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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OUSE SER ESCANDALOSA / Tamara Gill
OUSE SER ESCANDALOSA / Tamara Gill

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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O Marquês Ryley arruinará a Srta. Willow Perry a qualquer custo. Mesmo que este custo seja o coração dele.
Após herdar uma pequena fortuna, Willow Perry possui tudo o que sempre quis. Isto é, exceto um marido, Mas não é qualquer marido que servirá. Ela está em busca de um grande amor, alguém que a desafie e a empolgue. É um infortúnio que o único homem a conseguir tal feito é um notório libertino. Ele é selvagem e impulsivo enquanto Willow é calma e pé no chão. Amor entre polos tão extremos seria impossível... não seria?
Abraham Blackwood devotou a vida inteira a busca de prazer. Ele está bem feliz administrando seu antro de jogatina e ignorando as expectativas da sociedade Mas conhecer a adorável Srta. Willow lhe dá um novo objetivo. Vingança. Fazê-la pagar pelos erros cometidos por familiares dela será facilíssimo. Ignorando o quanto ele a quer, não somente debaixo dele, mas ao seu lado e para sempre? Isto pode se mostrar um tanto quanto mais difícil.
Quando Willow descobrir as verdadeiras intenções de Abraham, será que os laços frágeis que os dois começaram a criar sobreviverão? Ou as apostas continuarão a se mostrar, sem perdão, contra eles?

 

 

 


 

 

 


Londres, 1826

WILLOW SUBIU CORRENDO as escadas de sua tia, havia sido chamada de volta de seu passeio diário no Hyde Park. O suor acumulava-se em sua testa, e ela podia senti-lo escorrendo pelas costas, sob o vestido. Era muito cedo. Este dia não poderia ser o último de sua tia.

Ela correu o mais rápido que seu traje de montaria permitia e empurrou a porta do quarto da tia, e parou de forma abrupta ao ver a criada de Sua Senhoria, o mordomo e a governanta, todos os rostos mascarados de pena e tristeza.

— Titia? — ela deu alguns passos e se sentou na cama ao lado dela, pegando as mãos. Estavam frias e moles nas dela, e Willow as apertou um pouco, precisando acordá-la, mantê-la com ela por um pouco mais de tempo.

— Eu ainda estou aqui, minha filha. Eu esperei por você.

As lágrimas se acumularam nos olhos de Willow, e ela agarrou a tia, sua única família restante no mundo, em um abraço. A garganta dela parecia tão seca como se um atiçador quente a tivesse perfurado ali, tornando cada respiração dolorosa e difícil.

— Sinto muito. Eu fui cavalgar, não sabia que estava tão mal.

A tia a silenciou, a ação provocou outro ataque de tosse que a fez ofegar e sacudiu seu peito. O assalto parecia doloroso, e se a careta da tia cada vez que tossia fosse qualquer indicação, era de que a infecção estava causando desconforto.

— Eu quero que você vá cavalgar, mesmo depois que eu partir.

Você terá mais tempo disponível então. Não terá mais que correr atrás de mim.

Talvez, mas Willow teria que correr atrás de alguém. Quando a tia falecesse, ela precisaria encontrar um emprego, e depressa. O

pensamento não era nada prazeroso, e seu estômago se embrulhou com a perspectiva de não encontrar trabalho.

Não que suas amigas a deixassem na rua, mas tinham suas próprias vidas agora, famílias para cuidar, não precisavam de uma amiga se agarrando a elas por caridade.

— Não se preocupe. — disse ela, não querendo falar sobre o que faria depois que a tia falecesse, o médico havia prometido que ela teria mais algumas semanas, não uma. O declínio fora tão rápido nos últimos dias. Muito rápido. Willow rezou para que o tempo parasse. Que sua tia não a deixasse sozinha neste mundo.

— Você vai melhorar logo, e vamos olhar para o dia de hoje e riremos. Você verá. Nada a temer ainda.

Os lábios da tia se torceram em um sorriso.

— Eu gostaria de contar a você o que fiz antes de partir. — a tia apertou as mãos de Willow, de repente mais fortes e capazes como antes. — Você terá tempo, minha querida, de enfim fazer o que deseja, porque vou deixar para você tudo o que possuo. A casa em Londres, minha propriedade em Kent, meu dinheiro. Tudo é seu.

Willow olhou para a tia, sabendo muito bem que a boca estava aberta.

— Você não pode. Eu não sou uma Vance.

— Ninguém é. Sem filhos e sem ninguém para assumir o título, posso fazer o que quiser com todo o resto. O título e a casa de Norfolk reverterão para a Coroa, mas nada mais.

— Está certa disso, tia? — Willow perguntou.

Decerto havia mais propriedades vinculadas que apenas Norfolk.

Ela talvez não ficasse com tudo.

— Vou perder a casa em Norfolk, mas todo o resto é seu, minha querida. — a tia se sentou um pouco, os olhos brilhantes. — Você tem sido uma luz brilhante em meu mundo desde que Maurice morreu, é a filha que eu nunca tive. Você é filha da minha irmã, mas também é minha. Quero que fique segura, protegida depois que eu partir. Tornar você minha herdeira é o resultado de tudo isso. Vou descansar tranquila sabendo que você estará protegida.

— Ó, titia. — a visão de Willow ficou turva ante sua boa sorte em um momento em que a perda dessa mulher diante dela seria demais para suportar. — Eu a amo tanto. Obrigada. É muito.

A tia suspirou, recostando-se na cama, um pequeno sorriso nos lábios.

— Fico feliz em fazê-lo. — ela estendeu a mão, tocando a bochecha de Willow com a palma. — Você será perfeita no papel de herdeira, apenas tente manter alguns dos fundos para si, não dê tudo aos desafortunados. Eu sei que você tem um bom coração.

Willow riu. Mesmo agora, por mais doente que estivesse, a tia brincava, tentando fazê-la rir.

— Eu vou tentar. Eu prometo.

Willow recostou-se enquanto a tia se afundava na cama, fechando os olhos com o esforço de ter falado nos últimos minutos.

Ela a observou, segurando sua mão. O peito subia e descia, dizendo a Willow que ela ainda estava aqui.

— Sentirei tanto a sua falta, titia. Obrigada por me amar como me amou. Eu nunca me esquecerei de sua bondade.

A governanta se aproximou de Willow e colocou uma mão reconfortante em seu ombro. Willow não conseguia parar de olhar para o subir e descer do peito de sua tia. Inspira. Expira. Inspira.

Expira. Inspira. Ela esperou pela expiração. Nunca veio. Willow se levantou, ainda segurando a mão da tia.

— Titia? Tia! — gritou ela, mais alto desta vez, mas nada. Não respirava. Sem palavras. Nada.

Ela se virou para a governanta que a encarava, com lágrimas nos olhos envelhecidos.

— Ela foi para perto de Deus, minha querida. Venha comigo agora.

Willow fez o que mandavam, incapaz de compreender o que acabara de acontecer. A tia não poderia ter falecido. Não era possível. Ela parou no limiar do cômodo, olhou para sua única parente, a querida irmã de sua falecida mãe. A Viscondessa Vance.

— Sentirei saudades. — ela sussurrou, antes de sair da sala. —

Sempre.

C A P Í T U L O 1

Doze meses depois — A Temporada

A BRAHAM BLACKWOOD, Marquês Ryley, Abe para os amigos e para aquelas com sorte o bastante de conhecer a cama dele, apenas observava enquanto sua amante chupava seu falo e lambia, com entusiasmo e energia,, o cabelo chocolate dela caindo em cascata sobre as pernas dele, fazendo cócegas a cada movimento. Ele se recostou na cadeira, apreciando o deslizar da língua dela, a e a massagem com as mãos nas bolas tensas e doloridas. Ela era uma sirigaita inteligente, e ele duvidava que algum dia se cansaria dela, valia cada joia e centavo que gastou com ela.

— Porra, isso é bom.

Ela fez um doce som de choramingo que reverberou na espinha dele. Ele estava perto, podia sentir as bolas se apertando pela liberação iminente. Lottie aumentou suas ministrações como se sentisse que ele estava quase derramando em sua boca. Outra razão perfeita para que ele a tivesse como amante. Ela era um exemplo de bom senso e uma trepada gostosa. Ela se mexeu um pouco, levando-o ao fundo da garganta, e seu sêmen foi liberada na boca dela, com força e por um longo tempo. Sendo a perfeccionista e especialista que era, ela engoliu sem derramar nada sobre os lábios inchados e rosados.

— Hm, delicioso. — ela ronronou, sentando-se na mesa dele e abrindo as pernas. — ele ergueu uma sobrancelha, observando a fenda molhada dela. — Andou ocupada aí embaixo.

— Você gosta? É a última moda em Paris. Achei que seria divertido. — disse ela, olhando para a vagina depilada.

Ele lambeu os lábios, não se importava. Depilada ou não, ele gostava de chupar uma mulher até ela se desfazer. Uma série de batidas soou na porta. Lottie suspirou, recostando-se na mesa. Abe

estendeu a mão, correu o dedo ao longo das dobras molhadas, e rolou o dedo na protuberância doce.

— Caia fora! — ele gritou, beijando a parte interna da coxa dela.

— Sou eu, Whitstone. — falou a voz abafada do outro lado da madeira.

Abe gemeu, recostou-se na cadeira e observou Lottie que, ciente de que o tempo de brincadeiras havia acabado, se arrastou para fora da mesa e ajeitou as roupas.

— Eu a encontro lá em cima logo. Esteja pronta. — disse ele, quando ela lançou um sorriso malicioso por cima do ombro antes de abrir a porta da biblioteca para revelar Whitstone, o braço levantado como se fosse bater mais uma vez.

— Entre. — Abe gesticulou para um de seus amigos mais antigos desde Eton.

Whitstone o protegeu quando outros meninos da escola zombaram de sua mãe, uma espanhola que teve a sorte de se casar com o marquês Blackwood quando viajou pelo continente. O jovem marquês voltou para a Inglaterra com uma esposa. Um verdadeiro escândalo considerando que ela não era uma rosa inglesa perfeita como as moças c0m quem se esperava que um marquês escolheria para se casar.

— Meu amigo. — disse Whitstone, sorrindo para Lottie enquanto ela passava por Sua Graça sem deixar de passar o dedo no peito do duque.

Abe riu.

Mulher atrevida.

Whitstone entrou na sala e fechou a porta.

— Peço desculpas se interrompi você. — disse ele, sorrindo.

— Bebida? — Abe perguntou, levantando-se e indo até a garrafa para se servir de um copo de uísque.

— Não, obrigado. Vim aqui pedir um favor e não tenho muito tempo. Caso contrário, eu iria gostar.

Abe ergueu a sobrancelha, bebendo o uísque antes de se servir de mais.

— O que precisa?

Ele pouco se envolvia com a sociedade depois do que aconteceu da última vez em que pisou nas tábuas corridas do Almacks. Não

que fossem permitir que ele voltasse a pisar lá, não depois de receber uma proibição vitalícia por socar o Lorde Perfeito, como ele chamava Lorde Herbert, por ser um asno. Algo que o homem não parecia deixar de ser.

— Não sei se você conhece a boa amiga de Ava, Srta. Willow Perry, mas ela dará um baile de máscaras, uma celebração pelo seu retorno à sociedade após a morte de sua tia. Ela se tornou uma herdeira, sabe, vale mais de cem mil libras, e eu quero que você esteja lá para mantê-la a salvo daqueles que podem querer se aproximar por ser uma forma de quitar suas dívidas. Ava está determinada a garantir que Willow se case por amor e nada mais.

Apesar... — Whitstone disse, seu tom confuso. — Não tenho certeza se Willow pensa o mesmo que a duquesa.

Os lábios de Abe se contraíram, acreditando bem que o que a duquesa poderia pensar era bom para a amiga, mas talvez a dama não quisesse o mesmo para si. A esposa do duque às vezes poderia ser, para todos os efeitos, uma duquesa acostumada a conseguir o que queria.

— Você quer que eu seja babá da Srta. Perry.

Whitstone recostou-se na cadeira e cruzou as pernas.

— Faz isso soar como uma tarefa árdua. Duncannon e eu estaremos lá. Será uma noite de diversão, mas devemos mantê-la a salvo de canalhas que podem tentar arruiná-la para garantir a herança.

Abe esfregou a mão no queixo, o espetar do bigode lembrando-o de que ele não havia se barbeado esta manhã.

— E se ela quiser um pequeno encontro no jardim? Devemos impedi-la de se divertir um pouco?

Abe costumava se divertir com as senhoras da alta sociedade que estavam livres do leito conjugal ou que queriam traí-lo.

Whitstone ergueu a sobrancelha, o rosto era pura censura.

— Ela é uma lady, Ryley. Não correrá atrás de uma rapidinha no gramado.

Os lábios dele se contraíram, sabendo o quão divertido poderia ser uma transa rápida contra uma treliça ou parapeito de um terraço.

Não havia nada mais doce do que levantar as saias de uma mulher

disposta e deslizar na entrada apertada que o envolvia e puxava até que se perdesse.

Ele pensou no que Whitstone pedia.

Haveria muitas mulheres lá, muitas senhoras dispostas e disfarçadas, era um baile de máscaras, que poderiam se divertir um pouco com o Libertino Espanhol.

— Muito bem. Eu irei. Quando é? — ele perguntou, sentando-se detrás da mesa. Ele possuía uma fantasia que decerto combinava com suas origens, e claro, com seu caráter sombrio.

— Amanhã à noite. A Srta. Perry está morando na residência da falecida viscondessa Vance em Hanover Square. A Senhora era tia dela.

Abe ficou rígido ante a menção do nome Vance.

O sobrenome despertava ira e arrependimento em suas veias.

Ele não lamentava a morte de Sua Senhoria, nem de não ter prestado suas condolências. Mas sim de não ter podido fazê-la pagar pelo que fez a sua pobre mãe. A viscondessa Vance havia garantido que a mãe dele nunca fosse aceita na sociedade com a ajuda da mãe do Lorde Perfeito também. Uma façanha medíocre, já que a mãe dele era uma marquesa, muito mais alto na escala social do que lady Vance. Vance, entretanto, tivera uma coisa que sua mãe nunca teve.

Sangue inglês.

A viscondessa Vance ter uma sobrinha que ele não conhecia, ou talvez conhecesse, mas não havia prestado atenção o suficiente quando ela passou bem debaixo de seu nariz.

— A noite em que alcançamos o Sr. Stewart e jogamos o desgraçado em Newgate. Foi quando ouvi falar da Srta. Perry. Ela era uma amiga de escola da duquesa e da Srta. Evans. Ela estava na casa naquela noite, esperando com Ava e Hallie.

O duque deu um aceno com a cabeça, inclinando-se para apoiar-se nos joelhos.

— Elas foram juntas a uma escola para Moças na França.

Escola da Madame Dufour de Etiqueta para Moças.

O duque o analisou por um momento, um pequeno franzir na testa. Abe controlou suas feições, não queria que o amigo soubesse de sua aversão à família Vance. À família da senhorita Perry.

— Você me parece ter ficado curioso com a Srta. Perry, de repente. Vai se comportar, não é, Ryley? Ava vai arrancar minha pele se você machucar a Srta. Perry de alguma forma.

Abe riu, mascarando suas feições.

Ninguém sabia quantos nobres em Londres, quantas famílias ele fez pagar, ao longo dos anos, pelo mal que fizeram a sua mãe. Por terem-na tornado uma pária da sociedade. Por terem feito com que ela o deixasse e sua vida aqui na Inglaterra para voltar para a Espanha. Pelo menos ela ainda estava viva, e ele a via sempre que podia. O pai dele nunca a perdoou por ter fugido, a odiou com todas as forças até morrer anos antes.

Uma vida perdida. Para ambos.

E ele poderia colocar tudo na porta da viscondessa Vance e de Lady Herbert, a mãe de Lorde Perfeito e suas línguas perversas.

— Você se esquece que tenho uma amante, e que não tolero a sociedade.

O antro de jogatina, Hell's Gate, era lucrativo e divertido, e ele buscava pouco a sociedade. A menos que ele topasse com uma senhora disposta em seu clube, uma mulher procurando um pouco de diversão, só então ele poderia se distrair, normalmente sob as saias dela.

Whitstone suspirou, os ombros curvando-se de alívio.

— Muito bem, você me tranquiliza. Então... — disse ele, levantando-se e batendo palmas. — Amanhã oito da noite, Praça Belgrave. Não se atrase.

Abe se levantou e acompanhou Whitstone até a porta.

— Não me atrasarei. Pode contar comigo.

Ele acompanhou o amigo até a carruagem e depois subiu as escadas. Havia uma amante para ele agradar, e ele precisava se divertir um pouco. Não importava o que dissesse ao amigo, ele buscaria vingança contra a sobrinha da viscondessa. Se ela era a última descendente da família de Sua Senhoria a quem ele poderia direcionar sua raiva, então seria ela a pagar pelas ações da tia.

Abe franziu a testa ante tais pensamentos. A amizade com Whitstone e Duncannon era sólida, mas ele não saberia dizer se sobreviveria ao próximo passo dele na Sociedade. A Srta. Willow Perry não sobreviveria, disso ele tinha certeza.

C A P Í T U L O 2

T UDO ESTAVA em ordem para o baile de máscaras.

Willow contava com uma equipe de criados trabalhando para ela, as flores haviam sido encomendadas, o chão estava sendo polido, as janelas limpas e havia quem garantisse que os jardins estivessem bem cuidados e iluminados para o baile.

Depois de retornar a Londres, ela fez algumas mudanças em sua vida. Ser uma herdeira permitia a ela certas liberdades que não podia ter antes. Contratou uma dama de companhia, uma viúva que de mentalidade tolerante, e que não gostava mais do que ler e guardar suas opiniões para si na maioria dos dias, de modo que Willow fazia o que queria. Suas duas melhores amigas, Evie e Molly, que ela havia convidado para virem a Londres durante a temporada e além, se desejassem, também estavam presentes.

A casa era, sem dúvida, grande o suficiente para todas, e com a Srta. Sinclair cuidando delas, se não estivesse lendo ou passeando pelos jardins, o arranjo era perfeito.

Willow estava nas portas do salão de baile, observando enquanto os toques finais eram dados na sala. Ela queria que a noite representasse magia e caos. Os arranjos de flores ocupavam todas as superfícies disponíveis: rosas ricas e miosótis brancos deslumbrantes que inundavam a área com aromas doces.

Grupos de velas, de tamanhos diferentes, ficavam nos cantos, e os três lustres haviam sido abaixados, lacaios e criadas garantiam a colocação de novas velas de cera de abelha.

Uma rede transparente pendurada sobre as cortinas e através do teto, concedia ao quarto uma sensação de outro mundo. Um mundo em que ela era dona de seu próprio destino. Um sentimento inebriante de fato.

— Nossa, Willow. O cômodo está lindo! — Evie disse, entrando no espaço e girando.

Molly se juntou a ela, olhava para todas as flores e enfeites que os funcionários passaram os últimos três dias colocando. Willow sentiu o orgulho a dominar e sorriu.

— Eu não poderia concordar mais. Minha equipe se superou.

Com certeza vou parabenizá-los com uma taça de champanhe.

Gosto de acreditar que vão gostar do presente.

— Acho que sim. — disse Molly, juntando-se a ela. — Mal posso esperar pelo baile. Eu nunca fui a um baile de máscaras antes.

— Nem eu. — disse Evie, os olhos brilhando de animação. —

Com Ava e Hallie conosco, será como nos velhos tempos.

— Exceto que os maridos estarão com elas. — disse Molly, um pouco incomodada com o fato. — Mas nunca se sabe que amigos vão trazer. Talvez no final da temporada todas nós tenhamos maridos.

Evie sorriu com a ideia.

Willow sorriu.

Depois de perder os pais tão jovem, ela ansiava por uma família própria. A tia era sua última parente de sangue, e agora que havia falecido, não havia mais ninguém. Um marido seria um companheiro de viagem adequado, a acompanharia em visitas a Paris ou Roma.

Daria a ela o que ela mais queria, um filho.

Willow, Evie e Molly eram as mais novas no grupo de amigas e, aos vinte e sete anos, o tempo para encontrar maridos estava se esgotando depressa. A Sociedade já as havia rotulado de solteironas, de modo que nada ou quase nada as abalaria.

— Pedi que banhos fossem preparados mais tarde hoje para vocês, e designei uma criada para cada uma de vocês para ajudá-

las a se vestir e preparar os cabelos. Espero que não se importem.

Evie se engasgou e agarrou seu braço com tanta força que Willow pensou que poderia fazer com que o sangue não chegasse mais à sua mão. — Você salvou a nós duas de outro ano triste no interior com nossas famílias. Por mais que os amemos, nada acontece em Oxfordshire nem em Hertfordshire.

Evie concordou.

— O evento mais emocionante que ocorre em nossa cidade é a missa de domingo. Meu irmão já apostou, na taverna local, quanto tempo levará para a nova esposa do vigário adormecer durante o

sermão do marido. A primeira esposa, que Deus a tenha, demorava de sete a nove minutos, mas esta não parece ter nenhum vigor.

Estamos supondo que menos de cinco será o limite dela.

Willow riu.

— Venham, pedi chá e sanduíches para a sala de estar lá de cima, para almoçarmos. Achei que algo um pouco informal seria bom. Já se passou muito tempo desde que nos vimos. Pelo menos um ano.

— Para mim, sim. — disse Evie. — Eu não a via desde o baile de abertura da temporada de Ava, ano passado.

— Mais um pouco para mim. — Molly enroscou o braço no de Willow enquanto caminhavam para a escada, para a sala de estar.

— Faz uns bons dois anos que não vinha à cidade, pelo menos.

Como sabem, meus pais não gostam de Londres e, por isso, preferem nos manter escondidos no campo. Sabia que mamãe tentou me empurrar para um agricultor local como um marido em potencial? Em circunstâncias normais, eu ficaria feliz em me casar com um fazendeiro se estivesse apaixonada por ele, mas ele era da idade do meu pai. Não conseguia tolerar. Quando recebi sua carta, querida Willow, mal pude me conter.

— Nós vamos nos divertir muito. — Willow interrompeu. — A dama de companhia que contratei, Srta. Sinclair, é, bem, deixe-me apenas dizer, um pouco irreverente e inclinada a se esquecer de seus deveres, então haverá muitas oportunidades para explorar cada parte desta cidade e os entretenimentos que ela oferece.

— Como a casa de jogos, Hell's Gate. — Evie sugeriu, um brilho malicioso em seu olhar. — Todos falam de lá.

— Isso, como Hell's Gate. — Molly disse, sorrindo.

Willow franziu a testa, nunca havia ouvido falar do clube.

— O que é Hell's Gate? Parece menos do que respeitável.

— Por que não é. — disse Evie.

Elas chegaram à sala de estar e entraram no cômodo grande e bem iluminado. Willow não conseguiu deixar de se orgulhar de sua casa. As janelas, que iam do chão ao teto, iluminavam a sala com luz natural, concedendo ao cômodo uma sensação acolhedora e caseira. Willow fechou a porta. Um serviço de chá estava as

esperando em uma pequena mesa ao lado do sofá. Seu mordomo parado ao lado.

— Vou servir o chá eu mesma. Isso é tudo, obrigada, Thomas. —

Willow disse, não perguntando o que mais suas amigas sabiam deste clube até que estivessem sozinhas. Assim que a porta se fechou, Willow começou a servir chá para todas e entregou a cada uma um biscoito de açúcar. — Agora, me conte mais sobre o clube e, mais importante, como você sabe disso.

Evie dispensou a curiosidade de Molly.

— Bem, estou surpresa que não conheça. Lembra-se de quando Hallie teve todos aqueles problemas com o Sr. Stewart? Bem, ele foi pego no Hell's Gate. O agente de Bow Street o encontrou lá depois que o proprietário alertou o investigador de que o Sr. Stewart era um cliente regular.

— Quem é o dono? — Willow perguntou.

Ela se lembrava bem da situação com a querida amiga, Hallie, mas não sabia como tudo aconteceu para que o suposto quase assassino, o Sr. Stewart, fosse preso.

— Essa é a parte deliciosa. — Evie interrompeu. — É o Marquês Ryley. Ele é dono do clube há anos. Ouvi Ava falando com Whitstone sobre tudo, por isso eu sei. O Marquês é sob todos os aspectos bastante selvagem, mas um amigo de Whitstone e Duncannon, desde Eton, pelo que eu entendi.

Que interessante.

Willow serviu o chá, sentando-se em frente às amigas.

— E o Sr. Stewart foi pego neste clube. Lembro-me da noite em que tudo aconteceu. Eu estava com Ava e Hallie na casa de Ava em Londres.

Willow se lembrava, de forma vaga, de ver os homens retornando naquela noite, dois familiares, um não. O que ela não conhecia era sombrio como a noite, seu cabelo cor de ébano desgrenhado como se acabasse de acordar. Ela se lembrou de ter arfado ao vê-lo. Nunca havia conhecido alguém que se parecesse tanto com o pecado como ele. Quanto à reação dele a ela, foi muito pouco. O olhar dele passou por ela como se ela nem mesmo estivesse ali. Muito decepcionante.

— O que é que acontece neste clube? — Willow perguntou.

— Bem, quanto a isso — disse Molly. —, tudo o que você quiser.

Ou, pelo menos, o que um homem quiser. Jogatina, comida, danças e, claro, o sexo frágil pode exercer praticar comércio se me entende.

Willow ergueu a sobrancelha.

— E um marquês dirige tal estabelecimento?

— Ah, sim, ele é conhecido em Londres como o Libertino Espanhol. Estou surpresa por nunca o ter visto.

— Na verdade, acredito que sim, mas não sabia da reputação dele ou quem era. Não fomos apresentados.

— Talvez não seja tão surpreendente, ele é um pouco selvagem.

Creio que Duncannon e Whitstone tentarão manter as amigas de suas esposas a uma distância segura do cavalheiro. Ele é tão perverso quanto parece, e pouco se importa com o fato.

Ainda mais interessante.

Willow poderia ter um pouco de emoção em sua vida, e talvez Lorde Ryley fosse uma diversão para dar início à sua primeira temporada em Londres como uma herdeira independente.

— Convidei Whitstone e Duncannon para o baile esta noite. Eu me pergunto se estenderão o convite ao amigo. Que sucesso meu baile de máscaras será se Lorde Ryley fizer uma aparição.

— Ele é muito bonito. Estou certa de que se ele se dignar a usar uma máscara ou não, você o reconhecerá imediatamente. Poucos não o reconheceriam. — Evie acrescentou, pegando outro biscoito de açúcar e dando uma mordida grande.

Molly assentiu com a cabeça.

— Nossa, estou tão animada com esta noite. Não podemos agradecer o suficiente, Willow, por nos dar esta oportunidade de estar aqui em Londres com você. Devemos valorizar nosso tempo na cidade com você para sempre.

— Vocês estão mais do que convidadas a ficar o tempo que quiserem. Não vou a lugar nenhum, e se minhas novas circunstâncias permitirem que vocês consigam bons partidos, ficarei muito satisfeita. Quanto a mim, estou aberta a um pequeno flerte e cortejo, se um cavalheiro assim escolher. — Willow sorriu para as amigas enquanto mais ideias acerca de suas vidas surgiam em seus pensamentos. — E se ficarmos entediadas com Londres, ou um marido não aparecer, no ano que vem podemos viajar para o

exterior, para Paris, Madri ou Roma. Podemos fazer o que quisermos.

Evie recostou-se na cadeira, suspirando.

— Isso soa maravilhoso. Você é muito boa para nós, Willow.

Nunca seremos capazes de retribuir sua bondade.

— Não precisam me retribuir com nada. Se minha tia não tivesse me feito herdeira de sua fortuna, eu estaria neste exato momento procurando emprego como dama de companhia. Se com esta nova vida que foi concedida a mim, eu puder tornar a vida de minhas amigas mais fácil, então o farei. Esta casa é grande demais para eu ficar andando sozinha por aí, de qualquer forma. Há muitos anos está vazia, sem bailes e festas, risos e diversão. Quero que tragamos tudo isso de volta, que nos divirtamos o máximo que pudermos.

— Parece um plano perfeito. — disse Molly, o olhar melancólico.

— E tudo começa esta noite com o baile de máscaras. Que diversão teremos. Mal posso esperar.

— Ava e Hallie disseram que chegariam mais cedo do que os maridos, para garantir que tudo estivesse no lugar. Todos nós teremos uma noite incrível, e estaremos reunidas mais uma vez. —

o relógio da lareira bateu a segunda hora, lembrando Willow de como a tarde estava correndo, e que era hora de se preparar para um baile de máscaras. — Devemos subir logo. Ainda temos muito que fazer antes desta noite. Se quiserem descansar antes jantar, seria uma boa ideia. Acredito que o baile pode durar a noite toda.

Evie se levantou da cadeira.

— Você está certa, é melhor não demorarmos. Vamos, senhoras, vamos embora. Temos uma mascarada à nossa espera.

Willow seguiu as amigas para fora da sala, dando uma última olhada no salão de baile antes de subir as escadas. Estava simplesmente deslumbrante e seria uma noite que seria comentada por semanas a fio. Uma maneira perfeita de começar a temporada, e de dizer ao mundo que a Srta. Willow Perry não era mais a sobrinha dócil e ingênua da Viscondessa Vance, mas uma herdeira, uma mulher que está pronta para viver e desfrutar de tudo que a vida lhe oferecesse.

C A P Í T U L O 3

C ONFORME A SOCIEDADE entrava, mais tarde naquela noite, no salão de baile de Willow, que havia sido decorado como o tema de magia e caos, ela ficou encantada ao ouvir os suspiros e exclamações provocados pela bela decoração. Seus funcionários mereciam elogios, e ela se asseguraria de que recebessem uma taça de champanhe, exatamente como havia prometido.

Willow ficou entre as amigas, a duquesa de Whitstone e a condessa Duncannon. Evie e Molly já dançavam com dois cavalheiros mascarados, o que ocultava seus traços. Willow pensou que seria mais fácil adivinhar quem eram alguns dos convidados, mas estava sendo mais difícil do que poderia ter antecipado. Não que importasse, apenas quem apresentasse o convite receberia permissão para entrar. Os que dançavam e curtiam as festividades eram seus conhecidos, de uma forma ou de outra. Estava entre amigos.

— Devo dizer a você, Willow, antes que meu marido enlouquecedor chegue, e você descubra. — Hallie disse, olhando-a.

Hallie usava uma máscara dourada, o cabelo escuro estava penteado no alto da cabeça, um arranjo de cachos e uma elegante corrente de ouro entremeava a criação. Ela veio como Atena, a deusa da sabedoria e da guerra. Com a lança e o escudo, ela parecia tão formidável quanto a deusa, era o Willow pensava.

— Meu Deus, o que Duncannon fez agora? — Willow perguntou, provocando a amiga.

Era muito estranho que Sua Senhoria fizesse qualquer coisa que contrariasse a esposa, mas algo dizia a Willow que talvez esta noite isso acontecera.

— Além do fato de que ele estava determinado a vir esta noite vestido como servo para agradar esta deusa, ele também virá com um amigo que só vi uma vez. E, embora eu tenha certeza de que

Sua Senhoria demonstrará o melhor dos comportamentos, ele ainda é um ímã de escândalos.

Ela estava falando de Lorde Ryley? O Canalha Espanhol?

Empolgação ferveu em suas veias pela possibilidade.

— Quem deve comparecer? — ela perguntou.

— Abraham Blackwood, Lorde Ryley. É um marquês e, pelo que consta, o termo canalha lhe cai bem.

Melhor ainda.

— Evie e Molly me falaram um pouco dele esta tarde. Ele parece ser um cavalheiro — ela brincou. — Ele já chegou? Gostaria de conhecer esse Lorde Ryley. Queria ver com os próprios olhos se o homem fazia jus a todo o alarido. Decerto, ter um lorde tão escandaloso no baile de máscaras criaria um pouco de agitação.

— Não devem demorar a chegar. — disse Hallie, olhando para as portas do salão de baile. — Arthur iria buscar Whitstone sem escalas. Lorde Ryley já estava em nossa casa quando saí, então imagino que todos chegarão em breve. — ao som de risinhos, um sussurro animado passou pela multidão de convidados. — Ah, chegaram. — disse Hallie, um pequeno sorriso brincando nos lábios quando olhou na direção do marido.

O coração de Willow saltou uma batida quando viu o Marquês Ryley. Bem, as amigas, sem dúvida, não mentiram ou exageraram ao falar dos encantos do cavalheiro. Ele aparentava ter múltiplas, mas muitas, maneiras de ser perverso, mais do que seria possível contar com apenas duas mãos.

Ele era todo sombrio, o cabelo tão preto quanto o manto que ele usava. A pele dele havia sido beijada pelo sol, os olhos inteligentes e avaliadores enquanto observava o salão. As pessoas olharam para os três poderosos lordes que haviam chegado, alguns abriam um amplo espaço para que passassem.

Com o canto do olho, ela viu Ava acenar para o marido, o duque, que a espiava. Ele se virou para os outros dois cavalheiros antes que seguissem na direção delas. Tudo dentro de Willow se retesou quando aqueles olhos de obsidiana se fixaram nela, e correram seu rosto antes de mergulhar no corpete. Ela sentiu-se aquecer debaixo do vestido, e teve o desejo de sair para se refrescar um pouco.

Os cavalheiros juntaram-se a elas, e o duque fez as apresentações. Willow fez uma reverência e recuou enquanto o duque e o visconde convidavam as esposas para uma valsa. Willow observou as amigas com seus grandes amores. Eles se apressaram para o centro do salão de baile, e ela fez um esforço para concentrar-se e não olhar para o marquês ao lado dela. Todos os quase dois metros de músculos salientes que ele era.

— Devo oferecer minhas condolências pelo falecimento de sua tia, Srta. Perry.

A voz dele era puro pecado, ou pelo menos trouxe à tona diversas ideias de devassidão, e tudo que se podia fazer com uma pessoa como o marquês. Profunda e rouca, como nada que ela já havia ouvido na vida. Willow olhou para ele, o estômago vibrava como se um milhão de borboletas estivessem lá. Ele a encarava, e ela respirou fundo para se acalmar.

— Obrigada, meu senhor. Minha tia me faz muita falta.

— Hm. — disse ele, e nada mais.

Willow estreitou os olhos ante o "hm" evasivo e lutou para decidir o que dizer em seguida. O homem era muito autoritário, a deixava nervosa, mas não conseguia entender por quê. Possuíam amigos em comum, ele era um cavalheiro, mesmo que não se aventurasse tanto na sociedade.

Realização a atingiu com estranheza.

— Não pensei que gostasse de tais eventos, meu senhor. Pelo que sei, o senhor é visto em raras oportunidades, hoje em dia.

Um músculo no queixo dele tensionou, e ela fixou sua atenção nele. Era uma mandíbula adorável, marcante e com uma ligeira sombra de restolho. Embora não pudesse ver todos os traços dele devido à máscara, ela podia ver as maçãs do rosto salientes, e seu nariz perfeito também, mesmo que os olhos fossem tão difíceis de ler como um livro sem palavras.

— De fato, não, mas tenho amigos muito persuasivos, como a senhorita bem sabe.

Sem dúvida, uma verdade.

Willow sabia disso tão bem quanto qualquer pessoa. Os amigos dela exigiram que ficassem por perto durante o baile para garantir a

segurança dela. Agora que era uma herdeira, ela se tornara suscetível a homens de pouca moral e com bolsos furados.

Willow balançou a cabeça ante o absurdo de tudo. Como que da noite para o dia, ela havia perdido a capacidade de ver quem as pessoas eram. Se não estavam interessados nela antes de ela ganhar fortuna, não deveriam se preocupar com ela agora. Ela se casaria por amor e nada menos. Com a liberdade recém-descoberta, ela poderia ter tempo para encontrar um cavalheiro que a amasse, que compartilhasse de atividades semelhantes e quisesse uma família.

— Entendo bem, mas o que faríamos sem eles? — ela disse, fazendo pouco caso das palavras dele.

— Hm. — ele repetiu, e ela se perguntou se ele conhecia mais formas de expressão para respondê-la.

Eles ficaram ali por vários minutos, nenhum dos dois falou, e a cada momento que passava, Willow olhava para ver se havia alguma amizade por perto, uma alternativa com quem ela pudesse conversar, o marquês pode gostar de solidão e ser um homem de poucas palavras, mas Willow não.

— Soube que você possui um clube de cavalheiros, meu senhor, e que passa a maior parte do seu tempo lá. Soube que é muito popular entre os cavalheiros de sua esfera.

O olhar dele, demasiado penetrante, pousou nela.

Willow olhou para ele, e sentiu-se estranha por querer saber mais dele e do que ele fazia. Ela nunca conheceu um homem que fosse dono de um empreendimento assim, e seu tempo na sociedade este ano era para explorar e aprender, ver e fazer mais coisas enquanto procurava por um marido.

— Por favor, diga-me, Srta. Perry, como sabe de meu clube?

— Hm, bem... — ela disse, usando a resposta evasiva dele, que na verdade não era nenhuma resposta. — temo dizer que seja através de nossos amigos em comum. Eles me contaram, assim como algumas outras notas.

Ele ergueu a sobrancelha, os lábios se contraindo.

Ela o divertia?

Uma pequena luz de esperança floresceu dentro dela. Ele era muito severo, parecia perigoso. Sorrir não faria mal a ele. Willow

conseguiu imaginar o quão sexy um sorriso lento seria naqueles lábios. Qual seria a sensação de ser a destinatária de tal gesto.

Como seria ter aqueles lábios nos dela. Um arrepio percorreu sua espinha, e ela afastou a ideia, perguntando-se de onde teria vindo.

— Então, você sabe como a sociedade me chama, ou pelo menos como me chama quando eu não estou na frente deles.

Ela assentiu.

— Sim, mas devo admitir que quero saber como o apelido surgiu. O senhor é um canalha?

Ele riu então, um som baixo e grave que fez os cabelos da nuca dela se arrepiarem.

— Posso ser quando conveniente. Sempre foi tão curiosa?

Willow riu, cobrindo a boca com a mão enluvada quando os que estavam ao redor notaram a conversa.

— Sim, suponho que sim. Sempre fui ativa na vida de minhas amigas, e gosto de aprender coisas novas. Não sei muito da sua pessoa, mas você é interessante, e eu gostaria de saber mais.

Ele balançou a cabeça, olhando para ela.

— Não vai querer me conhecer, Srta. Perry, só se decepcionará.

— Serei eu a julgar isso. — Willow ajustou a máscara, observando os casais na pista de dança. — Obrigada por vir ao meu baile de máscaras. Tenho certeza de que sua presença fará do meu baile o assunto da cidade por alguns dias, pelo menos.

— E você gostaria de ser assunto da cidade também? Existem outras maneiras de conseguir tal feito, sem as despesas de um baile.

Willow supôs que sim, mas um baile era melhor do que nada.

— Sim, acredito, mas onde está a graça nisso, meu senhor?

Ele deu a ela um sorriso malicioso, e Willow teve a impressão de que ele estava falando sobre algo completamente diferente dela. Ela pensou sobre a conversa deles, e não conseguiu ver nada de desagradável ou subentendido por ela. Homem estranho.

— Talvez você tenha razão, Srta. Perry. Um baile é muito mais adequado à sua personalidade, e a diversão de que falo, não.

Somos feras diferentes, em caminhos muito diferentes. Garanto que minha conversa permanecerá no âmbito intelectual.

Um lacaio passou, e Willow pegou uma taça de champanhe. Ela bebeu com determinação, de repente, sentiu que precisava deste apoio. Lorde Ryley era diferente de qualquer cavalheiro que ela já conheceu. O fato de ser amigo de Whitstone e Duncannon dava respeitabilidade ao lorde, pelo menos aos olhos dela, mas ainda assim, era um enigma, um homem que ela não conseguia entender.

As respostas curtas e evasivas dele, que mais pareciam enigmas, também não ajudaram.

— Por favor, sinta-se à vontade para socializar, meu senhor.

Meus amigos voltarão logo da dança. Não desejo prendê-lo, caso haja conhecidos seus aqui.

Ele não se virou para ela, continuou perscrutando a multidão de convidados.

— Prometi ao duque que ficaria ao seu lado esta noite. Que a manteria a salvo de cavalheiros que podem querer forçá-la a um casamento ao arruinar sua reputação. Vou acompanhá-la até o quarto de descanso se precisar, ou se quiser passear lá fora esta noite, minha querida, terá que aturar minha companhia revigorante.

Willow fechou a boca com um estalo quando se tornou consciente de que ficara boquiaberta com a declaração dele.

Ele a trata como uma criança!

Ela olhou para o centro salão de baile, e viu o duque e o visconde olhando na direção deles de vez em quando, mantendo-a sob as rédeas enquanto dançavam. Esses homens enfurecedores e enlouquecedores! Não iriam se safar dessa.

— Não preciso de um homem para cuidar de mim, Lorde Ryley.

Você pode seguir para outro lugar e aproveitar o baile.

— Ah, você está com raiva. Deixe-me assegurá-la, Srta. Perry, que é justamente por você ser a anfitriã de um baile de máscaras que seus amigos decidiram que precisa de uma escolta. De qualquer forma, não tenho para onde ir. Não há ninguém presente que chame minha atenção. Eu preferia estar de volta ao meu clube do que me arrastar pelo salão aqui, esteja certa. Mas quando amigos pedem ajuda, você se voluntaria e ajuda como pode.

O alvoroço da sociedade, que acontecia todos os anos quando a temporada começava, era um turbilhão social que alguns consideravam impossível de engolir. Até Willow sentiu o mesmo

uma ou duas vezes ao acompanhar a tia na cidade. Os astutos, piedosos, e alguns desdenhosos, olhares que os pares de sua tia lançavam estavam gravados para sempre em sua mente.

Mesmo assim, organizar bailes e festas, estar presente na alta sociedade, era necessário se ela quisesse se casar e encontrar o amor verdadeiro como as amigas. Certo, ela pode estar mais suscetível a libertinos que tentariam arruiná-la, mas era muito improvável que ocorresse. Não em eventos como este.

Ela olhou para Sua Senhoria, observou-o enquanto ele bebia seu vinho. O sangue espanhol prevalecia em suas características, e os dedos dela coçaram para correr por seus grossos e escuros cabelos. Cachos que estavam desgrenhados como se ele tivesse acabado de rolar para fora da cama. Os cílios eram opacos como uma noite sem lua, mas foram os lábios dele que chamaram a atenção dela. Eram cheios e pareciam tão macios quanto os dela.

Ela o estudou por um momento, imaginando como ele ficaria se sorrisse, e não apenas por educação, mas por felicidade, por encontrar algo engraçado que o divertisse. Ele sorriria se estivesse em seu clube? Se ela fosse visitar o estabelecimento, ela poderia ver por si. Se descobrisse que ele era tão complicado lá como era aqui, pelo menos conheceria a verdade dele.

— Só porque as pessoas usam máscaras não significa que corro algum perigo. Não estou ao lado do Canalha Espanhol? Alguns diriam que meus amigos me colocaram sob a tutela do próprio lobo por estar aos seus cuidados.

Ele tossiu, olhando para ela com severidade.

— Tem medo de que eu vá puxá-la por uma porta qualquer, Srta.

Perry, e tirar sua virgindade? Você é virgem, não é? — ele tomou um gole do vinho, exalava indiferença. — Jamais deflorei uma mulher, mas faria uma exceção com a senhorita. Você é adorável.

— ele disse, levantando o queixo dela com o dedo e olhando-a por mais tempo do que o apropriado.

Willow arfou e puxou o rosto para longe do toque dele. O

canalha! Ele havia mesmo acabado de dizer aquilo?

— Obrigada, mas creio que declinarei a oferta. Vou me casar com um cavalheiro por amor. Um casamento semelhante ao que

minhas amigas encontraram. Não será uma união baseada na luxúria.

Uma emoção que ela sentia a penetrar como se fossem adagas a cada instante que permanecia ao lado de Lorde Ryley. Ele era muito magnético. Sem palavras ou toque, ele poderia atrair uma mulher para o lado dele, enquanto se mantinha distante e intocável.

— O amor é muito bom para alguns, mas não adequado para todos, creio eu.

Ele olhou para os amigos que estavam terminando a valsa.

— Sei o que está fazendo, meu senhor, e não vai funcionar. Não comigo.

— Sério? — ele disse, sorrindo e dando a ela uma pequena amostra de seu encanto oculto. — O que eu estou fazendo?

— Tentando me escandalizar, mas embora eu possa ficar chocada com as palavras que usa, não passei a vida toda protegida.

Fui para uma escola no exterior e tenho amigas que pensam de forma independente e têm muitas opiniões. Conversamos sobre tudo, até acerca de homens como você, sem exceção.

Depois de conhecer Lorde Ryley, ela queria saber ainda mais, mesmo que apenas para livrar-se do interesse por ele. Ele decerto era diferente de outros cavalheiros que ela conhecia.

— Dê-me tempo. — disse ele, lançando um olhar que fez os dedos dos pés dela quererem se enrolar em suas sapatilhas de seda.

Ela não o deixou dar a última palavra.

— Você terá a temporada. — ela debochou dele, avistando Evie e deixando-o onde estava. A pele de seu pescoço se arrepiou, e ela sorriu, sabendo que ele a observava enquanto se afastava.

ABE BEBEU o resto do vinho enquanto observava a Srta. Willow Perry se afastar. Seu doce e inebriante aroma de jasmim provocava seus sentidos, e ele queria correr atrás daquelas saias e continuar a conversa animada, se não um tanto quanto inadequada, que estavam tendo.

Com certeza, ela era diferente, talvez até inocente ante o que ele planejava para ela. Ainda assim, se ela era tudo o que restava da

família da viscondessa Vance, então a Srta. Willow Perry sofreria as consequências do comportamento atroz da tia para com sua mãe.

Ele iria arruiná-la, ele estava decidido. Em termos financeiros, devido à fortuna recém-herdada. E, talvez, arruinasse a reputação dela também. Seduzi-la a pensar que ele estaria em seu futuro e, em seguida, arrancar tal perspectiva como a segurança dele foi arrancada quando menino.

Nenhum cavalheiro iria querê-la se soubesse que ela fora deflorada. Depois que ele a fodesse de todas as maneiras, ela nunca procuraria por mais ninguém, e os cavalheiros da alta sociedade também não a olhariam. Seria um ato de vingança delicioso, já que a tia da srta. Perry espalhou os boatos acerca de sua mãe, com respeito à uma moral frouxa com os cavalheiros da sociedade. Todas as mentiras pelas quais ele esperou anos para obter vingança.

Ele observou a Srta. Perry mover-se para a área de dança no salão com um cavalheiro mascarado. Os olhos dele se estreitaram no homem, tentando descobrir quem era.

Sem pensar, seu olhar percorreu o vestido de seda preta e vermelha da Srta. Perry. Ela estava vestida como Boudica, e ele conseguia visualizar que carne deliciosa havia sob o vestido. Para uma mulher de sangue comum, ela era um belo espécime de beleza feminina. Os cachos dourados, penteados no alto da cabeça, destacavam os grandes olhos azuis, os lábios carnudos e rosados.

Abe gemeu por dentro, perguntando-se se os mamilos seriam da mesma tonalidade clara.

— Você contou a ela, não foi? — Whitstone disse, parando ao lado dele, olhando para a Srta. Perry.

— Você sabia que eu o faria e, como esperado, ela não está nada impressionada com você ou Duncannon. Eu esperaria um ataque de sua língua viperina em algum momento. Ela, com certeza, é muito teimosa. — Abe observou enquanto o parceiro de dança da senhorita Perry a puxava para perto durante um giro durante a valsa.

Ele trincou a mandíbula, lembrando-se de que deveria ficar de olho nela, nada mais. Ele decerto não queria que circulassem rumores pela cidade de que o Marquês Ryley estava mostrando um

interesse marcante por uma mulher a quem ele tinha toda a intenção de arruinar. Ele sentiu o sangue acelerar nas veias ante a ideia de ver a única parente viva da viscondessa Vance cair sob um golpe dele. Uma mulher a quem ele obteve acesso por meio de amigos em comum. Ele sorriu, tomando um gole da bebida.

— O que você está planejando? Parece que traçou um esquema. — Whitstone parou diante dele, interrompendo a visão da Srta. Perry. — Você não deve se divertir com Willow, a menos que pretenda se casar com ela. Não me traia desse modo, Ryley.

Ele ergueu a sobrancelha ante a coragem de Whitstone.

— Somos amigos, e sempre estarei com você, mas não me diga o que fazer. Em relação à nada.

Whitstone não se moveu, apenas olhou para Abe. Abe o encarou de volta, sem ceder um centímetro. Ele não gostava de valentões e, embora Whitstone fosse seu amigo, mesmo neste caso, ele não toleraria que mandassem nele. Sua mãe foi intimidada, praticamente forçada a fugir para a Espanha. Ele nunca toleraria o mesmo tratamento ou influência em sua vida.

— Ela é uma mulher doce, uma das melhores amigas de Ava.

Não brinque.

— Não tenho intenção de brincar. — disse ele, mentindo apenas parcialmente para o amigo.

Embora ele não fosse brincar com o corpo dela, ao menos não agora, ele brincaria com a segurança dela. Havia perdido a mãe e a segurança que a presença dela representava em tenra idade. Era justo que a sobrinha da viscondessa Vance sofresse o mesmo destino.

— Obrigado. — disse Whitstone, batendo nas costas dele e guiando-o em direção a Duncannon. — Agora, venha comigo.

Duncannon e eu estamos pensando em investir em açúcar e gostaríamos de sua opinião.

— Claro. — Abe deixou que o duque o guiasse até Duncannon.

Ele observou a Senhorita Perry, aqui e ali, enquanto o parceiro de dança dela a escoltava de volta para onde a Duquesa Whitstone e a Condessa Duncannon estavam. Ela sorriu e fez uma reverência elegante para o cavalheiro, agradecendo.

Os olhos dela encontraram os dele sobre os ombros do cavalheiro. O estômago dele se apertou como se ele tivesse levado um soco físico, e ele respirou fundo para se acalmar. O que diabos havia de errado com ele? Deveria ser a pouca quantidade de vinho.

A maneira como a senhorita Perry olhou para ele dizia que seria um alvo fácil. Ela poderia estar chateada esta noite por ter sido enganada pelos amigos, mas com algumas palavras doces e comportamento cavalheiresco, ele ganharia a confiança dela. E

então, e só então, ele se vingaria. Ele deve ter sorrido um pouco já que um tom rosado claro se espalhou pelas bochechas dela antes que desviasse o olhar, interrompendo o momento.

Abe concordou com a cabeça para algo que o duque disse, tentando avaliar o que os amigos estavam discutindo. A temporada havia acabado de começar e, talvez neste ano, para ganhar tudo o que ele queria, precisaria participar um pouco mais do que o normal.

Não seria a decisão mais inconveniente a ter de acatar. Não quando, por fim, ele conseguiria o que sempre quis.

Vingança.

C A P Í T U L O 4

W ILLOW SE SENTOU diante de Ava e Hallie na sala privada da duquesa em sua casa em Londres e lutou para manter-se calma.

— Vocês colocaram os maridos de vocês e um amigo deles me protegendo a noite inteira durante o baile de máscaras. O que pretendiam ao fazer uma coisa dessas?

Ava colocou as mãos no colo, o rosto pálido.

Ela deveria ter vergonha. Willow jamais pensaria em fazer uma coisa dessas com qualquer uma delas.

— Sinto muito, Willow. Estávamos pensando apenas no que era melhor para você.

— Mesmo? — Willow disse, erguendo uma sobrancelha. —

Quando veio para Londres, antes de se casar com o duque... Eu a seguia até em casa quando deixou um certo baile, só para descobrir depois que você se encontrou com o duque na sala de minha tia?

Eu nunca a critiquei por suas ações naquela noite, não é?

Ante o silêncio da amiga, Willow se virou para Hallie.

— Nem me impus sobre você, todos os dias, enquanto escavava o sítio em Somerset, para garantir que estivesse sempre bem acompanhada. O que, caso se lembra, eu deveria ter feito, já que você manteve relações íntimas com o visconde em uma tenda.

Hallie riu e bateu com a mão no rosto.

Willow olhou para as amigas.

Elas eram impossíveis!

— Daqui para frente, creio que podemos dizer com segurança que irão parar de me tratar como se eu fosse uma criança. Temos quase a mesma idade. Tenho uma dama de companhia e duas acompanhantes. Diga a seus maridos, queridos como são, que precisam se afastar e me deixar para desfrutar da pouca liberdade que tenho antes de me casar.

— Você está noiva? — Ava perguntou, ajeitando-se em sua cadeira.

— De quem? — Hallie deixou escapar um segundo depois.

Willow se recostou na cadeira, tomando seu chá doce.

— Ó, eu não estou comprometida ainda, mas tenho certeza de que isso vai acontecer nesta temporada. Sei que não posso viver como agora para sempre. A sociedade acabaria me evitando por tamanha insolência, e desejo uma família, portanto a perspectiva é agradável. Mas para encontrar um homem que faça meu coração bater mais rápido e minha pele arrepiar, devo ficar sozinha para ter a oportunidade de falar com ele.

A imagem de Lorde Ryley atravessou sua mente. Ele fez o coração dela bater tão forte no peito que ela pensou que ele conseguiria ouvir, e quanto a seus sentidos, cada vez que ele a tocava, era como se um milhão de pequenos alfinetes espetassem a carne dela, fazendo os finos pelos se arrepiarem. Não que ela o considerasse um possível marido.

Ele era rude, abrupto, autoritário e havia algo nele que era cru, desleixado. Semelhante a um animal. Um lobo, talvez. Imprevisível, e nunca se sabia se iria morder ou lamber você. Calor subiu por seu pescoço com a ideia de Lorde Ryley lambê-la.

Ó, santo Deus, precisava parar de pensar nele.

— E Lorde Ryley, Willow? — Evie perguntou. — Gostaria que Ava e Hallie pedissem que ele parasse de acompanhá-la?

— Gostaria, sim. Deixo isso nas mãos de vocês, belas damas. E

agora há outra coisa que desejo perguntar a todas

— O que é? — Molly se sentou no sofá entre Ava e Hallie, as bochechas rosadas de ficar em pé na frente da janela nos últimos minutos.

Londres estava quente hoje, e Willow planejava dar um passeio no Hyde Park esta tarde. Não que fosse a hora social, mas ela não se importava. Ela apenas queria ter a Rotten Row só para ela.

Willow chamou a atenção de todas, precisando se certificar de que todas estavam ouvindo.

— Eu quero fazer algo um pouco escandaloso, e quero que vocês façam comigo.

Hallie riu, sentando-se mais para frente.

— Diga-nos o que você quer.

Evie assentiu com vigor.

— Sabem tão bem como qualquer pessoa que levei uma vida mundana sob os cuidados de minha tia. E, embora eu seja sempre grata por tudo o que ela fez por mim e por me deixar sua propriedade, eu quero viver. Quero entrar escondida em bailes para os quais não fomos convidadas. Quero passar uma noite em Covent Garden e, por último, quero visitar Hell's Gate. Por que apenas homens podem desfrutar de tais lugares?

— Creio que esteja enganada se pensa que apenas os homens visitam Hell's Gate. — Ava a interrompeu.

Molly se engasgou.

— Está dizendo que há mulheres da demimonde que frequentam o estabelecimento?

Ava riu.

— E mais.

— O duque já foi lá? — Willow perguntou, sem saber o que ela pensava dos maridos das amigas passando noites em um lugar tão obsceno e dissoluto.

Não que tal fato a deixasse menos curiosa acerca do que acontecia dentro daquelas paredes, mas não era ela a mulher casada aqui. Contudo, uma vozinha a lembrou de que ela era mulher.

— Ele não vai lá desde que nos casamos, mas acredito que costumava visitar com frequência. Whitstone, por muitas vezes, era o assunto mais falado em Londres, caso não se lembre.

Willow lembrava-se bem de ter passado algumas temporadas em Londres com o duque antes de que ele reconquistasse o amor de sua amiga.

— Quero ir lá, usaremos máscaras ou nos vestiremos como homens, mas acredito que seria divertido.

Hallie lançou um sorriso consolador.

— Embora eu fosse adorar ver o interior de Hell's Gate, é melhor não ser pega lá. Mas irei acompanhá-la a festas e bailes para que não fomos convidadas, e em Covent Garden. Não vejo mal nisso.

— Eu concordo com Hallie. — disse Ava.

Willow olhou para Evie e Molly, ambas com os olhos arregalados e caladas.

— Bem, vocês duas topam ou não?

— Eu topo. — disse Evie, sorrindo. — Com certeza.

— Creio que prefiro ficar em casa e ler um livro, caso não se importe. — declarou Molly.

Embora Willow esperasse que todas fossem com ela, ela podia entender as escolhas.

— Muito bem, cada uma faz sua própria escolha. — ela se virou para Evie. — Parece que seremos apenas nós duas.

Evie se levantou, quicando um pouco no lugar.

— Será muito divertido. Mal posso esperar para ver o que os homens que conhecemos fazem enquanto estão em Londres.

— Eu diria que muita coisa. — Ava interrompeu. — Deve se garantir que, não importa o que vista, não será possível ser identificada. Talvez um cavalheiro com a amante seja menos óbvio, um disfarce desse tipo.

— Decerto funcionaria. — Hallie pegou o bule, servindo-se de outra xícara. — Tenho certeza de que a viscondessa Vance tem algumas perucas velhas que você dar um corte masculino.

— Você é mais alta do que eu, Willow. Talvez seja melhor que se vista de homem. — disse Evie com um movimento de cabeça decidido.

Tudo verdade, mas a ideia de estar vestida com calças, de estar tão exposta, a fez questionar a escolha. Ela conseguiria fazer isso?

— Calças são libertadoras, Willow. Você vai gostar de usá-las. —

Hallie tomou um gole de chá, sorrindo.

Alegria tamborilou nas veias dela ante a ideia de ser tão escandalosa e misteriosa. Ela nunca saiu do molde de normas que a tia a envolveu. E tudo poderia mudar agora. Contanto que não fosse pega e se comportasse, a noite que passasse no Hell's Gate terminaria muito bem. Vestida de homem, ninguém a reconheceria, e Evie com uma máscara seria ainda menos reconhecível. A amiga definhava no interior, então a alta sociedade mal sabia quem era.

Era um plano perfeito.

— Quando devemos pôr o plano em prática? — Evie perguntou, os olhos brilhando de expectativa.

— Amanhã? Acho que minha criada estará pronta. — Willow riu e pegou a xícara de chá, tomou um gole, registrando tudo o que precisava preparar antes de sua noite em Londres. Um lado de

Londres que elas nunca haviam visto antes, e que nunca mais voltariam a ver. Uma noite seria o suficiente, ficaria satisfeita.

— Parece perfeito. — disse Evie.

— Parece absurdo. — retrucou Molly, balançando a cabeça.

Willow sorriu para Evie.

— Está pronto para se passar por minha amante, Evie querida?

— Ó, sim. Claro que estou.

NA NOITE SEGUINTE, Willow se sentou no coche de aluguel que haviam contratado para a noite, ajustou a gravata e verificou mais uma vez se os botões das calças estavam mesmo fechados.

— Você está tão bonito. — disse Evie. — Um amante perfeito para mim.

Willow observou o vestido de seda vermelho da amiga; um corpete tão baixo que os seios dela ameaçavam pular do vestido. O

pequeno chapéu preto e a rede presa à frente disfarçavam o rosto dela o suficiente para que ninguém pudesse reconhecê-la. A peruca loira também ajudou, cobrindo os cabelos escuros.

Quanto a Willow, os cabelos estavam trançado sob a peruca masculina. A criada havia conseguido fazê-la com uma das perucas velhas da tia. Com um pouco de maquiagem, tentaram fazer com que a pele ao redor do queixo representasse uma sombra, como se ela estivesse com a barba por fazer. Os seios estavam presos por uma faixa de linho. Talvez fosse o item mais incômodo no disfarce.

Seus seios não eram pequenos, e estarem tão apertados não era natural.

— Nós vamos apostar? Trouxe um pouco de dinheiro trocado para esse caso.

— Creio que devemos, se não quisermos chamar atenção. Sinta-se à vontade para agarrar em mim durante quaisquer jogos que participemos. Devemos representar nossos papéis.

Evie suspirou.

— Sempre quis atuar. Claro, não é aberto para mulheres como nós, mas, mesmo assim, eu amo o palco. Devíamos passar uma noite no teatro. Sei que não é um passatempo escandaloso, mas não vamos tanto.

— Nós iremos, eu prometo. Talvez no final desta semana?

Willow ofereceu, querendo dar às amigas qualquer coisa que pedissem, ainda mais depois que Evie foi tão gentil em vir com ela esta noite, ao colocar sua reputação em risco. A carruagem parou, e a porta se abriu.

Um homem de calças pretas e um casaco superfino esticou a mão para dentro, para ajudá-las. Evie pegou a mão do homem, e Willow se lembrou de que ele não a havia desprezado ao deixá-la sair sozinha. Vestida de homem, não era esperado que o criado a ajudasse a descer. Ela pegou o braço de Evie, deslizando-o ao redor dela, e partiu em direção às portas do clube de Lorde Ryley.

O som abafado de música soou de detrás da porta de madeira, e outro funcionário a abriu, curvando-se quando elas passaram.

Willow engoliu um suspiro ao ver o clube. Havia sido montado no que parecia ser um antigo e gelado armazém industrial. Ainda assim, os lustres, os metros de cortinas de seda coloridas que pendiam do teto do outro lado da sala, dando recantos secretos para aqueles que queriam privacidade pudessem escapar, tornavam o ambiente decadente e perverso.

Uma névoa de fumaça cinza flutuava perto do telhado, o timbre profundo da conversa dos homens, e o som tilintante das risadas das mulheres alcançou os ouvidos de Willow. Ela deu um passo à frente, dando um tapinha reconfortante na mão de Evie quando a amiga ficou rígida ao seu lado.

— Homens estão olhando para mim.

Willow estreitou os olhos, observando os homens boquiabertos para a amiga. Muitos homens estavam salivando ao ver Evie. Um arrepio de inquietação percorreu sua espinha, pensando que talvez fosse uma má ideia.

— Não mostre nenhuma reação a eles. Levante o queixo e não os encare. Logo perceberão que não está interessada.

Willow viu uma escada que levava a um segundo nível.

Olhando para cima, ela avistou uma fileira de portas. Quartos onde talvez os casais pudessem ser íntimos, conhecer-se a fundo.

Elas entraram mais no cômodo, e Willow viu uma mesa de Vinte e Um livre. Ela se sentou, tirando algumas notas do bolso e pediu ao crupiê para começar. Outros se juntaram ao jogo, e por duas vezes

ela ganhou uma rodada contra o crupiê antes de perder tudo o que havia acumulado ao somar mais de vinte e um.

Evie se inclinou por cima do ombro dela.

— Lorde Ryley está nos observando.

Willow forçou-se a ficar calma, o estômago revirava como se ela estivesse em um cavalo em fuga. Olhou para cima e travou os olhos com o único homem que a irritava até o âmago. Ele a observava, e um músculo da mandíbula flexionado enquanto os olhos dele não se moviam.

Ela colocou outra aposta na mesa, ignorando o fato de que sua pele queimava ante o escrutínio dele.

— Não olhe para ele, ou ele vai pensar que temos algo a esconder.

Pela visão periférica, ela percebeu que entrou ainda mais no salão, deu outra olhada e não conseguiu mais vê-lo. Willow suspirou de alívio, pensando que ele a havia reconhecido.

— Senhor, não acredito que fomos apresentados. — a voz profunda e grave soou atrás dela, e Evie se engasgou, ficando de pé. — Ó, olá, meu senhor. Está muito bonito esta noite, devo dizer.

Willow olhou para Evie enquanto a voz dela assumia o tom familiar de uma prostituta de East London. Ela reprimiu o medo e lembrou-se de baixar o tom.

— Não, não nos conhecemos. — ela voltou para o jogo, gesticulando para o crupiê começar outra rodada, e ignorou Lorde Ryley.

A mente dela se acelerava para inventar um nome, mas nada.

Nada surgia em sua cabeça. Para o inferno com tudo. O silêncio se seguiu, antes que a forma alta e musculosa dele se acomodasse na cadeira ao lado dela. Ele colocou dinheiro na mesa.

— Você é novo na cidade. Seu nome é?

Ele franziu a testa, esperando uma resposta, e ela engoliu em seco.

Por que ela não pensou em um maldito sobrenome?

— Frank Marsh ao seu serviço, meu senhor. Apenas de visita na cidade, quis curtir uma noite fora com minha garota.

Evie deu uma risadinha ao lado dela, mas Willow podia sentir a inspeção de Lorde Ryley como uma carícia, deslizando sobre a pele

dela e deixando-a sem fôlego conforme avançava.

Lorde Ryley assentiu, um olhar contemplativo no rosto, antes de se inclinar para perto, e prendendo o olhar dela.

— Você vai terminar este jogo, Srta. Perry, e então irá ao meu escritório. É a última porta à sua esquerda ao chegar ao segundo andar. Sua puta. — disse ele, olhando para Evie. — Pode esperar com a minha. — ele gesticulou em direção a uma mulher que estava na lateral do salão.

O vestido preto transparente dela mostrava todas as suas características para qualquer um que olhasse. Calor floresceu nas bochechas de Willow, e ela lutou para não ofegar.

— Evie estará segura com Lottie até que terminemos nossa pequena conversa.

Ele empurrou a cadeira para trás, deixando-a boquiaberta e encarando as costas dele. O olhar dela deslizou por toda a coluna até parar nas calças. Um bumbum perfeito para ser cobiçado o quanto quisesse.

— Ele vai nos matar. — guinchou Evie, ofegando quando Lottie se aproximou delas, sorrindo para Evie.

Willow ficou surpresa com a beleza da mulher, e uma pontada de ciúme passou por ela por esta mulher compartilhar a cama de Lorde Ryley. Por conhecê-lo de forma íntima. Por ter os lábios deliciosos e pecaminosos dele nos dela.

— Por aqui, por favor. Temos um quarto reservado que você pode usar, senhorita.

Willow empurrou a cadeira para trás e esperou, para garantir que Evie estivesse segura com Lottie, antes de se virar e caminhar na direção em que Lorde Ryley havia ido. O antro de jogatina estava cheio agora. As pessoas se acotovelavam enquanto ela caminhava em direção à escada, as mulheres gemiam e riam enquanto os homens faziam uso do que elas ofereciam.

Willow manteve os olhos à frente, o rosto era uma máscara de indiferença. A ideia de que ela parecia feminina e que, apenas por esse motivo, Lorde Ryley a reconhecera não saía de sua cabeça.

Todos que lançaram olhares a ela e Evie as reconheceram?

Sua Senhoria decerto o fez.

Ela pisou no último degrau da escada, e fez uma pausa. O que Sua Senhoria queria dizer a ela? Ele iria repreendê-la, gritar e berrar? Ela não toleraria tal tratamento se ele o fizesse. Este clube permitia mulheres, e ela estava disfarçada, mesmo que não fosse o melhor disfarce a ser usado na face da Terra. Mesmo assim, ele poderia dar um sermão nelas.

Willow olhou em volta, dividida entre a ideia de correr como se o próprio diabo estivesse atrás dela, ou confrontá-lo. Nenhum dos dois era um pensamento acolhedor.

ABE CAMINHAVA de um lado para o outro em seu escritório, parando de vez em quando para respirar fundo. Que a maldita Srta.

Willow Perry fosse ao inferno. Ele não havia pensado em revê-la desde que fez o papel de babá no baile de máscaras da outra noite.

Havia tomado a decisão consciente de não comparecer a mais eventos com a presença garantida da Srta. Perry. Ele poderia arruinar as finanças dela sem precisar vê-la. Seria fácil colocar alguém infiltrado em qualquer que fosse o escritório que cuidava do dinheiro dela, e aplicá-lo em investimentos de alto risco que nunca teriam a esperança de obter lucro.

Ele havia pedido à seu administrador para fazer exatamente isso ontem, então vê-la hoje, os olhos brilhantes e deliciosa vestida com calças ainda por cima, não era o que ele queria ver. Covarde, talvez fosse, mas derrubar uma mulher era mais fácil quando não se precisava olhar nos olhos dela.

Ele checou o relógio de bolso.

Ela demorou mais de cinco minutos. Onde estava? Ele escancarou a porta do escritório, saiu para o corredor da sacada e observou a Srta. Perry e a amiga correrem em direção à porta. Por um momento, ele se permitiu observar o balanço perfeito de sua bunda enquanto ela corria para fora do clube. A ideia de não ter uma audiência privada com ela o irritou, e ele se apoiou no corrimão, pensando em ir atrás dela ou persegui-la no próximo evento social que ela compareceria. Ela precisava saber que para vir aqui, arriscou a reputação. Depois que ele terminasse com ela,

haveria pouco para fazê-la ser de interesse de qualquer cavalheiro em busca de uma esposa.

Ela deveria ter mais cuidado com o comportamento.

Seu funcionário e guarda abriu a porta para os convidados que se despediam e, no último minuto, a Srta. Perry se virou e olhou bem nos olhos dele. Sentiu-se contrair com o olhar desafiador e arrogante dela, mas sorriu. Derrubar a senhorita Willow Perry seria uma vitória que valeria a pena saborear. Que pena que ele não poderia saborear a vitória entre as pernas dela.

C A P Í T U L O 5

A NOITE FORA delas foi um desastre. Willow olhou para seu reflexo diante do espelho da penteadeira, os olhos arregalados e brilhantes, a peruca masculina um pouco torta, mechas de longos cachos loiros escorregando pela testa. As bochechas estavam rosadas como o vestido de Evie, e ela não poderia parecer mais feminina se tentasse. Ela se encolheu. Não era surpresa que Lorde Ryley a reconheceu. Estudando sua imagem agora, ela se perguntou como se prestou a tal farsa, uma ideia absurda.

O que a levava a pergunta, quem mais a viu e sabia quem ela era? Alguns a chamariam de tola por participar de tal empreendimento, e estariam certos.

Willow tirou a peruca da cabeça, passando os dedos pelo couro cabeludo antes de começar a desfazer as tranças. A sensação de estar livre das amarras da peruca foi deliciosa, e ela suspirou enquanto massageava o cabelo para soltá-lo. Ela se despiu depressa, colocou uma camisola de seda, uma de suas indulgências desde o falecimento da tia, antes de subir na cama.

Willow olhou para o teto escuro, o crepitar do fogo era o único som no quarto. Seu corpo estava tenso e inquieto, e ela rolou para o lado, tentando encontrar uma posição confortável. A imagem de Lorde Ryley olhando para ela com os olhos escuros e nublados, e que seguiam cada movimento dela, não a deixava. Pior era o fato de que em algum lugar bem no fundo, ela gostava que ele a observasse.

No baile de máscaras, as palavras dele, de que estava presente para mantê-la a salvo de perigos, a fizeram arrepiar-se de desejo até o âmago. Ele era um homem bonito, poderoso e bem relacionado, e tão pecador quanto o próprio diabo. Ele com certeza se parecia com o Lorde das Trevas quando se inclinou no parapeito do segundo andar do clube enquanto ela fugia, e os lábios dele se torceram em um sorriso divertido.

Willow suspirou, rolando de costas, batendo na cama ao seu lado. Se ao menos ela tivesse um marido, não estaria tão aficionada por um homem que ela se prometeu rejeitar como um provável candidato a marido. Havia poucas dúvidas de que ele se considerava melhor do que os outros a quem considerava inadequados como amigos. O fato de ele acreditar que as mulheres deviam ser protegidas, envoltas em algodão, não era uma característica agradável para um homem. Em todo caso, não para uma mulher como Willow. Ela gostava da independência, e há muito aprendeu a cuidar de si. Perder os pais ainda jovem fora uma garantia que assim fosse, além do fato de ter sido enviada para uma escola na França.

Mesmo assim, a ideia de Lorde Ryley rastejando sobre a cama para deitar em cima dela, concedendo beijo após beijo delicioso em sua pele exposta, fez uma espiral de necessidade descer ao seu núcleo. Ele era um homem alto, ombros largos e coxas musculosas.

Sem dúvida, seus muitos anos como proprietário de um clube obsceno como aquele garantiram que ele fosse atlético e em forma.

A altura dele, em tese, era adequada para ela, que era uma garota alta. Que pena que ele estava determinado a permanecer escandaloso e nada mais.

Willow deslizou a mão acima do estômago, fechando os olhos enquanto seus dedos atravessavam os cachos no ápice de suas coxas. Ela esfregou os dedos contra a pele, depois de ler que, para uma mulher encontrar prazer, é aqui que devem se tocar.

Como sempre, ela achou a carícia inútil. Fazia alusão a algo mais, a fazia sentir-se formigada e relaxada, mas nunca nenhuma explosão, ou entorpecimento acontecia como ela ouvira mulheres sussurrando durante suas muitas temporadas.

Esta noite não foi diferente. Willow mordeu o lábio, pensando nas grandes mãos de Lorde Ryley, imaginando-as sobre seus seios, apertando seus mamilos. Ela revirou os mamilos entre os polegares e indicadores, e ofegou quando a ação disparou uma onda de prazer em seu núcleo. Seu interesse despertou. Agora, isso era diferente. Ela nunca havia reagido ao próprio toque dessa forma antes. Pensar em Lorde Ryley tocando-a, provocando e beijando-a

fez seu corpo zumbir de necessidade. E ainda, depois de um tempo, nada aconteceu que fosse tão emocionante assim.

O que estava fazendo de errado?

Willow gemeu, rolando mais uma vez, puxando os cobertores até debaixo do pescoço. Não adiantava nada. Ela teria que esperar até ter um marido para descobrir o que era tudo aquilo. Lorde Ryley passou por sua cabeça, e ela apertou as pernas, se perguntando como seria uma noite com ele. Uma noite em seus braços para que ele pudesse mostrar a ela tudo o que poderia haver entre marido e mulher.

— Seria delicioso. — disse para si, sabendo que nunca havia dito uma declaração mais precisa. O Canalha Espanhol seria tão perverso na cama quanto em pessoa. Não restava muitas dúvidas.

DOIS DIAS DEPOIS, após uma convocação da Duquesa de Whitstone, Willow estava sentada em uma carruagem pomposa, com a bagagem empilhada em cima do veículo, indo para o interior.

Evie e Molly se sentavam em frente a ela, e conversavam acerca da pequena estada em Hampton.

— Ava parecia muito animada com a nova propriedade. Sabe algo dela? — Evie perguntou, olhando pela janela e observando as ruas de Londres que passavam.

— Só que o duque comprou para ela, para que pudessem estar mais perto de Londres sem deixar de treinar cavalos durante a temporada. Sabe o quanto Ava ama seus cavalos.

— Então, é uma festa campestre? Ou é apenas uma pequena reunião entre amigos? — Molly perguntou.

— Acredito que o duque receberá alguns convidados, mas até onde sei, somos apenas nós que Ava convidou, e Hallie, é claro.

Willow olhou para as mãos cruzadas no colo, recusando-se a ceder à esperança de que um amigo em particular do duque estivesse presente. Uma ideia boba. O homem estava ocupado, com seu clube infame, e sem dúvida numerosas amantes para manter satisfeitas, então ela duvidava que Lorde Ryley fosse comparecer.

Ainda assim, as noites dela continuavam a trazer imagens dele, de seu olhar sombrio e nublado deslizando sobre ela, mergulhando em seus lábios sempre que ele falava. Ele fantasiava beijá-la como ela fazia com ele? Willow mordeu o lábio, sabendo que havia pensado em pouco mais a não ser como seria estar em seus braços. Um amante experiente que sabia tocar uma mulher tão bem quanto qualquer músico tocava seu instrumento de escolha.

Em menos de duas horas, eles estavam parando diante da

“cabana”, como Ava havia descrito sua nova casa. Willow saiu da carruagem e desamarrou o chapéu enquanto observava a magnífica propriedade.

A porta da frente se abriu, e Ava saiu, acenando.

— Vocês chegaram. Estou tão feliz por terem vindo. — a amiga as cumprimentou, e abraçou uma a uma antes de conduzi-las para dentro de casa. — Entrem. Estamos prestes a almoçar.

Willow não conseguia acreditar no tamanho da casa. Era tão grande quanto a propriedade principal da duquesa em Berkshire.

— Ava, isso não é uma cabana.

Elas entraram no saguão, uma grande escadaria de mármore conduzia ao andar de cima. Dois lacaios vieram pegar os chapéus e luvas das recém-chegadas e, Willow os entregou, incapaz de interromper a inspeção da casa.

— É linda, não é? Meu querido marido me mima.

— O que o seu querido marido faz? — o duque perguntou, indo parar ao lado de Ava com um braço em torno da cintura da esposa.

Evie riu da demonstração pública de afeto do duque e da duquesa. Willow sorriu ante o amor genuíno que irradiava deles.

— Só o que se espera dele, meu querido. — Ava disse, com um brilho provocante nos olhos.

O som de passos atrás do duque chamou a atenção de Willow, e ela olhou por cima do ombro. O coração dela saltou na garganta ao ver quem caminhava de forma tão casual até o grupo. Lorde Ryley observou cada um deles antes de seu olhar perverso pousar nela e não sair dali.

Ele se curvou, todo educado e polido.

Willow se lembrou de fazer uma reverência.

— Senhoritas, é ótimo revê-las. — disse Lorde Ryley, sem tirar os olhos de Willow.

Ela ergueu o queixo.

Ele não iria intimidá-la, nem permitiria que a castigasse por ter sido pega em seu clube. Não era um local privado. Ela poderia comparecer se quisesse. Além do que. ninguém além de Sua Senhoria sabia que ela havia visitado o antro de jogatina, então que importância havia nisso?

Willow ouviu Molly e Evie murmurar uma resposta, mas ela não o fez. Em vez disso, ela se voltou para o duque e a duquesa.

— Depois do almoço, vai nos levar para um tour pela casa e pelos jardins? Soube que já trouxe cavalos para cá.

— Trouxemos. — disse Ava, a animação por ter alguns de seus filhos peludos tão próximos evidente. — Quer cavalgar esta tarde?

— Eu adoraria. — Willow disse sem pensar.

Ela adorava cavalgar e, embora não fosse tão boa amazona quanto Ava, era a única outra pessoa em seu grupo de amigas que conseguia acompanhar a duquesa. Como Hallie e o visconde Duncannon estavam à espera de um bebê, ela não iria se juntar às duas, e Evie e Molly raramente cavalgavam.

— Venham. — disse o duque, virando-se para um cômodo ao lado do saguão. — Estávamos prestes a almoçar e gostaríamos que você se juntasse a nós, a menos que prefira se refrescar primeiro.

— Um almoço será bem-vindo. — Willow respondeu, olhando para Evie e Molly em busca de aprovação.

As duas assentiram e todos foram em direção à sala de jantar.

Lorde Ryley ficou para trás, permitiu que o duque e a duquesa passassem, junto com as amigas dela, mas deu um passo na frente de Willow quando ela fez menção de segui-los.

— Olá, Srta. Perry. Ou devo perguntar que nome específico você usará esta semana enquanto estiver aqui em Hampton?

— Willow servirá bem ao propósito, meu senhor. — ela passou por ele, e ele deu um passo ao lado dela.

— Teve uma noite agradável naquele outro dia?

As pontas das dela orelhas arderam, e ela fingiu ignorância.

— Não sei do que está falando, meu senhor.

A risada profunda e evocativa dele provocou uma reação estranha em seu corpo, calor pulsou em seu núcleo. O homem era um escândalo ambulante e sabia disso.

— Tranquila. Seu segredo está seguro comigo. Fiquei, no entanto, desapontado por você não ter vindo ao meu escritório para discutir o assunto. Para me elucidar.

Ela arfou e ergueu os olhos para fitá-lo.

Ele estava flertando?

Ou ela estava interpretando algo diferente por querer muito que ele flertasse com ela? Por querer que ele a tocasse como o duque tocava Ava. Por tantos anos, ela foi a acompanhante perfeita, nunca saíra da linha ou falou a coisa errada. Era escandaloso da parte dela, mas estava cansada de ser sempre correta. Ela queria viver, explorar, amar, encontrar um marido que a acompanhasse na jornada da vida. Ter filhos e ver o mundo.

— Eu sempre posso voltar para outra visita, meu senhor.

Ela sorriu para ele e os olhos dele se arregalaram. Uma risada escapou dela ante o choque dele, e ela sentiu-se feliz por ter sido capaz de virar o jogo contra ele. Era um tanto quanto improvável que ele tenha sido alvo de um deboche desses, pelo menos por parte de uma mulher com o status dela. Ciprianas arrojadas talvez gostem de provocar, mas mulheres virginais que já foram damas de companhia, não.

Ele estendeu a mão, e a fez parar diante da porta.

Willow observou enquanto os outros se preparavam para se sentar, antes de erguer uma sobrancelha para sua senhoria.

— Algum problema, meu senhor? — ela perguntou, o tom doce e inocente, embora soubesse que sua réplica o confundiu.

— Você nunca mais voltará para Hell's Gate, Srta. Perry. Jamais.

Não é um lugar para uma dama de sua constituição, e não é seguro que vá àquela parte da cidade.

Ela deu um tapinha condescendente no braço dele.

— Ora, ora, meu senhor. Não nos faça entrar em conflito. Não quando eu estava começando a gostar um pouco de você. Afinal, manteve minha presença em seu clube em segredo de seus amigos. Não estrague tudo me dizendo o que posso e o que não fazer.

Um músculo se contraiu na mandíbula dele enquanto o olhar escuro e intenso a analisava. Se ele estivesse tentando assustá-la até a que houvesse submissão, iria falhar. Não havia nada que ela gostasse mais do que um desafio, e embora nunca tivesse enfrentado um homem antes, sempre haveria uma primeira vez.

O olhar dele mergulhou em seus lábios e, sem pensar, ela os umedeceu com a língua. O nariz dele se alargou, a mandíbula cerrou-se, e o fogo cruzou o sangue dela. Ele estava atraído por ela.

Não importa o que ele pudesse dizer em contrário, as reações dele a ela foram reveladoras.

Interessante...

— Devo dizer aos nossos amigos que esteve em Hell's Gate? —

a voz profunda foi um aviso que qualquer mulher sã daria atenção.

Ela não era uma dessas mulheres.

— Uma pergunta melhor seria: você vai contar a eles? Sempre posso neutralizar suas palavras dizendo ao duque e ao visconde que você me convidou para entrar em seu escritório, em vez de me colocar em uma carruagem. As pessoas podem se perguntar por que você fez isso. — ela sorriu, inclinando-se para perto dele. —

Espero que não esteja pensando em brincar comigo, pois nunca daria certo.

Embora, depois das últimas noites, consumidas por imagens dele acima dela, tocando e beijando-a, um flerte pudesse ser preferível.

— Se eu quisesse brincar com você, o que a faz pensar que preciso de um escritório, Srta. Perry?

Ele passou por ela e foi se sentar à mesa da sala de jantar. Ela ficou olhando para ele, o pensamento de tal coisa fazendo sua pele estremecer. Era mesmo possível? Casais se engajavam em tais atos em público, e ela nunca havia notado?

Extraordinário.

Willow se sentou ao lado de Whitstone. Ela colocou o guardanapo de linho no colo e examinou os talheres enquanto tomava nota de quem estava presente. O duque e a duquesa se sentavam nas cabeceiras da mesa, Lorde Ryley, estava bem à frente dela. Ele a analisou enquanto bebia vinho, e ela leu o desafio em suas orbes castanho-escuras, que pareciam quase pretas sob a

luz das velas. O pecado camuflado em forma de um cavalheiro em um casaco superfino.

— Soube que Ava a levará para cavalgar esta tarde. Trouxemos alguns hacks para que todos possam montar, então será seguro.

Ela se virou, sorrindo para o duque que ela amava como a um irmão, se ela tivesse um.

— Obrigada. Ava foi gentil o bastante em me ajudar a comprar um cavalo para mim. Sempre adorei cavalgar, mas como sabe, minha tia não gostava que eu ficasse muito tempo longe dela.

— Eu me lembro.

O primeiro prato, uma sopa, foi servido, e o delicioso aroma de vegetais flutuou e fez seu estômago roncar, lembrando-a de que ela não havia comido esta manhã. Eles comeram em relativo silêncio por um tempo, o pequeno zumbido da conversa ao redor da mesa foi esporádico, o assunto do que os convidados pretendiam fazer na próxima semana nesta reunião íntima.

— É uma ideia maravilhosa ter uma casa tão perto de Londres. E

uma com área de plantio. Eu deveria imaginar que você terá a companhia de Ava com mais frequência agora, Sua Graça.

Ele sorriu para a esposa, e ela sorriu de volta.

Uma pontada de ansiedade percorreu Willow. Ela queria um amor assim. Todo-poderoso e grandioso. Um daqueles amores que pessoas como Lorde Byron escreviam poemas.

Como se atraído, seu olhar deslizou para Lorde Ryley, que estava sentado ao lado de Hallie, a Condessa Duncannon. Ele era, sem dúvida, o tipo de homem à quem sonetos do amor eram compostos, aqueles cílios longos e escuros que eram mais bonitos que os dela, a pele de um tom dourado que fazia a dela parecer desbotada e pastosa. Ele era tudo o que uma mulher sonhava, representava problemas dos quais seria difícil se livrar.

Ele com certeza não era material para casar. Muitos escândalos, muitas amantes para lidar. E homens como Lorde Ryley nunca se contentariam em se deitar com uma só mulher pelo resto de sua vida. Não. Ele era do tipo de indivíduo que gostava de ter tudo a seu jeito. Ava o chamou, e ele se virou para a amiga dela, seu rosto mudando para um de interesse e prazer por ter Hallie ao seu lado.

Quão mutáveis os homens podiam ser quando precisavam ser.

— Está se acomodando em sua nova casa e estilo de vida, Willow? Se precisar de qualquer conselho financeiro, você pode vir a Duncannon ou a mim. Nossas portas estão sempre abertas.

— Obrigada, é muito gentil. Desejo mesmo examinar os investimentos nos próximos meses. O escritório de advocacia que lida com meus interesses acredita que pode ser uma forma de aumentar minha receita. Eu não tive tempo para analisar com cuidado ainda. Depois da temporada, talvez eu o faça.

— Lorde Ryley tem vários investimentos, tanto comerciais como financeiros. Deveriam conversar enquanto estão aqui em Hampton, veja o que ele sugere. Sei que ela jamais a enganará.

Fazer tal coisa significaria que ela teria que solicitar a ajuda dele.

Não era uma ideia totalmente horrível, o que em si é problemático.

Por mais que ela deseje as mãos dele nela, seus beijos e tudo mais que ele pudesse oferecer, tal caminho só levaria à ruína e ao desapontamento. Entregar-se a tal homem significaria arriscar seu coração, e ela o guardava para um cavalheiro que estaria disposto a retribuir com o dele. Lorde Ryley não o faria.

— Você pediria a ele por mim, Sua Graça? Não somos muito amigos, receio, e seria desconfortável pedir conselhos financeiros a Sua Senhoria.

O duque franziu o cenho, voltando-se para ela.

— Ele a ofendeu de alguma forma?

Sua Graça olhou para Lorde Ryley, e ela tocou seu braço, trazendo a atenção dele de volta a ela.

— Não. De modo algum, Sua Graça. Nada disso, mas temo que estejamos destinados a nunca ser amigos, e não há problema nisso.

— ela olhou para Lorde Ryley, calor acumulando-se em sua barriga com o sorriso dele para Hallie quando ela falou. — Tenho a impressão de que, por algum motivo, ele me desaprova. Como se eu tivesse feito algo que o ofendeu.

— Deve ser apenas impressão, Willow, mas falarei com ele em seu nome e garantir que tudo fique bem, que ele seja complacente e a ajude em seus investimentos. Tenho plena fé que ele cuidará de você e não a decepcionará.

Ela assentiu sorrindo para o duque, não querendo que ele soubesse que a ideia de Lorde Ryley a desencaminhar a deixava

sem fôlego e com calor.

— Obrigada, Sua Graça. Você dois são muito gentis comigo.

— Não, não somos. Somos amigos, e é isso que amigos fazem.

O resto do almoço foi agradável, e falar da cavalgada iminente a fez se esquecer dos problemas com o marquês taciturno diante dela. Pelo menos na propriedade com Ava, ela não teria que lidar com ele esta tarde. Um consolo ela supôs, embora a ideia de não discutir com ele a deixasse mais deprimida do que aliviada.

C A P Í T U L O 6

ELE ESTAVA NO INFERNO. Literalmente. Ele cavalgava atrás da duquesa e da Srta. Perry, que pelo trote se erguia e caia na sela, o delicioso traseiro muito visível para ele de onde ele se encontrava, ela usava uma vestimenta de montaria azul marinho, mas em vez de usar uma saia e sela lateral, vestia um par de calças de mesmo tecido da parte de cima. Montava como a duquesa.

Abe gemeu por dentro.

Havia algo de errado com ele por sonhar com a garota que ele queria destruir, derrubar do altar elevado em que a tia a colocara.

Não era justo, ele sabia, fazer um parente pagar pelos pecados de outra pessoa, mas era seu único recurso. A família Vance cairia. O

tratamento que deram à mãe dele era garantia de que ela caísse em desgraça. A Srta. Perry fazia parte da sociedade londrina podre a que ele evitava. Ela era a única parente de sangue viva da viscondessa Vance e, portanto, ela cairia.

Não significava que ele não pudesse brincar com a garota por um tempo antes de derrubá-la. Ele ia ficar bem longe dela, mantê-la à distância. Seria muito mais fácil se não conhecesse sua presa, mas havia algo sobre a Srta. Perry que o atraía, o irritava e o seduzia.

A duquesa e a senhorita Perry pararam sob a sombra de uma árvore para descansar, e ele se juntou às duas. Sua atenção se voltou para as longas pernas dela. Encaixariam com perfeição na cintura dele.

Ele fechou os olhos para dispersar o apelo visual de eles emaranhados na cama, os lençóis tortos, o cabelo dela despenteado pelo esforço, as bochechas rosadas com a liberação.

A boca dela se abrindo em um suspiro antes que ele a cobrisse com a dele.

Maldição.

Ele deveria ir para a aldeia esta noite, encontrar algum alívio para suas bolas doloridas. Não poderia continuar a pensar na Srta.

Perry dessa maneira. De maneira alguma. Ela era sua nêmesis. A mulher que ele destruiria. Não era uma mulher que mexia com ele.

Ele não iria permitir. Mentiroso, uma voz sussurrou em seu ouvido.

— Eu vou dar um galope. Gostaria de se juntar a mim? — Ava perguntou, olhando para a terra.

— Hoje não, Ava. Ainda não estou pronta para isso. — disse a Srta. Perry.

— Farei companhia à Srta. Perry, Sua Graça. Sinta-se à vontade para dar seu passeio.

A duquesa concordou com a cabeça, e então girou a montaria, empurrando-a em um ritmo alucinante. Ele se ajustou na sela, seu pênis doendo ante a fantasia de ele e a Srta. Perry a sós. Um silêncio se estabeleceu, apenas o som dos pássaros nas árvores e o leve sussurro do vento através da grama batendo em sua solidão.

Abe estudou o perfil dela que olhava na direção em que a duquesa havia ido, de forma alguma inclinada a falar com ele, ou foi o que pareceu. O fato de ela ignorá-lo o irritava, e ele limpou a garganta.

— Você cavalga bem, melhor do que imaginei.

— Sempre gostei de andar à cavalo, mas não me sobra tempo.

Agora que estou sozinha, isso mudará.

Ele estreitou os olhos, não gostou da ideia de ela estar sozinha.

A casa dela na Praça Hanover era uma das maiores de Londres e, acima de tudo, ela era uma mulher. Qualquer um poderia tirar vantagem dela.

Abe passou a mão pelo cabelo, sabendo que estava decidido a ser esta pessoa que se aproveitaria. Ele seria aquele que a derrubaria ao nível que os Vance deveriam estar. Ele não podia começar a deixar que emoções surgissem no caminho de seu plano.

Sim, a Srta. Perry era espirituosa, inteligente e bonita, mas também era uma Vance. Ela descendia de uma linhagem tão cruel quanto uma cobra.

— Não esperava vê-lo aqui na propriedade do duque e da duquesa. Não creio que tal entretenimento seja selvagem o suficiente para você, meu senhor.

Ele apertou a mandíbula ante a réplica cortante de que sua vida era repleta de excessos, e que não conseguiria desfrutar das partes mais amenas dela, tal como agora, à cavalo no meio do campo.

— Nem sempre moro em Londres. Tenho duas propriedades rurais que frequento várias vezes por ano. Creio que deve acreditar que sou muito preguiçoso.

Ela encolheu os ombros, e a ação chamou a atenção dele para o corpete dela. O spencer azul marinho, que ela usava acima do traje de montaria era bem apertado, acentuando seus seios. Ele engoliu em seco, o olhar viajando sobre a pessoa dela. Depois da outra noite, quando ele a viu vestida de homem, ele pensou que talvez tivesse se enganado quanto ao tamanho dos seios dela, mas não.

Eles eram cheios e exuberantes, e subiam a cada respiração. Belos montes para encher a mão. Ou uma bocada perversa.

— Não vou mentir e dizer que fiquei a imaginar como você preenche o seu dia, mas não conseguiria imaginar a resposta e por isso desisti da ideia.

Ele riu e parou ao perceber que não ria há muito tempo. E ainda, aqui estava ele, sentado sob um carvalho com a mulher que ele estava determinado a arruinar, e ela o fez rir. Ela olhou para ele, os olhos se arregalando. O azul profundo do olhar dela o observava com algo semelhante ao choque.

— Eu não apenas administro meu clube de jogos de azar, mas também tenho assento no parlamento e vários investimentos que gerencio. Falando nisso, o duque me pediu para ajudá-la. Ele mencionou que talvez esteja interessada em investir em tais esquemas.

— Esquemas? Espero que quaisquer investimentos de que participe sejam mais do que esquemas, meu senhor.

De novo, seus lábios se contraíram. Esta mulher seria um oponente digno e o manteria na ponta dos pés. A queda dela seria ainda mais doce por este motivo.

— Eles são, posso garantir a você, Srta. Perry. — ele se mexeu no lugar, curioso sobre o passado dela. — Você era a dama de companhia de sua tia. Por quanto tempo cuidou dela?

Ela suspirou, olhando para as nuvens.

— Cerca de oito anos. Atuei como dama de companhia dela desde que voltei da escola na França. Por mais que eu amasse minha tia, e serei grata por toda a eternidade pela bondade dela para comigo, não posso deixar de agradecer também por não ter necessitado viver toda a vida em servidão. Não é fácil estar disponível e atender os outros o tempo todo. Minha situação era melhor do que a maioria, sendo parente, mas não foi fácil.

— Imagino que não.

Não que ele pudesse realmente imaginar. Ele sempre teve criados, pessoas cumprindo suas ordens. A ideia de que ela era uma daquelas pessoas que servia homens e mulheres como ele o deixava desconfortável.

— Por causa de meu passado servil, decidi permitir que meus funcionários agendassem folgas ao longo do ano. Todos merecem um tempinho longe, para se revigorar e lembrar que a vida é mais do que apenas trabalhar.

Abe franziu a testa acima das orelhas de seu cavalo, sem saber se já havia ouvido algo tão absurdo ou brilhante na vida. Não havia um dia em que ele não trabalhasse, não deixasse de lado e conferisse todos os pequenos detalhes que compunham sua vida.

Não havia folga para ele, então por que a criadagem deveria ter?

A opinião da Srta. Perry acerca do assunto era interessante e valia a pena refletir. Abandonar todos os compromissos, partir e ir para outro lugar, um lugar para não fazer nada a não ser relaxar, era ao mesmo tempo, aterrorizante e tentador, em partes iguais.

— Você se via como uma serviçal? Você era sobrinha de uma viscondessa, creio que nunca correu o risco de fazer os dedos sangrarem de tanto bordar.

— Você já se sentou o dia todo para bordar, meu senhor?

Ele encontrou os olhos dela, balançando a cabeça.

— Não. — ele admitiu.

— Então, até que tenha passado pela situação, sugiro que guarde suas opiniões para si.

Ele fechou a boca com um estalo. Não sabia como responder a reprimenda dela. Por um momento, eles se sentaram acima de seus cavalos, a visão da duquesa em uma colina distante sendo o único movimento em torno deles.

— Não consigo entendê-lo, meu senhor. — continuou ela. —

Professa trabalhar o tempo todo. Que é ocupado e importante. —

ele apertou a mandíbula com o sarcasmo que ouviu no tom dela, condenado a ouvi-la antes de desferir um ataque em resposta. — E, ainda assim, me trata como se eu não tivesse feito nada enquanto eu morava com minha tia. Ela era uma mulher muito reservada, não gostava que ninguém soubesse de seus negócios, então cabia a mim cuidar dela o tempo todo. Dar banho, vesti-la, auxiliá-la a se aliviar no meio da noite, tudo recaia em mim. Por anos, não meses.

Eu a atendi em bailes e festas. Garantia que sua comida favorita fosse sempre servida no jantar. Fiz visitas intermináveis às amigas dela, dia após dia. Não fale comigo como se eu não conhecesse um dia de trabalho na minha vida. Sei bem o que é trabalhar. Melhor do que você, imagino. Quando foi a última vez que você esvaziou um pote de mijo debaixo da sua cama?

Ele a encarou horrorizado.

Ela esvaziou o penico da tia. Bom Deus, a tia era tão má quanto ele sempre soube que ela era. Abe percebeu a elevação desafiadora do queixo da Srta. Perry, e um pouco de sua aversão por ela se desfez. Talvez, ela também tenha sido vítima da tia. Não da maneira que a mãe dele vivenciou, mas de uma forma desmoralizante. A maneira como, no fim, alguém aceita seu destino e perde a voz para dizer o contrário.

— Peço desculpas se pareci condescendente. Percebo que eu estava errado.

Ela balançou a cabeça, ajustando-se na sela.

— Minha tia garantiu que eu fosse educada, e agradeço a ela todos os dias por ter me enviado à França para aprender, ou talvez nunca teria conhecido Ava, Hallie, Evie e Molly, mas também posso agradecê-la por me mostrar que os funcionários que nos servem são pessoas também. Eles têm vidas como você e eu. Também sonham com um futuro melhor. Agora que entendo desta forma, nunca mais voltarei a agir como durante a vida de minha tia. Meus funcionários são mais felizes, sempre realizam seu trabalho com energia a cada etapa. E fiz o que fiz, porque os entendia.

— Você deve ser elogiada por sua visão de futuro. — Abe franziu a testa ante as próprias palavras.

O que ele estava dizendo?

Ele a elogiava por ser radical. Mesmo assim, a ideia não era desprovida de mérito e valia a pena ser considerada como uma possível implementação em suas próprias propriedades. Se significasse que seus funcionários seriam mais agradáveis e realizariam suas tarefas de maneira mais oportuna e produtiva, ele testaria a ideia imediatamente. Ela lançou um pequeno sorriso, ele sentiu o peito apertar-se.

Maldição.

Ele não precisava sentir pena da garota. Não era por isso que ele estava aqui, porque ele aproveitou a chance de ajudá-la com seus investimentos quando o duque pediu. Ele queria que ela pagasse pela traição da família dela para com a dele. E maldição, ele a faria pagar. De uma forma, ou de outra.

— Obrigada, Lorde Ryley.

WILLOW TOCOU o cavalheiro arrogante e bonito demais para seu próprio bem que se sentava ao lado dela em seu cavalo, e se deleitou com a atração. Ela jamais se sentiu como se sentia perto deste homem. Como se o corpo dela gravitasse em direção a ele, quisesse estar perto de sua pessoa, sua esfera. Um senso de certeza que ia contra sua moral.

O Lorde era um patife, um libertino para os padrões da cidade, e ele, sem dúvida, não era nada casável. Ele era desagradável e rude e não fazia ideia de como tratar aqueles sob seu serviço.

Por ser solteira como ela era, mesmo em idade avançada, alguns diriam que ela está firme na prateleira, ele não era alguém com quem ela pudesse brincar. Viver um caso escandaloso e clandestino. Por mais que ele a tentasse a ser escandalosa, ela nunca poderia fazer isso. Ela mordeu o lábio inferior, debatendo esse fato dentro de si. Analisar todos os prós e contras juntos e ver o que essa soma equivale.

— Eu adoraria saber o que você está pensando neste momento, Srta. Perry.

A voz profunda e curiosa dele interrompeu suas reflexões, e ela encontrou seus olhos. Ela lutou por alguma desculpa para o porquê

de ela ter sido pega olhando para ele.

— Eu não estava pensando em nada. Fazia meras ponderações.

— Você gostaria de dar um passeio? Acredito que haja um riacho não muito longe daqui. Os cavalos podem se refrescar antes de voltarmos.

Ela deu um tapinha em sua montaria, distraindo as mãos o suficiente para que não se estendessem para testar uma das teorias positivas de que Sua Senhoria era o beijador habilidoso que ela presumia que ele fosse.

— Sim, parece uma boa ideia.

Ele incitou a montaria para frente, e Willow o seguiu ao descerem um pequeno declive na colina onde, mesmo de onde ela estava sentada, ela podia ouvir o som tilintante de água corrente.

O riacho era raso, com pedras redondas de seixos, algumas submersas, mas a maioria ficava logo acima da água. Willow desceu do cavalo, jogou as rédeas sobre as orelhas do animal e amarrou-as sob o pescoço dele para impedir que pisasse nas cordas.

Ela recuou e observou enquanto os dois cavalos se inclinavam e mordiscavam a grama antes de tomar um gole.

O riacho era estreito, com um grande salgueiro na margem.

Willow entrou na água, ignorando o fato de que suas botas ficariam arruinadas após sua pequena peripécia. No momento em que seu pé pisou em uma das pedras lisas, ela soube que havia cometido um erro. Seu pé escorregou, e ela tombou para a frente. O chão cresceu depressa diante de seu rosto, e ela jogou as mãos na frente, querendo se proteger o máximo possível.

Seria de se esperar que o cavalheiro divino atrás dela estendesse a mão e a arrancasse de sua desgraça iminente. Ele não o fez. Em vez disso, ela caiu com um respingo, o roupa encharcando-se com a água gelada. Ela arfou e ajoelhou-se para verificar as mãos que ardiam como o inferno.

— Willow! — ele gritou atrás dela.

Se não tivesse acontecido, Willow nunca teria acreditado, mas em um momento ela estava ajoelhada na água, encharcada e, sem dúvidas, envergonhada, e no seguinte ela foi pega nos braços mais musculosos e quentes que ela já conhecera. o corpo dela estava

aninhado contra o peito firme dele. Por instinto, seu corpo procurou o calor dele, e ela se aconchegou contra ele, aproveitando a oportunidade para deleitar-se naquele abraço enquanto podia.

Era improvável que ela fosse parar nos braços dele outra vez, a menos que ela começasse a fingir cair por toda a propriedade sempre que ele estivesse por perto.

— Obrigada. — ela disse, surpresa ao ouvir sua voz tremer um pouco. Um arrepio percorreu a espinha dela quando ele a ajudou a se levantar, esfregando suas costas com vigor para tentar aquecê-

la.

— Devemos voltar para casa antes que fique doente.

Ela assentiu.

Ele era o dono dos lábios mais doces, ou mais pecaminosos que já vira, ela não conseguia decidir. O que ela sabia era que ele a fazia sofrer, estremecer e desejar coisas de que ela nada sabia.

Algo que vislumbrou aqui e ali nos casamentos das amigas. Willow esperava o mesmo com o futuro marido, mas, infelizmente, não seria Lorde Ryley. Uma pessoa precisava se proteger às vezes, e algo em Sua Senhoria dizia a Willow que se apaixonar pelo homem diante dela só terminaria em desgosto.

Quantas mulheres caíram de joelhos à frente dele, implorando por outro olhar? Quantas estiveram em sua cama? Mais do se poderia contar.

As mãos dele desaceleraram em suas costas, e ela olhou para cima para ver a atenção dele sendo toda dedicada aos lábios dela.

Calor se acumulou em seu núcleo, e a respiração dela se sobressaltou.

Ele iria beijá-la?

— Você tem uma amante, meu senhor.

Ele tropeçou com um passo para trás, a sobrancelha erguida.

— Com licença?

Ela recuou contra ele, agarrando as lapelas da jaqueta de montaria dele.

— Você se importa com ela? O suficiente para que isso me impeça de fazer algo que eu quero fazer há algum tempo?

Ele riu, mas um leve tremor de nervosismo não pôde ser escondido. Ele não sabia dizer. A ideia era, de fato, inebriante.

— Não, mas não significa que dou permissão para a senhorita fazer o que quer que esteja circulando nessa sua linda cabeça.

O fato de ele chamá-la de linda a fez querer se enfeitar. Ela também o achava bonito. Perigoso, mas bonito. Willow respirou com determinação, eliminou o espaço entre eles e o beijou.

A palavra suave reverberou em sua mente.

Lábios perfeitos e sedosos encontraram os dela, e ela se revirou de desejo por dentro. Jamais havia beijado um homem, e este não era qualquer homem, mas o Canalha Espanhol. Sem saber o que fazer a seguir, se afastou e subiu na ponta dos pés para beijá-lo mais uma vez. Ainda assim, ele não se moveu, apenas ficou lá como uma estátua congelada encontrada em um museu. Willow arriscou um olhar para ele.

Os olhos dele ardiam de necessidade, e ela estremeceu. Ele a beijaria de volta se ela tentasse uma terceira vez? Algo dizia que sim, mas a coragem a abandonou, e ela recuou.

— Ah não, você não vai... — ele disse, puxando-a contra ele, tomando sua boca em um beijo devastador. Um beijo que a deixou cambaleando e lutando por um propósito. Ela se engasgou quando a língua dele deslizou contra a dela.

— Ó. — ela murmurou, nunca tendo sentido nada tão decadente na vida. A boca dele explorou a dela, o beijo profundo, sua língua foi puxada para uma dança de desejo.

Ele era tão escandaloso quanto diziam que era, ele a puxou para mais perto, sua masculinidade empurrando contra sua barriga, ondulando e deixando que calor se acumulasse em seu núcleo.

Algo como fogo floresceu sobre a pele dela, quente e formigante, mas ela não conseguia parar. Não era possível obter o suficiente dele enquanto ele a beijava de volta, devorava sua boca como se fosse a única coisa a mantê-lo vivo.

As mãos dele roçaram as costas dela, desceram até seu bumbum e a trouxe para mais perto dele. Willow gemeu quando ele se abaixou um pouco, colocando a masculinidade no limite das roupas dela, empurrando contra um ponto que ninguém além dela havia tocado. Em todas as vezes que havia explorado o próprio corpo, nunca havia sido capaz de se fazer sentir a necessidade que

agora a percorria, que a deixava louca com um desejo que exigia satisfação.

— Doce. Perverso, de tão doce. — ele murmurou contra os lábios dela, beijando-a na bochecha, no pescoço e mais além.

Arrastou a língua na crista de seu seio.

Com dedos ágeis, ele abriu o spencer, expondo-a ainda mais ao seu toque. Willow inclinou a cabeça para trás, mais do que desejando que ele a violasse. Se o arrebatamento fosse tão bom quanto a sensação neste momento, ela deveria ter se casado há muito tempo.

Ela correu os dedos pelos cabelos dele, saboreando a sensação das grossas mechas negras. Sem pensar, ondulou contra ele, o que fez com que prazer espiralasse em seu núcleo. Ela gemeu, o som estranho e ofegante. Sugestivo.

A mão dele segurou seu seio, apertando-o antes de puxar o tecido e o corpete para baixo, expondo o mamilo. Ele passou a língua pelo lábio, e ela estremeceu, querendo aquela língua nela.

Com a respiração entrecortada, ela observou enquanto ele baixava a cabeça, beijando primeiro o seio antes de levar o mamilo à boca.

— Ó, Lorde Ryley. — ela arfou, segurando-o contra ela.

A loucura a superara. Deveria detê-lo. Deveriam parar agora, mas ela não conseguia. Só conseguia agarrá-lo e torcer para que nunca parasse.

— Abe, me chame de Abe. — ele disse, as palavras murmuradas quentes na pele exposta dela.

— Abe. — ela sussurrou e se entregou a ele, como um todo.

C A P Í T U L O 7

I STO ERA ERRADO. Ele estava brincando com fogo e não havia sentido algum em fazer o que fazia neste exato momento com a deliciosa Srta. Perry. O mamilo dela se enrugou na boca dele, e ele deu uma mordida provocante. Ela se agarrou a ele, mostrando-se dele para fazer o que ele quisesse.

Aqui está sua chance. Tome-a. Arruíne-a, e acabe com tudo.

O nome dele nos lábios dela o impediu de pegá-la, deitá-la na grama ao lado do pequeno riacho. Isso, e o fato de que o som dos cascos dos cavalos batiam contra sua consciência e a relva próxima. Ele recuou, puxando o vestido dela para cobrir o seio. Os olhos arregalados e surpresos dela o observavam, como um passarinho que estava certo de que estava prestes a ser o jantar de um gato. E Abe a teria comido. Até o último centímetro de pele. Ele teria provado, lambido, saboreado.

Ela olhou em direção ao som que anunciava o retorno de Ava, mais nítido agora, e ajeitou o cabelo com pressa além de verificar a roupa. Estava encharcada, pingava água na bainha e, ainda assim, Abe se viu agradecido. Daria a ela a desculpa perfeita para o estado desgrenhado e decadente.

Ele.

Ava cavalgou ao longo do cume, diminuindo a velocidade do cavalo até que trotava em direção a eles.

— Aqui estão. Achei que pudessem ter voltado para casa.

Ela estava esbaforida pelo passeio, um leve rubor nas bochechas que lembrava o da Srta. Perry. Abe estendeu a mão, oferecendo ajuda à mulher que o deixou totalmente fora de sintonia.

— Eu caí no riacho. — Willow disse para a amiga, encolhendo os ombros de leve.

Ava riu, sorrindo para eles, e felizmente não sentiu que nada desagradável havia acontecido.

— Assim que voltarmos, pedirei um banho para você.

Abe gemeu por dentro ante a sugestão da visão da Srta. Perry nua em uma banheira, a água caindo sobre os seios doces e monte.

— Deixe-me ajudá-la a montar, Srta. Perry.

Ela lançou um olhar assustado para ele ante o pedido impaciente, que nascia mais da frustração do que de outra coisa.

Ela saiu do riacho, e ele se encolheu. Ele nem mesmo os tirou da água antes de se aproveitar dela. Ou ela que havia se aproveitado dele? Em verdade, ela o beijou primeiro, aproveitou a oportunidade enquanto estavam sozinhos.

Não que ele estivesse reclamando.

Ele beijaria a maioria das mulheres que se ofereciam a ele. Ele não era chamado de Canalha Espanhol à toa. Ele a acompanhou até o cavalo, e estendeu a mão para içá-la na sela. Ela agarrou a sela e o ombro dele e subiu. A ação deu a ele o vislumbre mais encantador de seu traseiro, e precisou respirar fundo para se acalmar. Ele fechou os olhos por um momento para recuperar a linha de raciocínio.

O mundo não era o mesmo, não depois de um beijo como aquele. Os passos dele, mais pareciam uma fuga até o cavalo, não aliviaram a necessidade, as emoções conflitantes que ela fez surgir dentro dele. Ele odiava tanto ela como a família dela.

Não odiava? Ele iria derrubá-la. Arruinar sua vida financeira e agora, depois daquele beijo, talvez arruinasse seu corpo também.

Não era o que ele faria?

Maldição.

Abe montou o cavalo e esperou que a duquesa e a Srta. Perry o precedessem. Elas seguiram em frente, e ele as seguiu. Não queria fazer parte da conversa. Estava satisfeito em ficar para trás, ouvir e aprender, traçar seu próximo passo. Qual passo seria, ninguém sabia. O que ele sabia, entretanto, era que um beijo não o distrairia.

Depois de anos vivendo sem a mãe, tendo criados, administradores e diretores de escola criando-o para ser o marquês Ryley, ele não permitiria que um beijo o desviasse. Que o fizesse questionar sua moral. Ele precisaria começar a pensar mais com a cabeça. Não com o pênis. Que, neste exato momento, estava sendo controlado por uma mulher que o deveria fazer.

WILLOW SE SENTOU na sala de estar do andar de cima e esperou por Lorde Ryley. Ele a chamou ali nesta tarde para examinar os possíveis investimentos financeiros em que poderia investir para aumentar a herança deixada pela tia.

A ideia de revê-lo a deixou inquieta e fora de si. Havia algo nele que a fazia querer coisas que nenhuma mulher de bom nascimento deveria querer. Não que ela pudesse atestar ter nascido no alto da escala social, mas fora educada com boas maneiras, havia sido tão bem preparada quanto a filha de um duque.

Depois do beijo do dia anterior, a mente dela ficou revivendo e saboreando a memória do toque dele. Como ele puxou, com força, o corpete dela para que seus lábios quentes e úmidos pudessem sugar o seio. Calor se acumulou na junção das coxas, e ela cruzou as pernas. Precisava aliviar a sensação dolorida que se instalou ali.

Com um bufo descontente, ela se levantou.

Caminhou até a janela. O que faria agora? Ele não era um homem em busca de uma esposa. Ela deveria estar perseguindo Lorde Herbert, que havia chegado para jantar na noite anterior, ele era vizinho do duque e da duquesa aqui em Hampton. Parecia gostar muito dela, e era muito complacente e bonito. Não tão bonito quanto Lorde Ryley, mas muito poucos eram.

Lorde Ryley era moreno, pecador e com um rosto esculpido para a devassidão. Ela fechou os olhos, a pele formigando de consciência.

A porta se abriu, e ela saltou, virando-se para ver quem havia entrado. Expectativa correu por seu sangue, e ela cruzou os braços, engolindo o nervosismo. Lorde Ryley entrou na sala, a observou por um instante e fechou a porta, antes de fazer uma reverência.

— Senhorita Perry. Podemos? — ele gesticulou em direção à mesa que ficava no canto da sala.

— Claro. — disse ela, juntando-se a ele.

A escrivaninha estava cheia com vários livros e papéis que na sua maioria mostravam desenhos de cavalos, e os livros, quase todos tratavam da criação de cavalos ou eram manuais de treinamento. Esta mesa era, sem dúvidas, o pequeno domínio de Ava, ou pelo menos ela havia tomado posse do espaço.

Sua Senhoria se sentou e cruzou as mãos diante dele, o olhar em algum lugar por cima do ombro dela.

Willow franziu a testa.

Ele não iria olhá-la nos olhos? Ela o observou, o gênio fustigado com a indiferença dele por ela. Isso eles iriam ver! Ele abriu uma pasta que estava diante dele, tirou um pedaço de pergaminho e o dispôs diante dela.

— Aqui estão algumas das opções que considerei serem condizentes com sua deliberação. Alguns referem-se à mineração aqui na Inglaterra e na Cornualha, minas de carvão para ser mais preciso. A segunda opção é investir em navios de carga que viajam de e para as Índias Ocidentais ou para a Jamaica. Comercializam óleo, peles salgadas, peles secas, açúcar, esse tipo de carga. É

claro que você pode investir em ambos, se quiser.

Willow leu o roteiro elegante, os detalhes das minas e dos navios que navegariam de Londres à Jamaica e além. Ela olhou para ele e estreitou o olhar quando o percebeu mais uma vez analisando algo além do ombro dela. Willow se moveu para o lado, baixando a cabeça para pegar o olhar dele.

Ele cedeu, e o triunfo percorreu seu corpo quando, por fim, ela o fez olhar para ela, exceto que seu prêmio durou pouco. O olhar dele era pesado, perigoso e a consumia. Deixava sua mente em branco com relação a todo o assunto que tratavam ali.

Como ele conseguia deixá-la nua, com apenas um olhar? Como poderia deixar sua pele quente e úmida?

O cérebro feminino dela perdeu toda a concentração.

— O que sugere que eu escolha? — ela perguntou, não se importava em que investiria, contanto que ele continuasse olhando para ela como fazia agora.

— A mina de carvão na Cornualha seria um bom investimento.

Também investi nela.

Ela olhou de volta para o relatório, a mente lutando para entender o que estava acontecendo entre eles. Willow mordeu o lábio. Era assim que canalhas olhavam para as mulheres que queriam levar para a cama? Era como Lorde Ryley a via? Da mesma forma que observava suas amantes?

— Não respondeu minha pergunta de ontem. — ela deixou escapar. No momento em que as palavras deixaram seus lábios, quis recuperá-las. Mas outra parte dela queria saber a resposta.

Antes, ele a distraiu de uma forma deliciosa só com a boca.

Ele recostou-se na cadeira.

Mesmo de onde estava sentada, ela podia ver que ele se debatia acerca de dizer ou não a verdade. O olhar dele deslizou nela que sentiu a pele formigar de consciência. Os seios ficaram pesados e grandes, como se desejassem o toque dele, da boca dele mais uma vez. Willow respirou fundo para se acalmar, manteve as mãos no colo para impedi-las de mexer em qualquer coisa.

— Minha amante mora comigo. Está feliz em ouvir a verdade?

Willow não ficou nem um pouco feliz em ouvir tal informação.

Ele morava com a amante?

A mente dela gritava para se afastar deste homem, porém, seu corpo ansiava o toque dele, fazê-lo desejá-la tanto quanto ela o desejava. A mandíbula dele ficou tensa antes que ele praguejasse, se levantasse e contornasse a mesa.

Ele a puxou da cadeira e a beijou com paixão. Willow lutou para manter o equilíbrio, para se manter em pé ante o ataque da boca dele. Ela se deixou levar pelo beijo já que sentia falta deste toque desde o instante em que se afastaram no dia anterior.

Era isso o que ela queria. Ela queria viver, amar e aprender como ser mulher, e queria fazer tudo nos braços desse homem. Se fosse se casar, haveria melhor maneira de aprender a arte de ser esposa do que nos braços de um libertino? Pelo menos, ao ser ensinada por um amante tão competente, seu marido nunca se desviaria. Ele a amaria e a estimaria, e a ninguém mais, pelo resto de seus dias.

A língua dele lutou com a dela, e ela se jogou no abraço. O beijo foi uma loucura, uma fusão de bocas que era difícil e sem instrução.

O pensamento de que ele beijava a amante assim cruzou sua mente e apagou seu desejo.

Ela o empurrou para longe, saindo de seu alcance.

— O senhor tem uma amante e está aqui me beijando. O que dizem é verdade, não é?

Ele deu a ela um sorriso que mais pertencia a um lobo. Calor se acumulou entre as pernas dela que o amaldiçoou por ser tão belo que era impossível dizer o contrário.

— Claro. Nunca serei domesticado, minha querida. Por ninguém.

Willow se aproximou, pegou os papéis e os segurou contra o peito.

— Vou examinar essas sugestões e entrarei em contato.

Ele se curvou, dando um passo para o lado, para deixá-la passar.

— Claro, avise-me quando estiver pronta para investir.

A risada profunda e perversa dele a seguiu mesmo fora da porta.

NA NOITE SEGUINTE, Ava organizou uma noite improvisada de dança. Estavam todos reunidos no grande salão de baile, músicos de Londres haviam chegado para tocar. O duque convidou alguns amigos da cidade. Como a nova propriedade era tão perto da, era uma distância fácil de viajar.

Willow estava numa das laterais do salão, nenhum sinal de Lorde Ryley, o que lhe convinha muito bem. Ele era enlouquecedor, se é que tal palavra já foi usada para descrever um homem. Ela viu Ava conversando com Lorde Herbert, alto e bonito. A amiga lançava olhares divertidos de vez em quando.

O que ela estava tramando?

Lorde Herbert olhou para ela, e Willow o estudou por um momento. Ele era alto, loiro, o oposto de Lorde Ryley em aparência.

Se Lorde Ryley lembrava sombras e pecado, este cavalheiro lembrava claridade e pureza. Ele possuía um ar de inocência, muito mais adequado ao futuro que planejava para si.

Ele seria diferente de todos os outros cavalheiros que mantinham as amantes ao alcance das mãos? Era algo que ainda precisaria ser determinado. Willow se encolheu por dentro quando Ava veio em sua direção, Lorde Herbert ao lado dela.

— Willow, deixe-me apresentá-la formalmente a Lorde Herbert.

Lorde Herbert, esta é minha amiga, a Srta. Willow Perry.

Ela fez uma reverência, e ele se curvou.

— Senhorita Perry, é um prazer encontrá-la mais uma vez.

A voz dele era suave, agradável, segura.

— Que bom que veio. Soube que é vizinho do duque e da duquesa aqui em Hampton.

— Eu sou.

Ele sorriu, e Willow precisou admitir que ele era encantador, pelo menos no momento.

Ava pediu licença, e ele se virou para ela:

— Soube que você foi para a escola com a duquesa.

— Sim.

Ela sorriu pelas lembranças dos anos de escola: as travessuras e fugas que tentavam sempre que a possibilidade se apresentava.

De como todos sonhavam com o futuro e o que viria com ele. Estar onde estava agora, ser uma herdeira não era em nada o que ela pensava que aconteceria.

— Ela é uma das melhores pessoas que conheço.

Lorde Herbert olhou na direção que Ava tomara.

— Concordo. O duque e a duquesa são honrados.

— Você os conhece há muito tempo? — ela perguntou.

— Conheço o duque desde Cambridge. Já a senhorita, não tanto. Mas gostaria de mudar este fato.

Ela olhou para ele, surpresa com a ousadia.

— Gostaria? — ela estreitou os olhos para ele, debatendo se ele valia o esforço. Ele ergueu a sobrancelha, os olhos azuis dançando com diversão.

— Sim, se a senhorita quiser, é claro. — ele olhou para os casais dançando. — Aceita dançar comigo, Srta. Perry?

Sem pensar, ela colocou a mão no braço dele e assentiu.

— Obrigada, sim.

Ele a puxou para o centro do salão, e ela riu quando ele a girou em seus braços. Talvez este homem valesse um pouco de esforço.

Ela estava procurando por amor, por alguém que fosse fiel a ela.

Talvez Lorde Herbert fosse esse homem. Lorde Ryley decerto não era. O demônio nem havia se dado ao trabalho de aparecer ainda.

C A P Í T U L O 8

A BE HAVIA CAVALGADO com pressa desde Londres com a necessidade de voltar para a nova propriedade do duque e da duquesa, em especial depois de receber uma intimação para não perder o baile que eles decidiram dar. Ele precisava voltar para a cidade e verificar como estava Hell's Gate. Esta noite eles seriam os anfitriões de um evento de jogatina que trazia jogadores não só da Inglaterra, mas do exterior. Ele havia estipulado um grande prêmio para os que se inscrevessem, e o interesse mostrou-se extenso.

O fato de seu amigo mais antigo e a esposa terem decidido dar um baile na mesma noite era incômodo, mas não o afetaria muito.

Ele contava com uma equipe que era mais do que capaz de lidar com a noite. Ele poderia passar a noite com seus amigos.

Ele saltou do cavalo na frente da casa, entregando a montaria a um cavalariço que o esperava. Ele retirou o sobretudo, o chapéu e as luvas, entregou-os ao lacaio no saguão, sem se preocupar em subir para se trocar. Durante todo o dia, uma sensação persistente de desgraça iminente rastejava sob a pele.

Algo estava errado.

E o que estava fora de lugar ficou evidente no momento em que ele entrou no salão de baile. Seus lábios se curvaram. Ele deveria saber que veria o que estava diante de seus olhos agora. Lorde Perfeito, ou como a sociedade o chamava, Lorde Herbert. Amigo do duque desde antes de Abe começar a estudar em Eton.

Lorde Herbert sempre se mostrou ansioso a agradar os que o rodeavam, desde os tempos de escola. Sempre foi disposto, também, a denunciar quem quer que ele considerasse estar agindo errado, ou que trouxesse alguma vantagem para ele ao espalhar tais informações. Já adulto, ele não era muito diferente. Sempre doce com o sexo oposto, de uma maneira nauseante, mostrava-se ansioso para dizer às moças o que elas queriam ouvir, e havia rumores de que estava atrás de uma esposa nesta temporada.

A Srta. Perry se encaixava com perfeição nos requisitos de Sua Senhoria. Procurava um marido, e era rica o bastante para satisfazer a família dele e convencê-los a ignorarem a origem plebeia.

Se ela se casasse com o Lorde Perfeito, a vingança dele contra os Vance impactaria os Herbert também. Uma ideia satisfatória, já que foi Lady Herbert, a mãe de Lorde Perfeito, quem ajudou a viscondessa Vance a arruinar sua mãe.

A consciência dele vacilou ante o pensamento de machucar Willow. O tamanho da desgraça dela dependeria de quanto ele conseguisse persuadi-la a investir. Uma grande quantia poderia significar a perda da casa em Hanover. Reduzir a criadagem à um número mínimo de funcionários e, talvez, a necessidade de encontrar emprego como acompanhante ou empregada doméstica.

Ele entrou no salão, foi em direção à duquesa de Whitstone e do amigo dele, o visconde Duncannon. Ele lançou olhares apreciativos para as mulheres que olhavam em sua direção; piscou para Lady Sussex que corou e riu como uma jovem em sua primeira temporada.

Felizmente, ele tinha uma amante, e seus dias tendo que seduzir mulheres casadas ou viúvas ficaram para trás, a menos que elas não estivessem dispostas a aceitar um não como resposta.

Ele nunca gostou de deixar ninguém insatisfeito.

Abe olhou na direção em que havia visto a Srta. Perry pela última vez e a avistou colocando-se na pista de dança com Lorde Perfeito. Ele pegou uma taça de vinho de um lacaio que passava e continuou, esquivando-se dos convidados enquanto caminhava.

— Duquesa. Duncannon. — ele disse ao parar ao lado deles e tomar um gole fortificante da bebida. — O que Lorde Perfeito está fazendo aqui? Eu não diria que uma estada no interior fosse do feitio dele quando há mais formas de se lisonjear as damas disponíveis em Londres.

Duncannon riu com um olhar divertido. A duquesa golpeou o peito dele com o leque.

— Comporte-se, Ryley. Sabe tão bem quanto eu que não há nada de errado com Lorde Herbert. — ela sorriu para o cavalheiro que conduzia a Srta. Perry para uma valsa.

A risada de Willow chegou até ele, e ele os observou.

A forma tranquila como ela ficava nos braços do homem fez sua pele arrepiar.

— Essa é a sua opinião, e tem esse direito, Sua Graça.

Quanto à opinião dele, ele queria esmurrar o homem até virar uma polpa. Ele estreitou o olhar para a mão de Lorde Perfeito. Mão esta que estava muito baixa nas costas da Srta. Perry.

— A senhorita Perry está linda esta noite. Sua recém-descoberta independência combina com ela. — Duncannon sorriu para Ava e encontrou os olhos de Abe por cima da cabeça da duquesa, o riso espreitando suas orbes azuis.

Abe não gostou do deboche.

— Ela está, não está? Estou tão feliz que a tia pensou nela e em sua segurança após sua morte. E você ouviu, Duncannon, que o maravilhoso Lorde Ryley vai ajudá-la com alguns investimentos?

Não vai, meu senhor? — Abe assentiu, a culpa subindo pela espinha ante a fé da duquesa nele.

— Dei sugestões. A escolha de investimento cabe a ela.

Não que ele houvesse dado chances de ela recuperar o dinheiro investido. Na verdade, todas as opções que ele mostrou traziam grandes chances de fracasso e derrubariam quaisquer investidores que fossem tolos o suficiente para colocar dinheiro nelas.

Ele bebeu o resto do vinho.

A vingança nunca era bonita, e a mãe dele merecia o respeito que foi negado a ela. Ele derrubaria a família que arruinou o nome dela em Londres e deixaria de lado o fato de que a Srta. Perry não fizera parte daquela trama. Não de forma ativa, mas ela era parente de sangue da responsável, e a única pessoa ainda viva.

Ele faria todos eles pagarem.

Sabendo que a mãe dele havia fugido da Inglaterra, deixando-o para trás para enfrentar as provocações na escola, Lorde Perfeito foi gentil com os meninos que considerava seus iguais, mas não com Ryley. Ele trazia sangue inglês e espanhol nas veias, o que o tornava uma pessoa inferior aos olhos de Sua Senhoria. A criança havia aprendido bem com os pais, mas Ryley não era mais o menino que precisava se defender de tais insultos. Não precisa mais da aprovação de ninguém. Era mais rico do que se previra, e as

mulheres se juntavam a ele de bom grado, e os homens queriam estar em seu círculo íntimo. Os lordes perfeitos do mundo poderiam ir para inferno levando os pais com eles.

A duquesa se afastou, e Duncannon o estudou por um momento.

— Eu já vi esse olhar antes. É o rosto de um homem prestes a cometer um assassinato.

Abe respirou fundo para se acalmar, sabendo que o fato de que a Srta. Perry dançava com um homem que ele odiava não era culpa de Duncannon. Seu amigo não merecia uma resposta afiada.

— Para ser honesto, não entendo por que Lorde Perfeito foi convidado. Nunca fomos amigos, e o duque sabe disso. Talvez ele não devesse ter me convidado.

— Não. — disse Duncannon, franzindo a testa. — Whitstone é leal a você. Acredito que o convidaram porque ele é vizinho deles aqui em Hampton. Embora, cá entre nós, acredito que eles estejam tentando encontrar um marido para a Srta. Perry.

— E consideram Lorde Perfeito à altura do papel. Ele é um papagaio e um asno. Duas características que eu não creio que são procuradas em um cavalheiro.

Duncannon riu.

— É bom então que você não esteja procurando um marido. —

Abe se recusou a comentar tal declaração, a situação não era nada divertida. — Convenhamos, Ryley. Até você deve admitir que ele é um bom par para a Srta. Perry. Ele também é rico, então sabemos que não está caçando a fortuna dela. Está apenas pronto para começar uma família.

A palavra família o irritou.

Abe observou enquanto a Srta. Perry flutuava pelo salão, parecia desfrutar da valsa com um homem que fazia Abe ferver. O

pensamento de que a Srta. Perry transaria com outro alguém também não caiu bem. Por que, entretanto, ele não sabia dizer, e com certeza não se aventuraria a entender. Estava apenas confuso depois dos dois beijos. A memória da troca íntima o fez queimar e ferver em igual medida.

Ele chamou um lacaio, e tomou dois copos de conhaque.

— Deixe que ele se case com ela. Talvez se o desgraçado estiver com a perna algemada, ele saia de Londres de vez e nunca

mais terei que revê-lo. — Abe deu um tapinha nas costas de Duncannon, ignorando o choque do amigo com suas palavras. —

Agora, vamos nos embebedar.

WILLOW FUGIU para o terraço, para longe do baile improvisado, um pouco depois do jantar. O ar estava fresco, apenas uma leve brisa que fazia sua pele formigar. Ela respirou fundo, se abrigando no espaço tranquilo, no ar fresco do campo que carregava o aroma de grama e flores.

Ao observar o terraço e não ver mais ninguém do lado de fora, ela caminhou por toda a extensão, olhou para o terreno que estava iluminado por lanternas de óleo acesas. Passos soaram atrás dela, e ela se virou. Uma pequena pontada de decepção a atravessou quando ela viu Lorde Herbert procurando-a.

— Senhorita Perry, você está bem? Eu a vi sair e fiquei preocupado. — ela balançou a cabeça. Ele decerto era um cavalheiro atencioso, como Ava disse que era.

— Ah, sim. Estou muito bem, obrigada. Só precisava de um pouco de ar fresco. Embora o baile não seja grande para os padrões de Londres, o salão está bem abafado.

— Eu concordo. — disse ele, encostado na grade do terraço. —

Fiquei alguns meses fora da Inglaterra, acabei de voltar. Posso dizer agora que estamos sozinhos que fiquei triste ao saber do falecimento de sua tia. Ela era amiga íntima de minha mãe. Se não me engano, elas debutaram no mesmo ano.

— Mesmo? — disse Willow que não sabia.

Ela o estudou novamente. Se a tia dela era amiga da família dele, ele não poderia ser um malandro ou canalha procurando arruiná-la ou casar-se com ela por causa de seu dinheiro. Talvez seu interesse por ela fosse honrado, e ele estivesse procurando uma esposa.

— Eu não sabia disso, meu senhor.

— Sim.

Ele sorriu, e ela precisou admitir que ele era muito bonito. Um sorriso adorável e grande e olhos que pareciam gentis e atenciosos.

E, no entanto, mesmo com todos esses aspectos positivos, não

havia nada. Nada vibrava dentro dela, nenhuma ânsia ou desejo quando ele a olhava. Ela poderia muito bem estar olhando para uma parede de tijolos se analisasse todas as emoções que ele despertava:

— A viscondessa Vance e sua amizade ao longo dos anos foram um consolo para minha mãe.

Willow sorriu, sabendo que a tia apesar de todos os ideais, às vezes teimosos, era gentil no coração e sempre agira com boas intenções.

— Ela tem saudades, com certeza. Estou feliz por ter me contado que elas eram amigas, talvez possamos ser também.

Ele estendeu a mão, pegando a dela e levou-a aos lábios. Ela rezou para que o beijo dele, por cima de sua luva, mexesse com alguma coisa, qualquer coisa dentro dela, mas não aconteceu.

Willow suspirou por dentro.

— Um brinde à nossa nova amizade e quem sabe mais.

Ele sorriu, e Willow sorriu de volta, sua diversão desaparecendo quando ela viu outro lorde saindo ao terraço. Ou talvez, tropeçando pelo terraço fosse um termo melhor.

Ela deu um passo para trás, e Lorde Herbert se virou, para enfrentar Lorde Ryley. O Canalha Espanhol notou os dois, o nojo de encontrá-los juntos estampado no rosto, sem tentativas de esconder o sentimento. Ele estava bêbado, um pouco menos arrumado do que de costume, e ela engoliu em seco odiando que a simples visão dele fizesse seu sangue bombear rápido em suas veias. Fazia sua pele formigar de consciência.

Ele contaria a Lorde Herbert dos beijos que trocaram? A memória do ato fez o estômago dela se retorcer em nós deliciosos.

Ela lambeu os lábios, por mais escandaloso que fosse, querendo saber qual era o gosto dele neste estado.

— Lorde Ryley. Sempre um prazer. — o tom de Lorde Herbert fervilhava de sarcasmo e desgosto, e Willow analisou os dois cavalheiros.

Eles se encararam, lembrando-a de dois cachorros rosnando e se medindo antes de uma rinha. Por baixo de toda a elegância, havia um cerne de ódio que era tão palpável quanto o vestido que ela usava esta noite. Eles se odiavam, e era um ódio antigo, não por

causa dela, ela imaginava. Uma pequena parte dela ficou agradecida. Outra parte não conseguia deixar de desejar que houvesse dois senhores tão poderosos quanto esses dois brigando pela mão dela.

Pelo amor dela.

Lorde Ryley zombaria da ideia. Ele, com toda a certeza, não estava procurando por amor. Luxúria e sexo dirigiam esse cavalheiro, e ela não seria mais parte disso. Dois beijos bastaram.

Era hora de encontrar um homem que a amasse, que ela pudesse aprender a amar e ter uma vida feliz. Um homem como Lorde Herbert, por exemplo.

Ela afastou a decepção que sentiu por saber que Lorde Ryley nunca seria o homem certo para ela. O Canalha Espanhol não era para casar.

— Lorde Perfeito, vejo que você conseguiu garantir um convite.

Que bom revê-lo.

Willow olhou para Lorde Ryley, o tom dele era tão sarcástico e sem emoção quanto o de Lorde Herbert.

E quem era Lorde Perfeito? Ela limpou a garganta, trazendo a atenção de Lorde Ryley para ela. Havia algo na maneira como Lorde Ryley estava olhando para Lorde Herbert que a fez refletir. Se ela fosse uma mulher acostumada a apostar, diria que ele queria estrangular Sua Senhoria.

O que aconteceu entre eles para causar tanto ódio?

— Eu poderia dizer o mesmo para você. Por que não está em seu antro de jogatina com o resto da ralé? — lorde Herbert recuou, parando ao lado dela, sempre observando Lorde Ryley.

Lorde Ryley os encarou, seu olhar pousando em Willow e não mais saindo dali. Ela estremeceu sob a inspeção dele, as emoções que não havia sentido antes com Lorde Herbert a atravessando como o sangue nas veias. O corpo dela tremia e se contraía, seu estômago se contorcia de prazer.

Nada disso daria certo.

Lorde Ryley iria brincar com ela e deixá-la para os ratos depois que se satisfizesse. Não podia permitir-se cair sob o feitiço perverso dele, não importava o quão tentador a ideia fosse. Por mais atraente

que a memória da boca dele se movendo sobre a dela fosse, da língua dele deslizando e invadindo a sua boca.

— Está com inveja por nunca ter ido lá. — lorde Ryley deu uma risadinha, o som ameaçador. — Eu não diria que um antro de jogatina fosse um lugar que um Lorde Perfeito desejasse conhecer.

— Eu pedi várias vezes para não me chamar assim. — Lorde Herbert disse pouco antes de Willow perguntar a quem Lorde Ryley se referia.

— Cavalheiros, por favor. Creio que xingamentos é um artifício meio juvenil, não concordam?

— Nunca insultei o Canalha Espanhol.

Lorde Ryley ergueu a sobrancelha.

— Nunca? Minhas lembranças me dizem diferente.

Eles se encararam, e Willow olhou de um para o outro. Dois touros se enfrentando antes de atacarem.

— Devemos voltar para dentro? — Lorde Ryley cedeu primeiro, surpreendendo Willow.

Ele se moveu para o lado, gesticulando para que passassem.

Willow se virou para à casa, Lorde Herbert a seu lado.

— Srta. Perry, podemos dar uma palavrinha antes de você voltar para dentro de casa? — Lorde Ryley perguntou e olhou para um Lorde Herbert furioso. — Em particular.

— Não é apropriado que a Srta. Perry fique aqui com você. —

Lorde Herbert vociferou encarando Lorde Ryley.

Willow deu um tapinha no braço de Sua Senhoria.

— Eu estava seguro com você, meu senhor. Estarei tão segura quanto com Lorde Ryley. Logo estarei lá dentro.

Por um instante, ele não se moveu, e Willow se perguntou se protestaria, mas então com um suspiro, ele assentiu e recuou pelas portas do terraço, deixando-a decerto sozinha com Lorde Ryley.

— Qual o assunto de que gostaria de tratar comigo? — ela perguntou.

Ele se apoiou no parapeito do terraço, estudando-a com uma quietude que a deixou desconcertada. Como é que um simples olhar era o suficiente para fazer seus nervos dispararem? Como é que um homem que mal conhecia podia afetá-la tanto? Era perturbador e delicioso ao mesmo tempo.

— Nada. Eu apenas queria separar você do Lorde Perfeito.

Sempre consigo o que quero, Srta. Perry. Mesmo que seja às custas dos outros.

Willow soltou um suspiro descontente e cerrou os punhos ao lado do corpo.

— Você é impossível. — ela se aproximou dele, parando a um mero suspiro de seu rosto. — Eu não sou seu brinquedo, e brincar comigo diante dos outros não é aceitável. Eu estava gostando de passar um tempo com Lorde Herbert, e você decidiu pôr um fim a tudo porque não gosta do cavalheiro?

Ele assentiu uma vez.

— Sim. Não apenas “não gosto dele”. Eu o odeio, e aqueles que são como ele. Assim como a mãe, ele é um idiota desagradável, conivente e fofoqueiro.

Willow arfou, pois nunca havia ouvido um homem falar de outro de forma tão rude antes. O ódio era antigo, e se ela entendia alguma coisa de Lorde Ryley, o que não era muito, era que uma ferida havia sido aberta e nunca fechada em seu peito.

— O que quer que o senhor sinta por Lorde Herbert, posso ver que o devora. Apenas pela maneira como fala. O senhor precisa seguir em frente, superar seja lá como ele o ofendeu, ou um dia olhará em volta, e não encontrará ninguém que se importe.

O lábio dele se curvou em um rosnado, e ela deu um passo para trás.

— Ah, mas é exatamente isso, minha doce Srta. Perry. Não me importo se ninguém estará por perto para me consolar, ou com meu coração partido. Só para começar, se alguém sair da minha vida é porque nunca fomos amigos. E um conselho, minha querida. Não fale comigo como se soubesse da razão para eu odiar Lorde Herbert. A ferida é profunda, mas terei minha vingança, preste atenção ao meu aviso e tome cuidado.

Ela balançou a cabeça, as palavras dele não faziam nenhum sentido.

— O que quer dizer com isso? Por que devo ter cuidado?

— Caso se associe à Sua Senhoria, pode sofrer por associação.

Um amigo dele é um inimigo meu.

— Então, somos inimigos agora? — ela deu outro passo mais perto. Era errado, mas o cheiro de sândalo e algo mais, exclusivo dele a atraíam. A memória da boca dele na dela, demandando uma resposta, a faziam se aproximar e desejar mais: — Não éramos no outro dia. — ela disse, esperando que ele se lembrasse do beijo, mesmo em seu estado de embriaguez.

O olhar dele mergulhou para os lábios dela, e um arrepio percorreu sua espinha.

— Não, nós não somos.

A BOCA DELA, a lembrança do beijo, quase desfez qualquer controle de Abe. Ele segurou a balaustrada, lutando contra o desejo de puxá-la contra ele e dominar a boca doce e perfeita dela com a dele. Ele agira fora do normal esta noite: rude, arrogante e cortante, mas vê-la com Lorde Perfeito havia rompido um fio invisível que estava segurando suas duas metades juntas.

Ele não deveria se importar com o que a garota fazia. Ela poderia seguir em frente e se casar com quem quisesse, alguém seguro e fraco como o Lorde Perfeito. Todos os algozes eram desse calibre. Mesmo assim, o mero pensamento de a Srta. Perry se casar com um homem assim deixava um gosto amargo em sua boca. A ideia dela na cama de outro homem fazia seu sangue ferver.

Maldita moça e suas artimanhas.

A habilidade dela de irritá-lo deve ser uma característica que herdou por ser parente da viscondessa Vance. Aquela mulher sempre foi capaz de trazer a raiva dele à tona só de estar presente.

— Se puder, me dê uma única razão para eu me manter afastada de Lorde Herbert. Uma razão sensata, não um ódio de infância que se recusa a deixar de lado, posso fazer o que me urge.

Abe ouviu com indiferença o que a Srta. Perry dizia, sua mente nebulosa de uísque havia se desviado para o vestido dela. O cetim rosa escuro combinava com os cachos dourados. O corpete abraçava o busto amplo, e a cintura fina era acentuada pelo corte estilo império. As pequenas mangas em seu ombro delineavam o corpo esguio, a pele mostrada onde as luvas terminavam começavam a implorar por um beijo.

Pela boca dele.

— Meu Senhor? Ouviu alguma coisa do que eu acabei de dizer?

— ela perguntou, captando seu olhar.

Com cada grama de controle que ainda lhe restava, ele se afastou da grade do terraço, e endireitou o lenço.

— Se ele a agrada, sem dúvida, case-se com ele. Não significa nada para mim.

Ele passou por ela, mas ela agarrou-o pelo braço e impediu que avançasse. Ele olhou para a mão delicada dela, sem acreditar que ela o obrigara a parar.

— Você é um péssimo mentiroso, Lorde Ryley. E sabe que eu sei disso.

Ele soltou uma risada áspera e condescendente, odiando o fato de que uma pequena parte dele, uma parte que ele não queria reconhecer, sabia que ela estava certa. Não gostou da ideia, de que ela tinha poder sobre ele. Nem um pouco.

— Não sabe nada sobre mim, a não ser o fato de que tirei vantagem de você duas vezes ao beijá-la. Não interprete minhas ações por mais do que elas são. Eu não sou para você, Srta. Perry.

Ele não era bom para ninguém. O que ele precisava era voltar para Londres para que a mulher diante dele parasse de incomodá-lo tanto. Parasse de dizer coisas que ele precisava negar, embora soubesse, no fundo, que o que ela dizia era a verdade.

Apesar de todo o comprometimento em destruir essa mulher, de arruiná-la, havia algo nela que frustrava seu plano. A desenvoltura dela com os outros, o fato de que não recebera tudo de mão beijada como tantos de sua laia o faziam se refrear um pouco, por honra.

Ele lembrou a si que havia sido criado sem os pais apenas por capricho da tia da Srta. Perry e da mãe de Lorde Perfeito. Criados e um tutor foram a única segurança que ele teve por anos. A infância infeliz dele poderia ser atribuída à Srta. Perry e a família dela.

Ela o observou, os olhos brilhando de pena e pesar.

Ele não teve nada disso. Ninguém cuidou dele, por nada. Ele olhou para a mão dela antes que ela percebesse que o segurava.

Ela o soltou, mas não antes que ele lesse a consciência que a percorreu. Também vibrou através dele.

Uma reação incomum que ele nunca teve a outra mulher. Ele sentia a onda de excitação ante uma fornicação iminente, o desejo de quando a amante o levava à liberação, mas nunca havia se encontrado em uma situação como esta, de dividir um ambiente com uma mulher e esse único fato o deixar duro. Como agora ao lado da Srta. Perry.

Ele se inclinou na direção dela, quase nariz com nariz.

— Posso não ser adequado para me tornar um marido, mas ficaria mais do que feliz em satisfazê-la de outras maneiras.

Maneiras mais prazerosas, caso queira.

A boca dela se abriu, e a necessidade o agarrou.

Maldita ela por ser tão doce que dava vontade de morder. A lembrança de acordar em sua grande casa em Londres com a tenra idade de seis anos e encontrar os baús da mãe sendo carregados em uma carruagem flutuou em sua mente. Ele implorou que ela ficasse, agarrou-a pelo vestido e lamentou a ideia de não a ver mais. Levaria mais doze anos antes que ele voltasse a ver a mãe, e foi na Espanha, onde ela morava. Ela estava feliz lá, havia criado uma vida para si. Um consolo ele supunha.

Abe deu um passo para trás, e foi para a porta.

Ele não cederia aos encantos dela. Ela era uma Vance. Uma inimiga. Ela estava permitindo que Lorde Perfeito a cortejasse.

Outro inimigo. Não havia forma neste inferno que ele se deixaria iludir pelo charme dela. Não importa o quão bonita, quão leal ela parecesse ser para seus amigos. Mas não era para ele.

— Tenha uma noite agradável, Srta. Perry. Desejo boa sorte em conseguir o seu Lorde Perfeito.

Abe foi em direção à porta, ignorando o suspiro chocado dela atrás dele. Ele não era chamado de Canalha Espanhol à toa.

C A P Í T U L O 9

N A TARDE SEGUINTE, Willow sentou-se e tomou chá com Lorde Perfeito. Ela franziu a testa ante o lapso de concentração, e voltou seus pensamentos aos que envolviam Lorde Herbert. Lorde Ryley e suas opiniões inadequadas acerca de Sua Senhoria estavam mexendo com a cabeça dela, confundindo seus pensamentos.

O cavalheiro não era tão perfeito. Ele era gentil e culto e, pelo que disse sobre suas propriedades, não estava atrás de uma esposa rica. Ele parecia bem capacitado para cuidar de seus negócios.


Ela tomou um gole do chá doce, observando-o por cima da borda da xícara. Ele estava discursando acerca da propriedade dele aqui em Hampton, falou da extensão e de quantas fazendas de inquilinos ele dispunha. Era um bem de valor considerável, ou pelo menos Willow acreditava que assim era. Tudo o que podia esperar era que a atenção dele em relação a ela fosse sincera, que ele não a estivesse fazendo de boba.

Lorde Ryley não havia contado com exatidão seus motivos para desgostar tanto do homem, mas o fato de que Whitstone era seu amigo decerto significava que ele não era tão ruim. Até onde Willow poderia dizer, Lorde Herbert pode ter roubado uma amante de Lorde Ryley ou ganhado um jogo de cartas de apostas altas, roubando-o de fundos.

— Você tem planos para esta tarde, Srta. Perry? Pelo que pude observar mais cedo, está agradável para um passeio à cavalo.

Willow olhou pela janela e avistou Lorde Ryley conversando com Whitstone no terraço externo. Ela sentiu o nervosismo se acumular em seu estômago, e voltou-se para Lorde Herbert, não precisava da distração que Sua Senhoria lá fora causava nela cada vez que o via.

Homem irritante.

— Eu queria caminhar pelo terreno e ler um pouco antes dos entretenimentos desta noite. Creio que a duquesa planejou alguns

jogos para nós.

Uma risada os alertou, e Lorde Herbert olhou para o terraço, os olhos estreitos no duque. Ele então se voltou para ela, observando-a de perto.

— Conhece Lorde Ryley há muito tempo, Srta. Perry?

Ela balançou a cabeça.

— De modo algum. Ele é apenas um conhecido recente.

— Hm. — murmurou Sua Senhoria. — Depois da intervenção dele em nossa conversa ontem à noite, eu imaginei que talvez eu estivesse entrando em uma situação de que não deveria fazer parte.

Calor subiu pelas bochechas dela.

Willow tomou um gole de chá para ganhar tempo antes de responder. Ela beijara Lorde Ryley com abandono. Com descontrole, ela permitiu avanços que não deveria. A memória da boca dele em seu seio deveria escandalizá-la. Deveria fazê-la se sentir-se rude e devassa, mas isso não aconteceu. Se qualquer coisa, seu corpo ferveu com o despertar. Uma curiosidade em descobrir o que mais ele poderia fazê-la sentir. O que, infelizmente, era muito diferente do que Lorde Herbert a fazia sentir.

— Claro que não. Apenas temos amigos em comum, e ele estava preocupado com minha reputação de estar com um cavalheiro fora de casa. Isso foi tudo.

— Se ao menos fosse este o caso. — disse Lorde Herbert, pousando a xícara de chá e recostando-se na cadeira, cruzando as pernas. — Posso ser franco, Srta. Perry?

Willow olhou ao redor, assegurando-se de que não havia outros que pudessem ouvir antes de assentir.

— Claro. Por favor.

Ele abriu um pequeno sorriso antes de dizer:

— Eu quero que a senhorita saiba que estou naquele estágio da minha vida em que estou pronto para sossegar. Casar-me e começar uma família. Já deve ter ouvido o boato em Londres, ou nesta reunião rural, mas eu queria que você soubesse que é verdade.

Willow engoliu um gole de chá, não havia esperado que ele fosse tão atrevido, mesmo assim, era revigorante que um cavalheiro

estivesse contando a ela a verdade de sua situação e não apenas se esquivando dela como tantos deles faziam.

— Desejo-lhe sorte em encontrar sua futura esposa, meu senhor.

Ele riu.

— Eu quero que você saiba que não importa o que outros possam dizer — disse ele, olhando para Lorde Ryley. —, eu sou honrado e nunca faria ninguém de tolo. Nunca levaria nenhuma mulher a acreditar que sinto mais do que sinto em verdade por ela.

— Essa é uma característica honrosa de se ter, meu senhor.

Obrigada por me informar.

— Digo isso porque não desejo que sua boa opinião sobre mim seja maculada por Lorde Ryley. Sei que é errado da minha parte reclamar dele de forma tão aberta, mas o ódio dele por mim é de longa data e um tanto desgastado. Ele não sabe o que fala.

Willow estreitou os olhos para Sua Senhoria, antes de olhar para Lorde Ryley. Ele ergueu os olhos da conversa com Whitstone, e seus olhares se encontraram. A pele dela formigou e o coração bateu forte no peito com o olhar escuro e sedutor de Sua Senhoria.

Ela voltou a atenção para Lorde Herbert, ignorando o homem que a consumia em sua visão periférica.

— Lorde Ryley não falou mal de você. — ela mentiu, não querendo aumentar o abismo que parecia haver entre os cavalheiros.

— É muito gentil da sua parte falar assim, mas sei que ele não gosta de mim e, ao longo dos anos, suas ações dentro da sociedade talvez me fizeram odiá-lo tanto quanto ele me odeia. Não somos amigos, nem nunca seremos, mas espero que tal fato não afete a amizade entre nós dois. Gostaria de conhecê-la melhor, se me conceder esta permissão.

Ela estava disposta?

Diante dela sentava-se um homem que atendia a tudo o que ela procurava em um marido: ele era gentil e respeitado por aqueles a quem ela era mais próxima no mundo. Era rico e possuía um título, por isso não podia ser considerado um caçador de fortunas. Bonito também, com olhos azul-escuros e cabelos louros curtos e bem aparados. Ele poderia não provocar chamas em sua alma, mas talvez acontecesse com o tempo. Caso a beijasse, talvez

desencadeasse uma reação dentro dela, semelhante ao que ocorreu com Lorde Ryley.

Ela não saberia até que tentasse.

— Eu gostaria muito disso, meu senhor.

Ele abriu um largo sorriso, e ela se sentiu um pouco tonta com o interesse dele por ela. Daria tempo a Lorde Herbert, e daí decidiria.

Dispensá-lo por causa de Lorde Ryley apenas porque Sua Senhoria a beijou primeiro não era razão, não desconsideraria alguém que poderia ser melhor para ela

Lorde Ryley não era para casar.

Ele era o tipo que avassalava em um namoro, deixava a todos de ponta a cabeça e o coração partido ao partir. Ela não queria ficar com o coração partido por causa dele. Arruinada e deixada para trás sem nenhum cuidado quando algo mais interessante, mais atraente aparecesse.

Ele mesmo disse que não era homem para ser um marido, e ela não tentaria transformá-lo em algo que ele não queria ser. Ele acabaria ressentindo-se dela, algo que nunca seria do feitio dela.

Um futuro com Lorde Ryley era inatingível, mas um futuro com Lorde Herbert era uma possibilidade. Ela seria uma simplória em todos os aspectos se o afastasse só porque os beijos de Lorde Ryley eram tão maravilhosos quanto pecaminosos.

— Talvez eu possa me juntar à senhorita em sua caminhada esta tarde? — ele perguntou com uma voz doce.

Willow podia sentir o calor do olhar de Lorde Ryley em sua pessoa, mas se recusou a olhar para ele. Ele foi um erro de julgamento da parte dela, um lapso de bom senso que felizmente se corrigiu antes que mais danos fossem causados. Lorde Herbert, por outro lado, era seguro, doce e desejoso de ver até onde a corte poderia levá-los. Uma opção muito melhor para ela.

— Eu gostaria muito disso, meu senhor. Vamos nos encontrar no terraço, fora da biblioteca depois do almoço?

— Estarei ansioso por este momento, Srta. Perry.

O PASSEIO VERSPERTINO deles foi agradável. Eles conversaram acerca de Londres, de seus planos para o futuro, o desejo dela de

viajar para o exterior, instante em que Willow ficou duplamente satisfeita ao ouvir que Lorde Herbert também estava planejando viajar no próximo ano ou algo assim.

Willow descobriu que ambos gostavam de cavalos, e que não moravam muito longe um do outro em Londres. Enquanto caminhavam pelos terrenos da nova propriedade do duque e da duquesa, e observavam as plantas e o pequeno riacho que corria pela propriedade, ela não conseguia entender por que Lorde Ryley não gostava tanto dos cavalheiro. Ele decerto parecia inofensivo. O

fato da mãe dele ter sido a melhor amiga da tia dela a deixava mais tranquila acerca do caráter dele. Mesmo que ela não se lembrasse de ter visto a tia e a mãe dele juntas na sociedade.

A amizade poderia ter esfriado um pouco com o tempo? Ou será que as vidas das duas apenas seguiram direções diferentes?

— O senhor disse que sua mãe era próxima de minha tia, mas quase não me lembro de vê-las juntas na cidade. Por favor, me avise se eu estiver indo além do que deveria, mas por acaso sabe o que houve?

Lorde Herbert franziu a testa, e ela ficou maravilhada com o quão bom ele era. Não era a beleza meio obscura, meio taciturna de Lorde Ryley, mas uma forma etérea e divina. O que Lorde Ryley trazia de escuridão, Lorde Herbert trazia de claridade.

Talvez esta fosse a razão para ele ter, de início, gravitado na direção de Lorde Ryley. Um deus obscuro, cheio de sombras e trapaça, que sempre enganava suas presas fazendo-as acreditar que eram algo que não eram.

Lorde Ryley não iria mais enganá-la.

— Sim, está certa. Elas não eram mais tão próximas quanto antes. Suponho que a vida as levaram em diferentes direções e esferas sociais. Minha mãe, como você sabe, se casou com um conde, mas como as duas debutaram no mesmo ano, sempre foram amigas e tentaram se ver tanto quanto os eventos permitiam.

Eles caminharam, e Willow olhou para o gramado macio e gramado sob suas sapatilhas. O ar trazia o aroma de pinheiro fresco e flores, uma brisa leve e refrescante aliviara o ardor do calor do dia.

A nova propriedade de Ava era muito pitoresca e, quando deram a

volta pelo lado oeste da casa, avistaram os estábulos e a nova pista de corrida que Ava usaria para treinar seus cavalos.

— Compreensível, é claro. Minha tia só se casou com um visconde, e suponho que até mesmo algo como a diferença de títulos pode causar a abertura de um abismo entre amigas.

Willow avistou Ava em cima de um cavalo, o duque ao seu lado, olhando para ela com adoração. Ela esperava que sua amizade com Ava e Hallie não cessasse, porque agora ambas ostentavam títulos, estavam muito acima dela, Evie e Molly em posição. Elas era amigas há tantos anos, e não sabia o que faria se as perdesse.

Sua Senhoria caminhou ao lado dela, os braços cruzados nas costas. Ela o estudou um momento.

— Minhas amizades com Ava, Hallie, Evie e Molly são as amizades mais importantes da minha vida. Não importa com quem eu me case, nunca permitirei que posição, riqueza ou opiniões se interponham entre esse vínculo.

Willow ergueu o queixo, precisava que Sua Senhoria soubesse que, caso ele propusesse casamento e ela o aceitasse, caso ela viesse a se tornar uma condessa, ela não permitiria que ninguém, nem qualquer um de seu círculo, a influenciasse ou impedisse sua amizade com Evie e Molly.

Se alguma de suas amigas se casasse com um clérigo ou fazendeiro, ela continuaria a convidá-los e amá-las tanto quanto agora, e a nobreza poderia se danar se não gostasse.

— Esse é um ideal nobre, Srta. Perry, mas a sociedade tem um jeito, às vezes, de ficar entre até mesmo a mais forte das amizades.

Willow abriu um sorriso evasivo e se virou para a direção onde o duque estava parado, observando Ava cavalgar.

— Devemos nos juntar a Whitstone antes de voltarmos para dentro? Talvez ele possa nos contar um pouco mais sobre esses jogos que a duquesa reservou para todos nós. Ela tem sido muito reservada e não diz uma palavra. — disse ela, querendo encerrar o pequeno passeio juntos.

O fato de ele ter dito o que disse sobre as amizades dela a abalou. Apesar de toda a gentileza, do comportamento cavalheiresco, as palavras dele a deixaram fria. Ele esperaria que ela deixasse a amizade com Evie e Molly para trás por causa da

posição dele? Não era algo que ela permitiria, mas então, talvez ele estivesse falando em termos gerais, e não da opinião dele.

Ao se aproximarem do duque, ela sorriu em boas-vindas e ficou satisfeita com o fato de os cavalheiros se ocuparem com conversas envolvendo cavalos e a criação deles. Willow escapuliu despercebida, precisando da santidade de seu quarto. Por que ter que encontrar um marido era tão confuso e irritante? Estava começando a achar que toda essa ideia de casamento era uma noção absurda que dava muito trabalho. E não valeria a pena o esforço.

C A P Í T U L O 1 0

A BE DEU algum espaço à Srta. Perry nos poucos dias que haviam passado, mas a cada momento que passava, a notável atenção de Lorde Herbert começava a irritar. Por que, ele não conseguia entender. Ele não queria se casar com a garota. Ele não queria se casar com ninguém.

As palavras de despedida da mãe antes de fugir para a Espanha foram para ter cuidado ao entregar o coração. As palavras dela só poderiam significar uma coisa. Que ela entregou o coração ao pai dele, e em um momento de necessidade, quando ela precisava que ele ficasse ao lado dela, contra aqueles que a ridicularizavam e insultavam, ele não o fez.

Até este momento em sua vida, Abe não havia sentido a menor inclinação de dar seu coração a ninguém. Deixar outra pessoa conhecer todos os seus segredos sombrios e horríveis.

Até a Srta. Perry, claro.

Abe se assustou com o pensamento e passou a mão pelo cabelo. Que diabos ele estava cogitando? Ele não sentia nada além de um leve divertimento pela Srta. Perry. Apesar da bela aparência e amplo saldo bancário, ela não ocupava nenhum lugar especial na vida dele. Ou ocupava?

Ele praguejou, correndo, mais do que caminhando, na direção dos estábulos. Ele ajeitou a postura. Ela não era apenas diversão, ela era a única razão para ele estar aqui no interior durante esta semana maldita. Ele precisava que ela aprovasse um investimento específico que prejudicaria suas finanças. Abe decidiu que não a deixaria investir todo o dinheiro. Não era tão idiota, mas faria com que gastasse o bastante para precisar fazer ajustes em seu cotidiano.

Os amigos dele, se descobrissem o que ele pretendia, o chamariam de desgraçado, e talvez ele fosse um. Mas a família Vance foi cruel e implacável com a mãe dele, e ele não os deixaria escapar impunes. A velha viscondessa Vance fora astuta, com

contadores leais que não consideravam positivo investir em nada, mas a Srta. Perry era diferente.

Após investigá-la, ele descobriu que ela havia contratado o próprio advogado, alguém com pensamento mais moderno e inovador do que o da falecida tia. Profissionais esses que eram persuadidos, sem muito esforço, a fazer investimentos temerários sugeridos por um nobre.

Abe parou de maneira abrupta ao ver a Srta. Perry caminhando no jardim de braços dados com Lorde Herbert. O pomposo lorde sorria para ela, e até Abe precisava admitir que parecia genuíno em seu interesse. Ele também não permitiria que aquele desgraçado a tivesse. Lorde Herbert sempre conseguia o que queria, mas não mais. O dia dele também chegaria, e nas mãos de Abe, ele garantiria que fosse assim.

Por amor à própria vida, ele não conseguia ver o que a Srta.

Perry via no idiota pretensioso. O Lorde Perfeito, que não saia da linha ou fazia qualquer coisa que fosse contra a vontade da mãe. Se a Srta. Perry desejava se casar com alguém dessa família elevada, teria que impressionar a velha matriarca. Mulheres de famílias muito mais ricas do que a dela, e com conexões mais elevadas, haviam falhado.

Ele parou, debatendo consigo mesmo se iria interrompê-los ou não. Qualquer um que o observasse, diria que ele parecia um tolo apaixonado que via a fonte de seu amor sendo arrancada de suas mãos como doce nas mãos de uma criança.

Havia uma primeira vez para tudo, mas ele preferia ir ao inferno a permitir que Lorde Perfeito ficasse com a Srta. Perry. Não que ele a quisesse para si. Maldição, não, ele não queria, mas o demônio que caminhava ao lado dela neste instante, que a fitava como se o sol nascesse da bunda dela, também não a teria.

— Algo errado, Ryley? — Duncannon disse de trás dele, fazendo-o interromper a inspeção com um susto.

Duncannon era um bom amigo, às vezes muito leal, mas podia lê-lo como um livro, e não adiantava tentar enganá-lo.

— Estou aborrecido, oras, e a Srta. Perry é a razão por trás da minha ira. — ele começou a andar em direção aos estábulos outra vez, Duncannon bem em seus calcanhares.

— Willow? O que ela fez com você, meu caro?

Abe parou, Duncannon dando de cara com ele, fazendo-o cambalear para frente. Willow? Duncannon a chamou pelo nome de batismo. Ele se virou devagar, sem saber o que as emoções que estavam tumultuando dentro dele significavam ao perceber que eles se tratavam com tamanha intimidade.

— Você a chama pelo nome de batismo, e sua esposa aprova?

Duncannon o observou e estreitou os olhos quando entendeu a motivação da raiva dele.

— Eu chamo todas as amigas de minha esposa pelo primeiro nome, na maior parte do tempo. O fato de a Srta. Perry não ter lhe dado permissão para usar o nome dela o incomoda, meu amigo? —

a risada cúmplice de Duncannon o invadiu, intensificando o mau humor.

— Sua zombaria me faz questionar nossa amizade e o que diabos estou fazendo aqui.

— Espere. — disse Duncannon, segurando o braço dele. — Há mais aqui do que apenas uma permissão para usar o primeiro nome. Você está com ciúmes de Herbert.

— Ao inferno que estou. — Abe zombou. — E de qualquer maneira, o que ele está fazendo aqui? Sabe o que eu penso dele.

Duncannon franziu a testa, suspirando.

— Lorde Herbert está aqui apenas porque Whitstone não gosta de causar problemas. Sabe que somos leais a você, que o apoiamos. Há muitos presentes aqui a quem não temos uma amizade íntima. Por que essa reação exagerada? — Duncannon o segurou célere, o aperto forte em seu braço. — Você gosta da Srta.

Perry. Gosta mais do que se permite admitir.

— Com absoluta certeza que não. — ele afirmou.

A voz curta e final. Uma mentira que saiu de seus lábios com gosto amargo e errado. Ele gostava dela. Gostava mais do que ele deixava alguém saber, até ele mesmo. Porém, “por quê?” era a verdadeira pergunta.

Era porque ela era proibida para ele pela inimizade entre suas famílias? Pela fortuna dela, que muitos cavalheiros aceitariam de bom grado em seus cofres? Ou o fato de ter sido honesta com ele,

declarado que procurava um marido, um casamento por amor, e sendo assim ele se via desejoso?

Ele mesmo disse a ela que não procurava casamento. O fato não era mentira. Casar-se com ele seria o mesmo que uma tortura para uma mulher que desejava um marido fiel e pleno de adoração.

Abe nunca seria nenhuma dessas coisas. Ele dirigia uma casa de jogatina pelo amor de Deus. Um lugar em que os homens iam para escapar das esposas e do dever, para apostar e, se assim desejassem, onde poderiam trazer suas amantes e fazer uso das suítes particulares no andar de cima.

— Gosta sim. — as palavras de Duncannon soaram surpresas.

Abe podia entender a surpresa. Ele mesmo estava sentindo um estranho abatimento e desconforto. — Ora, ora, ora. Este é uma descoberta que jamais acreditei que faria.

Abe puxou a gravata, irritado com o nó sufocante no pescoço.

— Não seja ridículo.

— Willow parece muito interessada em Lorde Herbert. Se o que soube estiver correto, creio que não haverá problema algum com relação a ele cortejá-la. Ele contou ontem à noite, quando estávamos jogando bilhar. Creio que pretende torná-la esposa dele.

Um calafrio percorreu a espinha de Abe, e ele voltou a seguir em direção aos estábulos, precisava estar em cima de um cavalo e logo. Longe do amigo perspicaz, que era muito aberto com suas opiniões. Uma mulher, Srta. Perry... Willow... não o beijava como ela o beijou para em seguida se casar com outro tão rápido. A mulher não poderia ser tão inconstante, com certeza, a menos que tenha começado a gostar de Lorde Perfeito.

A ideia o revoltava até as profundezas de seus ser.

— Ela pode fazer o que quiser. — ele jogou por cima do ombro, precisando de distância antes de golpear e socar algo, ou seja, a mandíbula do amigo, por falar a verdade.

Ou, pelo menos, falava a verdade para ele, para fazê-lo ver o fato que ele tanto teimava em não admitir. Que a Srta. Willow Perry havia se infiltrado sob a pele dele, e que não importa o quanto ele tentasse removê-la, ela não saía.

WILLOW CAMINHAVA com Lorde Herbert, o discurso interminável dele acerca da casa foi doce e interessante no início, mas depois de uma hora, ela começou a perder o entusiasmo pelo assunto. Ela olhou ao redor dos jardins, espiando Lorde Ryley e Lorde Duncannon caminhando em direção aos estábulos. Duncannon parecia ter parado Ryley, puxando-o para falar com ele. Ela estreitou os olhos para o par. Estavam discutindo?

Lorde Ryley olhou na direção dela, a repulsa clara em suas feições mostrava tudo o que ela precisava saber acerca do cavalheiro. Foi um erro tê-lo beijado, permitir tais liberdades a ele.

Mesmo que a memória da boca dele, quente e úmida deslizando em seu seio, aplacasse uma dor bem no fundo de seu núcleo. Ele era um canalha. Ela sabia desde o início, e era culpa dela mesma ter se permitido ser envolvida pelos braços dele.

Apesar de toda a ajuda dele com os investimentos, não haveria uma segunda vez para o que ocorreu entre eles. Sem mais beijos.

Sem mais toques. Ela olhou para Lorde Herbert enquanto ele falava da mãe e o quanto ele esperava para que elas se conhecessem.

Willow sorriu e tentou demonstrar interesse, mas sabia que a condessa não era uma mulher para se irritar. Uma dama que, em muitas ocasiões, ralhou com aqueles que julgava precisarem de instruções sobre boas maneiras ou decoro.

— Voltaremos para a cidade em dois dias. Estou ansioso para apresentá-la.

Se ao menos ela sentisse o mesmo.

Willow manteve o sorriso, não o deixando escapar, embora a ideia de encontrar Lady Herbert fizesse seu estômago revirar.

— Já ouvi falar da condessa. Estou ansiosa para conhecê-la também. Espero que possamos ser amigas.

Lorde Herbert deu um tapinha na mão dela, e Willow cerrou os dentes pela maneira condescendente de seu gesto.

— Não tema, minha querida. Ela vai gostar muito de você. Afinal, você é sobrinha da amiga dela.

Ela gostaria do dinheiro dela, mais do que gostaria de Willow em si. Ela não era titulada. A tia se casou bem, mas nenhum membro da família de Willow, em nenhum dos lados da linhagem dos pais o

fez. A condessa não gostaria disso, não importa o quanto Lorde Herbert assim o desejasse.

— Pretendo voltar para Londres depois de amanhã. O baile do Duque de Carlisle é no dia seguinte, e não quero perdê-lo. Dizem que é o evento da temporada.

— Ah, sim. — disse ele, balançando a cabeça. — Caso queira, posso acompanhá-la de volta a Londres? Estarei a cavalo, ao lado da carruagem, e assim garantirei que nenhum dano aconteça a você e à Srta. Milton ou Srta. Clare.

Ela suspirou por dentro. Irritava-a ter permitido que a opinião de Lorde Ryley acerca de Lorde Herbert o prejudicasse aos olhos dela.

Ele era doce, atencioso e estava se esforçando muito para cortejá-la como um cavalheiro deveria fazer. Em vez de violá-la ao lado de um riacho e depois fazer tudo ao seu alcance para evitá-la.

Willow precisava recuperar seu senso.

Não perderia a cabeça por um cavalheiro que de forma alguma queria uma esposa, e não a queria.

— Isso é muito gentil de sua parte, meu senhor. Eu adoraria.

Ele os parou, tirando a mão dela de seu braço e beijando os dedos enluvados. Os olhos dele sustentaram os dela enquanto seus lábios tocavam sua pele. Willow tentou parecer lisonjeada, mas não estava certa de ter sido bem-sucedida. Algo estava errado. Ela sabia bem no fundo. Estar com Lorde Herbert não disparava nenhuma emoção dentro dela. Ele era gentil, poderia ser um amigo, mas a palavra brando vibrava em sua mente sempre que estavam juntos.

Um casamento com ele seria seguro. Daria a ela a proteção do nome dele e permitiria que ela tivesse filhos. Algo que ela ansiava há muito tempo. Ela desejava sim, como queria que o sangue esquentasse a cada olhar de Sua Senhoria. Que cada toque ou palavra sussurrada dele a fizesse estremecer de consciência, mas isso nunca acontecia.

Seria porque ela não beijou o cavalheiro?

Lorde Herbert colocou a mão dela em seu braço, e ela percebeu que ele havia terminado seu pequeno gesto e a estava acompanhando de volta para dentro. Tão perdida em seus próprios pensamentos, ela não percebeu. Não havia reagido de forma

alguma. A primeira vez que viu Lorde Ryley, sem nem mesmo que ele a encarasse com os olhos escuros e perversos, ela se viu ciente da presença dele. Havia sentido como uma carícia física.

Agora, depois de beijar o cavalheiro, ela estava ainda mais ciente. Ela franziu a testa, sabendo que havia apenas uma coisa que ela poderia fazer para remediar a situação. Ela precisava beijar Lorde Herbert e ver se, ao beijá-lo, a reação dela a ele mudaria.

Afinal, antes de Lorde Ryley, ela não havia beijado ninguém. Talvez fosse devido à falta de consciência e conhecimento dos homens que a impedia de saber se ela poderia estar com alguém como esposa.

Era possível que, depois de beijar Lorde Herbert, seu corpo passasse a reagir a ele.

A pele dela se arrepiou e, nas portas do terraço, ela olhou por cima do ombro e viu Lorde Ryley empurrando a montaria pelos campos da propriedade. As abas do casaco flutuavam atrás dele, o cabelo escuro e selvagem fácil de ser notado entre a paisagem verde e, maldição, o coração dela deu salto no peito.

C A P Í T U L O 1 1

A BE DESCANSAVA em um das janelas retraídas na longa galeria de retratos na nova propriedade do Duque de Whitstone e observava os jardins bem cuidados abaixo.

Seu humor melancólico era atípico, e ele detestava ter sido causado por uma mulher. Ou, pelo menos, uma mulher em particular que continuava a passear pela casa ao lado de Lorde Perfeito como se ele fosse a melhor coisa que já acontecera a Londres em seus mil anos de história.

O fato de o desgraçado lançar olhares divertidos e arrogantes na direção dele, de modo a esfregar na cara de Abe o namoro com a Srta. Perry, é que ele não suportava. Se o homem não parasse, Abe teria que resolver a situação com as próprias mãos. Ou seja, socaria o desgraçado bem no nariz arrogante aristocrático.

Felizmente, o recanto da janela em que ele estava sentado protegia-o de qualquer outra pessoa que viesse a entrar na galeria.

Não que o duque e a duquesa já tivessem tido tempo de atualizar as pinturas com seus familiares. A propriedade pertencera ao conde de Glenmere, uma família que passara por tempos difíceis e perdera a fortuna. Se ele conhecia os amigos, era bem provável que os retratos da antiga família fossem bem guardados para que um dia retornassem aos donos por direito.

Uma risada feminina e cadenciada chamou sua atenção, e ele se ressabiou quando a reconheceu como sendo da Srta. Perry. O tom mais profundo, no entanto, o alertou, e ele puxou a cortina um pouco para olhar para o fim do corredor, onde viu Lorde Perfeito parado diante de uma grande pintura de um cavalheiro com um cão de caça aos pés.

A Srta. Perry, com o perfil tão belo quanto ele se lembrava, o fez sentir-se como se tivesse recebido um golpe físico, e ele agarrou o assento em que estava sentado para se impedir de se juntar ao casal e pôr fim ao pequeno tête-à-tête que estava ocorrendo.

Os lábios dele se curvaram ante a visão que eles eram. O fato de eles parecerem um par londrino perfeito pouco ajudou a abrandar seu humor. Mas o que ele viu a seguir fez seu sangue gelar. O

Lorde Perfeito, depois de fazê-la rir de algo que ele disse, inclinou-se e beijou-a.

Não apenas um beijo rápido e doce, mas ele a puxou contra ele e tomou a boca dela como um homem faz quando quer tal mulher em sua cama. Abe se levantou, lutando contra o desejo de interromper o interlúdio secreto, esmurrar o mequetrefe até virar papel e arrancar a Srta. Perry do homem com quem Abe nunca permitiria que ela se casasse.

Ele se virou para a janela, cerrando as mãos ao lado do corpo, lutando para recuperar o controle. Ele não iria interromper os dois.

Se Lorde Perfeito era o homem que ela queria, por que ele se importava? Ele iria arruiná-la de qualquer maneira. Fazê-la pagar pelos erros da tia. O fato de talvez estar a alguns dias de ser prometida ao Lorde Perfeito era, de fato, ideal. Ele poderia derrubar os dois juntos, e seria muito mais fácil fazê-lo como um casal. Os contatos dele em Londres, seus parceiros nos negócios, poderiam dificultar as coisas financeiramente para Lorde Perfeito O homem, assim como tantos outros, não era tão perfeito quanto levava todos a acreditar, e ele havia contraído dívidas que Abe poderia comprar.

Pensamentos e planos passaram por sua cabeça, várias maneiras de arruinar os dois. A raiva bateu em suas veias como um elixir de vingança. Um suspiro soou atrás dele, e ele saltou quando um corpo quente e com belas curvas bateu em suas costas.

Ele se virou rápido o suficiente para agarrar os braços da Srta.

Perry e firmá-la antes que ela caísse de costas. Ele deveria deixá-la ir, cair de bunda. Era o mínimo que ela merecia depois de beijar o desgraçado do Lorde Perfeito.

— Lorde Ryley. — ela engoliu em seco, as bochechas com um rosa brilhante e espalhado como se tivesse sido flagrada fazendo algo perverso, o que ela fez.

— Senhorita Perry. — ele disse, tão imparcial quanto pôde.

Ele recuou, colocando espaço entre eles. Não precisava de outro lembrete da sensação do corpo dela sob as mãos dele. Sabia muito

bem como as curvas eram deliciosas. O quanto desejava tê-la em seus braços de novo para que pudesse saborear cada grama dela.

— Do que você está fugindo? — ele perguntou, passando por ela e observando a galeria de retratos que agora não mostrava um sinal sequer de Lorde Perfeito.

— Nada. — ela disse apressada, o rubor nas bochechas ficando ainda mais intenso.

Não que ele achasse que seria possível ela parecer mais envergonhada, mas aí estava, ela podia. Os olhos dela dispararam como um cervo assustado, e ele ergueu a sobrancelha.

— Achei que havia visto a senhorita mais cedo. Do lado de fora da galeria de retratos, e bastante ocupada com um certo lorde. Tem certeza de que não está fugindo?

Ela mordeu o lábio, e Abe se retesou.

Maldição.

Ele queria beijá-la. Beijá-la de forma tão profunda e por tempo o bastante para que ela não tivesse outra escolha a não ser se esquecer do tolo pomposo que se atreveu a tomar certas liberdades.

— Estava me espionando?

Ele riu, voltando a se sentar.

Abe ficou olhando para ela, esperava que não fugisse. Por mais que se odiasse por tal desejo, ansiava pela companhia dela.

Gostava das pequenas discussões e dos beijos, quando ela não os entregava a mais ninguém.

— Não espionava, apenas estava no lugar certo, na hora mais oportuna. — ele cruzou as pernas, segurando o joelho com as mãos. — Estou curioso, no entanto. Sempre comparece à reuniões no campo determinada a beijar todos os cavalheiros com quem conversa? Primeiro eu, e agora Lorde Perfeito. Sua Senhoria sabe que compartilhou tais delícias comigo também?

Ela cruzou os braços na frente do corpo, destacando ainda mais os seios em seu lindo vestido de seda verde. Abe gemeu por dentro.

Talvez não fosse uma boa ideia ela estar aqui, tão escondida, com ele. Não depois de dias sem estar perto dela, sem ter o prazer de provocar a pequena atrevida.

— Soa como espionagem para mim. Deveria se envergonhar.

— Eu? — ele disse, apontando para si, para dar mais efeito. —

Eu deveria ter vergonha de mim? Não sou eu quem beija cavalheiros a esmo, sem dar a devida atenção a quem possa passar ou flagrá-los. Eu ouvi vocês, e embora eu devesse ter feito minha presença conhecida, me lembrei de que cheguei aqui primeiro, e portanto não o fiz. Veja. — ele disse, olhando para o livro ao seu lado, mas que nem chegara a abrir desde que se sentou na alcova da janela. — Eu estava lendo e, em seguida, fui interrompido, de forma rude, com declarações de intenções, e sons nojentos de um tolo pomposo beijando uma mulher da qual ele não é digno.

A Srta. Perry arfou, olhando para ele, e Abe ficou rígido.

Havia percebido que falara mais do que devia. Talvez tenha revelado muito acerca de como se sentia ao vê-la com o Lorde Perfeito. Como ela o levava à distração, a ponto de ele querer acertar o infeliz fisicamente.

— Se quer saber, Lorde Herbert está me cortejando. Ele vai me apresentar para a mãe quando voltarmos para a cidade. Inclusive, irá me acompanhar durante a viagem amanhã.

Abe se levantou, sem saber que o desgraçado iria acompanhá-la ou que ela estava indo para casa. Ambas as informações o enviaram a uma espiral de desconcerto.

— Você está partindo? Mas eu pensei que a reunião iria até domingo. Está tão ansiosa assim para voltar para a cidade e conhecer a mãe de Sua Senhoria? No seu lugar, eu não estaria.

— Não? Você não gosta dela, meu senhor? Se não vou conhecer a mãe de Sua Senhoria, então talvez você queira que eu conheça a sua. Parece muito incomodado com o fato de Sua Senhoria estar me cortejando. Por acaso, Lorde Ryley, está com ciúmes? — ela disse, inclinando-se em direção a ele e não deixando mais que um sussurro de espaço entre suas bocas.

O fato de ela se torcer em um sorriso conhecedor partiu a pequena quantidade de controle que ele ainda mantinha. Ele a puxou para os braços. Ela arfou, e ele se viu olhando para ela, percebendo, com certo prazer, que a moça gostava de como ele a segurava. Gostava da incapacidade dele de não reagir à provocação dela com ideais e sonhos de se casar com outro.

Abe não sabia dizer se gostava dessa compreensão ou não, e não se incomodou em tentar desvendar-se, pois tomou os lábios dela em um beijo ardente, desfazendo quaisquer outros pensamentos, por completo.

DESTA FORMA. Era assim que era ser beijada por um homem que sabia fazê-lo bem. Willow ficou na ponta dos pés e beijou Lorde Ryley de volta com tanto entusiasmo e habilidade quanto ela podia se lembrar do último abraço deles.

Sua boca trazia o gosto de chá doce e malandragem, os cachos ondulados e escuros dele eram macios ao toque de seus dedos, flexíveis em suas mãos. Ela puxou o sabor para a própria boca, uma e outra vez, e se deleitou com a sensação da língua dele emaranhada com a dela. Ó sim, este beijo era muito mais impactante do que o compartilhado com Lorde Perfeito.

Ele a havia beijado de boca fechada, afetado como se ele não tivesse certeza se só poderia tocar seus lábios, ou se poderia beijá-

la como Lorde Ryley a estava beijando neste momento. Ela sentiu as costas baterem na meia parede entre as janelas, e ele a prendeu ali. O peito duro e musculoso dele provocou os mamilos dela até os bicos ficarem endurecidos. As mãos grandes e fortes dele deslizaram pela coluna dela, provocando um arrepio antes que uma das mãos agarrasse seu bumbum, puxando-a com força contra ele.

Willow arfou, a masculinidade ereta e posicionada a frente do núcleo dolorido, e sem pensar, ela se moveu contra ele. Deslizou seu sexo contra o dele, a sensação diminuída pela barreira de roupas a deixou impaciente. Havia muitas roupas entre eles. Ela queria senti-lo. Queria deixá-lo mostrar a ela como era entre um homem e uma mulher. Entre marido e mulher.

Um gemido rasgou o ar, e ela percebeu que era dela no instante em que a mão dele deslizou de sua bunda até roçar perto da abertura de sua roupa íntima. A necessidade ardente, a deliciosa dor entre as coxas exigia alívio, ela queria ser acariciada.

— Você está molhada para mim, Willow. — ele beijou a parte de baixo do pescoço dela, dando pequenas mordidas em seu ombro.

— Sabe o que isso significa, não é?

Ela balançou a cabeça, murmurando uma resposta incoerente que nem ela entendeu. Não que entendesse muito no momento.

Tudo isso era errado. Ele era errado para ela, mesmo que parecesse tão certo no momento. Lorde Ryley, o Canalha Espanhol, nunca se casaria com ninguém. Disto ela estava certa, quanto mais com ela.

Ela não era bem relacionada o suficiente, ou selvagem o suficiente para Sua Senhoria. Pelo que sabia dele, de onde ele passava a maior parte do tempo, seu antro de jogatina, ele vivia de forma intensa e veloz.

Não era o que ela queria.

Ela queria viver, sim, mas queria uma família, um casamento no mais verdadeiro dos sentidos. Uma vida que combinaria com ela.

Lorde Ryley não se encaixava nada nessa visão.

Ela se lembrou da pergunta dele.

— Não. — ela conseguiu dizer, prendendo a respiração enquanto os dedos dele roçavam sua abertura.

— Significa que gosta do meu toque. Aposto que não ficou tão quente e molhada quando aquele tagarela do Lorde Perfeito a beijou.

O lembrete de que ela beijou dois homens em questão de minutos a acertou em cheio, e ela o empurrou. Ele tropeçou para trás, mas onde ela acreditava que veria uma compreensão presunçosa, ela só viu uma necessidade ardente, algo que rivalizava com a necessidade dela. Como podia um homem tão diferente do que ela queria fazê-la sentir tantas coisas que a fazia se esquecer de todo o decoro e inferno, de Lorde Herbert também?

Willow respirou fundo para se acalmar, estendendo a mão para verificar o cabelo e feliz por encontrar os grampos no lugar. Ela não podia continuar permitindo que ele tivesse tais liberdades. Nem ela poderia continuar querendo tê-las. Se estava falando sério acerca de encontrar um marido, não poderia ser arruinada pelo libertino mais infame de Londres.

— Chega. — disse ela, erguendo a mão quando ele deu um passo em sua direção. — Não podemos continuar com isso. Seja lá o que é. — ela disse, gesticulando entre eles.

— Você gosta dos meus beijos e do meu toque. Por que parar quando não precisa?

Ele a observou, e ela percebeu que ele estava tentando descobrir o que fazer. O que dizer. Havia pouco que ele pudesse fazer ou dizer que fosse de alguma ajuda nessa situação. Ela precisava voltar para Londres mesmo que apenas para fugir do homem diante dela.

Por mais que ela o desejasse, no fundo de sua alma, ela sabia que ele não se modificaria. Homens como Lorde Ryley não se apaixonam, nem são leais às esposas. Ela se iludiria se pensasse o contrário. Lorde Ryley passou muitos anos em descrença com a alta sociedade e se divertiu muito esnobando as regras de decoro.

A opinião dele acerca de casamentos não era muito melhor.

— Eu não vou dormir com você, meu senhor.

— Abe, por favor.

Ela engoliu em seco, sem pensar que teria permissão para usar o primeiro nome dele. Não depois de ela negar a ele o que queria.

Ela.

Um arrepio percorreu sua pele, e ela esfregou os braços, gelando de repente.

— Eu não posso chamá-lo por esse nome.

Não que ela não quisesse chamá-lo pelo nome, mas era muito pessoal. Muito íntimo. Não tão íntimo quanto o que eles acabaram de protagonizar, mas ainda assim, era o nome de batismo dele.

— Sim, você pode. Quero que você o faça. — ele estendeu a mão, pegando a dela e brincando com seus dedos, de forma distraída. — Não temos que dormir juntos para eu dar prazer a você.

Ele abriu os dois botões de pérola no pulso dela e retirou a luva.

Ele ergueu a mão dela e levou à boca, para beijar a palma. O beijo quente era semelhante aos beijos dados na boca, e ela estremeceu, perguntando-se o que ele faria após tal declaração.

— Então, vou continuar virgem? — ela respirou, mordendo o lábio para se impedir de jogar contra ele, e se esquecer de todas as próprias regras e sonhos, se entregar ao Canalha Espanhol.

Ele sorriu de forma consciente, e ela desejou saber o que ele estava pensando. Ela não ia se entregar a este homem. Não sem

uma proposta de casamento, o que definitivamente não iria acontecer.

— Sim, e deixe-me mostrar como.

A pressão em sua mão aumentou, e ela soube que ele estava a uma fração de segundo de puxá-la contra ele mais uma vez. Se ele o fizesse, ela não seria capaz de resistir. Não uma segunda vez. Foi necessária toda a sua força de vontade para afastá-lo quando tudo o que ela queria era tudo o que ele estava disposto a dar a ela. Não importa as consequências. Willow libertou a mão, pegou a luva e o deixou ali a encarando com os olhos arregalados quando ela começou a descer o corredor da galeria de fotos, determinada a chegar ao quarto sem ser arruinada por um patife.

Deflorada em uma alcova de janela pelo Marquês Ryley.

A risada dele a seguiu e ela caminhou mais rápido.

— Nos vemos em Londres, Willow.

Ela se encolheu e odiou que o som do próprio nome nos lábios dele fosse como um elixir que ela queria mais do que qualquer outra coisa. Até mesmo um casamento perfeito e seguro com um homem como Lorde Herbert.

C A P Í T U L O 1 2

A TEMPORADA LONDRINA estava a todo vapor quando voltaram para a cidade. Willow compareceu ao baile do duque de Carlisle, e todas as noites desde então comparecia a um ou outro evento. Uma noite foram à ópera em Covent Garden, e a vários bailes e jantares. Todos os eventos eram agradáveis e todos a deixavam irritada e frustrada quando acabavam.

A tola estúpida pensou, quando Lorde Ryley disse que iria vê-la em Londres, que ele iria procurá-la. Mas ele não o fizera. Na verdade, ela nem o vi mais.

E esta era a única razão para ela se encontrar neste instante em uma coche de aluguel, a caminho de Hell's Gate. E sem a companhia das amigas que estavam em um evento com a duquesa de Whitstone.

Se as amigas descobrissem que ela as fingiu uma dor de cabeça para ficar em casa, nunca a perdoariam. Mas, ela precisava saber.

Precisava ver se Lorde Ryley estava de volta a Londres e talvez até contente, para não a procurar. Se fosse esse o caso, ela poderia continuar a se encontrar com Lorde Herbert. Ir lá provaria a ela, sem qualquer dúvida, que Sua Senhoria era o cavalheiro certo para ela em vez do canalha que brincava com mulheres e depois as deixava para recolher seus corações despedaçados.

Willow fez um som de deboche.

O que estava pensando?

Ela não estava com o coração partido. De modo nenhum. Lorde Ryley havia sido uma experiência agradável, o que era inegável, mas nada mais. Ela não havia dado o coração a ele. Uma ideia tola que não iria acalentar outra vez.

Ela verificou a roupa: as calças masculinas e botas de cano alto.

O colete e o casaco superfino se ajustavam com perfeição a ela, a modista fez sob medida. Ela não queria que ele a reconhecesse

esta noite, e com uma nova peruca de cabelo preto curto, Willow não acreditava que ele seria capaz.

Chegando ao clube, ela pagou ao condutor para esperar e entrou. O som da música encontrou seus ouvidos, e um pequeno grupo de músicos estava posicionado em um canto e tocava enquanto os cavalheiros jogavam. Poucos notaram a entrada dela, a maioria estava muito atenta aos jogos ou às mulheres em seus colos.

Willow caminhou e procurou pelo único cavalheiro que não saía de sua mente nos últimos dias. O porquê ela não conseguia entender. Lorde Herbert mostrou-se devotado em todos os bailes e festas, e ela estava certa de que em questão de semanas, senão dias, ele iria propor casamento. Não que ela já tivesse conhecido a mãe dele, mas estava certa de que muito em breve a conheceria, ou pelo menos era ao que Lorde Herbert dizia.

Parada ao pé da escada, Willow fez uma reverência para uma mulher que passava, olhando-a com os olhos arregalados que um libertino lançaria ao sexo frágil. Depois de ser beijada por Lorde Ryley, Willow entendia o que a mulher que passou ao seu lado queria de qualquer cavalheiro disposto a pagar seu valor.

O escritório de Lorde Ryley ficava no segundo andar, e ela se virou para subir as escadas. Se ela o encontrasse aqui, então pelo menos ela saberia o que ele andava fazendo. O que o impediu de procurá-la pela cidade.

Um casal passou correndo por ela, rindo e acariciando um ao outro antes de desaparecer em um cômodo e fechar a porta com uma batida decidida. Willow avançou ao longo do corredor, certificando-se de parecer que estava interessada pelos jogos no salão abaixo. Ela parou próximo a porta que ela acreditava ser do escritório de Lorde Ryley e se apoiou na balaustrada.

A porta estava fechada, e ela franziu a testa. Ela não podia abrir e olhar o lado de dentro, ele decerto saberia quem ela era caso fizesse isso, mas podia esperar e torcer para que ele saísse. Uma risada sensual chamou a atenção dela que olhou para a escada, e encontrou a mulher que Lorde Ryley considerava sua amante.

Seus cabelos longos e escuros caíam soltos pelas costas. Os lábios estavam pintados de um vermelho profundo e brilhante, e ela

exalava sensualidade. Willow prendeu a respiração quando a mulher correu um dedo ao longo de um cavalheiro por quem ela passou antes de piscar para ele. O vestido dela era transparente, não deixava nada para a imaginação.

Willow se virou, olhando para baixo enquanto a amante de Abe batia na porta atrás dela e entrava.

Felizmente ela deixou a porta aberta, e Willow se moveu um pouco pelo corredor para ficar fora de vista, mas dentro do alcance da audição.

— Querido, desça e dance comigo. Não é toda noite que temos música.

— Não esta noite, Lottie.

Willow mordeu o lábio ao ouvir a voz grave e distraída de Lorde Ryley. Ela ouviu o suspiro insatisfeito da mulher. Ela sentiu-se nauseada com a ideia de que uma mulher tão bonita, tão pecadora como o Canalha Espanhol, era a mulher que compartilhava a cama dele.

O desespero a rasgou.

Com uma amante tão sedutora como aquela mulher, não era de se admirar que ele não a tivesse procurado. Ela não era tão mundana, nem tão bonita. E apenas uma pequena parte dela, dominada pela estupidez, é que nutria esperanças de que ele mudasse por ela. Que acreditava que ele se apaixonaria perdidamente por ela e deixaria toda a libertinagem para trás.

Willow olhou por cima do ombro e, através da porta, viu um espelho do outro lado da sala. O objeto dava uma visão direta de Lorde Ryley sentado em sua mesa. Ele estava curvado sobre uma pilha de papéis, o cabelo desalinhado como se ele tivesse passado a mão muitas vezes ali.

A mulher deslizava pela sala, o vestido vermelho esvoaçante não fazendo nada para atrair o olhar de Sua Senhoria. Uma pequena parte dela gostou que ele ignorasse a sereia à sua frente. Ao menos ela não precisava vê-lo cobiçando a amante.

— Desde que voltou para a cidade, tem sido um chato. — a mulher se virou para ele e parou diante da mesa. — Você não me quer mais, Abe? — ela ronronou, passando a mão pelo decote do vestido.

Lorde Ryley, Abe... olhou para cima então, uma centelha de apreciação queimando nas orbes opacas. Willow piscou para conter a picada de lágrimas ao vê-lo olhar para a amante com interesse renovado. Maldito seja ele e como ele a tratava. Era tão ruim quanto a alta sociedade dizia ser. Canalha era uma carapuça feita sob medida para ele.

— Sabe que estou apenas colocando o trabalho em dia, Lottie.

Não há necessidade de ter ciúmes do que mantém a vida luxuosa que você leva.

O beicinho da mulher deveria agraciar um palco, não apenas os olhos de Lorde Ryley. A amante passeou ao redor da mesa, e foi se sentar em cima da mesa, diante dele, espalhando seus papéis.

Lorde Ryley recostou-se na cadeira, e a observou com intensidade.

— Talvez você gostasse de ter um pequeno banquete, meu senhor? — ela disse, abrindo as pernas e deslizando o vestido vermelho, quase vinho, até que se tornasse um amontoado em torno de sua cintura.

Willow sentiu a boca se abrir, e lutou para recuperar o fôlego.

Ele sorriu com malícia, enquanto a palavra desgraçado reverberava na mente dela. Ela havia ido até lá nesta noite para ver se ele estava apenhas distraído, e com certeza, ele estava distraído sim, mas havia mais coisas. Ou seja, a amante.

Os toques que ele deu sob as saias de Willow em Hampton, foi um mero divertimento para ele.

Ela balançou a cabeça.

Ela era uma idiota. Havia sido ludibriada. E a culpa era toda dela.

A reputação dele o precedia, e ela permitiu que os beijos perversos e o toque ardente a convencessem a permitir liberdades que ela não deveria ter permitido.

Ele nunca mudaria.

As ações agora mesmo em seu escritório com a amante demonstravam isso, e ela não perderia mais nenhum momento se perguntando se ele algum dia veria valor nela, se ele mudaria por amor. Ele não a amava. Ele não amava ninguém além de si.

Willow se virou e olhou para os jogadores, muitos dos quais ela conhecia, a maioria deles casados ou noivos. Poucos ali não estavam acompanhados das amantes.

O que estava fazendo aqui?

Esta não era a vida que ela queria. Não importa o quanto possa ter gostado do toque de Sua Senhoria. Ela se permitiu cair no jogo de sedução dele, mas nunca mais. Lorde Herbert era gentil. Sim, era um pouco enfadonho, talvez, mas ao menos seria fiel. Com um casamento como o que surgia diante dela, com Sua Senhoria, Willow acreditava que o amor poderia florescer. Se alimentado com o tempo, cresceria e prosperaria.

A risada profunda de Lorde Ryley soou na sala atrás dela, e ela olhou pela porta, sem se preocupar em tentar esconder o fato de que ela os observava. A amante dele estava em seu colo agora, os braços dele se apoiavam na cintura dela, sem força.

Os pés dela não se moveram, não importava o quanto não quisesse ser testemunha do que via. Lorde Ryley olhou por cima do ombro da amante e a viu. O sorriso dele desapareceu antes que ficasse de pé, o que causou a queda da amante, bem à sua frente.

— Willow. — disse ele, caminhando ao redor da mesa.

Willow fugiu pelo corredor, sem se importar com o fato de que ela era a única a correr no interior dessa fossa de libertinos e bastardos. O som dos protestos da cipriana dele ao ser jogada no chão flutuou até os ouvidos dela. Um pequeno resquício de prazer a atravessou ao saber que a mulher havia caído de costas.

Não que fosse culpa da meretriz.

Willow permitir liberdades à Lorde Ryley fora culpa apenas dela.

Ela o deixou fazê-la de boba, e agora teria que viver com a consequência. Ou, pelo menos, o coração dela, inconstante e estúpido, teria.

— Willow. Pare.

Ela não parou, o pequeno corpo tornando mais fácil para ela abrir caminho através da multidão. Alguns cavalheiros se interessaram, rindo e debochando de Lorde Ryley por não saberem que ele se interessava pelo mesmo sexo.

Willow ignorou todos eles.

Seu objetivo? Alcançar a carruagem que a esperava do lado de fora e pular de cabeça no casamento com Lorde Herbert. Ela chegou até as portas, abriu-as e correu a toda velocidade em direção à carruagem. Conseguia ouvir os passos de Lorde Ryley,

duros em seus calcanhares, mas não parou. Precisava chegar à carruagem. Precisava fugir.

Braços fortes e intransponíveis envolveram sua cintura e a fizeram parar. A sensação do peito dele, duro contra as costas dela, fez uma emoção frustrante passar pela espinha dela , e ela chutou as canelas dele o melhor que pôde, tentando se livrar do abraço.

— Tire suas mãos de mim, seu desgraçado desavergonhado.

Ele ficou rígido detrás dela, e ela também parou de se mover. Ela nunca havia usado palavras tão vulgares, mas tê-las dito em voz alta e para este mesmo cavalheiro, em particular, foi libertador. Ele merecia ser chamado pelo que era.

Como ele ousava brincar com ela com tão pouca consideração?

Ele sabia que ela era inocente em relação aos homens, mas ainda assim, ele a provocou e zombou com a possibilidade de mais.

Mesmo que ela fosse uma tola por ter esperanças silenciosas, se perguntasse se tal homem poderia se modificar pelo amor. Lorde Ryley não era esse homem.

— Tsc. Tsc. Tsc. minha tigresa. O que a faz ficar toda eriçada?

Willow se desvencilhou, girando para encará-lo. Ela se assustou pela proximidade dele e cerrou os dentes por precisar erguer a cabeça para encará-lo nos olhos. O calor que ela leu ali provocou sensações estranhas dentro dela, e ela estreitou os olhos, lembrando-se de por que havia fugido do antro de jogatina.

— Você, Lorde Ryley. Você e a maneira como trata as mulheres.

— Mesmo? — ele perguntou, cruzando os braços.

A ação fazendo-a ciente do corpo musculoso e do fato de que ele não estava usando um casaco, apenas uma camisa. O olhar dela foi para o pescoço dele, notando que ele também estava sem gravata. Estava meio despido, e a proximidade não a ajudava.

— Sim. Mesmo. Você brincou comigo em Hampton. Admita que o fez. E agora, de volta a Londres, sou jogada na sarjeta como todas as suas amantes.

Por que estava dizendo essas coisas?

Ela não se importava que ele seguisse em frente. Era uma boa decisão para todos. Ela iria se casar com outra pessoa, e todas as lembranças do homem diante dela seriam eliminadas de seus

pensamentos. A mentira quase a fez emitir um som de zombaria em voz alta. Maldito seja.

— Nunca fomos amantes, mas vê-la com essas calças de novo, posso ser persuadido a mudar de ideia.

Ela arfou, dando um passo para trás.

— Você é um canalha. — ela rosnou. — Eu não tocaria em você, não depois de ter acabado de vê-lo acariciando sua amante. Ela parecia mais do que disposta. Por que não volta lá para cima e a satisfaz, meu senhor? Eu não estou interessada.

Willow girou nos calcanhares, chamando o condutor do coche de aluguel que se virou para ficar de frente para a estrada, sem dúvida muito absorvido na discussão um tanto pública dos dois.

— Ó, não, não está, Srta. Perry. — disse ele, a voz profunda e ameaçadora.

Ele a seguiu até a carruagem, batendo no telhado. O veículo deu uma guinada para frente, e ela olhou para ele.

— O que pensa estar fazendo. Saia imediatamente.

Ele gesticulou em direção à janela.

— Estamos em movimento. Não seria seguro e, de qualquer forma, não terminamos.

Willow riu e esperou ele percebesse o sarcasmo em seu gesto.

— Ó não, nós terminamos sim, meu senhor. Não que tenhamos começado algo.

O que não era bem verdade, mas ainda assim, se ele esperava por mais carícias, mais beijos, estaria enganado. Ela cuspiria no olho dele antes de repetir qualquer um desses atos.

— Você está com ciúmes da minha amante? — ele perguntou como quem questiona o tempo.

Ela olhou para ele, a raiva crescia em seu sangue.

— Ciúmes? Não, mas suas ações me confirmaram o que eu já sabia. Eu deveria ter ouvido a todos e mantido distância. Não vou ser enganada uma segunda vez.

A mandíbula dele tensionou, e ele desviou o olhar por um instante.

— Lottie não é mais minha amante, não importa o quanto ela deseje ser. Quando voltei para a cidade depois da festa campestre, paguei o suficiente para ela ficar confortável pelo tempo que

desejasse permanecer sem ter um protetor. Lottie é astuta e sempre está pronta a provocar se significar que ela conseguirá o que quer.

Willow debochou dele, inclinando-se para frente.

— E ela teria conseguido o que queria de você se eu não os interrompesse?

Lorde Ryley se inclinou para frente, a respiração dos dois se misturando.

— Ela não me teria, maldição.

— Você mente, meu senhor.

— Eu não minto, Srta. Perry.

— Mesmo? E devo acreditar nisso? — ela perguntou, arqueando a sobrancelha.

— Sim, você deveria, porque a única mulher que eu desejo nos últimos tempos é a pequena atrevida que está sentada à minha frente agora.

OS OLHOS DE WILLOW se arregalaram antes de estreitarem, a desconfiança dela nele evidente. As palavras o atingiram como um soco no corpo, e ele as aceitou pela verdade que eram. Ele queria Willow. Queria mais do que já desejou alguém até aquele ponto na vida dele.

Ela era tudo que ele não precisava: uma mulher em busca de amor, família, futuro seguro e pacífico. E a vida dele era um caos.

Noites de devassidão, dias de jogo e ócio sem fim. Todas as coisas que ele sempre gostou até o dia em que a conheceu. A partir de então, ela transformou a vida dele em um turbilhão.

Ele nem queria uma esposa.

O pensamento o repelia, mas a ideia de Willow se casar com Lorde Perfeito, inferno, com qualquer outro homem na verdade, o repelia mais. Ele nunca permitiria tal resultado. Se ela se casasse, ele a perderia para sempre. Não que a tivesse ganhado. Mesmo depois de todos os beijos, os momentos juntos, ela era reservada e desconfiada. E com razão, já que ele já havia dado início ao plano de fazê-la pagar pela parte que a família dela teve na queda da mãe dele em desgraça.

— Eu não acredito em você. — ela disse, e os olhos dela foram para os lábios dele que sentiu calor percorrer todo o torso.

— Acredite nisso, então. — ele a puxou para o colo, tomou os lábios dela em um beijo ardente que o tirou do eixo.

Beijá-la era tudo o que ele queria fazer, sentir as doces curvas dela nas mãos dele outra vez enquanto suas bocas digladiavam. Ele rosnou quando a língua dela deslizou contra a dele, e ele a agarrou pela nuca, segurando-a contra ele, sem intenção alguma de soltá-la.

As mãos dos dois estavam por toda parte, ouvia-se pequenos suspiros dela, enquanto ele explorava cada curva, os lindos seios fartos que cabiam com perfeição nas mãos dele.

Abe precisava senti-la, sanar as dúvidas de que ela o queria tanto quanto ele a queria. Ele puxou a frente das calças dela, abrindo e alcançando-a, descobrindo-a molhada, deliciosa. Ela gemeu, beijando-o com mais vontade. O beijo ficou escaldante, as bocas se fundiram, as línguas exploravam um ao outro, exigindo mais e mais.

Ele não conseguia o suficiente. Nunca teria o suficiente dela.

— Maldição, Willow. Você me distrai.

Os dedos dela deslizaram pelo peito dele, o coração batendo em um tamborilar contínuo de necessidade. Ela mudou de posição em seu colo, montando nele, e pela segunda vez naquela noite, o mundo dele perdeu o chão.

Nunca ele se vira em um terreno tão duvidoso. Ele era um homem que controlava tudo, quem eram seus amigos, as propriedades, o clube, as amantes. Mas a mulher em seus braços era tudo que ele detestava na alta sociedade, era sua inimiga, e, ainda assim, ele não conseguia deixá-la. Não iria deixá-la sair da vida, não importa o quanto ele devesse fazer exatamente isso.

Ela estava tão molhada, a umidade cobria os dedos dele e diziam que ela o queria tanto quanto ele a queria. Mesmo que ela jogasse na cara dele que ele era um canalha. Um asno. Tudo verdade, mas maldição, esse momento, Willow em seus braços, parecia certo. Fazia com que ele se esquecesse do passado, de todos os erros cometidos contra a família dele até que tudo o que restasse fosse satisfazê-la. Fazê-la feliz.

— Ó, sim. — ela se engasgou ainda contra a boca dele.

O pênis dele crescia e forçava o tecido das calças, e ele amaldiçoou o fato de que ela estava usando roupas de homem. Ele a queria. Queria transar com ela, aqui e agora, dane-se que estivessem em uma carruagem.

— Diga-me o que você quer, Willow.

Ele não a forçaria, mas uma pequena parte dele esperava que ela permitisse que ele a tivesse. Queria reivindicá-la como sua.

— Exatamente isso, o que você está fazendo agora.

O apelo, os olhos nublados de desejo insatisfeito provocaram algo dentro dele, e nada no mundo o faria recusar o pedido dela. Ele deslizou um dedo entre as dobras, em seu núcleo quente enquanto o polegar rodeava o broto de prazer.

O suspiro, o corpo ondulante contra sua mão, fez seu pênis doer desejando a liberação. Ele a queria com um frenesi incomum para ele. Queria satisfazê-la, mostrar a ela tudo o que poderia haver entre eles.

Ele gostava...

Abe xingou-se por dentro, sabia que o que ela o fazia sentir era a verdade da situação. Ele amava a mulher que estava em seus braços. Essa era a diferença entre ela e as companheiras de cama que tivera até então. Ele queria fazê-la feliz, satisfazê-la, e não apenas de uma forma sexual. Ele queria ouvi-la rir, vê-la mais do que apenas em bailes e festas.

Com a mão livre, ele puxou mais a peça de roupa dela, dando mais acesso para a própria mão. Ela era puro sabor de vício, e ele sentiu-se salivar com a ideia de beijá-la onde a mão agora se empenhava. Os beijos dela tornaram-se frenéticos e profundos.

Abe pegou tudo o que ela estava disposta a dar a ele.

A excitação dela deslizava nos dedos dele enquanto a incitava, provocando o botão inchado até que, por fim, ela gritou contra a boca dele. Ela fodeu a mão dele, embora ele soubesse que ela não sabia o que estava fazendo.

Necessidade rugiu por ele, avassaladora e urgente.

Ele a queria. Queria deitá-la no assento frente a eles, arrancar as calças e se enterrar fundo no núcleo pulsante dela. Ele continuou a estimulá-la até que o último resquício de clímax abrandou de seu corpo. Ela caiu contra ele, a cabeça mole em seu ombro.

Abe retirou a mão e ajeitou as calças dela o melhor que pôde antes de envolvê-la com os braços. Ele não era o tipo de homem que se aninhava depois de qualquer encontro sexual, mas com Willow era diferente. Ela o fez querer abraçá-la. Queria garantir que ela estava satisfeita, que soubesse que estava segura.

Uma sensação de bem-estar, de calma se apoderou dele, e ele a beijou de leve na têmpora, o doce aroma de frutos silvestres de seu cabelo fazendo-o sorrir. Ele a abraçou, massageando as costas dela enquanto ela recuperava o fôlego, ele percebeu, contente, que não se importava se ficassem dessa maneira para sempre.

Ele franziu a testa em meio à escuridão da carruagem enquanto rodavam pelas ruas de Londres. Quem poderia imaginar que a mesma mulher a quem ele jurou vingança seria a única mulher a capturar o coração dele? E ele se importava com ela mais do que tudo, até mesmo a busca de vingança em nome da mãe.

C A P Í T U L O 1 3

N A TARDE SEGUINTE, Willow se sentou em sua sala privada e folheou as mais novas criações da La Belle Assembleé. Ela havia pedido chá e biscoitos, mas não conseguia se concentrar na revista de moda feminina. Era inútil.

Lorde Ryley a havia convocado para revisar os investimentos de acordo com o combinado na noite passada, depois que ele a deixou em casa.

Sua concentração era impossível.

Ele a beijou com tanta paixão e, e de forma tão avassaladora antes de abrir a porta da carruagem que ela quase tropeçou escada acima ao entrar em casa. Foi bobagem dela. O homem não estava procurando por uma esposa, mas, céus, o que ele a fez sentir à noite não era nada parecido com nada que vivenciara na vida.

Ela experimentou o gosto do prazer que as mãos talentosas dele podiam despertar nela quando estiveram em Hampton, mas não foi nada comparado à noite anterior. A satisfação foi abrasadora, consumidora, e a deixou querendo mais, não menos.

A mão dele em seu corpo gerou tanto prazer que a mera lembrança a fazia se contrair de uma maneira gostosa. Ela o queria, e esta tarde ela iria seduzi-lo. Aqui. Em sua sala particular, enquanto as amigas estivessem fora, para uma tarde com Hallie.

Era um comportamento escandaloso, e ela corria um grande risco por desejá-lo dessa forma, mas não conseguia se conter. Se não pudesse tê-lo como marido, o teria dessa forma antes de se casar com um homem que a amaria.

Uma leve batida na porta soou, e o mordomo anunciou o Marquês Ryley, uma pequena linha de desaprovação na testa do funcionário idoso.

Willow agradeceu a ele:

— Feche a porta, por favor, Thomas. Falaremos de negócios e não quero ser incomodada.

Lorde Ryley olhou para ela, as sobrancelhas erguidas, e ela passou por ele enquanto o mordomo fechava a porta. Ela virou o trinco e se virou para Abe, mas ele já estava em cima dela.

Ele a puxou para um abraço, empurrando-a até que ela estivesse contra a porta. O calor dele, o corpo delicioso dele pressionou-se nela que ansiava por ele.

Por mais da amostra de prazer que ele deu a ela ontem.

— Senti sua falta. — disse ele, beijando-a com vontade, a língua emaranhada com a dela.

Willow se agarrou a ele, seu corpo era uma profusão de necessidades e desejos. De esperanças e sonhos.

— Eu também. — ela deslizou a mão no peito dele, demorando-se no reconhecimento de cada músculo flexionado e sinuoso que se movia sob a palma da mão. Willow deslizou as mãos por baixo do casaco, tirando-o dos ombros dele e deixou-o cair aos pés dele.

Ele encontrou o olhar dela, um brilho de pecado nos olhos enquanto ela abria os botões do colete prateado dele, às pressas. A peça também escorregou e foi dos ombros ao chão.

— Sou o único a ficar nu aqui esta manhã, Srta. Perry?

— Willow, por favor. — ela lançou um olhar malicioso para ele. —

E não, não será. É só que sou mais veloz em despi-lo do que você a mim.

— É mesmo?

O tom de barítono profundo dele foi como um aviso de que ela estava provocando. Como um vislumbre do quão longe ela poderia instigá-lo antes que ele explodisse. Antes que ele mostrasse por que o chamavam de canalha.

— Estou ganhando até agora. — disse ela com petulância.

Ele a puxou para perto, e fez alguns movimentos nos pequenos ganchos nas costas dela. O vestido caiu no chão, e então a camisola também foi tirada pela cabeça, deixando-a apenas com as meias.

Um desejo de se cobrir a percorreu, mas ao olhar para cima e ver admiração e calor no olhar de Abe, ela se acalmou e baixou as mãos ao lado do corpo. Ela ergueu o queixo, olhando para ele. A pele dela se arrepiou quando ele observou suas curvas com admiração.

Ele estendeu a mão, correu um dedo por um dos seios, circulou o mamilo, fazendo-o se enrugar. Ela mordeu o lábio, a respiração ficou irregular. Isto é que é ser seduzida. E por alguém que sabia como, e ela iria aproveitar cada momento disso. Se esta era para ser sua única chance com um homem que não seria seu marido, pelo menos seria com um dos libertinos mais renomados de Londres.

ABE ENGOLIU EM SECO ao ver a forma doce e trêmula de Willow diante dele. Ele havia ido ali para rever os investimentos que ele propôs a ela. Investimentos que ele iria negar agora. Ele não conseguiria fazer isso com ela. Prejudicar suas finanças. Não porque ela estava se entregando a ele, mas porque ela não merecia.

Ela pode ser sobrinha da mulher que arruinou a entrada da mãe dele na sociedade londrina, mas era inocente de qualquer crime contra sua família.

Agora que ela estava aqui, dele para ser reivindicada, ele sabia que havia apenas um final correto agora. Willow precisava se casar com ele. Ela precisava ser sua esposa. Era inimaginável a ideia de vê-la como a esposa de outra pessoa, e por isso, este era o único caminho para os dois.

Ela era a única mulher com quem ele se importava. Em quem pensava, e com quem faria planos. Embora, talvez, o que ele sentisse não fosse amor, a afeição que nutria por ela era profunda, e mais intensa do que ele já havia sentido até então.

Ele se aproximou dela, empurrando-a contra a porta e devastando o mamilo enrugado com a língua. A respiração ofegante e rápida dela era a prova de que ela estava excitada, molhada, pronta para ele. A ideia de se afundar por completo no núcleo quente dela enviou uma onda de luxúria para a virilha dele, e ele beliscou o seio dela como punição por deixá-lo tão duro.

Os dedos dela mergulharam nos cabelos dele, mantendo-o contra ela, e ele mudou para o outro seio, deleitando-se com o peso deles.

— Tão doce. — ele disse, beijando-a na barriga, circulando o umbigo antes de cair de joelhos.

Ele olhou para toda a extensão dela, flagrou o olhar cheio de luxúria enquanto ele plantava uma trilha vagarosa de beijos na direção de seu monte brilhoso.

— O que você está fazendo? — ela arfou, os dedos ainda massageavam o couro cabeludo dele, enviando um arrepio de felicidade pela coluna dele.

— Eu vou beijar você aqui.

— Onde? — ela guinchou, segurando-o longe dela.

Ele riu, estendeu a mão e deslizou o dedo por cima do botão, e dedicou um tempo às dobras para provocar seu núcleo.

— Bem aqui, meu amor.

WILLOW O OBSERVOU, hipnotizada, enquanto Abe a beijava em um lugar que ela nunca pensou que alguém jamais tocaria. Não com a boca, pelo menos. Ela ficou maravilhada ao vê-lo enquanto a língua dele dançava, provocando-a no mesmo lugar que a mão dele a havia provocado, quando estavam na carruagem no dia anterior.

Sem pensar, ela levantou uma perna e a deslizou por cima do ombro dele.

— Isso mesmo, amor. Abra-se para mim.

Ela mordeu o lábio, recostando-se na porta enquanto a língua dele a sacudia e provocava, seus lábios a beijando da forma mais íntima possível.

Calor a percorreu e uma doce dor se estabeleceu em seu núcleo, ela queria que ele a beijasse onde se alojava tão sensação.

Que os dedos experientes dele corressem contra sua abertura. E

então a boca dele estava lá também, beijando, lambendo, provocando-a a tal ponto que ela não pensava ser possível ficar de pé.

Ela gemeu e mordeu o lábio em seguida, por fazer muito barulho. Afinal, estavam encostados na porta. Os criados podem estar do outro lado.

Ele a chupou, e uma onda de prazer a atingiu.

Ela agarrou-o pelo cabelo, ondulando contra a boca dele Quaisquer pensamentos de decoro desapareceram. Tudo o que restava era deliciosa gratificação que a percorreu.

— Ah, sim, Abe. — ela se engasgou, não se importava o quão alto as palavras dela soassem.

Ele rosnou uma aprovação, o tremor do som fazendo-a vivenciar mais um disparo de prazer em seu sexo. Ela conseguia sentir de novo, o escalar até o auge do clímax que ela obteve ontem. Desta vez, porém, era mais forte, mais carnal enquanto a boca dele a levava ao frenesi.

Ela se mexeu acima ele, pressionou o corpo contra a língua perversa, e então a mão dele deslizou contra suas dobras, e um dedo mergulhou fundo nela. Willow agarrou-o pelos ombros enquanto tremor após tremor percorria seu núcleo, subindo em espiral para explodir por todo o corpo.

Felicidade. Puro êxtase.

E então, ela estava nos braços dele.

Ele a carregou para o sofá do outro lado da sala. Willow arrancou as calças dele com velocidade, rasgando a frente da roupa íntima dele sem esperar que o tecido caísse por completo antes que caíssem no acolchoado macio.

Ela envolveu as pernas em volta da cintura dele, esfregando seu sexo latejante contra o falo dele. Estava rígido, delicioso de se sentir, disparava mais tremores através dela cada vez que ele empurrava contra ela.

— Tem certeza, Willow? — ele perguntou, colocando a mão entre eles. — Não há volta a partir daqui.

— Por favor. Eu preciso de você — ela disse, posicionando-o em seu núcleo.

— Maldição. Eu não posso negar nada a você. — ele deu um impulso forte e a tomou.

Ela se assustou quando uma dor pungente a rasgou em seu centro, e se encolheu, não havia pensado que doeria tanto.

— Sinto muito. — ele arfou e a beijou com paixão e demora.

A língua dele, o lento declínio do beijo, a fez se esquecer da plenitude dele, da pequena fatia de dor que ela acabara de suportar.

E então, ele começou a se mover, um pequeno embalo para começar quando ela se acostumou à invasão de seu corpo.

A dor diminuiu, e ela ficou com apenas um incômodo gratificante que implorava para ser saciado. Willow o agarrou, sentia-se incapaz de conseguir o suficiente, de chegar perto o bastante do prazer que ele prometeu.

Os dois corpos se juntaram em uma dança de desejo, cada impulso acendia um fogo dentro do núcleo dela que a excitou e provocou até parecer queimar. Willow arqueou as costas, os pelos abrasivos do peito dele provocaram seus mamilos e fizeram um tipo totalmente diferente de gratificação percorrer seu corpo.

— Eu desejo foder você há tanto tempo. — ele se engasgou contra os lábios dela, sustentando o olhar.

Eles se encararam enquanto ele bombeava forte e fundo nela.

Willow estendeu as mãos e envolveu o rosto dele. As palavras grosseiras deveriam deixá-la enojada, fazê-la correr na direção contrária, e ainda assim, provocaram a reação oposta. Ela adorou ouvir que ele a queria tanto. A ponto de abandonar os bons modos da nobreza e ser apenas um homem.

Dela...

— Eu também queria você.

Era a verdade da situação, e não havia sentido em negar. Lorde Ryley não era um bom par para ela, mas hoje, neste instante ele era tudo o que ela queria, e ela pegaria tudo ele oferecesse. Mesmo que apenas uma única vez.

Não havia futuro com este homem que causava tumultos em suas emoções, o corpo dela apertou-se e estremeceu deliciosamente sob ele. Ele era selvagem, e ela queria gentileza.

Para não deixar a razão dominar e minimizar as sensações, Willow puxou Abe para um beijo e se esqueceu de tudo, exceto o que ele fazia. Tudo com o que ele a estava presenteando. Calor espiralou em seu núcleo enquanto ele urgia dentro dela. Com cada impulso, ele a provocava bem fundo.

O desejo de implorar, de pedir por mais dançou na língua dela que jogou a cabeça para trás, ofegou para reunir forças para suportar mais das provocações dele.

— Eu nunca vou me cansar de você. — ele arfou contra os lábios dela.

Ela o beijou, o coração pulando uma batida ante as palavras doces antes que prazer explodisse intenso e ofuscante por seu núcleo, disparando para pernas, braços, para todos os lugares.

Willow gritou o nome dele e se deleitou com o som do nome dela saindo dos lábios dele enquanto um líquido quente se derramava em seu estômago. Caíram juntos, a respiração irregular. Willow passou a mão pelas costas de Abe, provocando um arrepio.

— Isso, meu senhor, foi decerto muito escandaloso e maravilhoso. — ela suspirou, recostando-se, exausta e satisfeita para além da imaginação, as pernas dela pareciam gelatina, os braços estavam fracos, o corpo letárgico como se ela pudesse dormir por uma semana.

Ele rolou de lado, apoiando-se em um braço, observando-a. A mão livre se estendeu, circulando os mamilos dela que endureceram ao toque.

— Temo, Srta. Perry, que o que fizemos aqui hoje deve e será repetido com frequência. Eu devo insistir.

Ela riu e lançou um olhar rápido para ele.

— Seria sábio, meu senhor? Você mesmo disse que não quer se casar, e sabe que estou à procura de um marido nesta temporada. E

se eu ficar grávida? Vai casar-se comigo então?

Ele ficou rígido, e ela sorriu, sabendo muito bem que ele não havia refletido tanto. Que a união deles aconteceria apenas uma vez, assim como ela planejou. Os únicos filhos que ela teria seriam de seu marido, não importa o quão agradável possa ter sido deitar-se com Lorde Ryley, este arranjo aconteceria apenas uma vez.

Ela se sentou, dando tapinhas no peito dele.

— Tomamos precauções hoje. Nada vai resultar disso. Você está livre para voltar ao estilo de vida que tanto adora, e eu estou livre para me casar com quem eu quiser. Pelo menos posso agradecê-lo por me instruir nas artes do leito conjugal. Devo confessar que agora estou ainda mais ansiosa pela vida de casada.

ABE CONTINUAVA a encarar Willow antes de perceber que ela estava se vestindo, e que ele ainda estava deitado no sofá, as calças enganchadas na metade das pernas, e o pênis livre, à mostra para quem quisesse ver.

Ele se arrastou para um dos lados, subiu as calças e perscrutou a sala em busca da camisa. A ideia de Willow gerar seu filho não havia cruzado sua cabeça até então, mas agora que o pensamento o enchia de prazer. Uma emoção muito indesejável, considerando que ele nunca pretendeu ser pai. Casamento não era uma instituição que ele considerasse indispensável, e ele nunca teria um filho fora do matrimônio.

Encontrando a camisa perto da porta, ele caminhou até ela depressa, e a vestiu, seguindo-se o colete e a jaqueta. Ele se virou enquanto arrumava a gravata, e sua boca ficou seca ao ver Willow tentando prender os pequenas ganchos na parte de trás do vestido.

Ele sentiu o peito aquecer ao vê-la, doce e pouco exigente. Ela deveria fazer exigências, dizer que, depois de tirar a virgindade dela, ele deveria se casar com ela, fazer dela a esposa dele.

As palavras que ele precisava dizer para fazer a coisa certa ficaram presas na garganta e não saíam. Ela poderia estar em vias de ficar grávida, de ser a mãe de um filho dele e, ainda assim, ele não era capaz expressar a possibilidade. Em vez disso, caminhou até ela, girou-a e começou a atar os pequenos laços nas costas de seu vestido.

Nunca ele havia se dado tempo de ficar, de ajudar as amantes a se vestirem. Ele sempre as deixava onde adormeciam e saía para cuidar de sua vida. Sem laços, sem emoções. Nada.

Ele era um canalha por completo. Ele nunca havia pensado de verdade no assunto, mas seu apelido, Canalha Espanhol, de fato era bem adequado. Ele decerto vinha agindo como um com Willow.

— Vamos discutir os investimentos amanhã, talvez. Se você estiver livre.

Ela dispensou a preocupação dele com um movimento de mão, virando-se para que ele pudesse admirar a figura dela. A visão dela, de sua beleza, da pele de alabastro beijada com o mais claro tom de rosa depois que fizeram amor o fez contrair-se por dentro.

Inferno, ela era uma tentação.

Uma mulher que o fazia querer se esquecer de todas as regras e decretos autoimpostos. O fazia querer esquecer-se de tudo e fazer o que diabos a deixasse feliz.

— Ah, não se preocupe com os investimentos. Examinei-os com meu advogado e concordamos com a mina de carvão galês. Já o instruí a investir alguns de meus fundos no projeto.

Abe ficou rígido, sentiu calafrios percorrerem o corpo. Por um momento, seus pensamentos ficaram acelerados, o estômago revirou, e ele cogitou vomitar.

— Quanto você investiu? — ele conseguiu perguntar, esperando que fosse apenas uma pequena soma.

— Trinta mil libras. Sei que é um terço da minha herança, mas confio em você e na sua perspicácia para os negócios. — ao silêncio dele, ela o analisou por cima do ombro. — Não é o bastante? Devo investir mais?

Merda!

— Posso sugerir que eu visite seu advogado apenas para garantir que tudo esteja em ordem?

Abe rezou para que ela desse a ele o endereço do escritório, para que ele pudesse ir para lá imediatamente e interromper a transação. Maldição.

Ele era um desgraçado por ter pensado em fazer uma coisa dessas com ela. Ela era inocente e não merecia tal tratamento. O

pânico fez com que seus dedos se atrapalhassem, e ele respirou fundo para se acalmar, tentando endireitar o vestido dela antes de sair. Ele precisava se pôr em movimento. Agora. Se o advogado dela colocasse aquele montante no projeto que ele indicou, ela perderia todo o investimento.

— Quantos ganchos faltam? — ela perguntou, espiando por cima do ombro.

Mesmo com a mente tumultuada e o estômago na garganta ameaçando sufocá-lo; Quando as orbes azul-escuros dela dominadas por um brilho provocante, o fizeram querer beijá-la.

Deitá-la no sofá atrás deles e passar o dia fazendo amor.

Abe pigarreou, contornando-a e indo para a porta.

Ele estava abalado, a mente confusa depois de uma das melhores transas de sua vida.

O que ele estava pensando?

Uma das melhores? Foi a melhor, e ela era virgem.

A ideia do que poderiam fazer juntos quando ela se tornasse mais autoconsciente, mais aberta a outras possibilidades fez seu pênis se contrair.

— O endereço? — ele perguntou de novo, mantendo distância dela para não a puxar nos braços e devastá-la uma segunda vez.

Fazer isso seria imperdoável. Ela precisava de tempo para se recuperar depois da tarde juntos.

— Ah, sim, tenho um cartão reserva aqui na minha mesa.

Ela foi até a escrivaninha móvel, um móvel de design exclusivo para mulheres, e, abrindo uma gaveta, tirou um pequeno cartão.

Com um sorriso nos lábios deliciosos que ganharam um tom profundo de rosa depois dos muitos beijos trocados, ela se aproximou dele e entregou o cartão:

— Agradeço mais uma vez por me ajudar com os investimentos.

Eu gostaria de mais conselhos, se estiver disposto, acerca de mais investimentos, e se souber de algo.

Ele a encarou, sentindo-se o pior canalha da terra.

A mina galesa parecia um investimento vencedor no papel, e apenas porque ele havia falsificado os documentos. Ele deu a ela um sorriso agradável que foi tão grosseiro quanto seu coração.

— Será um prazer. Vou até lá agora mesmo para garantir que tudo esteja em ordem.

Abe se inclinou e a beijou, incapaz de negar-se uma última prova dela antes de se virar e sair, fechando devagar a porta atrás dele .

Ele manteve a calma até chegar à carruagem, e então gritou a direção e pedindo pressa.

Seu condutor, sentindo a urgência, ziguezagueou através do tráfego de Londres até o escritório do advogado de Willow na Rua Harley. Em dez minutos, a carruagem estava parada diante de um prédio de tijolos marrons. Sem esperar pelo condutor, Abe abriu a porta da carruagem e caminhou o mais rápido que pôde, sem parecer que corria a plenos pulmões. Um cavalheiro estava no balcão de madeira da frente, e o observou com expectativa.

— Sou o Marquês Ryley. Eu preciso de uma reunião urgente com... com... — ele remexeu o bolso da jaqueta e encontrou o

cartão. — ...o sr. Turner, se possível. É urgente.

Os olhos do jovem se arregalaram, e ele balançou a cabeça tão rapidamente que Abe temeu por seu bem-estar.

— Claro, milorde. Agora mesmo, milorde.

Abe esperou apenas alguns momentos antes que um homem baixo e robusto, com um recuo proeminente na testa viesse até a entrada.

— Lorde Ryley. É um prazer conhecê-lo. Por favor, venha ao meu escritório.

Abe o seguiu e se sentou na cadeira em frente ao homem mais velho, que pegou os óculos e os colocou no nariz.

— Agora, o que posso fazer por você, meu senhor?

Abe pigarreou, agora que estava aqui, não estava certo de como iniciar essa conversa sem parecer um idiota. Ele se resignou. Não havia outra maneira a não ser dizer a verdade ao advogado e esperar que não fosse tarde demais para Willow.

— A Srta. Willow Perry me deu seu endereço, e minha vinda aqui hoje está relacionada aos investimentos na mina de carvão da Cornualha, investimento com que o senhor a está ajudando. Tenho motivos para acreditar que os documentos foram falsificados, que os retornos do investimento foram muito exagerados. Se a Srta. Perry investir na mina, ela irá, com tanta certeza quanto dizer que estou sentado à sua frente, perder todo o dinheiro investido.

O Sr. Turner o olhou de forma fixa por um momento, o rosto adquirindo um tom horrível de cinza.

— Você está bem, Sr. Turner? — ele perguntou.

A última coisa que ele precisava era que este homem tombasse diante dele. Abe precisava dele para consertar o problema que causou. Ele balançou a cabeça ante o absurdo. O que ele estava pensando? Se Willow descobrir o que ele fez, o que planejou fazer, ela nunca o perdoaria. Nunca confiaria nele. E com razão.

— A senhorita Perry autorizou o pagamento quando ainda estava na propriedade do duque e da duquesa de Whitstone. O

dinheiro foi investido.

Por um momento, Abe sentiu como se o corpo não fosse seu, que ele não estava sentado diante do homem, ouvindo-o dizer que

Abe havia, de fato, conseguido fazer desaparecer trinta mil libras da herança da Srta. Perry.

Ele passou a mão pelo queixo, sem saber o que fazer. A compreensão de que sua vingança estava completa não trouxe nenhum prazer. Uma dor se apoderou de seu coração, e ele apertou o peito. Isso prejudicaria Willow, e isso, por sua vez, o magoaria.

Ele se importava com ela.

Embora ele nunca perdoasse a tia dela pelo tratamento que dispensou à mãe dele, nem perdoaria a mãe de Lorde Perfeito, também não permitiria que o que aconteceu afetasse o que ele começou a sentir por Willow.

Não que o que ele sentia por ela fosse relevante agora, pois isso iria esmagá-la. Ela iria odiá-lo. Merda!

Ele respirou fundo para se acalmar quando a visão turvou. Ele não desmaiaria como uma matrona ao ver sua protegida beijar um patife. Precisava consertar a situação. De alguma forma, ele consertaria tudo.

— Deve interromper o pagamento, o investimento não é sólido.

O Sr. Turner franziu o cenho para Abe antes de se virar para a mesa e remexer em papéis espalhados em cima dela.

— Mas eu tenho uma carta aqui da Srta. Perry afirmando que o senhor, Lorde Ryley, endossou este investimento específico. Na verdade, há papelada aqui de seus advogados atestando a validade do projeto. O que aconteceu nos últimos dias para mudar tudo?

Ele sentiu o desespero o inundar e viu-se com dificuldades para não entrar em pânico. Os últimos dias longe da Srta. Perry, fizeram algumas verdades surgirem na frente de Abe. Era isso o que havia acontecido. Uma dessas verdades era que ele gostava dela. Sentia falta dela. Se importava com ela mais do que com qualquer pessoa em sua vida.

O fato de ele ter acabado de deitar-se com ela, onde pela primeira vez na vida ele perdeu o controle, e se permitiu desfrutar e saborear a mulher em seus braços, mostrava tudo o que ele precisava saber sobre o quanto a situação dele havia mudado.

Ele a amava.

Merda!

— Os documentos foram falsificados. Foram forjados por minha instrução. Foi um erro, admito, e não pensei que a Srta. Perry já tivesse feito o investimento. Acabei de voltar da casa dela, e ela me divulgou essa informação. Claro, por isso estou aqui para tentar consertar meu erro, tentando interromper o pagamento.

O Sr. Turner se levantou e se inclinou sobre a mesa.

— Não há como parar agora. Foi feito, meu senhor, e agora terei o desagrado de dizer à minha cliente que, devido ao capricho de um lorde, ela perdeu um terço de sua herança. — o cavalheiro mais velho, por mais roliço que fosse, pareceu aumentar de tamanho pela raiva. — Como se atreveu a fazê-la de boba dessa forma? Esses fundos podem não significar nada para você, mas são tudo para outros. Por favor, saia, há muito trabalho a fazer, um em particular em que preciso dizer a Srta. Perry que você a enganou por razões que apenas o senhor sabe. Duvido muito que ela seja tão compreensiva. Tenha um bom dia.

Em geral, Abe não deixaria ninguém falar com ele dessa maneira, mas hoje ele merecia o sermão. Merecia ser chamado como o desgraçado que era, o canalha. Não havia como consertar nada. Willow nunca o perdoaria, e ele nunca se perdoaria.

C A P Í T U L O 1 4

U MA SEMANA DEPOIS de ser informada por seu advogado de que o investimento havia sido um fracasso, Willow se sentou em sua biblioteca, depois de passar meia hora andando de um lado para o outro no cômodo longo. Lorde Ryley chegaria a qualquer momento. O sangue dela fervia só de pensar nele, e ela estava pronta para revê-lo após a negativa dos últimos dias.

Trinta mil libras.

Ela se abraçou, sabendo que nunca recuperaria esse dinheiro.

Essa segurança jamais retornaria à sua vida. E se ela tivesse arriscado toda a herança Não que ela fosse tão temerária, mas e se ela fosse impulsionada a tomar tal risco? Teria perdido tudo. Sua casa. A segurança das amigas que moravam com ela.

Que desgraçado!

Uma batida rápida soou na porta, e seu mordomo a abriu, anunciando Lorde Ryley. Sua Senhoria entrou na sala, o cabelo, como sempre, bagunçado como se alguém tivesse passado as mãos por ele. O casaco superfino o envolvia como luvas de pelica, e as botas hessianas haviam sido polidas de tal forma que Willow conseguia ver o reflexo de Sua Senhoria nelas.

— Por favor, deixe a porta aberta, Thomas.

Lorde Ryley controlou sua expressão facial ante a ordem dela e foi sentar-se no lado oposto de sua mesa.

Willow fez um gesto para que ele se sentasse antes de fazer o mesmo, ajeitou os papéis ali dispostos para evitar de levantar-se, dar a volta no móvel e assassiná-lo, na biblioteca.

— Willow, eu queria ver você. Explicar e...

— Não há razão para explicações, meu senhor. Eu compreendo tudo com perfeição. Me fez de boba, e sendo a moça ingênua que sou, caí na armadilha. Eu não deveria ter confiado em Sua Senhoria. Não apenas no aspecto financeiro, mas também no emocional.

Ela se entregara a este homem. Permitiu liberdades a ele que nunca deveria ter permitido a ninguém. A menos que esse alguém fosse seu marido.

Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo.

Ao que parece, era um movimento muito repetido ao longo daquele dia. Estava com remorso? Esperava que sim. Se ao menos estivesse, mostraria que há algum tipo de coração sob aquele peito.

— Sinto muito, Willow. Não imaginei que já havia aprovado o investimento. Quando me disse que sim, tentei corrigir a ação.

Como bem sabe. — ele disse, olhando para suas mãos. — Cheguei tarde demais.

— Sim, bem, quando falamos do assunto na casa do duque, não imaginei que precisaria de mais instruções sobre a ideia. O senhor aprovou e disse que ia investir também, portanto, não vi motivo para preocupação. O que eu não sabia, claro, é que estava me usando como meio de vingança.

Os olhares deles se cruzaram, e ela leu a confusão naquele olhar escuro e inconstante.

— Quem falou isso para você?

— Lorde Herbert explicou que houve algum tipo de escândalo envolvendo sua mãe, algo que a forçou a deixar a Inglaterra. Que, de alguma forma, o senhor culpa a família de Lorde Herbert e a minha pela partida dela.

— Lorde Perfeito não faz ideia do que fala. — lorde Ryley estreitou os olhos, contemplando-a. — Ele contou que a mãe dele caluniou a minha? Sua melhor amiga na época. Espalhou todos os tipos de mentiras cruéis apenas porque ela vinha da Espanha e não era de tez cor de porcelana como as damas dos dez mil mais ricos devem ser.

Willow assimilou a informação e tentou compará-la com o que Lorde Herbert havia dito a ela.

Não fazia sentido.

— Ele não me falou nada parecido. Falou que sua mãe deixou Londres depois de ter um caso com um homem que não era o marido.

— Não foi isso que aconteceu, e eu sugeriria, madame, que só fale verdades quando mencionar minha família. A menos que seja

tão mentirosa quanto Lorde Perfeito.

— Muito bem. — disse ela, recostando-se na cadeira. — Conte-me sua versão dos eventos.

Não que ela merecesse os ataques dele, ser alvo essa necessidade de arruiná-la financeiramente. Outra parte dela se preocupou que tirar a virgindade dela também fazia parte do plano, arruinar a reputação dela junto. Não que ele pudesse machucá-la por mais tempo. Ela havia garantido que o próprio futuro estivesse garantido antes de hoje.

— Lady Herbert não gostava que minha mãe ocupasse uma posição mais alta na sociedade londrina que ela, por ser uma estranha. Uma estrangeira. Elas foram amigas em dado momento, sim, mas a amizade logo acabou quando o ciúme dominou Lady Herbert. Minha mãe foi provocada e caluniada em toda Londres e não voltou. Fui deixado para ser criado por funcionários e babás até ter idade para ser enviado para a escola. Meu pai adoeceu quando ela partiu e nunca se recuperou. Eu culpo a família de Lorde Perfeito, e a sua, por todos esses anos terríveis que vivi.

Ela balançou a cabeça, olhando para ele com pena.

— Por favor, me explique como minha família está envolvida?

— Sua tia, a viscondessa Vance, estava no centro de todo esse escândalo. Jogando suas opiniões depreciativas ao vento.

Realização atingiu Willow, e ela passou a ver Lorde Ryley sob uma ótica mais complexa.

— E então você, tantos anos depois, decidiu arruinar minha segurança financeira por algo que minha tia fez à sua mãe, vinte anos atrás? — ela soltou uma risada, incapaz de se segurar por mais tempo. — Você está louco!

DEFINITIVAMENTE, ele estava louco. Ele também estava envergonhado. Ouvir Willow dizer que ele se vingou dela por algo que aconteceu há vinte anos o fez parecer mesquinho e idiota.

— Elas tornaram a vida da minha mãe um inferno.

— Como está sua mãe agora? Ela está feliz?

Ele se ajeitou na cadeira, sabendo que a resposta o faria parecer ainda mais tolo.

— Ela voltou a se casar, com um rico comerciante na Espanha, há vários anos. São muito felizes.

— E, no entanto, aqui estava você, taciturno e à espera da chance de atacar como uma víbora espanhola.

Ela se inclinou acima da mesa, observando-o. Algo no peito dele doeu ao ver a dor dela, por seu desprazer por ele. Ele não queria que ela se sentisse assim por causa dele. No início, queria que ela pagasse, mas tudo havia mudado. Se soubesse que ela seguiria em frente com o investimento sem voltar a consultá-lo, nunca teria permitido.

Ele a amava.

Pela primeira vez na vida, o coração dele batia forte por outra pessoa. Ele queria que ela se tornasse esposa dele, mas agora parecia ser um sonho que não se tornaria realidade. Ela o odiava, o desprezava. Era visível nas profundidades azuis de seus olhos.

Ele a desapontou.

— Sinto muito, Willow. Eu as odiei por tanto tempo que não conseguia ver além do meu ódio. Nunca deveria ter envolvido você no meu esquema, mas sua tia foi tão cruel, tão vingativa com minha mãe, que eu não pude deixar passar. Fiquei órfão por causa delas.

— Não, não ficou órfão, meu senhor. Ficou sozinho porque sua mãe decidiu deixá-lo aqui na Inglaterra, em vez de levá-lo para a Espanha. Não sei em que história acreditar, que sua mãe teve um caso ou se foi degradada pela sociedade pela cor de sua pele, mas de qualquer forma, o senhor optou por me fazer sofrer por um crime que não cometi. Como pôde fazer isso?

— Quanto mais eu aprendia sobre você, quanto mais tempo passávamos juntos, mas percebia não poderia fazer o que havia planejado. Se não tivesse avançado com aquele investimento, se tivesse esperado nossa reunião, nada disso teria acontecido.

Willow arfou, e Abe se encolheu, pois sabia que o que ele acabou de dizer era a coisa errada.

— Agora se atreve a me culpar por isso? Foi o senhor quem me mostrou o investimento, quem me falou como era bom. Como ousa me culpar por suas próprias maquinações? — ela se levantou, e inclinou o corpo na mesa. — Creio que deva ir embora, Lorde Ryley.

Não temos mais nada a dizer um ao outro.

Ele se levantou, foi até a mesa e assimilou a figura dela, o pânico explodindo dentro dele ante tudo que o erro que havia

cometido havia ceifado, ela.

— Posso devolver o dinheiro, Willow. Não é nada para mim.

Ela fez um som de deboche e balançou a cabeça.

— Claro que não é nada para você. Sua Senhoria tem várias propriedades, um negócio que cresce pela ganância dos homens e pela necessidade de dormir com mulheres que não sejam suas esposas, sempre terá uma renda. O dinheiro que minha tia me deixou é tudo que eu possuía. Foi tudo que já recebi de qualquer pessoa. Ele me mantém segura, me permite manter minhas amigas protegidas de abutres como o senhor, de lordes que pensam que algumas mulheres são dignas de se casar, e que outras só merecem ser levadas para a cama. O senhor e seu ódio me roubaram trinta mil libras. — o desgosto no rosto dela foi tamanho que ele sentiu como se tivesse acabado de receber um soco no estômago. — Pode me devolver? É demasiado afortunado por ter tal luxo.

— Willow, por favor. — ele implorou, incerto de como consertar as coisas.

Para o inferno com tudo.

Ele agiu como um canalha. Um tolo, e agora ele havia interrompido e desfeito todo o progresso que haviam alcançado.

Desperdiçou m futuro.

— Também deve saber que Lorde Herbert me pediu para ser esposa dele, e eu aceitei.

Desta vez, o ar saiu dos pulmões dele, e ele agarrou a mesa para se equilibrar, esperando que as palavras recém ditas não fossem verdade.

— O quê?

— Vou me casar. — disse ela, com naturalidade, contornando a escrivaninha e parando na porta. — Bom dia para você, Lorde Ryley.

Ele encarou o mogno, os dedos cerrados, e lutou para pensar, lutou para entender como poderia consertar isso. Mudar tudo o que aconteceu na semana anterior. Ele fechou os olhos, forçando-se a se acalmar. Virando-se, ele caminhou até a porta.

— É isso que você quer? — ele perguntou, esperando, rezando para que ela dissesse não. Que ela o queria e não o Lorde Perfeito.

— Deixe-me responder de outra forma, meu senhor. Contarei o que, com certeza, eu não quero. Não quero alguém em quem não possa confiar, alguém que me use como peão em seus jogos.

Ela olhou para ele, fria e indiferente.

Ele nunca havia visto Willow tão distante, e odiava o fato de ele ter provocado tal distância. Ele fora o responsável pela mudança dela apesar de tudo que eles compartilharam. Corpos e mentes.

— Willow, por favor.

Ele imploraria se necessário. Não podia perdê-la.

— Vá embora. Agora.

Um lacaio apareceu no foyer e abriu a porta da frente.

Abe olhou na direção da porta e avistou o desgraçado que arruinou seu futuro, Lorde Perfeito, entrar no foyer. Quem Abe estava enganando? Ele mesmo havia arruinado seu futuro. Ele a provocou, a usou, e a fez perder uma grande parte de sua fortuna.

Não podia culpar ninguém além de si.

Abe passou por Lorde Perfeito, a saudação altiva e divertida do cavalheiro passando batida. Ele fez todo o esforço para não olhar para trás. Não correr de volta para Willow e implorar que mudasse de ideia, que o perdoasse.

Em vez disso, ele cruzou a soleira e caminhou até a carruagem.

Lorde Ryley, o Canalha Espanhol, nunca olhava para trás. Nem por ninguém, nem por nada. Nem mesmo pelo coração que ele temia ter deixado na biblioteca da casa da Srta. Willow Perry em Hanover, Mayfair.

C A P Í T U L O 1 5

T RÊS SEMANAS, e ele não havia mais visto Willow. O

tempo se arrastava como um relógio sem fim que nunca marcava a hora inteira, apenas clicava e zombava dele sem seguir em frente. Ele estragou tudo com a única mulher que entrou em seu coração.

Ele se recostou na cadeira do escritório, uma taça de conhaque na mão que se apoiava no braço da cadeira. Ele rodou o líquido âmbar, perdido em pensamentos que giravam em torno dela.

Ela estava feliz?

O que se falava na cidade era que os planos do casamento estavam indo de vento em popa. Os convites foram enviados. Não que ele tivesse sido convidado, mas soube disso pelo duque de Whitstone, que recebeu um.

Precisava haver algo que ele pudesse fazer para reconquistá-la.

A forma como ele a tratou, a ideia inabalável de vingança havia nublado sua mente, e antes que soubesse o dano que causaria agindo contra ela, já era tarde demais.

Uma batida soou em sua porta, e ele gritou para ser deixado sozinho antes que a porta se abrisse.

Passos leves soaram, e ele olhou por cima do ombro, um pequeno pedaço de esperança perfurando seu coração de que poderia ser Willow vindo vê-lo. Em vez disso, a visão que preencheu sua visão o deixou com problemas para encontrar palavras.

— Mãe? — disse ele, levantando-se e indo cumprimentá-la. — O

que faz em Londres?

Ela o beijou nas bochechas e segurou seu rosto, como costumava fazer quando ele era criança.

— Vim tentar corrigir o seu erro, Lady Herbert me contou o que você fez.

— O quê? — ele franziu a testa, surpreso. — Lady Herbert?

E por que raios ela escreve para você?

— Bem, por sorte, eu estava viajando, em Paris, quando recebi a carta dela na semana passada. Ela estava preocupada que o filho dela, a quem você gosta de se referir como Lorde Perfeito, ou assim ouvi dizer, esteja se casando com uma Srta. Willow Perry. Uma mulher que, ao que parecia, havia atraído a atenção do renomado libertino e Canalha Espanhol, Lorde Ryley. Você. — ela lançou um olhar compreensivo, passou por ele e foi se sentar no sofá. — Um copo de xerez, por favor, e depois venha se juntar a mim.

Abe fez o que ela mandou, observando a mãe que ele não via há vários anos. Ela era tão bonita quanto ele se lembrava da infância, alta, com os cabelos escuros, e a pele dourada como a dele. Apesar da idade avançada, ela era uma mulher bonita e não merecia o tratamento que recebeu. O que significava que sua correspondência com Lady Herbert não fazia sentido.

Ele entregou a ela um copo de xerez e sentou-se em frente a ela. Abe se recostou na poltrona, querendo dar a impressão de não estar incomodado, mas era cena. O contato da mãe com Lady Herbert, depois de todos esses anos, não era o que ele esperava descobrir.

— Por que você está aqui, mãe? Jurou nunca mais voltar a Londres depois do que foi feito com você.

Ela suspirou, tomando um pequeno gole da bebida.

— É hora de você saber a verdade acerca da minha partida da Inglaterra, por que eu fugi daquela maneira.

— A verdade? Mas foi afastada de Londres por ser espanhola.

Lady Herbert e Lady Vance zombaram, ridicularizaram você.

— Você está correto, mas fizeram a pedido meu. Eu precisava muito de um escândalo, algo tão degradante que faria seu pai me obrigar a ir embora. E então eu, junto com minhas amigas mais próximas, bolei um plano. Elas iriam me evitar, inventar mentiras que envolvessem minha fidelidade e zombar de minhas origens. Foi a única maneira de eu sobreviver, Abraham. Se eu não tivesse ido embora naquela época, não estaríamos tendo esta conversa.

— O quê!

A raiva o percorreu ao pensar que a mãe havia mentido para ele por todos esses anos. Por ter odiado pessoas que agora ele sabia serem inocentes dos crimes que ele havia jogado aos pés delas. A

percepção de como ele havia tratado Lorde Perfeito desde Eton, a maneira como ele garantiu que Willow perdesse tanto dinheiro; tudo com base em mentiras, ele se sentiu nauseado.

— Conte-me tudo.

A mãe manteve o olhar fixo na lenha que queimava na lareira, ficou em silêncio por um momento.

— Eu me casei com seu pai por amor. Nós nos conhecemos quando ele estava fazendo uma longa viagem pelo continente, visitava a Espanha no momento. Nós nos casamos no exterior e voltamos para a Inglaterra. Você sabe de tudo isso, é claro. Pouco depois, descobrimos que estávamos esperando por você, e eu fiquei muito feliz. Havia um marido que me amava e um filho a caminho.

Havia amigas em minha vida, e tudo foi maravilhoso por um tempo, mas depois o cenário mudou. Seu pai tornou-se áspero, até mau, às vezes. Pequenas coisas eram o bastante para enfurecê-lo, e eu não sabia por quê.

Sua mãe ficou olhando para o xerez na mão, perdida no passado enquanto contava a história para ele. Uma que ele não sabia se compreendia.

— Seu pai contraiu sífilis, Abraham, mas esperava que eu continuasse sendo uma esposa verdadeira e amorosa. Eu não poderia fazer tal coisa. Se eu tivesse ficado, também teria sucumbido à doença. Tentei argumentar com ele, explicar os riscos que eu correria se continuasse a ser uma esposa verdadeira, mas ele não me deu ouvidos. Queria que eu ficasse, e queria manter as atividades noturnas dele nas entranhas de Londres também. Foi quando Lady Herbert e a viscondessa Vance me ajudaram a planejar. Meu único arrependimento foi que seu pai se recusou a permitir que eu levasse você comigo, e eu concordei. Decidiu, em vez disso, que você ficaria melhor com uma babá até que pudesse ser enviado para Eton.

— E então você me deixou aqui sozinho por todos esses anos.

Permitiu que eu fosse criado por desconhecidos já que meu pai não queria nada comigo. Por que não voltou após a morte dele?

— Seu pai garantiu que eu não pudesse voltar. Por meu silêncio acerca do que o afligia, tive que permanecer na Espanha. Se eu não fizesse o que ele decretou, ele ameaçou nunca mais permitir que eu

voltasse a ver você. Ele prometeu que você viajaria para a Espanha quando tivesse quatorze anos, e você viajou. — sua mãe se inclinou para frente e segurou a mão dele. — Eu queria ter levado você comigo, mas você era o futuro Marquês Ryley, e seu lugar era aqui na Inglaterra. Minhas amigas me mantiveram a par de sua vida e travessuras dentro da sociedade. — ela disse, olhando para ele. —

Mas tudo de longe, já que me foi ordenado estar longe de sua vida.

Então como vê, meu querido, houve um motivo para meu banimento, mas não aquele em que você acreditava. Agora que seu pai faleceu, e você é um homem, merece saber a verdade. Em especial quando essa verdade está o impedindo de se casar com uma mulher que, acredito eu, conquistou seu coração.

A menção de Willow o encheu de arrependimento, e ele olhou para a mãe, incapaz de acreditar na história que ela contava. Tudo o que ele pensou ser verdade. A razão para a mãe o ter deixado não foi Lady Herbert ou a Viscondessa Vance, mas seu pai. O pai enlouqueceu por uma doença venérea, e ameaçava sua mãe com a mesma doença.

— Qualquer pessoa nessa situação fugiria ou tentaria escapar.

Abe virou-se para a mãe e viu medo em seus olhos castanhos, medo de que ele a rejeitaria. Que iria odiá-la por mentir, mas ele não conseguiria. Ele esticou a mão no espaço que os separava e segurou a mão dela.

— Eu entendo, mãe. Só queria que não tivesse sido assim para você. Que meu pai tivesse sido fiel e não adoecesse como adoeceu.

Lady Herbert e a Viscondessa Vance foram verdadeiras amigas criando um escândalo tão grave que papai a baniu. Suponho que devo agradecimentos a elas em vez de repugnância, como demonstrei até então. Parece que devo muitas desculpas. Uma para a Srta. Willow Perry, a mais urgente de todas.

Ele balançou a cabeça ante suas ações. No entanto, consertaria tudo, como até então não sabia a verdade, talvez ele conseguisse o perdão de todos que sofreram seu ódio por tanto tempo.

— Por que, entretanto, Lady Herbert estava escrevendo para você para falar do noivado do filho com a Srta. Perry? Ao que tudo indica, Sua Senhoria está satisfeita com a união.

— Ó, ela está satisfeita e adora a Srta. Perry, mas ela não acredita que o filho está para se casar com a mulher que ama. Ele estava apaixonado, caso se lembre, pela Srta. White. Eles não conseguiram permissão para se casar porque o pai dela queria que ela fosse duquesa. Ela agora é viúva, e logo estará de volta à cidade. Lady Herbert acredita que quando o filho voltar a vê-la, os sentimentos por ela serão tão fortes como sempre foram. Que ele vai se arrepender do casamento com a Srta. Perry, e que a união vai ser arruinada por esse erro.

Abe não conseguia se imaginar lamentando um casamento com Willow. A ideia já não o assustava, nem o fazia querer vomitar, em vez disso o enchia de expectativa. Expectativa de um futuro, de uma vida mais plena e rica. Com Willow.

— Lorde Herbert sabe que seu primeiro amor enviuvou e está voltando para a cidade?

— Sabe. — disse a mãe, levantando-se e servindo-se de outra taça de xerez. — Mas está em negação, e você, meu querido filho, também está. Nega seus sentimentos pela Srta. Perry, caso precise de clareza. Quando soube da situação difícil em que vocês dois estavam, soube que precisava deixar Paris e vir para Londres.

Precisava vir eu mesma afirmar que deve fazer a Srta. Perry cancelar seu noivado com Lorde Herbert e logo. Lady Herbert me disse que acredita que seria o melhor para todos. Podemos estar envelhecendo, mas ainda vemos as coisas claras como o ar e confio em minha amiga. Ela acredita que você está apaixonado por Willow e que o filho está apaixonado pela duquesa de Markson. A solução é simples. Agora cabe a você torná-la uma realidade. Torne-a verdade. Simples assim.

Abe não tinha tanta certeza. Willow estava extremamente infeliz com ele, e com razão. Ele agiu como um canalha, um desgraçado que a fez perder trinta mil libras. Ele teria dificuldade em perdoar alguém por esse crime.

— Vou tentar fazer as pazes, mãe. Não posso dizer que não estou desapontado com você por não me dizer a verdade mais cedo, anos atrás, na verdade. Por que você não o fez? — ele perguntou, precisando saber.

Ela encolheu os ombros, parando diante do fogo.

— Não via motivos. Você pode não gostar de Lady Herbert e da viscondessa Vance, mas elas sabiam a verdade e estavam dispostas a aceitar sua raiva, caso significasse que o segredo de seu pai seria mantido. Ninguém em Londres sabe que ele estava tão doente, e ninguém precisa saber. Agora, tudo ficou no passado, e além da mulher que você ama se casar com outro, não há muito o que consertar.

Abe balançou a cabeça ante a banalização da situação que sua mãe fazia. Era assim que ela encarava a vida. Ao se deparar com um problema, encontre uma solução. Pena que a solução dela para um problema do passado fez com que ele entrasse em uma estrada de vingança e ódio.

— Vou consertar as coisas e evitar que a Srta. Perry e Lorde Perfeito se casem. Não fracassarei.

— Bom. — disse a mãe sorrindo para ele.

Ele sorriu de volta. Mesmo com tudo o que havia acontecido entre eles, o tempo separados e as razões, verdadeiras e falsas, ter sua mãe na Inglaterra o deixava feliz. E agora, ele precisava assegurar outra pessoa em sua vida para torná-lo completo.

Willow.

C A P Í T U L O 1 6

W ILLOW mergulhou em bailes, festas e noites no teatro com Lorde Herbert. Cada vez que ela estava com ele, ela se maravilhava com a bondade e a compreensão dele, mas cada vez se tornava mais e mais certo que ela não o amava.

Ela gostava muito dele. Não havia muito o que não gostar no cavalheiro, mas ele não fazia seu coração disparar. Nem mesmo durante uma viagem de carruagem na saída do teatro quando ele a tomou nos braços e a beijou de novo. Desta vez, como se deve.

No quesito habilidade, ela poderia estar beijando as costas da mão devido a quase ausência de emoções que provocou nela. As ruas de Londres passavam pelas janelas da carruagem, e ela, distraída, não olhava para nada, imaginava se era assim que sua vida seria de agora em diante. Um desfile interminável de encontros sociais e quase nada mais entre eles.

— Willow, você está feliz? — Evie perguntou, observando-a na carruagem.

Ela se recompôs e refez a expressão facial por saber que o que estava para dizer era uma mentira. Desde que Lorde Ryley, Abe, havia deixado a biblioteca dela no mês anterior, ela se viu submergindo, aos poucos, em uma vida de mentiras. Ela sorria, dançava, ria e permitia que Lorde Herbert a cortejasse, que planejasse o futuro entrelaçado dos dois. O tempo todo sua mente estava ocupada com outro. O Canalha que não só roubou seu dinheiro, mas também seu coração.

— Estou muito feliz. — disse, forçando as palavras a escaparem de seus lábios mentirosos.

Ela reprimiu um suspiro, perguntando-se o que Lorde Ryley estaria fazendo neste momento. O mais provável era que estivesse em seu clube, cercado de mulheres que imploravam por um mínimo de atenção dele.

Desgraçado.

Evie se inclinou para frente, segurando sua mão.

Willow se recusou a olhar para a amiga, para que ela não visse em seus olhos que não estava nada feliz no momento. Apesar de todas as ações imperdoáveis de Lorde Ryley, ela sentia falta dele.

Sentia falta de como ele a fazia se sentir.

— Você está mentindo, Willow. É tão claro para mim como se eu estivesse olhando por uma vidraça. O que houve? Conte. Não vou contar a mais ninguém, se for como prefere.

Willow fechou os olhos e se deixou cair nas almofadas de couro.

— Não estou apaixonada por Lorde Herbert.

Evie fez um movimento de cabeça consolador, seus olhos cheios de compreensão.

— Eu sei que você não está, mas suponho que deve decidir se está disposta a deixar o amor crescer entre vocês com o tempo, ou não. — Evie deu um olhar penetrante. — O fato de você ter preocupações com o seu casamento iminente tem algo a ver com Lorde Ryley?

A menção do nome dele desencadeou uma onda de desejo, e ela mordeu o interior do lábio para impedir que os olhos ardessem de lágrimas. Ele não merecia mais nada disso dela. Ela havia chorado o suficiente pela perda dele. Pelo fato de ele a ter usado, tê-la seduzido a confiar nele para que pudesse roubar dela, e sua segurança.

— Eu odeio aquele homem. Não o mencione outra vez.

Ela não precisava de mais lembretes de cada toque dele, de como sua voz soava profunda e sedutora contra o ouvido. Como os beijos a deixavam com expectativa e fora de controle.

— Você o ama. — afirmou Evie com naturalidade. — Mesmo depois de como ele a tratou, você ainda o ama. Precisará decidir se está disposta a abandonar um futuro com Lorde Herbert, que é tudo o que você sempre quis. Um casamento bom e seguro com um homem que a adora. Um futuro com crianças nele. Com segurança e proteção como sempre quis, em vez de um futuro com Lorde Ryley. Um homem vindo direto do inferno, crivado de devassidão, alguém que, concluí há algum tempo, está tão apaixonado por você quanto você por ele.

Willow arfou e levantou os olhos para ver Evie.

— Ele não me ama. As ações dele para comigo são prova disso.

— Sim, embora eu concorde que ele agiu de uma forma que levanta dúvidas quanto a ele ser inteligente, também não devemos nos esquecer de que a visita dele na véspera de você tomar conhecimento dos atos derradeiros dele foi para dissuadi-la do investimento. Ele estava indo consertar o erro que pretendia cometer para com você.

— Não adiantou muito. Eu já havia avançado com o investimento.

Evie levantou-se e se sentou ao lado dela, virando-se para encará-la.

— E sabemos que ele tentou impedir a transação indo ao seu advogado. O próprio Sr. Turner contou para você.

— Você está do lado de quem? Deveria ser minha amiga, não apoiar Lorde Ryley.

Willow se encolheu ante o próprio tom acusatório.

Evie não merecia a irritação dela, que deveria ser exclusiva de Lorde Ryley, e mais ninguém. E dela mesma. Por permitir que o desapontamento e miséria causados pelo comportamento dele com ela nublassem seu julgamento e a impulsionassem a aceitar a proposta de Lorde Herbert no momento em que ele a fez.

— Willow, sabe que estou do seu lado, mas também o observei nas últimas semanas e você não está agindo como de costume.

Willow exalou, seus lábios formando uma linha fina.

— Como assim? Estou em meu normal, e muito feliz com minha escolha. Mesmo que não seja verdade.

Evie estava certa, é claro, mas ela dera a palavra a lorde Herbert. Renunciar ao noivado agora seria um escândalo de que ela nunca se recuperaria. Seu vestido de casamento estava sendo costurado neste mesmo instante enquanto elas se sentavam nesta carruagem a caminho do baile de York. A mãe de Lorde Herbert havia convidado centenas de pessoas para o casamento na igreja, que se seguiria de um opulento café-da-manhã de casamento na propriedade dela em Londres.

Sem mencionar que Lorde Ryley teve a ausência notada dos eventos sociais do último mês. O que Evie dizia era verdade, e em algum lugar de sua alma sombria, ele se importava com ela?

Alguém poderia pensar que, se fosse esse o caso, ele tentaria reconquistá-la. Tentar revê-la para pedir perdão. Não que fosse perdoá-lo.

Demônio.

— Não, você não está em seu normal, e como sua amiga, vou dizer a verdade, mesmo que não queira ouvi-la. Está apaixonada por Lorde Ryley, e ele está apaixonado por você. Talvez, vocês dois não tenham admitido tanto para si, mas quando estávamos em Hampton, era óbvio para todos nós.

Willow zombou, ajeitando-se no lugar enquanto a carruagem desacelerava diante da casa de Lorde e Lady York.

— Zombe o quanto quiser, Willow, mas ele cometeu um erro, um erro terrível, mas esse erro vale uma vida de miséria, de meias verdades com um homem de quem você não gosta? Uma vida pela metade porque, no fundo, você saberá que se casou com o homem errado.

A carruagem parou e, sem esperar pelo lacaio, Willow abriu a porta e saltou da carruagem. Evie a seguiu em um ritmo mais calmo, mas Willow precisava de tempo para pensar, para limpar a cabeça.

O pânico pinicava sua pele. As mãos estavam úmidas e quentes dentro de suas luvas. Maldita fosse a amiga por ser tão honesta. Ela não queria saber o que os outros pensavam. O que os outros acreditavam que Lorde Ryley pensava dela.

Nada disso importava. Ela estava noiva de Lorde Herbert. Lorde Ryley havia roubado dela, não merecia nada dela além de seu nojo para sempre e mais um dia.

Quando chegaram às portas do salão de baile e saudaram os anfitriões, Willow perdoou Evie o suficiente para entrar na multidão de convidados e atravessar o cômodo onde viram Ava e o duque de Whitstone.

Ava estava ao lado do duque, o braço entrelaçado com ele e um sorriso conhecedor e amoroso no rosto enquanto ela falava com o marido, que mostrava um rosto de igual adoração para a esposa.

Algo dentro de Willow estalou, e lágrimas picaram seus olhos.

Não conseguiria. Ela não podia se casar com Lorde Herbert e ser apenas metade da esposa que desejava ser. Ele merecia um

casamento de afeto, de adoração, não um casamento feito de meias verdades. Willow merecia o mesmo.

Ela beijou a duquesa quando se juntaram aos amigos, cumprimentou o duque de forma calorosa, mas seu sorriso se desfez quando avistou Lorde Ryley do outro lado do salão com uma mulher em seu braço, uma que jamais havia visto. Eles estavam em uma conversa profunda com um grupo de amigos em torno deles, ignorantes à presença dela.

— Não se incomode com Lorde Ryley. — Ava disse, observando-a com preocupação. Uma característica que todas as amigas passaram a adotar nas últimas semanas. Uma que começou a irritar Willow. Não importava se a intenção era boa. — Ele não vai incomodar você esta noite. Ele não ousaria.

— Ele pode fazer o que quiser. Não é da minha conta. — ela disse, erguendo o queixo e vendo quem mais estava presente.

Lady Herbert estava ali, ela podia ver, junto com Hallie e Lorde Duncannon, que estavam conversando com alguns amigos mais ao fundo do salão. Evie estendeu uma taça de champanhe para Willow, e ela a pegou, pois a boca estava seca, ela precisava dessa dose de coragem.

Por mais que tentasse, ela continuava a voltar o olhar na direção do único ponto do lugar que ela deveria ignorar. Lorde Ryley estava ocupado com os amigos, ria e parecia tratar de algum assunto que o interessava, o que decerto não era ela.

Sua falta de consciência dela era reveladora.

Evie estava errada. Ele nunca se importou e nunca se importaria.

Ela estava sentindo falta de um homem que nunca existiu de verdade. Apesar de ela sempre sabido que ele era um libertino, ele foi doce, intenso e paciente com ela. Mas era tudo uma fachada, uma mentira. Durante todo aquele tempo, ele planejou a queda dela, odiando-a por causa de parentes e das ações deles para com sua mãe.

Lorde Herbert pode não ser o homem com quem ela se casaria, mas Lorde Ryley também não seria. Com o tempo, seu coração se curaria e floresceria mais uma vez, pronto para amar, para se entregar a outra pessoa.

Sua pele formigou em consciência, e ela ergueu os olhos e percebeu Lorde Ryley, seu olhar escuro e quente a prendendo onde estava. O coração dela deu um salto e não importava o quanto ela soubesse que deveria desviar o olhar e ignorá-lo, ela não conseguiu.

Tudo o que compartilharam, os muitos beijos. As palavras sedutoras quando ele a tomou no sofá bombardearam sua mente, e ela mordeu o lábio, odiando que ele ainda pudesse fazê-la desejá-lo tanto quanto sempre fez.

Ele tentou arruiná-la. A fez perder um terço de sua fortuna. Ainda assim, ela o queria. Queria com uma necessidade que ofuscava tudo o que sabia acerca do homem, e o que ele fez.

O olhar dele não a deixou, nem mesmo quando Lorde Herbert se curvou diante dela, beijou sua mão e puxou-a para o centro do salão, para uma valsa. E maldita fosse ela, por ser simplória, não queria que Lorde Ryley olhasse para ninguém, a menos que alguém, esse alguém, fosse ela.

ABE OBSERVOU Willow deslizar para a área de dança com Lorde Perfeito, raiva pulsou em suas veias ao vê-los. Levou várias semanas para aceitar o fato de que ela se casaria com outro. Toda Londres estava agitada com as notícias e detalhes das núpcias iminentes entre os dois.

Ele só compareceu esta noite para poder ver com os próprios olhos que era verdade. Que eles eram um casal, que ele a perdera.

Parecia que sim, se o olhar de adoração dela para Lorde Perfeito e o dele, por sua vez, fosse alguma indicação.

— Aquela é ela? — Marigold disse ao seu lado. Ela agarrou o braço dele, distraindo-o para longe de Willow.

— Sim, é ela. — disse ele, encontrando os olhos da prima.

Ela era filha do irmão mais novo de seu pai, uma herdeira como tantas aqui esta noite, mas Marigold era doce, pura e gentil. O

oposto de Abe. Talvez por isso sempre foram próximos. Depois que o pai faleceu, e com a mão longe na Espanha, ele passou muitas semanas na propriedade do tio durante as férias de Eton.

Ela havia ouvido os boatos de que ele havia sido desprezado pela Srta. Perry e viera na mesma hora ver como ele estava. Abe ainda estava tentando descobrir como o boato havia começado. O

Canalha Espanhol não era menosprezado pelo sexo oposto, e não deixaria que o boato corresse.

— Ela é muito bonita.

Ele assentiu uma vez, apertando a mandíbula.

— Bem, nós viemos e vimos por nós mesmos que ela está realmente feliz com a escolha que fez. Vamos embora?

— O quê? Não. — Marigold disse, dando tapinhas em seu braço.

— Você precisa falar com ela. Só para ter certeza de que é isso que ela quer, pois está claro como o dia para mim que não é o que você quer.

Ele fez uma careta para a parente perspicaz.

— Eu nunca quis me casar com ninguém. Você sabe disso.

As palavras da mãe, de ganhar Willow de volta reverberaram em sua mente, e ele lançou um olhar na direção dela. Ela estava tão linda esta noite. O vestido de seda vermelho acentuava sua pele imaculada e o corpo esguio. Tão alta e atraente. Sem uma única falha. Mesmo se ela o quisesse, ele sabia que não a merecia.

Somente um grande homem deveria ter tal honra.

Ele não era um grande homem.

— Você está apaixonado por ela. O Canalha Espanhol não vai a bailes e festas apenas para ver uma mulher e ter certeza de que ela estava realmente prometida. Nunca se importou com toda essa fanfarra, aliás. Desde que o conheci, dá as costas à sociedade, odeia e ridiculariza seus modos inconstantes. Prometeu à sua mãe que tentaria reparar o erro cometido. Aqui está sua chance. Esta noite.

Abe notou a mão de Lorde Perfeito mergulhada nas costas de Willow. Ele sabia como era aquela pele sob seus dedos. O calor, a suavidade. Raiva correu quente em suas veias, e ele cerrou os punhos ao lado do corpo.

— Eu preciso de uma bebida. — disse ele, deixando a prima e partindo em busca de um bom uísque, fosse irlandês ou escocês, tanto faz, qualquer coisa serviria se o cegasse ante a cena de

Willow valsando com um homem, qualquer homem, se aquele homem não era ele.

C A P Í T U L O 1 7

W ILLOW se desculpou depois do jantar e foi procurar o quarto de descanso. Depois de terminar a toalete, ela se sentou por um tempo na sala vazia e opulenta e acalmou seu coração. Não porque dançou e riu a noite toda com o noivo, que era um homem muito doce de verdade, mas porque outro homem estava presente. A mesma pessoa que ela jurou para si que se esqueceria, quer amaldiçoaria para sempre.

Mas ela não conseguia.

Ela não conseguiria fazê-lo tanto quanto não conseguiria se afastar das amigas. Ela se importava com ele. Mais do que ele merecia, mas não significava que ela precisava perdoá-lo. Como poderia perdoá-lo por tudo que fez? Ela era uma inocente em todas as coisas relacionadas à mãe dele, e ele a puniu pelos pecados de outras pessoas. Não era nem um pouco justo.

Willow suspirou e se levantou, voltando em direção ao salão de baile. A casa era grande, e ela entrou em um corredor, mas parou no meio do caminho quando o local não pareceu familiar ao que ela havia atravessado a caminho da sala de descanso.

— Perdida, Srta. Perry?

Uma voz profunda e rouca disse de uma porta sombreada mais adiante. Ela ergueu o queixo, e olhou fixo para Lorde Ryley.

— Na verdade, sim. Não que seja da sua conta.

— Esqueci-me de dar lhe parabéns na última vez que nos vimos.

Por favor, me perdoe pela falta de educação. Fiquei confuso, para dizer o mínimo.

Ela zombou, não acreditando nisso por um momento.

— Você? Confuso?

Ela caminhou até onde ele estava, notando que a gravata estava desamarrada e se pendurava no pescoço. Teria acabado de ter um encontro furtivo com a mulher com quem veio ao baile? Teria acabado de tomá-la no quarto escuro atrás dele? O estômago dela

revirou ante o pensamento, e ela respirou para se acalmar e impedir-se de passar mal bem nas botas hessianas brilhantes dele.

— Como estão os preparativos para o casamento? A cerimônia é o assunto mais falado em Londres.

Willow sabia disso tão bem quanto qualquer pessoa, e a pressão agora para prosseguir com o casamento era imensa. Mesmo assim, no fundo, ela sabia que não podia. Lorde Herbert não era quem ela queria. O maldito demônio diante dela, sim.

— Muito bem, obrigada. Thomas se envolveu bastante.

Um músculo abaixo do queixo dele ficou tenso, e ela não conseguiu desviar o olhar por nada no mundo. Deslizou para os lábios dele, lábios que estavam sempre em seus sonhos, que ela desejava sentir contra os dela, e ela se xingou por ser uma idiota.

Que mulher desejava um homem que apenas queria arruiná-la?

Que queria acabar com suas finanças, e talvez com sua imagem perante a sociedade? Não que ela tivesse contado a alguém o que fizeram juntos.

— Thomas? — ele limpou a garganta. — Suponho que seja o esperado que você o chame pelo nome de batismo.

Willow encontrou o olhar de Abe, perguntando-se por que tal coisa o irritaria caso o tom cáustico fosse qualquer indicação.

— Ele vai ser meu marido. — ela mentiu, sabendo que fugiria de Londres, da Inglaterra, antes mesmo de assegurar tal futuro. Não que Lorde Ryley precisasse saber disso.

O canalha.

— Hm. — ele disse em tom evasivo. — Suponho que sim. — e se virou e entrou na sala atrás dele, deixando-a parada no corredor.

Por um segundo, ela debateu acerca de se virar e fugir da presença dele, mas a necessidade de vê-lo mais um pouco, de ouvir a voz dele, mesmo que fosse apenas para discordar dele, forçou-a a entrar na sala. Ele estava parado ao lado de uma lareira apagada, encostava-se no parapeito e olhava para a lenha que havia sido preparada para o dia seguinte.

— Onde está sua amiga? — Willow perguntou, já que esperava vê-la se vestindo ou arrumando o cabelo, no mínimo.

Ele olhou para ela com curiosidade, uma pequena carranca entre as sobrancelhas antes de rir.

— Está sugerindo que eu estava aqui tendo um encontro amoroso com a mulher que trouxe para o baile? — ele caminhou até uma garrafa de uísque e serviu-se de um copo, engolindo o conteúdo de uma só vez. — Desculpe desapontá-la, minha querida, mas aquela é minha prima recém-chegada de volta à cidade. Eu apenas a acompanhei como ela queria.

Willow se recusou a permitir que o alívio que a tomou alterasse suas feições. Ela manteve firme o rosto impassível.

— De qualquer forma, por que quer saber de minha vida, Srta.

Perry? Vai se casar, não posso cortejar quem eu quiser, como você?

Deixar nosso pequeno incidente em Hampton para trás, tal como foi, e o mais recente em Londres?

— Você pode fazer o que quiser, como sempre fez. — disse ela, lembrando-o de que o tempo todo, o plano dele foi arruiná-la.

E ele decerto a arruinou. Com certeza, ninguém mais estaria à altura dele, ou a faria sentir um pouco da emoção que ela sempre sentia quando estava perto de Abe. Dava vontade de espernear como uma criança por ter se apaixonado por um homem que era tão errado para ela em tantos aspectos.

Ele queria fazê-la pagar, droga. O que ele conseguiu fazer, uma vozinha zombava em sua cabeça.

Willow rangeu os dentes, entrando mais na sala.

— Fiquei surpresa em vê-lo aqui, só isso. Mesmo que como acompanhante de sua prima, como diz, você não compareceu a evento algum no último mês. Achei que havia voltado para o antro infernal que tanto ama.

A irritação a rasgava ante o tratamento que ele havia tido para com ela. De seu plano de derrubá-la. Como ele ousava? Como ousava fazê-la gostar dele enquanto o tempo todo não queria nada mais do que fazê-la pagar?

— Ó, eu estive em meu “antro infernal” como chama, minha querida. Contudo — ele deu de ombros. —, eu faço parte desta sociedade há mais tempo do que você, e quer eu goste do estilo de vida ou não, as pessoas neste salão são minhas amigas e mantêm Hell's Gate como um negócio lucrativo. Nunca é demais mostrar interesse, mesmo quando eu não tenho nenhum. É o mesmo para

as mulheres que aquecem minha cama. Elas são todas iguais.

Depois de se baixarem, antes que sejam fodidas.

Willow arfou.

Estava falando dela?

— Você está insinuando que eu o usei, meu senhor? Que me entreguei a você apenas para me casar com outro?

Não conseguia acreditar no que acabara de ouvir ele dizer. Com certeza, era apenas provocação.

— Não foi o que você fez, Srta. Perry? Ou eu me enganei no mês passado?

Willow foi até ele, ficando cara a cara com o homem impossível e irritante.

— Você buscou vingança e me usou enquanto se empenhava para atingir seu objetivo. Se alguém me empurrou nos braços de outro, foi você. Por que não consegue admitir, Lorde Ryley? Está com ciúmes. Está com tanto ciúme que alguém além de você pode dizer que me tem. Talvez o que todos estão dizendo de você seja verdade.

— E que verdade é essa? — ele disse, a voz baixa em um tom perigoso que a fez estremecer.

Havia uma linha tênue entre ela e Lorde Ryley. Ele não era manso, e com certeza, na maior parte do tempo não agia como um cavalheiro. Não havia como dizer o que aconteceria se ela continuasse cutucando-o.

— Que você me ama. Que se arrepende de me forçar a um investimento que custou um terço do meu dinheiro. Que ainda me quer.

Assim como ela o queria. Depois de tudo o que ele fez com ela, seu corpo ainda ansiava pelo toque dele. Se ele ao menos admitisse o erro. Admitisse que estava arrependido. E implorasse por perdão.

Sua Senhoria de joelhos, implorando por misericórdia, seria uma visão adorável.

— Você quer que eu admita que quero você? — disse ele, dando um passo na direção dela e empurrando-a contra a mesinha que ficava atrás do sofá.

— E tudo mais. — ela sussurrou, a parte de trás das coxas batendo na mesa.

O aroma inebriante dele, de bebida, sândalo e algo mais, luxúria talvez, a consumia, e calor se acumulou em seu núcleo.

— Ó, eu quero você. Quero você de costas aqui e agora. — ele subiu o vestido dela, puxando-o pelas pernas para que o ar fresco da noite beijasse a pele dela. — Eu quero que termine seu noivado com o Lorde Perfeito. Eu quero que você seja minha.

Ela deveria detê-lo. Empurrá-lo para longe. Mas não o fez.

Mulher tola e boba que ela era. A proximidade dele a consumiu, e então o que ele disse, as palavras dele assentaram-se na cabeça dela. Ele a queria para si? Ela estava noiva, era errado. Apesar de tudo que Lorde Ryley pensava de Lorde Herbert, ele não merecia que a noiva beijasse outro homem.

E é exatamente aí que este interlúdio com Lorde Ryley terminaria se ela não partisse agora. Com toda a obstinação que possuía, Willow empurrou Abe para longe, saindo de seu alcance.

— Eu não deveria estar aqui, e você não deveria estar tentando me seduzir.

— Por que não? Eu a quero tanto quanto sempre quis. Não pode se casar com o Lorde Perfeito. Não se importa com ele, Willow.

Posso ver que não, e toda Londres também sabe disso.

Londres inteira sabia que ela não gostava de seu prometido como deveria? As bochechas dela ficaram quentes, e ela respirou fundo para se acalmar, lembrando-se de que Lorde Ryley nem sempre estava certo sobre as coisas.

— O que sabe acerca de sentimentos, Lorde Ryley, quando não se importa com mais nada além de si?

— Isso não é verdade. Eu me importo com você. Mais do que sempre quis, ou pensei que poderia, mas me importo.

— O quê? — ela perguntou, virando-se para encará-lo.

Ela nunca havia pensado que ouviria tais palavras do Canalha Espanhol. A maneira como ele a encarava, com sinceridade e como se o futuro dele dependesse da resposta dela, fez algo se contorcer no peito dela.

Ele se importava com ela?

Será que ela ousaria ansiar que os sentimentos dele fosse ainda mais fortes, que fosse amor? Pois, tão concreto quanto a presença dela na frente dele, era o amor que sentia. Amava que ele a irritasse

e a provocasse. Amava-o o suficiente para ignorar a teimosia e golpes temerários. Ela podia entender o raciocínio por trás deles. Se ela tivesse conhecido a própria mãe, nunca teria querido que ela fugisse de Londres apenas por causa de suas origens.

Ela teria lutado também, procurado fazer aqueles que machucaram sua família pagarem. A tia dela havia sido uma dessas pessoas, e embora a vingança de Lorde Ryley fosse equivocada, havia honra impulsionando-o a fazê-lo.

— Devo desculpas a você, Willow. Também devo desculpas a Lorde Herbert. Existem coisas que eu não sabia, que vieram à tona e, por conseguinte, minha opinião acerca de muitos acontecimentos mudou.

Willow deu um passo em direção a ele, precisando saber o que havia mudado.

— Como assim?

— Venha. — disse ele, pegando a mão dela e levando-a para se sentar no sofá ao lado dele.

O som abafado de um cotilhão flutuou ao redor deles, e apenas as velas acesas no corredor iluminavam o cômodo. A sala de estar estava escura, privada e perigosa. Ela não deveria ficar. Deveria ir embora, voltar para o noivo e dizer a Lorde Ryley para visitá-la amanhã e se explicar.

Em vez disso, Willow se sentou, virando-se para enfrentá-lo e se deliciando com o rosto requintado dele que a observava com emoções que ela só poderia sonhar que durariam para sempre.

— Minha mãe está em Londres. Chegou há vários dias e, com sua chegada, também chegou a verdade.

Willow franziu a testa, imaginando o que poderia significar.

— Que verdade?

— Bem, quanto a isso... — disse ele e explicou cada detalhe que havia descoberto.

Ela se sentou e ouviu Abe contar da situação que a mãe se encontrava no passado. Por que ela foi obrigada a partir sem o filho, e as razões para não poder voltar. Quanto mais ouvia, mais Willow percebia que Abe estava vivendo sob um mal-entendido. Um que a mãe deveria ter desfeito se contasse a verdade antes.

— Sua mãe sabia do seu plano de buscar vingança quando surgisse a oportunidade?

— Não. — disse ele, suspirando e recostando-se no sofá. — Ela sabia que eu não gostava das amigas dela, ou inimigas, como presumi que fossem, mas como eu apenas ignorava a existência delas, havia pouca preocupação da parte dela. Ela estava em Paris quando Lady Herbert escreveu pedindo por ajuda.

— Lady Herbert. O quê? Por que Lady Herbert precisaria da ajuda dela? — Willow perguntou, sentando-se um pouco mais para frente.

Uma ponta de pavor fez um nó se formar dentro dela, e a mente acelerou tentando supor o motivo de tal pedido de Sua Senhoria.

— Ela acredita que o filho, seu noivo, não está apaixonado por você. Que está apaixonado por outra. Ela escreveu para minha mãe porque acreditava que você também não amava o filho dela. Que, na verdade, ama o filho de Lady Ryley. E assim, um casamento entre Lorde Herbert e a Srta. Perry seria um desastre se continuasse.

Willow encarou Abe, incapaz de entender tudo o que ele dizia.

— Mas Lady Herbert tem sido muito útil com os planos do casamento. Ela está tão animada.

— Claro que está, Willow. Você é a mulher perfeita com quem qualquer homem teria orgulho de se casar. Eu sei que eu teria.

Ela soltou um suspiro, encontrando os olhos escuros e nublados dele que queimavam com uma necessidade que ecoava a dela.

— Você não quer uma esposa, Lorde Ryley. Deixou isso bem claro e, se eu me casasse com você, não gostaria de compartilhá-lo.

Ele riu, inclinando-se para frente e pegando o rosto dela nas mãos. Willow podia sentir-se caindo no charme dele. Ele só precisou tocá-la, e ela estava perdida. Não mais no controle.

— O último mês foi um inferno, e percebi que não quero mais ninguém na minha vida além de você. Você é a mulher mais doce, honesta e leal que já conheci, e em algum lugar entre vê-la usando calças no meu clube, ou embaixo de mim em um sofá aqui em Londres, me apaixonei por você. Eu amo você. Quero que rompa seu noivado com Lorde Herbert e se case comigo. Seja minha.

Willow respirou fundo.

As mãos dela agarraram as lapelas do casaco dele, e ela percebeu que em algum momento durante o discurso dele que ela se aproximou ainda mais dele. A ideia de ser dele a deixou plena, e uma sensação de paz recaiu nela. A sensação de que era o certo percorreu todo o seu corpo.

— Está certo de que Lady Herbert não ficará arrasada se eu romper o compromisso? Lorde Herbert tem sido muito atencioso.

Os olhos de Abe se estreitaram, o rosto endureceu.

— O salafrário a beijou de novo, não foi?

Willow sorriu, incapaz de conter a pequena risada ante o incômodo dele.

— Beijos que não foram nada parecidos com os seus, meu senhor. Eu poderia muito bem estar beijando minha própria mão.

Ele fez uma careta um momento antes de soltar um suspiro audível.

— Suponho que beijar o noivo é algo esperado. Seria estranho não o fazer.

Willow se aproximou da pessoa dele, envolvendo os braços no pescoço dele. O cheiro de sândalo intoxicou seus sentidos e, pela primeira vez em semanas, ela se sentiu como ela mesma. Viva e feliz. Muito feliz.

— Há algo que gostaria de me perguntar, Abraham? — ela brincou, querendo que ele dissesse o que ela ansiava ouvir desde quase o momento em que soube que ele era um libertino inatingível.

Ele encurtou o espaço entre eles, beijando-a de leve nos lábios, e encostou a testa na dela.

— Casa comigo?

Ela assentiu com a cabeça, as lágrimas ardendo nos olhos e fazendo com que a visão, a visão perfeita e inesquecível dele, se borrasse diante dela.

— Eu me casarei com você. Prometo amá-lo sempre. Ser fiel e honesta e para sempre sua.

— Eu também. — ele disse com mais um beijo.

E desta vez, não um toque doce e curto, mas um beijo que fez o sangue dela disparar que a porta tivesse sido trancada ao entrarem na sala. Mas haveria mais desses por vir. Esta noite apenas marcava o início de suas vidas.

O início do para sempre.

E P I L O G U E

Quatro meses depois

W ILLOW tomava banho diante de uma lareira crepitante em Blackwood Hall, a casa ancestral de Abe, para onde se mudaram depois do casamento em Londres, uma semana depois que ela desistiu de se casar com Lorde Herbert.

Como Abe havia dito, Lorde Herbert pareceu mais aliviado do que arrasado por ela querer encerrar o arranjo e, somente hoje, eles retornaram a Blackwood após assistir ao casamento de Lorde Herbert com Sua Graça, a Duquesa de Markson. A mulher com quem deveria ter se casado desde o início, se o pai da noiva não tivesse decidido que ela se casaria com um duque e não com um conde há tantos anos.

Willow deitou-se na água com cheiro de jasmim e fechou os olhos, a mão se movendo para tocar o pequena curva rígida em sua barriga que não era perceptível para ninguém além dela. Agora que estavam em casa para ficar pelos meses seguintes, com certeza ao menos durante o inverno, Willow contaria a Abe sobre a criança.

Ela deu uma fugidinha para Londres, para ver o médico e confirmou as suspeitas. Com tudo indo bem, ela se sentia pronta para deixar Abe saber que seria pai.

O fogo, que estalava, aqueceu seu braço quando ela o deixou cair ao lado da banheira. Emoção crescia dentro dela, e ela não conseguia se lembrar de ter sido tão feliz. Estava casada com um homem que adorava, e as amigas viviam felizes em sua casa em Londres. Havia pedido que ficassem lá depois de se casar com Abe.

Nenhuma das duas queria voltar para o campo, caso contrário, a casa ficaria vazia. Era uma solução perfeita ter as amigas morando lá. Hallie ainda estava na cidade e prometeu mantê-las longe de

problemas. Willow sorriu ao pensar em Evie e Molly, as últimas amigas ainda não casadas.

Ela estava certa de que também encontrariam homens que as arrebatariam. Na próxima temporada, garantiria que fossem cortejadas, adoradas e, portanto, que se casariam até o final da temporada.

— Bem, esta é uma visão deliciosa, se é que já houve alguma melhor.

Willow riu, mas não se mexeu. A água havia relaxado seus músculos doloridos depois de toda a viagem que fez naquele dia.

— Como estavam as fazendas dos inquilinos? Tudo em ordem?

— Tudo está bem. Meu administrador tem tudo sob controle, como de costume.

Willow abriu um olho quando ouviu um farfalhar ao lado da banheira. Ela se sentou quando uma perna musculosa e peluda entrou na banheira, seguida por outra. Ela arfou quando ele se sentou junto dela, a água caindo das laterais e espirrando no tapete Aubusson.

— Abe, olha a bagunça!

Ele sorriu, encolhendo os ombros.

— Vai secar. — disse ele, estendendo a mão e puxando-a para o lado dele.

Em vez de se recostar sobre ele, como costumava fazer quando tomavam banho juntos, ela montou em suas pernas, colocando seu núcleo dolorido contra a masculinidade dele. A água o deixou escorregadio, e ela agarrou-o pelos ombros, passando as mãos pelo peito dele, o que sempre gostou de fazer.

Desde o momento em que ela concordou em se tornar a esposa dele, ele a inundou de amor. Às vezes, a ponto de ela se preocupar com ele caso alguma coisa acontecesse com ela. Se ele ficaria bem, tão profundo era o seu afeto por ela.

A mãe dele permaneceu em Londres, e voltou a ocupar seu lugar de direito na alta sociedade, o que deixou Abe feliz. Quanto ao clube, ele ainda dirigia o estabelecimento, mas havia mudado para um clube exclusivo para homens, tornando-se menos demimonde e mais beau monde.

O olhar perverso dele a fez se esquecer todo o resto, e ela se inclinou para frente, beijando-o, tirando dele tudo o que ela queria.

Nos últimos meses, havia se tornado bastante ousada em suas tentativas de seduzi-lo, gostava de provocá-lo durante o dia e fazê-

lo esperar. Hoje não foi diferente.

Durante a viagem de carruagem para casa, ela lançou olhares calorosos com promessas de prazer. A língua dele se enredou com a dela, e ela chupou a dele, imitando o que gostava de fazer com seu membro endurecido.

Abe gemeu, as mãos em torno da cabeça dela, mantendo-a contra ele. Ela se deleitou com a paixão dele, pegou tudo o que ele oferecia e oferecendo o mesmo. Willow ondulou contra ele, o membro duro e grande fez com que picos de prazer irradiassem prazer pelo corpo dela.

— Deus, eu amo você. — ele disse, beijando seu rosto, pescoço, antes de erguê-la um pouco para colocar um mamilo ereto na boca.

A língua dele dançou, provocando o bico, e ela o observou, com a respiração entrecortada. Willow mordeu o lábio, sorrindo com o que o toque dele fazia com ela. A fazia sentir.

Tanta alegria. Muito amor.

— Seus seios são tão perfeitos.

A mão dele correu sobre o outro seio, o polegar e o indicador rolando o mamilo. Willow gemeu, balançando-se contra ele enquanto a boca brincava com a carne dela.

— Não deve gozar ainda, meu amor.

E então ela foi erguida e girada na banheira.

Os braços grandes e musculosos dele deslizaram para baixo dos dela para colocá-los contra a borda da banheira. De joelhos, Willow olhou por cima do ombro, perguntando-se o que ele estava fazendo.

O corpo dele se encostou nas costas dela, o pênis se acomodando entre suas dobras doloridas, e a compreensão surgiu.

Eles nunca fizeram amor assim.

Era mesmo possível?

Ele a beijou nas costas e deixou o cabelo dela deslizar por um dos ombros. A língua dele traçou a coluna dela, e Willow fechou os olhos, sem saber se poderia aguentar muito mais da provocação.

Era delicioso e consumia tudo.

— Pare de me provocar, Abe. — ela arfou quando ele deslizou contra seu núcleo mais uma vez, apenas o suficiente para mantê-la querendo mais. Ela nunca se cansaria do marido, era uma certeza.

ABE NUNCA se cansaria de Willow.

Ela era seu mundo, e ele adorava cada pequeno detalhe dela.

Ele sentia as bolas apertadas, o pau duro. O calor dela deslizava ao redor dele enquanto ele excitava ambos. Ele gemeu pela fricção deliciosa, envolveu os braços ao redor dela para apertar seus seios.

Eles se penduravam pesados, tocando as mãos dele, e ele beliscou os mamilos, provocando a saída de um doce suspiro de necessidade dos lábios dela.

Ele envolveu o com a mão pênis e guiou-se para dentro dela, tomando-a centímetro a centímetro até que se alojasse inteiro. O

núcleo apertado dela contraiu em torno dele, e ele deu um impulso forte, para provocá-la.

Ela gemeu, ondulando o bumbum, querendo o pênis dele, e ele respirou fundo, não queria que acabasse. Droga, ela o fazia querer.

Era um desejo que nunca era saciado, não importa o quanto eles se unissem dessa forma. Desde o momento em que se casaram, foi assim, e ele esperava que nunca acabasse.

Ele a adorava e só vivia para fazê-la feliz.

Ela estava molhada, lubrificando o pênis dele até mesmo na água, e ele empurrou mais uma vez, acelerando o ritmo. Nunca haviam feito sexo assim, mas ele sabia que ela gostaria. Se os gemidos e os doces suspiros fossem alguma indicação, ela estava gostando muito da relação por trás.

Abe se inclinou para trás, segurou-a pelos quadris e investiu, longo e forte. Ele circundou-a com uma das mãos, deslizando os dedos contra a abertura dela, massageando o botão que tanto adorava chupar, beijar e lamber. Mais tarde, ele se prometeu. Em seguida, ele a faria gozar no rosto dele.

O pensamento do ato o deixou ainda mais duro e o fez gemer.

— Ó, Abe. — ela arfou, e colocou uma das mãos em cima da dele, para mantê-lo sobre seu monte.

As demandas sexuais dela apenas o excitavam mais, e ele continuou seu ritmo implacável, sabendo como ela gostava de ser fodida com força e rápido. Profundo e certeiro. Seu pênis inchou no momento em que a penetrou. Inclinando-se, ele beijou-a no pescoço, o ponto sensível e doce sob a orelha.

Ela choramingou, ofegando, e então ele sentiu.

A sensação de aperto em torno do pau. A liberação dela incentivou a dele, e ele se juntou a ela no caleidoscópio de prazer, levando-a até que por fim relaxasse em seus braços, saciada e satisfeita.

Ele se desvencilhou e ajudou-a virar-se para encará-lo. Ele a segurou contra o peito, a mão preguiçosa correndo para cima e para baixo nas costas dela. A pele dela era tão macia e sempre cheirava a flores. Hoje, parecia que a água foi enriquecida com jasmim. Um perfume que ele agora sempre associava a ela.

— Foi diferente. — disse ela, virando-se um pouco para beijá-lo no peito antes de colocar a mão sobre o coração dele, um dedo distraído desenhando em seu peito. — Eu gostei.

Ele gostou também. Ele beijou-a na testa, e manteve-a perto.

— Achei que gostaria, e planejei mais coisas para você esta noite. Outras delícias agradáveis que sei que vai gostar.

— Hm. — ela murmurou, encontrando seu olhar. — Estou ansiosa por tudo, e falando nesta noite, há algo que eu gostaria de contar.

— Há? — ele olhou para ela com expectativa. — O que é?

— Bem. — disse ela, sentando-se melhor para poder vê-lo com mais clareza. — Quando estivemos em Londres esta semana, fui ao médico.

— Você está bem? Algo errado? — disse ele, interrompendo-a e sentando-se tão rápido que a água espirrou no chão mais uma vez.

As pobres criadas xingariam os dois mais tarde por esta bagunça. As mãos dele avaliaram o corpo dela como se fosse encontrar algo sinistro, e Willow as agarrou, mantendo-as paradas.

— Nada está errado, Abe. Está tudo perfeito, na verdade.

— Está? Então, por que precisou consultar um médico?

Ela não respondeu, apenas sorriu para ele e esperou que ele entendesse. Que percebesse o que ela queria dizer a ele. Demorou

apenas um momento, e os olhos dele se arregalaram, a boca escancarada por palavras que não viriam.

— Vamos ter um bebê. Estou grávida.

— Maldição. — disse ele, segurando os ombros dela.

Por um momento, Willow não sabia o que dizer. Ele estava feliz ou significava que estava desapontado?

— Não ficou contente? — ela perguntou quando ele apenas a encarou como se fosse uma das estátuas de pedra que se espalhavam pelo jardim.

— Ó não, estou mais do que feliz, Willow. Estou além de todo pensamento e frases coerentes, mas estou mais que feliz.

As lágrimas turvaram a visão dela e, pegando uma das mãos dele, ela a deslizou para cobrir a pequena protuberância que se formava na barriga.

— O médico acredita que estou com várias semanas. Será que vai ser uma menina ou um menino?

Abe soltou uma meia risada, meio bufo.

— Espero que seja uma menina. Adoraria ter uma filha tão doce, tão pura e boa como a mãe.

Ela sentiu uma onda de prazer ante as palavras dele. A tal poesia ela poderia se acostumar.

— Eu gostaria de um menino para que ele possa crescer tão elegante e nobre quanto você.

— O Canalha Espanhol. Você gostaria que o filho soubesse que o pai ostentava tal título?

Willow estendeu a mão, passando-a na mandíbula dele, sabendo o quanto o título o irritava desde que se casaram. Alguns ainda se referiam a ele assim, e ele odiava as conotações que vinham com o nome.

— Eu me apaixonei pelo Canalha Espanhol, e você não era tão ruim. Pessoalmente, acredito que sua reputação foi mais exagerada do que o necessário.

— Mesmo? — ele disse, uma sobrancelha arqueada.

Calor se acumulou entre as pernas dela ante o olhar perverso que prometia vingança por dizer tal disparate. Ele ficou de pé na banheira, mais água espirrando no chão. Willow olhou para ele,

exasperada, antes que ele a levantasse, a erguesse nos braços e saísse da banheira.

— Não era tão ruim, você disse? — ele indagou, apenas alguns passos curtos até alcançar a cama. Ele a içou para o colchão, e Willow riu quando seu corpo pulou. — Veremos isso.

Willow estendeu a mão para ele quando ele caiu sobre ela, disposta para qualquer coisa que Abe, o Canalha Espanhol, estivesse disposto a fazer com ela. Não apenas esta noite, mas sempre.

Todos os dias.

 

 

                                                   Tamara Gill         

 

 

 

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