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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SEM COMPROMISSO / Josiane da Veiga
SEM COMPROMISSO / Josiane da Veiga

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Coisas ruins acontecem com pessoas boas. E Sarah Taylor era uma dessas pessoas. A simples e gentil enfermeira acabou sendo testemunha de um crime.
Restava ao detetive Nathan Stanley, seu vizinho solteirão convicto, a difícil tarefa de mantê-la segura.
E para isso ele só precisava cumprir uma única regra: Não devia se apaixonar.
E talvez uma segunda regra: Não devia engravidá-la.
Preciso dizer que ele quebrou as duas?

 


 


Capítulo Um

Vou te contar uma coisa que nem devia se passar pela minha cabeça.

Mas, cara, a mulher do apartamento 202, minha nova vizinha, tinha uma bunda que era capaz de me fazer girar a cabeça como um moleque adolescente de dezesseis anos.

Ela havia se mudado há algumas semanas, mas como eu estava de serviço, não pude me apresentar devidamente. Claro, isso porque eu realmente queria me apresentar.

Quem não quer? Uma beldade solteira e solitária ao lado da sua casa é algo que um homem não deixaria de querer uma aproximação.

O nome dela era Sarah. Isso quem me disse foi à senhora Alice, uma idosa que morava no outro andar. Cochichou-me que Sarah era gentil e delicada. Um doce. Enfermeira, cuidadosa, de voz calma e temperamento amável.

Fiquei encantado pela descrição apesar de minha cabeça só conseguir se focar naquela bunda.

Ah... aquela bunda.

Como uma mulher podia ter uma bunda daquelas?

Acho que Deus realmente disse a ela antes de criá-la: “ Vai ter um bundão para mexer com os brios dos homens ”. Porque a bunda dela estava cravada na minha cabeça há dias e eu não conseguia pensar em nada além disso.

Agora eu estava diante da sua porta, meu pau doendo para ficar livre do meu uniforme, uma mão apoiada contra o batente da porta e a outra segurando um pequeno prato com cookies de boas vindas.

Ei, eu sei o que você está pensando: Por que diabos um macho alfa comedor igual a mim estava prestando o papel ridículo de ir recepcionar uma mulher que nunca me deu um “ olá ”? Deixa eu te contar uma coisa sobre os homens: Uma bunda é capaz de nos fazer encenar um vizinho gentil que se apresenta segurando um prato de doces.

Ela abriu a porta, as mãos na cintura, o olhar indagador, a saia que cobria aquela bunda – aquela bunda! – justa e à altura dos joelhos, parecia um convite.

— Olá — eu disse.

Ela pareceu me estudar antes de responder.

Céus, era linda, também. Além da bunda, claro.

Seus cabelos castanhos balançavam com cada pequeno movimento que ela fazia. Sua pele era bastante clara, cheia de sardas, e os olhos eram claros e verdes.

Ela sorriu. Eu achei aquele sorriso a coisa mais bonita que eu já tinha visto na vida. Ela girou o corpo para me dar passagem, e então sua bunda ficou bem diante de mim.

Se bundas falassem e ela me mandasse latir igual a um cachorrinho, eu o faria. Eu faria qualquer coisa que aquela bunda dissesse para eu fazer.

Peraí, ela estava vestindo calcinha?

Ah, você que está lendo deve estar pensando que sou um tarado, não é? Deixa eu te contar outra coisa: nós homens somos sempre assim. O que nos difere dos tarados é que o que se passa na nossa cabeça fica lá. Os tarados, idiotas, abrem a boca e falam.

E você só sabe o quanto estou obcecado por aquela bunda porque está lendo isso. Se me visse na rua, jamais pensaria que eu era o depravado das bundas.

Porque, retificando, ao contrário dos tarados, queria permanecer bem quietinho, apenas admirando aquela obra prima.

Oh, claro, às vezes soltar um flerte, para ver se ela me deixaria tocar na sua bunda. Sua bunda era uma prioridade, agora, em minha vida.

— Olá — ela respondeu. — Por favor, entre. Ainda estou arrumando as coisas da mudança, mas tem espaço no sofá.

Ela sentou-se diante de mim. Sua saia ergueu e eu pude ver o triângulo abaixo dela, capturado por algodão branco.

A calcinha! Eu estava perdido!

— Então — ela começou, provavelmente incomodada pelo meu silêncio. — Você é meu vizinho?

— Sargento Stanley — me apresentei. — Nathan Stanley.

— Sou Sarah Taylor. Sinto-me mais segura sabendo que tem um policial no apartamento ao lado.

Podia se sentir. Apesar dos meus pensamentos imorais, eu jamais faria nada contra ela.

— Eu tenho uma hora antes de voltar ao trabalho. — ela murmurou.

Claro que queria que eu dissesse logo para que porra eu vim, e que a deixasse em paz. Mas, era difícil dizer adeus para o pequeno triangulozinho de sua calcinha de algodão.

— Eu trouxe cookies — estendi o prato.

Ela aceitou o prato e se levantou. Caminhou em direção à cozinha anexa.

E lá estava ela, a bunda, me seduzindo. Cada passo apontava um lado.

Sério, aquela bunda era como um universo inteiro sendo desvendado. Direita, esquerda, direita, esquerda...

— Obrigada pela gentileza.

Ela girou em minha direção e eu retornei o olhar para seu rosto.
Fiquei decepcionado, mas agradecido. Mais um pouco e eu pareceria um idiota babando.

Então reparei melhor na sua aparência. Ela não estava maquiada e não parecia do tipo vaidosa, mas preciso afirmar que havia algo especial. Lábios cheios, um nariz arrebitado mesclado a brilhantes olhos, cheios de gentileza.

Estava encantado. E não apenas pela bunda. Isso nunca aconteceu comigo. Nunca, em toda a minha vida, eu havia experimentado aquele nível de atração.

De repente, a reciprocidade. Foi de relance, quase mascarada, mas percebi que havia algo nela que correspondia a minha fascinação.

Ok, ela não estava como eu, de queixo caído, mas num curto e breve período eu vi seus olhos captando meus ombros largos, e um leve suspiro exalando de seus lábios.

— Eu preciso voltar ao trabalho — ela repetiu.

Queria me expulsar?

— Está certo — me ergui do sofá. — Foi um enorme prazer. Espero que sejamos amigos.

— Claro — ela respondeu. — Quem não quer ser amiga do policial grande e que fica olhando para a minha bunda?

Subitamente, enrubesceu. Percebi instantaneamente que as palavras escaparam dos seus lábios. Quase gargalhei. Ela era completamente atrapalhada. Eu amava isso.

— Eu não queria te assustar.

— Não assustou. — afirmou.

É, definitivamente, não parecia assustada.

— Eu fui muito indelicada — disse, rapidamente. — Fico nervosa e começo a falar sem controle. O problema não é você, sou eu. Eu sou assim. Aliás, não perguntei, está com fome? — Voltou à cozinha que era dividida da sala por um pequeno balcão baixo. — Eu tenho certeza que consigo preparar algo para você comer. Você come o quê? Uma vez ofereci bacon para um judeu porque estava muito nervosa e não me lembrei que judeus não comem bacon. — Céus, ela estava quebrando o recorde de palavras por segundo. — Você sabia que judeus não comem bacon? Está na Bíblia. Você já leu a Bíblia? Por falar em Bíblia você soube que “50 tons de Cinza” quebrou recordes de vendas nesse último ano? — O que diabos uma coisa tinha a ver com a outra? — Nunca li o livro, mas dizem ser bom. Você já leu? Claro que não leu, você é homem.

— Homens não leem? — a interrompi só porque era engraçado vê-la nervosa.

— Oh, sim, desculpe, claro que homens leem. O que quis dizer é que homens não gostam de livros românticos com personagens bem dotados. Você é bem dotado?

Enquanto ela cobria a boca, pasma pelas próprias palavras, eu me retorci numa risada sem controle.

Meu Deus, o que era aquela mulher?

— Me desculpe... Eu não sei por que perguntei isso.

Ok, fiquei tocado. Era uma beldade atrapalhada. Resolvi não pressioná-la.

— Estou feliz em conhecê-la.

— Obrigada. Eu acredito que...

Ergui a mão, segurando suas palavras. Não que eu não gostasse de vê-la falando besteiras. Mas, preferia que não mais ficasse constrangida diante de mim.

Ela exalou outro suspiro, e o beicinho de seus lábios era uma tentação.

Francamente, não estava preparado para isso. Mulheres como Sarah podiam ser uma forte distração. E eu era um policial bem ocupado. Eu tinha lugares para ir. Coisas para fazer. Casos para investigar. Uma vida para aproveitar. E algumas mulheres disponíveis para foder. Ser solteiro, policial, bonito e musculoso tinha muitas vantagens.

— Bom, vou indo. Eu só queria recebê-la no prédio.

Aquele era o momento que eu devia sair. Mas, fiquei lá, meu pau doendo para ficar livre, observando cada movimento dela. A suave subida e descida do peito sob a blusa de algodão.

— Sinto muito pelas coisas que eu disse — ela murmurou.

Era tão linda e delicada... Se fosse muda seria perfeita.

— Estou feliz em conhecê-lo — afirmou. — Sou nova na cidade e tudo é novidade para mim.

Ela mexeu o cabelo. O perfume suave do seu shampoo invadiu minhas narinas.

Caralho, que tipo de sorte foi essa? Meu antigo vizinho era um maconheiro enjoado “ paz e amor ” que vivia me torrando o saco com músicas do Bob Marley. Daí, de repente, o cara some e aparece aquela deusa linda, perfumada e interessada se eu era bem dotado.

Imaginei-me deitando com ela no chão daquela sala. Espreitando-a contra meu corpo. Qual devia ser seu gosto?
A tentação era quase grande demais. Quente.

Mantive o olhar. Imaginei que ela fosse desviar, mas ela também me encarou. Talvez por imprudência ou ingenuidade, mas me encarou. E, cara, eu amava mulheres com atitude.

Sarah sorriu para mim, de repente, não mais a louca sem controle, mas uma mulher forte, como se ela fosse a única no universo.

Era um desafio. Eu não consegui me controlar diante dele. Andei em sua direção, seus olhos se arregalaram, e havia desejo neles.

— O que você está fazendo?

Eu também queria saber. Eu era um policial. Ela era minha vizinha. Nós acabamos de nos conhecer. Mas, repentinamente, estava parado na frente dela, a poucos centímetros de seu peito grande onde eu podia ver seus mamilos duros denotando que não era nem um pouco indiferente ao clima que abatera sobre nós, dois desconhecidos.

A peguei em meus braços. Foi a coisa mais louca que eu poderia fazer e, possivelmente, a pior decisão que eu já tomei, mas o olhar dela deixava claro que ela queria isso tanto quanto eu.

Ela derreteu contra o meu peito, e eu pressionei meus lábios nos dela, reivindicando sua suavidade, separando-os e deslizando minha língua para dentro. As mãos de Sarah se arrastaram sobre o meu peito, para cima e para baixo, como se o toque pudesse provar que eu era real.

Então a soltei. Meu pau latejando, provavelmente molhando o interior das minhas calças. Eu recuei e limpei a saliva do meu lábio inferior.

— Eu... Eu... — ela gaguejou, estava enrubescida, nervosa e, igualmente, excitada — O que é que foi isso?

— Não faço ideia do que foi isso — fui absurdamente sincero.

Eu andei até a porta.

— Nathan! — ela me chamou.

Eu olhei para Sarah. A vi completamente atordoada, dedos delicados pressionados em seu lábio inferior.

—Você não pode vir aqui me beijar assim, do nada.

— Do nada?

— Do nada — ela garantiu. — O que foi isso?

Eu sorri. Ela abriu a boca e eu sabia que viria uma enxurrada de palavras desconexas, então as contive.

— Foi apenas uma recepção. Bem vinda ao seu novo lar.

Saí de seu apartamento e fiz meu caminho pelo corredor até o meu.

 

 

 

 

 

Capítulo Dois

 

ELA

 

C om certeza aquele homem era bem dotado. Não sei dizer por que pensava nisso, o que importava? Eu nem sequer havia visto um pinto grande antes, além daqueles velhos e acabados que eu costumava ajudar a limpar no hospital.

Mas, ele era bem dotado. Era sim, senti a carne quando ele me apertou nos braços.

Um vizinho sexy e bem dotado. Uau. Era realmente como nos romances que eu lia.

Ah, eu sei. É estúpido pensar assim. Eu definitivamente estava ficando louca.

E tinha mais: ainda não conseguia parar de pensar naquele beijo. Aquela boca. Aquele homem. Aqueles músculos por baixo do uniforme. Aquele olhar penetrante. Aqueles cabelos escuros curtos, ligeiramente desgrenhados, e a barba áspera ao longo de sua mandíbula.

E, Deus... O gosto dele. Que gosto! Era canela?

— Olá! — Susan acenou com a mão na frente do meu rosto. — Está acordada?

— Estou — respondi rápido. — Estou acordada. — Remexi-me na cadeira.

Estávamos num restaurante. Eu andava tão ocupada naqueles dias desde que me mudei para a cidade grande que mal conseguia tempo para lanchar. Foi Susan, a enfermeira chefe, que me forçou a dar uma folga no expediente e ir comer algo que prestasse.

Não que eu não soubesse cozinhar. Cresci praticamente sozinha. Meu pai sumiu tão logo soube que minha mãe engravidou, e ela vivia trabalhando fora pra tentar me dar certa educação. Assim, desde pequena, tive que aprender a me virar. Cozinhar fazia parte disso.

Mas, meus dias ali se resumiam a trabalho exaustivo num hospital que nunca parava e depois comida de fastfood enquanto assistia algum filme independente na Netflix.

— Tem certeza? — perguntou Susan, afastando os cabelos do rosto escuro. Ela era linda, exótica, com olhos cor de avelã. O tipo de mulher que podia ser o que quisesse e ter o que quisesse. Mas, optou por ficar sozinha e cuidar de pessoas.

De certa forma, era muito parecida comigo. Tirando o fato, claro, que eu parecia uma baratinha perto dela.

— Ei — ela continuou, batendo um dedo na mesa de madeira. — Você está fazendo isso de novo. Apenas olhando para o vazio. Eu poderia muito bem ter vindo sozinha, mas eu fui legal e te trouxe para comer. Nós deveríamos estar conversando e comemorando sua mudança. Um novo emprego, uma nova vida, longe daquela cidade deprimente que você cresceu.

Minha cidade natal era pequena e eu sempre fui a filha da mãe solteira, lá. Mudar-me era também um certo recomeço.

— Eu sei, me desculpe. Acho que estou cansada, apenas isso. Tudo isso foi um grande passo e o trabalho tem um ritmo bem rápido.

— Eu sei — Susan acenou com a mão para mim novamente. — Mas vamos confraternizar. Diga novamente o quanto você é grata por eu ter conseguido esse excelente trabalho para você e o quanto você se comove por eu sempre ter sido sua amiga preocupada e carinhosa.

Susan e eu crescemos juntas. Formamo-nos no mesmo curso de enfermagem, e ela batalhou para me levar para a cidade tão logo conseguiu ser chefe no seu setor.

— Eu te amo e sou muito grata — sorri.

Susan se inclinou para frente e me deu um tapinha no meu braço. Eu a encarei novamente, suspirando.

— Sabe, eu estou com medo de falhar... — admiti.

— Não e não — ela retrucou. — Não vamos falar das suas inseguranças. Você tomou seu antidepressivo? Você precisa focar em coisas grandes. Criar sonhos e expectativas. O que seu terapeuta lhe disse na última consulta?

— Que a depressão é uma doença controlável.

— Exato! — bateu palmas — Você não vai falhar porque é linda, forte, inteligente e eu te amo. Somos um par que se ama — constatou. — Aliás, falando em amor, está na hora de conhecer alguém, viu? Juro por Deus que se algum cara não tirar sua virgindade nessa cidade, eu vou.

Ah, esqueci-me de mencionar: sou virgem. E Susan fazia questão de cutucar nessa ferida.

— Falando nisso, pare de tentar me atirar pra cima de todos os homens solteiros que trabalham no hospital. O senhor Scott tem idade para ser meu pai.

— Você tem um relacionamento mais conectado com aquele velho motorista de ambulância do que com qualquer cara que eu já tenha conhecido.

— Isso não é verdade.

— Tirando Leonardo Di Caprio em Titanic, nunca te vi apaixonada por ninguém.

— Ele a amava verdadeiramente e ela não cedeu lugar naquela maldita porta! — apontei, citando o filme que tanto me incomodava.

Susan suspirou zangada, ignorando minha ironia.

— Eu quero te ver bem e feliz, Sarah.

— Susan, estou morando no meu próprio apartamento, ganhando um bom salário, e trabalhando num emprego que amo. Como pode não estar feliz por mim?

— Sarah... — o tom me fez estremecer involuntariamente, meus pensamentos imediatamente voltaram para meu encontro com aquele vizinho bem dotado.

Oh céus, que beijo foi aquele? A maneira como ele deslizou seus lábios nos meus, a forma como me segurou. Era tão delicioso.

E idiota!

Eu, no caso, idiota demais.

Um cara daqueles com certeza percebeu minha inexperiência e resolveu brincar um pouco.

— O quê?

— Eu amo que você esteja aqui agora. Estou tão excitada para sair com você tanto quanto possível e conhecermos gente nova. Quero muito te ver feliz.

Nós duas tínhamos turnos diferentes e trabalhávamos muito. Eu apostaria um bombom que nossos passeios se resumiriam a meia hora numa lanchonete, uma vez por mês.

— Então, qual é o problema? Estou aqui. Você está aqui. Sobrevivemos a nossa cidade racista e preconceituosa e temos uma vida ótima. O que mais podemos desejar?

— Você não entende, não é?

Entender o quê? Busquei a xícara de café e bebi um gole.

— Esclareça.

— Você se mudou de cidade e de emprego. Mas, não mudou o emprego. Você é o emprego. Você só pensa no emprego. Você nem come direito fora do trabalho, não saí, não procura novos amigos... Você só pensa em trabalhar. Você lembra o que seu terapeuta disse?

Lá vamos nós com meu terapeuta novamente. Maldita hora que me diagnosticaram com Transtorno de Ansiedade Generalizada.

— Ele disse que, talvez, eu posso ter depressão porque foi o único jeito que meu corpo usou para me obrigar a parar.

— Isso. Não estou criticando, é elogiável você estar comprometida com seu trabalho. Mas, vamos desacelerar?

— Susan, não vamos ter essa conversa novamente. Eu não vou me culpar por dar tudo de mim na minha profissão.

— Nem eu a não culpo — afirmou. — É só que... você tem que ter mais do que isso em sua vida.

— Como o quê? Um namorado?

Nós duas fizemos uma careta.

— Não sou essas antiquadas que acha que tudo na vida se resume a um homem. Digo, pode ser um cara, um namorado, sim. Mas, também pode ser um hobby, algo especial. Oh! Já sei — ela bateu na mesa. — Por que não se inscreve num curso pra lutar boxe?

— Essa é a sua primeira sugestão?

— É um esporte ótimo.

— Até me darem um soco na cara e eu ter que me explicar no trabalho. Daí ninguém vai acreditar que foi um acidente porque vou ficar nervosa e começar a falar sem parar. Vão achar que sou vítima de violência doméstica e chamarão a polícia.

— Impressionante como você pensa em tudo.

Eu ri.

— Só estou dizendo que seu trabalho não pode ser a única coisa em sua vida — reafirmou.

— Engraçado quando você fala isso já que também vive para o seu trabalho. — rebati.

— Você sabe que é diferente. Meu trabalho é apenas algo que eu faço para pagar as contas. Como aquela garçonete — apontou uma jovem servindo uma mesa. — Olhe o rosto amuado dela. Está cansada, provavelmente pensando nos lugares que queria estar, mas não pode. Além disso, eu tenho um hobby.

— O quê? Mentirosa!

Eu a conhecia o suficiente para saber que Susan era a preguiça em pessoa.

— Meu hobby é analisar minha vida.

— Seu hobby é pensar? — eu já lacrimejava de tanto rir.

— Por que não?

— E no que pensa? Uma menina e dois meninos? Um marido médico ou advogado? Um cachorro no quintal?

— Ah, cala a boca — Susan devolveu. — Meus pensamentos aqui não importam. É você que precisa ser feliz.

— E você não?

— Eu sou feliz.

— Sei!

— Eu tenho um vibrador, ok? — ela disse alto demais e alguns olhares giraram para perto de nós.

— Puta que pariu, Susan — reclamei.

— Desculpe — murmurou. — Não queria ter dito isso em voz alta. Mas, enfim, é um hobby também.

Juro que não aguentava mais aquela conversa sobre hobbys.

— Susan, estou cansada da mudança. A única outra coisa que quero agora é uma recarga nas minhas baterias.

Subitamente, Susan fez uma careta em direção à mesa oposta. Girei e vi um homem lá.

— O que foi? — indaguei.

— Ele me ouviu falar do vibrador e agora está tentando flertar.

Subitamente, som de passos. Uma figura na mesa atrás da nossa se levantou. Eu não sabia qual das mesas era, mas jurei que se fosse o engraçadinho das piscadelas eu iria jogar a porra do prato na cabeça dele.

Subitamente, percebi um homem vestindo uma calça e uma camisa de algodão que foi moldada por seus músculos. Cabelos castanhos curtos. Era alto, poderoso. Ele parou diante da nossa mesa. Meu coração caiu.

E, que vergonha!, minha boceta latejou. Suor frio escorreu pela minha espinha.

EU TE ODEIO, SUSAN!

— Perdoe minha interrupção, mas não pude deixar de ouvir sua conversa — disse Nathan.

Meu vizinho. Meu vizinho sexy e tentador.

CACETE, MEU VIZINHO SEXY E TENTADOR ME OUVIU FALANDO DE VIBRADOR!

Volvi os olhos para Susan. Ela era sempre muito segura de si e imaginou que aquele homem era um completo desconhecido tentando dar em cima dela.

— Você estava escutando? — Susan perguntou. — Sim, eu tenho um vibrador. E ele é maravilhoso como homem nenhum. E nem venha me dizer que você é diferente porque não quero experimentar.

Onde estava o apocalipse quando você precisa que o mundo acabasse?

— O que você está fazendo aqui? — perguntei a ele, mortificada.

Susan piscou e se virou para mim.

— Você conhece esse cara?

Eu abri minha boca para responder, mas fechei de novo.

— Ele é meu vizinho.

Susan abriu a boca, completamente enrubescida. Morri de pena dela. Então, volvi novamente para Nathan.

— Você está me perseguindo?

— Eu não sou um stalker — ele observou. — Apesar de descobrir que ouvir conversas alheias possa ser divertido e revelador.

Em todos os meus vinte e nove anos, eu nunca encontrei um cara que me fizesse sentir assim. Ele me inflamava. E eu nem sabia que isso era possível. Mas minhas palmas estavam suadas, meus joelhos fracos, meus braços pesados e meu coração acelerado.

— O que você quer? — perguntei. — Estou lanchando com a minha amiga.

— Susan, a propósito, disse ela, estendendo a mão.

Filha da puta!

Nathan aceitou o cumprimento.

— Nathan. — Se apresentou. — E sim, sou vizinho da sua amiga. Ouça, sinto muito por ser um idiota e interromper sua conversa. Mas acontece que eu sou policial e já salvei o dono desse restaurante de um grande assalto. Tenho certeza que posso conseguir algumas bebidas de graça.

— Nossa, que impressionante — falei. — Isso foi a coisa mais pobre que alguém já me disse. Eu achei que você se ofereceria para pagar uma rodada para nós.

— Eu poderia, mas Susan já tem um vibrador — ele apontou.

Ela gargalhou. Cadela!

— Mas, não podemos beber — apontei. — Ainda temos que voltar para o hospital. Eu tenho que limpar uma escarra de um senhor chamado John. Já viu uma escarra? É uma crosta grande, uma ferida terrível, a dele é tão profunda que vai quase até o osso.

— Sarah! — Susan me interrompeu. Em seguida, volveu para Nathan. — Desculpe, ela começa a falar quando fica nervosa e não para...

— Eu sei — ele riu. — Admito, acho muito divertido. — Ele se inclinou na minha direção. — Você está linda, querida. — Ele murmurou nos meus ouvidos. — Que alívio saber que não terei que concorrer com um vibrador porque realmente dizem que esses brinquedos estão acabando com os homens. Quando eu ter você, quero que fique toda disposta apenas para mim.

Eu fiquei pasma. E era eu que não conseguia controlar as palavras?

Percebi Susan esticando um pouco o pescoço tentando ouvir o que ele me cochichava.

Será que ela ficaria chocada? Ou era assim que adultos flertavam? Afinal de contas, Nathan nem devia desconfiar que eu era completamente virgem.

— Beba um drink comigo agora, ou um mais tarde no meu apartamento. Terá que escolher, e pense bem. Uma dessas opções mudará sua vida.

Eu lambi meus lábios. Que diabos de calor era aquele que surgiu?

— Agora — eu disse, finalmente. — Um drink agora.

Ele se endireitou e eu deixei escapar a respiração que estava segurando.

— Duas bebidas. Dois Martinis duplos, secos — disse à garçonete que olhou-nos naquele instante. — E para você, Susan?

— Um Havana — Susan agitou seus cílios para ele como se ele fosse um presente dos deuses para as mulheres. — Obrigada.

Eu bufei, mas nenhum deles ouviu.

Senti-me insignificante. Eu nem sabia por que esse cara me irritava tanto na mesma medida que me deixava tão nervosa e sexualmente atraída. Talvez porque ele tenha tomado o controle de todas as situações em que estivemos juntos. Isso era bem típico de um macho alfa. E tudo que eu não precisava agora era de um macho alfa na minha vida.

Então alguém do bar acenou para ele. Pediu licença e foi naquela direção. Parecia conhecer aquele homem, trocaram um cumprimento.

— Bem — Susan chamou minha atenção, concentrando-se em mim novamente. — Você viu a bunda daquele cara?

— E por que eu iria reparar nisso?

Ela me estudou alguns segundos.

— Você já ficou com ele?

— O quê? — eu quase gritei.

Era para ter sido um almoço relaxante. Em vez disso, eu estava em uma difícil batalha verbal com minha melhor amiga, e meu novo vizinho ridiculamente irritante e atraente.

— Quero saber tudo. Depois você me conta. Ele já está voltando — exigiu Susan.

Eu me virei e vi sua aproximação. Senti borboletas no meu estômago e meu coração pulsando rapidamente.
Não sei se estava preparada para Nathan Staley.

 

 

 


Capítulo Tr ês


ELE


C arreguei a bandeja até a mesa, aproveitando que tinha muita afinidade com o dono do restaurante e seus empregados.

— Ok, meninas. Vamos às bebidas?

Eu gostava de como me sentia em casa naquele lugar.

— Obrigada — Susan aceitou seu copo, oferecendo um sorriso que a maioria das mulheres me dava.

Mas havia algo diferente nela. Não era aquele flerte descarado, comum. Ela parecia mais interessada nas reações da amiga comigo.

— Obrigada — Sarah também disse.

Ela apenas molhou os lábios no martini, fingindo que bebia. Eu sorri.

— É um prazer — respondi.

— Então... — Sarah murmurou. — Policiais bebem em serviço?

— Estou de folga.

— Você é policial? — Susan pareceu se interessar pelo assunto.

— Sou sim.

— Não é maravilhoso? — ela encarou Sarah. — Estamos superprotegidas.

Sarah respirou fundo. Eu fiquei imaginando o que ela diria após isso. Amava quando se enervava e começava a falar.

— Tenho certeza de que Nathan tem outros lugares para estar. — Volveu para mim. — Não há realmente necessidade de você ficar. Obrigada pelas bebidas, mas não se sinta obrigado a ficar aqui.

Sentado ao lado dela, eu pressionei levemente minha perna contra a dela.

— Na verdade estou livre, hoje.

Susan riu.

— O que é tão engraçado? — a outra mulher indagou.

— Nada, nada. — Subitamente Susan olhou para o relógio no seu pulso. — Oh! Olhe a hora. Já é tarde demais, e eu prometi que pegaria o próximo turno. Então, você sabe, é melhor eu ir. Obrigado pelo Havana.

— Susan... — O tom de Sarah era de aviso.

— Eu tenho que ir. — Garantiu. — Muito obrigada. — Ela se levantou da mesa, segurando sua bolsa. — Você ainda tem algumas horas, não é, Sarah?

— Eu acho que vou com você. Tenho coisas para fazer.

— Não seja ridícula! Você não quer ser rude com seu novo vizinho, quer?

E, com isso, ela se afastou e desapareceu, deixando-nos sozinhos.

Era muito óbvia a intenção de Susan. Por isso, talvez, gostei bastante dela.

— Você tem uma ótima amiga.

— Aham — ela resmungou.

Voltei meu olhar para Sarah. Adorava observá-la. Ela vestia uma blusa de seda clara e uma saia discreta.

Eu não sou um simplório, mas devo admitir que não costumava olhar muito para uma mulher, daquela forma. Enfim, era algo novo, quase uma merda romântica.

Quase...

Porque se fosse só romantismo, meu pau não ficaria tão duro com essa mulher.

— Ótima amiga — ela continuou a observação.

— Bons amigos sabem quando sair no momento certo. — Passeei a mão sobre a mesa, roçando-a contra a dela. — Ei princesa, nós tivemos um começo difícil, mas podemos ser amigos, não? Aliás, eu ouvi você falando, Sarah...

Ela ergueu o queixo para mim de novo, e levou junto cada pedaço do meu autocontrole. Precisei me fixar na cadeira para não mordiscar o pescoço dela.

— E? — ela perguntou.

— Eu sei que você não quer um namorado ou um compromisso. Acredite em mim, acho isso atraente em você. Eu gosto dessa coisa descompromissada. Normalmente quando fico com mulheres elas já se imaginam casadas e tendo bebês comigo.

Eu achei que ela fosse rir, mas seu olhar permaneceu sério.

— Você realmente ouviu toda a conversa, não é?

— Não me culpe. Vocês duas falavam muito alto. Além disso, não sou o único que ouviu, a julgar pelo cara assustador que ficava piscando para Susan.

Ela gemeu, quase deitando a cabeça na mesa.

— O que eu estou dizendo — prossegui, focando nela novamente.

E então, de súbito, era como se o tempo parasse. Eu entendi o quanto gostava de admirar suas formas femininas enquanto sentia minhas mãos suadas de nervosismo por algo novo. Tipo, um sentimento. A boa notícia é que normalmente aquilo passava depois de eu trepar com a mulher que eu queria.

— O que você estava dizendo? — Sarah insistiu.

— O que estava dizendo é que queremos a mesma coisa — Apontei. —Um momento. — Eu virei minha cabeça, respirando em seu ouvido. Arrepios se levantaram do lado do pescoço dela. — Uma noite comigo e depois tudo acabou. Nós vamos apenas sermos vizinhos. Amigos, se você quiser.

— Você não pode estar falando sério! Eu nem te conheço!

— E daí? Esse calor e estremecimento que você sente quando me vê não exige nada além de uns bons amassos e um bom sexo.

— Que romântico — ela ridicularizou.

Eu acariciei seu braço.

— Promete pensar?

— Posso pensar o quanto quiser, porque a resposta ainda é “ vá se foder! ” Eu não te conheço e você não me conhece. E espero que nunca chegamos, de fato, a nos conhecermos!

Aquela mulher estava descaradamente se negando para mim quando, obviamente, estávamos loucos um pelo outro.

Deixei cair a minha mão do braço dela e coloquei na mesa entre nós. Eu olhei para o bar, consciente da sua mudança ao meu lado, ainda me observando.

Imaginei a pele dela sob as pontas dos meus dedos, a suavidade dela, quão flexível ela seria. Como ela suspiraria, gemeria meu nome, imploraria por mais.

É claro que ela seria minha. Faríamos sexo como animais loucos porque o desejo jorrava entre nós. E então, como adultos que éramos, iriamos dizer adeus e nos evitar.

— Você quer sair daqui? – Eu perguntei, voltando-me para ela.

Ela deu uma risada crua.

— Eu tenho que ir para o trabalho.

— Você precisa de uma carona até nosso prédio? Vi que mal tocou no seu prato e eu posso preparar algo bom e caseiro para você comer.

— Eu já disse que preciso ir ao trabalho. O que faz pensar que eu iria para casa com você?

— Não sei. Talvez eu apenas entendi que você ainda tem algumas horas para seu turno, bebeu martini, não se alimentou e precisa realmente de uma comida caseira.

— Você sempre consegue o que quer?

— Sou experiente em interrogatórios e essas coisas. As pessoas tendem a fazer o que eu peço.

— Não sou um bandido — ela retrucou. — Mas, estou com fome — admitiu. — De comida feita em casa. — desprezou aquela servida no restaurante.

Ofereci-lhe o meu braço.
Ela sorriu, revirou os olhos e passou por mim, caminhando para a porta. Eu a segui pelo local, ignorando os olhares, focado apenas nela.

Ali estava meu maior desejo. Aquela bunda. Um rabo como aquele devia ser ilegal. Homens poderiam perder a cabeça por uma bunda tão perfeita.

Não era apenas o formato. Era o jeito que balançava, uma dança erótica de poder. Aquela bunda sabia que era maravilhosa e sabia que um homem faria qualquer coisa por ela.

Uma hora depois estávamos na minha cozinha. Na mesa, uma travessa de carne assada com legumes.

— Oh, Jesus — ela gemeu baixinho após uma mordida.

Parecia sedenta. Quando teria sido sua última refeição?

Gemeu novamente, fechando os olhos, experimentando as sensações do paladar. Naquele momento, meus músculos se apertaram e eu me esforcei para me acalmar. Meu pau se contraiu.

— Oh, meu Deus, é tão bom — ela insistiu.

— Você está tentando me deixar com tesão?

— É que é tão bom...

Eu ri.

— Eu sei. Melhor carne assada que você já comeu. Aprendi com a minha mãe. Ajudava ela na cozinha.

— Ela era cozinheira?

— Empregada doméstica. — Suspirei. — Isso tem muito tempo. Ela morreu de câncer há alguns anos.

Seus olhos arregalaram.

— Sinto muito.

— Está tudo bem.

Dei uma garfada, quando meus olhos volveram a observação. Assisti cada mordida. Cada lambida dos lábios. Cada suave chupar de um dedo.

Aquela mulher realmente mexia comigo.

Quando terminamos, recolhi os pratos e segui até a pia. Percebi que ela foi atrás.

— Devo admitir, você é muito bom no que faz.

— Sou bom em muitas coisas — avisei. — E posso te mostrar quando quiser.

Ela riu. Céus, enfim um riso verdadeiro. Não constrangido pelas minhas investidas sem vergonha.

— Me fale sobre você, princesa — pedi. — Ouvi da sua amiga que veio de outra cidade. O que a trouxe para cá?

— Trabalho — respondeu. — Sou enfermeira do Hospital Central.

Eu sabia daquilo.

— E por que Susan disse que esse trabalho é você? O que o faz ser tão especial?

— É um interrogatório? Posso pedir meu advogado?

— Você tem um advogado? — retruquei. — Suspeito... — sorri.

Arrastei meu olhar para cima e para baixo em seu corpo.

— Mas estou falando sério. Por que esse trabalho?

— Acho que é hora de voltar para casa. Vou trocar de roupa e ir para o Hospital.

— Está fugindo — apontei.

Ela voltou a sorrir. Céus, eu adorava vê-la sorrindo.

— Eu respondo se você também me responder algo.

A observei atentamente. Calculei o preço daquilo.

— Faça as honras — pedi.

— Você sabe que sou focada no meu trabalho. Por isso não quero compromisso. Mas, e você? O que te faz ser alheio a uma namorada?

Caramba! Ela pegou pesado.

— Não é que eu não queira compromisso. Apenas, na minha vida, não há muito espaço para nada. Além de tudo, as coisas costumam ficar chatas depois de um tempo.

Ela ficou séria diante da resposta.

— E tem o lance também.

— Que lance?

— De proteger as pessoas, ajudando-as — expliquei. — Quando eu faço isso, parece que tudo tem sentido. É muito melhor do que estar com uma mulher.

Seus lábios se contraíram nos cantos. Ela inalou, acenando com a cabeça linda.

— Eu entendo isso — disse.

— Agora, sua vez. — apontei.

— O trabalho é tudo para mim — explicou. — É tudo que eu sempre quis. Eu quero... estar no controle da minha vida. — parecia difícil admitir.

— Sem ofensa, mas ser enfermeira não me parece estar no controle. Quero dizer — de verdade, sem ofensa — uma enfermeira não ganha muito, não é?

— É um dom — ela assentiu. — Mas, não é controle material. Eu quero saber que sou capaz de viver em paz. E por mais chocante que isso possa parecer, sinto isso no hospital.

Eu me aproximei.

— Sarah, você é incrível. E diferente, devo salientar.

— E você é... — pareceu buscar a palavra certa. — Intenso.

Eu agarrei o braço dela e a forcei a me encarar. Ela soltou um pequeno suspiro, mas não se afastou. Eu cheguei bem perto, inalando o cheiro de sua pele, apreciando como meu corpo respondeu a isso.

— Meu pau também é bem intenso — sugeri. — Você quer experimentar?

— Já ouviu falar em respeito? — ela pareceu nervosa com minha sugestão.

Sua boca permaneceu aberta. Talvez estivesse esperando um beijo. Eu queria que estivesse.

— Normalmente respeito não faz a gente gozar — eu retruquei.

— Vá para o diabo que te carregue — ela murmurou.

Pressionei meu corpo mais forte.

— Querida, meu corpo já agoniza no inferno desde que te conheci.

E fundi minha boca à dela.

 

 


Capítulo Quatro


ELA


N ão sou tão ingênua assim. Eu sabia que tudo aquilo era um erro enorme assim que seus lábios pressionaram os meus, me queimando, me grudando no lugar.

Puxa vida! Nathan podia ser tudo de ruim no mundo, mas ao menos era sincero. Ele deixou bem claro, explícito de todas as formas, que só queria uma transa. E, mais, que perdia o interesse depois de conseguir o que se propunha.

Calculei as possibilidades de eu não sair acabada daquela história.

Óbvio que eu poderia me machucar, mas... Oh... Céus... Os lábios dele estavam quentes e se movendo contra os meus, sua língua massageando, saboreando... Era tão difícil pensar.

Seus dedos se espalharam pelas minhas costas, descendo pela minha espinha, por cima do fecho do meu sutiã, mais baixo e mais baixo.

Ok, vamos pensar, enquanto ele desvia a boca da minha e lambe minha orelha.

Eu tenho vinte e nove anos. Vinte e nove porra de anos. E zero – ZERO! – de sexo. Aquilo era anormal, não é? Eu mal havia assistido pornô na minha vida.

Então, mesmo que Nathan nem me olhasse depois disso, ainda assim eu sairia ganhando. Veja bem, não são todas as mulheres que podem perder a virgindade com um cara gato, gostoso e que sabe o que fazer na cama.

— Pare — eu pedi, apesar da minha cabeça e da minha vagina gritando contra aquela ordem.

Empurrei minhas mãos contra seu peito. Nós nos separamos, e eu pressionei meus dedos nos meus lábios, tocando a umidade. O que estava errado comigo? Talvez eu fosse frígida ou lésbica?

Ou talvez aquele cara fosse apenas um idiota e eu considerasse que não era certo ir pra cama com ele apenas porque era delicioso.

Ok, vamos pensar novamente.

Contra: Idiota, nojento, tarado e desconhecido.

Prós: lindo, tesão, bonito e gostosão!

Contra: Mas ele disse que enjoa fácil. O cara vai pensar que você é só uma foda rápida e simples.

Prós: Você não quer casamento, Sarah. Então que se dane.

— Eu não acho que é uma boa ideia — disse finalmente, estudando sua reação às palavras.

Idiotas ficam com raiva diante da rejeição. Eu tinha sido chamado de vadia de cu doce, só porque, uma vez, disse a um cara que não gostava dele. Eu esperei o lado feio de Nathan aparecer para eu poder, enfim, desconsiderar aquela situação e seguir a minha vida com a consciência tranquila.

— Tudo bem, princesa. — Nathan me destinou um sorriso sedutor. — Muito rápido, não é? Você é a culpada porque me deixa assim, incontrolável. — Então ele se afastou um pouco mais. — Você tem um cheiro...

— Eu não uso perfume — retruquei rápido, sem pensar.

— Usa sim — ele contrapôs. — Um cheiro de fêmea que me tira do sério.

Comecei a reavaliar a situação.

Idiota? Nem tanto quanto eu pensava. Nojento? Ok, ele ainda olhava babando para a minha bunda, mas teve a decência de não apertá-la... Ainda. Tarado? Ele estava de pau duro na minha frente e não estava me forçando. Desconhecido? Bem... nós já éramos vizinhos e...

Ah, ele era enorme, musculoso e bonito, tinha um olhar penetrante e queixo quadrado. Viril em todos os sentidos da palavra. E um policial. Que mulher não sente fogo nas calcinhas diante de um uniforme?

— Você acha que tenho um cheiro?

— Uma fragrância quase imperceptível, mas que me chama muito a atenção.

Eu ri.

Nathan enfiou as mãos nos bolsos.

— Gosto quando sorri — disse. — É como se o mundo inteiro valesse a pena.

— Você é gentil quando não está insinuando que eu lhe chupe — gargalhei.

— Ei, eu não quis ofender — se defendeu. — É que costumo ser bem direto com as mulheres. E sabe, estou de olho em você há alguns dias e ainda não rolou nada. O que deve ser um recorde pessoal, porque eu costumo sair, conhecer uma mulher, e transar com ela na mesma noite.

— Isso não é muito animador para uma mulher ouvir, sabia?

— Estou sendo sincero. Estou dizendo o que terá de mim. Tudo que terá de mim. Você disse que não quer perder o controle de sua vida, não é? Comigo, não irá perder. Terá prazer, terá um bom vizinho e, se quiser, até um amigo. Mas, apenas isso.

Eu assenti.

— Me explique: Por que eu? Por que não sai por aí e pega outra? Sou muito complicada, como pôde reparar.

— Olhe para mim, Sarah. Estou duro como uma rocha, e nós nem nos tocamos direito. — Ele tirou as mãos dos bolsos e as calças se formaram em torno da ereção, pressionando-a. Um esboço enorme de dar água na boca. Um monte grosso que raspava contra o tecido, ligeiramente molhado na frente.

— Oh — foi tudo que fui capaz de dizer.

— Entende isso, princesa?

— Não me chame de princesa. Parece que nem sabe meu nome. — Lambi meus lábios, finalmente tirando meu olhar do seu baixo ventre e me concentrando em seu rosto. — Você me faz perder o controle também. Eu não gosto disso.

— Você gosta — ele negou e deu um passo mais perto.

Seu perfume masculino e amadeirado tomou conta de mim novamente, me afogou, me varreu, me entregou nos braços da excitação.

— Diga-me que não quer e pode ir embora. Eu não vou te impedir. Apenas diga novamente. Olhando nos meus olhos.

Eu abri minha boca para dizer isso, mas as palavras não saíram.

— Só um momento — ele murmurou. — Um momento. Ligue para o seu trabalho, diga que não pode ir. Fique comigo. Vamos passar o resto do dia juntos.

— Só hoje?

— Só hoje e nunca mais — prometeu. — Olhe, se não conseguir conviver comigo, eu posso até me mudar. Cara, eu iria até para debaixo da ponte por um momento com você.

Isso foi perfeito. Enfim, ele parecia saber dizer palavras doces.

E era livre de qualquer complicação. Sem compromisso.

A imagem de minha mãe me chamando de puta na adolescência surgiu na minha mente. Ela havia arrumado um namorado e o cara tentou flertar comigo. Ela me culpou pela situação e pela perda do namorado.

Aquilo doeu muito. Eu não era uma puta. Mas, estava agindo como uma, agora.

Não!

Sem compromissos e sem complicações. Porque eu era uma mulher livre! Livre! Não uma puta, apenas alguém que pode escolher com quem deitar.

Contudo... E se eu me apaixonar?

Minha boceta pulsava a resposta, meus mamilos enrugados e minha pele formigava parecia clamar: “Vá se foder! Se apaixonar por uma única noite de sexo? Que tipo de mocinha ingênua é você?”

Meu corpo queria isso. Talvez minha alma também quisesse, mas minha mente ainda lutava para me alertar dos riscos.

— Diga que não quer e tudo acaba aqui — ele insistiu.

Eu voei para ele, joguei meus braços em volta do seu pescoço e meus lábios em direção aos dele. Ele me pegou debaixo da bunda e me levantou, apertando minha boceta contra seu abdômen, tão duro e definido sob aquela camisa que quase perdi minha cabeça novamente.

Nathan me carregou até o sofá.
Nós batemos na mesinha de centro quando Nathan passou por ela, mas então o homem a empurrou para fora do caminho, seus dedos apertando a parte de trás do meu pescoço, uma das nádegas. Nós batemos na parte de trás do sofá, e ele me sentou sobre ele, parando o beijo e me deixando com uma sensação inebriante de descontentamento

— O que foi?

— Vamos aproveitar?

O som da sua voz, um arrepio na minha espinha. Nathan tirou a camisa por cima da cabeça e jogou-a no chão.

O corpo musculoso e bem definido me deixou mais afoita. Pele lisa, bíceps fortes e gomos no tórax. Ele desabotoou minha blusa, abriu-a e puxou um bojo do meu sutiã para baixo, soltando um dos meus seios.

— Porra — Nathan murmurou, colocando uma mão nas minhas costas, em seguida, inclinando a cabeça para a minha carne. Ele chupou meu mamilo entre os lábios, mordiscou e depois voltou a chupar. — Você é tão perfeita.

Eu gemi.

Ele subiu minha saia com as duas mãos. Puxou minha calcinha e desceu ela entre as pernas, arrastando-a pelos meus calcanhares. Então abriu o zíper da calça e tirou o pau para fora. Era enorme, a ponta brilhando, úmida, para mim, esperma escorrendo dela, sobre a cabeça e descendo pelo eixo grosso.

Inclinei-me um pouco para trás, apoiando as costas do sofá, com vontade de senti-lo dentro de mim.

— E a camisinha? — eu perguntei.

Até parecia que eu tinha experiência naquela coisa. Não sei por que porra pensei nisso, quando a proteção nem passava pela minha cabeça.

Ele sorriu. Céus, vou recapitular. Era realmente um idiota, pensando que estava diante de uma mulher super experiente.

Enfiou a mão no bolso de trás e tirou a carteira. Dentro dela tinha um preservativo que ele desembrulhou e arrastou sobre a cabeça de seu pênis, rolando o látex todo o caminho até a base.

Nathan segurou a parte de trás do meu pescoço e se colocou entre as minhas pernas. Ele correu seu pau sobre meus lábios, recolhendo os fluídos e espalhando-os e sobre meus grandes lábios, meu clitóris.

Eu empurrei meus quadris, choramingando. Estava desesperada.

— Você tem certeza disso? — Ele perguntou suavemente, acariciando meu pescoço com o nariz, em seguida, sugando minha carne entre os lábios.

Nathan deixou um rastro de beijos molhados para cima e para baixo na minha garganta, desceu para o meu peito novamente e fez o mesmo.

— Eu não estava brincando mais cedo. É uma única vez para nunca mais. Tem certeza de que você está pronta para isso?

Eu respondi a ele da única forma que conseguia, alcançando e tocando meu clitóris, minhas pernas tremendo quando surtos de prazer passaram por mim.

Balancei a cabeça, mordendo meu lábio inferior. Nossas testas pressionadas juntas fizeram com que nós olhamos para o nosso ponto de contato — seu pau grosso, preso em látex, pressionando contra a minha entrada, mas não dentro ainda, e meu dedo trabalhando meu clitóris.

— Céus, você é um tesão. Continue — ordenou e pressionou a cabeça do seu mastro em mim. — Continue fazendo isso.

Eu gritei com o tamanho dele.
Ele meteu em mim, centímetro por centímetro, possuindo cada segundo disso. De nós.

Minha boceta latejava de dor ao redor de sua circunferência, e ele rosnou suavemente, beliscou a ponta do meu queixo com os dentes, e então se focou na nossa parte de união. Nós assistimos quando ele deslizou dentro de mim e puxou novamente, revelando o brilho de um líquido vermelho ao longo de seu comprimento.

— Cacete! — murmurou. — Você era...?

— Não diga — pedi. — Mais — eu sussurrei. — Mais. — Minha respiração veio em rajadas curtas e afiadas deixava claro que eu não conseguia respirar corretamente, não conseguia pensar direito.

Não havia nada além de nós, neste momento, seu pau entrando em mim, latejando, enchendo-me completamente, me mudando, e os espasmos de prazer do meu clitóris.

Foda-se a dor. Eu estava cheia de tesão.

Nathan levantou uma das minhas pernas. Ele me segurou na vertical, batendo seu pau em mim, de novo e de novo, levando-me cada vez mais perto de uma sensação infinita.

Era o meu maldito fim.

— Estou tão perto — eu sussurrei.

— Então aproveite — respondeu. — Eu quero que você me olhe nos olhos, Sarah.

Fiz contato visual com ele quando disse isso, meus cílios tremulando. Minha boceta se fechou ao redor dele novamente e, desta vez, a pressão era demais. Eu explodi sobre a borda, naveguei para a felicidade. Minha boca ficou frouxa, meus olhos quase se fechando.

— Olhe para mim, princesa. Mantenha seus olhos em mim.

— Nathan — eu o encarei. — Nathan, oh céus... Nathan...

Ele grunhiu, mantendo o ritmo.

Depois de uma eternidade de felicidade, voltei à terra. Mas ainda não acabou. Nathan não parou e minha umidade estava seriamente fora de controle. Seu pau fez deliciosos barulhos molhados quando ele deslizou para dentro e fora de mim. As pontas dos dedos dele aranharam minha pele.

Ele saiu de dentro de mim e eu estremeci, ofegante.

— O que você está fazendo?

— Céus, você é virgem — ele estava atônito, claramente lutando contra aquela informação.

— Eu quero que você termine o que começou — reclamei. — Agora já foi, não temos tempo para explicações ou desculpas. Só mete!

Ele pareceu me analisar.

— Curve-se sobre o sofá. Se vou fazer sexo com uma virgem, quero que seja bem feito.

O comando foi contido e sexy. Rapidamente, eu escorreguei do sofá e me virei, inclinando-me desta vez e apresentando a minha bunda para ele como se fosse um presente.

— Caralho... — ele sussurrou, arrastando um dedo na minha espinha, na parte de trás do meu pescoço, todo o caminho até a minha bunda. Ele mergulhou o dedo entre as minhas nádegas e afundou na minha buceta.

— Você está tão inchada.

Nathan pressionou novamente seu pênis em mim, entrando em um impulso duro, então se inclinou e traçou a mesma linha até a minha cintura com beijos.

Ele enfiou as pontas dos dedos nos meus quadris e eu olhei para trás, por cima do meu ombro. Aqueles barulhos guturais escapando de sua garganta a cada estocada, olhos desfocados, seu abdômen funcionando, músculos de seus braços cravados enquanto ele se movia para frente e para trás. Seu olhar afundou no meu.

— Estou gozando – ele disse, nem precisava.

Seu pau cresceu mais grosso dentro de mim, ele ficou tenso, deu três longos impulsos, e olhou para minha boceta. Eu estava em chamas, tonta, suando. Ele pulsou dentro de mim, manteve-se imóvel e liberou tudo o que tinha. Uma batida passou e ele puxou para fora, segurando a base do seu pau.

— Puta que pariu... — ele murmurou, dando um passo para trás. Ele esbarrou novamente na mesinha de centro e parou. — Trepei com uma virgem e foi demais.

Eu puxei minha saia para baixo e endireitei-me, coloquei meu sutiã de volta e comecei a abotoar minha camisa. Minha boceta parecia agradavelmente dolorida, mas nada que pudesse realmente me ferir.

Contudo, a satisfação começou a diminuir quase que imediatamente.

Todas as dúvidas e arrependimentos voltaram ao presente.

Atrás de mim, Nathan vestiu as calças, o som do zíper denotando o fim. Eu me virei para ele e me forcei a ignorar seu corpo ainda perfeito. Mesmo agora, o desejo aumentava com a visão dele, de seu rosto enquanto ele me estudava por sua vez.

— Bem, acho que vou para meu apartamento.

— Certo — ele murmurou. — Foi incrível, Sarah. Foi bom demais. — Depois, reanalisou as palavras. — Não quero ser chato em relembrar, mas nós fizemos o que dissemos que íamos fazer, e isso acabou. Então devemos seguir caminhos separados.

Assenti.

Sem compromisso, sem complicações. Por que isso parecia doer?

— Obrigada — nem sei porque falei isso.

Havia sido maravilhoso, mas não me sentia agradecida.

— Claro — ele respondeu, encolhendo os ombros — Agradeço também, princesa.

— Sarah — o corrigi, novamente.

Ele soltou uma risada então pegou sua camisa, pendurou-a sobre um ombro como se fosse uma jaqueta, e foi para a porta. Ele poderia estar em uma passarela, do jeito que ele andava. Ele parou ali, a mão na maçaneta.

— Nós podemos ser amigos — ele garantiu. — Se precisar de algo, é só pedir.

— Precisar de algo? Como o quê?

Por que diabos eu queria que a resposta fosse sexo?

— Não sei. — Nathan piscou, em seguida, abriu a porta e eu saí para o corredor.

Rumei até meu apartamento.

Entrei.

" Idiota" , eu murmurei. "Idiota. Idiota. Por que você fez isso?”

Foi a primeira vez que eu deixei minha boceta pensar por mim. Mas tinha sido apenas minha vagina? O que era aquela sensação no meu peito? O que foi aquilo? Eu não queria descobrir.

Eu verifiquei o tempo no meu relógio e gemi. Nós havíamos combinado passar a noite juntos, mas ele cansou-se após poucas horas.

A vida real me chamou de volta. O conto de fadas acabou.

 

 

 

 

Capítulo Cinco


ELE


O sol ainda não havia nascido quando saí do meu apartamento, indo em direção ao elevador.

Ser um policial, às vezes, incluía ter horários estranhos, turnos diferentes dos habituais. Não que eu reclamasse, para mim era um alívio acordar cedo e interromper fantasmas que costumavam me assombrar durante à noite.

Eu sou um homem de muitos erros. Cometi vários deles, julguei errado situações que não devia, e isso pesava na minha mente. Essa é uma daquelas características que você não muda numa pessoa: quando ela se sente responsável por algo, mesmo que não esteja nas mãos dela, ela é.

Em serviço, há alguns anos, eu precisava proteger uma testemunha de um traficante. Eu falhei. Então, o fantasma do fracasso sempre vinha em dias inesperados, e me fazia lembrar que eu não era o melhor policial, e que uma inocente morreu porque não fui cuidadoso o suficiente.

Mas, aquilo ficou no passado. As merdas que você faz, sempre ficam. E a vida segue. Outras pessoas precisavam de ajuda.

Parei em frente ao elevador e apertei o botão. Meus pensamentos se voltaram para o dia anterior, com Sarah, e a sensação mágica de sua carne sob minhas mãos.

Sorri.

Aquilo sim que era sexo!

E acabou, claro. Apenas um momento. Nunca passava de um momento.

Tentei afastar o pensamento. Isso foi o que nós dois queríamos. Só sexo casual.

Não é?

Ainda assim, a dúvida caiu como uma bomba em mim. As portas do elevador se abriram, entrei e virei para apertar o botão.

— Espere! Segure as portas — uma voz gritou.

Sarah apareceu, usando um conjunto claro, nada chamativo, uma saia justa e uma blusa de algodão. Ela diminuiu a velocidade com a visão em mim, colorindo seu rosto num tom rubro.

Eu coloquei um sorriso no rosto. Na minha cabeça, não havia porque haver momentos desconfortáveis entre nós quando tivemos tanta intimidade no dia anterior. E, por Deus, ela estava linda naquela manhã. Ainda mais bonita que ontem.

Sarah entrou no elevador e foi para um dos cantos, de costas para a parede, os braços cruzados.
Apertei o botão do saguão e depois me virei para ela.

— Pegou um turno cedo?

— Sim, e você?

— Eu também.

Silêncio. O rosto dela estava muito sério.

— Seu humor é bem azedo de manhã, não é?

Silêncio novamente.

— Não — negou. — Só não sabia que estaria aqui.

— Isso te incomoda?

— Achei que não quisesse mais me ver.

O elevador começou a descer para o saguão.

— Por que pensou isso? — sorri. — Estou louco para ser seu amigo, não reparou?

Enfim, um sorriso. O mundo inteiro sempre parecia se iluminar quando ela sorria.

— Você não está vestindo seu uniforme — mudou de assunto.

— Hoje eu vou ficar à paisana — declarei. — O que indica que posso ir tomar café da manhã no caminho do hospital. Quer me acompanhar?

O silêncio novamente, e ela desviou o olhar para os números acima da porta. Nós estávamos a um andar de parar e a pressão estava de volta. Eu percebi um leve toque de vergonha. Aquela mulher era maravilhosa e não carecia se envergonhar por viver as emoções de seu corpo.

— Ei... Não foi algo comum para mim. Foi incrível e mágico. Você é arrebatadora, eu nunca havia me sentido assim com outra pessoa.

Ela exalou levemente e encontrou meu olhar.

— Devemos fazer novamente em algum momento. — Sugeri.

As palavras haviam escapado. Uma segunda vez era algo que eu nunca antes desejara.

— Nós dissemos um momento — ela lembrou. — E eu estou focada no meu trabalho. Eu tenho muito trabalho. Muito trabalho — repetiu, nervosa. Lá vinha a enxurrada de palavras. — Eu provavelmente não vou te ver novamente Nathan, ou não quero te ver novamente – francamente, não sei – mas queria dizer que você foi muito gentil. Sabe, nos livros que eu já li a mulher quase se arrebenta de dor. Quando Susan perdeu a virgindade ela me disse que parecia que o cara estava cortando a vagina dela. Mas, com você foi muito bom, então, obrigada, obrigada. Mas, nunca mais. Nunca mais — repetiu.

Eu cerrei meus dentes e constatei que era o primeiro fora que eu recebi naqueles trinta e um anos de vida. Será que era por isso que eu ainda estava assim, tão afoito? Por isso que eu a queria de novo? Porque ela era difícil de conseguir?

Vergonhosamente devo admitir que eu me toquei momentos antes, durante o banho, pensando nela. E nunca me masturbei por uma mulher com quem eu dormi horas antes. O que diabos estava acontecendo? Eu já havia trepado com ela, havia saciado a vontade. Então por que... Por que aquela mulher parecia um ser mágico e, ao mesmo tempo, tão real?

Tão feminina. Curvilínea, responsável, inteligente...

As portas do elevador se abriram e Sarah encolheu os ombros. Ela deu um passo à frente, subiu na ponta dos pés e pressionou um beijo casto contra a minha bochecha.

— Mais uma vez, obrigada vizinho. Adeus.

Então ela avançou no saguão, sua bunda balançando naquela saia e minha mente ficou tão cheia que as portas do elevador quase se fecharam sem que eu também saísse.

 

 

Capítulo Seis

ELA

 


Q uando eu tinha dezenove anos, fiquei um mês sem menstruar. Naquela época, além de considerar que poderia ser a mãe do futuro messias, arrebatada pelo Espírito Santo – como toda mulher se sente quando não faz sexo e a menstruação não desce – eu entendi que era o estresse por conta do curso de enfermagem que me cortou as regras.

Além disso, havia me mudado para uma kitnet , estava complicado pagar as contas, e eu era muito jovem e insegura.

Passei a não dormir à noite, por causa dos estudos, já que durante o dia trabalhava de auxiliar de limpeza numa loja de conveniência.

Eu não percebi quando viver deixou de ser agradável, e quando minha vida ficou tão regrada que coisas normais às pessoas eram completamente alheias para mim. Não saía para me divertir, não dormia em tardes chuvosas, não assistia a TV porque estava sempre ocupada com os livros de enfermagem, não saboreava a comida, porque comer levava tempo.

Quando eu tive uma crise de estresse no curso, Susan me levou ao médico. Diagnóstico: TAG. Transtorno de Ansiedade Generalizada.

De início, assustou. O nome é bem feinho. Depois, me aproveitei da doença. Descobri coisas boas, nela. A TAG não me deixava descansar o que me tornava uma excelente profissional.

Eu nem ligava para a minha saúde. Cobria vários turnos no antigo hospital, era sempre a salvação das enfermeiras que tinham algo para fazer.

Até que Susan voltou para nossa cidade e me encontrou uns vinte quilos mais magra e com olheiras profundas.

Foi ela que me obrigou a um tratamento com remédios e quem me arrumou um trabalho perto dela para que pudesse cuidar de mim.

Existem pessoas especiais na nossa vida. Susan era minha melhor amiga porque era essa pessoa.

Ela também sofreu um pouco do que eu havia sofrido. Nossa cidade era essencialmente branca e de famílias tradicionais. Eu nem sabia quem era meu pai e Susan era negra. Assim, apoiamo-nos uma na outra, e eu acho que essa amizade vai levar toda a vida.

Por isso sorri quando a encontrei no corredor naquele dia. Apesar daquele incômodo no meu coração, eu amava minha melhor amiga e não queria preocupá-la.

— Muito trabalho? — ela perguntou. — Está com olheiras — observou. — Quer uma folga?

— Oh, não, Susan — neguei. — Já estou quase encerrando. Tenho só mais um paciente.

Ela assentiu e se distanciou.

Eu rumei ao quarto que me aguardava um tal de Greg Martins. Origem latina. Olhos amendoados. Cheio de tatuagem, e muito intimidador.

— Boa tarde — disse, entrando no quarto. — Um corte na barriga? — indaguei, lendo os papeis.

— Nada profundo, só preciso trocar as ataduras — ele explicou.

Na minha inocência, pensei em buscar assunto. Não gostava de pensar que o estereótipo daquela pessoa fosse ameaçador. Não devia julgar alguém pela aparência.

— Como se cortou? — indaguei, puxando as gazes.

— Não é da sua conta.

Foi seco. Cru. Quase selvagem. O observei e percebi algo ruim naquele olhar.

— Só faz o seu trabalho, ok? — ele mandou, como se estivesse falando com um cachorro.

— Tudo bem — murmurei.

Peguei o soro, lavei a ferida. Parecia à faca, mas não comentei. Minhas mãos tremiam e eu queria encerrar logo aquilo. Por fim, terminei a limpeza, e cobri com gazes novas, enfaixando a barriga.

— Está pronto, Sr. Martins.

Não me agradeceu.

— Só precisa passar na recepção.

— Eu sei onde tenho que passar — resmungou.

Foi um alívio quando ele saiu. Eu quase resvalei para o chão. Mas, enfim, era meu último trabalho e estava ansiosa para ir para casa. Então corri até a ala das enfermeiras, troquei de roupa e saí.

O ar calmo e sereno da noite me tocou. Caminhei até o ponto de ônibus estranhando o silêncio daquela noite.

Subitamente, vozes alteradas. Volvi na direção do som e vi Greg Martins discutindo com outro homem. Aquilo não era problema meu, mas vi-me aproximando de uma árvore, para me esconder, e assistir a discussão.

O que se sucedeu em seguida foi terrível. Greg puxou uma faca e a cravou no seu adversário. Mortificada, assisti o homem indo ao chão. Estava tão travada que não pensei que Greg poderia me ver. Só consegui ficar ali, assistindo aquele assassinato sem me mexer.

Por fim, Greg o deixou estirado e saiu correndo.

Eu fui na direção do moribundo. Ele estava agonizando. Apoiei minhas mãos na sua ferida, enquanto gritava por socorro.

Quando alguém do hospital ouviu os gritos e veio em minha ajuda, já era tarde demais.

***

O delegado também era latino. Um pouco gordo, aparência séria. De certa forma, me deu confiança e eu confirmei suas suspeitas.

— Greg Martins? Tem certeza? Estou atrás desse cara há tempos.

— Sim, tenho certeza. Eu havia atendido ele pouco antes. Sou enfermeira no Hospital Central.

O homem resvalou na sua cadeira.

— Certo. Vamos pegar esse cara. Mas, antes preciso proteger você. Se Greg souber que há uma testemunha, ele vai tentar te matar.

— O quê?

Como ele me contava isso, naquela calma?

O delegado puxou meus dados. Analisou meu endereço.

— Eu tenho um policial que mora nessa área... — murmurou.

— Olhe, eu acho...

Ele nem me deu atenção. Pegou o telefone.

— Jenny — falou com a secretária. — Manda o Stanley vir aqui.

NÃOOOOOOOOO!!!!!

Aquilo devia ser um pesadelo. Em menos de uma hora eu havia presenciado um homicídio, era testemunha, virei possível vítima de queima de arquivo e agora estaria prestes a...

— Oi chefe — ouvi a voz de Nathan segundos depois.

Volvi na sua direção e ele me encarou, surpreso.

— Você tem uma missão — o delegado avisou. — Vão se preparando porque terão que ficar muito tempo juntos.

 

 


Capítulo Sete

ELE


F iquei atrás do sofá no meu apartamento, minhas mãos atrás das costas, olhando pela janela que dava para a rua abaixo. Não havia nada especial lá. Era o mesmo de sempre, a calçada mal conservada, uma ou outra árvore resistindo às pessoas de má vontade que queriam derrubá-la, e um ou outro transeunte vagando como se estivesse perdido. Nosso bairro era afastado, quase ninguém caminhava por lá sem motivo.

Mesmo assim, eu gostava de morar ali. Era calmo. Não havia muito sons externos, às vezes um carro qualquer cruzando a avenida adiante, ou uma ou outra vizinha reclamando com o marido. No mais, era pacato.

Contudo, as coisas podiam mudar rapidamente. Sarah era a prova disso.

Fiquei com vontade de fumar. Um cigarro aliviaria a tensão daquele momento. Aquele dia havia sido um tanto estafante. Minha linda e gostosa vizinha havia presenciado um crime. Pior, o assassino era alguém que a polícia da cidade estava atrás há muito tempo. Agora, ela podia virar alvo e, por isso, meu chefe me ordenou ficar de olho nela.

Na bunda dela...

Não! Nela, não na bunda!

A bunda fazia parte...

Enfim, não seria fácil. Eu não gostava de proximidade com as mulheres que eu comia porque sempre achavam que poderiam se tornar algo a mais. Sarah, contudo, deixou aquela situação bem clara. Ela praticamente me mandou-me me foder.

Enfim, talvez ela é que tivesse me comido e eu nem percebera.

Quem devorou quem agora não parecia tão importante.

— Merda! – ela gritou. Assim, do nada. Deu-me um baita susto. – Merda! – continuou, e então eu vi que vinha da cozinha com o celular nas mãos.

— O RH do Hospital não entendeu a situação?

— Susan entendeu bem demais – corrigiu. – Me ordenou ficar segura enquanto isso não se resolve.

Aquilo não era bom?

— Você não entende? Eu não posso ficar sem trabalhar. Eu vou ter um troço. Estou sentindo isso – subitamente sentou-se.

Corri até ela. Nunca havia visto alguém tão nervosa por conta do trabalho. Segurei suas mãos, tentando observar sua reação. O que eu devia fazer?

— Você está bem? – indaguei.

— Não, eu não estou bem – lacrimejou. – Eu vou surtar! Eu sei que tenho muitas coisas para fazer, e não poderei fazê-las presas nesse prédio. Meu Deus, preciso de um dos meus remédios.

Remédios? Só então percebi que eu não sabia realmente nada daquela mulher.

— Está doente?

— Eu não quero falar sobre isso – ela murmurou, deitando para trás no sofá e fechando os olhos.

Aquela imagem remetia ao nosso sexo fabuloso, mas ele parecia muito longe, agora.

— O que é? Diabetes? Alguma DST?

— DST? Sério? Até você eu era virgem.

Eu ri.

— Está certo. Mas, como profissional, preciso saber exatamente o que se passa com você. Porque pode ser que eu precise te cuidar...

Ela assentiu. Aquele bico adorável surgiu nos seus lábios.

— T A G – ela soletrou. – Transtorno de Ansiedade Generalizada.

Era uma doença mental como depressão, pelo que eu sabia. Algumas coisas nela, como falar muito quando nervosa, ou sua compulsão pelo trabalho, subitamente ficaram explicáveis.

Subitamente, percebi a vergonha pelo mal que a cercava. Ela fechou os olhos e respirou com dificuldade, o peito subindo e descendo rapidamente.

— Você não precisa fazer isso. É ridículo eu ter uma babá.

— É meu trabalho. – sorri, ignorando o título.

Sarah levantou as pálpebras lentamente e encontrou meu olhar.

— É embaraçoso. – ela murmurou.

Eu sabia.

— Por quê? – indaguei mesmo assim.

— Você sabe porquê. – ela apontou. – Um momento, e nunca mais.

— Isso não tem nada a ver com nosso momento. Isso tem a ver com a sua segurança.

Levantei-me. Fui até a cozinha e peguei um copo de água. A aparência apática de Sarah me indicou que ela precisava. Voltei e ela aceitou o copo. Ela bebeu profundamente e um pouco escorreu pelo queixo. Não resisti e sequei com o polegar. Sarah corou novamente.

Oh Deus, eu amei fazê-la corar...

Como ela poderia ser tão fofa e sexy ao mesmo tempo?

— Todo mundo tem um ponto fraco, sabia? – murmurei.

— É mesmo? E qual é o seu?

Lembrei-me da jovem adolescente da qual eu era responsável anos antes. Da minha falha.

— Meu medo é que TAG seja transmissível. Imagine eu ficar obcecado com meu trabalho. Deus me livre.

Ela riu. Eu adorava quando ela ria porque era sempre tão sincera e desprovida de interesses. Aliás, Sarah tinha muitos lados. Eu conhecia o sensual, o da TAG, o engraçado... e agora o vulnerável. O vulnerável atiçava algo masculino em mim.

— Está com fome? — perguntei, por cortesia. – Quem sabe novamente uma carne assada com batatas?

— Não – negou. – Você fez muito por mim hoje. Não quero mais incomodar.

Não incomodava. Nunca incomodava.

— Ei, você tem que comer. Se não quer nada caseiro, posso chamar pelo telefone. Uma pizza, talvez?

Pareceu analisar a situação.

Diga sim , eu pedia, em silêncio.

— Vou pagar pela metade. – ela antecipou, aceitando.

Outro lado. O orgulhoso.

— Hoje sou seu herói – murmurei. – O mocinho que precisa salvar a donzela do bandido. Então me deixe fazer o serviço completo e pagar a pizza.

Riu novamente. Céus, eu daria um pedaço da minha carne para vê-la sempre rindo daquela forma.

— Fique confortável – avisei, enquanto buscava o telefone.

Volvi para a parede enquanto digitava os números e, ao me virar, surpreendi-me porque ela realmente parecia à vontade. Ainda naquela saia justa, aquela blusa clara e recatada, os pés descalços e o corpo resvalado no sofá. Quase um tio bêbado num domingo à noite.

Mesmo assim, deliciosa. Muito deliciosa. E eu tinha que me controlar.

Alguém atendeu na pizzaria e eu fiz meu pedido. Depois voltei e me sentei ao lado dela.

Ela tinha o telefone na mão agora, olhando para a tela, lendo seu o Facebook sem grande interesse.

— Você acha que vai demorar muito para eles pegarem esse cara? – ela questionou.

Eu esperava que demorassem a vida inteira. Eu a queria ali, para sempre.

 

 

 

Capítulo Oito

ELA


N unca vou entender a importância do carboidrato num corpo nervoso. Comer aquela pizza cheia de calorias pareceu me aquecer como um abraço gentil. E eu precisava muito de abraços gentis depois de perceber como minha vida seria difícil longe do meu trabalho.

Claro, eu ainda receberia meu salário e apenas entraria em dispensa. Contudo, ficar sem trabalhar parecia me tirar o chão. A companhia de Nathan apenas tornava tudo ainda mais intenso.

Existia algum tipo de evento sobrenatural ocorrendo que tentava me obrigar a ficar ao lado de um homem que deixou claro, desde o primeiro instante, que não havia futuro algum para nós?

Oh, não que eu quisesse um futuro com ele, mas... não vou esconder a verdade: sou mulher e uma parte dos meus hormônios sempre me inclinaram para a vontade de ser exatamente aquele modelo que eu e Susan sempre ridicularizamos.

Sim, eu queria uma menina, dois garotos, um cachorro no quintal. E um marido que me estremecesse como Nathan fazia. Eu jamais diria isso em voz alta, mas no meu íntimo era assim que me sentia.

Eu dei uma mordida na fatia e limpei um pouco da gordura do queijo no canto da boca com um guardanapo de papel.

Nathan estava sentado à minha frente. Simples, no chão, sem sapatos, totalmente relaxado em um par de jeans e uma camiseta branca. Ele segurava uma fatia em uma mão e comia tranquilamente, alheio ao turbilhão que me tomava.

Eu queria falar. Mas, estava me segurando para não quebrar o silêncio. Porque se eu abrisse a boca iria começar a despejar palavras que não devia, como na primeira vez em que lhe perguntei se era bem dotado.

Enrubesci, diante da humilhante lembrança.

Outra lembrança também me tomou. Nossa, ele era bem dotado. E tipo, se eu não estivesse com a vida em risco, talvez até me atrevesse a pensar em coisas proibidas.

Ah, a quem quero enganar? Eu estava pensando em coisas proibidas.

Minha boca abriu. A fechei, segurando todos os impulsos. Eu sei como iniciaria aquela conversa e como a terminaria. A primeira frase seria “ Será que chove hoje? ” e as demais iriam se confundir em “ Foda-me agora ” e “ Me deixe ser a sua garotinha má? ”.

Repentinamente, percebi que, por alguns momentos, esqueci-me do que me atormentava: meu trabalho. Foi surpreendente descobrir que Nathan conseguia desviar meu foco.

Será que ele era alguma espécie de cura para a TAG? Bem que meu terapeuta podia me receitar três doses semanais de sexo selvagem com meu vizinho.

Nathan lambeu o canto dos lábios e inclinou a cabeça para um lado, estudando-me da cabeça aos pés.

“ Diga alguma coisa ” eu pensei, porque não aguentava mais aquela tensão. Contudo, dizer o quê? E como eu controlaria o que sairia da minha boca?

Se eu fosse outra mulher, mais prática ou perspicaz, poderia ter uma conversa divertida e fácil, e então...

Oh, lá estava minha mente novamente... Repleta de calor e armadilhas que eram úmidas e cheias de prazer.

— Será que chove hoje? – indaguei.

Eu era absurdamente ridícula! Depois ainda se falavam que eram os homens que pensavam com a cabeça de baixo. Minha mente era minha boceta. Eu até devia dar um nome para ela, já que era ela que controlava cada parte do meu corpo.

— Sabe o que dizem dessa época do ano? – continuei. Meu Deus, por que eu não calava a boca? – Que se chover vai cair neve.

Diziam isso? Duvido. Era ridículo. E neve era chuva congelada. Era o óbvio. Céus, ele me acharia uma retardada.

— Sabe, Sarah, eu me recuso a acreditar que você é apenas sua doença. Que seu único foco é o trabalho. Você parece muito mais do que isso.

— Pareço? – Ok. Palavras sobre controle. Não pedi para ele me foder. Já era um progresso.

Ou pedi? Como foi o “pareço”? Era sugestivo?

Se era, ele me foderia?

Eu dei mais uma mordida na fatia. Ele tinha um jeito de falar que me envolvia - um certo timbre da voz. Minha vagina pulsou.

Puta que pariu. Eu queria um “ Momento, parte dois ” com Nathan.

— Completamente. – Nathan respondeu, depois pareceu se animar. – Ei, já que estamos presos aqui, vamos fazer uma brincadeira? Um jogo?

O tal jogo envolveria Nathan me colocando de quatro na sala e metendo em mim? Porque eu estava interessada nesse tipo de jogo.

— Por que não? – respondi. – Já que agora estou inútil mesmo, posso fazer coisas idiotas.

— Ok! – Por que diabos Nathan parecia super animado enquanto colocava o resto da sua fatia no prato?

— Que jogo é?

— O nome? Ah, não faço ideia. Dê qualquer nome, porque não importa. Mas as regras são as seguintes. Eu digo algo importante sobre você, e se eu acertar, mereço um prêmio

— Que tipo de prêmio.

— Pode ser um beijo – ele me deu uma piscadela.

Outra coisa piscou também. Lá embaixo. Minha boca estava seca. Eu queria beijar Nathan e era capaz de dizer que ele acertou mesmo que falasse que eu fosse a Rainha de um Reino tão tão distante.

Pare, Sarah! É só um jogo para passar o tempo. Nathan estava cuidando de mim, e sendo um cavalheiro. Era eu que parecia uma...

Puta...

O som dessa palavra veio na voz da minha mãe.

“ Você é uma puta que tentou roubar meu namorado. ”

— E se eu acertar algo sobre você? – indaguei, ignorando aquela voz.

— Você pode fazer o que quiser comigo — disse Nathan, sentando-se e estendendo os braços sobre as almofadas do sofá, encostando-se a ele, oferecido.

Devia ser bom ser homem. Oferecer-se sem nenhum peso na consciência. Sem vozes falando o quão deprimente você é.

— Ok – assenti. – Eu topo.

Eu me sentei no chão de sua sala de estar, sorrindo, sentindo-me uma adolescente numa festa. Não que eu tivesse ido a festas e participado de jogos na minha adolescência.

— Ok, eu começo. Você nasceu numa cidade do Sul.

Eu ri.

— Errou feio.

— Ah, duvido. Você é do Sul sim. Lá são bem provincianos e você disse, na sua conversa com Sarah, que sua cidade era bastante tradicional.

— Errou feio. Eu nasci no norte. E, adivinhe, lá também são bem tradicionais. Cidades do interior não costumam aceitar bem certas coisas.

— Como o quê?

— No caso de Susan, ser negra numa terra de brancos. No meu caso, ser filha da mãe solteira, numa cidade onde as famílias se reúnem todos os domingos para ir à igreja.

Meu estômago se apertou diante da lembrança.

— Mas, e você? Nasceu e viveu aqui a vida toda?

— Correto!

— Pela sua segurança, suponho que você tenha tido uma vida familiar feliz. Você parece bastante estável.

Ele baixou os olhos.

— Como eram seus pais? – indaguei.

As regras do jogo pareceram se perder. Eu nem havia pegado a minha prenda e não importava mais.

— Se você não quiser falar sobre isso, tudo bem – murmurei diante do seu silêncio.

— Meu pai se mandou tão logo soube que minha mãe estava grávida. Nunca o conheci. Minha mãe era empregada doméstica – ele já havia contado aquilo antes. – E ela lutou muito por mim. Sua vez — apontou.

— Você já sabe que minha mãe também era mãe solteira.

— E como ela era?

Era difícil definir.

— Ela não... – minha voz travou. – Não sei... Eu não me lembro de sorrir na infância. Ou de me divertir com ela. Ela saía cedo, chegava tarde. Nos finais de semana, ia ver uns caras. Minhas recordações se focam em ficar sozinha no apartamento, comendo porcarias e vendo TV. Depois, eu me lembro de ela pedindo para eu ir embora. Eu tinha uns dezoito anos. “ Na sua idade, eu já me virava ”, ela dissera. – Encenei as palavras, rindo. – Então arrumei um trabalho e comecei a estudar à noite. – Subitamente, meus olhos se encheram de lágrimas. – Ah, esqueci-me de mencionar: ela pediu pra eu sair porque um dos caras que ela saía estava me olhando demais. Ela me culpou. Chamou-me de puta.

Céus, por que eu contei isso?

— Sinto muito – ele murmurou, e parecia verdadeiro. – Você sabe que não é.

— Disse o cara que me comeu depois da primeira tentativa.

— Nós somos adultos e só aproveitamos o momento. Isso não tem nada a ver com a sua índole. Eu já disse, você é maravilhosa.

Aquelas palavras pareceram me libertar.

— Enfim, nunca mais vi minha mãe e acho que nunca mais a verei. Não tenho interesse de vê-la, entende? Eu sei que sua mãe era maravilhosa, quando fala nela seus olhos ficam tocados de carinho. Mas, nem todas as mulheres são mães perfeitas e eu tive o azar de pegar uma das mais infelizes nesse quesito.

A expressão de Nathan era difícil de decifrar. O que ele achava de mim agora? Eu abri minha alma para ele. Por que fiz isso? Estava envergonhada e arrependida. Viver segura na minha própria mente, sem abrir espaço para ninguém, sempre me deixou a salvo. Agora Nathan parecia ser parte disso.

— Ei, saímos do jogo! – eu ri. – Vamos voltar? Minha vez – fingi animação para esconder o torpor de tristeza que me tomou. – Eu acho que... – busquei algo em sua expressão — , você tem um grande remorso.

Ele pareceu chocado e eu me arrependi imediatamente das palavras.

— Ok, peguei pesado – ri. – Vamos deixar para lá?

Ele riu.

— Ou eu simplesmente posso não responder e você pegar seu prêmio – constatou. — Você pode pegar o que quiser, princesa.

Meu coração pulou, todo o meu corpo latejando pelos nervos. Meus pés formigaram, meus dedos se contraíram.

— Ok – ele disse, depois de um tempo. – Estou brincando. Você não precisa fazer isso. É apenas um jogo idiota.

Ele se levantou. O que havia nele que eu era incapaz de alcançar? Ergui-me também, e fui atrás dele. Encontrei-o na cozinha bebendo um copo de água.

— Desculpe ter feito aquele comentário – murmurei.

Sua mandíbula se apertou. Imaginei alcançando e acariciando aquele ponto, correndo meus dedos por sua barba para acalmar o que quer que o tivesse perturbado.

“ Divida sua dor comigo, Nathan. Eu posso cuidar de você ”, meu coração gritava.

Mas, ele não parecia pronto para fazer isso.

— É melhor eu ir — eu disse, mas não me afastei. – A pizza estava ótima e eu estou feliz que possamos ser amigos. Quem sabe...

— Ela morreu.

— O quê?

— Você não é o primeiro caso de proteção à testemunha que eu pego. Já tive outra. Uma adolescente, era tão sofrida e pura. Eu sentia... Não sei explicar. Eu queria muito ajudá-la. Ela era apenas uma criança que a mãe abandonou e que ninguém queria criar. Vagava em lares adotivos, até se meter com drogas e presenciar um crime. Única testemunha. O promotor queria pena de morte para o assassino. Ela era a maior prova. Colocaram-na sobre meus cuidados. Era tudo que eu precisava fazer. Proteger aquela menina...

— Pare. – Avancei. Pressionei meus dedos em seus lábios. — Pare, você não precisa fazer isso.

— Ela ficou no meu apartamento. Um dia eu bebi demais. Era aniversário da morte da minha mãe, e eu apaguei no sofá. A garota saiu. O corpo dela clamava pelas drogas. Quando acordei fui atrás, mas era tarde demais. Ela estava segura comigo, ninguém sabia onde se encontrava, mas quando reapareceu no antigo beco que frequentava, os bandidos atrás dela foram avisados imediatamente. Eles a fuzilaram. Encontrei o corpo, nos dedos um saquinho com cocaína.

Eu sentia a dor dele. E eu precisava fazer alguma coisa para amenizá-la. Então me levantei na ponta dos pés e apertei meus lábios nos dele, envolvi meus braços em volta do seu pescoço e puxei meu corpo para perto. Ele endureceu debaixo de mim e, em seguida, assumiu o controle do momento.

A mão de Nathan varreu minha espinha e beliscou a parte de trás do meu pescoço. Seus dedos se arrastaram em meu cabelo e ele inclinou minha cabeça ligeiramente para trás. Sua língua passou pelos meus lábios e ele massageou minha boca, tomando, seu beijo me queimando, aumentando o prazer e a dor do momento. Prazer de seu toque e dor que ele tinha passado por algo que eu mal conseguia entender.

Minhas mãos saíram do pescoço dele, desceram pela frente da camisa, descansando naquele peito forte e definido.

Nós paramos o beijo, o nariz dele pressionado contra a ponte do meu. Ele limpou a garganta.

— Sarah... Você é maravilhosa.

Se eu ficasse ali, significaria mais do que apenas uma foda rápida. Nós abrimos nossa alma um para o outro. Não era mais sem compromissos e sem complicações. Assim, pressionei minhas mãos contra o peito másculo e me forcei para longe dele.

— Você é um homem incrível – afirmei. – Eu não conheci muitos homens na minha vida. Bom, na verdade, você foi o primeiro – ri, triste. – Mas, eu sei que você é incrível. E agora está me protegendo, então obrigada. – Mais dois passos para trás. – Por tudo. Mas, agora é melhor eu voltar para o meu apartamento.

Nathan assentiu.

— Está certa – afirmou. — Eu te acompanho.

 

 


Capítulo Nove

ELE

 

C uidar de Sarah seria um dos trabalhos mais difíceis da minha vida. Até tentei chamar meu chefe em particular e pedir para ele me livrar daquela obrigação, mas o homem não me deu atenção. Pegar Greg era prioridade. Apesar dos diversos crimes que sabíamos que ele havia cometido, aquele assassinato era o único com uma prova testemunhal idônea.

Então, era isso. Eu devia cuidar da bunda... Digo... Da mulher mais incrível que eu já havia conhecido... e transado.

Respirei fundo. Acordei cedo naquela manhã. O certo éramos passar a morarmos no mesmo apartamento, mas como nossos lares eram divididos apenas por um metro de distância, aceitei que ela fosse para o outro. Fiz, então, uma cama improvisada na sala, perto da saída, para o caso de ouvir algum barulho estranho.

Eu não podia falhar novamente. E, definitivamente, eu não podia perder Sarah.

Não foi um pensamento romântico. Era apenas a constatação de que havíamos criado um vínculo. Éramos amigos, apesar de algo em meu corpo clamar por mais.

Fiquei duro. Maldito pau que reagia como um adolescente sempre que eu pensava naquela mulher.

Aquela bunda que me levou a loucura tão logo a vi. Era grande... Enorme.

Eu já falei isso? Céus, se não expliquei, que fique claro agora. Ela tinha um bundão que era uma coisa de louco. E o cheiro dos cabelos... eu podia me afogar pra sempre naquelas madeixas.

Libertei meu pau do pijama. Ele surgiu ereto e úmido diante dos meus olhos. Pus as mãos, massageando. Para cima, para baixo, para cima... Oh Sarah... Como ela se contorcia e se apertava quando estava prestes a gozar...

Repentinamente, o som de passos no corredor interrompeu meu momento. Só deu tempo de guardar meu pênis e pegar a arma. Nem limpei as mãos, melando a maçaneta.

No final do corredor, com o elevador se fechando, percebi um homem.

Não deu pra saber quem era ou o que queria.

Meus pelos se eriçaram.

 

 

 

 


Capítulo Dez

ELA


S usan riu do outro lado da linha. Eu também sorri diante da menção da fofoca. Ela havia me ligado naquela manhã para contar que dois enfermeiros – homens – haviam sido pegos se beijando na ala de enfermagem. Não seria nada demais se um deles não fosse claramente homofóbico.

— Ah, você sabe – ela prosseguiu. – Quando você detesta muito algo é porque no fundo tem vontade. Tipo você e seu vizinho.

Fechei a cara. Como assim?

— Diga-me Susan, como você sempre consegue colocar Nathan em tudo?

— Só estou curiosa. Você já fez com ele? Porque francamente se um homão daqueles me dissesse para ficar de joelhos e lamber seu pau, eu faria sem reclamar.

Que merda era aquela?

— Você, às vezes, é bem piranha.

— Eu sempre sou piranha.

Eu ri.

— Não odeio Nathan. Na verdade ele está sendo muito gentil comigo nesse momento difícil.

— Ok, blábláblá gentileza, mas, e o sexo? Como foi?

Como diabos ela sabia?

— Não sei do que você está falando.

— Sou sua melhor amiga e vou considerar uma mentira como ofensa – apontou. – Vamos Sarah... me conte. Estou louca de curiosidade. Ele é tudo que parece?

— E o que ele parece?

— Você sabe... O tipo de homem que nós faz gozar só com um olhar.

Eu gargalhei.

— Quer experimentar?

— Sou piranha, mas tenho minhas regras. Os homens das minhas amigas são mulheres para mim.

— Que eu bem me lembro, você também transa com mulheres.

Susan riu.

— Então fica de olho no seu bonitão porque se der mole eu roubo ele, viu?

Eu amava quando ela estava de bom humor. Naquele momento em que eu sentia tanta falta de estar no trabalho, a voz dela tinha esse poder mágico de me acalmar.

— Por que não quer contar? Oh, ele tem ejaculação precoce? – ela pareceu solidária.

Gargalhei mais.

— Pare!

— Eu não vou parar até você me contar o que aconteceu – retrucou. – E então? Ele fez tudo certinho? Doeu? Gostou?

— Susan!

— Você saiu com a boceta formigando?

Ok, quando ela dizia a palavra “boceta” a coisa ia ladeira a baixo. Não levaria muito tempo para ela começar a me indagar sobre bizarrices sexuais que eu nem sabia que existia.

— Ok! Sim! Nós fizemos sexo. E foi tão incrível que eu não consigo pensar em mais nada. Ora, estou ameaçada de morte e nem ligo. Feliz agora?

— Oh, isso que é primeira vez. Vou querer todos os detalhes. Porque você sabe, minha primeira vez com Jeremy Scott no colegial foi embaixo de uma arquibancada e durou cinco horrorosos segundos.

Eu soltei um suspiro.

— Eu não quero ouvir essa historia de novo...

— Céus, ainda lembro-me do horror. Ele nem aparava os pelos, saiu aquele chumaço encaracolado diante dos meus olhos, e logo ele enfiou aquele treco tão rápido e com tanta força que eu quase não andei por semanas. Depois deu um suspiro longo, senti como se tivesse mijado em mim, e então saiu. Foi uma merda.

— Eu estou desligando agora.

Eu havia ouvido aquela historia uma centena de vezes e em cada uma delas, parecia pior.

— Ok, desculpa te falar sobre a vida real e como o sexo é uma merda para a maioria das mulheres. Sua bastarda sortuda, nem todas são você. Mas, me diz: Ele era bom? Ele era grande?

— Não sei dizer. Ele era bom, era grande... Mas era algo além disso. Ele tinha algo diferente...

— Como o quê? Gonorreia?

— Céus, Susan, não!

— Então o quê? – parecia ansiosa.

— Ele me fez sentir coisas que eu não quero sentir.

Susan suspirou no telefone, e veio como um zumbido de vento no meu ouvido.

— Ah Sarah... Mas essa não é a melhor parte?

— Sentir é quase sinônimo de sofrer.

— E daí? A gente sempre sofre. Pelo menos você gozou. Já sofri por caras que eram lastimáveis.

— Ele não quer nada sério – contei. Por que aquilo me incomodava? – Eu também não.

— Escuta: O tempo de transar com um cara e sonhar que ele vai ser seu príncipe encantado já passou. Até porque, na maioria das vezes, eles são apenas sapos. Você é jovem, linda e está sentindo coisas desde... nunca. Por que não aproveita?

Uma batida bateu na minha porta me fez encerrar o assunto.

— Eu tenho que ir. – avisei a ela. – A gente se fala mais tarde.

Depois, desliguei.

Outra batida. Urgente.

— Momento... Só um segundo.

Eu espiei pelo olho mágico e perdi o fôlego. Era Nathan. Ele olhou para a esquerda e para a direita, em seguida, para cima e para baixo no corredor. Ele estava ansioso? Eu fiz uma careta, puxei a corrente e então abri a porta.

— Oi. – Eu realmente não queria conversar com ele após as palavras de Susan. Sua visão me apavorava. Tirava-me da área segura. — Olhe, agradeço sua visita, mas não sei se é uma boa hora. Depois de ontem eu não consigo pensar direito sobre nós e...

Nathan nem prestou atenção. Enrubesci ao perceber que falava com o nada. Ele olhou além de mim e entrou no meu apartamento.

— O que foi? – perguntei.
Ele tirou uma arma da cintura e a segurou baixo, observando os lados.

— Está tudo bem aqui? – perguntou.

— Está? – agora era eu que começava a me apavorar.

— Você viu algum homem esquisito?

— No meu apartamento? Segurando uma arma? – apontei. – Você?

Ele rumou em direção à cozinha, observou alguns cantos, então foi para meu quarto. Na sala, eu apenas o acompanhei com a vista. Saiu do quarto, foi para o banheiro.

Depois, voltou, passou por mim e foi direto para a janela que dava para a rua. Ele fechou as cortinas.

— O que está acontecendo?

— Por favor, tranque a porta.

— Por quê?

— Agora!

Eu fiz o que ele pediu. O que quer que estivesse assustando ele, estava causando o mesmo efeito em mim.
Ele saiu da janela e voltou para a cozinha. Só então percebi. Ele estava descalço, ainda de pijama. Seu cabelo estava bagunçado pela primeira vez desde que eu o vi. Seus punhos estavam cerrados. Ele os soltou, em seguida, cerrou novamente, repetidamente.

Ele não encontrou o meu olhar — ele correu pelo teto, depois pelo chão, pelos balcões, pela geladeira. Nathan parecia muito nervoso.

— Nathan...

Finalmente, fez contato visual.

— Oi.

E foi isso. Oi? Que porra de “oi”?

— Oi o quê? O que diabos está acontecendo? Por que você está agindo como se eu estivesse com uma mira na testa.

— Tecnicamente você está.

— Meu apartamento não é seguro? – eu indaguei. Estava começando a me enervar.

— Nenhum lugar é seguro.

Xeque-mate.

— Mas, como pode ver com seus próprios olhos, eu estou bem.

Nathan fungou, manuseou o nariz rapidamente. Eu percebia que seus nervos estavam tensos.

— Você não viu nada de estranho hoje? Ninguém no prédio?

— Eu estava na cama até você bater na minha porta.

— Certo.

Ele pôs a arma em cima da mesa. Seus ombros baixaram a rigidez, e sua preocupação pareceu se esvair de seus músculos. Por fim, ele se aproximou de mim.

— Você sabe como é importante que permaneça segura. Greg Martins é um canalha, suspeito de dezenas de mortes, tráfico de pessoas e de drogas, e um montante de coisas que não quero falar para não chocá-la. Você é a única prova razoável que temos para colocá-lo na cadeia. Então, por favor, nunca abra a porta para ninguém que não seja eu e tente não se meter em problemas.

Ela gentil. Mas insultante.

— Eu sou adulta – apontei. – Adulta. E estou presa no meu apartamento sem poder ir trabalhar porque seus colegas policiais não conseguem colocar as mãos naquele assassino. Então, não me peça para me manter longe de problemas e sim peça aos seus colegas para pegarem logo aquele cara.

Só então percebi o quanto eu havia me aproximado dele enquanto falava. E o quanto seus olhos brilharam enquanto percebia meu pijama. Seu olhar viajou sobre mim pela primeira vez desde que ele entrou. Ele soltou um gemido, como se tivesse sido atingido.

Nathan fez uma pausa sobre meus seios. Seus olhos devorando-os, depois volvendo para meu rosto.

Ele deu um passo à frente. Meus seios roçaram contra ele, logo abaixo daqueles peitorais duros e musculosos, e ele rosnou.

— Eu nunca transo duas vezes com a mesma mulher.

— Eu sei.

Os braços de Nathan me cercaram. Suas mãos batiam nas minhas nádegas, e então ele me levantou, quebrando todas as regras com um beijo na boca.

Eu me dissolvi naquele beijo imediatamente, como se aquela suavidade, aquele calor, tivesse sido tudo o que eu queria a vida inteira. Talvez essa fosse a verdade. Talvez, toda a frustração que eu senti nos últimos dias tenha sido o resultado de não ter esse momento novamente. Nathan era meu último pensamento ao dormir, o primeiro ao acordar.

— Isso não está certo – eu sussurrei quando ele me colocou no balcão.

— Eu sei – foi a vez dele saber.

Dois sábios que não sabiam nada.

— Você sabe que eu te quero. Você sabe. Mas, nós estabelecemos regras. Regras não devem ser quebradas, não é? – murmurei.

— Dizem que o que é proibido é mais gostoso – ele gemeu. Céus, que tom! Ele conseguia me arrepiar a cada som. — Eu nunca quis tanto uma mulher quanto eu quero você, ou qualquer coisa tanto quanto seu corpo contra o meu. Agora, cale a boca e deixe-me comer você.

Eu nem sei como nossos pijamas foram tirados. Eu só percebi o short de algodão que usava para dormir no chão. Foi seu gemido diante da visão da minha calcinha branca que me acordou. Então, ele também a arrancou. Com pressa, com nervosismo. Ele agarrou minhas coxas e me arrastou para onde ele queria, em seguida, colocou a mão contra o meu peito e me pressionou para trás, então minha cabeça descansou contra a parede da cozinha.

— Eu quero te chupar desde o primeiro dia que eu te vi...

Ele se abaixou entre as minhas pernas, abriu-as o máximo que pôde, então enterrou o rosto na minha boceta.

Um prazer quente se espalhou através de mim, e eu bati minha cabeça contra a parede, arqueei minhas costas e aceitei mais dele.

— Ah – Eu gemi, repetidas vezes. – Ah, Nathan... Ah.

A língua de Nathan entrou em mim. Ele bombeou dentro de mim algumas vezes, em seguida, extraiu e se concentrou no meu clitóris, circulando, sacudindo, sugando, degustando. Os ruídos que ele fez, tão úmidos e confusos, tornaram tudo melhor. Ele soltou pequenos gemidos apreciativos enquanto chupava meu clitóris. Dois dedos deslizaram dentro de mim, e ele os pressionou todo o caminho para cima, roçando meu interior colocando pressão.

Eu peguei punhados de seu cabelo e puxei, desesperada por ele agora, perdendo minha visão, minha mente, meu controle.

Céus, eu queria aquele homem. Mas era pior que isso. Eu queria o compromisso e a complicação com ele. Eu queria o marasmo com ele. Eu queria a menininha e os dois garotos, o cachorro no quintal... Com ele.

Lembrei-me das suas palavras sobre as mulheres sempre desejarem o que não estava disposto a dar. Compadeci-me delas pela primeira vez. Estávamos juntas, perdidas no torpor que Nathan provocava.

Indiferente aos meus pensamentos, Nathan continuou. Ele mantinha o ritmo de seus dedos com o de sua língua, as duas sensações trabalhando juntas, dois instrumentos em uma sinfonia, me trazendo mais alto, mais alto. E então fui subindo como se estivesse em uma montanha russa, e depois caí para o abismo, sem controle, sentindo apenas a euforia desesperada do gozo.

Meus dedos rasparam seu couro cabeludo. Minha cabeça se encostou na parede e minhas coxas tremeram. Eu estava perdida.

Isso foi Nathan. Entre minhas pernas. Chupando-me, provando-me, me possuindo. Tudo o que ele queria era eu e, naquele momento, era tudo que eu queria. Ser dele.

— Nathan – Sufoquei as palavras seguintes.

Porque se eu as dissesse era o fim. “ Fique comigo. Para sempre ”. O para sempre acabaria naquele instante.

Ele me ergueu no colo. Como uma noiva em núpcias. Minha mente nublada, apesar dos riscos, permitiu-se sonhar. Eu queria essa lembrança mesmo que não fosse real. Tão louco quanto pudesse parecer, queria essa maldita memória dele na minha cama me amando... Amando...

— Princesa...

Abri meus braços e minhas pernas. Estava na minha cama. Eu nem reparei no trajeto, meus olhos focados nele. Nele.

Nathan tirou as calças, seu pênis grosso surgindo à vista, iluminado pela luz da sala de estar, que escapou pela porta aberta do quarto.

Eu lambi meus lábios, mordi o inferior. Não era normal querer tanto um homem.

— Vem – implorei. – Vem rápido. Agora.

Ele sorriu para mim.

— Nathan... Como eu preciso de você...

— Preservativo – ele lembrou.

— Esqueceu que até você eu não transava. Não vai achar nenhum aqui. Você pode ir ao seu apartamento pegar?

Seu pênis latejava apesar do estranho assunto de conversa.

Eu fechei os olhos. Estava enlouquecida. Estava doida pra gozar naquela pica.

— Porra — ele murmurou. — Foda-se, você é linda.

Seus músculos ondularam quando ele se aproximou de mim. Nathan se abaixou, apoiando-se em seus antebraços, em ambos os lados da minha cabeça.

— Isso é uma loucura, mas vou arriscar porque não consigo mais segurar... não dá.

— Foda-me — eu sussurrei. – Por favor.

Ele moveu seu pênis para cima e sobre minha boceta. Ele bateu uma ou duas vezes em cima, varreu de volta entre meus lábios, reunindo a umidade de sua saliva e meus sucos.

— Nathan! – Eu gritei.

GRITEI.

Gente, eu havia me tornado uma atriz pornô.

— Eu preciso de você dentro de mim.

Nathan respondeu isso me beijando nos lábios e metendo em mim em um golpe rápido. A falta de preservativo, a pele na pele, me mandou direto para o céu, novamente. Eu soltei um grito e mordi meu lábio inferior.

— Oh, meu Deus!

Eu sei. Blasfêmia. Mas, foi involuntário.

— Você está tão molhada — ele sussurrou, beijando meus lábios.

Ele acariciou-me, movendo seus quadris em um ritmo que me deixou louca.

Eu agarrei a parte de trás do seu pescoço, pressionei meus seios em seu peito e gemi baixinho, desesperada por mais. Para não parar. Por outro orgasmo. Eu já estava tão perto.

Nathan mudou seu corpo, mudou o meu também, de modo que cada golpe pressionasse seu abdômen contra o meu clitóris e gentilmente o roçou. Choques de prazer passaram por mim. Eu ofeguei e envolvi minhas pernas ao redor dele, avançando em direção ao meu orgasmo.

Ele era incrivelmente duro e tão grosso. Cada crista e veia destacada.

— Ah, princesa... eu vou gozar — ele sussurrou. – Você está tão apertada em volta do meu pau. Sua bocetinha linda massageando meu pau... Mal posso esperar para encher sua boceta com meu esperma quente.

Eu perdi totalmente. Eu me contorci e gritei, meu corpo seguindo suas ordens bem na hora. Eu cerrei em torno dele, trabalhei seu pau, e ele me recompensou com um rosnado baixo.

Nathan puxou meu cabelo, lambeu meu pescoço e cavalgou forte. Três longas metidas e cada uma com um pulso daquele pau grosso. Ele se esvaziou em mim de novo e de novo, e eu fechei em torno dele com cada lançamento.

O prazer continuou mesmo após o orgasmo.

Nathan saiu de mim devagar. Ele rolou para o lado e deitou, deu um tapinha no braço para eu me juntar a ele, mas não esperou para me arrastar para o abraço. Minhas costas descansaram contra o peito dele. Ele me beijou no topo da cabeça e ficamos assim.

Não só havíamos trepado uma segunda vez como estávamos romanticamente deitados juntos após o sexo.

Todas as regras haviam sido esquecidas.

 

 

Capítulo Onze

ELE


S Arah estava linda naquele vestido de linho claro.

— Já faz duas semanas que estou nesse apartamento. – ela quase gritou, chamando minha atenção. – E tudo que fazemos é transar e transar. Ok, eu sei que não posso voltar ao hospital, mas preciso respirar ar puro. Há um parque tão perto daqui. Deixe-me caminhar um pouco.

Peraí, ela estava reclamando da nossa vida sexual?

— Isso – murmurei. – Se aproveita da comida, lambe até os dedos, e quando está com a barriga cheia, despreza.

Sarah riu. Céus, eu amava seus sorrisos. Era estranho como aquela relação progrediu de um sexo casual para uma amizade colorida tão importante.

— Meia hora. Por favor.

— Eu a acompanharei.

— Meu Deus, um minuto sem você – ela pediu. – Preciso respirar.

— Respire comigo do lado – resmunguei. – Sabe bem que sou responsável por sua segurança. Vamos ao parque, mas eu estarei com você.

Enfim ela concordou. Então saímos pela primeira vez para a rua, depois de tanto tempo.

O ar estava ameno, e uma leve brisa indicava que choveria no final da tarde. Fomos de carro até uma praça, e andamos como um casal de namorados, mãos dadas, para não transparecer que eu estava armado e atento.

— Então... – Chegamos num banco. Sentamos. – Vamos conversar.

— Sobre o quê?

— Tudo o que você quiser falar, princesa.

Meu olhar cruzou por ela e percorreu a multidão em busca de possíveis ameaças.

— Nathan, eu gosto de você – ela murmurou. Meus olhos quase deixaram as pessoas e a encararam. Mas, eu não podia lhe dar toda a atenção naquele momento. – Mas, eu não sou esse tipo de mulher.

— De que tipo está falando? – perguntei, vagamente.

— Sexo sem compromisso e essas coisas. Eu gosto de você, e você foi super sincero comigo desde a primeira vez. Então, eu acho que devemos parar.

Risos borbulharam na minha garganta e explodiram entre meus lábios. Eu estava sendo rejeitado, e nem devia estar rindo. Mas, era engraçado. Depois de tanto sexo naqueles dias, era realmente cômico ela me dizer isso.

— O que é tão engraçado?

Ok, meu riso a ofendeu.

— Sarah, do que diabos você está falando?

— Você e eu. — Ela mordeu o lábio inferior, aquela boca suculenta que eu adorava, e depois emudeceu. — Eu não posso falar sobre isso agora. Eu vou falar com você depois. Agora não é o lugar nem o momento.

Foi assim que passamos de " sexo casual " para " vamos falar sobre isso mais tarde ". Interessante. Tudo que eu queria era ficar de olho nela, e não havia a menor chance de deixá-la sozinha naquele parque. Eu ficaria quieto se essa era a vontade dela.

Ela se levantou. Não ficamos cinco minutos ali. Ela queria voltar para casa. A segui até o carro.

Era estranha a sensação. Eu estava vivendo o melhor momento da minha vida. E eu já havia vivido muitos momentos bons com muitas mulheres legais, mas aquela relação com Sarah era a mais prazerosa.

Ela sentou-se no banco do carona. O olhar perdido do horizonte. Eu queria dizer muitas coisas para ela, mas então seus olhos volveram para mim.

Já estávamos na estrada. Eu precisava manter o foco na rua, mas queria inquirir o que diabos ela dizia com o olhar.

Sarah era uma mulher difícil de ler.

Subitamente ela se curvou em minha direção. Eu fiquei espantado, pasmo. Ela abriu o zíper da minha calça e puxou meu pau já latejante, tudo enquanto meus pés estavam nos pedais e meus olhos na rua.

— Sarah – Eu tinha muitas questões. Mas, só uma saiu da minha boca — Que diabos está fazendo?

— O que eu quero fazer. – Sua respiração roçou na ponta do meu pau.

Eu olhei para ela, diminuindo o ritmo do carro.

— Eu não posso dirigir com você fazendo isso.

Eu não era uma maquina, sabia?

— Então estacione.

Não foi um pedido, foi uma ordem. Seus lábios cercaram meu mastro antes que eu pudesse responder. Sua língua circulou minha cabeça e desceu, para baixo, saboreando. O calor e a umidade me enviaram diretamente ao paraíso.
Ela retirou-se, esfregando a palma da mão, alisou-a sobre o meu eixo, trabalhando a mão para cima e para baixo, o punho fechado.

Eu parei o carro e coloquei-o numa rua deserta, em seguida, envolvi meus dedos em seu cabelo enquanto ela subia e descia, fazendo aqueles ruídos sufocantes, tentando ir mais e mais fundo.

— Sarah, isso é tão bom.

Ela gemeu em volta do meu pau e eu latejava dentro de sua boca. Ela sufocou em mim, babando, a saliva escorrendo pelo meu pau. Eu rosnei, lutando contra o prazer.

— Pare – falei, de súbito.

Ela me soltou imediatamente, piscou para mim com aqueles lindos olhos.

— Estou fazendo errado?

— Princesa, você é perfeita. Mas eu não vou gozar na sua boca.

Estava silencioso do lado de fora. Era um dia calmo. Eu fechei o zíper e voltei a dirigir. O silêncio também se fez presente entre nós. Eu dirigi pela autoestrada até uma mata fechada. Eu era policial e conhecia bons lugares para se ir quando se queria solidão.

Parei perto de uma estrada de terra, levando o carro até embaixo de uma ponte móvel de trem. Então, abri minha porta e sai.

Eu andei até o lado dela do carro, abri a porta, estendi a mão e a levantei como se ela fosse uma princesa. Então, a pus sobre o capô. Ela gemeu quando seu corpo quente encostou-se à lata fria.

Meu pau ainda brilhava do trabalho que ela fez com a boca. Eu abri o zíper e o olhei, aquela exuberância deitada. Ela estava perfeita, os mamilos pressionados contra o tecido de sua roupa, o cabelo descendo pelos ombros, e as pernas tremendo em antecipação.

Rasguei sua calcinha e separei suas pernas, gemendo de novo – lá estavam os lábios da boceta pingando para mim. Ela se mexeu e parte daquela umidade feminina caiu no meu carro.

Ela estava marcando território. Eu sabia, não liguei.

Eu a arrastei para frente, coloquei meu pau em sua entrada. Eu entrei nela em um impulso, inclinando-me para trás e colocando meu polegar contra seu clitóris. Eu balancei contra ela, devagar no início, brincando com aquela área preciosa entre as pernas, aproveitando cada suspiro de seus lábios, a agitação de sua carne.

Os olhos de Sarah se arregalaram e ela estendeu a mão para mim, de braços abertos.

Eu me abaixei em cima dela e a beijei, provei, brinquei com ela, o desejo de me soltar dentro dela subindo novamente.

— Eu quero encher você com meu esperma – eu murmurei. — Você está pronta para isso, princesa?

— Sim – ela sussurrou enquanto eu aumentava o ritmo.

O ar fresco da noite varreu o suor da minha testa, mas meu foco estava seu corpo no meu, o calor de sua vagina, o aperto de minhas bolas quando elas se aproximavam.

Eu tirei um dos seios dela do vestido, apertei seu mamilo com força e mordi seu lábio inferior.

Ela soltou um gemido surdo que logo se aguçou, e ela arqueou as costas, levantando o traseiro do carro. Sua boceta apertou em torno de mim, latejando, fechando, massageando-me.

Eu não aguentei mais um segundo. Eu lancei dentro dela, o orgasmo mais longo que eu já tive, esguichando um, três, – puta que pariu! –, cinco vezes, cada um com um grunhido, segurando o cabelo dela, puxando-o, mordendo o lábio e depois chupando.

Êxtase. Puro êxtase. O cheiro dela no meu nariz. O gosto dela na minha língua.

— O que você disse no parque? – indaguei. – Não me quer mais? Ah, princesa, não percebeu ainda que é completamente minha?

— Eu sou — ela respondeu, beijando-me suavemente nos lábios.

Subitamente, pareceu acordar do torpor.

— Não é bem assim. – negou. – Você praticamente me forçou me trazendo até esse lugar e...

— Sério? Forcei? – comecei a rir. Era definitivamente hilário. – E quando você gemia era tipo, eu violentando você?

Pois é, eu estava acabado. Porque aquele não relacionamento foi pro inferno. A verdade é que agora ela era minha, mesmo que não nomeássemos aquela relação.

Eu a ajudei a sair do capô, fechei minhas calças, observei enquanto ela arrumava seu lindo corpo naquele vestido simples, em seguida, voltava para o seu lado do carro e abria a porta. Ela entrou, quieta, mas sorridente.

 

 

 

Capítulo Doze

ELA


C omeçou com uma indisposição. Eu acordei de manhã, o corpo de Nathan ao lado do meu, uma água salgada surgindo na minha garganta, subindo até minha boca.

Ergui-me. Rumei ao banheiro, fechando a porta atrás de mim.

Maldita TAG que não me deixava em paz. Até quando aquele transtorno me deixaria aos cacos por conta da falta do trabalho?

Mesmo com Nathan, eu ainda sentia muita falta da minha ocupação.

Era como uma lacuna na minha alma que nada preenchia.

Subitamente, sons do lado externo. Dei a descarga e me recompus. Escovei os dentes e saí do banheiro. No quarto, nu, Nathan conversava com alguém pelo telefone.

— A que horas foi isso? — ele perguntou.

Seu tom era sério. Estava nitidamente preocupado.

— Certo — murmurou. — Vamos fazer isso.

E desligou.

Eu o encarei, esperando que ele me desse alguma indicação do porque tanta seriedade.

— Um dos capangas de Greg Martins foi visto perto daqui. Parecia estar verificando as ruas.

Meu coração acelerou.

— Não sabemos o que estava fazendo por aqui, mas, por precaução, você e eu nos ausentaremos por algum tempo.

— Como assim? Ausentar?

— Nós vamos ficar num hotel na saída da cidade. Nada muito confortável, mas seguro. Uma patrulha ficará a postos.

Eu não sei porque comecei a chorar. Senti-me ridícula, uma criança que não entendia a gravidade da situação.

— Sarah? — Nathan parecia atônito.

Subitamente, o choro passou.

— Estou com vontade de comer ovos com laranja.

Ele arregalou os olhos.

— O quê?

— Algo exótico.

Por que estava animada novamente?

— Que horas a gente saí?

Tinha um assassino me caçando e eu estava impedida de ir trabalhar. Meus sentimentos em relação a tudo isso? Nenhum. Estava iluminada naquela manhã.

 


Capítulo Treze

ELE


O que você está fazendo?

Ok. Eu sou homem. E, diga-se de passagem, com sangue nas veias. Eu nunca recuso uma mulher. Nunca. Mas, desde que chegamos ao hotel, Sarah estava me assustando.

Ela havia dito que queria assistir filme pornô. Eu fiquei com aquela cara embasbacada de quem imagina que tiraram a minha doce e gentil vizinha dali e trocaram por um robô alienígena sugador de sêmen.

Depois, ela quis experimentar novas posições no sexo. Antes, ela nem mais queria que ficássemos juntos. Agora, ela estava disposta a jogar leite condensado em mim e lamber.

— Oh, Natan... — ela sussurrou. — Estou em risco de morte e num hotel desconhecido com um homem lindo como você. Eu quero viver.

Parecia coerente.

Mas, nem por isso menos assustador.

— Ok, princesa — murmurei. — Já entendi que está num momento difícil. Eu prometo...

Emudeci. Diante dos meus olhos ela escorregou sua calcinha, em seguida, seu sutiã, e depois rastejou no meu colo e montou em mim. Ela segurou minha cabeça com ambas as mãos, inclinou-a para trás e olhou nos meus olhos.

— Eu sei que era só um momento. Eu sei que depois disso, dessa aventura, nunca mais vai acontecer. Mas, enquanto puder, eu vou continuar fazendo isso. Não sei o que há em você, mas Nathan – ela lambeu meu lábio inferior. – Sou uma viciada em você.

Eu balancei a cabeça, me segurando com tudo que eu tinha, recusando-me a tocá-la e me perder novamente.

Era Sarah. A doce Sarah. Passando por alguma coisa que eu era incapaz de definir. E a minha Sarah não era assim, não se rastejava até mim, se oferecia de qualquer forma.

Meu pau doía para estar livre. Eu queria estar dentro dela, possuí-la. Amá-la. Meu coração bateu como um soco atrás das minhas costelas.

Amá-la...

Era isso que estava me segurando?

— Sarah...

— Eu sou louca por você, Nathan — ela sussurrou. — É bem essa palavra. — Subitamente, as lágrimas. — Por que está fazendo isso comigo? Por que me faz tão bem mesmo eu sabendo que temos prazo de validade.

— Princesa, não estou fazendo nada — murmurei, tentando acalmá-la, minhas mãos ainda fixadas longe do seu corpo, meu olhar em seu rosto, em vez de seus seios, que estavam tão perto da minha boca, tão perto do meu corpo.

— Não é você. Sou eu. Eu não sei mais o que somos.

Eu a abracei depois disso, deixando que ela derramasse suas lágrimas nos meus ombros.

— Sarah... — murmurei. — Você precisa dar um nome?

Ela se inclinou, apertando sua boceta nua contra a frente da minha calça. Ela beijou minha bochecha, em seguida, minha orelha e respirou suavemente.

Sim, ela queria um nome. Nomear uma relação traria compromisso.

Sarah tentou me beijar. Eu desviei o rosto. Eu não podia ser tão desprezível com uma mulher que só me fazia bem.

— Isso não está certo. — Ergui-a de cima de mim, gentilmente.

Eu me levantei, coloquei-a de pé e depois me afastei dela, meu pau latejando e me odiando agora.

— Nós temos que parar. — afirmei.

Sarah olhou para mim sem expressão. Como se ela não conseguisse entender a rejeição.

— Por favor, vista algo e vá dormir.

 

 


Capítulo Quatorze

ELA


O que diabos estava acontecendo comigo? Eu não tinha tempo para amar. Eu não tinha disposição para um relacionamento. Eu só queria e precisava do meu emprego.

Maldita TAG. Maldita. Fez-me dizer coisas demais, assustou Nathan... Agora eu o perderia...

No telefone, alguém dizia a ele que meu apartamento estava seguro. Haviam descoberto que o capanga de Greg não estava atrás de mim e sim buscando por drogas num prédio próximo. Nós podíamos voltar. Eu estava tão entorpecida pela vergonha que aquelas palavras não tinham mais efeito.

Eu só queria sumir. Desaparecer. Esconder-me no buraco mais fundo que pudesse cavar.

E eu queria Susan. Queria minha melhor amiga e seu ácido humor me trazendo de volta à realidade.

“ Sofrer por amor? ” ela diria. “ Vá tomar vergonha na sua cara, Sarah! ”.

— Se partirmos agora chegaremos antes de anoitecer — ele avisou, buscando sua mala.

Não respondi. Era minha pequena e idiota vingança pela noite anterior. Greve de silêncio.

Eu sei, muito infantil. Isso sem destacar o quanto Nathan havia sido digno em me rejeitar. Ele não podia dar o que eu queria, então não se aproveitava. Enquanto era apenas sexo casual, tudo bem. Mas, a partir do momento que eu deixei claro que não bastava, ele saiu. Ele era homem, não moleque. Ele via as brechas e podia se aproveitar. Não o fez.

Por que então eu mal conseguia olhar para ele?

Quando chegamos no prédio, eu rumei para meu apartamento, quase fechando a porta na cara dele.

— Estarei atento – ele indicou. – Qualquer coisa é só me chamar.

Tranquei a porta. Sentei-me no chão. Meus sentimentos muito embaralhados. Não ouvi passos. Sabia que ele ainda estava ali, do outro lado da porta.

— Sarah, você vai ficar bem?

Nada vai ficar bem, Nathan. Porque eu te queria. E você não queria. Eu estava apaixonada por você, idiota. Por que você não podia corresponder a isso?

— Se precisar de mim, não hesite em me chamar, ok? — ele disse, mais uma vez.

E tudo que escapou dos meus lábios foi:

— Foda-se.

 

 


Capítulo Quinze

ELE


E u queria dizer muitas coisas para Sarah.

Eu a adorava, verdadeiramente, mesmo todo meu ser me antecipando que aquilo era errado.

Na noite passada, ela estava totalmente fora de controle, como se seus hormônios houvessem explodido. Eu me sentiria como se estivesse abusando de uma mulher bêbada caso tivesse me deitado com ela.

Depois, veio às indicações de sentimentos. Era difícil dar uma resposta. E, como vingança, na manhã seguinte Sarah recusou-se a responder às minhas perguntas ou me dar qualquer sinal de paz.

Porra, aqueles momentos ao lado dela haviam sido fantásticos. Eu amava cada segundo vivenciado com ela.

E agora ela parecia querer me expulsar de sua vida. Era difícil para mim, porque ficar longe dela era exatamente o que eu menos desejava.

Depois de nossa volta, na manhã seguinte, eu fui atrás dela. Mesmo que ela não me quisesse por perto, era meu dever protegê-la. E, com essa desculpa, ela teria que me ter por perto, gostando ou não.

— Sarah — murmurei, após ela abrir a porta.

Ela voltou para a mesa onde tomava café. Estava bem a vontade, pijamas folgados e um coque alto na cabeça.

— Não, eu não quero falar sobre isso, Nathan. Obrigada por estar cuidando de mim, mas vamos manter isso no nível profissional?

— Sarah.

Ela girou no local, e olhou para mim.

— O que é, Nathan? O que você tem a dizer para mim que eu já não saiba?

— Você não está bem. Está agindo como se tivesse enlouquecido — fui duro, mas franco.

— Uau! Você realmente sabe como fazer uma mulher se sentir especial.

— É o que tenho a dizer para você.

— Sério, Nathan?

— Nós tínhamos uma relação perfeita. Droga, você foi a primeira mulher que pude chamar de amiga. E agora você nem quer falar comigo, eu nem sei exatamente o motivo.

— Está certo — Sarah se ergueu. — Você está certo. Não tem nada a ver com você. Sou eu que comecei a colocar merdas na minha cabeça. Então, será que eu mesma posso cuidar da minha própria merda. Tudo bem?

Ela estava bastante nervosa. Eu me compadeci.

— Não tem nada de merda nisso, Sarah...

— Sim, é uma merda. Foi um erro. Eu odeio cometer erros, porque depois que a euforia passa, só resta essa droga de culpa — ela estava lacrimejando novamente. — Eu sabia no que isso ia dar. Nós dois concordamos que isso não significaria nada, e que nós seguiríamos nossos caminhos separados, mas você ainda está aqui, e...

— E o quê?

— Eu não sei.

— Eu estou aqui, e você quer que eu fique aqui para sempre? É isso?

— Eu não quero que vá embora — admitiu. — Mas, tenho medo que fique. Quando pegarem Greg Martins, você vai partir, isso é o certo. E o que restará de mim? Que cacos terei que juntar?

Suas bochechas ficaram vermelhas, e as emoções nadaram em seus olhos. Ela estava à beira de quebrar.

Eu não queria pressioná-la sobre isso, mas eu tinha que protegê-la. E como eu poderia protegê-la se eu lhe fazia tão mal pelo simples fato de estar ali, ao seu lado?

— Ok — disse por fim, me sentando na cadeira. — Vamos conversar. Vamos dialogar claramente. Não vou deixar você aos pedaços, nem depois, e muito menos agora.

Minha reação causou um turbilhão de coisas que mal saberia explicar.

Subitamente, Sarah entrou numa crise de pânico.

— Eu não quero falar. Eu vou embora. — ela me surpreendeu.

E então, antes que eu pudesse me mover para impedi-la, ela saiu correndo, passando direto pela sala, chegando ao corredor.

— Sarah, isso é ridículo. É o seu apartamento. Você não pode fugir da sua própria casa.

Eu a segui para fora, mas ela já estava na escada, correndo, o topo de sua cabeça meu único vislumbre dessa mulher complicada e teimosa.

Na minha vida eu dormi com vários tipos de mulheres. Com todas eu fiz sexo, e depois segui a vida, sem complicações. Não havia um prosseguimento, então não precisava enfrentar nada.

Mas, ali estava eu. Correndo atrás de uma mulher com TAG, que não conseguia controlar seus impulsos. E eu me sentia completamente responsável, não apenas porque devia protegê-la por ser policial.

— Sarah! — a chamei.

Um grito ecoou abaixo de mim e meu interior congelou. O grito veio novamente, desta vez abafado, e minha caminhada se transformou em uma corrida desenfreada. Desci as escadas e entrei no saguão do nosso prédio.

Sarah estava pressionada contra a parede, um cara em um terno prendendo-a, sua mão sobre a boca dela. Outro bandido estava atrás dele, derramando um fluído em um pano. Os olhos de Sarah estavam arregalados, o medo transbordando de todos os poros dela. Suas mãos lutaram com os braços do homem, tentando afastá-lo.

— Filhos da puta — eu gritei, minha visão estreitando sobre eles.

Eu pulei em direção ao primeiro bandido. Foi tudo muito rápido. Um gancho de esquerda e um chute para desestabilizá-lo. Um estalo soou, e o bandido caiu no chão, segurando sua mandíbula. Minha mão doeu, mas eu ignorei e fui para o cara prendendo Sarah. Eu agarrei a parte de trás do seu terno e o afastei dela.

Ele bateu nas caixas de correio contra a parede, mas ficou de pé imediatamente, com a mão entrando no bolso do paletó.

— Sarah — eu gritei, prevendo o que se seguiria.

Agarrei-a pelo braço e a arrastei da parede até as escadas. Tiros soaram atrás de nós. Não muito fortes, percebi que ele tinha um silenciador.

Era um profissional.

Sarah gritou, mas continuou correndo. Eu a coloquei à minha frente, a fúria tomando o lugar da adrenalina. Nós chegamos no meu andar, e eu a forcei a entrar em seu apartamento; em seguida, fechei a porta atrás de nós.

— Oh, meu Deus — ela gritou. — Oh meu Deus...

Provavelmente era a primeira vez que percebia a seriedade da sua situação.

Puxei meu revólver da cintura e fiquei a postos.

— Chame a polícia — ordenei. Percebi que ela tremia muito, e tentei manter a calma na voz. — Sarah, pegue o telefone e disque para a polícia. Agora!

Sarah seguiu a ordem, correu para a cozinha e voltou com o celular na mão. Ela discou com os dedos trêmulos e se afastou da porta.

Eu a segui. Ela teria que ficar longe das portas e das janelas se quisesse sobreviver. Chamar a polícia ajudaria, só porque isso assustaria os bandidos de Greg por um tempo. Depois disso? Eu teria que ficar nela como cola. Eu teria que protegê-la gostando ela ou não. Ela não estava segura. Eles a queriam. Eles não desistiriam fácil disso.

Sarah falou ao telefone atrás de mim, suas palavras se fundindo em meus ouvidos. Eu não escutei, mas fui até a janela e me posicionei ao lado dela. Eu puxei a cortina e olhei para a rua.

Os homens de preto apareceram abaixo de nós. Eles caminharam rapidamente em direção a um esportivo escuro, ambos com as mãos nos bolsos, olhando para a esquerda e para a direita enquanto atravessavam a rua, como se esperassem que algo acontecesse. Alguém para aparecer e começar uma guerra de território.

— Nathan. — A voz de Sarah me trouxe de volta ao presente, mas eu não saí da janela.

Os bandidos entraram no carro. As lanternas traseiras brilharam um segundo depois, e o carro seguiu lentamente pela estrada. Nenhum barulho de pneus cantando. Eles não estavam preocupados. Eles acreditavam na impunidade.

— Nathan.

— Sim? — volvi para ela, limpando a garganta. — Você está bem? — perguntei em seguida.

Sarah sentou-se no sofá. Fui até ela.

— Você está tremendo.

Ela também estava suando. Deitou-se contra as almofadas e fechou os olhos com força.

— Policiais estão a caminho. Eu deveria estar bem, certo? Eles vão ajudar. Eles vão ajudar — começou a repetir.

— Certo. Olhe, esses idiotas se foram. Eu os vi partirem. Você está segura agora, Sarah. Por enquanto.

— Segura... — ela abriu os olhos. Aquele olhar me atingiu.

— Relativamente segura — reafirmei.

Ela exalou.

— Eu sinto muito, Nathan.

— Como?

— Desculpe fazê-lo passar por isso.

Por que diabos Sarah está se culpando? Oh, princesa, você acabou de ser atacada por dois bandidos em nosso prédio. Você é a única arma que temos contra Greg Martins. Eu é que devia pedir perdão por não ter sido capaz de deixá-la longe desses marginais.

Ela balançou a cabeça, sem palavras, e engoliu em seco.

— Sarah... isso não é sua culpa.

Eu peguei a mão dela, ainda pegajosa pelo que tinha acontecido, e afaguei suavemente com as pontas dos meus dedos.

— Isso não é culpa sua — repeti.

Mas ela não aceitou, apenas olhou para frente.

— Estou aqui para você, tudo bem? Eu cuidarei de você até que os paramédicos e a polícia venham, e então nós resolveremos isso. Você vai ser medicada e ficará bem.

As sirenes soaram no andar de baixo, ficando mais altas a cada segundo, e os ombros de Sarah finalmente baixaram, sua respiração desacelerou. Ela apertou minha mão.

— Você salvou a minha vida...

— Nós estamos juntos nisso, lembra? — ri.

Não era engraçado.

 

 


Capítulo Dezesseis

ELA


E u observei Nathan. Ele ainda parecia tenso.

— Greg Martins foi pego nessa manhã tentando embarcar para outro país.

— E quanto aos caras que tentaram matar Sarah?

— Ainda não sabemos onde estão, mas...

O cheiro daquela delegacia estava começando a me dar ânsia de vomito. Eu pus a mão sobre a boca, tão incomodada que faria qualquer coisa para ir embora logo.

— Não sabem? E ainda assim vai tirar a vigilância dela e deixá-la voltar ao trabalho? Greg pode tentar matá-la de dentro da cadeia. Ele tem comparsas. Ela não devia ficar segura até o julgamento?

— O promotor acha que está tudo bem. Além disso, o julgamento deve ocorrer dentro de um ou dois anos. Não podemos ficar cuidando de Sarah Taylor por todo esse tempo.

Ok. Sem problemas. Contando que eu deixasse logo aquela sala. Ergui-me da cadeira, mas a voz de Nathan me travou.

— Tenho férias vencidas, não?

O delegado parecia chocado.

— Você nunca tira férias. Da última vez tivemos que obrigá-lo.

— Vou tirar as minhas agora.

Não aguentei mais. Corri até a lata de lixo e vomitei o café nela. Nathan logo estava atrás de mim, me auxiliando.

— Sarah, você está bem?

— Vou chamar um médico — o delegado falou.

— Não, não é nada. É o nervoso que passei — afirmei. — Só preciso voltar para casa e tomar meus remédios.

Erguei-me. Para mim aquele caso estava encerrado. Greg estava preso, e eu voltaria ao trabalho. Com as coisas voltando ao normal, quem sabe até minha menstruação voltaria – estava atrasada alguns dias, presente da T A G – e, enfim, eu seguiria em frente.

Deixei a delegacia mais leve.

Nem percebi os olhares preocupados de Nathan para mim.

 

Capítulo Dezessete

ELE


S eguir Sarah para o trabalho não fazia parte dos meus deveres. E eu sabia que ela ficaria puta da vida se soubesse que exatamente o que eu fiz no dia seguinte a minha dispensa dos cuidados a ela.

Na manhã de seu retorno ao trabalho, eu aguardei pacientemente pelos seus passos no corredor. Depois, a segui – de carro – até o ponto de ônibus. Fui com ela para o hospital. Fiquei a postos, a espera de algo que não ocorreu e, no final do dia, estava novamente em seu aguardo, quando retornou.

Contudo, algo fundamental aconteceu: Sarah não buscou por mim. Nem antes, nem depois do trabalho. Aquilo me deixou com uma estranha sensação de queimação.

Eu havia perdido o vínculo emocional com aquela mulher?

Gemi.

Fala sério, Nathan, desde quando isso é um problema para você?

Olhei para um lado. A chave reserva do seu apartamento – que ela havia me dado num daqueles dias perigosos – estava ali, em cima do balcão.

Estava enfezado pela falta de notícias. Saí e fui até ela. Abri a porta. A sala estava vazia, mas havia algumas caixas no chão, coisas que eu sabia que ela havia comprado na Amazon durante o tempo presa no apartamento. Sarah sempre se aliviava do estresse em compras online.

Levantei uma das caixas mais pesadas, coloquei-a em cima de uma mesa, tirei o canivete suíço do bolso e o arrastei por cima da fita. Eu rasguei a caixa com rapidez.

Na caixa, muitos livros. O primeiro era um tal de “ Esmeralda ”, romance histórico, que chamou minha atenção.

— O que você está fazendo? — Sua voz soou atrás de mim.

Eu girei, olhei para ela e perdi meu fôlego.

Ela estava perfeita como sempre.

Seu cabelo caindo de um coque alto, seus olhos estavam selvagens enquanto ela me examinou da cabeça aos pés, seus lábios exuberantes separados, pálidos como se seu batom houvesse sumido. O botão da blusa estava desfeito, revelando uma extensão de carne pálida, e aquela saia comum – típica dela – se agarrava às curvas de seus quadris.

Mas foi o rosto dela que mais me atraiu. A expressão nele. Medo.

— O que aconteceu? — Perguntei.

— Você me assustou — respondeu apertando a mandíbula.

— Ah — respirei fundo. — Vi as caixas e decidi ajudar a guardar suas coisas. Já chegou aquele livro novo do Stephen King que você estava falando?

Ela me olhava, mas parecia não me ver.

— O que está fazendo aqui Nathan? Não sou mais responsabilidade sua. Nós não temos uma relação, esqueceu-se? Você não é meu namorado, e mesmo que fosse, não pode simplesmente invadir meu apartamento.

— Sou amigo — retruquei. — E não importa o que meu chefe diga, ainda vou cuidar de você.

Ela enrubesceu.

— Chega! Estou cansada! Você não é... Você até pode ser meu amigo, mas você sabe como me sinto. Você só queria algo sem compromisso, não é? Essa é a única razão pela qual dormimos juntos, certo? Porque eu não impunha um relacionamento. Eu me conformei com isso, e agora te encontro aqui desempacotando caixas. Consegue entender o quanto isso me deixa confusa?

Não sei explicar o motivo, mas amava os ataques dela. Sempre me faziam sorrir. Lembrei-me de uma vez, num dos cursos que fiz como policial, de uma psicóloga falando que não se devia romantizar doenças mentais. Ah, Doutora... A senhora só disse isso porque não sabia o quão adorável ficava Sarah Taylor num dos seus ataques raivosos.

— Não. — Ela apontou um dedo para mim. — Não faça isso comigo. Não me venha com sorrisinhos charmosos. Eu não consigo lidar com isso.

Atravessei o quarto em direção à ela, pressionando meu corpo contra o dela.

— Por que você não consegue lidar com isso? — Perguntei. — O que aconteceu hoje?

— Eu dei banho em duas vovós, limpei alguns machucados, um menininho vomitou em mim e eu perdi o horário do almoço porque estava ocupada limpando uma infecção. Só mais um dia normal.

Minha testa se enrugou. Ela queria me enojar contando aquilo, mas era quase impossível pensar diretamente com suas curvas suaves pressionadas contra as minhas. Seu perfume através das minhas narinas subiu para minha mente, vasculhando tudo. Meu pau endureceu instantaneamente.

— Sarah, você sabe que tem tudo de mim... Tudo que precisar de mim.

— Nathan, por favor.

— Se você precisar de mim — continuei —, estou aqui para você. Eu sempre estarei aqui para você. Não sou adorável?

— Nathan, vá embora. Essa é a coisa certa a fazer.

— Por quê? Porque você é orgulhosa para admitir que me quer?

Ela se contorceu contra mim, pressionando os seios no meu peito, seus braços enroscando-se no meu corpo, pupilas dilatando como fazia toda vez que nossos olhares se cruzavam.
Cada respiração era tensa, curta, cheia de obrigação não expressa. Nós não deveríamos fazer isso de novo. O que começou como uma casualidade, uma aventura, uma coisa única, se transformou em algo que eu não queria de jeito nenhum.

— Deve se afastar, agora mesmo. — Ela pediu, mais uma vez.

Mas eu não faria isso. Mesmo que ela nos apartasse e fosse até a porta, a abrisse, me expulsasse, ainda assim eu não me afastaria.

Meus dedos tocaram a têmpora, depois subiram e soltaram o cabelo, deixando-o cair solto. Ela exalou, uma respiração longa e baixa, os olhos fixos nos meus.

— Eu estou preocupado com você, Sarah — murmurei.

— Preocupado? Por quê?

— Porque eu me importo.

— Não diga isso. Não torne isso tão difícil. Estou te implorando, tenha piedade.

Eu ri.

— Você está descaradamente se recusando a mim, e me pede para ter piedade? — Eu segurei sua bochecha em uma palma, e me pressionei nela, para que ela sentisse o quanto era difícil para mim também.

Ela mordeu o lábio inferior.
Eu abaixei minha boca até a garganta dela e a beijei suavemente, indo para o lado de seu pescoço, para cima até a orelha, chupando o lóbulo.

— Você é a única coisa que eu quero nessa vida, Sarah — admiti, a muito custo.

Ela gemeu e suas mãos se espalharam pelas minhas costas. Ela puxou minha camisa e me puxou para mais perto dela, respirações em suspiros.

— Você conhece as minhas regras — ela murmurou.

— E você as minhas — retruquei.

— Você está acabando comigo, Nathan...

— Nessa noite — eu gemi contra ela. — Nessa noite esqueça tudo. Nas outras noites, nós conversaremos. Nessa noite, nós vivemos.

Então a beijei nos lábios. Ela choramingou e me beijou de volta, sua língua emaranhada com a minha, seu gosto doce e atraente. O beijo aprofundou e seus dedos rasparam minhas costas para o meu cinto, atrapalhando-se com a fivela.

— Eu quero agora — ela confessou, ao custo de lágrimas. — Por favor, Nathan, eu quero rápido e duro. Eu quero que você me encha com seu esperma. Bem aqui.

— Contra a porta? — indaguei, sorrindo contra seus lábios.

— Na porta, no chão, não importa. Agora!

Eu já estava perdido. Seu desejo era meu comando.

A empurrei para baixo. Ela caiu de joelhos, tirando o sutiã, jogando-o para o lado. Depois, pegou sua calcinha com uma mão. Enquanto isso, desfiz o cinto. Eu tirei rapidamente minhas roupas, e então minha visão se iluminou.

Sarah estava nua na minha frente. Perfeita. Uma Eva tentadora no paraíso.

— O que você está esperando? — parecia zangada.

Eu ri, e meu pau pulsou com a necessidade. Eu fui atrás dela e me curvei, meu corpo contra o dela.

— Oh, Nathan — ela sussurrou, empurrando a bunda para trás. — Isso é inacreditavelmente bom.

Eu trabalhei com as mãos no seu centro feminino até que ele ficasse encharcado. Seus lábios brilhavam inchados e rosados ??para mim. Tudo para mim.

— Você não poderia ser mais minha — provoquei. — Você está completamente a minha mercê.

— Sim, sua — ela murmurou.

Eu sorri e inseri minha cabeça em seu buraco macio e molhado. Porra, ela estava inacreditavelmente úmida, tão escorregadia que eu não consegui me conter. Eu deslizei até o talo, e agarrei suas nádegas com as duas mãos para facilitar o acesso.

— Sim... Rápido, por favor.

Sua mão direita já estava em sua boceta, pegando seus sucos, seus dedos acariciando a base do meu pau. Ela se esfregou e se forçou para trás, arqueando as costas.

Linda...

— Eu queria curtir, mas você está tão gostosa — gemi.

— Não se contenha. Foda-me, por favor... Por favor...

Acariciei a nuca dela. Em seguida, pressionei meus dedos nas suas madeixas. Agarrei seus cabelos, puxando-os para trás. Eu bati nela com meus quadris, puxando meu pau quase todo o caminho, em seguida, pressionando-o novamente, afundando naquela delícia. Cada impulso trouxe outra onda de prazer quente.

Nos conectamos de forma mágica. A mulher perfeita. A que se encaixava perfeitamente.

— Goza. Por favor, Nathan. Eu preciso que você goze enquanto eu gozo. Estou tão perto.

Eu rosnei igual um cachorro no cio, e soltei seus cabelos, bombeando para dentro dela, enchendo-a com o meu esperma, chicoteando suas paredes internas, minha mente anulando todo meu lado racional.

Sarah soltou um grito mudo, que travou em sua garganta quando sua boceta se fechou ao meu redor. Era bom demais para parar. Eu fiquei no momento pelo maior tempo possível, e finalmente me afastei dela, tremores de prazer me percorrendo.

— Isso foi incrível.

Aquelas palavras pareciam ter virado rotina entre nós. Caí no chão ao seu lado. Ela ainda respirava sofregamente.

— Vou descansar um pouquinho para depois continuarmos — murmurei.

— O quê?

— O que o quê? — eu ri. Estava exausto, meus olhos quase se fechando.

— Não haverá uma repetição, Nathan. Foi a última vez.

— A gente é cheio de últimas vezes. Tenho certeza que vamos fazer de novo.

Meu celular tocou entre minhas roupas. Pior momento para aquele aparelho vibrar.

Eu não queria, mais atendi. Havia pedido ao pessoal do departamento que permanecesse me deixando por dentro do caso Greg Martins.

— Alô?

— Sargento Stanley? — uma voz masculina soou do outro lado da linha.

— Sim, sou eu.

— Por que se intromete tanto entre a putinha e Greg Martins? — indagou, à queima roupa. — Eu suponho que você não queira morrer com essa vadiazinha com quem anda transando...

 

 

Capítulo Dezoito

ELA


N athan olhou para mim. O rosto dele era uma incógnita. Ele parecia estranhamente nervoso, ali, no chão, o corpo úmido pelo sexo, a expressão indecifrável pelas palavras que eu não era capaz de ouvir.

— O que foi?

Ele desligou o aparelho. Silêncio. Odiava os silêncios dele.

— Não foi nada — murmurou, por fim. — Eu só queria dizer... Não gosto da ideia de você ir trabalhar quando os capangas que te atacaram ainda não foram presos.

Para mim, aquela história estava resolvida. Qual a necessidade de trazê-la novamente à tona?

— O promotor acha que não estou em perigo. O delegado também pensa assim.

— Mas, eu não penso assim. Eu quero ficar por perto.

Meus pelos se arrepiaram.

— Isso é alguma desculpa para não se afastar?

— Preciso?

— Precisa? — devolvi.

— Te provei agora nesse chão que eu te tenho no momento que eu quiser.

Senti-me insultada, e ele logo percebeu que havia ido longe demais. Havia culpa nos seus olhos, mas havia algo a mais que eu não conseguia captar.

— Eu não devia ter dito isso, Sarah... Só estou nervoso.

Diabos! Pelo quê?

— Quanto mais fizer mistério sobre isso, pior será — avisei. — O que sabe que eu não sei?

De repente, as coisas pareceram mais claras para mim. Nathan podia estar mantendo tudo em sigilo com medo de provocar uma crise da T A G em mim. Mal sabia ele que desde que aquela história começou, eu vivia em frequente ansiedade.

— Pode ir, Nathan — resmunguei.

— Você quer que eu saia?

— O que importa o que eu quero? Você vai fazer o que quiser, mesmo.

Levantei-me. Rumei até o banheiro. Um banho quente me daria energias. Tão logo entrei no box, senti a presença forte dele atrás de mim.

— Então, que tal poupar água?

Era tão idiota. Mesmo assim aceitei aquele banho à dois.

 


Capítulo Dezenove

ELE


E la estava pálida. Já fazia alguns dias que Sarah estava com indisposição estomacal. Foram frequentes às vezes em que ela me deixou sozinho na sala e correu até o banheiro para vomitar.

— Eu te odeio, TAG — ela gritava sempre que ocorriam as crises.

E foi assim que eu soube que esse era um dos sintomas da ansiedade.

Não a culpava. Na situação dela eu estaria até pior. Era por isso que eu me mantinha em silêncio sobre o telefonema, sobre os riscos que ela corria. Preferiria manter uma investigação paralela, e deixá-la segura, e ignorante, sobre o que acontecia no caso Greg Martins.

— Eu fiz lasanha — contei, numa das noites que ela foi até meu apartamento.

Havíamos combinado de maratonar House Of Cards, e eu estava ansioso por uns momentos calmos ao lado dela.

Ela sentiu o cheiro e uma convulsão a tomou. Pôs a mão na boca.

— Eu não me sinto bem. — desculpou-se.

Ela entrou.

— Quando você irá ver o médico?

— Quando precisar renovar as receitas dos medicamentos — explicou. — Não preciso que ele me diga o que já sei.

Eu a levei para o sofá.

— Vou pegar um copo de água.

Trouxe a água para ela, meus pensamentos circulando. Eu queria muito um momento tranquilo com Sarah, mas as indisposições nervosas dela me lembravam do porque existiam.

Sarah estava sobre risco.

E ainda havia algo sobre nós que precisava ser esclarecido. Ela havia deixado claro que queria mudar as regras. Eu não sabia se podia viver com isso.

Porra, Nathan. Pense bem: É essa mulher cheia de complexos, com ansiedade diagnosticada, e com um bandido na cola, com quem você realmente quer estar?

Sarah bebeu do copo, a mão tremendo, e soltou um pequeno gemido de satisfação quando terminou.

— Obrigada.

Sentei ao seu lado.

— Eu sinto muito por tudo isso. Mas, vou dispensar sua lasanha. Acho que vou voltar para casa. Estou tão cansada.

Aquilo acionou um alarme na minha mente. Sarah nunca estava cansada. Ela nunca desligava.

— Ok, desembuche — mandei. — Você nunca dispensa lasanha. Você nunca foge de uma maratona de séries para ir descansar. Você nem descansa de verdade. O que diabos está acontecendo com você?

Ela respirou fundo.

— Sou seu amigo. Você pode se abrir comigo — eu disse. Era importante para mim que ela o fizesse.

Um longo suspiro.

— Acho que os remédios não estão fazendo efeito. Eu tenho muita sonolência, uma exaustão que não passa. E meu estômago está super irritado. Mas, eu preciso lidar com isso. Sou adulta.

— Você não precisa lidar com isso sozinha. Eu já disse que estou aqui.

— Isso é diferente, Nathan. Há um limite até onde um amigo pode ir. Existem coisas que são mais íntimas, pessoais...

— Então, vamos ser namorados?

Ela me encarou como se estivesse diante de um louco.

— O quê?

— Eu pensei muito sobre isso. Quer dizer, o que estamos fazendo...? Diabos! Nós já estamos namorando! Apenas demos outro nome para isso. Mas, a verdade é que passamos mais tempo juntos do que muitos casais que eu conheço. E, pelos céus, amigos não fazem sexo como nós dois fizemos.

— Você realmente não está bem do juízo — ela sussurrou.

Não aparentava nenhum sentimento.

— Só estou sendo prático.

— Sendo prático? — Só então a velha e desequilibrada Sarah reagiu perante mim. — Eu sofro há meses por causa da nossa relação, por causa do nome que demos a ela, me sinto usada por causa dela, e agora você simplesmente decide que estamos namorando e está tudo bem?

— Eu achei que era o que você queria.

Ela se levantou.

— Vá à merda, Nathan.

Suspirei.

— Ok, não estamos namorando. Ou estamos. Podemos falar sobre isso quando você estiver melhor.

A mão dela volveu a boca. Ela correu para meu banheiro. Eu ouvi os sons típicos do vômito.

— O que diabos você colocou nessa lasanha que está cheirando assim? — ela berrou, de lá.

Eu aguardei que voltasse. Queria conversar. Queria ser compreensivo. E queria sexo no final daquela noite.

— Sarah, a gente pode...

— Por favor, não — ela retrucou, de pé, perto do corredor que dava acesso ao banheiro. — Por favor, não. Eu não estou me sentindo bem e...

Seu choro veio como uma convulsão. Logo ela se encostava-se à parede. Estava completamente desorientada.

Fui até ela. Abracei-a, deixando que ela se ninasse em mim.

— Acalme-se. Tudo vai ficar bem, eu prometo.

— Nada vai ficar bem — retrucou, de volta. — Nada.

Eu a beijei e ela se contorceu.

— Que nojo, acabei de vomitar.

— Dane-se, eu vou beijar cada centímetro do seu corpo, Sarah, até que você se convença de que tudo está bem.

— Eu vou encher você de porrada se fizer isso — devolveu. — Eu não quero me convencer de nada. Só quero não pensar. Esquecer que existo.

— Difícil isso. Você é linda demais para não existir.

Ela sorriu. Enfim, algo bom. Naquele instante, mais tranquilo quanto as suas reações, a ergui no colo.

— O que você está fazendo?

— Levando você para a cama. E não, não vamos transar. Hoje nada de se aproveitar desse gostosão aqui! Você parece exausta e eu quero que descanse um pouco, ok?

A pus na cama. Sarah logo se acomodou entre os lençóis. Depois, me encarou.

— O que foi?

— Por que não se muda para cá?

Ela gargalhou.

— Você quer ser meu colega de quarto? — indagou. — Me quer na sua cama para chutar suas pernas e roncar nos seus ouvidos?

— Quero — devolvi. — Quero que você durma comigo todas as noites, princesa.

Ela fechou os olhos.

— Obrigada, Nathan. — Sua voz era suave e doce, uma carícia, e chegou até mim assim que cheguei à porta.

Eu parei e olhei de volta para ela, à luz do corredor inclinando-se sobre os lençóis brancos, o rosto obscurecido pelas sombras.

Ela estava em paz.

Eu faria qualquer coisa para que continuasse assim.

 


Capítulo Vinte

ELA


A luz iluminou meus olhos. Senti uma leve ardência conforme ia abrindo-os, ouvindo o arrastar das cortinas, sentindo o ar puro da manhã.

— Bom dia, flor do dia — A voz brincalhona de Nathan rompeu meus sonhos.

Eu acordei completamente e olhei para ele, com a silhueta da manhã iluminando a janela à minha esquerda.

— Que horas são?

— Seis da manhã — ele respondeu enquanto dava mais um passo em direção à cama. — Você tem que sair para o trabalho em breve, não é?

Eu me endireitei, o lençol escorregando do meu peito e expondo meu sutiã. Deus, eu estava em pedaços ontem à noite e totalmente exausta de todo o estresse. Eu mal conseguia lembrar o que diabos havia acontecido.

— Oh Deus — eu gemi e pressionei a mão na minha testa. Eu havia sido extremamente infantil e estúpida com ele. — Sinto muito pela noite passada. Olhe, eu vou sair agora.

— Definitivamente, você é adorável — Nathan sentou-se na beira do colchão.

Ele já estava vestido. O cheiro de sua colônia tomou-me, e eu mastiguei o interior da minha bochecha. Eu queria esse homem. Agora!

Deus, por que eu o queria tanto assim? Não apenas fisicamente, mas em todos os sentidos.

— Aqui — disse ele, olhando para a bandeja em suas mãos. — Café da manhã.

Nathan foi muito gentil. Ele me trouxe o café da manhã na cama, um prato de ovos com torradas ao lado de um copo de suco de laranja.

E tudo que eu conseguia pensar é: “ Não posso vomitar em cima dessa bandeja! ”.

— Nathan, você não precisava fazer isso.

— Você não está nos seus melhores dias. Não me custa ser gentil.

A culpa por sentir-me feliz percorreu através de mim, mas eu imediatamente a ignorei.

— Obrigada — aceitei a bandeja. — Isso parece delicioso. Desculpe-me por não ter comido ontem à noite. Céus, eu amo lasanha. Não entendo como pude dispensar a comida.

— Eu guardei para você, então pode dar uma passada mais tarde e aproveitar. Eu também tenho uma sobremesa especial — piscou. — Daquele tipo especial que só você e eu conhecemos.

— E o chão, a parede, o sofá, a cama...

— Ok — ele riu. — Isso ficou tão óbvio. — Depois me observou mais atentamente. — Você está se sentindo melhor esta manhã?

— Sim. — Assenti.

— Certo. Eu preciso sair para correr. Estou de férias, mas pretendo manter a forma. Fique a vontade, está bem? Tranque tudo quando sair.

— E onde deixo a chave?

— Fique com ela. Eu tenho outra.

Ele me beijou na bochecha e saiu. A porta da frente se fechou alguns segundos depois. Volvi para a bandeja e me ordenei a comer. Eu precisava, e aquilo era importante para ele. O primeiro café da manhã que me preparou.

Eu não estava acostumada com esse tipo de tratamento. Ser cuidada era estranho para mim.

Eu balancei a cabeça e bebi um pouco do suco, saboreando o sabor. Se eu não terminasse logo, eu chegaria atrasada no hospital.

Ignorei as sensações estranhas que mais uma vez me acometeram a vomitar o café no vaso sanitário, e voltei para meu apartamento.

A vida tinha que continuar...

 


Capítulo Vinte e um

ELE


F oi difícil deixar Sarah naquela manhã. Ela estava tão pecaminosamente perfeita na minha cama que tudo que eu pensava era em voltar e fazer amor com ela.
Fazer amor. Não foder. O que eu me tornei? Um idiota romântico?

Mas, estava mais focado no meu dever. Fui direto para a delegacia, procurar por fichas e cadastros de bandidos. Eu tinha certeza que os caras que a atacaram estavam envolvidos naquele telefonema. Não bastava descobrir quem eram eles, eu precisava saber tudo sobre toda a gangue de Greg Martins, pois a única maneira de manter Sarah segura era colocar todos eles atrás das grades.

Com quem Greg negociava? Quem articulava seus negócios? O esquema era muito grande e podia envolver gente da própria polícia. Todos passaram a ser suspeitos para mim.

Meu chefe cruzou pela minha mesa com aquela cara de “ eu sabia que você não conseguiria ficar muito tempo longe ”, mas não me disse nada enquanto eu mexia no computador.

Analisei muitas fichas naquele dia. Em nenhuma eu consegui pistas sobre os comparsas de Greg. Contudo, eu não podia desistir. Pegar esses caras era uma prioridade para enfim eu poder seguir uma vida ao lado de Sarah.

Sim, ao lado dela. Eu havia sido sério quando lhe falei do namoro.

Como não era trabalho de um dia, eu organizei tudo em tópicos e decidi voltar no dia seguinte para dar prosseguimento. Depois, rumei para casa.

Quando saí da delegacia, foi que percebi que o dia já estava no seu final. Eu havia passado horas e horas analisando dados e não percebera aquilo. Com certeza Sarah já havia retornado sozinha para casa.

Corri como louco pela autoestrada, ansioso para chegar logo e ver se ela estava bem.

Rumei direto para seu apartamento. Ela abriu a porta e meu coração enfim aliviou.

Sarah estava segura.

Subitamente, ela avançou e me deu um beijo. Foi tão gentil que eu senti o coração formigar.

— Aconteceu algo? — inquiri.

— É minha maneira de dizer olá.

— Ou a sua maneira de dizer que sentiu minha falta?

— Sim — admitiu. — Considere também como um agradecimento por essa manhã e ontem à noite. Você não precisava fazer nada do que fez.

— Você precisava de ajuda e eu estava lá para oferecê-la. Isso não é natural?

Desviei dela e fui até a janela. Meu coração ansioso, preocupado. Quantos olhares deviam estar fixados ali, agora? O que aconteceria se ela descobrisse sobre o telefonema? Ela tentaria fugir? Ela me culparia por não ter sido capaz de protegê-la? Ela ficaria?

Percebi que estava apaixonado, naquele momento. Claro, foi uma captação tardia. Eu estava apaixonado desde o instante em que ela se mudou para o apartamento ao lado do meu.

— Ainda assim, obrigada. As coisas têm sido um pouco complicadas ultimamente.

Eu sabia. Os problemas de saúde.

— Eu irei ver Susan hoje à noite. Combinamos de lancharmos.

— Oh — eu murmurei. — Nada para mim, então?

— Depois, quando eu voltar — ela brincou.

— Certo então. Posso te acompanhar?

— Nathan... Isso está ficando desconfortável. Eu tenho minha liberdade, sabia?

Eu sabia. Não importava.

— Tudo bem, princesa. Só fique segura.

O cacete que eu a deixaria ir sozinha!

— Ligue para mim se precisar de alguma coisa ou se ver alguém estranho.

Ela assentiu.

Saí do apartamento dela e entrei no meu, deixando a porta aberta, só para o caso de ela precisar de mim. A tensão se uniu em meus músculos e eu cerrei meus dentes.

Eu estava me tornando aqueles caras controladores que eu tanto abominava? Não, era apenas precaução. O assunto em questão era sério.

Eu esperei até ouvir a porta do apartamento dela abrir, e depois fechar. Seus passos em direção ao elevador. O som de sinos quando ele parou no nosso andar. Alguns segundos ainda... Finalmente, eu saí e fui para as escadas, em direção ao saguão.
Sarah podia ir onde quisesse, mas eu estaria atrás dela, vigiando-a como um cão leal.

 

 

 

Capítulo Vinte e dois

ELA


S usan gargalhou enquanto segurava um copo de vinho. Eu bebia apenas água. Não estava conseguindo manter nada no estômago ultimamente e sabia que bebida destilada só pioraria isso.

— Isso não é engraçado.

— Como não é engraçado? É lógico que é. Você se envolve num relacionamento sexual sem compromissos – VOCÊ, UMA VIRGEM! – e depois de muito sexo, tentativas de assassinatos e um par de coisas, descobre que está apaixonada, coloca o gostosão contra a parede e ele acaba se obrigando a aceitar um namoro. Devia dar um curso: Como prender um solteirão!

— Você não está me levando a sério. — disse, zangada. — Eu estou sentindo coisas que eu nunca pensei que sentiria. Isso é assustador... E exatamente no momento em que presencio um assassinato e o assassino coloca bandidos atrás de mim.

— O destino realmente tem seus meios para mover as coisas.

— Como consegue fazer piada disso?

— Sarah, eu já passei por tanta coisa na minha vida. É preciso muito mais que sentimentos confusos para assustar. E você devia seguir meu estilo. Se Nathan está ao seu lado, se ele quer ser seu namorado, se você encontrou esse cara perfeito, apenas viva, está bem?

— Sim, eu acho que sim — eu respondi.

A campainha tocou e Susan levantou-se.

— Oh, nossa pizza!

A risada de Susan ecoou pelo corredor e me aqueceu um pouco. Mesmo que minha amiga não entendesse a gravidade da situação, ela ainda me animou. Ela era familiar e doce, e... O cheiro de pizza deslizou pelo corredor e entrou na cozinha.

Instantaneamente, meu estômago revirou. Eu pressionei a mão na boca. " Oh merda ", eu pensei e engoli a crescente onda do nojo. " Oh Deus ".

— O que há de errado? – Susan perguntou, chegando com a pizza na cozinha.

— Eu quase vomitei — eu respondi e me recostei na cadeira. — A TAG está tão pior. Eu tenho crises de vômitos, de choro, de nervosismo. Estou tão cansada... Estou inchada...

— Ou grávida — Susan apontou.

Eu ri. Sequer pensei naquelas palavras.

— Você sabe que esses são os meus sintomas — dei os ombros. — Sempre foi assim com essa maldita doença. Nem parece que uso medicação. Ontem eu...

Caí de lado antes que eu pudesse terminar a frase, meu mundo fugindo, enegrecendo.

Braços me pegaram, uma voz falou perto do meu ouvido.

— Sarah? — o tom de Susan era assustador.

Mas eu não consegui responder. Eu afundei na escuridão e fiquei lá.

 

 


Capítulo Vinte e três

ELE


A ndei com ela pelas escadas, meu braço ao redor de sua cintura e sua cabeça descansando no meu ombro.

— Eu sinto muito — disse ela. — Sério, eu não sei o que há de errado comigo. A TAG nunca atacou assim, mas já decidi procurar meu terapeuta para trocar a medicação. Eu não quero mais atrapalhar sua vida — ela gemeu. — Foi uma sorte que você estivesse tão perto quando Susan te chamou.

— Pois é, eu estava na casa de um amigo, naquela região. Susan fez tudo certo, te acalmou, te ajudou, e depois me chamou. Eu poderia te levar ao médico agora, mas já que você sabe o que é, então o melhor mesmo é você descansar. — Puxei minhas chaves do bolso para abrir a porta, e ela colocou a mão no meu pulso.

— Por favor, eu quero ir para minha casa. Eu apenas não me sinto bem em ficar no seu apartamento todas as noites. É muito constrangedor, especialmente porque não estou bem.

— Sem problemas. Dê-me as chaves. — Eu estendi minha mão, e ela colocou-as no centro da minha palma.

Nós saímos pelo corredor novamente, apenas os poucos passos entre as nossas duas portas, ela ainda se apoiando fortemente em mim. Eu destravei para ela, em seguida, caminhei para dentro e a ajudei a sentar-se no sofá. Ela inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos.

— Eu realmente não sei o que há de errado comigo. Eu sinto que vou desmaiar o tempo todo.

— Quando você comeu pela última vez?

Fechei a porta da frente e voltei para o lado dela. Eu tirei a bolsa do braço feminino e a coloquei na mesa de centro, em frente a ela.

— Talvez seja má alimentação.

— Provavelmente, sim. Eu comi pela última vez essa manhã. — Ela pressionou uma mão na testa. — Deus, o que você deve pensar de mim? Toda vez que você me vê, estou estressada, gritando ou vomitando. É ridículo.

— Você é adorável. E penso que precisa de uma folga de todos esses problemas — eu disse, mais uma vez me aproximando do assunto.

Percebi as lágrimas. O que diabos estava realmente acontecendo com ela? Tinha que ser um estresse extremo se ela reagia assim a um simples comentário.

Meu instinto de homem se fortaleceu. Eu era o macho dela. Eu tinha que tirar essa carga de seus ombros.

— Quer comer algo? — indaguei.

— Sim, mas não pizza.

— Que tal meu assado?

— Sim, isso seria ótimo.

Ela fechou os olhos novamente, respirando profundamente.

Fui para a cozinha. Felizmente, Susan teve a presença de espírito de me ligar no minuto em que as coisas saíram do controle. E, felizmente, eu a segui até lá, com medo de algo pudesse lhe acontecer.

Depois de colocar a carne no forno, voltei para a sala com um copo de água nas mãos. Ela bebeu sofregamente.

— Você precisa de mais alguma coisa? — Perguntei.

— Não — ela respondeu. Depois, pareceu pensar melhor. — Na verdade, sim. Meu telefone. Eu preciso ligar para Susan... Ela disse algo... Eu preciso falar com ela...

Eu tirei o celular da bolsa dela e entreguei. Nossas pontas dos dedos tocaram e o calor que era característico de nós voltou. Contudo, ela me ignorou, focada no aparelho.

— Obrigada por me ajudar. Eu ainda estou envergonhada por tudo.

— Sou seu namorado... amigo... vizinho... Sei lá o que eu sou — ri.

— Nathan... — ela suspirou. — O que está acontecendo entre nós é seriamente complicado. Eu gosto muito de você, Nathan.

A aversão que eu costumava ter em declarações emocionais como essa não veio. Ao contrário, meu íntimo se refestelava em saber que Sarah gostava de mim.

— Eu também gosto de você — respondi. — Olhe, não se preocupe com mais nada agora. O que quer que esteja acontecendo entre nós pode esperar. Eu não vou a lugar nenhum, nem você. Pode pensar sobre tudo com calma.

Saí do sofá.

— Espere — Ela mordeu o lábio inferior. — Estou aqui abrindo a porra do meu coração e você simplesmente se levanta e sai?

Jesus, o que era aquele ser endiabrado diante de mim?

— Sarah...

— Vá então!

— Só vou pegar a comida — Avisei.

Trouxe um prato com bastante carne e legumes. Coloquei diante dela, numa bandeja prateada.

— E você? — ela perguntou.

— Sarah, não vou jantar com você. Na verdade, estou precisando analisar algumas coisas sobre o trabalho...

— Você está de férias — ela retrucou.

— Um colega me pediu ajuda num caso, enfim... Também preciso dormir um pouco — falei. — Quer que eu a acompanhe ao médico amanhã?

— Claro! Tudo que eu quero é ver o cara que eu gosto ouvindo o médico explicar sobre o quanto sou louca.

Tudo bem, não iriamos conseguir conversar.

— Durma bem, ok?

Eu admito. Matou-me ter que deixá-la assim, sabendo que ela não estava segura, não estava feliz, e queria minha presença. Ela estava assustada, confusa. Mas, eu precisava ler alguns jornais e verificar algumas matérias sobre o passado de Greg. Mesmo assim, ficaria a postos caso ela precisasse de mim.

Momentos depois ouvi um som no corredor. Olhei pelo olho mágico. Era Susan. Provavelmente veio verificar se Sarah estava realmente bem.

Fiquei aliviado por saber que alguém estaria cuidando dela de uma maneira que eu não podia, pois precisava salvar sua vida.

 

 


Capítulo Vinte e quatro

ELA


E u mandei uma mensagem para Susan assim que Nathan saiu do meu apartamento. Meu estômago estava se agitando desde então. A comida de Nathan ainda estava na mesa, intocada, e eu precisava admitir que não conseguiria comer a carne assada dele, mesmo adorando o gosto.

Eu andei de um lado para o outro na sala de estar, meus pés descalços no carpete. Momentos antes eu havia ido tomar um banho e agora estava com meu pijama. Mesmo assim, nada confortável.

Minha mente estava em combustão.

Diabos... E se não fosse a TAG? Não... Não... Era a TAG! Só podia ser a TAG!

“Ou grávida”. – Aquela frase não saía da minha cabeça.
Nathan sempre usava preservativo. Sempre... bom... Naquela vez... E teve outra vez... Mas, não... Não... As coisas não acontecem assim...

Aconteciam assim. Eu era enfermeira, eu sabia.

— Idiota — eu murmurei, pressionei minha testa tentando afastar a dor de cabeça que me tomou. — Como você pôde ser tão estúpida?

Deus, eu não podia me dar ao luxo de estar grávida. Céus, eu acabava de começar um namoro – nem sabia se era realmente um namoro! – e estava com a vida em risco. Qual momento podia ser pior para se ter uma criança?

— Sarah, você não está grávida — disse a mim mesma. — Você não pode estar. Tudo isso não está acontecendo. É só a TAG colocando coisas na sua cabeça, como da vez que você pensou que tivesse um demônio embaixo da cama por causa de um maldito filme de terror.

Mas, uma gravidez explicaria tudo. A náusea, o desmaio, os estranhos altos e baixos emocionais, a menstruação atrasada. Todos sintomas da TAG e, igualmente, de uma gravidez.

A batida de Susan na minha porta da frente me trouxe de volta ao presente. Eu corri para lá e abri, olhei para Susan com desespero. Ela estendeu um saco de papel.

— É daqui que pediram um teste de gravidez? — ela brincou.

Agarrei-a pelo braço e a arrastei para dentro antes que ela pudesse continuar a falar.

— Ficou louca? Ele pode ouvir você!

— E daí? A culpa é dele. E sua. — Susan encolheu os ombros, seus cachos escuros se deslocando do movimento. — Quando vai falar para ele?

— Eu nem sei se estou grávida.

— Você sabe sim. Esse teste é só uma tentativa de negar o óbvio. Você fez sexo sem camisinha, esperava o quê?

— Foi um acidente.

— Acidente seria você tropeçar e cair em cima de uma piroca. O que fez foi por vontade própria.

— Estou nervosa e você está tornando tudo pior.

— Não estou tornando nada pior. Apenas, coloque um sorriso no rosto. Ok, você está assustada, eu também estou por você. Mas, ouvi-la falando assim me lembra da minha mãe: “ Você foi um acidente, nem devia ter nascido! ”. Céus, que vaca! Você fez, agora assuma. Pare de falar como se o bebê fosse o culpado de tudo. Irrita-me!

Era um pesadelo! Eu precisava da minha melhor amiga, mas ela não estava disposta a sê-lo para mim, naquele momento.

— Só estou com medo... — murmurei.

— Oh, Sarah, tudo bem... — Enfim, ela se aproximou e me abraçou. — Você acha que ele não vai querer?

— Ele pode achar que estou tentando forçar uma relação...

— Se ele for babaca de pensar isso, eu quebro a cara dele!

Pela primeira vez, eu ri.

— Eu te ajudo — disse.

— Vão ser três contra um. Não vai sobrar nada do gostosão!

Três? Pus a mão na barriga.

— Susan — eu gemi e levantei o teste entre as duas pontas dos meus dedos. — Isso não é engraçado. Eu amo suas piadas, mas não é o momento. Eu estou ameaçada de morte, testemunha de um crime, e minha relação com Nathan estava começando a sair do nada...

Susan colocou um braço ao meu redor e me jogou levemente contra o seu lado.

— Ei — ela disse. — Olhe, aconteça o que acontecer, estou aqui para você. Eu estou apenas tentando aliviar o clima, tudo bem? Porque no final, tudo sempre dá certo. Você vai ficar bem, e se você não estiver, eu estarei aqui para ajudá-la. Eu sei que você faria o mesmo por mim se eu estivesse em apuros.

— Você é minha melhor amiga... Estou tão nervosa. Nesse teste há todo meu futuro.

— Bom, de tudo a gente tira uma lição.

— Uma lição? Que tipo de lição posso tirar disso?

— Nunca se esqueça da camisinha.

Eu assenti. Ela estava certa.

— Espere aqui. Vou resolver isso logo.

Ela sentou-se no sofá. Encarou o prato de carne.

— Uau — murmurou.

— Nathan que fez.

— Gostosão e bom dono de casa. Você tirou a sorte grande.

Dei os ombros.

— Fique a vontade. Não tenho fome.

— Ok, vá logo fazer esse teste. Quanto mais cedo você fizer isso, mais cedo podemos planejar como vamos lidar com isso.

Ela estava certa, é claro. Corri até o banheiro com o pequeno pacote e o desembrulhei rapidamente. Eu li as instruções, então fiz o que pedia, e voltei mais tarde com o bastão na mão.
Susan já estava se banqueteando. Ela olhou para mim e fez uma careta.

— E então?

— Não olhei ainda. — admiti.

Ela me chamou para o sofá com as mãos. Pegou o bastão de mim. O encarou.

— Seu silêncio está me deixando ainda mais nervosa.

— Eu já disse que estou aqui para você, não é? Então, sem surto, ok?

— OK.

É mais fácil falar do que fazer, claro. Eu estava, mais uma vez, prestes a vomitar.

Então o olhar dela me deu o resultado. Ela não disse, apenas assentiu com uma estranha emoção nos olhos.

Grávida.

Como?

— Oh, meu Deus — eu sussurrei, e fechei meu punho novamente. — Oh meu Deus, oh meu Deus.

— Ei, sem surto, você prometeu — ela me lembrou. — Não entre em pânico, você pode lidar com isso.

— Oh meu Deus — eu gritei. — Meu Deus, Susan, eu posso? Eu sou uma doente mental, Susan, com um assassino na minha cola e um relacionamento que nem sei direito que fim vai dar. E agora tenho que lidar com Nathan e com uma gravidez. Isso tudo ao mesmo tempo. Isso é um desastre.

— Eu já te adiantei que se culpar o bebê vai perder minha amizade.

— Não... Não... — Eu balancei a cabeça e sentei no sofá, o teste de gravidez apertado na minha mão. — O bebê não é culpado. Não é... Eu não pensei isso. Eu só não sei como lidar com essa situação...

Eu exalei lentamente, tentando me concentrar em qualquer coisa, exceto nos aspectos ruins disso.

Foi assustador, mas eu encontraria uma maneira de lidar com a situação. Eu nunca planejei ser mãe, apenas trabalhando e comprometendo minha vida na enfermagem, mas isso seria uma nova experiência.

E daí que eu não tinha uma vida estável, financeira e psicologicamente falando? E dai que minha mãe era uma cadela horrível e eu temia ser como ela?

— Eu não posso acreditar que você vai ter um bebê — disse Susan.

" Um bebê ".

Subitamente, sorri.

“ Um bebê, sim. Isso é algo especial. Eu vou ser mãe! ”

— Sabe de uma coisa? Foda-se a TAG, Greg Martins, e foda-se Nathan, se ele não quiser o bebê. Eu quero! Eu vou ser mãe. Isso é tão incrível. Céus, eu vou ter alguém para mim, de verdade, incondicionalmente.

Ela riu.

— Percebeu como Nathan mudou toda a sua vida? Agora você está prestes a ter um filho e o emprego saiu do seu foco. Você está crescendo. Eu tenho que te dizer, acho que você achou um baita hobby. Mais incrível do que boxe.

Eu ri disso, embora houvesse um pedaço de emoção alojado na minha garganta.

— Eu não sei o que vai acontecer no futuro, e não é Nathan que me mudou. É tudo o que aconteceu. Bem, talvez seja ele também... Eu preciso descobrir uma maneira de falar com ele sobre isso.

— Que tal: “ Oi gostosão. Então, você lembra quando inseriu sua semente na minha vagina? Pois germinou e agora dará um fruto ”.

Gargalhei.

— Isso é horrível...

— Eu sempre posso piorar.

Eu lambi meus lábios, em seguida, finalmente me inclinei para frente e peguei um pedaço da carne. Meu estado de estresse parecia ter caído de forma demasiada.

Eu dei uma mordida na comida e saboreei seu sabor.

— Eu vou falar com ele, claro. Mas, não agora. De manhã, falarei com ele sobre isso. Vou acordar cedo, então vou ao apartamento dele e falarei. Tipo, vou falar. Vou falar. É bem simples, certo?

Exceto que seria muito pior do que isso. Qual seria a reação de Nathan?

— Não pense nisso agora — Susan aconselhou. — Apenas aproveite essa noite e relaxe. Pense só nesse pequeninho que está crescendo na sua barriga.

Foi a coisa mais doce que Susan já me disse.

 

 

 

 

Capítulo Vinte e cinco

ELE


E u dormi cerca de vinte minutos na noite anterior. Isso, entre papeis em cima da mesa e um resto de cerveja choca que estava quente.

Greg Martins não era um mafioso, um líder, descobri. Ele era apenas uma ponta solta que poderia dar com a língua nos dentes e incriminar muita gente poderosa. Mantê-lo em cárcere não era sábio para sua gangue. Por isso eles queriam eliminar a única prova que havia contra aquele bandido.

Eu fiz um mapa da cidade. Locais onde membros conhecidos de Greg agiam.

Foi quando um estalo soou na minha cabeça.

Sarah havia atendido Greg no hospital antes de ele cometer o homicídio. Por que mesmo?

Busquei os registros com o testemunho dela.

“ Uma lesão leve no tórax. Uma facada não profunda... ”, ela disse ao delegado.

Depois, ela continuou: “ Eles pareciam discutir. O homem pareceu querer uma briga, e então Greg o matou ”.

Espera! Eles não queriam Greg fora da cadeia para salvá-lo da prisão. Eles queriam eliminá-lo!

Era isso! O sistema prisional havia melhorado muito nos últimos anos e matar Greg dentro da cadeira era missão quase impossível.

A prisão era, naquele momento, o local mais seguro para Martins.

Por isso, não era Greg Martins que estava tentando assassinar Sarah e sim as mesmas pessoas que tentaram matá-lo.

Corri até o telefone.

— Você quer o quê?

— Falar com Greg Martins.

— Está emocionalmente envolvido nesse caso, Stanley — meu chefe negou. — Não creio que seja uma boa ideia.

— É a única que pode salvar Sarah. Porque esses bandidos não vão desistir até matá-la.

Silêncio.

— Vou falar com o promotor. — O delegado antecipou. — Tentar um acordo com Greg pelos nomes dos comparsas. Se tudo que disse é verdade, ele é capaz de concordar.

Eu assenti. No mesmo instante, ouvi um barulho na porta de Sarah. Despedi-me do meu chefe e fui até ela. Ainda pude ver Susan pela porta se fechando do elevador.

Olhei para a porta de Sarah. Bati. Logo ela abriu, os olhos turvos, ainda usando o pijama.

— Oi — ela disse. — Aconteceu algo?

— Só verificando se minha vizinha, amiga, namorada está bem —, eu respondi. — Rola um café?

Ela sorriu. Deu passagem.

— Entre. Estou passando.

Fui até a cozinha e me sentei diante das xícaras. A luz do sol brilhava através das janelas, uma das quais estava aberta, e permitia que os sons da rua descessem até a sala. O mais do mesmo. Carros passando, um cachorro latindo, a conversa ocasional de alguém falando sobre a última fofoca de algum artista (Caramba! A atriz daquele seriado foi mesmo pega traindo o marido?). Enfim, um dia calmo. Nada para se preocupar.

Seria assim, se meu corpo inteiro não formigasse depois das ultimas revelações.

Eu caminhei até a janela e olhei para a rua abaixo, apenas por precaução. Ficou claro, além de alguns carros estacionados, incluindo o meu, que não havia nenhum esportivo escuro por lá.

— Nathan?

Eu me virei para ela. Ela estava mais pálida que o normal, de novo, e prometi a mim mesmo que isso teria fim.

Sarah, querida... Eu vou te salvar e você ficará bem.

— Sim?

— Está pronto. — Ela pareceu me estudar. — Você está bem? Parece um pouco pensativo.

Minha distração foi dividida entre pensamentos sobre seu corpo no meu, protegendo-a, e a possibilidade de que bandidos pudessem aparecer na sua porta.

— Eu acho que estou um pouco desatento mesmo — eu respondi — Coisas de trabalho.

— Aquele caso do seu amigo?

— Isso.

— OK. — Uma pausa, uma inspiração aguda. — Eu preciso falar com você sobre algo importante. Na verdade, eu estava esperando você aparecer. Você gostaria de se sentar comigo para conversarmos?

— Claro — eu respondi e peguei minha xícara de café antes de ir para o sofá com ela.

Sentamos e eu inclinei meu corpo em direção à ela.

— Pode falar, princesa.

— Você sabe... Tem tanta coisa acontecendo na minha vida. Você é uma dessas coisas.

— Não me diga — brinquei.

Ela segurou o ar por um segundo a mais, passou os dentes pelo lábio inferior e soltou a respiração calmamente. Ainda estava lá, o calor entre nós. Quanto tempo passou desde que tínhamos fodido pela última vez? Nossa, fazia um tempão! Bem que diziam que bastava o cara se comprometer pro sexo acabar.

— Então? O que tem para me dizer?

Sarah riu, em seguida, parou e tomou um gole de café. Não era um riso de alegria, era puro nervosismo.

— Então, espero que isso não te enlouqueça, mas...

— Mas?

Subitamente, um som seco, alto e forte. A porta escancarou. Foi tudo muito rápido. Só percebi um homem grande, alto, invadindo a sala e apontando uma arma para a mulher que eu amava.

Joguei-me contra ele, tentando desviar o alvo.

Era tarde demais...

 


Capítulo Vinte e seis

ELA


O k. Eu vou admitir. Eu sempre sonhei com uma menina e dois meninos.

A menina se chamaria Samantha. Eu adoro esse nome. É tão forte e místico. Ela seria minha princesinha que eu colocaria lindos vestidinhos e arrumaria os cabelos em rabos de cavalo joviais.

Eu seria presente. Em todos os momentos dela. A primeira menstruação, o primeiro amor... Estaria lá quando fosse para a faculdade, e depois, quando se casasse.

Sim, eu seria a mãe que não tive.

Os dois meninos seriam inseparáveis. Matt e Marc. Gêmeos, se Deus quisesse. Eu iria usar as mesmas roupas nos dois, e riria quando as pessoas confundissem quem era quem – porque eu jamais os confundiria.

Eles seriam mais próximos do pai. Mas, claro, eles também iriam me amar muito e teriam de mim a mesma dedicação.

Céus, eu quase me esqueci do Jack – homenagem ao protagonista de Titanic – meu cachorro no quintal. Um labrador. Daqueles que parecem que sorriem quando olham para você.

— Sarah — eu ouvi a voz de Nathan ao longe.

Nathan...

Era apenas sexo sem compromisso. E agora era amor de verdade, daqueles pra vida toda.

Para a vida toda...

Fechei meus olhos.

 

Capítulo Vinte e sete

ELE


O tempo parou.

O tiro soou.

Sarah recuou para o lado esquerdo. Seu braço se levantou ligeiramente. A vermelhidão desabrochava sob a camisa de pijama de algodão e se espalhava pelo tecido.

Ela me olhou. Havia horror naqueles lindos olhos.

Eu me perdi na dor de perdê-la.

Seus olhos se fecharam e ela caiu de costas no sofá.

— Filho da puta! — Meu grito rugia como um mar vermelho descendo sobre mim, meus músculos amarrados com força e, depois, liberados.

Eu mergulhei na direção do desgraçado, incapaz de me controlar por mais um segundo. Eu o cerquei, em seguida, puxei seu corpo contra o meu e o sufoquei, puxando-o para trás, num mata-leão.

Suas pernas se agitaram, dedos arranhando inutilmente meu antebraço.

— Eu vou mandá-lo para o inferno, filho da puta.

Eu firmei meu aperto, meu bíceps cortando a carne de seu pescoço, pressionando contra o seu pomo de Adão.

Era um ser humano esperneando pela sua vida, mas eu não parei. Aquilo só teria fim quando ele estivesse morto, quando finalmente fosse feito, então acabaria.

Eles atiraram nela. Eles atiraram em Sarah.

Minha Sarah!

Eu a amava, e ela se foi.

— Você vai morrer por isso. Você vai queimar no inferno por isso. Você é um merda, está me ouvindo? Você não é nada.

Subitamente, mais pessoas na sala. Uma multidão de homens de colete e armas em punho.

— Stanley — era meu chefe. — Stanley, solte-o!

Eu percebi mais policiais, colegas de farda que logo tentaram evitar que eu surtasse.

— Ela não está morta. — Alguém disse, verificando Sarah, e tão só meu corpo conseguiu reagir. Soltei o homem.

Ela estava viva. Deus era bom.

— Ambulância, agora! — Meu chefe gritou.

Andei até Sarah. Ela parecia uma figura tão delicada e indefesa ali. A peguei no colo. Tudo começou a correr em câmera lenta, depois. Eu percebi a ferida no ombro dela. Arranquei minha camisa e estanquei o sangue.

— Nathan? — Suas pálpebras se abriram e revelaram um brilho de vida.

— Oi, meu amor... — murmurei. — Eu te amo, Sarah...

Ela parecia nem me ouvir. Enfermeiros se aproximaram rapidamente.

Os paramédicos fizeram um rápido trabalho de transferi-la para a maca, em seguida, levantando-a e levando-a para fora do apartamento. Do lado de fora, luzes azuis e vermelhas piscavam além da janela de vidro. Houve um zumbido de movimento, de coisas sendo feitas. Nada disso importava para mim.
Subitamente, uma mão segurou meu braço.

— Stanley, você estava certo — meu chefe avisou. — Greg Martins já conversou com um dos carcereiros e disse que aceita o acordo. Ele vai entregar todos.

Aquilo não me importava mais. Não agora.

— O que faziam aqui?

— Instalamos uma câmera de segurança na rua. Percebemos a aproximação de uma van suspeita.

Eu assenti, compreensivo.

— Eu tenho que segui-la. — Tentei passar por ele, mas ele colocou a mão no meu peito.

— Não há nada que você possa fazer por ela agora. Enquanto isso, você precisa vir comigo, certo? Juro, Stanley, vou me certificar de que você chegue a ela depois que terminarmos. Dou a minha palavra. Mas, agora quero você na sala do promotor. Precisamos conversar.

Eu assenti.

No final de tudo, era pelo bem de Sarah.

 

 

 

Capítulo Vinte e oito

ELA

 

H avia um teto branco acima de mim.

Aguardei o soar dos sinos, a aurora dos tempos... Nada. Nenhuma figura semelhante a anjos apareceu para me guiar através de um túnel de luz.

Nada. Apenas um teto.

— Puta que pariu, isso que é morrer?

Minha boca estava seca. Espere, minha boca estava seca! Isso significava que eu tinha que estar viva.

Eu mudei minha cabeça e olhei ao redor. Eu estava em uma cama de hospital. Havia uma mesa de cabeceira com um jarro e um copo de água. Uma única cadeira estava encostada na parede, e Nathan estava nela.

Ele mal cabia no móvel, e sua cabeça descansava contra seu peito enquanto ele roncava levemente.

— Nathan?

Ele acordou de imediato, e olhou para mim. Seus olhos brilharam por um breve momento. Em um instante, ele estava fora da cadeira e ao meu lado, sua grande mão descansando em cima da minha.

— Oi, Princesa... Como se sente?

— Com sede.

Ele serviu um copo e me entregou. Eu fiz esforço para levantar meu braço esquerdo e estremeci, a dor disparou através do meu ombro. Mesmo assim, levei o copo aos meus lábios e bebi lentamente.

— Aqui, deixe-me ajudá-la. — Nathan pegou o copo com cuidado e me deu a água; em seguida, removeu-o quando eu tinha bebido o suficiente e colocou-o na mesa de cabeceira novamente.

Ele arrastou a cadeira para mais perto, sentou-se novamente, segurando minha mão na dele.

— Você não faz ideia do susto que me deu — ele parecia ainda um tanto em choque.

— Bom, estou viva, pelo menos. — Subitamente, lembrei-me de um filme espírita que assisti certa vez. — Eu estou viva, não é? Isso não é um hospital espiritual onde minha alma foi depois da minha morte? Meu Deus, você também morreu?

Ele arrastou dois dedos no meu braço, gentilmente até a minha bochecha. Sorriu.

— Céus, estou feliz até por ouvir suas besteiras.

Estava viva. Ficou claro.

— E Greg Martins?

— Não era ele. Eram os caras que queriam matá-lo. Enfim, esqueça isso. Está tudo resolvido. Todos vão mofar na cadeia. Claro, nós teremos que testemunhar num tribunal, mas... Enfim, o mal perdeu.

Nathan arrastou os dedos pelo meu braço novamente, descansou-os contra a minha mão. Ele apertou meus dedos entre os dele, um por um.

Um homem surgiu na porta. Ele vinha sorrindo, parecendo feliz por me ver melhor.

— Como está se sentindo, senhorita Taylor?

Sorri para o médico. Eu trabalhava naquele hospital e o conhecia de vista.

— Estou melhor.

— A má noticia é que ficaremos sem sua ajuda por um tempo. Precisará de repouso. A boa notícia é que o bebê está bem.

Meus olhos arregalaram. Eu havia me esquecido completamente da gravidez e de que Nathan não sabia disso.

— O quê? — ele murmurou.

Mas, não disse mais nada. Eu fiquei completamente travada enquanto o médico verificava meus exames e preparava minha alta.

Quando ele saiu, enfim encarei Nathan.

— Pois é, né? — dei os ombros. — Adivinhe! Tenho algo para te contar...

 


Capítulo Vinte e nove

ELE


M eu coração parecia ter parado.

— Eu estou grávida.

As palavras entraram pelo meu ouvido e cravaram no meu cérebro. Grávida. Ela está gravida.

— Oh, meu Deus — eu murmurei. — Oh, meu Deus...

— E, caso isso não esteja claro, você é o pai.

Silêncio. Eu não conseguia dizer nada. Estava completamente atônito.

Pai?

Eu?

Eu?

Meu pai era um merda que fugiu e deixou minha mãe para me criar, sozinha! O que era ser um pai? Como eu seria um pai? Como um pai agiria?

— Olhe... — Ela começou e eu sabia o que viria. Suas palavras em turbilhão, desconexas, milhares por segundo, atropelando-se contra mim. — Se isso mudar tudo para você, eu vou entender totalmente. Eu não quero que você se sinta pressionado a nada, eu só quero fazer o que é certo para bebê. Se você não quiser, está tudo bem. A gente termina aqui. Eu sigo meu caminho, você o seu.

Eu balancei a cabeça, tentando entender aquilo.

— Você está grávida — por fim, a ideia pareceu se elucidar na minha cabeça.

— Sim. E, como eu disse, você decide o quanto quer participar disso.

Eu a cortei beijando-a nos lábios. Não foi para ela parar de falar, mas porque eu não aguentaria outro segundo sem tocá-la.

— Você está grávida — eu disse, e saiu engasgado agora.

Outro beijo depois outro.

— Sim — ela respondeu. — Você está bem com isso?

— Vou ficar depois de desmaiar — respirei fundo.

Porra, eu precisava ser homem!

— Certo, Sarah... Você sabe minhas origens, eu não tive um pai. Eu não sei como é ter um pai. Eu posso ser o pior pai do mundo, provavelmente eu vou cometer muitos erros nisso, mas... Eu não vou ser o cara que deixará a mulher que ama sozinha nessa caminhada.

Ela me estudou.

— Você está nervoso — percebeu.

— Eu estou feliz — disse, contrariando. — Eu estou nervoso sim, porque não posso falhar nisso, é muita responsabilidade. Contudo, eu vou ler todos os livros que existem sobre educação de filhos, e tudo o mais. Francamente, estou feliz que tenha acontecido. Não consigo pensar em nada mais perfeito.

Enfim, ela sorriu.

— Eu esperava que você ficasse chocado ou chateado — comentou. A preocupação em seu olhar ainda estava presente. — Mas, você está feliz...

— Cem por cento — confirmei. Totalmente feliz.

Porra, era a mulher que eu amava, e um filho meu em seu ventre. Era uma benção. Eu nem sabia que merecia algo assim.

Eu a beijei novamente, colocando suas bochechas em minhas mãos.

Ela ainda estava confusa, seus olhos mudando de um lado para o outro enquanto ela procurava meu rosto, como se ela não conseguisse entender que eu realmente queria isso. Que eu estava feliz com isso.

— Não era para acontecer — disse ela.

— Eu não me importo, Sarah, você não está me ouvindo? Eu estou feliz que isso tenha acontecido e que possamos tentar fazer isso funcionar.

— Meu Deus, como? — Pronto. Enfim, o surto. — Vai ser difícil com tudo o que está acontecendo. Nós ainda não descobrimos o que somos um para o outro. Quero dizer, tudo o que tivemos foi sexo e mais sexo.

— Querida, você me deixou na seca há semanas. — Eu beijei a ponta do nariz dela. Ela arregalou os olhos, só então se dando conta do fato. — Nós não somos apenas dois adultos que se molham quando se veem — afirmei. — Olha, eu sei que isso é grande e assustador, Sarah, mas vamos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar. Juntos. Vamos ir devagar, e vamos ver aonde vai, mas você tem a minha promessa de que estarei com você a cada passo do caminho. Eu te amo.

Lágrimas escorreram pelo seu rosto e seu lábio inferior tremeu.

— Eu também te amo — ela disse, e nos beijamos novamente.

 


Capítulo Trinta - Final

Ambos


T oda vez que eles se beijavam era assim. Um gelo e um fogo que pareciam se chocar em seus corpos, causando um turbilhão de sensações difíceis de serem explicadas.

— Eu te quero tanto — Sarah murmurou.

Depois de sair do hospital, era a primeira vez que eles conseguiam ficar juntos. Estavam ansiosos.

— Eu não quero te machucar — disse Nathan calmamente. — Você já passou por tanta coisa.

— Não me provoque! — ela devolveu. — Não sou uma bonequinha de porcelana, sabia?

E pensar que a primeira coisa que Nathan viu nela foi a bunda. A bunda agora parecia esquecida diante do olhar cativante daqueles olhos verdes, da postura forte... Nossa, ela era tão feminina.

Ele a adorava...

— Minha bonequinha de porcelana — a provocou. — O que posso fazer para você se sentir melhor? — Ele sussurrou, beijando a linha em volta da garganta.

— Faça tudo — ela ordenou.

Ele pegou sua mão direita e segurou-a suavemente na sua. Depois pressionou-a na frente de sua calça jeans. O contorno de sua ereção destacado contra os dedos, tornando as respirações mais rápidas.

— Você sente o quão louco você me faz? — Ele sussurrou. — Você é tão linda pra caralho. Tão perfeita... Deus, eu quero comer você, saborear você e engolir você inteira.

— Nathan...

Ele beijou a parte inferior do seu queixo. Em seguida, trabalhou o caminho até seus lábios e os beijou também.

— Diga que você é minha, e é sério.

— Seu mandão — ela riu. — Eu sou sua. Nathan Stanley, eu sou toda sua agora e para sempre.

— Isso é exatamente o que eu queria ouvir — ele rosnou e beliscou o lábio inferior.

Seus dedos perseguiram a frente da blusa, sobre seus seios, seu estômago, pressionando a seda contra a pele e, em seguida, para frente do seu jeans.

Ele passou os dedos pelo botão e abriu-o, abaixando o zíper.

— Céus, daqui a alguns meses você vai estar enorme — ele riu.

— Puta que pariu, Nathan. Isso é coisa para me dizer?

— Porra — ele gemeu. — Isso torna tudo ainda mais sensual. Você é a mãe do meu filho. Eu não consigo lidar com isso. Eu preciso estar dentro de você agora mesmo.

Ele a puxou com força e beijou-a intensamente.

Logo ficaram nus sobre a cama. Sarah gemeu, pegando o pênis na mão, massageando seu comprimento, para cima e para baixo, focando sua atenção na ponta.

— Foda-me, por favor — ela pediu.

— Eu senti tanto a sua falta — ele disse, entre os dentes.

— Por favor — ela repetiu.

Ele se pressionou contra ela, se lançando com um forte impulso diretamente no prazer.

— É isso — ele disse suavemente. — Isso é tudo que eu sempre quis. Você é tudo que eu sempre quis. Eu te amo, Sarah.

— Eu te amo mais.

E não importava o que o futuro reservada.

Aqueles dois vizinhos (amigos ou namorados?) iriam enfrentar cada obstáculo juntos.

E tudo isso começou porque um dia Nathan Stanley olhou para a bunda de Sarah Taylor.

Um salve àquela bunda espetacular!

 

 

                                                                  Josiane Biancon da Veiga

 

 

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