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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O PASSAGEIRO DAS ESTRELAS / Jamila Mafra
O PASSAGEIRO DAS ESTRELAS / Jamila Mafra

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Brianna era moça séria, calada e sem amigos. Com seus dezessete anos, ela sentia dentro de si uma angústia e uma solidão inexplicáveis. Era um vazio sem sentido, ou talvez esse sentido fosse apenas existencial.
E devido a esse sentimento que a razão é incapaz de explicar, Brianna era uma garota incompreendida pelas pessoas ao seu redor. Nos primeiros anos de sua adolescência, os amigos de seus pais chegaram a lhe sugerir um psiquiatra. Ela era filha única, o que aumentava ainda mais sua condição solitária. E pensava consigo mesma: “Ninguém mais nesse mundo pode ser diferente que já é chamado de louco!”. Mas, bem no fundo de sua consciência, a opinião dos outros não lhe servia para nada.
A vida não poderia ter sido mais irônica e cruel com essa moça. Algo que mudaria a sua vida para sempre estava prestes a acontecer.
Sábado à tarde ela estava sozinha em casa, apenas na companhia de sua empregada Cristina. Seus queridos pais haviam feito uma rápida viagem de fim de semana à casa da tia Susan, no estado vizinho. Brianna não havia ido nessa viagem porque, como de costume, ela não era dada ao convívio com as pessoas, nem mesmo com seus familiares.
O telefone tocou. Cristina atendeu. A notícia não poderia ser pior.

 

 

 

 

Lágrimas de dor correram pelos olhos de Brianna naquele momento de mais pura amargura. Cristina não tinha forças para dizer mais nada. O telefone permaneceu caído no chão, enquanto as duas, ali naquela cozinha, não tiveram alternativa a não ser se abraçarem e partilhar da mesma dor.

Qualquer um que visse a cena estaria curioso pra saber o que havia acontecido de tão pavoroso.

Os pais de Brianna voltavam para casa quando um motorista bêbado entrou na contramão e se chocou contra o carro deles. Os três morreram, as vítimas e o criminoso.

Agora essa moça já desiludida com o seu destino era uma órfã sem vontade de viver.

Aparentemente os acontecimentos já haviam sido muito cruéis para essa pobre órfã. No entanto, sua vida parecia mesmo fadada ao fracasso. Acredite quem quiser: alguns meses depois da morte de seus pais, ela começou a sentir-se muito mal.

No início de tudo suspeitou-se de uma depressão profunda causada provavelmente pela perda dos pais, suspeita essa levantada pelos próprios familiares, mas depois as coisas pioraram cada vez mais.

Sua fraqueza se tornou intensa e os desmaios constantes. Até que, sem mais escolhas, sua nova mãe e tutora Cristina levou-a ao médico. Os exames foram muitos. E a aflição ocasionada pela espera da verdade também.


No consultório médico os olhos de Cristina e Brianna se voltaram atentos para a face do doutor que analisava minuciosamente o resultado dos exames. Ao levantar a cabeça, ele olhou profundamente nos olhos da paciente.

— Então, doutor Lynn, o que eu tenho? Qual é a minha doença? – A paciente questionou-o.

A resposta do médico fora apavorante. Suas palavras foram como uma facada intensa no coração da jovem e da mulher que estavam em seu consultório. E, como numa repetição da cena do dia do acidente, as duas novamente se abraçaram.

Naquele instante de agonia, não menos intensa do que outrora, Brianna pôde sentir outra vez o afeto maternal, só que dessa vez vindo daquela que um dia foi apenas sua empregada.

Leucemia era o diagnóstico. Não poderia haver doença mais trivial e clichê mais real para a vida de uma pessoa quanto este.

Os primeiros meses de quimioterapia foram dolorosos. Devido à queda de seus cabelos, ela passou a usar um lenço na cabeça. A beleza de seus olhos verdes não foi capaz de ocultar a amargura transparente em sua face. Cristina lhe dava todo apoio e amor verdadeiros. Seus familiares também lhe prestavam alguma ajuda e aos poucos Brianna passou a sentir o quanto era bom ter consigo as pessoas ao seu redor.

Durante um período de pausa nas quimioterapias ela sugeriu:

— Cristina, pensei muito e decidi passar um tempo na casa de praia, até a próxima fase do tratamento. Acredito que uns dias perto da natureza me fará bem!

— Mas é claro! Uns dias na casa de praia lhe farão muito bem. Seguindo todas as recomendações e cuidados médicos, isso será ótimo! Podemos ir amanhã mesmo. O que acha? – ela perguntou.

— Sim, podemos ir amanhã – disse Brianna, sorrindo como raramente fazia durante aquele período.

Ela herdou a casa de praia de seus pais. Era uma casa linda. Mais adiante havia uma estrada que dava acesso às rodovias do país. Um detalhe peculiar era que sua casa era a única naquele espaço de quinhentos metros. Mais adiante havia outras casas, também longes uma da outra. A praia era paradisíaca e deserta; recebia turistas apenas no verão. Naquele inverno ela estava vazia e sossegada, livre para Brianna contemplar sua paz.

Cristina e Brianna chegaram tranquilas na casa de praia. Cristina dirigia muito bem, havia aprendido depois de ganhar a tutela da jovem órfã, e também devido à necessidade de estar sempre a levando ao médico.

Não fosse pela sua doença e pela tristeza ainda presente causada pela morte de seus pais, Brianna estaria em um verdadeiro estado de paraíso. Ela passava horas de suas noites sentada na areia da praia, meditando sobre sua vida e sobre quais seriam talvez seus planos para o futuro. Às vezes permanecia lá até de madrugada. Sozinha em seus pensamentos, ela sentia a brisa e o barulho das ondas do mar como se fossem uma canção para acalmar e relaxar seus ouvidos. Durante aquelas noites contemplando as estrelas no céu sobre o oceano, sentia-se menos solitária do que quando estava com qualquer outra pessoa. As estrelas eram sua melhor companhia.


Em uma daquelas noites sentada à beira-mar, Brianna conversava consigo mesma em pensamento e se perguntava, diante de toda aquela paisagem, como era possível existir toda aquela beleza no universo em contraste com as farpas ardentes e pontiagudas que destroem a alma dos seres mortais. Em seu caso, as farpas eram a doença e a morte. E a crucial curiosidade que mais cedo ou mais tarde domina a mente de todo ser humano se apossou de sua alma. Então mais uma vez ela se questionou: “O que realmente existe além de todo o universo?”

Ao mesmo tempo em que desejava saber a resposta, ela percebia o quanto era pequena a sua condição, pois de que adiantaria ter a resposta para essa sua pergunta se ela nem ao menos sabia qual era e se realmente alcançaria a cura eficaz para a sua doença?

Muitas vezes percebemos que é no momento mais improvável e no lugar mais imprevisto que as grandes coisas acontecem. E foi exatamente em certa hora da madrugada, enquanto Brianna contemplava o mar e as estrelas, que ela viu um feixe de luz vindo do céu e ouviu um estrondo de algo que caiu bem no meio da areia.

De fato, ela não fazia a menor ideia do que era aquilo.

Um pouco assustada, ela se aproximou do objeto caído no meio da areia. Ao redor dele havia fumaça. Pelo silêncio que permanecia ao redor depois da queda, parecia que ninguém mais havia escutado aquilo a não ser ela mesma.

Aos poucos a fumaça se dissipava e os olhos verdes de Brianna arregalaram de espanto ao ver o que estava diante dela. Chegou a supor que fosse apenas um sonho.

Bem diante daquela moça, que ainda há pouco questionara a existência, havia algo que sem dúvida era uma nave espacial. Não era grande, media mais ou menos oito metros de diâmetro, era circular, prateada e ao seu lado havia um homem caído. Ele estava vestido como um astronauta, sua roupa era um misto de branco e prateado. Parecia estar desmaiado devido à queda que sofreu. Seu capacete era perfeitamente compatível com o formato da cabeça, a fronte era um tipo de vidro transparente, e assim era possível ver seu rosto. Luvas e botas também faziam parte de sua vestimenta.

Ainda sem saber direito o que faria, Brianna se ajoelhou diante dele e o observou. Em um ímpeto de coragem, mas também nem tão segura, retirou o capacete dele. Depois de vislumbrar seu rosto exclamou:

— Oh céus! É um homem! Ele caiu com a nave aqui na praia! Mas o que significa isso?

Em perfeita confusão mental, Brianna não soube o que fazer, permaneceu apenas observando aquele ser e aquela máquina voadora. Depois de alguns minutos, o mais intrigante aconteceu: aquele homem aos poucos foi recobrando a consciência, até que abriu os olhos. Ele pôde sentir sua cabeça sem o capacete, encostada na areia.

— Você está bem? – ela perguntou.

O homem, por sua vez, ergueu-se. Já sentado, questionou, observando tudo ao redor:

— Onde estou?

— Oh! Então você me entende!

— Sim, entendo!

— Achei que fosse um astronauta de alguma agência espacial americana ou quem sabe de outro mundo. Temi que não compreendesse meu idioma.

— Sim, mas onde estou? – Estava confuso.

— Onde deveria estar, astronauta? Bom, aqui, como pode ver, é uma praia. Você está no litoral do país – ela respondeu.

— Oh não! Caí no lugar errado! Eu quero saber que planeta é esse? – ele questionou, dessa vez mais assustado.

— Ora! Mas o que está me perguntando? Aqui é o planeta Terra. Que outro planeta poderia ser? É o nosso planeta Terra! E, pra ser mais exata, ano 2004 d.C.!

— Isso não pode ser verdade! Acabo de sair do planeta Terra e o ano lá era o 3000! Ou melhor, pode ser sim... Eu bem sei disso. Acasos do multiverso.

— Bom, acho que não estamos nos entendendo. Você deve ter perdido a memória quando bateu a cabeça. Mas, enfim, quem é você, de onde veio e para onde pretendia ir?

— Meu nome é Agon. Tenho quase certeza de que venho de outro planeta Terra, mas do ano 3000 depois do grande sacrifício!

— Que história é essa de “depois do grande sacrifício”? Você quis dizer depois de Cristo? Espera aí, está me dizendo que você é um extraterrestre? Mal posso acreditar no que está acontecendo!

Agon entrou na cabine da nave para constatar o estrago. A porta estava aberta. Continuaram o diálogo depois que ele verificou tudo:

— Eu saí de meu planeta para uma missão espacial em um planeta não tão longe do meu, quando, de repente, houve um incidente espaço-temporal, perdi o controle da nave e caí aqui. Com certeza, devido à alta velocidade, devo ter entrado em um buraco de minhoca ou então rompido a barreira dimensional que separa os universos – Agon explicou a ela.

— Você fala isso com tanta naturalidade, como se isso fosse comum acontecer! Não está assustado? – ela exclamou, espantada.

— Não, garota, eu não estou assustado nem um pouco! Até porque esse é um fato óbvio. Diante da existência, tudo é possível. Essa é a primeira verdade que nós astronautas aprendemos em meu planeta. Porém devemos estar sempre atentos, pois embora nossos planetas sejam muito semelhantes, são planetas distintos, cada um com a sua própria história, tempo e pessoas – explicou-lhe.

— E agora, o que pretende fazer?

— Agora preciso de sorte e de tempo para consertar essa nave. Precisarei de sua ajuda. Qual é o seu nome?

— Meu nome é Brianna. E ficarei feliz em ajudá-lo. É incrível! Se veio de outro planeta, como podemos falar o mesmo idioma?

— Uma simples coincidência que pode ser perfeitamente explicada pela probabilidade matemática existente no multiverso.

— Está certo. Precisamos esconder essa nave para que ninguém a veja. Mais adiante está a minha casa, onde há um galpão enorme. Podemos guardar a nave lá. Espero que você consiga conduzi-la até lá sozinho, pois estou muito fraca devido a uma terrível doença – ela justificou-se.

— Não se preocupe, eu posso conduzir a nave sozinho. Ela não parou completamente de funcionar; pelo que verifiquei, apenas não atinge mais a velocidade da luz. Se eu não consertar isso não volto para casa – tranquilizou-a.

Aquela madrugada foi longa. Brianna contou a Agon tudo o que havia acontecido em sua vida até aquele momento. Ali mesmo ela pensou em uma desculpa convincente para que Cristina permitisse que Agon ficasse na casa da praia por alguns dias. A jovem diria que ele era um amigo que ela havia conhecido no hospital e que lhe havia oferecido muita amizade.

Cristina só estranharia talvez o fato de Brianna nunca ter falado sobre esse tal amigo.

Mas, antes de os dois se dirigirem até os quartos para terem o sagrado descanso, já dentro do galpão, curiosa, Brianna questionou o astronauta a respeito da nave na velocidade da luz. Como seria esse tipo de locomoção? Com um belo sorriso ele respondeu:

— O segredo da nave na velocidade da luz está no motor. Veja com seus próprios olhos.

— Parece um cilindro!

— Sim, é apenas um pequeno cilindro. E nele está concentrada energia atômica. Os átomos armazenados aqui provêm de elementos químicos feitos nos laboratórios lá no ano 3000. O próprio motor renova essa energia de modo que ela não se esgote por um bom tempo.

— Isso é incrível! – exclamou, fascinada.

Ela fechou o galpão e guardou a chave consigo. Dormiu o máximo que pôde. O astronauta dormiu no quarto de hóspedes.

Quando ela acordou no amanhecer de mais um novo dia, chegou a pensar que tudo havia sido apenas um sonho, mas, ao entrar no quarto de hóspedes, lá estava ele, Agon!

Não foi muito fácil explicar tudo à Cristina, que acabou concordando em hospedar Agon ali, porém apenas por alguns dias. Por sorte lá havia algumas roupas que foram de seu pai, e ela emprestou-as ao astronauta, que passava os dias na garagem a tentar consertar sua espaçonave.


Sempre nos fins de tarde Brianna e Agon conversavam sentados à beira-mar, observando o pôr do sol. Certo dia a conversa girou em torno da doença dela.

O astronauta fez uma revelação:

— No meu planeta nossa ciência e tecnologia chegaram ao máximo da evolução. Sua doença está em nossa lista de enfermidades extintas.

— Extinta?

— Sim, lá não só descobrimos a cura para todas as doenças que afligiam minha civilização, como fomos muito além disso. Descobrimos a vacina que previne perfeitamente todas elas, sejam essas doenças causadas por microrganismos ou pelo próprio corpo, tais quais os tumores. Não existem pessoas doentes em meu mundo. Lá todos só morrem de velhice, quando passam dos duzentos anos. Extinguimos também os defeitos genéticos – ele salientou.

— E qual é a cura para a minha doença?

— A cura ainda não se encontra aqui onde você está. Existe uma lei em meu mundo a qual me proíbe de revelar quaisquer informações sobre o meu planeta a alienígenas desconhecidos. Posso ser punido apenas por estar conversando com você agora.

— Está me chamando de extraterrestre?

— Sim. Para mim você é uma alienígena!

— Entendo. Mas me diga: pelo que você já viu aqui, o que nossos planetas têm em comum?

— Um dia também fomos cruéis e destruidores da nossa natureza, não tanto quanto vocês aqui. Já descobri que planeta é este. Era um lugar cheio de males e homicídios. Mas, graças a uma grande transformação, agora vivemos em paz! – o astronauta esclareceu.

— E que transformação foi essa?

— Fiz um juramento de não revelar nada caso estivesse em contato com extraterrestres desconhecidos. Não posso lhe dizer os detalhes nem quem operou essa transformação. Um dia você saberá.

— Mas não sou desconhecida, você já me conhece já há alguns dias. Todas as tardes ficamos juntos aqui nessa praia, conversamos.

— Quando falo desconhecidos, digo no sentido da jurisdição interplanetária.

— Entendo. – Ela estava desconsolada.

— Me responda, Brianna, não acha estranho e não sente medo de estar diante de um ser estranho de outro mundo?

— Não! Aprendi a aceitar com calma todos os acontecimentos da vida, sejam eles bons ou maus. E ter conhecido você, Agon, mesmo que seja um ser de outro mundo, foi muito bom para mim – ela afirmou sorrindo.


Duas semanas depois de tudo isso ter acontecido, enfim havia chegado a hora de Brianna voltar para a cidade e continuar seu tratamento. Com a nave consertada, também havia chegado a hora de Agon partir rumo ao infinito em busca de seu mundo.

No galpão acontecia a despedida:

— Enfim, você e eu partiremos, cada um para um lado diferente. Agon, saiba que não importa há quantos anos-luz você esteja distante daqui, eu sempre me lembrarei de você. Por que está me olhando assim? – ela o questionou, com os olhos lacrimejantes.

— Brianna, eu decidi que não vou embora, não voltarei para o meu mundo. Quero continuar aqui e acompanhar você onde quer você que vá!

— Agon, não diga uma loucura dessas! Você deve voltar para o seu lugar. Volte para o seu mundo!

— Não conheci meu mundo na época da destruição. Quando nasci ele já havia passado pela grande transformação. Quero continuar aqui e sentir a mesma dor que você está sentindo. – Ele insistiu em ficar.

— Você não pode estar falando sério. Pense bem, onde você vai? Viver do quê? Vai trabalhar? Nem documentos terráqueos tem! Aqui precisamos de dinheiro para viver. Infelizmente aqui ainda não vivemos no comunismo ideal como em seu mundo, onde a tecnologia chegou ao máximo e todos têm acesso a tudo que existe. Acho que você enlouqueceu!

— Pensei que eu poderia ter sua ajuda para estabelecer minha vida nesse mundo.

— Não é isso, mas é que, se foi lá que você nasceu, é lá que você tem que ficar. Não podemos lutar contra a natureza das coisas.

— Mesmo que você não me ajude, eu continuarei aqui, Brianna! – ele afirmou, convicto de sua decisão.

Por uns instantes eles apenas se olharam e ela não resistiu. Beijaram-se pela primeira vez. Já haviam trocado carinhos antes, mas esse foi o primeiro beijo. Se era assim que ele queria, o que ela poderia fazer para evitar? Absolutamente nada!

Depois de muita conversa com Cristina, a jovem decidida Brianna convenceu-a de que Agon seria um ótimo motorista para elas. E, por fim, Cristina o contratou. Ele estava indo bem em sua nova vida de terráqueo. Possuir identidade e documentos falsificados não é um bom exemplo para ninguém, mas, nesse caso, tratando-se de um extraterrestre que pretende ser reconhecido tal qual uma pessoa qualquer, é perfeitamente desculpável. Afinal, se ele não pertence a este mundo, não poderia estar sujeito às leis desse mundo.

A presença de Agon na vida de Brianna não foi somente importante no sentido da amizade; foi mais que isso: ele ajudou a cuidar dela nos dias mais difíceis da doença que tanto atormentava sua alma. Ela já estava na terceira fase do tratamento, porém os resultados não eram muito animadores. Ainda assim estava estável e todos aguardavam o que seria dali em diante.

E a vida de Brianna sofreu mais um grande impacto. A essa altura dos acontecimentos ela já completara os seus dezoito anos e assim não precisava mais de tutora nem de nada relacionado a isso. Agora ela era responsável por seus próprios atos. Mas Cristina não havia sido apenas sua tutora; para ela Cristina havia sido uma verdadeira mãe.

E essa verdadeira mãe começou a ter outros planos e decidiu seguir seu próprio caminho. Não que sua intenção fosse abandonar a pobre garota. Isso não! Mas é que Cristina decidiu ter sua própria vida e agora tinha Agon para cuidar de Brianna.

Cristina foi pedida em casamento já nos seus quase quarenta anos de solteirice. E, para variar, seu futuro marido não aceitava a presença de Brianna em suas vidas. Até que ele tinha certa razão, pois ela já era maior e não necessitava legalmente de nenhuma pessoa responsável. E, além de tudo, ele tinha todo direito de formar uma família em paz e sem nenhum infortúnio alheio.

A decisão foi difícil e dolorosa para ambas as partes. Mas em toda a sua maturidade adquirida através do sofrimento, Brianna libertou Cristina de todo o pesar que lhe sobreviria à alma por ter de abandoná-la.

— Vá em paz, Cristina! Você tem todo o direito de ser feliz com o seu marido. Eu vou ficar bem. Agon estará comigo. E quando eu estiver curada vou lhe visitar, mesmo que seja na China! – disse Brianna, demonstrando um falso entusiasmo e com um sorriso forçado.

Ela disse isso porque Cristina iria para o outro lado do país. Seu futuro marido era um empresário que viajava muito. Embora tenha demonstrado alegria pela nova conquista de sua ex-tutora, para Brianna sua sorte não poderia ter sido mais cruel!

Agora lhe restou apenas a companhia de um extraterrestre que, na opinião dela, era louco! De vez em quando um ou outro parente lhe mandava flores. Ao telefone Brianna sempre respondia “estou bem”. Tudo disfarce. Na verdade, ela não queria mais dar trabalho para ninguém e até chegou a ponto de desistir de seu tratamento para morrer mais rápido. Se não fosse por Agon ter cuidado e conversado muito com ela, teria muito bem feito isso. Em sua consciência de jovem mulher, ela reconhecia que já não mais vivia e sim sobrevivia.

As coisas nunca são do jeito que imaginamos. De repente vem o inesperado e destrói os nossos planos assim como as águas do mar destroem os castelos de areia.


Agon e Brianna caminhavam nas areias da praia quando tiveram essa conversa.

— Agon, eu ainda não consigo acreditar que você deixou de voltar para o seu mundo só pra ficar comigo.

— Pois acredite. Estou aqui do seu lado – ele garantiu.

— Nem sei se vou sobreviver. Talvez não valha a pena se sacrificar assim por mim – Brianna afirmou cabisbaixa, sentada na areia da praia.

— O que eu sinto por você é maior do que eu poderia imaginar. É maior que o multiverso. Para falar a verdade, eu nunca senti nada assim por ninguém – ele afirmou afagando os cabelos dela.

— Eu também nunca havia tido alguém assim na minha vida. Também descobri que te amo.

— Essa é a maior das descobertas – Agon declarou com um sorriso.

Houve um instante de silêncio.

— Mas me conte mais sobre seu planeta, sobre a grande transformação que aconteceu lá. Corre sangue em suas veias? Durante esses dias em que estivemos juntos você não me disse quase nada sobre isso. Quero muito saber – manifestou-se curiosa.

— Não corre sangue em minhas veias. É outra substância, não é vermelha. Nada de hemoglobina, nem leucócitos, tudo diferente.

— E você morre? Agon, me diz, você é mortal? – Essa era a pergunta cabal para entender mais sobre a natureza do astronauta.

— Digamos que eu sou um mortal diferente, um mortal que não morre com facilidade. As forças naturais do seu universo, desse mundo onde estamos agora, são incapazes de me destruir.

— Incrível! Mas como isso é possível? Você é ao mesmo tempo tão perfeito e tão humano. Sua atitude de me amar é de uma pessoa frágil, romântica, vencida por um sentimento humano! – Brianna disse em tom de voz delicado.

— Por acaso pensa que seres evoluídos de outros planetas não amam?

— Amam?

— Sim, nós do meu planeta amamos e sentimos com muito mais intensidade do que vocês aqui nesse mundo. Os sentimentos são um fato muito comum entre as várias civilizações avançadas de galáxias nos universos afins – Agon explicou e sorriu.

— Você me contou que quando nasceu seu mundo já estava transformado.

— Sim. Não presenciei as dificuldades e maldições da minha antiga civilização.

— Você é um homem de sorte por ter vivido desde que nasceu em um mundo sem dores. Que transformação foi essa tão poderosa que eliminou o mal do seu planeta? Conta logo pra mim, quero muito saber.

— Eu te amo muito, Brianna, mas não posso te dizer em detalhes como tudo aconteceu. Já estou infringindo várias leis universais ficando com você.

— Quer dizer que existe uma jurisdição intergaláctica para o amor?

— Sim, existe. Não só para o amor, mas para todo tipo de contato entre seres evoluídos e seres ainda decaídos, como os daqui desse mundo.

— Astronauta, você já sabia que meu planeta existia?

— Sim, eu já sabia sobre a existência desse planeta e de tantos outros que abrigam a vida na vastidão dos universos.

— Por que não mantém contato conosco?

— Sua civilização não é amigável, talvez a mais a mais hostil das galáxias, com a qual ninguém quer se comunicar. Há civilizações ainda em fase primitiva, porém mais amáveis que vocês, menos famintas pelo poder.

Agon se aproximou mais de Brianna. Estavam diante do mar.

— E lá no seu planeta as pessoas ainda se casam, têm filhos?

— Ainda se casam e têm filhos, mas sem dor, sem sofrimento, sem doenças, sem sangue.

— Ah, sem sangue! Isso ainda me surpreende.

— Como eu havia dito, outra substância corre em minhas veias. – Agon relembrou sua condição excepcional.

— Tenho medo de machucar seu coração, afinal você disse que é capaz de sentir as emoções mais intensamente que os seres humanos desse mundo. Eu vou morrer e não quero que você sofra com a minha ausência, Agon.

— Eu vou achar um jeito de curar você, eu prometo, ainda que eu tenha que ir à uma galáxia e retornar com a cura. Mas primeiro vamos tentar todos os métodos terrenos. Há novas possibilidades aqui na Terra. Vejo que você melhorou um pouco.

Agon se aproximou mais de Brianna, pegou nas mãos dela e beijou-a pela segunda vez.

— O que foi, Brianna? Não gostou que eu te beijei? – ele perguntou, inclinando-se para trás.

— Pelo contrário, beijar você é uma sensação diferente, parece que você não tem saliva. Mas é algo que relaxa. Eu nunca imaginei que um dia eu beijaria um extraterrestre. Aliás, você é meu primeiro namorado – ela confessou, sorrindo de modo singelo.

— Sou mesmo? O primeiro? – Ele se mostrou surpreso.

— Sim, é o primeiro. Para você ver como a vida aqui na Terra não está fácil! Um cara de outro planeta teve que vir pra namorar comigo. Você veio do céu, direto das estrelas – ela afirmou, olhando para o alto.

— Eu quero estar ao seu lado em cada minuto que temos.

— Agon.

— Sim.

— Me explica uma coisa.

— Explico.

— Como seu corpo digere os alimentos que você come aqui na Terra? Não quero ser indiscreta, mas é que durante esse tempo em passamos juntos sempre te vi comer, mas nunca... – Brianna se mostrou ainda mais curiosa.

— Talvez você não compreenda facilmente como o meu corpo funciona.

— Eu vou me esforçar pra entender.

— Mesmo tendo a mesma forma física, o meu corpo é feito de partículas elementares diferentes das suas. São partículas feitas com energia de outro universo, é uma energia que dá origem a átomos distintos dos átomos que formam os elementos químicos que compõe seu corpo e a Terra.

— E então?

— Brianna, o metabolismo do meu corpo é capaz de transformar qualquer tipo de outros átomos em energia. Os alimentos desse mundo não são digeridos por mim como acontece com vocês humanos. Os átomos de tudo o que eu como aqui são simplesmente desintegrados pelo meu organismo.

— Como acontece nos aceleradores de partículas quando átomos se chocam um com o outro e partidos em pedaços?

— Sim, é mais ou menos isso. Meu corpo quebra em pedaços milhões de átomos de uma vez só e os converte em energia. Essa energia é distribuída pelo meu corpo, me tornando mais forte. Eu sou capaz de controlar essa energia do meu corpo.

— Você sente o gosto?

— Sinto sim, tão intensamente quanto os sentimentos.

— É fascinante. Mas, pelo que vejo, seu cérebro é sensível. Você está deixando de voltar para o seu mundo só por causa de uma paixão em um mundo decaído como este. – Brianna afirmou encantada.

— Eu te disse que os meus sentimentos são mais intensos que os seus. A tristeza, a ira, o amor e a paixão inclusive. Eu não vou te deixar morrer.

— Mesmo que eu não morra, eu posso não ser a mulher que você espera.

— Eu não espero mais do que eu já tenho. Brianna, quer casar comigo?

— O quê?

— Case-se comigo. Já tenho meus documentos falsos. Quero que façamos tudo do jeito que a lei desse mundo manda.

— Você quer dizer casar mesmo, assinar papel, dormir na mesma cama, me chamar de esposa?

— Sim. Por que a dúvida? Casar mesmo! Já moramos juntos há um bom tempo.

— Sim, moramos juntos, mas até então eu te via como...

— Como?

— Sei lá, como meu motorista alienígena que me ajuda e é bom comigo. Ué! Até então ainda dormimos em quartos separados. Eu nem sabia que você queria ficar comigo dessa forma. Achei que você apenas sentia pena de mim. Tudo bem, você me beijou naquela vez, mas acreditava que as coisas não fossem tão sérias assim. A minha cabeça ficou tonta agora.

— O coração dela acelerou.

— Eu disse que eu te amo várias vezes. E agora você já sabe que eu te quero pra valer.

— Sei que você me ama. Mas entre amar e casar há uma diferença grande, são coisas diferentes.

— Brianna, você não quer se casar comigo?

— Não que eu não queira, mas...

— Brianna, você tem medo de mim?

Ela demorou uns segundos para responder.

— Um pouco, afinal você tem que concordar que não é todo dia que cai um homem do céu e me pede em casamento.

— Você é uma mulher de sorte então. O homem das estrelas veio pra te amar pra sempre.

— Sou sim sortuda. Eu te amo também. Amo muito, mas entenda que agora minha cabeça ficou um pouco confusa. Eu preciso saber uma coisa.

— Pergunte.

— Agon, sabe, aqui na Terra, depois que um homem e uma mulher se casam, eles se relacionam de modo mais íntimo e depois a mulher tem um bebezinho. Mas eu não posso nem pensar em algo assim, além de não poder tomar remédios para impedir isso. Eu poderia até morrer se uma gravidez acontecesse. Os médicos até me disseram que o tratamento me tornou infértil, mas vai saber... A medicina sempre se engana.

Agon começou a rir e sorrir.

— Por que você está rindo, Agon? Se vamos nos casar temos que conversar sobre isso.

— Ela explicou.

— Brianna, não se preocupe. Digamos que meu material biológico de reprodução é incompatível com o seu corpo. É impossível que você gere um filho meu. Não há a menor possibilidade de isso acontecer. O que sai de mim e gera um descendente não se parece nem um pouco com células reprodutoras humanas – Agon esclareceu.

— Então você garante que de você não sairá nada que possa prejudicar meu corpo? Olha, estou falando sério. Isso me preocupa.

— Eu garanto que não sai nada de mim que possa te prejudicar. Não é assim que as coisas acontecem em meu mundo. Temos controle absoluto sobre fluídos especiais que saem do nosso corpo. Além do mais, são incompatíveis com a sua natureza humana.

— Fico mais tranquila assim. – Brianna sorriu ainda apreensiva.

Beijaram-se mais uma vez. O amor de ambos só aumentava com o passar dos dias, e Brianna pouco a pouco perdia o medo de ser completamente amada por seu homem das estrelas.

Foi incrível como, com o passar dos meses, o astronauta extraterrestre se adaptou à vida e aos problemas cotidianos da Terra. Ele sorriu e chorou com sua jovem amada toda vez que isso foi preciso.

Na verdade, seu amor por ela era cada vez maior. A espaçonave permaneceu guardada na garagem da casa de praia e Cristina jamais chegou a vê-la. Nunca desconfiou nem mesmo por um minuto que Agon fosse um extraterrestre. Ele era tão parecido com qualquer mortal desse mundo.

Brianna sentia-se um pouco melhor naquela manhã ensolarada. Às vezes a doença regredia, embora não fosse curada.

Agon tomou sua amada pelas mãos e conduziu-a até o mar, onde se refrescaram, sorriram, se abraçaram. Aquilo tudo parecia mais um sonho, desses em que a pessoa fica com a mente presa sem conseguir acordar.


Quatro vizinhos foram convidados como testemunhas para a cerimônia de casamento que aconteceu no cartório do centro da cidade. Brianna usava um vestido branco com flores bordadas. Seus cabelos já haviam crescido de novo, estavam na altura abaixo das orelhas.

Agon estava vestido em seu novo terno, comprado especialmente para a ocasião.

Depois da assinatura dos papéis os noivos seguiram sozinhos para a casa de praia, onde comemorariam e começariam sua nova de vida de marido e mulher.

— Agon – Brianna chamou por ele já dentro do carro.

— Sim, meu amor – ele respondeu com um sorriso singelo.

— Tem certeza de que é isso que você quer para sua vida? Se for da sua vontade, pode voltar para o seu planeta.

— Do que está falando? Estou aqui com você, dirigindo esse carro rumo à comemoração do nosso casamento, e você vem com essa conversa de te deixar? Pare! Hoje é o dia mais incrível da minha vida.

— Desculpa, Agon. Eu só acho tudo isso uma loucura sem tamanho. Você é mesmo de outro mundo?

— Mas é claro que eu sou. Não viu a minha nave? Não viu meu corpo que é diferente do seu?

— Sim, eu vi, mas me entenda...

Agon parou o carro.

— Brianna. Do que você tem medo?

— Astronauta, se já é difícil amar alguém desse mundo, imagine me casar com um homem que veio das estrelas. Sei lá, é uma coisa meio surreal, sabe? É como se fosse um daqueles sonhos esquisitos e ao mesmo tempo bom, do qual não conseguimos acordar.

— Entendo você. Sei como se sente. Eu conheço outros planetas mais avançados e você não. É algo complicado eu ter me deixado levar por um sentimento que é mais forte do que eu e do que a razão. Vamos em frente, temos um casamento pra comemorar. – Agon ligou o carro e continuou o trajeto.

— Tudo bem, eu vou tentar esquecer por um instante que você não é um terráqueo e celebrar esse momento.

— Isso mesmo. Para que lembrar que somos diferentes, de mundos diferentes? Eu e você nos amamos e é isso que importa.

— Tem razão, meu amor – ela concordou.

Finalmente chegaram à casa da praia. Brianna teve uma surpresa ao passar pela porta.

— Agon, quantas flores! Olha isso! A sala se transformou em um lindo jardim! Eu amo as rosas de todas as cores! – ela afirmou, com os olhos brilhando de emoção ao contemplar tantas flores.

— Minha surpresa não para por aqui. Vá até a sacada do seu quarto.

— O que tem lá?

— Veja com seus próprios olhos.

Brianna correu até a sacada. Agon foi em seguida.

— Um telescópio! É enorme! Agon, deve ter custado muito caro. – Ela se mostrou radiante.

— Eu investi seu dinheiro em bons negócios. Podemos comprar quase tudo que quisermos. Vamos observar as estrelas todas as noites, juntos, na areia da praia, através desse telescópio – ele afirmou feliz por ver que ela estava contente.

— Meu amor, eu não imaginava! Amei as rosas e o telescópio. Obrigada. – Ela o agarrou pelo pescoço e o beijou.

— Brianna, você merece isso e muito mais. Eu te amo.

— Minha vida era só amargura antes de você chegar. Eu estava sentada na areia dessa praia me perguntando se existia em algum lugar desse universo um planeta melhor do que esse, com pessoas menos cruéis, um planeta de paz, sem dores nem doenças. E então, Agon, você caiu do céu, das estrelas. Só com você me sinto amada. – Ela sorriu.

— E a partir de hoje eu vou te amar muito mais. Você terá todo o meu cuidado e carinho. Eu vou curar você. Prometo.

— Eu não duvido. Só acho que as coisas não são tão simples assim.

Agon fez sinal para que Brianna se calasse, colocou seu dedo indicador na boca dela.

— Não diz mais nada – Agon disse, beijando-a mais uma vez.

O casal sentou-se na cama. Agon ainda a beijava. Tudo parecia bem, mas na verdade Brianna estava confusa e com medo.

— Espera! – Ela o afastou com as mãos.

— Meu amor, o que foi?

— Agon, me desculpa. Mas eu não consigo!

Brianna saiu do quarto correndo e foi para a praia. De joelhos na areia, chorou sem parar.

A noite começou a cair.

O Astronauta ficou desconsertado. Pela primeira vez não sabia ao certo o que faria. Foi atrás de sua amada. Ele a observou por uns instantes. Aproximou-se e sentou-se ao lado dela na areia.

— Brianna.

— Agon, me perdoe, mas eu não posso ser a mulher que você merece – ela afirmou chorando, de cabeça baixa. Não tinha coragem de olhá-lo nos olhos.

— Você é uma mulher forte, linda, inteligente. Está lutando para viver. Diz para mim do que você tem medo. O que está acontecendo?

— A verdade é que não sei se eu fiz a coisa certa ao me casar com você, assim tão logo. Eu não estou bem. Você disse que seu material genético de reprodução não funciona no meu corpo e tantas outras coisas mais. Só que eu não confio, eu tenho medo. Corro o risco de morrer.

— Então é isso?

— O que mais poderia ser? Nunca estive com homem nenhum. E continuo não estando, porque você não é um homem, você é um extraterrestre. Me perdoe, mas eu estou me sentindo estranha. O pior é que você é a única pessoa que eu tenho nesse mundo – Brianna confessou.

O astronauta sentiu pena de sua jovem mulher. Percebeu o quanto ela sofria, o quanto ela estava insegura e temerosa pelo futuro. Então envolveu- a em seus braços e disse:

— Está tudo bem, meu amor. Fique tranquila. Vamos passar umas horas aqui admirando as estrelas, você vai se acalmar e entender meu sentimento por você. Não se preocupe, eu não sou como os homens desse mundo, incapazes de controlar seus impulsos biológicos.

— Ah, é? Mas você não controlou sua paixão por mim, a ponto de não voltar para o seu mundo.

— Mas não é paixão, é amor.

— Eu sei, Agon. Eu também te amo. Só estou confusa.

— Brianna, com o tempo você vai entender que eu realmente não tenho os mesmos impulsos biológicos que as pessoas têm aqui no seu mundo. O sentimento de amor e ternura dentro de mim são um milhão de vezes maiores do que a paixão, que praticamente não existe em minha mente.

— Mas você tinha me dito que no seu mundo as pessoas ainda se casam e têm filhos.

— Sim, só que as pessoas no meu planeta são capazes de controlar a expressão sexual. Não é mais uma necessidade, é uma escolha controlada. Quando fazemos, sentimos uma alegria plena, que não é um mero prazer passageiro. Mas se não fazemos não sentimos falta. Os sentimentos de amor e ternura nos proporcionam uma alegria maior ainda – Agon explicou-lhe, afagando os cabelos dela.

— Astronauta, fico feliz em saber que em algum lugar do universo o amor prevalece sobre os impulsos vãos da paixão.

— Então deixa eu te abraçar e te mostrar que comigo não há o que temer. Feche os olhos e apenas me sinta aqui com você.

Brianna recostou-se no colo de Agon e disse:

— Foi aqui nessa praia que eu te encontrei. Meu marido veio das estrelas, caiu do céu para me salvar.

— Para te salvar, para te amar, para enxugar as suas lágrimas. – Ele afagou os cabelos dela.


Depois de casados, Brianna e Agon costumavam jantar algumas vezes nos restaurantes do centro da cidade vizinha. Naquele fim de semana voltavam para a casa da praia, depois de uma longa noite de passeios.

Ainda pretendiam ver as estrelas sobre as águas do oceano e de conversar com o seu amado esposo, sentada na areia. Seguiram caminho de noite. Chegaram por volta das vinte e duas horas. Estava tudo tão silencioso, a estrada, a praia, o céu. Depois de entrarem em casa e deixarem suas malas, desceram para a praia.

Brianna e Agon se depararam com uma visita surpresa. O pior de tudo ainda estava para acontecer.

Cetus, o chefe do departamento espacial de Agon, rastreou a espaçonave do astronauta imprudente, que havia feito tudo que lhe era proibido ao invés de entrar na sua espaçonave e voltar para seu planeta de origem.

E era Cetus quem estava lá, acompanhado de outros astronautas policiais prontos para prender Agon e levá-lo de volta para o seu mundo no infinito do universo.

Na areia da praia os policiais estavam de pé ao redor da nave. Havia uns dez astronautas armados, prontos para levar Agon a força caso recusasse a ir de livre e espontânea vontade.

O corpo da pobre Brianna começou a tremer, pois ela sabia muito bem o que significava tudo aquilo. Significava que ela estaria para sempre sozinha e condenada à eterna solidão. Aos poucos, e sem a menor piedade, a vida foi lhe tirando todos aqueles que ela amava.

Cetus aproximou-se de Agon e disse:

— Astronauta Agon, rastreamos a sua nave e os sinais que ela deixou antes de cair aqui. Então soubemos que se tratava de um acidente e viemos buscar você. Precisa ir embora conosco agora mesmo!

— Eu não vou – Agon recusou-se.

— Você virá conosco agora mesmo! Sua nave já está guardada aqui em nossa espaçonave mestra. – Cetus foi enfático.

— Não vou embora com vocês! Não posso fazer isso! Agora tenho uma vida aqui! Este é o meu planeta! Eu me casei com a Brianna. Somos marido e mulher – Agon declarou com coragem.

— Casou-se? – Cetus riu e ficou sério em seguida. – Não diga bobagem! Nem desse planeta você é! Agon, você sabe muito bem que isso é expressamente proibido justamente por você ser um ser mais evoluído do que os seres desse mundo! É melhor vir logo, caso contrário o levaremos a força. Sabe que, pelo que já fez, será punido severamente. Venha, se não será pior!

Na tentativa de fugir, com um gesto impulsivo de desespero, Agon segurou forte nas mãos de Brianna e os dois correram até o carro, mas foi totalmente inútil. Os astronautas policiais os perseguiram enquanto outros cercaram o carro. As armas estavam apontadas para eles.

— Brianna, não se assuste. Essas armas não matam, apenas disparam raios imobilizadores – Agon assegurou-lhe.

— Agon, acho melhor você ir embora com eles. Eu vou ficar bem aqui. O seu amor estará sempre comigo – Brianna afirmou, triste.

— Mas você é minha esposa! – Agon exclamou em tom de voz triste.

— Esposa? Você ouviu o que seu chefe disse? Ele tem razão, você casou com nome falso. Agon, você nem pertence a este mundo. Nosso casamento não tem validade nenhuma.

— Brianna, não diga isso! Conversarei com meu chefe e vou convencê-lo de que devo ficar! – Agon garantiu, sentindo um nó na garganta.

Agon se pôs à frente da tropa intergaláctica, depois de ficar sem saída. Lançou seus argumentos:

— Cetus, você já é meu chefe há anos. Aprendi a ser astronauta com você. Eu agradeço por terem vindo me resgatar! Porém não quero ir, quero continuar aqui neste planeta.

— Agon, você sabe muito bem que o motivo pelo qual somos obrigados a levar você é extremamente secreto e sagrado. As coisas que você fez aqui na Terra não deveria ter feito. Astronauta, você conhece as leis e sabe que viver em um mundo que não é o seu mundo de origem e se relacionar com um ser vivo que não é de sua natureza é algo contra todas as leis do universo – Cetus disse em voz alta.

— Agon, se você for realmente, um pedaço de mim irá junto. Se é assim que tem que ser, que seja! Eu não posso ir com você? – Brianna perguntou com certa esperança e lágrimas nos olhos.

— De maneira nenhuma, Brianna! Se eu for, nós não nos veremos nunca mais – Agon desconsolou-a.

— Venha logo, Agon! – o chefe chamou-o mais uma vez.

— Não! Eu não aceito isso! Eu só irei se ela for comigo! – Agon declarou decidido.

— Você abandonou mesmo todos os princípios que lhe foram ensinados. Não destrua o resto de esperança que ainda lhe resta para ser perdoado de todos os crimes universais que você cometeu, astronauta Agon! De modo algum seria permitido tal coisa! Ela tem que ficar aqui. Cada ser vivo tem que aceitar a sua própria existência, caso contrário o universo seria uma verdadeira confusão. Agora, de uma vez por todas, se despeça de sua amiga e vamos embora! – Cetus exclamou com em tom de voz mais severo.

— Vocês me ensinaram que existe o livre-arbítrio. Eu tenho o meu livre-arbítrio para escolher ficar aqui! – Agon lançou sua última premissa.

— Sim, tem toda razão. Você tem o livre-arbítrio para escolher continuar vivendo aqui, e, se essa for sua escolha final, lançaremos sobre você os raios imobilizadores e te levaremos de qualquer maneira. Eis o nosso livre-arbítrio! Pela última vez, entre nessa espaçonave imediatamente – impôs o chefe definitivamente.

Agon sentiu um peso maior que todo o universo comprimir sua alma. Com lágrimas nos olhos, ele olhou profundamente na face de Brianna e disse:

— Brianna, meu amor, eles têm razão! Eu fiz o que eu sabia ser errado. As leis universais não podem ser contrariadas. E eu sofrerei as punições pelos meus erros. Mas, mesmo assim, eu juro que jamais te esquecerei, eu voltarei aqui pra te curar, eu juro. Me lembrarei de você todos os dias e todos os minutos. Basta que você também pense em mim todos os dias e todos os minutos e assim estaremos sempre juntos. Não importa o que as leis do universo nos imponham. Somos de planetas diferentes, porém somos igualmente seres vivos que se amam.

— Sim, Agon, meu astronauta, meu homem das estrelas! Eu olharei todas as noites para os astros no cosmos e assim falarei com você. E quando o céu estiver nublado exigirei às nuvens que se afastem para que o universo transmita a você os meus pensamentos – Brianna disse, com a face molhada de lágrimas.

Brianna e Agon se abraçaram no abraço mais doloroso de suas vidas.

Agon entrou na espaçonave com a angústia e a tristeza de quem está a caminho de sua própria morte. A tropa cruel intergaláctica também entrou e seguiram rumo ao infinito do universo.

Brianna, por sua vez, caiu de joelhos na areia e chorou sem parar por horas. Ela olhou para o céu, mas não via nada. Sua visão se embaçou por causa das lágrimas infinitas. Em apenas um segundo aquela grande espaçonave já não estava mais lá; estava a 300 mil quilômetros de distância. Agora sim a pobre jovem órfã tinha apenas as estrelas por companhia.


Brianna contratou uma empregada para ajudá-la e acompanhá-la em casa. Seu nome era Marian, uma jovem de vinte e dois anos. Brianna observava o céu todas as noites. Tinha esperança de que o astronauta, seu amor que havia vindo das estrelas, voltasse para amá-la. Mas a solidão falava mais alto.

Naquela manhã fria Brianna acordou sentindo-se estranha. Havia algo de incomum em seu ventre. Não se tratava exatamente de uma dor, nem de enjoos, nem inchaços. Nem ela sabia explicar ao certo o que poderia ser aquilo. Depois de passar um mês com aquela sensação esquisita no ventre ela procurou o médico, precisava saber logo o que estava acontecendo em seu corpo. Talvez fosse algum efeito colateral dos remédios que tomava para tratar o câncer.

No momento da ultrassonografia, o doutor, que não era o mesmo que tratava de sua doença, fez-lhe uma revelação que mudaria a vida dela para sempre:

— Parabéns, senhorita Brianna.

— Parabéns pelo quê, doutor? O que eu tenho?

— Brianna, você está grávida!

— Grávida?

— Sim! De três meses ao que tudo indica!

— Impossível, doutor! – ela respondeu assustada.

— Eu tenho certeza do que digo. Estou vendo claramente o feto em seu ventre através da ultrassonografia. Olhe.

— Se você diz que é verdade, eu vou acreditar. Com licença, agora eu tenho que ir. – Ela levantou-se depressa e saiu da sala do exame sem ao menos pegar os papéis com os resultados.

Brianna sentiu uma tontura, saiu pálida da sala de exame. Marian a esperava na recepção da clínica.

— Brianna, o que houve? O que você tem? Está pálida! O que o médico disse? – Marian perguntou-lhe, demonstrando preocupação.

— Marian, aconteceu um desastre! Eu não sei o que vai ser de mim agora! Lá fora eu te conto tudo! – Brianna disse quase sem fôlego.

Na calçada, Brianna contou-lhe:

— Marian, eu estou grávida de três meses segundo o doutor!

— Grávida? Mas como?

— Eu também não sei! Como eu te contei, meu marido foi embora há pouco mais de um mês, e ficamos juntos por pouco tempo.

— Vai ver você concebeu antes da partida dele.

— Isso é impossível! O material biológico de reprodução dele era incompatível com o meu corpo.

— Como assim? Do que está falando? Incompatível? Brianna, você tem que contar para o seu médico sobre essa gravidez. Os remédios que você tomou podem matar o bebê. Essa gravidez pode te matar também.

— Nesse último mês estou me sentindo mais forte do que nunca. Eu não posso contar nada aos médicos. Eles vão querer usar meu filho como cobaia científica.

— Eu não estou entendendo nada. Como assim você não pode contar para o seu médico que você está grávida?

— Marian, eu não posso contar porque essa criança não é comum. Posso ser perseguida. O médico acabou de me dizer que o bebê tem três meses já.

— Estou perdida. Espera, agora estou me dando conta da verdade, Brianna. Três meses? Como isso é possível? Os remédios que você toma há anos e o tratamento que você faz já teriam matado esse bebê. E outra: você havia confessado que seus médicos disseram que você é infértil. Me explica o que está acontecendo.

— Sim, completamente infértil!

— E então?

— Marian, o meu marido não era desse mundo, ele veio de outro planeta. A nave dele caiu aqui, nos conhecemos, nos casamos. Mas a patrulha espacial veio buscá-lo de volta, então ele teve que partir para o infinito do universo. Mas jurou que um dia voltaria pra me buscar.

— Que história é essa? Como assim? Está me dizendo que você se casou com um extraterrestre?

— Sim, é isso mesmo que estou dizendo. A quantidade de remédios que eu tomei pra tratar meu câncer me tornou infértil, quase estéril. Mas o mais estranho era que meu marido dizia que o material biológico dele de reprodução não era compatível e nem funcionaria em uma mulher humana como eu. Nossos corpos são feitos de elementos diferentes.

— Essa gravidez é então um fenômeno desconhecido.

— Sim, mas fato é que existe um ser vivo de outro mundo crescendo aqui dentro de mim. Se meu médico souber que existe um ser sendo gerado no meu ventre, vai querer raptar essa criança para estudá-la em laboratório. Vão querer me sequestrar e me analisar, me usar em experimentos.

— Oh, céus! Como pode então esse ser aí dentro de você sobreviver? O que o alimenta?

— Esse bebê deve ser igual ao pai dele, que transformava tudo o que comia em energia, não importava o que fosse.

— Energia?

— Lá no outro mundo eles nem precisam se alimentar como a gente aqui. Comem só por prazer, mastigam, engolem e então os átomos da comida são desintegrados e convertidos em pura energia. Eu sinto esse bebê crescendo aqui dentro a uma velocidade incomum. Não para de se mexer. Não será uma gestação normal. Marian, você vai me ajudar a esconder essa gravidez e a fazer o parto, que eu não tenho a menor ideia de como vai ser.

— É espantoso! Dona Brianna, eu vou te ajudar a esconder essa gravidez. Se os seus médicos ou quaisquer outras pessoas descobrirem, vão querer raptar seu filho.

— Certamente. Marian, obrigada.

Elas se abraçaram.

Passou-se o tempo e a criança nasceu depois de dois meses que Brianna descobriu estar grávida. Nasceu um menino forte, saudável, parecido com o pai, Agon. O parto foi normal e sem dor. O bebê simplesmente saiu do ventre de Brianna sem que ela precisasse fazer força. Sentiu apenas uma rápida contração em seu ventre e o bebê nasceu, sem sangue, sem líquidos. Brianna notou apenas uma substância gelatinosa azul a qual não reconheceu o que pudesse ser e que desapareceu em alguns segundos após o parto.

Tudo parecia bem, até que alguns dias após o parto Brianna enfraqueceu de novo, o câncer avançou subitamente piorando sua saúde. O lenço que usava na cabeça se tornou o símbolo e a prova de que a doença estava sendo mais forte.

E foi somente a ela, no consultório médico, que o doutor declarou que a doença a havia vencido e que Brianna estava em fase terminal. A morte finalmente a chamava para, milagrosamente, pôr um fim ao seu sofrimento e à sua dor.

Ela deixaria para trás uma criança sem mãe e sem pai.


O bebê estava no berço. Marian havia saído para ir ao mercado. Brianna decidiu passar os últimos dias de sua vida na casa de praia. Ela até havia sido feliz, pois pôde passar suas últimas noites contemplando as estrelas. Brianna se perguntava, em meio a seus pensamentos, onde estaria Agon naquele momento, o que estaria ele fazendo? Talvez pensando nela.

Um mês após chegar à casa de praia, Brianna, enfraquecida demais pela doença, já não se levantava mais da cama. Estava vivendo seus últimos momentos de vida com seu filho que ficava sempre no berço ao lado, de vez em quando ela o carregava em seus braços e chorava, pois se lembrava do homem que um dia ela tanto amou, o homem que veio das estrelas para salvá-la da solidão.

O verdadeiro milagre aconteceu naquela noite. Ele estava ali novamente. Sim, ele mesmo, o astronauta Agon. Finalmente, depois de um longo julgamento, ele havia recebido permissão para visitar Brianna e levar-lhe a cura de sua doença.

Era noite de céu estrelado quando o astronauta Agon pousou sua nave espacial nas areias daquela praia. Ao sair da espaçonave, ele correu desesperado até a casa, onde, ainda mais desesperado, procurou por Brianna em todos os cômodos, até enfim encontrá-la morrendo no quarto, mais solitária do que a própria solidão.

Os olhos dele se chocaram ao ver sua amada daquele jeito, pois não esperava que ela já estivesse morrendo. Agon não pôde se conter e se prostrou sobre Brianna dizendo penitente:

— Brianna, eu estou aqui! Eles permitiram que eu voltasse para lhe visitar e lhe trazer a cura. Aqui está! A cura está nesta injeção. Meu chefe Cetus reconheceu nosso casamento como válido depois de um intenso julgamento.

— Agon, meu amor, estou com a visão um pouco embaçada, mas reconheço você, suas roupas. Você cumpriu seu juramento.

— Sim, eu voltei pra te salvar.

— Olha ali. – Ela apontou em direção ao berço. – Você disse que seu material biológico de reprodução não funcionava no meu corpo. Mas funcionou, eu tive um filho.

— É o nosso filho! Meu amor, me perdoe, mas fiz isso pra que você sobrevivesse mais tempo, eu não tinha certeza se funcionaria. Eu sabia que você poderia se apavorar, correr grandes riscos, mas como havia uma possibilidade dessa criança existir e te ajudar a sobreviver por mais uns meses decidi arriscar. Agora eu vou levar vocês comigo para o meu planeta. – Ele ficou emocionado ao olhar o bebê.

— Ver você agora é o melhor presente que a vida me deu até hoje! – Brianna disse com voz fraca.

— Eu trouxe a sua cura e vou levar vocês comigo.

Ele abraçou-a fortemente e durante esse longo abraço ela declarou sua partida para o infinito:

— Agon, agora já é tarde, estou morrendo neste exato momento. Melhor do que a cura é ter você de volta aqui comigo.

— Não, Brianna, aqui está a cura. Vou aplicá-la em você agora mesmo. Tem que funcionar.

Ele aplicou a injeção nas veias de Brianna.

— Agon, já que está aqui, quero lhe pedir uma coisa – Brianna sussurrou.

— O que você quer, meu amor? Peça o que quiser e eu farei – Agon disse, com lágrimas lavando o seu rosto.

— Agon, me carregue no colo e me leve até a areia da praia. Quero morrer olhando as estrelas, as estrelas que me trouxeram você – Brianna pediu sussurrando.

— Você não vai morrer, em alguns minutos seu corpo estará curado – ele garantiu.

Agon pegou Brianna em seus braços e levou-a para a areia da praia. Ele a segurava olhando-a tal qual um pai olha com emoção para seu filho recém-nascido, mas, nesse caso, ela era a mulher que ele tanto amava.

Ao colocá-la na areia, disse, enquanto chorava, ajoelhado diante dela:

— Brianna, eu não quero que você morra agora. A injeção tem que dar certo.

— Agon, cuide do nosso filho.

— Eu vou cuidar dele e de você. Como se chama o nosso bebê?

— Ele se chama Agon. Tinha que ser o mesmo nome que o seu. Mas ainda não foi registrado aqui na Terra.

— E nem vai precisar. Vou levá-los comigo agora. Você e nosso filho viverão em um mundo melhor.

Agon levou Brianna para dentro de sua nave espacial e retornou a casa para buscar seu filho que estava no berço. Ao segurá-lo pela primeira vez em seus braços, sentiu um amor maior do que antes. Era o amor de pai. Nos olhos do bebê ele reconheceu um pedaço de sua esposa e de sua própria alma, que estava ali naquele novo ser que agora era parte de um universo sem fim.

 

 

                                                                  Jamila Mafra

 

 

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