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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


TANGLE OF NEED / Nalini Singh
TANGLE OF NEED / Nalini Singh

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

A PSYNET é um lugar de beleza incomparável, as milhões de mentes na rede psíquica brilham como estrelas num espaço negro como o breu. Para a maioria dos Psy é sua linha vital tão necessária quanto o ar.

Desconectar-se da Net é morrer.

Mas os sussurros no outono do ano de 2081 são de que a Net propriamente dita está morrendo. Os rios estagnados sempre apodrecem mais completamente no centro, e este é um apodrecer que torce e corrói, danificando sensação e razão, deixando apenas destroços para trás.

Se os Psys não acharem uma solução para este crescimento canceroso, o apodrecer poderá logo vazar para as mentes daqueles ligados a Net.

       Ou talvez já tenha.

 

 

 

 

        RIAZ PEGOU Um flash de cabelos de meia-noite e largos passos de longas pernas e gritou: — Índigo! — Porém, logo percebeu seu engano quando dobrou a esquina. — Adria.

       Olhos de um azul violeta profundo encontraram os seus, a frieza neles ameaçando dar-lhe hipotermia. — Índigo está em seu escritório. — A informação era útil, mas o tom poderia ser uma lâmina dentada.

       E cortou igual. — Eu matei seu cachorro?

       A carranca arruinou sua fronte lisa. — Como é?

       Deus, aquele tom. — Esta é a única razão, — ele disse, segurando seu temperamento por um fio; — que eu posso pensar para explicar o por quê de você estar tão irritada comigo.

Adria havia sido trazida para o território da Toca durante as hostilidades com o Conselheiro Henry Scott e seu exército de Pure Psys há um mês, e permaneceu na posição de soldado sênior. Ela lutou com dura determinação ao lado de Riaz, seguindo suas ordens no campo sem vacilar.

       Mas fora do campo?

       Gelo.

       Absoluto.

       Inflexível.

       Gelado o suficiente para cortar.

       Cruzou os braços quando ela não deu resposta, entrou em seu espaço pessoal e pegou o odor sutil de amoras esmagadas e gelo. Um odor estranhamente delicado para esta dura mulher, ele pensou, antes da raiva de seu lobo anular todo o resto. — Você não respondeu minha pergunta. — Terminou com um grunhido.

       Com olhos de aço ela o confrontou e se adiantou lenta e deliberadamente, o que era pura provocação calculada. Ela era uma mulher alta, mas ele era ainda mais alto. Ela não parou até estar cara a cara com ele. — Eu não sabia — ela disse em voz tão cortante que tirou sangue; — que puxar o seu saco era pré-requisito para o trabalho.

       — Agora eu sei onde Índigo aprendeu seu rosto impassível. — Mas ele sabia que por baixo da fachada dura de sua companheira tenente, batia um coração quente e generoso, ele só não sabia era se Adria tinha qualquer emoção a ser registrada acima de zero no termômetro.

       A resposta de Adria cortou como uma faca afiada. — Eu não sei o que ela viu em você, mas eu suponho que toda mulher tenha direito de errar em seu passado. — A mudança mais leve em sua expressão, uma minúscula fratura, até ser fechada hermeticamente novamente, seu rosto uma máscara impenetrável.

       Riaz a encarou com raiva e estava para lhe dizer exatamente o que pensava sobre ela e suas opiniões quando seu celular tocou. Ele respondeu sem se afastar uma polegada da mulher que era uma lixa sobre seu temperamento, o esfolando com sua mera presença. — Sim?

       — Em meu escritório, — Hawke disse. — Preciso que venha o mais rápido possível.

       — Estarei aí em dois minutos. Fechou o telefone com um estalo e acabou com a distância restante entre eles forçando Adria a inclinar a cabeça para trás. — Nós vamos — Ele disse, observando aqueles notáveis olhos azuis com bordas purpuras e raios de ouro, bonitos e exóticos. — Continuamos mais tarde.

       Foi quando o telefone celular de Adria tocou. — Sim? — Ela respondeu, sem quebrar o contato visual com o grande e musculoso Lobo que pensava que poderia intimidá-la.

       — Em meu escritório, — Hawke ordenou.

       — À caminho. — Desligando ela levantou uma sobrancelha para Riaz em uma ação conscientemente insolente. — Meu alfa solicitou minha presença, então saia de meu fodido caminho. — Ela disse com extrema doçura.

       Os olhos dourados se estreitaram. — Eu suponho então que devamos ir juntos.

       Ela não se moveu uma polegada até que ele recuou e girou se dirigindo para o escritório de Hawke. Ela andou em silêncio ao lado dele, entretanto sua loba trancou seus dentes, famintos para tirar sangue, morder, arranhar e marcar. Maldito. Maldito. Ela estava se recuperando, curando depois de sua separação final de Martin. Essa também tinha sido uma batalha sangrenta.

       Você virá rastejando de volta para mim. Talvez eu esteja esperando, ou talvez não.

       Adria abafou uma risada crua. Martin não havia entendido que estava terminado. Acabado. Havia sido ao longo de uma noite ha um ano atrás, quando ele estourou para fora de sua casa para não retornar por quatro meses. O verdadeiramente atordoante foi que ele se sentiu chocado quando ela disse para que achasse outro lugar para dormir e bateu a porta em sua cara.

       — O gato comeu sua língua? — Um comentário ácido feito com a voz profunda de um macho e que arrepiou sua pele de um modo estranho.

       — Vá se ferrar. — Ela retrucou sem nenhum humor para jogos. Sua pele parecia muito sensível, como se tivesse perdido uma camada protetora, seu sangue muito quente.

       — Alguém devia morder você. — Riaz respondeu com um grunhido. — Puxar e esticar seu rabo ao mesmo tempo.

       Adria rosnou enquanto eles alcançavam a porta aberta para o escritório de Hawke. O alfa observou sua entrada, especulação aberta em seus olhos de um azul pálido, eles eram iguais tanto no lobo como no homem. Porém, quando ele falou as suas palavras eram pragmáticas. — Vocês dois estão livres para dar uma volta?

       Adria assentiu e viu Riaz fazer o mesmo ao lado dela. — O que você precisa que seja feito? — Ele perguntou, seu tom muito mais tranquilo do que o usado com ela.

       — Mack e um de seus técnicos estagiários subiram para fazer um serviço rotineiro na hidro-estação, — Hawke disse a eles, empurrando de volta ondas de cabelo prata-ouro da mesma cor de seu lobo, — Mas seu veículo não pega e eles tem componentes que precisam ser devolvidos para a Toca para conserto.

       — Nenhum problema, — Riaz disse. — Levarei um dos SUVs para eles.

       Adria estava pensando que a tarefa era um trabalho para uma pessoa só, quando Hawke virou para ela. — Você agora é uma das pessoas mais velhas da Toca. Seu domínio evidente, exigindo atenção absoluta de sua loba. Eu acredito que você necessita se refamiliarizar com a região, dado que você não passou um longo período de tempo aqui desde que você fez dezoito anos.

       Ela concordou com a cabeça. — Pedirei a Riley e a Eli para modificarem meu horário de turno. — Era um desvio necessário de suas atribuições normais, estando só abaixo dos tenentes na hierarquia, os soldados sêniores eram frequentemente chamados primeiro e como uma líder, ela tinha que conhecer cada polegada desta terra, não só a seção atribuída a ela durante uma batalha. — Será melhor se eu fizer a pé. Ela veria, cheiraria muito melhor.

       — Você pode explorar em detalhes mais tarde. Eu quero que você tenha uma boa visão da área assim que possível. — Ele deu-lhe um magro mapa. — A viagem até a hidro-estação passará por algumas seções críticas e você tem certificação em mecânica de automóveis, correto?

       — Sim. — Tinha sido um interesse que se transformou em sua qualificação secundária, o que era exigido de todos os soldados. Mais tarde, a habilidade de consertar coisas quebradas e fazê-las inteiras novamente a manteve sã. — Eu verificarei o veículo.

       — Como está o replantio? — Riaz perguntou, sua voz arranhando a pele de Adria como unhas sobre um antigo quadro negro, igual a aqueles em que os filhotes gostavam de desenhar. — O time de Felix tem suficiente segurança?

       — Eles estão bem. — Caminhando para o mapa territorial na parede de pedra de seu escritório, Hawke bateu na grande seção marcada onde a batalha contra os Pure Psy aconteceu. — Os voluntários de Felix e os recrutados, — deu um sorriso afiado, — estão replantando a área com plantas nativas de crescimento rápido, mas no momento ela é fácil de monitorar, especialmente com os gatos compartilhando a vigilância.

       Adria pensou no que viu no campo de batalha, nos gritos dos SnowDancers feridos. O vermelho dourado, frio e hipnótico de uma chama tão mortal, e se perguntou no preço pago pela jovem mulher Psy que segurou todo aquele poder e o coração de seu alfa. — Quais são as chances de outro ataque sério dos Pure Psys? — Ela perguntou intimamente intrigada, de como uma relação que parecia tão externamente desequilibrada podia parecer sólida como as pedras da toca para sua loba.

       Foi Riaz que respondeu. — De acordo com as fontes de Judd, perto de zero. Eles estão com problemas piores.

       — Guerra civil, — Hawke disse, agitando sua cabeça. — Se ele estiver certo, todo o inferno vai se abrir e nós temos que ter certeza que nos preparamos em tempo para qualquer tempestade.

       — A irritação bateu? — Riaz perguntou, e Adria sabia que ele estava se referindo às tentativas esporádicas de deixar estupidas armadilhas no território da Toca.

       — Sim, — Hawke concordou com uma carranca. — A trilha de odor chega ao ponto de os predadores não poderem deixar os vários sobreviventes de Pure Psys para lá. Eles estão desorganizados e suas armadilhas são cômicas. O pior, eu tenho todos os guardas cuidando-se para não cair acidentalmente em um buraco. Um buraco, maldição!

       A loba de Adria assentiu em um acordo repugnado. Realmente era hora de retroceder, quando você tinha que recorrer a cavar buracos e os cobrir com folhas na esperança de que os SnowDancers não os cheirassem à uma milha de distancia. — Eles vão ficar cansados mais cedo ou mais tarde, mas poderia ser uma ideia fazer da localização destas armadilhas uma competição divertida entre os guardas.

       Riaz inclinou sua cabeça em direção a ela de um modo muito lupino, até a expressão de Hawke mudou de frustrada para interessada.

       — Do meu ponto de vista, — ela disse, mantendo seus olhos resolutamente distantes do homem a sua direita, — A quantidade de tempo que eles desperdiçam neutralizando as armadilhas está começando a frustrar os soldados que patrulham as fronteiras, e é o tipo de coisa que pode crescer em raiva. Isso não é bom para nosso pessoal, especialmente logo após a tensão da batalha. Mas se você fizer de um jeito que o soldado com o maior número de localizações consegue um prêmio no fim de toda semana?

       — Se torna um jogo, — Riaz completou, acenando a cabeça pensativo.   — Isso é muito bom.

       Com as mãos nas costas, Adria apertou o pulso de uma mão com a outra para não dizer que não precisava de seu endosso. A vontade de contrariá-lo era tão fora de sua habitual natureza suave que ela mordeu dentro de seu lábio para segurar as palavras enfocadas em seu olhar. Exceto que a estranha mulher que tomou o controle de seu corpo não pôde simplesmente fechar boca. — Obrigada. — A voz doce como mel. — Estou tão contente que você aprove.

       Um grunhido subiu pela sala.

       — Lobos gostam de jogar, — Hawke disse com seu rosto suspeitamente suave. — Penso que Drew é a melhor pessoa para organizar isso. Vou pôr a ideia em movimento. Ele olhou para a hora projetada na parede. — É melhor se porem a caminho, assim vocês podem voltar na hora do jantar.

       Saindo do escritório com o homem cujo cheiro fazia coçar sua pele, uma essência escura de floresta, com um toque cítrico e amadeirado, ela disse: — Nós devíamos levar alguma comida. O passeio pode não ser rápido e mais, Mack e seu técnico não devem ter planejado ficar lá em cima tanto tempo e podem estar com fome.

       — Deve ter algo aqui, — Riaz disse, entrando no corredor dos quartos dos soldados sêniores.

       Eles trabalharam com eficiência juntando alguns sanduíches e estavam prontos para partir dez minutos depois. Contraindo seus músculos abdominais quando entrou no veículo com Riaz, Adria disse a si mesma para se concentrar na rota, na geografia, em qualquer coisa exceto no potente odor masculino do homem no assento do motorista, pois ela sabia bem por que o cheiro dele incitava tal violência nela.

       RIAZ saiu da garagem e se dirigiu para as montanhas, muito ciente do silêncio ártico da passageira ao seu lado. Quanto mais tempo ele passava com Adria, mais percebia as diferenças entre Índigo e ela. Apesar da semelhança física elas eram muito diferentes. Uma das razões de sempre apreciar a companhia da outra mulher era por sua natureza aberta, em comparação à Adria, que era uma caixa fechada com avisos de Não Entre colados em toda superfície.

       Ele entendia isso. Inferno, ele tinha um monte de zonas escritas não passe, mas com Adria virava uma armadura de cacos de vidro feita para tirar sangue. — Este caminho, — ele disse fazendo seu trabalho, porque com conflito de personalidade ou não, sabia de suas responsabilidades, — é a rota mais direta para a hidro estação.

       — Não de acordo com o mapa que Hawke me deu. — Um rápido e penetrante olhar. — Então o que há de errado com a outra estrada?

       Controlando seu lobo que tomara isso como desafio, trancou os dentes, pois sua parte racional sabia que ele só estava acelerado, procurando uma briga depois da provocação anterior, ele disse: — A face direita desmoronou. — Como tenente que a teve sob seu comando no campo, ele apreciava sua inteligência e determinação para aprender, apesar da frequência com que as usava para fincar nele suas garras verbais.

       Fazendo duas curvas fechadas, ele continuou em frente por montanhas que pareciam tocar o céu. — Gostaria de saber se quaisquer agressores já conseguiram ir tão longe.

       Adria não falou por vários minutos, enquanto estudava o mapa e sua passagem pelas montanhas. — Eu vou precisar pedir para que outro soldado sênior venha comigo em algumas de minhas viagens exploratórias. — Sua voz naturalmente rouca e baixa, pensativa, — Então eu não perderia coisas assim. Eu não tinha motivos para memorizar ou até conhecer tudo isso como uma adolescente, e detalhes de segurança com certeza foram mudados de qualquer maneira.

       — Eu levarei você, — Riaz disse, porque maldição, ele era um tenente, até mesmo quando se tratava de um espinhoso pedaço de cactos como Adria. — Índigo garantiu que eu me familiarizasse com os detalhes quando voltei do meu posto na Europa. — Ele esteve fora tempo o suficiente para que muitas das sutis precauções de segurança fossem alteradas. — Isso servirá para que eu revise conhecimentos.

       Adria piscou, as pontas dos dedos apertando os lados do mapa. — Eu aprecio isto. Era a única coisa que ela podia dizer sem se expor.

       Riaz bufou, suas mãos fortes e competentes no volante manual enquanto ele dirigia por um declive particularmente íngreme, seus braços bronzeados recobertos por finos pelos pretos. — Mesmo que você queira ignorar, — ele disse enquanto fazia o veículo voar, — E apesar de qual seja seu problema comigo, nós temos que trabalhar juntos.

       Trancando sua mandíbula, ela se enfocou em olhar pela janela, para a paisagem mais magnífica na face da Terra. O verão havia enfraquecido e havia uma promessa de frio no ar, aqui a terra era envolta em verde escuro, mas os cumes ao longe estavam cobertos de branco. Ela cresceu nessa terra, e mesmo depois de ter estado fora por tanto tempo ela cantava para sua loba como fazia para todos os SnowDancer. Estar no território da toca era como estar em casa para todos eles, não importando se haviam vindo de um lugar com outro nome.

       Posso curar aqui.

       Este era um pensamento profundo em seu coração, um que quase conseguiu desatar a tensão entre... — Quem é esse? — Ela se sobressaltou quando um grande lobo cor de bronze correu através de um prado verde a sua esquerda, perseguindo outro lobo de um prata lustroso que ela imediatamente reconheceu. — Ele está sendo áspero com Evie. Fúria ferveu em seu sangue. — Pare o carro.

       Riaz riu com pura diversão masculina que inflamou seu temperamento. — Esse é o Tai, e Evie não apreciaria a interrupção, Tia Adria.

       Engolindo uma resposta severa, Adria olhou para os dois lobos novamente, viu o que ela perdeu no primeiro olhar. Eles estavam brincando com dentes e garras, mas sem agressão real. Quando Riaz fez uma curva cortando a visão dos dois lobos aninhados um ao outro, Adria percebeu que Tai e Evie não estavam brincando, eles estavam se cortejando.

       — Ela é muito jovem. — Enquanto Índigo era muito próxima de Adria em idade, Tarah teve Evie mais tarde na vida. A pequena menina bamboleou atrás de sua irmã mais velha e de Adria quando elas eram adolescentes, doce, teimosa e amável por natureza. Adria não podia imaginar que sua sobrinha submissa estava de qualquer forma pronta para lidar com um dominante como Tai, ele parecia um inferno de muito mais forte e mais perigoso que Evie.

           —Ainda assim ela é uma loba, — disse Riaz, sua profunda voz vibrando desconfortavelmente contra seus mamilos dolorosamente apertados, — Uma loba adulta. Você pode ter se esquecido Sra. Gelo, mas o toque é necessário para a maioria dos da nossa espécie.

       Suas mãos se fecharam em punhos, a necessidade extremamente próxima da superfície.

       Um ano.

       Havia um ano que ela compartilhara privilégios de pele íntimos, sem dúvida um tipo doloroso de isolamento para qualquer changeling predatório no auge de sua vida. Mesmo antes disso, as coisas haviam se fragmentado por muito tempo, sua loba esfomeada por afeto. Mas ela estava lidando com isso, com os pedaços quebrados dentro dela, até Riaz e sua tempestade furiosa, a súbita e visceral atração sexual que a agarrou em suas garras e sacudiu-a até que ela mal podia pensar.

       — Se estamos jogando pedras, — ela disse, partindo à ofensiva para se proteger, — Eu não sou a única que prefere uma cama fria. — Riaz era um macho altamente elegível, e o fato de não ter tomado uma amante agitava as mulheres SnowDancer que não queriam nada além de lutar por ele. — Talvez seja por isso que você é como um idiota.

       O rosnado de Riaz foi baixo, rolando sobre sua pele com seu poder e dominância. Torcendo o volante, ele parou o SUV ao lado da estrada. — Já chega. — Ele a alfinetou com o olhar. — Qual diabo é o seu problema comigo?

 

       — Dirija, — ela disse, quase pronta para rastejar fora de sua pele, tamanha a necessidade para arrancar sua camiseta e usar seus dentes em todos aqueles quentes e firmes músculos. — Mack está esperando por nós.

       — Ele pode esperar mais alguns minutos. — Olhos que não eram humanos trancaram nos seus. — Você está sendo dura comigo desde que se transferiu para a toca. Eu quero saber o por quê.

       Seu intestino torceu, tirando seu cinto de segurança saiu para o ar frio da montanha, o verão era uma memória distante lá no alto. O frio não fez nada para esfriar a febre em seu sangue, a necessidade saqueando seu corpo, uma fome que a faria sua escrava se finalmente ganhasse a liberdade.

       Desesperada se enfocou na majestade do ambiente num esforço para lutar contra o tumulto, sua loba arranhando por dentro de sua pele num repúdio violento por sua escolha de recuar. Na frente dela pedras glaciais se deitavam caídas, enormes e imponentes, além delas o rico e profundo verde dos abetos que dominavam essa área. Acima disso tudo estava um céu tão azul que doía.

       Lar.

       O estrondo de uma porta seguido por passos de botas na terra quebraram sua frágil tentativa de controle e então Riaz estava em sua frente. De repente sua visão foi preenchida por músculos duros e força implacável, o odor selvagem e escuro dele em cada inalação.

       — Nós não partiremos, — ele disse, sua pele dourada acariciada pela luz que fez brilhar seu cabelo negro azulado, — até que resolvamos isto.

       Se sentindo presa, sufocada, ela empurrou seu tórax e escapou permanecendo ao lado do carro com suas costas para ele. — Não ponha toda a culpa em mim. — Lutar de volta era instintivo, sua compostura interna quebrada. — Você esteve me cutucando desde o dia em que cheguei na toca.

       Ele rosnou e o som áspero arrepiou sua pele, se enroscou ao redor de sua garganta. — Em auto-fodida-defesa, você pôs os olhos em mim e decidiu que me odiava profundamente. Eu quero saber o por quê.

       Jesus, Adria pensou, como conseguira se colocar nessa? Ela não era essa mulher que não conseguia controlar suas palavras, seus pensamentos. Ela era tranquila, estável e sensata, havia sido a voz da razão para seus amigos quando eles eram apenas adolescentes cheios de hormônios. Era ela quem os tirara da borda induzida pela adrenalina que agora a estava consumindo.

       — Olha, — ela disse, tomando conscientemente a decisão de recuar, antes que sua loba frustrada tomasse o controle e ela encontrasse esfregando-se no macho que apertava seus lábios com raiva, — Não é nada pessoal, geralmente sou uma cadela. — De acordo com Martin, era uma cadela com coração de pedra.

       Riaz bufou. — Boa tentativa, mas tenho visto você com outros do clã. Ele deu outro passo em direção a ela, invadindo seu espaço e seus sentidos, o odor de floresta com uma extremidade mais afiada que era pura fúria lupina. — Tenho te visto até mesmo sorrindo. Que tal você abrir um para mim? — Olhos de um dourado escuro perfuraram os seus.

       Inferno se ela iria permitir que ele a subjugasse. — Saia da minha frente.

       — Você tem certeza? — Ele perguntou, sua mandíbula em um ângulo perigoso. — Talvez a razão de você reagir silvando como um gato ao meu redor seja porque você me quer muito mais próximo.

       Ela arfou.

       Os olhos de Riaz alargaram-se.

       — Maldição. — Era uma afirmação interrogativa.

       Uma fração de segundo depois mãos fortes e ásperas seguraram seu rosto, uma boca voraz desceu sobre a sua, um odor potente de macho despertado, delicioso e exótico com uma pitada de chocolate inundou seus sentidos.

       Adria congelou por um segundo antes de seu corpo esfomeado pelo toque assumir o comando, sua loba arranhando a superfície. Agarrando-se em seus ombros, ela devorou a boca sensual e exigente, deslizando sua língua na dele, lambendo e chupando. Quando ele a puxou para cima com um único e poderoso movimento, ela enroscou suas pernas ao redor de sua cintura e o deixou encostá-la contra a porta do SUV. Ele tinha um sabor tão sensual, perigoso e exasperante quanto parecia ter, uma grande mão empurrou seu cabelo e a outra segurou firme em seu quadril.

       Partes de seu corpo que tinham estado esquecidas por um longo ano voltaram à vida, mais do que famintas e selvagens. Riaz rosnou quando ela arranhou sua nuca com suas garras aprofundando o beijo, e deslizou a mão de seu quadril para debaixo de sua camisa e apertou seu seio.

       O choque com o toque possessivo a deixou quase louca, ele empurrou seu sutiã e o calor da palma áspera em sua carne nua lhe tirou todo pensamento racional. Incapaz de conseguir suficiente de sua boca, ela chupou sua língua, seus lábios, antes de descer beijos pela sua mandíbula até agarrar os tendões de seu pescoço com os dentes.

       Rosnando fundo em seu tórax ele a puxou de volta para tomar sua boca novamente. Ele estava sendo menos que gentil, mas ela não o queria gentil, suas garras cravavam em seus ombros enquanto seu corpo se movia com impaciência crua contra ele. Tirando a mão de seu peito ele abriu o botão de sua calça jeans, deslizando o zíper aberto. Ela quebrou o beijo ofegante buscando ar. Riaz empurrou a mão em sua calcinha, em sua carne molhada, e com uma punhalada dura a penetrou lhe fazendo gritar com a poderosa contração de seus músculos.

       O orgasmo era como uma lâmina afiada que a cortou ao meio com seu prazer primitivo, entretanto lhe fez se sentir roubada ao mesmo tempo. Abrindo seus olhos quando ele retirou seus dedos, ela o viu e entendeu tudo. Fúria. Dela. Dele mesmo. — Solte-me, — ela disse agitada pela profundidade de sua resposta.

       Nunca, nunca teve um orgasmo tão forte e isso a fez se sentir perdida, com um bloco de gelo em seu estômago.

       Não dizendo uma palavra, ele pôs as mãos em sua cintura para ajudá-la a se estabilizar quando suas pernas cambalearam. — Tire suas mãos de mim. — Ela se danaria se o deixasse tocar nela novamente com aquele olhar em seus olhos, a raiva dele um calor brutal que a tocava a cada respiração.

       DEIXANDO ir a dura mulher em seus braços, Riaz girou em seus calcanhares. — Porra. — Que diabo acabou de acontecer? Ele nem gostava de Adria, e ainda assim traíra sua companheira com ela. Ele teria afundado seu pau até as bolas se ela não tivesse parado as coisas. Aquele pau que pulsava, tão duro que era doloroso. Não.

       — Aqui.

       Ele girou a tempo de pegar uma garrafa d’água.

       — Lave seus dedos, - ela disse, o vermelho manchava o arco definido de suas maçãs do rosto e ele sabia que a cor não tinha nada a ver com embaraço. — Eu não quero particularmente anunciar meu lapso de julgamento. — ela disse por entre seus dentes apertados.

       Uma segundo mais tarde ela estava dentro do carro, uma escultura de gelo, nenhum vestígio da loba exigente que tinha estado molhada, quente e apertada ao redor de seus dedos há menos de dois minutos.

 

       O CONSELHEIRO KALEB KRYCHEK examinou a mente do individuo sobre o qual tinha sido alertado pela NetMind, a neosenciência que era a bibliotecária e guardiã da Net. A mente na frente dele era moderadamente poderosa, de Gradiente 5.7 em telepatia e empregado por uma importante corporação. O macho havia quebrado o Silêncio, pequenas fraturas visíveis à um olhar cuidadoso. Mas isso era uma situação ordinária em que Kaleb não estava interessado.

       Este macho teve a má sorte de ser extremamente suscetível à doença não mencionada e que em grande parte foi se difundindo sorrateiramente, correndo mortal pela PsyNet. Outros tinham sido infectados mais cedo e estavam agora todos mortos ou loucos. A infecção em massa na Estação Sunshine deixou cento e quarenta vítimas, onze das quais originalmente postos em coma involuntário na convicção de que poderiam ser salvos.

       Eles não puderam.

       O Sujeito 8-91 porém, continuou a funcionar apesar de sua infecção avançada, levando Kaleb a concluir que algo mudara dentro da Net, o fazendo capaz de sobreviver mais tempo dentro de seu hospedeiro. Contraída pelo contato com um dos doentes nos espaços da Net, Kaleb era aparentemente imune, provavelmente como resultado de sua conexão com a gêmea da NetMind. A doença ainda não passava de pessoa para pessoa, mas existiam chances altas de uma mutação adicional a tornar até mais nociva.

       O sujeito 8-91 foi o primeiro hospedeiro que a NetMind achou com a nova variante, e como tal, ele se tornou um barômetro para Kaleb, seu canário na mina de carvão. A velha declaração era pertinente. Se 8-91 continuasse a reagir como tinha feito até agora, ele mostraria efeitos catastróficos do que se espalhava silenciosamente, apodrecendo a net.

       Não, Kaleb se corrigiu, 8-91 já está mostrando os efeitos. O macho teve uma explosão violenta em seu sono dois dias atrás, tão violenta que quebrou vários ossos de sua mão quando esmurrou uma parede. O que o fez se interessar foi que a violência não tinha nenhuma conexão com a quebra do Silêncio pelo macho, mas causada pelas mudanças que a infecção causou em seu cérebro.

       O sujeito 8-91 tinha sido esperto o suficiente para criar uma história de cobertura antes de ir ver um do M-Psy sobre sua mão, mas a NetMind o vigiava constantemente e sabia todos os seus movimentos. E desde que a NetMind e sua gêmea DarkMind falavam com Kaleb, ele não ficaria desinformado sobre o assunto.

       Continue a vigiar, ele disse à NetMind, sua ordem dada menos em palavras do que por meio de uma conexão psíquica intuitiva que ele não podia explicar a ninguém, nem mesmo a outro Psy. O protegia de exposição. Kaleb precisava que 8-91 permanecesse uma parte ativa da Net. Qualquer interferência sombrearia o quadro da deterioração do individuo e ele necessitava de uma visão clara para entender o processo.

       Um estremecimento da NetMind, uma pergunta.

       Não, Kaleb disse em resposta. Você não pode salvá-lo. Ele está muito danificado. A doença invadiu o cérebro físico de 8-91, estava corroendo em partes seu lobo frontal, uma mudança tão sutil que o M-Psy provavelmente deixou passar, mesmo ele sendo um especialista em neurologia ao invés de ortopédico. Como a infectada da Estação Sunshine provou, não existia nenhuma cura e essa nova variante era mais complexa que a primeira infecção. Ainda que existisse uma cura, Kaleb teria dado a mesma resposta, para 8-91 a morte era inevitável.

       Alguém tinha que ser o canário.

       Tirou o homem de seus pensamentos depois de tomar nota do desenvolvimento da infecção. Retornando ao seu corpo físico parou apenas tempo suficiente para fazer uma pergunta à NetMind e à DarkMind. Você sabe a localização deste individuo? Ele enviou uma imagem junto com o perfil psíquico construído com suas memórias e arquivos de dados coletados ao longo dos anos.

       ???

       O quebra cabeças era a resposta que ele recebia todas as vezes que perguntava sobre este assunto, desde o primeiro contato com as neosenciências gêmeas. Era como se seu objetivo jamais tivesse existido na Net, mas Kaleb pensava diferente. E nada, nem mesmo o fracasso inexplicável da NetMind e DarkMind em encontrar a verdade, ele não pararia até ter conseguindo concluir seu objetivo.

 

       HAWKE segurou SIENNA quando se encontraram no corredor, a arrastando para um canto escondido dos olhos de seus curiosos companheiros de Clã. — Onde você está indo com tanta pressa? — Seu lobo tinha muito prazer em vê-la, deleitando-se como um filhote ao redor do outono e especiarias que eram seu cheiro. Isso o fez se lembrar como a tinha acordado esta manhã, de que lambeu aquele odor deleitável de uma forma muito mais íntima.

       A voz de Sienna era baixa e acariciante quando ela respondeu-lhe, os dedos de sua mão livre estendidos acima de seu coração. — Eu vou encontrar alguns dos leopardos para o almoço.

       — Kit? — Um rosnar feral.

       — Sim. — Sua carranca combinando com a linha apertada de sua boca. — Ele é meu amigo.

       O menino também a beijou, ousando pôr suas mãos e seu odor sobre ela. — Não. — Era uma ordem do lobo, um lobo acostumado à obediência.

       Mas Sienna Lauren Snow nunca se curvou para ele. Tirando suas mãos de seu aperto ficou nas pontas dos pés e arrastou ambas pelo cabelo dele. — Sim.

       Seu olhar fixo no dela, seu domínio confrontando a vontade de aço de um X cardeal. — Eu penso que está na hora de te morder novamente, — ele resmungou roçando seu dedo na curva onde seu pescoço encontrava o ombro, seu lugar favorito para marcá-la.

       A ameaça fez Sienna puxar de forma brincalhona seu cabelo. — Você fez isto esta manhã. Esta é minha vez. Um beliscão rápido em seu lábio inferior. — Você quer se juntar a nós?

       Inferno, sim; porque ele podia não ser capaz de intimidar sua companheira esperta, sensual, perigosa, mas maldição, ele bem podia advertir o gatinho alfa que ela chamava de amigo. Mas... — Eu tenho que encontrar com as fêmeas maternais. — Estremecendo pela lembrança, ele curvou sua cabeça para assim ela poder o acariciar mais eficazmente. — Elas estão se desentendendo com alguns jovens.

       Rindo, Sienna correu suas unhas sobre seu couro cabeludo, a carícia fez seu lobo arquear o pescoço com prazer selvagem. — Você soa assustado.

       — Qualquer homem que não se assustar com um grupo de maternais jogando em cima dele suas necessidades precisa ter sua cabeça examinada. — Ainda com raiva pelo pensamento de seu encontro para o almoço, ele se esticou em toda sua altura, fazendo com que as mãos de sua companheira descessem para seus ombros. — Se aquele filhote pôr as mãos em qualquer lugar próximo de você, não me importo se ele é seu amigo, eu arrancarei seus braços. — Ele não estava brincando, o lobo recém-acasalado era possessivo além da medida, o laço de acasalamento cru.

       O sorriso de Sienna enfraqueceu. — Você sabe que eu nunca faria...

       — Claro que eu sei disso, — estalou ele, aborrecido de que achasse que não confiava nela. — Esse não é o ponto.

       Uma sobrancelha levantou e unhas minúsculas cavaram em seus ombros. — Qual é o ponto então, Sua Majestade?

       Ele arreganhou seus dentes para ela, pela resposta espertinha. — O ponto é que você é minha. Fim de história. Intocável por qualquer outro macho. — Ele pausou e considerou. — Com exceção de seus familiares.

       Quando ela não respondeu, ele se debruçou e sussurrou, — Eu adverti você, — seus lábios escovaram sua orelha. Ele disse exatamente à ela o que significaria ser sua, o quão duro era lidar com ele e como totalmente a reivindicaria. E mesmo assim, ela veio para ele, mas se perguntou se ela só agora se dera conta da verdadeira profundidade do que ele exigiria dela. O pensamento de que ele poderia estar afligindo sua companheira sendo quem era fez ambos, lobo e homem imóveis e alertas.

       Estremecendo em resposta ao seu toque, ela o empurrou até que pode encontrar seu olhar. Seu olhar era escuro quando ela sorriu, o som um raio selvagem junto à sua pele. — Eu acho, — ela disse, com as estrelas vibrantes em seus olhos, — isso me parece o certo quando se acasala com um alfa.

       Seu lobo relaxou. Sua companheira não tinha nenhum medo em seu odor, em seu sorriso atrevido, o laço entre eles vívido como fogo vermelho e âmbar que era sua marca. Correndo suas mãos pela curva macia de suas costas, ele se aninhou nela. — Eu posso tentar ser um pouco mais flexível depois que nós estivermos acasalados há algum tempo.

       — Não, você não vai. — Sienna deu um beijo quente e molhado em sua mandíbula, seus dedos acariciando o calor de sua nuca. — Mas eu amo você exatamente como você é e eu sei como manter meu espaço. Então faça seu pior, bonitão.

       Ele estava alternadamente orgulhoso de sua força e chateado por sua intransigência. Uma ocorrência comum quando se tratava desta mulher. Sienna poderia ser mais jovem e fisicamente menor, mas ela ia de dedão do pé-para-dedão do pé com ele sem uma piscadela. O pensamento o fez sorrir todo, ciente que eles provavelmente discutiriam até o próximo século. Ele mal podia esperar.

       — Então, — ela disse traçando seu sorriso com a ponta de um dedo, — qual o motivo de as maternais estarem tão loucas?

       Ele estava acostumado a conversar com seus tenentes e membros sêniores sobre negócios do clã, mas para ele parecia totalmente diferente conversar com Sienna sobre as mesmas coisas. Porque ela era alguém só dele, alguém que não escutava porque eram negócios dos SnowDancer, mas simplesmente porque ela gostava de estar com ele e de saber das coisas que eram importantes para ele.

       — A palavra hormônio foi usada, — ele disse a ela, já sentindo a pulsação enfadonha de uma enxaqueca. — Alguns dos jovens mais velhos aparentemente estão ficando muito brincalhões. Eu provavelmente vou acabar arrastando os meninos para fora para lhes lembrar de manter suas patas para eles mesmos. — Gemendo, ele curvou sua fronte para tocar a dela. — E então eu vou ter que fazer a mesma coisa com as meninas. — Normalmente Índigo e Riley cuidariam da situação, mas às vezes só a voz de um alfa conseguia transmitir a mensagem.

       — Mas privilégios de pele são uma parte aceita na vida do clã. — Sienna respirou e beijou seus lábios. — Eu sei que meus amigos tiveram relações quando eles eram mais jovens.

       — Existem limites ainda, — Hawke disse, contendo o desejo para desfazer sua trança e se enroscar no bonito cabelo vermelho rubi. — Às vezes o lobo tem que ser lembrado que precisa esperar sua metade humana amadurecer.

       O olhar de Sienna se tornou pensativo. — Sim, eu entendo. Foi por isso que você deixou seu lobo se encarregar quando você era jovem, — você disse que ele era mais amadurecido.

       Ele brincou com a ponta de sua trança correndo seus dedos. — Controlar o lobo é algo que nós aprendemos quando crianças e têm que se manter conforme ficamos mais velhos. Sem esse controle eles se tornam muito mais violentos. Changelings lobos que cederam aos seus animais se transformaram em assassinos malignos e mais, eles frequentemente atacaram aqueles que haviam sido seus.

       — Você acha que os jovens estão respondendo à tensão de terem sido evacuados da toca?

       — Sim, mas se isso os desestabilizou nesse grau, nós precisaremos organizar a supervisão e o treinamento de um grupo inteiro de jovens.

       Sienna acariciou sua nuca. — Eu sei que isso é uma dor de cabeça para você, mas o que eu sinto por você só cresce mais profundo cada vez que eu vejo como você gosta de cada membro do clã, jovem e velho, forte e fraco.

       Ele nunca precisou de reconhecimento verbal, mas quando Sienna dizia coisas assim, sim, importava. Levantando sua cabeça, ele soltou sua trança e correu os nós de seus dedos por sua bochecha. — Vá, almoce. — Custava-lhe dizer isso, saber que ele a estava mandando sair com um homem que uma vez mostrou interesse por nela. — Vocês estão deixando o território da toca? — Era muito perigoso fazer isso ainda.

       O Conselho agora sabia que ela estava viva. Ming LeBon, o homem que tentou torná-la uma arma quando era apenas uma criança, sabia que ela estava viva. As habilidades de Sienna tinham um potencial inigualável, ninguém podia entender ou predizer como seu poder se desenvolveria à medida em que ela amadurecia. Porque nunca existiu outro cardeal X-Psy que sobrevivesse à maioridade.

       Seu intestino deu um nó com o pensamento de Sienna quebrada e morta nas mãos do inimigo, ele teve que apertar seus punhos para afastar a vontade de agarrá-la e a trancar em seu quarto, onde ela estava segura. Lutou contra o desejo porque isso ele nunca faria, já que para Sienna era ser engaiolada. Ela já tinha passado muito tempo de sua vida atrás de grades, a prisão psíquica projetada para conter seu poder transformada em um lugar de tortura mental.

       — Não, — ela assegurou. — Eu não ariscaria enquanto as coisas estão tão instáveis. Kit e os outros vão nos encontrar na Zona Branca e nós iremos para a cachoeira.

       — Nós quem?

       — Riordan, Evie, e Lake também irão.

       Seu lobo aprovou. Os meninos garantiriam que ninguém tentasse aprontar em seu território, mas ele manteria o pensamento para si mesmo, decidiu com um sorriso feral interno. — Você quer jantar com as crianças? — Ele perguntou, sabendo que eles tinham apenas mais um par de minutos.

       Aquele sorriso novamente, um que ela nunca tinha lhe dado enquanto estavam circulando um ao redor do outro e agora ela lhe dava todos os dias. Era um pontapé no seu coração todas as vezes. — Sim, — ela disse. — Você se importa de quanto tempo nós gastamos com eles?

       — Claro que não. — Toby era seu irmão, Marlee sua prima. Eles eram como filhotes para amar e proteger. Desde que Walker parou de me dar o olhar fixo de morte, isto ficou realmente confortável. O primogênito dos Lauren era muito protetor daqueles sob seu cuidado e Sienna era considerada sua filha. Hawke não tinha nenhuma dúvida de que o outro homem iria silenciosa e metodicamente atrás de seu intestino ao menor sinal de ele estar afligindo Sienna. Seu lobo aprovava.

       O riso o embrulhou em cordas sedosas, o fogo carmesim de sua companheira tocando chamas em seu sangue. — Lara protegerá você. — Roubando outro pequeno beijo, ela se afastou, parou e suas próximas palavras estavam vibrantes de emoção. — Eu amo você.

       Ele sabia o que significava para ela poder dizer estas palavras, o conhecimento de que ninguém a machucaria por ousar sentir, por ousar amar com todo o poder de seu coração forte e leal. Fechando a pequena distância entre eles, ele respondeu com um beijo tão tenro quanto ele soube dar, seus dedos rodeando possessivamente sua garganta.

       — Você tem certeza que tem que ir para aquela reunião? — Ela sussurrou quando ele ergueu sua cabeça, seus lábios molhados e deliciosos, seu corpo arqueado em direção ao dele.

       Seu lobo estava tentado. Penosamente. — Nell e sua gangue nos caçarão e nos interromperão. As fêmeas maternais não deviam ser contrariadas. Então elas nos farão sentir com cinco anos de idade. — Ele tomou outro beijo, roçando seu dedo polegar acima do tremular de sua pulsação e freando seu desejo de morder. Mais tarde, ele prometeu ao seu lobo. — Vejo você à noite.

       Ele a observou até que ela desapareceu numa esquina, a possessividade primitiva bateu nele e o fez querer jogá-la sobre o ombro e a arrastar para sua cama. Talvez a amarrar nela para garantir.

       — Nem pense nisso, — Riley disse quando ele se juntou a Hawke para a Reunião de Destruição.

       Hawke encontrou os olhos marrons de seu Tenente Sênior, sempre tão tranquilos e estáveis. — O único modo de que você saiba o que eu estava pensando é porque já teve pensamentos semelhantes.

       — Mercy me perdoa a maior parte do tempo. Um lento sorriso. — Vamos, adiamos o suficiente.

       Quando eles andaram, Hawke disse, — Adria e Riaz. Problemas?

       — Conflito de personalidades, eu acho. Eles parecem trabalhar bem juntos, apesar disso. — O tenente o encarou. — Por quê? Você quer que eu os divida em seus turnos?

       — Não, melhor eles resolverem isso. — Ele percebeu algo mais violento e intenso que um simples choque de personalidades, mas seu lobo sabia quando ser discreto, então ele não mencionou isto. Ao invés, ele trouxe a conversação para os jovens, e fizeram o restante do caminho conversando.

       Reuniões como estas não estavam em sua lista de coisas favoritas, mas pareceu bom estar fazendo algo tão normal quanto se preocupar com os jovens. Não discutindo a vigilância sobre os Psys ou planejando como se defenderem contra um ataque. Não armazenando armas ou verificando o material médico enquanto eles esperavam para evacuar os mais vulneráveis. Nem mesmo se encontrando com os leopardos de DarkRiver para avaliar uma ameaça suspeita.

       Tinham sido meses desde que seus lobos tiveram uma chance de só ser um Clã.

       Porém, Hawke sabia que o fato dos SnowDancer e seus aliados ganharem a batalha não significava que seus inimigos não se reagrupariam e retornariam. Mas ele era um lobo. Ele também sabia como viver o momento de estar acasalado com uma mulher que o desafiava, amava, e o arreliava. Seu clã estava seguro. E a toca estava cheia do som das vozes das crianças novamente. — Como está o planejamento para a cerimonia de acasalamento? — Sienna era incontestavelmente sua, mas seu clã precisava ter uma chance de celebrar o acasalamento de seu alfa e eles teriam essa chance dentro de quatro dias agora.

       — Drew sugeriu dançarinas.

       Hawke riu. — Quantas?

       Riley atirou um olhar irritado. — Não o encoraje ou eu juro por Deus que eu contratarei uma tropa de stripers reluzindo com paetês e assistirei alegremente enquanto Sienna grelha você.

       Perguntando-se o que mais Drew tinha sugerido, Hawke abafou sua risada. — Seriamente, como ele está indo? — Riley e Nell estavam compartilhando a carga da organização, se assegurando que todos os pedaços se reuniriam corretamente.

       — Bom. Meu irmão, quando não está me mandando e-mail de panfletos sobre dançarinos brasileiros de samba e dançarinas de Vegas, acha algum trabalho para toda pessoa que quer estar envolvida na preparação.

       Era por isso, Hawke pensou, que Drew era tão perfeito para a posição que ocupava. Não tomando parte da hierarquia, ele era os olhos e os ouvidos de Hawke no clã, acessível até ao mais fraco de seus membros, aqueles que poderiam se sentir intimidados abordando um dos outros dominantes. Ninguém era intimidado por Drew e isso era uma realização incrível, dado que o outro homem era o caçador dos SnowDancer, encarregado de achar e executar assassinos quando a necessidade surgia. — Será uma grande noite.

       — A melhor, — Riley disse tranquilamente, então respirou fundo. — Chegamos.

       Hawke cruzou seus braços e olhou fixamente a porta com uma expressão azeda. — Eu odeio estas reuniões.

       — Nós devíamos fazer Drew as frequentar. Ensinar-lhe uma lição.

       Os dois olharam fixamente um ao outro e sorriram. Sim, ele pensou abrindo a porta, como era bom estar fazendo algo tão ordinário quanto lamentar sobre uma reunião com as maternais.

 

        DE: Lara<lara@snowdancer.org>

       PARA: Ashaya<ashaya@darkriver.net>;

       Sascha<sascha@darkriver.net>;

       Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Amara<amara@sierratech.com>

       DATA: 26 de agosto de 2081 às 11:00 da manhã

       ASSUNTO: Paciente Um

      

Eu pensei que vocês todas apreciariam uma atualização rápida sobre a Paciente A. Ela permanece na mesma, em estado comatoso. Eu digo coma porque francamente, ela confunde os instrumentos. Porém, eu posso dizer com certeza que seu cérebro não está morto de forma que permanece um indicador positivo.

       Eu quase acho que J imaginou sua conversa com ela, exceto que ele não é deste tipo.

       Eu estou certificando que seus membros sejam exercitados e que esteja recebendo os nutrientes de que precisa. Mas no resto estou perdida.

       Deixem-me saber se alguma de vocês teve alguma ideia.

 

       DE: Ashaya<ashaya@darkriver.net>

       PARA: Lara<lara@snowdancer.org>

       CC: Sascha<sascha@darkriver.net>;

       Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Amara<amara@sierratech.com>

       DATA: 26 de agosto de 2081 à 1.00 da tarde

       ASSUNTO: Re: Paciente Um

 

       Amara e eu continuamos a trabalhar nos rastros químicos descobertos em seu sangue. Nós esperamos achar pistas sobre um antídoto que trabalhe melhor que a nossa formulação de emergência, mas algumas das substâncias químicas parecem ser desconhecidas.

 

       DE: Amara<amara@sierratech.com>

       PARA: Ashaya<ashaya@darkriver.net>

       DATA: 26 de agosto de 2081 às 1.02 da tarde

       ASSUNTO: Re: Re: Paciente Um

 

       Não desconhecidas. Simplesmente não catalogadas. Você e eu agora sabemos sobre elas.

 

       DE: Sascha<sascha@darkriver.net>

       PARA: Lara<lara@snowdancer.org>

       CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Amara<amara@sierratech.com>;

       Ashaya<ashaya@darkriver.net>

       DATA: 26 de agosto de 2081 às 4.45 da tarde

       ASSUNTO: Re: Re: Paciente Um

 

       Eu gostaria de vê-la. Meus sentidos empáticos têm estado exaltados desde o nascimento e talvez haja uma chance mais alta de eu poder sentir algo, especialmente desde que ela acordou uma vez. Uma coisa eu sei com certeza: Existe alguém dentro daquele corpo. Nós só temos que achar um caminho para deixá-la livre.

 

       ADRIA não sabia como sobrevivera ao resto da viagem à hidro estação; O silêncio no SUV tinha sido excruciante. Para descer as montanhas banhadas pela gentil luz solar da tarde, ela escolheu viajar no veículo de Mack que tinha sido consertado. Sua desculpa foi que precisava estar com ele no caso do caminhão quebrar novamente. O estagiário de Mack voltou com Riaz. Mack tinha cabelos prata cacheados e pele marrom marcada pelas linhas de risada, era um homem confortável com silêncios.

       Chegando à toca, não parou até estar em seu quarto com a porta firmemente fechada. Só então ela desmoronou na cama. Cristo, Adria. Agitada pelo choque de ter ficado fora de controle e ter corrido para Riaz, ela apenas se sentou lá, tentando conseguir pôr suas emoções sob controle.

       O golpe na porta era familiar, mas ela o ignorou. Sua visita persistiu, tendo obviamente cheirado sua presença, até que ela resmungou; — Está aberta.

       Índigo vestia calças jeans em conjunto com uma blusa branca que valorizavam as curvas de seu corpo alto, fechou a porta e se encostou. — Soque-me por dizer isto RI, mas você parece pior do que quando pegou praga quando tínhamos dezessete anos.

       A praga tinha sido um caso sórdido de intoxicação gastrointestinal. — Obrigada por me animar. — Ela olhou raivosa para a mulher que tinha sido sua amiga a maior parte de sua vida. — Agora vá embora.

       Rolando seus olhos, Índigo andou a passos largos e atravessou o quarto para se sentar ao lado dela. — Martin e você não discutiram, não é?

       — Não. Eu deixei claro que nós terminamos. — Ele tinha recebido as notícias sem qualquer graça, todos os rastros do homem engraçado e gentil por quem ela se apaixonara corroídos por anos de amargura. Mas Martin não era o macho em que ela estava pensando então. — Você teve alguma coisa com o Riaz, certo?

       Índigo piscou com a pergunta direta. — Sim, mas faz anos atrás, bem antes dele partir para a Europa. Nós éramos amigos.

       Isto não era uma coisa tão estranha de ouvir sobre um changeling. Compartilhar privilégios de pele íntimos era uma parte integral de sua natureza e não havia nada de errado com um amigo se importar o suficiente com você e assegurar seu prazer. Não importava se os amantes soubessem que sua amizade nunca levaria a um relacionamento, amizade era uma coisa preciosa para um lobo.

       Índigo a cutucou quando ela não continuou, seu olhar conhecedor. — Riaz?

       — Sim. — Sabendo que nenhuma explicação adicional era necessária, ela empurrou suas mãos por seu cabelo, desmanchando sua trança. — Isso é estranho, você é minha sobrinha.

       Índigo fez um som distintamente deselegante. — Por favor, nós crescemos como irmãs.

        — É até pior.

       — Corta essa. — Uma cotovelada afiada em suas costelas. — Por outro lado, somos duas mulheres dominantes em uma matilha com uns poucos anos entre nós, me surpreende que não tenhamos cruzado nossos caminhos com o mesmo homem antes.

       Apesar de ela ter trazido o assunto, a Loba de Adria não se importava com o que tinha acontecido entre eles. A sua parte humana também sabia que aquela velha relação de Índigo e Riaz não interferiria na situação presente, dado o tempo que passou e a completa falta de interesse de um pelo outro agora. Isso não tornava mais fácil se esconder da turbulência de suas próprias emoções sobre o assunto.

       — Eu não sei o que estou fazendo, Índigo. — Nenhum homem já a incitou a se comportar como ela fez hoje. — Eu quase o ataquei. — Ela quis arrancar suas roupas, empurrar ele para o chão e saborear cada polegada de sua pele de bronze com seu lábios. — Eu tirei sangue. — O gosto do sangue metálico tinha sido quente e forte.

       Índigo riu afetuosamente. — Isto é bastante normal quando uma loba está tão no limite quanto você. Um brincalhão arquear de suas sobrancelhas. — Muito tempo?

       — Um ano, — ela disse, e soube exatamente quando Índigo entendeu as ramificações de sua declaração porque ela pareceu parar de respirar por um segundo.

       — Então, quando você e Martin vieram para o jantar para encontrar Drew...

       — Terminou meses mais cedo. — O flash de dor nos olhos de Índigo a fez cutucar o ombro da outra mulher em uma desculpa muda. — Eu não estava pronta para conversar com alguém, precisava primeiro arrumar minha cabeça. — Quando Índigo apertou sua mão, ela continuou. — Eu não estou orgulhosa em admitir isto, mas eu o usei quando cedi aos seus persistentes esforços para me ganhar de volta e pedi para vir junto naquela noite.

       Martin não demorou muito para perceber que o convite não era para sua cama ou para sua vida e estava de mau humor quando chegaram. Se sentindo culpada por ter conscientemente enganado o homem que uma vez caminhou ao seu lado, o tinha tentado pacificar.

       A resposta dele por um segundo doloroso, a fez retornar às ruínas de sua relação, antes dela endurecer. — Eu pensei que você estava cometendo um engano horrível. — A percepção de que Índigo estava com um homem cujo domínio não combinava com o seu próprio gelou seu sangue.

       — E você me quis confrontando com os resultados.

       — Eu sinto muito, me desculpe. — Ela disse, por que Drew não era nada, nada como Martin, sua adoração por sua Indy era aberta.

       — Eu entendo. A resposta de Índigo era feroz. — Você não terá quaisquer daqueles problemas com Riaz. Ele é forte o suficiente para não ser assustado com sua fome, e... — Um sorriso iluminou seus olhos. — ele tem suficiente selvageria nele para lidar com a sua.

       A maioria dos lobos solitários a tinham. Como uma mulher jovem, Adria sempre os evitou ciente de que tal macho poderia fazer amor com intensidade primitiva, e era provável que desaparecesse nas montanhas na manhã seguinte. Ela sempre soube que precisava de alguém mais estável, mais arraigado. Mas as coisas mudaram. Ela mudou. — Você não está dizendo algo. Adria conhecia Índigo muito bem para não ter pegado a sutil vacilação.

       A outra mulher levou muito tempo para responder, sua expressão preocupada. — Ele me disse algo em confiança e eu não posso quebrar a promessa que fiz. — ela disse afinal. — Mas Adria, você precisa saber que qualquer relação com ele até mais do que com qualquer outro lobo solitário, é improvável que vire permanente.

       O fato de que Índigo quando a advertiu, não mencionou que ele estava envolvido com alguém, e o fato de que ela ouviu que Riaz não tinha uma amante ou não podia ter. Entretanto Índigo não sabia disso, aquela notícia aliviou o laço frio dentro de Adria, permitiu respirar, decidir.

       — Eu preciso conversar com ele. — Loba e mulher de acordo, levantou-se. — Nós deixamos as coisas mal resolvidas. — Não importa o que aconteceu, ela não queria que isso afetasse sua relação de trabalho, e por extensão a matilha.

       Esperando-a refazer sua trança, Índigo saiu com ela. — Você está apreciando voltar à toca? — Perguntou, apertando seu próprio rabo-de-cavalo.

       — Muito. — Adria estreitou seus olhos em Tai, enquanto o jovem soldado de incríveis olhos verdes e ombros largos descia o corredor.

       — Deus me odeia, — ela o ouviu murmurar. — Agora existem duas delas.

Nem ela nem Índigo disseram qualquer coisa até que ele estava fora de alcance. Então os lábios de Índigo torceram. — Pobre bebê. — O afeto derramava das palavras.

       — Ele é sólido?

       — Ele ama Evie. — Diversão dançava em seus olhos. — Isso não quer dizer que nós não bagunçamos com ele.

       Desde que Evie era gentil e de forma alguma dominante ou agressiva, Adria concordou. — Não me entenda errado, — ela disse, retornando ao tópico anterior da conversa, — Matthias é um grande tenente para se trabalhar. Sombriamente belo e com aqueles olhos que atraíam muitas mulheres para sua cama, Matthias era seu amigo e tenente.

       Ele ligara algumas vezes para averiguá-la desde que tinha se mudado para a toca, tinha uma enorme parcela de sua confiança e ela um respeito por ele que ainda não havia se dado conta. — Mas aquela região tinha muitas memórias ruins para mim, sabe? — A toca era um novo começo. Um que ela não permitiria que nada, nem mesmo o calor da quente necessidade roubasse dela.

       — Aqui é minha parada. Índigo se deteve na frente de uma das salas de descanço. — Tenho uma conversa informal com alguns dos meus novatos e os soldados mais novos. — Levantou uma sobrancelha para a jovem que estava rastejando corredor abaixo. — O que aconteceu?

       — O novo circuito de treinamento de corrida idealizado por Riaz, O Sádico, é uma desculpa para odiosa e inigualável tortura, — Sienna resmungou, antes de acenar um oi com a cabeça para Adria e mancando se juntou a um coro de gemidos simpatizantes dos outros, que obviamente tinham sido sujeitos à mesma tortura.

       Índigo hesitou, seus olhos retornando para Adria. — Lembre o que eu disse. — Preocupação e uma pitada de malícia explícitas em seu rosto. — Mas não seja tão sensível. Garras e dentes fazem parte da diversão.

       O sorriso de Adria enfraqueceu assim que Índigo entrou para se juntar com seus soldados. Martin havia sido o maior risco que assumiu na vida, anulando as preocupações daqueles que achavam que uma fêmea dominante e um macho submisso formavam um par improvável de funcionar. O fracasso espetacular destruiu sua confiança, às vezes ela sentia como se seu intimo fosse como uma colcha de retalhos seguro apenas por pontos.

       Seria fácil, tão fácil ficar segura e nunca mais se abrir, mas Adria era uma dominante, uma SnowDancer. Ela não era uma covarde e nunca envergonharia sua loba se permitindo tornar-se uma. Ainda que isso significasse que tinha que ir arranhar o lobo solitário, que era o homem que ela queria além de toda razão.

        JUDD LAUREN ainda estava vivo.

       Ming olhou o relatório inesperado. Ordenara que os Arrows eliminassem Judd antes que a existência do dissidente Tk-Cel se tornasse conhecida. Queria que ele fosse exterminado antes da muito mais importante eliminação de Sienna Lauren, a X–Psy que era de longe a maior ameaça. Entretanto os Arrows não eram mais seus. Ele não tinha esperado que Aden ou seus homens tivessem problemas em cuidar de um Arrow rebelde.

       Desde que o Tk-Cel abandonou o esquadrão quando desertou, era claro que os Arrows não obedeceríam a ordem de Ming, não por qualquer tipo de lealdade para com seu antigo camarada, mas para deixar claro para Ming que eles não o sustentariam mais de qualquer maneira. Uma perda crítica, mas não incapacitante. Encontrou os olhos do homem que trouxe o relatório e disse, — Nós temos qualquer um com treinamento para ir atrás de Lauren?

       — Não. Só um Arrow poderia conter com sucesso outro Arrow.

       Ming teve que concordar. Os Arrows eram altamente treinados para não serem presa fácil. Ele teria sucesso em sua mocidade, mas tinha estado fora do serviço ativo por duas décadas, não tinha mais o mesmo nível de habilidade de quando fazia assassinatos encobertos. Adicionado ao fato de que Judd Lauren podia tele transportar, não fazia nenhum sentido seguir o Arrow rebelde ele mesmo.

       Sienna Lauren porém, não era uma Arrow nem um telecinética. Ele a treinara e conhecia sua habilidade. Existiam murmúrios na Net de que ela havia afiado aquelas habilidades durante seu tempo com os lobos, mas isso não alterava suas conclusões. Se ele viesse para isso, a batalha seria psíquica e ele prendera sua mente uma vez. Ele faria isto novamente.

       — Mantenha a situação monitorada, ele ordenou. — Vigilância moderada. Nenhum contato. Sienna não tinha aparecido em público desde a onda letal de fogo X que consumiu uma porcentagem significante do exército de Pure Psys de Henry. Ninguém estava certo de que ela não tinha perecido como resultado. Se ela tivesse, era por que foi fisicamente executada por um dos seus próprios. Se ela tivesse morrido pela implosão de seus poderes de cardeal X, as Sierras teriam sumido. — Sua meta é descobrir se Sienna Lauren sobreviveu à batalha.

       Se ela estivesse viva, ela não poderia ter permissão para existir fora do controle psíquico de Ming.

 

        O temperamento ainda cozinhando em fogo lento, o que não era a única coisa a ferver, Riaz estava vestido em calças pretas feitas de um material leve que não aquecia demais, seu dorso nu, saiu da corrida de treinamento na hora certa para ver um grupo de soldados mais experimentados cruzarem a linha de chegada. — Como foi? Ele peguntou a Judd, que estava observando a sessão.

       — Maldições são faladas juntas a seu nome. — A expressão de Judd permanecia inalterada, seu senso de humor era sutil. — O curso é duro, mas os lobos apreciam desafios.

       — Assim como os Psy. — Ele sabia que como um Tk, Judd era brutalmente competitivo. — Eu e você? — A energia dolorosamente furiosa em seu corpo precisava de algum lugar para ir.

       Mas Judd agitou negativamente a cabeça, o cabelo escuro pegando os raios laranja do lento pôr do sol. — Jantarei com Walker e as crianças. Amanhã?

       — Certo. — Riaz optou por permanecer para trás enquanto o outro tenente partia com o resto do grupo, decidindo correr o percurso sozinho. Foi quando ele pegou um odor inesperado na brisa.

       Amoras esmagadas sobre o gelo... Calor lambeu inesperadamente sua pele.

       Sua mandíbula apertou quando Adria emergiu das árvores, seu lobo reagiu com um grunhido assim como seu pau endurecido. A resposta era tão quente, tão rápida, além de seu controle consciente, o que o enfureceu.

       Não dizendo uma palavra, Adria tirou suas botas e meias.

       — Voce não está vestida adequadamente. — Terminou próximo de um grunhido.

       Um fluido encolher de ombros revelou os músculos flexíveis naquela armação alta. — A calça jeans servirá.

       Seu lobo ouviu o desafio não dito, seus caninos faiscaram. — Então vamos. - Com isso subiu correndo no tronco de madeira liso que tinha sido a queda de mais de um SnowDancer, e teve consciência de Adria fazendo o mesmo com uma graça quase felina.

       Ao invés de uma parede no topo do declive, havia agora uma corda especialmente projetada subindo a armação, exigia um rígido controle muscular para conseguir. Ele favorecia àqueles de peso mais leve, e Adria o bateu para o topo e para a escada de anel que testava a força da parte superior do corpo. Ele era muito mais forte que ela em qualquer medida, e eles estavam pescoço a pescoço novamente quando alcançaram o conjunto final de anéis.

       Saltando para o chão firme, ele fez sua passagem no túnel escuro e estreito construído para não deixar o uso de garras e unhas, suas paredes vazando um gel liso que frustrava qualquer movimento. Ele tinha criado o obstáculo, mas ele estava plenamente confiante quando chegou ao final ao lado de uma Adria que tinha fios de cabelo pretos presos em suas têmporas e bochechas, e então eles estavam enxugando o gel e subindo através do ginásio de selva.

       Enfocando apenas em andar pela estrutura complexa, ele não deixou entrar a presença da mulher com a qual ele ainda podia sentir o gosto, ainda sentir tão apertada e líquida em seus dedos. Sempre soube que um dia tomaria uma amante. Lisette, - Uma punhalada ofuscante de dor - estava felizmente casada e nunca pertencera a ele. Era uma verdade que nada poderia mudar e ele havia compreendido que tinha que aceitar isso antes que se destruísse.

       Mas ele não estava pronto ainda.

       Ainda que estivesse, sempre assumiu que a mulher com quem acabaria sua existência celibatária seria morna, afetuosa, alguém que entenderia quão ferido era seu coração.

       Não a estranha próxima que poderia cortar tão eficientemente quanto uma lâmina de barbear.

       Seus braços doíam, caiu sobre seus pés depois de alcançar com sucesso o fim do ginásio de selva e olhou atrás para ver Adria agarrar-se para não cair de uma seção, cortesia do algoritmo fortuito que quase o derrubou de bunda no meio do caminho. Não havia ela o alcançar agora, com dentes apertados ela se puxou de volta e subiu ao topo da estrutura.

       Impressionado, ele não a insultou não dando seu melhor no resto do percurso, o chão duro em baixo de seus pés nus. Ele se acalmava quando ela cruzou a linha de chegada desmoronando sobre seus joelhos. — Sienna estava certa, — ela ofegou, sua trança caindo por um ombro até seu peito. — Você é um sádico.

       — Um percurso fácil não os ensina nada. — Deixando ela para se recuperar, ele correu para a toca para pegar duas garrafas de água de um refrigerador mantido perto da saída mais próxima e correu de volta.

Levantando-se completamente, ela tomou a garrafa que ele ofereceu. — Obrigada.

       Nenhum som, a não ser o da água sendo bebida.

       Fechando a tampa de sua garrafa, Adria empurrou de volta as ondas de seu cabelo molhado de suor e disse: — Olha, o que aconteceu...

       — Deixa pra lá. — A memória de sua traição trouxe bílis à sua garganta, sem levar em consideração a pulsação crua de seu corpo, ainda não estava disposto a aceitar o inevitável e esquecer a mulher que deveria ser sua. Não precisava de uma necropsia.

       A pele cremosa sem defeitos, com um toque dourado deixado pelo sol estava tensa sobre as maçãs do rosto de Adria. — Enterrar sua cabeça na areia não fará isso ir embora. — Seu tom deixou claro que ela não havia ignorado a evidência rígida de sua estimulação.

       Se forçando a não pulverizar a garrafa que segurava na mão, ele tomou seu tempo para responder. — O que exatamente você gostaria de discutir? — Perguntou em um tom que disse para ela recuar se soubesse o que lhe convinha.

       Adria se fez de desentendida. — Nós estamos sexualmente atraídos um pelo outro, — disse-lhe, os pés ligeiramente afastados e as mãos ao lado. — Talvez você não tenha se dado conta até hoje, mas agora você o fez.

       — Eu também sou um tenente, — disse-lhe, furioso por não entender sua própria resposta antagônica a Adria a tempo de segurar isto, — E isso significa que eu posso controlar meus impulsos. — Nenhuma parte dele tinha qualquer intenção de ceder a esse desejo inoportuno, o lobo com uma ira tão primitiva quanto o homem.

       — Assim como eu posso. — O som daquela voz rouca esfregando contra sua pele em uma carícia. — Mas estou dizendo que nós não necessariamente precisamos. — Ela segurou o brutal domínio de seu olhar durante um longo momento antes de sua loba a forçar a desviar o olhar, suas mãos em punhos apertados, ossos brancos contra a pele. — Eu não quero uma relação permanente e Índigo me disse que você também não quer.

       — Ela disse, não é?

       Na pergunta sedosa Adria encontrou mais uma vez seu olhar, sua respiração ofegante, sua loba indubitavelmente lutando porque sabia que ele seria mais forte e perigoso num confronto. — Ela não quebrou sua confiança.

       Ele a respeitou por ter defendido Índigo, mas isso não a desculpava pelo que ousou sugerir. Sua raiva ficou silenciosa, mortal, fria. — Você só quer dormir junto, é isso?

       Os dedos esbeltos se dobraram apertados novamente. — Eu estou falando sobre compartilhar privilégios íntimos de pele. — Suas maçãs do rosto ficaram vermelhas, — Nada proibido ou tabu no meio da matilha. Eu não vejo por que você está reagindo como se eu estivesse sugerindo algo terrível.

       — Porque eu não gosto de você, — disse-lhe, e a viu vacilar.

       Ele estava sendo desumano e não era normalmente tal bastardo, mas Adria tocara sobre o maior ferimento em seu coração e então esfregara sal sobre a ferida, com sua abordagem casual para algo que fodia com ele. Ele não podia enxegar, muito menos pensar, mas uma coisa ele sabia: — Você não é uma mulher que eu quereria em minha cama.

     Adria podia sentir seu rosto queimar, o calor devastador, mas não se acovardou com o rabo entre as pernas. — Não poderia ser mais claro que isso.

       Riaz não respondeu, apenas a observou com aqueles letais olhos dourados.

       — Nós temos que trabalhar juntos, — ela disse, se recusando a permitir que ele a intimidasse, sua dominância empurrado-a até que era uma força quase física. Levou tudo que ela tinha para segurar seu chão. Na verdade, sua loba já deveria ter-se abaixado na frente de um maior, mais mortal predador, mas o pequeno “segredo” sobre seu exato lugar na hierarquia lhe deu suficiente latitude para resistir ao poder que saltava dele por mais alguns momentos.

       — Eu não quero problemas entre nós. — A furiosa estimulação sexual fundiu com a névoa vermelha da raiva que lambia o ar. — Atrapalhando nossa relação de trabalho. Vamos concordar em ficar cada um para seu lado tanto quanto possível e quando não for, sejamos corteses.

— Ótimo. - Nenhuma piscadela. Nenhuma mudança em sua postura.

       Suor escorreu inesperadamente por sua espinha e seus dentes apertaram, controlando-se para responder com apenas um curto aceno de cabeça antes de partir, sua mão apertando a garrafa d’água tão forte que ela esmagou o plástico. Isso a humilhava agora, quando fez claro o que pensava a respeito dela, o puxão que ela sentia em direção a Riaz era uma torção escura de necessidade em seu intestino. Mas ela não havia se tornado um soldado sênior aos vinte e cinco porque era fraca.

       Garras saíram de suas mãos, sentiu seus olhos se tornarem o âmbar de sua loba.

       Riaz Delgado jamais teria outro convite dela.

 

       ADEN saiu pelos fundos da igreja onde tinha encontrado Judd Lauren pela segunda vez desde que a cidade fora invadida com Pure Psy, parando ao lado do Tc que o trouxe até o local.

       Os olhos de Vasic permaneceram fixos no antigo Arrow, até que Judd desapareceu em uma esquina e nas ruas de São Francisco, uma sombra no meio das sombras. — Ele ainda se move como um de nós.

       — Em todos os aspectos que importam, ainda é um de nós.

       Vasic não disse nada mais e alguns segundos mais tarde eles não estavam mais nas árvores atrás da igreja, mas em um planalto numa montanha isolada, drapejado pelo véu sedoso e cristalino da noite, pontilhado com estrelas tão brilhantes que pareciam contas de vidro.

       Muitos chamaram a PsyNet, a vasta rede que conectava todos os Psys uns com os outros, um campo de estrelas, mas Aden percebera que a PsyNet estava perdendo algo de fundamental. Sua essência, a vida que todos os Arrows se dedicavam a preservar. — Eu esperava o deserto.

       — Ambos os locais permitem que nós conversemos sem ser escutados. — O olhar de Vasic de um frio cinza que nunca dizia qualquer coisa, passando da borda do planalto para as árvores nodosas que se projetavam para a negra noite sem luar.

       Aden sabia o que Vasic buscava na escuridão, mas eles não conversariam sobre isto esta noite. Ao invés, ele disse, — Você acha que Henry Scott está morto? - O Conselheiro tinha sido batido pelo fogo frio de um X-Psy, mas ninguém o viu se queimar até as cinzas, e ele estava cercado por Tcs capazes de tele transporte.

       O cabelo de Vasic foi erguido pelo vento, as ondas tinham crescido nos últimos meses até que passar do comprimento regulamentar dos Arrows. — Não confirmado, mas ele tinha seus melhores homens ao redor. A probabilidade de eles o terem tirado a tempo é alta.

       Aden chegou à mesma conclusão. — Se ele estiver vivo aprendeu alguns novos truques, ou alguém o está ajudando a esconder sua presença na Net. As mudanças em Henry ficaram aparentes antes da batalha. Antes do aparecimento súbito de uma perícia militar inesperada e impossível, o Conselheiro tinha sido o membro beta do par Henry-Shoshanna.

       — Ming. — Vasic continuou a olhar fixamente ao redor à medida que ele falava, e Aden se perguntou quanto dele permanecia aqui neste planalto frio e varrido pelo vento.

       — Sim.

       — Ele pode ter aconselhado e usado Henry por seus próprios objetivos, mas Ming não o protegeria uma vez que ele estivesse debilitado e que não tivesse mais qualquer uso estratégico.

       Os pensamentos de Aden se mesclavam muito perfeitamente com os de Vasic, ele não desperdiçou tempo verbalizando seu acordo. — Os membros sobreviventes dos PurePsy permanecem fanaticamente dedicados a ele. O Silêncio era para ter eliminado toda emoção de suas vidas, mas rachaduras começaram a aparecer no tecido frio do condicionamento que todos eles sofriam quando crianças. Os PurePsy poderiam depreciar aquelas rachaduras e apreciar seu próprio estilo de “Pureza” , mas a profundidade de seu compromisso para com Henry colocou seu próprio condicionamento em check. — Eles bem poderiam ter um forte telepata entre eles. Qualificado o suficiente para bloquear a presença visível de Henry na Net.

       — Você pegou um rastro?

       — Sim. — Escolhido para ser treinando como Arrow só porque seus pais o tinham sido, Aden era oficialmente um médico de campo, seu toque telepático muito sutil, foi classificado erroneamente como um gradiente muito baixo. Walker Lauren foi a primeira pessoa que entendeu o perigoso poder de Aden e o manteve em segredo. Ensinando as habilidades que Aden costumava usar. — Se Henry estiver vivo, eu o acharei.

       Verificando uma mensagem que entrava no dispositivo aclopado em seu braço, um dispositivo que Aden observou se tornar uma parte viva de seu corpo depois que a fusão experimental se deu no final do último ano, Vasic disse, — Você falou com Abbott novamente?

       — Sim. Ele fica conosco. — O Tc tinha estado à beira de desertar do esquadrão para se juntar aos PurePsys.

       — O que você disse para convencê-lo?

       — Aqueles PurePsy querem manter a estrutura de poder atual, levando em conta que aquela estrutura de poder se provou irreparavelmente defeituosa. — Os Arrows não eram estúpidos, nunca simplesmente tinham sido armas antes do Jax. O uso a longo prazo da droga os tornaram armas descuidadas, mas inquestionáveis para aqueles que os comandavam, Jax não era mais administrado para nenhum Arrow. — O que Abbott quer, — Aden continuou, — é algo completamente diferente.

       — Um Arrow não pode querer qualquer coisa se ele quiser permanecer um Arrow.

       Não existia nada em Vasic que traísse sua memória, mas Aden sabia que seu companheiro Arrow aprendera aquela lição depois de ter sua perna quebrada múltiplas vezes quando tinha seis anos de idade e expressara o desejo de retornar para casa. — Eu garantirei que ele entenda e que não se exponha a estranhos. — A lealdade dentro do esquadrão não era dita, era porém absoluta.

       Indo para a beira do planalto Aden sentiu, mais do que viu, Vasic vir parar ao lado dele. A montanha tombou-se abruptamente distante na frente deles e isto era uma lembrança do mergulho que a Net estava à beira de dar.

       A única pergunta era quantos morreriam na queda.

 

Sienna adorava estar acasalada com Hawke. Morar com ele porém, ela pensou quando os ponteiros do relógio antigo moveram-se para sete da manhã, precisava de alguns ajustes. Não é que ela não estivesse acostumada a coabitar com outras pessoas, desde sua deserção da PsyNet, ela morara primeriamente com Walker e as crianças.

Era o fato de que por ser tão dominante, Hawke tendia a tomar todo o espaço disponível simplesmente por respirar. — Isso é meu, — ela disse, reivindicando setenta e cinco por cento do closet. Somente na semana passada foi que eles tiveram a chance de transferir a maioria das coisas para o alojamento de Hawke, os dois tendo estado tão ocupados em suas outras tarefas após a batalha com os PurePsy. — Você pode ficar com essa seção.

Ele deu de ombros e colocou sua xícara sobre uma das pequenas prateleiras que uma vez ficaram ao lado da porta de seu quarto de solteiro, o cheiro do café rico e evocativo. — Okay.

Certo, ela admitiu em um amuado murmúrio interno, aquela não havia sido realmente uma grande batalha. Seu lindo e enlouquecedor companheiro vivia em camisetas e jeans, mas quando colocava um terno... A palavra era deleitável . — E também, — ela disse, recusando-se a ser dissuadida de seu mau humor, — Pare de roubar meu café. — Era uma mistura especial que Drew sempre trazia para ela de uma loja muito específica em San Diego.

Hawke sorriu e tomou outro gole antes de devolver a xicara, dada de presente a ele por Marlee, depois de sua sobrinha ter pintado uma criatura parecida com um lobo na cerâmica para seu lugar de descanso. — É um café bom. — Despindo-se da calça de moletom que ele havia vestido depois do banho, ele vestiu uma calça jeans, seus lábios curvando-se em um sorriso que a fez perder o folego. — Você fica linda com a minha camiseta.

Grunhindo, ela se sentou na cama, resistindo à tentação de ir até ele e esfregar sua bochecha no suave caminho de pelos que cobria o peito dele, sua necessidade por ele algo que pulsava em suas entranhas. — Eu pareço uma louca. — Rabugenta e mimada. — É claro que você pode ficar com o café. — Ela fizera o bastante para dois, estava totalmente satisfeita com o fato de que ele gostava de seu jeito de preparar a bebida.

Ele a esperava fazer o café toda manhã, depois beijava a curva de seu pescoço em agradecimento. Da mesma forma que ela esperava que ele fatiasse o pão que pegava algumas vezes na semana em uma padaria próxima às bordas do território, quando ela poderia facilmente fatiá-lo ela mesma. Pequenos rituais. Pequenas peças de suas vidas. A ideia de que eles estavam assentando as fundações de sua história juntos... Fazia-lhe tão feliz que doía. Era o porquê de ela estar aturdida com sua crise de temperamento. — Eu não sei o que há de errado comigo.

— Ei. — Expressão de repente solene, ele se ajoelhou em frente a ela, seus jeans somente parcialmente abotoados e totalmente distrativos. — Eu sei o que está acontecendo.

Ela ergueu seus olhos do peito dele e de um lugar mais abaixo, para seu rosto. — Você sabe?

— Sim, querida, eu sei. — Um olhar acanhado. — Eu estou te empurrando, te pressionando até mesmo em nossa casa, mas eu juro que não estou fazendo de propósito.

Ela tinha resistência zero a ele quando ele ficava assim, quando ela podia ver tanto homem quanto lobo a observando com uma ternura que, simplesmente a desfazia. Fechando suas mãos sobre a seda morna de seus ombros, ela o acariciou até que um rosnado preguiçoso ressoou em seu peito. — Eu fico feliz, — ela disse. — Eu odiaria se você estivesse se segurando comigo.

— Impossível. — Ele angulou seu pescoço em um pedido silencioso, e ela gentilmente massageou um ponto que o teria feito ronronar se ele fosse um felino.

Meu.

O pensamento possessivo era familiar. Hawke despertava seus instintos mais primitivos. — Só para que você saiba, se eu ficar realmente zangada posso chamuscar suas sobrancelhas, —murmurou, porque sabia que se cedesse um centímetro, ele tomaria não somente um quilômetro, mas a estrada inteira.

— Tudo bem. — Cílios se erguendo, ele curvou sua mão em torno do pescoço dela para puxá-la até ele. — Assim nós poderemos nos beijar e fazer as pazes. Duas vezes.

Ela riu com a lenta, profunda sedução do beijo dele, seus seios apertados contra o suave algodão da camiseta que ela pegou quando acordou. A ideia de uma camisola ou pijama era ridícula com um lobo alfa na cama com ela. Nada nunca permanecia. Na maioria das vezes as roupas de dormir acabavam em tiras. Então agora ela só roubava as camisetas dele quando acordava. Ele, é claro, era puro changeling, não tinha problemas com nudez.

Não que ela não gostasse da vista.

Parando o beijo para respirar, ela afastou as mechas úmidas de seu cabelo, suas coxas espalhadas em volta do corpo dele, as mãos dele mornas e possessivas sob a barra da camiseta. — O que você planejou para hoje? — perguntou-lhe, seu coração se apertando com a perfeição desse momento no qual ela tinha o direito de tocá-lo, de cuidar dele, de chamá-lo de seu.

Mordeu-lhe os dedos antes de responder, o lobo brincando com ela. — Acho que eu vou passar a maior parte do tempo com Felix e seu time.

Ela não pôde evitar sua hesitação instintiva com a memória do quão estéril a área sendo replantada se tornara, cada pequena lâmina de grama feita em cinzas.

A resposta de Hawke foi morder o lábio inferior dela. — Eu lhe disse para não fazer isso.

Franzindo, ela esfregou onde sentira uma pontada. — Eu tenho permissão para pensar sobre o que eu fiz.

— O que você fez foi salvar as vidas dos seus companheiros de clã. — Puxando-a mais para perto, ele sugou o ponto onde havia mordido, aliviando a dor temporária. — Isso é o que conta.

— Não sinto pelo que fiz. — Foi uma escolha feita em batalha, contra um inimigo que não iria parar. Não importava quantos anos ela vivesse, ela nunca esqueceria o esmagador, feio som de uma centena de armas batendo contra o crânio de SnowDancers atordoados e machucados. Seu ato foi certo no momento, naquele lugar. — É só que... — Ela havia aniquilado o exército PurePsy, havia matado vários homens e mulheres que tiveram a infelicidade de escolher o lado errado.

Seu lobo segurou o olhar dela. — Fale comigo.

E ela falou. E ele ouviu. Ele entendeu. Até que ela pudesse respirar novamente, seu peito expandido com cada inalação. Não era a primeira vez que eles falavam sobre aquele dia terrível, nem seria o último, mas saber que ele estaria lá todas as vezes que ela precisasse dele, era tudo.

— Algum outro plano para o dia? — ela perguntou depois, arrumando o cabelo dele, porque ela amava fazer isso... E porque tocar Hawke a acalmava no nível mais profundo, até que às vezes, quando as memórias vinham com muita força, ele simplesmente trocava de forma e a deixava acariciar o imenso lobo prata-dourado que era a outra metade de sua natureza, pelo tempo que ela precisasse.

— Eu vou levar Harley comigo, — disse, arqueando seu pescoço enquanto ela passava as unhas sobre seu couro cabeludo como ele gostava. — Isso me dará uma oportunidade de ver como ele está se desenvolvendo. — Outro rosnado prazeroso, as mãos dele flexionando contra a pele dela.

Seu companheiro a deixava tão feliz por ser uma mulher. — Ele se estabilizou? — O jovem macho estava se desenvolvendo para ser um dominante poderoso.

— Ele está chegando lá. O garoto tem uma força de vontade muito forte. — Ele apertou-lhe as coxas com aquelas mãos que ela já havia sentido em todas as partes de seu corpo. — Parece alguém que eu conheço.

— Lembre-se disso.

— É por isso que o lobo te pressiona, —disse-lhe, pressionando um beijo na parte inferior do joelho dela, o que a fez se arrepiar. —Lobo e homem, ambos sabem que você vai pressioná-los de volta. Não seria divertido se você fosse uma fracote.

Seduzida, ela estava sendo profundamente seduzida por um lobo que a conhecia bem demais. — A coisa com as fêmeas maternais? — Não tiveram uma chance de conversar muito na noite anterior, o jantar durando mais que o esperado. Dada as pessoas em volta da mesa, não era de se surpreender que a conversa tenha virado para a crescente instabilidade da PsyNet.

Judd desaparecra por volta das dez, indo para um encontro com seus contatos, então ele provavelmente teria mais informações para compartilhar com Hawke hoje. Depois disso, Sienna sabia que Hawke faria questão de conversar sobre a informação com ela, um verdadeiro companheiro alfa precisava forjar uma confiança mais profunda que a sensualidade, que o elo de companheirismo. Teriam que englobar o núcleo do que era necessário para manter os SnowDancer fortes. — Pelo menos você sobreviveu ao encontro.

O grunhido de Hawke era eloquente. — Eu tenho uma dor de cabeça só de pensar nisso. Pergunte-me novamente depois do sexo e eu posso ter a força de vontade de falar sobre o assunto.

Ela riu. — É bom saber que eu não sou a única que tem medo da Nell.

— Nada me assusta, muito menos uma mulher que talvez tenha cinquenta quilos e é três anos mais nova que eu.

— Continue dizendo isso pra si mesmo.

Olhos lupinos cerrados. — Espertinhos são punidos. — Erguendo suas mãos sob a barra da camiseta, ele passou seus dedões sobre a sensível dobra das coxas dela, sorriu muito lupinamente para o tremor que a abalou. — Você estava bem quieta enquanto discutíamos a cerimonia de acasalamento noite passada.

Brincando com o cabelo dele, ela mordeu o interior de seu lábio. — Eu queria que nós tivéssemos feito isso antes. — Eles decidiram esperar até que as coisas se acalmassem um pouco e que as crianças que haviam sido evacuadas tivessem se reassentado na toca, mas o atraso fez os nervos dela fritarem. — Vai ser o primeiro evento do clã desde... — Desde que todos descobriram o que ela podia fazer, o que ela era. — Talvez nós devêssemos fazer nossa cerimônia junto com a de Walker e Lara, — ela disse, embora soubesse que era tarde demais, a celebração estava somente alguns dias à frente.

— Cada cerimônia é única e adequada ao casal. — Hawke segurou o rosto dela em suas mãos, e ela soube que ele entendera o que não disse. — Eles querem algo mais simples.

E ele era alfa, a cerimônia celebrando sua união, um dos maiores eventos do clã dos últimos tempos. Todos os membros, jovens e velhos, queriam contribuir, ser parte das festividades, e Sienna não os privaria disso, nem mesmo se ela quisesse se esconder em um canto e esperar que ninguém a percebesse.

Hawke pressionou um dedo nos lábios dela antes que pudesse falar. — Eu lhe disse bebê, nós somos lobos. — Afeição selvagem, o apelido que ele só usava com ela. — Nós respeitamos a força.

— Eu sou apenas um soldado. — Hierarquia era um componente crítico da estabilidade do clã, e seu relacionamento estava fora disso. Ela nunca desistiria, mas o impacto no clã ainda a preocupava às vezes. — Jovem e inexperiente.

— Não é sempre sobre idade e experiência, — Hawke disse-lhe, olhos de um azul pálido prendendo-a. — Talvez você tenha que conquistar seu espaço tratando-se de dominância pessoal, mas você já tem a lealdade deles, porque você se doou ao clã, colocou sua vida em risco para protegê-los. Isso é o que importa.

Envolvendo seus braços ao redor dos ombros dele, ela relaxou em seu abraço. Ele a abraçou mais apertado, acariciando suas costas. Ninguém no clã fez ou disse qualquer coisa para fazê-la se sentir não desejada após a batalha, verdade. Houve mais que alguns sorrisos dados a ela, e a provocação que eles receberam como recém-acasalados era impiedosa, mas — Algumas pessoas tem medo de mim, — ela sussurrou.

Hawke riu. — Bebê, a maioria das pessoas tem medo de mim. — Ele depositou um beijo em seu pescoço. — Faz parte do pacote.

 

Riaz espiou o escritório de Hawke na manhã após seu confronto com Adria, mas encontrou o escritório vazio. — Riley, — ele chamou, correndo para acompanhar o tenente. — Você viu Hawke?

— Ele foi ajudar o time do Felix. — Riley olhou para o pequeno datapad em sua mão. — Sem hora marcada para voltar para a toca, tente encontrá-lo em seu celular via satélite.

— Não, eu acho que vou correr e me encontrar com ele. — Trabalho físico e exaustivo seria bom para ele. Ele estava tenso devido à fúria primitiva que tomou conta de seu corpo no fim da noite. E não foi o rosto de Lisette que o atormentou. Não na noite passada.

— Felix disse que o solo está perfeito para o plantio, como se tivesse sido fertilizado. — Os olhos de Riley estavam atentos. — Ele nunca viu algo assim.

Não, nada nunca sequer chegara perto da beleza mortal do gelado fogo de Sienna. — Eu sei que ela é jovem, — Riaz disse, lembrando-se não somente do brilho vermelho dourado da chama voraz, mas também dos gritos que vieram antes, o doentio som de ossos esmagando enquanto SnowDancer após SnowDancer caía, ensanguentado e quebrado. — Mas qualquer um que consiga controlar aquela quantidade de poder tem meu respeito.

A resposta de Riley foi inesperada. — Se assegure de dividir esse ponto de vista com os outros membros quando a oportunidade se apresentar.

— Problemas? — Ele não havia sentido nada, mas não estava tão conectado com a vida diária do clã quanto Riley. Tendo morado aqui por toda a vida, o tenente veterano era não somente uma âncora para os outros membros, Hawke incluso, mas também um homem cujo todos no clã confiavam, desde os soldados mais durões até as ocupadas fêmeas maternais, jovens rebeldes, e anciões.

— Não, — o outro macho disse. — Mas a batalha foi a primeira vez que o clã teve ciência do que Judd e Sienna podem fazer. Nesse momento, todos estão felizes pelo sucesso, mas quando a adrenalina passar e eles começarem a pensar nisso...

— As pessoas vão começar a perceber exatamente o quanto esses dois são perigosos. — Riaz assentiu, vendo onde Riley queria chegar. — Nós precisamos fortalecer esse sentimento agora, para que mesmo quando a adrenalina passar, todos continuem a vê-los como fortes membros do clã que usarão suas forças para proteger os mais fracos, não os Psy que eles precisam temer. — Lobos podiam ser predadores, mas a maioria não era dominante. Os membros mais vulneráveis dos SnowDancer seriam praticamente vulneráveis contra o tipo de poder dominado por Judd e Sienna, e, embora a maioria das pessoas não percebesse a força de sua telepatia, Walker.

— Sim. — Riley manteve seu tom de voz baixo enquanto eles conversavam. — Provavelmente estou sendo cauteloso em excesso, mas — um sorriso pesaroso — é para isso que eles me pagam.

— Não, você está certo. É melhor reassegurar sutilmente a todos agora, quando eles já estão predispostos a amar os Laurens, que depois, quando o medo entrar em jogo. — Ele prometeu se lembrar de ter uma conversa calma e informal com algumas pessoas. — Você precisa que eu faça alguma coisa hoje? Se não, me juntarei ao grupo de plantio agora. — Ele precisava fazer algo físico, sua pele parecia que estava muito esticada, muito fina sobre a necessidade potente de seu corpo.

Nunca fora tão ruim assim. Como um lobo solitário, ele estava predisposto a períodos de solidão que deixariam os outros membros do clã loucos, e poderia ficar ainda mais tempo sem toque algum. Ele havia estado sozinho por quatro meses quando encontrou Lisette seis meses atrás, e sentiu aquele estonteante, indescritível chute nas entranhas que era o reconhecimento instintivo de uma companheira.

Intelectualmente, ele entendia que mesmo que não fosse comum, poderia acontecer dessa forma, que um lobo poderia se virar e simplesmente saber que uma mulher estava destinada a ser sua sem sequer ter falado com ela, mas nada poderia tê-lo preparado para o impacto daquele momento. Todas as células em seu corpo cantaram com a proximidade da presença de Lisette, seus sentidos profundamente afinados nela, seu corpo vibrando com a percepção de que era ela. Mais que uma amante, mais que uma amiga, uma companheira era destinada a ser a outra metade de um lobo changeling e ele havia encontrado a dele.

O destruidor fato de que ela pertencia a outro homem, poderia ter impedido o elo de existir, mas não fez nada para abafar o impulso que o agarrou em dentes afiados e o segurou firme. Profundamente entrelaçada com aquele impulso estava uma promessa tão primitiva, que ele nunca antes considerara... Uma promessa de fidelidade: um lobo que encontrara sua companheira somente dividir privilégios de pele íntimos com ela.

Aquela promessa veio de uma parte tão profunda no coração de seu lobo, que independentemente do fato de que Lisette nunca seria dele, ele era incapaz de suportar o pensamento do toque de outra mulher, suas entranhas se revoltavam. Como resultado, fazia quase um ano desde que ele dividira privilégios de pele íntimos, um longo tempo mesmo para um lobo solitário, especialmente um dominante, mas ele estava sob controle. A falta de contato machucava às vezes, mas era algo dominante, ameaçando cegá-lo.

E então veio Adria e o formigamento constante em sua pele, a irritação que ele não havia entendido até que ela o empurrara até o seu limite. Seu membro endureceu com a memória dela gozando tão selvagemente quente em torno de seus dedos, seu cheiro de amoras esmagadas no gelo entrelaçado com um almíscar feminino que agiu como droga em seus sentidos. Ela estava certa na clareira. Agora que ele havia ficado cara a cara com a luxúria viciosa que impulsionou sua resposta a ela desde o começo, ele não conseguia desfazer-se, não conseguia voltar para o tempo em que ele não a queria, o eco de seu encontro explosivo o provocando em seus sonhos.

— Vá em frente. — A voz de Riley interrompeu seus pensamentos. - Felix precisa de tantos ajudantes quanto ele conseguir. — Ele puxou um arquivo em seu datapad. — Leve alguns juvenis com você. — Uma pausa. — Os machos. Isso manterá as fêmeas maternais felizes e deixará os garotos cansados demais para se meterem em encrenca.

Uma memória súbita fez Riaz sorrir. — Se lembra daquela vez que Hawke, Coop, você e eu fomos pegos com aqueles filmes?

 

— Aqueles filmes compensaram o fato de que nós tivemos que limpar os banheiros por um mês. — A expressão de Riley era solene, em oposição direta ao divertimento em seus olhos. — Eu aprendi várias coisas. Ainda estou tentando encontrar uma cópia daquele terceiro filme.

Lobo gargalhando, sua tensão momentaneamente diminuída, Riaz foi pegar os garotos que se comportaram mal. Eles grunhiram por serem recrutados, mas não protestaram. Ao invés, acompanhando Riaz enquanto eles corriam em um ritmo fácil, o atacaram com perguntas sobre treinamento, batalha, e como melhor cortejar garotas sem cruzar a linha para o território proibido.

Era a última coisa na qual Riaz queria pensar, muito menos discutir, mas ele não rosnou para os jovens, pelo jeito, um número deles esteve se lamentando ontem, obviamente já haviam ouvido um sermão ou das maternais ou de Hawke, provavelmente dos dois.

Utilizando os recursos que o faziam um tenente, ele respondeu as perguntas com verdades puras, não havia motivo para proteger lobos machos dessa idade. A risada e brincadeira deles um com o outro, especialmente ao ocasional blush de vergonha, acalmou mais profundamente o lobo selvagem dentro dele, até que ele estava quase são quando chegaram ao que seria um deserto logo após a batalha, mas agora era uma colmeia de atividades, centenas de mudas já prontas, esperando para serem plantadas na terra.

— Pás. — Ele as pegou da pilha em um canto, então os guiou até Felix, que colocou todos para cavar, o plantio sendo feito por aqueles que o especialista horticultural havia treinado a lidar com as raízes das mudas. Quando Joshua mostrou um interesse na tarefa, Felix o colocou para fazer dupla com a juvenil Lucy, para que ele pudesse aprender como fazer a tarefa corretamente.

Envolvido pelos cheiros e vozes de seu clã, os ombros de Riaz relaxaram aquela polegada final.

O tempo passou em um queimar de músculos, e o úmido e rico cheiro de terra e brotos, coisas crescendo, e ele estava silenciosamente contente quando a escuridão começou a tocar o horizonte. Tendo enviado os mais novos de volta mais cedo, com a maioria dos outros ajudantes seguindo-os uma hora atrás, ele ajudou Felix e o pequeno grupo que permaneceu a limpar os vasos vazios, pás esquecidas, e luvas descartadas.

— É um grande projeto, — ele disse, inclinando a última pá dentro do armazém temporário antes de sair para que Felix pudesse trancar a porta.

— Vai estar pronto antes do que você espera. — Porta fechada, Felix se virou para acenar um adeus à última caminhonete, exceto a que ele pretendia dirigir, sua feição tão refinada quanto a de um aristocrata. Aquele rosto classicamente refinado, combinado com seu corpo musculoso de um-metro-e-noventa, o tornara um modelo de sucesso na faculdade. Mesmo agora, companhias de produtos de luxo o procuravam para posar em suas campanhas, mas o verdadeiro amor de Felix era a terra e sua flora, seus olhos com cílios espessos brilhantes em satisfação enquanto ele observava o que já haviam conquistado. — Hawke vai me recrutar ajudantes em uma rotação constante. Seis semanas no máximo e estará pronto.

O alfa caminhou até eles naquele momento, dando um tapinha no ombro de Felix. — Seis semanas? Inferno, Felix, você é um sargento disfarçado.

Felix sorriu, erguendo os olhos para encontrar os de Hawke por um breve segundo antes de se desviar, sua natureza submissa desconfortável com o contato visual. Porém, sua posição na hierarquia não fazia diferença nesse campo, aqui, todos eles recebiam ordens dele, porque aqui, Felix era aquele que sabia o que estava fazendo.

Agora, o outro homem enfiava as mãos nos bolsos frontais de seus jeans. — Estou feliz por ver tudo se ajeitando depois de tanto planejamento. Vai levar mais algum tempo para a área se regenerar, mas daqui alguns anos ninguém será capaz de distinguir esta área de nenhuma outra no território.

Hawke olhou para o céu listrado com os últimos raios do pôr-do-sol, linhas de tensão contornando sua boca. — Eu odeio o fato de nós termos esse buraco enorme onde os satélites podem nos alcançar e nos ver.

— Está na borda do território, — Riaz apontou. — A menos que você planeje fazer uma apresentação de balé vestindo penas de galinha, eles não encontrarão nada interessante.

— Droga, — Hawke disse com um rosto sério. — Já tinha depenado as galinhas.

Rindo, os três foram para a caminhonete. O alfa pulou no banco atrás, ao lado de Riaz. Como eles eram os últimos três a partir, era uma vista pacífica, ainda que nua, que se afastava deles quando Felix ligou o motor e começou a jornada para casa.

Costas apoiadas contra a cabine da caminhonete, Riaz deixou o vento soprar em seus cabelos, grunhindo quando o caminho começou a ficar acidentado. — Essa coisa não tem hover drive[1]?

— Eu responderia, mas acho que acabei de perder um dente.

Sons hidráulicos seguiram as palavras de Hawke, rangindo e grunhindo antes de conseguirem levantar o automóvel do chão com sucesso.

— Já passou da hora de nós substituirmos isso, — o alfa disse, batendo na lateral da caminhonete. — Mas Eli foi quem a comprou para o clã, e ele é apegado a esse saco de ferrugem. Eu acho que ele a chama de Sheila.

— Sheila? — Riaz sorriu. Foi por isso que ele havia voltado para casa, com o coração magoado e lambendo suas feridas, ciente da solidão que sempre foi tão integral à sua natureza. Ninguém poderia apagar a dor, mas seu clã... Eles deram a ele o presente da risada, o envolveram em calor, e o mantiveram ocupado até que ele quase conseguia esquecer o ferido rombo que era seu coração, suas bordas sangrando e em carne viva.

Um beijo selvagem. Um esbelto corpo feminino se esfregando contra o dele, suas pernas trancando-se em torno da cintura dele. Seus dedos escorregadios com a necessidade dela. Seu membro pulsando com a vontade de empurrar fundo.

Silvando um suspiro silencioso, ele estrangulou o rugido de memória sensorial. Ele bem esquecera sua companheira naquele momento, não é? Não somente esquecera, mas a traíra na forma mais básica. A pior parte era que a memória de seu encontro erótico com Adria o excitava todas as vezes, suas entranhas se retorcendo não em desgosto, mas em um desejo abrasador.

— Meu pai, — Hawke disse enquanto eles passavam sob a sombra de um pinheiro gigante, seu grosso tronco marcado com as marcas de centenas de garras, — era um lobo solitário.

Dobrando seus braços sobre seus joelhos, Riaz continuou a manter seus olhos no caminho da floresta se afastando atrás deles, a luz fraca transformando as árvores em borrões distantes. — Eu sei. — Um ano mais velho que Hawke, ele era um menino desengonçado prestes a entrar em sua adolescência quando o pai de Hawke foi morto, e o clã mergulhado em sangue.

Mesmo tão jovem, Hawke já havia começado a mostrar sua inclinação para estar no centro da vida do clã, enquanto Riaz preferia andar sozinho pelas montanhas. Ainda assim, apesar de suas diferenças, eles se davam bem. Alguma parte dele viu no menino que Hawke era, o homem que ele se tornaria. E quando o clã quase se partiu sob uma chuva de dor e violência, ele tomou a decisão de seguir aquele menino ao invés de ficar sozinho como muitos lobos solitários preferiam.

— É por isso, — Hawke continuou, — Que eu entendo lobos solitários melhor do que a maioria das pessoas.

— Seu pai tinha uma companheira. — Era a única coisa que mudava a necessidade profunda de um lobo solitário por longos períodos de solidão, transformando-a em uma devoção tão intensa que eles se tornavam mais possessivos e protetores que qualquer um de seus outros irmãos. Algumas pessoas diziam que um lobo solitário passava sua vida procurando pela pessoa que se tornaria sua estrela polar.

— Ele tinha amigos que não tinham. — Hawke apoiou seus braços sobre seus joelhos em um espelho da posição de Riaz. — Isso quer dizer que eu sei que lobos solitários têm amigos. Com quem você está conversando, Riaz? — Era uma pergunta brusca. — Não com Coop, ou ele estaria aqui chutando sua bunda para que eu não precisasse fazer isso.

Riaz segurou o pulso de uma mão com a outra, apertou. Cooper e ele haviam crescido juntos, se metido em problemas juntos, e se tornado tenentes juntos. O outro homem o conhecia melhor que a maioria das pessoas nessa terra, que era o porquê de Riaz não poder mostrar sua cara no setor de Cooper. A única razão para Cooper não ter percebido o fato de que algo estava errado quando Riaz voltou pra casa, era que ele estava distraído em sua corte a Grace, a mulher que era agora sua companheira. Ao invés de admitir o fato de que ele esteve evitando Coop, Riaz disse, — Desde quando nós garotas estamos tendo uma conversa de coração aberto?

Sua resposta irreverente não perturbou Hawke. — Se você acha que vou deixar você escapar com toda essa merda, é porque não me conhece. — Um olhar duro. — Você já foi visitar seus pais?

Os pais dele estavam morando em San Diego. Eles queriam ficar mais perto de sua única neta, Marisol, de três anos de idade, a filha de seu irmão mais novo, Gage. — Você realmente está me perguntando isso? — Um rosnado incrédulo. — É claro que eu fui. Logo que eu voltei para o país. — Se não tivesse ido, sua mãe teria vindo bater em sua porta e feito um inferno na vida dele. Ninguém mexia com Abigail Delgado.

O ombro de Hawke roçou o dele quando Felix virou o veículo para passar por cima de um pé de amora que havia crescido demais. — Eu acho que você deveria ir visitá-los novamente.

O lobo de Riaz se eriçou. Talvez Hawke fosse o alfa, mas Riaz era um tenente, isso significava que ele tinha a força e a dominância para machucar o outro homem em uma luta. — Que desilusão te faz pensar que você tem o direito de me dar ordens sobre minha vida pessoal?

A resposta de Hawke foi um latido de risada áspero. — Porra, você me lembra de como eu era ha alguns meses atrás. Não seja um idiota como eu era.

Riaz soltou seu pulso. Sangue começou a correr novamente em um fluxo quente, causando sensações de formigamentos doloridos. Hawke, ele pensou, era talvez a única pessoa no clã que não somente entenderia, mas saberia o que perder Lisette sem nunca a ter faria a ele. Ainda assim... — Não consigo falar sobre isso ainda, — ele disse, sentindo as palavras como se fossem pedras arranhando sua garganta.

— Certo, — Respondeu Hawke, o lobo em sua voz. — Mas, Riaz? Você está em casa agora. O clã só vai te dar a quantidade certa de corda, e nós certamente não o deixaremos se enforcar com ela.

Devia ir embora, pensou Riaz, fugir desse território, de um alfa que via demais, e acima de tudo, de uma mulher que incitava uma fome sexual crua que o deixava com tanta raiva que era como se houvesse um raio branco e quente de sentimento em seu sangue. Mas o doloroso fato era que, ele não estava pronto para caminhar sozinho novamente, coisa difícil de um lobo solitário aceitar.

Talvez Hawke estivesse certo. Talvez ele precisasse ver sua família. Ele comeria a comida divina de sua mãe, provocaria sua linda cunhadinha, brincaria com a pestinha de sua sobrinha, beberia uma cerveja com e seu pai e Gage, e colocaria sua cabeça no lugar. A única coisa que ele não precisava era ceder à compulsão de rastrear o sutil cheiro de amoras selvagens esmagadas no gelo até que ele tivesse o corpo nu e suado de Adria preso sob o seu.

 

Adria deu a volta em um cedro, sua distintiva casa vermelha, alaranjada e cinza na escuridão, para ver Sienna acenando à ela. — Você veio me substituir? — a mulher mais nova perguntou.

— Sim. — Mais uma vez, Adria se surpreendeu com a juventude de Sienna, seus instintos tão protetores com a soldado novata quanto eram com Evie. Mas ela tinha que aceitar que aqueles olhos cardeais... Eram de alguém muito mais velho e muito mais sábio. — Algo que eu precise saber?

— Vê aquela árvore ali? — Sienna apontou para um imenso carvalho negro, sua copa uma sombra espalhada. — Tem um par de águias fazendo ninho. Fique longe, eles estão sendo bastante territoriais. — Ela puxou sua trança. — Eu quase perdi isso quando cheguei muito perto.

Tendo servido de presa para uma águia uma vez, Adria sabia que Sienna tinha sido sortuda por escapar. — Antes que eu esqueça, Evie me pediu para te lembrar de que vocês duas vão jantar juntas. — Mais uma vez, era uma surpresa que sua gentil sobrinha fosse a melhor amiga dessa durona jovem mulher que havia sido forjada em fogo mortal.

— Eu estive esperando por isso o dia todo. — Um sorriso reservado, mas não hostil. — Evie me disse que você é uma expert em artes marciais.

— Uma disciplina em particular, — Adria corrigiu. — É uma das mais agressivas. — Teve que utilizá-la em batalha em uma tentativa de proteger os SnowDancer de ser derrubados pelo inimigo. Suas próprias orelhas estavam sangrando após um golpe sônico, seu equilíbrio balançado, mas ela ainda foi capaz de funcionar em algum nível, então ela lutou.

Bem ao lado de Riaz.

Seu braço estava praticamente esfolado até os ossos por uma queimadura a laser, seus tímpanos despedaçados, e mesmo assim ele se recusou a se abater. E quando ela foi muito lenta e tomou um chute no ombro, ele agiu como um escudo vivo até que ela pudesse aplicar um anestésico localizado e se erguer novamente para lutar. O homem podia até ser um filho da puta pessoalmente, pensou Adria, sua mandíbula apertada, mas era leal e com uma coragem forjada em fogo. — Eu estava pensando em falar com Indigo sobre oferecer uma aula para os novatos dela, —disse, estrangulando a resposta indesejada de seu corpo aos pensamentos sobre o lobo solitário de cabelo escuro. — Você está interessada?

Um aceno imediato. — A razão de eu estar perguntando é porque Evie me disse que pode ser modificado para servir à um indivíduo fisicamente menor.

Garota esperta, ciente não somente de suas forças, mas também de suas fraquezas. Mas novamente, nenhum lobo alfa, muito menos Hawke, se sentiria atraído a qualquer um que não tivesse um cérebro. — Sim, absolutamente. Poderemos dividir as aulas de acordo com altura e peso. — Ela olhou de volta para seu relógio. — É melhor você voltar ou levarei um sermão de Evie amanhã.

Sienna riu, mais confortável com Adria do que ela geralmente ficava com pessoas que ela não conhecia bem. E não era porque a soldado veterana dividia uma forte semelhança familiar com as mulheres Riviere, todas cujas Sienna confiava. A verdade era que Adria fazia Sienna se lembrar de Riley.

Os dois tinham a mesma silenciosa e inabalável confiança entrelaçada com um calor sólido, a mesma sensação de ser uma pedra em meio à tempestade. Sienna não conhecia o clã tão bem quanto Hawke, mas ela tinha uma forte impressão de que Adria logo se tornaria uma das âncoras nunca mencionadas da toca, uma mulher com a qual as pessoas iríam para obter conselhos sólidos, respostas sem julgamentos ou pena.

Enquanto ela dizia, — Tenha uma boa noite, — e se afastava, ela viu o sorriso de Adria desaparecer, para ser substituído por uma expressão muito mais rígida, seus olhos mudando para o âmbar de sua loba. E ela percebeu que talvez, a armadura de proteção de alguém como Adria era a mais difícil de penetrar, porque ela dava tanto a impressão de ser um livro aberto que... Ninguém estava sequer ciente das emoções confusas que poderiam haver sob ela.

 

A maior habilidade de Vasquez era passar despercebido. Era parte do por quê o Conselheiro Henry Scott o havia escolhido a dedo para liderar o exército PurePsy antes do confronto com os changelings. O fato de que Vasquez sobreviveu à aniquilação mostrava tanto sua inteligência quanto sua habilidade de sair por cima em qualquer situação.

E o fato de que ele continuava a apoiar os PurePsy mesmo enquanto uma guerra civil pairava sobre a PsyNet mostrava sua crença de que o Silêncio era a única esperança de sobrevivência de sua raça. Sua dedicação à causa não tinha nada a ver com algo tão inútil e debilitante quanto emoção, pois seu condicionamento era impecável, e tudo a ver com a história: Quem eram os Psy antes do Silêncio?

Uma raça danificada à beira da extinção, assassina e insana.

Agora, eles governavam o mundo... Ou governavam até os changelings adquirirem uma parte de controle do poder. Até mesmo os humanos estavam se agitando. Tudo isso era o resultado de um Conselho fraco, seus membros ineficazes quando se tratava de manter as rédeas sobre as raças inferiores. Aquele Conselho não era mais problema, e Vasquez tinha uma nova série de ordens.

Repetindo-as para assegurar-se de que havia entendido corretamente, assentiu para a pessoa que havia dado aquelas ordens à ele. — Creio termos três operativos capazes de assumir a tarefa, mas quero observar cada um deles cuidadosamente, fazer outra pesquisa profunda sobre o passado de cada um antes de considerar quem abordar. Nós devemos nos assegurar do comprometimento do operativo.

Ótimo. Sem erros dessa vez.

Respondendo verbalmente à afirmação telepática, ele disse: —Não. Desta vez, mesmo um X será impotente contra nós.

 

— Na próxima vez que decidir ficar na cidade para assistir uma série de palestras, — Sienna disse para Evie, quando chegou à toca para encontrar a Riviere mais nova esperando por ela, — Leve seu celular.

Evie enrugou o nariz. — Tai já rosnou comigo por esquecer o celular quando me pegou ontem.

— Duvido, Tai deixaria você escapar mesmo se cometesse assassinato.

— Ele rosnou. — Evie cruzou os braços, mas seus lábios estavam se esticando. — Graças a Deus. Eu estava começando a me perguntar se ele planejava me tratar como porcelana para sempre.

Sienna bufou. — O pobre Tai vai ser acordado rudemente quando perceber que você tem uma espinha de aço. — Evie tinha uma força interna que a conduziria através de qualquer tempestade.

— Ele sabe, — disse, ternura não escondida em seus profundos olhos cinza. — Ele também é um macho dominante, então acha que sempre será capaz de ter tudo do jeito dele se forçar o bastante.

— Eu sei tudo sobre isso.

A risada de Evie as rodeou antes de sua melhor amiga ligar seu braço ao dela. — Que tal — Ela parou suas palavras. — Eu ia dizer que tal nós pegarmos comida na cozinha e ir para o seu alojamento, mas você tem um companheiro agora. — Um olhar de puro deleite.

— Hawke não está na toca. — Ele estava em uma reunião com Lucas, Nikita, Anthony e o chefe de segurança de Nikita, Max. Ela sabia disso porque ele se desviara de seu caminho à reunião para beijá-la, seus corpos se pressionado desde o peito até os dedos dos pés naquele modo changeling afetuoso que ela uma vez invejou de outros casais. Era tão completamente maravilhoso quanto ela imaginara que seria.

— A reunião era para ser amanhã, — ele disse a ela, sua respiração uma carícia quente contra seus lábios. — Mas Nikita, — um tom rosnado — teve que sair urgentemente da cidade para resolver uma situação de negócios, então foi adiantado. Normalmente, eu não me importaria se ela perdesse alguns bilhões, mas isso pode afetar os empregos de mais de mil pessoas.

— Você vai junto para fazer uma revisão de segurança? — Todos na região trabalharam juntos para repelir os PurePsy, e aquela cooperação continuou como consequência.

— Sim. A calma atual não é desculpa para abaixarmos a guarda. Especialmente com o que aparentemente está acontecendo na PsyNet.

Deixando de lado, por essa noite ao menos, o solene conhecimento de que o que estava vindo provavelmente seria muito pior do que o que já passara, Sienna olhou para Evie. — Vamos. Tem comida na cozinha do meu alojamento.

— Me diz que você tem salgadinhos, — Evie disse depois que entraram. — Nós seremos saudáveis e comeremos vegetais mais tarde.

— Eu sou Psy. Eu não como salgadinhos. — Era algo que ela já dissera para Evie, aturdida com as insinuações de amizade da outra mulher. Evie não recuara, sua teimosia doce, gentil e incansável.

Agora, as duas riam enquanto ela pegava um saco de batatas fritas para Evie, bem como maçã do amor para si mesma. Suas visitas à cozinha faziam Hawke balançar a cabeça... Então trazia para ela uma sobremesa carregada de açúcar toda sexta. Mordendo a maçã com um sorriso, ela se jogou no sofá ao lado de Evie e tirou suas botas e meias, apoiando seus pés na mesa de café.

— Isso vai estragar seus dentes, — Evie disse, esmagando uma batata, o ébano lustroso de seu cabelo se curvando sobre os ombros de seu brando cardigã de cashmere.

— Sujo. Falando. Do. Mal lavado.

— Deus, eu amo sal! — Outra mordida. — Desde que não tenho vergonha, vou te perguntar como é estar acasalada.

— Maravilhoso. — De tirar o fôlego o bastante para assustá-la às vezes. — São outras coisas que me abalam de vez em quando.

— Tipo?

Sienna teve que tirar um pouco de caramelo de seus dentes antes de poder falar. — Tipo saber que me tornei parte do centro do clã quando minha inclinação natural é estar à margem. — Ela era uma cardeal X, fora treinada para ser uma agente secreta. — Eu me sinto tão exposta às vezes. — Como se todos estivessem a observando.

Evie se levantou para pegar garrafas de suco para as duas. —Isso é normal, Sin. Qualquer mulher que acasalar com um alfa, acasalar com o alfa do maior clã changeling do país, irá se estressar um pouco com a mudança súbita de status e responsabilidade. Se você não se estressasse, seria um robô.

Sienna conhecia aquele tom. — Você acha que eu deveria me dar um tempo.

— Eu sabia que sexo constante com Hawke não tinha apodrecido seu cérebro.

Sienna quase se engasgou com o pedaço de maçã que estava em sua boca. Engolindo o suco para ajudar a descer, ela apontou um dedo para Evie. — Eu já deveria estar acostumada com as coisas que saem da sua boca.

Evie sorriu, beatífica.

Balançando a cabeça, Sienna disse, — Obrigada pelo conselho. — Evie tinha um jeito de ir ao que interessava, e fazer isso com uma gentileza nata.

— De nada, Senhora Personalidade Tipo A. — Um empurrão gentil seguido por um vislumbre de vulnerabilidade aberta. — Para ser honesta, eu fiquei preocupada que nossa amizade mudasse com você acasalando. É legal saber que você ainda quer conversar, como antes.

— Eu sempre vou precisar conversar com você, Evie. — Amizade era um dom precioso para Sienna, a que ela dividia com Evie era sua primeira e mais profunda. — Eu estava com medo também, — ela confessou, — Que talvez você não se sentisse mais confortável comigo, que você se censuraria.

Evie revirou os olhos. — Idiota.

Um nó do qual Sienna nem sequer estava ciente se desfez em seu peito. — Falando de acasalar, você e Tai?

— Não há nenhum vínculo, — Evie disse, seguindo Sienna até a cozinha enquanto ela procurava ingredientes para uma salada. — Não é incomum na nossa idade. Mas ele é meu. — Ela começou a lavar a alface. — Eu vou obriga-lo a fazer uma tatuagem escrita ‘Eu pertenço à Evie’.

Sienna riu. — Muito possessiva?

— Tai não percebe, — um sorriso satisfeito, — Mas algumas das mulheres mais velhas tem dado umas olhadas para ele desde que ele pegou corpo. — Os próprios olhos de Evie mudaram de cinza para um vívido amarelo dourado. — Só porque sou submissa não quer dizer que não vou achar formas criativas e modos sórdidos para fazê-las se arrependerem de ter ousado dar em cima do meu homem.

— Eu vou te ajudar.

— É claro que vai. Faz parte do código de melhores amigas.

Uma conversa tão comum, mas que ela não poderia ter imaginado ter cinco anos atrás. Sua vida mudou em seu eixo mais de uma vez durante aquele tempo, mas ela encontrou-se antes e faria isso novamente nesse mais excitante novo capítulo de sua vida.

Um pulsar através do elo de companheirismo, — um beijo de seu lobo, - um lembrete de que não importava onde a jornada a levaria, nunca mais estaria sozinha na escuridão.

 

Riaz não avisou sua mãe sobre sua intenção de visitá-la, então quando entrou na casa no meio da manhã do dia seguinte, ela não só derrubou o prato de biscoitos que estava segurando... Mas também caiu em lágrimas.

Riaz teria ficado alarmado se não fosse o fato de ela estar segurando suas bochechas em suas mãos macias e beijando seu rosto, falando em um rápido mix de inglês e espanhol a dois mil quilômetros por hora enquanto o repreendia por ter ficado longe por tanto tempo.

Soltando sua bolsa no chão limpo, envolveu a forma diminuta de sua mãe em seus braços, a suavidade que ela insistia em chamar de seu recheio e seu pai de sexy como o inferno, familiar e reconfortante.

Os braços dela se envolveram em torno dele em retorno, forte como aço. Queixo descansando em seu cabelo, ele respirou o cheiro de flores da primavera, açúcar e calor de seus cabelos. Era o cheiro de beijos em joelhos ralados, abraços depois da escola, toques orgulhosos quando ele se tornou soldado, um milhão de fragmentos de memórias.

— Você vai ficar, — ela disse, se afastando e erguendo a ponta de seu avental para secar o restante de suas lágrimas.

Ele conhecia uma ordem quando ouvia uma. — Sim, senhora.

Aquilo o fez ganhar um tapinha na bochecha e um — Sente, eu vou te trazer biscoitos.

Ele pegou a vassoura ao invés, para varrer os detritos do prato quebrado e seu conteúdo, recebeu um olhar de aprovação. Riaz escondeu um sorrisinho. Ele foi bem treinado. — Onde está meu pai? — Seu pai, Jorge, havia se aposentado de seu serviço como professor, mas ainda passava a maioria dos dias lidando com problemas relacionados aos filhotes e juvenis na área de San Diego, isso o mantinha contente, e o tirava do pé de sua esposa.

— Nós vamos trazer um grupo dos jovens para a cerimônia de acasalamento. Jorge está organizando os detalhes finais hoje.

Riaz sabia que Hawke ficaria encantado. — Vai ser bom te ver lá.

Tirando seu avental depois de colocar um prato de biscoitos frescos para ele, ela disse, — Eu tenho que ir ao mercado. Você quer encontrar seu irmão? Tenho certeza de que consegue convencer Gage de sair mais cedo.

Balançando a cabeça, Riaz disse, — Eu te levo.

Sua mãe riu e o puxou para baixo de modo que pudesse bagunçar-lhe o cabelo. — Meu precioso menino. Você fará uma mulher muito feliz um dia.

Foi preciso muito esforço para manter o sorriso em seu rosto, para não deixar sua mãe ver o que suas palavras fizeram a ele. Envolvendo um braço em torno dela, a puxou para o seu lado e a tentou com um biscoito, determinado a aproveitar seu tempo em San Diego... Mas ele não poderia escapar do reconhecimento cruel de que todos os pensamentos sobre Lisette estavam agora ligados à Adria e ao desejo que abrasava aos dois.

 

Adria esbarrou em Hawke em seu caminho para uma reunião naquela tarde. Quando ele mencionou que Riaz estava em San Diego, choque a deixou sem fôlego. Não porque Riaz saiu da toca para o que parecia ser uma visita curta à sua família, mas por causa de sua própria resposta ao fato.

Um tremor de alívio ondulou em sua pele, sua espinha não mais rígida com a tensão sempre presente. Ela não era tão ingênua ao ponto de acreditar que a atração tinha se acabado, nada tão abrasadoramente profundo poderia ser tão facilmente extinguido. Mesmo agora, brasas da necessidade mais profunda cintilavam em seu sangue. Não, a única razão para o alívio era porque ele se fora, não havia nenhuma chance de ela esquecer seu voto de manter distância do homem que deixou claro como cristal que preferiria dormir numa cama de pregos que com ela.

— Como você está indo com a exploração territorial?

A pergunta de Hawke fez sua cabeça disparar em atenção, sabia que seu alfa tinha de estar avaliando sua desempenho como uma transferida.

— Estou fazendo uma nova seção a cada dia. Converso com Eli ou Riley antes e depois para assegurar que não perdi nada.

A luz bateu no distinto prata-dourado do cabelo de Hawke quando ele inclinou a cabeça uma fração para a direita, o lobo escutando-a. — Bom, —disse, sua expressão fácil não fazendo nada para equilibrar o senso de poder cru que se agarrava nele como uma segunda pele. — Outra coisa, Adria, — um momento de contato visual abrasador — Se houver quaisquer problemas que eu precise saber, me avise.

— É claro. — Deixando seu alfa, seus sensos pinicando com o conhecimento de que Hawke via muito mais que qualquer parte dela queria que ele visse, foi para o encontro semanal de soldados veteranos. Elias, o homem a cargo do grupo, deu uma bronca suave nela por se atrasar, antes de começar a reunião de sua mesa de madeira tão pesada que seriam precisos quatro homens para mudá-la de lugar.

Era a peça perfeita para uma sala que felizmente estava gasta, com seus móveis gastos e o quadro de avisos cheio de convites para festas, menus de delivery, listas impressas, e uma eclética coleção de fotos. O fato era, as fêmeas maternais quiseram, mas foram educadamente recusadas quando tentaram redecorar a sala para combinar com as áreas comuns brilhantes do resto da toca.

Adria estava grata, a sala tinha sua própria identidade, sua aparência estável, confortável, refletindo os pragmáticos homens e mulheres que geralmente a usavam. Diferente dos tenentes, que tinham que lidar não só com problemas políticos, mas também com assuntos que cruzavam setores, os soldados sêniors estavam a cargo da segurança diária e de governar seu setor particular do território. Riley tomava conta das designações em geral, assegurando que os dominantes na toca funcionassem como uma unidade sólida, mas Elias era aquele que lidava com os problemas específicos dos soldados sêniors. E era o conselho dele que Riley pedia quando o tenente queria saber como melhor utilizar aqueles homens e mulheres.

— Certo, — Elias disse, — A primeira coisa que temos que fazer é dividir as tarefas durante a cerimônia de acasalamento.

Adria sabia que todos iriam querer uma chance de comparecer à celebração, mas o território do clã não podia ser deixado desprotegido. — Rotações de uma hora? — ela sugeriu de seu lugar no sofá, ao lado de Simran com seus olhos escuros. — Nós temos pessoas o bastante mesmo sem os tenentes. — Indigo, Riaz, Judd e Riley precisariam ficar no Círculo do Clã.

Kieran entrelaçou suas mãos atrás de sua cabeça e se inclinou, equilibrando sua cadeira precariamente em duas pernas. — Funciona para mim. — O marrom suave de sua pele brilhava com saúde. — Mas aqueles no perímetro interior terão de fazer duas horas, terão de permitir o tempo de viagem. O perímetro exterior será um problema. É muito longe.

— Os felinos concordaram em cobrir. — Elias balançou a cabeça. — Não sei quando nós paramos de tentar arrancar o pelo deles e começamos a confiar neles.

— Que pena, eu poderia ter usado um novo tapete, — um comentário perspicaz ao fundo.

Adria sorriu. Como os outros, sua própria loba ainda estava se acostumando a uma aliança que ia além de sangue até o coração. Para um clã como os SnowDancer confiar suas fronteiras a qualquer um, ainda mais a um clã leopardo forte o bastante para ser uma ameaça, falava de ligações tão profundas, que nada as romperia.

Essa mudança não aconteceu do dia para a noite. Levou anos... Anos enquanto ela esteve presa em nada, guiada por uma dolorosa esperança que havia morrido uma lenta e cruel morte. Mas, ela pensou, nunca mais olharia para trás e se perguntaria se não tinha desistido muito cedo. Não, ela tentara. Até que seu coração se quebrou.

— De volta às rondas, — disse Eli, seu cabelo marrom escuro da cor de café torrado deslizando por sua testa. — Qualquer um que ficar com o perímetro interior só tem que fazer uma ronda para a noite, então se quiserem uma dessa, me avisem.

Houve algumas mãos levantadas, a maioria pertencia àqueles que queriam ter parte da tarde livre para que pudessem ir à cerimonia com seus filhos. — E, — um deles apontou, — Não é como se a festa fosse acabar.

Uma rodada de risadas seguiu, se aprofundando quando Drew disse algo em seu tom casual. Adria ficou surpresa de vê-lo na primeira reunião a qual ela foi, seu lugar na hierarquia era tão mutável, mas ela supôs que ele fosse tecnicamente mais próximo dos soldados sêniors. É claro, o irmão de Riley e companheiro de Indigo tinha um jeito de ser bem vindo em qualquer lugar que fosse, ela o vira com os mecânicos outro dia.

— Okay, agora que isso foi resolvido, — Elias disse, olhando mais uma vez para o quadro no qual ele havia rabiscado suas notas. —Nós precisamos falar sobre...

— Ei, Eli, — Kieran interrompeu-lhe, seus olhos verde- acinzentados perversos com travessura. — Essa é uma daquelas lousas que eles usam na escola primária?

— O quê? — Imperturbável, Elias continuou a escrever na lousa rosa. — Você percebeu isso agora?

Adria riu, se perguntando se Sakura tinha dado a lousa ao seu pai. De trás dela, Simran disse, — Eu acho que é ótima.

— Você é uma garota, — Kieran apontou. — É rosa. A maioria dos homens cospe em rosa.

Vaiado pelas fêmeas no quarto, Kieran abanou os braços. — Ei, ei, eu gosto de garotas. — Charme puro. — Muito.

— Silêncio, — Elias disse em seu tom sério, — Ou ficaremos aqui o dia todo. A próxima coisa que precisamos checar são alguns módulos de treinamento. Nós agora temos um escaladora com certificação de Nível 4 no grupo, então ela aplicará uma lição amanhã para aqueles de vocês que escalam como ursos depois da hibernação.

Adria levou um segundo, e um olhar divertido de Elias, para perceber que ela havia se oferecido.

 

— Tudo bem para mim. — Escalar sempre fora uma grande felicidade para ela, até o ponto de Martin uma vez brincar que ela devia ter sido um felino na vida anterior. Era de fato a única coisa que eles gostavam de fazer juntos quase até o fim. Como se ao encarar o desafio de uma montanha ou a face de um penhasco, eles se tornassem parceiros mais uma vez, e não adversários. — Eu posso lidar com a lição sozinha, — ela disse, gentilmente fechando a porta para memórias que não tinham lugar em sua vida nova, — Mas eu ouvi que Drew é um ótimo alpinista também.

— Sim, ele é. Por isso é que ele vai estar com você.

Drew a saudou do outro lado da sala. Ela não conseguia não sorrir, como ela poderia fazer qualquer coisa além de amar o homem que adorava a mulher que era, de todas as formas que importavam, sua irmã? — Nível? — ela perguntou à Elias.

— Iniciante a intermediário. Nós não podemos continuar deixando os gatos nos darem um baile quando se trata de escalar.

Vários “isso mesmo” soaram pela sala.

Adria balançou a cabeça. — Não pensem que vão sair por aí subindo nas árvores como eles, - seus corpos eram simplesmente construídos de formas diferentes, - mas eu posso fazê-los chegar a um nível competente se nós fizermos as lições uma vez por semana por, digamos, dois meses.

— Feito. — Elias olhou em volta. — Você sabe do que precisa para o curso, anote seu nome para que eu me assegure de que você não esteja em ronda no dia e horário.

Uma voz preguiçosa, Brody, arrastou uma pergunta dos fundos. — Eu gostaria de fazer treinamento avançado de tiro enquanto as coisas estão calmas. Você pode agendar com Judd ou Dorian?

Assentindo, Elias fez outra nota, então o grupo tomou conta de alguns outros assuntos antes de se separar. Drew a acompanhou para discutir sua tarefa compartilhada enquanto os outros se separavam. — Você tem tempo agora para procurar uma localização e falar sobre como faremos a primeira sessão?

— Sim. — Saindo atrás dele, pegou uma maçã na tigela perto da porta.

Drew já tinha dado uma mordida na maça dele quando ela poliu a sua em sua camiseta e mordeu. A mordida foi satisfatória, a doçura refrescante, o ar fora da toca uma carícia fria. Como parceiro, Drew era flexível e inteligente, e eles não tiveram problemas em mapear uma estratégia para a aula.

Aquela aula, quando aconteceu na tarde seguinte, desabou como uma casa pegando fogo. Rodeada por seus companheiros, suja, cheia de pó e suada, ela sentiu um senso de absoluta certeza. Essa era sua casa.

Nada nem ninguém a afastaria disso.

 

Sienna evitou o chute de Riordan, mas sabia que se movera uma fração de instante tarde demais. Estremeceu com a pancada que ela indubitavelmente estava prestes a receber perto das costelas, mas... Nada aconteceu. Piscando, ela percebeu que ele desviara o chute. Nada de errado com isso, ela o fazia o tempo todo no treinamento, porque o alvo não era espancar seus companheiros de combate até que sangrassem, mas ensinar e testar uns aos outros. O único problema era, Riordan ainda deveria tê-la atingido forte o bastante para que ela se lembrasse de seu erro.

Algo quente, escuro e furioso borbulhou em seu sangue. — O que foi isso? — ela exigiu, interrompendo a sessão.

— O quê? — Ele passou uma mão pelos seus cachos cor de chocolate escuro.

— Aquele arremedo de chute.

— Você parou para me criticar? — Ele franziu. — Você pode fazer isso depois, vamos continuar antes que eu envelheça.

Já estressada com a cerimônia de acasalamento no dia seguinte, Sienna não estava com humor para babaquice masculina. —Que tal eu incinerar seu cabelo para que você não tenha que se preocupar com isso? — Simplesmente saiu.

Esperou que medo enchesse os olhos que sempre olharam para ela com afeição amigável, o estômago gelando devido ao seu erro. Ela ameaçava Hawke com brincadeiras de sobrancelhas queimadas, mas era muito cuidadosa para não lembrar ao resto do clã o quê ela era. Mas ao invés de medo, tudo que ela ganhou foi um sorriso de pena, e um dar de ombros. — Eu pensei que você não iria querer um roxo para o grande dia amanhã. — Olhos charmosos, grandes e marrons, e nenhuma culpa.

Quase fazia sentido. Exceto que agora que ela pensara nisso, percebera que ele fizera a mesma coisa durante a última sessão de treinamento, só que fora um pouco mais astuto sobre isso, atingindo-a para que ela soubesse que foi “acertada”. Porém, apesar de seu charme infantil, Riordan era dominante. Quanto mais ela o fizesse admitir o que estava fazendo, mais intratável ele ficaria. — Okay, — disse ela, com um sorriso que esperava ela que não traísse seu humor sanguinário. — Valeu. Pronto?

Ele ficou na posição correta.

Não dando nenhum aviso, deu um forte chute nele, seu pé se conectou com as costelas dele, seu cotovelo com a mandíbula dele, seu punho no estômago dele. Ela manteve seus golpes longe do belo rosto dele, desde que ele tinha um encontro na cerimônia. Porém, enquanto ele bloqueava os golpes dela, não fez nenhum ataque próprio, ela cerrou seus olhos e foi chutá-lo na parte superior da cabeça, que, se acertasse, certamente criaria um belo e grande machucado azul e preto no lado de seu rosto.

— Porra! — Erguendo uma mão, ele agarrou o tornozelo dela um instante antes de ter feito contato com seu crânio e a jogou para longe na direção do chão, subindo em cima dela um instante depois, seu corpo muito mais pesado prendendo o dela com o rosto para baixo no colchonete. — Você está tentando me matar? — Foi um rosnado.

Ao invés de responder e embora ele tenha tirado seu fôlego, ela golpeou o rosto dele com sua cabeça. Ele desviou com outra palavra brutal, libertando-a. Levantando-se para sentar no colchonete, ergueu uma sobrancelha para Riordan quando ele deu-lhe um olhar desconfiado de onde se sentava do outro lado. — Oh, desculpe, — ela disse com uma doçura que deixaria uma barra de chocolate orgulhosa, — nós estávamos só fingindo treinar?

Outro rosnado, esse mais áspero e vindo do peito. — Você é a companheira do meu alfa, — ele atirou com uma raiva crua que ela nunca testemunhou nele. — Meu lobo não pode te machucar.

Isso tirou seu fôlego novamente. Ela esteve tão focada em como membros do clã se sentiriam sobre ela, agora que eles sabiam de seu fogo frio, que não considerou realmente o efeito direto de seu relacionamento com Hawke, especialmente desde que sua amiga mais próxima, Evie, tomou tudo tão facilmente. Mas o fato era que, ela não era mais somente Sienna Lauren, soldado juvenil e amiga de Riordan. Ela era Sienna Lauren Snow, companheira do alfa SnowDancer.

Estonteada pelas implicações de longo alcance da afirmação de Riordan, levou vários segundos para formular sua resposta. — Um alfa pode ser desafiado, — ela disse lentamente, — Então soldados de nível baixo podem ficar agressivos com ele, e por extensão, sua companheira.

Suspirando, Riordan se jogou para trás até que se deitasse sobre suas costas. — Você sabe o que Hawke faria comigo se eu te machucasse?

— Nada se o machucado acontecesse nesse contexto. — Não importa seu protecionismo, Hawke nunca entraria no caminho de seu desenvolvimento e crescimento como soldado. Ele a levou para o colchonete mais de uma vez quando achou que ela estava ficando preguiçosa com seu treinamento físico, para não mencionar que, fora ele quem a colocara naquele treinamento físico em primeiro lugar.

— Se você não pode ou não é capaz de compreender isso, — ela disse, — Vou pedir para Indigo assegurar que nós não treinemos juntos novamente. — Não era uma ameaça, mas a oferta de uma amiga que entendia a natureza de seu lobo. — Sem machucados, sem infração.

Riordan disparou para uma posição sentada. — Você está me dispensando porque eu não quero te atingir forte o bastante para causar hematomas? — Fúria fervendo.

— Eu estou dizendo que eu não vou melhorar se meu parceiro me trata como porcelana chinesa. — Seus inimigos certamente não se preocupariam em machucá-la quando viessem atrás dela, e nem todos eles usavam somente métodos psíquicos. — Eu preciso ser letal de todas as formas se quero sobreviver a Ming e ao resto do Conselho.

Riordan soltou uma respiração áspera. — Deixa-me com tanta raiva que você tenha que pensar sobre merdas como essa.

Foi ela quem deu de ombros desta vez. — Faz parte da vida. — As coisas boas mais que compensavam as más.

Levantando-se, Riordan estendeu a mão, puxando-a para cima quando ela aceitou a oferta. — Okay, — disse baixinho. — Vou parar de me segurar. Mas, Sin... Eu sou um lobo. Posso ficar impreciso às vezes. — Um soco de brincadeira na mandíbula dela. —Só me bata na cabeça para me endireitar.

Seu sorriso estava em seu coração. — Feito.

Mais tarde naquela noite, quando Hawke se deitou depois de uma longa reunião, ela se aproximou do selvagem calor dele e contou sobre seu confronto com Riordan. — Ele ficou bem melhor depois, até me repreendeu por alguns erros.

Hawke cruzou um braço sob a cabeça, o outro em torno dela, seus dedos traçando círculos na parte inferior de suas costas. — Eu estava esperando por isso, você é a única que pode lidar com isso.

Porque no instante em que ele entrasse nisso, negaria o poder dela. — Obrigada, — ela disse, correndo seu pé sobre a perna dele, — Por me amar o bastante para me deixar lutar minhas próprias batalhas.

Ele fechou sua mão no cabelo dela. — Não, algumas delas eu vou clamar como meu direito.

— Okay. Contanto que você não fique ganancioso e tente lidar com todas. — Sentindo a surpresa dele, ela se apoiou em um cotovelo e olhou para baixo para a beleza incrível do brilho noturno de seus olhos, o azul translúcido iluminado pelo fogo. — Lindo lobo.

— Eu gosto de como você me acaricia.

— Antes, — ela disse, acariciando o peito dele com prazer, — eu costumava brigar com você o tempo todo porque era como se você não confiasse em mim para fazer nada, como se eu tivesse que forçá-lo a me ver. — Pressionou seus dedos nos lábios dele quando ele franziu, e foi falar. — Não importa se era verdade ou não, era como eu me sentia.

— Agora eu sei que é diferente... Então posso ceder às vezes. — Tal entrega consciente não mudaria o respeito de seu lobo por ela, sua mão ainda cerrada em seu cabelo. O beijo dele, quando veio, foi quente e terno. — Tão forte, minha Sienna, tão linda. — Sua boca, molhada e possessiva pela linha de sua garganta, fazendo seu corpo arquear na direção dele. — Obrigado, — ele disse num estrondoso eco de suas próprias palavras, — Por me amar o bastante para entender minha necessidade de cuidar de você.

— Hawke.

— Shh... Se deite e pense na Inglaterra.

Risada acordou dentro dela, borbulhando seu caminho pela crua queimadura da emoção. — Eu prefiro pensar em você.

Ela sentiu o sorriso dele contra a curva de seu abdômen, sua mandíbula áspera com a barba por fazer que a fez tremer enquanto beijava seu caminho oh-tão-lentamente pelo corpo dela.

 

O dia da cerimonia de acasalamento de Hawke e Sienna amanheceu brilhante e claro. Embora Adria tenha feito uma ronda de noite, estava de pé e acordada ás dez, preparada para se juntar às preparações finais. Nell, a fêmea maternal no comando, a colocou para trabalhar nas cozinhas. Adria estava perfeitamente feliz com isso, ela gostava de trabalhar com suas mãos, mesmo se fosse somente descascando duas mil batatas.

— Ei. — Um homem de ombros largos, cabelo escuro e pele bronzeada puxou um banquinho em frente a ela, seu sorriso largo, a covinha em sua bochecha esquerda dando a ele um ar maroto. — Eu fui enviado para me juntar aos soldados de campo. — Ele ergueu um descascador. — Meu nome é Sam. Você é Adria, não é?

Era impossível não sorrir de volta. — Sim.

— Eu não sabia que Indigo tinha outra irmã.

O erro era fácil de se cometer se você não conhecesse bem a família. — Tarah é minha irmã, — ela disse. — Então tecnicamente eu sou tia de Indigo.

— Mentira! — Linhas entre as sobrancelhas dele.

Sua loba estava divertida e encantada. — Palavra de escoteira. — Seus pais ficaram, de acordo com sua mãe, — delirantemente estáticos— com a gravidez surpresa logo depois de celebrarem o acasalamento de sua filha mais velha.

Indigo nasceu meros quatro anos depois.

— Huh. — Uma longa pausa enquanto eles descascavam. —Então, você tem um encontro para a cerimônia?

Era bom ser paquerada, exercer suas próprias habilidades de paquera enferrujadas. — Você está me dizendo que você não tem?

Um dar de ombros. — Eu não queria deixar ninguém com ciúmes, então eu ia sozinho, mas agora... — Um olhar tão charmoso que poderia ter vindo de um felino. Impressionante, desde que Sam era humano.

Ela quase disse sim, ele era adorável e sexy e franco sobre sua atração a ela. Mas... Ele era tão inocente. Em seus vinte e poucos anos, claramente forte e corajoso pelo que ela viu das ações dele em campo, mas nem um pouco duro. Embora a verdadeira diferença entre as idades deles fosse provavelmente cinco ou seis anos, ela se sentia anciã em comparação. — Eu não sou boa para você, Sam.

O sorriso dele desvaneceu com suas palavras, seus olhos marrons suaves e intencionados. — Talvez eu seja bom pra você, hmm? — Ele descascou outra batata, como se esperando que ela disesse algo mais. Quando ela não disse, ele fingiu um suspiro dramático. — Certo, eu aceitarei a derrota, com uma condição.

Deus, ela gostava dele. — Não parece muito com aceitar a derrota.

— Eu sou um SnowDancer. — Um sorriso pecaminoso. —Prometa que você dançará comigo quantas vezes eu quiser.

— Só dançar, — ela disse, prendendo-o com um olhar severo. Não seria justo com Sam permiti-lo pensar que isso poderia progredir, não quando sua loba permanecia fixada em outro lobo. O doloroso, indesejado desejo era algo que ela derrotaria, mas ela não machucaria mais ninguém no caminho.

— Okay. — A concordância suspeitosamente dócil de Sam foi seguida por um sorriso presunçoso.

Adorável, ela pensou novamente, sabendo que ele definitivamente tentaria roubar um beijo, no mínimo. — Sam. — Sua risada cancelou sua tentativa de ser rígida. Dessa vez, ela se sentiu leve, jovem e descuidada, algo que ela nunca esperou sentir novamente.

Covinha aparecendo e causando efeitos perigosos, ele tocou a bota dela com a dele, brincalhão como um filhote. — Nós vamos nos divertir.

— Sim, — ela disse, sua loba caminhando felizmente dentro dela, — Eu acho que vamos.

 

Descansado e acalmado pelo tempo que passou em San Diego antes de voltar para a toca em um voo matinal, com seus parentes e as crianças agendadas para chegar naquela tarde, Riaz ajudou a arrumar o sistema de som para a cerimônia, bem, na maior parte ele só carregou coisas enquanto os técnicos diziam a ele o que fazer. — Eu acho que eles estão gostando disso um pouco demais, —disse para Elias quando ele e o soldado veterano pausaram para tomar água.

— Com que frequência eles podem dar ordens a um tenente? — Elias sorriu... E quase caiu para frente quando um pequeno furacão o atacou por trás, envolvendo seus braços nas pernas dele.

— Papai!

Jogando sua garrafa de água para Riaz, Elias pegou Sakura, erguendo-a em seus braços. — Você quase me derrubou de cara no chão, bebê.

Sakura riu, seus finos traços pintados com as conhecidas marcas de uma princesa guerreira imaginária. — Neal estava me perseguindo. — Ela espiou sobre o ombro. — Lá vem ele! — Saindo dos braços de seu pai, ela correu pela esquina, braços e pernas pulsando com uma força que desmentia sua forma pequena.

Um garoto da idade dela deslizou correndo por eles um minuto depois, uma bomba de água verde fluorescente em sua mão.

Lobo se esticando com diversão, Riaz devolveu a garrafa de água à Elias. — Parece que as crianças começaram a festa cedo.

Ao invés de responder com gentileza, o soldado sênior encarava o ponto onde as crianças tinham desaparecido, sua expressão pensativa.

— Não se preocupe, — Riaz disse, pensando que Eli estava preocupado que o garoto machucaria Sakura. — Drew checou as bombas de água. Eles não atingem com nenhum impacto, só deixam a outra pessoa molhada.

— O quê? Oh. — Elias balançou a cabeça, passando uma mão por seu cabelo úmido de suor. — Não, não é isso. — Uma pausa enquanto bebia. — A coisa é... Eu não vejo aquele sorriso no rosto dela desde antes das queimaduras.

Atingido por um laser em um ataque dos PurePsy, Elias sofreu feridas tão severas, que estava em choque quando chegou à enfermaria. Pequena Sakura ficou desconsolada, era a menina dos olhos do pai dela, sua tristeza mais mordaz por ser tão silenciosa. Ela era essa criança solitária de olhos grandes, chocada, e tinha partido o coração do clã por vê-la assim.

Riaz sabia que tanto Eli quanto sua companheira Yuki continuavam se preocupando com o impacto de longa duração do trauma em sua filha. — Vai levar tempo, — disse, sua mente em outra criança, outro pai, — Mas ela vai superar. Crianças são mais duronas que os adultos pensam

Elias encontrou o olhar dele. — Você parece ter certeza.

— Meu pai fora gravemente ferido na briga em que Garrick morrera. — Seu pai, professor, sabia que não tinha nenhuma chance contra os dominantes que tinham se transformado, mas ele ficou firme, defendendo os inocentes. — Realmente me chocou. — Ele não gostava de pensar sobre isso, mesmo agora. — Porque pais não devem se machucar, sabe? A melhor coisa que meus pais fizeram foi não mimar nem superproteger meu irmão e eu depois, a normalidade nos ajudou a nos reestabelecer. — E mesmo como um garoto, ele sabia que fora sortudo, muito sortudo.

Riley perdera seus pais.

Hawke perdeu seu pai... E não muito depois, sua mãe.

Tantos outros amigos foram deixados órfãos ou com só um dos pais.

— Só a ame, — ele disse. — É tudo que ela precisa.

— Eu nunca vou esquecer como a toca era na época, quando tudo acabou. — Frias sombras passavam pelos olhos de Eli. — Quão sobrenatural, o quão quieto. Tantos dos fortes estavam mortos. Eu era novato na época, e aterrorizado de que o clã fosse desabar em torno de nós.

Mas os SnowDancer não se partiram. Ficaram mais fortes. Até que essa noite eles celebrassem o acasalamento do garoto que desistiu de sua infância para liderar o clã contra a escuridão. Nada nem ninguém, Riaz pensou, seu próprio lobo feroz em sua lealdade, nunca iria abalar a lealdade do clã a Hawke. — Vamos lá, — ele disse para Eli, — Os megalomaníacos chamados técnicos estão gesticulando para nos apressarmos.

Foram duas horas depois que o outro homem disse, — Pronto! Não sei quanto a você, mas eu apreciaria uma cerveja.

Pegando a camiseta que tirara mais cedo, Riaz a usou para secar seu rosto enquanto assentia. Ele passou a camiseta por trás de seu pescoço enquanto eles deixavam o Círculo do Clã, e não estava realmente prestando atenção quando um grupo de fêmeas passaram por eles, carregando pequenas caixas cheias de decoração.

Até que um assobio lupino perfurou o silêncio.

Olhando para trás, ele se encontrou sendo observado por uma bela mulher de olhos escuros e cabelos loiros cacheados que iam até o meio de suas costas. Ela apoiou a caixa em seu quadril, seus seios fartos empurrando contra o algodão de sua camiseta azul militar, seu sorriso um convite. A maioria dos machos de sangue quente teriam fechado a distância entre eles para aceitar, mas Riaz balançou a cabeça com um sorriso gentil para suavizar a rejeição, e continuou em seu caminho.

Elias não disse nada até que eles passaram da área densamente florestada imediatamente em volta do Círculo do Clã, e para uma sessão que estaria vazia se não fosse por eles. — Você já tem um encontro?

— Não estou interessado. — Seu lobo mostrou os caninos afiados como navalha, porque as palavras eram uma mentira. Havia uma mulher que o interessava muito mais.

Uma pequena pausa. — Você... É... Joga no outro time?

Riaz parou, encarou. — Mas que diabos, Eli?

Elias deu de ombros, inabalável. — Fato é que, as mulheres estão começando a se perguntar por que você as recusa quando é óbvio que precisa dividir privilégios de pele. E não atire em mim, mas estão fazendo à Lara umas perguntas bem diretas, também.

— Ótimo. — Riaz agarrou as pontas de sua camiseta, girou. —Meu pau está fixado numa mulher que faz meu sangue ferver — Uma fixação que continuava jogando Lisette para trás — E o clã acha que eu sou ou gay ou incapaz. — Ele não sabia se rosnava de raiva ou se quebrava algo.

— A que você quer — curiosidade aberta — ela está na toca?

— Não importa. — Ele não permitiria isso, independente do fato de que acordara com uma ereção rígida como pedra essa manhã, sua mente cheia com a voz rouca e o gosto erótico da mulher que ele quase fodeu contra o metal frio da porta de um carro.

— Okay. — As palavras geniais de Elias quebraram a intensidade de seus pensamentos. — Embora você devesse saber, sinto que um grande número de mulheres solteiras estão planejando te emboscar essa noite e obter uma resposta, de uma vez por todas.

— Eu deveria ter previsto isso. — Era um forte, elegível macho sem uma parceira. Seria mais surpreendente se ele não fosse emboscado de brincadeira. Também era dominante o bastante para assustá-las, mas só porque ele estava em uma merda de humor não queria dizer que quizesse arruinar a noite das mulheres que só estavam se comportando como suas naturezas ditavam. — Por que diabos eu voltei para a toca? — Foi um rosnado.

Elias deu um tapa nas costas dele. — Você sabe que nos ama.

É, ele amava. Então engoliu sua irritação e frustração, e dançaria todas as danças se fosse preciso, cada uma com uma parceria diferente, para que ninguém pensasse em reivindica-lo.

A única com quem ele não dançaria era Adria.

O envergonhava até a alma, destruindo tudo que achava que sabia sobre si mesmo, mas ele não tinha certeza se poderia tocá-la sem jogá-la na terra e arrancar-lhe a calcinha para se empurrar no aperto escaldante de seu corpo.

 

Hawke captou um cheiro inesperado na brisa quando saiu com Judd, querendo tomar um ar fresco após a conferência que acabaram de ter com Lucas, Sascha, Nikita, Max, e Anthony. Era a segunda vez na semana que todos eles se conectavam, incomum para sua estranha aliança, mas necessário, dado a volatilidade da PsyNet.

Tornou-se perigoso o bastante para que ambos, Nikita e Anthony, fizessem planos de contingência caso fossem assassinados. Pela primeira vez, ele se encontrou sentindo um relutante respeito pelos Conselheiros, os dois consideraram o impacto de suas mortes não somente para seus negócios, mas também para as pessoas que contavam com eles para sua estabilidade. Ele nunca iria confiar ou gostar de nenhum dos dois, não quando sabia quanto sangue eles tinham em suas mãos, mas aceitou a necessidade de trabalhar com esse inimigo em particular para proteger os SnowDancer e a região.

Não era um cenário que ele teria antecipado sequer um ano antes, mas não iria pensar mais nisso hoje. Essa noite, era sobre sua companheira e seu clã. Sobre lobos e jogos. Risada e afeição.

Aquele cheiro novamente.

— Alexei está aqui? — Seu mais novo tenente queria comparecer à cerimonia, mas Hawke vetou o pedido. Enquanto nenhum dos setores fora do território da toca tivessem sido alvos ainda, os SnowDancer não podiam arriscar reduzir a segurança nessas regiões, e não era somente com os Psys que eles tinham de se preocupar. O setor de Alexei estava na borda, na fronteira com Oregon, perto da terra de um grupo muito menor de lobos, porém agressivo.

Judd deu um olhar inescrutável a ele. — Ele não está agendado para chegar até o próximo mês. Nós discutimos isso na reunião de tenentes.

— Eu sei, mas eu poderia jurar... — Balançando a cabeça, ele passou uma mão pelo cabelo. — Onde Riley disse que nos encontraria?

Judd acenou para a água cintilando através das árvores, o sol reluzindo em brilhantes focos de prata e cobalto. — Na clareira do outro lado do lago. Disse que queria um tempo longe da insanidade lá dentro.

Seu lobo nada feliz com o erro sobre o cheiro, mas disposto a deixar para lá, ele continuou a caminhar ao lado de seu tenente, um homem que, como resultado de suas incríveis habilidades durante a batalha em San Francisco, agora tinha um fã clube completo com camisetas e broches gravados com — Eu Judd — e — Judd é meu namorado.

No curso normal dos eventos, civis não teriam chegado à qualquer lugar perto do ex-Arrow, mas foi impossível evacuar a cidade inteira devido ao ataque PurePsy. Seu nome, pelo menos, deveria ter ficado oculto, mas um número de jornalistas intrépidos arriscaram sua vida e membros para cobrir a batalha, e um deles ouviu os outros lutadores chamando Judd, e revelou isso em seu artigo. — Brenna te mostrou o site?

— Sim. — Um murmúrio sombrio.

O lobo de Hawke uivou de rir, pensando no estoque secreto de camisetas e broches — Eu Judd — que Drew comprara para todos usarem na próxima reunião de tenentes. — Estou pensando em torna-lo meu novo relações públicas.

— Odiaria deixar minha sobrinha viúva tão cedo, — foi a resposta fria.

— Ouvi que as mulheres estão postando o número de telefone delas para você. — Acompanhados por vídeos e fotos sexys.

Os olhos de Judd brilharam. — Não depois de Brenna hackear o site e fixar uma mensagem na página inicial apontando que eu sou muito felizmente acasalado com uma loba com dentes afiados, garras pontudas, e um caso selvagem de ciúme irracional. — Um pequeno sorriso que era inconsciente, silenciosamente satisfeito. — Ela também postou umas fotos macabras de mortes causadas por lobos selvagens.

Hawke sorriu orgulhoso, ele não esperava nada menos. — Essa é minha garota. — Sentindo outro cheiro, ele parou. — Maldição, esse era Matthias.

Judd o observou sem piscar, o perfeito Arrow sem expressão. —Você dormiu direito?

— Engraçadinho. — Rosnando baixo em sua garganta, aumentou sua velocidade. — Jem. Kenji. Cooper — E de repente, ele estava em uma clareira cheia com seus tenentes, machos e fêmeas, desde o mais jovem ao mais experiente, de todos os setores do território SnowDancer.

Uma algazarra aconteceu devido a sua entrada, e então ele estava sendo abraçado, recebendo tapas nas costas, e até sendo beijado. — Eu beijaria essa boca bonita, — uma Jem sorridente disse, tocando a bochecha que tinha beijado, — mas ouvi dizer que sua companheira é uma mulher possessiva.

Ele não estava com humor para rir. — Que diabos vocês todos estão fazendo aqui? — Seus homens e mulheres nunca desobedeceram suas ordens tão abertamente.

— Relaxa, chefe, — Tomás disse com sua irreverencia de sempre. — Nós viemos usando nossas melhores habilidades de espreitar para ficar sob o radar, ninguém vai sentir nossa falta por uma noite. Todos nós temos pessoas em quem confiamos no comando e — ele ergueu um telefone via satélite — Nós estamos em contato constante com nossos setores.

— Com, — Riaz adicionou, erguendo seu próprio telefone, —Judd, Riley, Indigo e eu agindo como reforço duplo no caso de haver alguma emergência.

Hawke olhou para Riley. — Eu assumo que WindHeaven está fazendo turnos de voo de patrulha sobre o território? — Seus tenentes eram muito espertos para não usar cada recurso disponível a eles.

— Eu disse que ele ia descobrir. — Alexei sorriu aquele sorriso de supermodelo dele, como Tomás uma vez descreveu... Bem antes de Alexei dar um olho roxo à ele. — Nós tínhamos que estar aqui. Você pode gritar e nos expulsar, mas nós vamos dar de ombros e voltar.

Kenji, seu cabelo tingido de um roxo escuro e com minúsculas estrelas douradas, assentiu. — Nós somos como cupins, você não pode se livrar de nós.

Ele era alfa, sua palavra era lei. Ele também sabia quando era derrotado.

Envolvendo um braço em torno da pequena forma de Jem, a apertou ao seu lado, seu lobo cheirando o dela em boas vindas. Ter a lealdade de homens e mulheres de corações tão fortes era uma dádiva, mesmo que isso significasse que ele teria de encarar ocasionais desafios à sua autoridade. E esse desafio em particular... Mostrava uma profundidade de amor que qualquer alfa seria dificilmente pressionado a repudiar. — Eu acho que é melhor encontrarmos um lugar para vocês dormirem.

Cooper bufou, o suave mogno de sua pele atravessado por uma cicatriz denteada no lado esquerdo de seu rosto. — Quem planeja dormir?

— Não eu. — O sorriso de Tomás era contagioso. — Pretendo dançar até o amanhecer, esperançosamente com a lobinha sexy que eu vi mais cedo, então ir pra casa antes que qualquer um perceba que eu saí.

— Acho que mulheres solteiras são a melhor escolha para você, mi amigo, — Matthias disse com um sorriso, um braço em torno de Indigo onde ela se inclinava contra o corpo musculoso dele. — Mas não se preocupe. Tenho certeza de que as avós irão apreciar sua companhia.

Virando-se na direção do tenente, Tomás balançou a cabeça, sua expressão falsamente solicita. — Eu teria cuidado se fosse você, Drew pode te arrebentar de novo se ouvir que você esteve tocando a Indy dele. Ele não arrebentou sua cara na última vez?

Indigo deu tapinhas no braço de Matthias. — Eles se reconciliaram.

— Houve beijos? — Tomás perguntou, batendo as mãos sobre seu peito. — Eu não acredito que você não me convidou.

Tendo se aproximado, Jem segurou seu rosto entre suas mãos e o beijou. — Pronto, Tommy.

Foi a primeira vez que Hawke viu Tomás sem palavras. Todos os outros caíram na risada.

O lobo de Hawke mostrou os dentes em um sorriso feliz, fazia anos desde que alfa e tenentes estiveram todos reunidos no mesmo lugar, e merda, isso era bom. Ele sabia que seria bom para o clã também, uma silenciosa declaração que os SnowDancer não estavam assustados ou acovardados por seus inimigos, fugindo e se escondendo.

Eles eram lobos. E eles eram fortes.

 

O Conselheiro Kaleb Krychek se desligou da PsyNet e voltou para seu corpo físico onde estava de pé na borda da sacada de sua casa, nos arredores de Moscou. Aquela sacada não tinha cercas, e o desfiladeiro abaixo, envolto no véu da noite nesse lado do mundo, era puro, sinalizando morte para qualquer coisa que não pudesse voar... Ou teleportar.

Suas pálpebras se abaixaram, levantaram-se novamente.

Sua habilidade de se teleportar para indivíduos não significava nada, não nessa situação em particular. Por alguma razão, ele não podia se teleportar para a pessoa da qual ele passou anos aprendendo a conhecer, a entender. Abrindo seu olho psíquico novamente, ele considerou os caminhos que já tinha atravessado. Estava chegando perto, isso era indiscutível. A única pergunta era se ele seria rápido o bastante para...

Conselheiro.

Mudando seu foco para a saudação mental, deslizou de volta para sua mente e novamente para a PsyNet, dessa vez desprovido dos escudos que o tornavam invisível. — Silver.

A mente de sua assessora era clara como cristal, com nenhuma das finas rachaduras que sinalizavam condicionamento quebrado ou comprometido. — Senhor, — ela disse. — Minha família não perdeu seu contato dentro do PurePsy na luta com os changelings, e seu comunicado mais recente deixa claro que o grupo está se agitando novamente.

— Foi o que pensei. — PurePsy tinha sido gravemente danificado, mas não destruído pela fria violência do fogo X de Sienna Lauren combinado com uma feroz força de luta dos changelings, humanos e Psy.

Uma mistura incomum.

Kaleb assistiu de longe, medindo o que o esforço do grupo significava para o futuro não somente de sua raça, mas para o mundo.

— O novo objetivo deles? —perguntou.

— Não identificado. A informação está sendo comunicada a um seleto número de indivíduos somente se necessário. O único fato que o nosso contato foi capaz de confirmar é que eles mudaram sua atenção dos changelings para a Net.

Kaleb considerou a mudança radical. Depois da derrota decisiva que os PurePsy sofreram, fazia sentido o grupo repensar seus objetivos, mas tinha que ser mais que isso. Fanáticos não pensam logicamente, e PurePsy era uma construção de fanatismo absoluto, não importando o que seus aderentes dissessem a si mesmos sobre a pureza de seu Silêncio.

O mais provável era que, os membros tenham decidido que todos que não apoiaram o ataque do grupo aos changeling eram inimigos, incluindo aqueles de sua própria raça. — Obrigado, Silver.

— Senhor. — Sua presença móvel partira, uma estrela cadente.

Kaleb encarou o desfiladeiro no plano físico, mas no psíquico, ele estava alcançando a DarkMind. O que você ouve? O que você vê?

A quebrada, retorcida neo-sensciência, criada de todas as emoções que os Psy se recusavam a reconhecer, muito menos sentir, se enrolou em torno dele, um animal de estimação querendo afeição. Exceto que não era um animal, e sim um pesadelo, e Kaleb não entendia o conceito de afeição. Ainda assim, ele conseguia imitar bem o suficiente para acalmar a DarkMind.

A neo-sensiência o mostrou mentes perturbadas, áreas da Net perturbadas, mas Kaleb viu isso pessoalmente, monitorou o assunto 8-91 em uma base continua. PurePsy, ele disse, refinando os parâmetros de pesquisa.

A DarkMind não tinha nada de novo para mostrar sobre o tópico.

Então, Silver estava mais certa do que pensava, os PurePsy estavam mantendo todas as informações sobre seus novos planos sob proteção mental e psíquica. Isso significava que seus membros tinham que estar limitando suas comunicações para telepatia ou encontros pessoais. Lento... Mas uma proteção excelente para assegurar que ninguém descobrisse seu objetivo até que fosse tarde demais.

 

Sienna olhou-se no espelho, espantada pela mulher que a olhava de volta. Tudo que ela tinha comprado nos últimos anos, ela tinha adquirido em expedições de compras com os amigos. Mas não o vestido que usava hoje. Assombrosamente consciente de que essa noite, quando ela reivindicasse publicamente seu lobo e fosse reivindicada também, ressoaria em sua alma pelo resto de sua vida, ela precisava que isso fosse uma coisa privada.

Escolhera o design sozinha, pesquisara e adquirira o tecido verde esmeralda, cortara o modelo usando o molde, então pedira a Tarah que costurasse para ela. O resultado era de tirar o fôlego. Feito de um material sedoso que acariciava ao invés de se agarrar, ele tinha tiras que cruzavam seu peito antes de se curvar em torno de seu pescoço em uma curva, e uma graciosa saia fluida que chegava até seus tornozelos. Extremamente elegante, menos a fenda escondida de um lado que ia até o meio de sua coxa somente se ela se mexesse de um certo modo.

Fazia-a se sentir jovem e sexy, bela e graciosa, ao mesmo tempo.

Para seus pés, ela escolhera nãosaltos respeitáveis, mas botas muito desrespeitosas que chegavam até suas coxas, as mesmas que ela usou na noite que Hawke a carregou pra fora do Wild. Aquela foi a noite que eles dançaram sua primeira dança, uma dança que ela nunca esqueceria.

Seu cabelo ela deixou solto, porque seu lobo preferia desse jeito.

Aquele lobo agora rosnava. — Vem aqui pra eu dar uma mordida.

As suas coxas se apertaram. — Se comporte. — Ele estava lindo em uma camisa preta formal e calças, seu cabelo e olhos brilhantes, mas ela tinha outra coisa em mente. — Eu comprei um presente para você.

Um lento sorriso lupino. — Eu tenho um para você, também. — Fechando a pequena distancia entre eles, ele a fez esticar a mão, palma pra cima.

— Oh, — ela disse em deleite, — O que você comprou? — Os brinquedos intrincados que ele deu durante a corte eram um dos bens mais preciosos para ela.

Quando ele colocou o brinquedo mecânico antigo em sua palma, ela parou de respirar. Era uma minúscula representação de um átomo completo, com bolas coloridas representando nêutrons, prótons, e do lado de fora, presos a arcos de finos fios, elétrons. Virando a chave no lado que fazia os elétrons se moverem, o que ela achou que fossem bolas na verdade eram esferas esculpidas em vidro que brilhavam coloridas.

Um brilhante, bem pensado, maravilhoso presente para uma pessoa formada em física.

Olhos ardendo, ela engoliu. — É perfeito. — Ainda a chocava de vez em quando, como ele se lembrava das coisas que importavam para ela, mesmo quando ela não achava que ele estava prestando atenção. Outro dia, um livro tinha aparecido no seu leitor, que ela somente mencionara que queria.

Ele esfregou as costas de sua mão sobre a bochecha dela, como se entendesse exatamente o que seu cuidado significava para ela... Então percebeu que ele entendia. O elo de companheirismo os conectava num nível que era tão selvagem quanto o coração do lobo.

— Por que magnésio? — ela perguntou, identificando o número atômico do metal leve.

Sua mão na mandíbula dela, a boca dele na dela. — Porque é lindamente explosivo, assim como a minha X.

Seu coração pulou uma batida. — Eu gosto do jeito que você me trata, também. — O modo como a fazia sentir como se seu fogo gelado fosse um dom, não uma maldição.

Colocando o presente na mesinha quando o relógio bateu, ela pegou a caixa que tinha colocado na cadeira em frente a ela. — Isso é para você. — Nervos à flor da pele. — Se você não gostar tudo bem, —disse enquanto ele tirava o laço com impaciência masculina e abria a tampa para revelar o conteúdo.

Silêncio.

— Eu posso mandar de volta, pedir outra... — O beijo dele tirou o fôlego dela, tirou suas palavras, teria roubado seu coração se já não pertencesse à ele.

Tocando seus lábios inchados com os dedos, seus seios se apertando contra o corpete de seu vestido, ela o observou colocar a caixa de volta na cadeira e tirar sua camiseta, expondo o belo peito que ela lambeu e chupou no chuveiro não muito tempo antes, seu companheiro conseguia ser paciente agora que a ansiedade passara, embora paciência fosse algo relativo.

Ela acabou sendo presa contra a cerâmica molhada, suas pernas enroladas em torno do quadril dele. Acariciando-a com possessividade preguiçosa, ele a acariciou lenta e profundamente até que ela explodiu em uma chuva de prazer. Ainda assim seu corpo pulsava por ele novamente, a memória sensorial de se esfregar contra o peito dela sensibilizando seus mamilos a ponto de doer.

As narinas de Hawke se alargaram, mas ele não parou o que estava fazendo.

Jogando sua camisa na cama, ele vestiu a que ela passara horas e horas procurando online. Quando ele ergueu suas mãos para os botões, ela se aproximou. — Eu faço isso. — Ela não conseguia evitar beijar cada polegada rígida e musculosa antes de cobri-las.

— Sienna.

Um arrepio cobriu sua pele ao som daquela profunda voz rouca. — Nós não podemos nos atrasar para a nossa própria cerimônia.

Puxando a cabeça dela pra trás, ele mordeu seu lábio inferior, seus olhos azuis lupinos. — Eu vou colocar na sua conta.

— Ou talvez eu coloque na sua, — ela disse, dando-lhe um pequeno arranhão com suas “garras”.

— Eu prometo que pagarei. — Sua mão livre, possessiva e quente, na curva do quadril dela. — Com juros.

Fechando o ultimo botão, ela resistiu ao impulso de desfazer seu trabalho e se afastou para assisti-lo colocar a camisa em suas calças e arrumar seu cinto. Havia algo intensamente erótico em ver seu homem se vestir, e Sienna tinha a impressão de que isso nunca mudaria. Não com Hawke.

— Então? — ele disse.

Ela arrumou a gola. — Você está muito bonito.

— Já é minha camisa favorita. — Hawke se lembrava de ver Lucas em uma camiseta que combinava perfeitamente com a cor de seus olhos não muito tempo atrás, e sentir a pontada de inveja por saber que a companheira do alfa leopardo tinha comprado para ele. Ele achara que a beleza selvagem de tal ligação estava para sempre perdida para ele.

Agora, ele estava sendo acariciado por uma mulher que tinha, de alguma forma, conseguido encontrar uma camisa que combinava com o tom incomum de seus próprios olhos, os fios azuis árticos tão finos, que era como usar um beijo contra sua pele. O beijo de Sienna. — O que você vai me comprar para o meu aniversário? — Ambas as partes dele admiravam seu reflexo, seu cabelo quase brilhando contra o fundo azul.

— Não seria surpresa se eu te contasse, — foi a resposta astuta.

Deliciado com ela, roubou-lhe outro beijo antes de entrelaçar seus dedos nos dela. — Preparada?

— Sim. — A menor alteração na respiração dela. — Sei que esses eventos seguem seu próprio ritmo, mas você tem alguma ideia do que nós deveríamos esperar?

— Boa chance de que os tenentes iniciem com um discurso. — Hawke olhou pra baixo, vislumbrou o couro sintético preto da bota dela através da fenda, e se lembrou daquela noite quando se permitiu pela primeira vez segurá-la, embora tenha sido uma tortura fazer somente aquilo e nada mais. — Então nós dançaremos e celebraremos. — Normalmente, Hawke seria aquele que falaria primeiro em qualquer cerimônia de acasalamento ou ligação, deixando o novo casal saber que sua ligação era aceita e bem vinda. O impacto daquele momento era luminoso, algo inexplicável, mas poderoso acontecendo entre um alfa e seu povo.

— Dançar a noite toda comigo? — Sienna perguntou enquanto eles saíam da toca para caminhar até o Círculo do Clã.

Ele gostava da sensação do vento jogando o vestido dela contra suas pernas, o suave calor dela uma carícia familiar sob a mão que tinha posicionado nas costas dela. — Eu sei que Tomás está planejando roubar uma dança, e Drew já reivindicou uma.

— Você está rescindindo a regra de não tocar por essa noite? — Era uma provocação risonha.

— Desde que não haja bebês felinos por aqui, sim. — Seu lobo rosnou ao lembrete da amizade dela com Kit. — Mas, falando nisso, — Não dando qualquer aviso à ela, a mordeu na pele nua de seu ombro direito.

— Hawke! — Enfiou uma mão no cabelo dele, descobriu que ao invés de afastá-lo, estava prendendo-o a ela enquanto ele lambia a marca com uma sensualidade derretida que fazia seus dedos dos pés se curvarem.

— Pronto, — murmurou, fendas de azul gelo visíveis entre pálpebras caídas. — Agora todos sabem que você é minha. — Outra lambida possessiva.

Pulsação bombeando contra sua pele, ela riu. — Como se eles tivessem alguma dúvida.

Um sorriso satisfeito, e muito alfa, em seu rosto, ele colocou sua mão sobre as costas dela novamente e continuaram seu caminho. — Eu vou permitir que o clã te monopolize até meia noite — um murmúrio baixo que era uma carícia rude contra sua pele — Então nós iremos dançar até que o sol apareça.

Coração quebrando com a beleza da promessa de seu companheiro, entrou no Círculo do Clã com ele.

A alegria que partia o ar era ensurdecedora. Sorrindo, Hawke a guiou até onde seus tenentes esperavam, em frente a uma multidão que incluía cada membro da população da toca, exceto pelos poucos em ronda de segurança.

Matthias ergueu os braços para silenciar o clã, mas cedeu o espaço à Riley uma vez que tinha a atenção da multidão. O tenente mais antigo de Hawke deu um passo à frente e, segurando o rosto de Sienna em suas mãos, disse uma única e simples palavra, — Bem vinda.

O uivo que se seguiu na clareira era multi harmônico e alegremente estridente, um som que era um presente. Ligado como ele estava à Sienna, Hawke sentiu sua maravilhosa impressionada e sabia que ela não percebia a importância do ato.

— Eles estão te recebendo, — sussurrou-lhe, seu peito vibrando com a necessidade de adicionar sua voz ao som, — não como minha companheira, mas como a companheira do alfa deles. — A distinção era importante, e quando a luz do sol incontida brilhou no rosto dela, ele soube que ela entendera.

Um ruído de risada e sussurros soou no último eco da harmonia, e de repente, eles estavam de frente com filhotes. Tarah estava discretamente posicionada ao lado, onde os mais novos conseguiam vê-la. Um gracioso agitar de sua mão e as crianças começaram a cantar, suas vozes altas e doces e cheias de uma inocência frágil como vidro.

Ele viu pela surpresa no rosto de Riley que as crianças conseguiram manter isso em segredo. O coração de seu lobo disparou com orgulho. Puxando a mão de Sienna para o lado dele, olhou para baixo para ver um brilho iridescente sobre o céu noturno do olhar dela. Sua prima, Marlee, estava entre os cantores, assim como seu irmão, Toby, ainda jovem o bastante para não se importar a se juntar às crianças, mas velho e esguio o bastante para encontrar um espaço bem no fundo. Ele segurava uma menina gordinha em seus braços, seu canto entusiasmado, se não totalmente coerente.

Foi no coro final que sua companheira o surpreendeu, adicionando sua voz com uma graça brincalhona que deliciou as crianças. Depois, mãos ligadas, os filhotes se curvaram rindo enquanto aplausos estrondosos enchiam a clareira. Quando uma menininha escapou em pernas instáveis para ziguezaguear até Hawke, ele a pegou no colo e recebeu um beijo babado e de olhos brilhantes.

Sorrindo, ele a entregou para seu pai risonho, seu vestido rosa amassando contra o braço bronzeado de seu pai. — Essa aí vai te dar trabalho.

— Ela é a paqueradora do berçário, — o outro homem disse, batendo no nariz do filhote em reprovação amorosa.

Foi uma fêmea muito mais elegante que se aproximou depois, seu pequeno corpo coberto num vestido de seda amarelo que ia até os tornozelos, seu brilhante cabelo preto em um coque bem feito. Nell representava não somente as maternais, mas todos os SnowDancer que não se identificavam como dominantes. Em seus braços ela segurava uma colcha, o artesanato requintado. — Cada família na toca contribuiu com uma peça à isso, assim cada bloco é único. — Ela entregou o presente precioso a Sienna.

Alcançando outra fêmea maternal, Nell aceitou o que parecia ser um tapete à moda antiga. — Nós criamos isso com fios enviados pelas famílias de todo o território. — Isso, ela colocou nos braços de Hawke, pressionando seus lábios na bochecha dele antes de virar-se para Sienna, o marrom evocativo de seus olhos puxados brilhando com afeto. — Você é amada, e você é nossa.

Entregando os presentes com o cuidado que eles mereciam, Hawke e Sienna os entregaram aos cuidados dos dois anciãos que estavam com eles. Um momento depois, silencioso, geralmente reservado, Alexei se aproximou e se inclinou para beijar a bochecha de Sienna, uma forte mão segurando seu ombro esquerdo. — Bem vinda. — O cabelo do jovem tenente brilhou dourado nas luzes coloridas penduradas por todo o Círculo do Clã quando ele se virou para Hawke e começou a jurar sua fidelidade.

Era um incremento inesperado, mas Hawke respondeu automaticamente, cortando sua palma com a faca que Tomás jogou para ele, para que uma única gota de seu sangue caísse na mão aberta de Alexei.

Sienna observou, calma como um lago parado, mas ele conseguia sentir a tensão dela pelo elo de companheirismo. Ele se esqueceu de explicar à ela, porque tinha sumido de sua mente, que quando um alfa acasalava, ou se ligava a um parceiro permanente, seus tenentes tinham que reafirmar sua fidelidade. Era uma diretiva feita para proteger o clã se um alfa escolhesse uma mulher que o clã não conseguia confiar ou respeitar, porque mesmo o mais poderoso lobo não poderia governar sem a lealdade de seus membros mais fortes do clã. Em tal situação, o clã inevitavelmente se partia, o antigo alfa partia com seus apoiadores.

A ligação de Hawke com seus homens e mulheres era tão forte que ele nem sequer pensara nessa possibilidade.

Alexei fechou sua mão sobre a gota de sangue e se afastou, o momento solene... Até que ele piscou para Sienna. Hawke sentiu a tensão dela se desfazer, bem antes de ela ser erguida de seus pés e beijada na boca por Matthias, suas mãos assustadas voando para pousar nos braços do tenente que era constituído como um tanque.

Hawke rosnou. — Cuidado.

Um sorriso impenitente marcando o suave e bronzeado rosto que seduzia muitas mulheres, Matthias colocou Sienna novamente sobre seus pés. — Se ele te perseguir por um corredor novamente, docinho, você sabe para quem ligar.

Sienna sorriu também. — Eu acho que preferiria ser pega.

Então Matthias estava na frente dele, jurando sua fidelidade. E então isso continuou até que todos os dez de seus tenentes tivessem completado a tarefa. Cada voto era diferente, porque não haviam palavras programadas para isso. Era somente o significado que importava. A lealdade. Um suspiro de felicidade passou pelo Círculo do Clã quando Riley fechou sua mão sobre a gota do sangue de Hawke.

Estava feito.

Seu clã aceitava tanto sua companheira quanto sua ligação. Não somente aceitava, ele pensou quando outro uivo multi harmônico se seguiu, mas celebrava. Desta vez ele não resistiu, e puxando Sienna contra seu peito, jogou sua própria cabeça para trás para cantar, sua mão cortada fechada firmemente em punho para parar o fluxo de sangue. Contra ele, conseguia sentir o sangue de sua companheira vibrando com a beleza da música, o fogo selvagem dela cegante através de sua ligação.

Quando Tomás a puxou para uma dança, Hawke não protestou. Possessivo como era, seu lobo entendia que Sienna pertencia ao Clã também, e que eles entregariam suas vidas por ela. Não queria dizer que ela teria uma jornada fácil quando se tratava de fazer seu lugar nos SnowDancer, mas esta noite, seus lobos diziam à ela que sabiam que ela era a companheira certa para seu alfa, independente de sua idade e inexperiência. Eles ficariam ao lado dela enquanto ela crescia em sua força.

Era um presente para o coração de Hawke.

 

O ombro de Riley empurrou o de Hawke, enquanto em frente a eles, outros casais entravam na dança e Sienna era passada de Tomás para Kenji. — Você percebe que terá de lutar para chegar perto dela esta noite?

Hawke olhou para seu tenente veterano para ver os olhos de Riley se demorando sobre sua própria companheira. Vestida em um gracioso vestido azul celeste que chegava até alguns centímetros acima dos joelhos e se agitava quando ela rodava, botas pretas de cano baixo em seus pés, seu cabelo afastado de seu rosto por dois pequenos pentes, Mercy estava dançando no momento, e rindo com Drew. Ela era o único felino presente, porque esse era um momento privado do clã, e até onde os SnowDancer sabiam, Mercy era deles. Não importava o quanto Lucas discordasse.

Lábios curvando com o pensamento, ele disse: — Eu prometi à minha companheira que eu dançaria com ela da meia noite até o amanhecer, e eu não quebro minhas promessas. — Ele seria paciente até então, seu lobo contente em manter um olho nela enquanto era reivindicada pelos SnowDancer no nível mais profundo.

Eu estou com medo. O que eu fiz... Eu tenho medo de que ninguém irá me ver da mesma forma novamente.

Palavras que ela disse depois da violência de sua habilidade ter devorado os inimigos do clã, e de uma forma, ela estava certa. Ninguém nunca mais veria Sienna da mesma forma, porque agora, cada um e todos os SnowDancer entendiam o poder letal que corria nas veias dela. Ainda assim não havia nenhum medo no ar essa noite, somente a aprovação dos predadores de olhos frios que moravam dentro de seus corações.

Muito consciente do quanto o homem ao seu lado tinha feito para assegurar aquilo, para assegurar que respeito não se tornasse medo, ele capturou o olhar de Riley. — Obrigado.

— Não precisa disso entre nós. Nunca precisou. — Uma pausa, humor silencioso em suas próximas palavras. — Lembro-me de você me permitindo te espancar uma vez, quando eu estava cortejando Mercy.

— Eu não me lembro de você ganhar.

— Você tem uma memória seletiva.

Lobo e homem, ambos riram, felizes de estar aqui nesse momento com seu amigo, seu clã, e mais que tudo, com a mulher que o enviou um sorriso secreto do outro lado da clareira.

 

Adria sorriu quando sentiu os braços musculosos deslizarem em torno de sua cintura por trás. — Eu estava me perguntando onde você estava, — disse, sua garganta dolorida com a emoção da assustadora simplicidade e beleza da cerimônia de acasalamento.

Cheirando-a, Sam beijou sua mandíbula. — Vem, dança comigo.

Ela deslizou até a massa de corpos, a mão dele enrolada em torno da dela, e dançou até que sua pulsação fosse uma batida, seu sangue correndo quente por suas veias. Sam tentou roubar um beijo, e borbulhando com a selvagem alegria da noite, ela o deixou, mas pressionou seus dedos sobre os lábios dele quando ele tentou novamente. — Não.

Audaz, ele falou contra as pontas dos dedos dela, covinha marcando sua bochecha. — Nós vamos nos divertir. Eu não tenho restrições sobre sua dominância se você está preocupada sobre isso. Eu até vou deixar você me morder. — Um esfregar de narizes. — Na verdade, eu gostaria que você mordesse.

Brincalhão, lindo e inteligente, ele era um amante que a faria se sentir bem, tanto fisicamente quanto em sua alma. Só havia um problema, seu corpo zumbia com uma consciência quase dolorosa de outro homem, um homem que incitava emoções muito mais violentas e obscuras. E que estava nesse momento rodando uma pequena, curvilínea mulher cujos olhos eram um eco dourado dos dele, gritando seu relacionamento, suas bochechas marcadas em um sorriso verdadeiro.

Enfurecia-a não poder estrangular aquela consciência indesejada, mas ela não usaria o belo, sexy Sam num esforço para conseguir isso. — Eu não estou pronta. — Um dia, pensou ela, a coluna rígida com determinação, ela estaria pronta para juntar sua coragem e dar-se outra chance, tendo derrotado essa compulsão pelo homem errado. Sam, inocente e nunca quebrado, não era o certo, o coração dela muito machucado para o dele, mas aquilo não significava que ela não o adorasse. — Eu queria estar, porque você é maravilhoso.

Acariciando as costas dela, ele tomou a rejeição com graça. —Nesse caso, seja minha amiga. Eu gosto de você.

O oposto direto das palavras afiadas que Riaz atirou nela, sua afirmação à fez perder um passo antes dela se aproximar mais dele. — Eu gosto de você também. — Ela virou seu rosto deliberadamente para longe da parte do Círculo onde Riaz estava com seu braço em torno de sua parceira de dança recente e um homem mais velho que Adria não conseguia ver direito. Profundamente dentro dela, sua loba rosnou, mas aquela loba, também, lembrava quão brutalmente tinha sido rejeitada.

Ela não lutou contra a decisão de Adria.

 

Os olhos de Riaz se trancaram com os de Adria no instante em que ele a viu, a estranha, única complexidade do cheiro dela em cada respiração dele, embora deveria ter sido impossível capturá-lo, dado o número de pessoas no Círculo. Especialmente quando ela estava colada em Sam, os lábios do macho mais jovem na orelha dela enquanto dizia algo que a fazia rir, o som suave e íntimo.

Suas garras pinicaram suas palmas.

Se afastando de seus pais depois de devolver sua mãe a seu pai, ele puxou Jem para uma dança.

— Obrigada por perguntar, — ela disse em um tom cáustico, mas deslizou seus braços em torno do pescoço dele. — Pára de fazer careta. Sua mãe vai achar que estou te torturando.

— Desculpa. — Se forçando a manter sua atenção longe de Adria e Sam, ele olhou para a tenente loira... E percebeu de repente que ela não se encaixava direito em seus braços. Ela era muito pequena, sua cabeça chegando até o meio do peito dele.

Mandíbula cerrando com um pensamento que tinha suas origens em sua atração primitiva por uma fêmea de pernas longas cuja voz era como seda contra sua pele, ele disse, — Você já dançou com Kenji? — Os dois tinham algo, ninguém tinha certeza do que.

— Me morda.

— Temperamento, temperamento. — Ele a puxou para mais perto quando ela cerrou os olhos. — Eu vou me comportar, prometo.

— Eu tenho “idiota” escrito na minha testa? — Ela ficou rígida um minuto depois.

Riaz entendeu o porquê assim que ele viu Kenji surgir do meio dos dançarinos.

— Eu posso roubá-la? — O desafio na voz do outro homem não era direcionado a Riaz.

Quase capaz de tocar a eletricidade no ar, Riaz se afastou, viu o braço de Kenji deslizar em torno da cintura de Jem, e pensou, É, eles se encaixam.

— Você está linda, Garnet, — Kenji disse em um tom baixo, usando o nome verdadeiro de Jem, o roxo e dourado de seu cabelo deslizando para frente para encobrir sua expressão quando ele puxou o corpo rígido dela mais próximo.

— Kenji...

— Só uma dança.

Foi tudo o que Riaz ouviu antes de se encontrar indo até onde Adria se apoiava contra uma árvore do outro lado da clareira. As sombras da floresta a escondiam da multidão, até que fosse quase uma alcova privada... Não fosse pelo vívido puxão de seu cheiro.

Amoras esmagadas em gelo misturadas com um almíscar mais quente, mais profundo.

Ele não sabia por que parara a centímetros dela, o que quer que ele tivesse à dizer arrancado de sua mente pelo sobressalto que o atingiu pelo único olhar frio que ela se dignou a jogar na direção dele. Consciente de que seus olhos tinham se fixado na pulsação do pescoço dela, tão delicado e mordível sob pele cremosa beijada pelo sol, ele forçou sua atenção de volta aos dançarinos.

O cabelo de Hawke mudava de cor enquanto ele dançava com Brenna sob os bulbos multicoloridos que os juvenis tinham pendurado nas árvores, até que toda a área fosse um país das maravilhas. Vários dos juvenis sentavam-se em pares ou pequenos grupos nos largos bancos, assistindo as festividades e paquerando. Um beijo era roubado aqui e ali, mas ninguém fez nenhum movimento para partir. Talvez porque eles estivessem sob a atenção das maternais, mas mais provavelmente porque agora, era sobre estar com o clã.

Sua mão se esticou para agarrar o braço de Adria quase antes de ele estar consciente dela se preparando para partir. — Dance comigo. — Saiu rouco, pedras despedaçadas em sua garganta.

Adria puxou seu braço, tremendo pelo contato. — Eu não acho que essa seja uma boa idéia. — Riaz era uma droga que seu corpo desejava e como todas as substâncias viciantes, ele não era bom para ela.

— Com medo? — Olhos de um brilho noturno.

— Não, — disse ela, sua própria loba assumindo o controle. —Só acontece que eu tenho um pouco de respeito por mim mesma.

Saindo das sombras, ela viu Matthias caminhar na direção dela. Seu humor mudou imediatamente. — É tão bom ver você.

O grande tenente a ergueu e a beijou nos lábios assim como fez com Sienna. — Vem dançar comigo, menina bonita.

Sua loba podia sentir o queimar dos olhos de outro macho entre seus ombros, mas ela não hesitou em aceitar a oferta de Matthias. — Como estão todos no seu setor? — ela perguntou uma vez que eles começaram a balançar ao ritmo da música.

O peito de Matthias estrondou quando ele falou, sua mão movendo-se gentilmente nas costas dela. — Estão indo. Nós sentimos sua falta, você planeja nos visitar?

— Eu não posso. — Ainda não. — Talvez em alguns meses...

A mandíbula de Matthias roçou o cabelo dela. — Sem pressão, querida. — Eles dançaram em um silêncio confortável até que Adria pegou um cheiro que fez sua espinha enrijecer, bem antes de Matthias dizer, — Eu acho que alguém está prestes a te roubar.

Não querendo fazer uma cena e estragar a celebração, ela não protestou quando Matthias se afastou. — Cuide da minha garota, — ele avisou.

Riaz murmurou algo enérgico em espanhol que fez Matthias rir, mas tudo que Adria podia ouvir enquanto ele a pegava em seus braços era a batida frenética de sua pulsação, batendo no ritmo da dele. Rápido demais, os dois, suas peles muito quentes. — Por que você está fazendo isso? — sussurrou, sua voz nua.

A resposta de Riaz foi arrancada dele. — Eu não consigo me impedir. — A puxou para mais perto, o movimento tão inesperado que ela não resistiu e se encontrou colada à dura força dele. A excitação dele empurrava em seu abdômen, o quente cheiro masculino dele se infiltrando em suas veias até que ela pôde sentir o gosto de florestas obscuras e citrus dele contra a língua dela.

A respiração vindo em pequenos ofegos, ela balançou a cabeça, mas as palavras que queria dizer não vinham, seu cérebro nublado por necessidade, tal viciante necessidade. Quando Riaz se afastou, ela sabia que não deveria ir, mas seus pés continuavam se movendo para frente, seguindo-o até as sombras que os esconderiam. A música continuava a tocar atrás deles, mas aqui, era abafado e silencioso.

Privado.

Jogando-a contra uma árvore, ele chutou as pernas dela abertas e de repente a boca dele estava na dela, assolando e tomando e exigindo. A parte civilizada e racional de seu cérebro simplesmente parou de funcionar. Ela agarrou os ombros dele, suas unhas afundando em músculo forte quando a língua dele lambeu a dela, se entrelaçou com a língua dela, o beijo uma aberta, molhada, voraz fúria de contato.

Suas respirações ofegantes eram altas no silêncio, seus batimentos cardíacos como trovões, e a mão dele quando se fechou sobre o seio dela, uma marca chocante. Seu gemido foi devorado pela rude demanda da boca dele, ela se encontrou esfregando-se contra ele, tentando ficar nas pontas dos pés para criar o encaixe perfeito. Sua frustração quando ela não conseguiu foi despedaçada quando os dedos dele apertaram seu mamilo através do material sedoso de sua blusa, rolando e puxando. A mão dele caiu cedo demais... Para deslizar sob sua blusa e se espalhar no abdômen dela, seus dedos roçando a cintura se suas calças negras.

A mão dele a tocara ali antes.

Um fio de razão quebrou a neblina cegante da paixão, mas a boca dele estava na dela novamente antes que isso pudesse penetrar-lhe, sua mão livre em torno da garganta dela, e ela estava se afogando. Ele era tão grande e forte, e ele a queria tão desesperadamente. Isso acariciou o ego agredido da loba, fez suas garras pinicarem e se enterrarem na carne dele através do fino algodão negro de sua camisa.

Ele silvou, mas não foi um som que dizia à ela para parar. Ao invés ele a beijou mais forte, seus dedos puxando seu zíper para segurá-la possessivamente sobre a renda de sua calcinha. Tremendo, ela se sentiu ficando ainda mais molhada, e pelo rosnado que foi despejado em sua boca, vibrando contra seus mamilos, ele sentiu também.

Então os dedos dele empurraram sua calcinha de lado e o fio de razão se tornou um grito.

Eu não gosto de você.

Empurrando-o com cada gota de sua força, ela se afastou da árvore. — Oh, Deus, Deus. — Seu olhar trêmulo no rosto febril pela paixão, suas bochechas destacadas em sua pele bronzeada, seus olhos um perigoso e brilhante dourado.

Sua loba investiu na direção dele.

Mas ela era humana, também. Prendendo a loba com um aperto de aço, ela conseguiu de alguma forma fechar sua calça e puxar pra baixo sua bela blusa de seda preta pintada manualmente com uma única e estonteante borboleta nas costas. O tecido era agradecidamente imune a amassados, e seu cabelo ainda estava no lugar, Riaz estava tão focado em sua boca... E mais abaixo.

Seus lábios pareciam estar inchados, mas o resultado aparente de alguns beijos roubados não iria chamar a atenção de ninguém. Quanto ao fato de que ela estava coberta com o cheiro dele, ela só estivera dançando com ele. Tudo isso passou pela mente dela em uma fração de segundo quando seu sentido de razão, de si mesma, acordou com um uivo violento, seu corpo todo tremendo pelo choque de interromper uma dança erótica que teria resultado nela sendo presa contra a árvore em alguns minutos, suas pernas nuas enroladas em torno da cintura dele enquanto ele a fodia.

E aquilo, ela pensou com honestidade impiedosa, era tudo o que teria sido. Porque o que quer que fosse a causa da raiva que ela sentira no beijo dele, Riaz, alto, forte e leal aos SnowDancer, não era capaz de nada mais. Não com ela. — Eu valho mais, — disse à ele, passando as costas de sua mão sobre sua boca. — Afeto, respeito, ternura, eu valho tudo isso, então você não ouse chegar perto de mim novamente até que esteja pronto para oferecer isso.

 

Riaz correu suas mãos trêmulas por seu cabelo enquanto Adria se virava e se afastava, a seda insubstancial da blusa dela uma provocação não intencional sob o encaixe perfeito de suas calças, o eco sensorial dela tão quente e suscetível, uma provocação zombeteira.

Cerrando seus dentes contra o impulso de arrastá-la de volta, ele socou a árvore onde quase a tomara. Ele sabia que poderia encontrar outra parceira esta noite. Não era somente pelas pessoas estarem em um humor comemorativo. Como Eli apontou, ele recebeu vários convites desde seu retorno da Europa, e nem todas aquelas mulheres queriam algo além de uma boa e quente atividade na cama.

Só havia um problema, ele não queria nenhuma outra mulher. Ele queria a soldado de olhos azul violetas que tinha, completamente justificada, o mandado ir se foder.

 

Escondido nas sombras da meia noite na periferia de uma grande clareira, o Fantasma observou enquanto os SnowDancers dançavam, riam e brincavam. A menos de três metros dele, uma mulher risonha empurrou seu parceiro contra uma árvore e o beijou na base de seu pescoço antes de disparar para longe dele e de volta para a multidão. Grunhindo, o macho obviamente desapontado ajustou seu jeans e a seguiu.

O Fantasma não sabia o porquê de observá-los. Ele manteve vigia nessa região desde depois da batalha com os PurePsy por razões próprias, passou essa noite como parte de uma ronda de rotina, e captou o fraco som de música por entre as árvores. Tomou um significante investimento de tempo para encontrar essa localização exata, ele nunca se aventurou tão profundamente no coração do território SnowDancer antes, consciente de que os lobos ficaríam em alerta vermelho ao primeiro sinal de um intruso.

Agora, tomando um cuidado extremo para não tocar nenhuma superfície que guardasse seu cheiro, chegou perto o suficiente para ver mas não ser visto. O cabelo de Sienna Lauren, ele pensou, vislumbrando-a nos braços de um alto homem, não o alfa SnowDancer, tinha escurecido consideravelmente. Sua altura, porém, continuava como era aos quinze anos.

Uma única varredura e ele encontrou Judd. Vestido de preto, seu companheiro rebelde estava na borda do círculo de dança, mas não estava sozinho. Uma pequena mulher loira, uma fatia de bolo no prato que ela segurava em suas mãos, se inclinou contra o peito dele. Um dos braços de Judd estava envolvido com facilidade familiar em torno da cintura dela enquanto ele falava com um homem que o Fantasma reconhecia como um tenente SnowDancer.

Kenji Tanaka.

Partindo um pedaço de bolo, a mulher loira se virou e o ofereceu a Judd. Ele se inclinou para baixo para aceitar, a curva de seus lábios formando um sorriso inconfundível. O Fantasma só tinha visto Judd em outro contexto, e embora intelectualmente ele entendesse que o ex-Arrow tinha uma vida além da rebelião, ver isso pessoalmente o fez se arriscar, ficar mais tempo. Para isso, também, ele não conseguia encontrar nenhuma razão racional. Essa não era uma vida que ele teria. Poderia muito bem ter sido uma estranheza selvagem.

Ainda assim... Ele continuou a observar.

 

Não muito longe de Sienna, Mercy puxou Riley para um beijo selvagem. A surpresa do tenente veterano durou um mero instante antes de ele enrolar suas mãos em torno da cintura da sentinela leopardo e a puxar para mais perto.

Se virando para Hawke, Sienna disse, — Isso é tão... — Nenhuma palavra parecia o bastante.

— Eu acho que alguém está prestes a te roubar de mim novamente.

Abrindo sua boca para protestar que ela dificilmente passara qualquer tempo com ele a noite toda, ela sentiu a energia psíquica da pessoa atrás dela. Seu coração disparou com amor. — Desculpa, —murmurou, tocando seus dedos na mandíbula de Hawke. — Eu vou te dispensar.

— Lembre-se —roçou seu dedão sobre o lábio inferior dela, antes de colocar sua mão na mão de seu novo parceiro —a dança da meia noite é minha.

Sempre. Foi um sussurro através do elo de companheirismo. Em voz alta, ela disse, — Onde você esteve? — e arrumou o cabelo de seu irmão.

Ele franziu. Para seu choque, ela percebeu que ele ganhara vários centímetros de altura enquanto não estava olhando. Não era de se estranhar que ele parecesse um varapau, crescendo desse jeito.

— Credo, Sienna. Não faz isso aqui.

— Oops. Desculpa. — Às vezes, esquecia de que ele estava quase fazendo treze, e então o adolescente incipiente nele faria uma aparição. — Você está muito bonito.

O sorriso dele foi tímido e doce, e ela pensou que seu empático irmão mais novo cresceria para ser um homem incrível. — Valeu. Eu fiz compras online com a Lara. — Girando-a em um rápido círculo, ele sorriu para o espanto dela. — Drew me ensinou isso.

— Por que eu não estou surpresa?

O sorriso de Toby brilhou em uma expressão mais profunda e contagiosa. — Meu coração chora de emoção por te ver tão feliz.

— Oh, Toby. — Sempre, ela amaria o irmão que não foi permitida amar quando criança, mas nunca foi capaz de protegê-lo do preço psíquico exigido pelo seu dom. — Você é o melhor irmão que uma garota poderia ter.

Eu te amo, Sienna. Ele a girou novamente, fazendo sua saia esvoaçar.

Quando ele finalmente a renunciou, foi para outro membro de sua família. O aperto de Walker era tão calmo quanto o de Toby era exuberante, seus olhos verdes claros atentos. — Ele é seu companheiro. — Walker disse, um aviso claro, por mais que tenha sido feito em uma voz calma, — mas se ele alguma vez fizer qualquer coisa para te magoar, ou te machucar, você virá a mim.

— Todos os homens são sanguinários assim?

— O pai de Lara me mostrou as ferramentas dele, e então nós tivemos uma conversa inspiradora sobre o quão fácil seria cortar uma pessoa no meio usando um daqueles lasers. Foi muito civilizado.

Sienna abafou uma risada com a idéia do gentil Mack ameaçando Walker, e inclinando sua cabeça para trás, ela olhou para o rosto que nunca viu violento, quer fosse por violência ou por amor. Aquilo não queria dizer nada. Ela sabia que Walker morreria por ela sem piscar, que ele a amava tão ferozmente que alguma parte dela sentiu isso, mesmo na parte mais escura do Silêncio.

— Obrigada, — ela sussurrou. — Por ser meu pai. — De todas as formas que importavam.

A expressão de Walker mudou somente uma fraçãozinha, mas ela viu a tempestade de emoção nua explodir nos olhos verdes dele antes de acariciar seu cabelo e a beijar gentilmente na testa. —Você me deixa mais orgulhoso a cada dia.

Lágrimas brotaram. Engolindo, ela escondeu seu rosto contra o largo peito do homem que sempre encontrava formas de dizer-lhe que ela importava, que ela não era somente uma X, era família.

 

Cooper esperou até que a dança suavizasse, e ele e Riaz estivessem sentados tomando suas cervejas antes de dizer, — Ela foi embora.

— O quê?

— Você está procurando pela alta soldado sênior com olhos incríveis. Adria, eu acho. — Cooper arrumou o toco de árvore que ele estava usando como assento, encaixando-o mais seguramente na terra. — Ela escapou com Sam alguns minutos atrás.

A mão de Riaz apertou sua garrafa. Ele queria negar essa compulsão em relação à Adria, mas Coop o conhecia bem demais, iria cobrá-lo por isso. — Aproveitando a noite?

— Nem sequer uma pergunta, — Olhos escuros o observavam com paciência implacável. — Você vai falar sobre isso, ou eu tenho que te lembrar de que eu sou maior e mais forte?

— Nos seus sonhos.

Coop inclinou sua garrafa, sua garganta se movendo. Quando ele a abaixou, ele balançou a cabeça. — Algo está errado com você, cara. Eu deveria ter percebido antes, mas Grace embaralha meus neurônios.

Riaz olhou para onde uma curvilínea mulher com cachos cor de ébano e pele como creme estava dançando com Alexei, seu sorriso tímido. A companheira do grande e malvado Cooper era uma doce submissa, mas ela estava conseguindo lidar com os tenentes, todos os quais consideravam direitos seus dançar com ela. — Eu posso ver como, — Riaz disse, tendo reivindicado uma dança mais cedo. — Ela é demais, Coop.

— Eu sei. — A expressão do outro homem mudou de brutalmente terna para durona no instante que ele voltou sua atenção para Riaz. — Adria, ela está bagunçando com a sua cabeça.

— Porra, cara, — Riaz disse, terminando sua cerveja e balançando a garrafa entre seus dedos, — Deixa para lá. É uma noite para se aproveitar.

Cooper arqueou uma sobrancelha. — Quem colocou minha cabeça no lugar quando eu estava cortejando Grace? Eu te acordei às duas e meia da manhã duas vezes e você não me mandou calar a porra da minha boca. Então fale, ou nós ficaremos aqui a noite toda.

Riaz sabia que ele poderia barrar o outro tenente. Ele também sabia que Coop não pararia de bater naquela tecla até que a parede cedesse. Mas ele se recusava a manchar a felicidade do acasalamento de outro homem com o amargo gosto de sua dor. — É uma bagunça, e é uma bagunça que talvez eu nunca esteja pronto para falar sobre. — Ele segurou o quase negro dos olhos do outro homem, o deixou ver sua resolução. — Você é um teimoso do caralho.

— Você está surpreso?

Bufando, Cooper se inclinou com seus antebraços apoiados em suas coxas. — Certo. Eu não vou pressionar, por agora. — Aviso claro. — Se eu te ver desmoronando, eu vou cair em cima de você como uma tonelada de tijolos. Eu não vou deixar você se manter nesse jeito de lobo solitário, sozinho.

— Eu vim pra casa, — Riaz rosnou. — Não estou exatamente sozinho.

— Eu chamo isso de mentira de merda. — Cooper segurou seu olhar, seu lobo aparente no anel amarelo que agora circulava suas íris. — Você pega a porra do telefone quando as coisas ficarem muito difíceis, ou eu juro por Deus, eu vou te amarrar e te mandar pro meu território.

As garras de Riaz se libertaram. — Eu não sou um juvenil, então desiste.

— Não, você é o idiota cabeçudo do meu amigo. — Ele olhou para cima. — Grace está vindo, então me deixe dizer só isso, o clã precisa de você inteiro e estável. Mantenha isso em mente antes de deixar o que quer que esteja mexendo com a sua cabeça te engolir.

 

Deslizando seus dedos em torno do copo de café que Inés lhe entregara, Adria se sentou perto do laz-fogo que um dos outros soldados sênior tinha armado, longe o bastante da festa principal para que ninguém tropeçasse nele por acidente. Eram alguns minutos depois da meia noite, e nenhum SnowDancer estava sequer perto de estar pronto para a celebração acabar. Mesmo os filhotes estavam valentemente tentando manter seus olhos abertos, ninguém tinha coração para mandá-los para a cama, então eles estavam em sacos de dormir perto do Círculo do Clã, observados por membros mais velhos que preferiam descansar seus ossos.

— Eu não percebi que vocês estavam fazendo isso, — ela disse para Inés, não querendo se intrometer em nada desde que ela não fora oficialmente convidada. Sam foi quem a trouxe junto.

Inés balançou a cabeça. — Não foi planejado. Elias tem alguma boa notícia para dar, decidiu que essa noite era a noite certa para isso. Ele mencionou à Simran, que mencionou à mim, mencionei à Sam, disse pra ele te chamar...

— E voìla. — Adria sorriu. Esse tipo de coisa tinha acontecido no setor de Matthias também, partes diferentes do clã se partindo para ter suas reuniões informais durante o curso do evento maior. —Boa idéia pedir para todos trazerem comida do Círculo.

Vários pratos de cookies, bolos e sanduíches, juntos com uma tigela de batatas fritas e guacamole, estavam sendo passados ao redor, assim como garrafas térmicas de café. Alguém também tinha trazido cervejas e champanhes para aqueles que já tinham terminado suas rondas. Adria tinha uma por vir, então preferiu tomar apenas café.

— Foi o Eli, — Inés disse, esticando suas pernas enquanto se sentavam lado a lado num tronco caído. — Ele pensa em tudo.

— E a boa notícia? — Adria perguntou.

Inés abriu a boca pra responder quando Sam, que tinha ido pegar um sanduíche, reapareceu ao lado de Adria sem comida, um olhar preocupado em seu rosto. — Inés, eu estou invadindo uma festa para soldados sênior?

— Você se preocuparia se estivesse? — Uma resposta seca.

— Eu pensei que vocês tivessem um ritual secreto que estavam prestes a fazer, ou algo assim.

— Tipo dançar pelado em torno da fogueira? — Inés arqueou uma sobrancelha. — Eu aposto.

Covinhas aparecendo, Sam apoiou suas costas no tronco, um braço envolvido em torno do joelho de Adria de modo companheiro. —Certo, eu vou ficar até alguém me expulsar.

Agora que ele apontara, Adria percebeu que Sam era o único soldado de posição mais baixa aqui. E desde que Inés tinha especificamente o convidado... Hmm. Ela olhou para a outra mulher em uma pergunta silenciosa. Inés piscou. Adria reprimiu um sorriso, o contentamento dentro dela era nada parecido com o que ela esperava sentir depois daquele encontro brutal com Riaz.

Sua mão se apertou na xícara de café, sua pele pinicando com o calor. Não, ela disse silenciosamente quando sua mente tentou puxá-la para uma loucura carnal que estava perigosamente perto de arrancar todo seu auto respeito. Respirando fundo, ela concentrou sua atenção no gentil calor dentro dela, e nas pessoas responsáveis pelo seu equilíbrio emocional.

Esses eram seus companheiros, os membros com quem ela esteve trabalhando mais de perto nos últimos meses e anos, e embora eles fossem relativamente estranhos ainda, ela gostava de sua energia como grupo. Calmos e estáveis na maior parte, soldados sêniors eram os músculos do clã, pessoas com quem você podia contar para fazer o trabalho pesado.

Inés, ela pensou, tinha o potencial para se tornar uma amiga próxima, a ágil mulher tinha um senso de humor sarcástico que fazia o próprio lobo de Adria gargalhar.

Bem quando o pensamento passou pela mente de Adria, Inés disse — Eu e Simran — ela acenou para onde a soldado mais reticente sentava, conversando com Brody — Temos uma péssima noite de filmes uma vez por mês. Você deveria vir.

Sua loba se esticou, costas curvadas. — Valeu.

— Eu estou convidado para essa noite de filmes, — Sam interrompeu para dizer, — ou vocês estavam planejando ignorar o fato de eu estar sentado bem aqui?

— A coisa de ignorar, — Inés respondeu, rápida como um tiro.

— Meu coração está partido.

— Eu sangro por você.

— Cruel.

— Não foi minha melhor tentativa.

Elias ficou de pé e bateu as mãos, cortando as conversas paralelas. Uma vez que ele tinha a atenção de todos, ele disse, — É hora da cerimônia secreta, — com um rosto sério.

 

Sam riu... E ficou sério quando percebeu que todos o estavam encarando, sem rir. — Hum, sinto muito.

Adria estava tentando tanto não rir, que teve que fingir uma tosse. Várias pessoas pareciam ter sido atingidas pela mesma aflição, porém Inés conseguiu disfarçar, dando tapinhas nas costas de Adria. — Deve ser o pólen no ar, — ela murmurou com preocupação fingida.

Adria teria chutado a outra mulher se Sam não estivesse sentado na frente dela.

— Como eu estava dizendo, — Elias continuou, um raro frio de prata brilhando no rico marrom de seu cabelo, — é hora da cerimônia secreta. Mas desde que parece que temos um intruso, nós teremos de lidar com ele primeiro.

Sam ficou de pé, limpando seus jeans. — Olha, ei, eu posso voltar depois que vocês...

Elias ergueu uma mão por silêncio, indo ficar de frente para Sam.

— Sam Baker, — disse ele, seu rosto solene, — De acordo com as testemunhas que não estavam inconscientes no momento, você correu para o campo de batalha várias vezes de novo e de novo para resgatar membros do clã feridos, mesmo que você mesmo tenha sido atingido por uma bala.

— É o que qualquer um de nós teria feito. — As palavras de Sam eram silenciosas, o soldado brincalhão substituído pelo homem corajoso que lutou com todo seu coração, mesmo rodeado de sangue, agonia e inimigos sem qualquer misericórdia.

— Sim, — Elias disse, prendendo algo na camiseta cinza de Sam, — E nós temos orgulho de chamá-lo de um dos nossos.

Adria viu o instante em que Sam entendeu. Seus dedos tremeram quando ele tocou a suntuosa forma do pequeno lobo prata em sua gola. Nenhum dos soldados sêniors usava os broches diariamente, mas todos usavam hoje à noite, sua blusa era muito fina para segurá-lo, mas Adria prendeu o seu em um fino bracelete prata em seu pulso esquerdo. Aquele pequeno distintivo era a fonte de um orgulho enorme, não sendo simplesmente uma indicação de promoção para soldado sênior, mas de aceitação dentro do ranking.

Batendo nas costas de um Sam ainda aturdido, Elias ergueu seu copo, — Ao Sam!

— Ao Sam! — Adria gritou com o resto do grupo, e bem ali, ela soube que conseguiu. Talvez sua atração doentia e instável por Riaz não mostrasse nenhum sinal de estar diminuindo, a necessidade desesperadora rasgando suas entranhas, mas ela era mais do que os impulsos selvagens de seu corpo. Ela era parte deste forte, leal grupo, uma mulher que construiu uma nova vida, novas amizades a partir das cinzas frias da velha.

Nenhum homem jamais iria fazê-la questionar seu valor novamente.

O corpo de sua loba zumbiu com orgulho desafiante, determinado. E quando o mais novo soldado veterano da toca jogou sua cabeça para trás e celebrou com selvagem abandono, ela juntou sua voz à canção dele, junto com os seus companheiros de clã.

 

Os pelos na mandíbula de Hawke grudaram no cabelo de Sienna. Ela o observou se barbear antes da cerimônia, mas agora era quase de manhã e eles estavam finalmente na cama, o braço dele a prendendo contra seu peito. Gostando da intimidade de falar com ele tanto quanto ela gostou de dançar em seus braços até que o céu se iluminou com os primeiros raios da manhã, ela olhou para cima quando ele mudou um de seus braços para se curvar sobre sua cabeça.

Olhos de um azul lupino encontraram os dela. — Seus amigos escaparam para fazer travessuras. — A diversão de um alfa. — Eu esperava que você se juntasse a eles, desde que você é a líder do grupo.

— Eu os avisei de que estariam por conta própria esta noite... Noite passada. — Os amigos que ela fez eram amigos que pretendia manter por toda a vida, mas a noite era dela e de Hawke. —Eu esperei tanto por esse momento, — ela sussurrou, tocando seus dedos na mandíbula dele, a barba por fazer áspera contra as pontas de seus dedos. — Às vezes, eu acho que estou sonhando, e fico com tanto medo de acordar.

Hawke não tentou conversar e afastar os medos dela, entendia a vida que ela viveu, esse lobo que nunca conheceu a PsyNet, mas que a conhecia. Entendia que alguns pesadelos não podiam ser desfeitos por lógica ou razão. Só o tempo tinha esse poder. O medo dela de perdê-lo, assim como ela perdeu sua gentil, talentosa mãe, assim como perdeu seu irmão e o resto de sua família por tanto tempo, era um pensamento obscuro que a fazia acordar ofegando mais de uma vez, seu coração batendo forte como se ela estivesse correndo desesperadamente na direção dele.

Então ela sentiria seu lobo forte e quente ao lado dela, ou abriria seu olho psíquico para o azul selvagem e com matizes de chamas de seu elo, e o terror diminuiria. Um dia, pensou, ele não voltaria mais, mas até lá, seu lobo iria caminhar ao seu lado nas terras das sombras. — Eu queria minha mãe na nossa cerimônia, — confessou ela, olhos ardendo.

Indigo e Tarah fizeram o seu melhor, estiveram lá por ela em cada passo do caminho, mas não era o mesmo. — Eu nem sequer tenho algo dela para me confortar. — Tudo havia sido destruído após o suicídio de sua mãe, enquanto Sienna estava presa em uma prisão psíquica com um monstro chamado Ming LeBon.

— Esse lindo cabelo, — Hawke disse, seu peito ressoando sob sua palma. — Judd uma vez me disse que o lembrava de sua irmã. — Ele acariciou as mechas. — Você é uma peça dela, você e Toby.

— Isso é legal, — ela disse, escondendo o maravilhoso pensamento naquele lugar secreto dentro de sua mente onde mantinha tudo o que importava para ela há tanto tempo.

Judd, tendo aprendido a habilidade de Walker, mostrou a ela como construir o inexpugnável cofre telepático quando ele ficou velho e experiente o bastante para teleportar até ela sem alertar Ming. Embora ela não precisasse mais do cofre, gostava de ter suas memórias mais preciosas em um só lugar.

— Toby tem o cabelo dela, também, — ela disse. — Ele não se parece com ela em nada mais. — conforme crescia, os traços de seu irmão começaram a parecer mais com os ângulos severos do rosto de Walker — Mas às vezes eu a vejo no sorriso dele.

— Isso é um presente.

— Sim. — Acariciando o peito dele, ela disse, — Você sentiu a falta dos seus pais também, não é?

— Meu pai teria ficado tão orgulhoso ao ver o modo como o clã reagiu a nós, — ele disse em resposta, um sorriso contagioso em seus lábios, — E minha mãe, estaria sentada em um canto, rascunhando tão rápido quanto sua mão pudesse.

Imagens se formaram na mente de Sienna, criada das fotos que Hawke mostrou-lhe. De um homem alto com cabelo dourado, olhos azuis um tom mais escuro do que o de seu filho, e uma mulher loira, seus ossos finos, sua pele como porcelana. As fotos de sua mãe, Aren, eram iluminadas com risadas, enquanto seu companheiro, Tristan, era mais reservado, seu olhar cortante... Exceto nas poucas e preciosas fotos que Hawke tinha dos dois juntos. Ali, era claro quem tinha o coração de Tristan, nada reservado ou remoto sobre a intensidade de seu amor.

— Os Psy não dão crédito à ideia de uma pós-vida, — ela disse, trilhando seus dedos sobre o abdômen rígido dele, — Mas eu gosto de acreditar que na noite passada, todas as pessoas de quem nós sentimos falta estavam dançando ao nosso lado.

A mão de Hawke acariciou sob seu cabelo, descansando na nuca dela. — Sim.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, felizes por simplesmente estarem juntos. Respirando o quente, selvagem cheiro que era de Hawke, ela sentiu um senso de maravilha florescer profundamente dentro dela.

— O que te faz sorrir? — seu companheiro perguntou em uma voz sonolenta, embora ela estivesse deitada com a bochecha em seu peito, seu rosto escondido dos olhos dele.

— Ninguém que nos viu interagindo antes do nosso acasalamento, — ela disse, se erguendo para que pudesse olhar em olhos curiosos de lobo, seu cabelo se acumulando no peito dele, — acreditaria que nós poderíamos ficar tão em paz juntos. — Ela esteve meio amedrontada de que eles fossem brigar o tempo todo, porque isso foi tudo o que eles fizeram por anos. O que ela não entendera até depois, era que a necessidade apaixonada contra a qual ela e Hawke brigaram contra por tanto tempo, se tornaria um rio derretido. Conectando-os. Os completando.

Mesmo nessa paz, brasas ardiam. Sempre arderiam.

Hawke riu. — Eu teria recomendado uma boa terapia se alguém tivesse sugerido isso para mim há seis meses.

Rindo, se apoiou em um braço e começou a brincar com o cabelo dele, o acariciando até que seus olhos se fecharam. Ele ainda estava acordado, seus dedos escovando levemente em suas costas, mas ele estava preguiçoso agora, contente e sonolento. Bocejando, ela se aconchegou contra o corpo dele e deixou o ritmo de seu coração a conduzir a um sono despojado de medo... E cheio de sonhos de um alfa lobo que corria ao lado dela enquanto ela explorava os mistérios de uma floresta noturna.

 

Riaz observou a fria manhã de sua posição, sentado contra um grande e ponderoso pinheiro na borda de um lago ondulando com os sussurros diáfanos do vento. A cerimônia de acasalamento tinha finalmente acabado em torno de quarenta e cinco minutos atrás, todos os tenentes permanecendo até o fim.

Os que moravam fora da cidade tinham ido embora tão furtivamente quanto chegaram, enquanto aqueles que chamavam a toca de lar foram para a cama, ou relaxar depois da noite de festividades. A partida mais interessante foi a de Jem e Kenji, que partiram juntos, e Kenji tinha um hematoma em sua bochecha que ele se recusava a explicar.

Foi instinto para Riaz vir aqui em cima nas montanhas. Homem e lobo, ambos eram acostumados com a solidão, frequentemente precisavam da solidão, especialmente após um evento social, mas nos últimos minutos, ele percebeu que essa solidão era de um tipo diferente.

Machucava.

Uma dor entorpecida e latejante, centrada no lugar onde o elo de companheirismo deveria estar, como se fosse uma ferida aberta dentro dele. A felicidade e calor de seus companheiros tinham abafado a dor durante a noite, mas rodeado por nada além do frio ar das Sierra, o céu um caldeirão vermelho-alaranjado, ele não conseguia mais evitar a verdade. Ele veio para casa para se curar... Mas a ferida sangrava o mais escuro vermelho.

O eco de uma voz masculina.

Captando o som inesperado no vento, ele olhou através do lago para vislumbrar uma pequena, ágil loba andando ao lado de um homem vestido de preto. O corpo da loba roçava o do homem enquanto eles caminhavam pela terra, os dedos do homem acariciando o pelo da loba quando ele se abaixou para falar com ela.

A mão de Riaz se cerrou, uma amargura corrosiva inundando seus sentidos.

A feiura disto foi um golpe frio.

Sem fôlego, coração batendo forte em choque, ele olhou a tempo de ver Brenna e Judd desaparecendo na neblina. Contudo, sua mente não estava mais no outro casal, mas na percepção impressionante de quem ele estava se tornando, que estava permitindo se tornar: um amargo, raivoso homem preenchido com o ácido da inveja.

Esse não era quem ele queria ser, nunca fora assim. Assim como nunca fora um homem que gostava de machucar mulheres, de qualquer forma.

Uma imagem dos olhos estonteantes de Adria, o chicote frio de sua raiva, o balançar de seus quadris enquanto ela se afastava dele.

Deus, fora um merda com ela. Vergonha era como chumbo em suas entranhas. Nada desculpava o modo como ele a tratara, o modo como ele tentou usá-la. Adria estava certa. Ela merecia mais do que um homem que permitia que sua raiva com o destino o corroesse até que ele mesmo quase não se reconhecesse. Seu lobo, sempre tão orgulhoso, abaixou a cabeça, fora baixo, mas ambas as partes dele sabiam que essa punição silenciosa não era o bastante.

O homem que ele queria ser, o homem que ele foi antes de Lisette, não culpava ninguém por seus atos, e encarava seus erros.

O sol o tocou com dedos dourados, mas não fez nada para descongelar o gelo em sua alma.

 

Ming examinou as imagens de satélite capturadas quando Sienna Lauren permitiu seu fogo frio assumir o controle. Embora tenham sido gravadas na escuridão noturna da batalha, não havia falta de luz, o amarelo e vermelho do fogo mortal brilhando como um inferno.

Colocando aquelas imagens de lado, olhou para aquelas que foram tiradas imediatamente após a batalha. A carnificina era absoluta, a floresta um deserto. Nenhum sinal restou do exército PurePsy.

Uma arma incrível.

Uma da qual Ming estava certo de que queria destruída se tivesse sobrevivido, porque ela não poderia ser controlada. Exceto... Seus olhos foram para a pequena caixa de aço em sua mesa. Dentro havia um único chip, o único protótipo restante do abortado projeto de Ashaya Aleine para instigar o Silêncio em um nível biológico.

Aquele chip também poderia ser usado como uma rédea.

O problema em usá-lo dessa forma era duplo. Primeiro, o chip era instável. Segundo, Ming precisaria ter um chip controlador implantado para interagir com o de Sienna, e mesmo que considerasse o risco aceitável, esse era o único chip sobrevivente do qual ele tinha conhecimento. Tirou-o de uma das vítimas em que os Scotts haviam implantado, após o suicídio do homem. Nem Henry nem Shoshanna perceberam que ele sabia de seu experimento não autorizado. Os cientistas de Ming não foram capazes de reverter a engenharia do chip, porém, um deles tinha acabado de informá-lo de que havia uma chance muito pequena de que ele pudesse ser alterado para permitir ser controlado por um dispositivo remoto.

— Faça, — disse no intercomunicador.

Se o dispositivo funcionasse, ele possuiria uma X. Se falhasse, Sienna Lauren morreria em uma implosão de células cerebrais.

Uma solução perfeita.

 

Tendo recebido uma mensagem de que o tenente veterano queria vê-la, Adria bateu na porta do escritório de Riley três dias depois da cerimônia de acasalamento, encontrou- se sendo chamada para entrar embora ele estivesse ao telefone. — Sente-se — disse-lhe. — Só vai levar um segundo.

Enquanto ela esperava, observou seu escritório. Era, e não era, o que ela teria esperado. Organizado e limpo, era livre de desordem. Aquilo combinava com a natureza sólida e calma do tenente. O que não combinava era o pôster emoldurado atrás de sua mesa, do caleidoscópio de cor, pele, penas, lantejoulas e mais, do que era o Carnaval do Rio de Janeiro.

Ou talvez combinasse sim, pensou com um sorriso interno. Afinal, o pragmático, sensível Riley havia cruzado limites perigosos entre os clãs afim de reivindicar uma sentinela leopardo como sua companheira. Ninguém, ela se lembrou, tinha somente um lado... Nem sequer o homem raivoso que teve suas mãos tão quentes e rudes sobre sua pele. — Você esteve lá? —perguntou a Riley quando ele desligou o telefone, jogando as memórias carnais de lado antes que pudessem descarrilhá-la novamente.

Seguindo seu olhar para o pôster, ele assentiu. — Sobrevivi, também. — Um sorriso que escondia uma história por trás. — Como foi a ronda do perímetro externo? Você voltou essa manhã?

— Sim, foi bom. Pacífico. — Ela partira na tarde após a cerimônia, assumindo o cargo dos leopardos. — Eu fico feliz em fazer rondas extras lá.

Ao invés de aceitar a resposta, Riley se inclinou em sua cadeira, olhos escuros atentos. — Você é uma soldada sênior altamente experiente, Adria, fazer patrulhas irá frustrá-la se não tiver outras formas de gastar suas habilidades. Matthias me disse que você estava a cargo de treinar os novatos na região dele.

Foi incrivelmente difícil se despedir e se afastar de — suas — crianças, mas ela ficou preocupada que seus problemas emocionais interferissem em suas lições. Então treinou um substituto e assegurou que os novatos estivessem confortáveis com o outro soldado antes de partir. Coisas haviam mudado desde então, e ela sentia falta de trabalhar com seus jovens, mas não faria isso se custasse o cargo de outra companheira de clã, especialmente uma que ela amava.

— Indigo é brilhante no que faz. — Embora tentasse manter seu tom neutro, sua loba se eriçou.

— Sem dúvidas, — Riley disse de uma vez. — Tenho outra coisa em mente para você. — Ele esperou, como se estivesse dando a ela a oportunidade de interromper. Quando ela não interrompeu, ele continuou. — De acordo com Matthias, você é muito boa com os submissos. O que não me surpreende, dado o verdadeiro status de sua posição.

É claro que Riley saberia. — Um treinador trabalhando com submissos, — ela disse com um sorriso, — perceba que como nunca serão soldados, eles têm forças únicas e próprias. — Os mais vulneráveis na hierarquia não respondiam bem ao estilo necessariamente cruel utilizado para treinar os dominantes.

Riley deu um pequeno aceno. — Eu gostaria que você cuidasse do treinamento de autodefesa das vinte e cinco crianças submissas, idades entre quatorze e dezoito anos. Eles tiveram o curso normal, mas Hawke quer que eles tenham tanto treinamento avançado quanto sejam capazes de suportar.

— As hostilidades contínuas, — Adria disse, sabendo que o alfa tinha que estar pensando em uma situação onde os dominantes fossem mortos em grandes números. Uma coisa difícil de contemplar, mas tinha de ser feito.

— Você deveria conversar com Walker. — Riley entregou-lhe um datapad carregado com uma lista de nomes e fotos. — Seu grupo inclina para os mais jovens, ele deu à maioria dessas crianças o treinamento básico. Dos mais velhos, Eli cuidou.

— Vou me atualizar com eles. — Adria sabia quão importante era que os três trabalhassem como uma unidade. — Quem está treinando as crianças maternais? — Um segundo depois, ela estralou os dedos, sua loba empurrando-a. — Eu aposto que é o Drew.

Riley riu. — Meu irmão sabe como andar na fina linha entre se assegurar de que eles nunca se esqueçam de que ele é mais dominante, e não irritá-los. Ele tem quarenta em seu grupo, está trabalhando com eles há meses.

Adria assobiou. — É um número grande.

— Acontece que nós temos mais que o número normal de nascimentos de quatorze a dezoito anos atrás. Uma porcentagem estatisticamente significante desses filhotes está se descobrindo dominante, soldados e maternais, mas isso está afetando todos os níveis da hierarquia.

A loba de Adria ergueu seu focinho em um uivo silencioso, de luto quando entendimento correu por suas veias. Changelings eram a raça menos fértil entre as três, mas fora observado várias vezes que quando um clã perdia um número brutal dentre os seus em um curto espaço de tempo, os índices de nascimento aumentavam nos anos seguintes. E os SnowDancer sofreram perdas de partir o coração duas décadas atrás.

Riley tinha o mesmo conhecimento solene em seus olhos quando disse, — Perguntas?

— Algo que eu precise saber sobre as crianças que não seja imediatamente aparente?

— Walker é provavelmente a melhor pessoa para responder a isso, — Riley disse, pegando seu celular. — Eu vou ver se ele está disponível.

Walker não estava na toca, mas conseguiram falar com ele em seu celular. — Ligue-me em qualquer estágio, — ele disse depois que terminaram de checar a lista, sua compreensão quanto às crianças que ela estaria ensinando, mostrando uma sensibilidade às necessidades dos jovens que ressoava profundamente dentro dela. —Eles sabem que podem vir a mim independente do quê, e podem até fazer isso até que confiem em você, eu te avisarei se quaisquer problemas aparecerem.

— Valeu.

Finalizando a ligação logo após, Riley disse, — A metade do seu grupo está numa viagem de campo, mas eles chegarão às sete. A menos que você tenha outro compromisso, nós te encontraremos as oito.

— As oito está bom. Vemos-nos mais tarde. — Ela saiu do escritório, decidindo usar seu tempo livre para explorar mais profundamente o território, como Hawke pedira.

Só esteve andando por um minuto quando viu a cena mais incrível.

Dois pequenos filhotes de leopardo correram em torno da esquina, obviamente apostando entre si... para parar subitamente, garras arranhando pedra, quando a viram. Duas cabeças se ergueram. Dois pares de olhos de um belo verde dourado encararam os dela.

Olhando em volta, Adria viu que o corredor estava vazio. — Eu não acho, — ela sussurrou, se agachando para acariciar o pelo do que estava mais perto a ela, — Que vocês deveriam estar aqui. — DarkRiver e SnowDancer eram aliados de sangue, mas deixar uma criança vagar sozinha na toca era um passo imenso além disso. Então ou esses dois adoráveis causadores de problemas - estavam agora exigindo serem acariciados - tinham escapado de sua mãe frenética, ou de alguma forma tinham se infiltrado. Adria diria que eram muito pequenos para percorrer a distância entre as terras SnowDancer e o território DarkRiver, mas ela conhecia muitas crianças capazes.

O som de mais garras contra pedra, bem antes de um minúsculo filhote de lobo atacar os leopardos por trás. Aturdida, ela estava prestes a separá-los quando percebeu que os grunhidos, rugidos e patadas eram só de brincadeira. Levantou-se, sua loba muito divertida para pensar em estragar a brincadeira deles.

— É uma bela visão.

Os cabelos em sua nuca se eriçaram com o profundo timbre daquela voz masculina, mas ela não se assustou, tendo sentido o exótico cheiro de pinheiros com uma pitada de citrus que era o cheiro de Riaz. — Sim, — ela disse, orgulhosa de si mesma por manter-se calma.

Outro cheiro. Desconhecido. Feminino.

Os leopardos se separaram num pulo como se tivessem sido banhados em água fria, e de repente, estavam sentados silenciosos e adoráveis, os três mais comportados pequeninos que Adria já vira. — Pequenos fingidores, — ela disse, tentando esconder sua risada.

Ao lado dela, Riaz tossiu bem na hora em que uma morena alta dobrava a esquina.

— O quê, — a mulher disse para os filhotes, — Nós não conversamos antes de sair de casa? — Cruzando os braços, bateu um pé impacientemente no chão.

O filhote de lobo latiu.

— Quieto, Ben. Esses dois deveriam ter me esperado enquanto eu terminava de conversar com Lara.

Abaixando suas cabeças, os leopardos deram miados lastimosos. Adria viu a diversão nos olhos da mulher que deveria ser a mãe, mas sua voz quando falou, era firme. — Vocês tem escolha quanto à punição: não terão mais tempo para brincar com Ben e os outros filhotes, ou não terão bolo de chocolate de sobremesa hoje à noite.

Todos os três olharam para a mulher com absoluto choque.

A mulher permaneceu firme.

Os filhotes de leopardo acenaram para seu amigo, que era aparentemente mais atrativo que bolo de chocolate. Curvando-se, a morena pegou e beijou cada doce rostinho em resposta, inclusive o de Ben. — Agora vão esperar por mim ali, - ela indicou um ponto alguns metros abaixo no corredor, onde permaneceriam em sua linha de visão - a menos que queiram a hora de brincar permanentemente cancelada.

Somente quando os garotos caminharam para assumir dóceis posições sentadas, foi que a mulher encontrou os olhares de Adria e Riaz. — Eles me dão três cabelos brancos por hora. — Afeto exasperado.

— Tamsyn, — Riaz disse, o calor de seu corpo muito próximo, muito agressivo, — Essa é Adria.

Adria se forçou a pensar através de sua consciência enervante à respeito do macho perto dela. — A curandeira DarkRiver. — Todo o pessoal veterano foi informado sobre os DarkRiver há muito tempo atrás.

— Se você disser que não é parente de Indigo, — Tamsyn disse em resposta, — Eu vou comer minha bota... Se os gêmeos ainda não tiverem comido.

Rindo com o comentário, Adria admitiu o parentesco. — Visita social?

— Ashaya está aqui, também, — Tamsyn disse, se referindo à M-Psy acasalada com um sentinela DarkRiver. — Nós queríamos conversar sobre Alice, repassar alguns escaneamentos.

— Alice — era Alice Eldridge, uma cientista humana que tinha sido colocada em suspensão criogênica há mais de cem anos atrás e agora dormia em um coma que ninguém conseguia quebrar. Adria não conseguia imaginar como seria a vida de Alice se ela acordasse, o mundo tinha mudado drásticamente desde o começo de seu sono forçado. Seus amigos, sua família, cada um e todos eles haviam virado pó. E ainda assim Alice sobreviveu.

— É melhor eu voltar e organizar uma escolta para os arruaceiros, — Tammy disse, olhando sobre seu ombro para as crianças com um sorriso afetuoso. — Foi um prazer te conhecer, Adria.

O silêncio que caiu após a partida de Tamsyn e dos garotos foi estranho. Porém, quando Adria teria continuado seu caminho, Riaz a barrou. Linhas de tensão marcavam seu rosto, uma sombra pesada sobre o ouro velho de seus olhos, mas suas palavras foram inesperadamente generosas. — Eu tenho um tempo livre, por que não te mostro algumas das partes mais escondidas do território da toca?

Inquieta, Adria olhou para cima, se encontrou incapaz de ler a expressão dele. Passara tempo demais com outro homem cuja expressão ela não conseguia ler, então foi honesta em sua descrença. — Qual possível razão você poderia ter para me convidar para passar tempo com você quando nós dois sabemos como você se sente à meu respeito?

Riaz havia esperado as garras, seu lobo recebendo o golpe sem vacilar. — Porque, — ele disse, mantendo a decisão que tomou naquela fria, solitária manhã depois da cerimônia de Hawke e Sienna, — Não é culpa sua você não ser minha companheira. — Parecia como se estivesse arrancado sua pele por admitir, mas ele devia a verdade à Adria. — E eu sinto muito por te punir por isso.

Adria congelou após sua primeira frase, horror sombreando escura e violentamente sobre seus limpos, belos traços. — Você encontrou sua companheira? Como você pôde me beijar?

Ele não queria falar sobre isso, queria fingir que nunca colocara os olhos sobre Lisette, mas o tempo de se esconder atrás da raiva e recusar obstinadamente reconhecer a verdade havia acabado. — Ela é casada. — Apaixonada por outro homem. Coop estava certo, ele poderia deixar isso destruí-lo, ou poderia reconstruir uma nova vida a partir dos cacos quebrados da antiga.

Ele era um lobo, um dominante, um protetor. Desistir e deixar seu clã sem sua força simplesmente não estava em sua natureza. Então encontraria uma forma de sobreviver, e se tornar novamente um homem que conseguiria encarar no espelho com orgulho.

Na frente dele, os olhos de Adria se tornaram o pálido, assustador âmbar de sua loba em dolorosa simpatia. Sua mandíbula cerrou. Ele não queria pena, havia dito somente porque ela havia suportado o peso de sua raiva mesmo sem ter culpa. Mas não havia nenhum sinal de pena em sua resposta, simplesmente uma quente generosidade de espírito que o abalou. — Se seu lobo não estiver inquieto com minha presença, — ela disse, — Então eu agradeceria sua ajuda.

Inquieto?

Riaz engoliu uma risada rouca. — Nós vamos dirigir através da seção que você já conhece bem, — ele disse, determinado a tratá-la com a cortesia que ele deveria ter mostrado desde o começo, independente da fome por toque que continuava a pressioná-lo, — E explorar uma parte menos acessível da área restante a pé.

Adria permaneceu em silêncio até que haviam dirigido por no mínimo dez minutos, mas era um silêncio cheio de coisas não ditas. Quando falou, ele se encolheu.

— Você... Teve uma chance?

Suas mãos flexionaram-se no volante. — Ela ama o marido. Simplesmente a encontrei tarde demais. — Ele se arrependeu de dizer assim que havia falado, seu lobo desconfortável com a súbita, rígida vulnerabilidade. — Indigo sabe de tudo — e ele queria que ela não soubesse — Mas ninguém mais sabe, então se você pudesse...

— Eu não vou dizer nada, — ela prometeu, naquela voz ligeiramente rouca que era uma provocação involuntária. — Você pode conversar comigo sobre isso, sabe. — Uma hesitação. — Não pode ser bom guardar tudo isso.

Colocando o veículo no modo suspenso, ele os levou por um caminho pedregoso. — Não há muito que falar. — Não estava sendo obstinado, o que mais havia para ser dito? Lisette pertencia a outro homem, e Riaz tinha que descobrir um jeito de viver com isso.

— Não, eu suponho que não haja. — Sem falar novamente até que saíram do veículo, em uma seção relativamente isolada do território da toca, ela disse, — Vamos ficar em forma humana. Será mais fácil para conversar.

Ele assentiu, algumas seções seriam difíceis de transpor sobre dois pés, mas eles sempre poderiam reconsiderar mudar de forma naqueles pontos.

Enquanto andavam, ele viu Adria absorver tudo com aqueles olhos estonteantes de um azul violeta. Era a primeira vez que ele realmente olhava para ela, sem ser cegado pela cáustica mistura de raiva e desejo que havia colorido suas interações anteriores. Havia uma força de aço no olhar dela, como se tivesse sido temperada em dor e saído mais forte, menos quebrável.

Sua fascinação por ela mudou uma fração, se tornou mais sutil, mais complexa... Mais perturbadora, quando ele percebeu que queria saber a dificuldade que a havia afiado. — Há algo que você deveria ver aqui, — disse-lhe, pego entre as necessidades concorrentes de uma fidelidade que o destruiria, e uma traição sedosa que poderia rasgá-lo ao meio.

 

— Você vê seus pais frequentemente? — ele perguntou quase duas horas depois, incapaz de resistir ao impulso de resolver o mistério que era ela.

Uma pausa expectante cheia somente com o som do vento farfalhando através das árvores. — Não tanto quanto deveria.

Lendo a tensão na linha de suas costas, sabia que ela queria que ele deixasse o assunto para lá, mas independente de tudo o mais, nunca fora um homem que recebia ordens quando não as queria receber. — Estranho para um lobo.

Nenhuma resposta enquanto eles caminhavam pela clareira verde por causa da primavera. Só quando estava começando a acreditar que ela simplesmente ignoraria sua pergunta, ela disse, — Eu estava em um relacionamento. Um que deixava meus pais infelizes. — Palavras simples que não diziam nada.

— Eles te fizeram escolher?

— Não, mas nós acabamos discutindo sobre isso todas as vezes em que os visitava. — Ela suspirou. — Tarah, Indigo, nenhuma delas aprovava, mas me deixavam em paz na maior parte do tempo.

Riaz se perguntou que diabos havia de errado com o macho que Adria havia escolhido para que toda sua família não gostasse do cara. Porém, a expressão fechada em seu rosto disse-lhe que a conversa havia acabado; ele poderia pressionar, mas desta vez, ele decidiu ser paciente.

Lobas dominantes não reagiam bem à pressão além de certo ponto.

Enquanto ela caminhava alguns passos à frente, seus olhos permaneceram na pele suave exposta em sua nuca, sob a corda de sua trança. O calor dourado dela brilhava na luz do sol da montanha, e ele queria somente colocar aquela trança de lado e correr seus dedos sobre a pele.

Adria se afastou para o lado, seu cabelo roçando as costas da mão dele.

E ele percebeu que seus dedos haviam feito exatamente o que ele imaginara. — Merda, eu sinto muito.

Brilhantes olhos azul violeta riscados com dourado precioso o observaram com muito conhecimento. — Você precisa fazer algo sobre sua fome, Riaz.

A ideia de estar com qualquer mulher que não fosse Lisette fez seu corpo todo se revoltar, mas mesmo então, o cheiro de Adria, a lembrança de como ela se sentiu ao seu toque, era uma droga, um vício que o agarrava em poderosos dentes e o agitava. — Você pode voltar sozinha? — As palavras eram ásperas, seu lobo muito próximo da superfície.

Adria deu um simples, — Sim, — antes de virar e se afastar dele em um segundo, uma alta, forte mulher com cabelo tão escuro quanto ônix, e um orgulho que - ele sabia - nunca mais a permitiria convidá-lo para sua cama.

 

Adria se curvou com um tremor, suas mãos em seus joelhos, depois de Riaz ter desaparecido na direção oposta. Parecia que seu corpo queria explodir de sua pele, rasgado pelo caos das necessidades e desejos concorrentes. Quando Riaz a tocou, ela quase se derreteu contra o calor rude de seus dedos, apesar de todos seus votos pelo contrário, seu corpo já condicionado a esperar o prazer selvagem.

Inalando outra respiração trêmula, tomou um desvio em sua descida à toca, seguindo um caminho antigo que, se sua memória não falhasse, guiava à uma pequena cachoeira escondida. Ela a encontrou quando era pequena, e se tornou seu lugar secreto, aonde vinha pensar sobre decisões importantes, ou para satisfazer sua frustração e temperamento.

Um sorriso puxou seus lábios. Deus, fôra uma criança tão séria, tão temperamental. Conforme crescia, aquela selvageria de emoção maturou para uma intensidade silenciosa de paixão contida e calma.

Você é magnífica e eu mal posso esperar para aprender tudo à seu respeito. Palavras que Martin lhe dissera durante seu primeiro ano como casal.

Seu sorriso se desfez em uma tristeza tão profunda que se acumulou em seu peito, um caroço denso. Mesmo a visão de “sua” cachoeira, pequena, secreta e efervescente, não melhorou seu humor. Sua mente estava com a mulher que ela fôra, tão preparada para começar o que pensou ser a próxima fase de sua vida, com um homem que acreditou que caminharia ao lado dela conforme os dois mudassem e crescessem. E pela primeira vez desde que tomou a decisão de terminar o relacionamento, sua raiva foi lavada em tristeza.

O Martin que ela conheceu não era o homem distante que tão frequentemente mostrava, como se fossem estranhos, um homem secretamente desconfortável em situações sociais. Ele era tão doce quando estavam sozinhos, um senso de humor perverso e um jeito de olhá-la como se ela fosse a mulher mais atraente do mundo. Não somente isso, mas ele celebrava suas conquistas, assim como ela celebrava as dele.

Levou-o para jantar em um restaurante fino quando ele ganhou seu doutorado, e estranho à cozinha como era, ele uma vez colocou um avental e fez um bolo quando ela completou um curso de treinamento particularmente extenuante. O bolo havia desmoronado no meio e estava cru nas bordas mas estava maravilhoso. Eles riram e se embebedaram com champanhe barato, comendo tanto bolo que solenemente juraram — Nunca, nunca mais.—

Aquilo era o que ela tentara salvar por tanto tempo, incapaz e indisposta a acreditar que algo tão inocente e brilhante poderia ter se transformado em tanta hostilidade. Ela achava que se tentasse o bastante, seria capaz de consertar tudo. Era como sua cabeça funcionava, mesmo quando era uma criança e descobrira que artes marciais não combinavam com seu modo rígido de movimento, mas sabia que a habilidade se provaria útil como soldado, então ela simplesmente cerrou os dentes e praticou de novo e de novo até que seu corpo se movia com graça perfeita.

Somente depois de estar quebrada pelas ruínas de seu relacionamento foi que entendeu que não importava o quanto ela tentasse, não teria importado. Porque em algum ponto durante o caminho, um veneno se infiltrou em seu relacionamento. Silencioso e sorrateiro, corrompeu o tecido de emoção que os unia até que aquele tecido estivesse em farrapos... E sua loba se retraiu completamente do relacionamento.

Martin sabia. Isso só aprofundou seu ressentimento.

Umidade em sua bochecha, uma trilha descendo até sua boca. Sal. Era o gosto da primeira lágrima que ela derramva desde que fechara a porta na cara de Martin um ano atrás, sabendo que nunca mais a abriria. Tão frágil, a única gota iridescente mesmo assim destruiu suas defesas. Caindo de joelhos, ela permitiu a tristeza se derramar para fora dela, seus ombros tremendo com a força de seus soluços.

 

Riaz captou o cheiro de Adria enquanto corria, e rosnou, frustrado que sua presença fantasma continuasse a assombrá-lo. Quando ficou mais forte ao invés de desaparecer, ele percebeu que ela não havia voltado para o carro, mas continuara a pé. Ele teria prosseguido, mas captou um leve suspiro de som que fez seu lobo estalar atento. Franzindo, se aproximou o suficiente para assegurar que ela não estivesse em problemas... E ouviu o cru, doloroso som de uma mulher cujo coração estava sendo quebrado.

Seu peito se apertou, instintos protetores rugindo à superfície, mas não se aproximou. Adria era uma mulher orgulhosa, forte, não gostaria que ninguém a encontrasse num momento tão vulnerável, suas defesas despedaçadas. Mas mesmo enquanto se dizia para partir, o som irregular de suas lágrimas o despedaçava.

Ela ergueu a cabeça no instante em que ele entrou em sua linha de visão, seu rosto devastado pelas lágrimas. — Vai!

Querendo caçar o que quer que a tenha devastado tanto, mas ciente de que não era um inimigo físico que pudesse derrotar, ele se abaixou e a puxou em seus braços. Ela começou a lutar, toda cotovelos afiados e mãos firmemente em punhos. — Me deixe ajudar, maldita seja. — Não era a coisa mais suave ou mais charmosa a se dizer, mas veio de sua alma e coração, sua voz áspera com a frustração do lobo por ser incapaz de fazer algo.

Outro soluço dilacerante, e então ela se derreteu em seus braços, como se não pudesse lidar com a profundidade agonizante de sua dor e o afastar ao mesmo tempo. Puxando-a tão perto quanto podia, seus joelhos abertos para aninhá-la entre eles, segurou a parte de trás de sua cabeça com uma mão, enrolou um braço em sua cintura... E simplesmente a segurou enquanto ela chorava.

Ele havia visto mulheres fortes chorarem antes, mas nunca assim. Até que parecia que ela estava sendo rasgada de dentro para fora. Mão cerrada em seu cabelo, enrolada em sua trança, ele pressionou sua bochecha ao preto puro de seu cabelo e deixou suas unhas se enterrarem em suas costas enquanto ela enrolava seus braços em torno dele em um abraço forte.

Um minuto, uma vida depois, aquelas mãos se tornaram punhos novamente e ela o socou. Os golpes não tiveram impacto por causa de sua posição, mas a agonia neles era excruciante. Seu lobo se enfureceu com sua impotência, mas mesmo assim, ele se pressionava contra a pele de Riaz, querendo suavizar, reassegurar. Mas tudo que eles podiam fazer era segurá-la, o cheiro de amoras esmagadas em gelo se afogando em sal.

O vento era silencioso, o sol mais baixo no céu quando ela ficou quieta, deitada contra ele de uma forma que dizia que toda a luta havia sido tirada dela. Ele a conhecia por um fragmento de tempo, mas odiava vê-la tão derrotada. Adria era orgulho, espírito e força. Não uma mulher que desistia. — Você perdeu alguém? — Morte era a única coisa que ele podia pensar para explicar a profundidade de seu desespero.

— Estava morto há muito tempo. — Palavras raspadas. — Eu só não estava preparada para chorar por isso até agora.

Ele esfregou sua bochecha contra o cabelo dela, um lobo tentando confortar outro. — Você se sente melhor?

— Eu me sinto como se tivesse sido atropelada. — E rápido assim, ela era Adria novamente.

Se afastando e se levantando, ela foi até a piscina no fim de uma minúscula cachoeira que ele mal podia ver, pegando um punhado de água e lavando seu rosto. Em qualquer outra hora, com qualquer outra mulher, ele poderia ter esperado, mas podia ver pela curva rígida de sua espinha que ela odiava o fato de que ele a tinha visto assim, então se virou e se afastou.

Seu lobo rosnou, mas não resistiu. Porque ele, também, entendia que Adria não era nenhuma donzela indefesa em problemas. Riaz a vira lutar ao seu lado com uma coragem inabalável, testemunhara sua determinação de aço enquanto ela se arrastava na linha de fogo para tirar um membro do clã machucado para fora da zona de perigo, confiara nela para dar-lhe cobertura quando o inimigo ameaçou rodeá-los.

Uma mulher como aquela não iria querer nenhum homem, muito menos um com o qual ela tinha apenas o mais frágil dos cessar fogo, e a vira indefesa e fraturada por seu luto. Ele se perguntou se isso criaria outra barreira entre eles, já que ela queria se distanciar da memória. A idéia pinicou seu interior, um afiado, inesperado desconforto.        

       

       DE: Sascha<sascha@darkriver.net>

       PARA: Lara<lara@snowdancer.org>

       CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Ashaya<ashaya@darkriver.net>;

       Amara<amara@sierratech.com>

       DATA: 3 de set., 2081 às 11h14min.

       ASSUNTO: Paciente A

 

Lara, eu falei com Tammy e Ashaya, recebi a última atualização sobre nossa paciente.

Embora minha última tentativa não tenha funcionado, eu estive relendo meu livro (sim, de novo), e lendo nas entrelinhas, parece que tenho uma habilidade empática distinta que pode ajudar nossa paciente.

Não posso provar, assim como não há como testar a teoria exceto em alguém nas condições dela, mas se você achar que não irá interferir com o que já estamos testando, eu gostaria de tentar.

 

       DE: Ashaya<ashaya@darkriver.net>

       PARA: Sascha<sascha@darkriver.net>

       CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Lara<lara@snowdancer.org>;

       Amara<amara@sierratech.com>

       DATA: 3 de set, 2081 às 11:17.

       ASSUNTO: re: Paciente A

 

Como todas vocês sabem, hoje mais cedo Lara injetou a Paciente A com um agente químico que Amara e eu sugerimos. Pode ajudar a guiar à um aumento do nível de consciência da paciente. Acho que é racional assumir que somente a fará mais receptiva à empatia de Sascha. Eu não vejo mal nisso, de qualquer forma. Amara concorda.

 

        DE: Lara<lara@snowdancer.org>

       PARA: Sascha<sascha@darkriver.net>

       CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;

       Ashaya<ashaya@darkriver.net>;

       Amara<amara@sierratech.com>

       DATA: 3 de set, 2081 às 11h58min.

       ASSUNTO: re: re: Paciente A

 

Estou aberta à qualquer coisa que possa ajudá-la. Sascha, vou te ligar e nós marcaremos um horário para você vir. Pode ser melhor esperar até que possamos ver se a fórmula de Amara e Ashaya está fazendo efeito.

Um dos técnicos veteranos esteve aqui esta semana e recalibrou o equipamento que estamos usando para monitorar a paciente, então nós veremos mesmo o menor sinal de consciência.

 

        DE: Tammy<tamsyn@darkriver.net>

       PARA: Lara<lara@snowdancer.org>

       DATA: 3 de set, 2081 às 14h02min.

       ASSUNTO: Vida

 

Eu não tive a chance de falar com você sobre isso enquanto estava na toca, mas espero que não esteja deixando essa situação com a Paciente A te consumir, Lara. Eu sei como é difícil não ficar emocionalmente envolvida, na maior parte do tempo curandeiros não tem escolha, mas nós duas sabemos que não é saudável, especialmente com essa paciente, dado seu prognóstico.

Estou preocupada com você. Me ligue.

 

        DE: Lara<lara@snowdancer.org>

       PARA: Tammy<tamsyn@darkriver.net>

       DATA: 3 de set, 2081 às 15h15min.

       ASSUNTO: re: Vida

 

Acabei de tentar te ligar, mas seu telefone deu caixa postal. E acho que deve estar no treino de hockey dos meninos. (Deus, quão adoráveis eles ficam naquelas miniaturas de uniformes?! Eu não sei como você aguenta.)

Estou bem, sério. Walker e as crianças me mantém centrada, e Walker é tão protetor, que literalmente me carrega para fora da enfermaria quando estou sendo teimosa sobre descansar. Não estou brincando, ele me jogou sobre seus ombros noite passada! Disse que eu já havia recebido meu aviso.

Tenho que admitir que eu talvez tenha rosnado (Okay, sim, eu rosnei), mas acho que é saudável quando meu racional companheiro Psy subitamente se torna um homem das cavernas. E eu aqui, pensando que seria mais fácil para mim do que para todas vocês acasaladas com changelings dominantes. Mostra o quanto eu sei.

Lara

P.S.: Os rosnados não duraram muito. Não tenho força de vontade quanto ele fica todo forte, silencioso e possessivo. Só me chame de Mulher Geléia.

 

        DE: Tammy<tamsyn@darkriver.net>

       PARA: Lara<lara@snowdancer.org>

       DATA: 3 de set, 2081 às 15h27min.

       ASSUNTO: re: re: Vida

 

Você é tão louca pelo seu Psy, que posso ver o sorriso bobo em seu rosto neste momento. J

Nate mencionou em outro dia como ele e Walker concordam completamente quando se trata de cuidar de suas curandeiras, mesmo se nós estivermos sendo totalmente irracionais sobre isso, e, quando superei a vontade de bater nele, eu decidi beijá-lo, ao invés. Nós tivemos sorte, baby.

Aparentemente eles estão se aproximando. Nate passou no treino para ver os meninos, e fui informada de que todos nós iremos jantar juntos amanhã à noite. Não sei se deveria ficar assustada por esse desenvolvimento, mas mal posso esperar para te ver, para que possamos conversar devidamente.

Estou esperando que a Paciente A responda à tentativa de Sascha.

Tammy

P.S.: Anexadas fotos de meus lindos pequenos causadores de problemas em seu jogo desse fim de semana. Jules saiu do jogo uma vez, e Romes na verdade ficou no jogo, ao invés de sair junto em solidariedade. Fico feliz em dizer que por mais que sejam profundamente unidos, eles também estão se tornando pequenos ferozes e independentes homens.

       <enviado via datacomm portátil>

 

Hawke olhou para o documento que BlackSea enviou alguns minutos atrás e chamou Riaz para uma consulta, desde que o tenente teve múltiplos contatos cara a cara com membros do incomum — clã — enquanto esteve na Europa. Pegou Riaz em seu caminho descendo das elevações mais altas, teve que esperar quarenta e cinco minutos para ele chegar.

— Almoçou? — ele perguntou quando o outro homem entrou em seu escritório. Eram três e meia, mas ele não tivera chance de comer.

Riaz se espalhou na cadeira em frente a mesa de Hawke. — Não, mas não vou desvanecer.

— Eu vou. — Ligando para a cozinha principal, pediu para uma das crianças em atividades pós-escolares na cozinha para trazerem dois pratos. — Massa está bom para você?

Ao aceno de Riaz, ele adicionou um pedido de sobremesa e sorriu para a resposta insolente da chef, Aisha, quando a juvenil no telefone repassou o pedido. Desligando, ele entregou a Riaz uma cópia do documento dos BlackSea. — O que você acha disso?

Diferente da maioria dos grupos changelings, BlackSea não era composto de uma espécie em particular de changeling, mas era um conglomerado de todos os changelings aquáticos. Vários trabalhavam em Alaris, a estação localizada no fundo do Oceano Pacífico, não muito longe da Mariana Trench, embora o pessoal da estação não fosse completamente changeling.

Um grande número do pessoal de BlackSea tinha ocupações normais, em cidades localizadas perto do mar ou em grandes bacias de água doce, dependendo de suas espécies individuais. Não havia, porém, nenhum changeling aquático na Bay Area, ou ao longo da costa Californiana. Dada a forte dominância de SnowDancer e DarkRiver na região, o pessoal de BlackSea se mantinha afastado, não querendo inadvertidamente causar um conflito territorial.

Agora eles queriam não somente permissão para se mover livremente nas águas dentro e ao redor do território, assim como trabalhar nessa região, mas também uma aliança com SnowDancer. Porém, sua visão de um processo de aliança era muito diferente da visão de Hawke. Por isso a consulta. — Espere, — ele disse quando Riaz começou a falar. — Deixe-me colocar Kenji na conversa, ele é quem está em contato com os BlackSea.

Toby bateu na porta aberta neste momento usando seu pé, suas mãos ocupadas por uma bandeja cheia. Sentiu um puxão de orgulho em suas entranhas à visão do garoto que era da família agora, Hawke acenou para que entrasse. — Ouvi que você se voluntariou para fazer turnos extras na cozinha. — De acordo com Sienna, seu irmãozinho estava se tornando um excelente cozinheiro.

Toby assentiu, cabelo vermelho escuro deslizando sobre sua testa enquanto ele colocava pratos cheios de fettuccine de frango com cogumelos na mesa de Hawke seguidos de uma grande tigela de salada, grandes pães de alho mornos, duas garrafas de água, e duas enormes fatias de cheesecake. Por último os talheres.

Sorrindo por ter completado a operação toda sem derrubar nada, Toby inclinou a bandeja cuidadosamente contra a parede. —Aisha disse para você ligar se precisar de mais.

— Valeu, Toby. Dê a Aisha um beijo por nós. — Hawke piscou.

Toby deixou o escritório com um sorrisinho, fechando a porta atrás de si ao aceno de Hawke.

— Eu acho que ela está tentando nos engordar. — Riaz grunhiu enquanto pegava o fettuccine.

— Desculpa, estou muito ocupado morrendo de êxtase gastronômico para falar.

Não havia sequer uma migalha restante quando eles terminaram. Profundamente satisfeito, Hawke colocou Kenji na conversa através da grande tela de conferência na parede à direita de sua mesa.

— A quê devo essa honra? — Kenji perguntou, abaixando um hambúrguer meio comido, o misterioso hematoma em sua bochecha, - existente desde a noite da cerimônia de acasalamento - não mais em evidência, embora seu cabelo permanecesse roxo com estrelas douradas.

Riaz ergueu o documento em uma explicação silenciosa.

Kenji fez uma careta. — O que tem isso? Eu não disse nada ao negociante deles, mas não é exatamente como nós fazemos as coisas.

Cara a cara, changeling a changeling, era assim que SnowDancer começava um relacionamento que tinha o potencial de se tornar uma aliança.

— BlackSea não é comum de qualquer modo, forma, ou molde, — Riaz disse, esticando suas pernas à frente depois de mudar sua posição de modo que pudesse olhar diretamente para a tela. — Porque eles estão espalhados pelo mundo, eles tiveram que desenvolver outras formas de se conectarem. Dificulta o fato de a maioria de seus membros ser sigilosa e reticente ao extremo.

Hawke esfregou sua mandíbula. — É, ninguém nunca confirmou se algumas das espécies changeling que são oficialmente parte do BlackSea sequer existem. — Changelings aquáticos não informavam suas espécies, e muitos escolhiam viver nas pequenas cidades flutuantes em águas internacionais, que eram permitidas através do acordo assinado após as Guerras Territoriais.

As cidades eram abertas à qualquer um, se você conseguisse achar transporte à localização: BlackSea tinha uniformemente escolhido perigosos trechos de água para ancorar as cidades, águas que só um peixe seria capaz de navegar. E desde que eles se asseguraram que não houvesse nenhuma superfície apropriada para aterrissar do céu, os únicos visitantes nas cidades eram os convidados.

Mesmo os Psy deixavam os BlackSea em paz, mais provavelmente porque os changelings aquáticos faziam tudo que podiam para ficar sob o radar. O que trazia outra questão, mas Hawke a guardou por agora, porque Kenji estava falando.

— Então, o quê, — ele disse, engolindo seu refrigerante, — eles funcionam como os Psy?

— De certa forma, — Riaz disse, rugas entre suas sobrancelhas. — Não cometa o erro de pensar que eles não são ferozmente leais uns aos outros como qualquer outro clã changeling, mas tudo é gravado e verificado para que possa ser compartilhado com membros em torno do mundo.

Kenji bateu com uma caneta laser contra a bochecha. —Honestamente, eu amo a ideia de nos aliarmos com BlackSea. Sua rede de informações sozinha é inestimável. A questão é, SnowDancer pode se adaptar o bastante para trabalhar com um grupo que funciona tão diferentemente?

Era uma pergunta astuta.

Colocando a caneta atrás de sua orelha, Kenji continuou. — Nós não podemos tratá-los como tratamos nossos contatos Psy, porque como Riaz disse, eles são changeling e isso iria irritá-los. Mas, não parece que nós podemos ter com BlackSea o mesmo tipo de relacionamento que nós temos com DarkRiver e estamos construindo com WindHaven.

Hawke assentiu. Ele confiava nos alfas dos clãs de leopardo e falcão profundamente. Nem Lucas nem Adam jamais iriam apunhalá-lo pelas costas, disso ele tinha absoluta certeza. — De acordo com a linha oficial, — ele disse, — Eles não têm um alfa, e sim uma ‘Conclave’ que representa todos os maiores e menores grupos de espécies em BlackSea.

Riaz balançou a cabeça. — Isso tudo é um monte de merda que eles divulgam. O nome dela é Miane Levèque e ela sabe de tudo o que acontece em BlackSea.

— Foi o que pensei. — Miane era alguém em quem Hawke mantinha um olho em cima, assim como fazia com os alfas da maior parte dos grandes clãs. — Independente do que aconteça, um encontro cara a cara é inegociável. — Seu lobo não aceitaria nada menos.

Riaz bateu nos documentos enrolados em seu colo. — Meu conselho: nós tratamos esse pedido seriamente, passamos pelo contrato, e pedimos mudança conforme necessário. Acho que eles estão nos testando, vendo se somos capazes, ou pelo menos se estamos dispostos a tentar nos adaptarmos ao seu jeito único de fazer as coisas.

— Poderia ser um jogo de poder, — Kenji apontou. — A sardinha tentando fazer a baleia seguir seus desejos.

Hawke sorriu. — Excelente analogia marinha, rock star.

Kenji tocava guitarra aérea excelentemente bem. — Eu estive guardando.

— É definitivamente um pouco disso, também, — Riaz disse, claramente sem dúvidas sobre os instintos predatórios de BlackSea. — Então nos asseguraremos de que eles percebam que enquanto trabalharmos com eles, seremos inflexíveis sobre o crítico encontro entre Miane e Hawke.

— E, — Hawke adicionou, — transporte garantido de entrada e saída de suas cidades. — O movimento deve ser feito dos dois lados para uma aliança funcionar. — Se eles planejam nos barrar lá, o acordo está acabado. E avise-os que se isso acontecer depois de concordarmos com uma aliança, nós consideraremos uma violação fatal e uma declaração de agressão. — SnowDancer tinha muitos dentes, e não queria que BlackSea tivesse quaisquer duvidas de que usariam esses dentes no instante em que o outro grupo tentasse manipular a situação.

Os olhos de Riaz brilharam em concordância, seu lobo perto da superfície. — Nós também precisamos estipular um link de comunicação permanente. Nada de evitar nossas ligações e colocar a culpa na interferência náutica, antes ou depois. Assegure que eles saibam que os SnowDancer não dão segundas chances.

— Esse é um ponto muito bom, — Kenji disse, engolindo um pedaço do que parecia torta de cereja. — Ouvi que BlackSea é ótimo em adiar as coisas até que seja tarde demais.

— Seguirei o que vocês sugerirem, vocês dois tem mais experiência com BlackSea que qualquer um do clã. — Hawke era muito ciente de que ou ele respeitava as forças e habilidades de seus homens e mulheres, ou ele os perderia para o tédio e a frustração. —Vocês dois tem autoridade completa para negociar. Só me mantenham informado.

— Tem mais uma coisa. — A expressão de Riaz era pensativa. — Vocês não estão se perguntando o porquê de eles estarem fazendo contato agora?

Era a pergunta que Hawke guardou mais cedo. — Sim, pois eles viram as consequências de se aliar conosco muito bem detalhadas. — Como um aliado, era esperado que BlackSea provesse apoio em quaisquer conflitos futuros.

— Das últimas vezes que encontrei um membro do BlackSea, — Riaz disse, — Senti que algo estava acontecendo. Como umaa tensão sutil sob a superfície.

— Eu tenho a mesma sensação. — Kenji deu mais uma mordida em sua torta, e tomou mais refrigerante. — Eles estão em algum tipo de problema, e o que quer que seja, está fazendo nosso clã parecer atrativo.

Ambos os tenentes olharam para Hawke, uma pergunta não feita em seus olhos.

— Nós continuamos o processo. — As vantagens de ter BlackSea como um aliado eram vastas. — Não há motivos para trazer isso à tona agora. — Os changelings aquáticos não confiavam nos SnowDancer o bastante para dizer a verdade. — Uma vez que as outras peças estejam encaixadas, nós os questionaremos, se eles se recusarem a cooperar, acaba ali. — Ele não iria aliar seu povo com um grupo que poderia guiá-los a um perigo desconhecido.

— Sabe, tudo o mais de lado, eles são fascinantes. — O tom de Riaz mostrava interesse. — Um grupo de changelings que mesmo outros changelings não entendem.

— Assustadores pra caralho às vezes, também, — Kenji murmurou. — Aqueles olhos pretos que alguns deles têm, é como estar olhando para o rosto de um tubarão anequim.

— Talvez você esteja, — Riaz respondeu com um sorriso. — E merda, Kenji, você vive em uma dieta de porcarias?

— Meu sushi está em outra marmita. — De repente, ele mordeu um pedaço de bolo.

Hawke ouviu os dois discutirem alguns assuntos preliminares antes de Kenji desligar e Riaz ficar de pé. Ele ainda estava preocupado com o tenente, mas como disse à Riaz, ele conhecia lobos solitários. Daria ao outro homem um pouco de tempo. A coisa positiva da situação é que Riaz veio para casa, e ficou.

— Vou dar uma olhada no contrato hoje à noite, — o outro macho agora disse, olhando para seu relógio. — Tenho que ligar para Pierce em alguns minutos, ele disse que ficaria acordado até tarde.

Pierce era o lobo solitário que tinha assumido as tarefas de Riaz na Europa. — Diga a ele para manter seu nariz limpo ou eu o colocarei para fazer rondas na Sibéria. — Ao contrário de Riaz, Pierce era um conquistador, seu rosto foi apresentado para mais de um punhado de fêmeas enciumadas.

— Então nós teríamos que lidar com WhiteSteppe, — Riaz disse com um sorriso, nomeando o único clã de lobos da Sibéria. — Eles provavelmente declarariam guerra contra nós depois de ele seduzir a namorada de algum tenente.

Rindo enquanto o outro homem partia, Hawke acenou para a adolescente que apareceu na porta. — Está aqui para pegar os pratos, Silvia?

Um sorriso tímido. — Sim. — Ela rapidamente os juntou, sem sinais restantes das lesões que sofreu em uma queda severa.

— Como estão indo suas sessões com Ava? — ele perguntou, sabendo que a fêmea maternal tinha assumido Silvia como sua protegida.

— Tudo que ela me ensina, — a adolescente disse, — se encaixa. Como se eu meio que soubesse. Eu queria perguntar se talvez eu possa ter mais tempo com ela?

Tímida ou não, havia força ali, Hawke pensou, morna e forte. — Converse com Nell, — ele disse. — Ela vai providenciar isso.

Quando Silvia saiu com outro pequeno sorriso, Hawke se lembrou da nota que Nell havia enviado essa manhã. Pegando-a de sua mesa, ele considerou como lidar com aquela situação em particular. Ele deveria fazer Riley lidar com isso, era a maldita culpa dele por colocar ideias nas cabeças cheias de hormônios dos juvenis. O pensamento o alegrou por um segundo, mas ele sabia que essa era uma tarefa para um alfa, então engoliu, e fez a ligação. — Você está na cabana?

— Sim, — Lucas respondeu. — Traga torta de chocolate da Aisha para Sascha se vier para esse lado. Até onde minha viciada em chocolate está envolvida, é como ambrósia.

— Qualquer coisa para a querida Sascha.

— Isso não funciona agora que você está acasalado.

— Droga. — Hawke desligou, então ligou para Aisha para preparar a torta, a cozinheira adorava como Sascha desejava sua comida, então era um caso de amor mútuo. Colocando sua cabeça no escritório de Riley depois de pegar o doce, ele disse ao tenente onde estaria se fosse necessário. — Você sabe onde Sienna está? — Ele podia senti-la através do elo de companheirismo, rastreá-la se fosse preciso, mas se prometeu que só faria isso em caso de emergência. Ele nunca iria querer que sua companheira se ressentisse do elo entre eles, o visse como uma rédea ou uma jaula.

Riley ergueu uma lista. — Ela está na hora dos estudos, então acho que está na biblioteca.

— Valeu. — Mesmo com algumas interrupções por pessoas querendo conversar, não demorou muito para Hawke entrar na biblioteca da toca, onde encontrou sua companheira com a cabeça curvada sobre um pedaço de papel no qual estava escrevendo fórmulas que faziam o cérebro dele doer. Livros de matemática e física estavam abertos em vários enormes datapad em torno dela, e o pequeno computador que ela ocupava estava mostrando o que parecia ser uma equação complexa.

Colocando as mãos de cada lado da mesa por trás dela, ele deu um beijo em um ponto sensível sob sua orelha, o cheiro de outono e temperos dela o acalmando e revigorando seu lobo ao mesmo tempo. — Senhora Sienna Lauren Snow, — ele brincou, — Por que você está trabalhando em algo tão arcaico como papel?

 

Um toque de cor nas bochechas dela. — Me ajuda a pensar.

Rindo, fez uma nota mental para comprar uma resma de papel que ele viu em uma pequena papelaria perto da loja que fazia os brinquedos mecânicos que ele colecionava, se lembrava bem, o papel era especialmente feito para o tipo de cálculos que ela estava fazendo. — Quanto você ainda tem para fazer hoje? — Ele sabia que ela estava trabalhando em um projeto de crédito extra para ganhar acesso antecipado em um curso avançado de termodinâmica, o comportamento da energia.

Sienna não tinha certeza se a informação iria ajudá-la a entender o fogo frio que vivia dentro dela, mas não faria mal. Conhecimento, ele pensou, dava a ela um controle que foi frequentemente roubado de sua vida.

— Algumas horas, — ela disse agora, erguendo sua cabeça, seu cabelo grudando em sua camiseta, — Mas eu posso fazer isso hoje à noite. Eu poderia aproveitar uma pausa.

Ele bateu na ponta do nariz dela com seu dedo. — Venha então. Estou indo ver Lucas, você poderia visitar Sascha.

— Ótimo! Não fico com Naya desde vários dias antes da nossa cerimônia. — Ela rapidamente arrumou os datapads em seus compartimentos, então juntou e colocou seu computador e notas no armário anexado. — Pronto.

Eles estavam na metade do caminho para a garagem quando Toby esbarrou neles, uma pequena mochila pendurada em seu ombro. — Vocês estão saindo? Eu posso ir? — ele perguntou, afastando cabelo que não estava em nenhum lugar perto de seus olhos cardinais. Hábito, Hawke pensou, o lobo sorrindo para a memória do corte de cabelo que ele deu ao garoto.

Sienna estendeu a mão para arrumar a gola de sua camisa. —Você completou suas tarefas na cozinha?

— Completou, — Hawke respondeu ao sorriso de Toby. — Me trouxe comida não muito tempo atrás.

— Eu até terminei minha lição de casa, — o garoto adicionou, e recebeu permissão para se juntar a eles. Sorrindo, ele os acompanhou. — Nós saímos da escola cedo hoje, e não temos que começar até as dez amanhã, porque temos uma aula noturna. — Toby vibrava com empolgação. — Elias e Sam vão nos ensinar como rastrear no escuro. Vai ser bem tarde, quando tudo estiver silencioso.

Hawke se lembrava dessas aulas em sua juventude, as memórias mordazes... Porque seu pai e tenente foi um dos professores. Olhando para o rosto ansioso de Toby, parecia impossível que ele mesmo tivesse sido jovem assim, mas seu lobo se lembrava vivamente de perseguir através dos sussurros noturnos da floresta, tentando ser silencioso, muito silencioso. O deixava orgulhoso que apesar de tudo o que aconteceu, os jovens SnowDancer continuavam a ter a chance de serem crianças, aprender a brincar e crescer.

— Onde nós estamos indo? — Toby perguntou uma vez que terminou de entretê-los com os planos de Sam e Eli.

— Ver Sascha.

— Ótimo! — Toby se agitou animadamente no banco de trás do SUV quando eles chegaram à garagem. Embora ele fosse uma ótima criança, o lobo de Hawke se preocupava sobre seu bom comportamento. O garoto nunca esteve em problemas, e isso era um comportamento completamente estranho para uma criança na idade dele. Hawke se preocupava que Toby estivesse com medo de aprontar, com medo de que as pessoas que ele amava o deixassem, assim como sua mãe o deixou quando se suicidou.

Ele falou sobre isso com Judd e Walker, assim como Sienna, e eles estavam todos silenciosamente vigiando o garoto. Porém, Sascha, que passava tempo regularmente com Toby, ensinando-o a lidar com suas habilidades empáticas, disse a Hawke para não se preocupar. —Ele é muito centrado e feliz. Se eu sou um caso normal quanto a empatas, você terá mais problemas com ele em torno de quatorze a dezesseis anos.

— Eu não entendia conscientemente na época, claro, mas minhas habilidades ficaram hipersensíveis em torno dessa época. Eu costumava ir de raiva, à alegria, à frustração dentro de minutos. — A cardinal deu um sorriso seco. — Se eu não estivesse com tanto medo de ser reabilitada, eu teria sido uma encrenqueira.

Toby, Hawke pensou, não tinha que temer ser punido por ter emoções, por ser sentenciado à lavagem cerebral, não teria de se preocupar que sua personalidade fosse apagada em um ato de brutalidade. E quando a adolescência chegasse, sendo ou não exacerbada por suas habilidades empáticas, ele teria o apoio necessário, amor, e disciplina para sair mais forte do outro lado.

Agora, escutando o garoto conversar com Sienna, o lobo de Hawke se esticou em contentamento. Ele tinha uma família sua novamente, pensou, a percepção ainda tão nova que era um chute no estomago. Como alfa, todos no clã eram parte de sua família, mas não era o mesmo do que ter pessoas que eram dele.

— Toby, — ele disse durante uma pausa na conversa, — você já está namorando?

O rosto de Toby ficou vermelho brilhante no retrovisor. — Um, er, não.

Hawke achava isso pelo que viu na cerimônia, mas o garoto estava quase fazendo quatorze anos. Obviamente notava o sexo oposto, mesmo que não estivesse pronto para dar o próximo passo. —Mas você conhece algumas crianças mais velhas que estão, certo?

— Uh-huh. — Toby se inclinou para frente, esticando seu cinto de segurança. — A maioria no meu time de futebol.

— Algum deles fala sobre as meninas leopardo?

Sienna riu. — Oh não.

— Oh sim. — Ele olhou para Toby no retrovisor novamente. —Toby?

— Hum, sim. — Uma hesitação silenciosa. — Eu não quero colocar ninguém em problemas.

— Não se preocupe, você não vai. — Ele conversou com os maiores de dezoito anos sobre esse tipo de relacionamento entre os clãs, então eles sabiam o que era esperado deles e o que era um comportamento aceitável. Porém, se os mais novos estivessem começando a socializar, ambos os clãs precisariam de uma politica mais concreta. — Eu acho que regras definitivas ajudariam a todos.

O aceno de Toby era forte o bastante para Hawke ver em sua visão periférica. — Ninguém está saindo nem nada, — o garoto disse, — Mas eu acho que alguns deles querem, mas estão meio que com medo.

— Continue, — Hawke disse.

— Eles acham que talvez farão algo errado e os leopardos ficarão zangados, e isso vai prejudicar a aliança. Não são só os meninos.

Sem mais se desviar da bala, Hawke percebeu, eles tinham que formular regras quanto a isso e rápido, porque enquanto DarkRiver e SnowDancer eram clãs predatórios, haviam diferenças sutis entre eles que os adultos apreciavam, mas que poderiam jogar os mais novos em água quente a menos que eles seguissem algumas regras. —Valeu, Toby. — Ele sugeriria um grupo de trabalho formado por fêmeas maternais dos dois clã quando falasse sobre o assunto com Lucas.

Um puxão no elo de companheirismo.

Lobo erguendo as orelhas, olhou para Sienna. — Você chamou?

— Há pelo menos um relacionamento sério se desenvolvendo entre os maiores de dezoito.

— Nomes?

— Eu não seria capaz de olhar na cara dos meus amigos se eu te dissesse.

— Sienna.

Outra mensagem através da ligação entre eles, essa com uma nuance de emoção profunda. Seu lobo, não acostumado a ser desafiado, balançou a cabeça. E ele percebeu que sua companheira estava o lembrando de que ele não era seu alfa, nunca seria. Cerrando os dentes, ele rosnou. — Eu odeio essa regra. — Não era bem verdade, mas em momentos como esse, a regra o irritava como o inferno.

— É por isso que nós precisamos dela. — Sienna se inclinou para morder afetuosamente sua mandíbula.

De trás deles, Toby disse, — Eu gosto de ficar com vocês. Vocês estão felizes no fundo, mesmo quando brigam.

Lobo e homem em satisfeito acordo com Toby, Hawke entrelaçou sua mão com a de Sienna, erguendo-a para seus lábios e fingindo mordê-la. Seu pulo assustado fez Toby rir.

Minha família.

 

Várias horas depois de seu colapso na cachoeira, com o céu se tornando um cinza fumacento, Adria finalmente entrou na toca. Sua garganta estava tão machucada que sua voz parecia mais um coaxar quanto ela entrou na enfermaria — Eu preciso parecer e soar humana para uma reunião às oito.

O olhar perceptivo de Lara via muito, mas a curandeira não fez nenhuma pergunta intrometida. — Abre. — Um spray frio atingiu a garganta de Adria. — Isso vai cuidar da voz.

Adria passou os dedos sobre o pescoço. — Já está melhor.

— Quanto aos seus olhos, — Lara apontou para um quarto. —Deite-se e eu vou colocar uma bolsa de gel em seu rosto. Você tem duas horas até a reunião. Eu vou te acordar quando for a hora.

— Eu gostaria de tomar banho antes. — Seus ossos, sua pele, tudo doía.

Lara encontrou uma muda de roupas para ela nos mantimentos que tinha ali. — Por aqui.

Se despindo dentro do pequeno chuveiro, ela permitiu o jato quente acariciar seu corpo até que Lara bateu na porta. — Estou com a bolsa de gel.

Adria saiu do chuveiro, se secou, e se vestiu antes de deitar em uma das camas, precisando da segurança das roupas depois da nudez causada por seu colapso emocional. Os cachos selvagens e olhos marrom de raposa foram as ultimas coisas que ela viu antes da frieza da bolsa de gel cobrir seus olhos inchados e bochechas.

Os sonhos a envolveram logo depois.

Braços fortes, um pesado corpo masculino, olhos de um marrom tão pálido que brilhavam dourados na noite cheia com sons de respirações ofegantes e mãos deslizando sobre pele coberta de suor. Quando ele a virou de costas, ela esperou em antecipação tremula.

Respiração quente contra sua bochecha, uma grande mão deslizando sob seu corpo para se fechar sobre um de seus seios com possessividade flagrante, o duro volume de sua ereção insistente contra a parte inferior de suas costas. Ela tentou se arquear, exigir mais, mas estava presa pelo corpo dele.

Uma mudança, os dedos dele afastando seu cabelo do pescoço.

Seu peso se levantou.

Ela se ergueu em direção a ele em um convite silencioso.

Seu pau e seus dentes se afundaram nela no mesmo instante.

Acordando com um pulo, ela tirou a bolsa de gel para ver que Lara havia fechado a porta de seu quarto, deixando-a em uma privacidade abençoada. Eram sete e quinze de acordo com seu relógio, então ela ainda tinha algum tempo.

Permitindo-se um tremor de prazer profundo, ela se esticou, seus braços sobre sua cabeça, seus pés esticados. Mas sua mente repassava não o sonho erótico, mas sua conversa com Riaz depois de falarem com Tamsyn, e, embora isso fizesse sua loba se enrijecer, o modo como ele a segurou na cachoeira... O homem que ela vislumbrou naquela manhã, e aquele que se importava o bastante para envolver seus braços em torno de alguém que estava chorando, ele era perigoso, alguém que falava com sua alma além do primitivo puxão do sexo.

O modo como ele esfregou sua bochecha contra o cabelo dela, tentando dar conforto mesmo que ela não aceitasse... ela nunca teria esperado tal ternura crua do abrasivo, raivoso homem que ela conheceu. E ele era leal, tanto que estava se destruindo em sua briga para não trair uma companheira que estava para sempre perdida para ele.

Nenhuma mulher, Adria pensou com um senso de inquietação formigante, seria imune a tal homem.

 

Kaleb tomou os documentos impressos que Silver estendeu, relativo a um acordo de negócios entre ele e os lobos BlackEdge.

— Algumas emissões?

— Não. Eles concordam nas mudanças que você solicitou. — Ela olhou seu datapad, consultando. Hesitou.

Tal hesitação era incomum para a loira-gelo que tinha sido sua ajudante desde antes de ele se tornar um Conselheiro, mas Kaleb tinha uma excelente ideia da razão por atrás disso.

— Você está se perguntando por que eu subcontrataria qualquer tipo de segurança aos lobos.

— Sim. Você tem os Arrows, e seus próprios homens. Você não necessita BlackEdge.

— Eles têm certas habilidades únicas, — ele disse, esquadrinhando a primeira página do contrato quando fez isso, sua mente tomando os dados em uma velocidade que, quando Silver começou a trabalhar pela primeira vez para ele, a fez acreditar que ele não estava realmente lendo. Ele estava. Sua mente processava cada palavra enquanto varria o olho sobre ela, incorporando-a em sua memória.

Sacudindo a página, continuou. — Até mesmo Psy pode ser rastreado pelo odor.

— Verdade, — disse Silver, — mas changelings não conseguem escapar de uma varredura telepática.

Kaleb ergueu os olhos. — Uma debilidade somente se o Psy em questão estiver ciente de que ele ou ela está sendo perseguido. Muitos de nossa raça ignoram qualquer habilidade ou capacidade além das suas próprias.

Uma pausa mais longa, e ele podia quase ouvir sua mente trabalhando metodicamente devido as suas palavras. Foi o que a fez uma ajudante tão boa. Ele não confiava nela – não confiava em ninguém, e a primeira lealdade de Silver era para com a poderosa família Mercant, mas sabia que ela não o trairia desde que ele tivesse seu respeito.

Pela maior parte do tempo desde que ficara ciente deles, acreditou que os Mercants eram somente influenciados pelo poder e riqueza – do qual Kaleb acumulou uma grande quantidade. No entanto, depois de monitorá-los por anos, havia visto vários membros da família Mercant permanecer com companhias fracassadas até não haver chance de salvamento. Ele também os viu traírem empregadores mais ricos se o preço era certo. Isso o levou a revisar suas antigas conclusões.

Poder e dinheiro podiam comprar algumas habilidades de Mercant, mas ganhe seus frios-olhos de respeito e eles não só se tornariam mudos quando se tratava de seus segredos, eles também permaneceriam firmes diante da dificuldade. No último ano, Kaleb soube que tinha se movido até a lista muito exclusiva de pessoas que os Mercants não trairiam.

Suas conexões e habilidades, adicionadas aquelas dos Arrows, o trouxe mais perto de assumir o controle total da Net. Claro, sempre havia uma segunda opção quando se tratava da Net, uma que ele ainda não havia descartado. Tudo dependia do resultado de sua busca.

— Você está correto, Conselheiro, — Silver disse afinal, sua voz fria, clara, perfeita. — Precisa de mim para conferir dados do indivíduo que está acompanhando?

— Não. — Ele há muito tempo descobriu e memorizou cada fragmento de dados disponíveis sobre a pessoa que procurou com persistência implacável.

Passando os olhos na penúltima página do contrato, ele indicou a Silver para esperar. Trinta segundos mais tarde, ele terminou. Levantando uma caneta, ele assinou o documento em três exemplares e a passou sobre a mesa.

— Diga a BlackEdge que eu não tenho nenhuma necessidade de seus serviços no momento. — Os lobos serviriam a seu propósito depois de ter localizado seu alvo, porque esse alvo era altamente provável recusar sua hospitalidade. E neste caso, uma correia psíquica não era uma opção viável.

Claro, Selenka Durev, a alfa de BlackEdge, não concordaria em caçar qualquer um, mas após anos de pesquisa minuciosa, Kaleb entendeu os mais refinados detalhes de como o bando funcionava. Se e quando chegasse a hora, ele obteria o que queria. A ninguém seria permitido ficar em seu caminho.

— Senhor, — Silver disse depois de reconfirmar que ele assinara e rubricara todos os lugares exigidos no contrato, — sobre Henry Scott.

Pediu-lhe para manter as orelhas em pé para qualquer informação sobre o Conselheiro que não havia sido visto desde que o X-fogo de Sienna Lauren dizimou o exército PurePsy.

— Ele está vivo?

— Só de acordo com rumores infundados... Pode ser uma tentativa estratégica dos PurePsy para reforçar sua sociedade. Sem o apoio de Henry, o grupo tem um poder insignificante.

Hmm... — Há um homem chamado Andrea Vasquez. Trinta anos de idade.

Fora a DarkMind que o trouxera o nome do general de Henry. — O que você sabe a respeito dele? —perguntou, embora já tivesse feito sua própria pesquisa. No entanto, os Mercants tinham uma maneira de saber as coisas que ninguém mais tinha.

— Se você me dá licença um momento.

Ele deu um breve aceno com a cabeça. Tendo terminado de finalizar um memorando nesse ínterim, colocou-o de lado para Silver lidar, e girou-se na cadeira. Através da parede que era do chão ao teto de cristal, observava a praça ocupada abaixo, passageiros vestidos de negro apressados para o trabalho, suas cabeças curvadas, respirações geando o ar da manhã.

Sua mente catalogou o influxo visual, mas isso foi um ato automático, sua concentração na busca psíquica que havia estado executando continuamente no fundo de sua mente por anos. Exceto que agora ele utilizava cada minuto livre para executá-lo em primeiro plano, porque estava perto. Muito, muito perto. O suficiente para que pudesse cometer um engano se não se movimentasse com extrema cautela.

Alertado pelo lembrete psíquico, ele pausou, revisou seu algoritmo de busca para deter-se ao primeiro sinal de um arame de viagem ou sensor. Quando Silver voltou ao seu escritório, ele estava voltado para a mesa mais uma vez, mesmo quando sua mente zumbia com uma tarefa que teria tomado a inteira atenção da maioria dos cardeais normais.

Kaleb nunca fora normal. De modo nenhum.

— Vasquez, — Silver começou, depois de sentar-se oposta a mesa, — é um telepata de Gradiente 8.3 que foi colocado em treinamento Arrow quando criança. Porém, foi julgado inapto para a equipe na idade de quatorze anos e retribuído a uma unidade regular de operações sombrias onde serviu com distinção até sua morte aparente.

Todos os quais se correlacionaram com as próprias conclusões de Kaleb.

— Assassinato?

— Não no arquivo, mas dada a natureza de sua avaliação psicológica, é uma suposição razoável que ele tenha sido usado para assassinatos por contato próximo.

Kaleb não tinha nenhuma dúvida sobre a condição de Vasquez como um assassino treinado, Henry nunca gostou de sujar as mãos. — Quando ele caiu da grade?

— Oito anos atrás. Morte verificada.

— Claro. — Era o único caminho de desaparecer sinceramente da Net. — Deixe-me adivinhar... um acidente que não deixou vestígios, exceto um fragmento grande o suficiente para fornecer DNA.

— Os restos esmagados e parcialmente queimados do dedo mindinho da mão esquerda. Fácil suficiente de substituir por uma prótese.

E falando de um homem dedicado o suficiente para mutilar a si mesmo.

— Ele não foi visto, ou o DNA digitado, desde então. — Sua ajudante bateu na tela de seu organizador para apresentar várias imagens que girou na direção dele. — Porém, desde que você levantou seu nome em relação a Henry Scott, eu tomei a liberdade de ir através das imagens de vigilância de Henry tomado durante os seis meses antes de seu desaparecimento. Vasquez não está presente em nenhuma delas.

Isto, Kaleb sabia, significava nada. O homem era um fantasma treinado. — É improvável que ele pareça como parecia há oito anos.

— Eu concordo, mas, — Silver continuou, ganhando seu check de pagamento com as próximas palavras ditas, — parece que, antes de seu desaparecimento, Henry estava fazendo depósitos regulares no montante de seis dígitos em uma conta nas Caymans. Enquanto a conta propriamente é sem pista, Henry ligou os pagamentos com as iniciais ‘A. V.’ no fim.

Kaleb estava quase esperando por isto, uma coisa tão simples que destruiria a parede de segredos que Vasquez construiu ao seu redor. Henry nunca tinha sido bom com detalhes.

— Você tem algo adicional, — ele disse, assistindo-a mostrar outro arquivo.

Um leve aceno com a cabeça, nem uma única mecha fora do lugar na trança esmerada que era seu cabelo.

— Os pagamentos pararam depois do encontro de Henry com Sienna Lauren. No entanto, agora parece que alguém está reorganizando seus recursos financeiros. — Seus olhos, uma cor incomum entre azul e cinza, encontraram os dele. — Nossos contatos bancários podiam confirmar que não é Shoshanna.

Shoshanna era esposa de Henry, o relacionamento uma ficção para aplacar a população humana e changeling.

— É um excelente trabalho, Silver. — Ele não a pediu para enviar-lhe os arquivos, Silver era sua ajudante porque fazia coisas como essas sem ser pedido.

Levantando, ela segurou o organizador de seu lado. — No momento, este ‘A. V.’ é um fantasma assim como Vasquez, mas alertei minha família de que ele se tornou um indivíduo em quem você tem interesse. — Ela saiu sem palavras adicionais, o clicar de seus saltos amortecidos pelo tapete.

Kaleb considerou as possibilidades. A primeira era que Vasquez havia tomado o comando após a morte de Henry e se fixou como o novo líder dos PurePsy. Entretanto, de tudo que Kaleb descobriu sobre Vasquez, o macho não era um líder. Enquanto treinava para ser um Arrow, seguia ordens com obstinada fidelidade. A causa exclusiva por ele ter sido extirpado da equipe foi por um desequilíbrio psicológico que o fez correr risco em campo, dada a natureza sensível de muitas operações Arrow.

Deve ter sido uma decisão difícil para os responsáveis da equipe, segundo o arquivo de treinamento classificado que Silver acabara de enviar à Kaleb, muito além de suas habilidades de combate letais, Vasquez possuía uma habilidade crítica: Sendo capaz de organizar-se em um minuto. Se ele agora tinha controle sobre as finanças de Henry, significava que previra a necessidade disto, garantira que teria o acesso necessário.

Silver, ele disse depois de um rápido toque telepático, a reorganização das finanças de Henry. Onde está indo o dinheiro?

Desconhecido. Até nossas melhores pessoas não tem sido capazes de localizar os capitais. Nós podemos, entretanto, confirmar que o dinheiro não está indo para as Caymans.

Não, Kaleb pensou, Vasquez não era nenhum velhaco.

Estava simplesmente seguindo ordens para ocultar a existência de seu mestre.

 

Riaz não havia visto Adria desde a cachoeira, então quando se chocou com ela nos arredores do Círculo do Bando uma semana depois, ambos congelaram. Sua cautela escrita largamente através das linhas bem proporcionadas do seu rosto antes dela piscar e varrer isto para longe.

Irritado pela inabilidade em controlar a fome por toque quando se tratava dela, ele fez seu melhor para manter o inferno distante. Mas agora ela estava na frente dele, e embora sua presença não fosse nada simples, nada fácil, ele entendeu que não poderia simplesmente deixá-la passar. — Você está ajudando com as preparações? — A cerimônia de emparelhamento de Lara e Walker não era na semana seguinte, mas todo mundo já estava engrenando nisto.

— Sim, meus estagiários se voluntariaram para fazer a instalação. — Ela torceu o que parecia um pedaço de barbante ao redor do dedo indicador, ofereceu-o um sorriso cauteloso. — A cerimônia de Walker e Lara vindo um pouco depois da de Hawke e Sienna vai ser ótima para o bando.

Ela estava, ele percebeu, tentando estabelecer uma conversa, uma distante conversa. E soube que esta mulher forte e orgulhosa queria apagar o frágil laço criado entre eles por aqueles momentos comoventes da cachoeira. Controlando o domínio dentro de si, uma parte de sua natureza que lutava para bater contra a fachada fria dela até que rachasse, ele olhou ao redor. — Parece que você precisa de uma mão com as mesas.

Um olhar atento, o cheiro dela uma carícia persistente. — Você está se oferecendo?

— Eu sou seu para comandar. — Embora tivesse sido muito mais sensato se afastar.

Uma sugestão de verdadeiro calor no luminoso azul-violeta. — Vamos lá então. — Pegando uma planta desenhada à mão, ela disse, — Lara quer as mesas de piquenique instaladas nas bordas da pista de dança, com exceção desta área onde a banda ficará.

— Entendi. — A ponto de recrutar três dos maiores meninos da equipe dela, impediu-se antes de falar. Estas crianças eram de Adria. Como um tenente, ele tinha de apoiar, ao invés de prejudicar a autoridade dela. — Quem eu posso usar?

Um olhar inescrutável antes que ela colocasse dois dedos na boca e assobiasse. — Israel, Charlie, Vincent. Vocês estão com Riaz.

Depois de dar aos meninos uma rápida instrução, a equipe de Riaz começou a agarrar e parafusar as mesas e bancos. Uma vez que, com exceção do evento ocasional, a maioria dos lobos preferia se sentar ou se esparramar pelo chão, o bando colocava e deitava abaixo sua mobília ao ar livre quando precisava. Isso assegurava que a floresta permanecesse tão organizada e intocada quanto possível, e com os componentes separados ocupando muito pouca margem quando empilhados, espaço de armazenamento não era um problema.

Do que ele vislumbrou do plano, Walker e Lara – ou se Riaz tivesse que adivinhar, Lara – havia decidido por um piquenique noturno, seguido por uma dança de jazz. Suaves luzes brilhantes em todos os tons do arco-íris tocaríam a área, as festividades começando logo após o pôr-do-sol. O início precoce fazia sentido, já que Walker tinha uma filha jovem e era basicamente o pai de Toby também.

— Vai ser bonito, — Adria lhe disse enquanto ele enxugava com o antebraço a testa úmida de suor horas mais tarde. — Serve que Walker e Lara são como um par.

Riaz havia liberado os meninos alguns minutos antes, quando Adria despediu o resto do seu grupo, e estava agora completando a mesa final com ela segurando as placas no lugar. — As marcas verificadas no plano, — ele disse, torcendo um lacre no lugar. — Eu não consegui entender o que eram.

A risada súbita de Adria foi rouca e desinibida. — Borboletas gigantes, contribuição de Marlee para as decorações. Sienna e Brenna foram convocadas para o grupo de trabalho.

Tanto o homem quanto o lobo riram. — Walker Lauren não é exatamente o tipo borboleta. — O solitário lobo em Riaz reconhecera o outro homem como perigoso desde o início.

— Ele é um ótimo pai. — Adria consultou o plano, o fez mover a mesa alguns metros à esquerda. — É isso. Obrigada.

Olhando para o brilho alaranjado do céu no início da noite, ele disse, — eu poderia correr até o córrego, dar um mergulho. — Precisava relaxar as brasas no seu âmago, uma chama escura e quente.

Adria franziu a testa. — Eu não sabia que havia um por perto.

— É há uma corrida de cerca de dez minutos. — descreveu o setor, mas as linhas entre as suas sobrancelhas não desapareceram. — Vem comigo, — ele disse, apertando o abdômen contra o contínuo impacto da presença dela. — Não vai demorar muito.

Sua cautela despertada, traiu propriamente o mais fino lampejo de tensão entre os cílios, mas Adria era um soldado SnowDancer. Ela deu um pequeno aceno de cabeça. — Vamos arrumar tudo aqui primeiro.

Isso feito, Riaz a levou para as árvores e para a área isolada onde o córrego escondido se ampliava em uma fria e clara meia piscina, escondida nas raízes retorcidas de duas árvores antigas antes de serpentear longe e subterrânea novamente. Embora seu lobo soubesse que Adria não era sua companheira, o desejo o confundia, agarrava-se a ele querendo lamber o sabor dela. Como resultado, sua mandíbula fechou-se uma linha dolorosa quando alcançaram seu destino.

— Não me admira que não o visse, — Adria disse, entrando na frente dele e indo para a beira d’água. — É literalmente instalada entre...

Não ouviu o resto do que ela disse, os olhos bloqueados na pele nua de sua nuca, sua trança tendo deslizado acima do ombro. Sua mão curvou ao redor daquela nuca antes de ele estar ciente do movimento. Ela se afastou, seus olhos batendo nele, brilhante cobalto tocado com púrpura. Por um momento, ele congelou, mas depois seu lobo rugiu à superfície e ele soube que havia estado enganando a si mesmo sobre sua capacidade de resistir a ela.

 

A carga elétrica naqueles olhos passado um vívido lobo dourado levantou todos os pelos do corpo de Adria. — Não. — Nem mesmo se o áspero calor do contato tivesse balançado-a. — Eu disse à mim mesma que nunca mais o convidaria à minha cama e quis dizer isto.

Riaz vacilou. — Eu estou fazendo o convide.

O orgulho machucado a fez querer repudiá-lo como ele a repudiara, mas se estar com Martin a ensinou uma coisa, era que seu orgulho poderia ser uma fraqueza terrível. — Você só vai me odiar por isso. — E ela tivera o suficiente do ódio de um homem.

Estremecendo, Riaz avançou até tocar seu rosto com as mãos. Surpreendida no aperto tenro, ela não se afastou quando ele se inclinou para apertar a testa na dela. — Não. — Um fôlego quente nos seus lábios, as mãos dele mornas e calejadas no seu rosto. — É sobre mim. — Cru, sua alma desnudada. — Eu não consigo continuar como estou.

— Então sou a pílula amarga[2]? — Até quando disse isto, parte dela ressoou com o tumulto de necessidade e dor o despedaçando.

— Adria?

— Não. — Um dedo pressionado às curvas firmes dos lábios dele. — Você está certo. Precisa fazer uma ruptura clara… E eu também. — Deu-lhe aquela parte de si mesma de modo que este lobo ferido saberia que não era o único entrando nesta com a mais dolorosa das motivações. Não era simplesmente sobre o sexo, não era simplesmente sobre suavizar a fome de pele que assombrava a ambos. Era sobre dizer adeus a um sonho que nunca teve chance. — Mas, — ela sussurrou, se forçando a segurar a dominância potente de um olhar que era lobo puro, — você tem que estar certo disto.

— Estou. — Nenhuma vacilação, mesmo que as palavras fossem irregulares como pedra quebrada. — Não há nada para mim no passado.

Sim, ela pensou, o passado estava perdido para sempre, para ambos. — Tudo bem.

Os olhos dele brilhavam bonitos e selvagens na sua visão quando baixou a cabeça, roubando seu fôlego. Ela deixou as pálpebras vibrarem fechadas, sabendo que independentemente do que acontecesse depois disto, se eles permanecessem amantes ou fossem embora, uma coisa ela nunca, jamais seria capaz de mudar –ela foi a primeira mulher a levá-lo a traição.

Uma dor enfadonha, uma dor aceitável.

Então seu lobo veio à vida dentro do seu corpo, e o pensamento fraturou sob um caos de sensação. Envolvendo os braços ao redor do pescoço dele, encontrou a febre do seu beijo, seus ossos fundidos com paixão. Contudo... Havia uma hesitação neles que não tinha estado presente antes, e Adria se perguntou se seu tempo passara. Uma torção no seu peito. Um machucado que era mais profundo. Mais perigoso. Mas quando ela fez menção de recuar, o grunhido que resoou da garganta de Riaz foi uma coisa primitiva.

A mão dele fechou sobre seu seio, a boca chupando o pulso em seu pescoço quase antes de ela processar o fato de que ele a levara para a grama, a terra ainda mantendo o calor do sol. Qualquer pensamento de se afastar fragmentou, a fome dentro dela um desejo selvagem. Arranhando sua camisa, ela ouviu algo rasgar. Ele rosnou contra ela, empurrando uma mão debaixo da sua própria camiseta para empurrar para cima seu sutiã e espalhar os dedos sobre a carne nua do seio, acariciando e modelando.

— Oh, Deus! — Arqueando ao toque firme e confiante, ela rasgou a camisa dele até que estava em pedaços ao redor deles, o corpo grande e musculoso dele erguendo-se sobre o seu próprio, a boca dele ocupada em seus lábios, queixo, pescoço.

A pele era um tom de marrom polido, morno e bonito, seu prazer em tocá-lo – finalmente – quase doloroso. Quando ele empurrou a camiseta e abaixou a cabeça ao seu seio, seu ventre apertou em antecipação. Sua respiração na sua pele... a sucção quente da sua boca. Torcendo loucamente, ela cerrou a mão no seu cabelo, tentando tirá-lo. O prazer, oh Deus, o prazer vicioso era demais, seu corpo muito sensível.

Ele usou os dentes.

Gritando, ela ficou confusa com o súbito frio em sua carne úmida. — O que... — Um momento depois, ele estava abrindo seu jeans, tirando-os, junto com as botas. Sentiu algo rasgar e soube que sua calcinha tinha ido. Quando ele abriu o zíper e moveu-se entre suas coxas, ela as espalhou contra a pesada penetração, pronta ao ponto de sua pele doer.

Numa única dura punhalada ele estava acomodado bem em seu interior, a espessura dele uma marca pulsante.

Ela congelou por um minuto, o corpo atordoado com a possessão quase violenta. Músculos não utilizados há muito tempo doeram, mas sob tudo isso a necessidade. Tal necessidade nua, crua. Subindo em direção a ele, ela encontrou olhos brilhantes contra o anoitecer. Ela não foi a menos surpresa pelo grunhido de advertência, ou pela mão que ele cerrou no seu cabelo para arquear-lhe o pescoço. A mordida ao longo do declive sensível onde o pescoço corria para o ombro foi forte o suficiente para arder, forte o suficiente para empurrá-la além.

Mesmo enquanto ela gozava com um grito, ele batia nela com tal fúria selvagem que a sensação dele reverberava por seus muitos ossos. Uma brutal palavra em sua voz masculina tão dura foi quase irreconhecível. Seus músculos internos espasmando em resposta erótica. A mão dele apertando seu seio. O calor primitivo dele derramando nela.

 

Riaz deitou na grama, tão bravo cosigo mesmo que não podia olhar para Adria. Mas podia senti-la empurrando o sutiã e a camiseta de volta no lugar. Ela não se levantou para encontrar seus jeans, e ele se perguntou se estava em uma única peça. — Eu sinto muito. — Sua voz revestida em cascalho.

Uma pausa. — Por quê?

— Eu nunca machuquei uma mulher assim. — Soube malditamente bem que ela tinha hematomas, e aquela mordida na curva suave do ombro não ia desaparecer tão cedo.

Adria suspirou, esticando-se sob as cores crepusculares do céu. — Eu não estive reclamando, Riaz, e sou forte o suficiente para ter destruído você se tivesse feito algo que não queria que fizesse.

— Maldição, Adria. — Ele se ergueu sobre um cotovelo para encará-la, o corpo ainda bombeado com adrenalina. — Você merece mais que uma foda na grama.

Os olhos dela se arregalaram.

Ele ia dizer algo mais, perdeu o pensamento quando os olhos caíram sobre seus lábios meio separados. Marcada por beijos luxuriantes, sua boca era a tentação mais erótica, a necessidade dentro dele nem perto de saciada pelo seu acoplamento frenético. A respiração entrando em duros ofegos, ele conseguiu dizer uma única palavra, a única pergunta que importava, — Adria?

— Sim. — Permissão.

Prometendo a si mesmo que lhe daria ternura desta vez, ainda que isso o matasse, ele chupou o seu lábio inferior, tocou a língua em toda parte, mas não empurrou para entrar. Ao invés, lambeu, provou e brincou como deveria ter feito mais cedo... Até que as mãos dela pousaram nos seus ombros, as garras liberando apenas o suficiente para picar a pele em uma muda demanda feminina.

Sorrindo, ele colocou uma coxa coberta por jeans entre as dela e empurrou. Ela silvou. Quebrando o beijo de uma vez, ele abaixou para alisar uma mão sobre sua panturrilha, sua perna levantou e curvou no joelho. — Dolorida? — Não surpreendente, desde que ele empurrara nela com toda a delicadeza da média de dezoito anos de idade.

Ela assentiu, erguendo os dedos à boca dele. Ele manteve a posição e deixou-a explorar. Quando ela o puxou de volta para baixo, ele reivindicou um beijo que foi língua, profunda e molhada e uma desavergonhada prova das coisas que queria fazer com ela, antes de retirar a coxa e se mudar de modo que ficasse em baixo. — Acho, — disse ele, segurando-a firme com as mãos na cintura enquanto ela se erguia para escarranchá-lo, — que é minha vez de tomar a surra.

 

Adria ficou apanhada pelo sorriso brincalhão puxando os lábios de Riaz, os ângulos severos do seu rosto relaxados para revelar um inebriantemente e atraente macho – um que estava brincando com ela, só um pouco... Mas vindo de um lobo solitário...

— Não? — Riaz disse quando ela não se moveu, a cabeça dele inclinada de um modo que lhe disse que seu lobo permanecia muito perto da superfície.

Inclinando-se para frente, ela afastou seu cabelo da testa. Soube que era um movimento doce, um que ia além do sexo, mas que precisava fazer. A verdade era que independentemente do que lhe dissera aquele dia no treinamento, independentemente do que tentara convencer a si mesma porque doía demais fazer o contrário, ela não era uma mulher que poderia jamais ter sexo por causa de sexo. Não estava nela.

Casa, lar e família, isso é para o quê você é construída.

Palavras ditas por Tarah há muito tempo, há tanto tempo que sua irmã provavelmente esquecera. Adria não havia. Aquela mulher continuou a existir dentro dela, e, apesar das rachaduras no seu coração, ela ainda queria uma família dela mesma; uma casa cheia de amor; Um homem que a adorava e que ela poderia adorar em troca. Este tenente que a segurava com as mãos fortes e mornas, seu coração já dado à outra, não era com quem ela jamais realizaria esse sonho, mas isso não significava que sua união tinha que ser uma coisa dura e fria.

Riaz não se afastou do toque suave, e uma das rachaduras profundas dentro dela se curou uma pequena fração. — Vamos ser amigos, — ela sussurrou para o homem de olhos dourados que a observava com tal foco predatório, o lobo em seus olhos.

Suas mãos flexionaram em seus quadris. — Eu não posso ser o amigo platônico com você, Adria. — Não uma rejeição, apenas uma verdade contundente de macho para fêmea, lobo para lobo.

— Eu sei. — Agora que eles haviam se tocado, a necessidade nela somente se tornara mais forte.

Polegares acariciaram suavemente sobre a curva do seu quadril. — Amigos que compartilham privilégios de pele íntima então? — Um esclarecimento tranquilo. — Você acha que podemos ser?

— Sim. — Mas ela entendeu por que Riaz hesitou, embora estivesse claro para ela que ele necessitava de um amigo assim como de uma amante. — Eu vou aceitar você como é, — ela prometeu, querendo que entendesse que não exigiria dele o que não tinha para dar, o machucaria lembrando-lhe do que tinha perdido. — Sem expectativas. Sem laços. Sem promessas. — Só uma amizade que poderia ajudá-los a curar.

Riaz acariciou as mãos até suas coxas nuas, voltando para deslizar sob a camiseta, os calos nas palmas das mãos raspando sobre a pele com uma sedução áspera que a fazia tremer. — Você quase fala como se preferisse isso.

— Eu prefiro. — Sem mentiras, ela pensou, não aqui, neste belo momento com o mundo tão silencioso e privado ao redor deles. — Eu tenho estado... perdida por muito tempo. Sou lobo suficiente para querer o contato com um homem que não só estou fisicamente atraída, mas que estou começando a gostar, — disse com profunda honestidade, pensando na ternura do seu beijo, no jeito com o qual ele lidou com seus estagiários com tanto afeto e disciplina essa tarde, — mas eu preciso da minha liberdade.

Apesar dos sonhos de família que ela nutria em uma parte secreta da alma, sabia que estava danificada. Até que se reparasse, se isso fosse mesmo possível, ela não poderia, não iria, roubar um compromisso de ninguém, muito menos um homem que pertencia a outra de um modo que nunca poderia ser apagado.

Ele estendeu a mão para puxar o laço solto de sua trança, soltando seus cabelos. — Amigos. — Era uma promessa, o lobo ardendo no dourado de seus olhos. — Fale-me sobre ele.

E porque ela entendeu o quão difícil era para um macho dominante como Riaz ser vulnerável para tê-la, para manter os segredos dele, ela fez. — Para entender como isso aconteceu, você tem que saber o começo. — Ela contou como ela e Martin tinham estado separados por longos períodos pelos cinco primeiros anos depois que se conheceram, enquanto Martin buscava um diploma de pós-graduação na Inglaterra, e ela se concentrava no treinamento intensivo de soldado.

— Minha família tendia a desgostar de todos aqueles anos juntos, mas eles só me viam esporadicamente, — ela disse a ele, recordando aquele tempo exigente e emocionante. — Meus pais foram mandados para o outro extremo do território, Tarah estava ocupada com Evie... — Isso fez seu coração firmar dolorosamente apertado mesmo agora, para lembrar quão fraca tinha sido. Evie era uma criança... — E Índigo ainda estava na escola no território da toca, enquanto eu estava nas Cascades.

Riaz assentiu. — Eles não teriam tido ideia de sua vida diária.

— Ou quão louco isso era. Assim como o treinamento de soldado, Hawke tinha me pedido certos cursos universitários on-line. — Coisas que lhe deram uma base em princípios básicos de negócios, assim ela podia agir como assessora para um tenente caso viesse a ser necessário. — Eu mal tinha tempo para respirar, muito menos começar uma relação de compromisso.

— Foi assim para mim quando me tornei um tenente, — Riaz disse, os dedos se movendo em sua pele, a leve aspereza dos dedos dele uma carícia requintada. — Curva de aprendizagem íngreme.

— Eu acho que foi parte do por que de eu estar atraída por Martin quando ele veio para casa visitar, por que eu disse sim quando me convidou para sair em encontros. Ele era quente, inteligente, engraçado , me fazia relaxar. — Manchado pela escuridão que tinha vindo mais tarde, todo mundo parecia lembrar-se só dos momentos ruins, mas não foi pelo homem bravo que ele se tornou que ela tinha se apaixonado.

— Ele me chamava para assistir filmes tolos; contar piadas numa voz inexpressiva que me teria em pontos. — Mas ele só compartilhara essa parte de si mesmo com aqueles que conhecia bem. — Uma coisa que a maioria das pessoas não percebe é que Martin é tímido, sempre foi. Às vezes aparece arrogância ou presunção, o que significa que ele não causa a melhor primeira impressão, não causou com meus pais.

Entretanto, ela tinha visto e gostado do homem por trás da máscara, sinceramente acreditara que sua família gostaria também, uma vez que conseguissem conhecê-lo. — Nós não tínhamos química explosiva, — ela admitiu, — mas eu nunca esperei esse tipo de paixão. — Pensara em seu lobo como muito sensível para o fogo selvagem que vira queimar em tantos outros no bando. — Eu não saí por aí me aproximando de melancólicos lobos solitários depois.

Os olhos de Riaz aqueceram com divertimento tranquilo, mas ele não interrompeu.

— Nós éramos compatíveis em muitas outras formas, a nossa perspectiva sobre a vida, a nossa convicção de que lealdade era o núcleo de uma relação, as coisas que nos faziam rir, que quando ele sugeriu que tomássemos nossa relação para o próximo nível, eu disse sim. Seu lobo tinha gostado de Martin o suficiente para não interferir com a decisão humana, mas nunca tinha exigido mais, nunca sentiu fome de se enredar com o próprio lobo de Martin... nunca o escolheu.

— Você não se preocupou com o assunto da dominância?

— Inicialmente, sim. — era uma pergunta importante para deixar pra lá. — Mas perceba, pelo tempo que demoramos a morar juntos, tínhamos nos conhecido e nos encontrado casualmente por anos atrás. — Independentemente da impressão dos outros, incluindo Tarah e Índigo, poderia ter resultado no afastamento dele perto de estranhos, nem uma vez Martin tinha feito ou dito qualquer coisa que a fizesse acreditar que ele não poderia lidar com o fato de sua dominância.

— Quando consegui me formar soldado sênior enquanto namorávamos, ele me deu uma bonita faca cerimonial, — ela disse, querendo que Riaz entendesse como pôde ter cometido um engano tão terrível e como isso podia não ter sido um engano em tudo, não então. — Ele tinha comprado há meses, porque estava tão certo que eu fosse conseguir a promoção. Estava orgulhoso de mim.

Acariciando as mãos sobre suas coxas, a vigilância calma do predador que rondava por trás da sombra cativante dos olhos dele. — Quando começou a dar errado?

— Eu nunca consegui entender exatamente. — A única coisa que soube foi que a mudança a desnorteou. — Talvez fosse a realidade do estar dia a dia com uma mulher cujo lobo era dominante para o seu próprio, a percepção de que se chegasse a hora, eu não precisaria dele para me proteger. — Tudo que tinha eram suposições, porque a morte de sua relação foi uma coisa lenta e insidiosa, difícil de ver até que fosse tarde demais.

— Pelo que você diz, parece como se fosse ele quem te perseguia, pode ser que ele sentisse mais em relação a você do que você a ele, — Riaz disse calmamente. — Nós dois sabemos que você não o amava, não como uma loba fêmea forte deve amar seu homem.

Ferida, Adria disse, — Enquanto estava naquela relação, dei a ele tudo que tinha para dar. — Não percebera que tinha a capacidade para uma paixão selvagem, que a intensidade escura que testemunhava nos companheiros de bando era uma parte da sua natureza, também. — Se ele era infeliz, por que não disse nada?

— Porque era um idiota fraco, — foi a fria adição. — Posso ver a razão pela qual ele podia ter reagido mal, mas isso não quer dizer que eu tenha qualquer simpatia por ele.

Sim... Martin havia feito suas próprias escolhas, que mantivesse a responsabilidade por elas. — Eu devia ter ido embora quando comecei a perceber que ele tinha começado a se ressentir de mim pela minha força, mas eu não podia suportar desistir e provar para aqueles que tinham me alertado para abandonar um homem menos dominante, que eles estavam certos. — Deus, ela foi tão teimosa, tão orgulhosa.

— Você é uma fêmea dominante, ser sanguinária é parte do pacote.

Ela riu, inclinou-se até tocar os dedos pelo cabelo dele mais uma vez. — Sim, eu tenho me perdoado por isso. — Porque sob o orgulho havia o desejo honesto de salvar uma relação que tinha começado com tal promessa. — E eu acho que teria aceitado a derrota mais cedo e ido embora, mas então... Martin salvou a minha vida.

Ela tinha estado fora em uma tempestade, procurando por um filhote que todos pensavam que estava perdido quando uma árvore caiu sobre ela. Quebrou sua perna e deslocou-lhe o ombro quando a jogou em um córrego que estava cheio em níveis perigosos, onde bateu a cabeça em uma pedra exposta. Tonta e desorientada, ela tinha começado a arfar na água em vez de no ar.

Tendo descrito o acidente para Riaz, ela disse, — Martin tem um medo de arrepiar os cabelos de água após quase se afogar quando criança, mas ele saiu na tempestade porque estava preocupado comigo, e depois mergulhou em uma torrente furiosa para salvar minha vida. — No entanto, essa não era a parte mais importante do irregular quebra-cabeça que fora sua relação. — Ele me tirou, mas quando estava puxando a si mesmo, uma pedra enorme bateu nele, esmagando a maioria de suas costelas e fazendo danos sérios aos órgãos. Ele ficou na enfermaria mais tempo do que eu.

Riaz se sentou, acariciando as mãos ao longo da coluna dela. — Ele usou isso, não foi, para te segurar?

A parte de cima da tatuagem no ombro esquerdo de Riaz apenas visível para ela desta posição, ela riscou as linhas curvas dela. — Não sei se foi consciente, mas sim. — A pressão tinha sido tão sutil que ela não tinha percebido o que estava acontecendo por um longo tempo. — Eu sempre tive aquela bolha doentia de culpa dentro de mim sempre que pensava em terminar com um homem que tinha arriscado tudo para me salvar.

Depois que a relação terminara, ela se encontrara incapaz de entender por que Martin lutara para mantê-la, mesmo quando se tornara dolorosamente claro que eles seriam mais felizes separados. Mas se Riaz estivesse certo, se Martin a tivesse amado de um modo que ela não fora capaz de retribuir – isto explicava muito, mesmo não descartando a dor que ele lhe causou.

— Lealdade não é algo para se envergonhar. — A respiração quente de Riaz contra sua pele.

— Não... Mas levada longe demais, pode se tornar um defeito. — Deslizando as mãos pelos seus ombros quando o olhar dele se escureceu em conhecimento, ela deu um sorriso triste. — A compreensão tardia é sempre vinte-vinte[3], não é?

Ele esfregou a bochecha contra a dela. — Isso é por que ela é uma cadela.

Novamente, ela riu, surpresa com a veia de humor dentro do lobo solene com olhos dourados. — Bem, eu acabei com o olhar para trás, — ela disse, saboreando a picada salgada e cítrica da pele dele, o toque de chocolate amargo no seu beijo exótico e intrigante. — Estou pronta para viver o hoje.

Desta vez, o amor deles foi uma dança íntima.

Longos, drogados beijos, prolongados golpes da mão dela sobre um tórax firme ligeiramente coberto por um punhado de pelo que foi uma carícia erótica contra seus seios, e um passeio tão fundo, tão lento. O corpo dele curvado sob o seu próprio, os tendões esticados brancos sob a tonalidade escura da sua pele quando as mãos apertaram seus quadris.

Ela nunca se sentiu tão bonita, tão poderosamente fêmea.

 

Kaleb olhou abaixo para o corpo colocado sobre a placa de metal frio, iluminado pelo branco frígido das luzes do necrotério. O cadáver fora descoberto quatro horas atrás, priorizado no nível mais alto de importância. — Suas conclusões? — ele disse para Aden. O médico Arrow – treinado para realizar autópsias em Arrows caídos, tinha feito a tarefa ele mesmo.

— A causa da morte foi o pescoço quebrado, — respondeu Aden. — A partir do exame sobre o local, parece que ele tropeçou e caiu da escada.

Não uma ocorrência inacreditável, e nada disso teria chamado atenção dos Arrow, exceto pelo fato de que a vítima era uma âncora. Todas as mortes de âncora eram investigadas por Arrows, mesmo quando a idade avançada era um fator evidente – nascidos com a habilidade de fundirem-se totalmente na Net, aqueles de Designação A eram muito integrados com sua estrutura psíquica para arriscar quaisquer erros.

Âncoras tinham muitas funções, mas a mais importante era estabilizar e “segurar” a PsyNet no lugar. Eles eram a razão de os Psy poderem cruzar o mundo no plano psíquico sem estresse mental. A morte da pessoa deitada na maca tinha causado algumas ondulações pequenas, mas medidas de segurança temporárias haviam entrado em cena no momento em que ele desapareceu da Net, impedindo qualquer dano importante. Aqueles na zona afetada teriam experimentado uma leve dor de cabeça no máximo, antes que a rede de âncoras da região realinhasse suas esferas de influência para cobrir a lacuna.

Uma única morte em nada iria esticar a rede tênue, mas a perda de qualquer âncora era um motivo de preocupação. Entretanto, apenas um telecinético no local podia ter prevenido um acidente que pareceu ter sido causado por um erro físico de frações de segundos.

— Você acredita no relatório sobre o local? — ele perguntou para Aden.

— Tanto Vasic quanto eu fizemos uma varredura no local, não encontramos nada fora de ordem. A filmagem do sistema de segurança privado também se mostrou limpa. Teoricamente, um Tk capaz de teletransporte poderia ter ‘portado’ e ‘assistido’ a queda, mas por que matar uma âncora? — Era a pergunta mais crucial. — Eles não têm nenhum poder político, e suas mortes não fazem nada exceto enfraquecer a Net.

E independentemente da filiação política, cada único Psy na Net precisava do biofeedback fornecido pela vasta rede mental. Rompa sua ligação à Net e aqueles de sua raça morreriam uma morte excruciante em minutos.

— Não-Psy? — Kaleb propôs.

— Se houvesse um intruso, teria que ser um Tk. Nenhuma outra designação poderia ter evitado o sistema de segurança.

Ele encontrou o olhar de Aden. — Judd Lauren é um Tk fora da Net. — Foi uma declaração que ele fez por muitas razões.

— Judd também tem um vínculo emocional com os membros de sua família, — assinalou Aden. — É razoável supor que ele não ia querer causar dano para o jovem na Net, e não há maneira de controlar o efeito generalizado da morte de um âncora.

Pesando todos os fatores, Kaleb deu um pequeno aceno. — Mesmo os mais importantes não são imunes a acidentes, — ele disse, analisando as contusões no corpo do homem de meia-idade. — No entanto, não quero nenhuma pergunta sem resposta. Faça uma varredura secundária do local, assegure-se de que sua primeira impressão está correta.

Aden não disse nada, mas Kaleb soube que seria feito. Ele e os Arrows tinham chegado a um entendimento – mas ele não cometeu o erro de pensar que tinha seu apoio total. A mais letal força de combate na Net ainda estava compondo sua opinião a respeito dele. O que os Arrows não perceberam era que Kaleb estava avaliando-os também, o propósito dessa avaliação nem Aden nem seus homens podiam imaginar.

 

Riaz pressionou a testa na parede do chuveiro e deixou a água cobri-lo, lavando o suor e as manchas de grama, mas não fazendo nada para apagar as memórias da paixão que varrera sobre ele há não muito tempo... E da mulher selvagem e sensual cuja boca luxuriante estava se tornando rapidamente um vício privado.

Vergonha, raiva, desejo, todos eles disputavam a posição principal dentro da tensão rígida que era seu corpo. A ideia de estar com outra pessoa uma vez que tinha encontrado a mulher destinada a ser sua companheira era tão anátema para tudo que já tinha acreditado, que tanto o homem quanto o lobo ficaram confusos, perdidos. Mas essa não foi a única coisa que o teve se sentindo como um merda – independentemente do que Adria tinha dito sobre estar com ele a cada passo do caminho durante a primeira união primitiva deles, ele não era um homem que maltratava mulheres. Continuou a envergonhá-lo que tivesse sido tão desconsiderado com ela.

Uma memória instantânea, o cabelo de Adria caindo ao redor dele em uma cascata sedosa enquanto ela se inclinava para chupar seu lábio inferior, soltando-o em uma provocação deliciosa em forma de mordida. — Sem mais culpa, Riaz. — Uma ordem rouca. — Eu precisei disto tanto quanto você. Podemos ir devagar desta vez.

Mudando a água para gelada quando seu pau levantou na repetição mental de exatamente quão lento eles tinham ido, ele friccionou os dentes até que seu lobo gritou em falta. Desde que estava prestes a ficar azul, ele saiu, se secou e colocou um par de jeans desbotados, as linhas desfiadas mal se segurando acima do joelho esquerdo. Uma camiseta branca, meias e botas e estava pronto. Correu um pente por seu cabelo, esfregou o queixo. Raspavam os pelos duros. Desde que estava tarde demais para a pele delicada de Adria, ele deu de ombros e deixou-os.

Dirigindo-se ao pequeno escritório que o tinha sido atribuído, ele começou a passar por alguns documentos que Pierce pediu-lhe para examinar, imaginando que pegaria o jantar na cozinha mais tarde, pois eram apenas sete e meia.

No entanto, Riley bateu na sua cabeça um instante depois. —Jantar na minha casa hoje à noite.

Riaz havia retornado à toca porque sabia que precisava de seu bando. Mas depois do que acabara de acontecer, a decisão dolorosa que tinha feito de esquecer Lisette e continuar sua estranha e sensual amizade com Adria, seu lobo eriçou os pelos do pescoço, querendo ser deixado só. — Obrigado, mas tenho um monte de trabalho. — Não era mentira, ele era o tenente encarregado dos interesses de negócios internacionais dos SnowDancer, Pierce e os outros estavam sob seu comando direto.

Riley se inclinou contra o batente da porta, de braços cruzados. — Se quisesse isolar a si mesmo, — ele disse, — você não voltaria para casa.

— Não me empurre, Riley. — Podia sentir as garras picando o interior da pele.

— É o que os amigos fazem. Nós estamos indo em dez minutos.

Percebendo que apenas acabaria pensando nisso se ficasse para trás, Riaz cedeu e juntou-se a Riley, Drew, e Índigo fora da toca, o céu uma suave escuridão ainda não polvilhada com estrelas. — Nós estamos aguardando alguém?

Riley olhou por cima do ombro. — Eis eles vindo.

Riaz não precisou girar para saber que Adria fazia parte do grupo. Mas o fez mesmo assim, viu que Hawke caminhava ao lado dela. O alfa estava rindo de algo que Adria disse, o rosto dela virado para o dele, o cabelo úmido preso em uma trança solta.

Aquela risada desbotou quando seus olhos caíram nele, mas seu sorriso não.

Algo duro e irregular nele aliviou uma fração, o lobo se estabelecendo.

E então eles estavam se movendo, o ritmo confortável, conversa sendo trocada enquanto atravessavam as árvores. Adria e Índigo correram à frente, Riley e Hawke seguindo, enquanto Drew tinha acabado ao lado de Riaz. Teria sido uma dupla inesperada há alguns meses, mas ele e Drew fizeram as pazes, o outro homem tão estabelecido no seu acasalamento com Índigo que nada poderia abalá-lo.

Uma gargalhada feminina, rouca e generosa.

Compelido por uma mulher que estava se tornando importante para ele de uma forma que ameaçava minar as fundações do seu mundo, ele se perguntou sobre o que Adria e Índigo conversavam que as tinha tão divertidas, decidiu que era provavelmente uma daquelas coisas que um homem não quer saber.

— Sienna está faltando, — disse a Drew. — Incomum. — Homens recentemente acasalados gostavam de estar próximos de suas mulheres como uma regra, e Hawke era alfa, com as unidades primitivas equivalentes. Sua companheira também tinha estado em perigo brutal há pouco tempo. Continuava a estar, em muitos aspectos.

— Ela está treinando com Judd. — Drew deve ter feito alguma coisa através do elo de companheirismo, porque Índigo lhe deu um olhar malicioso por cima do ombro antes de retornar a sua conversa com Adria. Sorrindo, Drew adicionou, — Eles virão juntos depois.

Não era, Riaz soube, porque Judd era um tenente que Hawke confiava no outro homem com sua companheira, quando os impulsos possessivos de acasalamento tinham que estar correndo soltos por seu corpo. — Ela é tão jovem. — Preocupava-o às vezes que Sienna Lauren não fosse capaz de suportar o peso colocado em seus ombros.

— Você viu o que ela fez. — Uma resposta solene. — Esse tipo de poder envelhece uma pessoa.

— Sim. — Sienna não mostrara sinais evidentes disso, mas sabia que ela teve que ter pagado um preço pelo fogo frio que salvara tantos SnowDancers. — Não importa, porém, parte de mim ainda quer protegê-la. — Ela tinha o seu respeito, mas isso não significava que seus instintos normais estavam mortos.

— Eu também, — Drew admitiu. — Não pense que a preocupa, a garota é dura suficiente para lidar com um alfa.

Assim como a mulher na frente dele, Riaz pensou, era mais que dura suficiente para lidar com qualquer coisa que ele jogasse para ela, a delicadeza de seu odor desmentindo um núcleo de aço que começou a fascinar o lobo.

— Vocês dois são tão lentos quanto duas velhinhas, — Hawke disse, tendo ficado para trás para juntar-se a eles.

Drew assobiou. — Soa como um desafio para mim.

— Soa. — Pegando o olhar de Drew, Riaz se chocou contra Hawke sem aviso prévio, tombando o alfa no chão.

— O que...

Drew já havia tirado as botas de Hawke, desamarrou os cadarços, e jogou tudo em quatro direções diferentes pelo tempo que o alfa conseguiu passar por Riaz aos seus pés. — Essas são minhas botas favoritas!

Drew esfregou as mãos. — Melhor achá-las então. Enquanto isso, nós vamos bater seu traseiro para o de Riley.

Hawke arreganhou os dentes, e a corrida estava em marcha, as mulheres e Riley se juntaram. O lobo de Riaz sorriu enquanto corria, feliz no sentido mais simples. As árvores chicotearam pela velocidade da luz, e eles derramaram até a clareira que dava para casa de Riley, um chalé de madeira e pedra gracioso a meio caminho entre o território DarkRiver e SnowDancer, para em menos de dez minutos mais tarde... Encontrar Hawke e suas botas esperando por eles nos degraus.

— Maldição. — Drew fez uma careta, as mãos sobre os joelhos. — Nós precisamos enganar melhor da próxima vez!

Os olhos de Hawke eram um brilho noturno. — Toque nas minhas botas novamente e vou fazer Aisha grelhar você para o almoço.

Peito arfando, Riaz balançou a cabeça. — Nós devemos fazê-lo correr perneta. — O alfa tinha sido rápido quando era um menino, mas agora ele era rápido. — Talvez jogá-lo abaixo, nas pedras.

Hawke recostou-se nos degraus, descansando em seus cotovelos. — Você ainda estaria comendo meu pó.

— Oooh. — Drew sacudiu a cabeça. — Essa é uma declaração de guerra.

— Meninos! — Mercy saiu da casa. — Sejam legais. — Sua expressão divertida mudou quando pousou sobre Riley, que correu até os degraus para reivindicar um beijo, a mão grande e gentil contra a bochecha dela.

Dorian e Ashaya chegaram quase no mesmo instante, parando em um veículo flutuante que estacionaram na borda da clareira. Riaz sabia que o homem era um dos amigos mais próximos de Mercy, bem como parceiro de treinamento de Judd. Parecia uma combinação estranha – o antigo Arrow e um homem que se encaixaria bem em uma praia de surf – mas entre outras coisas, Dorian era mortalmente preciso com um rifle de atirador.

— Entrem. — Riley acenou à todos a casa.

Eles entraram em massa para encontrar o ar repleto de cheiros apetitosos.

— Sim. — Mercy recuou contra o peito largo de Riley com um suspiro dramático, as costas da mão pressionadas na testa. — Fui escravizada por causa de vocês. Espero que apreciem.

Foi quando uma cabeça masculina ostentando o mesmo distintivo cabelo vermelho de Mercy estalou para fora da cozinha. — Vejo que a calça de alguém está pegando fogo[4].

— Cale-se, Bas. — Mercy enxotou o homem alto, que se aproximou para envolver um braço ao redor do seu pescoço e arrastá-la para seu lado em um aperto carrancudo, como se ela não fosse uma sentinela com seu companheiro tenente bem ali.

— Diga que sente muito.

— Nunca. — Acotovelando o homem para libertar-se, Mercy fez as apresentações. — Pessoal, este é meu irmão Bastien, também conhecido como uma dor no pescoço, e um cozinheiro excelente. Bas, estes são os lobos que cairão em cima de você e lhe devorarão se sequer piscar errado.

— Tenho ferramentas para tortura de lobo, também, — Bastien murmurou antes de empurrar a cabeça em direção à cozinha. — A comida está pronta. Eu e minha ajudante de serviço traremos para fora. — Arrastou Mercy com uma fraternal falta de preocupação em relação a sua expressão insultada.

O olhar de Riaz conectou com os olhos risonhos de Adria, seus próprios lábios se curvando.

 

Sentindo a aproximação de sua companheira meia hora depois que o resto deles chegaram ao Riley, Hawke se dirigiu às árvores, apertando Brenna em um abraço quando ela pareceu primeiro. — Vejo que Judd suspendeu você de seu último turno. — Seu lobo tinha um pequeno fraco por esta pequena mulher que havia sobrevivido a um monstro e saído disso sã.

— Mariska disse que ia cobrir. — Uma carranca inesperada. — Eu desejaria que ela saísse mais. Da próxima vez a trarei.

Ciente de que a talentosa técnica sênior era tanto extremamente tímida quanto submissa, Hawke assentiu. Submissos não eram necessariamente acanhados, não na maioria das vezes, mas quando tal forte combinação – como no caso de Mariska – acontecia, tendia a fazê-los tímidos e introvertidos. O bando tinha que ser cuidadoso para aqueles lobos não se perderem na evasiva de seus mais fortes e mais dominantes companheiros de bando. — Fala para ela que nós não mordemos.

— Eu não minto para os meus amigos.

Hawke puxou seu rabo de cavalo por aquele comentário espertinho, justo quando Judd e Sienna apareceram por trás dela. — Como você os venceu?

Brenna lhe deu um olhar de afronta pura, altiva. — Eu sou um lobo. — Andando mais para perto de seu companheiro, ela estendeu a mão. — Eu ganhei. Pague.

— Diga-me o atalho, — Judd exigiu.

Inocência nos olhos marrom-azuis fraturados que falavam da força inabalável de Brenna. — Que atalho? — Ela bateu as pestanas... E gritou quando foi erguida no ar sem aviso prévio. O grito agudo transformando-se em riso encantado um segundo depois, ela deu uma sacudidela para trás.

Ao lado de Judd, Sienna com as mãos nos quadris disse, — Judd, esse é um uso ineficiente de sua... — Um grito surpreendido quando ela se encontrou flutuando, também.

Sorrindo, Hawke se aproximou para resgatá-la, agarrando-a em torno dos quadris para puxá-la de volta a Terra. — Isso vai te ensinar a respeitar um Tc.

— Sou um X. Por que ninguém tem algum respeito? — disse, roçando o nariz contra o dele, quando Judd e Brenna, de volta em seus pés e com as mãos entrelaçadas — desapareceram em direção à casa.

Ele a colocou mais perto do seu corpo, as pernas alargadas. — Você está atrasada. — Um beliscão de advertência no seu lábio inferior.

Sienna beliscou de volta. — Você sabia que eu estava à caminho.

Sim, ele sabia, tendo permitido a si mesmo o luxo raro de vigiá-la pelo elo de companheirismo. Ela soube, entendeu. — Então? — Ele permitiu que todos acreditassem que Sienna e Judd estavam realizando uma sessão normal de combate psíquico, até mesmo se forçou a permanecer na toca ao invés de ir com eles, para não levantar suspeitas.

Na verdade, Judd e Sienna, bem como Walker, tinham estado tentando avaliar sua estabilidade psíquica. A válvula psíquica na mente de Walker era um controle externo sobre o fogo X, mas o poder de Sienna permanecia desconhecido em sua maior parte. Era impossível predizer como se desenvolveria e cresceria. Nenhum deles iria apenas se sentar e esperar que tudo funcionasse bem.

— Foi realmente bom, — ela disse com um sorriso aliviado. — Estou emitindo energia em uma taxa constante, mas o nível é tão baixo que está sendo absorvido pela Web SnowDancer sem dar um choque perceptível em qualquer indivíduo.

— Estou mais interessado em você, bebê. — Enfurecia-o que não pudesse protegê-la no plano psíquico, mas tinha sólida fé na capacidade de Sienna de dominar suas incríveis habilidades.

— Meus escudos são herméticos, e Judd diz que a transferência de energia entre mim e Walker está se tornando mais suave à medida que nossos cérebros se adaptam ao processo. — Um beijo tenro, os dedos brincando com o cabelo em sua nuca.

Ele curvou a cabeça, assim ela poderia alcançá-lo mais facilmente. — Algum problema?

— Eu não quero trazer má sorte a isto, mas... Até agora, tudo bem.

Ele entendeu por que ela não podia lhe dar uma resposta concreta, porque ninguém tinha quaisquer soluções organizadas para um X, muito menos um X cardeal. Mas seu lobo não se aterrorizou, capaz de ver a chama vermelha e dourada dela pelo elo de companheirismo. Embora sempre perigoso, estava estável. No entanto, apesar disto, ele continuou a sentir uma vulnerabilidade profunda e um medo tranquilo dentro de sua companheira. Odiou que tal medo vivesse nela mesmo agora, mas Sienna estava contente com isto.

— Eu deveria ter medo da minha força, — ela tinha dito ferozmente. — Impede-me de ficar preguiçosa em meu controle.

Hawke podia seguir seu raciocínio, aceitava que ela nunca seria capaz de ser tão despreocupada quanto outras mulheres de sua idade, mas isso não alterava seus instintos em relação a ela. Agora, o lobo arranhava contra a pele, aninhando-se para ela. — Desde quando você é supersticiosa? — Ele brincou em uma tentativa de subjugar os vestígios de medo e preocupação que permaneciam em seus olhos.

— Desde que Evie me fez assistir três filmes de terror consecutivos outra noite, enquanto você estava patrulhando na montanha. — O olhar de falso terror o fez rir. — Senti sua falta quando você se foi. Gostaria de ir da próxima vez se eu não estiver em turno.

Ele não gostava de estar longe dela durante a noite, mas aquela seção de patrulha em particular era difícil, mesmo para os SnowDancers em forma de lobo. Como resultado, a obrigação fora dividida entre ele, Riley, três dos soldados seniores mais experientes, Riaz, Índigo, e um Tai surpreendentemente ágil. Judd poderia tê-lo feito também, mas Hawke havia tomado uma decisão de alfa para conservar a força telecinética do tenente onde possível, em caso de ataque ou emergência inesperada.

— É muito perigoso, — disse ele agora. — Se cair, vai quebrar seus ossos. — O poder psíquico de Sienna podia ser imenso, mas fisicamente ela era muito mais quebrável que um changeling.

Intransigência teimosa. — E você não vai?

Ele rosnou. — Você é destinada a ser Psy. Seja racional.

— Eu posso esperar no acampamento base enquanto você faz a varredura. Veja, um compromisso? É essa a palavra nova e brilhante que estamos tentando aprender.

 

— Pirralha. — Frustrado embora tanto o homem quanto o lobo rissem encantados com a mulher que era sua. — Falarei sobre isso com Riley, — ele disse, colocando um dedo na abundância luxuriante dos seus lábios quando se separaram. —Regras.

Mordendo levemente seu dedo, Sienna puxou-lhe o cabelo. — Eu odeio essa regra estúpida.

— Serve-lhe bem.

— Riley é tão justo, — Sienna murmurou, — Nunca posso argumentar quando ele decide algo em seu favor.

— E vice-versa. — Era essencial para seu relacionamento com Sienna que Hawke não fosse capaz de usar o fato de ser alfa para anulá-la. Porém, o lugar de Sienna na hierarquia significava que o bando não a aceitaria como um agente livre. Nem iria tal súbita falta de disciplina servir para ela – ela tinha feito esse ponto ela mesma.

— Assim como um lobo, eu preciso da estrutura fornecida pela hierarquia, — ela tinha explicado. — Isso combina com o modo militar com o qual minha mente foi treinada, me ajuda a manejar o fogo X.

Tinha sido decidido que Riley, a pessoa em comando nos SnowDancer depois de Hawke, era quem daria à Sienna suas ordens como um soldado novato, e permitia ou vetava coisas que eram Hawke normalmente quem lidaria a respeito de qualquer outra pessoa nos SnowDancer. Na realidade, Riley agia como o alfa dela.

Até agora, estava funcionando.

— Faminta? — Ele perguntou quando ela continuou a acariciá-lo com pequenos toques que tinham se tornado parte integrante de sua existência.

— Sim, mas não estou pronta para entrar ainda. — Quando ela perguntou sobre seu dia, ele lhe disse, escutou com orelhas em pé quando ela retribuiu.

— Evie quer ir a um encontro duplo. — Uma quase lupina diversão no sorriso dela.

— O que Tai falou? — A diferença de sua idade para a de Sienna tinha lhe preocupado antes de acasalarem, mas já não sentia qualquer culpa por reivindicá-la, não depois de ela quase se executar no campo de batalha. A lembrança sempre o deixava incandescente de raiva, e certo de que tinha tomado a decisão correta. Quem mais seria capaz de lidar com sua encrenqueira esperta e teimosa?

Agora, ela ria em profana alegria. — Tai parece intimidado cada vez que ela toca no assunto.

Hawke não ficou surpreso pela reação do jovem soldado, mas também entendeu que a doce Evie, que via muito mais do que a maioria das pessoas percebia e amava Sienna como uma irmã, estava mandando-lhe uma mensagem em tom de brincadeira.

Todas as pessoas na cabana de Riley neste momento eram indivíduos de alta patente, um grupo totalmente discrepante do círculo de amigos de Sienna. Isso não queria dizer que ela estaria desconfortável – sua companheira não costumava ser intimidada, mas este não iria, - ele percebeu - ser o mesmo evento descontraído para ela que era para ele. — Encontro duplo nunca vai acontecer.

— E eu que estava tão ansiosa por isso.

Bateu-lhe de leve na bunda, fazendo-a cravar as unhas na sua nuca. — Cuidado, — ela alertou. — Eu mordo, também.

— Eu tenho as marcas para provar isto. — Apertando os lábios na bochecha dela, ele ergueu a cabeça. — Eu nunca poderei ser qualquer coisa exceto o alfa deles, bebê. — Aquelas linhas não poderiam ser desfocadas.

— Eu sei. — Nenhuma angústia, sua voz gentil, afetuosa. — Eu estava brincando.

Ele considerou a mensagem silenciosa de Evie mais uma vez. Pensou em quantas mudanças Sienna estava tendo que aprender a lidar em adaptação à vida como a companheira do alfa SnowDancer. — Mas, — ele disse, decisão tomada, — não há razão para que eles não possam juntar-se a nós hoje à noite. — Eles eram seus amigos, sua estrutura de apoio, uma estrutura que ela tinha precisado mais que nunca quando suas responsabilidades cresceram.

Não importa o que, Hawke tinha que permanecer alfa, mas com Índigo e Adria aqui, bem como Sienna, Evie não sentiria nenhum desconforto. Como para Tai, o menino era protegido de Judd e às vezes treinava com Dorian. Ele estaria bem.

Sienna parou, olhando-o com olhos mudados para ébano puro. — Às vezes, você faz coisas que me fazem apaixonar por você novamente.

Seu lobo se alisou. — É? Venha me mostrar.

 

Riaz estava se divertindo muito mais do que teria acreditado possível. Tendo acabado na varanda junto com todos os outros, uma cerveja na mão, ele agarrou outra das pequenas tortinhas que Bastien tinha trazido para fora.

Um gemido feminino soou justo quando ele estava pensando que o irmão de Mercy, um gênio financeiro na vida real, poderia fazer um sério sucesso como chefe profissional. — Bas, se eu já não estivesse acasalada, te arrastaria para o bosque agora mesmo. — Índigo estalou o restante de sua samosa[5] na boca, debruçando-se para a irmã quando se sentaram na cadeira de balanço.

Bastien, empoleirado no parapeito da varanda ao lado de Drew, Dorian, e Tai, as pernas enganchadas em torno das barras de madeira, sorriu e tomou um gole de sua própria cerveja.

— Desde que todos vocês tem a má sorte de estar acasalados ou, de alguma forma, comprometidos — Adria dobrou para cima aquelas longas, longas pernas na esfarrapada, porém confortável poltrona, ela afirmou... — Acho que ele é todo meu.

Várias “vaias” soaram, com Bastien assegurando às mulheres que havia mais que suficiente dele. Riaz olhou para Mercy quando essa empoleirou- se no braço da poltrona. — Seu irmão sempre flerta com a morte?

— Ele gosta de viver no limite. — Colocando seu copo de limonada fresca sobre uma mesinha de centro que já segurava uma bandeja de comida, ela apoiou o braço em seu ombro. — E sabe exatamente quão longe pode empurrar as coisas. Acredite ou não, ele é o mais bem comportado dos meus irmãos.

— Sua pobre mãe.

— Uh-huh.

Riley entortou um dedo de onde se sentava na outra poltrona. Sorrindo, Mercy levantou em um movimento sinuoso e passeou até ele. — Você chamou?

Riaz nunca tinha visto aquele olhar provocante no rosto de Riley antes. Isso o fez sentir-se... Não um intruso, mas... Família. Bando. Quanto à mulher com os olhos listrados de ouro em intenso azul-violeta, cujo riso rouco fez seu lobo piscar as orelhas, ele não sabia quem ela era para ele, mas sabia que a intimidade deles fundidos na grama tinha apenas temporariamente suavizado a chama que queimava entre eles.

 

Mercy viu a luz do carro de Dorian enfraquecer entre as árvores, justo quando Riaz desaparecia na floresta, Drew e Tai pelo seu lado, Índigo, Evie, e Adria acima adiante. Judd e Brenna tinham saído um pouco mais cedo, já que ambos começavam mais cedo o dia seguinte, e Bas tinha pegado uma carona com seu irmão do meio, Sage, que aparecera há uma hora. Os dois últimos, Hawke e Sienna, pretendiam tomar uma rota diferente para a toca do que a do grupo de Riaz.

— Ei, Sienna, — Mercy gritou, e quando a jovem mulher virou para olhar sobre o ombro, disse, — Você sabe toda a história de ‘deixe-me mostrar-lhe um belo lugar?’ É a versão changeling de ‘deixe-me mostrar-lhe minhas figurinhas’.

Hawke atirou um braço em torno de sua companheira sorridente e a puxou para perto. — Riley, mostre à sua companheira suas próprias figurinhas para que ela não se preocupe com as minhas.

Mercy riu do grunhido mal-humorado, debruçando-se no abraço de Riley. — Você me mostrou um bom número de figurinhas depois que Sienna fez sua coisa de bateria nuclear, — ela murmurou quando o outro casal caminhava pela noite polvilhada de estrelas.

— A primeira vez que eu a desgastei. — Os lábios de Riley roçaram seu pescoço, a voz um pouquinho presunçosa.

Ambos, leopardo e mulher, admitiam que ele tinha o direito. — Pena que a onda de energia não passou por mim. — Isso tinha provado que a conexão entre as webs SnowDancer e DarkRiver - formada por seu acasalamento, - era mais do que apenas um elo de companheirismo. Nada mais veio através disso. Como resultado, depois de as habilidades de Sienna explodirem como supernova, Riley ficou à flor da pele com energia, tudo disso centrado oh-tão-sensualmente em Mercy, enquanto ela tinha alternadamente gemido em prazer ofegante e implorado para dormir.

A lembrança a fez enrolar os dedos dos pés. — Conseguiu algumas figurinhas novas para me mostrar? — Ela fechou as mãos sobre os braços dele, amando sua sensação quente e sólida. Meu Riley.

— De fato... — Riley se aninhou em Mercy. — Quer ir a uma caminhada primeiro? — A noite estava impressionante como só uma noite na Serra poderia ser, iluminada por uma lua cheia e um milhão de estrelas.

Mercy alongou felinamente seus braços. — Sinto-me muito preguiçosa depois dos pratos de Bas. Posso sentar no seu colo ao invés?

— Venha aqui, gatinha. — Puxando suas costas, ele se sentou em uma das grandes cadeiras de vime acolchoadas que seus pais tinham lhes presenteado no acasalamento. Mercy imediatamente se enrolou nele, as pernas penduradas sobre o braço da cadeira, a cabeça contra seu ombro. Os cachos flamejantes de cabelo cascateando por seu braço onde ele apoiava suas costas, o músculo flexível da coxa quente sob sua outra mão.

Contente de uma forma que raramente esteve antes de Mercy, ele simplesmente a acariciou até que ela ronronasse. Encantou-o como sempre acontecia. — Eu fiz você ronronar.

Um bocejo preguiçoso. — Estou fingindo isso.

Lábios curvando, ele abaixou a cabeça para beijá-la. Foi uma troca familiar, um pequeno jogo particular que podiam jogar porque estavam totalmente embriagados um com o outro. A palavra ‘embriagado’ foi usada pela primeira vez por um enojado Sabe, mas Riley não se importava de estar embriagado por Mercy.

— Finja um pouco mais, — ele disse, com a mão no seu abdômen.

No entanto, quando ela inclinou a cabeça para trás, um sorriso puxando os lábios, ele congelou, pego pela suavidade delicada de suas características que o golpeou em todos os lugares. Mercy não era uma mulher vulnerável – e, contudo nesse momento, seu lobo rugiu à superfície, querendo proteger, abrigar, cuidar dela. O desejo foi tão violento que ele cerrou uma mão no seu cabelo, a do seu abdômen dobrou até que todos os tendões se destacaram em claro contraste.

— Riley? O que há de errado? — Sentando-se de sua posição lânguida, Mercy correu as mãos por seu cabelo, sobre sua nuca, por seu peito.

Acariciando-o. Ela o estava acariciando em um esforço para confortar.

— Fale comigo, cara durão. — Preocupação aberta, seus olhos brilhando na noite.

Riley tentou lutar contra o impulso primitivo, apenas para senti-lo empurrando de volta com tanta urgência que não teve nenhuma chance. Chocado, estremeceu quando o lobo assumiu, mas em vez de usar esse controle para iniciar a mudança, retrocedeu... Deixando-o com um parte luminosa de conhecimento, uma joia multifacetada brilhante que quase cegou.

— Oh, — ele sussurrou, olhando para baixo. — Eu não entendi. — Foi um pedido de desculpa ao seu lobo. — É minha primeira vez.

Mercy puxou seu cabelo. Forte. — Você está me assustando.

Ele ergueu os olhos, maravilhado em cada batimento cardíaco. — Adivinha o quê?

O olhar de Mercy caiu para onde ele tinha espalhado a mão. Ela ficou imóvel, os olhos enormes. — Riley, somos... Você... Como...

— Sim, — ele respondeu. — Nós somos, e eu sei porque um macho changeling sempre sabe antes de qualquer outro quando se trata de sua companheira. — Ele ouvira os curandeiros suporem que a concretização era causada por uma mudança instantânea no cheiro de uma mulher, uma mudança tão sutil que ninguém mais sentiria qualquer coisa, exceto que o lobo em Riley farejasse imediatamente.

Os olhos de Mercy detinham partes iguais de choque e deleite. — Riley.

Ele sentiu os lábios estirarem ainda mais. — Eu penso que precisamos comemorar com algumas figurinhas novíssimas.

O riso de sua felina foi surpreendido, morno, e o soou como lar. — São as suas gravuras que nos colocaram nesta posição. — Roubando um beijo quando ele curvou a cabeça, ela colocou os braços ao redor do seu pescoço. — Estou tão feliz. — Foi um sussurro conspiratório.

Abraçando-a apertado, ele disse, — Posso dizer a todo mundo?

 

Depois que Drew levou Índigo para longe, algum lugar numa pequena distância da toca, Tai e Evie decidiram parar na cachoeira, deixando Riaz e Adria fazerem o resto do caminho sozinhos. Nenhum deles falou, e não foi bem um silêncio confortável, mas não era a raiva irritável que houvera entre eles durante tanto tempo também.

O ar noturno era um beijo frio contra a pele, eles passaram pela Zona Branca não muito tempo depois, e então estavam na toca. Em vez de se separar, ele a levou para o quarto dela. Alcançando a porta para seus aposentos, ele esperou por ela destrancá-la, mas não fez nenhum movimento para cruzar o limiar. Ela, por sua vez, não fez nenhum movimento para convidá-lo, seus olhos escuros com a consciência despertando de que algo havia mudado, os laços que forjaram aquela tarde mais profundos do que deveriam estar. — Boa noite.

— Boa noite. — Esperando até que ela fechasse a porta, ele caminhou de volta para fora da toca, seu lobo precisando da liberdade tranquila da noite. Despindo-se em uma área isolada, ele colocou as roupas cuidadosamente no buraco criado entre dois pinheiros que cresceram entre si, e mudou.

Agonia e êxtase, prazer e dor.

O lobo negro que vivia dentro dele tomou forma em faíscas de cor, o nariz pegando milhares de tentáculos únicos de odor. Agitando a cabeça para limpá-la depois da mudança, começou a correr, transtornado por sua própria confusão. Toda a sua vida o lobo tinha sido o único que não sentia nada exceto certeza, sido alternadamente divertido e frustrado pela forma do homem de complicar as coisas.

Não agora. Agora ele pediu ao homem por esclarecimentos... E juntos eles correram, o vento agitando através do breu da pele do lobo, a floresta um playground familiar, as árvores sentinelas alertas. A liberdade disso era inebriante, até que o lobo quase podia esquecer o tumulto estranho no interior. Mas quando o céu ficou mais claro, e seu passo mais lento, soube que a hora de retornar para casa havia chegado. O selvagem chamado para ambas as partes de Riaz, alguma coisa atraindo homem e lobo à toca, o puxão tão profundo que ele esfregou uma mão em punho em seu coração depois de se transformar.

Hora de dormir um pouco, pensou, e tendo se vestido, começou a caminhar em direção a seus aposentos... Então de repente, ele estava seguindo outro odor. Delicado e forte. Frágil e feito de aço. Um quebra-cabeça que se adequava ao enigma da mulher para quem a necessidade nele queimava quente e intensa. Arrastado até ela exatamente quando ela chegou à porta.

Uma pausa significativa, a noite anterior se repetindo.

Não se virando, ela abriu mais ao através.

Entrando atrás dela, ele fechou a porta, virou a fechadura.

 

Seu desejo por ela não diminuiu uma fração sequer, rugindo à superfície quando ela abaixou e tirou a camiseta que estava usando, revelando a longa e afinada curva de suas costas, quebrada somente pelas linhas de um sutiã esporte preto. Ele usou uma garra para rasgar em tiras o sutiã fora de seu corpo, as mãos deslizando em torno do seu torso para fechar sobre os seios.

A respiração dela parou, os mamilos pontos apertados contra suas palmas. Quando ela inclinou o pescoço para o lado, o convite foi claro. Tomando, ele chupou uma marca vermelha escura sobre o declive inferior, fazendo-a se torcer contra ele. Então, ela era perfeitamente sensível lá. Algo para se lembrar.

Uma punhalada ácida de culpa, a lembrança de que esta não era a amante que ele deveria estar aprendendo a agradar, a adorar. Ele estrangulou a voz, determinado a manter a sua decisão de seguir em frente... Mas isso não ia passar, os tentáculos negros da traição envolvendo ao redor de sua mente e enroscando através do seu sangue.

Esbeltos, quentes dedos nele mesmo. — Nós não somos as únicas pessoas neste quarto agora, somos, Riaz?

Recuando, ele enfiou as mãos pelos cabelos, além de zangado consigo mesmo. — Eu sinto muito. Não pretendia que fosse assim. — Tinha vindo para ela em necessidade honesta, mas agora a necessidade fora enredada com o sabor cáustico da infidelidade, uma chuva fria de pesar. O fato de ele saber que não tinha nenhuma razão racional para se sentir desleal não significava nada quando o coração primitivo dele estava lutando contra si mesmo, dentes e garras.

Em vez de se virar para ele em fúria, uma reação que teria entendido vindo de uma fêmea changeling predatória e dominante, Adria tirou as botas e se meteu na cama, ainda vestida nos jeans. Dando-lhe as costas, ela disse, — Venha aqui. Deite-se comigo.

Cada músculo do seu corpo travou, rasgado entre dois desejos ferozmente opostos. — Eu não sei se posso. — A admissão foi rasgada dele.

— Sem expectativas, apenas dois lobos pegando conforto um com o outro. — Uma pausa pesada com coisas não ditas. — Também preciso de toque.

A dor oculta dela esmagou através do tumulto dentro dele para tocar seu núcleo protetor. Descalçando seus próprios sapatos, tirou a camiseta e se esticou atrás dela. Deixou espaço suficiente entre seus corpos para que ele pudesse ver a curva graciosa de sua coluna, o dourado cremoso de sua pele impecável. Foi instintivo correr a mão sobre suas costas, aceitar os privilégios de pele que ela lhe oferecia, mesmo quando afagava a dor para fora dela por um fragmento de tempo.

Suspirando ela varreu a trança para fora de suas costas, acima do ombro, sem dizer nada enquanto ele continuava a tocá-la. Embora ela fosse a pessoa que estava ostensivamente recebendo o prazer, ele também o ganhava a partir do contato. Tinha vindo para ela quebrado e perdido, e com sua vulnerabilidade ela lhe deu as ferramentas que precisava para recuperar as rédeas – para ajudá-lo, esta mulher forte teve a coragem de rasgar abertas as próprias cicatrizes. Dirigido por instinto protetor, ele curvou seu corpo maior e mais pesado ao redor dela, o peito apertado às costas dela, a mão acariciando abaixo de seu braço, lenta e facilmente.

Seus olhos, ele viu, estavam fechados, mas sabia que ela estava acordada. Então quando ela falou não ficou assustado, mas também não estava pronto para sua pergunta. — Você me contará sobre ela?

Sua resposta foi automática. — Não há nada para contar.

Seus cílios permaneceram suaves sombras nas bochechas. — Claro que há e você não pode falar com qualquer um. Não irei fazer quaisquer julgamentos ou oferecer qualquer conselho. Estou aqui apenas para escutar.

Sua mão fechou no braço dela, antes que obrigasse a si mesmo a relaxar o aperto. A única razão para ele ter contado tudo a Índigo quando chegou em casa, foi que não quis vê-la desmanchar o que tinha sentido ser a relação certa para ela. Não se arrependia daquela escolha, feita por amizade, mas ele vezes ainda desejava que ela não soubesse, porque era sua maior debilidade.

E Índigo conhecia os fatos mais sórdidos. Adria já vira demais dele... E era uma mulher forte osuficiente, honesta suficiente, para admitir as próprias feridas. — Seu nome, — ele disse, sabendo que a honestidade era merecida, — é Lisette.

Falar dela causava uma doce e escura dor dentro dele, mas também havia selvagem alegria. Finalmente, ele podia dizer seu nome, compartilhá-la com alguém. — Ela é francesa, mas trabalha em Veneza. — Ele a vira num baile elegante realizado em um dos mais antigos edifícios da cidade submersa, a imponente parte inferior metade imergida, a sua metade superior uma obra-prima da arquitetura ornamentada.

— A Aliança Humana está baseada em Veneza.

— O Marido de Lisette, Emil, é um especialista computrônico da Aliança. — Ele era um homem esperto e bem sucedido que amava a esposa. Riaz quis matá-lo à primeira vista, sido parado apenas pela percepção de que aquele amor estava refletido nos olhos azuis de Lisette, prejudicar Emil seria prejudicar Lisette, e Riaz nunca faria nada que lhe causasse dor. — Na superfície, — ele continuou, — Lisette é gerente de negócios de uma empresa independente, mas eu tenho certeza de que é o disfarce para uma operação de comunicações da Aliança.

Adria arregalou os olhos. — Você não perguntou?

— Não. — Sua tarefa tinha sido assistir, aprender, fazer contatos. Enquanto a relação SnowDancer com a Aliança descongelou suficiente para que o bando estivesse disposto a fazer alguns negócios com o grupo que representava uma vasta rede de empreendimentos humanos, nenhuma das partes chegou perto de estar pronta a compartilhar segredos.

— Se ela administra a equipe de comunicação deles deve ser inteligente.

— Nenhuma dúvida, — ele disse, a mente se enchendo com ecos das conversas que eles tiveram enquanto lutava contra seus instintos mais primitivos para roubar o tempo que podia com ela. — Mas a primeira coisa que notei nela foi sua risada. — Gentil e morna e tão viva. — Meu lobo queria rolar ao redor dela.

Ele nunca se esqueceria de caminhar para o baile em Veneza, a visão dela um abalo em seu mundo, a massa espessa do seu cabelo na altura dos ombros brilhando na luz, um ouro tão puro que doía. — Ela é pequena, 1,55 talvez, mas você não percebe isso quando a encontra pela primeira vez. — Tudo que ele tinha notado foi a força feminina dela.

— Eu me encontrei com ela várias vezes, a empresa que ela comanda produz certa comunicação de tecnologia que podia ser útil aos SnowDancer. — Sozinho em um escritório com ela, ele quis atacar através da mesa que os separava, aninhar o rosto no seu pescoço, mordê-la, marcá-la. — Ela sentia algo, também. Podia sentir isto. Sacudiu-a. — Porque Lisette era uma esposa fiel e amarosa. — Eu sabia que ela odiaria a si mesma se alguma vez traísse Emil.

— Ela soa como alguém que eu pudesse gostar.

Pensando sobre a mulher forte e compassiva que Adria chamava de irmã, ele disse, — Sim, eu acho que poderia. — Lisette e Tarah tinham o mesmo aço gentil, a mesma convidativa abertura de espírito.

Percebendo que ele estava completamente enrolado ao redor dela, o braço que colocou sob sua cabeça, inclinado para embrulhar seu peito, tocou sua trança por entre os dedos. — Você tem que ir a algum lugar esta manhã? — Eram sete e meia, os corredores da toca certamente estariam repletos com companheiros de bando começando o dia.

— Não. — Seus cílios fecharam, lançando sombras de carvão às maçãs do rosto.

Exalando calmante, ele fechou os próprios olhos e dormiu com ela, pele com pele, seu lobo encontrando a paz inesperada na proximidade de um companheiro do bando que não julgou, não pediu coisas que ele não podia dar, e que compartilhou seu corpo com uma generosidade rara de espírito. Adria Morgan era uma mulher que ele nunca esqueceria, não importa se sua ligação durasse uma semana ou um ano.

 

Hawke olhou para Sienna. Ela esteve pensativa desde que deixaram a casa dos pais de Mercy dez minutos mais cedo, onde Mercy e Riley tinham dado a notícia da gravidez de Mercy para seus respectivos alfas, embora ambos, Hawke e Lucas, tinham sabido no momento que chegaram dentro de dez pés de distância da ruiva. Era engraçado como isso funcionava, na noite anterior eles não tinham nenhuma pista, mas agora que Riley sabia, era como se o leopardo de Mercy decidisse que era correto permitir outros dentro do segredo.

O contentamento não oculto de Hawke e Lucas por este selo mais primitivo entre a aliança DarkRiver-SnowDancer tinha forçado-lhes um grunhido, embora todo mundo ficasse muito bobo de felicidade para reparar em qualquer tipo de loucura. Porém, naquele exato segundo, sua mente não estava na notícia que havia encantado o lobo o suficiente para colocá-lo em harmonia com o alfa leopardo.

— Ei, — ele disse trocando o carro para modo flutuante, assegurando-se de não esmagar qualquer das pequenas plantas florestais desta área. — Está ansiando por sua música country? — Ela tinha esquecido seu reprodutor portátil de música, que normalmente conectava ao estéreo a bordo. — Essas coisas são um castigo cruel e incomum.

— Você gostou daquela lenta que dançamos ontem à noite.

— Eu tolerei aquilo. — A verdade era que, quando dançaram, ele não ouviu qualquer coisa exceto o sussurro de sua respiração, a batida do seu coração, o murmúrio baixo da voz dela. — Converse comigo, bebê. — Soou como uma ordem, e sim, meio que havia sido.

Um olhar de olhos estreitos apontou-lhe. — Eu devia recusar por princípio.

— E se eu disser por favor?

A risada de Sienna era suave, íntima, a de uma mulher que o conhecia, o aceitava. Ela nunca se deixou afastar quando pensava que ele estava sendo um merda, mas não anulou-se por atuar com quem ele era – um alfa lobo. — Eu estava pensando, — disse ela, sua risada desvanecendo, — sobre filhos. Nós nunca conversamos sobre isso.

Era a última coisa que esperava que ela dissesse. — Você quer bebês?

Pelo canto do olho, ele viu Sienna afundar os dentes no lábio inferior. — Eu realmente não considerei antes. Por quê?

— Eu sei. — Suas mãos apertaram o volante manual na lembrança de que ela vivera sua vida acreditando que morreria antes de mesmo de ter tido uma chance de viver.

— Ainda estou com medo. — Uma confissão calma.

O lobo sentindo sua necessidade, encontrou uma clareira e parou, colocando o carro para baixo assim podia se virar, firmar o braço ao longo da parte de trás do seu assento. Não foi suficiente, não para qualquer parte dele. Empurrando para trás o assento, ele a deslizou através e para seu colo. Ela veio sem o menor protesto, uma indicação muda de quão problemática ela estava se sentindo.

— Nós temos anos, — ele disse. — Não há pressa.

Ela se sentou para que pudesse analisar seu rosto. — Não é isso.

— Fale para mim.

— É uma mutação genética, o marcador X aparecendo aleatoriamente na população, — ela disse, uma urgência tranquila em cada palavra, — mas há uma probabilidade muito alta que eu vá legá-lo a qualquer criança que conceber, e eu não vou fazer isso, Hawke. Não vou.

— Hey. — Embalando seu rosto nas mãos, ele esfregou o nariz afetuosamente contra o seu. — Changelings não gostam do modo como os Psy constantemente bagunçam com o DNA de sua prole, mas até nós fazemos uma exceção para doenças que podem prejudicar o bem-estar de uma criança. — Ele continuou antes que ela pudesse interromper, a voz feroz. — Até onde estou interessado, seu fogo X não é uma doença. É um presente. — Tinha salvado o bando, salvado muitas vidas. — B...

— A espiral de Walker, — interrompeu Sienna, a pele corada com a intensidade das emoções. — Eu sei que me mantém estável, mas não há como prever o resultado quando o marcador X passar para ativo. — Lágrimas reluziram na meia-noite dos seus olhos. — Nosso bebê poderia queimar totalmente, e nós não seriamos capazes de parar isso.

Ele segurou a parte de trás do seu pescoço, apertando suavemente. — É porque eu ia dizer que apesar do fato de eu ver a sua habilidade como um presente, se você quiser ver um especialista genético antes de tentarmos ter um filho, eu vou estar ao seu lado.

— Sério? — Dedos esbeltos em sua mandíbula.

— Sempre, — ele disse, dobrando seu cabelo atrás da orelha, sua Psy com a capacidade de amar com uma paixão tão selvagem quanto o vermelho e dourado de seu fogo X. — Mas eu não vou abrir mão do cabelo. — Ele esfregou as mechas vermelho rubi entre os dedos.

Nenhum sorriso, o vislumbre de medo persistente no ébano de seus olhos. — A outra coisa é, — ela sussurrou, — não sei como a gravidez pressionará minhas habilidades. Eu não sei de nenhum caso onde uma X tenha pelo menos estado grávida, muito menos carregado uma criança até o fim. — Sua garganta moveu-se quando tragou dolorosamente. — As mudanças causadas pela gravidez poderiam me desestabilizar, matar nosso filho, machucar o bando.

— Ah, bebê. — Acariciando com a mão ao redor para segurar em concha a sua bochecha, ele correu o polegar sobre o arco delicado de sua maçã do rosto, calor cascateando por suas veias quando ela voltou o rosto para o toque. — Não direi que não é uma preocupação real, mas o que direi é que você está se tornando mais forte a cada dia que passa. Porra, eu tenho orgulho de quem você é, quem está se tornando. — Seu lobo se exibia em torno da toca com o peito estufado. — Eu sei que quando chegar a hora de fazer essa escolha, nós estaremos prontos.

— Eu sei que os outros casais acasalados não usam nada para evitar a concepção porque a taxa de natalidade dos changelings é muito baixa, mas...

Ele beijou as palavras para fora de seus lábios, lambendo afeto nela até que a tensão deixou seu corpo. — Qualquer coisa que alivie a sua mente, eu concordo. — Casais changeling raramente tinham mais de um ou dois filhos, e era altamente improvável que Sienna engravidasse logo após o acasalamento, mas não havia razão para arriscar com a vida de sua companheira em jogo. — Tenho certeza de que Lara saberá a melhor opção para a fisiologia Psy. — A curandeira tinha juntado conhecimento médico sobre Psys desde a deserção da família Lauren para os SnowDancer.

— Eu sei disso, — Sienna disse, com um olhar petulante que o fez sorrir.

— Eu estava falando sem parar?

— Só um pouquinho. — Dedos descendo pelo cabelo dele.

O lobo esfregou-se contra sua pele, querendo tocar. Mais tarde, ele prometeu.

— Falei com Lara e consegui o que precisava quando me tornei adulta, — Sienna lhe disse, — eu estava tão assustada em passar pela mutação X. — O elo de companheirismo vibrou com paixão quieta. — Não intencionalmente mantive isto secreto, apenas nunca surgira antes.

— Eu sei. — A honestidade de Sienna era um aspecto integral de sua natureza. — É uma boa coisa você ter cuidado disso ou nós provavelmente estaríamos disputando uma ninhada em um ano ou dois, demagogo[6] que você é.

Um murro brincalhão contra seu peito. — Penso que, talvez não fosse ser uma mãe ruim, — ela disse com um sorriso trêmulo, — mas não estou pronta ainda.

— Ei, não tenho certeza se estou também. — Ele podia ser lobo, podia ser alfa, mas também era um homem que tinha acabado de encontrar a companheira depois de acreditar que nunca teria esse elo. — Eu quero esse tempo com você. — Curvando a mão ao redor de suas costelas, ele inclinou a boca sobre a dela em um lento beijo, chupando seu lábio inferior, beliscando o seu superior.

— Hawke. — Seu nome uma carícia, Sienna envolveu os braços ao redor do seu pescoço e se derreteu no beijo. Um tipo muito mais prazeroso de tensão ondulou por seu corpo, os olhos destituídos de estrelas por uma razão que não tinha nada a ver com medo ou preocupação, quando ela quebrou o beijo para correr os lábios ao longo de sua mandíbula.

Ele gemeu, foi deslizando a mão sob a camisa dela... Mas Sienna virou sem aviso prévio. Caindo fora do carro depois de empurrar a porta aberta, ela lhe atirou um olhar de desafio puro. — Vantagem de vinte minutos. Eu chego a nossa caverna antes de você. O vencedor faz o que quiser com o perdedor.

Seu lobo empurrou à atenção. — Vá. — Não havia nada que ele gostasse mais do que brincar com Sienna, especialmente quando ele tinha mais de um truque novo na manga. Arreganhando os lábios em um sorriso selvagem, ele esperou exatamente vinte minutos antes de decolar depois dela.

 

Adria acordou para se encontrar enrolada em um macho quente e musculoso. Nem por um segundo ela se perguntou quem era, o cheiro de madeira e frescor de Riaz intimamente familiar. Sentindo que ele ainda não havia acordado, ela permaneceu imóvel, os pelos do peito dele contra a mão dela uma tentação requintada, a espessura de sua coxa entre as dela, pressionada contra a parte dela que estava ficando molhada com uma lenta, inexorável excitação embora ela tentasse lutar contra a resposta.

Ela não o chamou para cama para exigir sexo, mas não havia chances de que ele não sentisse a resposta do corpo dela. Sua ereção roçou contra ela quase no mesmo instante em que o pensamento cruzou sua mente, e então ele estava rolando-a sobre suas costas, ainda com olhos sonolentos, seu cabelo bagunçado e insuportavelmente sexy.

— Riaz, — ela disse, enfiando uma mão nas mechas negras azeviche para mantê-lo no lugar quando ele foi descer até os seios dela.

Exceto que não havia realmente um modo de parar um macho changeling dominante que a superava por uns bons quarenta quilos de fazer o que queria na cama, não a menos que ela quisesse dizer um inequívoco “não” . Porque aquilo ele ouviria. A coisa era, ela não queria dizer não. Ela só queria se assegurar de que ele estivesse completamente consciente.

— Oh Deus! — Suas costas se arquearam quando ele tomou um de seus mamilos com a boca e sugou. Forte.

Ele afagou seu seio negligenciado com a mão livre, um pouco rude, e tão perfeitamente que a fez sentir dor. Querendo se esfregar contra a espessura que conseguia sentir quente e rígida contra sua coxa, através dos jeans que nenhum dos dois havia tirado, forçou-se a concentrar e puxou o cabelo dele forte o suficiente para doer.

Rosnando contra a pele dela, ele a deixou sentir seus dentes. —Droga, — ela exigiu, — você está acordado?

Ele mordeu o mamilo dela... Muito, muito cuidadosamente. Ela ainda estava tentando respirar quando ele ergueu sua cabeça e sonolentos olhos dourados a encararam. O lobo estava no comando, ela pensou, e sua selvageria chamava a dela própria. Girando sob ele, ela silvou quando ele cerrou sua mão no quadril dela, suas garras pinicando-lhe a pele apenas o suficiente para dizer que ele estava no comando.

Acordado. Muito acordado.

— Tire suas garras da minha pele. — Foi o rosnado de uma loba que conhecia sua própria força.

— Eu acho que você gosta das minhas garras. — Um sorriso selvagem, mas retirou as pontas afiadas.

A resposta dele balançou sua loba, homens da dominância dele não eram tão facilmente comandados.

— Eu também acho — ele disse em um sussurro baixo que fez os pelos de seu corpo eriçarem-se em aviso, — Que você vai gostar ainda mais disso. — Deslizando sua mão sobre o umbigo dela—a pele tão extraordinariamente sensível que seus dedos dos pés se curvaram— a enfiou sob o cós de seus jeans e dentro de sua calcinha em um único movimento imprevisível.

Olhar para baixo e ver seu antebraço musculoso, pelos espalhados no marrom bronzeado de sua pele, desaparecendo em seus jeans, a desfizeram... Segurou-a em concha com uma intimidade resoluta dentro dos apertados confins de sua roupa. Peito oscilando, ergueu-se contra ele em um vão esforço de encontrar alívio.

— Tire seus jeans. — Sua voz áspera no ouvido dela, o arranhar de sua mandíbula não barbeada uma tentação erótica.

Os dedos dela roçaram no braço dele quando ela obedeceu à ordem que prometia dar a ela o que ela queria. Removendo sua mão para arrancar os jeans no segundo em que ela desfez seu zíper, ele chutou as pernas dela separadas para se estabelecer entre elas, seu membro coberto pelos jeans empurrando contra a renda branca e cetim azul de sua calcinha em exigência evidente — Me diz, — ele disse, os pelos em seu peito esfregando contra seus mamilos já sensíveis, ameaçando roubar o pouco senso de razão restante nela, — algo que você sempre quis fazer na cama mas nunca se atreveu.

— Por quê? — ela perguntou, sua pele esticada sobre um corpo que não conseguia conter.

— Porque eu quero brincar. — Não foi até que as palavras saíram que Riaz percebeu o que disse. Brincar com uma parceira de cama... Para um lobo solitário, isso estava além da amizade, além da necessidade, um passo na direção de um tipo totalmente diferente de relacionamento.

Não, ele se contradisse um segundo após o pensamento passar por sua cabeça. Nenhum dos dois queria um relacionamento, Adria menos ainda. Eles estavam nisso para dar alívio um ao outro. E não havia nada de errado em brincar com um amigo, mesmo que seu lobo raramente brincasse com qualquer um. — Não? — disse, quando ela permaneceu em silêncio.

Seus olhos um pálido, assustador âmbar, a loba olhando para ele, disse: — Se você prometer que vai ser recíproco.

Curiosidade lupina tomou a frente. Ele assentiu.

Ela foi falar e parou, vermelho vivo pintando suas bochechas. Sua súbita, inesperada timidez somente aprofundando a curiosidade dele, até que vislumbrou a escuridão sombreando os olhos dela sem aviso. E sabia que ela não estava completamente com ele mais, o passado se misturando ao presente.

Agarrando a mandíbula dela, ele rosnou, — Eu e você. Ninguém mais entra nesta cama. Entendeu? — Era tanto um voto quanto uma exigência.

— Sim. — Âmbar colidindo com ele. — Para nós dois.

— Sim. — Ele selou seu pacto com um quente beijo, roçando a parte inferior do seio dela com seu dedão enquanto isso.

Adria se afastou do beijo com um ofegar. — Ouvi que algumas mulheres podem chegar ao orgasmo somente por ter seus seios acariciados, — ela disse, sua voz rouca sem fôlego. — Sempre me perguntei se eu poderia. — Suas bochechas estavam pegando fogo quando ela terminou.

— De alguma forma eu sabia que você não era tímida. — Mexia-lhe saber que ela confiava nele o bastante para abaixar a guarda. — Algo mais que você queira dividir sobre essa fantasia?

Adria balançou a cabeça, sentindo-se nua de uma forma que não tinha nada a ver com expor sua pele. Permitindo mais de seu corpo pressionar o dela, Riaz tomou a boca dela em outro beijo. Um beijo molhado, atrevido, exigente, que a fez afundar suas unhas no ombro dele enquanto esfregava seu corpo contra a rígida intrusão de seu membro.

— Hmm, — ele disse, erguendo o corpo da necessidade dolorida do dela, — Essa experiência não vai funcionar se você puder fazer isso. — Deitou-se ao seu lado, mas quando ela virou para encará-lo, ele disse, — Em suas costas.

Tudo dentro dela queria empurrá-lo sobre as costas dele, montá-lo num êxtase erótico.

— Desistindo tão cedo?

Olhos cerrados para o desafio feito em voz baixa, ela se virou sobre suas costas. Quando ele pegou seus braços e lhe disse para segurar nas barras da cabeceira, ela agarrou o ferro frio. A posição deixou seus seios totalmente expostos, exceto pela sua trança, que havia caído sobre o ombro.

Pegando aquela trança, Riaz a desfez com movimentos lentos, escovando seu cabelo para o lado de seu peito. As longas mechas cobriram seu seio, exceto o pico ereto de seu mamilo. — Olhe isso, — ele murmurou em uma profunda voz rouca de sensualidade terrena que falava com a dela, — Tão bonito e rosa.

Sua garganta secou. Havia algo sobre ver seu corpo através dos olhos dele que mudava tudo. Cada respiração que ela tomava erguia seus seios, como se fosse um convite, seus mamilos implorando pela boca dele, desavergonhados e cheios.

— Hmm. — Riaz capturou um mamilo sensível entre seu dedão e indicador, a leveza de seu toque uma provocação requintada.

No instante em que ela arqueou sua espinha em uma tentativa de intensificar a caricia, ele balançou a cabeça, seus dedos assumindo um toque de pena. Entendendo a ordem não dita, ela se forçou a deitar novamente.

As pontas levemente ásperas dos dedos dele apertaram fortemente seu mamilo. — Boa menina.

Ela rosnou baixo em sua garganta. — Não força.

Ele riu, os olhos brilhando. Então abaixou a cabeça e passou a língua sobre o mamilo que esteve provocando. Isso enviou uma corrente elétrica sobre seu corpo, mas a sensação desapareceu quase antes de senti-la, o ar frio na umidade do mamilo apertado. Seios subindo e descendo em respirações desajeitadas, ela cerrou os dedos em torno do metal que esquentou sob seu toque, e abriu os olhos que não percebeu ter fechado para ver Riaz empurrando seu cabelo de lado para revelar o seio nu.

Um beijo de ar em seguida, seus lábios tortuosamente próximos, sua mão deslizando sobre suas costelas. — Você gosta disso? — Esfregou seu polegar sobre a parte inferior da curva rígida.

Ela tremeu, suas garras pinicando o interior de sua pele. —Mais.

O antebraço de sua mão livre apoiado perto da cabeça dela, Riaz iniciou uma languida sedução em forma de beijo, sua língua lambendo a dela, seu polegar continuando a mover-se lenta e enlouquecedoramente sobre a agonizante e sensível curva inferior de seu seio. — Mmm. — O baixo murmúrio masculino fez seu útero se contrair quando ele quebrou o beijo para sugar seu lábio superior.

Sua pele cintilante com a sensação, ela segurou o dourado do olhar dele, engolindo uma respiração quando moveu seus dedos para o mamilo dela novamente, esfregando e puxando com muito mais força.

Isso arrancou um grunhido dela, seus olhos se fechando.

Uma única respiração quente foi o aviso que ela teve antes de ele tomar posse do seio negligenciado em sua boca, mordendo de leve, até que ele capturou seu mamilo. Um flash de sua língua e ela se arqueou, empurrando suas mãos no cabelo dele. — Esquece o experimento, — ela rosnou, e girou, empurrando-o de costas.

Ele a deixou fazer isso, sabia. Porque enquanto ela era uma forte dominante, ele era um tenente, muito mais forte e com reflexos muito mais rápidos. Não importava na cama, não com amantes que se importavam com o prazer um do outro. E eles se importavam. Sua loba se sentia feliz, brincalhona pela primeira vez em anos. Era uma sensação vertiginosa, champanhe em suas veias.

Alcançado as mãos dele, ela prendeu seus pulsos sobre sua cabeça, os ossos dele sólidos e poderosos sobre seu agarre. — É hora de você se comportar.

Um olhar entreaberto, fendas de ouro brilhante. — Qual é o meu incentivo?

Ela desceu sobre o corpo dele até que o cetim de sua calcinha, sua carne mais delicada molhada com desejo através da fina barreira, se esfregou sobre o aço quente da ereção dele. — Que tal isso?

 

Ele a havia visto com raiva, com o coração partido, a havia visto satisfeita, mas essa era a primeira vez que Riaz via Adria com aquela travessura sensual em seus olhos. Seu lobo respondeu, atacando-a com intenções brincalhonas. Se erguendo mesmo enquanto ela começava a moldar e acariciar seu peito, a jogou na cama novamente, acabando apoiado em suas mãos e joelhos sobre ela. — Muito bom, mas nunca fui de desistir perante a um desafio. — Curvando sua cabeça até os seios dela, ele usou seus dentes, mordendo e arranhando.

Ela afundou suas garras nos ombros dele. — Arde.

Erguendo sua cabeça, ele disse, — Devo parar?

— Não disse isso.

— Que bom, gosto do seu gosto. — Ele voltou para o que estava fazendo, chupando seus mamilos até que eles ficassem como pequenas amoras maduras antes de lamber a curva inferior de seus seios e dar mais uma mordida. As pernas dela se ergueram para se enrolar nos quadris dele, uma doce, apertada prisão. Cedendo, ele se encaixou pesadamente contra ela, desfrutando da força dela entrelaçada com o exuberante almíscar de sua feminilidade, os seios dela enchendo suas mãos.

Os dedos dela passaram no cabelo dele novamente, cerraram-se.

Soltando seu seio, ele esfregou sua mandíbula não barbeada contra a curva macia. Ela proferiu um forte som de prazer e tentou deslizar seu calor delicado contra a dolorosa rigidez de sua ereção, mas atento aos truques dela, ele a prendeu contra a cama com seu peso superior. Ela deixou sua frustração clara nas garras que ele sentiu morderem sua pele.

Liberando suas próprias garras, ele apertou o quadril dela em aviso.

Um rosnado.

Beijando seu caminho para o centro do peito dela, ele sugou uma marca em sua garganta. Isso a fez gemer, o rosnado se transformando em um rouco som de prazer. Ele apertou um seio, afundou sua cabeça novamente para esfregar sua mandíbula sobre o outro, a pele cremosa marcada por suas atenções.

Um sobressalto a sacudiu. — Riaz.

Ouvindo a fratura em sua voz, ele mordeu um pouco mais forte em um mamilo enquanto rolava o outro entre seus dedos. Ela se desfez com um súbito, chocado grito, suas coxas se fechando contra os quadris dele, uma mão cerrada em seu cabelo, as unhas da outra afundando em seu ombro. Um leve cheiro de sangue perfumou o ar e seu lobo mostrou os dentes, não em raiva, mas em satisfação primitiva.

Quebrando seu agarre, ele puxou a calcinha dela, se livrou de suas próprias roupas e deslizou nela em um único, profundo impulso. Ela o recebeu com um beijo selvagem, seu corpo continuando a ondular com pós-choques do prazer que apertava seu membro latejante, a pressão o puxando em direção à borda.

Ele partiu o beijo, sugou uma respiração instável. Dois longos, fortes impulsos e ele sentiu sua espinha travar. Cerrando os dentes, ele a inclinou para que sua pélvis pressionasse contra o clitóris dela, e então ele empurrou novamente.

Pequenos músculos espasmando novamente em torno de seu membro, um punho fundido.

Tudo ficou preto.

 

Embora Vasic tenha se teleportado diretamente ao escritório de Anthony Kyriakus, o rosto patriarca do Conselheiro não traía nenhum sinal de surpresa. Inclinando-se em sua cadeira, as mechas prateadas de seu cabelo brilhando na luz do sol que se derramava através da janela atrás dele, encontrou os olhos de Vasic. — Já faz um tempo.

— Sim. — Seus objetivos se alinharam aos de Anthony em uma ocasião, mas a lealdade de Vasic sempre seria aos Arrows. — O Conselho está fraturado.

— Ainda não é de conhecimento comum. — Anthony disse, abaixando a caneta laser que esteve usando para fazer anotações em um datapad.

— Não, mas rumores estão começando a se espalhar. — Ele estudou a tela de comunicações na parede à direita, atualmente mostrando os logos de várias companhias, algumas bem conhecidas, outras pequenas potências. — Clientes satisfeitos? — Anthony controlava a maior rede de videntes no mundo. Corporações pagavam milhões para conseguir previsões de um P-Psy NightStar antes de tomar decisões sobre tudo, desde investimentos a desenvolvimentos de produtos.

— Muito. — Anthony não se levantou. — Os Arrows precisam de uma predição?

Vasic sempre se perguntara se Anthony tinha um toque de habilidade P, embora ele estivesse listado nos registros oficiais como um telepata de alto Gradiente, com uma habilidade menor de ilusão. Uma habilidade que ele aparentemente passara à filha, Faith. — Os PurePsy deixaram de lamber suas feridas, tudo indica que têm uma operação em progresso.

— Entendo. — Levantando-se de sua cadeira, Anthony virou para caminhar até a janela.

Vasic juntou-se a ele, seus olhos no parque abaixo, a grama verde esmeralda, as árvores frondosas. — É uma vista incomum. — Corporações Psy preferiam estar nos centros das cidades, em arranha-céus feitos de vidro e aço. O composto interno NightStar em contraste, tinha prédios baixos, com tons terrosos desenhados para se encaixar ao ambiente.

— Eventos levaram os NightStar a questionarem a necessidade de isolamento para manter a saúde mental mesmo dos mais poderosos P-Psy, mas os videntes têm exigências únicas em comparação às outras designações. — Anthony gesticulou na direção de um homem aparentemente vigoroso que caminhava para fora de um prédio para tomar o assento debaixo dos galhos de um carvalho. — Obviamente teve uma previsão forte, e isso o drenou. Eu acho que meus Ps funcionam melhor, - logo, aumentam nossos lucros - se têm não somente meros cenários apaziguantes, mas também liberdade e espaço para se recuperarem.

Vasic entendia aquela necessidade melhor do que Anthony jamais saberia. Ele frequentemente se teleportava para desertos cobertos pela luz da lua porque era somente ali, rodeado por um nada sem fim que era estranhamente vivo, que ele podia verdadeiramente pensar. Alguns diriam que tal necessidade era uma resposta emocional e deveria ser tirada de seus videntes através do condicionamento.

— Não, — Anthony disse sem desviar o olhar do P-Psy se recuperando. — Ninguém ousaria, meu povo é muito necessário para o sucesso contínuo dos negócios comandados pelos mais poderosos. Algo que me asseguro de que ninguém se esqueça.

E isso era o porquê de Vasic ter concordado em trabalhar com Anthony, o homem era implacável, mas tinha o mesmo tipo de lealdade aos seus videntes que Vasic tinha aos Arrows. — Seus P-Psy sabem algo sobre a situação com os PurePsy?

— Um número previu o que eles chamam de mudança cataclísmica na Net, — Anthony respondeu. — As visões são tão violentas que os médicos tiveram que intervir em três casos para trazer os videntes em segurança de volta. Se eles não estivessem sob supervisão — uma pausa — Nós os teríamos perdido.

Vasic se perguntou se a pausa tinha sido uma referência inconsciente à filha de Anthony. Faith NightStar era a P-Psy mais poderosa dentro ou fora da Net, tal era a razão para o esquadrão vir mantendo um olho nela desde sua deserção para os DarkRiver. Seu Silêncio fora quebrado, havia uma grande probabilidade de ela ter sido um dos videntes dos quais Anthony falou. Faith não estava mais sob supervisão M-Psy, mas estava conectada ao seu companheiro changeling jaguar por um tipo de elo psíquico que Vasic não entendia. Talvez aquele elo a protegesse de alguma forma. — Nenhum detalhe?

Anthony balançou a cabeça. — Mas é pior do que tudo o que já viram antes da batalha com os changelings. A escala de mortes será catastrófica.

 

Se sentindo mais como ele mesmo do que havia se sentido em meses, Riaz estava do lado de fora procurando por alguma árvore derrubada por ventanias da qual pudesse retirar um pedaço de madeira, quando algo refletiu a luz do sol em seus olhos. Ele se curvou e pegou um pedaço de metal torcido. Vendo as árvores chamuscadas e quebradas ao seu redor, ele percebeu que estava no local onde uma das equipes furtivas de Henry Scott havia caído devido ao confronto final. Não era de se surpreender que o pequeno pedaço tivesse sido deixado para trás, os escombros tendo sido espalhados por uma área tão grande.

Colocando-o em um dos bolsos de sua calça cargo, ele decidiu fazer uma busca para ver se havia algum outro fragmento. Isso não levou muito tempo sob o céu brilhante da Sierra. Os técnicos e novatos haviam feito um trabalho excelente, exceto pelo dano ao ambiente, a área estava imaculada. Aquele dano também se curaria. Os SnowDancer se assegurariam disso.

Satisfeito, deu uma olhada rápida em seu relógio, viu que eram quatro horas. Desde que ele já havia encontrado um pequeno pedaço do tipo de madeira que precisava, estava prestes a voltar para a toca para completar sua analise do plano internacional de negócios dos SnowDancer, quando sentiu um leve sinal de um cheiro que não deveria estar ali.

Metálico. Frio. Um Psy afundado no Silêncio.

Poderia não ser nada, um resíduo ligado a outro pedaço de escombro, embora a probabilidade fosse baixa levando em conta o tempo que havia se passado. E todos os ataques irritantes até hoje haviam sido nas bordas do território da toca. Por que qualquer Psy iria querer antagonizar os SnowDancer agora, depois da derrota decisiva do clã contra o exército de Henry?

Rastreando o cheiro em pés silenciosos, ele chegou ao topo de uma pequena elevação. Aqui, o cheiro restante era grosso como sopa para seus sentidos changeling. Ele franziu. A posição não dava ao observador nenhum ponto de vista estratégico em termos de descobrir as fraquezas dos SnowDancer. Tudo o que ele ou ela veria era um pequeno, naturalmente aberto campo rodeado por arbustos raquíticos que se fundiam em pinheiros frondosos.

Uma curvilínea jovem fêmea com cachos negros, Maria, correu através da clareira naquele segundo, acompanhada por um lobo cinza escuro que viu Riaz um segundo antes de ela ver. A soldada acenou, enquanto o lobo uivou um cumprimento antes dos dois desaparecerem entre os pinheiros.

Hmm...

Os Psy eram conhecidos por usar as terras SnowDancer para reuniões, o que não era tão estúpido quanto soava, não dada a extensão do território, e quão simples era teleportar à seções isoladas. Esse ponto poderia se qualificar, exceto que como Maria e Lake acabaram de provar, qualquer um nessa colina estaria destacado contra o céu, abertamente visível a qualquer um que passasse por ali.

Profundamente certo de que estava deixando algo escapar, ele tirou suas botas e se despiu. Seu senso de cheiro era apurado mesmo como humano, mas nada escapava do faro do lobo. Circulando a área depois de mudar de forma, ele checou duas vezes para assegurar de que pegou tudo, e então mudou de volta para forma humana e rapidamente se vestiu.

Correndo para a toca, ele entrou no escritório de Hawke sem esperar por um convite. — Nós precisamos conversar.

O alfa se virou da tela de comunicações onde estava falando com um homem que usava um terno impecável de três peças, seu cabelo grisalho penteado severamente para trás para revelar um pico de viúva. — Nós teremos de continuar isso outra hora, Sr. Woo.

Crispando seus lábios em desaprovação, o homem do outro lado no entanto, não fez nenhuma objeção quando Hawke desligou. — O que é? — Seus olhos vislumbraram o ombro de Riaz.

Riaz já tinha se virado para cumprimentar Riley, fechando a porta atrás do tenente veterano. — Você trouxe o que eu pedi? — Ele ligou para Riley durante sua corrida até a toca.

Assentindo, o outro homem colocou um cristal de dados no painel de comunicações. — Essas são as rotas de vigília para as quais eu designei soldados e novatos nas ultimas duas semanas. — Um período maior do que o justificado pela intensidade do cheiro, mas Riaz não quis arriscar perder um padrão por um espaço de tempo muito pequeno.

— Eu codifiquei os soldados por cores, — Riley continuou, —para que vocês possam ver quem estava onde assim que olharem.

Riaz marcou a elevação onde sentira o cheiro, inseriu um asterisco para marcar o ponto no mapa, então checou quais soldados passaram ali perto. Fúria inflamou seu sangue. — A posição do cheiro na terra, — ele disse depois de informar sua descoberta para Hawke e Riley, — diz que o intruso estava deitado. — Era a única forma de que ele ou ela poderia ter escapado à detecção.

— Atirador isolado? — Riley perguntou em um tom austero.

— Ou vigilância. — Gelo na voz de Hawke, o lobo vigiando por trás de olhos claros fixados no mapa de designações. — Nenhuma razão para os Psy assistirem Maria, Tai, Riordan ou Ebony.

Isso deixava um nome.

— Nós sabíamos que isso aconteceria, — Riaz disse, rastreando a profunda cor aquosa que Riley atribuíra à Sienna, sua raiva se transformando em uma determinação fria em manter segura a jovem mulher que caminhara para a batalha disposta a morrer pelos SnowDancer. — Todos na Net agora sabem o que ela pode fazer.

— Eu esperava que eles a deixassem em paz por pelo menos alguns meses, porra. — As palavras foram arrancadas por entre os dentes cerrados do alfa.

— Como eles sabiam que ela passaria por aquele campo? — Riaz pôs a mão em seus cabelos. — Riley misturou as designações. — SnowDancer já teve um traidor em seu meio, ter outro os mataria; mas a pergunta tinha de ser feita. — Vocês acham que ele tem um informante?

— Não. — A resposta de Hawke tinha a mais pura confiança. —Aposto que eles estiveram usando satélites espiões para escanear nosso território, a cobertura torna isso difícil na maioria dos casos, mas há áreas abertas.

Riaz deu um lento aceno. — Tudo o que eles precisariam era de um único vislumbre de Sienna, seu cabelo com aquele vermelho distintivo e então eles só teriam de ser pacientes. — Ele considerou as outras implicações de Hawke estar certo. — Nenhuma pessoa normal teria acesso a esse tipo de satélite de dados. Ou a um teleportador. — Voar ou dirigir qualquer veículo não autorizado no território sem ser detectado era quase impossível.

— PurePsy, — Riley disse, seus olhos no mapa, — perdeu a maioria de seus Tcs na luta. Se Judd estiver certo sobre os rumores na Net, o grupo provavelmente tem outras prioridades nesse ponto.

— Ming é o suspeito mais óbvio. — Riaz estava ciente de que o homem era o mentor militar do conselho. — Mas nós não temos informação o bastante para eliminar ninguém. Kaleb Krychek por exemplo. — O telecinético letal poderia ver Sienna como uma ameaça ao seu próprio poder.

— Shoshanna está suspeitosamente quieta, mas ela era a força por trás de Henry pelo maior tempo durante a fraude de seu casamento, — Hawke disse, e Riaz sabia que o cérebro do alfa estava funcionando com eficiência fria a despeito de sua raiva. — E Tatiana sempre foi muito boa em esconder seu envolvimento com um grande número de operações.

— Eu vou falar com Judd. — Desligando o mapa, Riley retirou o cristal de dados. — Ele pode ser capaz de nos dar informações mais concretas.

— Eu vou falar com meus contatos na Europa, — Riaz adicionou, sabendo que Ming usava uma propriedade na região de Champagne na França como sua casa. — ver o que consigo descobrir. — Vislumbrando o olhar nos olhos do alfa, ele disse, —Ninguém vai chegar perto dela, Hawke. Nós não vamos deixar.

Hawke sabia que seu pessoal sangraria para proteger sua companheira, mas ele não queria que Sienna precisasse dessa proteção, não queria que ela fosse forçada a morar em outra jaula. —Nós nos asseguraremos de que ela esteja segura em nossas terras, — ele disse, sua raiva uma lâmina de aço. — Esta precisa ser a casa dela, onde ela possa andar sem sentir medo.

O celular de Riaz tocou um alarme perfurante no silêncio. —Droga, — o tenente disse, olhando para a tela depois de desligar. — Tenho uma conferência com Kenji e o pessoal de BlackSea.

— Vá, — Hawke disse, pensando através da fúria que o arranhava por dentro. — É sua prioridade. — BlackSea trouxe muito à tona para ser descartado. — Eu preciso falar com Sienna, de qualquer forma. — Quaisquer respostas defensivas que os SnowDancer formulassem precisariam da participação dela, ela conhecia os pontos fortes e fracos de seus inimigos melhor que ninguém.

Riley atirou a ele um olhar preocupado depois que Riaz partiu. — Pode ser melhor se eu fizer.

Hawke não entendeu mal, Riley não era somente seu tenente veterano, ele também era amigo de Hawke, sabia exatamente como isso poderia fazê-lo se portar. — Não, eu cuido disso.

 

Tendo rastreado Sienna no berçário onde ela estava fazendo uma ronda voluntária, Hawke observou sua companheira conversar com uma criança de dois anos. Graças à Deus que ela estava aqui dentro hoje, ele não sabia se seria capaz de lidar com sua resposta se ela estivesse na floresta.

Sabia que ela sentiu a presença dele, mas ela não encerrou o que parecia ser uma discussão séria. Acenando solenemente a algo que o menininho disse, ela o ajudou a terminar seu prédio de blocos de madeira antes de ficar de pé e ir até Tarah.

Uma pequena conversa depois, ela foi até ele. — Eu pedi para sair mais cedo, — ela disse, e ele sabia que havia falhado em sua tentativa de esconder suas emoções cruas que faziam seu lobo andar para lá e pra cá com garras de fora.

— Caminha comigo.

Sem fazer perguntas, ela o acompanhou pelos corredores e para a uma saída da toca que dava numa seção menos utilizada da Zona Branca. Onde ele se inclinou contra a parede coberta de musgo da toca e a puxou para seus braços, e só a segurou, por um longo, longo tempo.

Sienna era intensidade, fogo e energia, mas hoje, ela ficou quieta, o deixando pegar o que precisava, sua companheira o conhecia melhor do que ele mesmo.

Quando finalmente se afastou para dizer a ela o que Riaz descobrira, o olhar cardeal dela cheio de estrelas se tornou uma meia noite interminável. — Era previsível, — ela disse, sem nenhum choque, somente uma raiva tão profunda quanto a sua própria. —Ninguém gosta de uma X rebelde.

Um rosnado ressonou em seu peito. — Eu não vou deixar ninguém te caçar. — Era um voto feito do coração do lobo. — Brenna e Mariska já estão trabalhando em sintonizar melhor os sistemas de vigilância para que nós tenhamos uma chance melhor de detectar essas incursões. — O fato de que era quase impossível impedir que Tcs com habilidades de se teleportar para qualquer lugar que quisessem não queria dizer nada, ninguém nos SnowDancer estava planejando deixar que fosse fácil para os perseguidores de Sienna.

Seu companheiro colocou a mão direita sobre seu peito. — Eu vou falar com elas, — ela disse, — Avisá-las sobre alguns elementos que poderiam incluir em seus cálculos. Judd provavelmente poderá prover mais informação.

Às vezes ele esquecia como Sienna havia sido criada, a inumanidade de sua infância. Então ela o mostrava a profundidade de sua força mantendo uma calma de aço através da feiura que jogaria muitos outros na escuridão, e o lembrava de que sua jovem companheira vivera uma vida inteira em dezenove anos. — Bom, — ele disse, seu orgulho por ela um fogo cegante. — Você também precisa conversar com Riley sobre suas rondas.

Um alerta controlado. — Por quê?

— Para que ele possa ter certeza de que suas rondas nunca formem um padrão de tempo ou local. Não queremos que aqueles que estão te vigiando sejam capazes de adivinhar onde você estará.

Seus ombros perderam a fina tensão que havia estado lá com suas palavras anteriores. — Sim, essa é uma precaução excelente.

Embalando o rosto dela com uma mão, ele disse, — Eu nunca irei cortar suas asas, bebê. — Independente do quanto ele odiava o fato de que ela estava em perigo, porque ao fazer isso ele a colocaria de volta naquela jaula, e sua companheira já havia passado tempo o suficiente presa na escuridão.

— Eu sei que você quer me proteger, — ela sussurrou, longos, finos dedos se espalhando sobre seu coração. — Sinto essa necessidade em cada pulsar de seu sangue.

— Não posso prometer que não irei checar você a cada momento durante suas rondas, — Hawke admitiu, porque teria sido uma mentira de proporções monumentais dizer outra coisa, — mas cada parte de mim entende quem você é. — Não simplesmente sua companheira, mas uma perigosa, linda mulher com seus próprios sonhos e desejos.

Seria mais fácil se ela fosse outra pessoa, uma mulher que seguisse tudo o que ele ditasse e que nunca se colocasse em perigo. Mas ele não queria mais fácil, e não queria ninguém mais. Ele queria Sienna. Somente Sienna.

Ela inclinou seu rosto contra a mão dele. — Certo. — Uma simples aceitação que dizia que ela sabia, entendia... Seguida por um sorriso inesperado de pura travessura. — Os boatos dizem que, Riley tem esbarrado ‘acidentalmente’ em Mercy durante suas rondas desde que eles descobriram sobre a gravidez.

O lobo de Hawke foi jogado da raiva às risadas. — Eu espero que Mercy viva de acordo com seu nome.

Sienna riu, nenhum medo nela, somente uma força que fazia seu lobo querer atirar sua cabeça para trás e cantar de alegria por ela ser dele.

 

Riaz se conectou com Kenji na sala de conferências geralmente usada para as reuniões dos tenentes. O cabelo do outro homem estava agora num rosa choque com listras azuis vívidas. —Você está parecendo um algodão doce japonês.

— Como diabos um algodão doce japonês parece? — Kenji rebateu antes de pegar um organizador. — Alguma ideia nova sobre o esboço do contrato desde a última ligação?

Sabendo que tinham pouco tempo, Riaz decidiu informar Kenji sobre a situação com Sienna mais tarde, e exibiu o contrato numa tela dividida que seria visível para Kenji também. — Sim, uma. — Ele rapidamente a apresentou. — Você vê algum problema?

Kenji balançou a cabeça. — Não, esse é um bom aperfeiçoamento. — Ele destacou uma seção no acordo que eles discutiram antes. — Eu ainda não estou certo sobre isso.

— Eles não irão consentir em uma rasura completa, e não é um ponto essencial para nós, — Riaz disse, — mas vamos mencionar isso e ver que concessões nós conseguimos arrancar deles.

— Tudo bem para mim.

Uma das outras telas da sala apresentou uma contagem regressiva de cinco segundos quando Kenji terminou de falar. Fechando o contrato, Riaz estava pronto quando a terceira tela se encheu com o rosto elegante de Emani Berg. Nascido em um pequeno vilarejo perto de um remoto fiorde da Noruega, Emani tinha a pele de um profundo tom sedoso de marrom, e olhos de meia noite. Seu cabelo preto estava cacheado na última vez que Riaz a viu, em Veneza, mas agora caía liso e lustroso ao redor de seu rosto... Com uma única mecha de rosa choque.

Divertido, Riaz disse, — Bela chamada.

Emani assentiu suntuosamente. — Sr. Tanaka mantém as coisas interessantes.

Kenji parecia descontente. — Como você adivinhou?

— Eu tenho alguém em sua região. — Nem sequer um sinal de sorriso, embora Riaz a conhecesse bem o bastante para saber que ela estava provocando Kenji. A mulher era uma ótima jogadora de pôquer.

— Depenou algum inocente ultimamente? — Riaz perguntou, se lembrando dos ingressos de futebol que ela ganhou dele e de Pierce, com a mesma expressão serena em seu rosto durante todo o jogo.

— Estou planejando fazer exatamente isso nos próximos minutos, — foi a resposta suave.

Rindo, ele ergueu o contrato impresso. — Isso, — ele disse, —está bom quanto à parte básica, mas nós gostaríamos de fazer algumas mudanças quanto aos detalhes.

A surpresa dela foi escondida com tal facilidade impecável que Riaz não teria percebido se não estivesse esperando tal reação. —Estou ouvindo, — ela disse naquela voz calma, controlada.

Riaz assentiu para Kenji, que começou a repassar a lista de emendas exigidas pelos SnowDancer. Emani franziu para alguma de suas estipulações, mas não vocalizou nenhum desacordo imediatamente. Uma vez que Kenji finalizou, ela tirou o olhar da cópia na qual esteve fazendo notas. — Vou precisar repassar isso com a Conclave, mas como nós certamente faremos algumas mudanças também, eu não prevejo nenhum problema.

— Bom. — Riaz cruzou os braços. — BlackSea percebe que nós já temos uma aliança com os DarkRiver e WindHaven?

— É claro. Nós entendemos que se concordarmos com uma aliança completa, BlackSea deverá ir ao resgate deles se necessário.

— E vice-versa, — Kenji apontou.

Emani assentiu graciosamente. — Como os DarkRiver e WindHaven se tornariam efetivamente nossos aliados se os SnowDancer e BlackSea se entendessem, nossa Conclave gostaria de ter uma teleconferência tanto com Lucas Hunter quanto com Garret dos falcões de WindHaven antes de tomarmos o passo final para concretizar a aliança.

— Eu não vejo problema com nisso, — Riaz disse. — Nós também temos uma exigência: um encontro cara a cara entre Hawke e Miane. — Ele não mencionou o fato de que a exigência era inegociável, querendo calcular quanto BlackSea estava disposto a jogar com os SnowDancer.

— Entendo. — Uma pequena pausa.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Isso é um não?

— Ao contrário. Nós esperávamos essa exigência.

— Nós vamos trabalhar com você para organizar o encontro. — Não havia ponto em esperar, não quando toda a aliança poderia depender da reação que os dois alfas teriam um com o outro.

— Muito bem. — A imagem de Emani chacoalhou um pouco, então se endireitou.

— Mar bravo?

— Nada incomum. — Digitando os controles de conferência em sua mesa, ela olhou para ele e Kenji de volta. — Enquanto não somos aliados ainda, BlackSea gostaria de passar uma informação no espírito de cooperação.

Sem esperar uma resposta verbal, Emani dividiu sua tela. —Dois dias atrás, três dos nossos membros encontraram um navio abandonado na costa da Sardinia, bem fora dos nossos territórios, porém. — A parte vazia da tela se encheu com a imagem de um iate que tinha que ter mais de cem pés de extensão. Pintado de um preto brilhante, tinha a forma de uma bala, as janelas escurecidas. — De acordo com as nossas regras internas, eles mudaram para a forma humana para dar assistência.

Riaz não tinha problemas em acreditar na explicação dela. Mais de uma marinheiro perdido ou tripulação tinha sido salva por membros do BlackSea, os changelings marítimos podiam ser notoriamente secretos, mas eles não hesitavam quando se tratava de uma questão de vida ou morte.

— Todas as sete pessoas a bordo eram Psy, — ela continuou. —Eles estavam mortos a tempo o bastante para esfriar, mas ainda não estavam cheirando mal. — Sete cenas de crime apareceram na tela, substituindo a imagem do iate. — Como vocês podem ver, eles parecem ter sido executados.

— Sugere uma equipe com treinamento militar, — Kenji murmurou antes de pausar e pedir para Emani reorganizar as imagens de certa forma. — Não, não uma equipe. Olhe para o que aposto ter sido a primeira morte, pescoço quebrado. O resto são todos golpes limpos com uma arma laser. Silencioso e eficiente.

— Concordamos. Parece que o indivíduo responsável pelas execuções tomou a arma da primeira vítima e a usou para eliminar os outros.

E, Riaz pensou, se o iate havia sido encontrado em alto mar, isso apontava o envolvimento de outra equipe, ninguém além de um changeling aquático poderia ter nadado até a costa de tão longe. Nesse caso, BlackSea teria afundado a embarcação logo após, ninguém sairia livre.

— Nosso pessoal, — Emani disse, interrompendo seus pensamentos, — Teve tempo o bastante antes de o time Psy rebocar o iate para que pudéssemos coletar uma significante quantia de informação. Uma das coisas que nós descobrimos foi esse pedaço de tecido.

Riaz encarou a imagem do quadrado rasgado, uma metade mostrando um emblema de algum tipo. — Eu já vi isso antes.

— Sim, muito provável. — Emani digitou um comando e a imagem se reformou, inteira.

Kenji silvou. — Filho da puta.

 

Adria tinha acabado de terminar seu café com Tarah e estava voltando ao seu escritório um pouco abaixo no corredor de Drew quando Shawnelle se apressou até ela. Com uma personalidade exuberante e selvagens cachos cor de bronze para completar, a atlética garota de quinze anos era incrivelmente doce, uma gentil maternal submissa.

— Você não esqueceu? — a garota perguntou.

— Não, — Adria reassegurou a ela. — Eu estava indo pegar minha câmera, você quer fotos, certo?

Um sorriso brilhante contra a casca pálida de uma árvore. —Você acha que alguém vai querer ver?

— Não tente se fazer de tímida comigo, — Adria provocou, puxando um dos cachos de Shawnie. — Walker me falou dos seus truques.

Shawnie riu, protestando sua inocência por todo o caminho até o escritório de Adria, onde Adria pegou uma câmera capaz de tirar fotos holográficas tão bem quanto fotos bi dimensionais em alta qualidade. — Eu sou toda sua.

Shawnelle a guiou rapidamente pelo corredor, além de todas as seções ocupadas, para uma pequena sala bem no fim. Empurrando a porta, acenou para Adria entrar com gestos animados.

Entrando, Adria assobiou. — Você tem um grupo de elfos trabalhando para você?

— Os outros ajudaram, — Shawnie disse. — Especialmente Becca e Ivy.

Adria balançou a cabeça. A sala tinha somente quatro paredes de pedra e uma porta quando ela ajudou Shawnie a fazer o pedido por ela. A adolescente estava apavorada de ter que falar com Riley sozinha, mas tinha vontade. Tudo que Adria teve que fazer foi apoiá-la moralmente.

Agora, as quatro paredes estavam pintadas de diferentes cores, desde verde limão à laranja vivo à um azul piscina e branco puro, os restantes de tinta sem dúvidas eram sobras de quando as maternais reformaram as áreas comunais da toca. Vibrante e viva, a sala combinava com Shawnie. O carpete desgastado no chão era claramente um descarte da casa de alguém, mas tinha sido lavado e aspirado, sua aparência usada e elegante providenciando conforto a sala.

Contra uma parede de pedra estava uma longa mesa onde estavam espalhadas amostras de tecido, ao lado de uma máquina de costurar compacta, enquanto havia um pequeno cubículo de cortina no fundo. Indo até o cubículo, Shawnie sussurrou para a pessoa no outro lado, Ivy, pelo cheiro, então olhou para Adria. —Pronta?

Adria ergueu a câmera. — Pronta.

Respirando fundo, Shawnie puxou a cortina com um floreio teatral para revelar sua amiga vestida em uma jaqueta belamente trabalhada que se apertava na cintura antes de se espalhar gentilmente acima do quadril delgado de Ivy. Era detalhada com contas no ombro, como se uma chuva colorida tivesse caído no veludo da jaqueta, e sobre um simples jeans azul, saltos pretos de tiras para completar o look.

Estonteada pela beleza do trabalho de Shawnie, Adria não disse nada enquanto Ivy fazia um número de poses para mostrar completamente a jaqueta. — Queria, você é uma estrela. — Ela sorriu para Ivy. — E você está no caminho de uma topmodel.

As duas coraram, olhando uma para a outra com sorrisos imensos.

Adria tirou uma foto, capturando o momento. — Esta é para vocês duas. — Então tirou mais algumas fotos de Ivy mostrando a criação de Shawnie para o jornal semanal dos SnowDancer.

— Você realmente gostou? — Shawnie perguntou depois, seu coração ancioso.

— Eu usaria se fosse do meu tamanho, — Adria disse honestamente, ciente de nutrir o orgulho e autoconfiança dos juvenis, mesmo não listado em nenhum lugar em seu contrato oficial como treinadora de Shawnie, afetaria todos os outros aspectos da vida da garota, incluindo os movimentos agressivos e defensivos que Adria estava ensinando-lhe.

Quando Shawnie foi ajudar Ivy a tirar a jaqueta, a loba de Adria deitou a cabeça em suas patas, sua barriga morna com contentamento; assim como a parte humana dela, sua loba sabia que esse trabalho era tão importante para a saúde do clã quanto qualquer vitória em batalha, qualquer medida de segurança. O espírito brilhante de Shawnie, o prazer inocente de Ivy pela conquista de sua amiga, essas eram coisas que todos os dominantes lutavam pra proteger.

 

Kenji encontrou o olhar de Riaz quando Emani se desconectou. — Como você quer lidar com isso?

— Vou falar com Bo, — Riaz disse, referindo-se ao chefe de segurança e líder efetivo da Aliança Humana, um homem que ele fez questão de conhecer antes e depois do encontro da Aliança Humana com os SnowDancer e os DarkRiver.

— Hawke?

— Ainda não. — O alfa tinha o bastante em seu prato com a ameaça à Sienna, e ele sempre confiou em seus tenentes para trabalhar independentemente, parte da razão pela qual SnowDancer tinha tantos fortes homens e mulheres nesta posição. — Deixe-me ver o que consigo descobrir primeiro.

— Eu vou enviar alguns informantes também. — Kenji disse, sua expressão séria de uma forma que contrariava o abandono descuidado de sua cor de cabelo.

— Ligue-me se ouvir algo. — Desconectando, Riaz decidiu pegar café perto da sala de encontro antes de ligar para Bowen. Ele estava franzindo para as implicações da Aliança Humana estar envolvida no assassinato de um time inteiro de Psy quando entrou na sala de encontros, para parar completamente, o cheiro de amoras esmagadas no gelo o envolvendo, tão delicado quanto o mais frágil floco de neve.

 

Adria desviou o olhar da bancada, seu familiar sorriso reservado. — Ei. — Ela ergueu a cafeteira, servindo-lhe uma xícara quando ele acenou. — Leite?

— Não, preto. — Era estranho estar tendo essa conversa ordinária com ela, o subtom levemente desajeitado, quando ele estava enterrado até as bolas nela apenas algumas horas antes.

— Aqui está. — Entregando o café, ela começou a colocar açúcar no seu próprio.

Suas sobrancelhas se arquearam depois da quarta colher, a estranheza se dissipando em uma afeição divertida que fez seu lobo erguer as orelhas. — Certeza que não quer um pouco de café com o seu açúcar? — ele perguntou quando ela começou a mexer.

— Todos têm seus vícios. — Um comentário suspeitosamente brando, seguido por, — Talvez você prefira uma barra de chocolate amargo.

Ele sorriu, perguntando-se como ela descobrira sua preferência. — Achei que você fosse o tipo de garota que gosta de café-preto-forte. — O intrigava que ele estivesse tão errado, o fez ciente de todas as coisas que não sabia sobre a mulher que dividia seu corpo com ele. Especialmente quando ela despejou o que parecia ser a metade de um pote de creme, então tomou um gole, tremendo de prazer.

Seu corpo ficou tenso. O impulso de tocá-la, de clamar privilégios de pele fora do quarto era quase demais, mas ele cerrou os dentes e se controlou. Eles estipularam limites em seu relacionamento, e ele precisava respeitar isso, não somente pelo seu bem, mas também pelo dela.

Adria se inclinou contra o balcão. — Você parece tenso.

Seus olhos coloridos, eles viam demais. Foi uma das primeiras coisas que ele pensou em seu encontro inicial, e independente de quão desconfortável isso o deixava como homem, a percepção dela era uma habilidade que ele poderia utilizar como tenente. — Você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu com a Aliança Humana um ano atrás?

A Aliança tentou plantar bombas em São Francisco, tentou sequestrar Ashaya Aleine. Bo e seu pessoal, rebeldes do grupo naquela época, cometeram o erro idiota de sequestrar um jovem macho do território DarkRiver em um esforço tanto para protegê-lo quanto para ganhar a atenção do clã. — Sobre Bowen e seu grupo?

— Sim, — Adria tomou mais um gole de café — Todos os soldados veteranos foram informados. Eu sei que nós temos trabalhado com os felinos para construir um relacionamento funcional com eles.

— Tem sido complicado, — Riaz reconheceu, — mas nós sabíamos que teríamos que encontrar um jeito de fazer as coisas funcionarem. — Os negócios da Aliança tiveram um impacto imediato após os eventos em São Francisco, mas como Hawke previu, eles voltaram ainda mais fortes.

Changelings tem clãs, o alfa disse. A Aliança é o equivalente humano, não somente representa os humanos como um grupo como é poderoso o bastante para que as pessoas prestem atenção.

Nenhum corpo a ser negligenciado, independente do fato de os humanos serem frequentemente classificados como a parte mais fraca do triunvirato que era o mundo.

— Eles estão quebrando seu lado da barganha, — Adria perguntou, — tentando algo em nosso território?

— Não, mas estão envolvidos em uma série de assassinatos no Mediterrâneo. — Ele se afastou da parede, decisão feita. — Vou ligar para o Bowen. Quer participar?

Olhos azuis-violeta com listras douradas se arregalaram nos cantos. — Sim, eu adoraria.

Cafés bebidos e xícaras lavadas, eles foram em direção à sala de conferências. — A Aliança tem pessoas com treinamento para executar algo tão limpo, e nós temos que assumir, rápido? — ela perguntou quando ele terminou de resumir a situação.

— Bo poderia ter feito isso. Ele trabalhou em operações secretas no braço militar da Aliança antes de decidir que não gostava da direção que aquele braço estava seguindo sob a liderança anterior. — Possuindo uma violência tão fria e autobenéfica quanto à do Conselho. — Se foi a Aliança, eu estou mais interessado no por que.

Adria arqueou uma sobrancelha quando eles entraram na sala de conferência.

— Bo, — ele explicou, — Tem reconstruído muito cuidadosamente a reputação da Aliança.

— E esse tipo de violência, se vazasse, — Adria murmurou, —traria muitas lembranças feias para a população.

Ele fechou a porta atrás dela. — Sente-se fora do alcance da câmera, — disse, permitindo o enigmático cheiro dela infiltrar-se em suas veias. — Quero que você aja como um segundo par de olhos e ouvidos, Bo é muito bom em só mostrar o que quer.

Escolhendo um assento que lhe oferecia um excelente ponto de vista, Adria observou Riaz fazer a ligação. De costas para ela, ele não podia vê-la, então ela se permitiu deliciar em um exame visual mais demorado, seus olhos atraídos ao ombro esquerdo dele e às curvas e linhas da tatuagem escondida sob a camiseta. Ela amava o modo como a tinta preta ficava contra a pele dele, assim como ela amava a beleza musculosa de sua forma, o modo como ele se movia dentro dela.

Não era difícil de entender por que ele a intrigava em um nível mais profundo.

Mas embora ele fosse um homem inegavelmente sexy e bonito, sua loba via beleza através de lentes diferentes. Era atraída pela força dele, seu conforto consigo mesmo e com ela. Riaz não se incomodaria se ela perdesse o controle durante a intimidade e tirasse um pouquinho de sangue, não se importaria se ela quisesse tomar as rédeas às vezes.

Quando eles trabalharam juntos durante a batalha com os PurePsy, deu-lhe ordens com frio e calmo controle mesmo no meio do caos. O soldado nela o respeitava por isso, enquanto a mulher achava isso outro aspecto atraente de seu caráter.

Contudo, ela também entendia que ele seria enlouquecedor em um relacionamento. Não era somente um changeling predador, um tenente, ele era um lobo solitário. Era lenda o quão incrivelmente possessivo e insanamente protetor um lobo solitário se tornava com a mulher que reivindicava como dele, o que era o oposto de uma mulher com quem concordou em construir uma amizade baseada em tempestade de necessidade compartilhada... E dor.

— Dois segundos, — ele disse, aqueles olhos maravilhosos encontrando os dela. — Pronta?

Seu estômago contraiu- se com consciência visceral. — Sim.

— Quem diabos está aí? — uma rouca voz masculina perguntou, aceitando a transmissão de áudio somente após o telefone ter tocado por uns quinze segundos.

— Bo. É o Riaz.

Uma pausa, o som de lençóis se mexendo. — Jesus, deixa eu me levantar, — foi a resposta, embora tivesse que estar no meio da manhã em Veneza.

— Longa noite? — Riaz perguntou.

— Infelizmente não foi do tipo proibido para menores. — Mais alguns segundos se passaram antes do rosto de Bo aparecer na tela. Ele raspava o cabelo, então não estava com ele bagunçado, mas seu rosto estava amassado de um lado, o suave marrom caramelo de sua pele com um bronzeado... Como se ele tivesse estado fora, perto do mar. — Foi rápida. — Olhos obscuros que observavam Riaz com uma intensidade perfurante.

Riaz não piscou. — Você sabe sobre o quê isso se trata.

— Posso adivinhar. — Bo esfregou uma mão sobre a cabeça, as linhas de seu rosto masculino elegantes, um homem que seria bonito se não fosse pela dureza impiedosa em seus olhos, as cordas de músculo em seus ombros nus. — Não posso falar à repeito assim.

— É seguro.

Mas Bowen balançou a cabeça, um ângulo teimoso em sua mandíbula. — Tem que ser cara a cara, e não estou planejando viajar no momento.

Inclinando-se contra a parede, Riaz cruzou os braços. — Você está soando paranóico.

— Você soaria, também, se tivesse acabado de ter a semana que eu tive. Só vai levar o que — Bo franziu — Três horas num jatinho expresso para chegar aqui?

— Não é a melhor hora para um tenente SnowDancer deixar o clã. — Riaz segurou o olhar do macho da Aliança. — Qual é a prioridade de sua informação?

— Alta. — Nenhuma hesitação.

— Eu te retorno.

— Confie em mim, Riaz. Você quer ouvir o que eu tenho a dizer. — Bowen se desconectou com aquelas palavras pressagiosas.

Esperando até que a tela estivesse vazia, Adria disse, — Por que você não confirmou a viagem? — Ele estava certo a respeito do momento, mas era manejável, não afetaria a força de suas defesas.

— Se ele está certo sobre a conexão estar sendo monitorada, — Riaz disse, mechas preto-azuladas de cabelo caindo em sua testa, — não havia por que dar a dica aos nossos ouvintes de que estaríamos lá.

Seu pulso acelerou. — Nós?

— Eu vou precisar de apoio. — Riaz viu os olhos de Adria se arregalarem. — Em situações como esta, eu geralmente pediria para o meu pessoal que já está na área, mas eles já têm outro assunto com o qual lidar, e você fala italiano fluente. — Ele sabia que era a decisão certa, que sua habilidade linguística e status como um soldado experiente a faziam a escolha perfeita. Ele também sabia que estava cruzando uma linha perigosa.

Mas Adria, quando ficou de pé, não mostrou nenhuma indicação de ter lido alguma sugestão a mais além do que ele havia dito. — Como você sabe disso? Que eu falo italiano?

— É meu trabalho, — ele disse, — Mantenho registros de todos no clã que tenham alguma habilidade que possa ser utilizada internacionalmente. — O curriculum de Adria passou por sua mesa quando ela se transferiu. — O que eu não entendo é por que você escolheu aprender italiano quando espanhol teria sido mais útil na região.

Ela hesitou, suas próximas palavras dizendo que a mente dela estava em outro lugar. — Eu não quero romper as coisas tão cedo com meus alunos.

— Só seria por um dia ou dois. — Ele sabia o quanto os juvenis se apoiavam em seus supervisores.

Um lento aceno. — Isso é manejável. Eu estava planejando pedir a Riley para me colocar na ronda do perímetro exterior, de qualquer forma. — Captando seu olhar questionador, ela disse, — Eles podem ser submissos, mas a vigilância constante não é boa para o desenvolvimento de nenhum lobo.

— Nós partiremos cedo amanhã, — ele disse, se perguntando como uma soldado veterana durona entendia os SnowDancer submissos tão bem. — Isso te dá tempo suficiente para organizar cobertura para suas tarefas?

— Sem problemas. — Então, para surpresa dele, ela fez uma dancinha engraçada em volta da cadeira, cantando, — Eu vou para Veneza, eu vou para Veneza.

Isso arrancou risadas espantadas dele, seu lobo se erguendo com fascinação à inesperada e charmosa rachadura na fachada sóbria de Adria. — Se você for bem boazinha, — ele disse quando ela parou de dançar para sorrir-lhe, — Eu te levo para um passeio de gôndola pelos canais. — Deleite, brilhante e perigoso, cascateou através das veias dele.

 

Tendo completado sua pesquisa, Vasquez localizou os três primeiros endereços rápido o suficiente, mas levou horas hackeando os firewalls da Net para desenterrar a segunda metade, e quatro dias para completar a lista. Psiquicamente exausto, ele considerou enviar um e-mail para aquele a quem ele servia com a atualização, mas eles concordaram com silêncio eletrônico e psíquico. Nada em seu plano iria vazar e destruir tudo o que eles meticulosamente haviam posicionado.

Ciente de que o cansaço poderia resultar em erros, Vasquez dormiu por tempo o bastante para se tornar funcional, então fez seu caminho até o composto escondido em um setor rural da Irlanda. —Eu tenho as coordenadas e imagens necessárias do primeiro grupo de alvos.

— Quando poderemos nos mover? — A voz era áspera, quebrada, emitida de uma garganta que sofreu queimaduras de segundo grau, Henry Scott gritou enquanto suas pernas eram transformadas em cinzas, um de seus braços cortado abaixo do cotovelo por um frio chicote de fogo.

Os médicos estiveram trabalhando em reparar os danos, mas eram severos. O fogo X de Sienna Lauren cauterizou as feridas, então eles precisaram cortar veia por veia para permitir que o time de regeneração trabalhasse. Porém, o pior dano foi feito quando um operante PurePsy jogou seu corpo sobre o de Henry em um esforço para protegê-lo. A arma do operativo se derreteu na carne do ex Conselheiro.

Estava se provando quase impossível retirar o plástico de seu corpo, uma parte dele parecendo ter se integrado aos seus órgãos. Como resultado, Henry ainda se mantinha ligado a vários dispositivos, seu corpo inerte em uma cama de hospital dentro de uma grande câmara de vidro estéril, sua voz arruinada soando através de um auto falante. Porém, o fogo não fez nada à sua mente, e eles eram Psy. A mente era tudo o que importava.

— Nós estamos em posição de atacar? — Henry elaborou, seus olhos injetados de sangue olhando para Vasquez através do vidro.

— Recomendo esperar até termos dez grupos completos. — Isso os permitiria atacar de uma vez, não deixando tempo nem espaço para um contra ataque. Porém, tudo dependia de Vasquez conseguir reunir pessoas confiáveis o bastante com as habilidades certas.

Altas, ruidosas respirações. — A Net está ficando mais fraca a cada dia que passa, cheia daqueles cujo Silêncio é defeituoso. Nós precisamos lembrá-los de quem nós somos como raça.

— Sim, mas nossas chances de sucesso crescem exponencialmente se agirmos sem quaisquer avisos. Não dando nenhum tempo para o inimigo se preparar antes da avalanche.

Henry tomou um longo tempo para responder, sua respiração tão áspera que Vasquez sabia que esse encontro logo acabaria. —Cinco grupos, — O ex Conselheiro disse finalmente. — Cinco grupos completos e um discrepante.

— Senhor?

— Uma pequena localização, uma demonstração do que nós podemos fazer além dos ataques primários.

— Um teste para averiguar a validade do nosso método refinado? — Seu plano anterior provou ter uma falha fatal, então ele poderia concordar com a precaução, exceto que isso arriscava sua chance.

Mas Henry disse, — Se aqueles na Net querem sentir, então talvez nós devêssemos ensiná-los o sabor do terror.

Vasquez nunca trairia o único homem que parecia estar tratando a desintegração do Silêncio não só como uma inevitabilidade, mas como uma doença que precisava ser parada, mas ele também não era um ciborgue que seguia todos os comandos de Henry. — Nós arriscamos perder o elemento surpresa, — ele disse—poderia resultar nos alvos primários sendo isolados.

— Não seria melhor, — Henry disse, — Se nós não tivéssemos que agir contra esse alvos? Talvez uma demonstração seja tudo que precisamos.

Vasquez considerou a questão, percebeu que seu líder estava certo. Essa estratégia não era uma com a qual eles concordassem facilmente, era contra os princípios do PurePsy. Porém, era um fato atestado que aqueles que se adaptavam às diversas circunstâncias eram aqueles que sobreviviam. — Se nós vamos seguir o horário, devo voltar para as minhas tarefas.

— Vá. — Uma pausa. — Vasquez?

— Senhor?

— Você tem sido leal. Eu não esquecerei.

— Pureza irá nos salvar, senhor. — Os ancestrais de Vasquez antes dele haviam sido assassinos e sociopatas. Silêncio era sua salvação. — Eu vou organizar as coisas.

Todos, não importa sua localização ou raça, tinham um vizinho Psy, colega ou conhecido de negócios. Quando os PurePsy se erguessem dessa vez, não seriam somente os Psy que aprenderiam o significado do medo.

 

RIAZ saiu do barco em que ele e Adria embarcaram para chegar a Veneza depois que o jato pousou nas proximidades do Aeroporto Marco Polo, ambos carregando pequenas mochilas. Esta época do ano era temperada, o ar em torno deles escuro com o pôr do sol que se aproximava, a luz suave polindo a pedra antiga dos edifícios que permaneciam acima da linha da água.

Como resultado da mudança de nível das águas do mar Adriático, e um terremoto submarino que danificara as bases de madeira em que estava Veneza, grande parte da joia que era a cidade estava agora debaixo d'água, embora algumas de suas icônicas e graciosas pontes tenham sobrevivido, algumas permaneciam abandonadas no meio de largos canais. No entanto, em vez de afundar no esquecimento, Veneza permaneceu uma cidade vibrante e viva, como resultado de sua complexa rede de biosfera abaixo da linha d'água.

Os núcleos foram desenvolvidos por uma equipe de changelings estabelecidos na água e colocados em prática durante a última década do século XX. Um grande número de pessoas do BlackSea ainda chamava Veneza de casa, mas o lobo de Riaz achava a antiga cidade claustrofóbica, principalmente abaixo da superfície, onde a biosfera agia como, em sua mente, prisões cautelares.

— Eu sempre fui fascinada por Veneza. — Adria fez um círculo completo na estrada “flutuante” projetada para subir com a água, seus olhos absorvendo tudo com franca admiração. — É cheia de tanta história que você quase pode ouvir a cidade sussurrá-la para você.

Embora suas memórias de Veneza fossem dolorosas, era impossível não ser afetado pela profundidade contagiante da alegria dela. — Você deveria ver durante o Carnevale. — Foi um pouco antes do último Carnevale que viu Lisette pela primeira vez, e foi incapaz de impedir-se de procurá-la durante as celebrações.

De pé nas sombras criadas pela alcova de um edifício coberto de musgo, o rosto escondido por uma meia máscara, ele assistiu sua figura ágil girar nos braços de seu marido, ambos cheios da energia selvagem que vinha do belo caos do festival. Ela estava vestida de vermelho e preto, uma dançarina espanhola de flamenco transplantada em solo Veneziano, com seu cabelo dourado como o sol tingido de preto vivido.

— Está na minha lista. — A voz ligeiramente rouca de Adria invadiu seus pensamentos, muito diferente da voz soprano com sotaque francês de Lisette. — Juntamente com o Mardi Gras em Nova Orleans, a Trilha Inca, o Taj Ma... — Seus olhos se conectam com os dela, ela se interrompeu no meio do caminho, uma ligeira onda de cor em suas bochechas. — Desculpe, estou falando sem parar.

— Não, me conte. — Atingiu-lhe mais uma vez o quanto ele não sabia sobre ela, e se viu fascinado.

— Que tal você me contar, — ela disse em vez disso, inclinando a cabeça um pouco para o lado, enquanto eles desviavam para deixar as malas no hotel. — Esteve fora por um longo tempo. Conte-me sobre alguns dos lugares que você visitou, as coisas que viu.

Riaz passou a mão pelos cabelos, pensando. Apesar de ter se estabelecido na Europa, ele viajou pela Ásia e partes da África, teve aventuras que o emocionaram e o mudaram de diferentes maneiras. — Uma vez fui pego nas chuvas de monções na Índia, — ele disse, escolhendo uma memória que ele sabia que iria fazê-la rir, porque quando Adria ria... As margens dentro dele se suavizavam, doía menos. — A minha parte humana amou, mas meu lobo não ficou impressionado. — Ele estremeceu, como se estivesse jogando água para fora de seu pelo.

A risada de Adria demonstrava a diversão de seu próprio lobo, os finos traços de ouro em seus olhos brilhando à profunda luz alaranjada do sol poente. — Eu posso imaginar. Você conseguiu chegar ao Nepal, viu Kathmandu?

Ele balançou a cabeça. — Eu estava no caminho para lá quando fui chamado à Roma para cuidar de negócios do clã. — Ele conheceu Lisette não muito depois, e os meses que se seguiram o estraçalharam sem piedade, até que teve de ir para casa, para a toca profunda nas montanhas de Sierra Nevada, onde ele poderia lamber suas feridas cercado pelo calor de seu clã.

Ele ainda precisava daquele calor, daquela conexão, mas não sentia falta disso hoje, embora estivesse longe da terra de seu coração. Não era difícil entender por que, com Adria dando longas e felizes passadas ao lado dele, seu prazer em Veneza tão aberto e tão franco como o coração de sua loba.

Sem vínculos. Sem promessas.

No entanto, apesar do voto que fizeram, laços estavam se formando. Laços de amizade, de necessidade, de respeito. Mesmo quando essa relação terminasse, essas ligações permaneceriam. O lobo de Riaz estava pensativo sobre isso, mas não rejeitava a ideia de cara, Adria não era apenas clã agora, não era apenas uma amante com quem ele compartilhava privilégios de pele. Ela se tornara alguém que importava para ambos os lados de sua natureza, que fazia parte de seu próprio ‘clã’ pessoal de pessoas.

Dele para proteger.

 

BOWEN estava esperando por eles do lado de fora de um despretensioso edifício do século XVII meio submerso pelas águas que inundavam permanentemente a lagoa de Veneza, a ponte que já o ligara para outro edifício maior há muito tempo, tornando-o uma ilha no final da estrada, o brilho da água além. O líder da Aliança Humana estendeu uma mão. — Riaz, é bom vê-lo novamente.

— Bo. — Sacudindo a mão estendida, disse ele, — Esta é Adria.

O sorriso de Bowen mudou, para o tipo que um homem dá a uma mulher que chamou sua atenção. — Bem vinda a Venezia, Adria.

— Obrigada.

O afastamento frio de sua resposta fez Riaz perceber quanto tempo se passara desde que ele ouvira aquele tom vindo dela. O orgulho presunçoso de seu lobo fez seus lábios se puxarem para cima nos cantos.

— Entrem. — Bowen os conduziu através das portas do aparentemente pequeno edifício que abrigava os escritórios da Aliança, pelo corredor acarpetado a frente, e para um elevador.

Riaz avistou seis câmeras de segurança, cinco guardas óbvios, e pelo menos três escondidos que ele discerniu apenas por causa de seu olfato. Estava à cima de um sistema de alarme a laser e a recepcionista lindamente vestida tinha olhos de assassina. Ele sequer pensou antes de se posicionar de modo que Adria ficasse protegida pelo intenso volume de seu corpo. Viu seu olhar penetrante, captou o pequeno aceno de cabeça. Ao invés de lutar contra sua postura sutilmente protetora, ela focou a própria atenção sobre a cobertura dos pontos cegos dele.

— Esperando companhia? — ele perguntou a Bo, uma vez que estavam no elevador.

O outro homem encostou-se à parede, cruzando os braços sobre uma camiseta preta que dizia: — Só por que você é paranoico não quer dizer que eles não queiram pegá-lo. — A citação era divertida, a maneira como ele mostrava os dentes menos como um sorriso e mais como uma exibição selvagem semelhante à de um lobo. — Algo assim. Vamos conversar lá dentro, — ele disse enquanto as portas do elevador se abriam. — Eu pedi comida.

Entrar na parte da biosfera protegida de Veneza fez os ombros de Adria caírem em decepção, embora seus olhos nunca perdessem sua atenta vigilância. — Não é diferente da cidade acima do solo, — ela sussurrou em um murmúrio subvocal do qual ele teve de se inclinar para ouvir, a respiração dela como uma carícia em sua mandíbula.

— Seja paciente. — Ele sabia o que estava por vir, seu lobo tremendo de antecipação enquanto esperava para ver sua resposta.

— Aqui. — Bo abriu a porta.

Adria congelou na porta, os olhos arregalados.

— Mais parecido com o que você esperava? — ele murmurou no ouvido dela, empurrando-a para frente com uma carícia na parte inferior das costas.

Claramente cativada pela sala de reunião, que, à primeira vista, parecia suspensa sobre nada além de água, ela caminhou lentamente para dentro. O edifício Alliance ficava na orla da cidade, o que significava que era realmente possível ver a água batendo na biosfera de um número de salas no piso inferior. Localizada a um canto, com três paredes de vidro, esta era a mais magnífica, criava a ilusão de que a clara água azul-esverdeada tocava o vidro, quando a curva real da biosfera estava a muitos metros de distância.

Como se montando um show, um cardume de elegantes peixes prateados disparava pela água, suas escamas capturando a luz do sol lá de cima.

Sem dizer uma palavra, Adria atravessou o verde profundo do tapete para olhar pelas janelas e para a água. De perto, Riaz sabia que o ponto de vista era cortado no lado direito pelos restos de edifícios vizinhos que afundaram e se deterioraram antes da restauração, bem como pelas estacas de madeira em que estes edifícios uma vez estiveram, mas perfeitamente clara sobre o lado que era de frente para a lagoa.

— Ela é bonita pra caramba. — Bowen disse, o que soava como uma pergunta.

A resposta de Riaz foi instintiva. — Ela tem dono. — Nenhuma parte dele se importava que o acordo que fizera com Adria não lhe dava direito de posse.

— Bastardo sortudo, seja quem for. — Um olhar oblíquo.

Adria se virou naquele momento, a luz da água brincando sobre os ângulos perfeitos de seu rosto, a luz âmbar lançada de seus olhos uma indicação silenciosa do fascínio de sua loba por esta cidade estranha. — Eu ficaria insana vivendo aqui, mas para uma visita, sim, que visão!

— Você deveria ver durante uma tempestade. — Bo caminhou até a mesa de conferência já arrumada com sanduíches, água, frutas e biscoitos, apressando-os a tomar seus lugares. — Mesmos algumas pessoas que vivem e trabalham aqui não aguentam. A lembrança de que não há muito entre Veneza e o esquecimento corta até os ossos.

— Você gosta. — A voz de Adria descongelara uma fração, sua exuberante boca macia com o mais fraco dos sorrisos.

O rosto de Bowen se enrugou em um sorriso profundo em resposta. — Sim, ela é uma mulher deslumbrante, minha Veneza.

O lobo de Riaz se irritou com a sugestão de flerte na voz do homem, mas ele conseguiu a manter-se polido enquanto cada um pegava um pouco de comida. — Então, — ele disse, uma vez que todos tiveram a oportunidade de dar algumas mordidas, — por que a paranoia intensa?

Girando em sua cadeira, um biscoito na mão, Bo usou um elegante controle remoto preto para ligar uma imagem na tela de comunicação atrás dele. Era de um homem de meia-idade, um pouco rechonchudo e de aparência completamente inofensiva. — Um de nossos especialistas sênior em comunicação. — Ele largou o cookie em seu prato, sua mandíbula era uma linha dura. — Nós descobrimos faz duas semanas que os Psys o invadiram e o programaram.

 

Adria afastou seu prato, apetite perdido. — Ele sobreviveu?— Lavagem cerebral era difícil em mentes Psy pelo que ela percebeu dos Laurens, mas era brutal em changelings, envolvendo a quebra de seus fortes escudos naturais. Com seres humanos poderia acabar de qualquer maneira, uma vez que seus escudos naturais eram tão fracos a ponto de quase não existirem, mas seus cérebros também não foram construído para aguentar esse tipo de pressão psíquica.

— Ele está suportando a vida, — O tom de Bo era sombrio. — Nós estamos tentando tudo o que podemos para lhe dar uma chance, mas...— Esfregando o queixo, ele respirou fundo, e quando falou em seguida, a desolação fora substituída pela raiva. — Ele foi, é, um homem bom, lutou muito para não ceder às compulsões. Os médicos dizem que ele deve ter hemorragias nasais constantes, pior até.

— Você acha que ele falhou, — disse Riaz, sua raiva uma coisa perigosa e calma que falava por si própria. — Ele comprometeu o seu sistema de comunicação interna?

— A coisa é que, — Bo disse, — Reuben não pode nos dizer o que fez ou não, quando descobrimos o que os bastardos lhe fizeram, ele entrou em coma. — Ele moveu sua cadeira para o lado, para que pudesse ver a tela de comunicação e a eles ao mesmo tempo. — Nós estamos no processo de arrancar e reinstalar cada peça de equipamento de comunicação em posição. Software e hardware. Até que esteja completo, estaremos em desligamento total com qualquer uma além das conversas mais banais.

— Celulares? — Riaz perguntou.

— Nós estamos substituindo tudo, foi Reuben quem nos entregou os antigos. — Ele balançou a cabeça. — Os novos devem chegar hoje para os técnicos desmontarem e checarem.

Adria concordou com as precauções, extremas como poderiam parecer. Só um tolo não consideraria a raça Psy uma ameaça. — Você tem alguma ideia de quem orquestrou o ataque contra Reuben? — Era fácil generalizar os Psy como o inimigo, mas a raça psíquica percorria a gama de inocente à mal, assim como changelings e seres humanos.

A expressão de Bo se tornou brutal, despida de qualquer vestígio remanescente do charme que exibira mais cedo. Um toque rápido no controle remoto e a imagem de Reuben foi substituída pela de uma mulher com maçãs do rosto que poderiam cortar vidro. Seu cabelo era um profundo mogno luxuriante, a pele com um ligeiro tom de oliva, seus olhos de um perspicaz verde-avelã.

— Tatiana Rika-Smythe. — Gelo em cada sílaba. — Ela não é tão chamativa quanto alguns dos outros Conselheiros, é mais parecida com uma cobra na grama.

— Você soa certo. — Adria estava na hierarquia superior do clã tempo suficiente para saber que os Conselheiros tinham uma maneira de trabalhar maquinações por trás de maquinações.

Bo descartou a foto de Tatiana por outra imagem, a do iate que começara tudo. Estava à deriva no oceano. — Perguntem o por quê de eu estar naquele iate no meio da porra do Mediterrâneo com sete guardas Psy.

As garras de Adria se expuseram, ameaçando marcar a madeira brilhante da mesa. — Eles planejavam controlá-lo também.— Foi necessário um esforço consciente para retrair suas garras, Riaz manteve o controle sobre as suas, mas seus olhos eram de um hipnótico e perigoso ouro.

Bo levou vários minutos para responder, lutando claramente contra a raiva que fizera linhas brancas aparecem ao redor de sua boca, esculpidas na tonalidade quente de sua pele. — Estamos começando a pensar que foi isso que aconteceu com o antigo presidente, — ele disse por fim. — Explicaria por que de repente ele começou a tomar aquelas decisões idiotas, na época, todos nós o odiávamos. Agora... Tenho pena do pobre bastardo. — Passando a mão sobre a curva suave de seu crânio, ele pegou uma garrafa de água, engolindo metade antes de falar novamente. — Um deles me atordoou quando eu estava voltando para casa por volta das nove da noite. Quando acordei, eu estava no iate.

Foi uma história plausível, especialmente porque envolvia um homem que, como todos os homens fortes, não achava que algo poderia tocá-lo, mas algo não soava verdadeiro. — Você não é o chefe oficial da Aliança, — ela disse, nunca tirando os olhos do rosto dele.

— A posição do presidente é agora amplamente administrativa. — Bo ignorou a pergunta implícita, sua expressão traindo nada. — Significando que Rika-Smythe tem boas fontes de informação.

— Você está me dizendo, — ela insistiu, consciente de Riaz ficando imóvel ao seu lado, — que você foi arrogante o suficiente para sair sozinho depois de escurecer quando já havia descoberto o que tinha sido feito a Reuben, e sabia que os Psy podiam estar lá fora para mexer com você?

O sorriso de Bo era lento e perigoso. — Esperta e sexy, meu tipo perfeito de mulher. — Ele terminou a água. — Nós estavamos trabalhando no pressuposto de que com Reuben fora da jogada, alguém com o nível de acesso dele aos nossos sistemas seria um alvo. Garantimos que todos com essa classificação estivessem protegidos exceto por mim.

— Brincando de isca? — Riaz bateu os dedos sobre a mesa. — Não havia maneira de você saber que seria capaz de lidar com os agentes que capturassem você.

— Eu não era uma isca estúpida, — Bo disse com um bufo ofendido. — Tinha um rastreador GPS implantado uma polegada abaixo da minha axila, onde praticamente ninguém pensa em verificar. Também tinha uma equipe no ar acima de mim todo o tempo.

O homem tinha coragem, Adria pensou. Porque com apoio aéreo ou não, ele estivera por conta própria no iate. — Você não estava preocupado com coação psíquica?

Uma pequena pausa antes de Riaz assobiar. — Filho da puta. — Seu tom era uma mistura de admiração e incredulidade. — Você conseguiu, você realmente descobriu como fazer aquele chip funcionar.

 

 

[1] Tipo um sistema que faz o carro pairar sobre o chão, parecendo aqueles carros do futuro, sabe?

[2] Expressão que significa que uma situação é desagradável, mas deve ser aceita.

[3] Hindsight 20-20 quer dizer um acontecimento que se tem após o fato ter ocorrido, é uma visão perfeita visto que o evento já aconteceu e, assim, se tem conhecimento dele.

[4] Provocação usada para indicar quando uma pessoa acha que a outra está mentindo, geralmente usada por crianças.

[5] A samosa ou samoosa é um bolo frito ou cozido com um recheio saboroso, como batatas temperado, cebolas, ervilhas, lentilhas, cordeiro moído, carne moída ou frango. Seu tamanho e consistência pode variar, mas geralmente, é nitidamente triangular. 

[6] Aquele que usa de demagogia. Que excita as paixões populares.

 

 

 

                                                    CONTINUA

 

 

Foi depois do primeiro encontro com a Aliança que o clã descobrira que o grupo estava fazendo experiências com um chip que, uma vez implantado, agia como um escudo contra a invasão Psy. Ou esta vinha sendo a versão oficial transmitida aos soldados da Aliança. Na verdade, os chips originais agiram como interruptores remotos para matar.

O sorriso de Bo era severamente satisfeito. — O inferno que sim.

Riaz estava impressionado, mas ele precisava da resposta à outra pergunta antes que pudesse perguntar a Bo por mais informações sobre o chip. — Ashaya Aleine sabe? — A cientista era uma das pessoas mais experientes no mundo quando se tratava de implantes neurais e tinha, quando a poeira assentou após o sequestro abortado, concordado em ajudar Bo e seu povo a corrigir o chip defeituoso. Se ela e, por extensão, DarkRiver, sabia do sucesso da Aliança e não compartilhou as informações, a merda ia bater no ventilador. Forte o suficiente para cobrir a todos.

 

 

 

 

— Não. — Bowen cortou o ar com sua mão, seu tom de voz não deixando espaço para dúvidas. — A ajuda dela era crítica, e nenhum de nós nunca será nada além de grato, mas ela não é da Aliança, não guardaria nossos segredos. — Uma resposta contundente. — O protótipo mais recente que mandamos para ela foi criado a partir de um dos projetos anteriores. Imaginamos compartilhar a verdade uma vez que estivéssemos prontos para os clãs saberem.

— O incidente do iate empurrou as coisas para antes do previsto, — supôs Riaz, seu lobo relaxado agora que sabia que não teria de informar seu alfa que um dos membros do clã que era seu aliado mais confiável violara a aliança entre eles. Ao lado dele, sentiu a tensão deixar Adria, também.

— Votamos em que Ashaya tenha uma participação de vinte e cinco por cento na patente, — Bo disse depois de acenar afirmativamente à declaração de Riaz. — Uma patente que vamos registrar quando o inferno congelar, portanto Aleine é dona de uma porcentagem em um projeto que nunca gerará qualquer lucro. A única coisa importante é colocar o chip em tantos humanos quanto possível. Estar protegido de violações mentais não deve ser um luxo.

Riaz não ficou surpreso com o sigilo, mas a confiança de Bo no sucesso do implante parecia prematura.

Adria ecoou seus pensamentos, a rebeldia delicada de seu aroma envolvendo-o quando ela se inclinou sobre a mesa. — Eu não vejo pessoas fazendo fila para serem implantadas.

— Muita confiança se estivessem, — Riaz acrescentou, restringindo a vontade de passar lentamente a mão pelo arco das costas dela, exibido tão lindamente por sua posição atual.

— Vocês estão pensando a partir de uma perspectiva changeling, — disse Bo, paixão infernal nos olhos dele. — Humanos... Vocês não tem ideia de como é andar por aí sabendo que um dos Psy poderia deslizar em sua mente a qualquer momento e levar coisas, ou plantar coisas. É estupro e é uma violação cometida várias vezes contra pessoas que não podem revidar. — Palavras duras e diretas. — Um humano faz uma descoberta tecnológica, e a próxima coisa que fica sabendo é que os Psy já tem...

 

                                    

 

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