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SEDUZIDA PELA LUZ DA LUA / Laurell K. Hamilton
SEDUZIDA PELA LUZ DA LUA / Laurell K. Hamilton

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Muitas pessoas ficam nas espreguiçadeiras nas piscinas de L.A, mas poucas delas são realmente imortais, não importa quão perfeita seja sua cirurgia plástica ou o exercício que realizem. Doyle era realmente um imortal e o tinha sido por mais de mil anos. Mil anos de guerras, assassinatos e intriga política e agora se via reduzido a ser um colírio para a vista, em um traje de banho de couro, na piscina de algum rico e famoso. Jazia ao bordo da piscina, vestindo quase nada. A luz do sol brilhou através da água azul, rompendo-se em uma dança através de seu corpo, como se uma mão invisível revolvesse a luz, transformando-o em uma dúzia de pequenas manchas que dançavam sobre o escuro corpo do Doyle em cores que eu não sabia que sua pele pudesse conter.
Ele não era negro da forma em que um humano pode ser, mas da forma em que um cão poderia ser. Vendo o jogo da luz em sua pele, soube que estava errada. Sua pele brilhava com azuis toques de luz, um luminoso azul de meia-noite que roçava sua musculatura até sua pantorrilha, uma labareda de azul real como um golpe de profundo céu, tocava suas costas e seus ombros. Um púrpura que envergonharia a mais escura ametista acariciava seu quadril. Como poderia ter tido eu o pensamento de que sua pele era monocromática? Era um milagre de cores e luz presa a um corpo que ondulava e se movia com músculos curtidos em guerras que havia brigado séculos antes de que eu nascesse.
A trança feita com seu negro cabelo se arrastava através do bordo da cadeira de praia, caindo por um lado e frisando-se a seu lado como uma serpente. Seu cabelo era a única coisa que parecia ser abolutamente negra. Não havia um jogo de cores, só o brilho de uma jóia negra. Pareceria que devia ser de outra maneira, que seu cabelo devia abraçar os toques de luz e seu corpo ter sido de uma cor só, mas não era assim.

 

 


 

 


Jazia sobre seu estômago, sua cabeça virada pra longe de mim. Fingia estar dormido, mas eu sabia que não dormia. Esperava. Esperava pelo helicóptero que nos sobrevoaria. O helicóptero que traria a imprensa, pessoas com câmaras. Fazíamos um trato com o diabo. Se a imprensa se mantinha o suficientemente longe de nós como para que tivéssemos um pouco de privacidade, nos asseguraríamos de que eles, em situações arrumadas de antemão, tivesse algumas coisa de interesse jornalístico para tirar fotografias. Sou a Princesa Meredith NicEssus, herdeira ao trono da Corte do Ar e da Escuridão, e o fato de que estivesse de volta em Los Angeles, Califórnia depois de três anos de ausência, eram grandes notícias. As pessoas pensavam que eu estava morta. Agora estou viva e bem, vivendo no meio de um dos maiores impérios dos meios de comunicação do planeta. E de repente, eu vou e faço uma das coisas que mais dá o que falar com a imprensa marrom.

Procurar marido. A única princesa do país das fadas nascida em solo americano, queria casar-se. Sendo uma fada, especialmente sendo um membro dos sidhe, a mais alta das altas realezas, não tinha permitido contrair matrimônio, a não ser que estivesse grávida. As fadas não se reproduzem muito e a realeza sidhe ainda menos. Minha tia, a rainha do Ar e da Escuridão não toleraria nada menos que um casal fértil. Já que parecia que estavamos nos extinguindo, eu não podia culpá-la. Mas de algum modo a imprensa tinha tido notícia de que eu não só estive saindo com meus guardas-costas, a não ser fodendo com eles. Quem me desse um bebê, teria umas bodas. Conseguiria ser rei e me faria rainha.

A imprensa também sabia que a rainha tinha convertido em uma competição entre seu filho, meu primo, o príncipe Cel e eu. Quem tivesse um bebê primeiro, ganharia o trono. Os meios de comunicação tinham caído sobre nós como canibais. A imprensa não soube que Cel tinha tentado me assassinar mais de uma vez. Tampouco sabiam que ele tinha sido encarcerado e castigado pela rainha durante seis meses. Encarcerado e torturado duranteseis meses. A imortalidade e a habilidade de curar-se de quase tudo têm seus inconvenientes.

A tortura pode durar, muito, muito tempo. Quando Cel saísse tinha sido permitido continuar com a competição, a não ser que eu engravidasse primeiro. Até agora, não houve sorte, e não por falta de tentativas.

Doyle é um dos cinco guarda-costas, os próprios guarda-costas da rainha, que tinham se devotado ou tinham sido oferecidos, a ser meus amantes. A rainha Andais havia posto só uma regra: que seu guarda-costas entregassem sua semente a meu corpo ou ao de ninguém. Doyle tinha sido celibatário por séculos. De novo, como ia dizendo, a imortalidade, tem seus inconvenientes.

Nós tínhamos escolhido um dos tablóides mais persistente para fazer nossos acertos. Doyle pensava que isto recompensava um mau comportamento, a rainha queria que nós mostrássemos imagens positivas aos meios de comunicação. A Corte Escura dos sidhe tem a reputação de ser os meninos maus.

Podemos sê-lo, mas eu passei boa parte de meu tempo na Corte da Luz, a brilhante e resplandecente corte, que os meios de comunicação acreditam tão perfeita, tão alegre. Seu rei Taranis, Rei da Luz e da Ilusão, é meu tio. Mas eu não estou na linha desse trono. Eu tive o mau gosto de ter um pai de sangue puro da Corte Escura sidhe, e este é um crime para o qual a multidão brilhante não tem perdão. Não havia nenhuma prisão a qual pudesse ir, nenhuma tortura a qual pudesse me submeter, que pudesse me limpar desse pecado.

Eles podem dizer que a Corte da Luz é um belo lugar, mas eu aprendi que meu sangue é tão vermelho sobre o mármore branco como sobre o mármore negro. A gente bela me fez entender de uma maneira muito simples, a uma tenra idade, que eu nunca seria um deles. Sou muito pequena, com uma aparência muito humana, mas pior ainda, com uma imagem muito Escura.

Minha pele é branca, assim como a do Doyle é negra. Pele da luz da lua é o que tenho, uma marca de beleza em qualquer corte, mas meço apenas um metro e meio de altura. Nenhum sidhe é tão pequeno. Tenho curvas, e sou umpouco muito voluptuosa para uma sidhe, o maldito sangue humano, suponho.

Meus olhos são tricolores, duas sombras de verde e um círculo de ouro. Os olhos seriam bem-vindos na Corte da Luz, mas o cabelo não. É sangue mogno, escarlate sidhe, se for a um bom salão de beleza e quer pedir esta cor de cabelo. Não é mogno e tampouco é o vermelho humano. É como mesclar o granada e o vermelho prolijamente no cabelo. Tem outro nome entre a multidão brilhante, o vermelho da Corte Escura. Os membros da Corte da Luz têm cabelos vermelhos, mas é mais próximo ao vermelho humano, alaranjado, dourado, quase mogno ou chegando a vermelho, mas nada tão escuro como o meu.

Minha mãe se certificou de que eu soubesse que era menos. Menos bonita, menos bem-vinda, só menos. Ela e eu nunca falamos muito. Meu pai morreu quando eu era jovem, e é estranho o dia em que não sinta saudades. Meu pai me ensinou que eu era suficiente, suficientemente bonita, suficientemente alta, suficientemente forte, só suficiente.

Doyle levantou sua cabeça, mostrando os óculos de sol negros, que escondiam seus próprios olhos negros. A luz brilhou nos brincos de prata, que adornavam quase cada polegada de suas orelhas, do lóbulo até a ponta alargada. As orelhas eram a única coisa que demonstrava que Doyle não era um sidhe puro da Corte Escura. Contrariamente à literatura popular, e a cada um dos que querem ser fadas com implante de orelhas, os sidhe reais não tem as orelhas bicudas. Doyle poderia ocultar suas orelhas e ter passado por sidhe puro, mas ele quase sempre levava o cabelo recolhido nas costas, por isso esta imperfeição ficava à vista. Acredito que os brincos eram para que não se passassem despercebidas.

— Ouço o helicóptero. Onde está Rhys?

Eu não ouvia nada ainda, mas tinha aprendido a não questionar ao Doyle, se ele dizia que tinha ouvido algo, efetivamente o tinha feito. Seu ouvido era muito melhor que o humano, e melhor que o da maior parte do resto dos guardas. Provavelmente teria algo que ver com sua herança mesclada.

Incorporei-me e olhei atrás, para a muralha de vidro que conduzia pra dentro da casa. Rhys apareceu nas portas de vidro deslizantes, antes de que eu o houvesse chamado. Sua pele tinha a palidez da minha, mas a semelhança chegava até aí. Seu cabelo comprido até a cintura, era uma massa de brancos cachos apertados, emoldurando uma cara infantilmente formosa e que seria assim pra sempre. Seu único olho era tricolor, azul escuro, claro e céu de inverno. Não tinha seu outro olho, tinha o perdido fazia muito tempo atrás. Às vezes, ele usava um emplastro para cobrir as cicatrizes, mas uma vez que compreendeu que a mim não incomodavam, poucas vezes se incomodava em utilizá-lo. As cicatrizes se arrastavam por sua cara, mas se detinham faltando pouco para chegar a seus adoráveis lábios. Pela forma definida de sua boca, ele era o mais belo. Media cerca de 1,70, o mais baixo dos sidhe puro-sangue que eu havia encontrado. Mas cada uma das polegadas que mostrava era puro músculo. Parecia querer compensar a falta de altura, mantendo-se em melhor forma que o resto dos guardas. Todos o guardas eram musculosos, mas ele era um dos poucos que havia levado a sério o levantamento de pesos. Trazia as toalhas pelas que tinha ido, mas não foi até que as deixou cair ao lado de minha cadeira que compreendi que tinha deixado seu traje de banho na casa.

— Rhys, O que está fazendo?

Fez-me uma careta. — Os trajes de banho tão pequenos são uma farsa. É uma forma para que os humanos estejam nus sem estar realmente. Eu prefiro mas bem, estar nu de verdade.

— Eles não serão capazes de tirar as fotografias se um de nós está nu — disse Doyle.

— Eles poderão fotografar meu traseiro, mas não minha parte da frente.

Eu o olhei, repentinamente suspicaz — E por que não serão capazes de fotografar o frente de seu corpo?

Ele riu, com a cabeça arremessada pra trás, a boca aberta, um som tão alegre que parecia fazer o dia mais brilhante. — Ocultarei-me contra seu magnífico corpo.

— Não — disse Doyle.

— E você está fazendo algo digno de uma fotografia? — Perguntou Rhys, com as mãos em seus quadris. Ele estava totalmente cômodo nu. Sua linguagem corporal nunca mudava, não importando se se encontrava ou não vestido. Tinha levado dois valiosos dias de discussão para ter Doyle no traje de banho que agora trazia posto. Ele nunca participava da nudez casual da corte.

Doyle se levantou, e o frente de seu traje de banho era o bastante pequeno, e o bastante parecido à cor de seu corpo, que eu podia entender a que se referia Rhys. Se você não sabe como magnífico é o Doyle nu, poderia imaginá-lo, com só uma olhada. De costas, via-se quase tão nu como Rhys.

— Estou usando isso, e estou em um lugar público.

— Você está lindo — disse Rhys — mas se quisermos que os tablóides parem de tratar de tirar fotografias através das janelas dos dormitórios, vamos ter que jogar limpo com eles. Precisamos lhes dar um show — Estendeu seus braços amplamente ao dizer isto, me dando as costas, de modo que eu tinha uma vista completa da parte de trás de seu corpo. A vista era melhor sem o traje de banho rompendo suas claras e musculosas linhas. Ele tinha ainda um maravilhoso traseiro, a diferença de alguns físicoculturistas, que levaram sua carência de gordura a um ponto tal, em que não fica nada suave em seus corpos. Necessita-se um pouco de suavidade para esconder as linhas dos músculos, ou senão fica feio. Podia ouvir o helicóptero agora — Ficamos sem tempo, cavalheiros. Não quero voltar a ter fotógrafos acampando nas árvores do outro lado do muro — Rhys me jogou uma olhada. — Se não dermos ao primeiro jornaleco um bom espetáculo, eles dirão ao resto que mentimos, e os teremos subindo por toda parte ao nosso redor outra vez — Suspirou, e não como se estivesse feliz — Eu de boa vontade faria reluzir meu traseiro por todo o país antes que ter outro fotógrafo quebrando o braço ao cair do terraço.

— Eu concordo — eu disse.

Doyle inspirou profundamente através de seu nariz e deixou escapar lentamente através de sua boca. — De acordo — O pouco que gostou de dizer isto o mostrou nas linhas de seu corpo, na forma em que parou. Se não podia atuar melhor que isso, Doyle ficaria dispensado das próximas oportunidades de fotografar-se.

Rhys veio até o pé de minha cadeira e se ajoelhou engatinhando,

com as mãos nos braços da cadeira. Sorria-me abertamente e soube que estava tratando de encontrar uma forma de desfrutar disto. Podia ser um dever, e embora ele tivesse preferido simplesmente atirar ao helicóptero no céu, jogava limpo, e se havia uma forma de fazer isso ser divertido, pois ele o faria.

Olhei para baixo a seu corpo, porque eu não podia evitar. Não podia deixar de olhá-lo tão perto que eu poderia tocá-lo, tão perto para fazer tanta coisa. Minha voz soou bastante instável quando perguntei: — Tem um plano?

— Pensei que nós poderíamos dar uns amassos.

— E o que se supõe que eu farei? — Perguntou Doyle. Soava completamente aborrecido com a situação. Adorava ser meu amante,

adorava a possibilidade de ser rei; mas detestava a publicidade e tudo o que tivesse que ver com isso.

— Você pode saborear uma parte de seu corpo, eu saborearei outra.

O helicóptero estava perto agora, possivelmente escondido só pela linha dos altos eucaliptos que bordeavam a propriedade. Doyle sorriu, um sorriso branco e repentino como um relâmpago na escuridão de sua cara. Moveu-se com uma graça líquida e uma velocidade que eu nunca poderia igualar, e de repente, encontrava-se ajoelhado ao lado de meu ombro. — Se for assim, então eu quero o doce sabor de sua boca —Rhys deu uma lambida através de meu estômago nu, que me fez retorcer e rir bobamente. Ele elevou a cara o suficiente para dizer:

— Há outros sabores tão doces como esse — O olhar em seu olho, em sua cara, mostrava um calor, um conhecimento, que tirou a risada de minha garganta e fez que meu pulso acelerasse.

Doyle esfregou seus lábios através de meu ombro. O movimento atraiu meu olhar para ele, e havia ali o mesmo escuro conhecimento. Um conhecimento nascido de noites e dias de pele e de suor e de corpos, de lençóis enredados e prazer.

Minha voz soou um tanto instável. — Decidiu brinca. O que te feu mudar de idéia? — Ele suspirou contra minha bochecha, e seu quente fôlego contra minha pele me fez estremecer.

— Este é um mal necessário, e se deve te expor para os meios de comunicação, eu não te abandonarei — Esse brilho de sorriso apareceu de novo, como uma surpresa percorrendo seu rosto. Isto o fez parecer mais jovem, quase como alguém perfeito. Tinha sido só no último mês ou algo assim que soube que Doyle tinha um sorriso como esse em seu interior. — Além disso, não posso te abandonar com o Rhys. A Deusa sabe que coisa poderia fazer ele aqui sozinho. Rhys passou um dedo na borda da parte inferior de meu biquíni. — Um pedaço de roupa tão pequeno. Eles nunca o verão se formos cuidadosos.

Arqueei as sobrancelhas para ele. — O que quer dizer? Deixou-se cair pela cadeira até que seu rosto ficou sobre esse pequeno pedaço de roupa. Suas mãos se deslizaram sob minhas coxas ligeiramente levantadas até que apareceram em cima de meus quadris e esconderam a brilhante cor vermelha do meu biquíni. Ele abaixou seu rosto justo sobre minha virilha, e seu cabelo se estendeu por sobre minhas coxas como uma cortina.

Não tive tempo de protestar, ou ainda decidir se ia fazer issp. O helicóptero passou por cima das árvores, e assim é como nos encontrou. Rhys, com sua cara enterrada em minha virilha, de joelhos, com seus pés chutando ligeiramente seu traseiro nu, como um menino com um pedaço de bom caramelo.

Pensei que Doyle protestaria, até que pressionou sua cara em meu pescoço e compreendi que estava rindo. Silenciosamente, seus ombros se sacudiam. Me acomodou novamente sobre a cadeira, para que me deitasse outra vez, ainda rindo, mas escondendo isso das câmeras.

Comecei a sorrir e agradeci que meus óculos de sol estivessem em seu lugar. A sorriso começou a transformar-se em uma gargalhada quando o helicóptero sobrevoava o suficientemente perto para mover a água da piscina, e enviar o cabelo do Rhys a me fazer cócegas ao longo de minha pele. Meu cabelo flamejou no vento artificial como chamas sangrentas.

Agora já ria completamente, o que fez meus ombros sacudirem. Rhys lambeu minha virilha, e mesmo através da roupa diminuiu a força de minha risada, me fazendo tomar fôlego. Fez rodar sua vista pela linha de meu corpo, e seu olhar foi suficiente, não me queria rindo. Pôs os dentes no pano do biquíni e roçou-me delicadamente com eles. A sensação me fez estremecer, meu espinhaço se arqueou o suficiente para jogar minha cabeça para trás e abrir minha boca em um ofego gutural.

Doyle apertou meu ombro, me fazendo recuperar um pouco a cabeça.

Me encontrava um pouco vacilante ainda e tive problemas enfocando sua cara. — Acredito que tivemos suficiente de espetáculo pelo dia de hoje — Pôs uma das toalhas sobre meu estômago, a outra a entregou ao Rhys.

Rhys levantou a vista para ele, e vi que o pensamento de discutir cruzou seu rosto, mas ao final, simplesmente começou a levantar-se, estendendo a toalha enquanto se movia, de modo que as câmeras não conseguissem um vislumbre de meu biquíni. Eu quase esperava que se voltasse para a câmera, e descobrisse a brincadeira, mas não o fez.

Cuidadosamente me cobriu com a toalha enquanto o helicóptero dava voltas no alto, e o vento sacudia nosso cabelo redor de nós. Por cima de seus joelhos ele estava totalmente exposto, e me perguntei se haveria fotos comprometedoras dele, ou se eles as venderiam aos tablóides europeus e não se preocupariam mais com o tema. Quando estive coberta completamente, das coxas até justo debaixo do sutiã do biquíni, tomou-me nos braços.

Tive que gritar para que me escutasse por cima do som do vento e da maquinaria. — Posso andar.

- Quero te levar — Pareceu tão sério ao dizê-lo, e não me custava nada deixar que o fizesse.

Assenti. Rhys me levou pra casa com o Doyle caminhando um pouco detrás e um pouco para o lado de nós. Doyle era um bom guarda- costas, fechava a marcha, mas também caminhava a um lado, em vez de diretamente detrás de nós, de modo a não arruinar uma possível oportunidade de fotografia.

Doyle parou em sua cadeira e pegou de cima uma terceira toalha,

logo se moveu brandamente para a casa. Consegui captar um brilho da arma oculta nessa toalha. O helicóptero que voava pelo alto nunca soube que um de nós estava armado. Eles tampouco podiam ver o Frost, parado justo dentro das portas de vidro deslizantes, oculto por umas tapeçarias. Estava completamente vestido, e muito armado.

Acredito que a razão pela que não me preocupam tanto os jogos com os meios de imprensa é porque se ninguém tratou de me matar, então esse foi um bom dia. Quando esse é seu critério para um bom dia. O que são uns poucos helicópteros e algumas fotos picantes? Não muito.


Capítulo 2


Frost viu como Rhys me trazia pra dentro com raiva em seus olhos cinzas. Frost havia sido o único guarda que votou contra nosso trato com a imprensa. Ele podia nos proteger enquanto nos dedicávamos a essas coisas estúpidas, mas não participaria. Sua dignidade nunca cairia tão baixo.

Estava bonito com seu aborrecimento, mas ele sempre estava bonito.

A Deusa o havia feito de tal modo que ele não pudesse ser mais do que era. Era todo maçãs do rosto e impecáveis linhas que poderiam fazer chorar de inveja a um cirurgião plástico. Pele como a neve, cabelo como prata geada brilhando à luz da lua, amplos ombros, cintura magra e quadris estreitos, largos braços e pernas. Vestido era bonito; nu era impressionante.

Viu-nos caminhar através do piso de azulejos com um olhar de menino irritável. Era o mais caprichoso dos guardas. O primeiro em zangar-se, o último em perdoar e fazia birra. Parece uma má palavra para um guerreiro que defendeu a sua rainha por mais de mil anos, mas é a palavra correta. Frost fazia birra, e me cansava vê-lo. Era assombroso na cama, um guerreiro maravilhoso, mas aplacar sua merda emocional era quase um trabalho de tempo integral. Havia dias nos quais não estava segura de querer o trabalho.

— O Rei Trasgo chamou pelo espelho — disse com uma voz tão mal-humorada como seus olhos.

— Faz quanto tempo? — perguntou Doyle.

— Ele está falando com o Kitto agora.

Doyle tinha começado a andar para o dormitório mais longínquo, então parou e jogou uma olhada para baixo, para o que usava ou melhor o que não usava.

Suspirou, pesadamente e avançou com os pés nus através dos ladrilhos. Comentou sobre seu ombro — Se Meredith estiver vestida assim, poderia nos significar alguma vantagem, mas Kurag não se preocupa da carne de um homem.

— Isso não é verdade — disse Rhys, e a amargura em sua voz me feu dar a volta e olhá-lo. Ainda estava em seus braços, de modo que girar minha cabeça foi, de certo modo, algo íntimo ao nos aproximar. — Os trasgos gostam de um pouco da carne sidhe.

Doyle se deteve o suficiente para olhá-lo com o cenho franzido. — Não quis fazer uma piada disso.

— Eu tampouco — disse Rhys.

Isto parou ao Doyle firmemente sobre seus pés nus, tão escuros sobre os ladrilhos brancos e azuis. — O que está dizendo, Rhys?

— Estou dizendo que muitos trasgos nunca provaram o prazer da carne sidhe, seja de homens ou de mulheres, e há quem não se preocupa se esta for de homem — Esfregou o flanco de sua cara contra meu pescoço e meu ombro. Um gesto cômodo.

— Kurag.... — Frost começou, mas não pôde terminar a frase. A cólera contra Rhys, os repórteres, ou o que fosse, tinha ido embora. Sua cara mostrou o ultraje que provavelmente todos sentiam. Acariciei os cachos do Rhys, tão suaves, e me acomodei mais em seus braços.

Delineei com meus dedos a curva de seu pescoço e o ombro. Quando os duendes estão ansiosos, tocamo-nos os uns aos outros. Penso que as pessoas, os humanos fariam isso se sua cultura não confundisse o toque com o sexo tão freqüentemente. O tocar-se pode levar a sexo, mas nesse preciso momento, eu só queria abraçar ao Rhys e tirar de seu rosto esse olhar.

Doyle avançou alguns passos, uma mão em um de seus esbeltos quadris. — Está dizendo que Kurag... ultrajou-te.

Rhys levantou a cara de meu pescoço. — Ele nunca me tocou, mas sim olhava. Estava sentado em seu trono, comendo petiscos, como se fosse um espetáculo.

— Todos nós tivemos que atuar do começo ao fim em entretenimentos em nosso própria corte, Rhys. Ninguém fala disso, mas quantos de nossos companheiros guardas aceitaram a um pouco de umcontraum, para o prazer da Rainha, se isto os liberava do celibato embora fosse uma ou duas horas?

— Eu nunca fiz — suas mãos se convulsionavam a meu redor, seus dedos enterrando-se dolorosamente.

— Eu tampouco — disse Doyle. — Mas não culpo a aqueles que o fizeram.

— Rhys, está me machucando — eu disse brandamente.

Baixou-me ao chão, gentilmente, cuidadosamente, como se não confiasse em si mesmo. — Uma coisa é escolher. E outra é estar preso... — Sacudiu sua cabeça.

Deixei cair a toalha no piso e toquei seu braço. — A violação é sempre feia, Rhys.

Rhys sorriu de uma forma tão amarga, que me fez abraçá-lo, consolá-lo e então eu não teria que ver esse olhar em seu rosto.

— Muitos guardas não estariam de acordo com isso, Merry. É muito jovem, não recorda o que somos durante uma guerra.

Fiquei aderida a ele, tentando alegrá-lo pressionando minha pele contra a sua.

Não queria saber que meus guardas tinham feito coisas tão horríveis. Não, não era isso. Não queria saber que os homens com os que compartilhava minha cama tinham feito coisas tão horríveis. Então recordei uma conversa que tinha ouvido por acaso meses atrás. Retirei-me o suficiente para examinar o rosto do Rhys. — Me lembrei de uma conversa, Rhys. Disse que nunca havia tocado uma mulher que não desse as boas-vindas a suas carícias. Doyle disse, logo depois, que a pena para os guardas da Rainha por tocar qualquer mulher exceto a ela mesma, ainda era a violação. Você procura qualquer outra mulher e é a morte pela tortura, para ti e para a mulher.

O rosto do Rhys, de repente ficou mais pálido do que o normal. Foi Frost que disse: — Nem todos os guerreiros sidhe da Corte Escura são membros dos corvos da Rainha.

Olhei-o — Eu sei — Sentia que estava perdendo algo. Separei-me de Rhys completamente, assim podia olhar aos três facilmente — O que eu não estou entendendo aqui? — Que nada do que Rhys está acusando aos trasgos é algo que alguns de os membros da Corte Escura não tenham feito — disse Doyle. Sacudiu sua cabeça. — Devo ir e falar com o Kurag — Pareceu que ia adicionar algo, mas então se deteve, simplesmente girou e caminhou para o vestíbulo e sua linha de dormitórios.

Olhei aos outros dois homens, ainda sentindo como se eles tivessem parado a conversa antes do tempo, como se tivessem segredos que guardariam até a morte. Os sidhe eram bons para os segredos, mas eu era sua princesa, possivelmente um dia sua Rainha. Eles guardarem segredos de mim me parecia uma má idéia.

Soltei o fôlego, e ainda para mim o som era impaciente — Rhys, disse-te uma vez que a cultura trasgo não pode te dar uma opção sobre o contato sexual, mas eles realmente deixam à "Vítima" pôr as regras. Podem demandar a cópula, mas você pode determinar quanto dano podem te fazer.

— Sei, sei. — Disse, evitando meu olhar, e começando a passear-se pela sala. — Disse-me antes que se tivesse sabido mais de sua cultura, não teria um olho a menos — Olhou-me, e a raiva estava de volta, mas agora se dirigia para mim.

Não tinha nenhuma razão para estar zangado comigo. Rhys era completamente razoável em quase todos os temas, salvo os trasgos. Eles eram meus aliados por dois meses mais. Por dois meses mais, se a Corte Escura entrasse em guerra, então, teriam que pedir a mim, não à Rainha Andais, a ajuda dos trasgos. Além disso, meus inimigos eram os inimigos dos trasgos durante dois meses mais. Eu acreditava, e Doyle acreditava, e Frost acreditava, ah! Infernos, até o Rhys acreditava, que era esta aliança que tinha mantido as tentativas de assassinato em sua mínima expressão.

Estava no meio das tentativas de negociar mais tempo para essa aliança.

Necessitávamos dos trasgos. Necessitávamos deles com urgência. Todo este tempo havia estado pensando que Rhys estava trabalhando em seus pontos de vista a respeito ao tema, mas estava equivocada.

— Tem razão em uma coisa, Rhys, os trasgos não vêem o sexo com pessoas do mesmo sexo como algo mau ou vergonhoso. Se esta for a maneira em que você se equilibra, é a maneira em que te equilibra. É mais provável, que eles se declarem de maneira oportunista como bissexuais a diferença dos sidhe. Se tiverem a possibilidade de desfrutar de algo que nunca tiveram ou que nunca voltarão a ter, então, o tomarão.

Rhys foi para a enorme arremata das janelas, que davam vista para a piscina.

Deu-me uma visão de seu adorável traseiro, mas seus braços estavam cruzados e seus ombros encurvados com cólera.

— Mas tal como você pode negociar para impedir danos a seu corpo,

pode negociar sobre o sexo de seus companheiros. Há ainda entre os trasgos alguns que são simplesmente heterossexuais, e podem estar interessados em explorar as possibilidades. Se você tivesse negociado, então nenhum macho teria podido te tocar.

Frost fez um pequeno movimento, como se quisesse ir para o Rhys e me enviou um olhar que não era completamente amistoso.

A voz do Rhys nos trouxe de volta para ele. — Agrada-te me recordar que meu pior pesadelo foi causado por minha própria culpa? Que se eu não tivesse sido um sidhe arrogante que nunca se incomodou em aprender a respeito de nenhuma outra gente, exceto a minha, eu teria sabido que tinha direitos entre os trasgos, que ainda as vítimas de tortura têm direitos — Voltou-se e a raiva encheu seu único olho azul de luz. Aquele círculo de azul céu, o anel de céu de inverno e a linha brilhante de azul claro ao redor da pupila arderam. As cores separadas, literalmente brilharam com seu raiva, e uma débil luz leitosa começou a revoar detrás de sua pele. Seu poder havia se elevado devido a sua cólera.

Houve um tempo no que eu teria temido ao Rhys de encontrar-se assim, mas já tinha visto seu aborrecimento muito freqüentemente para temê-lo. Como Frost com sua má cara, assim era Rhys com sua cólera, era uma parte deles. Uma vez que os aceitava, seguia adiante.

Se Rhys de repente, tivesse jogado chamas vermelho vivo, como um pálido sol, eu teria ficado preocupada. Mas isto era uma pequena demonstração; não significava nada.

— Você ainda estas sendo arrogante a respeito da sua cultura, Rhys.

Ainda age como se o que eles lhe fizeram não fosse algo que alguma vez pudesse ocorrer nos altos tribunais dos sidhe. Se a Rainha do Ar e da Escuridão o ordenasse, ou o Rei da Luz e da Ilusão o quisesse, faria-se. E os sidhe não têm leis que protejam às vítimas de tortura. Você só foi torturado ...Os trasgos podem torturar, mutilar e violar mais que os sidhe, mas eles tem mais leis para proteger às pessoas que termina no lado equivocado da justiça. Você pode ser fodido pelos sidhe, e eles lhe foderem da maneira que lhes deseja muito. Agora me diga, Rhys. Qual das duas raças é mais civilizada?

— Você não pode comparar os sidhe com os trasgos — disse Frost, sua voz emanava essa arrogância que tinha sido a ruína de mais de um sidhe. Posso supor que se as pessoas foram a classe dirigente por uns poucos milhares de anos, esquece-se o que é ser governado.

— Não pode francamente querer dizer que prefere o mundo dos trasgos ao nosso — disse Rhys, e sua surpresa estava sobrepondo-se a sua cólera.

— Eu não disse isso.

— O que diz, então? — perguntou.

— Disse que esta atitude que os sidhe têm de que nada nem ninguém está tão bem como eles, não é necessariamente certa. Meu pai estava acostumado a dizer que os trasgos são os soldados de infantaria dos exércitos sidhe. Que sem os trasgos como aliados nossa Corte da Escuridão teria sido destruída pela Corte da Luz séculos atrás.

— Os trasgos e os sluagh — disse Rhys.

Os sluagh eram o pesadelo da Corte Escura. Eram o mais espantoso, o mais monstruoso.

Todos os duendes, sidhe ou não, temiam aos sluagh. Eles eram a versão da Corte Escura dos caçadores selvagens, e não havia nenhum lugar no que pudesse ninguém ocultar-se, nenhum lugar ao que se pudesse correr, no que os sluagh não lhe encontrassem. Em algumas estranhas ocasiões tinha tomado anos, mas os sluagh não se rendiam a não ser que fossem chamados de volta pela Rainha do Ar e da Escuridão. Os sluagh eram a grande arma terrífica da Rainha. Diz-se ainda que mesmo o Rei Taranis teme o som de suas asas na escuridão.

— Sim, os sluagh, aqueles de nossa classe que a maioria dos sidhe preferiria não admitir, de igual modo pertencem ao país das fadas, sem falar do fato de que poderíamos compartilhar uma ou duas linhas de sangue.

— Não estamos relacionados com essas criaturas — disse Frost.

— Seu rei, Sholto, é metade sidhe, Frost. Você o viu. Sua mãe era uma sidhe da Corte Escura.

— Ele, possivelmente, mas não o resto.

Sacudi minha cabeça. — Os sluagh são a Corte Escura, Frost, ainda mais que os próprios sidhe. Nossa força como Corte é que os aceitamos entre nós. A Corte da Luz segue rechaçando a aqueles que não são o suficientemente bons para eles, e que foram a força da Corte Escura por séculos. Recolhemos aqueles que eles não querem.

É o que nos faz diferentes; melhores, acredito.

— O que é o que quer de nós? — Perguntou Rhys, e já não estava zangado, mas sim mas bem perplexo.

— Kurag se parece com um valentão de pátio de recreio escolar. Só te segue incomodando porque consegue essas reações tão agradáveis de ti. Se pudesse agir como se não se incomodasse, ele se cansaria do jogo.

Rhys abraçou a si mesmo mais forte. — Isto não é um jogo para mim.

— É para ele, Rhys. É estupendo que tenha podido dominar o suficiente de seus sentimentos para te sentar junto a mim quando falo com os trasgos, mas sinceramente, perco muito tempo me preocupando a respeito de seus sentimentos que não estou o bastante enfocada, tal como preciso estar.

— Bem — disse — Não irei contigo. O consorte sabe que eu prefiro não ter que ver sua feia cara.

— Quando você não está ali, Kurag perde bastante tempo perguntando por ti. Segue perguntando: ?Onde está meu maravilhoso guarda? O cavalheiro branco.

— Não sabia que ele fazia isso — disse Rhys.

Encolhi-me de ombros. — Faz.

— Por que não me disse isso?

— Doyle disse que isto só te transtornaria, e não há nada que você pudesse fazer a respeito — Reduzi a distância entre o Rhys e eu, pus uma mão sobre seus braços cruzados. — Estou em desacordo. Penso que você é mais forte do que Doyle acredita. Acredito que pode agüentar esta ofensa, e me ajudar a pagar com a mesma moeda a Kurag.

Olhou-me suspicazmente. — Como?

Deixei cair minha mão de seu braço. — Não importa, Rhys — Dava a volta para o vestíbulo.

— Não, Merry. Falo sério. Como poderia te ajudar a negociar com... ele?

— Doyle tem razão, se perder a maior parte de meu traje de banho,

isso fará mais fácil negociar com o Kurag. Ele é terrivelmente caprichoso.

Rhys se encolheu de ombros — E onde entro eu? — Ponha um traje e mostra um pouco dessa magnífica carne branca se Kurag se faz o obstinado. Se pode controlar seu temperamento, não importando o que ele diga, se senta a meu lado, isso o distrairia, não por causa do sexo, mas sim porque todos os trasgos adoram o sabor da carne sidhe. Uma das coisas que os trasgos mais odiaram de haver feito a paz com os sidhe, era que eles já não podiam nos comer.

— Pede muito — disse Frost.

Olhei sua formosa e arrogante cara, e sacudi minha cabeça novamente. — Não pedi nada a ti, Frost.

— Como pode pedir ao Rhys que se sente ali e permita que um trasgo pense nele como alimento? Isso está por debaixo de nós.

— Se Kurag estiver de acordo alargando a aliança, estarei debaixo de um montão de trasgos —Eu disse isto último quase para parecer cruel. Estava farta de me inteirar do quanto eles odiavam meu plano. O rosto do Frost mostrou a repugnância que sentiu. — O pensamento de qualquer mulher sidhe entregando a si mesma aos trasgos, é repulsivo. O pensamento de uma princesa do sangue, uma futura rainha, que jaz com eles é algo para o qual não tenho palavras. Nem sequer a Rainha Andais se inclinou tão baixo para obter o favor dos trasgos.

— Kitto é metade trasgo e metade sidhe, e para melhor ou para pior,

eu o trouxe em seus poderes, poderes plenamente sidhe, através do sexo. Ninguém pensou que qualquer mestiço de trasgo pudesse ser sidhe por completo.

— Seu sangue não é suficientemente puro — disse Frost.

— Posso odiar isso — disse Rhys — mas a magia do Kitto é a magia de nosso sangue. Vi-o brilhar com ele — Pareceu de repente cansado. — A metade do Kitto não é tão má para um trasgo.

— Merry — disse Frost e deu um passo para mim — Merry, por favor não faça isto. Não diga que trará mais mestiços trasgos. Você não os viu. Poucos deles são tão bons como Kitto. A maioria deles são mais parecidos com um trasgo que a um sidhe.

— Eu sei, Frost.

— Então, Como pode se oferecer pra eles?

— Primeiro, quero que a aliança se alargue, a quase qualquer preço. Segundo, os sidhe estiveram extinguindo-se por séculos, e se Kitto pode ser um sidhe completo, então outros meiosidhe podem ser trazidos a seus plenos poderes. Isto poderia significar que a Corte Escura poderia de repente ser mais forte do que nunca foi.

— A rainha ficou animada devido a que Merry trouxe o Kitto para nós —disse Rhys — A rainha quer que Merry leve outros mestiços a sua cama.

— E se um deles te engravidar? — Perguntou Frost — Nenhum sidhe aceitará um rei meio trasgo.

— Neste ponto, conformaria-me somente estando grávida. Foram quatro meses de compartilhar minha cama com todos vós, e não há nenhum menino. Acredito que vou me preocupar com o ganho da raça primeiro. Então me preocuparei sobre quem se senta a meu lado.

— Os sidhe não aceitarão um rei trasgo — Disse-o com caráter definitivo.

— Eu odeio o plano tanto como Frost, possivelmente mais — disse Rhys, — mas não é meu corpo branco como uma açucena o que está sendo leiloado — Tomou um profundo, estremecido fôlego, como se atirasse o ar das pontas de seus pés até a ponta de sua cabeça. Finalmente disse, com uma voz tão acalmada que parecia carente de toda emoção — Se você estiver de acordo com foder com eles, suponho que posso fazer ostentação de mim mesmo em frente de seu rei.

— Rhys! — Frost se via tão sobressaltado como soou a palavra. Rhys olhou fixamente ao homem maior. — Não, Frost, é o momento. Merry tem razão — Olhou-me, e o fantasma de seu sorriso habitual piscava sobre seu boca. — Como distrairá ao Kurag comigo quase nu?

— Igual a como o distrairá isto — Fiz correr minhas mãos sobre os montículos de meus peitos, por onde apenas se encontram contidos pelo traje de banho. Minhas mãos se deslizaram mais abaixo, por minhas costelas, minha cintura, emoldurando meus quadris. O olhar fixo do Rhys seguiu o percurso de minhas mãos, como um homem faminto.

Nu como ele estava, não podia ocultar como o afetava me olhar enquanto me tocava.

Era um daqueles homens que se viam pequenos até que cresciam,

então você sabia que não era pequeno em nada, excetuando a estatura. A risada do Rhys devolveu meu olhar a seu rosto. — Obrigado Consorte, adoro ver esse olhar no rosto de uma mulher. Um humano se ruborizaria de ter sido pego olhando fixamente, mas minhas bochechas não mostraram nenhum calor quando levantei meus olhos para encontrar sua risada.

Se eu não tivesse estado olhando fixamente o adorável corpo do Rhys, isso haveria comprometido que ele não valia a pena de ser observado. Meus olhos reuniram todo o calor que teria se expandido através de minha cara de ter sido eu um pouco mais humana, um pouco menos fada. O calor em meus olhos abrasou a cara do Rhys, empapando seu olho tricolor em o calor de si mesmo.

Teve que esclarecer a garganta para dizer — Tal como distrai tudo isto, a mim — Um sorriso cruzou seu rosto. — Então, você com as tetas e eu com o traseiro?

Isso me fez rir. — É uma forma de vê-lo.

Deu um passo mais perto de mim, deixando seu olho atrasar-se em uma daquelas olhadas que são quase mais íntimas que um toque. Um olhar que fez que minha pele começasse a brilhar, brandamente,

como se eu tivesse tragado a lua e ela estivesse brilhando debaixo de minha pele. Fez que o pêlo ao longo de minha pele se levantasse, capturando meu fôlego em minha garganta. Tudo isto de um olhar. Tive problemas enfocando-o enquanto me sorria. — Pra ver seu corpo reagir a meu olhar assim — soltou um estremecido fôlego — Confrontaria mil trasgos =come-olhos‘ para ver o jogo de luzes sob sua pele.

Minha voz saiu tremente, um estilo Marilyn Monroe matinal, mas eu não pude fazer nada pra mudar isso. — Por que você é o único que pode fazer isto só com um olhar?

Sua risada trocou rapidamente em uma careta zombadora, e seu olhar se deslizou brevemente para o Frost — Poderia dizer que é porque sou o melhor amante que tem — sustentou uma mão no alto, enquanto Frost dava um passo à frente — Mas preferiria não ter que brigar em um duelo mais tarde.

— Então por quê? —respirei.

O humor decaiu, sendo substituído por uma emoção profunda, inteligente, que Rhys tinha conseguido ocultar por séculos. Um mês atrás, mais por acaso que de propósito, Rhys tinha recuperado os poderes que lhe tinham sido tirados muitos séculos antes. Todos os guardas tinham recuperado sua magia perdida, mas era Rhys o que tinha recuperado a maioria, posto que tinha sido ele quem tinha sido despojado da maior parte de seu poder. O preço para os duendes que vieram aos Estados Unidos, depois de que os tinham jogado a pontapés da Europa, foi para que não houvesse mais brigas de grande escala entre nós. Se fôssemos à guerra os uns contra os outros em chão americano, eles nos exilariam, e nós ficaríamos fora dos países que nos tinham aceito. A resposta para isso tinha sido o Inominável: uma criatura fabricada com a magia mais selvagem entregue pelos sidhe de ambas as Cortes. Mas como todos os feitiços feitos com magia selvagem, era imprevisível. Alguns sidhes apenas tinham perdido poder; outros tinham sido despojados de quase tudo.

Não era a primeira vez que os sidhes tinham feito um Inominável. A primeira vez foi tratando de manter-se na Europa logo depois da grande guerra entre humanos e duendes. Ele não admitia, mas Rhys tinha perdido muito no primeiro grande encantamento. O Inominável lhe tinha tirado a maior parte do resto. Rhys tinha passado de ser uma divindade principal a ser um dos sidhe menos poderosos. Tinha perdido tanto que não permitia que ninguém mencionasse seu antigo nome.

Fosse por respeito, e o horror de que pudesse ter sido um deles,

todos os sidhe honraram seu desejo. Ele era simplesmente Rhys agora, e tudo o que havia sido se perdeu.

Um mês atrás, recuperou a si mesmo. Ele era simplesmente mais. Podia chamar a luz em minha pele só me olhando. Não estava segura de se agora ele era mais poderoso magicamente, ou se esta era a natureza de sua magia. Eu acreditava mais no primeiro que no segundo, porque ele era um deus da morte e não um deus da fertilidade. Certamente, meu corpo deveria ter reagido mais à vida que à morte.

Sua voz era suave e baixa, — O que quer que faça?

Por um momento não pude pensar no que queria dizer. Tomou toda meu concentração para que não me dobrassem os joelhos.

— O quê? — perguntei.

Frost fez um som de desgosto. — Ela está bêbada de poder. Rhys, realmente deveria ser mais cuidadoso.

— Faz quase setecentos anos desde que tinha tanto poder. Estou um pouco enferrujado.

— Você desfruta de como afeta à princesa — disse Frost. Estava mais perto agora, mas teria sido muito voltar minha cabeça para olhá-lo.

— Você não? — disse Rhys Frost vacilou, logo disse — Talvez, mas não temos tempo para isto, Rhys.

Senti as fortes mãos do Frost sobre meus braços enquanto me girava lentamente para olhá-lo. — Encontra trajes para vocês dois, enquanto eu arrumo isto.

Acreditei ouvir o Rhys mover-se pelo dormitório, mas não estava segura. Estava muito ocupada olhando fixamente o peito do Frost. Sua camisa branca estava abotoada até o pescoço, que dava a volta. Eu sabia o que havia embaixo da abotoada roupa. Conhecia a elevação de seu peito tal como conhecia minha própria mão. Senti- me pesada e torpe, não exatamente lerda, mas era como se a mão que levantei para ele fosse mais pesada do que deveria ter sido. Agarrou minha mão antes de que esta tocasse seu peito. Minha polida unha vermelha parecia mais brilhante contra sua pele branca, como alarmantes gotas de sangue.

— Se houvesse mais tempo — falava baixo, em um sussurro — Te despertaria desta confusão com um beijo, mas não trocarei um desconcerto por outro — Dobrou-se junto a mim, sussurrando contra minha cara — E se meu beijo não tem o poder de te confundir, não quero saber.

Comecei a dizer algo romântico e tolo, como que seus beijos eram sempre mágicos, mas sua mão onde estava tocando a minha se voltou fria. Gelo, sua mão parecia gelo. Se eu tivesse estado pensando mais claramente, a teria me afastado para trás antes de que terminasse, mas é obvio, se eu tivesse estado pensando claramente,

Frost não teria feito o que fez. Enviou frio através de meu corpo, um frio para gelar a pele e congelar o sangue. Um frio tão intenso que roubou meu fôlego, e quando pude respirar de novo, este saiu de meus lábios como uma neblina branca. Me afastei e ele me deixou ir. Já não estava confundida. Não, estava com a cabeça clara, e tremendo com o frio.

Lutei com meus dentes rangentes para poder escapar — Maldição,

Frost, não tinha que me congelar.

— Minhas desculpas, princesa, mas como Rhys, não tive meus poderes completos em séculos. Ainda aprendo de novo os detalhes disso — Seus olhos cinzas estavam cheios de neve, como se a íris de cada olho fosse um desses globos de neve que se agitam para ver como cai a neve. Quase todos os outros sidhe que conhecia, brilhavam com o poder, e Frost podia brilhar como o melhor deles, mas quando ele chamava o frio, seus olhos se enchiam de neve. Às vezes pensava que se olhasse fixamente esse cinza, esses olhos manchados de neve o suficiente, eu veria uma paisagem em miniatura, o lugar onde ele tinha começado, olharia um tempo anterior a meu nascimento.

Olhei ao longe. Meus nervos se quebravam, porque não estava segura de onde esses olhos de inverno me conduziriam, ou que segredos podiam me revelar. Havia algo na neve que me assustava. Não havia razão para isso. Nenhuma lógica, mas eu não gostava da neve.

Se eu fosse humana, teriam me acusado de estar acovardada pela estranheza disto, mas não era o bastante humana para isso, e a Deusa sabia que eu tinha visto coisas mais estranhas que ver cair neve nos olhos de alguém.

Já estava mais quente. O frio nunca durava muito, mas eu não gostava disto. Ele tinha-o usado uma vez como preliminar quando fizemos amor e, embora tivesse sido interessante, não quis repetir. Para esconder o fato de que estava acovardada com seu magia de uma forma não sidhe, eu disse — Por que será que só a magia do Rhys me desconcerta assim? — Não encontrei seus olhos enquanto perguntava. Cedo ou tarde seus olhos voltariam para seu cinza normal.

— Nenhum de nós tinha perdido tanto como Rhys, e ele uma vez foi uma divindade sem rival algum.

Isto me fez buscá-lo. Seus olhos seguiram o sentido do movimento, mas eram cinzas de novo.

— Nenhum de vocês falam do que foram antes.

— É difícil falar do que se perdeu e não pode ser recuperado.

— Estas dizendo que Rhys era mais poderoso que qualquer do resto de vocês?

— Ele era o Senhor dos Mortos por si mesmo. A morte seguia a seu passo, se assim queria-o. Era grande entre nós, Meredith, nenhum podia resistir.

— Então por que a Corte Escura não destruiu a Corte da luz?

— Rhys nem sempre foi da Corte Escura.

Isto me surpreendeu. — Era da Corte da Luz?

Frost assentiu, logo franziu o cenho. Franziu-o tanto, que deve ter sido capaz de mudar sua cara, teria tido sulcos em sua testa e ao redor de sua boca a estas alturas, mas sua cara era lisa e impecável, e sempre seria.

— Rhys era um poder à parte. Ele era o rei da terra dos mortos e não era realmente da Corte Escura ou da Corte da Luz. Era bem-vindo na Corte brilhante, mas, realmente era uma coisa à parte, como eram alguns do resto de nós. O sistema de duas Cortes dos sidhe é relativamente recente. Uma vez houve muitas Cortes. As pessoas decidiram chamar àqueles duendes que eram formosos e não daninhos, de Luminosos. E àqueles que eram feios e daninhos, denominaram-nos Escuros Mas não existe uma linha clara.

— Como os trasgos e os sluagh, agora?

— Mas bem como os trasgos. O rei dos Sluagh é um nobre da Corte Escura. Eles não estão realmente separados. O rei Kurag não tem um título entre nós; tampouco qualquer sidhe tem um título em sua Corte.

Rhys voltou com um roupão de veludo branco com um cinto ao redor de seu corpo. Era o bastante comprido para chegar aos tornozelos. Haveria tocado o piso se estivesse sobre mim. Seus brancos cachos se viam mais escuros contra o branco de sua túnica, a diferença entre neve fresca e marfim. Sombras de brancos.

Escolheu um roupão que combinasse com meu biquíni. Era vermelho, e mais moldava o corpo do que o cobria, com o pano em sua maior parte tão fino que era como ver a pele através de uma neblina de fogo.

Rhys olhou a um e logo ao outro — Por que parecem tão solenes? Ninguém morreu enquanto eu estava fora, verdade? Sacudi minha cabeça. — Não que eu saiba — Tomei o ropão e o deslizei entre os pedaços de seda e as transparências. O próximo traje que usasse seria só de seda ou de cetim, algo que não sentisse que se pegasse a minha pele enquanto me movia.

— Então, o que quer que faça uma vez que estejamos falando com o Kurag? — perguntou Rhys.

— Só faz alarde de ti mesmo, talvez mostra um pouco de seu traseiro e da parte superior de suas coxas. Elas são, supõe-se, duas das partes de carne de primeira que pode trinchar de nossos corpos. Rhys inclinou sua cabeça para um lado, como se pensasse. — Incomodará a ele ver carne que não pode provar?

— Será um pouquinho de tortura, e não uso a palavra ligeiramente. A pior coisa que pode se fazer a um trasgo é lhe mostrar algo que ele quer e negar-lhe, mostrando a Kurag seu desejo mais selvagem, quando não sabe que o tem, voltará-o louco.

— Ou ele vai se zangar tanto que vai se retirar das negociações — disse Frost.

— Não, Frost. Se fizermos que Kurag perca o controle de má maneira, ele não se retirará das negociações. Ele respeitará o fato de que lhe golpeemos neste round. Tratará de encontrar algo que nos distraia da próxima vez, mas não tomará contra nós. Os trasgos gostam de um bom jogo que consiste em avantajar a outros. Ele estará adulado de que tenhamos sido um problema.

— Não entendo os trasgos — disse Frost.

— Não tem que fazê-lo — eu disse — Meu pai se assegurou de que eu os entendesse.

Frost me olhou, e havia algo que não podia decifrar em sua expressão. — O Príncipe Essus te educou como se estivesse te preparando para governar as Cortes, ainda sabendo que Cel era o herdeiro, e não você. Se Cel tivesse tido um menino, a rainha nunca teria te devotado esta possibilidade.

— Tem razão nisto.

— Por que acha que ele te ensinou a governar, se você nunca teria que te sentar no trono?

— Meu pai era o segundo filho, e nunca iria governar, ainda assim,

seu pai o educou para ser um governante. Penso que ele me educou da única forma que sabia fazer.

— Possivelmente — disse Frost. — Ou possivelmente o príncipe Essus não perdeu todas suas capacidades proféticas quando todo o resto de nós sim o fez.

Encolhi-me de ombros — Não sei e não tenho tempo de me preocupar disso.

Doyle veio ao vestíbulo. — Kurag está disposto a dirigir-se a ti, mas a perspectiva não o faz muito feliz.

— Não esperava que estivesse.

— Ele teme a seus inimigos — disse Frost.

— Somos dois —eu disse.

— Três — disse Rhys.

— Quatro — disse Doyle.

Frost sacudiu sua cabeça. Seu cabelo brilhou como uma cortina de oropel de uma Árvore de Natal. — Cinco. Temo por sua segurança. Se perdermos o trato com os trasgos, os aliados do Cel se moverão contra nós.

— Então estamos de acordo —eu disse.

Doyle nos olhava de uns aos outros. — No que estamos de acordo?

— Vou atuar na peça de uma obra para o Rei trasgo — disse Rhys. As sobrancelhas negrosobrenegro do Doyle se elevaram perto da linha de seu cabelo.

— Perdi alguma coisa.

— Rhys vai me ajudar a negociar com o Kurag — eu disse.

— Te ajudar como? — perguntou Doyle.

Rhys deixou cair o traje de um de seus pálidos ombros, relampejando um de seus mamilos. Sorriu abertamente e se encolheu para trás dentro do traje.

Doyle elevou suas escuras sobrancelhas. — Não tome isto com o espírito com o qual não o quero dizer, mas você foi um incômodo em nosso trabalho com o Kurag. Ele tem te pertubado, totalmente vestido, e você, virtualmente jogou espuma pela boca como um cão maltratado. O que te faz acreditar que pode... — pareceu procurar uma palavra. Finalmente deu com ela. — O que te faz acreditar que pode te parar e chatear a Kurag no dia de hoje?

— Hoje em dia tirarei sarro. Merry disse que Kurag é como um valentão de colégio, e tem razão. Além disso, se Merry pode fazê-lo, eu também. — de repente, pareceu feroz de novo, todo o humor se foi, deixando sua cara triste. — Embora preferiria muito mais assassinar trasgos que negociar com eles.

— Que gracioso — disse Doyle. — Isto é exatamente o que Kurag disse em relação aos sidhe faz uns momentos.

— Perfeito —eu disse. — Vamos todos nos irritar uns aos outros.

Doyle nos mostrou o caminho pelo vestíbulo. Via-se terrivelmente nu por detrás. Imaginei que Kurag teria mais que ao Rhys e a mim para comer com os olhos. Me perguntei se Doyle pensou em si mesmo como um possível companheiro sexual ou como comida. Suponho que tudo depende de como Kurag se sinta a respeito dos homens sidhe, e se prefere a carne escura ou a clara.


Capítulo 3


Ouvi a voz do Kitto no comprido corredor antes de que nós chegássemos ao dormitório. Não podia ouvir tudo o que ele dizia, mas seu tom era implorante, e a voz que o respondeu não era a do Kurag. Era a da rainha do Kurag, Creeda. Com o passar do passado mês, eu tinha aprendido realmente a ter aversão a ela.

Kitto estava de pé refletindo-se diante da penteadeira, elevando-se até cada polegada de sua altura de um metro e vinte e dois centímetros. Ele era o único sidhe que havia tido em minha cama que tinha feito eu me sentir alta. As costas descoberta que ele nos mostrou era perfeitamente masculina, com uma elevação de ombros e peito, com uma cintura estreita, apenas muito pequena. De frente ele era bastante humano, mas de costas, sem sua camisa, podiam ver-se as escamas. Estas eram brilhantes e iridescentes, um arco íris de brilhante cor que corria pela metade de suas costas em ambos os lados de sua espinha dorsal. Eu sabia que se estendiam para fora sobre ambos os lados da parte superior de suas nádegas. O resto dele era uma perfeição branca de pele como madrepérola. Sua mãe, uma sidhe luminosa, tinha sido violentada por um trasgo serpente na última guerra dos trasgo.

Percebi que seu cabelo negro e encaracolado tinha crescido o suficiente para roçar o pescoço onde as escamas surgiam. Ele necessitaria logo de um corte de cabelo, se queria manter a tradição dos trasgos de fazer com que nada escondesse suas deformidades. Ele estava dizendo, quando entramos — Por favor, Rainha dos trasgos, não me faça fazer isto.

Ela se sentou no espelho, era um reflexo, mas era tão clara como se estivesse sentada justo em frente de nós. Não era muito mais alta que Kitto, e seu cabelo era longo e negro, mas ali onde seu cabelo era sedoso, seu olhar era áspero e seco, dando pra ver como era verdadeiramente. Tinha mais olhos dispersos em sua cara dos que eu podia contar. Isso junto com um ninho de braços ao redor de sua medula lhe dava o aspecto de uma grande arranha.

Um largo sorriso separava uns lábios pequenos em uma boca com suficientes presas cintilantes para parecer uma aranha orgulhosa. Tinha só duas pernas e dois peitos. Se tivessem sido múltiplos, ela teria sido o paradigma da beleza trasgo.

Vendo os trasgos femininos sempre me perguntei por que os homens trasgos desejam mulheres sidhes. Possivelmente era mais uma coisa de poder que sexual, como a maioria das violações.

A rainha Creeda inclinou-se para seu lado do espelho, enchendo nossa visão com suas dúzias de olhos e essa boca de forma estranha. Havia um nariz ali dentro em alguma parte, mas era tão entristecedor todo o resto que tinha que te concentrar para notá-lo.

— Fará o que eu disse — disse ela, e sua voz tinha adquirido esse grunhido de choramingação que todos tínhamos começado a temer. As pequenas mãos do Kitto foram à parte superior de suas calças curtas, e ele começou a deslizá-los para baixo.

— Pára, Kitto — eu disse, me certificando de que minha voz soasse clara e alegre, e que minha cara não mostrasse quanta aversão tinha de Creeda.

Kitto subiu suas calças curtas, colocando-a em seu lugar e se girou pra mim, com uma gratidão em sua cara tão sincera que me apurei para me certificar de que ele não se girasse para o espelho outra vez. Aproximei-o de um lado de meu corpo com um braço e pus minha outra mão contra seu suave cabelo. Pressionei sua cara com cuidado na curvatura do meu pescoço e ombro para que ele não se girasse e olhasse a Creeda. Se ela alguma vez soubesse realmente quanto medo ele tinha, ela convocaria o verão a este país até convertê-lo em uma terra baldia para o ter a sua mercê.

— Interrompeste-nos — choramingou ela.

Sorri, e soube que minha cara se mostrava agradável, ainda brilhante e radiante. Havia estado aprendendo de novo uma vida de mentiras corteses que tinham me mantido viva quando era uma menina nas cortes das fadas. Tem que ser capaz de mentir com sua cara, seus olhos, com sua linguagem corporal inteira, para manobrar com a política das cortes.

Eu não era sempre perfeita nisso, mas os trasgos não advertiam tanto essas coisas.

A verdadeira prova era sempre minha tia, a rainha do Ar e da Escuridão; Ela notava tudo.

— Saudações, Rainha dos trasgos. Lamento muito tê-la feito esperar. Ela grunhiu para mim, me dirigindo sua boca repleta de presas, como se ela tivesse mais dos que necessitava, assim como tinha de olhos. Eu me perguntava se ela tinha problemas comendo sem molares. Soube além de qualquer dúvida que sua mordida era tóxica. É obvio, assim era a do Kitto, mas seu par de presas eram retráteis. As de Creeda não eram.

Sua cara era uma máscara de fúria quando ela articulou seus cumprimentos. — Saudações, Meredith, Princesa Sidhe, gozei em minha espera. Sinceramente, se tiver outras coisas que fazer, Kitto e eu estaremos ocupados por um momento mais — Ela moveu a maior parte de seus olhos para olhar fixamente ao Kitto com um olhar faminto. Mas havia muitos olhos, e estavam colocados muito ao azar como para que ela pudesse girar-se de uma forma. Alguns se moveram independentemente para olhar como Rhys e Doyle entraram no quarto detrás de mim.

Sorri mais rigidamente. — O que tem em mente?

— Se ele for realmente sidhe, como reclama, quero vê-lo nu e brilhando.

Uma voz profunda falou longe da habitação, uma voz que estava fora da vista do espelho.

— Toda nossa conversa depende de que Kitto seja sidhe. Há criaturas dos duendes que não resplandecem com a magia durante o sexo. Os trasgos são uma de essas criaturas. — Kurag apareceu à vista. Ele não era tão alto como a maioria dos sidhe, mas era mais largo. Seus ombros eram quase tão amplos como a altura do Doyle. Alguns dos trasgos maiores estavam entre os mais corpulentos dos duendes.

Depois de ver a rainha, os três olhos do Kurag pareciam inacabados. Sua pele era de cor amarela velho como o das feridas; ou de papel quando está o suficientemente velho para romper-se nas mãos.

Estava coberto de multidões de cicatrizes e verrugas, cada uma delas considerada como uma marca de beleza entre os trasgos. De uma grande protuberância em seu ombro direito me sobressaía um olho. Um olho errante, assim o chamavam os trasgos, porque estava longe da cara. Os outros olhos de Kurag eram de cor amarela com um rebordo de cor laranja, mas o olho de seu ombro era lavanda, com umas pestanas negras muito largas. Havia uma boca sobre seu peito, a um lado, que fazia jogo com aquele olho lavanda, e com os encantadores lábios e dentes, lhe dando uma aparência quase humana. O pequeno par de braços no lado de seu corpo próximos ao olho e a boca estavam me saudando com a mão. Fiz gestos com a mão de volta e disse — Kurag, Rei dos trasgos, saudações. Gêmeo do Kurag, carne do rei trasgo, saúdo a ti também.

—Os pedacinhos extras formavam parte de um gêmeo parasitário apanhado no corpo do trasgo. A boca podia respirar, mas não podia falar. Os olhos e as mãos se moviam independentemente do Kurag. Quando eu era uma menina, tinha jogado com as mãos enquanto meu pai e Kurag faziam negócios. Tinha dezesseis anos quando me dei conta de que era um ser totalmente separado mas preso dentro de outro corpo masculino. E aos dezesseis anos Kurag tinha me mostrado sua própria virilidade e a de seu gêmeo. Ele tinha pensado que a idéia de dois pênis me impressionaria. Tinha estado equivocado.

Nunca havia tornado a me sentir cômoda perto do Kurag depois disso. O pensamento de um ser preso no corpo de outro, incapaz de falar ou escolher sua própria maneira de vida, ou ainda mais seus próprios companheiros sexuais, tinham me enchido com um horror tal, como nenhuma outra artimanha da genética entre os duendes que tivesse me descontrolado alguma vez dessa maneira. Da noite em que me dei conta de que os pedacinhos extras eram uma pessoa diferente, eu tinha saudado os dois. A meu conhecimento, eu era a única pessoa que fazia isso.

— Saudações, Merry, Princesa Sidhe.

Ele olhou a sua rainha, e ela brincou de correr rápida e ligeiramente como um palhaço até a grande cadeira de madeira. Ela se certificou de que ele não tivesse que olhá-la duas vezes. Kurag podia golpeá-la se ela era lenta acatando sua ordem.

De fato, ele não era lento quando se tratava de fazer mal a alguém se o desgostava.

Os trasgos lhe temiam, e eles temem a poucos. Sentou-se na cadeira. Esta rangeu sob seu grosso tamanho. Isto não implica que Kurag seja gordo; não o era. Era apenas maciço.

— Empregamos esta última lua para conversar, mas Creeda acredita que se Kitto não for realmente sidhe, então nós não temos nada do que falar.

— Nós lhe dissemos que é sidhe. Um sidhe pode tentar enganar, mas está proibido de mentir.

— Digamos que desejamos ver com nossos próprios olhos — Ele tinha esse olhar que dizia que ele era muito mais preparado do que parecia, e muito menos governado por seus desejos. Havia uma mente sagaz naquele poderoso corpo. A maior parte do tempo ele o escondia, mas hoje ele parecia extremamente grave, forte. Eu me perguntava o que tinha acontecido para que Kurag não fizesse brincadeiras.

Quase lhe perguntei, logo soube que teria sido um engano. Um duende não confessa a outro que é tão fácil de ler. Simplesmente não se faz, especialmente se um deles pode ser rei. Não é nada inteligente permitir que qualquer rei saiba que pode se ver muito profundamente em seu interior.

— O que tem em mente, Kurag?

Seu olhar se moveu de mim ao Rhys, que tinha se aproximado até situar-se a meu lado.

— Vejo nosso cavalheiro branco. — Este era geralmente o sinal do Rhys para dizer: ?Eu não sou seu cavalheiro branco. Hoje ele somente sorriu.

Kurag franziu o sobrecenho. Não acredito que ele quisesse que seu insulto fosse ignorado. Ele estendeu uma grande mão amarela, e sua rainha veio para ele. Recolheu-a com uma só mão como se ela fosse ligeira como o ar, e a sentou em seu colo.

— Creeda quer provar o sabor da carne sidhe. Ela não conseguiu foder com o cavalheiro branco quando ele esteve aqui.

Senti mais que vi o Rhys ficar rígido a meu lado. Não ia ser capaz de levar isto até o final. Eu tinha esperado muito dele. Droga. Mas eu tinha subestimado o Rhys.

Ele se sentou na cama. Joguei uma olhada atrás para ver como ele se sentava inclinado pra frente, e fazia uma profunda inspiração, emoldurando seu peito no traje, branco rodeando branco como um pedaço de marfim liso envolto em uma nuvem. Ele apoiou seus calcanhares em uma parte da cama de modo que o roupão se abrisse pelo meio, sem mostrar muita carne, mas dando a promessa de que com só mais um movimento faria alarde de suas pernas, suas coxas, tudo.

Um pequeno som se projetou para mim do espelho. Creeda fazia um ruído alto, fino em sua garganta. Acredito que se supunha ser provocador. Mas saiu como um som animal, mas não um som de algum animal que alguma vez tivesse tido pele. Era definitivamente um pouco parecido a um inseto nesse ruído.

— Fará que brilhe para nós? — perguntou Kurag.

Rhys sorriu apenas.

Os olhos do Kurag se estreitaram. Vi a primeira cor do começo da cólera através de sua cara. Nesse momento, me dei conta de que os sorrisinhos do Rhys poderiam fazer que o tiro saísse pela culatra. Doyle deu um passo no pesado silêncio. Ele se separou do poste da cama onde tinha estado reclinado, olhando o espetáculo. Veio para estar de pé justo ao lado de Rhys, mesmo que tendo espaço para estar de pé a meu outro lado. Estava muito pouco vestido, droga estava quase nu, mas nem Kurag nem sua rainha, se incomodavam com o Doyle. Ele era ainda a Escuridão de Rainha ou, simplesmente, a Escuridão. Os trasgos podem dizer o que eles quiserem, mas eles têm medo da Escuridão, como tantos outros.

— O tempo para nossa viagem se aproxima, Kurag, Rei dos trasgos, e nós precisamos saber se visitaremos seu sithen. A princesa Meredith vai honrar o tribunal dos trasgos, ou não?

Inclinou seu corpo comprido e escuro contra a madeira escura do pilar da cama. Geralmente ele se mantinha ereto, mas acredito que tanto ele, como Rhys, jogavam com os trasgos.

Seus braços se cruzaram sobre o peito de modo que o anel do mamilo brilhasse contra o braço. Inclusive suas pernas se cruzaram à altura dos tornozelos. O traje de banho era de um tom próximo à cor de sua negra pele fazendo que parecesse que estava nu. Só eu sabia o quão duramente se esforçava em que o vissem com aquele pedacinho de tecido decadente, mas os trasgos não sabiam. Creeda fazia esse ruído agudo outra vez. Ela estendeu três de suas mãos, como se tentasse tocar a Escuridão.

Kurag atirou de suas mãos para trás, e a rodeou a ele. Um jogo de suas mãos se moveram para acariciá-lo. Isto poderia ter sido um gesto nervoso, ou poderia ter sido pela vista dos homens, fazendo-a necesitarar de sexo. Na cultura dos trasgos se necessitar de sexo, somente toma, em qualquer lugar que aconteça ou independentemente do que esteja fazendo. Isto faz que as reuniões do negócio com eles sejam singulares.

— Demonstra que Kitto é sidhe. Demonstra-o além de qualquer dúvida.

— Se nós o demonstrarmos —eu disse — estará de acordo com nossa oferta?

Ele sacudiu sua grande cabeça — Não, mas se ele não é sidhe, então nossas conversações acabam.

Permiti que eles vissem um pouco de minha impaciência que saía à luz. — Assim, o quê, Kitto faz um espetáculo para ti, e nós não ganhamos nada com isso? Acredito que não.

As mãos da rainha tinham encontrado a virilha do Kurag entre suas calças.

Kurag a ignorou, como se nada acontecesse.

— Penso que todas nossas conversas foram para nada. Eu ainda penso que a princesa não tem os culhões para fazer o que você a pressiona a fazer, Escuridão.

— Eu não a pressiono a fazer nada, Kurag. A princesa Meredith decidiu este caminho sozinha.

Kurag sacudiu a cabeça. — Sei que não mentiria rotundamente, mas sei também que uma mulher apaixonada por um homem fará muito por uma insinuação. Não tem que ser uma ordem. Uma palavra aqui, uma palavra ali.

Seus olhos perderam o enfoque por um segundo, e ele empurrou as mãos da rainha longe de seu corpo. Ela lutou por manter seu ninho de mãos na virilha.

Ele apertou seus magros braços em imensas mãos como um ramalhete de caules de flor. Só quando a dor cruzou sua cara, ela o liberou. Ele sustentou a pressão por um segundo a mais, como se ele quisesse esmagar seus braços, então permitiu que ela se fosse. Ela se sentou em seu colo, esfregando os braços com algumas de suas outras mãos. Ela parecia mal-humorada, como um menina. Não, acredito que ela não estava zangada. Creeda guardava sua cólera para outras coisas.

Doyle finalmente respondeu — Eu não tenho feito nada para persuadir à princesa, menos ainda se recordar que ela algum dia será rainha.

— Não é certo que ela será rainha. Cel pode ainda ser rei. Doyle empurrou longe a cama para parar-se reto e perfeito, como o fazia geralmente. — Me conhecendo como me conhece, você alguma vez me viu me colocar ao lado do perdedor de uma competição? Kurag inspirou uma grande baforada de ar, então o exalou para fora lentamente. — Não. — Ele não parecia feliz a respeito disso.

— Em tal caso te opõe excessivamente. Nós lhe oferecemos um trato justo.

O olhar do Kurag se girou para mim. — É a Escuridão sua voz, Merry?

— Não, mas quando estou de acordo com tudo o que ele diz, eu não vejo problema algum lhe permitindo terminar.

— Então ele terminará a negociação.

Suspirei. — Não, isso não é o que eu disse, e sabe disso. Traremos para seus guerreiros o seu pleno poder. Pensa nisso, Kurag: guerreiros trasgo com magia sidhe em suas veias.

— Há quem teme que os trasgos tenham essa magia — disse ele.

— Eu não sou uma deles.

Ele franziu o sobrecenho, então me olhou fixamente. Permiti que o silêncio se estendesse. Aprendi faz muito tempo que a maioria das pessoas não podem permanecer em silêncio. Eles se sentem obrigados a enchê-lo. Esperei, e finalmente ele falou. — Por que não tem medo? Tudo o que impediu aos trasgos de conquistar as fadas é a magia sidhe. Nos proporcione isso até igualar nossa força em combate, e nenhum perdurará ante nós.

— E se os trasgos entram em guerra em solo americano, será expulso,

não da terra das fadas, mas sim do último país que te tolera. — Sacudi a cabeça. — Faz séculos quando guerreamos uns contra o os outros, então possivelmente temeria, mas não agora. Você gosta de estar aqui, Kurag. Você gosta muito para arriscar tudo, especialmente quando não pode garantir a vitória.

— Entre os sidhes há quem nos temerá se conseguirmos sua magia. Inclinei a cabeça. — Eu sei, mas isso não é seu problema. É meu. — Verdadeiramente, eu não acreditava que trazer a metade de uma dúzia de trasgos para os sidhe afetaria o equilíbrio do poder. Os semiduendes geralmente não sobrevivem à infância entre os trasgos. Quando crescemos com nosso poder, somos difícil de matar, mas quando somos meninos somos muito frágeis. Os trasgos vêm do útero com capacidade para matar.

Ele dirigiu suas grandes mãos para a rainha muito menor, da maneira em que acariciaria a um cão. — Arrisca-te muito, Merry.

— O que eu arrisque é meu problema, Kurag. Eu te ofereço uma oportunidade que negou aos trasgos por milênios. Eu te ofereço magia sidhe. Ninguém mais pode lhe dar isso. Cel não pode. Só eu, e os que estão aqui comigo.

— Um mês a mais por cada trasgo que traga para os sidhe é muito. Um dia extra.

Inclinei-me adiante, fazendo que meu roupão ficasse aberto, e soube que o cetim vermelho emoldurou meus peitos como se eles fossem jóias brancas. Eu nunca teria tentado fazer isto com outro sidhe. Eu era de longe muito humana para apelar à maioria deles, mas para os trasgos, eu poderia ser bonita. — Um dia extra é insultante, Kurag, e sabe isso.

Seu olhar estava fixo em meu decote. Ele lambeu seus lábios magros com uma língua grande e áspera. — Uma semana então. Creeda acariciou sua cara, a metade de seus olhos voltada para mim, a metade no Kurag.

Por qualquer razão, eu pus à rainha dos trasgos nervosa.

Kurag havia me proposto casamento uma vez, mas penso que isto foi mais pelo desejo da magia sidhe na linha sangüínea dos trasgos mais que o desejo verdadeiro por mim. Ah, Kurag me foderia se eu o permitisse, mas isso não era um grande elogio. Kurag provavelmente podeira foder qualquer coisa contanto que estivesse o suficientemente quieto.

Eu me ergui e comecei a me abanar com o roupão como se estivesse com calor. — Por que não um ano para cada um? Sim — olhei acima para desfazer o cinto do roupão — Sim, eu quero isso. Um ano para cada um deles, e isso inclui o Kitto — Abri o roupão para emoldurar o resto de meu corpo. Para mostrar claramente o pouco que usava.

— Não, nenhum ano. Mesmo que te dispa completamente para mim, não poderia obter um ano.

Sorri por cima dele, pondo o brilho em meus olhos tricolores, duas sombras de verde e um círculo de ouro. — E você não pode me fazer negociar por debaixo de um dia.

Ele riu então, uma gargalhada profunda, intensa. Continha toda a alegria sem reserva que os trasgos tinham e que os sidhe pareciam estar perdendo com os anos.

Havia outra risada masculina fora de vista do espelho. Soube que Kurag e Creeda não estavam sozinhos. Eu me perguntei em quem confiava ele o suficiente para lhe permitir ouvir nossos negócios.

— É filha de seu pai, Merry, concedo-te isso. Conhece seu valor.

Olhei para baixo, me fazendo de tímida porque eu não queria que ele visse minha cara claramente. Pensava muito intensamente, e não estava segura de poder mantê-lo fora de minha cara. Necessitava que Kurag estivesse de acordo com o que queríamos.

Tudo o que ele tinha que fazer para me impedir que tivesse êxito era simplesmente dizer não. Eu necessitava que dissesse sim. A pergunta era como podia vencer sua precaução natural a respeito de intervir na atividade sidhe. Como poderia eu conseguir que ele estivesse de acordo com algo que não queria fazer? Ou possivelmente tivesse medo de querer fazer.

Deixei cair o roupão no piso.

— Quanto posso valer, se não venderia céu e terra para me ver nua? Se fosse realmente bonita, não teria dito. — Eu dava a minha cara uma expressão interrogante, e pus as dúvidas que tinha em relação aos sidhe em meus olhos. Minha própria mãe tinha sido a pior de meus críticos. Só fazia alguns meses que tinha me dado conta de que ela tinha ciúmes de mim. Que eu me dei conta de que minha mãe tinha um visual mais humano que o meu. Ela tinha a altura e a esbeltez de figura, mas seu cabelo, sua pele e seus olhos, eram humanos. Os meu não eram.

Kurag leu a dúvida em meus olhos, e vi seu próprio olhar fixo nublar- se. — Realmente duvidas de ti. — Ele soou quase intimidado por isso. — Nunca encontrei uma mulher sidhe que não acreditasse que era um presente da Deusa para os machos.

— Essas mesmas mulheres dizem que sou muito pequena para ser bonita — perfilei com minhas mãos meus peitos — As que dizem que meus peitos são muito grandes — deslizei minhas mãos para baixo pela cintura até os quadris — Que tenho curva nos lugares que elas não têm — delineei para baixo minhas coxas. As mulheres sidhe não têm coxas. Permiti que meu cabelo caísse através de minha cara quando me movi, assim que meus olhos o olhassem meio escondidos por detrás de meu cabelo escarlate — Elas me dizem que sou feia. Caiu de sua cadeira, atirando a sua rainha ao chão. Ele rugiu — Quem diz essas coisas? Esmagarei suas mandíbulas e os verei afogar-se em suas próprias mentiras!

O ultraje em sua cara, sua raiva tremente, tomei como o elogio que era.

Compreendi nesse momento que Kurag me queria para algo mais que a política ou as linhas de sangue sobrenaturais. Nesse pulsado do coração, eu pensei que talvez, somente talvez, o Rei dos trasgos me amava, de uma forma estranha. Havia esperado muitas coisas hoje, mas não amor.

Não sei por que, mas de repente compreendi que tinha lágrimas arrastando-se para abaixo por minha cara. Tinha gritado porque algum trasgo se ofereceu para defender minha honra?

Olhei para cima ao Kurag, e permiti que ele visse o que havia em minha cara, meus olhos, tudo. Porque me dava conta de que ainda não acreditava que era bonita. Os guardas me queriam porque sem mim deviam ser celibatários. Eles me perseguiam porque poderiam conseguir ser o rei. Nenhum deles me queria, por mim mesma. Talvez isto era injusto, mas como saberia jamais por que vieram eles a minha cama? Olhei ao Kurag e sabia que aqui havia um homem que me conhecia desde que era uma menina, e ele achava que eu era bonita, e merecia a defesa, e ele nunca estaria na minha cama, nunca seria meu rei. O saber que alguém me amava, por mim, significava algo. Algo para o que eu não tinha palavras, mas permiti que Kurag visse que o valorava. Que valorava o que ele sentia por mim.

— Merry, garota, não chore, o Consorte me salve disso — disse Kurag,

e sua voz era mais suave, embora ainda áspera.

Kitto subiu do piso onde tinha estado sentado de modo a poder colocar seu boca contra minha bochecha. Sua língua estalou fora, acariciando minha pele, as pontas fazendo cócegas por minha bochecha. Como não protestei ele lambeu a bochecha, bebendo de minhas lágrimas. Os trasgos consideravam a maioria dos líquidos do corpo preciosos e não devem ser desperdiçados. Entendi o que ele fazia, e francamente, nesse momento, quase qualquer toque me teria restabelecido. Deslizei meus braços através de seus ombros e me inclinei para seu corpo para que ele lambesse minhas lágrimas mais inacessíveis.

Rhys estava detrás de mim, de joelhos, na cama. Abraçou-me por detrás. E como Kitto e eu estávamos tão perto, viu-se obrigado a abraçar ao Kitto também. Só alguns de nós naquele quarto entendemos que para ele era um sacrifício vir com gosto e abraçar ao Kitto. Só sua boa vontade para me fazer isso fez eu me sentir melhor.

— Não um ano, Merry, nem por suas lágrimas. Nem por esse olhar em sua cara. —Kurag parou-se tão largo que ele pareceu encher o espelho.

Apareceu sobre nós, em parte porque o espelho se levantou, e em parte porque ele também estava de pé muito perto do vidro em seu lado.

Kitto tinha limpado um lado da cara. Teve que girar a frente de seu corpo mais firmemente contra mim quando tratou de alcançar minha outra bochecha. Ele estava apertado no círculo do braço do Rhys e meu corpo. Esperei que Rhys abrisse o braço para permitir que Kitto se movesse ao outro lado de meu corpo, mas ele não fez. Nos manteve apertados, juntos no interior de seus braços. No momento que eu me dei conta de que estávamos presos efetivamente, a menos que Rhys nos liberasse, meu fôlego se encolheu e meu pulso se acelerou contra minha garganta.

Minha voz emanou de meu corpo por completo como um tangido, e com um conhecimento repentino — Minhas lágrimas merecem um mês, Kurag?

Kitto se retorceu pela força dos braços do Rhys. Isto obrigou o corpo do Kitto a se apertar com força contra o meu, por isso Rhys sussurrou contra meu cabelo — Vire seu rosto pra ele — isto me fez dar a volta de modo que ele pudesse alcançar minha outra bochecha. A língua do Kitto acariciou minha bochecha, seu fôlego quase quente contra a pele.

Rhys apertou seus braços, e era como estar presa com correias de carne e músculo. Eu não podia me concentrar, não podia pensar.

— O sexo e o alimento podem fazer girar a cabeça de qualquer trasgo — disse Kurag, e sua própria voz era baixa, como grunhidos, mas não com cólera.

Sussurrei — Rhys, por favor, não posso pensar.

Afrouxou suas mãos, só o bastante para dar a ilusão de liberdade. Eu conhecia o jogo, mas no meio des negociações políticas não era tempo para isso. Uma parte de mim quis dizer ao Rhys que nos deixasse ir, mas a outra parte de mim adorava o tato de seus braços ao redor de nós, a solidez de seu corpo apertado contra minhas costas, o sussurro de seu fôlego contra meu cabelo. Sabia que ao Kitto poucas coisas faziam sentir melhor que os que estavam a seu redor dessem as ordens, não gostava de ter que escolher. O fazia sentir-se seguro.

Era reconfortante, mas não era segurança o que eu procurava.

Consegui enfocar o Kurag, mas sabia que minha cara mostrava um pouco do que eu sentia. Mantive-me esperando que Doyle interviesse, dessa demonstração imprópria, mas era como se no quarto só estivéssemos Rhys, Kitto, e eu.

— Me deixe te demonstrar o que um trasgo verdadeiro pode fazer por ti, Merry — disse Kurag. Seu olhar se deslizou ao Rhys — Me permita que corte um excelente pedaço de carne. Se regenerá se se faz corretamente. Com isso estaria de acordo com quase qualquer coisa. Rhys disse — Deixou ao Kitto fora da negociação. — Sua voz era quase rouca.

— Ele é um trasgo, e eu posso fazer com ele o que quiser, quando quiser.

— Eu não penso assim — eu disse.

— Ele é sidhe agora — disse Rhys, com a voz deliciosamente baixa. — Ele foi a carne de alguém uma vez, mas isso mudou.

— Ele é ainda como ele era. Ainda deseja alguém para dominá-lo. Temo que ninguém queira ser seu amo.

Encontrei minha voz, e esta era quase normal outra vez. — Fala a respeito de cortar em pedaços a alguém de quem é amo. Que lógica é essa, Kurag?

— Eu não necessito sua permissão para tomar o que quiser do Kitto. Posso tomar o que quero de qualquer trasgo se não tiver a força para se proteger de mim. — Assinalou a Kitto. — E ele não é forte.

— Há muitos tipos de força, Kurag. — eu disse.

Ele se distanciou do espelho e se afundou em sua cadeira uma vez mais. Sacudia a cabeça. — Não, Merry, há só um tipo de força: a força para tomar o que você quer.

— E a força para mantê-lo — disse uma profunda voz masculina fora da vista do espelho.

Kurag dirigiu seu cenho na direção da voz, então se voltou para mim.

— Permite que eu te foda, e prove o cavalheiro branco, e estarei de acordo com um mês para cada trasgo que faça sidhe.

Rhys me deixou ir, lentamente, quase a contra gosto. Se ele tivesse tido problemas para tocar ao Kitto tão estreitamente, não demonstrou.

Kitto tinha limpo a última das lágrimas de minha cara e estava de pé espremido contra a parte da frente de meu corpo.

— Não posso te ajudar a romper seus votos matrimoniais, por muito que queira. Nossas leis o proíbem. Quanto a meus guardas, todos meus guardas, eles não são carne. — Beijei o topo da cabeça do Kitto.

— Então não podemos fazer um trato. — Por um segundo eu vi o alívio dessa decisão em sua cara.

A voz do Doyle caiu no silêncio profundamente, com um timbre grave, golpeando com o ronrono de sua voz ao longo de minha pele me confortando. — Estava ali quando os trasgos foram despojados de sua magia, Kurag. Recordo a seus magos. Lembro que havia um tempo quando a magia dos trasgos era tão temida como seu poder físico.

— E quem matou a cada mago e bruxa entre nós? — Havia princípios de cólera em sua voz outra vez.

— Eu matei — disse Doyle. Nunca tinha ouvido duas palavras tão vazias de emoção, tão sem de diplomacia.

— E foi a magia sidhe que chupou a magia de nossas veias.

— Não foi um feitiço dos Escuros, Kurag. Pensávamos wm ganhar a guerra, não em te destruir.

— O bastardo do Taranis não nos destruiu. Ele e sua gente brilhante com a que fizeram o feitiço chuparam nossa magia, e a mantiveram. Você acha que eu não sei, Escuridão. Aquele punhados de hipócritas brilhantes mantiveram o que nos roubaram.

— Eu não depositei nada diante do rei da Luz e da Ilusão — disse Doyle.

Kurag olhou fixamente ao Doyle por um segundo ou dois, então falou lentamente, embora eu ainda podia ver a cólera em sua cara. — Se ajudou a tomar nossa magia. Por que nos ajudaria a recuperá-la?

— Eu não estive de acordo com isso da primeira vez. Não tinha nenhum problema matando a sua gente. Eles nos matavam. Se o poder que tinham tivesse sido mantido, poderia ter sido muito ruim para os sidhes.

— Teríamos ganho, e teríamos a todos seus brilhantes traseiros.

Doyle se encolheu de ombros . — Quem pode dizer o que acontecerá em uma guerra? Mas digo isto agora: podemos te oferecer parte da magia que lhes roubaram.

Sussurrei contra a curva da orelha do Kitto — Brilha para ele, Kitto. Kitto levantou a cabeça para encontrar meus olhos com os seus. Sua cara era tão solene, como se não queria fazê-lo. Quis perguntar por que não, mas eu não podia perguntar diante do Kurag porque não conhecia a resposta que daria Kitto. Havia aprendido faz muito tempo que em meio das negociações, nunca devia fazer uma pergunta se não conhecia a resposta. Provavelmente a resposta te doeria. Kitto disse, em voz baixa — Tenho medo.

Entendi então. A cólera, a luxúria, todos os tipos de emoções poderiam criar um estalo mágico, mas o temor, estranhamente, poderia matá-lo. Dependendo do tipo de temor. Se este fosse um intumescimento da mente, o tipo de medo que induz ao terror, não pode te concentrar no que tem ao redor. Mas um pouco de medo poderia ajudar a trazê-lo sobre ele, e às vezes seus medos maiores poderiam manifestar seus poderes maiores. De todos os modos,

especialmente no princípio, quando a magia é nova, nunca sabe que caminho usará o medo para te alcançar.

Kitto não podia mostrar sua magia porque Kurag e Creeda o assustavam de morte.

Estava muito aterrorizado para pensar claramente, para permitir-se criar a magia.

Apanhei seu rosto em minhas mãos. — Entendo — Olhei detrás de mim ao Rhys, e suspirei. Rhys tinha jogado um bom jogo até agora, mas esse forte abraço era a interação mais física que ele tinha tido com o Kitto. Pedir ao Rhys que ajudasse a fazer algo que equivalia à estimulação sexual que precede ao coito com o Kitto era pretender muito. Meu cavalheiro branco, como Kurag o chamava , tinha feito seu dever esse dia.

Com sua cara ainda entre minhas mãos, coloquei um tenro beijo na boca do Kitto.

— O que é isto? — perguntou Kurag.

Levantei bastante minha cara para ver a sua. — Quero que Kitto chame a sua magia, mas ele te teme muito.

— O quê, a magia dos trasgos será frágil?

— No princípio de seus poderes, às vezes necessita ajuda com eles. Doyle adicionou — É como qualquer outra arma, Kurag. Alguém novo com a espada pode vacilar na batalha, ou pode sentir-se inseguro aonde dar o golpe.

Ele franziu o sobrecenho, sentando-se em sua cadeira grande como se de repente fosse menos confortável. — Eu não faço magia, mas se disser que é como uma arma, então é. — Podia dizer por sua cara que ele tinha entendido seu significado.

Embora Creeda saltou de volta ao marco do espelho Kurag a recolheu distraídamente, como se ela fosse um mascote que tinha que ser devolvido em cima de seu colo. — Brilha para nós, princesa, brilha para nós — disse Creeda com uma voz ansiosa que ainda mantinha um pouco desse gemido alto, mecânico.

Kurag a golpeou brandamente em um lado de seu corpo. Ela girou seus olhos até ele. — O quê? Você queria que eu fizesse o pequeno brilhar.

Olhando ao Kurag, lutando por manter sua cara neutra, me dei conta de que uma coisa era que Creeda tivesse sua diversão com o Kitto, mas me incluir era outra. E nesse momento, eu soube duas coisas. Primeiro, eu tinha a vantagem do Kurag em todas as negociações; segundo, os outros trasgos perceberiam, se é que não o tinha feito já, e eles o veriam como uma debilidade. Os trasgos não têm uma monarquia hereditária. Chega a ser rei se for o suficientemente forte para matar ao antigo rei. Nenhum rei dos trasgos morre quietamente enquanto dorme. Todos temem ao Kurag, mas se eles pressentissem uma debilidade, eles suspeitariam que haveriam outras. Os trasgos, são como tubarões, cheiram o sangue.

— O resto de nós perderá a exibição? — A profunda voz masculina que tinha falado mais cedo falou outra vez.

Kurag mandou um olhar turvo na direção de quem quer que fosse. — A princesa não faz exibições. — E se voltou pra mim. — Ou mudou isso desde que obteve seu harém? — Tinha conseguido que a sua cara voltasse a uma inexpressividade beligerante, utilizando a cólera para esconder o que fosse que ele pensava.

— Para aliviar os medos do Kitto, acariciarei-lhe.

Havia gritos e sons desde mais à frente do espelho. Eram sons tipicamente masculinos, e não teriam estado desconjurado na maioria dos bares de uma discoteca aos sábados a noite.

Kurag os ignorou, como devia fazê-lo, mas o esforço se manifestou em suas grandes mãos, no conjunto de seus ombros. Sua rainha se esticou, como se ela estivesse em posição para saltar à segurança.

— Não será uma exibição para os padrões trasgos, nem para os padrões dos luminosos, mas aliviarei seus medos e o abrirei a sua magia.

— Eu o vi brilhar, Merry. Acredito que ele é sidhe. Acredito que ele tem a magia nele. Mas não o tipo de magia que ajudará em um campo de batalha. E esse é o único tipo de magia que necessitamos.

— Diz isso, Kurag — disse Doyle — porque os trasgos nunca conheceram nenhum outro tipo de magia.

— Digo-o porque é verdade. — Seus olhos eram mais laranja que amarelo, coloridos por sua cólera.

— Quer ver como brilha com a magia que poderia ter sido tua, Kurag?

— Perguntei, e deixei cair minha voz um pouco. Confesso que utilizei sua atração por mim contra ele.

Se podíamos ganhar os trasgos como aliados imediatos permanentemente, então poderíamos manter a raia a maior parte de nossos inimigos. Pelas vidas dos que estimava, pelo futuro da Corte da Escuridão, por mim mesma, poderia manipular a um rei.

Ele deu um brusco assentimento. Creeda celebrou juntando suas muitas mãos, aquelas que podia unir para aplaudir, e saltando como um menino em seu colo.

Olhe ao Kitto. Perguntei-lhe com meus olhos se estava preparado. Ele sussurrou: sim. Eu o beijei brandamente na boca, não como uma carícia estimulante mas sim como agradecimento, e como desculpa por lhe fazer fazer algo que ele não queria fazer.

Podia sentir a relutância em seu corpo e isso me destroçou. Conhecia ao Kitto bastante bem para pô-lo rapidamente na disposição correta, mas se o fazia diante dos trasgos eles saberiam como fazê-lo, também. Sabia como fazer que Kitto brilhasse, porque era sua amante e sua amiga. Fui mais lenta e fiz mais coisas, à parte das carícias que eram realmente suas favoritas o confundindo com muitas carícias, então Creeda não teria as chaves de seu corpo. Levaria mais tempo, mas não queria ajudar Creeda a lhe atormentar. Eu faria todo o possível para que Creeda nunca conseguisse pôr suas mãos sobre ele, mas conhecia muito da política real para ter a certeza de que eu o pudesse manter seguro. Não se rechaça ligeiramente a uma rainha, a qualquer rainha.

Tomei minha decisao, e fiz Kitto entrar em meus brac;os.


Capítulo 4


Sentei-me sobre o bordo da cama com o Kitto em meu colo, suas pernas abertas escancaradas sobre meu corpo como se eu fosse o rapaz e ele a moça. Seus calças curtas se estiraram apertando-se através da redondez firme de suas nádegas, e minhas mãos cavaram essa firme carne através do tecido. Sustentei-o em meu colo enquanto minha boca explorou seu rosto, seu pescoço, seus ombros. Mordi com cuidado em seu ombro, e ele se estremeceu contra mim. Mesmo através do tecido, senti-o ficar firme.

Mantive uma mão em sua nádega, para lhe impedir de cair, mas deslizei a outra até o alto de suas costas. Brinquei com as escamas do arco íris de suas costas e encontrei a linha de pele nua tão delineada no alto de sua coluna vertebral. Acariciei com uma gema do dedo por cima e não muito tempo, a linha lisa de pele, e isto o feu soltar seu fôlego em um sopro, jogando para trás sua cabeça, me mostrando sua cara com seus olhos fechados e seus lábios meio separados. Mas de todos os modos não brilhou.

Ele estava formoso quando se sentou em meu colo, mas existia só a magia de sua pele nua e o encanto de seu corpo. Ele não brilhava com o poder.

— Faz-o brilhar, faz-o brilhar! — gritou Creeda, como se tivesse estado esperado o momento para gritar.

Com o som de sua voz, Kitto se debilitou, mostrando-o tanto com o afundamento de seus ombros como com a queda de sua cabeça, e a pressão contra meu estômago diminuiu. Era como se somente o som da voz dela o fizesse recordar coisas desagradáveis. Os trasgos não vêem os votos matrimoniais da mesma maneira que nós, e permitem a ambos os companheiros certas liberdades. Toda criança resultado de qualquer enlace é aceito pelo casal como dele. Não há nenhuma vergonha ou gritos por ser corno. Talvez é porque não há nenhuma monarquia hereditária. Mas independentemente do costume, eu não sabia que Kitto alguma vez tinha sido o bichinho de estimação da Creeda.

Kurag disse — Silêncio, Creeda. — Mas o dano já tinha sido feito.

Kitto enrolou suas pernas ao redor da minha cintura como um menino aferrando-se ao consolo. Apertou-se contra mim e enterrou sua cara em meu ombro.

Elevei a vista para Kurag. — Eu não sabia que sua rainha conhecia o Kitto.

— Ela não o conhece.

Acariciei o Kitto nas costas e não estava segura se acreditava, mas eu não podia pensar em uma boa razão para que ele mentisse.

— Então não entendo seu nível de medo em torno dela.

— Creeda, como a maior parte de nossas mulheres, está impaciente por provar a um trasgo que é também sidhe. Ele disporá de numerosas fêmeas no banquete.

kurag não parecia em particular feliz com isso, e eu não estava exatamente segura do porquê, mas isso não importava, não realmente.

— Os trasgos violam um inimigo, ou um prisioneiro, mas não abusam uns de outros — eu disse.

Kurag olhou além de mim ao Rhys. — Seu príncipe branco conhece o que fazemos aos prisioneiros. — Manifestou um ansioso olhar lascivo, como se estivesse encantado de estar de volta em um terreno que desfrutava. Gostava de irritar o Rhys.

Rhys se moveu na cama detrás de mim. Tinha estado muito tranqüilo durante a cena com o Kitto.

— Sei que fui parvo, Kurag. A princesa me explicou que poderia ter economizado muita dor, se conhecesse seus costumes.

O olhar lascivo do Kurag se desvaneceu em um cenho franzido.

— Um sidhe admitindo que é idiota, é um milagre.

Joguei um olhar para trás o suficiente para perceber a inclinação de cabeça do Rhys.

— Somos uma raça arrogante, mas alguns de nós podemos aprender com nossos erros.

— E o que aprendeste, príncipe branco?

— Antes que cheguemos a qualquer banquete em sua corte seremos muito claros em o que pode nos acontecer, e o que não. A todos, incluindo o Kitto.

— Agora, está sendo arrogante — disse Kurag. — Nenhum sidhe pode negar o acesso de um trasgos a outro.

Eu adicionei: — Se Kitto não quer estar com as mulheres, então ele pode dizer não.

— Eu vou prová-lo. — disse Creeda.

— Não se ele disser não — eu disse.

— Terei-o — disse ela, inclinando-se para o vidro. Kitto se encolheu de medo contra mim.

— Controla a sua rainha, Kurag —eu disse.

— Bom, ela é uma dos centenas que sentem o mesmo, Merry. Sustentei ao Kitto mais perto.

— Não poderia sobreviver às cuidados de centenas de trasgos. Kurag se encolheu — Somos imortais. Curamo-nos.

Sacudi minha cabeça, mas foi Rhys quem respondeu.

— Não, não exporá o Kitto a isso.

— É meu — disse Kurag, emitindo um bramido que fluiu por sua voz. — Dei ele a Merry, mas ainda é meu. Sou seu rei, e digo o que vai ou não acontecer com ele.

— Kurag — eu disse, e quando esses olhos quase alaranjados se detiveram sobre mim, continuei — conheço suas leis. Não violam a sua própria gente, a não ser que tenham quebrado alguma lei e o considere um castigo oportuno para o crime.

— Há uma exceção à regra, Merry.

Devo ter o olhado tão confusa como me sentia — Não conheço nenhuma exceção a esta regra. — Silenciosamente, pensei, mas rechaçar sua regra é uma coisa perigosa.

— Pensei que seu pai se assegurou de que estivesse instruída em nossos procedimentos.

— E estou —eu disse — mas não te impõe sobre outros; não há nenhuma necessidade. Há sempre algum companheiro disposto ao alcance da mão.

— Mas se um de nós vende seu corpo por segurança e refúgio, então perde o direito de negar seu corpo a alguém. Só seu protetor pode ditar quem pode tocá-lo, e quem não pode.

Eu ainda franzia o cenho.

Kurag suspirou. — Merry, não se perguntou como eu estava tão seguro de que Kitto iria contigo, e faria o que quisesse?

Pensei nisso, logo respondi:

— Não, se nossa rainha tivesse mandado que um de seus guardas viesse comigo e fizesse o que eu quisesse, o teria feito. Essa não é nossa lei, mas é prejudicial rechaçar à rainha. Assumi que era o mesmo com sua gente.

— Te dei o Kitto porque sabia que seu protetor se cansou dele. Somos gente dura, Merry, mas não tinha nenhum desejo de ver como Kitto seria esmigalhado se não pudesse encontrar alguém que o amparasse. Um bom rei cuida de toda sua gente.

Assenti. Kurag era ordinário, lascivo, dominado por seu caráter de vez em quando, mas ninguém nenhuma vez o tinha acusado de não atender a sua gente, a toda sua gente. Esse era um dos motivos pelos que nunca tinha confrontado um desafio sério a seu reinado.

Era duro, mas justo. A metade de sua gente lhe temia, e a outra metade o amava, porque mantinha seguros a todos eles.

— Não sabia que qualquer trasgo necessitasse essa classe de amparo —eu disse. Kitto paraliso-se contra mim, quase podia cheirar seu medo. O medo do que pensaria dele agora.

— O destino de um meio•sidhe entre nós não é agradável, Merry. A maioria morrem jovens antes de receber essa célebre magia sidhe. Mas há muitos entre nós que querem ter a um sidhe em sua cama. A maior parte dos mestiço terminam por vender seu corpo em troca de segurança.

Falava de prostituição, um conceito inaudito entre os duendes, ao menos em o mundo das fadas em si mesmo. Fora do mundo das fadas, pois bem, um exilado tem que ganhar a vida, e houve uns quantos que o fizeram desse modo.

Mas mesmo assim, existia mais de um modo para fazer que os fantasiosos achassem a forma de satisfazer fora os frutos habituais. Somos seres tradicionalmente luxuriosos, e o sexo é sexo para boa parte de nós. Nenhum julgamento, simplesmente a verdade. Mas os trasgos não tinham em seu vocabulário uma palavra como prostituta. Um conceito mais alheio para sua sociedade teria sido difícil de adquirir.

— Mas sempre há sexo entre os trasgos. A maior parte de trasgos não pensam que um companheiro sexual é igual a outro?

Kurag se encolheu — Todos os trasgos são amantes vorazes, Merry, mas isto é o vício à carne branca o que proporcionou o auge aos trullups. Os que não podem proteger-se, e não têm nenhuma outra habilidade que oferecer. Não são artesãos; não fazem nada, ou vendem algo. Têm só uma habilidade, assim é que lhes permitimos trocar essa habilidade pelo que necessitam. — Não parecia feliz a respeito disso, como se em certa forma o ofendesse, ofendendo sua idéia de como deveria partir o mundo. — Teríamos matado a tais criaturas débeis, mas uma vez que encontraram amparo com alguém que era o suficientemente forte para mantê-los seguros, tivemos que deixar que ficassem.

— Não podem haver muitos entre vós como este —eu disse.

— Não, mas a maior parte deles são meio•sidhe. — Dirigiu o olhar para a lateral do espelho. — Embora nem todos os meio•sidhe são débeis — Fez um movimento, e dois homens entraram em foco no espelho. A primeira vista os haveria tomado por sidhes, sidhes luminosos. Ambos eram altos, magros, com bastante corto amarelo,

e da forma em que os sidhes algumas vezes são formosos, com bocas cheias, generosas e uma linha da frente passando pela bochecha até o queixo que recordou ao Frost. Suas peles eram de um tom dourado que o Tribunal da Luz chamava =beijado pelo sol‘. Isso é estranho entre eles, insólito entre nós. Mas um segundo olhar e notei seus olhos, muitos grandes para a cara, elípticos como os do Kitto, e com uma cor sólida que não substituía ao branco do olho, só um círculo escuro na pupila perdida em um mar verde de um deles, e a cor dos olhos do outro era o vermelho.

O verde era a cor da erva no verão. O vermelho era a cor dos bagos do acebo no vasto inverno. Eram mais corpulentos que os sidhes, muito, como se houvessem feito mais levantamentos de pesos, ou a genética dos trasgos simplesmente os permitisse ter um pouco mais de massa muscular.

— Este é Holly e este é Ash. Os gêmeos foram deixados em nossa soleira por alguma mulher luminosa depois da ultima grande guerra. São temidos entre nós. — Para o Rei dos Trasgos dizer isto em uma introdução, a mais alta dos louvores para um guerreiro trasgo é algo de uma advertência para nós, pensei.

O dos olhos vermelhos nos olhava airadamente. o dos olhos verdes tinha um olhar muito mais neutro, como se ainda estivesse decidindo se tinha que nos odiar.

Seu irmão parecia que já tinha decidido.

— Saudações, Holly e Ash, grandes entre os guerreiros do Kurag —eu disse.

O dos olhos verdes respondeu — Saudações, Meredith, Princesa dos Sidhe, possuidora da mão de carne. Sou Ash. — Sua voz era agradavelmente suave. Fez uma pequena reverência à medida que falava.

Seu irmão se voltou para ele e o olhou como se lhe golpeasse. — Não te incline ante ela. Não é nada para nós. Não é nossa rainha, não é nossa princesa, nada.

Kurag estava fora de sua cadeira e quase em cima de Holly antes de que pudesse reagir. Holly realmente apoiou sua mão sobre a faca em seu cinto, logo vacilou. Se tirava a folha, então Kurag poderia tomá- lo como um insulto mortal, e a luta seria a morte. Uma vez que tirasse a folha, essa seria a escolha do Kurag. Tive um segundo para ver a confusão em sua cara, então a mão do Kurag foi um borrão, e o trasgo mais jovem esteve no chão perto da cadeira. Sangue resplandecente à luz como uma estranha jóia carmesim sobre sua pele dourada. O sangue era quase da mesma cor que seus olhos.

— Eu sou o rei aqui, Holly, e até que seja um trasgo o bastante forte para manter um ponto de vista diferente, minha palavra é a lei.

Holly sujou sua manga com o sangue de seu queixo e falou, do chão.

— Não somos trullups. Não temos feito nada segundo nossas leis que lhe permita nos enviar a sua cama, à cama de ninguém. Não necessitamos nenhum protetor para nossa carne. — Tossiu e cuspiu o sangue no chão. Isso era um insulto entre os trasgos, desperdiçando o sangue. Deveria tê-lo bebido. — Demonstramos que primeiro somos trasgos, e nada absolutamente sidhes, mas negociará conosco para nos enviar fora com este sidhe pálido. Não temos feito nada para merecer isto.

Kurag avançou com passo majestoso movendo-se lentamente, como se seus músculos lutassem contra se mesmos. Queria despedaçar o Holly; isso era evidente por sua cara. O vimos tentar dominar sua raiva.

Ash fez um pequeno movimento. Não estava segura do que tinha feito, mas atraiu meu olhar. A faca em seu cinto ainda estava embainhada, mas tinha feito algo.

Foi Doyle quem advertiu — Kurag, isto será muito difícil se os companheiros de cama são resistentes.

Kurag nos olhou. — Eles são muito jovens, Escuridão, não recordam como fomos nós. Se Holly entendesse o que uma vez fomos, o que poderíamos ser outra vez, iria ansiosamente.

— São a maior parte de seus meio•sidhes da última grande guerra? Kurag assentiu. — A maior parte dos velhos estão mortos. Os meio•shides não duraram muito tempo entre nós até que os fizemos trullups.

— Nunca fomos trullups — disse Holly.

Ash mal reprimia o sorriso às costas do Kurag, mas uma de suas mãos estava oculta contra um lado de seu corpo. Creeda estava atrás do trono, e percebi o brilho de uma folha sustentada em suas muitas mãos, mas não com as mãos do lado oposto do Ash. Tinha tirado uma faca? O que fosse que tinha feito, a Creeda não gostou. Sinceramente, a mim tampouco.

— Basta disto, Kurag —eu disse — Não obrigarei a ninguém. Se Holly não quer ser sidhe, então assim seja.

— Mas quero ser sidhe — disse Ash com essa voz tranqüila que combinava com a leve risada, e deixou seus olhos verdes vazios e agradáveis. Era um político nato, esse Ash. Seu sorriso se alargou, mas de algum modo estava triste. — Meu irmão e eu nunca tinhamos discordado sobre nada até isto. Mas serei sidhe, e Holly vai ser também.

Creeda estava o bastante perto para estar segura do que segurava fora de vista. Moveu sua mão dentro da vista. Vi a Creeda esticar-se. Senti que Doyle e Rhys esticavam-se a meu redor. A mão do Ash estava vazia. Mas teria apostado quase qualquer coisa que não tinha sido assim fazia um segundo.

Minha voz soou como um pequeno suspirou quando me manifestei — Vêem e seja sidhe então, Ash. Por que obrigar a seu irmão se for resistente?

— Porque desejo assim — disse Ash, e a afabilidade foi substituída por uma arrogância que só poderia ver na cara de um sidhe. OH, sim, Ash era um dos nossos. Sobrevivia entre os trasgos, mas era dos nossos.

Holly estava de pé agora, sustentando a grande cadeira de madeira entre ele e Kurag.

Estávamos a suas costas, assim que não podia ver sua cara, mas ouvi sua voz, algo próximo ao medo ou alguma outra emoção violenta que não podia nomear.

— Irmão, não nos faça isto. Não necessitamos dos brilhantes. Somos trasgos, e isso é melhor.

Ash sacudiu sua cabeça. — Sobrevivemos juntos, Holly, e seguiremos sobrevivendo juntos. Ouvi as histórias de nossos narradores. vislumbrei o que uma vez fomos, e você e eu devolveremos esses dias de glória aos trasgos. — Caminhou para seu irmão, passando ao redor da Creeda como se ela não estivesse ali. O vaiou quando cruzou de uma pernada por seu lado. A faca chapeada em sua mão brilhou mas ela a guardou em seu lugar, em uma vagem que se perdeu entre seu ninho de braços.

Chegou até o Holly e pôs uma mão em cima de seu ombro.

— Apoiarei-te em tudo, até em sua cólera a nosso rei, mas não nos traga a morte quando estamos a ponto de conseguir uma glória tal como os trasgos não viram em mais de dois mil anos.

Em alguma parte desse discurso havia uma admissão de que não teria deixado o Kurag matar ao Holly; de tal maneira que antes teria apunhalado ao rei pelas costas que permitir isso.

Holly fez um movimento brusco nos assinalando com o dedo, seu braço se agitou violentamente. Descarregou um potente olhar em nossa direção cheia de veneno por seu ódio.

— Eles nos abandonaram para morrer. Como pode ir a sua cama?

Ash agarrou os braços de seu irmão, seus dedos se enterraram o bastante profundamente para vê-lo de longe. Estremeceu-se, apenas um pouco.

— Estes sidhes não nos fizeram nada. Nenhum deles é nossa mãe ou nosso pai.

— Como pode estar seguro?

— Olha-os, Holly, olha-os com algo além de seu ódio. — Realmente girou a seu irmão para nos confrontar, e o olhar em sua cara era uma mescla de dor e raiva difícil de encontrar. — Não há pele nem cabelo dourado entre eles. Eles são sidhes escuros, e não nos fizeram nada. Holly estava a ponto de chorar. Algo que pensei que nunca veria na cara de um trasgo. Kitto chorava, mas esse era Kitto. Tinha deixado de ser um trasgo para mim, e era simplesmente ele mesmo. Não importava que o olhar do Holly fosse sidhe, ele era ainda um trasgo para mim. Geneticamente ele era meio•sidhe, mas culturalmente e moralmente ele era trasgo. Trataria-o assim até que ele me convencesse do contrário.

— Não acredito que este trasgo possa brilhar como um sidhe — disse Holly, sua voz soou zangada e desesperadamente teimosa.

— Faz-o brilhar, Merry — disse Kurag — Ele precisa convencer-se.

— Se tivermos sua garantia de que Kitto não será carne para cada trasgo que queira deleitar-se com carne sidhe, então o farei brilhar para ti. Sem essa garantia, penso que seu medo o pode impedir.

Kitto tremia contra mim. Tinha girado sua cabeça o bastante para jogar uma olhada às escondidas ao espelho outra vez, mas se aferrava para mim como um marisco, como se tivesse medo de que a maré o arrastasse longe.

— Não — disse Holly, e arrancou das mãos de refrear de seu irmão. — Não, se ele consegue o salvo-conduto então todos os trulls o quererão. — Ele sacudiu sua cabeça, fazendo voar seu loiro cabelo.

— Tristemente, estou de acordo com o Holly, Merry. Se um ganhar, então é uma causa escorregadia.

Olhei-os com o cenho franzido, logo disse: — Sou sua amante. Isso me converte em sua protetora?

Kurag pareceu não estar seguro do que me dizer. Ash sacudiu sua cabeça e disse — Ela não entende o que está perguntando.

Kurag olhou ao Doyle. — Escuridão, a princesa é sidhe, mas ela não é você, ou até o príncipe pálido. Ela não tem força nos braços para resistir a cada trasgo que quererá provar ao Kitto.

— Ela falou — disse Holly. — Ela é sua protetora, deixe-a atuar como tal.

— Sim — disse Creeda — me deixe ser a primeira em lutar quando vier. Terei o Kitto, e se consigo cortar essa carne pura, melhor ainda.

Soube então que tinha me expressado mal, mas não estava segura de como desfazê-lo.

— Não levaremos a princesa a sua morada se passaremos toda a noite liberando duelos — disse Doyle. — Seríamos maus guarda-costas de verdade se fizéssemos isso.

— Holly tem razão. Se conceder ao Kitto essa segurança, então os que são como ele quererão o mesmo. Somos uma gente mais democrática que vocês, e estou mais submetido à voz de meu povo que qualquer governante sidhe. — Encolheu seus maciços ombros. — É um bom sistema para nós, mas Merry não é trasgo. Não sobreviveria uma noite.

— São os sidhe tão frágeis? — disse Holly, com a voz cheia de desprezo.

— Não faça que te pegue outra vez — disse Kurag.

— Sou mortal —eu disse.

A cara do Holly mostrou sua surpresa, mas foi Ash quem falou.

— Pensamos que era um malévolo rumor arrojado por seus inimigos. Você é realmente mortal então?

Assenti.

Ash me olhou perplexo — Então você morreria protegendo ao trull. Rhys se endireitou por detrás de mim, seus braços se deslizaram mais não só sobre mim, também sobre o Kitto. Apoiou seu queixo em cima de minha cabeça, mas deixou suas mãos vagar sobre o homem menor, retrocedendo.

— Somos seus protetores — disse Rhys. Sua voz era muito clara, e vazia de emoção.

Kitto levantou o olhar para ele, e agradeci que ninguém no espelho pudesse ver a perplexidade de sua cara. Rhys não o olhou, simplesmente conservou essa cara indiferente para o espelho e Kurag.

Por uma vez o rei dos trasgos ficou sem fala. Penso que todos ficamos. Bem, não todos.

Creeda se levantou de um salto da cadeira para obter uma melhor perspectiva ou que a vissem melhor: — Você criou gosto pela carne trasgo, cavalheiro branco?

— Kitto é sidhe — disse Rhys com voz monótona — tão digno como eu.

— Então toma nota do que é — disse Doyle.

Houve um tinido no ar, não de sinos reais ou de algo que pudesse escutar com seus ouvidos, mas as palavras tinham peso e ressonaram pelo quarto.

A cara do Kurag demonstrou o que sentiu, também. Algo importante tinha acontecido. Algo destinado, alguma parte de profecia ou tinha começado ou tinha sido mudada tão completamente que os destinos de todos tinham mudado nesse momento. Pode-se sentir o peso, mas realmente nunca saberá o que isso significa, não antes de que seja muito tarde para fazer algo para trocá-lo. Poderiam ser uns dias, ou anos, antes de que nós soubéssemos que tinha passado com essas poucas palavras.

Houve um som mais profundo no quarto do Kurag. Foi um ruído estrepitoso como se alguém avançasse ligeiramente arrastando-se, uma serpente com muitas pernas.

Eu não conhecia esse som, mas Kitto estava pálido, sem sangue em meus braços, seu corpo repentinamente lasso. Se eu não tivesse estado sustentando-o, teria caído no chão.

Rhys estava sobre seus joelhos, suas mãos em meus ombros, mas até ajoelhado detrás de mim era alto. Poderia sentir a tensão elevando-se através de suas mãos.

Quis perguntar o que estava errado, mas não quis demonstrar uma aparência débil ante os olhos do Kurag. Então Kurag respondeu a pergunta que eu não tinha feito.

— Não te chamei ainda. — Kurag estava zangado, mas havia um bordo de resignação nele. Como se a cólera fosse principalmente protocolar. A cólera era real, mas ele não tinha muitas esperanças de que isso ajudasse em algo. Nunca tinha visto Kurag tão... derrotado. Uma voz veio justamente fora da vista do espelho. Era alta e vaiou, primeiro pensei em uma serpente, mas opinou que o zumbido era mais metálico que o que tinha Creeda, e ali com a rainha não havia nenhum trasgo serpente. A voz disse:

— Quer me tirar do meio, não me enganei Kurag? Mostre a princesssssa que nem todos são tolos sidhe como os asnos do Holly e Asshh.

— Sim — disse Kurag, e se voltou para o espelho. Viu-se solene. — Saiba isto, Merry: Nem todos os meio•sidhe se parecem com seu progenitor sidhe. Antes de que aceite isto, deveria ver o que irá a sua cama. — Olhava ao Rhys agora, mas esse bordo malicioso tinha ido embora. — E nem todos nossos mestiços são masculinos.

— Não faça isto, Kurag — disse Rhys, e sua voz soou oca, mas aquele vazio estava cheio de algo, algo que me assustou.

— Ela é parte sidhe, cavalheiro branco, e quer sua oportunidade de deitar-se com você outra vez.

Esse ruído estrepitoso, reptante se aproximou, como se algo avançasse lentamente e sendo levado a rastros por acaso ao mesmo tempo.

Kitto fazia um ruído agudo profundamente em sua garganta,

penetrantemente necessitado. Mantive-o apertado, e estava como se não pudesse me sentir. Seu corpo ainda jazia lasso em meus braços, como se não tivesse vida.

— O que acontece? — Perguntei.

Rhys disse uma palavra, um nome, com tal ódio que doía ouvi-lo. Disse o nome enquanto algo se arrastava sobre a grande cadeira do Kurag. Algo que olhava como se tivesse sido costurado juntos a diferentes pesadelos.

— Siun.

Kitto gritou.


Capítulo 5


O grito do Kitto era alto e lastimoso como o de um coelhinho quando um gato o apanhou. Retirou-se de meu colo, através da cama, caindo do outro lado.

Frost entrou correndo na habitação com uma pistola em uma mão e uma espada na outra. Ele procurou um inimigo, e franziu o cenho ao nos ver e a ninguém a quem disparar. — O que aconteceu? O que ocorre ao Kitto?

— Não quer meu pequeno "trullup" saudar a sua professora? Esqueceste tudo o que te ensinei, Kitto? — disse a coisa que estava na cadeira.

Doyle se ajoelhou ante o Kitto, tentando sem êxito tranqüilizá-lo.

Ouvi uma voz profunda através dos gritos, mas quando Kitto encontrou suas palavras outra vez, somente dizia "não, não, não, não, não, ". Uma e outra vez.

Tratei de girar para lhe ajudar, mas as mãos do Rhys estavam apertando meus ombros. Um olhar a sua cara, e soube que Kitto não era o único que necessitava ajuda.

Não sabia o que fazer, mas fiquei onde estava, com o Rhys ajoelhado de modo que seu corpo tocasse minhas costas. Fique assim para que ele pudesse apoiar-se em mem e não cair.

Voltei-me para o duende que estava na cadeira e esperei a que meus olhos dessem sentido ao que via. A princípio me pareceu uma enorme arranha negra e peluda. Uma aranha tão grande como um cão pastor alemão. Mas sua cabeça tinha um pescoço, e havia um pouco vagamente humano em sua boca, tinha lábios e presas. Tinha enormes pernas negras a ambos os lados do inchado corpo que eram de pura aranha, mas as duas mãos pegas em frente não eram. A coisa tinha olhos por toda parte, e todos eles eram tricolores com anéis de azul. Levantou-se como tratando de estar mas confortável na cadeira, e por um momento vislumbrei uns pálidos peitos. Fêmea. Eu não podia chamar a isso de mulher.

Nunca pensei que veria uma coisa tão fantástica que verdadeiramente pensei que era um pesadelo. Eu era uma sidhe escura; nós fomos matéria de pesadelos. Mas Siun era um pesadelo para os pesadelos. Se tivesse sido um pouco menos de uma coisa, e um pouco mais de outra, poderia ter sido menos terrível, mas era o que era, e não havia nenhuma normalidade.

Essa boca extremamente proporcionada, situada em meio de todo esse cabelo negro e daqueles olhos, falou. — Rhysss, que felicidade, muito bom ver você. Ainda tenho seu olho em um jarro em minha prateleira. Venha me visitar outra vez. Eu gostaria de ter o par.

Senti como um tremor atravessava ao Rhys, como se em seu corpo inteiro atravessasse um vento invisível. Sua voz veio vazia como uma concha atirada na praia, ressonando com sua solidão.

— Se não querer que estejamos de acordo com este tratado, deveria dizê-lo agora, Kurag, e nós economizaríamos tempo e energia. Acariciei sua mão que ainda apertava meu ombro, mas não estava segura de que sentisse nada nesse momento.

— Frost — disse Doyle — cuida do Kitto.

Frost embainhou sua espada e guardo sua pistola, ajoelhando-se ao lado do Kitto. No dia a dia Frost e Doyle discutiam, mas nas emergências todos os guardas obedeciam ao Doyle. Séculos de obedecer eram difíceis de romper.

Doyle falou movendo-se para estar a nosso lado. — Quais são suas intenções com isto, Kurag?

Siun disse: — Quero ver o bonito sidhe.

— Te cale, Siun — Kurag o disse sem olhá-la, como se esperasse que o fizesse.

Surpreendentemente, se calou.

— Eu pensei que Merry merecia ver o que lhe podíamos oferecer. — Alguma coisa cruzou por seu olhar de soslaio. — Além disso, Escuridão, não ganharia nada com que Merry se deitasse com o Siun.

— Com ninguém — disse Ryhs.

Doyle tocou seu braço. — Não pode querer que se deite com o Rhys ou Kitto outra vez.

— Está se oferecendo como voluntário? — perguntou Kurag. Doyle piscou — O que está dizendo, Kurag?

— Se estiver de acordo com um mês extra por cada duende que possam fazer sidhe, então deveriam estar de acordo em trazer qualquer meio•sidhe que queira tentar.

Doyle fixou seu negro olhar em Siun, depois no Kurag. — Por que se opõe a isto, Kurag? Por que não quer que a magia circule pelas veias dos trasgos outra vez?

— Não me oponho, Escuridão, estou de acordo, mas com certas condições. Dou a Merry um mês por cada trasgo que converta em sidhe.

Doyle fez um pequeno gesto para o Siun. — Insistir em que nós levemos a cama a quem descende de nós é um desmesurado insulto.

— Poderia ser isso se um de sua raça não tivesse violado a uma das nossas?

— Sua mãe não foi violada — disse Rhys, e sua voz era ainda vazia, ainda horrível de ouvir.

Kurag ignorou o comentário, mas Doyle disse — O que quer dizer, Rhys?

— Ela se gabou de que sua mãe tinha violado a um dos nossos durante a última guerra — Suas mãos se cravaram em meus ombros até que doeu. — Não culpe deste horror em particular aos sidhe, Kurag. Os trasgos fizeram isto a si mesmos.

Estava claro pela cara do Kurag que sabia a verdade. — Mentiste-nos,

Kurag — disse Doyle.

— Não, Escuridão, eu disse: Poderia ser isso se um de sua raça não tivesse violado a uma das nossas? Fiz-lhe uma pergunta, não uma afirmação do fatos.

— Isso é uma sutil distração da verdade —eu disse.

Kurag me olhou. Inclinou a cabeça. — Possivelmente aprendi com os sidhe como a verdade pode apresentar-se de formas ligeiramente distintas?

— O que se supõe que significa isso? — disse Rhys.

Doyle levantou sua mão. — Chega. Ou vamos estar de acordo com as condições do Kurag, ou partimos e temos aos trasgos por outros dois meses, e só dois meses.

— Darei-lhes tempo para conversarem entre vocês — disse Kurag. Levantou uma mão para limpar o espelho.

— Não — disse Doyle — não, se lhe dermos tempo te ocorrerá alguma outra razão para evitar este pacto. Fazemo-lo agora, hoje.

Olhei ao Doyle e não podia ler nada em sua cara, ou em seu corpo.

Era a intocável Escuridão, a mão esquerda da rainha. A figura que tinha temido desde menina. Sem embargo tenho que admitir que nunca antes o havia visto nu. A Escuridão da Rainha levava roupa do pescoço até seus tornozelos e pulsos, todo o ano, todo o tempo. Antes, ver os braços descobertos do Doyle teria sido equivalente a vê-lo nu em público, mas aqui só usava a diminuta sunga negra, e de algum jeito com roupa ou sem roupa, era ainda a mesmo intocável, ilegível, a aterradora Escuridão.

— Qual de vocês se deitará com o Siun? — perguntou Kurag.

— Eu o farei — disse Doyle. Fui quem disse — Não.

— Nenhum de nós a tocará — disse Rhys.

— Forjaremos este pacto, Rhys — disse Doyle.

Rhys sacudiu sua cabeça. — Não, jurei que mataria Siun a próxima vez que nos encontrássemos. Jurei o preço de sangue sobre isso.

— Jurastes o preço de sangue? — perguntou Doyle.

Rhys só assentiu.

Doyle suspirou. — Estamos de acordo tratando em trazer todos os meios sidhe que tem, Kurag, mas Siun deverá responder ante o Rhys quando formos a sua corte.

— E se ela o mata? — perguntou Kurag.

— Então o preço de sangue estará satisfeito. Não procuraremos a vingança por isso.

— Feito — disse Kurag.

— E depois que eu mate o Rysss — disse Siun — Terei seu trullup, meu Kitto. O montarei até que brilhe debaixo mim.

Ela fulminou com o olhar ao Rhys com sua dúzia de olhos, todos os anéis de azul, azul céu, azul escuro, e violeta. Os olhos eram encantadores, deveriam pertencer a um corpo diferente. — Você não brilhou para mim. Se você tivesse brilhado debaixo de mim, não teria arrebatado seu olho.

— Eu disse naquela época, e repito agora. Pode me forçar, mas não pode me fazer desfrutá-lo. Você é péssima na hora de foder.

Ela saltou repentinamente longe da cadeira e súbitamente estava enchendo o espelho, como se tivesse aumentado de tamanho, todas essas pernas tratando de nos alcançar, essas mãos, e essa estranha boca meio formada. Esmurrou o vidro com suas extremidades e gritou — Matarei-lhe, Rhysss, e a princesaaaa não salvará ao Kitto. Terei-lhe, e lhe farei brillaaaar para mim!.

Kitto gritou do outro lado da cama. Giramo-nos e o vimos. Sua cara estava pálida, seus olhos azuis enormes em sua cara. Levantou sua mão direita quando gritou — Nãoooo!

Rhys lançou a nós dois fora da cama um segundo antes de que eu sentisse o estremecimento do feitiço no ar sobre nós. Era como se o vidro houvesse se derretido, e Siun começou a deslizar-se através dessa desintegração. A cabeça, um braço, seu outro braço procurando algo para aferrar-se. Escorregou-se mais longe, lutando contra a queda, e incapaz de pará-la.

Kitto pôs ambas as mãos diante dele como se a rechaçasse e gritou de novo, desta vez sem palavras, entoando a grande altura com o terror.

Rhys me pressionou contra o tapete, cobrindo meu corpo com o seu.

Havia muitos gritos, e nem todos eram do Kitto. A voz do Doyle disse — Levanta a princesa, Rhys. — Soava perplexo.

Rhys ficou de joelhos, olhando ao redor do quarto, logo ficou com o olhar fixo para o espelho, e foi a mão do Doyle a que me ajudou a me pôr em pé.

Frost sustentava ao Kitto, balançando-o como se consolasse a um menino. Dei a volta para olhar para onde Rhys estava olhando fixamente.

Siun tinha deixado de deslizar-se pelo espelho. A metade de suas largas pernas negras estavam neste lado do vidro, e a outra metade estava ainda detrás com o Kurag.

Uma de suas mãos alcançou este quarto; a outra golpeava duramente o vidro do outro lado, como se tratasse de rompê-lo. Amaldiçoava baixo e continuamente. Tratou de lutar inutilmente para ficar livre, dirigindo seus peitos à luz do sol, mas estava presa. Se tivesse sido mortal, teria morrido, mas não era mortal, e não morreria. Estava simplesmente presa.

Doyle se aproximou do vidro, mas ficou longe do alcance das pernas de Siun que esperneava. — Agora parece sólido.

Kurag falou desde seu lado do vidro — Agora se acha esta cadela em um apuro?

— Sim — disse Doyle.

— Podem arrumar isso? — perguntou Kurag.

Doyle jogou uma olhada ao Kitto, que pareceu quase catatônico nas mãos de Frost. — Foi a magia do Kitto. Ele poderia investir, se soubesse como. Mas ninguém mais neste quarto pode fazê-lo.

— Pelos chifres do Consorte que fez Kitto? — Kurag estava junto ao espelho em seu lado, observando-o, mas com cuidado de não tocar o vidro.

— Alguns sidhes podem viajar pelos espelhos, outros podem falar através deles. Embora não tinha ouvido nunca de nenhum que pudesse percorrer tantas milhas. — Doyle estudava o espelho e ao trasgo apanhado como se isto fosse um problema puramente acadêmico e tratasse de entender como ocorreu.

— Pode Kitto desfazê-lo?

— Frost — disse Doyle — pergunta ao Kitto se a liberará do espelho, enviando a de volta.

Frost falou para o homem pequeno em seu colo. Kitto sacudiu a cabeça violentamente, se agarrando mais contra Frost. — Teme que se reabrir o espelho, então cairá inteiramente neste quarto.

— Simplesmente lhe dêem um empurrão para trás nesta direção — disse Kurag.

Frost respondeu — Diz que pode ficar no espelho até que apodreça.

— Não apodrecerá. — Kurag se voltou para o Doyle. — Não é mortal, Escuridão, não morrerá. — Tocou o vidro ligeiramente — Isto não a destruirá.

— Bem, não pode ficar no espelho —eu disse, não estava segura do que íamos fazer, mas sabia que abandoná-la não era uma opção.

— Realmente, Meredith, poderia — disse Doyle.

Sacudi minha cabeça. — Não quero dizer que não seja possível, Doyle, quero dizer que não é aceitável. Não a quero no espelho de meu dormitório, como um troféu vivo pendurado em uma parede.

— Entendo — olhou ao trasgo apanhado — Aceitarei sugestões, mas com honestidade, não vejo uma solução fácil.

— Poderíamos romper o espelho? — perguntou Kurag.

— Isso provavelmente a cortaria em pedaços.

— Não a matará — disse Kurag.

— Nãoo, nada de romper — disse Siun.

Todo mundo a ignorou.

— Mas poderia deixar um pedaço do seu lado do espelho e outro do nosso lado do — disse Doyle — Podem seus trasgos curar uma ferida tão terrível?

Kurag franziu o cenho. — Não morrerá por isso.

— Mas uma vez que a cortemos em dois, pode ser recomposta ou viverá partida pela metade?

Siun começou a empurrar e atirar mais forte. — Não rompam o espelho, condenação!

Realmente não a podia culpá-la por isso, era um desses problemas que até entre os fantasiosos era tão peculiar que um nem podia estar realmente horrorizado por isso, ainda não. Vê-la incrustava no espelho não parecia completamente real.

— Bem, se não podemos romper o espelho, maldita seja se souber o que fazer —disse Kurag.

Holly se aproximou do vidro. Tocou o corpo de Siun onde entrava no vidro. Não lhe fez mal, mas ela se queixou como se houvesse. A voz do Holly saiu atemorizada: — Kitto fez isso. Vi-o. Senti o fluxo da magia através do meu corpo como uma agitação pelo vento — Delineou com suas mãos ao redor de Siun onde se introduzia no espelho.

— Dejjja de me tocar — disse.

Holly nos olhou — Estarei de acordo com o que meu irmão quer. Irei à princesa, se houver uma possibilidade para ganhar tal poder — Contemplou o espelho, e o, corpo de Siun. Então seus olhos carmesins encontraram os meus. — Iremos a você, Princesa.

Olhou-me, e havia algo próximo à luxúria em seu olhar, mas não era a luxúria de carne. Era a luxúria pelo poder. Esse era um frio desejo, mas podia conduzir a coisas mais calorosas, coisas mais ardentes, coisas perigosas.

— Veremos a todos no banquete, Holly — eu disse. Dizer que eu esperava com ilusão teria sido uma mentira.

— Os veremos ali — disse Ash.

— Deixemos isto claro, Kurag —eu disse. — Um mês por cada trasgo que façamos sidhe.

— De acordo — disse ele.

— E deixemos também isto claro — disse Doyle — Que há outras cerimônias que podem trazer sidhes a seu poder. Nem todas elas são sexuais.

— Combates de sangue, quer dizer? — disse Kurag.

— Isso, e as grandes caçadas, as grandes buscas.

— Não há mais nenhuma grande caçada, Escuridão, e as buscas acabaram. Tampouco temos magia para isso.

— Possivelmente, Kurag, mas quero que tenhamos todas as opções abertas.

— Se isso não custar suas vidas, então pode trazer para meus trasgos como achar adequado. A verdade, Holly não é o único que não quer estar com um sidhe. —Então sorriu abertamente, uma pálida imitação de seu olhar de lasciva habitual. — Nenhum de vós têm partes de corpo suplementares para ser considerados formosos.

— Ah, Kurag —eu disse — que pouco adulador.

— Quero deixar uma coisa muito clara — disse Ash. — Para meu irmão e para mim, será sexo com a princesa Meredith, ou nada.

— Irmão, não temos que fazê-lo — disse Holly.

Ash sacudiu sua cabeça, seu cabelo loiro se deslizou ao redor de seus ombros. — Eu quero — Olhou a seu irmão, e algo passou entre eles, alguma mensagem que não pude ler. — Deitarei-me com ela, Holly, e onde eu vou, você vai.

— Eu não gosto disto.

— Não tem porque gostar, simplesmente vai fazer — disse Ash. Holly fez um pequeno movimento assentindo com a cabeça. Ash nos sorriu. — A veremos no banquete, princesa.

— De acordo —eu disse.

— O que passa comigo? — meio gritou, meio gemeu Siun.

Encolhi-me de ombros. — Não tenho nem idéia de como arrumar isto.

— Nem eu — disse Kurag.

— Eu sei como. — Rhys se levantou para estar de pé ante o Siun. Ela o golpeou com suas largas pernas. Ele se afastou fora de seu alcance, e riu. Era uma risada estranha, agradável e desagradável ao mesmo tempo.

— Como? — perguntou Doyle.

— Reclamando o preço de sangue contra Siun aqui e agora.

— Matá-la não a liberará do espelho — disse Doyle.

Rhys assentiu com a cabeça. — Sim, libertará. — Estava de pé sobre o trasgo, fora do alcance de seu braço e de suas frenéticas pernas. — Vi isto uma vez com o propósito de apanhar a um inimigo. Uma vez que esteve morto, e o espelho fechado, cada lado do vidro colocou as partes em seu lado, então o espelho se voltou inteiro.

Siun lutou, golpeando contra o vidro, suas pernas se estiravam fazendo grandes arranhões brancos na madeira envernizada.

— Não — disse ela.

— A vez passada que estivemos juntos era eu quem estava apanhado e indefeso. Não acredito que você goste mais que a mim.

Ela empreendeu golpes contra ele, o aguilhão negro de um lado da perna golpeava a madeira com tanta força que ficou preso, e Siun teve que lutar para liberar a perna.

— Temperamento pequeno, Siun — disse Rhys.

— Maldito, Rhysss.

— Se amaldiçoar a qualquer de nós — disse Doyle — então trocaremos maldições com os trasgos. Os sidhe são muito generosos com seu poder, mas ainda não quer trocar maldições conosco, Kurag.

— Se amaldiçoar outra vez, pode cortar sua ingrata cabeça — disse Kurag.

O grito de Siun soou mais a cólera e frustração que a medo. Penso que não temia à morte aqui e agora. Não podia culpá-la. Havia muito poucas coisas que poderiam causar a morte aos imortais. Usava-se muita magia para invocar o sangue mortal, ou uma arma especial. Mas nós estávamos escassos de ambas as coisas.

Rhys ficou fora do alcance das pernas de Siun e se voltou para o Kitto. — Frost, dê ao Kitto sua espada curta.

Frost olhou para o Doyle. Kitto nem se incomodou em elevar a vista.

— O que pensa fazer, Rhys? — perguntou Doyle.

Rhys caminhou ao redor da cama para o Frost e Kitto. Ajoelhou-se de modo que estivesse à altura dos olhos do homem pequeno. Acariciou o cabelo do Kitto até que este girou sua cabeça e olhou ao Rhys. — Eu estive com ela durante só umas horas, Kitto. Não posso imaginar o que foi lhe pertencer durante meses.

A voz do Kitto soou rouca, mas clara. — Anos.

Rhys sustentou a cara do homem pequeno entre suas mãos, e pressionou testa dele contra a sua. Falou baixo, e já não pude entender todas as palavras; só o tom estava ainda claro: persuasivo, pormenorizado, lisonjeiro.

— Não lhe peça isso, Rhys — disse Frost.

Rhys elevou a vista ao homem maior, suas mãos ainda sustentavam a cara do Kitto.

— O único modo de livrar-se de um medo é confrontá-lo, Frost. Confrontaremos juntos, ele e eu.

Kitto assentiu com a cabeça, sua cara ainda sustentada entre as mãos do Rhys.

— Lhe dê sua espada curta, Frost, ou irei lhe trazer outra. — Havia algo na cara de Rhys, um conhecimento, uma força que não tinha estado ali antes. Independentemente do que fosse, Frost lhe respondeu. Sentou o Kitto sobre o bordo da cama e se levantou.

Tirou de debaixo da jaqueta de seu traje, uma espada que não era muito mais larga que uma faca grande. Nas mãos do Frost parecia muito pequena. Ofereceu-lhe pelo punho ao Kitto.

Kitto vacilo, logo estendeu inseguro sua mão para ela. Os guardas haviam estado lhe ensinando habilidades com as armas. Tinha algumas, mas a tática dos trasgos era confiar na massa do corpo e a força. Essa não era a aproximação apropriada para alguém do tamanho do Kitto. Estava aprendendo a usar seu corpo de maneira apropriada, mas estava ainda inseguro na prática, como se não confiasse em si mesmo.

Cobriu com suas pequenas mãos o punho, e esta era o bastante grande para que ambas as mãos a sustentassem, uma em cima da outra. Afastou a vista da nua lâmina da espada como se esta pudesse dar volta em suas mãos e mordê-lo.

Rhys se ajoelhou fora da minha vista e voltou com uma espada embainhada de debaixo da cama. Tínhamos esconderijos para as armas por toda parte da casa, no caso de necessidade.

Mas imaginei que não haveria nada o bastante pequeno para encaixar nas mãos do Kitto debaixo da cama.

Rhys voltou da cama e posou uma mão sobre o ombro do Kitto, metade dirigindo-o e metade empurrando-o. Kitto começou a apoiar- se para trás quando dobraram a cama. A pequena espada se inclinou em suas mãos.

Siun começou a gritar — Kurag, meu rei, não pode lhes deixar fazer isto.

— Me chamar de rei não te ajudará agora, Siun.

— Me ajude, Kurag, me ajude. Pode ficar quieeeto enquanto um ssidhe maata um trasgo? — Levantou uma de suas brancas mãos que estava no outro lado do espelho, suplicando.

Kurag suspirou. — Há algo que possa oferecer, cavalheiro branco? Um preço que substitua sua vida.

— Não morrerei, Kurag — disse Siun — Podem me cortar, mas não morrerei!

— Tem razão, príncipe pálido, realmente não pode matá-la.

Kitto tinha parado, rechaçando ir mais perto de Siun que a última esquina da cama. Salvo que Rhys o agarrasse nos braços e o levasse os últimos passos, Kitto não ia se aproximar mais.

Rhys o deixou onde estava e moveu o espelho, o justo para estar fora do alcance dos membros de Siun que lutavam. Olhava fixamente ao trasgo apanhado, e em sua cara havia um olhar distante, como se estivesse recordando.

— Me permita matá-la, Kurag — disse ele.

— Nomeia algo que possa te oferecer, príncipe pálido, uma nota promissória por ela. Certamente há algo com o que poderíamos comercializar? — Kurag tinha andado até detrás de Siun. Ele acariciou seu negro corpo, como um gesto calmante.

— Sua vida é tudo o que quero, Kurag — disse Rhys.

Um olhar tanto de prazer como de preocupação cruzou a cara do Kurag, como se não estivesse seguro de se seria muito. Sua voz foi cautelosa quando começou — A vida de um dos trasgos machos que desfrutaram de sua companhia. Mereceria isso a vida do Siun? Manteve sua cara e sua voz tão neutras como pôde, mas havia uma impaciência em seus olhos amarelo•alaranjados que indicavam que desfrutava com o desconforto do Rhys. Duvido que Kurag tivesse observado como Rhys era usado por homens pelo simples espetáculo sexual, mas pelo poder, pelo espetáculo de um poderoso humilhado, ah, sim, Kurag havia desfrutando disso.

A cara do Rhys se nublou de cólera, mas se controlou. Girou sua cara pensativamente para o Kurag. — Há ali algum macho em particular que ofereceria no lugar do Siun?

Agora tocava ao Kurag ficar pensativo. — Recorda algum nome? — Seu sorriso se parecia com seu olhar de lasciva habitual.

— O mais que desejava saber era quem me usaria. Lembro do nome de Siun.

Kurag assentiu, e sua cara se voltou séria outra vez, quase como se houvesse dito algo pelo que se retrataria se pudesse. Tinha que haver um macho entre aqueles que haviam estado com o Rhys que Kurag odiava, ou via como uma ameaça. Era a única coisa que tinha sentido. Para que o Rei dos Trasgos confessasse que alguém era uma ameaça significava que era sério, talvez até perigoso. Os trasgos não matavam uns aos outros. Era considerado uma covardia. Um rei que recorria a alugar a outros para fazer suas matanças poderia ser executado. Mas se Rhys o fazia agora, como um preço de troca, então Kurag seria intocável. De todos os modos, o fato de que Kurag tivesse sugerido um nome, teria sido visto com maus olhos. Então se calou abruptamente. Não insinuaria nenhum nome.

— Então nomeie a alguém, cavalheiro branco, nomeie a alguém.

Rhys sacudiu sua cabeça. — Se tivesse me pedido que nomeasse a um trasgo a quem queria matar, este seria Siun. — Gesticulou para o trasgo apanhado enquanto dizia o último. — Unicamente sua morte me deixaria satisfeito.

— O que ocorreria se o Rei dos Trasgos pudesse te oferecer algo além de uma morte? — perguntou Doyle.

Kurag olhou para o Doyle, mas Rhys só tinha olhos para o Siun. — O que quereria, Escuridão?

Doyle se permitiu um pequeno sorriso. — O que ofereceria?

Rhys sacudiu sua cabeça, e soube o que ia dizer antes de que o dissesse. — Não, Doyle, não, quero esta morte. Não a trocarei por nada. — Olhou para trás ao homem alto, escuro, e encontrou o olhar descontente do Doyle. — Sinto muito, mas não o farei pela política. Não trocarei esta morte simplesmente por política.

— E se proporcionasse alguma vantagem para Meredith?

Franziu o cenho, então finalmente negou com a cabeça. — Não — Viu- me, onde permanecia de pé quase esquecida ao lado da cama. — Sinto muito, Merry, mas terei esta morte. — voltou-se para o Doyle. — Confia em mim, Doyle, Siun morta nos convém mais que uma Siun viva.

Doyle fez um gesto de cortesia. — Como deseja.

Rhys ofereceu sua mão ao Kitto, que ainda estava de pé paralisado perto da cama. — Venha Kitto, façamos isso.

Kitto negou com a cabeça repetidas vezes. — Não posso — disse finalmente.

— Sim, pode — disse Rhys. Ofereceu-lhe sua mão. — Vêem.

Doyle me ofereceu a sua — Venha, Meredith, nos afastemos da linha de fogo.

— Vacilou um momento como se fosse dizer algo mais. Aproximei-me,

passando com cuidado entre o Kitto e Rhys, e a espada nua na mão do Kitto.

Rhys desenvainou sua espada e arrojou a vagem vazia para o Doyle,

que a agarrou sem nenhum esforço, com sua mão livre. A outra mão permaneceu na minha e estava úmida. Doyle estava nervoso. Por quê?

Tinha perdido algo. Não tinha nem idéia do que era, mas se fazia que Doyle se pusesse nervoso, então era uma coisa muito ruim que eu tinha perdido. Aqui a princesa sou eu, o que quer dizer que, supostamente, sou eu quem decide, mas como tantas vezes parecia ocorrer, fui separada de minhas atribuições. Se não tivesse tido a mão de Doyle na minha, não teria suspeitado nunca que estava nervoso. Isso significava que os trasgos não sabiam absolutamente. Precisávamos mantê-lo assim.

Rhys levantou a larga espada chapeada sobre sua cabeça para um grande golpe descendente. Siun suplicou — Meu rei, meu rei, me ajude!

— Ofereci-te seu sexo e sua carne, Siun. Não disse nada de mutilá-lo.

—Kurag acariciou suas peludas costas pela última vez e logo retrocedeu. — Se pode matar a um sidhe, faz-o, mas não os foda e os abandone vivos, porque nunca esquecem, e nunca perdoam. — Olhou para o Rhys. — É tua — Kurag não parecia nada feliz com isso, mas tampouco estava cheio de dor. Penso que sentia carinho pela Siun de uma ou outra forma.

Tinha tratado de salvá-la porque era de sua gente, nada mais.

Siun tratou de suplicar ao Rhys, mas para levantar um braço para ele, tinha que estirar seu corpo para cima. Seus peitos pálidos cintilaram, e um olhar apareceu na cara do Rhys, um olhar que nunca, queria ver dirigido para mim.

— Recorda o que me fez fazer com eles? — perguntou, com uma voz que pareceu queimar o quarto.

— Não — disse ela, e levantou o braço como protegendo-se, abriu sua boca, e suplicou.

— Eu sim — disse Rhys, e a espada baixou. Atravessou suas costas com um som como a rachadura do plástico, e aquele som só me dizia que independentemente do sistema esquelético que Siun tinha, não era sidhe. Mas o sangue era vermelha. Rhys a cortou em partes como se lutasse contra uma árvore que não podia opor-se ou retroceder. Uma de seus pernas negras com seus espinhos parecidos com adagas esfaqueou seu traje até a pele. A segunda navalhada foi ao lado, lhe fazendo vacilar, e que se tivesse que apertar a ferida.

Kitto esteve repentinamente ali, sua espada de prata limpa cortou a perna antes de que pudesse esfaquear outra vez ao Rhys. Cortou a perna de um só golpe, e esta foi girando sobre o tapete a nossos pés. Doyle me afastou mais deles, e não discuti.

Frost começou a cruzar o quarto, para unir-se à luta. Mas Doyle o parou com a vagem da espada do Rhys, sustentando-a como uma barreira. Negou com a cabeça duas vezes, e Frost ficou de pé a nosso lado, com uma mão sustentando o outro pulso, como se tivesse que segurar algo ao não poder lutar.

Kitto gritava, com gemidos altos, enfurecidos. Era um grito de guerra, mas o grito de guerra do maldito, do perdido, do ferido... O som me pôs de cabelos em pé e me fez me apegar contra o corpo do Doyle. Ele me abraçou, mudo, com seus olhos fixos na luta.

Rhys se separou do corpo e se apoiou contra a parede, apoiando-se em suas feridas, deixando que gotejasse para baixo por sua espada. A parte de frente de seu traje estava empapada com o sangue de Siun e o seu. Pingos carmesins manchavam um lado de sua cara e seu cabelo branco. Não parecia cansado; simplesmente tinha deixado de lutar. Estaria ferido gravemente?

Kitto lutou só contra o trasgo, cortando-a em partes e em rodelas,

cortando um pedaço cada vez. Ela tinha tratado de proteger sua cabeça, Enrolando-a sob seu corpo em uma forma que nenhum humano poderia ter feito, mas Kitto partiu sua cabeça convertendo-a em uma fonte de sangue e coisas mais grossas. E de todos os modos seguia viva.

Kitto estava coberto de sangue, da cabeça até os pés. Seus olhos azuis pareciam mais azuis, em meio dessa máscara de sangue.

Vi o Rhys, que seguia apoiado só contra a parede. Tinha que ter se machucado. Comecei a me aproximar, mas Doyle me deteve, sacudindo sua cabeça.

— Temos que ajudar ao Kitto então —eu disse.

Doyle simplesmente negou com a cabeça, com cara sombria. Agarrei seu braço. — Por que não? — Voltei-me para olhar ao Kitto que lutava ainda contra as pernas que parecidas com uma adaga seguiam esfaqueando e lutando enquanto as cortava. O trasgo ainda poderia lhe fazer mal.

Pela primeira vez lamentei que Doyle não tivesse levado posta uma camisa, então, teria podido sacudi-lo agarrando-a — Fará-lhe mal. Doyle me abraçou contra seu corpo, e não era tão emocionante como quando havia sido mais cedo, era irritante. — Me deixe ir.

Inclinou-se masi perto e sussurrou contra minha cara — É a matança do Kitto, Merry, lhe deixe tê-la.

Estava de pé pressionada contra seu corpo, e não lhe entendi. Não era a matança de Kitto, era a do Rhys. Então vi o Rhys que estava ali de pé, sem fazer nada. Olhava o Kitto. Então recordei o que tinha esquecido. Quando minha primeira mão de poder havia assombrado de improvisto, Doyle tinha me feito dar morte à bruxa que havia convertido por acaso em uma massa de carne viva. A mão de carne era isso, podia tomar a carne e girar para dentro uma perna, ou um braço, ou um corpo inteiro. Deu-me a opção de matá-la, ou abandoná-la como uma bola de carne ao reverso para sempre. Ela não morreria nunca, só permaneceria. Inclusive com uma espada que era capaz de dar a morte a um imortal, o sangue tinha empapado até minha roupa interior. Havia me deixado coberta de sangue. Depois de fazê-lo, Doyle tinha informado que se necessitava um rito sangrento no combate depois da manifestação da primeira mão de poder de modo que esta viesse outra vez, uma espécie de sacrifício de sangue. Tinha-o odiado por me obrigar a fazê-lo. Agora o odiei e ao Rhys, por fazer o mesmo ao Kitto.

Kitto deu seu grito de guerra até que sua voz se rompeu. Cortou e trucidou o corpo até que já não pôde levantar sua arma mais alta que sua cintura, e caiu de joelhos sobre o tapete empapado pelo sangue. Ofegava tentando tomar ar, e era quase o bastante forte para afogar o grito de Siun.

Rhys olhou ao Doyle, que assentiu. Rhys se separou da parede e andou ao redor pelo que ficava do trasgo. Ajoelhou-se no sangue e abraçou ao Kitto. Perguntei-me se dizia-lhe as mesmas palavras rituais que Doyle me havia dito aquela noite.

Rhys ficou de pé e saudou o Kitto com sua própria espada sangrenta, logo girou para o que ficava do trasgo.

— Fizeram um desastre com ela — disse Kurag — mas não morrerá por isso.

Rhys sustentou sua espada com uma mão, com a outra tocou a parte maior do corpo que ficava. Acariciou-a com seu dedo, e pronunciou uma só palavra, com voz clara e como um suave sino. — Morre — disse e o corpo deixou de mover-se. Os pedaços sobre o chão que tinham estado retorcendo ficaram imóveis. Era como se Rhys tivesse pressionado um botão. Disse, Morre, e ela morreu.

Doyle fez um som como um vaio tranqüilo, e quase me esqueci de respirar durante um ou dois segundos. Nenhum sidhe podia matar só com um toque e uma ordem. Nossa magia não era para isso.

— O Consorte nos benze — sussurrou Frost.

Esse juramento teria feito calar aos trasgos mais jovens, mas a voz de Kurag quando falou era profunda pelo cansaço. — A última vez que te vi fazer isso, foi antes da última grande guerra, príncipe branco — disse.

Rhys estava ali de pé com seu traje sangrento, salpicado com partes, e disse — Por que acha que os trasgos quase ganharam essa vez? — Havia um olhar sobre sua cara, uma rigidez em seu corpo, que não tinha visto antes nunca. Era como se ele absorvesse a habitação com sua forma física; como se fosse mais alto do que a habitação pudesse caber, e sua presença enchesse tudo durante um momento. Como se toda a magia do Rhys tivesse absorvido o ar.

O momento passou, e pude respirar outra vez, e o ar se sentiu doce e tranqüilo, melhor que para uns momentos. Apoiei-me contra o corpo do Doyle para que me sustentasse, como se meus joelhos se tornassem fracos. Um segundo antes estava zangada com ele por obrigar ao Kitto a lutar só; agora me agarrei contra ele. Acredito que teria me agarrado a qualquer um nesse momento. Precisava tocar outro corpo, outras mãos.

Uma vez que o trasgo estava morto, o cadáver caiu em pedaços a ambos os lados do espelho. O espelho estava inteiro outra vez. Os trasgos estiveram de acordo contudo o que quisemos. Rhys oscilou o espelho e o girou, seu traje era mais vermelho que branco. O sangue tinha manchado seu cabelo branco e sua pele, como se o tivessem orvalhado com tinta vermelha. Onde o sangue tocava sua pele e seu cabelo, o vermelho parecia brilhar. Aquele sangue brilhante começou a desaparecer, como se sua mesma pele o absorvesse, até que ele esteve de pé perfeito e limpo, e intocável, exceto por seu traje sangrento. Seu olho azul era um caleidoscopio de cores, era como examinar o centro de uma de tormenta colorindo o céu.

Doyle usou a vagem da espada em sua mão para saudar, e Frost o fez com sua larga espada. Ambos tocaram suas testas, mas foi Doyle quem disse — Saudações, Cromm Cruach, quem matou violentamente ao Tigernmas, Senhor da Morte, por seu orgulho e seus delitos contra a gente.

Rhys levantou sua espada sangrenta, saudando-os sua vez — É bom estar de volta — Sua cara solene manchada de sangue se rompeu com seu sorriso habitual. — O sangue faz crescer a erva, rah, rah, rah.

— Sempre tinha pensado que era o sexo o que fazia crescer a erva —

disse Galen da entrada, e todos nos giramos para vê-lo. Exceto Kitto, que parecia perdido e coberto de sangue enquanto aceitava seus poderes.

Galen entrou no quarto só o suficiente para apoiar-se contra a parede. Parecia alto e frio, da cabeça até os pés, com seu cabelo verde pálido encaracolado, com sua trança diminuta que jogava sobre seu ombro como uma ocorrência posterior, seus amplos ombros, sua cintura e seus quadris estreitos. A camisa branca desabotoada no pescoço deixando ver a leve tintura verde de sua pele e seu modo de olhar transmitia o Deus da fertilidade que ele teria sido provavelmente, se tivesse nascido faz uns cem anos. Suas largas pernas estavam embainhadas em umas calças soltas que terminavam em umas botas marrons que levava sem meias três-quartos. Apoiava-se contra a parede, com os braços cruzados, um sorriso que brilhava em sua cara e que acendia seus olhos verde erva como jóias, não pela magia, mas sim porque Galen era assim. Parecia tranqüilo e agradável, como um líquido verde pálido que podia apagar qualquer sede que tivesse.

Aproximei-me dele, em parte para lhe dar um beijo de boas-vindas, e em parte porque não podia estar em um quarto com o Galen e não tocá-lo. Necessitava seu toque como a respiração; tinha-o feito durante tanto tempo, que não saberia como não fazê-lo. O feito era que nós tínhamos sido amantes durante um mês e eu acabava de terminar a menstruação, nossas esperanças de ter um filho se quebrado, o que me provocava tanta dor, como alívio. Amava ao Galen, tinha-o amado desde que tinha doze ou treze anos. Infelizmente, agora que tinha crescido finalmente entendi o que meu pai tinha tratado de me dizer fazia anos. Galen era forte, valente, alegre, meu amigo, e me amava, mas era também o sidhe com menos sentido comum em assuntos de política que eu tivesse encontrado alguma vez. Galen como rei seria um desastre. Havia perdido a meu pai à mãos de uns assassinos quando era jovem. Não acredito que pudesse sobreviver à perda de algum deles, sobretudo o Galen. Uma parte de mim queria o ter em minha cama para sempre, como meu amante, meu marido, mas não como meu rei.

Meu rei seria qualquer um que conseguisse me deixar grávida. Se não havendo bebê, não há matrimônio; esse era o caminho a seguir dos sidhe de sangue real.

Pus meus braços ao redor do Galen, deslizando minhas mãos debaixo de sua jaqueta, onde pudesse sentir o calor de seu corpo, palpitando sob minhas mãos. Apoiei minha cara em seu peito quando suas mãos me sustentaram perto. Escondi minha cara de seu fixo olhar, porque uma vez mais não podia ocultar a preocupação de meus olhos. Galen era inútil em assuntos políticos, mas entendia meus humores melhor que eu mesma, e não queria lhe explicar alguns feitos da vida, ainda não.

Sua voz retumbou em seu peito contra meu ouvido. — Maeve está de volta de sua reunião com os diretores do estúdio. Está chorando em seu quarto.

Doyle disse — Deduzo que a reunião não foi boa.

— O estúdio não está feliz de que esteja grávida. Em público estão emocionados, mas a portas fechadas estão zangados. Como vai fazer seu seguinte filme, que é um papel muito sexy com nu, quando estará então de três ou quatro meses de gravidez?

Apartei-me o suficiente para elevar a vista para sua cara. — Fala sério? Tanto dinheiro como lhes tem feito ganhar durante a década passada, e nãovpodem deixar passar um filme?

Galen se encolheu de ombros com suas mãos ainda ao redor de mim — Só relato as notícias, não as explico — Franziu o cenho, e a felicidade desapareceu de seus olhos. — Acredito que se seu marido não estivesse morto... Quero dizer, pareciam indicar que podia ficar grávida em outro momento.

Com os olhos abertos de espanto eu disse — Um aborto?

— Nunca disseram em voz alta, mas estava no ar — Tremeu e me abraçou de tal forma que não podia ver sua cara — Quando Maeve lhes recordou que seu marido havia morrido fazia apenas um mês, e que esta seria sua única possibilidade de ter um bebê, pediram perdão. Disseram que não queriam dar a entender nada. Sentaram- se ali e mentiram. — Beijou-me na cabeça. — Como podem lhe fazer isto? Pensei que era sua estrela principal.

Abracei-o mais forte, me pressionando contra seu corpo como se pudesse lhe tirar a dor de sua voz. — Maeve deixou passar dois filmes enquanto seu marido morria de câncer. Adivinho que tinham vontade de que sua fonte principal de ganhos voltasse para o trabalho.

Galen pôs seu queixo contra meu cabelo. — Não podia imaginar o que podia fazer hoje. Eram tudo indiretas, e meias palavras, e nunca suas palavras eram o que realmente queriam dizer, e tudo mentiras — Sua voz tremeu — Não entendo.

E esse era o problema. Galen realmente não entendia como alguém podia ser tão falso. Para sobreviver nas areias do poder deve entender primeiro que todos mentem, que todos fazem armadilhas, e que ninguém é seu amigo. O paradoxo consiste em que nem todos mentem, e nem todos fazem armadilhas, e algumas pessoas são seus amigos. O problema estava no fato de que uma cara sorridente e um apertão de mãos se pareciam muito uns aos outros, e que quando se está rodeada por mentirosos consumados, como diferenciar a verdade da mentira, ou o amigo do inimigo? Melhor tratar a cada um profissionalmente, agradavelmente, sorrisos, cabeçadas, ser amistoso, mas nunca ser amigo. Porque não há nenhum modo de saber quem está a seu lado, não realmente.

Galen não podia entender esse conceito. Eu necessitava de alguém que pudesse.

Girei minha cara para olhar ao Doyle que estava de pé ao outro lado do quarto. Ele era frio e escuro, não me recordava uma bebida que apagaria minhas necessidades, mas era uma arma que protegeria tudo o que eu amava.

Estava de pé ali abrigada pelas mãos do Galen, mas meus olhos eram para Doyle, e Frost olhava a todos. Frost, a quem tinha começado a amar pela primeira vez. Frost quem tinha entendido finalmente que ele tinha que estar ciumento do Galen, e estava sempre ciumento do Doyle. Não se supunha que os duendes fossem ciumentos da forma em que os humanos são, mas jogando uma olhada aos olhos cinzas de Frost, comecei a pensar que possivelmente os sidhe são mais humanos do que acreditavam.


Capítulo 6


A deusa de ouro de Hollywood estava enroscada como uma bola debaixo da colcha de cetim que cobria sua enorme cama redonda. Esta era a cama que ela havia compartilhado com o defunto Gordon Reed durante mais de vinte anos. Eu tinha sugerido que talvez quisesse se mudar para um novo dormitório até que passasse um pouco sua dor.

Mas ela me tinha reagido tão duramente que não o voltei a sugerir outra vez.

A jaqueta de seu traje, de cor dourada, estava abandonada no chão. As botas de couro clara, as tinha jogado no chão quando se despiu. Ainda usava as calças que combinavam com a jaqueta, e o colete cor cobre que tinha sido a única camisa que tinha levado posta. O diadema combinava com o colete perfeitamente, era o último que tinha deixado cair na cama. Seu cabelo estava livre e despenteado chegando até o bordo da cama. Era da cor da manteiga suave, o que nos deixava perceber quão transtornada estava, não estava usando a magia para seu encanto. O encanto que lhe tinha permitido passear entre os humanos durante cem anos desde que foi desterrada da Corte da Luz. Durante cinqüenta daqueles anos, tinha sido a deusa de ouro de Hollywood, Maeve Reed. Mas durante muitos séculos anteriores a este fato, tinha sido a deusa Conchenn.

Detrás da porta fechada do dormitório sua ajudante pessoal estava chorando, retorcendo suas mãos, impotente. Maeve a tinha jogado. Nicca estava de pé ao lado da porta com seu cabelo castanho comprido e pele marrom pálida. Inclusive seus olhos eram marrons. Parecia o mais humano de todos os guardas, quando não se podia ver as marcas em forma de asas que tinha nas costas, que era a tatuagem mais elegante do mundo. Por genética Nicca teria que ter tido verdadeiras asas. Pediu perdão por estar a esse lado da porta,

mas Maeve se agarrou a ele energicamente. Ela não fazia exatamente um convite, mas provavelmente teria respondido a um. Nicca pensou que a discrição era o melhor. Não o culpei.

Maeve tinha sido a deusa do amor e a primavera. Era ainda mais que capaz da conexão do encanto. Encanto no sentido original da palavra, magia. Estava só em sua grande cama pela primeira vez em décadas. Estava sozinha, e ela era um ser de calor, a vida depois de um comprido inverno. Podia lutar contra sua natureza básica, mesmo sob tensão, se era mais difícil e Maeve estava sob muita tensão.

O som de seu suave pranto encheu o quarto. Andei com os pés descalços para ela. Tinha me coberto com meu robe vermelho peekaboo por que não tinha tido tempo para me trocar. Doyle e Rhys ficaram na casa de hóspedes para vestir-se e ajudar o Kitto a se limpar. Isso me deixava com o Frost que estava de pé rígido na porta, mas ele não se aproximaria da cama a menos que eu o pedisse. Não ia inquietar-se pelas insinuações ou aflições de Maeve. Frost tinha sido celibatário durante oitocentos anos, sempre dando e não tomando. Enfrentou-se com aquele castigo sem paqueras, nem jogando nenhum jogo. Tinha sido como seu nome, frio, glacial, gelado.

Galen também se apoiou na porta, mas ele estava mais depravado,

sorrindo. Se Maeve tinha feito convites corteses a ele, não tinha mencionado. Ela havia começado pelo Nicca só quando estiveram sozinhos em seu dormitório, Galen só pensou que era importante. Estive de acordo com ele. O pânico de Nicca tinha sido estranho, teria que pensar nisso.

Eu estava ao lado da cama antes de que me ocorresse perguntar por que Nicca tinha estado tão aborrecido, ou o que ela poderia ter feito. Disse seu nome brandamente:

— Maeve.

Repeti-o duas vezes mais, e não houve nenhuma reação. Toquei seu ombro, e o pranto aumentou, crescendo de algo tranqüilo a algo que sacudiu seus ombros, e fez que seu corpo tremesse com força.

Inclinei-me, abraçando-a, descansando minha bochecha contra a seda de seu cabelo.

— Está tudo bem, Maeve, está tudo bem.

Ela se enroscou contra mim, dando a volta de modo que eu tivesse que retroceder para ver sua cara. Tinha deixado cair um pouco de seu encanto, porque seus olhos não eram o azul humano que se via nos filmes, senão a brilhante bandeira tricolor que era sua verdadeira forma. Os amplos bordos externos eram de um profundo azul, e havia dois círculos magros ao redor de suas pupilas: um cobre derretido e o outro ouro líquido.

Mas o que seus olhos tinham como nenhum outro era que o ouro e o cobre atravessavam os azuis de sua íris como relâmpagos metálicos. Seus olhos eram como o beijo de um relâmpago, como se a Deusa mesma tivesse decretado que ela tivesse os olhos mais bonitos do mundo.

Apoiei-me na cama, afastando a vista daqueles olhos, perdida durante um momento na maravilha deles. Sua cara manchada de lágrimas parecia quase desesperada. Tinha perdido o controle de seu próprio encanto; não significava isso o fato de que ela mostrava seus olhos?

Agarrou meu pulso, e pude sentir seu pulso na ponta de cada um de seus dedos como diminutos corações separados, que golpeavam contra minha pele. De repente sabia porque Nicca tinha tido pânico. Maeve se ajoelhou, sua mão ainda ao redor de meu pulso. De joelhos era tão alta para que nossas caras estivessem no mesmo nível.

Estava de pé ali imóvel, congelada, não com a indecisão, a não ser,

com o poder. O poder de Maeve.

Era como se uma brisa quente da primavera atravessasse minha pele. Voltei minha cabeça e deixei que aquele vento afastasse o cabelo de minha cara. Abri meus olhos e olhei fixamente para baixo, para Maeve, e vi como o resto de seu encanto se desvanecia, como se o brilho de ouro de sua pele se propagasse por seu corpo. Seu cabelo loiro claro de repente dançou no calor de seu poder. Aquelas linhas brilhantes em seus olhos dirigidas como uma tormenta de primavera que se aproximavam para levar a pureza do inverno. Era como se minha própria pele se levantasse para cima como um velho casaco muito apertado e necessitasse tirar isso Parecido a algum animal que tinha mudado sua pele para ser mais rápido, algo que deveria ter sido capaz de voar.

Minha pele brilhou como se eu tivesse tragado a lua. As mechas finas do meu cabelo dançavam ao redor de minha cara brilhando com granadas e rubis alargados, com um brilho vivo. Senti que meus olhos começavam a brilhar, e sabia que brilhariam como se alguma mão tivesse talhado uma esmeralda, um pedaço do jade, e o ouro que os mantinha unidos, e os pusesse com seu próprio fogo pessoal. Seu poder me despojou de todo meu encanto, até os últimos retalhos que emitia quase inconscientemente. A cicatriz em forma de mão escura sob meu peito, sobre minhas costelas, floresceu à vida, como uma imperfeição escura contra toda aquela luz acesa. Aquela cicatriz era a marca onde uma sidhe escura tinha tratado de usar sua magia para esmagar meu coração. A sidhe tinha quebrado minhas costelas, rasgado músculos, mas não o músculo que queria destruir. Sabia que se o sinal da mão negra sobre minhas costelas era visível, os sinais sobre minhas costas também seriam. Eram cicatrizes, mas não o tipo de cicatrizes que um humano entenderia, ou ainda um duende. Outro duelo fracassado, onde um sidhe escuro tinha tratado de forçar uma mudança de forma em mim em meio da luta. Isso não teria me matado. Ele só estava jogando comigo.

Gabando-se de sua magia superior, e de minha carência. Eu tinha conduzido e introduzido uma espada em seu coração, e ele tinha morrido. Tinha morrido porque os rituais dos duelos estavam apoiados em rituais de sangue: intercâmbio entre a sua e a minha. O sangue mortal para aos imortais fracos. Isso era um velho retalho de magia, e era o que me tinha salvado.

Escondia minhas cicatrizes por meio do encanto. As imperfeições não eram populares entre os sidhe. Ser despida disto último me fez tratar de me afastar dela, me repondo. Tinha fechado meus olhos porque não queria ver em seu olhar o asco que lhe produzia minhas imperfeições. Só fui capaz de dizer:

— Maeve.

Mas quando abri meus olhos, encontrei sua cara me olhando comovedoramente.

Durante um momento pude ver seus olhos tão perto, que pareceram encher o mundo de brilho, de tormentas, de ventos e cor que lhe enchiam a alma. Ela lambeu seus lábios, e com esse pequeno movimento meu olhar se fixou neles. Não tinha notado nunca quão cheios eram seus lábios, tão úmidos, tão rosados. Sua boca reluzia como uma parte de fruta rosada, suculenta, e eu sabia que esse suco quente encheria minha boca, minha garganta. Quase podia prová-lo, quase senti-lo.

Provei seu fôlego sobre minha boca, tão doce, como a nova erva fresca brotada da terra. Nossos lábios se tocaram, e o mundo esteve de repente cheio do perfume de flores. Afogava-me em flores de maçã como se tivesse caído em algum horta encantada, onde era sempre primavera, sempre nova, sempre possível.

Vi Maeve sentar-se sob uma árvore em flor. Havia uma colina detrás dela, e tinha posto um vestido, o ouro e verde de novas folhas, com linho branco em seu peito e pulso. O linho pareceu brilhar como plumas brancas à luz do sol. Seu cabelo caiu até seus joelhos como a espuma branca de uma catarata. Sua pele foi esculpida pela luz do mesmo sol; de ouro e brilhantes, tão brilhante que não podia afastar o olhar, ainda que sentisse que meus olhos começavam a queimar- se, não podia olhar para longe.

Começou a nevar. O calor começou a desaparecer, e as flores caíram do árvore como uma ducha de branco e rosado, e a neve dedilhada a erva. Frio, estava tão frio. Estava deitada de barriga para cima, olhando para a cara do Frost. Ele parecia preocupado, e seus olhos continham aquela neve. Olhei fixamente aquela neve, e outra vez senti que havia algo detrás da neve. Se olhasse bem fixamente durante bastante tempo o veria. Mas não tive medo desta vez. Sabia que ele tinha me chamado, tinha me salvado de algum jeito.

Senti suas mãos fortes em meus braços, a pressão de seu corpo contra o meu, e não tive medo.

Vi que Frost estava de pé na base de uma colina coberta de neve, exceto que a colina era sua capa, uma capa de neve, que se movia com ele. Seu cabelo reluziu como o gelo no sol, e sua pele era a brilhantismo da neve quando o sol dança sobre ela.

Uma brilhantismo que cegaria tanto como contemplar ao mesmo sol.

A capa de neve se abriu, como se Frost tivesse estendido seus braços, e havia uma tranqüila escuridão debaixo de toda aquela brancura. Era a noite de um inverno quando o mundo ainda esperava, contendo seu fôlego. Estava de pé naquela escuridão calmante, e não sentia frio, embora soubesse que estava na profundidade de um torvelinho de neve. A lua cheia elevada e a neve tão branca e com tanto brilho, mas tão suave como na luz do dia. Uma figura pareceu formar-se das sombras azuis daquele silêncio de inverno. Menor que eu, mas não por muito, com braços magros e largas pernas, mais largas do que deveriam ter sido, se ele tivesse sido humano. Mas é obvio não era humano, nunca havia sido humano.

Estava vestido com farrapos, mas aqueles farrapos cintilaram à luz da lua envergonhando ao diamante mais brilhante. Sua pele era dos azuis das sombras da neve à luz da lua. Sua cara era a de um menino encantador. Seu cabelo solto detrás dele da cor da prata. Sustentou uma mão para mim, me pedindo que avançasse silenciosamente para ele, me aproximei a ele. Tocou minha bochecha com aqueles dedos magros, e seu toque era mais quente do que deveria ter sido. Fiz por afastar a vista naqueles olhos cinzas, e sorri. Deu a volta passando por mim, dançando com os pés descalços sobre a neve. Onde ele pisava, a neve permanecia pura e intocada, como se não pesasse nada. Agora entendi porque estávamos aqui na noite silenciosa. Era Frost, realmente a geada. A geada das geadas do mundo. Mas aquele trabalho tão delicado não podia sobreviver a um vento forte.

Olhei-o dançar longe através da neve brilhante até que se confundiu com as sombras azuis da lua e desapareceu.

Voltei a mim ao cabo de um momento. Frost me sustentava ainda, mas desta vez não havia nenhuma neve em seus olhos; só eram cinzas, o cinza do céu de inverno. Sua voz soou forçada, como um sussurro, como se tivesse medo de falar.

— Ficou tão fria. Tive medo...

Não pôde acabar o que ia me dizer, então me empurrou e se separou de mim, repentinamente, e se afastou. Andou através do quarto, para a porta, e se foi dando uma portada.

Galen avançou lentamente através do quarto até sentar-se a meu lado na cama.

Não me tocou, entretanto, o que me pareceu estranho foi que me perguntasse:

— Estás bem?

Não sorria quando o disse.

Tive que pensar na pergunta, e isso não era bom. Algo tinha passado, mas por minha vida, que não sabia o quê. Custou-me dois intentos falar, e minha voz pareceu rouca e estranha.

— O que aconteceu — traguei, tossi, tratando de limpar minha voz — agora mesmo?

Maeve falou do bordo longínquo da cama.

— Não estamos completamente seguros.

Vi-a. Ela era ainda a deusa Conchenn com seus olhos beijados por relâmpagos, seu comprido cabelo loiro , e pele de ouro, mas não brilhava. Era magnífica mas seu poder a havia abandonado, no momento.

Parecia envergonhada, o que não se vê muito freqüentemente em uma deusa.

— Isto é minha culpa. Quis o toque de outro sidhe. Tratei de seduzir a Nicca e não foi possível.

Me olhou com cara arrogante, mas seus olhos tinham um olhar incerto.

— Não estou acostumada a ser rechaçada por ninguém a quem realmente quero. Pensei que poderia compartilhar a um de seus homens.

Olhou para baixo outra vez, então, e pareceu mais decidida que arrogante . Eu não sabia se todas as atrizes faziam isso, mas Maeve Reed podia ir de uma emoção a outra em uma piscada, e todos elas pareciam de verdade. Não sabia se era sempre tão mal-humorada, ou se isto era pelo trabalho que tinha levado a esse caminho.

— Sei que foi estúpido e inpensado. Deste ao Gordon e a mim a possibilidade de ter um filho. Sua magia, e Galen, fizeram-no , Merry. Sou uma ingrata, e sinto muito.

— Está tudo bem —eu disse.

De todos os modos minha voz parecia estranha. Minha garganta estava realmente dolorida.

Franzi o cenho para o Galen.

— Por que minha garganta dói?

Ele jogou uma olhada pra trás, e Maeve encontrou seus olhos. Tinham um daqueles momentos que diziam, mais claramente que qualquer palavra, que algo havia acontecido, algo que eu não recordava, e que tinha sido ruim.

— Só me digam isso.

Levantei uma mão e toquei seu braço.

Afastou-se como se eu fosse mordê-lo e se moveu fora de meu alcance.

— Não me toque, Merry, ainda não.

— Por quê? — Perguntei.

— Olhe a colcha — disse ele — perto de sua cabeça.

Girei minha cabeça e encontrei um amplo ponto molhado sobre a colcha. Franzi o cenho, e não entendi, até que eu toque a umidade e encontrei cristais de gelo na água. Franzi o cenho ao Galen.

— Por que há gelo sobre a cama?

— Porque você o lançou.

Contemplei-o, e quis perguntar se brincava, mas um olhar a sua cara e soube que dizia a verdade.

— Como? Por quê?

— Essa é a parte da que não estamos completamente seguros — disse Maeve.

— Pois me digam do que se estiverem seguros.

Ela andou ao redor do bordo da cama até que chegou em frente a mim, mas não fez nenhum movimento para subir à cama, ou aproximar-se mais.

— Tratei de te seduzir, e consegui, uma porção maior do que havia planejado. Esqueço às vezes que és humana em parte. Usei o poder que usaria para seduzir a outro sidhe, a outra divindade.

Sacudi minha cabeça, o que fez com que doesse a minha garganta .

— Lembro dessa parte, mas então tudo mudou, aconteceu algo mais. Vi-te sentada sob uma árvore, e isso me fez mal nos olhos ao te olhar.

— Nenhum mortal pode aparecer diante do rosto de um Deus e sobreviver — disse Galen.

— O quê? — Perguntei.

Maeve se apoiou contra a cama.

— Fui Conchenn durante um momento. Era como fui antes. Algo que quase havia esquecido. A perda das fadas é uma nova ferida, Merry, comparado com a perda de meu caráter divino.

Começava a doer minha cabeça.

— Não entendo.

— Deixa eu tentar. — Galen parecia sério, determinado muito não- Galen. — Maeve usou seus poderes, ou o que ficavam deles, como a deusa Conchenn para tratar de te seduzir. Mas você provocou mais poder. Trouxe-a para seu caráter divino outra vez.

Olhe-lhe com os olhos muito abertos.

— Pensava que uma vez que se deixava de ser uma Deusa não podia recuperá-lo.

— Assim era, até hoje — disse Maeve.

Franzi-lhes o cenho.

— Além disso, só uma Deusa pode fazer a um Deus.

— Acredito que isso é ainda verdade — disse Maeve. — Mas possivelmente alguém pode ser uma ponte para Seu poder.

— Não só alguém — disse Galen. — Se só alguém pudesse sê-lo, teria acontecido há séculos.

Olhou a Maeve como se ela houvesse dito uma grosseria.

— Tem razão. Tem razão. Não desacreditarei o presente. Conheço o toque da Deusa quando o sinto.

— Que deusa? — Perguntei.

— Danu.

Disse a palavra em um sussurro que pareceu ressonar pelo quarto. Fechei meus olhos e respirei fundo, soltei-o, contado devagar, tomei outro fôlego. Abri meus olhos.

— Ouço coisas —eu disse. — Pensei ter ouvido você dizer: Danu.

— E foi o que eu disse.

Sacudi minha cabeça, e não me preocupei até que fez mal a minha garganta.

— Danu é a Deusa que Tuatha Do Danaan, os filhos da Dana, são chamados por ela. Ela é a Deusa. Ela nunca foi personificada.

— Nunca disse que era uma pessoa — disse Maeve. — Disse que ela me deu meu caráter divino, e o fez.

Olhei-a com o cenho franzido, a dor de cabeça tinha começado a palpitar entre meus olhos.

— Não entendo.

— No primeiro tratado que assinamos com o Formorii, ambos os lados pactuaram a primeira magia desterrada. Reduzimos nossa magia para que as duas raças não destruíssem a terra que agora compartilhamos. Danu, ou Dana, aceitou distanciar-se de nós para que o grande feitiço se fizesse.

Os olhos do Maeve brilharam, e eram lágrimas, não magia.

— Não penso que qualquer de nós entendesse o que deixávamos. Exceto possivelmente Danu mesma.

Sentou-se sobre o bordo da cama e caíu as lagrimas. Desta vez não pensei que estas fossem por um dia mau pelos hormônios do bebê e do trabalho. Penso que se sentou nas terras do sul, sobre o bordo do Mar Ocidental, e chorou por uma Deusa que nunca tinha visto a América.


Capítulo 7


Doyle entrou no quarto correndo, levando nada mais que a correia de sua cartucheira no ombro que se agitava frouxa sobre seu peito nu, a arma nua em sua mão, e seu poder aumentando nele como uma tormenta. Rhys ia a suas costas, usava umas calças de vestir brancas e a camisa desabotoada, a arma em sua mão, mas nenhuma cartucheira à vista. O poder do Rhys encheu o espaço do quarto com sussurros, quase imperceptíveis para o ouvido.

Ambos parados na entrada, procurando algo em que atirar, pensei.

Nicca atravessou a porta correndo quase levando o Rhys. Ele estava sem fôlego mais que qualquer dos outros dois; certamente, ele tinha tido que voltar correndo e passar pela frente da casa de convidados e da casa principal, duas vezes. Ofegou quando se apoiou contra o marco da porta.

— Não são assassinos. A magia... indo mau.

Doyle e Rhys se relaxaram visivelmente. Doyle embainhou sua pistola, embora usava sua outra mão para estabilizar a cartucheira porque as correias não estavam fechadas, como se supunha. Rhys somente esteve ali de pé, com a arma baixando devagar ao lado de sua coxa. Os poderes dos dois retrocederam como o oceano que se retira da borda, diminuindo de intensidade.

Sentei-me sobre a cama e os olhei, porque tentar me incorporar teria machucado meu peito. Sentia como se tivesse me engasgado com um algo muito grande e muito sólido, porque doía tudo ao redor de minhas costelas. Além disso não me sentia mau.

Parecia que eu deveria me sentir cansada se em realidade tivesse feito o que Maeve e alen haviam dito que eu tinha realizado. Não se deveria estar cansado quando se faz a um deus? Se isto fosse o que tinha acontecido. Já que isto era impossível, ainda estava esperando uma teoria alternativa que pudesse comparar. Se alguém pudesse me dar uma este seria Doyle. Para ser um membro superior do tribunal das fadas da família real, era um homem muito prático.

Ele se aproximou até estar ao lado do pé da cama. Compreendi que ele estava molhado da cintura para abaixo como se ele tivesse ficado na piscina, mas não me chegava nenhum aroma de cloro. Recordei ao Kitto, então. Ele tinha estado ajudando ao pequeno trasgo a se limpar. Tinha me esquecido de que hoje ele tinha conseguido sua mão de poder. Uma futura rainha não deveria esquecer coisas assim, verdade? Talvez não pensava tão claramente como acreditava.

— Kitto, como está ele? — perguntei.

Doyle sorriu.

— Ele está débil. Um pouco confuso, mas estará bem — Seu sorriso ligeiro se fixou ao redor de sua boca — Como está?

Franzi o cenho.

— Não muito segura. — Minha voz ainda estava áspera, mas estava melhorando, minha voz já soava melhor. — Pensei que estava bem, mas não estou tão segura de que eu esteja pensando claramente. Isto faz sentido?

Ele assentiu e deu a volta para Maeve e Galen.

— O que aconteceu?

Eles começaram a falar imediatamente, e ele levantou uma mão.

— Primeiro as damas — Lhe fez gestos a distância da cama, e foram ao lado mais afastado do dormitório para falar. O dormitório era quase maior que meu velho apartamento, assim havia muito espaço no quarto para o isolamento. Rhys me dirigiu um sorriso, logo se aproximou deles para poder inteirar-se da conversa.

Isto deixou sozinho o Galen comigo. Ele ainda não me tocava.

Precisava ser tocada, ter essa tranqüilidade.

— Por que não me toca?

Ele riu baixo, mas suas mãos foram cruzar-se em seu colo.

— Acredite em mim é difícl não te tocar, mas tocou a Maeve e a energia da deusa principal lhe chegou, logo Frost te agarrou para parar ao Maeve que te usava, e isso passou outra vez, mas com ele.

— Maeve me utilizava?

— Pensamos que ela tinha chamado a sua deusa principal com poderes sedutores para ti. Isto não foi até que Frost usasse seu poder para romper o que pensamos que era sua atadura sobre ti, logo compreendemos que passava algo mais — Ele começou a tender a mão, para tocar meu braço, logo retornou sua mão de novo a seu colo — Posso sentir como necessita consolo, e o Consorte sabe que quero te sustentar agora mesmo, mas tenho medo de que se eu te tocar, tudo passará de novo.

— Eu não acredito nessa de que eu posso trazer qualquer divindade —

eu disse.

Ele assentiu.

— Eu sei, mas Maeve diz que ela já sentiu isso antes. Ela deveria saber como isso funciona, não acha?

— Sou mortal, Galen. Sou a primeira sidhe que nasceu mortal, não importa quanto sangue misto eu tenha. A mão mortal não pode comparar-se com o poder imortal. Isto não é lógico.

Ele se encolheu — Se tiver uma explicação melhor do que ocorreu aqui, Merry, estarei feliz de ouvi-la — Seus olhos verdes, da cor da erva do verão, ficaram desejosos.

— Merry por um momento pensei... — Ele sacudiu sua cabeça, e mordeu o lábio, antes de acabar a frase •-... pensei que nós tínhamos perdido ele — Ele se inclinou, como se quisesse me beijar, mas procurou não me tocar — Pensei que te tinha perdido.

Levantei minha mão para tocar sua cara, e Doyle chamou do outro lado do quarto.

— Ainda não, Princesa. Vamos ser cautelosos até que eu tenha ouvido a parte da história do Galen.

Baixei minha mão a contra gosto. Eu não gostei disso, mas não merecia o risco, ainda não.

— OK.

Galen riu de mim quando se deslizou fora da cama.

— Somente por agora, Merry, somente por agora — Ele andou através do quarto para o grupo reunido. Tinha uma forma de andar que parecia como se dançasse, como se estivesse dançando com alguma música que só ele poderia ouvir. Às vezes quando ele me segurava, eu quase podia ouvi-la; quase.

Nicca veio para estar de pé ao lado da cama. Ele tinha recuperado o fôlego, mas ainda tenhia um olhar assustado. Racionalmente, eu sabia que ele era séculos mais velho que Galen, mas ele parecia mais jovem que os outros guardas. O numero de anos nem sempre fala da sabedoria de uma pessoa ou Sidhe. Ele tinha o olhar jovem, e estava muito preocupado quando se apoiou no bordo da cama. Seu cabelo caía em uma brilhante cortina marrom até quase seus joelhos. Ele o tinha deixado solto, e suas calças e sua jaqueta eram de um profundo marrom, quando jogou uma olhada através de seu rico cabelo castanho. O cabelo emoldurou o musgo verde de sua camiseta, a fim de que qualquer um fosse mais consciente do que o normal do magnifico peito que tinha. A camiseta era de seda, um presente de Maeve. Ela tinha dado tudo os tecidos de seda aos homens em uma variação de cores para complementar com seu tom de pele. Ela tinha me dado o gosto de ir às compras em suas lojas favoritas, de acordo à teoria de que como mulher eu seria mais feliz ao escolher minha própria roupa, e os homens prefeririam ter as escolhas feitas para eles. Tinha razão pela metade. Embora todos aceitaram o presente, logo trocaram as cores entre eles até que todo mundo esteve feliz.

A camisa verde musgo ao princípio tinha sido para o Galen, mas ficava melhor em Nicca, recalcando o rico marrom de sua pele. Com ela Galen parecia mais verde. Aquele grandioso corpo marrom com um traje a medida se sentou no bordo mas longínquo da cama. Ele se sentou retirando seu cabelo sem pensar, como o faria uma mulher.

— Você parece melhor do que a alguns minutos atrás — Sua voz soava com um grau de instabilidade.

— Como eu parecia?

Ele piscou para mim e se girou a uma distância em que ele sabia quão facilmente poderia ler seus pensamentos através de sua cara.

— Pálida, extremamente pálida.

Ele olhou detrás de mim com o que penso se supunha era sua cara imutável, mas não conseguiu.

Havia muita tensão ao redor de seus olhos, muita preocupação nos profundos olhos castanhos. Ele jogou uma olhada para o outro lado do quarto. O grupo havia se dissolvido, e cada um andava por um caminho distinto.

Doyle me olhava, sua cara escura inescrutável. Eu podria ter jogado pôquer com a Nicca ou Galen qualquer dia, mas nunca com o Doyle. Quando ele não queria que eu lesse sua cara, nunca poderia.

— Meredith, Princesa, temos que entender o que acontece, mas não posso pensar em um modo de garantir sua segurança e averiguar este problema.

Voltei a tentar ler algo em sua escura cara, e não pude.

— O que pensa disto, exatamente, Doyle?

— Penso que deveríamos experimentar, e não sei como sairão os experimentos.

— Experimentar como? — perguntei.

— Maeve acredita que despertaste de novo a verdadeira magia dentro dela, sua divindade, a falta de um termo melhor. Ela foi uma vez uma deusa de verdade, então só lhe foi devolvido o que foi tirado. Mas Frost não era uma divindade, e o deu poderes que nunca circularam dentro de seu corpo — Ele conseguiu parecer severo sem trocar sua expressão.

— Ela me contou sua teoria. Ela até sugeriu o nome da deusa para acompanhá-la, mas Doyle, eu não sou Danu. Não sou uma divindade. Como poderia ser isso verdade?

— Quando lutamos contra o Inominável e ele derramou toda a magia selvagem sobre todos nós, acredito que havia poderes que necessitaram um recipiente constituído de uma deusa para sustentá- los. Maeve tinha estado resguardada na segurança da casa. Quando a luta acabou você foi o único corpo formado com qualidades de uma deusa, Meredith. Foi o mais próximo ao poder que poderia encontrar no momento que necessitava.

Pisquei. Estava cansada de estar deitada na cama. Se tinha que escutar essas teorias filosóficas espinhosas, então o mínimo que poderia fazer era não estar deitada. Tratei de me pôr direita, tremente, mas continuei. Nicca começou a me ajudar, mas Doyle lhe jogo para atrás, logo pareceu trocar de opinião e lhe indicou que me ajudasse.

Nicca tocou meu braço, me ajudando a me estabilizar, foi simplesmente um toque ligeiro não havia nenhuma magia nisso, exceto o toque de pele com pele. Nicca amaciou os travesseiros detrás de mim a fim de que pudesse me sustentar incorporada. Quando não aconteceu nada, naquele primeiro toque, ele me tocou onde acreditou necessário, até que eu estivesse cômoda, ou tão cômoda como pudesse.

— Se o toque de Nicca tivesse causado outra manifestação de poder,

não sei o que teríamos feito, mas se Nicca pode lhe tocar com impunidade, então acredito que deveríamos ver se esta seguro o resto de nós — Ele fez gestos, e Maeve avançou a seu lado.

— Toca ela.

Maeve lhe olhou como se não estivesse acostumada a que a ordenassem. Então suspirou e avançou lentamente até o bordo da cama para me alcançar. Maeve não era uma mulher pequena, e isto realmente diz quão grande é a cama.

Ela vacilou, um momento, procurando minha cara.

— Pode tocar — eu disse. Ela o fez. A palma de sua mão era quente, seca e suave, mas não ocorreu nada. Não havia nenhum puxão de magia nisso. Ambas olhamos ao Doyle, com sua mão ainda apertada em meu ombro.

— Não está ocorrendo nada — disse.

— Teste um pequeno brilho de poder — disse Doyle.

— Pensa que isso é seguro? — pergunto Rhys.

— Temos que saber — disse Doyle.

— Ela tem feito muito por hoje. Enquanto todos possamos tocá-la, acredito que podemos esperar com a experimentação do poder.

Doyle deu a volta para que eles se enfrentassem ao lado da cama.

— Hoje é sua noite com a princesa, Rhys. Realmente acha que pode estar com ela e não dar amostras de poder?

Rhys lhe fulminou com o olhar, sua mão vazia se fechou em um punho. Ele guardou silêncio durante quase um minuto, então finalmente, a contra gosto, disse,

— Não.

— Nenhum de nós pode estar com ela sem que se produza esta manifestação de poder, Rhys. Devemos saber agora, enquanto há mais de nós para poder ajudar, se nossa magia trouxer isto de novo. O que quer que seja.

— Te disse o que é, Doyle — disse Maeve — por que nenhum de vós acredita em mim?

— Não duvido, Maeve, mas a divindade foi sempre como um presente, algo ganho. Não era acidental. Meredith não trouxe isto sobre ti e Frost deliberadamente — Ele me olhou, e levantou uma sobrancelha — Não o fez, verdade?

— Nunca me teria ocorrido tentá-lo —eu disse.

Ele se voltou para Maeve, como se isso lhe satisfizesse — Devemos entender o que trouxe tudo isto sobre nós, porque não podemos permitir perder a Meredith, inclusive se isto faz que o resto de nossos deuses caiam sobre nós.

— Bem então, mas acredito que está equivocado — disse Maeve.

Doyle a olhou, e eu tinha visto um bom número de nobres da corte adoecer baixo aquele fixo olhar. Maeve nem se estremeceu. Ela pôs seu braço ao redor de meus ombros e se chegou mais perto de mim, um sorriso se iniciou em seus lábios.

— O poder de Danu não foi convocado até que nos beijassemos.

— Por favor deixa de dizer esse nome —eu disse.

Eu simplesmente não podia seguir ouvindo que a magia da Deusa estava dentro de mim, nem um poquinho. Em teoria sei que somos todos parte da Deusa, ou melhor as imagens de sua perfeição divina. A teoria é uma coisa, mas; em realidade ter aquela classe de poder e ser capaz de usá-lo são coisas completamente diferente.

— Por quê? — perguntou Maeve, e ela me olhou sinceramente perplexa.

Galen levantou sua mão.

— Ooh, posso responder isso.

Maeve o olhou com olhos perplexos.

— Merry está nervosa porque a Deusa se meteu no meio.

— Não é isso —eu disse.

— Que o poder desta Deusa esteja dentro de ti — disse ele, e havia uma suave burla como ele o disse.

— Talvez mais intimidada que nervosa — sugeri.

— Deveria agradecer a honra — disse Maeve, me abraçando.

— Agradeço ter a honra —eu disse — mas esta honra particular quase me matou.

A cara de Maeve me olhou de repente solene.

— Sim, e isso teria sido minha fatalidade.

— Não —eu disse.

— Joguei com minha magia, Merry. Tentei te seduzir porque todos os homens seguem me rechaçando por ti — Ela beijou a parte superior de minha cabeça — Pensei, se seu não pode conquistá-los, substitua- os. — Ela me abraçou tão fortemente que eu não podia ver sua cara quando ela disse — Quero sentir a carne sidhe, Merry. Quero que o brilho faça jogo com o meu para lançar sombras sobre as paredes na escuridão — sua voz foi feroz.

— Se conformou com um beijo? — Ofereci, minha voz era um sussurro contra seu ombro.

Ela se inclinou para trás para me mostrar um sorriso — Se vier com magia, sim.

— Suponho que se não vir com magia, não saberemos se o poder da Deusa se manifestará de novo.

Ela riu e levantou uma sobrancelha perfeitamente arqueada.

— Suponho que não.

— Era um beijo de poder o que deu também ao Frost? — perguntou Doyle.

— Sim — Maeve e Galen responderam ao uníssono.

— Frost liberou o poder de Maeve, e logo foi como se ele não pudesse liberar-se — Galen olhou ao outro lado do quarto, como se ele visualizasse o que tinha acontecido — Esta expressão passou por sua cara justo antes de que se agachasse e a beijasse — Ele piscou e olhou para o Doyle — Tinha uma expressão confusa.

— Onde está ele agora? — perguntou Doyle. Ninguém conhecia a resposta.

— Pela maldição da Rainha — disse, Doyle — Nicca, Galen, encontrem e o tragam aqui.

Nicca se girou para a porta, mas Galen vacilou.

— E se Merry nos necessitar?

— Vai — disse Doyle — Agora — E a maneira em que o disse não tolerava nenhum argumento.

Galen me deu uma última olhada então se uniu a Nicca na porta, e eles a atravessaram correndo.

— Só não queriam perder o espetáculo — expôs Rhys.

— Que espetáculo? — perguntei.

Ele me sorriu abertamente — Duas das mulheres mais formosas que conheço se beijando. Há pessoas que pagariam pra ver.

Sacudi minha cabeça, sentada ao lado de Maeve Reed, o epítome de beleza entre os luminosos, não me sentia bonita. Algo deve ter se mostrado em minha cara porque Maeve tocou meu queixo, me levantado a cara para me encontrar com seus olhos.

— É bonita, Merry, e tendo sido uma vez uma deusa da beleza, eu deveria saber.

— Pareço muito humana —eu disse brandamente.

— Por que pensa que nossos homens estiveram roubando as mulheres humanas durante séculos? Porque são feias? — Ela sacudiu sua cabeça, e havia um suave repreensão em sua cara — Merry, Merry, deveria saber seu valor — Uma a luz dourada começou a pulsar dentro de sua pele, como se alguém tivesse aceso uma vela profundamente dentro dela e a luz se estendia como uma corrente por seu corpo, até que ela brilhou como se tivesse o sol dentro de sua pele. O poder tremeu dentro de mim, acelerando meu pulso, enchendo o anoitecer de minha própria pele com um pálida luz que me elevava à lua como um sol.

O cabelo começou a mover-se pelo vento, esquentando o ar. Seus olhos cheios de luz, e outra vez era como olhar fixamente no coração de uma tormenta da primavera, dirigindo os relâmpagos, destroçando o céu, mas em vez de chuva, era o poder que caía sobre mim. Levantei minha cara para aquele poder como se realmente chovesse sobre mim.

Suas mãos se curvaram sobre minha pele nua, como se o traje de banho não estivesse ali. Sustentou-me em seus braços, e fui de bom grado, minhas próprias mãos se deslizaram por cima da pele quente de seus nus braços. Parecia incorreto que ela usasse tanta roupa. Tínhamos que tocar mais pele que esta. Compreendi que o que eu sentia era uma fome pela pele de Maeve. Sua necessidade de carne sidhe que envolvesse a sua.

Recordava essa fome muito bem, e esta só tinha sido satisfeita para mim fazia quatro meses. Muito tempo, de solidão. Não podia dizer se eram meus sentimentos ou o dela, e eu sabia que isso era parte de sua magia. Projetar suas necessidades e fazê-los como minhas próprias.

Alcancei os botões de seu colete, mas estes eram muito pequenos, e necessitava muita força para abri-los. Consegui dois punhados de tecido e puxei. Os botões voaram, fazendo pequenos sons quando eles golpeiam as paredes, a cama, e os homens.

Maeve ofegou, seus olhos se ampliaram afogando sua necessidade.

Seus peitos tinham grandes mamilos redondos que pareceram dar brilho, como se tivessem sido esculpidos de alguma grossa jóia vermelha. Eu posei minhas mãos sobre seu estômago nu. O brilho branco de minhas mãos fez que o brilho dourado de sua pele empalidecesse, elevando o brilho por meu toque, ligeiramente movi minhas mãos ao redor do calor de sua cintura. Minhas mãos se deslizaram para cima até que meus polegares e dedos descansaram justamente debaixo de seus peitos. Se um homem tivesse me tocado aqui, meus peitos teriam pendurado sobre suas mãos, mas Maeve os tinha pequenos e apertados, e ainda altivos.

O brilho de sua magia pulsava sob minhas mãos, brilhante e cada veu mais resplandecente, como se ela tivesse começado a queimar-se justo debaixo de seus peitos. Ela gemeu — Por favor!

Naquele momento compreendi, que eu a tinha empurrado a livrar-se de sua necessidade, sentindo-a como a minha própria. Eu estava no profundo do poder, mas tinha algo claro, se a tocasse, essa seria minha escolha.

Olhei fixamente por cima dela, com a cabeça virada, os olhos semicerrados.

Sua necessidade enchia o ar como algum perfume de almíscar, mas agora eu podia respirar nele e não me afogar. Olhei fixamente o brilhante poder dourado sob minhas mãos, e me perguntei o que se sentiria ao ter tanto poder pulsando através de meus peitos. Era muito o que eu poderia lhe dar.

Eu disse:

— Me beije, Maeve.

Ela abriu muito seus olhos para olhar em minha direção, mas ela não podia enfocá-los; Já estava meio enjoada do tato da magia e da pele. Repeti.

— Me beije.

Ela baixou sua cabeça, e esperei, esperei até que nossas bocas se tocaram, então deslizei minhas mãos para cima por seus peitos. Ela pressionou sua boca mais contra a minha, e o beijo se fez mais profundo e urgente, então minhas mãos se deslizaram para a dureza de seus mamilos, e foi como se o mundo explodisse. O poder lançou- nos para trás na cama caindo ela em cima de mim e minhas mãos se fecharam sobre seus peitos, Como se minhas mãos estivessem pegas em um cabo de alta tensão e não pudesse me liberar.

Uma parte de mim queria liberar-se. Outra parte de mim quis fundir- se com sua luz dourada e perder-se. Ela se estremeceu, chiando, em sacudidas contra minhas mãos onde estavam unidas a sua carne. Ela moveu seus quadris contra os meus, e se eu tivesse sido um homem, ela me teria feito mal. Mas eu não era um homem, e alguma parte da minha magia aguardou seu assombroso orgasmo. O poder palpitou em uma onda detrás, onda através do meu corpo enquanto Maeve se movia em cima de mim, mas o prazer último era dela e só dela. De algum modo isto parecia correto. Ela tinha esperado tanto tempo. Ela abriu seus olhos em meio de tudo, e deve ter visto minha cara, entendido o que eu lhe dava, sem tomar nada, e não gostou disso. Pressionou sua mão em meu estômago, e meu brilhante resplendor se intensificou sob seu toque. Era como ser meio tocada pelo calor da primavera, algo pesado e rico que tremeu e palpitou contra minha pele. Tinha um momento para me perguntar se isso era o que minhas mãos pareciam no tato sobre seus peitos quando ela deslizou sua mão por debaixo da parte dianteira de meu traje de banho, e deslizava um dedo entre minhas pernas. Ao momento daquela palpitação, pulsando com um poder ao longo de minha carne, a explosão do orgasmo em meu corpo chegou como ondas, como se seu toque fosse uma pedra arremessada para dentro de um lago profundo, e cada onda foi outro anel de prazer, e onde a pedra se deslizou um prazer descendente me seguia Era como ser acariciada e aprofundada com sexo ao mesmo tempo.

Voltei em mim sobre a cama com a Maeve derrubada em cima de mim. Não podia ouvir sua respiração desigual porque sentia meu pulso em meus próprios ouvidos, mas podia sentir a ascensão e caída de seu peito enquanto ela lutava por respirar, enquanto nós lutávamos por respirar com as palpitações de nossos pulsos nas gargantas.

Quando eu pude me orientar outra vez, tinha sua respiração frenética e uma risada desigual que se precipitou primeiro. Então a voz do Rhys anunciou:

— Não sei se tenho que aplaudir ou gritar.

— Gritar — disse Galen — porque nós perdemos o espetáculo por completo.

Girei minha cabeça, e pareceu fazer muito mais esforço de que deveria fazer.

Terminei por olhar fixamente ao quarto com uma névoa do pálido cabelo loiro do Maeve.

Traguei e tentei falar, mas isto ainda estava além da minha força.

Galen, Nicca e Frost estavam justo diante da porta. Rhys e Doyle estavam ao lado da cama, mas não tão perto para serem tocados por acaso.

Maeve encontrou suas cordas vocais ante de que eu o fizesse.

— Tinha esquecido, esquecido. A deusa me benze, eu tinha esquecido o que poderia ser estar com outro sidhe.

Ela começou a rodar fora de mim lentamente, torpemente, como se seu corpo não estivesse em condições. Deu uma volta para me olhar, um sorriso se fixou em sua cara enquanto lutava por enfocar seus olhos — É maravilhosa.

Consegui sussurrar.

— Me recorde que a próxima vez que te peça um beijo seja mais específica.

Isto obteve que risse, mas com tosse.

— Minha garganta esta seca.

— É engraçado, a minha também.

— Nicca, — disse Doyle — Consegue para as damas um pouco de água. Nicca começou a abandonar o quarto, caminhou para a porta como se alguém o estivesse relentizando o passo pela parte esquerda. Por isso Galen lhe disse — Há uma árvore no vestíbulo. Acredito que é uma macieira. Está atravessando diretamente o piso de pedra justo dentro da área da piscina e quando chegamos acima tinha aberto um oco no piso em cima desta — Rhys se precipitou para olhar atentamente a árvore do vestíbulo.

— As flores estão se abrindo.

O aroma de flores de maçã começou a filtrar-se pela porta. Doyle nos olhou fixamente, e me perguntou:

— Como se sente?

— Melhor. Minha garganta já não dói.

Ele me ofereceu uma mão, e tomei, para me levantar da cama de Maeve. Meus joelhos não me sustentavam, por isso pôs seu braço ao redor de minha cintura para me sustentar antes de que caísse ao piso. Ele me recolheu, me embalando contra seu peito nu. Estava muito esgotada para ter estado tanto tempo deitada. Tive o impulso de brincar com o anel de prata em seu mamilo, mas isto parecia muito esforço. De repente estava muito cansada. Cansada em uma boa maneira, mas cansada não obstante.

Levou-me fora do salão, além da mole rosada e branca de flores que enchia quase tudo. Eu me afogava outra vez no aroma de flores de maçã, e de momento um poder resplandeceu através de mim, um pulso forte que me fez dar um tropeção ao Doyle.

— Tome cuidado, princesa, não tenho o desejo de te deixar cair.

— Sinto muito — Resmunguei — Não tive a intenção.

Notei a desigualdade na escada, e consigui vislumbrar o tronco da árvore cinza antes de que nós passássemos pelas portas de correr de vidro, mas a última coisa que recordei foi um brilho de água azul e a luz do sol ao fundo. Então fechei meus olhos, me agarrei contra o peito do Doyle, e deixe de lutar. Um sono limpo e profundo caiu sobre mim, tão completo e profundo como não podia recordar. Os deuses dormem bem de noite? Acredito que talvez, dormem.


Capítulo 8


Sonhei. Estava de pé no topo arredondado de uma colina e olhava fixamente para baixo sobre o campo aberto. Havia uma mulher a meu lado, mas não podia ver seu rosto. Ela usava uma capa cinza; ou negra, ou possivelmente era verde. Quanto mais tentava vê-la claramente mas difícil era, umas espessas sombras cresciam ao redor dela, até que eu duvidava se a tinha visto. Sua cara estava oculta nas sombras do capuz de sua capa. Não poderia dizer sua idade, embora acreditei que não era muito jovem. Senti como se a tivesse visto antes, e não era muito grato para ela. De uma coisa eu estava segura: Eu não a reconhecia.

Ela sustentava a mão de uma pessoa, era velha de uma cor negra e brilhante. Ela fez gestos com sua mão vazia para a planície. Doyle caminhava com grandes pernadas através da erva com uns cães ao redor dele, enormes cães negros com os olhos de fogo. Gabriel Ratchets, Sabujos de Inferno, eram como sombras e fumaça ao redor dele. Reuniram-se a seu redor assim ele podia esfregar suas orelhas, acariciar suas cabeças, golpeando com seu focinho o peito. Ele ria e estava feliz, e em um fôlego eles desapareceram. Galen estava ali, e por onde ele andava apareceram árvores, bosques inteiros se estendiam, e os meninos surgiram nos bosques, saindo em perseguição dele, atirando-se sobre seus braços. Ele tocou suas cabeças, elevando-os, jogando com eles entre as árvores e flores. Um dos pequenos moços tocou uma árvore, e sua palma brilhou dourada. Nicca saiu de entre as árvores, e por onde ele passava as flores floresceram. Ele encontrou-se com o Galen e os meninos, e todos eles brincaram. Longe através da planície, fora desta cena feliz, apareceu Rhys. Ele estava à cabeça de um enorme exército, e de algum modo eu sabia que os guerreiros a suas costas estavam mortos. Mas quando ele olhou-me, ele tinha seus dois olhos; suas cicatrizes haviam desaparecido. Em certa forma soube que isto não era um encantamento, que ele havia sido curado. Ele tinha um martelo em seu mão, e este brilhava com uma luz própria. Havia corpos sobre a terra, feridos. Ele os tocou com o extremo do martelo e eles se elevavam, curados.

A senhora me girou para confrontar a distância de todos,

encontrando ao Kitto. Ele brilhava, e era totalmente sidhe, com um grupo de trasgos detrás dele. Ele levantou sua mão e uma luz tão branca e pura os cegou quando um relâmpago cresceu desde sua palma para limpar o exército ao que eles se enfrentavam. Os trasgos entoaram seu nome como uma reza. Eu o vi a uma grande distância, mas ainda poderia ver serpentes na erva entre o exército contrário. Serpentes venenosas golpearam ao inimigo, e eu sabia que elas o faziam por mando do Kitto. O inimigo se dividiu, escapando devido ao pânico, e o resto dos trasgos foram em sua perseguição para reduzir aos que permaneceram em suas filas.

A mulher se moveu, atraindo minha atenção para ela de novo. Sua gente estava de pé em meio da colina, dentro da terra, e quando olhei, converteram-se em uma grande árvore que se extendia, tão velha e antiga que seu tronco se fendeu e havia morrido. Ela pôs sua mão em uma fenda do tronco, e quando a retirou, sustentava uma brilhante jóia; um cálice formado de prata com incrustações de pedras preciosas. O cálice começou a brilhar do mesmo modo que quando a pele de um sidhe brilha quando o poder lhe atravessa. O brilho se converteu em resplendor, até que o cálice parecia uma estrela entre suas mãos, um brilho intenso, uma estrela palpitante. A luz parecia derramar-se dele, como se a luz pudesse ser líquida e estivesse dentro da taça.

Ela me aproximou a taça.

— Bebe.

Aquela palavra foi repetida na planície. Nunca me ocorreu dizer que não. Nunca me ocorreu lhe fazer perguntas. Pus minhas mãos sobre as suas onde sustentavam a taça, encontrei sua pele suave, e frágil pela idade. Ela era uma anciã, muito mais velha do que eu tinha pensado. Levantamos a taça até meus lábios, e a luz em seu interior era tão brilhante que por um momento pensei que não podia ser nada mais que ouro, tão quente, tão consolador, tão perfeito. Bebi da taça, e me pareceu que bebia poder, energia, luz.

Ela baixou a taça, e minhas mãos estavam ainda sobre as suas. Suas mãos tinham mudado. Agora eram jovens, fortes, podas, com delicados dedos. O vento derramou-se através do topo, rangendo pelas folhas. Procurei e encontrei a árvore morta que era agora espessa com folhas do verão. O tronco se curou exceto um pequeno nó no qual minha mão apenas cabia dentro. Um pássaro começou a cantar no alto, em cima, entre um dos ramos. Um esquilo nos assustou mais perto a terra. Ela espremeu minhas mãos, e pude vislumbrar sua cara. Por um momento era eu, então ela riu, e soube que não era minha cara a que estava dentro do capuz.

Despertei ofegando em uma cama estranha na escuridão, meu coração palpitava.

Sentia-me bem, refrescada, e assustada ao mesmo tempo. Rhys me virou, seu cabelo branco brilhava como a luz da lua.

— Merry, está bem?

Comecei a dizer que sim, então senti algo ao lado de meu quadril. Procurei debaixo das mantas e toquei algo duro e metálico. Atirei as mantas para trás e ali, brilhando brandamente como a luz da lua, estava o cálice de meu sonho.


Capítulo 9


Trinta minutos mais tarde nos tínhamos reunido na cozinha, incluindo Sage. Se tivesse sido um pouco maior que uma boneca Barbie teria sido formoso, se gostar de se dirigir para a variedade de fruta de pele amarela, mas tinha que admitir que as asas de cor amarelas e negras como a cauda de andorinha eram bonitas.

Podia se transformar em um ser quase da minha altura, uma maneira de mudar de forma menos surpreendente do que poder tomar a forma de um animal algo que podíamos fazer alguns de nós, mas que era uma habilidade mais estranha que poder transformar-se de ser um pequeno duende até alcançar o tamanho de um duende humano. Ele era o que poderia chamar um embaixador dos semi•duendes na Corte dos escuros, e de sua rainha, Niceven. Fiz uma aliança com eles. Tinham aceitado a deixar de espiar para meu primo Cel e seus aliados, e começar a espiar para mim. Ainda espiavam para minha tia, a Rainha Andais, mas nesse momento, supunha-se, que era minha aliada, também. Havia dias nos que me perguntava sobre isso, mas não esta noite. Esta noite nós tínhamos muitos problemas sem nos preocupar a respeito da quem realmente Andais queria como seu herdeiro.

O cálice estava em meio da mesa da cozinha, vendo-se terrivelmente fora de lugar na moderna cozinha branca e austera. Doyle havia trazido uma capa de travesseiro de seda para estendê-la sobre a mesa, mas até esse pedaço de seda negra não era o suficiente para fazer que o cálice se apagasse. Através de seu brilho de luzes elevadas deixava claro o que era, uma relíquia antiga de poder que aconteceu estar de repente colocada sobre uma mesa de rincão de café da manhã apenas o bastante grande para as quatro cadeiras que a rodeavam. A taça necessitava ao menos uma mesa de comilão ampla, com uma superfície de dura madeira brilhante com escudos e armamentos montados sobre as paredes. O relógio com forma de gato na parede com a cauda e os olhos em movimento não combinava com a taça, mas sim com os frascos brancos pintados com gatinhos branco e preto em cima da geladeira. Maeve nunca tinha tido um gato, mas apostaria que seu decorador sim.

Galen fez café, chá e chocolate quente. Sentamo-nos agrupados ao redor de nossas respectivas bebidas quentes e olhamos fixamente ao cálice que brilhava. Ninguém parecia querer romper o silêncio. O tic•tac do relógio parecia aumentar a tranqüilidade.

— Uma vez isto foi uma caldeirão — Disse Doyle, e eu não fui a única que derramou o chá sobre sua roupa. Galen trouxe guardanapos de papel para todos os que necessitavam.

Frost amaldiçoou brandamente mas com sentimento enquanto jogava seu fôlego para limpar a parte dianteira de seu traje de seda cinza. Todos usávamos trajes de seda, com nossas iniciais bordadas. Tinham sido presentes de Maeve. Saíamos para trabalhar durante o dia, e retornávamos à casa de noite para cuidá-la.

Sage não obteve presentes. Acredito que foi em parte porque era um semi•duende, e a maior parte dos sidhes os tratavam como se fossem os insetos aos que se pareciam.

Esse era um dos motivos pelos que eram excelentes espiões: Ninguém realmente os emprestava muita atenção. O outro era que Maeve não sabia que ele podia aumentar seu tamanho. Ela estava o bastante faminta pela carne de duende que poderia haver pensado melhor dele se o tivesse sabido. A ela poderia não lhe haver importado, mas os luminosos são muito seletivos a respeito dos duendes que convertem em seus amantes.

Mas o fato, de que uns poucos entre a gente de Niceven pudessem aumentar seu tamanho era um segredo celosamente guardado. Até onde sabíamos, os que estavam nesse quarto eram os únicos sidhes conhecedores disso.

Sage se sentou ao fundo, sobre o armário da cozinha, balançando suas diminutas pernas no ar. Suas asas se moviam devagar detrás dele, como faziam freqüentemente enquanto pensava. Baixou sua cara diminuta e de aparência agradável cuidadosamente sobre a grande taça ao lado dele, procurando não introduzir seu cabelo de cor amarelo como a manteiga que lhe chegava até o ombro, na espuma do chocolate quente. Todos os pequenos duendes pareciam ser gulosos. Usava uma diminuta saia feita com o que parecia ser uma teia de azul claro, como se tivesse sido costurada por aranhas, tão fino era o tecido. Sage não usava muita roupa, mas a que usava estava tecida mais delicadamente que qualquer seda.

Meu traje de seda era de cor carmesim, mas felizmente para mim,

havia conseguido verter mais chá quente sob meu peito que sobre o traje. Isto queimava, mas não muito, e a seda uma vez manchada fica arruinada. A parte superior de meu peito se limparia verdadeiramente bem. — O que quer dizer, com isso de que antigamente era um caldeirão? — Perguntei.

Rhys me respondeu. — Um dia foram ao santuário e em vez de um caldeirão negro que se via tão antigo como realmente era, encontraram este novo cálice brilhante.

Não tinha se incomodado em vestir-se absolutamente. Estava de pé na cozinha totalmente nu e limpando o peito. Assinalou para o cálice com o guardanapo de papel manchado de café.

Doyle estava sentado a minha direita, usando somente uns jeans negros.

— O Rei da Luz e da Ilusão pensou que o caldeirão tinha sido roubado. Quase foi à guerra com nossa corte por isso. — inclinou-se para a mesa, sua taça de chá ainda intacta em suas mãos. — Mas não tinha sido roubado. Simplesmente tinha se transformado.

Bebi a sorvos meu próprio chá. — Quer dizer da mesma maneira que o Carro Negro da caça selvagem começou sendo uma charrete, logo mudando a um carro quando ninguém usava mais charretes, e agora é uma grande limusine negra e brilhante?

— Sim — disse ele, e finalmente bebeu um sorvo de seu próprio chá. Seus olhos nunca abandonaram o cálice, como se nada mais realmente importasse.

— Magicks selvagem tem uma mente própria — disse Kitto da cadeira a minha esquerda onde se encontrava agachado. Sustentava sua taça de chocolate quente entre ambas as mãos da maneira em que um menino beberia de uma taça muito grande. Tinha seus joelhos dobrados até o peito, e as pernas de suas calças curtas de noite de cetim eram somente uma tira magra de tecido vinho.

— O que sabem os trasgos de relíquias? — perguntou Rhys. Havia indícios de sua velha hostilidade.

— Temos nossos artigos de poder — disse Kitto.

Rhys abriu sua boca, e Doyle disse — Parem. Não brigaremos esta noite, não com um dos maiores tesouros dos sidhe reaparecido.

Isso silenciou a todos outra vez. Nunca tinha visto que todos perdessem as palavras. — Achei que celebrariam. Em troca agem como se alguém tivesse morrido.

Sabia porque estava assustada. Durante toda minha vida tinha tido a meu redor magia, mas nunca havia tido algo que tivesse me seguido de um sonho antes. Eu não gostava. Fosse o maior tesouro ou não, a idéia de que as coisas de meus sonhos pudessem materializar-se e cruzar do outro lado para o mundo real era um pensamento realmente aterrador.

— Ainda não entende — disse Doyle. — Este é o caldeirão. O caldeirão que pode alimentar a milhares, e nunca se vazia. O caldeirão com o qual os guerreiros mortos podem levantar-se novamente, com vida no dia seguinte, embora privados de seu raciocínio. Este é um objeto de poder elementar para nossa gente, Meredith. Apareceu entre nós um dia, como o Carro Negro, como tantas outras coisas que simplesmente apareceram. Então um dia desapareceu, e nós perdemos nossa capacidade de alimentar ao grosso de nossos seguidores, e pela primeira vez lhes vimos passar fome. — Levantou-se e trocou de direção, pressionando suas mãos contra o vidro escuro da janela, apoiando sua cara tão perto dela que se via como se pensasse beijar a escuridão do esterior. — Não estávamos no país quando a grande fome golpeou, mas se ainda houvéssemos possuído o caldeirão o teria preso com correias a minhas costas e teria cruzado o mar nadando até a Irlanda. — Pela primeira vez escutei um ronronou de marcado sotaque irlandês em sua voz. A maior parte dos sidhe se orgulha de não ter nenhum sotqaque. Nunca tinha ouvido o Doyle soar como algo ou como pertencente a um lugar em particular.

— Estás falando da grande fome da batata? — Perguntei.

— Sim. — Sua voz era quase um grunhido.

Afligia-se pelas pessoas que tinha morrido quase duzentos anos antes de que eu nascesse. Mas a dor era tão real para ele agora como se tivesse ocorrido a semana passada. Tinha notado que os imortais levam todas as emoções fortes, amor, ódio, pena por muito mais tempo que o transcurso de uma vida humana. É como se o tempo se movesse de forma diferente para eles, e até sentada a seu lado, vivendo com eles, meu tempo e seu tempo não fossem o mesmo. Falou sem girar-se, como se falasse mais com a escuridão de fora que conosco. — O que fazem os deuses quando anteriormente podiam responder as rezas de seus seguidores e repentinamente não podem? Um dia simplesmente observam como seu povo morre de enfermidades que as semanas anteriores podiam curar. É muito jovem, Meredith, e até o Galen; nenhum de vocês entendem realmente o que foi. Não é sua culpa. Não é. — Disse o último em um sussurro para o vidro, sua cara finalmente pressionada com cuidado contra ele.

Levantei-me de minha cadeira e fui até ele. Sobressaltou-se quando toquei suas costas, logo afastou-se o suficiente do vidrol para que pudesse deslizar meus braços ao redor de sua cintura, pressionando meu corpo contra o seu. Deixou-me lhe abraçar, mas não relaxou contra mim. Tentei lhe proporcionar consolo, mas em certo modo, não tomou.

Falei com minha bochecha pressionada contra suas quentes e suaves costas — Sei que havia mais de um caldeirão. Sei que havia três principais. Sei que todos mudaram de forma, e se converteram em cálices. Meu pai jogou a culpa de todas as histórias do Rei Arturo sobre o Santo Graal. Se muitas pessoas acreditarem em algo, então podem afetá-la. A carne afeta ao espírito. — Em alguma parte de minha pragmática conversa, Doyle começou a relaxar-se contra mim. Começou a deixar passar a dor, um pouco.

— Sim — disse ele — Mas o primeiro caldeirão entregue foi o grande caldeirão que poderia fazer tudo o que qualquer um lhe pedisse. Havia dois caldeirões menores. A gente podia curar e alimentar, e o outro mantinha a fortuna, dava ouro e coisas semelhantes. — O modo em que disse as últimas palavras mostrava claramente que não pensava que o ouro e as mercadorias tivessem o mesmo valor que a cura e o alimento.

— Havia mais caldeirões como esses — disse Rhys.

Doyle se afastou o suficiente do vidro para girar sua cabeça e olhar aos outros homens. Permaneci rodeada ao redor de suas costas.

— Não eram autênticos — disse Doyle.

— Eram autênticos, Doyle, simplesmente não nos foram dados pelos deuses. Alguns entre nós tinham a capacidade de fazer tais coisas.

— Não podiam fazer o que os grandes caldeirões podiam fazer — disse Doyle.

— Não, mas não desapareceram quando os deuses nos retiraram seu favor, tampouco.

Doyle trocou de direção, e tive que lhe deixar para que pudesse caminhar com compridos e espaçosos passos de volta para o Rhys.

— Não nos retiraram seu favor. Prescindimos do poder para trabalhar diretamente com eles. O entregamos, não nos deixaram.

Rhys levantou suas mãos. — Não quero ter esta discussão, Doyle. Não acredito que o passar de uns quantos séculos farão esta rixa mais divertida. Nos permita simplesmente que possamos discordar. O que sabemos com toda certeza é que um dia as grandes relíquias começaram a desaparecer. As coisas que os duendes tinham feito por si mesmos, com sua própria magia, tinham permanecido ali.

— Até o segundo vazamento de magia — disse Frost. Foi a frase mais longa que tinha falado em toda a tarde. Tinha tentado lhe falar no corredor, e ele havia sido brusco e tinha me evitado. Era eu quem quase tinha morrido, mas foi o único que atacou-me. Típico do Frost.

— Sim — disse Nicca com voz suave — e logo os artigos que tínhamos realizado nós mesmos começaram a romper-se, ou simplesmente deixaram de funcionar. Foi como se um malefício os esgotasse.

Sabia que Nicca era velhos em séculos, mas seguia esquecendo até que dizia algo que me fazia recordar.

— Não acredito que todo mundo tivesse de acordo com o segundo esvaziado se tivessem sabido o que ocorreria a nossas varinhas mágicas, ou a nód mesmos — Nicca sacudiu sua cabeça, movendo seu escuro cabelo castanho que brilhava tenuamente com as luzes. — Eu não teria estado de acordo.

— Muitos de nós não teríamos estado de acordo — disse Doyle.

— Se isso for verdade —eu disse — então por que esteve de acordo com o esvaziado que criou ao Inominável? Este foi o terceiro vazamento, naquele momento já sabia o que podia esperar. Sabia tudo o que poderia perder.

— O que outra opção tínhamos? — disse Rhys. — Era abandonar mais de nosso poder ou sermos exilados sem ter um país ao que acudir.

— Poderíamos ter ficado na Europa — disse Frost.

— E o quê — disse Doyle — sermos obrigados a partir de nossas colinas, comprar casas e viver junto aos humanos? Sermos obrigados a matrimônios interraciais com humanos. — olhou para mim e disse — não estou te insultando princesa, um pouco de sangue misto é uma coisa; ser obrigado a casar-se com humanos é outra distinta. Os que permaneceram na Europa tiveram que assinar tratados para abandonar sua cultura. — Estendeu seus braços e abriu suas mãos — Sem sua cultura e suas crenças as pessoas não são nada.

— É por isso que o fizeram — disse Rhys. — Era um modo de nos destruir, nos deram o golpe de misericórdia.

— Os humanos não eram o bastante fortes para matar todos a todos nós — disse Frost.

— Não — disse Rhys — mas eram o bastante fortes para nos forçar a negociar e nos obrigar a uma paz que mais da metade dos duendes de cada raça pensava que era injusta.

— Conheço os fatos que ocorreram —eu disse — mas esta é a primeira vez em toda minha vida que ouvi uma conversa sobre o exílio com tanta emoção.

— Abandonamos a Europa para conservar o que ficou do mundo das fadas — disse Doyle. — Agora com este cálice sobre a mesa, isto começará outra vez.

— O que começará outra vez? — Perguntei.

— A Deusa nos deu seus presentes, o Consorte nos deu seus presentes, logo, um dia eles desapareceram. Como podemos confiar em que qualquer presente que nos dêem não nos abandonará em nossa hora de necessidade? — Dor, cólera, frustração, esperança, tudo lutava através da escuridão de sua cara.

— Penso que se preocupa desnecessariamente —eu disse — Acho que devemos esclarecer se o caldeirão ainda pode fazer o mesmo que fazia antigamente antes de nos preocupar de que desapareça outra vez.

Rhys sacudiu sua cabeça. — Nunca funcionou só porque quiséssemos. Nos alimentava quando tínhamos que ser alimentados. Curava-nos quando necessitávamos a cura. As grandes relíquias santas não são um passatempo atrativo secundário. Só trabalham se houver necessidade.

— É um assunto de fé — disse Nicca. — Temos que ter fé em que nos ajude quando o necessitarmos. — Não soava feliz a respeito disso quando o disse.

— Fé — disse Rhys, tão cheio de emoção que sua voz descendeu mais do normal, espessa quando se retratou — Deixei isso faz muito tempo, Nicca. Não estou seguro de poder dar marcha atrás e retomá-la outra vez.

— Penso que cremos que realmente fomos deuses — disse Doyle — iguais a eles. Quando a primeira diminuição de magia passou, aprendemos outra coisa. — Cruzou de uma pernada pela mesa e olhou quase como se fosse a recolher a taça, mas não o fez. — Aprendemos a diferença entre brincar de deuses e ser deuses. — Sacudiu a cabeça. — Foi uma lição que não quero repassar.

— Eu, tampouco — disse Rhys.

— Nunca estive mais seguro de ter razão como agora — disse Frost. — Aprendi lições diferentes. — Não soava nem pouco mais feliz a respeito de suas lições que os demais com as suas.

Meu pai se assegurou de que conhecesse os fatos frios de nossa história, mas ele não se queixou, nunca falou da dor que eu via agora. Sabia cientificamente que os sidhe tinham perdido muito, mas realmente não tinha entendido.

Provavelmente não o entendia nem agora, mas tentaria. A Deusa me ajude, vou tentar entender.

— Os filhos da Dana não exigiram que os trasgos não fossem deuses para os humanos? — perguntou Kitto. — Não foi essa sua primeira exigência em nosso tratado de paz? É isso muito mais diferente do que os humanos têm feito a todos nós?

Rhys se voltou para o homem menor. — Como te atreve a comparar...

— parou em meio da frase e sacudiu a cabeça. Esfregou com sua mão livre a cara de um lado a outro como se estivesse cansado. — Tem razão Kitto — disse.

A surpresa se mostrou em nossas caras, até na do Doyle.

—Realmente acaba de concordar com o Kitto? — perguntou Nicca.

Rhys assentiu — Tem razão. Quando aterrissamos pela primeira vez, fomos tão arrogantes, e estávamos tão decididos a romper o poder dos trasgos, como os humanos estão conosco.

— Não estou segura de que isso seja arrogância por parte dos humanos — eu disse. — Acho que é em sua maior parte medo que outra guerra entre duendes e humanos possa dizimar a Europa.

— Mas isso é ainda arrogância por pensar que podem ditar as regras de conduta a uma civilização que existe desde milênios antes de que seus antepassados deixassem de viver em cavernas — disse Rhys.

A isso não podia adicionar nada, assim é que não tentei. — Você tem um ponto.

Ele me sorriu abertamente — Não vais discutir comigo? Encolhi-me de ombros. — Por que deveria? Tem razão.

— Sabe, tem um modo de pensar muito democrático para uma herdeira ao trono.

— Durante dez anos fui criada entre os democráticos humanos americanos. Suponho que isso me ajudou a me manter humilde. — Sorri-lhe, porque não podia não lhe sorrir. Rhys tinha aquele efeito sobre mim, às vezes.

— Odeio romper este momento de camaradagem — disse Galen — mas o que vamos fazer com o caldeirão, o cálice, ou o que seja?

Galen estava bastante mau com a política, mas era muito bom sendo prático.

— O que vamos fazer? — Perguntei.

— Bem, — disse, e sua risada se desvaneceu ao redor das comissuras — Se contarmos a alguém?

De repente todo mundo ficou ainda mais sério. — Tem razão — disse Doyle. — Temos que decidir quem o dirá, em caso de que diga a alguém.

— Pensa reter esta informação à rainha? — perguntou Frost.

— Não estou retendo-a, mas sim simplesmente não a estou compartilhando ainda, nada mais. — Fez gestos ao Kitto. — tivemos um dia e uma noite muito ocupados, Frost. Kitto recebeu sua mão de poder. Uma mão de poder que não foi visto entre nós desde o segundo esvaziado.

— A propósito — Perguntei — por que se chama assim sua mão de poder? Quero dizer, que minha mão é a mão de carne e sangue, mas por que chama o espelho de alcance?

— É chamada a mão de alcance — respondeu Doyle — porque alcança por meio de dois pontos de comunicação e traslada às pessoas passando de um ponto ao outro. A mão de alcance, porque se estende até a gente.

— Lógico, quando o explica —eu disse.

— A maior parte das coisas são lógicas quando se explicam. — Soava quase normal, mas sua cara mostrava a tensão de todas as perguntas sem responder. Perguntas possivelmente não só sem resposta, mas também incontestáveis.

— A rainha quererá conhecer o novo poder do Kitto — disse Frost.

— Já contei a ela — disse Doyle.

— E a volta dos poderes divinos do Rhys? Doyle assentiu — Sabe.

— Quando tiveste tempo para contar-lhe tudo?

— Quando foi com a princesa à casa principal ver Maeve.

Frost franziu o cenho. Então algo próximo ao medo brilhou através de seus olhos, antes de que tomasse o controle disso e oferecessse uma formosa cara em branco ao Doyle. — Ela conhece o resto? — Em sua voz havia mais incerteza que em seus olhos.

— Que Meredith parece haver devolvido a divindade a Maeve, e possivelmente te deu a divindade pela primeira vez? Ou a parte onde Meredith quase morreu fazendo-o? Ou pensa que lhe contei que a princesa parece que agora tem a faculdade mágica de predizer em sonhos? Ou talvez te pergunta se a rainha sabe que temos o cálice. Qual dessas coisas está perguntando, Frost?

— Ele não queria te zangar —eu disse.

— Não necessito que me defenda — disse Frost.

— O que passa contigo, Frost? Estiveste agindo como um louco comigo desde que despertei.

Baixou o olhar à mesa da cozinha ante ele. Não nos tinha aproximado mais que isso, ou possivelmente era eu quem o evitava.

— Como pode me perguntar isso? Sou seu guarda, seu Corvo, jurei te proteger de todo dano, e quase lhe mato hoje.

De um saltou me situei junto a ele. Estendi a mão para acariciá-lo, e se apartou bruscamente. — Não quero te fazer mal outra vez.

— Viu o final do que Maeve e eu fizemos conjuntamente, Frost. Acredito que posso te tocar na mão e estar a salvo.

Sacudiu a cabeça, usando seu comprido cabelo prateado para ocultar sua cara e a maior parte de seu corpo de mim. Seu cabelo tinha sido sempre de uma incrível cor oropel da Árvore de Natal, mas esta noite o brilho parecia inclusive ordinário. Tendi a mão para tocar seu brilhante cabelo e encontrei que estava úmido.

Moveu-se para trás de novo, afastando-se de tal modo que não pudesse tocá-lo.

Apoiou suas costas no armário da cozinha e se abraçou. — Quando seus gritos nos despertaram, estava coberto de gelo. — Sacudiu a cabeça. — Não, de gelo não, gelado. Despertei coberto de geada. Derreteu-se quase imediatamente, mas estava mais espesso em meu cabelo. Meu cabelo rangeu como ramos de árvore congeladas quando me movi pela primeira vez. — Lhe via assustado.

Estendi a mão outra vez, e se afastou. — Não, Meredith, não tenho o controle destes poderes. Não é questão de reaprender o que soube uma vez. Esta não é minha magia. — Olhou-me com olhos totalmente abertos, assustados — Não sei como ser um deus, Meredith. Nunca fui um antes.

— O ensinaremos — disse Rhys.

— O que acontecerá, se não quiser aprender? — perguntou Frost.

— Esse é um problema diferente, meu velho amigo — disse Doyle. — A Deusa entrega o que quer, e não podemos nos perguntar por que ou onde.

As coisas que Doyle tinha estado dizendo para uns momentos davam a impressão de ter que expor essa observação, ou talvez Doyle era o único autorizado para expressar dúvidas sobre a Deusa.

Independentemente da lógica, ou a carência dela, ninguém o advertiu.


Capítulo 10


— Temos que dizer à rainha que temos o cálice — disse Rhys.

— Não. — Doyle sacudiu a cabeça com suficiente força para fazer que a pesada trança de seu cabelo se balançasse.

— Ela ficará cega de raiva se escondermos dela, não quero passar outra noite no Vestíbulo da Morte. — O Vestíbulo da Morte era a câmara de tortura para a Corte dos escuros. Christian uma vez pensou que o escuro era um demônio do inferno.

Se qualquer parte de nossa corte fosse ao inferno castigador que aparecia na Comédia Divina de Dante, este era o Vestíbulo da Morte.

— Nem eu — disse Frost.

— Eu, tampouco — disse Galen.

— Não — disse Nicca — Não.

Apoiei-me contra os pequenos armários da cozinha e olhei ao Doyle. Ele havia sido a Escuridão da Rainha por mais de mil anos. Seu braço esquerdo, seu homem. Seu último assassino. Era-lhe leal, embora ultimamente tivesse começado a ser leal a mim.

Mas ainda não parecia que pudesse esconder algo tão grande da rainha, sobretudo porque ela eventualmente saberia. Ela era a Rainha do Ar e da Escuridão; tudo que for dito na escuridão eventualmente flutuaria até ela. E palavras como caldeirão, cálice, e semelhantes provocariam seu interesse. Simplesmente este era um segredo muito grande para conservá-lo para sempre.

— Por que não quer contar à rainha? — Perguntei.

— Porque esta não é nossa relíquia. Este caldeirão pertenceu a Corte Luminosa. Quase fomos à guerra faz uns séculos depois de seu desaparecimento, quando Taranis suspeitou que nós o tínhamos roubado. O que faria se soubesse que o temos atualmente?

— A rainha nunca diria a ele — disse Galen.

Doyle o olhou com tal desprezo desdenhoso que Galen deu um passo atrás.

— Realmente acha que não há espiões entre nós? Certamente nós temos espiões na Corte da Luz; devo acreditar, é obvio que Taranis os tem da mesma forma entre nós. — Fez gestos a reluzente taça, colocada tão inocente sobre a mesa. - Isto é simplesmente uma coisa muito grande para manter em segredo. Se espalhará uma vez que seja conhecido por alguém fora deste quarto. Devemos pensar no que fazer quando isso ocorrer.

— O que você quer dizer? — Pergunto Frost.

— Taranis exigirá a volta da taça. A damos? E se não o fazemos, estamos dispostos a ir à guerra por isso?

— Não podemos dar o cálice ao Taranis — disse Nicca.

Todos nós nos viramos e cravamos os olhos nele. Era tão contrário a ele ser inflexível sobre algo, e completamente fora de questão para ele dizer algo tão decisivo e potencialmente desastroso.

— Inclusive se isso significa a guerra? — Disse Doyle.

Nicca passeou mais perto da mesa.

— Não sei, mas sei isto: Taranis tem quebrado nossos tabus mais sagrados. Esteve ocultando sua própria infertilidade há no mínimo um século, porque desterrou a Maeve por rechaçar casar-se com ele alegando que era estéril. Sabendo disso condenou a sua corte a um decaimento de seu poder, sua fertilidade, e tudo o que são. Quando temeu que Maeve nos relevasse seu segredo, ou o julgasse em público, liberou o Inominável. Pôs em liberdade nossos poderes mais temidos para caçar na terra, apesar de não ter o poder de controlá- lo. Pessoas inocentes morreram por isso, e Taranis pareceu não se preocupar. Nós devíamos salvar a Maeve e matar ao Inominável, mas sem nós aqui, ela estaria morta, e o Inominável poderia ter destruído Los Angeles. Se os humanos averiguarem que foi a magia sidhe quem o fez, as conseqüências poderiam ter sido devastadoras para nós. Quem sabe como teriam reagido as autoridades humanas. Este é o ultimo país que acolhe sidhes livres, sem restringir nossa cultura, nossa magia, a nós. — Nicca resplandeceu um pouco enquanto falava, como se suas palavras tivessem poder por si mesmas .

— Concordamos que Taranis é egoísta e não é apto para ser rei — disse Doyle — Mas ele é o rei. Não podemos acusá-lo de seus crimes, e vê-lo castigado.

— Por que não? — perguntou Kitto, ainda agachado em sua cadeira, bebendo a sorvos seu chocolate quente.

— Ele é o rei — repetiu Doyle.

— Entre os trasgos, se souber que o rei tem quebrado nossas leis, pode-se enfrentá-lo em um tribunal aberto. Esse é nosso procedimento, e nossa lei.

— Os sidhe não são tão honestos — disse Doyle.

— Sim, é o que nos permitiu superá-los durante séculos, o fato que vocês são mais tortuosos que nós.

Joguei uma olhada ao Rhys, e algo em minha cara deve haver-se notado porque disse: — Não vou discutir com ele. Os sidhe são mais tortuosos que os trasgos. A Deusa sabe que os sidhe são mais tortuosos que qualquer duende.

— Que bom é ouvir um sidhe admitir a verdade — disse Sage.

Olhei ao pequeno homem sobre o mostrador. Via-se de maneira tão inofensiva ali sentado com sua xícara muito grande de chocolate. Inclusive um bordo de espuma de chocolate ao redor de sua boca fazia que a ilusão de inocência infantil fosse ainda mais forte do que o normal. O semi•duende explorava o fato de que se viam formosos. Tinha visto uma grande quantidade deles rasgar a carne do corpo do Galen enquanto estava encadeado e indefeso. O príncipe Cel lhes tinha ordenado fazê-lo, mas eles tinham desfrutado com o banquete. Entre meio que quase cair e meio que se empurrar fora do pequeno armário para revoar por um ponto no ar. — Tudo isto é completamente discutível, meus amigos sidhes, pois devo contar à rainha Niceven. Tudo isto está bem para vós que pensam ocultar coisas a sua rainha, porque Merry ainda pode ser a rainha em seu lugar, mas Niceven mantém fortemente seguro o poder em sua corte, e não posso me arriscar a sua cólera. — Revoou ao bordo da mesa, descendendo como se não pesasse nada, entretanto sabia que em realidade pesava mais do que parecia.

Sempre dava a aparência de que devia ser ao contrário, mas havia substância no Sage que podia sentir quando caminhava sobre seu corpo.

Moveu-se para o cálice, e Doyle estendeu uma mão, quase mas não completamente diante dele. — Vê bastante de onde estás. Sage pôs suas mãos em seus esbeltos quadris e ficou com o olhar fixo para para o homem muito maior.

— O que é o que teme, Escuridão, que o roube, leve-o a minha corte,

para minha rainha?

— Este é um presente sidhe, e permanecerá em mãos sidhes — disse Doyle.

Sage saltou no ar, revoando ao redor da elevada luz como alguma grande traça, embora de verdade tinha mais de borboleta que de traça — Mas ainda devo lealdade à Rainha Niceven. Pode discutir tudo o que deseje sobre contar a vossa rainha, mas posto que eu devo dizer-lhe à minha, também poderia contar-lhe à tua.

— Estaremos nas cortes amanhã de noite —eu disse. — Pode esperar esse tempo para dizer a sua rainha?

— Por que deveria esperar? — perguntou, e veio revoando diante da minha cara para que o vento de suas asas balançasse meu cabelo.

— Estaríamos mais seguros, incluindo a sua gente, quanto menos gente souber do cálice.

Assinalou-me com um dedo — Tst, tst, Princesa, a lógica não ganhará. Me mantive afastado hoje embora sua magia me chamou como a canção de amor de uma sereia. — Relampejou sobre a mesa diante de mim. — Não vim porque contemplei todo o assombroso sexo dos sidhes que alguma vez desejei ver, desde que não me convidam a sua cama. Não sou mais que um voyeur.

— Concordei compartilhar meu sangue contigo uma vez por semana,

Sage. Esse foi o preço da aliança com sua gente. Mantive minha palavra no pacto.

Passeou-se diante de mim com seus diminutos pés da cor da manteiga que faziam jogo com o amarelo de suas asas. — O sangue é muito bom, princesa, mas ele não toma o lugar de um bom empurrão*. — Apoiou suas mãos em minha mão, como se eu fosse uma cerca, e me contemplou levantando para mim seus diminutos olhos morados. — Me deixe entrar em sua cama esta noite e não direi nada a ninguém até que cheguemos às cortes.

Movi minha mão o bastante rápido para lhe fazer tropeçar, e agarrar ar, suas asas foram um borrão zangado.

— Realmente ainda tenta fazer uma oferta para chegar a ser meu rei, Sage? Pensei que tínhamos sido claros respeito disto.

Aproximou-se o suficiente a minha cara para que eu pudesse ouvir o zumbido de suas asas. As verdadeiras asas das borboletas não faziam aquele ruído. Soava como um colibri zangado — Sim, ao princípio minha rainha desejava fazer uma oferta para me pôr no trono escuro como sua marionete, mas a Flora me salvou, Princesa, já não me preocupo mais por isso.

— Pelo que se preocupa? — perguntou Doyle.

Sage retornou ao ponto no ar e se elevou a grande altura o suficiente como para nos olhar — Quero sexo. Quero jazer com uma mulher outra vez. Isso é uma coisa tão difícil de acreditar?

— Não — disse Doyle.

— Não —eu disse.

Foi Kitto quem disse — Os semi•duendes não se preocupam com o sexo mais do que os trasgos o fazem, não se podem ter poder e sangue.

Sage trocou de direção e cravou os olhos no trasgo que se converteu em sidhe. — Sua espécie ainda nos assa em pontas agudas e pensa que somos um manjar. Me perdoe se não der a sua opinião muito peso. — O sarcasmo era forte em sua voz.

Kitto assobiou para ele, e ele assobiou em resposta.

— Basta — disse Doyle.

— O que quer tomar para guardar nosso segredo até que cheguemos às cortes amanhã de noite? Não peça sexo outra vez à princesa, já que isso não vai acontecer.

Sage cruzou seus braços e fez uma imitação muito boa de um menino fazendo birra, completado com o bigode de chocolate sobre sua boca, mas lhe tinha visto com meu sangue gotejando através de sua diminuta boca muitas vezes para me deixar atrair por isso. Estava atuando gentilmente porque era o que faziam os semi•duendes, mas não o era. Era perigoso, traidor, lascivo, e rancoroso, mas não gentil.

— Como será o sabor do sangue de um deus? — perguntou Rhys.

Sage trocou de direção dentro de um ponto no ar como algum fantástico helicóptero para confrontar ao Rhys. — Oferece o sangue de Maeve, ou o do Frost ?

— O meu.

Sacudiu sua cabeça.

— Não é nenhum deus.

— Meu poder voltou. Doyle me chamou de Cromm Cruach outra vez neste dia.

Sage se girou para Doyle.

— Isso é verdade, Escuridão? Doyle assentiu.

— Dou-te minha palavra de que o chamei Cromm Cruach este dia. Sage revoou diante do Rhys para que os cachos brancos se movessem ao redor da cara do Rhys. Aproximou-se mais e mais perto até que seu corpo quase tocou ao Rhys. Se lançou adiante e lambeu a testa do Rhys, logo se afastou rapidamente antes de que Rhys pudesse apanhá-lo, ou esmagá-lo com a mão. Embora Rhys tampouco o tentou.

Galen o teria feito, mas Galen tinha a mesma razão para odiar aos semi•duendes que Rhys tinha para odiar aos trasgos, e tinha sido muito mais recente.

— Não tem o gosto de um deus, Rhys. Tem um gosto bom, poderoso,

mas não o de um deus.

— Quando foi a última vez que provou a um deus? — perguntou Rhys. Sage revoou para o Frost, embora permanecesse fora de seu alcance. Frost não era tolerante com o toque não desejado de qualquer um. Os séculos de celibato forçado o faziam mas fantasioso naquele aspecto. Eu o podia tocar, mas poucos outros o podiam fazer.

— Me deixe provar sua pele, Frost . Não o sangue, ainda não.

Frost olhou com cenho para cima ao diminuto homem, e sacudiu a cabeça. — Não sou a puta de sangue de ninguém.

— Em que me converte isso? — Perguntei, e minha voz era tão fria como minha cólera quente. Tinha tido aproximadamente tudo o que podia suportar dos caprichos de Frost durante um dia. Fui a que quase tinha morrido; por que ele devia estar de mau humor?

Frost olhou confuso. — Não pensei...

Caminhei para ele. — Se estiver disposto a doar uma pequena quantidade de sangue para a causa, então o que te faz muito bom para fazê-lo?

Assinalou ao semi•duende que revoava — Não quero que coloque sua boca sobre mim.

— Faço-o uma vez por semana, Frost. Se for o suficientemente bom para uma princesa, é o suficientemente bom para ti.

Sua cara era a máscara arrogante que punha quando ocultava o que pensava. — Ordena-me fazê-lo? — Sua voz era muito fria, e sabia que aqui poderia haver algo que romperia nossa relação, talvez por um dia, talvez para sempre. Nunca se sabia com Frost .

Dei um passo para ele, e quando se distanciou, deixei minha mão cair a meu lado. — Não exatamente, mas te rogo que por favor faça isto. Por favor nos ajude.

— Não quero a...

Toquei seus lábios com as pontas de meus dedos e o permitiu. Seu fôlego estava quente sobre minha pele. — Por favor, Frost , por favor,

é algo pequeno. Dói só um pouco, Sage é muito bom com o encanto. Pode fazer que não doa nada.

— Não concordei que o sangue do Frost comprará meu silêncio — disse Sage — Não lhe provei. Ele pode ser tão comum quanto Rhys.

— Os dois — disse Rhys — ambos Frost e eu, e tudo o que deve fazer é esperar para dizer a sua rainha até que cheguemos às cortes pessoalmente. —Rhys moveu-se a fim de ficar olhando para cima ao homem pequeno que revoava — O sangue de dois nobres sidhes por menos de vinte e quatro horas de silêncio. Não é um mau trato.

Sage reduziu a velocidade de suas asas o suficiente para que pudesse ver-se no interior de seus olhos a cor vermelha, e a iridiscencia azul que combinava com a mais franja azul mais larga em seu exterior. Foi quase como se flutuasse em vez de voar para onde Galen estava de pé.

Galen se apoiava com suas costas nos longínquos armários pequenos,

com os braços cruzados. O olhar em sua cara era tão hostil como jamais a teve antes. — Nem sequer... pergunte. — Sua voz tinha uma nota de caráter definitivamente furiosa que fez que por um momento Sage se afundasse para o chão, comparável a um tropeção humano. Recuperou sua altura, logo subiu mais assim estava mais perto do teto, fora de alcance. — Mas foi tão delicioso.

Galen me olhou. — Por que não fazemos simplesmente um encantamento com ele durante vinte e quatro horas?

— Tentador — eu disse — mas Niceven poderia considerar a magia hostil sobre seu emissário como uma violação de nosso tratado.

— Isso solucionaria o problema — disse Rhys.

— Muito bem — disse Sage. — Para provar ao Frost e ao cavalheiro branco, estarei de acordo em guardar silêncio até que veja minha rainha.

— Em carne e osso em sua corte — adicionei.

Deslizou-se rapidamente para cima perto do teto como um pássaro preguiçoso. Riu e chegou revoando perto de mim. — Tem medo de que faça armadilhas?

— Diz as palavras, Sage — eu disse.

Brindou-me com uma risada que dizia que faria o que eu quisesse, mas seria um pé no saco enquanto fizesse. Era sua forma de fazer as coisas. De fato, era a forma de muitos semi•duendes da Corte Escura. Algo cultural, possivelmente.

Colocou seu pequena mão sobre seu diminuto peito e se endireitou em um ponto no ar, com os dedos do pé apontando para baixo. — Pelo sangue de ambos os homens, esperarei para dizer a minha rainha sobre o cálice até que esteja cara a cara e carne verdadeira à carne verdadeira que somos. — lançou-se para cima, tanto que tive que estirar meu pescoço para seguir seu rastro perto do teto. — Satisfeita?

— Sim — eu disse.

— Não estive de acordo com isso — disse Frost .

— Estarei ali — disse Rhys.

Deslizei meu braço pelo braço do Frost, sobre a seda e estirou seus músculos. — Estarei ali, também.

— Frost — disse Doyle.

Os dois homens se olharam fixamente, e algo passou entre eles, algum conhecimento, algum alívio. O que fosse que ocorreu, suavizou a cara do Doyle, fez-lhe parecer mais.... humano.

Frost inclinou a cabeça. — O que ocorreria se a magia nova tenta machucar a Meredith outra vez?

— Rhys estará ali para assegurar que isso não ocorra.

Frost abriu sua boca para dizer algo mais; então parou, fechou a boca, e deu uma brusca cabeçada. — Se meu capitão o ordenar, assim o farei.

O resto dos guardas pareciam esquecer algumas vezes que Doyle era o capitão dos Corvos da Rainha, então repentinamente o recordavam. Usavam um título a muito tempo em desuso. O respeito estava sempre ali, e o medo, mas os títulos vinham e iam.

— Bom — disse Doyle — Agora que isto está resolvido, temos outro assunto que discutir. Uma vez que nossas respectivas rainhas conheçam a volta do cálice, alcançará a atenção do Taranis. O que faremos quando exigir sua devolução?

Joguei uma olhada ao redor do quarto, tentando ler suas caras, e não pude ler nada. — Não pensa seriamente conservar o cálice uma vez que Taranis o peça? Seria uma briga, em caso de não se uma guerra total.

— Não podemos dar-lhe — disse Nicca. — Não o merece.

— O que quer dizer, Nicca? — perguntou Doyle.

— Ele não é... — Nicca pareceu confundido, finalmente estendeu suas largas mãos e disse — Não é digno de dirigir o cálice. Se fosse digno, então teria ido a ele, mas não o fez. Veio a Merry.

Doyle suspirou o bastante forte para que o ouvisse pela metade ao outro lado do quarto. — E esse é outro problema. Se Taranis temer que sua permanência como rei se escorra devido a sua infertilidade, então que o cálice apareça a outro sidhe nobre, sobretudo a um meio•escuro, só alimentará seu medo.

— Deveria ter medo. — Rhys veio a situar-se a meu lado, no outro tinha a sólida presença do Frost. — Trazendo para Maeve e Frost à dignidade divina, talvez seja só uma vasilha moldada pela deusa, como disse Doyle — Rodeando com seu meu braço minha cintura, me aproximando um pouco a ele, enquanto meu braço estava ainda engrenado com o Frost.

Isto fez que sua mão se chocasse com o Frost, e senti ao homem maior esticar-se. Rhys não pareceu notá-lo, somente olhou fixamente aos outros homens. — Mas o cálice veio a ela, isso não é justo porque ela é o sexo correto para o poder. Ao princípio deram o caldeirão aos homens, não às mulheres. O que ocorreria se veio a ela porque é a única sidhe nobre adequada para ser sua guardiã?

— Não acredito que seja isso —eu disse.

— Por que não? — disse Frost.

Percorri com minha vista o comprido corpo do Frost até encontrar seu olhar fixo — Porque sou mortal. Além disso não sou uma sidhe completa para algumas normas.

— Para as normas de quem? — disse Frost — Todos esses supostos deuses que permanecem por aí e falam das glórias do passado?

— A Corte da Luz soa como a reunião de ex-alunos — disse Rhys. — Falam sobre os velhos dias quando eram mais jovens, mais fortes, melhores. A nostalgia é intensa.

Franzi-lhe o cenho, depois joguei um olhar para trás ao Frost . — Tudo bem, eu sei, as normas das pessoas que perderam o cálice em primeiro lugar, não contam. Mas independentemente, Frost, Taranis nunca aceitará que tenhamos o cálice, não sem uma guerra.

— Tem razão — disse Rhys — porque todos os luminosos pensarão que com o respaldo do cálice, eles poderiam recuperar seus poderes.

— E com essa lógica — disse Doyle — se os escuros o possuírem, então poderíamos recuperar o nosso.

— Não acredito que isso seja certo — disse Frost. — Não recuperei meus poderes. Adiquiri os poderes que pertenceram ao sidhe que uma vez chamei professor. E o cálice não me deu estes poderes, Merry o fez.

Rhys me abraçou estreitamente. — Nossa rainha estará contente, mas Taranis não vai estar.

— Estaria, se pensasse que ela poderia fazer por ele o que tem feito pelo Frost — disse Doyle.

A cara do Rhys mostrou um momento de pânico absoluto, antes de que o cobrisse com um sorriso zombador e uma brincadeira. — Não sei o que é mais perigoso, que pense que pode usar a Merry para recuperar sua vitalidade perdida, ou que seus novos poderes a façam uma rainha forte.

— Uma rival, quer dizer — disse Doyle.

Rhys negou com a cabeça. — Não, não uma rival. Mesmo que Merry pudesse trazer para todos nós nossos plenos poderes, isto não a ajudaria em uma briga. Há ainda indiscutíveis combates entre os nobres sidhes, e o rei é simplesmente outro nobre sidhe para algumas de nossas leis — Olhou-me fixamente. — Sei que tem duas mãos de poder realmente formidáveis, mas vi ao Taranis em um duelo. — Beijou minha testa, e falou com seus lábios contra minha pele. — Você perderia.

— A última vez que Taranis lutou em um duelo foi antes do final do terceiro esvaziado — disse Doyle. — Quem pode dizer que poderes possui ainda, e quais perdeu?

Rhys o olhou. — Ela morreria.

— Não tenho nenhuma intenção de que nossa princesa lute contra o Rei da Luz e da Ilusão em um combate pessoal, Rhys, mas não lhe dou mais poder do que tem. Perdemos coisas com os vazamentos. Alguns de nós somos verdadeiramente bons escondendo-o.

— Talvez — disse Rhys, com os braços ainda me agarrando por perto como se tivesse medo de que Doyle me jogasse daí para um indiscutível duelo nesse momento — Talvez realmente superestimo ao Taranis e a sua corte, mas talvez lhes dá muito pouco crédito.

— Não me entenda mal: São muito perigosos, e muito poderosos.

Sua corte sustenta mais magia que a nosso. Ainda têm a grande árvore em seu salão, e ainda tem folhas, embora colorido com o outono agora. Seu poder está ainda aí. — Doyle negou com a cabeça e se sentou à mesa, apoiando seu queixo em cima de seus braços com o que sua cara estava refletindo no cálice. — Não estamos preparados para acusar ao Taranis de seus delitos. Maeve não os pode confirmar porque está exilada, e um exilado não pode dar testemunho contra outro membro do mundo das fadas. O testemunho do Bucca•Dhu sobre a ajuda do Taranis na liberação do Inominável poderia ser tão facilmente usado contra ele mesmo, o Bucca.

— O que pensa? — perguntou Nicca.

— Viu em que se converteu Bucca. Uma vez foi um de nossos grandes senhores, o líder dos sidhes Cornish quando havia muitos de nós para que houvessem muitas cortes. Agora se parece com algum miúdo disforme. Os luminosos não quererão acreditar que é quem diz ser, e inclusive se realmente acreditam, poderiam submetê-lo a julgamento por suas próprias palavras. Se disser que Taranis é culpado então ele mesmo é culpado também. Taranis simplesmente poderia negá-lo, e lhes obrigar a executar o Bucca pelo crime. Se alguém é castigado pelo crime, o mistério fica resolvido, e a única testemunha da participação do Taranis nisso estaria morto. Com o que ficaria limpo de toda culpa.

— Parece muito com o que ele faria — disse Rhys.

— Mas Bucca possui o amparo da rainha — disse Nicca. — Está sendo protegido neste momento pelos escuros.

— Sim — disse Doyle — e a rainha não informou de nada aos guardas de Bucca de porque está sendo protegido, mas os rumores já começaram.

— Que rumores? — Perguntei.

— Sussurros sobre o Inominável e quem ganharia com o ataque a Maeve Reed. Os rumores estão só nas cortes das fadas, mas o ataque está em todos os principais noticiários de informação, e uns poucos sidhes de ambas as cortes se mantêm à corrente com os noticiários humanos. — ficou com o olhar fixo no cálice enquanto falava, como se estivesse hipnotizado. — A maioria sabem que Taranis pessoalmente a exilou. Os rumores já começam. Se ele tivesse tido outros magicks que pudessem ter assassinado a Maeve de longe, penso que os teria usado. O Inominável não pode ser capaz de ser rastreado até ele diretamente, mas é um poder principal, e todo mundo agora sabe que quem quer que o soltou, uso-o para caçar a Maeve.

— Seu próprio medo será sua destruição — disse Frost.

— Possivelmente — disse Doyle — mas um lobo esquecido é mais perigoso que um ao descoberto. Não queremos estar ao redor do Taranis quando se sentir sem opções.

— O que volta a por que ele quer que eu visite a Corte da Luz, — eu disse. Separei-me do peso consolador de ambos os homens. Havia muitas perguntas, muitos acontecimentos, para que um mero abraço me fizesse me sentir bem. Isto era muito humano e também muito pouco duende, mas não queria estar sujeita apropiadamente nesse momento.

— Diz, que tem desejos de renovar seu parentesco agora que está a ponto de ser a herdeira do trono escuro — disse Doyle.

— Não acredita nisso mais que eu.

— Tem um pouco de verdade, ou seria uma terminante mentira, e não mentimos uns aos outros.

— Talvez, mas um sidhe omitirá tanto da verdade que isto poderia ser uma mentira —eu disse.

Sage riu, e foi como o tinido de campainhas douradas. — Ah, a princesa realmente conhece sua gente.

— Compramos seu silêncio — disse Doyle. — Assim mantém o silêncio nesta discussão, a não ser que tenha algo de verdadeiro valor para acrescentar. — Olhou para cima ao pequeno homem, que dava voltas perezosamente perto do teto. — Recorda isto, Sage: Se a Corte da Escuridão cai, então estará a mercê dos luminosos e nunca confiarão em ti.

Sage desceu para estar de pé ao bordo da mesa, suas formosas asas pregadas para trás desde seus ombros. Contemplou ao Doyle do alto, entretanto com o rosto do Doyle descansando em seu braço sobre a mesa, estavam quase à mesma altura.

— Se a Corte Escura cair, Escuridão, não serão os semi•duendes que sofrerão mais nas mãos dos luminosos. Eles desconfiam de nós, mas não nos vêem como uma ameaça. Eles destruirão a todos vós. Seremos esmagados como moscas em um dia de verão, mas não nos verão como se merecêssemos ser destruídos completamente. Sobreviveremos como povo. Pode dizer o mesmo da corte escura?

— Isso pode ser — disse Doyle — mas não se beneficiaria seu povo de fazer algo mais que sobreviver? A sobrevivência é a melhor alternativa, Sage, mas somente sobreviver pode fazer-se insofrível.

— Mais verdades pela metade e omissões para me enganar, é isso?

— Ache o que quiser, pequeno homem, mas te digo a verdade quando digo que o destino do tribunal dos semi•duendes está preso ao destino dos sidhes de nossa corte.

Olharam-se fixamente um ao outro, e foi Sage quem tomou ar e rompeu a batalha de olhares fixos. Nunca tinha duvidado de quem se retiraria primeiro. — A princesa tem razão, Escuridão, nenhum sidhe pode ser crédulo.

Doyle se levantou da mesa o suficiente para encolher-se de ombros — Isso é certo para muitos de nós, não posso discutir isso. — Olhou através do quarto para mim. — Daria o que fosse para conhecer qual é o verdadeiro objetivo do Taranis ao te convidar a Corte da Luz. Ninguém parece saber por que o faz. Sua própria corte está assombrada de que te queira de volta. Que vá realizar um banquete para uma mortal.

— É meu tio — eu disse.

— Alguma vez atuou como um tio antes? — perguntou Doyle.

Sacudi minha cabeça. — Quase me golpeou até a morte quando era uma menina por perguntar por que Maeve Reed foi exilada. Não se importa nada comigo.

— Por que somente não rechaçamos o convite? — disse Galen.

— Falamos sobre isto, Galen. Se rechaçarmos o convite, então Taranis o verá como um insulto, e guerras, maldições, toda classe de atitudes desagradáveis entre os sidhes começaram por coisas assim.

— Sabemos que é uma armadilha de algum tipo, mas ainda assim vamos até lá. Isso tem pouco sentido para mim.

Olhei ao Doyle para que me ajudasse. Tentou-o. — Se formos com um convite do Taranis, então por nos haver convidado tem que nos tratar bem. Não pode desafiar a nenhum de nós a um duelo pessoal, ou nos fazer mal, ou pode permitir que nos machuquem enquanto sejamos seus convidados. Uma vez que demos um passo fora de sua colina, de sua corte, então pode nos desafiar no ato, mas não dentro de sua própria corte. Esta é uma lei muito velha entre nós para que ainda seus próprios nobres sejam capazes de cometer uma infração a ela.

— Então por que estamos tão preocupados a respeito de levar suficientes guardas a corte para proteger Merry?

— Porque poderia me equivocar — disse Doyle.

Galen literalmente levantou suas mãos. — Isto é loucura.

— Taranis pode estar o suficientemente louco para tentar lhe fazer mal em seu sithen. Sua corte poderia estar mais corrupta do que sei. Te prepare para o que seu inimigo possa fazer, não para o que fará.

— Não me cite, Doyle. — Galen andava de acima a abaixo por um lado da cozinha como se tivesse que consumir um pouco da energia nervosa que flutuava ao redor do quarto. — Colocamos a Merry em perigo indo a Corte da Luz, eu sei.

— Não sabe — disse Doyle.

— Não, não sei. Mas sinto. É uma má idéia.

— Todo mundo está de acordo em que é uma má idéia, Galen —eu disse.

— Então por que o fazemos?

— Para averiguar o que quer Taranis — disse Doyle — da forma menos perigosa.

— Se ir a Corte da Luz e resistir ao lado do Rei da Luz e da Ilusão é o caminho menos perigoso, eu gostaria de conhecer qual seria o caminho mais perigoso.

Doyle finalmente se levantou e caminhou para o Galen, que ainda estava passeando de cima abaixo pela cozinha. Deteve-se a meio caminho simplesmente para ficar situado diante do Galen, lhe forçando a ficar quieto. Permaneceram de pé e se olharam um ao outro, e pela primeira vez senti algo entre eles. Alguma prova de vontades tinha ocorrido com o Doyle e Frost, Doyle e Rhys, mas nunca com o Galen.

— A forma mais perigosa consistiria em rechaçar o convite do Taranis e lhe dar uma desculpa para desafiar Meredith a um duelo.

— Há séculos qualquer um se bate em duelos por questões de etiqueta da corte — disse Rhys.

— Sim — disse Doyle, mas seu olhar fixo nunca abandonou ao Galen. Pela primeira vez fui consciente de que Galen e Doyle eram da mesma altura, e os ombros de Galen em realidade eram um pouco mais largos — Mas ainda é uma razão bastante boa para apoiar um desafio. Se Taranis quiser a Merry morta isto seria perfeito. Não pode rechaçá-lo definitivamente, porque fazê-lo assim a obrigaria a exilar- se. Um sidhe nobre que rechaça um desafio, por qualquer razão, é famoso como covarde, e os covardes não podem governar em nenhuma corte.

Os ombros do Galen arredondaram um pouco, como se caísse. — Não se atreveria.

— Liberou o Inominável para matar a uma mulher sidhe, por medo de que sussurrasse seu segredo. Penso que Taranis se atreveria a algo assim.

— Não pensei... — começou Galen.

— Não — disse Doyle — não o fez.

Galen se distanciou dele. — Bom, sou estúpido, não entendo a política da corte, e não concebo ser tão matreiro. Sou inútil em estratégia, mas ainda me assusta que Merry vá a Corte da Luz.

Doyle agarrou seu braço. — Todos estamos preocupados por isso. Houve um momento quando seus olhos se encontraram, e logo tudo esteve bem entre eles outra vez. Galen tinha estado desafiando ao Doyle de pequenos modos por um momento, e eu não teria notado, a não ser tivesse estado aí desde o começo. Os desafios fizeram-se, de forma suave, mas até um desafio suave do Galen era algo que eu nunca tinha visto. Simplesmente não era um líder. Não queria sê-lo. Mas sim por medo pela minha segurança tinha feito frente a Doyle.

Fui até o Galen e o abracei por detrás. Esfregou suas mãos sobre meus braços, deslizando a seda de meu roupão para cima para assim poder tocar minha pele. Tinha posto somente as calças soltas de vestir com os que tinha começado o dia, a fim de que tivesse a pele quente de seu estômago contra minhas mãos. — Não posso te dizer que tudo ficará bem, Galen, mas vamos fazer todo o possível para ter muitos músculos e aliados políticos a nosso lado para fazer que até o Taranis titubeie.

— Eu não gosto dessa parte do plano, tampouco — disse Galen. — Não pode estar de acordo te deitando com todos os meio•trasgos.

Comecei a me afastar dele, e apanhou minhas mãos, manteve-me pressionada contra seu estômago. — Por favor, Merry, por favor, não se zangue.

— Não estou zangada, Galen, mas não vou discutir a respeito disto com ninguém mais. Falo sério. Temos nosso plano, isto é o melhor que podemos fazer, e isto é tudo. — Tirei minhas mãos de seu apertão, e não se opôs. Voltei-me para Doyle. — O cálice complica as coisas, mas realmente não muda nada.

Fez um pequeno assentimento. — Como diz.

— O que acontece se Merry conserva o cálice alegando que a Deusa o deu? —disse Nicca. Tinha ido ajoelhar se ao lado da mesa assim é que podia olhar a taça mais atentamente.

— Não penso que a intervenção divina seja uma razão bastante boa —

disse Rhys.

— Mas essa é nossa tradição — disse Nicca. — Podem ter misturado as historia podem confundi-la com outras, mas ?Quem quer que arranque esta espada da pedra é o legítimo rei é ainda verdadeiro. O Ard•RI da Irlanda tinha uma pedra que clamava pelo toque do legítimo rei.

— Há aqueles que acreditam que quando o Ard•RI deixou de ser selecionado pela pedra, foi nesse preciso instante quando o irlandês perdeu contra o inglês —disse Doyle. — Abandonaram sua herança, sua grande magia, e a linha de reis verdadeiros se interrompeu Olhei-o. — Não sabia que tinha inclinações fenianas.

— Não tem que ser um Fenian para entender que o inglês tentou destruir ao irlandês por qualquer meio, político, cultural, até agrícola. Os escoceses foram maltratados, mas os irlandeses foram sempre as cabeças de turco específicas do inglês.

— Os irlandeses lutam entre eles, é por isso que eles seguem sendo poucos — disse Rhys.

Doyle lhe deu um gesto hostil.

— É a verdade, Doyle, ainda se aniquilam uns aos outros enquanto rezam ao deus cristão. Você não vê os escoceses, ou os galeses, matando uns aos outros devido a por qual deus têm que rezar eles, mas sim como eles rezam ao mesmo Deus. Acredito que essa é uma louca razão para matarem uns aos outros.

Doyle deixou escapar um suspiro, logo disse — Os irlandeses sempre foram pessoas duras.

— Duros e melancólicos — disse Rhys. — Fazem que os galeses pareçam alegres.

Doyle realmente sorriu — Sim.

— Pode reclamar Merry realmente o direito de conservar o cálice alegando que ele a escolheu? — perguntou Galen. — Não sou o suficientemente velho para recordar a alguém convertendo-se em rei porque uma pedra gritou, assim se herdava realmente o posto?

— Deveria sortir efeito — disse Doyle — mas não posso dizer que a Corte da Luz se inclinará à tradição. Foi assim desde que as grandes relíquias estiveram entre nós faz muito tempo e muitos esqueceram como as adquirimos em primeiro lugar.

— Esqueceram porque desejavam esquecer — disse Nicca.

— Possivelmente, mas justamente dizer que Meredith possui a vasilha porque veio a ela da mão da própria Deusa terá algum inconveniente.

— Como demonstro que a Deusa me deu a taça? — Perguntei.

Doyle moveu uma mão para a mesa. — O fato de que tenhamos a taça é a prova.

— Demonstramos que a Deusa me deu o cálice simplesmente tendo o cálice em meu poder? — Perguntei.

— Sim.

— Isso não é um argumento circular?

— Sim — disse ele.

— Não acredito que vão aceitar isso.

— Estou aberto a sugestões — disse Doyle. Doyle era o professor das estratégias, cada vez que pedia sugestões para um plano, punha-me nervosa. Quando não conhecia o que fazíamos com total segurança, geralmente não pressagiava nada bom.

— Tudo o que decidimos, Merry é que deve guardar o cálice — disse Nicca — e isso quer dizer que nossa rainha não pode o ter, tampouco.

— Ah, merda, — disse Rhys. — Não tinha pensado nisso.

Olhei ao Doyle. — Falou de espiões, mas realmente não quer que ela saiba disto, verdade?

Suspirou. — Digamos somente que não conheço o que fará quando souber. O reaparecimento do cálice é do mais inesperado, e o procedimento pelo qual o obteve é também inesperado. — encolheu-se de ombros — Não sei o que fará, e não gosto de não sabê-lo. É perigoso.

— Só serei sua herdeira se ficar grávida antes de que Cel consiga engravidar outra. Ainda é minha rainha, e se me exige o cálice, então estou obrigada, pelo sentido do dever, a dar-lhe, não é?

Doyle pareceu pensar um momento, logo inclinou a cabeça. — Assim acredito, sim.

— Merry deve conservar o cálice — disse Nicca.

— Segue dizendo o mesmo — disse Rhys. — por que está tão seguro?

— Desapareceu uma vez porque não fomos dignos para conservá-lo. O que ocorreria se Merry o entrega a alguém que não é digno, e então desaparece outra vez?

— Acredito que nossa rainha permitiria a Merry conservar o cálice só por essa teoria — disse Doyle. — Não se arriscaria a perdê-lo de novo.

— Se Taranis nos obrigar a lhe dar o cálice e desaparece outra vez — disse Galen — então isso seria a última prova, de que não é digno para liderar.

— E poderíamos lhe advertir para ficar com o cálice por essa teoria —

disse Doyle — mas só em uma audiência privada. Não podemos dar indícios ou atuar fracamente para permitir que se especule que não pensamos que seja digno para ser rei.

— Não é minha corte, não é meu problema — eu disse.

— Conservá-lo é nosso problema pelo que faremos um firme intento para que assim seja — disse Doyle. — Agora, acredito que um pequeno sono viria bem a todos. Saímos para as cortes em menos de um dia, e há muito que fazer.

— O que fazemos com o cálice? Não podemos simplesmente deixá-lo aqui sobre a mesa — eu disse.

— Envolve-o com seda e leva-o a dormitório auxiliar. Coloca-o em uma gaveta a seu lado.

— Não vamos guardá-lo no cofre? A casa de convidado tem um.

— Acredito que qualquer um poderia querer roubá-lo e teria poucos problemas para arrancar o cofre da parede.

— Ah — eu disse. — Talvez estive por muito tempo entre humanos. Sigo esquecendo quão fortes alguns de nós podemos ser.

— Acredito, princesa, que não deveria esquecer coisas como estas.

Uma vez que retornemos às altas cortes das fadas, precisará recordar justamente que tão perigosos todos e cada um podem chegar a ser.

— Esta discussão está terminada? — perguntou Sage de um ponto no ar.

Doyle olhou ao redor do quarto, encontrando caras sérias em todo mundo. — Sim, acredito que assim é.

— Bem — disse Sage. — Me deve um pouco de sangue, e o quero agora.

Ouvi o Frost tomar ar para replicar, conhecia tão bem esse sussurro que disse: — Não Frost, ele tem razão. Negociamos, e os sidhes que não mantêm sua palavra são desprezíveis.

— Não voltarei com nosso acordo, mas eu não gosto.

Suspirei. tinha estado alimentando ao Sage uma vez por semana durante um mês, mas Frost tinha que abrir sua própria veia branca como o lírio uma vez, somente uma vez, e o convertia em um grande problema. Eu gostava de Frost quando estava entre seus braços. Até gostava do Frost quando contemplava sua beleza, mas começava a não gostar do Frost quando punha má cara; não o amava quando simplesmente fazia as coisas muito mais difíceis do que tinham que ser. Isto me fazia perguntar, alguma vez tinha estado apaixonada pelo Frost, ou somente tinha sido luxúria? Ou talvez estava simplesmente cansada. Cansada de que fosse sempre meu sangue e meu corpo a meta. Este era o turno do Frost para assumir que era parte de uma equipe, e realmente não queria ouvir algum choramingo sobre isso, não importa como encantado me olhava enquanto estávamos juntos.


Capítulo 11


Rhys se atirou sobre a cama, recostando-se em seu lado, e inchou os travesseiros de tal modo que pudesse ficar meio sentado contra a cabeceira. Um joelho levantado, e a outra metade do corpo inclinada de modo que alardeava de si mesmo frente a todos nós à medida que entrávamos no dormitório. O sorriso zombador em sua cara não pressagiava nada bom; usualmente o luzia quando ia chatear a alguém. Frost não respondia bem às brincadeiras, e isto é dizer pouco.

— Nada de brincadeiras, Rhys. Falo sério. Estou cansada, é tarde, e este tem sido um dia muito estranho.

Abri o criado mudo e tratei de pôr o cálice na gaveta. Não coube. A gaveta era muito baixa. Amaldiçoei brandamente em voz baixa — Acha que estará tudo bem só colocando-o na cama e o cobrindo de seda?

— Provavelmente —disse.

Coloquei a taça envolta em seda ao lado do abajur, e de algum modo queria tanto tê-la-o mais longe como o mais próxima possível. Não tinha sentido, mas queria sustentá-la em minha mão, a ter me tocando e deste modo saber que não desapareceria, e queria escondê-la no fundo de uma gaveta, enterrá-la sob um montão de roupa e nunca ter que tocá-la de novo. Conformei-me pondo-a no chão ao lado da cama, meio oculta embaixo dos encaixes poeirentos. Se alguém entrasse, não seria imediatamente evidente, e se precisasse tomá-la rapidamente, poderia fazê-lo.

— Está muito delicada esta noite — disse Rhys — Não como se tivesse estado praticando sexo lésbico quente, verdade?

Olhei-o airadamente — Foi um privilégio trazer para Maeve seu primeiro orgasmo com um sidhe em um século, mas você sabe que não o fiz com intenção.

— Me pareceu com a suficiente intenção — disse, ainda sorrindo burlonamente.

Bem, ele ia ser difícil — Só está ciumento porque eu consegui tocá-la e você não.

O largo sorriso se debilitou por seus bordes — Talvez — e o sorriso voltou para flamejar à vida — Ou talvez estou ciumento porque não consegui estar no meio.

Abri meu roupão, e no momento em que me viu nua seu olho adquiriu um olhar que eu tinha começado a conhecer bem. Era um olhar entre dor e fome, como se o desejo fosse tão forte que lhe fizesse mal de algum modo. Eu tinha assumido que esse olhar se devia aos anos de celibato, mas só Rhys me olhava dessa forma.

Eu gostava, e me perguntava a respeito disso, e sabia que era algo tão pessoal que nunca perguntaria-lhe. Se ele não me oferecia voluntariamente a história detrás disso, nunca saberia. Se ele alguma vez perdesse esse olhar, então, e só então, seria capaz de perguntar. Frost e Sage discutiam no vestíbulo detrás de nós. Rhys, infelizmente, não era o único que estava com ânimo de chatear e fazer brincadeiras.

O Sage eu não podia controlar, mas a respeito do Rhys podia fazer algo.

Avancei nua lentamente por cima da cama — Por favor, Rhys. Não chateie ao Frost, não esta noite.

Não me olhava no rosto, e acreditei que não tinha me escutado. Tentei de novo — Rhys, Rhys, aqui, a terra chamando — Estalei meus dedos para chamar sua atenção.

Piscou e tomou um comprido tempo a me olhar no rosto — Dizia algo?

Golpeei-o com um travesseiro que ele capturou e envolveu seus braços ao redor — Falo sério, Rhys. Se você fizer isto mais difícil de qualquer maneira, vou me enfurecer — Recolhi outro travesseiro e o abracei — Estou cansada, Rhys. Sério, fisicamente cansada. Quero dormir, e não ter que abrir passo entre as conseqüências emocionais de que Frost tenha tido que compartilhar sangue com o Sage — Encontrei seu olhar e me senti feliz de ver que seu sorriso se desvanecia — Por favor não faça isto mais difícil.

Mostrava-se solene agora — Está me pedindo isso ou exigindo?

— Agora mesmo lhe peço isso como uma amiga, uma amante, não como princesa.

Moveu o travesseiro detrás dele, de maneira a ficar sentado ainda mais alto — Ok, dado que perguntaste amavelmente — O sorriso apareceu de volta — Além disso, Frost não é meu tipo.

Fiz rodar meus olhos — Se você fizer uma brincadeira homossexual, o jogarei a chutes desta cama esta noite. Juro.

— Eu faria uma coisa assim?

— Sim, droga, faria. — Toquei seu braço, agarrei-o — Rhys, por favor, não faça.

Frost e Sage já estavam quase no dormitório, e agora podia ouvir a respeito do que discutiam. Frost queria que Sage tomasse seu sangue sem usar encantamento, e Sage queria usar encantamento. Desta forma havia mais diversão, estava dizendo o pequeno semi•duende.

O rosto do Rhys estava sério, e suspirou — Eu gosto de Frost, é um bom homem em uma briga, mas se tornou suscetível como o inferno em um dia de inverno desde que se uniu às cortes como um sidhe. Captei a frase solta, mas eu sabia o que Rhys queria dizer. Eu tinha visto a primeira forma do Frost, aquela forma que não tinha sido sidhe. Tinham acontecido tantas coisas que mal tinha tido tempo para pensar no significado de qualquer delas. Frost não tinha sido sempre um sidhe, ainda quando tinham me ensinado que tinha que ter sangue sidhe correndo por suas veias para te converter em um. Recordei-o dançando através da neve, infantil, formoso, da forma em que um torvelinho de neve é bonito quando o vento o levanta e o lança ao céu, em uma dança de brilhos chapeados de débil resplendor. O que eu tinha visto não tinha sido um sidhe.

Não estava segura disso, mas se não era um sidhe, então o que era? Se não tinha sido sidhe antes, então como é que era um sidhe agora? Perguntas, para as que não havia tempo para respostas porque Frost atravessou a porta com o Sage revoando em seu ombro. Não podia falar com o Frost a respeito do que tinha visto na visão na frente de Sage. Não estava segura de se Frost queria discuti-lo ainda na frente do Rhys, mas sabia que Sage não seria bem-vindo na discussão.

Sage entrou revoando sobre o homem do Frost da forma em que um duende mais alto poderia ter caminhado a seu lado — Não o farei sem encantamento, e este é o fim da discussão.

Frost sacudiu sua cabeça, todo seu cabelo prateado brilhando na luz — Não permitirei que eu disfrute, Sage, e este é o verdadeiro fim da discussão.

— Cavalheiros — eu disse.

Ambos se giraram, com idêntica expressão de irritação em suas caras. Mas a expressão do Sage trocou de zango a luxúria no que se atrasa a piscada de um olho. Voou para a cama com uma risada, revoando sobre minha cabeça como um pequeno helicóptero tratando de conseguir uma melhor visão.

Frost ficou na porta, seu semblante se manteve mal-humorado,

irritado, com uma insinuação de medo. Este se mostrou em seus olhos cinzas só uns momentos, medo real, logo se foi, perdido atrás de sua arrogância. Eu sabia que a arrogância era, em parte, para esconder algo que estivesse pensando. Eu sabia que ele era mais do que mostrava agora, mas este conhecimento realmente não fazia mais fácil tratar com ele, porque significava que estava inseguro da situação, ou não gostava. Não era uma boa coisa.

Ofereci-lhe minha mão — Vêem comigo, Frost.

— A ti iria com muito prazer, Meredith, mas não a todo o teu.

Deixei escorregar minha mão através do travesseiro que estava ainda em meu colo.

Sage não estava conseguindo um espetáculo tão bom como o que queria, mas revoou alegremente sobre mim, porque eu tendia a colocar roupas ou me cobrir antes de que tomasse sangue. Provou-se a si mesmo como de pouca confiança. Não me importa ser admirada quando convidei a isso, mas a atenção indesejada não necessitava. Imaginei que com o Rhys e Frost estava bastante a salvo. Olhando ao Frost ainda apoiado na porta, comecei a me perguntar isso.

— Esteve de acordo com isto, Frost — eu disse.

— Estive de acordo dando sangue, não permitindo que o pequeno duende trabalhe com seu encanto sobre mim.

Sage girou na metade do ar para trás, para o sidhe maior — Um sidhe que teme à magia de um semi•duende Que novidade é essa?

— Eu não te temo, homenzinho, mas não permitirei de bom grado que nenhum duende use sua magia sobre mim.

— Permitir que Sage use seu encanto quando toma sangue é o compromisso, já que eu não lhe darei sexo.

— Não é meu compromisso — disse Frost, e pareceu ver-se mais alto, mais amplo de ombros, mais seguro de si mesmo. Eu tinha aprendido que quanto mais certamente o parecia, menos o era em realidade, mas ele não estaria agradecido em que eu soubesse, ou me deixando em paz por compartilhá-lo.

Rhys se sentou em cima dos travesseiros sobre as que tinha estado reclinando-se — Princesa, posso?

Fiz um pequeno movimento e suspirei — Se pensa que pode ajudar.

— Deixa que Sage prove ao Frost — apressou-se com as seguintes palavras, devido ao ultraje refletido no rosto do Frost — tal como me provou, uma pequena lambida, nada mais. Veremos se Frost realmente sabe como um deus, ou se só sabe como sidhe.

Não era uma má idéia — Frost, permitirá que Sage tome um pouco de seu sangue e nada mais?

Frost abriu sua boca, acreditei que para rechaçar a idéia, por isso adicionei — Frost, por favor, não é a muito pedir.

Vacilou um momento, logo assentiu, uma vez — Permitirei-o.

— Sage —eu disse — Uma pequena lambida, tal como a que deu ao Rhys no outro dormitório, nada mais.

Sage voou bastante perto da cama, de modo que pude ver um sorriso realmente malévolo em sua cara, mas ele assentiu. Não confiava nisso, mas assentiu de novo e revoou para o Frost.

Frost começou a dar um passo atrás, mas pareceu compreender o que estava fazendo e se deteve no lugar em que se encontrava. A maioria dos sidhe parecia acreditar que ninguém exceto outro sidhe poderia ter o encanto sobre eles exitosamente. Isso não era certo, mas muitos deles acreditavam. O fato de que Frost não acreditasse me fez me perguntar com que tipos de magia se viu enredado. Reagia como se tivesse uma razão para temer aos semi•duendes.

— Espera — eu disse — foi Frost alguma vez entregue aos semi•duendes para ser torturado do mesmo modo como Galen foi entregue?

— Não — disseram Frost e Rhys ao uníssono.

Sage sacudiu sua cabeça — Nunca tivemos o prazer de ter a Assassino Frost brincando conosco — Lambeu seus diminutos lábios, fazendo um grande espeáculo disso, de modo que todos nós o víssemos — Humm...

Frost me olhou — Não me faça fazer isto.

— Fazer o quê? Deixá-lo lamber sua pele para que veja como é seu gosto? Não é uma injúria, Frost. Ficaste preso alguma vez no encanto de um duende menor? É isso o que te preocupa? — No momento em que o disse, soube que tinha sido muito ousada.

— Não fiquei enredado de nenhum duende — Seu rosto estava em sua maior formosura, frio e arrogante, com essa estrutura óssea que faria chorar de inveja a um cirurgião plástico. O cinza de seu traje de seda parecia quase poder mesclar-se com a prata brilhante de seu cabelo. Era como uma escultura muito formosa para ser tocada, muito orgulhoso para inclinar-se ao toque de alguém mais.

Quis lhe perguntar o que era o que estava mau, mas não me atrevi diante dos outros homens. Examinei aquela cara, arrastei meu olhar para baixo por seu peito, sua cintura, pensei em tudo o que havia sob o traje e soube que embora tivéssemos estado sozinhos, ele nunca teria admitido que algo estivesse mau.

— Prova-o, Sage — Minha voz soou tão cansada e desalentada como me sentia.

Sage avançou, suas asas apenas se moviam, como se estivesse caindo em lugar de flutuar. Abateu-se um pouco mais perto do Frost, e logo se lançou, uma mancha imprecisa de amarelo e azul e vermelho. Estava perto do teto e fora de alcance antes de que Frost pudesse lhe golpear na cara, quase como se Sage tivesse sabido que ele o faria.

Sage vaiou, e ao princípio acreditei que era porque Frost o tinha golpeado; então ouvi a raiva em sua voz — Ele não tem um sabor diferente do cavalheiro branco.

— Então toma meu sangue e deixa ir ao Frost — disse Rhys.

Sage voou perto da cama. Cruzou seus diminutos braços sobre seu peito e estampou seus pés na metade do ar, como se estivesse em terra firme — Não, negociei por dois guerreiros sidhe, e são dois o que quero.

— Darei sangue — disse Frost — Não encantamento. Estive de acordo com o sangue, não com a magia.

Rhys começou a dizer algo, mas toquei seu braço — Você terá aquilo pelo que negociamos, Sage, todo isso, mas deixa ao Frost voltar para sua cama. É inútil por esta noite.

Frost se estremeceu com minhas últimas palavras, um mero estreitamento ao redor de seus olhos, mas eu tinha feito um estudo a respeito dele, e sabia o que queria dizer.

— Quem tomará seu lugar? — perguntou Sage, voando baixo, de modo que ele e eu ficássemos cara a cara — Galen talvez? — seu sorriso conseguiu ser tanto malicia como alegria.

— Você tem um bom critério para perguntar isso, Sage — eu disse.

Pôs má cara, mas não tomou a sério — Não te compartilharei de novo com o trasgo. Não quero um gole da Escuridão — Pareceu pensar nisso um momento, logo aterrissou sobre o travesseiro em meu colo. O cetim púrpura se afundou sob seu peso. Ele era sempre mais pesado do que parecia, ou do que eu recordava — Nicca, então, já que é tudo o que nos resta.

— De acordo — assenti.

— Não perguntaste a Nicca se permitirá que o semi•duende tome seu sangue — disse Frost.

Olhei-o, e ainda tinha essa beleza que detinha os corações. A pergunta era, se a beleza era suficiente, e a reposta, é obvio, era, não — Não tenho que perguntar a Nicca, Frost. Se chamo por ele, ele virá, e fará o que lhe diga que faça. Nicca não discutirá a respeito, fará o que seja necessário fazer.

— E eu não faço — disse Frost, elevando seu queixo para cima, vendo-se como se estivesse esculpido de arrogância e desafio. Suspirei — Eu te amo, Frost.

Isto suavizou sua expressão, fazendo que a incerteza saísse à superfície por um momento.

— Te adoro em minha cama, amo muitas coisas sobre você, mas serei rainha. Serei a governante absoluta da nosso Corte. Parece esquecer o que isto quer dizer. Não importa quem seja o rei, eu de igual forma governarei. Entende isto, Frost?

— Teria uma marionete como seu rei.

— Não, teria um companheiro que sabe que algumas coisas desagradáveis devem serem feitas, e não discutiria a respeito das coisas que não podem ser mudadas.

— Não posso ser diferente de como sou — disse, e sua voz não igualou a calma de aço de seu rosto.

— Eu sei — minha voz foi suave.

Por um segundo pareceu desconsolado, logo sua gelada arrogância se deslizou em seu lugar. A máscara que tinha levado por séculos na Corte. Apartou seu olhar de mim, e não havia nada em seu rosto com o qual pudesse raciocinar. Era Frost, o Assassino Frost. Não raciocina- se com o frio do inverno. Refugia-te dele, ou morre.

Sua voz foi mais fria do que nunca lhe tinha ouvido quando disse — Enviarei a Nicca e não lhe direi nada além de que você o chamou.

— Faz isso — eu disse, e não pude impedir que minha voz aumentasse sua frieza. Estava zangada com ele, zangada e frustrada, e não sabia como salvar a situação. Era uma futura rainha, e ainda não podia dirigir minha própria vida privada. Parecia um mau sinal. Adicionei — Obrigado, Frost.

— Não me agradeça, Princesa, só cumpro com meu dever — Voltou- se, como se fosse embora.

Chamei-o de volta com minhas palavras — Frost, não faça isto. Deu a volta pela metade — Fazer o quê?

— Fazer como se tudo fosse a respeito de ti e de seus sentimentos feridos. Algumas coisas não são a respeito de ti. Algumas coisas não são pessoais absolutamente, só são necessárias.

— Posso ir?

Eu disse uma pequena oração pedindo paciência com este homem impossível, logo disse — Sim, vá, nos envie Nicca.

Foi sem um olhar para trás, esfregando-a parte baixa de suas costas,

o que queria dizer que nesse lugar tinha uma arma de alguma tipo. Frost poucas vezes estava desarmado. E quando se sentia inseguro, tocava suas armas, da mesma maneira em que algumas mulheres jogam com suas jóias.

— Bem — disse Rhys — Poderia ter sido pior.

— Muito irritado, para ser o Assassino Frost — disse Sage — e mais zangado.

— Medo — disse Rhys, brandamente.

— O quê? — perguntei.

— Medo — repetiu — Quanto mais arrogante fica Frost, mais nervoso está, e seus nervos só são outra palavra para definir o medo.

— Do que tem medo? — perguntei.

— De mim — Sage saltou no ar, girando como se quisesse luzir suas asas e sua habilidade.

Rhys sorriu abertamente — Você pode ser temível, mas não acredito que seja isso.

— Então o quê? — perguntei. Rhys se encolheu — Não sei.

Nicca apareceu na entrada. Seu cabelo até os tornozelos parecia uma capa enredada ao redor de seu corpo, mas ele o jogou sobre seu traje de seda real púrpura. A cor lhe sentava, recalçando o rico marrom de seus olhos, os toques de luz avermelhados de seu cabelo quase castanho. Isto fez parecer sua pele mais escura, mais chocolate — Frost disse que necessitava-me.

Expliquei-lhe o que necessitávamos, e simplesmente disse sim. Sem brigas, sem más caras, sem desacordos de nenhum tipo. Era mais que refrescante. Era exatamente o que a noite necessitava, algo simples antes que mais complicado. Frost em minha cama era uma coisa de grande fome, grandes demanda e prazer feroz. Esta noite, um pouco de prazer agradável, algumas demanda menores e um homem aprazível era justo que o doutor tinha ordenado.


Capítulo 12


Joguei-me para trás me inclinando sobre o braço do Rhys, me recostando contra a curva de seu ombro, minha cabeça descansando sobre o firme calor de seu peito. Nicca estava apoiado em seu ombro, seu corpo curvado justo atrás do meu. Manteve uma pequena distância entre nós, de modo que tudo o que eu pudesse sentir contra minha pele fosse o sussurro de vibração de sua aura, sua magia. Quis lhe pedir que diminuísse a distância entre nós, que deslizasse seu corpo atrás do meu, mas não o fiz. Não o havia convidado aqui para ter sexo. Era a noite do Rhys, e ele tinha deixado de me compartilhar com o Nicca depois que derrotamos ao Inominável e alguns de seus poderes tinham sido devolvidos. Eu tinha assumido que com o retorno de seu antigo poder ele estaria ainda menos disposto a me compartilhar, por isso não o tinha perguntado.

Sentir o calor da Nicca em minhas costas, fez-me querer perguntar.

Esfreguei o nariz passando-o sobre o peito do Rhys, lhe fazendo uma carícia enquanto movia minha cabeça o suficiente para lhe olhar a cara — Quero que Nicca fique conosco esta noite.

— Apostaria que quer — disse Rhys, mas seu sorriso começou a ser substituído por esse olhar sério nos olhos de um homem.

Acariciei com minha mão seu estômago, deslizando-a até seu mamilo, riscando preguiçosos círculos ao redor da auréola até que seu mamilo apareceu graças à atenção, e seu fôlego se fez um pouco mais rápido. Agarrou meu pulso — Pára isto ou não serei capaz de pensar.

— Essa é a idéia —eu disse, e ri dele, mas sabia que havia algo mais urgente que o humor em meus olhos.

— Noto que não me pede que fique esta noite — disse Sage. Aterrissou no duro, esculpido plano que era o estômago do Rhys.

— É bem-vindo a passar a noite —eu disse — mas não em minha cama, não em meu corpo.

Sage plantou seu pé na sólida carne do Rhys — É do mais injusto que eu use meu encanto para te fazer sentir sensações maravilhosas, mas que me neguem os frutos de meu trabalho. Sobretudo porque outros terão parte dessa generosidade.

— Foi você que quis dois homens sidhe, Sage. Você sabe os efeitos que tem seu encanto em mim e em outros.

Cruzou seus braços sobre seu peito — Sim, sim, só é minha culpa — Seu rosto passou instantaneamente de uma careta a um sorriso que era meio de luxúria e meio de alegria — Farei-te uma aposta.

Levantei-me do peito do Rhys o suficiente para mover a cabeça.

— Não.

— Que tipo de aposta? — perguntou Rhys.

— Não o faça, Rhys. Olhou-me — Por que não?

— Você não tem sentido o encanto do Sage, eu sim.

Um toque de arrogância sidhe mesclada com o humor do Rhys. Este era nosso calquanhar de Aquiles racial, sem ânimo de mesclas mitológicas. Nossa arrogância tinha sido nossa ruína mais de uma vez.

— Acredito que três sidhe deveriam ser suficientes para a magia semi•duende.

Toquei sua cara — Rhys, agora deveria saber que não terá que subestimar aos duendes só porque não são sidhe.

Liberou-se da minha mão. Não tinha querido dar a entender nada com o toque de seus cicatrizes, não tinha querido implicar o que sua cara dizia que ele tinha tomado como meu significado. Estava zangado agora, como sempre que lhe recordavam o que os trasgos tinham-lhe feito — Acredito que está esquecendo quem somos — Os anéis azuis em seu olho começaram a brilhar com uma delicada, vibrante cor, azul do ovo de um petirrojo, céu de inverno, tudo pulsando ao mesmo tempo que sua ira, e seu poder.

— Se eu for Cromm Cruach de novo, Merry, então Sage não pode me tocar.

Eu quis dizer "E se não o é?", mas algo em sua cara me fez deter. O que pode-se dizer do orgulho masculino? — Nunca fui um deus, Rhys. Não sei o que significa ser intocável.

— Eu sim — disse, e havia uma ferocidade nele, quase um frenetismo que eu nunca havia visto. Reconhecia o medo quando o via, em que pese a tudo. Temor a não poder ser o que tinha sido, temor a que nunca pudesse recuperar aquilo que tinha perdido. Tinha visto medo muitas vezes, em muitas outras caras sidhe. Era o medo de minha gente que estávamos fracassando como raça, que já tínhamos falhado, e todos decairíamos e morreríamos. Este era um medo que tínhamos levado nas costas muito tempo, era quase uma fobia nacional.

Se lhe dizia que não à aposta com o Sage, era tanto como que estivesse dizendo que ele não era o bastante forte, o bastante bom. Não era o que eu queria dizer, mas ele era um homem, e não importa qual seja seu sabor, todos os machos têm alguns dos mesmos defeitos. E eu era uma mulher, e não importando que sabor tenhamos, compartilhamos algumas dos mesmos enguiços. Seu defeito era a fragilidade de seu ego; o meu, que estava disposta a acariciar seu ego a quase qualquer preço. Sabia que era um engano quando abri a boca e disse, — Faz o que queira, mas não diga que não lhe o adverti.

— Então, cavalheiro branco, temos uma aposta? — perguntou Sage — Uso meu encanto para lhes enfeitiçar a todos, e se posso trabalhar com minha magia sobre três sidhe ao mesmo tempo, então ganho o desejo de meu coração.

— Rhys — disse Nicca — tome cuidado.

— Não sou tão estúpido — disse Rhys — Qual é o desejo de seu coração? Necessito sabê-lo antes de estar de acordo com isto.

— Foder à Princesa — disse.

Rhys sacudiu sua cabeça — Não posso negociar o que não possuo e esse é seu corpo, não o meu.

— Nada de entendimentos sexuais —eu disse — Não te deixarei fazer uma oferta pelo trono, Sage.

Encolheu seus diminutos ombros — Bem, se não for o ato em si mesmo, então o quê?

Tive que admitir que as semanas sentindo o encanto do Sage fluindo sobre minha mente, meu corpo, tinham me feito me sentir curiosa. Seu encanto pessoal para a sedução era o melhor que eu alguma vez havia sentido. Com apenas uma pequena dentada em minha mão, e sua magia, podia me trazer para o ponto do orgasmo. Seria uma mentira dizer que não tinha me perguntado se seria melhor se lhe permitisse me tocar. Mas isto não era algo que fizesse que de repente meu corpo estivesse quieto e tranqüilo.

Tinha os amantes mais assombrosos do mundo, mas havia coisas que eles me negavam e que se negavam a si mesmos. Tratávamos de que eu ficasse grávida, o que significava que todo o sexo tinha um só fim, e uma só forma. Se não podia me fazer um menino, não podia esbanjar a semente. Tinha persuadido a mais de um dos homens de deixar tomá-lo em minha boca, mas nenhum deles queria terminar ali, não importando como o pedisse ou o muito que eles o quisessem. Não era só o troca sexual o que lhes tinha sido proibido durante séculos, era qualquer liberação, ainda por seu próprio toque. Havia muitas coisas do sexo que eles sentiam saudades.

Podiam falar disso, mas não fazê-lo, porque era uma oportunidade esbanjada. Uma perda de semente que poderia ter sido plantada dentro de mim. A dilapidação de uma oportunidade de ser rei. Compreendi, de repente, que começava a me sentir como uma égua de cria. Alguém com quem te citaria só para engendrar um menino, não porque queria estar ali. Sabia que me desejavam, mas não sabia se realmente eles me desejariam se houvesse outra parte a que pudessem acudir. Ainda me quereriam meus bonitos homens se não houvesse um trono por ganhar?

Galen poderia, era parte de seu atrativo, mas e os outros? Não estava segura dos outros. Isto fez que meu peito se apertasse, mas não da forma agradável. Quereria o bonito sidhe a uma pequena humana, que parecia humana, se pudessem escolher em outra parte? Não sabia, e eles nunca diriam a verdade. Certamente, eles me desejavam, o que mais poderiam dizer? Mas só Galen, e Rhys me entregavam alguma atenção quando eu era unicamente uma coisa indesejada, logo que tolerada depois da morte de meu pai.

A busca incansável de um bebê tinha começado a me fazer sentir como se fosse tudo o que os mantinha junto a mim. Mas é obvio, assim era. Uma vez que estivesse grávida e soubéssemos quem era o pai, o resto se evaporariam, voltariam para essa fria distância. Não os teria para sempre. Olhei ao Rhys, o mais desço dos Corvos da Rainha, mas cada polegada dele era músculo, duro, firme e tão forte. Dava a volta para Nicca, e ele me olhou fixamente através de um enredo em seu cabelo, seus escuros olhos pareciam quase queimar o rico chocolate de seu cabelo. Tinha delineado com minhas mãos e minha boca o alado desenho de suas costas, como a mais vibrante tatuagem do mundo. Ele era quase muito gentil comigo na cama, muito submisso. Mas era belo, e por este curto tempo era meu, meu para fazer com ele o que quisesse. Todos estavam preocupados pelo fato de que não estava grávida. Eu o estive, também, mas também sabia que isso me fecharia muitas portas, negaria-me muitas coisas que eu queria. Enquanto tivesse-os, queria realmente os ter, não só para brincar de fábrica de fazer bebês.

O que era o que mais sentia saudades? Isto era fácil. Sentia saudades de sentir a um homem em minha boca, desde que estava suave e pequeno e eu podia tomar tudo dele, ainda suas bolas, logo sentir a mudança de textura, a sensação disso. Eu gostava disso, do principio até o final, e a última vez que eu tinha sido capaz de fazê- lo, tinha sido com meu último noivo. E ele não tinha sido sidhe, e não tinha sido capaz de nada próximo ao encanto do Sage. Queria sentir essa liberação quente dentro de mim mais que só em meu útero. Este não era o pensamento do Sage, que apertava coisas sob meu corpo, mas sim o pensamento de alguém vertendo-se em minha garganta.

— Ela está pensando em algo — disse Nicca.

— O que pôs esse olhar em sua cara, Merry? — perguntou Rhys.

— Se o encanto do Sage ganha a noite, quero-o em minha boca, quero a um de vós gozando no interior de minha boca.

— Você sabe por que não o fazemos — disse Rhys.

Eu tinha me sentado, separando meu corpo do Rhys — Sei, preciso ficar grávida, mas há mais sexo que a fabricação de bebês — Tomei um profundo, estremecido fôlego — Quero olhar a um de vós entregando-se, enquanto observo. Quero senti-los duros e firmes contra cada polegada de meu corpo até que gozem. Quero ser coberta nisso, não só uma ronda de fabricar bebês atrás de outra — Senti-me estranhamente triste — Uma noite algum de vocês me deixará grávida, e uma vez que saibamos quem é o pai, o resto se irá.

— Olhei-os a todos, ainda ao pequeno semi•duende que estava sobre o estômago do Rhys — Quero aproveitar ao máximo a todos vocês enquanto tenha a oportunidade.

Toquei com minhas mãos duas das coxas de homem mais largos — Vocês perderam séculos negando-se a mais coisas que só a cópula. Não querem essas coisas de volta?

Rhys se sentou, enviando ao Sage a revoar pelo ar. Rhys me abraçou — Merry, sinto muito. Eu gostaria de te agradar, mas... Separei-me dele — Mas não queremos esbanjar nenhuma semente. Sim, sim, tudo isto é muito importante. Não o discuto. Mas por uma noite aqui ou lá, quero que façamos algo que queiramos fazer, e não nos preocupar de se vamos fabricamos bebês ou não.

— Não acredito que Doyle permitiria isto — disse Nicca.

Voltei-me para ele, e senti a cólera elevando-se através de mim como um vento quente. Senti-o desatar minha magia, expandir-se no princípio de um brilho dentro de minha pele — Está Doyle nesta cama esta noite?

— Não — Nicca sussurrou, e pareceu preocupado — Sinto muito, Merry,

não quis dizer...

— Sou a princesa, e serei Rainha — sacudi minha cabeça — estou farta de que cada um de vocês discuta comigo. Bem, bem, por esta noite copularemos com dois de vocês, mas não com o Sage.

Levantei minha mão para o Sage, e ele aterrissou sobre ela. Era estranhamente pesado, como se tivesse mais peso de que devesse ter. Eu tinha sustentado à Rainha Niceven em minha mão, e não pesava nada, todo ar e sutileza, mas havia carne no Sage.

— Mas fará o que quero, não é, Sage?

— Seria um prazer para mim, princesa — Fez uma ampla reverência, logo revoou para cima, me dando um rápido beijo na boca e se elevou rindo-se no ar — Estaria surpreendida de quantas mulheres sidhe não querem chupar o pênis de um homem.

— Estiveste seduzindo muitas mulheres da Corte da Luz —eu disse.

Olhou-me para baixo, abatendo-se com suas asas salpicadas de cristal — Talvez, ou talvez muitas coisas na Corte do Ar e da Escuridão têm dentes agudos. Um homem deve cuidar onde fica a si mesmo, ou se arrisca a perder mais que sua virtude.

— Eu não mordo — eu disse.

Fez uma careta — OH! Isso é mau.

Sorri-lhe — Está bem, se você gostar do rude.

Viu-se sério por um momento — Até certo ponto, sim.

— Me mostre o ponto.

— Merry não consegue seu ponto até que tenha aos três encantados, O que conseguimos se falhaar? — perguntou Rhys.

— Nunca mais tratarei de pôr meu ponto sobre ou dentro da princesa.

— Sua palavra de honra? — disse Rhys.

Sage pôs sua mão sobre seu coração e se inclinou no meio do ar, um gesto cheio de graça, de uma estranha maneira.

— Minha palavra de honra.

Quis suspendê-lo então, porque conhecia o Sage muito bem. Ele nunca teria devotado essa particular aposta se não estivesse seguro. Mas antes de que pudesse dizer nada, Rhys disse — Feito.

Suspirei, e compreendi que, estranhamente, eu meio que esperava que perdêssemos.

Mas perdêssemos ou ganhássemos eu ia falar com o Doyle. A rainha Andais me havia dado aos guardas para que fizesse o que achasse bom, mas uma vez que tivesse um rei, ela os levaria de volta? Perderiam eles a única oportunidade que teriam no próximo milênio de tocar-se a si mesmos, de ter um orgasmo na boca de uma mulher, de cobrir o corpo dela com sua semente? Levá-los de volta, e despojá-los todos outra vez, soava a algo que Andais faria. Ela era sádica, depois de tudo. Se o pusesse isto como uma possibilidade ao Doyle, ele poderia ver as coisas da mesma maneira que eu. E se não o fazia, podia tratar com uma ordem. Embora não tinha muita esperança com isto último. Ordenar à Escuridão fazer algo com o qual ele não estava de acordo, usualmente significava que me ignoraria. Andais havia dito que a razão pela que nunca levou ao Doyle a sua cama era porque se ele a tivesse deixado grávida, ele não teria se contentado sendo o consorte; teria sido o rei mais que só de nome, e ela não queria compartilhar seu poder. Começava a ver seu ponto. A deusa me ajude, começava a estar de acordo com minha perversa tia. Não podia estar bem, não é?


Capítulo 13


Nós três estávamos reclinados sobre os travesseiros, minha cabeça recostada no ombro do Rhys; Nicca estava reclinado da parte de debaixo da cama para poder descansar sua cabeça sobre meu estômago, seu cabelo saía a turba por detrás de uma capa de seda marrom.

Sage revoava em cima de nós como algum anjo diminuto, lascivo. — Uma recompensa como esta só é recebida por uns poucos duendes.

— Com esse olhar em sua cara — disse Rhys — não estou seguro se pensa se é alimento ou sexo.

— Ambos, OH, definitivamente ambas as coisas. — Ele começou a flutuar devagar para baixo até nos encontrar.

Rhys estendeu uma mão para que ele se posasse ali, mas Sage se deslizou para o outro lado. Pus uma mão automaticamente sobre meus peitos nus para lhe impedir de aterrissar em cima deles. Me resguardando de que se posasse sobre minhas partes íntimas.

— Tomará sangue de nós, não de Merry — disse Rhys.

— Não se preocupe, gwynfor, não te passarei por cima, mas sou um amante das mulheres e é de meu conhecimento que você também é, será melhor se começo com a princesa.

— Não tinham me chamado gwynfor desde fazia muito tempo.

— Foi um gwynfor, foi um senhor branco, e o será outra vez — disse Sage.

— Talvez — disse Rhys — mas a adulação não explica por que estás na mão da Merry e não na minha, ou a da Nicca.

Sage não pesava muito, provavelmente menos de duas libras, mas ainda era torpe para sustentá-lo em cima de meu corpo. — É seu encanto, Rhys; lhe deixe trabalhar do modo que ele quer. Quero realmente dormir um pouco esta noite. A diferença dos sidhe imortais, canso-me se não dormir.

Rhys me olhou. — Não sei por que penso que isto não tem nada que ver com o sono, e mais com o fato que mudasse de lado sobre a aposta.

— Nunca foi minha aposta —eu disse — e a próxima vez que se façam apostas com meu corpo como prêmio, deveria pensá-lo antes e meditá-lo antes de que o faça sem perguntar-me isso primeiro.

— Estava aqui — disse Rhys.

— Mas nunca me perguntou.

Ele o pensou durante um segundo ou dois, logo deu uma pequena cabeçada. — Maldição, sinto muito, Merry, tem razão. Peço perdão.

— Faz um dia desde que voltou a ser uma divindade, e já cai em maus hábitos — eu disse.

— Sinto muito.

— Não peça perdão por isso, Rhys, há outras coisas das que eu preferiria que desculpasse-te.

— Como quais? — perguntou ele.

— Poderia dar a ambos umas patadas agora mesmo, Sage fará o que eu quero. Já que ele está mais interessado em dar prazer que em ser rei.

— Mas como, que se supõe que isso significa? — perguntou Rhys.

— Isso significa que se qualquer dos que estão aqui viesse mais pelo sexo que por ser o rei, eu já o teria persuadido para que fodessemos.

— Merry, Cel te matará se ele ganhar nesta corrida. Se ele for rei,

não tolerará que esteja viva. Somos sua guarda real, como se supõe, devemos proteger sua segurança por cima de todo o resto, até por cima de nossos próprios desejos, ou o teu.

Sage tomou meu dedo com suas mãos, e essa pequena carícia deteve meu fôlego em minha garganta, apressando o pulso em meu pescoço. Minha mão flutuou para baixo sem me dar conta, até descansar entre meus peitos. Sage de repente me pareceu mais pesado do que eu sabia que era, e meu braço esteve mais cansado do que deveria.

Rhys tentou apartar a vista de nós, mas pareceu ter problemas em enfocar. — O que é isto?

— Sage — Respirei.

Nicca deslizou sua cara ao longo de meu estômago, e aquela sensação pareceu como se sua bochecha acariciasse no mais profundo dentro de mim. Ele me olhou fixamente por cima de meu corpo, a mim e ao Sage. — O que tem feito ele? — Sua voz estava cheia de uma total admiração.

— Tocou meu dedo com suas mãos —eu disse.

— Merda — disse Rhys — Merda.

Sage riu, um ruidosamente encantado. — Ah, isto será muito divertido.

Rhys começou a dizer algo, mas Sage deslizou seus braços ao redor de meus três dedos médios, cavando com uma suavidade incrível sua pele contra minha mão. — O Consorte nos salve, posso sentir o que está sentindo. Sua pele é tão suave, o mais suave que alguma vez hei sentido.

Sage esfregava seu comprido corto ao longo das pontas de meus dedos. Seu cabelo me pareceu suaves plumas; como se a seda de uma aranha tivesse tecido seu cabelo, muito suave para ser verdade. O roce daquele corto sobre minha pele fez estremecer a Nicca contra mim e aproximou o corpo do Rhys com força contra meu quadril. Impaciente, preparado.

— Não o entendia — disse Rhys com uma voz tão suave como profunda.

— Tentei lhe dizer isso — eu disse. — Mas não me escutou.

— Por que podemos senti-lo quando ele te toca? — perguntou Nicca.

— Não sei.

— Eu sei, — disse Sage, deslizando seu corpo ao longo da minha mão até que ficou sentando escarranchado sobre meu pulso — Mas não vou contar.

Ele apertou suas pernas ao redor de meu pulso e de repente fui consciente de que ele não levava nada sob sua saia de teia de aranha. Ele era diminuto, mas o toque de seu sexo foi íntimo, como insinuando que o que tinha debaixo era mais imponente do que pensava.

De repente fui consciente do pulso entre suas pernas. O batimento do coração e a vazante de sangue de suas coxas golpeando contra o pulso em meu punho era como o batimento de um segundo coração, como se a mesma pulsação de meu sangue respondesse com a de seu pequeno corpo.

— A mão, gwynfor, agora te tomarei.

Tomou um momento enfocar ao Rhys, entender o que queria dizer. Uma de seus mãos estava todavia imóvel sob meu corpo, e a outra estava contra seu estômago, como se tivesse medo de ser machucado.

— Um pouco de sangue, um pequeno gosto, nada mais, gwynfor,

nada mais.

— Deixa de me chamar assim — disse Rhys.

— Mas se for o Cavalheiro branco — respondeu Sage — e o Cavalheiro branco, a mão do êxtase e a morte, não teme nada e a ninguém.

Rhys estendeu a mão para o diminuto duende, devagar, a contra gosto, sua cara já estava meio perdida pela chamada da magia sensual que o outro projetava.

A partida estava perdida antes de que Sage lhe houvesse tocado.

Sage permaneceu aprisionando meu punho, como uma dessas talhas velhas de madeira das diminutas fadas que montam em antiquários, exceto que meu punho era sacudido como uma planta e seu poder realmente me montou, montou-me com um bater de asas de suas asas florescentes, como se supunha, quando se posavam nos pequenos novelo florescentes. As flores ficariam felizes quando se posavam nelas? Como se sentiriam ao serem arrancadas de suas raízes e tiradas do céu da noite?

Sage envolveu com suas mãos diminutas o dedo do Rhys. Ele pôs sua pequena boca vermelha contra a ponta de seu dedo, como um casulo de rosa aumentado de tamanho.

Senti o pulso do Rhys como uma linha distante da música, um ritmo baixo que entrava através das paredes na noite, como quando está na cama, e lhe perguntas de onde vem por sua lonjura. Sage abriu sua boca, seus lábios ainda embutidos contra a pele do Rhys.

Rhys sussurrou — Não, não.

Sage retrocedeu o bastante para mostrar o negro brilho de seus olhos ao homem muito maior. — Vai renunciar Cavalheiro branco? Sua coragem te falhará ante um mero semi•duende?

Eu podia ver o pulso do Rhys trovejar contra a pele de sua garganta, e sua voz saiu aspera quando sussurrou. — Tinha esquecido o que aconteceu.

— Esquecido o quê? — perguntou Sage, sua boca ainda se abatia sobre a gema do dedo do Rhys.

Rhys teve que tragar para falar outra vez. — Uma vez, foram julgados no tribunal da corte, e não por seu tamanho mas sim por seu poder. Sage soltou uma pequena risada. — Recorda o que nós podíamos fazer?

— O encanto nos atraía, como a um bêbado num sábado de noite.

— Sim, Cavalheiro branco, e isso foi o que nos salvou de ser destruídos pelas duas cortes. — Sua boca se moveu devagar para o dedo do Rhys, e as próximas palavras que saíram de seus lábios fizeram que tremesse a pele do Rhys: — O Inominável tem devolvido muitos poderes, a todos nós. — Ele afundou seus dentes na carne de Rhys.

As costas do Rhys se arqueou, sua cabeça se lançou para trás, com o olho fechado.

Senti uma rápida e ligeira dor, logo uma punhalada distante de prazer.

Nicca se retorceu, subindo por meu corpo até que sua cara quase tocava a perna do Sage. Seu braço se convulsionou ao redor de minha cintura, esperando como se ele tivesse medo, ou impaciência. Eu sabia somente pela pressão de seu corpo ele me dava indícios de prazer e dor, de como poderia chegar a ser.

Sage começou a chupar na ferida, e distantemente, senti o puxão. Eu o havia sofrido bastante freqüentemente para saber o que se sentia, como se aquela diminuta boca tivesse uma prolongação, uma linha magra que ia diretamente da ponta do dedo até a virilha. Com cada chupada do Sage não deveria ter sido tão evidente a pequena ferida no dedo.

O pulso de entre as pernas do Sage golpeava contra o pulso em meu punho, rápido, mais rápido, com força, mais forte, e senti um terceiro pulso. Era como se Sage tivesse o coração do Rhys em sua mão, e Sage tragava o liquido espesso, substancioso, do coração do Rhys. Senti o tamborilar do coração do Rhys sobre o corpo de Sage, como se o homem menor estivesse tremendo, vibrando, estremecendo-se com o batimento do coração que palpitava do outro ser com o que estava conectado.

O corpo do Rhys se apertou mais contra mim. Sua virilha pressionada contra a curva de meu quadril, e quase contra sua vontade, ao parecer, seu corpo começou a mover-se contra o meu. Eu podia senti-lo grande e duro, esfregando-se contra meu quadril. Um ritmo que começou entre eles dois. Senti ao Sage chupar ao Rhys, e com cada absorção Rhys se pressionava em meu quadril, enterrado seu pênis ao longo de minha pele procurando outro caminho para se introduzir dentro de mim.

Rhys começou a brilhar com aquela luz branca que possuía em seu interior. Seu olho tricolor brilhou como um néon azul quando olhou fixamente para mim. Seus lábios estavam entreabertos e se inclinou para colocar sua boca sobre a minha, e no momento no que ele me beijou, meu poder se derramou, para que quando ele se separasse de meus lábios, a magia se arrastasse entre nós como o brilho de estrelas. Meu corpo era um resplendor branco como se me tivesse tragado a lua, e esta saísse em turba através de minha pele.

Sage se sentou entre nós como uma pequena boneca dourada, as veias de seus asas brilhavam como cristal quando são tocadas pela luz do sol. Ele não era um sidhe, mas o poder era o poder. Por um momento vi seu pulso em sua vermelha boca, como se ele realmente tivesse o batimento do coração do Rhys em sua boca.

Nicca tinha começado a brilhar brandamente, sua tatuagem de asas era um rastro fraco de cores rosadas e azuis, voltando-se cores nata e negro. Era somente o princípio de seu poder, uma primeira promessa.

A mão do Rhys sob meus ombros se convulsionou, seus dedos se cravaram em minha pele, e o senti lutar para fechar seu outro punho sobre o frágil corpo do Sage. A respiração do Rhys se voltou rápida, muito mais rápida, até que ele lançou sua cabeça para trás, arqueando seu corpo contra mim. Algo luminoso e quase líquido se moveu embaixo de sua pele, como os relâmpagos sobre as nuvens quando rompem o céu, derramando sua luz até que se extingue. Seus cachos brancos formaram redemoinhos ao redor de sua cara pela força de seu próprio poder, e seu cabelo replandecía brilhante graças ao poder, como se alguém tivesse posto varinhas mágicas acesas em vez de seus fios. Ele abriu seu olho, e vi o momento em que seus círculos azuis de néon começavam a formar redemoinhos como uma tormenta se precipitasse sobre mim, sobre todos nós. Então ele se apertou contra minha carne, tão forte que doeu, e me envolveu com seu corpo, perseguindo o poder, buscando-o. Gritou, um segundo antes de derramar-se sobre meu como um arco fluindo e gotejou ao longo de meu quadril.

A sensação fez arquear minhas costas, levantar minha mão livre para o céu, me retorcer sobre a cama, mas não podia me mover, estava apanhada entre o corpo de Rhys, e Nicca ainda estava enrolado ao redor de minha cintura e pernas.

O coração do Rhys golpeava dentro de minhas veias, apagado, então se deteve tão bruscamente que me assustou. Tive que abrir meus olhos e ver se ele estava ainda ali, ainda vivo. Era estranho porque ainda podia senti-lo pego ao longo de meu corpo, mas tinha sido o batimento do coração de seu pulso em meu corpo o que eu tinha notado. Estava derrubado a meu lado, o cabelo liso dispersado sobre sua cara, seu pescoço nu, e seu pulso pausado contra a fina pele em seu pescoço para ser apanhado. Seu poder palido era como a lua escondida detrás das nuvens.

Comecei a perguntar se ele estava bem, mas o pulso do corpo do Sage congelou as palavras em minha boca, e dei a volta para encontrar ao diminuto, com um brilhante e negro olhar fixo em mim. Sua luminescência de ouro não tinha empalidecido; parecia que tinha um brilho muito mais resplandecente do que alguma vez teve, suas asas eram como vermelho fogo que emoldurava a chama central que era seu corpo. Havia mais ferocidade, que triunfo e poder, que luxúria em sua cara. — Independemente do que minha senhora deseje, assim será — sussurrou.

Nicca aproximou uma mão tremente para um sorridente Sage. — Tão impaciente, eu gosto assim.

— Não te desfrute, Sage —eu disse, com uma voz ainda incerta, como se não estivesse bastante segura de minha voz.

— OH, mas Merry, devo. O donnan me deve por um elogio muito alto.

— Donnan? — Nicca fez essa pergunta, sacudindo sua cabeça. — Eu não sou o chefe de ninguém, sou pequeno, marrom, e diferente, Sage. — Sua voz era vacilante, pela neblina do encanto com o Rhys e eu que logo havia começando a me esfumar como a lua que se afunda detrás das árvores, Nicca parecia determinado a não ser chamado por algo que ele nunca tinha sido.

— Agora você, então, Nicca — disse Sage. Ele agarrou os dedos de Nicca e atirou de sua mão através da minha, de modo que a mão de Nicca fosse embalada entre o corpo de Sage e meus dedos. A parte posterior de sua mão estava quente deslizando-se através de meus dedos e palma. Esse simples tato trouxe uma luz pálida a minha pele com um brilho como se a lua tivesse decidido elevar-se duas vezes esta noite.

Sage arrastou a mão de Nicca através de seu próprio rolo até que se dobrou aproximando sua boca aumentada até o punho. Ele colocou um beijo vermelho contra o punho de Nicca, onde a veia azul pulsava justo por debaixo da pele, tão perto da superfície que pareceu um amante impaciente à espera para ser tomado.

Nicca avançou lentamente por cima de meu corpo para colocar-se quase em cima de mim, utilizando seu braço livre para apoiar seu peso; por um momento percorri com o olhar seu comprido e firme corpo cheio de uma luz dourada que começava a estender-se por sua pálida pele marrom, como se o sol se elevasse dentro de seu corpo. Senti sua magia vibrar justo em cima de mim como uma folha tremente pelo ar. A magia do Sage havia pego ao Rhys inadvertidamente, mas Nicca tinha aprendido do engano do outro homem, se isto era um engano, e ele estava usando sua própria magia, tentando alcançar o encanto.

Sage mordeu o punho de Nicca, e a dor o distraiu, fechado seus olhos, estremecendo seu fôlego, mas ele sustentou seu corpo por cima de mim com uma espécie de impulso. Não podia saborear o pulso de Nicca como sentia antes o do Rhys. Nicca lutava com o encanto.

Ele conseguiu mover-se sobre meu corpo, entre minhas pernas, e começo a deslizar-se para baixo, abrindo-se caminho pelo calor que vibrava de sua própria magia, me empurrando a minha e ao Sage. Isto fez que Sage vacilasse e tremesse.

Dirigi minha mão passando do peito de Nicca, para o estômago, e fechei minha mão ao redor de sua larga dureza. Com meu toque se arqueou, perdeu sua concentração.

Sage tinha derramado encanto sobre nós, e o sangue corria por meu corpo derramando uma luz branca ao longo de minha pele, fazendo dançar meu cabelo ao redor de minha cara. A pele de Nicca era de uma cor de âmbar profundo quase ouro, como o mel escuro se este pudesse queimar-se. Queimando-se assim era como uma luz dourada que eu nunca tinha visto nele antes. Era como se o encanto do Sage tivesse arrancado sua pele para revelar nada mais que o poder. Sustentei-o em minha mão, firmemente, mas ele resplandecia tão brilhantemente que eu não podia pensar nele e tive que fechar meus olhos. Foi como agarrar-se a um objeto vibrante, pulsante, um pedaço de magia sólida. Ele era veludo quente contra minha palma, uma suavidade que se deslizava palpitando sob minha mão para dançar dentro de minhas veias, derramando calor por meu corpo, como uma mão penetrante que me tocava e se deslizava dentro de mim, procurando, procurando, procurando até que seu poder me encontrava, encontrando meu centro, encontrando o que me separa e nada deveria tocar, e o poder me encheu de dentro para fora. Seu poder dourado corria com minha magia, meu corpo, meu prazer, para que seu brilho corresse antes do meu, enrolando ao meu resplandecendo brilhante e mais brilhante, até que o espaço do quarto esteve cheio de sombras brilhantes por nós, cheio das sombras que não tinham nenhum lugar nesse quarto, como se nossa luminosidade nos mostrasse somente insinuações do que poderia ter ao redor nosso, e não tinha nada para fazer neste quarto, nesta cama, nestes corpos. A magia se derramava entre nós como matéria prima e selvagem, e Sage se queimou em meio de tudo.

Caí para trás soltando um grito, me encurvando, lutando por separar-me da cama, dos homens, de tudo, de tudo o que pudesse tocar. Senti que minhas unhas cortavam carne, e isso não era o bastante.

Três coisas me devolveram a mim: uma chuva de sangue quente que caía sobre minha cara, Nicca uivando, repetidamente, e o sentir de umas asas embaixo de minhas mãos. Em algum momento entre tudo isto, não quis rasgar as asas do Sage, quando ele havia aumentando de tamanho sob minhas mãos.

Alguém agarrou meus pulsos, os sustentando sobre minha cabeça, os fixado sobre os travesseiros, e não lutei. Não podia ver. O sangue se amontoou através de meus cílios, e era muito espesso para ver através dele. Havia muita sangue para o pequeno sexo duro. Pisquei desesperadamente, e pensei que via o dobro. Dois pares de asas se elevaram ante mim como o cristal de néon. Um par pertencia ao Sage agora quase tão alto como eu, e seu peso me pressionava. Mas as outras eram maiores, quase maiores do que eu era, de cor marrom e nata, com os bordos rosados, redemoinhos azuis e vermelhos como olhos enormes nas asas. Estavam só a meio desdobrar, como uma borboleta recém saída de sua larva.

Olhei acima para a cara de Nicca. Uma cara que era a metade de dor,

e a outra metade de extase, e todo ele confundido. O sangue brilhava através de nós, como rubis líquidos, pulsando com a magia que ainda enchia o ar. O sangue era de Nicca, de onde suas asas tinham ressurgido desde sua pele.

Rhys era quem segurava meus punhos, embora ele estivesse todo o perto que podia estar na cama. Ele estava salpicado de sangue, mas lhe olhei, por que este foi absorvide, como se sua pele o bebesse. — Pensei que foste rasgar suas asas — disse-me, e sua voz estava impregnada de medo. Perguntei-me quantos de nós tinham estado gritando até o final. O sangue pareceu cativar o Rhys. Ele absorvia o poder deste sangue estranho, desta ferida estranha.

Fui imobilizada entre o Sage e Nicca, embora Sage estava mais no centro, e Nicca tinha se derrubado ligeiramente sobre meu corpo. Olhei acima para as asas, eram como cristal colorido cheios de desenhos com própria luz. As asas de Nicca estavam desdobradas quando lhe olhei, bombeando com cada pulsação de seu coração.

A boca do Sage estava manchada com líquidos rubis. Nunca tinha visto um sangue brilhar assim. Ele se inclinou para mim, sentindo seu poder, não somente seu encanto, ou o de Nicca, era o do mesmo sangue. Ele beijou meus lábios, e o poder ardeu contra minha pele, levantei minha cara para sua boca, e nos alimentamos. Ele se alimentou de minha boca como se esta fosse uma flor, e eu me alimentei dele como se fosse um copo. Bebemos, bebendo a sorvos, e lambendo o poder da boca de cada um.

Quando nos retiramos depois do beijo, a maior parte do sangue havia desaparecido, como se não tivesse existido totalmente. Rhys nos olhava como se ele estivesse esculpido em luz branca, e seu olho ardia como um sol azul. Ele se deslizou da cama, sacudindo sua cabeça. — tive o bastante, obrigado. Somente olharei o resto do espetáculo.

Não sei o que eu teria dito, ou se eu teria dito qualquer palavra, por que um dos homens que ainda estava na cama fez um pequeno movimento e me voltei para ele.

Baixei minhas mãos para tocar o cabelo do Sage. Sua pequena forma era suave, mas onde estava tocando, a suavidade era quase que insuportável; somente percorrendo com meus dedos por seu cabelo de seda fez que me retorcesse debaixo deles.

Nicca gritava, e olhei fixamente para ele, observando o medo que permanecia em seus olhos, consumido com um pouco mais escuro e mais brilhante. Seus olhos brilharam quando ele baixou sua boca para a minha. Sage se moveu justamente para deixar que Nicca me provasse.

Ele lambeu o interior de minha boca como se fosse uma tigela, e ele tentava conseguir as últimas migalhas.

Deslizei minhas mãos ao longo dos laterais de ambos os corpos. A pele do Sage era como seda quente. Em troca a de Nicca estava mais quente, queimava. Sage se retorceu sobre mim, extremamente suave e firme ao mesmo tempo. Mas Nicca parecia estar esculpido de poder, por isso era difícil sentir nada mais que a palpitação mágica que golpeada desde seu interior.

Sage arrastou seu corpo em cima do meu, sussurrando contra minha pele. — Recorda o que me prometeu, princesa?

— Sim — sussurrei — Sim.

Olhei ao Sage que aproximava seu corpo ao meu, olhando a grossura dele que estava perto da minha cara. Nicca tinha se movido para um lado, mas ele manteve suas mãos deslizando por meu corpo como se não pudesse perder o contato de minha pele. Quando Sage veio até estar ajoelhado diante de minha cara, Nicca se arrastou situando-se lentamente entre minhas pernas, ajoelhado, para que os dois tivessem lugar. Recordei que havia um espelho perto, e dei a volta para vê-los. As asas Sage estavam sobrepostas sobre o corpo de Nicca pelo que a metade dele estava oculta detrás de uma teia de aranha de cores. Suas asas estavam quase desdobradas agora, grandes e curvas, de cores luminosas.

Sage tocou minha cara, devolvendo minha atenção para ele. Eu nunca o tinha visto nu e com maior tamanho. Ele era maior do que eu tinha esperado, não mais comprido, mas sim mais amplo. Estalei minha língua com a ponta dele, e esta era tão incrivelmente suave como o resto dele. Controlei minhas mãos sobre ele, seu pênis era tão suave como as bolas dos demais homens, e a pele de seu testículo era como cetim.

Eu não tinha palavras para a delicadeza da pele de entre suas pernas.

Eram mais suaves que em um sonho, para sustentar algo mágico.

Ele tocou minhas mãos, detendo o movimento ao longo de sua pele.

— Tenha cuidado, Merry, ou gozarei antes de que eu tenha visto o interior de sua boca.

Saboreei-lhe com meus lábios, e era como chupar seda até mais quente, musculosa, e viva. A sensação da pele suave e da dureza dele me fez gritar com ele em minha boca. Lhe fazendo gritar, e arquear-se em cima de mim.

Senti o Nicca deslizar suas mãos sob minhas coxas, senti que ele me levantava um pouco por cima da cama. — Diga que sim, Merry, diga que sim. — Sua voz me chegou rouca pela necessidade, e eu sabia que se lhe dissesse Não, ele se deteria. Mas não disse que Não.

Extraí ao Sage de minha boca somente para dizer — Sim, Nicca, sim.

Senti a pressão de Nicca contra mim, suas mãos que se deslizavam mais abaixo de mim, me levantando mais alto, me sustentando no calor de suas mãos, minhas pernas se separaram até mais.

Arqueei meu pescoço para que Sage pudesse deslizar-se melhor em minha boca, por minha garganta, arqueando meu pescoço para que eu pudesse tomar sua parte mas grossa, cada polegada de sua seda entre meus lábios, entre meus dentes, mais profundamente. Ao Sage o tomava tão profundamente como Nicca se afundava entre minhas pernas.

Gritei, sendo amortecida pela doce carne em minha boca. Nicca me sustentava diante de seus quadris, ajudando-se com o arco de meu corpo, para que Sage pudesse deslizar mais facilmente em minha boca.

Vislumbrei muitas asas em cima de mim, como os mastros dos navios das fadas, então elas pareceram agarrar um ritmo. Cada um inundando-se dentro de meu corpo ao mesmo tempo, como se pudessem sentir o corpo do outro. Quente a seda musculosa em minha boca, com a carícia de meus lábios, de meus dentes, deslizando-se ao longo de minha língua, golpeado-a no fundo de minha garganta. Nicca me pareceu algo comprido e quente, quase queimando entre minhas pernas, empurrando dentro de mim até que chegasse a a parte mais profunda. De repente saíam de mim, me deixando vazia, e logo empurravam outra vez dentro, como se fosse um baile, ou uma corrida para ver quem poderia empurrar mais profundo, mais rápido, e ambos se encontravam na profundidade de uma vez. Golpearam-me profundamente, então voltaram a se retirar, quase por inteiro, para logo voltar para introduzir-se dentro, mais rápido e mais rápido. Até que começaram a contrair-se dentro de mim, e senti o pesado calor crescer dentro, me enchendo, aumentando o prazer cada vez mais, com cada impulso, com cada gosto espesso.

O pênis do Sage se parecia a luz do sol, brilhando frente a mim. Só podia vislumbrar a luz mais escura por parte de Nicca, como se o sol tragasse algo marrom e pudesse queimá-lo a distância. Fizeram que minha pele se voltasse como uma água fervendo esbranquiçada, e a chamas brancas começaram a dançar através de minha pele, e vi uma luz de ouro verde, e compreendi que meus olhos estavam acesos tão intensamente que jogavam sombras verdes sobre os travesseiros.

Traguei a luz do sol uma e outra vez; e o sol golpeava entre minhas pernas, e por cima de tudo isto suas asas brilhavam, com um baile de cores, dançando através do ar, até que vi que o quarto estava cheio de borboletas esculpidas de néon e de poder.

Nicca empurrava entre minhas pernas e era como se ele crescesse exageradamente, extremamente quente, empurrando para dentro de meu corpo, como se ele tocasse Sage que estava dentro de minha boca, como se dois sóis se encontrassem dentro de meu corpo e eu me queimasse, me afogado com seus poderes iguais, e me enchendo de prazer até o fundo, me transbordando, retorci-me sob seu peso, chupando a luz do sol com minha boca, e pressionando meus quadris com o calor entre minhas pernas. Sage se verteu quente e espesso por minha garganta, e traguei aquele poder salgado, sentindo como o brilho viajava para baixo por minha garganta e por meu corpo. Nicca me deu um impulso que pareceu queimar meu corpo com seu comprido pênis como se pudesse me rasgar em dois, me dobrar por calor, e gotejando, e o líquido encheu os lençóis, derramando-se ao longo de seus corpos, enquanto eles se derramaram com o passar do meu.

Quando recuperei a consciência, Sage estava enroscado a um lado,

apanhado por um de meus braços. Nicca estava derrubado na parte inferior de meu corpo, sobre seu estômago, suas asas encurvadas sobre ele, por suas nádegas, suas coxas, e era uma curvadura larga e cheia de graça em que as asas escapavam da cama e quase tocavam o tapete.

Eu não podia me inteirar de nada devido ao trovejar de meu próprio sangue em minhas veias. Minha audição voltava devagar, e a primeira coisa que ouvi era a risada instável de Sage. Acredito que ele disse — Como sobrevive um sidhe depois do sexo? De ser assim sempre estaria morto dentro de um mês. — Ele girou bastante sua cabeça para que pudesse ver sua cara, e seus olhos. Havia um negro anel brilhante sobre o exterior de suas pupilas mas dentro deste havia outro anel que era cinza, e dentro outro anel mais pálido de um cinza esbranquiçado. Olhei fixamente a seus olhos tricolores, e me perguntei que diria ele quando se visse em um espelho.


Capítulo 14


Sage estava posado nas pontas dos pés, olhando-se fixamente ao espelho do escritório, tão perto do virdo quanto poderia estar. Olhava fixamente seus novos olhos, parecia completamente fascinado. Parecia excessivamente fascinado com o mesmo. Quando ele esteve em minha linha de visão, olhando-o fixamente. Não podia evitá-lo. A suave pele amarela de seu corpo era como se tivesse sido banhada por um raio de luz do sol. Seu corpo era uma linha escultural desde seus pés (levantado como estava sobre as pontas dos pés) a suas pantorilhas, suas coxas, a curva de suas nádegas, o plano de seu traseiro, a elevação de seus ombros, e sobre tudo isto suas asas, que se encontravam apertadas sobre suas costas. Era uma ampla banda amarelo ouro com uma fusão de azul brilhante e com salpicaduras de vermelho e laranja, era mais clara de que eu alguma vez tivesse visto. Veias negras sustentavam a suave malha de suas asas que pareciam grossos e negros caminhos em miniatura, como se eu pudesse remontar meu caminho através de suas asas e me encontrar em outra parte. Algum lugar mágico onde os amantes alados estariam a meu serviço incondicional, e não havia nenhuma responsabilidade. Nenhum trono. Nenhum assassino.

Franzi o cenho e pus minhas mãos sobre meus olhos para bloquear aquela magnífica vista do Sage no espelho. Isto não era o que realmente queria, mas certamente, não era tampouco a pura verdade. Meu desejo mais profundo não era ter uma vida onde quem quer que viesse a minha cama só se aproximasse por luxúria, ou amor verdadeiro, ou ao menos por amizade, Só porque eu era a filha do Essus e a herdeira de um trono? O melhor encanto, as melhores feitiçarias se alimentam de suas próprias necessidades e desejos. Mais no pessoal, em segredo, é o mais difícil de resistir.

Concentrei-me em meu aspirar na escuridão com minhas pálpebras fechadas. Incapaz de ver o Sage sem ajudá-lo. Poderia pensar em outra coisa em vez do sexo que nós acabávamos de ter, desejando mais, e desejando tocar suas asas, desejando tocar suas veias grossas, essas veias negras que eram como os caminhos que conduziam ao desejo de meu coração.

Se detenha, Meredith, se detenha. Tentei não pensar, só contar minha respiração. Aspirei o ar profundamente em meu corpo, e o soltei devagar. Quando notei que meu pulso esteve mas tranqüilo, comecei a não contar as inspirações, as expirações, somente contar. Quando alcancei sessenta, baixei minhas mãos devagar.

Fiquei olhando fixamente uns musculos firmes como um tanque de lavar. Eu sabia de quem era esse estômago. Levantei a vista para cima e me encontrei com o peito do Rhys, e finalmente com sua cara.

— Está bem, Merry?

Sacudi minha cabeça.

— Não entendo.

Minha voz saiu em um sussurro, como se tivesse medo de falar mais alto. Até esse momento não me precavi de que estava assustada. Mas medo do quê?

Senti a cama mover um momento antes de que sentisse a presença de Nicca detrás de mi. Ele já não desprendia o calor que me havia queimado antes, embora era como se ele tivesse o calor da terra dentro dele. Um calor vivo que permanece debaixo de um fértil revisto, e mantém todas as sementes, e todas as criaturas que vivem em seu interior e as esquenta no inverno. Quando suas mãos tocaram meus ombros, foi como ser envolto em uma manta quente, com a manta mais suave do mundo. Tão a salvo, tão quente, como se pudesse me encolher dentro e dormir durante meses, e despertar fresca, inteira, e a terra rejuvenescesse uma vez mais. A magia da primavera era exatamente isso que havia no toque de suas mãos.

Algo deve ter se refletido em minha cara, embora fosse medo, ou desejo, ou algo mais, só a deusa sabia, porque certamente não fiz nada que o demonstrasse. Rhys perguntou de novo.

— Está bem, Merry? Sussurrei.

— Chame o Doyle. — Foi tudo o que pude dizer antes de que Nicca me acolhesse em seus braços, e plantasse um beijo na curva de meu pescoço. De repente me afogava no perfume da terra fresca e fértil, com o verdor das folhas. Sua boca tinha sabor de chuva fresca. Minhas mãos se deslizaram por seus ombros, e encontraram o arco de suas asas. Isto me fez abrir os olhos e me retirar o suficiente, depois do beijo, para olhar fixamente a novidade que tinha em suas costas.

Quando as asas tinham sido só um desenho em suas costas, seus detalhes haviam estado difusos. Agora elas estavam cheias de cor e se estendiam por seu corpo como cristaleiras idênticas. Sua cor principal era cobre pálido, como a pele dos leões, e as pontas de suas asas estavam banhadas em rosa e um violeta avermelhado. Um profundo violeta avermelhado que se tecia de abaixo para os borde dentados misturado com branco e púrpura, e terminando para um lado ao converter-se em um marron avermelhado, trancando esta cor a sua vez com dourado. Aquela linha de cores do arco íris (violeta vermelho, branco, púrpura, e marrom avermelhado) remontado-se até suas asas inferiores, com uma linha dourada.

Havia um olho azul esverdeado no centro, maior que minha mão, situado a parte superior de suas asas, perfilado com negro, e sobre um pálido amarelo que era quase como sua pele. Em um bordo aparecia um diamante azul e brilhante, e ainda por cima deste aparecia uma retrocede com um violeta avermelhado estridente. O segundo olho estava sobre a parte inferior de suas asas e era maior que minha cara, como um fundo deslumbrante de azul esverdeado, com contornos em negro ao redor de cada cor para acentuar cada sombra. No fundo amarelo pálido havia um anel ao redor que fazia brilhar mais o azul esverdeado, com uma linha fina azul avermelhada e brilhante que bordeava toda aquela cor. Havia outro anel negro mais largo ao redor do olho maior, que parecia um grosso veludo negro que rodeava um fundo cor laranja rosácea. Estas linhas dentadas de cores fluíam para baixo pelo bordo das asas superiores até chegar à frente delas em tons vermelho violeta, branco, púrpura, logo, em um traçado marron avermelhado até o bordo de suas asas inferiores e por diante com um esplendor de rosados e laranjas derramando-se como caudas largas e curvadas com graça até que estas se voltavam grossas devido à multidão de raias escuras.

As partes inferiores das asas pareciam cópias poeirentas em sua superfície, com o olho que se mostrava com o mesmo esplendor intermitente na superfície. O espesso cabelo castanho se prolongava pela pele de seda até a base das asas posando-se como uma linha entre as asas da Nicca e ocultando o traseiro a meus olhos.

Nicca beijou o bordo de minha bochecha, mas tudo o que eu podia ver eram suas asas. Ele seguiu beijando ao longo de minha bochecha, e como não olhei sua cara, mordeu-me, com cuidado, com o passar do pescoço. Isto provocou um ofego de minha garganta, mas não que olhasse seu rosto. Ele se moveu mais abaixo por meu pescoço, mordendo e me fazendo isso mais difícil.

Meus olhos se fecharam com mas força e quando os voltei abrir, sua cara estava sobre mim.

Era a mesma cara de antes, era Nicca, mas ainda assim não o era. Havia algo poderoso nele, em sua forma de olhar, em sua cara, em seus lábios. Olhei seus negros olhos fixamente e vi que queria algo. Meu pulso estava frenético em minha garganta. Tive medo do desejo que vi em sua cara. Por que mais que quisesse, era uma necessidade. Ele fez um som baixo com sua garganta.

— Preciso afundar meus dentes em ti. Preciso me alimentar. — Agarrou meus braços com tanta força que me machucava, e seus olhos expressavam medo. — O que acontece comigo? No que me converti?

— Que classe de alimento quer? — Ouvi-me fazer essa pergunta, mas não recordo ter pensado nela. Meu pulso ia mais devagar, e me sentia mas tranqüila, sossegada.

Nicca sacudiu sua cabeça.

— Não, não de comida, nem de bebida. — Ele me sacudiu, logo pareceu dar-se conta, e se deteve. Vi-o lutar consigo mesmo para relaxar seu aperto sobre meus braços, mas não me deixou ir. — Necessito-te, Merry, a ti.

— Sexo?

— Sim, não. — Franziu o cenho, então ele gritou, um som mudo de frustração.

— Não sei o que quero. — Então ele me olhou, perplexo. — Necessito- te, mas é como se fosse o alimento, bebida e o sexo.

Assenti e levantei minhas mãos até que sujeitei seus braços. Inclusive a pele de seus cotovelos era suave. Tinham sido igual de suaves antes de que as asas aparecessem? Não podia recordar. Era como se já não pudesse recordar a Nicca sem suas asas. Como se ele não tivesse sido real até que não lhe apareceram em suas costas.

— Ela é a Deusa — disse Doyle da entrada. — Todos nós ansiamos o toque dos divinos.

Através de uma calma pouco natural, sabia que ele tinha razão.

— Poderia fazer o que a Deusa quisesse, agora, esta noite.

— Mas ela é uma deusa e mortal, e precisa dormir mais do que dorme você — disse, cruzando a porta como se penetrasse a escuridão no quarto. Ele caminhou até o lado oposto da cama e, depois vacilando sozinho um momento, inclinou-se. Ficou ajoelhado na cama, e uma pressão que eu desconhecia se aliviou. Podia respirar outra vez, e meu pulso já não era um baile frenético. O medo me devolveu um brilho de adrenalina que me deixou enjoada, o medo se foi quase tão rápido como tinha vindo.

Nicca piscou ante mim, me olhando confuso.

— Que passou, neste momento? O que ocorreu? — Deixando cair meus braços e movendo-se para trás com cuidado pela cama, tendo precaução de mover-se com cuidado devido a suas asas.

Doyle ainda seguia ajoelhado a um lado da cama.

— Parece que o cálice tem uma mente própria.

— Por que pensa isso? — Perguntei.

— Por que isto se soltou e está caído debaixo da cama.

Andei ao redor da cama para conseguir ver que ele tinha o calice sobressaindo de entre a seda onde estava, destampado.

— Envolvi-o, Doyle. Inclusive se tivesse caído, não poderia haver se desempacotado, a seda era um retângulo perfeito.

Ele olhou fixamente por cima de mim, ainda sobre seus joelhos, seu dedo indicador e polegar ainda sustentando a esquina da seda.

— Como disse, Merry, o cálice tem uma mente própria, eu o poria mais longe da cama se estivesse em sua situação. Se não, terá uma noite muito ocupada sempre que um de nós venha.

Tremi.

— Por que, Doyle?

— A Deusa decidiu manter-se ocupada enquanto esteja conosco uma vez mais, parece-me.

— Me explique isso —eu disse.

Ele elevou a vista para mim.

— O cálice voltou, e desde o dia de sua volta Sua Graça flui em nós uma vez mais. Cromm Cruach anda entre nós uma vez mais, assim como o faz Conchenn. Aqueles de nós que fomos deuses voltamos para nossa antiga glória, e os que nunca foram deuses agora possuem tais poderes como nunca sonharam ter.

— A Deusa te usa Merry, como seu mensageiro — disse Rhys franzindo o cenho e sacudindo sua cabeça. — Não, Merry é como uma versão de carne do cálice. Se enche de poder e o derrama sobre nós.

— Eu não tive nada que ver com que lhe retornassem seus poderes — Disse com as mãos sobre meus quadris.

Rhys riu.

— Talvez não.

— Mas estava no quarto. — disse Doyle. Olhei-o e sacudi minha cabeça.

— Não, Doyle, o que passou com Maeve e Frost foi totalmente diferente ao que ocorreu ao Rhys.

Doyle se levantou, sacudindo-se com as mãos a parte dianteira de seu jeans desabotoados, como se se limpasse de alguma sensação em seus dedos. Limpando algo imperceptível? Poder, magia, a suavidade da seda? Quase lhe perguntei, então Sage falou.

— Olhe meus olhos, Escuridão. Olhe meus olhos, e vê o que nossa encantadora Merry fez. — Sage caminhou ao redor da cama aproximando-se do Doyle para que pudesse ver seus olhos.

— Rhys me disse que seus olhos se tornaram tricolores.

As asas do Sage de agitaram, decepcionado de que a novidade de sua notícias tivessem lhe adiantado.

— Sou sidhe agora, Escuridão, o que pensa disso?

Um sorriso se originou nos lábios do Doyle, um sorriso que eu nunca havia visto antes. Se tivesse sido outro, haveria dito que era um sorriso cruel.

— Tentaste te fazer pequeno desde que isto aconteceu? Sage lhe olhou com o cenho franzido.

— Acaso importa?

Doyle se encolheu de ombros, e aquele sorriso se fez até mais profundo.

— Tentaste trocar de forma desde que seus olhos trocaram? É uma pergunta simples.

Sage estava ainda de pé entre o Doyle e eu, então vi que tremiam suas asas, como flores acariciadas por um forte vento. Ele tremeu uma vez, duas vezes, então voltou sua cabeça e chorou. Mudo, silenciosamente, no desespero, saiu-lhe um som dilacerador.

Não foi até os ecos de seu último grito dilacerador que pude me mover pelo quarto para ele.

— Qual o problema? — Rodeei suas asas para alcançar a tocar seus ombros.

Ele se retirou a certa distância de mim.

— Não me toque! — Ele se tornou para trás, para a porta. Frost havia aparecido detrás dele na porta, e Sage se separou dele, também. Era como se ele tivesse medo de todos nós.

— Qual o problema? — Perguntei outra vez.

— Ser sidhe traz um preço para aqueles que têm asas — disse Doyle, e havia uma nota de satisfação de sua voz. Eu sempre havia sabido que existia alguma história amarga entre eles dois, mas nunca tinha compreendido quão amarga era até aquele momento. Nunca tinha visto o Doyle comportar-se tão mesquinhamente.

Sage assinalou a Nicca, que ainda estava ajoelhado sobre a cama.

— Ele não conhece nada sobre as asas. Nunca voou em cima de um prado na primavera, ou provou que doce e limpo pode chegar a ser o vento. — Esmurrou-se com seu punho no peito nu. — Mas eu sei! Eu sei!

— Eu perdi algo —eu disse. — Que diferença faz ser sidhe para o Sage?

— Roubaste minhas asas, Merry — disse-me, e havia um olhar estranho em sua cara, por sua perda insuportável, que fez que me movesse para ele. Tinha que abraçá-lo.

Tinha que tocá-lo. Tinha que tentar tirar aquele olhar de seus olhos.

Ele tendeu uma pálida mão amarela para mim.

— Não, não mais, Merry. Tive bastante de ser sidhe por uma noite. Rhys esclareceu sua garganta, e o ruído pareceu assustar ao Sage. Ele deu a volta para encontrar-se ao Rhys quase detrás dele, tendo andado através do quarto até encontrar-se de pé perto do espelho. Sage olhava confusamente ao redor do quarto como se nós o tivéssemos preso e procurasse uma saída. Era certo que Frost estava ao lado da única porta, mas ele não estava preso. Não dessa forma entendi.

Sage assinalou com um dedo a Nicca.

— Sabem como lhe chamaríamos nós se ele tivesse nascido com suas asas desde menino?

Cada um pôs cara de não saber, embora parecesse que estávamos com um pouco de humor e arrogância. Então foi Rhys quem disse:

— Rendo-me. O que chamariam a Nicca se ele tivesse obtido suas asas quando era menino?

— Maldito. — Sage cuspiu a palavra como se esta fosse a pior coisa que alguma vez poderiam chamar a alguém.

— Maldito, por quê? — Perguntei.

— Ele tem asas mas não pode voar, Merry. É muito pesado para que as asas de uma borboleta possa levá-lo alto — golpeando seu peito com o punho — Como sou muito pesado agora para as minhas.

— O que aconteceu? — perguntou Galen da entrada. Esfregava-se os olhos por causa do sono. Seu dormitório era o mais afastado deste quarto. Antes de que qualquer de nós pudesse responder, Sage se aproximou para ele, roçando ao Frost de passada.

— Olhe, Olhe o que me passou!

Galen olhou boquiaberto ao Sage.

— Que... seus olhos.

Sage passa a seu lado lhe empurrado, grunhindo uma última frase sobre seu ombro alado.

— Malvado, sidhe malvado. E se foi.


Capítulo 15


— Rhys, vai com ele — disse Doyle — Cuida para que não sofra nenhum dano.

Rhys se foi sem uma palavra. Estava ainda nu, igual a Sage. Tive um momento para rogar que não houvesse ninguém fora da muralha com uma câmera com visão noturna. Então compreendi que a má publicidade era a menor de nossas preocupações. O fato de que pensasse nisso, provava que eu tinha passado muito tempo afastada do mundo das fadas, muito tempo entre os humanos.

— Que dano poderia sofrer Sage? — perguntei.

— Ele mesmo — disse Doyle.

— Quer dizer que ele poderia fazer mal si mesmo porque agora não pode voar.

Doyle assentiu — Soube que outros duendes alados que se deixaram debilitar até morrer quando perderam suas asas.

— Eu supunha que ele não era malvado.

— Os sidhe são em sua maioria mais perigosos quando nos parecem menos malvados — disse Frost, e sua voz continha um amargura que eu nunca lhe tinha ouvido antes.

— É minha noite — disse Nicca. Não tinha tomado parte na conversa até agora, e quando examinei seus olhos marrons o que vi fez que se contraíssem algumas coisas na parte baixa de meu corpo. Sua necessidade era tão crua, não era a gentil necessidade que pelo em geral mostrava, era algo muito mais feroz.

— Te olhe — disse Doyle — Ainda está ébrio de poder. Acredito que o cálice ainda não há terminado contigo ainda, Nicca, e temo o que isto poderia fazer a nossa Merry.

Nicca sacudiu sua cabeça, seus olhos ainda sobre mim, como se nada mais fosse realmente verdadeiro. — Minha noite.

Galen tinha entrado no dormitório e olhava fixamente as asas de Nicca. — Ok! Isto é novo.

— Há muitas coisas novas esta noite — disse Doyle, e soou cauteloso. Nicca os ignorou a todos. — Minha noite — Estendeu sua mão para mim.

— Não — disse Doyle, tomou minha mão, e me conduziu longe da cama.

— Ela é minha nesta noite — disse Nicca, e por um momento pensei que veríamos uma briga, ou ao menos uma discussão.

— Tecnicamente, esta é a noite do Rhys — disse Doyle — e ambos obteram seu prazer .

— Se Rhys tiver tido sua noite — disse Frost, — então esta é sua noite, Doyle.

Nicca converteu suas mãos em punhos. — Não, não terminamos — E sua voz era como se pudesse te chamar do mais profundo do interior da terra. Podia ter asas, mas sua energia era toda da terra.

Doyle me moveu detrás dele, a fim de criar uma barreira entre Nicca e eu que ainda encontrava-se ajoelhado sobre a cama, com suas asas cobrindo-o como um manto mágico.

— Escute a ti mesmo, Nicca. Eu não sei o que a Deusa planejou para ti, mas até que não estejamos seguros de que isso não ferirá Merry seremos cautelosos, você, uma divindade, ou o que seja, não merece a vida de nossa Merry.

Joguei uma olhada por sobre o escuro braço do Doyle e vi Nicca lutar por controlar-se. Era como se outra coisa quisesse isto, e essa outra coisa não se preocupava especialmente do que Nicca queria, ou deixava de querer.

Terminou por ficar engatinhando, suas asas ondeando ao longo de seu corpo. Seu cabelo esparso através de sua cara e os pés da cama como uma espessa água marrom.

Tomou uma pausa que fez percorrer um tremor ao longo de suas costas, estremecendo os arco-iris de suas asas. Elevou seu rosto para a luz, com um olhar quase de dor, mas assentiu. — Doyle tem razão, Doyle tem razão — murmurava uma e outra vez, como se quisesse convencer não só a si mesmo, mas também a quem quer que o estivesse controlando.

Doyle deu um passo adiante e pôs uma mão gentil sobre a cara de Nicca — Lamento, irmão meu, mas a segurança de Merry deve vir em primeiro lugar.

Nicca assentiu, quase como se não se precaveu de que Doyle lhe havia tocado. Seus olhos não estavam enfocados em nenhuma das coisas do dormitório.

Doyle se moveu para trás pela cama, utilizando seu corpo para me mover para trás, como se ainda não confiasse em Nicca. — Ninguém que não se converteu em deus pode deitar-se com Merry até que tenhamos entendido o que o cálice e a Deusa querem.

— Isso deixa só ao Frost e Rhys — disse Galen. Não soava contente.

— Só Frost até que saibamos com certeza quanto poder recuperou Rhys — esclareceu Doyle.

— Nem tanto poder como tinha esperado — disse Rhys da entrada do dormitório. — Sage me fez dar cambalhotas esta noite.

— Onde está Sage? — perguntei.

— Parece que Conchenn se sente atraída por todo o poder. Ela está consolando a nosso novo sidhe.

— Pensei que ele tinha tido suficiente dos sidhes por uma noite —disse Galen.

Rhys se encolheu. — Conchenn pode ser muito persuasiva.

— Quão desesperada deve estar para tomá-lo nela — disse Frost.

— Não sei —eu disse. — Ela deixou bastante claro durante as últimas duas semanas que gostaria de ter a qualquer de nós em sua cama.

— Ela nos teve em sua cama — disse Doyle.

Olhei-o com as sobrancelhas arqueadas. — Só para sustentá-la enquanto se lamentava de si mesma antes de dormir, Doyle. Este não é o tipo de cama que queria dar a entender.

Doyle mostrou a sombra de um sorriso. — Quando a pena de Maeve começou a diminuir, ela realmente deixou claro... que teria tomado um consolo mais ativo.

Surpreendi-me desse sorriso! Possivelmente Maeve tinha sido mais "ativa" em seus intentos por seduzir a minha Escuridão do que eu sabia.

Rhys soprou. — Bem, ela está conseguindo um consolo muito ativo neste momento.

— Você não entende — disse Frost. — Nenhum de vocês.

— O que não entendemos? — perguntei, elevando a vista para seu friamente formoso rosto.

— Quão grande tem que ser sua necessidade para tomar ao Sage.

— Ele é sidhe agora. Se for permanente, não sei, mas por esta noite ele é sidhe.

— Será permanente — disse Frost.

Franzi o cenho. — Não —eu disse. — Você pode ser convertido em sidhe por uma noite através da magia, como as Lágrimas do Branwyn, sendo sidhe de nascimento, ou não.

— Isso não é verdade — disse Frost.

Tive uma repentina imagem dele como um formoso menino dançando através da neve. Não tinha nenhum problema com alguém que tinha começado a "viver" como qualquer outra coisa de carne propriamente sidhe. Parecia de algum modo em seu pleno direito. Mas os duendes menores, ou os humanos, não se convertiam de repente em sidhe. Simplesmente não o faziam.

— Antigamente nós trouxemos os sidhe até nós, igual a compilamos os frutos do bosque — disse Frost. — Simplesmente tomaram.

— Meu pai nunca me falou de tal coisa — Não quis implicar que não lhe acreditava, até quando havia duvida em minha voz.

— Isso ocorreu faz dois mil anos ou mais anos atrás — disse Doyle. — Perdemos essas capacidades com a primeira guerra entre os seres sobrenaturais. Muitos de nós rechaçam falar de coisas que estão verdadeiramente perdidas.

— Penso que não estão tão perdidas como nos levaram a acreditar — disse Frost.

— Ninguém nos enganou — disse Doyle.

Frost lhe deu um largo olhar — Foi a Corte da Luz quem nos extraviou o cálice, Doyle. Eles foram quem nos despojaram de muito do que fomos.

Doyle sacudiu a cabeça. — Não terei esta discussão contigo, ou com qualquer de vós — disse, olhando ao Rhys e ao Galen.

Galen estreitou suas amplas mãos. — Nunca tive esta discussão com ninguém.

— É muito jovem — disse Doyle.

— Então, pode explicar para aqueles de nós que estamos por debaixo dos quinhentos anos?

Doyle lhe ofereceu um pequeno sorriso. — A maioria das grandes relíquias que simplesmente desapareceram foram as relíquias da Corte da Luz. As relíquias da Corte do Ar e da Escuridão permaneceram, embora diminuíram seu poder.

Alguns acreditam que a Corte da Luz ofendeu à Deusa, ou ao Deus,

perdendo seu favor.

— Achamos que fizeram alguma coisa tão terrível que o rosto da divindade tinha se afastado deles — disse Frost.

Olhei-o. — Assumo que você acha.

Ele assentiu, e seu rosto se assemelhou a uma formosa escultura, muito bela para ser real, muito arrogante para tocá-la. Retirou-se detrás da gelada máscara que tinha utilizado por séculos na Corte do Ar e da Escuridão. Entendi agora que esta era uma forma de amparo, de camuflagem, se se quiser, para manter sua dor escondido. Eu tinha descascado algumas de suas capas e encontrado o que ele escondia.

Infelizmente, parecíamos nos afundar no mau humor, na fase de exploração da dor. Esperava com impaciência transpassar através de outra de suas capas. Tinha que haver nele algo mais que o mau humor. Tinha que haver, Ou não havia?

— Muitos acreditam — disse.

Doyle se encolheu. — Eu só sei que minguamos e viemos às Terras Ocidentais. Além disto, não sei nada com certeza — Dirigiu um feroz olhar a Frost. — E tampouco você sabe.

Frost abriu sua boca para falar, mas Doyle o cortou com um gesto — Não, Frost. Não reabriremos esta ferida. Não esta noite. Não é suficiente que você compartilhará seu corpo até que estejamos seguros de que para o resto de nós é seguro?

— Volto para a cama — disse Rhys, e foi o bastante abrupto como para que todos o olhássemos. — Não quero tomar parte desta velha discussão, e depois de que o encanto do Sage me tocou tão facilmente, não confio em ser realmente Cromm Cruach.

Se não sou um deus, então sou muito perigoso para estar perto de Merry —Me soprou um beijo. — boa noite doce princesa, temos que fazer as malas pela manhã e pegar o vôo a St. Louis. Não fiquem em pé falando toda a noite — Meneou um dedo para nós e partiu.

Galen olhou a todos. — Seria melhor que eu fosse também — Dirigiu- me um olhar carregado de dor. — O que seja que esteja passando, espero que o esclareçamos logo.

Chamei-o — Veja o Kitto. Tanto ruído poderia havê-lo despertado.

Assentiu e partiu, com cuidado de não olhar atrás, como se não quisesse ver.

— A seu dormitório também, Nicca — disse Doyle.

— Não sou um menino para ser enviado a meu dormitório, Doyle. Todos piscamos para ele, posto que nunca antes tinha falado assim a Doyle, realmente a ninguém.

— Ao que parece ganhaste nervos com suas asas — disse Doyle. Nicca lhe dirigiu um olhar de poucos amigos. — Se você vier comigo,

então irei.

— Está querendo dizer que Doyle está tratando de desfazer-se de ti, para poder me ter par si mesmo? — perguntei.

Nicca só manteve seu olhar hostil sobre o Doyle.

Frost saiu de seu profundo ensimesmamento o suficiente para olhar a Nicca — Nicca, sou eu quem pede ao Doyle que fique. Nicca enviou seu escuro olhar para o Frost. — Por quê?

— Porque confio nele para manter a Meredith a salvo.

Nicca se arrastou fora da cama, e se parou em frente de nós, muito direito, uma magra, musculosa visão marrom, emoldurada com uma catarata de espesso cabelo, e aquelas asas. As asas pareceram me fascinar mais do que deveriam. Não era que não fossem adoráveis, mas apanhavam minha visão, minha atenção. Algo queria que eu as tocasse, que me envolvesse em seu esplendor e cobrisse meu corpo com essa paleta de pós multicoloridos.

Doyle tocou meu braço e me fez saltar. Meu pulso de repente esteve em minha garganta, e não recordei porquê. — Deve ir esta noite, Nicca. Você a fascina da maneira em que as serpentes fascinam aos pequenos ratinhos. Não sei o custo que poderia ter terminar com esta espécie de posse que parece ter sobre ela, mas não arriscarei sua vida para averiguar.

Nicca fechou seus olhos, deixou cair os ombros, de modo que as pontas inferiores de suas asas se arrastaram contra o piso e teve que endireitar seus ombros outra vez. Usou uma magra mão para apartar a queda de seu cabelo de seu rosto, de modo que este caísse como uma catarata castanha por um lado de seu corpo. — Tem razão, meu capitão —Algo vizinho na dor cruzou por seu rosto. — Eu verei se tem outra cama vazia para passar a noite. Se seguimos arruinando dormitórios terminaremos nos esgotando —Quando esteve perto de mim, alcancei-o para lhe acariciar as asas e Doyle agarrou minha mão, me empurrando contra seu corpo, uma mão sobre meus pulsos.

Nicca me olhou fixamente por sobre seu ombro, logo olhou ao Doyle.

— Falaremos disto mais tarde, Escuridão — Novamente, essa não parecia ser a voz de Nicca, e ainda o olhar de seus olhos era algo que eu nunca tinha visto.

Doyle imediatamente deu um passo atrás, me sustentando contra ele. — Com muito gosto, mas não esta noite.

Frost tinha se movido até o lado do Doyle, seus próprios problemas esquecidos ante a surpresa de ver Nicca ameaçar ao Doyle. — nos deixe agora, Nicca — disse Frost.

Nicca voltou seu olhar para o outro homem — Falarei contigo também,

Assassino Frost, se assim o desejar.

— Não os desafie, Nicca, por favor, não o faça —eu disse.

Voltou seu olhar para mim, e seu olhar fixo subiu e desceu por meu corpo. Havia algo em seu olhar que era quase apavorante, como se não só estivesse pensando em sexo, a não ser em um pouco mais permanente. Era um olhar que sentava sua propriedade privada.

— Pede-me que não os desafie, enquanto você te pressiona contra o corpo semidesnudo do Doyle — Sua expressão era algo que nunca lhe havia vista antes, como se alguém estranho estivesse dentro do corpo de Nicca, usando seu rosto. Girou a cara desse estranho para o Frost. — E você, que não tem idéia do que significa ser um deus. Seria agora o rei sobre todos nós? Se for o único homem em sua cama noite após noite, será. Sua voz soava espessa, com uma desconfiança tão amarga que estava perto da aversão.

Frost se moveu um pouco em frente de nós. — Não tinha visto esse olhar por muitos largos anos, mas lembro da sua inveja, e o que esta custou a todos.

Foi Doyle quem disse — Dian Cecht. De algum modo você está no poder do Dian Cecht.

Não entendia o que estava passando, mas não era bom, nem muito menos, de acordo ao que eu sabia.

— Dian Cecht foi um dos Tuatha Do Danaan originais, o deus curador,

mas, por que o chama com esse poder?

— Conhece o resto da história? — perguntou Doyle.

— Matou a seu próprio filho por ciúmes, posto que ele tinha ultrapassado a seu pai nas habilidades de cura.

Doyle assentiu.

Nicca vaiou, e sua cara, por um momento, foi monstruosa. Logo, foi formoso de novo, exceto pelo ódio em seus olhos.

— Está possuído —eu disse. Minha voz foi suave devido ao terrível disto.

— Você parou o processo antes de que este terminasse — disse Frost. — Há causado isso esta abominação?

— Não sei — disse Doyle, de novo, mas eu podia sentir seu coração pulsando contra meu cabelo. Soube que tinha medo, mas só o excesso de velocidade de seu pulso o demonstrou.

Nicca caiu, quase desacordado, então elevou seu rosto, e eu pude ver o terror ali.

— Eu estava zangado porque nos deteve. Estava ciumento. O cálice te traz o que se entrega. Minha cólera fez isto — Gemeu — não posso lutar contra isto.

Rezei uma oração que havia dito milhares de vezes anteriormente — Mãe, ajuda-o — No momento em que as palavras me abandonaram, senti que o mundo se contraía a meu redor, como se o universo tivesse tomado um fôlego. Apareceu uma luz incandescente do outro lado do dormitório, como se a lua se elevasse ao lado de nossa cama. Giramo-nos e olhamos. O cálice estava colocado contra a parede, onde Doyle o tinha deixado, mas havia uma luz provindo desde ele. Recordei meu sonho onde o cálice fazia sua primeira aparição, recordei o sabor da luz pura, puro poder, sobre minha língua.

— Me solte, Doyle —eu disse. Suas mãos se afastaram de mim. Não soube se foi porque obedeceu-me ou pelo brilho de luz de lua que provinha dessa taça de prata.

O rosto de Nicca era o seu próprio de novo, mas soube, de algum modo, que o fim do perigo só era algo temporal. Assim que o brilho se desvanecesse, Dian Cecht voltaria. Precisávamos terminar antes disso.

Comecei a segurar sua mão, a me inclinar sobre seu corpo, mas uma insinuação de fealdade cruzou sua cara. Dian Cecht ainda estava ali, e o corpo da Nicca era o bastante forte para fazer pedaços inclusive das paredes. — Te ajoelhe —eu disse. E por que era Nicca, caiu sobre seus joelhos, sem duvidar. Teve um momento para colocar as pontas de suas asas com o passar do piso, de modo que estas não se dobrassem, logo levantou sua cara e olhou-me fixamente, pacientemente, esperando.

— Alguém segure seus pulsos.

— Por quê? — perguntou Frost, mas foi Doyle quem simplesmente se pôs a meu lado. Foi Doyle quem tomou os pulsos de Nicca entre suas escuras mãos e os sustentou diante do outro homem.

Movi-me detrás de Nicca, dando cuidadosamente um passo por sobre a delicada graça de suas asas estendidas através do piso. Empurrei meus pés nus entre suas pernas, e ele separou seus joelhos, de tal forma que pudesse estar de pé entre suas pernas, meu corpo pressionando suas nádegas, sua cintura, seus ombros, sua cabeça descansando contra meus seios. Abanou suas asas, e por um momento me perdi entre elas, e essas asas aveludadas deixaram cair sobre um rocio de deslumbrantes cores sobre minha pele.

Deslizei minha mão para cima pela parte de atrás de seu pescoço, chegando a seu cabelo e inundando minha mão em seu calor, enterrando meus dedos em sua pele, para assim poder sentir o calor de seu corpo. Atirei sua cabeça para trás, com um punhado de seu próprio cabelo como cabo, para bisbilhotar em seu rosto e estender seu pescoço em uma larga e perfeita linha.

Olhei dentro de seus olhos marrons e sua boca já se enfraquecia quando me inclinei para ele.

Houve um momento em que a outra pessoa tentou usar sua cara, tratou de desdobrar todo seu ódio e inveja através de seus doces olhos, mas o sustentei pelo cabelo, sua cara apanhada por meus beijos, e Doyle mantinha seus pulsos presos, como uma corda negra. Dian Cecht lutou, mas era muito tarde. Beijei essa boca, e senti o poder ir de meus lábios aos seus. Foi como se meu fôlego em si mesmo fosse mágico, e o respirei em sua boca, em um comprido, estremecido suspiro.

As asas de Nicca se fecharam a meu redor como uma coberta de veludo, suave e restritiva, por isso tive medo de lutar contra elas, medo de rasgá-las em pedaços. Seu corpo tremeu sob minha boca, e suas asas se estremeceram a meu redor até que senti as diminutas e suaves peças de cor cair como chuva seca sobre minha pele. O poder começou a terminar-se, e quando este decaiu, a boca de Nicca se alimentou da minha. Suas asas se estreitaram a meu redor, estreitaram-se e relaxaram, se estreitaram e relaxaram, e era como estar sendo abraçada por algo mais delicado que o pensamento e com cada movimento de suas asas mais e mais tinta caíam em corrente sobre mim, brilhando.

Entreguei a esse beijo, a essas asas trementes, a carícia aveludada do pó que caía ao longo de meu corpo, e vi Nicca parado em um prado, brilhante com flores do verão. Era de noite, mas Nicca resplandecia de forma tão brilhante que as flores tinham se aberto como se ele fosse o sol. O ar de repente se encheu de semi•duendes, não as quantas dúzias que eu tinha visto, a não ser centenas. Era como se a terra tivesse se aberto e os tivesse arrojado para o céu. Então compreendi que estas eram as flores; as flores tinham desenvolvido asas e enchiam o céu.

Nicca se elevou no ar como se estivesse caminhando por cima das pontas do pasto, e compreendi que estava voando, voando para cima, através de uma nuvem de semi•duendes.

Então eu caí, quase como se retrocedesse para meu corpo. Eu ainda estava parada pressionada contra o corpo da Nicca, uma mão ainda entrelaçada em seu cabelo, mas era a cara do Doyle a que olhava fixamente. Seus olhos se alargaram, e abriu a boca como se fosse falar, mas era muito tarde. Não podia me tocar, mas estava tocando a Nicca, e eu também.

Era de noite em um bosque que nunca tinha visto antes. Um enorme carvalho se estendia como um teto sobre minha cabeça, seu imponente tronco nodoso era grande como uma casa. Seus ramos estavam nus devido ao outono tardio. De alguma forma soube que não estava morto, só descansava, preparando-se para os frios de inverno. Enquanto olhava, uma magra linha de luz cruzou a casca da árvore. A luz se alargou, e compreendi que era uma porta, uma porta no tronco da árvore, que se abriu de repente.

A música saiu em turba para a escuridão, em um banho de luz dourada. Uma figura coberta de negro apareceu na porta, entrou na escuridão da noite outonal, e a porta se fechou atrás dele. Pareceu mais escura do que tinha parecido antes, como se meus olhos se deslumbrassem com a luz. Arrojou sua capa para trás, e vi o rosto do Doyle elevar a vista para os ramos, examinando a fria luz das estrelas. As sombras sob as árvores por todos lados começaram a fazer-se mais brumosas, mais sólidas, até que se moveram coisas, formaram-se, e se giraram e me olharam, com olhos que queimavam com fogo vermelho e verde. Abriram bocas cheias de dentes parecidos com adagas e um a um voltaram suas grandes e escuras cabeças para o céu e uivaram.

Doyle esteve de pé na escuridão escutando essa música lhe atemorizarem, e sorria.

Ouvi a voz do Frost, distante como em um sonho — Meredith, Meredith, pode me escutar?

Quis dizer que sim, mas não podia recordar como se falava. Não podia recordar onde estava, estava em um prado no verão sendo acariciada por milhares de asas, ou estava na escuridão com a música de sabujos rugindo a meu redor? Ainda estava de pé pressionada contra o corpo da Nicca, ou ainda olhando fixamente o rosto sobressaltado do Doyle? Onde estava? Onde queria estar?

Era uma pergunta fácil. Queria estar no dormitório. Queria responder à voz frenética do Frost. No momento em que pensei, ali estava. Distanciei-me de Nicca, que ainda se ajoelhava no chão, Doyle, desconcertado, moveu-se contra a parede.

Nicca caiu para frente, sobre seus cotovelos, quase como se tentasse sujeitar-se da queda.

Doyle ofegou — Merry — mas parecia que o que tinha ocorrido os havia esgotado aos dois. Com a Maeve e Frost, eu tinha ficado esgotada e débil, mas não desta vez. Dei a volta para o Frost, e ele estava me olhando fixamente, com uma mescla de maravilha e medo.

— Não me sinto cansada desta vez — disse-lhe. Avancei para ele, deixando aos outros dois homem ofegando no piso, detrás de mim. Frost se moveu, afastando-se de mim, e não devia estar pensando claramente, posto que ficou entre a cama e o aparador, apanhando- se a si mesmo. Sacudia sua cabeça, uma e outra vez — Te olhe, Meredith, te olhe — Assinalava o espelho.

O primeiro que vi foi cor. Minha pele estava percorrida por franjas de cor canela, rosado, violeta, púrpura e um branco que quase se perdia contra o branco resplandecente de minha pele. Café avermelhado, como brilhantes bandas de sangue seca, percorriam os lados do meu corpo. Um choque de vibrante verde azulado tocava cada ombro, e mais abaixo, ao longo de minhas pernas. Negro e amarelo se desdobravam ao redor deste iridescente azul esverdeado, e um golpe de azul tão brilhante parecia como se pudesse mover-se, brilhou sobre o ombro e a pantorrilha. Com a magia sobre mim, minha pele brilhou como uma pérola com uma vela apanhada em seu interior, mas a cor atuava como prismas, de modo que minha magia consumia-se com cada gota de cor, de forma que ia deixando um arco-iris brilhante, como se as asas de Nicca tivessem explodido ao longo de minha pele. Meus olhos queimavam com um fogo tricolor, ouro fundido, verde jade, e um esmeralda para envergonhar à gema mais brilhante. Mas meus olhos não só cintilavam. Cada linha individual de cor parecia de fogo, como se uma chama lambesse meus olhos. Recordei as sombras de dourado e verde que meus olhos tinham arrojado quando fiz amor com o Sage e Nicca, e compreendi que isto deve ter sido o mais parecido que se viram meus olhos: as coloridas chamas que exsudavam tanto um como o outro eram parecidas com fogo real, primeiro uma cor, logo a seguinte, sempre em movimento. Olhei-me atentamente no espelho, me parando na ponta dos pés para ver-me mais de perto e me dei conta de que estava parada como Sage o tinha estado mais cedo. Meu cabelo se parecia com os rubis, mas esta noite era como se cada fio tivesse o fogo conteúdo de um rubi, de modo que meu cabelo queimava ao redor de minha cara, acariciando meus ombros.

Tinha me visto antes com minha magia nua, mas nunca como isto.

Era como se realmente me tivesse abrasado de poder esta noite.

— Você não me deseja, Merry — disse Frost — Não nasci sidhe, não sou um consorte apto para uma deusa.

Dei a volta e o olhei com meus olhos ardentes. Em certo modo esperei que o movimento trocasse minha visão, mas não foi assim. — Vi-te dançar através da neve. Foi como um formoso menino.

— Nunca fui um menino, Merry. Nunca nasci. Eu era um pensamento, uma coisa, um conceito se quiser. Sim, um conceito ao que foi outorgada a vida pelos deuses. Vida outorgada pelos mesmos deuses cujo poder corre através de meu corpo. Sua desconfiança e vigilância aumentaram e me converteram em Assassino Frost foi por isso que não pude ficar na Corte da Luz.

Movi-me para ele, me afastando do espelho. — São eles tanto menos que o Assassino Frost da rainha?

— Justamente essa é a questão, Merry, eles são meus iguais. Eu podia ser melhor que eles com as armas, mas eles me olhavam e recordavam o tempo em que eu era menos que eles, quando eles eram mais, e isto os fazia mal.

— Então lhe voltaram as costas. Ele assentiu.

Estava de pé diante dele agora, tão perto que deslizei meus dedos por seu traje, mas tão ligeiramente que tudo o que senti foi o tecido, e não o corpo debaixo. Mas eu desejava o corpo sob as roupas. Tive uma repentina imagem dentro de minha cabeça, brilhante e imediata, de meu corpo pressionado ao longo da pálida pele do Frost, até que ele se visse rodeado com aquele aceso banho de cor. Era tão real que fechei meus olhos, arqueei minhas costas, e estendi minhas mãos.

As mãos do Frost agarraram meus braços — Merry, está bem?

Abri meus olhos, encontrando seu rosto preocupado. Olhei para baixo, suas mãos, no lugar em que sustentavam meus antebraços. Estes eram uma das poucas polegadas de pele que não continham nenhuma cor, de modo que suas mãos estavam ainda completamente brancas. — Estou melhor que bem, Frost — Minha voz soava estranha, mais profunda, quase oca, como se tivesse me convertido em uma casca vazia, e minha voz ressonasse nela.

Retirei meus braços de suas mãos e puxei o cinto de sua túnica. Um puxão firme e o cinto se desenrolou, a túnica começa a abrir-se.

Frost agarrou minhas mãos desta vez — Não quero te fazer mal.

Ri, e minha risada tinha um som selvagem — Você não pode me ferir. Apertou ainda mais minhas mãos, até fazer-se quase doloroso — Está transbordante de poder, mas isto não significa que ainda não siga sendo mortal.

— Pode-se obter a divindade só uma vez, e você já teve sua oportunidade — eu disse — agora é só magia suplementar com a que tem que aprender a lidar. É simplesmente uma questão de disciplina, prática e controle — Atirei de minhas mãos, e ele afrouxou seu apertão, o suficiente para poder atirar e ficar livre. Coloquei a mão naquele bordo aberto de túnica, encontrando o pequeno laço que ainda a mantinha fechada, e o puxei. A túnica ficou aberta, revelando uma magra linha de pálida carne. — E eu sei que você é disciplinado, Frost, controlado — Deslizei minhas mãos dentro dessa seda, tocando a pele debaixo — e se a prática faz ao professor, certamente esse é você.

Ele riu então, abrupta e quase alarmantemente em sua alegria repentina. — Por que que você pode me fazer me sentir melhor? Quase te matei hoje.

Percorri com minhas mãos seu corpo, remontado o bordo de seu peito, deslizei meus dedos sobre seus mamilos, fazendo-o agarrar fôlego. — Todos tivemos surpresas hoje, Frost. Mas pareço ser uma boa aquisição, trazendo de volta a divindade aos sidhe — Estendi minhas mãos em seus ombros, tendo que me parar na ponta dos pés para empurrar a túnica longe de seus ombros. Separou-se da parede o suficiente para que a túnica caísse ao chão como um cascata, ficando como um atoleiro de seda cinza a seus pés.

— Posso ver isso — disse, com uma voz que se foi pondo mais profunda, mais sem fôlego.

Olhei fixamente sua nudez, encontrando-o tão formoso como a primeira vez que o vi. A alegria do Frost nu nunca diminuía. Era quase muito formoso para olhá-lo, como se danificasse meu coração o vê-lo.

Pus um beijo em seu peito, sobre seu coração. Lambi sua pele, logo dava a seu mamilo um rápido golpezinho, que o fez estremecer-se e rir ao mesmo tempo. Olhei seu sorridente rosto, e pensei, isto, isto é o que eu queria para ele. Mais que o sexo, quase mais que algo, sua alegria.

Vi-o me olhando, seus olhos cinzas brilhando com o fio de sua risada. — Olho seus olhos, e não há nenhuma diferença.

Comecei a beijar seu peito, para baixo. — Diferença? — perguntei.

— Não pensa menos de mim — disse.

Movi minha língua ao redor de seu umbigo, mordiscando brandamente a pele de seus flancos, fazendo que minha boca trabalhasse mais abaixo, até que não pudesse ir mais longe sem me chocar com ele, duro e firme, e perfeito, pressionando contra seu estômago.

Deslizei minha boca sobre sua ponta aveludada, enquanto deixava cair meu corpo sobre meus joelhos. Lutei para engoli-lo em toda sua longitude, até sua base. Ele era realmente muito comprido desde este ângulo, mas o obtive. Jogou para trás sua cabeça, e fechou os olhos. Liberei-me dele o suficiente para dizer — OH, penso mais de ti, agora, muito mais.

Deslizei-me de novo sobre ele, usando minhas mãos para dirigi-lo dentro de minha boca. Tinha fechados meus olhos, me dedicando a seu forte músculo, sentindo-o em minha boca, concentrada em respirar, tragar, quando senti sua magia dançar através de sua pele, saltando dentro de minha boca. Soube sem abrir os olhos, que sua pele tinha começado a brilhar. Podia senti-lo contra minha língua, contra meus lábios. Enredou sua mão em meu cabelo, e me retirou dele, me forçando a levantar a vista e encontrar seus olhos.

— Você não pensa menos de mim por não ser sidhe de nascimento.

Tratei de beijar seu corpo, mas suas mãos me apertavam, e escapou um pequeno ofego de meus lábios. Isto apressou meu pulso mais do que já o tinha feito o ter dentro de minha boca. — Você foi entregue à vida por um deus, Frost. Se isso não for o suficientemente especial, então não sei o que possa ser.

Arrastou-me para cima, atirando de meu cabelo, me pondo sobre meus pés tão abruptamente que me fez mal, e quase me assustou. Não o verdadeiro medo, a não ser o medo que se sente ao estar ao bordo do sexo violento. Beijou-me, e foi feroz, cheio de línguas indagadoras, lábios impaciente, e dente; como se não pudesse decidir-se entre me beijar ou me comer. Tornou-se atrás daquele beijo, e me deixou sem fôlego e aturdida.

Seus olhos cintilaram como gelo prateado, e as pontas de cada um dos fios de seu cabelo como gelo pego à luz do sol. — Desejo que me cubra com isto — Deslizou sua mão livre por meu ombro, tirando-a colorida com um azul iridescente, verde, púrpura. Arrastou-a logo, para baixo por minha cara, ao longo de meus lábios.

Então me beijou de novo, com força. Retrocedeu com a boca e uma bochecha recoberta em brilhantes cores, como pedacinhos de néon pegos aos longo de sua pele.

Pus meus braços ao redor de seu pescoço, e ele se abraçou a minha cintura, me levantando de modo que nossos corpos se deslizassem o um com o passar do outro. O movimento levou as cores de néon através de sua pele, e somente a vista deles, atraiu um suave gemido meu. Beijamo-nos, e abracei minhas pernas ao redor de sua cintura, pressionando sua dura longitude contra mim. A sensação dele ali me fez esfregar os quadris contra sua dureza, esfregando minha umidade contra ele. Seus joelhos se debilitaram, e só uma mão sobre a cama nos apanhou. Ele nos conduziu para trás sobre a cama e no momento em que meus quadris estiveram firmes contra o colchão, ele se empurrou dentro de mim.

Gritei, a cabeça para trás, os olhos fechados, e um segundo grito ecoou ao meu. Não foi até que Frost deixou de mover-se, congelado em cima de mim, que compreendi que não era ele quem tinha gritado.

Abri os olhos e vi que sua cara estava virada longe de mim,

examinando aos pés da cama. O grito soou de novo, próximo, masculino, quase mudo em sua dor.

Frost saiu de mim, rodando para os pés da cama. Arrastei-me engatinhando, avançando lentamente para os pés da cama. Frost se ajoelhou perto da cabeça de Doyle. Nicca se ajoelhou perto de seus pés. O espinhaço do Doyle se dobrou, suas mãos gesticularam no ar.

Era como se cada músculo de seu corpo estivesse ao mesmo tempo atirando em diferentes direções. Se ele houvesse sido humano, eu teria pensado em veneno, mas não se pode envenenar a um sidhe, não com estricinina ao menos.

Outro chiado rasgou sua garganta, e seu corpo se balançou com a força dos espasmos. — Ajuda-o!

Frost sacudiu sua cabeça — Não sei o que é isto.

Saltei ao pé da cama. Antes de que pudesse tocá-lo, sua pele pareceu rachar-se, e seu corpo correu como água, se é que a água pudesse gritar e retorcer-se e sangrar.


Capítulo 16


Estendi minha mão, e Frost a agarrou, me empurrando para trás. — Não sabemos o que é isto — Não lutei com ele, porque tinha razão. Então fiquei assim a seus braços sem saber o que fazer. Supostamente eu que era a princesa das fadas, e tudo o que podia fazer era me ajoelhar e olhar fixamente enquanto esse vigoroso corpo rodava feito uma confusão de músculos nus e ossos que resplandeciam no ar, úmidos de sangue.

Quando Doyle gritou de novo, gritei com ele. Os outros estavam esparramados pelo dormitório detrás de nós, com armas e espadas, e nenhum podia ajudar. Rezei, tal como o tinha feito pelo Nicca, mas não houve brilho proveniente do cálice esta vez. Não havia nada além do Doyle retorcendo-se no chão, e o sangue que se deslizava pela superfície, como uma amplo e escuro atoleiro sobre o tapete.

Frost engatinhou para trás, nos afastando daquela úmida extensão.

Tropeçou quando o fez, e esse pequeno movimento liberou uma de minhas mãos. Não tinha sentido, de fato, era o oposto ao bom sentido, mas tive que fazê-lo, tive que tocar aquilo que jazia sobre o tapete, porque isso não podia ser Doyle. Aquela retorcida massa de músculos, ossos e malhas não podia ser minha alta e formosa, Escuridão. Não era possível. As gemas de meus dedos encontraram umidade, carne morna, não pele. O que havia sido aquilo que toquei no segundo antes de que Frost me atirasse para trás, era algo profundo no interior do corpo do Doyle, algo que nunca tinha tido a intenção de ser acariciado por mão humana.

Frost sustentou meu pulso, e pareceu horrorizado pelo vermelho sangue sobre as gemas de meus dedos — Não faça isto de novo, Merry.

— Isso é pele? — Rhys fez a pergunta apontando com um pálido dedo.

Olhei para trás, a aquilo que do Doyle tinha ficado, e ao princípio não o vi.

Então, entre toda a escura carne, eu vi uma igualmente escura capa de pele, fluindo como uma lenta água, para cobrir a carne nua que uma vez tinha sido um homem.

Os nus e brilhantes ossos, afundaram-se nessa pele, e uma veu ocultos nela, começaram a transformar-se, com um som como o de pedras golpeando de uma vez. Uma boca, formou-se com essa pele e esses ossos, e esta gritou, e soou humano, mas não o era.

Quando terminou, um enorme cão negro jazia de flanco ofegando, entre o sangue e os fluidos. Meus olhos trataram de encontrar um sentido a tudo isto, trataram de ver o Doyle nessa figura, mas este era um cão por inteiro. Um enorme e negro cão de tipo mastim. Recordei as sombras de cães em minha visão, aquele que estava parado frente a nós era um gêmeo dos cães que se formaram das sombras sob as árvores.

A grande e peluda cabeça tratou de levantar-se, mas caiu como se estivesse exausto. Tratei de tender a mão para acariciá-lo, mas Frost não me deixaria — Me solte, Frost —eu disse.

Rhys se agachou sobre um de seus joelhos, perto das patas traseiras do cão. — Esta é a forma de cão do Doyle. Acreditei que nunca a voltaria a ver — Tocou-o com a mão que não sustentava uma arma, e o acariciou pelo flanco. O cão levantou a cabeça e olhou-o, então de novo a deixou cair contra o tapete, como se o esforço houvesse sido muito. Olhei fixamente essa peluda forma, e estava tão feliz que ele estivesse vivo, não uma massa de carne desintegrando-se, que não me preocupei de que fosse um cão.

Nesse momento era muito melhor do que eu tinha temido. Não estava morto. Eu tinha aprendido faz muito tempo que, havendo vida, havia esperança. Com a morte, não havia nenhuma. Acreditava sinceramente na reencarnação. Eu sabia que em outra vida poderia ver os mortos outra vez, mas isto foi um consolo frio aos dezoito, quando meu pai morreu. Teria sido um frio consolo se Doyle se converteu em algo que não podia ser curado, só assassinado por piedade. — Me deixe ir, Frost.

Ele me liberou a contra gosto.

— Doyle, pode me ouvir? — perguntei.

— Este ainda sou eu, Merry — a voz do Doyle soou mais profunda, mais resmungona, mas esta era definitivamente sua voz.

Avancei lentamente para ele, meus joelhos se afundavam no tapete úmido. O sangue já se esfriava. Toquei uma de suas largas e sedosas orelhas. Doyle esfregou sua grande cabeça contra minha mão.

Rhys esfregou brandamente sua mão para baixo pelo peludo flanco. — Sempre meio invejei suas mudanças de forma. Pensava que devia ser uma boa coisa ser um animal, uma parte do tempo — Pôs uma mão sobre o Doyle, sobre seu coração, como se pudesse sentir mais que o ruído surdo e pesado de seu coração. — Mas nunca tinha visto uma mudança tão violenta.

Deslizei minha mão por sua morna e estranhamente seca pele, como se toda sua pele não tivesse atravessado por um banho de sangue. Certamente, talvez isto não tinha ocorrido.

Eu não sabia muito a respeito da mecânica de trocar de forma; realmente, ninguém sabia. Uma das primeiras coisas que perdemos quando as fadas deixaram seu país na Europa foi a mudança de forma. Aqueles de nós que tínhamos escapado a América, mas tínhamos mantido nossas covas nas colinas, havíamos conservado mais de algumas capacidades, mas a maior parte de nós eram um montão de retrógrados que não confiavam, ou, em ocasiões, não acreditaram na ciência moderna. Deste modo, não havia estudos científicos do fenômeno.

A pele era tão suave e tão espessa sob minha mão. — Mudanças tão violentas só ocorrem quando um sidhe trata de forçar a outro na transformação contra seus desejos — Minha mão se deslizou pela pele até que tocou as gemas dos dedos do Rhys.

Este único e pequeno toque provocou um estremecimento por meu braço, até meu ombro e meu peito, um espasmo de músculos e pele que era tanto de prazer como de dor. Me roubou o fôlego, e me fez olhar fixamente com os olhos muito abertos o rosto do Rhys.

O peito do Doyle se elevou e descendeu sob nossas mãos, seu coração pulsando como um grande e forte tambor.

— A magia não se foi ainda — a voz do Rhys foi rouca.

Doyle rodou sobre suas costas, seu enorme focinho aberto ampliamente, mostrando um brilho de dentes como pequenas facas brancas. Tanto Rhys como eu apartamos nossas mãos dele, por precaução. Ele tinha falado uma só vez. Alguns conservavam mais de si mesmos na forma de animal que outros. Eu nunca tinha visto Doyle como nada que não fosse sidhe.

Doyle se estirou no ar, e suas garras eram maiores que minhas mãos. Grunhiu, mas havia palavras nisso. — Posso senti-lo, crescendo, crescendo em meu interior.

Então foi como se o corpo de cão se partisse pela metade, como uma semente, e algo enorme, e negro, e de pele mais lustrosa que o cão, saiu dele. Rhys e eu estivemos livres para engatinhar para trás. Frost me agarrou ao redor da cintura, e corremos para trás, para a parede, lhe deixando o espaço a enorme forma que crescia aos pés da cama. Esta se derramou como um gênio desde sua garrafa, exceto a garrafa era o corpo do Doyle. Uma grande forma negra de cavalo fluiu para cima, como se algo de carne pudesse ser formado de água e fumaça, porque a carne sólida não podia introduzir-se no ar como uma fonte, ou a fumaça elevando-se de uma grande fogueira.

Maeve e Sage atravessaram a porta a tempo para ver o cavalo fazer-se realmente sólido. A forma de cão simplesmente se foi, como a fumaça negra que desvaneceu-se ao redor dos enorme cascos escuros.

O cão tinha sido do tamanho de um pequeno ponei, por isso o cavalo era ainda mais maciço. Sacudiu sua negra cabeça, e esteve perto de raspar seu nariz contra o teto.

O pescoço era mais grosso que minha cintura. Plantou-se sobre o tapete com cascos do tamanho de pratos de comida. Moveu-se inquietamente sobre suas enormes pernas, e ainda uns poucos movimentos fizeram que todos nos jogássemos para trás. Todos os homens olhavam fixamente. Kitto parecia mais assustado que o resto. Moveu-se para trás, entretanto dos outros até ficar parado perto da porta, e penso que só Maeve e Sage bloqueando a porta o mantiveram no dormitório. Outra fobia para acrescentar à lista do trasgo.

Foi Sage quem rompeu o silêncio — Condenarei-me.

— Provavelmente — disse o cavalo. Ainda era a voz do Doyle, mas em vez do grunhido de um cão era de um tom mais alto, e tinha perdido esse matiz próximo ao animal. Dizer que a voz do cavalo soava mais humana era um engano, mas de todas as formas verdadeiro.

Doyle sacudiu uma juba tão negra como seu próprio cabelo. — Não estive nesta forma desde a primeira vez que renunciamos a parte de nossa magia mais sobrenatural.

Rhys avançou e passou uma mão para baixo por seu liso pescoço. O corpo do cavalo brilhou como alguma escura jóia.

Comecei a avançar, mas Frost me sustentou mais apertada, pressionando a parte de trás de meu corpo nu contra a parte frontal do dele, mas não estava excitado por estar ali. Ele sussurrou — Isto não terminou. Não pode sentir?

— O quê?

— Magia — respirou.

— Pressionada tão perto de ti, tudo o que posso sentir é você. A todos vós sinto-os como magia.

Olhou-me então, e vi um pensamento em seus olhos, como se ele não o houvesse sabido antes. — Então nós fazemos mais difícil para ti sentir outra magia?

Assenti — Sim.

— Isso não é bom — disse.

Esfreguei meu corpo contra o dele, e o senti inchar-se contra mim, imediatamente. — Eu gosto disto —eu disse — Eu gosto de estar contigo, todo o teu — Não soube o que ele teria dito, porque o cavalo tratou de encabritar-se e encontrou que ali não havia espaço. Se elevou sobre nós, como um demônio negro, seus cascos cortando o ar. Rhys se lançou para trás, rodando pelo chão até terminar contra as pernas dos outros.

A grande forma pareceu estender-se como um casaco negro aberto na metade.

Asas negras saíram dali, e a forma do cavalo se desvaneceu na fumaça, ou névoa negra. Quando a névoa se dissipou, havia ali uma enorme águia negra, parada no tapete. Suas asas estendidas devem ter medido uns 2,5 metros, talvez mais. Uma asa se arrastou pela parede mais longínqua, dobrando-se contra ela. Simplesmente, ali não havia espaço. Parado, o pássaro era quase tão alto como eu. Nunca tinha estado tão perto de nada tão grande como se supunha que era um pássaro. Este endireitou sua cabeça para mim, e vi aqueles olhos negro sobre negro, e, estranhamente, seu olhar ainda era o de Doyle. Rhys tinha recuperado seus pés — Uma águia, fantástico. Nunca soube que podia ser um pássaro.

O bico cor de ébano se abriu, cintilando com cores mais pálidas — Nunca tinha sido isto — As palavras soaram em um tom de voz mais agudo ainda, como se fosse uma voz que queria falar com os gritos de uma águia, não uma linguagem humana.

Ninguém tratou de aproximar-se desta vez. Ninguém tratou de tocá- lo. Dobrou suas asas contra seu corpo durante um só momento, logo as estendeu ampliamente de novo, e o forte peito aberto, como um casaco, e Doyle saiu, em um redemoinho de escuridão, que moveu-se como a fumaça, mas cheirou como a névoa.

Ficou de pé em frente de nós nu, durante um segundo, logo se desabou lentamente sobre o piso. Eu teria me precipitado para frente, mas Frost ainda me sustentava apertadamente. Foram Rhys e Nicca quem chegaram a seu lado primeiro. Doyle se moveu até poder afirmar-se em uma mão.

— Está ferido, capitão? — perguntou Nicca.

Rhys sorria abertamente — Este foi um inferno de espetáculo.

Acredito que Doyle tratou de sorrir, mas seu braço começou a tremer, e lentamente derrubou-se, até que ficou tendido de lado sobre o tapete. De forma estranha, em relação a suas roupas, o laço de sua trança tinha desaparecido, e a larga trança de cabelo começava a desenrolar-se sobre o chão.

— Me solta, Frost. Agora!

— Você quer ir para ele — disse, e havia uma nota de dor em sua voz. Olhei-o — Sim, como quereria ir para qualquer de vós que estivesse ferido.

Sacudiu sua cabeça — Não, Doyle é especial para ti.

Franzi o cenho para ele — Sim, tal como você é.

Sacudiu sua cabeça novamente, inclinando-se e sussurrando sobre minha cara — Desde que ele entrou em sua cama, você se distanciou de mim — Retrocedeu e me deixou ir.

Olhei-o ficar direito, até que ele foi de novo, o alto e formoso Frost. Imponente, impessoal, arrogante de cara e porte. Mas o olhar em seus olhos era zangado, ferido.

Sacudi minha cabeça — Não tenho tempo para isto.

Ele somente olhou ao longe, como se eu não estivesse ali. Dei a volta para outros — Rhys, ele vai ficar bem?

— Sim, só se encontra cansado. Acredito que desde a primeira mudança, lutou como um filho de cadela.

A voz do Doyle proveio cansada, mas clara. — Quanto menos lutar mais fácil é a mudança.

— Bem. Ponha-o na cama, assim pode descansar — eu disse, e me voltei para o Frost.

Olhei-o enquanto dizia — Todos fora, menos Doyle, Rhys e Frost.

Todos se olharam uns aos outros. — Só façam, meninos. Agora — Estava cansada, um cansaço que ia além do físico. E tinha tido suficiente. Suficiente de meu belo Frost. Tinha decidido recorrer à honestidade brutal, porque já tinha tratado com todo o resto.

Deve ter havido algo em minha voz, já que ninguém discutiu comigo. Que coisa mais refrescante.

Quando a porta se fechou detrás deles e Rhys ajudava ao Doyle a deitar-se na cama, entreguei toda minha atenção ao Frost. — Normalmente faria isto em privado, mas nenhum de vocês me deixa a maior parte do tempo, sem um dos outros guardas me respaldando. Não quero nenhum mal-entendido, Frost.

Frost me dirigiu um olhar muito frio. — Entendo que Doyle estará na sua cama esta noite.

Sacudi minha cabeça — Frost, não é que Doyle durma em minha cama o que tem feito me afastar de ti. É você quem me tem feito me afastar. Ele olhou ao longe, com toda sua atenção, entretanto não via nada.

Golpeei seu peito com minha mão, forte, porque não podia alcançar seu rosto. Isto assustou-o, fez-o me olhar e por um momento vi algo real nesses olhos de novo, mas só por um momento. Então, era todo a fria arrogância novamente.

— Isto de pôr má cara, de fazer birra, tem que acabar.

Olhou-me com olhos frios — Eu não ponho má cara.

— Sim, faz-o — voltei-me por volta dos dois homens na cama.

Rhys estava colocando ao Doyle sob as cobertas. — Você faz birras. Doyle jazia pesadamente sobre os travesseiros, como se manter sua cabeça elevada fosse um esforço. — Faz, meu velho amigo, faz.

— Não entendo o que querem dizer — disse Frost. — Nenhum de vocês.

— Se algo ferir seu sentimento, põe má cara. Percebe que algo ameaça seu lugar em meus afetos, põe má cara. As coisas não vão como você quer em uma discussão, põe má cara.

— Eu não ponho má cara.

— Está pondo má cara, agora mesmo, neste preciso segundo.

Abriu a boca, logo a fechou, e um momento de perplexidade foi perceptível. — Eu não vejo isto como pôr má cara, ou fazer birra. Os meninos fazem birras, os guerreiros não.

— Então, como chamaria você a isto? — perguntei, a mãos nos quadris.

Pareceu pensar por um momento, logo disse — Simplesmente reajo ao que você faz. Se preferir ao Doyle sobre mim, então não há nada que eu possa fazer. Tenho te entregue o melhor de mim, e isto não é o bastante bom;

— Amor não só gira ao redor do sexo, Frost. Necessito-te, não faça isto.

— Não fazer o quê? — perguntou.

— Isto — empurrei um dedo contra seu peito• — esta fria e distante fachada. Lhe necessito em seu ser verdadeiro, a ti mesmo.

— Você não gosta quando sou eu mesmo.

— Isso não é verdade. Amo-te quando é você mesmo, mas tem que parar de permitir que tudo fira seus sentimentos. Tem que deixar de pôr má cara.

Distanciei-me dele o suficiente para olhá-lo sem estirar o pescoço.

— Gasto muita energia me preocupando a respeito de como tomará alguma coisa. Não tenho a energia de me conter e andar nas pontas dos pés ao redor de seus sentimentos, Frost.

Afastou-se da parede — Entendo.

— O que está fazendo? — perguntei.

— Te deixando. Isso é o que quer, ou não?

Dei a volta para os outros dois homens — Ajudam-me aqui por favor?

— Ela não quer que você parta — disse Rhys — Ela te ama. Ama-te mais do que me ama — Não soava ferido; era mais a constatação de um fato. Dado que esta era a verdade, não tratei de discutir — Mas cada vez que você realiza um ato frio e arrogante, Merry se retrai, quando põe má cara, ela se afasta de ti.

— Esses atos frios e arrogantes, como você diz, são aqueles que mantiveram minha saúde com a rainha.

— Eu não sou a rainha, Frost —eu disse. — Não quero um brinquedo em minha cama. Quero um rei a meu lado. Preciso-te sendo um adulto — Poderia ter sido parvo dizer a alguém centenas de anos mais velho que eu que crescesse, mas era necessário. Cansadamente, Doyle falou desde sua posição contra os travesseiros, e sua voz mostrava o esforço que o discurso lhe custava — Se você pudesse conter suas emoções, ela te amaria, só a ti, e a nenhum outro. Se pudesse entender, não haveria nenhuma competição.

Não estava inteiramente segura disso, mas dizê-lo em voz alta não ajudaria. Então deixei passar.

— E que importância pode ter a quem ela ame, se não tiver um filho — disse Frost.

— Parece ser um assunto de grande importância para ti — Doyle fechou seus olhos e pareceu estar dormindo.

Frost franziu o cenho — Não sei como não fazer isto. É um hábito de séculos.

— Vamos fazer isto —eu disse. — Cada vez que comece a fazer birra e pôr má cara, somente te direi que pares. Você trata de te deter quando eu chamar sua atenção sobre isso.

— Não sei.

— Só tenta-o —eu disse. — É tudo o que te peço. Só tentar.

Um olhar solene atravessou seu rosto, logo assentiu. — Tentarei. Ainda não estou de acordo em que ponho má cara, mas tratarei de não fazer.

Abracei-o. Quando me separei dele, estava sorrindo. — Por esse olhar em seus olhos eu mataria exércitos. O que é um pouco de emoção, depois disto?

Alguém que pensasse que destruir exércitos era mais fácil que arrumar sua própria confusão emocional não tinha tido uma terapia satisfatória. Mas não disse em voz alta, tampouco.


Capítulo 17


Pela manhã a deusa de ouro de Hollywood estava gritando em nossa mesa da cozinha. Poderia ser devido aos hormônios pelo bebê, mas outra vez, não podia ser. A Maeve gostava de fingir que era Gordon quem tinha o cérebro dos dois, mas a verdade era que quando ela queria, ela tinha uma mente muito boa. Uma mente lógica, uma mente perigosa. Ela era mas difícil de tratar quando lhe dava de pensar que quando seduzia. O pranto podia significar que sofria uma emoção autêntica, ou que estava tentando me manipular. Não queria que estivesse triste, mas eu esperava passar desapercebida, porque não queria que todas suas maquinações estivessem dirigidas para mim. Ela era outra vez a deusa Conchenn, e houve ao longo dos séculos homens e mulheres maiores que eu quem não tinha sido capazes de lhe dizer Não.

Estava de pé na entrada, me debatendo entre entrar ou não, mas vacilei muito. Ela levantou sua cabeça, e me mostrou seus olhos brilhantes pelas lágrimas, olhos beijados por relâmpagos. Seu cabelo loiro dourado oferecia o encanto que pelo geral mostrava, mas seus olhos se mostravam autênticos. Certamente, sendo shidhe luminoso sua pele estava ainda impecável. Teve a decência de não parecer piorada e pôr os olhos afundados pelo esgotamento. Embora ela limpasse seu nariz com um lenço de paple, este não ficaria vermelho. Se eu soluçasse meu nariz sim que ficaria vermelha, e no momento meus olhos estariam avermelhados. Mas Maeve provavelmente poderia ter chorado durante cem anos e ainda estaria perfeita.

Ela retocou seus olhos.

— Já vejo que estás vestida para sair. — Sua voz mostrava os rastros das lágrimas coisa que sua pele não dava amostras. Parecia rouca e se sorveu os mucos, como se tivesse estado chorando durante horas. De algum modo, que sua voz não soasse perfeita me fez sentir um pouco melhor. Embora, talvez estivesse insegura, mas era real.

Que ela houvesse dito que estava vestida para sair, não me pareceu bem. Era um insulto entre nós. Tinha levado seu tempo no guarda- roupa, por isso então era um insulto e não um elogio, a não ser certamente que pensasse que ela havia trocado em seus gostos. Tinha tomado cuidado hoje com meu guarda-roupa. Sabia que não era eu a única que veria minha tia, a rainha, no dispositivo, haveria jornalistas também.

Sempre que saíamos da casa de Maeve apareciam jornalistas.

Negra era a saia que abraçava meus quadris até meus tornozelos e fluía ao longo de minhas pernas, de um material que não se encontrava na natureza, já que esta de nenhum modo se enrugaria no avião. Um cinturão negro de couro com fivela a jogo estava apertado em minha cintura. Uma camiseta de seda sintética e elástica de cor verde e por cima uma jaqueta negra de corte curto. Os antigos brincos de ouro e esmeralda ressaltavam com o verde da camisa. Umas botas negras e altas de bezerro se mostravam sob minha saia. Só tinham três polegadas os saltos, e seu couro era brilhante, e brilhava quando a luz as alcançava. Eu tinha pensado que a camisa esmeralda faria ressaltar o verde de meus olhos, e como era entalhada, com o decote de canoa, faria luzir meus peitos. Normalmente levava uma saia mais curta, mas estávamos em janeiro em Saint Louis, e fazer alarde de minhas pernas não merecia que me arriscasse a me congelar. Mas a saia fluía quando me movia, e o vôo da saia negra dava a impressão de flutuar, recolhendo o mais leve ar, dando uma sensação de movimento.

Tinha pensado que me via bem, até que Maeve falou, ah, tão cuidadosamente.

— Que você não gosta de minha vestimenta —eu disse, e fui pegaro bule do aquecedor.

Galen tinha tido que procurar por toda Los Angeles até encontrar um aquecedor que mantivesse nosso chá quente. A maior parte dos homens preferiam um chá forte e negro para o café da manhã em vez do café. Rhys era a exceção. Ele acreditava que os detetives com fibra não deveriam beber chá, por isso bebia café. Era seu problema. Mais chá para mim estava bom.

Ela me olhou, quase assustada.

— Me esqueço algumas vezes que te criou entre os humanos em seus anos de formação. Embora, francamente, pode desafiar as normas da humanidade. — comunicou retocando-os olhos outra vez, mas não havia nada de lágrimas por limpar, somente rastros de secura sobre sua cara. — Não segue o jogo.

Adicionei nata líquida ao açúcar que tinha posto em meu chá e estava removendo-o quando a olhei.

— Que jogo tenho que seguir?

— Estou zangada contigo, assim que estou insinuando que não te vê bem. Você acha, suponho, ao me perguntar o que penso de sua vestimenta. Você, supõe, simplesmente que penso que me parece mal o que veste. Supõe-se que o faço de propósito, que mino sua confiança.

Bebi uns sorvos de meu chá.

— Por que quereria fazer isso?

— Como falta pelo que passou ontem à noite.

— Qual foi minha falta?

Um som muito perto ao soluço saiu de seus lábios.

— Tive relações sexuais com isso... esse sidhe falso.

Franzi o cenho, então finalmente compreendi o que ela pensava.

— Quer dizer com o Sage?

Ela assentiu, e havia lágrimas frescas em seus olhos. De fato ela pôs sua cabeça sobre o pálido pinheiro da mesa e soluçou. Soluçava como se seu coração se rompesse.

Deixei meu chá e fui para ela. Não podia estar de pé e escutar aquele som quebrado.

Tinha-o escutado bastante freqüentemente durante estas poucas semanas passadas desde que seu marido tinha morrido, mas ultimamente, menos. Alegrava-me que fosse menos. A maior parte das histórias falam dos pobres mortais que se apaixonam por alguém imortal, o que sofrem eles, mas Maeve me tinha mostrado o outro lado. Quando o imortal realmente se apaixona por um mortal, como tudo termina mal para o imortal.

Morremos, e eles não o fazem. Assim de simples, horrível, mas era a verdade. Observando a Maeve como se afligia pelo Gordon me tinha feito me preocupar sobre o que eu sofreria quando conseguisse um marido sidhe. Com o tempo, aquele com quem me casasse seria viúvo. Não havia forma de mudar isso. Não era um grato pensamento.

Toquei seu ombro, e ela chorou mais fortemente.

— Sage te fez algum mal? — Perguntei, e pensei o estúpido de minha pergunta.

Ela levantou sua cabeça o bastante para me permitir ver sua cara chorosa.

— Como te atreve — disse ela sorvendo — Ele não pode fazer mal a uma princesa da Corte da Luz.

Acariciei seu ombro.

— Certamente que não, peço-te perdão por dizê-lo. Mas se ele não te fez mal, então por que chora? O sexo não pode ter sido muito mau. Ela soluçou mais forte, cobrindo a cara com as mãos. Acredito que disse:

— Foi maravilhoso — mas lhe saiu um som muito amortecido para que estivesse segura.

Ainda não entendia por que estava tão alterada, mas sua dor era real. A abracei por seus ombros, colocando minha bochecha contra seu cabelo.

— Se foi maravilhoso, então por que chora?

Ela disse algo, mas foi oculto pelos soluços.

— Sinto muito, Maeve. Não posso te entender.

— Não deveria ter sido maravilhoso.

Alegrei-me de que não pudesse ver minha cara porque provavelmente veria o perplexa que me senti. — Era seu primeiro roce com a carne sidhe em um século. Certamente que foi maravilhoso.

Ela baixou suas mãos e se deu a volta para me olhar, para que ficasse parada no quarto.

— Não me entende — disse-me — Ele não é sidhe. Era uma mentira, uma ilusão, como a macieira de minha casa. Desapareceu esta manhã.

— A árvore?

Ela afirmou.

Franzi o cenho; Não podia fazer nada.

— Somente o toquei, as folhas, a casca, as flores. Cheirava seu aroma. Era real. As ilusões podem ocultar coisas, ou fazer que pareça outra coisa, mas a ilusão não pode criar algo de um nada. Tem que haver algo real para que a ilusão possa levar-se a cabo.

— Normalmente, sim, mas um sidhe poderia criar uma ilusão tão sólida que você poderia caminhar através dela. Pensa acaso que as histórias dos castelos no ar são contos de fadas, Merry? Um sidhe poderia fazer isso. Nós poderíamos criar um pouco de um nada. Coisas feitas da magia pura que seriam tão reais como algo existente.

— Então a árvore era algo verdadeiro. —eu disse devagar.

— Foi verdadeiro enquanto a magia durou, sim. Se tivesse havido maçãs na árvore, poderia as haver comido e teriam enchido a barriga. Esta era a forma em que nós tínhamos que fazer nossas fábulas para que nos alimentássemos uma e outra vez. Era a magia, e podia ser renovada.

— Sei que a ilusão tem algo de verdadeira, mas meu pai me disse que tais talentos foram perdidos faz muito tempo.

Ela assentiu.

— Tinham sido.

— Ao fim começaram a retornar a nós, junto com outras magias?

— Sim. — Ela riu então, uma versão aquosa da risada que tinha arrojado seus mil filmes ao grande estrelato, nos anos em que seu grande êxito significava algo. Apertou minha mão com a sua. — E você nos tem devolvido isso, Merry, você e sua magia.

Sacudi minha cabeça.

— Não, eu não. A Deusa. Não poderia fazer nada disto sem a ajuda divina.

— É muito modesta — disse-me.

— Talvez. —eu disse, e não podia me ajudar — Entretanto quando se tem tão mal gosto com a roupa, não é difícil ser humilde.

Não procurou meus olhos nesse momento.

— Sinto muito, mas quis te fazer mal.

Apertei sua mão quando sujeitei minha mão na sua.

— Por quê?

— Por que te culpei por ter seduzido ao Sage ontem à noite.

— Rhys o fez parecer como se estivesse fazendo algo mais que seduzindo-o.

— Pinjente.

Realmente ela se ruborizou.

— É verdade. É duro, mas é a verdade. Vi-o brilhar na escuridão. Brilhava como uma lua dourada. Eu... — deu-se a volta para que eu não pudesse ver sua cara, atrasando-se. — Sabia que ele não era um de seus homens. Pensei que ele não me rechaçaria, e não o fez.

— O seduziu. Foi maravilhoso. E agora esta manhã procura desculpas? — eu disse.

— Tolo, mas certo.

— As fadas não lamentam o sexo, Maeve.

— Realmente você nunca esteve na Corte Luminosa, Merry. Não conhece as regras que há ali.

— Sei que quem não é puro de sangue é menos, não importa seus talentos ou sua magia.

Deu a volta na cadeira para me olhar outra vez.

— Sim, sim.

— Não pensei que você estivesse de acordo com isso.

— Não o fiz eu. Tentei entendê-lo.

— Está alterada porque disfrutastes com alguém que não era um sidhe puro?

— Estou alterada porque Sage não é um príncipe de uma ou de outra corte. Ele é um semi•duende que com sua magia era algo mais, mas ele, não é um sidhe, Merry. Nunca será realmente um sidhe. Nem agora nem em cem anos, nem com seus olhos tricolores, ele não será nunca um sidhe.

— Vê como são eles. — Frost estava na entrada.

Nenhuma de nós o tinha ouvido aproximar-se, e as duas saltamos.

Ele levava uma camisa branca de vestir padrão, gravata, e calças de vestir mas a gravata era chapeada e era uma sombra um pouco menos brilhante que o cabelo que brilhava ao redor de seus ombros. Suas calças eram de um cinza escuro, de um material grosso, o corte dessas calças lhe dava mas espaço na dianteira e sobre as coxas, mediante umas pinzas. Eu tinha admirado esta vista antes. A gravata chapeada e as abotoaduras brilhavam quando ele se movia pelo quarto. Seus mocassins habituais os tinha trocado por umas escuras botas cinzas, tudo isto de um corte perfeito.

— Como são quem? — perguntei-lhe.

— Os da Corte Luminosa. — disse"a Corte Luminosa" como se fossem palavras sujas. Caminhou atravessando o quarto, mas não havia dito a Corte do Ar e da Escuridão.

Maeve se levantou da mesa.

— Como te atreve.

— Como me atrevo a quê? — perguntou ele aproximando-se de nós.

— Como te atreve a insultar aos luminosos.

— Eles diriam o mesmos de nós — disse Frost, e havia certo nível de cólera nele mas não estava muito segura. Esperei que esta cólera não lhe fizesse fazer birra de novo. Trocar um problema por outro não era o que tinha em mente.

Maeve abriu cinzelada boca, então a fechou. Ela não podia chamá-lo mentiroso, porque era verdade. Ela finalmente se conformou.

— Não sei o que dizer — comunicou com uma voz muito mais controlada.

Frost se girou para mim.

— Ela nunca teria tocado ao Sage se ainda formasse parte da Corte Luminosa.

— OH. Não sei —eu disse — Sou a prova de que mais de um luminoso sujará seu corpo com aqueles que não sejam da corte.

Ele sacudiu sua cabeça, e seu cabelo agarrou a luz nos pequenos diamantes que tinha presos nele. Nenhuma jóia realmente poderia ter competido com seu cabelo.

— Uar, O Cruel se casou com sua avó para evitar a maldição. Besaba se foi com seu pai como parte do tratado. Confia em mim, Merry, os luminosos não vêm de bom gradonossas camas.

— Como você bem deveria saber, Jackie Frost.

Ele se estremeceu, mas não se tornou atrás. Ele deu a volta e se aproximou o bastante para invadir seu espaço pessoal segundo as normas americanas. Quando ela não tornou-se para trás ele invadiu seu espaço até mais segundo as normas dos duendes. Eles eram quase do mesmo tamanho, pegos em toda a longitude de seus corpos. Mas com ameaça, não como algo erótico. Frost era mais alto, mas só por umas polegadas. Olharam-se fixamente aos olhos do outro, opondo-se, identicamente igualados.

Ela o olhava, mas suas palavras estavam dirigidas a mim.

— Ele não foi sempre sidhe. Sabia disso? — Sua voz soava tranqüila, mas havia uma maldade impregnada no ar que poderia se converter no princípio de uma tormenta.

— Sim —eu disse — Sei as origens do Frost.

Ela me jogou uma olhada então, e em sua cara se mostrou surpresa.

— Ele não lhe teria dito de bom grado. Sacudi minha cabeça.

— Mostrou-me isso de bom grado com sua magia. Vi-o dançar sobre a neve. Sei o que ele é, e o que era, e isso não muda nada para mim. Sua cara encantadora passou da surpresa ao assombro. Ela tomou um passo de distância dele e tomou meu braço.

— Certamente que isto muda o que seu sente por ele. Você pensava que se deitava com um sidhe, e te encontra que ele é somente a geada de volta à vida. — Olhei para baixo a sua mão, e minha cara deve ter mostrado o pouco cômoda que começava a me sentir, porque ela se deslocou a certa distância de mim. — Assim acha. Realmente acredita nisso. Não lhe faz sentir nenhuma diferença. Sacudi minha cabeça.

— Nenhuma.

Olhou-me perplexa.

— Não entendo por que não.

— A ti que retornou seus poderes como Conchenn justamente ontem à noite. Dormiu com seu primeiro sidhe há um século. Desperta esta manhã, e já não se sente como Maeve Reed. Agora só parece outro nobre luminoso. Nunca entendi como a Corte Luminosa tem essa opinião tão Vitoriana do sexo. Isso está tão longínquo as idéias dos duendes.

— Não me entende, Merry, como poderia? Dormir com um humano seria perdoado, mas não foder com um semi•duende. Minha necessidade alterou meu sentido comum ontem à noite. Estava bêbada de poder. Esta manhã, estou sóbria.

— Mas está exilada da Corte Luminosa, Maeve, e a Corte do Ar e da Escuridão não se preocupa com seus origens, só com os resultados. Não é de onde vem, mas sim o que pode fazer por nós.

Ela sacudiu sua cabeça.

— Hoje não posso proteger meus olhos. Não posso cobri-los com meu encanto amanhã, e não sei por que. Levei este encanto durante décadas. Sinto que é quase minha verdadeira forma, mas não fui capaz de cobrir meus olhos desta vez. Deu-me este poder, Merry, mas me despojaste de outras coisas, também.

— Então é culpa minha que você fodeu com o Sage?

— Talvez — disse-me, mas até naquela palavra havia uma ligeira dúvida.

Realmente ela não acreditava nisso.

— Realmente todas suas ações não importam a Corte Luminosa, Maeve. Se alguma vez volta ali, o Rei da Luz e da Ilusão te dará morte. Mas será bem-vinda na Corte do Ar e da Escuridão e virá conosco. Pode entregar o coração de fada esta noite. — Olhei-a enquanto o dizia, e vi a fome em sua cara antes de que ela pudesse ocultá-lo.

Ela me ofereceu seu sorriso de publicidade.

— Sou uma sidhe luminosa, Merry, não da Escuridão.

— Eu fui uma vez um membro da Corte Luminosa — disse Frost .

— Você nunca foi membro da corte, Jackie Frost. Nunca! Ele soltou uma gargalhada fria.

— Me permita dizer de outra maneira. Logo que fui tolerado uma veu na corte da beleza e da ilusão. Tolerado porque assim como outros surgiram do poder. Eu cresci. Não pelos poderes de algum outro sidhe, mas sim para as mentes das pessoas. Eles me recordaram quando se esqueceram de todos vós, os formosos, as divindades luminosas. Little Jakual Frosti, Jackie Frost, Jack Frost. — Ele se aproximou outra vez perto dela, e desta vez ela se encolheu dando um passo para atrás longe dele, somente um pouco. — Mas quem fala todavia de Conchenn? Onde estão os poemas, suas canções? Por que eles me recordaram, e não a ti?

Sua voz era um sussurro.

— Não sei.

— Não sabe, eu tampouco, mas eles assim o fizeram. — inclinou-se ainda mais perto dela, o sufientemente perto, até quase beijá-la. — me recordaram, quando a todos o demais os esqueceram.

— É um mistério.

Ele começou a brilhar como se a lua estivesse apanhada no interior de seu corpo, e a luz se derramou através de seus olhos, voltando-se quase tão chapeados como seu cabelo. O ar a seu redor se encheu de seu poder como um halo aceso dando viveza a seu cabelo. Estava de pé ante ela como uma visão metálica, forjado de prata líquida.

Ela não podia estar de pé perto de seu poder e não responder. Não quando ela tinha estado sem o toque de um sidhe por tanto tempo. A necessidade não seria apagada com uma só noite, nem com uns toques de poder. A fome era muito mais profunda que isso.

Seu poder atraiu ao seu com embates de ouro, passando seu cabelo loiro a branco, e enchendo o ar ao redor dela com o influxo dele. Estavam tão perto que seus poderes misturavam-se, dourado e prateado combinando em linhas entre eles. Não se produziu devido à deusa, este era simplesmente o poder dos sidhe.

Olhei-os, e entendi por que meus antepassados humanos tinham pensado que eles eram deuses. Agora provavelmente os confundiriam com anjos, ou homens de Marte.

Olhei-os brilhar um para o outro, e pela luz de crua necessidade que podia ver na cara de Maeve. Frost não me pareceu faminto, só se via satisfeito.

Ele se aproximou e pressionou seus brilhantes lábios contra os dela. Foi um beijo cruamente casto, mas seu poder entrando nela foi como uma lança de luz chapeada. Eu vi como quase dividia o poder dourado. Durante um instante sua luz prateada se obscureceu, com um brilho de laranja e vermelho, como uma chama real. Então ele retrocedeu, distanciou-se até que ela brilhou sozinha.

— Não me daria capacidade em seu corpo, não até que cure a ferida aberta que tem pela carne do Sage.

Seu poder se desvanecia, derramando-se dele pálidamente, ainda formoso, mas já não tão brilhante.

O poder de Maeve se dissolvia um pouco de uma vez quando ela falou.

— Eu poderia ter tomado a um duende menor em minha cama ao longo destes últimos cem anos. A outros exilados como eu. Mas não o fiz, porque esperei o dia em que a Corte Luminosa veria a traição do Taranis, e quando ele estivesse morto, eu voltaria a ser bem-vinda. Eles perdoariam a meus amantes humanos, aos luminosos sempre lhes gostou da carne humana na escuridão. Mas não nos sujamos com um duende menor. Não fazemos isso, se logo queremos recuperar o poder no tribunal das fadas.

— Há mais que um tribunal das fadas — disse Frost .

Ela sacudiu sua cabeça.

— Não, não há. Não para mim. Ele meneou a sua cabeça.

— Esta atitude será difícil antes de que terminemos nossa visita aos luminosos.

— Frost, somente não recorde o que eles são. E assim não começasse a vê-lo difícil. Suspirou.

— Lembro tudo muito bem, Maeve. — Ele olhou tristemente um momento.

— Não desejo voltar ali e ver como nos tratam como seres inferiores.

— Então permaneçam aqui, comigo. — Ela me deu volta. — Não vá, Merry. Taranis quer que o visite por uma razão. Ele não faz nada sem uma razão, e esta não será uma razão que você goste.

— Eu sei. — Afirmei.

Ela formou uma bola com seus punhos.

— Então por que vão?

— Por que ela será a rainha da Corte do Ar e da Escuridão, e não pode começar seu reinado mostrando medo do Taranis — disse Doyle da entrada.

— Mas tem medo do Taranis — sentenciou Maeve — Todos nós.

Doyle se encolheu de ombros. Ele levava os jeans negros metidos em umas botas negras que lhe chegavam até os joelhos, a camiseta era negra, com a jaqueta negra de couro. Inclusive a fivela do cinturão era negra. A única exposição de cor era transmitidas pelos brincos de prata que estavam engastados na curvadura bicuda de suas orelhas. Havia até um diamante no lóbulo de sua orelha.

— Com medo ou sem ele, devemos mostrar uma cara valente.

— Merece morrer por isso? Merece que Merry se faça matar? — disse, me assinalando, dramaticamente, por algo ela era atriz. Além disso, sua parte sidhe poderia contribuir com a outra parte dramática, até sem ensaios.

— Se ele matar a Merry, a rainha Andais o matará.

— Ele liberou o Inominável para tentar me matar para que eu não revelasse seu segredo. Realmente pensa que ele vacilaria por isso, por uma guerra entre as cortes?

— Não disse guerra, Maeve.

— Disse que a rainha mataria ao Taranis; isso significa a guerra. Doyle negou com sua cabeça.

— Por matar ao herdeiro de seu trono, penso que Andais faria uma destas duas coisas. Ela o desafiaria em um duelo pessoal, o que Taranis não quererá; ou o assassinará, discretamente.

— Significa que mataria ao Taranis. — disse Maeve.

— Eu não sou nada mais que a Escuridão da Rainha. — Ele veio para estar de pé ao meu lado. — ouvi que ela tem um novo capitão de seu guarda.

— Quem? — perguntou Frost .

— Mistral — comunicou Doyle.

— O Criador de Tormentas. Mas ele foi relegado de seu favor.

Doyle assentiu.

— Entretanto, agora é seu novo campeão .

— Ele não é nenhum assassino, e nunca foi discreto. Ele sozinho é muito vento e ruidoso. — disse Frost abertamente desdenhoso.

— Mas Whisper pode compensar isso — disse Doyle. Frost o olhou assustado. Maeve franziu o cenho.

— Não conheço estes nomes.

— Eles quase se desvaneceram junto com seus nomes — comunicou Doyle — Por como se conheciam deixaram de existir.

— Whisper — disse Frost . — Pensei que ele se tornou louco.

— Eu tinha escutado aquele rumor também.

Recordei ao Mistral. Ele era tudo que a rainha aborrecia, bagunceiro, presunçoso, se zangava rapidamente, implacável. Era quase o epitome de um valentão, mas era muito poderoso para que lhe rechaçasse a entrada na corte escura uma vez que o jogaram a patadas da Corte Luminosa. A rainha Andais se assegurou de que aceitássemos a todos os que eram poderosos, embora não gostasse. Assegurando-se de que eles sempre tivessem deveres longínquos e assim os mantinha longe de sua vista.

Mistral tinha estado fora de seu favor durante minha vida pelo que apenas recordava sua cara, e naturalmente tampouco podia recordar se alguma vez tinha falado com ele. Meu pai tinha pensado que ele era um pouco idiota.

— Não recordo a ninguém de entre os guarda que se apelidasse Whisper. —eu disse.

— Ele desgostou à rainha uma vez, faz muito tempo — disse Doyle — e ela o tem castigado. Esteve com o Ezekiel no Vestíbulo da Morte por — ele franziu o cenho, olhando ao Frost — Durante sete anos, verdade? Frost assentiu.

— Isso acredito.

Traguei antes de que pudesse falar.

— Foi torturado durante sete anos. — Minha voz estava cheia de horror. Eu havia estado no Vestíbulo da Morte. Sabia exatamente quão bom era Ezekiel com sua arte da tortura, e não podia imaginar sete anos com toda sua atenção.

Ambos me confirmaram isso.

Inclusive Maeve ficou pálida. Na Corte Luminosa não se perdoava a tortura, ao menos não a classe de tortura que Ezekiel administrava. Tinham modos mais sutis de fazê-lo, modos mágicos, mas não eram menos sujos, menos originais. Quem poderia causar a alguém tortura e dor sem conseguir que suas mãos se sujassem. A rainha Andais gostava de chamar o pão de pão e ao vinho veio. A tortura, como se supunha, era algo sujo, ou mas sim tem que bom nisso?

— Ouvi rumores de seu Vestíbulo da Morte.

— Veja, Taranis até permitiu que sua corte adote as palavras de uma fé que atormenta e tortura a nossos seguidores — disse Frost — Ele deu a sua corte permissão para converter-se em uma paródia.

— Sim começou no século dezessete, ou antes —eu disse.

Frost se encolheu de ombros, como se cem anos não fizessem nenhuma diferença.

— Chama-o como quiser, mas que sua rainha reparta tal castigo é a prova de que não quero formar parte de sua corte.

— O que fez ele para permanecer sete anos com o Ezekiel? — Perguntei.

— Não acredito que ninguém saiba o que ocorreu entre o Whisper e a rainha — disse Frost.

Olhei ao Doyle.

— Foste sua mão esquerda em um milênio, ou mais. Nunca tinha deixado seu lado até que ela te enviou aqui a Los Angeles. Tampouco sabe, não é?

Ele soltou um pequeno suspiro.

— Se ela quisesse que outros soubessem, Merry, haveria dito. Não porei em perigo a ninguém por compartilhar um pouco de verdade alheia.

Deixei-o passar. Não queria que Andais tivesse uma desculpa para enviar a qualquer de nós ao Vestíbulo da Morte. Poderia viver o resto de meus dias sem saber o que Whisper fazia para merecer sete anos de castigo, enquanto nunca tivesse que agüentar a voz do Ezekiel em minha cara um só minuto.

Frost se girou para o Maeve.

— Rechaçaste ir a Corte do Ar e da Escuridão conosco, mesmo que sabe que Taranis pode tentar te matar enquanto estamos fora.

— Entregará aos novos guarda-costas no aeroporto.

— Os mesmos guarda-costas humanos que quase conseguiram morrer quando tentaram te salvar do Inominável. Os mesmos guarda-costas que, se nós não tivéssemos chegado, teriam morrido todos, e você com eles.

— Tomaremos outro avião para outro país, longe do rei e seus poderes.

— Ela provavelmente estivesse mais a salvo se formos, Frost. Já que vamos à boca de sua guarida, ao mesmo coração de seu poder.

— Mas estaria mais a salvo se se encontrasse na Corte do Ar e a Escuridão, sob o amparo da rainha, — esclareceu Frost.

— Já tivemos esta discussão — disse Doyle. — Isto já é um fato. Frost olhou para ela.

— Não é que aborreça a Corte do Ar e a Escuridão, ou inclusive que tenha medo deles, de nós. Tem medo de que uma vez que esteja entre a multidão da escuridão e esteja rodeada pelas fadas uma vez mais, nunca queira partir.

— Ela poderia me fazer prisioneira, para meu próprio amparo, e não seria capaz de conseguir a liberdade. — disse Maeve.

— Não seria nunca uma prisioneira, Conchenn, se simplesmente abraçasse a Escuridão, porque com os Luminosos não a terá. Muitos senhores e senhoras Luminosos encontraram que a Corte da Escuridão não é nem a metade de malvada do que eles acreditavam, ou a metade de terrível tal como lhes ensinaram. — Ele avançou um passo para ela, e ela retrocedeu outro.

— Eles abraçaram a Escuridão porque não tinham nenhuma opção — disse ela, sua voz soava quase sufocada. — Era a Escuridão ou ser exilado do mundo das fadas para sempre.

— Exatamente — disse Frost — Não há nenhum prisioneiro entre nós. Whisper poderia ter escapado da Corte da Escuridão. A rainha não lhe haveria açoitado, já que ela sabe que para um sidhe deixar a corte escura significa não ter nenhum lugar aonde ir. Nenhuma casa de fadas. Seguimos as leis da rainha, não porque não temos nenhuma opção, é preferível até passar sete anos de tortura em um corredor, do que como você, exilada por seu rei.

Eu vi o brilho de umas incipientes lágrimas em seus olhos, mas ela se precipitou por diante de nós e saiu pela porta precipitadamente.

— Tinha que fazer isso? — perguntou Doyle. Frost assentiu.

— Sim, acredito que sim. Ela fica em perigo ao rechaçar ir a Corte do Ar e da Escuridão.

— Não é nem a metade de parvo como entrar na Corte Luminosa como própria vontade — disse Doyle.

Os dois homens se olharam fixamente, e algo passou entre eles. Os ombros de Frost decaíram um pouco antes de que ele se endireitasse e dissesse.

— Eu não gosto de nada deste plano.

— Já o deixaste claro. — disse Doyle. Frost me olhou.

— Irei Merry, embora eu não goste. — Ele riu, mas foi um som melancólico, tão cheio de uma velha dor que fez que meu peito se comprimisse. — E temo, minha doce, doce princesa, que o lamentaremos.

Eu teria discutido com ele se pudesse, mas como estava de acordo com ele, me pareceu uma besteira.

— Visitaremos a Corte do Ar e a Escuridão primeiro, Frost, e A Corte Trasgo depois desta, e só então iremos a Corte da Luz. Ele sacudiu sua cabeça, e sua risada se fez amarga.

— Espero que os monumentos que vejamos na Corte Trasgo seja o pior que vejamos, mas temo que nenhum horror se possa comparar com a beleza luminosa que espera-nos em nossa última parada. Tristemente, ninguém discutiu com ele.


Capítulo 18


Não era que o avião particular de Maeve não fosse cômodo, porque o era. O único de nós que lamentava voar era Doyle. Tinha escolhido seu assento antecipadamente, fechou o cinto, e tinha mantido um agarre por morte sobre os braços do bonito assento giratório. Fechou seus olhos rigidamente, apertando o assento, e somente reagiria se fôssemos atacados dentro do avião, Doyle não seria muito útil, ao menos, não em princípio. Quando descobri sua fobia dos aviões, em realidade estive contente. Tinha-o feito parecer menos perfeito, menos assassino, menos à Escuridão da Rainha. Parecia que fazia muito tempo, que tinha necessitado isso. O olhei através do estreito corredor. A tensão de seu corpo crepitava no ar ao redor dele, quase como uma espécie de poder. Certamente, o medo pode ser um bom combustível para a magia.

— Perguntaria em que pensa — disse Frost a meu lado — embora pareça óbvio.

Girei minha cabeça no assento acolchoado até que pude encontrar seus olhos. — O que estou pensando?

— Está pensando no Doyle. — Não estava zangado, e não punha má cara. Talvez sua voz não soasse feliz, mas não punha má cara. Era todo um progresso.

— Estava pensando que seu medo de voar faz parecer menos ao perfeito assassino da rainha.

Sua cara começou a fechar-se, voltando-se lívida.

— Isso não é tudo. Toquei seu braço.

— Não ponha má cara sobre isto, Frost. Somente pensava que se alguma vez formos atacados em um avião, não seria o melhor lugar para que Doyle me defendesse. Isso é tudo.

Vi-o lutar para tragar-se todo aquele mau humor. Parecia que isto poderia chegar a afogá-lo, mas ao menos o tentava. Seu intento era tão óbvio que não disse nada mais do que pensava: se tivesse estado sentanda ali tendo alguma fantasia selvagem com Doyle, não era nada da incumbência do Frost. Como se supunha, desfrutava de todos eles, mas mantive isso para mim mesma. Frost estava tentando, e se castigava por ser tão possessivo, uma emoção não muito dos duende, por certo, mas nisso não podia ajudá-lo.

Apertei seu braço e o deixei assim. Bem por mim.

Rhys se ajoelhou diante mim. Levava em seu olho um emplastro branco com umas diminutas pérolas em cima. Tinha posto um casaco de seda blanco, um chapéu branco, e um traje pálido como a nata líquida. A única amostra de cor era de uma gravata que era de um rosa pálido. Parecia uma mescla de um homem das neves e de um detetive dos anos 40. Até tinha colocado todo seu encaracolado cabelo branco sob o chapéu. Me parecia mais jovem sem todo aquele cabelo solto, com seu perfil harmonioso e seus lábios tentadores. Era centenas de anos mais velho do que eu alguma vez seria, mas ajoelhado ali, pareceu-me que não tinha passado da trinta.

Sorriu-me. — Doyle me deu algo para que lhe desse... — jogou uma olhada para atrás a seu líder, que ainda estava sentando com os olhos fechados. Voltou-se com um sorrisinho. — ...sabendo que estaria indisposto. — Disse tirando uma caixa branca do bolso de seu casaco.

Seu sorriso se desvaneceu. — Tenhoque pôr isso?

— Sim, faz-o. — De repente me olhou refletindo sua verdadeira idade, nada menos formoso, mas seu olhar infantil havia desaparecido como se eu tivesse imaginado isso.

Frost o apoiou. — Este é o anel da rainha, Merry, deu isso a ti. Este é um dos símbolos de que é sua herdeira. Deve levá-lo posto.

— Não me importa levar o anel —eu disse — Mas com o cálice também dentro do avião, estou um pouco preocupada se por acaso lhe soma a magia do anel e este produza mudanças na magia com outras coisas antes.

Os dois homens se olharam um ao outro, supus que esta poderia ser a primeira vez que tinham pensado sobre isto.

— Maldição — disse Rhys — Isto poderia ser um problema.

Frost ficou olhando-o muito sério. — É um problema, ou uma garantia. Uma vez o anel foi uma relíquia de poder, não simplesmente para escolher aos amantes férteis da rainha.

— Gracioso —eu disse — Continuou ouvindo que o anel é uma grande relíquia, mas ninguém, nem mesmo meu pai, disse-me o que fez em outro tempo. — Olhei a cada um deles, e trocaram uma dessas olhadas inquietantes mas não me disseram o que necessitava saber.

— O quê? — Exigi.

Suspiraram em uníssono. Rhys se sentou sobre seus pés apoiando em seus joelhos, a caixa estava ainda sem abrir em suas mãos.

— Uma vez, o anel fez a Andais irresistível para qualquer homem que reagisse ante o anel.

— Não parece o suficiente mau para quão olhadas havia em suas caras. Que mais? Trocaram outro olhar.

— Deixa cair o outro sapato, de acordo.

— Sapato? — perguntou Frost.

— É uma forma de dizer, somente diga-lhe — explicou Rhys. Era um dos poucos guardas que não se ocultaram os últimos cinqüenta anos, nas covas das colinas. Rhys havia possuído uma casa nos subúrbios da colina onde estava o reino das fadas. Uma casa com eletricidade, com televisão, e todo o demais. Era provavelmente o único sidhe que conhecia quem tinha sido Humphrey Bogart, ou quem era Madonna.

— Conhece o momento em todo os filmes onde Cinzento está no alto da escada, e o príncipe olha para cima, atordoado? — perguntou Rhys.

— Sim —eu disse.

— Então caminha para ela como se tivesse nenhuma outra opção. Assenti. — Sim.

— Volta-se irresistível — disse ele.

— Trata de dizer que uma vez o anel reage contigo, é como um estudante atordoado.

Suspirou. — Não exatamente.

— Não ocorre somente com os homens — esclareço Frost. Olhei de um a outro. — O que está tratando de dizer?

Sage veio triunfalmente pelo corredor para nós. Levava um par de calças do Kitto e uma camiseta que tinha tido que ser rasgada pelas costas para acomodar suas asas. Sua cintura era mais estreita que a do Kitto, por isso teve que apertar-se tensamente o cinto. Também levava um par de tenis do Kitto atados fortemente, porque seus pés era mais estreitos que os do trasgo. Levava uma manta ao redor da parte superior de seu corpo, porque a jaqueta com as costas rasgada não lhe protegia do frio. Necessitava uma das pesadas capas de lã das que as cortes tinham para séculos desenhadas para o tamanho de um corpo humano, ou maior, para um duende alado. Nicca também ia sentir muito frio uma vez que aterrissássemos. Mas tínhamos alertado aos guardas com os que nos encontraríamos no aeroporto, e eles teriam as capas preparadas. Até então, Sage se amassou em sua manta como se já sentisse o frio. Com seu novo tamanho, não tinha nenhuma roupa que pudesse pôr.

— O que com tanta delicadeza tentam te dizer, Princesa, é que o anel era um casamenteiro.

Franzi o cenho quando olhei por cima do assento para ele.

Suspirou. — OH, para rejuvenescer de novo — mas o fez soar como se fosse algo ruim. — O anel pode predizer a fertilidade, não somente ao tocar a pele nua, não somente em uma habitação, a não ser a primeira vista. Tanto o homem como a mulher caíam apaixonados e viveriam felizes para sempre.

— Pois a rainha Andais não parece que tenha sido tocada pelo viveram felizes para sempre.

— Tinha o controle do anel, Merry, tinha afeição a qualquer boa arma, ou instrumento. Lançava uma grande esfera e convidava a todos os sidhes elegíveis, e a uns quantos de nós seres menores para servir na mesa ou entreter. Logo permanecia em pé perto da porta, e à medida que cada mulher chegava, tocava-a com o anel, e quase sempre alguém dava um passo adiante. Os dois caíam um sobre outro como animais luxuriosos, a mulher estaria enorme com um menino em seu ventre ao cabo de uns meses, casariam-se, e seriam um matrimônio perfeito. Em outro tempo, o anel não somente destinguia que sidhe era fértil. OH, não, mas eram felizes para sempre uma vez que o anel os selecionava. Assim é como estávamos acostumados a chamá-lo. De onde pensa que a humanidade tirou todas essas estúpidas idéias? Levantei as sobrancelhas ante sua expressão. — Realmente não tinha pensado nisso. Sei que a maior parte dos contos de fadas são somente isso, histórias.

— Mas são suas bases — tirou uma pálida mão amarela de debaixo de sua manta para sacudir um dedo diante de mim — As coisas necessárias, obtiveram-nas de nós, de nossas verdadeiras histórias. — Franziu o cenho. — Não somos irlandês, escoceses, ou de alguma parte do que chamam as Ilhas Britânicas. Mantemos aos sobreviventes de quase todas partes da Europa.

— Sou consciente disso —eu disse.

— Então é o sucesso o que conhece. Certamente o Príncipe Essus lhe comentou que alguns dos contos de fadas foram no passado histórias verdadeiras.

— Meu pai me disse que simplesmente foram alteradas.

— A maioria — concedeu Sage — Mas não todas. — Agitou seu dedo ante mim outra vez. — Se o cálice houver devolvido o poder completo ao anel — assinalou a caixa — então se tem a seu consorte perfeito neste avião, saberá, e se não tiver, também o saberá.

Olhei a pequena caixa, e de repente esta me pareceu muito mais importante que a um momento.

— Assim não é como a rainha o utilizou — disse Rhys. — Não para ela.

— Não — disse Nicca, brandamente, desde detrás de nós. — Uma vez que seu verdadeiro amor morreu na batalha, então usou o poder do anel para encher sua cama.

Com sua ajuda foi capaz de fazer que outro sidhe sentisse algo por outro duende.

Girei-me e o olhei. Levava umas calças marrons escuras, estas eram quase negras, e as botas de debaixo combinavam. Seu cabelo se derramou pela parte superior de seu corpo nu, porque suas asas eram ainda maiores que as do Sage, e embora nós tínhamos tentado conseguir uma seda de fibra sintética e elástica para eles, ao final nos tínhamos dado por vencidos. Eram muito enormes, e com uma forma muita estranha, com tantos ondulações e caudas.

— Pensei que se voltaria louca quando Owain morreu. — Os olhos do Doyle estavam ainda fortemente fechados, suas mãos estavam agarradas nos braços da cadeira, mas sua voz nos pareceu bastante normal.

— Ninguém tinha compreendido que o anel tinha um poder adicional — continuou com voz tranqüila. — Ao parecer, este atuava como uma espécie de magia protetora ao redor dos casais que escolhia. Garantindo um final feliz, assegurando-se que nenhuma tragédia lhes sobreviesse.

Rhys cabeceou afirmando.

— O anel tinha começado a ter menos poder, sabíamos porque havia falhado algumas décadas antes. Um sidhe ia à porta do salão de baile, mas ninguém dava um passo adiante. Mas não entendemos que o anel nos tinha mantido reguardados, não somente felizes e férteis.

— Até a batalha do Rhodan — disse Frost — Onde perdemos a duzentos guerreiros sidhe. A maioria deles tinham sido casados com o anel do amor.

— Essa foi a primeira vez em nossa história em que um casal que tinha sido unido pelo anel não tinha tido um final feliz — esclareceu Doyle.

— Mas não foi somente um casal — disse Rhys — Foram dúzias. —

sacudiu sua cabeça. — Nunca tinha ouvido um lamento fúnebre tão profundo.

— Alguns dos que ficaram decidiram desvanecer-se — disse Doyle.

— Suicídio, esse foi seu final — disse Rhys.

Doyle abriu seus olhos o suficiente para percorrer com o olhar ao Rhys, logo os voltou a fechar outra vez. — Se o preferir.

— Não o prefiro, somente é a verdade — disse Rhys. Doyle se encolheu de ombros. — Muito bem.

Galen tinha estado indo de um lugar para outro por detrás deles. — O anel alguma vez escolheu a mais de uma pessoa para alguém? — Estava vestido totalmente como uma pálida primavera verde.

— Pergunta se uma vez que alguém enviuvava, o anel encontrava a outro, depois? — perguntou-lhe Doyle.

— Isso, ou se literalmente escolhia a mais de uma pessoa para alguém. Digo, pode nascer um menino por cada união que faz o anel, sendo realmente feliz, não somente magicamente apaixonado, o anel alguma vez teve problemas escolhendo somente uma pessoa para alguém?

Doyle abriu seus olhos outra vez e deu a volta para olhar totalmente ao Galen.

— Não acredita nos companheiros de alma, em um amor perfeito para cada pessoa? — Isto teria parecido uma pergunta quase parva se a fizesse qualquer outro.

Galen me jogou uma olhada, logo se obrigou a olhar à distância para encontrar o olhar escuro do Doyle. — Não acredito no amor a primeira vista. Acredito que o amor verdadeiro leva tempo para afiançar, como a amizade. Só acredito na luxúria imediata.

Moveu-se diretamente detrás de meu assento. Podia senti-lo como algum fogo abrasador, quis que pusesse suas mãos sobre o respaldo de meu assento, para estar mais perto daquele calor. Como se me tivesse ouvido, pôs suas mãos onde as queria, e fiz tudo o que pude, para não posar minha cabeça contra seus dedos. Porque de algum modo com a caixa do anel ali perto, não estava muito segura de querer tocá-lo. Acreditei que a melhor idéia era não tocar a ninguém, até que soubéssemos se o anel havia sido afetado pelo cálice.

— Poderíamos conseguir a permissão da rainha para não usá-lo até que nós estejamos na colina das fadas? — Perguntei.

— Não — disse Doyle — foi do mais insistente.

Suspirei. Não queríamos que Andais se zangasse conosco. Assim não tínhamos mais remédio.

— Muito bem, me dê a caixa, e que todo mundo dê um passo atrás.

— Não é uma bomba — disse Rhys — somente um anel.

Olhei-lhe com o cenho franzido. — Depois do que acabo de ouvir, quase preferiria que fosse uma bomba. — Quase. Asenti com minha cabeça. Não queria ter as opções limitadas aqui e agora. Tinha medo da quem escolheria o anel, e porquê. Não confiava na magia com os assuntos do coração. Pelos sinos do Inferno, não confiava nos assuntos do coração absolutamente. O amor era o menos confiável,

às vezes.

Rhys me deu a caixa, e depois de repetir minha necessidade de isolamento, todos eles se levantaram e se afastaram de mim. Kitto permaneceu detrás no avião com uma manta sobre seu corpo inteiro, fugindo. Fugia de seu medo ao metal, e à tecnologia moderna. Tinha medo de tantas coisas que parecia menos notável que também tivesse medo dos aviões, comparando-o com o Doyle, que não temia a quase nada.

O resto dos homens se dividiu em dois grupos. Um ao redor do Doyle, que estava ainda em seu assento, olhando tudo agora. E o outro perto da parte de trás do avião.

— Abre-o — disse Rhys, que estava perto do Doyle.

— Estão a assustando — disse Galen, e sua voz me chegou até o bordo dos nervos que estavam subindo ao redor de meu estômago.

— Assustada do quê? — pergunto Sage. — De encontrar a seu consorte perfeito? Que estúpido seria temê-lo. A maioria dariam suas vidas para ter esse problema resolvido.

— Silêncio — disse Nicca.

Sage abriu a boca para queixar-se, então a voltou a fechar, olhando perplexo, como se não estivesse muito seguro do por que escutou a Nicca.

Olhei fixamente a caixa em minhas mãos, lambi com minha língua o barom pela minha boca que estava repentinamente seca, e não podia entender por que sentia tanto medo. Por que tinha medo de averiguar se meu consorte estava aqui, entre estes homens? Não, esse não era meu medo, compreendi. E se o anel não encontrava a meu eleito aqui e agora? E se meu consorte não era nenhum deles? E se era isso pelo que ainda não tinha ficado grávida?

Olhei para cima e observei as caras a meu redor. Compreendi que de um modo estranho, amava a todos eles. Valorava a todos. Tampouco estava segura de como o tomarian Frost ou Galen se o anel não escolhesse a algum deles. Ambos haviam mostrado a tendência de serem ciumentos. Se Frost não era o escolhido, bem, duvido de que não o visse pôr má cara por isso.

Elevei a vista para o Galen, e soube que ele me amava, realmente me amava, e tinha me amado quando não tinha nenhuma possibilidade de ser rainha. Era o único, exceto Rhys, que tinha esclarecido que queria ser meu amante quando quão único ganharia seria meu corpo, e talvez meu amor. Galen era totalmente um romântico. Acredito que teria aceitado não ser meu marido, não ser rei quando fosse reina, se me tivesse deixado grávida alguém mais. Acredito que no mais recôndito de seu coração sempre acreditou que era sua companheira de alma. Poderia me deixar, enquanto conseguisse manter o ideal do que poderia ter sido e não foi.

Olhei fixamente para baixo, para a caixa. Se o anel escolhesse a alguém mais, Galen teria que encontrar um sonho novo, um amor novo, tudo novo.

— Abre — urgiu-me Rhys.

Suspirei profundamente, solte os fechamentos, e a abri.


Capítulo 19


O anel era um octógono de prata pesado, não completamente redondo, como se tivessem-no moldado por uns dedos, em realidade era muito plano quase com aparência masculina, no interior tinha gravadas umas palavras em gaélico antigo, muito velho e opaco para poder lê-lo embora pude traduzir: — Introduz-o.

Não havia nada trágico nele, Entretanto... toquei com a ponta de meus dedos a fria prata e não aconteceu nada. Mas nunca antes tinha feito nada a não ser que estivesse posto no dedo. Só reagia dessa maneira.

— Deve colocá-lo Meredith — disse Doyle. Quase lhes tinha convencido para que chamassem-me Merry. Era o princípio da volta a corte, toda mera formalidade. O odiava.

— Eu sei, Doyle.

— Então é uma tolice que vacile. Devemos saber que problemas podemos ter antes de que aterrissêmos. Haverá policiais humanos para nos proteger da imprensa, mas mesmo assim haverá câmeras e repórteres para captar qualquer engano que ocorra. Melhor se a falha é agora e aqui em privado — Girou-se em sua cadeira para poder observar completamente meu rosto, forçando-se a soltar um braço de seu assento, me dava conta do esforço que isto lhe supunha.

— Ponha o Meredith, Merry, por favor.

Assenti e recolhi a caixa. Estava morna ao tato, mas nada mais. Tomei fôlego profundamente, e não estava muito segura de se rezar antes de me pôr isso ou não. Rezar estava tendo um novo significado para mim nestas últimas vinte e quatro horas.

Deslizei o anel por meu dedo e ficava grande, mas instantaneamente senti uma primeira chispada de magia. E o anel se adaptou ao tamanho de meu dedo. Uma pequena magia. Olhei a todos. — Não sinto nenhuma diferença nele — comentei.

— Deixou de usá-lo porque nos dava sacudidas de poder enquanto tínhamos sexo — disse Rhys — Nunca se manifestou a certa distância.

— Não em meu dedo — eu disse.

Ele sorriu.

— Podemos tentar tocá-lo com a pele nua e ver se isso mudou?

— Acredito que seria o melhor — disse Doyle Rhys se encolheu de ombros.

— Minha idéia. Se ninguém se opõe serei o primeiro coelhinho das índias. — começou a aproximar-se, mas Frost falou.

— Eu me oponho.

Rhys vacilou um momento. Olhou-me, logo ao Doyle, e encolheu os ombros outra vez — Cedo-te o posto. Mas mesmo assim, teremos que provar mais de um com o anel. Só por ver o que ocorre.

— De acordo — disse Frost — mas quero ser o primeiro.

Ninguém discutiu com ele, mas o rosto do Galen mostrava claramente que queria fazê-lo. Este era um exemplo do muito que tinha maturado com respeito ao Frost, já que o deixou passar.

Frost se deteve frente a mim e olhou para baixo, para o anel em minha mão.

Tendeu sua mão em minha direção, eu levantei minha mão para me encontrar com a sua. E sua mão se fechou sobre a minha, seus dedos roçaram o anel.

Foi como se uma enorme mão invisível acariciasse a parte frontal de meu corpo, como se não levasse nada de roupa, nada salvo minha pele, pelo impacto da magia.

Frost caiu sobre seus joelhos, com seus olhos fechados, os lábios entreabertos em um movimento entre o desejo e a surpresa.

Suas mãos tremiam ao redor de mim, pressionando sua carne fortemente sobre o anel. A magia respondeu em uma segunda onda de desejo mais poderosa que a primeira, avançou até a parte inferior de meu corpo, me lançando para trás, sobre o assento, me fazendo soltar um ofego por meus lábios. Meu corpo se contraiu e minhas mãos pressionaram contra Frost, rompendo assim o contato com o anel.

Derrubou-se pela metade sobre o chão, logo que havia espaço entre os assentos para seus largos ombros. Estava ofegando e se encontrava débil. Eu não estava melhor.

— Se Merry teve um orgasmo — disse Rhys — Foi pequeno mas real. E você, Frost?

Ele sacudiu sua cabeça como se falar fosse muito difícil. Finalmente suussurrou:

— Quase.

— A magia do anel é mas prazeirosa que antes — disse Doyle — mas não é uma distração.

— É isso, Frost? — Galen soava neutro e preocupado ao mesmo tempo.

Rhys sorriu abertamente e subiu pelos assentos até colocar-se entre o assento e minhas pernas. — Não acredito que Frost possa levantar- se ainda.

— Ajuda-o a levantar-se — Disse Doyle.

Nicca veio da parte traseira mas suas asas se interpuseram em seu caminho assim que se rendeu e teve que se retirar.

Galen ajudou ao Frost a sentar-se em um dos assentos próximos,

limpando o corredor e dando ao Rhys espaço para ficar de joelhos a meu lado.

— Não é uma grande queda — disse sorrindo.

— Nunca terá uma grande queda — disse Galen.

Rhys o olhou mas não mordeu o anzol. — Só está ciumento porque sou o próximo.

Galen tratou de fazer outra brincadeira mas finalmente só deu um passo para trás e disse: — Sim, estou.

Rhys tocou meu ombro, atraindo minha atenção do sombrio rosto do Galen para ele. — Eu gosto de saber que minha garota ao menos me olhe durante o sexo.

Observei-o rindo. — Sabe como é isto Rhys, um homem obtém tanta atenção durante o sexo como se merece.

— Ooooh — Disse sustentando uma mão sobre seu coração — Isso doeu. —Mas seu olho com três formosas gamas de azul faiscou com algo mais que humor. — Se soubesse que não vou ficar sem dentes, beijaria-te a mão em vez de sustentá-la.

Isso me fez rir, e até estava rindo quando suas mãos se fecharam sobre as minhas, que estavam em meu colo. Toda risada cessou, toda respiração se deteve e por um estático momento não houve nada mais que muitas sensações, como se um pulso sensual crescesse dentro do seguinte e o seguinte. Isto durou até que a voz de alguém disse: — Respira, Merry, respira — tomei o fôlego que antes não podia tomar.

Meu fôlego entrava em um forte ofego, e minhas pálpebras bateram as asas nervosamente, só quando meus olhos se abriram me dei conta que os tinha tido fechados.

Rhys estava meio desacordado sobre o assento em frente a mim, com um sorriso de ébrio em seu rosto. — OH sim, foi divertido.

— Não só ocorre com o Frost — disse Nicca.

— Não — Doyle não se via muito contente por isso, mas não estava muito segura do porquê — Galen, é o seguinte — disse.

Houve alguns protestos, mas Doyle os descartou com um movimento de mão.

— Não, devemos conhecer se reage assim só com os que foram divindades, ou se ocorrer com todos. Se for com todos, então Merry não poderá tocar aos guardas em St Louis, não em frente dos repórteres ou da polícia.

— Me diga outra vez porque temos policiais humanos nos esperando em St Louis — disse Rhys. Seu olho até estava desfocado, mas sua voz era quase normal.

— Uma das revistas sensacionalistas mostrou uma foto de todos nós correndo por volta da casa principal ontem à noite, com as armas desencapadas e com muito pouca roupa. O embaixador na corte não acreditou quando a rainha assegurou que não houve uma tentativa de assassinato contra a princesa, que foi um simples mal-entendido. Eu acredito e a rainha também, mas os dirigentes do St Louis não querem ser vistos como os responsáveis pela segurança da princesa. Se algo sair mau, querem poder dizer que fizeram tudo o que puderam.

Dirigentes do St Louis, algumas vezes me esqueço, da verdadeira idade do Doyle e do resto, só quando dizem algo como isto, e sabe que seus pensamentos e vocabulário se formam em um tempo anterior a dos prefeitos ou o congresso ou qualquer coisa remotamente moderna.

— Os humanos já não se contentam com as histórias da rainha —

continuou Doyle — O embaixador da corte estará aborrecido até que não lhe mostrem ao príncipe Cel. Não acredita que Cel só esteja de viagem.

As revistas de princípio estiveram especulando de por que o príncipe Cel, que tinha sido bastante visível nos clubes noturnos do St Louis e Chicago com ardentes acompanhantes, repentinamente havia decidiu ficar em casa. Onde estava o príncipe? Porque se desvanecia agora que a princesa Meredith tinha voltado para país das fadas? O último titular estava mais perto da verdade, mas não havia nada que pudéssemos fazer sobre isso.

Porque a verdade era que o príncipe Cel estava sendo torturado durante seis meses como uma alternativa à pena de morte, e isto não podia ser compartilhado com a imprensa humana ou com os políticos. Entre outros crimes, Cel tinha ereto em um Deus para um culto humano na Califórnia. Acredito que pensou que estava o suficientemente longe de casa para que o apanhassem. Infelizmente para ele, eu estava em Los Angeles e trabalhava como detetive particular. Se Cel tivesse sabido isto teria tentado em outra parte, e tivesse tratado de me matar antes. Uma das regras do governo do presidente Thomas Jefferson insistia em que se os sidhes alguma vez ficavam assim mesmos na categoria de deuses nos Estados Unidos, seríamos todos expulsos do chão americano. Por essa razão, qualquer outro sidhe tivesse sido executado. Mas Cel também deu aos magos humanos a habilidade de capturar magia, violando magicamente a mulheres com alguns dons. A maioria destas humanas tinham sangue de fadas em seus ancestrais, mas não pode dar o poder das Fadas a humanos para que estes façam expressamente mal aos que têm algum dom oculto. Isso não se podia fazer. Também extraía a energia mágica destas mulheres em questão. Compartilhando algo de poder com seus seguidores humanos, mas ficava com a maioria. O vampirismo mágico é um crime para nós. Um crime castigado não só com a morte, mas também com uma morte dolorosa. A única exceção desta lei é um duelo. Durante o duelo pode fazer o que quiser com o que tenha de poder, enquanto não manche sua honra. Cel devia morrer por tudo o que fez, mas ao ser o único filho da rainha, herdeiro ao trono, não tinha acontecido. A maioria da corte desconhecia a realidade das violações do Cel. Pensam que foi castigado por tentar me matar. Não. A rainha não me quer tanto. Então em vez da morte, tem a magia que deu aos humanos contra ele, a magia que faz que sua pele queime lentamente com desejo e te leva perto da loucura por ser acariciado, por ser fodido. Isto aconteceu comigo, assim posso falar com alguma autoridade sobre isso. Fui coberta com lágrimas do Brawnwyn, uma de nossas últimas grandes magias, e encerrado na escuridão com sua necessidade e sem nenhuma possibilidade de alívio. É algo horrível para lhe fazer a qualquer um. Mas não está passando por nada que não lhe tenha feito a outros, exceto pelo período do castigo. Seis meses é muito tempo na escuridão. Já leva três meses de castigo e até fica três meses mais. Tem gente apostando na corte a respeito de sua saúde mental, também aposta sobre se me assassinará antes de que eu o assassine.

— Se os humanos não nos acreditarem não há nada que possamos fazer — Disse Frost.

— Certo, mas podemos lhes dar ao menos coisas sobre as que falar, nada mais — Doyle girou sua cabeça para o Galen — Toca o anel e vejamos que acontece.

Galen caminhou entre os assentos, seus olhos desprendiam um calor abrasador e tinha uma expressão em seu rosto, que levou uma corrente de calor a meu peito. Ajoelhou-se ao lado de meu assento, e juntou suas mãos ao redor das minhas sem tocar o anel. E se inclinou para mim — Quero que o anel reaja ante meu toque — a última palavra a sussurro em minha boca — Quero que cante através de mim e que nos faça pôr aos dois de joelhos.

Seus lábios tocaram os meus, e suas mãos se fecharam sobre as minhas ao mesmo tempo. O anel brilhou entre nós, enviando correntes sob meu corpo, concentrando-se em meus lábios, como se tivesse tratado de beijar algo com uma corrente elétrica. Os lábios do Galen eram suaves e dispostos, mas não importava quanto pressionasse suas mãos no anel, isto não se converteu na entristecedora aproximação como houve com o Rhys e Frost. O anel continuou nos golpeando com ondas de eletricidade. Eu não desejava a eletricidade em minha pele e a pus de novo no beijo, tratando de afastar minhas mãos dela, mas ele não me deixava ir.

— Me solta, Galen, está me machucando. Soltou-me devagar, relutantemente.

Sentei-me, tomando profundas inspirações tratando de fazer acontecer os últimos vestígios do poder. — Isso doeu. Quero dizer realmente doeu.

— A ti só é que você não gosta da eletricidade — Disse Rhys.

— Eu gosto nos abajures, ou os ordenadores mas não em minha pele, obrigado.

— Não é divertida — respondeu.

Olhei-o, e logo ao Galen que até estava de joelhos frente a mim e se via um pouco derrubado. Sabia que parte era porque o anel não tinha funcionado com ele como com os outros, mas isso não quer dizer que isso seja tudo.

— O que foi? — pergunte-lhe gentilmente — Você gosta da eletricidade também?

Me olhou ingenuamente, mas disse: — Nunca tentei, só em pequenas concentrações.

— O que acaba de fazer o anel você gosta?

— Sim.

Tomei nota mental. Até se eu não gosto da eletricidade como um jogo preliminar, se a algum deles sim, as coisas podiam funcionar. Estava inclinada a usá-la para lhes agradar, sempre e quando não tivesse que experimentá-lo até que não comprovasse com quanta força teria que usar. Nunca deve provar algo sobre alguém mais, a não ser que você mesmo o tenha provado em sua própria pele. Somente uma regra. Não tem que desfrutá-lo, mas deve saber que está fazendo para que as pessoas o desfrutem.

— Isto pode entender-se — disse Doyle — o anel cresceu em força de muitas maneiras.

Assenti — Não recordo se alguma vez teve essa força de poder antes.

— Mas isso não ocorreu com o Rhys e Frost — Disse Galen, não soava feliz, tampouco. Se achava sempre muito feliz. Qualquer emoção que sentisse, sempre se notava em seu rosto, em seus olhos. Tinha começado a ter momentos nos que podia esconder seus sentimentos. Os dois nos sentimos bem com isto. E víamos a necessidade disso. Galen com todos seus pensamentos e sentimentos em seus olhos onde se podiam ler, era mau para a habilidade política na corte. Precisava aprender a ocultar os sentimentos embora não tinha que desfrutar com o processo. Sintia-me como se lhe estivéssemos tirando algo da inocência, que fazia ao Galen ser ele mesmo.

Toquei seu rosto com minha mão esquerda, a mão em que não levava o anel.

A rainha usava sempre o anel em sua mão esquerda, e ao princípio eu o usei na mesma mão, sem me acostumar a isso, e descobri que o anel prefere estar na minha mão direita. Quando o uso é na direita. Não discuto com uma relíquia de poder que ninguém mas poderia ter. Pressionei minha mão contra seu peito, e levantou seus verdes olhos para mi. — Rhys e Frost entraram no poder de sua divindade, acredito que essa é a sensação extra entre nós.

— Eu gostaria de discutir isso — disse Rhys — Mas estou de acordo com a Merry.

— Realmente acha isso? — pergunto Galen, igual a um menino acreditando que se você diz-o então será verdade.

Apertei meus dedos sobre um lado de seu rosto, da suave calidez de sua têmpora até a curva de seu queixo. — Não só o penso, Galen, sei que é assim.

— Eu também acredito — Disse Doyle — Sempre e quando Meredith toque aos guardas brevemente, isto não deveria ser um problema. Todos na corte da escuridão, sabem que o anel esta vivo uma vez mais em sua mão, enquanto não saibam quão vivo se tornou.

— Estava se fazendo mais forte até antes do retorno do cálice —eu disse.

Assentiu — Por isso o poremos longe em uma gaveta, assim não poderá interferir enquanto fazemos amor.

Rhys fez uma exagerado careta — E pensar que estava me divertindo. Minha mão até estava tocando ao Galen mas dirigi ao Rhys. — Quer ser apanhado e sentir minha eletricidade correndo por toda sua pele? Rhys reagiu como se o tivesse golpeado. Reagiu, e só em pensá-lo se estremeceu seu corpo. Vendo sua resposta tão intensa ante minha idéia me fez desejar fazê-lo, lhe dar muitos prazeres. — Isso foi um grande sim — eu disse.

Suspirou — OH, sim.

Galen riu brandamente.

Rhys franziu o cenho — O que é tão engraçado homem verde?

Galen estava rindo tão forte que lhe levou dois intentos dizer — É o Deus dos mortos.

— Sim, e quê? — pergunto Rhys.

Galen se sentou no chão, seus joelhos estavam encolhidos no pequenos espaço, mas se girou para olhar ao Rhys. — Tenho uma imagem burlesca em minha cabeça, de ti como o monstro do Frankenstein.

Rhys começou a zangar-se, mas como não podia fazer nada, sorriu,

um pouco e então seu sorriso se fez maior até que esteve rindo a gargalhadas com Galen.

— Quem é o monstro do Frankenstein? — pergunto Frost.

Isto fez que eles rissem até mais forte e contagiaram a risada no avião a aqueles que conheciam a resposta. Só Doyle e Frost ficaram fora da brincadeira. Os outros tinham visto bastante televisão e tudo o que podia oferecer enquanto estiveram na Califórnia.

Até o Kitto também estava rindo por debaixo de sua savana na parte traseira.

Eu não sabia se a brincadeira era boa, ou só tinha vontades de rir, ou se era a tensão. Apostei por isso último, porque quando o piloto nos disse que aterrissaríamos em quinze minutos já não houve júbilo na cabine do avião.


Capítulo 20


Parecia menos gracioso ainda meia hora mais tarde. É obvio, quando está a ponto de ir para uma conferência de imprensa multitudinaria, e se tem a certeza de que vão fazer perguntas que não pode responder sinceramente, nada é muito gracioso.

Mais policiais da cidade de St. Louis dos que tinha visto fazia um momento nos encontraram e fecharam filas a nosso redor. Com os guardas a meu redor, e a polícia rodeando a eles, sentia-me como uma flor muito pequena dentro de paredes muito altas. A próxima vez teria que me pôr saltos mais altos.

Entramos no salão que era só para aviões privados e ali encontramos ao resto de meus guardas. O único que conhecia bem era Barinthus. Vi-o quando a polícia separou-se como uma cortina, só uma olhada entre as escuras costas do Doyle e o couro marrom do Galen. Frost estava detrás de mim com um casaco de raposa prateada que quase se arrastava pela terra. Quando lhe tinha indicado quantos animais tinham morrido pelo casaco me tinha informado que possuía o casaco por mais de cinqüenta anos, muito antes de que ninguém pensasse mal a respeito de ter peles. Também havia tocado meu comprido casaco de couro e dito — Por favor, não te queixe de mim, quando você leva posta meia vaca.

— Mas eu como vaca, de modo que fazer roupa de couro significa usa o animal inteiro; não é um esbanjamento. Você não come raposa.

Pôs uma estranha expressão em sua cara — Não tem idéia do que já comi.

Não soube o que dizer depois de que dissesse isso, então me dei por vencida.

Além disso, o frio de janeiro nos tinha golpeado como um martelo quando havíamos descido do avião. Vindo de Los Angeles para St. Louis em metade do inverno fisicamente te retorcia. Me fazia tropeçar a cada passo. Frost me estabilizava, envolto em seu imoral casaco de pele. A pele era mais quente que o couro, inclusive se estava forrado. Mas me agasalhei em meu comprido casaco de couro, mãos com luvas de couro e caminhei depois dos passos do Frost, com a mão nua do Frost sobre meu cotovelo todo o caminho. Quando estive em terreno plano me soltou, e todos se agruparam em um círculo de guardas. Sage e Nicca fechavam a marcha. Se fôssemos atacados ninguém esperava muito de Nicca. Um, ele não estava acostumado a ter essas enormes asas quando se movia. Dois, estava coberto por uma manta de algodão sobre o peito nu. Os sidhe não podem congelar-se até a morte, mas alguns podem ser congelados. Nicca era a energia da primavera; podia ter frio. Suas asas as sustentava juntas, apertadas, inclinadas como uma flor congelada atrás dele. Rhys amaldiçoou brandamente — Deveria ter ido comprar um casaco mais pesado.

— Fala por ti mesmo — disse Galen, embora ele não estava muito melhor com sua jaqueta de couro. Era um frio verdadeiramente endiabrado para alguém que deixava nu seu traseiro e suas pernas. Kitto era o que provavelmente estava mais quente de todos nós cobrindo sua pele sidhe com um volumoso casaco que era quase um globo azul. Não era atrativo, mas estava quente.

O salão privado estava bastante quente pelo que a diferença entre o frio e o calor empanou meus escuros óculos. Quando tirei isso, o cabelo do Barinthus brilhou a meu redor através do matagal de corpos em meu torno. Seu cabelo não era tão brilhante como o do Frost, mesmo que poucos sidhe podiam alardear do o ter assim, mas Barinthus tinha um dos cabelos mais incomuns em ambas as cortes. Seu cabelo era da cor da água do oceano. O esmigalhado turquesa do Mediterrâneo; os azuis mais profundos do Oceano Pacífico; o cinza azulado do mar antes de uma tormenta, fundido com um azul que era quase negro. A cor da água quando esta é fria e profunda, e as correntes correm espessas e pesadas com o movimento de alguma grande besta oceânica. As cores se moviam, e fluíam uns aos outros,

com cada truque de luz, com cada movimento de sua cabeça, de modo que não parecia cabelo absolutamente. Mas era cabelo, cabelo como uma capa até os tornozelos, quase um marco de fotografia de 2 metros. Levou-me uma ou duas piscadas compreender que tinha posto um comprido casaco de couro tingido em um escuro azul céu, como o ovo de um petirrojo. Seu cabelo parecia fundir-se no suave couro. Aproximou-se de nós com as mãos estendidas e um sorriso no rosto.

Uma vez tinha sido um deus do mar e ainda era um dos sidhe mais poderosos, posto que parecia ter perdido menos de si mesmo que o resto. Tinha sido o melhor amigo de meu pai e seu principal conselheiro. Ele e Galen tinham sido os visitantes mais freqüentes à casa de meu pai depois de que abandonamos a corte quando tinha seis anos. Tínhamos partido porque nessa tardia idade eu não tinha mostrado possuir talentos mágicos, algo inaudito em um sidhe, embora devido à mescla genética. Minha tia, a rainha tinha tratado de me afogar como um cachorrinho de raça pura que não se adapta a as normas. Meu pai tinha organizado seu séquito e a mim, e fomos viver entre os humanos. A tia Andais tinha ficado pasmada de que ele tivesse abandonado o mundo dos duendes por um pequeno mal- entendido. Pequeno mal-entendido, foram suas palavras exatas.

Os olhos do Barinthus, com suas frestas de pupilas estavam faiscantes de verdadeira alegria quando me viram. Havia outros que esperavam com impaciência me chegada por razões políticas, motivos sexuais, tantos motivos, mas ele era um dos poucos que queria me ver unicamente porque era meu amigo. Tinha sido amigo de meu pai, agora era meu, e sabia que se tivesse filhos, seria amigo deles também.

— Meredith, é bom verte uma vez mais — aproximou-se para tomar minhas mãos nas suas, tal como era seu costume em público, mas outro guarda empurrava entre nós. Aproximava-se de mim como se quisesse me roubar um abraço, mas nunca terminou o movimento.

Barinthus o atirou para trás do ombro. Doyle se moveu em frente de mim para bloqueá-lo, e eu fui para trás tão abruptamente que me choquei contra Frost.

A pele de seu casaco fez cócegas contra minha bochecha. Suas mãos encontraram meus ombros como se estivesse preparado para me empurrar detrás dele, o mais longe possível do arrivista guarda.

O guarda em questão era da altura do Doyle, uma ou duas polegadas a menos, o qual o fazia medir seis pés de altura, embora não exatamente. A primeira coisa que notei a respeito dele foi seu casaco, embora normalmente não era a primeira coisa em que fixava-me dos guardas sidhe. O casaco de pele parecia alternar amplas raias de visom negro e branco. Bastante tinham os animais morrendo, mas por um casaco rajado, era só triste. Este ia combinado com seu cabelo preso atrás caindo por sobre um de seus ombros até a parte inferior de suas coxas. Seu cabelo era uma série de linhas estreitas, negro , cinza pálido, cinza escuro e branco, tudo perfeitamente ordenado de modo que não se pudesse confundir seu cabelo com o de alguém cujo cabelo se estivesse voltando cinza. Podia ter sido um trabalho de tintura complicado e bem feito, ou ele não era humano. Seus olhos cor cinza carvão, eram uma sombra mais escuros que os da maioria, mas poderiam haver sido humano.

— Só queria um pequeno abraço — disse com uma voz que soava menos que sóbria.

— Está bêbado, Abloec — disse Barinthus com voz desgostada. Seu apertão no ombro do guarda era tão forte que parecia que sua branca pele estava fundindo-se em seu rajado casaco.

— Só contente, Barinthus, só contente — disse Abloec, com um sorriso ligeiramente inclinado.

— O que faz ele aqui? — perguntou Doyle, e sua voz normalmente profunda, continha um início de retumbante grunhido.

— A rainha desejava que a princesa tivesse seis guardas. Permitiram- me escolher dois, mas ela escolheu os outros três.

— Mas por que ele? — disse Doyle, fazendo ênfase na palavra ele.

— Há algum problema? — perguntou um dos oficiais de polícia. Eu teria dito que ele era alto, mas tinha ao Barinthus para compará-lo, e poucos se viam altos ao lado do deus do mar. Seu cabelo cinza estava talhado muito curto, muito severo, e deixava sua cara limpa e nua. Poderia haver-se visto melhor com mais corto ao redor de sua cara para suavizar os rasgos, mas havia um olhar em seus olhos, a postura de seus ombros que dizia que não podia estar menos preocupado de como seu penteado podia combinar com sua estrutura óssea.

Madeline Phelps, publicitária da Corte do Ar e da Escuridão apareceu ao lado do oficial. — Não há problema, comandante, nenhum problema absolutamente —Sorriu quando disse isto, mostrando seus dentes brancos e retos, emoldurados por um vinho profundo, um lápis de lábios quase púrpura. A cor combinava com sua saia curta e vincada, e a jaqueta que entalhava seu corpo. O púrpura provavelmente a nova cor de moda para a temporada. Madeline seguia a pista de coisas assim. Tinha talhado seu cabelo da última vez que a tinha visto. Estava muito perto de sua cabeça, mas deixava largas mechas magras ao redor de sua cara e para baixo por seu pescoço, de forma que seu cabelo era o mais curto, à exceção do comandante, embora de igual maneira seu cabelo conseguia tocar a lapela de sua jaqueta púrpura real. Quando moveu sua cabeça para sorrir para o policial a luz captou brilhos púrpuras em seu cabelo castanho, como se tivesse dado uma lavagem de cor mais que um tintura verdadeira. Sua engenhosa maquiagem complementava seu magro rosto, e, embora era umas poucas polegadas mais alta que eu, ela era pequena para uma humana de sangue puro.

— Isto parece um problema — disse o comandante.

Perguntei-me o que tinha feito para merecer que alguém com a fila de comandante viesse a se encarregar da minha segurança.

Guardava a rainha tantos secretos de nós como nós dela? Olhando a séria cara do comandante, pensei, talvez.

Madeline sorriu e tratou de persuadi-lo, ainda pondo sua mão em seu antebraço.

Seus olhos não acabaram de descongelar-se; de fato, olhou fixamente sua mão até que ela retirou-a. — Conhece o antigo dito sobre o pato? — perguntou com uma voz que ainda era completamente séria.

Ela pareceu perplexa por um segundo, logo recuperou seu sorriso e sacudiu a cabeça — Sinto muito, não saberia lhe dizer.

— Se se ver como um pato, faz quac como um pato e caminha como pato, então é um pato — disse ele.

Madeline pareceu perplexa outra vez, o qual não queria dizer que realmente o estivesse. Ela capitalizava o de ser linda e pequena, e só em estranhos momentos dava a entender a séria e lista que era realmente.

Eu nunca tinha tido muita paciência com as mulheres que ocultavam sua inteligência. Pensava que sentava um mal precedente para o resto de nós. — Quer dizer que se isto parecer um problema, soa como um problema e atua como um problema, então é um problema —eu disse.

O comandante, cuja insígnia dizia, WALTERS, girou seus frios olhos sobre mim. Não eram só os indecifráveis olhos de um policial, entretanto; estava preocupado por algo. Mas o quê? Seus olhos se enfraqueceram um pouco, como se lhe tivesse agradado que eu parasse de jogar jogos tolos, ou como se não estivesse preocupado por mim. — Princesa Meredith, sou o comandante Walters, e sou o responsável por tudo isto até que tenhamods cruzado para o território sidhe.

— Agora, comandante — disse Madeline — Você e o capitão Barinthus são ambos os responsáveis, isso é com o que a rainha esteve de acordo.

— Você não pode ter dois líderes — disse o comandante — não e conseguir que se faça algo — Jogou uma olhada ao Abloec, logo ao Barinthus, e seu olhar dizia que não gostava da forma em que Barinthus controlava a seus homens. O que o comandante Walters não podia saber e o que nenhum de nós admitiria fora da corte era que se as coisas não passavam suaves e tranqüilas era quase sempre pela culpa da rianha Andais ou do seu filho. Mas agora que o príncipe Cel estava ainda encerrado a salvo, tinha que ser algo que a rainha tinha feito.

Pela minha vida, eu não podia entender por que ela tinha permitido que Abloec pudesse ser visto em frente de tantos meios de comunicação que estavam ali para a coletiva de imprensa. Ele era viciado em tudo, álcool, drogas, cigarros. Algo que nomeasse, Abloec gostava. Uma vez ele tinha sido o maior dos libertinos da Corte da Luz, um amante e o sedutor por excelência. Tinha sido expulso da Corte da Luz por seduzir à mulher incorreta, e Andais só lhe permitiu a entrada na Corte do Ar e da Escuridão com uma condição. Devia unir-se a sua guarda, o que significou que passou de ser um dos amantes mais solicitados de nosso mundo a ser celibatário. Tinha terminado por cair à bebida, e as drogas mais fortes que tinham sido inventadas eram consumidas por ele. Infelizmente para ele, era quase impossível para um sidhe ver-se completamente prejudicado pelas drogas e o álcool. Podia te embebedar, mas nunca ao ponto de passar pra o outro lado. Nunca ao ponto em que o verdadeiro esquecimento pudesse aliviar a dor. O melhor que podia fazer Abloec era tomar o bordo e fazer-se viciado para danificar tudo a seu redor. Meu pai o tinha mantido longe de mim, e minha tia o desprezou, acreditando-o débil. De modo que tinha sido escondido fazendo pequenos deveres durante séculos, uma vergonha para todos nós. Então, por que estava aqui, agora, neste foro público? Não tinha sentido. Não era que tudo o que fizesse Andais tivesse sentido, mas em público sempre se conduzia como uma perfeita rainha. Um guarda bêbado não significava boa imprensa. Um guarda bêbado ao que lhe confiava a vida de uma princesa e herdeira ao trono era pior que simplesmente má imprensa, era um descuido. Andais era muitas coisas, mas descuidada não era uma delas.

— Ganhei o direito de estar aqui, Escuridão, confia em mim com respeito a isso —disse Abloec. Seu sorriso se foi, e apareceu algo bastante sóbrio nesses olhos cor cinza carvão.

— O que se supõe que significa isso? — perguntou Walters.

Nem os guardas nem eu tivemos que perguntar. Se ele tinha ganho, então tinha tido que fazer algo que tinha odiado, mas que tinha agradado à rainha.

Isto pelo geral implicava sexo ou sadismo, ou ambos. Os guardas guardavam seus segredos em relação às humilhações que a rainha lhes exigia. Há um ditado que diz que as pessoas avançariam lentamente por cima de vidros quebrados por alguém ou por algo. Aparentemente este não era só um ditado com a rainha. O que faria uma pessoa por terminar com séculos de celibato? O que não faria? Algo deve ter aparecido em nossas caras, porque Walters nos olhou com curiosidade e perguntou — O que não estão me contando? Barinthus e Doyle lhe dirigiram olhadas vazias, assadas na ilegibilidade por longos séculos de políticas de corte. Dei a volta contra o corpo do Frost, de modo que minha cara ficasse escondida do comandante. Só que não lhe dava uma boa cara em branco.

Frost deslizou um braço através de meus ombros, mas abriu seu casaco de forma que ficasse dentro dele. A maioria das pessoas teria pensado que estava tentando me aproximar mais a seu corpo, mas eu o conhecia melhor. Tinha aberto seu casaco de forma que pudesse tomar sua arma, ou suas facas se é que as necessitasse. O abraço estava bom, mas para os guardas o dever vinha primeiro. Já que era minha vida a que estavam protegendo, nunca senti que ferissem meus sentimentos com isso.

— De acordo com que eu sei — disse Barinthus — não ocultamos nada que vá afetar sua capacidade para realizar este trabalho.

Walters quase sorriu — Não vai negar que está retendo informação à polícia?

— Por que teria que negar? Você teria que ser idiota se acreditasse que compartilhamos tudo o que sabemos com você, e não acredito que você seja um idiota, comandante Walters.

Ele olhou ao Barinthus, e não foi um olhar de todo pouco amistoso. — Bem, é bom saber. Você não quer o Abloec aqui, não é?

— Obviamente que não — disse Barinthus.

— Então por que ele está aqui?

Madeline tratou de intervir — Comandante, realmente deveríamos ver se todo estão preparados para a coletiva de imprensa.

Ele a ignorou. — Por que ele está aqui?

Barinthus piscou para ele, e sua segunda pálpebra se moveu para cima e abaixo. A clara membrana lhe permitia ver sob a água. Quando a mostrava sobre terra firme queria dizer que estava nervoso.

— Ouviu-me dizer que Abloec não foi minha escolha, a não ser a da rainha.

— Por que ela mandou um bêbado?

— Isso me ofendeu — disse Abloec, inclinando-se para o comandante. Walters enrugou o nariz. — O aroma de seu fôlego é letal.

— Só a bom Scotch — disse Abloec.

Barinthus o agarrou por ambos os ombros. — Necessitamos um pouco de privacidade, comandante Walters, para discutir algumas coisas. Walters lhe dirigiu um agudo assentimento, e chamou a seus homens. Tentou deixar dois guardas, mas Barinthus não o permitiu. — Você é bem-vindo a pôr oficiais em ambas as portas, e enquanto ele estiverem lá que não tentem escutar disimuladamente.

— A menos que você grite, não lhe ouvirão.

Barinthus sorriu — Trataremos de não gritar.

Walters reuniu seus homens, e Doyle lhe disse — Por favor, segure a porta para a Srta. Phelps.

A publicitária o olhou, seus olhos abertos, sua boca em um pequeno O de surpresa.

Era uma atuação, porque se recuperou muito rapidamente. — Agora, Doyle —Ela pôs sua bem arrumada mão em seu braço, sobre sua negra jaqueta de couro. — Tenho que conseguir que todos vocês estejam apresentáveis para a coletiva de imprensa.

Ele a olhou da forma em que Walters a tinha olhado, só que ainda menos delicado. Ela soltou seu braço, e deu um passo atrás. Por um momento a verdadeira Madeline Phelps saiu à superfície, desumana, determinada. Jogou sua carta de triunfo com um rosto que estava tenso pela cólera — As ordens que a rainha me deu eram me assegurar de que vocês estivessem encantados para a coletiva de imprensa. Quando me perguntar por que não o fiz, quer que lhe diga que foi porque você contradisse as ordens dela? — Ela, melhor que a maioria dos humanos que mantinham relações com a corte sabia o que a rainha era capaz de fazer, e usou muito bem esse conhecimento.

Dei a volta nos braços do Frost, de modo que meu rosto ficasse emoldurado pela pele do casaco. — Nenhum de nós está contradizendo as ordens da minha tia.

O olhar que me dirigiu esteve a um passo da insolência. Madeline havia desfrutado do favor da rainha durante sete anos. Sete anos de entreter-se com o poder absoluto que a rainha possuía sobre seres que poderiam ter partido a Madeline pela metade com as mãos nuas. Ela se sentia segura atrás do escudo do poder da rainha. Até certo ponto, tinha razão. Mas lá daquele ponto, bem, eu teria que lhe recordar onde estava esse ponto.

— Temos uma coletiva de imprensa importante, Meredith — Não se incomodou em usar meu título agora que não havia outros humanos ao redor para escutar. Seu olhar se deteve na muito adorada jaqueta do Galen, de velho couro marrom, logo seguiu a Doyle, a sua curta jaqueta negra, e finalmente a parka azul do Kitto. Seu lábio se curvou só um pouco. — Alguns casacos, alguns de seus cabelos e vocês a sério não usam o tipo de maquiagem para este tipo de sessões fotográficas. Tenho a maquiagem e o guarda-roupa fora —Deu a volta para a porta, como se fosse trazê-los.

Eu disse: — Não.

Deu a volta para trás, e a arrogância em seu rosto faria daria orgulho a qualquer sidhe — Posso ligar para a rainha com meu celular, mas te prometo, Meredith, que estou seguindo suas ordens —Na hora tirou um pequeno telefone do bolso interior de sua jaqueta. Um telefone tão pequeno que não tinha incomodado a linha da jaqueta.

— Não está seguindo suas ordens, não ao pé da letra — Sabia que me via pequena, quase como uma menina, jogando uma olhada do casaco do Frost. E pela primeira vez isto não importava, não com pessoas como Madeline. Podia ocultar meu poder até que necessitássemos. Não tinha que ser poderosa para ganhar isto.

Ela vacilou com o telefone na mão. — É obvio que sim.

— Minha tia te disse que nos vestisse e maquiasse logo que entrássemos do frio? Foram essas suas ordens expressas?

Estreitou seus cuidadosamente delineados e sombreados olhos. — Não com tantas palavras — Ela soou incerta, logo recuperou seu tom de negociação quando continuou. — Mas temos a coletiva de imprensa, e logo terá que te trocar de novo antes da grande festa. Temos um horário aqui, e à rainha não agrada que a façam esperar — apertou um botão no telefone e o pôs em seu ouvido.

Dei um passo longe do calor do corpo do Frost e sussurrei em seu outro ouvido. — Sou a herdeira ao trono, Madeline, e sempre me pareceste repugnante. Eu trataria de começar a ser agradável se estivesse em sua situação e eu gostasse do meu trabalho.

Estava tão inclinada que pude escutar a secretária de minha tia responder o telefone, mas não o que disse — Sinto muito, pressionei o botão equivocado. Sim, eles estão aqui. Temos algumas complicações, mas nada que não possamos resolver. Ok, Ok, ótimo — Ela desligou, e se distanciou de mim da mesma forma em que tinha visto que as pessoas se afastavam de Andais e Cel ao longo dos anos, como se estivessem assustadas.

— Estarei esperando no corredor — Lambeu seus lábios, jogou-me um olhar, mas não encontrou meus olhos de tudo. Ela não era tão boa nas políticas da corte como alguns. Havia aqueles que tinham tentado me matar com antecedência, que tinham sorrido e assentido para meu rosto, atuando como se sempre tivessem sido meus melhores amigos. Madeline não tinha aquele nível de duplicidade. Isso me fez pensar melhor dela.

Vacilou na porta — Mas por favor, apressem-se. Realmente temos um programa apertado, e a rainha disse, textualmente, que tinha lugares para cada um na festa desta noite. Ela queria que todos se trocassem antes de que as festividades desta noite começassem — não me olhou enquanto ia embora, como se não quisesse que visse o que havia em seus olhos.

Quando a porta se fechou detrás dela, Galen perguntou. — O que você disse pra ela?

Encolhi os ombrose me joguei para trás nos braços do Doyle. — Recordei-lhe que enquanto for a herdeira ao trono poderia ter algo que diz respeito a quem é contratado e despedido.

Galen sacudiu a cabeça. — Ficou pálida. Não só pela ameaça de ficar desempregada.

Olhei-o. — Exilada do mundo dos duendes, Galen, não só desempregada.

Ele franziu o cenho — Não é uma viciada nos elfos.

— Não é viciada em nós, não, mas sua reação me diz que não quer perder seu lugar preferencial entre nós. Não quer perder a oportunidade de tocar carne sidhe, ainda que seja só de passada.

— Pra que nos serve esse conhecimento? — perguntou.

— Quer dizer que temos uma vantagem com a Madeline que não tínhamos antes, simplesmente isso.

— Não é tão simples — disse ele.

Examinei sua cara tão honesta, e o quase próximo à dor que lhe causava o meu olhar intrigado dirigido a ele. Poderia ser que nunca necessitasse o conhecimento de que Madeline valorava seu trabalho o suficiente para ser amável comigo; mas em qualquer caso, sabia. Cada pequeno conhecimento, cada gota de debilidade e fortaleza, mesquinharia, crueldade ou bondade, de cada um, podia ser essa peça de informação que necessitava para sobreviver. Tinha aprendido a não subestimar a lealdade de ninguém, inclusive se essa lealdade era produzida pela necessidade de cobrir todas as apostas. Não era que Madeline fosse ser cruel com o Cel quando este fosse liberado, mas seria agradável com os dois agora, o que era um começo.


Capítulo 21


— Bem feito — disse Barinthus, com um sorriso — mas a jornalista tinha razão pelo menos em uma coisa. Fica pouco tempo — Fez gestos a outro guarda para que se adiantasse.

Era alto, magro, e tinha um maravilhoso bronzeado, mas este não era só um bronzeado. Carrow sempre se pareceria com um caçador com seu cabelo castanho com mechas douradas como o sol do verão, como se qualquer humano tivesse estado ao ar livre dia após dia. Seu corte de cabelo era curto e singelo. Parecia muito humano até que descobria seus olhos. Eram tanto marrons como verdes, mas não avelã, não. Eram verdes como um bosque agitado pelo vento, como as selvas do mundo, por um lado com um verde brilhante e pelo outro, profundo e escuro.

Com a maior parte dos sidhes tinha tido que perguntar que tipo de divindade tinham sido, mas como Barinthus, Carrow falou o que tinha sido antes. Por isso elevei a vista para a cara de um dos caçadores mais peritos.

O sorriso do Carrow provocou outro em minha cara. Tinha sido o guarda em que meu pai confiou para me ensinar as formas dos pássaros e das bestas. Quando entrei na Universidade para obter meu titulo de biologia, Carrow tinha me visitado e tinha estado sentado em algumas de minhas aulas. Tinha querido saber se tinham aprendido algo novo desde a última vez que esteve ali. Na maoria das aulas, nada tinha mudado, mas ele tinha estado fascinado pela microbiologia, parasitologia e a Introdução à Genética. Foi também o único sidhe que me perguntou o que faria com meu título se não fosse a Princesa Meredith.

Ninguém mais se preocupou, ou melhor eles não podiam conceber nada mais que a política da corte. Quando alguém pode ser uma princesa, por que queria ser qualquer outra coisa?

Carrow começou a ajoelhar-se, por isso lhe agarrei do braço e lhe dei um abraço. Soltou uma risada e me abraçou fortemente.

— Surpreendi-me quando escutei que era uma detetive em uma grande cidade. — Retrocedeu o bastante para ver minha cara. — Pensei que tinha corrido para as florestas para lidar com os animais, ou ao menos estaria em um zoológico.

— Para isso necessitaria ao menos o titulo de professor para o estudo da biologia na fauna, e pra a maioria dos zoológicos, também.

— Mas detetive?

Encolhi-me de ombros.

— Pensei que a rainha me procuraria em qualquer lugar onde pudesse utilizar meu titulo. Nem sequer disse a ninguém na agência de detetives que tinha um título em biologia .

— Lamento interromper esta volta a casa — disse uma nova voz — Mas o anel reagiu com o Carrow, ou não?

Girei-me e me encontrei com uns dos guardas dos que não estava muito contente de ver. — Amatheon — disse e não pude ocultar, até com aquela palavra, de que não era muito feliz de vê-lo.

— Não se preocupe, Princesa, tampouco me alegro de vê-la como acontece com você. — Virou sua cabeça, e a luz do sol de inverno desenhou retalhos de luz acobreada e dourada sobre seu cabelo vermelho. Seu cabelo caía em suaves ondas até o ombro quando o jogou para trás enquanto avançava para mim.

— Então por que estás aqui? — Indaguei.

— A rainha me ordenou — disse, como se isso o explicasse tudo.

— Por quê? — perguntei, porque isso a meu ver não esclarecia nada. Moveu-se com graça com seu casaco de couro feito na medida. Este encaixava em seu torax como uma luva, resplandecendo ao redor de seus quadris e pernas pelo que me pareceu que era um traje de couro. O couro negro dava mas vida a seu cabelo, mais brilhantismo, como se fosse uma chama acobreada. Quando estava o bastante perto para que visse seus olhos, naquele momento pude sentir a vertigem que seus olhos sempre me davam. Suas pupilas eram como capas de pétalas de cor vermelha, azul, amarelo, e verdes, como uma flor multicolorida.

— É maravilhoso te olhar, Amatheon. Se dissesse alguma outra coisa,

estaria mentindo.

Sua formosa cara sorriu com satisfação.

— Mas bonito não é o bastante, é você é amigo do Cel, até onde sei. Não penso que ele te cedesse amavelmente para me proteger, sem conseguir nada em troca.

Doyle tinha se aproximado em frente a mim, somente para manter Amatheon a certa distância de nós. Frost tinha se posicionado no outro lado, perto de mim, por isso qualquer pergunta do Amatheon teria que passar pelo Doyle.

Amatheon não tinha feito caso a nenhum dos dois, toda sua atenção estava centrada em mim. — O príncipe Cel não governa A Corte do Ar e da Escuridão, não ainda. A Rainha Andais deixou isso bem claro. —O sorriso afetado escorregou um pouco e a arrogância também. Perguntei-me o que tinha feito Andais para lhe deixar bem claro esse ponto tão importante para ele. Confiei em que a tia Andais tivesse escolhido um método doloroso, e por uma vez estive contente ao pensar no sofrimento de algum guarda. Mesquinho, mas é que Amatheon tinha sido um dos sidhe que tinham feito minha infância mas desagradável.

— Espero que lembre disso — disse Doyle.

Os olhos do Amatheon se semicerram, mas voltaram a descansar sobre mim.

— Confie em mim, Princesa, eu não estaria aqui se tivesse outra opção.

— Então vá embora — eu disse.

Sacudiu a cabeça, enviando mechas de cabelo até descansar sobre o couro de seus ombros. A última vez que o tinha visto, o cabelo lhe chegava até os joelhos. A maoria dos sidhe tomam como um ponto de orgulho ter o cabelo comprido sem que nunca o tenham cortado. De fato, no mundo das fadas quem não fosse sidhe era proibido de ter o cabelo até seus tornozelos.

Olhei fixamente por cima dele.

— Cortaste o cabelo desde a última vez que te vi.

— Como você cortou o seu — disse, mas com cara séria.

— Sacrifiquei meu cabelo para ocultar o fato de que era sidhe. Por que cortou o seu?

— Sabe porquê — disse-me, lutando por manter sua cara escondida detrás de uma máscara arrogante.

— Não, não sei.

A cólera se abriu através de sua máscara, arrancou-o, e vi algo próximo à raiva em seus olhos de pétalas de flor. Ele fez uma bola com o cabelo que lhe chegava até os ombros com suas mãos.

— Por que rechacei vir hoje aqui. Por rechaçar ser um de seus homens. A rainha recordou-me que lhe negar algo não era sábio. — obrigou-se a relaxar-se, o esforço foi visível e era doloroso de contemplar.

— Por que é importante que consiga uma possibilidade de estar minha cama? — perguntei.

Negou com a cabeça, e o movimento de seu cabelo recém cortado pareceu incomodá-lo até mais. Controlou com suas mãos suas grossas mechas, negou com sua cabeça outra vez, e me disse.

— Não sei. Esta é a pura verdade. Perguntei-lhe, e ela me disse que não tenho porque sabê-lo. Somente tinha que fazer o que me ordenava. — A cólera era agora mera tristeza, mostrando o bordo do medo que tinha estado ali presente.

Ele me olhou, e já não estava zangado comigo; somente parecia cansado e golpeado.

— Assim aqui estou, e a rainha deseja que eu toque o anel. Se este não reage a minha pele, então depois poderei retornar certamente a corte. Sou livre de deixar esta guarda, mas se este reage com meu toque... — Olhou para o chão, e seu cabelo se derramou ao redor de sua cara. Logo elevou o olhar bruscamente, penteando com seu dedo o cabelo para mantê-lo para trás. — Devo tocar o anel. Devo ver o que acontece. Não tenho outra opção, e nem você.

Pareceu-me tão infeliz que me fez pensar como se ele tivesse sido melhor antes de que lhe conhecesse. Claro que não o bastante para lhe ter em minha cama, mas sempre tinha problemas para odiar às pessoas se estes me mostrassem algo vulnerável dentro deles. Andais tinha visto que era minha debilidade; meu pai o teria visto como força. Eu ainda não sabia como encarar isso.

Sem apartar seu olhar fixo do Amatheon, Doyle me perguntou.

— Vai permitir que toque o anel?

Frost se aproximou de mim e seu casaco me envolveu como uma nuvem.

— Lhe permitir que toque o anel não significa nada, não nos custa nada —eu disse. — se a rainha falou com ele, preferiria fazer tudo o que ela deseja, até certo ponto.

— Ela não permitirá que nenhum de nós deixe passar isto, Princesa. — Sua mão foi a seu cabelo, e parou com um esforço visível. — Nos terá na cama, se o anel nos reconhece.

Quis lhe perguntar outra vez, porquê, mas não acreditei que ele conhecesse mais a forma de pensar de Andais que eu.

— O que ocorrer será um problema para outro dia. — Dei um passo até tocar o braço do Doyle. — lhe deixe passar.

Doyle me jogou uma olhada, como se quisesse discutir, mas não o fez.

Simplesmente se afastou, me permitindo dar um passo para frente, mas Frost não se moveu para trás. Ele ficou perto com seu corpo tocando o meu.

— Frost —eu disse — Necessitamos um pouco mais de espaço.

Jogou-me uma olhada, logo ao Amatheon, então deu um pequeno passo para um lado, em sua cara havia uma máscara arrogante. Nem a ele nem o Doyle gostava muito do Amatheon. Talvez era algo pessoal, ou talvez, como a mim, não gostavam da idéia de ter a alguém que sabíamos que era um homem do Cel perto.

— Frost — voltei a repetir — E se o anel reconhece a ti, e não ao Amatheon? Nos dê bastante espaço assim saberemos que a reação é somente dele.

— Darei a distância de meio braço, mas não mais. Ele foi um dos gatos de Cel por muito tempo.

Amatheon olhou fixamente por cima do homem mais alto.

— A princesa tem o amparo da rainha, magicamente dado. Se lhe levantasse uma mão, então minha vida seria retida, e a rainha me faria rogar pela morte muito antes de que ela me desse isso. — Seus olhos nos olharam atormentados. — Não, Frost, não quero voltar sob o tenro cuidado da rainha, nem mesmo por eliminar este animal meio•humano de nosso trono.

— OH, que agradável —eu disse.

Amatheon suspirou.

— Sabe como me sinto, Princesa Meredith. O que sempre senti por ti e por sua linha de sucessão ao trono. Se de repente dissesse que é maravilhosa e a futura rainha perfeita, Acreditaria-me?

Só neguei com minha cabeça.

— A rainha me convenceu que minhas crenças não são tão necessárias como minha carne e meu sangue. — Sua cara pareceu abater-se no momento, quase como se ele quisesse gritar. Mas se recuperou, mas os olhos me percorreram com uma crua emoção.

O que lhe tinha feito Andais?

— Deveria terminar por concordar, como eu fiz. — era Onilwyn outro guarda de que poderia ter passado sem ver. Era formoso, mas havia uma aspereza em sua cara, uma qualidade quase inacabada, embora ele era formoso para as normas humanas, mas para as normas sidhe era tosco. Era amplo de ombros, e musculoso; somente vislumbrar seu corpo coberto sá pelo comprido casaco de pele, e já se sentia seu poder. Era tão largo de ombros e de peito que parecia mais baixo que os outros, mas tudo isto era uma ilusão. O cabelo espesso e ondulado do Onilwyn estava preso atrás em uma rabo-de-cavalo. O cabelo era um verde tão escuro que quando a luz caía sobre ele reluzia como uma negra luz luminosa. Seus olhos eram da cor da verde erva com estrelas de ouro líquido que dançam ao redor das pupilas. Sua pele era de um pálido verde, mas não eram de um branco esverdeado como a do Galen, onde não estava segura se era branco ou verde. Não, a pele do Onilwyn era de um pálido verde da mesma maneira que a pele do Carrow era marrom.

— Estaria de acordo com algo que te permitisse salvar sua pele. —

disse Amatheon .

— Certamente que sim — respondeu Onilwyn, quando se deslizou perto de nós.

Nunca tinha entendido como um homem tão volumoso conseguia deslizar-se, mas ele sempre o fazia. — Faria isso qualquer um com um pouco de sentido comum.

Amatheon deu a volta para olhar ao outro homem.

— Por que é um homem do Cel? Acredita que ele deveria ser o rei? Não se preocupa?

Onilwyn encolheu seus largos ombros.

— Prefiro que Cel seja o rei porque gosto dele, e ele gosta de mim. Me prometeu muitas coisas uma vez que estiver no trono.

— Ele prometeu muitas coisas — disse Amatheon — mas não é por isso que fui seu seguidor.

— Então por quê? — pergunto-lhe Doyle.

Ele respondeu sem afastar o olhar do Onilwyn.

— Cel é o último príncipe sidhe verdadeiro que temos. Do último descendente verdadeiro que nos governou durante quase estes três mil anos. O dia que alguém que é parte humano, e parte brownie, e outra parte luminosa tome nossa coroa nesse dia morrerá muita gente. Não seremos melhores que os mestiços da Europa.

Onilwyn riu, e estava tão cheio de rancor que me doeu vê-lo.

— Mas aqui está, amante do sangue puro dos escuros, aqui está — Ele permaneceu de pé diante do homem mais alto, lhe olhando fixamente com crueldade, com um sorriso satisfeito. — Obrigado a te deitar com uma mestiça. Sabendo que se conseguir que ela engravide, pessoalmente, será o responsável por colocá-la no trono. Mas que deliciosa, dura e crua ironia.

— Você gosta de tudo isto — disse Amatheon com voz estrangulada. Onilwyn inclinou sua cabeça.

— Se o anel estiver vivo a nosso toque, estaremos livres de nosso celibato.

— Mas só com ela — disse Amatheon. O outro homem sacudiu sua cabeça.

— O que importa isso? É uma mulher, e é sidhe. É um presente, não uma maldição.

— Ela não é uma sidhe.

— Cresce, Amatheon, cresce, antes de que esta ingenuidade consiga te matar. —Me olhou pela primeira vez. — Posso tocar o anel, Princesa?

— O que acontece se digo que não?

Onilwyn riu, e esta era menos agradável que a risada que tinha dado a Amatheon.

— A rainha sabia que não gostaria disto, ou de mim. Me deixe ver se consigo lembrar a mensagem.

— Eu lembro — disse Amatheon com voz aborrecida — Fez-me repeti-lo uma e outra vez enquanto ela ... — parou bruscamente, como se houvesse dito muito.

— Custe o que custar, dê a mensagem da rainha à princesa —urgiu Onilwyn.

Amatheon fechou seus olhos como se lesse do fundo de sua cabeça.

— Escolhi a estes guardas com muito cuidado. Se o anel não reagir a eles então assim seja, mas se realmente reagir, então não quero nenhum argumento por sua parte. Foda-os. — Abriu seus olhos, e me olhou pálido, como se recitá-lo tivesse lhe custado algo. — Não desejo tocar o anel, mas não irei contra as ordens da rainha.

— Não outra vez, quer dizer — disse Onilwyn, e me olhou. — Posso tocar o anel?

Joguei uma olhada para o Doyle. Fez um pequeno assentimento. — Acredito que deve tocá-lo, Meredith.

Frost começou a adiantar-se.

— Frost — disse Doyle, e nessa palavra havia uma advertência. Frost o olhou, e estava horrorizado.

— Estamos indefesos para protegê-la de tudo isto?

— Sim — afirmou Doyle — Estamos indefesos ante as ordens da rainha. Toquei o braço do Frost.

— Está tudo bem.

Ele sacudiu sua cabeça.

— Não, não está tudo bem.

— Não te culpo, Frost — disse Onilwyn. — Eu tampouco quereria compartilhar. —Olhou ao redor do quarto a todos os homens. — Mas com certeza você compartilha, não é verdade? — Fez um bico com seu lábio inferior, mas seus olhos eram maliciosos. — Tão pequeno pedaço de carne para compartilhar entre tantos, e agora aparecem outros mais para repartir.

— OH, pela Deusa, Onilwyn, deixa de dizer sandices. — O último guarda que havia chegado ao quarto tinha estado tão tranqüilo em sua esquina que não o tinha visto, era o jeito de Usna. Poderia não ser visto em uma multidão, e só quando ele falou minha mente registrou que tinha estado ali durante todo o tempo. Meus olhos lhe viam, mas minha mente seguia esquecendo-se disso. Este era uma forma de encanto, e era de um tipo que sortia efeito sobre outro sidhe, ou ao menos este sempre me afetava.

Nem sequer Doyle, Frost, nem Rhys pareceram surpreender-se, mas Galen disse:

— Gostaria que não fizesse isso. É sempre tão malditamente inquietante.

— Sinto muito, pequeno homem verde, tentarei e farei algum ruído quando me mover perto de ti. — Mas disse com uma risadinha. Galen sorriu abertamente para ele.

— Todos os gatos deveriam usar sinos.

Usna se separou da parede e da cadeira em que estava sentado. Usna estranhas vezes havia se sentado em uma cadeira. Reclinava- se, se abaixava, mas poucas vezes se sentava. Usna se movia através do chão como o vento, como uma sombra, mais como se fosse ar que carne. Era de uma raça de homens aos que se conheciam por sua graça.

Bom na verdade, Usna poderia envergonhar ao resto. Olhá-los em uma reunião sidhe era olhar como fluíam as flores com o vento, ou o balanço de ramos na primavera. As flores não podiam ser nada mais que ingenuamente formosas. Uma árvore em flor não podia ser mais formosoa mas era, e era Usna. OH, havia outros mais formosos, Frost era também.

Rhys e Galen tinha uns lábios preciosos. De fato a boca da Usna era um pouco grande para meu gosto, seus lábios eram também mais magros do que preferia. Seu nariz era possivelmente muito pequeno para sua cara. Seus olhos eram grandes e brilhantes, mas eles eram uma sombra indescritível de cinzas, nem tão escuro como os de Abloec, nem tão pálidos como os do Frost. Eles eram somente ... cinzas. Usna era magro até o ponto de que parecia quase afeminado. Seu cabelo obstinadamente nunca tinha crescido além de seus quadris, não importa o quanto ele tinha tentado; só sua cor o trasformava. Retalhos de um vermelho acobreado, com um negro brilhante como o verniz, com neve branquíssima, como se seu cabelo fosse uma colcha de múltiplas cores. Embora certamente, além de estar formado de várias cores também era mais suave.

A mãe de Usna tinha ficado grávida do marido de outra sidhe. A esposa desprezada havia dito que seu exterior deveria ser igual a seu interior, e a transformou em gato. A gata mágica deu a luz a um menino, Usna. Quando cresceu até alcançar sua virilidade, que foi quando era uns anos mais jovem que atualmente, devolveu a sua mãe a sua forma verdadeira, vingado-se da sidhe que a tinha amaldiçoado, e tinha vivido feliz após. Ou teria que ter sido assim, mas ao matar a sidhe que havia amaldiçoado a sua mãe o tinham jogado a pontapés da Corte da Luz. Ao que parece a feiticeira em questão tinha sido a amante do rei. Oops.

Usna nunca pareceu se importar. Sua mãe era ainda um membro da Corte Luminosa, e embora ele não era, eles ainda se encontravam e se falavam, e faziam piqueniques no bosque. Sua mãe celebrava estas reuniões com ele dentro de uma cova na colina na fronteira da Corte do Ar e da Escuridão, já que nenhum nobre escuro era bem- vindo na Corte da Luz. Eles tinham o bosque e os campos, e com isso se conformavam.

Deslizou-se avançando ligeiramente a meu redor e me disse: — Posso tocar o anel?

Eu disse a única coisa que me veio à cabeça:

— Sim.


Capítulo 22


Os dedos de Usna se deslizaram sobre os meus em um delicado, quase elegante movimento, até que chegaram ao anel, e ali vacilaram. Encontrou meu olhar, com seus olhos cinzas, que não eram nem escuros nem luminosos, a não ser absolutamente intermediários. Seus olhos deveriam ter tido um olhar ordinário, mas a força de sua personalidade queimava neles, de modo que não era a cor nem a forma de seus olhos o que fazia que o olhasse fixamente, a não ser simplesmente ele mesmo. Se tivesse tido olhos formosos para acompanhar todo o resto, teria sido completamente injusto. Já era o bastante encantador sem isso.

— Chega de preliminares, Usna — disse Onilwyn — o resto de nós está esperando.

Usna moveu seus olhos para o outro homem, e o calor que tinham até um momento atrás tinha sido sensual foi de repente quase de raiva. A mudança tinha sido instantânea, como se o sexo e a raiva estivessem a só uma piscada de distância dentro da cabeça de Usna. O pensamento deveria ter me proporcionado uma pausa, em vez disso, provocou pequenas coisas na parte inferior do meu corpo, e fizeram-me brotar um pequeno som desde meus lábios.

Os olhos de Usna piscaram para os meus, atraídos por esse pequeno som. O calor em seus olhos se deslizou para algo entre a cólera e a fome sexual. Não sabia se ele ainda pensava em matar e comer o Onilwyn ou em me ter. Não era culpa de Usna, mas às vezes ele pensava mais como um animal que como um humano. Isto estava em seus olhos agora.

E este foi o momento que escolheu para deslizar as gemas de seus dedos através do anel. Voltou para a vida em um roubo de fôlego, uma tormenta que dançava sobre a pele e que arrancou de Usna um grito de prazer e quase dobrou meus joelhos. Balancei-me e ele me agarrou automaticamente, razão pela qual sua pele nua se afastou do anel. Nos sustentamos um ao outro em um frouxo abraço, tratando de aprender a respirar de novo.

Ele riu, e foi um sorriso alegre e baixo, como se estivesse muito contente consigo mesmo, e comigo.

— A reação não foi tão forte como quando o anel esteve pela primeira vez em seu mão — disse Barinthus — Era só um brilho de calor.

— Está ficando mais forte — disse Doyle.

— Meu vez — disse Abloec, e sua voz ainda era clara, mesmo que estivesse balançando ligeiramente.

Usna me girou em seus braços, como se estivéssemos dançando, mas esse único movimento cheio de graça me pôs a seu outro lado, longe do Abloec. Usna contemplou Barinthus, e só quando este lhe fez um pequeno assentimento ele me deu a volta para Abloec.

Este elevou uma mão que estava tão estável como sua voz, mas Rhys interrompeu — Tem que te afastar dela primeiro, Usna. Não quer que sua fertilidade se reflita sobre o Abloec, não é?

Usna assentiu, e me fez girar, como se escutasse uma música que eu não podia ouvir, me passando ao Abloec, como se realmente estivéssemos dançando. Abloec andou a provas, tentado me alcançar, e falhou. Estava muito bêbado para dançar. Bêbado para muitas coisas.

Dei um passo bastante longe de modo que minha mão apenas o alcançou. Queria manter essa distancia por vários motivos: um, cheirava como se tivesse estado fazendo gargarejos com Uísque; dois, estava bastante bêbado para que eu não estivesse segura do que faria seu corpo quando tocasse o anel. Se caísse, não o queria me arrastando com ele.

Ele agarrou minha mão, torpemente, como se visse em dobro, e não estivesse seguro de qual era a minha. Mas para isto não importava que ele não pudesse ver bem; uma vez que tocou o anel, este flamejou à vida. Foi como uma onda de calor que se precipitou sobre minha pele, e jogou o Abloec sobre seus joelhos. Só o fato de que tinha me preparado para isso me manteve sobre meus pés.

Pus minha mão em liberdade, facilmente, porque a magia tinha terminado o que a bebida tinha começado. Ficou sobre seus joelhos em seu fantástico casaco rajado de visom, porque simplesmente não podia estar de pé.

— A rainha estava zangada quando ele se apresentou bêbado hoje? — perguntou Doyle.

— Sim — disse Barinthus.

— Será menos que inútil em uma briga .

— Sim — disse Barinthus de novo.

Cravaram a vista no guarda ajoelhado, e em seus rostos ambos mostravam o que queriam fazer com ele. Se a rainha não o tivesse escolhido, ele teria sido enviado de volta a corte em desgraça, e nunca teria visto a coletiva de imprensa. Infelizmente, esta não era uma opção.

Onilwyn deu um passo ao redor do guarda ajoelhado, da forma em que se rodearia o lixo na rua. Ele me ofereceu sua mão, silenciosamente, e não tratei de discutir.

A rainha o tinha enviado, e era isto. Além disso, permitir que o anel o tocasse não o punha na cama. Ainda tinha a esperança de falar com a rainha sobre Abloec e Onilwyn. Eu tinha que manter comigo ao menos um dos três de sua escolha, e estranhamente, o melhor do grupo era Amatheon. Que fosse o melhor dos três me fez me perguntar em que apoiaria a rainha suas decisões. Se pudesse pensar em uma forma de lhe perguntar que não fosse insultante, faria-o.

Dei minha mão ao Onilwyn, e na hora seus dedos tocaram o anel,

este cintilou para mim como uma faca, um puxão de prazer tão agudo que doeu. Imediatamente Onilwyn se tornou para trás e disse:

— Isto dói. Em realidade faz mal.

Esfreguei uma mão através de meu estômago, lutando com o impulso de tocar mais abaixo, porque sentia quase como uma ferida, e não era meu estômago o que estava ferido. — Nunca o anel tinha doído deste modo, não ao primeiro toque. Nunca.

Os olhos do Onilwyn se abriram o suficiente para que a parte branca de seus olhos cintilasse, como um cavalo assustado. — Por que fez isso?

— Parece agir de maneira distinta com cada homem — Barinthus se voltou para o Doyle. — Isto também é algo novo? Doyle assentiu.a Onilwyn se afastou de mim, apartando sua mão. Perguntei-me se só seria sua mão o que lhe doía, ou se ele, também, sentia o impulso de tocar suas partes inferiores.

— Carrow — disse Barinthus, e fez gestos ao outro homem que estava adiante.

Carrow não vacilou, vindo para mim, com o mesmo sorriso que havia me dirigido desde que podia recordar. Ele, igual a Galen, não tinha um plano oculto, mas a diferença do Galen, a única coisa que mostrava em sua cara era um humor politicamente correto. Esta era sua versão da arrogância do Frost ou do desinteresse do Doyle.

— Eu posso? — perguntou.

— Sim — elevei minha mão para ele e a tomou.

Sua mão se deslizou sobre o anel e não aconteceu nada. Nada mais que o roce de sua pele morna contra a minha. Sua mão estava quente na minha, mas isso foi tudo. O anel permaneceu frio entre nós.

Só por um segundo mostrou sua decepção atrás de seu sorriso, tão amarga que encheu seus olhos de um marrom tão escuro que foi como se a noite tivesse cansado em seus olhos.

Então se recuperou, fechando suas largas pestanas sobre seus olhos, e se inclinou, me dando um beijo na mão. Ele fez algo leve de tudo isto dando um passo atrás, mas eu tinha alguma idéia do que este ato casual devia ter lhe custado.

Todos os olhos se voltaram para o Amatheon, posto que era o único que faltava.

O olhar em seu rosto era doloroso de ver. O conflito em seu interior se refletia em seus formosos traços. Uma coisa estava clara: ele não queria tocar o anel. Não acredito que queria saber. Era um homem, e tinha necessidades, e esta era a única saída da armadilha em que a rainha tinha a todo sua guarda enlodada. Mas Onilwyn havia dito melhor: para o Amatheon, satisfazer suas necessidades comigo, que representava quase tudo aquilo que ele pensava ser ruim em uma sidhe, era quase pior que a abstinência forçada.

— Esta não é a escolha que nenhum de nós queria fazer, Amatheon, devemos fazer o melhor que pudermos — Caminhei para ele, e o pânico se esculpiu em seu rosto de linhas ásperas. Parecia como se quisesse correr, mas não havia nenhum lugar aonde ir. Nenhuma parte em que a rainha não o encontrasse. Ela era a Rainha do Ar e da Escuridão e, a não ser que houvesse uma terra em que a noite nunca caísse, o encontraria.

Detive-me a um braço de distância, quase assustada de diminuir a distância. O medo em sua cara, a rigidez de seus ombros, era horrível de ver. Era como se estivesse aqui para alguma espécie de tortura. — Eu não forçaria isto sobre ti, Amatheon, não se houvesse alguma outra opção para algum de nós.

Sua voz saiu com dificuldade de entre seus dentes apertados. — Mas não temos nenhuma opção.

Sacudi minha cabeça — Não, nenhuma.

Era como se reconstruísse a si mesmo frente a meus olhos. Empurrou o medo e os conflitos para dentro, a algum lugar. Trabalhou nisso até que sua cara esteve lisa e arrogantemente formosa uma vez mais. Suas mãos apertadas aos flancos era a última coisa que pôs sob controle. As abriu, dolorosamente, um nódulo cada vez, como se o esforço fosse uma coisa poderosa. E talvez era. Há momentos nos que penso que dominar-se é mais difícil que qualquer outra coisa sobre a terra.

Soltou um fôlego que tremeu só um pouco. — Estou preparado.

Sustentei minha mão no alto, como se esperasse um beijo. Vacilou só um momento, logo tomou minha mão na sua e nesse momento seu dedo roçou o metal, a magia se empurrou através da minha pele como um vento quente.

Amatheon atirou sua mão para trás, como se tivesse se queimado. Seus olhos estavam muito abertos e assustados, mas não havia dor. Havia se sentido tão bem como eu tinha me sentido. Apostava nisso.

— O anel foi satisfeito — disse Barinthus. — Permitamos que a mulher volte, e se arrume conosco. A rainha deseja que estejamos perfeitos para as entrevistas.

— O que tem ele? — perguntou Doyle, assinalando para o Abloec,

quem ainda estava sobre seus joelhos, sorrindo feliz, talvez um pouco desequilibrado.

— O colocaremos na parte mais afastada da princesa. Agora, necessitamos de capa para aqueles com asas — Olhou tanto ao Sage como a Nicca avançar e o enrugado de suas mantas quando Usna trouxe as capas dobradas. — Espero ouvir esta explicação na presença da rainha.

— A rainha te proibiu fazer essas perguntas? — perguntou Doyle.

— Não, mas ela decretou que todas as explicações devem esperar a seus ouvidos — A comissura de sua boca atirava para cima, como se estivesse brigando por não sorrir — A rainha Andais parece acreditar que nós lhe escondemos coisas.

— Que nós? — perguntei.

— Toda a corte, aparentemente — disse. E a clara membrana sobre seus olhos piscou em seu lugar outra vez. Algo tinha passado na corte, ou estava passando, que fazia que Barinthus estivesse muito nervoso.

Quis lhe perguntar por isso, mas não podia. Com o Onilwyn e Amatheon ali, era o mesmo que perguntar tendo os ouvidos do Cel sobre as paredes. Tudo o que disséssemos em frente deles encontraria seu caminho para a rede dos aliados do Cel. Sinos do Inferno, Onilwyn e Amatheon eram seus aliados. Qual era o propósito da rainha enviando-os a minha cama? Havia um plano em sua mente ou sua classe especial loucura havia alcançado um novo nível? Não sabia, e não podia perguntar enquanto tivéssemos pessoas que informariam a ela ou às pessoas do Cel. Não podia me permitir por nenhuma parte que me ouvissem acusar à rainha de estar louca. Todos sabíamos que estava, mas ninguém falava disso. Ninguém dizia em voz alta. Não, a não ser que se estivesse muito, muito seguro de que estava entre amigos.

Olhei ao redor da sala, aos novos guardas e a meus próprios homens.

Sage estava sendo vestido com uma capa de lã dourada, que o fazia parecer como se estivesse esculpido em mel espesso. Suas asas apareceram desde suas costas como estranhos vidros manchados. Sage não era meu. Sidhe ou não, ele ainda devia lealdade à rainha Niceven, e ela não era minha amiga. Era minha aliada, enquanto pudesse mantê-la contente, mas não era minha amiga.

Amatheon não encontrou meu olhar. Onilwyn o fez, mas só por um momento, antes de que ocultasse seus olhos assustados. Não tinha gostado da mordida do anel, e sinceramente, a mim tampouco. Usna ajudava Nicca a se vestir com uma capa de um rico vermelho violáceo, ajustando-a com um broche de opala e prata. Estava muito ocupado brincando com Nicca a respeito de suas asas para notar meu olhar. Carrow tinha ficado além dos outros porque não estaria permanentemente ente nós.

A rainha não perderia um guarda que não era fértil por mim.

Com unicamente Sage como problema, poderíamos lhe ter ordenado que ficasse fora da habitação, mas se Andais insistia em me carregar com pessoas nas que não confiava, logo encontraríamos a alguém que não quereria sair docilmente da habitação para que pudéssemos conspirar. Ou possivelmente essa era sua idéia. Uma vez tratou de me enviar um espião, um espião que era reconhecido como tal. Mas ele tinha tentado me assassinar, e ela não tinha escolhido a ninguém para substitui-lo depois que morreu. Talvez era isso. Olhei aos três novos guardas a quem Barinthus não tinha querido ter ali, e pensei, claro, era disso que se tratava. Eles eram seus espiões. Um deles ou todos eles. Ela enviou três porque queria ter a certeza de que ao menos um deles fosse escolhido pelo anel. Como riria quando descobrisse que a todos seus espiões tinha acontecido a prova.


Capítulo 23


Meia hora mais tarde estávamos de pé em um palco com três microfones instalados no meio. Madeline tinha se reposto, e tinha voltado para sua satisfação cotidiana de poder mandar em alguns dos seres mais poderosos sobre a face da terra.

É obvio, se Madeline Phelps estivesse intimidada pelo poder, ou talvez assustada, ela nunca teria sobrevivido sete anos trabalhando para a Rainha Andais. Doyle e Barinthus finalmente tinham recordado que tínhamos um programa apertado e tinham permitido trocar a muito querida jaqueta de couro do Galen por uma jaqueta americana adaptada. Sabia que o casaco Day•Glo do Kitto teria que desaparecer, mas não tinha me dado conta de que as calças jeans e uma camisa pólo não fossem aceitáveis. O problema em Los Angeles era que Kitto era muito largo na costas em relação a moda comum dos meninos, e não o bastante alto para a dos homens, por isso suas opções de compras eram limitadas. Aparentemente a rainha tinha pensado nisso e para complementar as calças negras que tínhamos sido capazes de encontrar ela subministrou uma camisa de manga longa de seda da cor de uma jóia, mas a jaqueta negra que tinha enviado não deu. Era muito ampla nos ombros e larga nos braços. Madeline finalmente admitiu que a jaqueta era pior que a camisa sozinha. Os outros homens, teve que admitir, a contra gosto, que estavam bem. Em realidade, não havia um homem entre eles que só parecesse estar bem. Fabuloso, lindo, assombroso, mas não bem.

Eu, por outra parte, necessitava de uma saia mais curta. Ela encontrou uma franja de vincados negros que quase cobriam a parte superior de minhas coxas. Minha tendência a me vestir com cintas- liga e meias até a coxa sob qualquer saia significava que quando me movesse, as bordas de encaixe se vislumbrariam. Se não fosse cuidadosa ao caminhar no elevado palco, mostraria muito mais que a parte superior de minhas meias.

Alegrei-me de levar posta roupa interior agradavelmente negra, sem laços escondidos ou buracos. Se se visse, tudo o que eles veriam seria um sólido cetim negro. Certamente, com uma saia distinta, necessitaria sapatos distintos. Madeline havia trazido um par de saltos de verniz de quatro polegadas. Sou boa nisso, andando com saltos, mas tinha prometido que trocaria isso antes de que saísse para a neve. Os sapatos de salto não são feitos para a neve, a não ser que queira romper um tornozelo.

Parei sobre o palco, apoiada contra a parede, com o Frost de um lado e Doyle do outro. O resto de meus guardas se esparramou por ambos os lados. Estavam como formando uma linha ante um esquadrão que fosse disparar, embora a polícia estava em um semicírculo na base do estrado, assegurando-se de que não se convertessem em um pelotão de fuzilamento autêntico. Sinceramente, a não ser que a rainha nos escondesse grandes segredos, acredito que a polícia estava ali principalmente para impedir que os repórteres avançasse sobre o palco. Ou talvez só era meu nível de desconforto com todos estes meios de comunicação em uma sala. Era uma sensação quase claustrofóbica, como se eles estivessem respirando muito de meu ar. Tinha estado realizando atuações como esta desde que podia recordar, mas desde a morte de meu pai, e a cobertura de seu assassinato que a imprensa fez, eu não me sentia cômoda com os meios de comunicação. Durante o acontecimento mais doloroso de minha vida eles tinham me seguido me perguntando: ?Como se sente, princesa Meredith? Meu pai, a quem adorava, tinha sido assassinado por pessoas desconhecidas. Como demônios acreditavam que me sentia? Mas a rainha não me permitiu dizer isso a ninguém. Não a verdade. Não, a rainha Andais, com seu próprio irmão morto, tinha me feito enfretar os meios de comunicação e estar impressionante. Não acredito que eu tenha odiado o fato de ser princesa mais que durante esse ano. Se for da realeza, não pode te afligir em privado. Sua dor é exposta nas notícias da tarde, na imprensa marrom, nos tablóides. Por qualquer parte que olhasse via a fotografia de meu pai. Por toda parte via seu corpo morto. Na Europa tinham publicado fotos que os tablóides da América não podiam. E tinha sido sangrento. O corpo alto e forte de meu pai reduzido a uma ruína vermelha. Seu cabelo estendido através da erva, como uma capa negra, o resto dele quase irreconhecível.

Devo ter feito algum som, porque Doyle tocou meu braço, inclinou-se para mim e sussurrou. — Está tudo bem?

Assenti, lambendo meu recentemente maquiado lábio, e assenti de novo. — Só recordando a primeira coletiva de imprensa que alguma vez vi tão concorrida.

Fez algo em público que nunca antes tinha feito como a Escuridão da Rainha: abraçou-me, embora com um braço, de modo a ter a oportunidade de agarrar seus armas. Inclinei-me contra sua jaqueta de couro e seu agradável calor. Não fiz caso da explosão de flashs, tentando não pensar que a imagem que estava sendo tomada por cada meio conhecido por cada homem ou mulher. Necessitava desse abraço, assim que tomei, e tratei de mantê-lo na penumbra. Estávamos aqui para falar a respeito de minha busca por um marido, um príncipe, um futuro rei. Era uma ocasião feliz, e a rainha queria que estivéssemos sorrindo.

Madeline aceitou a primeira pergunta enquanto eu ainda estava apoiada em Doyle. Era para mim, é obvio.

Doyle me deu o último apertão, e eu sedutora, sorri, sobre meus saltos de quatro polegadas. A pergunta era uma que já tinham me feito antes, a maior parte delas eram — Princesa Meredith, escolheu seu marido?

— Não —eu disse.

O seguinte repórter ficou de pé para fazer sua pergunta. — Então, para que esta visita a casa? O que veio nos anunciar?

A rainha havia me dito quanta verdade podia dizer. — Meu tio, o Rei da Luz e da Ilusão está organizando um baile em minha honra.

— Irá você com seus guardas?

Era uma pergunta difícil. Se só dissesse sim, eles poderiam imprimir que eu não me sentia a salvo na Corte da Luz sem meus guardas. O qual era realmente a verdade, mas não podíamos deixá-los saber isso. — Meus guardas vão a todo lado comigo — vacilei, e Madeline se aproximou o suficiente para me sussurrar "Steve". Terminei — Steve.

É um baile, afinal de contas, e não poderia deixar a meus melhores amigos em casa jogando e chupando seus polegares, não? — Sorri, sorri, e segui adiante. Uma mulher perguntou — A rainha Andais anunciou que esta noite haverá um baile em sua corte em sua honra. Quando irá a Corte da Luz?

— Está planejado para dentro de duas noites — Eu tinha acrescentado o planejado porque em caso de que algo horrível ocorresse e decidíssemos que era muito perigoso ir. O "dentro de duas" era porque aos meios de comunicação agradava que de vez em quando incluísse uma palavra arcaica, ou ao menos, uma palavra que eles acreditassem que era arcaica. Eu era uma princesa fada, e algumas pessoas se decepcionavam de que falasse como um nativo do meio oeste. Por isso, ocasionalmente, tratava de soar tal como as pessoas queriam que soássemos. A maioria dos homens ainda mantinham uma margem de seu sotaque original. Era só eu a que soava como a garota americana da porta do lado. Bem, Galen e eu.

— As cortes vão reconciliar-se?

— De acordo ao que eu sei, as cortes não lutam, a não ser que você saiba algo que eu não sei, Maury — Realmente recordei seu nome por mim mesma. Sorri, inclinando minha cabeça para um lado, lhes dando um vislumbre de quão jovem posso ser quando necessito. Era minha versão dos olhos de Bambi: ?olhe quão inofensiva e doce sou, não me faça mal.

Consegui uma risada pela doce atitude, e mais luzes de flashs, até que quase fiquei cega por eles. Respondi a seguinte pergunta com manchas bailando sobre meus olhos. Teria colocado óculos de sol se minha tia não tivesse me mandado a dizer que não podia os usar. Os óculos de sol não eram amistosos. Nós queríamos parecer amistosos. Ela tinha permitido que os guardas que estavam com os óculos de sol continuassem. Quase um começo. Isso queria dizer que ela estava preocupada, mais preocupada que a última vez que eu tinha estado em casa. E ainda nenhum de nós sabia porquê.

Tinha que admitir que a maioria deles com óculos escuros pareciam cantores de coro. Merry e os homens do Merry. Isto é o que os meios tinham cunhado para nós. Não exatamente o nome de um grupo de rock, mas poderia ter sido pior.

— Qual de seus guardas é o melhor na cama? —a pergunta foi realizada por uma jornalista.

Sacudi minha cabeça o suficiente para fazer oscilar meu cabelo e os brincos de esmeralda capturaram a luz. — OH, bem — Madeline sussurrou o nome da mulher em meu ouvido. — Stephanie, uma dama não dormeria com alguém e logo sairia contando.

— Mas você não é uma dama — a voz de um homem soou como um apito do fundo da sala. Conhecia a voz. Ele tinha falado o bastante forte para que a sala se silenciasse, de modo que seu seguinte grito fosse muito claro. — Só outra fada vagabunda. O sangue real não muda isso.

Inclinei-me para o microfone e fiz que minha voz soasse baixa e rica. — Você só está ciumento, Barry.

Uma parte da polícia que formavam o círculo já abria caminho para a parte de trás da sala... Barry Jenkins sempre estava na lista de não•lhe•permita-a-entrada. Tinha uma ordem restritiva contra ele que se remontava à morte de meu pai. Ele conseguiu as melhores, ou piores, fotos do corpo de meu pai, e de mim chorando sobre ele.

Os tribunais tinham estado de acordo de que o que ele tinha feito posteriormente tinha infringido os direitos de uma menor. Eu. Tinham opinado que ele não podia aproveitar-se da utilização de uma menor.

O qual significava que todas as fotos que ainda não tinha usado, eram inúteis. Não podia as vender. Teve que entregar o dinheiro que já tinha recebido pelas fotos e os artigos à caridade. Tinha ido de quase ganhar um Pulitzer a nada. Por isso, e por um incidente em um solitário caminho rural, onde tomei minha própria vingança, nunca tinha me perdoado.

Tinha tido sua vingança de certo modo. Quando meu alguma veu prometido(marido) por um tempo, Griffin, tinha vendido fotos íntimas à imprensa marrom, tinha sido com o testemunho do Jenkins. Já não era uma menor, e Griffin havia ido a ele, por isso não tinha tido que estar dentro dos cinqüenta pés de distância de mim que tinha proibido para escrever a história.

Minha tia, a Rainha do Ar e da Escuridão tinha declarado sentença de morte a Griffin. Não por me fazer mal, mas sim por trair nossos segredos íntimos aos humanos. Isso não estava permitido. Segundo o que eu sabia, ainda estavam caçando-o. Penso que se ela pudesse ter enviado ao Doyle atrás dele, a estas alturas já estaria morto, mas sua Escuridão tinha coisas melhores pra fazer que vingar-se. Me manter a salvo, e me deixar grávida, era mais importante para ela que o castigo do Griffin. Pelos sinos do inferno, isso também era mais importante para mim.

Não queria o Griffin morto. Sua morte não mudaria o que tinha feito. Não mudaria o fato de que tinha sido meu marido durante sete anos, e que havia me traído com qualquer coisa que pudesse deitar-se. Tínhamos terminado mais de três anos antes de que me traísse com a imprensa. Griffin parecia acreditar que era tão bom que o aceitaria de novo. Suas ilusões não eram meu problema. Logo ele havia voltado para o guarda da rainha, e, devido a que o rechacei, a rainha o tinha declarado celibatário de novo. Se não se deitava comigo, não se deitaria com ninguém. Uma parte de mim tinha desfrutado com a ironia disso. Parte de mim tinha desfrutado com a vingança. No dia seguinte a imprensa marrom tinha mostrado as fotos, e sua entrevista com o Jenkins.

Os policiais se colocaram nas portas, fechando a saída para o Jenkins,

de modo que só pudesse estar ali de pé e esperar que os outros policiais o alcançassem. — O que foi Merry, assustada com a verdade?

— A ordem de restrição diz que deve permanecer a pelo menos cinqüenta pés afastado de mim. Esta sala não é o bastante grande. Estava sendo tão desagradável que o comandante Walters enviou a outros três homens para ajudar a controlar a situação. Penso que era mais importante reter as câmeras e ver que as brigas do Jenkins não rompessem nenhum equipamento cara, que qualquer pensamento a respeito de que Jenkins pudesse ser perigoso para mim ou para alguém mais.

A polícia restante tratou de cobrir o frente do pódio mas não havia muitos deles. Se a imprensa nos empurrasse agora, estávamos liquidados, mas, certamente, eles estavam mais interessados na cena com o Jenkins. Sairiam várias notícias amanhã.

Até agora a interrupção tinha sido a coisa mais interessante que tinha ocorrido, e eles seguiriam com o Jenkins e a velha luta a não ser que lhes déssemos algo suculento.

Doyle e Frost se moveram para frente para me flanquear. Em realidade, Doyle tocou meu braço e me conduziu para trás, contra a parede, mais perto deles. Sacudi minha cabeça, e finalmente sussurrei — Não quero que a morte de meu pai monopolize as notícias de primeira página de novo. Não poderia sobreviver a eles duas vezes.

Parecia perplexo, ainda detrás de seus óculos escuros.

— Eles trarão tudo a tona de novo, Doyle. O trarão a tona tudo para explicar o Jenkins.

Frost tocou seu ombro. — Pode ter razão.

Doyle acudiu sua cabeça. — Sua segurança está na frente de tudo.

— Existem diferentes tipos de segurança — disse Frost. Não havia rastro do menino petulante que tinha começado a temer. Frost estava atuando como um adulto, e eu estava tão feliz de vê-lo que o abracei pela cintura. Sentiu-se incrivelmente bem abraçá-lo tão de perto. Não tinha me dado conta até esse momento que estava tão ansiosa.

— O que quer que façamos? — disse Doyle, e sua voz era aprazível.

A magia formigou através da minha pele. Nós três olhamos para frente, e todos os outros sidhe registraram o quarto. Era um feitiço, mas de onde, e para quê?

Um dos policiais diante do estrado tropeçou, como se tivesse tropeçado em nada. Vi o homem dar a volta para nós, vi a enorme surpresa em seus olhos.

Frost deu a volta, dando as costas ao homem, e começou a me afastar. Eu veria as fotos mais tarde, mas quando realmente estava acontecendo eu não via nada, salvo a camisa do Frost, não sentia nada exceto a ele me levantando e começando a correr.

Um disparo detonou detrás de nós, e outro detrás, tão próximo que quase pareceram um só. Frost se lançou ao piso. Senti seu corpo nos empurrando para baixo, mas não podia ver nada além da brancura de sua camisa, a labareda de sua jaqueta cinza. Podia cheirar os disparos como uma combustão no ar.

Não havia som. O rugido das armas tão perto em um lugar tão pequeno com tão boa acústica tinha me privado de meu ouvido, temporariamente, esperava. Vi pés que acreditei eram do Galen, antes de que sentisse o enorme peso que se lançou sobre o Frost, e formasse um escudo vivo a meu redor. Mais peso, mas não podia vê quem era, não o bastante para adivinhar.

A primeira coisa que me avisou que não estava surda foi o forte tamborilar do coração do Frost contra meu ouvido. Depois disso minha audição voltou por etapas, como um vídeo quebrado, pedaços de gritos. Tanto gritaria. Chiados.

Só soube o que tinha ocorrido mais tarde, através do vídeo e das fotos. O vídeo que podíamos ver uma e outra vez em cada noticiário. O oficial apontando com sua arma as costas do Frost, tratando de me matar, como se ele não pudesse ver que Doyle tinha uma arma apontando a seu peito a menos de dois pés de distância. Os oficiais de polícia em todos os lados com suas armas nas mãos, olhando ao redor, não entendendo que um deles era o problema. As pessoas tinham sua pistola apontando ao Doyle. O oficial enfeitiçado disparou, então outro oficial finalmente compreendeu que algo estava terrivelmente errado, e golpeou o ombro do primeiro. Mas Doyle disparou antes de que a primeira bala se deslocasse amplamente e tivesse perfurado a parede detrás de nós. Os oficiais de polícia rodearam à polícia enfeitiçada sobre a terra, onde o que já tinha sido ferido pelo disparo do Doyle. Haveria fotos do Rhys e Nicca detrás do Doyle, com armas em uma mão e espadas na outra, e Barinthus e outros formando uma parede ao redor de nós.

Enquanto isto acontecia, eu era esmagada sob o corpo branco e cinza do Frost, enquanto meu ouvido retornava, e o que ouvi sobre tudo eram gritos. Algo quente gotejou sobre minha testa, algo líquido e mais pesado que o suor. Não podia mover o bastante minha cabeça para olhar, mas outra gota se uniu à primeira para jorrar por minha pele, e captei esse sabor de doçura metálica do sangue. Tentei empurrá-lo longe de mim, tratei de lhe perguntar quão ferido gravemente estava, mas era como tratar de mover uma montanha. Obtive dizer — Frost, Frost, está ferido.

Se é que me ouviu, ignorou-me. Ninguém me fez conta. Era como se fosse estranhamente não essencial para os acontecimentos. O homem tinha tentado me matar, mas agora era a polícia e os guarda- costas os que estavam na cena, não eu.

Ouvi o bramido do comandante Walters — Tirem a daqui — O grito foi alto, como um grito de batalha — Tirem a daqui, tirem a daqui — tantas vozes gritando, tantas vozes masculinas gritando.

O peso sobre mim se aliviou, e vi as luzes da sala de novo. Mais vozes — Deus meu, ela está ferida! — O grito se fez mais forte de novo — Está ferida, está ferida, a princesa está ferida — Logo haveria minha foto com o sangue correndo por minha cara.

Acredito que era a única que sabia isso desde o começo.

Kitto estava ainda ajoelhado perto de mim, e soube que ele tinha sido um dos corpos de meu escudo vivo. Barinthus estendeu sua mão para mim. — Menina Merry — Não tinha me chamado assim em anos. Tomei sua mão enquanto Galen tratava de olhar o ombro do Frost, e o homem maior não fez conta. Nunca me ocorreu que Baruinthus não havia tocado o anel no outro quarto.

Sua mão se chocou com o anel enquanto me elevava, e se congelou no meio do movimento, um olhar de alarme em seu rosto. Os novos guardas olharam ao redor por outra ameaça, porque sentiram a magia. Meus guardas sentiram, mas eles sabiam que não era outro atentado contra minha vida. Ouvi o Frost dizer — Consorte, nos salve — e Rhys dizer — Merda — Logo a sala se foi, tragada em um abrir e fechar de olhos pela magia. A água estava quente como um banho, quente como o sangue. Barinthus estava a meu lado, me ajudando a pisar sobre a água. A quase invisível malha entre seus dedos flamejou à vida, um forte braço acariciava a água, enquanto o outro me sustentava contra seu corpo. Ambos estávamos nus, e tinha sido o calor do água o que havia me impedido de notá-lo. O que significava que a água estava à temperatura exata para meu corpo. Podia sentir suas pernas movendo-se, nos mantendo na flutuação, nos mantendo em uma imensidão de água que era tão azul como seu cabelo, tão verde como seu cabelo, tão cinza como seu cabelo. Seu cabelo esparso sobre seus ombros dentro da água, e onde eu tocava era como se cada fio de cabelo se voltasse uma corrente, como uma fusão de cor que nadava longe de nós, até que não podia dizer o que era cabelo e que água, e de todos os modos seu corpo era sólido contra o meu. Uma parte de seu corpo ficou mais sólida ainda, enquanto nossos corpos se golpeavam um ao outro na morna, quente água.

— Merry — disse — O que você fez?

Abri minha boca, mas não foram minhas palavras as que saíram. — Trouxe-te de volta seu oceano, Mannanan MAC Lir, vêem, toma o de mim.

Tocou minha boca com suas mãos, e por um momento só suas pernas nos mantiveram na flutuação — Não diga esse nome, porque esse não sou eu. Não o fui durante longos anos — Parecia arrasado, como se escutar o nome o tivesse ferido de algum jeito.

Compreendi de um modo distraído que não estava completamente só em meu corpo, completamente em controle dele. O pensamento deveria ter me assustado, mas não o fez. O poder assim era tão calmante, tão seguro. Era como estar abrigado e em paz.

— Vêem, bebe de mim, e me aperte contra seus lábios — Meu corpo estava entrelaçado ao redor do dele, nos envolvendo um ao outro na água quente. Era como se eu soubesse que ele tentaria afastar-se de mim, mas não havia nenhuma forma de liberar-se neste momento. Meus pequenos braços, pareciam gentis cadeias, minhas pernas ao redor de sua cintura eram sólidas como as raízes de uma montanha. De alguma forma estranha eu sabia que ele não podia liberar-se de mim. Podia me renegar, mas não me deixar de lado. O peso de meu corpo o forçou a deslizar-se sobre suas costas, sua cabeça era a única que se sobressaía das aprazíveis ondas. Seus olhos cintilaram — Você não é a Merry.

— Eu sou a Merry — e sabia que era verdade.

— Mas não só a Merry — Seus braços e pernas moviam a água, pressionando partes dele contra mim, de uma forma em que nunca o tinha feito.

— Não, não só Merry.

— Danu — disse, e sua voz foi o sussurro das ondas precipitando-se em alguma distante costa.

Deslizei minhas mãos detrás de seu pescoço e elevei meu corpo com o passar do dele, minha boca abatendo-se sobre a sua, a ponta dele acariciando a abertura de meu corpo. A sensação dele tocando minha entrada me fez voltar em mim mesma, me apressando com sua tranqüila presença a voltar, só o suficiente. Eu disse — Barinthus.

— Merry, está de acordo com isto? A Deusa e o Deus têm boas intenções, mas os vi utilizar às pessoas, e não chego a acreditar que o fim justifique os meios.

Elevei minhas costas o suficiente para olhá-lo fixamente. Ele flutuava debaixo de mim, seu cabelo derramado em um halo de azul, verde, cinza, azul marinho, turquesa e sua cara no meio, como uma flor, no centro de toda essa cor, esse movimento. Tudo ao nosso redor era água, movimento, correntes, rompendo contra nossos corpos em ondas diminutas. Seu corpo era a única coisa sólida naquela imensidão de movimento. Mas não aderi a ele, montei-o e me sustentou, mas havia temor. Senti nele a mesma paz que mantinha em meu interior. Dizem que o oceano é um lugar traiçoeiro, mas estando ali, olhando fixamente em seus olhos azuis como o mar que nos balançava, sentindo a pressão dele contra meu corpo, comprido e sólido, onde só a flexão de seus quadris ou dos meus poderia terminar com essa última distância, não via nada mais que gentileza em seus olhos. Ele transpassaria essa distância, toda ela, abandonando-se, uma e outra vez, mas eu disse não.

Pus minha cara ao lado da sua, de tal modo que um forte fôlego teria nos feito nos beijar, e disse — Bebe de meus lábios — Meus lábios tocaram os seus, e as seguintes palavras foram de boca contra boca, como se tivesse comido as palavras e as estivesse devolvendo — Me deixe sentir sua força em meu interior.

Retrocedeu o suficiente para falar — Não será tudo o que poderia ser,

porque você é mortal, e poderia te afogar — Com essa advertência,

sua boca baixou para encontrar-se com a minha, e quando nossos lábios se encontraram se empurrou dentro de meu corpo. O poder brotou de minha boca, e se derramou em seu corpo enquanto empurrava dentro de mim, e foi como se a magia fluísse tanto desde e para meu interior. Transformando-nos em um círculo de boca e corpo, de magia entregue e recebida, de vida e uma pequena morte, de sua força nos sustentando sobre as ondas, de minha suavidade nos envolvendo. Era quase como se uma magia estivesse tratando de nos manter na flutuação, e a outra tratasse de nos afogar. Em meio da vida, morte; em meio da alegria, perigo; no meio do oceano, terra. A própria terra me chamava, léguas e léguas debaixo de nós. A terra rodava debaixo de sua coberta oceânica, e eu sentia. Sentia a terra girando abaixo de nós, movendo-se em espiral, e era como se a terra sentisse meus pensamentos e se agitasse em sua cama.

Senti a onda de poder provindo debaixo, como uma enorme, escura criatura, nadando rápido e mais rápido, lisa e obscuramente mortal. Golpeou-nos em uma onda de poder que lançou o mar em muitas altas ondas, e fez ferver a terra abaixo nós até que o vapor encheu o ar. A água já não estava quente, a não ser ardente, o bastante ardente para que gritasse e deixasse minha boca livre da sua. Olhei seu rosto, senti suas mãos em meus quadris, senti seu corpo empurrando no meu, e não era só sua dura longitude. Era como se as milhas e milhas de oceano debaixo de mim se precipitassem entre minhas pernas, se derramassem dentro de mim, através de mim, sobre mim, e fôssemos empurrados no ar sobre uma coluna de água que brilhava como o cristal, resplandecendo com pedaços de rocha ardente, como fogo derretido. Entendi agora por que ele tinha pedido minha permissão, porque eu não era uma deusa, eu era só Merry, e não podia conter tudo o que ele oferecia. Gritei, a metade pelo prazer, que me trazia, a metade de medo, porque não podia sentir nenhum final.

Por sobre o som do oceano fervendo abaixo de nós, ouvi-o dizer — Chega!

Eu estava no chão sobre o soalho, com o Barinthus meio derrubado sobre mim. Piscamos cada um sobre a cara do outro, e pude ver minha própria confusão a través de seus olhos. Eu sabia onde estava, e sabia o que tinha acontecido, mas a mudança foi abrupta.

Vi meu Doyle e a outros que eram meus de pé ao redor de nós,

olhando para dentro, com as mãos estendidas, tocando uns aos outro formando um círculo a nosso redor. Podia ver o poder nesse círculo que eles tinha esboçado para conter o que estava acontecendo. Os guardas que tinham vindo com Barinthus nos olhavam fixamente, e a polícia estava gritando — Tirem a daqui! — tinham passado segundos, não mais.

Barinthus ficou sobre seus joelhos, e alcançou a mão que não sustentava o anel, para me ajudar a me sentar.

Pareceu ser sinal suficiente, porque todos eles baixaram suas mãos em uníssono. O círculo baixou, e a água se derramou para fora, uma pequena inundação que empapou o assoalho, e as cadeiras próximas a nós, e a todos os policiais. As calças cinza pálida do Frost estavam empapadas, o casaco de seda branco do Rhys, arruinado. Só duas pessoas agüentaram no centro desse rio de água e permaneciam secas: Barinthus e eu.

O comandante Walters tirou a água de seus olhos — Que merda foi isso?

Doyle começou a dizer algo, mas Walters o enviou longe — Droga, tire-a daqui antes de que algo mais aconteça — Quando todos eles se olharam uns aos outros em vez de mover-se, Walters se inclinou sobre o Doyle e disse com uma voz que teria feito a qualquer sargento sentir-se orgulhoso — Movam-se!

Movemo-nos.


Capítulo 24


Tropecei no caminho para fora, e foi Galen quem me levantou nos braços e avançou lentamente para o meio da limusine. Haveria uma imagem no dia seguinte de mim, com sangue no rosto, luzindo muito frágil nos braços do Galen. O que significava que algum estúpido e ousado repórter em vez de ficar quando as armas e a magia se declararam, tinha nos seguido e tirado mais fotografias.

Suponho que niguém ganha o Pulitzers mantendo-se a salvo.

Estava na limusine, ainda no colo do Galen, com os outros guardas amontoados ao redor, quando me dei conta que este não era o carro pessoal da minha tia. Esta era só uma limusine de longitude comum. O qual queria dizer que realmente era maior que o Carro Negro por dentro, mas nem a metade de aterrorizante.

A porta se fechou, alguém golpeou o teto duas vezes, e nós estávamos nos movendo. Doyle caminhou sobre os pés de todos e fez que Galen se movesse, desse modo ele poderia sentar-se ao outro lado de nós, contra a porta mais longínqua. Ninguém discutiu com ele. Rhys e Kitto estavam no meio do assento em frente a nós. Barinthus estava sobre o assento giratório em frente de nós. O assento deixava uma espécie de corredor para que outros alcançassem os assentos que estavam ainda mais atrás na limusine. Quando eles disseram estreitos, isso era exatamente o que queriam dizer.

Nicca e Sage estavam no seguinte espaço aberto, sobre as duas últimas cadeiras giratórias, onde pudessem sentar-se e acomodar-se para os lados com suas asas. Usna estava abaixado no espaço mais afastado, com suas pernas recolhidas embaixo dele, tratando de espremer a água de seu suave e fino cabelo. Olhava com desgosto o acerto por inteiro.

Talvez, simplesmente não lhe agradou ser molhado.

Percebi que as calças do Galen estavam molhados, e isto empapava minhas calcinhas. Separei-me de seu colo, e quase podia estar de pé normalmente, o que é uma das vantagens de ser pequeno — Está me molhando.

— Todos estamos molhados exceto você e Barinthus — disse Usna da frente.

Galen agarrou meu braço, tocando meu rosto e o sangue que já estava pegajoso ao toque — É tua alguma destas manchas?

— Não.

Barinthus o olhou — Eu vi sangue na jaqueta do Frost, ainda depois da água. Se isto não se limpou depois de tanta água, então é que está fresco.

— Eu também notei — Doyle se inclinou por cima do Galen, a água brilhando sobre sua cara sob os abajures do teto. — Quão ferido está? Frost sacudiu sua cabeça — Não muito.

Toquei a mancha escura sobre seu ombro esquerdo — Tire a jaqueta. Afastou minha mão — Não estou ferido gravemente.

— Me deixe ver por mim mesma —eu disse.

Olhou-me com olhos que se tornaram o cinza mais escuro que podiam, como nuvens antes de uma tormenta. Estava zangado, mas não acredito que tenha sido por mim; possivelmente por toda a situação. — Frost, por favor.

Tirou sua jaqueta muito rápido, e se estremeceu com o movimento. Girou seus escuros e tormentosos olhos para o Doyle. — É imperdoável que o humano conseguisse um bom disparo.

Ajoelhei-me no assento ao lado do Frost, para ver a mancha de sangue em sua camisa. — Não posso ver através da camisa.

Ele agarrou a manga perto da costura, e puxou ela, rasgando-a e enviando-a longe.

— Se eu tivesse lhe dado um tiro antes de que ele disparasse, então a polícia nunca teria acreditado que ele tinha disparado contra todos.

— Deliberadamente lhe permitiu disparar — disse Frost, como se não acreditasse.

Não foi o único que ficou surpreso. Este não me parecia um bom raciocínio. Minha mão deve ter espremido seu braço, porque ele assobiou.

Resmunguei — Sinto muito — e examinei a ferida. A bala tinha entrado por um lado e saído pelo outro.

Parecia o suficientemente limpa, e o sangue estava se reduzindo, quase havia se detido.

— As balas não nos matarão Frost, e Meredith estava escondida detrás de ti. Ele não poderia tê-la alcançado.

— Então você permitiu que Frost fosse alcançado por uma bala —eu disse. Pela primeira vez desde que ocorreu tudo isto, um frio percorreu minha pele, era como se o medo tivesse estado me esperando. Esperando a que estivesse em um lugar mais seguro. Doyle pensou nisto durante um segundo, então assentiu. — Eu permiti que o policial fizesse um disparo, sim.

— A bala passou através de mim, Doyle, e se alojou na parede. Se tivesse ido um pouco mais baixo, teria passado através de Merry . Doyle franziu o cenho — Não parece o raciocínio correto, agora que o diz assim.

Barinthus se apoiou para frente, e passou uma mão justo em frente do corpo de Doyle. Este se tornou para trás, esfregando seus dedos como se estivesse tocando algo. — Um feitiço de repugnância, muito sutil, mas se adere a ti como os restos de uma teia de aranha.

Doyle assentiu — Posso sentir — Fechou seus olhos um momento, e senti a pequena flama da magia enquanto queimava os últimos pedaços do feitiço. Ele tomou um profundo e estremecido fôlego e abriu os olhos. — Há poucos que poderiam trabalhar sobre mim deste modo.

— Como está o ombro do Frost, Meredith? — perguntou Barinthus.

— Não sou nenhuma curadora, mas se vê bastante limpo.

— Nenhum de nós é um curador — disse Barinthus. — E tal carência poderia fazer a diferença entre a vida e a morte algum dia. Falarei com a rainha sobre te atribuir um curador.

A limusine virou numa esquina, e quase caí. — Tem que te sentar — disse Galen. — Se não quer se molhar, então sente-se no colo do Barinthus.

— Não penso dessa forma — disse Barinthus, e sua voz tinha um tom que eu nunca tinha escutado antes.

— Por que não? — disse Galen.

Barinthus abriu seu comprido casaco de couro sobre seu colo, onde antes o havia mantido dobrado. Suas calças azul pálida estavam escuras e manchada justo sobre a virilha. — Não estou exatamente seco.

Esse foi um daqueles momentos de silêncio torpe, mas Galen soube exatamente o que teria que dizer — É isso o que eu acredito que é? Barinthus fechou o casaco sobre seu colo de novo — É.

— O que dirá à rainha? — perguntou Doyle.

Fui ajoelhar-me entre a cadeira do Barinthus e o braço do assento do Rhys e do Kitto. — A rainha não pode submetê-lo às regras.

— A rainha pode fazer o que lhe agrade — Disse Barinthus.

— Agora, espera. Ela enviou os guardas para que fossem meus amantes. Certo?

Todos eles voltaram seus solenes rostos para mim. — Bem, nós tivemos sexo. Foi em parte metafísico, mas, não foi uma de suas regras que eu teria que fazer sexo com qualquer um com quem o anel reagisse, daqueles que ela me enviasse, você entrava por direito próprio na competência?

Podia ver como a tensão começava a abandoná-los, quase tanto como a água que gotejava desde seus cabelos para seus rostos. O cabelo de todos estava pego a suas cabeças, até os cachos do Galen e os do Rhys. Necessitava-se um montão de água para deixar murchos os cachos. Todos aqueles que não estavam vestidos de negro tinham manchas de água em suas roupas. Quanta água tinha havido nessa última explosão de poder?

— Então agora sou um de seus homens? — perguntou Barinthus, com voz suave, quase brincando.

— Se isso te salvará da morte, sim.

— Só por essa razão, e não outra? — Seu rosto estava muito sério, e me olhava fixamente. Tive que olhar para outra parte.

Sempre pensei no Barinthus como o velho amigo de meu pai, nosso conselheiro, uma espécie de tio. Inclusive quando o anel o tinha reconhecido uns meses atrás, nunca tinha me ocorrido inclui-lo entre meus amantes. E ele não tinha perguntado.

— A rainha vai ficar verdadeiramente brava — disse Usna da frente. — Ela tem estado reunindo-se contigo durante semanas, discutindo quais homens enviar à princesa. Que homens o anel reconheceria? — Ele tinha deixado de tentar secar seu cabelo, e tinha começado a desabotoar sua camisa, embora deveria tirar primeiro sua pistoleira se quisesse tirar a camisa. — Como pode não ter lhe dito que o anel te conhecia?

— Como sabe que esta não era minha primeira aproximação ao anel?

Usna lhe dirigiu um olhar pensativo. — Por favor, Barinthus, a rainha te enviou com os outros guardas para testar o anel quando a princesa retornou a corte da primeira vez. Como você não fez menção disso, todos assumimos que o anel não tinha te reconhecido — Ele removeu de seu ombro seus arranjos, de modo que este ficasse agitando-se ao redor de sua cintura, começando a tirar a camisa de sua pele, revelando que o vermelho e negro de seu cabelo percorria seu corpo para baixo em alguns lugares — O anel certamente te reconheceu esta noite.

— Nunca menti em relação ao anel — disse Barinthus.

— Não, nunca mentimos uns aos outros — disse Usna. — Mas omitimos tanto que seria mais considerado simplesmente mentir.

Deixou cair a camisa molhada ao chão da limusine, e se levantou o suficiente para começar a trabalhar com seu cinto.

— Realmente vai se despir no carro? — perguntei.

— Estou molhado dos pés a cabeça, Princesa. Se posso tirar as roupas, começarei a me secar. As roupas estarão molhadas muito mais tempo do que estará minha pele.

— É certo que o anel faiscou para mim quando Meredith retornou da primeira vez a corte, mas nesse momento pensei que seria de mais ajuda permanecendo na corte, como seu aliado. Infelizmente ainda penso assim.

— A rainha não te dará nenhuma opção — disse Usna. — Exceto ver o Corredor da Morte antes que a cama da princesa. Essa opção você tem.

Olhei ao Barinthus. Quis lhe perguntar se ele reclamaria seu verdadeiro nome ante a corte completa, ou ao menos ante a rainha. Mas eu não podia perguntar sem revelar que havia mais segredos para contar. Esse era seu segredo, não o meu.

Se é que entendeu meu olhar, ele não fez conta. — Quando toquei o anel tantos meses atrás, não foi nada como o de hoje. Nada.

— O anel se tornou mais forte — disse Doyle.

— Poderia não ter feito isso sozinho — disse Rhys. Todos o olhamos.

Moveu para o lado seu molhado casaco, e levantou o cálice. Aqueles de nós que o conhecíamos nos jogamos atrás, sobressaltados. Barinthus, que não o conhecia, não sobressaltou-se.

— Onde conseguiu isso? — perguntou Barinthus, com uma voz que era quase um sussurro.

— Resgatei-o do assoalho de onde estava caído. Estava escondido debaixo da lapela de seu casaco. Não acredito que alguém tenha conseguido uma foto disto. Quando Barinthus se levantou, escondi-o, tão discretamente como pude.

— Foi trancado na caixa da maquiagem, e envolto em um casaco — eu disse.

Nicca sustentou a pequena caixa aonde este tinha estado posto a seus pés. — Trazia-o conosco, como Doyle ordenou. Eu não o havia segurado antes, por isso não notei a mudança em seu peso.

— Como saiu da caixa? — perguntei.

Doyle fez gestos, e Nicca abriu a caixa. A seda negra que o cobria estava dobrada no fundo da caixa. Comecei a tirar a seda, para poder pôr o cálice dentro outra vez, mas Doyle disse — Não, Merry, não o toque, e nenhum de nós ao mesmo tempo. Não estamos equipados para fazer frente a outro círculo de poder. Não estou realmente seguro de que poderíamos ter êxito dentro do metal do carro enquanto este está se movendo .

— Pensa que contivemos a energia? — perguntou Rhys.

— Não sei — disse.

— Não quero dizer — disse Barinthus, — onde conseguiu isso agora. Quero dizer, como veio isso a ti?

— Eu sonhei, e quando despertei, estava na cama comigo.

— Achei que isto era um segredo — disse Sage.

— Barinthus precisa saber — disse Rhys — e todos os gatos adoram manter seus segredos ocultos.

— A princesa e a Escuridão não têm problema com isto? — perguntou Sage.

Doyle e eu trocamos olhares, logo ambos sacudimos nossas cabeças.

— Não — dissemos juntos.

Usna tinha conseguido tirar toda sua roupa. Avançou lentamente para nós, com seu pistoleira agitando-se frouxamente sobre seus ombros nus, e sua espada embainhada em uma mão. Avançando lentamente como gato, e com a espada em uma mão, parecia, de algum jeito, estranhamente satisfeito de si mesmo. Seu ombro direito, e a maior parte de seu braço eram negros, e se me recordava, suas costas era vermelhas e negras. Um brilho de vermelho decorava o que podia ver de seu quadril direito e a pantorrilha de sua perna esquerda.

Falou para eles, mas me olhou fixamente. — O que veio em um sonho? —Sua voz era ligeiramente curiosa, e não continha nada do calor de seu olhar.

— Isto — disse Rhys.

Quando Usna viu o que Rhys sustentava, levantou-se sobre seus joelhos, e amaldiçoou longa e sonoramente em gaélico. — O cálice, o verdadeiro cálice?

— Assim parece — disse Barinthus.

Eu estava a algumas polegadas de distância de onde Usna se ajoelhou. Possivelmente eu tinha estado muito entre os humanos, mas me pareceu tão estranho que estivesse assim perto de mim nu e não estivesse excitado. Algo em mim se sentiu desprezada por isso. Infantil? Talvez. Mas eu tinha o impulso quase irresistível de tomá-lo em minha mão e fazer que me notasse. Devo ter feito algum pequeno movimento, porque Barinthus tocou meu ombro, detendo meu braço para finalizar o movimento.

— Sente-se compelida a tocá-lo?

Pensei nisso. — Talvez, um pouco.

— Então não o faça aqui, com o cálice tão perto. Como Doyle disse, estamos em um carro em movimento. A água na coletiva de imprensa teria sido suficiente para alagar este carro.

Inclinei-me para trás, sobre meus joelhos, descansando em meus calcanhares. Não estava de todo cômoda, devido aos altos saltos. O verniz não tinha tanto para dar como o couro normal.

— Tem razão —eu disse. E me afastei lentamente de Usna e do cálice. Não me detive até que minhas costas golpearam as úmidas pernas do Galen e o atoleiro de água que se reunia sob os três homens sobre o assento. Fiquei na água. Minhas meias, saia e calcinhas estavam inteiramente negras. Era incômodo, mas não arruinaria nada do que tinha posto. Nesse momento era mais importante estar o mais longe do cálice que pudesse. Estreita ou não, na limusine não havia espaço para correr.

— O que teria acontecido se a princesa me tocasse? — perguntou Usna.

— Possivelmente nada — disse Barinthus. — Ou possivelmente muito — Virou para Doyle. — O cálice sempre tinha uma mente e uma organização do dia por si mesmo. Mudou isto?

Doyle sacudiu a cabeça. — Ao contrário, parece ter ficado pior.

— Consorte, nos ajude — sussurrou Barinthus.

O condutor falou pelo intercomunicador. — A ponte está bloqueada, há luzes de policiais por todos os lados.

Doyle pressionou o botão. — O que está acontecendo?

Silêncio, logo a voz do condutor de novo. — O rio está sobre a ponte. Não tinha visto o rio tão alto desde a enorme inundação de noventa e quatro. Estranho, já que não tivemos nenhuma chuva.

No silêncio que nos seguiu olhamos uns aos outros. — Parece que nós não pudemos conter todo o poder do retorno do Barinthus a sua divindade — disse Doyle.

Recordei o terremoto que ocorreu depois que trouxe o Kitto a seu poder. Um pensamento me ocorreu — Houve um terremoto na Califórnia depois que saímos hoje?

Barinthus sacudiu sua cabeça — Comprovei o tempo para ver se seu avião se atrasaria; não houve nenhum terremoto — Pareceu de repente pensativo. — Houve uma estranha tempestade, quase um tornado, daqueles que não ocorrem ali, mas não estava perto do aeroporto.

Trocamos olhares aqueles de nós que sabíamos.

— O que é? — perguntou Barinthus.

— Quando trouxe o Kitto a seu poder, houve um terremoto mais tarde nessa noite.

— O que tem que ver isto com a tempestade?

— As asas de Nicca vieram no mesmo momento que... — sacudi minha cabeça. — Sage, mostra pra ele.

Sage deu a volta para Barinthus e virou agora muito interessado Usna. Sage sorria, desfrutando do inferno de tudo isto. Baixou seus óculos de sol o suficiente para que pudessem ver o tricolor de seus olhos.

Usna assobiou — Deusa, é um sidhe.

Barinthus tocou a cara do Sage, pondo os olhos recém coloridos para a luz. — Ele não é sidhe, ao menos não parte dele — Deixou ir ao Sage e se voltou a me olhar fixamente — Você fez isto?

Assenti.

— Como?

— Sexo.

Barinthus franziu o cenho. — Você disse que as asas da Nicca vieram ao mesmo tempo.

Assenti — Sim.

Pareceu pensar nisso por um momento — Teve sexo com ambos ao mesmo tempo.

Os duendes não tinham problemas com os múltiplos companheiros, e era grosseiro que remarcasse isso. — O que importa isso? — disse Doyle, indo em minha defesa.

— A rainha está convencida de que Meredith deve tomar mais de um amante por vez, para conceber.

— Por quê? — perguntei.

Ele se encolheu — Não estou seguro, mas ela foi muito clara sobre seus projetos nesta área — Pela forma em que se expressou, implicou que tinha sido confusa a respeito a seus projetos em outras áreas.

— Tive múltiplos amantes antes disto, Barinthus.

— Quais?

Rhys estava envolvendo o cálice em seu pano de seda, logo o meteu na caixa, quando respondeu — Nicca e eu.

Nicca fechou a caixa da maquiagem e comprovou o fecho, embora eu acreditava que todos sabíamos que esse não era o problema.

— A rainha parece ter estado confiando completamente na idéia de que Meredith deve tomar a mais de um amante ao mesmo tempo. Quando ela averiguar que isto já foi feito e nenhum bebê veio... — sacudiu sua cabeça e me olhou. — A rainha se vê mais tranqüila que antes, mas de alguma forma mais decidida. Uma vez que põe em curso uma ação ela não se distrai facilmente lhe pondo um homem atrativo no caminho, ou uma oportunidade de tortura. Suas diversões parecem não lhe interessar tanto como alguma vez o fizeram.

O sexo e a tortura eram as afeições de minha tia, e sempre a tinha feito muito difícil de tratar, ou isso eu acreditava. Barinthus estava dizendo o contrário.

— Está dizendo que usou o sexo e a dor para distrai-la durante todos estes anos? — perguntei.

Ele assentiu. — Era como oferecer um caramelo a um menino. Eles tomam seus doces e esquecem aquilo pelo que estavam zangados. Mas nas poucas semanas passadas, nenhuma quantidade dolorosa de caramelo a tirava de seus pensamentos. Ela tomará a diversão, usará-a e logo se dirigirá exatamente como antes aonde você não queria que fosse — Estava franzindo o cenho. — Por um lado, é bom vê-la pensar com sua cabeça em vez de com sua virilha. Por outro lado, nós na corte, tínhamos nos acostumado a tratar com sua virilha. A cabeça não pode distrair-se tão facilmente.

— Se ela está pensando com a cabeça e não com suas partes baixas, então por que ela disse que eu tinha que ter múltiplos amantes?

— Ela está convencida de que essa é a única forma em que ficará grávida. Isso, e o fato de que ela está escolhendo deuses das plantas e da agricultura para ti. Ela parece igualmente determinada a respeito disto.

— E você não tem nenhuma idéia de porquê? — perguntou Doyle.

Ele sacudiu sua cabeça — Sei que algo está acontecendo. Ela torturou ao Conri, torturou-o pessoalmente.

— Não só é a tortura que conseguiu por ter tentado me matar da última vez que estive ali?

— Sim, mas ele não tinha feito nada errado. Parecia tão impressionado como o resto de nós quando ela tomou. Ela alardeou de seu corpo quebrado na grande sala, fez que todos caminhássemos por ele e víssemos o que tinha lhe feito, mas esteve amordaçado todo o tempo, de modo que não disse nada. Agora se encontra em uma cela isolada, visto só por Fflur, a curadora da rainha.

— Conri era um dos partidários mais leais do Cel entre os guardas — disse Doyle.

Barinthus assentiu. — Sim, e há uma luta entre as pessoas do Cel, havia quem persistia em deixar claro que consideravam Meredith inadequada para o trono. Eles adularam-na servilmente e fizeram absolutamente tudo que puderam inventar para ganhar o favor da rainha.

— Conri é o único ao que ela torturou? — perguntei.

— Por agora, mas o resto dos aliados do Cel estão assustados.

— Mencionou que ele não era capaz de falar — disse Doyle. — Acha que disse algo à rainha, algo que ela não quisesse que os outros soubessem?

Barinthus assentiu — Isso acredito.

— Tem alguma idéia do que pode ser?

— Só que depois da tortura do Conri a rainha determinou que houvesse múltiplos amantes para Meredith e que a maioria deles fossem deuses das plantas e da agricultura — Encolheu-se de ombros. — Agora sabe o que eu sei. Se puder encontrar mais sentido do que eu encontro, estarei feliz de ouvir.

Doyle sacudiu sua cabeça. — Pensarei nisso.

— Todos o faremos — disse Rhys. Outros assentiram.

A voz do condutor voltou a sair pelo intercomunicador. — Eles começam a deixar os carros passarem. O rio simplesmente voltou abaixo. Estranho.

Alguém soltou uma risada nervosa. Eu Disse — Bem, podia ter sido pior.

Todos me olharam. — Pode ser que tenha alagado cada rio e riacho ao redor de St. Louis — disse Doyle. — Quão pior poderia ter sido?

— St. Louis estava acostumado a ser parte de um grande mar interior faz aproximadamente um milhão de anos, tire ou coloque um milênio nisso —eu disse brandamente.

O silêncio no carro se fez de repente mais espesso que antes,

pesado, com uma espécie de horror compartilhado. — Kitto obteve um pequeno terremoto. Nicca e Sage obtiveram uma tempestade — disse Galen. — Não acredito que trazer o Barinthus de volta a sua divindade poderia provocar o afundamento da maior parte de um continente.

Eu soube exatamente quem de nós sabia que Barinthus era Mannanan MAC Lir por como o olharam e logo afastaram a vista. Galen não sabia. Mas eu sim, e o pensamento do incremento desse poder sem um círculo formal de amparo fazia que me gelasse o sangue. Embora isso também poderia ter sido o atoleiro de água em que estava sentada.


Capítulo 25


Foi um longo e frio passeio desde à área de estacionamento até as colinas do país das fadas. A neve me chegava até os joelhos, e não havia nenhuma forma de que meu corpo mortal abrisse passo através dela com saltos de mais de dez centímetros e uma minissaia. Não sem torcer um tornozelo ou ficar congelada.

De modo que fui levada nas costas, e o único que não estava molhado era Barinthus. A roupa de todos começou a congelar-se com o vento gelado, e aqueles que não tinham amparo mágico contra os elementos tremeram enquanto nós abríamos caminho entre a neve. Barinthus me levava nos braços facilmente, que tivesse estado tropeçando nos poeirentos abismos era algo que não estava a sua altura. Sempre soube que ele era algo mais do meio metro mais alto que eu, mas como agora me levava em seus braços, pressionada contra seu amplo peito, estava consciente como nunca antes do fisicamente imponente que era.

Era tão confortável como desalentador ir montada sobre seus fortes braços.

Enroscada em seus braços, sentia-me quase como uma menina. Tinha me levado muitas vezes sendo eu uma menina, mas agora tinha lembranças dele não me comportando como uma menina em seus braços. Jazia contra seu corpo e não me sentia envergonhada, embora tampouco cômoda.

Elevei a vista para ele, do ninho que ele tinha feito com seu casaco sobre mim. Se ele tinha frio sem ele, eu não podia dizer. Olhava além dele, não a mim, absolutamente, como se eu fosse realmente uma menina que enchesse seus braços. Talvez eu fosse isso para ele. Talvez o que tinha ocorrido na coletiva de imprensa não tinha mudado como me via. A magia tinha querido lhe dar algo a entender, algo que eu sabia, mas para o resto, possivelmente eu não era mais que a filha de um velho amigo. Ele sempre tinha sido para mim um tio mais verdadeiro que qualquer daqueles com os que eu estava relacionada por genética.

Se tivesse sido quase qualquer outro guarda com quem tivesse tido um momento tão íntimo e tivesse me ignorado desta forma, eu teria feito algo para ter a certeza de que não podia me ignorar. Mas não era nenhum dos outros, este era Barinthus, e de algum modo me pareceu indigno da minha parte apalpá-lo.

Devo ter suspirado mais forte do que acreditava, porque meu fôlego saiu em uma fria nuvem branca — Está o suficientemente abrigada, princesa?

No momento em que perguntou compreendi que não deveria ter estado. Não estava abrigada com quase nada sobre minhas pernas e extremidades inferiores. — Estou bastante bem, e por que acontece isto? — Então me dei conta de como havia me chamado. — Me chamaste de Princesa. Você nunca usa meu título.

Olhou para baixo, sua pálpebra transparente revoou em uma visão, logo se desvaneceu de novo. — Não deseja estar abrigada?

— Isso é uma evasão, velho amigo, não uma resposta.

Dirigiu-me esse sorriso profundo que se transformou em uma gargalhada. Apertada tão perto de seu peito, o som dela reverberou por meu corpo, acariciou-me em lugares que ninguém havia tocado, salvo a magia.

Tremi baixo aquele toque.

— Minhas desculpas, princesa. Passou um longo tempo desde que senti tanto poder. Tomará tempo controlar tudo isto tão finamente como alguma vez o fiz.

— Você me mantém quente.

— Sim — disse — Não pode sentir?

Eu me encontrava segura detrás dos escudo que levava cada dia e cada noite. Escudos que me impediam de me mover por um mundo de maravilhas e magia.

Algumas fadas e duendes simplesmente existiam com a magia descarnada que rodeava tudo, eu a achava confusa, me atemorizavam, como uma menina. Meu pai havia me ensinado a me defender do ruído da magia cotidiana. Mas eu deveria ter sido capaz de sentir um feitiço feito tão próximo a minha pele. Inclusive através dos escudos diários.

Não baixei meus escudos, porque estávamos muito perto do país das fadas. Não estava segura de se ocorria porque eu era mortal ou simplesmente não muito poderosa, mas encontrava que sem meus escudos para me ocultar o poder do país das fadas era muito forte. Certamente, se fosse qualquer destas coisas, os humanos que viviam ocasionalmente entre nós não teriam sobrevivido muito tempo. Madeline Phelps não tinha magia, nem dons psíquicos. Como sobrevivia ela? O que impedia que se voltasse louca com o canto dos sithen?

Enviei um diminuto brinco de meu próprio poder através de meus escudos. Muitos teriam tido que deixar cair seus escudos para fazer magia, mas eles eram sidhe que não tinham que tecer seu amparo tão perto de sua pele, como eu o fazia. Com cada perda há algum benefício; com cada benefício, alguma perda.

Podia sentir sua magia por cima de nós, como uma pressão invisível a nosso redor. Movíamo-nos em um círculo de sua magia. Provei aquela magia, e se sentia quente e vagamente líquida. Fechei meus olhos e tratei de ver seu escudo dentro da minha cabeça. Tive uma imagem de água turquesa e encantadora caindo, quente como o sangue, de uma borda longínqua, e sempre quente.

Eu podia fazer algo similar, mas chamando o calor do sol, ou a memória de corpos quentes sob as mantas, mas teria tido que lutar para manter o feitiço enquanto me movia. Quieta, eu era boa em todas as classes de escudos de amparo, me movendo, não era tão boa.

— A água está muito quente —eu disse.

— Sim — disse sem me olhar.

Galen se apurou para cruzar de uma pernada até ficar ao lado de nós. Estava tremendo debaixo de suas roupas molhadas. Formou-se gelo nos fios de seus cabelos mais curtos e havia um diminuto corte em sua bochecha. Seu cabelo só era o bastante longo para tocar sua cara com os fios congelados. — Se saltar sobre suas costas, manterá-me quente também?

— Os sidhe são impermeáveis ao frio — disse Barinthus.

— Fala por ti — disse Galen, seus dentes quase tocando castanholas. Nicca abriu passo entre a neve para nosso outro lado. Estava tremendo também. — Nunca havia sentido o frio tal como senti hoje — Suas asas se mantinham fortemente unidas, bordeadas com gelo, como uma vidraça de cores na neve.

— Isso são as asas — Sage chamou desde detrás de nós. Rhys realmente havia permitido ao homenzinho que montasse em suas costas. Rhys parecia totalmente natural no frio. Mas Sage se amassou contra Rhys, e me perguntei por que Rhys não ajudava ao semi•duende a manter-se quente, tal como Barinthus ajudava a mim. — Nós somos borboletas, e essa não é uma criatura apropriada para a neve invernal.

— Eu sou um sidhe — disse Nicca.

— Tal como, aparentemente, sou eu — exclamou Sage — Mas estou congelando quase até aquilo que fica pendurado.

Galen riu, e quase tropeçou na neve.

Doyle falou do frente de nosso pequeno grupo. — Se deixassem de mexericar, poderíamos estar dentro mais rapidamente, e todos estaríamos quentes.

— Por que você não está tremendo? — perguntou Galen.

Amatheon respondeu da direita, longe, tremendo, com seu próprio recentemente cortado cabelo congelado e cortando suas bochechas cada vez que o vento o fazia voar contra sua pele. — A Escuridão nunca tem frio.

Onilwyn falou do extremo esquerdo. Também estava tremendo, mas ao menos, seu comprido cabelo mantinha o gelo ali, em vez de açoitar sua cara. — E não se pode congelar o Assassino Frost.

Tê-lo mencionado me fez voltar a vista para vê-lo fechar a marcha.

Não era que ele não pudesse caminhar mais rápido, porque sim podia, o frio realmente não significava nada para ele, mas Doyle lhe tinha pedido que fosse nossa retaguarda. Havia ocorrido um atentado contra minha vida. Eles não tinham mais opções.

Percebi que estava faltando um de nós. Tive que me levantar para encontrar ao Kitto lutando detrás de nós contra a neve. Pensei em pedir a alguém que o ajudasse, mas Frost o pescou da neve, sacudiu- o e o pôs sobre seus ombros. Fez-o sem que pedisse. Fez-o sem uma palavra de qualquer tipo.

Kitto não disse obrigado, já que ambos, Frost e ele eram velhos, e entre os mais velhos de nós, agradecer era um insulto. Tinha que ter menos de trezentos anos para te sentir cômodo com detalhes modernos. O que significava que só Galen e eu teríamos agradecido a alguém com um obrigado. Outros eram todos muito velhos.

Recostei-me nos braços do Barinthus e em sua magia. — Por que de repente sou princesa para ti, Barinthus e não Meredith? Você me chamou de Meredith ou Menina•Merry desde que era uma criança.

— Já não é uma menina — Olhou concentradamente para frente como se o caminho fosse traiçoeiro e ele tivesse que ser cuidadoso. Não acreditei que fosse a neve o que ele temia.

— Está tentando se distanciar de mim?

— Não — e um pequeno sorriso curvou seus lábios. — Bom, possivelmente, mas não de propósito.

— Então por quê? — perguntei.

Jogou uma olhada para baixo de novo. E aquele movimento de pálpebra veio e se foi outra vez. — Porque você é a princesa, e herdeira ao trono. E eu tenho muitos inimigos entre os sidhe para ser admitido em sua cama.

— Uma vez que eles se dêem conta de que voltaste para sua divindade...

— Não Meredith, se eles descobrirem isso, então tratarão de me assassinar antes de que tenha obtido meus poderes por completo. Comecei a dizer, que eles não se atreveriam, mas os conhecia melhor. — Quanto perigo correste estando aqui tratando de obter apoio para minha reclamação do trono?

Ele não me olharia de novo. — Algum — disse.

— Barinthus —eu disse — A verdade entre nós.

— Não minto, princesa. Algum é uma resposta honesta.

— É uma resposta completa? — perguntei. Isto o fez sorrir outra vez. — Não.

— Daria-me uma resposta completa?

— Não — disse.

— Por que não?

— Porque isto faria que se preocupasse quando partir novamente e eu fique pra trás.

— A todos aqueles que o anel reconheceu minha tia os tem enviado a Los Angeles comigo.

— Você sabe como me chamam pelas minhas costas.

— O fazedor de reis — eu disse.

— Fazedor de rainhas agora — Sacudiu sua cabeça, esse comprido cabelo azul arrastando-se detrás dele como uma capa devido ao repentino aumento do vento. — Eles me temeram como um poder atrás do trono durante milênios. Você acha que poderiam me tolerar como seu consorte, sabendo que poderia me converter em rei? — Sacudiu sua cabeça de novo. — Não Meredith, não. A própria rainha entende isto. É por isto que ela não me enviou da última vez que veio a casa. Tenho muitos inimigos, e muito poder, para que me permita estar perto do trono.

— E se me deixou grávida?

Olhou-me fixamente desde certa distância. — Tivemos nosso momento, Meredith. A rainha não pode nos permitir mais.

— Isto não é o que disse no carro quando Usna o sugeriu.

— Tínhamos muitos ouvidos no carro, e nem todos eles de amigos — disse.

— Barinthus — ele me fez calar com uma pequena sacudida de sua cabeça.

Joguei uma olhada por cima e encontrei tanto ao Amatheon como ao Onilwyn mais perto do que tinham estado. O bastante perto, possivelmente, para ouvir nossas palavras. Sabia quase com certeza que eles eram espiões da Rainha Andais. A pergunta era, para quem mais espiariam? Realmente acreditava a Rainha Andais que tanto o um como o outro contariam segredos só a ela? Não, essa não era a lealdade com a que ela contava. Este era seu temor. Andais contava com que todos os sidhe temiam a ela mais que a qualquer outro. Ainda assim alguém tinha tratado de me matar. Alguém tinha arriscado à cólera da rainha. Das duas uma, ou eles não a temiam como alguma vez o fizeram, ou o medo não é suficiente para governar às pessoas. Ela ainda era a Rainha do Ar e da Escuridão, e era o bastante aterrorizante para mim. Mas eu nunca tinha acreditado que o medo era suficiente para governar aos sidhe. É óbvio, tampouco o tinha meu pai, mas sua carência de crueldade o tinha levado a morte. Se eu sobrevivesse para subir ao trono, eu sabia que não poderia ser como Andais; não tinha o estômago para isso. Mas também sabia que não poderia ser como meu pai, porque os sidhe já me viam débil. Se eu fosse tão compassiva como meu pai, isso poderia ser minha morte. Se não puder governar pelo medo, ou pelo amor, o que é o que fica? Para isto, eu não tinha resposta. Como as colinas do país das fadas se elevaram por cima do crepúsculo invernal, compreendi que realmente não acreditava que houvesse uma resposta. Duas palavras vieram a minha mente como se alguém as tivesse sussurrado: crueldade e justiça.

Como se pode ser cruel ou desumano e justo ao mesmo tempo? Não é ser desumano, ser injusto? Sempre pensei isto, e meu pai me ensinou assim, mas talvez haja um terreno intermediário entre ambos. E se houver, como o encontro? E se fizesse isso, teria o suficiente poder, suficientes aliados, para caminhar por esta via intermediária? A esta última pergunta, realmente não tinha resposta, porque sabia o suficiente das políticas das cortes para entender que ninguém sabia realmente quanto poder tinha, quantos bons amigos possuía, quão fortes eram seus aliados, até que era muito tarde, e se tinha saído vitorioso, ou derrotado; vivo ou morto.


Capítulo 26


Os Montes das fadas pareciam suaves colinas nevadas, e se não conhecesse o caminho, isso era tudo o que seriam. Certamente, os Montes, como quase todo o resto no mundo das fadas, nunca eram o que pareciam.

Havia duas coisas que precisava para entrar no sithen. Um, saber onde estava a porta; dois, ter bastante magia para abri-la. Se o sithen se sentia brincalhão, a porta moveria-se repetidamente. Poderia passar uma hora perseguindo a porta ao redor de uma colina do tamanho de uma pequena montanha. Ou possivelmente só brinca comigo, porque quando Carrow pôs sua bronzeada mão contra o branco da neve, houve um som musical. Nunca podia dizer se a melodia, era cantada ou simplesmente instrumental. Mas era uma música formosa, e a coisa mais próxima que tínhamos a um timbre. Embora era mais para te deixar saber se tinha encontrado a porta que para anunciar a chegada aos de dentro. Se não houver música significa que não tocou o ponto correto. Carrow colocou a pequena labareda de magia contra ela, e a porta estava de repente ali. Ou melhor a abertura estava ali, porque realmente nunca tinha havido uma porta para entrar no sithen da Corte Escura. Repentinamente houve uma abertura o bastante grande para que pudéssemos entrar, quatro ou mais um ao lado do outro. A abertura sempre parecia conhecer exatamente como de grande tinha que ser. Poderia aumentar o suficiente até fazer-se tão grande para que um semi pudesse passar, ou fazê-la suficientemente pequena para uma borboleta.

O crepúsculo se fez mais profundo até aproximar-se da escuridão, de tal maneira que essa pálida luz branca da abertura pareceu mais brilhante do que era.

Barinthus me transportou dentro da luz. Estivemos de pé em um vestíbulo de pedra cinza, bastante grande para que o semi seguisse nos guiando, ao menos até a primeira curva do vestíbulo. O tamanho da porta não alterava o tamanho do primeiro vestíbulo.

Era uma das poucas coisas que nunca se alteravam sobre o sithen.

Todo o resto poderia mudar pelo sithen, ou a rainha, a seu capricho. Era como uma casa de entretenimento feita de pedra, a fim de que pisos inteiros pudessem mover-se acima e abaixo. As portas que conduziam a um lugar de repente conduziam a outra parte totalmente diferente. Pode ser irritante, ou assombroso; ou ambos.

A abertura desapareceu quando Frost, o último de nós, passou por ela. Era simplesmente outra parede de pedra cinza. A porta poderia ser tão invisível deste lado como do outro. A luz branca vinha de todas as partes e de nenhuma. Era mais constante que a luz do fogo, mas mais suave que a luz elétrica. Tinha perguntado de onde vinha a luz uma vez, e tinha sido informada que a luz era do sithen. Quando havia protestado que isto não me dizia nada, a resposta foi, que me dizia o que necessitava saber. Um argumento circular no melhor dos casos, mas de verdade penso que é a única resposta que temos. Não acredito que algum ser vivo hoje recorde o que a luz realmente é.

— Bem, Barinthus, vais carregar a princesa até a rainha?

O som das espadas saindo da vagens produziu um suave vaio metálico, como a chuva sobre uma superfície muito quente. As armas de fogo são mais silenciosas quando as sacas. As pistolas e as espadas apontaram para aquela voz abaixo no corredor, e algumas das armas apontaram para atrás à porta agora invisível, para o caso. De repente Barinthus e eu estávamos de pé no centro de um círculo bem armado.

O sidhe que tinha falado ria. O sidhe que estava de pé junto a ele não. A risada do Ivi era insolente, zombadora. Ria vivamente de suas próprias piadas mais que qualquer outro. Era alto, tão alto como Frost ou Doyle, mas era magro como um cano, e tão gracioso como uma cama de canos quando o vento as fazia dançar. Teria preferido com ombros um pouco mais largos, mas a falta deles o fazia parecer ainda mais alto, esbelto. Seu cabelo caía diretamente sobre seus tornozelos. O cabelo era seu traço mais sobressalente, meio verde escuro, com nervuras completamente brancas percorrendo-o por toda parte. Só quando se aproximava se dava conta de que seu cabelo levava a marca das folhas como se seu cabelo tivesse sido tatuado com hera. Como se moveu corredor abaixo, foi como se o vento fizesse voar as folhas à parte, e se reformassem só quando seu companheiro agarrou seu braço e o conteve. Penso que Ivi teria seguido caminhando para todas aquelas armas; caminhando abaixo pelo vestíbulo com um sorriso em sua cara e uma escura risada em seus olhos. Uma vez tinha pensado que era indiferente, mas quando me fiz mais velha percebi sua dor. Comecei a compreender que não era indiferença, era desespero. O que fosse que lhe tinha impulsionado a converter-se em um dos Corvos da Rainha, não penso que desfrutasse do pacto tanto como tinha esperado.

A mão cautelosa em seu braço pertencia ao Hawthorne. Seu cabelo negro caía em grossas ondas além de seus joelhos. Quando girou sua cabeça, o rico verde brilhou claramente entre essas ondas negras. Levava um circulo de prata que sujeitava essa pesada massa de cabelo para trás de sua cara. O resto dele, desde seus largos ombros até os pés, estava coberto com uma capa da cor das folhas de pinheiro, um rico e profundo verde, estava fechada sobre seu ombro por um broche de prata.

— O que acontece, Escuridão? — Interrogou-nos. — Não fizemos nada.

— Por que estão aqui? — replicou Doyle.

— A rainha nos enviou para proteger à princesa — disse Hawthorne.

— Por que somente vocês dois?

Hawthorne piscou, e até de longe pude ver a estranha sombra rosada que tinha no círculo interior de seu olho. Rosa, verde, e vermelho eram os olhos tricolores de Hawthorne. — O que significa, só vocês dois? O que aconteceu?

— Eles não sabem — disse Barinthus, quietamente.

— Quanto tempo estivestes aqui, esperando? — perguntou Doyle. Mas ele já tinha desmontado sua postura, a pistola de sua mão começava a descender apontando para o piso.

— Horas — disse Ivi, e o bordo de sua pálida capa verde começou a girar até parecer uma saia em um baile.

Hawthorne assentiu. — Duas horas, ou mais. O tempo se move de uma maneira estranha no sithen.

Doyle apresentou sua arma, e como se isto fosse um sinal, as espadas foram embainhadas, assim como as pistolas, até que todos estiveram de pé a gosto, ou tão cômodos como se podia.

— Pergunto outra vez, Escuridão, o que aconteceu? — Mas ninguém teve que explicar, porque algo mudou entre os guardas quando ele me viram. Havia me esquecido do sangue em minha cara. Tinha limpo uma parte com um pano molhado de um dos homens, mas não todo. Só com sabão tiraria ele todo. — Que o Senhor e a Senhora nos protejam, está ferida!

— Não é seu sangue — disse Doyle.

— Então de quem?

— Meu — disse Frost, e se moveu através da multidão de guardas, e outra vez, como se isto fosse um sinal, eles começaram a mover-se para baixo do vestíbulo até os outros dois guardas.

Ivi não ria quando perguntou — O que aconteceu?

Doyle contou, brevemente, omitindo o que tinha acontecido quando Barinthus tocou o anel.

Ivi sacudiu sua cabeça. — Quem se atreveria? A princesa Meredith leva o sinal da rainha. A machucar é arriscar-se à misericórdia da rainha. Nenhum de seus Corvos arriscaria-se a isso. — Não havia absolutamente nenhuma de suas ironias nessas palavras.

Era como se as notícias da tentativa de assassinato o tivessem assustado para fazer brincadeiras e o trouxesse pra algo verdadeiramente real.

Os olhos tricolores do Hawthorne se aumentaram — Quem realmente se atreveria?

Barinthus ainda me sustentava entre seus braços, mas não havia neve agora, nem frio. Toquei seu ombro. — Já posso caminhar.

Olhou-me como se tivesse esquecido que me segurava, e talvez assim era. Teve que inclinar-se para me pôr com toda segurança no piso de pedra. Movi a parte traseira de minha saia até colocá-la em seu lugar, alisei-a com minhas mãos, e soube que as pregas traseiras simplesmente não estariam perfeitas até que a saia fosse engomada. Não havia nada que pudesse fazer por ela. Somente esperava que as notícias de minha quase próxima morte distraíriam à rainha de minha roupa menos que•perfeita. Nunca sabia como Andais às vezes dirigiria sua cólera às pequenas coisas se não podia tratar com as grandes.

Ivi se ajoelhou ante mim, e quando o fez, a capa ficou apanhada entre seus pernas deslizando-se para um lado, despindo seu ombro, parte de seu peito, e o bordo de seus quadris. Estava nu sob a capa.

— Princesa Meredith, saudações da Rainha do Ar e da Escuridão. Envia-nos como presentes. — Aquele tom de gozação estava de novo em sua voz.

Hawthorne também tinha se ajoelhado, mas o modo em que sustentava a capa apertadamente mostrando somente suas mãos me fazia me perguntar se levava posto algo mais debaixo de sua capa que o que levava Ivi.

— Somos seus presentes durante sua permanência se o anel nos conhecer —disse Hawthorne, e soou como se estaria zangado se se atrevesse.

— Certamente isto pode esperar — disse Onilwyn. — Se a rainha realmente não sabe o que aconteceu, então terá que dizer-lhe pessoalmente.

Foi Usna quem respondeu a isto. — Se quer sair correndo e dar à rainha as más notícias, custe o que custar vai, eu, pelo outro lado,

não quero ser a primeira pessoa em dizer-lhe. Estava ainda nu, levando sua espada embainhada em sua mão. A rainha era conhecida por disparar ao mensageiro, por dizer assim.

Onilwyn nos olhou um pouco pálido. — Pode ter razão.

— Mas então que o fazemos — disse Barinthus. — A rainha tem que saber. Não posso acreditar que ninguém se pôs em contato com ela.

— Não sabia faz três horas — disse Hawthorne.

— Se soubesse agora, haveria mais homens — disse Doyle, e ninguém discutiu com ele.

— Está se divertindo — disse Ivi, sua voz rica tinha um tom de auto aborrecimento, como se cada palavra significasse algo mais — e deu aviso de que só a chegada da princesa seria bastante boa para incomodá-la.

— Certamente alguém teria interrompido sua diversão e jogos por isso — disse Barinthus.

Hawthorne elevou a vista para ele. — É um de nós, lorde Barinthus, mas não trata-te como trata a outros. Respeita seu poder. O resto de nós não tem essa sorte. Se interrompermos seu jogo, então devemos tomar o lugar do que esta jogando com ela. — Baixou o olhar e um estremecimento o atravessou — Eu não a interromperia por uma tentativa de assassinato.

— Se tivesse morrido, então um de vocês teria dito? — Perguntei, e minha própria voz tinha um fio parecido ao que Ivi pelo geral estava acostumado a usar.

— Despojou-nos de todos aqueles que são o suficientemente poderosos para desafiá-la dentro de sua guarida, princesa — disse Hawthorne.

— A Escuridão, Frost, Barinthus — disse Ivi — os professores das carícias para compará-los ao resto de nós.

— Mistral está ainda aqui — disse Doyle.

Hawthorne negou com a cabeça. — Ele a teme, Escuridão, como o fazemos todos.

— Melhorou um pouco nos últimos meses — disse Barinthus — lhe falar é mais fácil.

— Outra vez, Lorde Barinthus, possivelmente para você — disse Hawthorne.

— Nos deixe terminar nosso discurso — disse Ivi — Logo podem jogar a sorte de quem vai ser o portador das más notícias.

— Diz como se não fossem participar do sorteio — disse Rhys.

— Não participaremos — disse Ivi.

— Hawthorne, te explique — disse Doyle.

— Somos presentes para a princesa, se o anel nos conhecer.

— Já comentou — disse Rhys.

Doyle lhe olhou, e Rhys se encolheu. — Ele comentou.

— E se o anel os conhece — disse Frost.

— Então devemos convidar à princesa à cama conosco. — Hawthorne procurou olhar só Doyle, como se eu não estivesse ali. Ivi soprou, como se tentasse não rir.

— O que é tão engraçado? — perguntou Doyle.

— Isso não é o que a rainha disse.

— É a essência do que quis dizer — disse Hawthorne, e havia um ar de dignidade ofendida em seu tom.

Ivi riu as gargalhadas.

— O que disse a rainha, Ivi? — O tom do Doyle foi resignado, como se realmente não quisesse saber, mas entendesse que não havia nenhuma opção.

— Se o anel nos conhecer... — e terminou o resto com uma imitação da voz da rainha o bastante boa para pôr os cabelos detrás de meu pescoço em pé — ...então foda a Meredith, foda-a assim que a veja. Se ela ficar muito incomodada então pode ir a seu quarto, ou ao teu. Não me importa, somente termine a tarefa.

— Bem — disse Galen — isso é...

— Um pouco menos que poético até para a rainha — disse Rhys.

— É. — Galen olhou um pouco chocado.

— Posso dizer algo sobre isso? — Perguntei.

Hawthorne se inclinou respeitosamente até que sua testa quase tocou a pedra. — Sinto muito, princesa.

— O que não lhe disse — disse Ivi — é que perguntou o que devíamos fazer se a princesa Meredith não desejasse ir à cama conosco assim que entrasse no sithen. — Imitou o ritmo do discurso do Hawthorne.

— E o que disse minha tia? — Perguntei.

Ivi me olhou e sorriu, e seus olhos verdes escuros tinham um feroz triunfo que não entendi.

Hawthorne respondeu com sua cara ainda inclinada para as pedras, sua voz sustentava a dor das brincadeiras que pelo geral tinha a do Ivi. — É um sidhe escuro ou não? Persuade-a.

Ivi mantinha sua cara misteriosamente alegre levantada para mim. — Ele perguntou, e se não quisesse ser persuadida? — E outra vez repetiu com a voz da rainha tão bem que incrementou a frieza de minha pele — Persuade-a, ou tome-a, ou lhe diga o que lhe disse, e que consinto em sua sedução. Se Meredith não aceitar o prazer que lhe ofereço, então possivelmente aceite a dor em troca. Mas ambos devem fazê-lo aqui na Corte Escura. Lhe recorde se suas sensibilidades forem muito delicadas para foder.

— Mudaria para o que nos enviou, se pudesse — disse Hawthorne, e se prostrou contra a pedra, sua testa pressionada contra o chão. Separei-me do Ivi sentindo a oculta satisfação de sua cara, me girando para Barinthus. — Pensei que disse que tinha melhorado um pouco durante os meses passados.

— Melhorou, melhorou — disse, e teve a gentileza de ver-se envergonhado.

— Venha, princesa — disse Ivi — mostre essa bonita mão para ver o que ocorre. Se o anel não nos conhece, então todos somos livres.

— Tem razão — disse Doyle — deixa-os tocar o anel, e se permanecer frio, então podemos ir onde está a rainha e dar nossas notícias.

— E se não permanecer frio? — perguntou Frost.

— Então podemos foder contra a parede — disse Ivi.

— Sobre meu cadáver — disse Galen.

— Se assim o quiser — disse Ivi.

— Rapazes —eu disse.

Galen me olhou. Ivi seguiu olhando ao Galen.

— Ninguém matará a ninguém a não ser que o eu diga.

Ivi me olhou então, e aquela ferocidade tinha uma nota de perplexidade. — O que significa isso?

— Significa que se me incomodar o suficiente, Ivi, tenho mais de meia dúzia dos melhores guerreiros que os sidhes alguma vez produziram, e se pedisse amavelmente, cortariam-lhe em pedaços para mim.

— Ah, mas isso não obedeceria as diretrizes da rainha.

Inclinei-me apenas um poquinho o que necessitava para estar cara a cara com ele, e senti uma risada desagradável cruzar minha cara. — OH, mas assim seria. Os corpos habitualmente têm um último orgasmo justo enquanto expiram. As ordens exatas da rainha não são antepor-se a não ser encher meu corpo com sua semente. Não especificou onde deve ocorrer, por agora, verdade?

O triunfo se foi, a brincadeira se desvanecia enquanto o observava,

até que a única coisa que ficou nesses olhos verdes escuros era o medo. Não me fez feliz lhe ver me temer, mas me produziu uma certa satisfação.

Lambeu os lábios como se de repente tivessem secado, e disse — Você é da linhagem de sua tia.

— Sim, Ivi, sou, e seria melhor se não esquecer disso... — Reclinei-me justamente por cima de seus lábios — ...nunca de novo. — Coloquei um tenro beijo sobre sua boca, e ele estremeceu-se.

Quando levantei minha mão para pô-la ao redor da cara do Ivi,

Barinthus agarrou meu pulso e separou minha mão da carne do outro homem. — Possivelmente a rainha deveria saber dos outros acontecimentos antes de que voltemos a usar anel.

Tivemos um momento de troca de olhares. Hawthorne perguntou — O que mais aconteceu?

— Digamos, que o anel aumentou em poder — disse Barinthus — e já não estou seguro do que passará quando a princesa o aproxime da carne de alguém mais.

Ivi produziu uma risada escura. — Eu vejo o que aconteceu quando o tocou, Lorde Barinthus. — Olhava fixamente à virilha do outro homem, e a mancha que tinha situada na parte dianteira das calças de couro. Abloec se moveu para frente, para estar de pé perto do Ivi. Ajoelhou- se deixando-se cair no chão ao lado do outro homem. Era o mais sensato que lhe havia visto, como se o frio lhe tivesse curqado. — Estou empapado, congelando, e sóbrio. Não quero estar de nenhuma dessas três formas. Fecha a boca, e saiamos para ir até a rainha. — Elevou a vista para os outros — Quando souber das inundações, quererá assegurar-se que esta princesa em uma zona segura antes de que o anel seja usado.

— Inundações? — disse Hawthorne.

— Cada rio dentro da região — disse Abloec.

Hawthorne olhou para cima ao Barinthus. — Acreditam que o impressionante Lorde Barinthus alagou a área?

Doyle e Barinthus disseram ao uníssono — Acreditamos.

Galen e Rhys soltaram em uníssono — Sim.

Usna abriu caminho entre nós, ainda nu, e zangando-se. — Vamos ver a rainha agora, porque quero estar quente outra vez.

— Arriscaria sua vida por um pouco de comodidade? — disse Frost.

Usna lhe dedicou um amplo sorriso zombador. — E que outra coisa existe por aqui para arriscar a vida nestes dias? Não te inteiraste, Assassino Frost, os dias de mitos e magia se foram. Os dias em que havia algo pelo que vale a pena lutar se acabaram. — Olhou ao Barinthus quando terminou, logo seus olhos cinzas me encontraram, e me jogou um prolongado olhar. Não era sexual, que me considerasse comestível, ou nada do que teria esperado de Usna. Era um olhar pensativo. Um olhar que tinha muitas conjecturas que estavam muito próximas à verdade.

O momento passou e seus olhos estiveram simplesmente cheios de boa alegria. Golpeou ruidosamente ao Abloec no ombro. — Vamos para frente e desafiemos a rainha em sua guarida de indecências. Abloec ficou a seus a seus pés franzindo o cenho. — Ajudaria a levar tais notícias, sabendo o que pode fazer?

— Odiará a tentativa de assassinato, alguém sangrará por isso, mas o resto... — Usna lançou seu braço através dos ombros do outro — ... a rainha gostará das outras notícias. — Começou a mover ao Abloec abaixo pelo vestíbulo, e o resto de nós começamos a lhes seguir. Usna voltou a insistir sobre seu ombro para mim — Se eu fosse você, princesa, estaria preocupado de que me metessem em um círculo mágico como um animal no zoológico, e que me enviasse um após outro para ver quantos pode devolver a... — Pôs o punho de sua espada sobre seus lábios como colocaria um dedo para dizer, Shhhh.

— Economize isto aos ouvidos da rainha, né. — E se deslizou pelo vestíbulo para abaixo diante de nós, seu corpo nu envolto em percal nos mostrava o caminho, com o Abloec ainda pressionado a seu lado.


Capítulo 27


As únicas portas em todo nosso país que eram negras eram as portas que conduzia às habitações de minha tia. Eram de pedra negra e brilhante quase impossível, postas ali, mais altas que o mais alto dos guardas, e mais largas do que a metade do vestíbulo podia sustentar. As portas tinham sua aparência sinistra habitual, mas os dois homens que permaneciam em pé firmes diante das portas não eram habituais. Primeiro, raramente havia guardas a este lado das portas. A rainha desfrutava tendo audiência, sobretudo se essa audiência não podia participar, não importando o muito que quisessem participar. Em ocasiões se podia encontrar guardas fora se estavam esperando para escoltar pessoas a outras partes uma vez que a rainha tinha terminado de falar com eles.

Mas por alguma razão, não acreditei que fosse isso. Chamem-no um pressentimento, mas poderia ter apostado que os guardas estavam me esperando. Qual foi minha primeira pista? Estavam nus, exceto pelos cinturões de couro e as correias para sustentar espadas e adagas, e as botas, que chegavam até seus joelhos.

— Estou encontrando um tema nisso — disse Rhys.

Também eu. Posto que eles não só estavam mais nus do que Hawthorne e Ivi tinham estado, mas sim também eram divindades da vegetação. Adair ainda levava o nome de que tinha sido alguma vez, posto que adair significava "arvoredo de carvalhos". Sua pele era da cor da luz do sol através das folhas, essa cor que era mais comum entre os sidhe da Corte da Luz que na Corte do Ar e da Escuridão, a cor que chamamos beijado pelo sol. Seu castanho cabelo de comprimento até o tornozelo tinha sido cruelmente cortado, mais curto que o do Amatheon por quase 15 cm. Alguém o tinha tosado, de modo que não houvesse nada mais além dos olhos que recordassem a beleza que uma vez tinha emoldurado esse corpo dourado.

Amatheon disse antes de que perguntasse — Não fui o único resistente, princesa. Ela começou a dar uma lição... com o Adair.

Os olhos do Adair eram três círculos dourados e amarelos, como estar olhando fixamente para o sol. Esses olhos não continham nada enquanto nos olhavam nos aproximar das portas. Tinha sido expulso da Corte da Luz por falar muito forte a seu rei, e para evitar o exílio do mundo dos duendes se uniu a Corte do Ar e da Escuridão. Mas nunca havia se aficionado realmente ao modo de vida da corte escura. Existia entre nós, e tratava de ser invisível.

Falei baixo — Sei porque você não quer estar na minha cama, mas Adair e eu não temos nenhum conflito.

— Quer que o deixem só, princesa. Não quer estar comprometido nesta luta.

— A menos que se seja a Suíça, não há neutralidade —eu disse.

— Isso é o que aprendeu.

O outro guarda permanecia parado envolto em uma capa de seu próprio cabelo, amarelo pálido. Esse cabelo emoldurava um corpo cinza esbranquiçado, não pele de luz da lua como a minha, mas sim uma cor suave, quase poeirenta. Seus olhos brilhavam em uma cara magra de bochechas elevadas, olhos da cor das folhas verdes escuras, com uma estrela interior de verde mais pálido, como algum tipo de jóia estrelada. Seus lábios era os mais vermelhos, amadurecidos e belos das cortes, de ambas as cortes, se me perguntassem . As damas invejavam essa boca, e só o mais brilhante e mais carmesim dos lápis de lábios podia estar perto de reproduzi- lo. Seu nome era Briac, embora preferia que o chamassem Brii. Briac só era outra forma do nome Brian, e não tinha nada que ver com planta ou agricultura. Sabia que Brii era algum tipo de divindade planta, ou o tinha sido, mas detrás desse nome guardava segredos. Sorria enquanto nos aproximávamos, esses vermelhos, vermelhos lábios, que distraíam das jóias de seus olhos, a cortina de seu cabelo, e ainda das largas linhas de seu corpo nu. Como se houvesse sentido eu o olhando, seu corpo começou a responder, como se minha aproximação fosse suficiente como preliminar e estava parcialmente ereto.

O corpo do Adair esteve tão vazio de expressão a minha aproximação como seus olhos. Teve sorte de que eu não fosse minha tia, já que às vezes tomava a falta de resposta a um nível involuntário como uma afronta pessoal. Eu não o fazia. Adair, ao final das contas, tinha sido despojado de seu orgulho com o corte de seu cabelo. Não sabia que outras penas minha tia lhe tinha infligido até fazê-lo parecer disposto a estar parado em frente de suas portas me esperando. Estava zangado, e apostava que com ele não faria um grande trabalho. A raiva e a vergonha não são o melhor afrodisíaco. Minha tia realmente nunca havia entendido isto.

A cabeça do Brii se inclinou para um lado, como um pássaro. Seu sorriso escorregou um pouco — Não cumpriste com seu dever para a princesa.

— Houve uma tentativa de assassinato contra a princesa — disse Doyle.

Os restos de seu sorriso desapareceram — O sangue.

— Que coisa pensou que era? — perguntei.

Encolheu-se e sorriu com pesar — Alguém que visse a cara da rainha manchada de sangue teria pensado que tinha estado acontecendo um muito, muito bom momento. Peço desculpa por assumir o mesmo de ti — Fez uma reverência que enviou seu cabelo para frente e ao redor de um de seus braços como uma capa, logo se levantou sorrindo novamente, com esse olhar em seus olhos tão masculino, que dizia claramente que nenhuma quantidade de desavenças lhe faria perder todo o prazer deste dever, ao menos não a ele.

Adair estava de pé do outro lado das portas, com sua cara endurecida, e seu corpo capengante. Ainda não me dirigia o olhar.

— Devemos contar à rainha sobre o ataque — Doyle avançou como se fosse tocar nas portas.

Adair se moveu primeiro, seguido pelo Brii e seus braços se cruzaram em frente dos trincos. — Nossas ordens são muito específicas — disse Adair. Tratou de que sua voz soasse tão vazia como o resto dele, mas falhou. Havia um bordo afiado, como de navalha de barbear, nessas simples palavras. Tanto assim que enviou dançando uma linha de magia pelo corredor, através de nossas peles, como pequenas dentadas. Lutava com muita força por controlar-se.

Esfreguei meu braço onde o fio de seu poder havia me tocado, tinha me feito mal, absolutamente por acaso, e amaldiçoado a minha tia. Ela o tinha feito para que Adair obedecesse suas ordens e me levasse a cama, mas o tinha feito de tal modo que se assegurasse de que nenhum de nós desfrutasse.

— E quais são essas ordens? — disse Doyle, sua voz escura, mais baixa do que o normal, soando como se percorresse lentamente sua coluna vertebral e desse caça seus órgãos vitais.

Brii respondeu, tratando de manter sua voz otimista, conciliadora.

Não o culpei; tampouco queria estar entre o Doyle e Adair quando as bandeiras se elevassem. — Se o anel reconhecer tanto ao Hawthorne como ao Ivi, então devem atender à princesa tão logo como é possível. Se o anel não os reconhecer a ambos, então um de nós tomará o lugar daquele a quem o anel não reconheceu — sorriu para o Doyle, como se tratasse de aliviar a tensão. Mas não funcionou.

— Abre a porta, Brii. Temos muito que contar à rainha, e a maior parte disso não é só perigoso, mas sim é algo que não deve ser discutido no corredor, onde podem nos ouvir mais ouvidos do que à rainha gostaria.

Brii imediatamente se moveu para trás, mas Adair não. De algum jeito soube que não o faria. — A rainha tomou muitas precauções para estar segura de que sigo todas suas ordens. Farei o que me... ordenou, e seguirei essas ordens ao pé da letra. Não lhe darei uma desculpa para que abuse de mim novamente neste dia —A raiva tinha se aquietado e mordeu com o passar do corredor agora, mas Doyle se moveu como um cavalo quando uma mosca o molesta. Possivelmente tudo o que a cólera tinha feito tinha ficado sobre sua pele.

— Eu sou o capitão aqui, Adair, não você.

— É bom te ter de volta, capitão — Adair fez desta última palavra um insulto — mas independente de sua autoridade, certamente não é maior que o da rainha. Ela é nossa ama, não você. Deixou-me isso muito claro, Escuridão, muito claro.

Eles quase se tocavam, tão terrivelmente perto, quase muito perto para brigar. — Rechaça minha ordem direta?

— Rechaço desobedecer a ordem direta da rainha, sim.

— Pergunto-te pela última vez, dará um passo ao lado?

— Não, Escuridão, não o farei.

A magia se respirava através do corredor. Aquele primeiro fôlego quente que se forma às vezes, como esticar um músculo antes de um golpe. Não era que pensasse que Doyle não ganharia. Era a Escuridão da rainha. É que parecia ser uma perda que brigássemos entre nós quando tínhamos inimigos com os quais lutar. Não sabia quais eram esses inimigos, não ainda, mas tinham tratado de me matar este mesmo dia mais cedo. Precisávamos guardar nossa energia para eles, não gastá-la em coisas sem sentido.

— Te afasta Doyle — disse suave, mas claramente.

A magia cresceu no corredor, como se o mesmo ar estivesse tomando fôlego.

— Eu disse se retire, Doyle — Desta vez minha voz não foi suave.

O poder que crescia a nosso redor vacilou, piscou. Doyle não se virou, seguiu olhando ao homem que tinha em frente, simplesmente grunhiu — Está de pé em nosso caminho, e temos necessidade de ver a rainha — argüiu.

— Veremos a rainha —eu disse, e comecei a abri caminho através dos homens. Olhei tanto ao Abloec como a Usna. — Segue em pé sua oferta a respeito de que contarão a rainha o que precisamos lhe dizer?

— Esqueci quão mesquinho é quem se mantém com o sangue-frio.

Contarei à rainha o que vi; tem minha palavra — Começou a fazer uma reverência, mas pareceu lhe fazer mal na cabeça, de modo que se deteve na metade do movimento.

— Usna —eu disse.

Dirigiu-me um olhar de gato que comeu o canário e sorriu. — É obvio, princesa, sempre fui um homem de palavra.

— Não permitirei que ninguém passe por mim até que se tenha obedecido as instruções da rainha — Disse Adair.

— Realmente acha que pode te opor a força de todos estes Corvos? — perguntou Barinthus, embora não se moveu para aproximar-se da porta. Acredito que estava assustado do que poderia acontecer se usasse seu poder para lutar. Sei que eu estava.

Dei um passo pela frente das costas do Frost, e consegui divisar a decidida cara do Adair antes de que Frost ficasse em minha frente.

— Está muito perto, Meredith — disse.

Neguei com a cabeça.

— Não o bastante perto, Frost.

Franziu o cenho — Não te salvei de um assassino humano para te ver ferida por seus próprios guardas.

— Não serei ferida, não desse modo ao menos.

A perplexidade encheu seus olhos cinzas e franziu ainda mais o cenho. — Não entendo.

Não havia tempo para explicar. O poder estava aumentando no mesmo ar outra vez. Uma olhada me mostrou que a pele do Adair estava começando a brilhar.

— Não foi um humano quem tentou me assassinar hoje, Frost — minha voz transmitia segurança. — Era magia sidhe a que tinha encantado a esse humano. Magia sidhe a que pôs um encantamento sobre o Doyle e o fez ser lento ao me defender. Só um sidhe poderia ter feito um encantamento sobre a Escuridão em pessoa.

Brii falou tal como eu tinha esperado que o fizesse. — Quem pode encantar a a Escuridão, exceto a própria rainha.

— Há quem pode, mas nenhum esteve de pé junto a nós hoje — grunhiu Doyle. Seus olhos ainda postos sobre o Adair, que brilhava brandamente. — Mas foi alguém o bastante poderoso para enviar um encantamento a distância e não ser notado por nenhum de nós até que foi muito tarde.

— Não acredito em ti — disse Adair.

— Os sluagh podem comer meus ossos se menti — disse Doyle, sua voz ainda era um grunhido ameaçador. Era como ouvir falar com um cão, muito baixo para uma garganta humana.

O brilho do Adair se deslocou nas bordas, de modo que o centro de seu rosto brilhava como uma vela no meio dele. — Ainda que acreditasse, ainda se conviesse com que a princesa deve ver a rainha imediatamente, se brigarem, estarei baixo a mercê da rainha — Levantou uma mão, como se quisesse tocar seu cabelo, logo se deteve, como se não pudesse estar de pé e tocar seu couro cabeludo quase nu. — Tenho estado a sua mercê, e não tenho interesse por voltar a estar.

— Me deixe passar, Frost.

Moveu-se. A contra gosto, mas se moveu.

Toquei o braço do Doyle. — Direi-te isto pela terceira e última veu Doyle, te afaste.

Seus escuros olhos piscaram para mim, logo tomou fôlego tão profundamente que terminou com seu corpo estremecendo-se como um cão espreguiçando-se depois de um cochilo. Deu um pequeno passo para afastar-se do Adair. — Como minha princesa ordena, assim farei-o — Sua voz ainda era um pouco mais profunda do que o normal, e possivelmente era a única que podia ouvir a pergunta nesse grunhido. Mas confiava o suficiente em mim para fazer o que lhe dizia. Confiou em mim o bastante para deixar tomar seu lugar à frente de Adair.

Olhei ao Adair, e por um momento não pude esconder a dor em meus olhos quando contemplei seu curto cabelo mais de perto. Adair voltou sua cara, confundindo dor por compaixão, acredito.

— Deixarei-te provar o anel, Adair, como a rainha deseja — Seus olhos dourados e amarelos se deslizaram de volta para mim, embora sua cabeça ainda estava girada para o outro lado. — O Anel não reconheceu ao Hathorne e ao Ivi?

Ignorei a pergunta, o qual não era uma mentira. Olhei fixamente dentro de seus olhos, concentrada em sua beleza. Os círculos interiores eram dourados, como metal fundido; os seguintes círculos eram amarelos, o pálido amarelo da luz do sol; e o últimos e mais amplos círculos eram quase um amarelo alaranjado, como as pétalas de um malmequer.

Entreguei a meus olhos a maravilha que via ante mim, de modo que Adair girasse sua cara completamente para mim, e sua frieza por um momento se derreteu, antes de que sua raiva retornasse. — Acha que pode ganhar com a sedução o que Doyle não pôde ganhar com a magia?

— Pensava que devíamos nos seduzir um ao outro, não é isso o que a rainha quer?

Adair me olhou com o cenho franzido, claramente perplexo. Não era que fosse estúpido, mas sim não estava acostumado a que as pessoas estivesse de acordo com seus argumentos. A maioria das pessoas não estavam.

— Eu...sim...a rainha deseja que dois de nós quatro vão à cama contigo antes de ir ante ela.

— Então não necessitamos que o anel reconheça ao menos a dois de vocês?

— Mantive minha voz muito normal, mas dei um passo para ele, tão perto que um pensamento teria fechado a distância. Podia sentir esse corpo agora, não a carne, a não ser sua vibrante energia, uma linha de calor justo em cima da minha. Ainda através de minhas roupas, ainda através de meus escudos, e os seus, senti sua magia como uma coisa tremente. Quase me roubou o fôlego, e me deixou perplexa. Com a maioria dos sidhe, deviam manifestar seu poder de propósito para senti-lo assim contra minha pele. Então compreendi que as divindades vegetais freqüentemente eram divindades da fertilidade também. Podia me gabar, ou me queixar, de ter cinco divindades da fertilidade diferentes em minha linhagem, mas nunca tinha estado com uma que uma vez tinha sido venerada como uma. Seu corpo reagiu ao poder que resplandeceu entre nós, ainda quando fechou os olhos e lutou por reagir. Mas isto era, bem, era como uma força da natureza. Havia poucas e preciosas divindades da fertilidade, caídos ou de outra maneira, entre os sidhe da corte escura; era um poder da Corte da Luz, principalmente. Meu pai, Essus, tinha sido uma exceção, mas ainda assim, ele não tinha sido da fertilidade do sexo, a não ser mais de sacrifício e colheitas.

Encontrei ar suficiente para falar, mas foi um sussurro o que pude deixar sair — Quando for o momento, te assegure de que não derrubemos as muralhas.

A voz do Doyle veio para mim como o melaço, lenta e escura. — O que é o que vais fazer?

— O que Adair quer que faça.

Adair me olhou então, e seus olhos continham dor, mas era uma dor nascida do desejo. Quis desfazer do poder que vibrava entre nós, soltá-lo e deixá-lo derramar-se entre nós, sobre nós. Como eu, ele não havia sentido elevar a magia de outro que se refletisse sobre ele mesmo em um comprido tempo.

Não era tão idiota para acreditar que era a visão de minha pessoa a que enchia seus olhos com tal necessidade. Era o poder que tremia e golpeava como um terceiro pulso entre nós. Tinha estado perto do Adair antes, e nunca havia sentido uma pontada de tais coisas. Só duas coisas, possivelmente três, tinham mudado. Uma, ele estava nu, e não era um dos guardas que participavam da nudez casual da corte, ou das brincadeiras casuais. Parecia acreditar, tal como Doyle e Frost, que se não haveria liberação então não desejavam jogar. Estava de pé ali, querendo fechar essa última polegada de distância entre nós, e assustado disso. Havia tanto poder já, que era como estar tocando sua pele, querer permitir que meu corpo se afundasse contra esse poder, esse poder que jazia em seus músculos e sua carne.

Pus minhas mãos a ambos os lados de sua cintura, contra a lisa pedra negra das portas. Nem sequer esse toque frio pôde refrescar o crescente poder entre nós. Seu corpo já não podia seguir me ignorando, mas se mantinha frio e sólido, apertado contra seu estômago, embora ele ficasse um pouco de lado, uma curva grossa e cheia de graça, em vez da franqueza a que tinha me acostumado. Levantei meu olhar até encontrar seus olhos de novo. Com cada íris tricolor cada sombra individual se voltava mais brilhante, mas o poder do Adair se derramava através de seus olhos, era como se as cores se voltassem um dourado amarelo da luz do sol. Seus olhos eram simplesmente luz amarela, como se dois diminutos sóis perfeitos tivessem se elevado em seu rosto.

Tomou dois intentos sussurrar — Princesa.

O poder respirou e se retorceu entre nós, como se nossas duas magias fossem uma linha de ar, um calor, um frio, de modo que quando se mesclaram, elevariam-se tormentas. Estabilizei-me contra as pedras, e lenta, muito lentamente comecei a me deslizar naquele calor.

Era como banhar-se em poder, e me afligiu usar roupa, e que não pudesse sentir o que isto significava sobre minha pele nua. Mas não teria me detido agora, nem sequer para me despir. Não perderia uma só polegada de cercania a esse calor tremente. Um segundo antes de que meu corpo tocasse o seu, Adair disse — O anel...

Nossos corpos se tocaram, e a magia resmungou através de nós, extraindo um grito de nossas gargantas, nos despojando de nossos escudos e da maior parte de nosso controle. Enchemos o corredor de sombras. Minha pele resplandecia como a lua na mais brilhante das noites. Adair brilhava como se o sol em seus olhos houvesse se derramado sobre sua pele. Não era que ele fosse feito de luz, mas sim era como se sua pele jazesse sobre a luz, como um filme de água sobre o fogo.

Mas não era ardoroso, este fogo, era um calor moderado. Um calor que lhe manteria a salvo em uma noite de inverno. O calor que devolve à vida aos campos depois de um longo frio. Um calor que conduz desejo através de seu corpo, e nublava todos os outros pensamentos desde sua mente. Era a única desculpa que tinha para haver esquecido que não tinha que tocá-lo com o anel. Tudo o que tinha ocorrido antes havia sido sem o toque do anel.

Levantei minhas mãos para acariciar os flancos de seu corpo, e o anel se esfregou contra ele, o mais ligeiro dos toques, e o mundo tremeu a nosso redor, como se o ar mesmo tivesse ficado sem fôlego. Adair começou a cair para trás. Pôs um braço ao redor de minha cintura, e o outro sustentava uma espada nua, antes de que suas costas golpeasse algo sólido.

Estávamos meio parados e meio inclinados em uma quarto na pedra. Adair empurrou-me atrás dele, de modo que seu alto corpo bloqueasse a maior parte da abertura, e me ocultasse da vista. Tropecei em um pequeno buraco, e prendi o pé contra as raízes de uma pequena árvore morta que cobria a parte detrás do quarto. A luz em nossas peles ainda não se desvaneceu, de modo que esta provocava sombras nas derrubadas pedras, e as rochas pulverizadas a meus pés. Conhecia esta quarto, mas estava pisos mais abaixo, e nunca tinha estado perto das habitações de minha tia.

Escutou-se a voz do Doyle — Está a salvo. Isto não é um ataque.

— Então, o que é? — disse Adair, e sua voz continha uma tensão que só foi tranqüilizada um pouco pelas palavras do Doyle.

— As portas da rainha se movem através da pedra como se as pedras fossem água — disse Barinthus — E a quarto apareceu detrás de ti.

— Sabe que o palácio se reorganiza a si mesmo — disse Doyle.

— Não tão repentinamente — disse Adair.

Agora que sabia que não estava em perigo iminente, movi meus pés, cuidadosamente, fora do fundo vazio. Que uma vez tinha sido um manancial borbulhante. A história dizia que havia uma árvore frutífera detrás disso, de modo que do exterior a árvore fosse tão pequena como uma macieira cultivada entre as pedras e que se alguém se ajoelhava no manancial para beber ou fazer oferendas, então a árvore se elevava e mostrava uma vista de prados detrás dela. Uma vez houve mundos inteiros clandestinamente onde os duendes podiam viver. Nossas colinas tinham oculto outros sóis e luas, e prados e charcos, e lagos, da vista dos humanos. Mas tudo o que tinha sido, foi muito antes de que eu nascesse. Tinha visto umas poucas habitações cheias de árvores mortas, erva morta, muito tempo morta, e coberta pelo pó dos séculos.

Toquei a árvore a minhas costas, por onde a parede terminava a um braço de distância. A árvore era pequena e estava fixa contra a parede. A madeira estava seca, e se sentia sem vida, mas umas poucas folhas se aderiam aqui e ali, e o tronco parecia grosso para uma árvore que era apenas mais alta que eu. Logo que havia espaço para que estivesse de pé, com um pé a cada lado do seco manancial e cheio de calhaus. As costas do Adair cobriu quase toda a abertura, salvo por um pequeno espaço sobre sua cabeça. Barinthus teria sido muito alto para parar-se dentro do arco de pedra.

A luz estava indo do corpo do Adair, deixando um banho de vermelho, como se o sol tivesse se pondo ao longo da parte baixa de suas costas e suas nádegas. O branco em minha própria pele se desvanecia também, mas isto era simplesmente o morrer da luz. O corpo do Adair manteve um banho de cores, como o céu mesmo.

Adair saiu da quarto com um só passo. Ainda estava o bastante perto de mim para tocar a parte baixa de suas costas. No momento em que o fiz, a cor se obscureceu a um profundo carmesim sob sua pele, e soltou um grito estrangulado. Aquele toque pareceu assombrá-lo, porque avançou a provas pela parede de pedra.

Olhou para trás, para mim, seus olhos nadando nesses três círculos dourados, ainda mais brilhantes que no começo, mas já não brilhavam como pequenos e individuais sóis. O conseguiu dizer entrecortadamente — O que fez comigo?

Podia sentir seu poder sobre as gemas de meus dedos no lugar onde havia tocado sua pele. Podia senti-lo, pesado e espesso sobre meus dedos, como o pesado sangue das árvores, mas não havia nada para ver em minha mão, só a sensação do espesso líquido. Não sabia o que lhe tinha feito, de modo que o que podia lhe dizer?

Comecei a estender minha mão para ele, lhe oferecer o poder de meus dedos de volta, mas algo me deteve. De repente soube o que tinha que fazer. Movi-me para o frente do quarto, e me ajoelhei, em frente do leito do seco manancial. Ali, a um lado, escondida entre as folhas secas, havia uma pequena taça de madeira. Estava rachada a um lado. Rachada pela idade e o desuso.

— Vêem, Meredith, vamos ver a rainha — foi a voz do Barinthus.

Doyle disse — Ainda não, Barinthus, espera um momento.

— Abriu a porta enquanto estava distraído — disse Adair, e sua voz novamente estava tinta de cólera — Foi um truque!

Sustentei a suja taça em minhas duas mão, já que não tinha nenhum cabo, e minhas mãos eram muito pequenas para sustentá-la comodamente com uma só mão. Sustentei-a para o lugar da rocha onde a água uma vez tinha saído borbulhante. Sabia exatamente desde onde a água devesse ter fluido. Sabia até quando nunca o tivesse visto. Alcancei a rocha com a taça, justo debaixo da abertura.

— Não há água para ser recolhida deste lugar, princesa — disse Adair. Não fiz conta, e sustentei a taça contra a rocha. Enviei o poder de meus dedos para a pequena e escura abertura, derramando-o sobre a greta como uma geléia invisível, tão espessa, tão rica. Soube nesse instante que devia ter sido outro líquido mais real o que tinha que estender-se sobre a rocha. Mas este serviria; este também, era parte da essência do Adair. Parte de seu poder, de sua masculinidade. Energia masculina para tocar a fenda da rocha, tal como se fosse a fenda de uma mulher. Macho e fêmea para atrair de novo a vida. Invoquei meu poder, permitindo que sobre minha pele dançasse uma luz branca e chapeada, e no momento em que meu poder o tocou, no lugar que jazia recostado contra a rocha, água começou a gotejar da greta, enchendo a taça rachada.

Alguém disse — A rainha está vindo.

Adair tocou meu braço, apertou-o. — Enganaste-me! — Empurrou-me, fez-me girar até que ficasse olhando-o, enquanto a água se derramava, em sua surpreendida cara, através de seu peito nu. A água gotejou para baixo por seu corpo, em linhas claras e brilhantes. Afastou-se de mim, com os olhos muito abertos.

A taça em minhas mãos era feita de branca madeira, polida até que brilhava.

Imagens de frutas e flores cobriam a madeira, e, ao jogar uma olhada a essas adorável folhas e caules vi as caras de homens. Não só um homem verde, mas também muitos, como imagens escondidas em um quebra-cabeças infantil. A imagem de uma mulher adornava o outro lado da taça, seu cabelo flutuando como uma capa sobre seu corpo. Havia um cão a seu lado, e uma grande árvore com frutas ao outro lado. Ela me sorriu da taça. Era uma sorriso conhecedor, como se soubesse tudo o que alguma vez eu queria saber.

Doyle disse, com voz incerta — A rainha nos espera dentro, Meredith,

Está pronta?

Mantive-me ajoelhada, e encontrei a água que gotejava clara e docemente no leito da fonte. As folhas secas, e as ruínas dos anos que tinham enchido todo o lugar tinham ido. O lago era uma depressão quase circular, cheia de calhaus alisados pela água e as rochas. Sustentei a taça debaixo da água, e esta fez um pequeno gorjeio, fluindo mais rápido, como se estivesse impaciente por encher a taça. Quando a água transbordou na taça, correndo por minhas mãos em frescos jorros, só nesse momento me pus de pé.

Fiquei parada com a taça cheia a transbordar, mais água transbordando-se para abaixo por meus braços, arrastando-se por debaixo das mangas de minha jaqueta. Havia energia na água, um tranqüilo e sussurrante poder. Com aquele olho interior podia ver o brilho do poder na água, e a taça de madeira parecia uma branca estrela dentro da minha cabeça.

— Para quem é a taça? — perguntou Doyle,

— Para alguém que necessita ser curado, embora não saiba — minha voz continha um eco do brilho da taça.

— Pergunto-te de novo, para quem é a taça?

Não lhe respondi, porque ele sabia. Todos sabiam. A taça era para a Rainha do Ar e da Escuridão. A taça poderia limpá-la, curá-la, mudá- la. Sabia que a taça estava feita para ela, mas não sabia se a beberia.


Capítulo 28


Andais estava parada no meio da câmara rodeada da luz da lua e de escuridão. Sua branca pele brilhava como se tivesse capturado a lua cheia sob sua pele, e todo seu suave resplendor se derramasse dela. Seu cabelo era uma cascata do negro mais escuro da noite, exceto como eu a olhava pela extremidade do olho via pálidos pontos de luz em seu cabelo, como estrelas disseminadas, mas quando voltei a olhá-la diretamente só havia um brilhante negrume, não rota por nenhuma luz, o coração do mais profundo e vazio espaço. A classe de escuridão vazia que não contém nenhum calor, nenhuma vida.

O triplo cinza de seus olhos resplandeceu, mas foi submetido como se tivesse sido iluminado só por um reflexo de luz. Seus olhos eram ligeiras nuvens cinzas de tormenta, iluminadas por uma luz distante, mas não com uma luz própria. O último e grosso anel em brasas era como o céu antes de cair sobre a terra e derramar toda sua cólera sobre nós.

O olhar em seus olhos por si mesmo poderia ter mer detido na porta.

Seu poder a enchia como um golpe do destino esperando por sua vítima, me fazendo querer dar a volta e pôr-se a correr. Ainda estava tocada pela magia que havia feito reviver ao manancial. A magia que Adair e eu, pelo mero feito de nos tocarmos tínhamos despertado. Mas esse brilhante e curador encantamento terminou em cinzas em meu coração com um só olhar dos enlouquecidos olhos de poder de Andais. Não havia nada são neles.

Estava de pé quase dentro da porta, com medo de me mover, com temor de atrair sua atenção. Todo o novo poder, todo o novo autodescubrimento, toda a alegria e amor recentemente encontrada; e de repente era de novo uma menina pequena.

Um coelho assustado que se esconde na erva, esperando que a raposa passe sem vê-lo.

Quando traguei, doeu, como se meu próprio medo quisesse me afogar. Mas eu não era o coelho que esta raposa em particular estava caçando.

Eamon parou na pequena plataforma que se encontrava ao final de quarto, a única que estava pelo geral sem cortinas. Era alto e pálido, com sua queda de comprimento curto negro até os tornozelos, que era quão único o defendia de nossa vista. Eamon era um daqueles que utilizavam a nudez casual na corte. Eu o havia visto nu antes, e, se ele sobrevivia esta noite, faria-o de novo. Não, não era a beleza do Eamon a que apressou meu pulso. Tampouco eram os instrumentos de tortura e morte que penduravam da parede detrás dele, emoldurando seu corpo como um quadro. Eram as palavras da rainha e sua resposta a elas.

— Desafia-me, Eamon, meu consorte? — Sua voz era tranqüila quando perguntou, muito acalmada. Não pegava para nada com a atmosfera da sala, nem sequer com a expressão de seu rosto.

— Não lhe desafio, minha rainha, meu amor, mas te rogo. Matará-os se não deter isto.

Uma voz soou desde detrás do Eamon — Não se detenha, por favor,

não se detenha.

— Ele não deseja deter-se — disse Andais, e moveu uma mão, negligentemente, atraindo minha atenção ao látego nela. Perdeu-se contra a escuridão de sua larga saia negra, de modo que até que ela se moveu, eu não tinha visto nada. Era como uma serpente bem camuflada, escondida até que atacasse. O látego fez um som pesado ao deslizar-se contra o piso, quando ela o moveu para trás e para frente. Um gesto ocioso que arrepiou o cabelo no dorso de meu pescoço.

— Disse-me uma vez que o valorava porque ele podia suportar muita dor. Se abusar, já não o terá para bricar com ele, minha rainha — Compreendi que Eamon estava de pé em frente ao nicho no centro da parede. Estava bloqueando a vista do lugar onde eu sabia haviam cadeias embutidas na parede. Quem quer que fosse, era menor que o um metro e oitenta e três do Eamon, e podia ser assassinado por um simples chicotada. A maior parte das fadas podiam ser decapitados, recolher sua cabeça debaixo de um braço e devolver o golpe a seu inimigo. Não eram facilmente mortos ou injuriados.

Quem poderia precisar ser protegido assim? Por quem se arriscaria Eamon? Nenhum nome veio a minha mente.

Havia outros guardas no quarto. Todos estavam nus. Roupas, armaduras, armas estavam em um montão aos pés da cama, como se ela se encontrasse entre a seda e a pele e tivesse ordenado a todos despir-se. O qual poderia haver feito sem dúvida, mas a vista de uma dúzia de sidhe, ajoelhados, as cabeças inclinadas, o cabelo frouxo e cobrindo sua nudez como túnicas de cores era tanto uma visão adorável como uma inquietante.

O que tinha acontecido? O que tinha mudado desde que Barinthus e os outros tinham abandonado as colinas e tinham ido me buscar? Barinthus havia dito que ela estava melhor; isto era tão mau como o que eu alguma vez tinha visto.

Tive medo de falar, medo de fazer algum ruído, por temor a que toda a cólera pudesse voltar-se em minha direção. Não era a única perplexa a respeito de como proceder, Doyle estava de pé a minha frente, e um pouco para um lado, tão imóvel como eu, tão imóvel como todos estávamos. Nossa entrada pela porta tinha feito voltar seus olhos para nós, mas agora que tínhamos deixado de nos mover ela havia devolvido toda sua atenção ao Eamon. Nenhum de nós parecia disposto a compartilhar sua atenção com ele.

Tirou o látego de detrás dele, e havia espaço entre os homens ajoelhados no chão, como se esta não fosse a primeira vez esta noite, nem a décima segunda, nem a vigésima.

Os homens permaneciam como um estranho jardim de formosas estátuas, tão quietas, enquanto o látego sussurrava com o passar do piso. A rainha enviou o látego para frente, usando todo seu braço,

ombro, costas, e, finalmente a parte baixa de seu corpo. Ela lançou a chicotada da forma em que se lançaria um bom murro. Seu pulso estalou no último momento a que acrescentou uma curva que a faria partir-se.

Fez o som de um tornado que apressasse seu passo, e sabia, por dura experiência que ao receber essa chicotada o som era ainda mais esmagador, como estar parado sobre as vias da ferrovia, enquanto o trem avança como um trovão para ti, e não pode te pôr fora da via. Não porque não queira fazê-lo, mas sim porque está encadeado no lugar.

Eamon poderia ter se movido, mas não o fez. Estava de pé ali, e usou esse alto, ordenado corpo como um escudo para quem quer que estivesse detrás dele. O látego golpeou-o totalmente atravessando seu peito com um rangido que foi quase uma explosão, que cobriu o som do látego golpeando sua carne. Com um pequeno açoite poderia ouvir a substanciosa palmada que provocaria. Mas este era seu enorme látego, o único que parecia uma sucuri negra, algo o bastante largo e grosso para destroçar sua vida.

Eu temia este particular látego, porque era mortal, e embora a carne do Eamon avermelhava, não sangrava. Eu teria sangrado.

Eu gosto do jogo cru, mas não da maneira em que a rainha o levava a cabo.

Ela jogava no bordo e sob o abismo. Ela ia a lugares que meu corpo não queria ir, e aos quais não teria sobrevivido de ter querido. Compreendi que não era quem estava encadeado à parede detrás do Eamon, a não ser o que. Havia uns poucos humanos que viviam em nossa corte. A maioria não se parecia com Madeline Phelps, a publicitária. Isto não era um trabalho. Eles tinham sido escolhidos faz centenas de anos, e levados ao mundo das fadas, alguns de bom grado, alguns não. Mas estavam de bom grado agora, porque se eles dessem um passo, até pusessem um pé fora de nosso mundo,

envelheceriam, murchariam e morreriam. Eram um dever sagrado os humanos que se capturavam.

Alguns eram serventes, mas geralmente havia algo que atraía a atenção dos sidhe. Alguns foram roubados por sua beleza ou por seu talento musical; no caso de Ezequiel a rainha tinha admirado sua habilidade na tortura. Apreciavam-se o suficiente para serem roubados do mundo humano. Era ilegal agora, mas uma vez, quando tínhamos sido a lei por nós mesmos ambas as cortes o tinham feito. Mas qualquer que fosse a razão, uma vez que lhes entregava uma casa aqui, era considerado uma má coisa, um descumprimento de contrato, um pecado, tomar suas vidas. Eles ofereceram uma vida de imortalidade sem envelhecimento, de modo que se podia abusar deles, mas não até o ponto de matá-los. Não lhes podia roubar a coisa que os fazia estar dispostos a vir ao mundo das fadas em primeiro lugar.

Uma vez que me dei conta de que tinha um humano contra a parede,

tive quase a completa segurança de quem era. Tyler era seu atual amante humano. A última vez que tinha o visto, estava loiro, com um corte uso patinador, e um bronzeado verdadeiro. Era apenas o bastante velho para ser legal. Era também, de acordo com os rumores, um masoquista da dor. Se ele estava desfrutando com o que a rainha lhe estava fazendo, tinha passado de ser um masoquista da dor a ser um suicida.

O grande látego negro veio sussurrando e deslizando-se de volta pelo chão ladrilhado. Enviou-o outra vez detrás dela, entre seus silenciosos e imóveis guardas, e este rugia através do ar, cortando como o relâmpago, contra a carne de Eamon. A força do golpe o moveu como se seu corpo tivesse sido empurrado, mas, além de um sinal avermelhado, não havia nenhum sinal de que lhe tivessem feito mal.

Andais fez um som desço em sua garganta, quase um grunhido, como se isto não a tivesse satisfeito. Deixou cair o látego a terra, como uma pele descartada de repente vazia de vida.

Elevou sua mão com suas bem cuidadas unhas e gesticulou para o Eamon. Este tropeçou para trás, e teve que agarrar na borda da cama, ou poderia ter caído em cima daquele que procurava proteger. Seus dedos puderam se morados com o esforço de impedir sua queda dois centímetros e meio para trás. Seu poder encheu o quarto, como a pressão antes de uma tormenta, quando o ar se sente sólido e difícil de tragar.

A pressão cresceu e cresceu, até que foi difícil respirar, como se meu peito apenas pudesse se levantar contra sua magia. Soube nesse momento que se quisesse, ela poderia fazer o ar tão pesado que podia nos sufocar, ou ao menos a mim; não se pode matar aos sidhe com um simples sufocamento.

Espremeu sua mão em um apertado punho, e os braços do Eamon começaram a tremer com o esforço de sustentar a si mesmo contra o efeito de sua magia. Falou entre seus dentes apertados — Não faça isto, minha rainha — As gemas de seus dedos semoveram, seu agarre começou a romper-se. Afundou-se na pedra com a força que tinha permitido aos sidhe conquistar quase toda a Europa. A pedra se gretou baixo as gemas de seus dedos, mas foi capaz de aguilhoar as marcas de seus dedos enterrados nela. O sangue encheu esses buracos, e começou a gotejar pela rocha para baixo. Havia coberto seus dedos, mas tinha se mantido em terra.

Lutei para forçar meu peito a elevar-se e descender, mas era como se empurrasse contra um grande peso. Não podia agarrar fôlego. A taça se deslizou de minha mão, e só a mão do Galen em meu braço me manteve erguida. Nunca havia sentido sua magia assim.

Nada como isto. Ela começou a caminhar para o Eamon, lentamente,

empurrando seu poder por diante como uma mão invisível. Sabia por própria experiência que quanto mais perto de ti fisicamente se encontrar ela mais forte podia ser esta magia em particular. Eamon começou a tremer, e o sangue fluiu mais rápido, reunindo-se sobre a rocha e descarregando-se em riachos escarlates. O esforço de sustentar-se contra a força de sua magia fez seu coração ir à carreira, seu pulso golpeava mais forte, e isto forçou a seu sangue a correr mais rápido, fazendo-o sair em turba dele.

Minha visão correu em linhas brancas e cinzas e em padrões estrelados. Alguém mais agarrou meu outro braço, não pude ver quem era. Meus joelhos se torceram e me afrouxei em seus braços, enquanto a escuridão engolia a luz. O ar era sólido, e não podia respirá-lo. A luz se voltou cinza e então ofeguei. Meu fôlego voltou em uma larga e desigual tosse que quase me dobrou em dois, e só outras mãos me impediram de cair ao piso.

Quando o ataque de tosse passou, a luz voltou, e me dava conta de que o ar era frio contra meu rosto. Podia respirar de novo. Galen tinha apertado meu braço direito, e Adair tinha o esquerdo, uma mão ao redor de minha cintura, enquanto minhas pernas recordavam como manter-se em pé.

Acreditei que a rainha tinha abandonado o quarto, mas não o tinha feito.

Simplesmente estava de pé frente a Eamon, estreitando sua magia sobre ele. Ela a havia concentrado em um cada vez menor ponto até que o resto do quarto esteve vazio de seu poder.

Eamon tinha mantido seu apertão sobre a parede, sua boca ampliamente aberta, mas não ofegava, porque ofegar implicava respiração e eu não acreditava que pudesse fazê-lo. Era como se ela pudesse atrair as pressões atmosféricas e as lançar contra ti.

Podia usar o ar mesmo como arma. Eu sempre tinha sabido que a todos não assustava ela, mas nunca a tinha visto utilizar seu poder assim, e pela primeira vez compreendi que não era só sua absoluta crueldade o que a tinha mantido no poder durante mais de mil anos.

Olhei os rostos dos guardas, os melhores guerreiros que os sidhe tinham para oferecer, e vi medo em suas caras.

Eles a temiam. Realmente estavam atemorizados.

Andais riu, grosseiramente, acovardando o som que prometia dor ou morte.

Tinha recolhido uma folha de espada, enquanto eu estava principalmente inconsciente. Agora ela usava essa folha de espada sobre o peito do Eamon. Cortou-o como se fosse um pedaço de arbusto que ela queria tirar. Esperei ver o sangue caindo, mas o ar era tão pesado que a sustentou perto. A fazia gotejar devagar, de modo que ela tinha feito meia dúzia de feridas antes que a primeira começasse a sangrar.

— Senhora, nos ajude — disse Doyle. Sua voz soou tão triste, tão oca.

Estava de pé quase diretamente em frente a mim, dava-me conta de que à medida que ela caminhava para o Eamon, ele tinha se movido para ir bloqueando-me de sua visão. Suspirou e jogou um olhada para trás, para os outros. Havia um olhar em seu rosto que eu nunca havia visto antes. Rhys suspirou a suas costas. — Odeio ter que fazer isto.

— Como todos nós — respondeu Frost desde meu outro lado.

Encontrei que tinha bastante fôlego para perguntar — Que coisa vais fazer?

Doyle sacudiu sua cabeça. — Não há tempo para explicar — seus negros olhos voltados longe de mim, olhando ao Eamon e à rainha. O peito e o estômago do Eamon estavam decorados com sangue, cortes profundos que jorravam sangue por seu corpo.

Haviam profundas feridas sobre seu peito que pareciam amplas bocas escarlates. Ela o tinha aberto por um lado de seu corpo de tal forma que os brancos ossos de suas costelas cintilavam através do sangue. Ele repetiu — Não há tempo — logo avançou a pernadas para a rainha. Frost o seguiu, e Rhys seguiu a ambos, me dando um olhar para trás. — Verá ser pior do que realmente é. Recorda, curaremo-nos.

Meu pulso foi de repente mais rápido. O que estavam planejando fazer? Comecei a me adiantar, mas Galen e Adair sustentaram meus braços. De ter sido reconfortante ter um apoio, passou a ser de repente uma armadilha. Sustentaram-me, não porque fosse cair, mas sim para que não os seguisse.

— Me deixe ir, Galen — eu disse.

— Não, Merry, não — mas não me olhava enquanto dizia; seus olhos estavam por completo com o Eamon. Alto, formoso, Eamon, sendo transformado em tanta carne crua. — Eles estarão bem — Sua voz não soava com tanta segurança como suas palavras.

Olhei ao Adair — Me deixe ir.

Adair sacudiu sua cabeça — Não o farei, princesa. Ficarei aqui parado, e a sustentarei, assim você não poderá interferir.

Brii disse — Você ficará de pé sustentando-a porque assim não terá que ajudar — moveu-se por diante de nós como um redemoinho de cabelo amarelo.

— Ajudá-los a quê? — perguntei, passando meu olhar do sério rosto do Galen, com toda sua atenção concentrada no que estava ocorrendo contra a parede, ao Adair, que não encontrava meus olhos nem olhava à rainha matando ao Eamon.

Doyle estava o bastante perto agora para tocar à rainha. Sua voz foi profunda — Minha rainha, retornamos.

Foi como se ela não o tivesse ouvido, como se o mundo se reduzisse à folha de espada manchada de sangre em sua mão, e o corpo que ela estava cortando.

— Minha rainha — Desta vez Doyle estendeu e pôs sua escura mão sobre a brancura de seu braço, justo em cima de onde o sangue tinha começado a correr e manchar sua pele.

Ela se voltou para ele em um movimento que quase foi muito rápido de seguir para o olho. A folha de espada cintilou chapeada, e sangue fresco brotou em um arco do braço do Doyle.

Disse seu nome antes de pensá-lo. A rainha dirigiu seus olhos perplexos para o quarto, como se procurasse minha voz, mas Doyle deu um passo em sua linha de visão, e ela o esfaqueou de novo. Golpeou-o uma vez mais antes de que Rhys ficasse diante dele.

Não pude ouvir o que ele disse, mas fosse o que fosse, foi suficiente. Ela o atacou. Só o leve encolhimento de seus ombros demonstrou que tinha doído, mas se tornou atrás como se tentasse escapar dos golpes. Não gostou disto. Foi para ele em um selvagem ataque, esfaqueando, e de repente Amatheon esteve em seu caminho. Abriu seu braço do ombro até a mão. O golpe o fez cambalear e se girou para proteger o braço. Ela dirigiu a faca para suas costas, e ele caiu, derrubando-se sobre seus joelhos. Seus olhos se alargaram com a dor, e algo mais: resignação.

— Bem-vinda ao mundo dos guardas, princesa — disse Adair — Bem-vinda a forma em que nos mantemos uns aos outros com vida. Ninguém salvo a rainha e seus Corvos contemplaram isto. Você é a única privilegiada — Isto último continha uma ironia, uma amargura que pareceu cortar o mesmo ar, como se houvesse poder nela.

Um pequeno som atraiu meu olhar para os guardas ainda ajoelhados no chão, em uma conjunção de pele nua e cabelos de seda. Cabelos da cor do feno recém secado, cabelos da cor das folhas de carvalho, cabelos da cor das asas de uma libélula ao sol, cabelos da cor púrpura das ervas de Páscoa, pele que reluzia na luz como metal branco, pele que brilhava como se estivesse orvalhada com pó de ouro, pele que continha sua riqueza na superfície como alguma elaborada tatuagem, pele tão vermelha como uma chama, tão rosada como um globo de chiclete. Inclusive despojados de suas armaduras, de suas roupas, de suas armas, eles se viam todos diferentes, tão terrivelmente únicos. Eles eram os sidhe da Corte do Ar e da Escuridão, e despindo-os não podia fazer menos deles.

Não estava segura de quem tinha feito o ruído, mas um par de olhos me fulminaram através de uma catarata de cabelo cinza, não o cinza da idade, a não ser o cinza das nuvens antes de uma chuva. Os olhos que me olharam através desse comprido e espesso cabelo eram de uma cor verde vertiginosa, uma cor verde•amarelada, próximo ao dourado, tal como o mundo se vê justo antes de que a força do céu ruja sobre sua cabeça. Seus olhos eram da cor do mundo antes de que este se inunde em uma tormenta. Porque este era quem era, Mistral, o amo dos ventos, exorcista das tormentas. Seus olhos eram tão instáveis como o tempo, e seu vertiginoso verde era um sinal de alta ansiedade.

Tinha ouvido dizer que houve uma vez em que o céu se obscureceu quando os olhos de Mistral se pareceram com um céu escuro. Capturou meu olhar, e o sustentou. Disse-me com seus olhos, com seu rosto, que eu era só outra inutilidade da realeza. Que eu estava ali, custodiada e bem, enquanto eles sangravam. Possivelmente só era minha própria culpa o que lia em seus olhos. Meu pai havia me educado para acreditar que pertencer à realeza significava mais que só ter poder sobre as pessoas. Queria dizer que em certa forma o povo também tem poder sobre alguém, posto que se supunha que alguém devia cuidá-los. Eu estava na linha para ser rainha, de ter o poder sobre a vida e morte destes homem, mas aqui estava me escondendo. Oculta e tão atemorizada que quase não podia pensar. A sensação das mãos do Galen e Adair sobre meus braços era mais um insulto que uma comodidade.

Queria que eles me segurassem. Queria uma desculpa para não ter que fazer nada.

Ocultava-me detrás das pessoas que se supunha devia manter a salvo. Senti o olhar dos olhos do Mistral como um golpe. Estava ajoelhado no chão, ajoelhado onde a rainha lhe havia dito que se ajoelhasse, provavelmente com a promessa de que se se movia, também seria encadeado à parede. Era sua ameaça habitual. Uma vez eu estive ajoelhada neste mesmo chão, até que tudo terminou. Eu era, depois de tudo, só uma mortal, e não podia me ajoelhar durante um dia e uma noite. Eles podiam. E se ela o desejava, eles podiam.

Ainda podia ouvir os som que cruzavam o quarto, mas olhei ao Mistral como se seu rosto fosse a única coisa no mundo, porque se olhasse para outra parte, teria que ver o que estava acontecendo. Não queria ver. Estava farta de ver horrores. Mas não importava com quanta força o tentasse, ainda podia ouvir.

Pequenos ofegos, o som da roupa que se rasga, e o som grosso, substancioso da carne que se parte sob a folha da espada. Tinha que ser uma ferida realmente profunda para provocar aquele som, uma ferida às mais importantes e vitais parte do corpo. Finalmente um som como de água saltando, como se alguém tivesse conectado uma mangueira, fizeram-me olhar.

Dei a volta para aquele ruído, lentamente, da forma em que se dá a volta nos pesadelos. Galen tentou ficar na minha frente. Mas era como se ele também estivesse se movendo muito lento. Vi a cara do Onilwyn, com os olhos muito abertos pela surpresa. O sangue saía como de uma fonte desde seu pescoço, salpicando para fora e ao redor como uma chuva carmesim. Capturei um vislumbre da pálida medula antes de que os amplos ombros do Galen bloqueassem minha visão.

Elevei a vista para ele, vi a dor naqueles pálidos olhos verdes. Minha voz foi um rouco sussurro — Te mova, Galen. Me deixe ver.

Sacudiu sua cabeça, seu cabelo secando-se em casuais cachos uma vez que o gelo se derreteu. — Você não quer ver.

— Se for uma princesa aqui, então deve te mover. Se aqui não for uma princesa, o que é o que em nome de tudo que cresce e vive está acontecendo aqui?

Foi suficiente. Ele se moveu e pude ver o que a rainha tinha feito a seus Corvos, a seus homens e aos meus.


Capítulo 29


Ela estava cortando ao Frost. Sua camisa cinza perlada estava negra com o sangue.

Deu a meia volta quando caiu, e a metade inferior de seu comprido corto prateado-se aderiu a seu corpo, escarlate devido ao sangue. Caiu a quatro patas, com a cabeça abaixo. Ela levantou sua faca por um golpe com as duas mãos no coração, e ali esteve o braço do Doyle, arrastando seus braços sobre as expostas costas do Frost, atraindo sua cruel atenção para ele. Sua pele e roupas estavam tão escuras que era mais difícil ver o sangue que estava sobre ele, mas o osso cintilou branco e vermelho em seu flanco, onde ela quase tinha pego o coração.

Disse seu nome, suave, um sussurro — Doyle.

Andais começou a esfaqueá-lo, e ele protegeu seu corpo com seus braços. O sangue emanava dele, enquanto ela tratava de encontrar osso, tentava encontrar algo que matar. Era como se por não lhe permitir esfaquear a principal carne de seu corpo, a tivesse ofendido. Ainda em sua loucura ela não permitiria isto. Não podia lutar com a rainha e viver. Na verdade, ela não podia matá-lo, mas o pôs de joelhos com a fúria de seus golpes. A faca estava vermelha com o sangue, a superfície do punho resbalosa por causa dele, de maneira que ela teve que modificar seu agarre quando o conduziu para baixo. Parecia como se toda sua força estivesse concentrada no afundamento da faca em seu peito. Ele moveu suas mãos para bloqueá-lo, e ela se moveu, como um escuro relâmpago, uma mancha imprecisa de vermelho e negro, e afundou a folha em sua cara.

A força do golpe o fez girar sobre si mesmo, e vi sua cara aberta da queixo até o topo de seu maçã do rosto. Ela não poderia matá-lo com a faca que dirigia, mas podia mutilá-lo.

Algo dentro de mim mudou nesse momento. Ainda estava assustada, tanto que este assentou-se sobre minha língua como algo antigo e metálico, mas dizem que o ódio supera o medo. Bem, às vezes só a raiva. O medo, que tinha sido uma pequena e rasteira coisa elevando-se em meu interior, tinha encontrado asas, e dente, e garras. Ódio, não para Andais, a não ser para o terrível estrago de tudo isto, isto estava mau. Ainda se não tivesse amado a estes homens, ainda assim teria estado mau.

Rhys se lançou, recebendo um golpe que fez saltar o sangue de seu braço, mas era como se ela se cansasse do jogo. Estes eram os melhores guerreiros dos que os sidhe podiam gabar-se, mas vi seu movimento como algo líquido, mais rápido do que Rhys podia seguir, do modo em que ela tinha sido muito rápida para o Doyle.

Compreendi nesse momento que eles não estavam inteiramente jogando; simplesmente ela era melhor que eles. Ela era a Rainha do Ar e a Escuridão, a escura deusa da batalha.

Se os Corvos não podiam com ela, então, o que poderia fazer eu? Os homens eram todos mais rápidos, mais fortes, melhores do que eu era. Não havia nenhuma arma que me ajudasse, exceto na obtenção de minha própria morte. Mas não podia ficar parada e olhar, sem fazer nada. A raiva se transformou em poder, e não podia deter o feito de que minha pele começasse a brilhar. Os princípios de poder que não seriam nada para Andais. Galen e Adair me olharam. Galen sacudiu sua cabeça — Não há nada que você possa fazer, Merry. Apertou meu braço quase dolorosamente — Eles não morrerão.

— Não — disse Adair, com sua amarga voz — curaremo-nos, como temos nos curado antes.

— Não com esta gravidade — foi a voz do Mistral, suave, mas ronronando como trovões, de tal modo que me arrepiava acima e abaixo de meu corpo, e algo a respeito disso fez que minha pele brilhasse ainda mais. Seus sentidos e profundamente afogados olhos encontraram os meus, e disse — Nunca nos tinha feito mal desta maneira. Algo está errado.

Olhei ao Adair e ao Galen — Tem razão?

— Se curarão — disse Galen, mas ainda ele não parecia muito seguro.

— Mistral diz a verdade — Adair olhou para a matança, e o rosto que voltou para mim continha tanto dor e vergonha. Os Corvos provinham de uma tradição na qual não aceitar de bom grado um golpe mortal em vez de seu líder era a pior das vergonhas. Mas aquela lealdade foi comprada por valer seu preço em lealdade. Nós nem sempre tínhamos governantes hereditários; de fato, era uma idéia humana que adotamos, mas uma vez o melhor de nós tinha governado, não importando sua linha de sangue, enquanto fosse sidhe.

Mistral girou sua vista pra mim, como se o pudesse ver minha vacilação escrita através de minha cara, entretanto sussurrou — Mãe, nos ajude, já que ninguém mais o fará.

Os braços nus de Andais estavam cobertos de sangue, e aqueles brandamente endurecidos braços se moveram através do ar, gotas de sangue seguindo-os. Não o sangue de suas vítimas, a não ser o dela. Estava sangrando. Sangrando por pequenas feridas em seus ombros, peito e pescoço. A rainha do Ar e da Escuridão tinha ferido sua própria carne em seu frenesi de batalha. Fez uma ameaça para o corpo de Rhys, quase o mesmo movimento que tinha usado com o Doyle. Seu braço voou em um arco que eu já sabia que viria, e que nunca poderia ser evitado. Era como estar olhando um golpe destinado, sem forma de detê-lo.

Gritei seu nome, Rhys!, enquanto a folha se afundava em seu olho,

seu único olho. Ela cravava a faca em seu rosto como se estivesse cortando o último círculo azul de sua carne.

Amatheon tentou atrai-la para fora, mas era como se não o visse. Não via nada salvo a destruição que estava fazendo na cara do Rhys,

não ouvia nada exceto os gritos que finalmente tinha conseguido fazer surgir de sua garganta.

Meu poder veio para mim como uma adaga invisível, que se derramou em minha mão esquerda. A mão de sangue, minha segunda mão de poder. Antes sempre tinha sido uma coisa que me tinha causada dor usá-la, uma dor tão intensa que nublava minha visão, mas não esta vez. Desta vez veio silenciosamente, e mais completa do que nunca a havia sentido. Tinha usado minhas mãos de poder, mas até esse momento não as havia aceito. Era o bastante humana para desejar poderes belos, não algo do que aterrorizaria a maior parte de nós. Mas era o desejo de uma menina, e este desapareceu de mim. Tinha um desses momentos de clara visão que é se pudesse ver través do coração de todos os que lhe rodeiam.

Não tive que evocar o aroma e o sabor do sangue; o quarto os emprestava. Como se alguém tivesse virado seu hambúrguer cru no chão, e todos tivessem pisado. O sabor não só do sangue mas também da carne aderida à parte detrás de minha garganta. Barinthus tinha se aproximado do Rhys, usando suas costas como escudo, enquanto ela gritava e cortava ele. Rhys tinha arrojado sua cabeça para trás, e seu olho bom era uma ruína vermelha. Ainda gritava, sem palavras, desesperado.

Olhei as feridas em seus ombros, e com o Galen e Adair ainda sustentando meus braços, simplesmente pensei, sangra. O sangue brotou de suas feridas mais rápido que antes, mas ninguém pareceu notar que a rainha estava sangrando, tampouco ela. Estava muito perdida na luxúria da batalha para notá-lo. Não tinha nenhuma esperança de matá-la, era realmente imortal. O que esperava era debilitá-la, distrai-la.

Não podia seguir olhando sem fazer algo. Chamei o sangue de seu corpo, e não me fez caso. Cortava ao Barinthus como se pensasse fazer um buraco através dele, como se ela pudesse avançar lentamente dentro dele, e arrastaria ao Rhys para o outro lado.

Tinha querido distrai-la, mas tinha sido um pensamento estúpido. Ela, que tinha sido a deusa da batalha, não reduziria a marcha por uma pequena perda de sangue. As palavras de meu pai vieram para mim: se alguma vez te levantar contra minha irmã, mata-a, Meredith, mata-a ou nunca levante uma mão contra ela.

Estendi minha mão esquerda, a palma para cima, e deixei que minha magia fosse como iria um pássaro, por longo tempo apanhado, voando para o céu. Sentia-se tão bem deixá-lo ir, soltá-lo, deixar de tentar ser algo que não era. Isto também era uma parte de mim, este sangue. O sangue se derramou desde seus braços, e ainda não o notava, mas algum homens o fizeram.

Adair já tinha me deixado ir e dado um passo atrás. Penso que não queria estar muito perto quando Andais despertasse de sua luxúria. Acredito que Adair não queria que ela pensasse que tinha tido algo que ver com isso.

— Merry, Merry, não o faça — Galen atirou de meu braço direito,

tentando alcançar meus dois braços. Pensei, sangra. Afastou-se de mim com a pequena ferida gelada sobre sua mão, como se o tivesse talhado com a folha de uma faca. Seus olhos estavam muito abertos, e vi medo neles. Medo de mim, ou por mim, não poderia dizer.

O sangue se vertia por seus braços como água carmesim, e de todos os modos ela cortava as costas do Barinthus. Pensei nela como tinha pensado no Galen, sangra, e a pequena ferida através da frente de seu corpo se abriu mais, como se uma faca invisível tivesse talhado através de sua pele. Foi mais devagar, vacilou entre um golpe e outro.

Olhei a pura linha branca de sua garganta, com aquele diminuto ponto sangrento, um racho nu em sua pele, mas de alguma forma, através do quarto surgiu enorme em minha visão. Podia-a ver claramente, cheirar seu sangue justo debaixo dessa branca e pura pele. Fiz um punho com minha mão e imaginei o que queria que aquela pequena ferida fizesse. Sua branca garganta se abriu como uma segunda boca, a ruína vermelha de uma boca.

Acredito que ela teria gritado, mas não podia. O sangue jorrou de seu corpo, e ela esqueceu do Barinthus. Esqueceu do Rhys. Esqueceu tudo, mas girou seus olhos com três tons de cinza para mim. Vi o reconhecimento naqueles olhos. O ar ao redor de mim ficou mais pesado, como com o peso de uma tormenta. Gritei — Sangra para mim.

O sangue saiu a fervuras desde sua garganta, emanando como se uma bomba gigantesca estivesse vomitando-a. Se fosse humana, teria caído e morrido, mas não era humana. Levantou uma mão para mim.

Galen se laçou diante de mim, e caiu sobre seus joelhos, as mãos na garganta, sua boca abrindo-se e fechando-se, mas sem expelir nenhum som. Não tive tempo para me horrorizar, ou me perguntar o que tinha feito. Ele tinha se sacrificado para que pudesse matá-la, porque nesse momento eu tinha esquecido que ela era a rainha, ou sidhe, ou algo. Simplesmente queria que ela se detivesse. A morte seria sua parada.

Minha voz saiu em um assobio, um som como o de uma faca que se tira de sua vagem, e a única palavra foi — Sangra! — O poder açoitou fora de mim, e golpeou aos homens ao longo de seu caminho, golpes oblíquos, como se uma espada que não se via deslizasse ao longo de suas feridas, extraindo sangue à medida que o encantamento os tocava.

A rainha o viu vir, viu seu perigo. Apertou seu punho e de repente foi como se o ar se voltasse sólido, e meu peito não pudesse elevar-se para respirar. Comecei a cair, mas não antes de que o encantamento a golpeasse, não antes de que visse o sangue fluir de sua boca, de seu nariz, seus ouvidos, seus olhos. Caí sobre meus joelhos, ao lado do corpo do Galen que se retorcia, mas ainda quando minha visão se nublou de cinza com estrelas brancas dançando pela falta de ar, vi Andais cair sobre seus joelhos. Olhou-me fixamente com seus olhos bordeados de sangue, e pensei que havia dito algo, mas tinha perdido. Meus ouvidos ressonavam com o grito silencioso de meu corpo, lutando por respirar. Caí sobre meu estômago. Inclusive enquanto morria, lutava por olhá-la.

Andais se derrubou como uma boneca rota, empapada de sangue,

com a cara para o chão. Não fez nenhum esforço para levantar-se. Só caiu e o sangue emanou dela como um lago escarlate.

A escuridão comeu minha visão, meu corpo lutava no chão contra sua magia, lutando por respirar, e não podia. Jazia no chão, pressionada para a morte por seu último encantamento, e embora meu corpo estivesse atacado pelo pânico, brigando por ar, não estava assustada. Meu último pensamento antes de que a escuridão que apanhava minha visão me deixasse cega foi, bem, enquanto ela não possa fazer mal aos demais, está bem. Então meu corpo deixou de lutar por respirar, e não havia nada, além da escuridão e a ausência de dor.


Capítulo 30


Estava de pé sobre uma montanha olhando para a terra. Podia ver a terra estender-se verde e rica até que se fundia com azul brumoso do horizonte, comparável a um oceano esmeralda de terra. Agüentei um glorioso momento a sós no topo dessa grande colina, e então soube que não estava sozinha. Não foi um som, ou um movimento, somente certo conhecimento que quando olhasse detrás de mim, haveria alguém. Esperei que fosse a Deusa, mas não era. Um homem estava de pé na brilhante luz do sol. Levava uma capa de tal forma que envolvia sua cara em sombras e formava redemoinhos no doce vento, ocultando seu corpo. Em um momento pensei que distinguia uns largos ombros, ao seguinte não tão amplos, a não ser uma cintura esbelta.

Era como se o corpo que a capa cobria trocasse constantemente enquanto o observava.

O vento estendeu meu cabelo detrás de minha cara e agitou sua capa ao redor dele. Com o que transportou uma fragrância a bosque e campo. Cheirava a páramo selvagem e a fresca terra de lavoura; mas sobretudo seu intenso aroma era um perfume impossível de descrever. Cheirava, a falta de um melhor termo, a macho. Mas era algo mais que isso. Era o rastro dos aromas de um homem enquanto te beija depois de te ter amado profundamente, te consumido com sua luxúria, te deixando saciada. Aquele aroma doce fazia que seu corpo se apertar-se e seu coração se enchesse. Se os fabricantes de colônia pudessem engarrafar, fariam uma fortuna, porque cheirava a amor.

Ofereceu-me sua mão, e como seu corpo a mão se alterou do mesmo modo enquanto caminhava para ele. O tom da pele, o tamanho da mão; era como se sua forma passasse através de muitas formas, até que a mão que tomou a minha foi a pele escura do Doyle, mas quando elevei a vista não era a cara do Doyle a que vi debaixo do capuz. Era sombras e espionagens de todos meus homens. Todos os que conheciam meu corpo passaram através da cara de Deus, mas os braços que me atraíram perto eram muito sólidos, muito reais. Me puxou como estou acostumada a me apertando com seu corpo, a capa fluiu a nosso redor, quase como se fossem asas. Coloquei minha cara contra seu peito, envolvi meus braços ao redor de sua cintura, e me senti completamente segura, como se nada jamais pudesse me danificar outra vez. Era como estar em casa, a caminho de casa, como se supõe, mas nunca realmente o está. Aprazível, contente, exatamente o que necessitava, e tudo o que alguma vez necessitei. Era um momento de paz perfeita. A perfeita felicidade, como se esse sentimento pudesse continuar para sempre.

Pensei por um momento, sabia que isto poderia ser. Poderia ficar aqui, sustentada nos braços de Deus, e poderia seguir adiante a um lugar onde isto era perfeitamente pacífico, perfeitamente feliz. Poderia avançar na paz que esperava, mas pensei no Doyle, Frost, Galen, Nicca, Kitto, Rhys, ah, a Deusa nos salva, Rhys. A rainha tinha tomado seu olho e o tinha deixado cego? Aquela paz perfeita foi golpeada por multidão de minhas lágrimas, e não podia me opor a elas.

Os braços que me sustentavam eram tão fortes, o peito com seu batimento de coração tão forte como estável, e que pulsava quietamente alegre cantando através dele. Ele não tinha se alterado, mas eu sim tinha feito. Se morresse, o que aconteceria a minha gente? Andais não estava morta, não podia estar morta, e quando despertasse sua ira seria uma coisa terrível.

Abracei a essa percepção da paz e alegria, aderi a isso do modo que um menino se adere a um pai quando teme à escuridão, mas eu não era um menino. Era a Princesa Meredith NicEssus, possuidora das mãos de carne e o sangue, e não podia descansar ainda. Não podia abandonar a minha gente para confrontar a cólera da rainha sem mim. Inclinei-me para trás o suficiente para examinar a cara de Deus. E ainda não podia vê-lo. Uns dizem que Deus não tem nenhuma cara, outros dizem que Ele é a cara de quem você mais gosta, uns dizem que Ele é a cara de quem quer que necessitasse que ele fosse. Não sei, só que para mim, naquele momento, Ele era sombras e uma risada. Já que Ele beijou-me, e seus lábios tinham sabor de mel e maçãs. Uma voz retumbava em minha cabeça, e isso sustentou tanto o retumbar profundo da risada do Galen como do Doyle: — Compartilha isto com eles.

Despertei, ofegante, meu peito pelo fogo. Tentei me sentar, e a dor me devolveu ao piso, me retorcendo, e o dano que me fazia tão mal que tentei gritar, e não tinha bastante ar para isso.

A cara do Kitto surgiu sobre mim. Ele sussurrou — Mãe de Deus. — Estava orvalhado com o sangue da cintura para baixo, e mais dele cobria sua parte superior. Não recordava que a rainha lhe tivesse feito mal. Tentei perguntar, mas somente o respirar me fazia tanto dano que não podia. Cada fôlego me fazia sentir como se facas agudas entrassem em meu corpo desde ambos os lados. Isto doía tanto, que quis me retorcer outra vez, mas sabia que se me movia o dano ia ser pior, tanto lutei, que minhas mãos se esmagaram contra o piso, lutando para me sustentar tão quieta como pudesse.

O piso estava molhado, e sabia que era sangue. Mas não recordava estar tão perto de todo o sangue. Era quase como se Kitto lesse minha mente, porque se inclinou sobre mim e disse — Arrastei-te no sangue sidhe. A mão de sangue pode dar de comer à sangue. — Teve que inclinar-se ao final porque havia tantos gritos. Vozes incrementadas de pessoas. Só podia agarrar fragmentos do ruído — a Terror Mortal está aqui... Ela matará-nos... loucura ...

Kitto se inclinou no final. — Merry, pode me ouvir?

Pronunciei um direto sussurro — Sim — Não entendi sobre que era a luta, mas pensei que entendia o que Kitto tinha pensado sobre o sangue. Tinha me arrastado para o sangue para tentar me curar. Talvez isto tinha ajudado, mas algo estava muito mal dentro de mim.

Doía ao respirar; era obsceno quando tentava me mover. Deus me havia dado minha vida, mas não estava curada. Inclusive pensei, entretanto, senti o beijo sobre meus lábios. Este zumbiu como se Ele me tivesse dado isso fazia um segundo. Cheirei maçãs frescas, e quando lambi meus lábios, ainda poderia provar o mel.

Galen entrou em meu campo de visão, usando suas mãos e braços para arrastar-se fazia desse modo para poder me olhar a cara. Sorriu, embora seus olhos sustentavam uma sombra da dor que sentia. Recordei-o retorcendo-se a meu lado, porque tinha recebido o primeiro raio de magia de Andais. Acredito que ela tinha quebrado a maior parte das minhas costelas, e provavelmente tinha feito o mesmo as ele. Tentei levantar uma mão para tocá-lo, e descobri que tinha suficiente fôlego para gritar. Meu grito cortou a briga melhor que qualquer espada. Quando os ecos de meu grito morreram, um silêncio tão espesso e pesado como nunca tinha ouvido encheu o quarto. Kitto tentou empurrar ao Galen para distanciá-lo, mas me enfrentei à dor e estendi a mão o bastante para que Galen posasse sua mão na minha, e esse único toque fluiu através de mim como um calmante bálsamo. Ajudou-me a me recostar contra o piso. Ajudou- me a aprender novamente como respirar, com cuidado ao redor da dor. Meus lábios fizeram cócegas, e era como se acabasse de morder uma maçã. A doçura rangente, suave se derretia sobre minha língua. Maçãs banhadas em mel; seu sabor encheu minha boca. Havia um eco em minha cabeça, uma voz que dizia: Compartilha-o com eles.

— Me beije —eu disse.

Um olhar tremendamente doloroso se originou na cara do Galen. Pensou que isto era um beijo de despedida. Eu esperava que não o fosse.

Fez pequenos sons à medida que se aproximava arrastando-se em minha direção para mim. Sabia que os ossos quebrados lhe cravavam cada vez que se movia, mas nunca vacilou. Engatinhou essas últimas poucas polegadas para colocar sua cara em cima da minha. Pôs seus lábios contra os meus delicadamente, mas à medida que meu fôlego saía e entrava em sua boca não eram maçãs e mel o que saboreei. Galen tem o gosto das essência de aromáticas ervas. Poderia provar o rocio, e sentir o suave bordo de uma folha de manjericão. Tinha sabor de manjericão, rica, espessa e quente. Manjericão ainda crescendo na terra, folhas estendendo-se ampliamente ao sol, e o rocio nas folhas.

Retrocedeu o bastante para sussurrar — Tem gosto de maçãs. Sorri-lhe. — E você como a ervas frescas.

Riu, e vi sua cara esticar-se, como se lhe doesse, então disse — Não dói. — tinha se esticado em previsão da dor. Respirou profundamente, fazendo que seu peito subisse e baixasse. — Não dói. — Sua risada foi tudo o que necessitei para saber quando disse — Estou curado. — Conseguiu fazer disso tanto uma declaração, como uma pergunta. Frost caiu de joelhos a nosso lado, uma de suas mãos estava apertada contra seu estômago. Ao princípio pensei que era o braço o que tinha prejudicado, então vi algo vermelho e volumoso empurrando ao redor do bordo de sua mão. Andais o tinha estripado. Consegui sussurrar seu nome — Frost.

Galen se afastou para que ele pudesse estar perto de mim. Frost tocou minha boca com as gemas de seus dedos. — Economiza sua força.

Pude saborear as maçãs outra vez, como se acabasse de morder uma, e o houvesse me banhado em algo espesso, doce e dourado. Não necessitei uma voz desta vez para saber o que fazer.

Frost retirou seus dedos de minha boca, a contra gosto, como se não quisesse deixar de me tocar. Sussurrei — Me beije.

Uma lágrima de prata se derramou por um olho, mas se inclinou. O movimento era lento e doloroso, e trouxe um som baixo a sua garganta. Finalmente ficou a meu lado, uma mão ainda segurava o estômago onde a rainha tinha enterrado sua faca, mas a outra mão tocou meu cabelo. O olhar sobre sua cara foi tão cru, que se alguma vez tivesse duvidado que me amasse, a dúvida se foi; por aquele olhar, que conhecia.

Beijou-me, delicadamente como um floco de neve, que se derrete sobre minha língua.

Era como se o inverno tivesse sabor. Não justamente como o frio no ar com a neve sobre a terra, mas como se minha língua lambesse ao longo de algum pedaço de gelo liso, frio, e a neve enchesse minha boca, e se fundisse em minha garganta como o mais doce dos cones de neve. Fundiu minha garganta, e quando sua boca se retirou da minha, nossos fôlegos empanaram o ar entre nós. Compreendi que podia respirar e a dor mais aguda se foi.

Frost ficou direito e afastou sua mão do estômago. Essa protuberância vermelha tão espantosa tinha ido. Deslizou sua mão para baixo por seu estômago e me olhou com amplos olhos surpreendidos.

Doyle estava ali, ajoelhando-se perto dele. Estendeu o ampla mão,

tocando a suave carne branca. Só quando deu a volta para me olhar vi a ruína que Andais fez de um lado de sua cara. A bochecha até seus formosos lábios se agitava solta. Esta era uma ferida que até um sidhe necessitaria que a costurassem para que sanasse. Sem um pouco de guia, a bochecha se curaria como esta desejasse, não como seu podia desejar.

Estendi a mão para ele, para compartilhar o poder de Deus, mas se afastou, e fez gestos a alguém detrás dele. Tentei me levantar da terra, tocá-lo, e a dor lanceada atravessou-me, esforcei-me em levantar minhas costas, dirigi a respiração de meu corpo outra vez. Estava melhor, mas a diferença do Frost e Galen, não estava curada. Dois dos guardas me puseram diante do Rhys. Dobrou-se entre eles, e a vista de sua cara me fez gritar. Não de horror, mas se de dor. Andais não tinha recortado o olho, como os trasgos o tinham feito faz muito, mas o tinha arrebentado. Não podia ver nada do formoso olho azul, perdido no sangue e esse líquido baixava rapidamente por sua cara. A pele ao redor da órbita estava retorcida a ambos os lados com as profundas feridas, dentadas que mostravam tanto o osso do crânio como o da bochecha. Via-se como se tivesse tentado cortar a pele ao redor de seu olho. A cicatriz do Rhys era simplesmente uma parte dele, e eu gostava de cada polegada dela, mas isto...

Isto era sua ruína. Estava real e verdadeiramente cego. A rainha se assegurou de que não pudesse curar-se disso, não com as capacidades de seu próprio corpo. Não com qualquer magia que nos tinha deixado.

Elevei a vista para sua cara, e senti a raiva como poucas vezes a tinha conhecido.

Raiva por sua perda. Tão inútil, tão insustancial. Não perguntei por que, porque não havia nenhuma resposta. O porquê era simplesmente porque sim, que não era nenhuma resposta absolutamente.

Entendi agora porque Doyle se afastou e tinha feito gestos para que me aproximassem do Rhys. Nunca antes tinha sido capaz de curar com meu beijo. Se a capacidade não durasse, Rhys o necessitava mais. Doyle cicatrizaria, mas ainda seria Doyle. A ferida do Rhys era da classe que desmoronava a um homem, ou o convertia em outra pessoa.

Os guardas intactos de Andais estavam rodeando-o, e tive um momento de cólera porque não tinham feito nada para parar isto. Ajudaram ao Rhys a ajoelhar-se, mas quando sentiu minha mão, retrocedeu. — Não me toque, Merry, não me olhe.

Foi Kitto, ainda ajoelhado no sangue que se esfriava, quem disse — Voltou das Terras Eternas com o beijo dos pássaros dentro dela.

Rhys moveu aquela cara cega, como se pudesse olhar ao Kitto. — Não acredito.

Eu em realidade não conhecia o termo beijo dos pássaros, mas faria as perguntas mais tarde. — Venha, Rhys, e me deixe demonstrá-lo.

Doyle empurrou aos outros para trás, e foram ele e Frost quem dirigiram Rhys. Sua cara estava coberta no sangue, mas não me encolhi por isso ou pelo intento de afastá-la. Era simplesmente outra parte do Rhys. Seus lábios estavam salgados com sangue.

Seus lábios tocaram osmeus, mas não me beijou. Tive que pôr minha mão detrás de seu pescoço, e o movimento me fez ofegar. Retrocedeu, e tentou afastar-se; só Doyle e as mãos do Frost lhe impediram de afastar-se — Ela esta ferida, também — disse Frost — tratou de passar suas mãos por detrás de sua cabeça e isso lhe causou dor. Esse não era um ofego por seu aspecto. — E Frost havia dito exatamente o que era necessário dizer. Porque Rhys deixou de tentar retirar-se.

— Como mal esta ela?

— Me beije, Rhys, e me sentirei melhor.

Desta vez veio, e não me fez me mover mais do que necessário. Desta vez quando nossos lábios se encontraram, beijou-me, e parecia necessitar que ambos o desejássemos, pois aquele beijo compartilhado era como se estivesse em casa, um sabor único, como se fosse o aroma de pão fresco, a lavanderia limpa, à fumaça de madeira, à risada, e a algo quente e espesso borbulhado no fogo. Rhys não tinha gosto como nenhum alimento em particular, mas seus lábios tinham a essência de tudo o que era bom e lhe fazia sentir contente, satisfeito, feliz.

Levantei minhas mãos para segurá-lo, sem pensar, mas a dor que isto me causou me fez ofegar e desapareceu sua sensação. Retrocedeu por fim, e aderi a ele, já que queria mais desse sabor. Abri meus olhos. Rhys piscou para mim. Aquele círculo inicial azul de petirrojo, céu de inverno, azul lavanda, baixou a vista para mim. Perdi-me entre a risada e as lágrimas, com o olhar fixo para ele, que me olhava com silenciosa admiração.

— A deusa seja louvada. — sussurrou tão baixo, que não acredito que ninguém o ouviu.

— O consorte seja louvado — sussurrei-lhe em resposta só para ele. Riu então, e algo dentro de mim se afrouxou ao ver isso; uma tensão que não sabia estava ali se desvaneceu. Se Rhys podia rir assim, então tudo estaria bem.

Rhys se afastou, e tomei o pulso do Doyle. Pretendia que fosse o seguinte, já que não sabia quanto tempo duraria esta bênção. Negou com a cabeça. Abri minha boca para insistir, mas Mistral apareceu, levando ao Onilwyn em seus braços. Sabia que Mistral e Onilwyn não eram amigos, mas neste momento os guardas pareciam unidos de um modo que ia além da amizade, ou de quem você gosta ou odeia. A cabeça do Onilwyn estava jogada atrás em um ângulo estranho, os músculos que a sustentavam em seu lugar estavam cortados. Sua coluna vertebral era uma brancura brilhante na espantosa ferida que uma vez tinha sido seu pescoço. A parte dianteira de sua roupa estava de uma cor azul violeta por seu próprio sangue. Sua pálida pele da cor do trigo, verde e fresco da terra, tinha sido branqueada até um branco esverdeado doentio. Só seus olhos verdes dourados dilatados e com um olhar fixo me deixava saber que certamente ainda estava vivo. O tinha talhado a garganta tão plenamente que sua respiração zumbia e vaiava, e gorjeava úmidamente pela parte superior de sua traquéia. Se tivesse sido humano sua garganta teria se paralisado pelo dano, mas não era humano, assim é que ainda respirava, ainda estava vivo, mas poder curar-se de algo semelhante a essa tão terrível ferida dependia de quanta magia própria ainda possuía. Houve um tempo quando os deuses mesmos nos benzeram, fizeram-nos Santos capazes de resistir uma decapitação, mas isso tinha sido há séculos. Nem todos podíamos nos curar de tal dano atualmente.

Existia a possibilidade muito real de que Onilwyn agüentasse durante uns dias, mas ao final, morreria. Não era um homem por quem teria desperdiçado semelhante bênção de Deus, mas por outro lado não a tinha dentro de mim para lhe virar as costas.

Ainda era um dos meus. Tinha arriscado tudo para ajudar a salvar a outros.

Encontrei o olhar fixo do Doyle, e soltei seu pulso, lentamente, a contra gosto, mas tinha razão. Ele poderia viver e curar suas feridas. Onilwyn não poderia.

Mistral se ajoelhou cuidadosamente, sobre o piso escorregadio pelo sangue, e procedeu a tombar ao Onilwyn a meu lado. Mas muita sangue tinha descido por sua traquéia e estava se afogando, e tratava de limpá-la, usando nada mais que os músculos de seu estômago e peito. Fez um horrível som de saturação agitando-se ruidosamente, então o sangue acabou por sair fora de seu pescoço, e efetuou respirações mais débeis, como se tivesse medo de que mais sangre fluíra de volta para baixo.

A Deusa nos ajude.

— Não acredito que possa sanar suas costas — disse Mistral, e sua voz tentou soar neutra, mas falhou. Estava zangado, e não podia culpá- lo.

— Não. — Tratei de me incorporar, mas a dor me tirou a respiração e me jogou de retorno ao ensangüentado piso. Esperei até que a dor diminuiu, logo disse — Kitto, me ajude a me inclinar sobre ele. Contemplou ao Doyle antes de fazê-lo, e quando Doyle assentiu, Kitto se moveu detrás de mim, mas Galen estava já ali. — Me deixe, Kitto, ela me curou, me deixe ajudá-la.

Kitto assentiu e retrocedeu.

Galen me levantou, com cuidado, em seu colo, para que minha cabeça e ombros estivessem embalados contra seu corpo. Não doeu, não muito — um pouco mais — disse.

Fez o que lhe pedi sem olhar primeiro ao Doyle. Estava quase sentada em cima, completamente sustentada por seu corpo, antes de que a dor chegasse, como uma faca, mas foi uma espada mais surda que a última vez. Poderia suportar — Aí, justo aí. — Galen ainda estava detrás de mim.

— Espera. — Foi a voz de uma mulher, assim é que devia ter sido a rainha, mas não soava como ela. — Espera — disse a voz outra vez, e essa única palavra estava cheia de dor.

Depois do que lhes tinha feito, a todos nós, um corpo pensaria que nenhum a teria escutado, mas o fizemos. Deveríamos havê-la amaldiçoado, mas não fizemos isso. Congelamo-nos, esperando que fizesse um lento avanço através do quarto.

Mistral tinha retrocedido apenas o suficiente para me deixar ver o outro lado do quarto. O piso estava marcado por um amplo caminho vermelho como se houvessem arrastado um pesado corpo que sangrava. Aquele sangrento caminho terminava na rainha. Sentou- se, apoiando-se contra a parede. Tinha atraído ao Eamon a seu colo, e eu nunca tinha sido tão consciente de quão grande era, ou possivelmente ela parecia menor. Seus largos ombros pareciam afligi-la. Era uma mulher alta, e sempre enchia mais espaço que somente o físico, mas agora estava sentada com o Eamon entre seus braços, com um braço envolto ao redor da perna nua, empapada pelo sangue do Tyler, e parecia pequena.

Mas tinha se curado. Sua ferida no pescoço tinha sido quase tão grave como a de Onilwyn, mas onde ele estava destroçado, ela tinha só uma incisão do tamanho de uma agulha em sua branca garganta. A ferida parecia fazer-se menor, enquanto olhava. Não perceptivelmente, não como se realmente pudéssemos ver a ferida fechar-se, mas sim como tentar ver as flores florescer. Sabia que passava, mas apenas podia perceber em realidade enquanto ocorria ante seus olhos. Era nossa rainha e isso queria dizer que o poder dos sidhe corria mais forte através dela que através de qualquer de nós. Olhei para trás ao Onilwyn, que jazia nos braços de Mistral como uma enorme boneca rota, então me voltei para nossa rainha com sua garganta quase curada.

A cólera me indignou. Se o que Adair havia dito ao princípio de tudo isto era exato, então ela tinha estado abusando dos guardas durante séculos. Como podia tratar semelhante presente tão mal?

— Espera — disse ela, outra vez, e vi algo que nunca pensei que veria,

lágrimas. A rainha chorava.

— Cura primeiro o Eamon, e o Tyler.

Olhamos para ela. Realmente tinha pensado que pediria que sanasse suas feridas primeiro. A rainha não compartilha a magia, monopoliza- a. Taranis, o rei do Tribunal da Luz, estava no mesmo caminho. Era quase como se ambos temessem que um dia a magia esgotasse-se, e soubessem que para governar nas Cortes, necessitava magia.

Quis dizer não, mas Amatheon falou antes que qualquer outro. — Sim, minha rainha. — Sua voz estava cansada, e espessa com algo como a pena. Dirigiu-se, rigidamente, a um ponto entre nossos dois grupos, a rainha com seus amantes feridos, e eu com os meus.

Tecnicamente, Onilwyn e Mistral não eram meus, mas de algum modo se sentia muitíssimo como se cada um deste lado do quarto não estivesse a seu lado.

Amatheon ainda movia o braço que lhe tinha aberto de um corte. As costas de seu casaco estava tão empapada em sangue que lhe tinha pego por detrás de seu corpo como uma segunda pele. — Tragam a princesa — disse.

— Também esta ferida, não pode mover-se — disse Galen.

— O que a rainha manda — disse Amatheon — devemos fazer. Traz a princesa.

Possivelmente estava muito cansado e tivesse muita dor para controlar sua cara, porque uma sutil fúria, profunda raiva brilhou naqueles olhos de pétala flor. Mas depois do espetáculo que Andais acabava de realizar, não era simplesmente o medo de perder seu formoso cabelo sidhe o que simplesmente lhe predispunha a obedecê-la.

Galen repetiu — Merry também esta ferida para mover-se.

— Podemos levar o Eamon à princesa. — A voz do Frost era neutra, sua cara uma máscara arrogante.

— Não — disse a rainha.

Galen inclinou sua cabeça sobre mim. Sussurrou — Não, não mais. Rhys a olhou com seu olho renovado. — Merry necessita um curador antes de ser movida.

— Eu sei — disse a rainha, e havia umas primeiras notas de cólera em sua voz. Os velhos tempos, erigindo sua desagradável superioridade. Galen se inclinou sobre mim o suficiente para bloquear minha visão — Não a deixarei te machucar outra vez.

Estava muito perto de mim para lhe olhar aos olhos; tive que me conformar com a suavidade de sua bochecha, a queda de seu cabelo. — Não faça nada parvo, Galen, por favor.

— Minha rainha, necessita ajuda? — disse Mistral.

Galen retrocedeu o suficiente para que pudesse ver. A rainha, que se havia visto pequena e tinha diminuído ao lado do Eamon estava de pé com o homem maior em seus braços. Inclusive ferida, levava-o facilmente, embora ele era quase duas vezes o peso de seu corpo. Ela era bastante alta, com o braço suficientemente largo, para lhe embalar. Ela era sidhe, e isso significava que poderia ter recolhido um pequeno carro.

Estava disposta a carregá-lo para nós nos olhando fixamente.

Não falou com ninguém e com todo mundo de uma vez — Peguem o Tyler, com cuidado, e lhe tragam, também. — Transportou ao Eamon até mim, e soluçava enquanto chegava. Se tivesse sido qualquer outro teria dito: Está aflita.

Ajoelhou-se a meu lado e deu um tropeções enquanto o fazia, me dirigindo uma risada sardônica. — Rachou-me a garganta , sobrinha, e fez um bom trabalho.

Tomei como o elogio que pensei que queria ser — Obrigado.

Ajoelhou-se ao meu lado, embalando ao Eamon em seus braços. — Cura-o para mim, Meredith.

O corpo do Eamon era uma massa de sangrentas punhaladas, tanto que seu peito parecia um filete abrandado. Seu coração tinha que ter sido perfurado várias vezes, mas era sidhe e seu pobre coração seguia golpeando, inclusive com um corte em cima. Não parecia que houvesse uma polegada intacta em seu peito, como se levasse uma camisa de sangue e carne.

Ela fez um pequeno som, quase um soluço. — Nuline trouxe um vinho,

compartilhamos ele, e partiu, e me voltei louca.

Lutei para manter minha cara em branco, porque Nuline era um dos guardas reais do Cel. Acusar ao guarda do príncipe era quase o mesmo que acusar ao Cel mesmo do envenenamento. Elas não faziam nada sem suas ordens, por medo do que faria-lhes. Se Andais era uma sádica, então necessitava uma palavra nova para o Cel. Nenhuma delas se atreveria a arriscar o descontentamento do Cel. Nenhuma envenenaria a rainha sem a permissão do Cel, ou ao menos acreditando que o tinham. Tinha dado a ordem desde sua prisão escura?

Doyle falou com cuidado com sua boca arruinada. — Não cheiro nenhum veneno.

— Há outros modos de usar seu nariz, Escuridão — disse ela.

Inclinou-se para sua cara, devagar, com muita dor. Quando esteve a uma polegada ou menos de sua cara, cheirou o ar. — Magia — sussurrou. Com muito cuidado lambeu sua bochecha, mas o movimento pareceu lhe fazer mal. Retrocedeu. — Sede de sangue.

Ela assentiu.

— Se estava no vinho, então por que não está Nuline aqui, morrendo ou matando? — perguntou Amatheon.

— É uma coisa da primavera e luz. Não há nenhuma sede de sangue para chamá-la — disse Andais. A rainha me olhou, e aqueles olhos de três cinzas estavam cheios de uma dor que não sabia que Andais fosse capaz de sentir — Eles estavam muito preparados. — disse,

`eles‘.

Faria aquele salto lógico ao Cel? Ou faria o que sempre fazia, e encontraria um caminho para não reconhecer sua culpa?

— Não havia sentido tal arrebatamento de loucura batalhadora durante séculos. Sentia-me tão bem. Cada ferida, cada dano que causei fazia crescer a sede de sangue. Havia esquecido o incrivelmente bem que se sente ao matar, não pelo resultado, ou a informação, ou invocar o medo, a não ser simplesmente por amor à arte. Quem quer que fez o feitiço conhecia meus poderes, intimamente — Andais estendeu uma mão manchada de sangre para mim. — Cura a meus Corvos, e matarei ao Nuline.

— Só a Nuline —eu disse.

— Matarei ao que me fez isto. — Sua voz era firme, mas havia uma cautela em seus olhos. Ela sabia o que significava. — Cura a meus Corvos, Meredith. — Sua mão tocou meu braço, e aquele toque vibrou através de mim. Fez que a magia que Deus tinha colocado dentro de mim soasse como um grande sino. Andais deve tê-lo sentido, já que olhou-me com os olhos muito abertos.

Galen sussurrou — O que é isso?

Doyle falou com cuidado por sua boca arruinada. — O chamada de Deus.

Ouvi a voz em minha cabeça: Todo o poder vem do líder. Entendi então, e o esperei fazê-lo. A razão de que os escuros não podia ter filhos era que Andais não podia ter filhos. A razão de que nossa magia se desvanecesse era que a magia de Andais tinha começado a desvanecer-se. Era nossa rainha, nossa líder.

Elevei a vista a sua surpreendida cara, e pronunciei as palavras que tinha que dizer: — Vamos, Tia, nos abracemos.

Inclinou-se sobre mim, e o gesto em sua cara foi quase involuntário, como se estivesse tão apanhada na magia como eu. Era minha tia, a irmã de meu pai, e me conhecia desde meu nascimento, mas em todos aqueles anos nunca tinha me beijado.

A pressão de seus lábios pareceu o toque da pele de alguma deliciosa fruta, com a pele magra e amadurecida contra sua boca. O aroma de ameixas amadurecidas encheu meus sentidos como se pudesse bebê- lo do mesmo ar, ou sorver de seus lábios. Minha boca foi pressionada contra a sua, e me abri para ela como se comesse um bocado da maturidade de sua boca.

Seu doce sabor avivado pela magia, despertou nela como um calor crescente, subindo até entrar em mim, para derramar-se brilhando tenuemente e ardendo ao longo de minha pele. O calor se mesclou com a melosidade adoçada da fruta, e pude sentir o sol do verão acariciando as consistentes e resplandecentes peles das ameixas como suspensas na robusta árvore. O opressivo calor do verão aderiu-se a nossa pele, encheram o mundo ao redor com o asfixiante perfume da fruta, tão amadurecida, tão pesada que estava lista para arrebentar sua sedosa e grosa pele, lista para deixar sua carne acariciada pelo sol e o entorpecido zumbido de abelhas. A fruta se sustentou em um momento perfeito de preparação, a respiração absolutamente perfeita.

Um segundo mais e cairia da árvore, arruinando-se; um segundo menos e não seria a coisa mais doce que alguma vez provasse a boca mortal.

Voltei em mim com a piscada de um olho. Abri meus olhos e encontrei a Andais como algum sonho prateado, brilhante tão brilhante que fazia grupos de sombras ao redor de tudo no quarto. E compreendi que não era somente ela quem fazia trementes sombras pelo quarto. Tinha visto brilhar minha pele como a luz da lua, mas nunca como isto. Era como se minha pele estivesse cheia de um fogo branco, quase prateado com ardente magnésio. Uma flama tão clara e pura que o cegaria se a contemplava muito tempo.

Andais e eu fomos como duas estrelas entrelaçadas, uma branca e outra chapeada, ambas o suficientemente brilhantes para cegar. Mas não fui cegada. O brilho não fez mal a meus olhos. Podia ver sua cara como um pouco parecido a uma coisa brumosa, com os olhos fechados. Tive que me retirar para ver seus lábios como granadas cortadas perdidos no fresco fogo, prateado.

Seus olhos piscaram abrindo-se, lentamente, como se tivesse estado dormindo.

No momento em que abriu seus vertiginosos olhos cinzas se serenaram, como o fôlego de um dragão, suave e aferrando-se como névoa. Havia coisas nessa névoa, coisas que não queria ver. O cabelo em meu corpo subiu com a cercania dessa presença meio definida, minha pele se estremeceu, com essas sombras correndo. O medo rodeou minha garganta, e nesse momento compreendi que estávamos ambas ajoelhadas uma ao lado da outra.

Não podia ver ninguém mais através da névoa de seus olhos.

Sustentei-a em meus braços enquanto seus olhos sangravam empanados na incandescências gêmea de nosso poder.

A névoa cheirava a umidade, fria e úmida, mas sobretudo ainda podia cheirar o perfume de fruta, perfeita, esperando. Esperando para ceder sua doçura naquele momento perfeito quando o mundo sustentou sua respiração e esperou pela mão que chegaria a esta mulher perfeita, este oferecimento perfeito, e lhe daria a glória que lhe era devida. Inclusive enquanto pensava, sabia que fui tocada Por Deus. Mas com o poder de Deus me enchendo, ela era formosa. O cabelo das asas do corvo, os olhos de névoa e sombra, pele formada de luz das estrelas e brilho de lua, lábios da cor do sangue do coração. Era uma beleza terrível, algo que chamaria a seu corpo e faria a seu coração gritar. Também sabia que se minha magia tivesse sido diferente, teria havido uma fruta diferente nesta árvore, e me alegrei de poder convocar a Corte da Luz através de meu sangue. Deus havia me tocado, e estive de volta ao perfeito momento quando até um fôlego danificaria tudo, e havia uma única coisa para fazer. Honrar o presente.

Beijei aqueles lábios de granada carmesins, e encontrei que meus próprios lábios, eram como profundos rubis vermelhos, e era como combinar duas jóias separadas. Senti minhas mãos aos lados de sua cara, e encontrei os ossos de sua delicada cara, frágil sob minhas mãos. Minhas mãos eram menores que as suas, tinham que ser, mas durante esse momento eram o bastante grandes para cavar sua cara e sustentá-la, amavelmente. Me voltei durante esse momento ao sol, tudo o que era masculino, tudo o que era o melhor do que significa ser masculino, em sua alta destreza, o rei do verão, Lorde da verde madeira. Beijei-a como ela deu a entender que devia ser beijada, suave, firme, segurada em mãos maiores que as minhas, contendo uma força maior que a sua, e mais sensível para isto, mais cuidadoso para ela. Beijei-a como se ela se rompesse. Então pressionou o beijo, seu poder derramando-se através de minha boca, e o beijo se converteu em um pouco menos cauteloso, mais seguro de si. No convite de seus lábios, suas mãos impaciente sobre meu corpo, o poder da verde madeira cavalgou através dela, a atravessou. Separou sua boca da minha e gritou.

Nossos poderes caíram sobre cada uma de nós, e durante uns brilhantes momentos a incandescência chapeada e branca se fundiram até que só houve uma incandescência, um fogo. Não foi sua cara a que vi. Esta cara era jovem, com o espesso cabelo castanho e os olhos risonhos: a seguinte cara era ruiva e de olhos verdes; então o cabelo foi como branco algodão limpo e a pele quase lívida. Mulher depois de mulher se deslizou ante meus olhos, e senti a mim mesma mudar, também. Mais alta, mais fugaz, mais larga, áspera, de cabelo escuro, pálida pele, escura pele. Fui muitos homens, todos os homens, nenhum homem. Fui Lorde Summer e sempre o tinha sido. E a mulher ante de mim era minha noiva, e sempre o tinha sido. Era uma eterna dança.

A primeira coisa que notei foi que era e não era deste mundo e o seguinte foi que meus joelhos doíam. Estava ajoelhada sobre pedras.

O segundo foi a mulher que sustentava-me, acariciando meu cabelo. Manteve-me tão perto que podia sentir seus peitos menores pressionados contra os meus.

Andais me sorriu, e parecia mais jovem, embora sabia que não era exatamente isso. Seus olhos estavam brilhantes, e seus lábios vermelhos escuros sorriram para a mim, porque ajoelhada ainda era mais alta.

— Estás curada? — perguntou-me.

No momento em que perguntou, compreendi que tinha esquecido que estava ferida, mas inspirei profundamente e me senti ... bem. Não, melhor que bem — Sim —eu disse.

Sorriu iluminando-se com algo próximo a um sorriso sarcástico.

Andais não sorria abertamente.

— Olhe o que nossa magia tem feito. — gesticulou ao redor do quarto. Onilwyn se ajoelhou, com um olhar um pouco aturdido, mas sua garganta estava nívea e perfeita outra vez. Eamon estava sentado, e não havia nenhum buraco em seu peito. Doyle se voltou com sua perfeita cara, e fez um assentimento com a cabeça, quase uma reverência.

— Estão todos curados.

Tyler, o humano que quase tinha matado, estava rinda e chorando ao lado de Mistral. Acredito que falou por todos nós quando riu bobamente e disse — Essa foi absolutamente a sensação mais assombrosa. Foi como ser iluminado.

Olhei para trás a Andais. Havia um olhar em seus olhos que inquietava, calculavam, e algo mais, algo novo. Compreendi que ainda me mantinha muito perto.

Tentei me mover para trás, e seus braços me apertaram, mantiveram nossos corpos apertados juntos. Não era mais que a escolhida Por Deus. Não fui nada mais que uma confrontação para seu poder, ou qualquer outra coisa.

O sorriso que me dirigiu foi o que só tinha tido para seus amantes, e ao vê-lo em sua cara senti uma pontada escorregando por minha pele.

— Se fosse um homem tomaria em minha cama para o trabalho desta noite.

Não estava segura do que dizer, mas sabia que tinha que dizer algo. — Obrigado por tal elogio, Tia Andais.

Ergueu sua cabeça a um lado como quando um falcão está espiando a um camundongo. — Me recordar que é minha sobrinha não te manterá fora de minha cama, Meredith. Nos parecemos com a maior parte das divindades, freqüentemente nos casamos entre parentes, ou nos fodemos. — então riu, e desta vez era melhor, um som mais puramente divertido que qualquer outro que alguma vez lhe tinha ouvido — O gesto de sua cara. —riu outra vez, e me fez ir.

Levantou-se, e se arrumou, e até esse pequeno movimento impulsionou uma pontada de poder ao longo de minha pele. — Sinto- me tão bem. — olhou para baixo, a mim e ofereceu-me sua mão. Tomei e a deixei me ajudar a me pôr em pé. Manteve minha mão na sua, me mostrando uns olhos muito sérios. — Vamos, Meredith, vamos matar ao traidor que tentou enlouquecer a sua rainha. Doyle me diz que também temos que encontrar um assassino.

Perguntei-me então quanto tempo tinha estado insensível. Tudo o que disse em voz alta foi — Como minha rainha desejar.

Atraiu-me repentina e bruscamente contra ela, pondo meu braço atrás de suas costas com sua mão ainda segurando-o — Estou agradecida, Meredith, muito agradecida por este presente de magia, mas não me interprete mal. Se pensar que te colocando em minha cama posso voltar a fazer essa magia, farei-o. Se pensar que te enviando aos braços de qualquer um, seu nível de magia pode renascer, enviarei-te. Está claro?

Traguei e suspirei antes de lhe responder — Sim, Tia Andais, está claro.

— Então dê um beijo em sua tia.

Que mais podia fazer? Depositei um ligeiro beijo em seus lábios, e deslizou seu braço pelo meu, aplaudindo minha mão como se fôssemos as melhores amigas. — Vamos, Meredith, vamos matar a nossos inimigos.

Teria sido muito mais feliz acompanhando-a ao salão do trono se não houvesse continuado me tocando. Não foi tanto o toque de um amante, a não ser quase como quando acaricia a um cão. Algo que acaricia por comodidade, e porque não pode dizer não.


Capítulo 31


Conseguimos chegar só até o manancial. Este borbulhava e cantava entre as pedras. A rainha se deixou cair sobre seus joelhos diante dele. — -Não tinha visto esta água fluindo em quase trezentos anos — Olhou fixamente pra cima de seus joelhos — Como isso veio parar aqui?

Os homens se voltaram e me olharam. O olhar foi mais eloqüente que qualquer palavra.

— Você, fez isso, não é? — perguntou, e sua voz continha um ronrono pouco amistoso, como se nós não fôssemos as melhores amigas. Eamon, que tinha ficado perto depois de sua milagrosa cura, pôs uma mão em seu ombro. Esperava que sacudisse longe sua mão, mas não o fez. Seus ombros se inclinaram sob seu toque, sua cabeça arqueada. Quando levantou sua cabeça, havia um sorriso em sua cara mais tenra do que eu nunca lhe tinha visto antes.

Fez sua pergunta outra vez, com uma voz que ia de acordo com seu sorriso, mas toda a atenção de seu rosto era para o Eamon. — Trouxe a primavera à vida, sobrinha?

Era uma pergunta com a armadilha que deu a entender. Se dissesse que sim, então estaria demandando mais crédito de que eu merecia.

— Adair e eu.

O aprazível olhar abandonou seu rosto quando deu a volta para mim. — Você deve ser muito boa de cama. Uma rápida fodida e ele arrisca sua vida pela tua.

Estava perplexa pela maior parte do que disse, mas particularmente pela última parte. — Se ele me fodeu, foi sob suas ordens. O castigo de morte por romper o celibato ainda se aplica. Aos guardas sempre lhe permite ter sexo se a rainha deseja.

Algo de sua cólera caiu em seu olhar que não pude decifrar. Recordei as palavras do Barinthus a respeito de que sua mente era mais difícil de manter distraída do que sua virilha tinha sido. — Não viu o heroísmo do Adair, então?

Olhei-a, lutando por manter minha expressão neutra. — Não entendo o que quer dizer, tia.

— Quando me sangrou, depois de que Galen teve suportado um pouco da minha adaga, Adair se lançou em meu caminho também — Não parecia agradada — Como disse, deve foder como uma cortesã. Deusas sangrentas da fertilidade, sempre acreditei que fossem tão maravilhosas.

Não estava segura se admitisse que Adair e eu não tínhamos tido sexo poderia agradá-la ou enfurecê-la. Por isso não disse nada. Ao que parece, Adair e todos os outros que tinham sido testemunhas pensaram a mesma coisa, posto que ninguém disse nada.

A mão do Eamon apertou gentilmente seu ombro. Ela acariciou sua mão, sem embargo disse — Adair, vêem a mim.

Os guardas se separaram e Adair caminhou para frente, parando a meu lado.

Arriscou uma olhada para minha cara, logo se deixou cair sobre um joelho em frente da rainha. Sua cabeça estava inclinada, de modo que seu rosto estava oculto dela. Esta era a conduta apropriada, mas eu tinha visto a raiva em seus olhos antes de que se ajoelhasse. Teria que dominar melhor seu rosto do que isso ou ele não perduraria na corte, em nenhuma corte.

Olhei para baixo, ao lugar onde estava ajoelhado, dourado e perfeito,

exceto pela falta de cabelo. Era imortal, e uma vez tinha sido um deus, e tinha arriscado tudo para me ajudar. A rainha tinha me prometido que todos os Corvos que tomasse em minha cama seriam meus. Seriam meus guardas, já não os seus.

Tecnicamente ela não podia danificá-lo, não se acreditava que tínhamos tido sexo.

Certamente, o mesmo era certo para o Doyle, Galen, Rhys, Frost, Nicca e, embora ela não soubesse, Barinthus. Mas sua promessa não tinha mantido a meus verdadeiros guardas a salvo. De fato, louca ou não, encantada ou não, o que ela tinha feito mal significava que podia romper sua palavra. Eu tinha prometido mantê-los a salvo, e, ainda morrendo para demonstrar isso, minha promessa seguia em pé. A sua estava rota. Ela era uma mentirosa. Os sidhe tinham sido expulsos do mundo dos duendes devido a tais coisas. O problema era que a única pessoa que podia exigir esse nível de fé era ela mesma.

— Galen e Adair tomaram golpes que foram dirigidos à princesa. Os próprios guardas da princesa aceitaram golpes que foram dirigidos a Eamon e a Tyler —Um olhar de dor cruzou seu rosto, e sustentou a mão do Eamon no lugar onde jazia sobre seu ombro. — Estou agradecida de que os homens de Merry me salvassem de destruir tudo aquilo que me resulta querido. Mas nenhum dos corvos lançou a si mesmo no caminho de Merry. Nenhum de meus guardas tratou de me ajudar quando a batalha se declarou, ainda que este não fosse um duelo declarado. Só um duelo declarado teria liberado a meu guarda de me proteger.

Mistral se deixou cair sobre seus joelhos ao outro lado da rainha, embora notei que estava justo fora de alcance. Não era que isto realmente ajudasse se as coisas terminassem mau. — Você nos ordenou que nos ajoelhássemos e não nos movêssemos, minha rainha. Sob a pena de nos reunir com seu humano contra a parede — Dirigiu-lhe um olhar que era uma mescla de rogo e cólera. — Nenhum de nós se arriscaria a sua cólera.

— Mas isso não é tudo, Mistral. Isso eu poderia perdoar. Ouvi outros falando de me matar. De tomar minha própria espada Terror Mortal e me matar antes de que despertasse. Ouvi a traidora conversa. Recordei pedaços de minhas próprias conversas. Esta linha de raciocínio não podia terminar em nenhum lugar ao que quisesse que chegássemos. Mas como distrai-la?

A voz profunda do Doyle proveio no nervoso silêncio — Não deveríamos nos ocupar de Nuline, que é a verdadeira traidora das cortes, antes de nos culpar pelo o bate-papo indiscreto?

— Eu digo do que e quem nos ocuparemos primeiro — disse ela.

Eamon se ajoelhou a seu lado, e ainda ajoelhado era maior que ela. Nunca antes tinha apreciado quão amplos eram seus ombros, quão física era sua presença. Ele sussurrou algo contra um lado de sua cara.

Ela sacudiu sua cabeça. — Não Eamon, se eles não me protegerão, se preferirem me ver morta, então eles podem voltar-se e unir-se a nossos inimigos. Seremos sitiados desde duas frentes. Nunca deve deixar a um inimigo detrás de ti.

— Não é melhor lutar uma guerra em uma frente em lugar de em duas frentes? — perguntei.

Elevou a vista para mim, perplexa. Não sabia se estes eram os efeito secundários do encantamento, ou algo mais, mas não era ela mesma.

— Sempre é melhor lutar uma guerra em uma frente, em vez de duas — disse, por fim. — É por isso que os traidores a meu redor devem morrer primeiro.

— O encantamento foi realizado para lhe fazer assassinar a seus guardas — eu disse, em um tom em que se fala com um menino lento — Se os executar agora, estará fazendo exatamente o que seus inimigos desejam.

Olhou-me com o cenho franzido. — Há lógica no que diz. Mas a conversa a respeito de matar a sua rainha não pode ficar impune.

— E qual é o castigo por não respeitar uma promessa entre nós? — perguntei.

— Um rompimento de palavra? — disse ela.

— Sim.

— Morte ou desterro do mundo dos duendes — disse, e sua voz soava segura, embora seus olhos continham algo. Ou ela tinha visto a armadilha ou estava preocupada com algo mais.

— Jurou-me que todos os homem que tivessem sexo comigo poderiam ser meus guardas, os guarda-costas da princesa, já não mais os Corvos da Rainha.

Olhou-me carrancuda — Recordo isso.

— Também prometeu que não lhes faria mal sem minha permissão, tal como não se pode machucar a seus guardas sem sua permissão. Franziu o cenho mais profundamente ainda. — Prometi-te isso?

— Sim, tia Andais, prometeu.

Ela olhou para a borbulhante primavera — Eamon, você testemunhou essa promessa?

Eamon elevou a vista para mim, e algo em seus olhos me avisou que ia mentir — Sim minha rainha.

Eamon não tinha estado na habitação quando Andais fez a promessa.

Ele tinha mentido por mim. Não, não por mim, por todos nós.

Andais suspirou. — A promessa da rainha deve ser inviolável — ficou em pé e olhou-me — Tenho quebrado minha promessa, princesa Meredith, mas também resulta que sou a rainha aqui. Temos um dilema nas mãos.

— Dado que a promessa foi feita , logo a ofensa foi feita.

— Então poderia perdoar isso — disse — mas assumo que esse perdão tem algum preço — Seus olhos eram vigilantes, e havia uma advertência neles que não podia ler. Havia algo nela que tinha medo do que lhe pedisse, e que não tivesse o desejo de me dar isso.

— Sou sangue de seu sangue, tia. Como poderia ser de outra maneira?

— E qual é seu preço, minha sobrinha?

— Um preço por cada um dos homens que prejudicaste.

— Um preço de sangue então — disse.

— É meu direito.

Seu rosto se pôde tão fechado e impenetrável como alguma vez eu o havia visto. — E que sangue demandaria?

— O preço de sangue pode ser pago em outra moeda —eu disse.

Um olhar se deslizou por seus olhos, quase de alívio, logo assentiu — Pede.

— Qualquer guarda que falou a respeito de Terror Mortal deve ser perdoado. Permitirá a todos armar-se antes de ir à sala do trono. Mostraremo-nos como uma frente unida em frente do resto da corte, até que os supostos assassinos sejam pegos e executados.

Ela assentiu — De acordo.

Os guardas vestiram suas armaduras, algumas das quais se parecia com as peles dos animais ou aos duros e brilhantes cascos dos insetos, e algumas das armaduras que se viam como mais cavalheirescas tinham cores que nenhum aço trabalhado por um humano poderia ter alcançado. A rainha foi para a parede e tocou as pedras. Um pedaço da parede desapareceu e não houve nada mais que escuridão em seu lugar. A rainha colocou a mão naquela escuridão e tirou uma espada curta cujo punho tinha três corvos cujos picos sustentavam um rubi quase do tamanho de meu punho e suas asas se estendiam para fora, chapeadas, para formar o guarda. O nome da espada era Terror Mortal, e era um dos últimos grandes tesouros deixados a Corte do Ar e da Escuridão. Esta arma, de entre todas nossas armas, podia trazer a morte verdadeira aos sidhes. Uma ferida mortal feita com esta espada era mortal para todos.

Também podia perfurar a pele de qualquer duende, não importando sua magia ou a que substância chamasse carne.

Deu a volta para mim com a espada na mão, e não temi, já que ela não tinha nenhuma necessidade dessa magia se quisesse me matar. Apartou a vista da folha da espada, lhe permitindo capturar a luz. — Ainda não sou eu mesma, Meredith. Minha mente está meio sob os efeitos do encantamento. Não tinha me permitido tal rendição para o assassinato em séculos, tão somente devia ser usada contra os inimigos — Elevou a vista, e havia dor em seus olhos. Um duro conhecimento. Sabia que nenhum dos guardas do Cel a teria desafiado para tal coisa sem seu conhecimento, sem sua aprovação.

Ele não havia dito, matem a minha mãe, desde sua cela. Não, deve ter sido mais nas entrelinhas, ?Ninguém me liberará desta mulher inoportuna? Alguma coisa, que de se ele fosse interrogado, poderia sinceramente negar ter dado a ordem. Negar o conhecimento de que eles tomariam suas palavras de cólera e as fariam reais. Mas isto era um trocadilho, e meias verdades, e mentiras por omissão. O olhar em seus olhos era o de alguém que não podia permitir-se mais verdades pela metade.

— Temi pela saúde de meu filho, Meredith — sua voz continha uma nota de desculpa. — Permiti que uma de suas guardas fosse para ele e lhe tirasse a luxúria das Lágrimas do Branwyn antes de que se voltasse louco.

Só a olhei, e meu rosto não mostrava nada, porque não sabia o que sentia nesse momento.

— Permitiu que uma de suas guardas fosse a ele e lhe debilitasse a luxúria das Lágrimas do Branwyn, para salvar sua mente, e esta mesma noite, outra de suas guardas lhe fez um encantamento que te conduziria a fazer pedaços seu mais poderoso amparo.

Seus olhos estavam assustados — Ele é meu filho.

— Eu sei —eu disse.

— É meu único menino. Assenti — Entendo.

— Não, não entende. Não entenderá até que tenha tido seus próprios filhos. Tudo o que pode entregar é a pretensão de simpatia, um sonho de entendimento, um pesadelo de coisas que pensa que entende.

— Tem razão, não tenho filhos, e não entendo.

Ela sustentou Terror Mortal para a luz, como se ela pudesse ver mais em sua magra superfície do que havia ali para que visse. — Ainda não estou sã. Posso sentir a loucura em meu interior agora, posso sentir no que me converti. Tive esta sensação antes, mas agora me pergunto se meu amor pela visão do sangue de outros foi promovida. Promovida por anos, possivelmente.

Não sabia que dizer a respeito, por isso não disse nada. O silêncio estava bem quando algo do que disser pode ser entendido tão mal.

— Eu verei a Nuline morta, e àqueles que estão por trás do ataque contra ti, minha sobrinha.

— E se eles forem a mesma gente? — perguntei.

Seus olhos piscaram para mim — E o que tem se eles forem?

— Decretou que se qualquer das pessoas do Cel tentasse me assassinar enquanto ele ainda estivesse na prisão, a multa seria sua vida.

Fechou seus olhos e apoiou a testa contra a superfície da espada. — Não me peça a vida de meu único filho, Meredith.

— Não pedi.

Ela me deixou ver a famosa cólera em seus olhos. — Não fez isso?

— Simplesmente repeti as palavras da rainha.

— Nunca gostei de ti, minha sobrinha, mas tampouco te odiei. Se me força a matar o Cel, odiarei-te.

— Não sou eu quem forçará sua mão, Rainha Andais, é ele.

— Eles poderiam ter atuado sem seu conhecimento — Inclusive enquanto dizia isto, seus olhos demonstravam que ela não acreditava. Não estava o bastante louca para acreditar nisso nunca mais.

Olhou-me, e algo passou através de seus olhos de três cinzas, com seus anéis de negro que deixavam cada cinza mais escuro e rico devido a eles, como se tivesse usado delineador de olhos dentro de sua próprias íris.

— Longe de mim me queixar se estamos falando a respeito de matar ao Cel —disse Galen — mas todo mundo sabe que qualquer atentado contra Merry enquanto Cel permanece encarcerado significa uma sentença de morte para ele.

— Se pudermos demonstrar que sua gente é a responsável — disse Mistral.

— Mas acaso não vê, Nuline é parte de sua guarda. Se Nuline trouxe o encantamento, então deve ser Cel quem enviou ela, mas e se não foi?

— Estou escutando — disse Andais.

— Nuline é como eu, ela não é boa nas políticas da corte. Não é boa no engano. O que disse quando lhe trouxe o vinho?

— Que ela sabia que era um de meus favoritos e que esperava que seu doce sabor recordasse-me quão doce meu filho podia ser — Andais franzia o cenho agora — As palavras realmente soam a um discurso entregue a ela por alguém mais — Sacudiu sua cabeça — Sou a Rainha do Ar e da Escuridão, não temo as tentativas de assassinato. Possivelmente essa arrogância me tem feito descuidada — disse lentamente, como se realmente não acreditasse.

— As pessoas freqüentemente oferecem seus obséquios — disse Mistral — É uma forma de adulação.

— Um oferecimento a mais em uma montanha de oferecimento passará inadvertido — disse Doyle.

— Temos que saber onde Nuline conseguiu o vinho — disse Galen. Andais assentiu — Sim, sim, faremos isso — Havia algo em sua voz que eu não gostava.

Era um ronrono de ódio. Ódio que a cegaria de verdade,

especialmente se quisesse estar cego. Ela disse — Me tragam minha Escuridão.

Doyle veio a seu chamada, mas ficou a meu lado. — Sou, por suas próprias palavras a Escuridão da princesa agora.

Ela agitou a mão, como se isso não significasse nada. — Te chame como você melhor goste, Escuridão. Só pergunto se é capaz de rastrear este encantamento para seu proprietário.

— Não poderia rastreá-lo de sua pele, mas a garrafa ainda está aqui. Este é um encantamento muito poderoso para não deixar um rastro,

uma assinatura daquele que o realizou. Se posso cheirar sua pele, provar seu suor, então, posso rastreá-lo para seu proprietário.

— Então faz isso — disse, e me olhou antes de dizer. — onde quer que nos conduza este rastro, seguiremos, e o castigo será rápido.

Olhei-a, temerosa de acreditar que ela tinha querido dizer o que esperava que queria dar a entender.

— Ouvido e testemunhado — disse Barinthus.

A rainha não o olhou, só me olhava . — Aqui, Merry, outro juramento que pende sobre minha cabeça.

— O que quer que diga, tia?

Ela tomou um fôlego profundo e o soltou lentamente. Seu olhar fixo escapou por meu rosto e encontrou um pedaço de parede para olhar, como se não quisesse que ninguém pudesse ler seus olhos nesse momento. — O que faria se fosse eu, sobrinha?

Abri a boca, fechei-a e pensei. O que faria eu? — Enviaria os sluagh. Então ela elevou a vista, seus olhos endurecidos como se estivesse tratando de ver através de mim. — Por quê?

— Os sluagh são os mais temidos entre todos os da Corte do Ar e da Escuridão. Os mesmos sidhes lhes temem, e eles temem a poucas coisas. Com os sluagh a suas costas, assim como com os Corvos, ninguém tentará um ataque direto.

— Você acha que alguém me desafiaria a me atacar, nos atacar — fez gestos para os cavalheiros que esperavam — de frente?

— Se o encantamento tivesse seguido seu curso, tia Andais, teria assassinado a todos seus guardas, e então, sem ninguém a quem matar nesta habitação, onde teria ido? O que teria feito?

— Teria encontrado a outros a quem matar, qualquer outro.

— Teria acabado na sala do banquete onde há sidhes que não se teriam ficado parados ociosamente enquanto os cortava pela metade — eu disse.

— Teriam procurado uma razão para meu comportamento — disse.

— Não acredito que fizessem isso. Você assassinou e aterrorizou esta corte por muito tempo. O que te vi fazer esta noite não está tão longe das coisas que te vi fazer antes.

— Antes, a maior parte da matança tinha um propósito — disse — Meus inimigos me temem.

— A matança feita friamente, e a matança feita no calor da loucura se vêem iguais quando está no final errado —eu disse.

— Fui essa tipo de tirana que a corte inteira acreditaria isso de mim? O silêncio na habitação se fez o bastante espesso como para que nos envolvesse abrigados. Para nos abrigar e nos afogar porque nenhum de nós sabia como responder à pergunta sem lhe mentir ou encolerizá-la.

Soltou uma risada amarga. — Há resposta suficiente em seu silêncio — Roçou sua cabeça como se doesse. — É bom ser temido por seus inimigos.

— Mas não por seus amigos —eu disse, brandamente.

Ela me olhou, então. — Ah!, minha sobrinha, já não aprendeste que um governante não tem amigos? Existem inimigos e aliados, mas não amigos.

— Meu pai tinha amigos.

— Sim, meu querido irmão tinha amigos, e o mais provável é que eles o tenham matado.

Lutei contra a labareda de cólera em meu interior. A cólera era um luxo que não podia me permitir. — Se eu não tivesse estado hoje aqui com a mão de sangue, para te sangrar e extrair o veneno mágico fora de seu corpo, poderia estar morta também.

— Tenha cuidado, Meredith.

— Fui cuidadosa toda minha vida, mas se não formos ousados esta noite, nossos inimigos nos darão a ambas por mortas. Possivelmente se supunha que Cel esta noite também morreria. Por me matar, e a ti. Isto limparia o caminho ao trono para outras linhagens.

— Ninguém seria tão tolo —disse.

— Ninguém na corte sabe que possuo a mão de sangue, entretanto, por um capricho da magia, isto poderia ter trabalhado exatamente como eles o haviam planejado.

— Bem, chamo os sluagh, e depois o quê?

— Se eu fosse você, ou se fosse eu? — perguntei.

— Qualquer uma, ambas — Novamente ela estava me estudando, tratando de me compreender.

— Poria-me em contato com o Kurag, o Rei Trasgo, e lhe advertiria, e lhe faria trazer mais trasgos dos que habitualmente lhe permitem em nosso reino.

— Acha que lançaria seu rebanho de trasgos junto a ti contra todos os sidhe da Corte do Ar e da Escuridão?

— Se lhe desse uma opção, então não, mas ele não tem opção. É meu aliado por juramento, e me negar sua ajuda seria uma abjuração, perjurio. Os trasgos matarão a um rei por isso.

Ela assentiu — Três meses a contar de agora, e ele já não será seu aliado.

— Em realidade, quatro —eu disse.

— Eram só seis meses, e a metade já se foi — disse ela.

— Certo, mas Kitto é agora sidhe, e por cada trasgo meio sidhe que traga a seu poder, ganho um mês da ajuda do Kurag.

— Você foderá a todos eles? — Isto foi dito sem ofensa, como se fosse a única forma em que soubesse como fazer a pergunta.

— Há outras formas de trazer para alguém seu poder.

— Não sobreviveria em um combate mano a mano com um trasgo, Meredith.

— Kurag esteve de acordo em que poderíamos ajudar à princesa a trazer sua gente — disse Doyle. Tocou meu braço, e em qualquer outro, haveria dito que estava nervoso. Mas este era a Escuridão da Rainha; Doyle não ficava nervoso.

— A maioria não estarão de acordo em lutar contigo, Escuridão, ou contra o Assassino Frost. Escolherão entre aqueles da guarda de Meredith a quem acham que podem derrotar. Mataram a seus homens — Voltou-se para mim. — Como evitará isso uma vez que a luta esteja pactuada?

— Escolherei aos campeões —eu disse. — Lutarão com os guerreiros da minhas escolha, não da deles.

— Assumo que escolherá a Escuridão e Frost.

— Provavelmente —eu disse.

— Muitos rechaçarão lutar com eles, então pergunto de novo, está disposta a levar a cama a todos os trasgos que se alinharão para provar um pouco de sua resplandecente carne?

— Farei o que disse que faria.

Ela riu. — Nem eu chegeui tão baixo para ir à cama com algum trasgo. Eu teria pensado que isso estava muito fora da boa sociedade para ti.

— Acredito que você gostaria do sexo com os trasgos. Eles gostam do selvagem.

Ela olhou além de mim, e me dei conta de que estava olhando ao Kitto, que tratava de estar o mais próximo e o mais invisível possível de uma vez. — vê-se um pouco frágil para minha idéia de selvagem. Kitto se retirou ainda mais, detrás de mim e do Doyle, e do Galen. Movi-me só o suficiente para atrair sua atenção mais firmemente para mim. — Quando se têm que pôr regras para que um amante não lhe morda até tirar pedaços de seu corpo, acredito que isso se qualifica como selvagem.

Ela olhou além de mim outra vez, para a linha da cara que Kitto tinha deixado a vista. Ela saltou e disse — Buuu — Ele tropeçou detrás de mim, e logo empurrou para os outros guardas, pondo distância entre ele e a rainha.

Andais riu — Verdadeiramente feroz.

— O suficiente feroz —eu disse.

— Chamarei os sluagh. Você chama os trasgos — Ela pôs sua cabeça para um lado, como um pássaro que espia a um verme. — Posso chamar os sluagh a distância, porque sou a rainha. Entretanto, como chamará você aos trasgos?

— Tentarei com o primeiro espelho.

— E se isso falhar? — perguntou.

— Usarei a espada e o sangue, e a magia para chamá-los.

— Um velho método — disse.

— Mas efetivo.

Ela assentiu, logo fechou os olhos durante um momento. — Os sluagh virão a minha chamada. Concedo-te o uso de meu próprio espelho para tentar atrair a atenção de Kurag.

— Parece duvidosa de que consiga ganhar sua atenção.

— É um manhoso, mas um trasgo por fim. Não desejará tomar parte nas rixas da realeza da Corte do Ar e da Escuridão.

— Os trasgos são os soldados de infantaria da Corte do Ar e da Escuridão.

Kurag pode fingir que nossas lutas internas não significam nada para ele, mas enquanto chame a si mesmo parte da Corte do Ar e da Escuridão, então deve emprestar atenção a nossas disputas.

— Não o verá assim — disse ela.

— Deixe que eu me preocupo do Kurag.

— Soas confiante. Não pode ir para cama com ele, já que não pode ajudá-lo a cometer adultério.

— Às vezes a vontade mais da promessa de uma coisa que da coisa em si mesmo.

— Não pode oferecer o que nossas leis proíbem — disse ela.

— Kurag conhece nossas leis tão bem como nós, nunca acreditaria outra coisa. Ele as esquece só quando lhe é conveniente. Saberá que não é sexo o que lhe estou oferecendo.

— Então o quê?

— Uma possibilidade de me ajudar a me limpar. Franziu o cenho — Não entendo.

E ela não entendia, porque embora Kurag conhecesse as leis dos sidhes, o mesmo não podia ser dito de nossa rainha a respeito das leis dos trasgos. Eu sabia que os fluídos do corpo eram para os trasgos mais preciosos que quase tudo.

Carne, sangue, sexo; em alguma parte dessa combinação estava a idéia da perfeição para os trasgos. Ia oferecer aos trasgos dois dos três, e o toque, não o sabor da carne sidhe. Eu havia dito que ia lhes oferecer as três coisas, mas os conhecia melhor.

A idéia dos trasgos de carne é um pedaço que eles conseguem guardar em seus estômagos ou em um pote sobre uma prateleira.


Capítulo 32


O repetitivo rumor da corte me deixava farta. Alguns dos sidhe tinham acesso à televisão, e tinham ocupado boa parte da tarde vendo as imagens da coletiva de imprensa. Os disparos, o policial derrubado, e finalmente Galen me tirando nos braços com sangue caindo por meu rosto. Os meios de comunicação humanos só tinham divulgado que tinha desaparecido dentro de uma limusine, e que não havia informe de mim em nenhum hospital. Não tínhamos tido tempo de dizer nada a ninguém, e nossa própria e muito pequena agente de imprensa, Madeline Phelps, não sabia nada que pudesse contar. Tinham nos encontrado às portas do sithen pelos guardas e tínhamos sido levados diretamente com a rainha. Ninguém mais nos tinha visto. Ninguém mais sabia que realmente tínhamos chegado a salvo, ou de qualquer forma.

A rainha e seus homens estavam limpando o sangue e vestindo-se para o banquete. Ela e seu séquito entrariam no grande salão como se nada tivesse acontecido. Sentaria-se em seu trono; Eamon no trono do consorte. Deixariam o trono do príncipe ao lado do assoalho vazio, como tinha sido desde que Cel tinha sido encarcerado.

Doyle entraria com a rainha, mas não a seu lado. Seria um dos guardas apostados nas portas, de modo que pudesse cheirar a todos os nobres à medida que entrassem. Procuraria a magia que continha o vinho. Se aparecesse em seu antigo lugar nas costas da rainha, haveria perguntas, mas ninguém lhe questionaria por desejava voltar para o serviço da rainha, e já não estar exilado longe do mundo das fadas. Ninguém duvidaria que ela o tinha castigado, mantendo-o longe de sua real pessoa.

A rainha e seus homens não responderiam a nenhuma pergunta. De fato, o plano consistia em permanecer totalmente silenciosos. Ignorar todas as perguntas, até que finalmente alguém fosse o bastante valente para aproximar-se do trono e pedir permissão para falar.

Esse seria meu sinal para entrar com meu séquito. Ainda estaria coberta de sangue, da cabeça até os pés, não com meu sangue, isso me daria uma razão, melhor que algo que poderíamos ter planejado para demonstrar que era uma herdeira apta para Andais. Alguns dos homens deixaram o sangue sobre eles, e alguns se limparam. Dependia de se queriam ou não ser parte do espetáculo.

Esperamos no espaço anterior às grandes portas que conduziam ao grande salão. O silêncio estava repleto de um espesso som que serpenteia de alguma gigante serpente, mas o que se movia no raso céu e contra as paredes não era um réptil. As rosas enchiam o salão. Estas tinham estado morrendo por séculos, até que haviam chegado a ser trepadeiras secas e espinhos nus, mas tinham despertado ao chamado de meu sangue, de minha magia. Agora, meses depois, as paredes se perdiam sob o escuro verde das folhas e os frescos botões. Enormes rosas escarlates, floresciam por todas as partes, sua essência era tão pesada no ar que parecia como se estivesse tragando o perfume, quase nos esmagando em sua doçura. As rosas se moviam na câmara obscurecida. Era o som das trepadeiras e os caules e as folhas deslizando-as umas sobre as outras até que tinham enchido a sala de espera. Um casulo de flor foi empurrado muito longe pela massa que se retorcia, e uma chuva de pétalas escarlates caiu sobre nós. Sabia que alguns dos espinhos próximo ao teto eram do tamanho de adagas. As rosas não eram comuns de modo algum. Apresentavam-se como uma última defesa em caso de que um inimigo chegasse tão longe. O fato de que a maior parte de nosso inimigos fosse bem-vindo aqui fazia que as rosas fossem mais um símbolo que uma ameaça real.

Nosso plano para encontrar a Nuline e lhe perguntar de onde tinha vindo o vinho tinha falhado. Os sluagh do Sholto tinham encontrado a Nuline, mas ela havia estado além das perguntas. Sua cabeça ainda estava perdida. Sua morte dava a entender que seu suposto assassino não deixava cabos soltos, ou que ele, ou ela, ou eles, já sabiam que tinham falhado em assassinar à rainha. Não mudava em nada nossos planos, mas realmente o tinha feito uma pessoa brilhante.

Sage estava parado justo detrás do Rhys e Frost, a minhas costas.

Havíamos tido que mostrar sua nova forma, com seus olhos tricolores, a sua rainha Niceven. Estava furiosa por que a mudança não era reversível, mas intrigada com seu recém adquirido sidhe. O bastante intrigada para nos ajudar. Os semi•duendes eram os melhores espiões "tão pequenos, tão inofensivos". Os sidhe os ignoravam, como se fossem de verdade os insetos que pareciam. Não eram considerados como um poder pelas cortes, e deste modo, podiam andar por toda parte. A rainha Niceven tinha dispersado a sua gente por toda a corte. Eles escutariam e logo informariam. Espiariam para mim e para a rainha Andais.

O rei Kurag, com sua muito armada rainha sobre seu braço, estava detrás de nós na sala de espera. Ele e seu séquito de trasgos entrariam como parte de meu séquito.

Tomaria assento em seu trono ao final do salão, o mais próximo às portas, o mais longínquo ao trono, mas entraríamos juntos, e alguns de seus guerreiros ficariam comigo enquanto caminhássemos com o passar do corredor.

Em pessoa, Ash e Holly eram mais sidhe que menos. Formosos e arrogantes como qualquer dos que a corte poderia gabar-se daquela pele impecável, dourada, iluminada pela luz do sol, entretanto, os olhos, de vibrante verde e ardente vermelho, respectivamente, eram absolutamente trasgos, enorme e oblíquos, ocupando mais rosto que os olhos sidhe ou humanos. Proporcionava aos trasgos visão noturna superior, mas os marcava como distintos. Fisicamente eles eram mais volumosos, parecendo ter mais músculos dos que deveriam embaixo daquela encantadora pele. Eu apostaria que eram mais fortes que um sidhe puro.

Ash tinha estado mais que feliz de participar de nosso espetáculo de unidade. Holly não tinha querido ajudar. Estava por debaixo dele sentar-se aos pés de uma mulher, especialmente uma mulher sidhe. Tinha tido que dar ao Holly uma pequena amostra antecipada, e uma vez que lambeu o sangue ao longo de minha pele, não havia tornado a discutir. Eram o bastante trasgo para valorar o sangue sidhe que me cobria. Por esta noite estava bem; mas mais tarde, quando viessem a minha cama, estava um pouco acovardada. Mas um problema de cada vez; esta noite tinha suficiente para não sangrar. Sage disse — A rainha Niceven diz que alguém da família real se ajoelhou no chão em frente à rainha — Tomou fôlego, logo disse com voz excitada — Agora!

Barinthus e Galen empurraram as portas para as abrir, e a forte luu do grande salão se derramou sobre nós. Movemo-nos uma vez que as portas estiveram abertas. Caminhei um pouco diante do Rhys e Frost; logo vinham Nicca e Sage, e mais lá cada qual escolheu um companheiro e me seguiram de dois em dois, com o Galen e Barinthus caminhando a nossas costas, na frente dos trasgos.

Doyle estava na porta, tal como estava previsto, e não lhe demos nenhuma amostra de reconhecimento, como se nos tivesse aborrecido. O plano, tal como era, tinha se posto em marcha.

Ofegos, sussurros furiosos e um grito surdo saíram ao meu encontro na porta. Acreditei por um momento que o arauto na porta não me reconheceu. A única parte de mim que não estava melada com sangue eram meus olhos, e ainda as pestanas de um olho estavam rígidas com sangue. Tinha passado minha vida sendo tratada como alguém inferior, como alguém sem importância, e certamente, não perigosa. Admito que uma grande parte de mim desfrutou daquele primeiro momento quando me viram cruzar o corredor. Desfrutei de seu medo, sua surpresa, sua preocupação. O que tinha acontecido? O que tinha mudado? O que significava tudo isto? Eles eram alguns dos melhores políticos das cortes no mundo, mas agora todos seus planos foram lançados ao ar simplesmente porque caminhei para a sala do trono coberta de sangue.

A rainha Andais, estava sentada no trono, com sua branca pele limpa e pura de onde tinha tirado o sangue. Seu vestido era negro, deixando ao descoberto seus ombros e braços. Diamantes brilhavam em seu cabelo, ocultando o metal de seu tiara atrás do deslumbramento que produzia sua luz. Uma linha de diamantes descia por seu pescoço e se pulverizava através de seu peito, como se o colar fosse uma soga, ou uma serpente, agarrada em pleno movimento. Os diamantes eram a única cor de seu negro e simples vestido, e das longas luvas que cobriam suas mãos e braços. Embora cor talvez não seja a palavra correta para o efeito. Era mais como se as jóias apanhassem a luz ao redor de sua cabeça e pescoço, criado um halo que se deslizava para baixo por seu corpo.

Mistral estava parado detrás e a um lado de seu trono, com sua armadura, e sua lança recostada contra o chão. Mistral como seu novo capitão não me surpreendeu, mas seu segundo no comando sim o fez. Silence se ocultava sob sua armadura, só sua larga trança de cabelo castanho se via por debaixo de seu casco. Chamava-se Silence porque nunca falava, salvo para sussurrar no ouvido da rainha, ou no do Doyle. Como poderia mandar se não falar?

Tyler se recostou a seus pés, ao final de seu decorada cadeia, vestido só com o brilho do colar. Eamon se sentou no trono justo debaixo do dela, o trono do consorte. Estava vestido inteiramente de negro, à exceção de um diadema de prata em sua pálida testa.

Passamos pela mesa vazia, e o trono onde os sluagh estavam sentados, porque os sluagh se encontravam detrás da rainha. Voadores noturnos, como um cruzamento entre morcegos gigantescos, horrorosos tentáculos e manta raia voadoras se aderiram as pedras a suas costas, subindo mais e mais acima, como uma cortina de carne escura.

Coisas com mais tentáculos que carne estavam de pé depois do trono. As arpias, Agnes a negra e Segna a dourada, estavam cobertas e esperando detrás da rainha, mais altas que os guardas a suas costas. As arpias normalmente paravam atrás do trono de seu próprio rei, mas Sholto tinha um novo lugar onde sentar-se.

Um trono vazio alguma vez tinha sido reservado para o herdeiro, mas tinha se convertido no trono da princesa e esperava por mim. O trono do Sholto havia sido colocado sobre o soalho, justo debaixo do meu. Por esta noite, seria o trono de um consorte também. Meu consorte, não o da rainha. Para mim, seria quem quer que fosse dormir comigo esta noite.

Sholto, rei dos sluagh, Senhor daquilo que Transita no Meio, Senhor das Sombras, sentava-se sobre o assoalho pela primeira vez, alto e pálido, com sua pele iluminada pela lua, que faria sentir-se orgulhoso a qualquer sidhe da Corte do Ar e da Escuridão. Seu cabelo era branco como a neve, comprido e sedoso, e, como era seu costume, preso para trás em uma rabo-de-cavalo frouxo. Seus olhos eram tricolores; um círculo de dourado metálico como o meu, logo um círculo de âmbar e finalmente uma linha da cor das folhas de outono. Era tão belo de rosto e corpo como qualquer sidhe com a graça da corte, sentado com sua túnica negra e dourada, calças negras metidos em suas botas até o joelho feitas do couro negro mais suave, com mais dourado que bordeava a parte superior da borda das botas. Sua capa estava sujeita com um broche de ouro esculpido com o emblema de sua casa. Via-se em cada polegada como um príncipe sidhe, mas eu sabia, melhor que a maioria, que a beleza externa podia enganar. Sholto usava magia para ocultar o que jazia sob suas roupas. Quase todo seu estômago para baixo, até a parte baixa de seu abdômen era uma massa de tentáculos. Sem seu encanto, este teria se inchado ainda mais sob a generosa quantidade de tecido de sua túnica. A roupa moderna era quase tributável sem sua magia para manter tudo sob uma suave mentira. Sua mãe tinha sido uma sidhe da Corte da Luz. Seu pai tinha sido um Voador Noturno.

Como o rei dos sluagh, podia ter qualquer fêmea de sua corte em sua cama. Como membro da guarda da rainha ninguém da corte de Andais podia dormir com ele, exceto a própria rainha. Não acredito que alguma vez tenha ocorrido a ela tomá-lo em sua cama. Chamava-o minha perversa criatura, ou às vezes, simplesmente minha criatura. Sholto odiava seu apelido, mas ninguém se queixava ante a rainha Andais a respeito de seus apelidos, nem sequer sendo o rei de outra corte. Se Sholto tivesse estado agradado com as fêmeas de sua corte, então não teria tido nada para negociar com ele, mas não estava agradado. Queria pele sidhe contra seu corpo. De modo que nosso barganha conveio, e se não esta noite, então amanhã eu poderia saber se tinha estômago para os pedaços extra que tinha nascendo de seu corpo. Esperava poder, porque gostando ou não, teria que ir pra cama com ele, pela ajuda nesta noite.

Afagdu estava parado a um lado do assoalho. Tinha estado sobre seus joelhos frente ao trono quando as portas se abriram. Também, estava vestido de negro, tal como a maior parte da corte. Os cortesãos freqüentemente se vestiam com a cor favorita de seu soberano, e o negro tinha sido a cor favorita de Andais por séculos. O cabelo do Afagdu era tão negro que parecia fundir-se com sua capa, e a barba em sua cara o fazia parecer como se seus tricolores olhos estivessem flutuando em seu rosto, perdidos em toda esse negrume. Sua voz encheu o corredor, cortando através dos sussurros e ofegos.

— Princesa Meredith, é seu sangue ou a de alguém mais?

Ignorei-o e fui me deter diante do assoalho, justo debaixo da rainha. Me inclinei, mas só o pescoço. — Rainha Andais, rainha do Ar e da Escuridão, venho ante ti coberta com o sangue de meus inimigos e de meus amigos.

— Meredith, Princesa da Carne e do Sangue, te una a nós.

Houve mais ofegos à menção do novo título. Doyle tinha querido manter meu novo poder em segredo de modo a surpreender a nossos inimigos, mas Andais o tinha invalidado. Queria que a corte me temesse, tal como temiam a ela. Não podia ser persuadida disso, e era a rainha.

Sholto parou e baixou os dois degraus a sua esquerda. Sorriu e me ofereceu sua mão. Tomei, e encontrei que sua palma estava suarenta. Por que o rei dos Sluagh poderia estar nervoso?

Dirigi-lhe um sorriso, e me perguntei se o efeito era amistoso ou lhe atemorizaria, devido a minha máscara de sangue.

Conduziu-me para meu trono, e uma vez que me sentei, voltou para dele. Outros apinharam-se ao redor. Kitto tomou seu lugar a meus pés, e tudo o que nós precisávamos era um colar decorado para imitar ao Tyler e a rainha. Rhys e Frost tomaram seus lugares a ambos os lados de meu trono. Os homens a quem tinha tomado para minha cama se esparramaram atrás de mim e a meus lados. Barinthus tinha incluído a si mesmo nesta lista, e eu não protestaria. A rainha tinha estado perplexa e intrigada, mas isso deixaríamos para mais tarde. Os outros, os seus e meus, pulverizaram-se ao redor do salão. Andais queria deixar bem claro que os guardas ali não estavam para nos proteger, a não ser para ser uma ameaça para o resto dos sidhe da corte.

Os nobres não gostaram que os guardas se dispersassem por todo o salão. Não agradou-lhes absolutamente. Afagdu voltou para seu próprio trono, ao lado esquerdo, sorrindo, em aparência a gosto. Não era um dos seguidores do Cel, tampouco um admirador da rainha. Mantinha seu próprio conselho, e se assegurava de que os nobres conectados a seu casa se encontrassem bem.

Dois Boinas Vermelhas deram um grande passo para frente. Se os trasgos eram as tropas de infantaria dos sidhe da Corte do Ar e da Escuridão, então os Boinas Vermelhas eram as tropas de choque, mais fortes, maiores, mais uniformemente malvados que os próprios trasgos. Um dos Boinas Vermelhas tinham 2,5 m e o outro quase 3 m de altura. Pequenos gigantes, ainda entre os duendes. Esperaria-se que criaturas tão altas, tão largas e musculosas se movessem como um touro avançando pesadamente, mas não o faziam. Moviam-se como enormes gatos de caça, misteriosamente cheios de graça. Um era como o amarelo do papel velho, e o outro do sujo cinza do pó. Seus olhos eram enormes ovalóides vermelho, como se olhassem o mundo através do sangue fresco.

Sobre suas cabeças estava a redonda e escarlate boina a que se devia seu nome, mas o gorro do mais alto não era simplesmente de pano escarlate. Magras linhas de sangue caíam de sua boina para sua cara, arrastando-se para seus ombros que eram tão largos comoa minha altura. O sangue correndo de sua boina em riachos quase sem pausa, nunca alcançavam o piso, quase como se seu corpo os absorvesse, embora houvesse escuras linhas em suas roupas. Possivelmente o pano as absorvia?

Apostaria que esse chapéu tinha começado sua vida como sendo de pura lã branca. Uma vez todos os Boinas Vermelhas tinham tido que banhar seus gorros em sangue para conseguir essa cor carmesim. O sangue secou, e teria que haver outra batalha para poder banhar seu gorro no sangue de seus inimigos. Esse costume havia feito que os Boinas Vermelhas fossem os guerreiros mais temidos entre nós, por sua consumada e sangrenta crueldade era difícil vencê-los.

Desse modo o grande cinza tinha banhado seu gorro especialmente para o banquete, isto ou tinha a mais estranha das habilidades naturais; podia manter o sangue fresco e fluindo. Uma vez os Boinas Vermelhas tinham tido uma nação própria, e não parte do império trasgo, este era um requisito prévio para ser um líder guerreiro entre eles.

O menor não discutiu quando o maior o empurrou da frente e se ajoelhou primeiro. Ajoelhado ele era tão alto como quando eu estava sentada na grande cadeira, a passos por cima dele. Um moço muito grande verdadeiramente.

Sua voz se parecia com rochas deslizando-as umas contra as outras, um som tão profundo que me fez pigarrear. — Sou Jonty, e Kurag, o rei Trasgo, ordenou-me proteger sua branca carne. Os trasgos honram a aliança entre a princesa Meredith e Kurag, o rei Trasgo — Tendo dito isto, elevou seu rosto para mim. Sua cara era quase tão larga como meu peito. Tinha vivido grande parte de minha vida ao redor de tais gigantes para estar assustada, mas quando sorriu abertamente e cintilaram seus dentes como presas afiadas, me deu realmente a quantidade necessária de confiança para deixar minha mão à altura de sua boca.

— Eu, princesa Meredith, Senhora da Carne e do Sangue, saúdo-te, Jonty, e devolvo a honra dos trasgos compartilhando o sangue que derramei com eles.

Não me tocou com suas mãos, como se não fosse necessário para este espetáculo de solidariedade. Simplesmente pôs sua boca quase sem lábios contra minha pele, e roçou a ponta de sua língua contra minha mão. Sua língua era áspera como o papel de lixa, como a de algum gato. Quando essa rugosa superfície raspou o sangue seco de minha mão, a palma da minha mão esquerda pulsou. Tinha tido a Mão de Sangue e tinha me feito mal, tinha me enchido de tanta dor que tinha gritado para me liberar, mas nunca a havia sentido só como um pequeno batimento do coração.

O trasgo manteve sua boca pressionada contra a palma de minha mão, mas girou seus olhos até que me olhou. Foi um olhar estranhamente íntimo, da forma em que um homem olha quando sua língua acaricia coisas mais íntimas que a palma da mão de uma mulher. Minha palma se sentia quente, e úmida. Esse calor se elevou pelo braço, derramando-se sobre meu corpo como uma onda de calor que me deixou ofegando, e molhada. Molhada com sangue, como se justo nesse momento tivesse me derrubado nele. O sangue correu desde meu cabelo para meu rosto. Elevei uma mão para manter destilação fora de meus olhos, mas de repente outro Boina Vermelha esteve ali. Fez correr sua rugosa língua por sobre minha testa, fazendo um som em seu peito. Meio esperei que Jonty o afastasse, mas ele ficou ajoelhado sobre minha mão, olhando para cima com esse íntimo olhar em seus olhos.

Uma voz proveio desde detrás deles — Kongar, te afaste dela! Agora!

O Boina Vermelha agarrou minha mão meio levantada e a lambeu enquanto a sustentava com suas grandes mãos. Era um insulto me tocar. Isto implicava favores sexuais entre os trasgos. Várias mãos se fecharam sobre ele e o atiraram para trás. Ash e Holly jogaram o homem maior dando cambalhotas através do piso, deslizando-se até ficar justo diante das portas.

— Ele carece de controle, Kurag — disse Holly — Eu não confiaria nele com carne sidhe ao redor.

A voz retumbante do Kurag encheu o salão — Concordo — Fez gestos e outros dois Boinas Vermelhas foram pegar o que estava caído no piso. Kongar ficou em pé antes que o alcançassem. Sangue corria por sua cara. Durante um momento pensei que Ash e Holly o tinham feito mal; logo compreendi que seu gorro estava sangrando. Seu gorro, coberto de sangue seco, estava sangrando como o sangue sobre meu corpo.

Levantou uma mão para tocar o sangue, pôs sobre sua língua e me olhou da forma em que se olhe um bom filé. Um dos outros Boinas Vermelhas tentou tocar o sangue, mas Kongar apartou suas mãos. Permitiu que os outros dois o conduzissem para trás e o pusessem com os outros guardas trasgos, mas não os deixava tocar o sangue fresco.

Ash disse — Tiveste sua satisfação, Jonty.

Jonty me dirigiu uma dessas estranhamente íntimas olhadas de novo, logo se levantou sorrindo, com sangue lubrificado ao redor de sua boca. Lambeu seus lábios enquanto ia ficar detrás de mim, para unir-se a meus guardas. Ouvi-o resmungar ao Ash quando passou — Sangue de rainha.

Ash tinha se vestido com um verde que combinava com seus olhos e ficava bem com seu cabelo loiro e pele dourada. Ficou de joelhos a minha direita, e se seu cabelo loiro tivesse sido mais longo teria passado por sidhe. Holly caiu sobre seus joelhos em meu outro lado. O vermelho que vestia era realmente para sobressair seus olhos, mas quando baixou seus olhos para minha mão, fazendo-os rodar para cima com raiva, recordaram-me fortemente aos Boinas Vermelhas e seus olhos escarlates. Perguntei-me acaso se seu pai o tinha sido.

A sensação da boca do Ash sobre minha pele me fez girar para olhá- lo. Lambeu o sangue de minha pele em um comprido e seguro golpe. Holly o repetiu em meu outro braço. Suas línguas eram suaves e estranhamente gentis enquanto lambiam o sangue de minha pele. Cada um deles tomou uma de minhas mãos nas sua ao mesmo tempo, como se fosse uma coreografia que tinham praticado juntos. Tratei de mover minhas mãos, e ambos as apertaram ao mesmo tempo, fixando minhas mãos aos braços do trono. A sensação me fez fechar os olhos, apanhou meu fôlego. Quando abri os olhos o sangue fresco havia escapado, e tentei levantar meus braços para me limpar meus olhos, mas eles não me permitiram. Fizeram pressão mais forte, e se moveram como duas sombras, de modo que ambas as bocas alcançassem meu rosto de uma vez. Lamberam justo em cima de meus olhos, bebendo o sangue de minha testa como se fosse um prato cheio de algo muito bom para perder-se.

Lamberam sobre meus olhos, pressionando um pouco forte, e não foi excitante nesse momento. Estava muito contente de ter negociado que não tivesse feridas. Podiam lamber o sangue da superfície, mas não morder. Não podiam fazer mais sangue do que havia, não a menos que renegociássemos. Com ambos me lambendo, quase alimentando-se de meu rosto, não acreditei que fosse apressada a renegociação. Havia algo de atemorizante neles, excitante, mas atemorizante.

Inclinaram-se para trás o suficiente para que pudesse piscar e abrir os olhos. Separaram-se de mim, com um olhar em seus rostos... havia sexo nesse olhar, mas havia uma fome que tinha menos que ver com o sexo e mais com a carne. Podiam parecer mais sidhe que Kitto, mas o olhar em seus olhos limpava o que sua aparência poderia enganar.

Tinha estado esperando para que a rainha falasse, ou que alguém da nobreza falasse com ela, enquanto os trasgos e eu compartilhávamos sangue. Girei minha cabeça o suficiente para ver a rainha. Olhava- nos com olhos famintos, impaciente, e sabia que não era só por mim, mas sim pelos trasgos. Moveram-se como um só corpo, como sombras, tão sincronizados que parecia quase impossível não maravilhar-se. A rainha Andais não estava acostumada a perguntar- se a respeito de um homem, sem ter alguma possibilidade de satisfazer sua curiosidade. Mas se a rainha provava a um trasgo, seria em segredo, da forma em que a maioria dos sidhe tratava com eles, e com os sluagh, e com outros.

Bons para a noite escura, mas não o bastante bons para a luz do dia.

Essa atitude era uma das razões pelas que Holly e Ash tinham sido cativados pela minha muito pública oferta.

Compreendi por que ninguém tinha interrompido o espetáculo. Se a rainha desfrutava disso, sua interferência o poria em perigo. Se você danificava sua diversão, ela era capaz de te obrigar a fazer algo igualmente divertido.

O movimento me fez olhar ascendentemente, e encontrei uma nuvem de semi•duendes como enormes borboletas dançando sobre minha cabeça. Sabia o que queriam. À maioria das coisas na Corte do Ar e da Escuridão gostavam de um pouco o sangue.

Mas os semi•duendes, a diferença dos trasgos, tinham menos regras. Olhei fixamente para essas pequenas caras famintas, e compreendi que podia lhes dar agora o que tinha prometido a sua rainha Niceven, em vez de mais tarde. Sangue fresco, sangue sidhe, sangue real. Estava coberta dele.

— Meus senhores trasgos —eu disse — Tenho outra troca com outros aliados.

Fizeram-me voltar a vista para eles, como se não fossem deixar seu prêmio.

Senti o Rhys e Frost mover-se detrás de mim. — Não —eu disse — não quero nenhuma interferência de meus guardas, não quando não as necessito — Elevei a vista para os rostos dos trasgos, e eles fizeram uma pequena inclinação, só do pescoço, e ambos se moveram para tomar os lugares que tínhamos negociado, a meus pés. Esta tinha sido a situação pela que Holly tinha estado contra, mas com sua boca banhada de sangue, suas mãos cobertas dele, parecia não se importar. Ambos se sentaram a meus pés, e começaram a lamber sangue de suas caras e mãos, como gatos que limpam a nata de seus bigodes.

Elevei minhas mãos ao ar, como se esperasse que os pássaros descendessem. — Venham, pequenos duendes, podem tomar o sangue que está sobre minha pele, mas não lhes permitirei nenhuma dentada em minha carne — Um deles assobiou, e essa diminuta cara, como a de uma boneca se transformou em algo assustador, mas só por um momento. Logo os olhos negros de boneca estiveram tão brancos e inofensivos como o diminuto corpo e suas encantadoras asas tentavam ser. Sabia que sem um controle com muito gosto teriam comido a carne de meus ossos. Mas não estavam inverificado, e havia muito em jogo para me fazer a afetada. Viam-se tão delicados, mas eram pesados, com mais carne que os insetos aos quais imitavam. Era mais como estar coberta de pequenos macacos com asas, com mãos como garras, e pés que se deslizava no sangue sobre minha pele. Diminutas línguas bebiam a lambiam o sangue, fazendo cócegas ao longo de minha pele. Um deles me roçou com dentes parecidos com agulhas, e lutei por não me jogar para trás. — Só sangue que está sobre minha pele está permitido, pequenos.

Uma fêmea se deslizou para frente por meu ensangüentado cabelo, como se meu cabelo fosse vinho, de modo que ela podia ver minha cara e eu podia ver seu pequeno vestido branco salpicado de sangue, seu perfeitamente cuspido rosto lubrificado nela. Falou com um som como o tinido de sinos. — Nós recordamos o que nossa rainha disse, princesa. Recordamos as regras — ficou onde pudesse vê-la, colocando suas mãos entre as mechas de cabelo, e fazendo rodar seu corpo como um cão sobre uma manta, até que sua pálida beleza esteve coberta no líquido carmesim.

Podia sentir outra figura tamanho Barbie arrastando seu diminuto corpo na parte detrás de meu cabelo. Não podia ver se era macho ou fêmea, mas isto fazia pouca diferença. Nenhum deles pensava no sexo; todos estavam pensando em comida.

Comida e poder, posto que o sangue sidhe é poder. Podíamos fingir que isto não era assim, que o sangue não tinha magia alguma, mas eram mentiras. Chega de mentiras esta noite, queríamos a verdade. Estava oculta sob um manto de asas que me acaniciavam lentamente, quando uma voz proveio dos nobres que esperavam. — Rainha Andais, se vamos ter um espetáculo, por que a princesa não fica no meio da sala assim todos vemos melhor?

— A voz era masculina, falava arrastando as palavras, em uma forma educada.

Maelgwn sempre soava como se estivesse se burlando de alguém. Freqüentemente de si mesmo.

— Teremos um espetáculo, Lorde Wolf — disse Andais — mas não é este.

— Se isto que vimos não é o espetáculo, então estou sem fôlego pela espera.

Girei a cabeça para olhá-lo. Asas piscavam contra minha cara, enquanto os semi•duendes batiam suas asas mais e mais rápido, em sua impaciência por alimentar-se.

Tantas asas, tanto movimento, que era como ser tocada por dúzias de diminutos tábanos, fazendo cócegas e dançando através de meu corpo. Se não tivesse temido que me mordessem, teria sido interessante.

Maelgwn estava sentado em seu trono, e embora se sentava ereto como ninguém, ainda conseguia dar a impressão de que estava cômodo. O olhar em sua cara era indulgente, como se estivesse sendo complacente com todos nós. Como se em qualquer momento simplesmente se levantaria e conduziria a sua gente fora, para fazer algo mais importante que assistir a tolos banquetes. Os nobres a sua mesa se vestiam como se cada um tivesse escolhido um estilo que variava entre os pré•romanos até o século dezessete, embora muitos pareciam ter parado ao redor do século quatorze, e de acordo aos desenhistas modernos de moda não havia nada além da pele com a qual tinham nascido. A diferença para a casa de Maelgwn era que quase cada um deles usava uma pele de animal em algum lado. Maelgwn levava um capuz de pele de lobo com as orelhas emoldurando sua cara, e o resto da enorme pele cinza e branca arrastando-se ao redor de seus ombros. A parte superior de seu corpo se mostrava musculosa e nua debaixo daquela pele. O que fosse que cobria a parte inferior de seu corpo, perdia-se de vista detrás da mesa. Havia homens e mulheres sentados na sua mesa, com cabeças de porcos e ursos sobre suas caras. Uma mulher com um capuz de visom, outra com raposa, e alguns que alardeavam com capas de plumas, ou simplesmente com pequenos crachás de plumas. Mas ninguém na mesa do Maelgwn vestia peles e plumas como acessórios de moda. Levavam-nas porque uma vez estes tinham contido magia, ou tinham sido uma insígnia daquilo no que podiam transformar-se. Maelgwn era chamado o Lorde Wolf porque ainda podia trocar de forma para um grande lobo peludo.

Mas a maioria dos que trocavam de forma, como Doyle, tinha perdido sua habilidade de deixar atrás suas formas humanas.

Nem todos os que podiam trocar de forma eram da casa do Maelgwn, mas todos os que o chamavam Professor alguma vez tinham sido capazes de invocar a forma animal. Poucos ainda podiam fazê-lo. Outra magia perdida, como tantas outras.

O pensamento me fez procurar o Doyle. Ainda se encontrava nas portas longínquas. Teria descoberto ao farejar o suposto assassino? Saberia que magia havia estado a ponto de destruir Andais e sua guarda? Queria que viesse para mim, me contasse, mas todos estávamos atuando nossa parte. Deixávamos que a corte acreditasse que tinha pedido a Andais que o deixasse voltar, e que estava sendo castigado ao fazê-lo realizar o trabalho nas portas, longe do trono. Quanto mais longe do trono, significava mais longe do favor real, e isso nunca era bom. Esta era a única maneira de o ter perto das portas, perto de cada um dos que entrava, sem levantar suspeitas. Mas quanto tempo teríamos que fingir até que a rainha lhe fizesse um gesto e o fizesse adiantar-se?

Lutei para não me esticar sob as asas que me abanavam, as diminutas mãos e pés. Queria enviá-los longe e chamar o Doyle para mim. Queria terminar com isto. Andais gostava de vislumbrar sua vingança. Eu era mais do tipo, encontra-os•e•mata-os, Andais gostava de jogar.

O diminuto duende branco, agora escarlate da cabeça aos pés, apoiou-se contra meu rosto e disse com seu vozinha de sino.

— Por que está tão tensa, princesa? Ainda com medo de que a mordamos? — riu, e a maioria dos outros riram com ela, uns como o toque dos sinos, outros vaiando como serpentes, e outros estranhamente humanos em seu tom. Elevaram-se em uma nuvem de risadas, todas as asas cristalinas e corpos cobertos de sangue, como se aves de carniça houvessem emparelhado com borboletas.

A voz de Andais ressonou através do salão, não em um tom de chamado como o de um ator, a não ser só coloquial, como se não fose nenhum esforço para sua voz encher cada esquina. — E o que daria você, Maelgwn, para que sua casa recuperasse suas habilidades?

— O que quer dizer, OH! rainha? — disse ele, e sua voz ainda soava complacente, embora seus olhos continham algo mais de cautela.

Ela olhou para o centro do salão, até que seu olhar fixo se posou no Doyle.

Ela chamou — Escuridão, lhe mostre o que quero dizer.

Os nervos da rainha eram melhores que os meus. Eu teria chamado o Doyle, e o feito me entregar suas notícias, sua acusação, em troca, ela faria um espetáculo de seu andar ao passar pelo corredor. Ou talvez, era que ela era mais duende do que eu era. A maior parte dos duendes não são pessoas prática. Farão uma brincadeira, ou irão jogando caminho à forca. Esta é sua forma de fazer as coisas, uma coisa da que careço. Quis lhe gritar para que fosse diretamente ao ponto. Mas me mantive em meu assento, e minha boca fechada, e a deixei que desembrulhasse os acontecimentos tal como desejava. Nesse momento, desejei não lhe ter dito que alguns dos poderes dos homens tinham retornado. Se ela não tivesse sabido em relação à volta dos poderes de Doyle, esta demonstração em particular teria esperado.

Doyle se separou das portas, deslizando-se para o centro do salão, mas ele não mudou. Simplesmente caminhou para nós enquanto a corte olhava, ao princípio em silêncio, logo em um murmúrio crescente de comentários a meio ouvidos e risadas. No momento em que Doyle alcançou o assoalho, a rainha lhe olhava com o cenho franzido.

Ajoelhou-se diante do assoalho, mais em frente de seu trono que do meu. O qual estava bem; era sua corte, não a minha.

Maelgwn disse — Acredito que minha casa já tem o poder de caminhar com ao longo do salão do trono, minha rainha — Não riu abertamente, mas estava ao bordo de sua voz.

Doyle falou — Peço permissão para pôr minhas armas sob resguardo.

— Por que teria que te dar permissão para algo, Escuridão? Já me falhaste uma vez esta noite.

— Muitos dos objetos encantados que se perderam anos atrás, ocorreu durante uma mudança de forma — Desatou seu cinturão, que sustentava a ambos os lados suas adagas as gêmeas, assim como sua espada de negro punho. As adagas eram conhecidas como Snick e Snack. Uma vez tinham tido outros nomes, mas nunca os tinha ouvido. Elas acertavam qualquer coisa desde qualquer lugar que as lançasse. A espada era Negra Loucura, Bainidhe Dub. Se qualquer mão exceto a do Doyle tentava dirigi-la, se voltava permanentemente louco. Ou ao menos essa era a lenda. Só o tinha visto usá-la uma só vez antes, contra o Inominável. Eu não tinha chegado a ver todos seus poderes em uma batalha. Deslizou o cinturão dos laços de seu pistolera, com sua muito moderna pistola não mágica. Deixou a pistola em seu lugar, a pistolera de ombro agitando-se frouxa sem o cinturão que a sustentava.

Ajoelhou-se com o cinturão de suas armas no colo. — Nas Terras Ocidentais não levava armas quando a mudança me sobrevinha. Tudo o que levasse se desavencia e não voltava junto com minha forma humana. Não arriscaria a perda destas espadas — Falou baixo, e só aqueles mais próximos ao assoalho o ouviram.

A cólera da rainha decaiu devido à precaução do Doyle. — Sábio, como sempre, minha Escuridão. Faz como melhor quiser.

Elevou-se sobre seus pés e se aproximou com o cinturão e sua preciosa carga sustentada em suas mãos. Então fez algo que nunca tinha feito em minha memória. Pôs um beijo sobre sua bochecha, e eu estava o bastante perto e em ângulo para lhe ver sussurrando em seu ouvido. A única reação de Andais foi esboçar um sorriso conhecedor. Deu a impressão de que Doyle lhe tinha sussurrado algo nefasto em seu ouvido. Moveu-se para mim então, e pôs o mesmo beijo amável sobre minha bochecha. Tinha só um momento para decidir que cara teria que mostrar, já que eu não era a atriz que minha tia era. Já tinha decidido que se não podia controlar minha expressão, a ocultaria.

Sussurrou contra meu ouvido — O aroma de Nerys está no encantamento.

Girei minha cabeça contra a sua, de modo que minha cara ficasse recostada contra a curva de seu pescoço. Deleitei-me com a rica essência de sua pele, seu calor, e escondi minha surpresa. De todos o que poderiam ter sido, Nerys não estava na minha lista.

Ela era simplesmente Nerys, isto significava Senhor ou Senhora, e, embora cabeça de sua própria casa, tinha perdido bastante magia para querer deixar seu verdadeiro nome e adotar algo que era mais um título que um nome. Mas não era uma criatura de políticas. Ela e sua casa estavam tão perto da neutralidade como qualquer das outras dezesseis casas da Corte do Ar e da Escuridão. Nerys e sua gente não eram aliados de Cel, ou de alguém mais. Entregavam sua lealdade à rainha, a ninguém mais. Eram cautelosos e se mantinham a si mesmos, e era bastante poderosos para se manter longe disso. O ataque sobre a rainha tinha sido imprudente, tão diferente do Nerys. Se tivesse sido alguém mais que me contasse isto em vez do Doyle, teria duvidado dele, mas não podia duvidar de Doyle. Alegrei-me de que minha cara estivesse enterrada contra seu pescoço, posto que não poderiam esconder minha surpresa.

Pareceu entender isto, porque se manteve inclinado para mim até que toquei seu ombro, gentilmente, lhe dando a entender que tinha uma expressão politicamente correta. Não olharia o Nerys e a sua gente. Não soltaria a notícia até que fosse o momento.

Tornou-se para trás, e seus escuros olhos me perguntaram, sem palavras, se estava pronta para isto. Obsequiei-lhe um pequeno assentimento e um sorriso. Eu era sua amante, mas não podia fazer que meu sorriso fosse tão lascivo como os que a rainha podia fazer. Deixou suas espadas em meu colo, abandonando o pretexto de que tinha voltado para Andais. Certamente, não acreditava que nenhum deles, exceto possivelmente Eamon, houvesse posto suas armas mais valiosas nas mãos da rainha. Para alguns tinham passado anos desde que lhes tinha permitido sustentar os últimos restos de sua própria magia. Eles não lhe tinham devolvido as armas, por temor a que ficasse com elas. Neste momento Doyle mostrou não só sua confiança, mas também que eu podia ser confiável para compartilhar, e não simplesmente para tomar.

Tirou a arma de seu pistolera e a entregou ao Frost. — É uma boa pistola.

Frost realmente sorriu.

Rhys disse — É difícil de adquirir em nosso mundo. Doyle assentiu.

Tive um momento para me perguntar se Doyle ia realizar esta demonstração, mas então cruzou de uma pernada até o bordo do assoalho e, começando a correr, lançou-se ao ar. Foi abafado por um momento por uma névoa negra que se fechou sobre ele, e estava voando sobre a corte com enormes asas emplumadas, tão negras como sua pele.

Houve ofegos e sons de prazer, como se algumas pessoas da corte estivessem desfrutando do espetáculo. A negra águia rodeou o salão uma vez, logo se dirigiu ao centro da sala e começou a descender sobre o piso, mas antes dessas grandes garras tocarem a terra as asas pareceram dissolver-se na névoa, e foram uns grandes e negros cascos os que golpearam as pedras e deram uns passos entre as mesas. O grande garanhão negro caminhou para a mesa do Maelgwn e olhou a Lorde Wolf com os escuros olhos do Doyle. Então a névoa se elevou de novo, ou talvez o cavalo se transformou na negra névoa, e se converteu no negro mastim que eu tinha visto antes. O enorme cão ofegou para o Maelgwn. Ainda sentado, o cão era o bastante alto para olhar por sobre a mesa e encontrar o olhar do Maelgwn.

Lorde Wolf fez um gesto entre um assentimento e uma reverência.

Pareceu satisfazer ao cão, já que este se dirigiu ao assoalho. As enormes patas golpeavam os degraus, e saltou para ficar sentado perto de mim. O cão se sentou ao lado do braço de meu trono, e estendi a mão para acariciar a suave pele sem pensar nisso.

A névoa se elevou, e se sentiu tão fresco como cheirava, como aspirar profundamente a chuva no bosque. Minha mão sentiu cócegas com a magia enquanto o corpo de Doyle crescia e mudava. Não houve nenhum deslizamento de ossos e carne como na Califórnia. Ainda com minha mão perdida na negra névoa se sentia ligeiro e efervescente, como borbulhas ou eletricidade contra minha pele. Doyle estava ajoelhado ao lado de meu trono, em sua forma humana, nu, com seu comprido cabelo jazendo como uma atoleiro a seus pés. Minha mão ainda estava em seu rosto, acariciando sua bochecha humana tal como segundos antes tinha estado acariciando ao cão. Quis elogiá-lo, mas não me atrevi a dar a conhecer a Corte que eu nunca tinha visto uma execução tão fácil.

— Muito impressionante — disse Maelgwn, e não havia nada mais que seriedade em sua voz. — Não recordava que fosse uma pássaro.

— Não era — disse Doyle.

— De modo que ganhaste o que tinha perdido e além disso acrescentado mais poder a suas faculdades.

Doyle assentiu, minha mão ainda jogando com seu espesso cabelo.

— Como veio a ocorrer este milagre? — perguntou Maelgwn.

— Um beijo — disse Doyle.

— Um beijo — repetiu Maelgwn — O que quer dizer com isso?

— Sabe o que é um beijo — disse Rhys de detrás de mim — Você só franze os lábios e...

— Já sei o que é um beijo — interrompeu Maelgwn — o que não sei é como um beijo causou esta mudança na Escuridão.

— Lhe diga o beijo de quem te devolveu seus poderes — disse Andais.

— Um beijo da princesa Meredith — disse Doyle, ainda ajoelhado junto a minha cadeira, ainda com minha mão jogando no calor espesso de seu cabelo, fazendo cócegas ao longo da parte de atrás de seu pescoço.

— Mentira — Isto disse Miniver, ela era a cabeça de sua própria casa.

Era alta e loira, e teria passado como da Corte da Luz, devido a que uma vez o tinha sido.

Tinha vindo a Corte do Ar e da Escuridão, lutando para obter uma posição de poder, até que sua alta e bela comandante tinha conseguido ter sua própria casa na Corte Escura. Que ela tivesse preferido governar na Corte Escura antes que aceitar o exílio no mundo humano significava que a Corte da Luz nunca a aceitaria de novo. Seu exílio da brilhante multidão seria eterno. Às vezes eles aceitavam de volta a aqueles que alguma vez tinham vagado entre os humanos, mas uma vez que iam para a Corte da Escuridão se era considerado sujo.

Parou-se em frente de seu trono, uma brilhante mulher com suas tranças amarelas deslizando-se sobre seu vestido de brilhante pano dourado. Um círculo de ouro rodeava sua testa, sobre o perfeito arco de suas sobrancelhas escuras e seus olhos de três azuis. Nunca havia adotado as escuras cores favoritas da rainha e sua corte. Miniver se vestia como se esperasse caminhar em uma corte diferente.

— Disse algo, Miniver? — disse Andais, e simplesmente por deixar de mencionar qualquer título ela tinha insultado a brilhante figura. Era uma advertência. Uma advertência para que se sentasse e guardasse silêncio.

— Disse, e digo de novo, que isso é uma mentira. Nenhum mortal pode trazer para ninguém seus poderes.

— É uma princesa dos sidhe, e isso faz dela um pouco mais que um simples mortal — Disse Andais.

Miniver sacudiu sua cabeça, enviando suas pesadas tranças amarelas a deslizar-se ao longo do ouro de seu vestido. — Ela é mortal, e deveria havê-la afogado quando tinha seis anos, tal como tentou fazer. Foi a debilidade de seu irmão a que deteve sal mão.

Falava como se eu não pudesse escutá-la, como se não estivesse ali, viva, no mesmo salão que ela agora.

— Meu irmão, Essus, uma vez me disse que Meredith seria melhor rainha do que meu próprio filho, Cel, seria rei. Não lhe acreditei então.

— Ao menos Cel não é mortal — disse Miniver.

— Mas Cel não nos devolveu uma só gota do poder que perdemos. Tampouco eu — disse Andais, e não houve fingimento nela agora. Nada de talentos teatrais.

— E está nos dizendo que esta meia sangue mortal tem feito algo que um puro sangue sidhe não pôde? — Miniver apontou para mim, no que pensei que era um gesto muito dramático, mas este realmente mostrou a manga de seu vestido à perfeição, dirigindo as aberturas de seu vestido de modo que o pano azul da roupa interior se vislumbrasse através delas. Às vezes, quando se vive quase para sempre, se termina pensando muito em como se vêem as coisas. — Esta abominação não pode ser admitida para obter o trono, rainha Andais.

Pensei que abominação era um pouco duro, mas não disse nada, posto que, de certa forma, não era a mim quem ela tinha desafiado, era à rainha.

— Eu digo quem pode e quem não pode sentar-se no trono desta Corte, Miniver.

— Sua obsessão com uma monarquia hereditária de sua própria linhagem será a morte de todos nós. Todos vimos o que acontece na areia de duelo quando um de nós compartilha sangue com essa coisa. Eles se convertem em mortais devido à enfermidade que ela conduz em seu sangue.

— A mortalidade não é uma enfermidade — disse Andais, tranqüilamente.

— Mas mata como se o fosse — Miniver olhou para a Corte, e havia muitas caras giradas para ela. Muitos mostravam, através do silêncio ou assentindo que estavam de acordo ao menos com isto. Eles, também, preocuparam-se com respeito a meu sangue. — Se esta mortal se converter em rainha então nós estamos obrigados por honra a tomar juramento de sangue dela, a nos atar a ela. Fazendo o juramento de sangue, seria como perder na areia de duelo — Miniver olhou para Andais e havia um pouco parecido à súplica em seu rosto. — Não vê, minha rainha, que se nós tomarmos seu sangue dentro de nós e unimos a sua perigosa mortalidade estaríamos perdendo nossa própria imortalidade? Deixaríamos de ser sidhe.

Foi Nerys quem se levantou e disse — Deixaríamos de ser qualquer coisa.

Três, logo quatro das casas nobres da Corte do Ar e da Escuridão se puseram de pé. Mantiveram-se de pé e mostraram seu apoio ao que Miniver havia dito. Seis das dezesseis casas ficaram de pé contra mim. Era algo que não tínhamos previsto. Ou eu não tinha. Doyle estava muito quieto sob minha mão.

Todos meus homens tinha estado muito tranqüilos, exceto os trasgos a meus pés e os Boinas Vermelhas as minhas costas. A imortalidade não significava o mesmo para eles que para os sidhe, outras coisas aconteciam aos trasgos. Coisas que eu não tinha compreendido exatamente.

— Eu digo quem será meu herdeiro — disse Andais. — a não ser que deseje me desafiar a um combate pessoal, Miniver, Nerys, todos vocês. Com muito prazer lutarei com cada um a seu turno, e esta discussão cessará.

Miniver sacudiu sua cabeça. — Sua resposta a tudo é a morte e a violência, Andais. Isto nos conduziu a estar sem filhos e quase sem poderes, mas nossa imortalidade, você não pode ter isso.

— Então me desafie, Miniver. Faça de você mesma rainha, se puder.

Se a raiva de Miniver pudesse ter girado através do salão e golpeado Andais, a rainha teria morrido no lugar em que estava sentada, mas a cólera de Miniver não tinha esse poder. O dia que os duendes, qualquer duende, pudesse matar simplesmente com o pensamento colérico tinha passado faz muitos séculos.

Andais olhou para Nerys. — Você, Nerys, desejas ser a rainha? Deseja o suficiente para me desafiar em um duelo? Me derrote e poderá ser a rainha.

Nerys só ficou ali, olhando-a fixamente com seus olhos de três cinzas, que quase refletiam os da própria rainha. O comprido cabelo negro de Nerys estava penteado em séries de complicadas tranças que penduravam como uma pesada capa a suas costas. Seu vestido era branco com toques de negro na bordo, no cinto, no laço em seus pulsos. Via-se fresca e correta. Não havia nenhum sentido do ultraje com o qual Miniver vibrava.

— Eu nunca presumiria de desafiar à rainha do Ar e da Escuridão a um duelo. Seria um suicídio — Sua voz era tranqüila, e de algum modo escura. Mas não havia cólera nela, nada que pudesse demonstrar verdadeira ofensa.

— Mas um ataque em segredo, uma tentativa de assassinato, não seria um intento de suicídio, não é? — o sorriso de Andais não era agradável — Não se não lhe pegarem.

Nerys só ficou ali, olhando para o trono, sem espionagem de medo, nada de pânico, nada de nada. Se Andais pensava que poderia assustar a Nerys até que confessasse, equivocava-se. Nerys ia forçar Andais a mostrar provas. Não entendia que tínhamos a prova? Pensou que com a morte do Nuline estava a salvo?

— O assassinato é um bom negócio enquanto não se é descoberto —

Andais olhou para a linha de nobres parados, acredito que para não individualizar a Nerys, mas foi como muitas coisas esta noite, tentando fazer uma coisa, outra coisa era obtida.

Miniver começou a mover-se entre sua gente para o espaço entre sua mesa e a próxima. Algumas das pessoas de sua casa lhe tocaram no ombro; ela sacudiu a cabeça, e eles a deixaram ir. Saiu de entre as mesas, suas costas reta, como esculpida em âmbar e ouro.

— Tem algo que dizer, Miniver? — perguntou Andais.

— Eu desafio à princesa Meredith a um duelo — Para alguém que havia parecido tão zangada, ela estava estranhamente acalmada quando disse isto.

As pessoas em sua mesa gritaram, ?Não, não faça isto. Ela os ignorou, e manteve sua cara apontando para o assoalho. Nunca me olhou , só a Andais. Ela pedia minha vida, mas não era para mim a que perguntava.

— Não, Miniver. Não será tão fácil como isso. A princesa já sofreu uma tentaiva de assassinato esta noite, não necessitamos de duas.

— Eu teria preferido que meus encantamentos funcionassem antes desta noite, mas se ela não morre à distância, então o farei aqui e agora.

Minha cara não mostrou nada, porque tomou uns poucos segundos em compreender o que havia dito. Andais a olhou divertida, seus olhos faiscando.

Doyle tinha se posto de pé, ficando em frente de mim. Meus outros guardas se moveram para me defender de seu olhar, e de algo que pudesse fazer. Tive que olhar atentamente entre eles para ver algo mais que os guardas pulverizados ao redor dela formando um semicírculo. Era tão alta como qualquer deles, e não havia nada frágil ou temeroso em sua figura. Via-se muito segura de si mesma.

— Está admitindo, ante a Corte inteira, que você tentou assassinar à princesa Meredith esta noite mais cedo? — perguntou Andais.

— Tentei — disse Miniver, e sua voz soou por todo o salão, normal, como agora que o pior tinha passado ela não necessitava mais de sua cólera.

— Levem-na ao Corredor da Morte, e deixem-na com guardas extra.

Eles começaram a aproximar-se dela, mas a voz de Miniver se escutou — Fiz um desafio. Esse desafio deve ser respondido antes de que meu castigo comece. É a lei — Acredito que os guardas poderiam tê-la levado, mas houve outras vozes.

— Infelizmente devo concordar com uma criminosa tão inegável — disse Afagdu. — A Senhora Miniver está certa. Desafiou à princesa, e esse desafio deve ser respondido antes de que qualquer ação possa ser empreendida por seu crime.

Galen falou desde detrás de mim — Então ela tenta matar a Merry mais cedo, com armadilhas, e agora consegue outro intento. Não posso acreditar.

— É nossa lei — Doyle tinha estendido sua mão, e tomei, descansando a cara contra a linha nua de seu quadril. Um toque nervoso.

— Não — disse Andais. — o jovem cavalheiro tem razão. Lhe permitir seguir com este desafio é recompensá-la por sua tentativa de assassinar a um herdeiro real. Tal traição não será recompensada.

— Quando foi Cel e seus aliados os que desafiaram à princesa uma e outra vez não intercedeu — disse Nerys. — Estava mais que disposta a que Meredith fosse ao campo quando seu filho estava detrás dos duelos. Todos sabíamos que Cel andava atrás de sua morte. Meredith fez todo o possível por não ofender a ninguém, e sidhe atrás de sidhe encontravam alguma desculpa para desafiá-la. Quando desafia a um mortal a ter duelo atrás de duelo contra sidhe imortais, não é acaso um complô de assassinato mas com outro nome?

Andais sacudiu a cabeça, não como se não estivesse de acordo, mas sim como se não quisesse inteirar-se. — Levem a Miniver, Agora!

— Ninguém está por cima da lei, exceto a rainha mesma, e a princesa não é ainda a rainha — Isto foi dito por outro dos Senhores que tinha estado de pé quando Miniver fez seu enfático discurso contra minha mortalidade.

— Tornaste-te em meu contrário também, Ruarc? — perguntou Andais.

— Digo a lei, nada mais — disse ele.

— Não deteve os duelos antes — disse Nerys.

— Deterei-os agora — disse Andais.

— Está dizendo que Meredith é muito fraca para defender sua reclamação do trono? — perguntou Afagdu.

— Se isso for certo — disse Nerys — então deixa-a ter o trono, mas uma vez que for rainha poderemos desafiá-la, e se se nega será forçada a abandonar sua coroa.

Maelgwn falou, e ele, como Afagdu, não tinha sido um dos nobres que tinham se posto de pé. — A princesa Meredith deve lutar agora, ou mais tarde, minha rainha. Muitas das casas perderam a fé nela. Deve recuperar essa fé, ou nunca será rainha.

— Nós não perdemos a fé — disse Miniver, desde detrás da muralha de guardas. — já que não se pode perder o que nunca se teve.

A mão do Doyle se apertou sobre a minha, e deslizei meu braço ao redor de sua cintura. Tinha sido apanhada por nossas leis antes. Provavelmente conhecia as leis do duelo melhor que a maioria, porque tinha procurado uma escapatória há três anos, antes de que tivessem me forçado a escapar da Corte antes de que fosse desafiada até a morte. E cada um deles sabia que Cel estava detrás de tudo isso.

Se alguém mais não tivesse tratado de me matar, de novo, teria estado bem ter escutado a verdade a respeito do Cel frente a plena Corte.

Aderi ao Doyle, compreendendo de uma forma estranha que estava exatamente como antes, onde tinha começado três anos atrás. Tinha partido por temor a que o próximo duelo fosse meu último, e agora aqui estava, desafiada de novo. Desafiada não só por um sidhe, mas também pela cabeça de uma casa inteira. Havia três formas de ser cabeça de uma casa. Herdá-lo, ser eleito ou pode desafiar um depois de outro aos membros de uma casa até que os destrói a todos ou eles concedem que você é um melhor lutador e não ficarão em seu caminho. Adivinham que caminho tinha seguido Miniver em nossa Corte?

Miniver tinha sido uma das últimas nobres da Corte da Luz em pedir a admissão em nossa Corte. Tinha esperado um punhado de dias até que encontrou qual das casas nobres era a mais respeitada por sua magia, então os tinha desafiado, um depois de outro, até que cinco duelos mais tarde lhe tinham entregue seu respeito e sua lealdade. Como desafiava, eu podia escolher as armas. Antes de que tivessem vindo minhas mãos de poder, tinha escolhido facas, ou pistolas, se ainda estivessem permitidas, mas agora tinha uma mão de poder que era perfeita para este desafio. Antes de que lutássemos, devíamos fazer um pequeno corte em nosso corpo, e provar o sangue do outro. Um pequeno corte era tudo o que necessitava a Mão de Sangue . O problema era que, se escolhia a magia e Miniver não sangrasse até morrer o bastante rápido, ela me mataria.

Falei com minha cara pressionada contra a pele do Doyle. — Os sidhe nunca chamam a um duelo até a morte. Que sangue reclama ela?

A profunda voz do Doyle cortou através do murmúrio de vozes. — A princesa pergunta até que sangue reclama-se desafiadora.

A voz de Miniver soou clara e estranhamente triunfante, como se tivéssemos sido parvos ao perguntar. — Ao terceiro sangue, certamente, e se pudesse pedir um duelo de morte, faria-o. Mas os sidhe imortais não podem morrer, a não ser que sejam corrompidos pelo sangue mortal.

Levantei-me, um braço ao redor da cintura do Doyle. Os homens se moveram para fazer uma espécie de cortina através da qual pudesse vê-la. Os guardas ao redor dela fizeram o mesmo, embora ela não estivesse sendo abraçada por ninguém.

Não, estava de pé alta, erguida e cheia daquela horrível arrogância, aquela segurança que sempre era a maior das debilidades dos sidhe.

— Beberá de meu sangue, Miniver, e se meu sangue realmente te fizer mortal, então arrisca a uma verdadeira morte.

— Contento-me de qualquer forma, Meredith. Se lhe mato, como acredito que o farei, então não terá o trono, e não poluirá esta corte com sua mortalidade. Se, por alguma singularidade me matar, me dando morte real, então minha morte mostrará ante a corte inteira o que será seu destino se lhe aceitarem como sua rainha, e realizarem um juramento de sangue contigo. Se através de minha vida ou minha morte posso impedir que sua mortalidade se estenda através da Corte do Ar e da Escuridão como uma maldição, então estarei mais que contente.

Um dos nobres de sua casa disse — Senhora Miniver, ela leva a Mão de Sangue agora.

— Se for tão valente para escolher a magia contra mim, então morrerá ainda mais rápido. Não pode me sangrar até a morte por três feridas pequenas, não antes de que eu a possa matar — Parou-se ali, extremamente confiante, e se eu tivesse tido só a primeira parte da Mão de Sangue, ela teria estado certa. Mas podia alargar essas três diminutas feridas, derramando o sangue de sua vida cem vezes mais rápido. Se pudesse sobreviver o tempo suficiente, então a teria.


Capítulo 33


Não havia nenhum segundo que perder em um duelo seelie. Uma vez que um dos combatentes não podia continuar, a luta acabava. Não há nenhum segundo que desperdiçar, só recolher a arma e te vingar. Mas pode escolher quem dirigisse a você a faca no duelo de sangue. Doyle tinha tomado emprestado uma cinta para retirar seu cabelo para trás e tirá-lo de sua cara. Colocou a ponta de sua faca contra meu lábio inferior, situando a ponta do mesmo contra a suave pele de minha boca. Foi rápido, mas doeu de todos os modos. Isto sempre passava quando se faziam sangrar na boca. Mas isto seria um beijo para selar o duelo de sangue. Nunca uma minúscula quantidade de sangue poderia significar tanto.

Se este tivesse sido um duelo à primeiro sangue poderíamos ter levado a armadura completa, mas como o primeiro corte estava na cara. Tudo o que tinha que fazer era tirar o escudo, e poderiam te cortar.

Embalou minha mão na sua, despindo meu pulso com a ponta da faca. De novo, rapidamente, feriu-me outra vez, mas foi um corte mais extenso. Não muito profundo, mas mais largo. O sangue encheu a ferida rapidamente e esta começou a gotejar devagar para baixo, pela minha pele.

Se este tivesse sido um duelo à segundo sangue, poderia-se ter mantido um pequeno escudo sobre a cabeça, mas um duelo à terceiro sangue significava que não tinha nenhuma tipo de armadura. Nenhum amparo sobre sua pele e independente de qual roupa estivesse usando.

Doyle tocou uma parte de minha garganta com a faca, e foi um corte pequeno que só me picou. Não pude ver quanto sangue saía, mas pude sentir o primeiro fio do calor de meu sangue quando este começou a deslizar-se ao longo de meu pescoço.

Os três cortes doeram, foram agudos e rápidos, era bom. Sabia por experiência que se qualquer dos cortes se fechava antes do final do ritual, a faca de Miniver teria que voltar a abrir minhas feridas. Não queria isto. Não queria isso, ter que expor sua carne às facas de seus inimigos. Uma vez Galen dirigiu a faca pra mim, em um duelo, e foi tão delicado com a impetuosidade de duas das feridas que estas tiveram que ser reabertas. Não queria que os amigos do Cel estivessem muito perto de uma ferida em meu pulso.

Elevei a vista para a misteriosa e formosa cara do Doyle. Quis lhe dizer tantas coisas. Quis beijá-lo e lhe dizer adeus, mas não me atrevi. Estávamos de pé em um círculo mágico que a rainha tinha improvisado sobre as pedras do salão principal da corte.

Dentro deste círculo era tudo sagrado, e o toque de sangue mortal poderia polui-lo, como tinha acontecido em outros duelos. No último duelo que tive tinha conseguido matar a meu competidor. Tinha estado armada com uma pistola. E tinha sido uma proscrita depois daquele duelo. Pensei que era injusto, já que a arma tinha atuado como o detonante de tudo o que aconteceu. O sidhe que tinha morrido, tinha pesado mais de cinqüenta quilos que eu, e tinha tido o dobro do tamanho nos braços e pernas.

Também era um grande espadachim, coisa que eu não era. Mas ele não tinha tido muita pontaria com as armas de fogo. A maioria dos sidhe não tinham, só os Corvos da Rainha eram a exceção. A maior parte dos sidhe, ainda tratavam às armas de fogo como se estas fossem algum tipo de truque humano.

Mas hoje não havia nenhuma arma. Nenhuma espada, nenhuma arma de fogo. Havia escolhido a magia, e por isso Miniver estava até mais confiante em sua vitória. Esperava que ela se confiasse em seu poder. Era Luminosa e acredito que isso era o bastante.

Estava de pé em frente a mim, com seu vestido dourado. O sangue havia começado a brotar, era uma fina linha escura sobre a parte da fente de seu vestido, deixando seu pescoço ensangüentado. Os punhos de seu vestido eram de cor escarlate como seu sangue.

Embora seu sangue era um pouco mais escuro do que se encontrava em sua boca, este era carmesim quando começou a derramar-se para baixo por seu queixo.

Lutei com o impulso de lamber meu próprio lábio, quando senti que o sangue gotejava sob meu queixo, mas, como se supunha, quanto mais sangue houvesse mais atrairíamos a atenção do competidor.

— As feridas são satisfatórias? — perguntou a rainha do trono onde tinha se sentado para observar.

Nós duas assentimos com a cabeça.

— Então façam o juramento uma à outra. — A voz de Andais soou neutra, mas não tão perfeita. Sua voz a traiu mostrando um pouco de cólera e de inquietação.

Doyle deu um passo para um lado, e o nobre que tinha dirigido a faca para Miniver fez o mesmo mas em frente do círculo. Isto nos deixou sozinhas Miniver e eu nos enfrentando no espaço ladrilhado.

Ficamos imobilizadas durante um batimento do coração ou dois, então ela começou a avançar, cruzando o espaço, sua saia se encheu de ar parecendo uma grande nuvem dourada. Avancei até encontrá- la. Tive que ser muito cuidadosa, porque não era tarefa fácil com os altos saltos que usava, cruzando todo o chão de pedras antigas.

Não ficaria bem se torcesse um tornozelo. Além disso minha saia era muito curta para fazer algo mais, e toda minha roupa estava empapada pelo sangue. Assim que nada em mim ondeou ou flutuou como uma nuvem.

Suas saias espessas pareceram abrigar minhas pernas quase nuas. Olhou para baixo, para mim no momento, como se esperasse que eu terminasse de avançar, mas ela era um pé mais alta que eu, e não ia percorrer nenhum caminho para fechar aquela distância sem sua ajuda.

Manteve-se de pé ali, com o sangue gotejando por seu queixo. Com as mãos nos lados. Não estava segura aonde olhava a princípio;

então compreendi. Olhava fixamente minha garganta, para o sangue que se deslizava de ali. Tentava parecer que olhava fixamente, como se estivesse horrorizada pela barbárie da ação, e a maior parte de sua cara teve êxito, mas seus olhos... aqueles formosos olhos azuis como três círculos de céu perfeito... aqueles olhos estavam cheios de algo próximo à fome.

Recordei o que Andais havia dito: quem compreendesse a arte da magia, entenderia a loucura da batalha, da sede de sangue. Quem entendesse a arte da magia teria entendido a magia de Andais. Para melhor entender tudo isto, somente experimentando-o a gente mesmo.

Os olhos de Miniver olharam fixamente a ferida em minha garganta como se fosse algo maravilhoso, e terrível. Queria o sangue, ou a ferida, ou o dano; algo que a fascinava. Mas temia aquela fascinação. Tinha passado parte de meu tempo pensando nas afeições de Andais. Sabia que para ela o sangue, o sexo e a violência estavam entrelaçados todos até acabar formando uma unidade, e para outros, tinha-o oculto.

Miniver nunca teria a ação ou a palavra que dava tanto poder à rainha. Se tivesse o mesmo controle da fome que algumas vezes se achava na cara de Andais, então Miniver teria o controle de um santo. Certamente, é fácil ser um santo quando é terrivelmente cuidadoso para nunca ser tentado.

Miniver tinha estado fora, o tempo que deixa a corte quando todas seus hospitalidades eram muito sangrentas. Ela era uma luminosa para desfrutar do esporte do sangue, como tinham comentado. Mas agora vi a verdade em seus olhos. Não tinha partido porque estivesse horrorizada; partiu porque não confiava em si mesma. Como agora mesmo não confiava em si mesma.

Sabia o que era negar sua verdadeira natureza. Tinha-o feito durante anos entre os humanos, quando estava longe das fadas e sem estar sem alguém que ansiava tocar ou pertencer. Conhecia o anseio depois de estar tanto tempo longe de nossa gente. Era algo entristecedor. Seria o mesmo para o Miniver?

Fechei a distância entre nós, aproximei-me até tocar o rígido tecido dourado, até que pude sentir suas pernas, seus quadris, contra meu corpo. Olhou o sangue que corria por minha garganta, como se o resto da minha pessoa não existisse. Finalmente me aproximei o suficiente para pôr minhas mãos ao redor de sua cintura me mantendo estável sobre meus altos saltos.

Retirou-se então, e fez um ligeiro movimento por que não desejava meu abraço, mas não tinha sido por isso, ou ao menos não somente por isso. Eu tinha avançado um passo para ela para que não pudesse ver fluir meu sangue.

— É uns 30 cm mais alta que eu, Miniver. Não posso fazer o juramento contigo, a não ser que me ajude.

Apartou a vista, elevando seu perfeito nariz para mim.

— Muito pequena para ser sidhe em qualquer Corte.

Assenti, e me estremeci, fiz uma ameaça de tocar minha garganta. Isto doeu, mas nem tanto. Viu-me tocar a ferida, olhou como retirava o pescoço de minha blusa. Se tivesse sido um homem, ou alguém que gostasse das mulheres. Poderia a ter acusado de desfrutar de ver um brilho de meu cremoso peito quando abri minha blusa, mas não acredito que algo tão simples como ver o topo de meu peito a afetasse. Penso que foi a vista da cremosa carne com o sangue fresco por cima o que a afetou.

Ofereci-lhe minha mão, o punho que tinha o corte.

— Venha, Miniver, me ajude a fazer este juramento.

Não podia me rechaçar, no momento sua mão tocou a minha, senti que saía mais sangue, quando atirou para trás. Deve ter sido uma tortura para ela ver primeiro como comiam os trasgos, e mas tarde os semi•duendes.

— Se desejas suspender o duelo, não discutirei — eu disse, e minha voz soou completamente razoável.

— Certamente que não, porque estou a ponto de acabar com sua vida.

— Sangrará-me? — Perguntei, levantando o pulso para que pudesse ver quanto sangue saía. — Deixará meu corpo aberto e sangrando em cima destas pedras?

Uma linha de suor danificava sua perfeita testa. OH, sim, ela queria fazer justamente isso. Queria matar como tinha visto fazer Andais. Era um de seus próprios desejos mais ferventes e ocultos. Se a despojava de seu pretexto na luta, me mataria. Mas se pudesse deixar clara suas intenções agora, imediatamente, se pudesse fazer que me atacasse durante o beijo, então a poderia golpear sem nenhuma cerimônia, também. Poderia abrir aquela branda garganta de um lado ao outro, e talvez, somente talvez, poderia sobreviver.

Ela tinha duas mãos de poder. A primeira poderia provir de longe, e não queria essa. Poderia me mandar um golpe de energia de uma grande distância, e um golpe direto poderia parar meu coração, mas ela tinha outra segunda mão de poder. As garras.

Tinha que pôr seus magros dedos contra meu corpo, e seria como se umas garras invisíveis se estendessem até cravar-se. Umas garras invisíveis que cortavam a carne como facas, e poderia esquartejar o corpo sem a resistência do metal. Doyle e Rhys tinham visto seu emprego no passado. Esta estava em sua mão esquerda, e a esta era a que eu se poderia sobreviver. Então esta era a que lhe tinha que obrigar a usar.

Tinha tido medo, mas agora não havia tempo para o medo. O pânico me teria matado, e o que aconteceria a meus homens se morresse? Frost havia me dito que ele se mataria antes de ter que retornar para Andais. Eu era tudo o que se interpunha entre eles e a piedade da rainha. Não podia abandoná-los, não assim. Não quando estavam desprotegidos.

Tinha que sobreviver. Tinha que sobreviver, e isso significava que Miniver tinha que morrer.

Joguei-me para trás no áspero abraço que me oferecia sua roupa dourada, e como antes tinha estado o suficientemente perto para sentir seu corpo com o vestido, pus minhas mãos em sua cintura para me manter em equilíbrio de novo.

Desta vez me atirou contra ela, o mais rápido que pôde.

Levantei minha mão esquerda, coloquei-a em sua ferida mas fresca, como se tocasse a cara, mas agarrou meu pulso para me parar. Realmente não doeu, quando colocou sua mão sobre a ferida, mas fiz um pequeno som de dor de todos os modos.

Seus olhos se voltaram somente um pouco mais abertos, quando voltou a pressionar com sua mão meu pulso. Obriguei-a, fazendo outro pequeno som.

Pude ver seu pulso na garganta quando este pulsava sob sua pele.

Gostava dos sons. Gostava quando apertava até mais meu punho, mas o seguinte som que saiu de minha boca foi de verdade.

Minha voz saiu velada, e este não saiu fingido.

— Faz-me mal.

Pressionou-me contra seu corpo, torcendo meu braço detrás de minhas costas para poder seguir apertando minha ferida. Atirou de meu braço para cima, agudamente como se quisesse tirá-lo da articulação.

Gritei, e seus olhos se voltaram mais selvagens. Colocou sua outra mão contra a parte detrás de minha cabeça, formando uma bola com meu cabelo ensangüentado com sua mão. Um som saiu de sua garganta, e olhei sua luta interna, olhei a batalha da raiva que seus olhos mostravam a essa distância. Se tivesse julgado isto mal, estaria a ponto de morrer, e isto ia ser muito mais lento e bastante mais doloroso. Este pensamento havia produzido medo em minha pele, com um pulso ensurdecedor em minha cabeça. Não o combati, e foi como se Miniver pudesse cheirá-lo em mim, podia cheirar meu medo, e gostava.

Sua boca se abateu sobre a minha, um fôlego fechou o espaço e selou nosso juramento. Atirou de meu braço outra vez, e gritei para ela. O som que saiu dela Fo quase uma risada triunfal, mas não tinha nada que fazer contra essa risada. Nunca havia escutado nada como ela. Se a tivesse escutado na escuridão, teria tido um medo desesperador.

Sussurrou em minha boca, — Grita para mim, grita para mim para que beba de seu sangue. Grita, e não te farei dano enquanto bebo.

Vacilei, porque não podia decidir naquela fração de segundo, o que seria o melhor: aceitar e gritar, ou me aproveitar disso. Miniver se aproximou mais a mim.

Pressionando sua boca à minha, e desta vez não gritei para ela, ela me fez gritar.

Atirou meu braço outra vez, e este fez um pequeno som, mas ela não queria escutar um pequeno som. Sem nenhuma advertência, sem nenhuma pequena magia; minha mão esquerda de repente foi penetrada por umas facas, cinco fios que cortavam minha carne e ossos. Gritei para ela então, gritei, e gritei, e gritava, colada contra sua boca, apanhando o som contra seu corpo. Ela bebeu meus gritos da mesma maneira ela bebeu meu sangue, e me defendi.

A dor e o medo dirigiram meu poder. Não pensei, ?Sangre, pensei.

?Morre. Sua garganta se encheu de seu sangue, por que ainda seguíamos unidas, por isso nós começamos a tossir coágulos de seu sangue.

Pensei que me deixaria ir, mas nem se alterou. Sua mão ainda sujeitava meu cabelo, e tudo o que ela tinha que fazer era chamar seu poder, e eu morreria. Enfoquei-me na ferida de seu pulso, e ela tentou gritar por sua garganta machucada. Sua mão se retirou de minha cabeça, e a mão caiu para baixo como se se desprendesse do ombro. Agora não havia fome em seus olhos, só medo e horror, e era o pânico que só o que realmente era imortal pode mostrar ante a morte. Aquele medo absurdo que sentem quando começam a considerar o resultado final.

Separou-me de seu corpo, e não pude me assegurar com apenas um braço bom. O braço que tinha forçado para trás de minhas costas estava inutilizado, intumescido e com uma dor insuportável. Não podia sentir meu ombro, e sabia que era provavelmente uma boa coisa.

Parei-me no chão durante uns segundos tentando decidir se estava muito ferida para me mover. Então vi que avançava cambaleando-se para mim, tentava aproximar sua outra mão até seu punho, como se tivesse problemas usando sua mão de poder com sua mão ferida. Tinha que fazer algo antes de que conseguisse usá-la.

Olhei fixamente à massa de músculos e sangue que formava em sua garganta, sua coluna vertebral brilhava úmida graças às luzes. Podia ver os ossos de seu clavícula justamente sobre seus peitos. Mas até sofrendo todo este dano, ainda lutava para me matar. Deveria estar morta agora. Por que não morria?

Empurrei meu poder sobre ela. Podia sentir como um punho enorme exercia pressão justamente baixo um de seus peitos. Oprimi com aquele poder, oprimindo-a, concentrada só nisso.

Uma avalanche de energia pôs meu cabelo em pé por todo meu corpo, e se criou uma fissura no chão longe de mim. Miniver tinha rasgado sua própria mão, e tentava lançar um fluxo de energia desde seu coto sangrento, mas tinha problemas para reter o poder.

Senti uma pressão enorme de poder em seu peito, na ferida que lhe tinha feito, e a abri. Estendi os dedos prolongando minha magia, e seu peito explodiu para o exterior em uma chuva de carne, osso e coágulos de sangue carmesim.

Tive que usar minha mão boa para limpar o sangue que havia em meus olhos, então pude ver Miniver caída de costas, seus braços arranhavam as pedras como se tentasse respirar sem sua garganta, sem seu tórax, sem os pulmões. Se tivesse sido humana já estaria morta. Se tivesse sido mortal, teria estado morta. Mas não estava morta.

Ouvi a voz da rainha distante, mais distante do que deveria ter sido.

— Declaro este duelo terminado. Qualquer das competidores pode argumentar algo?

Não houve nenhum som.

— Declaro Meredith ganhadora. Alguém discute isto?

Ouvi uma voz, embora não saberia precisar. Mas era uma mulher.

— Estão no chão. Penso que a princesa sofreu igual dano como Miniver.

Compreendi então que teria que me levantar. Consegui me afiançar com o braço direito que era o que estava bom. Meu mundo nadou em múltiplas cores, mas consegui endireitar meu braço, para poder me sentar. Elevei a vista, devagar, e percebi que era Nerys quem tinha estado falando contra mim.

— Estas contente agora, Nerys? — perguntou Andais.

— A Lei diz que para ser o vencedor deve deixar o círculo sob seu próprio poder.

Realmente começava a ter aversão a Nerys. Empurrei-me sobre meus joelhos, e o mundo mudava de cor, mas finalmente podia ver outra vez. Não estava completamente segura se poderia me manter em pé, isso sem falar de andar até sair do círculo. Mas se não tiver nenhum orgulho que defender, então há outros métodos para te mover. Avancei lentamente por um lado, sobre meus joelhos. Avancei lentamente para Nerys. Cruzei o círculo mágico justamente diante de sua mesa, então usei minha mão boa para agarrar o bordo da mesa e me pôr erguida. Olhei fixamente não muito ao longe e disse:

— Doyle.

Esteve a meu lado no momento, provavelmente tinha estado mais perto do que supunha.

— Estou aqui, princesa.

— Peça à rainha que conte a toda da corte o que fez Nerys.

Chamou Andais, — A princesa solicita que revele o que Nerys fez.

A rainha o fez, só olhei Nerys, e toda sua gente começou a apartar-se da mesa, mas eu permaneci ali. Não podia fugir porque os guardas vigiavam a única porta, mas no momento permaneciam de pé. Sabia que tinham a intenção de lutar, mas não como Miniver tinha lutado, não dentro das regras. Tinham a intenção de lutar todos juntos.

— Semi•duendes. —eu disse.

Doyle estava apoiado perto.

— Me deixe te levar, Meredith. Eu disse outra vez.

— Semi•duendes.

Não pareceram me entender, mas de repente tinha uma pequena nuvem de fadas ao redor de mim.

— Chamou-nos, princesa? — foi dito por uma voz acampanada.

— Ofereço-lhe carne e sangue sidhe.

— O seu? — perguntou-me.

— Não —eu disse — o deles.

Houve um momento no que a nuvem de borboletas sangrentas vacilou, então foi como se uma só massa deles caísse sobre Nerys e sua gente. Foi tão inesperado que os semi•duendes conseguiram sangue e morder a carne antes de que os sidhe começassem a esmagá-los para tirar-lhe de cima, usando sua magia para queimar a algumas destas pequenas criatura que agitavam o ar.

A cara de Nerys era uma massa de arranhões sangrentos. Todos estavam sangrando, suas mãos, pescoços, caras e peitos. Os semi•duendes tinham feito um bom trabalho.

Nunca me ocorreu que não deveria havê-lo insinuado. Nunca me ocorreu que isto não funcionária. O medo é uma coisa maravilhosa. Muito mais; Somente não podia sentir meu braço. Mas podia sentir meu poder. Sussurrei.

— Sangrem — e o sangue começou a fluir de suas feridas. De todas suas pequenas feridas começaram a brotar o sangue.

Aquilo começou a aplainar nosso caminho, mas um cavalheiro com alguma arma devia tomar a substituição, rompendo o calor.

— Trasgos —eu disse, e o chefe dos Gorros Vermelhos, Jonty esteve ali, com o Ash e Holly a seu lado — Tragam seu irmão Gorro Vermelho.

Jonty não discutiu, mas permaneceu como uma parede enorme e outros se alinharam ao redor de mim. Ajudaram-me a me manter segura enquanto chamava o sangue de Nerys e seus nobres.

Alguns se adiantaram e aproximavam suas facas às espadas dos guardas. Acredito que preferiam serem cortados a seguir o caminho que Miniver tinha tomado.

Então uma das nobres caiu sobre seus joelhos, e rogou.

— Nos perdoe! Andais disse.

— Teria me matado, e fez que quase matasse a meus guardas. Que piedade merece?

A mulher avançou lentamente para a mesa, e Doyle me moveu para trás, longe de seu alcance sangrento.

— Por favor, princesa, por favor, não destrua nossa casa, tudo o que somos.

— Nerys deve morrer, já que ela os induziu a trair a sua rainha. A voz de Nerys disse com toda arrogância.

— Eu pagarei o preço por minhas ações se tiver piedade com minha gente.

Andais esteve de acordo, e Nerys saiu de detrás da mesa, coloco-se de pé onde Miniver e eu tínhamos começado nossa luta. O círculo tinha desaparecido.

Já que isto não era um duelo. Era uma execução. Exceto que como matas a alguém que é imortal? Miniver ainda lutava no estou círculo rodeado pelos guardas. Como matar a um imortal? Lhes fazendo migalhas.

Eu tinha Ash para fazê-lo, porque necessitava ao Doyle para me manter segura, e não tinha pedido a qualquer dos outros guardas para fazer isso.

— Ash corte-a por sua garganta, peito e estômago — pensei que era bastante com isso. Os Gorros Vermelhos a rodeavam, e os semi•duendes estava no alto. Elevei a mão de sangre para aquelas feridas, e esta se abriu como um melão amadurecido jogado nbo chão.

Os Gorros Vermelhos e os semi•duendes foram empapados por seu sangue. Mas não morreu.

Minhas pernas não me sustentavam mais, e Doyle me agarrou em seus braços. Levou-me onde estava a rainha, chorando, mas não recordo.

— Não posso matá-los mais do que isso.

Ela me deu sua espada, Temor Mortal, pelo o punho.

— Ela não consegue ficar de pé para segurá-la — disse Doyle.

— Então a darei a seus aliados, os trasgos e semi•duendes. Deixarei- lhes que a comam viva como uma advertência a nossos inimigos. Examinei seus olhos e esperei que estivesse brincando, mas sabia no fundo que não era assim. Ofereci minha mão para recolher a espada, e me deu isso. Doyle me levou com a espada descansando em meu colo.

A rainha se ergueu e anunciou em voz de alta.

— Miniver bebeu do sangue do Meredith, ainda assim não morreu pelas feridas mortais. Parece que isto refuta a teoria de que a mortalidade de Meredith é contagiosa.

O silêncio foi preenchido por suas palavras, o silêncio e as caras que empalideciam pelo conflito. Acredito que A Corte do Ar e da Escuridão tinha visto mais de uma vez o espetáculo desta noite.

— Meredith me pede para matar às duas traidoras e não as deixar nas condições que estão. Disse-lhe que lhe desse morte, ou eu as entregaria aos trasgos e aos semi•duendes para que se tivessem um banquete. Lhes deixando que as comam vivas, e deixar que o eco dos gritos encham os ouvidos de meus inimigos.

Elas olharam para cima, como se fossem meninas às que lhe dizia que o monstro que estava debaixo da cama, ia as comer enquanto dormiam.

— Mas de suas mortes não tenho que me encarregar, e se a princesa pode lhes dar morte antes de que as comam os trasgos e os seres diminutos, então que assim seja.

Doyle me colocou sobre o chão, logo vacilou um momento antes de me colocar diante de Miniver. Sua garganta tinha começado a curar- se, formando-se carne onde antes estava rasgada. Compreendi que sobreviveria a esta ferida. De fato, a mão que tinha esmigalhado no intento de me matar estava quase formada outra vez.

— Doyle —eu disse, e pareceu saber o que pensava, porque chamou a meus guardas.

Se Miniver se curasse, então significava que ainda era perigosa. Seria tolo tentar matá-la e não lhe oferecer um pouco de piedade.

Andais me chamou.

— Por que necessita a mais guardas, sobrinha?

Doyle respondeu por mim — Ela esta se curando, minha rainha.

— Sim, seja cuidadosa com seu ato de piedade, porque se no final consegue te matar, Meredith, seria uma vergonha. — disse-o quase sem lhe dar muita importância, como se realmente não lhe importasse. — Encontrará, sobrinha, que aqui ninguém te respeitará por ser clemente.

Disse brandamente para ela que se inteirasse. — Não faço isso pelo respeito deles.

— O que disse, sobrinha?

Suspirei e fiz todo o possível por ser mas clara. — Não faço isso pelo respeito deles.

— Então por quê? — perguntou-me.

— Por que se estivesse em seu lugar, quereria que alguém o fizesse por mim.

— Isso é a debilidade, Meredith, e a Corte do Ar e da Escuridão não perdoará isso. É um pecado entre eles.

— Não faço para o prazer deles ou sua dor; Faço porque me importa o que faço, não o que eles fazem, não o que ninguém faz, só o que eu faço.

— Parece-me ouvir o eco de meu irmão. Recorda o que lhe passou, Meredith, e toma isto como uma advertência. Foi muito provável que seu sentido da piedade e as intrigas das fadas fosse o que conseguiu matá-lo. — aproximou-se para baixo só uns passos, recolhendo suas negras saias, e ficou parada, posando como se esperasse um fotógrafo para que fizesse uma fotografia. Sempre se movia pela corte desdobrando-se esplendidamente.

— Estranho então, tia, que tenha sido sua violência e amor pela dor o que fizesse que quase a destruíssem.

Ficou quase a um passo.

— Tome cuidado, sobrinha.

Estava muito cansada, e as feridas começavam a me esgotar, meu braço começava a doer. Quis estar em algum outro lugar onde pudesse descansar até que pudesse sentir meu braço completamente outra vez. As primeiras pontadas de dor me avisaram, de que não seria desapercebida.

Olhei para baixo a Miniver.

— Desejas a morte verdadeira? Ou ser comida viva pelos trasgos?

Vi seus pensamentos que se refletiram por aqueles olhos azuis, uns bons, outros maus. Uns dos que não podia começar a entender.

— O que me farão? — perguntou ela, por fim.

Inclinei-me contra o peito do Doyle, e não quis responder a pergunta. Não queria isto. Não queria me sentar e me dirigir a alguém que deveria ter morrido. Alguém que estava a caminho da morte. Miniver ainda mostrava em seus olhos, esperança, e não deveria tê-la.

— Está se curando, os trasgos provavelmente a usarão sexualmente antes de que comecem a cortar em pedaços sua carne para alimentar-se.

Olhou-me debaixo, e vi negação em seus olhos. Não acreditou em mim. Refazia-se fisicamente, não somente seu corpo, mas também seu ego. Olhei aquela arrogância que começava a tomar forma outra vez em seu olhar. Não acreditava nos horrores que iriam acontecer. Acreditou que de algum modo sobreviveria, como tinha sobrevivido a meu ataque.

— Desejará a morte muito antes de que lhe chegue, Miniver.

— Onde há vida, há sempre possibilidades. — disse. A pele de seu peito se mostrava branca e inteira pelo sangue, como pele nova, recém criada, onde o sangue não a houvesse tocado alterando-a. Doyle colocou a dois guardas quase em cima dela e me aproximaram de Nerys. Esta não curava-se tão rapidamente, porque tinha sido mais cuidadosa ao feri-la, mas mesmo assim, se curava.

Dei-lhe a mesma opção que tinha dado a Miniver, mas Nerys disse.

— Me mate. — Seus olhos se posaram ante o circulo que formavam os Gorros Vermelhos, Holly e Ash. Ver como a olhavam a tinha convencido de que não queria estar viva quando a tomassem.

— Ash. — Tive que repetir seu nome duas vezes, antes de que se girasse com seus olhos verdes. — Ponha os Gorros Vermelhos ao redor do Miniver. Lhe deixe ver o que o destino a espera se tomarem sua vida.

— Ficaremos aqui contigo, não a tocaremos. Suspirei.

— Por favor, não lhes necessito comigo, somente façam o que tenham que fazer.

— Quanto de convincente quer que sejamos? — perguntou, e havia algo de cólera em sua cara. Tinha lhe falado com desdém, e este não era um bom tom para falar com um guerreiro trasgo, sobretudo com o que teria que compartilhar meu corpo dentro de pouco.

Dizer isso seria visto como a debilidade, e o faria pior. Fiz a única coisa que poderia fazer: Agarrei seu braço, não com a força como teria gostado, mas com toda a força que fui capaz quando no interior de minha cabeça me sentia frágil.

— Holly e você não devem convencê-la absolutamente. São meus, e não os compartilharei. Deixa que os Gorros Vermelhos a convençam. Ash soltou um riso que resultou feroz e pleno ao mesmo tempo, seu olhar me disse que sua idéia de matança era a mesma que a do sexo.

— Jogou muito bem com a primeira sidhe, princesa. — inclinou-se um pouco mais e quase sussurrou — Pequenos ruídos de socorro. Fará pequenos ruídos de socorro para nós?

Senti o corpo do Doyle me apertar mais, como se não gostasse da pergunta, ou do significado. Mas a verdade, era a verdade.

— Pequenos e necessitados, e provavelmente com grandes gritos.

Riu em silêncio, e era esse som tão masculino que todos os homens fazem quando pensam em que são maravilhosos. Quase tranqüilizava que risse. Um varão era masculino, pelo menos uma parte do tempo.

— Seus gritos serão a mais doce das músicas. — tocou minha mão com seu braço e coloco um beijo sobre o dorso dela. Então fez uns gestos, e todos os Gorros Vermelhos incluído Jonty, seguiram a certa distância.

Jonty me olhou.

— Meu rei me ordenou que protegesse seu corpo, não o dela. Distraí- me por este sangue, e a deixe permanecer muito perto dela dessa vez. Se tivesse te matado, nunca teria ouvido o final disso.

Falou bem para um Boina Vermelha, mas não disse isso em voz alta,

porque isto implicaria que estava surpreendida que os Boinas Vermelhas pudessem falar bem.

— Deve golpear a morte, mas sobre seus dois pés, Meredith — disse Andais — ou Nerys terá que ir com os trasgos.

Um medo autêntico flamejou nos olhos de Nerys, e articulou silenciosamente, ?Por favor.

Doyle pressionou sua boca contra meu ouvido.

— Pode ficar de pé?

Pus minha cara contra a sua e lhe dei a única resposta que tinha.

— Não sei.

Colocou-me sobre meus pés, e me estabilizou tudo o que necessitava. Olhei seu peito.

Estava o bastante perto para descansar a folha sobre seu coração. Minhas pernas começaram a tremer, mas era bom. Agarrei o punho com minha mão boa, tomei fôlego profundamente, e deixe que meu corpo caísse sobre o punho da espada, diretamente a seu peito e pressionando fortemente sobre o coração. A faca transpassou o osso em um segundo, deslizando-se para dentro. Derrubei-me sobre meus joelhos ao lado do corpo cansado, com minha mão ainda ao redor da punho.

Os olhos de Nerys, quase gêmeos aos da rainha, estavam abertos e sem vida. Fiz tudo o que podia por ela. Uns gritos chegaram até nós. Apoiei minha testa contra meu braço bom. Não estava segura se poderia me manter mais tempo de pé sozinha. Se a rainha insistisse em que fosse caminhando até Miniver, não poderia fazê-lo. Galen se ajoelhou a meu lado.

— Tire os saltos altos, Merry.

Girei minha cabeça somente para ver sua cara, que mostrava um sorriso.

— Garoto esperto.

Deslizou os sapatos fora de meus pés enquanto estava de joelhos. Compreendi que estava me balançando sobre meus joelhos. Com sapatos ou sem sapatos, isto não me dava um bom augúrio para passear.

— O que eles esstão fazendo com ela?

— Jogando — respondeu Doyle.

Levantei minha cabeça o bastante para encontrar seus olhos.

— Jogando?

Doyle e Galen trocaram um olhar. Isso foi o bastante.

— Me levem para ela. — Doyle me levantou com todo o cuidado que podia, a espada arrastada por um lado de minha mão. Sentia-a tão pesada. Ao que parece sentia o peso da morte, e que quase tinham arrancado meu braço, já estava pago o tributo.

Começava a ter vontade de descansar, mas o caminho que tinha que avançar até poder dormir era longo, era um dia difícil.

Os trasgos se moveram para que a corte pudesse ver o que faziam. Era um espetáculo. E o que tem de bom um espetáculo sem uma audiência? Um dos menores entre os Boinas Vermelhas se ajoelhou ao lado de Miniver. Seus dedos jogavam na carne que estava se curando em seu peito. Pressionou e beliscou sua carne, como se estivesse tocando seus genitais. Um toque aqui, uma carícia ali, mostrando sempre habilidade, mas seus dedos não estavam entre suas pernas. Seus dedos estavam dentro da carne de seu peito. Acariciava o topo de seu coração como se isto finalmente lhe levasse a orgasmo.

Doyle me levou perto de sua cabeça.

— Não deixe que comecem a gostar, Miniver.

— Tire os de meu interior. Tire os de meu interior!

Olhei ao Ash, e ele fez gestos ao resto para retirar-se a certa distância. Tinha jogado com seu corpo, mas o abandonou a contra gosto, e espremeu seu peito antes de afastar-se.

Miniver ficou ali ofegando sobre o chão, com olhos selvagens. Elevou a vista até o Jonty, que ainda estava sobre ela, e disse.

— Te afaste de mim.

— Não — disse ele — Sou seu guarda, e a protegerei. Não tenho nenhum interesse em sua carne branca.

Doyle me pôs sobre meus pés, mas minhas pernas não me sustentaram desta vez. Me derrubei sobre meus joelhos ao lado dela. Miniver estendeu a mão curada para mim, me suplicando. Tive um batimento do coração para compreender que mentia com seus olhos e seu corpo. Doyle golpeou sua mão de longe, e uma descarga de energia chispou fazendo uma brecha ao longo da mesa do outro lado do quarto. Jonty apanhou seu braço sob seu enorme joelho.

Sacudia sua cabeça.

— Quer que arranque o braço dela?

Pensei nisso, então neguei com a cabeça.

— Ata-a, e deixem que a tomem.

— Não — disse Andais — Por este último engano, acredito que deveríamos ver um pouco de seu castigo. —A rainha chegou rapidamente com sua seda negra. Olhou para baixo, a Miniver. — É uma idiota. Não entende que o fato de que esteja com vida e te curando, dá a entender que Meredith já não é mortal? Vi-a morrer hoje, e respira outra vez. Perdeste tudo, já não é nada.

— Mentira — disse ela.

Andais se apoiou mais abaixo, tocando a cara da outra mulher, acariciando a de uma maneira estranha.

— Queria sangue e violência. Vi isso. Todos vimos. Tentou me destruir. Agora veremos como desaparece. — deu-se a volta. — Vê agora, Meredith? Ofereceu piedade e tentou te matar. Não pode ser fraco entre os sidhe, não se desejas governar. — Tocou minha cara, como havia tocado a de Miniver. — Presta atenção a esta lição, Meredith, e corta a piedade que há em seu coração, ou algum outro sidhe certamente o partirá. — Seu sorriso era melancólico em uma parte, e outra expressão que não pude ler, e provavelmente não quis que a lesse. — Parece cansada, Meredith. — Retirou a espada de minha mão. — Pega a princesa e leva-a a minhas habitações, usa minha cama como se fosse a dela. Enviarei Fflur para que te sane. — Fez uns gestos e uma sidhe de cabelo dourado avanço para Miniver, a pele de Fflur era também de um pálido amarelo, e seus olhos de um negro profundo. Era a curandeira pessoal de Andais durante mais anos do que recordava.

Fez uma reverência encantadora e disse.

— Terei a honra de atender à princesa, de novo.

— Sim, sim — disse a rainha e agitou sua mão a distância, como se já não importasse e Fflur não tivesse nenhuma opção.

As cadeias tinha sido gastas, e Miniver começou a gritar quando lhe puseram os grilhões. Era de um ferro gelado, e suas mãos de poder não poderiam exercer sua magia enquanto as levasse. Os trasgos dominavam melhor o metal que os sidhe, provavelmente porque isto interferiria mais com a magia que com a força de braço que as fazia.

— Pegue ela, Escuridão. Vá. — girou-se e começou a caminhar para trás até seu trono.

Foi então quando Sholto compreendeu que tínhamos acabado por essa noite, por isso avançou para as portas.

— O dever dos sluagh é o de proteger à rainha, mas quando nosso trato estiver selado, também lhe protegemos. — Foi quase como uma desculpa por não haver ajudado mais esta noite. Sholto é jovem para ser rei, só quatrocentos anos, e isto o fazia mais humilde que os outros.

— Não concluirei nenhum pacto esta noite —eu disse.

— Está bem. Eu não vou deixar de lado à rainha esta noite. — Jogou uma olhada para trás, a ela. — O pacto é dos sluagh com Andais, e todos aqueles que estão sentados por aqui têm que recordar isto. Tinha razão, e de repente estava mais cansada do que podia agüentar. Não queria mais política esta noite. Não mais jogos. Meu braço palpitava, me enviando uma dor aguda, pontadas de dor por todo meu corpo como se tivesse múltiplas facas cravadas. Os músculos pareciam que tinham vida própria, contraindo-se involuntariamente. Lutei para não gritar pela dor, porque era uma debilidade, também, entre os sidhe.

Fflur toco ligeiramente o braço, e soltou um pequeno som de condolência.

— Tem os músculos rasgados, e os ligamentos que unem seus ossos. Estão deslocados, também. Os danos aos nervos serão mais difícil para curar que o osso. — Sacudiu sua cabeça, e produziu outra vez o som pela dor que estava padecendo.

— Pode curar-se esta noite? — pergunto Ash.

Fflur olhou ao trasgo, pensando se era necessário lhe responder, mas o fez.

— Não, esta noite não. É humano em parte, e isto faz que seu cura seja mais lenta.

Ash sorriu abertamente para mim.

— Então a abandonaremos por esta noite, princesa. Acredito que nós deveríamos ficar aqui e ouvir o que acontece esta noite.

— Como queira —eu disse, e realmente não me preocupava o que fizessem. Me aproximava do ponto onde a dor, era tudo no que poderia me concentrar. Logo nada mais me importaria, e meu mundo se reduziria a dor. Eu gostava de uma pequena dor mas em outro contexto, mas isto não tinha nada de prazer. Somente dor.

Deixamos o grande vestíbulo com os sons das vozes, quando os Escuros começaram a murmurar entre eles. Seria interessante ver quanto demorava para chegar o ocorrido desta noite aos ouvidos do rei da Luz e da Ilusão, na Corte Luminosa.

Estava previsto que em dois dias haveria um banquete em minha honra em seu tribunal. Dois dias para me curar. Dois dias para terminar minha aliança com os sluagh e os duendes. Dois dias não me pareceram suficientes para tudo.


Capítulo 34


Fflur era uma apaixonada pela cura naturista. Me fez beber uma taça de água fresca, clara, e a dor diminuiu. Despiu-me e lavou o braço na água. Não o curou imediatamente, mas os músculos deixaram de contrair-se e lutar, fazendo que a dor como punhaladas agudas passasse a ser uma dor única. Poderia viver com a dor, poderia dormir com essa dor.

O quarto da rainha tinha sido limpo enquanto nós tínhamos ido.

Como as damas brancas se desfizeram de todo o sangue, eu não sabia, e possivelmente não queria saber.

Galen me ajudou com o resto de minha roupa. Seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. Inclinou-se e me tocou com seus lábios na testa. — Pensei que te tinha perdido hoje. — Consegui me aproximar, mas ele se afastou. — Não, Merry, eu farei a primeira vigilância. Se me tocar, chorarei, e isso é tão vergonhoso. — Tentou fazer uma brincadeira com isso, mas não sortiu efeito. Pensei que simplesmente se preocupava com o que havia passado, mas eu não estava em forma para ir em sua busca e lhe fazer dizer a verdade. Doyle amoldou seu corpo nu ao redor do meu no centro da enorme cama da rainha. Esta era maior que uma cama de tamanho extra. Não a havia cunhado o tamanho de orgia por uma simples expressão, mas nunca o diria à rainha na cara. Estava sonolenta pelo preparado que Fflur tinha me dado. Disse-me que me ajudaria a dormir e aceleraria a cura. Adaptei a incipiente sonolência da poção e ao calor aveludado do corpo do Doyle.

Frost beijou minha testa, e isto me fez piscar meus olhos entreabertos. Não tinha me recordado de fechá-los. — Ajudarei ao Galen a fazer o guarda. Há alguém mais que tem que dormir a seu lado agora mesmo. — Havia um olhar estranho em sua cara, não era má cara, mas bem infantil. Ele me olhou, como se os séculos não o tivessem maturado. A vez seguinte que despertei alguém avançava lentamente a meu lado, movendo-se com cuidado ao redor de meu braço ferido. Este não era um corpo ao que eu conhecesse. Não poderia dizer como estava tão segura, mas eu conhecia os homens que compartilhavam minha cama •a sensação deles, o aroma de sua pele• e este não era ninguém aos que eu conhecesse bem. Abri meus olhos e me encontrei com a dourada cabeça rapada de Adair que se abatia em cima de mim. — A rainha disse que sou teu se me quiser. — Havia um olhar tremente em seus olhos, medo, incerteza. Somente a deusa sabia de que humor estaria a rainha depois de nosso pequeno espetáculo. Não tinha querido estar até o final para não ser o destinatário de seu tão grato humor.

— Permanecerá conosco — sussurrei — certamente, que permanecerá. Ele deu a volta e abraçou com suavidade meu corpo com o seu. Um estremecimento o transpassou, e tomou um momento compreender que ele chorava. A cama se moveu quando Rhys se arrastou ao interior para estar ao outro lado do Adair, e Kitto avançou lentamente através do pé da cama, Nicca e Sage com suas asas pregadas a suas costas se aproximaram de nós. Todos tocamos ao Adair, lhe comunicando com nossas mãos e nossos corpos que ele estava a salvo. Assim dormimos entre montões de enormes corpos quentes e mãos consoladoras.

Duas coisas me despertaram: Adair choramingando em seu sonho, e Doyle que se retirava para o outro lado. Pisquei tentando despertar, e seu braço que estava ao redor da minha cintura se apertou para me dizer que não me movesse. Fiquei congelada na curva de seu corpo, com um Adair que fazendo ruídos necessitados.

A rainha estava de pé ao pé da cama, com seu olhar fixo em todos nós. Eu não podia ler seus pensamentos, só que eles não eram ligeiros.

Acariciei as costas nua do Adair até que os ruídos cessaram, e ele caiu de novo no sono. Senti melhor do que vi que Rhys estava acordado do outro lado dele.

Penso que Nicca, Kitto, e Sage realmente ainda estavam dormindo;

suas respirações eram uniforme e profundas.

Frost e Galen se apoiaram na cama, detrás dela, como se eles quisessem agarrá-la, mas tivessem medo. Como protege a alguém da rainha? A resposta é, que não o faz, não pode.

Ela olhou para baixo, a nós e falou brandamente, como se ela não quisesse despertar aos que dormiam — Não sei a quem invejar mais. A ti com todos seus homens, ou aos homens emaranhados a seu lado. Provei seu poder e o encontrei doce, Meredith, muito doce. — Ela girou sua cabeça, embora eu não tivesse ouvido nada — Eamon me espera, e os guardas que escolhi para a noite. — Ela me olhou tornando-se para trás. — Inspiraste-me para escolher a mais deles para minha cama esta noite.

O corpo do Adair se esticou contra o meu, e eu sabia que embora seus olhos estivessem fechados, ele estava acordado. Ele fingiu que dormia da mesma maneira que um menino: Se fingir com bastante força a coisa má irá embora.

Ela soltou um riso gutural, e ele realmente saltou, como se o som o houvesse golpeado, embora eu soubesse que não o desfrutava. Ela abandonou o quarto rindo, mas nenhum de nós o achou particularmente engraçado.

Perguntava-me onde estavam Barinthus, Usna, e Abloec, e inclusive Onilwyn e Amatheon. Supunha-se que eles eram agora meus, e isso significava que tinha que protegê-los. Enviei ao Rhys para perguntar por eles. Ele voltou um momento mais tarde trazendo-os detrás dele a todos eles. Incluindo o Hawthorne, Ivi, e Brii. — Pedi permissão à rainha para trazer todos seus homens, e ela me obsequiou com os que ainda não tinha fodido por escolha. Todos decidiram ficar aqui durante a noite. —Ele parecia divertido e cansado.

Barinthus olhou a parte inferior da cama e sacudiu sua cabeça. — Não acredito que esta cama agüente a todos. — Ele tinha razão, mas eles manobraram até obter ficar mais deles sobre a cama dos que se acreditariam. Quando tínhamos nos instalado para passar a noite, com mais corpos com os que eu alguma vez tinha compartilhado uma cama, a voz do Amatheon veio de algum lugar desde o pé da cama, falando pela maior parte dos novos guardas. — Obrigado por enviar ao Rhys para nos buscar.

— Agora é meu, Amatheon, para bem ou para mal.

— Para bem ou para mal — disse Rhys desde algum lugar mais longínquo no quarto.

— Isto não é uma cerimônia de matrimônio humano — disse Frost da porta. Ele parecia um pouco aborrecido.

Doyle se abraçou mais fortemente contra mim, e me relaxei contra ele.

— O Matrimônio pode terminar no divórcio, ou as pessoas podem simplesmente partir — disse Doyle — Merry toma suas responsabilidades mais seriamente que isso.

— Assim, o que —eu disse na escuridão — na riqueza ou na pobreza?

— Não sei sobre isso — disse Rhys — Não acredito que queira ser pobre.

— Boa noite, Rhys —eu disse.

Ele riu.

De algum lugar perto da porta Galen disse — Na saúde e na doença, até que a morte nos separe.

Houve algo consolador e sinistro naquelas palavras.

A voz do Onilwyn saiu da escuridão, bastante longínqua na distância pelo que eu sabia que ele não tinha conseguido encontrar um lugar na cama. — Então é isso, você está obrigada conosco, com nossa proteção e nossos destinos?

— Com a proteção de vocês, sim, mas não com seu destino, Onilwyn. Seu destino, como o destino de todo o mundo, é teu, e ninguém pode lhe tirar isso.

— A rainha diz que nosso destino está em suas mãos — disse ele, com essa suave voz que cada um parece usar na escuridão quando começa a dormir.

— Não —eu disse — Não quero o destino de ninguém. Isso é muita responsabilidade.

— Não é o que significa ser rainha? — perguntou ele.

— Isso significa que tenho o destino de minha gente, sim, mas eles tem suas próprias opções individuais. Têm livre arbítrio, Onilwyn.

— Realmente acredita nisso? — perguntou ele.

— Sim —eu disse, e pus minha cara na curva do pescoço do Adair. Ele cheirava como a madeira recém cortada. Ninguém o tinha feito mover-se, e isto me fez me perguntar o que tinha lhe feito Andais além de lhe cortar o cabelo.

— Um monarca absoluto que acredita no livre-arbítrio, isso não é contrário às regras? — perguntou Onilwyn.

— Não —eu disse, minha cara enterrada contra a pele do Adair — Não é. Não contra minhas regras. — Minha voz começava a arrastar-se até o bordo do sono.

— Acredito que eu gostarei de suas regras — disse Onilwyn, e sua voz, também, ficava pesada.

— As regras, sim — disse Rhys — mas os afazeres domésticos são uma merda.

— Que afazeres domésticos! — disse Onilwyn — Os sidhe não fazem afazeres domésticos.

— Minha casa, minhas regras —eu disse.

Ele e alguns dos outros que estavam ainda acordados começaram a protestar. — Chega — disse Doyle — Fará o que a princesa diga que faça.

— Ou o quê? — perguntou uma voz que eu não reconheci.

— Ou será enviado de novo aos tenros cuidados da rainha.

Silenciou depois disso, um silêncio espesso e não muito cometido — Espero que o maldito sexo seja bom se esperarem que eu limpe as janelas. — Acredito que isto foi Usna quem disse.

— É. — disse Rhys.

— Cala a boca, Rhys — disse Galen.

— Bem, é verdade — disse ele.

— Basta —eu disse — estou cansada, e se tiver que estar bastante bem para fazer algo com alguém manhã, preciso dormir.

O silêncio chegou, e só se escutou os pequenos ruídos dos corpos ao moverem-se sob os lençóis. A voz do Ivi veio suave e distante — Como de bom?

Rhys respondeu da porta — Muito...

— Boa noite, Rhys —eu disse — e boa noite, Ivi. Durma.

Eu estava quase dormindo, perdida entre os calores parecidos do Doyle e Adair, quando ouvi o sussurro. Eu sabia pelo tom que um deles era Rhys, e pensava que o outro era provavelmente Ivi. Podia ter reclamado com eles, mas deixei que o sono me abatesse como uma quente e grossa manta. Se insistisse em que todos se tranqüilizassem ao mesmo tempo, nunca conseguiríamos dormir. Se Rhys queria ir de novo ao Ivi com as histórias de sexo, então ele era livre para fazê-lo. Enquanto que não tivesse que escutar os detalhes. O último som que ouvi foi uma risada sufocada e muito masculina. Eu descobriria na manhã seguinte que Rhys tinha atraído a uma verdadeira multidão com seus contos eróticos. Ele prometeu com nosso juramento mais solene que ele não havia mentido ou não tinha exagerado. Tive que acreditar, mas jurei que nunca mais o deixaria permanecer até tarde relatando contos aos que não tinham compartilhado minha cama. Se eu não era cuidadosa ele criaria para mim uma reputação que ninguém, nem sequer uma deusa da fertilidade, poderia cumprir. Rhys me disse que sou modesta. Eu lhe disse que somente era mortal, e como uma mulher mortal pode satisfazer a luxúria de dezesseis sidhes imortais?

Ele me olhou e disse — É mortal? Está segura disso?

A resposta, sinceramente, é que não, mas como poderia dizer se eu fosse imortal? Penso, eu não me sinto diferente. A imortalidade não deveria lhe fazer sentir-se diferente? Acredito que se devesse. Além disso, como provas a teoria?

 

 

                                                    Laurell K. Hamilton         

 

 

 

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