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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


REINOS DIVIDIDOS / GUARDIÕES DA ALMA - Kim Richard
REINOS DIVIDIDOS / GUARDIÕES DA ALMA - Kim Richard

 

 

                                                                                                                                            

 

 

 

 

 

Eu estive agachada dentro de um armário, com meu queixo descansando desajeitadamente sobre meus joelhos, por cerca de seis horas, e agora os músculos do meu corpo gritavam e queimavam. O ácido da fome corroía meu estômago vazio, e o ar estava quente e viciado. Um suor frio escorria em minhas costas, mas eu continuava respirando baixo e de modo constante, mantendo minha posição e esperando.
Eu podia ouvir vozes masculinas abafadas e passos embaralhados.
Idiotas.
Se os guardas do templo me descobrissem agora, eles cortariam minha garganta antes que eu pudesse sequer começar a explicar por que eu estava ali, escondida em um armário da galeria. A verdade é que havia apenas uma razão pela qual alguém se infiltraria na galeria do templo à noite - para roubar os tesouros dos sumos sacerdotes.
Eu mordi o lábio. Aquilo era, de longe, a mais estúpida e mais perigosa façanha que eu já havia realizado. Mas a fome e o desespero me levaram para mais além da Cidade das Almas do que eu jamais havia me aventurado antes. E agora eu havia sido tola o suficiente de buscar minha caça dentro da galeria. Eu conhecia os riscos.
Terminamos a última sopa de repolho há dois dias, e Byron não tinha nenhum pão para passar a semana. Eu jurei ontem à noite que não passaria mais nenhuma noite de barriga vazia.
Uma cãibra atingiu minha perna, mas eu a ignorei. Esconder-me em cubículos por longas horas não era algo novo para mim. Eu estava acostumada com pequenos espaços. Graças ao Criador, eu não sou claustrofóbica. Meu coração batia alto em meus ouvidos enquanto minha fome era substituída por minha raiva.
Os sumos sacerdotes eram a razão pela qual estávamos todos morrendo de fome. Havia joias e pedras preciosas o bastante na galeria para alimentar as famílias do Fosso por gerações, e ainda assim estávamos todos morrendo de fome. Estava claro que os sacerdotes queriam nos manter famintos. Éramos mais fáceis de controlar.
Desgraçados.
 

 

 

                        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

— Espere por mim! — Kara corria pela Saint Paul Street. Ela apertava o telefone celular contra sua orelha com a mão suada. — Estarei aí em dois minutos!
Suas sapatilhas negras de balé faziam ruído nos paralelepípedos, enquanto ela se esquivava do tráfego vindo no sentido contrário, seu portfolio pendia ao seu lado. Ela pulou para a calçada e correu por entre a multidão.
— Não consigo acreditar que você não esteja aqui ainda — disse a voz do outro lado da linha. — De todos os dias, você tinha de escolher hoje para se atrasar!
— Ok, ok! Já estou tendo um treco por causa da apresentação. Você não está ajudando muito, Mat.
Uma risada veio pelo telefone.
— Só estou dizendo... que este deveria ser o dia mais importante da sua vida. E você, Mademoiselle Nightingale, está atrasada.
— Sim, eu ouvi você da primeira vez... MÃE. Não é minha culpa. Meu despertador estúpido não tocou! — Kara corria em disparada pela rua movimentada, com seu longo cabelo castanho subindo e descendo contras suas costas. O odor de gordura e cerveja dos pubs alcançaram as suas narinas e o coração dela martelava em seu peito como uma britadeira. Ela sabia que, se perdesse a apresentação, suas esperanças de conseguir uma bolsa haviam terminado. Ela não tinha mais dinheiro para a universidade, então esta era a sua única chance.
Sobre as cabeças da multidão, Kara pôde vislumbrar a placa, Une Galerie. O elegante estêncil em letras negras garrafais, o nome pairava sobre as magistrais portas de vidro da galeria de arte. Ela podia avistar sombras das pessoas reunidas em seu interior. O peito dela se apertou. Ela estava apenas a uma quadra de distância agora.
— Você sabe, a apresentação não vai esperar por você...
— Sim, sim, eu sei. Juro que vou chutar a sua bunda quando chegar aí! — Kara rosnou no telefone, tentando recuperar o fôlego.
Durante um horrível instante, ela pensou que não conseguiria chegar a tempo e considerou sair da calçada e, ao invés disto, correr pela beira da rua. Ela olhou para trás para conferir quão ruim estava o trânsito.
Então seu coração deu um pulo.
Menos de uma quadra para trás, um homem estava parado imóvel e indiferente à onda de humanidade que fluía a seu redor. Ele estava olhando fixamente para ela. Seu cabelo branco se destacava de seu terno cinza-escuro. Kara franziu o cenho.
Os olhos deles são negros, ela constatou.

 

 

 

                        

 

            

 

                        

 

            

 

 

 

 

Kim Richardson é a autora da Trilogia REINOS DIVIDIDOS e da Série GUARDIÕES DE ALMAS. Ela nasceu em uma pequena cidade no Norte de Quebec, Canadá, e estudou no ramo de Animação 3D. Como Supervisora de Animação para uma empresa de Efeitos Visuais, Kim trabalhou para grandes produções de Hollywood e permaneceu na área de animação por 14 anos. Desde então, ela se aposentou do mundo de Efeitos Visuais e se fixou no interior, onde ela escreve em tempo integral.
 

 

                                

 

 

 

 

 

 

      

 

 

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