séculos, a expansão para o norte incorporou tribos semitas; em cerca de 2400 a.C., um grande domínio sob um rei Justo (Sharru-kin) - Sargão I - foi formado com a capital na nova cidade de Akkad. Daí por diante ficou conhecido como o reino unificado de Suméria e Acádia.

Vários textos que registraram o curso dos eventos, a maior parte dos quais fragmentados, têm sido encontrados - sobre assuntos divinos e humanos - nos últimos séculos. Finalmente, em 2113 a.C. começou o capítulo mais glorioso na história da Suméria e da Acádia. Os historiadores se referem a esse período como Ur III, por ter sido a terceira vez que Ur se tornou capital do império. Foi o "centro de culto" de Nanar/Sin, que residia no espaço sagrado com sua esposa, Ningal. Seu domínio foi iluminado e benevolente. O rei que havia sido entronado para começar uma nova dinastia, Ur-Nammu (" A Alegria de Ur"), era sábio, justo e um mestre do comércio internacional pelo qual a Suméria trocava grãos e produtos de lã por metais e madeiras; seus casacos coloridos eram apreciados, segundo a Bíblia, na distante Jericó. Os "mercadores de Ur" eram internacionalmente conhecidos e respeitados; por meio deles a civilização suméria, em todos os aspectos, espalhou-se largamente. Pela necessidade de conseguir mais lã, os sumérios ampliaram suas pastagens para as regiões ao norte, onde um grande entreposto de comércio foi estabelecido, como portal para a Ásia Menor, a terra dos hititas. Chamava-se Haran - "Lugar de Caravanas". Destinado a servir como míni-Ur, uma Ur-distante-de-Ur, imitava o formato do templo da própria Ur.

Enquanto isso, de seu exílio, Marduk observava esses desenvolvimentos com crescente sentimento de frustração e raiva. Em sua autobiografia (uma cópia foi descoberta na biblioteca de Assurbanipal), Marduk lembra como, depois de ter vagado por muitas terras - "de onde nasce o sol até onde ele se põe" -, chegou a Hatti (a terra dos hititas). "Vinte e quatro anos no seio deles fiquei", escreveu ele. Durante esses anos todos, Marduk continuou a perguntar ao conselho de deuses: "Até quando?".

Na ausência de uma resposta clara ou satisfatória, Marduk olhou para os céus. A Sorte, dissemos, possui doze estações; a Estação-Sina (casa zodiacal) de Marduk era a constelação de Carneiro (Áries); como a precessão continuava afastando o primeiro dia de primavera da constelação de Touro - a casa zodiacal de Enlil -, aproximava-se cada vez mais a Estação-Sina de Marduk - Carneiro. Certo de que chegara o tempo em que seu Destino seria realizado, Marduk via a si mesmo voltando para a Babilônia com pompa e circunstância, apontando um rei valoroso, observando as nações em paz e as pessoas prosperando - uma visão profética do que viria a se passar nos Últimos Dias, quando a Babilônia devia viver segundo seu nome, Bab-ili, "Portal dos Deuses".

Outros textos daquela época, que os estudiosos consideram parte da coleção de Profecias Acadianas, registravam relatórios de astrônomos que observaram os céus à procura de augúrios planetários ligados com a constelação de Carneiro. Entretanto os sinais eram em sua maioria de guerra, matança, saque e destruição; e foram essas profecias, em vez dos cenários otimistas de Marduk, que vieram a realizar-se. Outros deuses, liderados por Ninurta e pelo próprio irmão de Marduk, Nergal, usando ferramentas científicas dos "Dias Antigos", "artefatos da Terra e do Céu", afirmaram que a mudança para a Era de Áries ainda não se processara. Impaciente, Marduk enviou seu filho, Nabu, para preparar um exército humano entre seus seguidores nas terras do Oeste - a oeste do rio Eufrates. Em 2024 a.C., Nabu realizou uma invasão bem-sucedida da Mesopotâmia e abriu os portões da Babilônia para seu pai, Marduk.

O Erra Epos relata esses acontecimentos monumentais do ponto de vista de Nergal (apelidado Erra, O Aniquilador) e de Ninurta (apelidado Ishum, O Incendiário). Relata negociações frenéticas para resolver a disputa pacificamente, pedidos para que Marduk fosse paciente; debates intermináveis no Conselho dos Anunnaki que, no final, reuniu-se em sessão permanente; o alarme com as intenções de Nabu e seu exército humano; finalmente suspeitas de que, enquanto Marduk falava da Babilônia como o Portal dos Deuses, seu filho - com seguidores nas áreas próximas às fronteiras do Sinai - na verdade pretendia capturar o espaçoporto e assim controlar o contato com o planeta natal, Nibiru.

Não enxergando outra forma de impedir Marduk e Nabu, o Conselho dos Grandes Deuses autorizou Nergal e Ninurta a recuperarem as "Sete Armas Espantosas", que haviam permanecido ocultas, trancadas e seladas no Abzu (a habitação de Enki no sudeste da África). Um holocausto nuclear foi iniciado; vaporizou o espaçoporto, deixando uma grande falha na península e uma imensa área escurecida ao redor. As "cidades pecadoras", que se uniram a Nabu no que era na época um vale fértil ao sul do mar Morto, também foram varridas - um acontecimento que Abraão pôde observar de sua habitação ao sul de Canaã.

Porém a Sorte iria prevalecer: a "nuvem da morte" nuclear, carregada pelos ventos vindos do Mediterrâneo, derivou na direção da Mesopotâmia; em seu rastro, tudo o que estava vivo - pessoas, animais e plantas - sofriam uma morte horrível. À medida que a nuvem se aproximava da Suméria, os deuses anunnaki começaram a abandonar suas cidades. Porém Nanar/Sin não queria aceitar a sorte de sua esplêndida Ur. Seus apelos a Anu e Enlil para encontrar outra Ur foram em vão; Enlil, sem poder ajudar, disse: "Ur recebeu o reinado - um reino eterno não recebeu... Seu reinado, a soberania, foram cortados". Não duraria para sempre a NAM.TAR, um Destino que podia ser cortado e quebrado, uma Sorte.

Porém os ventos, ao atingirem a Mesopotâmia, mudaram de curso para sudeste. E enquanto a Suméria e suas grandes cidades jaziam prostradas e desoladas, a cidade de Babilônia, mais ao norte, foi poupada.

Até lá, Marduk olhara para os céus na intenção de adivinhar sua Sorte. A miraculosa salvação de Babilônia da morte e desolação nucleares levou-o a concluir que agora sua supremacia era mais do que Sorte - era seu Destino.

Se Marduk não fosse ainda uma divindade, se poderia dizer que o que se seguiu foi sua deificação. Naquelas circunstâncias, podemos chamar de "celestialização". O veículo para isso foi uma alteração (falsificação seria um termo aplicável) do texto do Enuma elish: chamou Nibiru de "Marduk" e, portanto, tornou o supremo deus planetário e o deus supremo na Terra um só e o mesmo. Depois de substituir Nibiru por "Marduk" na Batalha Celestial, as palavras cruciais então foram aplicadas a ele: obter a Tabela de Destinos de Kingu, o chefe das hostes de Tiamat.

 

A Tabela de Destinos [Marduk] tomou dele [Kingu],

Selou-a com um selo

E a seu (próprio) peito prendeu.

 

Agora era um Destino. E os deuses, em sua Assembléia, "louvaram essa declaração". Curvavam-se e gritavam: "Marduk é o rei!". Aceitando o inevitável, Anu e Enlil (nas palavras de uma inscrição de autoria do rei babilônico Hamurabi):

 

Determinado por Marduk, o primogênito de Enki,

a função de Enlil sobre toda a humanidade,

tornou-o grande entre os deuses que observam e vêem,

chamou Babilônia por seu nome para ser exaltada,

tornou-a suprema no mundo;

E estabeleceu para Marduk, em seu meio,

um Reinado eterno.

 

A coroação - para usar um termo compreensível - de Marduk como "rei dos deuses" teve lugar com uma cerimônia solene, numa assembléia dos Cinqüenta Grandes Deuses e dos "Sete Deuses do Destino", com centenas de anunnaki importantes presentes. Simbolicamente, Enlil depositou perante Marduk sua arma divina, o Arco (que nos céus possuía a Estrela do Arco como companheira). Então a transferência dos poderes de Enlil para Marduk foi comemorada pela transferência para Marduk do número 50. Isso foi feito por uma repetição, um por um dos "cinqüenta nomes". Começavam com o nome próprio de Marduk, afirmando que fora Anu quem o chamara assim ao nascer, e passando por todos os nomes-epíteto, terminando com Nibiru - a transformação do deus na Terra em deus supremo planetário.

Os cinqüenta nomes são feitos de palavras sumérias ou combinação de sílabas - epítetos de quem quer que tenha possuído os cinqüenta nomes antes que a Epopéia da Criação tivesse sido falsificada para acomodar Marduk; e embora os editores babilônios do texto (escrito em linguagem acadiana) tentassem explicar a seus contemporâneos as enigmáticas palavras sumérias, parece evidente que não conseguiram compreender completamente as mensagens secretas que cada nome continha. Tais significados secretos ou codificados dos nomes-epíteto foram reconhecidos pelo renomado assiriólogo e estudioso bíblico E. A. Speiser; traduzindo o Enuma elish para o inglês como Textos Antigos do Oriente Próximo Relativos ao Velho Testamento, ele observou que "o texto coloca os nomes em palavras de uma forma tornada familiar pela Bíblia; as etimologias, que acompanham virtualmente cada nome da longa lista, são mais cabalísticas e simbólicas do que estritamente lingüísticas".

Existe mais nos Cinqüenta Nomes de natureza "cabalística" do que a observação permite. Os primeiros nove nomes estão listados no final do sexto tablete do Enuma elish, e são acompanhados por vários versos de louvor. Como foi observado por Franz M. Th. Böhl em seu Die fünfzig Namen des Marduk, a autoria dos primeiros nove nomes era atribuída a antepassados não apenas de Marduk, mas do próprio Anu; três deles continham significado triplo; em um desses significados-dentro-de-significados, a habilidade única (e até então inédita) de "reviver deuses mortos" era atribuída a Marduk. Isso, sugeriu Franz Bõhl, poderia ser uma referência à morte e ressurreição de Osíris (da mitologia egípcia), porque os três nomes seguintes (números 10, 11, 12) são variantes do nome-epíteto ASAR (Asaru em acadiano) e, segundo Bohl, três epítetos que se assemelham a três epítetos do deus egípcio.

Com aqueles três nomes-epítetos, o Enuma elish passa ao sétimo tablete - não sem implicações para o Sétimo Dia da Criação, no Gênesis (do qual seis foram períodos de atividades e o sétimo um dia de descanso e contemplação divina); e 7 era, como lembramos, o número planetário da Terra e de Enlil como Comandante da Terra.

Os três epítetos ASAR, depois dos quais a lista de epítetos se tornava diversa e variada, elevavam o total de nomes para doze. São explicados adicionalmente em quatro versos que fornecem os quatro significados internos de cada epíteto ASAR, sugerindo outra vez uma tentativa de incorporar 12 ao texto. A repetição dos cinqüenta nomes incorpora o número divino de Enlil e seu número planetário, o número de membros do Sistema Solar e o de constelações.

"Todas as minhas instruções estão incorporadas nos cinqüenta nomes", anunciou Enki ao final da cerimônia. Nesses nomes, "todos os ritos foram combinados". Com seu próprio punho, "ele os escreveu, preservando-os para o futuro" e ordenou que a escrita fosse guardada no templo em Esagil, que os deuses deveriam construir para Marduk na Babilônia. Lá, a sabedoria secreta seria preservada por uma linhagem de sacerdotes iniciados, passando de pai para filho: "Que sejam guardadas [lá], que o mais velho explique a todos; que o pai sábio e instruído possa passar ao filho".

Que significado mais profundo, que sabedoria secreta conteriam esses cinqüenta nomes, para, de acordo com Enki, encerrar neles tudo o que havia para saber?

Talvez um dia, quando uma nova descoberta nos capacite a decifrar os códigos numéricos dos reis assírios e babilônicos, nós também saibamos tais segredos.

 

UMBIGO DA TERRA

Vinte e quatro anos antes da calamidade nuclear, dois caminhos se cruzaram, não por acidente. Um foi o de um deus cuja Sorte se tornou Destino; o outro foi o de um homem cujo Destino tornou-se Sorte. O deus era Marduk, o homem era Abraão; o lugar onde os caminhos se cruzaram foi Haran.

Um dos resultados disso iria durar até os dias de hoje, quando a Babilônia (hoje Iraque) lançou mísseis mortais sobre a terra de Jerusalém (hoje Israel).

Que Abraão vivesse em Haran é conhecido pela Bíblia. Que Marduk tivesse vagado por terras distantes e tivesse ido à terra dos hititas sabemos por sua autobiografia. Que o lugar específico onde ele passou 24 anos fosse Haran pode ser deduzido por nós a partir da abertura da "autobiografia" de Marduk; ele inicia: "Até quando", dirigindo-se inicialmente aos "deuses de Haran" (ilu Haranim), depois aos deuses presentes, e só depois aos distantes Grandes Deuses que Julgam.

De fato, estar em Haran era uma escolha lógica, pois tratava-se de um importante centro urbano e religioso - situado na encruzilhada das rotas de comércio - e um núcleo de comunicações na fronteira da Suméria e Acádia, mas ainda não no interior. Haran era um quartel-general perfeito para um deus cujo filho estivesse preparando um exército de invasão.

Um período de 24 anos antes da invasão e do holocausto nuclear ocorrido em 2024 a.C. significa que Marduk chegou a Haran em 2048 a.C. Por nossos cálculos (baseados num sincronismo cuidadoso de dados bíblicos, mesopotâmicos e egípcios), isso o colocou nos calcanhares de Abrão/Abraão. Este nasceu, de acordo com os nossos cálculos, em 2123 a.C. Cada movimento de Taré e sua família, conforme demonstramos em As Guerras de Deuses e Homens, estava ligado aos acontecimentos em Ur e no Império Sumério. A Bíblia nos informa que Abrão/Abraão saiu de Haran, seguindo instruções divinas, com a idade de 75 anos. O ano, então, seria 2048 a.C. - o mesmo em que Marduk chegou a Haran! E foi então que Javé - não apenas o "Senhor Deus" - disse para Abraão: Sai de teu país, de tua terra natal e do lugar onde está teu pai e vai para a terra que vou te mostrar". Foi uma partida tripla - do país de Abraão (Suméria), de seu local de nascimento (Nippur) e do lugar onde seu pai morava (Haran); com destino a um lugar que ele não conhecia, pois Javé iria mostrar o caminho a Abraão.

Levando sua esposa, Sarai, e seu sobrinho, Lot, com ele, Abraão foi para a "terra de Canaã". Chegando do norte (atravessando o espaço que seu neto Jacó atravessaria mais tarde), moveu-se para o sul, atingindo um local chamado Alon-Moreh - um nome significando literalmente "o carvalho que aponta", aparentemente um marco que o viajante não podia deixar de encontrar. Para ter certeza de que viajava corretamente, Abraão aguardou instruções; "Javé apareceu ali para Abraão", confirmando que se encontrava no lugar certo. Continuando, Abraão chegou a Beth-El ("Lar de Deus") e novamente" chamou o nome de Javé", e prosseguiu depois sem parar até o Neguev (" A Secura"), a parte mais ao sul de Canaã, próxima à península do Sinai.

Não ficou ali por muito tempo. A comida não era abundante no local. Abraão continuou até o Egito. Costuma-se representá-lo como um chefe nômade beduíno, passando seus dias a pastorear rebanhos ou descansando na tenda. Na verdade, ele tinha de ser muito mais do que isso, de outra forma por que teria sido escolhido por Javé para sair em missão divina? Ele descendia de uma linhagem de sacerdotes; os nomes de sua viúva, Sarai ("princesa"), e da viúva de seu irmão, Milcah ("real"), indicam uma ligação com a linha real suméria. Atingiu a fronteira do Egito enquanto instruía sua esposa em como se comportar quando fossem recebidos na corte do faraó (e mais tarde, de volta a Canaã, ele lidou com reis como seus iguais). Depois de uma estadia de cinco anos no Egito, Abraão retorna ao Neguev, recebendo do faraó grande número de homens e mulheres para seu serviço, rebanhos de carneiros, de gado e de jumentos machos e fêmeas - assim como uma manada de caros camelos. A inclusão dos camelos é significativa, pois eles estavam adaptados para propósitos militares em condições desérticas.

Que um conflito militar se preparava ficamos sabendo no capítulo seguinte do Gênesis (capítulo 14); seria a invasão de Canaã por uma coalizão de reis do Leste - da Suméria e seus protetorados (tais como Elam, nas montanhas Zagros, um local renomado por seus guerreiros). Capturando cidade após cidade à medida que seguiam a Estrada do Rei, fizeram uma volta ao redor do mar Morto e dirigiram-se diretamente para a.península do Sinai. Mas lá, Abraão e seus homens bloquearam o caminho do invasor. Desapontados, os invasores contentaram-se em saquear as cinco cidades da planície fértil (entre as quais estavam Sodoma e Gomorra) ao sul do mar Morto; entre os prisioneiros que fizeram havia Lot, sobrinho de Abraão.

Quando Abraão ficou sabendo que seu sobrinho se tornara cativo, perseguiu os invasores, com 318 de seus melhores homens, até Damasco. Como algum tempo se passara até que um refugiado de Sodoma contasse a Abraão sobre a captura de seu sobrinho, foi uma façanha e tanto o fato de Abraão alcançar os invasores, que já se encontravam em Dan, ao norte de Canaã. Sugerimos que os "jovens treinados" apontados pelo Gênesis eram guerreiros montados nos camelos de uma escultura mesopotâmica.

"Foi depois desses eventos", afirma a Bíblia (Gênesis 15), "que Javé falou a Abraão numa visão: Não temas, Abraão; eu sou teu protetor e a tua paga será infinitamente grande".

É hora de rever a saga de Abraão até aqui e fazer algumas indagações. Por que Abraão recebeu ordem de esquecer tudo e partir para um lugar completamente estranho? O que havia de especial em Canaã? Por que a pressa para atingir o Neguev, na fronteira da península do Sinai? Por que a recepção real no Egito e a volta com um exército e uma divisão de camelos? Qual era o alvo dos invasores do Leste? E por que a derrota deles por Abraão valeu uma promessa de paga "infinitamente grande" por parte de Deus?

Distante da costumeira figura de Abraão como pastor nômade, ele era um excelente líder militar e um ator importante no cenário da política internacional. Sugerimos que tudo pode ser explicado se aceitarmos a realidade da presença anunnaki e levarmos em consideração os outros eventos importantes ocorrendo simultaneamente. O único preço que valia um conflito internacional - ao mesmo tempo que Nabu estava organizando combatentes nas terras a oeste do rio Eufrates - era o espaçoporto do Sinai. Esse foi o objetivo que Abraão - aliado aos hititas e treinado por eles em artes marciais - foi enviado às pressas para defender. Para esse propósito, o faraó egípcio em Mênfis, ele mesmo enfrentando uma invasão por seguidores de Rá/Marduk baseados em Tebas, ao sul, enviou Abraão com uma tropa de camelos e grande número de servos e servas. E foi porque Abraão defendeu com sucesso o espaçoporto que Javé lhe assegurou uma grande recompensa - assim como prometeu proteção de futuras represálias pelo lado derrotado.

A Guerra dos Reis aconteceu, por nossos cálculos, em 2041 a.C. No ano seguinte em que o príncipe do sul capturou Mênfis, no Egito, e destronou o aliado de Abraão, declarando aliança a Amon-Rá, o "oculto" ou "invisível" Rá/Marduk, que ainda se encontrava no exílio. (Depois que Marduk assumiu a supremacia, os novos governantes do Egito começaram a construir em Karnak, um subúrbio de Tebas, o maior templo egípcio em honra a Amon-Rá; alinharam, na majestosa avenida de entrada, uma fileira dupla de esfinges com cabeça de carneiro em honra ao deus cuja época, a Era do Carneiro, chegara.)

As coisas eram um pouco menos confusas na Suméria e em seu império. Previsões celestiais, incluindo um eclipse lunar total em 2031 a.C., avisaram sobre o desastre. Sob a pressão dos guerreiros de Nabu, os últimos reis da Suméria retiraram suas forças e postos de proteção, aproximando-os de Ur, a capital. Havia pouco conforto em agradar aos deuses, já que eles mesmos estavam envolvidos num confronto total com Marduk. Assim como os homens, os próprios deuses olhavam para o céu à procura de augúrios. Um humano, mesmo um qualificado ou escolhido como Abraão, não podia mais proteger a instalação essencial dos anunnaki, o espaçoporto. Assim, em 2024 a.C., com o consentimento do Conselho dos Grandes Deuses, Nergal e Ninurta usaram armas nucleares para evitar que Marduk se apoderasse daquele local estratégico. Tudo é descrito com detalhes no Erra Epos; também é um espetáculo à parte a revolta das "cidades pecadoras", Sodoma e Gomorra.

Abraão foi avisado de que isso aconteceria; a seu pedido, dois Anjos do Senhor foram a Sodoma um dia antes da explosão nuclear do espaçoporto e das cidades, para salvar Lot e sua família. Pedindo tempo para reunir a família, Lot se prevaleceu dos dois seres divinos para adiar o evento até que estivessem num local seguro nas montanhas. Assim, o acontecimento não foi um fenômeno natural, e sim previsível e adiável.

"Ora, tendo-se Abraão levantado ao amanhecer, veio ao lugar onde antes tinha estado com o Senhor. E ao erguer os olhos para Sodoma, Gomorra, e para os países em torno, viu que se elevavam da terra, cinzas inflamadas, como fumaça que sai de uma fornalha."

Sob as ordens de Deus, Abraão afastou-se do local e se aproximou do litoral. Lot e suas filhas escondiam-se nas montanhas, amedrontados; a esposa ficara para trás quando fugiam, e foi vaporizada pela explosão. (A crença de que ela se transformou numa estátua de sal deriva da palavra suméria, que pode ser traduzida como "sal" e como "vapor".) Convencidas de que haviam testemunhado o fim do mundo, as duas filhas de Lot concluíram que a única forma de sobrevivência para a raça humana era que dormissem com o próprio pai. Cada uma teve um filho dessa forma; segundo a Bíblia, os progenitores de duas tribos a leste do rio Jordão: os moabitas e os amonitas.

Em relação a Abraão: "O Senhor cumpriu Sua promessa em relação a Sara" (quando Ele aparecera a eles com os dois Anjos, um ano antes), e Sara concebeu e deu a Abraão, em sua idade avançada, um filho. Abraão tinha 100 anos nesse tempo, e Sara, 90.

Com o espaçoporto destruído, a missão de Abraão terminara. Agora dependia de Deus manter seu lado do acordo. Ele fizera uma aliança com Abraão para dar a ele e a seus descendentes um legado eterno com as terras entre o rio do Egito e o rio Eufrates. Agora, por meio de Isaac, a promessa fora cumprida.

Havia também a questão sobre o que fazer com as outras instalações espaciais.

Existiam com certeza mais duas instalações além do espaçoporto em si. Uma delas era o Campo de Pouso, para onde Gilgamesh se dirigira. O outro era o Centro de Controle da Missão - não mais necessário, porém ainda intacto; um "Umbigo da Terra" pós-diluviano, servindo à mesma função que o "Umbigo da Terra" antediluviano, Nippur.

Para compreender as funções similares e, conseqüentemente, as construções similares, devem-se comparar nossos esboços das instalações espaciais antes e depois do Dilúvio. Antes do Dilúvio, Nippur, designada o "Umbigo da Terra", servia como Centro de Controle de Missão, pois ficava no centro de círculos concêntricos que delineavam o Corredor de Aterrissagem. Cidades dos deuses cujos nomes significavam "Vendo a Luz Vermelha" (Larsa), "Vendo o Halo às Seis" (Lagash) e "Vendo o Halo Brilhante" (Larak), marcavam tanto o espaço eqüidistante quanto a pista de pouso na direção de Sippar ("Cidade Pássaro"), o local do espaçoporto. O Corredor de Aterrissagem, alongado, era baseado nos dois picos gêmeos do monte Ararat - o acidente geográfico mais elevado no Oriente Médio. Onde a linha cruzava com a linha precisa do norte, o espaçoporto deveria ser construído. Assim, o Corredor de Aterrissagem formava um ângulo preciso de 45 graus com o paralelo geográfico.

Depois do Dilúvio, quando a humanidade recebeu a civilização em três regiões, os anunnaki retiveram para si a Quarta Região - a península do Sinai. Lá, na planície central o terreno era plano e duro (perfeito para tanques, como os exércitos modernos concluíram), ao contrário da planície barrenta e inundada pós-dilúvio na Mesopotâmia. Escolhendo outra vez o pico do Ararat como referência, os anunnaki projetaram uma pista de aterrissagem no mesmo ângulo de 45 graus que anteriormente: o paralelo 30 norte.

Na planície central do Sinai, onde a linha diagonal cruza o paralelo 30, deveria ser o espaçoporto. Para completar o projeto, dois outros componentes eram necessários: estabelecer um novo Centro de Controle de Missão, esquematizar e ancorar o Corredor de Aterrissagem.

Acreditamos que a definição do Corredor de Aterrissagem precedeu a escolha do local para o Centro de Controle de Missão. O motivo? A existência do Campo de Pouso nas Montanhas de Cedro, no Líbano.

Cada folclore, cada lenda ligada ao local repete a mesma informação de que o local existia antes do Dilúvio. Assim que os anunnaki retornaram à Terra depois do Dilúvio, tiveram à disposição, no pico do Ararat, um Campo de Pouso real e em funcionamento - não um espaçoporto aparelhado, mas um local para aterrissar. Todos os textos sumérios que lidavam com a concessão à humanidade de animais e plantas "domesticados" (geneticamente alterados), descrevem um laboratório de biogenética nas Montanhas de Cedro, com Enlil agora cooperando com Enki para restaurar a vida na Terra. Todas as modernas evidências científicas corroboram que foi dessa área em particular que o trigo, a cevada e os primeiros animais domésticos vieram. (Aqui, mais um progresso da genética se junta às evidências: um estudo publicado na revista científica Science, de novembro de 1997, aponta o lugar onde o trigo selvagem foi geneticamente manipulado para criar o Cereal Fundamental, ancestral de oito cereais diferentes: por volta de 11.000 anos atrás, naquele local em particular do Oriente Médio!).

Houve todos os motivos para incluir esse local - uma grande plataforma de pedra de enormes proporções - nas novas instalações. Por sua vez, determinado por círculos concêntricos eqüidistantes do local do Centro de Controle de Missão.

Para completar as instalações espaciais, era necessário ancorar o Corredor de Aterrissagem. Pelo sul, dois picos próximos um dos quais permaneceu santificado até hoje com o nome de monte Moisés - estavam à mão. A noroeste, na extremidade eqüidistante não havia picos, apenas um planalto achatado. Os anunnaki, não um faraó mortal, construíram lá duas montanhas artificiais, as duas pirâmides de Gizé (a pequena terceira Pirâmide, conforme sugerimos em A Escada para o Céu, foi construída como modelo protótipo em escala). O projeto ficou completo com um animal "mitológico" esculpido na rocha nativa: a esfinge. Esta olha precisamente ao longo do paralelo 30, para leste, na direção do espaçoporto do Sinai.

Esses eram os componentes do espaçoporto pós-dilúvio dos anunnaki na península do Sinai, como foi construído por eles por volta de 10500 a.C. E quando o campo de pouso e de decolagem na planície central do Sinai foi destruído, os componentes auxiliares permaneceram: as pirâmides de Gizé e a esfinge, o Campo de Pouso nas Montanhas de Cedro e o Centro de Controle de Missão.

O Campo de Pouso, como conhecemos das aventuras de Gilgamesh, estava lá por volta de 2900 a.C. Lá, Gilgamesh testemunhou, uma noite antes de tentar entrar, o lançamento de um foguete. O local permaneceu operante após o Dilúvio - uma moeda fenícia representava em detalhes o que estivera por sobre a plataforma de pedra. A enorme plataforma ainda existe. O lugar é chamado Baalbek - pois era o "Lugar Sagrado do Norte" do deus cananeu Baal. A Bíblia conhecia o lugar como Beth-Shemesh, "Casa/Habitação de Shamash" (o deus-sol), e ficava dentro dos domínios do rei Salomão. Os gregos depois de Alexandre chamaram o lugar de Heliópolis, significando "Cidade de Hélio", o deus-sol, e lá construíram templos para Zeus, sua irmã Afrodite e seu filho Hermes. Os romanos, depois deles, erigiram templos para Júpiter, Vênus e Mercúrio. O templo para Júpiter era o maior templo jamais construído pelos romanos em qualquer lugar do império, pois acreditavam que o local era o oráculo mais importante do mundo, que podia prever o destino de Roma e de seu império.

Os restos dos templos romanos ainda permanecem no alto da imensa plataforma de pedra. Da mesma forma, sem se perturbar com a passagem do tempo, está a própria plataforma. A superfície plana repousa sobre camadas ("andares") de grandes blocos de pedra, alguns pesando centenas de toneladas. De grande renome na Antiguidade é o Trílito - um grupo de três colossais blocos de pedra, lado a lado e formando a parte central, onde a plataforma suportaria a maior carga de impacto. Cada um dos megálitos colossais pesava cerca de 1.100 (mil e cem) toneladas; trata-se de um peso que nenhum equipamento moderno poderia sequer chegar perto de mover ou levantar.

Mas quem poderia ter feito tal coisa na Antiguidade? Lendas locais afirmam: os gigantes. Não apenas colocaram os blocos onde estão, mas também os retiraram, esculpiram e os carregaram por uma distância de quase uma milha [1,6 km]; isso é certo, pois o local de origem das rochas foi identificado. Lá, outro bloco colossal sobressai da montanha meio esculpido; um homem sentado nele fica parecido com uma mosca num bloco de gelo.

No extremo sul do Corredor de Aterrissagem, as pirâmides de Gizé ainda se elevam, desafiando todas as explicações tradicionais, desafiando os egiptólogos a aceitar que foram construídas milênios antes dos faraós, e não por alguns deles. A esfinge ainda olha precisamente ao longo do paralelo 30, guardando seus segredos - talvez até os segredos do Livro de Tot.

E quanto ao Centro de Controle de Missão?

Ele também existe; é um lugar chamado Jerusalém.

Lá também, uma grande e sagrada plataforma repousa sobre blocos colossais de pedra que nenhum homem ou máquina antiga poderia ter movido, erguidos e encaixados em seu lugar.

 

Os registros bíblicos das idas e vindas de Abraão a Canaã incluem dois instantes de trajetos desnecessários; nos dois, o lugar visitado foi o local onde ficaria a futura Jerusalém.

Da primeira vez, isso acontece como um epílogo para a história da Guerra dos Reis. Tendo alcançado e derrotado os invasores em todo o Norte até Damasco, Abraão volta a Canaã com os cativos e o butim.

 

E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro -

quando Abraão voltava de derrotar Codorlaomor

e os reis que estavam com ele

no vale do Save, chamado também Vale do Rei.

 

Mas Melquisedec, rei de Shalem -

porque era sacerdote do Deus Altíssimo -

oferecendo pão e vinho,

abençoou a Abraão, dizendo:

 

"Bendito seja Abraão da parte do Altíssimo Deus,

que criou o Céu e a Terra;

e bendito seja o Altíssimo,

que entregou teus inimigos em tuas mãos".

 

Melquisedec (cujo nome, em hebraico, significa exatamente o mesmo que o acadiano Sharru-kin, "Rei Justo") ofereceu a Abraão um décimo do que ele recuperara. O rei de Sodoma foi mais generoso. Fica com as riquezas, disse ele, devolve-me apenas os cativos. Porém Abraão não queria nada, invocando "Javé, o Altíssimo, Criador do Céu e da Terra", disse que não ficaria nem com um laço de sapato (Gênesis cap. 14).

(Estudiosos debateram essa passagem, e sem dúvida continuam a debater, se Abraão invocou "o Altíssimo" de Melquisedec, ou se quis dizer: Não, Javé é o Altíssimo, por quem vou jurar.)

Essa é a primeira vez que a Bíblia menciona Jerusalém, aqui chamada Shalem. Essa referência ao que mais tarde ficou conhecida como Jerusalém não é baseada apenas em tradições de longa data, mas também na identificação clara do Salmo 76:3. Geralmente se aceita que o nome completo Yeru-Shalem, em hebraico, significa" A Cidade de Shalem". E também pode ser argumentado que a palavra Shalem não fosse um nome e nem mesmo um substantivo, mas um adjetivo, significando "completa", "sem defeito". Nesse caso, o significado seria "O Lugar Perfeito". Se Shalem fosse o nome de uma divindade, o nome poderia ser traduzido por "Aquele que é Perfeito".

Seja honrando um deus, fundada por um Deus, ou o Lugar Perfeito, Shalem/Jerusalém estava localizada num local muito improvável no que se refere às cidades dos homens. Ficava entre montanhas desoladas, longe de cruzamentos comerciais ou militares e distante de fontes de água e comida. Era um local completamente sem água, e o próprio suprimento de água potável estava destinado a ser um dos problemas e vulnerabilidades de Jerusalém. A cidade não se encaixava nas migrações de Abraão nem na rota de invasões pelo leste nem em sua perseguição aos invasores. Por que, então, fazer um desvio para celebrar a vitória - estaríamos inclinados a dizer, para um "lugar esquecido por Deus"? A resposta é que a cidade não era, em definitivo, esquecida por Deus; tratava-se do único lugar, em Canaã, onde havia um sacerdote servindo o Deus Altíssimo. A pergunta seria: por que ali? O que havia de especial naquele lugar?

O segundo desvio aparentemente desnecessário estava relacionado com o teste da devoção de Abraão. Ele realizara sua missão em Canaã. Deus já prometera que sua recompensa seria grande e garantira sua proteção. O milagre de um filho e herdeiro legal numa idade extrema já ocorrera; o nome de Abrão já fora alterado para Abraão, "pai de muitas nações". A terra estava prometida a ele e seus descendentes; a promessa fora incorporada num pacto que envolvera um ritual mágico. Sodoma e Gomorra tinham sido destruídas e tudo estava pronto para que Abraão e seu filho aproveitassem a paz e quietude que sem dúvida haviam merecido.

De repente, "depois de todas essas coisas", afirma a Bíblia (Gênesis cap. 22) "que Deus testou Abraão", dizendo a ele que fosse a um determinado local e lá sacrificasse seu único e amado filho:

 

Toma Isaac, teu filho único,

a quem tu tanto amas,

vai à Terra da Visão (Moriá)

e oferecer-mo-ás em holocausto sobre um dos montes

que eu te mostrarei.

 

Por que Deus resolveu testar Abraão daquela forma sofrida, a Bíblia não explica. Abraão, pronto a cumprir a ordem divina, descobre a tempo ser apenas um teste; um Anjo do Senhor aponta um carneiro preso aos arbustos, o qual deveria ser sacrificado, não Isaac. Mas qual seria o motivo do teste, se realmente era necessário, e por que não poderia ser realizado em Beersheba, onde estavam Abraão e seu filho? Por que a necessidade de empreender a jornada de três dias? Por que ir àquela parte de Canaã que Deus identificou como a terra de Moriá, e lá localizar um monte específico - apontado por Deus - para conduzir o teste?

Em primeiro lugar, devia haver algo especial com a localidade escolhida. Lemos no Gênesis 22:4 que "No terceiro dia, tendo erguido os olhos, Abraão viu o lugar de longe". Se havia algo no qual a terra era rica era em montes desolados; de perto, e certamente a distância, eles deviam ser todos parecidos. Ainda assim, Abraão reconheceu o monte. Tinha de haver algo que o distinguisse de todos os outros montes. Tanto que, depois de terminada a provação, ele deu ao lugar um nome lembrado por muito tempo: O Monte Onde Javé É Visto. Como Crônicas II, 3:1 deixa claro, o monte Moriá era o pico de Jerusalém no qual o Templo foi construído.

Na época em que Jerusalém se tornou uma cidade, englobava três montes. De nordeste para sudoeste, havia o monte Zophim ("Monte dos Observadores", hoje chamado de monte Scopus); ao centro, o monte Moriá ("Monte da Direção"); e o monte Sião ("Monte do Sinal"); esses nomes nos trazem à lembrança a designação das cidades-farol dos anunnaki, marcando Nippur e a Rota de Aterrissagem quando o espaçoporto era localizado na Mesopotâmia.

As lendas hebraicas relatam que Abraão reconheceu o monte Moriá a distância porque viu sobre ele "um pilar de fogo se dirigindo da terra para o céu, e uma nuvem pesada, onde a Glória de Deus era visível". Essa linguagem é quase idêntica à descrição bíblica da presença do Senhor sobre o monte Sinai durante o Êxodo. Colocando o folclore de lado, acreditamos que Abraão viu a grande plataforma que havia no monte.

Uma plataforma que, embora menor do que a de Baalbek, também fazia parte das instalações espaciais dos anunnaki. Pois Jerusalém (antes que se tornasse Jerusalém) era o Centro de Controle de Missão pós-Dilúvio.

E, como em Baalbek, essa plataforma ainda existe.

 

O motivo (para o primeiro) e o propósito (para o segundo) dos desvios agora podem ser focalizados. O cumprimento de sua missão estaria marcado por uma comemoração formal, incluindo uma bênção sacerdotal para Abraão com pão e vinho cerimoniais, no local - o único local em Canaã - diretamente ligado à presença dos elohim. O segundo desvio foi destinado a testar as qualidades de Abraão para um estado determinado depois da destruição do espaçoporto e da desmontagem do Centro de Controle de Missão; e para renovar lá o pacto em presença do sucessor de Abraão, Isaac. Tal renovação do voto divino sem dúvida seguiu-se após o teste:

 

E o Anjo de Javé

chamou Abraão dos céus pela segunda vez

e lhe disse as palavras de Javé:

"Jurei por mim mesmo:

porque fizeste esta ação,

e que, por me obedeceres, não perdoaste

a teu filho único; eu te abençoarei

e multiplicarei tua raça...

E todas as gentes da Terra

serão benditas na tua posteridade".

 

Ao renovar os votos divinos nesse local em particular, o próprio lugar - consagrado desde então - tornou-se parte da herança de Abraão, o Hebreu, e de seus descendentes.

A promessa divina a Abraão, que só se concretizou depois de muito tempo e escravidão numa terra estrangeira por quatrocentos anos. No total, apenas mil anos mais tarde é que os descendentes de Abraão tomariam posse do monte sagrado, monte Moriá. Quando os israelitas chegaram a Canaã depois do Êxodo, encontraram uma tribo de jebusitas ao sul do monte sagrado e os deixaram ficar, pois o momento de tomarem posse do monte sagrado ainda não chegara. Esse prêmio foi concedido, em cerca de 1000 a.C., dez séculos depois do teste de Abraão, quando o rei Davi capturou a vila jebusita e mudou a capital de Hebron para o que seria chamada, na Bíblia, a Cidade de Davi.

É importante compreender que o acampamento jebusita capturado por Davi e sua nova capital não era toda Jerusalém, como agora existe, e nem ao menos é a cidade murada. Essa área capturada e depois conhecida como cidade de Davi situava-se no monte Sião, não no monte Moriá. Mesmo quando o sucessor de Davi, Salomão, ampliou a cidade para nordeste, para uma área chamada de Ophel, ainda assim não englobou a área única para o norte. Indica que a plataforma que se estendia sobre o monte Moriá já existia na época de Davi e Salomão.

O acampamento jebusita, portanto, não ficava no monte Moriá com sua plataforma, porém mais para o sul. (Habitações humanas nas proximidades, mas não no interior de áreas sagradas, eram comuns nos "centros de culto" da Mesopotâmia, como em Ur ou mesmo na Nippur de Enlil, como ficou evidenciado por um mapa de Nippur desenhado num tablete.

Um dos primeiros atos de Davi foi transferir a Arca da Aliança de sua temporária localização na capital, em preparação para que fosse construída a Casa de Javé, de acordo com os planos de Davi. Porém essa honra, disse-lhe o profeta Nathan, não seria sua, em virtude do sangue derramado durante as guerras nacionais e os conflitos pessoais; a honra seria de seu filho Salomão. Tudo o que lhe foi permitido fazer foi erigir um altar; o local preciso foi mostrado a Davi por um "Anjo de Javé, postado entre o Céu e a Terra, apontando-o com a ponta da espada". Também foi lhe mostrado um Tavnit - um modelo em escala - do futuro templo, e recebeu instruções arquitetônicas detalhadas, as quais, quando o tempo certo chegasse, Davi entregaria a Salomão numa cerimônia pública, dizendo:

 

Tudo isso, escrito pela mão Dele,

Javé me fez compreender -

Todos os trabalhos do Tavnit.

 

A extensão dessas especificações detalhadas para o templo e suas várias seções e utensílios rituais podem ser julgadas em Crônicas I, 28:11-19).

 

No quarto ano de seu reinado - 480 anos depois do início do Êxodo, a Bíblia afirma -, Salomão começa a construção do Templo "no monte Moriá, conforme foi mostrado por seu pai, Davi". Enquanto as madeiras cortadas dos cedros no Líbano e o mais puro ouro de Ophir eram importados, e o cobre para as cubas especificadas era minerado e fundido nas famosas Minas do Rei Salomão, a estrutura em si teve de ser erigida com "pedras cortadas e esculpidas, grandes e caras".

As cantarias de pedra precisavam ser preparadas e cortadas em outro local, pois a construção estava sujeita a uma proibição de uso de quaisquer instrumentos de ferro no Templo. Os blocos de pedra deviam ser transportados e trazidos para o templo apenas para serem montados. A Casa era feita de pedras prontas antes de serem rejuntadas; de forma que nenhum machado, martelo ou ferramenta de metal era ouvido na Casa enquanto estava, em construção (I Reis 6:7).

Levou sete anos para completar a construção do Templo e equipá-lo com todos os utensílios rituais. Então no Ano-Novo seguinte ("no sétimo mês"), o rei, os sacerdotes e todo o povo presenciaram a transferência da Arca da Aliança para seu local permanente, no Santo dos Santos, no interior do Templo. "Não havia nada na Arca, exceto as duas tábuas de pedra que Moisés colocara em seu interior", no monte Sinai. Assim que a Arca ficou em seu lugar, sob o querubim alado, "uma nuvem preencheu a casa de Javé", obrigando os sacerdotes a sair. Então Salomão, em pé no altar que ficava no pátio, orou para Deus "que habita no céu" para que viesse e morasse em Sua Casa. Foi mais tarde, naquela noite, que Javé apareceu a Salomão em um sonho e prometeu a ele uma presença divina: "Meus olhos e coração estarão aí para sempre".

O Templo era dividido em três partes. Entrava-se por um grande portão flanqueado por dois pilares especialmente desenhados. A parte da frente era chamada Ulam (Saguão); a parte maior, do meio, era denominada Ekhal, um termo hebraico que derivava do sumério E.GAL (Grande Habitação). Oculta ficava a parte mais interna, o Santo dos Santos. Era chamado de Dvir - literalmente: o que Fala -, pois continha a Arca da Aliança com os dois querubins sobre ela, de onde Deus havia falado a Moisés durante o Êxodo. O Grande Altar e as pias ficavam no pátio, não no interior do Templo.

Dados bíblicos e referências, tradições de idade incontável e evidências arqueológicas não deixam dúvidas de que o Templo que Salomão construiu (o Primeiro Templo) erguia-se sobre a grande plataforma que ainda coroa o monte Moriá (também conhecido como Monte Sagrado, Monte do Senhor ou Monte do Templo). Dadas as dimensões do Templo e o tamanho da plataforma, é geralmente aceito que a Arca da Aliança, no interior do Santo dos Santos, ficava sobre uma saliência rochosa, uma Pedra Sagrada que, de acordo com as tradições, foi a pedra sobre a qual Abraão deveria sacrificar Isaac. A rocha foi chamada, nas escrituras hebraicas, de Even Sheti'yah - "Pedra do Alicerce" -, pois foi dessa pedra que "o mundo inteiro foi tecido". O profeta Ezequiel (38:12) a identificou como o Umbigo da Terra. A tradição estava tão enraizada que artistas cristãos da Idade Média representaram o lugar como o Umbigo da Terra e continuaram a fazer assim até depois do descobrimento da América.

O Templo que Salomão construiu (o Primeiro Templo) foi destruído pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, em 576 a.C. e foi reconstruído por exilados judeus voltando da Babilônia setenta anos depois. Esse Templo reconstruído, conhecido como o Segundo Templo, foi mais tarde substancialmente ampliado e engrandecido pelo rei Herodes, durante seu reinado de 36 a 4 a.C. Porém o Segundo Templo, em todas as suas fases, aderiu ao projeto, localização e situação original do Santo dos Santos em relação à Rocha Sagrada. E quando os muçulmanos tomaram Jerusalém no século VII, alegaram que fora daquela Rocha Sagrada que o profeta Maomé subira aos céus para uma visita noturna; fizeram um santuário no local, construindo um Domo da Rocha para abrigá-lo e aumentá-lo.

 

Geologicamente, a rocha é uma extensão das rochas naturais abaixo, elevando-se sobre o nível da plataforma de pedra cerca de 1,50 m a 1,80 m (a superfície não é regular). Mas é uma "protuberância" bastante incomum em mais de uma forma. Sua face visível foi cortada e moldada com impressionante grau de precisão, para formar um receptáculo retangular, alongado, horizontal e vertical, além de nichos de várias profundidades e tamanhos. Tais nichos artificiais tinham os mesmos propósitos para quem quer que tivesse feito as incisões na rocha. O que foi apenas suposto há muito tempo (Hugo Gressmann, Altorientalische Bilder zum Alten Testament) foi confirmado por pesquisadores recentes (tais como Leen Ritmeyer, Locating the Original Temple Mount ("Localizando o Monte do Templo Original"): a Arca da Aliança e as paredes do Santo dos Santos foram colocadas onde o corte longo e os outros nichos foram feitos na pedra.

As implicações dessas descobertas é que os cortes e nichos na face da rocha datam, no mínimo, da época do Primeiro Templo. Não existe, entretanto, nenhuma menção nas passagens relevantes da Bíblia de tais cortes efetuados por Salomão; teria sido virtualmente impossível por causa da proibição estrita contra o uso de machados de metal e outras ferramentas no monte!

O enigma da Rocha Sagrada e o que havia sobre ela foram aumentados pelo mistério do que pode ter estado abaixo. Pois a rocha não é uma simples protuberância. Ela é oca!

Na verdade, com a devida permissão, pode-se descer um lance de escadas construídas pelas autoridades muçulmanas e chegar a uma caverna na rocha, cujo teto é a protuberância que forma o altar da Rocha Sagrada. Essa caverna - se é natural ou não fica incerto - também apresenta alguns nichos e receptáculos, tanto nas paredes rochosas quanto (como podia ser constatado antes que o chão ficasse coberto com tapetes de orações) no piso. Num dos locais, observamos o que parece uma abertura para um túnel escuro; mas do que se trata e onde desemboca é um bem-guardado segredo muçulmano.

Viajantes do século XIX afirmaram que essa caverna não é a única cavidade subterrânea associada à Rocha Sagrada; afirmam que existe outra ainda, mais abaixo. Pesquisadores israelenses, barrados fanaticamente na área, determinaram, com a ajuda de radar subterrâneo e tecnologia de sonar, que realmente existe outra cavidade enorme sob a Rocha Sagrada.

Essas cavidades misteriosas deram origem à especulação não apenas sobre possíveis tesouros do Templo, ou registros do Templo, que podem ter sido ocultados ali quando o Primeiro Templo e o Segundo Templo estivessem a ponto de serem invadidos e destruídos. Existem ainda especulações sobre se a Arca da Aliança, que a Bíblia cessa de mencionar depois que o faraó egípcio Sheshak saqueou (mas não destruiu) o Templo, por volta de 950 a.C., poderia estar escondida ali. Mas por enquanto não passam de especulações.

O que é certo, todavia, é que os profetas e salmistas se referiam a essa Rocha Sagrada quando usavam o termo "Rocha de Israel" como eufemismo para "Javé". E o profeta Isaías (30:29), falando de um tempo futuro de redenção universal no Dia do Senhor, profetizou que as nações da Terra virão a Jerusalém para louvar o Senhor "no Monte de Javé, na Rocha de Israel".

O Monte do Templo é coberto por uma plataforma horizontal de pedra, em forma de retângulo levemente irregular (em virtude do formato do terreno), cujo tamanho é de cerca 490 m por 275 m, para um total de aproximadamente 140.000 m2. Embora acredite-se que a plataforma atual inclua partes - no extremo sul e possivelmente também ao norte - que foram acrescentadas entre a construção do Primeiro Templo e a destruição do Segundo Templo, é certo que a maior parte da estrutura da plataforma é original; é o que acontece sem dúvida na parte levemente erguida onde a Rocha Sagrada e o Domo da Rocha estão localizados.

As mais recentes escavações revelaram que, à medida que os lados visíveis das paredes de retenção aparecem, as encostas naturais do monte Moriá inclinam-se consideravelmente de norte para sul. Embora não se possa dizer com certeza qual o tamanho da plataforma no tempo de Salomão, nem avaliar com precisão a profundidade das encostas a serem preenchidas, uma estimativa arbitrária de uma plataforma medindo apenas 90.000 m2 e uma profundidade média de 18 m (muito menos ao norte, muito mais ao sul), resulta num volume de entulho (terra e rochas) de aproximadamente 1.700.000 m3. Trata-se de uma obra de proporções consideráveis.

Ainda assim, não há na Bíblia menção ou mesmo sugestão de tal empreendimento. As instruções para o Primeiro Templo cobrem páginas inteiras da Bíblia; cada detalhe é fornecido, as medidas são precisas em um grau impressionante, o local em que esse ou aquele artefato deve estar é especificado, o comprimento dos varais usados para carregar a Arca é dado, e assim por diante. Porém tudo se aplica à Casa de Javé. Nem uma palavra sobre a plataforma de sustentação; isso só poderia significar que a plataforma já se encontrava ali, não havia necessidade de construí-la.

Em contraste com essa ausência de detalhes estão as repetidas referências, em Samuel II e Reis I, ao Millo, literalmente "o preenchimento" - um projeto iniciado por Davi e ampliado por Salomão para preencher parte da inclinação no canto sudeste da sagrada plataforma, de forma que a Cidade de Davi pudesse expandir-se para o norte, mais próxima à antiga plataforma. Fica claro que os dois reis se sentiam orgulhosos do que realizaram e certificaram-se de que fosse registrado pelas crônicas reais. (Escavações recentes na área indicam, entretanto, que a obra foi realizada construindo uma série de terraços que diminuíam à medida que se elevavam; uma maneira mais fácil do que cercar com um muro de contenção a área a ser nivelada e encher com entulho o espaço interior).

Esse contraste sem dúvida corrobora a conclusão de que nem Davi nem Salomão construíram a vasta plataforma no monte Moriá, com as enormes paredes de retenção e a quantidade fabulosa de entulho requerida. Todas as evidências sugerem que a plataforma já existia quando a construção do Templo foi planejada.

Quem teria construído tal plataforma, com toda a terraplenagem e trabalhos em pedras realizados? Nossa resposta, claro, é: os mesmos mestres construtores que fizeram a plataforma em Baalbek (e também a vasta e precisamente posicionada plataforma onde repousa a Grande Pirâmide de Gizé.)

A grande plataforma que cobre o Monte do Templo é cercada por paredes que servem tanto como muros de contenção quanto como fortificações. A Bíblia registra que Salomão construiu tais paredes, assim como os reis judeus depois dele. Porções visíveis das paredes, sobretudo ao sul e a leste, apresentam construções de vários períodos posteriores. Invariavelmente, a parte mais baixa (portanto a mais antiga) é feita com blocos maiores e mais bem cortados. Dessas paredes, apenas a parede oeste, por tradição e confirmado pela arqueologia, permaneceu santificada como um testemunho da época do Primeiro Templo - pelo menos na parte inferior, onde as cantarias (blocos de pedra perfeitamente cortados e aparelhados) são maiores. Por quase dois milênios, desde a destruição do Segundo Templo, os judeus se apegaram a essa relíquia, orando a Deus e procurando ajuda pessoal ao inserir pedacinhos de papel com pedidos a Deus entre as pedras, lamentando-se da destruição do templo e da dispersão do povo judeu - tanto assim que os cruzados e outros conquistadores de Jerusalém apelidaram o Muro Oeste de "Muro das Lamentações".

Até a reunificação de Jerusalém por Israel em 1967, o Muro Oeste não era mais do que uma nesga de parede, com cerca de 30 m aproximadamente, espremida entre residências. Em frente havia um espaço estreito para os peregrinos, e em ambos os lados, elevando-se por sobre as casas, encravava-se no monte. Quando as casas foram removidas, uma grande praça formou-se em frente ao Muro Oeste e toda a sua extensão até o lado sul foi revelada. Pela primeira vez em quase dois milênios, percebeu-se que as paredes estendiam-se para baixo quase tanto quanto a parte que fora exposta ao que se considerou o nível do solo. Como ficou sugerido pela parte visível do Muro das Lamentações, as pedras embaixo eram maiores, mais bem trabalhadas e muito mais antigas.

Acenando com mistério e uma promessa de segredos antigos era a extensão do muro oeste para o norte.

Lá, o capitão Charles Wilson explorou, na década de 1860, um arco (que ainda leva o nome dele) que levava para o norte por uma passagem como um túnel, e para oeste por uma série de câmaras e arcadas. A remoção de entulho revelou que o nível da rua ficava várias camadas mais baixo, agora subterrâneo, num complexo de estruturas antigas que incluíam mais passagens e abóbadas. Quanto para baixo e para o norte as estruturas se estendiam? Era um quebra-cabeça que os arqueólogos israelenses finalmente começavam a montar.

No final, o que descobriram foi espantoso.

Usando dados da Bíblia, do Livro dos Macabeus e dos textos do historiador judeu-romano Josefo (e por levar em conta uma lenda medieval pela qual o rei Davi sabia de uma forma de subir o monte pela face oeste), os arqueólogos concluíram que o Arco de Wilson era a entrada do que parecia ter sido anteriormente uma rua aberta que corria ao longo do Muro Oeste, e que o próprio muro se estendia para o norte por dezenas de metros. A limpeza cuidadosa do material depositado confirmou essas previsões, levando, em 1996, à abertura do Túnel Arqueológico (um acontecimento que ganhou as manchetes por mais de um motivo).

Estendendo-se por cerca de 500 m desde seu início no Arco de Wilson até o final, na Via Dolorosa (onde Jesus caminhou carregando a cruz), o túnel do Muro Oeste passa através de restos de ruas, túneis de água, piscinas, arcos, estruturas e mercados de épocas bizantina, romana, herodiana, hasmoneanas e dos tempos bíblicos. A emocionante experiência de andar ao longo do túnel, bem abaixo do nível do solo, é como ser transportado numa máquina do tempo - para trás a cada passo.

Entrementes, o visitante pode ver - e tocar - as pedras do muro de contenção oeste que pertenceram a uma época mais remota. Caminhos ocultos há milênios foram descobertos. Na seção mais ao norte, a base rochosa natural pode ser vista, erguendo-se. Porém a maior surpresa para os visitantes, assim como o foi para os arqueólogos, está na porção sul do muro:

Lá, no antigo nível da rua, mas não ainda o nível mais baixo, foram empregados vários blocos, e sobre eles quatro colossais blocos, cada um pesando centenas de toneladas!

 

Naquela porção do Muro Oeste, uma secção de 36 m foi feita de blocos de pedra com extraordinários 3,3 m de altura, cerca do dobro do que os maiores blocos abaixo. Apenas quatro blocos formam essa secção; um deles possui o descomunal comprimento de 12,8 m; outro tem um comprimento de 12 m, e um terceiro mede 7,6 m. O maior dos três, portanto, possui uma massa de pedra com 184 m3 de rocha, pesando cerca de 600 toneladas! O outro, menor, pesa cerca de 570 toneladas, e o terceiro, por volta de 355.

São medidas e pesos colossais por qualquer parâmetro; os blocos usados na construção da Grande Pirâmide de Gizé pesam cerca de 2,5 toneladas em média, com o maior de todos pesando cerca de 15 ton. De fato, a única comparação que vem à cabeça são os três Trílitos na grande plataforma de pedra em Baalbek, que formam uma área um tanto menor, mas cujos blocos são, mesmo assim, colossais.

Quem poderia ter instalado blocos tão colossais, e para quê? Como os blocos possuem reentrâncias em suas bordas, os arqueólogos presumem que eles sejam da época do Segundo Templo (ou mais especificamente do período de Herodes, do século I a.C.) Mas mesmo aqueles que sustentam ser a plataforma original menor do que a presente, concordam que a porção central que engloba a Rocha Sagrada, e à qual pertence o enorme muro de retenção, já existia na época do Primeiro Templo. Naquele tempo, a proibição quanto ao uso de ferramentas metálicas (que data da época de Josué) era rigorosamente respeitada. Todos os blocos utilizados por Salomão, sem exceção, foram cortados, esculpidos e preparados em outro local e depois trazidos apenas para serem montados. Que esse tenha sido o caso com os blocos colossais se torna claro pelo fato de que eles não fazem parte da rocha nativa; estão bem acima e possuem uma tonalidade diferente. (Na verdade, as últimas descobertas a oeste de Jerusalém sugerem que podem ter vindo de lá). Como foram transportados e elevados até o nível necessário, depois encaixados nos locais adequados, permanecem questões que os arqueólogos são incapazes de resolver.

Foi sugerida, entretanto, uma resposta à pergunta "para quê?" O chefe dos arqueólogos do local, Dan Bahat, numa matéria para a revista Biblical Archaeology Review, afirma: "Acreditamos que a outra face [leste] do muro Oeste nesse ponto, sob o Monte do Templo, é um enorme salão; nossa teoria é que a Viga Mestra [como essa secção veio a ser conhecida] foi instalada para apoiar e servir de contrapeso para a arcada interna".

Essa secção com os enormes blocos de pedra localiza-se ligeiramente ao sul da Rocha Sagrada. A única explicação plausível parece ser a sugestão de que essa secção era necessária para suportar altos impactos associados com a função do local como Centro de Controle de Missão, com o equipamento instalado no interior e exterior da Rocha Sagrada.

 

UM TEMPO DE PROFECIA

Teria sido a demora para construir o Templo de Jerusalém devida à razão fornecida - o derramamento de sangue por Davi em guerras e feudos - ou foi apenas uma desculpa, obscurecendo outro motivo mais profundo?

Pode-se estranhar que o período de tempo que se passou do pacto renovado com Abraão (e naquela ocasião também com Isaac) no monte Moriá até quando o templo foi construído, passaram-se exatamente mil anos. É estranho porque o exílio de Marduk também durou mil anos; e isso parece ser mais do que uma simples coincidência.

A Bíblia deixa claro que a época do início da construção do Templo foi determinada por Deus; embora os detalhes arquitetônicos estivessem prontos, foi Ele quem disse, por intermédio do profeta Nathan: Ainda não, Davi não, mas o próximo rei, Salomão. Da mesma forma, é evidente que não foi o próprio Marduk quem estabeleceu o tempo de seu exílio. Na verdade, é evidente que ele, desesperado, perguntou: até quando? Isso significa que ele não era conhecedor do tempo de seu exílio, que era determinado pelo que se poderia chamar de Sorte - ou, deliberadamente, pela mão invisível do Senhor dos Senhores, o Deus que os hebreus chamavam de Javé.

A idéia de que um milênio - mil anos - significa mais do que um evento de calendário, prevendo eventos apocalípticos, é tida como derivada de uma narrativa visionária no Apocalipse, capítulo 20, em que é profetizado que o "Dragão, aquela velha serpente, que é o Diabo e Satã", ficará preso por mil anos, atirado num poço e fechado lá por mil anos, incapaz de enganar as nações, até que o período de mil anos tenha sido cumprido. Então Gog e Magog irão envolver-se numa guerra mundial; a Primeira Ressurreição dos mortos vai ocorrer, e a Era Messiânica começará.

Essas palavras visionárias, introduzindo no Cristianismo a noção (e expectativa) de um milênio apocalíptico, foram escritas no século I d.C. Portanto, embora o livro mencione a Babilônia como "império cruel", os estudiosos e teólogos acreditam que se tratava de um codinome para Roma.

Mesmo assim, é significativo que as palavras no Apocalipse ecoam as palavras do profeta Ezequiel (século VI a.C.), que menciona uma visão da ressurreição dos mortos no Dia do Senhor (capítulo 37) e a guerra mundial de Gog e Magog (capítulos 38, 39) deverá ocorrer no "final dos anos". Tudo foi revelado pelo profeta de Javé nos Dias Antigos, que "profetizara sobre os Anos".

"Os anos" a serem preenchidos, a contagem até o "Final dos Anos". Muitos séculos, sem dúvida, passaram-se antes que chegasse a época de Ezequiel e a Bíblia oferecesse uma pista:

 

Mil anos,

aos olhos Dele,

não representam mais do que a passagem de um dia.

 

A afirmação, no Salmo 90:4, é atribuída na Bíblia ao próprio Moisés; a aplicação de um milhar de anos a um tempo divino remonta, no mínimo, ao Êxodo. De fato, o Deuteronômio (7:9) assinala a duração do Pacto Divino com Israel por um período de "mil gerações", e no salmo que Davi compôs quando a Arca da Aliança foi trazida para a Cidade de Davi, a duração de um milhar de gerações é mencionada mais uma vez (Crônicas 1,16:15). Outros salmos repetidamente aplicam o número "mil" para falar de Javé e suas maravilhas; o Salmo 68:18 fornece mil anos para a duração da Carruagem do Elohim.

A palavra hebraica para "mil", Eleph, é escrita com três letras: Aleph ("A"), Lamed ("L") e Peh ("P" ou "F"). Também pode ser lida como Aleph, significando a primeira letra do alfabeto, numericamente igual a "1". As três letras, somadas, perfazem o valor numérico de 111 (1+30+80), que pode ser encarado como tríplice afirmação da Unidade de Javé e do monoteísmo; sendo "Um" a palavra-código para "Deus". Não foi por acaso que as três letras arranjadas de outra forma (P-L-A) formam a palavra Peleh - a maravilha das maravilhas, um epíteto para o trabalho de Deus e os mistérios do Céu e da Terra, que estão fora da compreensão humana. Essa maravilha das maravilhas refere-se principalmente às coisas criadas e previstas no passado remoto; também foram objeto das perguntas de Daniel, quando procurou prever o Final dos Tempos (12:6).

Dessa forma, parecem existir rodas dentro de rodas, significados no interior de significados, códigos dentro de códigos naqueles versos relacionados com o período de um milênio: não apenas no sentido óbvio numérico da seqüência do passar do tempo, mas também uma duração da Aliança, uma afirmação em código do monoteísmo e uma profecia em relação ao milênio e ao Final dos Tempos.

E como a Bíblia deixa claro, o milhar de anos cuja contagem se iniciou com a construção do Templo - coincidiu com o que é agora chamado de último milênio a.C. - era uma época de profecias.

 

Para compreender os eventos e profecias do último milênio, é preciso voltar no relógio ao milênio anterior, à calamidade nuclear e à aceitação da supremacia de Marduk.

O Texto das Lamentações descreve a destruição e a desolação que tomaram conta da Suméria e Acádia à medida que a nuvem radioativa mortal progredia na direção da Mesopotâmia, e descreve como os deuses fugiram apressadamente de seus "centros de culto" enquanto o "Vento Mau" se aproximava deles. Alguns se "escondiam nas montanhas", outros "escapavam para terras distantes". Inana, deixando suas posses para trás, velejou para a África num navio submersível; a esposa de Enki, Ninki, "voando como um pássaro, foi para o Abzu, na África, enquanto procurava um lugar seguro ao norte; Enlil e Ninlil partiram para um destino desconhecido, assim como a solteira Ninharsag. Em Lagash, a deusa Bau viu-se sozinha, pois Ninurta partira desde a explosão nuclear; "chorou amargamente por seu templo" e permaneceu; o resultado foi trágico, pois "Naquele dia a tempestade a alcançou; Bau, como se fosse mortal, a tempestade a alcançou".

A lista de deuses que fugiram continua, até chegar a Ur e suas divindades. Lá, conforme mencionamos, Nanar/Sin se recusava a acreditar que o destino de sua cidade estava selado. Na lamentação que ela mesma escreveu mais tarde, seu esposo, Ningal, descreveu como, a despeito do cheiro desagradável dos mortos, cujos cadáveres lotavam a cidade, eles ficaram "e não fugiram". Nem fugiram na noite que seguiu o dia terrível. Porém pela manhã, as duas divindades, encolhidas na câmara subterrânea de seu zigurate, compreenderam que a cidade estava condenada, e também partiram.

A nuvem nuclear, dirigindo-se para o sul em virtude dos ventos, poupou a Babilônia; isso foi tomado como um presságio, reforçando os cinqüenta nomes que Marduk recebeu como indicação de sua merecida supremacia. Seu primeiro passo foi realizar a sugestão de seu pai, de que os próprios anunnaki construíssem para ele sua casa/templo na Babilônia, a E.SAG.IL ("Casa da Cabeça Elevada"). A esse projeto na área sagrada foi adicionado um novo templo para a comemoração do Ano-Novo e para a leitura da Enuma elish revisada; seu nome, E.TEMEN.AN.KI ("Casa da Fundação Céu-Terra"), claramente indicava que substituíra a DUR.AN.KI ("Ligação Céu-Terra") de Enlil, que estivera no centro de Nippur quando era o Centro de Controle de Missão.

Os estudiosos prestaram atenção a essas questões matemáticas na Bíblia, deixando intocado o que deveria ter sido encarado como um enigma: por que a Bíblia Hebraica adotou completamente o sistema decimal, embora Abraão fosse um Ibri - um sumério de Nippur - e todas as histórias no Gênesis (como é indicado em Salmos e em todos os outros lugares) foram baseadas em textos sumérios? Por que o sistema sexagesimal (''base 60") sumério não encontrou eco na numerologia da Bíblia - a prática que culminou no conceito de milênio?

Fica-se pensando se Marduk conhecia essa questão. Ele marcou sua idéia de supremacia proclamando uma Nova Era (a Era do Carneiro), revendo o calendário e construindo um novo Portal dos Deuses. Nesses degraus podem-se encontrar evidências de uma nova matemática - uma mudança silenciosa do sistema sexagesimal para o decimal.

O ponto focal dessas mudanças foi o templo-zigurate que o honrava, que Enki sugeriu que fosse construído pelos próprios anunnaki. Descobertas arqueológicas das ruínas (depois de reconstruções sucessivas), assim como informações contidas nos tabletes, com detalhes precisos da construção, revelam que o zigurate foi erguido em sete estágios, o mais elevado dos quais servia como residência de Marduk. Planejado (como o próprio Marduk afirmou) "de acordo com os textos do Céu Superior", tratava-se de uma estrutura quadrada cuja base ou primeiro estágio mediam 15 gar (cerca de 90 m de cada lado) e se elevava 5,5 gar (33 m). Acima desse havia outro estágio, menor e mais curto; assim por diante, até que todo o templo alcançasse uma altura combinada de 300 m, como os lados da base. O resultado era um cubo cuja circunferência era de 60 gar em cada uma das dimensões, conferindo à estrutura o número celestial de 3.600 quando elevado ao quadrado (60 x 60), e 216.000 quando elevado ao cubo (60 x 60 x 60). Porém nesse número estava oculta uma mudança para o sistema decimal, já que representava o número zodiacal 2.160 multiplicado por 100.

Os quatro lados do zigurate eram orientados com precisão para os quatro pontos cardeais da bússola. Um estudo feito por astro-arqueólogos demonstrou que a altura de cada um dos seis estágios era calculada com precisão para permitir observações do céu naquela região geográfica. O zigurate não tivera apenas a intenção de ultrapassar o Ekur de Enlil, mas também de assumir funções astronômicas e de produção de calendários.

Assim foi realizada a revisão do calendário - uma questão de prestígio teológico, além da necessidade, por causa da alteração zodiacal (de Touro para Áries), também necessitava do ajuste de um mês no calendário se Nissan ("O Porta-Estandarte") continuasse o primeiro mês do calendário e o mês do equinócio de primavera. Para conseguir isso, Marduk ordenou que o último mês do ano, Addar, deveria ser dobrado naquele ano. (O recurso de dobrar o mês de Addar sete vezes num ciclo de dezenove anos foi adotado no calendário hebraico como forma de realinhar periodicamente os anos solares e lunares).

Assim como na Mesopotâmia, o calendário também foi revisto no Egito. Originalmente idealizado por Tot, cujo "número secreto" era 52, dividia o ano em 52 semanas de sete dias cada uma, resultando num ano solar de 364 dias (um assunto importante no Livro de Enoch). Marduk (como Rá) instituiu, em vez disso, uma divisão do ano baseada em 10: dividiu o ano em 36 decans de dez dias cada; os 360 dias resultantes eram então seguidos por cinco dias especiais, para completar 365.

A Nova Era introduzida por Marduk não era monoteísta. Marduk não se declarou o único deus; na verdade, ele precisava que os outros deuses estivessem presentes para saudá-lo como supremo. Para esse propósito, providenciou santuários, pequenos templos e residências para os deuses principais, e os convidou a irem morar lá. Nos textos não existe indicação de que tenham aceitado o convite. Na verdade, quando a dinastia idealizada por Marduk finalmente foi instalada na Babilônia por volta de 1890 a.C., os deuses dispersados começaram a estabelecer seus próprios domínios ao redor da Mesopotâmia.

Importante entre eles foi Elam no leste, com Susa (mais tarde a bíblica Shushan) como sua capital e Ninurta como o "deus nacional". Para o oeste, ficava um reino cuja capital era chamada Mari (do termo Amurru, a Ocidental), que floresceu às margens ocidentais do Eufrates; seus palácios magníficos eram decorados com murais mostrando Ishtar coroando o rei, mais uma prova da alta reputação da deusa ali. Nas montanhas, terra dos Hatti, onde os hititas já adoravam o filho mais novo de Enlil, Adad, usando seu nome hitita, Teshub (O Deus do Vento/Tempestade), começou a crescer um reino com força e aspirações a tornar-se um império. E entre a terra dos hititas e a Babilônia havia um reino novo - o da Assíria, com um panteão idêntico ao dos sumérios e acadianos, com exceção do deus nacional, que se chamava Ashur - "Aquele que Vê". Combinava os poderes de Enlil e Anu, e sua representação era feita no interior de um objeto circular alado; dominava os monumentos assírios.

Na África distante, havia o Egito, o Reino do Nilo. Porém lá o período era caótico, chamado pelos estudiosos o Segundo Período Intermediário, o que removeu o país do cenário internacional até que o Novo Reinado começasse, por volta de 1650 a.C.

Os estudiosos acham difícil explicar por que o Oriente Médio se agitou naquele período. A nova (17ª.) dinastia que assumiu o controle do Egito foi tomada de fervor imperial, atirando-se contra a Núbia ao sul, contra a Líbia a oeste e contra as terras da costa do Mediterrâneo. Na terra dos hititas, um novo rei enviou seu exército através da barreira das montanhas Taurus, também ao longo da costa mediterrânea; seu sucessor conquistou Mari. E na Babilônia, o povo dos cassitas apareceu subitamente (vindo das montanhas a nordeste da região ao longo do mar Cáspio) e atacou a Babilônia, extinguindo abruptamente a dinastia que começara com Hamurabi.

À medida que cada nação clamava por ir à guerra em nome e sob as ordens de seu deus nacional, os conflitos poderiam representar uma luta entre os deuses, usando seus devotos humanos. Uma pista que parece confirmar esse fato é que todos os nomes teofóricos dos faraós da 18º. dinastia largaram o sufixo ou prefixo Rá ou Amen em favor de Tot. A mudança, que se iniciou com Tutmés (algumas vezes chamado de Tutmósis) I em 1525 a.C., marcou também o início da opressão dos israelitas. O motivo dado pelo faraó é revelador: ao empreender expedições militares contra os naharin, no Alto Eufrates, ele temia que os israelitas se tornassem uma quinta-coluna interna. O motivo? Naharin era a própria área onde se localizava Haran, e onde as pessoas descendiam dos parentes patriarcas.

Ainda que isso explique os motivos para a opressão dos israelitas, deixa inexplicado por que e com que propósito os egípcios - agora venerando Tot - enviaram exércitos para conquistar a distante Haran. É um mistério que é bom manter na memória.

As expedições militares por um lado e a opressão dos israelitas por outro, que terminou com o edito ordenando a matança de todos os recém-nascidos machos dos israelitas, atingiram seu ápice sob o reinado de Tutmés III, forçando Moisés a fugir depois de ter optado por seu povo. Ele só pôde voltar do deserto do Sinai para o Egito depois da morte de Tutmés III, em 1450 a.C. Dezessete anos mais tarde, em seguida a reiterados pedidos e a uma série de pragas lançadas por Javé sobre o Egito e seus deuses, os israelitas puderam partir e o Êxodo começou.

Dois incidentes mencionados na Bíblia e uma mudança importante no Egito indicam repercussões teológicas entre outros povos como resultados de milagres e maravilhas atribuídos a Javé em apoio a seu povo escolhido.

"Ora Jetro, sacerdote de Madian e sogro de Moisés, tendo ouvido tudo o que Deus tinha feito a favor de Moisés e do seu povo de Israel", lemos no Êxodo, cap. 18, foi até o acampamento de Moisés e escutou dele tudo o que se passara, comentando: "Agora conheço que Javé é grande sobre todos os deuses", e ofereceu sacrifícios a Javé. O incidente seguinte (descrito em Números 22-24) ocorreu quando o rei moabita reteve o vidente Balaan, pedindo que ele lançasse uma maldição nos israelitas que avançavam. Mas "O espírito de Deus desceu sobre Balaan" e, numa "visão divina", ele viu que a Casa de Jacó era abençoada por Javé, e que Sua palavra não podia ser contrariada.

O reconhecimento por um sacerdote não-hebreu e pelo vidente dos poderes e da supremacia de Javé teve um efeito inesperado na família real egípcia. Em 1379 a.C. - quando os israelitas entravam em Canaã -, um novo faraó [Amenófis I] que substituiu seu nome por Akhenaton, representado pelo disco alado, mudou sua capital para outro lugar e começou a adorar um deus único. Foi uma experiência breve, encurtada pelos sacerdotes de Amon-Rá. Breve também foi o conceito de paz universal que acompanhou a fé em um deus universal. Em 1296 a.C., o exército egípcio, sempre insistindo em atacar a região de Haran, foi derrotado definitivamente pelos hititas na batalha de Kadesh (onde hoje é o Líbano).

Enquanto os hititas e os egípcios fustigavam uns aos outros, havia mais espaço para os assírios se estabelecerem. Uma série de expansões virtualmente em todas as direções culminou na reconquista da Babilônia pelo rei assírio Tukulti-Ninurta I - um nome teofórico que indicava uma aliança religiosa - e na captura do deus da Babilônia, Marduk. O que se seguiu é típico do politeísmo da época: longe de denegrir o deus, ele foi trazido para a capital assíria e, quando chegou a hora da cerimônia do Ano-Novo, foi Marduk, não Ashur, quem presidiu os rituais antigos. Essa "unificação de igrejas", para forjar uma expressão, não conseguiu evitar a crescente exaustão entre os reinos outrora imperiais; por muitos séculos, os dois antigos poderes da Mesopotâmia juntaram-se ao Egito e aos hititas numa retração e perda de fervor conquistador.

Sem dúvida foi essa retração de tentáculos imperiais que tornou possível o surgimento de cidades-Estados na Ásia Ocidental, sobretudo ao longo da costa do Mediterrâneo, na Ásia Menor e até mesmo na Arábia. Esse surgimento, entretanto, tornou-se um ímã que atraiu imigrantes e invasores de todas as direções. Invasores que vieram em navios - os "Povos do Mar", como os egípcios os chamavam - tentaram acomodar-se no Egito e acabaram ocupando a costa de Canaã. Na Ásia Menor, os gregos lançaram mil navios contra Tróia. Pessoas falando línguas indo-européias forçaram caminho pela Ásia Menor e rio Eufrates abaixo. Os primeiros persas invadiram Elam. Na Arábia, tribos que se tornaram ricas controlando rotas de comércio começaram a voltar os olhos para o norte.

Em Canaã, cansados de guerrear contra cidades-reinados ao redor, os israelitas enviaram, por intermédio do alto sacerdote Samuel, um pedido a Javé: Torne-nos uma nação forte, dê-nos um rei!

O primeiro foi Saul; depois dele veio Davi, e em seguida a transferência da capital para Jerusalém.

A Bíblia lista Homens de Deus durante esse período, chegando a chamá-los "profetas" no sentido estrito da palavra: "porta-vozes" de Deus. Entregavam mensagens divinas, mas apresentavam mais as qualidades de sacerdotes de oráculo, conhecidos por todos na Antiguidade.

Foi apenas depois da construção do Templo para Javé que a profecia - a predição das coisas que estão para vir - floresceu. E não havia nada parecido com o Profeta Hebraico da Bíblia, que combinava a oração por justiça e moralidade com a visão aberta para acontecimentos futuros, em qualquer lugar do mundo antigo.

 

O período que agora examinamos com detalhes, o milênio anterior a Cristo, na verdade foi o último milênio na história humana de 4 mil anos iniciada com o surgimento da civilização suméria. O ponto médio nesse drama humano, cuja história chamamos de Crônicas Terrestres, foi o holocausto nuclear, o desaparecimento da Suméria e da Acádia e a passagem do bastão sumério para Abraão e sua semente. Ali estava o divisor de águas depois dos primeiros 2 mil anos. Agora, a metade seguinte da história, cujos últimos dois milênios começaram na Suméria, com uma visita de Anu à Terra, por volta de 3760 a.C., também chegava ao final.

Aquilo, sem dúvida, foi o fio que ligou os grandes profetas bíblicos da época. O ciclo iria fechar-se, o que fora previsto no Início dos Anos deve se tornar verdadeiro ao Final dos Anos.

A humanidade recebeu uma oportunidade de arrepender-se, de retornar à justiça e à moralidade, reconhecer que havia apenas um Deus verdadeiro, o Deus dos próprios elohim. Com cada palavra, visão, ato simbólico, os profetas martelavam a mesma mensagem; o tempo terminou, grandes eventos estão para acontecer. Javé não procura a morte dos ímpios - Ele busca a volta deles para o reto agir. O homem não pode controlar seu Destino, mas pode controlar a Sorte; homens, reis e nações podem escolher o caminho a seguir. Porém se o mal prevalecer, se a injustiça dominar as relações humanas, se uma nação continuar a tomar da espada contra outras nações, tudo será julgado e condenado no Dia do Senhor.

Como a própria Bíblia admite, não é uma mensagem para uma audiência receptiva. Cercados de pessoas que pareciam saber a quem adoravam, era pedido aos judeus que aderissem a padrões estritos, exigidos por um Deus invisível, cuja própria imagem não se conhecia. Os verdadeiros profetas de Javé logo viram-se ocupados a lidar com os "falsos profetas", que também diziam estar entregando a "mensagem de Deus", Sacrifícios e doações ao Templo irão anular todos os pecados, era o que se acreditava. Javé não quer seus sacrifícios, mas quer que vivam em justiça, disse Isaías. Grandes calamidades irão se abater sobre os ímpios, disse Isaías. Não, não... A paz está chegando, afirmavam os falsos profetas.

Para serem ouvidos, os profetas bíblicos recorreram a milagres - assim como Moisés, instruído por Deus, recorrera a milagres para obter a libertação dos israelitas pelo faraó, e depois para convencer os próprios israelitas do poder de Javé.

A Bíblia descreve em detalhes as dificuldades enfrentadas pelo profeta Elias, durante o reinado (no reino de Israel) de Acab e sua esposa fenícia Jezebel, que trouxe com ela o culto ao deus cananeu Baal. Tendo já estabelecido sua reputação ao fazer a farinha e o óleo de uma mulher durar e durar muito tempo, e ressuscitando um garoto que havia morrido, o maior desafio de Elias foi um confronto com os "profetas" de Baal, no monte Carmelo, para determinar quem era o profeta verdadeiro. Em frente a uma multidão presidida pelo rei, devia-se realizar um milagre: o sacrifício estava pronto sobre uma pilha de madeira, porém nenhum fogo foi aceso, pois precisava vir do céu. E os profetas de Baal chamavam-lhe o nome desde a manhã até o meio-dia, sem obter resultado algum (Reis I, cap. 18). Escarnecendo deles, Elias disse: Talvez seu deus esteja dormindo. Por que não chamam mais alto? Foi o que fizeram, até a tarde, mas nada aconteceu. Então Elias apanhou pedras e reconstruiu para Javé o altar que estava em ruínas, colocou a rês sacrificial sobre ele e pediu ao povo para derramar água sobre o altar, para se certificar de que não havia ali nenhum fogo oculto. Então chamou o nome de Javé, o deus de Abraão, Isaac e Jacó; "e o fogo de Javé desceu sobre o sacrifício e tudo que havia ali se queimou". Convencidos da supremacia de Javé, o povo apanhou os sacerdotes de Baal e os matou a todos.

Depois que Elias foi levado para o Céu num carro de fogo, seu discípulo e sucessor Eliseu também realizou milagres para estabelecer sua autenticidade como profeta de Javé. Transformou a água em sangue, ressuscitou um menino morto, encheu de azeite recipientes, alimentou algumas centenas de pessoas com um pouco de comida que sobrara e fez uma barra de ferro flutuar na água.

Quão críveis eram esses milagres na época? Sabemos pela Bíblia - as histórias da época de José e do Êxodo -, assim como pelos próprios textos egípcios, como As Histórias dos Mágicos, que a corte possuía seus magos e adivinhos. A Mesopotâmia tinha sacerdotes-adivinhos e oráculos, pitonisas e videntes, além dos que interpretavam sonhos. Apesar disso, quando uma disciplina chamada Crítica da Bíblia entrou na moda, no século XIX d.C, tais histórias de milagres cederam à exigência de que tudo na

Bíblia precisava ser apoiado por fontes independentes para ser acreditado. Felizmente, entre os últimos achados pelos arqueólogos do século XIX estava uma estela do rei moabita Mesha, na qual ele não apenas corroborava os dados em relação à Judéia do tempo de Elias, mas foi um dos poucos extra-bíblicos que mencionaram Javé pelo nome completo. Embora não constitua uma confirmação dos milagres em si, esse achado - como outros, depois - auxiliou a identificar eventos e personalidades mencionados na Bíblia.

Ao mesmo tempo que os textos e artefatos descobertos por arqueólogos forneceram corroboração, também lançaram luz sobre diferenças profundas entre profetas bíblicos e adivinhos de outras nações. Desde o início, a palavra hebraica Neb' im, traduzida por "profetas", mas literalmente significando "porta-voz" de Deus, explicava que a magia e a premonição não vinham deles, mas de Deus. Os milagres eram d'Ele, e o que era previsto pela boca dos profetas era a palavra que Deus ordenara. Além do mais, em vez de agir como empregados da corte, bajulando e concordando, eles freqüentemente criticavam e admoestavam os poderosos por erros pessoais ou decisões erradas para o país. Até mesmo o rei Davi sofreu uma reprimenda por haver desejado a mulher [Betsabé] de Urias, o hitita.

Por outra estranha coincidência - se é que assim podemos encará-la -, ao mesmo tempo que Davi conquistou Jerusalém tomou as primeiras medidas para estabelecer a Casa de Javé na Plataforma Sagrada, o que era chamado de decadência da Velha Assíria terminou abruptamente, e, sob uma nova dinastia, iniciou-se o que os historiadores chamam de período neo-assírio. Assim que o Templo de Javé foi construído, Jerusalém começou a atrair a atenção de governantes distantes. Como conseqüência direta, seus profetas também voltaram as visões para o cenário internacional, e juntaram profecias em relação ao mundo no que se relacionavam com a Judéia, com o reino de Israel (norte) dividido, seus reis e habitantes. Era uma visão mundial impressionante por sua abrangência e compreensão - por profetas que, antes de serem chamados por Deus, não passavam de simples aldeões.

Tal conhecimento profundo de terras e nações distantes, do nome dos reis (em alguns casos, até o apelido), de seu comércio e de rotas comerciais, dos exércitos e da formação de forças de luta, deve ter impressionado os reis da Judéia na época. Certa feita, o profeta Ananias (alertando o rei da Judéia contra um tratado com os armênios) explicou ao rei: Confie na palavra de Javé, pois "são os olhos de Javé que varrem a Terra inteira".

No Egito, também, um período de desunião terminou quando uma nova dinastia, a 22º. uniu o país e relançou o envolvimento nos negócios internacionais. O primeiro soberano, o faraó Sheshonk, detém a fama histórica de ser o primeiro a entrar em Jerusalém e predar seus tesouros (sem, no entanto, danificar ou saquear o Templo). O evento, ocorrido em 928 a.C., é relatado em Reis I, cap. 14 e em Crônicas II, cap. 12; tudo foi previsto por Javé ao rei da Judéia e seus nobres, antes de acontecer, pelo profeta Semaías; foi também um dos casos em que a narrativa bíblica se confirmou a partir de outro texto, independente - nesse caso, o do próprio faraó, nas paredes sul do templo de Amon, em Karnak.

Invasões assírias dos reinados judeus, relatadas com precisão na Bíblia, iniciaram-se com o reino do norte, Israel. De novo os registros bíblicos são totalmente confirmados pelos anais dos reis assírios; Salmanasar III (858-824 a.C.) chegou a representar o rei israelita Jeú prostrando-se à sua frente, numa cena dominada pelo símbolo do disco alado, também símbolo de Nibiru. Algumas décadas mais tarde, outro rei israelita repeliu um ataque, pagando adiantadamente um tributo ao rei assírio Teglate-Falasar III (745-727 a.C.). Porém isso só serviu para ganhar tempo: em 722 a.C., o rei assírio Salmanasar V marchou sobre o reino norte, capturou a capital Samaria (Shomron - "Pequena Suméria" - em hebraico) e exilou seus reis e nobres. Dois anos depois, o rei assírio seguinte, Sargão II (721-705 a.C.) exilou o restante do povo - dando início ao enigma das Dez Tribos Perdidas de Israel - e extinguiu a existência independente daquele Estado.

Os reis assírios começavam cada registro de suas campanhas militares com as palavras "Sob as ordens de meu deus Assur", o que conferia às conquistas um ar de guerras religiosas. A conquista e o domínio de Israel foram tão importantes que Sargão, ao registrar suas vitórias nos muros de seu palácio, começou a inscrição identificando-se como: "Sargão, conquistador da Samaria e de toda a terra de Israel". Com esse feito, coroando suas conquistas, ele escrevia: "Aumentei o território que pertence a Assur, o rei dos deuses".

Enquanto tais calamidades, segundo a Bíblia, recaíam sobre Israel, porque seus líderes e o povo não davam ouvidos aos conselhos e reprimendas dos profetas, os reis da Judéia, ao sul, eram mais atentos às orientações dos profetas, e por algum tempo gozaram um período de paz relativa. Porém os assírios mantinham um olho em Jerusalém e no Templo; os motivos não são explicados, muitas expedições guerreiras se iniciavam na região de Haran, depois estendiam-se na direção oeste, para a costa do Mediterrâneo. De forma significativa, os anais dos reis assírios, descrevendo as conquistas e domínios na área de Haran, identificaram pelo nome uma cidade chamada Naor e outra chamada Labão - cidades que tinham os nomes do irmão e do cunhado de Abraão.

A vez da Judéia e especificamente de Jerusalém não tardou a chegar. A tarefa de aumentar os territórios a "comando" do deus Assur até a Casa de Javé recaiu sobre Senaqueribe, o filho de Sargão II e seu sucessor em 704 a.C. Com o objetivo de consolidar as vitórias do pai e colocar um fim às intermitentes revoltas nas províncias assírias, ele devotou sua terceira campanha (701 a.C.) à conquista da Judéia e de Jerusalém.

Os eventos e circunstâncias dessa tentativa foram extensivamente registrados, tanto nos anais dos assírios quanto na Bíblia, tornando-se um dos episódios mais bem documentados de veracidade bíblica. Foi também um fato que mostrou a veracidade da profecia bíblica, seu valor como guia de premonição, e a magnitude de sua visão geopolítica.

Além do mais, existe evidência física - até os dias atuais - corroborando e ilustrando um aspecto importante desses eventos; assim todos podem ver com os próprios olhos quão real e verdadeiro foi tudo.

À medida que iniciamos a relatar esses acontecimentos com as palavras do próprio Senaqueribe, convém observar que a campanha contra Jerusalém começou com um desvio para a terra dos hititas, na área de Haran, e só depois voltou-se para oeste até a costa do Mediterrâneo, onde a primeira cidade atacada foi Sídon:

 

Em minha terceira campanha, marchei contra Hatti.

Luli, rei de Sídon, a quem o terror

da fama do meu domínio impressionou,

fugiu para além-mar e pereceu.

 

O esplendor, que inspira respeito pela Arma de Assur,

meu senhor, sobrepujou as cidades fortes da Grande Sídon...

Todos os reis de Sídon a Arvad, Biblos, Ashdod, Beth-Amon, Moab

e Adom

trouxeram suntuosos presentes;

o rei de Ascalon eu deportei para a Assíria...

 

A inscrição continua:

 

Quanto a Ezequias, o judeu

que não submeteu ao meu domínio

46 de suas cidades muradas,

assim como as pequenas cidades nas vizinhanças,

que eram sem-número...

Eu as sitiei e tomei e

200.150 pessoas, velhos e jovens, homens e mulheres,

cavalos, mulas, camelos, jumentos, gado e carneiros

eu retirei deles.

 

A despeito dessas perdas, Ezequias permaneceu irredutível - porque o profeta Isaías profetizara o seguinte: Não tema o atacante, pois Javé vai impor seu espírito a ele, e ele vai ouvir um rumor, e retornará à sua terra, e lá será derrubado pela espada...

"Assim falou Javé: o rei dos assírios não entrará nessa cidade! Ele voltará pelo caminho por onde veio, pois protegi a cidade para salvá-la, por mim e por meu servo Davi." (Reis II, capo 19).

Desafiado por Ezequias, Senaqueribe continuou em seus anais:

 

Em Jerusalém, tornei Ezequias

prisioneiro em seu palácio real,

como um pássaro na gaiola, cercando-o

com aterros, molestando aqueles

que saíam pelos portões da cidade.

 

"Depois retirei regiões do reino de Ezequias e as dei para os reis de Ashdod, Ekron e Gaza - cidades-Estados filistéias - e aumentei o tributo de Ezequias", escreveu Senaqueribe. Então listou o tributo que Ezequias "me mandou mais tarde, em Nínive".

Dessa forma, quase imperceptivelmente os anais deixam de mencionar a conquista de Jerusalém ou o aprisionamento de seu rei - apenas impõe o tributo pesado: ouro, prata, pedras preciosas, antimônio, pedras vermelhas cortadas, mobília incrustada em marfim, couros de elefante "e todos os tipos de tesouros valiosos".

A fanfarronada omite o relato fiel do que verdadeiramente aconteceu em Jerusalém; a fonte de história mais detalhada é a Bíblia. Nos registros, em Reis II, capítulo 20, no livro do profeta Isaías e no Livro das Crônicas, consta que "no décimo quarto ano de Ezequias, Senaqueribe, o rei da Assíria, atacou as cidades fortificadas da Judéia e as tomou. Depois Ezequias, o rei da Judéia, enviou uma mensagem ao rei da Assíria, que estava em Lachish, dizendo: Cometi um erro. Volte, e o que quer que resolva, eu cumprirei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, o rei da Judéia, 300 barras de prata e 30 barras de ouro", e Ezequias pagou tudo, incluindo um tributo extra de bronze, retirado das portas do palácio.

Porém o rei da Assíria renegou o acordo. Em vez de se retirar para a Assíria, enviou uma grande força militar contra a capital da Judéia; e de acordo com a tática que vinha utilizando, sitiou a cidade e capturou seus reservatórios de água. A tática funcionou em todos os lugares, mas não em Jerusalém. Pois, sem que os assírios soubessem, Ezequias possuía um túnel escavado por sob as muralhas da cidade que desviava as águas abundantes da Fonte de Gihon para a Cisterna de Silo no interior da cidade. Esse túnel secreto subterrâneo abastecia de água fresca toda Jerusalém, inutilizando os planos dos assírios.

Frustrado pela falha de sua tática para subjugar a cidade, o comandante assírio se voltou para a guerra psicológica. Falando em hebraico para que os defensores entendessem, ele apontou a inutilidade da resistência. Nenhum dos deuses das outras nações poderia salvá-los; quem era esse "Javé" e por que faria melhor por Jerusalém? Era um deus tão falível quanto os outros....

Escutando aquilo, Ezequias rasgou suas roupas, colocou os sacos dos enlutados e foi até o Templo de Javé, rezar para "Javé, o deus de Israel, que habita entre querubins, Deus único de todas as nações, Criador do Céu e da Terra". Assegurando que sua prece seria ouvida, o profeta reiterou a promessa divina: o rei assírio não entrará jamais na cidade; vai voltar para a casa dele fracassado, e lá será assassinado.

Naquela noite aconteceu um milagre, e a primeira parte da profecia se realizou:

 

Aconteceu, pois, que naquela noite

veio o Anjo do Senhor

e matou no campo dos assírios

185 mil homens.

E Senaqueribe, tendo-se levantado ao amanhecer,

viu todos aqueles corpos dos mortos.

E Senaqueribe, rei dos assírios, retirou-se

e partiu para ficar em Nínive.

 

Reis II, 19:35-36

 

Num post-scriptum, a Bíblia fez questão de registrar que a segunda parte da profecia também se realizou: "E Senaqueribe foi embora e retornou a Nínive. E quando ele, no templo, adorava seu deus Nesroc, Adramelec e Sarasar, seus filhos, o mataram com uma espada e fugiram para a terra dos armênios, e em lugar dele reinou seu filho Asaradão".

O texto bíblico em relação à forma como Senaqueribe morreu sempre intrigou os estudiosos, pois os anais reais dos assírios tratavam a morte do rei como um mistério. Apenas recentemente os estudiosos, com o auxílio de achados arqueológicos, confirmaram os relatos bíblicos: Senaqueribe realmente foi assassinado (no ano 681 a.C.) a golpes de espada por dois de seus próprios filhos, e o herdeiro do trono tornou-se outro filho, mais novo, chamado Asaradão.

Podemos também acrescentar outros dados para confirmar a veracidade da Bíblia.

No século XIX, arqueólogos explorando Jerusalém descobriram que o Túnel de Ezequias era um fato, não mito; que um túnel subterrâneo realmente servia para conduzir ao interior da cidade um suprimento secreto de água - fora perfurado, através da rocha, por sob as muralhas de defesa, na época dos reis judeus!

Em 1838, o explorador Edward Robinson foi o primeiro nos tempos modernos a atravessar todo o comprimento do túnel, um total de 533 m. Nas décadas que se seguiram, outros exploradores da antiga Jerusalém (Charles Warren, Charles Wilson, Claude Conder, Conrad Schick) limparam e examinaram o túnel e suas várias saídas. Sem dúvida, ele ligava a Fonte de Gihon (ao lado de fora das muralhas defensivas) com a Cisterna de Silo no interior da cidade. Então, em 1880, meninos brincando descobriram no meio do túnel uma inscrição esculpida na parede.

As autoridades turcas da época ordenaram que o segmento de parede fosse retirado e levado a Istambul. Foi então estabelecido que a inscrição, em hebraico antigo, a escrita corrente na época dos reis judeus, comemorava o final das obras do túnel, quando os construtores do Túnel de Ezequias, cortando a rocha dos dois lados, encontraram-se exatamente no ponto onde a inscrição fora achada.

A inscrição (o pedaço de rocha retirado da parede do túnel), narrava o seguinte:

 

...O túnel. E este é o relato do avanço. Quando [os operários ergueram] cada picareta na direção do companheiro, e enquanto ainda havia três cúbitos para serem escavados, a voz de um homem foi ouvida chamando seu companheiro, pois havia uma rachadura na rocha à direita... E no dia do encontro, os operários golpearam cada um na direção de seu camarada, picareta contra picareta. E a água começou a fluir de sua fonte até a cisterna, 1.200 cúbitos; e a altura da pedra sobre as cabeças dos operários era de 100 cúbitos.

 

A precisão e a veracidade da narrativa bíblica dos eventos em Jerusalém estenderam-se até ocorrências na distante Nínive, em relação à sucessão do trono da Assíria. Foi realmente um caso triste que atirou os filhos de Senaqueribe contra ele e terminou com o filho mais novo, Asaradão, assumindo o trono. Os eventos sangrentos são descritos nos Anais de Asaradão (no artefato conhecido como Prisma B), no qual ele descreve sua escolha de sucessão em detrimento de seus irmãos mais velhos como resultado de uma profecia feita a Senaqueribe pelos deuses Shamash e Adad - uma escolha aprovada pelos grandes deuses da Assíria e da Babilônia "e por todos os outros deuses residindo no Céu e na Terra".

O final trágico de Senaqueribe foi apenas um dos dramas em relação ao papel e posição do deus Marduk. Os assírios tentaram subjugar os babilônios e trazer Marduk para a capital assíria, mas não funcionou, e em poucas décadas Marduk retornou à sua posição de honra na Babilônia. Os textos sugerem que um dos aspectos principais dessa volta foi a necessidade de celebrar o festival de Akitu, no Ano-Novo, no qual o Enuma elish era lido publicamente, e a ressurreição de Marduk, reencenada na Babilônia, e em nenhum outro lugar. No reinado de Teglate-Falasar III, a legitimação do rei requeria sua humildade perante Marduk, até que Marduk "tomasse ambas as mãos nas dele" (nas palavras do rei).

Para solidificar a escolha de Asaradão como seu sucessor, Senaqueribe o tinha indicado como vice-rei da Babilônia (e nomeara a si mesmo "rei da Suméria e da Acádia"). Quando subiu ao trono, Asaradão fez o juramento solene "na presença dos deuses da Assíria: Ashur, Sin, Shamash, Nebo e Marduk". (Ishtar, embora não estivesse presente, foi invocada em outros anais).

Mas todos esses esforços para reunir as religiões falharam na tentativa de trazer estabilidade ou paz. Quando começou o VII século a.C., na segunda metade do que seria, contando a partir do início sumério, o Último Milênio, a agitação tomou conta das grandes capitais e espalhou-se pelo mundo antigo.

Os profetas bíblicos previram o que estava chegando; era o começo do Fim, anunciaram eles, por parte de Javé.

Nos cenários previstos pelos profetas, Jerusalém e sua Plataforma Sagrada seriam o ponto focal de uma catarse mundial. A fúria divina iria manifestar-se em primeiro lugar contra a cidade e seus habitantes, pois estes haviam abandonado Javé e seus mandamentos. Os reis das grandes nações seriam instrumentos da ira de Javé. Mas, por outro lado, cada um deles seria julgado no Dia do Julgamento. "Será um julgamento para todos os viventes, pois Javé tem uma disputa com todas as nações", anunciou o profeta Jeremias.

A Assíria, disse o profeta Isaías citando Javé, era o bastão de punição; ele a via caindo sobre várias nações, inclusive invadindo o Egito (uma profecia que se realizou); mas, depois, a Assíria também seria julgada por seus excessos. A Babilônia seria a seguinte, disse o profeta Jeremias; seu rei conquistaria Jerusalém, mas, setenta anos mais tarde (conforme ocorreu), também Babilônia cairia de joelhos. Os pecados das nações grandes e pequenas, desde o Egito e a Núbia até a China distante (!), seriam julgados no Dia de Javé.

Uma por uma, as profecias se realizaram. A respeito do Egito, o profeta Isaías previa sua ocupação por forças assírias, depois de uma guerra de três anos. A profecia se realizou pelas mãos de Asaradão, o sucessor de Senaqueribe. O que parece notável, além do fato de a profecia realizar-se, é que antes de levar seu exército para o oeste, depois para o sul, na direção do Egito, o rei assírio fez um desvio para Haran!

Isso ocorreu em 675 a.C., e, no mesmo século, a sorte da Assíria já estava selada. Uma Babilônia que ressurgia sob o reinado de Nabopolasar conquistou a capital assíria, Nínive, derrubando os diques dos rios e inundando a cidade - assim como o profeta Naum previra (1:8). O ano era 612 a.C.

Os restos do exército assírio se retiraram - de todos os lugares - para Haran; contudo, lá, o último instrumento do julgamento divino apareceu. Javé disse a Jeremias (Jeremias 5:15-16) que seria "uma nação distante... uma nação cuja linguagem vós não conheceis":

 

Contemplai,

eis aqui que vem um povo de uma terra do norte,

e uma nação grande se levantará

dos confins da Terra.

Eles tomarão setas e escudos;

eles são cruéis e não terão piedade;

Suas vozes soarão como o mar,

e montarão em cavalos,

dispostos como homens valentes.

 

Jeremias 6:22-23

 

Os registros mesopotâmicos daquele tempo falam de uma aparição súbita, vinda do norte, dos Umman-Manda - talvez hordas avançadas de citas da Ásia Central, talvez precursores dos medas, das planícies de onde hoje se localiza o Irã. Em 610 a.C., eles tomaram Haran, onde os restos do exército assírio se alojavam, e conseguiram o controle daquela importante encruzilhada. Em 605 a.C. um exército egípcio, liderado pelo faraó Necau II, mais uma vez atacou - como Tutmés III tentara, antes do Êxodo - e conquistou Naharin, no Alto Eufrates. Porém uma força combinada de babilônios e Umman-Manda [liderada por Nabucodonosor] venceu os egípcios, na batalha decisiva de Karkemish, perto de Haran, dando um golpe final na conquista egípcia. Era o que Jeremias profetizara em relação ao Egito arrogante e seu faraó Necau II:

 

O Egito sobe à maneira de um rio,

e suas ondas se moverão como rios, e dirá:

Subindo, cobrirei a Terra.

Destruirei as cidades e os seus moradores...

 

E aquele dia,

o dia de Javé, Deus dos Exércitos,

será um dia de vingança,

na terra do norte, junto ao rio Eufrates...

 

O Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, disse:

"O faraó Amenófis de Tebas e o Egito e seus deuses

e seus reis estarão nas mãos daqueles que procuram a sua alma,

e nas mãos de Nabucodonosor, rei de Babilônia,

e nas mãos dos seus servos

eu entregarei".

 

Jeremias cap. 46

 

A Assíria estava derrotada - o vencedor se tornara vítima. O Egito perdera e seus deuses tinham caído em desgraça. Não havia poder suficiente para enfrentar a Babilônia - não para a Babilônia que descarregava a raiva de Javé contra a Judéia, e depois encarava seu próprio destino.

À testa da Babilônia havia agora um rei com ambições imperiais. Recebeu o trono em virtude da vitória em Karkemish e o nome real Nabucodonosor (II), um nome teofórico que incluía o de Nabu, filho e porta-voz de Marduk. Ele não perdeu tempo em lançar campanhas militares "pelos poderes de meus senhores Nabu e Marduk". Em 597 a.C. enviou suas forças a Jerusalém, ostensivamente apenas para remover dali o rei pró-egípcio Joaquim II e substituí-lo por seu filho Joachin, ainda adolescente. Tratava-se apenas de um teste; de uma forma ou de outra, ele estava destinado a cumprir o papel que Javé lhe destinara, como a mão que castigaria Jerusalém pelos pecados de seu povo; entretanto a própria Babilônia seria posteriormente julgada:

 

Estas palavras Javé falou acerca de Babilônia -

Anunciai entre as nações,

e fazei-lho ouvir. Levantai bandeira, publicai-o e

não lho encubrais. Dizei:

Babilônia foi tomada,

Bel ficou confundido, Marduk foi destroçado,

confundidos têm sido os seus simulacros,

derrotados ficaram os ídolos deles.

Porque subiu contra ela gente do norte,

que tornará sua terra em solidão: e não haverá quem a povoe.

 

Jeremias 50:1-3

 

Também será uma catarse por toda a Terra, na qual não apenas nações, mas também seus deuses serão chamados a prestar contas, Javé, o Senhor dos Exércitos, deixou claro. Porém ao final da catarse, depois da vinda do Dia do Senhor, Sião deverá ser reconstruído, e todas as nações do mundo irão se reunir para adorar a Javé em Jerusalém.

Quando tudo estiver dito e feito, o profeta Isaías declarou, Jerusalém e seu Templo serão a única "Luz entre as nações".

 

Jerusalém deverá sofrer sua Sorte, mas se erguerá para cumprir seu Destino:

 

E nos Últimos Dias estará preparado

o Monte do Templo de Javé

no cume dos montes,

e se elevará sobre os outeiros;

e acorrerão a ele todas as gentes.

E irão muitos povos e dirão:

vinde, subamos ao Monte do Senhor,

ao Templo do Deus de Jacó,

e Ele nos ensinará os Seus caminhos,

e nós andaremos pelas Suas veredas.

Porque de Sião sairá a lei,

e de Jerusalém a palavra do Senhor.

 

Isaías 2:2-3

 

Nesses eventos e profecias que se relacionam com os grandes poderes, Jerusalém e o Templo, o que virá nos Últimos Dias, os profetas na Terra Sagrada foram reunidos pelo profeta Ezequiel, que teve visões divinas às margens do rio Khabur, na distante Haran.

Pois lá, em Haran, onde os dramas divino e humano se encontraram quando os caminhos de Marduk e Abraão se cruzaram, também é o lugar onde tudo terminará - ao mesmo tempo em que Jerusalém e seu Templo estiverem cumprindo a Sorte.

 

O DEUS QUE RETORNOU DO CÉU

O encontro dos caminhos de Marduk e Abraão em Haran foi apenas uma coincidência ou Haran foi escolhida pela mão invisível da Sorte?

É uma pergunta perturbadora, exigindo uma resposta divina, pois o lugar onde Javé escolheu Abraão para uma missão ousada e onde Marduk fez sua reaparição depois de uma ausência de mil anos foi, mais tarde, o local onde uma série de eventos incríveis - até miraculosos, se poderia dizer - começaram a desenrolar-se. Ocorrências de alcance profético, afetando o curso tanto de negócios humanos quanto divinos.

Os acontecimentos-chave, registrados para a posteridade por testemunhas oculares, começaram e terminaram com o cumprimento de profecias bíblicas em relação ao Egito, à Assíria e à Babilônia; elas incluíam a separação de um deus de seu templo e de sua cidade, sua ascensão aos céus e seu retorno dos céus, meio século mais tarde.

E, por um motivo talvez mais metafísico do que geográfico ou geopolítico, tantos eventos importantes nos dois últimos milênios, que começaram quando os deuses, em concílio, resolveram dar à Humanidade a civilização, ocorreram em Haran ou nos arredores.

Já mencionamos de passagem o desvio que Asaradão fez para Haran. Os detalhes dessa peregrinação foram registrados num tablete que fez parte da correspondência real de Assurbanipal, filho e sucessor de Asaradão. Foi quando Asaradão, planejando um ataque ao Egito, virou para o norte em vez de para oeste e procurou o "Templo de Cedro", em Haran. Lá, "ele viu o deus Sin apoiado num cetro, com duas coroas sobre a cabeça. O deus Nusku estava perante ele. O pai de minha majestade o rei entrou no templo dizendo: 'Tu vais para os países, e lá vais conquistá-los!'. Ele partiu e conquistou o Egito". (Nusku, pela lista de deuses sumérios, era membro do grupo de Sin).

A invasão do Egito por Asaradão é um fato histórico, cumprindo-se totalmente a profecia de Isaías. Os detalhes da partida de Haran adicionalmente servem para confirmar a presença, em 675 a.C. do deus Sin; pois só foi muitas décadas mais tarde que Sin "zangou-se com a cidade e seu povo" e partiu - para os céus.

Hoje em dia, Haran ainda se encontra no local em que estava quando de lá partiram Abraão e sua família. Ao lado de fora das muralhas exteriores, que estão desmoronando (muralhas da época da conquista muçulmana), encontramos, ainda fornecendo água, o poço em que Jacó conheceu Rebeca, e nas planícies circundantes os carneiros ainda pastam como faziam há quatro milênios. Nos séculos anteriores, Haran foi um centro de aprendizado e literatura, onde os gregos, depois de Alexandre, tiveram acesso a essa sabedoria "caldéia" acumulada (os escritos de Beroso foram um dos resultados), e bem depois os muçulmanos e cristãos trocaram culturas. Porém o orgulho do local foi o templo dedicado ao deus Sin, em rujas ruínas existem testemunhos, que sobreviveram milênios, de eventos miraculosos em relação a Nanar/Sin.

O testemunho não era por ouvir contar; vinha de relatos de testemunhas oculares. Não eram testemunhas anônimas, tratava-se de uma mulher chamada Adda-Guppi e de seu filho, Nabônida. Eles não eram, como acontece hoje em dia, um xerife do interior e sua mãe relatando um caso de aparecimento de Óvni numa área pouco habitada. Adda-Guppi era a sacerdotisa-mor do templo de Sin, um santuário sagrado e reverenciado milênios antes da época dela; seu filho foi o último rei do maior império da Terra naquela época, a Babilônia.

A sacerdotisa-mor e seu filho, o rei, gravaram os eventos em estelas - colunas de pedra gravadas em caracteres cuneiformes, acompanhados de representações pictóricas. Quatro delas foram encontradas neste século [séc. XX] por arqueólogos, e acredita-se que tais estelas tenham sido posicionadas pelo rei e sua mãe uma em cada canto do renomado templo para o deus da Lua em Haran, o E.HUL.HUL (Templo da Dupla Alegria). Um par de estelas carregava o testemunho da mãe, e o outro, as palavras do rei. Foi nas estelas de Adda-Guppi, a sacerdotisa-mor do templo, que a partida do deus Sin foi gravada; e foi nas inscrições do rei Nabônida que o retorno único e miraculoso foi narrado. Com evidente sentido de história e à maneira de uma escriba treinada pelo templo, Adda-Guppi fornece em suas estelas dados precisos para eventos surpreendentes; as datas, ligadas, como de costume, aos anos de reinado de reis conhecidos, puderam ser verificadas pelos estudiosos modernos.

Na estela mais bem preservada, catalogada como H1B, Adda-Guppi começa seu testemunho escrito (em linguagem acadiana) desta forma:

 

Sou a dama Adda-Guppi,

mãe de Nabônida, rei de Babilônia,

devota dos deuses Sin, Ningal, Nusku

e Sadarnuna, minhas divindades,

a cujo culto sempre fui pia

desde minha juventude.

 

Ela nasceu, escreveu Adda-Guppi, no vigésimo ano do reinado de Assurbanipal, rei da Assíria - na metade do VII século a.C. Embora em seu texto Adda-Guppi não forneça sua genealogia, outros textos sugerem que ela possuía uma linhagem ilustre. De acordo com sua inscrição, ela viveu sob os reinados de diversos reis assírios e babilônios, atingindo a idade de 95 anos, quando os miraculosos acontecimentos ocorreram. Os estudiosos descobriram que sua lista de reis estava de acordo com os anais da Assíria e da Babilônia.

Aqui está a narrativa dos primeiros acontecimentos notáveis, em suas próprias palavras:

 

Era o décimo sexto ano de Nabopolasar,

rei da Babilônia, quando Sin, o senhor dos deuses,

ficou zangado com sua cidade e seu templo

e foi para o céu;

e a cidade e os habitantes

conheceram a ruína.

 

O ano era digno de nota por eventos - conhecido por outras fontes - que ocorreram naquela época, corroborando aquilo que Adda-Guppi registrou. Pois o ano era 610 a.C. - quando o exército assírio, derrotado, retirou-se para Haran, numa última tentativa de resistência.

Existem várias questões exigindo esclarecimento como resultado dessa afirmação: Estaria Sin "zangado com a cidade e seus habitantes" porque deixaram os assírios entrar? Resolveu partir por causa da aproximação dos assírios ou das hordas Umman-Manda? De que forma ele subiu aos céus - e aonde ele foi? Para outro lugar na Terra ou fora da Terra, para um local celestial? O texto de Adda-Guppi passa por cima dessas questões e, por ora, nós também as deixaremos pendentes.

O que a sacerdotisa afirma é que, depois da partida de Sin, "a cidade e seus habitantes conheceram a ruína". Alguns estudiosos preferem traduzir o termo como "desolação", por descrever melhor o que aconteceu à metrópole que florescia, uma cidade que o profeta Ezequiel (27:23) descreveu como um dos grandes centros de comércio internacional da época, especializada "em todos os tipos de coisas, em roupas azuis, em bordados e em baús de rica aparência, atados com cordas e feitos de cedro". Na verdade, a desolação da Haran abandonada traz à lembrança as palavras de abertura do Livro das Lamentações sobre a Jerusalém desolada e profanada: "Quão solitária está a cidade, que já foi repleta de gente! Certa vez grande entre as nações, agora torna-se uma viúva; rainha entre as províncias, agora se torna súdita".

Enquanto outros fugiam, Adda-Guppi permaneceu. "Diariamente, sem cessar, de dia e de noite, por meses, por anos", ela foi aos templos desolados. Lamentando-se, deixou os vestidos de fina lã, retirou as jóias, não usou nem prata nem ouro, desistiu dos perfumes e óleos aromáticos. Como um fantasma, percorria os templos vazios. "Em vestes de espinhos eu me vestia, ia e vinha em silêncio", escreveu ela.

Então, no local sagrado e abandonado, ela descobriu um traje que pertenceu a Sin. Deve ter sido um traje magnífico, à maneira das túnicas que as divindades costumavam usar na época, conforme representações nos monumentos da Mesopotâmia. Para a deprimida sacerdotisa, o achado pareceu um sinal do deus, como se ela tivesse de repente uma prova da presença física dele. Não conseguia tirar os olhos da vestimenta sagrada, não ousando tocá-la, a não ser para "segurar a bainha". Como se o próprio deus lá estivesse para escutá-la, ela se prostrou "em oração e humildade" e fez o seguinte voto:

 

Se voltares para a tua cidade,

todos os Cabelos-Negros

adorarão tua divindade!

 

"Cabelos-Negros" era um termo usado pelos sumérios para descrever a si mesmos; e seu emprego pela sacerdotisa-mor de Haran era bastante incomum. A Suméria, como entidade político-religiosa, cessara de existir quase 1.500 anos antes de Adda-Guppi, quando o país e sua capital, a cidade de Ur, foram destruídos por uma nuvem radioativa em 2024 a.C. Na época de Adda-Guppi, a Suméria era apenas uma lembrança vazia, e sua antiga capital, Ur, um local de ruínas e erosão, e o povo (os Cabelos-Negros) encontrava-se disperso em várias terras. Como poderia uma sacerdotisa em Haran oferecer a seu deus, Sin, a restauração de seu poder na distante Ur, e fazê-lo outra vez deus de todos os sumérios, onde quer que eles estivessem?

Era uma visão verdadeira de Retorno dos Exilados e da restauração de um deus em seu antigo centro de culto, digna das profecias bíblicas. Para conseguir isso, Adda-Guppi propôs uma troca: se o deus regressasse e depois usasse sua autoridade e poderes divinos para tornar seu filho, Nabônida, o rei seguinte, reinando na Babilônia sobre domínios assírios e babilônicos, Nabônida restauraria o templo de Sin em Ur e reviveria o culto de Sin em todas as terras onde os Cabelos-Negros vivessem!

O deus da Lua gostou da idéia. "Sin, senhor dos deuses do Céu e da Terra, pelas minhas boas ações olhou para mim com um sorriso; escutou minhas preces e aceitou meu voto. A ira em seu coração abrandou-se; em relação a Ehulhul, o templo de Sin em Haran, a divina residência onde seu coração se alegrava, ele mudou sua disposição".

O deus sorridente, escreveu Adda-Guppi, aceitou sua oferta:

 

Sin, o senhor dos deuses,

escutou com agrado minhas palavras.

Nabônida, meu único filho,

fruto de meu ventre,

para o trono convocou -

o trono da Suméria e da Acádia.

Todas as terras desde a fronteira do Egito,

desde o Mar Superior ao Mar Inferior,

nas mãos dele confiou.

 

Grata e maravilhada, Adda-Guppi ergueu as mãos e, "reverentemente implorando", agradeceu ao deus por "pronunciar o nome de Nabônida, chamando-o para o trono real". Em seguida implorou ao deus para que assegurasse o sucesso de Nabônida - persuadisse os outros deuses para estarem a seu lado quando ele lutasse contra os inimigos, para permitir que ele cumprisse o voto de reconstruir o templo Ehulhul e levasse outra vez a glória para Haran.

Num adendo colocado quando, aos 104 anos, Adda-Guppi estava em seu leito de morte (ou escrito a seu pedido logo após a morte), o texto afirma que os dois lados cumpriram sua parte do acordo: "Eu mesma o vi realizado". Sin "honrou a palavra empenhada comigo", fazendo com que Nabônida se tornasse rei de novas Suméria e Acádia (em 555 a.C.); e Nabônida manteve sua palavra de que iria restaurar o templo Ehulhul em Haran, e "aperfeiçoou sua estrutura". Renovou o culto a Sin e à sua esposa Ningal - "todos os ritos esquecidos ele os tornou novos". E o casal divino, acompanhado pelo emissário divino Nusku e sua consorte (?) Sadamunna, voltou para o templo Ehulhul numa procissão solene e cerimonial.

As inscrições da estela em duplicata contém dezenove linhas adicionais, sem dúvida acrescentadas pelo filho de Adda-Guppi. No nono ano do reinado de Nabuna-id - em 546 a.C. -, "a própria Sorte a carregou. Nabônida, rei da Babilônia, seu filho, fruto do ventre dela, sepultou seu corpo, envolto em mantos [reais] e em puro linho branco. Ele adornou-lhe o corpo com esplêndidos ornamentos de ouro providos de pedras preciosas. Com óleos aromáticos ele ungiu o corpo, e colocou-a para descansar num lugar secreto".

O luto pela mãe do rei foi disseminado. "As pessoas de Babilônia e de Borsipa, habitantes de regiões distantes, reis, príncipes e governantes vieram da fronteira do Egito, no Mar Superior, até o Mar Inferior" - desde o Mediterrâneo até o golfo Pérsico. O luto, que incluía passar cinzas sobre a cabeça, chorar e cortar-se propositalmente durou sete dias.

 

Antes que nos voltemos para as inscrições de Nabônida e suas histórias repletas de milagres, é preciso parar para imaginar como - se o que Adda-Guppi escreveu era verdadeiro - ela conseguiu comunicar-se com uma divindade que por suas próprias palavras não se encontrava mais no templo ou na cidade na verdade, partira e subira aos céus.

A primeira parte da proposta de Adda-Guppi ao deus é fácil: ela rezou, dirigindo as preces a ele. A prece, como forma de relatar perante a divindade nossos temores e preocupações, pedir saúde, boa sorte ou vida longa, e até pedir orientação para escolher entre alternativas, ainda existe entre nós. Desde a época em que a escrita começou, na Suméria, as orações e pedidos aos deuses têm sido registrados. Provavelmente a prece como meio de comunicação com a divindade precede a palavra escrita, e, de acordo com a Bíblia, começou quando os primeiros humanos se tornaram Homo sapiens: foi quando Enoch ("Homem Homo sapiens"), neto de Adão e Eva, nasceu, "este começou a chamar pelo nome do Senhor" (Gênesis 4:26).

Tocando a fímbria da túnica divina e prostrando-se em grande humildade, Adda-Guppi rezou para Sin. Fez isso todos os dias, até que ele escutasse as preces e respondesse.

Agora vem a parte mais elaborada - como Sin pôde responder, como puderam suas palavras ou mensagens alcançar a sacerdotisa-mor? A própria inscrição fornece o esclarecimento: a resposta veio por meio de um sonho. Quando ela adormeceu, talvez um sono de transe, a resposta do deus veio a ela em um sonho:

 

No sonho,

Sin, o senhor dos deuses,

colocou as duas mãos sobre mim.

Falou comigo assim:

"Por tua causa,

os deuses vão voltar a habitar Haran.

Vou confiar em teu filho, Nabônida,

com as residências divinas em Haran.

Ele vai reconstruir o Ehulhul,

vai aperfeiçoar sua estrutura;

vai restaurar Haran e fazer que ela

fique melhor do que era antes".

 

Tal forma de comunicação, dirigida de uma divindade para um humano, estava longe de ser incomum; na verdade, era a mais empregada. Antigos reis e sacerdotes, patriarcas e profetas, receberam a palavra divina por meio de sonhos. Podiam ser sonhos premonitórios ou de presságios, algumas vezes com palavras ouvidas, outras com visões completas e detalhadas. Na verdade, a própria Bíblia cita Javé dizendo à irmã e ao irmão de Moisés, durante o Êxodo: "Se existe um profeta entre vocês, Eu, o Senhor, me farei conhecido a ele em visão, e falarei com ele num sonho".

Nabônida também relata comunicações divinas recebidas pelos sonhos. Porém suas inscrições relatam muito mais: um evento único e uma teofania incomum. Suas duas estelas (chamadas de H2A e H2B pelos estudiosos) são adornadas no topo com a representação do rei segurando um cetro incomum e encarando os símbolos de três corpos celestiais, os deuses planetários que ele venerava. A longa inscrição abaixo dele começa com o grande milagre e sua originalidade:

 

Este é o grande milagre de Sin

que por deuses e deusas

não acontecia na Terra

desde os dias do antigo desconhecido;

que o povo da Terra

não viu nem achou escrito

em tabletes desde os dias antigos:

que o divino Sin,

Senhor de deuses e deusas,

residindo nos céus,

desceu dos céus

à vista de Nabônida,

rei da Babilônia.

 

A afirmação de que aquele era um milagre único não foi injustificada, pois o acontecimento reunia tanto o retorno de uma divindade quanto uma teofania - dois aspectos da interação divina com humanos, que, como a inscrição qualifica com cautela, não eram desconhecidos nos Dias Antigos. Se Nabônida (a quem alguns estudiosos apelidaram de "o primeiro arqueólogo" por conta da mania que ele tinha de descobrir e escavar ruínas de locais mais antigos) tivesse adjetivado sua afirmação apenas por segurança, ou se realmente era familiarizado, através de tabletes antigos, com eventos que ocorreram muito tempo antes de sua época, não sabemos; porém o fato é que tais eventos ocorreram realmente.

Assim, nos tempos turbulentos que terminaram com o final do Império Sumério por volta de 2000 a.C. o deus Enlil, que estava em algum outro lugar, apressou-se a voltar para a Suméria quando ficou sabendo que sua cidade, Nippur, estava em perigo. Segundo inscrições pelo rei sumério Shu-Sin, Enlil retornou "voando de horizonte a horizonte; do sul para o norte ele atravessava; através dos céus, sobre a Terra, ele se apressava".

Por volta de quinhentos anos mais tarde - quase mil anos antes do retorno e da teofania de Sin -, a maior teofania registrada ocorreu na península do Sinai, durante o Êxodo de Israel do Egito. Avisados de antemão para se prepararem, os Filhos de Israel - todos os 600.000 - testemunharam o Senhor descendo para o monte Sinai. A Bíblia ressalta que foi feito "à vista de todo o povo" (Êxodo 19:11). Porém a grande teofania não fora um retorno.

Tais idas e vindas divinas, incluindo a ascensão e descida de Sin dos céus, implicam que os anunnaki possuíam veículos voadores - e realmente possuíam. Javé pousou no monte Sinai num objeto que a Bíblia chamou de kabod, com a aparência de um "fogo devorador" (Êxodo 24:11); o profeta Ezequiel descreveu o kabod (geralmente traduzido por "glória", mas que significa literalmente "a coisa pesada") como um veículo luminoso e radiante, equipado com rodas dentro de rodas. Ele podia ter em mente algo comparável à carruagem circular na qual o deus assírio Ashur era representado. Ninurta possuía o imdugud, o "Divino Pássaro Preto"; e Marduk mandou construir uma acomodação especial para seu "Viajante Supremo"; provavelmente era o mesmo veículo que os egípcios chamavam de Barco Celestial de Rá.

E quanto a Sin e suas idas e vindas celestiais?

Que ele possuía de fato tal veículo voador - uma necessidade essencial para a ida ao céu e o retorno de lá relatados nas inscrições de Haran - é atestado por muitos hinos a ele. Um sumério, descrevendo Sin a voar por sobre sua amada cidade de Ur, chegava a referir-se ao Barco Celestial do deus como sendo sua "glória":

 

Pai Nanar, Senhor de Ur,

cuja glória é o sagrado Barco do Céu...

Quando subistes no Barco do Céu,

éreis glorioso.

Enlil adornou vossa mão com um cetro,

e éreis eterno quando sobre Ur

no Barco Sagrado subistes.

 

Apesar de não constarem ilustrações mostrando o "Barco do Céu" do deus da Lua, identificadas até agora, é possível que exista tal representação. Ao lado da maior rota que ligava o Leste com o Oeste ao longo do rio Jordão, estava Jericó, uma das cidades conhecidas há mais tempo. A Bíblia (e outros textos antigos) se refere a ela como a Cidade do Deus da Lua - que é o significado do nome bíblico Yericho. Foi lá que o profeta Elias (século IX a.C.) recebeu ordens do Deus bíblico para atravessar o rio Jordão a fim de ser levado para cima, na direção do céu, numa carruagem de fogo. Era, como fica descrito em Reis II, capítulo 2, não um acontecimento casual, mas um encontro marcado. Começando sua jornada final de um local chamado Gilgal, o profeta estava acompanhado por seu ajudante Eliseu e um grupo de discípulos. E quando chegaram a Jericó, os discípulos perguntaram a Eliseu: "Você sabia que o Senhor vai levar seu amo embora hoje?". E Eliseu, sabendo daquilo, exortou-os a ficar quietos.

Ao chegarem ao rio Jordão, Elias insistiu para que os outros ficassem para trás. Cinqüenta dos discípulos avançaram até a margem do rio e pararam; porém Eliseu não partiu. Então "Elias tomou seu manto e, enrolando-o, atingiu a água, que se dividiu para a direita e para a esquerda, e os dois atravessaram pela terra seca". Depois, do outro lado do rio:

 

Uma carruagem flamejante com cavalos flamejantes

repentinamente apareceu

e os separou um do outro;

E Elias se elevou para o céu

num turbilhão.

 

Na década de 20, uma expedição arqueológica enviada pelo Vaticano começou a escavar um local da Jordânia chamado "Monte do Mensageiro". Sua antiguidade é contada em milênios, e alguns dos achados mais antigos do Oriente Médio foram escavados lá. Em algumas das paredes caídas, os arqueólogos descobriram murais, belos e incomuns, pintados com grande variedade de cores. Um deles representa uma "estrela" que mais parece um compasso apontando os principais pontos cardeais e suas subdivisões; outro mostrava uma divindade sentada recebendo uma procissão ritual. Outros ainda representavam objetos negros e bulbosos, com aberturas para olhos e pernas estendidas; O último poderia representar uma "carruagem flamejante", do tipo que levou Elias para o céu. Na verdade, o local poderia ser o mesmo da subida de Elias; ali, no alto do monte, é possível enxergar o rio Jordão a pouca distância, e além dele, a cidade de Jericó.

Segundo a tradição judaica, o profeta Elias retornará algum dia para anunciar o Tempo do Messias.

Que Adda-Guppi e seu filho Nabônida pensassem que tal época chegara, assinalada e identificada pelo deus da Lua, é evidente. Esperavam que sua época messiânica fosse um tempo de paz e prosperidade, uma nova era que começaria com a reconstrução e uso do Templo de Haran.

As visões proféticas que ocorreram na mesma época em relação a Deus e ao Templo de Jerusalém, por outro lado, mal foram percebidas. Porém, na verdade, era esse o assunto das profecias de Ezequiel - que começaram "quando os céus se abriram" e ele viu a carruagem celestial radiante vindo num turbilhão.

A cronologia providenciada pelas inscrições em Haran, conforme verificado por estudiosos dos anais assírios e babilônios, indicam que Adda-Guppi nasceu por volta de 650 a.C.; que Sin partiu de seu templo em Haran em 610 a.C. - e retornou em 556 a.C. Foi exatamente nesse período que Ezequiel, um sacerdote em Jerusalém, foi chamado a profetizar enquanto ainda estava entre os exilados judeus ao norte da Mesopotâmia. Ele nos fornece as datas exatas: foi no quinto dia do quarto mês do quinto ano do exílio do rei judeu Joachin, "quando eu estava entre os exilados às margens do rio Kebar que o céu se abriu e enxerguei visões divinas", escreveu Ezequiel logo ao início de suas profecias. A época era 592 a.C.

O rio Kebar (ou Khabur, como é conhecido agora) é um dos tributários do grande rio Eufrates, que nasce nas montanhas de onde hoje é a Turquia oriental. Não muito longe do rio Khabur fica outro tributário importante do Eufrates: o rio Balikh; Haran situa-se às margens do rio Balikh, há milênios.

Ezequiel descobriu-se tão distante de Jerusalém, nas margens de um rio na Mesopotâmia superior, na fronteira do território hitita (terra de Hatti, em escrita cuneiforme), porque era um dos vários milhares de nobres, sacerdotes, e outro líderes da Judéia que haviam sido capturados e levados para o exílio por Nabucodonosor, o rei babilônio que arrasou Jerusalém em 597 a.C.

Tais eventos trágicos são detalhados no segundo livro de Reis, sobretudo em 24:8-12. Curiosamente um tablete babilônio (parte da série chamada de Crônicas Babilônias) registrava os mesmos acontecimentos, com datas iguais.

Igualmente de forma admirável, essa expedição babilônia como a anterior de Asaradão - também partiu de um ponto próximo a Haran!

A inscrição babilônia detalha a tomada de Jerusalém, a prisão de seu rei, sua substituição no trono da Judéia por outro rei da escolha de Nabucodonosor e o exílio - "transferência para a Babilônia" - do rei capturado e dos líderes da terra. Foi assim que o sacerdote Ezequiel encontrou-se às margens do rio Khabur, na província de Haran.

Por algum tempo - aparentemente os primeiros cinco anos - os exilados acreditavam que a calamidade que se abatera sobre sua cidade e o templo, e sobre eles mesmos, era temporária. Embora o rei judeu Joachin estivesse cativo, estava vivo. Embora os tesouros do templo tivessem sido carregados para a Babilônia como saque, o templo em si estava intacto; a maioria do povo permanecia na terra. Os exilados, mantendo-se em contato com Jerusalém por meio de mensageiros, possuíam grandes esperanças de que um dia Joachin seria reempossado e o templo teria sua glória restaurada.

Mas assim que Ezequiel foi chamado a profetizar, no quinto ano de exílio (592 a.C.), o Senhor Deus o instruiu para anunciar ao povo que o exílio e o saque de Jerusalém e seu templo não representavam o final da provação. Era apenas um aviso para o povo, a fim de que se emendasse - se comportasse com justiça um em relação ao outro, e adorasse Javé de acordo com os Mandamentos. Porém, disse Javé a Ezequiel, em vez de corrigir seu comportamento, o povo começou a adorar "deuses de fora". Portanto, disse o Senhor Deus, Jerusalém será atacada de novo, e dessa vez será completamente destruída, com templo e tudo.

O instrumento de sua ira, afirmou Javé, seria novamente o rei da Babilônia. É um fato histórico estabelecido e conhecido que em 587 a.C. Nabucodonosor, desconfiando do rei que ele mesmo empossara no trono da Judéia, outra vez cercou Jerusalém. Porém naquela oportunidade, em 586 a.C. a cidade capturada foi queimada e deixada em ruínas; inclusive o templo de Javé que Salomão construíra meio milênio antes.

Isso é sabido; porém não se sabe muito a respeito da razão por que o aviso foi ignorado pelo povo e pelos líderes que ficaram em Jerusalém. Era crença deles que ''Javé deixara a Terra"!

Segundo o que se acreditava naqueles dias, Ezequiel descreve sua "visão remota", onde enxergou os Anciãos de Jerusalém atrás de suas portas fechadas; depois teve uma visão das ruas da cidade, onde havia uma completa ausência de justiça e observância religiosa, pois a palavra espalhada era:

 

Javé não nos enxerga mais -

Javé deixou a Terra!

 

Corria o ano de 610 a.C. de acordo com as inscrições em Haran, quando "Sin, o senhor dos deuses, ficou zangado com sua cidade, seu templo e voltou para o céu". Era 597 a.C. - pouco mais de uma década depois -, quando Javé ficou zangado com Jerusalém, sua cidade e seu povo, e deixou o não-circuncidado Nabucodonosor - rei pela graça de Marduk - entrar, saquear e destruir o templo de Javé.

E o povo gritava: "Deus foi embora da Terra!".

E não sabiam quando iria retornar nem se voltaria.

 

As grandes expectativas de sua mãe para Nabônida, como unificador da Suméria e da Acádia e restaurador dos gloriosos Dias Antigos, não prepararam o novo rei para o turbilhão que ele logo enfrentaria. Poderia ter esperado desafios militares; jamais teria esperado o fervor religioso que tomaria conta de seus domínios.

Assim que subiu ao trono da Babilônia, a propósito de um negócio combinado entre sua mãe e Sin, compreendeu que Marduk - uma vez removido e desejando voltar - precisava ser aplacado e receber sua parte. Numa série de sonhos-previsões fingidos ou verdadeiros, Nabônida relatou haver obtido a bênção de Marduk (e de Nabu) não apenas para o seu reinado, mas também para a reconstrução do templo de Sin, em Haran.

Para não deixar dúvidas sobre a importância daqueles sonhos-mensagens, o rei contou que Marduk perguntara especificamente a ele se vira a "Grande Estrela, o planeta de Marduk" - uma referência direta a Nibiru - e que outros planetas estavam em conjunção com ele. Quando o rei disse que eram o "deus 30" (a Lua, a contraparte celestial de Sin) e o "deus 15" (Ishtar e sua contraparte, Vênus), Marduk disse-lhe: "Não há indício ruim nessa conjunção".

Mas nem o povo de Haran nem o povo da Babilônia estavam contentes com esse "co-reinado" de deuses, nem estavam os seguidores de Ishtar "e dos outros deuses". Sin, cujo templo em Haran fora restaurado, exigia que seu grande templo em Ur devesse outra vez tornar-se um centro de adoração. Ishtar reclamava que seu templo dourado em Uruk (Erech) devia ser reconstruído e que ela deveria receber outra vez sua carruagem puxada por sete leões. À medida que se enxergam as entrelinhas do texto escrito pelo rei, pode-se perceber que ele estava ficando agastado com a pressão dos múltiplos deuses e seus sacerdotes.

Num texto chamado pelos estudiosos de Nabônida e o Clérigo da Babilônia (num tablete agora no Museu Britânico), os sacerdotes de Marduk apresentaram uma espécie de lista de acusações contra Nabônida; discorriam desde assuntos civis ("a lei e a ordem não são promulgadas por ele"), a respeito de negligência econômica ("os fazendeiros são corruptos", "as estradas de comércio estão bloqueadas"), de guerras malsucedidas ("os nobres são mortos na guerra") até os mais sérios, como sacrilégio:

 

Ele fez a imagem de um deus

que ninguém jamais viu nesta terra; ele a colocou no templo,

elevou-a sobre um pedestal...

Com lápis-lazúli ela foi adornada, coroada com uma tiara...

 

Era a estátua de uma divindade estranha - nunca vista antes, afirmaram os sacerdotes - com "cabelo caindo até o pedestal". Era tão incomum e improvável que nem Enki ou Ninmah a poderiam ter concebido, tão estranha que "nem mesmo o sábio Adapa conhecia-lhe o nome". Para tornar as coisas piores, dois animais incomuns estavam esculpidos como guardiões: um representando o Demônio do Dilúvio e o outro, um Touro Selvagem. Para adicionar insulto ao sacrilégio, o rei colocou essa abominação no templo de Marduk, e anunciou que o festival de Akitu (Ano-Novo), que era essencial ao equilíbrio de Marduk com a celestial Nibiru, não seria mais comemorado.

Os sacerdotes anunciaram para todos que quisessem ouvir que "a divindade protetora de Nabônida se tomou hostil a ele" e que o "outrora favorito dos deuses caíra em desgraça". Assim, Nabônida anunciou que sairia da Babilônia "numa expedição para uma terra distante". Nomeou a seu filho Bel-sharuzur ("Bel/ Marduk protege o rei" - o Baltasar do Livro de Daniel) como regente.

Seu destino era a Arábia, e sua comitiva incluía, como atestam as várias inscrições, judeus dos vários exílios. Sua base principal era uma cidade chamada Teima (um nome encontrado na Bíblia) e estabeleceu seis acampamentos para seus seguidores; cinco deles foram listados, mil anos mais tarde, por fontes islâmicas como cidades de judeus. Alguns acreditam que Nabônida procurasse a solidão do deserto para contemplar o monoteísmo; o fragmento de um texto descoberto entre os pergaminhos do mar Morto afirma que Nabônida foi acometido de uma desagradável doença de pele em Teima, e foi curado apenas depois que "um judeu lhe disse que honrasse ao Deus Altíssimo". As evidências sugerem, entretanto, que ele estivesse propagando o culto a Sin, o deus lunar, simbolizado pelo crescente - um símbolo adotado mais tarde pelos seguidores árabes de Alá.

Quaisquer que tenham sido as crenças religiosas que Nabônida abrigasse, eram um anátema para os sacerdotes da Babilônia. Assim, quando os dirigentes aquemênidas da Pérsia absorveram o reino dos medas e se expandiram para a Mesopotâmia, Ciro, o rei persa, foi aclamado na Babilônia não apenas como conquistador, mas como libertador. Habilmente, ele se apressou a ir até o templo de Esagil assim que entrou na cidade e "segurou as duas mãos de Marduk".

O ano era 539 a.C. marcou o final profetizado da existência independente da Babilônia.

Um de seus primeiros atos foi estabelecer uma lei permitindo que os exilados judeus voltassem para a Judéia e reconstruíssem o Templo em Jerusalém. O edito, registrado no Cilindro de Ciro, agora mantido no Museu Britânico, corrobora a narrativa bíblica segundo a qual Ciro "foi desafiado a fazer isso por Javé, o Deus do Céu".

A reconstrução do Templo, sob a liderança de Esdras e Neemias, completou-se em 516 a.C. - setenta anos depois de sua destruição, conforme profetizado por Jeremias.

 

A história do fim da Babilônia é narrada na Bíblia num dos livros mais enigmáticos, o de Daniel. Apresentando Daniel como sendo um dos exilados judeus no cativeiro da Babilônia, relata como ele foi selecionado, com três outros amigos, para servir na corte de Nabucodonosor e como (à semelhança de José, no Egito) foi elevado à situação de alto oficial depois de interpretar os sonhos do rei sobre eventos futuros.

O livro então enfoca eventos da época de Baltasar, quando, durante um grande banquete, uma mão flutuando no ar escreve na parede MENE MENE TEKEL UPHARSIN. Nenhum dos videntes e magos do rei conseguiu decifrar a inscrição. Como último recurso, Daniel, havia muito aposentado, foi chamado. Explicou o significado ao rei da Babilônia: Deus havia numerado os dias do reinado dele; o rei fora pesado e julgado; os dias de seu reinado haviam terminado, que seria repartido entre os medas e os persas.

Depois disso, o próprio Daniel começou a ter sonhos premonitórios e visões do futuro nas quais o "Antigo em Dias" e seus arcanjos desempenhavam papéis-chave. Impressionado por suas visões, Daniel pedia explicações aos anjos. A cada uma das vezes eram previsões de acontecimentos futuros, muito além da queda da Babilônia, mesmo além da realização da profecia de setenta anos de reconstrução do Templo. A ascensão e a queda do Império Persa foram previstas, a vinda dos gregos sob o comando de Alexandre, a divisão de seus domínios depois da morte dele, e o que se seguiu.

Embora muitos estudiosos modernos - não sábios judeus ou sacerdotes cristãos - tenham analisado aquelas profecias (acuradas apenas em parte) como visão estreita, indicando um autor (ou vários autores) posterior, o ponto central dos sonhos, visões e presságios experimentados por Daniel é uma preocupação com a questão: Quando? Quando será o reino final, o único que irá sobreviver?

Será um que apenas os seguidores do Deus Altíssimo, o "Antigo em Dias", viverão para ver (até mesmo os mortos vão ressuscitar). Porém Daniel continuava perguntando aos anjos: quando?

Numa das ocasiões, o anjo respondeu que uma fase dos eventos futuros, uma época em que um rei infiel tentará "alterar os tempos e as leis", irá durar "um tempo, tempos, e meio tempo", e só depois disso "os reinos sob o céu serão entregues às pessoas, os sagrados do Altíssimo".

Em outra oportunidade, o anjo revelador disse: "Setenta semanas de anos foram decretadas para seu povo e sua cidade até que a medida da transgressão seja preenchida e a visão profética ratificada".

Mais uma vez um emissário divino escutou de Daniel: "Quanto tempo até o final dessas coisas horríveis?". Novamente recebeu a enigmática resposta: "Um tempo, tempos e meio tempo".

"Ouvi, mas não entendi", escreveu Daniel. "Meu Deus, qual será o desfecho dessas coisas?" Ainda falando em código, o ser divino respondeu: "Da época em que a oferta regular for abolida e uma abominação deplorável se instalar, serão 1.290 anos. Feliz é aquele que aguarda e atinge 1.335 dias".

Enquanto Daniel parecia intrigado, o anjo de Deus acrescentou:

 

Tu, Daniel, deves descansar e despertar

Para teu destino ao Final dos Dias...

Mas mantém as palavras secretas

E sela o livro até o Fim dos Tempos.

 

No Fim dos Tempos, quando as nações da Terra se reunirem em Jerusalém, irão todos falar "numa linguagem clara", afirmou o profeta Sofonias (cujo nome significa "Codificado por Javé") não haverá necessidade de confundir a linguagem nem de as palavras serem lidas de trás para a frente nem de códigos ocultos.

Como Daniel ainda perguntamos: Quando?

 

 

                                                                  Zecharia Sitchin

 

 

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