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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O PROJETO DA PRINCESA / Meg Cabot
O PROJETO DA PRINCESA / Meg Cabot

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Quinta, 10 de março, loft

Estou completamente exausta. Não sei porquê, quando eu já devia ter ultrapassado essa coisa de ter nascido uma princesa, mesmo que eu não tivesse consciência disso até recentemente, e também te ter sido amaldiçoada com essa família amadora.

Quero dizer, é ruim o suficiente eles terem esperado até eu ter quase quinze anos antes de me dizer aquela coisa toda de "ah, por falar nisso, você é uma princesa". Mas agora eles não podem nem concordar se eu posso ou não passar minhas férias de primavera com o resto da turma dos superdotados e talentosos da escola Albert Einstein, em West Virginia, sendo voluntária para construir casas para os desabrigados.

Como se fazer o bem para os menos afortunados não tivesse a ver com o sentido de ser princesa!

E tudo bem, eu posso entender que o meu argumento sobre como a Princesa Diana ajudava os pobres não surtiu efeito em Grandmere - que acha que eu já passo tempo suficiente de jardineira - mas minha mãe também?

Eu acabei de passar uma hora tentando impressionar minha mãe com a "teoria do martelo" dos lares para os desabrigados: como sociedades fundadas em um objetivo comum - por exemplo, um grupo de pessoas se juntando para construir uma casa - constroem diferenças teológicas colocando cuidado em ação. Eu mencionei como todo mundo, não importa o quanto tenha sido educado, pode usar um martelo, fazendo dele um instrumento de paz e amor.

Minha mãe grávida - que estava deitada em sua cama assistindo "Mulheres roubadas: corações capturados" no Canal Lifetime Movie, com um pote de sorvete Haagen-Dazs de chocolate com pedaços de chocolate equilibrado em sua enorme barriga (mesmo que ela devia estar se limitando a comer menos de 20 gramas por dia de gordura saturada, para perder os 15 quilos que ganhou na última metade do ano) - apenas olhou para mim e perguntou: "Mia, você está em uma seita?"

OH, MEU DEUS! Espero que seja culpa dessa extrema falta de balanço hormonal que minha mãe está no momento que esteja fazendo com que ela acredite que meu trabalho para fornecer morada para os pobres - para que eles possam viver com dignidade - é algo comparado com fanatismo religioso!

Quando eu mencionei isso alto para ela, no entanto, ela gritou: "Frank! Venha aqui, depressa! Mia está participando de uma seita!"

Graças a Deus o Sr. Gianini entrou no quarto - ele estava na sala de visitas praticando sua bateria - e explicou para a minha mãe com calma e voz racional que Construção de Casas para Desabrigados não é uma seita, que é um organização inominável e sem fundos lucrativos dedicada a eliminar os desabrigados do mundo. Ele disse também que ele mesmo se voluntariou para levar os estudantes da Albert Einsten nos últimos cinco anos, e que a única razão dele não estar indo neste ano era devido ao fato da minha mãe estar grávida de um filho dele, cujo sexo nós ainda não sabemos porque minha mãe diz que se ela descobrir que é menino, ela não vai ter nenhum incentivo para empurrá-lo para fora na hora do parto. Porque homens políticos tomam decisões tão ruins quando são eleitos, como iniciar guerras caras e desnecessárias antes de ter certeza de que todos os continentes têm casas para os desabrigados, etc.

Então, eu falei para a minha mãe que até Tina Hakim Baba, que nem era da classe de Superdotados e Talentosos, e cujo pai possui vários campos de petróleo e está sempre preocupado com a possibilidade de Tina ser seqüestrada por algum barão rival, deu permissão especial para ela ir. E que também Lilly Moscovitz, gênio da escola e minha melhor amiga, está indo. E também seu namorado, Boris Pelkowski, virtuoso violinista e respirador bucal.

Então eu adicionei que o meu próprio namorado, o irmão mais velho de Lilly, Michael, estava indo também. Eu tentei não parecer muito ansiosa quando eu soltei essa última informação. Quero dizer, de verdade, não tinha razão de eu ficar exaltando o fato de que eu e o Michael vamos ficar sozinhos, sem supervisão paterna, nos confins da West Virginia por cinco dias inteiros. Eu estava bem certa que minha mãe não ficaria tão balançada se imaginasse que essa era a primeira razão pela qual eu estava querendo ir. Eu tentei fazer soar como se minha vontade de ir tivesse a ver com o meu desejo de ajudar os menos afortunados do que eu.

O que é completamente, 100%, verdadeiro. Mas também.. bem, eu tipo que também quero ficar com meu namorado sem ter os pais dele ou minha mãe e padastro ou avó no meio da gente.

Eu afirmei para minha mãe que a viagem é totalmente escolar e que seria completamente supervisionada pelo Dr. Juan Gonzales, o diretor da Divisão Nordeste da Construção de Casas para Desabrigados; pela diretora da escola Albert Einstein, diretora Guta; Sra. Hill da minha classe de Superdotados e Talentosos (não que seu seja superdotada ou talentosa, mas que seja); Mademoiselle Klein de Francês; e Sr. Wheeton, o treinador e professor de Saúde.

Ah, e que as montanhas Appalachian são apenas, tipo, sete horas de Manhattan de ônibus, e que a viagem inteira será apenas em cinco dias, então qual é o grande problema????

Mas minha mãe ainda parecia não convencida...

 

 

 

 

 

 


... até que eu mencionei que a Grandemere tinha dito que minha vontade de ir era culpa da minha mãe, por ter me colocado em uma escola tão hippie em primeiro lugar.

Quando eu disse isso pra minha mãe, ela me deu aquele olhar, e disse: "Sua avó disse isso? Você de uma coisa, Mia? Você pode ir. Agora saia da frente, você está tampando Janine Turner."

É um mistério eu ser tão ajustada quanto eu sou, se você pensar em tudo que eu tenho que passar.

Bom, tanto faz. Depois de toda aquela discussão, EU ESTOU INDO PARA WEST VIRGINIA!!!!!! Eu usei meu último restinho de energia para contar ao meu único amor verdadeiro sobre a nossa desimpedida felicidade:

FTLOUIE: Michael! Minha mãe disse que eu posso ir!

LINUXRULZ: Ah, isso é bom.

Ah, isso é bom? Só isso? Essa é toda extensão da apreciação do Michael pelo trabalho duro que eu tive para conseguir ir? Ah, isso é bom?

Talvez ele ainda não tenha assimilado a coisa.

FTLOUIE: Para West Virginia! Onde finalmente estaremos sozinhos!

LINUXRULZ: Bem, não realmente. Porque todos os outros alunos de S e T estarão lá também.

Ai, meu Deus. Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava. Michael obviamente não está pensando nessa viagem do mesmo jeito que eu estou. Ele provavelmente está ansioso para fazer algum bem para os menos afortunados. O que eu também estou, claro.

Mas eu também estou ansiosa para ficar com o meu namorado sob o céu de estrelas de West Virginia.

Tenho que trabalhar para incutir algum romance nele a tempo da nossa seção de beijo no 35o. estado da nação!!!!!!!!


Sexta, 11 de março, Homeroom

Lilly está tão excitada pela viagem à West Virginia, que ela não consegue falar sobre nada além disso. Mas ela está excitada por um motivo diferente do meu. Ela está levando a câmera de vídeo dela, e vai gravar a viagem para mostrar depois no seu programa de acesso público, Lilly Tells It Like It Is. Ela disse que vai ser um ácido comentário sobre a inadequação do nosso sistema público de habitação.

"Você devia escrever algo sobre isso, Mia", Lilly acabou de me dizer. "Você sabe, alguma coisa alegórica, tipo como construir uma casa pode se comparar a construir um analítico pedaço do trabalho da política governamental de um pequeno principado, como Genóvia. Eu aposto qualquer coisa que eles colocariam isso no jornal da escola."

Mas é claro que a Lilly está apenas aproveitando disso, porque desde que eu descobri que o meu único talento é escrever coisas, e entrei no comitê do jornal da escola, O Átomo, tudo o que o editor me deixa escrever é o menu semanal da cantina, já que eu sou uma caloura e ainda não tenho meus direitos.

Mas mesmo que eu pudesse convencer Leslie Choe a imprimir minha história, não é como se eu soubesse alguma coisa sobre construir casas. Não é como se eu fosse realmente contribuir de alguma maneira para o time estudantil de construção de casas da Albert Einstein, considerando o quão esquisita e sem talento eu sou - com exceção talvez por essa coisa de escrever. Mas que bem, nessas circunstâncias, ser capaz de escrever pode fazer? Seria tão melhor se eu fosse qualificada em usar uma ferramenta ou alguma coisa realmente útil para a sociedade.

Talvez eu devesse encarar o fato de que a única coisa que eu posso fazer moderadamente bem é escrever, e possivelmente pedir comida chinesa, e que é muito difícil que eu tenha algum tipo de talento escondido que eu venha a descobrir enquanto eu estiver construindo casas para os desabrigados durante as férias de primavera.

Embora - desculpe - se eu fosse uma pessoa pobre, eu preferia muito mais que eu em vez de Boris Pelkowski construísse minha casa. Eu sei que Boris é a pessoa mais superdotada na nossa classe de Superdotados e Talentosos, mas teve aquela vez durante um concerto da orquestra da escola, quando ele foi para o terceiro andar para praticar o seu solo em particular e terminou se trancando lá dentro e teve que ficar gritando por horas até que alguém o encontrasse. Quero dizer, naquela hora o concerto já tinha até acabado, e todo mundo já tinha ido pra casa. Foi bom que os seguranças ainda estavam trabalhando, ou Boris podia ter ficado preso lá durante o fim de semana inteiro. Sem comida ou água, ele poderia ter morrido, e na segunda, quando todo mundo voltasse pra escola, tudo que encontrariam seria o esqueleto dele segurando um violino e usando um suéter enfiado pra dentro da calça.

Mas isso é só a minha opinião.


Sexta, 11 de março, Encontro de almoço da Escola Albert Einstein da Brigada de construção de casas para desabrigados.

Eu estou começando a ter grandes reservas sobre essa viagem pra West Virginia, e não é só porque o Michael não me perguntou nenhuma vez se eu estou planejando levar meu batom de cereja (o sabor preferido dele). Quer dizer, eu sei que tem gente pobre lá e tal, mas ainda é a AMERICA, pelo amor de Deus!

Mas Dr. Gonzales apenas nos deu a lista de coisas que precisamos levar com a gente e Lilly e Michael e Boris e Tina e eu estamos sentados aqui, lendo isso, pensando se isso é uma brincadeira. Tipo, o que é uma bolsa impermeável de cinco galões? Onde se pode comprar um desses? E sobre esses lanches ricos em potássio que não derretem? O que são eles? Pra que nós vamos precisar de potássio? Eles não têm lojas de conveniência em West Virginia? Quer dizer, será que a gente não pode simplesmente ir numa loja e comprar uma banana?

Outras coisas que esperam que a gente leve:

Cinto de ferramentas
Martelo com garra
Luvas para segurar ferramentas
Fita métrica
Faca utilitária
Pregos pequenos
Lápis de carpinteiro

Entre outras coisas.

Hum. Acorda. Eu sou uma princesa. Eu não tenho nada dessas coisas. Precisa de um cetro? É comigo mesmo. Cinto de ferramentas. Nem um pouco.

E, veja bem, você podia pensar que eles deviam nos dar algumas aulas, mas não. Em vez disso, Dr. Gonzales apenas nos deu estas folhas que nossos pais devem assinar, dizendo que a escola não é responsável no caso de nós morrermos ou sermos mutilados na viagem!!!!

Mortos ou mutilados!!!!

Tina Hakim Baba acabou de levantar a mão e perguntou porque nós devemos levar um suprimento de lencinhos úmidos com a gente. Dr. Gonzales disse que nos dias nublados nossa sacola de cinco galões pode não esquentar o suficiente, então que devemos estar preparados ou para tomar um banho frio para usar os lencinhos molhados para nos limpar.

Hum, mas esses lencinhos funcionam? Como eu vou ficar beijando meu namorado se eu estiver cheirando mal?????

Eu realmente comecei a entrar em pânico quando Dr. Gonzáles pediu para passarmos para a segunda página. Isso porque a segunda página dizia:

- Beba muito líquido (Gatorade, suco de frutas) na semana anterior à partida. Beber Gatorade eleva os seus níveis de eletrodos e potássio.
- Existem muitos insetos nesse clima. Você necessitará repelente.
- Não brinque com os animais locais uma vez que eles frequentemente carregam doenças. Se você fizer isso, lave suas mãos imediatamente.
- Não beba água dos chuveiros ou torneiras.

Não beba água e não brinque com os animais? Repelente de inseto? Gatorade?

Ai, meu Deus, no que foi que eu me meti????????


Sexta, 11 de março, lições de princesa, Hotel Plaza

Grandmere não consegue acreditar que minha mãe está me deixando ir para West Virginia. Ela diz que não sabe quem é mais doida: minha mãe, por me deixar ir, ou eu, por querer ir em primeiro lugar. Ela leu as folhas de instrução e me disse que esperava que eu me divertisse no acampamento.

"Não é um acampamento, Grandmere", eu disse pra ela. "É uma organização dedicada à eliminação dos desabrigados no mundo."

"Então por que", Grandmere quis saber, "fala aqui que você precisam se levantar todos os dias as seis da manhã?"

"Porque", eu disse, pegando as folhas de volta, "provavelmente é quando eles servem o café da manhã."

Grandemere negou com a cabeça. "A última vez que eu levantei as seis da manhã foi quando os alemães estavam invadindo o palácio, durante a guerra. Nada além de um ataque aéreo deveria tirar uma princesa da cama antes das oito. Qualquer coisa antes disso é indecente. Ainda não é tarde, Amélia, para você me acompanhar a Palm Springs, onde eu estou indo relaxar do stress das nossas lições diárias. Não é fácil, você sabe, ensinar a uma mocinha o que ela precisa para ser uma regente todos os dias. Você tem certeza que você não quer vir comigo? Lá não tem necessidade de usar repelente de insetos. E não vai haver nenhum lencinho úmido. Apenas a beleza dos cristais de água na piscina do hotel e waffles belgas do serviço de quarto."

"Não!", eu gritei, porque a parte do waffle realmente soou tentadora. Eu aposto que ninguém no spa de Grandmere vai ter que se preocupar com seu nível de potássio. "Eu vou passar minhas férias de primavera fazendo o bem para a humanidade." E, esperançosamente, beijando meu namorado. Ah, sim, e descobrindo que eu sou uma excelente mentirosa. Bom, nunca se sabe. "Lembra do Príncipe William? Ele passou um ANO depois da escola no Chile ajudando os pobres. Eu só estou indo para West Virginia, e apenas por cinco dias. Eu acho que eu posso sobreviver a cinco dias levantando às seis da manhã."

Grandmere apenas tomou um gole do sidecar dela e brincou com o Rommel, seu poodle semi-careca.

"Divirta-se", ela disse. "Mas eu espero que isso não signifique que você vai começar a vestir roupas nativas, tipo aqueles suéteres chilenos que o Príncipe William começou a usar. Você sabe como lã te provoca alergia."

Eu disse pra Grandmere que eles não vestem suéteres em West Virginia, e ela perguntou o que eles vestem, então, eu tive que admitir que eu não sabia. Foi quando ela apontou um dedo pra mim e disse: "A-há! Eu vou te falar o que eles usam em West Virginia! Saco de batatas! É isso o que eles vestem em West Virginia!"

Eu disse para Grandmere que ao contrário do que ela pode pensar, a Depressão já acabou e que ninguém mais usa saco de batatas.

Mas eu não sei. Quer dizer, e aquele filme Nell, que a Jodie Foster estrelou, onde ela interpretou aquela surda muda que vivia nas árvores e sempre ficava falando sobre dançar no vento? Eu tenho quase certeza que ele foi filmado em West Virginia. Ou em uma das Carolinas. Perto o suficiente. E ela estava usando um saco de batatas. Ou no mínimo um vestido feito à mão.

Ai, meu Deus, eu espero que eles não esperem que a gente se vista como os nativos com o objetivo de socializar! Eu não tenho nenhum vestido feito a mão! Eu acho que a gente nem pode comprar um desses em New York!


Sexta Março 11 da noite, Loft

Eu estava tão preocupada sobre os sacos de batata e o Gatorade que quando eu cheguei em casa eu perguntei ao Mr. Gianini se tinha alguma coisa que ele não tinha me contado das suas viagens passadas com o pessoal da construção de casa para desabrigados.

Mr. G nunca realmente esteve em West Virginia, mas ele foi pro México e alguns lugares do Texas. Ele falou: "Sério, Mia, eu não posso dizer coisas boas o suficiente sobre essa experiência. Realmente me ensinou a dar valor a tudo que eu tenho."

O que é legal, mas realmente não respondeu minha pergunta sobre os sacos de batata. No entanto, ele disse que eu posso pegar emprestado seu martelo.

Então eu fiquei online e mandei uma mensagem pro Michael, porque apesar de tudo, ele é o desejo do meu coração, e a única pessoa no mundo que pode me suavizar quando minha alma se torna fraturada como um pônei machucado.

Mas mesmo que ele seja a razão da minha vida e tudo mais, Michael estava totalmente por fora sobre a coisa toda do saco de batata.

LINUXRULZ: Mia, as pessoas vão construir casas para os pobres, não dementes. Estou certo que eles usam qualquer outra coisa além de sacos. Quero dizer, não vai ser como em Deliverance.

Eu nunca vi Deliverance porque eu não gosto de filmes onde coisas saltam das árvores em pessoas, mas eu fingi porque eu quero que Michael pense que eu sou madura para a minha idade. Além disso, ele está se formando e eu sou apenas uma caloura. Eu tenho que fazer o que eu puder para impedir que ele lembre que eu tenho apenas 14 anos e 3/4.

FTLOUIE: Eu sei. Mas quero dizer, você já leu Christy?

Isso é tipo uma pergunta estúpida para se fazer a um garoto, uma vez que o único cara que eu sei que leu Christy é o meu vizinho Ronnie, que é agora uma garota. Mas, que seja. Michael é um ótimo leitor, para um membro do que a minha mãe gosta de chamar do culto patriarca.

FTLOUIE: Porque Christy é passado nas Montanhas Smokey, o que é praticamente as mesmas que as Appalache, e todo mundo lá fica com febre por causa das más condições, incluindo Christy, e eu estou só dizendo que talvez nós não devemos tocar os animais...

LINUXRULZ: Mia, pare de se preocupar tanto. Se realmente não fosse seguro, você acha que a diretora Guta ia deixar a gente ir?

FTLOUIE: A diretora Guta faz coisas bem estranhas às vezes. Lembra quando ela concordou em encenar o oficial Krupke na produção do clube do teatro sobre West Side Story?

LINUXRULZ: Mia, em vez de ficar obcecada com a possibilidade de ficar com febre e/ou ter que usar saco de batatas, por que você não tenta manter sua mente na coisa mais importante de toda a viagem?

Eu pensei que talvez ele estivesse falando do fato da gente poder se beijar sob as estrelas de West Virginia. Mas como isso não parecia ser possível, pelas nossas últimas conversas, eu decidi que ele devia estar falando sobre aquela coisa toda que eu poderia descobrir que eu sou boa em alguma coisa além de registrar cada detalhe da minha existência nesse diário, o que não é exatamente um meio de se ganhar a vida.

Mas quando eu percebi que ele não poderia estar falando sobre isso, porque eu não mencionei para ele minha fantasia secreta de descobrir que eu sou uma excelente rebocadora, ou algo assim. Então, em vez disso, eu escrevi:

FTLOUIE: Você quer dizer a parte que nós vamos ajudar os pobres a se auto-atualizar?

LINUXRULZ: Não, eu quero dizer a parte em que eu e você vamos passar cinco dias inteiros juntos sem nenhuma interferência da sua avó.

Ooooh! Então ele está sacando, afinal de contas!!

Michael está certo. Quem liga para febre quando existem beijos?


Sexta, 12 de março, 5:30 am, no ônibus para West Virginia

Bom, os beijos não começaram ainda.

Isso é porque antes mesmo antes da gente chegar ao Túnel Lincoln, Boris ficou enjoado e teve que vomitar em um saco de papel, e Lilly disse que de jeito nenhum sentaria com ele de novo, e disse para o Michael trocar de lugar com ela, para ela se sentar do meu lado, e quando Michael disse que não, Boris vomitou um pouco mais, só que desta vez ele errou o saco de papel, e isso foi para o chão todo, e a diretora Guta e a Sra Hill tiveram que limpar tudo, mas elas não fizeram um bom trabalho pelo fato de não ter nenhuma toalha de papel ou coisa parecida, então nós todos tivemos que ir para o fundo do ônibus, pra longe dos resíduos do vômito, e Michael foi o único voluntário para ficar com Boris e garantir que da próxima vez ele vomite no saco.

Meu namorado é tão legal. Ele não é apenas incrivelmente esperto e um músico muito talentoso e habilidoso com computadores e um excelente beijador e tudo isso, mas ele também tem muita compaixão. Talvez ele vire um médico algum dia, e descubra a cura para o câncer. Eu realmente espero que sim, porque esse é o único jeito do parlamento genoviano aprovar meu casamento com ele.

Não que eu esteja preocupada. Michael é um homem superior aos outros, e vai sem dúvida fazer algo extraordinário na sua vida que vai conquistar os corações dos genovianos, do mesmo jeito que ele conquistou o meu. Se pelo menos eu tive tantos talentos úteis como o Michael tem. Seria bem legal saber tocar guitarra e entender html.
De todo jeito, mesmo que eu tenha oferecido para sentar na frente do ônibus com Michael e ajudá-lo a passar sacos de papel pro Boris, ele disse, igualzinho ao Daniel Day-Lewis no Último dos Moicanos: "Não, Mia, se preserve", então agora Lilly, Tina e eu estamos todas apertadas em um acento até a gente fazer a primeira parada para descanso no N.J. Turnpike e o motorista possa dar uma boa esfregada no chão. A diretora Guta disse que assim que a gente encostar, vai comprar Dramin e fazer o Boris tomar isso. Boris disse que Dramin faz com que ele fique com sono, tapado, e muda a personalidade dele.

Eu não posso esperar.

De qualquer jeito, Lilly já começou a filmar. Ela pegou um close muito bom do vômito. Ela começou a filmagem às 5:30h da manhã, que foi a hora que todo mundo tinha que estar na escola com toda nossa bagagem para pegar o ônibus. Todo mundo tem muita bagagem, especialmente considerando que essa viagem vai durar apenas cinco dias.

A pessoa com menos coisas é Lars. Mesmo que eu tenha tentado bravamente não ser acompanhada do meu real guarda-costas nessa viagem, meu pai insistiu. Ele disse que ele não ficou muito animado com essa minha viagem a princípio - meu pai espera que eu passe cada uma das minhas férias em Genóvia - mas uma vez que minha mãe já tinha dito que eu podia ir, ele não quis contradizê-la. Mas ele não poderia, no entanto, permitir que eu fosse sem proteção contra sequestradores. Toda minha argumentação de que Tina estava indo sem segurança - o Sr. Hakim Baba não tem inimigos em West Virginia, então Wahim ganhou uma férias bem remuneradas... só que ele não está tão feliz quanto poderia se pensar, já que isso significa que Lars vai ter a Srta. Klein toda pra ele... bem, e o Sr. Wheeton - que parece que ficou surdo. Lars tinha que ir, meu pai disse, e fim de papo. Pelo menos Lars viaja leve. Tudo que ele trouxe foi um pequeno saco. Eu perguntei pra ele onde estava seu saco de dormir e travesseiro, e ele apenas sorriu. Eu espero que ele não esteja pensando em compartilhar os meus. Eu amo meu guarda-costas, mas não tanto assim.

De qualquer forma, Lilly está filmando tudo no ônibus para a gente não esquecer de nada. Ela pegou uma ótima tomada da placa em cima da cabeça do motorista. A placa diz:

EU SOU O SEU MOTORISTA, CHARLIE.
SEGURO, CORTÊS E CONFIÁVEL.
POR FAVOR, FIQUE ATRÁS DA LINHA AMARELA.

Enquanto estamos presos no trânsito em frente ao túnel Lincoln, Lilly nos perguntou o que Charlie faria se a diretora Guta repentinamente se atirasse além da linha amarela.

Porque Charlie é seguro e confiável", Tina disse, "ele provavelmente diria: 'Senhorita! Fique atrás da linha amarela!'"

"Sim", eu concordei. "Mas porque ele também é cortês, ele provavelmente acrescentaria: 'Por favor, senhorita! Fique atrás da linha amarela! Obrigado!'"

Por alguma razão, isso fez a gente rir quase até vomitar nós mesmas.

Apenas mais seis horas e meia até chegarmos lá.


Sábado, 12 de março, 10h da manhã, algum lugar em New Jersey Turnpike

Michael e eu finalmente sentamos juntos, mas ainda não começamos com os beijos, porque Michael não gosta de demonstrações públicas de afeto, porque, como ele diz, algumas coisas são confidenciais.

O que eu totalmente entendo e aprecio. Quer dizer, não é como se eu quisesse que ele me beijasse de língua na cantina, ou algo assim.

Mas, você sabe, mãos dadas não causaria nenhum mal...

Por outro lado, é meio que desconfortável segurar a mão por qualquer longo período de tempo. A minha sempre começa a ficar toda suada. Minha mão, quero dizer. A do Michael não. As mãos dele nunca ficam molhadas. Talvez por ele ser músico e tal.

Talvez eu esteja sofrendo alguma mutação genética. Quero dizer, além da minha falta de peito e de habilidades úteis.

De qualquer forma, Charlie, sendo seguro, cortês e confiável, limpou o vômito do Boris quando chegamos à Área de Serviço Molly Pitcher, e então nós todos voltamos a bordo, e com as janelas abertas, não dá realmente pra sentir muito o cheiro. A diretora Guta deu pro Boris uma boa dose de Dramin, e agora ele está inconsciente, com a cabeça encostada no ombro da Lilly. Eu acho que ele não estava brincando sobre o remédio fazer ele perder a personalidade. Se quer saber, eu acho que a gente devia dar um pouco pra ele todo dia.

Mesmo assim, embora Boris tenha passado a maior parte do começo da viagem vomitando, isso não impediu que ele e Lilly fossem o primeiro casal a começar a se beijar. Eles começaram a sucção no Roy Rogers, na parada do ônibus, e só uma cortante repreensão da diretora Guta fez com que eles se distanciassem.

Mas agora mesmo, eu olhei para o fundo do ônibus e eles estavam fazendo isso de novo! Esses dois não conseguem manter as mãos longe um do outro!!!

Eu desejaria que Michael olhasse lá pra trás e percebesse que um pouquinho de demonstração de afeto não machuca ninguém...

Oh, meu Deus, eu estou tão cansada. E meu cabelo cheira um pouco como o vômito do Boris. Eu não posso esperar até a gente chegar lá, e eu possa lavar meu cabelo, e então toda a beijação poderá começar.


Sábado, 12 de março, 5 da tarde, Hominy Knob, West Virginia

Oh.. meu.. Deus.

Estamos aqui. Nós finalmente chegamos, e Charlie tirou nossas bagagens, e então nós tivemos que pegar elas e carregar até...

NOSSAS TENDAS!!!!!!!!!!

SIM!!! TENDAS!!! NÓS VAMOS FICAR EM TENDAS!!!!!!!!!!!!!!

Eu esperava, claro, que a gente fosse dormir em tendas, eu vi retratos delas na apostila. Mas as tendas da apostila tinham, tipo, chão de madeira, e eram meio suspensas. Essas tendas não têm suporte de madeira nenhum. E estão DIRETAMENTE NO CHÃO. ONDE TAMBÉM TEM COBRAS.

Eu nunca dormi em uma tenda na vida. Sério, eu não estou tentando ser uma princesa sobre isso, mas, quero dizer, e os ursos? E não me diga que não há ursos em volta, porque estamos rodeados por árvores, não tem NADA além de árvores em West Virginia, e sim, diretora Guta continua falando como elas são bonitas, e mandando olhar as montanhas e sentir o ar fresco e limpo, mas OI???? URSOS!!!!!

E será que ele nunca assistiu A Bruxa de Blair? Quero dizer, eu admito que assisti aquele filme inteiro com os olhos fechados, mas isso PARECIA muito assustador, e eu acredito que ele foi passado, hum, onde? AH, SIM, NAS ÁRVORES!!!!!!!!!!!

Então é isso. Estamos todos muito mortos.

Lars disse para eu não me preocupar, que ele vai garantir que nenhum animal selvagem ou serial-killer se aproxime da tenda que eu, Lilly e Tina estamos compartilhando. Mas eu não sei. Foi isso que o pessoal da Bruxa de Blair fez, e olha o que aconteceu com eles! Tudo que encontraram daquele cara foi o DEDO dele! Eu não quero encontrar o dedo do Lars! Eu não quero perder o Lars, ele é um excelente guarda-costas com um bom senso de humor. Além disso, ele não importa quando eu e o Michael ficamos juntos. Você sabe como isso é raro em um guarda-costas????

De qualquer forma, West Virginia por si não é tão ruim. Até agora não conhecemos ninguém usando saco de batatas ou tocando banjo. Todo mundo se parece... bem, exatamente como as pessoas em New York. Nós não conhecemos a nossa "família acolhedora" ainda. Funciona assim: nós fomos distribuídos em grupos, e cada grupo é designado para uma família acolhedora, e então o grupo trabalha na casa daquela família. Eu estava bem assustada sobre a coisa do grupo, tipo, que eu pudesse ser designada para um grupo longe dos meus amigos, onde eu não conhecesse ninguém. Mas por sorte, a gente podia escolher o próprio grupo. Então Michael, Lilly, Boris, Tina, Sra. Hill, Lars, eu, Dr. Gonzales, e esse garoto, Peter Tsu, que é do segundo ano e está no time de luta romana, estamos todos no mesmo grupo.

Eu meio que senti pena da nossa família acolhedora, para dizer a verdade. Porque, quer dizer, exceto pelo Dr. Gonzales e possivelmente Peter Tsu - de quem eu não sei nada sobre - nenhum de nós nunca construiu nada antes. Alguns de nós nem sequer seguraram um martelo na vida.

A casa da nossa família acolhedora tem uma chance considerável de terminar parecendo um lixo.

Oh, Deus, aí está o sino. Devemos nos agrupar na "tenda de jantar" agora para a orientação e jantar. Eu tenho grandes reservas quanto a isso. Quero dizer, além das tendas e da coisa toda da gente acabar arruinando as chances da nossa família acolhedora ter uma casa decente, tem o fato de que eles separam as tendas das garotas das dos garotos - o que vai tornar muito difícil encontrar um lugar privado o suficiente para persuadir a sensibilidade do Michael para qualquer sessão de beijos no futuro - por causa - e eu sofro ao escrever isso - dos banheiros portáteis.

Sim!! É isso mesmo!!! Não tem nem mesmo algum vestiário decente - pelo menos até instalarmos o banheiro da casa da nossa família acolhedora. Nós temos que usar os banheiros portáteis!

E não me faça começar a contar sobre a coisa do chuveiro. A necessidade das toalhas úmidas começa a ficar bem clara pra mim quando eu vi a área de banho, o que é apenas um punhado de baias com gancho para colocar uma espécie de regador.

Parece que realmente vamos usar as toalhas úmidas o tempo todo, já que está chuviscando e não tem um raio de sol.

E você não pode lavar o cheiro de vômito do seu cabelo com toalhas úmidas. Acredite em mim, eu tentei.

O sino de novo. Tenho que ir. Preciso encontrar um lugar pra esconder esse diário para que ursos/serial-killers/Bruxa de Blair não encontrem isso enquanto eu não estiver aqui.

Eu realmente devia tentar me acostumar a tudo isso, porque se algum dia eu quiser ser voluntária no Greenpeace e salvar as baleias, as condições podem ser ainda piores.


Sábado, 12 de Março, 9 da noite, Hominy Knob, West Viriginia

Encontramos nossa família acolhedora. Eles são Angie e Todd Harmeyer e seus dois filhos, Mitchell de três anos e Stefano de dois anos. Eu juro que esse é o nome do bebê. Stefano. Tem outro bebê a caminho também. Sra. Harmeyer vai tê-lo em um mês, embora se você me perguntar, eu ache que ele pode nascer a qualquer momento.

Sra. Harmeyer tem um emprego de cabeleireira em um salão de beleza no centro de Hominy Knob, que consiste em uma mercearia, uma loja de crédito, outra de hardware, uma de consignação, e o salão de beleza. O Sr. Harmeyer está desempregado desde que a fábrica local de pneus pegou fogo. Tanto o Sr. quanto a Sra. Harmeyer estão muito excitados com sua casa nova. Eles têm morado em um trailer desde que eles se casaram. Mitchell está especialmente entusiasmado com o prospecto de ter seu próprio quarto. Atualmente ele dorme na mesma cama que a mãe e o pai dele.

Depois de conhecermos os Harmeyers, e quando estávamos todos em fila para servir nosso jantar - salada, espiga de milho, hambúrguer de carne moída (sendo vegetariana, eu apenas peguei um pouco de alguns vegetais), feijão e doce de cereja para sobremesa - Sra. Harmeyer me perguntou se era verdade que eu era uma princesa e que o cara alto atrás de mim era meu guarda-costas, e eu disse que era verdade.

"Bem, o que você está fazendo passando suas férias de primavera por aqui, então, se você é uma princesa?" Sra. Harmeyer quis saber. "Se eu fosse uma princesa, eu passaria minhas férias de primavera no Cabo São Lucas, andando de jet-ski".

Eu expliquei para a Sra. Harmeyer que eu preferi participar da construção de casas para os desabrigados em vez de passar minhas férias de primavera em jet-skis por causa de um senso de dever cívico e um desejo de aprender novas habilidades.

A Sra. Harmeyer olhou pra mim com uma cara estranha e disse: "Hein?"

Então eu disse pra ela que eu estava lá pra ficar com meu namorado. Ela me olhou bem interessada e quis saber qual dos garotos da fila era o meu, e quando eu apontei para o Michael ela ficou toda: "Ooooohh, ele é bonito", o que me encheu internamente de orgulho, mas também me deu vontade de socá-la.

Então eu achei que era melhor eu mudar de assunto e perguntar à Sra. Harmeyer se ela já sabia o sexo do bebê que ela estava esperando. Ela me surpreendeu respondendo que ela não queria saber, já que se fosse outro menino, ela nunca faria força no parto.

Eu fiquei chocada de ouvir uma mulher em West Virginia ecoando exatamente a mesma coisa que a minha mãe, em New York, sempre diz, e eu perguntei à Sra. Harmeyer se ela, como minha mãe, era contra o culto do patriarcado, e ela respondeu: "Deus, não, eu apenas quero alguém pra quem eu possa comprar Barbies, em vez de G.I.Joes."

Depois de informar a Sra. Harmeyer que eu entendia totalmente o sentimento dela, eu peguei minha comida e fui sentar com o Michael. Lilly também não estava na mesa, ela estava filmando todo mundo. Ela filmou todo os nativos de Hominy Knob que passavam curiosos pela nossa mesa, parando ocasionalmente para perguntar para mim onde a minha tiara estava (resposta: "em New York"), como é ser uma princesa ("ok"), e porque raios eu vim a Hominy Knob ("para atingir a auto-atualização ajudando os outros"). Eu achei que os nativos - tirando a Sra. Harmeyer - não apreciariam muito ouvir sobre o meu desejo de sucção facial com o meu namorado.

Depois do jantar, Lilly declarou que ela tinha bastante material para uma minissérie, que dirá um simples episódio do programa dela. Ela decidiu que ela teria que fazer um tributo de um mês a Hominy Knob no seu programa de TV a cabo. Ela resolveu chamar o documentário de "Purê Azedo e Machucado: A Falência do Governo Federal para Facilitar a Queimadura dos Pobres Rurais".

Isso vai, ela disse, trazer a corrente administração de joelhos até ela.

Depois do jantar, Dr. Gonzales conversou um pouco, mas eu não prestei muita atenção porque eu estava pensando sobre os banheiros portáteis. Agora eu sei porque fomos instruídos a trazer lanternas. Não tem luz nos banheiros portáteis, então se você tiver que ir lá no meio da noite, você tem que usar a sua lanterna para enxergar. Porque você não sabe o quê mais poderá estar compartilhando o banheiro com você. Quer dizer, se você me perguntar, é um lugar perfeito para aranhas, possivelmente viúvas-negras cuja picada pode matar. Pelo menos de acordo com o Discovery Channel.

Eu definitivamente levarei meu repelente de insetos ao banheiro comigo toda vez que eu for lá.

Foi depois da longa e cansativa conversa do Dr. Gonzales que as coisas realmente começaram a acontecer. Isso porque, na volta para nossas tendas, Michael pegou minha mão (estava bem escuro, então ninguém viu), e me puxou para trás de uma árvore e começou a me beijar de um jeito profundo e romântico. Isso definitivamente tirou um pouco os banheiros portáteis da minha cabeça. Ainda bem que eu estava com o meu brilho labial de cereja.

Mas então, Michael ficou todo: "Que cheiro é esse", e eu cheirei e percebi que ele estava falando do meu cabelo, que ainda estava cheirando ao vômito do Boris.

Porque eu não trouxe nenhum removedor de odores comigo? Por que?

De qualquer forma, o cheiro de vômito meio que arruinou o clima. Além disse, não dava pra ver estrela nenhuma, já que estava chuviscando tanto.

Oh, não. O sinal de "apagar luzes". Temos que acender nossas lanternas agora, e ir dormir. Eu não sei como alguém pode esperar dormir aqui na selva. Têm todos os tipos de barulho estranhos, como corujas e grilos e tudo mais. Pelo menos não temos que nos preocupar com os ursos. Lars abriu sua bagagem e tirou dela uma tenda portátil, e a montou em frente à nossa porta. Embora isso torne ir ao banheiro no meio da noite extremamente difícil - e isso também vai, infelizmente, desencorajar qualquer visita noturna dos garotos - eu fico feliz em saber que Lars está lá for a com seu Glock 9 mm. Mesmo que ele, como o resto de nós, não consiga dormir devido ao incrível barulho das corujas.

Eu já sinto falta de Manhattan. O que eu não daria para dormir ouvindo o doce som de um alarme de carro.


Domingo, 13 de março, tenda do jantar, meio-dia

Ai, meu Deus, cada parte de mim dói. Não é brinquedo tentar dormir no chão. E os lados das nossas tendas ficam batendo a noite inteira, e eu achei que fosse a Bruxa de Blair tentando entrar.

Além disse, quando acordamos, tudo estava molhado de orvalho. Orvalho. Não tem orvalho em New York. Pombos, talvez. Muitos ratos. Mas orvalho, não.

Orvalho é meu novo inimigo. Embora graças a ele meu cabelo não esteja mais com cheiro do vômito do Bóris. Não, ele apenas cheira a... orvalho.

E não ajuda que tudo que eu tenha feito a manhã inteira tenha sido carregar pedaços de madeira. Aparentemente eu não sou boa em martelar, pregar, serrar e passar cimento. Que bom que eu vim até West Virginia pra descobrir isso.

Então eu fui encarregada de carregar a madeira enquanto as outras pessoas martelavam, um dever que não exigia maiores habilidades, apenas força no anti-braço... o que eu não tenho, claro, mas eu não ia admitir isso pra todo mundo. Pelo menos não em voz alta.

Ainda assim, aqueles tocos de madeira eram pesados! Quer dizer, construir casas não é fácil.

Graças a Deus que Michael, Lars, Dr. Gonzales, e Peter Tsu estão aqui. Eu não quero ser sexista, mas nesse estágio da construção, os rapazes definitivamente estão fazendo um trabalho melhor do que as garotas - ainda que Tina tenha provado ser bem adepta aos pregos (sorte dela). Eu tenho certeza de que ela está fazendo isso apenas para ficar bem na frente do Peter Tsu, que possui surpreendentemente braços bem definidos - como Lilly rapidamente notou e filmou para posteridade. Peter é quase tão gostoso quanto o namorado da Mulan, e ele tem o bônus de não ser um personagem de desenho animado.

Porém, ninguém pode ser mais gostoso que o meu namorado. Eu apenas queria que estivesse ensolarado lá fora, para que Michael ficasse todo suado e tivesse que tirar a blusa. Isso faria a construção da casa ficar bem mais divertida.

Bem, isso e realmente saber que eu estou contribuindo para a construção de algum jeito.

De qualquer forma, nossa casa está ficando pronta mais rápida que a das outras pessoas, apesar do Bóris. Enquanto eu não estou realmente ajudando a construir a casa, pelo menos eu não estou atrapalhando, como Bóris está. Até agora ele teve dois ataques de asma, graças ao pó do cimento, e deixou cair um tijolo em seu pé (vai ficar bem, apenas está inchado, foi o que o Dr. Gonzales disse). Agora nós demos para ele o dever de tomar conta do Mitchel e do Stefano, para eles não ficarem vagando muito perto do cimento, e também de encher o container de Gatorade de todo mundo quando esvaziar.

Ah, sim. Eu sei agora porquê Gatorade é tão importante. Construir uma casa é muito cansativo. Você tem que repor seus eletrodos constantemente.

O Sr. Harmeyer diz que cerveja é melhor pra repor eletrodos que Gatorade, mas o Sr. Gonzales o lembrou que álcool desidrata o corpo rapidamente, e depois disso o Sr. Harmeyer calou a boca.

Lilly, que vem filmando todo nosso progresso no processo da casa, insiste que esse novo documentário vai rivalizar com o melhor trabalho dela até agora, "Viagens com o cóccix da Lana" (o que a Lilly filmou usando uma animação bem crua depois que o cóccix da Lana quebrou e desapareceu no meio do sangue, graças a uma queda ao tentar fazer uma cesta no basquete. A animação mostra o cóccix da Lana viajando pelo corpo dela, carregando uma pequena mala e visitando os outros ossos e lugares).

O almoço é salada, pão de milho, purê de batatas, e sanduíches de tender. Eu estou comendo apenas salada e purê de batatas. Já estou cansada de milho, embora eu entenda que isso seja um símbolo da alimentação de West Virginia, assim como bagels são de New York.


Domingo, 13 de março, 9 da noite, tenda

Muito cansada para escrever sobre o dia inteiro. Apenas carreguei mais pedaços de madeira. Por horas.

Jantar: salada, Tater Tots, hambúrgueres, milho. Apenas comi salada e Tater Tots. Visão de milho me faz querer vomitar.

Dormi durante o discurso inspirador do Dr. Gonzales. Acordei com a cabeça no ombro do Michael. Ele foi bem legal sobre isso. Espero que eu não tenha babado.

Não posso acreditar que eu estou cansada até para ficar com meu próprio namorado.

Eu vou dormir exatamente agora, estou muito cansada para esperar as luzes se apagarem.

Segunda, 14 de março, Meio-dia, tenda de jantar

Acordamos com muita chuva. Toalhas molhadas em vez de banho para todos. Tudo bem, meus músculos estão doendo muito para carregar o galão de água. Além disso, estou congelando - a água passou do saco de dormir direto pro meu pijama. Eu me sinto como se eu já tivesse tomado banho.

Por sorte, nós já tínhamos feito o telhado da casa dos Harmeyer. Passamos a manhã arrumando as paredes interiores. Vamos terminar o telhado mais tarde, se a chuva deixar. Acho que estou ficando melhor nesse negócio de construir casas, o martelo só escapou cinco vezes. A Sra. Harmeyer disse que está tudo bem, que ela pode colocar quadros por cima dos buracos. Mas o Michael disse que não, que nós vamos restaurá-los.

O almoço é sanduíche de peru, salada de batata, gelatina e chips de milho. Comi a salada de batata e a gelatina.

Oh, Deus, hora de voltar ao trabalho.


Segunda, 14 de março, 10 da noite, tenda

Estou muito cansada para escrever muito. A chuva parou e eu passei a tarde no telhado com a Lilly, Tina e Peter Tsu. Apenas caí uma vez. Aterrizei em cima do Boris, então tudo bem. Michael, Lars e Dr. Gonzales instalaram os canos. A Sra. Harmeyer chorou quando deu descarga pela primeira vez. Esse foi um momento profundo.

Depois do jantar - salada, galinha frita, creme de milho e rolinhos (apenas comi a salada e os rolinhos) - Michael me surpreendeu aos nos oferecer como voluntários para fazer o inventário das ferramentas na tenda do estoque.

Eu não estava bem certa como eu me sentia sobre aquilo, devido à situação dos lencinhos molhados e tudo. Quer dizer... e se eu estivesse cheirando mal? Fiz a Trina me cheirar bem rápido. Ela falou que meu cheiro estava OK. Mas e se as narinas dela não forem sensíveis como as do Michael????

Durante todo o caminho até a tenda do estoque, fiquei preocupada de que Michael pudesse tentar me beijar e ser repelido por um possível odor.

Acontece, que chegando lá, a tenda do estoque já estava ocupada... por ninguém menos que Sr. Wheeton e Mademoiselle Klein!

Eles nos fizeram jurar que não contaríamos pra ninguém. Nos juramos. Mas essa nem é a pior parte. A pior parte é que depois que eles saíram, Michael realmente começou a fazer o inventário das ferramentas!!!!!!

Tem apenas uma explicação para isso, e ela é o fato de que eu devia cheirar tão mal, que o meu próprio namorado não estava a fim de me beijar.

Como se isso não fosse ruim o suficiente, eu senti alguma coisa encostando em minha perna e olhei para baixo, quando vi um inseto enorme no meu tornozelo. Eu gritei tão alto que Lars invadiu o local com sua arma. Michael falou que era apenas uma centopéia.

Apenas uma centopéia?????? Ela tocou a minha pele!!!!!!

É muito mais fácil ser uma ambientalista quando você vive na cidade onde não há tantos insetos, do que quando você está no campo sendo comida por eles. Eu não estou mais bem certa de que eu ame tanto a natureza quando eu achava que amasse.


Terça, 15 de março, meio-dia, tenda de jantar

Trabalhamos a manhã inteira e ainda há tanto a se fazer, e esse é o último dia de trabalho. Ainda falta pintar todas as paredes, e rebocar também, além de colocar o chão, etc. Boris derrubou a moldura de uma janela em seu dedão do pé, mas o Dr. Gonzales disse que não estava quebrado, apenas deslocado. Ele colocou o dedo de volta em seu lugar - eu nunca tocaria nos pés do Boris. Dr. Gonzalez é verdadeiramente um santo - e amarrou junto do dedo ao lado, para que ele fique onde deve ficar.

Sra. Harmeyer tem reclamado de taquicardia desde o café da manhã, mas ninguém mais está se sentindo mal. Será que é possível isso estar ocorrendo devido às duas cocas lights que ela tomou com seus ovos e bacon? Eu avisei a ela sobre os perigos de consumir muito aspartame. É uma coisa boa eu ter visto tantos episódios de "A Baby Story" no Learning Channel, para me preparar para a chegada do meu irmãozinho ou irmãzinha. Eu sou verdadeiramente uma fonte de informação pré-natal.


Terça, 15 de março, 9 da noite, última dia de construção

Muito cansada, mas foi realmente um dia incrível, tenho que escrever tudo antes que eu esqueça: Terminamos de construir a casa do Sr. e da Sra. Harmeyer. Quando terminamos, nós todos paramos em frente e contemplamos: nós tínhamos construído uma casa de três quartos e um banheiro em três dias, completa, com cozinha, sala de jantar e de visitas. Quer dizer, não é uma casa grande (menor que o nosso loft) e não é como se os Harmeyer pudessem bancar uma TV a cabo ou móveis da Ikea ou algo do tipo. Mas é uma casa, não um trailer como o que Mitchell e Stefano viveram durante toda a vida.

E quer saber, a casa não parece tão mal. Quer dizer, nós rebocamos em cima dos buracos, então você não pode nem mesmo vê-los. E com o vinil, ela parece, não sei... como uma casa de verdade.

Enquanto nós estávamos parados lá, admirando nosso trabalho, Sra. Harmeyer reclamou que ela estava com um pouquinho de falta de ar e se alguém mais tinha comigo salada de batata no almoço. Eu informei à Sra. Harmeyer que, sendo vegetariana, eu não tinha comido nada além da salada de batatas, já que isso tinha sido a única coisa sem carne disponível, e que eu estava me sentindo bem. Então eu abri o meu diário para mostrar o que eu tinha escrito mais cedo e mostrei à Sra. Harmeyer que ela tinha reclamado de indigestão depois do café da manhã também. Seria possível, eu perguntei, que ela não estivesse tendo taquicardias e sim contrações? Os dois às vezes podem ser confundidos, mesmo por mães experientes, pelo menos de acordo com "A história do bebê".

Então, a Sra. Harmeyer ficou toda excitada e gritou: "Oh, meu Deus! Todd, pegue a pick up!"

Aí o Sr. e a Sra. Harmeyer correram para o hospital, deixando Mitchell e Stefano para tomarmos conta. Dr. Gonzales ficou bem impressionado com o que ele chamou de "meus poderes de observação". Nem todo mundo, ele disse, teria gravado uma descrição tão detalhada das reclamações de outra pessoa sobre a sua gastrite.

Eu disse para o Dr. Gonzales que isso não era nada demais, que eu escrevia tudo, de verdade. Então ele disse uma coisa engraçada. Ele disse: "Isso é um talento".

Uau! Isso quase me fez pensar que ser capaz de escrever não é uma má habilidade, acima de tudo! Quer dizer, não é tão legal quando ser capaz de usar um revólver de cola, e tudo. Mas pode ser que não seja totalmente inútil.

Então o Dr. Gonzales virou para o Michael e disse: "Estamos sem cachorros-quentes para fazer um churrasco de celebração esta noite. Se eu ficar aqui com Mitchell e Stefano, você acha que você pode ir ao centro e comprar alguns?", e então ele estendeu para Michael as chaves do seu Chevette Dodge!

E eu descobri que Michael sabe dirigir! Ele até tem licença de motorista! Ele aprendeu dois verões atrás na casa de campo dos seus pais em Albany.

Tem muito poucos garotos que moram em Manhattan que sabem dirigir, já que quase ninguém tem carro em New York.

Então Michael disse: "Claro, Dr. Gonzales."

Por um minuto eu pensei que um milagre das férias de primavera tinha acontecido... você sabe, que eu e Michael pudéssemos ficar sozinhos, em um carro, milhas distantes de qualquer pessoa, e eu pudesse finalmente ter a chance de sentir nossos corações batendo como se fossem um só. Isso é, se eu pudesse me limpar a tempo.

Mas eu não precisava me preocupar. Porque assim que Michael pegou as chaves e nós fomos nos distanciando do resto do grupo, todo mundo pediu para ir junto. Eu tentei não parecer deprimida enquanto Lars, Lilly, Boris, Tina e Peter Tsu subiam no caminhão. O entusiasmo deles era meio contagiante, tenho que admitir.

O centro foi um grande desapontamento. Eu tinha me esquecido de que a Sra. Harmeyer tinha dito que não havia nada pra fazer lá. Não tem nem mesmo um único restaurante chinês onde ir para comprar talharim sesame. Nós fomos à loja de conveniência e compramos os cachorros-quentes, e Lilly ficou toda: "Finalmente, eu posso comer uma baguete!", mas eles não tinham nenhuma, nem daquelas de saquinho.

Então nós ficamos meio deprimidos por causa dessa coisa de não ter baguete nem talharim. Mas quando a gente voltou para o caminhão, Michael falou: "Bem, tem uma coisa em West Virginia que Manhattan não tem", e começou a dirigir.

Eu achei que Michael estivesse falando sobre o Mothman, você sabe, daquele filme, e eu não conseguia imaginar o que era tão legal a respeito daquilo, porque tudo que o Mothman faz é ligar para as pessoas e dizer com uma voz assustadora: "Fique longe da planta química!", o que realmente não é uma informação útil pra ninguém.

Mas descobri que Michael não estava falando sobre o Mothman. Ele estava falando sobre o Dairy Queen! Sim! Descobrimos que tinha um Dairy Queen do lado de fora do Hominy Knob! Não existe Dairy Queens em Manhattan, exceto por um nojento que ninguém além de turistas vão em Penn Station.

Nós ficamos tão agitados, descemos do caminhão e corremos para a menina da janela. Cada um pediu um sabor diferente. Lars tomou de cereja derretida. Lilly de amendoim torrado. Boris pediu nevasca. Peter Tsu pediu de coca-cola. Tina tomou um de baixa caloria, já que o Peter Tsu estava olhando. Michael pediu um de Oreo. E eu pedi um de chocolate com baunilha.

E estava TÃO bom! Depois de todo o nosso trabalho braçal, e ter que dormir em tendas, e os banheiros portáteis, e os lencinhos úmidos, e ter descoberto que apesar de tudo eu tenho um talento, aquele sorvete foi realmente a coisa mais deliciosa que eu já comi na vida.

Estávamos todos tomando nosso sorvete, encostados do lado do Dodge, aproveitando o comecinho do sol da primavera, quando uma enorme limusine preta entrou no estacionamento do Dairy Queen. Eu juro que eu quase deixei cair o sorvete quando o chofer saiu do carro para abrir a porta de passageiros e dela saiu -

"Grandmere!", eu gritei, quase sem acreditar nos meus olhos.

"Amelia", Grandmere disse, olhando com desgosto. Ela estava vestida com um manto roxo, com Rommel em um braço e uma bolsa no outro. Todos os residentes de Hominy Knob que estavam por perto não conseguiam tirar os olhos dela. "Você parece estar em forma."

"Grandmere", eu disse. "O que você está fazendo aqui? Eu achei que você estivesse em Palm Springs".

"Eu estive lá. Eu só achei que eu devia parar aqui no meu caminho de volta, para ver o seu, er.. trabalho."

"Mesmo?", eu ainda estava em choque por ver Grandmere em Hominy Knob. "Você viu a casa que nós construímos?"

"Eu vi", Grandmere disse. "Eu tenho que admitir, quando você me disse que isso era o que você queria fazer nas suas férias de primavera, que eu achei que você estivesse doida. Mas eu conheci Dr. Gonzales, e ele me pareceu um homem muito educado. E a casa de vocês é... adequada. Mas isso não é, contudo, porquê eu estou aqui. Eu peguei quartos no Hampton Inn - infelizmente, os melhores quartos que eu fui capaz de encontrar. Eu pensei talvez que você gostaria de vir comigo e tomar um banho antes do seu jantar de comemoração, o qual Dr. Gonzales muito gentilmente me convidou. Eu percebi que as condições de banho no acampamento são muito primitivas, e que todos vocês tem uma longa viagem de ônibus pela frente amanhã."

Nós subimos no caminhão sem dizer uma palavra. Tomar banho? Ninguém precisava perguntar duas vezes. O pensamento de poder, enfim, ser capaz de limpar quatro dias de suor e poeira dos nossos corpos era melhor até que o sorvete, e tenho que admitir, até mesmo de beijos ininterruptos.

Então nós todos seguimos a limusine de Grandmere até o hotel, onde ela tinha reservado sete quartos para ela e Rommel, seus guarda-costas, sua criada pessoal, sua assistente, seu chofer, e suas roupas. Todo mundo entrou correndo debaixo do chuveiro e se enxugou com toalhas limpas para variar. Eu até peguei emprestado um pouco do perfume Channel no. 5 de Grandmere e coloquei nas minhas roupas. Felicidade! Agora não tem jeito do meu namorado me resistir!

Embora, quando eu cheguei perto dele, com toda minha glória e limpeza, no corredor do hotel, qualquer tentativa que o Michael poderia ter tido de me beijar foi cruelmente esmagada pela presença da empregada da Grandmere que veio correndo com Rommel, porque era hora da andadinha dele.

Depois de todos nós terminarmos de limpar a poeira e sujeira, nós polidamente agradecemos Grandmere e dissemos que tínhamos que voltar pro acampamento para entregar os pães do cachorro quente. Quando chegamos lá, descobrimos que a Sra. Harmeyer tinha dado a luz a uma menina. Mas o que REALMENTE me comoveu foi quando o Dr. Gonzales disse: "E, Mia, os Harmeyers pediram para te contar que deram o nome dela por sua causa."

"É mesmo?" Eu fiquei lisonjeada. "Eles chamaram o bebê de Mia?"

Dr. Gonzalez pareceu um pouco desconfortável. "Hum", ele disse. "Não exatamente. Eles a chamaram de Princesa."

Princesa Harmeyer. Ah, bem. Ainda assim é legal saber que eu deixei minha marca em Hominy Knob. Mais ou menos.

Depois do jantar de comemoração - que realmente foi bom, parece que esgotaram os produtos de milho - Dr. Gonzales fez uma fogueira e nós assamos marshmallows. Michael pegou o violão dele e nós todos cantamos a música "Kum ba ya", a única que me faz ter vontade de chorar a cada vez que eu escuto.

Então, para mostrar para os anfitriões de West Virginia um costume de New York, Lilly, Tina e eu cantamos nossa versão de "Destiny's Child's Survivor", o que nós fizemos muito bem (Lilly até deixou que eu fosse a Beyoncé pra variar). Grandmere aplaudiu como uma doida, mesmo que o Lars estivesse morrendo de rir até quase engasgar e a Sra. Hill e eu tivemos que bater nas costas dele.

Então todas as famílias cantaram uma canção típica de West Virginia que era muito triste, sobre uma garota que nasceu muito pobre, mas que se chamava Chique. A música falava sobre como Chique usou seus talentos para seguir com a vida. Ela nunca reclamava sobre ter os tipos errados de talentos, ela apenas usava tudo que Deus deu a ela. Aquilo, eu percebi, era o que eu precisava começar a fazer: parar de desejar talentos melhores e apenas usar o que eu tenho de melhor.

Eu respirei fundo quando pensei nisso, e Michael deve ter achado que eu estava triste ou algo assim, já que ele colocou o braço dele ao meu redor. Sim!!!! O garoto finalmente começou a chegar perto!

Então nós tivemos alguns ótimos momentos apaixonados namorando perto da tenda dele enquanto ele supostamente deveria estar guardando a sua guitarra.

Tudo que eu posso dizer é... obrigada. OBRIGADA, GRANDEMERE!!! Porque sem ela e sem usar o chuveiro dela, Michael e eu nunca teríamos desenvolvido o grande apreço pela teoria do martelo que nós temos agora.


Quarta-feira, 16 de março, 10 da noite, loft

Estou em casa!!!! FINALMENTE!!!

A viagem de volta de West Virginia foi TÃO melhor que a ida. Por um motivo: a diretora Guta assegurou que o Boris tomasse uma boa dose de Dramin antes de deixar ele chegar perto do estacionamento. E todo mundo estava tão cansado, que caímos no sono antes de chegar na Highway 64.

Quando o ônibus finalmente parou em frente à escola Albert Einstein e todo mundo começou a tirar suas malas, teve um monte de abraços e "vejo você na segunda" vindo de pessoas que antes da viagem nem eram amigas. Como entre a gente e Peter Tsu.

A parte mais engraçada foi quando Dr. Gonzales chegou pra mim, olhando todo envergonhado e disse: "Princesa Mia, por favor diga à sua avó que eu gostei muito de conhecê-la. Ela é realmente uma mulher dinâmica."

Uau. Parece que eu não sou a única Renaldo que tem um talento secreto.

Eu estou tão feliz de estar em casa, que eu saí andando beijando tudo que eu senti falta, incluindo Fat Louie, o edredon da minha cama, minha banheira, a geladeira, e a TV.

Mas mais do que tudo, eu beijei a minha mãe, e disse a ela que mesmo que West Virginia fosse legal e tudo, é realmente verdade o que a Dorothy disse no Mágico de Oz, sobre não haver lugar melhor do que a nossa casa.

"Mesmo nas férias de primavera?" minha mãe perguntou.

"Mesmo nas férias de primavera", eu respondi.

"Mesmo se você for uma princesa?" minha mãe perguntou.

"Especialmente se você for uma princesa", eu respondi.

E então eu peguei o telefone e liguei para o Number One Noodle Son e pedi um talharim sesame para o jantar.

 

 

                                                   Meg Cabot         

 

 

 

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