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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SOULLESS T.M. Frazier
SOULLESS T.M. Frazier

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Eu estava bravo com o mundo, com o whisky por não ser forte o suficiente, com as drogas por não durarem o suficiente, as malditas prostitutas batidas por não me fazerem gozar quando era a minha culpa que meu pau era inútil após um monte de drogas. Eu sou tão idiota por estar chateado com pessoas aleatórias na rua por rir ou sorrir quando eu sinto que eu nunca mais seria capaz de sorrir ou rir novamente.
Como eles ousam?
Como eles ousam seguir em frente com suas vidas quando se o meu amigo não tivesse acabado de morrer.
Eu estava à beira de perder o pouco de sanidade que eu tinha enquanto eu andava para longe de Logan’s Beach e procurava um lugar, ou lugares, onde eu poderia me entorpecer contra os sentimentos que me seguiram de cidade em cidade, de motel barato para motel barato, menina para menina, de drogas para drogas.
Então, esta menina de cabelo rosa1 do passado veio embarrilando na minha vida e foi como se pela primeira vez eu tivesse encontrado um propósito. Um propósito genuíno e não apenas alguma merda que Chop vomitou como ordens que eu e todos os outros membros dos Beach Bastards seguíamos como a bíblia, mas uma verdadeira razão para viver novamente.
Querer VIVER novamente.
Alguém para viver.
Ti era a minha chance em algum tipo de felicidade real quando o fodido Deus sabia que eu não tinha ideia do que realmente era antes dela. Os únicos vislumbres de felicidade genuína que eu tive veio de Preppy, King, e, claro, Grace. Como quando King nos tatuou pela primeira vez e nós amamos, embora os desenhos estivessem tortos e francamente horríveis pra porra. Como quando Grace fez o meu primeiro bolo de aniversário. Como quando King, Prep e eu estávamos no topo da torre de água e pensávamos que o mundo era nosso.
Porque naquela época, era.
Então houve Ti, e minha nova felicidade real foi quando eu vi pela primeira vez o seu sorriso. A primeira vez que a beijei. A primeira vez que eu provei a sua buceta perto da fogueira. A primeira vez que ela me deixou entrar nela, vergonhosamente empurrando através de sua virgindade em uma necessidade desesperada para fazê-la minha.
Porque é isso o que ela era.
Isso é o que ela sempre seria.
E eu vou matar cada filho da puta que se atrever a tentar tirá-la de mim.
Minha.

 

 

 


 

 

 


Capítulo um

BEAR

Treze anos de idade...

Fui para o escritório do meu velho para que ele soubesse que o carregamento que ele havia vindo perguntando pelo último mês estava finalmente no portão. No segundo eu abri a porta, eu imediatamente lamentei ter me esquecido de bater. Chop estava recostado na cadeira verde desbotada no canto da sala com seu jeans para baixo em torno de seus tornozelos, uma cerveja na mão dele. A ruiva gostosa chamada Millie, ou Mallie, ou Jennie, estava de joelhos entre suas pernas, a cabeça balançando para cima e para baixo no seu pau. — Merda, — eu murmurei, lembrando quanta merda ele falou comigo na última vez que eu o interrompi com uma garota. O olho preto levou dois meses para ir embora, e depois disso, ele me colocou para vigiar o portão durante um mês inteiro do caralho.

Agarrando a maçaneta da porta, eu lentamente recuei para trás, esperando que ele não tivesse me notado.

Não tive essa sorte.

— Que porra já te disse, rapaz? — ele explodiu. Eu congelei. — Você é estúpido ou algo assim? Você se lembra do que aconteceu da última vez que você me mostrou desrespeito? Eu digo a você para bater e você simplesmente entra como você possuísse o maldito lugar? — a menina levantou a boca do seu pau com um pop audível e eu me encolho. — Não pare, cadela. Eu te disse que você poderia parar, porra? — Chop agarrou a parte de trás de sua cabeça e a empurrou de volta para seu pau, a segurando lá.

— Desculpe, Pai, — eu disse, minha língua travando, outra coisa que tinha a certeza que iria deixar ele puto.

— Pai? Pai! — desta vez, ele arrancou a cabeça da menina do colo dele e a jogou para o lado, ela desembarcou no quadril e fez uma careta. Ele se levantou, se colocando dentro da calça jeans e fechando quando Jodi passou correndo pela porta. — Do que você deveria estar me chamando, filho? — Chop cuspiu, parando na minha cara. Eu podia sentir o cheiro da cerveja em seu hálito.

— Prez, — respondi, olhando para o chão como eu tinha sido instruído.

— É isso mesmo. Prez. Essa merda de papai e Pai se foi quando você era criança, e você não é nenhuma fodida criança mais, — disse ele. — Por que eu quero que você me chame de Prez? — ele perguntou, me cutucando no peito.

— Porque você é o Prez, — eu disse, recitando as palavras que ele me fez dizer desde que eu oficialmente virei prospecto e ele decidiu que Pai era de alguma forma um termo desrespeitoso.

— É isso mesmo, prospecto. Eu. Eu sou a porra do seu Prez. Eu não sou seu pai ou o seu velho, porra. — Chop me agarrou pelo meu colete e me puxou pelo corredor e, em seguida, desceu as escadas para a sala comum. Alguns dos irmãos estavam sentados nos bancos do bar. A maioria dos outros estavam jogando sinuca, suas apostas empilhadas em grandes pilhas sobre a borda da mesa, indicando as altas apostas do jogo.

Embora não realmente importasse o quão alto as apostas eram porque na segundo que Chop entrou na sala, eles abaixaram seus tacos de bilhar e voltaram sua atenção para nós. Ele estava atrás de mim e me empurrou para frente. Eu me segurei em uma das mesas para não cair, enviando a pilha de notas para o chão.

— Diga a eles. Diga a seus futuros irmãos quem eu sou, prospecto, — Chop ordenou, me insultando como se ele estivesse esperando que eu fosse explodir. Eu estava chateado, mas eu não era estúpido. Tudo o que eu tinha a fazer era esperar o meu tempo como prospecto porque uma vez eu fosse um membro com patch, ele teria que me mostrar algum respeito.

Eu esperava.

— Ele é... — eu comecei, mas vacilei sob o olhar dos irmãos.

— Eu sou o quê, MENINO!? — Chop se inclinou e gritou no meu ouvido. — E se levante, porra. Eu conheço prostitutas que passam o dia todo de seus joelhos e de costas que são mais retas do que você. — ele pegou um punhado do meu cabelo e me puxou na posição vertical.

— O Prez, — eu disse um pouco mais alto desta vez, estremecendo enquanto ele continuava a puxar meu cabelo como se eu fosse um fodido boneco e ele estava segurando as cordas.

— Quem? — ele latiu como um sargento.

— Você é o Prez! — eu gritei, esperando que fosse bom o suficiente para ele me deixar ir e para que tudo isso acabasse, que era tudo que eu queria quando Chop foi ao fundo do poço, que era cada vez mais frequentemente.

— E quem é você?

— Eu sou ninguém. Eu sou um prospecto.

— Que mais? — Chop solicitou e minhas mãos tremiam, meu medo lentamente se transformando em raiva. Eu tomei um par de respirações profundas para tentar suprimi-la. Nada de bom viria se eu atacasse.

Basta se lembrar da última vez. Fique calmo. Mais alguns minutos. Eu disse a mim mesmo.

— Diga a eles o que eu disse pra você, seu merda. Diga a eles o que você já deveria saber, mas parece continuar esquecendo uma e outra vez quando você me mostra desrespeito.

Olhei para os homens que pareciam estar se divertindo, sorrindo e se cotovelando como se estivessem assistindo em algum tipo de show de comédia, todos, com exceção de um. Um homem de cabelo prateado na parte de trás do grupo estava parado, mostrando emoção que eu poderia ter facilmente confundido com simpatia se eu achasse que um irmão podia ter simpatia por um prospecto.

Limpei a garganta. — Eu sou um prospecto do maior MC no estado da Flórida, — eu disse por entre os dentes. — Os Beach Bastards. Eu não sou um filho. Eu não tenho um pai. Eu sou um soldado de um exército sem lei e eu não sou nada mais.

Chop grunhiu sua aprovação, — Esperemos que isso vá te ensinar uma lição que você parece estar tendo dificuldade em aprender. Eu não preciso ou quero um filho. O que eu preciso é de um bom soldado. — ele soltou meu colete e me empurrou de joelhos. Me chutando com a bota, eu caí no chão, minha bochecha quebrando contra o linóleo quadriculado em preto-e-branco. — Comece a me mostrar algum respeito antes de eu te enviar para o mesmo lugar que eu enviei a sua fodida mãe.

Chop saiu da sala, parando para trocar um breve olhar irritado com o homem de cabelo prateado. O resto dos irmãos voltou a beber e jogar como se nós nunca estivéssemos estado lá.

O homem de cabelo prateado se ajoelhou e estendeu a mão, e eu atirei a ele um olhar que deve ter mostrado o que eu estava pensando, que era ‘isso é um truque?’ porque ele riu, pegou minha mão e me puxou para fora do chão. Eu coloquei minha mão sobre meu rosto, onde meu rosto latejava e, a julgar pela nova mancha vermelha no chão onde eu caí, eu estava sangrando também. — Vai melhorar. — ele disse, me batendo duro nas costas.

— Será? — perguntei, e eu realmente queria saber. Precisava saber. Eu vi o que os irmãos tinham, e era o que eu queria. As festas. As garotas. Aquelas motos fodas.

Um pouco de respeito.

Mas naquele momento eu precisava saber se o que Chop estava me fazendo passar realmente iria valer a pena um dia.

— Claro que sim, garoto. Eu sou Joker, — disse ele, me levando para o bar.

— Joker2? — perguntei. — Você é uma comediante ou algo assim?

— Não, eu realmente gosto de filmes de Batman, mas Batman não parece tão sutil como um nome de rua, então eles começaram a me chamar de Joker. — ele riu, tomando um gole da sua cerveja. — Eu sempre gostei mais dos vilões, de qualquer maneira. — ele sinalizou para a mulher por trás do bar, e ela entregou a ele duas garrafas de cerveja. Ele deslizou uma para mim.

— Eu não vi você por aqui antes, — eu disse, tomando um gole. Foi a minha primeira cerveja. — Eu estou acostumado a conhecer a maioria de todos que pairam por aqui.

Ele encolheu os ombros. — Achei uma vez que nossos clubes estejam com status amigáveis e temos alguns negócios, era bom vir ver como estão as coisas, — disse ele, girando ao redor para que eu pudesse ver que seu colete tinha escrito Wolf Warriors o invés de Beach Bastards.

— O seu clube trata seus prospectos como merda? — perguntei, me sentando no banco eu sabia que já estava na altura máxima, então eu não iria ter que me envergonhar por ter que ajustar o assento. Eu podia ter sido a cara do meu velho, com cabelo loiro e sardas ridículas, mas aos treze anos eu mal atingia a metade da sua altura.

— Sim, é o que fazemos, — disse ele com uma risada, tomando um gole de sua cerveja. Ele se aproximou e baixou a voz. — Mas nós não tratamos nossos filhos como merda. A família é tudo, garoto. Se lembre disso. A família é o ponto inteiro de toda essa porra fodida, — Joker disse, acenando com sua garrafa de cerveja para tudo o que nos rodeava.

Terminei a minha cerveja, eu me levantei e a coloquei no bar. — Bem, Joker, você ouviu o Prez. Eu não sou filho dele. — eu me virei para ir embora, para o meu turno no portão prestes a começar quando algo que Joker disse me fez parar e girar de volta.

— Quando o martelo for seu, garoto, você vai mudar tudo isso. Está em seu sangue. Você vai acertar as coisas novamente. Eu sei que você vai. Eu tenho fé em você.

Eu enruguei o meu nariz. — Quem é você mesmo? — eu perguntei ao estranho que parecia saber não só quem eu era, mas o que eu estava destinado.

— Eu sou apenas um motoqueiro preocupado, garoto. — ele colocou uma mão reconfortante no meu ombro e me deu um aperto. Ele me olhou pensativo e balançou a cabeça como se estivesse confirmando algo para si mesmo antes de caminhar para fora da porta.

Eu nunca mais o vi.


Capítulo dois

BEAR

Os ecos dos gritos dos presos flutuaram através do bloco de celas à noite. A maioria desses caras eram gângsters de dia e poças de miséria inútil à noite. Parecia que quando as luzes se apagavam era a única hora aceitável para chafurdar na merda pela qual você tinha sido tratado.

Eu não.

No meu jogo eu sou o jogador e distribuidor, e eu sabia quais cartões eu segurava antes que alguém soubesse.

Especialmente Ti.

Me doía lembrar do olhar em seu rosto quando bateram as algemas em mim que ela pensou que eram para ela. Seu rosto franzido em confusão, seguido de seus olhos arregalados de surpresa. Quando ela chamou por mim eu quase não olhei para trás, pensando que ela nunca poderia me perdoar pelo que eu tinha feito. Mas eu tinha que fazer. Uma última vez apenas por quem sabe quanto tempo. E quando eu fiz, eu não esperava que ela pulasse para os meus braços algemados e pressionasse esses perfeitos e carnudos lábios cor de rosa contra os meus.

Esses malditos lábios.

Eu pensei que o tempo longe de Ti me faria esquecer. Não sobre ela, apenas sobre os pequenos detalhes. As coisas que podem deixar um homem louco quando ele não poderia estar com a pessoa que ele mais queria. Eu pensei que talvez com o passar do tempo seu belo rosto iria começar a ficar embaçado e seria mais difícil imaginá-la. Que talvez eu não fosse me lembrar da maneira incrível que ela cheirava.

Seus gemidos macios.

O jeito como seu rosto corava quando ela estava prestes a gozar.

Não, isso não ia acontecer.

O que aconteceu foi que me lembrei de tudo, e com detalhes vívidos e brilhantes. Quanto mais eu pensava nela, mais eu me lembrava.

Com tanto tempo em minhas mãos, foi possível me lembrar dela em mais detalhes do que quando ela estava bem na minha frente. Como a forma como ela se movia em seus pés quando ela estava desconfortável. A maneira como ela mordia o lado do seu polegar quando estava nervosa.

Eu nunca tinha tido a necessidade de reivindicar uma cadela em toda a minha vida. Mas então eu a provei na fogueira e eu sabia que não havia como voltar atrás. Não para mim. Nunca. Aquela primeira vez com ela no caminhão, eu juro que eu estava cantando em minha cabeça enquanto eu empurrava e puxava para fora de sua incrível buceta.

Se eu pensasse duro o suficiente, eu ainda podia sentir o cheiro dela em mim.

Muitas vezes eu tinha de recordar o meu pau de onde estávamos e da ameaça imediata à mão, porque era fácil se perder nas memórias. Nu. Se contorcendo. Ofegante.

Porra.

 

* * *

 

Tão fácil como era se perder nos pensamentos dela, não era fácil esquecer a ameaça imediata que poderia ser iminente e que poderia vir a qualquer hora. Nenhuma cela era segura. Nenhum corredor. Nenhum banheiro. Nem mesmo o pátio.

Quando Bethany me disse que tinha provas suficientes para prender Ti, de jeito nenhum eu ia deixá-los levá-la e não poupei um segundo pensamento fodido sobre tomar o lugar dela. O que é mais uma razão para se certificar de minha guarda esteja sempre levantada e que todos e cada bastardo que achou que poderia vir para cima de mim acabassem mutilados ou mortos. Realmente não importava, porque de qualquer forma, isso não seria Ti.

Incapaz de dormir, eu parei na porta da cela e me inclinei contra as grades. Do outro lado do bloco de celas, através da janela alta, estava a lua cheia obscurecida por finas nuvens, oferecendo o único vislumbre de liberdade que eu tinha certeza de ter por um longo tempo.

Ou nunca.

O promotor anunciou logo depois que eu fui preso que eles estavam empurrando para a pena de morte.

As nuvens se abriram e a luz da lua iluminou minha cela como um refletor. Curiosamente iluminando o grafite na parede do bloco de celas acima do vaso.

BEACH BASTARDS, LOGAN’S BEACH foi pinchado em letras grossas.

Suspirei. Mesmo na minha fodida cela eu não podia escapar do seu alcance, mesmo que fosse apenas em forma de tinta.

Por agora.

Os Beach Bastards costumavam ser mais do que apenas um clube de motoqueiros, mais do que minha casa até. Eles eram uma fraternidade, ligados pela lealdade. No momento nada se comparava com o sentimento de pertencer a algo maior e mais importante do que eu.

Algo que eu acreditava com tudo o que tinha e era.

Quando saí do MC, eu nunca pensei que eu teria isso de novo, mas eu estava errado. Embora a embalagem tenha sido um pouco diferente. Em vez de couro e tatuagens, era uma boca inteligente e um corpo que eu queria montar meu rosto a cada fodido segundo do dia.

Quando eu era um Bastard, eu vivia e respirava por um código. A própria base do MC foi construída com isso.

O código ditava que embora os Bastards pudessem rasgar seus olhos em retaliação, eles não iriam matar sua esposa e filhos no processo.

Inocentes eram deixados intactos.

Isso foi até Chop pôr as mãos sobre minha menina.

MINHA Thia.

Os Bastards eram agora mais como uma organização terrorista, que não era ligada pela lealdade, mas pelas ordens vomitadas da boca de um tirano sem alma com fome de poder. Meus irmãos costumavam ser soldados, mas em algum lugar ao longo da linha isso se transformou em nada mais do que cães obedientes amarrados pelas coleiras muito curtas de Chop. O tipo de bandidos que fazem o trabalho sujo, que marcam celas enquanto eles estão dentro, e contribuem um pouco mais para o bem geral do clube.

Não havia mais ‘bem do clube’.

A fraternidade disso se foi há muito tempo, e em seu lugar estava uma ditadura pingando óleo de motor, couro e mentiras.

Quando eu tirei o colete, eu não sabia quem eu era mais. O homem em mim foi perdido ao longo de anos pensando que o meu velho era de alguma forma mais do que um mero mortal, porque ele era o único que segurava o martelo e transmitia as ordens.

Até Ti.

Ela me fez perceber que eu não precisava do clube para ser um motoqueiro.

Posso viver e eu posso andar.

Eu posso amar e posso matar.

Era tanto o homem quanto o motoqueiro em mim que iria colocar uma bala no crânio de Chop e terminar essa merda porque eu sabia que ele nunca iria parar até que eu estivesse no chão.

— Você primeiro, velho, — eu murmurei para mim mesmo.

O código ditava que um irmão não poderia matar outro irmão.

Ainda bem que eu não era um bastardo mais porque quando eu ficar livre dessas barras da cela, a dor que eu planejo infligir em meu velho faria com que o Eli e seus homens fodidos fizeram comigo parecer um passeio no parque em comparação.

Então havia a pequena questão da minha mãe, de repente voltando dos mortos.

Sadie.

O nome da minha mãe era Sadie Treme. Por alguma razão eu não me lembrava disso até que eu me encontrei sentado em frente a ela na sala de visitas perguntando como diabos ela ainda estava viva.

A cadela poderia pelo menos ter me dado à cortesia de permanecer morta.

Eu não confiar nisso.

Eu não confio nela.

Eu tinha merda o suficiente acontecendo sem ter que pensar sobre a mulher que me deu à luz escapando da porra do ceifador, apenas para rastejar no caminho de volta para a terra dos vivos.

Ao longo dos anos eu raramente permiti meus pensamentos irem para a mulher que me deu à luz. Chop disse que ela era uma traidora, então eu acreditei que ela era uma traidora. Ratos não tinham um lugar no clube ou um lugar entre os vivos. — Nós não damos aos ratos um segundo pensamento depois que eles são mortos. Os ratos são pragas e um rato bom é um rato morto. — ele disse isso na noite que ele pegou Sadie tentando escapar de Logan’s Beach comigo no banco do passageiro. Horas mais tarde, ele a arrastou para a floresta e a acabou com ela como um cão raivoso do caralho.

O que é estranho é que eu não me lembro de chorar. Um filho deve chorar por sua mãe quando ela morrer, não é? Quebrei a cabeça para tentar lembrar qualquer tipo de lágrima, mas as memórias nunca vieram.

O que voltou foram outras memórias, como a maneira como seu longo cabelo castanho quase tocava sua cintura naquela época. A forma como seus olhos castanhos se iluminaram quando meu velho dava a ela qualquer tipo de atenção. O jeito que ela nunca usava qualquer maquiagem ao redor dos olhos, mas seus lábios estavam sempre pintados de vermelho brilhante. A forma como ela nunca cantou uma canção de ninar, mas sempre cantava músicas de Tanya Tucker e Waylon Jennings em todos os lugares que ela ia.

Essas memórias não poderiam ter sido da mesma Sadie que estava sentada na minha frente, no centro de visitação. Não, a mulher que torceu os dedos e continuou olhando para baixo em seu colo era apenas uma concha do espírito livre que eu me lembro de dançar a música Willie Nelson que ela continuou colocando para repetir no jukebox do clube.

Ela estava viva e respirando, mas havia algo sobre ela. Talvez fosse suas bochechas afundadas ou pele amarelada. Ou talvez fosse a vibração derrotada que ela estava emanando que me fez pensar que talvez meu velho tivesse conseguido matá-la afinal de contas.

Sadie e Chop tinham ficado juntos quando Sadie tinha apenas dezesseis anos de idade. Ela era uma fugitiva que virou prostituta do clube. Apenas cinco anos depois que eu nasci ela tinha ido embora e foi isso.

Então lá estava ela. Quase vinte e cinco anos mais tarde, sentada na minha frente, me olhando com a boca aberta como se eu fosse à porra do fantasma na mesa.

— Por que você está aqui? — eu perguntei, não tendo certeza de como iniciar a conversa ou até mesmo se eu quisesse que ter uma.

— Honestamente, eu achava que sabia e agora, na verdade, estando aqui, eu não estou realmente certa porque eu vim, — ela tinha dito humildemente, mordendo o lábio e olhando em todos os lugares menos para mim.

— Eu pensei que você estivesse morta, — eu rebati, afirmando o óbvio.

Ela assentiu com a cabeça. — Eu pensei que eu estava também. Acontece que eu estava errada.

— O que significa isso? — eu já estava farto de respostas vagas, especialmente quando tudo o que provocava era mais fodidas perguntas.

— Isso significa que quando seu pai puxou o gatilho eu pensei que estava morta, mas eu acordei e estava surpresa que eu estava viva como você está agora, mas eu não estava livre. Eu estava trancada em algum lugar. — ela apertou a ponte de seu nariz, — mas os detalhes são nebulosos. Eu escapei, mas honestamente, eu nem sequer me lembro como. Assim que minha mente começou a clarear, te procurei.

— Você acha que Chop te manteve em algum lugar todo esse tempo?

Sadie assentiu. — Sim, mas eu não sei onde.

— Como diabos você não sabe onde você estava durante vinte malditos anos? Você não acha que isso soa um pouco louco?

Sadie ergueu um braço em cima da mesa, com a palma para cima, e empurrou a manga. O antebraço dela estava cheio de marcas de varíola em diferentes fases de cicatrização, do rosa ao branco. — Eu sei que parece loucura, — ela disse, seus olhos finalmente encontrando os meus, — mas isso é a verdade.

— Se você diz que é a verdade, ainda há a pequena razão de por que diabos ele faria isso, — ele apontou. — Chop tem uma razão para tudo, qualquer merda fodida tinha uma razão fodida. Isso? — eu disse, usando minha mão para apontar para seu braço. Ela puxou a manga de volta para baixo. — Não posso pensar em qualquer razão para isso.

Sadie continuou a puxar a manga sobre a sua mão. — O porquê não importa agora, Abel. Não é importante mais. O porquê não me deixa seguir em frente.

— Então por que você já não seguiu em frente? Por que veio? Você não acha que Chop vai saber que você esteve aqui? Ele tem olhos por toda parte, ou vinte e cinco anos sendo drogada e trancada fez você esquecer tudo isso? — eu disse sarcasticamente, jogando a história ridícula de volta na cara dela. A cadela poderia ter sido uma viciada com a sobriedade encontrada recentemente e só queria arranjar desculpas para a sua ausência em minha vida nas últimas três fodidas décadas.

Filho da puta. Chop atirou nela. Voltou. Disse a todos que ela estava morta. A cadela parece viva para mim então mesmo que a história dela não seja verdade, seu pai tem bolas profundas em tudo o que aconteceu. O fantasma de Preppy entrou na conversa. Eu estive ouvindo ele muito menos desde que eu conheci Ti e me alegrei que o desgraçado ainda estivesse por perto. Eu coloquei meus cotovelos na mesa e cobri minha boca com as mãos para cobrir o meu sorriso.

Preppy estava certo, mas não havia como eu saber se ela estava dizendo a verdade. Eu não iria colocar uma longa e prolongada tortura no passado de Chop, mas por que ele iria mentir para todos sobre isso? Havia mais nessa história, e eu não sabia se Sadie estava mentindo, ou se ela realmente não lembrava.

Ela limpou a garganta e meus olhos caíram para seu longo cabelo que ela estava sendo torcido em sua mão. Era muito mais longo do que era na minha memória, tocando sua cintura, e o quase preto estava agora raiado de branco. As rugas ao redor dos olhos estavam mais proeminentes, seu batom vermelho de sempre tinha desaparecido, seus lábios nus, bem como o resto do seu rosto.

— Eu assinei com um nome diferente. Além disso, depois que eu sair daqui hoje, eu vou desaparecer. Para sempre. Eu só... eu só precisava vir, eu acho. Eu tinha que te ver primeiro antes de eu realmente ir de vez. — ela olhou para suas unhas.

Eu não tinha mais que esconder meu sorriso porque ele tinha desaparecido tão rápido quanto veio. — O que você esperava de mim? Um grande abraço e um eu senti falta de você, mamãe? — eu me inclinei para trás e cruzei os braços sobre o peito.

Ela correu os dedos sobre uma longa cicatriz desbotada na sua testa que corria até a linha dos seus cabelos. Ela balançou a cabeça. — Não, isso não é o que eu estava procurando em vir aqui. Foi egoísta da minha parte vir, mas eu tinha que fazer. Eu tinha que te dizer o que ele tinha me feito fazer. Você precisava ouvir que tipo de homem seu pai é.

— Eu sei bem que tipo de homem ele é. — eu disse, me inclinando para frente.

Sadie se mexeu em seu assento. — Eu acho que ele fez isso. Me manteve viva, quero dizer, porque ele achou que eu disse sobre o clube, mas eu não fiz. Talvez ele pensasse que a morte não era castigo suficiente. Não era bom o suficiente acabar com a minha vida, ele queria levá-la e me fazer sofrer mais em vez de me tirar da minha miséria. — Sadie fungou e isso foi quando eu observei seus olhos vidrados. — Você sabe? Espero em Deus que eu nunca me lembre do que realmente aconteceu. Rezo para que isso sempre permaneça um mistério. — ela empurrou a cadeira para trás da mesa, raspando-a ao longo do linóleo, mas permaneceu sentada. — Porque algo me diz que não há nada que ele fez comigo que eu iria querer lembrar. — ela enxugou o rosto com as costas da mão e de repente o olhar vazio de mais cedo estava de volta. O fungar parou.

— Por que o traje? — perguntei, apontando para a blusa azul3 que ela estava usando.

Ela olhou para baixo e apertou a bainha. — Se alguém questionar quem era o visitante, ou se Chop ficar sabendo, espero que ele esteja à procura de uma enfermeira.

— Por que mesmo o risco de vir?

Sadie ignorou minha pergunta. Ela suspirou e olhou para o meu rosto como se ela estivesse me observando. — Você tem os olhos dele, — disse ela, olhando diretamente nos meus olhos. Eu me mexi desconfortavelmente na cadeira de plástico duro. — Você parece tanto com ele, quando você apareceu eu pensei que você fosse ele.

— Eu não sou nada como ele, — eu vociferei.

— Você está aqui, — ela argumentou.

— Estou aqui porque eu escolhi estar aqui. Não torça isso em sua mente dopada. Você não me conhece. Você não sabe se o que eu fiz foi ruim ou bom.

— Foi por uma menina, — disse ela. Não era uma pergunta. O canto de seu lábio se transformou em um meio sorriso.

— E se for?

— Isso significa que você pode apenas ser humano, afinal. — ela apontou. Ela pareceu relaxar, satisfeita com sua nova descoberta. — Você tem esse meu lado da família, sem dúvida.

— Família? — perguntei, zombando do uso casual de uma palavra que ela não sabia nada.

— EU SOU sua família, — ela argumentou, — Eu só queria ser-

— Eu tenho família, — eu interrompi. — Você não tem que ser nada.

— Andria? É isso que você está falando? — ela perguntou, eu odiava o jeito que ela disse o nome da minha meia-irmã, como se enojasse ela. Andria era família, embora eu não tivesse visto ela em muitos anos. Ela foi o produto de um breve caso que Chop teve com uma garçonete em Geórgia. Andria deveria agradecer as estrelas do caralho por ela não ter nascido um menino, porque eu tinha a sensação de que se ela tivesse nascido com um pau, ela já estaria usando um colete igual a mim. — Sim, mas ela não é quem eu estava falando.

Ela novamente olhou para seu colo. — Meu Abel. Meu menino. Eu acho que você e eu deveria-

— McAdams! — uma voz profunda gritou. — O tempo acabou. Levanta, — o guarda ordenou. Puxando a parte de trás da minha cadeira, me obrigando a obedecer.

— Você deve saber que eu não sou um Bastard mais, — eu disse para o fantasma da minha mãe. — Tirei o colete e joguei aos pés daquele filho da puta. Eu posso não ser um monstro, mas eu sou um homem morto, então eu acho que é bom você ter vindo me ver, mesmo se você não sabe por que você veio. — eu me levantei, deslizando a cadeira de plástico contra o concreto, assustando Sadie, que olhou para mim com grandes olhos castanhos cheios de tristeza e ingenuidade, como se ela fosse a adolescente que me deu à luz quase trinta anos antes. — Dê uma boa olhada em mim agora, enquanto você pode, mãe, — eu disse, enfatizando ‘mãe’ e segurando meus braços tão amplos quanto as algemas anexadas aos meus pulsos permitiria. — Porque isso pode ser a última chance que você vai ter. — o oficial puxou as cadeias das minhas algemas, me arrastando para longe de Sadie.

Da minha mãe. Mesmo pensando nela como minha mãe não parecia bem.

Porque, eu percebi. Eu já tinha uma mãe, mesmo se eu não dirigisse a ela como a mãe, ela era alguém que ganhou o título.

— Oh, — eu disse, gritando de volta para Sadie cima do meu ombro, — E você pode ir para onde você precisa ir e desaparecer, porque eu já tenho uma mãe. O nome dela é Grace.

— Grace? — perguntou Sadie, soando tão confusa como eu estava quando ela tinha aparecido. O guarda me tocou para fora da sala e me levou de volta para a minha cela. Eu não sei por que eu senti a necessidade de ser detestável em direção a ela, mas talvez fosse porque ela voltou de onde quer que ela tivesse estado e seu primeiro instinto foi o de fugir. Talvez fosse porque não importava o que tinha acontecido com ela, o fato era que ela tinha deixado Chop quebrá-la.

Uma coisa era certa, não importava o que aquele filho da puta fazia comigo.

Eu nunca quebrei, porra.


Capítulo três

BEAR

Trinta minutos após a visita com Sadie, eu estava no pátio pensando na nossa conversa sobre a família quando me ocorreu.

Homens mortos não têm famílias.

De repente, o pensamento de nunca ter uma com Ti, nunca vê-la ficar redonda com o meu filho, me bateu no peito como se eu tivesse levado um fodido tiro.

A sensação que eu estive familiarizado uma ou duas vezes.

Tonto com o pensamento indesejado, eu escorreguei e não digitalizei o pátio para ameaças potenciais como eu devia ter feito. A única ameaça que eu tinha visto desde que eu fui trancado era Corp, e considerando a condição na qual eu o deixei da outra vez, ele não seria uma ameaça novamente a qualquer momento em breve.

Ou comer sem o auxílio de um canudo.

Mas eles estavam vindo. Eu sabia disso assim como eu sabia o meu próprio nome. Eu praticamente podia sentir o cheiro no ar.

— Você parece precisar de um desses, — disse uma voz. Eu saí dos meus pensamentos sobre Ti para encontrar um cara negro da minha altura, mas com o dobro do meu peso corporal, seu macacão rasgado no colarinho e braços para criar espaço para seus músculos salientes.

— Obrigado, — eu disse timidamente, estendendo a mão para o cigarro que se estendia para mim com o pacote aberto. Achei que, se esse cara tivesse sido enviado para me matar ele já tinha feito isso, provavelmente, flexionando minha cabeça entre seu antebraço e bíceps. O estranho acendeu um fósforo e segurou sua mão em torno da chama, acendendo meu cigarro e depois o dele antes de jogar na grama. Ele colocou o pacote na mesa. — Fique com esses, — disse ele.

— Obrigado, — eu disse, e embora eu tivesse certeza que ele não queria me matar, eu ainda estava cético em relação a qualquer um que estava disposto a fazer favores na cadeia. Favores nunca vinham sem um preço.

— Eu sou Miller, — disse o estranho. — Um amigo em comum me pediu para cuidar de você.

— Amigo? Bem, então recuse isso porque eu não tenho muito disso atualmente, — eu admiti.

Miller sentou no banco da mesa de plástico e se inclinou sob o seu peso.

— É importante ter amigos em um lugar como este. O que se diz é que um grupo de motoqueiros foi pego por um pequeno delito e estão a caminho. O nosso amigo acha que a razão é você. — sua voz era tão profunda que quase ecoou quando ele falou. Ele deu uma longa tragada no cigarro. — O nosso amigo em comum me ajudou quando eu estava no estado de Geórgia, e eu devo uma a ele. Merda, eu devo a esse filho da puta umas vinte, pelo menos. Percebi que ajudar um monte de meninos brancos de Beach Bunnies, ou seja lá que diabos vocês se chamam, de serem estraçalhados nem se comprada com o que ele fez por mim.

— Eu não acho que tenho que adivinhar quem é esse amigo mais, — eu disse, dando uma última tragada no meu cigarro e colocando-o sobre a mesa. King tinha ficado preso por três anos em Georgia. Ele se levantou e o banco ainda tinha a forma do traseiro de Miller.

Ele apagou o cigarro sobre a mesa. — Ele mandou uma mensagem para você.

— E qual seria?

Miller protegeu os olhos do sol. — Ele disse para você não acabar morto e que a menina está segura.

Obrigado porra. Isso significava que King estava com ela e ela tinha proteção constante. Ti ficar com King não era uma opção. Mesmo eu sendo o alvo mais fácil na cadeia, Ti ainda poderia estar em risco e sem eu lá para protegê-la, a família de King estava mais em risco do que nunca. Embora eu tenha dito a King para levá-la para casa porque não parecia bom para a minha confissão se eles pudessem nos ligar de alguma forma. Se King tivesse pensado de forma diferente, eu sabia que ele iria insistir que ela ficasse, e eu não poderia fazer isso com ele depois que ele tinha feito tanto por mim.

— Acho que cheguei bem a tempo, — disse Miller, acenando seu queixo para o muro do outro lado do pátio. Levantei e me virei bem a tempo de ver o portão abrir e três homens entrarem no pátio.

Três dos meus ex-irmãos.


Capítulo quatro

Thia

Dez anos de idade...

Levei duas horas inteiras para convencer Bucky a ir de bicicleta comigo por doze milhas até a casa de penhores. Depois de chutar rochas ao redor com seu sapato durante cinco minutos, eu lhe disse que ia dar a ele a minha melhor vara de pescar, e ele finalmente concordou.

— Quanto você vai me dar por isso? — perguntei ao homem magricelo e alto com orelhas grandes. Eu fiquei na ponta dos pés para que eu pudesse me apoiar em toda a vitrine de vidro riscado que dobrava em um canto e dei ao homem a minha melhor cara de ‘quero fazer um negócio sério’. O homem por trás do balcão usava um crachá que dizia Troy. Troy olhou para mim com uma sobrancelha arqueada como se ele nunca tinha visto uma criança de dez anos caminhando para uma casa de penhores e tentando negociar antes.

— Que diabos você está fazendo, Thia? — perguntou Bucky, deixando a revista de carros modelo que tinha estado admirando no balcão. Quando eu o implorei para vir de bicicleta até Logan’s Beach comigo, eu me esqueci de mencionar a verdadeira razão pela qual eu queria tanto ir. Os olhos de Bucky se arregalaram de horror quando eles dispararam para o objeto que eu coloquei em cima do balcão. — Esse é o seu cinto da Donnie Mcraw, Thia! Você não pode vender isso!

— É meu, então eu posso fazer o que quiser com ele, — argumentei. Eu tinha ganho o cinto quando eu tinha ido ao rodeio em LaBelle com Bucky e seu pai no ano passado. Bem, não GANHEI, vendo como eu tinha apenas oito anos de idade, mesmo disposta a tentar montar as ovelhas, mas eles me deram um prêmio de qualquer maneira.

— E aí? — eu me virei para Troy que segurou o cinto em suas mãos. Ele o virou e bateu contra o balcão.

— É oco, — Troy apontou. Agarrando um pequeno tubo de vidro, fechando um olho e levantando a fivela, examinando através do tubo.

— Eu não preciso de dinheiro. Apenas uma troca, — eu disse. — Nisso. — eu apontei para uma corrente de prata em exibição. Troy não olhou para onde eu estava apontando.

— Essa coisa é banhada à prata. Não vale muito. Desculpe, não há nada que eu possa fazer por você, — disse Troy, tirando o palito da boca e apontando enquanto eu falava.

— Pra quê diabos você precisa dessas correntes de prata? — perguntou Bucky.

Eu suspirei, ficando irritada com suas perguntas. — Eu tenho algo que eu queria colocar nele, é tudo. — me encolhi e Troy deslizou meu cinto de volta pra mim.

— O que você quer colocar nele? — perguntou Bucky.

— Não é nada, — eu disse, meus ombros caindo em derrota. Eu encarei a corrente de prata através do vidro pela última vez antes de virar para Bucky.

— Me diga! — Bucky exigiu.

Enfiei a mão no bolso de trás e trouxe o anel de caveira e ergui para ele ver, mas apenas brevemente, porque eu não queria perdê-lo. Coloquei ele de volta no bolso, batendo para ter certeza que estava lá dentro.

— Onde você conseguiu isso? — Troy perguntou de repente, apertando seu corpo magro através na gaiola, tanto quanto podia, sua cintura descansando em cima do balcão.

— Não posso te dizer, — eu disse, considerando dar a minha língua para ele. — Vamos, Bucky. — eu agarrei o braço dele e nos viramos para sair.

— Espere! — Troy chamou. — Eu estava sendo precipitado. Vocês parecem ser crianças legais. O cinto pela corrente é um negócio justo.

— Você nem sequer viu qual deles eu estava apontando, — eu disse, cruzando os braços.

Troy sacudiu a cabeça. — Não importa, na verdade, fique com o cinto. Temos muitas correntes de qualquer maneira, agora me aponte qual é de novo. — Troy abriu a caixa e pegou a corrente que eu apontei. Ele jogou através da gaiola como se eu fosse morder sua mão. Ele bateu no chão aos meus pés. Me inclinei para pegá-lo, limpando. — Você tem certeza?

— Eu estou totalmente certo, — disse Troy, nos dispensando. — Agora vão e se certifique de que se alguém te perguntar, você diz que Troy da Premier Pawn foi bom com você, ok? Diga eles isso, certo?

— Sim, — eu disse, embora eu realmente não achasse que alguém ia me pedir para avaliar a minha recente viagem para a casa de penhores tão cedo.

Troy assentiu com tanta força que pensei que a cabeça ia cair. — Ótimo. Agora temos que ir, — ele nos enxotando, rodeando a gaiola e fechando com força.

Nós saímos e Bucky estava atrás de mim enquanto nós contornávamos o edifício para onde tínhamos deixado nossas bicicletas contra a parede do beco.

Peguei o anel de caveira do bolso e deslizei na minha corrente de prata nova, o prendendo em volta do meu pescoço. Eu coloquei o anel por dentro da minha camiseta de Futuros Fazendeiros da América.

— Você vai me dizer o que é isso? — Bucky perguntou quando nós pegamos nossas bicicletas.

— Esse é o meu segredo, — eu disse com um sorriso malicioso. A verdade era que eu estava morrendo para dizer a Bucky sobre Bear e seus amigos motoqueiros visitando a Stop-N-Shop, mas eu queria esperar até que eu tivesse certeza de que estávamos fora do alcance dos ouvidos fofoqueiros da cidade.

O que em Jessep, era praticamente todo mundo.

— Eu posso guardar segredo, — disse Bucky, mantendo o ritmo ao meu lado enquanto levávamos nossas bicicletas em direção à rua.

Eu parei e me virei para Bucky. Eu estendi meu dedo mindinho. — Você faz o juramento do dedo mindinho primeiro e só depois eu vou te dizer, mas só porque você é meu melhor amigo e eu sei que você não vai contar a ninguém.

— Eu sou seu único amigo, — Bucky me lembrou, revirando os olhos.

— Não me faça te bater, BUCKY, — eu disse. Ele poderia ser mais velho que eu, mas ele era pequeno para sua idade. Crianças zombavam do seu tamanho, tanto quanto eles zombavam de mim pelo meu cabelo rosa. Nós tínhamos nos juntado por sermos deixados de fora no segundo grau e nos tornaram amigos. E agora estávamos jurando, fazendo a promessa mais sagrada e séria no mundo, de modo que eu podia dizer a ele tudo sobre o homem de olhos azuis com tatuagens que mudou tudo.

Bucky agarrou meu dedo mindinho com o seu. — Você tem que jurar que não vai contar a ninguém o que estou prestes a te dizer, e quando você estiver velho e cinza, você vai levar esse segredo até a sua sepultura, e mesmo assim você não vai contar aos outros fantasmas, — eu disse.

Bucky acenou, apertando meu mindinho, e cuspindo no chão, selando o seu juramento. — eu prometo, agora derrame, Pinky, — ele cantou, jogando meu próprio apelido odiado na minha cara. Desta vez eu fiz língua pra ele quando soltou nossos dedos.

Nós não subimos em nossas bicicletas quando chegamos à estrada. Em vez disso, nós empurramos o guidão e continuamos a caminhar ao lado um do outro. Puxei o anel de volta para fora da minha camisa para Bucky ver, entregando para que ele pudesse dar uma boa olhada na caveira.

— Isso é um diamante de verdade.

— Eu acho que sim, — eu disse, incapaz de evitar o enorme sorriso que se espalhou pelo meu rosto.

— Então, como você conseguiu isso? — perguntou Bucky.

— Essa? — eu perguntei, segurando a corrente, — Essa é uma promessa.

— Como um juramente de dedo mindinho?

Eu balancei minha cabeça. — Não, é muito mais poderoso do que isso.

— Como você conseguiu? Você roubou? Parece que custou muito dinheiro. — ele estendeu a mão para tocá-lo e eu enfiei de volta na minha camisa.

— Não, eu não roubei, — eu corrigi. — Foi dado para mim.

Depois de uma longa pausa dramática, Bucky deu de ombros e acenou com a mão. — Por quem? Você vai me dizer ou não, Thia?

Bati o anel sob a minha camisa enquanto recordava o dia que Bear entrou na minha vida. Na minha emoção, eu posso ter embelezado a coisa um pouco, sem perceber quão perto da verdade eu realmente estava. — Este anel foi dado a mim pelo maior e mais forte homem no mundo inteiro. Ele poderia ter dado a qualquer um que ele quisesse, e ele me escolheu. Isso significa que estamos ligados... para sempre.

A voz de Bucky ficou mais alta, como se eu tivesse lhe dado um soco nas bolas. — Para sempre?

Só então, um homem mais velho montando uma moto, uma moto prata com um para-brisa alto voou por nós na estrada. Uma mulher pequena, de cabelos grisalhos estava do lado dele, em um carrinho lateral. Nós limpamos o pó dos nossos rostos, e enquanto Bucky estava ocupado tossindo, eu fiquei olhando a moto ir embora, completamente fascinada e temendo o som que ela fazia, o quão rápido ela estava indo, e como a old lady parecia tão confortável em seu pequeno assento que ela poderia ter estado tricotando em vez de estar em uma moto a uma velocidade vertiginosa. Fiquei olhando para ele, até muito depois dele ter desaparecido na curva.

Me virei para Bucky e sorri o meu maior sorriso.

— Sim. Para sempre.


Capítulo cinco

Thia

Não há muito no mundo que me assusta. A vida é assustadora demais para perder tempo tendo medo do desconhecido quando o conhecido é assustador o suficiente. Eu nunca estive com medo do monstro do armário ou qualquer coisa à espreita debaixo da minha cama à noite quando eu era criança.

A única coisa que eu tinha medo era das coisas que realmente podiam acontecer.

Como tornados.

Não é como se Jessep, Florida, minha cidade natal, tivesse visto tornados que causaram danos catastróficos reais. O tipo que tivemos foram os pequenos. Uma telha ou outra voando ou alguma árvore caindo.

Mas de alguma forma, todos os meus pesadelos desde que Bear foi levado giraram em torno de espirais descendentes da desgraça. Levando edifícios, fazendas, cidades...

Vidas.

Tempestades tinham estado rolando com uma vingança ao longo dos últimos dias. Mais escuro. Mais ameaçador. Como se eles estivessem tentando me enviar uma mensagem de dias mais escuros à frente.

As nuvens estavam em guerra com o céu, assim como eu sentia como se eu estivesse em guerra comigo mesma. Amor e tristeza, ambos existiam em igual medida dentro de mim. Se tornou físico e depois de alguns dias tinha se desenvolvido em uma devastadora dor no corpo inteiro.

Uma linha escura de nuvens se aproximou, invadindo o céu azul quando uma tempestade iminente se deu a conhecer. Rolando e ondulando na minha direção, meu pesadelo veio à vida.

Eu fui arrastada pelo medo de que - a qualquer momento, eu estava certa – um espiral de nuvens iria descer do céu logo acima da minha cabeça. Eu me encontrei esperando o momento em que o furacão iria atacar e causar mais danos do que a maioria das pessoas poderia imaginar.

Mais do que as pessoas poderiam aguentar.

Eu quase podia sentir o vento, os destroços. A sensação de ser pega e espancada uma e outra vez.

Para mim, um tornado sempre foi à força da natureza capaz do maior dano.

Até que eu conheci uma força da natureza que faria um tornado parecer uma brisa da manhã. Um que me pegou, me fez sentir como se eu pudesse soar como se ele tivesse me jogado ao redor, me feito girar, e me jogado de volta para o chão, me deixando quebrada e lutando pela minha vida.

E ele.

Bear.

Antes do meu irmão morrer e bem antes da minha mãe ir ao fundo do poço mental, meu pai costumava ficar no laranjal até tarde da noite. Eu tinha assumido que era para consertar o sistema de irrigação que sempre quebrava ou qualquer outro problema e equipamentos falhando.

Uma noite eu fiquei curiosa e escapei de casa, mas em vez de encontrá-lo ajeitando o gerador ou os canos quebrados, o encontrei de joelhos no chão. A lua cheia brilhava em seu rosto, iluminando seus olhos lacrimejantes quando ele olhou para as árvores como se fossem mais do que apenas frutos em ramos.

Não era nem mesmo vê-lo falando com as árvores que me surpreendeu.

Era que ele estava implorando.

Implorando por uma boa colheita. Para que a Cooperação Sunnlandio aumentasse milagrosamente o contrato, para que os preços de gás abaixasse, para os trabalhadores pararem a greve por mais dinheiro, para a geada recorde prevista para saltar sobre nossa fazenda.

Então, finalmente, para a minha mãe amá-lo novamente.

Meu coração se partiu por ele ali mesmo.

Essa foi a noite eu percebi que todos os ‘Está tudo bem, querida’, que o meu pai me deu todas as noites na mesa de jantar foi a mentira que eu sempre suspeitei que era.

Em algumas dessas noites que meu pai estava fora até tarde, minha mãe vinha e me arrastava da minha cama até a dela. Ficávamos e assistíamos as comédias românticas idiotas.

Foram esses filmes, e não o frio relacionamento dos meus pais, que me deu meu primeiro vislumbre do que era amor. Eu fiquei tão chateada quando o casal enfrentava um obstáculo que poderia impedi-los de estarem juntos. Eu esperava o grande gesto romântico no final. O que iria finalmente os juntariam para sempre.

Cada vez que o filme terminava e os créditos rolavam, minha mãe suspirava e escovava o cabelo da minha testa. — Você sabe que nada disso é real, certo? Os filmes são de faz de conta. Esse tipo de amor não existe.

Irreal é o que ela chamava.

Exceto que isso era uma mentira, mesmo que ela não soubesse disso na época.

Porque esse tipo de amor existia.

O que eu sentia por Bear tinha surgido sob a superfície desde que eu tinha dez anos, e quando nos encontramos de novo, ainda que sob circunstâncias de merda, isso tinha explodido em algo mais poderoso do que qualquer romance pomposo jamais poderia descrever.

Com uma grande diferença.

Nossa história não teve um final feliz.

Não houve perseguição a cavalo ou confissão de nossos sentimentos um para o outro na frente de uma multidão de pessoas com lágrimas nos olhos.

Não, nossa história terminou com Bear na cadeia, preso pelo assassinato dos meus pais, assassinatos pela qual minha mãe era responsável.

Quando a advogada de Bear, Bethany Fletcher, explicou que Bear tinha assinado uma confissão para me poupar da mesma ameaça de seus antigos irmãos, um que ele agora confrontava dentro das paredes da prisão do condado, eu não podia acreditar.

Ele se jogou no fogo por mim.

King vai te levar para casa.

Fique lá. Espere.

Confie em mim.

Bethany me passou uma nota cm a letra de Bear depois que ele foi preso enquanto eu ainda estava olhando para a estrada como se ele fosse voltar a qualquer momento. Eu agarrei o pedaço de papel com as mãos trêmulas e virei repetidamente, me perguntando onde o resto disso.

— Eu não entendo, — eu disse a Bethany através dos meus olhos marejados.

— Faça o que ele diz, — ela disse, — você não precisa entender. Você só precisa ouvir.

— Por que ele fez isso? — perguntei.

Bethany levantou uma sobrancelha para mim como se eu já deveria saber a resposta. — A razão pela qual alguém faz coisas tolas e ridículas. Por amor, é claro.

— Não é seguro para ele lá. Precisamos tirá-lo de lá!

— Thia, — Ray disse, parando ao meu lado. — Você não vê? Eles iriam te prender. Bear pelo menos tem uma chance de lutar onde você não teria. Ele cresceu no clube. Ele sabe como lidar com isso. Ele sabe o que está fazendo. Bethany está certa. Por mais difícil que seja, você tem que confiar nele, e, no entanto, ela vai fazer tudo o que puder para tirá-lo de lá. Todos nós.

King parou ao lado de Ray e colocou a mão no ombro dela.

Eu balancei minha cabeça. — Deveria ser eu. Ele não fez nada. Eu fiz! — me virei para Bethany. — Eu sou a única que atirou na minha mãe. Eu sou a pessoa que a matou. Deveria ser eu! Por favor, não podemos deixá-lo-

Bethany estalou a língua e balançou seu dedo indicador para frente e para trás. — Isso não é o que aconteceu, minha querida. Bear caiu da sua moto na sua fazenda. Ele foi até a casa usar seu telefone já que o dele não tinha sinal. Quando ele chegou até a casa, sua mãe estava lá fora ameaçando matar seu pai, acenando com uma arma de fogo ao redor. Bear pegou a pistola da varanda e atirou nela em legítima defesa antes de fugir.

— Isso não é o que aconteceu, — eu disse categoricamente.

— De acordo com a confissão dele, é exatamente o que aconteceu, — disse King. — Você precisa confiar nele.

Confiar?

Confiança é uma coisa engraçada. Especialmente quando tanto a minha paciência quanto a minha sanidade já haviam atingido seu limite, e o homem que amo havia sido preso por algo que eu fiz, me deixando com um coração vazio e uma nota irritante, me ordenando voltar para o lugar que eu mais odiava no mundo. Eu confiei nele e eu sabia no meu coração que ele estava fazendo o que era melhor para mim.

O que eu não confiava era que ele não morrer no processo.

— Descanse um pouco. Vou te trazer de volta na parte da manhã, — disse King, e era isso.

Eu nem sequer tentei dormir imediatamente, sabendo muito bem que seria impossível quando eu provavelmente ainda seria capaz de sentir o cheiro de Bear nos lençóis. Em vez disso, me sentei no mesmo pequeno barco onde Bear confessou seus sentimentos por mim, só que desta vez, o deixei amarrado ao paredão, não tendo a força para lutar contra a corrente.

Tomei um gole da garrafa vazia de Jack que eu tinha encontrado no apartamento da garagem e olhei para a água do rio. O líquido âmbar queimou minha boca e garganta, ignorando meu coração recém-quebrado e acendeu um fogo no meu estômago.

Com cada gole, eu jurei que eu ainda podia sentir o gosto dos lábios de Bear na garrafa.

Era tarde. O ar estava estagnado. A umidade tão alta que pequenas gotas de água se formaram em meus braços e pingava nas dobras dos meus cotovelos.

Tudo aconteceu tão rápido, mas era como se nenhum momento tivesse passado.

Como isso era possível?

Há quanto tempo eu conhecia Bear antes dele decidir se sacrificar por mim?

Dias? Semanas? Meses?

Tempo se misturou até que desacelerou e parou e vi com horror Bear ser arrastado.

Doeu ele não ter me dito qual era seu plano, embora eu entenda por que ele não me disse.

Ele sabia que eu jamais teria o deixado fazer isso. Se soubesse, eu teria ido até o xerife e confessado.

Não é como se eu tivesse amado ele desde o momento que coloquei os olhos sobre ele. Não, eu era apenas uma criança, mas eu estava apaixonada. Algo dentro de mim mudou naquele dia. Pode não ter sido amor, mas mais como uma extensão de mim mesma andando por aquela porta. Daquele dia em diante, com o anel de caveira de Bear escondido debaixo da camisa, era como se eu pudesse respirar.

Como se eu estivesse completa.

Eu tinha pressionado o anel de Bear toda vez que Erin Flemming me intimidava na quinta série, e eu tirei força disso no dia que eu finalmente aguentei o suficiente e soquei seu estômago. Fui enviada para casa da escola e nem sequer pestanejei quando minha mãe me deu castigo por um mês.

Tinha totalmente valido a pena.

Eu tinha esfregado o anel como boa sorte antes das minhas aulas de tiro. Eu ainda detinha o recorde em três condados. E tarde da noite, eu o coloquei na minha pequena cama de casal, e o segurei contra os meus lábios, desejando que pudesse de alguma forma fazer meus pais pararem de brigar.

Mesmo depois que eu soube que a promessa que eu estava usando no meu pescoço por oito anos era algo vazio, eu não fiquei menos eufórica quando Bear tinha dado de volta para mim.

Puxei o anel para fora da minha camisa e olhei para o crânio. A luz da lua refletida o diamante, fazendo com que parecesse como se ele estivesse piscando para mim.

Quanto mais tempo Bear estava na cadeia, mais parecia que ele nunca iria sair, mas ninguém me disse exatamente o que eu deveria estar esperando.

Meu coração torceu e bílis subiu na minha garganta, o uísque queimava seu caminho de volta para cima da mesma forma que tinha queimado no caminho para baixo.

Eu não poderia permanecer pensando assim. Eu não podia deixar minha mente ir para lá.

Mas eu não podia apenas esperar.

Me prometa que não importa o quê, você não vai desistir de mim. Me prometa, Ti.

Foda-se à espera.

Eu lancei a garrafa no ar com um rugido gutural. Ela girou até cair na água com um esguicho, fazendo a superfície ondular quando a garrafa atingiu a água. No momento em que a ondulação atingiu o barco, eu decidi que, embora eu confiasse em Bear, de jeito nenhum eu iria apenas sentar e deixar seu destino descansar nas mãos dos outros. Eu iria fazer algo na primeira oportunidade.

Eu só tinha que descobrir o que exatamente qual seria.


Capítulo seis

Thia

Estou no apartamento de Bear. Está tarde. Muito tarde para o telefone na mesa de cabeceira estar tocando. Eu rolo e atendo. — Olá, — eu digo, minha voz rouca e áspera do sono. Pigarreio e a voz do outro lado ri.

Arrepios saem pela minha espinha e eu me sento na cama.

— Baby, sou eu. Não diga nada. Apenas me deixe falar. Há tanta coisa que eu preciso dizer para você, mas eu não sei por onde começar, porra. Então vou começar assim. Eu penso em você. Mesmo que só se passaram horas eu sinto sua falta mais do que tudo. Eu nunca soube o que é sentir falta de qualquer coisa ou até mesmo o significado disso até agora. Eu não sei quando eu vou ser capaz de falar novamente, então eu queria te dizer tudo isso agora, enquanto eu ainda posso. Você ainda está aí, Ti?

— Sim, — eu digo sem fôlego. — Sim, estou aqui.

— Eu amo o jeito que você geme quando eu faço você gozar. Eu amo o jeito que você fica molhada só de ouvir minha voz. Mas eu também vou sentir falta do jeito que você mastiga as pontas do seu cabelo quando você não sabe o que dizer. Vou sentir falta do jeito que você me olha como se você estivesse tentando me descobrir, quando na verdade eu sou um cara simples, normalmente estou pensando em quão linda você é e como conseguir você nua. Vou sentir falta do jeito que você sempre diz que você nunca está com fome quando eu pergunto, mas, então come metade de tudo o que eu estou comendo. Eu vou sentir sua falta. Eu sinto sua falta. Eu sinto falta do jeito que você me faz sentir como uma pessoa do mundo, em vez de um problema nele.

— Até você, eu não senti nada. Eu não era nada. Você me deu tudo e eu pretendo fazer o mesmo por você. Você é muito boa para mim, mas eu pretendo ser tão bom quanto você. Contigo. Por sua causa.

Eu permaneço em silêncio como ele mandou, mas eu não posso silenciar as lágrimas nos meus olhos.

— O mundo estava escuro e você ligou o interruptor de luz do caralho e agora é tão brilhante, que eu estou cego. Eu estou na porra da cadeia... e eu nunca estive mais feliz. Quão ridículo é isso? Eu soo como um viado, mas no caso de algo acontecer a mim, eu apenas pensei que você deveria saber de tudo isso. Você precisa saber tudo isso.

— Eu— Bear me corta.

— Não, não fale. Estou agachado em um canto do banheiro mais repugnante que eu já estive, no meio da noite, falando em um telefone descartável que eu peguei de uma saída de ar condicionado, então, por favor, Ti, apenas ouça.

Concordo com a cabeça como se pudesse ver.

— Eu tenho uma confissão. Toda vez que nós transamos, eu gozei dentro de você. Estive aqui há meses, mais do que você e eu estivemos... bem, o que quer que tenha sido. Eu vou ficar realmente muito desapontado se você não estiver grávida. Se e quando eu sair daqui, pretendo concertar isso. Estou pensando em encher você com tanto de mim que você não vai ter escolha do caralho, além de carregar o meu filho.

— Eu não posso ser um homem bom, baby, mas ao contrário do meu fodido pai, eu acho que eu seria um bom pai. Eu quero uma menina. Com cabelo rosa, assim como você.

Eu cubro minha boca para Bear não ouvir meu soluço e mantenho o telefone afastado por um segundo para que eu possa fungar.

— Não se preocupe comigo, — continua ele, a voz levemente embargada. — E pelo amor de Deus, faça o que te disserem. Há um plano em prática. Bethany está trabalhando em me tirar. Mas isso vai levar tempo. Confie em mim. Confie em nós. Você pode fazer isso por mim, baby? Você pode confiar em mim?

Sim. Eu posso.

— Agora podemos falar, me diga algo sobre você. Algo que eu não sei. Algo que não é deprimente porque não há um monte de merda aqui pra sorrir.

Eu sorrio para o telefone e digo a primeira coisa que vem à mente. — Eu sempre quis ter um cachorro. Um grande. Tivemos um quando eu era mais jovem, o Great Dane. Meus pais nunca me deixaram ter outro depois que ele morreu, mas eu sempre quis ter um.

— Vou pegar um, baby. O maior deles que eu puder no segundo que eu sair.

— Você realmente acha que você vai voltar para casa? — a pergunta é dupla. Ele realmente vai sair? E ele vai realmente ser capaz de sobreviver a isto?

— Eu realmente não sei. Mas eu sei que um monte de gente quis acabar comigo quando eu não tinha nada para viver e eles nunca conseguiram, e eu vejo isso como uma coisa boa.

— Eu não entendo, — eu digo.

— Isso significa que agora que eu tenho algo para viver, eles vão ter que vir atrás de mim com uma arma nuclear do caralho amarrada ao peito, a fim de acabar comigo, porque eu não vou a lugar nenhum, Ti. Eu não vou deixar você. Nem agora. Nem nunca. Eu prometo.

— Eu acredito em você, — eu digo, porque eu acredito.

— Agora me diga onde você está, — Bear diz, sua voz baixando. — Você está na nossa cama? — ele pergunta, e há algo sobre sua voz misturada com a nossa cama que me coloca de volta na cama e me faz serpentear minha mão na frente do meu estômago.

— Estou na nossa cama, — eu digo, praticamente ronronando.

— Calcinha e uma blusa? — pergunta ele, citando minha roupa de dormir preferida.

— Sim, — eu digo.

— Bom, agora me escute, baby. Você se lembra da primeira vez que eu te tomei na caminhonete? Lembra como eu empurrei o meu pau dentro de você. Você era tão apertada, acho que você me machucou mais do que eu te machuquei quando você me deu essa sua buceta virgem e doce.

Eu desço minha mão ainda mais. — Eu me lembro, — eu digo e quase sai como um gemido quando eu mergulho meus dedos em minha calcinha.

— Você está tocando em si mesma? — pergunta Bear.

— Sim, eu estou.

— Boa menina, — diz ele, a voz esforçada. — Puxe sua calcinha para baixo e afaste as pernas para mim.

Eu arranco minha calcinha e espalho minhas pernas, como se ele estivesse entre elas vendo o que é seu. — Ok, — eu digo.

— Você se lembra da primeira vez que eu provei você? A primeira vez que minha língua tocou seu clitóris, sua buceta? Você se lembra como se sentiu quando eu te fodi com a minha língua até que você não aguentava mais?

Fechando os olhos, eu círculo meu clitóris com dois dedos, lembrando em detalhes vívidos cada coisa que Bear está mencionando. Sua língua molhada e quente, o aperto no meu estômago quando ele implacavelmente me fodia. Mais e mais rápido eu circulo até que eu já estou perto. — Sim, — eu digo.

Bear ri. — Mantenha essas pernas abertas. Lembre-se da sensação de segurar o meu cabelo enquanto meu rosto estava entre suas coxas. — eu fico cada vez mais perto do limite, enquanto eu circulo mais e mais rápido meu clitóris. Em seguida, mais duro, até que mesmo a menor das brisas poderia me derrubar. — Bear, — eu gemo, — Eu estou. Estou tão...

— Eu mal posso esperar para fazer isso novamente. Mas eu não vou deixar você gozar na minha língua na próxima vez, — diz Bear, e de repente eu estou desapontada.

— Não?

— Não, porque quando você estiver prestes a gozar na minha boca, eu vou sentar e te puxar para o meu pau e foder você. Eu vou te foder. DURO. Até que nós dois estejamos gritando e gozando, e gozando um pouco mais.

Eu caio, caio, e caio, e assim quando estou prestes a passar sobre o limite do mais belo orgasmo que eu já tinha tido com a minha própria mão, há barulhos no fundo. — Porra. Eu tenho que ir, Ti.

— Espere, — eu digo, ofegante, meus olhos abrindo. — Quando você vai...? — eu digo, sem saber o que exatamente eu vou pedir.

— Te amo, — e a ligação é cortada e a linha fica muda. Eu penduro minha cabeça entre os joelhos. — Ele vai ficar bem, — digo em voz alta, tentando me tranquilizar.

Estou triste. Eu estou feliz. Estou ansiosa.

O telefonema com Bear me faz sentir uma coisa que eu não tenho sentido desde que ele se foi e essa é a coisa que eu quero me agarrar até o segundo que ele estiver comigo novamente.

Esperançosa.

Eu desligo o telefone e entrego de volta para King, que o coloca em sua boca e engole em um grande gole.

É assim que eu sabia que toda a ligação não era nada mais do que um sonho. A realidade era que Bear tinha emitido uma regra de não-contato. Eu não podia ir até ele, e ele não viria a mim. Nenhuma ligação. Nada de visitas. King explicou que visitar o homem na cadeia que foi acusado de assassinar meus pais não faz me parecer a inocente que Bear está tentando me fazer ser.

Quando abro os olhos, realmente era King que estava de pé em cima de mim, seu corpo enorme fundido em sombras escuras, nenhuma evidência de que ele tinha ingerido quaisquer dispositivos eletrônicos. Felizmente, ao contrário do meu sonho, eu estava completamente vestida em uma camiseta e shorts, embora eu ainda estivesse respirando com dificuldade, ainda não totalmente recuperada do orgasmo que eu quase tive em meu sono. — Hora de ir para casa.

Casa? Me sentei e esfreguei os olhos. King me instruiu para encontrá-lo do lado de fora em dez minutos e saiu do quarto. Joguei as cobertas de cima de mim e fiz meu caminho para o banheiro para tomar banho.

Um balde de água fria.

Casa.

Onde diabos é isso?


Capítulo sete

BEAR

Um sinal explodiu logo cima, a chamada para o pátio ao fim e nem um minuto depois. Miller e eu fomos para a saída mais próxima, sem tirar os olhos de nossa nova companhia. — Ora, ora, McAdams, — o guarda no portão disse, me empurrando de volta para o pátio depois que Miller já tinha passado.

— Que porra é essa? — perguntou Miller, olhando para trás, enquanto o guarda fechava o portão, me deixando sozinho no pátio com os meus três ex-irmãos que estavam fazendo o seu caminho através do pátio. Miller me lançou um olhar solidário quando outro guarda o enxotou de volta para o interior do edifício.

— Achei que vocês precisavam de um momento a sós. Uma pequena reunião, — disse o guarda com um sorriso de escárnio.

— Vá se foder, — eu cuspi, a porra do guarda sabia exatamente o que diabos ele estava fazendo e eu não tinha dúvida de que ele tinha sido pago para fazer isso. — Por que você não vem aqui e vamos ver quão engraçado você acha que isso é. — o guarda riu com a alegria de três contra um, girando um conjunto de chaves em torno de seus dedos. Com uma saudação simulada, ele seguiu Miller de volta para as celas, assobiando enquanto andava. O portão pesado ecoando em todo o pátio quando se fechou.

Eu estalei os ossos no meu pescoço, me preparando para a luta da minha vida. Eu encontrei os idiotas na mesa de piquenique que eu tinha acabado de desocupar, e para minha surpresa, Wolf se encostou à mesa, enquanto Stone e Munch tomaram seus assentos. Eu meio que só assumi que eles queriam terminar logo com isso. Embora Miller tivesse acabado de me dar um maço de cigarros, quando avistei um pacote no bolso da frente do macacão de Wolf, eu estendi a mão e peguei, juntamente com uma caixa de fósforos. — Obrigado pelo cigarro, — eu disse, acendendo um e jogando a caixa de fósforos sobre a mesa. — Você meninas estão prontas para tentar fazer isso, ou o quê?

Tentar era a palavra mais importante.

Eu não estava com medo desses filhos da puta. O único medo que eu tinha realmente era de não ver Ti novamente.

Eu estava mais irritado do que qualquer coisa.

Agitado.

Todos esses anos e durante todo esse tempo desperdiçado tentando fazer meus irmãos os melhores bandidos e este foi o melhor plano que eles conseguiram? — Eu juro que eu ensinei a vocês, cadelas, melhor do que isso, — eu disse, balançando a cabeça. — Me levar para um pátio aberto na frente de uma tonelada de fodidas câmeras. Chop esteve perdendo a porra do objetivo por anos, mas eu esperava mais do que essa merda desleixada de vocês três. — eu esperava que eles se levantassem, estufassem o peito, e fizessem suas ameaças contra mim.

Qualquer coisa.

Munch e Stone olharam para o chão, enquanto Wolf acendia seu próprio cigarro. Antes da chama encontrar o papel, eu dei um soco no olho dele, e ele imediatamente caiu no chão.

Eu estava sempre pronto para o ataque.

— Chop nos enviou, mas não estamos aqui para acabar com você, filho da puta, — disse Wolf, rolando no chão, a mão sobre o olho.

— Então pra que diabos ele enviou vocês aqui? Pra uma briga de cócegas? — eu soprei a fumaça pelo nariz, e embora eu não tivesse ideia do que aconteceria nos próximos minutos, eu me senti relaxado entre o conflito familiar.

Em paz.

Em casa.

Adrenalina foi aumentando a casa minuto até que eu tinha certeza que eu poderia virar a porra de um caminhão se eu tivesse a chance.

Ou derrubar três caras de uma vez e ganhar.

— Não, ele nos enviou aqui para acabar com você, mas isso não é o que vamos fazer, — Munch disse, se levantando e ajudando Wolf no chão.

— Vocês vão ir contra as ordens do seu Prez? — eu estalei a língua contra o céu da boca. — Agora estou realmente desapontado. Eu devo ter sido um verdadeiro professor de merda para vocês para decidirem fazer isso.

— Nós não vamos contra as ordens de Prez, — Stone entrou na conversa, se levantando do banco, — Porque ele não é a porra do nosso Prez mais.

— O quê? — perguntei, sem saber sobre o universo alternativo estranho que eu tinha acabado de entrar.

Wolf soltou seu olho, que já estava começando a inchar, e abriu seu macacão. Empurrando para baixo, ele revelou seu peito nu, que costumava estar coberto com uma tatuagem com o logotipo dos Bastards. Agora, era uma ferida se curando, tecidos e fios de pele danificados esticando sobre o peito, apenas uma fração da tatuagem permaneceu.

Ele fez uma careta quando ele fechou novamente.

— Que porra é essa? Chop fez isso? — perguntei, apontando com o meu cigarro para Wolf.

Ele balançou a cabeça assim quando Munch e Stone revelaram suas próprias tatuagens recentemente queimadas. — Não, ele não fez. Nós fizemos. Todos nós fizemos.

— Por quê? — perguntei, de pé em completa descrença de que três dos soldados mais leais dos Bastards tinham se desligado do clube. — Que diabos Chop fez para fazerem vocês queimarem o próprio corpo?

— Stone, diga a ele... — Munch disse com um aceno tranquilizador. — Ele tem que saber se estamos querendo fazer isso direito.

— Eu não posso, cara, — disse Stone, socando a palma da mão aberta e balançando a cabeça. Seus olhos ficaram vidrados e ele chupou seus lábios, balançando para frente e para trás lentamente, como se ele estivesse relembrando as memórias de tudo o que ele não queria me dizer. Stone tem o seu nome porque, quando ele tinha que matar as pessoas, ele era um assassino frio de pedra. O tipo de cara que mal tirou as luvas, o corpo morto ainda quente, se levanta e diz: ‘Eu estou com fome, que quer um sanduíche?’ Então vê-lo reduzido a quase lágrimas me deixou muito curioso sobre o que diabos eles queriam me dizer.

— Você pode fazer isso, cara. Só diga, — disse Wolf.

— A BBB’s4, elas são apenas fodidas putas, — disse Stone como se ele estivesse se lembrando desse fato.

— Sério? É isso que Em era para você? Apenas uma puta? — Wolf estalou, chutando o pé para cima do banco descansando o cotovelo no joelho.

— Porra! Não, — Stone disse, deixando cair a testa na mesa e passando as mãos sobre a cabeça raspada, a tatuagem preta em sua testa brilhava com gotas de suor. — Ela era... merda! — Stone se levantou de forma tão abrupta que quase levou a mesa com ele. — Supostamente elas são apenas prostitutas. Puxa-sacos. Você sabe disso. Nós todos sabemos disso, porra. — Stone andava para frente apara trás enquanto ele falava, torcendo as mãos e olhando entre a grama e eu. — Eles estão lá para chupar e montar um pau sem pestanejar. Se elas questionam, elas estão fora. Elas não podem dizer não. Elas não podem negar a um irmão. Essas meninas vivem para festa. Para a aventura do clube.

— Sim, até que elas deixaram de viver completamente, — Munch entrou na conversa, acendendo um cigarro.

— Onde diabos vocês estão querendo chegar?

Stone olhou para mim, mas havia mais dor nos olhos, mais emoção, e eu conhecia ele há mais de dez anos. — Onde eu estou chegando é Em.

— Em? — perguntei, não recordando ninguém por esse nome.

— Sim. Ela tinha cabelo preto e olhos cinzentos estranhos. Ela veio para o clube logo depois que você saiu. Ela não tinha mais para onde ir, a mãe dela morreu em algum tipo de acidente. De qualquer forma, depois das festas quando todo mundo desmaiava, conversamos. Ela não era como as outras. Ela ouvia. Ela realmente gostava de mim. Nós ficamos próximos. — ele respirou um suspiro. — Muito próximos. Ela era a minha menina. Apesar do que ela fazia com os outros irmãos antes dela vir ao meu quarto à noite, ela ainda era a porra da minha menina.

— Então, o que diabos aconteceu? — não era a coisa mais estranha que eu já ouvi. Ao longo dos anos eu tinha visto algumas BBB’s se tornarem old ladies. Não era segredo que Sadie era uma delas.

— Chop descobriu, embora não é como se nós estivéssemos mantendo isso em segredo. Ele descobriu que eu pretendia levá-la para fora do clube e dessa vida, e a colocou em um lugar. Ele não deveria ter se importado. Toneladas de irmãos têm feito isso antes. Ele nem sabia a porra do nome dela. Mas, assim como com todos os outros códigos ou leis do clube que Chop tinha adicionado ou retirado para atender seus próprios humores malditos, de repente, uma prostituta do clube era proibido virar uma old lady.

— Continue, — eu disse, embora eu tivesse certeza que eu sabia exatamente como a história iria acabar. Porque com Chop todas as histórias terminavam da mesma forma e a maioria das pessoas nas histórias não respiravam mais.

Wolf acendeu um cigarro e passou para Stone, que continuou. — Chop me chamou em seu escritório. Ele me pediu para fechar a porta. Eu fiz e tomei um assento e foi aí que notei os saltos aparecendo por debaixo da mesa. Eu sabia que era Em. Eu tinha comprado para ela aqueles sapatos de merda. — ele fez uma pausa e passou a mão sobre sua boca. — Perguntei a ele o que ele precisava, embora minha vontade era vomitar ou matá-lo ou os duas coisas. O filho da puta sorriu o tempo todo. Ele me fez esperar. Ele sabia que estava me torturando e ele estava gostando.

— Que otário, — Munch disse, batendo o punho na mesa.

— Quebrei a cabeça pensando sobre o que eu poderia ter feito para ter esse tipo de punição, mas não havia nada, — disse Stone. Ele se sentou no banco de novo, baixando a cabeça para a mesa e falou para o chão. — Eu era um bom soldado. Eu era o melhor soldado. Eu nunca fiz perguntas. Eu fiz o que foi dito.

— Diga a ele o resto. Está quase no fim, — disse Wolf.

Stone deu uma tragada no cigarro e uma lágrima caiu do canto do seu olho. O cara assobiava ao matar e ele estava chorando por uma prostituta do clube? Não fazia sentido. — Então, ele me disse que ele não precisava de nada de mim, mas que tinha algo para mim. Perguntei a ele o que era. Ele me disse que era uma lição.

Stone mordeu os lábios e seu rosto se tornou cada vez mais vermelho quando sua tristeza se transformou em raiva. Meu coração começou a correr. — Eu entrei em pânico porque eu deixei minha pistola no meu quarto, eu nunca imaginei que eu precisaria disso contra o Prez, porque eu era um bom soldado, — repetiu ele. — A porra de um soltado leal.

— Eu sei que você era, irmão, — eu disse.

— Ele agarrou um punhado do cabelo dela e puxou sua boca do pau dele. ‘Não seja rude, Em. Diga olá para o nosso convidado’. Ela se virou para olhar para mim e seus lábios estavam ainda molhados dele. Seu olho estava inchado e seu lábio inferior estava aberto com o sangue escorrendo pelo queixo. Eu pensei que ia vomitar na hora, até que eu vi o medo nos olhos dela. Não era apenas medo. Era como se ela estivesse em branco. Como se ela já tivesse desistido. O que aconteceu antes de eu chegar lá tinha que ter sido ruim o suficiente para fazê-la pensar que não havia nenhuma maneira de sair dessa. Eu acho que poderia ter sido a coisa mais brutal de todas. Porque ela estava certa. — Stone estava agora soluçando.

Munch colocou o braço em torno do ombro dele. — Nós vamos acabar com esse filho da puta, eu prometo.

Stone continuou através das lágrimas. — Ele me disse que o que ele queria era que seus soldados fossem soldados e não se apaixonassem pelos ‘depósitos de porra’ que cada irmão neste lugar tinha pulverizado sua merda uma centena de vezes. Perguntei por que ele estava fazendo isso. Eu não entendi. Ele era meu Prez. Um fodido rei para mim. Os Bastards me tiraram da rua e me deram algo em que acreditar. Eu nunca teria contrariado ele, não importa o que. Mesmo quando você saiu e eu achei que ele estava errado, eu fiquei ao lado dele. Não porque eu achava que ele estava certo, mas porque você me ensinou a não questionar o meu Prez, então eu não fiz.

— Vá para o fim, — eu disse. Eu odiava que eu tinha que esperar para o que eu já sabia que viria.

— ‘Porque prostitutas não são sua família’, disse Chop. ‘Seus irmãos são a sua única família. Prostitutas são uma foda descartável’. Eu nem sequer percebi que ele tinha uma arma em seu colo até que ele a segurou contra a cabeça dela. ‘Tá vendo? Eu acabei de gozar na garganta dela’, ele disse, ‘e esta prostituta me agradece sangrando em mim’. Então ele puxou a porra do gatilho.

— Porra! — eu disse. Agora eu me levantei e comecei a andar.

— Isso não é tudo, — disse Wolf. Deixando Stone e Munch no banco quando ele se aproximou de mim e baixou a voz como se ele não quisesse perturbar Stone ainda mais.

— Como é que não é tudo? O filho da puta matou a old lady de Stone bem na frente dele para ensinar a ele algum tipo de lição doente sobre os seus pontos de vista sobre a família?

— Não, nem mesmo perto de tudo isso.

— Só me diga, — eu disse, pensando em Chop agredindo Ti, fazendo o meu próprio estômago começar a rolar. Poderia ter sido ela. Ele poderia tê-la matado.

— Ele não apenas matou Em, — Wolf disse, olhando para Stone, que estava de bruços entre os cotovelos.

— Ele matou outra? — eu perguntei, me perguntando por que diabos Chop mataria duas BBB’s.

Wolf balançou a cabeça. — Não, irmão... ele matou todas elas.

— Puta que pariu, — eu disse, me sentando no banco. Wolf sentou ao meu lado.

— Nós tiramos os coletes e queimamos as tatuagens da nossa pele porque um Prez, um verdadeiro Prez, não faria esse tipo de merda. Ele não mataria pessoas que você ama, — Wolf disse, me olhando diretamente nos olhos para que eu pudesse ver que ele estava dizendo a verdade. — E eu te entendo agora. Por que você foi embora. Porque ele te pediu para escolher entre o clube e as pessoas que você pensa como família e essa merda não está certa. — ele balançou a cabeça. — Não está certa.

— Executadas, — Munch interrompeu. — No pátio, uma a uma. Nós tentamos impedi-lo. Ele atirou em um prospecto na perna e nos disse pra cuidar do nosso próprio negócio enquanto ele cuidava do dele.

— Por que diabos ele iria matar todas as BBB’s? — perguntei, pensando nas meninas inocentes cujo único crime foi querer fazer parte de um mundo que não deveriam ter querido fazer uma parte.

— Nós não temos nenhuma pista. Tudo o que sabemos é que ele chamou todas para o pátio e apontou uma arma em suas cabeças. Ele continuou a gritar com elas, perguntando a elas onde ela estava e quando elas perguntam a quem ele estava se referindo ou dizia a ele que elas não sabiam, ele atirava e chutava seus corpos sangrando na piscina.

Eu segurei meu rosto em minhas mãos. — Ele não parou até que elas todas foram mortas, — disse Wolf, acendendo outro cigarro com um na mão.

— Aconteceu tão rápido. Um minuto ele estava bem e no minuto seguinte ele estava assassinando todas as prostitutas do clube. Quando ele terminou, ele deu a volta, murmurando e depois se trancou em seu escritório. Quando ele voltou, ele agiu como se nada tivesse acontecido. Ele mandou os prospectos limparem a bagunça e ele jogou uma partida de bilhar. Foi muito fodido, — disse Munch.

— Ele matou minha old lady, — Stone lamentou.

Esfreguei minha barba e olhei para Stone. — Chop está tentando ir atrás da minha mulher desde antes dela ser minha, — eu admiti. — Eu não posso dizer que eu sei como você se sente irmão, mas posso te dizer como é ter medo de que isso aconteça a cada fodido segundo do dia. — lembrando a bagunça ensanguentada que Gus tinha deixado na porta de King, me fez cerrar os dentes até que eu achei que fossem rachar.

— Primeiro de tudo, estou chocado pra caralho que você, de todas as pessoas do caralho, tem uma old lady, mas vamos falar sobre essa merda quando tivermos assuntos menos urgentes batendo na nossa porta. — disse Wold, com uma pequeno sorriso que me fez lembrar de quão próximo nós costumávamos ser. A familiaridade de estarmos sentados a uma mesa, não importa quão fodido o assunto que estávamos discutindo era, era um sentimento de boas-vindas.

— Há nove de nós. Nove que queimaram as nossas tatuagens a noite após a coisa das BBB’s. Os três de nós, Gus, Chump, e alguns dos outros. Quando Chop deu as ordens para virmos aqui e te matar, era a oportunidade perfeita, — disse Munch, olhando em volta para se certificar de que ninguém estava ouvindo. Havia apenas um guarda e ele estava junto ao portão, do outro lado do pátio, onde eles tinham vindo. Bem longe dos ouvidos.

— Oportunidade para quê? — perguntei, ainda não tendo certeza do porque eles iriam seguir as ordens de Chop de vir para County se não havia Bastards mais.

— Chop quer ir para a guerra com você, — Munch afirmou. Ele estendeu as mãos abertas e esticou os braços para os lados. — Você vai precisar de um exército.

Stone olhou para cima do seu braço pela primeira vez. — Nós somos o seu exército.

— Eu aprecio isso, mas se essa guerra acontecer, vai ser aqui. Eu tenho gente tentando me tirar daqui, mas se não der, não vou sair tão cedo, — eu disse, enxugando o suor da minha testa.

— Você está aqui por causa da menina, não é? — perguntou Munch. — Porque matar dois civis não é realmente seu estilo.

— Sim. — eu respirei fundo, precisando da nicotina mais do que nunca. — Antes eu do que ela. Faria isso novamente em um piscar de olhos. Eu assinei uma confissão, então não parece que eu vou a qualquer lugar nenhum tão cedo.

— Deixa isso conosco, irmão, — Munch disse com um sorriso. Esse garoto poderia passar por qualquer merda, então eu não iria duvidar dele realmente capaz de me tirar de alguma forma. — Nós já temos alguma coisa acontecendo.

— O que Munch quer dizer é que uma garota que ele costumava foder arrumou um trabalho de triagem de evidências para o município, — disse Wolf.

— Sério?

— Sim, e parece que as armas utilizadas nos assassinatos simplesmente desapareceram, — disse Munch, fazendo um puff com as mãos. Não é como se aquelas armas tivessem minhas impressões sobre elas, mas ainda era o suficiente para causar uma grande onda no caso da acusação.

— Eles ainda têm a minha confissão assinada.

Wolf riu. — Eles não têm mais. Olha que engraçado. O promotor designado para o caso parece ter perdido todos os traços dele. E o juiz - velho e senil, sem mencionar que esta profundamente em dívida conosco por levar o noivo da sua filha para fora da cidade - jura que nunca viu, — ele piscou.

Wolf balançou a cabeça e sorriu. — Nós também achamos que aquela advogada gostosa sua teve o relatório do legista alterado para dizer um monte de coisas conflitantes sobre o assassinato. Ela pediu um caso de destituição, então agora é só esperar.

Munch estalou os dedos e deslizou um cigarro apagado atrás da orelha direita. — Essa cadela é sombria pra caralho, e eu gostaria de mostrar a ela o quanto eu aprecio a maneira como ela fica naquelas saias justas fodendo o rabo dela. Ela liderou um par de casos em que acabei no lado errado da sala do tribunal, e eu juro que eu não me importava quanto tempo demorasse, desde que ela continuasse se abaixando sobre sua mesa para vasculhar seus papéis.

Nós três rimos e até mesmo Stone sorriu brevemente. Tudo parecia normal.

Bem, tão normal quanto podia ser.

De alguma forma, eu tinha a sensação de que não seria a última vez que Bethany Fletcher e eu estaríamos trabalhando juntos.

A perspectiva de sair e ver Ti fez meu coração bater mais forte, mais rápido e mais poderoso.

E, de repente isso me bateu.

— Eu acho que sei como chegar ao meu velho, — eu disse, dando uma tragada longa e lenta no meu cigarro, meus pensamentos firmemente na minha visita surpresa daquela manhã.

— Como? — perguntou Munch, se inclinando para perto.

— Não como. QUEM. — disse eu.

— Ok, quem? — perguntou Wolf, também se inclinando.

— Você disse que Chop estava perguntando às BBB’s onde ela estava. — eu apaguei meu cigarro e puxei minha barba. — Eu acho que sei quem ela é.

No pátio da prisão do condado em um dia onde o sol implacável batia em nós como se estivesse tentando punir os ocupantes da terra, um pedaço quebrado de mim foi colocado de volta no lugar.

— Então o que você diz, irmão? Você quer novos soldados para que todos possamos usar um colete de novo? Para que todos possamos acreditar nessa merda de novo? — perguntou Munch, apagando o cigarro. — Nós podemos ser o nosso próprio clube, fazer tudo certo desta vez.

Eu estalei meus dedos. — Eu não vou colocar um fodido colete novamente. Essa parte de mim morreu. Eu não vou ser o seu líder. Eu não vou ser seu Prez, mas eu vou ser um soldado com vocês. Nós vamos entrar em guerra juntos, e vamos acabar com esse filho da puta.

Podemos não ter sido um MC oficial.

Mas estávamos oficialmente em guerra.


Capítulo oito

Thia

— Eu pensei que você estava me levando para o bosque, — eu disse quando King parou em um motel ao lado da rodovia, a meio caminho entre Jessep e Logan’s Beach.

— Eu ia, mas Bear não queria que você ficasse sozinha lá. Ele chamou alguém para cuidar de você. Vamos nos encontrar aqui.

— Quem? — perguntei, mas King já estava saindo da caminhonete e abrindo uma das portas do quarto de motel.

Esperamos pelo que pareceram horas, mas na realidade foi, provavelmente, poucos minutos quando bateram na porta. King colocou seu dedo indicador sobre os lábios. Ele se moveu lentamente em direção às cortinas, arrastando o tecido grosso e olhando para fora da janela. Satisfeito com o que viu, ele removeu a trava de segurança e abriu a porta. Ele abriu apenas algumas polegadas e se afastou para deixar quem quer que fosse entrar no quarto.

O que eu vi de pé ali não era o que eu esperava.

Não era quem eu esperava.

O que eu estava esperando era outro motoqueiro durão. Alguém que parecia forte e estivesse envolto com tatuagens de crânio. O que eu não esperava era essa coisa loira diante de mim.

Eu certamente nunca esperava uma menina.

— Este lugar é um lixo, — disse ela sem rodeios, empurrando King. Ela olhou ao redor do quarto quando King fechou a porta, trancou e deu outra olhava para fora da janela.

— Qualquer possibilidade de você ter sido seguida? — perguntou King. Ela o ignorou, voando pelo quarto como uma mosca tentando encontrar uma janela aberta.

— Você sabe quantas pessoas por ano pegam doenças de lugares como este? — ela perguntou, olhando para o banheiro com um olhar de desgosto puro. — Estatisticamente, dada a idade do motel e freguesia - com base, é claro, de lugares de estacionamento disponíveis e número de carrinhos de limpeza no corredor - não há, essencialmente, um único ponto deste quarto, ou qualquer um dos outros quartos neste lugar, que em um momento ou outro não foram contaminados pelo esperma ou matéria fecal. — é como se ela não respirasse entre as frases.

Ela caminhou ao redor do quarto, avaliando tudo, desde a corda que ligava a lâmpada até os rodapés. Ela não era muito mais velha do que eu. — Você sabia que dois terços de todos os casos de intoxicação alimentar não são realmente intoxicação alimentar, mas apenas o efeito colateral de alguma pequena assassina, unicelular, um organismo de merda esperando em suas mãos para saltar para a sua comida e, em seguida, em sua boca e trato digestivo para fazer com que você, se você tiver sorte, horas de indigestão e problemas de cólon espástica, e se você não estiver com sorte, seu desaparecimento súbito e prematuro? — ela balançou a cabeça. — A morte por diarreia.

Eu estava ficando com dor de cabeça.

Lento era um termo que eu tinha certeza de que foi inventado em Jessep, onde a vida andava mais lento do que um trator dirigindo pela estrada principal. Esta menina estava andando ao redor do quarto em uma alta taxa de velocidade de tal forma que ela parecia e soava como se estivesse presa em avanço rápido.

— Rage! — King estalou. A menina se virou de onde ela estava inspecionando o batente da porta do banheiro. — Você acha que foi seguida? — repetiu ele.

A menina zombou como se o que King estava sugerindo fosse impossível. — Se eu estivesse sendo seguida, eu teria acabado com eles. Se eu estivesse sendo seguida, eu não estaria neste quarto de motel nojento agora me perguntando qual microbiana vai entrar em mim. — ela apoiou as mãos na alça da bolsa azul brilhante pendurada em seu ombro, que leia LEE COUNTY HIGH SCHOOL através dela na rotulação da parte branca grande. Ela olhou para o velho teto. — Você me conhece melhor do que isso.

— Seu nome é Rage5? — eu perguntei, tentando não parecer tão surpresa e confusa como eu estava. Ela tinha pouco mais de um e cinquenta de altura. Ela usava uma camiseta rosa que dizia algo sobre vestir rosa às quartas-feiras, um short branco, e um sapa tênis branco. — Você é amiga de Bear? — perguntei, tentando juntar o que diabos estava acontecendo.

A menina voltou sua atenção de King para mim, como se ela acabasse de perceber que eu estava no quarto. Ela me olhou e sorriu docemente. Não era o tipo de sorriso que gritava amigável ou extrovertida, como seu traje casual e personalidade alegre poderiam sugerir. Este era um sorriso preparado. Um sorriso ensaiado.

Mal ensaiado.

Ela olhou como se ela estivesse em dor.

Rage voltou para a porta e abriu. A princípio pensei que ela estava indo embora, mas ela pegou a placa de ‘não perturbe’ pendurada no interior da porta e colocou no exterior, antes de fechá-la novamente e se virar para nós. — Sim, meu nome é Rage, e não, eu não sou amiga do Bear. Eu sou amiga de quem me paga mais, que agora é King e Bear. — ela apontou o dedo para King. — E, a propósito, Rage é apelido para Ragina.

— Não, não é, — disse King, falando com ela.

— Ok, não é, — disse ela, deixando cair o sorriso falso. — A verdade é que o meu nome pode ou não ter algo a ver com um possível importante problema de gerenciamento de extrema raiva que pode ou não ter tido um ponto inicial, ou possivelmente ainda tem.

Olhei para ela, mas não disse nada. Eu não podia. Eu estava atordoada em silêncio.

— Nós não vamos ficar aqui, vamos? Eu não sou um motoqueiro porco. Eu não posso simplesmente me aconchegar e dormir em uma cama que eu sei que está criando organismos vivos e respirando e está cheia de crostas de sêmen. — ela estremeceu. — Nem me fale sobre a porra das toalhas.

— Você dorme agora? — perguntou King.

— Não, — Rage respondeu categoricamente, ainda olhando o teto. Ela torceu o nariz. — Talvez eu devesse dizer que eu estava sendo seguida para que eu pudesse dar o fora desse Bates Motel aqui6. — os olhos dela se arregalaram. — Oh meu Deus, eu vi mofo! — ela exclamou, apontando para algumas partes pretas em torno de uma rachadura no canto perto da porta. Ela se inclinou na cintura e colocou as mãos em torno da sua garganta como se ela estivesse de repente sufocando. Cada entrada de ar parecia uma luta, muito difícil respirar. — Eu não posso respirar. O mofo ataca minha asma. Eu estou tendo um ataque! Eu preciso do meu inalador!

— O que posso fazer? — perguntei, pulando para cima e para ela, na esperança de salvar sua vida.

— A explosão do armazém em Ocala. Foi você? — perguntou King, não se incomodando com a situação de Rage.

Rage se levantou e sorriu, e eu tive de me inclinar para a esquerda, a fim de evitar ser espancada por seu rabo de cavalo. Seu ataque de asma de repente foi esquecido e seus olhos ficaram escuros, suas pupilas grandes, como se tivesse acabado de usar uma linha de algo. — Isso foi lindo, não foi? — ela disse, emocionada, pulando para cima e para baixo, batendo as palmas. — Meu melhor trabalho. Uma sinfonia se você quiser. Foi mágico.

— Você explodiu um prédio, Rage. Você não é o fodido Mozart, — King disse sarcasticamente.

Ela olhou de forma sonhadora para fora. — Mozart era um visionário. Seu cérebro via as coisas, o mundo, de forma diferente. — ela levantou e baixou os braços, segurando um bastão imaginário como se ela fosse um maestro, instruindo a orquestra, — E eu também.

Foi à vez de King revirar os olhos.

Rage baixou os braços e bateu o pé. Ela segurou a bolsa com força contra o peito. — Eu não sei você, mas, infelizmente, se ficarmos aqui por mais tempo, eu vou explodir essa porra de motel, e você pode ser um dano colateral, se isso acontecer, e eu super amo seu cabelo então seria uma verdadeira vergonha, desde que eu fui encarregada de te manter segura e tudo mais.

— Ela? — perguntei a King, não me importando se ela podia me ouvir. Os dedos de King estavam brancos e parecia como se lhe doesse não colocar a menina no lugar dela depois que ela o insultou.

— Oh. Merda, — Rage exclamou. — Eu acho que alguns mofos ali no canto acabaram de se mexer. Vamos dar o fora antes de eu decidir que ser babá é realmente uma má ideia.

King abriu a porta e nós saímos.

— Isso vai ser divertido! — ela anunciou sarcasticamente, quando ela entrou na caminhonete e jogou a bolsa para King colocar no porta malas do carro. Ela sentou no meio e eu tomei o assento ao lado dela e fomos para Jessep.

Bear estava na cadeia por mim, por minha causa. Se ele quisesse que eu fosse para casa e ele queria essa Barbie Grosseira para me acompanhar, então eu iria fazer.

Rage estalou seu chiclete no meu ouvido, e eu mordi meu lábio até quase sair sangue. — Tem cheiro de suor aqui, — ela se queixou, virando todas as saídas de ar condicionado para si mesma.

Confiança, eu me lembrei.

Afinal, não era como se ela fosse ficar muito tempo.

Quero dizer, não podia ser tanto tempo porque Bear iria sair em breve e tudo ficaria bem.

Comecei dizendo isso uma e outra vez. No momento em que chegamos em Jessep, isso soava quase crível.

Quase.


Capítulo nove

Thia

Era outro tempo quando eu tinha passado em Jessep a última vez. Pelo menos era assim que parecia, embora na realidade não tivesse sido muito tempo em tudo.

No entanto, o cheiro de laranjas podres era mais pungente do que eu lembrava, tão forte que Rage cobriu a boca, assim quando nós passamos pelo sinal de boas vindas de Jessep. Se possível, as estradas de terra tinham ficado ainda mais difíceis de passar, como evidenciado pela caminhonete saltando de um lado para outro enquanto eu tentava - e não conseguia - me esquivar de buracos enormes e grandes rochas.

Casa.

Isso ainda é o que este lugar era?

Não se sentia dessa forma.

Passamos pela pequena cruz no lado da estrada em que Kevin Little tombou a sua John Deer7, se prendendo sob a água rasa de uma vala de retenção. Eu nunca conheci Kevin, mas eu conhecia a sua família. A cruz tinha estado lá por tanto tempo quanto eu poderia lembrar. Flores silvestres murchas estavam empilhadas no chão em torno dele. Balões murchos emaranhados uns com os outros, as cordas eram, provavelmente, a única coisa que mantinha a madeira empenada na vertical.

Essa cruz costumava ser o primeiro sinal de que eu estava voltando para casa. Foi a primeira coisa que me dava esse sentimento morno e distorcido de familiaridade sempre que saía da estrada principal e na primeira estrada de terra que levava a Jessep.

Vindo para a cidade desta vez foi diferente.

Parecia familiar, mas já não me senti em casa.

Eu não sei quando isso aconteceu. Foi quando meus pais morreram e eu saí da cidade? Foi antes disso e eu não tinha notado?

Em Jessep, os filhos de agricultores, se tornavam próprios agricultores ou agricultores casados. Eu sabia desde muito cedo que iria cair sobre mim assumir Andrews Grove. Era tudo o que eu sabia. Não era que eu gostava da ideia. Eu realmente nunca sequer pensei nisso como um gostar ou não gostar. Não era uma escolha. Era exatamente o que ia acontecer. Não havia planos para a minha educação universitária. A coisa mais próxima de faculdade que eu tive era esperar para ter era algumas aulas de negócio noturnas e cursos de certificação realizada a cada poucos meses no refeitório da escola secundária.

Mas então meus pais faliram, e eu estava gerindo o bosque antes que eu pudesse me inscrever para os cursos. Eu tentei o meu melhor com o conhecimento que eu sabia ao crescer no bosque para salvá-lo, mas tudo foi à merda tão rápido, era como se eu tivesse piscado e estava tudo acabado.

Eu tinha falhado.

 

* * *

 

— Eu não quero ir para lá, — eu disse, olhando para a varanda da frente.

— Eu liguei a luz novamente, — disse King, entendendo mal o meu raciocínio de não querer ir para a pequena casa de horrores do meu passado. Rage, por outro lado subiu os degraus e chutou a porta da frente, desaparecendo lá dentro.

— Isso fede, — ela gritou, fazendo um longo e alto ruído de engasgo.

— Ela é realmente o que vocês queriam que cuidasse de mim? — perguntei a King. — Quer dizer, eu sei que você disse que ela explodiu um prédio, mas você tem certeza de que ela não estava apenas tentando desinfetar o local ou algo assim? Ela parece ter uma coisa sobre cheiros.

— Não deixe que a rosa te engane, — disse ele, sua voz profunda e dura. — Essa pequena psicopata da limpeza lá é a pessoa mais mortal, bem, talvez a segunda mais mortal, que eu já conheci e isso é porque ela não toma partido. Ela não tem consciência. É bom que chegamos a ela antes de Chop ou você estaria encontrando um outro lado de Rage. Que acaba com você não respirando.

— Oh, — eu murmurei, não tendo certeza se eu deveria estar feliz ou triste sobre Bear escolher me deixar aos cuidados de Rambo, edição rainha do baile. King caminhou até a varanda e gritou algo para Rage que apareceu novamente na porta, girando a ponta do seu rabo de cavalo.

— Ray ou eu vamos te ligar para verificar, — King afirmou quando ele passou direto por mim e voltou para a caminhonete. Em segundos ele tinha saído e desapareceu no caminho. Eu não podia ver a caminhonete, mas eu poderia ver a poeira esvoaçante atrás dele e sobre as árvores enquanto King fazia o seu caminho para fora de Jessep.

Olhei para Rage, que apertou os lábios e franziu a testa. Eu não poderia evitar, mas desejei que eu ainda estivesse naquela caminhonete com ele.

Eu me arrastei até a casa, mas parei pouco antes dos degraus deteriorados.

— Você atira? — perguntou Rage, segurando uma das minhas fitas azuis de primeiro lugar8.

— Sim. Um pouco.

— Quer fazer uma pequena competição? — ela perguntou, com um sorriso malicioso, puxando duas armas da sua mochila.

Rage pode ser capaz de explodir prédios e se o que King disse era verdade, muito mais do que isso. Mas em uma competição de tiro eu tinha uma forte dúvida de que ela poderia me vencer e talvez um pouco de distração da realidade fosse o que eu precisava. Afinal, eu não tinha ideia de quanto tempo nós tínhamos em nossas mãos.

— Ok, — eu disse, apontando atrás dela. — Há uma cerca na parte de trás da propriedade. Ainda pode haver alguns dos meus antigos alvos lá fora-

— Não. Não exatamente o que eu tinha em mente, — Rage interrompeu, verificando seu reflexo no cromo de uma de suas armas. Ela me jogou a outra arma que eu felizmente peguei. — Vamos lá, — disse ela, voltando para a casa.

— Eu não posso, — eu disse, torcendo o anel de Bear na minha mão.

Rage estreitou os olhos para mim, — Eu percebi isso quando eu vi o olhar no seu rosto quando chegamos, mas eu tenho uma ideia. Pelo menos suba os degraus.

Relutantemente, tomei os degraus lentamente, um por um, me encolhendo a cada rangido familiar. Parei — O que incomoda mais sobre esse lugar? — Rage perguntou do outro lado da tela.

— Tudo, — eu admiti.

— Seja mais específica, — Rage disse, deixando escapar um suspiro exasperado. — Eu já sei que você detém algumas más recordações, blábláblá, você matou seus pais aqui, blábláblá.

— Algo me diz que o último não era exatamente um palpite.

Rage sorriu timidamente. — Eu sei tudo sobre tudo.

— Bom saber.

— Então me diga o que você odeia sobre isso. Você sabe, além do óbvio dessa merda toda.

— Bem, — eu comecei. — Eu odeio que este é o lugar onde meu irmão morreu, mas eu era jovem, então o que eu realmente odeio é que a minha mãe nunca mudou o quarto dele ou se livrou de qualquer das suas coisas. Era como se um fantasma vivesse com a gente, que ela gostava mais do que eu ou meu pai.

— Continue, — disse Rage. — Feche os olhos. — fiz o que ela disse e as imagens de tudo o que havia de errado com esse lugar inundou minha mente. Eu ouvi o barulho da porta de tela abrir e comecei a abrir meus olhos novamente. — Os mantenha fechados, — ela ordenou.

Eu respirei fundo. — Eu odeio o retrato de família na sala de estar, porque foi pintado por um dos amigos da minha mãe anos após o meu irmão ter morrido e ao invés de ser um dos três de nós, minha mãe mandou o meu irmão ser pintado. Eu amei meu irmão, e tiramos muitas fotos de todos ao redor da casa e eu amei todas elas, mas eu senti como se fosse um tapa na cara para mim e meu pai. Nós estávamos vivos, mas ela nos tratou como se fôssemos os únicos que estavam mortos.

— Ótimo, — disse Rage, puxando meu braço, me fazendo dar um passo adiante. — Mais.

— Eu odeio a cadeira de balanço no quarto do meu irmão onde ela estava sentada quando percebi que ela matou o meu pai. Eu odeio saber o local exato no quarto dos meus pais, onde meu pai morreu. Eu odeio a mesa na cozinha onde tivemos o jantar de domingo e que todos sorriram e conversaram sobre nossos dias como se não houvesse nada de errado. Aqueles não eram jantares. Aqueles eram mentiras.

Senti outro puxão e dei mais um passo. — Ok, ótimo. Agora abra os olhos. — eu fiz.

— Uau, — eu disse. Eu estava em pé no meio da sala de estar. — Como você fez isso? — eu perguntei, notando que a sensação de pânico tinha desaparecido.

Rage respondeu com: — Porque recentemente alguém me ensinou como superar o medo, e eu pensei que talvez eu pudesse passar isso para você.

— Sim, mas como?

— Fácil, — disse Rage, girando de repente e apontando a arma para o retrato de família pendurado acima da pequena lareira na sala de estar e disparou, quebrando o vidro, enviando tudo ao chão, deixando uma marca retangular empoeirada na parede onde o retrato tinha estado. Ela se virou. — Você retoma o poder.

Era como se de repente algo dentro de mim tivesse quebrado e sem pensar eu subi os degraus, passando por Rage, andando em torno do retrato quebrado na sala de estar em êxtase total e completa. — Sim, — eu disse, olhando para Rage. — Vamos fazer isso.

Rage e passamos o resto da tarde fazendo uma competição de destruição de vasos, fotos, bichos de pelúcia, pratos e outros objetos que eu odiava, nos revezando em destruir todos e cada um deles.

Nem um de nós errou um único tiro.

— Alguma vez você já perdeu? — Rage perguntou do balcão, enquanto me observava varrer o vidro em uma pá.

— Sim, — eu admiti, me lembrando do parque e como eu quase matei Bear porque eu aceitei no ombro de Mono, em vez do peito. — Uma vez, talvez duas vezes.

Somente quando atirei em pessoas.

— É mesmo?

Rage cruzou as pernas e recuou, franziu o nariz pequeno. — Só uma vez, embora eu esteja começando a pensar que eu fiz isso de propósito.

Nós dois ficamos quietas depois disso, enquanto eu limpava a bagunça, e Rage limpava suas armas. Ela tinha razão. A fim de superar o meu medo eu tinha de tomar o poder de volta, o que significava que eu não poderia apenas sentar e não fazer nada quando meu medo de Bear vinha.

Eu tinha que fazer alguma coisa.

Infelizmente, a fim de fazer algo eu tinha que esperar a Bárbara Barbie recuar.

Pelo menos tempo suficiente para me emprestar uma de suas armas.

Que eu percebi muito rapidamente que ia ser difícil quando ela não saia do meu lado. Quando eu tomava banho, ela se sentava no vaso com a tampa abaixada e lixava as unhas. Quando eu limpei o freezer, ela fez uma série bizarra de alongamentos no meio da cozinha. Quando eu fui lá fora para jogar fora o lixo, ela manteve o ritmo ao meu lado e se queixou do calor.

Na primeira noite quando eu fui dormir na minha pequena cama de solteiro no meu antigo quarto, Rage me surpreendeu por ficar no meu lado. — O que vai acontecer com esta casa? — perguntou ela, sem um traço de cansaço em sua voz.

— O banco provavelmente vai tomar de volta em breve. — eu disse, bocejando.

— Ótimo. Isso significa que podemos explodi-la quando sairmos, — disse ela, se sentando e pulando para cima e para baixo em sua bunda e batendo as palmas como se ela tivesse acabado de ser coroada a rainha do baile, que ela certamente poderia ter sido com seu cabelo loiro e pele bronzeada. No entanto, tive a ideia persistente de que o passado de Rage era mais colorido do que bailes e manifestações.

— Combinado, — eu concordei, apreciando a ideia de assistir o lugar subir em uma explosão de chamas. — Mas você realmente tem que dormir aqui? Você pode dormir no antigo quarto do meu irmão. Ou no sofá. Ele abre. A roupa de cama extra deve estar no armário do corredor. — eu não mencionei nada sobre o quarto dos meus pais, preferindo fingir que o quarto onde eu tinha encontrado o corpo ensanguentado do meu pai não existia.

Rage me ignorou, seu silêncio me dizendo tudo o que eu precisava saber sobre seus planos de ir encontrar outro lugar para dormir.

— O que King disse é verdade? — perguntei. — Você não dorme?

— Não, eu não durmo. Não de verdade. Não há muito tempo, de qualquer maneira , — disse ela, olhando para o teto.

— Como você sobrevive?

— Eu realmente não sei, — ela respondeu com um suspiro audível, embora ela parecesse estar falando mais do que apenas a sua falta de sono.

— Eu tenho que ajudar Bear, — eu admiti. Testando as águas para ver se havia alguma maneira que eu poderia fazê-la me ajudar, em vez de me impedir.

— Você não pode ajudá-lo, — Rage disse, me pegando de surpresa.

— Por que não? — perguntei, girando para encará-la. Rage fez o mesmo. Seus olhos azuis brilhavam, mas faltava algo que eu logo percebi que foi o que King tinha falado quando ele foi embora.

— Porque você não pode sair de casa. Essas são as minhas ordens.

— Mas por quê?

— Tudo o que sei é que estou aqui para garantir que você não tente nada estúpido.

— Como você vai me parar? — perguntei, ficando irritada.

Rage riu como uma estudante com um segredo e ela rolou de costas, novamente voltando suas atenções para o teto. — Isso, Thia, é inteiramente com você.


Capítulo dez

Thia

Eu tinha um cachorro.

Bem, mais ou menos.

Eu meio que tinha um cachorro.

Eu o vi pela primeira vez uma noite, quando eu estava sentada na varanda na velha cadeira de balanço da minha avó. Rage, que eu acreditava que era uma assassina, uma bomba relógio e babá, passou a tarde fazendo muffins. Eles eram realmente bons, tanto quanto eu poderia dizer a partir da mordida que eu dei. Mas antes que eu pudesse pegar do prato novamente, que eu tinha deixado em cima da velha caixa de ferramentas de madeira, vi um flash de dentes e pele marrom. Me levantei e dei uma olhava na coisa pequena que tinha a pouco tempo sido filhote de cachorro, feliz comendo meu muffin. Ele era só pele e ossos. O segundo que ele deu a última mordida, ele correu entre as árvores e para o bosque.

Na noite seguinte eu deixei do lado de fora um pouco de comida novamente, desta vez de propósito e desta vez foi alguns pedaços de salsicha do café da manhã. Me sentei no mesmo lugar, observando e esperando. Com certeza ele se arrastou do seu esconderijo nas árvores e roubou minha comida mais uma vez.

Noite após noite ele vinha da mesma maneira, exceto que eu tinha começado a alimentá-lo com comida de cachorro que Rage tinha comprado da loja de ração. Tudo que era necessário magicamente se empilhou na geladeira e despensa, até mesmo o congelador na garagem. Nós não estávamos apenas nos escondendo. Estávamos prontas para o apocalipse zumbi.

— Você deve nomear aquela coisa, — Rage disse, se sentando no degrau mais alto. Você gasta bastante tempo com ele.

Não é como se houvesse muito mais para fazer.

— Eu deveria chamá-lo de Muffin, já que é o que ele roubou de mim pela primeira vez, — eu disse.

Rage enrugou seu nariz. — Não, se você vai chamá-lo de alguma comida, então o chame de alguma coisa boa, como panquecas ou waffles, ou algo assim.

Panquecas.

Eu alimentei Panquecas por semanas. Todas as manhãs e todas as noites, eu colocava para fora um prato de ração e outro com água e recuava, e o via comer tudo, mantendo um olhar desconfiado em mim o tempo todo. E, sem falhar, todas as noites depois que ele terminava, ele corria para longe novamente. Eventualmente eu comecei a ficar um pouco mais perto enquanto ele comia e, finalmente, em vez de fugir, ele começou a ficar por alguns minutos após a sua refeição.

Uma noite, eu não esperei por ele. Eu só coloquei a sua comida e voltei para dentro.

Eu estava de mau humor, incapaz de afastar pensamentos de Bear nunca mais voltar para casa, e a esperança de fazer qualquer coisa para ajudá-lo desaparecia minuto a minuto enquanto eu estava sentada lá sendo totalmente inútil.

Eu não perguntei onde Rage estava. Ela estava sempre por perto. Parei de falar comigo mesma em voz alta, porque apesar de eu não vê-la o tempo todo, ela estava geralmente perto o suficiente para me responder. As primeiras vezes isso me assustou pra caralho, uma vez até caí da varanda.

Eu realmente gostaria que a cadela dormisse.

No momento em que cheguei ao meu quarto, eu pensei que Panquecas estaria muito longe.

Eu estava errada.

Não só Panquecas não voltou para a vida selvagem, mas ele me seguiu até a casa, e quando eu baixei o rosto na minha cama, o colchão baixou um pouco e um focinho molhado veio descansar em toda a volta do meu joelho. Ergui a cabeça e lá estava ele, olhando para mim com os olhos grandes, de cor amarelada, como se seu comportamento fosse perfeitamente normal. Depois de alguns segundos olhando fixamente um para o outro, ele caiu no sono, como se ele nunca tinha estado com medo de mim.

— Eu acho que tenho um cão agora, — eu murmurei no travesseiro, derivando em meu próprio cochilo enquanto a respiração quente de Panquecas fazia cócegas nas costas das minhas pernas.

Ele era um substituto pobre para Bear.

Muito peludo.

Muito magro.

Sem tatuagens.

Mas ele teria que servir.


Capítulo onze

Thia

Seis meses.

Seis malditos loooongos meses sem fim à vista. Nem uma palavra de Bear. O pior era que toda vez que o telefone de Rage tocava, meu estômago embrulhava e meu coração caia. O mundo em torno de mim parava de girar até que ela me dava aquele olhar de: — Não é essa ligação e eu podia respirar novamente.

Pelo menos até a próxima ligação.

Eu me senti nauseada pelo menos três centenas de vezes por dia.

Me tornei nervosa. Paranoica. Minhas mãos tremiam quando Rage mencionava o nome de Bear.

Eu não podia comer, e assim como Rage, eu não podia dormir. Com medo de que a qualquer momento eu iria perder a única coisa na minha vida que sempre me trouxe a verdadeira felicidade, eu me tornei alguém que eu estava realmente começando a odiar.

Bear poderia ter me pedido qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa e eu teria feito. Roubar um banco, me tornar um artista de trapézio voadora, aprender japonês. Nesse ponto eu teria ido até o MC e colocado uma bala em Chop eu mesma se isso significasse que eu poderia respirar novamente sem querer puxar meu cabelo mecha por mecha rosa e não fazer nada.

Mas não. Ele me pediu a pior coisa que poderia me pedir.

Ele me pediu para esperar.

Ele poderia muito bem ter me pedido para sentar enquanto alguém tirava minhas unhas uma por uma, com uma pinça, porque a espera era uma tortura em si.

— Quantos deles tem lá? — eu ouvi Rage perguntar num sussurro. Eu parei no corredor e pressionei o ouvido na porta do meu quarto. — Quatro? Merda, você conhece alguém no interior que pode protegê-lo? Eu conheço um cara, mas alguém? Sim, é a porra do meu negócio, porque eu estou aqui de babá da old lady dele nessa fodida casa aqui, então se você quiser que eu a proteja, você vai me dizer o que diabos está acontecendo. — houve uma pausa. — Sério? Bem, isso é algo que eu não sabia. Não, claro que não vou contar a ela. Ela vai ficar chateada. Sim. Ok, tudo bem, entendi. — ela terminou a ligação e eu saltei para a cozinha. Com o coração na garganta, abri o pequeno armário acima da geladeira e procurei através das garrafas a receita da minha mãe até que eu encontrei o que eu estava procurando. Enchi dois copos de refrigerante e quando Rage voltou e eu estava encostada ao balcão, fingindo estar interessada no livro que eu tinha acabado de abrir. Dei a ela um dos copos.

— Obrigada, — disse ela. — Saúde. — Rage levantou o copo para mim e tomou um gole.

Por mais que eu não pudesse suportar a menina quando nos conhecemos, eu realmente comecei a gostar de Rage. Nós conversamos. Quer dizer, eu conversava e ela em sua maioria dava respostas vagas, mas era uma companhia, no entanto, e Deus sabe que ficar sozinha nessa casa teria me levado até o maior penhasco na cidade até que eu estava me jogando da borda.

Que é por isso que eu quase me senti mal quando eu esmaguei três Ambien9 em seu Dr. Pepper10.

Quase.

Dez minutos depois, seus olhos fecharam e sua cabeça caiu para trás contra o travesseiro. — Durma bem, — eu cantei quando ela começou a roncar suavemente. Eu rapidamente vesti meu melhor vestido de verão. Era curto, azul e amarrado com pequenas flores brancas que faziam minhas pernas parecerem muito maiores do que elas eram e meu peito muito maior do que era.

A gravidade do que tinha de ser feito merecia um vestido sério.

Peguei uma bicicleta no galpão que provavelmente não tinha sido usada desde os anos setenta, bombeei algum ar nos pneus que estavam seriamente murchos e fui para a cidade com meu companheiro constante, Panquecas, correndo logo atrás minha roda traseira por uma milha antes de ficar entediado e correr atrás de algumas árvores em busca de melhor entretenimento.

Confie em mim, sua nota havia dito. E eu confiava nele. Eu confiava nele o suficiente para saber que ele iria morrer por mim, e seis meses estava empurrando os limites da espera. Depois de ouvir Rage no telefone, não parecia que havia muita esperança para o mês sete.

Eu estava cansada de esperar.

Havia um certo vice-xerife que eu ia ver, e, embora a última vez que eu o tinha visto terminou com ele me trancando em uma cela, e Bear quase o matando, eu tinha que pelo menos tentar.

E eu esperava que o bom vice aceitasse o que eu tinha planejado, porque eu não iria sair até que eu tivesse o que eu tinha vindo buscar.

Bati na bolsa que estava pendurada em meu peito que segurava a arma que eu tinha tomado de Rage.

Não importa o que.


Capítulo doze

Thia

Deixei minha bicicleta em frente à loja de ferragens e olhei em volta para o carro da polícia de Buck. Quando eu não vi, eu apareci no interior onde eu encontrei Ted de pé atrás do balcão em seu traje habitual de macacão, e não muito mais para cobrir sua barriga enorme. Ele estava polindo algo com um pano sujo. Quando ouviu a campainha da porta, ele guardou o que quer que fosse e deu a volta no balcão. — Thia, — disse ele, com um sorriso simpático. — Eu fiquei tão triste de ouvir sobre seus pais. Como você está?

— Eu estou bem, Ted, — eu disse, grata por sua preocupação. A maioria das pessoas de Jessep eram fofoqueiras em fúria. É como cidade pequena é. Ted sempre foi a primeira pessoa a me perguntar sobre mim sem ingressar na fábrica de boatos. — Você viu Buck por aí? — perguntei, precisando ver o meu amigo o mais rápido possível.

Ou o meu ex amigo.

Ou o que ele era.

Ted balançou a cabeça. — Hoje ainda não, mas às vezes eu o vejo estacionado atrás da lanchonete. Você pode verificar lá.

— Obrigada, Ted. — me virei para sair pela porta, mas Ted me parou.

— Você sabe, eu conheci Bear a última vez que ele esteve aqui, — disse Ted. — Ele é bom. Eu posso dizer. Nós procuramos por algumas peças de moto e como somos motoqueiros expulsos. — Ted sorriu e eu poderia dizer que significava muito para ele ajudar um dos seus. Bear me contou sobre sua conversa e eu tinha sido surpreendida. Eu conhecia Ted toda a minha vida e na nossa pequena cidade eu nunca tinha ouvido uma alma pronunciar uma única palavra sobre ele ser um ex membro dos Wolf Warriors MC.

— Ele me disse, — eu disse, oferecendo a ele um sorriso de boca fechada.

— Legal, — disse ele, endireitando uma pilha de revistas Auto Trader pela porta. — Ele é um bom garoto e sei que ele não teve nada a ver com a maneira como seus pais se foram, mas a partir do olhar em seus olhos eu posso ver que você já sabe disso. — parecia tão estranho ouvir alguém chamar Bear de garoto, porque para mim ele era a coisa mais distante disso.

— Eu sei, — eu admiti com uma mão ainda na maçaneta da porta.

— Eu vou te dizer a mesma coisa que eu disse a ele quando ele entrou aqui. Eu posso ser um homem velho e aposentado, mas o meu clube sabe que eu ainda estou aqui, apenas inativo, e eu ainda tenho amigos na vida. Se Buck não pode te dar o tipo de ajuda que eu acho que você está procurando, então você venha me ver. — Ted caminhou em direção ao registo e parou atrás do balcão. Ele puxou uma espingarda, apoiando-a no alto de seu ombro como se ele fosse um soldado indo para a batalha. — Eu ainda posso ser bastante persuasivo quando preciso ser, — disse ele. O brilho maligno em seus olhos me fez instantaneamente acreditar nele. Era como se eu estivesse vendo Ted pela primeira vez, e isso me fez perceber algo, se eu estivesse sendo honesta.

Eu gostei deste Ted.

— Obrigada, Ted, — eu disse. Com isso, ele tirou o chapéu e guardou a espingarda. Ele voltou a polir como se o motoqueiro Ted nunca tivesse estado lá, deslizando facilmente de volta para o papel de dono da Store Ted.

— Diga a ele que eu disse olá, — ele acrescentou, como se eu só tivesse vindo para comprar um litro de óleo.

Eu fiquei tocada pela oferta de Ted, mas o que eu realmente precisava era de alguém que tinha uma conexão.

Uma maneira de entrar.

Havia apenas uma pessoa que eu sabia que poderia me ajudar. Com um último aceno para Ted, eu corri para fora da porta em busca da única pessoa em Jessep que tinha essa tal ligação.

E quem pode ou não pode me odiar.

 

* * *

 

Eu achei Buck em seu carro atrás do restaurante, exatamente onde Ted tinha dito que ele estaria. Ele usava óculos de aviador espelhado, e embora eu não pudesse ver seus olhos, eu sabia que eles estavam fechados. Sua cabeça estava inclinada para trás contra o assento reclinado, a boca aberta enquanto ele roncava. O sol refletia seu distintivo enquanto ele respirava para dentro e para fora, fazendo com que parecesse ser uma lâmpada sendo ligada e desligada.

— Bucky! — eu gritei, batendo a palma da mão aberta no telhado do carro, o assustando de volta à consciência. Sua cabeça conectou com o teto quando ele pulou em surpresa.

— É Delegado Douglas, — ele murmurou a correção familiar quando ele saiu da sua neblina, pegando seus óculos de sol quando eles caíram do seu rosto e esfregando o topo da sua cabeça. — Thia? — perguntou ele, apertando os olhos contra o sol.

— A primeira e única, — eu disse, me inclinando contra o carro. Buck alcançou a maçaneta e eu recuei para deixá-lo sair, mas antes de sair, ele colocou seu chapéu ridículo do xerife de abas largas que o fazia parecer Delegado Dog11 do desenho animado que costumávamos assistir quando crianças.

— Então, o filho pródigo retorna, — Buck disse em seu mais lento e mais grosso sotaque do sul. Ele desligou seus óculos de sol no colarinho da camisa e assumiu uma postura muito ampla ‘Eu sou um agente da polícia’, enfiando os polegares no cinto da arma. — Você sabe, a última vez que você saiu eu pensei que nunca iria vê-la novamente, especialmente depois do seu namorado decidir tentar me matar, — ele disse a palavra namorado como se ele estivesse esperando que eu o corrigisse, e embora eu não achasse que essa palavra era precisa o suficiente para descrever o que éramos, eu não tive tempo de passar por cima das especificidades do nosso relacionamento.

— Com toda a honestidade, Buck, você estava sendo um idiota por me trancar naquela cela, mas não importa. Não há tempo para isso. Preciso da sua ajuda. É por isso que estou aqui.

— Oh, agora você precisa da minha ajuda? Nós costumávamos ser amigos, mas seis meses atrás eu recebi uma chamada que seus pais estavam mortos e que você estava fugindo, mas eu não ouvi de você. Eu tive que ouvir isso do próprio xerife. Então eu descobri que o cara que você fugiu está agora na prisão por assassinato e você ainda nunca veio falar comigo. Então me diga, Thia, por que eu deveria ajudá-la agora, quando a minha amiga mais antiga não pôde se incomodar em vir a mim em primeiro lugar? — desta vez, ele não parecia chateado. O sarcasmo de quando ele bateu a cabeça no teto tinha desaparecido. Seus ombros caíram. A fachada que ele tentou tão duramente erguer foi demolidora.

Buck não estava zangado.

Ele estava ferido.

De repente, eu me senti mal, embora o que ele estava dizendo não era inteiramente verdade. — Nós nos separamos enquanto crescíamos, Buck. Não era como se você fosse o melhor amigo para mim. Uma vez que minha família começou a desmoronar e toda a cidade começou a me chamar de a Louca Thia Andrews, era como se eu não existisse mais para você.

— Eu posso ser a lei, mas você poderia ter vindo para mim. — Buck abaixou a postura de oficial, me encarando e se inclinando contra o carro. — Você tem que saber que você poderia ter vindo para mim, Thia. — Buck e eu costumávamos compartilhar tudo, e eu não ir até ele quando meus pais morreram foi por causa de uma razão muito simples. Nunca pensei. Pensei em Bear, ficar com ele, e nada mais.

— Eu estou aqui agora, — eu disse. — E eu prometo, eu vou te dizer tudo o que você quer saber.

— Pode ser tarde demais para isso agora, — disse Buck, coçando a cabeça e olhando para seus pés.

— Basta ouvir, e se você não quiser ter nada a ver comigo, nunca mais, eu vou desaparecer e você nunca vai me ver de novo. — eu coloquei minha mão em seu ombro, um gesto que eu esperava ser reconfortante. Ele olhou para mim, seus olhos castanhos escuros procuraram os meus. — Eu vou desaparecer para sempre desta vez.

— Entre, — Buck disse, abrindo a porta do lado do motorista. Entrei, quase incapaz de conter minha emoção. Entrei no banco do passageiro enquanto ele tirava o chapéu e se acomodava no assento do motorista. Abri a boca para começar a dizer a verdade, na esperança de que ele fosse retribuir o favor, quando ele ergueu a mão para me impedir. — Algo que nós temos que tirar do caminho primeiro, — disse ele com uma cara séria. Meu estômago afundou. Cada segundo que passava era mais um segundo a mais.

— O quê? — perguntei com tanta calma que pude reunir.

— Primeiro, você tem que fazer esse juramento com o mindinho, — disse Buck, estendendo a dedo mindinho. Levei o dele com o meu e ambos beijamos as costas das nossas mãos, como fizemos mil vezes antes.

— Eu prometo que vou te dizer a verdade, se você prometer manter a mente aberta, — disse eu.

— Feito, — Buck concordou, um pequeno sorriso rastejando em seu rosto. Nós descruzamos os dedos e eu comecei a contar tudo, desde a morte dos meus pais - a história real – Bear e o clube. O tempo todo, eu segurava o anel que eu não escondia mais debaixo da camisa. Eu tive que forçar as palavras da minha boca, mas eu mantive a minha parte no acordo, enquanto Buck manteve a sua, ouvindo cada palavra. Depois de alguns minutos, ficou menos difícil e as palavras fluíram mais suaves. O ar em torno de nós ficou mais leve, me lembrando da amizade fácil que estávamos habituados a ter.

Quando eu acabei de falar e a verdade tinha saído, me reclinei contra o banco e esperei Buck dizer alguma coisa. — Você o ama? — ele perguntou, me surpreendendo. De todas as perguntas que ele poderia ter feito sobre o que eu tinha acabado de dizer, essa é a primeira que veio à sua mente?

— Sim, eu amo, — eu admiti. — Muito.

Buck suspirou e coçou a barba em seu queixo. — Então para onde vamos a partir daqui? — ele perguntou, encontrando o meu olhar pela primeira vez desde que cheguei.

— Você vai me ajudar? — perguntei, tentando combater a esperança que estava ameaçando a explodir dentro de mim.

— Eu jurei, não foi? — perguntou Buck, abanando o dedo mindinho no ar.

— Obrigada! — eu gritei, me lançando para ele e o abraçando.

— Você está me estrangulando, — Buck engasgou. Eu o soltei do meu aperto.

— Desculpe, — eu disse, me recostando no assento.

— Tudo bem, — disse Buck, parecendo um pouco divertido. — Agora, eu sei que você não viria aqui sem algum tipo de plano. Então derrame. O que você tem nessa linda cabecinha rosa rua? — ele tinha o mesmo olhar malicioso no rosto que ele tinha quando éramos crianças, logo antes de fazermos algo que resultava em nenhum de nós sermos autorizados a nos ver outra vez até o castigo derramado sobre nós tivesse acabado.

— Bem, — eu comecei, sem saber qual seria sua reação ao que eu estava prestes a sugerir. — Você ainda é amigo de Dr. Hurley?

— Dr. Hurley... o legista? — perguntou Buck, amassando seu rosto. Eu balancei a cabeça. — Claro, eu ainda jogo poker com ele toda terça-feira, mas... onde exatamente você está indo com isso, Thia?

— Aonde eu vou é em qualquer lugar que possa fazer Bear sair daquela cela de prisão o mais rápido possível. Roubar provas. Alterar relatórios do legista. Talvez possamos fazer Dr. Hurley que, apesar de Bear ter confessado, não há nenhuma maneira possível que ele pudesse ter feito isso. Eu não sei. Eu não pensei nos detalhes, mas eu só preciso fazer alguma coisa. Qualquer coisa. — eu torci minhas mãos no meu colo. — Antes que seja tarde.

Buck olhou para mim com uma sobrancelha levantada e sua mandíbula descansou cuidadosamente em sua mão. — Entendi. Eu faço. Mas... — ele fez uma pausa e olhou para fora do para-brisa dianteiro como se houvesse alguma coisa lá fora para ver além do lixo e a parede de trás do restaurante. — Por que ele? Por que você acha que esse cara é o seu herói ou algo assim? Eu odeio dizer isso, Thia, mas de uma maneira, você não sente como se estivesse traindo seus pais por estar com esse cara? Como talvez você só esteja com ele porque você está chateada que eles estão mortos e essa é sua maneira de voltar para eles.

— Buck, — eu comecei, com toda a calma que pude, tentando ignorar o que ele tinha acabado de dizer sobre Bear sendo algum tipo de rebelião pós morte. — Você pode me perguntar tudo isso e eu posso te responder, mas podemos fazer isso enquanto nós dirigimos ao escritório do Dr. Hurley? Por favor. Eu estou te implorando.

— Eu disse que ia ajudá-la e eu vou, mas me responda primeiro, — Buck exigiu. — Você não acha que se seus pais pudessem te ver agora eles estariam chateados com o que você está fazendo... com ele? — ele franziu o nariz e disse ele como se tivesse sentido um cheiro ruim.

Qualquer controle sobre a minha calma tinha desaparecido.

— O que você quer que eu diga, Bucky? — perguntei, jogando as mãos no ar. — Você quer que eu te diga que eu preferia ter morrido com os meus pais? Porque eu não vou. Meu pai costumava ser um ótimo homem, mas nos últimos anos ele tinha sido tudo, menos ótimo. Ele se desfez porque minha mãe se desfez. Ele era fraco, porque ela era fraca. E quando eles desapareceram e eu estava trabalhando em três empregos para tentar manter todo mundo, eu não tinha ninguém. Me diga Buck, onde você estava? Porque eu não me lembro de você vindo em meu socorro. — Buck abriu a boca, mas eu não tinha terminado. — Eu não sou como eles. Eu não vou desmoronar. Eu não vou dar desculpas. Me recuso a desistir da minha vida porque eles não souberam como viver a deles, sem ceder sob o peso das suas próprias merdas. E eu vou te dizer outra coisa, eu sobrevivi à noite mais horrível da minha vida porque eu era forte e eu vou sobreviver a isso agora, porque eu sou forte.

— Thia, — Bucky começou, pesar estampado em seu rosto.

— Você está errado sobre outra coisa também, — eu disse, estendendo a mão para a maçaneta da porta. — Eu não acho que Bear é meu herói. Eu não preciso dele para ser o meu herói. O amor não é sobre querer um herói, é sobre querer ser um para o outro.

Fiz um movimento para sair do carro, mas Buck estendeu a mão e segurou meu braço. — Eu quero ser seu, — disse ele, me pegando completamente de surpresa. — É tudo que eu sempre quis.

— O quê?

— Desde que éramos crianças eu pensei que seria eu e você até o fim. Então, de repente era como se você tivesse esse anel, — mais uma careta, — e a princípio, eu pensei que era uma coisa boba de garota como quando você teve aquela coisa estranha por Al Pacino e encheu a parede do seu quarto com cartazes de Scarface e O Poderoso Chefão. Mas então ele apareceu aqui, e eu sabia que era ele imediatamente. Foi quando eu soube que eu te perdi.

— Bucky, — eu disse, simpaticamente colocando minha mão sobre a dele, que ainda estava no meu braço. — Podemos começar de novo. Ser amigos de novo, — eu ofereci, esperando ser o suficiente.

Buck balançou a cabeça, e embora eu tenha tirado a minha mão da dele, ele não soltou meu braço. — Thia, não é isso que eu estou falando e você sabe disso.

Suspirei. — É por isso que você parou de vir, — eu disse, percebendo que a razão da ruptura gradual em nossa amizade não foi porque ele não poderia lidar com o drama da minha família, ou angústia, mas porque ele queria ser mais do que apenas meu amigo. O que só conseguiu me irritar. — Espere, me deixe ver se entendi. Você queria ser mais do que o meu amigo e você sabia que isso não era o que eu queria, então você decidiu que nossa amizade não valia a pena?

Buck assentiu. — Sim, e eu sinto muito, foi estúpido da minha parte, mas eu não poderia lidar com isso. Eu não sabia o que fazer.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. — Oh, você sabia o que fazer. Você me abandonou durante o momento mais difícil da minha vida, porque você tinha uma queda por mim. Que nobre da sua parte. — revirei os olhos e fiz outro movimento para sair, mas a mão de Buck apertou em torno do meu braço. — Se você não vai me ajudar a tirá-lo de lá, então eu vou fazer isso sozinha. Ele está em apuros, Buck, eu tenho que-

— Thia, — Bucky interrompeu, pondo a mão para cima.

— O quê? — perguntei, soprando um suspiro frustrado com sua interrupção.

Ele arqueou uma sobrancelha para mim e procurou meu rosto. — Você realmente não sabe, não é? — perguntou Buck.

— Sabe o quê?

— Esse tempo todo eu pensei que você estava mentindo para mim. Tentando que eu fizesse alguma coisa para você, mas eu não conseguia descobrir o que. Eu não achei que você não sabia disso.

— Saber o que, Buck? — eu repeti.

— Bear, ou do que você o chama. Ele não está na cadeia. Ele está fora. Ele saiu.

— O quê? — um peso começou a deixar meus ombros... até que ele caiu de volta em cima de mim com mais força do que nunca. — Não, isso não pode ser verdade. Ele teria-

— É verdade. E ele não fez, — Buck bufou, me cortando. Ele se inclinou para trás, o assento de couro rangendo debaixo dele.

Eu não queria nada mais do que arrancar o olhar complacente do seu rosto.

— Quanto tempo? — perguntei, minha decepção rapidamente se transformando em raiva. Aumentei meu aperto na maçaneta da porta mais uma vez. Se eu apertasse mais duro eu iria arrancá-la.

Buck deu de ombros. — Cerca de duas semanas ou mais. O caso foi arquivado. O promotor estragou a papelada. A confissão assinada desapareceu juntamente com praticamente todas as evidências coletadas na cena do crime. Impressões digitais, até mesmo as duas armas. Algo me diz que a advogada dele tinha algo a ver com isso. Eu fiz uma pesquisa sobre ela. Este não foi o primeiro caso que ela estava envolvida onde a evidência magicamente desapareceu e não é como se...

A voz de Buck desapareceu à distância. As únicas palavras que eu registrei estavam tocando uma e outra vez na minha cabeça. Um eco de duas semanas. Eu ia vomitar.

Bear estava fora. Livre.

Ele estava bem.

Eu respirei fundo.

Ele não tinha vindo para mim.

Meu peito apertou.

A realização seguinte foi estonteante.

Bear não estava vindo para mim.

Eu estava tão perdida em meus pensamentos que eu mal registrei Buck pegando minha mão na sua, ou quão perto ele tinha deslocado até mim, ou mesmo seu braço que tinha pendurado no meu ombro. Eu não notei nenhuma maldita coisa enquanto eu tentava processar como eu estava me sentindo quando ele se aproximou e pressionou seus lábios finos nos meus. Sua língua fria tentou fazer seu caminho em minha boca.

Eu congelei. Meus olhos abriram, testemunhando o horror que era Buck me beijando. Levei apenas alguns segundos para me lembrar dos meus membros e como eu poderia usá-los. Eu empurrei contra seu peito, mas ele não se mexeu. Eu gritei contra sua boca, mas ele ainda não se moveu. Puxei meus joelhos entre nós e chutei no seu peito. Isso pareceu fazer o truque, porque de repente a porta se abriu e Buck tinha ido embora.

Eu era forte, mas eu não era tão forte.

Eu me desloquei para o banco do motorista e vi um muito assustado Buck de bunda no chão. Um olho muito grande e muito azul, um muito sem camisa, muito musculoso, muito tatuado, e muito irritado homem estava alcançando sua arma.

Bear.


Capítulo treze

Thia

Meu coração pulou e afundou, tudo ao mesmo tempo.

Meu foco não estava nas narinas de Bear quando elas se alargavam com sua respiração irregular, como se estivesse a ponto de cuspir fogo. Ou os nós dos dedos, que estavam brancos com a tensão, ou os dentes que estavam à mostra como os de um lobo. Nem no delegado amedrontado na outra extremidade da sua ira e sua arma.

Estava nas sardas que cobriam a pele bronzeada abaixo de seus belos olhos. Estava no jeito que seu peito subia e descia, me lembrando de que não só ele estava vivo e respirando, mas ele estava bem na minha frente.

Ele estava livre.

E ele estava chateado pra caralho.

Totalmente esperando que eu quebrasse seus malditos pulsos ou acabasse com sua maldita vida. Bear me tinha dito a última vez que os nossos caminhos se cruzaram com Buck.

Merda.

A vida de Buck estava na reta. Bear poderia colocar uma bala no seu peito ou na cabeça a qualquer momento, mas em vez de temer pela vida do meu velho amigo, eu não podia deixar de admirar os músculos tensos dos bíceps de Bear, e, novamente, minhas atenções estavam na maneira como seu peito subia e descia enquanto ele respirava através da sua raiva. Talvez tenha sido fodido da minha parte, talvez fosse apenas porque eu não tinha visto ou falado com ele em mais de seis meses, mas Bear estar com raiva ao ponto de querer matar por mim fez meu coração vibrar e o lugar entre as minhas pernas pulsar. E uma memória brilhou na minha mente da última vez que tínhamos estado a sós. Nu. Eu tive que morder o lábio inferior para me impedir de me contorcer no assento.

Meu Bear.

Meu corpo inteiro o reconheceu, e desde que eu estava sentindo eu sabia que tinha sentido falta dele tanto quanto o resto de mim tinha.

Bear se agachou, olhando para Buck com puro ódio em seus olhos. — Eu te disse para não colocar as mãos sobre a porra da minha menina novamente ou eu acabaria com você, — Bear fervia, fogo dançando em seus olhos. Ele engatilhou a arma e apontou direto para o peito de Buck que estava visivelmente tremendo, a boca aberta, lutando para se afastar na estrada de terra. Uma mancha molhada se formou na frente de suas calças.

— Eu sou a-le-le lei, — Buck gaguejou, estendendo a mão para a arma. Bear se levantou, ergueu o pé, e pisou sua bota sobre o coldre de Bucky.

— Eu não sou, — Bear respondeu. Se eu não fizesse algo, eu sabia que Bear estaria a segundos longe de fazer jus à sua ameaça.

Eu deslizei para fora do carro. — Eu vim aqui pedir ajuda a ele, — eu disse.

— Parecia que você estava fazendo um trabalho muito bom de convencê-lo a te dar isso, — cuspiu Bear. — Esse vestido era para ele também?

— O quê? — perguntei, o encontro que eu tinha imaginado para nós não parecia nada como o que se desenrolava.

— Entre na fodida caminhonete, — Bear retrucou, empurrando o queixo para a caminhonete de King que estava estacionada logo atrás do carro.

— Não, — eu disse, cruzando os braços sobre o peito. — E sabe de uma coisa? Eu não tenho que dar desculpas a você ou qualquer outra pessoa. Eu não fiz nada de errado. Somente pessoas culpadas precisam se defender, e eu não era culpada de nada, só estava tentando te ajudar.

Eu me aproximei, enxotando a bota de Bear, e ele relutantemente se afastou do coldre de Buck com um rosnado profundo. Eu tirei a arma e entreguei para ele. Eu estendi minha mão para ajudar Buck, mas ele me dispensou.

— Eu não posso acreditar que eu iria realmente te ajudar, — Buck murmurou, se levantando e escovando a terra das suas calças.

Bear deu um meio passo em frente, fazendo Buck saltar para trás. — A única coisa que você não deveria ser capaz de acreditar agora é que você ainda está respirando. Estou me debatendo sobre isso. Então, vá antes que eu mude de ideia, — Bear disse, sua mandíbula apertando e fechando. As cordas em seu pescoço esticando enquanto ele tentava manter o controle.

Buck correu para o carro, mas eu não tinha terminado ainda. — Se a condição de você me ajudar era o que você tentou fazer, então você não iria me ajudar, — eu disse, precisando que ele soubesse que o que ele queria nunca iria acontecer entre nós.

— Dê o fora daqui, agora! — Bear gritou. Um aviso que eu sabia que ele não iria repetir novamente. Ele apontou com o cano da arma para o carro.

Bucky não perdeu tempo de saltar e girar a chave. — Você vai se arrepender de tudo isso, Thia, — Buck disse, a voz trêmula. — Talvez não agora. Mas um dia, quando você perceber que ele não pode te dar o tipo de vida que você realmente quer. Uma vida normal. Você vai se arrepender depois. — ele colocou o carro em marcha ré. — E eu não vou estar aqui quando tudo explodir na sua cara.

Olhei de volta para Bear, e mesmo que seus olhos gritassem raiva e assassinato e todas as outras emoções assustadoras que uma pessoa poderia possuir, eu vi outra coisa. Algo mais. Algo que me disse o que Buck estava dizendo era besteira completa e absoluta.

Porque onde Buck provavelmente viu um criminoso com raiva e tendências violentas.

Eu vi uma lealdade feroz.

Eu vi o amor.

— Eu acho que há algo que você não está realmente entendendo sobre tudo isso, — eu disse a Buck, me inclinando através da janela do carro-patrulha. Eu podia sentir a desaprovação de Bear nas minhas costas.

— E o que seria isso? — perguntou Buck, sua atitude firmemente de volta no lugar agora que ele estava em segurança atrás do metal da porta do carro. Mas ele não podia me enganar. Eu ainda podia sentir o cheiro de urina na frente de suas calças.

— Eu precisava de ajuda agora mesmo, alguém para me proteger, de você, de todas as pessoas, e ele estava aqui, — eu disse, acenando de volta para Bear que estava como uma estátua de pedra com raiva. — Onde você estava quando eu precisava de ajuda, Buck? Não hoje, mas quando o bosque e minha família estavam falindo e eu precisava de um amigo mais do que qualquer coisa? Onde você estava quando eu precisei de você? — eu olhei para Bear. — Porque eu sei onde ele vai estar quando eu precisar dele, que é muito mais do que eu posso dizer de você. — eu me afastei do carro e dei um passo atrás.

Buck abriu a boca, mas não havia nada que ele pudesse dizer que eu queria ouvir. — Tchau Bucky, — eu disse, cortando-o efetivamente.

— Eu quase me esqueci, — disse Bear, dando um passo à frente de mim. Ele enfiou a mão na cabine do carro, agarrou o pulso de Buck do volante e puxou o braço para fora da janela. Em um flash rápido de movimentos, Bear deixou cair seu cotovelo para baixo no centro do antebraço de Buck. Crack. Um grito rasgou da garganta de Buck, seu braço pendurado em um ângulo antinatural.

Seu braço quebrado permaneceu pendurado para fora da janela quando ele partiu. Seus gritos ecoaram ao longo dos pequenos edifícios enquanto corria para longe, derrapando em toda a terra e desaparecendo em uma nuvem de poeira.

— Você não tinha que fazer isso, — eu disse, me virando para encontrar o olhar de Bear. E o peito suado. E seus olhos que, embora estivessem escuros e com raiva, parecia como se pudessem ver através de mim.

De repente eu me tornei muito consciente do que eu estava usando, puxando para baixo a barra do meu vestido curto como se Bear estivesse olhando para mim nua.

— Eu disse que ia quebrar seu pulso ou acabar com sua vida, se ele colocasse as malditas mãos em você. Eu estava sendo... legal. Agora, por que você não me diz por que eu saí da cadeia e vim ver a minha menina, apenas para descobrir que, em vez de esperar por mim como lhe foi dito, eu a encontro em um carro da polícia com a porra da língua do fodido policial na sua fodida garganta? — ele começou como uma pergunta com raiva e terminou como um rugido zangado. Engoli em seco. Bear deu um passo adiante.

Eu estava assustada.

Eu estava excitada.

Fiquei chateada pra caralho

Eu lutei contra a necessidade de me jogar em seus braços.

— Você deveria ter feito o que te disseram pra fazer. Eu vou torcer o pescoço da menina que deveria ter estado cuidando de você, — Bear ferveu, passando a mão pelo cabelo.

— Eu não sou um cão de colo do caralho, — eu lati. — E Rage está... dormindo. — não era exatamente uma mentira.

— Rage não dorme, — ele argumentou.

Eu cruzei as mãos atrás das costas e balancei sobre os meus pés. — Ela dorme depois de um cocktail de Dr. Pepper & Ambien.

— Você a drogou? — perguntou Bear com descrença.

— Um pouco? — eu admiti, embora tivesse saído como uma pergunta. — Por que diabos você se importa? Você esteve fora da prisão por duas semanas, enquanto eu estive sentada lá esperando e me preocupando como uma idiota apaixonada. Há um monte de coisas que você pode fazer comigo, Bear, mas eu não vou deixar você ser idiota comigo. Eu não vou. — tão forte como eu estava tentando ser, minha voz falhou.

— Eu vou lidar com você quando voltar para casa, — Bear estalou, suas palavras carregadas com tantos significados diferentes, que eu tremia de medo e antecipação.

— Você vai lidar comigo? — perguntei. — Como você vai lidar comigo? — minha atitude e confiança desapareceram com cada palavra até que a última era apenas um sussurro.

— Sim, lidar com você, — Bear avisou, de repente parando para olhar a minha aparência. Lentamente, de cima para baixo, como se ele tivesse acabado de perceber que eu estava lá. Suas pálpebras ficaram pesadas sobre os azuis de safira enquanto eles lambiam o meu corpo, me bebendo como se ele estivesse com sede.

Não, não é sede.

Com fome.

Quando ele lambeu os lábios eu podia jurar que ele estava prestes a me comer viva. Eu me arrepiei toda. A consciência dele em tal proximidade depois de tanto tempo tomou conta de mim. Irritada ou não, meu corpo não se importava. Eu não me importava. Eu queria alcançar e tocar seu rosto, assegurar a ele que ele não tinha nenhuma razão para estar zangado, mas parte de mim gostava que eu pudesse tirar esse tipo de reação dele. Ele ficava vivo quando ele estava chateado, e algo dentro de mim adorava que ele se tornava esta besta possessivo e primal para me lembrar a quem eu pertencia.

Bear apertou a mandíbula e os músculos de seu pescoço tencionaram. Ele olhou como se ele estivesse pronto para matar ou foder. Tudo o que eu sabia era que, de uma forma ou de outra, eu estava prestes a ser devorada.

Apertei minhas coxas, tentando controlar o pulsar entre as minhas pernas, mas o contato apenas inflamou ainda mais. Bear riu e olhou para baixo para onde os meus tornozelos estavam cruzados. Ele fechou a distância entre nós em dois passos curtos, me pegando desprevenida. Eu tropecei para trás, tropeçando em uma rocha perdida na estrada. Ele estendeu a mão e agarrou meu braço antes que eu pudesse cair, me puxando em seu peito duro. Sua pele quente irradiou através do meu vestido fino. Mordi o lábio, suprimindo um gemido. Minhas pernas ficaram mais e mais fracas quando ele abaixou a cabeça, avançando cada vez mais perto, até que eu tinha certeza de que seus lábios iriam se encontrar com os meus, quando, sem aviso, ele soltou meu braço e se afastou. — Entre na porra da caminhonete, Ti, — ele chamou de volta para mim.

Fiquei ali, incapaz de me mover, e tentando recuperar o fôlego enquanto ele se dirigia até a caminhonete de King como se aquele momento nunca tivesse passado entre nós. Quando ele percebeu que eu não estava atrás dele, ele rosnou e andou de volta para mim. Ele me agarrou pela cintura, os dedos cavando minha pele. Ele me levantou, o meu vestido curto subindo por cima das bochechas da minha bunda e me pendurou no ombro como se eu fosse um tapete enrolado.

Wack.

Ele bateu na minha bunda com a palma da mão aberta. Duro. O tapa doeu e eu tinha certeza que ele tinha deixado sua marca. Ele me jogou na caminhonete com um grunhido de homem das cavernas e bateu a porta atrás de mim.

Eu estava confusa como o inferno.

Eu estava tão zangada.

Eu também estava exultante.

Eu estava em luxúria tão forte que eu estava com dor física.

Eu estava realmente muito irritada.

Eu estava completamente apaixonada.

Filho da puta.


Capítulo catorze

BEAR

Eu mantive minha boca fechada durante todo o passeio de cinco minutos de volta para o bosque. Eu estava muito puto para falar. A esmagadora necessidade de transar com ela e puni-la ocupava cada polegada do meu ser. Eu estalei as articulações no meu pescoço e ombros, tentando encontrar algum tipo de alívio da agonia tanto em minha mente e meu pau doendo antes que fosse tarde demais e eu o levasse para fora em Ti... e sua buceta.

Quando chegamos ao bosque, eu disse a Ti para esperar no carro enquanto eu entrava. Rage estava esfregando a testa, acho que acabando de acordar do sono induzido por drogas que Ti tinha dado a ela. Se eu não estivesse tão puto que Ti me desafiou e procurou a ajuda daquele policial chupador de pau, eu realmente estaria meio que impressionado.

— Bear, não comece, isto não foi culpa minha, — disse Rage com um gemido. — Eu não sabia que a porra da sua namorada era louca o suficiente para me drogar. — ela se levantou e sacudiu a cabeça de um lado para o outro como se ela estivesse tentando limpar a névoa. — Em uma nota mais brilhante, — ela esticou os braços sobre a cabeça, — é assim que o sono é?

— Eu preciso de algum tempo com Ti. Volte amanhã de manhã, — eu lati.

— Amanhã? — Ti perguntou da porta, mais uma vez não fazendo o que lhe foi dito.

Bear, seu filho da puta! Gostei disso. O fantasma de Preppy entrou na conversa.

Eu arranhei a parte de trás do meu pescoço. — Sim, amanhã. Não tenho nada para fazer e eu preciso de você aqui por mais uma noite. Você acha que você pode me ouvir por uma vez e fazer uma coisa para mim, Ti, e só ficar lá? — eu virei para trás, mas Rage tinha ido embora. A porta dos fundos bateu.

Eu acho que eu não precisava dizer a ela duas vezes.

— Não se preocupe, Bear, — disse Ti, eu me virei a tempo de ver seus lábios formarem uma linha reta quando ela fez seu caminho de volta pelos degraus.

Porra. Meu sangue começou a ferver. Não era assim que eu vi isso acontecendo.

Eu achei até Ti em poucos passos, girando em torno dela e a segurando pelos cotovelos. — Eu estou no limite da porra do meu controle agora. Se você parar de agir como uma criança mimada por dois malditos segundos, eu poderia te explicar por que-

— Por que você saiu por duas malditas semanas, mas não se preocupou em entrar em contato comigo? De vir para mim? — Ti interrompeu. As sobrancelhas dela se estreitaram, as linhas de sua testa estragaram sua pele pálida perfeita. Fiz uma pausa, não percebendo que ela sabia sobre a minha soltura. — O vice-idiota te disse isso? — perguntei. Não era como se eu não ia dizer a ela sobre isso. Eu tinha chegado a ela assim que pude.

E agora que eu estava finalmente com ela, eu queria sufocá-la.

Enquanto meu pau estava dentro dela.

— Está tudo bem, Bear. Você não está sob qualquer obrigação comigo. Você não tem que me proteger mais. Estou bem sozinha. Se você não me quer, então... — ela lutou contra mim, mas não havia nenhuma maneira de que eu iria deixá-la ir quando sua raiva se transformou em tristeza. Sua voz falhou. Lágrimas brotaram de seus olhos.

— Você acha que eu não quero você, porra? — perguntei. Para uma menina esperta, ela poderia ser idiota como a merda.

Ela assentiu com a cabeça. — Por que mais você, — a cortei e, embora eu soubesse que ela estava chateada, por algum motivo isso só me enfureceu mais.

— Eu não sei, Ti. Talvez porque eu estou a ponto de ir à guerra com o meu velho e eu tive que me encontrar com alguns dos meus antigos irmãos que querem lutar ao meu lado, porra. Talvez porque eu acho que a chave para vencer a guerra pode ser a porra da minha mãe morta que de alguma forma apareceu para me visitar em County. Talvez porque não ficaria bem se a primeira coisa que eu fizesse quando fui solto era ir ver a minha menina cujos pais eu confessei ter matado, então eu pensei que uma ou duas semanas seria o melhor jeito de agir. Talvez eu me senti como se te manter longe das grades e dos meus olhos, onde eu poderia te proteger era um pouco mais importante do que a minha eterna, furiosa e enorme necessidade de estar com você! — eu gritei. Eu seriamente considerei sacudir algum sentido para a minha menina. Ti mordeu o lado de seu polegar.

— Você não acha que era foda para mim estar lá dentro? Não ouvir de você? Não te ver? Eu quase cedi e te liguei um milhão de vezes, mas quando eu pensei sobre o dano que poderia te causar... eu não poderia, — eu terminei, procurando seu rosto, esperando por algum tipo de reação.

Ela torceu a boca do jeito que ela faz quando ela está pensando. A vermelhidão nas bochechas desapareceu ao rosa. Seus músculos tensos relaxaram sob o meu controle. — Bem, quando você coloca dessa forma, — ela murmurou, olhando para o bosque e depois para mim. — Sua mãe realmente te visitou na cadeia?

Eu balancei a cabeça. — Ela levou um tiro do meu velho e foi atirada no mato na beira da estrada, e ela aparece vinte e cinco anos mais tarde para dizer adeus para mim. — eu ri, porque a coisa toda era um fodido absurdo.

— Onde ela esteve esse tempo todo? E por que ela foi te encontrar agora — perguntou Ti. Eram as mesmas perguntas que eu fiz quando ela apareceu.

Dei de ombros e disse a Ti como minha mãe pensava que Chop de alguma forma a manteve cativa, a ideia de que ela tinha sido drogada todo esse tempo, e como Sadie disse que não estava claro qualquer um dos detalhes.

— É por isso que você tem que sair de novo? — perguntou Ti, se inclinando para mim em vez de longe de mim como ela deveria. Meu pau saltou.

— Sim, se ela era importante o suficiente para o meu velho mantê-la trancada todo esse tempo, tê-la no meu bolso não seria uma coisa ruim. Nós podemos ser capazes de usá-la para chegar a Chop e terminar tudo isso.

— Nós? — perguntou Ti.

— Nós, — eu confirmei, e então eu contei a conversa que tive com os irmãos no pátio.

Ti sorriu. — Você tem um clube de novo, — disse ela, sorrindo para mim. Sua reação me pegou desprevenido. Ela parecia feliz que eu podia encontrar o meu caminho de volta para a vida do clube, quando eu pensei que seria a última coisa que ela queria.

Eu balancei minha cabeça. — Eu não iria tão longe. Eu não posso. Eu não confio em mais deles, — eu admiti. — Eu não estou tentando criar um motim. Eu continuo não sendo um Bastard. — fiz uma pausa, procurando meu cérebro pelo jeito certo de explicar o que eu estava tentando fazer. — Isso é mais como uma união por uma questão de vingança. — eu disse a Ti a história do que aconteceu com as BBB’s e ela engasgou, cobrindo a boca com a mão.

— Puta merda, — disse ela, envolvendo os braços em volta de mim.

O momento foi interrompido quando algo com pelos passou por nós em um borrão para o bosque.

— Que diabos foi isso? — perguntei.

— Meu cachorro? — perguntou Ti, apertando os olhos contra o sol.

— Você tem um cachorro?

— O nome dele é Panquecas. Rage o nomeou, embora eu quisesse chamá-lo de Muffin, ou talvez Donut, — disse ela observando o local onde ele simplesmente desapareceu.

Com a menção de donuts meus pensamentos foram imediatamente de volta para o vice-Braço Quebrado. — Vamos falar sobre o cão mais tarde. Agora você só precisa ouvir. — minha raiva começou a ferver novamente. — Eu te disse para confiar em mim, não foi? — perguntei, apertando seus braços um pouco com força.

Seus olhos foram aos meus. — Sim, e eu confiei em você. Eu estou aqui, não estou? — perguntou ela. Sua atitude defensiva só me encorajou mais.

— Você não estava aqui quando te encontrei na cidade com a língua daquele homem fodido na porra da sua garganta, — eu cuspi, e pensar em ter visto isso através do para-brisa e vê-lo praticamente em cima dela, a raiva que eu sentia tomou conta de mim de novo. A puxei para mais perto.

— Bear, me solte!

— Não, — eu rosnei. — Nada mais de braços quebrados. Da próxima vez eu vou quebrar a porra do pescoço dele.

Ti recuou novamente e desta vez eu a deixei ir. — Eu fui lá para te ajudar! Bucky me beijou, mas eu não o beijei de volta. Lide com isso! Se você não consegue lidar com isso ou se você não acredita em mim... você pode ir se foder! — ela disse, olhando pra baixo. Me desafiando. Me provocando.

Porra, eu amo essa garota.

Foi com essas palavras que a minha ira e luxúria finalmente me libertou. Qualquer tipo de controle que eu pensei que tinha quebrou em um instante.

— Prefiro te foder, — eu disse, minha própria voz retumbante no meu peito. Alcançando atrás do seu pescoço, eu enfiei meus dedos nos seus cabelos rosa, puxei seu rosto ao meu, e esmaguei meus lábios nos dela.

MINHA.


Capítulo quinze

Thia

Beijar Bear foi como provar de uma droga que eu precisava para sobreviver, uma droga eu tinha ficado muito tempo sem. Eu tinha ficado fraca sem ele. Desesperada. Com um toque de seus lábios nos meus eu fui de uma viciada nas ruas para uma estrela do rock, no alto de uma droga que eu nunca tinha planejado abandonar em primeiro lugar.

Bear passou dos meus lábios à minha mandíbula, — Você está aqui, Ti, — ele murmurou quando ele chegou à minha orelha, seus lábios fazendo cócegas em minha pele enquanto ele falava como se ele ainda não conseguisse acreditar. Ele, então, lambeu e chupou a pele sensível atrás da minha orelha, beliscando-a com os dentes. Engoli em seco. Ele riu. Senti tudo isso no fundo do meu núcleo. — E você é real. Todas as coisas que eu esperei tanto tempo para dizer são frases inúteis perdidas no fundo da minha mente em algum lugar, porque a única coisa que posso pensar agora é o quanto eu preciso estar dentro de você novamente. O quanto eu preciso te foder, — Bear disse, lentamente, enfatizando a palavra foder. Suas palavras enviaram uma onda de umidade entre as minhas pernas, meu corpo inconsciente de qualquer briga anterior. Sua única consciência era de urso e o que estava fazendo para mim e meu corpo. — Esta pequena porra de vestido, — disse Bear. Ele se aproximou e passou a mão quente até o lado da minha coxa, começando no meu joelho, levantando a bainha até meu quadril ao longo do caminho, e parando a mão na minha bunda.

Seus olhos azuis escureceram para um preto brilhante. O ar ao nosso redor mudou, ficando mais grosso, mais pesado, carregado de energia.

Eu balancei a cabeça, tentando lembrar minha linha de pensamento. Tentando lembrar por que eu estava tão zangada com a bela criatura que naquele momento só queria exatamente a coisa que eu queria. Então, por que eu não podia simplesmente deixar isso pra lá? — Eu te amo, Abel McAdams, — eu disse, ofegante, usando seu nome real, pela primeira vez, — mas não sou tão fácil assim. Você nunca vai fazer uma merda assim de novo. Eu não serei capaz de aguentar. Eu não vou ser capaz de-

Bear me cortou. — Cale-se.

Eu queria estar com raiva. Eu queria me lançar nele e lhe dar uma surra verbal que eu tinha planejado toda a viagem de volta na caminhonete, mas, de alguma forma esqueci. A última coisa que eu queria era que o seu pedido para calar a boca me fizesse querer agarrá-lo pela barba e arrancar seu rosto entre as minhas pernas. Eu tentei manter a raiva uma última vez, fechando os olhos por um momento, em uma tentativa de me libertar do desejo-nevoeiro que tinha assumido. Bati meu pé no chão e respirei fundo e mantive os olhos fechados. — Você não pode simplesmente me dizer para-

— Cale a boca, — Bear repetiu novamente.

Meus olhos se abriram para encontrá-lo olhando para mim, suas pálpebras pesadas, sua respiração irregular. Sem pensar, eu estendi a mão e corri a ponta do meu polegar sobre a linha de sardas debaixo de seus olhos e para minha surpresa, ele fechou os olhos e se inclinou para meu toque. Ele agarrou minha mão e levou o polegar à boca, sugando brevemente na ponta.

Meus mamilos endureceram, implorando para ser tocados.

— Bear, — eu comecei de novo, desesperada para encontrar a minha paz.

— Me foda, — disse Bear.

— O quê? — eu perguntei como se eu não tivesse entendido, mas eu tinha. Alto e claro. Meu corpo tinha também, cada parte de mim estava incrivelmente excitado e doendo pelo alívio da excitação torturante de Bear já em chamas. Meu núcleo apertou e eu apertei os lábios, tentando não aparentar o quão afetada eu estava por ele.

— Você me ouviu. Eu sei que sim, — disse Bear, lentamente, sedutoramente. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Mas apenas no caso de você não ter ouvido, eu não me importo de dizer isso de novo. — ele mergulhou com os olhos estreitos, seus lábios roçando contra a minha quando ele disse, — me foda, — novamente.

Minhas mãos, com uma mente própria, deslizaram do seu rosto em seu peito, caindo sobre os cumes do seu abs definido. — Ou melhor ainda, — disse ele, esticando o pescoço para chupar minha orelha. — Eu vou te foder. Vamos foder um ao outro. Isso realmente não importa, baby. Eu estive pensando em mais nada além de te comer em todas as posições inventadas por seis malditos longos meses e eu não estou prestes a deixar que nada fique no meu caminho, nem mesmo sua boca inteligente.

Eu não tinha sequer percebido que estávamos em movimento até que minhas costas bateram na lateral da casa e eu estava presa entre a parede e o calor do seu corpo duro, sem camisa. — Eu senti sua falta, — ele disse, sua voz rouca e profunda. — Tanto, porra. — ele esfregou o nariz contra o meu, em seguida, o arrastou para meu pescoço, enviando arrepios nas minhas costas e entre as minhas pernas, como se ele já tivesse me tocado lá. — Então é isso que eu vou fazer. Eu vou transar com você, baby. Eu vou fazer você gozar mais forte do que você já gozou antes. — Bear balançou os quadris contra mim como se estivesse selando a promessa, sua dureza cutucando contra o meu estômago.

Bear continuou me fodendo com suas palavras. — Esse vestido que você está vestindo me faz querer empurrar o meu pau entre seus peitos. — sua respiração irregular se tornou mais e mais rápida. — Eu posso ver seus mamilos duros. — ele lambeu os lábios. — Você está pensando em mim provando-os? — ele correu os dedos sobre os montes arredondados dos meus seios, em seguida, serpenteou um dedo no topo do meu vestido, pastando a ponta do dedo áspero a milímetros do meu mamilo.

Provocação.

Bear afastou um pouco e olhou para mim. Seu olhar era escuro. Uma mistura de desejo e dor. Suas sobrancelhas se estreitaram. — Tem sido muito tempo desde que eu toquei em você, — disse ele, a ponta do polegar, finalmente, fazendo contato com o pico endurecido do meu mamilo. Por mais que eu tentasse me conter, eu não podia. Eu gemi alto, e era tanto por causa do contato, quanto por ele rapidamente tirar a mão do meu vestido, e eu queria ele imediatamente de volta. Ele estendeu a mão, os dedos arrastando na minha coxa de volta para o meu vestido, apenas evitando a borda da minha calcinha.

— Eu posso sentir o quão quente a sua buceta está para mim e eu não estou nem te tocando ainda, — Bear gemeu em meu pescoço. — Vamos ver se você está tão molhada como você está quente. — Empurrando o pedaço de algodão para o lado, ele lentamente arrastou um dedo longo sobre o meu clitóris e na umidade entre minhas dobras, me fazendo contorcer contra ele quando ele traçou os meus lábios internos. — Puta merda. Você está tão molhada, baby. Tão bonita, — disse ele, puxando o dedo para fora e colocando em sua boca e eu não conseguia tirar os olhos dele. — Porra, eu senti falta do seu gosto, — disse ele, como se ele tivesse acabado de dar uma mordida na sobremesa mais celestial que havia.

Seus olhos estavam fixos nos meus quando ele deu ao seu dedo uma última lambida antes de fechar o espaço entre nós e esmagar a boca na minha. O segundo que meus lábios se separaram eu poderia provar a mim mesma em sua língua Eu estava perdida nas sensações de Bear e nossa conexão, que só tinha ficado mais forte durante o nosso tempo de intervalo.

Eu tinha perdido a guerra das palavras, enquanto Bear tinha claramente vencido a batalha sobre meu corpo. Ele se afastou apenas o suficiente para falar, mas não o suficiente para cortar a ligação dos nossos lábios. Sua língua ainda lambendo e me degustando entre as palavras. — Nós ainda podemos brigar, se quiser, Deus sabe que eu ainda estou com raiva o suficiente, mas se formos, vamos fazer isso com o meu pau dentro da sua buceta. Enquanto eu estou a enchendo. Te esticando. Sentindo o que é meu.

Estremeci. Um tremor de corpo inteiro que foi tão forte que eu não teria ficado surpresa se meus dentes começassem a bater.

— Vamos entrar, — sugeri em um sussurro. Ele cheirava a sabão, suor, cigarros e necessidade. As linhas duras de seus músculos ondulando se contraíram rapidamente enquanto ele lutava por mais ar. Para mais eu.

Para mais nós.

Minha respiração combinava com a sua quando ele agarrou a parte de trás do meu pescoço e chupou meu lábio inferior em sua boca, gemendo quando ele o soltou, pressionando sua testa na minha. — Nunca houve ninguém como você, — Bear disse suavemente. — Você é para mim, Ti. Nunca duvide disso. Mas você foi uma menina má. — os cantos de sua boca viraram para cima em um sorriso torto, seu pau latejante através de seu jeans contra a minha barriga. Minhas entranhas doíam e latejavam e pulsavam, e tudo aquilo que elas eram capazes de fazer com a antecipação de Bear estar dentro de mim novamente. Fiquei imaginando porque ele estava levando tanto tempo para me despir e me levar contra a parede.

Bear era tão bonito quando ele estava duro. Ele era tão complexo como ele era simples. Ele era tanto a tempestade quanto a calma. Medo e consolo. Raiva e paz.

Minha vida e meu amor.

Ele também era o maior provocador que estava a dois segundos de distância de me fazer explodir. — O que você está esperando? — perguntei, meu peito arfando como se eu estivesse prestes a ter um ataque cardíaco, meus mamilos tão duros que pareciam como se estivessem prestes a cair. Minha necessidade pingava embaraçosamente pelo interior da minha coxa.

Bear baixou a voz. — Eu estava pensando que as meninas más que não ouvem devem ser punidas, e que talvez eu devesse fazer você esperar para o que você quer.

Oh infernos, não.

Eu estava prestes a aceitar sua sugestão original de continuar brigando enquanto nós transávamos quando ele caiu de joelhos e cavou seus dedos dolorosamente no meu quadril. Ele levantou meu vestido, pressionou o rosto entre as minhas pernas, e respirou fundo. Ele lambeu sobre minha calcinha, sua língua quente e molhada através do tecido. — Sua buceta cheira como o fodido céu. Nunca cheirei qualquer coisa tão boa.

— Então me foda, — eu disse, fechando os olhos e me inclinando contra a parede. O aperto de Bear na minha cintura era a única coisa que me manteve de pé. Ele se afastou, separando minhas coxas com o joelho e balançou para frente, correndo o eixo sobre o meu clitóris. — É isso que você quer, baby? — ele perguntou, brincando. — Talvez você devesse pedir por isso.

Eu estava dolorosamente despertada, a minha buceta apertando em torno de nada, quando deveria ter estar massageando o pau de Bear enquanto entrava e saía de mim. Eu estava a segundos de distância de dar a Bear o que ele queria e pedir a ele para me foder, mas eu tinha uma ideia melhor sobre como acabar com este jogo que ele estava jogando.

Em um movimento ousado, eu me aproximei e espalmou sua ereção através de seu jeans. Imediatamente ele jogou a cabeça para trás e vaiou quando ele respirou fundo, embora os dentes estivessem cerrados. — Porra, — ele gemeu, balançando para frente em minha palma.

Tirei minha mão e empurrei seu peito, o pegando ligeiramente desprevenido. Seu passo era hesitante, mas ele se recuperou rapidamente. — O que você está fazendo, menina? — ele perguntou, sua voz profunda me massageando de dentro para fora, um brilho malicioso em seus olhos escuros.

Eu não respondi. Em vez disso, eu dei um passo para frente e levantei meu vestido sobre minha cabeça, o jogando ao chão. Seu olhar se lançou para o meu peito nu, e talvez fosse o jeito que ele estava olhando para mim, ou talvez fosse à maneira como ele lambeu o lábio inferior e, em seguida, chupou em sua boca como se estivesse se preparando para me engolir toda.

Ou talvez tenha sido que eu estava pronta para assumir o que era meu e eu estava cansada de esperar.

Revirei os mamilos entre os dedos e a boca de Bear se abriu. — Eu senti falto desses seus seios perfeitos, — disse ele, as narinas dilatadas. Mais uma vez ele caiu de joelhos, desta vez para tomar um mamilo na boca e sugar. Delicadamente no início e, em seguida, mais duro, me fazendo ofegar. Ele rolou a língua lentamente e depois mais e mais rápido, da mesma forma que ele fez quando ele estava lambendo meu clitóris. Me agarrei nos lados de sua cabeça para o apoio, enfiando minhas mãos pelo seu cabelo longo enquanto se movia de um bocal para o outro, soltando cada pico sensível apenas o tempo suficiente para eles ficassem frios no ar quente da noite.

Ele se levantou abruptamente e me beijou duro. Envolvendo os braços em volta de mim, ele me segurou com força contra ele, quase apertado demais. Não foi apenas um beijo apaixonado. Era uma mensagem. Este era Bear me dizendo que eu ainda era dele. Que ele nunca iria me deixar ir.

Eu serpenteei meu caminho entre nós, correndo a mão pelo estômago de Bear. Ele quebrou o nosso beijo para olhar para onde a minha mão estava descansando no cós da minha calcinha. Eu vi sua expressão quando eu empurrei minha mão para dentro e mergulhei os dedos na minha umidade.

— Porra, — disse ele, o controle era tão inflexível momentos atrás que me ensinar uma lição estava rachando rapidamente enquanto me observava empurrar meus dedos dentro e fora do lugar que eu mais precisava dele.

— MMMMMMMMMM, — eu gemi e embora sentisse muito bem, era longe de ser tão bom como era com dedos de Bear dentro de mim.

Eu fui forçada a remover a minha mão da minha calcinha quando Bear as empurrou para meus tornozelos. Eu estava completamente nua. — Tão linda, — Bear murmurou, desfazendo seu cinto. Eu empurrei seu jeans para baixo sobre seu traseiro perfeito e caí no chão. Ele chegou perto de mim e me levantou em seus braços com uma mão, me prendendo contra a parede.

Em vez de me empalar com o seu pau, que é o que eu tinha certeza que ele ia fazer, com a mão livre ele circulou meu clitóris com o polegar e inseriu dois dedos dentro da minha buceta enquanto arrastava beijos em meus seios e estômago. Com apenas esse pouco contato, eu já estava tão perto de gozar e eu sabia que pela pressão se construindo que quando eu gozasse, seria explosivo. — Você quer gozar em meus dedos, ou meu pau, baby? — minha buceta se apertou em torno de seus dedos, em aprovação.

— Pau, — eu respondi em um grito estrangulado, tão perto de gozar que meu núcleo parecia pesado e apertado.

— Boa menina, — Bear disse, se afastando apenas o suficiente para que eu pudesse deslizar para baixo e ele pudesse alinhar seu pau com a minha entrada.

Não havia nada lento sobre ele entrando em mim. A provocação que tinha começado mais cedo tinha acabado. Não havia nada sobrando além de necessidade animalesca pura. Em um impulso rápido e muito duro, ele se enterrou dentro de mim, o prazer tão grande que beirava a uma dor bem-vinda. — Isso é meu. Isso tem sido meu sempre. Tomei sua buceta virgem e aleguei isso, agora pertence a mim, — ele grunhiu enquanto ele me fodia duro e profundo.

Uma e outra vez ele empurrou furiosamente, encontrando um ritmo rápido. Ele tinha apenas começado quando a pressão aumentou tanto que eu comecei a rachar até que eu estava quebrando, quebrando, caindo, convulsionando em torno dele em ondas. A pulsação era interminável enquanto ele dirigia em mim cada vez mais forte, enquanto eu rebolava em seu pau, cavalgando as ondas longas do orgasmo mais poderoso que eu já tive.

Eu ainda estava gozando quando as investidas de Bear se tornaram erráticas e frenéticas. Mais e mais rápido, ele bateu em mim até que eu não sabia se ele estava empurrando ou puxando para fora. Ele soltou um longo gemido animalesco quando ele se acalmou, gozando dentro de mim, me enchendo com a sua libertação.

Eu desci do meu orgasmo apenas a tempo de sentir cada tremor seu quando ele se esvaziou. Ele me fodeu com pequenas estocadas rasas enquanto cavalgava o seu próprio orgasmo.

— Puta que pariu, — Bear disse, caindo no chão e me puxando para cima dele.

— Sim, — foi tudo o que consegui dizer. Eu tive sorte que eu ainda conseguia respirar depois disso.

Nós ficamos assim, deitados na grama nos braços do outro pelo que pareceu uma eternidade, mas nunca parecia o suficiente. Quando ele se sentou, ele me puxou com ele.

Bear inclinou meu queixo para cima, então eu olharia para ele. O sorriso no seu rosto chegou a seus olhos, que eram mais leves e de volta ao seu azul habitual. — Agora podemos ir para dentro, — disse ele, se levantando. Peguei minha calcinha, mas ele bateu minha mão. Bear me surpreendeu ao me içar por cima do ombro e caminhar de volta para a frente da casa.

— O que você está fazendo? — perguntei, olhando para seu traseiro nu enquanto andava.

— Nós fodemos. Agora é hora de brigar. Mas então eu vou querer transar de novo, então não há necessidade de toda essa besteira de roupas. — e, assim enquanto ele me levava da caminhonete, ele bateu na minha bunda com um barulho alto.

— Ái! — eu gritei.

— Não seja uma vadia, Ti. Estou pensando em fazer mais com você hoje à noite do que esses pequenos tapinhas em sua bunda. — ele me levou até os degraus da varanda e entrou na casa.

— Esse é o seu cão? — perguntou Bear, parando na porta. Eu não podia ver o que ele estava olhando, estando encima do ombro dele e tudo, mas eu pensei que ele estava falando sobre Panquecas que normalmente fixava residência no sofá quando ele não estava correndo ao redor do bosque.

— Sim. Esse é Panquecas, — eu disse. Bear me abaixou e me virei para ver Panquecas no sofá, assim como eu suspeitava, abanando o rabo.

— Não, não, não é, — Bear argumentou.

— Uh, sim, sim, é. Você não tem medo de cães, tem? — perguntei, dando um passo para dentro da casa. Bear agarrou meu braço.

— Eu não tenho medo de cães, — disse ele, sem tirar os olhos de Panquecas que continuava a abanar o rabo e correndo de um lado do sofá para o outro.

— Ótimo, então vamos-

— Mas, isso não é um cachorro, — disse Bear.

— Do que você está falando?

— Ti, Eu odeio ser o único a dizer isso.

— Me dizer o quê?

Bear apontou para Panquecas. — Seu cão... é um coiote.


Capítulo dezesseis

BEAR

Depois eu transei com minha menina um punhado de vezes, nós dormimos em um emaranhado de pernas no sofá da sala de estar. Eu aprendi duas coisas nessas primeiras horas do nosso pequeno reencontro. Número um era que, embora foder Ti tivesse sido sempre sido incrível, uma foda com raiva com Ti foi uma experiência fora do corpo. Número dois, era que Panquecas, o coiote, gostava de assistir.

A outra boa notícia era que eu tinha certeza que haveria muitas mais razões sobre muitas mais ocasiões para Ti ficar chateada comigo no futuro.

Minha pequena cabeça quente.

Pela janela da frente o céu estava clareando, os primeiros raios do sol estavam apenas alguns minutos de transformar o céu escuro em azul. Beijei o topo da cabeça de Ti e ela se mexeu. — Não, eu ainda estou dormindo, — ela argumentou, mantendo os olhos fechados. Ela golpeou cegamente com a mão. Eu agarrei o pulso e coloquei sua mão de volta no meu peito para evitar ser socado no olho.

— Eu tenho que ir, baby, — eu lembrei. Ela respondeu com um gemido seguido pelo ronco suave. Eu ri em seu cabelo. — Stone tem uma pista de onde Sadie poderia estar. Uma dica de um abrigo para mulheres há algumas horas ao norte. Gus e Wolf estão vindo comigo. Não deve levar tanto tempo para localizá-la.

— Talvez ela só queira ser deixada em paz, — Ti aponta, preguiçosamente correndo os dedos sobre meu peito. Esse pequeno toque foi o suficiente para enviar espasmos ao meu pau, voltando à vida como se não tivesse acabado de disparar várias rodadas para na menina nua esparramada em cima de mim apenas algumas horas antes.

MINHA menina nua.

— Talvez, mas o que quer que seja que ela quer, algo parece fora, e não apenas o fato de que ela está realmente viva. Só não parece certo, nada disso, — eu disse.

Relutantemente Ti sentou e bocejou, esfregando os olhos. Seus longos cabelos caíram em todo do rosto em emaranhados. A marca de mordida vermelha estava no espaço entre o ombro e o pescoço onde eu tinha mordido um pouco forte demais e eu queria mais do que tudo me deixar levar novamente.

Eu subi e corri meu dedo sobre a marca de mordida e Ti sorriu, sabendo exatamente o que era que eu estava pensando. Coloquei algumas das mexas mais bagunçadas de seu cabelo atrás das orelhas. — Você é absolutamente adorável quando você acorda, você sabe disso? — eu disse.

— Eu sou? — ela mordeu o lábio inferior e corou como se ela fosse tímida. Como se eu não lhe tivesse ensinado como montar meu pau como um campeão na noite anterior.

— Sim, de uma forma ‘eu gostaria que você montasse meu pau de novo’, — eu informei a ela, esfregando a palma da mão sobre o meu eixo já duro para mostrar a ela o que ela estava fazendo comigo. O que ela fez comigo. Seu olhar caiu ao meu lado, sua língua se lançando para molhar os lábios e era tudo que eu poderia aguentar. Me sentei e puxei Ti volta em cima de mim para um beijo. Eu tinha que ir. Mas eu tinha alguns minutos. Talvez dez.

Ou meia hora.

Uma garganta limpou e nós dois olhamos para cima para encontrar Rage, em sua camiseta rosa, olhando para nós e nossos membros emaranhados nus com uma expressão mista de confusão e desgosto.

Ti se aconchegou mais perto, pressionando os peitos dela contra mim para se proteger da nossa visitante, ainda que Rage só parecesse aborrecida por nossa nudez. Ela enxotou Panquecas para fora e tomou o seu lugar. Ele choramingou, mas apenas se mexeu um pouco, em seguida, caiu no chão. Ele apoiou o focinho sobre as patas, continuando seu voyeurismo de coiote assustador. Virei minha atenção de Panquecas de volta para Rage. — Você vai sair para que possamos nos vestir ou você se juntar a nós? — eu perguntei sarcasticamente, o que me rendeu um cotovelo nas minhas costelas por Ti.

— Ugh. — Rage revirou os olhos.

— Então, você nunca...? — Thia perguntou, se sentando sem se cobrir.

Rage escolheu para suas unhas. — Oh sim. Eu totalmente fiz. Eu só não entendo que grande coisa é.

Eu dei à bunda de Ti um aperto e ela saltou. — Então você precisa encontrar alguém para transar, — eu informei a ela. — Vamos lá, baby, temos negócio para terminar. — eu me levantei do sofá, meu pesado pau balançando para cima e para baixo quando eu peguei Ti em meus braços. Ela gritou de surpresa. — Nós já voltamos. — a levei pelo corredor até a porta aberta mais próxima, que era um banheiro amarelo com azulejos. Eu a coloquei no balcão e bati a porta. Não perdi um único segundo antes de pegar seus joelhos e abrir suas pernas. A puxei para mim, então sua buceta estava nivelada com a borda.

— Eu me sinto mal que a deixamos lá, — disse Ti, embora a forma como sua cabeça caiu para trás e sua boca se separou quando eu circulei seu clitóris com dois dedos me disse que ela não poderia ter se senti tão mal sobre isso.

— Eu posso ir buscá-la, se você quer que ela assista. — eu balancei as sobrancelhas. É claro que eu estava brincando. Não é que Rage não era gostosa, porque ela era. Eu simplesmente não era atraído por meninas que se parecem com líderes de torcida do ensino médio, mas embalada com explosivos suficientes para liquidar bairros. Não era realmente o meu negócio.

Olhei para a buceta brilhante de Ti. Meu negócio estava molhado, pronto, e bem na minha frente.

— Isso não é o que eu quis dizer, — disse Ti, gemendo quando eu empurrei o meu pau dentro dela. — Segure-se ao balcão, — eu pedi e pela primeira vez ela fez como lhe foi dito e agarrou a borda, usando como alavanca para empurrar contra mim quando eu empurrei para ela.

— Eu sei que não é o que você quis dizer é, — eu disse, me divertindo com a sensação do seu calor apertado. — Preppy era o único que eu deixaria assistir, de qualquer maneira. — eu não tinha percebido que eu tinha dito essa última parte em voz alta até que Ti respondeu.

— Você vai ter que me dizer sobre isso, — disse ela, lentamente circulando seus quadris para me permitir o acesso mais profundo.

— Porra, isso é bom, baby, — eu disse. Eu aprendi muito rapidamente que, quando eu elogiava Ti enquanto nós transávamos, ela aceitava tudo o que eu estava elogiando e levava essa merda para o próximo nível. Que é exatamente o que ela fez quando ela levantou sua bunda do balcão e aterrou sua buceta ao redor do meu pau.

— Sim, eu vou te dizer um dia, — eu concordei, sem saber como diabos estávamos tendo uma conversa. Endureci quando ela ficou tensa ao meu redor, estrangulando o meu pau.

Ti deve ter pensado a mesma coisa, porque então ela disse: — Mas não agora, Bear. Agora você só tem que calar a boca e me foder.

Então eu fiz.

Forte.

Eu fodi até que sua cabeça bateu com tanta força contra o espelho que rachou e partes dele caíram em torno de nós, mas nós ainda continuamos fodendo. Ela afundou seus dentes na carne do meu ombro e tirou sangue, provavelmente para se vingar de mim pela noite anterior. Seus lábios vermelhos manchados de sangue quando ela sorriu para mim só me fez segurá-la com mais força. Empurrar mais profundo. Mais duro. Mais rápido. Ela se apertou contra o meu pau até que ela estava gritando meu nome e sua buceta estava apertando em torno de mim como um maldito aperto. Eu segurei até que eu tinha certeza que ela estava se recuperando e então eu explodi dentro dela tão forte que eu fiquei temporariamente cego.

Porra, eu amo essa garota.

Depois que nos recuperamos e tomamos banho, parti na caminhonete, mas não antes de prometer a Ti que eu estaria de volta no dia seguinte para ela. Em troca, a fiz prometer que não iria drogar Rage novamente. Rage que, enquanto a minha menina e eu estávamos dizendo nossa despedidas, olhava para nós de dentro da casa através da tela como se fôssemos animais no zoológico e tudo o que fizemos e disseram um ao outro era algo tirado das páginas da National Geographic.

Se eu não tivesse levado Ti para o banheiro, eu estava cem por cento certo de que Rage teria nos assistido de lá. Ela não tinha escondido a sua curiosidade de nós, embora eu não achasse que sua curiosidade sobre o sexo era uma coisa sexual, se isso faz algum sentido. Eu acho que a menina era mais curiosa por que o sexo não era para ela da mesma forma que era para todo mundo. O que para mim era louco pra porra, considerando que eu iria abrir mão de qualquer coisa, exceto a coisa entre as minhas pernas, para ser capaz de foder Ti todos os dias.

Rage era o completo oposto da outra pessoa que eu sabia que sempre gostou de assistir. Além de Panquecas.

Ele tinha visto, porque ele estava curioso também, pelo menos, começou assim, mas sua curiosidade era definitivamente sexual em todos os sentidos.

Bem, sexual... e violento.

Preppy.

Ele era um merdinha depravado.

Você não é uma princesa da Disney, seu saco de merda.

Eu gostava de pornografia tanto quanto qualquer cara, mas a merda de Preppy não deixava meu pau duro, pelo contrário, fazia minhas bolas quererem recuar de volta para o meu corpo e esconder até que tudo estivesse limpo.

Um merdinha depravado... que eu daria qualquer uma dessas bolas para ter de volta.

Eu cheguei por trás do meu pescoço e esfreguei a tatuagem PREP que King tinha feito para mim. Sempre parecia queimar quando eu estava pensando sobre ele.

Queimava especialmente quando eu pensava na primeira noite que eu percebi que a violência e sexo estavam de mãos dadas para Preppy.

E, às vezes, de mãos dadas com faca.


Capítulo dezessete

BEAR

Dezoito anos de idade...

Havia uma festa.

Havia uma festa todas as noites.

Se não no complexo, então na casa de King. Nós três, eu, King e Preppy dormíamos um bom tempo e quando o sol se pôs nós festejamos até que voltávamos. O meu clube era sempre bem-vindo, o licor estava sempre fluindo, e as meninas eram mais do que dispostas.

— Ei, menina bonita, — eu disse a uma garota que eu nunca tinha visto antes com cabelo marrom longo e escuro e olhos quase pretos. Ela estava vestida de forma conservadora para um das nossas festas, e o que eu quero dizer com conservadora é que ela não estava de topless ou no meio de um jogo de algemas com os meninos perto da fogueira. Ela estava, provavelmente, nas férias de primavera. Sua pele bronzeada demonstrava isso. A maioria dos moradores, mesmo se eles trabalhassem fora, não eram bronzeados, a menos que tivessem nascido assim. Esta menina tinha um brilho sobre ela que disse que ela tinha ficado deitada ao sol durante todo o dia, a ponta de seu nariz ligeiramente avermelhada. Sim, uma visitante. Isso era ótimo para mim, porque isso significava que ela estaria indo embora sem muita discussão ou aborrecimento.

Ela estava definitivamente se aventurando no lado errado, mas não importava, porque a saia era curta, suas pernas eram longas, e com toda a honestidade, a minha lista de verificação em quem eu enfiava meu pinto durante esses dias não era muito mais do que isso.

Na verdade, era só isso.

— Ei, você, — disse ela, tomando um gole de qualquer bebida que estava em seu copo de plástico vermelho. Eu esperava que ela não tivesse vindo com Prep.

— Eu tenho um quarto aqui, — eu disse a ela, cortando a perseguição e porque eu nunca tinha feito qualquer esforço real para uma menina me foder. — Quero ver?

— Mostre o caminho, — ela sussurrou sedutoramente. Eu agarrei a mão dela e a arrastei em direção ao meu apartamento. Eu ri baixinho enquanto ela lutava para parecer olhar sexy durante a caminhada pela grama irregular em saltos de quinze centímetros. Eu a levei para a garagem e parei bem perto da porta do apartamento. A levantei para cima das caixas de ferramentas na garagem. Minha caixa de ferramentas favorita. Era a altura perfeita para o que eu precisava.

— Eu pensei que você tinha um quarto? — perguntou ela.

— Eu tenho, ele está lá, — eu disse, apontando para a porta que estava tão perto que eu podia alcançar e tocar a maçaneta. — Mas eu não posso esperar, baby, — eu menti, dizendo a mesma coisa que eu disse à inúmeras outras meninas que perguntavam por que elas estavam sendo fodidas em cima de um monte de trapos gordurosos em uma garagem escura que cheirava a óleo e ferrugem .

Garotas nunca chegaram mais longe do que a caixa de ferramentas e, em alguns casos, não mais do que a doca, ou até mesmo o pedaço de clareira na floresta. Eu aninhei seu pescoço e fiz as preliminares mínimas necessárias para não irritar uma garota antes de enfiar o meu pau e empurrar para casa.

A garota de férias era boa. Não ótima.

Ótima não vinha para mim durante anos.

Mas ela serviria, embora ela tenha tentado me beijar o que não era o meu negócio. Fazer isso era para fodidos adolescentes. Eu tinha dezoito anos e bem na fase ‘coloque o meu pau nisso e pronto’, nada mais.

Naquela noite não foi a primeira noite que eu senti como se estivesse sendo vigiado enquanto eu estava com uma menina. Eu olhei para fora da janela da garagem para os festeiros e sabia de fato que as pessoas lá não podiam me ver. Eu sempre fiz questão de não acender as luzes, mas ainda assim, o sentimento não se afastava.

— O que você está procurando? — perguntou a Garota de Férias, ofegante quando um pequeno cão peludo saiu para o sol quente do verão.

— Nada, — eu menti. Eu estava procurando por algo, um alguém. Fechei os olhos e empurrei duro dentro dela, tentando me concentrar. Ela gemeu e fez um bom show, mas eu ainda estava distraído com a sensação desagradável de que alguém estava lá. Eu estava ficando frustrado com a menina e cansado da minha meia tentativa de foder com ela. Eu peguei o ritmo, então eu poderia simplesmente gozar e acabar com isso.

Foi quando eu soube que a Garota de Férias foi uma gritadora.

Uma e outra vez ela se contrariou contra mim quando eu bati no fundo e isso me fez continuar. Não era muito ruim por cima da falsa merda, que eu já tinha experimentado, especialmente com as BBB’s. Esta menina era honestamente amando o meu pau e, eu estava sentindo isso.

— Você vai gozar, menina bonita? — perguntei, não porque eu achava que ela era realmente bonita, mas porque eu não tinha ideia do nome dela.

Eu nunca sabia.

— Sim. SIM! — gritou ela. Ela agarrou meu pescoço e cravou as unhas em minha pele enquanto eu batia nela. Foi então que eu vi. Primeiro foi apenas com o canto do meu olho. Um flash de movimento. Mas, quando as sombras na garagem deslocaram, eu percebi que era um ele.

Quando ele percebeu que ele tinha sido pego, ele saiu completamente das sombras e foi para o local onde o luar penetrava pela janela. Em qualquer outro lugar na garagem e ele estaria envolto em escuridão.

Ele queria ser visto.

Preppy.

Ele não estava se masturbando. Suas calças estavam no lugar e a fivela do cinto apertado. Ele não estava nem mesmo fazendo seus habituais comentários sarcásticos.

Ele estava apenas assistindo. Eu não. Mas ela. Os olhos brilhando sob a luz, enquanto ele a olhava como se ela fosse uma exposição no Museu Ringling Brothers.

Eu fiz uma breve pausa, a presença de Preppy tirando o meu ritmo. — Por que você parou? — perguntou a menina. Eu poderia ter mencionado Preppy ali mesmo, gritado para ele ir. Mas não fiz. Havia algo na maneira como ele estava assistindo que me fez sentir como se ele estivesse bem sobre ficar, tudo bem para ele continuar assistindo.

Eu continuei.

Novamente a Garota de Férias começou a gemer, se contorcendo contra mim, raspando as unhas em minhas costas. Preppy era um dos meus amigos mais próximos e não era novo compartilhar cadelas com meus irmãos no clube, embora tenha sido mais de um salto de quarto em quarto, sem todos no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Eu tive uma estranha sensação enquanto Preppy ficou ali, sem fazer barulho. Quase como se ele precisasse disso por algum motivo. Precisasse ver como uma foda normal parecia.

Como se ele precisasse ser uma parte do que estávamos fazendo.

Preppy era um dos meus melhores amigos.

Então eu deixei.

Ele estava mais quieto do que já tinha estado. Desde o dia em que nos conhecemos, eu nunca tinha visto ele ficar mais do que alguns segundos sem falar, mas enquanto eu empurrava meu pau cada vez mais forte na menina, ele estava quase estoico. Quando eu notei que ele estava olhando para os peitos dela, eu puxei a pobre desculpa para uma camiseta - um pequeno pedaço de seda - até o pescoço, para que ele pudesse dar uma boa olhada neles saltando para cima e para baixo enquanto eu transava com ela.

Os olhos dele brilhavam em apreço e ele acenou em agradecimento.

Entender Preppy foi difícil. Pelo que King me tinha dito sobre o seu passado, ele teve um começo difícil na vida. Todos nós tivemos. Preppy um pouco mais difícil do que a maioria, mas ele nunca falou sobre isso.

Sempre.

Eu não o culpava por isso. Eu não exatamente queria falar sobre meu velho também.

A coisa era que Preppy poderia ter garotas.

Ele teve garotas.

Ele não era tão alto quanto eu ou King, mas ele ainda era alto. Ele era bem definido, que veio mais fácil para ele do que para mim, porque ele começou como um garoto magro, mas quando ele começou a malhar, ele foi direto para definido e magro. Além do tamanho e do peso ele tinha algo que eu e King estávamos em falta alguns dias.

Humor.

Personalidade.

Perspicácia.

Charme.

Quando a buceta da garota começou a apertar em volta do meu pau, a sensação de aperto fez as minhas bolas apertarem. Olhei para Preppy que estava imóvel como eu já tinha visto ele. Não se contraindo ou enfiando as mãos nos bolsos ou passando as mãos pelo cabelo. Apenas olhando. Assistindo. Observando.

Eu estava ficando perto, então eu empurrei a menina na caixa de ferramentas para que suas costas estivessem encostadas ao diamante em forma de metal. Me agarrei sobre seus ombros quando eu choquei com ela, me certificando de arrastar o meu pau ao longo das paredes da frente da sua buceta enquanto eu puxava para dentro e para fora. Seus peitos maiores do que a média saltavam para cima e para baixo, e assim que ela gozou, eu fui junto, embora fosse mais como um espirro do que orgasmo, porque eu estava mais preocupado pensando sobre a nossa companhia e o que significava ele estar lá, do que realmente gozar.

— Isso foi... wow, — disse a menina, se sentando. Eu puxei para fora dela e tirei o preservativo, jogando em uma lixeira próxima. — Quer ir de novo? — ela perguntou, envolvendo suas longas pernas em volta da minha cintura e cavando seus saltos nas minhas costas, me puxando para frente.

— Você quer mais? — perguntei, segurando seu rosto com as mãos. Ela estendeu a mão e lambeu um dos meus dedos.

— Sim, por favor. Me dê mais, — ela implorou.

Com o canto do meu olho, eu vi Preppy fazendo um movimento quieto para sair pela porta lateral. — Prep, — gritei. Ele parou. Tirei as pernas da menina em torno de mim e dei um passo atrás, me colocando de volta em minhas calças. — Por que você não vem até aqui e cuide desta menina bonita? Ela diz que precisa de mais e eu não tenho tanta certeza se tenho muito mais para dar a ela.

No começo a Garota de Férias ficou surpreendida pela presença de Preppy e olhou para mim como se estivesse em estado de choque, mas logo que Preppy entrou na luz, ela sorriu como se eu tivesse acabado de lhe dar um filhote de cachorro. As pernas dela ainda estavam espalhadas, sua reluzente umidade para ele ver.

Lentamente Preppy se aproximou, seu olhar focado entre as pernas.

Na minha mente, eu não estava apenas oferecendo para compartilhar uma menina com Preppy, eu estava lhe oferecendo a chance de normalidade. A chance de apenas transar e não ser tão envolvido com os comos ou porquês de tudo.

— Vá nessa, mano, — eu disse, batendo no ombro enquanto eu saia, fazendo meu caminho de volta para a festa. Eu não estava a quinze metros de distância da garagem quando ouvi o grito. Não era o tipo de grito que ela fez quando eu a fiz gozar, mas o tipo de grito que disse: ‘Alguém acabou de me apunhalar’, eu me virei e corri de volta tão rápido quanto eu podia.

E com certeza...

A menina não estava mais na caixa de ferramentas, mas colocada no chão do lado dela, rastejando para longe de Preppy a uma velocidade de caracol, mas onde uma baba de caracol seria deixada em suas trilhas, a menina deixava sangue.

— Ele me esfaqueou! — gritou ela, agarrando sua coxa que ainda tinha um par de tesouras de prata saindo da parte superior, jorrando sangue com todos os seus movimentos. Preppy olhou com olhos arregalados para o rastro de sangue e o sangue em seus dedos, mas não fez nenhum movimento para ajudar ou até mesmo fugir.

Ele apenas ficou lá com uma expressão ilegível em seu rosto.

Peguei a menina e a levei para fora da garagem. Uma das BBB’s costurou sua perna e chamou um táxi para casa. Dei a ela algumas centenas de dólares para manter a boca fechada e Preppy e eu nunca falamos sobre isso novamente.

Mas eu ainda sentia que ele observava.

A próxima vez que eu trouxe uma menina para a garagem e o chamei, ele parecia preocupado. — Eu não posso, — disse ele, mesmo depois que a menina disse que ela estava no jogo.

— Você quer que eu fique? — perguntei na minha voz mais tranquilizadora, me perguntando onde ele estava em sua mente fodida quando o sexo estava envolvido e o que estava causando a intensidade que irradiava dele como se ele fosse uma pessoa diferente quando ele estava assistindo. Uma versão totalmente diferente de Preppy. O que mais me chocou foi que, no lugar do seu habitual comportamento sarcástico e desagradável, ele estava hesitante. Tímido.

Isso me assustou, porra.

No entanto, eu queria ajudá-lo de alguma forma.

— Venha aqui, baby, — disse a menina, separando suas pernas. Me sentei na caixa de ferramentas ao seu lado e levantei a blusa dela. Eu brinquei com seus mamilos, enquanto Preppy empurrava para dentro.

Depois de alguns segundos, Preppy olhou para mim, seus olhos escuros e ameaçadores. Ele parecia um demônio do caralho. — Eu quero machucá-la, — ele sussurrou. A menina tão envolvida no pau de Preppy, obrigado, porra, não o ouviu.

Eu balancei a cabeça, não haveria mais jogo de tesoura se eu tivesse alguma coisa a ver com isso. — Observe, eu vou fazer isso para você, — eu disse. Eu agarrei a garganta da menina em minhas mãos e apertei apenas o suficiente para tornar desconfortável para ela, mas não o suficiente para realmente causar dor. Ela gemeu e engasgou, ao mesmo tempo.

— Ela gosta disso, — Preppy disse, parecendo completamente pasmo. Ele bateu nela em um ritmo furioso, enquanto eu a segurava com força. Quando eu peguei um punhado de cachos vermelhos da menina no meu punho e puxei, rasgando um grito de sua garganta, isso o enviou até o limite e ele gozou com um gemido antes de cair no chão.

Tirei a menina de cima da caixa e comecei a puxá-la para longe da garagem. — Ele vai ficar bem? — ela perguntou olhando para trás, mas eu não a deixei parar. Era melhor deixá-lo recuperar do que deixá-lo ali sozinho com a menina e ter que lidar com a possibilidade muito real de que não seria apenas uma coxa esfaqueada na próxima vez.

— Obrigado, — Preppy disse, ainda curvado, de cara no chão de concreto. As calças em torno dos seus tornozelos.

Foi a primeira e a última vez que eu o ouvi pronunciar essas palavras.

Infelizmente, eu não poderia dizer o mesmo sobre o esfaqueamento.


Capítulo dezoito

Thia

— Eu estive pensando sobre isso, e eu acho que há algo de errado com seu cão, — disse Rage. Ela estava sentada em um banquinho no balcão da cozinha, pintando as unhas. Panquecas imediatamente retomou seu lugar no sofá no segundo que Rage havia se levantado, deitando de costas, com as pernas abertas e a língua de fora do lado de sua boca.

— Ele é um coiote, — corrigi.

Ela se virou. — Bem, isso é o que há de errado com o seu cão, então.

— Você sabe que tipos de doenças cães podem carregar? Esqueça coiotes. Eu ouvi uma vez que alguns cães pode levar doenças em suas línguas e com uma lambida na boca... — Rage fez um movimento com a mão me deixando saber que ela tinha entendido. — Boom, herpes.

Eu estava apenas metade prestando atenção, minha mente e corpo ainda cantarolando da minha noite, e manhã, com Bear. — Eu não acho que isso é verdade.

— Eu não sei. Você não acha que essa coisa poderia ser violenta? Você sabe que um coiote não é a mesma coisa que um cão.

— Rage, eu ouvi você dizer a mesma coisa todos os dias durante seis meses. — eu apontei para Panquecas que estava dormindo, ainda de cabeça para baixo, embora agora ele estivesse a meio caminho para fora do sofá, esgueirando mais e mais em direção ao chão com cada pequeno ronco. — Ele parece violento para você?

— Acho? — perguntou Rage, soprando suas unhas e me piscando um sorriso branco.

— Ponto feito.

— Posso te perguntar uma coisa? — Rage perguntou, se levantando e caminhando ao redor da sala enquanto ela examinava os quadros na parede como se não tivesse visto todos os dias durante meses. — Bem, você me drogou então tecnicamente você me deve uma resposta.

— Prefiro pensar nisso como te dar um pouco de sono muito necessário. — lutei com a tampa de um pote de manteiga de amendoim e estava prestes a usar o meu truque de quebrar na bancada até abrir quando Rage se aproximou e o agarrou da minha mão.

— Ei, eu, — eu comecei, mas parei abruptamente quando Rage abriu em uma tentativa sem colocar qualquer esforço, enquanto eu, por outro lado, estava à beira de estalar um vaso sanguíneo no meu olho quando eu tinha tentado.

Ela me entregou o frasco e continuou seu passeio. — Você e Bear. Você... ele foi... — ela suspirou e eu não sabia se ela estava com vergonha de me fazer sua pergunta ou se ela não conseguia encontrar as palavras para perguntar isso.

— Esta pergunta é sobre sexo? — perguntei, casualmente, tentando tornar menos difícil para ela.

— Sim, — respondeu ela, pegando uma foto da mesa de café de mim e meu pai quando eu ainda usava fraldas. Ele me segurava em seus braços e eu estava pegando uma laranja da árvore. Ela guardou de volta.

— O que você quer saber? — perguntei. Panquecas caiu no chão e se assustou. Ele olhou em volta, como se estivesse à procura de quem o empurrou para fora do sofá. Dentro de poucos segundos, ele estava de volta para cima e voltou a dormir.

— Ele foi o seu primeiro? — Rage perguntou, limpando a garganta.

— Sim, foi, — eu disse, lambendo a manteiga de amendoim restante da faca e jogando-a na pia. Entreguei à Rage o seu sanduíche e sentei ao lado de Panquecas cujas patas estavam se mexendo como se estivesse atrás de algo em seu sonho.

— E você... gosta do sexo com ele? — ela perguntou, estalando os lábios e cruzando as mãos atrás das costas. Ela tinha colocado seu sanduíche na mesa sem dar uma mordida.

— Tem certeza que você teve relações sexuais antes? — perguntei, me perguntando como é que alguém não poderia amar o que Bear e eu fazíamos quando estávamos sozinhos, juntos, nus, e ele estava...

— Sim, eu fiz. E eu acho que é por isso que estou tão confusa, — ela admitiu. — E, na minha linha de trabalho, eu não consigo falar com muitas meninas da minha idade.

— Serviços Armados de proteção de babá? — perguntei, levantando as sobrancelhas.

Rage riu e apertou seu rabo de cavalo. — Serviços de proteção, — ela repetiu, — eu gosto disso. Na verdade, eu não protejo muito nestes dias. — ela se levantou sobre o balcão, balançando seus pés.

— Você deve ter uma boa história, — eu disse, dando uma grande mordida.

Ela zombou. — Eu não sei como é bom. — ela olhou para fora da janela da frente e depois para mim. — Mas talvez eu vá voltar e dizer a você um dia.

A porta de um carro bateu e imediatamente Rage estava de pé com a mão atrás das costas em sua arma. Eu empurrei para fora do sofá, assustando Panquecas que correu para fora da porta deslizante de vidro aberta na cozinha.

Nós caminhamos para a porta da frente e tivemos um vislumbre de um sedan familiar que nunca mais queria ver novamente. Nós duas descemos os degraus até a varanda, eu primeiro e Rage logo atrás. — Não é ninguém, — eu resmunguei, — Só um cara que eu atirei uma vez, — eu disse alto o suficiente para o Sr. Carson ouvir quando ele se aproximou, apenas evitando os degraus.

— Bem, essa é uma agradável saudação quando eu trouxe um presente, — disse Carson, segurando um envelope pardo, trazendo memórias da última vez que esteve aqui e de outro envelope que ele tinha segurado.

Eu cruzei os braços sobre o peito. Rage parou atrás de mim, do lado de fora da porta. — Sr. Carson, você pode levar seu envelope e voltar ao seu carro e sair, ou isso vai acabar da mesma forma que acabou da última vez.

Sr. Carson sorriu e colocou a mão sobre o coração. — Srta. Andrews, eu te perdoo pelo que aconteceu da última vez.

— Eu não estou procurando o seu perdão, Sr. Carson.

Ele parecia divertido com a minha admissão. — Da última vez, eu vou admitir, eu fui um idiota. Eu percebi o meu erro e agora eu tenho outra oferta para você.

Fiz uma careta. — Faça a sua oferta para o banco. Em cerca de seis meses este lugar será deles. Tenho certeza de que você pode trabalhar com um negócio que melhor se adapta à sua alma negra e suas carteiras cheias.

— Você parece amarga, Srta. Andrews. Me deixe fazer isso melhor, — disse Carson. — Sunnlandio Corporation não quer esperar os seis meses. Tempo é dinheiro e tudo mais. Então, nós estamos fazendo uma oferta muito melhor. Nós gostaríamos que você assinasse sobre a propriedade agora e nós iremos lidar com todas as dívidas e colocar uma quantidade considerável de dinheiro aqui. Confie em mim, vai valer a pena. — ele voltou a erguer a pasta. — Os números ainda me surpreendem. — fora a frustração pura e um desejo irresistível do Sr. Carson sair, eu fiz um movimento para descer as escadas e pegar o arquivo.

Rage me parou, me agarrando pelo braço. — Eu vou buscar, — disse ela. Ela desceu os degraus devagar, agarrando o arquivo da mão do Sr. Carson. Os olhos de Rage permaneceram lá, em sua mão, por apenas uma fração de segundo.

— E quem é você? — perguntou o Sr. Carson, soando muito como se ele estivesse falando com uma criança.

— Gestão, — Rage respondeu. Ela abriu o arquivo e rapidamente digitalizou o que estava lá dentro. — É legítimo, Thia. Eu acho que vocês devem se sentar e falar sobre isso, — disse ela, mas havia algo estranho com sua voz. Eu tinha ouvido alegre, eu tinha ouvido entediada, eu tinha ouvido reclamar muito, mas esse tom não era como qualquer coisa que eu já tinha ouvido dela antes. Eu procurei seus olhos por algum tipo de significado interno, mas não encontrei nada.

— Vamos lá dentro, Sr. Carson. Estávamos fazendo chá gelado, — Rage disse, levando o Sr. Carson até os degraus, passando por mim em seu caminho para a casa. Um sorriso enorme de vitória estampado no seu rosto.

Eu deveria ter mirado na maldita cabeça dele.

— Sente-se. Meu nome é Mandy. Eu sou a prima de Thia, — disse Rage.

O nome dela é o quê?

Sr. Carson tomou um assento na mesa, enquanto Rage abria os armários da cozinha e começou a tirar coisas aleatórias, colocando-as sobre o balcão.

Foi quando eu vi. O olhar muito sutil que ela atirou em mim. Eu teria perdido um nanossegundo depois, mas felizmente eu não tinha. Ela olhou entre mim e, em seguida, as facas no bloco de açougueiro no balcão, e, finalmente, o Sr. Carson. O sorriso nunca deixou seu rosto e sua atenção nunca deixou nosso convidado, mas a mensagem não poderia ter sido mais clara.

— Eu vou cortar alguns limões, — eu disse, pegando uma faca e caminhando até a geladeira. Nós não tínhamos limões, mas no meu caminho de volta da geladeira, eu consegui escorregar a faca na mão de Rage.

— Aqui vamos nós, — disse Rage, andando ao redor do balcão com um jarro vazio. Sr. Carson olhou para ele e, em seguida, olhou para ela, sua testa vincando em confusão. Rage deixou cair a jarra de plástico e quando os olhos do Sr. Carson a seguiram no chão, Rage agarrou seu pulso e o colocou sobre a mesa. No que pareceu pouco tempo, ela levantou a faca e correu através da parte traseira da mão de Sr. Carson, o prendendo na mesa.

Ele gritou e alcançou dentro de sua jaqueta, mas Rage foi mais rápida. Ela empurrou sua jaqueta de seus ombros, fechando os braços para os lados e impedindo-o de chegar ao que quer que fosse que ele estava pegando. Ela apontou para as facas e eu joguei a outra e ela fez o mesmo com a outra mão. A gritaria aumentou.

Ela enfiou a mão no casaco e tirou a arma.

Então, como se ela não tivesse apenas esfaqueado um homem, duas vezes, ela calmamente puxou sua arma, colocou sobre a mesa ao lado dele, se certificando de apontar os dois na direção do Sr. Carson. Ela tomou um assento na mesa, enquanto ele continuava a chorar.

— Sua puta! — ele gritou, jogando a cabeça para trás.

— Seu BASTARDO, — disse Rage. Ela estendeu a mão e puxou a manga do paletó, revelando o emblema dos Beach Bastards estampado em seu antebraço.

— O quê? — perguntei, apertando a mão sobre minha boca, não acreditando no que estava vendo.

— Thia, por que você não seja boazinha e nos traga uma corda? — Rage instruiu.

— Corda? — perguntei. — Para quê? — Sr. Carson tentou mover suas mãos, mas só conseguiu se ferir ainda mais e o sangue derramar mais rápido.

Todas as outras variações que eu tinha visto da personalidade de Rage desapareceu e foi substituída pelo ser sinistro olhando com ódio para seu novo cativo. Rage sorriu docemente. — Porque, Thia querida, este é o Sul e eu estou no clima para um bom enforcamento à moda antiga.


Capítulo dezenove

Thia

Eu não sabia se ela iria realmente enforcar Sr. Carson, e não porque eu não achava que ela fosse capaz, mas porque o bosque - e Jessep em geral – não tinham qualquer tipo de árvores com ramos bastante resistentes. Laranjeiras não exatamente fazem o trabalho. Independentemente disso, eu tinha saído para o galpão e encontrei o que Rage tinha solicitado. Eu tinha acabado de entra na casa quando algo tocou.

Rage enfiou a mão na frente da sua camiseta e tirou um telefone antigo. Sr. Carson estava desmaiado em sua cadeira, com as mãos agora cobertas de vermelho, o sangue pingando no chão do lado da mesa. Os olhos de Rage ficaram longe quando ela olhou para a tela. Seu rosto empalideceu. Ela abruptamente se levantou e pegou a corda de minhas mãos, mas em vez de linchar Sr. Carson ou qualquer que seja seu nome verdadeiro, ela enfiou uma bandana rosa na boca dele e o amarrou à cadeira usando uma série de nós que pareciam complicados.

— O que está acontecendo? — perguntei, esperando que o que quer que fosse não tivesse nada a ver com Bear.

— Não é nada, — disse ela. — Acabei de enviar uma mensagem para Bear. Ele está a caminho. Ele me disse para não fazer nada até que ele chegasse aqui.

Eu estudei seu rosto, sua respiração acelerada. — Ok, mas seu telefone. O que foi? Quem era? — perguntei novamente e foi aí que ela olhou para mim com os olhos vidrados e me entregou o telefone.

Era uma selfie de um menino um pouco mais velho do que nós. Bonito. Quase lindo. Ele estava sorrindo para a câmera, fazendo uma cara boba com a mão no queixo.

— Ele é bonito? — eu disse, mas saiu como uma pergunta. Entreguei a ela o telefone de volta.

— Ele é, mas ele também está em apuros, — disse Rage, olhando para a foto e correndo os dedos pela tela.

— Você percebeu isso a partir de uma selfie? Ele parece feliz para mim. — eu me inclinei para olhar novamente apenas para me certificar que eu não tinha perdido nada, mas novamente nada se destacou para mim como sendo fora do comum.

Rage colocou seu telefone de volta em sua camiseta. — É o seu bat sinal, — disse ela.

— Seu o quê?

— Seu bat sinal. Ele não gosta de selfies. Disse que nunca iria tomar uma. É o nosso sinal. Ele apenas deveria enviar uma quando ele está em apuros.

— Rage... quem é esse menino para você?

Ela mordeu o lábio. — Ele é... eu realmente não sei, — Rage respondeu calmamente.

— Você precisa ir até ele, — eu disse, fazendo a decisão mais fácil.

Rage começou a protestar, mas eu não iria deixá-la. — Me ouça, se os papeis fossem invertidos e Bear estivesse em apuros, eu não daria um segundo de pensamento em deixar você. Você mesma disse que Bear está a caminho. Este cara está amarrado e desmaiado. Eu sei como disparar uma arma. Vá! — a agarrei pelos ombros e a sacudi como se eu estivesse tentando por algum sentido nela. — Deixa comigo, — eu assegurei a ela.

Rage olhou para mim, piscando lágrimas. No segundo seguinte ela pegou sua arma da mesa e apontou para o Sr. Carson. — Tudo vai ficar bem, — eu disse novamente.

Ela assentiu com a cabeça. — Obrigada, — disse ela antes de desaparecer pela porta.

Nada estava bem.

 

* * *

 

Bear estaria de volta em breve e então eu estaria deixando a casa e a cidade para sempre. Olhei pelo corredor e para a porta fechada do quarto dos meus pais. Nem Rage ou eu tínhamos aberto a porta em todo o tempo que tivemos estado lá. E, embora eu tivesse tirado um pouco do poder que a casa tinha sobre mim, eu não tinha me recuperado o bastante. Eu estava com medo se eu fosse embora sem fazer as pazes, que isso poderia me assombrar para sempre.

Eu verifiquei para ter certeza de que meu prisioneiro ainda estava bem amarrado à mesa e ainda inconsciente e ele era.

Antes que eu tivesse a chance de pensar muito sobre isso eu estava do lado de fora da porta fechada do quarto que eu mais temia. O quarto onde meu pai deu seu último suspiro.

O quarto dos meus pais.

Virei à maçaneta e abri a porta que rangeu enquanto lentamente revelava o quarto para mim.

O sangue do meu pai manchou o piso de madeira, que estavam deformadas nas emendas sob a piscina seca de vermelho. Relutantemente, eu dei um passo dentro do quarto.

Talvez isso não seja tão ruim, afinal. É apenas sangue.

Corri meus dedos sobre a moldura dourada do espelho ornamentado que estava pendurado acima da cômoda. Um dos achados favoritos de minha mãe em um bazar. Peguei a água de colônia do meu pai e pulverizei no ar. Inalando profundamente, eu sorri, lembrando de tempos melhores. Eu penteei meu cabelo com a minha escova da minha mãe e eu olhei para o meu reflexo no espelho, até que eu tinha certeza de que meu reflexo tinha começado a falar de volta para mim. — Saia daqui, — me vi dizer. — Não é seguro. — e então, finalmente. — Olhe atrás de você.

Eu não fui rápida o suficiente. Assim quando eu me virei, grandes mãos entrelaçaram em volta do meu pescoço, me virando de frente para o espelho. Ele apertou, esmagando meu pescoço, fechando a minha via aérea. Lutei e chutei e resisti, mas foi inútil. Eu vi no espelho com horror quando o branco dos olhos do Sr. Carson incharam de sua cabeça enquanto eu lutava para respirar. Tentei erguer seus dedos com os meus, mas ele não se mexeu. — Bons sonhos, sua vadia, — ele sussurrou em meu ouvido. Com minha visão ficando mais e mais borrada, eu senti meu corpo ficar mole. Eu cai de lado no chão e, embora ele tivesse me soltado, a minha via aérea não abria. Eu não conseguia por ar em meus pulmões.

A última coisa que vi foi um Sr. Carson rindo, de pé em cima de mim, enquanto ele desaparecia cada vez mais longe até que ele tinha ido embora e a única coisa que eu podia ver era a lâmina quebrada no ventilador de teto. Algum tipo de comoção estava ocorrendo com o canto do meu olho.

Alguém gritou.

Mas era tarde demais.

Tudo foi embora.

Tudo.

Eu estava morta.


Capítulo vinte

Thia

Luzes. Sons.

Latidos?

Acordei com um sobressalto como se tivesse sido lançada na consciência de um mundo para o outro. Me sentei tão rapidamente que era como uma reação instintiva involuntária de ser capaz de passar o ar em meus pulmões novamente. Abrindo e fechando a boca, engoli em seco por mais ar, o que veio muito mais lento do que eu queria.

Mas pelo menos ele veio. Minha respiração estava curta e pesada.

Eu tinha ido da terra do nada em uma onda de comoção. O quarto girou em torno de mim quando cada um dos meus sentidos chocou de volta à vida como se tivesse acabado de ser atingido por um raio.

Minha breve morte tinha e prejudicado. Meu pescoço estava dolorido. Minha cabeça latejava. Estendi a mão para minha garganta. Eu engoli e me senti como se eu tivesse engasgada com areia ou vidro quebrado, ou um cocktail de ambos.

Houve um estrondo.

Surpreendida pelo barulho repentino, eu estupidamente estiquei o pescoço machucado ao redor do lado da cama para ver de onde o barulho tinha vindo, e fui imediatamente recompensada com uma sensação de esfaqueamento grave em torno de minha garganta.

Eu empurrei através da dor, me arrastando no chão em vez de causar mais prejuízos para o meu pescoço. Quando eu tinha me mexido o suficiente para ver ao redor da cama, meus olhos pousaram na cena acontecendo na minha frente.

 

* * *

 

O quarto girando começou a parar até que felizmente parou. Quando eu finalmente fui capaz de dar uma respiração profunda, tossi na expiração, chamando a atenção do Sr. Carson, que estava de joelhos ao lado da cama. Sua camisa branca estava rasgada em torno do seu braço direito, revelando uma ferida aberta e sangrando em seu bíceps. Ele franziu os lábios e, embora ele fosse o único de joelhos, ele parecia satisfeito consigo mesmo, como se ele tivesse de alguma forma ganhado.

Bear naquela manhã não era o mesmo Bear que estava na sala, de pé atrás do Sr. Carson com uma arma na parte de trás de sua cabeça.

Bear parecia possuído. Uma veia pulsava em sua testa. Seu peito arfando para cima e para baixo. Até mesmo as veias correndo pelo seu abdômen definido, desaparecendo em seus jeans baixos, pareciam que elas estavam pulsando com raiva.

— Ti, — Bear disse, me chamando de volta para a terra dos vivos. — Você está bem?

— Eu estou bem, — eu disse, minha voz rouca e áspera. Doeu falar, mas não era nem perto da dor que eu senti apenas alguns minutos antes. Agarrei na cabeceira da cama, me levantando em uma posição ereta. — Sabe quem ele é? — perguntei, olhando para o homem de joelhos.

Bear balançou a cabeça, empurrando o cano da arma contra a parte de trás da cabeça do homem. — O nome dele é Tretch. Ele é um nômade que Chop usa de vez em quando para fazer o seu trabalho sujo. Ele é menos conhecido do que a tripulação dos Logan’s Beach e quando ele não está usando um colete, ele se parece com uma vadia, então ele parece como um civil.

— Ele é o Sr. Carson para mim. O cara que eu atirei. O cara de Sunnlandio. — Bear riu maliciosamente e bateu a coronha da sua arma contra a nuca de Tretch, que estremeceu e balançou, mas não caiu.

— Este filho da puta vai desejar ter morrido, — Bear fervia.

— Bear, — eu comecei, me inclinando sobre a cama para me apoiar.

— Não, Ti. Não tente me convencer a parar, — Bear disse, fogo dançando em seus olhos. Ele andou pelo chão, dois passos, em seguida, mais dois. Seus olhos não se encontram com os meus. — Este filho da puta pôs as mãos em você, Ti. A vida dele termina agora. O último filho da puta fugiu com um braço quebrado. — Bear se inclinou ao lado de Tretch e falou diretamente em seu ouvido. — Infelizmente para você, eu não quero saber de braços quebrados hoje.

— Bear, — eu disse novamente, tentando chamar sua atenção.

— Ti, não é uma opção, ele-

— Bear! — gritei através da dor, possivelmente rasgando alguma coisa na minha garganta. Os olhos de Bear finalmente estalaram para os meus como se eu tivesse lhe trazido temporariamente para fora do seu transe assassino. — Eu não estou tentando pará-lo, — eu tossi. — Eu só não quero que você o mate. — Eu podia ver a luz se apagar nos olhos de Bear. Ele sabia o que eu quis dizer, como ele sempre parecia saber o que eu quis dizer, sem eu ter de explicar. — Tretch envolveu as mãos em volta do meu pescoço e tentou me sufocar. Acho que você precisa pagar o favor. — eu me levantei, rastejando até onde eu poderia estar mais perto de Bear e olhar para o pedaço de merda que quase me matou.

Tretch pode nunca ter trabalhado para a Sunnlandio Corporation, mas isso não importava. O homem de joelhos no antigo quarto dos meus pais poderia muito bem ter trabalhado para eles, porque para mim representava o mal dessa sociedade, o mal do MC que tinha tentado trazer morte para a nossa porta, para tirar Bear de mim e eu de Bear. A ideia era tão absurda que eu joguei minha cabeça para trás e comecei a rir.

Eu era maníaca.

Eu estava louca.

Talvez eu tivesse herdado um pouco da loucura da minha mãe, afinal.

Eu não estava rindo porque eu estava pedindo ao homem que eu amava para estrangular alguém até a morte, mas porque eu sinceramente não achava que até mesmo a morte poderia nos separar.

— Tem certeza? — Bear me perguntou com cautela. Eu abruptamente parei de rir.

Bear era um motoqueiro que não precisava de uma garotinha assustada, ele não poderia não ter sido parte de um clube mais, mas ele ainda precisava de uma old lady.

Ele precisava de mim.

Eu balancei a cabeça, e não apenas porque eu pensei que isso era Bear queria de mim, mas porque eu nunca tinha estado tão segura de alguma coisa antes.

— Não! Não! Vamos falar sobre isso! — Trench gritou. Ele tentou se levantar, mas Bear bateu na parte de trás de suas pernas e o mandou de volta para o chão.

— Assim, baby? — perguntou Bear. Houve uma calma reverência em sua voz. Ele me entregou a arma e eu assumi o trabalho de continuar mirando em Tretch. Bear envolveu suas grandes fortes mãos em torno da garganta de Tretch e começou a apertar, assim como Tretch tinha feito comigo.

Tretch lutou, as pernas chutando debaixo dele. Os músculos do antebraço de Bear flexionaram e esticaram enquanto ele segurava apertado o moribundo entre as mãos. Minhas próprias mãos foram automaticamente para o meu pescoço, traçando as impressões digitais inchadas que Tretch tinha deixado para trás.

Os olhos de Bear encontraram os meus e não se afastou. O branco dos seus olhos ficaram vermelhos. Ele cerrou os dentes.

Tretch olhou para mim com os olhos esbugalhados, um apelo final por sua vida, sabendo que eu era a única que poderia concedê-la.

Eu não queria.

Com um último rugido zangado, Bear apertou o último da vida de Tretch, seus olhos rolando para trás em sua cabeça. Seu queixo caiu para seu peito.

Bear soltou Tretch, empurrando seu corpo sem vida de lado no chão. Chegando a mão em sua bota, ele tirou algo. Ele abriu, uma lâmina serrilhada saltou. Eu tinha certeza que Tretch já estava morto, mas por alguma razão Bear não tinha, então ele se agachou e cortou a garganta de Tretch.

Como um ex-membro das Futuras Filhas de Fazendeiro da América, nós tínhamos feito uma viagem para o matadouro, e a forma como o sangue derramava do pescoço de Tretch me lembrou de ver os porcos serem abatidos um a um.

Só que este animal era um ser humano.

Era um ser humano.

Me afastei da cama e fiquei com as pernas bambas, segurando a cômoda para apoio.

As botas de Bear mastigaram mais de cacos de cerâmica de um vaso quebrado da briga. Ele fez o seu caminho até o suporte do vaso agora vazio e pegou um guardanapo. Ele limpou o vermelho escuro de sua faca antes de empurrá-la de volta no bolso e jogou o pedaço ensanguentado aos pés de Tretch.

Tretch poderia ter estado morto, mas a ira de Bear estava viva e bem.

Tanto que o quarto estava pesado com ele.

Bear ficou ali, silenciosamente, pelo que pareceram horas. Finalmente, ele olhou para suas mãos e deu um passo em minha direção, trazendo as mãos para o meu rosto. Eu cobri suas mãos com as minhas.

— Ele poderia ter te matado, — disse ele, a voz trêmula. Seus olhos desfocados. Estendi minhas mãos para seu rosto, esfregando os dedos sobre as sardas debaixo de seus profundos olhos azuis.

— Mas ele não me matou, — eu disse, minha voz soando mais normal, a dor no meu pescoço cedendo a uma dor fraca.

— Ti, ele tentou, — ele começou novamente, mas eu não iria deixá-lo ir para lá. Eu não podia.

— Mas ele não o fez, — eu repeti. — Ele não o fez. — fechei minhas mãos em volta do seu pescoço. Fiquei na ponta dos pés e plantei um pequeno beijo no canto da sua boca. Sua barba fazia cócegas em meus lábios.

Os olhos de Bear me encaravam e ficaram mais escuros do que eu já tinha visto. Ele estava procurando o meu rosto. Pesquisando minha alma, mas eu não tinha ideia o que era que ele estava procurando. Ele esticou o pescoço e pressionou um beijo terno contra a carne inchada e ferida no meu pescoço.

De repente, o ar deslocou e não era mais grosso com raiva, mas algo totalmente diferente.

Algo ainda mais poderoso.

Luxúria. Necessidade.

O peito de Bear estava molhado de suor. Ele cheirava como homem puro e parecia puro músculo. Cada pedaço dele invadiu meus sentidos.

Bear me pôs sobre o colchão. Nossos lábios se conectaram, mas apenas por um breve segundo. Ele me levantou pela minha cintura e me jogou ainda mais para trás na cama.

O tocar do meu coração batendo de forma irregular e os sons de nós juntos encheu o espaço silencioso. O rangido das molas da cama. O sabor dos nossos lábios. Suas botas caindo no chão.

Seu zíper.

Bear agarrou o cós dos meus shorts, os puxando para os meus pés, os atirando sobre o corpo de Tretch, que caiu através da porta aberta. Ele tirou minha calcinha com uma mão e se arrastou em cima de mim, empurrando seus jeans sobre seu traseiro até que eu podia senti-lo. Grande, quente, duro, pressionado até contra o meu núcleo. Fechei os olhos e gemi, o contato muito longe de ser suficiente.

Eu precisava de mais.

Muito mais.

Estendi a mão para a barra da minha camisa e Bear me levantou, apenas o suficiente para me permitir retirá-la e lançá-la para o lado.

Em seguida, estávamos pele com pele.

Minha suavidade contra sua dureza.

Alma torturada contra a alma torturada.

O sentimento dele entre as minhas pernas, o seu peso em cima de mim, a necessidade dele estar dentro de mim tinha me feito descaradamente espalhar minhas pernas tão amplamente quanto elas poderiam ir, o convidando para o lugar que eu mais precisava dele.

Bear beijou o local onde o meu pescoço encontrava o ombro, sobre a marca da mordida que ele tinha feito na noite anterior e eu vi estrelas. Talvez eu estivesse morrendo novamente. Exceto que esta era uma morte que eu não lutaria contra. Esta era uma morte que eu iria para o prazer.

A língua de Bear lambeu atrás da minha orelha, sugando minha pele, beijando, provocando. Suas mãos amassaram meus seios e beliscaram meus mamilos. Eu agarrei os globos de sua gloriosa bunda, pressionando-o para mais perto, precisando que ele fechasse a lacuna tortuosa entre nós.

— Você foi feita para mim, — Bear disse antes que seus lábios encontrassem os meus, e eu estava perdida na sensação de sua língua dançando com a minha. Enroladas uma com a outra.

Ele gemeu e eu levantei meus quadris, mais uma vez em busca de mais.

Implorando.

Poucos minutos mais cedo eu achava que eu estava morta, e agora eu nunca me senti tão viva.

Bear balançou contra mim, passando sua dura longitude através da minha umidade, e eu implacavelmente me aterrei contra ele como se eu não pudesse ter o suficiente.

Porque eu não podia.

Eu não queria.

Não agora.

Nem nunca.

Eu não me importava com o cadáver no canto ou o sangue no chão. Antigos e novos.

Tudo o que importava era Bear.

Ele alcançou entre nós e correu os dedos sobre o meu clitóris. Ele não foi gentil. Ele não foi devagar. Ele foi rude. Pressionando e circulando como se ele estivesse punindo. Me punindo.

— Você me quer, baby? — perguntou ele, recuando e procurando meus olhos. — Você quer isto?

Estendi a mão e afastei o cabelo que tinha caído em seu rosto. Eu sabia que ele não estava apenas perguntando se eu queria seu pau, ele estava perguntando se eu queria esta vida.

— Me foda, — eu disse, respondendo à sua pergunta numa língua que eu sabia que Bear era fluente.

Ele não precisa de nada mais do que essas palavras, porque ele agarrou a base de seu eixo e o alinhou com a minha entrada, empurrando dentro de mim como se estivesse respondendo a uma pergunta que eu nunca perguntei. Ele era quente e duro e cada polegada de acesso que ele ganhou só me fez desejar mais dele.

Tudo dele.

Quando Bear encontrou resistência, era como se toda a sua resistência se desfez. Ele gemeu. — Eu amo o quão apertada você é. Eu amo como eu tenho que lutar com sua fodida buceta para empurrar meu pau todo o caminho dentro de você.

Ele empurrou de novo e de novo até que ele estava tão longe dentro de mim, corpo, coração e alma, que eu estava quase com medo do quão profundo a nossa ligação era. Era mais do que sexo. Era sobre nós, e nós éramos muito parecidos com o nosso sexo. Machucava. Parecia incrível.

Eu nunca quis que isso acabasse.

Bear afastou meus joelhos, me espalhando tanto quanto eu poderia ir, me abrindo tanto quanto eu poderia lhe dar. Ele empurrou violentamente. — Olhe para mim, baby. Eu quero que você olhe para mim quando você gozar, — ele ordenou. Sua voz estava tensa, o cabelo caindo em seu rosto mais uma vez. Os músculos dos seus braços e ombros flexionando enquanto ele se segurava em cima de mim, se apoiando sobre o colchão com ambos os cotovelos ao lado de minha cabeça.

Olhei por cima do ombro quando a pressão começou a se construir por apanhar o nosso reflexo no espelho acima da cômoda. O corpo de Bear bloqueou a maioria do meu, exceto as minhas pernas, que eu levantei e enrolei em sua cintura. Os músculos de suas costas estavam tensos. Suas tatuagens coloridas pareciam estar dançando enquanto ele me fodia.

E me fodia um pouco mais.

Eu nos assisti no espelho quando a pressão em minha parte inferior do estômago apertou. Com cada empurrar e puxar, Bear tocou um ponto dentro de mim que fez a minha boca abrir e todo o meu corpo apertar ao redor do seu pau implacável e maciço.

Mais e mais rápido.

Cada vez mais forte.

Oh meu Deus e puta merda.

Minha buceta se apertou em torno dele. Eu estava perto. Muito, muito perto. Eu levantei meus quadris para conceder a ele o acesso mais amplo possível. — Aaaahhhh, — ele gemeu, — Porra, eu adoro quando você faz isso, — ele disse, sua testa brilhando com suor. Ergui a cabeça para fora do colchão e levemente mordi seu mamilo. Minha lesão no pescoço, embora ainda lá, temporariamente foi esquecida quando o prazer do meu cérebro temporariamente enviou a dor para longe.

— Porra, Ti. — Bear empurrou mais duro, se inclinando para que seu eixo esfregasse contra o meu clitóris a cada estocada do seu pau. Fechei os olhos, prestes a chegar até o limite. Quase gozando.

— ABRA, — Bear ordenou novamente. Ele agarrou meu rosto, me forçando a olhar para as piscinas escuras profundas de azul.

Ele empurrou uma, duas, três vezes mais até que eu estava gozando tão forte, que senti que todo o caminho em meus dedos do pé. Uma e outra vez eu pulsei ao redor dele em ondas de puro prazer, que ele adorou porque ele agarrou as costas das minhas coxas, e com os olhos abertos, seu nariz tocou o meu, olhando na alma um do outro e Bear gozou.

Duro.

Um rugido gutural rasgou da sua garganta enquanto ele se derramava dentro de mim. Eu nunca tinha ouvido nada tão bonito.

Seu calor se espalhou dentro de mim e eu gemi porque nada parecia melhor do que o que senti ao ser totalmente consumida pelo homem dentro de mim.

Em cima de mim.

No meu coração.

Por Bear.

Ele caiu no meu peito, e com os seus lábios contra a minha pele, antes de seu orgasmo ter desaparecido completamente, seu pau ainda se contraindo com a sua libertação, ele sussurrou duas palavras que pararam meu coração, — Case-se comigo.

Fiz uma pausa, sem saber se ele estava falando sério. Meu estômago deu um nó com os nervos. Meu pulso ainda latejando do orgasmo alucinante agora estava correndo tão forte, que eu estava a poucos segundos de explodir. — É sua felicidade pós-sexo falando? — perguntei com uma pequena risada.

Bear olhou para mim, segurando meu rosto entre as mãos. Quando eu tentei me afastar do seu olhar implacável, ele não me deixou. — Ti, eu te amo, porra, — disse Bear, mergulhando a cabeça, me beijando. Quando ele recuou e viu que eu ainda estava confusa, ele perguntou: — Eu pareço estar brincando?

Não. Não, ele não parecia.

Puta merda.

Bear enterrou seu rosto no meu pescoço e inalou, me inspirando. Eu nunca poderia saber o suficiente quer ele me queria tanto quanto eu queria. — Falando sério, — eu comecei, precisando esclarecer algo que estava me incomodando nas últimas vinte e quatro horas. — Eu sei que você quer o seu clube. E se não os Bastards, então um novo clube. Um melhor. Você não tem que desistir disso por mim. Eu preciso que você saiba disso.

Bear levantou a cabeça e estreitou as sobrancelhas, uma expressão preocupada atravessando seu rosto bonito. Ele correu o polegar sobre meus lábios, ainda inchados dos nossos beijos. — E o que isso quer dizer? — ele perguntou, e eu sabia que ele estava me perguntando onde eu estava indo com tudo isso.

— Eu não sei, — eu disse, tomando um momento para fazer uma pausa para o efeito dramático. — Você realmente acha que eu sou material para old lady? — eu brinquei, apontando os dedos em suas costelas.

Bear riu e isso enviou uma onda de formigamento sobre a minha pele. Eu fiz uma nota para mim mesma para fazê-lo rir mais. Ele agarrou meus pulsos e segurou meus braços em cima da minha cabeça. — Babe, nós acabamos de foder, a melhor foda de toda a minha vida, com um corpo morto a menos de dois metros de distância, se isso não faz de você material para old lady, eu não sei o que diabos faz.

Foi a minha vez de rir.

— Então, diga que você vai se casar comigo logo e pare de enrolar, — disse Bear, olhando para mim com um grande sorriso de menino em seu rosto.

— Sim, — eu disse, porque não havia outra resposta. Nunca houve.

Apenas sim.

Apenas Bear.

Apenas eu.

Apenas para sempre.

Nessa fazenda deteriorada, no antigo quarto dos meus pais, com a coloração do sangue seco do meu pai no chão e um cadáver de olhos abertos nos olhando, Bear tinha me proposto.

Eu não queria de nenhuma outra maneira.

Porque a vida é apenas fodida assim.

Eu percebi que todo o meu passado preocupante tinha sido inútil, porque não só eu me encaixava no mundo de Bear.

Ele beijou minha testa e me arrastou contra seu peito.

Eu era o seu mundo.


Capítulo vinte e um

BEAR

— Como é que eu não estou morta? — perguntou Thia, levantando a cabeça sonolenta do meu peito.

— Porque não é suposto você estar, — eu disse com mais ferocidade do que o necessário. Minha menina estava muito viva, em meus braços, e cheia com a minha porra. Que era exatamente onde ela deveria estar.

Quando eu vim para o quarto e vi o corpo sem vida de Ti no chão, era como se um interruptor tivesse sido ligado em minha mente. Um interruptor de matança. Eu achei que ela estava morta, mas eu não ia dizer isso a ela. Não foi até que eu a vi espreitar por trás da cama quando eu senti como se eu pudesse respirar novamente.

No segundo que eu sabia que ela estava viva, eu sabia que depois que eu acabasse com Tretch eu ia transar com ela. Era uma parte confusa de mim que precisava de um lembrete de que nós dois estávamos vivos.

Eu estava falando sério quando eu disse a ela que era a melhor foda da minha vida. Eu gozei mais do que eu já tinha gozado antes, e da forma como Ti estava se movendo debaixo de mim quando ela gozou, a maneira como ela apertou em torno de mim, eu tenho certeza que ela não tinha o que reclamar também.

— Você sabe o que quero dizer, — disse ela, me dando uma cotovelada nas costelas. Além do corpo no chão, você teria pensado que éramos qualquer outro casal normal, na cama se recuperando de orgasmos intensos.

Mas não éramos normais.

Eu amava isso sobre nós.

— Panquecas, — eu disse a ela, observando com diversão enquanto seu rosto torcia em confusão como eu sabia que faria.

— Hã?

— Parece que o seu não-cão decidiu agir como o coiote que ele é. Ele fez o buraco no braço de Tretch antes de eu mesmo chegar aqui.

— Meu Panquecas? — perguntou ela. Eu sabia que ela estava tendo dificuldade de imaginar o coiote que ela achava que era um cão, que lambia seus dedos e gostava de nos ver foder fosse capaz desse tipo de violência, mas era verdade.

Esse coiote era o cão perfeito para nós.

— Sim, seu Panquecas. A menos que você conheça alguns outros coiotes não-cães chamados Panquecas, te defendendo pra caralho. — eu ri. — Além disso, eu preciso te avisar para não pirar quando você foi para o outro quarto, porque o nosso não-cão tem sangue por todo o rosto e pele, e agora ele parece muito menos como um cão normal ou um coiote, e mais como um fodido cão louco.

— Ele é o melhor cão, — disse ela, sonolenta, seus cílios raspando contra a minha pele.

— Ele é um coiote, — eu a corrigi suavemente.

— Ele é o melhor coiote, — ela murmurou.

— Ele com certeza é, — eu disse, a beijando suavemente nos lábios. Ela gemeu e eu poderia dizer pela forma como ela estava sacudindo a cabeça que ela estava tentando lutar contra o sono.

— Você a encontrou? Sua mãe? — Ti perguntou através de um bocejo.

— Não, — eu respondi. — Nós olhamos em cada abrigo de cima abaixo da costa, mas não havia sinal dela. A vantagem de Stone acabou por ser um fracasso. Temos tempo para bolar outro plano. Chop e o MC estão em um passeio. Parece que eles não vão estar de volta por um par de semanas ou algo assim.

Ela abriu os olhos, embora pouco, olhando para mim através da pequena abertura. — Isso é bem fodido.

— Não, não é nada, — eu disse, acenando para ela. — Se você quer saber o que é fodido, você precisa conhecer Jake.

— Quem é Jake? Ele é um amigo seu? — perguntou ela.

Eu balancei minha cabeça. — Jake é... Jake nos ajudou quando Ray estava em apuros.

— Isso não soa tão fodido, — disse ela, arrastando beijos preguiçosos suaves em todo o meu peito.

— Não, mas é por isso que ele é a mais fodida pessoa que eu conheço. Você nunca sabe de que lado ele está. Além disso, não ajuda que ele se parece com a luz do sol. Cabelo loiro e olhos azuis. O tipo de que você veria em um daqueles programas de TV adolescente como nos dias de hoje. Mas esse garoto tem o diabo nele. Somente duas vidas humanas ele valoriza, que é a sua esposa Abby e agora seu filho. Jake é a única pessoa no mundo que me assusta pra caralho. Você sabe, além de você.

— Soa um pouco como Rage, — disse Ti. — E se ele salvou Ray, então Jake é bom por mim. — Ti enroscou a perna sobre a minha, a sua pequena coxa descansando sobre a minha, seu joelho roçou meu pau que deve estar tão exausto como Ti, mas estava pensando seriamente em quão bom outra rodada seria.

Eu murmurei um ‘obrigado’ à Tretch quando eu acariciei o cabelo selvagem de Ti. Afinal, foi por causa dele que minha menina percebeu o que eu sabia o tempo todo.

Como ela era forte.

Quão resiliente ela era.

Ela ia ser uma grande old lady.

Os olhos de Ti dançaram por trás das pálpebras como se estivesse assistindo a um sonho se desdobrar.

No calor sufocante de Flórida, tínhamos apenas algumas horas antes de Tretch começar a feder, mas a limpeza poderia esperar um pouco, enquanto Ti cochilava.

Eu não estava nada cansado.

Além disso, não havia nenhuma utilidade em sonhar, já que o meu já estava deitado em cima de mim, dormindo.


Capítulo vinte e dois

Thia

Rage apareceu para pegar algumas das suas coisas e quando eu disse adeus a ela, ela apenas deu de ombros e saiu para o bosque. — Onde ela está indo? — perguntei a Bear. Ele finalizou a sua chamada com Wolf e empurrou o seu telefone no bolso. Wolf ia ser o único que estaria a cargo da ‘limpeza’ do corpo de Tretch.

Bear deu de ombros. — Não sei. Nunca sei quando se trata dela.

Eu o segui até a caminhonete, — Posso te perguntar uma coisa?

— Manda, — Bear disse, pulando. Eu entrei no lado do passageiro e bati a porta. Panquecas, sem precisar mandar, pulou para dentro.

— Por que ela? Por que Rage? Por que não ter um cara de segurança enorme atrás de mim enquanto você estava fora? — fiz a pergunta que tinha estado me incomodando desde o dia que eu conheci Rage.

Bear ligou o motor e nós fomos para a estrada.

— Rage não se preocupa com nada além do trabalho. Coisas, lugares, pessoas. Ela fez um monte de rastreamento para o clube e eu pensei que ela seria a única que te protegeria se desse merda, porque ao contrário de um guarda grandão ou um segurança, Rage não hesitaria em puxar o gatilho.

— Isso faz sentido, — disse eu, finalmente tendo a minha resposta, mas por alguma razão eu pensei que seria mais do que isso.

Um músculo sob o olhar de Bear se contraiu.

— O quê? — perguntei. Ele me dispensou.

— O quê? — eu repeti, exigindo saber o que fez seu rosto se contorcer de uma forma que me fez pensar que ele estava tentando não rir.

Incapaz de se conter por mais tempo, Bear explodiu em gargalhadas.

— Que diabos é tão engraçado? — perguntei, ficando irritada quando ele se inclinou sobre o volante, segurando o estômago com um braço.

Bear colocou sua mão na minha coxa e deu um aperto. — Ti, você realmente acha que eu deixaria um cara ficar na mesma casa com você por um fodido segundo, imagina seis malditos meses?

E lá estava. A verdade por trás da verdade. Que quando se tratava de Bear, fez a segunda verdade fazer muito mais sentido.

Nós ainda estávamos rindo quando Bear parou na estrada e fomos para o lugar onde tudo começou.

De volta à Logan’s Beach. De volta para Ray, King, as crianças, e de volta para o apartamento que eu tinha aprendido a amar.

Ninguém estava em casa quando chegamos e não tínhamos entrado por mais do que alguns minutos antes de Bear já ter me deixado nua e de joelhos na minha frente, adorando entre as minhas pernas com sua língua talentosa e boca.

Deve ter sido a semana para as pessoas nos pegarem, porque logo depois que eu tinha tido mais um orgasmo alucinante, abri os olhos para encontrar King e Ray em pé na sala de estar do outro lado da mesa de café. Bear se levantou, completamente à vontade com o fato de que ele ainda estava nu, embora ele não estivesse apenas nu. Ele estava nu e muito, muito duro. Sua boca ainda brilhando por ter me lambido até a última gota do meu orgasmo.

O olhar solene no rosto dos dois me fez perceber que eles estavam lá por um motivo muito maior e mais grave do que tentar nos pegar no ato.

— Vocês podem querer colocar algumas roupas para isso, — disse King, e de repente eu estava muito consciente da minha nudez. Bear me levou para o quarto e eu ainda estava me vestindo quando ele saiu depois de colocar um par de bermas, deixando a porta aberta ao sair.

— Que diabos está acontecendo? — ele perguntou. Eu olhei para fora e vi a expressão preocupada no seu rosto e de repente eu estava tão preocupada como ele.

— É Grace, — Ray disse, sufocando um soluço e escondendo o rosto na camisa de King. Ele segurava a parte de trás da cabeça dela e acariciou seu cabelo loiro e longo.

— Que porra está errado com Grace? — Bear latiu, uma explosão com raiva que eu senti no meu peito.

King estendeu a mão e colocou a outra mão sobre o ombro do Bear, mas Bear saltou para trás como o rei estava tentando esfaqueá-lo, em vez de consolá-lo. — Diga-me, — Bear exigiu.

Saí para a sala de estar apenas a tempo de ver King beijar Ray no topo da cabeça. Ele olhou para cima quando ele falou novamente. — Ela está bem ruim, cara.

— Quão ruim? — perguntou Bear, pegando um maço de cigarros da mesa. Ele colocou um em sua boca, pendendo de seus lábios enquanto ele andava ao redor, procurando sob almofadas do sofá por um isqueiro.

— O tipo que não dá para voltar.

O cigarro de Bear caiu de sua boca.


Capítulo vinte e três

BEAR

Eu odeio hospitais.

Sempre odiei.

Por uma boa razão, também. Nada de bom vem de pisar em um deles. Não para mim, de qualquer maneira. Na verdade, a porra do pior sempre acontecia. Uma onda de merda ruim, juntamente com o cheiro de antisséptico e decepção, me bateu na cara toda vez que as portas automáticas de vidro abriam, seguido por mim freneticamente perguntando a um milhão de filhos da puta de roupa branca onde o irmão que eu estava procurando estava.

Normalmente, eles estavam mortos.

Foi nesse mesmo hospital onde eu tinha vindo ver Grace, através dessas mesmas portas onde um filho da puta de branco veio e nos disse oficialmente que Preppy tinha morrido.

Eu sinto muito. Não havia nada que pudéssemos fazer.

Me lembro de tudo sobre aquela noite, até dos dentes amarelos do doutor filho da puta.

A última vez que estive lá foi quando eu levei Ray, que estava em muito mau estado depois de apanhar do seu ex marido desgraçado, e King, que levou um tiro e estava na sala de emergência que cheirava a feridas não cicatrizadas e miséria. Minha reação imediata sempre que eu fui a um hospital tem sido subir na minha moto e dirigir para tão longe quanto eu podia.

Que parecia muito bom para mim enquanto caminhávamos por um corredor colorido, o papel de parede descascando pelas costuras.

King e Ray estavam à nossa frente e eu e Thia alguns passos para trás.

A última vez que vi Grace, ela estava em melhor forma do que eu. Onde eu tinha estado lutando com cada demônio que eu já tinha me deparado, afogado em tanta bebida e um milagre que eu ainda estava vivo, ela parecia como se ela pudesse participar de uma maratona ou fazer aquele cara da TV tarde da noite perder seu dinheiro.

Sabíamos que Grace tinha câncer. Ela teve por anos. Mais de uma década, eu acho. Em um ponto, sua dor ficou muito ruim e King deu a ela um pouco de erva e mostrou como fumá-lo para que ela pudesse controlá-lo melhor. Por um tempo pareceu funcionar. Depois disso, ela nos disse que o câncer não poderia acabar com ela e que ela decidiu que não ia morrer.

A coisa louca sobre Grace era que todos nós acreditamos. Quando ela disse que iria fazer algo, ela fazia.

Por que com o câncer tinha que ser diferente?

Mas, caminhando por aquele deprimente corredor fodido, olhando para os quartos onde inúmeros outros pacientes estavam conectados a tubos e máquinas de todos os tipos, percebi que isso era diferente.

Muito diferente.

Que foi por isso que vê-la naquele quarto de hospital com tubos saindo de seus braços e uma máscara de respiração sobre o rosto, monitorando cada batida do coração da mulher frágil que ela nunca queria ser com bochechas afundadas e profundos círculos sob seus olhos, me fez parar na soleira da porta.

A mulher deitada na cama nem sequer parecia como ela. A mulher que eu tinha conhecido durante quinze anos que poderia fazer qualquer filho da puta dizer obrigado, minha senhora, e limpar as botas na porta.

— Aí está você, — disse Grace com uma voz áspera e baixa, o peito contraído quando ela engasgou. — Eu estive esperando pelos meus meninos. Onde está o meu Abel? — ela perguntou, pegando a mão de King.

— Eu estou bem aqui, — eu disse, puxando Ti atrás de mim.

— Talvez vocês devessem se revezar em falar com ela, — o médico disse, sem tirar os olhos da sua prancheta. — Nós não queremos cansá-la.

— Quem diabos é você? — perguntou King, uma veia no seu pescoço pulsava e tudo o que o médico dissesse depois determinaria se ele ainda ia acabar como um médico no final do dia, ou um paciente. O médico abriu a boca, mas ele rapidamente fechou. Homem inteligente. Ele examinou o pulso de Grace com uma ferramenta ligada a um iPad e se ocupou em verificar os números sobre as numerosas máquinas e inserindo-os em seu tablet.

— Brantley, meu querido. Está tudo bem, — disse Grace, puxando na mão de King e trazendo a sua atenção para longe do médico e de volta para ela. Ray manteve a mão na parte inferior das costas dele, usando seu próprio método de acalmá-lo.

— Vocês vão primeiro, — eu disse, puxando Ti de volta para fora do quarto sem esperar King responder. — Doutor, eu posso vê-lo por um segundo?

Eu precisava de um minuto para pensar, mais a última coisa que Grace precisava era testemunhar King batendo no seu médico, se esse era o caminho que ele decidisse tomar. Ti e eu nos sentamos em duas cadeiras solitárias no meio do corredor vazio. Não que não havia pessoas lá dentro. Eu quis dizer que, além das duas cadeiras, não havia uma única foto ou pintura em qualquer lugar que eu podia ver.

O médico nos seguiu para fora, ainda perfurando a tela em seu tablet. Seus tênis guincharam contra o linóleo maçante.

Ti apertou minha mão, me lembrando que eu não estava sozinho nisso. — Quanto tempo ela tem? — ela perguntou, e eu fiquei feliz que ela fez, porque, apesar de que ser a minha pergunta, eu não sei se eu teria sido capaz de dizer as palavras. Além disso, havia uma parte de mim. Uma parte grande. Que simplesmente não queria saber a resposta.

Na verdade, nenhuma parte minha realmente queria saber.

— É da família? — o doutor perguntou ceticamente, empurrando os óculos no nariz, buscando respostas de seu tablet. Seus dedos voaram sobre a tela. Quando ele parou, ele olhou para baixo, a boca se movendo enquanto ele lia.

Eu me levantei e cruzei os braços sobre o peito. Eu me elevei sobre o médico pálido e me aproximei o suficiente para fazê-lo sentir como é incrivelmente inadequado entrar numa luta que não vale a pena começar.

Porque se ele não parar de olhar para baixo, para essa porra e responder à pergunta da minha menina, haveria uma luta.

— Somos toda a família que ela tem, — eu disse. — você vai me dizer o que diabos eu e minha garota precisamos saber ou o quê?

O médico pigarreou e seu rosto empalideceu. Ele olhou para o seu tablete mais uma vez. — Hum... na verdade, você é Sr. Abel McAdams ou Sr. Brantley King? — ele perguntou, empurrando os óculos no nariz pela milionésima vez.

— Ele é Abel, — Ti entrou na conversa. Ela parou ao meu lado, e novamente eu peguei a mão dela e estava feliz quando eu senti a dela escorregar na minha.

— Bem, então, você é o parente mais próximo, de acordo com a papelada, então eu certamente posso compartilhar o status dela com você. Sra. Jeffries é a sua mãe, por acaso?

— Sim, — eu disse, sem hesitação. Ela era a coisa mais próxima de mãe que eu já tive e se este filho da puta adiasse mais um segundo, eu iria chutar a bunda dele e acabaria sendo minha primeira história positiva dentro de um hospital.

— Bem, o câncer da Sra. Jeffries se espalhou, como você provavelmente sabe. Cérebro. Pulmões. É terminal. Tem sido terminal. No ano passado, eu disse a ela que ela tinha apenas algumas semanas restantes, se não dias, mas ela desafiou a todos por mais um bom tempo. Você deve estar orgulhoso dela. Eu nunca tinha visto nada parecido, — o médico disse como se aquele pedaço de informação devesse de alguma forma me faz sentir como se ela não estivesse deitada e morrendo a menos de vinte metros de distância.

— Doutor... — Ti disse educadamente.

— Reynolds, — ele completou. — Dr. Reynolds.

— Dr. Reynolds, — eu disse, revirando os olhos. — Você não respondeu a pergunta. Quanto tempo ela tem agora? E não me venha com besteira. — Ti apertou minha mão. Eu dei a mão de Ti um aperto de volta, olhando para Dr. Doogie Howser Asiático12 e disse a única palavra que eu raramente usava, — Por favor.

— Não muito. Devido à sua condição atual, eu diria que apenas algumas horas. Mas, honestamente, na minha opinião profissional, devido à sua taxa de deterioração, é provavelmente menos do que isso. Todos os seus principais órgãos estão falhando. — parecia que ele queria correr o mais longe possível e honestamente eu não culpava o pequeno filho da puta.

— Obrigada, — disse Ti. O médico balançou a cabeça e saiu correndo pelo corredor, segurando o tablet estúpido, como um rato libertado de uma armadilha.

Nos sentamos novamente nas mesmas duas cadeiras, apenas para levantar alguns segundos mais tarde quando King e Ray saíram do quarto. Como a maioria das pessoas, eu pude ver como King era difícil de ler. Especialmente porque ele nunca sentia a necessidade de preencher o silêncio com palavras como Preppy sempre fez. Vendo o olhar solene em seu rosto me fez sentir como se eu não precisasse falar. Talvez um pouco de King tinha passado para mim.

Ti abraçou Ray que estava chorando. King veio até mim e baixou a voz. — Ela fica desmaiando. Sua respiração soa como se ela estivesse fumando uma caixa por dia durante os últimos cinquenta anos. — ele fez uma pausa, passando a mão sobre o rosto. — É isso, cara. Você precisa ir lá.

King e eu tínhamos sido amigos desde que tínhamos quinze anos de idade. Essa foi a primeira vez que ele tinha estendido a mão e me abraçado em mais do que um tapinha no ombro. Era um abraço real. Foi breve, mas ele era meu irmão. Sangue ou não, ele tinha as minhas costas e eu tinha as dele. Mesmo no hospital, enquanto a nossa pseudo mãe estava morrendo no outro lado da parede. — Ela realmente quer falar com você, — ele acrescentou.

Eu balancei a cabeça e levei a minha mão até Ti, que tinha Ray chorando contra o peito. — Você vai primeiro, — Ti disse: — Eu vou em apenas um minuto. — eu não queria ir sozinho, mas, ao mesmo tempo, eu senti que tinha que fazer. Havia tanta coisa a dizer à Grace, mas onde diabos eu iria começar?

— Abel, — Grace disse, mais uma vez baixando a máscara e esticando os dedos para mim. Me sentei ao lado dela na cadeira e tomei sua mão nas minhas.

— Eu estou aqui, — eu a tranquilizei, dando a mão dela um beijo rápido. Sua pele estava gelada.

— Eu sabia que você viria. Mesmo sabendo que você odeia hospitais. Você está bem? — perguntou ela.

Eu ri porque Grace me conhecia melhor do que ninguém. Ela estava batendo na porta da morte e ainda assim ela queria ter certeza que eu estava bem, porque eu odiava hospitais. — Eu não acho que bem é realmente a palavra que eu usaria, — disse eu.

Ela sorriu para mim. O mesmo sorriso simpático que me fez passar por um monte de tempos difíceis durante a minha adolescência. — Eu sei que o que aconteceu com Samuel pareceu como o fim da sua vida também, meu filho. — Grace retraiu uma respiração ofegante instável. — Mas não foi. E quando eu chegar ao outro lado, eu sei de fato que nós dois vamos nos divertir rindo à sua custa. — ela tossiu e eu pulei para frente para colocar a máscara de volta em seu rosto.

Ela tomou respirações profundas e lentas, o peito balançando em cada ingestão. Quando ela se acalmou, eu disse: — Eu não iria imaginar outra coisa de vocês. — ela pegou a minha mão e me olhou com olhos injetados e desfocados. Seus lábios eram de um tom claro de azul. Seu cabelo estava coberto com um lenço roxo claro.

— Estou morrendo, Abel. Mas juro pelo fodido Cristo que eu não vou te deixar. Você precisa saber que eu não faria isso. Quando você fizer Thia sua esposa - que eu sei que você vai fazer pelo jeito que você fala sobre ela - eu vou estar aqui com você. — ela acariciou minha mão, mais uma vez me confortando quando ela era a única na cama do hospital. — Quando você receber o primeiro, segundo, terceiro filho, a este mundo, eu estarei aqui. Quando você não souber o que fazer ou você não souber para onde se virar, eu vou sussurrar em seu ouvido até que você tome uma decisão. Só me prometa uma coisa.

Meu coração estava martelando no meu peito. Lágrimas que eu não sabia que eu possuía vazaram dos cantos dos meus olhos e arrastaram o seu calor pelo meu rosto, molhando minha barba. — O que é? — perguntei. Minha voz falhou.

Grace me piscou um sorriso fraco, seu peito subia e descia rapidamente. As máquinas apitando e piscando com cada ingestão da sua respiração final. — Sobre a menina lá fora.

— Sim?

— Não estrague tudo. — Grace engasgou.

Eu segurei sua mão aos meus lábios. — Eu vou tentar o meu melhor. Eu prometo. — eu ri, provando o sal das minhas lágrimas. Meus ombros tremeram, e por um breve momento eu me permiti chafurdar na minha dor.

— Obrigada, menino doce, — Grace disse, trazendo minhas mãos à boca e dando um beijo seco.

— Pelo quê? — perguntei, enxugando meu rosto no ombro da camisa que eu tinha colocado quando fomos andando até as portas.

— Por ser o filho que sempre desejei. Você, Samuel, e Brantley. Orei para ter filhos todos os dias desde o dia em que me casei com Edmond, e levei muito tempo, e vocês meninos não vieram para mim de uma forma que eu esperava, mas de repente vocês estavam lá, e vocês me fizeram a mãe que eu sempre quis ser. — as máquinas buzinaram e piscaram novamente. Algum tipo de alarme disparou na parede. O quarto brilhou com luz vermelha.

— Há tanta coisa que eu preciso te dizer, — eu disse, a segurando com mais força, como se ela fosse escorregar para fora do meu alcance a qualquer momento e fisicamente cair para a morte.

— Eu sei, e há tanta coisa que eu preciso te dizer. — Grace olhou para o teto e, em seguida, de volta para mim. — Eu preciso me desculpar.

— Pelo quê? Morrer? — perguntei, a palavra saindo quebrada.

— Não. Por mentir. Eu menti para você Abel, e eu sinto muito. Eu realmente espero que você possa encontrar uma maneira de me perdoar algum dia. Eu pensei que era o melhor, mas olhando para trás, eu acho que deveria ter lutado mais. Bolar outro plano. Eu...

— Não importa. Nada importa, — eu disse, assim quando Grace começou a engasgar. Ela limpou a garganta várias vezes antes que ela pudesse falar novamente.

— Há um monte de coisas para você descobrir, — ela disse, e eu não sabia se ela ainda estava falando sobre a mesma coisa, ou se ela estava em qualquer medicação para a dor que poderia estar falando por ela. — Como eu disse, eu estou morrendo, mas eu não vou a lugar nenhum. Nem mesmo a morte não poderia me afastar dos meus meninos.

— Parece Preppy, — eu disse, esquecendo que eu nunca disse à Grace sobre ouvir a voz dele.

Grace me piscou um sorriso de lábios azul apertados. — Você o ouviu também.

— Às vezes, — eu admiti, — Embora, não tanto quanto antes.

— Ele era um bom menino, meu Samuel. Nunca deixava ninguém falar quando ele poderia falar mais alto, mais rude, e muito mais inadequado. — Grace riu e depois tossiu. Estendi a mão e me sentei, sentindo o contorno dos ossos em sua coluna vertebral e o contorno de suas costelas.

Quando diabos ela ficou tão magra?

— Obrigada, — disse ela, após o ataque de tosse diminuir. — Morrer dói.

— Não é engraçado, — eu disse.

— Eu não quis dizer para que fosse. É apenas a verdade.

— Eu deveria ter ficado mais. Eu deveria ter-

— Não, — disse Grace, efetivamente me cortando. — Pare com essa merda de ‘deve ter’. Eu não tenho arrependimentos e você não deve tê-los também. Eu te amo. Não importa o que. Por enquanto estou nesta vida e durante o tempo que vou ter na próxima.

Os olhos de Grace dispararam por cima do ombro em direção à porta.

— Aí está você, — disse ela, estendendo a outra mão. Ti se aproximou e pegou, parando do outro lado da cama de Grace.

— O que está acontecendo com os alarmes? — perguntou Ti.

— Não é nada, — Grace disse: — Eu só estou morrendo e eles sabem disso, mas as máquinas não têm cérebros humanos, então elas parecem pensar que eu sou salvável. Eles vão parar em um segundo.

Mais três segundos e o quarto se acalmou e voltou para o verde halogéneo e doentio que estava quando entrei.

— Thia, minha querida, lembre-se que eu disse a você, — disse Grace, sem largar minhas mãos. Thia se inclinou e segurou o antebraço de Grace. — Seja boa para o meu filho.

— Eu vou. Eu prometo, — disse Ti, enxugando suas próprias lágrimas. — Sempre.

— Essa é minha garota, — disse Grace, seguido por outro ataque de tosse, este duas vezes pior que o último. Mais alarmes tocaram, e nenhuma única enfermeira ou médico vieram estourando pelo quarto.

— Existe alguma música? — perguntou Grace, novamente movendo a máscara para longe da sua boca. — Eu não quero morrer em uma sala cheia de alarmes, ou silêncio, ou soluços. Eu quero ir para os braços do meu Edmond cercada por uma bela música. — eu estava prestes a me levantar e ir perguntar ao posto de enfermagem se eles tinham um rádio quando Thia entrou na conversa.

— O que você quer ouvir? — perguntou ela.

— Eu quero encontrar meu querido marido rodeado por Sinatra, — Grace disse, com um sorriso. — Era o favorito dele. Nós dançamos todas as músicas de Sinatra em nossa sala de estar.

Ti assentiu. — Alguma música em particular?

Grace balançou a cabeça e cobriu a boca novamente com a máscara de oxigênio. Ela então pegou minha mão e a colocou sobre o peito e fez o mesmo com a de Ti. Grace segurava nós dois quando, para minha surpresa, minha menina limpou a garganta e começou a cantar. — Voe-me à lua e deixe-me brincar entre as estrelas... — sua voz era rouca e áspera, mas clara e perfeita. Grace relaxou em seus travesseiros e segurou nossas mãos mais apertadas quando as máquinas começaram a apitar mais uma vez.

Desta vez, elas não pararam.

Assim quando Ti começou o terceiro refrão, o aperto de Grace em nossas mãos começou a afrouxar. — Eu vejo Edmund, — ela sussurrou, olhando para o canto mais distante do quarto com um grande sorriso no rosto. — Edmund, meu querido. — ela parou por um momento. — Onde está a minha menina? Onde ela está? E meu Samuel? Eu quero ver o meu... — a frase de Grace desapareceu assim como ela.

Grace deslizou silenciosamente e pacificamente em sua morte cercada de amor, música, e a ameaça de assombração eterna.


Capítulo vinte e quatro

Thia

— Eu ainda não posso acreditar que ela se foi, — disse Bear, desfazendo o botão da camisa preta que ele tinha usado para o funeral e jogando-a sobre a cama. Eu peguei e dobrei o colar de uma forma que iria manter a sua forma, da mesma maneira que minha mãe costumava fazer com as camisas da igreja do meu pai.

Segui Bear para a sala e me sentei no sofá enquanto eu o observava vasculhar os armários da cozinha na parede oposta, procurando até encontrar o que queria. Ele tirou a tampa da garrafa de uísque e tomou um gole.

— Eu sei que você está sofrendo, mas você ouviu. Grace deixou muito claro que você e King eram as pessoas mais importantes na sua vida. — eu me levantei e caminhei até ele, passando os braços ao redor dele por trás e descansando minha bochecha em suas costas quando ele se inclinou contra o balcão. — Ela te amava. Ela queria o melhor para você. Você está machucado e isso é normal, mas quando dói lembre-se de tudo de bom que ela trouxe para a sua vida.

— É isso o que você faz? — perguntou Bear, limpando a garganta como se as palavras estivessem presas lá.

— O que você quer dizer?

— Com seus pais. Você se lembra das coisas boas quando tudo começa a ser demais?

— Eu não me lembro muito. Algumas noites de cinema com minha mãe. Um pai que era o melhor pai do mundo, até que ele deixou essa besteira levá-lo para baixo com ela. Um irmão que era incrível e quem eu amava muito, mas esteve em minha vida por um período muito curto de tempo, então eu não me lembro de muita coisa sobre ele. Todos eles se foram e sim, é demais lembrar, mas coisas boas não são fáceis de encontrar quando você está em uma grande nuvem de coisas ruins, — eu disse, passando os braços em volta da minha cintura e balançando para trás. — Mas eu sei que não era assim com você e Grace. Eu sei que houve muita coisa boa.

— Era tudo bom, — Bear confirmou. — Mesmo quando ela estava com raiva de nós. Mesmo quando ela estava desapontada com a gente. Ainda era bom porque ela realmente se importava quando ninguém mais fez. Meu velho queria um soldado, não um filho. Grace queria filhos, de modo que não importava o que fazíamos ou quão ruins éramos ou quais decisões tomávamos. Ela nos amou. A primeira pessoa na minha vida que me disse isso, para mim, que eu realmente acreditava. — seus olhos encontraram os meus. — Até você.

— Me diga mais sobre ela, — eu disse. Nós caminhamos até o sofá e ele me puxou para o seu colo, descansando a cabeça no meu ombro. Ele tomou outro gole e passou a garrafa para mim.

— Ela me comprou preservativos uma vez, — Bear disse com uma risada.

— O quê? — perguntei, tentando manter o uísque de voar para fora do meu nariz. Fiquei aliviada ao ver o pequeno sorriso que apareceu em seu rosto. O som de sua breve risada aquecendo meu interior, se não mais do que o uísque.

Ele me puxou de volta para perto e continuou, — Eu fui até a casa dela um dia. Ela estava sempre nos pedindo para ajudá-la com o jardim e com o lixo e para trocar as lâmpadas e essas merdas, e honestamente, eu não me importava. Eu senti como se importava quando ela me dizia para cortar as unhas ou me mostrava a maneira correta de colocar um guardanapo no colo quando eu comia, ou revirava os olhos quando eu arrotava na mesa. — o sorriso dele chegou a seus olhos ao recordar aquele dia. — Então um dia, eu fui para a cozinha e havia uma caixa de tamanho industrial de preservativos na mesa. Grace estava sentada ali com um daqueles preservativos de etiquetas verdes em sua mão, girando e cantarolando para si mesma. Quando ela terminou, ela tirou o rótulo e bateu na caixa e entregou para mim.

— O que dizia?

Bear riu. — Era o meu nome em grandes letras em negrito e sob ele ela tinha escrito PORQUE MAMÂE GRACE PODE ESPERAR POR NETOS UM POUCO MAIS.

Foi a minha vez de rir.

— Ela me disse que ela não foi nenhuma galinha quando jovem, mas que ela sabia o que se passava lá, ‘nesse clube de vocês’, — Bear disse, tentando imitar a voz de Grace e falhando miseravelmente. Passei a garrafa de volta para ele.

— Ela parece incrível, — eu disse, tentando parar a lágrima ameaçando derramar a partir do canto do meu olho.

— Ela era incrível, — Bear disse suavemente, olhando para a tela da TV desligada na sala.

— Pena que você mentiu para ela sobre a coisa do preservativo, — eu disse, sentindo o seu sorriso contra o meu cabelo.

— Eu nunca menti para Grace sobre isso. Ou sobre qualquer coisa. Eu sempre embrulhei, toda vez. — eu não podia deixar de revirar os olhos e recuar para olhar para o rosto de Bear, que eu teria jurado que estaria rindo histericamente em sua mentira, mas em vez disso, ele estava sério. — Estou falando sério, Ti. Nunca esqueci uma única vez até você, e honestamente, não era sobre o esquecimento. Eu precisava estar o mais próximo possível de você. Eu precisava que você sentisse cada polegada do que eu estava dando a você, — disse ele, sua voz baixando, fazendo minha pele ganhar vida com consciência. — Ainda preciso.

— Nós provavelmente deveríamos falar sobre o que aconteceria se, — eu comecei, mas Bear me cortou.

— Não é nada para falar. A merda está ruim agora porque as coisas estão tão incertas com os Bastards, mas Ti, você tem que saber que você carregar meu filho não vai me fazer correr. Eu sou um homem crescido. Não é como se eu não soubesse o que pode acontecer. O que vai acontecer se continuarmos assim. — ele inclinou meu queixo para ele. — Eu quero continuar assim. Eu gosto da ideia de você inchada com o meu filho.

Em jeito de brincadeira empurrei seu peito. — Ela me ameaçou, — eu anunciei, tentando mudar de assunto e tentar por o martelar do meu coração sob controle. O sorriso no seu rosto me disse que ele viu através de mim, mas ele me perguntou de qualquer maneira.

— O quê? — ele perguntou, soando nem um pouco surpreso.

Eu empurrei o meu cabelo atrás da minha orelha. — Sim, foi na primeira vez que a conheci. Nós não éramos nem mesmo um nós ainda.

— Ela ameaçou Ray também, naquele dia. É uma coisa boa. Isso significa que ela gostava de você, — disse Bear. Ele fechou os olhos e suspirou.

— Grace disse se eu te machucasse ela viria atrás de mim, — eu disse a ele, — O jeito que ela disse isso, ainda me assusta. — o cabelo na parte de trás do meu pescoço se arrepiou.

— Sim, mas babe, acabamos de vir do funeral dela, — Bear me lembrou. — Não há razão para ter medo agora.

Eu balancei minha cabeça. — Não, você a ouviu no hospital. Havia algo na maneira como ela disse isso que me fez pensar que até mesmo a morte não poderia impedi-la de fazer jus à sua ameaça.

— Eu acho que você pode estar certa sobre isso, — Bear disse, dando um beijo no meu queixo.

— Eu também penso assim, — eu disse. A lâmpada na ponta da mesa piscou.

— Prometa que não vai a lugar nenhum. É chato que Grace se foi, mas eu posso lidar com isso, ou eu vou ser capaz de lidar com isso, porque eu sabia que isso iria acontecer algum dia. Mas se algo acontecesse com você... — Bear fez uma pausa. — Eu não sei se eu poderia... não, eu sei que eu não poderia.

— Você não precisa se preocupar. Eu não vou a lugar nenhum, — eu o tranquilizei.

Eu fiz uma promessa e eu vou mantê-la. Vou cuidar dele, eu silenciosamente prometi à Grace.

Eu aconcheguei mais perto de Bear que me beijou novamente, desta vez na minha testa. Eu quis dizer isso. Eu cuidaria dele com tudo que eu tinha... ou eu morreria tentando.


Capítulo vinte e cinco

Thia

Nuvens cinza interferiram os raios normalmente implacáveis do sol. Com as nuvens, veio alguns momentos de alívio do calor sufocante constante. Uma leve brisa fluía através das janelas abertas da caminhonete de King enquanto Ray e eu fazíamos o nosso caminho para a casa de Grace para embalar toda a sua vida em caixas que levaríamos até Quick Stop. — O que diabos eles estão fazendo lá? — perguntei a Ray. Tinha sido quase 24 horas desde que King e Bear se trancaram em sua loja de tatuagem. Risos e barulhos e todos os tipos de música alta poderiam ser ouvido a partir do quarto. O cheiro de maconha e bebidas alcoólicas permeava por debaixo da porta.

— Nada de bom. Tenho certeza de que eles têm o suficiente de bebida e outras merdas para durar uma semana.

— Uma semana? — perguntei.

— Sim, mas eles obviamente não têm uma semana. — Ray estava certa. Chop e os Bastards estariam de volta em apenas um par de dias. Gus tinha ligado para nos informar que o MC tinha começado a sair de Carolinas. A guerra estava a caminho. — Pelo menos eles têm um ao outro.

— Sim, é por isso que mesmo que você tenha aparecido de um jeito ruim, estou feliz que você veio, porque se você não tivesse vindo, Bear ainda estaria lá fora em algum lugar quando ele pertence aqui, em casa. Com a família. Você o trouxe para casa , — disse Ray. — E você deveria ter visto os dois quando Preppy morreu. Eles se trancaram pelo que pareceu uma eternidade. Mas no final, eles saíram bem. Não curados. Não completamente. Apenas... melhor. — Ray fez uma pausa. — Eu disse às crianças sobre Grace, — Ray acrescentou, fazendo uma curva fechada sem se preocupar em usar os freios. Me agarrei à alça acima da janela com medo de que eu poderia sair voando, de repente muito feliz que eu lembrei de usar o cinto de segurança. — Desculpe, — disse ela, depois de perceber os nós dos meus dedos brancos ou o olhar de medo nos meus olhos. — Eu só recentemente tirei a minha licença.

— Você está indo bem, — menti, liberando o meu aperto de morte na alça e recuando em meu assento depois que nos estabelecemos em uma estrada reta. — Como é que eles aceitaram? As crianças? — perguntei quando eu olhei no espelho retrovisor para me certificar de que Wolf e Munch ainda estavam atrás de nós. Bear pode ter tido seu momento com King, mas ele não gostava da ideia de nós indo para a casa de Grace desprotegidas, especialmente depois do que tinha acontecido com Tretch.

— King e eu conversamos com eles por um tempo, — Ray disse, mantendo as mãos as mãos no volante. — Mas tudo o que saiu foi que a avó, Grace, não estará por aí brincando com eles mais. — seus olhos nunca deixaram a estrada. — Só isso já foi suficiente para levar os dois às lágrimas. Levamos três horas para acalmar Max. Tanto ela e Sammy acabaram dormindo na cama com a gente.

— Sinto muito, — eu disse, sabendo que não havia muito mais que eu poderia dizer que iria fazer a situação melhor para ela. — Eu não sei como fazer isso. Gerenciar três filhos. É como se você não fosse humano.

Ray me piscou um breve sorriso e estacionou a caminhonete na frente de uma pequena casa branca que mais parecia uma pequena cabana com a sua pequena cerca de piquete e revestimento branco. — Eu não sou humana, — disse ela, pulando para fora da caminhonete. — Eu sou uma mãe.

Passamos toda à tarde na casa de Grace passando pelas suas coisas e embalando em caixas para manter no depósito ou doar. Eu nunca tinha ido à sua casa antes, então ver milhares e milhares de coelhos empilhados em cada prateleira e superfície foi um choque. — Eles eram do seu marido, — Ray explicou, que foi a explicação menos louca por ter tantos olhinhos de vidro olhando para você durante todo o dia.

Eu estava em uma escada, atravessando os armários da cozinha mais altos e eu estava embalando as coisas do casamento na China de Grace, que eu sabia que foi na China porque quando eu abri a porta do armário, fui saudada com uma etiqueta que dizia CASAMENTO NA CHINA.

Enrolei os copos e pretos dourados no jornal antes de colocá-los em caixas e preencher os espaços vazios com plásticos bolhas.

Quando eu puxei o último prato da parte de trás do gabinete, algo colado a ele me chamou a atenção. Virei o prato e descobri que era uma imagem de um bebê.

Quando eu li a legenda na parte de trás, eu deixei cair o prato e ele quebrou em um milhão de pedaços, espalhando por toda a cozinha em uma sinfonia de barulhos delicados de porcelana. — Merda, — eu disse, pulando da escada.

— Você está bem? — Ray gritou de um quarto.

— Sim, eu estou bem. — eu peguei a vassoura que tinha sido encostada na parede do corredor e varri as peças quebradas de porcelana em uma pá de lixo. Eu guardei a pá e me sentei à mesa. Eu vasculhei e peguei a peça que ainda tinha a foto gravada na parte traseira e sacudi a poeira. Talvez eu tivesse entendido tudo errado. Talvez não tivesse lido o que eu pensei que tinha lido.

Mas eu não estava errado. A legenda abaixo da imagem era clara.

— Ray? — gritei, confusa com o que eu me deparei. Talvez eu tenha interpretado mal a história de como Grace e Bear se conheceram quando Bear tinha dito originalmente para mim. Isso poderia ser muito perturbador. Eu não ficaria surpresa se eu tivesse entendido errado os detalhes.

O menino na imagem ainda estava nas fraldas e eu podia jurar que Bear tinha dito-

— Sim? — Ray gritou de volta a partir do final do corredor onde ela estava limpando um armário.

— Você sabe quando Bear e Grace se conheceram? Com quantos anos ele tinha? — perguntei.

— Ele era um adolescente, — disse ela, entrando na cozinha com outra caixa em seus braços. Ela a colocou na mesa da cozinha e pegou a caneta preta do balcão. Ray marcou a caixa COELHOS PARTE-SETE e colocou em cima das outras caixas de coelho numeradas já empilhadas na frente da geladeira. — King e Preppy conheceram Bear quando eles estavam brigando sobre alguma merda infantil estúpida. Todos eles entraram em algum tipo de briga ou algo assim e, então logo depois King apresentou Bear à Grace. Preppy me contou a história, embora eu tenha certeza que ele embelezou um pouco porque a maneira como ele disse para mim foi que depois que ele chutou suas bundas, ele os fez pedir desculpas a ele e lhe comprar novas calças. Eu não sei você, mas eu não acho que Bear ou King eram muito do tipo de pedir desculpas.

— Isso não é verdade, — eu concordei.

Ray se apoiou no encosto da cadeira e colocou uma mão no quadril, inclinando a cabeça para o lado. — Por quê?

Eu levantei a imagem que era claramente marcado como ABEL. — Se Grace conheceu Bear quando ele era um adolescente, então por que é que ela tem uma imagem dele de quando ele era bebê? — Ray pegou a fotografia das minhas mãos, derrubando um coelho bailarino de cerâmica do canto da mesa. Ele quebrou no linóleo, mas nenhuma de nós reagiu ao som da segunda peça da vida de Grace que tinha quebrado.

— Talvez não seja realmente ele ou algo assim? — perguntei, hesitante. Ray puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado da mesa, sua boca aberta enquanto ela olhava para o menino sorrindo que estava sentado em uma cobertor de praia xadrez sob a sombra de um guarda-sol azul. — Talvez seja outro Abel?

Ray revirou os olhos. — Outro Abel, com cabelos loiros e olhos azuis que só passou a estar ao redor da casa de Grace?

— Talvez? — sem saber que outra explicação lógica poderia haver.

— Ti, o que você acha que isso pode significar? — perguntou Ray. Ela estava usando o apelido que Bear me deu muito ultimamente, e apesar do fato de que quando eu era uma criança todo apelido que eu tinha me deixou inquieta, não me incomoda vindo dela ou de Bear.

— Talvez Bear deu a ela, mas então por que estaria em seu gabinete gravado à parte traseira de um prato? — perguntei.

— Não pode ser. Grace não teria nenhuma razão para esconder isso. Ela adorava fotos quase tanto quanto ela amava coelhos. Se esta era uma foto que ele tinha dado a ela, isso estaria em um quadro exibido ao lado de um coelho em algum lugar, — Ray disse, virando a foto em suas mãos.

— Mas, então, por quê?

Ray balançou a cabeça. — Eu não tenho ideia, mas o que quer que seja, parece estranho, — ela disse, esfregando a testa. Ela enfiou a mão no bolso de trás da bermuda e pegou o telefone, tirando uma foto da imagem. — Coloque isso no seu bolso, — ela disse, entregando a foto de volta para mim. — Tenho a sensação de que os meninos não sabem nada sobre isso também. Eu não vou ligar agora e tirá-los de sua reunião, então vamos ter que esperar até hoje à noite para mostrar a eles. Grace não era de guardar segredos. Sua política era sempre sobre a honestidade, razão pela qual isso é tudo tão confuso.

— Sim, eu não penso assim também, mas me dói ter que esperar até mais tarde. Minha curiosidade está em um nível dez agora, — eu admiti. Paciência nunca foi meu ponto forte. Seis meses à espera de Bear não ajudou também.

— O meu também. — Ray se levantou novamente, agarrando outra caixa vazia da pilha pela porta da frente. — Embora eu ache que pode ter que esperar ainda mais tempo para conversar com King porque ultimamente ele não me deixa dizer uma palavra antes de tentar me engravidar novamente. As chances são quase nulas de uma conversa significativa, antes dele realizar essa missão. Ele tem estado de joelhos me pedindo outro bebê desde que Nicole-Grace nasceu. — houve uma ligeira irritação em seu tom, mas soou forçado. — É como se ele não fosse ficar feliz até que nós tenhamos que construir uma outra casa para todas estas crianças, e eu realmente gostaria de, pelo menos, ter um casamento antes que ele vá com seu plano de usar meu útero como uma carreta cegonha.

E balancei as sobrancelhas. — No entanto, tenho a sensação de que você realmente não se importa sobre os métodos dele tanto assim, — eu disse, pressionando meus lábios e tentando não rir.

— Não. Seus métodos. — ela suspirou sonhadora. — Seus métodos são ótimoooooos. — Ray olhou para mim séria, antes de explodir em gargalhadas. — Ele tem esse jeito de me fazer ceder a ele, não importa o que. Ele poderia me pedir para fazer nada menos do que uma guerra nuclear contra um país do terceiro mundo e eu estaria dizendo, ‘hummmmm-okay’. Me faz sentir como um idiota. — Ray balançou a cabeça e usou o canto da caixa em seus braços para apontar para mim. — Mas ei! Pelo menos King veste camisas! Eu não sei como você consegue fazer qualquer coisa perto de Bear. Se King nunca usasse uma camisa, eu ficaria com menos chance que já tenho. Eu estaria dando a luz todo ano, — disse ela, se abanando com a mão. — Enfim, eu acho que vou voltar e arrumar outra caixa de coelhos. — ela desapareceu no corredor.

Dei uma última olhada no bebê na foto antes de colocá-lo no bolso. Voltei para o negócio de embalagem da vida de Grace. Pelo resto do dia, eu não poderia manter minha mente longe da foto ou o que significava.

Grace pode ter mantido um monte de coelhos em sua casa, mas naquele dia eu descobri que ela também estava mantendo algo mais.

Segredos.


Capítulo vinte e seis

BEAR

A última vez que King e eu nos trancamos em um quarto e ficamos lá por dias foi quando Preppy morreu.

Este tempo pode ter sido por Grace, mas nós tínhamos a intenção de ficar lá novamente por nós.

— Eu não sei como diabos você espera que eu cubra essa coisa toda, — disse King, soprando o cigarro que ele estava segurando e me passando o baseado. Ele correu os dedos sobre a tatuagem enorme dos Bastards no meu ombro e coçou a cabeça.

Revirei os olhos. — Você é bom nesta merda. Você cobriu a cicatriz de Ray e você fez aquele desenho nas costas de Abby. Faça isso, cara. Não me decepcione, — eu disse, dando uma tragada.

— Você sabe o que você vai querer? — perguntou King, puxando a pele do meu ombro, como se fosse de alguma forma alterar a tatuagem em algo que ele pudesse trabalhar.

— Não, e eu não me importo. Me surpreenda. Qualquer coisa, menos um grande vibrador ou um retrato da rainha da Inglaterra e estaria tudo bem para mim desde que essa merda suma, — eu disse.

King acenou com a cabeça, se inclinando mais perto para examinar novamente a maior das minhas tatuagens dos Beach Bastards no meu ombro.

— Tudo bem, filho da puta, — disse ele, se inclinando para trás. — Eu vou pensar em alguma coisa.

— Ótimo, agora faça isso. — eu apontei para o esboço muito menor que eu tinha o feito fazer.

— Eu pareço como sua cadela?

Dei de ombros. — Não, mas você é minha cadela tatuadora.

— Me chame disso de novo e você pode ter esse vibrador nas costas. — King abriu as gavetas em sua caixa de ferramentas e começou a puxar luvas, tinta e outros equipamentos.

— Mau costume, — The Offspring estava tocando nos alto-falantes no teto. Enquanto eu esperava King começar, meus olhos pousaram em algo que eu não tinha visto em muito tempo. — Porra, eu não posso acreditar que você ainda tem essa porra, — eu disse, apontando para a cabeça de javali de plástico na parede. — E eu não posso acreditar que você realmente pendurou.

King olhou para onde eu estava apontando e riu, tomando um longo gole da garrafa de uísque antes de a colocar no chão sobre suas luvas pretas. — Eu encontrei no sótão. Ray me implorou para não pendurá-lo até que eu contei a ela a história por trás disso. Agora é a sua coisa favorita aqui. — King ajustou a altura do seu banquinho e rolou de volta para a mesa que eu estava sentado. — Eles dizem que você tem que escolher suas batalhas, — disse ele, olhando de volta para a cabeça do javali. Estou feliz que eu realmente ganhei uma.

Eu ri, mas falar de uma batalha fez minha mente ir para outro lugar. Em algum lugar não muito longe. — Temos três dias antes da guerra. Um quarto dos soldados que eles têm. Você acha que nós temos chance? — perguntei King, sabendo que ele iria ser sincero.

— Eu não sei, — disse King, batendo sua máquina em um pequeno recipiente de plástico com tinta preta. — Mas se não fizermos algo, a ameaça nunca vai embora.

— É verdade, — eu concordei. — Eu não quero estar olhando por cima do ombro, ou do ombro de Ti, pelo resto da porra da minha vida. — fiz uma pausa, tragando novamente. Segurei o máximo que eu podia e soltei com uma pequena tosse quando meus pulmões lutaram para empurrar a fumaça. — Você tem que me fazer um favor, porém, irmão, — eu disse. — Se tudo der errado, você tem que fazer uma coisa para mim.

— Qualquer coisa, — disse King, pressionando o pedal que trouxe a máquina de tatuagem para a vida, zumbido cada vez mais alto quando ele a trouxe para o local atrás da minha orelha direita.

— Se eu perder. Se eu... se ele ganhar, — eu disse. Eu tirei o dinheiro que eu tinha enterrado na ilha. — Eu preciso que você use isso para se certificar de que Ti fique bem.

— Nada vai acontecer, — disse King, empurrando a tinta na minha pele.

— Espero que não, mas você tem que me prometer, — eu insisti, King precisava saber o quão sério eu estava sobre isso. Se alguma coisa acontecesse comigo que eu precisava saber que a minha menina ainda estava bem.

— Eu prometo. Ela vai ser cuidada, — disse King, — mas você fala como se eu não fosse com você.

— Você não vai, — eu cuspi.

— Diabos que não, — King argumentou, pressionando a agulha mais fortemente para fazer seu ponto.

— Filho da puta, — eu disse. — Eu só quero dizer que eu preciso que você recue um pouco. Nós não podemos ser ambos mortos.

King mergulhou a arma de volta na tinta e limpou o local que ele tinha acabado de terminar com uma toalha de papel. — Ray sabe tudo. Temos um plano de contingência se algo acontecer comigo. Está tudo certo. Não se preocupe comigo ou Ray ou as crianças ou até mesmo Thia. Eu vou estar lá para cuidar das suas costas. — ele segurou o lado da minha cabeça com seu antebraço. — Agora fique quieto ou a sua menina vai pensar que eu sou péssimo nisso.

— Sim, senhor, — eu disse, ironicamente, olhando de volta para a cabeça do javali de plástico. Eu deixei a dor da picada da agulha me envolver enquanto eu me lembrava de um melhor momento. Menos ameaças. Mais diversão.

Mais cabeças plásticas de javali.

— Eu ainda não posso acreditar que ela se foi, — disse eu, dizendo a mesma coisa à King que eu disse a Ti após o funeral.

— Eu também não, — disse King. — Mas o que eu realmente não posso acreditar é que ela se meteu com merdinhas como nós.

— Uma vez, quando eu fui suspenso da escola, apenas pouco antes de eu sair inteiramente, o orientador marcou uma reunião de pais e filhos. Quando a hora da detenção acabou, eu sabia que seria só eu e o orientador, porque eu não tinha sequer dito ao meu velho sobre isso, e não é como se ele fosse aparecer se eu tivesse falado. Mas no segundo que a minha bunda bateu no assento em seu escritório, Grace irrompeu pela porta vestindo suas roupas da igreja.

— Eu não sabia disso, — disse King, se concentrando em minha nova tatuagem.

Eu sorri, lembrando. — Sim, e a parte legal foi que quando ele perguntou quem era ela, ela olhou para ele como se ele já devesse saber. — Eu sou Mama Grace, é claro, — eu disse, imitando a voz de Grace. — A coisa sobre ela que eu sempre gostei era que ninguém questionava ela. Ela realmente não tinha levantando à voz para conselheiro, mas ele disse a ela para tomar um assento de qualquer maneira e eles começaram, falando sobre minhas malditas notas como se ela devesse ser a única a estar lá.

King parou sua arma. — Provavelmente porque era.

— Sim, cara. Era.


Capítulo vinte e sete

BEAR

Dezoito anos de idade...

— Você sabe, você deve apenas dizer o seu nome agora. Basta falar logo. Porque um nome como Bear, você deve estar feliz pra caralho por estar na floresta. Você deve estar esfregando seu pau contra uma árvore ou algo assim. Transar no chão. Gozar no deserto, ou algo assim, não se lastimando como se eu tivesse matado seu golden retriever. Então, mude seu nome para... Ralph ou algo assim, e apenas faça isso. Abrace sua vagina interior, — disse Preppy, acenando com a mão com desdém antes de se deixar no chão, com o ouvido na terra como ele provavelmente viu alguém fazer em um filme.

Ou no YouTube.

É isso aí. Eu decidi quebrar esse computador assim que o dia terminasse. Dormir primeiro. Destruir o computador depois. Então, talvez ele não seja capaz de procurar novas maneiras de nos atormentar e, além disso, um pouco menos de pornografia não iria prejudicar a criança.

— Não é o ar livre que está me irritando. É a porra do horário, — eu murmurei, correndo a mão pelo meu cabelo. Preppy revirou os olhos e separou as folhas de uma árvore que não tinha necessidade de separar com o facão que ele insistiu em trazer.

— Então, por que eles te chamam de Bear? — perguntou Preppy. Agarrando um punhado de terra, ele jogou na brisa e cheirou antes que o vento soprasse bem no rosto de King.

Eu também iria cancelar o Discovery Channel.

— Você sabe? — Preppy perguntou à King, que ignorou a pergunta dele e rosnou, agitando terra de sua camisa.

— Você não quer saber, — eu disse com um suspiro, fazendo parecer que a razão por trás do meu nome era muito mais sinistro do que a história real, que era tão simples como a mulher da limpeza do clube me chamando Abel Bear toda vez que ela aparecia, o que fez todo mundo começar a me chamar de Bear. Graças a Deus ela não me chamou Abel Lovey ou Abel Babydoll.

Eu estaria ferrado.

— Seja como for, RALPH, — Preppy disse, e em qualquer outro dia eu bateria nele até amanhã.

Mas não hoje.

Hoje eu estava sob ordens estritas de King que não haveria soco de qualquer tipo.

Quantas horas até amanhã?

O sol finalmente começou a fazer uma aparição, disparando raios suaves de rosa através das copas das árvores, me lembrando das horas que já tínhamos estado acordado graças ao despertador às 04h30 de Preppy onde ele saltou na minha cama como se fosse manhã de Natal e Papai tinha acabado de entregar uma carga de maconha e pornografia.

Preppy estava tão empolgado que por um minuto pensei que sua excitação ia explodir através de sua pele. Infelizmente, naquela hora, seu entusiasmo não era contagioso.

Dirigimos por uma hora no escuro por chão de terra perto de Charles Harbor, onde Preppy estava convencido de que iria encontrar o maior e pior javali, apenas implorando para ser caçado. A maneira como ele lançou a ideia fez parecer que os javalis sairiam da floresta acenando uma bandeira branca antes de apontar as nossas armas para suas próprias cabeças e terminar o trabalho para nós.

Um barulho afiado chamou a minha atenção, onde mais um monte de carrapicho tinha grudado no fundo do meu jeans. Eu arranquei e joguei em um arbusto próximo, sibilando entre os dentes quando um dos carrapichos me picou. Uma gota de sangue se acumulou na almofada do meu dedo indicador. — Porra, — eu murmurei, sugando o vermelho acobreado da minha pele, em seguida, agitando no ar para secar.

— Me diga por que diabos estamos aqui mesmo? — King perguntou sobre um bocejo enquanto Preppy nos levava através da grama alta e mais profunda para a floresta. Em Logan’s Beach, as madeiras estavam molhadas e pantanosas, com folhagem verde escuro e lama macia, enquanto que a área ao redor de Charles Harbor estava seca com grama seca e terra bem batida que rachava em pedaços sob o peso das nossas botas.

Em nossa parte da Flórida, caça depois da escola ou nos fins de semana para caras da nossa idade era tão comum como tirar carteira de motorista ou se dar bem com seu encontro depois da formatura. Era o que os caras normais faziam.

Nós não éramos os caras normais.

Nunca fomos.

Nunca quisemos ser.

Alguns dos meus irmãos no clube eram ávidos caçadores. Eu mesmo saí com eles em uma ocasião. Mas nos meus dezoito anos eu já tinha derramado sangue suficiente de variedade humana e realmente não dava a mínima para o assassinato sem sentido de um animal sujo que, quando cortado, o interior da barriga cheirava pior do que um cadáver em decomposição do caralho.

— Bem, meus amigos, estamos aqui porque eu sou um homem agora. E este é o tipo de coisa que os homens reais fazem. Então vamos lá, meninas, peguem sua calcinha e agarrem suas bolas, porque nós vamos nos matar alguns porquinhos selvagens malditos, — Preppy disse, antes de nos dar a sua melhor imitação ‘oink’ via nasal de um porco selvagem.

— Que diabos foi isso? — perguntei, esfregando os olhos. Enfiei a mão no colete para os meus cigarros. Ao contrário de Preppy, que estava vestido para a ocasião com suas calças cargo, colete laranja brilhante, e um chapéu que dizia CAÇADOR DE BUCETAS em verde neon, optei por meu uniforme habitual do meu colete, sem camisa e jeans escuros. Eu segurei minha espingarda na dobra do meu braço com o meu queixo do outro lado do barril, enquanto eu pegava um isqueiro do bolso de trás. Eu não estava seguindo exatamente a etiqueta apropriada de manusear uma arma. Inferno, eu não me importava se eu explodisse a metade do meu rosto no processo, porque a nicotina ia ser a única coisa capaz de me impedir de saltar na enseada e nadar de volta para Logan’s Beach.

— Eu tenho praticado meu chamado de acasalamento de javali como o maior e pior filho da puta alfa saindo para jogar ‘pegue uma bala’ com a gente. E o que diabos você está fazendo fumando, Ralph? Apague isso! Eles vão sentir o cheiro ou ver a fumaça e eles vão se assustar e correr! — Preppy repreendeu. Se virando, ele se agachou e examinou as árvores em torno de nós por qualquer sinal de seus ferozes javalis malditos.

Eu fiquei parado, assim como King. Eu descansei minha arma contra o meu ombro em um tipo muito pronto para esta merda. Eu não tinha intenção de colocar apagar meu cigarro, mas com o canto do meu olho eu peguei um vislumbre do olhar de King, um lembrete da razão pela qual nós estávamos lá, em primeiro lugar, e, com relutância, eu apaguei meu cigarro na minha bota e mostrei à King um exagerado ‘Você está feliz agora?’ sorriso.

Havia apenas uma razão pela qual eu e King nos levantamos antes do sol e de estarmos no meio dessas árvores de merda, e graças à foda isso só acontecia uma vez por ano.

Aniversário de Preppy.

Nos três anos ou algo assim desde que eu conheci King e Prep, tinha sido uma tradição tácita, onde por um dia, Preppy dava as cartas. — Eu deveria ter vazado da cidade quando eu vi você olhando essas coisas em meu computador, — eu disse, passando por cima de um pinheiro caído.

— Você estava chocado que ele não estava olhando pornografia pela primeira vez, — King brincou, e ele estava certo. Pode ter sido a única vez que eu teria preferido abrir a tela do computador e encontrar alguns das merdas doentes que Preppy gostava de ver, e não o que ele tinha preparado para nós em seu aniversário.

— Na verdade, se vocês idiotas querem saber, eu estava olhando pornografia, — Preppy disse com um encolher de ombros. Houve um barulho no mato à frente. Um enorme porco marrom com pelo duro e uma presa quebrada disparou para fora do seu esconderijo e para a clareira, fazendo uma corrida para a sua vida através das árvores. Preppy levantou a arma e puxou o gatilho. Ele não acertou o javali que corria rápido e a bala abriu um enorme buraco em um toco de árvore. — Mas você ficaria surpreso que o pequeno erro de ortografia da palavra zoofilia pode mudar toda a natureza de uma pesquisa. — King e eu nos entreolhamos e seguimos Preppy, que começou a recitar falas de Coração Valente enquanto corria a toda velocidade atrás do javali mesmo não havendo nenhuma maneira dele o pegar.

Depois de uma hora perseguindo Preppy através das árvores e quase acidentalmente atirando uns nos outros algumas vezes, Preppy finalmente desistiu e voltamos para a caminhonete. — Porra. Eu vou comprar uma dessas cabeças de javali de plástico que vendem no posto de gasolina e colocar no meu quarto.

— Poderia ter decidido essa porra mais cedo, — King murmurou.

Preppy estalou os dedos. — E agora a parte dos negócios do dia, — disse ele, pegando duas pás da caçamba da caminhonete que estava obre uma lona azul. Ele atirou a cada um e tirou a lona, revelando o corpo amarrado de um homem por baixo.

— Quem diabos é isso? — perguntou King.

— Este foi o filho da puta que apontou uma arma para mim na noite passada enquanto eu estava contando a arrecadação, — Preppy anunciou, cutucando o cadáver com o punho de sua pá.

— Ugh, por que vocês estão me arrastando para isso. Isso é merda de vocês, — eu bufei.

— Bear, você não pode reclamar, — Preppy estalou, agarrando os tornozelos do homem.

— Por que diabos não? — perguntei.

— Porque, cadela, — disse ele, me piscando um grande sorriso de dentes brancos quando ele deslizou o corpo da caçamba até que ele estava a meio caminho e depois o deixou cair no chão com um baque surdo. — É a porra do meu aniversário.


Capítulo vinte e oito

Thia

Eu passei meus braços em torno das minhas pernas e as segurei junto ao peito, descansando meu queixo sobre os cumes dos joelhos. Fechei os olhos e, lentamente inalei pelo nariz, respirando o ar úmido e o cheiro das rosas de Grace.

Nós tínhamos acabado com todas as caixas durante o pôr do sol. Ray estava lá dentro ligando para a babá para verificar as crianças enquanto eu estava sentada do lado de fora no deck no quintal de Grace me perguntando o que diabos o futuro tinha reservado.

Para Bear. Para mim. Para nós.

Apenas o tempo diria, mas o tempo que eu estava mais preocupada era nos próximos dias, e se Bear sairia vivo dessa.

Eu tentei o meu melhor firmar meu coração errático, mas eu me senti impotente, um sentimento que eu odiava mais do que qualquer coisa.

Grilos gorjearam alto além da cerca. Esfreguei os meus pés descalços sobre o tecido aquecido da cadeira. Havia tantas perguntas na minha cabeça que eu só queria sacudi-los para longe.

Ele poderia ser ferido. Ele poderia morrer.

Meu estômago revirou enquanto eu forçava para longe desse pensamento.

Ele também poderia ter sucesso.

Então o quê?

Eu não ouvi Ray se aproximando até que ela se sentou ao meu lado, seu ombro batendo no meu. — Na minha vida, todos perto de mim morreram, — Ray começou com um suspiro, olhando para o quintal, como se estivesse lutando com alguma coisa na sua cabeça também. — Minha melhor amiga de quando eu era criança. Bem, acho que meus dois melhores amigos, embora um fosse uma espécie de meu marido por um minuto. Uma mulher que era mais como uma mãe para mim do que a minha mãe real, e alguém que eu conheci apenas por um curto período de tempo, mas era mais ligada que qualquer outra pessoa, além de King. — seus olhos brilharam da casa para as árvores e finalmente, de volta para mim.

— Preppy, — eu disse, desejando que ter tido a oportunidade de conhecer o cara que King, Ray e Bear tinham amado profundamente. Ray assentiu e tentou um pequeno sorriso que nada fez para mascarar sua dor.

— Sim, Preppy. Eu fui apaixonada por ele, você sabe, — ela disse com uma fungada.

— Você foi? — por um segundo eu pensei que Bear não tivesse me contado toda a história.

— Sim, não da maneira que estou apaixonada por King, mas eu estava... ou eu estou, — Ray corrigiu, — apaixonada pelo Preppy como eu poderia estar, sem que seja uma espécie de amor romântico. Eu o amava profundamente, e dói profundamente. Isso é apenas a maneira que amor funciona, eu acho.

— Você não está com medo que algo vai acontecer com King? — perguntei, precisando saber se eu estava sozinha na angústia que sentia sobre eles indo para a guerra contra Chop. — Se ele vai para a guerra com Bear, ele está colocando sua vida em risco. Não é nem mesmo a briga dele. Até mesmo Bear tentou falar com ele sobre isso. — eu estava grata que Bear tinha King em sua vida e que King estava tão disposto a arriscar por Bear, mas sendo acostumada à perda foi fácil me colocar no lugar dela.

Se algo acontecer com King, isso iria deixar seus três filhos sem o seu pai, e ela iria perder mais uma pessoa que amava. — Eu sei como se sente, — acrescentei, lembrando-a de que ela não estava sozinha.

Ray balançou a cabeça. — Não, eu não tenho medo. Se eu aprendi alguma coisa em relação ao ano passado, é que ir para a guerra um pelo outro é o que a família faz, independentemente da causa. Esta é a batalha de King porque é a batalha de Bear. — Ray distraidamente pegou nos fios da almofada de cadeira desgastada. — Eu cresci em uma casa com dois pais e ainda estou aqui. Além disso, não era como se quando eu conheci King ele era um contador ou algo que de repente decidiu se aventurar em outra linha questionável e perigoso de trabalho. Eu sabia o que eu estava fazendo desde o primeiro dia. — Ray soltou uma rápida explosão de risos. — Desde sempre.

Eu ri com ela quando ela desapareceu por um momento em alguma memória que ela estava recordando. Quando ela voltou, ela disse, — King não é o tipo de homem que você muda, e eu nunca tive este pensamento de que eu poderia mudá-lo. Eu me apaixonei por ele. Isso é tudo.

— Eu sei exatamente como se sente, — eu admiti.

Ray cutucou meu ombro novamente. — O Bear que eu conheci era um pouco diferente do Bear que você conhece agora, — ela disse, olhando para a água. — Eu o conheci em uma festa, bem antes de conhecer King. Ele falava manso com sua voz profunda e louca. Ele era forte. Confiante. Então, depois que Preppy morreu tudo isso mudou. Ele se transformou em uma concha vazia, então ele ia e voltava. — o sorriso deixou brevemente seu rosto, mas voltou quando ela acrescentou: — Mas ele é um Bear repaginado, melhor do que antes... e é tudo por causa de você.

— Eu não posso levar todo o crédito. Houve um cara que me deu um anel de uma vez, — eu disse, esfregando o anel de Bear entre os meus dedos. — Ele me fez melhor também.

Eu não poderia evitar pensar que, apesar de Ray e eu levamos caminhos muito diferentes para chegar ao mesmo lugar, que as nossas histórias eram muito mais semelhantes do que eu inicialmente achava. Eu também estava aprendendo mais sobre família do que eu já aprendi antes. — Então você não está realmente com medo? Porque, honestamente, — eu disse, um caroço se formando na minha garganta. — Eu não sei o que eu faria se algo acontecesse com B... — eu parei e apertei meus olhos, afastando o pensamento indesejado.

Ray colocou a mão no meu ombro e eu abri meus olhos, olhando em seus olhos azuis gelados de boneca que irradiava nada além de sinceridade e simpatia. — Não, — disse Ray. — Eu não estou.

— Você é louca, — eu disse. Ela tinha perdido tantas pessoas que ela amava, então por que ela não estava com medo de perder King também? — Por quê? — perguntei novamente.

— King me prometeu que iria ficar bem, — disse Ray, — e ele sempre cumpre suas promessas.

Eu queria que o mesmo fosse verdade com Bear, que ele prometesse que ficaria bem e juraria que ele sairia de tudo isso vivo. Tanto quanto eu amei a promessa quebrada que nos reuniu para começar, era uma que eu realmente queria que ele mantivesse.

— Eu só gostaria que houvesse algo que eu poderia fazer para ajudar, — eu admiti.

Ray assentiu. — Eu me sinto exatamente da mesma maneira, mas além de pegar uma arma e assaltar o complexo não servimos para nada, — disse Ray com uma risada, — ou a menos que você tenha um exército que eles poderiam pedir emprestado.

Eu fiquei numa posição ereta quando uma ideia partiu em minha cabeça como se tivesse sido atingida por um raio. Circuitos estavam se conectando. Uma ideia foi tomando forma. Me virei para Ray. — E se eu tivesse um?

— Um o quê? — perguntou Ray. Seus lábios se viraram para o lado em confusão. Eu me levantei.

— Fique aqui, eu vou pegar meu telefone. Eu já volto! — eu gritei.

— Mas um o quê? — ela perguntou novamente. Me virei antes de entrar para casa e sorri maliciosamente.

— Um exército.

Eu desapareci e corri para a mesa da cozinha quando me lembrei de que o telefone estava na caminhonete. Corri para fora da porta da frente e enfiei a mão pela janela, agarrando o telefone do assento. Eu digitei e esperei, mas não houve resposta. — Merda, — eu disse quando eu digitei uma mensagem e pedi a Deus que ele visse e soubesse o que significava.

Corri de volta para a casa, ainda olhando para o telefone, esperando por uma resposta, quando eu bati em algo duro.

Alguém.

Eu não tive a chance de ver quem era esse alguém antes de eu ser eletrocutada por um taser azul. Pairando em algum lugar entre consciência e inconsciência, eu ainda podia ouvir os grilos cantando e Ray chamando por mim enquanto eu fui levada, bombardeada pelas sensações de familiaridade e pavor.


Capítulo vinte e nove

BEAR

A única coisa que meu pai sempre me deu foi à promessa do martelo e o fodido temperamento.

Desgraçado.

Com a morte de Preppy, cheguei a um nível inteiramente novo de raiva, um sentimento muito além de qualquer coisa que eu já tinha experimentado antes e eu nunca pensei que eu seria capaz de descerrar os punhos ou respirar fundo novamente.

Por um tempo eu o deixei me destruir por dentro, como o câncer que levou Grace, rasgando o próprio pensamento do que eu pensava que era, e deixando uma fração do velho eu em seu lugar.

Em comparação, a raiva que senti quando Prep morreu era um mero pontinho na porra do radar em comparação com a raiva que eu experimentei quando Ray ligou para dizer que a minha menina tinha sido levada.

Ray não tinha visto quem era, nem Wolf ou Munch que estavam no quintal cuidando das meninas. Quando Munch viu Ti entrar, ele não sabia que ela estava saindo pela frente da casa. Eles correram para fora bem a tempo de ver uma van se afastando.

Eles podem não ter visto quem a levou, mas eles não tinham que ver isso para eu saber quem estava por trás disso. Se ele pensou nem que seja por um fodido segundo que levar minha menina iria de alguma forma dar a ele uma vantagem, aquele filho da puta estava errado. Tudo o que fez foi adiantar a guerra, sua morte iminente, e a probabilidade de tortura diferente do que ele já tinha conhecido antes.

Vá buscá-la, Bear.

A voz do fantasma de Preppy foi o mais sério que eu já ouvi, e isso me encheu de ainda mais raiva, e outra coisa que eu não estava familiarizado em sentir.

Terror.

O plano sempre foi invadir o MC. Levar de volta o que Chop tinha tirado de nós. Levar de volta ao clube. Nem uma única vez ao fazer esses planos temi pela minha própria vida, mas agora que a vida de Ti estava nas mãos do homem que já tinha lhe causado tantos danos, e era capaz de infligir muito mais, o medo dentro de mim era perto de ser esmagador.

Vida e morte sempre foram muito concretas para mim. Todos nós vivemos, e todos nós morremos e eu estava totalmente preparado para assumir uma bala quando meu tempo acabasse. Eu estava bem com a minha morte, independentemente de quando ela viesse.

Eu não estava bem com a morte de Preppy.

Em trinta anos, se eu ainda estivesse andando sobre a terra, eu ainda não estaria.

Se algo acontecesse a Ti, a dor que eu iria infligir seria interminável, porque a minha dor seria interminável.

Se apresse. Disse o fantasma de Preppy.

Eu sufoquei meu motor e forcei minha moto para uma velocidade vertiginosa. Passei cada sinal vermelho, sinal amarelo, e evitei todos os carros. Eu levei o nosso grupo, que consistia em Wolf, Stone, e Munch, com King na retaguarda. Gus iria nos encontrar lá. Nós não éramos um grupo grande, mas tínhamos muito talento entre nós, e foi nesse talento que eu estava confiando para pegar a minha garota de volta. Então quando eu souber que ela estava segura, e eu iria tomar o meu tempo para acabar com meu velho.

Eu não era estúpido. Eu sabia que era tudo uma armadilha para me atrair sem nenhuma dúvida fodida sobre isso. Eu até achava que Gus foi alimentado com falsas informações de propósito sobre o clube estar fora em um passeio, mas armadilha ou não, Chop trouxe a guerra para sua porta e eu estava prestes a descer sobre ele como ele nunca tinha imaginado ser possível. Se havia alguma parte do meu velho que achou que eu poderia ser incapaz de acabar com ele porque ele era meu sangue, ele estava prestes a saber o quão errado ele estava.

Absolutamente errado.

Eu freneticamente voei para a noite e usei os pensamentos de minha menina para alimentar meu ódio e me empurrar para frente.

A guerra que eu vinha me preparando oficialmente mudou.

Aguente firme, Ti. Estou chegando.

Eu iria pegar minha menina de volta e eu iria me banhar no sangue de qualquer filho da puta que estivesse entre nós.

Eu não estava apenas atrás de vingança.

Eu estava em um fodida caça.

Eu meio que perdi a parte psicótica de mim que estava inativa desde que Preppy morreu e fiquei feliz com o pensamento de montar a cabeça cortada de Chop na porra do telhado do MC como um aviso para qualquer outro pedaço de merda que pensar que pode me atravessar e de alguma forma fugir com isso.

Os Beach Bastards não era o clube de Chop mais.

Ele não era o seu Prez.

Eles não existiam.

Ou pelo menos, eles não iriam depois que eu acabasse com eles.

Ti pode ter me ensinado a ser um homem novo, mas eu empurrei o homem para o lado, porque naquele instante eu precisava do motoqueiro, o diabo, a porra do demônio que iria atirar sem dúvida ou hesitação. Cortar sem sentimento. Ferir sem se machucar.

Na minha moto, com Logan’s Beach passando em torno de mim, eu me tornei o monstro sem alma que estava disposto a derramar rios de sangue pela minha menina.

Havia um monte de filhos da puta que iriam para o inferno esta noite.

Depois que eu tivesse certeza de que Ti estivesse segura, eu não me importava se eu era um deles.

Eu acelerei e empurrei minha moto para seus limites. Eu voei pela estrada para o complexo, sem saber como diabos eu era capaz de ver a estrada, porque, na minha visão, tudo o que eu podia ver era vermelho.

Sangue. Vermelho.


Capítulo trinta

Thia

— Não! Não coloque isso no meu braço! Eu não preciso disso. Eu juro. Eu serei boa. Vou ficar quieta. Por favor. Não! Eu prometo. Vou ficar quieta. Eu prometo! — eu gritei, e lutei contra vários homens e mulheres vestidos de uniforme cinza enquanto eles seguravam meus braços e pernas em uma maca. Uma mulher pequena com cabelo preto curto levantou uma seringa para a luz e bateu algumas vezes antes de inserir no soro já no meu braço. Ela olhou para mim sem pedir desculpas antes de empurrar o êmbolo.

Então, tudo sai de foco.

Tudo.

Incluindo o quarto.

De repente, eu estou sozinha. Me sento na maca com facilidade. Meus pulsos e tornozelos não amarrados. Eu estou no mesmo quarto de momentos antes, as mesmas paredes verdes pálidas, mas desta vez ele está vazio.

Pelo menos eu acho que está vazio.

— E eu costumava pensar que Bear era o mais inteligente de nós três, — diz uma voz masculina, seguida de uma breve gargalhada. — Na verdade, isso não é verdade. Eu sempre fui o mais inteligente, é um fato científico. Além disso, meu pau é maior. É importante que você saiba disso.

Eu ergo minha cabeça para encontrar um homem encostado na janela, os braços e as pernas cruzadas. Ele é apenas uma sombra sob a luz da lua, até que ele se desdobra e começa a caminhar em direção a mim. Enquanto ele se move, as sombras fazem também, e eu posso identificar as suas características. Ele é alto, embora não tão alto como Bear. Ele é muscular, mas magro. Ele está vestindo uma camisa de manga curta e branca e calças cáqui, com uma gravata borboleta laranja, e suspensórios pretos. Seus braços e mãos estão decorados com tatuagens e seu cabelo loiro arenoso está amarrado para trás em um rabo de cavalo alto, bagunçado, mas isso é a única coisa sobre sua aparência que é remotamente bagunçado. Sua camisa está bem passada e as calças têm um vinco em cada perna na frente. Sua barba está mais curta do que a de Bear, mas imaculada.

— Quem é você? — pergunto. — Você conhece Bear? — o homem vem ao meu lado para se sentar na maca, e é aí que meu cérebro confuso começa o reconhece, mas eu não sei como eu o reconheço. Eu tento levantar da maca, mas quando eu faço um movimento para levantar, eu oscilo. O homem agarra meu braço para me firmar e me põe de volta para baixo.

— Claro que eu conheço, porra. Ele é um dos meus melhores amigos, — diz ele, como se eu já devesse saber disso. — Você é gostosa pra caralho, — diz ele me olhando de cima para baixo. — Você quer foder?

— Hã? O quê?

— Mas desde que Bear é meu amigo, nada de língua. Ok, talvez um pouco de língua, mas só porque você pediu. Sem pau, embora. Talvez só um pouco. Ok, talvez tudo, mas apenas por uma hora ou duas. Parece bom?

— O quê? — eu pergunto novamente, esfregando minha testa e tentando limpar minha mente para que eu possa ter uma ideia sobre o que exatamente está acontecendo aqui.

— Ok, ok, só até que ambos gozem. Ou apenas eu. Tanto faz. As regras básicas são importantes quando se inicia um novo relacionamento. Vi isso no programa da Oprah e a cadela sabe das coisas. Se você não vê o programa dela, você deveria.

— Quem é você mesmo? — eu pergunto e quando eu olho para ele, ele finalmente registra quando eu o reconheço. A partir da foto no apartamento de Bear. Ele está dizendo a verdade. Ele é amigo de Bear.

O amigo morto do Bear.

— Eu sou Preppy.

— Mas você está... — eu começo, mas Preppy me para.

— Isso não é importante, — diz ele com desdém.

— Como você está aqui? — pergunto.

— Você faz mais perguntas do que Doe. Eu não achava que era possível.

— Doe?

— Ray, — diz ele. — Mas se você quer cantar a música inteira da Noviça Rebelde, eu vou ter que encontrar um diapasão13 e vou precisar lubrificar as minhas cordas vocais. — ele olha entre as minhas pernas. — Eu acho que sei como-

— Preppy, você pode se concentrar por um segundo?

— Mmmmmmm? — pergunta ele, finalmente olhando para o meu rosto. Ele estende a mão e toca uma mecha do meu cabelo.

— Por favor, me diga por que está aqui. Por que eu estou aqui.

— Você está aqui porque as pessoas são idiotas, e eu estou aqui para você, porque você precisa de mim e porque eu não sabia quando eu iria ter uma chance novamente para me apresentar à menina de Bear.

— Mas você está...

— Ainda não é importante, — diz ele.

— Então eu estou em um hospital psiquiátrico? — pergunto.

— Não, por que você acha isso? Você está louca? Bear pegou uma louca? Ele deveria correr das loucas. Eu não ensinei nada à cadela? — perguntou Preppy com um bufo.

— Eu não sei por que eu acho que estou em um hospital psiquiátrico, talvez porque eu estou sentada em uma maca conversando com o melhor amigo de Bear, que está morto?

— Owhm que fofo, — Preppy diz, correndo parte de trás do seu dedo indicador na minha bochecha. Este homem é um estranho para mim. Este gesto é algo íntimo, como se nos conhecêssemos, então isso deveria ter me feito me afastar e pular pra trás, mas ao invés disso eu me encontro inclinando em seu toque, encontrando conforto nisso.

— O que é fofo? — pergunto.

— Que você acha que até mesmo a morte poderia me manter longe da minha família, — sussurra Preppy.

— Eu estou tão confusa, — eu admito, me jogando em cima da maca. Preppy segue e quando eu olho para a minha direita, eu o encontro deitado ao meu lado e olhando diretamente para mim. Eu podia sentir o seu hálito frio de menta no meu rosto enquanto ele falava.

— Quando você ver King e minha menina, Doe, por favor, você pode contar a essas cadelas que Preppina, a Magnífica, teria sido um nome melhor do que Nicole Grace? Essa merda soa como se ela já estivesse na fila para o lar de idosos do caralho. Vou ter que vigiá-la apenas para ter certeza que ela não apanhe no parquinho e confie em mim, essa merda não é divertida. Eu costumava entrar em brigas todos os dias, e mesmo tendo ganhado cada uma delas com a minha força muscular e sagacidade, eu não quero isso para a pequena Preppina.

— Tudo bem. — eu digo, sem saber com o que eu realmente estou concordando ou o que exatamente isso significa.

— Agora durma, menina. Porque eu tenho uma sensação de que esse motoqueiro mau está vindo resgatar sua old lady, — diz Preppy. Ele se inclina para a frente, e para alguém tão severo com as palavras, ele planta um beijo em meus lábios.

— Ele está vindo? — pergunto quando Preppy se afasta.

— Porra, sim, ele está. Ele está vindo salvar o seu rabo magro e, então, se você tiver sorte, ele vai vir em qualquer outro lugar14. — Preppy mal respira entre as frases. — Eu amo aquele fodido bruto. Eu nunca duvidei dele por um segundo sequer. Ou apenas por um minuto. Talvez fosse meio a meio por um tempo, mas a cadela teve sorte que ele caiu em si, porque eu tinha todo esse plano de assombrá-lo, ligando sua moto no meio da noite. Estilo O motoqueiro fantasma.

— Eu ainda não tenho ideia o que está acontecendo, — eu admito ao homem confuso.

— Shhhhhh, menina bonita. Descanse um pouco, sim? Tenho certeza que Bear vai se lançar em você depois de você conseguir um pouco de energia de volta, então você vai precisar descansar a menos que você não queira ser fodida por aquele bastardo, e eu vi aquele filho da puta em ação. Quer dizer, até hoje ele nunca descobriu a câmera... — Preppy olhou para longe. — Bons tempos. Bons tempos, — ele murmura, sorrindo como se recordando a memória.

Preppy escova meu cabelo da minha testa e, novamente, me olha de cima a baixo, seu olhar persistente na minha barriga. — Mas, falando sério, há uma coisa que eu preciso que você se lembre, Ti, baby. Me prometa que, quando você tiver a chance, você vai fazer uma coisa para mim e você não pode esquecer.

— O que é?

— Correr.

Com isso, Preppy caminha de volta para a janela e quando eu pisco, ele se foi. Como os olhos ficando pesados novamente e o sono se torna muito poderoso para ignorar, eu poderia jurar que o ouvi murmurar: — Será que algum desses malditos vibradores sabe como usar uma borracha do caralho?


Capítulo trinta e um

Thia

Ping. Ping. Ping

O som de uma tubulação pingando ecoou em meus ouvidos, me arrastando lentamente de volta para a realidade.

O picar de algemas em meus pulsos. Meus braços tensos acima da minha cabeça enquanto eu desligava em uma tubulação que corria pelo teto. Quando eu não podia mais me segurar, meus músculos cederam com um pop quando minhas articulações dolorosamente deslocaram. Meu queixo caiu no meu peito. Uma fita larga cobria minha boca, envolvida em torno da parte de trás da minha cabeça, puxando meu cabelo cada vez que eu virava minha cabeça. Com uma narina estupida eu me senti tonta, não sendo capaz de obter oxigênio suficiente através do outro.

Minha visão ficou turva enquanto tentava me concentrar no meu entorno. Cinzento. Concreto. Um teto aberto com tubulações e fios. Nada nas paredes nuas. Uma gaiola de metal no canto mais distante. No centro do pequeno quarto estava uma lona azul. Ao lado da lona estava uma caixa de ferramentas vermelha com uma furadeira amarela elétrica no topo. Era tudo tão limpo.

Estéril.

Puxei nos punhos acima da minha cabeça com uma nova força que eu não tinha segundos antes. Minhas pernas se agitaram inutilmente no ar enquanto eu lutava contra as algemas.

A porta se abriu e Gus entrou. Quando eu o conheci pela primeira vez no parque, ele tinha protegido Bear e eu. Eu até achei ele fofo com aquelas bochechas gorduchas.

Não foi esse Gus que entrou. Este Gus olhou para mim, pendurada no teto, como se eu fosse um bife e ele era um leão com fome que não tinha comido em meses.

— Eu realmente gostaria que fosse eu que pudesse ter toda a diversão com você hoje, mas olha só, tenho que ligar para Bear. Eu tenho que deixá-lo saber que sua namorada foi raptada pelo MC. Eu tenho que continuar fazendo o papel de soldado leal, portanto, infelizmente para mim, eu tive que chamar um substituto. — ele andou até mim e eu me preparei para o que fosse que ele estava prestes a fazer. Meu coração correndo no meu peito.

A fita que está sendo puxada doía, mas saiu depressa e eu finalmente fui capaz de tomar respirações profundas. Engolindo em seco para o ar como se eu tivesse estado me afogando. — Por que fazer isso? — perguntei, depois de finalmente ser capaz de recuperar o fôlego. — Eu, Bear, o MC? Por quê?

— Eu não perguntei por quê. Eu faço o que me mandam. Perguntar por que não é o meu trabalho.

— Então, qual é o seu trabalho? Quem te contratou?

Gus cobriu minha boca com a mão e pressionou sua testa na minha. Meu estômago revirou. — Isso não importa. O que importa agora é o que está prestes a acontecer com você. Meu conselho? Renda-se a dor. Aproveite. O corpo humano é uma máquina fascinante e, embora eu não consiga fazer isso sozinho, eu vou assistir ao vídeo mais tarde e eu tenho certeza que assisti essa máquina desmoronar vai ser nada menos que espetacular. — ele soltou a minha boca e colocou a fita de volta no lugar. — Embora eu tenha certeza que Bear não vai gostar tanto como eu gosto. Ele não aprecia a beleza nisso como eu.

Ele mostrou a língua gorda e lambeu meu rosto do meu queixo para o meu olho e meu estômago revirou novamente.

Gus recuou e deu um último olhar de cobiça em mim. — Que pena. — antes que ele saísse, ele ajustou uma câmera ao lado da porta que eu não tinha notado. Uma luz vermelha apareceu. — Talvez eu vá ficar. Apenas para a primeira parte, — disse Gus, abrindo a porta. — Estamos prontos, — ele gritou e um homem loiro apareceu, fechando a porta atrás de si. Ele estava sem camisa, era alto e muscular, tatuagens cobriam seus braços e peito.

Havia uma chave de fenda em suas mãos que ele bateu na sua palma uma e outra vez enquanto ele me olhava decima e abaixo.

Gus era mal.

Esse cara, com sua clássica boa aparência, era o fodido diabo.

Seus olhos eram negros e brilhantes como um demônio em um filme e eu percebi que não havia como sair dessa. Meu destino tinha sido selado. Com cada passo que o diabo dava em minha direção, o medo que senti aumentou mais e mais até que eu esperava morrer de um ataque cardíaco antes que esse lunático pudesse dar cabo a quaisquer planos de doentes que ele tinha para mim.

O diabo colocou a chave de fenda encima da caixa de ferramentas e puxou seu cabelo na altura dos ombros em cima de sua cabeça com um elástico. Ele inclinou a cabeça de lado a lado, fazendo um estalo enjoativo. Ele fez o mesmo com os nós dos dedos.

Então ele veio para mim.

Enquanto Gus olhava para mim como se ele estivesse cobiçando meu sangue, o diabo loiro parecia natural. Em seu elemento.

Possuído.

Ele estendeu a mão e desabotoou uma das algemas, me pegando antes que eu caísse no chão de concreto. Meus braços ainda estavam levantados acima da minha cabeça quando eles se tornaram completamente inúteis e desconexos. — Nãooooooo! — tentei gritar por trás da fita, lágrimas correndo dos meus olhos. Ele me levou para a lona e me deitou em cima dela, amarrando meus tornozelos juntos com a fita.

— Você pode tirar a fita dela. Ela quer ter certeza de que seus gritos apareçam no vídeo, — disse Gus. — Comece com os dentes, eles são os mais dolorosos.

— Por que você ainda está aqui? — perguntou o diabo. Eu estava tremendo tanto que eu podia ouvir meu queixo chocalhar atrás da fita.

— Só queria ver o começo divertido.

— Eu não gosto de público, — disse ele com firmeza.

— Vamos lá cara, apenas um dente, então eu vou embora.

— Faça você então, — disse o diabo, de pé quando ele atirou a Gus a chave de fenda. O rosto de Gus se iluminou e ele praticamente correu para mim, se agachando pela caixa de ferramentas e levantando uma engenhoca de metal.

— Apenas um. E então eu tenho que ir, — disse Gus, rasgando a fita da minha boca. Ele pressionou o céu da minha boca para me forçar a obedecer.

Não era a primeira vez que ele fazia isso.

O diabo loiro deu um passo atrás e olhou para nós com um olhar irritado em seu rosto. Ele estava chateado que Gus estava tomando seu trabalho longe dele. — Eu tenho merda para fazer, então se apresse.

— Eu adoraria tomar meu tempo, pequena. Mas isso vai ter que servir. — ele empurrou a chave na minha boca e apertou em um dos meus molares. Ele não arrancou rapidamente, ele começou a puxar devagar, construindo a dor, fazendo cada nervo queimar, prolongando a dor quando ele puxou mais duro e mais duro até que eu senti como se toda a minha mandíbula estivesse sendo arrancada do meu crânio. Eu gritei tão alto que meu peito doeu. Cobre quente inundou minha boca.

Gus se sentou, o peito arfando para cima e para baixo. Meu molar ensanguentado entre as pinças de sua chave. — Isso foi fantástico, porra.

— Ótimo. Agora dê o fora ou eu vou embora.

— Tudo bem, — disse Gus, se levantando e colocando a chave na lona. — Apenas se certifique de que ela grite, ela foi inflexível sobre isso. — o diabo acenou com a cabeça e se ajoelhou ao meu lado novamente, escolhendo através da caixa de ferramentas. Eu comecei a engasgar enquanto o sangue escorria pela minha garganta. Ele empurrou minha cabeça para o lado para que o sangue pudesse correr para fora da minha boca, à barra extensora na minha boca dolorosamente rasgando a carne da minha boca.

Como alguém tão bonito poderia ser tão mal? Eu pensei, mas depois me lembrei de algo que Bear tinha dito.

Ele se parece com a luz do sol. Cabelo loiro e olhos azuis. O tipo que você veria na TV como qualquer adolescente nos dias de hoje. Mas esse garoto tem o diabo nele. Só dá valor à vida da sua esposa, Abby, e agora ao seu filho. Jake é a única pessoa no mundo que me assusta pra caralho. Você sabe, além de você.

Era a minha única chance. — Jake, — eu disse. Mas eu estava cansada, muito cansada, e com a barra extensora na minha boca soou como. — Gggggggech.

Ele me ignorou e continuou vasculhando sua caixa de ferramentas e é aí que eu percebi que tudo estava acabado.

Eu ia morrer.

Eu te amo, Bear.


Capítulo trinta e dois

Thia

Quando Jake se virou, ele estava segurando um estilete. Ele olhou de mim para o instrumento em sua mão. Ele deslizou o polegar para cima e para baixo no punho e olhou para a lâmina, retraindo uma e outra vez, como se estivesse em algum tipo de transe.

— Air Air! — eu gritei, tentando gritar o nome do Bear para Jake, mas já era tarde demais. Não havia decisão a ser tomada. Meu destino foi selado. Não tinha como voltar de qualquer lugar assassino que ele tinha ido.

Um carro barulhento estava em algum lugar lá fora, ou talvez uma moto. Fosse o que fosse, isso chamou a atenção de Jake. Os vincos em sua testa relaxou, e seus olhos estavam focados. Ele largou o estilete no chão. Com um rugido zangado ele puxou uma arma do seu jeans e apontou.

— Nãoooooooo! — eu gritei, tentando rolar para longe dele como se houvesse algum lugar que eu poderia ir. Em algum lugar que eu poderia me esconder.

Não havia.

Ele disparou, o som do tiro ecoou pela quarto como um grito agudo em uma caverna, tinindo em meus ouvidos. Eu esperei pela dor. Ou o nada.

Isso nunca veio.

— Cale a boca, — Jake sussurrou, e foi só então que eu percebi que eu ainda estava gritando. Ele olhou por cima do ombro em direção à porta e fez uma pausa para ouvir alguma coisa. Notei que a câmera tinha sido alvo da mira de Jake. — Porra! — disse ele, passando a mão pelo cabelo.

Ele se abaixou ao meu lado, a boca perto do meu ouvido e eu tentei me afastar novamente. — Faça o que eu digo.

Eu me acalmei. Por que ele estava sussurrando?

— Gus ainda não saiu, — continuou ele. — Esse filho da puta está esperando no outro quarto para se certificar de que eu vou seguir adiante. Eu vou te machucar. Grite. Isso ajuda. Eu prometo.

Que porra é essa?

— Tudo bem? — ele perguntou. Eu balancei a cabeça, estranhamente confiando no homem que agora estava segurando a mesma chave que Gus tinha acabado de usar para puxar o meu dente.

Não é como se eu tivesse quaisquer outras opções.

— Quanto mais alto você gritar, mais satisfeito ele estará e mais cedo ele vai sair. — Jake empurrou a chave na minha boca e apertou em torno do outro molar. Lágrimas corriam pelo meu rosto em antecipação da dor.

— Grite o mais alto que puder, porque se você não fizer isso, ele só vai ficar mais tempo e eu vou ter que tirar mais dentes. — ele fez uma pausa. — E só Deus sabe o que virá depois.

Gritar não seria um problema.

Ele arrancou, e eu gritei quando ele rasgou outro dente da minha boca, a inundando com mais sangue. Mas ao contrário de Gus, esse foi quase que instantaneamente, quase sem dor. — Continue gritando, — ele sussurrou, muito tempo depois que o dente havia sido extraído, então eu fiz, até que meus pulmões queimavam. Até que a minha visão ficou turva.

A porta abriu e Gus voltou para o quarto.

— Você não tem um lugar para estar? — perguntou Jake, pegando a broca e selecionando algo da caixa de ferramentas. O sangue da minha boca escorria em sua mão. Eu continuei a gritar, embora nenhum som saísse.

— Eu estava prestes a sair, mas eu queria ter certeza de que você estava fazendo o seu trabalho. Queria ter certeza que os rumores não eram verdadeiros sobre você ser mole, — Disse Gus, provocando Jake.

— Você quer terminar isso? Termine isso. Porra. Eu não preciso dessa merda, — Jake retrucou. Ele se levantou, e no seu caminho para fora da porta, ele jogou algo para Gus que era o meu dente sangrento e ele o segurou com um olhar de aprovação. Um telefone tocou e Gus atendeu. — Sim. Ele está lidando com isso, — disse ele ao telefone. Jake parou e se virou. — Eu estou indo, agora, — disse Gus, desligando. — Ela é toda sua, — disse Gus. Ele estava prestes a fechar a porta quando viu a câmera em pedaços no chão.

Ele olhou para a câmera e, em seguida, Jake, estreitando os olhos. O olhar foi demorado e qualquer outra pessoa teria vacilado, mas não Jake. Ele apenas deu de ombros. — Eu disse que não gosto de câmeras.

— Tanta coisa para assistir a porra do replay, — Gus murmurou, fechando a porta e, novamente, me deixando sozinha no quarto com Jake.

Jake foi até a única janela do quarto, que tinha sido pintada com tinta preta. Ele se agachou e olhou para fora pelo canto da janela onde um pedaço de vidro estava faltando. — Grite, — ele ordenou, e assim eu fiz. Quando ele estava convencido de que Gus tinha saído, ele me mandou parar.

Quando ele voltou para mim e se inclinou com a broca ainda na mão, eu vacilei e novamente tentei me afastar, mas ele me segurou pelo meu queixo, tirando a barra de afastamento da minha boca. Os buracos frescos na parte de trás do meu maxilar latejavam. Minha mandíbula doía. Eu cuspi sangue sobre a lona quando ele me sentou.

Jake tirou as algemas com um par de cortadores de ferro. — Eu não tenho as chaves, — ele explicou.

— Eu não posso mover meus ombros, — eu disse. — Eu acho que eles estão deslocados. Eu não sei quanto tempo eu estive pendurada lá.

— Isso vai doer, — disse Jake, se agachando atrás de mim. Sem aviso ele empurrou meus braços para baixo e para trás. Desta vez eu não necessitei de qualquer incentivo para gritar. — Vire seus ombros, — ele ordenou.

Fiz o que ele disse e imediatamente a dor começou a diminuir. — Como, — eu comecei, mas Jake balançou a cabeça.

— Não há tempo para perguntas. Aqui, — ele disse, me entregando uma garrafa de vodka. — Faça um bochecho com isso.

A vodka queimou ao entrar nos novos buracos na parte de trás da minha boca. Eu não sei se ele queria que eu cuspisse ou engolisse, mas eu engoli. — Mais, — disse ele, empurrando a garrafa de volta na minha mão. Tomei outro gole e engoli. Queimou menos pela segunda vez.

Jake pegou seu telefone e apertou alguns botões antes o empurrar de volta no bolso. — Temos de ir. Agora. Você pode andar?

— Não tenho certeza.

— Não há tempo para descobrir isso, — disse Jake, me levantando em seus braços. — Fique quieta. Nenhum som. — ele me levou sem esforço para fora da porta e desceu um lance de escadas. Quando ele arrombou a porta de trás, eu nunca tinha estado tão feliz de encontrar o calor úmido do ar estagnado da noite. Uma van preta estava à espera.

Uma minivan.

A porta automática se abriu quando nos aproximamos. Jake me colocou do outro lado no meio de assentos. Ele pegou seu telefone e apertou um número. — Porra. Bear não está atendendo. — ele se inclinou para a van. — Eu vou para o MC. Leve ela até King e não pare em qualquer lugar, você entendeu?

— Com quem você está falando...? — perguntei.

— Ele estava falando comigo, — disse uma voz feminina. Uma menina se virou no assento do motorista. Cabelos longos, lisos e vermelhos emolduravam seu rosto perfeitamente redondo, pálido. Ambos os braços estavam tatuados com cores e desenhos femininos, um braço repousava sobre uma barriga extremamente arredondada de gravidez. — Eu sou Abby.

Eu gemi quando me sentei. Minha cabeça girava. Olhei para Jake. — Eu vou com você, Jake. Nós temos que ir agora. Bear foi para o MC. É uma armadilha, — eu disse quando minha adrenalina começou a assumir, silenciando a dor em meus braços. Havia assuntos mais prementes do que a dor.

— Não, — Jake disse simplesmente, e começou a se afastar.

— Espere! — eu disse, mas não importaria o que eu dissesse, porque ele não iria voltar.

— Jake? — Abby chamou, e imediatamente Jake se virou e abaixou a cabeça dentro da van. — Minha bolsa estourou.

Após essas palavras eu deixei de existir.

Jake correu para o lado do motorista e para minha surpresa ele levantou Abby da van e a levou para sua moto, colocando-a sobre o assento e ficando atrás dela. — Pegue a van, — Abby me disse com um sorriso calmo. Jake abafou suas palavras, colocando seu capacete na cabeça dela, e ela revirou os olhos e riu. Ele ligou o motor e me jogou uma arma. Com uma mão no guidão e uma mão na barriga de Abby, eles foram embora.

Não havia um segundo a perder. Só Deus sabia onde diabos Gus foi ou porque, tudo o que eu sabia era que eu tinha que chegar até Bear antes de Chop ou Gus.

Nossa história, ela ainda não tinha acabado.

Não podia.

Eu tinha chegado tão longe.

Bear tinha chegado tão longe.

Nós dois passamos por tanta coisa.

Coisas demais.

Merecemos a nossa chance na vida. No amor. Em descobrir o que isso significava.

Isso estava longe de ser um romance.

Mas ainda era uma história de amor.

E era nosso.

Eu não iria parar até que nós tivéssemos o nosso final feliz.

Eu usei o telefone celular no painel para ligar para Bear, mas assim como quando Jake tentou anteriormente, não houve resposta. Eu finalizei a chamada e fiz mais uma enquanto eu dirigia para o MC a uma velocidade vertiginosa. Não havia nada nem ninguém neste mundo que iria nos manter separados, incluindo o portão acorrentado na entrada do MC, que é por isso que eu bati o pé no acelerador... e passei diretamente por ele.

Eu não estava prestes a deixar Bear morrer.

Ele tinha perdido tudo.

Eu não iria deixá-lo perder a sua vida.

Eu estava louca. Eu fui imprudente.

Eu estava livre.

E eu iria buscar o meu motoqueiro... ou morrer tentando.


Capítulo trinta e três

BEAR

O plano era simples. Saltaríamos o muro de trás e uma vez dentro, nós nos espalharíamos e procuraríamos Ti. — Se alguém tentar impedir de achar ela, puxe a porra do gatilho, não temos tempo para hesitação, — eu pedi. Munch iria ficar de guarda pela escada enquanto Stone e Wolf vasculhavam o primeiro andar, deixando King e eu no segundo.

Eu não estava nem meio caminho dos degraus quando o alarme disparou, juntamente com os primeiros sons de tiros, mas eu não parei. Havia um lugar que eu ia procurar primeiro porque de alguma forma, eu sabia que o filho da puta estaria lá, e se ele estava lá, as chances eram de que Ti estava lá também.

— Eu gostaria de poder dizer que foi bom ver você, filho, — Chop disse depois que chutei a porta do seu escritório.

— Não venha com essa porra de ‘filho’, seu filho da puta, — eu avisei. — Onde diabos ela está? — eu segurei minha arma para ele e virei a mesa, puxando a arma que ele mantinha escondida por baixo, jogando-a no sofá do outro lado.

— Você vai ter que ser mais específico do que isso, — Chop cantou, se virando em sua cadeira para me encarar. Tinha sido um longo tempo desde que eu tinha visto ele e a única coisa que mudou foi que sua barriga tinha ficado um pouco maior e as bolsas sob os olhos dele estavam tão escuras que pareciam que ele tinha entrado em uma briga e tinha dois olhos roxos. — Porque, como você sabe, nós temos um monte de cadelas por aqui. — ele riu. — Bem, tínhamos.

Eu gostaria de matado ele ali mesmo se eu não precisasse dele para me dizer onde Ti estava. Em vez disso, eu resolvi socá-lo no lado da cabeça com a coronha da minha arma. — Seu doente! Não brinque comigo, meu velho. A única maneira de prolongar a sua vida fodida é me dizer onde diabos ela está agora ou as luzes serão apagadas, filho da puta.

Chop esfregou o lado de sua cabeça, onde um nó já tinha começado a se formar. — Aaaahhh, a menina? É isso que você está procurando? — ele perguntou. — Ela provavelmente percebeu que ela é muito jovem e bonita para você e fugiu. Realmente, ela é muito inocente para estar com um filho da puta como você. — ele se inclinou para trás e descansou as mãos atrás da cabeça, os cotovelos no ar. — Meu tempo com ela foi curto também. Nós iríamos nos divertir muito juntos antes de sermos tão rudemente interrompidos por quem quer que seja que você enviou.

Gus tinha feito isso por conta própria, mas eu não iria corrigi-lo, não havia tempo. Eu pressionei o cano da minha arma em sua testa, e rosnei, — Onde diabos ela está?

— Faça isso, — Chop disse, empurrando a cabeça para frente contra a minha arma. — Vá em frente e faça, seu ingrato do caralho. Eu te dei tudo. Tudo que eu tinha era seu, mas não foi o suficiente para você, foi? Agora você aparece aqui com esses fodidos e espera que eu faça o quê? Role? Se é isso que você quer, então puxe o gatilho porra, porque isso não vai acontecer! — seu rosto ficou vermelho, saliva voou de sua boca.

Eu balancei minha cabeça. — O que é que você acha que você me deu, velho? Porque você não me deu merda nenhuma. Nada. Não uma infância. Não uma família. NADA.

Chop apontou para mim. — É aí que você está errado, rapaz. Eu te dei tudo o que eu tinha para dar. Este clube? Isso era para você. O martelo era para você. O poder era para você. Você nasceu para ser um Bastard, mas não foi o suficiente para você. Seus irmãos não eram o suficiente para você. — ele apontou para si mesmo. — Eu não era o suficiente para você.

— Você está certo, você não foi o suficiente para mim. Eu precisava de um pai, não um fodido Prez. — fiz uma pausa, a ideia de que ele me deu tudo era tão ridícula que eu ri. — Eu não sei que parte da história você decidiu reescrever nessa sua fodida cabeça demente, Chop, mas me deixe te lembrar o que você tem tirado de mim, começando com a minha mãe. — esqueci de mencionar o fato de que eu sabia que ela estava viva.

Os ombros de Chop tremeram e eu respondi à sua risada com um chute nas canelas. Ele fez uma pausa, seus olhos se estreitaram. — Não importa o que eu fiz com aquela sua mãe fodida. Você parece pensar que eu era horrível com você, mas eu nunca tive coragem de te dizer quem ela realmente era. — a mandíbula de Chop endureceu. — Ela era um rato do caralho.

Revirei os olhos sobre qualquer jogo que ele estava jogando. — Besteira. Você só estava chateado ela foi-

— Porque ela estava tentando te levar para longe de mim, — Chop terminou para mim, parecendo divertido que ele sabia exatamente o que eu ia dizer. — Se fosse esse o caso, ela teria sentido a minha ira. Eu sei que matar mulheres e crianças é contra o código, mas matar uma mulher que é um rato? Bem, isso não é exatamente mal visto, — disse Chop.

Eu zombei. — Você provavelmente já disse essa mesma frase uma e outra vez e eu realmente acho que você acredita em suas próprias mentiras de merda, velho. Mas aqui está o problema com suas mentiras. Nós dois sabemos que a minha mãe não era o rato. — fiz uma pausa e fiz com que seus olhos estivessem nos meus quando eu adicionei. — E ambos sabemos que ela está viva.

— Que porra é essa que você está falando? — disse Chop, abruptamente de pé.

— Calma aí, velho, — eu disse, empurrando-o de volta em sua cadeira com o pé em seu peito. Sua máscara temporariamente caiu de seu rosto, e por um segundo, eu poderia jurar que ele parecia, preocupado? Triste? Fosse o que fosse, era algo que eu nunca tinha visto nele antes. — Eu não preciso mais das suas besteiras de qualquer maneira. Eu não vim até aqui para uma fodida reunião ou uma boa conversa com o papai. — eu peguei a arma. — Apenas me diga onde a menina está, — eu disse por entre os dentes.

Chop girou seus polegares. — Filho, se eu a tivesse, você não acha que eu teria entregue os seus dedos e orelhas para você em uma caixa agora? — o tiroteio do lado de fora do escritório ficou mais alto.

Mais perto.

Aparentemente Chop não entendeu a mensagem de que não era hora de contar histórias. — Você tinha cinco anos, — disse ele, se servindo de um copo de uísque da garrafa sobre a mesa bagunçada. Seus olhos estavam fixos no copo enquanto ele falava. — Sua mãe estava agindo toda inquieta. Tinha sido por um tempo. Eu deveria ter suspeitado de algo mais cedo, mas, acredite ou não, eu amei aquela vadia estúpida. Dei o colete como old lady. Até mesmo desisti de outra buceta por ela. — ele terminou sua bebida em um gole e pousou o copo. — Ela era familiar, e quase tanto um Bastard como eu era. Ela amava essa vida, ou pelo menos eu achava que ela amava. — Chop olhou de volta para mim. — Mas então ela começou a fazer perguntas. Perguntas sobre reuniões. Dinheiro. De onde veio, para onde estava indo. Coisas que old ladies não precisam saber. Eu nem sequer pensei em nada disso por um tempo. Ela sempre esteve mais envolvida do que as outras cadelas que ficavam ao redor. Ela era inteligente demais, então eu nunca pensei que ela iria realmente ser burra o suficiente para me foder. — eu nunca tinha ouvido Chop falar sobre a minha mãe. Desde a noite na floresta.

Nem uma única vez.

Chop descansou as mãos sobre a mesa e olhou distraidamente para a porta. — Os caras começaram a ser pegos por merdas que nunca deram erradas antes. Nós possuímos a lei, mas o xerife do condado de repente estava em nossos traseiros. Então eu entendi. Doeu como o inferno do caralho, mas eu a testei. Vazei uma coisa para ela, algo que eu armei. Disse a ela que iríamos correr algumas armas. Contei a ela quando, onde e qual o caminho estávamos tomando. Fui com Tank e alguns dos outros meninos que não estavam em liberdade condicional. Quando chegamos lá, não havia ninguém. Nem o FBI, nem o ATF. Fiquei tão aliviado e feliz para caramba. Esperei uma hora inteira só para ter certeza. — ele se serviu de outro copo, esvaziando a garrafa e bebendo mais rápido do que o primeiro. — Cheguei à conclusão de que era tudo na minha cabeça. Me convenci de que tínhamos tido apenas azar. — Chop bateu com o punho na mesa. — Não até que quando saíramos, um ATF colidiu com a van.

Chop riu, mas de uma forma eu sabia que ele não achava essa merda engraçada. Ele estalou os dedos. — A única coisa boa sobre aquela noite foi o olhar no rosto do ATF quando eles abriram as portas e só encontraram um monte de motos que tínhamos colocado lá para doar para o Y.

Eu estava em cima dele, procurando em seu rosto se havia algum vestígio de que ele poderia estar mentindo. — Isso não é verdade, — eu disse, embora algo profundo no meu intestino me disse que era.

Chop estendeu a mão para a prateleira atrás de sua mesa e eu inclinei minha arma. — Só pegando uma bebida, filho. — ele pegou uma garrafa de Jack e se serviu de um copo. Ele inclinou para trás e bebeu o copo inteiro em um só gole. — Se você for explodir a porra da minha cabeça, eu pelo menos quero uma última bebida. — ele deslizou um cigarro do maço aberto em sua mesa e acendeu um. — E um cigarro.

— Você tem três malditos segundos antes de eu acabar com isso. Estou cansado de jogar seus jogos. Fazemos isso do meu jeito. Me diga onde Thia está ou eu vou puxar a porra do gatilho. — minha mandíbula estava apertada com tanta força que doía. Minha raiva focada em Chop.

Chop jogou as mãos no ar. — Você sabe o quê? Eu gostaria de tê-la, mas eu não a tenho. Eu gostaria de poder terminar o que comecei e mostrar como realmente é se sentir magoado. Traído. Partiu meu coração quando eu descobri que sua mãe era um rato, mas não quase tanto como quando eu descobri que você era apenas como ela. Tal mãe, tal filho. Ratos. Fodidos, — ele assobiou.

Eu amassei meu rosto. — Que porra você está falando, velho?

A boca de Chop se elevou em um grunhido. — Você é mais fodido na cabeça do que eu sou se você realmente achou que eu não iria descobrir o que você e King e aquele menino, Preppy, estavam fazendo. Bem, pense nisso mais uma vez, porque eu tenho olhos e ouvidos em todos os lugares. Começamos a perder novamente, perdendo corridas, perdendo trabalho. Era como a merda com a sua mãe mais uma vez. Não foi difícil colocar dois e dois juntos.

— Eu nunca traí o clube. Nenhuma vez. Nunca, — eu fervi.

Chop revirou os olhos. — Mentira. Mas sabe o quê? Eu não acredito nisso. Você não vê o que eu estava fazendo? Eu estava te dando outra chance. Eu estava te dando mais uma chance de me provar que você não era o fodido rato que eu pensei que você fosse, e, assim como sua mãe, você me decepcionou. Escolheu-os sobre nós. Você escolheu sair do seu clube e virar as costas para mim. — ele terminou de beber novamente e bateu o copo na mesa, a parte inferior do vidro rachando. — Se Gus não tivesse me dito o que ele viu? O que ele tinha ouvido? O que você tinha confiado nele? Eu nunca teria acreditado. Eu ainda estaria procurando o rato até hoje. Mas olha aqui, — disse ele, olhando para mim. — Eu não tive que procurar mais. Porque o rato está bem na porra da minha frente.

— Que porra é essa que você disse? — perguntei, suas palavras ainda soando em meu cérebro. Não fazia sentido, mas não foi até ele mencionou Gus que comecei a juntar as peças. — Quem disse que eu era um rato?

Ele ergueu as sobrancelhas. Eu fiquei parado como pedra, com medo de que se eu me mexesse, meu dedo estaria no gatilho antes da hora. — GUS. Surpreso, eh? Você achou que ele era leal a você, então você não estourou sua cabeça quando teve a chance? Adivinhe de novo. Aquele merda era mais leal a mim do que você jamais seria, e você acha-

— Chop! — gritei, mas ele não estava escutando.

— Você deveria-

— Chop! — gritei de novo, pegando a sua atenção. Ele finalmente fez uma pausa longa o suficiente para eu ter uma palavra. — Gus. Quando a merda desceu com Isaac aqui, quando ele matou Preppy, eu sabia que alguém no interior tinha que ter vazado essa informação.

Chop deu de ombros como se o que eu estava dizendo a ele não era informação nova. — Fui eu. Eu não queria que os irmãos soubessem abertamente que eu estava te pondo pra fora. Pensei em matar três coelhos com uma cajadada só. — ele sorriu. — Literalmente.

Ao ouvi-lo admitir o que eu já sabia não me deixou menos chateado. — Eu já sabia que era você por causa de, — eu comecei, quando Chop finalmente terminou.

— Gus, — disse ele, se sentando quando ele entendeu que nós dois tínhamos sido traídos pelo mesmo irmão.

Uma voz ecoou da porta. — É tão bom que vocês dois estão falando de mim. — ele olhou para mim, sua semiautomática na minha cabeça. — Abaixe a porra da sua arma. — eu relutantemente joguei a arma no chão, meio esperando que ela fosse atirar e matar o filho da puta, mas não tive essa sorte.

— Fico feliz em ouvir que os dois malditos idiotas finalmente descobriram. — ele olhou diretamente para mim quando ele disse: — Eu estava esperando que você fosse matar o seu velho antes de entender tudo. Mas, cara, isso pode ser corrigido.

— Seu merdinha, — disse Chop, se levantando da cadeira.

Gus rangeu os dentes e mudou sua mira de mim para Chop. — Eu realmente odeio quando você me chama assim! — Gus rugiu, batendo o cano da arma em cima da sua cabeça antes de apontar de volta para nós. — E eu fui bom. Tão bom. Mas eu sou farto de ser bom. Eu estou farto de ser sua cadela. Eu mal posso esperar para te levar parte por parte, como ela disse que eu podia. Eu posso fazer o que quiser, porque você é meu. Vocês dois. Você são meus presentes dela, — disse Gus, com um enorme sorriso maníaco no rosto.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. — Eu poupei sua vida e te trouxe para dentro, e é assim que você me agradece? — eu perguntei de uma só vez. — Eu deveria ter puxado a porra do gatilho quando tive a chance.

Gus deu mais um passo para dentro. — Sim, mas você não fez.

— De quem diabos você está falando, rapaz? — Chop entrou na conversa. — Quem é ela? — eu já sabia de quem ele estava falando e eu tive a sensação de que Chop também.

— Ele está falando sobre mim, — disse uma voz feminina. O barulho dos saltos contra o concreto ecoou no corredor até que ela apareceu na porta.

Minha mãe.

— Sadie, — Chop disse, deixando cair o copo já quebrado. Ele quebrou no chão, cortando o silêncio momentâneo enquanto Chop e eu olhávamos para a mulher na porta. — Sua puta.

Ela revirou os olhos e acenou com desdém. Ela deu um pequeno sorriso com seus lábios vermelhos novamente. — Aqui, — ela disse, jogando um par de algemas no chão e chutando-as para nós. — Coloquem juntos.

— Vá se foder, — eu cuspi.

Sua voz era doce e alta, como se ela estivesse praticamente cantando quando ela disse, — Coloquem isso ou eu vou fazer uma ligação agora que termina com a sua querida Thia sendo despejada na calçada em dez minutos.

— Se você pensar em, — eu comecei, dando um passo em direção a ela. Gus estendeu a arma e Sadie levantou um telefone.

— Se afaste, Abel. Algemas. Agora. Ou a garota morre.

Eu peguei as algemas do chão e fiz o que ela pediu, ligando minha mão ao meu velho cujo olhar ainda estava fixo em Sadie.

— Posso matá-los agora? — perguntou Gus, mudando de pé para pé. — Chegou a hora de brincar?

— Não, meu querido, — disse Sadie, como se ele fosse uma criança que precisava ser ensinado uma lição. Ela passeou até Gus e deu um beijo em seus lábios. Ele fechou os olhos enquanto ela ficou lá, puxando a arma de suas mãos. — Você foi um menino muito bom para mim todos esses anos. Você cuidou muito bem de mim enquanto eu estava em cativeiro por causa desse porco e eu agradeço por isso. — ela lhe deu um tapinha no topo de sua cabeça e levantou a arma. Gus abriu os olhos apenas tempo suficiente para o choque ser registrado. — Mas eu vou tomar as rédeas a partir daqui, baby. — ela puxou o gatilho, disparando várias vezes, enviando parte do cérebro de Gus contra a estante de troféus de Chop em uma névoa de rosa e vermelho.

 

* * *

 

— Que porra é essa? — perguntei quando partes do cérebro de Gus deslizou pelo vidro e caiu em cima do que restava de sua testa. Sadie puxou sua própria arma de um coldre em sua coxa e segurou uma em cada um de nós.

Sadie não só agiu muito diferente da mulher que me visitou em County, ela parecia diferente também. Ela usava uma saia vermelha de cintura alta com uma blusa preta apertada e sapatos pretos brilhantes. Seu cabelo comprido estava agora uma cor castanho-avermelhado, vazio de mexas pratas. Em vez de fluir pelas costas, ele tinha sido cortado até o queixo. Ela parecia facilmente quinze anos mais jovem do que ela parecia apenas alguns meses antes.

— O quê? Você está aqui para se vingar? — perguntou Chop, e eu me perguntei se ela realmente iria atirar se eu corresse até ela. Olhei para o cadáver ensanguentado de Gus e decidi que era altamente provável que ela faria.

— Algo assim, — ela ronronou, se empoleirando na ponta do sofá.

— Você deveria me agradecer por não matá-la, — Chop disse categoricamente. Ele não tinha tirado os olhos dela desde que ela entrou na sala. Nem mesmo quando ela explodiu a cabeça de Gus. Ele quase não piscou.

Ela se afastou algumas polegadas, colocando mais distância entre ela e Chop. — Devo agradecer a você? Eu deveria estar agradecendo a você? — ela gritou, se levantando do sofá e apontando a arma para a cabeça de Chop. — Você me perseguiu e atirou em mim! — Sadie gritou, apontando para a cicatriz no lado da testa. — Você me deixou no lado da estrada por horas antes de você voltar, mas apenas para que você pudesse me manter prisioneira, SEU DOENTE! — suas mãos tremiam visivelmente. Assim como seu lábio inferior. — A coisa humana teria sido me matar! A única interação humana que eu tive em décadas foi com aquele pedaço de merda, — ela disse, apontando a ponta do seu salto para Gus, a poça de sangue aumentando sob seu corpo. — E os lamentos de quem mais você decidiu torturar.

O entendimento de tudo estava vindo, mas não rápido o suficiente. — Por que Gus? Como? — perguntei, e quando eu levantei minha mão, eu levantei a de Chop também, me lembrando que eu ainda estava algemado ao filho da puta.

Chop falou. — Porque ele era o único que a alimentou, — ele murmurou. — Eu pensei que ele era o único que podia confiar com esse tipo de coisa. Dadas as suas... Excentricidades e tudo.

Olhei para Sadie e tudo se encaixou. — Chop estava certo. Foi você. Você foi o rato, — eu disse, parando apenas para ver o sangue de Gus chegar à ponta da minha bota. Meus olhos dispararam de volta para ela. — Era você, — eu disse. — Era você o tempo todo. — ainda sem acreditar que o que eu sabia era verdade.

Sadie balançou a cabeça e suas mãos pararam de tremer quando ela mudou sua atenção a partir de Chop para mim. — Sim. Passei todos os dias do meu longo cativeiro, quando eu não estava sendo estuprada por seu pai, ou espancada ou torturada, — disse ela, lentamente, enfatizando a palavra torturada. — Eu estava tentando de tudo acabar com esse clube. — ela sorriu como se ela tivesse acabado de se lembrar de algo engraçado, ou, pelo menos, engraçado para ela. — O cartel aparecendo? Fui eu, — disse ela com orgulho. — O acordo com a máfia de Miami caindo? Fui eu. A porra do ATF em sua porta? ISSO. FUI. EU! — ela gritou, apontando a arma no ar para nós. — E eu não lamento nada disso. Eu tenho colocado vocês dois um contra o outro desde o primeiro dia que eu conheci Gus, e parece que funcionou. — ela olhou para mim. — Você pensou que Chop era o rato, e Chop... — disse ela, se virando para o meu velho. — ...achou que era você. Isso foi brilhante, realmente.

— Se Gus foi a sua cadela, então por que você simplesmente não matou Chop? — perguntei. — Por que passar por todo esse problema? Por que tentar me matar também? — a olhei, desafiando-a a responder às minhas perguntas. — Que porra eu fiz para você? — eu não queria nada mais do que agarrar o pescoço da pequena mulher, segurando a grande arma.

— Porque, — Sadie disse, com os olhos vidrados. — Você era o meu menino. Meu Abel. Eu não podia deixá-lo ser como ele. Eu não faria isso, e quando Gus me disse o quanto você era como ele, as coisas que você fez. Eu sabia que tinha que acabar com isso.

— Então você prefere que Isaac ou Eli me matem? — perguntei, me sentindo doente. — Você queria que eles me matassem para que eu não acabasse como Chop? Você sabe o que esses fodidos doentes fizeram comigo?

Ela não respondeu. Passando por cima de Gus, ela brevemente olhou para fora da janela para os soldados abaixo, sem saber que a pessoa que eles realmente precisavam matar estava um andar acima deles e vestindo uma saia do caralho. — Sim. Eu falhei com você, e eu sinto muito, mas agora é tarde demais. É tudo muito tarde para mudar agora.

A realização me atingiu. — Você é a razão de Preppy ser morto. Eu deveria acabar com você agora sua cadela desgraçada! — eu disse, empurrando a mesa para o lado e quase derrubando Chop, que eu estava, inadvertidamente, arrastando comigo.

Sadie apontou a arma para o meu peito, e se eu não me importasse em ver Ti novamente, eu teria corrido através de uma rajada de balas para rasgar a cabeça da minha mãe. — Está vendo? — perguntou Sadie, apontando para mim. — Igualzinho a ele. — ela suspirou. — Tudo o que eu fiz foi te amar e tentar te dar uma vida melhor, e então ele levou tudo de mim! — Sadie fez uma pausa, seus olhos mais vidrados. — Eu te amei! — ela gritou, suas mãos novamente tremendo. Para minha surpresa, ela não estava olhando para mim quando ela disse isso desta vez. Ela estava olhando para Chop. — Eu te amo e eu te dei um filho e você arruinou isso. Você arruinou tudo! Tudo que eu queria era que você deixasse o clube, essa vida. Eu queria que nós fôssemos uma família. Estar juntos.

— Então é por isso que você virou um rato.

Chop limpou a garganta, mas não disse nada. Tomei o silêncio temporária de Sadie como uma admissão.

— Eu também te amei, você sabe, — disse ela, desta vez para mim. — Eu-

Eu a cortei. Eu já tinha ouvido porra suficiente. — Você não é nada para mim! — gritei, puxando meu próprio cabelo em frustração. — Eu não dou a mínima para onde você esteve ou por quanto tempo ou que porra Chop fez com você. Há apenas uma fodida coisa que me interessa agora. — apertei os olhos e dei a ela uma última advertência. — É melhor você me dizer onde diabos ela está, e se você colocou um dedo nela, — o som de balas ficou ainda mais alto, mas eu não liguei. Eles poderiam estar entrando aqui e eu ainda não teria tirado meus olhos da cadela que tinha a minha menina.

Os ombros de Sadie caíram, mas era como se eu não estivesse lá. A conversa que estava tendo era totalmente unilateral. Eu não sabia o que eu precisava fazer para ela me dizer onde diabos minha menina estava. — Eu voltei para você uma vez, você sabe, — disse ela. — Escapei sozinha. — Chop arregalou os olhos como se ele não soubesse disso. — Eu me disfarcei. No começo eu ia pegar você sumir pra sempre. Você tinha dezesseis anos na época e quando eu finalmente encontrei você, você estava em um bar de motoqueiros. Uma prostituta estava sentada no seu colo. Você estava cheirando essa merda. Esse é o momento que eu sabia que era tarde demais. — ela procurou meu rosto, — Você se parecia com ele sentado lá. Igual. Eu sabia que não havia como te poupar. Eu poderia ter ido embora. Desaparecido. Mas não fiz. Eu tinha que ter certeza de que vocês dois fossem derrubados e a melhor maneira de fazer isso era por dentro. Então eu voltei para meu buraco antes de Chop até mesmo perceber que eu tinha fugido e eu passei por seu abuso todo dia sabendo que eu não iria parar até que eu acabasse com cada um de vocês psicopatas vestindo couro. — ela virou o nariz para nós. — Especialmente vocês dois.

Revirei os olhos. — Ótimo discurso. Agora, onde diabos está a minha menina!

Sadie riu e deu um passo para o lado da porta. — Eu vou te dizer. Mas você precisa se mover, para fora. AGORA! — ela ordenou, e quando nenhum de nós se mexeu, ela disparou contra a luminária, enviando vidro em torno de nós.

Chop se mexeu, e eu segui. Sadie estava fora do alcance do braço, enquanto passávamos através do que estava restando de Gus e fizemos o nosso caminho para a varanda do segundo andar, com vista para o pátio, onde tiroteios esporádicos estavam sendo trocados.

Um homem enorme vestindo macacão sem camisa por baixo caminhou casualmente ao lado da piscina no andar de baixo, segurando uma semiautomática em cada mão, e eu podia jurar que o ouvi assobiar, mas quando olhei para baixo de novo, ele tinha ido embora.

— De joelhos, — Sadie ordenou. Me abaixei para o chão, mas apenas porque ela ainda não havia respondido à minha pergunta sobre Ti, e Chop fez o mesmo, porque estávamos algemadas e ele não tinha uma fodida escolha. — Eu estou em meus malditos joelhos, cadela, agora me diga onde diabos minha menina está.

Sadie estalou a língua e se moveu para ficar ao nosso lado. — Infelizmente para você, eu precisava da menina a fim de te trazer aqui, e uma vez que Gus foi tão insistente em se juntar a mim esta noite, ele contratou ajuda externa para fazer a merda doente que ele queria fazer e gravar. Eu vou te mostrar a fita, mas algo me diz que você não vai estar por aqui tempo suficiente para ver isso.

— Eu vou te matar! — gritei, me levantando dos meus joelhos. Ela disparou, enviando uma bala diretamente através da minha coxa e me fazendo cair de volta para o chão.

Chop permaneceu em silêncio, apenas a observando enquanto eu agitava no chão, apertando os dentes, guerreando contra a agonia rasgando minha perna. — Onde estava essa garota quando eu precisava dela? — Chop de repente perguntou, chamando minha atenção para longe da dor. Eu consegui me sentar no meu joelho bom e com a mão livre eu empurrei contra a ferida para diminuir a perda de sangue. — Onde estava essa garota vinte e cinco anos atrás? — ele perguntou. — Por que, minha menina Sadie? Por que você fez isso? Você poderia ter vindo para mim. Você poderia ter me dito o que estava acontecendo. O que você queria fazer. Você tinha uma escolha, e você fez a porra da escolha errada. É sua culpa. Você me fez puxar essa merda de gatilho!

Sadie se virou para ele, seus olhos avermelhados como se ela estivesse à beira das lágrimas. — Eu fiz o que achei que poderia nos tirar dessa merda, — ela cuspiu.

— Mas você não vê? — ele perguntou. — Eu não poderia fazer isso. Eu não poderia te matar, mesmo quando eu deveria ter, depois do que você fez. Então eu mantive você. Eu mantive só para mim, porque você era minha. — Chop sacudiu a cabeça. Seu rosto ficou vermelho. — Você era um rato que merecia morrer, mas eu não te matei! — disse ele, erguendo a voz a um grito. — Você alegou ter amado o seu filho, mas eu posso ver através de você. Você nunca pediu para vê-lo em todos os anos que tive você. Você não o amava, você estava com ciúmes dele. Do clube. De qualquer outro lugar que minha atenção estava além de você, e você não podia lidar com isso, então correu para a lei com o rabo entre a buceta como a cadela que você é.

— Você ainda não entendeu, não é Chop? — perguntou ela. — Nada disso importa agora. — Sadie parou atrás de mim e apertou a arma na parte de trás da minha cabeça. — Eu vou matar o seu precioso filho primeiro, para que você possa vê-lo morrer. Então é a sua vez, baby. — ela soprou um beijo.

Ela se inclinou e cochichou no meu ouvido. — Eu posso não ter tido a chance de te criar, baby, mas eu não vou deixar a oportunidade de te matar passar.

— Me deixe fazer isso, — disse Chop. — Me dê a arma. Você ainda pode me matar depois. Apenas me deixe fazer uma coisa certa para você.

— Que idiota, — eu murmurei.

Sadie ficou quieta e minha cabeça não foi arrancada, mas eu não podia acreditar que ela estava até mesmo considerando o que ele estava oferecendo, e mesmo depois de toda a merda que Chop tinha feito, eu estava com raiva de mim mesmo por ter sido surpreendido com a oferta.

Eu não podia acreditar, ainda mais quando Chop se levantou e de repente estava atrás de mim com a arma, meu braço, que foi algemado ao seu foi puxado para trás em um ângulo estranho. — Isto é por você, baby, — disse Chop com uma tristeza em sua voz que eu nunca tinha ouvido antes.

Chop puxou o gatilho.

O som do tiro da arma era ensurdecedor.


Capítulo trinta e quatro

BEAR

Todo o pátio sacudiu como se um canhão tivesse sido disparado. Assim como o interior da minha cabeça. Algo molhado e quente derramou densamente sobre a minha cabeça e ombros. O peso do corpo sem vida de Chop desceu sobre mim, forçando meu rosto contra a grade enferrujada.

Eu empurrei Chop de cima de mim, seu corpo caindo pelo corrimão quebrado. Se King não tivesse aparecido e agarrado minhas pernas eu teria ido com ele. — Thia, mantenha a arma mirada nela, — King ordenou, e com a simples menção do nome dela, eu encontrei a força para aguentar. King estava ao meu lado debruçado sob o corrimão, tanto quanto ele poderia se esticar. — Suba o máximo que puder, — disse ele. Eu senti meu braço se separando da junta. Puxei tão duro quanto eu podia, lutando com tudo o que eu tinha em mim até que King poderia chegar a Chop. Com um rugido gutural, ele puxou o cadáver gordo de volta para a varanda. Meu braço e ombro sentiu alívio imediato.

King puxou uma faca estilo facão de sua bota e cortou o pulso de Chop, sangue jorrando no ar em todo o seu rosto e camisa, até que foi cortado, e King e eu estávamos tão cobertos de sangue que parecia que ele tinha acabado de estrelar em um filme de terror.

Nosso horror passou a ser muito real.

— Nãoooooooo! — Sadie gritou, e enquanto ela estava momentaneamente distraída, eu peguei a arma que Chop tinha deixado cair e mirei nela. A boca de Sadie estava aberta quando ela olhou do corrimão para a garota de cabelo rosa que segurava a arma.

Ti.

— Graças ao fodido Cristo, — eu murmurei.

— Sua cadela! — Sadie gritou para Ti, — O que você fez?

— A mesma coisa que eu estou prestes a fazer com você, se você não abaixar essa fodida arma.

Eu pensei que King tinha disparado a bala em Chop, mas eu estava errado. Foi a minha garota que me salvou.

— Deixe ela em paz, — eu disse, de pé entre minha mãe e minha menina. — Abaixe a porra da sua arma.

— Abel, — ela implorou, dando um passo em direção a mim.

— Pare, — eu avisei. — Não me chame assim. Você não pode me chamar assim. — sem virar a cabeça para longe de Sadie, eu chamei Ti, — Você está bem? Essa cadela te machucou? Gus te machucou?

— Eu estou bem, baby, — ela disse, a voz serpenteando seu caminho dentro de mim, me fazendo sentir centrado, aterrado.

Completo.

Sadie olhou para o corpo de Chop. — Ele realmente se foi? — Sadie gritou, cobrindo a boca com a mão que não segurava a arma. Uma lágrima caiu de seus olhos e correu pelo seu rosto. — Quero dizer, isso é o que eu queria. Ele morto. Mas agora... ele realmente está.

— Que porra você achou que ia acontecer? — perguntei.

Sadie balançou a cabeça e deu um passo atrás. Seu olhar passou de mim para Ti e depois à King. — Não sei o que você estava pensando, — eu disse. — Mas de jeito nenhum você vai sair daqui, — eu disse, e eu quis dizer isso.

Sadie limpou o rosto com as costas da mão. — Oh, meu Abel, — ela disse, fungando. — Eu nunca planejei sair daqui. — ela olhou para Ti. — Cuide bem do meu filho, — disse ela, antes de colocar a arma em sua boca.

Em seguida, ela fez o que Chop era muito covarde para fazer todos aqueles anos antes, e ela acabou com tudo.


Capítulo trinta e cinco

Thia

Bear passou sobre o cadáver de sua mãe e agarrou meu rosto em suas mãos. — Ei, linda. — ele virou meu queixo de lado a lado e me olhou como se ele estivesse me inspecionando por danos físicos.

— Eu estou bem, não se preocupe comigo, — eu garanti a ele. — Só arranhões e contusões.

— Arranhões e contusões já seria muita coisa, mas eu chamo de besteira. Suas bochechas estão inchadas e você fez uma careta, como se eu tivesse te batido. O que aconteceu? — suas narinas inflamaram.

Ignorei sua pergunta, meus dentes não parecendo tão importantes. — Parece que eu me saí melhor do que você, — eu disse, apontando para o buraco sangrento na coxa.

— Apenas arranhões e contusões, — disse ele, repetindo minha mentira. Revirei os olhos. — Agora me diga o que aconteceu com a sua boca.

— Eu perdi um par de dentes. Apenas na parte de trás, — acrescentei, como se isso fosse fazer os olhos do Bear se transformarem em qualquer menos assassina. Eu imediatamente lamentei lhe dizer isso.

— Quem? — perguntou ele. — Com quem diabos Gus te deixou? — perguntou Bear, como se ele precisasse saber cujo nome ele poderia acrescentar à sua lista de pessoas para matar. — Como diabos você saiu?

Ambas as questões tinham a mesma resposta. — Jake. — os olhos de Bear se afastaram. — Mas está tudo bem, — eu disse, pegando seu braço. — Ele me salvou. — não mencionei sobre ele ser uma das pessoas a puxar um dos dentes.

— Porra, — Bear disse, pressionando sua testa na minha, agarrando a parte de trás do meu pescoço. — Isso poderia ter acontecido de qualquer maneira.

— Mas não aconteceu, — eu garanti a ele. — Estou bem. Eu juro.

— Sinto muito, baby. Eu sinto tanto, — Bear disse, pressionando um beijo em meus lábios. Ele estava coberto de sangue e do que eu acabara de testemunhar, eu sabia que a maioria desse sangue não era dele.

— Bear, — eu disse, colocando as mãos sobre a dele. — Você precisa acreditar em mim quando digo que estou bem. Não apenas fisicamente, mas com tudo isso. — olhei em torno do clube. — Você está vivo. Eu estou viva. Isso é tudo que você precisa saber.

Bear enfiou os dedos pelo meu cabelo. — Por que você veio aqui? Você não deveria.

Eu balancei minha cabeça. — É aí que você está errado. Eu te fiz uma promessa que eu não iria desistir de você, e...

— E? — ele pressionou.

— E então eu não desisti, — eu disse, acrescentando: — e, acredite ou não, não há nenhum outro lugar que eu gostaria de estar. — Bear riu e eu também, porque embora soasse ridículo, era verdade. Bear puxou meu cabelo. Eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo contra o canto da sua boca. Seus lábios não se mexeram e nem os meus. Ficamos ali por um minuto. Apenas sentindo a nossa ligação, respirando um ao outro, nos lembrando de que estávamos juntos agora.

Vivos.


Capítulo trinta e seis

BEAR

— Bear, venha olhar para isso, — disse King, pondo fim ao nosso momento. Sem largar a mão de Ti, fui até a sacada, arrastando-a comigo, e olhei para baixo para o que King estava apontando para baixo. Fiquei impressionado com a visão diante de mim. Ao redor da piscina estavam os Bastards. Meus ex-irmãos, pelo menos, vinte deles, e eles estavam todos de joelhos com as mãos atrás da cabeça enquanto Munch, Wolf, Stone, e vários homens mais velhos que eu não reconhecia estavam ao seu redor, as armas apontadas.

Bem, havia um cara que eu reconheci no grupo. Parecia que eu não tinha imaginado vê-lo mais cedo. — Ted? — perguntei.

— Olá, oi! — Ted chamou alegremente, coberto em sua própria quantidade de respingos de sangue. Thor, que tinha sido um prospecto quando saí, agora estava usando um patch de um membro em seu colete, fez um movimento para levantar, mas Ted chutou na parte de trás dos seus joelhos e o forçou de volta para o chão, nunca tirando o sorriso da cara.

Me virei para Ti. — Foi você? — perguntei, acenando para todos os homens desconhecidos.

Ela encolheu os ombros com um meio sorriso. — Eu percebi que se você iria para a guerra, você deveria ter um exército. — ela se inclinou, sua respiração fazendo cócegas no meu ouvido. — Então eu chamei um exército.

Antes daquela noite eu já sabia que eu estava apaixonado por Ti, o que eu não sabia era que eu poderia amá-la mais do que já amava, mas ali mesmo, de pé em uma poça do sangue dos meus pais, misturado com o meu próprio, eu me apaixonei por ela tão furo que meu peito doía com todo o amor que eu tinha por ela.

Ted me saudou. — Me diverti mais esta noite do que em anos, — ele chamou novamente, colocando uma das suas semiautomáticas no bolso da frente do macacão para que ele pudesse ajustar seu chapéu de caminhoneiro. — Foi como atirar nos porcos na feira.

— O que você vai fazer com eles? — perguntou King, balançando a cabeça para os homens de joelhos e eu soube imediatamente o que ele estava realmente pedindo.

Dei de ombros. — Eu vou falar com eles primeiro.

E, em seguida, vamos discutir assassinato em massa.

 

* * *

 

Thia

— Eles precisam de você, — eu disse, me afastando de Bear. Fiquei aliviada que ele estava bem, mas eu não estava pronta para soltá-lo ainda. Eu sabia que tinha, porque os homens lá embaixo precisavam dele tanto quanto eu.

Ele me beijou no topo da minha cabeça. — Não vá longe demais, baby.

King bateu Bear no ombro em um desses gestos viris, isso-não-é-um-abraço e se juntou a mim pelo topo da escada.

Bear se virou para seus irmãos, atuais e ex. De onde estávamos no topo dos passos eu podia ver Bear do alto do seu poleiro como uma águia perseguindo sua presa, e os homens abaixo, todos em diferentes estágios variados de desalinho, deveriam estar se perguntando o que o destino estava reservado para eles.

Fiquei me perguntando isso também.

Bear olhou para o corpo sem vida de Chop como se o ofendesse por até mesmo estar sangrando.

Bear puxou o colete de Chop e arrancou o patch que dizia PRESIDENTE. Ele cuspiu no corpo de Chop, em seguida, se segurando ao corrimão, ele usou a bota em sua perna boa para chutá-la do segundo andar e no meio da multidão, que engasgou e se afastaram de joelhos para evitar ser atingido pelo corpo sem vida do seu líder caído.

— Ouça, filhos da puta! — Bear gritou, sua voz ecoando em todo o pátio como se ele estivesse falando em um microfone. Parecia que ele estava prestes a cuspir fogo enquanto ele mancava de lado a lado, andando pela varanda do segundo andar. A única algema que costumava estar conectada pendia de seu pulso, fazendo barulho contra o metal oxidado da grade quando ele deslizou a mão por cima.

Bear parou e se inclinou, olhando para os homens que a partir da aparência em seus rostos, já haviam chegado à conclusão de que havia uma boa chance de que eles já estavam mortos.

— Isto, — Bear disse, acenando com os braços em volta, apontando para as paredes do edifício e, em seguida, para os próprios homens. — Isto era suposto ser uma fraternidade. Em algum lugar sob o governo de Chop, vocês transformaram este clube em uma fodida gangue e uma bem ruim. Isto não é suposto ser uma ditadura. Vocês não são bandidos filhos da puta. Isto não deveria ser uma zona de guerra do caralho. — ele se tornou mais confiante quando as palavras vieram. Mais claras. Mais fortes. — Isto era suposto ser um negócio. — Bear olhou para mim. — Uma família. — ele se virou, o sangue seco nas costas cobrindo suas tatuagens em um brilho de vermelho.

Ele balançou sua cabeça. Fazendo uma pausa. Pensando. — Nós todos estamos tão presos em quem está errando que não temos sido capazes de olhar por trás do barril de nossas próprias armas tempo suficiente para ver quem está nos fazendo bem. — ele olhou de volta para mim e a troca entre nós era nada menos do que elétrico.

— Nós caímos tão longe, — disse Bear. — Éramos irmãos. Somos irmãos, — ele disse, fechando o punho sobre seu peito nu sujo de sangue. — Família, — disse ele, olhando para os corpos de ambos os pais. — Não é o tipo de família no DNA, mas o tipo que levaria de bom grado a porra de uma bala por você.

Ele limpou a garganta como se tivesse tomado uma decisão, e eu me preparei para o que ele estava prestes a dizer. Embora, bom ou mau, eu sabia que Bear faria o que era certo para a sua família. Se isso significava que os homens viveriam ou morreriam, eu apoiaria essa decisão. — Você tem uma chance. UMA, — Bear disse, seguido de suspiros de alívio e respirações retidas. — E é bem agora, — ele disse, apontando para o chão. — Se algum de vocês filhos da puta querem sair, agora é a hora. Esta é a sua primeira e única chance de saírem por aquela porta sem a ameaça do clube em suas costas. Ted e seus meninos terão o prazer de se afastar e deixar vocês saírem, mas se vocês escolherem ficar, se vocês optarem por estar nisso comigo, então vocês não estarão escolhendo este Beach Bastard mais. — mais uma vez a multidão se agitou, mas desta vez com ‘huhs’ e ‘o que’ de confusão. — Esse clube está tão morto quanto meu velho. Há muito sangue. Essas manchas são permanentes. Se vocês ficarem, vocês estarão escolhendo começar de novo comigo. — Bear fez uma pausa enquanto a multidão absorvia o que ele estava dizendo. — Então saiam agora, enquanto vocês tem a chance.

Nem um único homem se moveu. Em vez disso, todos eles olharam para Bear e esperaram que ele continuasse.

— Puta merda, eu não posso acreditar que ele está realmente dando a eles uma chance, — King murmurou.

— Você realmente acha que ele ia matar todos eles? — eu perguntei pelo canto da minha boca.

— Sim.

— Como um irmão do nosso novo MC vocês não vão mais esquecer o que significa fraternidade. Nós não esqueceremos quem são nossos amigos. Temos nesta vida que viver de acordo com nossas próprias regras. As regras do clube e as regras da estrada. Somos sem lei. Nós somos livres. Nós somos uma família, — disse Bear, batendo em seu peito novamente. Eu nunca tinha conhecido o que o orgulho era. Eu nunca tive quaisquer princípios próprios que eu poderia me vangloriar. Mas olhando para Bear não havia dúvida de que o que eu estava sentindo enquanto o via conversar com seus irmãos era puro orgulho.

— Vocês sabem o que está acontecendo com seus irmãos fora deste lugar? — Bear continuou. — Vocês sabem se eles estão pegando suas contas este mês? Vocês sabem se seus filhos destruíram o carro na semana passada, ou se a old lady dele está escapando quando ele não está em casa para foder o pequeno treinador do campeonato? Porque vocês deveriam. E se o irmão de vocês está passando por qualquer uma dessas coisas, é o seu trabalho ajudar, e é o meu trabalho ajudar porque a ajuda não significa apenas quando as pessoas precisam matar. Ajuda significa ajuda em qualquer fodida frase.

Ele olhou novamente para o corpo de Chop, o seu sangue delineado em um halo na parte inferior da piscina. — Se levantem, — ele ordenou. Os homens que miravam com as armas recuaram e deram espaço para os homens que agora estavam com os seus rostos voltados para cima, absortos em cada uma das palavras de Bear.

— Fraternidade significa tudo. Família significa tudo. Desta vez, não se esqueçam dessa porra. — Bear apontou para King. — King é meu irmão, minha família, e um amigo do clube. Desrespeitá-lo ou à minha old lady vai garantir à vocês um bilhete de ida para o inferno. Isso vale para todas as nossas famílias. Suas old ladies, seus filhos, seus amigos fora do clube. — ele se debruçou sobre o corrimão, tanto quanto pôde, até que ele estava praticamente dobrado na cintura. — Os negócios costumam ser bons porque como um clube, costumava ser bom para o negócio, até que as pessoas começaram a olhar para nós como um bando de delinquentes imprudentes. Essa merda muda agora. Tudo muda agora. Vou acabar com essa merda e levar isso de volta para o que costumava ser, o que era suposto ser desde o início.

Bear balançou a cabeça. — Esta merda não vai ser unilateral. Vou fazer uma promessa aqui e agora que eu nunca vou pedir nada à vocês que eu não estaria disposto a fazer eu mesmo. E garanto à vocês que eu estaria disposto a dar a maldita minha vida para vocês exatamente como vocês fariam por mim. Eu sou um membro, um irmão, assim como cada um de vocês, e vou viver e morrer como o seu irmão. Isso eu posso prometer.

Um dos homens atirou alguma coisa e ele pegou.

— O colete do meu velho, — disse Bear, olhando para ele com uma mistura de ódio e reverência.

— Aqui, — King disse, jogando para Bear sua faca.

Bear a limpou na calça e enfiou a mão no colete, tirando o emblema dos Bastards, e quando ele terminou, ele ergueu o pedaço de couro em branco. O grupo dos homens, uma vez silenciosa irrompeu em gritos e aplausos, assobios e aplausos. — Sua vez, — Bear disse, jogando a faca no meio da multidão onde os homens ansiosamente começaram a rasgar seus próprios coletes.

Bear se inclinou sobre os trilhos e sorriu. Ele estava em seu elemento, irradiando energia pura. Um raro sorriso se espalhou pelo seu rosto. Genuíno. Real. Enorme. Atingindo todo o caminho até seus olhos. — Bem-vindo ao seu novo clube. Você agora são irmãos do The Lawless MC.

A multidão irrompeu em gritos e aplausos. Bear olhou para mim, encolhendo os ombros em seu colete e me piscando o olho.

Era oficial.

Bear era agora presidente do Lawless.

E eu era a sua old lady.


Capítulo trinta e sete

Thia

Usando a palma da minha mão, eu limpei uma das cadeiras de plástico em torno da fogueira e me sentei. Com meus tornozelos cruzados em cima dos tijolos me inclinei para trás, derrubando a cadeira em duas pernas. Fechei os olhos, sentindo o calor do sol enquanto ele desaparecia atrás das árvores altas.

Foi esse mesmo lugar onde Bear me reivindicou pela primeira vez como sua. Eu não sabia que era isso que ele estava fazendo quando ele beijou e lambeu seu caminho em torno de cada ferida e lesão em sua tentativa de me curar com sua boca bonita, mas eu sabia disso agora.

Estremeci com a lembrança, pressionando minhas coxas juntas quando outra parte de mim também se lembrou daquela noite.

— Ei, linda, — Bear disse, fazendo meu estômago estremecer e os meus mamilos endurecerem com apenas essas duas palavras.

Abri os olhos para encontrar Bear olhando para mim. Seus olhos de safira azuis me hipnotizando quando ele me olhou da cabeça aos pés. Talvez eu e minhas partes femininas não foram as únicas a tomar uma viagem pela estrada da memória.

— Está parecendo toda chique aí, Sra. McAdams, — eu disse com um assobio. Bear estava usando algo que eu não tinha visto ele usar antes. Seu novo colete, que era na verdade seu velho colete, porque, como ele havia dito ‘me levou a porra de uma eternidade para usar um colete’, os patchs costurados sobre o peito direito se lia Presidente, THE LAWLESS, LOGAN’S BEACH, Flórida e sua cor branca brilhante e sem manchas gritavam novidade, bordado no couro preto grosso.

— Você está pronta, baby? — ele perguntou, meneando suas sobrancelhas.

— Sim, mas primeiro, isso veio para você. — eu entreguei a ele o envelope branco, sem remetente.

— O que é isso?

— Eu não sei. Foi enviado para você. O carteiro deixou há poucos minutos. Havia um para King também. Dei para Ray. Eu não abri. Eu não sei que tipo de código de motoqueiro uma old lady de vocês têm contra a fraude postal. Além disso, poderia ser antraz.

Bear olhou para mim e levantou uma sobrancelha. — Obrigado por guardar o antraz para mim, baby, — disse ele, plantando um breve beijo em meus lábios. Ele se sentou na beira da fogueira e rasgou o envelope.

— Eu faço o que posso, — eu disse, dando de ombros.

Bear desdobrou o que parecia ser uma carta de duas páginas e, enquanto lia, seus olhos se estreitaram e ampliaram. Seus lábios se moviam silenciosamente enquanto ele lia. Ele se levantou, caminhou alguns passos e, em seguida, chegou por trás dele. Quando sua mão encontrou uma cadeira, ele caiu de volta para ela, sem tirar os olhos da carta.

— O quê? — eu disse, observando a reação de Bear e me perguntando que desgraça iminente estava para varrer toda a nossa recém-descoberta felicidade.

— É uma carta, — disse Bear.

— Jura, Capitão Óbvio. De quem é?

— É de... — Bear levantou as páginas. Me levantei e peguei. Apoiando os cotovelos nas coxas, ele baixou a cabeça em suas mãos. — É de Grace.

Eu bufei, pensando que ele estava apenas brincando até que comecei a ler.

Meu mais caro Abel,

É hora de te contar uma história que eu deveria ter lhe contado há muito, muito tempo atrás.

Tanto quanto o mundo está em causa, eles acham que Edmund e eu não podíamos ter filhos próprios porque é isso que fizemos todos a acreditarem, mas isso é apenas uma verdade parcial. Quando as pessoas perguntavam se tínhamos filhos, sempre dissemos que não. Foi muito doloroso falar isso, e, francamente, ainda é muito doloroso escrever isso agora, mas te devo a verdade e é a verdade que você terá.

Como você sabe, a minha mãe era antiquada e tinha arranjado meu casamento com meu Edmund com sua mãe no mesmo dia em que vim gritando para o mundo. Eu não me importava com ele. Eu não queria me casar. Nunca.

Eu queria aventura.

Então, há muito tempo, em outra vida, eu tive a minha aventura.

Eu me aproximei de um MC e entrei na vida do clube. Eu era o equivalente aos Wolf Warriors o que os Bastards chamam de BBB.

Chocante, eu sei, mas se você pode acreditar, eu era basicamente uma espectadora.

Rebelde como o inferno também, embora eu não ache que eu realmente era. Era só um jeito engraçado de rebelar.

Eu tive uma criança, muito cedo na vida com Joker, VP dos Warriors.

Uma filha.

Chamada Sadie.

Joker era casado na época, e embora ele nunca fosse de ódio, ele nunca reconheceu Sadie como sua. Saí da vida do clube, pouco antes dela nascer, para que eu pudesse criá-la. Eu me casei com Edmond, porque eu achava que era o melhor para Sadie, e felizmente ele concordou porque, embora a princípio fosse ruim, nós nos apaixonamos como duas pessoas podem se apaixonar.

Mas minha menina, minha Sadie, era rebelde desde o início, assim como a mãe.

Até o momento que ela completou quinze anos, ela estava profundamente nas drogas. Coisas pesadas. Ela fugia pelo menos uma vez por mês até que o dinheiro que ela tinha roubado de nós e vendido acabava.

Uma vez, ela nunca voltou. Eu a segui e não foi surpresa quando eu a encontrei. Ela tinha se juntado aos Bastards, que estava dando a ela drogas e festas. Eu fui lá muitas vezes, mas nunca cheguei mais longe do que o portão. Eu chamei a polícia, mas nunca resultou em nada, porque, como você sabe, os policiais usam os emblemas da polícia de Logan’s Beach durante o dia e coletes durante a noite. Eu até mesmo chamado Joker e pedi a ele para me ajudar, mas a épica briga dos Bastards vs Warriors estava acontecendo novamente, e não havia nada que ele pudesse fazer.

Eu nem sabia que minha filha estava grávida até que eu vi um vislumbre dela no Stop-N-Go um dia com uma barriga arredondada. Eu tentei falar com ela, mas ela fingiu que ela não me conhecia. Na mesma época, Edmund e eu descobrimos que por causa da dificuldade do nascimento da minha filha, eu nunca seria capaz de ter mais filhos. Não só perdi minha filha, mas eu perdi meu neto, bem como a possibilidade de criar uma vida novamente.

Meses mais tarde, uma foto apareceu no correio, sem remetente. Uma foto do bebê. Era você. Eu não sei se Sadie tinha enviado ou se Joker, de alguma forma conseguiu e enviou para mim. De qualquer maneira a foto foi a primeira vez que eu coloquei os olhos em você e eu te amei logo em seguida.

Eu nunca parei de tentar chegar à minha Sadie. Joker me chamou para me dizer que corriam rumores de que Sadie tinha desaparecido. Eu praticamente dirigi meu carro através dos portões do complexo dos Bastards e exigi vê-la, mas a única coisa que eu conseguir foi ter uma arma apontada para mim. Chop disse que se eu voltasse ele não só iria me matar, mas você também. Eu nem sabia que ele era o pai até que ele me disse com uma arma. E quando eu o acusei de matar Sadie, ele nem sequer negou.

Eu escorreguei em uma depressão, nada que Edmund fazia poderia me tirar dela. Ele limpou a casa de todas as provas da existência de Sadie, pensando que era a memória dela que estava me tornando dessa forma. No entanto, ele me deixou manter a sua foto se eu prometesse guardá-la em algum lugar, então eu fiz. Eventualmente sem esperança, fiquei acamada com a dor, o meu único consolo era olhar para o seu belo rosto uma vez por dia, quando Edmund saía para o trabalho.

Até Brantley.

Quando ele entrou na minha vida, ele começou a preencher a lacuna no meu coração. Felizmente, Edmond foi capaz de chegar a conhecê-lo por um curto período de tempo antes de falecer. Brantley foi a minha pequena bênção, envolto em raiva e olhos esmeraldas. Então Samuel apareceu, e eu comecei a me sentir quase inteira novamente.

Ou então pelo menos eu pensava.

Porque em um dia quente de verão, você apareceu em sua moto. A cara de seu pai com o seu cabelo loiro e olhos azuis safira. Eu quase caí da varanda.

Lá estava você. Meu netinho. Crescido e bem na minha frente.

Eu queria te contar. Eu tentei tantas vezes depois daquele dia. Mas o meu medo avassalador que Chop fosse te matar... eu não poderia te perder.

De novo não.

Nunca.

No entanto, ele descobriu, eventualmente, porque ele apareceu na casa com meia dúzia de outros Bastards e invadiram minhas rosas. A primeira coisa que ele me perguntou foi se você sabia quem eu era, e quando eu disse a ele que você não sabia, ele ficou aliviado.

Eu teria atirado nele ali mesmo se eu tivesse uma arma ao meu alcance pelo que ele fez com minha menina. Ele me disse para ficar longe de você e que era meu último aviso. Perguntei a ele por que ele estava tão afoito em não te permitir ter uma família.

— Porque ele tem uma família, os Bastards são sua família. Ele não precisa do pai, da avó, ou alguém ligando com suas merdas. Ele tem seus irmãos. — ele se virou para sair.

— Você pode muito bem ficar, assim você não terá que fazer outra viagem para atirar em mim porque eu não vou parar de vê-lo. Eu não vou. Se você vai me matar por causa dele, então apenas me mate agora porque eu não vou desistir dele.

Em vez de me matar, ele riu na minha cara e depois fizemos um acordo.

Um que eu não estou orgulhosa, mas um onde eu não iria te dizer quem eu realmente era para você, e ele não iria te proibir de vir.

Ah, e ele não iria nos matar, também.

Era egoísta, eu sei disso, mas eu finalmente te tinha na minha vida e o risco de perder você de novo era muito grande. Então eu mantive isso da única maneira que eu sabia e eu estou tão, tão, tão triste Abel. Meu bebê. Meu menino. Só sei que eu te amo com todo meu coração e que eu fiz tudo que podia para ser uma boa avó e te proteger contra o mal do seu pai.

Você é tão diferente dele. Você é um bom homem. Você fez o meu coração e vida tão cheia e passaria por todos os tempos difíceis tudo de novo, desde que tudo terminasse da mesma maneira.

Com a família.

Meu eterno amor eterno, para sempre e sempre,

Vovó Grace

— Puta merda, — eu disse, cobrindo minha boca. Meus olhos ameaçando derramar as lágrimas que tinham estado se formando durante todo o tempo que eu estava lendo a carta de Grace.

Quando eu tinha pegado de Bear, achei que ele estava chateado ou triste, mas quando ele levantou a cabeça, tudo o que vi era alegria pura. — Eu tenho uma avó, — disse ele, fungando e limpando os cantos dos olhos.

— E é Grace, — eu disse, sentindo a sua felicidade.

— E é Grace, — Bear repetiu, me puxando para o seu colo.

— Você tem um avô também! Um cara chamado... — olhei de volta para a carta.

— Joker. — Bear riu. — Você sabe que eu o conheci antes. Muito tempo atrás. Havia algo estranho com ele. Ninguém queria falar com um prospecto, mas ele fez. Ele foi muito bom, e confie em mim, ninguém é bom com os prospectos. Disse alguma merda para mim que ficou preso ao longo dos anos.

— Talvez ele estivesse lá verificando você, — eu apontei.

— Eu acho que isso é exatamente o que ele estava fazendo. — Bear me abraçou forte e por um momento apenas ficamos ali, completos nos braços um do outro.

— Você está pronta agora? — Bear perguntou depois de um tempo. Ele me levantou da cadeira e me pôs em pé.

— Depende? Para onde vamos? — perguntei, me levantando e pegando a mão dele. Bear me arrastou até a calçada.

— Vou levá-la para um passeio, — Bear disse, apontando para sua moto. Antes que eu pudesse pensar no que ele estava pedindo, ele já estava empurrando um capacete redondo e grande na minha cabeça.

— Eu aposto que você vai, — eu disse, minhas palavras abafadas através do capacete. — Mas onde estamos indo?

— Pelo amor de Deus, Ti, sempre com perguntas, — Bear disse, e apesar de que suas palavras estavam com raiva, eu poderia dizer que ele estava tentando esconder um sorriso. — Você não pode simplesmente fazer o que eu peço pelo menos uma vez?

— Eu poderia, mas onde estaria a diversão nisso? — perguntei, enfiando a língua para fora e, inadvertidamente, lambendo o interior do capacete. Eu não podia ver através da proteção, porque o capacete estava muito baixo na minha cabeça. Bear deve ter visto o seu erro, porque ele puxou para cima até que eu pudesse ver seu rosto bonito me olhando e rindo enquanto ajustava o capacete. Ele bateu no topo do capacete quando ele terminou e isso ecoou em meus ouvidos.

— Onde está seu capacete? — perguntei através do enorme aquário em torno da minha cabeça.

— Bem aqui. — Bear retirou um capacete preto pequeno que mais parecia um suporte atlético de plástico e o colocou sobre a cabeça. Seu cabelo aparecia do lado quando ele afivelou.

— Como é que você usa esse pequeno e eu pareço como se eu estivesse me preparando para um lançamento para a lua? — perguntei.

Bear riu. — Você é uma preciosa carga, baby. Tenho que proteger o que é meu, — disse ele suavemente, baixando a voz da maneira que me fez desmaiar como uma idiota e querer oferecer a ele qualquer coisa que eu tinha, a fim de ouvi-lo novamente.

Maldito seja ele.

— Você já limpou essa coisa? Eu não quero pegar alguma doença venérea por via oral de qualquer um das suas ex.

— Baby, confie em mim, ninguém nunca usou isso antes, — disse ele através de uma risada. — Eu pedi Wolf para buscar esta manhã apenas para você. — ele piscou, porque ele sabia exatamente o que estava fazendo comigo e eu derreti só de pensar nele enviando o seu novo VP só para buscar um capacete para a nossa viagem.

Bear montou a moto grande e brilhante e deu um tapinha no pequeno espaço no banco de trás. — Eu nunca montei na parte de trás de uma moto antes, — eu admiti, sem saber exatamente como subir, ou onde colocar minhas mãos.

— Suba atrás de mim, — ele ordenou, ligando a moto. Eu ouvi a moto de Bear antes e eu sabia que era alto, mas estar ao lado foi uma experiência totalmente diferente. O chão tremeu sob meus pés. Meu corpo inteiro zumbiu à vida quando Bear ligou o motor de uma forma que me fez pressionar minhas coxas. — Ti, moto, agora, — Bear disse, ficando impaciente.

Subi o melhor que pude, mas com grande o corpo de Bear já na moto era difícil manobrar minhas pernas curtas sobre o assento largo, mas eu consegui sem a chutá-lo na cabeça ou cair do outro lado.

— O que eu seguro? — eu gritei. Bear inclinou a moto para o lado e puxou o suporte, agarrando um dos meus braços, trazendo-o em torno de sua cintura.

— Segure-se em mim, linda. — suas palavras cheias de insinuações, me fizeram querer sair da moto e pular de volta na cama. Mesmo com o barulho do motor, não havia dúvida das intenções perversas em sua voz e eu não poderia evitar achar que esta seria uma longa viagem.

Envolvi meu outro braço em torno dele e estabeleci minhas mãos sobre a pele nua de seu duro estômago, logo acima do seu cinto. Seus abs flexionaram sob o meu toque e eu o senti sugar uma respiração afiada.

Era a minha vez de rir.

Talvez fosse uma longa viagem para Bear também.

Ele começou devagar, nos levando pela entrada no ritmo de um caracol e mantendo seus movimentos lentos. Foi quando notei Panquecas mantendo o ritmo ao nosso lado até Bear acelerar e nós dispararmos para frente, deixando o pobre Panquecas nos vendo sair de onde ele tinha parado no final da calçada.

Montar uma moto não era nada como eu esperava.

O vento. A velocidade. A adrenalina.

Era muito e não o suficiente, tudo ao mesmo tempo. — Wooooooohoooooo! — gritei, incapaz de evitar a emoção borbulhando dentro de mim.

Terminou tão rapidamente como começou quando eu rapidamente reconheci a rota que Bear estava tomando. Eu esperava que fosse apenas uma coincidência e que a qualquer momento ele iria pegar a próxima saída. Mas quando passamos pela cruz familiarizado no lado da estrada e da placa de boas vinda de Jessep, o temor se estabeleceu.

Era o último lugar que eu tinha pensado que Bear me levaria. À medida que aceleramos pela estrada de terra, chegamos a uma estrada ainda menor onde havia uma placa Andrews Farm Road sido comida inteiramente por laranjeiras por trás dela e meu estômago começou a torcer. Agarrei na barriga do Bear, cavando minhas unhas em seu abdômen para que ele pudesse sentir como sua escolha de passeio estava me afetando. Foi nesta estrada onde Bear tinha sido baleado e onde ele caiu de sua moto e matou dois de seus antigos irmãos.

No momento em que passamos pelo longo cascalho e estacionamos na frente da pequena casa branca da minha infância, eu me senti absolutamente nauseada.

A pintura descascando do tapume parecia ter se espalhado do lado da casa que enfrentava o sol, para todos os lados. A maioria das telhas estavam faltando agora. A grama abaixo da janela da frente agora cobria a maior parte do vidro sujo, bloqueando completamente o fato de que uma janela existia por trás dele. Parecia muito mais degradado do que a última vez que tinha visto, mas isso não era possível.

Tinha sido apenas alguns dias.

— Por que estamos aqui... de novo? — perguntei, pronta para seguir em frente e tão cansado de estar preso em toda a porcaria que essa casa representava para mim. Eu não queria estar lá.

Bear desceu e desamarrou a fivela do capacete, deixando no assento na minha frente. Ele estendeu a mão para mim e eu balancei a cabeça. — Nah uh, — eu disse, sem querer me mover para fora da moto e embaçando o interior do meu capacete. — Me diga por que estamos aqui primeiro. — eu juntei as minhas mãos e nervosamente puxei meus dedos.

— Por que você acha que estamos aqui? — perguntou Bear.

— Honestamente? Eu não sei. — eu olhei para a tela quebrada da porta da frente e tolhei para a varanda da frente desigual. — Eu odeio este lugar, — eu disse, e eu quis dizer isso. Havia poucas coisas no mundo que eu poderia dizer que eu honestamente odiava, e essa pobre desculpa para uma casa, que mantinha nada além de más memórias, era uma delas.

— Eu sei, — disse Bear, agarrando minha mão e me arrastando para fora da moto. Tirei o capacete e o coloquei sobre o assento ao lado dele. — Quando você me contou sobre Rage sugerindo que vocês duas queimassem, você pareceu gostar da ideia. — ele deu de ombros. — Então, vamos fazer isso, porra.

— O quê? — perguntei me virando para ele e procurando seu rosto para detectar quaisquer sinais de uma piada.

Não havia nada.

— Esta é a sua ideia de normal? — perguntei, sentindo o início do peso levantar dos meus ombros.

Bear acendeu um cigarro e me jogou o isqueiro, que eu peguei na minha mão direita. — Sim, — disse ele, dando uma tragada e soprando a fumaça pelo nariz. Fumar não é suposto ser sexy, mas santa mãe de Deus, Bear ficava gostoso fazendo isso. — Você sabe. Café da manhã. Brincadeiras. Um pouco de fogo. Pode não ser normal, baby, mas eu estou pensando que não devemos usar essa palavra quando se trata de nós. Porque eu estou pensando que normal não é algo que nós dois vamos algum dia ser. — ele ficou estranhamente quieto por um segundo, olhando para a casa e, em seguida, de volta para mim. — Me deixe perguntar uma coisa, Ti.

— Sim? — eu perguntei quando ele parou na minha frente.

— É isso que você quer? Normal? — ele perguntou, coçando a parte raspada da cabeça com o calcanhar da sua mão que segurava o cigarro.

Eu balancei minha cabeça. — Não, eu nem sei o que é normal.

Ele apontou para a casa. — Imagino que é uma casa com uma cerca onde a mulher coloca o jantar na mesa todas as noites, às seis e meia, e um homem que nunca se atrasa come o jantar e sempre coloca o guardanapo no colo.

Eu zombei da ideia. — Eu odeio dizer, Bear, mas a sua ideia de normal é como os anos cinquenta. Além disso, é meio que sexista, e todo esse cenário parece realmente muito chato.

— Você sabe o que eu quero dizer. Eu não posso te dar isso. Eu não sei nem como isso parece, — Bear disse, uma rachadura de vulnerabilidade rompendo à superfície. — Então me diga o que você quer. Seja honesta, porque esta pode ser a única vez que eu te pergunto.

Dei de ombros, porque a resposta era fácil. — Você. Eu quero você.

Bear apagou o cigarro no chão e olhou para cima para encontrar o meu olhar. — Eu não sou bom para você, Ti.

As palavras soaram entre meus ouvidos e passaram ao redor no meu cérebro, mas não importava quantas vezes eu registrasse o que ele tinha acabado de dizer, eu ainda não podia acreditar no que tinha ouvido. — Não é bom para mim? — perguntei. Calor subiu minha garganta enquanto eu caminhei para Bear, olhando-o com tudo o que eu tinha na minha cabeça cor-de-rosa. — Você não acha que eu sou a única que decide o que é bom para mim e o que é ruim para mim? E por que é bom ou ruim? Bom, mau, certo, errado. Eu sou uma adulta, porra, e a única pessoa que precisa ser bom para mim, sou eu. Você é o homem que eu amo. — eu empurrei contra seu peito. Forte. Mas ele se manteve firme, o rosto inexpressivo. — Você não pode me fazer uma pessoa melhor, mas você me faz, eu quero ser.

Me virei e os braços de Bear vieram em volta da minha cintura, me puxando contra ele. — Essa é a última vez que eu quero falar sobre isso, ok? — perguntei, num tom muito mais suave, agora que a barba de Bear fazia cócegas na minha testa e pescoço e eu estava rodeada pelo conforto de seus fortes braços e tatuados.

— Sim, senhora, — disse ele, sua voz profunda retumbando contra a minha garganta quando ele usava seu sotaque sulista para fazer aquela coisa que ele faz quando ele diz alguma coisa e meu ponto sai pela janela.

— Você sabe que você fica com seu sotaque mais espesso quando você está tentando ser sexy, certo? — perguntei, girando em seus braços, lhe fazendo uma pergunta que eu sabia que ele já sabia a resposta.

— Oh, baby, — ele disse, com um sorriso torto. — Eu não tenho ideia do que diabos você está falando. — seus lábios desceram sobre os meus em um beijo que não era para ser nada mais do que um beijo, mas ainda tinha me deixado tremendo e os cabelos em meus braços arrepiados. Eu me encaixava perfeitamente em seus braços.

Cercada.

Segura.

Amada.

— Como as coisas parecem daqui? — perguntei, depois que ele recuou. Olhei para o bosque, as árvores estavam emaranhados umas com as outras. As laranjas podres não fediam já que a terra as absorveu. — Conosco.

— O que está acontecendo nessa sua cabeça? — perguntou Bear, batendo em cima da minha cabeça.

— Eu só... eu quero dizer. — Eu respirei fundo. — Toda a vez que eu estive com você, você não foi o Prez de um MC. Você era apenas Bear. Eu não sei muito sobre a vida do clube, no que está envolvido ou onde eu se me encaixo em tudo isso. Então, eu só queria saber, você sabe... o que vai acontecer com a gente? — minha confiança de apenas alguns momentos antes desapareceu rapidamente, me deixando contorcendo em seu aperto, mas ele me segurou ainda mais apertado.

— Ti, nada acontece conosco.

— Oh, — eu disse, meu coração apertado, meu aperto se afrouxando.

— Não, — Bear revirou os olhos. — Eu quis dizer que nada muda. Ainda sou eu e você, baby.

Eu não disse nada. Eu sabia que eu iria aprender o que significa ser uma old lady, mas eu não queria decepcionar Bear no processo. — Eu só não sei muito sobre o estilo de vida. Ou sobre o meu lugar nele.

Bear sorriu e correu o polegar sobre meu lábio inferior. — Fácil. Seu lugar é aqui ao meu lado. Todas as outras merdas você vai aprender. Eu vou te dizer uma coisa. Um monte de caras nos Bastards mantêm sua vida de motoqueiro e sua vida familiar separado, quase como se fossem duas pessoas diferentes. Esposas em casa, prostitutas no clube. Eu sei como é ser um motoqueiro, e não um homem. Eu sei como é quando você encontra a pessoa que faz você perceber que você pode ser ambos. Eu não quero ser duas pessoas. — ele suspirou. — Por um tempo, eu não tinha você ou um clube, e agora eu tenho os dois, e eu não vou manter nada separado e eu não vou te esconder. Você é para mim, baby. Nós somos uma família. Eu, você, King, Ray, aquelas crianças loucas, e agora meus irmãos.

— É tudo tão simples, não é? — perguntei, erguendo minhas sobrancelhas.

— Eu não vou mentir para você. Haverá momentos em que eu não serei capaz de te dizer tudo. Alguns segredos são mantidos apenas entre irmãos. Mas se eu não posso te dizer, então eu vou te dizer que eu não posso, — disse Bear. — Eu vou ser tão honesto quanto posso e espero o mesmo de você.

— Ok, — eu concordei. Bastante simples.

— Eu prometo que não vou te afastar. Nem agora. Nem nunca. Não vou perder você de novo. — ele inclinou meu queixo para cima para que ele pudesse me olhar nos olhos quando ele disse: — Você é minha.

— E você é meu, — eu disse. Bear fechou os olhos como se eu tivesse acabado de atingi-lo com algo duro e quando ele os abriu novamente, eles eram da cor do céu claro.

— Eu acho que o que eu estava tentando dizer é que está tudo bem agora, você sabe. Você me protegeu. Você cumpriu uma promessa que você nunca quis manter. Eu não quero te segurar. Você tem o seu clube. Você tem seus irmãos. Eu estou segura. Está tudo bem. Não importa o que você quer fazer, — eu disse, precisando que ele soubesse que a sua obrigação comigo tinha acabado. Se ele queria me deixar ir, isso iria doer. Seria algo do qual eu nunca me recuperaria.

Mas eu viveria.

Porque se eu tinha aprendido alguma coisa no último ano era que eu era uma sobrevivente.

Eu sou uma sobrevivente.

— Me abrace de volta? — ele pediu, pressionando seu polegar e o dedo indicador contra as sobrancelhas como se tivesse dores de cabeça. — Você não está me segurando. O que eu preciso fazer para fazer você entender isso? Eu já te pedi para casar, pelo amor de Cristo. Você não vê isso?

— Ver o quê?

— Eu não posso acreditar que você não entendeu, — disse ele, o fogo retornando a seus olhos. — Você não está me segurando porque você é a única me movendo para frente.

Meu coração pulou ao ouvir as palavras que eu precisava ouvir. Eu estava agora completamente pronta para começar esta nova vida. Com Bear. — Eu tinha medo de que você estava me trazendo aqui porque você estava me levando para casa para sempre, — eu admiti.

— Casa? — ele perguntou, batendo no peito com o punho. — Isto, — disse ele. — Esta é a sua casa. — ele ergueu as mãos pelos meus pulsos e pressionou as palmas das mãos abertas contra o peito. — Esta é a sua casa.

Eu me senti uma lágrima caindo pelo canto do meu olho e rolar pelo meu rosto antes que eu pudesse impedi-la.

— Eu sou sua casa, baby, assim como você é a minha, e se você quiser honestidade, então eu vou te dizer agora que, mesmo se você quisesse sair, eu não iria deixá-la. Você é minha agora, então, infelizmente para você, não é uma opção, — Bear rosnou.

Eu funguei, porque eu era uma menina estúpida e meu lindo homem estava me dizendo coisas bonitas e eu não poderia evitar. — Eu não quero uma opção, — eu admiti.

— Você disse que iria se casar comigo e desde que você me é um homem de palavra e tudo, precisamos conseguir um anel, — Bear disse, correndo os dedos ao redor do espaço vazio do meu dedo anelar na minha mão esquerda.

— Não, — eu argumentei.

— Não? — perguntou Bear, parecendo preocupado. — Por que não?

Eu puxei a corrente em volta do meu pescoço. — Porque, — eu disse, puxando o anel de caveira da minha camisa, balançando na frente dele. — Eu já tenho um.

Bear sorriu e estendeu a mão, pegando o anel e me puxando mais perto. — Estou tão feliz que eu encontrei você, — ele sussurrou.

— Estou tão feliz que você me encontrou também.


Capítulo trinta e oito

Thia

Nós mal nos despimos, apenas afastamos a roupa longe das partes importantes. Bear empurrou meu short e calcinha para o lado, desabotoou o cinto sem puxar para baixo. Ele se sentou em sua moto e me puxou em cima dele, entrando em mim como ele estivesse solidificando tudo o que ele me disse.

— Espere, o que é isso? — eu perguntei sem fôlego, correndo os dedos sobre a nova tatuagem nem acima da orelha direita que seu cabelo estava cobrindo.

— O quê? É apenas o nome da minha old lady, — Bear disse, me esfregando em cima do colo dele, me fazendo gritar. Ele se levantou e me levou com ele, só cortando nossa conexão tempo suficiente para me virar. — Mãos no banco, — ele ordenou, batendo em mim.

Eu era sua para sempre.

Ele era meu.

Ele nunca ia me deixar sair.

Ele me amava.

— Olhe, — ele rosnou em minha orelha, puxando o meu cabelo, então eu não tinha escolha além de ver a casa que eu odiava queimar até o chão enquanto Bear me fodia por trás. Até o momento que o teto desabou, eu estava gozando, chamando o nome de Bear em um grito gutural até que ele me seguiu, praticamente rugindo enquanto ele bombeava sua libertação dentro de mim.

Fizemos o nosso caminho de volta para Logan’s Beach, deixando para trás os destroços de minha infância em uma nuvem de fumaça e cinzas.

Eu nunca me senti mais livre.

Mais viva.

Bear se afastou da casa, tecendo dentro e fora do tráfego a uma velocidade que pediria prisões, não pontos na carteira. Eu me encontrei amando cada segundo da liberdade, da máquina estrondando debaixo de nós, e do motoqueiro entre as minhas coxas.

— Você gosta disso, baby? — Bear chamou de volta, virando a cabeça ligeiramente.

— Claro que sim! — gritei, o segurando com mais força. Inclinei a cabeça para trás e respirei fundo.

A primeira respiração profunda que eu tinha tomado no que pareceu uma eternidade.

Talvez a primeira na minha vida.

Nós não temos o para sempre. Nós temos apenas uma quantidade finita de tempo nesta terra. Cabe a nós decidirmos como vamos gastar esse tempo, e com quem nós vamos gastá-lo.

Eu decidi na parte traseira da moto do Bear que meu tempo seria gasto tendo mais momentos como este.

Mais momentos com Bear, sentindo como o mundo estivesse à nossa mercê, em vez do contrário.

Bear estava certo. Lar não era um lugar. Não era Jessep e não era Logan’s Beach. Lar é onde você se sente mais como você. Lar é a coisa que faz você mais feliz durante esse curto espaço de vida.

A pessoa que te faz mais feliz.

Eu nunca soube como era um verdadeiro lar, e agora que eu tinha encontrado, eu nunca iria deixá-lo ir.

Lar para mim seria sempre e para sempre, com Bear.

Começamos como uma promessa quebrada, uma que nunca tinha a intenção de manter.

Nós terminamos com a promessa de sempre.


Epílogo

BEAR

Fazia dois dias desde que eu tinha levado Ti para um passeio e queimamos a casa de merda que tinha trazido tanta dor.

Pela primeira vez na história, sem mortes iminentes ou distrações no horizonte, me senti completo.

Pacífico até.

Não apenas porque parecia que o peso do mundo tinha saído dos ombros da minha old lady e eu ajudei a aliviar um pouco desse peso, mas porque as coisas estavam voltando como de costume.

Bem, não como de costume. Melhor do que o habitual.

Agora que a guerra foi oficialmente terminada e Chop estava oficialmente desaparecido deste mundo, a primeira ordem de negócios para The Lawless era uma missa. Eu escolhi meus oficiais dos melhores homens e entre Wolf, Munch, Stone, Craze, e Lock, tomamos a decisão de estender a mão às conexões de negócios existentes dos Bastards e descobrir quais relacionamentos poderíamos salvar, e o que poderia ser queimado.

A segunda ordem do dia era concertar o que complexo tinha se tornado. Era um buraco de merda quando eu tinha deixado, mas agora era como se uma bomba tivesse explodido.

Além disso, cheirava a cadáveres.

Principalmente por causa dos cadáveres.

Estávamos no meio da mais completa ‘limpeza’ na história dos motoqueiros. Nós derrubamos lembranças de todos os Beach Bastards, para por um pequeno banner pendurado acima da mesa de bilhar, que foi mantido como uma forma de lembrar o passado e de onde viemos.

Um lembrete de onde nós nunca queríamos ir novamente.

Os corpos foram removidos. O sangue foi limpo.

Até ao final do segundo dia, Munch converteu a piscina de um poço de lodo em uma piscina de verdade.

Eu queria trabalhar como uma equipe. Como uma unidade. Precisávamos de tempo para fazer isso, mas eu tinha certeza que ia acontecer. Precisávamos aprender outra vez, conhecer uns aos outros e, mais importante, nos lembre de sermos irmãos novamente.

Eu considerei uma festa, mas decidi contra. Não haveria festas, nada de comemorações, nada até que o lugar não tivesse cheiro de morte e que tivéssemos algo para realmente comemorar novamente.

Talvez quando eu engravidasse Ti poderíamos ter a primeira festa oficial. Ou quando eu fizesse a merda entre nós legal.

Meu pau estava ficando duro pensando nela sendo minha em todos os sentidos.

O pensamento de me ligar a alguém para sempre, de ter uma old lady real, me fez rir ou talvez um pouco doente.

Agora, o pensamento de dar a Ti meu sobrenome, fez meu pau tencionar contra os meus malditos jeans.

Eu ri. Oh, como os poderosos caíram.

E como eu amei cada único segundo dessa fodida queda.

Eu andei em torno do complexo durante todo o dia, avaliando o que precisava ser feito e descobrindo o quanto isso todo iria custar. Isso me fez desejar Preppy estando lá. Não só porque eu parei de ouvir a voz dele há dois dias, mas porque tão ruim quanto ele era em segurar uma conversa séria, o garoto era um expert em números. Provavelmente levei o dobro do tempo que ele levaria, mas eu consegui e acho que ele teria ficado orgulhoso.

Com o dinheiro que eu encontrei no cofre de Chop, combinado com o que eu tinha enterrado na casa de King, não seria mais do que suficiente para fazer o lugar ser motivo de orgulho novamente.

O Complexo Lawless.

— Eu estou saindo, — eu chamei Wolf que estava ajudando Stone, tirando um colchão manchado de sangue de um dos quartos do segundo andar. Eles jogaram da varanda, uma nuvem de poeira emanando no ar quando o colchão caiu em cima de uma cadeira quebrada, enviando uma das pernas pelo pavimento.

Eu queria chegar em casa para Ti, mas eu também queria falar com King sobre o que ele tinha projetado para cobrir as tatuagens dos meus Bastards. Ti também havia pedido a Ray para desenhar algo para a sua primeira tatuagem, e eu mal podia esperar para ver o que era.

Sua pele pálida e perfeita era uma incrível perfeição.

O pensamento de estragar a pele com uma tatuagem que nos representava?

Puta. Que. Pariu.

Eu não podia sair de lá suficientemente rápido.

— Vejo você amanhã, Prez. Me ligue se você precisar de alguma coisa, — Wolf respondeu. — Nós vamos levar isso para o lixo.

— Verifique a parte de trás. Veja se talvez há alguns colchões extras lá ou lâmpadas ou qualquer outra coisa para substituir a merda quebrada. Este lugar costumava ser algum tipo de motel. Talvez haja merda lá que nós poderíamos usar, — eu instruí.

— Beleza, Prez, — Wolf disse, enxugando as mãos na frente dos seu jeans.

Eu voltei para o apartamento me sentindo mais completo do que eu me senti em toda a minha vida. Panquecas me cumprimentou na calçada, mas em vez da sua habitual lambida, ele estava rosnando e focado atrás de mim. Eu me virei para ver um furgão preto parar atrás da minha moto. Eu peguei minha arma e comecei a caminhar em direção à van, porque quem quer que fosse, se estivessem trazendo uma batalha à minha porta da frente, eles iriam ser interrompidos antes de chegar a qualquer lugar perto, Ti. King deve ter visto nas câmeras de segurança, porque ele estava ao meu lado em um instante, sua própria arma na mão.

A porta do lado do motorista abriu. — Sou eu, chefe! — Wolf gritou, correndo para o lado do passageiro. Ele abriu a porta lateral e Munch saltou, colidindo com Wolf que esbarrou nele e o segurou no comprimento do braço.

— Que diabos está acontecendo? — King perguntou quando nós dois abaixamos nossas armas.

— Chefe, tentamos ligar para você logo depois que você saiu, mas você não atendia ao telefone, então chegamos aqui o mais rápido que pudemos, — disse Wolf, se aproximando.

— Fomos para o edifício de trás para ver se havia colchões para substituir os antigos e foi quando ouvimos gritos. Não apenas um, mas um monte de gritos. Todo o interior estava revestido com colchões para abafar o som. No chão havia uma espécie de câmara de visita que segurava a coisa com uma corrente. Nós abrimos com alguns cortadores de ferro. No fundo estavam... celas improvisadas com piso de terra e sem luz. Havia toneladas deles. Alguns estavam vazios e alguns tinham esqueletos com a pele podre. E alguns Prez... estavam vivas. Vagabundas que eu não via em um longo tempo, até mesmo Lance.

— Lance? — perguntei. Lance era o irmão que Chop tinha declarado um traidor, pelo menos, cinco anos atrás e que ele alegou ter matado enquanto estava fora em um passeio.

— Tem que ser onde Chop estava mantendo sua mãe todos esses anos, — Munch disse, acenando com as mãos no ar como se ele estivesse nos pintando um quadro. — O cara é um fodido doente, mas nenhum de nós sabia que ele estava mantendo seus próprios Bastards prisioneiros.

— Porra, — eu disse, — isso é impossível...

Munch se afastou para dar lugar a Wolf e Stone, que entre os dois deles estavam manobrando algo pesado.

— Não é impossível, porque aconteceu, porra. Olha, — disse Wolf, emergindo da escuridão. Entre ele e Stone, estava um corpo magro, com os braços envoltos em torno de seus ombros, a cabeça para baixo e balançando de um lado para o outro enquanto eles caminhavam em direção a nós. Seu cabelo estava tão sujo que eu não poderia dizer qual a cor era e suas roupas eram nada mais do que trapos manchados de sangue.

— Que diabos está acontecendo? — perguntei. — Por que diabos você trouxe Lance aqui?

— Ele está vivo? — perguntou King, cruzando os braços sobre o peito.

— Oh, sim, ele está vivo, muito vivo, — Stone confirmou, caminhando em nossa direção com a cabeça do homem balançando frouxamente com seus movimentos. Eles tinham que estar mentindo. Eu vi meu quinhão de cadáveres e isso parecia muito com um deles. Talvez ainda pior. Não havia nenhuma maneira de um homem nesse tipo de condição ainda estar respirando, mas com certeza eu ouvi um suspiro tenso enquanto se aproximavam.

King olhou para mim. — Por que Chop... — ele começou, mas eu sabia que ele estava perguntando e nós não tivemos de esperar muito tempo por uma resposta, porque a cabeça de Lance apareceu e de repente estávamos cara a cara... com um fantasma.

Que não era Lance.

— Como eu disse, havia dezenas deles lá embaixo, — disse Wolf. — Apenas cinco ou seis vivos, embora.

— De maneira nenhuma, — King engasgou, caindo de joelhos na calçada. Eu teria caído também, mas eu estava muito chocado para mover um único músculo. Atordoado demais para sequer olhar.

Atordoado demais para respirar.

O fantasma olhou entre mim e King, e antes de desmaiar, ele conseguiu sufocar algumas palavras roucas.

As melhores malditas palavras que eu já ouvi em toda a minha vida, porra.

— Sentiram falta de mim, filhos da puta?


Cena Bônus

Thia

Quatro anos depois...

— Mamãe, me conta uma história, — disse Trey, bocejando e esfregando seus olhos com as costas da sua pequena mão.

— Que história, baby? — perguntei, como se ele não fizesse a mesma coisa todas as noites.

— A de você e papai, — disse ele, subindo no meu colo.

— Ok, querido, — eu disse, nos cobrindo com o cobertor e escovando o cabelo de loiro e macio do seu rosto, e como eu fazia todas as noites, eu beijei as sardas familiares abaixo de cada olhinho. — Quando mamãe tinha dez anos, ela conheceu um grande motoqueiro...

— Papai! — Trey aplaudiu, conhecendo a história muito bem depois de ouvir isso um milhão de vezes. Foi quando notei Bear de pé na porta, vestindo seu colete, limpando a graxa de suas mãos com um pano, ouvindo a nossa história.

— Sim, isso mesmo, era papai. Ele era tão alto e tão forte. Ele caminhou direto para a loja onde mamãe estava, e no segundo que ele sorriu para ela, ela só sabia... — eu parei quando Bear me piscou exatamente o mesmo sorriso, trazendo todos os sentimentos que inundavam de volta para mim em uma corrida.

— É, mamãe? — Trey solicitou, puxando a gola da minha camisa. — O que ela sabia?

Bear e eu fechamos os olhos. — Ela sabia que ele era seu para sempre.

Eu terminei a história e coloquei Trey em sua cama. Apaguei a luz e deu a ele um último beijo. — Mamãe, você pode cantar para mim? — eu olhei para Bear, que teve que cobrir a boca para se impedir de rir em voz alta. Era assim todas as noites. Apenas quando eu pensei que Trey tinha tido tudo, ele esqueceu de mais uma coisa e como o seu pai, eu achei muito difícil dizer não a ele.

— Claro, baby. Que música você quer ouvir?

Bear entrou na conversa, — Sinatra.

Eu cantei até meu menino dormir naquela noite ‘ Fly Me to the Moon’ enquanto seu pai ouvia e eu não pude deixar de sentir uma presença quando a música terminou e os olhos de Trey finalmente se fecharam. Eu sabia que Grace estava lá comigo e meus meninos assim como ela prometeu que estaria.

Éramos a família que eu sempre quis.

Uma família real.

Fantasmas e tudo.

 

 

                                                   T.M. Frazier         

 

 

 

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