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SEM PISTAS / Blake Pierce
SEM PISTAS / Blake Pierce

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Um novo espasmo de dor fez Reba erguer sua cabeça com um solavanco. Ela pressionou as cordas que prendiam seu corpo, amarradas em torno de seu estômago a um cano vertical que havia sido instalado do piso ao teto no meio da pequena sala. Seus pulsos foram amarrados na frente e seus tornozelos estavam atados.
Ela percebeu que havia adormecido e foi imediatamente inundada pelo medo. Ela sabia naquele momento que o homem iria matá-la. Devagar, ferimento por ferimento. Ele não queria sua morte, tampouco queria sexo. Ele só queria a sua dor.
Eu preciso ficar acordada, ela pensou. Preciso sair daqui. Se eu cair no sono de novo, vou morrer.
Apesar do calor da sala, seu corpo nu sentia frio com o suor. Ela olhou para baixo, contorcendo-se, e viu que seus pés estavam nus sobre o piso de madeira. O chão ao redor deles estava coberto com manchas de sangue seco, sinais indiscutíveis de que ela não era a primeira pessoa a ter sido amarrada ali. Seu pânico agravou.
Ele tinha ido a algum lugar. A única porta do quarto estava bem fechada, mas ele voltaria. Ele sempre voltava. E então ele faria qualquer coisa em que pudesse pensar para fazê-la gritar. As janelas estavam fechadas com tábuas e ela não tinha ideia se era dia ou noite, a única luz vinha do brilho de uma lâmpada pendurada no teto. Onde quer que fosse aquele lugar, parecia que ninguém poderia ouvir seus gritos.
Perguntou-se se aquele cômodo tinha sido o quarto de uma menina; era grotescamente rosa, com temas espiralados e motivos de conto de fadas por toda parte. Alguém - ela supôs ser seu raptor - havia destruído há muito tempo aquele lugar, quebrando e derrubando bancos, cadeiras e mesas. No chão, havia pedaços desmembrados e torsos de bonecas de criança espalhados. Pequenas perucas - perucas de boneca - foram pregadas como escalpos nas paredes, a maioria delas tinha tranças elaboradas, todas tinham cores artificiais de brinquedos. A penteadeira rosa ficava bem ao lado de uma parede, seu espelho em forma de coração estava quebrado em pequenos pedaços. A única outra peça de mobília intacta era uma estreita cama de solteiro com um dossel rosa rasgado. Seu sequestrador descansava ali às vezes.
O homem a olhava com olhos pequenos e escuros, através de sua máscara de esqui. No início, ela tinha pensado muito sobre o fato de ele estar sempre usando aquela máscara. Se ele não queria que ela visse seu rosto, significava que ele não planejava matá-la, que ele poderia deixá-la ir?
Mas ela logo percebeu que a máscara servia a um propósito diferente. Ela poderia dizer que o rosto por trás dela tinha um queixo recuado e uma testa inclinada, e ela tinha certeza de que as feições do homem eram fracas e simples. Embora ele fosse forte, ele era mais baixo do que ela e provavelmente se sentia inseguro sobre isso. Ele usava a máscara, ela imaginou, para parecer mais aterrorizante.
Ela desistiu de tentar convencê-lo a não machucá-la. No início, ela pensou que conseguiria. Ela sabia que, apesar de tudo, ela era bonita. Ou, pelo menos, eu costumava ser, ela pensou tristemente.
Suor e lágrimas se misturaram em seu rosto machucado, e ela podia sentir o sangue emaranhado em seus longos cabelos loiros. Seus olhos ardiam: ele a fez colocar lentes de contato, tornando mais difícil enxergar.
Só Deus sabe como está minha aparência agora.
Ela deixou sua cabeça cair.
Morra agora, ela implorou a si mesma.
Deveria ser fácil o bastante fazê-lo. Ela estava certa de que outras pessoas haviam morrido ali antes. Mas ela não podia. Só de pensar sobre isso fez seu coração bater mais forte, sua respiração ficou mais pesada, esticando a corda ao redor de seu abdômen. Lentamente, ao se dar conta de que estava enfrentando uma morte iminente, um novo sentimento começou a surgir em seu âmago. Não era pânico nem medo agora. Não era desespero. Era outra coisa.
O que eu sinto?
E então ela percebeu. Aquilo era raiva. Não em relação ao seu sequestrador. Ela já tinha esgotado sua raiva em relação a ele há muito tempo.
Sou eu, ela pensou. Estou fazendo o que ele quer. Quando eu grito, choro e imploro, estou fazendo o que ele quer.
Toda vez que ela bebia aquele caldo frio e ralo que ele lhe oferecia através de um canudo, ela estava fazendo o que ele queria. Sempre que ela soluçava pateticamente que ela era mãe de duas crianças que precisavam dela, ela o deleitava infinitamente.
Sua mente aclarou com esta nova resolução e ela finalmente parou de se contorcer. Talvez ela precisasse tentar uma tática diferente. Ela esteve lutando arduamente contra aquelas cordas todos aqueles dias. Talvez esta tenha sido a abordagem errada. Elas eram como aqueles pequenos brinquedos de bambu - as armadilhas de dedo chinesas, onde você coloca os dedos em cada extremidade do tubo e, quanto mais você puxa, mais presos seus dedos ficam. Talvez o truque fosse relaxar deliberada e completamente. Talvez este fosse o jeito de se libertar.
Músculo por músculo, ela deixou seu corpo relaxar, sentindo cada ferida, cada machucado onde sua carne tocava as cordas. E, lentamente, ela percebeu onde a tensão da corda estava.
Finalmente, ela encontrou o que precisava. Havia apenas uma pequena folga em torno do seu tornozelo direito. Mas não adiantaria puxar, pelo menos não ainda. Não, ela tinha que manter seus músculos flexíveis. Ela mexeu seu tornozelo com muito cuidado e, em seguida, com mais força à medida que a corda se soltava.
Por fim, para sua alegria e surpresa, seu calcanhar estava solto, e ela conseguiu retirar todo o pé direito. Ela imediatamente analisou o chão. Apenas a um pé de distância, em meio às peças de bonecas espalhadas, estava a sua faca de caça. Ele sempre ria quando a colocava ali, tentadoramente perto. A lâmina, incrustada com sangue, brilhava desdenhosamente sob a luz.
Ela balançou o pé livre em direção à faca. Ela balançou alto demais, errando.
Ela deixou seu corpo relaxar novamente. E deslizou apenas algumas polegadas para baixo, ao longo do cano, então esticou seu pé até que a faca estivesse ao seu alcance. Ela agarrou a lâmina suja entre os dedos dos pés, arrastou-a pelo chão e levantou-a cuidadosamente com o pé até que o cabo alcançasse a palma de sua mão. Ela agarrou firmemente o cabo com os dedos dormentes e a girou, serrando lentamente a corda que prendia seus pulsos. O tempo parecia ter parado enquanto ela prendia sua respiração, torcendo, rezando, para que ela não deixasse a faca cair. Para que ele não entrasse.
Então ela ouviu um estalo e, para sua surpresa, suas mãos estavam livres. Imediatamente, com o coração batendo rápido, ela cortou a corda em volta da sua cintura.
Livre. Ela mal podia acreditar.
Por um momento, tudo o que conseguiu fazer foi agachar-se lá, suas mãos e pés formigavam com o retorno da circulação total. Ela cutucou as lentes de contato sobre seus olhos, resistindo à vontade de arrancá-las. Ela cuidadosamente as deslizou para um lado,deu um pequeno beliscão nelas e as retirou. Seus olhos doeram terrivelmente, foi um alívio não utilizá-las mais. Quando ela olhou para os dois discos de plástico que encontravam-se na palma da sua mão, sua cor a deixou enojada. As lentes eram de azul brilhante, artificial. Ela as descartou.
Com o coração acelerado, Reba se levantou rapidamente e foi mancando até a porta. Ela pegou a maçaneta, mas não girou.
E se ele estivesse lá fora?
Ela não tinha escolha.
Reba girou a maçaneta e puxou a porta, que se abriu sem fazer ruído. Ela olhou para um longo corredor vazio, iluminado apenas por uma abertura em arco à direita. Ela se arrastou, nua, descalça e em silêncio, e viu que o arco se abria para uma sala mal iluminada. Ela parou e examinou. Era uma sala de jantar simples, com uma mesa e cadeiras, tudo completamente normal, como se uma família pudesse em breve
voltar para casa e jantar. Cortinas de renda antigas estavam pendurados nas janelas.
Um novo horror subiu por sua garganta. A própria simplicidade do lugar a perturbava de uma forma que nem uma masmorra seria capaz. Através das cortinas, ela podia ver que estava escuro lá fora. Seus sentidos se intensificaram com o pensamento de que a escuridão tornaria sua fuga mais fácil.
Ela voltou para o corredor. Ele terminava em uma porta - uma porta que simplesmente tinha que se abrir para o exterior. Ela mancou e apertou a trava de bronze frio. A porta se mexeu pesadamente em direção a ela para revelar a noite lá fora.
Ela viu uma pequena varanda com um quintal atrás. O céu noturno estava sem lua e estrelado. Não havia nenhuma outra luz em lugar algum - nenhum sinal de casas próximas. Ela andou lentamente para a varanda e para o quintal, que estava seco e sem grama. Ar fresco inundou seus pulmões doloridos.
Misturado com seu pânico, ela se sentiu eufórica. A alegria da liberdade.
Reba deu seu primeiro passo, preparando-se para correr - quando, de repente, sentiu o aperto duro de uma mão em seu pulso.
Depois veio a risada familiar e feia.
A última coisa que ela sentiu foi um objeto duro - talvez metal - batendo em sua cabeça e, no momento seguinte, ela estava girando nas profundezas da escuridão.

 

 

 


 

 

 


Capítulo 1

Pelo menos o cheiro não se alastrou, o agente especial Bill Jeffreys pensou.

Ainda inclinado sobre o corpo, ele não podia deixar de detectar os primeiros vestígios do odor. Ele se misturava com o aroma fresco de pinho e a limpa névoa nascente do riacho - um cheiro de cadáver que ele deveria ter se acostumado há muito tempo. Mas ele não se acostumou.

O corpo nu da mulher tinha sido cuidadosamente disposto em um grande pedregulho na beira do riacho. Ela estava sentada, inclinada sobre outra pedra, com as pernas retas e abertas, as mãos dos lados. Um estranho ângulo do braço direito, ele podia ver, sugeria um osso quebrado. O cabelo ondulado era obviamente uma peruca, sarnenta, com mechas de tons loiros. Um sorriso rosa foi desenhado com batom na sua boca.

A arma do crime ainda estava apertado em volta do pescoço; ela tinha sido estrangulada com uma fita rosa. Havia uma rosa artificial vermelha sobre a rocha na frente dela, a seus pés.

Bill tentou cuidadosamente levantar a mão esquerda. Não se mexeu.

"Ela ainda está em rigor mortis," Bill disse ao agente Spelbren, agachando-se do outro lado do corpo. "Morreu não tem nem vinte e quatro horas."

"O que há com os olhos?" Perguntou Spelbren.

"Costurados abertos com linha preta," ele respondeu, sem se preocupar em olhar de perto. Spelbren o encarou, incrédulo.

"Verifique por si mesmo," disse Bill. Spelbren fitou aqueles olhos.

"Jesus," ele murmurou baixinho. Bill percebeu que ele não recuou com nojo. E agradeceu por isso. Havia trabalhado com outros agentes de campo - alguns deles eram veteranos como Spelbren - que estariam vomitando suas entranhas a esta altura.

Bill nunca tinha trabalhado com ele antes. Spelbren tinha sido chamado para esse caso de um escritório de campo de Virginia. Tinha sido idéia de Spelbren trazer alguém da Unidade de Análise Comportamental em Quantico. Era por isso que Bill estava ali.

Jogada inteligente, Bill pensou.

Bill podia ver que Spelbren era alguns anos mais jovem do que ele, mas, mesmo assim, ele tinha um olhar experiente e desgastado que ele gostava.

"Ela está usando lentes de contatos," Spelbren observou.

Bill observou com mais atenção. Ele estava certo. Um azul artificial e misterioso o fez desviar o olhar. Estava frio ali no riacho, no final daquela manhã, mas, mesmo assim, os olhos estavam achatados em suas órbitas. Seria difícil adivinhar a hora exata da morte. Tudo o que Bill sabia era que o corpo tinha sido trazido para lá em algum momento durante a noite e fora cuidadosamente colocado.

Ele ouviu uma voz nas proximidades. "Federais de merda."

Bill olhou para os três policiais locais, de pé a poucos metros de distância. Eles estavam sussurrando inaudivelmente agora, então Bill sabia que ele ouvira aquelas palavras bem escolhidas de propósito. Eles eram de Yarnell, na vizinhança, e claramente não estavam felizes de o FBI ter aparecido. Eles pensaram que poderiam lidar com aquilo por conta própria.

O chefe da vigilância do Parque Estadual Mosby tinha pensado de forma diferente. Ele não estava acostumado a coisas piores do que vandalismo, lixo, pesca ilegal e caça, e ele sabia que os moradores de Yarnell não seriam capazes de lidar com aquilo.

Bill deslocou a distância de mais de 100 milhas de helicóptero para que ele pudesse chegar antes do corpo ser movido. O piloto tinha seguido as coordenadas para o terreno de um prado em uma colina próxima, onde o chefe da vigilância e Spelbren o encontraram. O chefe os conduziu de carro por algumas milhas em uma estrada de terra e, quando eles estacionaram, Bill pôde vislumbrar a cena do crime desde a estrada. Era apenas uma curta descida até o riacho.

Os policiais, que esperavam impacientemente nas proximidades, já tinham visto a cena. Bill sabia exatamente o que eles estavam pensando. Eles queriam resolver aquele caso sozinhos; uma dupla de agentes do FBI era a última coisa que gostariam de ver.

Desculpe-me, caipiras, Bill pensou, mas vocês estão fora do seu terreno aqui.

"O xerife acha que é tráfico humano," disse Spelbren. "Ele está errado."

"Por que você acha isso?" Bill perguntou. Ele mesmo sabia a resposta, mas queria ter uma ideia de como a mente de Spelbren trabalhava.

"Ela está na casa dos trinta, não é tão jovem," respondeu Spelbren. "Tem estrias então teve pelo menos um filho. Não é o tipo que geralmente pegam."

"Você está certo," disse Bill. "Mas e a peruca?" Bill balançou a cabeça.

"Sua cabeça foi raspada," respondeu ele, "então seja lá qual fosse a utilidade da peruca, não era para mudar a cor do cabelo."

"E a rosa?" Perguntou Spelbren. "Uma mensagem?" Bill examinou.

"Flor de tecido barata," ele respondeu. "O tipo que você encontraria em qualquer loja de preços baixos. Vamos investigá-la, mas não descobriremos alguma coisa."

Spelbren olhou para ele, claramente impressionado.

Bill duvidava que qualquer coisa que encontrassem serviria para muita coisa. O assassino estava muito decidido, muito metódico. Toda aquela cena tinha sido preparada com um certo estilo doentio que o deixava apreensivo.

Ele viu os policiais locais ansiosos para chegar mais perto e acabar logo com aquela situação. Fotos foram tiradas e o corpo seria removido a qualquer momento.

Bill levantou-se e suspirou, sentindo a rigidez nas pernas. Seus quarenta anos estavam começando a pesar, pelo menos um pouco.

"Ela foi torturada," observou ele, exalando com tristeza. "Olhe para todos estes cortes. Alguns estão começando a cicatrizar. " Ele balançou a cabeça tristemente. "Alguém ficou com ela por dias antes de colocar essa fita nela."

Spelbren suspirou.

"O criminoso estava chateado com alguma coisa," disse Spelbren.

"Ei, quando é que vamos encerrar isso aqui?" um dos policiais gritou.

Bill olhou em sua direção e os viu arrastando os pés. Dois deles estavam resmungando baixinho. Bill sabia que o trabalho ali já tinha terminado, mas ele não falou nada. Ele preferiu manter aqueles palhaços esperando e sem saber.

Ele virou-se lentamente e analisou a cena. Era uma área densamente arborizada, com pinheiros e cedros e muita vegetação rasteira, o riacho borbulhava em toda sua serena e bucólica extensão em direção ao rio mais próximo. Mesmo agora, em pleno verão, não ficaria muito ali, naquele dia, então o corpo não apodreceria tão imediatamente. Mesmo assim, seria melhor tirá-lo dali e enviá-lo logo para Quantico. Os examinadores não iriam querer cortá-lo enquanto ainda estivesse razoavelmente fresco. O veículo do legista estava estacionada na estrada de terra, atrás do carro da polícia, esperando.

A estrada não era nada mais do que marcas de pneus paralelos que atravessavam a floresta. O assassino quase certamente havia dirigido por ali. Ele tinha carregado o corpo por uma curta distância, através de um caminho estreito, até aquele local, o arrumou ali e foi embora. Ele não teria ficado muito tempo. Mesmo que a área parecesse fora de rota, os vigias patrulhavam regularmente por ali e carros particulares não deveriam passar por aquela estrada. Ele queria que o corpo fosse encontrado. Estava orgulhoso de seu trabalho.

E foi encontrado por umas duas pessoas que andavam a cavalo no início da manhã. Turistas em cavalos alugados, o vigia havia dito para Bill. Eles eram turistas de Arlington, estavam hospedados em um rancho que imitava o velho oeste, na divisa com Yarnell. O vigia tinha dito que eles estavam um pouco histéricos. Eles haviam sido orientados a não sair da cidade e Bill planejava falar com eles mais tarde.

Não parecia haver absolutamente nada fora do lugar na área em torno do corpo. O cara tinha sido muito cuidadoso. Ele havia arrastado algo por trás enquanto voltava do riacho - uma pá, talvez - para obscurecer suas próprias pegadas. Nada deixado intencionalmente ou acidentalmente. Quaisquer marcas de pneus na estrada haviam provavelmente sido obliteradas pelo carro da polícia e do legista.

Bill suspirou para si mesmo.

Droga, ele pensou. Onde está Riley quando eu preciso dela?

Sua parceira de longa data e melhor amiga estava de licença involuntária, se recuperando do trauma de seu último caso. Sim, foi um bem desagradável. Ela precisava de um tempo de folga e, verdade seja dita, ela poderia nunca mais voltar.

Mas ele realmente precisava dela agora. Ela era muito mais esperta do que Bill, e ele não se importava em admitir isso. Ele adorava ver a mente dela trabalhando. Imaginou-a esmiuçando aquela cena, detalhe por detalhe minúsculo. Naquele momento ela estaria provocando-o com todas as pistas dolorosamente evidentes que estavam bem diante dele.

O que Riley veria ali que Bill não conseguia?

Ele se sentiu perplexo e não gostou da sensação. Mas não havia mais nada que ele pudesse fazer sobre aquilo agora.

"Ok, pessoal," Bill chamou a polícia. "Levem o corpo embora." Os policiais riram e se cumprimentaram batendo as mãos.

"Você acha que ele vai fazer isso de novo?" Perguntou Spelbren. "Eu tenho certeza que sim," disse Bill.

"Como você sabe?"

Bill deu um suspiro longo e profundo. "Porque eu já vi um de seu trabalho antes."


Capítulo 2


"E ficou pior para ela a cada dia," disse Sam Flores, trazendo à tona uma outra imagem horrível no enorme display de multimídia, acima da mesa de conferência. "Até que ele acabou com ela."

Bill tinha adivinhado isso mesmo, mas ele odiava estar certo.

O Escritório tinha transportado o corpo para a UAC (Unidade de Análise de Conduta) em Quantico, e os técnicos forenses tiraram fotos e o laboratório tinha iniciado com os testes. Flores, um técnico de laboratório com óculos de aro preto, corria o slide show macabro e as telas gigantescas viraram uma ameaçadora presença na sala de conferências do UAC.

"Há quanto tempo ela estava morta antes de o corpo ser encontrado?" Bill perguntou. "Pouco tempo," ele respondeu. "Talvez no início da noite anterior."

Ao lado de Bill, sentou Spelbren, que tinha voado para Quantico com ele depois de deixarem Yarnell. Na cabeceira da mesa, sentou o agente especial Brent Meredith, chefe da equipe. Meredith tinha uma presença assustadora, com sua ampla estrutura, feições angulosas e escuras e seu rosto intolerante. Não que Bill fosse intimidado por ele, longe disso. Ele gostava de pensar que os dois tinham muito em comum. Ambos eram veteranos e haviam visto de tudo.

Flores exibiu uma série de imagens que mostravam as feridas da vítima de perto.

"Os ferimentos do lado esquerdo foram infligidos mais cedo," disse ele. "Aqueles à direita são mais recentes, alguns foram infligidos horas ou até mesmo minutos antes que ele a estrangulasse com a fita. Ele parece ter ficado progressivamente mais violentos durante a semana ou mais em que ele a manteve em cativeiro. Quebrar o braço dela pode ter sido a última coisa que ele fez enquanto ela ainda estava viva."

"As feridas parecem com o trabalho de um criminoso para mim," Meredith observou. "A julgar pelo nível crescente de agressão, provavelmente do sexo masculino. O que mais você tem?"

"Pelo comprimento curto dos fios em seu couro cabeludo, achamos que sua cabeça fora raspada dois dias antes de ser morta," continuou Flores. "A peruca foi costurada com pedaços de outras perucas, todas baratas. As lentes de contato foram provavelmente compradas por correio. E mais uma coisa," disse ele, olhando para os rostos à sua volta, hesitante. "Ele a cobriu com vaselina."

Bill podia sentir a tensão da sala adensar. "Vaselina?" Ele perguntou.

Flores assentiu. "Por quê?" Perguntou Spelbren. Flores deu de ombros.

"Esse é o seu trabalho," ele respondeu.

Bill pensou sobre os dois turistas que ele tinha entrevistado ontem. Eles não ajudaram em nada, estavam divididos entre a curiosidade mórbida e o pânico do que tinham visto. Eles estavam ansiosos para voltar para Arlington e não havia nenhum motivo para detê-los. Eles foram entrevistados por cada oficial disponível. E eles tinham sido devidamente advertidos para não dizer nada sobre o que tinham visto.

Meredith exalou e colocou as duas mãos sobre a mesa. "Bom trabalho, Flores," disse Meredith.

Flores parecia grato pelo elogio e talvez um pouco surpreso. Brent Meredith não era do tipo que fazia elogios.

"Agora, agent Jeffreys," Meredith se virou para ele, "informe-nos sobre a forma como isso se relaciona com o seu antigo caso."

Bill respirou fundo e recostou-se na cadeira.

"Um pouco mais de seis meses atrás," ele começou, "em 16 de dezembro, na verdade, o corpo de Eileen Rogers foi encontrado em uma fazenda perto de Daggett. Eu fui chamado para investigar, juntamente com o meu parceiro, Riley Paige. O tempo estava extremamente frio e o corpo estava congelado. Era difícil dizer há quanto tempo ele havia sido deixado lá e o momento da morte nunca foi exatamente determinado. Flores, mostre a eles."

Flores voltou-se para a apresentação de slides. A tela se dividiu e, ao lado das imagens na tela, uma nova série de figuras apareceram. As duas vítimas foram exibidas lado a lado. Bill engasgou. Era inacreditável. Além da carne congelada daquele corpo, os cadáveres estavam quase com as mesmas condições, os ferimentos eram quase idênticos. Ambas as mulheres tinham os olhos costurados e abertos da mesma forma assustadora.

Bill suspirou, as imagens traziam tudo à tona. Não importa quantos anos ele estivesse naquele trabalho, ver cada vítima lhe doía.

"O corpo de Rogers foi encontrado sentado na posição vertical contra uma árvore," Bill continuou, com a voz mais sombria. "Não foi tão cuidadosamente colocado como a que está no Parque em Mosby. Sem lentes de contacto ou vaselina, mas a maioria dos outros detalhes é igual. O cabelo de Rogers foi cortado curto, não raspado, mas havia uma peruca remendada semelhante junto. Ela também foi estrangulada com uma fita cor de rosa e uma rosa falsa foi encontrada na frente dela."

Bill fez uma pausa por um momento. Ele odiava o que iria dizer em seguida. "Paige e eu não conseguimos desvendar o caso."

Spelbren se virou para ele.

"Qual foi o problema?" Ele perguntou.

"O que não foi um problema?" Bill respondeu, desnecessariamente defensivo. "Não conseguimos obter uma única pista. Nós não tínhamos testemunhas; a família da vítima não pôde nos dar nenhuma informação útil; Rogers não tinha inimigos, nenhum ex-marido, nenhum namorado irritado. Não havia nenhuma boa razão para ela ser alvejada e morta. O caso esfriou imediatamente."

Bill ficou em silêncio. Pensamentos obscuros inundaram seu cérebro.

"Não," disse Meredith em um tom estranhamente suave. "Não é sua culpa. Você não poderia ter impedido uma nova matança."

Bill agradeceu pela bondade, mas ele se sentia muito culpado. Por que não conseguiu resolver aquilo antes? Por que Riley não conseguiu? Pouquíssimas vezes em sua carreira ele tinha se sentido tão perplexo.

Naquele momento, o telefone de Meredith fez barulho e o chefe atendeu a chamada. Quase a primeira coisa que ele disse foi: "Merda".

Ele repetiu várias vezes. E então falou: "Você tem certeza que é ela?" Ele fez uma pausa. "Houve algum contato para resgate?"

Ele se levantou de sua cadeira e deu um passo para fora da sala de conferência, deixando os outros três homens sentados em um silêncio atordoado. Depois de alguns minutos, ele voltou. Parecia mais velho.

"Senhores, estamos agora em uma crise," ele anunciou. "Acabamos de receber a identificação certa da vítima de ontem. O nome dela era Reba Frye."

Bill engasgou como se tivesse levado um soco no estômago; ele podia ver o choque de Spelbren também. Mas Flores parecia confuso.

"Eu deveria saber quem é?" Perguntou Flores.

"Seu nome de solteira era Newbrough," explicou Meredith. "A filha do senador estadual Mitch Newbrough - provavelmente o próximo governador de Virgínia."

Flores exalou.

"Eu nem tinha ouvido falar que ela havia desaparecido," disse Spelbren.

"Não foi oficialmente relatado," respondeu Meredith. "Seu pai já foi contactado. E é claro que ele pensa que foi por motivos políticos ou pessoais, ou ambos. Não importa que a mesma coisa aconteceu com outra vítima há seis meses."

Meredith balançou a cabeça.

"O senador está lidando mal com isso," acrescentou. "Uma avalanche da imprensa está prestes a começar. Ele vai se certificar de que iremos manter nossos pés no fogo."

O coração de Bill afundou. Ele odiava sentir como se estivessem sobre sua cabeça. Mas era exatamente assim que ele estava se sentindo no momento.

Um silêncio sombrio caiu sobre a sala. Finalmente, Bill limpou sua garganta. "Nós vamos precisar de ajuda," ele disse.

Meredith se virou para ele e Bill encontrou seu olhar endurecido. De repente, o rosto de Meredith se fechou com preocupação e desaprovação. Ele claramente sabia o que Bill estava pensando.

"Ela não está pronta," respondeu Meredith, sabendo claramente que Bill queria que a incluíssem. Bill suspirou.

"Senhor," respondeu ele, "ela conhece o caso melhor que ninguém. E não há ninguém mais esperta." Depois de outra pausa, Bill saiu e disse o que ele estava realmente pensando.

"Eu não acho que podemos fazer isso sem ela."

Meredith bateu um lápis contra um bloco de papel algumas vezes, desejando claramente que ele estivesse em qualquer outro lugar, menos ali.

"É um erro," disse ele. "Mas, se ela perder o controle, é seu erro." Ele exalou novamente. "Chame-a."


Capítulo 3


Parecia que a adolescente que abriu a porta iria batê-la na cara de Bill. Ao invés disso, ela se virou e foi embora sem dizer uma palavra, deixando a porta aberta.

Bill entrou.

"Oi, April," disse ele automaticamente.

A filha de Riley, uma garota mal-humorada e desengonçada de quatorze anos de idade, que tinha cabelos castanhos escuros e os olhos de sua mãe, não respondeu. Vestida apenas com uma camiseta de grandes dimensões e com seu cabelo bagunçado, April virou em um canto e estatelou-se no sofá, alienada a tudo, exceto a seus fones de ouvido e telefone celular.

Bill ficou ali sem jeito, sem saber o que fazer. Quando ele ligara para Riley, ela havia concordado com sua visita, embora com relutância. Será que ela tinha mudado de idéia?

Bill olhava ao seu redor enquanto andava pela casa mal iluminada. Ele atravessou a sala e viu tudo limpo e em seu lugar, o que era característico de Riley. No entanto, ele também notou as cortinas fechadas e uma camada fina de poeira sobre os móveis - e isto não tinha nada a ver com ela. Em uma estante, ele avistou uma fileira de livros thrillers novos em folha, que ele tinha comprado para ela durante a sua licença, na esperança de que assim ela tiraria os problemas de sua mente. Nenhum dos livros parecia ter sido aberto.

A sensação de apreensão de Bill se aprofundou. Aquela não era a Riley que ele conhecia. Meredith estava certo? Será que ela precisava de mais tempo de licença? Ele estava fazendo a coisa errada ao entrar em contato com ela antes de ela estar pronta?

Bill preparou-se e foi adentrando a casa escura e, quando ele virou em um canto, encontrou Riley, sozinha na cozinha, sentada à mesa de fórmica, com seu roupão e chinelos e uma xícara de café a sua frente. Ela olhou para cima e viu um lampejo de constrangimento, como se ela tivesse esquecido que ele viria. Mas ela rapidamente disfarçou com um sorriso fraco e se levantou.

Ele se adiantou e a abraçou e ela retribuiu fracamente o abraço. Usando chinelos, ela estava um pouco mais baixa do que ele. Ela tinha se tornado muito, muito magra, e isso o deixou mais preocupado.

Sentou-se à mesa com ela e a examinou. Seu cabelo estava limpo, mas não estava penteado, e parecia que ela estava usando aqueles chinelos há dias. Seu rosto parecia magro, muito pálido e muito, muito mais velho desde que ele a tinha visto pela última vez, há cinco semanas. Parecia que ela tinha passado pelo inferno. E ela tinha. Ele tentou não pensar sobre o que o último assassino tinha feito com ela.

Ela desviou o olhar, e ambos ficaram ali sentados, com aquele denso silêncio. Bill tinha tanta certeza que ele saberia exatamente o que dizer para animá-la, despertá-la; porém, quando ele se sentou lá, ele sentiu-se consumido pela tristeza dela e ficou sem palavras. Ele queria vê-la com um olhar mais forte, como ela era antes.

Ele rapidamente escondeu o envelope com os arquivos sobre o novo caso de assassinato no chão, do lado da cadeira. Ele não tinha certeza agora se deveria mesmo mostrar a ela. Estava começando a ter certeza de que tinha cometido um erro ao ir ali. Claramente, ela precisava de mais tempo. Na verdade, vendo-a naquele estado, ele, pela primeira vez, ficou incerto sobre se sua parceira de longa data um dia voltaria.

"Café?" Ela perguntou. Ele podia sentir sua inquietação.

Ele balançou a cabeça. Ela estava claramente frágil. Quando ele a visitou no hospital e até mesmo depois que ela voltara para casa, ele ficou preocupado com ela. Ele se perguntou se ela conseguiria deixar para trás a dor e o terror que sofreu, se sairia das profundezas de sua escuridão de longa data. Ela estava tão diferente dela; parecia invencível com todos os outros casos. Algo sobre este último caso, este último assassino, era diferente. Bill conseguia entender: o homem tinha sido o psicopata mais perverso que ele já havia conhecido - e isso significava muito.

Enquanto ele a analisava, algo lhe passou pela cabeça. Ela realmente aparentava a idade que tinha. Ela tinha quarenta anos de idade, a mesma idade que ele, mas, quando trabalhava, quando era animada e estava noiva, sempre pareceu vários anos mais jovem. A cor cinza estava começando a despontar em seu cabelo escuro. Bem, seu próprio cabelo também estava ficando.

Riley gritou para a filha, "April!"

Sem resposta. Riley chamou o nome dela várias vezes, cada vez mais alto, até que ela finalmente respondeu. "O quê?" April respondeu da sala de estar, parecendo completamente irritada.

"Que horas é a sua aula hoje?" "Você sabe."

"Apenas me diga, ok?" "Oito e meia."

Riley franziu a testa e parecia chateada. Ela olhou para Bill.

"Foi reprovada em Inglês. Cabulou aulas demais. Eu estou tentando ajudá-la a sair dessa."

Bill balançou a cabeça, entendendo muito bem. A vida na agência exigia muito de todos eles, e suas famílias eram as mais afetadas.

"Sinto muito," ele disse. Riley deu de ombros.

"Ela tem quatorze anos. E me odeia." "Isso não é bom."

"Eu odiava todo mundo quando eu tinha quatorze anos," ela respondeu. "Você não?" Bill não respondeu. Era difícil imaginar que Riley um dia odiou todo mundo.

"Espere até seus meninos alcançarem esta idade," disse Riley. "Quantos anos eles têm agora? Eu esqueci."

"Oito e dez," respondeu Bill, depois sorriu. "Do jeito que as coisas estão indo com Maggie, nem sei se estarei na vida deles quando tiverem a idade de April."

Riley levantou a cabeça e olhou para ele, preocupada. Ele sentia falta daquele olhar carinhoso. "Está tão ruim assim, hein?" - disse ela.

Ele desviou o olhar, não querendo pensar nisso. Os dois ficaram em silêncio por um momento.

"O que é que você está escondendo no chão?" Ela perguntou.

Bill olhou para baixo, depois voltou a olhar para cima e sorriu; mesmo daquele jeito, ela nunca deixava nada passar despercebido. "Eu não estou escondendo nada," disse Bill, pegando o envelope e colocando-o sobre a mesa. "É só

algo que eu gostaria de falar com você."

Riley sorriu abertamente. Era óbvio que ela sabia muito bem o que ele estava realmente fazendo

ali.

"Mostre-me," disse ela e depois acrescentou, olhando nervosamente para April, "Vamos lá pra trás. Eu não quero que ela veja."

Riley tirou os chinelos e entrou no quintal com os pés descalços à frente de Bill. Eles se sentaram em uma mesa de piquenique de madeira que estava lá bem antes de Riley ter se mudado, Bill olhou ao redor do pequeno quintal para a única árvore. Havia florestas por todos os lados. Isso o fazia esquecer que ele estava perto de uma cidade.

Isolado demais, ele pensou.

Ele nunca sentiu que aquele lugar era bom para Riley. A casa pequena estilo de fazenda ficava quinze milhas fora da cidade, estava degradada e sem graça. Ficava perto de uma estrada secundária, com nada além de florestas e pastagens à vista. Não que ele achasse que a vida suburbana servisse para ela. Ele tinha dificuldade em imaginá-la fazendo um circuito de coquetéis e festas. Ela ainda podia, pelo menos, dirigir em Fredericksburg e pegar a Amtrak para Quantico quando ela voltava do trabalho. Quando ela ainda podia trabalhar.

"Mostre-me o que você tem," disse ela.

Ele abriu os relatórios e fotografias sobre a mesa.

"Lembra-se do caso Daggett?" Ele perguntou. "Você estava certa. O assassino não tinha acabado." Ele viu seus olhos se arregalarem quando ela se debruçou sobre as imagens. Um longo silêncio caiu enquanto ela estudava os

arquivos intensamente, ele se perguntou se era isso que ela precisava para voltar - ou se isso iria mantê-la afastada.

"Então, o que você acha?" Ele finalmente perguntou.

Outro silêncio. Ela ainda não tirara os olhos do arquivo.

Finalmente, ela olhou para cima e, logo em seguida, ele ficou chocado ao ver lágrimas nos seus olhos. Ele nunca a tinha visto chorar antes, nem mesmo nos piores casos, diante de um cadáver. Aquela não era a Riley que ele conhecia. Aquele assassino havia feito alguma coisa a ela, mais do que ele sabia.

Ela sufocou um soluço.

"Estou com medo, Bill," disse ela. "Tenho tanto medo. O tempo todo. De tudo."

Bill sentiu seu coração apertar ao vê-la assim. Ele se perguntou para onde a antiga Riley tinha ido, a única pessoa que ele sempre podia contar, que era mais durona do que ele, a fortaleza que ele poderia sempre recorrer em tempos de angústia. Ele sentia falta dela mais do que ele seria capaz de dizer.

"Ele está morto, Riley," ele falou, no tom mais confiante que conseguiu fazer. "Ele não pode te machucar mais."

Ela balançou a cabeça. "Você não sabe disso."

"Claro que sei," respondeu ele. "Eles encontraram o seu corpo após a explosão." "Não conseguiram identificá-lo," disse ela.

"Você sabe que era ele."

O rosto dela caiu para a frente e ela cobriu-o com uma mão enquanto chorava. Ele segurou sua outra mão sobre a mesa.

"Este é um novo caso," ele falou. "Não tem nada a ver com o que aconteceu com você." Ela balançou a cabeça.

"Não importa."

Lentamente, enquanto chorava, ela estendeu a mão e entregou-lhe o arquivo, desviando o olhar.

"Sinto muito," disse ela, olhando para baixo, segurando com a mão trêmula. "Acho que você deve ir," acrescentou.

Bill, chocado, entristecido, estendeu a mão e pegou a pasta de volta. Nunca em um milhão de anos ele teria esperado este resultado.

Bill ficou ali sentado por um momento, lutando contra suas próprias lágrimas. Finalmente, ele gentilmente afagou-lhe a mão, levantou-se da mesa e fez o seu caminho de volta pela casa. April ainda estava sentada na sala de estar, de olhos fechados, balançando a cabeça com sua música.


*


Riley permaneceu sentada, chorando sozinha na mesa de piquenique após Bill ir embora.

Eu pensei que estava bem, ela pensou.

Ela realmente queria ficar bem, por Bill. E ela pensou que poderia realmente aguentar. Ficar sentada na cozinha, falando sobre trivialidades tinha sido fácil. Em seguida, eles tinham ido para fora e, quando ela tinha visto o arquivo, ela pensou que continuaria bem, também. Melhor do que bem até. Ela estava acreditando nisso. Seu antigo desejo pelo trabalho foi reacendido, ela queria voltar a campo. Ela estava compartimentalizando, é claro, pensando naqueles assassinatos quase idênticos como se fossem um quebra-cabeça para resolver, quase em abstrato, um jogo intelectual. O que também foi bom. Sua terapeuta tinha lhe dito que ela teria que fazer isso se ela tivesse expectativas de voltar a trabalhar.

Mas, então, por algum motivo, o quebra-cabeça intelectual se tornou o que ele realmente e verdadeiramente era - uma tragédia humana monstruosa em que duas mulheres inocentes morreram perante dor e terror imensuráveis. E ela se perguntou de repente: Foi tão ruim para elas como fora para mim?

Seu corpo foi então inundado por pânico e medo. E constrangimento, vergonha. Bill era seu parceiro e seu melhor amigo. Devia-lhe muito. Ele ficara com ela durante as últimas semanas, quando ninguém mais o fizera. Ela não teria aguentado seus dias no hospital sem ele. A última coisa que ela queria era que ele a visse reduzida a um estado de desamparo.

Ela ouviu April gritar atrás da porta de tela. "Mãe, nós temos que comer agora ou vou me atrasar."

Ela sentiu vontade de gritar de volta, "Prepare o seu próprio café da manhã!"

Mas ela não o fez. Ela estava há muito tempo exausta de suas batalhas com April. Ela desistiu de lutar.

Então levantou-se da mesa e caminhou de volta para a cozinha. Puxou uma toalha de papel fora do rolo e o utilizou para limpar as lágrimas e assoar o nariz, em seguida, preparou-se para cozinhar. Tentou recordar as palavras de seu terapeuta: Mesmo tarefas de rotina vão requerer muito esforço consciente, pelo menos por um tempo. Ela tinha que se contentar em fazer as coisas com um passo de bebê de cada vez.

Primeiro ela tirou as coisas fora da geladeira - a caixa de ovos, o pacote de bacon, o prato com manteiga, o pote de geleia, porque April gostava de geleia mesmo que ela não gostasse. E então ela colocou seis tiras de bacon em uma panela sobre o fogão e ligou o fogo a gás debaixo da panela.

Ela cambaleou para trás com a visão da chama amarelo-azul. Fechou os olhos e tudo lhe veio à tona.

Riley estava em forro apertadp, debaixo de uma casa, em uma pequena jaula improvisada. A tocha de propano era a única luz que ela podia enxergar. O resto do tempo era uma escuridão completa. O piso do forro era de terra. O assoalho acima dela era tão baixo que ela mal conseguia agachar.

A escuridão era completa, mesmo quando ele abriu uma pequena porta e entrava no foro, junto com ela. Ela não podia vê-lo, mas podia ouvir sua respiração e seus grunhidos. Ele destrancava a jaula e a abria e então entrava.

E só então ele acendia a tocha. Ela podia ver seu rosto cruel e feio sob a luz. Ele a insultava com um prato de comida miserável. Se tentasse pegá-lo, ele empurrava a chama para ela. Ela não podia comer sem se queimar...

Ela abriu os olhos. As imagens eram menos vivas com os olhos abertos, mas ela não conseguia afastar a corrente de memórias. Continuou preparando o café da manhã, todo o seu corpo se agitando com a adrenalina. Ela estava arrumando a mesa quando a voz de sua filha gritou novamente.

"Mãe, quanto tempo vai demorar?"

Ela deu um salto, o prato escorregou de sua mão, caiu no chão e quebrou. "O que aconteceu?" April gritou, aparecendo ao lado dela.

"Nada," disse Riley.

Ela limpou a sujeira e, enquanto ela e April sentavam para comer juntas, a hostilidade silenciosa era quase palpável, como de costume. Riley queria acabar com esse clima, se aproximar de April e dizer, April, sou eu, sua mãe, eu te amo. Mas ela já tinha tentado tantas vezes e isso só piorava. Sua filha a odiava, e ela não conseguia entender o motivo, nem como acabar com isso.

"O que você vai fazer hoje?" ela perguntou a April. "O que você acha?" April retrucou. "Vou para a aula."

"Quero dizer depois disso," disse Riley, mantendo a voz calma, compassiva. "Eu sou sua mãe. Gostaria de saber. É normal."

"Nada na nossa vida é normal." Elas comeram em silêncio por alguns momentos. "Você nunca me conta nada," disse Riley. "Nem você."

Isso acabou com qualquer esperança de ter uma conversa de uma vez por todas.

Isso é justo, Riley pensou amargamente. Era mais verdadeiro do que April imaginava. Riley nunca lhe contava coisas sobre seu trabalho, seus casos; ela nunca tinha contado sobre seu cativeiro, nem sobre seu tempo no hospital, ou por que ela estava "de férias" agora. Tudo o que April sabia era que ela teve que viver com seu pai durante grande parte desse tempo e ela o odiava ainda mais do que odiava Riley. Mas, por mais que ela quisesse conversar, Riley achava melhor que April não tivesse nem ideia sobre o que sua mãe havia passado.

Riley se arrumou e levou April para a escola, elas não trocaram nenhuma palavra durante o caminho. Quando April saiu do carro, ela gritou para ela: "Vejo você às dez."

April lhe deu um tchau descuidado, enquanto se afastava.

Riley dirigiu até um café nas proximidades. Tinha se tornado uma rotina para ela. Era difícil para ela passar algum tempo em um lugar público, e ela sabia que era exatamente por isso que ela precisava fazê-lo. O café era pequeno e nunca estava cheio, mesmo no período da manhã como aquele e, por isso ela o achou relativamente inofensivo.

Enquanto estava sentada ali, bebendo um cappuccino, lembrou-se novamente do pedido de Bill. Fazia seis semanas, caramba. Aquilo precisava mudar. Ela precisava mudar. Ela não sabia como iria fazer isso.

Mas uma ideia estava se formando. Riley sabia exatamente o que precisava fazer primeiro.


Capítulo 4


A chama branca da tocha de propano tremulou à frente de Riley. Ela teve de se esquivar para trás para escapar de uma queimadura. O brilho a deixou cega e ela não podia sequer ver o rosto de seu sequestrador. À medida que a tocha era movimentada, ela parecia deixar vestígios remanescentes pendurados no ar.

"Pare!" ela gritou. "Pare!"

Sua voz estava crua e rouca de tanto gritar. Ela se perguntou por que estava perdendo o fôlego. Ela sabia que ele não iria parar de atormentá-la até que estivesse morta.

Foi então que ele levantou uma buzina de ar e a apertou em seu ouvido.

Uma buzina de carro soou. Riley voltou ao presente e olhou para fora, a luz do cruzamento tinha acabado de ficar verde. Uma linha de motoristas esperava atrás do veículo dela, então ela pisou no acelerador.

Riley, com as palmas das mãos suando, forçou-se a se livrar daquela memória e lembrou-se de onde estava. Ela estava indo visitar Marie Sayles, a única outra sobrevivente do sadismo indizível de seu quase-assassino. Ela repreendeu-se por deixar o flashback dominá-la. Ela tinha conseguido manter sua mente na direção por uma hora e meia e pensou que estava indo bem.

Riley dirigiu em Georgetown, passou por casas de luxo vitorianas e estacionou no endereço que Marie lhe fornecera por telefone - uma casa de tijolos vermelhos com belas janelas. Ela se sentou no carro por um momento, em dúvida se deveria entrar, tentando criar coragem.

Por fim, ela saiu. Enquanto subia os degraus, ela ficou satisfeita ao ver que encontraria Marie na porta. Sombriamente, mas elegantemente vestida, Marie sorriu, um pouco abatida. Seu rosto parecia cansado e marcado. Pelos círculos sob seus olhos, Riley tinha certeza que ela andava chorando. Isso não era nenhuma surpresa. Ela e Marie tinham se visto muito durante as semanas de conversas por vídeo, havia pouco que pudessem esconder uma da outra.

Quando se abraçaram, Riley imediatamente reparou que Marie não era tão alta e robusta como ela esperava que fosse. Mesmo de salto, Marie era mais baixa que Riley, sua estrutura era pequena e delicada. Isso deixou Riley surpresa. Ela e Marie tinha conversado, mas esta era a primeira vez que se encontraram pessoalmente. A fragilidade de Marie a fazia parecer ainda mais corajosa por ter sobrevivido àquela situação.

Riley analisou seus arredores enquanto ela e Marie caminharam para a sala de jantar. O lugar estava impecavelmente limpo e decorado com bom gosto. Em outra ocasião, seria uma casa alegre para uma mulher bem-sucedida e solteira. Mas Marie mantinha todas as cortinas fechadas e as luzes baixas. A atmosfera era estranhamente opressiva. Riley não queria admitir, mas o lugar a fez pensar em sua própria casa.

Marie serviu um almoço leve sobre a mesa da sala de jantar e ela e Riley sentaram-se para comer. Ficaram ali em um silêncio constrangedor, Riley estava suando, mas não tinha certeza do motivo. Ver Marie trazia tudo de volta.

"Assim... Como é que foi?" Marie perguntou timidamente. "Sair para o mundo?" Riley sorriu. Marie sabia melhor do que ninguém como dirigir naquele dia foi custoso.

"Muito bom," disse Riley. "Na realidade, muito bem. Eu só tive um momento ruim, na realidade." Marie assentiu, entendendo claramente.

"Bem, você conseguiu," disse Marie. "E isso foi corajoso."

Coragem , Riley pensou. Não era assim que ela teria se descrito. Uma vez, talvez, quando ela era uma agente ativa. Será que ela nunca mais se descreveria dessa forma?

"E quanto a você?" Riley perguntou. "Quantas vezes você sai?" Marie ficou em silêncio.

"Você nem sai de casa, não é?" Riley perguntou. Marie balançou a cabeça.

Riley estendeu a mão e segurou-lhe o pulso em um aperto de compaixão.

"Marie, você tem que tentar," ela insistiu. "Se você se deixa ficar presa aqui dentro assim, é como se ele ainda estivesse mantendo-a como prisioneira."

Um soluço sufocado forçou seu caminho para fora da garganta de Marie. "Sinto muito," disse Riley.

"Está tudo bem. Você tem razão."

Riley observou Marie enquanto as duas comiam e um longo silêncio seguiu. Ela queria pensar que Marie estava indo bem, mas ela tinha que admitir que ela lhe parecia assustadoramente frágil. Isto a fez ter medo de si mesma, também. Será que ela também parece tão ruim assim?

Riley perguntou silenciosamente se era bom Marie viver sozinha. Ela poderia ser melhor com um marido ou namorado? perguntou-se. Em seguida, ela perguntou a mesma coisa sobre si mesma. No entanto, ela sabia que a resposta para as duas questões provavelmente seria não. Nenhuma delas tinha um bom quadro emocional e mental para um relacionamento saudável. Seria apenas um apoio.

"Eu já te agradeci?" Marie perguntou depois de um tempo, quebrando o silêncio.

Riley sorriu. Ela sabia perfeitamente que Marie estava falando sobre ela tê-la salvado. "Muitas vezes," disse Riley. "E você não precisa. Sério."

Marie cutucou sua comida com um garfo. "Eu já pedi desculpas?"

Riley ficou surpresa. "Desculpas? Por o quê?" Marie falou com dificuldade.

"Se você não tivesse me tirado de lá, você não teria ficado presa." Riley apertou a mão de Marie gentilmente.

"Marie, eu estava apenas fazendo meu trabalho. Você não pode se sentir responsável por algo que não foi culpa sua. Você já tem muitas coisas para lidar."

Marie assentiu com a cabeça, reconhecendo.

"Apenas sair da cama todos os dias é um desafio," ela admitiu. "Acho que você percebeu o quão escuro eu mantenho tudo. Qualquer luz brilhante me lembra aquela tocha dele. Eu não posso nem ver televisão ou ouvir música. Estou com medo de que alguém possa entrar em casa e eu não vou ouvi-lo. Qualquer barulho me deixa em pânico."

Marie começou a chorar baixinho.

Eu nunca mais vou olhar para o mundo da mesma forma. Nunca. Existe mal lá fora, à nossa volta. - Não fazia ideia. As pessoas são capazes de tantas coisas horríveis. Eu não sei como eu vou confiar nas pessoas novamente."

Enquanto Marie chorava, Riley queria tranquilizá-la, dizer-lhe que ela estava errada. Mas uma parte de Riley não tinha tanta certeza disso.

Finalmente, Marie olhou para ela.

"Por que você veio aqui hoje?" ela perguntou, à queima-roupa.

Riley foi pega de surpresa pela franqueza de Marie e pelo fato de que ela também não sabia.

"Eu não sei," disse ela. "Só queria visitá-la. Ver como você está." "Há algo mais," disse Marie, estreitando os olhos com uma estranha percepção.

Talvez ela estivesse certa, Riley pensou. Riley pensou sobre a visita de Bill e percebeu que ela tinha, de fato, ido ali por causa do novo caso. O que é que ela queria de Marie? Conselho? Permissão? Encorajamento? Reafirmação? Uma parte dela queria que Marie lhe dissesse que ela estava louca, para que ela pudesse dormir tranquila e esquecer de Bill. Mas talvez outra parte queria que Marie lhe pedisse para falar do assunto.

Por fim, Riley suspirou.

"Há um novo caso," disse ela. "Bem, não um novo caso. Mas um caso antigo que nunca foi solucionado."

A expressão de Marie se tornou tensa e rígida. Riley engoliu em seco.

"E você veio me perguntar se você deve investigá-lo?" Perguntou Marie.

Riley deu de ombros. Mas ela também olhou para cima e procurou os olhos de Marie bucando confiança, encorajamento. E, nesse momento, ela percebeu porque exatamente ela tinha ido ali, o que ela tinha esperança em encontrar.

Mas, para sua decepção, Marie baixou os olhos e balançou a cabeça lentamente. Riley continuou esperando por uma resposta, mas, em vez disso, seguiu-se um silêncio interminável. Riley sentiu que algum medo especial estava se desenvolvendo dentro de Marie.

Em silêncio, Riley olhou ao redor do apartamento, seus olhos caíram sobre o telefone fixo dela. Ela ficou surpresa ao ver que estava desconectado da parede.

"Qual é o problema com o seu telefone?" Riley perguntou.

Marie parecia positivamente chocada e Riley percebeu que tinha cutucado um verdadeiro problema. "Ele fica me ligando," disse Marie, em um sussurro quase inaudível. "Quem?"

"Peterson".

O coração de Riley pulou em sua garganta.

"Peterson está morto," Riley respondeu, com a voz trêmula. "Eu incendiei o local. Encontraram o corpo dele."

Marie balançou a cabeça.

"Pode ter sido o corpo de qualquer um que encontraram. Não era ele."

Riley sentiu uma onda de pânico. Seus piores temores estavam vindo à tona. "Todo mundo disse que era," falou Riley.

"E você realmente acredita nisso?"

Riley não sabia o que dizer. Agora não era o momento de contar sobre seus próprios medos. Afinal, Marie provavelmente estava delirando. Mas como Riley poderia convencê-la de algo que ela mesma não acredita totalmente?

"Ele continua me ligando," disse Marie novamente. "Ele liga, respira e desliga. Sei que é ele. Ele está vivo. Ele ainda está me perseguindo."

Riley sentiu um pavor frio e aterrorizante.

"Provavelmente é só um alguém ligando à toa," disse ela, fingindo estar calma. "Mas eu posso ir até o Escritório para verificar isso de qualquer maneira. Eu posso pedir que enviem um carro de vigilância, se você está com medo. Eles vão rastrear as chamadas."

"Não!" Marie disse rispidamente. "Não!" Riley a olhou de volta, intrigada. "Por que não?" Ela perguntou.

"Eu não quero deixá-lo com raiva," Marie respondeu com um gemido patético.

Riley, oprimida, sentindo um ataque de pânico chegando, de repente, percebeu que tinha sido uma péssima idéia aquela visita. Só serviu para sentir-se pior. Ela sabia que não poderia ficar naquela sala de jantar sufocante nem mais um momento.

"Eu tenho que ir," disse Riley, desconversando. "Sinto muito. Minha filha está esperando."

Marie, de repente, agarrou o pulso de Riley com uma força surpreendente, cravando as unhas em sua pele.

Ela olhou para trás, seus olhos azuis gelados transmitiam tamanha intensidade que assustaram Riley. Aquele olhar assombrador atingiu a sua alma.

"Pegue o caso," Marie insistiu.

Riley podia ver nos olhos de Marie que ela estava confundindo o novo caso com o de Peterson, misturando-os em um só.

"Encontre esse filho da puta," ela acrescentou. "E mate-o por mim."


Capítulo 5


O homem manteve uma distância curta, porém discreta da mulher, olhando para ela apenas fugazmente. Ele colocou alguns itens em sua cesta para que ele parecesse apenas mais um cliente. Ele se parabenizou por conseguir fazer-se tão discreto. Ninguém poderia adivinhar seu verdadeiro poder.

Mas, novamente, ele nunca foi o tipo de homem que atraía muita atenção. Quando criança, ele era praticamente invisível. Agora, muito tempo depois, ele foi capaz de transformar sua própria inocuidade em sua vantagem.

Apenas alguns momentos atrás, ele tinha ficado ao lado dela, pouco mais de dois pés de distância. Absorto na escolha de seu xampu, ela não tinha sequer notado.

Ele sabia muito sobre ela, no entanto. Sabia que o nome dela era Cindy; que seu marido era dono de uma galeria de arte; que ela trabalhava em uma clínica médica pública. Hoje era um de seus dias de folga. Agora ela estava em seu telefone celular falando com alguém - sua irmã, parecia. Ela estava rindo de algo que a pessoa estava lhe contando. Ele se exaltou de raiva, perguntando-se se estavam rindo dele, assim como todas as meninas costumavam fazer. Sua fúria aumentou.

Cindy usava shorts, uma camiseta regata e tênis de corrida que pareciam caros. Ele observou-a correndo enquanto estava em seu carro e esperou até que ela terminasse seus exercícios e entrasse na mercearia. Ele conhecia sua rotina em um dia de folga como aquele. Ela levaria as compras para casa e os guardaria, tomaria um banho e, em seguida, pegaria o carro para encontrar seu marido para o almoço.

Tinha boa aparência devido aos montes de exercícios físicos. Ela não tinha mais de trinta anos de idade, mas a pele de suas coxas não era tão firme assim. Ela provavelmente tinha perdido muito peso em um momento ou outro, talvez recentemente. Sem dúvida, sentia orgulho disso.

De repente, a mulher se dirigiu para a caixa registadora mais próxima. O homem foi pego de surpresa. Ela tinha acabado de fazer as compras mais cedo do que o habitual. Ele correu para entrar na fila atrás dela, quase empurrando outro cliente de lado para conseguir. Ele silenciosamente se repreendeu por isso.

Enquanto o caixa passava os itens da mulher, ele se aproximou e ficou bem perto dela - perto o suficiente para sentir seu corpo, agora suado e pungente depois de sua corrida vigorosa. Era um cheiro que ele esperava que fosse se tornar muito, muito mais familiar em breve. Mas o cheiro seria, então, misturado com outro odor - um que o fascinava por causa de sua estranheza e mistério.

O cheiro da dor e do terror.

Por um momento, o lurker senti eufórico, mesmo agradavelmente tonto, com grande expectativa.

Depois de pagar pelas compras, ela empurrou o carrinho para fora das portas de vidro automáticas e saiu para o estacionamento.

Ele não sentia nenhuma pressa em pagar para as suas mercadorias. Ele não precisa segui-la até sua casa. Ele já estivera lá - estivera até dentro de sua casa. Tinha até tocado em suas roupas. Ele iria retomar sua vigília novamente quando ela saísse do trabalho.

Não vai demorar muito agora, ele pensou. Nem um pouco.


*


Depois que Cindy MacKinnon entrou no carro, ela ficou ali sentada por um momento, sentindo-se abalada e sem saber o porquê. Lembrou-se da estranha sensação que ela tinha acabado de ter no supermercado. Era uma estranha e irracional sensação de estar sendo observada. Mas era mais do que isso. Levou alguns momentos para ela entender.

Por fim, ela percebeu que era a sensação de que alguém tinha a intenção de machucá-la.

Ela estremeceu profundamente. Durante os últimos dias, esse sentimento ia e voltava. Ela se repreendeu, certa de que era algo completamente infundado.

Ela balançou a cabeça, livrando-se de quaisquer vestígios desta sensação. Depois de dar a partida no carro, ela se forçou a pensar em outra coisa e sorriu com a conversa por celular que ela teve com sua irmã, Becky. Mais tarde, Cindy iria ajudá-la a fazer uma grande festa de aniversário de três anos para sua filha, seria completa, com bolo e balões.

Seria um belo dia, ela pensou.


Capítulo 6


Riley estava sentada no SUV ao lado de Bill enquanto ele mudava de marcha, empurrando o veículo de quatro rodas mais adentro nas colinas, e ela enxugou as palmas das mãos em suas calças Ela não sabia o que fazer com o suor, não sabia o que deveria fazer ali. Depois de seis semanas fora do trabalho, ela não estava familiarizada com o que seu corpo estava lhe dizendo. Estar de volta parecia surreal.

Riley estava perturbada pela estranha tensão. Ela e Bill mal tinha falado durante aquele trajeto de mais de uma hora de carro. A antiga camaradagem, a jovialidade, a estranha afinidade entre eles - nada disso estava presente. Riley tinha certeza que ela sabia por que Bill estava tão distante. Ele não estava sendo rude - estava preocupado. Ele também parecia ter dúvidas sobre se ela deveria estar de volta ao trabalho.

Eles dirigiram em direção ao Parque Estadual Mosby, o lugar onde Bill lhe contara que a vítima mais recente de assassinato fora vista. No caminho, Riley absorveu a geografia ao seu redor e, lentamente, seu antigo senso de profissionalismo entrou em ação. Ela sabia que tinha que se libertar.

Encontrar aquele filho da puta e matá-lo por mim.

As palavras de Marie a assombraram, a impulsionaram, fizeram sua escolha ser simples.

Mas nada parecia tão simples agora. Por um lado, ela não podia deixar de se preocupar com April. Mandá-la para a casa do pai dela não era o ideal para nenhuma das pessoas envolvidas. Mas hoje era sábado e Riley não queria esperar até segunda-feira para ver a cena do crime.

O silêncio profundo começou a pesar em sua ansiedade e ela sentiu desesperadamente a necessidade de falar. Forçou seu cérebro para achar alguma coisa para falar e, por fim, disse:

"Então, você vai me contar o que está acontecendo entre você e Maggie?"

Bill se virou para ela, com um olhar de surpresa no rosto, ela não sabia se era por ela ter quebrado o silêncio ou pela pergunta ter sido tão direta. Qualquer que fosse o motivo, ela imediatamente se arrependeu. Sua franqueza, muitas pessoas lhe diziam, podia ser desmotivador. Ela não queria ser grossa, ela só não tinha tempo a perder.

Bill exalou.

"Ela acha que eu estou tendo um caso." Riley sentiu um choque de surpresa. "O quê?"

"Com o meu trabalho," Bill disse, rindo um pouco amargamente. "Ela acha que eu estou tendo um caso com o meu trabalho. Ela acha que eu amo tudo isso mais do que eu a amo. Sempre falo que ela está sendo boba. De qualquer forma, eu não posso exatamente terminar com isso - não com o meu trabalho, pelo menos."

Riley balançou a cabeça.

"Parece com o Ryan. Ele costumava ficar com muito ciúmes quando ainda estávamos juntos." Ela parou antes de acabar contando toda verdade para Bill. Seu ex-marido não tinha ciúmes do trabalho do Riley. Ele tinha ciúmes de Bill. Ela muitas vezes se perguntava se Ryan tinha um pouco de razão. Apesar do constrangimento de hoje, ela sentia-se incrivelmente bem só de estar perto de Bill. Será que esse sentimento era exclusivamente profissional?

"Espero que esta viagem não seja uma perda de tempo," disse Bill. "A cena do crime já foi limpa, você sabe."

"Eu sei. Só quero ver o lugar com meus próprios olhos. Fotos e relatórios não são o suficiente para mim." Riley estava começando a se sentir um pouco tonta agora. Ela tinha certeza que era por causa da altitude, estavam indo mais e mais para cima. A ansiedade também tinha algo a ver com isso. As palmas de suas mãos ainda estavam

transpirando.

"Está muito longe?" Ela perguntou, observando a floresta ficar mais densa e o terreno mais remoto.

"Não está longe."

Alguns minutos depois, Bill saiu da estrada pavimentada e passou por cima de uma trilha de marcas de pneus. O veículo foi chacoalhando pelo caminho e então parou depois de adentrarem um quarto de milha na densa floresta.

Ele desligou o motor e em seguida virou-se para Riley e olhou para ela com preocupação. "Tem certeza que você quer fazer isso?" Ele perguntou.

Ela sabia exatamente o que o preocupava. Ele estava com medo que ela relembrasse seu cativeiro traumático. Não importava que aquele fosse um caso completamente diferente, um assassino diferente.

Ela assentiu com a cabeça.

"Tenho certeza," disse ela, não totalmente convencida de que ela estava falando a verdade.

Ela saiu do carro e seguiu Bill para fora da estrada, por um caminho estreito e cheio de arbustos pela floresta. Ela ouviu o murmúrio de um riacho próximo. À medida que a vegetação ficava mais espessa, ela teve que forçar seu caminho empurrando os galhos baixos das árvores e pequenos carrapichos começaram a grudar em suas calças. Ela estava irritada com o pensamento de ter que retirá-las.

Por fim, ela e Bill alcançaram a margem do riacho. Riley foi imediatamente pega de surpresa pelo local ser tão encantador. A luz do sol da tarde derramou-se através das folhas, manchando as ondas de água com luzes caleidoscópicas. O murmúrio constante do riacho era tranquilizante. Era estranho pensar naquele lugar como uma terrível cena de crime.

"Ela foi encontrada aqui," disse Bill, levando-a para uma rocha longa e larga.

Assim que chegaram lá, Riley levantou-se, olhou à sua volta e respirou fundo. Sim, ela tinha razão em ir até ali. Ela estava começando a sentir isso.

"As fotos?" Riley perguntou.

Ela se agachou ao lado de Bill, sobre a pedra, e eles começaram a folhear uma pasta cheia de fotografias tiradas logo após o corpo de Reba Frye ter sido encontrado. Outra pasta estava recheada com relatórios e fotos do assassinato que ela e Bill tinham investigado há seis meses - o que eles não conseguiram resolver.

Essas fotos trouxeram de volta memórias vívidas do primeiro assassinato. Transportaram-na de volta àquela fazenda perto de Daggett. Ela se lembrava de como Rogers tinha sido exposto de uma forma semelhante contra uma árvore.

"Parece muito com nosso caso anterior," Riley observou. "Ambas as mulheres na casa dos trinta, ambas com crianças pequenas. Essa parece ser parte de seu Modus Operandi. Ele tem rancor de mães. Precisamos verificar a parentalidade, descobrir se havia alguma ligação entre as duas mulheres, ou entre os seus filhos."

"Vou arranjar alguém para fazer isso," disse Bill. Ele estava tomando notas agora.

Riley continuou analisando através dos relatórios e fotos, comparando-os com o cenário atual. "O mesmo método de estrangulamento, com uma fita cor de rosa," observou ela. "Outra peruca, e o

mesmo tipo de rosa artificial em frente ao corpo." Riley segurou duas fotografias lado a lado.

"Olhos costurados abertos, também," disse ela. "Se bem me lembro, os técnicos descobriram que os olhos de Rogers tinham sido costurados postmortem. Foi o mesmo com Frye?"

"Sim. Acho que ele queria que o enxergassem, mesmo depois de mortas."

Riley sentiu um formigamento repentino subindo pela sua espinha. Ela tinha quase se esquecido deste sentimento. Ela o sentia sempre que algo sobre um caso estava prestes a fazer sentido. Não sabia se devia se sentir encorajada ou aterrorizada.

"Não," ela falou. "Não é isso. Ele não se importava se as mulheres o vissem." "Então por que ele fez isso?"

Riley não respondeu. Ideias estavam começando a surgir em seu cérebro. Ela estava exultante. Mas ela ainda não estava pronta para colocar aquilo em palavras - nem mesmo para si mesma.

Ela colocou algumas fotografias sobre a pedra, apontando detalhes para Bill. "Elas não são exatamente iguais," disse ela. "O corpo não foi deixado tão cuidadosamente lá em

Daggett. Ele tentou mover aquele cadáver quando ele já estava rígido. Meu palpite é que, desta vez, ele trouxe este aqui antes do rigor mortis. Caso contrário, ele não poderia deixá-la numa pose tão ..."

Ela suprimiu o desejo de terminar a frase com "bem". Então ela percebeu que era exatamente o tipo de palavra que ela teria usado quando ela estava no trabalho antes de sua captura e tortura. Sim, ela estava retomando o espírito das coisas, ela sentiu a mesma velha obsessão sombria crescendo dentro dela. Logo não haveria mais como voltar atrás.

Mas isso era uma coisa boa ou ruim?

"O que há com os olhos de Frye?" Ela perguntou, apontando para uma foto. "Este azul não parece natural." "Lentes de contato," Bill respondeu.

O formigamento na espinha de Riley ficou mais forte. O corpo de Eileen Rogers não tinha lentes de contato. Era uma diferença importante.

"E o brilho em sua pele?" Ela perguntou. "Vaselina," respondeu Bill.

Outra diferença importante. Ela sentiu suas ideias encaixando com uma velocidade de tirar o fôlego. "O que a equipe forense descobriu sobre a peruca?" Ela perguntou a Bill.

"Nada ainda, exceto que ela foi feita com outros pedaços de perucas baratas."

A excitação de Riley aumentou. Na última morte, o assassino tinha usado uma peruca simples, inteira, não algo remendado. Como a rosa, era tão barata que a equipe forense não conseguiu rastreá-la. Riley sentiu as peças do quebra-cabeça se unindo - não o quebra-cabeça inteiro, mas uma grande parte dele.

"O que a equipe forense pretende fazer com esta peruca?" Ela perguntou.

"O mesmo que da última vez - executar uma pesquisa de suas fibras e tentar rastrear em lojas de peruca."

Assustada com a certeza feroz em sua própria voz, Riley disse: "Eles estão gastando tempo à toa." Bill olhou para ela, claramente pego de surpresa.

"Por quê?"

Ela sentiu uma familiar impaciência com Bill, a que ela sentia sempre que se via pensando um ou dois passos à frente dele.

"Olhe para a foto que ele está tentando nos mostrar. Lentes de contatos azuis para fazer os olhos parecerem que não são reais. Pálpebras costuradas para que os olhos permaneçam abertos. O corpo apoiado, as pernas abertas assustadoramente para fora. Vaselina para fazer a pele parecer com plástico. Uma peruca formada por peças de pequenas perucas - não perucas humanas, perucas deboneca. Ele queria que as duas vítimas a se parecessem bonecas- como bonecas nuas em exibição."

"Jesus," disse Bill, anotando. "Por que não vimos da última vez, lá em Daggett?"

A resposta parecia tão óbvia para Riley que ela sufocou um gemido impaciente.

"Ele ainda não era bom o suficiente nisso," disse ela. "Ele ainda estava tentando descobrir como enviar a mensagem. Ele está aprendendo aos poucos."

Bill levantou os olhos do bloco de notas e sacudiu a cabeça com admiração. "Caramba, eu senti sua falta."

Por mais que o elogio agradasse, Riley sabia que uma percepção ainda maior estava a caminho. E ela sabia que, após anos de experiência, não havia como se forçar. Ela simplesmente tinha que relaxar e deixar os pensamentos virem espontaneamente. Ela agachou-se sobre a pedra, silenciosamente, esperando. Enquanto esperava, ela pegou preguiçosamente os carrapichos de suas calças.

Mas que incômodo danado, pensou.

De repente, seus olhos caíram sobre a superfície da pedra sob seus pés. Outros pequenos carrapichos, alguns deles inteiros, outros quebrados em fragmentos, estavam em meio aos que ela estava arrancando agora.

"Bill," ela disse, com a voz trêmula de emoção, "estas sementinhas estavam aqui quando você encontrou o corpo?"

Bill deu de ombros. "Eu não sei."

Suas mãos tremiam e suavam mais do que nunca, ela pegou um monte de fotos e as vasculhou até que encontrou uma com a vista frontal do cadáver. Lá, entre suas pernas abertas, bem em torno da rosa, havia um grupo de pequenas manchas. Eram os carrapichos - os mesmo que ela tinha acabado de encontrar. Mas ninguém tinha pensado que eles seriam importantes. Ninguém se preocupou em conseguir uma imagem mais nítida, mais próxima deles. E ninguém tinha sequer se preocupado em varrê-los quando a cena do crime foi limpa.

Riley fechou os olhos, fazendo sua imaginação funcionar plenamente. Ela se sentiu tonta, até atordoada. Era uma sensação que ela conhecia muito bem, a sensação de cair em um abismo, em um terrível vazio negro, na mente cruel do assassino. Ela estava em seu lugar, em sua vida. Era um lugar perigoso e aterrorizante. Mas era onde ela pertencia, pelo menos no momento. Ela se submeteu à sensação.

Ela sentiu a confiança do assassino quando ele arrastou o corpo pelo caminho até o riacho, absolutamente certo de que não seria pego, sem pressa alguma. Ele poderia muito bem estar cantarolando ou assobiando. Ela sentiu sua paciência, sua arte e habilidade quando ele posicionou o cadáver na rocha.

E ela podia ver aquela cena horrível através de seus olhos. Ela sentiu satisfação com um trabalho bem feito - o mesmo sentimento confortável de realização que ela sentia ao resolver um caso. Ele se abaixou sobre a pedra, pausando por um momento - ou o tempo que quisesse - para admirar sua obra.

Ao fazê-lo, ele tirou os carrapichos de suas calças. Ele levou algum tempo com isso. Ele não se incomodava em esperar até que pudesse sair livre e limpo. E ela quase podia ouvi-lo falar em voz alta suas palavras exatas.

"Mas que incômodo maldito."

Sim, ele até demorou para tirar todas aquelas coisinhas.

Riley suspirou, e seus olhos se abriram. Dedilhando o carrapicho em sua própria mão, ela observou como ele se agarrava e que os seus espinhos eram finos o suficiente para tirar sangue.

"Junte estes carrapichos," ela ordenou. "Nós podemos encontrar um pouco de DNA."

Os olhos de Bill se arregalaram e ele tirou imediatamente um saco fechado e pinças. Enquanto ele trabalhava, sua mente estava trabalhando alucinadamente, ela ainda não tinha acabado.

"Estivemos errados o tempo todo," disse ela. "Este não é o seu segundo assassinato. É o terceiro." Bill parou e olhou para cima, claramente atordoado.

"Como você sabe?" Bill perguntou.

O corpo todo de Riley se apertou enquanto ela tentava manter sua tremedeira sob controle.

"Ele ficou bom demais. Sua época de aprendizado acabou. Ele é um profissional agora. E ele está apenas acertando seu passo. E ama o trabalho dele. Não, esta é a sua terceira vez, pelo menos."

A garganta de Riley apertou e ela engoliu em seco.

"E não temos muito tempo agora até a próxima."


Capítulo 7


Bill encontrou-se em um mar de olhos azuis, nenhum deles era natural. Ele não costumava ter pesadelos sobre seus casos e não estava tendo um agora, mas com certeza parecia um. Aqui, no meio da loja de bonecas, pequenos olhos azuis estavam simplesmente em todos os lugares, todos eles bem abertos e brilhantes e alertas.

Os diminutos lábios rubis-vermelhos das bonecas, a maioria deles sorrindo, eram um incômodo também. Assim como os cabelos artificiais meticulosamente penteados, tão rígidos e imóveis. Levando-se em todos esses detalhes, Bill perguntou-se como ele não conseguiu perceber a intenção do assassino - de fazer suas vítimas parecerem com bonecas o máximo possível. Ele precisou de Riley para fazer essa conexão.

Graças a Deus ela está de volta, ele pensou.

Ainda assim, Bill não podia deixar de se preocupar com ela. Ele tinha ficado deslumbrado com seu brilhante trabalho lá no Parque Mosby. Mas, depois, quando ele a levou para casa, ela parecia exausta e desmoralizada. Ela mal lhe dissera uma palavra durante toda a viagem de carro. Talvez tivesse sido demais para ela.

Mesmo assim, Bill desejou que Riley estivesse ali agora. Ela tinha decidido que seria melhor eles se separarem para cobrir mais terreno mais rapidamente. Ele não podia discordar disso. Ela pediu-lhe para analisar as lojas de bonecas na área enquanto ela iria revisitar a cena do crime que eles tinham examinado há seis meses.

Bill olhou em volta e, sentindo sua cabeça sobrecarregada, imaginou o que Riley encontraria naquela loja de bonecas. Era a mais elegante das que ele tinha visitado hoje. Ficava em um canto da Capital Beltway, a loja provavelmente recebia um monte de clientes ricos de condados do norte da Virgínia.

Ele caminhou ao redor, investigando. Uma boneca pequena de menina chamou sua atenção. Com seu sorriso empinado e pele pálida, especialmente o lembrou da última vítima. Apesar de ter estar totalmente vestida em um vestido rosa com vários laços na gola, punhos e bainha, ela também estava sentado em uma posição perturbadoramente similar.

De repente, Bill ouviu uma voz à sua direita.

"Eu acho que você está procurando na seção errada."

Bill virou-se e viu-se diante de uma pequena mulher robusta, com um sorriso caloroso. Algo sobre ela lhe dizia que ela era a encarregada dali.

"Por que você acha isso?" Bill perguntou. A mulher riu.

"Porque você não tem filhas. Posso ver que um homem não tem filhas a uma milha de distância. Não me pergunte como, é apenas algum tipo de intuição, eu acho."

Bill estava atordoado pela percepção dela e muito impressionado. Ela ofereceu a mão a Bill.

"Ruth Behnke," disse ela. Bill apertou a mão dela.

"Bill Jeffreys. Acho que você é a dona desta loja." Ela riu novamente.

"Vejo que você tem algum tipo de instinto, também," ela falou. "Prazer em conhecê-lo. Mas você tem filhos, não é? Três, eu acho."

Bill sorriu. Seus instintos eram bastante afiados, tudo bem. Bill percebeu que ela e Riley iriam desfrutar a companhia uma da outra.

"Dois," ele respondeu. "Mas bem perto."

Ela riu.

"Quantos anos?" Ela perguntou. "Oito e dez."

Ela olhou ao redor do lugar.

"Eu não sei se tenho muita coisa para eles aqui. Ah, na verdade, tenho alguns soldados pitorescos de brinquedo no próximo corredor. Mas os meninos não gostam mais deste tipo de coisa, não é? Só querem saber de jogos de vídeo game hoje em dia. E aqueles violentos."

"Temo que sim."

Ela olhou para ele de forma avaliadora.

"Você não está aqui para comprar uma boneca, né?" Ela perguntou. Bill sorriu e balançou a cabeça.

"Você é boa," ele respondeu.

"Você é um policial, talvez?" Ela perguntou.

Bill riu baixinho e pegou seu distintivo. "Não exatamente, mas um bom palpite."

"Ah, meu Deus." ela disse, preocupada. "O que o FBI quer com a minha lojinha? Eu estou em algum tipo de lista? "

"De certa forma," disse Bill. "Mas não é nada para se preocupar. Sua loja surgiu em nossa busca de lojas nesta área que vende bonecas antigas e colecionáveis."

Na verdade, Bill não sabia exatamente qual ele estava procurando. Riley tinha sugerido que ele fosse para alguns desses lugares, supondo que o assassino poderia ter frequentado, ou pelo menos visitado em alguma ocasião. O que ela estava esperando, ele não sabia. Ela estava esperando que o assassino estivesse lá? Ou que um dos funcionários conhecesse o assassino?

Duvidoso que sim. Mesmo que tivessem, era improvável que o pensariam como um assassino. Provavelmente todos os homens que iam ali, se houvesse algum, eram esquisitos.

Era mais provável que Riley estivesse tentando conseguir mais visões de dentro da mente do assassino, sua maneira de olhar o mundo. Se for isso mesmo, Bill achou que ela ia acabar decepcionada. Ele simplesmente não tinha a mente dela, nem o talento para entrar facilmente nas cabeças dos assassinos.


Parecia-lhe que ela estava tentando obter mais informações. Havia dezenas de lojas de bonecas dentro do raio que eles estavam procurando. Seria melhor, pensou ele, deixar a equipe forense continuar rastreando os fabricantes da boneca. Apesar de, até agora, nada ter sido encontrado.

"Eu ia perguntar que tipo de caso é," disse Ruth, "mas eu provavelmente não deveria." "Não," Bill disse, "você provavelmente não deveria."

Não que o caso fosse um segredo - não depois que o pessoal do senador Newbrough tinham colocado um comunicado de imprensa sobre o assunto. A mídia agora estava saturada com a notícia. Como de costume, o Escritório estava tremendo sob um ataque de dicas de telefone errôneas e a internet estava repleta de teorias bizarras. A coisa toda tinha se tornado uma dor.

Mas por que contar à mulher sobre isso? Ela parecia tão boa, sua loja tão íntegra e inocente, que Bill não queria aborrecê-la com algo tão triste e chocante como um assassino em série obcecado por bonecas.

Ainda assim, havia uma coisa que ele queria saber.

"Diga-me uma coisa," pediu Bill. "Quantas vendas você faz para adultos - quero dizer adultos sem filhos?"

"Oh, essas são a maioria das minhas vendas, de longe. Para colecionadores." Bill ficou intrigado. Ele nunca teria imaginado isso. "Por que você acha que é isso?" Ele perguntou.


A mulher sorriu, um sorriso distante e estranho e falou num tom suave. "Porque as pessoas morrem, Bill Jeffreys."

Agora Bill estava realmente assustado. "Perdão?" Disse ele.

"À medida que envelhecemos, nós perdemos pessoas. Nossos amigos e entes queridos morrem. Ficamos de luto. As bonecas param o tempo para nós. Elas fazem-nos esquecer da nossa dor. Elas nos confortam e nos consolam. Bem, olhe à sua volta. Eu tenho bonecas que tem mais de um século de idade e algumas que são quase novas. Entre elas, você provavelmente não consegue dizer a diferença. São eternas."

Bill olhou ao seu redor, assustado com todos aqueles olhos centenários olhando para ele, perguntando-se quantas pessoas aquelas bonecas teriam vivido mais. Ele se perguntou o que elas haviam testemunhado - o amor, a raiva, o ódio, a tristeza, a violência. E ainda assim elas o encaravam com a expressão vazia. Elas não faziam sentido para ele.

Pessoas tem que envelhecer, ele pensou. Elas devem ficar velhas e enrugadas e grisalhas, como ele o fizera, devido à todo o mal e horror que havia no mundo. Dado tudo o que ele tinha visto, seria um pecado, ele pensou, se ele ainda parecesse o mesmo. As cenas dos assassinatos tinham invadido seu interior como se fossem um animal vivo, o fizeram desejar não ser mais jovem.

"Elas também - não estão vivas," Bill disse finalmente. Seu sorriso virou agridoce, quase com pena.

"Isso é verdade, Bill? A maioria dos meus clientes não pensa assim. Eu também não tenho certeza quanto mim."

Um estranho silêncio se seguiu. A mulher o rompeu com uma risada. Ela ofereceu a Bill um pequeno folheto colorido com várias fotos de bonecas estampadas.

"Acontece que eu estou indo para a próxima convenção em D.C. Talvez você também queira ir. Talvez lhe dê alguma ideia para sua investigação."

Bill agradeceu e saiu da loja, grato pela dica sobre a convenção. Ele esperava que Riley fosse com ele. Bill lembrou que ela deveria entrevistar o senador Newbrough e sua esposa à tarde. É um compromisso importante - não apenas porque o senador pode ter boas informações, mas por razões diplomáticas. Newbrough realmente estava complicano a situação do Escritório. Riley foi a única agente a convencê-lo de que eles estavam fazendo tudo o que podiam.

Mas ela realmente iria aparecer? Bill se perguntou.

Parecia-lhe muito bizarro ele não ter certeza sobre isso. Até seis meses atrás, Riley era a única coisa confiável em sua vida. Ele sempre confiou plenamente nela. Mas sua óbvia angústia o preocupava.

Mais do que isso, ele sentia falta dela. Assustado como ele às vezes ficava com sua mente brilhante, ele precisava dela em um trabalho como aquele. Durante as últimas seis semanas, ele também percebeu que precisava de sua amizade.

Ou, no fundo, era mais do que isso?


Capítulo 8


Riley dirigia pela estrada de duas pistas, saboreando sua bebida energética. Era uma manhã ensolarada e quente, as janelas do carro estavam abaixadas e o cheiro quente de feno recém-embalado enchiam o ar. As pastagens de tamanho modesto das redondezas estavam pontilhadas com gado e as montanhas enquadravam ambos os lados do vale. Ela gostava dali.

Mas ela lembrou a si mesma que não tinha ido ali para se sentir bem. Ela tinha um trabalho difícil a fazer. Riley entrou em uma estrada bem revestida de cascalho e, depois de um minuto ou dois, ela chegou a um

cruzamento. Ela virou-se para o parque nacional, dirigiu uma curta distância e parou seu carro na curva inclinada da estrada.

Ela saiu do carro e atravessou uma área aberta até um robusto e alto carvalho que ficava no canto nordeste.

Aquele era o lugar. O lugar onde o corpo de Eileen Rogers tinha sido encontrado - deixado bastante desajeitado naquela árvore. Ela e Bill tinham estado ali juntos há seis meses. Riley começou a recriar a cena em sua mente.

A maior diferença era o clima. Naquela época, era meados de dezembro e estava muito frio. Uma camada fina de neve cobria o chão.

Volte, disse a si mesma. Volte e sinta.

Ela respirou fundo, inspirou e expirou, até pensar que estava sentindo uma frieza ardente passando por sua traqueia. Ela quase podia ver as espessas nuvens de geada formando a cada respiração.

O cadáver nu tinha sido congelado. Não era fácil dizer qual das muitas lesões corporais eram ferimentos de faca e quais eram feridas e fissuras causadas pelo frio gelado.

Riley remontou a cena de volta, até o último detalhe. A peruca. O sorriso pintado. Os olhos costurados abertos. A rosa artificial deitada na neve entre as pernas abertas do cadáver.

A imagem em sua mente estava agora suficientemente vívida. Agora ela tinha que fazer o que ela tinha feito ontem - ter uma noção do que o assassino viveu.


Mais uma vez, ela fechou os olhos, relaxou e desceu para o abismo. Ela acolheu aquela sensação de tontura, sentindo uma vertigem ao escorregar dentro da mente do assassino. Muito em breve, ela estava com ele, dentro dele, vendo exatamente o que ele viu, sentindo o que ele sentiu.

Ele estava dirigindo ali, à noite, sentindo qualquer coisa menos confiante. Ele assistiu à estrada ansioso, preocupado com o gelo sob suas rodas. E se ele perdesse o controle, derrapasse em uma vala? Ele tinha um cadáver a bordo. Seria pego com certeza. Precisava dirigir com cuidado. Ele esperava que seu segundo assassinato fosse mais fácil do que o primeiro, mas ele ainda estava uma pilha de nervos.

Parou o veículo bem aqui. Arrastou o corpo da mulher - já nu, Riley imaginou - adivinhou - para o local aberto. Mas ele já estava endurecido devido ao rigor mortis. Ele não tinha contado com isso. Isso o frustrava, perturbava sua confiança. Para piorar a situação, ele não podia ver direito o que estava fazendo, nem mesmo sob a luz dos faróis que ele deixou na direção da árvore. A noite estava muito escura. Ele fez uma nota mental para fazer isso à luz do dia da próxima vez se pudesse.

Arrastou o corpo para a árvore e tentou colocá-lo na pose que ele tinha imaginado. As coisas não correram nada bem. A cabeça da mulher estava inclinada para a esquerda, paralisada pelo rigor mortis. Ele puxou e torceu. Mesmo depois de quebrar seu pescoço, ele ainda não conseguiu deixá-la olhando para a frente.

E como ele deveria afastar as pernas dela corretamente? Uma das pernas estava irremediavelmente torta. Ele não tinha escolha a não ser pegar um pé de cabra do seu porta-malas e quebrar a coxa e o joelho dela. Em seguida, ele torceu a perna do jeito que conseguiu, mas não ficou como queria.

Por fim, ele obedientemente deixou a fita em torno de seu pescoço, a peruca em sua cabeça e a rosa na neve. Então ele entrou em seu carro e foi embora. Ele ficou desapontado e desanimado. E também estava com medo. Em toda a sua falta de jeito, será que ele tinha deixado alguma pista crucial para trás? Ele obsessivamente repetiu a ação toda em sua mente, mas não conseguiu ter certeza.

Ele sabia que precisaria fazer melhor da próxima vez. E prometeu a si mesmo em melhorar.

Riley abriu os olhos. Ela deixou a presença do assassino desaparecer. Estava satisfeita consigo mesma agora. Não se deixou ficar abalada e oprimida. E ela tinha conseguido alguma perspectiva valiosa. Ela conseguiu uma noção de como o assassino estava aprendendo seu ofício.

Só desejou saber algo mais - qualquer coisa - sobre seu primeiro assassinato. Ela estava mais certa do que nunca de que ele havia matado antes. Este tinha sido o trabalho de um aprendiz, mas não de um novato.

Assim que Riley estava prestes a virar e caminhar de volta para o seu carro, algo na árvore chamou sua atenção. Era uma pequena pitada de amarelo saindo de onde o tronco se dividia ao meio, um pouco acima de sua cabeça.

Ela caminhou até o outro lado da árvore e olhou para cima.

"Ele voltou para cá!" Riley ofegou em voz alta. Calafrios percorreram seu corpo e ela olhou à sua volta nervosamente. Ninguém parecia estar por perto agora.

Aninhada no galho de uma árvore, olhando para Riley, estava uma boneca nua, com cabelo louro, com a mesma pose com a que o assassino tinha a intenção de colocar a vítima.

Não poderia estar ali há muito tempo - três ou quatro dias, no máximo. Ela não havia sido deslocada pelo vento nem manchada pela chuva. O assassino tinha voltado para aquele lugar quando estava se preparando para o assassinato de Reba Frye. Da mesma maneira que Riley tinha feito, ele tinha voltado ali para refletir sobre seu trabalho, analisar criticamente os seus erros.

Ela tirou fotos com seu telefone celular. Ela ia mandá-las imediatamente para o Escritório. Riley sabia por que ele tinha deixado a boneca.

É uma desculpa pelo desleixo passado, ela percebeu. Era também uma promessa de que um melhor trabalho estava por vir.


Capítulo 9


Riley dirigiu em direção à mansão do senador Mitch Newbrough e seu coração se encheu de medo quando ela apareceu. Situada no final de uma longa estrada arborizada, ela era enorme, formal e assustadora. Ela sempre achou que os ricos e poderosos eram mais difíceis de lidar do que as pessoas de níveis mais abaixo na escada social.

Ela parou e estacionou em um círculo bem cuidado na frente da mansão de pedra. Sim, esta família era muito rica, de fato.

Ela saiu do carro e caminhou até as enormes portas da frente. Depois de tocar a campainha, foi recebida por um homem bem apessoado de cerca de trinta anos.

"Eu sou Robert," disse ele. "O filho do senador. E você deve ser a agente especial Riley. Entre. Minha mãe e meu pai estão esperando por você."

Robert Newbrough conduziu Riley para dentro da casa, o que a fez se lembrar imediatamente o quanto ela não gostava de casas ostensivas. A casa dos Newbrough era especialmente cavernoso, e a caminhada para onde quer que o senador e sua esposa estivessem esperando era desagradavelmente longo. Riley tinha certeza de que fazer os convidados caminharem uma distância inconveniente daquelas era uma espécie de tática de intimidação, uma forma de comunicar que os moradores daquela casa eram muito poderosos para serem enfrentados. Riley também achou o mobiliário e a decoração colonial onipresente realmente bem feios.

Mais do que qualquer outra coisa, ela temia o que estava por vir. Para ela, conversar com as famílias das vítimas era simplesmente horrível - muito pior do que lidar com cenas de assassinato ou mesmo cadáveres. Ela achava fácil ser envolvida pela tristeza, raiva e confusão das pessoas. Tais emoções intensas destruíam sua concentração e a desviavam de seu trabalho.

Enquanto caminhavam, Robert Newbrough disse: "Meu pai veio de Richmond para casa desde..."

...”

Ele engasgou um pouco no meio da frase. Riley podia sentir a intensidade de sua perda.

"Desde que ouvi sobre Reba," continuou ele. "Foi terrível. Minha mãe está especialmente abalada. Tente não incomodá-la muito."

"Eu sinto muito pela sua perda," disse Riley.

Robert ignorou-a e levou Riley até uma espaçosa sala de estar. O senador Mitch Newbrough e sua esposa estavam sentados juntos em um enorme sofá segurando as mãos um do outro.

"Agente Paige," Robert disse, apresentando-a. "Agente Paige, deixe-me apresentar os meus pais, o senador e sua esposa, Annabeth."

Robert ofereceu um assento a Riley e, em seguida, sentou-se também.

"Em primeiro lugar," disse Riley calmamente, "minhas sinceras condolências pela sua perda."

Annabeth Newbrough respondeu com um aceno silencioso de reconhecimento. O senador apenas ficou olhando fixamente para a frente.

No breve silêncio que se seguiu, Riley fez uma avaliação rápida de seus rostos. Ela tinha visto Newbrough na televisão muitas vezes, sempre com o sorriso insinuante de um político. Ele não estava sorrindo agora. Riley não tinha visto tanto a Sra Newbrough, que parecia possuir a docilidade típica da esposa de um político.

Ambos estavam em seus sessenta e poucos anos. Riley reparou que eles se esforçavam e gastavam muito para parecerem mais jovens - implantes de cabelo, tintura de cabelo, plásticas, maquiagem. Na opinião de Riley, tais esforços haviam deixado a aparência dos dois vagamente artificial.

Como bonecas, Riley pensou.

"Eu tenho que lhes fazer algumas perguntas sobre a sua filha," disse Riley, tirando seu notebook. "Vocês estiveram em estreito contato com Reba recentemente?"

"Oh, sim," disse a Sra. Newbrough. "Somos uma família muito unida."

Riley observou uma ligeira rigidez na voz da mulher. Soou como algo que ela falasse um pouco demais, um pouco rotineiro demais. Riley sentiu certeza de que a vida familiar na casa dos Newbrough estava longe de ser ideal.

"Será que Reba não disse nada recentemente sobre estar sendo ameaçada?" Riley perguntou. "Não," respondeu a Sra. Newbrough. "Nenhuma palavra."

Riley observou que o senador não tinha dito nemhuma palavra até agora. Ela se perguntou por que ele estava tão tranquilo. Ela precisava que ele falasse, mas como?

E então Robert falou.

"Ela tinha passado por um divórcio conturbado recentemente. As coisas ficaram feias entre ela e Paul sobre a custódia de seus dois filhos."

"Oh, eu nunca gostei dele," comentou a Sra. Newbrough. "Ele tinha um tipo de temperamento. Você acha que possivelmente -?" As palavras dela desapareceram.

Riley balançou a cabeça.

"O ex-marido não é um provável suspeito," disse ela. "Por que diabos não?" Perguntou a Sra. Newbrough.

Riley pesou em sua mente o que ela podia e o que não podia contar.

"Você pode ter lido que o assassino já apareceu antes," disse ela. "Houve uma vítima semelhante perto de Daggett."

A Sra. Newbrough estava ficando mais agitada. "O que é que isso quer dizer para nós?"

"Estamos lidando com um assassino em série," disse Riley. "Não havia nada doméstico sobre isso. Sua filha pode sequer ter conhecido o assassino. Há toda a probabilidade de que não era pessoal." A Sra. Newbrough estava chorando agora. Riley imediatamente lamentou sua escolha de palavras.

"Não era pessoal?" A Sra. Newbrough quase gritou. "Como poderia ser qualquer coisa menos pessoal?" O Senador Newbrough falou com seu filho.

"Robert, por favor leve sua mãe para outro lugar e a acalme. Eu preciso falar com a agente Paige sozinho."

Robert Newbrough levou obedientemente sua mãe dali. O Senador Newbrough não disse nada por um momento. Ele olhou Riley firmemente nos olhos. Ela tinha certeza de que ele estava acostumado a intimidar as pessoas com aquele seu olhar. Mas não funcionava especialmente bem com ela. Ela simplesmente retribuiu o olhar.

Por fim, o senador enfiou a mão no bolso do casaco e tirou um envelope do tamanho de uma carta. Ele caminhou até a cadeira onde ela estava e lhe entregou.

"Aqui," ele disse. Em seguida, ele voltou para o sofá e sentou-se novamente. "O que é isso?" Riley perguntou.

O senador voltou seu olhar sobre ela mais uma vez. "Tudo o que você precisa saber," ele respondeu. Riley estava agora completamente perplexa.

"Posso abrir?" Ela perguntou. "Certamente."

Riley abriu o envelope. Ele continha uma única folha de papel com duas colunas de nomes. Ela reconheceu alguns deles. Três ou quatro eram jornalistas bem conhecidos no noticiário da TV local. Vários outros foram proeminentes políticos de Virgínia. Riley ficou ainda mais perplexa do que antes.

"Quem são essas pessoas?" Ela perguntou.

"Os meus inimigos," respondeu o senador Newbrough em uma voz calma. "Provavelmente não é uma lista abrangente. Mas esses são os que importam. Alguém aí é o culpado."

Riley estava completamente aturdida agora. Ela ficou ali sentada e nada disse.

"Não estou dizendo que qualquer um nessa lista matou a minha filha diretamente, cara a cara," ele falou. "Mas eles com certeza pagariam alguém para fazê-lo."

Riley falou devagar e com cautela.

"Senador, com todo o respeito, acredito que acabei de comentar que o assassinato de sua filha provavelmente não foi por motivos pessoais. Já houve um assassinato quase idêntico a este."

"Você está dizendo que a minha filha foi alvo puramente por acaso?" Perguntou o senador.

Sim, provavelmente, Riley pensou.

Mas ela sabia que não devia dizer isso em voz alta.

Antes que ela pudesse responder, ele acrescentou, "Agente Paige, eu aprendi com experiências difíceis a não acreditar em coincidências. Não sei por que, ou como, mas a morte da minha filha tem a ver com política. E, na política, tudo é pessoal. Então, não tente me dizer que é qualquer outra coisa, menos pessoal. É o seu trabalho e do Escritório encontrar quem é o responsável e trazê-lo à justiça."

Riley respirou longa e profundamente. Ela estudou o rosto do homem nos mínimos detalhes. Ela podia enxergar agora. O Senador Newbrough era um completo narcisista.

Não que eu deveria estar surpresa, ela pensou.

Riley percebeu mais uma coisa. O senador achava inconcebível que qualquer coisa em sua vida não fosse especificamente sobre ele e apenas ele. Mesmo o assassinato de sua filha tinha a ver com ele. Reba tinha simplesmente ficado presa entre ele e alguém que o odiava. Ele provavelmente acreditava mesmo nisso.

"Senhor," Riley começou, "com todo o respeito, eu não acho -"

"Eu não quero que você pense," interrompeu Newbrough. "Você tem todas as informações que precisa bem na sua frente."

Eles sustentaram o olhar do outro por vários segundos.

"Agente Paige," o senador finalmente disse: "Tenho a sensação de que não estamos na mesma sintonia. Isso é uma pena. Você pode não saber, mas eu tenho bons amigos nos escalões superiores da agência. Alguns deles me devem favores. Vou entrar em contato com eles imediatamente. Preciso de alguém neste caso que vá fazer o trabalho."

Riley ficou ali, estupefata, sem saber o que dizer. Aquele homem estava delirando tanto assim? O senador levantou-se.

"Vou mandar alguém para acompanhá-la até a saída, agente Paige," disse ele. "Sinto muito que não tenhamos nos entendido."

O Senador Newbrough saiu da sala, deixando Riley sentada ali sozinha. Sua boca estava aberta com o choque. O homem era um narcisista, tudo bem. Mas ela sabia que havia mais do que isso.

Havia algo que o senador estava escondendo.

E não importava o que fosse, ela iria descobrir o que era.


Capítulo 10


A primeira coisa que chamou a atenção de Riley era a boneca - a mesma boneca nua que ela tinha encontrado mais cedo naquela árvore perto de Daggett, exatamente na mesma pose. Por um momento, ela ficou surpresa ao vê-la deixada lá no laboratório forense do FBI, rodeada por uma variedade de equipamentos de alta tecnologia. Parecia estranhamente fora de lugar para Riley - como uma espécie de santuário doentio para uma era não-digital ultrapassada.

Agora, a boneca era apenas mais um elemento de provas, protegida por um saco plástico. Ela sabia que a equipe tinha sido enviada para recuperá-la, logo que ela ligara da cena. Mesmo assim, era uma visão chocante.

A agente especial Meredith adiantou-se para cumprimentá-la.

"Faz um longo tempo, agente Paige," disse ele calorosamente. "Bem-vinda de volta." "É bom estar de volta, senhor," disse Riley.

Ela caminhou até a mesa para sentar-se com Bill e o técnico de laboratório, Flores. Quaisquer que fossem os escrúpulos e incertezas que ela estava sentindo, ela realmente se sentia bem em ver Meredith novamente. Ela gostava de seu estilo direto e rigoroso e ele sempre a tratou com respeito e consideração.

"Como é que foram as coisas com o senador?" Perguntou Meredith. "Nada bem, senhor," respondeu ela.

Riley notou um tremor de aborrecimento no rosto de seu chefe. "Você acha que ele vai nos dar algum problema?" "Tenho quase certeza disso. Sinto muito, senhor."

Meredith assentiu com simpatia. "Tenho certeza de que não é sua culpa," disse ele.

Riley achava que ele tinha uma boa idéia do que tinha acontecido. O comportamento do senador Newbrough era, sem dúvida, típico dos políticos narcisistas. Meredith, provavelmente, estava bastante acostumado com isso.

Flores digitava e, em seguida, imagens de fotografias macabras, relatórios oficiais e notícias surgiram em monitores grandes ao redor da sala.

"Fizemos algumas escavações e não é que você estava certa, agente Paige," disse Flores. "O mesmo assassino já apareceu antes, muito antes do assassinato em Daggett."

Riley ouviu um grunhido de satisfação de Bill e, por um segundo, Riley sentiu justificada, sentiu sua crença em si mesma voltar.

Mas então seu espírito afundou. Outra mulher tinha sofrido uma morte terrível. Não havia nenhum motivo para celebração. Ela, na verdade, tinha desejado não ter razão.

Por que eu não posso desfrutar a sensação de estar certa de vez em quando? perguntou-se.

Um mapa gigantesco de Virgínia se desdobrou ao longo do principal monitor de tela plana, e então enfatizou a parte norte do estado. Flores marcou um ponto alto no mapa, perto da fronteira com Maryland. "A primeira vítima foi Margaret Geraty, trinta e seis anos de idade," informou Flores. "Seu corpo foi

encontrado abandonado em terras agrícolas, a cerca de 13 milhas no entorno de Belding. Ela foi morta no dia 25 de junho, há quase dois anos. O FBI não foi chamado neste caso. A polícia local deixou o caso esfriar."

Riley olhou para as fotos da cena do crime que Flores exibiu em outro monitor. O assassino, obviamente, não tinha tentado colocar o corpo em uma pose. Ele tinha acabado de largá-lo com pressa e fugiu.

"Dois anos atrás," disse ela, pensando, concentrando-se. Uma parte dela estava surpresa por ele estar envolvido com isso há tanto tempo. No entanto, outra parte dela sabia que esses assassinos doentes poderiam operar durante anos. Eles podiam ter uma paciência estranha.

Ela examinou as fotos.

"Vejo que ele não tinha desenvolvido seu estilo," observou.

"Correto," concordou Flores. "Há uma peruca ali, e o cabelo foi cortado curto, mas ele não deixou uma rosa. No entanto, ela foi sufocada até a morte com uma fita cor de rosa."

"Ele teve pressa na preparação," disse Riley. "Seu nervosismo o atrapalhou. Foi a primeira vez dele, ele não tinha auto-confiança. Ele fez um pouco melhor com Eileen Rogers, mas só ao matar Reba Frye que ele realmente acertou seu passo."

Ela lembrou-se de algo que queria perguntar.

"Você encontrou alguma ligação entre as vítimas? Ou entre as crianças das duas mães?"

"Nada," respondeu Flores. "A verificação dos grupos de pais não teve nenhum resultado. Nenhuma delas parecia conhecer a outra."

Isso desanimou Riley, mas não a surpreendeu de forma alguma.

"E quanto à primeira mulher?" Riley perguntou. "Ela era mãe, eu suponho."

"Não," disse Flores rapidamente, como se estivesse esperando por esse questionamento. "Ela era casada, mas sem filhos."

Riley ficou pasma. Ela tinha certeza que o assassino estava objetivando mães. Como ela poderia ter começado errado?

Ela podia sentir sua crescente auto-confiança, de repente, desinflar.

Com a hesitação de Riley, Bill perguntou: "Então, quão próximos estamos para identificar um suspeito? Você foi capaz de obter algum daqueles carrapichos do Parque Mosby?"

"Não tive essa sorte," disse Flores. "Nós encontramos vestígios de couro, em vez de sangue. O assassino usou luvas. Ele parecia ser melindroso. Mesmo na primeira cena, ele não deixou qualquer vestígio ou DNA."

Riley suspirou. Ela tinha sido tão esperançosa de que havia encontrado algo que os outros tinham negligenciado. Mas agora ela sentiu que estava errada. Eles estavam de volta à estaca zero.

"Obsessivo com os detalhes," ela comentou.

"Mesmo assim, eu acho que nós estamos nos aproximando dele," acrescentou Flores.

Ele usou um ponteiro eletrônico para indicar localizações, linhas desenhadas entre elas.

"Agora que sabemos sobre este assassinato prévio, temos a ordem e uma melhor idéia de seu território," disse Flores. "Nós temos a número um, Margaret Geraty, em Belding, ao norte daqui, número dois, Eileen Rogers, perto de Daggett, mais ao sul e, número três, Reba Frye, para o oeste, no Parque Mosby."

Ao olhar, Riley viu que os três locais formaram um triângulo no mapa.

"Nós estamos olhando para uma área de cerca de mil milhas quadradas," disse Flores. "Mas isso não é tão ruim quanto parece. Estamos falando de áreas rurais na sua maioria, com algumas pequenas cidades. No norte, você entra em algumas grandes propriedades, como a do senador. Muitos campos abertos."

Riley viu um olhar de satisfação profissional no rosto de Flores. Obviamente ele amava seu trabalho. "O que eu vou fazer é reunir os dados de todos os criminosos sexuais registrados que vivem nesta área," disse Flores. Ele digitou um comando e o triângulo foi pontilhado com cerca de duas dúzias de marcas

pequenas e avermelhadas.

"Agora vamos eliminar os pederastas," disse ele. "Podemos ter certeza de que o nosso assassino não é um deles."

Flores digitou um outro comando e cerca de metade dos pontos desapareceu.

"Agora vamos reduzir a apenas os casos graves - caras que estiveram na prisão por estupro ou assassinato ou ambos."

"Não," Riley disse abruptamente. "Isso está errado."

Todos os três homens a encararam com surpresa.

"Nós não estamos procurando um criminoso violento," disse ela. Flores resmungou.

"Até parece que não!" Ele protestou.

Um silêncio se instalou. Riley sentiu uma visão se construindo, mas ainda não tinha tomado forma em sua mente. Ela ficou olhando para a boneca, que ainda estava sentada grotescamente sobre a mesa, parecendo mais fora do lugar que nunca.

Se você pudesse falar, ela pensou.

Então ela começou lentamente a listar seus pensamentos.

"Quero dizer, não obviamente violento. Margaret Geraty não foi estuprada. Nós já sabíamos que Rogers e Frye também não foram."

"Todos elas foram torturadas e mortas," Flores resmungou.

A tensão encheu a sala, enquanto Brent Meredith parecia preocupado, Bill estava olhando fixamente para um dos monitores.

Riley apontou para as imagens de perto do cadáver horrivelmente mutilado de Margaret Geraty.

"Seu primeiro assassinato foi o mais violento," disse ela. "Essas feridas são profundas e feias - piores do que suas duas próximas vítimas. Aposto que seus peritos já determinaram que ele infligiu estas feridas bem rapidamente, uma após a outra."

Flores assentiu com admiração. "Você está certa."

Meredith olhou para Riley com curiosidade. "O que isso lhe diz?" Perguntou Meredith.

Riley respirou longa e profundamente. Ela encontrou-se escorregando na mente do assassino novamente.

"Eu tenho certeza de uma coisa," disse ela. "Ele nunca teve relações sexuais com outro ser humano em sua vida. Ele provavelmente nunca teve um encontro amoroso. Ele é caseiro e pouco atraente. As mulheres sempre o rejeitaram."

Riley parou por um momento, juntando seus pensamentos.

"Um dia, ele finalmente teve uma ideia," disse ela. "Ele sequestrou Margaret Geraty, a prendeu, tirou suas roupas e tentou estuprá-la."

Flores engasgou com súbita compreensão. "Mas ele não conseguiu!" Flores disse.

"Correto, ele é completamente impotente," disse Riley. "E, quando ele não conseguiu violá-la, ele teve um acesso de raiva. Ele começou a esfaqueá-la - o mais perto que podia chegar da penetração sexual. Foi o primeiro ato de violência que ele cometeu em sua vida. Meu palpite é que ele nem sequer se preocupou em mantê-la viva por muito tempo."

Flores apontou para um parágrafo no relatório oficial.

"Seu palpite está certo," disse ele. "O corpo de Geraty foi encontrado apenas uns dois dias depois que ela desapareceu."

Riley sentiu um terror crescente em suas próprias palavras.

"E ele gostou," disse ela. "Gostou do terror e da dor de Geraty. Ele gostou de todos os cortes e facadas. Então fez o seu ritual desde então. E aprendeu a apreciar seu tempo com isso, desfrutar de cada minuto. Com Reba Frye, o medo e a tortura continuaram por mais de uma semana."

Um calafrio de silêncio caiu sobre a sala.

"E sobre a conexão com a boneca?" Perguntou Meredith. "Por que você está tão certa de que ele está criando uma boneca?"

"Os corpos certamente se parecem com bonecas," respondeu Bill. "Pelo menos os dois últimos. Riley está certa sobre isso." "Trata-se de bonecas," disse Riley calmamente. "Mas eu não sei exatamentme o porquê. Há provavelmente algum tipo de elemento de vingança aqui."

Finalmente, Flores perguntou: "Então, você acha que nós estamos procurando qualquer criminoso registrado?" "Pode ser," disse Riley. "Mas não um estuprador, nem um predador violento. Seria alguém mais

inócuo, menos ameaçador - um tarado, ou um exibicionista, ou alguém que se masturba em público."

Flores digitava vigorosamente.

"Certo," disse ele. "Vou me livrar dos criminosos violentos." O número de pontos vermelhos no mapa diminuiu para um punhado. "Então, quem nos resta?" Riley perguntou a Flores.

Flores olhou para alguns registros, então suspirou.

"Eu acho que o encontrei," disse Flores. "Acho que eu tenho o seu homem. O nome dele é Ross Blackwell. E veja só isso. Ele estava trabalhando em uma loja de brinquedos quando foi pego exibindo bonecas em posições excêntricas. Como se elas estivessem tendo todos os tipos de sexo bizarro. O proprietário chamou a polícia. Blackwell obteve liberdade condicional, mas as autoridades ficaram de olho nele desde então."

Meredith coçou o queixo, pensativo. "Poderia ser o nossa cara," disse ele. "Eu e a agente Paige deveríamos investigá-lo agora?" Bill perguntou.

"Não temos o suficiente para trazê-lo," disse Meredith. "Nem para obter um mandado para qualquer tipo de apuração. É melhor não alarmá-lo. Se ele for o nosso homem e for tão inteligente quanto nós pensamos que é, ele é capaz de escapar por entre nossos dedos. Façam uma pequena visita a ele amanhã. Descubra o que ele tem a dizer sobre si mesmo. Lidem com ele com cuidado."


Capítulo 11


Estava muito escuro no momento em que Riley voltou para casa em Fredericksburg e, se é que havia algo, ela sentiu que sua noite estava quase certa a piorar. Ela sentiu um espasmo de déjà vu quando estacionou o carro na frente da grande casa em uma vizinhança suburbana e respeitável. Certa vez, ela tinha compartilhado aquela casa com Ryan e sua filha. Havia um monte de lembranças ali, muitas eram boas. Mas algumas não eram tão boas, e outras eram realmente péssimas.

Assim que ela estava prestes a sair do carro e caminhar até a casa, a porta da frente se abriu. April saiu e a silhueta de Ryan apareceu sob a luz brilhante da porta. Ele acenou para Riley enquanto April saía, então voltou para a casa e fechou a porta.

Pareceu para Riley que ele havia batido a porta com força, mas ela sabia que era provavelmente coisa da sua imaginação. Aquela porta havia se fechado há algum tempo e aquela vida havia acabado. Mas a verdade era que ela nunca realmente pertencera a um mundo calmo, seguro e respeitável, de ordem e rotina. Seu coração esteve sempre no campo, onde o caos, a imprevisibilidade e o perigo reinavam.

April chegou no carro e entrou no banco do passageiro. "Você está atrasada," retrucou April, cruzando os braços.

"Desculpe-me," disse Riley. Ela queria dizer mais, contar a April o quão profundamente ela estava sentida, não apenas por aquela noite, não apenas pelo seu pai, mas por toda a sua vida. Riley queria muito ser uma mãe melhor, estar em casa, estar presente para April. Mas a sua vida de trabalho não permitia.

Riley se afastou do meio-fio.

"Os pais normais não trabalham durante todo o dia e toda a noite também," disse April. Riley suspirou.

"Eu já disse antes que-" ela começou.

"Eu sei," interrompeu April. "Os criminosos não tem dias de folga. Isso é um saco, mãe." Riley dirigiu em silêncio por alguns momentos, querendo falar com April, mas estava muito cansada, muito triturada pelo seu dia. Ela nem sabia mais o que dizer. "Como foram as coisas com o seu pai?" Ela finalmente perguntou. "Ruins," respondeu April.

Era uma resposta previsível. April parecia estar ainda mais insatisfeita com seu pai do que ela estava com sua mãe ultimamente.

Outro longo silêncio instalou-se entre elas.

Então, em um tom mais suave, April acrescentou: "Pelo menos Gabriela estava lá. É sempre bom ver um rosto amigável para variar."

Riley sorriu levemente. Riley realmente gostava de Gabriela, a mulher guatemalteca de meia-idade que havia trabalhado como sua empregada durante anos. Gabriela estava sempre maravilhosamente responsável e disciplinada, mais do que Riley poderia dizer sobre Ryan. Ela estava feliz que Gabriela ainda estava em suas vidas, e ainda estava lá para cuidar de April sempre que ela ficava na casa de seu pai.

Durante a volta para casa, Riley sentiu uma necessidade palpável de se comunicar com sua filha. Mas o que ela poderia dizer para romper a barreira com ela? Não era como se ela não entendesse como April se sentia - especialmente em uma noite como aquela. A pobre garota simplesmente devia se sentir indesejada, sendo empurrada de lá para cá entre as casas de seus pais. Isso devia ser duro para uma menina de quatorze anos de idade, que já estava irritada com tantas coisas em sua vida. Felizmente, April concordou em ir para casa de seu pai depois de suas aulas até que Riley a buscasse. Mas, hoje, o primeiro dia do novo acordo, Riley tinha se atrasado demais.

Riley se viu à beira das lágrimas enquanto dirigia. Ela não conseguia pensar em nada para dizer. Ela estava simplesmente muito exausta. Ela estava sempre exausta demais.

Quando chegaram em casa, April, sem dizer uma palavra, foi até seu quarto e fechou a porta ruidosamente atrás dela. Riley ficou no corredor por um momento. Em seguida, ela bateu na porta da filha.

"Venha aqui, querida," disse ela. "Vamos conversar. Vamos sentar um pouco na cozinha, tomar uma xícara de chá de hortelã. Ou talvez no quintal. Está uma bela noite lá fora. É uma pena desperdiçá-la."

Ela ouviu a resposta da voz de April, "Vá em frente e faça isso, mãe. Estou ocupada." Riley se inclinou cansada contra o batente da porta.

"Você continua dizendo que eu não passo tempo suficiente com você," disse Riley. "Já passou da meia-noite, mãe. Está muito tarde."

Riley sentiu a garganta apertar e lágrimas em seus olhos. Mas ela não iria deixar-se chorar.

"Eu estou tentando, April," disse ela. "Eu estou fazendo o meu melhor - com tudo." Um silêncio caiu.

"Eu sei," April finalmente disse de dentro de seu quarto.

Então, tudo ficou quieto. Riley desejou poder ver o rosto de sua filha. Seria possível que ela ouviu um traço de simpatia nessas duas palavras? Não, provavelmente não. Era raiva, então? Riley achava que não. Era provavelmente só desapego.

Riley foi ao banheiro e tomou um longo banho quente. Ela deixou o vapor e as gotas quentes massagearem seu corpo, que estava todo doído depois de um dia tão longo e difícil. Quando ela saiu e secou os cabelos, sentiu-se melhor fisicamente. Mas, por dentro, ela ainda se sentia vazia e conturbada.

E ela sabia que não estava pronta para dormir.

Ela colocou chinelos e um roupão de banho e foi para a cozinha. Quando ela abriu um armário, a primeira coisa que viu foi uma garrafa quase cheia de bourbon. Ela pensou em servir-se de uma dose dupla de uísque.

Não é uma boa ideia, disse a si mesma com firmeza.

Em seu atual estado de espírito, ela não iria parar apenas com uma. Ao passar por todos os seus problemas das últimas seis semanas, ela tinha conseguido não deixar o álcool vencê-la. Não era hora de perder o controle. Ela fez uma xícara de chá de hortelã quente ao invés disso.

Então Riley sentou-se na sala de estar e começou a se debruçar sobre a pasta cheia de fotos e informações sobre os três casos de assassinato.

Ela já sabia um pouco sobre a vítima de seis meses atrás, perto de Daggett - o que eles agora sabiam ser o segundo de três assassinatos. Eileen Rogers tinha sido casada e mãe de dois filhos, que possuia e gerenciava um restaurante com o marido. E, claro, Riley também tinha visto o local onde a terceira vítima, Reba Frye, havia sido deixada. Ela até visitou a família de Frye, incluindo o senador egocêntrico.

Mas o caso de dois anos de Belding era novo para ela. Enquanto lia os relatórios, Margaret Geraty começou a entrar em foco como um ser humano real, uma mulher que outrora vivia e respirava. Ela trabalhava em Belding como uma funcionária pública e havia se mudado recentemente do estado de Nova York para a Virgínia do Norte. Sua família viva, além de seu marido, incluia duas irmãs, um irmão e uma mãe viúva. Amigos e parentes descreveram-na como boa índole, mas sozinha -possivelmente até mesmo solitária.

Saboreando seu chá, Riley não pôde deixar de se perguntar - o que poderia ter acontecido a Margaret Geraty se ela tivesse vivido? Aos trinta e seis anos, a vida ainda tinha todos os tipos de possibilidades - filhos e tantas outras coisas.

Riley sentiu um arrepio quando outro pensamento ocorreu-lhe. Apenas seis semanas atrás, sua própria história de vida tinha chegado terrivelmente perto de acabar em uma pasta exatamente como a que estava agora aberta à sua frente. Toda a sua existência podia muito bem ter sido reduzida a uma pilha de fotos horríveis e textos oficiais.

Ela fechou os olhos, tentando livar-se das lembranças que vinham à tona. Mas, não importava o quanto ela tentasse, ela não conseguia detê-las.

Enquanto ela se arrastava pela casa escura, ela ouviu um arranhar no assoalho abaixo e, então, um grito de socorro. Após sondar as paredes, ela encontrou - uma pequena porta quadrada, que abria para o forro sob a casa. Ela direcionou a lanterna para o lado de dentro.

A luz revelou um rosto aterrorizado. "Eu estou aqui para ajudar," disse Riley.

"Você veio!" Gritou a vítima. "Oh, graças a Deus você chegou!"

Riley submergiu no chão de terra em direção à pequena gaiola no canto. Ela se atrapalhou com o cadeado por um momento. Então ela pegou o canivete e o enfiou no cadeado até forçá-lo a abrir. Um segundo depois, a mulher estava rastejando para fora da jaula.

Riley e a mulher se dirigiram para a abertura quadrada. Mas a mulher mal tinha conseguido sair quando uma figura masculina bloqueou o caminho de Riley.

Ela estava presa, mas a outra mulher tinha uma chance. "CORRA!" Riley gritou. "CORRA!"

Riley arrancou-se de volta para o presente. Será que ela nunca se livraria daqueles horrores? Certamente, trabalhando em um novo caso envolvendo tortura e morte não estava facilitando nada.

Mesmo assim, havia uma pessoa que ela sempre poderia recorrer para obter apoio. Ela pegou seu telefone e mandou uma mensagem para Marie.

Oi. Ainda está acordada?

Após alguns segundos, a resposta veio.

Sim. Como vai?

Riley digitou: Bastante instável. E você? Com muito medo de dormir.

Riley queria escrever algo para fazer ambas se sentirem melhor. De alguma forma, apenas mensagens de texto como aquela não parecia ser suficiente.

Quer conversar? Ela digitou. Quero dizer falar - não apenas escrever?

Demorou vários segundos até Marie responder.

Não, acho que não.

Riley ficou surpresa por um momento. Então ela percebeu que sua voz podia não ser sempre reconfortante para Marie. Às vezes podia até desencadear flashbacks terríveis para ela.

Riley lembrou-se das palavras de Marie na última vez que tinham conversando. Encontrar aquele filho da puta. E mate-o por mim. E, quando ela as ponderou, Riley tinha notícias que ela pensou que Marie poderia querer ouvir.

Estou de volta ao trabalho, Riley digitou.

As palavras de Marie foram despejadas em uma corrida de frases digitadas.

Meu Deus! Estou tão feliz! Eu sei que não é fácil. Estou orgulhosa. Você é muito corajosa.

Riley suspirou. Ela não se sentia tão valente - pelo menos não naquele momento, de qualquer forma. As palavras de Marie continuaram.

Obrigada. Saber que você está trabalhando de novo faz eu me sentir muito melhor. Talvez eu possa dormir agora. Boa noite.

Riley digitou: Continue assim.

Então ela colocou o telefone no gancho. Ela sentiu-se um pouco melhor, também. Afinal, ela tinha conseguido alguma coisa, voltar a trabalhar. Lenta, mas seguramente, ela realmente estava começando a se curar.

Riley bebeu o resto de seu chá, então foi direto para a cama. Ela deixou sua exaustão alcançá-la e adormeceu rapidamente.

Riley tinha seis anos, estava em uma loja de doces com a mamãe. Ela estava tão feliz com todos os doces que sua mamãe havia comprado para ela.

Mas, em seguida, um homem caminhou em direção a elas. Um homem grande e assustador. Ele usava algo sobre seu rosto - uma meia de nylon, como sua mamãe usava em suas pernas. Ele puxou uma arma. E gritou com sua mãe para entregar-lhe a bolsa. Mas ela estava tão assustada que não conseguia se mover. Ela não conseguia lhe dar.

E assim ele atirou no peito dela.

Ela caiu no chão sangrando. O homem pegou a bolsa dela e saiu correndo. Riley começou a gritar e gritar e gritar.

Em seguida, ela ouviu a voz de sua mãe.

"Não há nada que você possa fazer, querida. Estou partindo e você não pode me ajudar."

Riley ainda estava na loja de doces, mas agora ela já tinha crescido. Mamãe estava bem na frente dela, de pé perante seu próprio cadáver.

"Tenho que trazer você de volta!" Riley gritou. Mamãe estava sorrindo tristemente para Riley.

"Você não pode," disse a mamãe. "Você não pode trazer os mortos de volta."

Riley sentou-se, respirando com dificuldade, tirada de seu sono por um ruído. Ela olhou ao redor, perturbada. A casa estava em silêncio agora.

Mas ela tinha ouvido alguma coisa, ela tinha certeza. Como um barulho na porta da frente.

Riley levantou-se em um salto, sua intuição se manifestando. Ela pegou uma lanterna, tirou sua arma para fora do armário e moveu-se cuidadosamente pela casa em direção à porta da frente.

Ela olhou através da pequena vidraça pequena na porta, mas não viu nada. Tudo estava silencioso. Riley se preparou e rapidamente abriu a grande porta, iluminando o lado de fora. Ninguém.

Nada.

Enquanto ela movia a luz à sua volta, algo na varanda da frente chamou sua atenção. Algumas pedrinhas foram espalhadas por ali. Alguém as atirara contra a porta, fazendo aquele ruído?

Riley forçou seu cérebro, tentando lembrar se aquelas pedrinhas estavam lá quando ela chegou em casa na noite anterior. Em seus pensamentos nebulosos, ela simplesmente não conseguia ter certeza de nada.

Riley ficou ali por alguns momentos, mas não havia nenhum sinal de ninguém, em lugar nenhum. Ela fechou e trancou a porta da frente e se dirigiu de volta pelo curto corredor até seu

quarto. Quando ela chegou ao fim, ficou surpresa ao ver que a porta do quarto de April estava ligeiramente aberta.

Riley abriu a porta e olhou para dentro. Seu coração bateu forte em terror.

April tinha ido embora.


Capítulo 12


"April!" Riley gritou. "April!"

Riley correu para o banheiro e olhou para o seu interior. Sua filha não estava lá.

Ela correu desesperadamente pela casa, abrindo portas, olhando em cada sala e cada armário. Ela não encontrou nada.

"April!" Ela gritou novamente.

Riley reconheceu o sabor amargo de bile na boca. Era o gosto do medo.

Por fim, na cozinha, ela notou um cheiro estranho flutuando através de uma janela aberta. Ela reconheceu aquele cheiro dos antigos tempos de faculdade. Seu terror diminuiu, sendo substituído pelo triste aborrecimento.

"Oh, Jesus," Riley murmurou em voz alta, sentindo um imenso alívio.

Ela abriu a porta dos fundos com um empurrão. Sob a luz do amanhecer, ela viu sua filha, ainda de pijama, sentada à antiga mesa de piquenique. April parecia culpada e envergonhada.

"O que você quer, mamãe?" Perguntou April.

Riley atravessou o quintal, estendendo a mão. "Dê-me," disse Riley.

April desajeitadamente tentou exibir uma expressão inocente. "Dar o quê?" Ela perguntou.

A voz de Riley sufocou mais tristeza do que raiva. "O baseado que você está fumando," disse ela. "E por favor - não minta sobre isso."

"Você está louca," disse April, se esforçando para soar indignação. "Eu não estava fumando nada. Você está sempre supondo o pior de mim. Você já percebeu, mãe?"

Riley percebeu como sua filha estava debruçada para a frente enquanto se sentava no banco. "Mova seu pé," ordenou Riley.

"O quê?" April disse, fingindo incompreensão. Riley apontou para o pé suspeito.

"Mova seu pé."

April gemeu em voz alta e obedeceu. De fato, seu chinelo estava cobrindo um baseado de maconha recém-esmagado. Uma nuvem de fumaça subiu vindo dele e o cheiro ficou mais forte do que nunca.

Riley abaixou-se e o pegou. "Agora me dê o resto." April deu de ombros. "O resto do quê?"

Riley não conseguia manter a voz firme. "April, estu falando sério. Não minta para mim. Por favor."

April revirou os olhos e enfiou a mão no bolso da camisa. Ela tirou um outro cigarro de maconha que não tinha sido

aceso.

"Oh, pelo amor de Deus, toma," ela disse, entregando-o à sua mãe. "Não tente me dizer que você vai fumá-los assim que tiver uma chance."

Riley empurrou os dois baseados no bolso do roupão de banho. "O que mais você tem?" Ela exigiu.

"É só isso aí, só tenho isso," April retrucou. "Você não acredita em mim? Bem, vá em frente, pode me revistar. Reviste o meu quarto. Veja em todos os lugares. Isso é tudo que eu tenho."

Riley estava tremendo por inteiro. Ela se esforçou para deixar suas emoções sob controle. "Onde você conseguiu isso?" Ela perguntou.

April deu de ombros. "Cindy deu para mim." "Quem é Cindy?

April soltou uma risada cínica. "Bem, você não sabe, não é, mãe? Como se você soubesse muita coisa sobre a minha vida. Por que você se importa, de qualquer maneira? Quero dizer, isso faz alguma diferença para você, se me drogar?"

Riley se sentiu golpeada agora. April tinha acertado seus sentimentos, e isso doeu. Riley não pôde conter mais as lágrimas.

"April, por que você me odeia?" Ela chorou.

April pareceu surpresa, mas dificilmente arrependida. "Eu não odeio você, mãe." "Então por que você fica me punindo ? O que foi que eu fiz para merecer isso?"

April olhou para longe. "Talvez você devesse passar algum tempo pensando sobre isso, mãe."

April levantou-se do banco e caminhou em direção à casa.

Riley vagou pela cozinha, tirando mecanicamente tudo o que ela precisava para fazer o café da manhã. Quando ela retirou os ovos e bacon da geladeira, ficou se perguntando o que fazer sobre aquela situação. Ela devia colocar April de castigo imediatamente. Mas, exatamente como ela poderia fazer isso?

Quando Riley estiver de folga do trabalho, ela fora capaz de manter o controle sobre sua filha. Mas tudo era diferente agora. Agora que Riley estava de volta ao trabalho, seus horários eram descontroladamente imprevisíveis. E, aparentemente, sua filha também.

Riley refletia sobre suas escolhas quando colocou as tiras de bacon na frigideira para fritar. Uma coisa parecia certa. Já que April iria passar tanto tempo com seu pai, Riley realmente deveria contar a Ryan o que tinha acontecido. Mas isso iria abrir um outro mundo de problemas. Ryan já estava convencido de que Riley era incompetente no ambiente doméstico, tanto como esposa e mãe. Se Riley lhe dissesse que ela tinha pego April fumando maconha no quintal, ele teria absoluta certeza disso.

E talvez ele esteja certo, ela pensou miseravelmente enquanto empurrava duas fatias de pão para dentro da torradeira.

Até agora, Ryan e Riley tinha conseguido evitar uma batalha de custódia em relação a April. Ela sabia que, embora ele nunca admitisse, Ryan estava desfrutando demais sua liberdade como um solteirão para querer ser incomodado com a criação de uma adolescente. Ele não ficou animado quando Riley lhe dissera que April iria passar mais tempo com ele.

Mas também sabia que a atitude de seu ex-marido poderia mudar muito rapidamente, especialmente se ele achasse uma desculpa para culpá-la por alguma coisa. Se ele descobrisse que April esteve fumando maconha, ele poderia tentar tirá-la completamente de Riley. Esse pensamento era insuportável.

Poucos minutos depois, Riley e sua filha estavam sentadas à mesa, comendo o café da manhã. O silêncio entre elas estava ainda mais estranho do que o habitual.

Finalmente, April perguntou, "Você vai contar para o papai?" "Você acha que talvez eu deveria?" Riley respondeu.

Parecia uma resposta honesta o suficiente, dadas as circunstâncias. April baixou a cabeça, parecendo preocupada.

Então April implorou: "Por favor não diga à Gabriela."

As palavras atingiram Riley direto no coração. April estava mais preocupada com a sua empregada descobrir do que com o que seu pai poderia pensar - ou sua própria mãe, inclusive.

Então as coisas ficaram tão mal assim, Riley pensou miseravelmente.

As poucas coisas preciosas de sua vida familiar estavam se desintegrando bem diante de seus olhos. Ela sentiu como se nem fosse mais uma mãe. Ela se perguntou se Ryan tinha quaisquer sentimentos sobre ser um pai.

Provavelmente não. Sentir culpa não era o estilo de Ryan. Ela às vezes o invejava por sua indiferença emocional.

Depois do café da manhã, enquanto April se aprontava para ir à escola, a casa ficou em silêncio, e Riley começou a pensar sobre a outra coisa que tinha acontecido naquela manhã-e se tinha acontecido. O que ou quem tinha causado aquele barulho na porta da frente? Teria havido um barulho na porta da frente? Da onde vieram aquelas pedrinhas?

Ela lembrou o pânico de Marie sobre os telefonemas estranhos e um medo obsessivo estava crescendo dentro dela, ficando fora de controle. Ela pegou seu celular e ligou para um número familiar.

"Betty Richter, técnica forense do FBI," veio a resposta sucinta.

"Betty, aqui é Riley Paige." Riley engoliu em seco. "Acho que você sabe por que eu estou ligando." Afinal, Riley tinha feito esta mesma chamada a cada dois ou três dias durante

as últimas seis semanas. A agente Richter tinha sido encarregada de concluir os detalhes sobre o caso Peterson, e Riley queria desesperadamente a solução.

"Você quer que lhe diga que Peterson está realmente morto," disse Betty em um tom simpático. Betty era a própria alma da paciência, compreensão e bom humor, e Riley estava agradecida de poder falar com ela sobre o assunto.

"Eu sei que é ridículo."

"Depois de tudo que você passou?" Betty disse. "Não, eu não penso assim. Mas eu não tenho nada de novo para falar. Apenas a mesma coisa antiga. Encontramos o corpo de Peterson. Claro, ele foi queimado até virar cinzas, mas tinha exatamente sua altura e tipo físico. Não poderia ter sido outra pessoa."

"Quanta certeza você tem sobre isso? Dê-me uma porcentagem." "Eu diria que noventa e nove por cento," ela respondeu. Riley respirou longa e profundamente.

"Você não pode dizer cem?" Ela perguntou.

Betty suspirou. A"Riley, eu não posso te dar cem por cento de certeza sobre quase nada nessa vida. Ninguém pode. Ninguém tem cem por cento de certeza que o sol vai nascer amanhã de manhã. A Terra pode ser esbofeteada por um asteróide gigante neste meio tempo e nós vamos estar todos mortos."

Riley emitiu uma risada triste.

"Obrigado por me dar algo mais com que se preocupar," disse ela. Betty riu um pouco também. "Quando você quiser," disse ela. "Fico feliz em ajudar." "Mamãe?" April a chamou, estava pronta para ir para a escola.

Riley terminou o telefonema, se sentindo um pouco melhor, e preparou-se para ir. Depois de deixar April, ela havia concordado em buscar Bill naquele dia. Eles tinham um suspeito para entrevistar, que encaixava em todos os dados demográficos.

E Riley tinha uma sensação de que ele poderia ser o assassino selvagem que estavam procurando.


Capítulo 13


Riley desligou o motor e parou diante da casa de Bill, admirando sua bela moradia de dois andares. Ela sempre quis saber como ele conseguia manter o gramado da frente com um verde saudável e aqueles arbustos ornamentais tão impecavelmente aparados. A vida familiar de Bill poderia estar em crise, mas ele com certeza tinha um belo jardim, um ajuste perfeito para aquele pitoresco bairro residencial. Ela não podia deixar de se perguntar como seriam os quintais daquela pequena comunidade tão perto de Quantico.

Bill saiu e sua mulher, Maggie, apareceu atrás dele dando a Riley um olhar feroz. Riley desviou o olhar.

Bill entrou e fechou a porta atrás dele. "Vamos dar o fora daqui," ele rosnou.

Riley ligou o carro e se afastou do meio-fio. "Acho que nem tudo está bem em casa," disse ela.

Bill balançou a cabeça.

"Nós tivemos uma grande briga quando cheguei em casa bem tarde na noite passada. Tudo começou de novo esta manhã." Ele ficou em silêncio por um momento e depois acrescentou sombriamente: "Ela está falando sobre o divórcio novamente. E ela

quer a custódia total dos meninos."

Riley hesitou, mas depois ela foi em frente e fez a pergunta que estava em sua mente, "E eu sou parte do problema?"

Bill ficou em silêncio.

"Sim," ele finalmente admitiu. "Ela não ficou feliz em saber que estamos trabalhando juntos novamente. Ela diz que você é uma má influência."

Riley não sabia o que dizer.

Bill acrescentou, "Ela diz que eu fico pior quando estou trabalhando com você. Fico mais distraído, mais obcecado com o meu trabalho."

É verdade, Riley pensou. Ela e Bill eram obcecados com seu trabalho. O silêncio instalou-se novamente enquanto dirigiam. Depois de alguns minutos, Bill abriu seu laptop. "Eu tenho alguns detalhes sobre o cara com quem vamos conversar. Ross Blackwell." Ele examinou a tela.

"Um criminoso sexual registrado," acrescentou. O lábio de Riley enrolou em desgosto.

"Que denúncias?"

"Posse de pornografia infantil. Ele era suspeito de mais, mas nada nunca foi provado. Está no banco de dados, mas há restrições sobre a sua atividade. Foi há dez anos e esta foto é muito velha."

Dissimulado, ela pensou. Talvez difícil de apanhá-lo.

Bill continuou lendo.

"Demitido de vários trabalhos, por motivos vagos. A última vez ele estava trabalhando em uma loja de uma rede em um grande shopping center no Beltway - bem comercial, seu mercado é principalmente famílias com crianças. Quando pegaram Blackwell colocando bonecas em posições excêntricas, eles o demitiram e o denunciaram."

"Um homem com uma peculiaridade sobre bonecas e um registro de pornografia infantil," Riley murmurou. Até então, Ross Blackwell se encaixava no perfil que ela estava começando a montar.

"E agora?" Ela perguntou.

"Ele tem um emprego em uma loja de bohhies e colecionáveis," Bill respondeu. "Outra loja de rede em outro

shopping."

Riley ficou um pouco surpresa.

"Os gerentes não sabiam sobre o histórico de Blackwell quando o contrataram?" Bill deu de ombros.

"Talvez eles não se importem. Seus interesses parecem ser totalmente heterossexuais. Talvez eles tenham pensado que ele não teria como fazer nada de mal em um lugar onde só há modelos de carros, aviões e trens."

Ela sentiu um arrepio pelo corpo dela. Por que um cara como ele consegue ser capaz de conseguir outro emprego? Este homem parecia ser um provável assassino cruel. Por que ele iria ficar à solta todos os dias, andando por aí, entre aqueles que são vulneráveis?

Eles finalmente conseguiram pegar o caminho através do trânsito implacável para Sanfield. O subúrbio de D.C. atingiu Riley como um exemplo típico de uma "cidade marginal," em grande parte composta de centros comerciais e sedes de empresas. Ela achava que era um local sem alma, falso e deprimente.

Ela estacionou na parte de fora do enorme shopping center. Por um momento, ela apenas sentou-se no banco do motorista e olhou para a velha fotografia de Blackwell no laptop de Bill. Não havia nada de distintivo em seu rosto, apenas um cara branco de cabelos escuros e uma expressão insolente. Agora, ele estava na casa dos cinquenta.

Ela e Bill saíram do carro e se dirigiam a pé através da utopia dos consumidores, até que viram a loja de colecionáveis aparecer.

"Eu não quero deixá-lo escapar," disse Riley. "E se ele nos avistar e fugir?" "Nós deveríamos encurralá-lo dentro," Bill respondeu. "Imobilizá-lo e colocar os

clientes para fora."

Riley colocou uma mão em sua arma.

Ainda não, disse a si mesma. Não cause pânico se não for necessário.

Ela ficou ali por um momento, observando os clientes da loja indo e vindo. Blackwell era um daqueles caras? Ele já teria escapado?

Riley e Bill entraram pela porta da loja de modelos colecionáveis. A maior parte do espaço era ocupada por uma extensa e detalhada reprodução de uma pequena cidade, com um trem correndo e semáforos piscando. Havia modelos de aviões pendurados no teto. Não havia uma boneca à vista.

Vários homens pareciam estar trabalhando na loja, mas nenhum deles se encaixava na imagem que tinha em mente.

"Eu não posso localizá-lo," disse Riley.

Na recepção, Bill perguntou: "Vocês tem um tal de Ross Blackwell trabalhando aqui?"

O homem na caixa registradora assentiu com a cabeça e apontou para uma prateleira com kits de modelagem para maquetes. Um homem baixo, atarracado, com cabelos grisalhos estava separando a mercadoria. Estava de costas para eles.

Riley tocou sua arma novamente, mas deixou-a no coldre. Ela e Bill se espalharam para que eles pudessem impedir qualquer tentativa de fuga que Blackwell pudesse fazer.

Seu coração bateu mais rápido quando ela se aproximou. "Ross Blackwell?" Riley perguntou.

O homem virou-se. Ele usava óculos de lentes grossas e sua barriga se projetava sobre o cinto. Riley ficou especialmente impressionada com a maçante palidez e anemia de sua pele. Ela pensou que ele não parecia do tipo de correria, mas seu julgamento de "esquisitão" lhe servia muito bem.

"Depende," Blackwell respondeu com um sorriso largo. "O que vocês querem?" Riley e Bill mostraram-lhe seus distintivos.

"Uau, federais, hein?" Blackwell disse, soando quase satisfeito. "Isso é novo. Eu estou acostumado a lidar com as autoridades locais. Vocês não estão aqui para me prender, eu espero. Porque eu realmente pensei que todos os mal-entendidos estranhos eram uma coisa do passado."

"Nós apenas gostaríamos de fazer-lhe algumas perguntas," disse Bill. Blackwell sorriu um pouco e inclinou a cabeça interrogativamente.

"Algumas perguntas, hein? Bem, eu conheço as Cláusulas dos Direitos praticamente de cor. Eu não tenho que falar com vocês, se eu não quiser. Mas então, por que não? Pode até ser divertido. Se vocês me comprarem uma xícara de café, tudo bem por mim."

Blackwell caminhou em direção à recepção, e Riley e Bill seguiram logo atrás dele. Riley estava alerta para qualquer tentativa de evasão.

"Eu estou tendo uma pausa para tomar café, Bernie," Blackwell gritou para o caixa.

Riley podia dizer pela expressão de Bill que ele estava se perguntando se eles tinham pego o cara certo. Ela entendia por que ele se sentia assim. Blackwell não parecia nem um pouco incomodado de vê-los. Na verdade, ele parecia estar bastante satisfeito.

Mas, até onde Riley sabia, isto o fez parecer mais amoral e anti-social. Alguns dos mais vis assassinos em série da história tinham mostrado muito charme e auto-confiança. A última coisa que ela esperava era que o assassino aparentasse um pouco de culpa.

Era apenas um curto caminho até a praça de alimentação. Blackwell escoltou Bill e Riley direto para um contador de café. Se o homem estava nervoso sobre estar com dois agentes do FBI, ele não aparentava.

Uma menina que estava andando logo atrás de sua mãe tropeçou e caiu bem na frente deles. "Opa!" Blackwell gritou alegremente. Ele inclinou-se e colocou a criança de pé. A mãe fez um agradecimento automático, em seguida, pegou sua filha pela mão. Riley observou

Blackwell olhou para as pernas nuas da menina sob a saia curta, e ela se sentiu mal do estômago. Sua suspeita se aprofundou.

Riley agarrou o braço de Blackwell com força, mas ele deu-lhe um olhar de espanto e inocência. Ela balançou o braço dele e depois soltou.

"Pegue seu café," disse ela, balançando a cabeça em direção ao balcão do café mais próximo.

"Eu queria um cappuccino," disse Blackwell para a jovem atrás do balcão. "Essas pessoas vão pagar."

Então, voltando-se para Bill e Riley, ele perguntou: "O que vocês dois querem?" "Nós estamos bem," respondeu Riley.

Bill pagou o cappuccino e os três se dirigiram para uma mesa que não tinha outras pessoas sentadas nas proximidades.

"Ok, então o que você quer saber sobre mim?" Perguntou Blackwell. Ele parecia relaxado e amigável. "Espero que vocês não me julguem tanto quanto as autoridades a quais estou acostumado. As pessoas são tão mente fechada nos dias de hoje."

"Mente fechada sobre a colocação de bonecas em poses obscenas?" Bill perguntou.

Blackwell parecia sinceramente ofendido. "Você faz isso parecer tão pornográfico," disse ele. "Não havia nada de obsceno naquilo. Dê uma olhada por si mesmos."

Blackwell pegou seu telefone celular e começou a mostrar fotografias de suas obras. Elas incluiam pequenos quadros que ele havia criado dentro de casas de bonecas. As pequenas figuras humanas estavam em vários estados de nudez. Elas haviam sido colocadas em uma matriz imaginativa de grupos e posições em diferentes partes das casas. A mente de Riley estava confusa com a variedade de atos sexuais retratados nas fotos, alguns deles muito provavelmente ilegais em muitos estados.

Parecem bastante obscenos para mim, Riley pensou.

"Eu estava sendo satírico," explicou Blackwell. "Eu estava fazendo uma importante declaração social. Vivemos em uma cultura tão grosseira e materialista. Alguém tem que fazer esse tipo de protesto. Eu estava exercendo meu direito de liberdade de expressão de uma forma completamente responsável. Eu não estava abusando dela. Não é como se eu estivesse gritando "fogo" num teatro lotado."

Riley percebeu que Bill estava começando a parecer indignado.

"E sobre as crianças que encontram essas pequenas cenas suas?" Bill perguntou. "Você não acha que está prejudicando-as?"

"Não, na realidade, eu não acho," disse Blackwell presunçosamente. "Eles tiram coisas piores da mídia todos os dias. Não existem mais coisas como a inocência da infância. Isso é exatamente o que eu estava tentando dizer ao mundo. Parte o meu coração, eu lhe digo."

Ele, na verdade, parecia realmente pensar assim, Riley pensou.

Mas era óbvio para ela que ele não queria dizer nada daquilo. Ross Blackwell não tem um único osso moral ou empatia em seu corpo. Riley suspeitava de sua culpa mais e mais a cada momento que passava.

Ela tentou ler seu rosto. Não foi fácil. Como todos os verdadeiros sociopatas, ele mascarava seus sentimentos com incrível habilidade.

"Diga-me, Ross," disse ela. "Você gosta do ar livre? Quero dizer, como acampar e pescar." O rosto de Blackwell se iluminou com um sorriso largo. "Oh, sim. Desde que eu era pequeno. Eu fui escoteiro

há muito tempo. Eu às vezes ia para o meio da natureza sozinho e ficava às vezes por semanas. Às vezes eu acho que fui Daniel Boone em uma vida anterior."

Riley perguntou: "Você gosta de ir caçar, também?"

"Claro, o tempo todo," respondeu ele com entusiasmo. "Eu tenho um monte de troféus em casa. Você sabe, cabeças de alces e veados. Eu monto todos eles sozinho. Eu tenho uma atração pela taxidermia."

Riley olhou para Blackwell.

"Você tem algum lugar favorito? Florestas e tal, eu quero dizer. Parques nacionais e estaduais." Blackwell coçou o queixo, pensativo.

"Eu vou muito para Yellowstone," disse ele. "Eu suponho que seja o meu favorito. Claro, é difícil de bater o parque da montanhas Great Smoky. O Yosemite, também. Não é fácil escolher."

Bill soltou, "E quanto ao Parque Estadual Mosby? Ou talvez aquele parque nacional perto de Daggett?" Blackwell, de repente, parecia um pouco cauteloso.

"Por que vocês querem saber?" ele perguntou, inquieto.

Riley sabia que o momento da verdade - ou seu oposto - tinha finalmente chegado. Ela enfiou a mão na bolsa e tirou fotografias das vítimas de assassinato, tiradas quando estavam vivas.

"Você consegue identificar qualquer uma dessas mulheres?" Riley perguntou. Os olhos de Blackwell se arregalaram em alarme.

"Não," ele disse, com a voz trêmula. "Eu nunca as vi em minha vida."

"Você tem certeza?" Riley cutucou. "Talvez seus nomes refresquem a sua memória. Reba Frye. Eileen Rogers. Margaret Geraty."

Blackwell parecia à beira de puro pânico.

"Não," ele respondeu. "Eu nunca as vi. Nunca ouvi falar de seus nomes".

Riley estudou seu rosto de perto por um momento. Por fim, ela entendeu completamente a situação. Ela sabia tudo o que precisava saber sobre Ross Blackwell.

"Obrigado pelo seu tempo, Ross," disse ela. "Nós entraremos em contato se precisarmos saber de mais alguma coisa."

Bill parecia surpreso ao segui-la para fora da praça de alimentação.

"O que estava acontecendo lá atrás?" Ele retrucou. "O que você está pensando? Ele é culpado e ele sabe que estamos em cima dele. Não podemos deixá-lo sair de nossa vista, até que possamos pegá-lo."

Riley soltou um leve suspiro de impaciência.

"Pense, Bill," disse ela. "Será que você deu uma olhada na pele pálida dele? Nem mesmo uma única sarda. Esse cara mal passou um dia inteiro ao ar livre em sua vida."

"Então ele não é realmente um escoteiro?"

Riley riu ligeiramente. "Não," ela disse. "E eu posso te jurar que ele nunca foi para Yellowstone ou Yosemite nem para as montanhas Great Smoky. E ele não sabe nada sobre taxidermia."

Bill parecia realmente envergonhado agora. "Ele realmente me fez acreditar nele," disse Bill. Riley concordou com a cabeça.

"Claro que ele fez," ela falou. "Ele é um grande mentiroso. Ele pode fazer as pessoas acreditarem que ele está dizendo a verdade sobre qualquer coisa. E ele adora mentir. Ele faz isso sempre que tiver oportunidade e, quanto maior for a mentira, melhor. "

Bill fez uma pausa por um momento.

"O problema é que," Riley acrescentou, "ele é péssimo em dizer a verdade. Ele não está acostumado. Ele perde a calma quando ele tenta fazê-lo."

Bill caminhou em silêncio ao seu lado por um momento, tentando absorver tudo. "Então você está dizendo...?" ele começou.

"Ele estava dizendo a verdade sobre as mulheres, Bill. É por isso que ele parecia tão culpado. A verdade sempre soa como uma mentira quando ele tenta contá-la. Ele realmente e verdadeiramente nunca viu qualquer uma dessas mulheres em sua vida. Não estou dizendo que ele não é capaz de matar. Ele provavelmente é. Mas ele não cometeu estes assassinatos."

Bill resmungou baixinho. "Droga," ele resmungou.

Riley não disse nada o resto do caminho para o carro. Este foi um sério revés. Quanto mais pensava sobre isso, mais alarmada ela sentia. O verdadeiro assassino ainda estava lá fora, e eles ainda não tinham a menor idéia de quem ou onde ele estava. E ela sabia, ela simplesmente sabia, que ele iria matar de novo em breve.

Riley estava ficando frustrada com sua inabilidade em desvendar aquele caso, mas, à medida que ela forçava seu cérebro, de repente, ocorreu-lhe que ela precisava conversar com alguém. Naquele exato momento.


Capítulo 14


Eles estavam a uma curta distância de Sanfield quando Riley de repente atravessou duas pistas e entrou em uma rampa de saída.

Bill ficou surpreso. "Para onde estamos indo?" Ele perguntou. "Belding," Riley respondeu.

Bill olhou para ela do assento do passageiro, à espera de mais de uma explicação.

"O marido de Margaret Geraty ainda vive lá," disse ela. "Roy é seu nome, certo? Roy Geraty. E ele não possui um posto de gasolina ou algo assim?"

"Na verdade, é uma loja de fornecimento e reparos de automóveis" respondeu Bill. Riley assentiu. "Nós vamos visitá-lo," disse ela. Bill deu de ombros em dúvida.

"Ok, mas eu não sei por que," disse ele. "A polícia local fez um trabalho muito minucioso ao entrevistá-lo sobre o assassinato de sua esposa. Eles não obtiveram nenhuma pista."

Riley não disse nada por um tempo. Ela já sabia de tudo isso. Ainda assim, ela sentiu como se houvesse algo ainda a ser aprendido. Algum tipo de ponta solta deve ter sido deixado pendurado em Belding, uma viagem curta através do interior da Virginia. Ela só tinha que descobrir o que era - se pudesse. Mas ela estava começando a duvidar de si mesma.

"Estou enferrujada, Bill," Riley murmurou enquanto dirigia. "Por um tempo lá atrás, eu estava realmente certa de que Ross Blackwell era o nosso assassino. Eu deveria ter percebido mais à primeira vista. Meus instintos estão ruins."

"Não seja tão dura consigo mesma," respondeu Bill. "Ele parecia se encaixar com o seu perfil."

Riley gemeu baixinho. "Sim, mas meu perfil estava errado. Nosso cara não exibiria bonecas assim - e não em um lugar público."

"Por que não?" Bill perguntou. Riley pensou por um momento.

"Porque ele leva muito a sério as bonecas," ela respondeu. "Elas detêm algum significado muito profundo para ele. É algo pessoal. Eu acho que ele ficaria ofendido por pequenas acrobacias como as de Blackwell, a forma como ele as posou. Ele iria considerá-las vulgar. Bonecas não são brinquedos para ele. Elas são... Eu não sei. Eu não consigo entender."

"Eu sei como a sua mente funciona," disse Bill. "E seja o que for, você eventualmente saberá." Riley ficou em silêncio enquanto ela repassava mentalmente alguns dos acontecimentos dos últimos dias. Isso só aumentou sua sensação de insegurança.

"Eu estive errado sobre outras coisas também," Bill falou. "Eu pensei que o assassino tinha mães como alvo. Eu tinha certeza. Mas Margaret Geraty não era uma mãe. Como eu pude estar errado sobre isso?"

"Você vai encontrar seu ritmo em breve," disse Bill.

Eles chegaram aos arredores de Belding. Era uma cidade pequena de aparência cansada que devia estar lá há gerações. Mas as fazendas próximas tinham sido compradas por famílias ricas que queriam ser "agricultores decentes" e ainda frequentar seus poderosos empregos em D.C. A cidade foi desaparecendo e quase se poderia dirigir por ela sem percebê-la.

O negócio de reparação de automóveis e fornecimento de Roy Geraty era impossível de não notar.

Riley e Bill saíram do carro e entraram no escritório meio decadente da frente. Não havia mais ninguém lá. Riley tocou uma campainha no balcão. Eles esperaram, mas ninguém veio. Depois de alguns minutos, eles se aventuraram na garagem. Um único par de pés apareceram por baixo de um veículo.

"Você é Roy Geraty?" Riley perguntou.

"Sim," veio uma voz de debaixo do carro.

Riley olhou em volta. Não havia outro funcionário à vista. Será que as coisas estavam tão ruins que o proprietário tinha que fazer tudo sozinho?

Geraty veio rolando para fora da parte de baixo do carro e olhou para eles com desconfiança. Ele era um homem corpulento, no meio de seus trinta e tantos anos, e estava usando um macacão manchado de óleo. Ele limpou as mãos em um pano sujo e se levantou.

"Vocês não são daqui," disse ele. E acrescentou: "Bem, no que posso ajudá-los?" "Estamos com o FBI," disse Bill. "Nós gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas." "Ah, Jesus," o homem rosnou. "Eu não preciso disso."

"Não vai demorar muito," Riley falou.

"Bem, vamos lá," o homem resmungou. "Se temos que falar, temos que falar."

Ele levou Riley e Bill para uma pequena área de descanso de funcionários, com um par de máquinas de venda automática. Todos se sentaram em cadeiras de plástico. Quase como se não houvesse mais ninguém ali, Roy pegou um controle remoto e ligou uma televisão velha. Ele se atrapalhou com a mudança de canais até que encontrou um antigo seriado de comédia. Então ele olhou para a tela.

"Só perguntem o que vocês querem e vamos acabar logo com isso," disse ele. "Estes últimos dias foram um inferno."

Riley achou fácil adivinhar o que ele queria dizer.

"Lamento que o assassinato de sua esposa esteja de volta nos jornais," disse ela.

"Os noticiários dizem que houve mais dois parecidos," Geraty falou. "Eu não consigo acreditar. Meu telefone tem tocado o tempo inteiro com repórteres e outros idiotas. Minha caixa de entrada de e-mails está inundada também. Não há mais respeito pela privacidade. E a pobre Evelyn - minha esposa, ela está realmente abalada com isso."

"Você se casou novamente?" Bill perguntou.

Geraty assentiu, ainda olhando para a tela da TV. "Nós nos casamos sete meses depois de Margaret..."

...”

Ele não conseguiu terminar a frase.

"As pessoas da vizinhança acharam que foi muito rápido," disse ele. "Não pareceu rápido para mim. Eu nunca estive mais solitário em minha vida. Evelyn foi um presente dos céus. Eu não sei o que seria de mim sem ela. Acho que talvez eu teria morrido."

Sua voz tornou-se cheia de emoção.

"Nós temos uma bebezinha agora. Seis meses de idade. O nome dela é Lucy. A alegria da minha vida." O seriado de comédia da TV irrompeu com uma risada inadequada. Geraty fungou e pigarreou e recostou-se na cadeira.

"De qualquer forma, tenho certeza que não consigo entender o que vocês querem me perguntar," disse ele. "Parra mim, eu respondi todo o tipo de pergunta que você pode imaginar dois anos atrás. Não serviu para nada. Vocês não conseguiram pegar o cara naquela época, e vocês não vão pegá-lo agora."

"Nós ainda estamos tentando," disse Riley. "Nós vamos trazê-lo à justiça." Mas ela podia sentir o vazio em suas próprias palavras.

Ela parou por um momento, então perguntou: "Você mora aqui perto? Eu queria saber se poderíamos visitar a sua casa, olhar ao redor."

Geraty enrugou a testa, pensando.

"Eu preciso? Ou eu tenho uma escolha sobre isso?" Ele perguntou. Sua pergunta pegou Riley um pouco de surpresa.

"É apenas um pedido," disse ela. "Mas pode ser útil." Geraty balançou a cabeça com firmeza.

"Não," ele respondeu. "Eu preciso estabelecer um limite. Os policiais praticamente se mudaram para minha casa naqueles dias. Alguns deles tinham certeza de que eu tinha matado ela. Talvez alguns de vocês estejam pensando a mesma coisa agora. Que matei alguém."

"Não," Riley tranquilizou-o. "Não é por isso que estamos aqui." Ela viu que Bill estava assistindo o mecânico com muita atenção.

Geraty não olhou para cima. Ele simplesmente continuou. "E coitada da Evelyn - ela está em casa com Lucy, ela já está uma pilha de nervos de todos os telefonemas. Eu não vou deixá-la ser afetada por essas coisas. Me desculpe, eu não quero ser não cooperativo. É só que eu já tive o bastante."

Riley podia dizer que Bill estava prestes a insistir. Ela falou antes que ele o fizesse. "Eu entendo," disse ela. "Está tudo bem."

Riley tinha certeza de que ela e Bill provavelmente não iriam encontrar nada importante visitando a casa de Geraty de qualquer maneira. Mas talvez ele pudesse responder a uma ou duas perguntas.

"Será que sua esposa - Margaret, sua primeira esposa - gostava de bonecas?" Riley perguntou com cautela. "Ela colecionava, talvez?"

Geraty se virou para ela, desviando o olhar da TV pela primeira vez. "Não," ele respondeu, parecendo surpreso com a pergunta.

Riley percebeu que ninguém teria feito essa pergunta em particular antes. De todas as teorias que a polícia poderia ter tido dois anos atrás, bonecas não estariam entre elas. E mesmo no assédio que ele estava passando por agora, ninguém mais teria feito uma conexão com bonecas.

"Ela não gostava," Geraty continuou. "Não que ela odiasse. Mas ela as deixava triste. Ela não podia -nós não podíamos - ter filhos, e bonecas sempre a fizeram pensar sobre isso. Elas a lembravam disso. Às vezes, ela até chorava quando estava em torno de bonecas."

Com um profundo suspiro, ele se voltou para a TV novamente.

"Ela estava infeliz com isso durante os últimos anos," disse ele em voz baixa, distante. "Em não ter filhos, quero dizer. Com tantos amigos e parentes tendo seus próprios filhos. Parecia que todo mundo, exceto nós, estava tendo bebês ou cuidando de seus filhos. Havia sempre chás de bebê para ir, as mães sempre pediam-lhe para ajudar com festas de aniversário. Realmente a deixavam para baixo."

Riley sentiu um nó na garganta, simpatizando. Seu coração se solidarizou com aquele homem, que ainda estava tentando colocar sua vida de volta ao normal depois de uma tragédia incompreensível.

"Eu acho que isso é tudo, Mr. Geraty," disse ela. "Muito obrigada pelo seu tempo. E eu sei que é muito tarde para se dizer isso, mas eu sinto muito pela sua perda."

Alguns momentos depois, Riley e Bill estavam dirigindo para longe. "Uma viagem desperdiçada," disse Riley para Bill.

Riley olhou para o retrovisor e viu a pequena cidade de Belding desaparecer por trás deles. O assassino não estava lá, ela sabia. Mas ele estava em algum lugar na área que Flores tinha mostrado no mapa. Em algum lugar perto. Talvez eles estivessem dirigindo perto de seu trailer agora e nem sequer sabiam disso. O pensamento torturava Riley. Ela quase podia sentir a sua presença, sua ânsia, seu desejo de torturar e matar que estava se tornando uma necessidade cada vez mais premente.

E ela precisava impedi-lo.


Capítulo 15


O homem foi despertado pelo alarme do telefone celular. No começo, ele não sabia onde estava. Mas ele soube imediatamente que aquele dia seria importante. Era o tipo de dia pelo qual ele vivia.

Ele sabia que tinha despertado naquele lugar estranho por uma razão muito boa - porque era para ser esse tipo de dia. Seria um dia de deliciosa satisfação para ele e de puro terror e dor indescritível para alguém.

Mas onde ele estava? Ainda meio adormecido, ele não conseguia se lembrar. Ele estava deitado em um sofá em um quarto pequeno, com carpete, olhando para um frigorífico e um microondas. A luz da manhã atravessava uma janela.

Ele levantou-se, abriu a porta do quarto e olhou para um corredor escuro. Ele acendeu a luz do quarto ao lado do batente da porta. A luz iluminou o corredor e em uma porta aberta em frente ao corredor. Ele avistou uma mesa de exame médico com estofado preto e alguns papéis brancos esterilizados esticados ao longo dela.

Claro, ele pensou. A clínica médica pública.

Agora ele se lembrava onde estava e como tinha chegado ali. Ele congratulou-se por sua discrição e astúcia. Ontem ele chegou à clínica no final do dia, quando ela estava especialmente cheia. No meio da agitação dos pacientes, ele havia pedido uma simples avaliação da pressão arterial. E foi ela a enfermeira que o examinara.

A própria mulher que ele tinha ido ali para ver. A mulher que ele esteve observando por dias, em sua casa, quando ela ia fazer compras, quando ela ia até lá para trabalhar.

Após a avaliação da pressão arterial, ele se espremeu em um espaço apertado bem no fundo de um armário de abastecimento. Os funcionários eram tão inocentes. A clínica tinha fechado e todos tinham ido para casa, mesmo sem checar os armários. Então, ele se arrastou para fora e se sentiu em casa, na pequena sala de estar dos empregados. Ele tinha dormido bem.

E hoje seria um dia memorável.

Ele acendeu a luz de teto imediatamente. Ninguém de fora deve saber que alguém estava no prédio. Ele olhou para o horário em seu telefone celular. Faltava apenas alguns minutos antes das sete da manhã. Ela iria chegar a qualquer momento. Ele sabia por causa de seus dias de vigilância. Era seu trabalho

aprontar a clínica para médicos e pacientes, todas as manhãs. A clínica em si não seria aberta até às oito. Entre sete e oito, ela estava sempre sozinha.

Mas hoje ia ser diferente. Hoje, ela não estaria sozinha.

Ele ouviu um carro parar no estacionamento do lado de fora. Ele ajustou as persianas apenas o suficiente para olhar para o exterior. Era ela, como ele havia planejado, saindo do carro.

Ele não teve problemas para acalmar seus nervos. Não era como aquelas duas primeiras vezes, quando ele tinha se sentido tão temeroso e apreensivo. Desde a terceira vez, quando tudo tinha fluido tão bem, ele sabia que tinha realmente alcançado seu sucesso. Agora ele era experiente e habilidoso.

Mas havia uma coisa que ele queria fazer um pouco diferente, só para variar sua rotina, fazer aquela vez um pouco diferente das outras.

Ele iria surpreendê-la com um pequeno agrado - seu próprio cartão telefônico.


*


Enquanto Cindy MacKinnon caminhava pelo estacionamento vazio, ela ensaiou mentalmente sua rotina diária. Depois de obter todos os suprimentos no lugar, sua primeira tarefa seria assinar os pedidos de recarga das farmácias e certificar que os calendários das consulta estava atualizado.

Os pacientes estariam esperando do lado de fora no momento em que eles abrissem, às oito. O resto do dia seria dedicado a tarefas diversas, incluindo a avaliação de sinais vitais, exames de sangue, dar injeções, marcar consultas, cumprir as exigências muitas vezes irracionais dos enfermeiros e médicos cadastrados.

Seu trabalho ali como uma enfermeira licenciada não era glamouroso. Mesmo assim, ela amava o que fazia. Era profundamente gratificante ajudar as pessoas que, de outra forma, não poderiam ter recursos para cuidados médicos. Ela sabia que eles salvavam vidas ali, mesmo com os serviços básicos que eles ofereciam.

Cindy pegou as chaves da clínica de sua bolsa e abriu a porta de vidro. Ela entrou rapidamente e fechou a porta atrás dela. Alguém mais iria abri-la novamente às oito horas. Em seguida, ela imediatamente apertou o código para desativar o alarme do edifício.

Quando ela entrou na sala de espera, algo chamou sua atenção. Era um pequeno objeto no chão. Sob a penumbra, ela não conseguia entender o que era.

Ela acendeu as luzes do teto. O objeto no chão era uma rosa.

Ela caminhou até ali e a pegou. A rosa não era de verdade. Era artificial, feita de tecido barato. Mas o que ela estava fazendo ali?

Provavelmente um paciente a derrubara ontem. Mas por que alguém não a pegou após a clínica fechar, às cinco horas?

Por que ela não a viu ontem? Ela tinha esperado até que a mulher da limpeza terminasse seu trabalho. Ela tinha sido a última a sair e tinha certeza que a rosa não estava lá.

Então veio uma descarga de adrenalina e uma explosão de puro medo. Ela sabia o que significava a rosa. Ela não estava sozinha. Ela sabia que tinha que sair. Ela não tinha nenhuma fração de segundo a perder.

Mas, quando ela se virou para correr em direção à porta, uma mão forte agarrou-lhe o braço por trás, obrigando-a a parar. Não havia tempo para pensar. Ela teve que deixar seu corpo agir por conta própria.

Ela ergueu o cotovelo e virou, jogando todo o seu peso para o lado e para trás. Ela sentiu o cotovelo atingir uma superfície dura, mas flexível. Ela ouviu um choro feroz e sentiu o peso do corpo de seu atacante inclinando sobre ela.

Será que ela tinha tido a sorte de bater no seu plexo solar? Ela não podia virar-se para ver. Não havia tempo - nem mesmo poucos segundos.

Ela correu para a porta. Mas o tempo ficou devagar, ele não parecia estar correndo. Parecia estar se movendo através de gelatina incolor e consistente.

Finalmente, ela chegou à porta e tentou abri-la. Mas é claro que ela a havia trancado após entrar.

Ela tateou freneticamente em sua bolsa até encontrar suas chaves. Suas mãos tremiam tanto que ela não conseguia segurá-las. Elas caíram ruidosamente ao chão. O tempo estendeu ainda mais quando ela se inclinou para apanhá-las. Ela se atrapalhou com as chaves até encontrar a certa. Em seguida, ela enfiou a chave na fechadura.

Era inútil. Sua mão não prestava de tanto tremer. Ela sentiu como se seu corpo estivesse lhe traindo. Por fim, seu olho teve um vislumbre de movimento lá fora. Na calçada, além do estacionamento

uma mulher estava andando com seu cachorro. Ainda segurando as chaves, ela ergueu os punhos e bateu contra o vidro muito duro. Ela abriu a boca para gritar.

Mas sua voz foi abafada por algo apertado em sua boca, que repuxava dolorosamente nos cantos. Era um tecido - um trapo ou um lenço ou um cachecol. Seu agressor a amordaçara com uma força implacável e sem dó. Seus olhos se arregalaram, mas, em vez de um grito, tudo o que ela conseguiu emitir foi um gemido horrível.

Ela debateu seus braços e as chaves caíram novamente de sua mão. Ela foi puxada impotentemente para trás, longe da luz da manhã em um mundo sombrio, escuro de horror repentino e

inimaginável.


Capítulo 16


"Você se sente meio que fora do lugar?" Bill perguntou. "Sim," disse Riley. "E eu tenho certeza que nós dois parecemos, também."

Uma mistura aparentemente aleatória de bonecas e pessoas estavam sentadas nos móveis estofados de couro do saguão do luxuoso hotel. As pessoas - na sua maioria mulheres, mas alguns homens estavam bebendo chá e café e conversando um com o outro. Bonecas de tipos diversos, de ambos os sexos, sentavam entre eles como crianças perfeitamente comportadas. Riley pensou que parecia algum tipo bizarro de reunião de família em que nenhuma das crianças eram reais.

Riley não podia deixar de olhar para a estranha cena. Sem mais pistas a seguir, ela e Bill tinham decidido ir até ali, à convenção de bonecas, esperando que ela pudesse achar, por acaso, alguma coisa, ainda que remota.

"Vocês dois estão registrados?" Ele perguntou.

Riley se virou e viu um segurança de olho na jaqueta de Bill, sem dúvida, ele detectou a arma escondida. O guarda segurou sua mão perto de sua própria arma no coldre.

Ela pensou que, com tantas pessoas ao redor, o guarda tinha um bom motivo para se preocupar. Um atirador enlouquecido realmente poderia causar estragos em um lugar como aquele.

Bill mostrou o distintivo. "FBI," disse ele. O guarda riu.

"Não posso dizer que estou surpreso," disse ele. "Por que não?" Riley perguntou.

O guarda balançou a cabeça.

"Porque este é o lugar com mais pessoas esquisitas que eu já vi." "Sim," concordou Bill. "E nem todas realmente são pessoas."

O guarda encolheu os ombros e respondeu: "Você pode apostar que alguém aqui fez algo que não deveria ter feito."

O homem sacudiu a cabeça para um lado, depois o outro, examinando o local.

"Eu ficarei feliz quando tudo estiver acabado." Então ele se afastou, parecendo desconfiado e alerta.

Enquanto ela se dirigia junto com Bill para um corredor adjacente, Riley não tinha certeza com o que o guarda estava tão preocupado. De um modo geral, os participantes pareciam mais excêntricos do que ameaçadores. As mulheres à vista variavam de jovens a idosas. Algumas pareciam severas e sisudas, enquanto outras pareciam abertas e amigáveis.

"Diga-me outra vez o que você espera encontrar aqui," Bill murmurou. "Eu não tenho certeza," Riley admitiu.

"Talvez você esteja pensando demais nessa coisa de boneca," disse ele, claramente infeliz por estar ali. "Blackwell era maluco com bonecas, mas ele não era o criminoso. E ontem nós percebemos que a primeira vítima nem sequer gostava de bonecas."

Riley não respondeu. Bill poderia muito bem estar certo. Mas, quando ele lhe mostrou um folheto anunciando a convenção e a exposição, de alguma forma, ela não podia deixar de seguir adiante. Ela queria fazer outra tentativa.

Os homens que Riley via pareciam gostar de livros e tinham uma aparência profissional, a maioria usava óculos e vários usavam cavanhaque. Nenhum deles aparentava ser capaz de assassinar. Ela passou por uma mulher sentada que cuidadosamente balançava um bebê boneca nos braços e cantava uma canção de ninar. Um pouco mais adiante, uma mulher idosa estava tendo uma conversa extasiada com uma boneca macaco em tamanho natural.

Ok, Riley pensou, tem coisas esquisitar por aqui.

Bill puxou o folheto de bolso do paletó e ficou analisando-o enquanto caminhavam. "Alguma coisa interessante acontecendo?" Riley perguntou.

"Só mesas de discussões, palestras, workshops, esse tipo de coisa. Alguns grandes fabricantes estão aqui para atualizar os donos de lojas sobre as tendências e modas. E há algumas pessoas que parecem ter ficado famosas no cenário das bonecas. Elas estão dando palestras sobre alguns assuntos."

Então Bill riu.

"Ei, aqui está uma palestra com título realmente único." "O que é?"

"A construção social de gênero vitoriano no período das bonecas de porcelana." Vai começar em poucos minutos. Quer dar uma olhada?"

Riley riu também. "Tenho certeza de que não iria entender uma palavra. Algo mais?" Bill balançou a cabeça. "Na verdade não. Nada para ajudar a entender os motivos de um assassino sádico,

de qualquer maneira."

Riley e Bill foram para o próximo grande salão aberto. Era um labirinto gigantesco de cabines e mesas, onde todos os tipos imagináveis de bonecas e fantoches estavam em exposição. Eles variavam de bem pequenos, do tamanho de um único dedo, até tamanhos naturais, de antigos a recém-saídos da fábrica. Alguns deles estavam caminhando e alguns estavam falando, mas a maioria estava apenas pendurada ou sentada, olhando para os telespectadores que se agrupavam em frente de cada um.

Pela primeira vez, Riley viu que as crianças de verdade estavam presentes - não meninos, apenas pequenas meninas. A maioria estava sob a supervisão imediata de seus pais, mas algumas apareciam soltas em pequenos grupos indisciplinados, deixando os expositores nervosos.

Riley pegou uma miniatura de câmera de uma mesa. A etiqueta fixada alegava que ela funcionava. No mesmo balcão havia jornais pequenos, brinquedos de pelúcia, bolsas, carteiras e mochilas. Na mesa seguinte, estavam banheiras para bonecas e outros acessórios de banheiro.

A estação de camisetas fabricava para bonecas e para pessoas, mas o cabeleireiro era apenas para bonecas. A visão de várias pequenas perucas cuidadosamente decoradas deu calafrios em Riley. O FBI já tinha encontrado os fabricantes das perucas das cenas do assassinato e sabia que eles eram vendidos em inúmeras lojas em todos os lugares. Vê-las alinhadas assim trouxe de volta imagens que Riley sabia que outras pessoas ali não compartilhavam. Imagens de mulheres mortas, nuas, sentadas como bonecas, vestindo perucas mal ajustadas feitas de cabelos de bonecas.

Riley tinha certeza de que essas imagens nunca desapareceriam de sua mente. As mulheres tratadas tão insensivelmente, mas tão cuidadosamente arranjadas para representar... algo que ela não conseguia definir. Mas é claro que era por isso que ela e Bill ainda estavam ali.

Ela se adiantou e falou com a alegre jovem que parecia ser responsável pelo salão de beleza de cabelos de boneca.

"Vocês vendem essas perucas aqui?" Riley perguntou.

"É claro," respondeu a mulher. "Essas são apenas para exposição, mas eu tenho outras novinhas em folha nas caixas. De qual você gostaria?"

Riley não sabia o que dizer em seguida. "Você pode estilizar essas perucas pequenas?" Ela finalmente perguntou. "Nós podemos mudar o estilo para você. É um pequeno custo adicional."

"Que tipo de pessoa as compra?" Riley disse. Ela queria perguntar se algum cara assustador tinha aparecido por ali para comprar perucas de boneca.

A mulher olhou para ela, com os olhos arregalados. "Eu não tenho certeza do que você quer dizer," ela respondeu. "Todos os tipos de pessoas as compram. Às vezes, eles trazem uma boneca que eles já têm para alterar o cabelo."

"Quero dizer, há muitos homens que as compram?" Riley perguntou.

A jovem parecia claramente desconfortável agora. "Não que eu me lembro," ela respondeu.

Então ela se virou abruptamente para atender um novo cliente.

Riley só ficou lá por um momento. Sentia-se como uma idiota, abordando alguém com tais perguntas. Era como se ela tivesse empurrado seu próprio mundo obscuro em um que era supostamente doce e simples.

Ela sentiu um toque em seu braço. Bill disse: "Eu não acho que você vai encontrar o criminoso aqui." Riley podia sentir seu rosto corar. Mas quando ela se virou para longe do salão de beleza de bonecas, ela percebeu

que ela não era a única mulher estranha que os expositores ali tinham de lidar. Ela quase trombou com uma mulher desesperadamente segurando uma boneca recém-comprada, chorando apaixonadamente, aparentemente de alegria. Em outra mesa, um homem e uma mulher tinham começado uma competição de gritos sobre qual deles iria comprar um item de colecionador particularmente raro. Eles estavam engajados em uma guerra de cabo-de-força que ameaçava rasgar a mercadoria em dois pedaços.

"Agora estou começando a entender por que o segurança estava preocupado," ela disse para Bill. Ela viu que Bill estava olhando atentamente para alguém nas proximidades.

"O quê?" Ela perguntou.

"Dá uma olhada naquele cara," Bill disse, apontando para um homem de pé em uma exposição de grandes bonecas de vestidos com babados. Ele tinhas uns trinta e poucos anos e era muito bonito. Ao contrário da maioria dos outros homens ali, ele não parecia nem um intelectual nem um estudioso. Em vez disso, ele aparentava ser um homem de negócios próspero e confiante, devidamente vestido com um terno caro e gravata.

"Ele parece tão fora do lugar quanto nós," Bill murmurou. "Por que um cara como ele está brincando com bonecas?"

"Eu não sei," Riley respondeu. "Mas ele também parece do tipo que poderia contratar uma companheira de verdade se quisesse." Ela observou o empresário por um momento. Ele tinha parado para olhar para uma exposição de bonecas de meninas em vestidos com babados. Ele olhou em volta, como se quisesse ter certeza de que ninguém estava olhando.

Bill virou as costas para o homem e inclinou-se como se estivesse falando animadamente com Riley. "O que ele está fazendo agora?"

"Verificando a mercadoria," disse ela. "De um forma que eu realmente não gosto."

O homem se inclinou em direção a uma boneca e olhou para ela de perto - talvez perto demais - e seus lábios finos se abriram em um sorriso. Em seguida, ele novamente examinou as outras pessoas na sala.

"Ou à procura de potenciais vítimas," acrescentou.

Riley tinha certeza que ela detectara uma certa furtividade na forma de o homem tocar os vestidos das bonecas, examinando o tecido de uma maneira sensual.

Bill olhou para o homem novamente. "Jesus," ele murmurou baixinho. "Esse cara é bizarro ou o quê?"

Uma sensação de frio deixou Riley apreensiva. Racionalmente, ela sabia perfeitamente bem que ele poderia não ser o assassino. Afinal, quais eram as chances de tropeçar nele em um público como aquele? Ainda assim, naquele momento, Riley estava convencida de que ela estava na presença do mal.

"Não deixe ele ficar fora de vista," disse Riley. "Se ele ficar estranho o suficiente, vamos lhe fazer algumas perguntas."

Mas, em seguida, a realidade afastou esses pensamentos sombrios para longe. Uma menina de cerca de cinco anos de idade veio correndo até o homem.

"Papai," ela o chamou.

O sorriso do homem se alargou e seu rosto sorriu inocentemente com amor. Ele mostrou a boneca que tinha encontrado para sua filha, e ela bateu palmas e riu com prazer. Ele a entregou, e ela abraçou-a com força. O pai pegou a carteira e estava pronto para pagar o fornecedor.

Riley reprimiu um gemido.

Meus instintos estavam errados de novo, ela pensou.

Ela viu que Bill estava ouvindo alguém em seu telefone celular. Seu rosto parecia chocado quando ele se virou para ela.

"Ele pegou outra mulher."


Capítulo 17


Riley singou baixinho quando ela saiu do estacionamento ao lado de um edifício longo, de teto plano. Três pessoas vestindo casacos do FBI estavam do lado de fora, misturando-se com vários policiais locais.

"Isso não pode ser bom," comentou Riley. "Gostaria que tivéssemos chegado aqui antes de as hordas descerem." "Não é brincadeira," Bill concordou.

Eles haviam dito que uma mulher tinha sido sequestrada no interior daquela clínica médica de uma cidade pequena, no início da manhã.

"Pelo menos estamos chegando mais rápido desta vez," disse Bill. "Talvez a gente tenha uma chance de pegá-la viva de volta."

Riley concordou em silêncio. Nos casos anteriores, ninguém sabia exatamente quando ou onde a vítima foi seqüestrada. As mulheres tinham simplesmente desaparecido e mais tarde apareceram mortas, acompanhadas pelos sinais crípticos da mentalidade do assassino.

Talvez seja diferente desta vez, ela pensou.

Ela ficou aliviada que alguém tivesse testemunhado o suficiente do crime para chamar a emergência. A polícia local sabia sobre um alerta de um seqüestrador e assassino em série, e eles tinham chamado no FBI. Todos eles achavam que era obra do mesmo ser perverso.

"Ele ainda está muito à nossa frente," disse Riley. "Se é realmente dele. Este não é o tipo de lugar que eu esperava que nosso cara fosse agarrar alguém."

Ela pensou que o assassino estaria procurando vítimas em uma garagem ou uma pista de corrida isolada. Talvez até mesmo um bairro mal iluminado.

"Por que uma clínica da comunidade?" Ela perguntou. "E por que à luz do dia? Por que ele se arriscar entrar em um prédio?"

"Claro que não parece ser uma escolha aleatória," Bill concordou. "Vamos andando."

Riley estacionou o mais próximo da área isolada que conseguiu. Enquanto ela e Bill saíram do carro, ela reconheceu o agente especial encarregado, Carl Walder.

"Isto é realmente ruim," Riley murmurou para Bill enquanto caminhavam em direção ao prédio.

Riley não achava nada demais de Walder - um homem com rosto infantil, sardento e cabelos encaracolados cor de cobre. Nem Riley nem Bill tinham trabalhado pessoalmente sob sua supervisão, mas ele tinha uma má reputação. Outros agentes diziam que ele era o pior tipo de chefe, alguém que não tinha idéia do que estava fazendo e, portanto, decidia jogar ainda mais peso sobre os outros e afirmar sua autoridade.

Para piorar as coisas para Riley e Bill, Walder estava acima de seu próprio chefe de equipe, Brent Meredith. Riley não soube velho Walder era, mas tinha certeza de que ele tinha subido até a cadeia alimentar FBI rápido demais para seu próprio bem, ou para qualquer outra pessoa.

Na opinião de Riley, era um exemplo clássico do Princípio de Peter no trabalho. Walder tinha sido promovido com êxito até o nível da sua incompetência.

Walder se adiantou para cumprimentar Riley e Bill.

"Agentes de Paige e Jeffreys, estou feliz que vocês tenham chegado," disse ele.

Sem sutilezas, Riley foi em frente e fez a Walder a pergunta que a incomodava.

"Como é que nós sabemos que é o mesmo criminoso que levou as outras três mulheres?"

"Por causa disto," respondeu Walder, estendendo um plástico de evidência, onde havia uma rosa de tecido barato. "Ela estava no chão, na parte de dentro."

"Oh, merda," disse Riley.

O Escritório havia sido cuidadoso para não vazar para a imprensa este detalhe de seu Modus Operandi - que ele tinha deixado rosas nas cenas em que ele deixava os corpos. Isso não era obra de um imitador ou de um novo assassino.

"Quem foi dessa vez?" Bill perguntou.

"Seu nome é Cindy MacKinnon," disse Walder. "Ela é uma enfermeira registrada. Foi seqüestrada quando veio de manhã preparar a clínica."

Então Walder indicou os outros dois agentes, uma jovem do sexo feminino e um do sexo masculino ainda mais jovem. "Talvez vocês tenham conhecido os agentes Craig Huang e Emily Creighton. Eles vão se juntar a vocês neste caso."

Bill audivelmente murmurou, "Mas que-" Riley cutucou Bill nas costelas para calá-lo.

"Huang e Creighton já foram informados," acrescentou Walder. "Eles sabem tanto desses assassinatos quanto vocês."

Riley fse enfureceu em silêncio. Ela queria dizer a Walder que Huang e Creighton não sabiam tanto quanto ela. Nem mesmo tanto quanto Bill sabia. Eles não poderiam saber tanto assim sem ter passado muito tempo nas cenas de crime, ou sem ter passado horas incontáveis debruçando-se sobre provas. Eles não tinham nada que se parecesse com o investimento profissional que ela e Bill já havia colocado naquele caso. E ela estava certa de que nenhum desses jovens tinha entrado na mente de um assassino para ter uma noção de sua experiência.

Riley respirou fundo para abafar sua raiva.

"Com o devido respeito, senhor," disse ela, "o agente Jeffreys e eu estamos cuidado bem do assunto e precisamos trabalhar rápido. Ajuda extra... não vai ajudar." Ela quase disse que a ajuda extra seria apenas atrasá-los, mas tinha-se contido a tempo. Não havia motivo para insultar as crianças.

Riley detectou um traço de um sorriso no rosto pueril de Walder.

"Com o devido respeito, agente Paige," ele respondeu, "o senador Newbrough não concorda."

O coração de Riley afundou. Lembrou-se de sua entrevista desagradável com o senador e algo que ele havia dito. "Você pode não saber, mas eu tenho bons amigos nos escalões superiores da agência."

Claro que Walder tinha que ser um desses "bons amigos".

Walder ergueu o queixo e falou com autoridade emprestada. "O senador diz que você está tendo problemas em captar a magnitude completa deste caso."

"Receio que o senador está deixando suas emoções afetá-lo," disse Riley. "É compreensível, e eu simpatizo. Ele está perturbado. Ele acha que o assassinato de sua filha tem motivos políticos ou pessoais, ou ambos. Obviamente, não foi."

Walder apertou os olhos com ceticismo.

"Como é óbvio?" Disse ele. "Parece-me óbvio que ele está certo." Riley mal podia acreditar no que ouvia.

"Senhor, a filha do senador foi a terceira mulher sequestrada, e agora são quatro," disse ela. "Seus intervalos foram distribuídos ao longo de mais de dois anos. É pura coincidência que sua filha acabou sendo uma das vítimas."

"Eu discordo," disse Walder. "Assim como os agentes Huang e Creighton." Neste exato momento, a agente Emily Creighton se intrometeu.

"Este tipo de coisa não acontece de vez em quando?" - disse ela. "Tipo, não há casos em que um agressor comete outro assassinato antes de matar sua vítima? Apenas para parecer em série e não pessoal?"

"Este último sequestro pode ter o mesmo propósito," acrescentou o agente Craig Huang. "Um engodo final."

Riley conseguiu não revirar os olhos em resposta à ingenuidade das crianças.

"Essa é uma velha história," disse ela. "Uma obra de ficção. Isso não acontece na vida real." "Bem," Walder disse em um tom autoritário, "isso aconteceu desta vez."

"Nós não temos tempo para isso," Riley rebateu. Sua paciência se esgotou. "Temos alguma testemunha?"

"Uma," respondeu Walder. "Greta Tedrow ligou para a emergência, mas ela não chegou a ver muita coisa. Ela está sentada lá dentro. A recepcionista também está lá, mas ela não viu nada. Quando ela chegou, às oito horas, os policiais já estavam aqui."

Através das portas de vidro da clínica, Riley podia ver duas mulheres sentadas na sala de espera. Uma deles era uma mulher magra em roupas de corrida, com um cocker spaniel em uma coleira ao seu lado. A outra era grande, de meia-idade, com aparência latino-americana.

"Você já entrevistou a Sra. Tedrow?" Riley perguntou a Walder.

"Ela está muito abalada para falar," disse Walder. "Nós vamos levá-la de volta para a Unidade de Análise de Conduta." Riley realmente revirou os olhos desta vez. Por que fazer uma testemunha inocente sentir-se como um suspeito?

Por que intimidá-la, como se isso não fosse afetá-la ainda mais?

Ignorando o gesto de protesto de Walder, ela balançou a porta aberta e atravessou a entrada. Bill foi atrás dela, mas ele deixou a entrevista com Riley enquanto ele falou com um par de

oficias que estavam por perto, em seguida, ficou passeando pela sala de espera.

A mulher com o cão olhou para Riley ansiosamente.

"O que está acontecendo?" Perguntou Greta Tedrow. "Estou pronto para responder às perguntas. Mas ninguém me questiona nada. Por que eu não posso ir para casa?"

Riley sentou em uma cadeira ao lado dela e afagou-lhe a mão.

"Você vai voltar para casa, Ms. Tedrow, e logo," disse ela. "Eu sou a Agente Paige, e eu vou fazer-lhe algumas perguntas agora."

Greta Tedrow assentiu com a voz trêmula. O cocker spaniel ficou ali no chão olhando para Riley de maneira amigável.

"Belo cão," disse Riley. "Bem comportado. Quantos anos ele tem - ou é ela?" "É ele. Toby é o nome dele. Tem cinco anos."

Riley lentamente estendeu a mão para o cão. Com a silenciosa permissão do animal, ela acariciou-lhe a cabeça levemente.

A mulher assentiu um agradecimento mudo. Riley pegou seu lápis e bloco de notas.

"Agora, use o tempo que precisar, não se apresse," disse Riley. "Diga-me com suas próprias palavras o que aconteceu. Tente se lembrar de tudo o que puder."

A mulher falou devagar e pausadamente.

"Eu estava passeando com Toby." Ela apontou para fora. "Nós tínhamos acabado de virar a esquina atrás dos recantos, ao longo desse caminho. A clínica tinha acabado de aparecer para mim. Eu pensei ter ouvido alguma coisa. E olhei. Havia uma mulher na porta da clínica. Ela estava batendo no vidro. Eu acho que sua boca estava amordaçada. Então, alguém puxou-a para trás , para fora de vista."

Riley acariciou a mão da mulher novamente.

"Você está indo muito bem, Ms. Tedrow," disse ela. "Você conseguiu ver seu agressor?" A mulher lutou contra sua memória.

"Eu não vi seu rosto," disse ela. "EU não consegui ver seu rosto. A luz estava acesa na clínica, mas

...”

Riley pôde ver um flash de lembrança atravessar o rosto da mulher.

"Oh," disse a mulher. "Ele estava usando uma máscara de esqui escura." "Muito bem. Que aconteceu depois?

A mulher ficou um pouco mais agitada.

"Eu não parei para pensar. Tirei meu telefone celular e liguei para a emergência. Pareceu que passou muito tempo até eu conseguir falar com um operador. Eu estava no telefone falando com o operador quando um caminhão veio rasgando de trás do edifício. Seus pneus cantaram ao sair do estacionamento e ele virou para a esquerda."

Riley estava tomando notas rapidamente. Ela estava consciente de que Walder e seus dois jovens favoritos tinham entrado no quarto e estavam ali de pé, mas ela os ignorou.

"Que tipo de caminhão?" Ela perguntou.

A coçou sua testa. "Um Dodge Ram, eu acho. Sim, é isso. Consideravelmente velho - talvez do final dos anos noventa. Estava muito sujo, mas eu acho que era de uma cor azul marinha bem escura. E ele tinha algo na parte de trás. Como uma espécie de trailer, só que não era um trailer. Um desses tetos de alumínio com janelas."

"Um truck cap?" Riley sugeriu.

A mulher assentiu com a cabeça. "Acho que isso é que eles são chamados." Riley ficou satisfeita e impressionada com a memória da mulher. "Que tal um número da placa?" Riley perguntou.

A mulher fez uma cara surpresa.

"Eu - eu não peguei," disse ela, parecendo desapontada consigo mesma. "Nem mesmo uma letra ou número?" Riley perguntou.

"Me desculpe, mas eu não vi. Não sei como eu não olhei." Walder se abaixou e sussurrou intensamente no ouvido de Riley. "Nós precisamos levá-la à UAC," disse ele.

Ele recuou um pouco quando Riley ficou de pé.

"Obrigada, Sra. Tedrow," disse Riley. "É tudo por enquanto. A polícia já pegou suas informações para contato?"

A mulher assentiu com a cabeça.

"Então vá para casa e descanse um pouco," Riley falou. "Nós entraremos em contato novamente em breve."

A mulher saiu com seu cachorro para fora da clínica e foi para casa. Walder parecia prestes a explodir de raiva e exasperação.

"Que diabos foi isso?" Ele exigiu. "Eu disse que precisávamos levá-la à UAC." Riley deu de ombros. "Não consigo imaginar por que faria isso," disse ela. "Temos que continuar

avançando com este caso e ela já nos contou tudo que ela podia."

"Eu quero um de nossos hipnotizadores trabalhem com ela. Para ajudá-la a lembrar o número da placa. Está em seu cérebro em algum lugar."

"Agente Walder," Riley disse, tentando não soar tão impaciente quanto ela se sentia, "Greta Tedrow é uma das testemunhas mais observadoras que entrevistei em um muito tempo. Ela disse que não viu a placa, não deu para "pegou". Nem mesmo um número. Isso a incomoda. Ela não sabe como deixou isso passar. Vindo de alguém com uma memória tão afiada quanto a dela, isso só pode significar uma coisa."

Ela fez uma pausa, desafiando Walder a adivinhar o que a "uma coisa" poderia ser. Ela podia dizer pela sua vaga expressão que ele não tinha idéia.

"Não havia nenhuma placa para se ver, "ela finalmente disse. "Ou o invasor a removeu ou a sujou e a deixou ilegível. Tudo o que ela viu foi um espaço em branco onde a placa de licença deveria estar. Se uma placa legível tinha estado lá, aquela mulher teria se lembrado de pelo menos parte dela."

Bill deixou escapar um baixo suspiro de admiração. Riley queria calá-lo, mas percebeu que só iria piorar as coisas. Ela decidiu mudar de assunto.

"Alguém próximo da vítima foi contactado?" ela perguntou a Walder.

Walder assentiu. "O marido dela. Ele veio aqui por alguns minutos. Mas ele não conseguiu aguentar. Nós o mandamos para casa. Ele vive a poucos quarteirões de distância. Vou mandar os agentes Huang e Creighton para entrevistá-lo."

Os dois jovens agentes estavam discutindo algo com entusiasmo em separado. Naquele momento, eles se voltaram para Riley, Bill e Walder. Eles pareciam muito felizes com eles mesmos.

"Emily-er, agente Creighton e descobrimos," disse Huang. "Não havia nenhum sinal de arrombamento, nada que indicasse uma entrada forçada. Isso significa que o criminoso tem conexões com este local. Na verdade, ele conhece alguém que trabalha nesta clínica. Ele mesmo poderia trabalhar aqui."

"De alguma forma, ele pôs as mãos em uma chave," Creighton adicionou. "Talvez ele tenha roubado, ou talvez ele pegou emprestado e copiou, algo assim. E ele sabia o código para o alarme. Ele entrou e o desarmou. Vamos entrevistar os funcionários com isso em mente."

"E sabemos exatamente quem estamos procurando," disse Huang. "Alguém com algum tipo de rancor contra o senador Newbrough."

Riley conteve sua raiva. Aqueles dois estavam saltando para conclusões infundadas. Claro, eles podiam estar certos. Mas o que eles tinham deixado passar? Ela olhou ao redor na sala de espera da clínica e para o corredor adjacente e uma diferente possibilidade se formou em sua mente. Ela se virou para a recepcionista hispânica.

"Perdóname, señora," ela disse à mulher. "Dónde está el cuarto de provisiones?"

"Allá,"A mulher disse, apontando para a porta do corredor.

Riley foi até a porta e abriu-a. Ela olhou para dentro, em seguida, virou-se para Walder e disse: "Eu posso dizer-lhe exatamente como ele entrou no prédio. Ele entrou por aqui."

Walder parecia irritado. Por outro lado, Bill parecia qualquer coisa menos irritado - positivamente encantado, na verdade. Riley sabia que Bill não gostava de Walder tanto quanto ela. Ele, sem dúvida, estava ansioso para ver Walder ter uma boa lição de trabalho de detetive.

Os dois jovens agentes olharam para a porta aberta, em seguida, viraram-se para Riley. "Eu não entendo," reclamou Emily Creighton.

"É apenas um armário," ecoou Craig Huang.

"Olhe para as caixas no fundo," disse Riley. "Não toque em nada."

Bill e Walder se juntaram ao grupo de pessoas olhando para o grande armário de abastecimento. Suprimentos de papel e bandagens estavam armazenados em larga prateleiras. Os vestuários dos médicos foram empilhados em um local. Mas várias caixas grandes no chão pareciam fora do lugar. Apesar de todo o resto estar arranjado ordenadamente no armário, aquelas caixas estavam em ângulos estranhos e havia espaço visível atrás delas.

"Caixas afastadas da parede do fundo," Bill comentou. "Alguém poderia ter se escondido ali atrás muito facilmente."

"Traga a equipe de evidências aqui," Walder estalou para os agentes mais jovens. Então ele perguntou a Riley, "Qual é a sua teoria?"

Seu cérebro estava a pleno vapor quando o cenário rapidamente tomou forma para ela. Ela começou a contar tudo.

"Ele chegou à clínica ontem," disse ela. "Provavelmente no final do dia, em alguma hora especialmente cheia. No meio da agitação dos pacientes, ele pediu algo simples para a recepcionista. Um teste de pressão arterial, talvez. E ela poderia muito bem ter sido a enfermeira que administrou tal exame - Cindy MacKinnon, a mulher que ele estava perseguindo, a mulher que ele veio aqui para raptar. Ele teria gostado disso."

"Você não pode saber isso com certeza," disse Walder.

"Não," Riley concordou. "E é claro que ele não quis dar seu nome real, mas arranje alguém para verificar os registros clínicos dos serviços dela, veja se há alguém que os outros funcionários não reconhecem. Na verdade, devemos verificar todos que foram um pacientes aqui ontem."

Isso levaria tempo, ela sabia. Mas eles tinham que dar seguimento a todas as possibilidades o mais rápido possível. Este homem precisava ser detido.

"Ele esteve aqui," disse Riley, "misturando-se com todos os pacientes. Talvez alguém lembre de algo estranho. E quando ninguém estava olhando, ele conseguiu entrar nesta sala de abastecimento."

"Não é o armazenamento de drogas e eu não vejo nenhuma outra coisa valiosa o suficiente para roubar," acrescentou Bill. "Então, provavelmente não é vigiada muito cuidado."

"Ele se enfiou em um espaço apertado à direita, sob a prateleira de baixo e por trás das caixas," disse Riley. "A equipe não tinha idéia de que ele estava aqui. A clínica fechou no horário de costume e todos foram para casa sem perceber. Quando teve certeza de que todos tinham ido embora, o criminoso empurrou as caixas de lado, se arrastou para fora, e fez-se em casa. Ele esperou a noite toda. Meu palpite é que ele dormiu muito bem."

A equipe de evidências chegou, os agentes afastaram-se para deixá-los fazerem sua busca por cabelos, impressões digitais, ou qualquer outra coisa que pudesse transportar DNA ou fornecer alguma outra pista.

"Você pode estar certa," murmurou Walder. "Nós também precisaremos passar por todos os lugares que ele pode ter estado durante a noite. Isso significa em todos os lugares."

"É a solução mais simples," disse Riley. "Isso é geralmente o melhor."

Ela vestiu as luvas de plástico e passou pelo corredor, olhando para cada cômodo. Uma delas era a sala dos funcionários, com um sofá de aspecto confortável.

"Este é o lugar onde ele passou a noite," disse ela com um sentimento de certeza.

Walder olhou para dentro. "Todo mundo fique fora desta sala até que a equipe tenha terminado aqui," disse ele, fazendo seu melhor para soar eficiente.

Riley voltou para a sala de espera. "Ele já estava aqui quando Cindy MacKinnon apareceu esta manhã, no horário certo. Ele a agarrou."

Riley apontou em direção ao final do corredor.

"Então ele fugiu com ela pela porta dos fundos. Seu caminhão o esperava lá fora."

Riley fechou os olhos por um momento. Ela quase podia vê-lo em sua mente, uma imagem sombria que ela não conseguia pôr em foco. Se ele se destacasse, alguém iria notar. Então ele não é extremo na aparência. Não é obesos, não incomumente alto nem baixo, não tem um penteado estranho, não é marcado por tatuagens estranhas ou coloridas. Ele estaria bem-vestido, mas nada que o identificassem com um determinado trabalho. Roupas velhas e casuais. Isso seria natural para ele, ela pensou. Era assim que ele geralmente se vestia.

"Qual é a sua ligação com essas mulheres?" Ela murmurou. "Da onde é que sua fúria vem?"

"Nós vamos descobrir," Bill disse com firmeza.

Walder estava completamente em silêncio agora. Riley sabia o porquê. A teoria exagerada de seus pupilos sobre o raptor, sobre ele ter uma conexão interna com a clínica agora parecia perfeitamente ridícula. Quando Riley falou novamente, foi em um tom que beirava a condescendência.

"Agente Walder, eu aprecio o espírito jovem de seus dois agentes," disse ela. "Eles estão aprendendo. Eles vão ficar bom nisso algum dia. Eu realmente acredito nisso. Mas eu acho que é melhor você deixar

a entrevista do marido para o agente Jeffreys e eu mesma." Walder suspirou e lhe deu um leve aceno de cabeça, quase invisível.

Sem outra palavra, Riley e Bill deixaram a cena do sequestro. Ela tinha algumas perguntas importantes a fazer para o marido da vítima.


Capítulo 18


Conforme ela dirigia para o endereço que a recepcionista da clínica lhe dera, Riley sentiu o pavor de costume em ter que entrevistar famílias ou cônjuges das vítimas. Ela, de alguma forma, sentia que desta vez seria ainda pior do que o habitual. Mas o sequestro era recente.

"Talvez, desta vez, vamos encontrá-la antes que ele a mate," disse ela. "Se a equipe de evidências puder obter uma pista sobre esse cara," Bill acrescentou.

"De alguma forma, eu duvido que ele vá aparecer em algum banco de dados." A imagem que estava se formando na mente de Riley não era a de um delinquente habitual. Essa coisa era profundamente pessoal para o assassino de alguma maneira que ela não tinha sido capaz de identificar. E ela iria descobrir, tinha certeza. Mas precisava descobrir isso rápido o suficiente para parar o terror e a agonia que Cindy estava passando no momento. Ninguém mais deveria ter que suportar a dor daquela faca que... ou da escuridão... daquela chama queimando...

"Riley," Bill disse rispidamente, "é bem ali."

Riley foi empurrada de volta para o presente. Ela parou o carro no meio-fio e olhou para o bairro ao seu redor. Parecia um pouco deteriorado, mas ainda mais convidativo e caloroso por causa disso. Era o tipo de área de baixa renda, onde os jovens sem muito dinheiro podiam perseguir seus sonhos.

Claro, Riley sabia que o bairro não ficaria desta forma. A gentrificação estava, sem dúvida, programada para começar a qualquer momento. Mas talvez isso fosse bom para uma galeria de arte. Se a vítima voltasse para casa viva.

Riley e Bill saíram do carro e se aproximaram da pequena galeria da frente. Uma bela escultura de metal estava sendo exibida na janela da frente ,atrás de um sinal que anunciava "fechado". O apartamento do casal ficava no andar de cima. Riley tocou a campainha, e ela e Bill esperaram por

alguns momentos. Ela perguntou quem iria aparecer na porta.

Quando a porta se abriu, ela ficou aliviada por ser recebida pelo rosto compassivo da especialista em vítimas do FBI, Beverly Chaddick. Riley tinha trabalhado com Beverly antes. A especialista estava neste emprego há pelo menos vinte anos, e ela tinha uma maneira maravilhosa de lidar com vítimas perturbadas e membros da família.

"Precisamos fazer algumas perguntas ao Sr. MacKinnon," disse Riley. "Espero que concorde com isso." "Sim," disse Beverly. "Mas pegue leve com ele."

Beverly levou Bill e Riley para o andar superior do pequeno apartamento. O lugar imediatamente impressionou Riley por ser intensamente alegre, decorado com uma desordem maravilhosa de pinturas e esculturas. As pessoas que viviam ali gostavam de celebrar a vida e todas as suas possibilidades. Tudo teria se acabado agora? Seu coração doeu pelo jovem casal.

Nathaniel MacKinnon, um homem na casa dos trinta anos, estava sentado na sala de estar. Sua magreza o fazia parecer ainda mais infeliz.

Beverly anunciou com uma voz suave, "Nathaniel, agentes Paige e Jeffreys estão aqui." O jovem olhou para Bill e Riley com expectativa. Sua voz resmungou em desespero. "Vocês já encontraram Cindy? Ela está bem? Ela está viva?"

Riley percebeu que ela não podia dizer nada útil. Ela ficou ainda mais agradecida por Beverly estar ali e por ela já ter estabelecido um relacionamento com o marido desamparado.

Beverly sentou-se ao lado de Nathaniel MacKinnon.

"Ninguém sabe nada ainda, Nathaniel," disse ela. "Eles estão aqui para ajudar." Bill e Riley sentaram-se nas proximidades.

Riley perguntou: "Sr., MacKinnon, a sua esposa disse alguma coisa recentemente sobre estar com medo ou se sentir ameaçada?"

Ele balançou a cabeça em silêncio.

Bill falou, "Esta é uma pergunta difícil, mas temos de perguntar. Você ou sua esposa tem algum inimigo, alguém que poderia desejar-lhes mal? "

O marido parecia ter dificuldade em entender a pergunta.

"Não, não," ele gaguejou. "Olhe, há, às vezes, pequenas rixas em minha linha de trabalho. Mas são coisas pequenas e bobas, disputas entre artistas, não são pessoas que fariam algo como..."

Ele parou no meio da frase.

"E todo mundo... adora Cindy," disse ele.

Riley detectou sua ansiedade e incerteza sobre o uso do tempo presente. Ela sentiu que interrogar aquele homem era provavelmente inútil e possivelmente insensível. Ela e Bill provavelmente deviam encerrar logo as coisas e deixar a situação nas habilidosas mãos de Beverly.

Enquanto isso, porém, Riley olhou ao redor do apartamento, tentando pegar o menor vestígio de uma pista.

Não era necessário lhe contar que Cindy e Nathaniel MacKinnon não tinham filhos. O apartamento não era grande o suficiente e, além disso, as obras de arte circundantes era qualquer coisa, menos à prova de crianças.

Ela suspeitava, porém, que a situação não era a mesmo que com Margaret e Roy Geraty. O instinto de Riley lhe diziam que Cindy e Nathaniel não tinham filhos por opção, e apenas temporariamente. Eles estavam esperando o momento certo, mais dinheiro, uma casa maior, um estilo de vida mais estável.

Eles pensaram que tinham todo o tempo, Riley pensou.

Ela pensou de novo na sua suposição inicial de que o assassino alvejava mães. Perguntou-se mais uma vez como ela poderia ter começado tão errado.

Outra coisa sobre o apartamento estava começando a chamar a atenção dela. Ela não viu fotografias em qualquer de Nathaniel ou Cindy. Isto não era especialmente surpreendente. Como um casal, eles estavam mais interessados na criatividade dos outros do que em fotos de si mesmos. Eles eram tudo, menos narcisistas.

Mesmo assim, Riley sentiu a necessidade de conseguir uma imagem mais clara sobre Cindy.

"Sr. MacKinnon," ela perguntou com cautela, "você tem fotos recentes de sua esposa?"

Ele a olhou fixamente sem expressão por um momento. Em seguida, seu rosto se iluminou. "Bon, sim," disse ele. "Eu tenho uma nova aqui no meu celular." Ele exibiu a fotografia em seu telefone e passou-o para Riley.

O coração de Riley pulou em sua garganta quando ela viu. Cindy MacKinnon estava sentada com uma menina de três anos no colo. Tanto ela quanto a criança transmitiam felicidade enquanto seguravam uma boneca lindamente vestida entre elas.

Riley precisou de um momento para começar a respirar novamente. A mulher seqüestrada, uma criança e uma boneca. Ela não estava errada. Pelo menos não completamente. Tinha que haver uma conexão entre o assassino e bonecas.

"Sr. MacKinnon, quem é a criança nesta foto?" Riley perguntou, com toda a calma que conseguiu.

"Essa é a sobrinha de Cindy, Gale," Nathaniel MacKinnon respondeu. "A mãe dela é irmã de Cindy, Becky."

"Quando esta foto foi tirada?" Riley perguntou.

O homem parou para pensar. "Acho que Cindy me enviou na sexta-feira," disse ele. "Sim, eu tenho certeza que foi quando ela enviou. Foi na festa de aniversário de Gale. Cindy ajudou sua irmã com os preparativos.

Ela saiu do trabalho mais cedo para ajudar."

Riley lutou contra seus pensamentos, sem saber por um momento, o que perguntar a seguir. "A boneca foi um presente para a sobrinha de Cindy?" Ela perguntou.

Nathaniel assentiu. "Gale ficou maravilhada com ela. Isso deixou Cindy tão feliz. Ela adora ver Gale feliz. A menina é quase como uma filha para ela. Ela me chamou de imediato para contar. Foi quando ela enviou a foto."

Riley lutou para manter a voz firme. "É uma linda boneca. Posso entender porque Gale estava tão feliz com ela."

Ela hesitou novamente, olhando fixamente para a imagem da boneca, como se esta pudesse lhe dizer exatamente o que ela precisava saber. Certamente aquele sorriso pintado, aqueles olhos azuis e brancos, detinham a chave para suas perguntas. Mas ela nem sabia o que perguntar.

Com o canto do olho, ela podia ver Bill observando-a atentamente.

Por que um assassino brutal faria suas vítimas se parecerem com bonecas?

Finalmente ,Riley perguntou: "Você sabe onde Cindy comprou a boneca?"

Nathaniel parecia genuinamente perplexo. Até mesmo Bill parecia surpreso. Sem dúvida, ele se perguntou aonde Riley estava indo com isso. A verdade era que nem mesmo Riley estava inteiramente certa.

"Eu não tenho idéia," disse Nathaniel. "Ela não me contou. Isso é importante?" "Eu não tenho certeza," Riley admitiu. "Mas eu acho que poderia ser."

Nathaniel estava ficando cada vez mais agitado agora. "Eu não entendo. O que é isso tudo? Você está dizendo que minha esposa foi sequestrada por causa de uma boneca de uma menina?"

"Não, eu não estou dizendo isso." Riley tentou parecer calma e convincente. Claro, ela percebeu, ela estava dizendo exatamente isso. Ela pensou que sua esposa provavelmente fora raptada por causa de uma boneca de criança, apesar de que isso não fazia sentido nenhum.

Nathaniel estava visivelmente angustiado. Riley viu que Beverly Chaddick, a especialista em vítimas, que estava sentada por perto, a olhava com inquietação. Com um leve aceno de cabeça, Beverly parecia estar tentando comunicar que Riley precisava pegar mais leve com o marido desamparado. Riley lembrou que entrevistar vítimas e suas famílias não era seu ponto forte.

Eu tenho que ter cuidado, disse a si mesma. Mas ela também sentiu uma necessidade urgente de se apressar. A mulher estava em cativeiro. Enjaulada ou amarrada, isso não importava. Ela não tinha muito tempo de vida. Eles tinham tempo para segurar qualquer fonte de informação?

"Existe alguma maneira de descobrir onde Cindy comprou?" Riley perguntou, tentando falar em um tom mais suave. "Apenas caso nós precisemos dessa informação."

"Cindy e eu guardamos alguns recibos," disse Nathaniel. "Apenas para despesas dedutíveis. Eu não acho que ela guardaria o recibo de um presente da família. Mas eu vou procurar."

Nathaniel foi para um armário e tirou uma caixa de sapatos. Ele sentou-se novamente e abriu a caixa, que estava cheia de recibos de papel. Ele começou a olhar através da deles, mas suas mãos tremiam incontrolavelmente.

"Eu não acho que consigo fazer isso," disse ele. Beverly levou suavemente a caixa para longe dele.

"Está tudo bem, Sr. MacKinnon," disse ela. "Eu vou olhar por ele." Beverly começou a vasculhar a caixa. Nathaniel estava quase chorando.

"Eu não entendo," disse ele com a voz entrecortada. "Ela só comprou um presente. Poderia ter sido qualquer coisa. De qualquer lugar. Eu acho que ela estava considerando várias possibilidades, mas ela finalmente decidiu pela boneca."

Riley sentiu-se mal do estômago. De alguma forma, escolher a boneca levou Cindy MacKinnon para um pesadelo. Será que se ela tivesse decidido por um bicho de pelúcia no lugar, ela estaria em casa hoje, viva e feliz?

"Por favor, poderiam me explicar o que é todo este negócio de bonecas?" Nathaniel insistiu. Riley sabia que o homem mais do que merecia uma explicação. Ela não conseguia imaginar uma maneira gentil de explicar-lhe.

"Eu acho-" ela começou hesitante. "Acho que o sequestrador da sua esposa - pode estar obcecado com bonecas."

Ela estava ciente das reações instantâneas a partir das outras pessoas na sala. Bill balançou a cabeça e direcionou o olhar para baixo. A cabeça de Beverly estalou, em estado de choque. Nathaniel olhou para ela com uma expressão de desespero sem esperança.

"O que te faz pensar isso?" ele perguntou com a voz embargada. "O que você sabe sobre ele? O que você não está me contando?"

Riley procurou uma resposta confortante, mas ela podia ver uma terrível compreensão em seus olhos. "Ele já fez isso antes, não é?" Disse ele. "Houve outras vítimas. Isso tem algo a ver com-?"

Nathaniel se esforçou para lembrar de algo.

"Oh meu Deus," ele falou. "Estive lendo sobre isso no jornal. Um assassino em série. Ele matou outras mulheres. Seus corpos foram encontrados no Parque Mosby e naquele Parque Nacional perto de Daggett, e algo sobre Belding."

Ele se dobrou e começou a soluçar incontrolavelmente.

"Você acha que Cindy é sua próxima vítima," ele gritou. "Você acha que ela já está morta." Riley balançou a cabeça insistentemente.

"Não," Riley disse abruptamente. "Não, nós não achamos isso." "Então o que vocês acham?"

Os pensamentos de Riley estavam em tumulto. O que ela poderia dizer a ele? Que sua esposa estava provavelmente viva, mas absolutamente apavorada, e prestes a ser horrivelmente torturada e mutilada? E que os cortes e o esfaqueamento iria m continuar - até que Cindy fosse resgatada ou morta, o que viesse primeiro?

Riley abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Beverly inclinou para frente e colocou uma mão no braço de Riley. O rosto da especialista ainda estava acolhedor e amigável, mas seus dedos estavam firmes.

Beverly falou muito lentamente, como se estivesse explicando algo a uma criança. "Eu não consegui encontrar o recibo," disse ela. "Não está aqui."

Riley compreendeu o significado silencioso de Beverly. Com os olhos, Beverly estava lhe dizendo que a entrevista tinha ficado fora de controle e que era hora de ela sair.

"Deixe que eu cuido das coisas agora," Beverly falou em um sussurro quase inaudível. Riley sussurrou de volta para ela, "Obrigado. Sinto muito."

Beverly sorriu e acenou com simpatia.

Nathaniel se sentou com o rosto enterrado nas mãos. Ele nem sequer olhara para Riley quando ela e Bill se levantaram para sair.

Eles deixaram o apartamento e voltaram a descer as escadas para a rua. Ambos entraram no carro de Riley, mas ela não ligou o motor. Ela sentiu suas próprias lágrimas brotando.

Eu não sei para onde ir, ela pensou. Não sei o que fazer.

Parecia ser a história de sua vida naqueles dias.

"São bonecas, Bill," disse ela. Ela estava tentando explicar sua nova teoria para si mesma, tanto quanto para ele. "Definitivamente tem algo a ver com bonecas. Você se lembra o que Roy Geraty nos disse em Belding?"

Bill deu de ombros. "Ele disse que sua primeira esposa - Margaret - não gostava de bonecas. Elas a deixavam triste, Disse ele. E disse que, por vezes, a faziam chorar."

"Sim, porque ela não podia ter seus próprios filhos," lembrou Riley. "Mas ele disse outra coisa. Disse que ela tinha vários amigos e parentes com seus próprios filhos. Ele disse que ela sempre tinha que ir a chás de bebês e ajudar com festas de aniversário."

Riley podia ver pela expressão de Bill que ele estava começando a entender agora. "Então, ela às vezes tinha que comprar bonecas," disse ele. "Mesmo que a deixassem triste." Riley golpeou o volante com o punho.

"Todos eles compraram bonecas," ela concluiu. "Ele as viu comprando bonecas. E as viu comprando no mesmo lugar, na mesma loja."

Bill concordou. "Precisamos encontrar essa loja," disse ele.

"Correto," Riley respondeu. "Em algum lugar da nossa área de mais de mil milhas quadradas, há uma loja de boneca onde todas as mulheres raptadas foram. E ele foi lá também. Se nós pudermos encontrá-la, talvez, apenas talvez, poderemos encontrá-lo."

Naquele momento, o celular de Bill tocou.

"Alô?" Disse ele. "Sim, agente Walder, aqui é Jeffreys."

Riley reprimiu um gemido. Ela se perguntou que tipo de aborrecimento Walder estava prestes a provocar agora.

Ela viu a boca de Bill se abrir com uma surpresa atordoada. "Jesus," disse ele. "Jesus. Tá bem. Tá bem. Nós estaremos lá."

Bill terminou a chamada e olhou para Riley, sem palavras por alguns segundos. "Walder e aquelas crianças que ele trouxe," disse ele. "Eles o pegaram."


Capítulo 19


Riley e Bill chegaram à Unidade de Análise Comportamental para encontrar Walder esperando por eles na porta.

"Nós o pegamos," disse Walder, conduzindo-os para dentro do prédio. "Pegamos o cara." Riley podia ouvir tanto euforia quanto alívio em sua voz.

"Como?" Ela exigiu.

"Agente Paige, você subestimou seriamente Huang e Creighton," disse Walder. "Depois que você saiu, a recepcionista disse-lhes sobre um cara assustador que passava perto da clínica recentemente. Seu nome é Darrell Gumm. Pacientes mulheres tinham queixas sobre ele. Ele sempre se aproximava demais delas, elas falaram, não respeitavam o seu espaço pessoal. Ele também falava algumas coisas muito desagradáveis a elas. E uma ou duas vezes ele até entrou sorrateiramente no banheiro das mulheres."

Riley refletiu sobre isso, comparando com suas próprias suposições sobre o autor do crime. Este poderia ser ele, ela pensou. Ela sentiu uma onda de excitação em sua garganta.

Bill perguntou a Walder, "ninguém da clínica chamou a polícia para falar sobre Gumm?"

"Eles estavam deixando o próprio cara da segurança lidar com isso. O guarda disse para Gumm ficar distante. Nesse tipo de clínica, há gente doida de vez em quando. Mas Huang e Creighton pegaram sua descrição. Eles perceberam que ele parecia ser o cara que estávamos procurando. Conseguiram seu endereço com a recepcionista e todos nós fomos para o apartamento dele."

"Como você sabe que é ele?" Riley perguntou.

"Ele confessou," disse Walder com firmeza. "Tiramos uma confissão dele."

Riley começou a sentir um toque de alívio. "E Cindy MacKinnon?" Ela perguntou. "Onde ela está?"

"Estamos trabalhando nisso," respondeu Walder.

O alívio de Riley foi embora. "O que você quer dizer com 'estamos trabalhando nisso'?" Ela perguntou.

"Temos agentes de campo vasculhando o bairro. Nós não acho que ele possa tê-la levado muito longe. De qualquer forma, ele vai nos dizer muito em breve. Ele está falando muito."

É melhor que seja o cara, Riley pensou. Cindy MacKinnon simplesmente tinha que estar viva. Eles não podiam perder mais uma mulher inocente para este animal deturpado. Seu tempo estava se apertando, mas com certeza ela não estaria morta tão cedo logo depois do sequestro. Ele não tinha tido o prazer de torturá-la ainda.

Bill perguntou a Walder, "Onde está o suspeito agora?"

Walder apontou o caminho. "Nós o colocamos no centro de detenção," disse ele. "Venham. Estou indo para lá agora."

Walder os atualizou sobre tudo enquanto caminhavam pelo extenso complexo da UAC para o edifício onde ficavam os suspeitos.

"Quando mostramos nossos emblemas," Walder disse severamente ", ele nos convidou para entrar e disse para ficarmos à vontade. Bastardo auto-confiante."

Riley pensou que isso soava adequado. Se Darren Gumm realmente fosse o criminoso, a chegada dos agentes poderia ter sido apenas o desfecho que ele estava esperando. Ele poderia muito bem ter a intenção de ser preso desde o começo, depois de um inteligente jogo de dois anos de gato e rato que ele fizera com as autoridades. Talvez a recompensa que ele esteve esperando o tempo todo era a fama - muito mais do que quinze minutos de fama.

O problema era, Riley sabia, que ele ainda poderia usar o seu mais recente sequestro para brincar com todos eles. E ele poderia muito bem ser o tipo de pessoa que faria isso.

"Você deveria ter visto o apartamento dele," Walder continuou. "Um fosso com um pequeno quarto imundo, com um sofá dobrável

e um banheiro minúsculo que cheirava mal a distância. E, nas paredes, absolutamente em toda parte, ele tem recortes de notícias sobre assaltos e estupros e assassinatos de todo o país. Nenhum sinal de um computador, ele está completamente fora da rede, mas eu tenho que dizer, ele tem um banco de dados analógico de criminalidade psicopata que um monte de departamentos de polícia teria inveja."

"E deixe-me adivinhar," Bill colocou. "Ele tinha um conjunto de histórias postadas sobre os nossos assassinatos - praticamente toda informação que foi tornada pública a respeito deles durante os últimos dois anos."

"Ele com certeza o fizera," disse Walder. "Creighton e Huang fizeram-lhe algumas perguntas, e ele agiu demasiadamente como suspeito. Finalmente Huang perguntou o que ele sabia sobre Cindy MacKinnon e ele se recusou a responder. Era óbvio que ele sabia do que estávamos falando. Tivemos o suficiente para prendê-lo. E confessou logo que o trouxemos aqui."

Naquele momento, Walder levou Riley e Bill para uma pequena sala com uma janela de vidro unidirecional que dava para uma sala de interrogatório.

O interrogatório já estava bem encaminhado. De um lado da mesa sentava a agente Emily Creighton. O agente Craig Huang estava andando pelo chão atrás dela. Riley pensou que os dois jovens agentes realmente pareciam mais capaz do que antes. Do outro lado da mesa estava Darrell Gumm. Seus pulsos estavam algemados sobre a mesa.

Riley se sentiu repelida por ele imediatamente. Ele parecia um homem com feições de sapo, tinha algo em torno de trinta anos, estatura média e um pouco rechonchudo. Mas ele parecia suficientemente robusto para ser uma ameaça física plausível, especialmente para mulheres indefesas pegas de surpresa. Sua testa inclinava bruscamente para trás, fazendo com que seu crânio parecesse com o de algum hominídeo extinto. Seu queixo era praticamente inexistente. No geral, ele certamente se encaixava nas expectativas de Riley. E sua confissão parecia concluir as coisas.

"Onde ela está?" Creighton gritou para Gumm.

Riley podia dizer pelo crepitar impaciente na voz de Creighton que ela já tinha feito essa pergunta muitas vezes.

"Onde está quem?" Gumm perguntou com uma voz alta e desagradável. Sua expressão exalava desprezo e insolência.

"Pare de fazer jogos com a gente," disse Huang acentuadamente.

"Eu não tenho que dizer nada sem um advogado presente, certo?" Gumm disse.

Creighton assentiu. "Já lhe dissemos isso. Nós vamos trazer um advogado no momento em que você pedir um. Você continua dizendo que não quer um. Esse é seu direito também. Você pode renunciar seu direito a um advogado. Você mudou de ideia?"

Gumm inclinou a cabeça e olhou para o teto, simulando estar pensativo. "Deixe-me pensar sobre isso. Não, acho que não. Pelo menos por enquanto." Huang inclinou-se sobre a mesa em direção a ele, tentando parecer ameaçador. "Estou pedindo pela última vez," disse ele. "Onde você escondeu o caminhão?"

Gumm deu de ombros. "E eu estou dizendo pela última vez - que caminhão? Eu não tenho um caminhão. Eu nem sequer tenho um carro. Merda, eu sequer tenho uma carteira de motorista."

Falando em voz baixa, Walder informou Riley e Bill, "Essa última parte é verdade. Não tem carteira de motorista, sem registro de eleições, sem cartões de crédito, nada. Ele realmente vive em outro mundo. Não me admira que o caminhão não tivesse uma placa de licença. Ele provavelmente o roubou. Mas ele não poderia ter dirigido tão longe com o tempo que ele tinha. Ele tem que estar em algum lugar perto de seu apartamento."

O agente Creighton estava estava olhando Gumm com desconfiança agora.

"Você acha que isso é engraçado, não é?" - disse ela. "Você tem uma pobre mulher amarrada em algum lugar. Você já admitiu isso. Ela está morrendo de medo, e eu aposto que ela está com fome e sede também. Por quanto tempo você vai deixá-la sofrer? Você está realmente disposto a deixá-la morrer desse jeito?"

Gumm riu.

"Esta é a parte em que você vai me dar uma surra?" Ele perguntou. "Ou é quando você me diz que você pode me fazer falar, sem deixar marcas visíveis?"

Riley tinha tentado manter a calma, mas ela não se conteve mais. "Eles não estão fazendo as perguntas certas," disse ela.

Ela passou por Walder e se dirigiu pela porta que dava para a sala do interrogatório. "Segure-o, agente Paige," Walder ordenou.

Ignorando-o, Riley entrou com pressa na sala. Ela correu em direção à mesa, plantou ambas as mãos sobre ela, e se inclinou intimidadoramente sobre Gumm.

"Diga-me, Darrell," ela rosnou. "Você gosta de bonecas?" Pela primeira vez, a face de Darrell mostrou um traço de alarme. "Quem diabos é você?" ele perguntou a Riley.

"Eu sou alguém para quem você não gostaria de mentir," disse Riley. "Você gosta de bonecas?" Os olhos de Darrell correram ao redor da sala.

"Eu não sei," disse ele. "Bonecas? São bonitas, eu acho."

"Ah, você acha que eles são mais do que bonitas, não é?" Riley disse. "Você era esse tipo de menino quando pequeno - o tipo que gostava de brincar com bonecas, do tipo que todos os outros garotos faziam graça."

Darrell voltou-se para o espelho que estava do seu lado da janela unidirecional.

"Eu sei que tem alguém aí fora," ele gritou, parecendo assustado agora. "Será que alguém pode levar esta mulher louca para longe de mim?"

Riley caminhou ao redor da mesa, empurrou Huang para o lado, e ficou de pé bem ao lado de Gumm. Em seguida, ela aproximou seu rosto do rosto dele. Ele se inclinou para trás, tentando escapar de seu olhar. Mas ela não iria dar-lhe espaço para respirar. Seus rostos estavam separados por apenas três ou quatro polegadas.

"E você ainda gosta de bonecas, não é?" Riley sussurrou, batendo com o punho na mesa. "Bonecas de meninas. Você gosta de tirar suas roupas. Você gostaria de vê-las nuas. O que você gostaria de fazer com elas quando estão nuas?"

Os olhos de Darrell se arregalaram.

Riley sustentou o olhar por um longo momento. Ela hesitou, tentando ler sua expressão claramente. Aquilo era desprezo ou aversão, que girou sua boca para baixo tão drasticamente?

Ela abriu a boca para perguntar mais, mas a porta para a sala de interrogatório se abriu atrás dela. Ela ouviu a voz severa de Walder.

"Agente Paige, eu quero você fora daqui agora." "Dê-me apenas mais um minuto," disse ela. "Agora!"

Riley se posicionou frente a Gumm em silêncio por um momento. Agora, ele parecia apenas confuso. Ela olhou a sua volta e viu que Huang e Creighton estavam olhando para ela em perplexa descrença. Então ela virou-se e seguiu Walder para a sala adjacente.

"Que diabos foi isso?" Walder exigiu. Você está exagerando. Você não quer que este caso seja encerrado. Ele está encerrado. Supere isso. Tudo o que temos que fazer agora é encontrar a vítima."

Riley gemeu em voz alta.

"Eu acho que você entendeu tudo errado," disse ela. "Não acho que esse cara reage a bonecas da forma como o assassino o faria. Preciso de mais tempo para ter certeza."

Walder olhou para ela por um momento e então balançou a cabeça.

"Este realmente não foi seu dia, não é, agente Paige?" Disse ele. "Na verdade, eu diria que você não tem

demonstrado o seu melhor neste processo todo. Ah você estava certa sobre uma coisa. Não Gumm não parece ter conexão com o senador - nem política nem pessoal. Bem, isso pouco importa. Tenho certeza de que o senador ficará grato por termos levado o assassino de sua filha à justiça."

Era tudo Riley conseguiu fazer para controlar seu temperamento. "Agente Walder, com todo o respeito -" ela começou.

Walder interrompeu. "E isso é problema seu, agente Paige. Seu respeito para comigo tem sido extremamente faltoso. Estou farto de sua insubordinação. Não se preocupe, eu não vou apresentar um relatório negativo. Você fez um bom trabalho no passado e eu estou dando-lhe o benefício da dúvida agora. Tenho certeza de que você ainda está traumatizada por tudo que você passou. Mas você pode ir para casa agora. Nós vamos lidar com as coisas a partir daqui."

Então Walder deu um tapinha no ombro de Bill. "Gostaria que você ficassse, agente Jeffreys," disse ele.

Bill estava furioso agora. "Se ela vai, eu vou," ele rosnou.

Bill levou Riley para o corredor. Walder saiu da sala para vê-los indo embora. Mas, após andar uma curta distância no corredor, a certeza atingiu Riley. O rosto do suspeito havia mostrado desgosto, ela estava certa agora. Suas perguntas sobre bonecas nuas não o excitaram. Apenas o deixaram confuso.

Riley estava tremendo por inteira. Ela e Bill continuaram seu caminho para fora do prédio. "Ele não é o cara," ela pronunciou baixinho para Bill. "Tenho certeza disso."

Bill olhou de volta para ela, chocado, e ela parou e olhou para ele com muita intensidade. "Ela ainda está lá fora," acrescentou. "E eles não têm idéia de onde ela está."


*


Muito tempo depois de escurecer, Riley estava andando pelo assoalho de sua casa, repassando todos os detalhes do caso em sua mente. Ela ainda tinha disparado e-mails e mensagens de texto em um esforço para alertar os membros do Escritório que Walder tinha pego o homem errado.

Ela tinha deixado Bill em sua casa e estava muito atrasada quando foi buscar April. Riley estava grata por April não ter feito nenhum escândalo sobre isso desta vez. Ainda reprimida pelo incidente com os cigarros de maconha, April esteve até que bastante agradável enquanto as duas jantaram e conversaram sobre qualuer coisa.

Meia-noite veio e se foi e Riley sentiu como se sua mente estivesse andando em círculos. Ela não estava chegando a lugar nenhum. Ela precisava de alguém para conversar, alguém para trocar idéias. Ela pensou em ligar para Bill. Certamente ele não se importaria se ela ligasse tão tarde.

Mas não, ela precisava de outra pessoa, alguém com idéias inovadoras, alguém cuja opinião ela tinha aprendido a confiar a partir de experiências do passado.

No passado, ela percebeu quem era esse alguém.

Ela ligou para um número em seu telefone celular e ficou consternada ao ouvir mais uma mensagem gravada.

"Você ligou para o número de Michael Nevins. Por favor, deixe uma mensagem após o sinal."

Riley respirou fundo e disse: "Mike, poderíamos conversar? Se você estiver ai, por favor, atenda. É realmente uma emergência."

Ninguém respondeu. Ela não ficou surpresa por ele não estar disponível. Ele sempre trabalhou por várias horas. Ela só queria que aquela não fosse uma dessas.

Finalmente, ela disse: "Eu estou trabalhando em um puta caso e acho que talvez você seja a única pessoa que pode me ajudar. Vou dirigir até o seu escritório amanhã de manhã. Espero que não tenha problema. Como eu disse, é uma emergência."

Ela desligou. Não havia mais nada que pudesse fazer agora. Ela só esperava que ela pudesse ter algumas horas de sono.


Capítulo 20


A cadeira era confortável e os arredores, elegantes, mas a iluminação suave no escritório de Mike Nevins não ajudava a levantar o ânimo de Riley. Cindy continuava desaparecida. Só Deus sabia o que estava acontecendo com ela agora. Ela estaria sendo torturada? Da mesma maneira que Riley tinha sido?

Os agentes que vasculharam o bairro ainda não a haviam encontrado, nem mesmo depois de vinte e quatro horas. Isso não era nenhuma surpresa para Riley. Ela sabia que eles estavam procurando na área errada. O problema era que nem ela nem ninguém tinha qualquer pista sobre a área correta. Riley não queria pensar o quão longe o assassino a levara - ou se ela ainda estava viva.

"Estamos perdendo ela, Mike," disse Riley. "A cada minuto que passa, ela está sente mais dor. Está mais perto da morte."

"O que a faz ter tanta certeza de eles pegaram o homem errado?" O psiquiatra forense Michael Nevins perguntou a ela.

Sempre impecavelmente arrumado e vestindo uma camisa cara com um colete, Nevins tinha uma personalidade meticulosa e exigente. Riley gostava dele ainda mais por causa disso. Ela o achava encantador. Eles se conheceram mais de uma década atrás, quando ele era um consultor em um caso de grande repercussão do FBI no qual ela trabalhou. Seu escritório ficava em D.C., então eles não se reuniam com freqüência. Mas, ao longo dos anos, eles perceberam que unindo os instintos dela com o conhecimento dele proporcionava a ambos uma perspectiva única sobre mentes tortuosas. Ela foi até ele logo de manhã.

"Por onde começo?" Riley respondeu com um tremor. "Leve o tempo que quiser," disse ele.

Ela tomou um gole da caneca do delicioso chá quente que ele lhe ofecera.

"Eu o vi," disse ela. "Perguntei-lhe algumas perguntas, mas Walder não me deixou passar mais tempo com ele."

"E ele não se encaixa nseu perfil?"

"Mike, esse cara Darrell Gumm é um presunçoso," continuou ela. "Ele tem algum tipo de fanatismo fantástico por psicopatas. Ele quer ser um. Quer ficar famoso por isso. Mas ele não tem o que é necessário. Ele é assustador, mas ele não é um assassino. É só que agora ele começou a agir de acordo com sua fantasia, até demais. É o seu sonho se tornando realidade."

Mike coçou o queixo, pensativo. "E você não acha que o verdadeiro assassino queira fama?"

Ela disse: "Ele poder estar interessado em fama, pode até querer, mas não é o que lhe atrai. Ele é impulsionado por algo mais, algo mais pessoal. As vítimas representam algo para ele, e ele gosta do sofrimento delas por causa de quem ou o que elas representam. Elas não são escolhidas aleatoriamente."

"Então como?"

Riley balançou a cabeça. Ela gostaria de poder colocar aquilo em palavras melhor do que ela podia.

"Definitivamente tem algo a ver com bonecas. O cara é obcecado com elas. E as bonecas tem algo a ver com a forma com que ele escolhe as mulheres."

Em seguida, ela suspirou. Àquela altura, isso sequer soava muito convincente para ela. E, ainda assim, ela tinha certeza de que estava no caminho certo.

Mike ficou em silêncio por um momento. Então ele disse: "Eu sei que você tem um talento para reconhecer a natureza do mal. Sempre confiei em seus instintos. Mas, se você estiver certa, este suspeito que está eles estão mantendo preso conseguiu enganar todo mundo. E nem todos os agentes do FBI são tolos."

"Mas alguns deles são," disse Riley. "Eu não consigo tirar a mulher que ele sequestrou ontem da minha mente. Fico pensando sobre o que ela está passando agora." Então, ela deixou escapar o ponto de sua visita com o psiquiatra. "Mike, você poderia interrogar Darrell Gumm? Você iria ver através dele em um segundo."

Mike pareceu espantado. "Eles não me chamaram neste aqui," disse ele. "Eu verifiquei sobre o caso esta manhã e foi-me dito que o Dr. Ralston o entrevistou ontem. Aparentemente, ele concorda que Gumm é o assassino. Ele até mesmo conseguiu com que Gumm a assinasse uma confissão por escrito. O caso está encerrado, pelo menos na opinião do Escritório. Eles pensam que agora eles só precisam encontrar a mulher. Eles tem certeza que farão Gumm falar."

Riley revirou os olhos com exasperação.

"Mas Ralston é um charlatão," disse ela. "Ele é bajulador de Walder. Ele vai chegar a qualquer conclusão que Walder quiser."

Mike não falou nada. Ele apenas sorriu para Riley. Riley tinha certeza de que Mike e ela tinham a mesma opinião sobre Ralston. Mas ele era muito profissional para dizer isso.

"Eu não estou conseguindo resolver este aqui," disse Riley. "Será que você pelo menos pode ler os arquivos e me contar o que você acha?"

Mike parecia perdido em pensamentos. Então ele disse: "Vamos falar um pouco sobre você. Há quanto tempo você voltou ao trabalho?"

Riley precisou pensar sobre isso. Este caso a tinha consumido, mas ainda era novo. "Cerca de uma semana," disse ela.

Ele inclinou a cabeça com preocupação. "Você está se pressionando demais. Você sempre faz isso."

"O homem matou uma mulher e pegou outra só nesse período. Eu deveria ter ficado sobre o caso desde que vi o seu trabalho pela primeira vez há seis meses. Eu nunca deveria tê-lo deixado de lado."

"Você foi interrompida."

Ela sabia que ele estava se referindo ao seu próprio sequestro e tortura. Ela tinha passado horas descrevendo o ocorrido para Mike e ele a ajudou a passar por aquela fase.

"Estou de volta agora. E uma outra mulher está em apuros." "Com quem você está trabalhando agora?"

"Bill Jeffreys novamente. Ele é fantástico, mas sua imaginação não é tão ativo quanto a minha. Ele também não teve nenhum idéia,"

"Como é que isso está sendo para você? Estar com Jeffreys todos os dias?" "Bem. Por que não seria?"

Mike olhou calmamente para ela por um momento, depois se inclinou para ela com uma expressão de ansiedade.

"Quero dizer, você tem certeza de que sua cabeça está lúcida? Tem certeza de que você está neste jogo? Acho que o eu quero dizer é - de qual criminoso você está realmente atrás?"

Riley apertou os olhos, um pouco surpresa por esta aparente mudança de assunto. "O que você quer dizer, qual?" Ela perguntou.

"O novo, ou o antigo?" Um silêncio se seguiu entre eles.

"Eu acho que talvez você esteja aqui para falar de você, na verdade," disse Mike suavemente. "Sei que você sempre teve dificuldade em acreditar que Peterson morreu naquele explosão."

Riley não sabia o que dizer. Ela não estava esperando por isso; não esperava que o assunto se tornasse ela.

"Isso não vem ao caso," disse Riley.

"E os seus remédios, Riley?" Perguntou Mike.

Mais uma vez, Riley não respondeu. Ela não tomava seu tranqüilizante prescrito há dias. Ela não queria enfraquecer sua concentração.

"Eu não tenho certeza se eu gosto aonde você quer chegar com isso," disse Riley.

Mike tomou um longo gole de sua caneca de chá.

"Você está carregando um monte de bagagem emocional," ele falou. "Você se divorciou este ano, e estou ciente de que seus sentimentos sobre isso estão em conflito. E, claro, você perdeu sua mãe de maneira tão horrível e trágica, tanto anos atrás."

O rosto de Riley corou de irritação. Ela não queria entrar naquele assunto.

"Nós conversamos sobre as circunstâncias do seu próprio sequestro," Mike continuou. "Você forçou os limites. Assumiu um risco enorme. Suas ações foram realmente bastante imprudentes."

"Eu consegui libertar Marie," disse ela. "Às custas de você mesma." Riley respirou longa e profundamente.

"Você está dizendo que talvez eu tenha provocado isso," disse ela. "Porque o meu casamento se desmanchou, por causa da forma com que minha mãe morreu. Você está dizendo que talvez eu ache que merecia. Então eu atrai isso para mim mesma. Eu me coloquei naquela situação."

Mike sorriu de volta com um sorriso simpático.

"Eu só estou dizendo que você precisa dar uma boa olhada em si mesma agora. Pergunte a si mesma o que está realmente acontecendo no seu interior."

Riley lutava para respirar, lutando contra suas lágrimas. Mike estava certo. Ela tinha se perguntando todas essas coisas. É por isso que as palavras dele lhe atingiram com tanta força. Mas ela estava ignorando esses pensamentos semi-submersos. E já era tempo de ela descobrir se algo daquilo era verdade.

"Eu estava fazendo meu trabalho, Mike," disse ela com a voz embargada.

"Eu sei," ele respondeu. "Nada disso foi culpa sua. Você sabe disso? É o seu sentimento de culpa que me preocupa. Você atrai o que você sente que merece. Você cria suas próprias circunstâncias de vida."

Riley ficou de pé, incapaz de ouvir mais nada.

"Eu não fui sequestrada, doutor, porque eu atrai isso," disse ela. "Eu fui raptada porque existem psicopatas por aí."


*


Riley correu para a saída mais próxima, para o pátio aberto. Era um belo dia de verão. Ela respirou várias vezes, longa e lentamente, acalmando-se um pouco. Em seguida, ela se sentou em um banco e enterrou a cabeça nas mãos.

Naquele momento, seu celular tocou.

Marie.

Seu instinto lhe disse imediatamente que a ligação era urgente. Riley respondeu, e não ouviu nada, apenas suspiros convulsivos. "Marie", Riley perguntou, preocupada, "o que foi?"

Por um momento, Riley só escutou soluços. Marie estava obviamente em um estado pior do que antes.

"Riley," Marie finalmente suspirou, "você o encontrou? Você tem procurado por ele? Tem alguém procurando por ele?"

O ânimo de Riley se afundou. Claro que Marie estava falando de Peterson. Ela queria garantir-lhe que ele estava realmente morto, que fora morto naquela explosão. Mas como poderia falar sobre isso de forma tão positiva quando ela mesma tinha dúvidas? Ela se lembrou do que o técnico forense Betty Richter lhe havia dito alguns dias atrás sobre as chances de Peterson estar realmente morto.

Eu diria que noventa e nove por cento.

Esse número não tinha dado nenhum conforto a Riley. E esta era a última coisa que Marie queria ou precisava ouvir agora.

"Marie," Riley disse miseravelmente, "não há nada que eu possa fazer." Marie deixou escapar um gemido de desespero que gelou Riley até o osso. "Ai, Deus, então ele é ele!" Ela chorou. "Não pode ser outra pessoa."

O nervosismo de Riley aumentou. "Do que você está falando? O que está acontecendo?" As palavras de Marie derramaram-se em uma corrida frenética.

"Eu lhe disse que ele estava me ligando. Cortei meu telefone fixo, mas, de alguma forma, ele conseguiu o número do meu celular. Ele continua me ligando o tempo todo. E não fala nada, ele só liga e respira, mas eu sei que é ele. Quem mais poderia ser? E ele esteve aqui, Riley. Esteve em minha casa."

Riley se alarmou no mesmo segundo. "O que você quer dizer?" Ela perguntou.

"Eu ouço barulhos durante a noite. Ele joga coisas na porta e na janela do meu quarto. Pedrinhas, eu acho."

O coração de Riley pulou quando ela se lembrou das pequenas pedras deixadas em sua própria varanda. Seria possível que Peterson estava realmente vivo? Será que ela e Marie estavam novamente correndo perigo?

Ela sabia que tinha de escolher as palavras com cuidado. Marie estava claramente oscilando, à beira de um grave colapso.

"Eu estou indo até você agora, Marie," disse ela. "E vou colocar o Escritório para investigar isso." Marie soltou uma risada áspera, desesperada, e amarga.

"Investigar?" ela repetiu. "Esqueça isso, Riley. Você já disse. Não há nada que você possa fazer. Você não vai fazer nada. Ninguém vai fazer nada. Ninguém pode fazer nada."

Riley entrou em seu carro e colocou o celular no viva-voz para que ela pudesse falar e dirigir.

"Fique na linha," disse ela, quando ela ligou seu carro e dirigiu-se para Georgetown. "Eu estou indo aí."


Capítulo 21


Riley lutava contra o trânsito enquanto tentava manter Marie no telefone. Ela atravessou um cruzamento depois que a cor do semáforo mudou de amarela para vermelha; ela estava dirigindo perigosamente e sabia disso. Mas o que mais poderia fazer? Ela estava em seu próprio carro, não era um veículo da agência, então ela não tinha luzes e sirene.

"Eu vou desligar, Riley," disse Marie pela quinta vez.

"Não!" Riley bradou novamente, lutando contra uma onda de desespero. "Continue na linha, Marie." A voz de Marie parecia cansada agora.

"Eu não consigo mais fazer isso," disse ela. "Salve-se, se você puder, mas eu realmente não consigo. Estou farta disso. Eu vou parar com tudo isso agora."

Riley sentiu-se pronta para explodir de pânico. O que Marie quis dizer? O que ia fazer? "Você pode fazer isso, Marie," disse Riley.

"Adeus, Riley."

"Não!" Riley gritou. "Só espere. Espere! É tudo que você precisa fazer. Eu já vou chegar." Ela estava dirigindo muito mais rápido do que o fluxo de tráfego, costurando entre as pistas, como uma

louca. Várias vezes os motoristas buzinaram para ela.

"Não desligue," Riley exigiu ferozmente. "Você está me ouvindo?" Marie não disse nada. Mas Riley podia ouvir seus soluços e lamentos.

Os sons eram desumanamente reconfortantes. Pelo menos Marie ainda estava lá. Pelo menos ela ainda estava ao telefone. Mas Riley conseguiria mantê-la lá? Ela sabia que a pobre mulher estava caindo em um abismo de puro terror animal. Marie já não tinha um pensamento racional em sua cabeça; ela parecia estar quase louca de medo.

As próprias memórias de Riley invadiram sua mente. Dias terríveis em um estado animalesco em que o mundo da humanidade simplesmente não existia. Escuridão total, a sensação de que a existência de um mundo fora da escuridão estava desaparecendo e uma completa perda de qualquer sensação da passagem do tempo.

Eu tenho que lutar contra isso, disse a si mesma. As lembranças a envolveram ...

Não havia nada para ouvir ou ver, Riley tentou manter seus outros sentidos envolvidos. Ela sentiu o gosto amargo do medo atrás de sua garganta, chegando à sua boca até se transformar em um formigamento elétrico na ponta da língua. Ela arranhou o chão de terra onde estava sentada, explorando a sua umidade. Ela cheirou o mofo e o bolor que a cercavam.

Essas sensações eram tudo o que ainda a mantinham no mundo dos vivos.

Então, no meio da escuridão, veio uma luz ofuscante e o rugido do propano na tocha de Peterson.

Uma colisão acentuada tirou Riley de seu devaneio apavorante. Levou um segundo para ela perceber que seu carro tinha batido contra o meio-fio e que ela correu o risco de fazer uma curva com carros vindo na direção contrária. Buzinas soaram.

Riley recuperou o controle de seu carro e olhou à sua volta. Ela não estava longe de Georgetown. "Marie," ela gritou. "Você ainda está aí?"

Mais uma vez, ela ouviu apenas um soluço abafado. Isso era bom. Mas o que Riley poderia fazer agora? Ela vacilou. Ela podia pedir ajuda do FBI em Washington D.C., mas até ela explicar o problema e enviarem agentes para o endereço, só Deus sabe o que poderia acontecer. Além disso, isso significaria desligar a ligação com Marie.

Ela tinha que mantê-la no telefone, mas como?

Como ela iria tirar Marie fora daquele abismo? Ela mesma quase tinha caído. Riley se lembrou de algo. Há muito tempo, ela tinha sido treinada em como manter as pessoas que ligam em um momento de crise na

linha. Ela nunca teve que usar essa formação até agora. Ela se esforçou para lembrar o que deveria fazer. Aquelas lições tinham acontecido há muito tempo.

Parte de uma lição voltou à sua mente. Ela foi ensinada a fazer qualquer coisa, dizer qualquer coisa, para manter a ligação. Não importava o quão sem sentido ou irrelevante fosse. O que importava era que quem estava ligando continuasse a ouvir uma voz humana preocupada.

"Marie, há algo que você precisa fazer para mim," disse Riley. "O quê?"

O cérebro de Riley estava funcionando freneticamente, inventando o que ela deveria falar a seguir.

"Eu preciso que você vá para a sua cozinha," disse ela. "E quero que você me diga exatamente quais ervas e especiarias você tem em sua prateleira."

Marie não respondeu por um momento. Riley ficou preocupado. Marie estava com o estado de espírito certo para ser levada por uma distração tão irrelevante?

"Tudo bem," respondeu Marie. "Estou indo para lá agora."

Riley deu um suspiro de alívio. Talvez isso poderia lhe dar algum tempo. Ela podia ouvir o tilintar de frascos de especiarias pelo telefone. A voz de Marie parecia realmente estranha agora - histérico e robótica ao mesmo tempo.

"Eu tenho orégano. E pimenta vermelha esmagada. E noz-moscada." "Excelente," disse Riley. "O quê mais?"

"Tomilho seco. E gengibre em pó. E pimenta preta." Marie fez uma pausa. Como Riley manteria aquela conversa?

"Você tem curry em pó?" Riley perguntou. Depois de um tilintar de garrafas, Marie disse: "Não."

Riley falou lentamente, como se suas instruções fossem questões de vida-ou-morte - porque, afinal de contas, era essa mesma a situação.

"Bem, arranje um bloco de papel e um lápis," orientou Riley. "Escreva isso. Você vai precisar pegar quando você for comprar mantimentos."

Riley ouviu o som de rabiscar. "O que mais você tem?" Riley perguntou. Então veio uma pausa mortal.

"Isso não é bom, Riley," disse Marie em um tom de desespero entorpecido. Riley gaguejou, impotente. "Apenas - apenas faça o que eu estou falando, ok?" Outra pausa se seguiu.

"Ele está aqui, Riley."

Riley sentiu um nó apertando em sua garganta. "Ele está onde?" Ela perguntou.

"Ele está em casa. Agora eu entendi. Ele esteve aqui o tempo todo. Não há nada que você possa fazer. Os pensamentos de Riley se agitaram enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo. Marie pode estar

deslizando em delírios paranóicos. Riley compreendia essas coisas bem demais a partir de suas próprias lutas contra o TEPT.

Por outro lado, Marie podia estar dizendo a verdade.

"Como você sabe isso, Marie?" Riley perguntou, olhando para uma oportunidade de ultrapassar um lento caminhão de mudança.

"Eu posso ouvi-lo," disse Marie. "Ouço seus passos. Ele está lá em cima. Não, ele está no corredor da frente. Não, ele está no porão."

Ela estaria alucinando? Riley se perguntou.

Era perfeitamente possível. Riley tinha ouvido ruídos inexistentes exageradamente nos dias que seguiram o seu sequestro. Mesmo recentemente, ela, às vezes, não podia confiar nos seus cinco sentidos. O trauma joga truques terríveis com a imaginação.

"Ele está em toda parte na casa," disse Marie.

"Não," Riley respondeu com firmeza. "Ele não pode estar em toda parte."

Riley conseguiu passar o lento caminhão de mudança. A sensação de inutilidade a esmagava como se ela estivesse e um maremotos. Era uma sensação terrível, quase como um afogamento.

Quando Marie falou de novo, ela já não estava soluçando. Ela parecia conformada agora, até misteriosamente tranquila.

"Talvez ele seja tipo um fantasma, Riley. Talvez seja isso que aconteceu quando você tentou explodi-lo. Você matou o seu corpo, mas você não eliminou o seu mal. Agora, ele pode estar em um monte de lugares ao mesmo tempo. Agora não há como pará-lo, jamais. Você não pode lutar contra um fantasma. Desista, Riley. Você não pode fazer nada. Eu também não posso. Tudo que posso fazer é não deixar a mesma coisa acontecer comigo de novo."

"Não desligue! Eu preciso que você faça outra coisa para mim."

Houve um momento de silêncio. Em seguida, Marie disse: "O quê? O que agora, Riley?" "Eu preciso que continue na linha, mas preciso que você ligue para a emergência no seu telefone fixo."

A voz de Marie se transformou em um leve rosnado. "Jesus, Riley. Quantas vezes eu tenho que lhe dizer que eu cortei o meu telefone fixo?"

Em sua confusão, Riley tinha esquecido. Marie, na verdade, parecia um pouco irritada. Isso era bom. Raiva era melhor do que pânico.

"Além disso," continuou Marie, "Que bem me fará ligar para a emergência? O que eles podem fazer para me ajudar? Ninguém pode ajudar. Ele está em todos os lugares. Ele vai me pegar, mais cedo ou mais tarde. Ele vai pegá-la também. Nós dois poderíamos muito bem desistir."

Riley sentiu-se frustrada. Os delírios de Marie estavam assumindo uma lógica intratável por conta própria. E ela não tinha tempo para convencer Marie de que Peterson não era um fantasma.

"Nós somos amigas, não somos, Marie?" Riley disse finalmente. "Você me disse uma vez que faria qualquer coisa por mim. Era verdade?"

Marie começou a chorar novamente. "É claro que é verdade."

"Então desligue e chame a emergência. Não precisa haver um motivo. Não precisa fazer algum bem para você. Apenas ligue porque eu quero você o faça."

Uma longa pausa se seguiu. Riley não conseguia nem ouvir a respiração de Marie.

"Eu sei que você quer desistir, Marie. Eu compreendo. A escolha é sua. Mas eu não quero desistir. Talvez seja idiotice, mas eu não quero. É por isso que eu estou pedindo que você ligue para a emergência. Porque você disse que faria qualquer coisa por mim. E eu quero que você faça isso. Eu preciso que você faça isso. Por mim."

O silêncio continuou. Será que Marie ainda estava mesmo na linha? "Você promete?" Ela perguntou.

A chamada terminou com um clique. Se Marie iria pedir ajuda ou não, Riley não podia deixar nada ao acaso. Ela pegou o celular e digitou o número da emergência.

"Aqui é a agente especial Riley Paige, FBI," ela disse quando o operador respondeu. "Estou ligando sobre um possível intruso. Alguém extremamente perigoso."

Riley deu ao operador o endereço de Marie.

"Nós vamos enviar uma equipe para lá imediatamente," disse o operador. "Ótimo," disse Riley e então encerrou a chamada.

Riley, em seguida, tentou o número de Marie novamente, mas não obteve resposta.

Alguém tem que chegar lá a tempo, ela pensou. Alguém tem que chegar lá agora.

Enquanto isso, ela lutava contra uma renovada enxurrada de lembranças sombrias. Ela precisava se controlar. O que quer que estava prestes a acontecer em seguida, ela precisava manter se manter sob controle.

Quando a moradia de tijolos vermelhos de Marie apareceu, Riley sentiu uma onda de desespero. Nenhum veículo da emergência havia chegado. Ela ouviu sirenes de polícia à distância. Eles estavam a caminho.

Riley parou em fila dupla e correu para a porta da frente, percebendo que ela foi a primeira a chegar. Quando ela tentou girar a maçaneta da porta, esta se abriu. Mas por que estava destravada?

Ela entrou e puxou sua arma. "Marie!" Riley gritou. "Marie!" Nenhuma resposta veio.

Riley sabia com certeza que algo terrível tinha acontecido ali, ou estava acontecendo agora. Ela deu mais um passo adiante no corredor da frente.

"Marie!" ela chamou novamente. A casa permaneceu em silêncio.

As sirenes da polícia estavam mais altas agora, mas nenhuma ajuda tinha chegado ainda.

Riley estava começando a acreditar no pior agora que Peterson havia estado ali e talvez ainda estivesse.

Ela atravessou o corredor mal iluminado. E continuou chamando o nome de Marie enquanto ela analisava cada porta. Será que ele estava no armário à esquerda? E que tal a porta do banheiro à direita?

Se ela encontrasse Peterson, ela não seria levada novamente por ele. Ela mataria aquele o bastardo de uma vez por todas.


Capítulo 22


Apesar dos apelos de Riley, nenhuma resposta veio de Marie. Não havia sons na casa que não os feitos por ela mesma. O lugar parecia vazio. Ela andou até as escadas e virou cuidadosamente em uma porta aberta.

Ao contornar um canto, a respiração de Riley parou em sua garganta. Sentia-se como se o mundo estivesse desmoronando debaixo dela.

Ali estava Marie: suspensa no ar, pendurada pelo pescoço em uma corda amarrada a uma luminária no teto alto. Uma escadinha derrubada estava deitado no chão.

O tempo pareceu parar com a mente de Riley rejeitando a realidade.

Então seus joelhos se dobraram e ela se pegou no batente da porta. Ela soltou um som áspero e longo.

"NÃOOOO!"

Ela atravessou a sala, virou a escada vertical e subiu nela. Ela passou um braço ao redor do corpo de Marie para aliviar a pressão e tocou o pescoço de Marie, em busca de qualquer sinal de um pulso.

Riley estava chorando agora. "Esteja viva, Marie. Esteja viva, maldição." Mas era tarde demais. O pescoço de Marie estava quebrado. Ela estava morta.

"Cristo," disse Riley, caindo de volta na escada. A dor veio de algum lugar no fundo de seu abdômen. Ela queria morrer ali também.

Enquanto o tempo passava, Riley tornou-se vagamente consciente dos barulhos no andar de baixo. Os socorristas haviam chegado. Um mecanismo emocional familiar tomou conta dela. Medo humano básico e tristeza deram lugar a uma eficiência fria e profissional.

"Aqui em cima!" Ela gritou.

Ela limpou a manga em seu rosto para secar as lágrimas.

Cinco oficiais, revestidos de Kevlar e fortemente armados subiram as escadas. A mulher na frente ficou visivelmente surpresa ao ver Riley.

"Eu sou a oficial Rita Graham, chefe de equipe," disse ela. "Quem é você?"

Riley saiu da escada e mostrou seu distintivo. "Agente especial Riley Paige, FBI." A mulher parecia desconfortável.

"Como você chegou aqui antes de nós?"

"Ela era uma amiga minha," disse Riley, totalmente no modo profissional agora. "O nome dela era Marie Sayles. Ela me ligou. Ela me disse que algo estava errado, e eu já estava a caminho quando liguei para a emergência. Eu não cheguei aqui a tempo. Ela está morta."

A equipe de socorristas rapidamente verificaram e confirmaram a declaração de Riley. "Suicídio?" Perguntou a oficial Graham.

Riley assentiu. Ela não tinha nenhuma dúvida de que Marie tinha se matado.

"O que é isso?" A líder da equipe perguntou, apontando para uma ficha de papel dobrada que estava em um criado mudo ao lado da cama.

Riley olhou para o cartão. Em uma caligrafia quase ilegível, havia uma mensagem:

Este é o único jeito.

"Um bilhete de suicídio?"

Riley concordou penosamente de novo. Mas ela sabia que não era o tipo comum de bilhete de suicídio. Não era uma explicação e certamente não era um pedido de desculpas.


É um conselho, Riley pensou. É um conselho para mim.

A equipe tirou fotos e fez anotações. Riley sabia que eles iriam esperar o médico legista antes de remover o corpo.

"Vamos conversar lá embaixo," disse a oficial Graham. Ela levou Riley até a sala, sentou-se em uma cadeira, e fez um gesto para Riley se sentar também.

As cortinas ainda estavam fechadas e não havia luzes acesas na sala. Riley queria abrir as cortinas e deixar alguma luz solar entrar, mas ela sabia que era melhor não mudar nada. Ela se sentou no sofá.

Graham acendeu uma lâmpada de mesa ao lado de sua cadeira.

"Diga-me o que aconteceu," disse a oficial, tirando um bloco de notas e um lápis. Embora ela tivesse o rosto endurecido de um policial experiente, havia um olhar de simpatia em seus olhos.

"Ela foi vítima de um sequestro," disse Riley. "Há quase oito semanas. Nós duas fomos vítimas. Talvez você tenha lido sobre isso. O caso Sam Peterson."

Os olhos de Graham se arregalaram.

"Oh meu Deus," ela falou. "O cara que torturou e matou todas aquelas mulheres, o cara do maçarico. Então foi você, a agente que escapou e o explodiu?"

"Correto," Riley respondeu. Então, depois de uma pausa, ela disse: "O problema é que eu não tenho certeza se eu realmente o queimei. Eu não sei direito se ele está morto. Marie não acreditava que ele estava. E isso acabou afetando-a. Ela simplesmente não conseguia lidar com isso, de não saber. E talvez ele estivesse perseguindo-a novamente."

À medida que Riley continuava sua explicação, as palavras fluíam automaticamente, quase como se ela tivesse aprendido a coisa toda de cor. Ela agora se sentia completamente isolada da cena, ouvindo-se relatar como aquela situação horrível havia acontecido.

Depois de ajudar a oficial Graham a obter uma ideia sobre o caso, Riley disse a ela como entrar em contato com o parente mais próximo de Marie. Mas, enquanto falava, a raiva estava se erguendo embaixo da sua aparência profissional - uma raiva gélida, impiedosa. Peterson tinha conseguido mais uma vítima. Se ele estava vivo ou morto não importava. Ele matou Marie.

E Marie tinha morrido absolutamente certa de que Riley estava condenada a ser sua próxima vítima, quer pela mão dele ou a sua própria. Riley queria tomar posse de Marie e agitar fisicamente essa ideia infeliz de sua cabeça.

Este não é o único jeito! Ela queria lhe dizer.

Mas será que ela acreditava nisso? Riley não sabia. Parecia haver coisas demais que ela não sabia.

O legista chegou enquanto Riley e Graham ainda estavam conversando. Graham se levantou e foi ao seu encontro. Então ela virou-se para Riley e disse: "Eu vou estar lá em cima por alguns minutos. Gostaria que você ficasse por aqui e me desse mais informações."

Riley balançou a cabeça.

"Eu preciso ir," ela falou. "Há alguém com quem eu gostaria de conversar." Ela retirou um cartão seu e o colocou sobre a mesa. "Vocês podem entrar em contato comigo."

A oficial começou a protestar, mas Riley não lhe deu a chance; ela se levantou e saiu da casa escura de Marie. Ela tinha um assunto urgente.


*


Uma hora mais tarde, Riley estava dirigindo para o oeste através do interior de Virgínia.

Será que eu realmente quero fazer isso? Ela perguntou-se novamente.

Estava exausta. Ela não tinha dormido bem na noite passada e agora tinha passado por um pesadelo real. Graças a Deus que ela tinha falado com Mike no meio tempo. Ele a ajudara a se recompor, mas ela tinha certeza de que ele nunca aprovaria o que ela ia fazer agora. Ela não estava muito certa de que estava absolutamente em seu pleno juízo.

Ela estava tomando o caminho mais rápido de Georgetown até a mansão do senador Mitch Newbrough. O político narcisista tinha muitas respostas a dar. Ele estava escondendo alguma coisa, algo que poderia levar ao verdadeiro assassino. E isso o fazia parcialmente responsável por esta nova vítima.

Riley sabia que ela estava indo em direção a um problema. Ela não se importava.

Era fim de tarde quando ela estacionou na rua circular em frente à mansão de pedra. Ela saiu do carro e caminhou até as enormes portas da frente. Ao tocar a campainha, ela foi recebida por um cavalheiro vestido formalmente - o mordomo de Newbrough, ela presumiu.

"O que eu posso fazer por você, senhora?" Ele perguntou secamente. Riley mostrou seu distintivo para ele.

"Agente especial Riley Paige, FBI." "O senador me conhece. Preciso falar com ele." Com um olhar cético, o mordomo se afastou dela. Ele ergueu um walkie-talkie até os lábios, sussurrou, e então escutou. O mordomo virou-se para Riley com um sorriso um tanto superior. "O senador não deseja vê-lo," disse ele. "Ele foi muito enfático sobre isso. Tenha um bom dia,

minha senhora."

Mas antes que o homem pudesse fechar as portas, Riley passou diretamente por ele e entrou na casa.

"Eu vou notificar a segurança," o mordomo falou atrás dela.

"Vá em frente e faça isso," Riley gritou por cima do ombro.

Riley não tinha ideia de onde procurar o senador. Ele poderia estar em qualquer lugar naquela mansão cavernosa. Mas ela percebeu que não importava. Ela provavelmente poderia fazê-lo vir até ela.

Ela se dirigiu para a sala onde havia se encontrado com ele anteriormente e estatelou-se no enorme sofá. Ela tinha toda a intenção de fazer-se sentir em casa até que o senador aparecesse.

Apenas alguns segundos se passaram até um grande homem vestido em um terno preto entrar na sala. Riley sabia pelo seu modo de agir que ele era o segurança do senador.

"O senador pediu para você ir embora," disse ele, cruzando os braços.

Riley não se mexeu do sofá. Ela analisou o homem, avaliando o quanto ameaçador ele realmente era. Ele era grande o suficiente para provavelmente ser capaz de removê-la à força. Mas suas próprias habilidades de auto-defesa eram muito boas. Se ele fosse em cima dela, mais de um deles ficaria muito ferido e, sem dúvida, algumas das antiguidades do senador seriam danificadas.

"Espero que eles tenham te dito que eu sou do FBI," disse ela, encarando-o nos olhos. Duvidava muito que ele realmente fosse sacar sua arma contra um agente do FBI.

Não facilmente intimidado, o homem olhou para ela. Mas não se moveu em direção a ela. Riley ouviu passos se aproximando por trás dela, e então o som da voz do senador. "O que é desta vez, agente Paige? Eu sou um homem muito ocupado."

O segurança se afastou quando Newbrough andou à frente dela e ficou ali. O seu sorriso de político fotogênico tinha um tom de sarcasmo. Mike ficou em silêncio por um momento. Riley percebeu de imediato que eles estavam prestes a travar uma batalha de vontades. Ela estava determinada a não mover-se do sofá.

"Você estava errado, senador," disse Riley. "Não havia nada sobre política no assassinato de sua filha e nada pessoal também. Você me deu uma lista de inimigos, e eu tenho certeza que você passou essa mesma lista para o seu cachorrinho no Escritório."

O sorriso de Newbrough se contorceu em um ligeiro sorriso de escárnio.

"Acho que você quer dizer o agente especial encarregado Carl Walder," disse ele.

Riley sabia que sua escolha de palavras foi áspera e que ela iria se arrepender. Mas agora ela não se importava.

"Aquela lista foi uma perda de tempo do Escritório, Senador," disse Riley. "E enquanto isso, outra vítima foi raptada."

Newbrough ficou firmemente enraizado ao seu lugar.

"Pelo que eu saiba o Escritório fez uma prisão," disse ele. "O suspeito confessou. Mas ele não disse muito, não é? Há alguma conexão comigo, você pode ter certeza disso. Ele vai dizer tudo em seu devido tempo. Vou me certificar de que o agente Walder siga adiante com isso."

Riley tentou esconder seu espanto. Depois de mais um seqüestro, Newbrough ainda se considerava o principal alvo da ira do assassino. O ego do homem era verdadeiramente escandaloso. A sua capacidade em acreditar que tudo era sobre ele não tinha limites.

Newbrough inclinou a cabeça com aparente curiosidade.

"Mas você parece estar me culpando de alguma forma," disse ele. "Eu fico ofendido com isso, agente Paige. Não é minha culpa que a sua própria ineficiência levou à captura de outra vítima."

O rosto de Riley formigou de raiva. Ela não se atreveu a responder. Ela diria algo imprudente demais.

Ele caminhou até um armário de bebidas e serviu-se de um copo grande do que Riley assumiu ser um uísque extremamente caro. Ele estava obviamente fazendo um ponto em não perguntar a Riley se ela queria uma bebida.

Riley sabia que já era hora de ela chegar ao ponto.

"A última vez que estive aqui, havia algo que você não me contou," disse ela. Newbrough se virou para ela novamente, tomando um longo gole do seu copo. "Eu não quis responder a todas suas perguntas?" Disse ele.

"Não é isso. Você simplesmente não me disse uma coisa. Sobre Reba. E eu acho que é hora de você fazê-lo." Newbrough segurou-a em um olhar penetrante.

"Ela gosta de bonecas, senador?" Riley perguntou.

Newbrough deu de ombros. "Eu suponho que todas as meninas gostem," disse ele.

"Eu não quero dizer quando criança. Quero dizer, quando adulta. Será que ela as colecionava?" "Receio não saber a resposta."

Essas foram as primeiras palavras que Newbrough tinha dito até agora e que Riley realmente acreditava. Um homem patologicamente egocêntrico saberia pouco sobre gostos e interesses de qualquer outra pessoas - mesmo de sua própria filha.

"Eu gostaria de falar com sua esposa," disse Riley.

"Certamente que não," Newbrough estalou. Ele estava adotando uma nova expressão agora - uma que Riley tinha visto ele usar na televisão. Similar ao seu sorriso, aquela expressão fora cuidadosamente ensaiada, sem dúvida, praticada milhares de vezes em um espelho. Era para transmitir indignação moral.

"Você realmente não tem decência, não é, Agente Paige?" Ele perguntou, sua voz tremendo com uma raiva calculada. "Você entra em uma casa, que está de luto, sem trazer algum conforto nem dar respostas para uma família em sofrimento. Ao invés disso, você vem fazer acusações veladas. Você culpa pessoas perfeitamente inocentes pela sua própria incompetência."

Ele balançou a cabeça em um gesto de justiça ferida.

"Mas que mulherzinha cruel você é," disse ele. "Você deve ter causado uma dor terrível para muitas pessoas."

Riley sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Esta era uma tática para a qual ela não tinha se preparado

- uma reviravolta completa sobre quem era o culpado. Ele atingiu justamente sua culpa genuína e sua incerteza.

Ele sabe exatamente como me afetar, ela pensou.

Ela sabia que precisava sair dali agora ou acabaria falando algo da qual se arrependeria depois. Ele estava praticamente incitando-a a seguir essa direção. Sem dizer uma palavra, ela se levantou do sofá e saiu da sala de estar para a entrada da frente.

Ela ouviu a voz do senador chamando atrás dela.

"Sua carreira acabou, agente Paige. Eu quero que você saiba disso."

Riley passou pelo mordomo e saiu logo pela porta da frente. Ela entrou no carro e começou a dirigir.

Ondas de raiva, frustração e exaustão caíram sobre ela. A vida de uma mulher estava em jogo, e ninguém no mundo foi resgatá-la. Ela tinha certeza de que Walder estava só expandindo a área de pesquisa ao redor do apartamento de Gumm. E Riley tinha certeza de que eles estavam procurando no lugar errado. Cabia a ela fazer alguma coisa. Mas ela já não tinha nenhuma ideia do que fazer. Ir até ali certamente não ajudou. Ela ainda podia confiar em seu próprio julgamento?

Riley não tinha dirigido por mais de dez minutos até seu telefone celular tocar. Ela olhou para baixo e viu que era uma mensagem de texto de Walder. Ela não teve dificuldade para adivinhar do que se tratava.

Bem, ela pensou amargamente. Pelo menos, o senador não perdeu tempo.


Capítulo 23


Quando Riley chegou a Quantico e entrou na Unidade de Análise Comportamental, tanto o chefe quanto Bill estavam esperando por ela no escritório de Walder. Ela percebeu que Bill devia ter sido chamado especialmente para esta reunião.

O agente especial encarregado Carl Walder levantou-se da mesa.

"Cachorrinho do Senador?" Walder disse, com o rosto pueril distorcido de raiva. Riley baixou os olhos. Ela realmente tinha ido longe demais com aquela observação. "Sinto muito, senhor," disse ela.

"Desculpar-se não vai adiantar, Agente Paige," disse Walder. "Você tem ficado completamente fora dos trilhos. O que você estava pensando, ir para a casa do senador para confrontá-lo assim? Você tem alguma ideia do dano que você fez?"

E por "dano", Riley tinha certeza que Walder estava falando do seu próprio constrangimento pessoal. Ela não podia ficar muito preocupada com isso.

"Você já encontrou Cindy McKinnon?" ela perguntou em voz baixa.

"Não, na realidade, não encontramos," disse Walder acentuadamente. "E, francamente, você não está ajudando encontrá-la."

Riley se sentiu golpeada agora.

"Eu não estou ajudando?" Ela respondeu. "Senhor, eu continuo dizendo a você, você está acusando o homem errado, e você está procurando errado -"

Riley parou no meio da frase.

Cindy MacKinnon era o que importava agora, não as discussões do momento entre Riley e Walder. Não era o momento para disputas mesquinhas. Quando falou novamente, foi em um tom mais suave.

"Senhor, mesmo que eu sinta que ele possa estar escondendo alguma coisa, eu errei ao ir unilateralmente ver o senador sem verificar com você, e peço desculpas. Mas esqueça de mim por um momento. Essa pobre mulher está desaparecida há bem mais de 24 horas. E se eu estiver certa e outra pessoa está mantendo-a em cativeiro? O que ela está passando agora? Quanto tempo ela tem?"

Com a voz cautelosa, Bill acrescentou, "Nós temos que considerar a possibilidade, senhor."

Walder sentou-se e não disse nada por um momento. Riley podia ver pela sua expressão que ele também estava preocupado com a possibilidade. Então ele falou muito lentamente, dando peso a cada palavra.

"O Escritório vai lidar com isso."

Riley não sabia o que dizer. Ela nem sequer entendia muito bem o que Walder estava falando. Ele estava reconhecendo seu possível erro? Ou ele estava ainda determinado a não se desviar de seu curso atual?

"Sente-se, agente Paige," disse Walder.

Riley se sentou na cadeira ao lado de Bill, que olhava para ela com preocupação crescente. Walder disse, "Eu ouvi sobre o que aconteceu com sua amiga, Riley."

Riley ficou um pouco abalada. Ela não estava surpresa por Walder saber sobre a morte de Marie. Afinal, a notícia de que ela tinha sido a primeira a chegar na cena certamente alcançou o Escritório. Mas por que ele estava tocando nesse assunto agora? Será que ela detectou uma nota de simpatia em sua voz?

"O que aconteceu?" Walder indagou. "Por que ela fez isso?" "Ela não conseguia mais aguentar," disse Riley em um sussurro. "Não conseguia aguentar o que?" Walder indagou.

Um silêncio caiu. Riley não foi capaz de estruturar uma resposta para essa pergunta.

"Ouvi dizer que você não acha que Peterson está morto," disse Walder. "Acho que posso entender por que você não consegue se livrar dessa ideia. Mas você tem que saber que isso não faz sentido."

Houve outra pausa.

"Você falou isso à sua amiga?" Walder indagou. "Você lhe contou sobre essa ideia obsessiva sua?"

O rosto de Riley corou. Ela sabia o que estava por vir.

"Ela era muito frágil para isso, agente Paige," disse Walder. "Você deveria saber que iria enlouquecê-la. Você deveria ter usado um melhor julgamento. Mas, francamente, agente Paige, seu julgamento é ruim demais. Eu odeio dizer isso, mas é verdade."

Ele está me culpando pela morte de Marie, Riley percebeu.

Riley estava lutando para conter as lágrimas agora. Se eram lágrimas de tristeza ou indignação, ela não sabia. Ela não tinha ideia do que falar. Por onde ela poderia começar? Ela não tinha plantado tal ideia na cabeça de Marie e ela sabia disso. Mas como ela poderia fazer Walder entender? Como poderia explicar que Marie tinha suas próprias razões para duvidar que Peterson estava morto?

Bill falou novamente. "Senhor, pegue leve com ela, está bem?"

"Eu acho que talvez eu esteja pegando leve demais com ela, agente Jeffreys," Walder disse, sua voz tornando-se severa. "Acho que eu tenho sido muito paciente."

Walder sustentou o olhar dela por um longo momento.

"Dê-me sua arma e seu distintivo, agente Paige," ele finalmente disse. Riley ouviu Bill soltar um suspiro de incredulidade.

"Senhor, isso é loucura," disse Bill. "Nós precisamos dela."

Mas Riley não precisa que lhe falassem duas vezes. Ela se levantou da cadeira e tirou sua arma e seu distintivo. Ela colocou-os sobre a mesa de Walder.

"Você pode limpar o seu escritório quando quiser," disse Walder, a voz firme e sem emoção. "Enquanto isso, você deve ir para casa e descansar um pouco. E voltar à terapia. Você precisa."

Quando Riley virou-se para sair do quarto, Bill se levantou como se para ir com ela. "Você fica, agente Jeffreys," Walder exigiu.

Os olhos de Riley encontraram os de Bill. Com um olhar, ela lhe disse para não desobedecer. Não nesta vez. Ele acenou de volta, com uma expressão aflita. Então Riley saiu do escritório. Enquanto caminhava pelo corredor, estava com frio e entorpecida, querendo saber o que fazer agora.

Quando ela saiu para o ar fresco da noite, as lágrimas finalmente começaram a fluir. Mas ela se surpreendeu ao perceber que eram lágrimas de alívio, e não de desespero. Pela primeira vez em dias, sentiu-se libertada, livre de limitações frustrantes.

Se ninguém mais ia fazer o que tinha de ser feito, cabia a ela fazê-lo. Mas, enfim, ninguém iria lhe dizer como fazer o seu trabalho. Ela iria encontrar o assassino e salvaria Cindy MacKinnon - não importava como.


*


Depois de Riley, novamente atrasada, pegar April e levá-la de volta para casa, ela percebeu, ao chegarem, que ela não conseguiria preparar o jantar. O rosto de Marie ainda a perseguia e ela se sentiu mais exausta do que nunca.

"Foi um dia ruim," ela disse a April. "Um dia terrível. Você vai se contentar com sanduíches de queijo grelhado?"

"Eu não estou realmente com fome," disse April. "Gabriela me faz comer o tempo todo."

Riley sentiu uma profunda pontada de desespero. Outra falha, ela pensou.

Mas então April olhou de novo para sua mãe, desta vez com um toque de compaixão. "Queijo grelhado seria bom," disse ela. "Vou fazê-los."

"Obrigada," disse Riley. "Você é um doce."

Ela sentiu seu ânimo melhorar um pouco. Pelo menos não haveria conflito aqui em casa esta noite. Ela realmente precisava desta pequena pausa.

Elas tiveram um jantar rápido e tranquilo, então April foi para seu quarto para terminar a lição de casa e ir para a cama.

Exausta como estava, Riley sentiu que tinha pouco tempo a perder. Ela começou a trabalhar. Abriu seu laptop, puxou um mapa de localização das vítimas, e imprimiu a seção que queria examinar.

Riley desenhou lentamente um triângulo no mapa. Suas linhas ligaram os três lugares onde as vítimas foram encontradas. O ponto mais setentrional marcava onde o corpo de Margaret Geraty tinham sido despejado em um terreno há dois anos. Um ponto a oeste marcava o local onde Eileen Rogers tinha sido mais cuidadosamente deixada, perto de Daggett, cerca de seis meses atrás. Finalmente, o ponto marcado ao sul mostrava onde o assassino tinha conseguido um domínio completo, posando Reba Frye perto de um córrego em Mosby Park.

Riley circulou a área de novo e de novo, pensando, imaginando. Outra mulher poderia, em breve, ser encontrada morta em algum lugar nesta área - se é que ela já não estava morta. Não havia tempo a perder.

Riley abaixou a cabeça. Estava tão cansada. Mas a vida de uma mulher estava em jogo. E agora parecia que ela dependia de Riley para salvá-la - sem ajuda oficial ou sanção. Ela sequer tinha Bill para ajudá-la. Mas ela poderia resolver este caso inteiramente por conta própria?

Ela precisava tentar. Ela tinha que fazê-lo por Marie. Ela tinha que provar para o espírito e de Marie - talvez até para si mesma - que o suicídio não era a única opção.

Riley franziu a testa para o triângulo. Era um bom palpite de que a vítima estaria em algum lugar daquela área de mil milhas quadradas.

Eu só tenho que olhar no lugar certo, ela pensou. Mas onde?

Ela sabia que teria que condensar sua área de pesquisa e isso não seria fácil de fazer. Pelo menos ela estava familiarizada com algumas partes da área total.

A parte superior do triângulo, o ponto mais próximo de Washington, era mais sofisticado, rico e privilegiado. Riley estava praticamente certa de que o assassino não se encaixava neste tipo de cenário. Além disso, ele tinha que estar mantendo a vítima em um lugar onde ninguém poderia ouvi-la gritar. A equipe forense não tinha encontrado nenhum sinal de que as bocas das outras mulheres haviam sido amordaçadas ou tampadas. Riley desenhou um X nesta área próspera.

Os dois pontos do sul eram ambos regiões de parques. Será que o assassino estava com a mulher em uma cabana de caça alugada ou em uma área de acampamento?

Riley pensou sobre o assunto.

Não, ela decidiu. Isso seria muito temporário.

Seu instinto enraizado lhe dizia que esse aquele homem operava em sua própria casa, talvez uma casa onde havia vivido toda a sua vida, onde ele tinha passado um infância excepcionalmente miserável. Ele se divertiria ao levar suas vítimas para lá. Levá-las para sua casa.

Então, ela cruzou as áreas do parque. O que restou era principalmente terras agrícolas e pequenas cidades. Riley suspeitava fortemente que ela estava à procura de uma casa de fazenda em algum lugar nessa área.

Analisou de novo para o mapa em seu computador, em seguida, aproximou a visualização da área em questão. Seu coração se afundou com a visão de um emaranhado de estradas secundárias. Se ela estivesse certa, o assassino vivia em alguma fazenda velha e suja naquele labirinto. Mas havia muitas estradas para ela investigar rapidamente de carro - e, além disso, a fazenda podia até não ser visível a partir da estrada.

Ela gemeu em voz alta com desesperança. A coisa toda parecia mais irremediável a cada momento. A terrível dor da perda e do fracasso ameaçavam surgir novamente.

Mas, depois, ela disse em voz alta, "Bonecas!"

Ela lembrou-se da conclusão a qual tinha chegado ontem, que o assassino provavelmente tinha visto todas as suas vítimas em uma única loja que vendia bonecas. Onde poderia ser essa loja?

Ela desenhou uma outra forma menor no mapa de papel, que ficava a leste do grande triângulo, e seus cantos marcavam os locais onde as quatro mulheres tinham vivido. Em algum lugar nessa área, ela estava convencida, havia uma loja onde todas as mulheres tinham comprado bonecas e o assassino as viu. Ela teria que encontrar essa loja primeiro, antes de poder rastrear o local onde ele levava as mulheres.

Mais uma vez, ela pegou o mapa em seu computador e o aumentou. O ponto mais a leste da pequena área não era muito longe de onde Riley vivia. Ela viu que a estrada estadual formava um arco que chegava a oeste através de várias pequenas cidades, nenhuma delas rica ou histórica. Eram exatamente o tipo de cidade que ela estava procurando. E cada uma delas, sem dúvida, tinha algum tipo de loja de brinquedos ou de bonecas.

Ela imprimiu o mapa menor, em seguida, executou outra pesquisa, localizando lojas em cada cidade. Enfim, Riley desligou seu computador. Ela precisava dormir um pouco.

Amanhã ela iria sair em busca de Cindy MacKinnon.


Capítulo 24


Já estava entardecendo quando Riley chegou a Glendive. Havia sido um longo dia e ela estava se sentindo desesperada. O tempo estava passando rápido demais, assim como qualquer possibilidade de encontrar alguma pista substancial.

Glendive era a oitava cidade em sua rota. Em todas as cidades, até agora, Riley tinha ido a lojas que vendiam brinquedos e bonecas e feito perguntas a quem quisesse falar com ela. Ela tinha certeza de que ela não tinha encontrado a loja pela qual ela estava procurando.

Ninguém em nenhuma das lojas se lembrava de ter visto as mulheres nas fotos que ela tinha lhes mostrado. Claro, as mulheres em questão eram semelhantes em idade e aparência a várias outras que os lojistas poderiam encontrar em qualquer semana. Para piorar a situação, nenhuma das bonecas que Riley viu nas vitrines lhe pareciam a provável inspiração para a disposição das vítimas. Quando ela entrou em Glendive, Riley teve uma estranha sensação de déjà vu. A rua principal parecia estranhamente com aquelas na maioria das outras cidades, com uma igreja de tijolos ladeada em um lado por um cinemas e por uma drogaria do outro. Todas aquelas cidades estavam começando a se misturarem em sua mente exausta.

Em que ela estava pensando? ELa se perguntou.

Na noite passada, ela ficou desesperada para dormir e tinha tomado tranquilizantes receitados. Não foi uma má idéia. Mas tomar, em seguida, umas duas doses de uísque havia sido imprudente. Agora ela estava com uma forte dor de cabeça, mas precisava continuar.

Quando ela estacionou o carro perto da loja que ela planejava averiguar, ela viu que a luz do dia estava diminuindo. Ela suspirou em desânimo. Ela tinha mais uma cidade e mais uma loja para verificar naquela noite. Precisaria de pelo menos três horas até ela poder voltar a Fredericksburg e pegar April na casa de Ryan. Quantas noites ela tinha se atrasado?

Ela pegou seu celular e discou o número da casa. Ela rezava com toda esperança que Gabriela iria responder. Em vez disso, ela ouviu a voz de Ryan.

"O que foi, Riley?" Ele perguntou.

"Ryan," Riley gaguejou, "eu sinto muito, mas-"

"Você vai se atrasar de novo," disse Ryan, terminando a frase. "Sim," disse Riley. "Sinto muito."

Um silêncio caiu.

"Olha, é realmente importante," Riley disse finalmente. "A vida de uma mulher está em perigo. Eu preciso fazer o que eu estou fazendo."

"Já ouvi isso antes," disse Ryan em um tom de desaprovação. "É sempre uma questão de vida e morte. Bem, vá em frente. Cuide disso. É só que eu estou começando a me perguntar por que você se preocupa em buscar April. Ela pode muito bem ficar aqui."

Riley sentiu a garganta apertar. Assim como ela temia, Ryan parecia estar se preparando para uma luta de custódia. E não era por nenhum desejo sincero de cuidar de April. Ele estava muito ocupado com sua vida para se preocupar com sua filha. Tudo o que ele queria era que Riley sofresse.

"Eu vou buscá-la," disse Riley, tentando firmar a voz. "Nós podemos falar sobre tudo isso mais tarde."

Ela desligou.

Então ela saiu do carro e caminhou uma curta distância até a loja - A Butique de Debbie era seu nome. Ela entrou e viu que o nome era um pouco presunçoso para uma loja que vendia basicamente mercadorias de marcas comuns.

Nada singular ou exclusivo aqui, ela percebeu.

Parecia improvável que era aquele lugar pelo qual ela estava procurando. A loja que ela tinha em mente tinha que ser, pelo menos, um pouco especial, um lugar que motivasse uma reputação boca-a-boca que atraísse clientes de cidades vizinhas. Ainda assim, Riley tinha que verificar aquele local para ter certeza absoluta.

Riley caminhou até o balcão, onde uma mulher alta, idosa, com óculos de lentes grossas e características que lembravam uma ave, estava no caixa.

"Eu sou a agente especial Riley Paige, FBI," ela disse, mais uma vez sentindo nua sem seu distintivo. Até agora, todos os funcionários estiveram dispostos a falar com ela sem ele. Ela esperava que essa mulher também.

Riley tirou quatro fotografias e as colocou em cima do balcão.

"Gostaria de saber se você já viu uma destas mulheres," disse ela, apontando para as imagens uma a uma. "Você provavelmente não se lembra de Margaret Geraty - ela teria vindo aqui há dois anos. Mas Eileen Rogers teria vindo aqui cerca de seis meses atrás, e Reba Frye teria comprado uma boneca umas seis semanas atrás. Esta última mulher, Cindy MacKinnon, teria estado aqui na semana passada."

A mulher olhou para as imagens de perto.

"Oh, querida," disse ela. "Meus olhos não são mais o que costumavam ser. Deixe-me dar uma olhada." Ela pegou uma lupa e examinou as fotos. Enquanto isso, Riley percebeu que

havia mais alguém na loja. Ele era um homem bastante caseiro, de estatura e estrutura medianas. Ele estava vestindo uma camiseta e uma calça jeans bem gasta. Riley poderia muito bem tê-lo esquecido se não fosse por um detalhe importante.

Ele estava carregando um buquê de rosas.

Aquelas rosas eram reais, mas a combinação de rosas e bonecas poderia sinalizar a obsessão de um assassino.

O homem não estava olhando para ela. Ele certamente a ouvira anunciar-se como sendo do FBI. Ele estava evitando o contato visual?

Foi então a voz da mulher se intrometeu.

"Eu acho que não vi nenhuma delas," disse ela. "Mas, então, como eu disse, eu não vejo nada bem. E nunca fui muito boa com rostos. Lamento não poder ajudar mais."

"Está tudo bem," disse Riley, colocando as fotos de volta em sua bolsa. "Obrigada pela sua atenção." Ela virou-se para olhar novamente para o homem, que estava olhando para uma prateleira nas proximidades. Seu pulso acelerou.

Podia definitivamente ser ele, ela pensou. Se ele comprar uma boneca, saberei que é ele.

Mas não adiantava ficar ali parada e observá-lo. Se ele era culpado, ele provavelmente não se entregaria. Ele podia acabar escapando dela.

Ela sorriu para a lojista e saiu.

Do lado de fora, Riley caminhou uma pequena distância pelo quarteirão e ficou esperando. Apenas alguns minutos se passaram até que a porta da loja se abriu e o homem saiu. Ele ainda estava segurando as rosas em uma mão. Na outra, segurava um saco de mercadoria recém-comprada. Ele se virou e começou a caminhar pela calçada, se afastando de Riley.

Tomando passos largos, Riley andou atrás dele. Ela avaliou seu tamanho e estrutura. Ela era um pouco mais alta do que ele e, possivelmente, um bom bocado mais forte. Ela era provavelmente mais bem treinada. Ela não iria deixá-lo fugir.

Assim que ele passou por um beco estreito, o homem deve ter ouvido passos atrás dele. Ele virou-se de repente e olhou para ela. Ele deu um passo para o lado, como se quisesse sair de seu caminho.

Riley empurrou-o de lado para o beco - empurrou-o com força e brutalidade. O espaço era estreito, sujo e escuro.

Assustado, o homem deixou cair o pacote e as rosas. As flores se espalharam por todo o pavimento. Ele levantou o braço como se para afastá-la.

Ela pegou este braço e o torceu atrás das costas dele, empurrando seu rosto contra uma parede de tijolos.

"Eu sou a agente especial Riley Paige, FBI," ela retrucou. "Onde você está prendendo Cindy MacKinnon? Ela ainda está viva?"

O homem estava tremendo da cabeça aos pés.

"Quem?" Ele perguntou, sua voz tremendo. "Eu não sei do que você está falando."

"Não brinque comigo," Riley retrucou, sentindo-se mais nua do que nunca sem seu distintivo e especialmente sem a arma. Como ela deveria prender esse cara sem sacar uma arma? Ela estava muito longe de Quantico e sequer tinha um parceiro para ajudá-la.

"Senhora, eu não sei o que é isso tudo," disse o homem, explodindo em lágrimas. "Para que estas rosas?" Riley perguntou. "Paraquem são?"

"Minha filha!" O homem gritou. "Seu primeiro recital de piano é amanhã."

Riley ainda estava segurando-o pelo braço direito. A mão esquerda do homem estava achatada contra a parede. Riley, de repente, notou algo que não tinha lhe chamado a atenção até agora.

O homem estava usando uma aliança de casamento. Ela tinha certeza de que o assassino não era casado.

"Recital de piano?" - disse ela.

"Dos estudantes da Senhora Tully," ele gritou. "Você pode perguntar a qualquer um na cidade." Riley soltou um pouco seu aperto.

O homem continuou, "eu comprei-lhe rosas para celebrar. Para quando ela fizer a reverência. Comprei-lhe uma boneca também."

Riley soltou o braço do homem e caminhou até onde ele tinha deixado cair o pacote. Ela o pegou e puxou seu conteúdo.

Era uma boneca, tudo bem - uma daquelas bonecas adolescentes que sempre a ofenderam e a perturbaram, todas sensualizadas, com lábios carnudos e seios avantajados. Mas, mesmo sendo apavorante daquele jeito, ela não parecia em nada com o tipo de boneca que ela tinha visto perto de Daggett. Essa boneca era para uma garota. Assim como a boneca que ela tinha visto na foto de Cindy MacKinnon e sua sobrinha - cheia de babados, com cabelos dourados e vestida de rosa.

Ela pegou o homem errado. Ela ofegava.

"Sinto muito," ela disse ao homem. "Foi um engano. Sinto muito, muito mesmo."

Ainda tremendo de choque e confusão, o homem começou a apanhar as rosas. Riley se inclinou para ajudá-lo.

"Não! Não!" O homem exclamou. "Não me ajude! Afaste-se! Apenas - fique longe de mim!"

Riley se virou e saiu do beco, deixando o homem desesperado recolhendo as rosas e a boneca de sua filha. Como ela podia deixar isto acontecer? Por que ela chegou tão longe? Por que ela não notou o anel de casamento do homem do momento em que ela o viu?

A resposta era simples. Ela estava exausta e sua cabeça estava explodindo. Ela não estava pensando direito.

Enquanto caminhava aturdida pela calçada, um sinal de neon de um bar chamou sua atenção. Ela queria uma bebida. Ela sentiu como se precisasse de uma bebida.

Ela entrou no lugar mal iluminado e sentou-se ao bar. O barman estava ocupado, servindo um outro cliente. Riley perguntou o que o homem que ela tinha acabado de abordar estaria fazendo no momento. Será que estava ligando para a polícia? Ela estava prestes a ser presa? Isso seria certamente uma amarga ironia.

Mas ela achou que o homem provavelmente não iria chamar a polícia. Afinal de contas, ele teria dificuldade em explicar o que tinha acontecido. Ele poderia até se sentir constrangido por ter sido atacado por uma mulher.

De qualquer forma, se ele tivesse chamado a polícia, e eles estivessem a caminho para buscá-la, ele não iria fugir. Se ela precisasse, ela enfrentaria as conseqüências de suas ações. E talvez ela merecesse ser presa. Ela se lembrou de sua conversa com Mike Nevins, como ele tinha direcionado sua atenção para seus próprios sentimentos de inutilidade.

Talvez eu esteja certa em sentir-me inútil, ela pensou. Talvez tivesse sido melhor se Peterson tivesse me matado.

O barman deu um passo em direção a ela. "O que você vai querer, senhora?" Ele perguntou.

"Um bourbon com gelo," disse Riley. "Faça duas doses." "Já está vindo," disse o barman.

Ela lembrou a si mesma que não era seu tipo de coisa beber no trabalho. Sua recuperação agonizante de TEPT foi marcada por episódios ocasionais de intensa bebedeira, mas ela pensou que isso tinha ficado para trás.

Ela tomou um gole. Era reconfortante sentir a bebida descendo.

Ela ainda tinha mais uma cidade para visitar, e pelo menos mais uma pessoa para entrevistar. Mas ela precisava de algo para acalmar os nervos.

Bem, ela pensou com um sorriso amargo, pelo menos eu não estou oficialmente de plantão.

Ela terminou a bebida rapidamente, em seguida, pensou, mas se convenceu a não pedir mais uma. A loja de brinquedos na cidade seguinte iria fechar em breve e ela tinha que chegar lá imediatamente. O tempo estava se esgotando para Cindy MacKinnon - se é que ainda não tinha acabado.

Quando ela saiu do bar, Riley sentiu que estava caminhando na beira de um abismo conhecido. Ela pensava que havia deixado todo aquele horror, dor e auto-aversão para trás. Será que estavam alcançando-a de novo?

Por quanto tempo mais, ela se perguntava, ela poderia escapar de sua atração fatal?


Capítulo 25


O celular de Riley tocou cedo na manhã seguinte. Ela estava sentada em sua mesa de café, olhando para o mapa que ela havia seguido ontem, planejando uma nova rota para hoje. Quando ela viu que a chamada era de Bill, a apreensão tomou conta dela. Será que isso era uma notícia boa ou ruim?

"Bill, o que está acontecendo?"

Ela ouviu seu ex-parceiro suspirar tristemente. "Riley, você está sentada?"

O coração de Riley afundou. Ela ficou aliviada por estar sentada. Ela sabia agora que tom de voz de Bill só poderia significar uma coisa terrível, Riley sentiu seus músculos enfraquecerem com pavor.

"Eles encontraram Cindy MacKinnon," disse Bill. "E ela está morta, não é?" Riley disse, soltando todo o ar.

Bill não disse nada por um momento. Mas o seu silêncio respondeu a pergunta de Riley. Riley sentiu lágrimas brotando - lágrimas de choque e desamparo. Ela lutou contra elas, determinada a não chorar.

"Onde eles a encontraram?" Riley perguntou.

"Bem longe, a oeste das outras vítimas, na floresta nacional, quase na divisa com a Virgínia Ocidental."

Ela olhou para o mapa. "Qual era a cidade mais próxima?" Ele lhe disse e ela encontrou a localização aproximada. Aquele local não estava dentro do triângulo formado pelos outros três locais onde os corpos haviam sido encontrados. Mas, ainda assim, devia haver algum tipo de relação com os outros sítios. Ela não conseguia descobrir o que era.

Bill continuou descrevendo a descoberta.

"Ele a colocou ao lado de um penhasco em uma área aberta, sem árvores ao redor. Estou no local do crime agora mesmo. É horrível. Ele está ficando mais ousado, Riley."

E agindo mais rápido, Riley pensou com desespero. Ele só manteve esta vítima viva por alguns dias. "Então Darrell Gumm realmente é o cara errado," disse Riley.

"Você é o único que disse isso," respondeu Bill. "Você estava certa. Riley lutava para compreender a situação.

"Então Gumm foi liberado?" Ela perguntou. Bill grunhiu com irritação.

"Não mesmo," disse ele. "Ele vai enfrentar acusações por obstrução. Ele tem muito a responder. Não que ele pareça se importar. Mas vamos tentar manter seu nome fora dos noticiários o máximo que conseguirmos. Esse idiota amoral não merece a publicidade."

Um silêncio se seguiu entre eles.

"Droga, Riley," Bill disse finalmente, "se Walder tivesse escutado você, talvez pudéssemos tê-la salvo."

Riley duvidava disso. Não era como se ela tivesse alguma pista sólida; mas talvez com toda aquela mão de obra redirecionada, algo que poderia ter aparecido naquelas horas preciosas.

"Você tem fotos?" Ela perguntou. Seu coração estava batendo forte. "Sim, Riley, mas-"

"Sei que você não deveria mostrá-las para mim. Mas eu preciso vê-las. Você pode enviá-las para mim?"

Depois de uma pausa, Bill disse: "Pronto".

Alguns momentos depois, Riley estava olhando para uma série de imagens horríveis em seu celular. A primeira era uma foto bem de perto do rosto que ela tinha visto em uma imagem apenas alguns dias atrás. Nesse caso, a mulher estava radiante de amor sobre uma menina feliz e sua nova boneca. Mas agora este rosto

estava pálido, seus olhos, costurados e abertos, um sorriso hediondo pintado sobre seus lábios.

Quando ela olhou para as outras imagens, ela viu que a apresentação combinava com o jeito com que o cadáver de Reba Frye havia sido arranjado. Todos os detalhes estavam lá. A pose era precisa. O corpo estava nu e aberto, sentado rigidamente ereta como uma boneca. Uma rosa artificial estava no chão entre as pernas.

Esta era a verdadeira assinatura do assassino, a sua mensagem. Este era o efeito que ele queria alcançar o tempo todo. Ele tinha conquistado o domínio com as suas vítimas número três e quatro. Riley sabia perfeitamente bem que ele estava pronto para fazê-lo novamente.

Depois de olhar para as imagens, Riley voltou ao telefone com Bill. "Eu sinto muito," disse ela, com a voz embargada de horror e tristeza. "Sim, eu também," disse ele. "Mas você tem alguma ideia?" Riley passou as imagens que ela tinha acabado de ver pela sua mente.

"Eu presumo que a peruca e rosa são iguais às outras," disse ela. "A fita também." "Certo. Elas parecem iguais."

Ela parou de novo. Que pistas a equipe de Bill esperava encontrar?

"Você recebeu a chamada cedo o suficiente para verificar se há trilhas, pegadas?" Ela perguntou.

"A cena foi isolada bem cedo desta vez. Um guarda a viu e chamou o Escritório diretamente. Não há policiais locais andando por aqui. Mas não encontramos nada de útil. Esse cara é cuidadoso."

Riley pensou muito por alguns momentos. As fotos haviam mostrado o corpo de uma mulher sentada na grama, inclinando-se contra uma formação rochosa. Perguntas estavam zumbindo por sua mente.

"O corpo estava frio?" Ela perguntou. "Estava quando chegamos a ele."

"há quanto tempo você acha que ele estava lá lá?"

Ela podia ouvir Bill folheando seu caderno.

"Não sei ao certo, mas ela foi colocada nesta posição logo após sua morte. De acordo com descoloração, dentro de algumas horas. Saberemos mais depois que o legista começar a trabalhar."

Riley sentiu a familiar impaciência aumentando. Ela queria ter uma noção mais clara da cronologia do assassino.

Ela perguntou: "Ele poderia tê-la colocado naquela posição no lugar onde ele a matara, e então levado o cadáver dela para o local depois de seu corpo estar em rigor mortis?"

"Provavelmente não," respondeu Bill. "Eu não vejo nada de estranho sobre a posição. E não acho que ela poderia estar dura antes que ele a trouxesse aqui. Por que? Você acha que ele a trouxe aqui e depois a matou?"

Riley fechou os olhos e pensou muito. Finalmente, ela disse: "Não."

"Você tem certeza?"

"Ele a matou onde quer que ele a mantinha e, em seguida, levou-a para o local. Ele não teria trazido ela viva. Ele não gostaria de lutar com um ser humano em seu caminhão ou no lugar."

Com seus olhos ainda fechados, Riley procurou internamente uma ideia da mente do assassino.

"Ele só iria querer trazer os materiais para a mensagem que ele quer passar," disse ela. "Depois que ela estivesse morta, é isso que ela era para ele. Um tipo de trabalho de arte, não uma mulher. Então ele a matou, lavou seu corpo, secou, preparou-o do jeito que ele queria, todo coberto de vaselina."

A cena estava começando a passar em sua imaginação em detalhes vívidos.

"Ele levou-a para o local quando rigor mortis estava começando," disse ela. "Ele cronometrou perfeitamente.

Depois de matar outras três mulheres, ele entendias como isso funcionava. Ele fez o início do rigor mortis fazer parte de seu processo criativo. Ele a posicionou enquanto ela ia endurecendo, pouco a pouco. Moldou-a como argila."

Riley achou descrever o que ela viu acontecer em seguida na sua mente - ou na mente do assassino. As palavras saíram lenta e dolorosamente.

"No momento em que ele terminou de esculpir o resto do seu corpo, o queixo dela ainda repousava sobre o peito. Ele sentiu os músculos de seus ombros e pescoço, sentindo o estado exato do restante da flexibilidade e inclinou a cabeça para cima. Ele os manteve firmes nesta posição até enrijecerem. Pode ter levado uns dois ou três minutos. Ele foi paciente. Em seguida, ele deu um passo para trás e apreciou o seu trabalho manual."

"Jesus," Bill murmurou em voz baixa, chocado. "Você é boa."

Riley suspirou amargamente e não respondeu. Ela não se achava boa, não mais. A única coisa que ela fazia bem era entrar na mente de um doente. O que isso diz sobre ela? Como isso poderia fazer bem para alguém? Isso certamente não tinha ajudado Cindy MacKinnon.

Bill perguntou: "Quão longe você acha que ele mantém as vítimas enquanto elas ainda estão vivas?" Riley fez alguns cálculos mentais rápidos, visualizando um mapa da área em sua cabeça. "Não muito longe de onde ele a deixou," disse ela. "Provavelmente menos de duas horas de distância." "Isso ainda cobre uma grande parte do território."

O ânimo de Riley estava diminuindo a cada segundo. Bill estava certo. Ela não estava dizendo nada que pudesse ajudar.

"Riley, precisamos de você de volta neste caso," disse Bill. Riley gemeu baixinho.

"Tenho certeza de que Walder não pensa assim," disse ela.

Eu não penso assim, também, ela pensou.

"Bem, Walder está errado," disse Bill. "E eu vou dizer a ele que ele está errado. Vou colocar você de volta ao trabalho."

Riley deixou as palavras de Bill em sua cabeça por um momento.

"É demasiado arriscado para você," disse ela, finalmente. "É possível que Walder o demita se você for fazer algo contra ele."

Bill gaguejou, "Mas, mas Riley-"

"Sem 'mas', Bill. Se você for despedido, este caso nunca será resolvido." Bill suspirou. Sua voz estava cansada e resignada.

"Certo," disse ele. "Mas você tem alguma ideia?"

Riley pensou por um momento. O abismo que ela estava espiando nos últimos dias ficou mais amplo e profundo. Ela sentiu o pouco que restava de sua determinação escapando por entre os dedos. Ela tinha falhado, e uma mulher estava morta.

Ainda assim, talvez houvesse mais uma coisa que ela pudesse fazer.

"Tenho algumas ideias se formando," disse ela. "Eu aviso você."

Ao desligarem, o cheiro de café e bacon frito da cozinha alcançaram Riley. April estava lá. Ela estava fazendo café da manhã desde que Riley tinha saído da cama.

Sem ela ter pedido! Riley pensou.

Talvez passar o tempo com seu pai a fazia gostar Riley, pelo menos um pouco. April nunca gostou de ter que ficar com Ryan. Seja qual fosse a razão, Riley estava grata por qualquer pequeno conforto ainda mais em uma manhã como aquela.

Ela ficou ali senta pensando sobre o que fazer sem seguida. Ela estava planejando dirigir para oeste novamente hoje, seguindo a nova rota que tinha traçado. Mas ela se sentiu derrotada, completamente abatida por este terrível rumo dos acontecimentos. Ontem ela não estava em seu melhor estado, e inclusive tinha sucumbido a uma

bebida em Glendive. Ela não podia fazer a mesma coisa hoje, não em seu atual estado de ânimo. Ela certamente cometeria erros. E muitos erros já haviam sido feitos.

Mas a localização da loja ainda era importante - talvez mais importante do que nunca. O assassino escolheria sua próxima vítima lá, se ainda não tivesse escolhido. Riley entrou em seu computador e escreveu um e-mail para Bill, com uma cópia do seu mapa em anexo.

Ela explicou a Bill que cidades e lojas deveriam ser verificadas. O próprio Bill provavelmente deveria ficar focado em encontrar a casa do assassino, ela escreveu. Mas talvez ele pudesse persuadir Walder a enviar alguém para a rota de Riley - desde que Walder não descobrisse que aquilo era ideia dela.

Ela ficou ali sentada, olhando para o mapa de novo e de novo e, lentamente, começou a detectar um padrão que não tinha visto antes. Os locais não estavam relacionados entre si, eles estavam espalhados em um raio distorcido a partir de outra marca em seu mapa - a área delimitada pelos quatro endereços das mulheres. Enquanto ela estudava essa nova ideia, Riley ficou mais convencida do que nunca que a seleção das vítimas era centrada em torno de algum lugar especial, que todos elas haviam ido, uma loja de boneca particular. E onde quer que o assassino tenha levado as vítimas, provavelmente não era muito longe de onde ele as viu pela primeira vez.

Mas por que ela não tinha sido capaz de encontrar a loja? Ela estava tomando uma abordagem errada? Ela estava tão presa em uma única ideia que ela não estava conseguindo ver nenhuma outra pista? Ela estava apenas imaginando um padrão que estava desviando-a completamente do caminho?

Riley digitalizou seu mapa e enviou-o em anexo para Bill com suas anotações. "O café da manhã está pronto, mãe."

Quando ela se sentou com sua filha, Riley encontrou-se lutando contra as lágrimas novamente. "Obrigada," disse ela. E começou a comer em silêncio.

"Mãe, o que foi?" Perguntou April.

Riley ficou surpresa com a pergunta. Será que ela ouviu um tom de preocupação na voz de sua filha? A menina ainda era bastante taciturna com Riley durante a maior parte do tempo, mas pelo menos ela não estava sendo abertamente grosseira há alguns dias.

"Não há nada de errado," disse Riley. "Isso não é verdade," April falou.

Riley não disse nada em resposta. Ela não queria arrastar April para a terrível realidade do caso. Sua filha já era perturbada o suficiente.

"Era Bill que estava ao telefone?" Perguntou April. Riley concordou em silêncio.

"Sobre o que ele queria falar?" Perguntou April. "Eu não posso falar sobre isso."

Um longo silêncio instalou-se. Ambas continuaram comendo.

Por fim, April disse: "Você vive tentando me fazer conversar com você. Isso serve para os dois lados, você sabe. Você nunca fala comigo, não de verdade. Você ainda conversa com alguém?"

Riley parou de comer e abafou um soluço quando ele subiu em sua garganta. Era uma boa pergunta. E a resposta era não. Ela não conversava com ninguém mesmo, não mais. Mas ela não teve coragem de dizer isso.

Ela lembrou-se de que era sábado e que não iria levar April à escola. E ela não tinha planos de April com seu pai. E mesmo que Riley não fosse dirigir para o oeste em busca de pistas, ainda havia algo que ela tinha que fazer.

"April, eu tenho que ir para um lugar," disse ela. "Você vai ficar bem aqui sozinha?" "Claro," respondeu April. Então, com uma voz verdadeiramente triste, ela perguntou: "Mãe, você poderia pelo menos me dizer aonde você está indo?"

"Eu estou indo a um funeral."


Capítulo 26


Riley chegou ao salão em Georgetown pouco antes do horário em que o funeral de Marie estava programado para começar. Ela temia funerais. Para ela, eles eram piores do que chegar na cena do crime com um corpo recém-assassinado. Eles sempre acertavam seu espírito de uma forma terrível. No entanto, Riley sentiu que ela ainda devia algo - ela não tinha certeza do que - para Marie.

A funerária tinha uma fachada de painéis de tijolos pré-fabricados e colunas brancas no pórtico da frente. Ela entrou em um saguão acarpetado e com ar-condicionado que levava para um corredor silencioso, coberto de papel de parede em cores pastel que não eram nem deprimentes e nem alegres. Mas este efeito saiu pela culatra em Riley, aprofundando seu sentimento de desespero. Ela se perguntou por que as funerárias não poderiam ser apenas os lugares sombrios e pouco convidativos que elas realmente deveriam ser, como mausoléus ou necrotérios, sem esta falsa sanitização.

Ela passou por vários quartos, alguns com caixões e visitantes, outros vazios, até chegar aonde o serviço de Marie seria realizado. No outro extremo da sala, ela viu o caixão aberto, feito de madeira polida, com uma alça de bronze longa dos lados. Talvez duas dezenas de pessoas estavam presentes, muitas delas sentadas, algumas socializando e sussurrando. Uma música suave de órgão estava sendo tocada no interior da sala. Uma pequena fila para ver o caixão estava formada.

Ela entrou na fila e logo se viu em pé ao lado do caixão, olhando para Marie. Apesar de toda a preparação mental de Riley, aquela visão ainda a abalava. O rosto de Marie estava estranhamente passivo e sereno, não retorcido e agonizante, como quando ela estava pendurada na luminária.

Aquela expressão não estava estressada e medrosa, como quando elas tinham se falado pessoalmente. Parecia errado. Na verdade, parecia pior do que errado.

Ela moveu-se rapidamente pela extensão do caixão, notando um casal idoso sentado na fileira da frente. Ela supôs que eles fossem os pais de Marie. Eles estavam flanqueados por um homem e uma mulher com idades próximas a de Riley. Ela achou que eles deveriam ser o irmão e a irmã de Marie. Riley revolveu suas lembranças de conversas com Marie e se lembrou de que seus nomes eram Trevor e Shannon. Ela não tinha ideia dos nomes dos pais de Marie.

Riley pensou em parar para oferecer suas condolências à família. Mas como ela iria se apresentar? Como a mulher que salvou Marie do cativeiro, mas que encontrou seu cadáver mais tarde? Não, com certeza ela era a última pessoa que eles iriam querer ver agora. Era melhor deixá-los chorando em paz.

Quando ela se dirigiu ao fundo da sala, Riley percebeu que ela não reconhecia nem uma única pessoa lá. Isso parecia estranho e terrivelmente triste. Depois de todas as suas incontáveis horas de bate-papo de vídeo e seu único encontro cara-a-cara, elas não tinham nenhum amigo em comum.

Mas elas tinham um inimigo terrível em comum: o psicopata que as manteve em cativeiro. Ele teria estado ali hoje? Riley sabia que os assassinos comumente visitavam os funerais e as sepulturas de suas vítimas. No fundo, apesar de estar ali por Marie, ela também tinha que admitir que essa era a verdadeira razão pela qual ela vindo hoje. Para encontrar Peterson. Era também por isso que ela estava carregando uma arma escondida - sua Glock pessoal que ela normalmente deixava em uma caixa no porta-malas do carro.

Enquanto caminhava em direção ao fundo da sala, ela esquadrinhou os rostos daqueles que já estavam sentados. Ela tinha vislumbrado o rosto de Peterson sob o brilho de sua tocha e tinha visto fotos dele. Mas ela nunca tinha conseguido dar uma boa olhada nele face a face. Será que ela o reconheceria?

Seu coração batia enquanto ela mirava para todos os rostos suspeitos, à procura de um assassino em cada um. Todos eles logo se tornaram um borrão de rostos angustiados, encarando-a com confusão.

Sem ver suspeitos óbvios, Riley se sentou em um assento do corredor na fileira de trás, separada de qualquer outra pessoa, onde ela pudesse ver quem entrava ou saía.

Um jovem pastor se aproximou de um palanque. Riley sabia que Marie não era religiosa, de modo que o pastor deve ter sido ideia de sua família. As últimas pessoas se sentaram e todo mundo ficou quieto.

Em voz baixa e bastante profissional, o ministro começou com palavras familiares. "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tú

estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam."

O pastor fez uma pausa por um momento. No breve silêncio, uma única frase ecoou pela mente de Riley...

"Não temeria mal algum."

De alguma forma, ela atingiu Riley como uma coisa grotesca e inadequada a dizer. O que isso significa mesmo "temer mal nenhum"? Como poderia ser uma boa ideia? Se Marie tivesse sido mais temerosa antes, mais cautelosa, talvez ela não tivesse caído nas garras de Peterson no final das contas.

Este era definitivamente um momento para temer o mal. Havia muito mal por aí. O pastor começou a falar novamente.

"Meus amigos, estamos aqui reunidos para lamentar a perda e celebrar a vida de Marie Sayles - filha, irmã, amiga e colega..."

O ministro, em seguida, iniciou um sermão clichê sobre perda, amizade e família. Embora ele descrevesse a "passagem" de Marie como "prematura", ele não fez nenhuma menção à violência e ao terror que assombraram as últimas semanas de sua vida.

Riley se abstraiu rapidamente do seu sermão. Em seguida, lembrou-se das palavras de Marie em seu recado de suicídio.

"Este é o único jeito."

Riley sentiu um nó de culpa inchando dentro dela, crescendo tanto grande que ela quase não conseguia respirar. Ela queria correr até a frente da sala, empurrar o pasto para o lado e confessar à congregação que tudo aquilo era completamente sua culpa. Ela tinha falhado com Marie. Ela tinha falhado com todos os que amavam Marie. Ela falhou com ela mesma.

Riley lutou contra a vontade de confessar, mas sua inquietação começou a assumir uma clareza brutal. Primeiro foram os tijolos pré-fabricados da casa funerária, as colunas brancas bobas e a cor pastel do papel de parede. Depois foi o rosto de Marie, tão antinatural e ceroso no caixão. E agora ali estava o pastor pregando, gesticulando e falando como uma espécie de brinquedo, um autômato miniatura, e a congregação de pequenas cabeças balançando, enquanto ele falava com eles.

É como uma casa de boneca, Riley agora percebia.

E Marie tinha sido colocada no caixão - não um cadáver real, mas um de mentira, em um funeral de mentira. Horror desmoronou sobre Riley. Os dois assassinos - Peterson e quem tinha matado Cindy MacKinnon e as outras - mesclaram em sua mente. Não importava que o emparelhamento fosse completamente infundado e irracional. Ela não podia separá-los. Tornaram-se um só para ela.

Parecia que aquele funeral bem trabalhado era o toque final do monstro. Ele anunciava que haveriam muitas mais vítimas e muitos mais funerais em breve.

Enquanto estava ali sentada, Riley notou com o canto dos olhos que alguém tinha entrado discretamente e em silêncio no serviço e sentou-se na outra extremidade da fileira de trás. Ela virou a cabeça ligeiramente para ver quem tinha chegado no meio da cerimônia e viu um homem vestido casualmente, usando um boné de beisebol baixo, que protegia seus olhos. Seu coração bateu mais depressa. Ele olhou parecia grande e forte o suficiente para ser a pessoa que a dominara quando ela fora capturada. Seu rosto era severo, com maxilares cerrados, e ela pensou que havia um olhar de culpa sobre ele. Poderia ser o assassino que ela estava procurando?

Riley percebeu que ela estava quase ofegante. Ela diminuiu sua respiração até sua cabeça ficar calma. Ela precisou se conter para não se levantar de imediato e prender o retardatário. O sermão estava obviamente chegando ao fim e ela não podia interrompê-lo e desrespeitar a memória de Marie. Ela teria que esperar. E se não fosse ele?

Mas, então, para sua surpresa, ele de repente se levantou e calmamente saiu da sala. Será que a vira?

Riley levantou-se e o seguiu. Ela sentiu cabeças virando em direção a ela em sua súbita comoção, mas isso não importava agora.

Ela trotou pelo corredor da funerária até a entrada da frente e, quando abriu a porta, ela viu que o homem estava andando rapidamente pela calçada urbana. Ela puxou o revólver e apontou na direção dele.

"FBI!" Ela gritou. "Pare aí mesmo!" O homem virou-se para encará-la.

"FBI!" Ela repetiu, mais uma vez sentindo-se nua sem seu distintivo. "Mantenha as mãos onde eu possa vê-las."

O homem, de frente para ela, parecia absolutamente perplexo. "Documentos!" Ela exigiu.

Suas mãos tremiam - se por medo ou indignação, Riley não sabia dizer. Ele mostrou uma carteira com uma carteira de motorista e, ao examiná-la, ela viu que seu documento o identificava como um residente de Washington.

"Aqui está a minha identificação," disse ele. "Onde está a sua?"

A resolução de Riley estava começando a dissipar. Será que ela já tinha visto seu rosto antes? Ela não tinha certeza.

"Eu sou um advogado," disse o homem, ainda muito abalado. "E eu sei os meus direitos. É melhor você ter uma boa razão para puxar uma arma para mim sem nenhum motivo. Bem aqui em uma rua da cidade."

"Eu sou a agente Riley Paige," disse ela. "Eu preciso saber por que você estava presente no funeral." O homem olhou para ela com mais atenção.

"Riley Paige?" Ele perguntou. "A agente que a salvou?" Riley assentiu. O rosto do homem de repente caiu com desespero.

"Marie era uma amiga," disse ele. "Meses atrás, éramos tão íntimos. E então essa coisa terrível aconteceu com ela e..."

O homem sufocou um soluço.

"Eu tinha perdido contato com ela. E a culpa foi minha. Ela era uma boa amiga e eu não mantive contato. E agora eu nunca vou ter a chance de..."

O homem balançou a cabeça.

"Eu gostaria de poder voltar e fazer tudo diferente. Eu me sinto tão mal com isso. Eu não nem consegui aguentar o funeral inteiro. Eu tive que sair."

Aquele homem estava se sentindo culpado, Riley percebeu, e estava sofrendo. Por razões muito semelhantes às suas próprias. "Sinto muito," disse Riley suavemente, deflacionada, baixando a arma. "Eu realmente estou. Vou encontrar o bastardo

qum fez isso com ela."

Quando ela se virou para ir embora, ela o ouviu gritar em um tom perplexo. "Eu pensei que ele já estava morto?"

Riley não respondeu. Ela deixou o homem enlutado lá na calçada.

E, quando ela se afastou, ela sabia exatamente onde precisava ir. Um lugar onde ninguém mais na terra, exceto Marie, poderia entender.


*


Riley dirigiu pelas ruas da cidade que a transitavam as casas elegantes de Georgetown para um bairro em ruínas em uma área industrial outrora próspera. Muitos edifícios e lojas foram abandonados e os moradores locais eram pobres. Quanto mais ela dirigia, pior ficava.

Ela finalmente estacionou em um quarteirão que consistia inteiramente de casas geminadas e arruinadas. Ela saiu do carro e rapidamente encontrou o que estava procurando.

Duas casas vazias ladeado por uma área ampla e árida. Não muito tempo atrás, três casas abandonadas ficavam ali. Peterson tinha vivido como um posseiro na casa do meio, usando-a como seu esconderijo secreto. Tinha sido o local perfeito para ele, separado de habitantes para que ninguém pudesse ouvir os gritos vindos de debaixo da casa.

Agora, o espaço tinha sido nivelado, todas as provas das casas foram retiradas e a grama estava começando a crescer. Riley tentou visualizar como seria quando as casas ainda estavam lá. Não foi fácil. Ela só esteve ali uma vez quando as casas estavam de pé. E tinha sido à noite.

Enquanto ela caminhava para a clareira, memórias começaram a voltar...

Riley tinha perseguido-o durante todo o dia e à noite também. Bill tinha sido chamado para uma emergência não relacionada e Riley tinha imprudentemente decidido seguir o homem até ali sozinha.

Ela o viu entrar na casinha miserável com tábuas nas janelas. Em seguida, poucos momentos depois, ele saiu novamente. Ele estava em pé, e ela não sabia para onde estava indo.

Ela considerou chamar os reforços por um momento. E então decidiu que não. O homem tinha ido embora e, se a vítima estivesse realmente dentro daquela casa, não podia deixá-la sozinha e em tormento por mais um minuto. Ela subiu para a varanda e se apertou no vão entre as placas que bloqueavam parcialmente a porta.

Ela ligou a lanterna. O feixe refletiu contra pelo menos uma dúzia de tanques de gás de propano. Não foi nenhuma surpresa. Ela e Bill sabiam que o suspeito era obcecado com fogo.

Em seguida, ela ouviu um arranhar no assoalho debaixo, em seguida, um choro fraco...

Riley parou o fluxo de memórias. Ela olhou em volta. Ela tinha certeza de - estranhamente certeza - de que ela agora estava parada no mesmo lugar que ela tanto temia e procurava. Foi ali que ela e Marie tinham sido enjauladas, naquele espaço escuro e imundo.

O resto da história ainda estava fresco em sua mente. RIley foi capturada por Peterson quando ela libertara Marie. Marie tinha cambaleou por algumas milhas em estado de choque completo. Quando ela foi encontrada, ela não fazia ideia onde ela fora mantida em cativeiro. Riley foi deixada sozinha no escuro para encontrar seu próprio caminho para sair.

Depois de um pesadelo aparentemente interminável, atormentado repetidamente pela tocha de Peterson, Riley conseguiu sair. Quando ela o fez, ela espancara Peterson até ele ficar quase inconsciente. Cada golpe lhe dava um grande sentido de vindicação. Talvez aqueles golpes, aquela pequena vingança, ela refletiu, tinham lhe permitido se recuperar melhor do que Marie.

Então, enlouquecida e desequilibrada de medo e exaustão, Riley abriu todos os tanques de propano. E, ao fugir da casa, ela jogou um fósforo aceso lá dentro. A explosão a arremessou do outro lado da rua. Todo mundo ficou surpreso por ela ter sobrevivido.

Agora, dois meses após a explosão, Riley estava olhando para sua sinistra obra - um vago espaço onde ninguém vivia e provavelmente não viveria por um longo tempo. Parecia uma imagem perfeita do que a sua vida tinha se tornado. De certa forma, parecia que o fim da estrada, pelo menos para ela.

Um sentimento doentio de vertigem se apoderou dela. Ainda de pé naquele local gramado, ela sentiu como se estivesse caindo, caindo, caindo. Ela tombou diretamente no abismo que tinha se aberto para ela. Mesmo em plena luz do dia, o mundo parecia terrivelmente escuro, ainda mais escuro do que tinha sido naquela jaula naquele espaço sob a casa. Parecia não haver nenhum fundo no abismo, nenhum fim para sua queda.

Riley lembrou mais uma vez da avaliação de Betty Richter sobre as chances de Peterson ter morrido.

Eu diria que noventa e nove por cento.

Mas isso aquele persistente um por cento de alguma forma tornava os outros noventa e nove sem sentido e absurdo. E, além disso, mesmo que Peterson realmente tivesse morrido, que diferença fazia? Riley lembrou terríveis palavras de Marie ao telefone no dia de seu suicídio.

Talvez ele seja como um fantasma, Riley. Talvez seja isso que aconteceu quando você tentou explodi-lo. Você matou o seu corpo, mas você não eliminou o seu mal.

Sim, era isso. Ela esteve lutando contra uma batalha perdida durante toda a sua vida. O mal, afinal de contas, assombrava o mundo, assim como ele o fizera neste lugar onde ela e Marie tinham sofrido tão terrivelmente. Foi uma lição que ela deveria ter aprendido quando menina, quando ela não conseguiu impedir sua mãe de ser assassinada. A lição foi deixada bem clara com o suicídio de Marie. Resgatá-la tinha sido inútil. Não havia nenhum ponto em resgatar ninguém, nem mesmo a si mesma. O mal iria prevalecer no final. Era exatamente o que Marie tinha dito a ela pelo telefone.

Você não pode lutar contra um fantasma. Desista, Riley.

E Marie, muito mais corajosa do que Riley imaginava, finalmente resolveu o assunto com suas próprias mãos. Ela explicou sua escolha em cinco palavras simples.

Este é o único jeito.

Mas isso não era coragem, tirar a própria vida. Isso era covardia. Uma voz irrompeu através da escuridão de Riley.

"Você está bem, senhora?" Riley olhou para cima. "O quê?"

Então, lentamente, ela percebeu que ela estava de joelhos em um terreno vazio. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

"Devo chamar alguém para você?" Perguntou a voz. Riley viu que uma mulher tinha parado na calçada próxima, uma mulher mais velha, em roupas surradas, mas com um olhar preocupado em seu rosto.

Riley controlou seus soluços e se pôs de pé, e a mulher se retirou. Riley ficou ali, entorpecida. Se ela não podia pôr um fim a seu próprio horror, ela sabia uma maneira de se imunizar contra ele. Não era corajoso, tampouco honroso, mas Riley já não se importava. Ela não ia resistir por mais tempo. Ela entrou em seu carro e foi para casa.


Capítulo 27


Com as mãos ainda trêmulas, Riley alcançou uma garrafa de vodca que ela tinha escondido no armário de cozinha, a garrafa ela prometera nunca mais tocar novamente. Ela tirou a tampa de garrafa e tentou derramá-la calmamente em um copo, para que April não ouvisse. Já que parecia tanto com água, ela esperava que pudesse beber abertamente sem mentir sobre isso. Ela não queria mentir. Mas a garrafa gorgolejava indiscretamente.

"O que está acontecendo, Mãe?" April perguntou atrás dela na mesa da cozinha. “Nothing,” Riley answered.

Ela ouvir April resmungar um pouco. Ela podia dizer que sua filha sabia o que ela estava fazendo. Mas não devolveu a vodca de volta na garrafa. Riley queria jogá-la fora, ela realmente queria. A última coisa que ela queria fazer era beber, especialmente na frente de April. Mas ela nunca havia se sentido tão baixa, tão abalada. Sentia-se como se o mundo estivesse conspirando contra ela. E ela realmente precisava de uma bebida.

Riley deslizou a garrafa de volta no armário, em seguida, foi até a mesa e sentou-se com a taça. Ela tomou um longo gole, que queimou sua garganta de uma maneira reconfortante. April olhou para ela por um momento.

"Isso é vodca, não é, mamãe?" - disse ela.

Riley não disse nada, a culpa se espalhando sobre ela. April merecia isso? Riley a tinha deixado em casa durante o dia inteiro, ligando de vez em quando para ver como ela estava, e a menina tinha sido perfeitamente responsável e tinha ficado longe de problemas. Agora Riley era a única a ser furtiva e imprudente.

"Você ficou com raiva de mim por fumar maconha," disse April. Riley ainda não disse nada.

"E agora é quando você deve me dizer que isso é diferente," April falou. "Isto é diferente ", respondeu Riley, cansada.

April a encarou. "Como?"

Riley suspirou, sabendo que sua filha estava certa, e sentindo um profundo senso de vergonha. "Maconha é ilegal," disse ela. "Isto aqui não é. E-"

"E você é adulta e eu sou uma garota, certo?"

Riley não respondeu. Claro, era exatamente isso que ela estava prestes a dizer. E, claro, era hipócrita e errado.

"Eu não quero discutir," disse Riley.

"Você realmente vai começar este tipo de coisa de novo?" Disse April. "Você bebeu muito quando você estava passando por todos esses problemas e você nunca me contou o que estava acontecendo."

Riley sentiu seu queixo travar. Era de raiva? Por que raios ela deveria ficar com raiva de April, ainda mais agora?

"Há algumas coisas que eu não posso lhe dizer," disse Riley. April revirou os olhos.

"Jesus, mamãe, por que não? Quero dizer,algum dia eu estarei velha o suficiente para aprender a terrível verdade sobre o que você faz? Não pode ser muito pior do que o que eu imagino. Acredite em mim, eu posso imaginar muito."

April se levantou de sua cadeira e foi até o armário. Ela pegou uma garrafa de vodca e começou a se servir de um copo.

"Por favor não faça isso, April" pediu Riley.

"Como é que você vai me fazer parar?"

Riley levantou-se e gentilmente pegou a garrafa de April. Depois sentou-se de novo e verteu o conteúdo do copo de April em seu próprio copo.

"Só termine de comer sua comida, ok?" Riley disse. April estava se enchendo de lágrimas agora.

"Mãe, eu gostaria que você pudesse se ver," disse ela. "Talvez você entenda como me dói ver você assim. E como dói você nunca me contar nada. Machuca muito."

Riley tentou falar, mas percebeu que não conseguia.

"Converse com alguém, mãe," disse April, começando a soluçar. "Se não comigo, com outra pessoa. Deve haver alguém em quem você possa confiar."

April fugiu para seu quarto e fechou a porta atrás dela.

Riley escondeu o rosto entre as mãos. Por que ela não continuava estragando tudo com April? Por que ela não podia manter as partes feias de sua vida longe de sua filha?

Seu corpo inteiro agitou-se com soluços. Seu mundo tinha girado completamente fora de controle e ela não conseguia formar um único pensamento coerente.

Ela ficou ali sentada até as lágrimas pararem de fluir.

Levando a garrafa e o copo, ela entrou na sala e sentou-se no sofá. Ela ligou a TV e assistiu o primeiro canal que surgiu. Ela não tinha ideia de qual filme ou programa de TV apareceu na tela, mas ela não se importava. Ficou apenas lá, olhando fixamente para as imagens, deixando as vozes sem sentido passarem por ela.

Mas ela não conseguia parar as imagens que inundavam sua mente. Ela viu os rostos das mulheres que haviam sido mortas. Ela viu a chama ofuscante da tocha de Peterson se movendo em sua direção. E ela viu o rosto morto de Marie - tanto o que Riley tinha encontrado pendurado e quanto o que ela viu tão habilmente exibido no caixão.

Uma nova emoção começou a se rastejar junto com seus nervos - uma emoção que ela temia acima de todas as outras. Era o medo.

Ela estava morrendo de medo de Peterson e podia sentir sua presença vingativo ao seu redor. Não importava muito se ele estava vivo ou morto. Ele tinha tirado a vida de Marie e Riley não conseguia abandonar a convicção de que ela era o seu próximo alvo.

Ela também temia, talvez ainda mais, o abismo no qual ela estava caindo agora. Onde os dois realmente se separavam? Peterson não tinha causado este abismo? Aquela não era a Riley que ela conhecia. Será que o TEPT nunca teria um fim?

Riley perdeu a noção do tempo. Todo o seu corpo zumbia e doía com seu medo multifacetado. Ela bebeu de forma constante, mas a vodca não a entorpecia por inteiro.

Ela finalmente foi ao banheiro, vasculhou o armário de remédios e encontrou o que estava procurando. Em seguida, com as mãos trêmulas, ela o encontrou: os tranqüilizantes receitados. Ela deveria tomar um na hora de dormir e nunca misturá-lo com álcool.

Com as mãos trêmulas, ela engoliu dois.

Riley voltou para o sofá da sala e olhou para a TV de novo, esperando o medicamento fazer efeito. Mas ele não estava funcionando.

O pânico tomou conta dela com um aperto gelado.

O quarto parecia estar girando agora, fazendo-a sentir náuseas. Ela fechou os olhos e estendeu-se no sofá. Um pouco da tontura passou, mas a escuridão por trás das pálpebras era impenetrável.

Quanto pior as coisas poderiam ficar? Ela se perguntou.

Ela soube imediatamente que era uma pergunta estúpida. As coisas estavam ficando cada vez piores e piores para ela. As coisas nunca iriam melhorar. O abismo não tinha fundo. Tudo o que podia fazer era entregar-se à queda e se render ao desespero sombrio.

A escuridão da intoxicação se espalhou à sua volta. Ela perdeu a consciência e logo começou a sonhar.

Mais uma vez, a chama branca do maçarico destacava a escuridão. Ela ouviu a voz de alguém.

"Venham. Siga-me.

Não era a voz de Peterson. Era, porém, familiar - extremamente familiar. Alguém tinha vindo salvá-la? Ela levantou-se e começou a seguir quem estava carregando a tocha.

Mas, para seu horror, a tocha lançou sua luz sobre um cadáver após o outro - primeiro Margaret Geraty, em seguida, Eileen Rogers, então Reba Frye e, por último, Cindy MacKinnon - todos elas nuas e terrivelmente deformadas. Finalmente, a luz caiu sobre o corpo de Marie, suspenso no ar, com o rosto horrivelmente contorcido.

Riley ouviu a voz novamente.

"Garota, você com certeza estragou as coisas."

Riley se virou e olhou. No clarão escaldante, ela viu quem estava segurando a tocha.

Não era Peterson. Era seu próprio pai. Ele estava vestindo o uniforme de gala de um coronel da Marinha. Isso lhe parecia estranho. Ele tinha se aposentado há muitos anos agora. E ela não tinha visto ou falado com ele há mais de dois anos

"Eu vi muita coisa ruim no Vietnã," disse ele com um aceno de cabeça. "Mas isso realmente me deixa com nojo. Sim, você arruinou tudo, Riley. Claro que eu aprendi há muito tempo a não esperar nada de você."

Ele movimentou a tocha para que ela iluminasse um último corpo. Era sua mãe, morta e sangrando do ferimento de bala.

"Você poderia muito bem ter atirado nela mesmo, por tudo de bom que você fez a ela," disse seu pai. "Eu era apenas uma garotinha, papai," Riley lamentou.

"Eu não quero ouvir nenhuma de suas malditas desculpas," seu pai gritou. "Você nunca trouxe um momento de alegria ou felicidade a nenhuma alma humana, você sabia disso? Você nunca fez nada de bom. Nem para si mesma."

Ele girou o botão da tocha. A chama se apagou. Riley estava na escuridão de breu de novo.

Riley abriu os olhos. Era noite e a única luz na sala de estar vinha da TV. Ela se lembrava nitidamente de seu sonho. As palavras de seu pai não paravam de soar em seus ouvidos.

Você nunca trouxe um momento de alegria ou felicidade a nenhuma alma humana.

Seria verdade? Ela tinha falhado tão miseravelmente com todo mundo - até mesmo com as pessoas que ela mais amava?

Você nunca fez nada de bom. Nem para si mesma."

Sua mente estava nebulosa e ela não conseguia pensar direito. Talvez ela não pudesse a verdadeira alegria e felicidade a ninguém. Talvez simplesmente não existisse o verdadeiro amor dentro dela. Talvez ela não fosse capaz de amar.

À beira do desespero, procurando por algum apoio, Riley lembrou das palavras de April.

Converse com alguém. Alguém em quem você pode confiar.

Em sua névoa bêbada, sem pensar com clareza, quase automaticamente, Riley discou um número em seu telefone celular. Depois de alguns momentos, ela ouviu a voz de Bill.

"Riley?" Ele perguntou, parecendo mais do que meio adormecido. "Você sabe que horas são?" "Eu não tenho idéia," disse Riley, pronunciando mal suas palavras.

Riley ouviu uma mulher grogue questionar, "Quem é, Bill?"

Bill disse à esposa: "Eu sinto muito, eu tenho que atender."

Ela ouviu o som de passos de Bill e uma porta se fechando. Ela imaginou que ele estava indo para algum lugar para conversar em particular.

"O que é tudo isso?" Ele perguntou. "Eu não sei, Bill, mas-"

Riley parou por um momento. Ela sentiu-se à beira de dizer coisas das quais ela iria se arrepender - talvez para sempre. Mas, de alguma forma, ela não conseguiu se controlar.

"Bill, você acha que poderia sair por um tempo?" Bill soltou um rosnado de confusão.

"Do que você está falando?

Riley respirou longa e profundamente. Do que ela estava falando? Ela estava encontrando dificuldades para conectar seus pensamentos. Mas ela sabia que queria ver Bill. Foi um instinto primitivo, um desejo que ela não podia controlar.

Com o pouco de consciência que ela ainda tinha, ela sabia que deveria dizer me desculpe e desligar. Mas o medo, a solidão e o desespero tomaram conta dela e ela mergulhou à frente.

"Quero dizer...," ela continuou, pronunciando suas palavras, tentando pensar de forma coerente, "só você e eu. Para passar algum tempo juntos."

Houve apenas silêncio na linha.

"Riley, estamos no meio da noite," disse ele. "O que você quer dizer passar um tempo juntos? " Ele exigiu, sua irritação claramente aumentando.

"Quero dizer..." ela começou, pensando, querendo parar, mas não conseguindo. "Eu quero dizer...Eu penso em você, Bill. E não apenas no trabalho. Você não pensa em mim, também?"

Riley sentiu um peso terrível esmagando-a assim que ela pronunciou essas palavras. Era errado e não havia como voltar atrás.

Bill suspirou amargamente.

"Você está bêbada, Riley," disse ele. "Eu não vou encontrá-la em nenhum lugar. Você não vai dirigir para lugar nenhum. Eu tenho um casamento que estou tentando salvar, e você... bem, você tem seus próprios problemas. Recomponha-se! Tente dormir um pouco."

Bill terminou a ligação abruptamente. Por um momento, a realidade parecia pairar em um estado de suspensão. Então Riley foi apreendida por uma clareza horrível.

"O que foi que eu fiz?" Ela lastimou em voz alta.

Em apenas alguns momentos ela estragou uma relação profissional de dez anos. Seu melhor amigo. Seu único parceiro. E, provavelmente, o relacionamento de maior sucesso de sua vida.

Ela estava certa de que o abismo no qual ela estava caindo não tinha fundo. Mas agora ela sabia que estava errada. Ela atingiu o fundo e despedaçou o chão. Ainda assim, ela estava caindo. Ela não sabia se algum dia seria capaz de levantar-se novamente.

Ela estendeu a mão para a garrafa de vodca na mesa de café, ela não sabia se deveria beber o que restava ou jogar fora. Mas a sua coordenação motora estava completamente afetada. Ela não conseguia segurá-la.

O quarto rodava à sua volta, veio um estrondo e tudo ficou escuro.


Capítulo 28


Riley abriu os olhos, em seguida, apertou os olhos, protegendo o rosto com a mão. A cabeça dela estava se dividindo, sua boca estava seca. A luz da manhã da janela era ofuscante e dolorosa, lembrando-lhe estranhamente da luz branca da tocha do Peterson.

Ela ouviu a voz de April dizer: "Eu vou cuidar disso, mamãe."

Houve um leve barulho e o brilho diminuiu. Ela abriu os olhos.

Ela viu que April tinha acabado de fechar as persianas, obstruindo a luz solar direta. Ela veio até o sofá e sentou-se ao lado de onde Riley continuava imóvel. Ela pegou uma xícara de café e ofereceu a ela.

"Cuidado, está quente," disse April.

Riley, vendo a sala girando, lentamente relaxou em uma posição sentada e estendeu a mão para a caneca. Manuseando a xícara cuidadosamente, ela tomou um pequeno gole. Estava quente. Queimou ambas as pontas dos dedos e sua língua. Ainda assim, ela foi conseguia segurá-la e tomou outro gole. Pelo menos a dor lhe dava uma sensação de voltar à vida novamente.

April estava olhando para o espaço.

"Você vai querer café da manhã?" April perguntou com uma voz distante, vaga. "Talvez mais tarde," respondeu Riley. "Vou preparar."

April sorriu um pouco triste. Sem dúvida, ela podia ver que Riley não estava em condições de fazer muita coisa.

"Não, eu vou preparar," disse April. "Só me avise quando você ficar com vontade de comer."

Ambas ficaram em silêncio. April continuou olhando para outro lugar. A humilhação revirava o intestino de Riley. Ela lembrou-se vagamente do seu vergonhoso telefonema para Bill ontem à noite, em seguida, seus últimos pensamentos antes de desmaiar - o hediondo reconhecimento que ela realmente atingira o fundo do poço. E agora, para piorar as coisas, sua filha estava ali para testemunhar o seu fracasso.

Ainda parecendo distante, April perguntou, "O que você está planejando fazer hoje?"

Parecia tanto uma pergunta estranha e quanto uma boa pergunta. Era hora de Riley fazer planos. Se aquele era o fundo do poço, ela precisava começar a escalá-lo.

Ela lembrou de seu sonho, das palavras de seu pai e, com isso, ela percebeu que era hora de enfrentar alguns de seus demônios.

Seu pai. A presença mais macabra de sua vida. O único que sempre tinha permanecido na parte de trás de sua consciência. A força motriz, que ela sentia às vezes, por trás de toda a escuridão que tinha aparecido em sua vida. Ele, de todas as pessoas, era uma que ela precisava ver. Se era um impulso primitivo pelo o amor de um pai, seu desejo de enfrentar de frente a escuridão em sua vida, ou um desejo de se livrar da assombração de seu sonho, ela não sabia. Mas o desejo a consumia.

"Eu acho que eu vou dirigir para ver o vovô," disse ela.

"Vovô?" Ela perguntou, chocada. "Você não o vê há anos. Por que você iria vê-lo? Acho que ele me odeia."

"Eu não penso assim," disse Riley. "Ele sempre esteve muito ocupado me odiando."

Outro silêncio se instalou e Riley sentiu que sua filha estava juntando coragem.

"Eu quero que você saiba de uma coisa," disse April. "Joguei fora o resto da vodca. Não tinha muita coisa. Eu também joguei o uísque que você ainda tinha no armário. Desculpe-me. Acho que não era da minha conta. Eu não deveria ter feito isso."

Lágrimas vieram aos olhos de Riley. Esta era certamente a coisa mais adulta e responsável que ela já tinha visto April fazer.

"Não, não se desculpe," disse Riley. "Foi a coisa certa a fazer. Obrigada. Desculpe-me por não ter feito eu mesma."

Riley enxugou uma lágrima e juntou coragem.

"Eu acho que é hora de realmente conversarmos," falou Riley. "Acho que é hora de contar algumas das coisas que você queria que eu contasse." Em seguida, ela suspirou. "Mas isso não vai ser agradável."

April finalmente se virou e olhou para ela, havia ansiedade em seus olhos. "Eu realmente gostaria que você falasse, mãe," disse ela.

Riley respirou longa e profundamente.

"Alguns meses atrás, eu estava trabalhando em um caso," disse ela. Alívio se espalhou pelo seu corpo quando ela começou a revelar para a April o caso de Peterson. Ela percebeu que fazia muito tempo que ela deveria ter falado sobre isso.

"Eu fiquei muito ansiosa," continuou ela. "Eu estava sozinha e me deparei com uma situação, eu não estava disposta a esperar. Eu não chamei os reforços. Eu pensei que eu poderia cuidar dele sozinha."

April, disse: "Isso é o que você faz o tempo todo. Você tenta cuidar de tudo sozinha. Sem mim até. Sem sequer falar comigo."

"Você está certa." Riley se preparou.

"Eu libertei Marie do cativeiro."

Riley hesitou, então finalmente continuou. Ela ouviu sua própria voz trêmula. "Eu fui capturada," continuou ela. "Ele me colocou em uma jaula. Havia uma tocha."

Ela começou a chorar, todo o seu terror reprimido correndo para a superfície. Ela estava tão envergonhado, mas não conseguia parar.

Para sua surpresa, ela sentiu a mão reconfortante de April em seu ombro, e ouviu April também chorando.

"Está tudo bem, mãe," disse ela.

"Eles não conseguiam me encontrar," continuou Riley, entre soluços. "Eles não sabiam onde procurar. E a culpa era minha.

"Mãe, nada é culpa sua," disse April.

Riley enxugou as lágrimas, tentando se recompor.

"Depois, eu finalmente sai. E explodi o lugar. Eles dizem que o homem está morto. Que ele não pode me ferir agora."

Houve um silêncio. "Ele está?" Perguntou April.

Riley tão desesperadamente queria dizer que sim, para tranquilizar sua filha. Mas, em vez disso, ela encontrou-se dizendo:

"Eu não sei."

O silêncio se adensou.

"Mãe", disse April, com um novo tom de sua voz, um de bondade, de compaixão, de força, um que Riley nunca tinha ouvido antes, "você salvou a vida de alguém. Você devia estar muito orgulhosa de si mesma."

Riley sentiu um novo temor quando ela balançou a cabeça lentamente. "O quê?" Perguntou April.

"É onde eu estava ontem," respondeu Riley. "Marie. Seu funeral." "Ela está morta!?" Ela perguntou, espantada.

Riley só conseguiu mexer a cabeça. "Como?"

Riley hesitou. Ela não queria dizer isso, mas não tinha escolha. Ela devia toda a verdade a April. Estava cansada de guardar a verdade.

"Ela se matou." Ela ouviu April arquejar.

"Oh, mamãe," disse ela, chorando. "Eu sinto muito, muito mesmo."

Ambas choraram por um longo, longo tempo, até que finalmente um silêncio reconfortante se estabeleceu.

Riley respirou fundo, inclinou-se e sorriu para April, afastando carinhosamente uma mecha de cabelo de suas bochechas molhadas.

"Você tem que entender que haverá coisas que eu não posso contar a você," disse Riley. "Ou porque eu não posso dizer a ninguém, ou porque não seria seguro você saber, ou talvez apenas porque eu não acho que você deveria pensar sobre o assunto. Eu tenho que aprender a ser a mãe aqui."

"Mas algo tão grande como isto," disse April. "Você deveria ter me contado. Você é a minha mãe, afinal de contas. Como eu saberia o que você está passando? Eu já sou velha o suficiente. EU posso entender. “

Riley suspirou.

"Acho que eu pensei que você já tinha coisas demais para se preocupar. Especialmente com divórcio meu e do seu pai." "O divórcio não foi tão difícil como você nunca conversar comigo," rebateu April. "Papai sempre

me ignorou exceto quando ele tinha vontade de me dar ordens. Mas você - é como se, de repente, você não estivesse mais lá."

Riley pegou a mão de April e apertou-a com força. "Sinto muito," disse Riley. "Por tudo." April assentiu.

"Sinto muito também," disse ela.

Elas se abraçaram e, quando Riley sentiu as lágrimas de April tocando seu pescoço, ela prometeu ser diferente. Ela prometeu fazer uma mudança. Quando este caso fosse deixado para trás, ela se tornaria a mãe que ela sempre quis ser.


Capítulo 29


Riley dirigiu relutantemente para o coração de sua infância. O que ela esperava encontrar lá, ela não sabia. Mas ela sabia que essa era uma missão fundamental - para si mesma, pelo menos. Ela se preparou para a ideia de ver seu pai. Já sabia que precisava enfrentá-lo.

Inclinadas à sua volta estavam as Montanhas Apalaches, no extremo sul em relação às suas investigações recentes. A viagem até ali tinha sido um tônico em alguns aspectos e, com as janelas abertas, ela estava começando a se sentir melhor. Tinha esquecido como o vale de Shenandoah era belo. Ela se viu dirigindo para o alto através de corredores rochosos e ao lado de rios.

Passou por uma cidade montanhosa típica - pouco mais do que um conjunto de edifícios, um posto de gasolina, um supermercado, uma igreja, um punhado de casas, um restaurante. Ela se lembrava de como ela passara seus anos de infância em uma cidade muito parecida com aquela.

Ela também se lembrou de como ela estava triste quando eles se mudaram para Lanton. Sua mãe tinha dito que era porque lá era uma cidade universitária e tinha muito mais a oferecer. Isso tinha redefinido as expectativas de vida de Riley quando ela ainda era muito jovem. Será que as coisas teriam corrido melhor se ela pudesse ter passado toda a sua vida naquele mundo mais simples e inocente? Um mundo onde sua mãe não era susceptível a ser alvejada por tiros em um lugar público?

A cidade desapareceu atrás dela após várias curvas das estradas da montanha. Depois de algumas milhas, Riley entrou em uma estrada de terra sinuosa.

Antes que demorasse demais, ela chegou até a casa que seu pai tinha comprado depois de se aposentar da Marinha. Um veículo utilitário velho amassado estava estacionado nas proximidades. Ela não ia ali havia mais de dois anos, mas ainda conhecia bem o local.

Riley estacionou e saiu do carro. Enquanto caminhava em direção à casa, ela respirou o ar limpo da floresta. Era um belo dia ensolarado e, naquela altitude a temperatura, estava fresco e agradável. Ela se deleitou com a esplêndida calma, quebrada por nada mais do que o canto dos pássaros e o farfalhar das folhas na brisa. Era bom estar rodeada por todos os lados por uma densa floresta.

Ela caminhou em direção à porta, passando por um toco de árvore onde seu pai cortava a lenha. Havia uma pilha de madeira nas proximidades - sua única fonte de calor nos períodos mais frios. Ele também vivia sem eletricidade, mas a água da nascente foi canalizada para dentro da moradia.

Riley sabia que essa vida simples era uma questão de escolha, não de pobreza. Com seus excelentes benefícios, ele poderia ter se aposentado em qualquer lugar que ele quisesse. Ele tinha escolhido ali e Riley não poderia culpá-lo. Talvez um dia ela faria o mesmo. Claro, uma pensão substancial parecia bem menos provável, agora que ela tinha perdido seu distintivo.

Ela empurrou a porta e esta abriu sem impedimentos. Naquela região, havia pouco medo de intrusos. Ela entrou e olhou em volta. O único cômodo simples, mas confortável estava fracamente iluminado, havia vários lampiões a gás apagados aqui e ali. As tábuas de pinheiro exalavam um cheiro amadeirado quente e agradável.

Nada havia mudado desde a última vez que Riley estivera ali. Ainda não havia nenhuma cabeça de veados da montanha nem nenhum sinal de animais caçados. Seu pai matava mais animais do que deveria, mas apenas para alimentar-se e vestir-se.

O silêncio foi quebrado por um tiro no lado de fora. Ela sabia que ainda não era temporada de caça aos veados. Ele provavelmente estava atirando em algum animal menor - esquilos, corvos ou marmotas. Ela deixou a casa e foi subindo a montanha, passando pelo fumeiro onde ele armazenava sua carne, em seguida, seguiu uma trilha para dentro da floresta.

Ela passou pela nascente coberta de onde vinha água fresca. Chegou ao limite do que restava de um antigo pomar de maçãs. Pequenas frutas encaroçadas estavam penduradas nas árvores.

"Papai!" Ela gritou.

Não houve resposta. Ela forçou sua entrada no pomar cheio de mato. Logo ela viu que seu pai estava por perto - um homem alto, desengonçado, usando um boné de caça e um colete vermelho e segurando um rifle. Três esquilos mortos jaziam a seus pés.

Ele virou o rosto enrugado, severo e judiado em direção a ela, não parecendo nem um pouco surpreso ao vê-la e nem um pouco satisfeito.

"Você não deveria estar aqui sem um colete vermelho, menina," ele rosnou. "Sorte sua que eu não atirei em você."

Riley não respondeu.

"Bem, não há nada aqui fora para atirar agora," disse ele, irritado, descarregando sua arma. "Você afugentou todos eles com seus gritos e quebrando os galhos do chão enquanto andava. Pelo menos eu tenho esquilos para o jantar."

Ele começou a caminhar em direção à sua casa, descendo a montanha. Riley o seguiu, mal capaz de acompanhar seus longos passos rápidos. Depois de anos de aposentadoria, ele ainda caminhava com seu velho porte militar, seu corpo todo enrolado como uma grande mola de aço.

Quando chegaram à casa, ele não a convidou a entrar, não que ela esperasse que ele o fizesse. Em vez disso, ele jogou os esquilos em um cesto perto da porta, em seguida, caminhou até o toco de madeira perto da pilha de lenha e sentou lá. Ele tirou o boné, revelando cabelos grisalhos que ainda estava cortados curtos, no estilo da Marinha. Ele não olhou para Riley.

Com nenhum outro lugar para sentar, Riley se sentou nos degraus da frente.

"O interior da sua casa está legal," disse ela, tentando encontrar algo para falar. "Eu vejo que você ainda não está montando troféus."

"Sim, bem," ele disse com sorriso: "Eu nunca levei nenhum troféu quando matei no Vietnã. Eu não vou começar agora."

Riley assentiu. Ela ouvia essa sua observação constantemente, sempre carregada com sua típica risada humorosa. "Então, o que você está fazendo aqui?" Perguntou seu pai.

Riley começou a se perguntar. Que diabos ela estava esperando daquele homem inflexível, tão incapaz do mínimo afeto?

"Estou com alguns problemas, papai," ela disse. "Com o quê?"

Riley balançou a cabeça e sorriu tristemente. "Não sei por onde começar," ela respondeu. Ele cuspiu no chão.

"Foi uma coisa idiota que você teve, ser pega por esse psicopata," disse ele.

Riley ficou surpresa. Como ele sabia? Ela não tinha nenhum contato com ele há um ano. "Eu pensei que você vivesse completamente isolado," disse ela.

"Eu vou à cidade de vez em quando," seu pai falou. "E ouço coisas."

Ela quase disse que sua "coisa idiota" tinha salvado a vida de uma mulher. Mas lembrou rapidamente - não era totalmente verdade, não a longo prazo.

Ainda assim, Riley achou interessante que ele sabia sobre isso. Ele realmente havia se dado o trabalho de descobrir que algo havia acontecido com ela. O que mais ele poderia saber sobre sua vida?

Provavelmente não muito, ela pensou. Ou pelo menos nada que ela fizera certo de acordo com os padrões dele.

"Então você desmoronou depois de toda aquela coisa com o assassino?" Ele perguntou. Riley se irritou com isso.

"Se você quer dizer que eu sofri de TEPT, sim, eu sofri."

"TEPT," ele repetiu, rindo cinicamente. "Eu nem me lembro exatamente o que essas malditas

letras significam. Apenas uma maneira elegante de dizer que você é fraca, que eu me lembre. Eu nunca sofri com esse negócio de TEPT, nem depois que cheguei em casa da guerra, nem depois de todas as coisas que eu vi e fiz e que fizeram para mim. Não vejo como alguém consegue ficar usando isso como desculpa."

Ele ficou em silêncio, olhando para o espaço como se ela não estivesse ali. Riley percebeu que aquela visita não ia acabar bem. Ela poderia muito bem falar um pouco sobre o que estava acontecendo em sua vida. Ele não teria nada incentivador para falar sobre isso, mas pelo menos seria uma conversa.

"Estou tendo problemas com um caso, papai," ela disse. "É mais um serial killer. Ele tortura mulheres, as estrangula e depois as coloca em locais abertos."

"Sim, eu ouvi sobre isso também. Exibe as mulheres nuas. Que coisa doente." Ele cuspiu de novo. "E deixe-me adivinhar. Você está em desacordo com o Escritório sobre isso. Os poderosos não sabem o que eles estão fazendo. Eles não lhe dão ouvidos."

Riley ficou pasma. Como ele adivinhou?

"Aconteceu o mesmo comigo no Vietnã," disse ele. "A disputa não acabava, eles estavam lutando uma guerra maldita. Cristo, se tivessem me deixado tudo comigo, teríamos ganho. Fico enojado só de pensar sobre isso."

Riley ouviu algo em sua voz que ela não tinha ouvido muitas vezes, ou pelo menos tinha raramente notado. Era arrependimento. Ele realmente sentia-se arrependido por não ter ganhado a guerra. Não importava que ele não deveria se culpar. Ele se sentia responsável.

Enquanto Riley estudava seu rosto, ela percebeu algo. Ela se parecia com ele, mais do que ela se parecia com sua mãe. Mas era mais do que isso. Ela era como ele, não apenas em seu jeito horrível com relacionamentos, mas com sua determinação insistente, seu senso de responsabilidade arrogante.

E isso não era inteiramente uma coisa ruim. Neste raro momento familiar, ela se perguntou se talvez ele realmente pudesse contar-lhe algo que ela precisava saber.

"Papai, o que ele faz - é tão feio, deixando corpos nus e tão horrivelmente posicionados, mas-" ela parou, tentando encontrar as palavras certas.

"Os lugares que ele os deixa são sempre tão bonitos - florestas e riachos, cenas naturais como essa. Por que você acha que ele pega esses lugares para fazer algo tão feio e cruel?"

Os olhos do pai se voltaram para dentro. Ele parecia estar explorando seus próprios pensamentos, suas próprias memórias, falando tanto sobre si mesmo como sobre qualquer outra pessoa.

"Ele quer começar tudo de novo," disse ele. "Ele quer percorrer todo o caminho de volta para o começo. Não é o mesmo com você? Não basta você querer voltar para onde você começou e começar tudo de novo? Voltar para onde você era uma criança? Encontrar o lugar onde tudo deu errado e fazer a vida ser completamente diferente?"

Ele fez uma pausa por um momento. Riley se lembrou de seus pensamentos de quando ela estava dirigindo para lá - como ela ficou triste quando era uma menininha e teve que deixar aquelas montanhas. Havia de fato alguma verdade essencial naquilo que seu pai estava dizendo.

"É por isso que eu vivo aqui," ele falou, deslizando mais profundamente no devaneio.

Riley ficou sentada em silêncio, absorvendo tudo. As palavras de seu pai começaram a trazer algo em foco. Ela tinha, há muito tempo, presumido que o assassino mantinha e torturava as mulheres em sua casa de infância. Não lhe ocorrera que ele escolhia aquela cena por uma razão - para, de alguma forma, alcançar seu passado e mudar tudo.

Ainda sem olhar para ela, seu pai perguntou: "O que o seu instinto lhe diz?"

"É algo a ver com bonecas," Riley respondeu. "É algo que o Escritório não está percebendo. Eles estão investigando tudo errado. Ele é obcecado por bonecas. Essa é a chave de alguma forma."

Ele resmungou e arrastou os pés.

"Bem, você apenas tem que seguir esse seu instinto," disse ele. "Não deixe os bastardos lhe dizerem o que fazer."

Riley ficou muda. Não era como se ele estivesse lhe dando um elogio. Não era como se ele quisesse ser agradável. Ele era o mesmo idiota colérico que sempre tinha sido. Mas, de alguma forma, ele estava dizendo exatamente o que ela precisava ouvir.

"Eu não vou desistir," ela afirmou.

"É bom mesmo que você não desista," ele rosnou em um sussurro. Não havia nada mais a dizer. Riley levantou-se.

"Foi bom ver você, papai," disse ela. E ela meio que quis dizer isso mesmo. Ele não respondeu, apenas ficou lá olhando para o chão. Ela entrou no carro e foi embora.

Enquanto ela dirigia, percebeu que se sentia diferente de quando ela veio e, de alguma estranha forma, muito melhor. Algo, ela sentiu, tinha sido resolvido entre eles.

Ela também sabia de algo que ela não soubera antes. Onde quer que o assassino vivesse, não era em um cortiço, nem um esgoto, nem em um barraco degradado e miserável em algum lugar da floresta.

Seria em um lugar de beleza, um lugar onde a beleza e horror estavam posicionados de forma igual, lado a lado.


*


Um pouco mais tarde, Riley estava sentada no balcão de um café na cidade vizinha. Seu pai não havia lhe oferecido nada para comer, o que não era nenhuma surpresa, e agora ela estava com fome e precisava de alguma coisa para se alimentar e poder voltar para casa.

Apenas quando a garçonete lhe entregara seu sanduíche de bacon, alface e tomate à sua frente no balcão, o telefone celular de Riley tocou. Ela olhou para ver quem estava chamando, mas não havia nenhuma identificação. Ela atendeu o telefonema com cautela.

"É Riley Paige?" Perguntou uma mulher com uma voz eficiente. "Sim," Riley confirmou.

"Estou com o senador Mitch Newbrough na linha. Ele quer falar com você. Poderia aguardar, por favor?"

Riley sentiu uma sacudida alarmante. De todas as pessoas com quem ela não queria conversar, Newbrough estava no topo de sua lista. Ela tinha o desejo de terminar a chamada sem dizer mais nada, mas depois pensou melhor. Newbrough já era um poderoso inimigo. Fazer ele odiá-la ainda mais não era uma boa ideia.

"Eu vou aguardar," disse Riley.

Poucos segundos depois, ela ouviu a voz do senador.

"É o senador Newbrough aqui. Estou falando com Riley Paige, eu presumo."

Riley não sabia se deveria ficar furiosa ou aterrorizada. Ele estava falando como se fosse ela quem estava ligando.

"Como você conseguiu esse número?" Ela perguntou.

"Eu consigo as coisas quando eu as quero," disse Newbrough em sua voz tipicamente fria. "Quero falar com você. Pessoalmente."

O medo de Riley se aprofundou. Que possível razão ele poderia ter para querer vê-la? Isso não poderia ser bom. Mas como ela podia dizer não sem piorar as coisas?

"Eu poderia passar em sua casa," disse ele. "Sei onde você mora."

Riley quase perguntou como ele sabia o endereço dela. Mas lembrou-se que ele já tinha respondido a essa pergunta.

"Prefiro que nós encerremos esse assunto agora, por telefone," disse Riley.

"Temo que isso não seja possível," disse Newbrough. "Eu não posso falar sobre isso no telefone. Quando você pode me encontrar?"

Riley sentiu-se nas garras da poderosa vontade de Newbrough. Ela queria recusar, mas, de alguma forma, não conseguiu fazê-lo.

"Estou fora da cidade agora," ela respondeu. "Não irei para casa até bem mais tarde. Amanhã de manhã eu levo minha filha para a escola. Poderíamos nos encontrar em Fredericksburg. Talvez em um café."

"Não, não é um lugar público," disse Newbrough. "Tem que ser em algum lugar menos visível. Repórteres tendem a seguir-me por aí. Eles ficam em cima de mim sempre que têm uma chance. Eu prefiro ficar fora de seu radar. Que tal em Quantico, na sede da UAC?"

Riley não conseguiu tirar uma nota de amargura em sua voz.

"Eu não trabalho mais lá, lembra?" - disse ela. "Você deveria saber disso melhor do que ninguém."

Houve uma breve pausa.

"Você conhece o Clube de Campo Magnolia Gardens?" Perguntou Newbrough.

Riley suspirou ante o absurdo da questão. Ela certamente não fazia parte daquele tipo de círculo.

"Eu não posso dizer que eu conheço," ela respondeu.

"É fácil de encontrar, fica no meio do caminho entre Quantico e minha fazenda. Esteja lá às dez e meia da manhã." Riley estava gostando cada vez menos daquilo. Ele não estava pedindo, ele estava dando uma ordem. Depois de destruir sua

carreira, que direito ele tinha de exigir algo dela? "É muito cedo?" Newbrough perguntou quando Riley não respondeu. "Não," Riley disse, "é só que-"

Newbrough interrompeu: "Então, esteja lá. É só para membros, mas vou notificá-los para autorizarem você. Você vai querer fazer isso. Vai ver que é importante. Confie em mim."

Newbrough terminou a ligação sem se despedir. Riley ficou boquiaberta.

"Confie em mim," ele tinha dito.

Riley poderia ter achado engraçado se não fosse tão desencorajador. Ao lado de Peterson e de qualquer outro assassino que ela estivesse investigando, Newbrough era possivelmente a pessoa que ela menos confiava do mundo. Ela confiava menos nele do que confiava em Carl Walder. E isso significava muito.

Mas ela não parecia ter qualquer escolha. Ele tinha algo a dizer a ela, ela podia sentir isso. Alguma coisa, ela pressentia, que podia até levar ao assassino.


Capítulo 30


Quando Riley estava se aproximando do Clube de Campo Magnolia Gardens, ela foi parada em um pequeno edifício branco no portão. Uma barreira listrada de verde e branco bloqueava o caminho, um guarda de segurança uniformizado segurando uma prancheta saiu do edifício e caminhou até o lado do motorista de seu carro.

Riley abriu a janela.

"Seu nome?" O guarda perguntou bruscamente.

Riley não estava nada certa sobre o protocolo necessário para entrar no clube, mas Newbrough tinha dito que iria avisá-los que ela estava vindo.

"Eu sou Riley Paige," disse ela. Em seguida, ela gaguejou, "Eu sou um, uh, convidada do senador Newbrough." O guarda examinou a lista, em seguida, assentiu.

"Vá em frente," disse ele.

A barreira se levantou e Riley entrou.

A pista de entrada atravessava os jardins homônimos, extremamente luxuosos, coloridos e perfumados nesta época do ano. Por fim, ela estacionou em um prédio de tijolos com colunas brancas. Ao contrário daqueles na funerária que tinha visitado recentemente, essas colunas eram impressionantes. Riley sentiu como se tivesse tropeçado diante algum tipo de plantação do sul do século XIX.

Um manobrista correu até o carro dela, deu-lhe um cartão e levou as chaves. Ele levou seu carro embora. Riley ficou sozinha na frente da grande entrada, sentindo-se deslocada, do mesmo jeito que se sentira

na casa do senador. Vestida com um jeans casual, ela se perguntou se estava mesmo autorizada a entrar. Havia algum tipo de código de vestimenta em lugares como aquele? Era bom ter sua jaqueta enrolada com folga no coldre do seu ombro.

Um porteiro uniformizado saiu para encontrá-la. "Seu nome, senhora?" Ele perguntou.

"Riley Paige," disse ela, imaginando se ele iria pedir algum tipo de identificação. O porteiro olhou para sua própria lista. "Por aqui, minha senhora," disse ele.

Ele a acompanhou para dentro, por um longo corredor, até uma pequena sala de jantar privativa. Ela não tinha ideia se deveria dar uma gorjeta ao porteiro ou não. Mas, então, ela não tinha ideia de quanto o homem recebia. Será que ele ganhava mais do que ela como uma agente do FBI? Ela achava possível que oferecer uma gorjeta poderia ser mais ofensivo do que não dar nada. Parecia melhor não arriscar.

"Obrigada," ela disse ao homem.

Ele balançou a cabeça, mostrando nenhum sinal de desapontamento, e voltou pelo mesmo caminho. O quarto era pequena, mas era, de longe, a sala de jantar o mais refinada que ela já visitara. Lá

não havia janelas, mas a única pintura na parede era uma original dos jardins homônimo que ela atravessara lá fora.

A única mesa estava posta com prata, porcelana, cristal e linho. Ela escolheu uma cadeira coberta de pelúcia que ficava de frente para a porta e sentou-se. Ela queria ver o senador Newbrough quando ele chegasse.

Se ele chegar, ela pensou. Ela não tinha nenhuma razão real para achar que ele não iria. Mas toda aquela situação parecia tão irreal, ela não sabia o que esperar.

Um garçom de terno branco veio e colocou uma bandeja com queijos e uma variedade de biscoitos em sua mesa.

"Gostaria de algo para beber, senhora?" ele perguntou educadamente.

"Apenas água, obrigada," disse Riley. O garçom saiu e em poucos segundos e logo voltou com um jarro de cristal de água e dois copos do mesmo conjunto. Ele serviu a água para ela e deixou a jarra e o outro copo em cima da mesa.

Riley tomou um gole de água. Ela teve que admitir para si mesma que ela gostou da sensação do vidro elegante em sua mão. Ela só precisou esperar um ou dois minutos até o senador chegar, parecendo tão frio e severo quanto antes. Ele fechou a porta atrás dele e sentou-se no lado oposto da mesa dela.

"Estou feliz que você tenha vindo, agente Paige," disse ele. "Eu trouxe uma coisa para você."

Sem mais cerimónia, Newbrough colocou um caderno grosso, encadernado em couro sobre a mesa. Riley olhou para ele com cautela. Lembrou-se da lista de inimigos que Newbrough lhe dera na primeira vez em que se encontraram. Será que desta vez seria algo igualmente problemático?

"O que é isto?" Ela perguntou.

"O diário da minha filha," disse Newbrough. "Eu o peguei na casa dela depois que ela foi... encontrada. Levei-o porque não quero que ninguém o leia. Lembre-se, eu não sei o que está nele. Eu nunca o li. Mas eu tenho certeza que ele inclui coisas que eu prefiro que não se tornem de conhecimento público."

Riley não sabia o que dizer. Ela não tinha ideia de por que ele iria querer que ela ficasse com aquilo. Ela percebeu que Newbrough estava pesando o que estava prestes a dizer a seguir com cuidado. Desde a primeira vez que ela se encontrara com ele, ela tinha certeza de que ele estava retendo informações dela. Ela estava fervilhando com a expectativa de que ele poderia finalmente lhe dizer o que ela precisava saber.

Finalmente, ele disse: "Minha filha estava tendo problemas com drogas durante o último ano de sua vida. Cocaína, heroína, ecstasy, todos os tipos de coisas pesadas. Seu marido a colocou nessa rota. Foi uma das razões de seu casamento ter acabado. Sua mãe e eu esperávamos que ela estivesse saindo desse mundo quando ela morreu."

Newbrough fez uma pausa, olhando para o diário.

"No começo eu pensei que sua morte estava, de alguma forma, conectado com tudo isso," confessou ele. "Os usuários e traficantes de seu círculo eram um grupo desagradável. Não quero que isso se espalhe. Você entende, eu tenho certeza."

Riley não tinha certeza se ela estava entendendo. Mas ela estava certamente surpresa. "As drogas não tiveram nada a ver com o assassinato de sua filha," disse ela.

"Agora eu percebo," disse Newbrough. "Outra mulher foi encontrada morta, não é? E, sem dúvida haverá mais vítimas. Parece que eu estava errado em pensar que isso tivesse alguma coisa a ver comigo ou com a minha família."

Riley ficou pasma. Quantas vezes aquele homem incrivelmente egoísta admitia que ele estava errado sobre alguma coisa?

Ele bateu no diário com a mão.

"Leve isso com você. Ele pode ter algumas informações para ajudá-la com o seu caso."

"Não é meu caso mais, senador," Riley disse, permitindo que um traço de sua amargura aparecesse. "Eu acho que você sabe que eu fui demitida do Escritório."

"Oh, sim," disse Newbrough, inclinando a cabeça, pensativo. "Meu erro, eu acho. Bem, não é nada que eu não possa resolver. Você será reintegrada. Dê-me um pouco de tempo para isso. Enquanto isso, eu espero que você possa fazer uso dele."

Riley se sentiu tocada pelo gesto. Ela respirou fundo.

"Senador, acredito que eu lhe devo um pedido de desculpas. Eu- eu não estava em minha melhor forma na última vez em que nos encontramos. Eu tinha acabado de sair do funeral de uma amiga, estava distraída. E disse algumas coisas que eu não deveria ter dito."

Newbrough assentiu em aceitação silenciosa de seu pedido de desculpas. Era evidente que ele não ia se desculpar com ela, mesmo que ela soubesse que ela merecia. Ela teve que se contentar com a sua admissão de que ele tinha cometido um erro. Pelo menos ele estava tentando fazer as pazes. O que importava mais do que um pedido de desculpas, de qualquer maneira.

Riley pegou o diário sem abri-lo.

"Há apenas uma coisa que eu gostaria de saber, senador," disse ela. "Por que você está dando isso para mim e não ao agente Walder?"

Os lábios de Newbrough se retorceram em uma leve aparência de um sorriso.

"Porque há uma coisa que eu aprendi sobre você, agente Paige," disse ele. "Você não é o cachorrinho de ninguém."

Riley ficou sem respostas. Esse respeito súbito de um homem que de outra forma parecia pensar apenas em si mesmo simplesmente a chocava.

"E agora talvez você gostaria de almoçar," disse o senador.

Riley pensou sobre o assunto. Por mais grata que ela estivesse com a mudança do coração de Newbrough, ela ainda se sentia longe de estar confortável em torno dele. Ele permanecia um homem frio, frágil e desagradável. E, além disso, ela tinha trabalho a fazer.

"Se você não se importar, acho que é melhor eu me retirar," disse ela. Indicando o diário, ela acrescentou, "preciso começar a usá-lo logo. Não há tempo a perder. Ah - e eu prometo não deixar nada que eu encontrar aqui se tornar público."

"Eu agradeço," disse Newbrough.

Ele educadamente se levantou de sua cadeira enquanto Riley saiu da sala. Ela saiu do prédio e entregou o cartão para o manobrista. Enquanto aguardava o rapaz buscar seu carro, ela abriu o diário.

Ao folhear as páginas, ela viu de imediato que Reba Frye tinha escrito um pouco sobre seu uso de drogas ilícitas. Riley também teve a impressão imediata que Reba Frye era uma mulher muito egocêntrica que parecia estar obcecada com ressentimentos mesquinhos e desgostos. Mas, afinal, não era esse o verdadeiro ponto de se ter um diário? Era um lugar onde se tinha todo o direito de pensar apenas sobre si mesma.

Além disso, Riley pensou, mesmo que Reba tivesse sido tão narcisista quanto seu pai, ela certamente não merecia um destino tão terrível. Riley sentiu um calafrio ao recordar as fotos que tinha visto do cadáver da mulher.

Riley continuou a folhear o diário. Seu carro parou na entrada de cascalho, mas ela ignorou o manobrista, hipnotizada. Ela ficou ali parada, com as mãos tremendo, lendo tudo até o final, desesperada por qualquer menção do assassino, de qualquer coisa, qualquer tipo de pista. Mas ela ficou desapontada ao não encontrar nenhuma.

Ela começou a baixar o livro pesado, sentindo-se esmagada. Ela não aguentava mais um beco sem saída. Foi então que, ao abaixá-lo, um pequeno pedaço de papel, situado entre duas páginas, começou a escorregar

do diário. Ela o pegou e o estudou, curiosa.

Ao examiná-lo, seu coração de repente bateu fortemente em seu peito. Em estado de choque total, ela deixou cair o diário.

Ela estava segurando um recibo. De uma loja de bonecas.


Capítulo 31


E lá estava ela. Depois de todos os becos sem saída, Riley mal podia acreditar no que estava segurando. Na parte superior do recibo escrito à mão, estava o nome e endereço da loja: A Moda de Madeline em Shellysford, Virgínia.

Riley estava perplexa. Não soava como uma loja de bonecas ou de brinquedos.

Em seu telefone celular, ela encontrou o site da Moda de Madeline. Era, curiosamente, uma loja de roupas femininas.

Mas ela olhou mais de perto e viu que eles também vendiam bonecas colecionáveis. Elas só poderiam ser vistas sob agendamento.

Um arrepio percorreu a espinha de Riley.

Este tem que ser o lugar, ela pensou.

Ela pegou o diário e, com as mãos trêmulas, folheou as páginas para encontrar ao que ela havia escrito na data do recibo. E lá estava ela.

Acabei de comprar a boneca perfeita para Debbie. Seu aniversário não é nem daqui mês, mas é tão difícil comprar coisas para ela.

E lá estava, em linguagem simples e curta. Reba Frye tinha comprado uma boneca para a filha em uma loja em Shellysford. Riley tinha certeza de que todas as outras vítimas haviam comprado bonecas lá, também. E que era ali que o assassino as vira pela primeira vez.

Riley exibiu um mapa em seu telefone, ele mostrou que Shellysford ficava a uma hora de distância de carro. Ela tinha que chegar lá assim que pudesse. Até onde ela podia imaginar, o assassino já tinha encontrado outra vítima.

Mas ela precisava obter algumas informações para poder trabalhar. E precisava fazer um doloroso telefonema que ela andava evitando há muito tempo já.

Ela pegou as chaves do manobrista desconcertado, entrou em seu carro, deu partida e saiu cantando os pneus pelas ruas bem cuidadas do clube. Enquanto ela acelerava portão afora, ela discou o número do celular de Bill, perguntando se ele se importaria em atender. Ela não podia culpá-lo se ele nunca mais quisesse falar com ela novamente.

Para seu alívio, a voz de Bill veio no telefone. "Olá," disse ele.

O coração de Riley saltou. Ela não sabia se deveria estar aliviada ou apavorada em ouvir sua voz. "Bill, aqui é Riley," disse ela.

"Eu sei quem está falando," respondeu Bill.

Um silêncio se instalou. Aquilo não ia ser fácil. E ela sabia que não merecia que aquilo fosse fácil.

"Bill, eu não sei por onde começar," ela falou. Sua garganta inchou com a emoção e ela estava tendo dificuldades em se expressar. "Estou tão, tão terrivelmente arrependida. É só que - bem, tudo tinha ficado tão ruim, e eu não estava no meu juízo perfeito, e-"

"E você estava bêbada," Bill disse, interrompendo. Riley suspirou miseravelmente.

"Sim, eu estava bêbada," ela admitiu. "E peço desculpas. Eu espero que você possa me perdoar. Eu sinto muito." Outro silêncio.

"Tudo bem," Bill disse finalmente.

O coração de Riley afundou. Ela conhecia Bill melhor do que ela conhecia qualquer outra pessoa no mundo. Então ela podia ouvir um mundo de significados naquelas duas pequenas palavras. Ele não estava perdoando-a, ele sequer aceitara seu pedido de desculpas, pelo menos não ainda. Tudo o que ele estava fazendo era reconhecendo que ela tinha pedido desculpas.

Enfim, agora havia tempo para ficar pensando nisso. Havia um assunto muito mais urgente a ser resolvido.

"Bill, eu tenho uma pista," disse ela. "O quê?" Eles perguntou uma voz surpresa. "Eu encontrei a loja."

Bill parecia preocupado agora.

"Riley, você está ficando louca? O que está fazendo, ainda trabalhando neste caso? Walder demitiu você, pelo amor de Deus."

"Desde quando eu espero por permissão? De qualquer forma, parece que eu serei reintegrada."

Bill bufou com descrença. "Quem disse?" "Newbrough."

"Do que você está falando? Bill perguntou, parecendo cada vez mais agitado. "Cristo, Riley, você não foi até a casa dele de novo, né?"

Os pensamentos Riley se tornaram confusos. Havia coisas demais para se explicar. Ela tinha que manter o básico.

"Não, e ele foi diferente desta vez," disse ela. "Foi estranho, não posso falar disso neste momento. Mas Newbrough me deu algumas informações novas. Bill, Reba Frye comprou uma boneca em uma loja em Shellysford. Eu tenho provas. E tenho o nome da loja."

"Isso é loucura," disse Bill. "Nós tivemos agentes investigando toda essa área. Eles estiveram em cada cidade por ali. Acho até que eles não encontraram nenhum loja de bonecas em Shellysford."

Riley estava achando cada vez mais difícil de conter sua própria excitação.

"Isso é porque não há nenhuma," disse ela. "É uma loja de roupas que vende bonecas, mas você só pode vê-las perante agendamento. A Moda de Madeline, este é seu nome. Você está na UAC agora?"

"Sim mas-"

"Então, arranje alguém para verificar o local. Obtenha tudo o que puder sobre todo mundo que já trabalhou lá. Estou indo para lá agora."

A voz de Bill ficou alta e frenética.

"Riley, não! Você não tem autorização. Você sequer tem um distintivo. E se você encontrar o cara? Ele pode ser perigoso. E Walder pegou sua arma."

"Eu tenho a minha própria arma," disse Riley.

"Mas você não será capaz de deter qualquer um."

Com um grunhido de determinação, Riley disse, "Eu vou fazer o que eu tenho que fazer. Outra vida pode estar correndo perigo."

"Eu não gosto disso," Bill disse, soando mais resignado agora. Riley terminou o telefonema e pisou no acelerador.


*


Bill estava em seu escritório olhando silenciosamente para seu telefone celular. Ele percebeu que suas mãos tremiam. Ele não tinha certeza do porquê. Raiva e frustração? Ou era de medo por Riley, por qualquer coisa imprudente ela estava prestes a fazer?

Seu telefonema bêbado de duas noites atrás o deixaram confuso e devastado. Era um clichê que os parceiros responsáveis pela aplicação da lei, muitas vezes sentiam-se mais íntimos um com o outro do que com seus próprios cônjuges. E Bill sabia que era verdade. Por um longo tempo, ele se sentia mais perto de Riley do que jamais sentiu com outra pessoa em sua vida.

Mas não havia espaço para o romance em sua linha de trabalho. Complicações ou hesitações sobre o trabalho poderiam ter resultados mortais. Ele sempre manteve as coisas profissionais entre eles e sempre confiou que Riley faria o mesmo. Mas agora ela tinha quebrado essa confiança.

Bem, ela estava obviamente consciente de seu erro. Mas o que ela quis dizer quando disse que seria reintegrada? Será que eles trabalhariam juntos de novo? Ele não tinha certeza se ele queria. Será que o relacionamento profissional dinâmico e confortável que eles tinham compartilhado por tanto tempo estava arruinado para sempre?

Mas ele não podia se preocupar com tudo isso agora. Riley pediu-lhe para verificar os funcionários de uma loja. Ele passaria esse pedido, mas não para Carl Walder. Bill pegou o telefone e ligou para o ramal do agente especial Brent Meredith. Meredith não estava na cadeia de comando sobre este caso, mas Bill sabia que podia contar com ele para conseguir realizar esta tarefa.

Ele planejava manter a chamada curta e eficiente. Ele precisava dirigir para Shellysford agora e só rezava para que ele pudesse chegar lá antes que Riley Paige fizesse algo realmente estúpido.

Como ser morta.


Capítulo 32


O coração de Riley estava batendo em antecipação quando ela estacionou na pequena cidade de Shellysford. A Moda de Madeline era fácil de ser encontrada. Ficava à vista da rua principal, e seu nome era exibido em toda a janela da frente. Shellysford era um pouco mais sofisticada do que ela esperava.

Alguns edifícios históricos, aparentemente, tinha sido mantidos em bom estado de conservação e a rua principal beirava a elegância. A loja de roupas sofisticadas se encaixava bem com a suas prósperas redondezas.

Riley estacionou na calçada em frente à loja, saiu de seu carro, e analisou seus arredores. Ela imediatamente notou que um dos manequins da vitrine estava de fato segurando uma boneca - uma princesa de vestido rosa, usando uma tiara brilhante. Os agentes investigaram aquela cidade, no entanto, podiam facilmente ter tomado aquilo como mera fachada. Apenas um pequeno sinal na janela sugeriam o contrário: Bonecas colecionáveis sob agendamento.

Um sino acima da porta tocou quando Riley entrou e a mulher no balcão olhou em sua direção. Ela aparentava ser de meia-idade, mas extremamente jovem, e seu cabelo grisalho estava cheio e saudável.

Riley pesou suas opções. Sem seu distintivo, ela tinha que ter cuidado. É verdade, ela tinha conseguido conversar com outros varejistas sem precisar dele. Mas ela não queria de jeito nenhum assustar aquela mulher.

"Com licença," disse Riley. "Você está Madeline?"

A mulher sorriu. "Bem, meu nome é, na verdade, Mildred, mas eu posso ser chamada de Madeline. Eu prefiro. E soa melhor para o nome de uma loja. "A Moda de Mildred 'simplesmente não tem a mesma conoridade." A mulher riu e piscou. "Não iria atrair a clientela que estou buscando."

Por enquanto, tudo bem, Riley pensou. A mulher era aberta e gostava de conversar.

"Bela loja," disse Riley, olhando ao redor. "Mas parece trabalho demais para uma única pessoa. Você tem alguma ajuda? Certamente você não faz tudo isso sozinha."

A mulher deu de ombros.

"A maior parte eu que faço," ela respondeu. "Às vezes eu tenho uma adolescente que trabalha no caixa enquanto eu atendo os clientes. Hoje é um dia calmo, no entanto. Não havia necessidade de ela vir."

Ainda considerando a abordagem certa, Riley caminhou até uma estante de roupas e tocou uma parte da mercadoria.

"Roupas bonitas," disse ela. "Não há muitas lojas que tem vestidos como estes." Madeline parecia satisfeita.

"Não, você provavelmente não os encontrara em outro lugar," disse ela. "Eles são todos de alta costura, mas eu os compro de lojas multimarcas quando seus modelos são descontinuados. Então, para cidades grandes padrões, estes seriam da moda passada." Em seguida, com outra piscadela e um sorriso, ela acrescentou, "Mas em uma pequena cidade como Shellysford - bem, eles poderiam muito bem ser a última novidade."

Madeline tirou um vestido de coquetel de cor lavanda da estante.

"Você ficaria maravilhosa neste," disse ela. "É perfeito para a sua coloração - e para a sua personalidade também, eu suspeito."

Riley achava que não. Na verdade, ela não podia ver-se vestindo nenhuma daquelas vestimentas elegantes. Ainda assim, ela tinha certeza de que aquele vestido teria sido mais adequado para o clube de campo do que as roupas que ela estava vestindo agora.

"Na verdade," Riley disse: "Eu gostaria de dar uma olhada em algumas das suas bonecas." Madeline parecia um pouco surpresa.

"Você fez um agendamento?" Ela perguntou. "Se você fez, parece que acabei esquecendo. E como foi que você descobriu sobre a nossa coleção de bonecas?"

Riley puxou o recibo de sua bolsa e mostrou para Madeline. "Alguém me deu isso," disse Riley.

"Ah, uma recomendação," disse Madeline, obviamente satisfeita. "Bem, eu posso fazer uma exceção, então." Ela caminhou até o fundo da loja e abriu uma porta sanfonada, Riley a seguiu até uma pequena sala nos fundos. Suas prateleiras estavam cheias de bonecas, e um par de estantes sobre o

chão estavam cheias de acessórios de boneca.

"Eu comecei este pequeno negócio paralelo há alguns anos atrás," disse Madeline. "Eu tive a oportunidade de comprar o estoque de um fabricante que saiu do negócio. O proprietário era um primo meu, então quando eles fecharam consegui um acordo especial. Fico feliz em poder passar essas economias para os meus clientes."

Madeline pegou uma boneca e examinou-a com orgulho.

"Não são adoráveis?" - disse ela. "As meninas adoram estas. Seus pais também. E essas bonecas não estão mais sendo feitas, por isso elas são verdadeiramente colecionáveis, mesmo que não sejam antiguidades. E olhe só para todas essas fantasias. Qualquer uma das minhas bonecas pode usar qualquer um desses acessórios."

Riley digitalizou as fileiras de bonecas. Eles eram muito parecidas, apesar de sua cor de cabelo variarem. Assim como suas roupas, que incluíam vestidos modernos, vestidos de princesa e trajes históricos. Entre os acessórios, Riley viu móveis de boneca que combinavam com cada estilo. Os preços das bonecas eram todos acima de cem dólares.

"Eu espero que você entenda por que eu não posso manter esta seção aberta," explicou Madeline. "A maioria dos meus clientes comuns não está procurando por bonecas. E apenas entre mim e você," ela acrescentou, baixando a voz para um sussurro, "muitos desses itens pequenos são muito fáceis de roubar. Então, eu sou cuidadosa sobre para quem eu mostrar tudo isso."

Afofando um vestido de boneca, Madeline perguntou: "Aliás, qual é o seu nome? Eu gosto de saber os nomes de todos os meus clientes."

"Riley Paige?"

Então Madeline a olhou com um sorriso curioso.

"E quem era o cliente que te recomendou?" Ela perguntou.

"Reba Frye," disse Riley. O rosto de Madeline ficou sombrio.

"Oh, querida," disse ela. "A filha do senador estadual. Eu me lembro quando ela entrou. E ouvi sobre..." Ela ficou em silêncio por um momento. "Oh, querida," ela acrescentou, balançando a cabeça tristemente.

Então ela olhou para Riley com cautela.

"Por favor, me diga que você não é uma repórter," disse ela. "Se assim for, devo lhe pedir para sair. Seria uma terrível publicidade para minha loja."

"Não, eu sou uma agente do FBI," disse Riley. "E a verdade é que eu estou aqui para investigar o assassinato de Reba Frye. Encontrei-me com o seu pai, o senador Newbrough, pouco tempo atrás. Ele me deu este recibo. É por isso que estou aqui."

Madeline parecia cada vez mais inquieta. "Você poderia me mostrar seu distintivo?" Ela perguntou.

Riley segurou um suspiro. Ela precisava blefar para conseguir contornar aquela situação. Ela teria que mentir, pelo menos um pouco.

"Eu estou de folga," disse ela. "Nós não carregamos os distintivos quando estamos de folga. É procedimento padrão. Eu só vim aqui, no meu próprio horário, para descobrir tudo o que eu podia."

Madeline acenou com simpatia. Ela parecia acreditar nela - ou pelo menos não para descrer dela. Riley tentou não demonstrar seu alívio.

"O que posso fazer para ajudar?" Perguntou Madeline.

"Apenas me diga tudo o que puder sobre esse dia. Quem mais apareceu para trabalhar? Quantos clientes entraram?"

Madeline estendeu a mão. "Posso ver o recibo? Para a data, eu quero dizer." Riley lhe entregou o recibo.

"Ah, sim, eu me lembro," disse Madeline enquanto ela olhava para ele. "Foi um dia louco, há várias semanas."

A atenção de Riley dobrou. "Louco?" Riley perguntou. "Como assim?"

Madeline enrugou a testa enquanto ela recordava.

"Um colecionador entrou," disse ela. "Ele comprou vinte bonecas ao mesmo tempo. Fiquei surpresa por ele ter o dinheiro. Ele não parecia assim tão rico. Ele era apenas um homem mais velho com uma aparência triste. Eu dei-lhe um preço especial. As coisas ficaram realmente uma bagunça enquanto a minha menina e eu organizamos todas as mercadorias. Não estamos acostumadas a esse tipo de negócio. Tudo ficou em tumulto por um tempinho."

A mente de Riley estava trabalhando, colocando todas essas informações em conjunto.

"Reba Frye estava na loja ao mesmo tempo que este colecionador?" Ela perguntou.

Madeline assentiu. "Bem, sim," ela respondeu. "Agora que você mencionou, ela estava aqui naquele momento." "Você guarda algum registro de seus clientes?" Riley perguntou. "Com informações de contato?" "Sim, eu guardo," disse Madeline.

"Eu preciso ver o nome e o endereço deste homem," disse Riley. "Isso é muito importante." A expressão de Madeline ficou mais cautelosa.

"Você disse que o senador lhe deu este recibo?" Ela perguntou. "De que outro jeito eu o teria conseguido?" Riley perguntou. Madeline assentiu. "Tenho certeza que isso é verdade, mas ainda assim..." Ela fez uma pausa, lutando com sua decisão.

"Ah, eu sinto muito," ela desabafou: "mas eu não posso fazer isso, deixá-la olhar para os registros, eu quero dizer. Você não tem sequer qualquer identificação, os meus clientes merecem privacidade. Não, realmente, sendo o senador ou nenhum senador, eu não posso deixar você olhar para isso sem um mandado. Sinto muito, mas é que simplesmente não parece certo para mim. Peço-lhe mais compreensão.

Riley deu um longo suspiro, enquanto tentava avaliar a situação. Ela não tinha dúvidas de que Bill iria aparecer ali assim que pudesse. Mas em quanto tempo seria? E se a mulher ainda insistisse em ver um mandado? Quanto tempo isso iria demandar? Até onde Riley podia imaginar, a vida de alguém poderia estar por fio naquele exato minuto.

"Eu entendo," disse Riley. "Mas está tudo bem se eu só olhar as coisas daqui um pouco? Eu poderia encontrar algumas pistas."

Madeline assentiu. "Claro que sim," ela falou. "Demore o quanto quiser."

Uma tática distração rapidamente tomou forma na mente de Riley. Ela começou a procurar entre as bonecas enquanto Madeline arrumava alguns dos acessórios. Riley chegou em cima de uma prateleira alta, como se tentasse buscar por uma boneca. Em vez disso, ela conseguiu derrubar uma linha inteira de bonecas da prateleira.

"Oh, Deus." Riley disse. "Eu sinto muito, muito mesmo."

Ela se afastou da forma mais desajeitada que conseguiu. Ela colidiu com uma estante de acessórios e bateu-lhes todo.

"Oh, desculpe-me!" Riley disse novamente.

"Está tudo bem," disse Madeline com um tom um pouco além da irritação. "Apenas - apenas deixe-me cuidar disso."

Madeline começou a pegar a mercadoria espalhada. Riley apressadamente deixou a sala e se dirigiu para a recepção. Olhando para se certificar de que Madeline não estava olhando para ela, Riley mergulhou atrás da mesa. Ela rapidamente avistou um livro de contabilidade em uma prateleira sob a caixa registradora.

Com os dedos trêmulos, Riley folheou o livro. Ela rapidamente encontrou a data, o nome do homem e seu endereço. Ela não teve tempo para escrevê-lo, de modo que ela confiou em sua memória.

Ela tinha acabado de sair de trás do balcão quando Madeline voltou da sala. Madeline parecia genuinamente suspeita agora.

"É realmente melhor você sair," disse ela. "Se você voltar com um mandado, eu serei capaz de ajudar. Eu certamente quero ajudar o senador e sua família de qualquer maneira que eu puder. Eu me sinto terrível sobre tudo o que eles estão passando. Mas agora - bem, eu acho que você deveria sair."

Riley foi direto para a porta da frente.

"Eu-eu entendo," ela gaguejou. "E sinto muito."

Ela correu para seu carro e entrou. Ela pegou o celular e ligou para o número de Bill. "Bill, eu tenho um nome!" Ela quase gritou quando ele atendeu. "Seu nome é Gerald

Cosgrove. E eu tenho o endereço dele."

Lembrando-se cuidadosamente, Riley recitou o endereço para Bill.

"Eu só estou a poucos minutos de distância," disse Bill. "Vou falar seu nome e endereço e ver que tipo de informação o Escritório pode ter. E retorno para você imediatamente."

Bill encerrou o telefonema. Riley se mexia, esperando impacientemente. Ela olhou de volta para a loja e percebeu que Madeline estava em pé perto da janela, olhando para ela com desconfiança. Riley não podia culpar Madeline por sua desconfiança. Seu comportamento tinha sido mais do que um pouco estranho.

O celular de Riley tocou. Ela atendeu.

"Bingo," disse Bill. "O cara é um criminoso sexual registrado. O endereço que você me deu não é longe. Você talvez esteja um pouco mais perto dele do que eu."

"Eu estou dirigindo para lá agora," disse Riley, pisando no acelerador.

"Pelo amor de Deus, Riley, não vá lá sozinha!" Ele gritou de volta. "Espere por mim lá fora. Vou chegar lá o mais rápido que eu puder. Você tá me escutando?"

Riley terminou a chamada e saiu dirigindo. Não, ela não podia esperar.


*


Menos de quinze minutos depois, Riley estacionou em um terreno isolado e empoeirado. A casa móvel de aparência pobre ficava no meio dele. Riley estacionou o carro e saiu.


Um carro velho estava parado na rua, na frente do terreno, mas Riley não viu qualquer sinal do caminhão que a testemunha descreveu após o rapto de Cindy MacKinnon. Claro, Cosgrove poderia muito bem deixá-lo em outro lugar. Ou talvez ele tivesse se livrado dele com medo de ser rastreado.

Riley estremeceu quando viu um par de galpões com portas trancadas na parte de trás do lote. Era ali que ele mantinha as mulheres? Será que ele estava com alguma agora, torturando-a e se preparando para matá-la?

Riley olhou em volta, analisando a área. O terreno não era completamente isolado. Havia algumas casas e casas móveis não muito longe. Mesmo assim, parecia provável que ninguém vivia perto o suficiente para ouvir uma mulher gritando em um daqueles galpões.

Riley puxou sua arma e se aproximou do trailer. Estava montado sobre uma base permanente e parecia que estava lá há muitos anos. Algum tempo atrás, alguém tinha plantado um canteiro de flores ao lado do trailer para torná-lo mais parecido com uma casa regular. Mas agora ele estava invadido por ervas daninhas.

Até o momento, o lugar combinava com suas expectativas. Ela tinha certeza de que ela veio para o lugar certo. "Está tudo acabado para você, seu bastardo," ela murmurou baixinho. "Você nunca vai fazer

outra vítima."

Ao chegar no trailer, ela bateu na porta de metal. "Gerald Cosgrove!" Ela gritou. "Este é o FBI. Você está aí?"

Não houve resposta. Riley foi até uns tijolod próximo, subiu sobre eles e olhou através de pequena janela da porta. O que ela viu dentro gelou até os ossos.

O lugar parecia estar cheio de bonecas. Ela não viu uma alma viva, apenas bonecas de todos os tamanhos e formas.

Riley sacudiu a maçaneta da porta. Estava trancada. Ela bateu na porta novamente. Desta vez, ela ouviu a voz de um homem.

"Vá embora. Deixe-me em paz. Eu não fiz nada."

Riley pensou ter ouvido alguém lutando lá dentro. A porta do trailer foi projetada para abrir para fora, então ela não podia chutá-la para dentro. Ela disparou sua arma para a maçaneta trancada. A porta se abriu.

Riley invadiu a pequena sala principal. Ela estava momentaneamente deslumbrada com o grande número e variedade de bonecas. Devia haver centenas delas. Elas estavam simplesmente em toda a parte - em prateleiras, mesas, e até mesmo no chão. Levou um momento para ela ver um homem entre elas, encolhido no chão contra uma parede divisória.

"Não atire," Cosgrove implorou, com as mãos levantadas e tremendo. "Eu não fiz isso. Não atire em mim."

Riley saltou para ele e puxou-o de pé. Ela o girou e puxou uma mão para a parte de trás das costas. Ela guardou sua arma e tirou suas algemas.

"Dê-me a outra mão," disse ela.

Balançando da cabeça aos pés, ele obedeceu sem hesitação. Riley rapidamente o tinha algemado e sentado desajeitadamente em uma cadeira.

Ele era um homem de aparência macilenta, tinha seus sessenta anos e cabelos grisalhos finos. Ele tinha um visual patético, sentado ali com lágrimas escorrendo pelo rosto. Mas Riley não sentia pena dele. O espetáculo de todas

aquelas bonecas era o suficiente para dizer-lhe que ele era um homem doente e deturpado. Antes que ela pudesse fazer qualquer pergunta, ela ouviu a voz de Bill. "Jesus, Riley. Você que explodiu esta porta?"

Riley se virou e viu Bill entrando no trailer. "Ele não queria abrir," disse Riley.

Bill resmungou baixinho. "Eu pensei que eu lhe havia dito para esperar lá fora," ele falou.

"E eu pensei que você sabia que não devia pensar que eu obedeceria," disse Riley. "De qualquer forma, estou feliz por você estar aqui. Este se parece com o nosso cara."

O homem estava lamentando agora.

"Eu não fiz nada! Não fui eu! Eu já cumpri a minha pena! Deixei tudo para trás!" Riley perguntou Bill, "O que foi que você descobriu sobre ele?"

"Ele pagou pena por tentativa de abuso sexual infantil. Nada desde - até agora."

Isso fazia sentido suficiente para Riley. Aquele pequeno homem monstruoso, sem dúvida, havia mudado para presas maiores - e com maior crueldade.

"Isso foi há anos," disse o homem. "Eu tenho sido bom desde então. Tomo meus remédios. Eu não tenho mais aqueles impulsos. Ficou tudo no passado. Vocês cometeram um erro."

Bill perguntou em um tom cínico, "Então você é um homem inocente, né?" "É isso mesmo. O que quer que vocês acham que eu tenha feito, não fui eu."

"E o que tem todas essas bonecas?" Riley perguntou. Apesar das lágrimas, Cosgrove abriu um sorriso entrecortado.

"Não são lindas?" Disse ele. "Eu as coleciono pouco a pouco. Tive sorte algumas semanas atrás, encontrei esta grande loja em Shellysford. Tantas bonecas e tantos vestidos diferentes. Passei todo o meu cheque da Segurança Social ali mesmo e, em seguida, comprei tantas quanto o meu dinheiro me permitisse pegar."

Bill balançou a cabeça. "Eu com certeza não quero saber o que você faz com elas," disse ele. "Não é o que você pensa," Cosgrove se defendeu. "Eles são como minha família. Minhas únicas amigas. Elas são tudo o que tenho. Eu só ficar em casa com elas. Não é como se eu pudesse me dar o luxo de ir a qualquer lugar. Elas me tratam bem. Não me julgam."

Mais uma vez, Riley ficou preocupada. Será que Cosgrove estaria mantendo alguma vítima agora? "Eu quero verificar os seus galpões lá trás," ela lhe disse.

"Vá em frente," ele respondeu. "Não há nada lá. Eu não tenho nada a esconder. As chaves são bem ali."

Ele balançou a cabeça em direção a um molho de chaves pendurado ao lado da porta derrubada. Riley se aproximou e as agarrou.

"Eu vou lá fora dar uma olhada," disse ela. "Não sem mim, você não vai," exigiu Bill.

Juntos, Bill e Riley usaram as algemas de Bill para prender Cosgrove à sua porta do refrigerador. Em seguida, eles saíram e caminharam ao redor do trailer. Eles abriram o cadeado do primeiro galpão e olharam para dentro. Não havia nada lá, exceto um ancinho.

Bill entrou no galpão e olhou em volta. "Nada," ele concluiu. "Nem mesmo um único sinal de sangue."

Eles caminharam para o próximo galpão, abriram-no e olharam para dentro. Além de um cortador de grama de mão oxidado, o galpão estava completamente vazio.

"Ele deve ter deixado as mulheres em outro lugar," sugeriu Bill.

Bill e Riley voltaram para dentro do trailer. Cosgrove ainda estava sentado lá, olhando miseravelmente para sua família de bonecas. Riley achava aquela uma visão perturbadora - um homem sem vida real de verdade e certamente sem nenhum futuro.

Ainda assim, ele a surpreendia como um enigma. Ela decidiu fazer-lhe algumas perguntas. "Gerald, onde você estava na manhã da última quarta-feira?"

"O quê?" Cosgrove respondeu. "O que você quer dizer?" Eu não sei. Não me lembro de quarta-feira. Aqui, eu acho. Onde mais eu estaria?"

Riley o encarou com uma curiosidade crescente. "Gerald," disse ela, "que dia é hoje?"

Os olhos de Cosgrove corriam à sua volta, em confusão desesperada. "Eu-eu não sei," ele gaguejou.

Riley se perguntou - poderia ser verdade? Ele não sabia que dia era? Ele parecia perfeitamente sincero. Ele certamente não parecia amargo ou com raiva. Ela não via nenhuma resistência nele. Apenas medo e desespero.

Então, ela lembrou a si mesma com firmeza para não deixá-lo enaganá-la. Um verdadeiro psicopata poderia enganar até mesmo, por vezes, um veterano com uma mentira.

Bill desprendeu Cosgrove do refrigerador. Cosgrove ainda estava algemado atrás das costas. Bill soltou, "Gerald Cosgrove, você está preso pelo assassinato de três mulheres..." Bill e Riley o escoltaram grosseiramente para fora do trailer enquanto Bill continuou falando os nomes das vítimas

e os direitos de Cosgrove. Em seguida, eles o empurraram para o carro que Bill estava dirigindo - um veículo do Escritório bem equipado, com uma malha de grades entre os assentos dianteiros e traseiros. Riley e Bill o empurraram para o banco de trás. Eles o prenderam e o algemaram de forma segura. Depois disso, ambos ficaram parados por um momento, sem dizer uma palavra.

"Droga, Riley, você fez isso," Bill murmurou com admiração. "Você pegou o filho da puta, mesmo sem o seu distintivo. O Escritório irá recebê-la de braços abertos."

"Você quer que eu vá com você?" Riley perguntou.

Bill deu de ombros. "Não, eu o tenho sob controle. Vou levá-lo sob custódia. Apenas vá com o seu carro."

Riley decidiu não discutir, se perguntando se Bill ainda nutria algum ressentimento sobre aquela outra noite.

Enquanto ela observava Bill se afastar, Riley queria felicitar-se sobre o seu sucesso, sua redenção. Mas qualquer sentimento de satisfação escapou dela. Algo continuava a incomodá-la. Ela continuava ouvindo as palavras de seu pai.

Bem, você apenas tem que seguir esse seu instinto.

Pouco a pouco, enquanto ela dirigia, Riley começou a perceber alguma coisa. Seu intestino lhe dizia que ela havia acusado o homem errado.


Capítulo 33


Na manhã seguinte, Riley levou April até a escola e, assim que a deixou, aquele sentimento ainda a incomodava. Ele a incomodara durante toda a noite, não a deixava dormir.

Ele é o cara? Ela ficava se perguntando.

Antes de April sair do carro, ela se virou para Riley com uma expressão de preocupação genuína. "Mãe, o que foi?" Ela perguntou.

Riley ficou admirada com a pergunta. Ela e sua filha pareciam ter entrado em uma nova fase de seu relacionamento - muito melhor do que antes. Ainda assim, Riley não estava acostumada a ver April se preocupando com seus sentimentos. Era uma sensação boa, mas estranha.

"Está aparente, né?" Riley disse.

"Com certeza," April respondeu. Ela segurou delicadamente a mão de sua mãe. "Venham. Conte para mim." Riley pensou por um momento. Aquele seu sentimento ainda não era fácil de colocar em palavras.

"Eu..." ela começou, então parou, sem saber o que dizer. "Eu não tenho certeza se prendi o homem certo." Os olhos de April se arregalaram.

"Eu... não sei o que fazer," acrescentou Riley. April tomou um longo suspiro.

"Não duvide de si mesmo, mãe," respondeu April. "Você faz muito isso. E você sempre gostaria de não fazê-lo. Não é isso que você sempre me diz, também?"

April sorriu e Riley sorriu de volta.

"Eu vou me atrasar se eu não for para a aula," April falou. "Nós podemos falar sobre tudo isso mais tarde." Riley beijou sua filha na bochecha, saiu do carro e correu para a escola.

Riley ficou ali sentada, pensando. Ela não foi embora imediatamente. Em vez disso, ela ligou para Bill. "Alguma coisa?" Ela perguntou quando ele atendeu.

Ela ouviu Bill soltar um longo suspiro.

"Cosgrove é um personagem esquisito," disse ele. "Agora ele está um desastre- exausto e deprimido, chora muito. Eu acho que ele provavelmente vai enlouquecer em breve. Mas..."

Bill fez uma pausa. Riley sentiu que ele, também, estava lutando com a dúvida. "Mas o quê?" Riley perguntou.

"Eu não sei, Riley. Ele parece tão desorientado, não tenho certeza se ele sabe mesmo o que está acontecendo. Ele entra e sai da realidade. Às vezes, ele parece não entender por que foi preso. Talvez todos esses medicamentos que ele está tomando está piorando sua situação. Ou talvez seja apenas umas velha e simples psicoce."

As próprias dúvidas de Riley lhe atingiram novamente. "O que ele está dizendo a você?" Ela perguntou.

"Principalmente, ele só fica perguntando por suas bonecas," disse Bill. "Ele está preocupada com elas, como se fossem crianças ou animais de estimação que ele não deveria deixar em casa sozinho. Ele continua dizendo que elas não podem ficar sem ele. Ele é completamente dócil, nem um pouco beligerante. Mas não está nos dando nenhuma informação. Ele não está dizendo nada sobre as mulheres, nem se está com alguma agora."

Riley fixou as palavras de Bill em sua mente por um momento. "Então, o que você acha?" Ela finalmente perguntou. "É ele?" Riley detectou uma crescente frustração na voz de Bill.

"Como poderia não ser? Quero dizer, tudo aponta para ele e mais ninguém. As bonecas, o registro criminal, tudo. Ele estava na loja ao mesmo tempo que ela. O que mais você poderia pedir? Como poderíamos errar?"

Riley não disse nada. Ela não podia argumentar. Mas ela sabia que Bill estava lutando com sua própria intuição.

Em seguida, ela perguntou: "Será que alguém fez uma pesquisa sobre os trabalhadores passados de Madeline?"

"Sim," disse Bill. "Mas isso não levou a lugar algum. Madeline sempre contrata meninas do ensino médio para trabalhar no caixa. Ela vem fazendo isso praticamente desde que começou seu próprio negócio."

Riley gemeu de desânimo. Quando eles iriam conseguir uma pausa naquele caso? "De qualquer forma," Bill disse, "um psicólogo do Escritório vai entrevistar Cosgrove hoje. Talvez ele possa

obter alguma ideia, nos dizer com o que estamos lidando." "Tudo bem," respondeu Riley. "Mantenha-me informada."

Ela desligou o telefonema. O motor de seu carro estava ligado, mas ela ainda não tinha dirigido para longe da escola. Para onde ela estava indo? Se Newbrough realmente estivesse tentando integrá-la, ele não tinha conseguido tal feito ainda. Ela ainda não tinha um distintivo - nem um emprego.

Eu poderia muito bem ir para casa, ela pensou.

Mas assim que ela começou a dirigir, as palavras de seu pai voltaram correndo de volta.

Bem, você apenas tem que seguir esse seu instinto.

Agora, sua intuição estava lhe dizendo alto e em bom som que ela precisava voltar para Shellysford. Ela não sabia exatamente por que, mas ela só tinha que fazê-lo.


*


O sino acima da porta loja de moda tocou quando Riley entrou. Ela não viu clientes. Madeline desviou o olhar de seu trabalho na recepção do hotel e franziu a testa. Riley podia ver que a dona da loja não estava feliz de vê-la novamente.

"Madeline, eu sinto muito sobre ontem," disse Riley, caminhando para a mesa. "Eu sou tão desajeitado, e eu sinto muito. Espero que eu realmente não quebrado nada."

Madeline cruzou os braços e olhou para Riley. "O que você quer desta vez?" Ela perguntou.

"Eu ainda estou tendo dificuldades com esse caso," disse Riley. "E preciso de sua ajuda." Madeline não respondeu por alguns segundos.

"Eu ainda não sei quem você é, ou mesmo se você é do FBI," disse ela.

"Eu sei, e não a culpo por não confiar em mim," Riley pediu. "Mas eu tinha o recibo de Reba Frye, lembra? Eu só poderia ter conseguido aquilo de seu pai. Ele realmente me enviou aqui. Você sabe que é verdade."

Madeline balançou a cabeça cautelosamente.

"Bem, eu acho que isso deve significar alguma coisa. O que você quer?

"Deixe-me olhar para a coleção de bonecas de novo," disse Riley. "Prometo não fazer uma bagunça agora."

"Tudo bem," Madeline respondeu. "Mas eu não vou deixar você sozinha." "Isso é justo," Riley falou.

Madeline foi para o fundo da loja e abriu as portas dobráveis. Enquanto Riley se movia entre as bonecas e acessórios, Madeline ficou parada na porta olhando para ela como um falcão. Riley compreendia as dúvidas da mulher, mas aquele controlo não era bom para sua concentração - especialmente porque ela realmente não sabia o que deveria estar procurando.

Foi então que o sino acima da porta da frente tocou. Três clientes bem barulhentos entraram na loja.

"Ah, meu irmão," disse Madeline. Ela correu de volta para a loja de vestidos para atender seus clientes. Riley tinha as bonecas só para ela, pelo menos por um momento.

Ela os estudou de perto. Algumas estavam de pé, mas outras estavam sentadas. Todas as bonecas foram vestidas com vestidos e batas. Mas mesmo com roupas, as bonecas sentadas ficavam exatamente na mesma pose que as vítimas despidas do assassinato, com suas pernas abertas rigidamente. O assassino tinha, obviamente, tirado sua inspiração a partir daquele tipo de boneca.

Mas isso não era o suficiente para Riley ir adiante. Tinha que haver alguma outra pista à espreita ali. Os olhos de Riley cairam sobre uma fileira de livros ilustrados em uma prateleira mais baixa. Ela se abaixou e começou a puxá-los para fora da prateleira um por um. Os livros eram de histórias de aventura belamente ilustradas sobre meninas que pareciam exatamente com as bonecas. As bonecas e as meninas nas capas até usavam os mesmos vestidos. Riley percebeu que os livros e as bonecas foram originalmente feitos para serem vendidos em conjunto como um kit.

Riley congelou com a visão da capa de um dos livros. A menina tinha longos cabelos loiros e olhos azuis brilhantes escancarados. Seu vestido de baile era rosa e branco e tinha algumas rosas cobrindo sua saia. Ela tinha uma fita rosa em seu cabelo. O livro se chamava Um Grande Baile para Belle do Sul.

A pele de Riley se arrepiou quando ela olhou mais de perto para o rosto da menina. Seus olhos eram azul brilhantes, extremamente escancarados, com enormes cílios negros. Seus lábios, em forma de um sorriso exagerado, eram grossos, rosados e brilhantes. Não podia haver dúvidas a este respeito. Riley tinha certeza que o assassino estava obcecado com aquela mesma imagem.

Naquele momento, a campainha tocou novamente quando os três clientes saíram da loja. Madeline trotou de volta para a sala, visivelmente aliviada por Riley não ter causado nenhum dano. Riley mostrou-lhe o livro.

"Madeline, você tem a boneca que está neste livro?" Ela perguntou. Madeline olhou para a capa, em seguida, examinou as prateleiras.

"Bem, eu devo ter tido algumas delas em um momento ou outro," disse ela. "Não estou vendo nenhuma delas agora." Ela pensou por um momento, em seguida, acrescentou: "Agora que estou pensando, eu vendi a último dessas há muito tempo."

Riley mal conseguia manter a voz firme.

"Madeline, eu sei que você não quer fazer isso. Mas você tem que me ajudar a encontrar os nomes das pessoas que poderiam ter comprado esta boneca. Eu não sei nem por onde começar para lhe contar o quanto isso é importante."

Madeline parecia simpatizar com a agitação de Riley.

"Desculpe-me, mas eu não posso," ela respondeu. "Não é que eu não quero, mas eu não posso. Já se passaram dez ou quinze anos. Até o meu livro de registros não chega tão longe."

O ânimo de Riley caiu. Outro beco sem saída. Ela tinha chegado o mais longe que conseguiu com aquilo. Ir até aquela loja havia sido uma perda de tempo.

Riley se virou para ir embora. Ela cruzou a loja, ao abrir a porta e quando o ar fresco bateu nela, algo lhe ocorreu. O cheiro. O ar fresco do lado de fora a fez perceber o quão velho o ar estava na parte de dentro. Não velho, mas... pungente. Parecia fora de lugar em uma loja de babados femininos como aquele. O que era aquilo?

Em seguida, Riley percebeu. Amoníaco. Mas o que aquilo significava?

Siga seu intestino, Riley.

No meio do caminho para fora da porta, ela parou e se virou, olhando para Madeline. "Você esfregou os pisos hoje?" Ela perguntou.

Madeline balançou a cabeça, perplexa.

"Eu uso uma agência de trabalho temporário," disse ela. "Eles me enviam um faxineiro." O coração de Riley bateu mais rápido.

"Um faxineiro?" Ela perguntou, sua voz quase um sussurro. Madeline assentiu.

"Ele vem durante a manhã. Nem todos os dias. Dirk é o seu nome."

Dirk. O coração de Riley bateu e sua pele ficou fria. "Dirk o quê?" Ela perguntou.

Madeline deu de ombros.

"Acho que eu não sei o sobrenome dele," respondeu ela. "Eu não assino seus cheques. A agência de trabalho temporário deve saber, mas é uma empresa bastante desleixada, para ser sincera. Dirk não é muito confiável, se você quer saber a verdade. ”

Riley respirações lentamente para acalmar seus nervos. "Ele esteve aqui esta manhã?" Ela perguntou. Madeline assentiu em silêncio.

Riley se aproximou dela, convocando toda a sua intensidade.

"Madeline," ela pediu, "o que quer que você faça, não deixe que este homem volte à sua loja. Nunca mais."

Madeline cambaleou para trás com o choque. "Você quer dizer que ele-?"

"Ele é perigoso. Extremamente perigoso. E eu tenho que encontrá-lo imediatamente. Você tem o seu número de telefone? Você tem alguma ideia de onde ele mora? "

"Não, você teria que perguntar à agência de trabalho temporário," disse Madeline com uma voz temerosa. "Eles vão ter todas as suas informações. Aqui, eu vou dar-lhe um cartão de visita."

Madeline remexeu em sua mesa e encontrou um cartão da Agência Staffing Miller. Ela entregou a Riley.

"Obrigada," Riley agradeceu com um suspiro. "Muito obrigada."

Sem outra palavra, Riley correu para fora da loja, entrou no carro e tentou ligar para o escritório. O telefone tocou e tocou. Não havia correio de voz.

Ela fez uma nota mental do endereço e começou a dirigir.


*


A Agência Staffing Miller ficava a uma milha de distância, do outro lado de Shellysford. Situada num edifício de tijolos, parecia que estava em funcionamento há muitos anos.

Quando Riley entrou, ela viu que era uma empresa decididamente antiquada que não tinha acompanhado o andar do tempo. Havia apenas um computador quase obsoleto em vista. O lugar estava bem lotado, com vários trabalhadores pretensiosos preenchendo formulários de candidatura em uma longa mesa.

Três outras pessoas - clientes, aparentemente - se amontoavam ao redor da recepção. Eles estavam reclamando em voz alta e de uma só vez sobre os problemas que estavam tendo com os funcionários da agência.

Dois homens de cabelos compridos trabalhavam na recepção, afastando queixosos e tentando atender todos os telefonemas. Aparentavam ser uns preguiçosos de uns vinte e tantos anos e não pareciam estar a administrando as coisas muito bem.

Riley conseguiu abrir caminho para a frente, onde ela pegou um dos jovens homens entre telefonemas. Seu crachá dizia "Melvin".

"Eu sou o agente Riley Paige, FBI," ela anunciou, na esperança de que, na confusão, Melvin não iria pedir para ver seu distintivo. "Estou aqui em uma investigação de assassinato. Você é o gerente?"

Melvin deu de ombros. "Acho que sim."

Pela sua expressão vaga, Riley imaginou que ou ele estava chapado ou não era lá muito inteligente, ou possivelmente ambos. Pelo menos ele não parecia estar preocupado em ver alguma identificação.

"Eu estou procurando pelo homem que você tem trabalhando com Madeline," disse ela. "Um faxineiro. Seu primeiro nome é Dirk. Madeline aparentemente não sabe seu sobrenome."

Melvin murmurou para si mesmo, "Dirk, Dirk, Dirk... Ah, sim. Agora eu me lembro dele. "Dirk, o idiota, nós costumávamos chamá-lo." Chamando o outro jovem, ele perguntou: "Ei, Randy, o que aconteceu com Dirk, o idiota?"

"Nós o demitimos," Randy respondeu. "Ele se atrasava para aparecer nos trabalhos, isso quando ele aparecia. Um verdadeiro chato."

"Isso não pode estar certo," disse Riley. "Madeline disse que ele ainda está trabalhando para ela. Ele esteve lá esta manhã."

Melvin parecia intrigado agora.

"Tenho certeza de que nós o demitimos," disse ele. Ele sentou-se em frente ao computador antigo e começou algum tipo de pesquisa. "Sim, temos certeza de que o mandamos embora, cerca de três semanas atrás."

Melvin olhou para a tela, mais confuso do que antes.

"Ei, isso é estranho," ele comentou. "Madeline continua enviando cheques, mesmo que ele não esteja mais trabalhando. Alguém deveria dizer a ela para parar de fazer isso. Ela está gastando um monte de dinheiro à toa."

A situação estava se tornando mais clara para Riley. Apesar de ser demitido e não ser pago, Dirk ainda continuava indo para o trabalho na loja de Madeline. Ele tinha suas próprias razões para querer trabalhar lá - razões sinistras.

"Qual é o sobrenome dele?" Riley perguntou.

Os olhos de Melvin vagaram pela tela do computador. Ele estava aparentemente olhando para os registros de ex empregados de Dirk.

"É Monroe," disse Melvin. "O que mais você quer saber?"

Riley ficou aliviada por Melvin não estar sendo muito cuidadoso em compartilhar o que deveria ser informação confidencial.

"Preciso de seu endereço e número de telefone," Riley pediu.

"Ele não nos deu um número de telefone," respondeu Melvin, ainda olhando para a tela. "Eu tenho um endereço, no entanto. Número quinze-vinte na Rua Lynn."

A esta altura, Randy estava interessado na conversa. Ele estava olhando por cima do ombro de Melvin para a tela do computador.

"Espere," disse Randy. "Esse endereço é completamente falso. Os números de casa na Rua de Lynn não chegam tão alto."

Riley não estava surpresa. Dirk Monroe, obviamente, não queria que ninguém soubesse onde ele morava. "Que tal um número da Segurança Social?" Ela perguntou.

"Eu tenho isso," disse Melvin. Ele escreveu o número em um pedaço de papel e entregou a Riley.

"Obrigada," disse Riley. Ela pegou o papel e foi embora. Assim que ela pôs os pés fora, ela ligou para Bill.

"Ei, Riley", disse Bill ao atender. "Eu gostaria de lhe dar boas notícias, mas o nosso psicólogo entrevistou Cosgrove e está convencido de que o homem não é capaz de matar ninguém, muito menos quatro mulheres. Ele disse-"

"Bill," ela o interrompeu. "Eu tenho um nome - Dirk Monroe. Ele é o nosso cara, tenho certeza disso. Eu não sei onde ele mora. Você pode procurar seu registro social? Agora?"

Bill pegou o número e colocou Riley em espera. Riley ficou andando para cima e para baixo da calçada enquanto esperava ansiosamente. Finalmente Bill voltou na linha.

"Eu tenho o endereço. É uma fazenda a cerca de 30 milhas a oeste de Shellysford. Uma estrada rural." Bill leu o seu endereço.

"Estou indo," disse Riley.

Bill estalou.

"Riley, do que você está falando? Deixe-me arranjar algum reforço. Este cara é perigoso." Riley sentiu todo o seu corpo formigar com uma descarga de adrenalina.

"Não discuta comigo, Bill," disse ela. "Você deveria saber muito bem disso." Riley desligou sem se despedir. Em seguida, ela já estava dirigindo.


Capítulo 34


Quando a fazendo apareceu, Riley sentiu-se abalada de uma maneira que ela não esperava. Era como se ela tivesse sido transporta para uma pintura a óleo de uma América rural ideal. A casa branca de estrutura de madeira estava instalada confortavelmente em um pequeno vale. A casa era velha, mas, obviamente, estava em condições decentes.

Algumas dependências estavam espalhadas nas terras próximas. Não estavam em tão bom estado de conservação, como a casa. Nem o grande celeiro, que parecia prestes a entrar em colapso. Mas essas estruturas pareciam ainda mais encantadoras por causa de sua dilapidação.

Riley estacionou perto da casa. Ela verificou sua arma em seu coldre e saiu do carro. Ela respirou o limpo ar do campo.

Não deveria ser um local tão adorável aqui, Riley pensou. E, no entanto, sabia que fazia todo o sentido. Desde que ela tinha falado com seu pai, ela mal percebeu que a toca do assassino poderia muito bem ser um lugar de beleza.

Ainda assim, havia uma espécie de perigo ali para o qual ela não tinha se preparado. Era o perigo de ser embalada pelo puro charme de seu entorno, de baixar sua guarda. Ela teve de lembrar a si mesma que um mal hediondo convivia com aquela beleza. Ela sabia que estava prestes a encontrar-se cara a cara com o verdadeiro horror do lugar. Mas ela não tinha ideia de onde ela o encontraria.

Ela se virou e olhou à sua volta. Ela não viu nenhum caminhão no local. Ou Dirk estava dirigindo em algum lugar, ou o caminhão estava dentro de um dos edifícios ou no celeiro. O próprio homem poderia estar em qualquer lugar, é claro, em uma das dependências, possivelmente. Mas ela decidiu verificar a casa primeiro.

Um ruído a assustou, e sua visão periférica pegou uma onda de um movimento rápido. Mas era apenas um punhado de galinhas soltas. Várias galinhas estavam bicando o chão nas proximidades. Nada mais se movimentava com exceção da grama e das folhas das árvores sob a suave brisa que soprava através delas. Sentia-se completamente sozinha.

Riley se aproximou da casa da fazenda. Quando chegou aos degraus, ela pegou sua arma, em seguida, caminhou até a varanda. Ela bateu na porta da frente. Não houve resposta. Ela bateu novamente.

"Eu tenho uma entrega para Dirk Monroe," ela gritou. "Eu preciso de uma assinatura." Ainda sem resposta.

Riley saiu da varanda e começou a circular a casa. As janelas eram muito altas para ela poder ver, e ela descobriu que a porta de trás também estava trancada.

Ela se voltou para a porta da frente e bateu novamente. Ainda havia apenas silêncio. A fechadura da porta era de um tipo simples e antigo. Ela carregava um conjunto para abrir fechaduras em sua bolsa apenas para tais situações. Ela sabia que o gancho de uma pequena chave inglesa plana resolveria.

Ela enfiou a arma de volta no coldre e encontrou a chave inglesa. Ela a inseriu na fechadura, em seguida, apalpou e torceu-o até que a fechadura rodasse. Quando ela virou a maçaneta, a porta se abriu. Pegou a arma novamente e ela entrou.

O interior tinha as mesmas características pitorescas que a paisagem do lado de fora. Era uma pequena casa de interior perfeita, extremamente limpa e arrumada. Havia duas grandes cadeiras macias na sala de estar com peças de malhas brancas nos braços e costas.

A sala lhe dava a sensação de que os amigáveis membros da família poderiam sair a qualquer momento para recebê-la, para convidá-la a se sentir em casa. Mas, quando Riley estudou seu entorno, aquele sentimento diminuiu. Aquela casa realmente não parecia como se tivesse moradores. Tudo era apenas muito arrumado.

Lembrou-se das palavras do pai.

Ele quer começar tudo de novo. Ele quer percorrer todo o caminho de volta para o começo.

Isso era exatamente o que Dirk estava tentando fazer ali. Mas ele estava falhando, porque a sua vida, de alguma forma, fora irremediavelmente imperfeita desde o início. Certamente ele sabia disso e era atormentada por esta ideia.

Em vez de encontrar o seu caminho de volta para uma infância mais feliz, ele tinha preso a si mesmo em um mundo irreal - uma exibição que poderia estar em algum museu histórico. Um bordado ponto-cruz enquadrado estava pendurado na parede da sala de estar. Riley deu um passo mais perto para olhar para ele.

Os pequenos x costurados formavam a imagem de uma mulher em um vestido longo e segurando um guarda-sol. Abaixo dela haviam palavras bordadas...

A Belle do sul é sempre graciosa, educada, gentil...

A lista continuava, mas Riley não se preocupou em ler o resto. Ela entendeu a mensagem que importava para ela. O bordado não era mais que pensamentos positivos. Obviamente, aquela fazenda nunca fora uma plantação. Nenhuma Belle do Sul havia vivido ali, bebericando chá doce e dando ordens a servos.

Ainda assim, a fantasia devia ser querida por alguém que viveu ali, ou tinha vivido no passado. Talvez alguém que tinha comprado uma boneca - a boneca que representava a Belle do sul em um livro de histórias.

Atenta a qualquer som, Riley moveu-se calmamente pelo corredor. De um lado, uma porta em arco abria para uma sala de jantar. Sua sensação de estar em um tempo passado ficou ainda mais forte. A luz do sol atravessava as cortinas de renda que pairavam sobre as janelas. Uma mesa e cadeiras estavam posicionadas perfeitamente, como se esperassem uma família para jantar. Mas, como todo o resto, a sala de jantar parecia que não era utilizada há muito tempo.

Uma grande cozinha à moda antiga estava do outro lado do corredor. Ali, também, tudo estava em seu devido lugar, não havia nenhum sinal de uso recente.

À sua frente, no final do corredor, havia uma porta fechada. Quando Riley andou em sua direção, um conjunto de fotografias emolduradas na parede chamou sua atenção. Ela as examinou ao se aproximar. Elas pareciam ser fotos de famílias comuns, algumas pretas e brancas, algumas coloridas. Elas eram de um tempo antigo - talvez há mais de um século.

Eram exatamente o tipo de imagens que se poderia encontrar em qualquer casa - pais, avós idosos, crianças e a mesa da sala de jantar farta com festas de celebração. Muitas das imagens estavam desbotadas.

Uma figura que não parecia ter mais do que um par de décadas de idade parecia ser um aluno de escola pitoresca - um estudante limpo com um novo corte de cabelo e um sorriso forçado e duro. A imagem à direita era uma mulher que abraçava uma menina em um vestido de babados.

Então, com um choque ligeiro, Riley percebeu que a menina e o menino tinham exatamente o mesmo rosto. Eles eram, na verdade, a mesma criança. A menina com a mulher não era uma menina exata, era o estudante usando um vestido e uma peruca. Riley se estremeceu. A expressão no rosto do garoto fantasiado lhe dizia que não era o caso de uma inofensiva fantasia ou uma brincadeira confortável. Nesta fotografia, o sorriso da criança estava angustiado, miserável - até com raiva e ódio.

A última foto mostrava o menino com cerca de dez anos de idade. Ele estava segurando uma boneca. A mulher estava atrás do menino, sorrindo um sorriso que brilhava com uma alegria inteiramente equivocada, incompreensível. Riley se inclinou mais perto para ver a boneca e engasgou.

Lá estava ela - uma boneca que combinava com a imagem do livro na loja. Era exatamente a mesma, com longos cabelos loiros, olhos azuis brilhantes, rosas e fitas cor de rosa. Anos atrás, a mulher tinha dado ao menino aquela boneca. Ela deve tê-la forçado para ele pegá-la, esperando que ele fosse amá-la e adorá-la. A expressão de tortura no rosto do garoto contava a história real. Ele não conseguiu fingir um sorriso desta

vez. Seu rosto estava atado com nojo e auto-aversão. A imagem capturou o momento em que algo se partiu por dentro dele, para nunca mais ser consertado de novo. Ali mesmo, a imagem da boneca se instalou na imaginação do jovem infeliz. Ele não conseguiria nunca mais removê-la. Era uma imagem que ele estava recriando com mulheres mortas.

Riley se afastou das imagens. Ela se moveu em direção à porta fechada no final do corredor. Ela engoliu em seco.

É aqui, ela pensou.

Ela tinha certeza disso. Aquela porta era a barreira entre a beleza irreal, artificial e morta daquela casa de campo e a realidade feia e perversa que penetrava por trás dela. Aquela sala era onde a máscara falsa da normalidade feliz caia de uma vez por todas.

Segurando a arma em sua mão direita, ela abriu a porta com a mão esquerda. O quarto estava escuro, mas, mesmo na penumbra do local, ela podia ver que era completamente o contrário do resto da casa. O chão estava cheio de detritos.

Ela encontrou um interruptor de luz ao lado da porta e o acendeu. A única lâmpada do teto revelou um pesadelo espalhando-se diante dela. A primeira coisa que ela registrou em sua mente era um cano de metal no meio do espaço, aparafusado do chão e ao teto. Manchas de sangue no chão marcavam o que aconteceu lá. Os gritos ignorados de mulheres ecoaram em sua mente, quase esmagando-a.

Ninguém estava dentro da sala. Riley firmou-se e deu um passo adiante. As janelas estavam fechadas com tábuas e nenhuma luz solar entrava. As paredes eram rosas, com imagens do livro de histórias pintadas sobre elas. Mas elas estavam desfiguradas por manchas horrendas.

Pedaços de mobiliários de crianças - cadeiras e bancos de babados para uma jovem garota - estavam derrubados e quebrados. Pedaços de bonecas haviam sido jogados em todos os lugares - membros amputados e cabeças e pedaços de cabelos. Perucas de boneca pequenas estavam pregadas nas paredes.

Com o coração batendo com medo, com raiva, lembrando-se muito bem de seu próprio cativeiro, Riley entrou mais ainda naquela sala, hipnotizada pela cena, pela fúria, pela agonia que ela sentia ali.

Houve um ruído súbito atrás dela e, de repente, as luzes se apagaram.

Riley, em pânico, virou-se para disparar a sua arma, mas perdeu sua chance. Algo pesado e duro atingiu seu braço em um golpe agonizante. Sua arma caiu deslizando na escuridão.

Riley tentou esquivar o próximo golpe, mas um rígido e pesado, objeto passou atrás de sua cabeça, estalando ruidosamente contra seu crânio. Ela caiu e correu em direção a um canto escuro da sala.

O golpe continuou ecoando entre as orelhas. Brilhos da concussão cintilaram na escuridão de sua mente. Ela tinha sido ferida e sabia disso. Ela se esforçou para se agarrar à sua consciência, mas era como segurar água entre os dedos.

Lá estava ele de novo - com aquela chama branca sibilante se destacando na escuridão. Aos poucos, a luz cintilante revelou quem a estava carregando.

Desta vez era a mãe de Riley. Ela estava de pé bem em frente de Riley, o ferimento fatal da bala sangrava bem no meio do peito, seu rosto estava pálido e ela parecia morta. Mas quando sua mãe falou, foi com a voz do pai de Riley.

"Menina, você está fazendo tudo errado."

Riley foi dominada por uma vertigem nauseante. Tudo estava girando. Seu mundo não fazia sentido nenhum. O que sua mãe estava fazendo, segurando aquele terrível instrumento de tortura? Por que ela estava falando com a voz de seu pai?

Riley gritou: "Por que você não é Peterson?"

De repente, a chama se apagou, deixando vestígios remanescentes da única luz fantasma. Mais uma vez, ela ouviu a voz de seu pai rosnando naquela escuridão completa.

"Esse é o seu problema. Você quer assumir todo o mal no mundo, tudo ao mesmo tempo. Você tem que fazer a sua escolha. Um monstro de cada vez."

Com sua cabeça ainda girando, Riley tentou compreender aquela mensagem. "Um monstro de cada vez," ela murmurou.

Sua consciência vinha e ia, insultando-a com rajadas de lucidez. Ela viu que a porta estava entreaberta e a silhueta de um homem aparecia contra a penumbra do corredor escuro. Ela não podia ver seu rosto.

Ele segurava alguma coisa na mão - um pé de cabra, ela agora percebia. Ele parecia estar usando meias em seus pés. Ele devia estar em algum lugar da casa o tempo todo, esperando o momento certo para vir e pegá-la de surpresa.

Seu braço e sua cabeça doíam terrivelmente. Ela sentiu um líquido quente e pegajoso na lateral do seu crânio. Ela estava sangrando, e sangrando muito. Ela lutou contra a inconsciência.

Ouviu o homem rir, o riso não era uma voz familiar. Seus pensamentos tornaram-se irremediavelmente confusos. Não era a voz de Peterson, tão cruel e zombeteira na escuridão. E onde estava sua tocha? Por que era tudo tão diferente?

Ela tateou em sua mente procurando a verdade em sua situação.

Não é Peterson, disse a si mesma. É Dirk Monroe.

Ela sussurrou em voz alta para si mesma: "Um monstro de cada vez." Este monstro estava tentando matá-la.

Ela procurou pelo chão. Onde estava sua arma?

O homem se aproximou dela, balançando o pé de cabra com uma mão, cortando o ar com ele. Riley estava a meio caminho de se levantar até ele lhe dar um golpe em seu ombro e a derrubar novamente. Ela se preparou para mais um golpe, mas, em seguida, ouviu o som da alavanca caindo no chão.

Algo estava enrolado ao redor seu pé esquerdo, puxando-a. Ele tinha colocado uma corda em torno desse pé e a arrastou lentamente pelo chão, em direção ao cano no meio da sala. Era o lugar onde quatro mulheres já sofreram e morreram.

Riley tentou sondar seus pensamentos. Ele não tinha olhado para ela, nem a escolhido. Ele nunca a vira comprar aquelas bonecas que ele tanto odiava. Mesmo assim, ele pretendia tirar proveito de sua chegada. Ele iria para fazê-la sua próxima vítima. Ele estava determinado em fazê-la sofrer. Ela ia morrer de dor.

Mesmo assim, Riley pegou um vislumbre de iminente justiça. Bill e uma equipe iriam chegar ali em breve. O que Dirk faria quando o FBI invadisse sua casa? Ele iria matá-la, é claro, e instantaneamente. Ele nunca permitiria que ela fosse resgatada. Mas ele estava condenado à mesma coisa.

Mas por que Riley tinha que ser sua última vítima? Ela viu os rostos das pessoas que ela amava - April, Bill - até seu pai. Agora Riley sabia que ela compartilhava com ele um vínculo teimoso de uma sabedoria sombria, uma compreensão do mal sem limites no mundo. Ela pensou no trabalho que ela fazia diariamente e, lentamente, uma nova determinação apareceu. Ela não iria deixá-lo dominá-la tão facilmente. Ela morreria em seus próprios termos, não nos dele.

Ela tateou o chão com a mão. Ela encontrou algo sólido, não parte de uma boneca, mas algo duro e afiado. Ela agarrou o cabo da faca. Era certamente a mesma faca que ele usou nas quatro mulheres.

O tempo desacelerou para um arrastar dormente. Ela percebeu que Dirk tinha acabado de passar a corda ao redor do tubo central. Agora ele estava puxando seu pé contra ele.

Ele estava de costas para ela, certo de que ela já estava derrotada. Sua mente estava ocupada em amarrá-la ao cano - e o que fazer com ela em seguida.

Sua distração deu a Riley um momento, e apenas um momento, antes de ele se virar em sua direção. Ainda de bruços no chão, ela puxou seu corpo para uma posição sentada. Ele percebeu esta movimentação e começou a se virar, mas ela foi mais rápida. Ela colocou seu pé direito livre debaixo dela e, em seguida, levantou-se para encará-lo.

Riley mergulhou a faca em seu estômago, em seguida, tirou-a e esfaqueou-o uma e outra vez. Ela o ouviu gritar e gemer. E continuou esfaqueando-o loucamente até ela desmaiar.


Capítulo 35


Riley abriu os olhos. Seu corpo inteiro estava com dor, especialmente seu ombro e sua cabeça. O rosto de Bill ficou nítido em sua visão. Ela estava sonhando?

"Bill?" Ela perguntou.

Ele sorriu, parecendo aliviada. Ele estava segurando algo suave contra sua cabeça, estancando o fluxo de sangue.

"Bem-vinda de volta," disse ele.

Riley percebeu que ela ainda estava na sala, com o cano nas proximidades. Ela foi tomado por um momento de pânico.

"Onde está Dirk?" Ela perguntou.

"Morto," disse Bill. "Você deu a ele exatamente o que ele merecia." Riley ainda se perguntou se ela estava sonhando.

"Eu tenho que ver," ela engasgou. Ela conseguiu virar a cabeça. Ela viu Dirk estendido sobre o chão em uma poça de seu próprio sangue. De olhos abertos. Sem piscar.

Bill virou a cabeça para trás em direção a ele.

"Não tente se mover," disse ele. "Você está bem ferida. Vai ficar bem. Mas você perdeu muito sangue."

Um espasmo de tonturas e náuseas lhe diziam que Bill estava certo. Ela conseguiu sussurrar cinco palavras antes de perder a consciência novamente.

"Um monstro de cada vez."


Capítulo 36


O agente especial Brent Meredith fechou o grosso envelope pardo recheado com fotografias e relatórios escritos com uma nota de finalidade satisfeita. Riley sentia a mesma satisfação e ela tinha certeza de que Bill e Flores também. Eles estavam todos sentados à mesa da sala de conferências da Unidade de Análise Comportamental. Se apenas Riley não estivesse enfaixada e machucada, o momento teria sido perfeito.

"Então, a mãe de Dirk queria uma filha, e não um filho," disse Meredith. "Ela tentou transformá-lo em uma Belle do Sul. Isso era provavelmente apenas a ponta do iceberg. Deus sabe o que mais ele passou quando era criança."

Bill recostou-se na cadeira.

"Não vamos dar a ele muita simpatia," ele falou. "Nem todo mundo com uma infância ruim se transforma em um assassino sádico. Ele fez suas próprias escolhas."

Meredith e Flores concordaram com a cabeça.

"Mas alguém sabe o que aconteceu com a mãe de Dirk?" Riley perguntou.

"Os registros mostram que ela morreu há cinco anos," disse Flores. "Seu pai desapareceu muito antes disso, quando Dirk ainda era um bebê."

Um silêncio se instalou sobre o grupo. Riley entendia exatamente o que isso significava. Ela estava na presença de três pessoas cujas vidas eram dedicadas a destruir o mal. Mesmo em sua satisfação, o espectro do mal e muito mais trabalho a fazer pairavam sobre todos eles. Ele nunca iria acabar. Não para eles.

A porta se abriu e Carl Walder entrou. Ele era todo sorrisos.

"Bom trabalho, todo mundo," disse ele. Ele deslizou a arma e o distintivo de Riley sobre a mesa em direção a ela. "Estes pertencem a você."

Riley sorriu um sorriso irônico. Walder não ia pedir desculpas, muito menos reconhecer qualquer culpa da sua parte. Mas tudo bem. Riley não sabia como ela responder se ele real reagiria se ele pedisse desculpas. Provavelmente não graciosamente.

"Aliás, Riley," disse Walder. "O senador me ligou esta manhã, ele lhe enviou seus melhores votos para a sua recuperação e seu agradecimento. Ele parece pensar o mundo de você."

Riley agora teve que abafar seu divertimento. Aquela ligação, ela tinha certeza, era exatamente o motivo de Walder estar devolvendo sua arma e seu distintivo. Lembrou-se de uma das últimas coisas que Newbroug lhe dissera.

"Você não é o cachorrinho de ninguém."

A mesma coisa nunca poderia ser dita sobre Carl Walder.

"Venha para o meu escritório em breve," disse Walder. "Vamos falar sobre promoção. Um cargo administrativo, talvez. Você merece isso."

Sem outra palavra, Walder deixou o escritório. Riley ouviu seus companheiros respirarem um suspiro de alívio compartilhado que ele foi embora tão rapidamente.

"Você devia pensar sobre isso, Riley," disse Meredith. Riley riu.

"Você pode realmente me ver em um trabalho administrativo?" Meredith deu de ombros.

"Você mais do que pagou suas dívidas. Você já fez mais trabalhos de campo árduos do que a maioria dos agentes fará na vida. Talvez você devesse virar um instrutor. Você seria ótima para os agentes de formação, com a sua experiência e suas ideias. Mas o que você acha?

Riley pensou sobre o assunto. O que ela realmente tinha para ensinar os jovens agentes? Seus instintos eram tudo o que ela tinha e, tanto quanto sabia, a intuição não poderia ser ensinada. Não havia maneira de treinar as pessoas a seguirem o seu intestino. Ou eles o tinham ou não.

Além disso, será que ela realmente desejava que alguém tivesse seus próprios instintos? Ela vivia muito no terror de seus próprios pensamentos, assombrada por sua inquietante capacidade de prender uma mente do mal. Era uma coisa difícil de se conviver.

"Obrigada," agradeceu Riley, "mas eu gosto exatamente de onde eu estou."

Meredith assentiu e se levantou da cadeira. "Bem, vamos encerrar este dia. Descansem um pouco, pessoal." A reunião terminou, e Riley e Bill encontraram-se andando pelo corredor juntos em silêncio. Eles deixaram o prédio e sentaram-se juntos em um banco do lado de fora. Minutos passaram.

Nenhum deles parecia saber o que dizer. Havia muito a dizer. "Bill," ela perguntou timidamente, "você acha que podemos ser parceiros de novo?" Depois de uma pausa, Bill respondeu com outra pergunta: "O que você acha?"

Eles se virou e olhou nos olhos um do outro. Riley podia ver uma dor persistente no rosto de Bill. A ferida que tinha infligido com seu telefonema bêbado ainda não tinha se curado. Levaria um bom tempo.

Mas agora ela sabia algo mais - algo que era verdadeiro há muito tempo - mas que ela nunca se permitiu admitir antes. Seu vínculo com Bill era intenso e poderoso, e ele quase certamente sentia o mesmo. Não era mais um segredo que eles poderiam manter de si mesmos. Não havia como eles voltarem a ser o que eram antes.

A parceria estava acabada. Ambos sabiam disso. Nenhum deles tinha que falar isso em voz alta. "Vá para casa, Bill," Riley disse gentilmente. "Tente colocar as coisas de volta junto com sua esposa. Você tem

que pensar nos seus filhos."

"Eu vou," disse Bill. "Mas eu espero que eu não vá perdê-lo - a sua amizade, quero dizer." Riley deu uns tapinhas em sua mão e sorriu.

"Não há nenhuma chance de isso acontecer," disse ela.

Ambos se levantaram do banco e foram para seus carros.


*


"O que está em sua mente, mamãe?" Perguntou April.

Riley e April estavam sentadas na sala de estar assistindo televisão a noite toda. Mais cedo naquela noite, Riley havia contado a April tudo que tinha acontecido, ou pelo menos tudo o que ela sentiu que podia dizer a ela.

Riley hesitou antes de responder à pergunta de April. Mas ela sabia que ela tinha que dizer em voz alta. Além disso, April já sabia disso. Não era um segredo. Era apenas algo que Riley não conseguia tirar de sua mente.

"Eu matei um homem hoje," disse Riley.

April olhou para ela com amor e preocupação.

"Eu sei," disse ela. "Como você se sente?"

"É difícil colocar em palavras," Riley respondeu. "É terrível. É algo que ninguém tem o direito de fazer - nunca mesmo. Mas às vezes é a única coisa."

Riley fez uma pausa. "Eu sinto outra coisa," ela continuou. "Não tenho certeza se eu deveria dizer isso."

April riu baixinho. "Eu pensei que não fossemos fazer esse negócio de silêncio de novo, mãe." Riley firmou-se e disse: "Eu me sinto viva. Deus me ajude, isso me faz me sentir viva. E a qualquer dia agora, eu sei que alguma mulher vai entrar na loja de Madeline e comprar uma boneca e nunca correrá nenhum perigo. Eu só... Bem, eu só estou feliz por ela. Eu estou contente por poder lhe dar isso, mesmo que ela nunca saiba."

Riley apertou a mão de April.

"É tarde, e você tem escola amanhã," disse ela. April beijou sua mãe na bochecha.

"Boa noite, mãe," disse ela e, em seguida, foi para o seu quarto.

Riley sentiu uma nova onda de dor e exaustão. Ela percebeu que seria melhor ir para a cama ou ela adormecer ali mesmo, no sofá.

Ela se levantou e caminhou em direção ao seu quarto. Ela já estava de camisola e não se preocupou em parar no banheiro para escovar os dentes. Ela só queria ir direto para a cama.

Quando ela entrou em seu quarto e acendeu a luz, algo chamou sua atenção imediatamente. Seu coração pulou uma batida.

Lá, em sua cama, havia algo de errado. Era um punhado de pequenas pedras.

 

 

                                                   Blake Pierce         

 

 

 

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