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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UM RASTRO DE ESPERANÇA / Blake Pierce
UM RASTRO DE ESPERANÇA / Blake Pierce

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Quando a Detetive Keri Locke abriu os olhos, ela imediatamente soube que algo estava fora de lugar. Primeiramente, ela não sentia como se estivesse dormindo por muito tempo. Seu coração estava acelerado e ela sentia completamente pegajosa. Mais parecia como se ela houvesse desmaiado ao invés de dormido por um longo período.
Em segundo lugar, ela não estava na cama. Pelo contrário, ela estava deitada de costas no sofá da sala de estar do seu apartamento e o Detetive Ray Sands, parceiro dela e, recentemente, seu namorado, estava sobre ela com uma expressão preocupada no rosto.
Ela tentou falar, para perguntá-lo o que estava errado, mas sua boca estava seca e o som não saiu senão um rangido rouco. Ela não conseguia se lembrar de como chegara até ali ou o que havia acontecido antes de ela perder a consciência. Mas deve ter sido algo importante para reagir daquela maneira.
Ela viu nos olhos de Ray que ele não estava certo sobre o que dizer. Não era típico dele. Ele não era do tipo que é pego de surpresa. Um afro-americano policial de um metro e noventa e cinco e um ex-lutador profissional de boxe que perdera o olho esquerdo em uma luta, ele era direto em quase tudo o que fazia.
Keri tentou se empurrar para cima com os braços para ficar em uma posição mais elevada, mas Ray a impediu, repousando a mão gentilmente em seu ombro e balançando a cabeça.
"Dê um tempo a si mesma," ele disse. "Você ainda parece um pouco abalada."
"Por quanto tempo eu apaguei?" vacilou Keri.
"Nem um minuto," ele respondeu.
“Por que eu apaguei?" ela perguntou.
Os olhos de Ray se arregalaram. Ele abriu a boca para responder, mas parou, claramente perdido.
"O que foi?"
"Você não se lembra?" ele perguntou incrédulo.

 

 

 


 

 

 


Keri balançou a cabeça. Ela pensou ter sentido um zumbido nos ouvidos, mas então percebeu que era outra voz. Ela olhou para mesinha de centro e viu seu telefone sobre ela. Estava ligado e alguém estava falando.

"Quem está ao telefone?" ela perguntou.

"Ah, você o deixou cair quando entrou em colapso e eu o coloquei ali até que eu pudesse reanimá-la."

"Quem é?" Keri perguntou novamente, notando que ele havia evitado sua pergunta.

"É a Susan," ele disse relutantemente. "Susan Granger."

Susan Granger era uma prostituta de quinze anos de idade, a qual Keri havia resgatado de seu cafetão no ano passado e colocado em um lar comunitário para garotas. Desde então, as duas haviam ficado próximas, com Keri agindo como uma espécie de mentora para a danificada, porém vivaz garota.

"Por que Susan está lig-?"

E, então, a memória a atingiu como uma onda quebrando por todo seu corpo. Susan havia ligado para contar a Keri que sua própria filha, Evie, que fora raptada há seis anos, estava prestes a ser a participante central em uma cerimônia grotesca.

Susan havia descoberto que na próxima noite em uma casa em algum lugar de Hollywood Hills, Evie seria leiloada para quem fizesse a maior oferta, o qual teria permissão de ter com ela sexualmente antes de matá-la em um tipo de sacrifício ritualístico.

Foi por isso que eu desmaiei.

"Dê-me o telefone," ela ordenou a Ray.

"Eu não tenho certeza de que você já está pronta para isso," ele disse, obviamente sentindo que agora ela pedia se lembrar de tudo.

"Dê-me o maldito telefone, Ray."

Ele a entregou sem mais palavras.

"Susan, você ainda está aí?" ela disse.

"O que aconteceu?" exigiu Susan, sua voz no limite do pânico. "Em um minuto você estava aí e então nada. E pude ouvir alguma coisa acontecendo, mas você não respondeu."

"Eu desmaiei," admitiu Keri. "Precisei de um momento para me recompor."

"Oh," disse Susan baixinho. "Sinto muito por ter feito isso a você."

"A culpa não é sua, Susan. Apenas fui pega de surpresa. É muito para se processar de uma vez só, especialmente quando eu não estou me sentindo cem por cento."

"Como você está indo?" perguntou Susan, a preocupação em sua voz era quase palpável.

Ela estava se referindo às lesões de Keri, adquiridas em uma luta de vida ou morte com um sequestrador de crianças há apenas dois dias. Ela havia sido liberada do hospital somente na manhã de ontem.

Os médicos determinaram que os hematomas em seu rosto, onde o sequestrador havia lhe dado dois socos, juntamente com um peito bem machucado e um joelho inchado, não eram suficientes para mantê-la por mais um dia.

O sequestrador, um fanático desequilibrado chamado Jason Petrossian, levou a pior. Ela ainda estava no hospital com escolta armada. A garota que ele raptara, Jessica Rainey de doze anos de idade, estava se recuperando em casa com a família.

"Eu vou ficar bem," disse Keri tranquilizando-a. "Apenas algumas batidas e contusões. Fico feliz que você tenha ligado, Susan. Não importa o quão ruins sejam as notícias, saber é melhor do que não saber. Agora eu posso tentar fazer algo a respeito."

"O que você pode fazer, Detetive Locke?" disse Susan, sua voz ficando mais alta enquanto as palavras tropeçavam para fora. "Como eu disse, sei que Evie é o Prêmio de Sangue no Vista. Mas eu não sei onde ele vai acontecer."

"Acalme-se, Susan," disse Keri firmemente enquanto se colocava sentada. Sua cabeça se sentia um pouco tonta e ela não protestou quando Ray colocou uma mão de suporte em suas costas enquanto ele se sentava ao lado dela no sofá. "Vamos descobrir como encontrá-la. Mas, primeiro, eu preciso que você me diga tudo que você sabe sobre toda essa coisa do Vista. Não se preocupe em repetir. Eu quero cada detalhe que eu puder lembrar."

"Você tem certeza?" perguntou Susan hesitante.

"Não se preocupe. Estou bem agora. Eu só precisava de um momento para absorver tudo isso. Mas eu sou uma detetive da Unidade de Pessoas Desaparecidas. Isso é o que eu faço. Apenas porque eu estou procurando por minha própria filha, não muda o trabalho. Então, me conte tudo."

Ela apertou o botão do viva-voz para que Ray também pudesse ouvir.

"OK," disse Susan. "Como eu lhe disse antes, há um clube de ricos frequentadores de prostíbulos que promovem festas de sexo repentinas no Hollywood Hills. Eles as chamam de Hill House Parties. A casa é preenchida de garotas, quase todas prostitutas menores de idade como eu era. Eles normalmente as fazem a cada dois ou três meses e, na maior parte do tempo, eles dão apenas um aviso com poucas horas de antecedência, normalmente por mensagem de texto. Estou fazendo sentido?"

"Absolutamente," disse Keri. "Eu me lembro de você me contar sobre isso. Então, me lembre do evento Vista."

"O Vista é tipo a maior festa deles. Acontece apenas uma vez por ano e ninguém sabe quando. Eles gostam de dar um aviso um pouco maior nessa, porque ninguém quer perdê-la. Esse, provavelmente, é o motivo pelo qual minha amiga já ouviu falar dela, mesmo que ainda seja apenas amanhã à noite."

"E o Vista é diferente das outras House Hill Parties, certo?" incitou Keri, sabendo que Susan estava relutante em revisitar os detalhes, dando-a permissão para ela o fazer.

"Sim. Em todas as outras festas, os clientes pagam por qualquer garota que eles se interessem e fazem o que quiserem com ela. Os caras podem ficar com qualquer um que quiserem e uma garota pode ser usado à noite toda por qualquer um. Mas o Vista é diferente. Naquela noite, os organizadores escolhem uma garota-ela normalmente é especial de alguma forma-e a tornam o Prêmio de Sangue."

Ela parou de falar e Keri podia sentir que ela não queria continuar, não queria ferir a mulher que a resgatara e a ajudou a enxergar um futuro para si mesma.

"Está tudo bem, Susan," insistiu Keri. "Continue. Eu preciso saber de tudo."

Ela ouviu a garota dar um suspiro profundo no outro lado da linha antes de continuar.

"Então o evento começa por volta das nove da noite. Por um momento, é como qualquer outra festa Hill House comum. Mas, então, eles trazem a garota que fora escolhida como o Prêmio de Sangue. Como eu disse, normalmente há algo diferente a respeito dela. Talvez ela seja virgem. Talvez ela tenha acabado de ser raptada no dia, então ela tem estado nas notícias. Uma vez, foi uma ex-estrela infantil que foi pega pelas drogas e acabou nas ruas."

"E esse ano é Evie," instigou Keri.

"Sim, há uma garota chamada Lupita dos meus dias de prostituição em Venice com a qual eu mantenho contato. Ela ainda trabalha nas ruas e ela ouviu uns caras falando sobre como eles iriam usar a filha da policial esse ano. Eles estão usando o apelido 'mini porco' para descrevê-la."

"Muito criativo," resmungou Keri amargamente. "E você disse que eles a escolheram porque eu estou chegando muito perto?"

"Certo," confirmou Susan. "Os comandantes estavam cansados de mudá-la de lugar. Eles disseram que ela se tornou um risco com você constantemente caçando por ela. Eles querem apenas acabar com ela e jogar o corpo em algum lugar, para que você saiba que ela está morta e pare de procurar. Eu sinto muito, Detetive."

"Continue," disse Keri. Seu corpo estava dormente e sua voz soava como se estivesse vindo de algum lugar distante, fora de si.

"Então é basicamente um leilão. Todos grandes gastadores vão dar lances nela. Algumas vezes chega às centenas de milhares. Esses caras são competitivos. Mais ainda, há o fato de que, ao puni-la, é como se eles estivessem atingindo você. Tenho certeza de que isso aumentará o valor. E eu acho que eles estão todos excitados por como termina."

"Relembre-me dessa parte," perguntou Keri, fechando seus olhos para se preparar. Ela sentiu a hesitação de Susan, mas não pressionou, deixando a garota se juntar o que era necessário para contar. Ray se deslocou para um pouco mais próximo a ela no sofá e removeu o braços, enrolando-o em volta dos ombros dela.

"Quem quer que vença o leilão é levado para uma sala separada enquanto o Prêmio de Sangue é preparado. Ela é banhada e é posta em um vestido chique. Alguém a maquia no estilo de estrela de cinema. Então, ela é enviada para uma sala onde o cara tem a chance de ter com ela. A única regra é que ele não pode machucar o rosto dela."

Keri notou que a voz de Susan ficou mais dura, como se ela estivesse desligando a parte dela que sentia emoção para que pudesse passar por isso. Keri não a culpava. A garota continuou.

"Quero dizer, ele pode fazer coisas com ela agora, você sabe. Ele só não pode bater nela ou dar tapas acima do pescoço. Ela precisa estar bem apresentável para o grande evento depois. Eles não se importam se a máscara dela está borrada porque ela esteve chorando. Isso adiciona ao drama. Apenas sem hematomas."

"O que acontece depois?"

"O cara tem que ter terminado um pouco antes de meia noite, porque é quando o sacrifício final acontece. Eles a colocam em um vestido fresco e a amarram para que ela não possa se mover muito. Ela pode se contorcer um pouco. Eles gostam disso. Mas não muito."

Embora os olhos dela estivessem fechados, Keri sentiu Ray enrijecer ao seu lado. Ele parecia estar segurando a respiração. Ela percebeu que ela estava fazendo a mesma coisa e forçou-se a exalar quando escutou Susan interromper para engolir.

"O cara se veste com um robe preto e um capuz para esconder sua identidade," ela prosseguiu. "Isso porque a coisa é mostrada em uma TV na sala principal onde todos os demais estão. Eu acho que é gravado também. É óbvio, nenhum desses caras quer uma evidência em vídeo de eles assassinando uma adolescente.”

"Quando estão ambos preparados, o cara entra e fica atrás dela. Ela profere algum texto preparado, eu não sei qual. Então lhe é entregue uma faca e logo à batida da meia noite, ele corta sua garganta. Ela morre, bem ali em frente à câmera. Todos recitam algo. Então, eles desligam a TV e a festa continua. Isso é praticamente tudo.”

Keri finalmente abriu os olhos. Ela sentiu uma lágrima pingar nas suas bochechas, mas se recusou a enxugá-la. Ela gostava da maneira que ela quase queimava sua pele, como uma chama húmida.

Enquanto ela pudesse manter aquela chama de fúria justa viva em seu peito, ela tinha certeza de que também poderia manter Evie com vida.


CAPÍTULO DOIS

Por um longo tempo, ninguém falou. Keri não achava que ela conseguiria. Ao invés disso, ela deixou a onda de ira a preencher, fazendo seu sangue ferver e seus dedos formigarem.

Finalmente, Ray limpou sua garganta.

"Susan, aqui é o parceiro da Detetive Locke, Ray Sands. Posso lhe fazer uma pergunta?"

"Claro, Detetive."

"Como você sabe disso tudo? Digo, você já esteve em uma dessas festas?"

"Como eu contei a Detetive Locke, eu fui levada para a Hill House Party uma vez quando eu tinha cerca de onze anos. Eu nunca fui levada de volta, mas eu conheço garotas que foram. Uma de minhas amigas foi levada duas vezes. E você pode imaginar como a notícia se espalha. Qualquer garota que esteve na vida em LA sabe todos os detalhes sobre o Vista. Se torna quase uma lenda urbana. Os cafetões, algumas vezes, usam isso para manter as garotas na linha. 'Me responda e você pode ser o Prêmio de Sangue esse ano.' Só que essa lenda é, na verdade, real."

Algo no tom de Susan-a mistura de medo e tristeza-arrancou Keri do seu silêncio. Essa jovem menina fez tanto progresso nos meses recentes. Mas Keri temia que pedir a ela para retornar, mesmo que apenas em memória, para o lugar sombria que ela habitara por anos era injusto e cruel. Susan havia compartilhado tudo o que ela podia, a custo de seu próprio bem-estar emocional. Era hora de deixá-la tentar ser uma criança novamente.

Agora, os adultos precisavam tomar frente.

"Susan," ela disse, "muito obrigada por me contar tudo isso. Eu sei que não foi fácil para você. Com a informação que você nos deu, eu acho que podemos ter um excelente começo na busca de Evie. Eu não quero que você se preocupe mais com isso, OK?"

"Eu poderia verificar um pouco mais," insistiu a garota.

"Não. Você já fez o suficiente. É tempo de voltar para sua nova vida. Eu prometo inteirar você das coisas. Mas, por agora, eu preciso que você se foque no trabalho da escola. Talvez ler um novo livro da Nancy Drew para conversarmos na semana que vem. Nós continuamos daqui, mocinha."

Elas disseram adeus e Keri desligou. Ela olhou para Ray.

"Você acha que nós temos um bom começo em achar a Evie?" ele perguntou cética.

"Não, mas eu não poderia dizer isso a ela. Além disso, pode não ser ótimo. Mas é um começo."

*

Keri e Ray sentaram no Ronnie's Diner, ambos perdidos em pensamentos. O intenso fluxo matinal no conjunto indescritível na Marina del Rey terminara e a maioria dos clientes no local desfrutava de um desjejum descontraído.

Ray insistiu que eles deixassem o apartamento e Keri concordou. Ela estava vestida de maneira mais casual do que o de costume, em uma blusa de manga comprida e jeans desbotados, com uma jaqueta leve para protegê-la da fresca manhã de janeiro.

Ela usava um boné de baseball, abaixado por sobre a metade superior de sua face. Ela deixou seu cabelo loiro-sujo, normalmente preso para trás em um rabo de cavalo profissional, intencionalmente solto pendendo para frente a fim de engolir seu rosto e esconder os hematomas que ela sabia que iriam fazer os outros a encararem.

Ela se arqueou para baixo na cabine deles enquanto tomava um gole de café, escondendo ainda mais sua modesta silhueta. Keri, de quase trinta e seis anos de idade, tinha parcos um metro e sessenta e sete. Recentemente, ela começou a usar vestimentas mais justas, já que ela havia cortado o álcool e voltou para sua forma sólida. Mas não hoje. Nessa manhã, ela esperava passar despercebida.

Já era agradável sair depois de dois dias de cama recomendados pelo médico. Mas Keri também esperava que uma mudança de cenária a daria uma perspectiva fresca em como encontrar Evie. E isso funcionou até algum ponto.

Quando a comida deles chegou, eles concordaram em não envolver a equipe deles formalmente, a Unidade de Pessoas Desaparecidas da Divisão Pacífico, na busca. A unidade esteve ajudando Keri na busca por sua filha em idas e vindas por anos, sem resultado. Não havia motivo para assumir que o desfecho seria diferente sem nova evidência para seguir.

Mas havia outra razão para manter sigilo. Esta era realmente a última chance de Keri encontrar sua filha. Ela sabia a hora exata que Evie estaria em certo lugar de LA-no Hollywood Hills à meia noite amanhã-mesmo se ela ainda não tivesse a localização específica.

Mas se a equipe começasse a cutucar e a notícia de que eles sabiam do evento Vista se espalhasse, as pessoas que estavam com Evie poderiam cancelar o evento ou apenas matá-la antecipadamente para evitar complicações. Keri precisava manter as coisas quietas.

Não pronunciado, mas entendido entre os parceiros e novo casal, havia outro ponto. Eles não poderiam ter certeza de que eles não estavam sendo monitorados pela pessoa que eles mais precisavam manter afastada-Jackson Cave.

No ano passado, Keri havia abatido um sequestrador de crianças em série chamado de Alan Jack Pachanga, por fim matando-o enquanto resgatava uma adolescente. E, embora Pachanga não fosse mais um problema, seu advogado era.

Jackson Cave, o advogado do cara, era um expressivo advogado corporativo com um ostensivo escritório no alto de um edifício no centro. Mas ele também fazia carreira em representar a escória da sociedade. Ele parecia ter uma afinidade particular por predadores de crianças. Ele alegava que muito disso era trabalho pro bono e que mesmo o pior dentre nós merece um representante de qualidade.

Mas Keri descobriu informação que parecia conectá-lo a uma vasta rede de sequestradores de crianças, rede da qual ela suspeitava que ele estivesse obtendo lucros e ajudando a dirigir. Um dos abdutores na rede era um homem que atendia pelo título de Colecionador.

No último outono, quando Keri descobriu que o Colecionador era o sequestrador de Evie, ela o ludibriou para um encontro. Mas o Colecionador, cujo nome real era Brian Wickwire, descobriu seu ardil e atacou-a. Ela acabou matando-o em uma luta, mas não sem antes que ele jurasse que ela nunca encontraria Evie.

Infelizmente, ela não possuía evidências que pudessem provar a conexão de Jackson Cave ao homem que tomou sua filha ou à grande rede que ele parecia coordenar. Pelo menos nenhuma que ela adquirira legalmente.

Em desespero, ela invadiu o escritório dele uma vez e encontrou um arquivo codificado que havia se provado útil. Mas o fato de que ela o havia roubado o tornava inadmissível no tribunal. Além disso, as conexões entre Cave e a rede eram tão bem encobertas e tênues que provar o envolvimento dele seria quase impossível. Ele não havia chegado a essa posição de poder no topo do mundo legal de Los Angeles sendo descuidado ou desatento.

Ela até tentou convencer seu ex-marido, Stephen, um rico agente de talentos de Hollywood, a ajudar a pagar por um investigador particular para seguir Cave. Um bom investigador estava bem além dos recursos dela. Mas Stephen se recusou, dizendo essencialmente que ele pensava que Evie estava morta e que Keri estava delirante.

É claro que Jackson Cave não tinha tais limitações financeiras. E, uma vez que ele percebeu que Keri estava na cola dele, ele começou a vigiá-la. Ambos, ela e Ray, encontraram escutas em seus lares e carros. Agora, cada um deles fazia varreduras por escutas regularmente em tudo, das roupas até os telefones aos sapatos antes de discutirem qualquer coisa delicada. Eles também suspeitavam que até mesmo o escritório do LAPD estivesse sendo monitorado e agiam de acordo.

Foi quando eles se sentaram em um barulhento restaurante, vestindo roupas que eles vasculharam por dispositivos de gravação, tendo certeza de que ninguém nas mesas próximas parecia estar escutando, enquanto formulavam o plano. Se havia uma pessoa que eles não queriam que soubesse do Vista, ela era Jackson Cave.

Nos seus múltiplos confrontos verbais com ele, havia ficado claro para Keri que alguma coisa mudara em Cave. Ele pode tê-la visto meramente como uma ameaça aos seus negócios no início, mais um obstáculo para superar. Mas não mais.

Afinal, ela havia assassinado dois dos seus maiores ganhadores, roubado arquivos do seu escritório, descriptografado códigos e colocado seus negócios, e talvez sua liberdade, em risco. Claro, ela estava fazendo tudo isso para encontrar sua filha.

Mas ela sentia que Cave havia começava a enxergá-la mais do que apenas um mero oponente, alguma mulher policial desesperada para encontrar sua filha. Ele parecia considerá-la quase como sua nêmeses, como uma espécie de inimigo mortal. Ela não queria mais apenas derrotá-la. Ele queria destruí-la.

Keri estava certa de que esse era o motivo para Evie se o Prêmio de Sangue no Vista. Ela duvidava de que Cave soubesse onde Evie estava sendo mantida ou quem estava com ela. Mas ele certamente conhecia as pessoas que sabiam essas coisas. E ele quase certamente instruiu, pelo menos indiretamente, que Evie fosse sacrificada na festa de amanhã como forma de acabar irreparavelmente com Keri.

Não havia sentido em segui-lo ou interrogá-lo formalmente. Ele era inteligente e cuidadoso demais para cometer algum erro, especialmente já que ele sabia que ela estava na cola dele. Mas ele estava por trás de tudo isso-disso Keri tinha certeza. Ela apenas tem que encontrar outra maneira de resolver isso.

Com senso de resolução renovado, ela olhou acima para perceber que Ray estava a observando de perto.

"Há quanto tempo você está me encarando?" ela perguntou.

"Alguns minutos, pelo menos. Eu não queria interromper. Você parecia que estava em algum tipo de pensamento bem profundo. Teve alguma epifania?"

"Na verdade não," ela admitiu. "Ambos sabemos quem está por trás disso, mas eu não acho que isso nos ajuda muito. Eu preciso começar do zero e esperar rastrear algumas pistas novas."

"Você quis dizer 'nós', certo?" disse Ray.

"Você não tem que ir para o trabalho hoje? Você esteve fora por um tempo enquanto tomava conta de mim."

"Você deve estar brincando, Tinker Bell," ele disse com um sorriso, fazendo alusão à massiva disparidade de tamanho entre eles. "Você acha que eu vou simplesmente ir para o escritório com tudo isso acontecendo? Eu vou usar cada dia de férias, de doença e de folga que eu tiver caso seja preciso."

Keri sentiu seu peito inteiro se aquecer de encanto, mas tentou esconder.

"Eu agradeço isso, Godzilla," ela disse. "Mas comigo ainda em suspensão, por causa da investigação do AI, nós talvez precisaremos que você tire vantagem de alguns daqueles recursos oficiais da polícia aos quais você tem acesso."

Keri estava tecnicamente em suspensão enquanto o Assuntos Internos investigava as circunstâncias que rodearam a morte de Brian "O Colecionador" Wickwire pelas suas mãos. O supervisor deles, Tenente Cole Hillman, havia indicado que isso provavelmente seria terminado em breve em favor dela. Mas até lá, Keri estava sem distintivo, sem arma expedida pelo departamento, sem autoridade formal e sem acesso aos recursos da polícia.

"Havia algo em particular que você pensou que eu pudesse estar dando uma olhada?" perguntou Ray.

"Na verdade, sim. Susan mencionou que uma das garotas Prêmio de Sangue anterior era uma antiga atriz infantil que se tornou viciada e acabou nas ruas. Se ela foi estuprada e assassinada, especialmente tendo sua garganta cortada, deve haver algum registro disso, certo? Eu não me lembro de estar nos noticiários, mas talvez eu tenha perdido. Se você puder localizar isso, talvez o trabalho da perícia tenha incluído DNA do sêmen do homem que a violou."

"É possível que ninguém tenha sequer pensado em verificar por DNA," adicionou Ray. "Se eles encontraram essa garota morta com a garganta cortada, eles podem não ter visto necessidade de fazer qualquer coisa a mais. Se nós pudermos descobrir quem ela era, talvez nós possamos fazer mais testes, colocando urgência e identificando com quem ela estava."

"Exatamente," concordou Keri. "Apenas se lembre de ser discreto. Envolve o mínimo possível de pessoas. Nós não sabemos quantos ouvidos nosso amigo advogado tem no edifício."

"Entendido. Então, o que você planeja fazer enquanto eu procuro em velhos registros de garotas adolescentes assassinadas?"

"Eu vou entrevistar uma possível testemunha."

"Quem é essa?" perguntou Ray.

"A amiga prostituta de Susan, Lupita-aquela que disse que escutou aqueles caras conversando sobre o Vista. Talvez ela consiga se lembrar de mais com uma ajudinha."

"OK, Keri, mas se lembre de ir com devagar. Aquela área de Venice é pesada e você ainda não está com força total. Além disso, pelo menos por agora, você nem é mesmo uma policial."

"Obrigado pela preocupação, Ray. Mas eu acho que você sabe por agora. Ir devagar simplesmente não é o meu estilo.”


CAPÍTULO TRÊS

Quando Keri encostou o carro em frente ao endereço em Venice que Susan a enviara por mensagem, ela se forçou a esquecer da dor contínua no seu peito e joelhos. Ela estava entrando em um território potencialmente perigoso. E desde que ela não era um policial em ofício no momento, teria que ficar em alerta máximo. Ninguém aqui lhe daria o benefício da dúvida.

Era apenas metade da manhã e quando atravessou a Pacific Avenue nesse trecho decadente de Venice, sua única companhia eram os surfistas tatuados, indiferentes ao frio e em direção ao oceano apenas a um quarteirão de distância, e sem teto amontoados nas portas do comércio ainda fechado.

Ela chegou ao precário complexo de apartamentos, caminhou pela porta da frente e subiu três lances de escada até o quarto onde Lupita estava, supostamente, esperando-a. Os negócios não retornavam até depois do almoço, então era um bom horário para dar uma passada.

Keri se aproximou da porta e estava prestes a bater quando escutou um barulho vindo de dentro. Ela verificou e encontrou a porta destrancada e a abriu silenciosamente, enfiando a cabeça para dentro.

Na cama no quarto sem adornos estava uma garota de cabelos pretos que parecia ter cerca de quinze anos. Em cima dela estava um homem esguio na casa dos trinta anos. Os lençóis cobriam os detalhes, mas ele estava se impulsionando para baixo agressivamente. Em todos os poucos segundos ele dava tapas no rosto da garota.

Keri lutou contra o forte ímpeto de entrar e arrancar o cara de cima dela. Mesmo sem o distintivo, era sua inclinação natural. Mas ela não tinha ideia se era um cliente e a atividade em andamento era o procedimento operacional padrão.

Tristes experiências a haviam ensinado que algumas vezes ir ao resgate era contra produtivo em longo prazo. Se esse fosse um cliente e Keri interrompesse, o cara poderia ficar irritado e reclamar para o cafetão de Lupita, o qual descontaria nela. A não ser que uma garota estivesse desejando sair da vida de uma vez por todas, como Susan havia feito, interromper, embora seguir a lei, poderia apenas deixar as coisas pior para ela no final.

Keri entrou um pouco mais no quarto e pegou os olhos de Lupita. A garota de aparência frágil com cabelos escuros cacheados deu-lhe um olhar familiar, um misto de súplica, medo e cautela. Keri soube quase imediatamente o que significava. Ela precisava de ajuda, mas não de muita ajuda.

Esse claramente era um cliente, talvez um novo, inesperado de último minuto, porque ele estava aqui quando Lupita havia concordado em encontrar Keri. Mas ela fora ordenada a servi-lo de qualquer maneira. Era provável que a surra fosse inesperada. Mas ela não estava em uma posição de fazer objeção caso seu cafetão tenha dado permissão.

Keri sabia como lidar com isso. Ela foi à frente rapidamente e silenciosamente, tirando um cassetete de borracha do bolso interno de sua jaqueta. Os olhos de Lupita se arregalaram e Keri pode perceber que o cliente notou. Ele estava começando a virar a cabeça para olhar para trás quando o cassetete atingiu a parte posterior do seu crânio. Ele caiu para frente, desmoronando em cima da garota, inconsciente.

Keri levou os dedos aos lábios, indicando para Lupita permanecer quieta. Ela deu a volta para o lado da cama para se certificar que o cliente estava apagado. Ele estava.

"Lupita?" ela perguntou.

A garota assentiu.

"Eu sou a Detetive Locke," ela disse, negligenciando dizer que por enquanto, ela não era uma detetive tecnicamente. "Não se preocupe. Se formos rápidas, isso não será um problema. Quando seu cafetão perguntar, aqui vai o que aconteceu: um cara baixinho encapuzado entrou, apagou seu cliente e roubou a carteira dele. Você nunca viu o rosto dele. Ele ameaçou te matar se você fizesse qualquer barulho. Quando eu deixar esse quarto, conte até vinte, então comece a gritar por ajuda. Não há como você ser culpada. Entendido?"

Lupita assentiu novamente.

"OK," disse Keri enquanto buscava nas calças jeans do homem e tirava sua carteira. "Eu não acho que ele ficará desmaiado mais do que um minuto ou dois, então vamos direto ao que interessa. Susan disse que você ouviu alguns caras falando sobre o Vista que vai acontecer amanhã à noite. Você sabe quem estava falando? Um deles era seu cafetão?"

"Aham," sussurrou Lupita. "Eu não reconheci as vozes. E quando eu olhei pelo corredor, eles haviam saído."

"Tudo bem. Susan me contou o que eles disseram sobre a minha filha. O que eu gostaria que você se focasse é na localização. Eu sei que eles sempre fazem esse negócio do Vista no Hollywood Hills. Mas eles foram mais específicos que isso? Eles mencionaram uma rua? Algum ponto de referência?"

"Eles não mencionaram uma rua. Mas um deles estava reclamando que seria uma inconveniência esse ano, porque havia portões. De fato, ele disse "o residencial é fechado." Então estou assumindo que é mais do que apenas uma casa."

"Isso é realmente de grande ajuda, Lupita. Algo mais?"

"Um deles disse que estava desapontado, porque não estaria perto o suficiente para ver o letreiro de Hollywood. Eu acho que no ano passado, a casa era bem próxima a ele. Mas, dessa vez, estava longe demais, em uma área diferente. Isso ajuda?"

"Na verdade sim. Significa que é provavelmente perto de West Hollywood. Isso reduz a área. É de muita ajuda. Algo mais?"

O homem em cima dela gemeu levemente e começou a se mover.

"Não consigo pensar em mais alguma coisa," balbuciou Lupita, quase inaudível.

"Certo. É mais do que eu tinha antes. Você foi uma grande ajuda. E se em algum momento você decidir que quer sair da vida, você pode me encontrar através de Susan."

Lupita, apesar de sua situação, sorriu. Keri retirou o boné, tirou uma bala clava preta do seu bolso e a colocou. Havia pequenas fendas para os olhos e boca.

"Agora, se lembre," ela disse em uma voz grave, na intenção de esconder sua própria voz, "espere vinte segundos ou eu a matarei."

O homem em cima de Lupita estava recobrando a consciência, então Keri se virou e correu para fora do quarto. Ela se desceu as escadas correndo e estava no meio do caminho quando ouviu gritos pedindo por ajuda. Ela os ignorou e seguiu até a porta da frente, tirou a bala clava, o enfiou no bolso, e colocou o boné na cabeça.

Ela vasculhou a carteira do cara e, depois de tirar o dinheiro-todos os vinte e três dólares-jogou-a no canto ao lado da porta. Tão casualmente quanto possível, ela atravessou a rua de volta ao carro. Ao entrar no veículo, ela pôde ouvir os gritos de homens zangados em direção ao quarto de Lupita.

Quando havia saído da área, ligou para Ray a fim de ver se ele havia tido sorte com sua pista. Ele atendeu após um toque e ela podia perceber pela voz dele que não havia ido bem.

"O que há de errado?" ela perguntou.

"É um beco sem saída, Keri. Eu voltei dez anos e não consegui encontrar qualquer registro de uma antiga estrela infantil que foi encontrada com a garganta cortada. Eu encontrei um registro de uma antiga atriz infantil chamada Carly Rose, que passou por tempos difíceis e desapareceu quando adolescente. Ela teria cerca de vinte anos agora. Poderia facilmente ser ela. Ou ela pode ter apesar sofrido overdose em um túnel do metrô e nunca foi encontrada. Difícil saber. Também achei registros de outras garotas entre onze e catorze anos que batiam com uma descrição similar-gargantas cortadas. Corpos apenas largados em lixões ou até mesmo em esquinas. Mas normalmente elas eram garotas que estavam nas ruas há um tempo. E estão todos bem espelhados ao longo do tempo."

"Isso realmente faz sentido para mim," disse Keri. "Essas pessoas provavelmente não tinham remorsos sobre despejar os corpos das garotas que trabalhavam nas ruas ou não tinham família. Mas eles não iriam querer chamar atenção deixando os corpos de garotas de bons lares que foram recentemente raptadas ou uma garota que era bem reconhecida. Essas podem começar investigações reais. E aposto que essas garotas foram queimadas, enterradas ou jogadas no oceano. São aquelas que ninguém daria continuidade que eles apenas jogaram em qualquer lugar."

Keri escolheu ignorar o fato de que ela havia dito tudo isso de maneira tão casual. Se ela permanecesse no assunto, ficaria incomodado por quão habituada ela estava a esses tipos de atrocidades.

"Isso se encaixa," concordou Ray, soando igualmente inabalado. "Isso também pode explicar o intervalo de anos. Se eles usaram prostituta de rua um ano, então usaram algumas crianças sequestradas do subúrbio antes de voltarem para outra prostituta adolescente, seria mais difícil de estabelecer um padrão. Quero dizer, se uma adolescente surgisse uma vez por ano com a garganta cortada, isso poderia gerar interesse também."

"Bom ponto," disse Keri. "Então não havia mais com o que seguir."

"Não. Desculpe. Teve mais sorte?"

"Um pouco," ela disse. "Baseada no que Lupita disse, parece que o local pode ser em West Hollywood, em uma propriedade fechada."

"Promissor," notou Ray.

"Acho que sim. Há mil dessas naquelas colinas."

"Nós podemos pedir para Edgerton para fazer as referências cruzadas para ver se as escrituras das propriedades batem com alguém que nós conhecemos. Com empresas de fachada, é provavelmente pedir muito. Mas nunca se sabe com o que aquele cara vai aparecer."

Isso era verdade. O Detetive Kevin Edgerton era um gênio quando se tratava de qualquer coisa de tecnologia. Se alguém podia emergir com uma conexão significativa, era ele.

"OK, vamos deixá-lo tentar," disse Keri. "Mas faça que ele procure sob o radar. E não dê detalhes demais a ele. Quanto menos pessoas souberem o que está acontecendo, menor a chance de alguém deixar vazar, sem querer, alguma coisa que passa uma dica para as pessoas erradas."

"Entendido. O que você vai fazer?"

Keri pensou por um momento e percebeu que ela não tinha novas pistas para seguir. Isso significava que ela tinha que fazer o que sempre fazia quando atingiu um muro de tijolos-um novo começo. E havia uma pessoa com a qual ela percebeu que definitivamente precisava de um novo começo.

"Na verdade," ela disse, "você pode pedir para Castillo me ligar, mas peça para ela ligar por fora, usando o próprio celular?"

"OK. No que você está pensando?" perguntou Ray.

"Estou pensando que já é hora de me reaproximar de um velho amigo."


CAPÍTULO QUATRO

Keri esperou ansiosamente em seu carro, olhando para o relógio enquanto aguardava do lado de fora dos escritórios do Weekly L.A., o jornal alternativo no qual ela havia pedido para a Oficial Jamie Castillo para se encontrar com ela. Também era onde a sua amiga, Margaret "Mags" Merrywether, trabalhava como colunista.

O tempo estava começando a se esgotar. Já eram 12:30 de sexta-feira, aproximadamente trinta e seis horas de quando sua filha seria estuprada e assassinada ritualisticamente para o prazer de um grupo de homens ricos de alma doentia.

Keri viu Jamie descendo a rua e afastou os pensamentos sombrios da sua cabeça. Ela precisava permanecer focada em como prevenir a morte da sua filha, não ficar obcecada com o quão nefasto à história poderia se desenrolar.

Como ela pedira, Jamie vestia um casaco civil por cima do uniforme para chamar menos atenção. Keri acenou para ela do assento do motorista, chamando sua atenção. Jamie sorriu e se dirigiu para o carro, seu cabelo preto esvoaçando no vento mordente apesar de estar preso em um rabo de cavalo. Ela era mais alta que Keri em alguns centímetros e mais atlética também. Ela era uma entusiasta de parkour e Keri havia visto do que ela podia fazer sob pressão.

A Oficial Jamila Cassandra Castillo ainda não era uma detetive. Mas Keri tinha certeza de que uma vez que ela fosse, seria ótima. Adicionalmente às suas habilidades físicas, ela era durona, inteligente, perseverante e leal. Ela já havia colocado sua própria segurança e até mesmo seu emprego em risco por Keri. Se ela já não fosse parceira com Ray, Keri saberia quem seria sua próxima opção.

Jamie entrou no carro cautelosamente, estremecendo-se involuntariamente e Keri se lembrou de por que. Enquanto estava à caça do suspeito que deu Keri suas lesões atuais, Jamie estivera nas proximidades de uma bomba que detonou no apartamento do cara. A explosão matou um agente do FBI, queimou outro consideravelmente e deixou Ray com um pedaço de vidro em sua perna direita, algo que ele não havia mencionado desde então. Jamie acabou com uma concussão e alguns machucados sérios.

"Você não tinha acabado de ser liberado do hospital hoje?" perguntou Keri incrédula.

"Aham," ela disse com orgulho na voz. "Eles me liberaram essa manhã. Eu fui para casa, troquei meu uniforme e chegou ao trabalho em dez minutos. Mas o Tenente Hillman me deu um torra."

"Como estão seus ouvidos?" perguntou Keri, fazendo referência à perda de audição que Jamie sofrera nos momentos após a explosão da bomba.

"Eu posso te ouvir bem agora. Estou com um zumbido intermitente. O médico disse que deve passar em uma semana ou duas. Sem danos permanentes."

"Eu não posso acreditar que você está trabalhando hoje," resmungou Keri, balançando a cabeça. "E eu não posso acreditar que eu esteja pedindo para você ir ao infinito e além no seu primeiro dia de volta."

"Sem problemas," Jamie a garantiu. "Eu precisava sair um pouco. Todos estão me tratando como uma boneca de porcelana. Mas eu tenho que voltar de uma vez ou sair. Mas eu trouxe o que você pediu."

Ela tirou um arquivo da bolsa e entregou-o a Keri.

"Obrigada."

"Por nada. E antes que você pergunte, eu usei o nome de usuário 'geral' quando pesquisei pelo banco de dados, então não será rastreado até mim. Eu presumo que há um motivo pelo qual você não queria que eu usasse meu próprio ID. E eu assumo ainda que há um motivo pelo qual você não comentou alguma coisa sobre o porquê você pediu por essas coisas?"

"Assumiu corretamente," disse Keri, esperando que Jamie deixasse por isso.

"E eu assumo que você não vai me dizer o que está acontecendo ou me deixar ajudar de alguma maneira?"

"É para o seu próprio bem, Jamie. Quanto menos você souber, melhor. E quanto menos as pessoas saberem que você me ajudou, melhor para o que eu estou fazendo."

"OK. Eu confio em você. Mas se você ver que em algum ponto no caminho você precisa de ajuda, você tem meu número."

"Tenho," disse Keri, dando um aperto de mãos com Castillo.

Ela esperou até que o policial retornasse para seu carro e saiu para a rua antes que ela o fizesse. Segurando o arquivo que Castillo lhe dera firmemente contra o corpo, Keri subiu apressadamente os degraus para o edifício do Weekly L.A no qual Mags, e esperançosamente algumas respostas, esperavam por ela.

*

Duas horas depois, houve uma batida na porta da sala de conferências onde Keri se acomodou e estava estudando os documentos. A ampla mesa no centro da sala estava coberta com papéis.

"Quem é?" ela perguntou. A porta se abriu ligeiramente. Era Mags.

"Apenas passando," ela disse. "Queria ver se você precisa de alguma ajuda, querida."

"Na verdade, eu poderia dar uma folga. Entre."

Mags entrou, fechou e trancou a porta atrás de si, certificou-se de que as persianas estavam completamente fechadas de modo que ninguém pudesse ver dentro da sala e foi até Keri. Mais uma vez, Keri admirou-se com como ela havia se tornado amiga com o que era essencialmente a versão em carne e osso de Jessica Rabbit.

Margaret Merrywether tinha mais de um metro e oitenta de altura, mesmo sem o salto alto que ela normalmente usava. Escultural, com pele cor de leite, amplas curvas, cabelos vermelho flamejantes combinando com seus lábios vermelho rubi e olhos verde brilhantes, ela parecia ter saído das páginas de uma revista de alta moda para mulheres Amazonas.

E tudo isso antes que ela abrisse a boca para revelar um sotaque que sugeria Scarlett O'Hara, apenas levemente cortado por uma língua ácida que estava mais para Rosalind Russell em Jejum de Amor. Apenas aquele tom levemente mordaz insinuou o álter ego de Margaret (Mags para seus amigos). Afinal ela também passava pelo pseudônimo "Mary Brady", a colunista do jornal alternativo que fazia furos de reportagem que haviam derrubado políticos locais, descoberto más condutas corporativas e apontou policiais corruptos.

Mags também era a feliz mãe divorciada de dois, que ficou ainda mais rica após separar-se do seu ex-marido banqueiro. Keri a encontrou enquanto trabalhava em um caso e, depois de alguma suspeita inicial de que toda a sua personalidade era alguma forma elaborada de performance artística, uma amizade floresceu. Keri, que não tinha muitos amigos fora do trabalho, estava feliz em ser a chata para alguém.

Mags se sentou na cadeira ao lado de Keri e olhou para a colagem de documentos policiais e recortes de jornais espalhados na mesa.

"Então, querida, você me pediu para coletar cópias de cada artigo que o jornal já escreveu sobre Jackson Cave. E eu vejo que você pediu para alguém no departamento para fazer o mesmo com tudo o que eles têm sobre ele. Então, você se trancou aqui por duas horas. Você está pronta para me dizer o que está acontecendo?"

"Eu estou," disse Keri. "Só me dê um momento primeiro."

Ela se levantou, tirou um detector de escutas da bolsa e procedeu em varrer a sala de conferências inteira. Revistas levantou suas sobrancelhas, mas não pareceu atordoada.

"Sabe, querida," ela começou, "dificilmente seria eu a lhe dizer está sendo cautelosa demais. Mas eu mando fazer esse tipo de coisa profissionalmente duas vezes por semana."

"Não tenho dúvidas", disse Keri. "Mas obrigada por me deixar contente em fazê-lo. Um amigo nerd no qual eu confio me deu isso."

"Alguém no departamento?" perguntou Mags.

"Não, na verdade ele é o segurança de um shopping. É uma longa história, mas digamos que o cara sabe o que faz, e ele me devia um favor, então quando eu pedi uma recomendação para um detector de escutas bom, ele me deu isso de presente."

"Parece uma longa história que eu gostaria de escutar quando tivermos um pouco mais de tempo," disse Mags.

Keri assentiu distraidamente enquanto continuava a varrer a sala. Mags sorriu e esperou pacientemente. Quando Keri havia acabado e não encontrou coisa alguma, ela se sentou novamente.

"OK, aqui vai," ela disse e lançou-se na sua história com Cave, muito da qual Mags já estava familiarizada.

De fato, sua amiga havia até recentemente a ajudado a extrair informação de um assassino de aluguel com uma conexão com Cave em um engodo. Ele era um homem conhecido apenas como o Viúvo Negro, um personagem misterioso que dirigia um Lincoln Continental preto sem placas.

Meses antes, Keri o assistiu nas imagens das câmeras de segurança matando o homem que estava com Evie, ele enfiou Evie em seu porta-malas e desapareceu com ela pela noite, tudo, Keri suspeitava, sob ordens de Cave.

De alguma maneira, Mags conseguiu encontrar um jeito de entrar em contato com o Viúvo Negro anonimamente. No fim, ele ficou feliz em passar uma pista sobre o paradeiro de Evie por um preço considerável. Ele parecia ser leal a alguém, o que funcionou bem para Keri naquela instância, porque sua informação levou, por fim, a tomar conhecimento da existência do evento Vista.

Mas enquanto alguns dos detalhes, como a conexão com o Viúvo Negro, eram velhas notícias para ela, Mags não disse coisa alguma. Ela não interrompeu sequer uma vez, embora tenha tirado um bloco de anotações e tomado notas ocasionalmente. Ela escutou com atenção, do início até o fim com a ligação de Susan Granger nesta manhã sobre Evie ser o Prêmio de Sangue no Vista.

Quando ela teve certeza de que Keri havia acabado, fez uma pergunta.

"Entendo os seus motivos, Keri. E estou horrorizada por você. Mas eu ainda não entendo. Por que você está olhando fixamente para centenas de papéis sobre o Sr. Cave?"

"Porque eu estou desesperada, Mags. Não tenho mais pistas; Não tenho mais ideias. A única coisa que eu sei com certeza é que Jackson Cave está, de alguma forma, envolvido no caso da minha filha."

"Você tem certeza?" perguntou Mags.

"Sim," disse Keri. "Eu não acho que ele estivesse inicialmente. Provavelmente ele não tinha ideia de que uma das vítimas de seus sequestradores fosse minha filha. Afinal, eu nem era detetive na época. Eu era uma professora universitária. O desaparecimento dela é a razão pela qual me tornei uma policial. Eu nem sei em qual ponto eu realmente atraí o interesse dele. Mas em algum momento ele deve ter juntado as peças que a criança que a mulher policial estava em busca fora raptada por alguém que ele havia comissionado."

"E você acha que ele foi atrás da localização dela?" perguntou Mags. "Você acha que ele sabe onde ela está agora?"

"Essas são duas questões bem diferentes. Tenho certeza de que em algum ponto ele realmente investigou a localização dela. Seria do interesse dele saber em quais circunstâncias ela estava. Mas isso teria sido bem antes que eu começasse a farejá-lo. Uma vez que ele suspeitou que eu o investigava, não tenho dúvidas de que ele se certificou de que ele não pudesse ser conectado a ela. Ele sabe que se eu pensasse que ele pudesse me levar até Evie, eu o seguiria dia e noite. Provavelmente ele se preocupa que eu o sequestre e o torture para conseguir a localização dela."

"Você o faria?" perguntou Mags, mais curiosamente do que acusadoramente.

"Faria. Um milhão de vezes, eu faria."

"Eu também," sussurrou Mags.

"Então eu não acho que Jackson Cave saiba onde minha filha está ou quem está com ela. Mas eu acho realmente que ele conhece indivíduos que conhecem indivíduos que sabem onde ela está. Eu acho que ele poderia descobrir a localização atual dela se ele estivesse inclinado a tal. E eu acho que ele poderia direcioná-la para estar em um local específico em um horário em particular se ele assim o quisesse. Isso é o que eu acho que está acontecendo. Acho que Evie é o Prêmio de Sangue, porque ele quer que seja ela. E, de algum modo, os desejos dele foram convenientes para pessoas que podem fazer isso acontecer."

"Então você quer seguir esse rastro?"

"Não," disse Keri. "O labirinto de ele até ela é complicado demais para eu desvendar, mesmo se eu tivesse tempo ilimitado, o que eu obviamente não tenho. Esse é uma toca de coelho que eu não vou entrar. Mas eu comecei a perceber, todo esse tempo eu estive olhando para Jackson Cave como um oponente, o planejador que está me mantendo distante de minha filha, essa força malévola direcionada a destruir minha família."

"Ele não é?" perguntou Mags, soando surpresa e quase ofendida.

"Ele é. Mas não é assim que ele se vê. E é tudo o que ele sempre foi. Eu percebi que eu tenho que esquecer meus preconceitos para aprender quem é esse cara e o que o faz funcionar."

"Por que você se importa com o que o faz funcionar?"

"Porque eu não posso derrotá-lo se eu não entender como ele pensa, quais são os motivos dele. E se eu não entender o que é realmente importante para ele lá no fundo, eu nunca terei vantagem sobre ele. E isso é o que eu realmente preciso, Mags-vantagem. Esse cara não vai oferecer qualquer informação para mim. Mas se eu puder determinar o que mais importa para ele, talvez eu possa usar isso para ter minha filha de volta."

"Como?"

"Eu não faço ideia... ainda."


CAPÍTULO CINCO

Quando Ray entrou na sala de conferências três horas depois, Keri ainda não tinha vantagem. Mas ela achava que tinha melhor noção de quem era Jackson Cave.

"É adorável vê-lo, Detetive Sands," disse Mags quando ele entrou trazendo sanduíches de baguete e cafés gelados.

"É bom ver você também, Ruiva," ele disse enquanto jogava os sanduíches na mesa.

"Bem, eu confesso," ela respondeu

Keri não tinha certeza de quando Ray começou a chamar Margaret Merrywether de "Ruiva", mas ela ficou mordida com isso. E apesar de sua reação agora, Keri estava bem certa de que Mags também não se importava.

"Eu trouxe os registros financeiros e das propriedades do cara," disse Ray. "Mas eu não acho que eles vão ser a resposta. Eu os revisei com Edgerton e ele não conseguiu encontrar qualquer coisa suspeita. Mas para um cara com aquela quantidade de dinheiro e poder, apenas isso já é meio que suspeito."

"Concordo," disse Keri. "Mas suspeita não é o suficiente para agir."

"Ele queria chamar Patterson, mas eu disse a ele para segurar isso por enquanto."

Detetive Garrett Patterson seguia pelo apelido "Trabalho Pesado," e por uma boa razão. Ele era o segundo melhor cara de TI na unidade atrás de Edgerton e enquanto lhe faltasse os talentos intuitivos de Edgerton para encontrar conexões invisíveis em informações complexas, ele tinha outra habilidade. Ele amava se debruçar sobre minúcias de registros para entrar aquele crucial, porém diminuto, detalhe que outros deixaram passar.

"Foi a decisão correta," disse Keri após um momento. "Ele pode descobrir alguma coisa com os registros de propriedades. Mas eu me preocupo que ele não consiga deixar de contar a Hillman ou lançar uma rede muito ampla e disparar alertas. Eu não quero envolvê-lo, a não ser que não tenhamos outra escolha."

"Pode chegar a isso," disse Ray. "Isso é, a não ser que você tenha decifrado o código Cave nas últimas horas."

"Eu não diria que sim," admitiu Keri. "Mas não revelamos algumas coisas surpreendentes."

"Como o quê?"

"Bem, para começar," Mags entrou, "Jackson Cave não foi sempre um completo imbecil."

"Isso é uma surpresa," disse Ray, desembrulhando um sanduíche e dando uma grande mordida. "Em que sentido?"

"Ele costumava trabalhar no escritório da promotoria," respondeu Mags.

"Ele foi um promotor de justiça?" perguntou Ray, quase engasgando com sua comida. "O defensor de estupradores e molestadores de crianças?"

"Foi há muito tempo atrás," disse Keri. "Ele entrou para a promotoria logo ao sair da faculdade de direito na USC-trabalhou lá por dois anos."

"Não conseguiu corrompê-la?" sugeriu Ray,

"Na realidade, as taxas de condenação dele eram bem impressionantes. Aparentemente, ela não gostava de fazer acordos normalmente, então ele levava a maior parte dos casos para julgamento. Ele conseguiu dezenove condenações e dois júris pendurados. Nenhuma absolvição."

"Isso é bom," reconheceu Ray. "Então porque ele trocou de time?"

"Isso precisou de alguma pesquisa," disse Keri. "Na verdade, foi Mags quem descobriu. Você quer explicar?"

"Seria de grande prazer," ela disse, olhando para cima do mar de páginas em frente a ela. "Eu suponho que uma vida inteira fazendo pesquisas entediantes compensa de vez em quando. Jackson Cave tinha um meio irmão chamado Coy Trembley, Eles tinham pais diferentes, mas cresceram juntos. Coy era três anos mais velho que Jackson."

"Coy também era advogado?" perguntou Ray.

"Dificilmente," disse Mags. "Coy esteve em problemas com a lei pela adolescência e pelos vinte anos-coisa pequena na maioria. Mas quando ele tinha trinta e um, foi preso por abuso sexual. Basicamente ele foi acusado de se forçar em uma garota de nove anos de idade que morava pra baixo na rua."

"E Cave o defendeu?"

"Não oficialmente. Mas ele pegou uma licença de nove meses do escritório da procuradoria logo depois da prisão. Ele não foi o advogado em registro de Trembley e o nome dele não está em qualquer dos documentos legais entregues a corte durante o caso."

"Eu ouço um 'mas' chegando," disse Ray.

"Você ouve corretamente, querido," declarou Mags. "Mas para constar, o seu emprego declarado durante esse período foi de 'consultor legal'. E eu comparei a linguagem nas minutas do caso de Trembley. Algumas das construções e da lógica são bem similares aos casos mais recentes de Cave. Eu acho que é justo assumir que ele estava secretamente auxiliando o irmão.”

"Como ele foi?" perguntou Ray.

"Muito bem. O caso Coy Trembley terminou em um júri pendurado. Os promotores estavam debatendo sobre julgar novamente quando o pai da pequena garota apareceu no apartamento de Trembley e atirou cinco vezes nele, incluindo uma vez no rosto. Ele não sobreviveu."

"Jeez," resmungou Ray.

"Pois é," concordou Keri. "Foi por volta dessa época que Cave entrou de aviso no escritório da promotoria. Ele ficou fora do mapa por três meses depois disso. Então, de repente, reemergiu com uma nova firma que lidava principalmente com clientes corporativos. Mas ele também fez algumas coisas de defesa de colarinho branco e aumentando aos longos dos anos, trabalho pro-bono para um pessoal parecido com seu meio irmão."

"Espera," demandou Ray incrédulo. "Eu deveria acreditar que esse cara se tornou um advogado de defesa para honrar a memória do seu irmão morto ou algo assim, para defender os direitos dos moralmente grotescos?"

Keri balançou a cabeça.

"Não sei, Ray," ela disse. “Pelos anos, Cave quase nunca falou sobre seu irmão. Mas quando ele o fez, quase sempre manteve que Coy foi falsamente acusado. Ele foi bem convicto sobre isso. Acho que é possível que ele tenha começado sua prática com intenções nobres."

"OK. Vamos dizer que eu dê a ele o benefício da dúvida acerca disso. Que diabos aconteceu com ele então?"

Mags continuou daí.

"Bem, está bem claro que a culpa da maior parte dos seus clientes pro-bono iniciais era altamente duvidosa. Alguns deles pareciam ter sido apenas ter escolhidos em filas ou tirados da rua. Ocasionalmente ele os safava; normalmente não o fazia. Enquanto isso, ele estava contornando, fazendo discursos em conferências pela liberdade dos direitos civis-bons discursos na verdade, bem passionais. Houve até uma conversa de que ele pudesse se candidatar para promotor algum dia."

"Parece como uma história de sucesso americana até agora," disse Ray.

"E foi," concordou Keri. "Isto é, até cerca de dez anos atrás. Foi quando ele pegou o caso de um cara que não se encaixava no perfil. Ele era um sequestrador de crianças em séria que aparentemente o fazia profissionalmente. E ele pagava Cave belamente para representá-lo."

"Por que ele pegou esse caso do nada?" perguntou Ray.

"Não está cem por cento claro," disse Keri. "Seu trabalho corporativo ainda não havia decolado. Então pode ter sido uma decisão financeira. Talvez ele não visse esse cara como sendo tão censurável como outros. As acusações contra ele foram por rapto por encomenda, não abuso ou molestação. O cara basicamente sequestrava crianças e as vendia para quem ofertasse mais. Ele era, usando uma descrição generosa, um ‘profissional’. Seja qual fosse a razão, Cave aceitou esse cara, o absolveu e então as comportas se abriram. Ele começou a pegar todo o tipo de clientes similares, muitos dos quais eram menos... profissionais."

"Por volta da mesma época," acrescentou Mags, "o trabalho corporativo deslanchou. Ele se mudou de um sobrado de uma loja no Echo Park para o escritório no alto de um edifício no centro que ele possui agora. E ele nunca olhou para trás."

"Não sei," disse Ray cético. “É difícil ver através a trajetória saindo de defensor dos direitos civis das minorias até chegar ao tubarão dos tribunais que representa pedófilos e, possivelmente, coordena um circuito de escravos sexuais infantis. Eu sinto que está nos faltando uma peça."

"Bem, você é um detetive, Raymond," disse Mags sarcasticamente. "Então, detecte."

Ray abriu a boca, prestes a devolver, antes de perceber que estava sendo provocado. Todos os três riram, satisfeitos pela chance de quebrar a tensão que eles não perceberam que estava se formando. Keri pulou de volta.

"Tem que estar relacionado ao sequestrador em série que ele representou. Foi quando tudo mudou. Nós deveríamos olhar mais nisso."

"O que você tem sobre ele?" perguntou Ray.

"O caso dele termina no nada," disse Mags frustrada. "Cave representou o sujeito, o liberou e, então, o cara saiu do mapa. Não fomos capazes de encontrar qualquer coisa sobre ele desde então."

"Qual era o nome do cara?” perguntou Ray.

“John Johnson,” respondeu Mags.

"Soa familiar," resmungou Ray.

"Sério?" disse Keri surpresa. "Porque há quase nada sobre ele. Parece que era uma identidade falsa. Não há registros sobre ele existir depois que foi absolvido. É como se ele tivesse deixado o tribunal e, então, desaparecido completamente."

"Ainda sim, o nome diz alguma coisa," disse Ray. "Acho que foi antes de você entrar na força. Você tentou pegar uma foto de admissão?"

"Comecei," disse Keri. "Existem setenta e sete John Johnsons no banco de dados cujas fotos foram tiradas no mês da prisão dele. Não tive chance de passar por todas elas."

"Você se importa se eu der uma olhada?"

"Vá em frente," disse Keri, levantando a tela e deslizando o notebook até ele. Ela podia dizer que ele estava pensando em algo, mas não queria dizer em voz alta ainda caso esteja errado. Enquanto ele rolava pelas imagens, ele conversou quase inadvertidamente.

"Ambas disseram que foi como se ele sumisse do mapa, como se desaparecesse, certo?"

"Aham," disse Keri, o observando de perto, sentindo sua respiração acelerar.

"Quase como um... fantasma?" ele perguntou.

"Aham," ela repetiu,

Ele parou de rolar e olhou para uma imagem na tela antes de olhar acima para Keri,

"Eu acho que seja porque ele é um fantasma: de forma mais acurada, 'O Fantasma,'"

Ray virou a tela para que Keri pudesse ver a foto. Quando ela encarava a foto do homem que mandou Jackson Cave pelo seu obscuro caminho pela primeira vez, um calafrio desceu por sua espinha.

Ela o conhecia.


CAPÍTULO SEIS

Keri tentou controlar suas emoções enquanto uma onda de adrenalina navegava pelo seu sistema, fazendo seu corpo inteiro formigar.

Ela reconhecia o homem olhando de volta para ela. Mas ela não o conhecia como John Johnson. Quando eles se encontraram pela primeira vez, ele atendia pelo nome de Thomas Anderson, mas todos se referiam a ele como O Fantasma.

Eles se falaram apenas duas vezes, as duas na Unidade de Correção Twin Towers no centro de Los Angeles, onde ele estava atualmente sendo encarcerado por crimes não dissimilares àqueles dos quais John Johnson fora absolvido.

"Quem é esse, Keri?" perguntou Mags, meio preocupada, metade irritada pelo longo silêncio.

Keri percebeu que ele esteve olhando muda para a foto de admissão nos últimos segundos.

"Desculpe-me," ele respondeu, chacoalhando-se de volta para o momento. “Seu nome é Thomas Anderson. Ele está sendo mantido no presídio do condado pelo rapto e venda de crianças, a maioria para famílias de fora do estado que não preenchiam as qualificações para adoção. E não posso acreditar que não me ocorreu que Johnson e Anderson pudessem ser o mesmo cara."

"Cave lida com muitos sequestradores, Keri," disse Ray. "Não há razão para que você tivesse feito essa conexão."

"Como você o conhece?" perguntou Mags.

"Eu trombei com ele no ano passado quando eu estava investigando arquivos de casos sobre sequestradores. Em um ponto, eu pensei que ele pudesse ter pegado Evie. Eu fui até Twin Towers para entrevistá-lo e ficou claro bem rapidamente que ele não era o cara. Ele até me deu algumas pistas que me ajudaram a finalmente caçar o Colecionador. E agora que eu penso nisso, ele é a primeira pessoa que mencionou Jackson Cave para mim-ele disse que Cave foi seu advogado."

"Você nunca havia escutado sobre Cave antes disso?" perguntou Mags.

"Não, eu escutei dele. Ele é notório aos policiais da Pessoas Desaparecidas. Mas nunca havia encontrada um dos seus clientes ou tinha motivos para pensar nele como alguma coisa além de um lixo geral até que Anderson me fez mais ciente dele. Até eu encontrar Thomas Anderson, Jackson Cave nunca esteve no meu radar."

"E você não acha que isso é uma coincidência?" perguntou Mags.

"Com Anderson, eu não tenho certeza de que qualquer coisa seja coincidência. Não é estranho que ele tenha saindo impune como 'John Johnson', mas então tenha sido preso fazendo a mesma coisa de sequestro usando sua identidade real, Thomas Anderson? Por que não usou uma identidade falsa novamente? Digo, o cara foi um bibliotecário por mais de trinta anos. Ele basicamente arruinou a vida usando seu nome real."

"Talvez ele pensou que Cave poderia salvá-lo uma segunda vez?" sugeriu Ray,

"Mas aí está a coisa," disse Keri. "Mesmo que, tecnicamente, Cave tenha sido seu advogado de defesa, em seu último julgamento, no que ele foi condenado, Anderson se defendeu. E supostamente, a defesa foi excelente. Os boatos são de que ele era tão convincente que se o caso não fosse forjado em aço, ele teria saído ileso."

"Se esse cara era um gênio, contrapôs Mags, “como o caso contra ele foi tão forte em primeiro lugar”?"

"Eu perguntei a mesma coisa," respondeu Keri. "E ele concordou comigo que era estranho que alguém tão inteligente e meticuloso como ele fosse pego daquela maneira. Ele não chegou a dizer isso, mas ele essencialmente me indicou que ele quis ser condenado."

"Mas por que nesse mundo?!" perguntou Mags.

"Essa é uma pergunta excelente, Margaret," disse Keri, fechando o notebook. "E é uma que eu pretendo abordar com o Sr. Anderson bem agora."

*

Keri estacionou seu carro na estrutura massiva do outro lado das Twin Towers e caminhou até o elevador. Algumas vezes, se ela precisasse visitar no dia, a massiva instituição de encarceramento do condado estava tão ocupada que ela precisava ir até o décimo andar descoberto para encontrar uma vaga de estacionamento. Mas eram quase 8 da noite e ela encontrou uma vaga no segundo andar.

Ao atravessar a rua, ela repassou o plano. Tecnicamente, por coisa da sua suspensão e da investigação do AI, ela não tinha autorização para se encontrar com um prisioneiro em uma sala de interrogatório. Mas isso ainda não era de amplo conhecimento. Ela estava esperando que sua familiaridade com os agentes da prisão a permitiria blefar seu caminho até lá.

Ray se ofereceu para acompanhá-la para facilitar o caminho. Mas ela se preocupou que isso levasse a questionamentos, potencialmente colocando-o em problemas. Mesmo se não ocorresse dessa maneira, poderia ser requisitado a ele que se sentasse na entrevista com Anderson. Keri sabia que o cara não se abriria sob essas circunstâncias.

Por fim, ela não necessitava de ter se preocupado.

"Como vai, Detetive Locke?" o Oficial de Segurança Beamon perguntou enquanto ela se aproximava do detector de metais no lobby. "Estou surpreso em você de pé e andando por aí depois briga com o psicopata mais cedo essa semana."

"Ah, sim," concordou Keri, decidindo usar seu confronto passado em sua vantagem, "eu também, Freddie. Parece que eu estava em uma luta pelo título, né? Na verdade, eu ainda estou de licença até ficar em forma. Mas eu estava ficando agitada no apartamento, então eu pensei que pudesse dar uma olhada em um caso antigo,. É informal, então eu nem trouxe a arma e o distintivo. É tranquilo se eu entrevistar alguém mesmo se eu estiver fora do horário?"

"Claro, Detetive. Eu só gostaria que você pegasse leve. Mas eu sei que você não vai. Assine. Pegue seu distintivo de visitante e siga para o andar de interrogatório. Você conhece a manobra."

Keri conhecia a manobra e quinze minutos depois ela estava sentada em uma sala de interrogatório, esperando pela chegada do prisioneiro #2427609 ou Thomas "O Fantasma" Anderson. O guarda a avisara que eles estavam se aprontando para desligar as luzes e que poderia levar um tempo extra para trazê-lo. Ela tentou ficar calma enquanto esperava, mas sabia que era uma batalha perdida.

Anderson sempre parecia entrar na pele dele, como se ele estivesse secretamente descascando seu escalpo para revelar seu cérebro e ler seus pensamentos. Várias vezes, ela sentia como se fosse um gatinho de estimação e ele estivesse segurando um daqueles lasers, mandando-a a galope em direções aleatórias ao seu bel prazer.

Ainda sim, foi a informação que ele fornecera, mais do que todas as outras informações, que a fez seguir pelo caminho que a colocou mais próxima de encontrar Evie Fora proposital ou apenas sorte? Ele nunca lhe dera qualquer indicativo de que os encontros deles fossem algo mais além de causalidade. Mas se ele estava tão à frente do jogo assim, por que ele o faria?

A porta se abriu e ele andou por ela, aparentando exatamente como ela se lembrava. Anderson, em meados dos seus cinquenta, estava mais para baixo, cerca de um metro e setenta, com uma silhueta quadrada bem construída, que sugeria que usava a academia da prisão regularmente. As algemas em seus antebraços musculosos pareciam apertadas. Ainda, ele parecia mais magro do que ela se lembrava, como se tivesse perdido algumas refeições.

Seu cabelo espesso estava partido rigorosamente, mas para grande surpresa, não era o preto carvão do qual ela se recordava. Agora era mais uma combinação de sal e pimenta. Nas beiradas do macacão da prisão, ela ainda podia enxergar as porções das múltiplas tatuagens que cobriam o lado direito do corpo dele até o pescoço. Seu lado esquerda ainda estava imaculado.

Enquanto ele era direcionado para a cadeira de metal do outro lado da mesa, seus olhos cinzentos nunca a deixaram. Ela sabia que ele estava a absorvendo, estudando-a, medindo-a, tentando aprender o máximo que ele podia sobre a situação dela antes que ela dissesse uma palavra.

Depois que ele estava sentado, o guarda tomou um posto ao lado da porta.

"Estamos bem, Oficial... Kiley," disse Keri, mirando seu crachá.

"Procedimento, senhora," o guarda disse bruscamente.

Ela o encarou. Ele era novo... e jovem. Ela duvidava que ele já estivesse na lista, mas ela não poderia arcar com qualquer pessoa, corrupta ou limpa, escutando essa conversa. Anderson sorriu ligeiramente para ela, sabendo o que estava por vir. Isso provavelmente seria divertido para ele.

Ela se levantou e olhou para o guarda até que ele sentisse os olhos dela e olhasse para o lado.

"Em primeiro lugar, não é senhora. É Detetive Locke. Em segundo lugar, não dou a mínima sobre seu procedimento, novato. Quero falar com esse prisioneiro em particular. Se você não pode acomodar isso, então eu preciso conversar com você em particular e não vai ser um papo confortável."

"Mas..." Kiley começou a balbuciar enquanto alternava de um pé para o outro.

"Mas nada, Oficial. Você tem duas escolhas aqui. Você pode me deixar falar com esse preso em particular. Ou podemos ter aquela conversa! Qual vai ser?"

"Talvez eu devesse chamar meu superv-"

"Que não está na lista de escolhas, Oficial. Sabe de uma coisa? Vou decidir para você. Vamos lá fora para que eu possa conversar com você um pouco. Alguém poderia pensar que derrubar um fanático religioso pedófilo me daria passaporte pelo resta da semana, mas eu acho que agora eu tenho que instruir um agente carcerário também."

Ela chegou para a maçaneta da porta e começou a puxar quando Oficial Kiley finalmente perdeu o que restava da sua coragem. Ela ficou impressionada com quanto tempo ele durou.

"Deixa para lá, Detetive," ele disse apressadamente. “Vou esperar do lado de fora. Apenas por favor, tenha cuidado. Este prisioneiro tem uma história de incidentes violentos”.

"Claro que sim," disse Keri, sua voz agora toda com mel amanteigado. "Obrigado por ser tão amável. Tentarei ser breve."

Ele saiu e fechou a porta e Keri voltou ao seu lugar, cheia de confiança e energia que estavam faltando há apenas trinta segundos.

"Isso foi divertido," disse Anderson suavemente.

"Tenho certeza," respondeu Keri. "Pode apostar que eu espero informações preciosas em retorno por fornecê-lo com entretenimento de tal qualidade."

"Detetive Locke," disse Anderson em um tom de indignação zombeteira, "você ofende meus sentimentos delicados. Passaram-se meses desde que nos vimos e, ainda sim, seu primeiro instinto ao me ver é exigir informações? Sem olá? Sem como você vai?"

"Olá," disse Keri. "Eu perguntaria como você está, mas está claro que você não está ótimo. Você perdeu peso. O cabelo ficou grisalho. A pele perto de seus olhos ficou flácida. Você está doente? Ou alguma coisa está pesando na sua consciência?”

"Embora, na verdade," ele admitiu. "Vê, os rapazes aqui vem me tratando um pouco grosseiramente ultimamente. Não estou mais no grupo dos populares. Então, eu tenho o meu jantar 'emprestado' ocasionalmente. De vez em quando recebo uma massagem de costela não solicitada. Além disso, eu tenho um toque do câncer."

"Eu não sabia?" disse Keri baixinho, genuinamente surpreendida. Todos os sinais físicos de desgaste faziam mais sentido agora.

“Como você poderia?” ele perguntou. "Eu não anunciei isso. Eu poderia ter-lhe dito na minha audiência da condicional em novembro, mas você não estava lá. Eu não consegui, a propósito. Mas não foi sua culpa. Sua carta foi encantadora, muito obrigado."

Keri escreveu uma carta em nome de Anderson depois que ele a ajudou. Ela não defendeu sua libertação, mas ela foi generosa em sua descrição de sua ajuda à força policial.

"Você não ficou surpreso que não tenha conseguido, presumo?"

"Não," ele disse. "Mas é difícil não ter esperança. Era minha última chance real de sair daqui antes que a doença me pegue. Eu tive sonhos vagando em uma praia em Zihuatanejo. Infelizmente, não é para ser. Basta de conversa furada, Detetive. Vamos para o porquê de você realmente estar aqui. E lembre-se, as paredes têm ouvidos."

"OK," ela começou, então se inclinou e sussurrou, "você sabe sobre amanhã à noite?"

Anderson assentiu com a cabeça. Keri sentiu uma onda de esperança subir em seu peito.

"Você sabe onde vai ser?"

Ele balançou a cabeça.

"Eu não posso te ajudar com o onde," ele sussurrou de volta. "Mas eu posso conseguir ajudá-la com o porquê."

"Que bem isso me faz?" ela exigiu amargamente.

"Saber o porquê pode ajudar a encontrar o onde."

"Deixe-me perguntar um porque diferente," ela disse, percebendo a raiva estava ficando com o melhor dela, mas não incapaz de contê-la.

"Está bem."

"Por que você sequer está me ajudando?" ela perguntou. "Você vem me guiando o tempo todo, desde que eu te conheci?"

"Aqui é que eu posso dizer a você, Detetive. Você sabe o que eu fiz como trabalho, como eu coordenei o roubo de crianças de suas famílias para serem dadas a outras famílias, geralmente por taxas robustas. Foi um negócio muito lucrativo. Eu era capaz de conduzi-lo à distância usando um nome falso e viver uma vida feliz e descomplicada”.

“Como John Johnson?”

"Não, minha vida feliz era como Thomas Anderson, bibliotecário. Meu álter ego era John Johnson, facilitador de sequestro. Quando fui pego, me voltei para alguém que ambos sabemos ter se certificado que John Johnson fosse exonerado e que Thomas Anderson nunca fosse conectado a ele. Isso foi quase uma década atrás. Nosso amigo não queria fazer isso. Ele disse que representava apenas os maltratados pelo sistema e que eu era, e é engraçado pensar nisso agora, um câncer nesse sistema.”

"Isso é engraçado," concordou Keri, sem rir.

"Mas como você sabe, eu posso ser convincente. Que o convenci que eu estava levando as crianças de famílias ricas e indignas e dando-lhes para famílias carinhosas sem os mesmos recursos. Então, eu o ofereci uma enorme quantia para me absolver. Eu acho que ele sabia que eu estava mentindo. Afinal, como essas famílias de baixa renda poderiam me pagar? E os parentes que perderam suas crianças eram todos realmente terríveis? Nosso amigo é muito inteligente. Ele devia saber. Mas eu lhe dei algo para segurar, algo para dizer a si mesmo quando ele pegou seis zeros em dinheiro vivo de mim."

"Seis zeros?" repetiu Keri incrédula.

“Como eu disse, é um negócio muito lucrativo. E esse pagamento foi apenas o primeiro. Ao longo do julgamento, eu o paguei cerca de meio milhão de dólares. E com isso, ele estava em seu caminho. Depois que fui absolvido e retomei o trabalho sob meu próprio nome, ele até começou a me ajudar a facilitar os raptos para essas famílias "mais merecedoras". Conquanto ele pudesse encontrar uma maneira de justificar as transações, ele ficaria confortável com elas, até mesmo entusiasmado."

"Então você o deu aquela primeira mordida do fruto proibido?"

"Assinei. E ele descobriu que gostava do sabor. De fato, ele descobriu que ele tinha gosto por uma grande variedade de coisas que não estava ciente de que poderia gostar."

"O que exatamente você está dizendo?" perguntou Keri.

“Vamos apenas dizer que, em algum momento, ele perdeu a necessidade de justificar as transações. Você sabe esse evento amanhã à noite?"

"Sim?"

"Foi criação dele," disse Anderson. "Veja bem, ele não participa. Mas ele percebeu que havia um mercado para esse tipo de coisa e para todas as festividades menores e semelhantes ao longo do ano. Ele preencheu esse nicho. Ele essencialmente controla a versão de luxo desse mercado na área de Los Angeles. E pensar que antes de mim, ele trabalhava em um escritório de um cômodo ao lado de uma loja de donuts representando imigrantes ilegais sendo acusados aleatoriamente de crimes sexuais por policiais querendo atingir metas."

"Então você desenvolveu uma consciência?" perguntou Keri através de dentes cerrados. Ela estava enojada, mas queria respostas e preocupou-se de que ser muito evidente com essa aversão pudesse desligar Anderson. Ele parecia sentir como ela se sentia, mas prosseguiu de qualquer maneira.

"Ainda não. Não foi isso que aconteceu para mim. Aconteceu muito depois. Eu vi essa história em um jornal local por volta de uma ano e meio atrás sobre uma detetive e seu parceiro que resgataram essa pequena menina que fora raptada pelo namorado da sua babá, um verdadeiro monstro."

"Carlo Junta," Keri disse automaticamente.

“Certo”. De qualquer forma, na história, eles mencionaram que essa detetive era a mesma mulher que se juntou a academia de polícia alguns anos antes. E eles mostraram um clipe de uma entrevista após sua formatura na academia. Ela disse que se juntou à força porque sua filha foi sequestrada. Ela disse que, embora não pudesse salvar sua própria filha, talvez por ser policial, ela poderia ajudar a salvar a filha de outra família. Isso soa familiar?

"Sim," disse Keri baixinho.

"Então," Anderson continuou, "porque eu trabalhava em uma biblioteca e tinha acesso a todos os tipos de gravações antigas, eu voltei e achei a história sobre quando a filha dessa mulher foi sequestrada e sua conferência com repórteres logo depois quando ela implorou pelo retorno seguro da sua filha."

Keri remontou a conferência, a qual era quase um borrão. Ela se lembrava de falar em uma dúzia de microfones enfiados na sua cara, implorando ao homem que arrancara sua filha no meio de um parque, que havia jogando-a em uma van como se fosse uma boneca de pano, para devolvê-la.

Lembrou-se do grito de "Por favor, mamãe, me ajude" e os cachinhos louros se distanciando enquanto Evie, com apenas oito na época, desaparecia pelo gramado verde. Ela se recordou dos pedacinhos de cascalho que ainda estavam incrustados em seus pés durante a conferência com a mídia, presos ali quando ela correu de pés descalços pelo estacionamento, perseguindo a van até que esta a deixasse na poeira. Ela se lembrava de tudo.

Anderson havia parado de falar. Ela olhou para ele e viu que seus olhos estavam cheios de lágrimas, assim como os dela. Ele pressionou.

"Depois disso, eu vi outra história alguns meses mais tarde onde esta detetive resgatava outra criança, desta vez um menino tomado enquanto caminhava para a prática de beisebol."

“Jimmy Tensall.”

"E um mês depois, ela encontrou uma menininha que havia sido arrancada para fora de um carrinho no supermercado. A mulher que a roubou possuía uma certidão de nascimento falsa pronta e estava planejando voar para o Peru com o bebê. Você a pegou no portão quando ela estava prestes a embarcar no avião."

"Eu me lembro.”

"Foi quando eu decidi que eu não podia fazer mais isso. Cada transação lembrava-me da conferência de imprensa onde você estava suplicando por sua filha. Eu não conseguia manter isso de forma equitativa. Eu amoleci, eu acho. E logo por essa época, nosso amigo cometeu um erro."

"Qual foi?" perguntou Keri, sentindo uma sensação formigante que só vinha quando ela sentia alguma coisa grande prestes a ser revelada.

Thomas Anderson olhou para ela e ela podia dizer que ele estava lutando com algum tipo de grande decisão interna. Então, sua fronte deixou de se franzir e seus olhos clarearam. Ele parecia ter tomado uma decisão.

"Você confia em mim?" ele perguntou em voz baixa.

"Que diabos de pergunta é essa? Mas nem fod-"

Mas antes que ela terminasse a sentença, ele empurrou a mesa que os separava, colocou as algemas em seus punhos ao redor do pescoço dela e puxou-a para o chão, escorregando em um canto da sala de interrogatório.

Quando o Oficial Kiley invadiu a sala, Anderson usou seu corpo como um escudo, mantendo-a na frente dele. Ela sentiu uma picada aguda no pescoço e olhou para baixo para ver o que era. Parecia uma alça de escova de dente afiada. E estava pressionada contra sua jugular.


CAPÍTULO SETE

Keri estava completamente desnorteada. Um instante antes, Anderson estava se desmanchando com o pensamento da sua filha perdida. Agora ele estava segurando um pedaço de plástico supera fiado na sua garganta.

Seu primeiro instinto foi fazer um movimento para quebrar a sua pegada. Mas ela sabia que não funcionaria. Não havia como ela fazer qualquer coisa antes que ele fosse capaz de enfiar a estaca plástica em sua veia.

Além disso, alguma coisa não estava certa. Anderson nunca havia lhe dado a sensação de que ele tinha malícia em relação a ela. Ele parecia realmente gostar dela. Ele parecia querer ajudá-la. E se ele realmente tivesse câncer, esse era um exercício infrutífero. Ele mesmo disse que logo estaria morto.

Essa é a maneira de evitar a agonia, sua versão de suicídio por um policial?

"Largue isso, Anderson!" gritou o Oficial Kiley, sua arma apontada na direção deles.

"Abaixe sua arma, Kiley," disse Anderson surpreendentemente calmo. "Você vai alvejar a refém acidentalmente e então sua carreira estará acabada antes que tenha sequer começado. Siga o procedimento. Alerte seu superior. Traga um negociador até aqui. Não deve demorar. O departamento tem sempre um de plantão. Provavelmente alguém pode estar nessa sala em dez minutos."

Kiley ficou ali, sem saber como proceder. Seus olhos se moviam de um lado para o outro entre Anderson e Keri. Suas mãos tremiam.

"Ele está certo, Oficial," disse Keri, tentando seguir o tom tranquilizador de Anderson. "Apenas siga o procedimento padrão e vai tudo funcionar. O prisioneiro não vai a lugar nenhum. Saia e verifique se a porta está trancada. Faça suas chamadas. Estou bem. O Sr. Anderson não vai me machucar. Ele claramente quer negociar. Então você precisa trazer alguém que tenha autorização para fazer isso, OK?"

Kiley assentiu com a cabeça, mas seus pés permaneceram enraizados no lugar.

"Agente Kiley," Keri disse, desta vez mais firmemente, "vá lá fora e chame o seu supervisor. Agora mesmo!"

Isso pareceu fazer Kiley acordar. Ele recuou para fora da sala, fechou e trancou a porta, pegou o telefone na parede, nunca os perdendo de vista.

"Não temos muito tempo," Anderson sussurrou no ouvido da Keri enquanto ele relaxava ligeiramente o plástico pressionando contra sua carne. "Desculpe-me por isso, mas é a única forma que eu poderia me certificar que poderíamos conversar em total confidência."

"Sério?" Keri sussurrou de volta, metade furiosa, metade aliviada.

"Cave tem pessoas em todos os lugares, aqui e lá fora. Depois disso, eu estou acabado com certeza. Não vou durar até o fim da noite. Posso nem durar a hora. Mas estou mais preocupado com você. Se ele acha que você sabe tudo que sei, ele pode apenas eliminar você, independentemente das consequências."

"Então, o que você sabe?" perguntou Keri.

"Eu disse a você que Cave cometeu um erro. Ele veio a mim e disse que estava preocupado com você. Ele havia feito uma verificação e encontrou que um dos seus capangas sequestrara sua filha. E, como você descobriu, foi Brian Wickwire-o Colecionador. Cave não mandou ou sabia sobre isso. Wickwire operava muito por conta própria e várias vezes Cave ajudava a facilitar o transporte das garotas depois do fato. Foi o que ele fez com Evie e ele nunca pensou duas vezes."

"Então, ele não tinha Evie como alvo?" perguntou Keri. Ela havia suspeitado dessa maneira, mas queria ter certeza.

"Não. Ela era apenas uma bonita garota loira pela qual Wickwire pensou que pudesse conseguir um bom preço em troca. Mas depois que você começou a resgatar meninas e gerar manchetes, Cave voltou nos seus registros e viu que ele estava ligado ao rapto dela através de Wickwire. Ele estava preocupado que você eventualmente encontrasse um caminho até ele e me pediu para esconder Evie em algum lugar bem secreto e para mantê-lo fora disso. Ele não queria saber."

"Ele estava cobrindo seus rastros antes mesmo que eu suspeitasse que ele estivesse envolvido?" perguntou Keri, impressionada com a visão de futuro de Cave.

"Ele é um cara esperto," concordou Anderson. "Mas o que ele não percebeu foi que ele estava pedindo exatamente a pessoa errada por ajuda. Ele não poderia saber. Afinal, eu sou aquele que o corrompeu em primeiro lugar. Por que ele suspeitaria de mim? Mas eu tomei a decisão de ajudá-la. Claro, eu fiz o fiz de forma que eu pensei que me manteria protegido."

Apenas então Kiley abriu uma fresta da porta.

"O negociador está a caminho," ele disse, sua voz tremulante. "Ele estará aqui em cinco minutos. Apenas fiquem calmos. Não faça nada maluco, Anderson."

"Não me faça fazer nada maluco!" Anderson gritou de volta para ele, pressionando a escova de dente de volta no pescoço de Keri e perfurando sua pele sem querer. Kiley fechou rapidamente a porta.

"Ai," ela disse. "Acho que você arrancou sangue."

"Desculpe-me," ele disse, soando surpreendentemente acanhado. "É difícil manejar esparramado no chão assim."

"Apenas controle um pouco, OK?"

"Vou tentar. Há muita coisa acontecendo, sabe? Enfim, eu conversei com Wickwire e disse-lhe para colocar Evie em um local em Los Angeles onde ela iria ser bem cuidada, caso precisássemos dela mais tarde. Eu queria ter certeza de que ela não saísse da cidade. E eu não queria que ela passasse... por mais do que ela precisava."

Keri não respondeu, mas ambos sabiam que não havia qualquer coisa que ele pudesse fazer a respeito dos anos antes disso e os horrores que sua filha deve ter sofrido nesse período. Anderson continuou rapidamente, claramente não querendo atrasar-se mais do que ela nesse pensamento.

"Eu não sabia o que ele fez com ela, mas acabou que ele a colocou com o cara mais velho que você encontrou eventualmente."

"Se você havia decidido me ajudar, por que você simplesmente não descobriu a localização dela por conta própria?"

"Duas razões", disse Anderson. "Primeiro, Wickwire não ia me dar a localização dela. Era informação privilegiada e ele a mantinha bem guardada. Segundo, e não estou orgulhoso disso, sabia que seria preso se trouxesse sua filha para você."

"Mas você foi preso intencionalmente de qualquer maneira, alguns meses depois por sequestros de crianças," protestou Keri.

"Eu fiz isso posteriormente, quando percebi que precisava tomar ações drásticas. Eu sabia que eventualmente você pesquisaria por sequestradores e traficantes de crianças e acabaria me achando. E eu sabia que poderia te colocar no caminho certo sem fazer Cave suspeitar de mim. Quanto a ser preso intencionalmente, isso é verdade. Mas você pode se lembrar de que eu me defendi no tribunal. E se você verificar o registro de corte de perto, você vai descobrir que tanto o promotor e o juiz cometeram vários erros, erros aos quais eu os induzi, os quais quase certamente levariam a minha condenação. Eu só estava esperando até a hora certa para apelar. Claro que tudo é discutível agora."

Keri olhou para cima e viu uma comoção fora da janela da sala. Ela era capaz de ver múltiplos agentes passado, pelo menos um deles estava carregando uma arma longa. Era um atirador de elite.

"Eu não queria ser fria, mas nós precisamos encerrar isso," ela disse. "Não há como dizer se alguém lá fora tem um dedo no gatilho coçando ou se Cave ordenou um dos seus minions a te abater como precaução."

"É verdade, Detetive," concordou Anderson. "Aqui estou eu tagarelando sobre minha conversão moral quando o que você quer saber é como ter sua filha de volta. Estou certo?"

"Está. Então me conte. Como faço para recuperá-la?”

"Genuinamente, eu não sei. Não sei onde ela está." Eu não acredito que Cave saiba onde ela está. Ele pode saber a localização do evento Vista amanhã à noite, mas não há chance de que ele compareça. Então é inútil tê-lo seguido.

"Então, você está dizendo não tenho esperança de conseguir ela de volta?" exigiu Keri descrente.

Passei por tudo isso para essa resposta?

"Provavelmente não, Detetive," ele admitiu. "Mas talvez você pode conseguir fazê-lo entregá-la de volta."

"Do que você está falando?"

“Jackson Cave costumava considerá-la um aborrecimento, um obstáculo para administrar seus negócios. Mas isso mudou no ano passado. Ele ficou obcecado por você. Ele não só pensa que você está por aí para destruir seus negócios. Ele acha que você quer destruí-lo pessoalmente. E porque ele distorceu a realidade para tornar-se o mocinho, ele acha que você é a vilã."

"Ele acha que eu sou a bandida?" repetiu Keri, incrédula.

"Sim. Lembre-se, ele manipula o próprio código moral como aprouver para que ele possa funcionar. Se ele pensasse que estivesse fazendo coisas malignas, ele não poderia conviver consigo mesmo. Mas ele encontrou maneiras de justificar até mesmo os atos mais hediondos. Ele me disse uma vez que as meninas nestes círculos de escravos sexuais estariam morrendo de fome nas ruas, se não fosse por ele."

"Ele ficou louco," disse Keri.

"Ele está fazendo o que pode para poder se olhar ao espelho todas as manhãs, Detetive. E hoje em dia, parte disso significa acreditar que você está em uma caça às bruxas. Ele vê você como o inimigo. Ele te vê como sua nêmeses. E isso o torna muito perigoso. Porque eu não estou certo do quão longe ele irá para impedi-la."

"Então, assim como eu posso fazer um cara assim entregar Evie de volta para mim?"

"Se você for até ele e o convencer de que não está atrás dele, que tudo o que você quer é sua filha, talvez ele ceda a compaixão. Se você puder persuadi-lo de que, uma vez que consiga sua filha segura em seus braços, você o esquecerá para sempre, talvez até mesmo sair da força policial, ele pode ficar convencido a depor as armas. Neste instante, ele acha que você quer a destruição dele. Mas se for possível fazê-lo acreditar que você não o quer, que você quer apenas ela, talvez haja uma chance."

"Você acha que isso realmente funcionaria?" perguntou Keri, incapaz de esconder o ceticismo na voz. "Eu dizer apenas 'dê-me minha filha de volta e eu vou deixá-lo em paz para sempre' e ele aceitar?"

"Eu não sei se vai funcionar. Mas eu sei que você não tem opções. E você não tem qualquer coisa a perder tentando."

Keri estava revirando a ideia em sua cabeça quando houve uma batida na porta.

"O negociador está aqui," Kiley gritou. "Ele está vindo pelo corredor agora."

"Um minuto!" gritou Anderson. "Diga a ele para se manter afastado. Eu vou dizer a ele quando entrar."

"Eu direi a ele," disse Kiley, embora sua voz indicasse que ele estava desesperado para entregar a comunicação o quanto antes.

"Uma última coisa," sussurrou Anderson em seu ouvido, ainda mais baixo do que antes, se isso era possível. "Você tem um espião infiltrado na sua unidade."

"O quê? Divisão do Oeste de LA?" perguntou Keri perplexa.

"Na sua Unidade de Pessoas Desaparecidas. Eu não sei quem é. Mas alguém está fornecendo informações para o outro lado. Então tome cuidado. Mais do que o habitual, quero dizer."

Uma nova voz gritou do outro lado da porta.

"Sr. Anderson, aqui é Cal Brubaker. Sou o negociador. Posso entrar?"

"Só um segundo, Cal," Anderson gritou. Então ele se inclinou ainda mais para perto de Keri. "Tenho a sensação de que esta é a última vez que nós conversaremos, Keri. Quero que você saiba que eu acho que você é uma pessoa muito impressionante. Espero que você encontre Evie. De verdade. Entre, Cal."

Quando a porta se abriu, ele levou a escova de dente de volta para o pescoço dela, mas não tocou a pele. Um homem barrigudo em meados dos quarenta e com um tufo de cabelo desgrenhado cinzento e óculos finos e de armação circular que Keri suspeitava serem apenas para amenizar o clima na sala.

Ele usava jeans azuis e uma camisa de lenhador amarrotada, completa, com o padrão xadrez preto e vermelho. Beirava o risível, como a versão "fantasiada" do que um negociador de reféns não ameaçador poderia parecer.

Anderson olhou para ele e ela pode ver que ele se sentia da mesma maneira. Ele parecia estar lutando contra a ânsia de revirar os olhos.

“Oi, Sr. Anderson. Você pode me dizer o que está te incomodando essa noite?" ele disse em um tom praticado e não agressivo.

"Na verdade, Cal," respondeu Anderson suavemente, "enquanto esperávamos por você, a Detetive Locke me convenceu. Percebi que eu estava apenas me permitindo me sobrecarregar com minha situação e reagi... mal. Acho que estou pronto para me render e aceitar as consequências de minhas escolhas."

"OK," disse Cal surpreso. "Bem, essa é a negociação mais indolor da minha vida. Já que você está tornando as coisas tão fáceis para mim, tenho que perguntar: você tem certeza de que não há alguma coisa que você queira?"

"Talvez algumas pequenas coisas," disse Anderson. "Mas eu não acho que você não vai ter problemas com qualquer uma delas. Eu gostaria de me certificar que a Detetive Locke seja levada diretamente para a enfermaria. Acidentalmente, eu a cutuquei com a ponta da escova de dente e não tenho certeza de quão higiênica ela está. Ela deve limpá-la imediatamente. E eu realmente agradeceria se você pedisse ao Agente Kiley, o cavalheiro que me trouxe aqui, que me algemasse e me levasse para onde quer que eu esteja indo. Tenho a sensação de que alguns desses outros caras seja mais brusco que o necessário. E talvez, uma vez que eu largue o objeto pontiagudo, você pudesse pedir para o atirador abaixar a arma. Ele está me deixando um pouco nervoso. Pedidos razoáveis?”

"Todos razoáveis, Sr. Anderson," concordou Cal. "Eu vou fazer o meu melhor para acomodá-los. Por que você não dá o pontapé inicial largando a escova de dente e deixando a detetive ir?"

Anderson se inclinou para perto de forma que apenas Keri pudesse ouvi-lo.

"Boa sorte", ele sussurrou de maneira quase inaudível antes de deixar cair a escova de dente e levantar os braços para que ela pudesse deslizar sob as algemas. Ela deslizou para longe dele e lentamente ficou de pé com o auxílio da mesa tombada. Cal estendeu a mão para oferecer assistência, mas ela não aceitou.

Uma vez de pé e firme, ela se virou para olhar Thomas "O Fantasma" Anderson pelo o que ela estava certa de ser a última vez.

"Obrigada por não me matar," ela sussurrou, tentando soar sarcástica.

"Pode apostar," ele disse sorrindo docemente.

Enquanto ela caminhava em direção a porta da sala de interrogatória, ela se abriu e cinco homens com o aparato completo da SWAT irromperam para dentro, passando por ela. Ela não olhou para trás para ver o que eles fizeram quando ela saiu pela porta e entrou no corredor.

Parecia que Cal Brubaker fora fiel a pelo menos parte de sua palavra. O atirador, encostado na parede distante, com sua arma ao seu lado, havia recuado. Mas o Oficial Kiley não estava à vista.

Ao andar pelo corredor, acompanhada por uma policial que disse que estava levando-a para a enfermaria, Keri estava certa de que ela pode ouvir o som de cabos das armas chocando-se contra ossos humanos. E embora ela não tenha escutado gritos subsequentes, ela ouviu grunhidos, seguidos por profundos e incessantes gemidos.


CAPÍTULO OITO

Keri se apressou de volta ao carro, esperando deixar a estrutura de estacionamento antes que alguém notasse que ela havia partido. Seu coração batia no ritmo dos sapatos, batendo forte e rápido no concreto.

Sua viagem à enfermaria foi um presente de Anderson. Ele sabia que depois de uma situação com reféns, ela certamente enfrentaria horas de interrogatório, horas que ela não tinha para gastar. Exigindo que ela fosse permitida a ir para a enfermaria, ele garantiu a ela uma janela na qual teria pouca supervisão e possivelmente poderia sair antes de ser encurralada por um bando de detetives da Divisão Central.

Foi exatamente o que ela fez. Depois que uma enfermeira havia limpado a pequena ferida no pescoço dela e coberto com ataduras, Keri fingiu um breve ataque de pânico após uma situação como refém e pediu para ir ao banheiro. Como ela não era um detento, foi fácil escapar depois disso.

Ela desceu pelo elevador com a equipe de limpeza de saia às 9 da noite. O Oficial de Segurança Beamon devia estar em intervalo, porque havia um novo cara responsável pelo lobby e ela não ligou para ela.

Uma vez fora do prédio, ela começou a atravessar a rua em direção ao estacionamento, ainda esperando que algum detetive viesse correndo atrás dela exigindo saber por que ela estava interrogando um prisioneiro quando estava em suspensão. Mas ela não ouviu coisa alguma.

De fato, ela ficou completamente só com seus passos e batidas do coração quando os zeladores fora de serviço desceram a rua até a parada de ônibus e a estação de metrô. Aparentemente, nenhum deles dirigia para o trabalho.

Foi só quando chegou ao segundo andar da escadaria que ouviu o som de outros sapatos abaixo. Eram altos e pesados e pareciam sair do nada. Ela os teria notado mais cedo se estivessem andando antes. Eles não podiam ter vindo do outro lado da rua. Era quase como se alguém estivesse esperando por sua chegada para começar a se mover.

Ela foi em direção ao seu carro, perto da metade da fileira da esquerda. Os passos seguiram e ficou claro agora que não era um conjunto de sapatos, mas dois, ambos claramente pertencentes a homens. Suas marchas eram pesadas e pesadas como lenho e ela podia ouvir um deles chiando ligeiramente.

Era possível que esses homens fossem detetives, mas ela duvidava disso. Eles provavelmente já teriam se identificado se quisessem questioná-la. E se fossem policiais com má intenção, não se aproximariam dela na estrutura de estacionamento da Twin Towers. Havia câmeras por toda parte. Se eles estavam na folha de pagamento de Cave e quisessem lhe fazer mal, eles teriam esperado até que ela estivesse fora da propriedade da cidade.

Keri escorregou sua mão involuntariamente até o coldre, antes de se lembrar de que havia deixado sua arma pessoal no porta-malas. Ela queria evitar perguntas da segurança e decidiu que levar sua peça pessoal para a cadeia da cidade talvez não atingisse esse objetivo. Pela mesma razão, sua pistola de tornozelo estava no mesmo lugar. Ela estava desarmada.

Sentindo o pulso acelerar, Keri se obrigou a manter a calma, para não acelerar o seu ritmo para alertar esses caras que ela estava ciente deles. Eles deviam saber. Mas manter a ilusão, poderia lhe dar tempo. O mesmo que olhar por cima do ombro - ela se recusou a fazê-lo. Isso era certo para colocá-los correndo atrás dela.

Em vez disso, ela casualmente olhou nas janelas de alguns dos SUVs mais brilhantes, na esperança de ter uma noção de com quem estava lidando. Depois de alguns carros, ela foi capaz de mensurá-los. Dois homens, ambos de terno: um grande, o outro enorme com uma barriga que pendia sobre seu cinto. Era difícil cogitar a idade, mas o maior também parecia mais velho. Ele era o mais calmo. Nenhum dos dois estava segurando armas, mas o mais gordo tinha o que parecia ser um Taser e o mais jovem estava com algum tipo de cassetete em mãos. Aparentemente, alguém queria que ela fosse capturada viva.

Tentando parecer indiferente, ela tirou as chaves da bolsa, ajustando as extremidades pontiagudas entre os nós dos dedos viradas para fora quando apertou o botão para destravar o carro, agora apenas a seis metros de distância. Os dois homens ainda estavam a cerca de três metros dela, mas não havia como chegar até o carro, abrir a porta, entrar, fechar a porta e trancá-la antes que eles a pegassem, mesmo com o tamanho deles. Ela se xingou silenciosamente por estacionar de frente.

O apito que seu carro fez pareceu assustar o gordo e ele tropeçou um pouco. Depois disso, Keri sabia que fingir que não havia notados os caras a essa altura pareceria mais suspeito do que se virar, então ela parou abruptamente e girou rapidamente, pegando-os de surpresa.

"Como estão, rapazes?" ela perguntou docemente, como se descobrir dois caras pesados logo atrás dela fosse a coisa mais natural do mundo. Ambos deram mais alguns passos antes de parar estranhamente a um metro e meio dela.

O mais novo parecia estar perdido. O mais velho começou a abrir a boca para falar. Os sentidos de Keri estavam formigando. Por alguma razão, ela notou que ele tinha deixado escapar um pedaço de cabelo no lado esquerdo do pescoço da última vez que ele fizera a barba. Quase sem pensar, ela apertou o botão de alarme no controle remoto do carro. Os dois homens olhavam involuntariamente naquela direção. Foi quando ela se moveu.

Ela se lançou para frente rapidamente, balançando o punho direito, aquele com as chaves expostas, no lado esquerdo do rosto dele. Tudo começou a se mover em câmera lenta. Ele a viu muito tarde e quando ele começou a levantar o braço esquerdo para tentar bloquear o soco, ela fez contato.

Keri sabia que foi um golpe direto, porque pelo menos uma das chaves se aprofundou muito antes de encontrar resistência. O grito começou quase imediatamente quando sangue jorrou do seu olho. Ela não parou para admirar sua obra. Ao invés, ela usou seu momento para mergulhar para frente, batendo o ombro direito em seu joelho esquerdo, mesmo quando ele já estava caindo ao chão.

Ela ouviu um estalo chocante e sabia que os ligamentos do seu joelho haviam sido rasgados violentamente quando ele caiu no chão. Ela eliminou o som da cabeça enquanto tentava rolar suavemente para ficar de pé.

Infelizmente, atirar-se contra uma pessoa tão massiva sacudiu seu corpo da cabeça aos pés, reagravando a dor dos ferimentos que sofrera apenas alguns dias antes. Seu peito parecia ter sido golpeado com uma frigideira. Ela estava bem certa de que havia batido seu joelho machucado no chão de concreto da estrutura de estacionamento ao mergulhar e a colisão deixou seu ombro direito latejando.

Mais imediatamente preocupante do que isso era que o esmagamento do cara havia diminuído o movimento dela o suficiente para o mais jovem e mais apto recuperar seus sentidos. Quando Keri saiu do rolamento e tentou recobrar o equilíbrio, ela já estava se movendo em direção a ela, seus olhos brilhando em um misto intenso de fúria e medo, o cassetete em sua mão direita começava a descer.

Ela percebeu que não seria capaz de evitá-lo completamente e virou o corpo de modo que o golpe acertasse seu lado esquerdo ao invés do direito. Ela sentiu o esmagamento brutal contra suas costelas no torso esquerdo, logo abaixo do ombro, seguido de uma dor pungente que irradiava do ponto de impacto.

O ar deixou o corpo dela como ela caiu de joelhos na frente dele. Seus olhos se encheram de água imediatamente ao ser acertada, mas ela ainda conseguiu ter uma visão sinistra logo em frente a ela. Os pés do mais novo começaram a subir nos dedões, seus calcanhares saindo do chão.

Demorou menos do que uma fração de segundo para Keri processar o que isso significava. Ele estava subindo. levantando o cassetete sobre a cabeça para que fosse capaz de exercer toda sua força nela para um golpe de knockout. Ela viu seu pé esquerdo começar a avançar e soube que isso significava que ele estava começando um movimento descendente.

Ignorando tudo-sua inabilidade em respirar, a dor ricocheteando do seu peito esquerdo até o ombro e das costelas até o joelho e sua visão embaçada-ela mergulhou para frente diretamente nele. Ela sabia que não tinha muita força empurrando de joelhos, mas esperava que fosse o suficiente para evitar um impacto direto no topo do crânio. Ao fazê-lo, ela impulsionou sua mão direita, a que ainda portava as chaves, na direção da virilha do cara, esperando fazer algum contato.

Tudo aconteceu de uma vez. Ela sentiu o bastão acertar a parte superior das suas costas ao mesmo tempo em que escutou o grunhido. A pancada a atordoou, mas apenas por um segundo, quando então ela percebeu que o homem havia perdido a pegada no cassetete quase imediatamente após o contato. Ela escutou o porrete bater no concreto e rolar para longe quando ela foi ao chão.

Olhando para cima, ela viu o homem se dobrando, ambas as mãos segurando a região da virilha. Ele estava xingando em voz alta e sem parar. Pelo menos por enquanto, ele parecia não se importar com ela. Keri olhou para o homem gordo, que estava a alguns metros de distância, ainda rolando no chão, gritando em agonia, ambas as mãos cobrindo seu olho esquerdo, aparentemente sem notar seu joelho, que estava dobrado em uma direção não humana.

Keri deu um gole de ar, que parecia o primeiro em muito tempo e se forçou para a ação.

Levante-se e mova-se. Essa é sua chance: Talvez seja sua única.

Ignorando a dor que sentia em todos os lugares, ela se empurrou para cima do duro chão e meio correu, meio mancou até o carro. O mais jovem olhou de relance e fez uma tentativa simbólica de estender a mão e alcançá-la. Mas ela se afastou dele e tropeçou em direção ao carro, entrou, trancou, ligou, e saiu sem sequer olhar pelo espelho retrovisor. Parte dela esperava que o cara mais novo esperava que o cara estivesse lá trás e que ela ouvisse um baque ao bater nele.

Ela apertou o acelerador e rasgou pela esquina do segundo andar rapidamente até o primeiro. Ao aproximar-se da cancela de saída, ficou surpresa ao ver o mais jovem tropeçando abaixo pelas escadas e indo vacilando em direção ao carro.

Ela podia ver o horror na face do atendente da cancela, que olhava entre o homem encurvado cambaleando em sua direção e o carro cantando pneus acelerando para o mesmo ponto. Ela quase se sentiu mal por ele. Mas não foi o suficiente para evitar que ela acelerasse pela saída, arrebentando o portão de madeira e enviando pedaços dele voando pela noite.

*

Ela passou a noite na casa de Ray. Uma que não parecia seguro para voltar para a própria casa. Ela não sabia quem viria atrás dela. Mas se eles estavam desejando atacá-la em um estacionamento repleto de câmeras do outro lado de uma prisão, seu apartamento não parecia ser tão difícil. Além disso, a jeito que ela se sentia, Keri não estava em qualquer condição de defender-se de agressores adicionais essa noite.

Ray havia enchido a banheira para ela. Ela ligou para ele no caminho até lá para que ele soubesse o básico da situação e misericordiosamente ele não estava salpicando-a com perguntas enquanto ela tentava se recompor. Ao se deitar na água, deixando seu calor atenuar seus ossos doloridos, ele se sentou em uma cadeira ao lado da banheira, intermitentemente adulando-a com colheradas de canja.

Eventualmente, após secar-se e colocar um dos pijamas de Ray, ela se sentia bem o suficiente para fazer uma autópsia. Eles sentaram em seu sofá na sala de estar, iluminado por uma meia dúzia de velas. Nenhum deles comentou sobre o fato de que as armas de ambos descansavam na mesa de centro em frente a eles.

"Parece tão descarado," disse Ray, referindo-se a ousadia do ataque de estrutura de estacionamento, "e meio desesperado."

"Concordo," disse Keri. “Assumindo que eles eram os lacaios do Cave, isso me faz pensar que ele estava realmente preocupado que Anderson derramasse os feijões na sala de interrogatório”. Mas o que eu não consigo entender é, se ele estava querendo ir assim tão longe, por que ele não mandou esses caras atirarem pelas costas e acabarem logo com isso? Qual é o negócio com o Taser e o cassetete?

"Talvez ele quisesse descobrir o que você sabe, ver quem mais sabe, antes de livrar-se de você. Ou talvez nem seja Cave. Você disse que Anderson lhe contou que há um infiltrado na unidade, certo? Talvez mais alguém não queria que essa informação escapasse."

"Eu acho que isso é possível," admitiu Keri, "embora ele tenha sido tão silencioso quando ele contou essa parte em particular que eu quase não pude ouvi-lo. É difícil imaginar que mesmo em uma sala com escutas, alguém pegasse essa parte. Para ser honesta, eu ainda estou tendo dificuldade em processar mesmo essa porção de informação."

"Sim, eu também," concordou Ray. "Então, para onde vamos daqui, Keri? Eu fiquei naquela sala de conferências com Mags por mais algumas horas, mas nós não descobrimos qualquer novidade de verdade. Não tenho certeza de como proceder.”

"Acho que vou seguir o conselho de Anderson," ela respondeu.

"O que, você diz ir ver Cave?" ele perguntou incrédulo. "Amanhã é sábado. Você simplesmente vai aparecer na porta da frente da casa dele?"

"Não sei qual outra opção eu tenho."

"O que te faz pensar que vai ajudar em algo?" ele perguntou.

"Pode ser que não. Mas Anderson está certo. A não ser que alguma coisa surja em breve, estou sem opções, Ray. Evie vai ser assassinada diante das câmeras em vinte e cinco horas! Se conversar com Jackson Cave-apelar com ele pela vida da minha filha-tiver mesmo uma única chance de funcionar, então eu vou tentar."

Ray assentiu, cruzando a mão dela com a dele e envolvendo seus grandes braços ao redor dos seus ombros. Ele foi gentil, mas ela contraiu de dor mesmo assim.

"Desculpe," ele sussurrou baixinho. "É claro-faremos o que for necessário. Mas eu vou com você."

"Ray, eu não tenho grandes esperanças que isso vá funcionar. Mas ele definitivamente não vai dizer qualquer coisa se você estiver ao meu lado. Eu tenho que fazer isso sozinha."

"Mas ele pode ter tentado te matar essa noite."

"Provavelmente apenas aleijar," ela disse com um sorriso fraco, tentando abaixar a temperatura. "Além disso, ele não vai fazer isso se eu aparecer na casa dele. Ele não vai estar me esperando. E seria arriscado demais. Que tipo de álibi ele teria se alguma coisa acontecesse comigo enquanto eu estivesse na casa dele? Ele pode estar delirando, mas não é estúpido."

"Certo," cedeu Ray. "Eu não vou com você até a casa dele. Mas pode apostar que eu estarei próximo."

"Um namorado tão bom," disse Keri, aconchegando-se para perto dele apesar do desconforto que o movimento causou. "Vou apostar que você vai arranjar uma viatura lá fora patrulhando a vizinhança para ter certeza de que sua pequena donzela dorme segura pela noite."

"Que tal duas?" ele disse. "Eu não vou deixar que nada aconteça com você."

"Meu cavaleiro de armadura brilhante," disse Keri, bocejando apesar dos esforços. "Eu ainda posso lembrar-me dos dias quando eu era uma professora de criminologia na LMU e você veio falar para os meus alunos."

"Tempos singelos," disse Ray baixinho.

"E eu também me recordo dos dias obscuros depois que Evie foi raptada, quando eu comecei a beber whisky ao invés de água, quando Stephen se divorciou de mim por dormir com tudo que se movia e a universidade me demitiu por corromper um dos meus estudantes."

"Nós não temos que catar todos os buracos na estrada da memória, Keri."

"Só estou dizendo, quem foi que me tirou de uma cova de auto aversão, tirou a poeira e me fez aplicar para a academia de polícia?"

"Esse seria eu," Ray murmurou suavemente.

"Correto," Keri murmurou concordando. "Vê? Cavaleiro na armadura brilhante."

Ela repousou a cabeça em seu peito, permitindo-se relaxar, reconfortar-se no ritmo da sua respiração enquanto ele inspirava e expirava vagarosamente. Quando suas pálpebras ficaram pesadas e ela flutuou para o sono, um último pensamento coerente passou por sua cabeça: Ray na verdade não mandou dois carros de polícia para a vizinhança. Ela verificou pela janela enquanto se trocava mais cedo e contou pelo menos quatro unidades. E isso foi tudo o que ela pode ver.

Ela esperava que fosse suficiente.


CAPÍTULO NOVE

Keri segurava o volante com força, tentando não deixar as curvas fechadas da estrada montanhosa deixá-la mais nervosa do que ela já estava. Eram 7:45 da manhã, um pouco mais de dezesseis horas até que sua filha fosse sacrificada de forma ritualística na frente de dúzias de pedófilos ricos.

Ela dirigia pelas sinuosas colinas de Malibu em uma manhã fria mas limpa e ensolarada manhã de sábado em janeiro para a casa de Jackson Cave. Ela esperava convencê-lo a retornar sua filha para ela em segurança. Se ela não pudesse, esse seria o último dia na vida de Evie Locke.

Keri e Ray haviam acordado cedo, logo depois das 6 da manhã. Ela não estava com fome, mas Ray insistiu que ela forçasse alguns ovos mexidos goela abaixo e torradas para acompanhar suas duas xícaras de café. Eles estavam fora do apartamento pelas sete.

Ray conversou brevemente com um dos agentes de patrulha lá fora, que disse que nenhuma das suas unidades havia reportado qualquer atividade suspeita durante a noite. Ele os agradeceu e os enviou de volta. Então, ele e Keri entraram nos seus respectivos carros e dirigiram separadamente para Malibu.

Naquela hora da manhã de sábado, as ruas normalmente entupidas de Los Angeles estavam virtualmente vazias. Dentro de vinte minutos, eles estavam na Pacific Coast Highway, pegando os últimos resquícios do nascer do sol sobre as Montanhas de Santa Mônica.

Até o momento em que Keri estava apressada subindo a Tuna Canyon Road, no alto das colinas de Malibu, o esplendor da manhã tinha dado lugar à sombria realidade do que ela tinha que fazer. Seu GPS indicava que ela estava perto da moradia de Cave, então ela parou. Ray, que estava logo atrás dela, desacelerou até o seu lado.

"Eu acho que é logo depois da próxima curva," ela disse através da janela do carro aberta. "Por que você não vai à frente e se acomoda um pouco mais longe na rua. Ele é o tipo de cara que terá câmeras de vigilância por todo lado, então não queremos dirigir juntos.”

"OK," concordou Ray. "O sinal de celular é bem falho aqui, então uma vez que você tiver terminado eu vou só segui-la de volta morro abaixo e nós podemos repassar as informações naquele restaurante pelo qual passamos. Gostou da ideia?"

"Parece um plano. Deseje-me sorte, parceiro."

"Boa sorte, Keri," ele disse sinceramente. "Espero realmente que funcione."

Ela assentiu, incapaz de pensar em uma forma significativa de responder naquele momento. Ray lhe deu um pequeno sorriso e seguiu dirigindo. Keri esperou mais um minuto, então tirou um pouco o pé do pedal do acelerador e fez a última curva antes da casa de Cave.

Quando ela ficou à vista, ela ficou surpresa ao ver que parecia modesta, comparada com outras casas na área, pelo menos naquela rua. O lugar tinha uma aparência de bangalô, quase como uma versão elaborada de uma coisa que se poderia encontrar em um resort South Seas.

Então, novamente, ela sabia que não era sequer a residência principal de Cave em Los Angeles. Ele tinha uma mansão no Hollywood Hills, a qual era muito mais convenientemente localizada em relação ao seu escritório no alto do centro da cidade. Mas era de conhecimento comum que ele gostava de passar os seus finais de semana em seu "retiro" em Malibu e ela verificou ao redor para ter certeza de que ele estava lá esta manhã.

Keri estacionou na pequena entrada de cascalho logo ao lado da rua e pulou para fora. Ela caminhou vagarosamente até o portão de segurança, observando as impressionantes medidas de privacidade que Cave havia empregado. A casa pode não ser enorme, mas as precauções de segurança eram. O portão em si era de ferro forjado e facilmente tinha cinco metros de altura, com pontas pontiagudas curvadas para fora em direção a rua.

Uma parede de pedra de seis metros coberta de marfim cercava a propriedade tão longe quanto os olhos podiam ver, com o que parecia ser trinta centímetros de cerca elétrica acima dela. Ela contou pelo menos cinco câmeras montadas nas paredes e anexadas a galhos altos em várias árvores dentro da propriedade.

Keri apertou o botão de "ligar" no teclado ao lado do portão e esperou.

"Posso ajudá-la?" uma voz de mulher de meia idade perguntou.

"Sim, Keri Locke aqui para ver Jackson Cave."

"O Sr. Cave sabe que você está vindo, Srta. Locke?" perguntou a voz.

"Duvido que sim," disse Keri. "Mas eu suspeito que ele ainda vai querer me ver."

"Só um momento, por favor."

Keri ficou de pé ao lado do portão por mais trinta segundos, mirando o oceano à distância, escutando o vento soprar pelas folhas das árvores. Ela não via um único carro passar no período que esteve lá.

“Por favor, entre," disse a voz finalmente enquanto o pesado portão se abria lentamente.

Keri dirigiu seu carro para dentro, estacionou e andou em direção a porta da frente do bangalô. Ao se aproximar, ela viu que sua impressão inicial sobre o lugar estava errada.

O que parecia ser um despretensioso chalé de um andar em um penhasco sobre o Pacífico, na verdade era uma casa de várias camadas construída no próprio penhasco. De onde ela estava, ela podia ver pelo menos três andares e uma piscina interna/externa, mas era possível que houvessem mais andares abaixo.

A porta da frente se abriu e Jackson Cave saiu para cumprimentá-la. Aparentemente, ele estava acabando uma ligação já que estava colocando seu celular no bolso das calças. Não era nem 8 da manhã em uma manhã de sábado e mesmo assim ele parecia imaculado. Seu espesso cabelo preto, com óculos de sol repousando suavemente sobre eles, já estava penteado para trás como se ele estivesse incorporando Gordon Gekko em Wall Street.

Ele vestia um leve jeans azul apertada, um suéter preto com mangas enroladas até os cotovelos para revelar seus antebraços definidos e bronzeados e mocassim pretos sem cadarços. Ele sorriu para ela com seus dentes inquietantemente brancos, o que fez seu rosto bronzeado parecer ainda mais antinatural. Seu sorriso sempre surgia como escárnio, mas isso poderia ser exclusivo para ela. Talvez ele possuísse um sorriso mais genuíno para outras pessoas. Por algum motivo, ela duvidava disso.

“Detetive Locke,” ele disse, abrindo os braços em boas-vindas, "se eu soubesse que você estaria passando por aqui, eu teria preparado café da manhã."

A voz dele escorria com toda sua habitual bajulação, mas ela notou algo que ela raramente via em seus olhos azuis penetrantes—incerteza. Ele não fazia ideia do por que ela estava ali. Ela o tinha em desequilíbrio.

Ela ficou tentada a responder com uma resposta afiada. Era sua posição padrão. Ela era boa em atingi-lo assim como ele era em deixá-la nervosa. Mas esse não era o objetivo hoje. Ela precisava apelar para, se não por sua simpatia, pelo menos pelo seu interesse próprio.

Ela precisava persuadi-lo de que se ele fosse capaz de devolver Evie para ela, ela o deixaria em paz. Ela precisava convencê-lo de que ela não era seu inimigo; que ela não era, como Anderson colocou, a "vilã."

"Obrigada, Sr. Cave," ela disse, tentando soar agradável, mas não untuosa. "É muito gentil. Mas na verdade eu já comi-engoli dois cafés também."

"Ah, bem, então entre," ele disse, visivelmente surpreso com sua resposta inócua. Ele estava claramente esperando algo mais mordente. "Você pode me dizer o que te traz tão longe para o oeste tão longe em uma manhã de final de semana."

Ele segurou a porta aberta para ela e ela entrou em uma vasta sala de estar que era calorosa e acolhedora como Cave não o era. O design com tema da Polinésia com painéis de bambu era charmoso, assim como a espessa mobília e a fogueira interna. A sala inteira possuía janelas com vista para o oceano e para as montanhas em todas as direções.

"Esse lugar é maravilhoso," ela admirou apesar de si.

"Obrigado," ele disse. "Eu o desenhei em conjunto com um cliente magnata da hotelaria de Fiji. Ele constrói propriedades privadas nesse estilo por lá. Para ele, foi uma barraca."

"Se eu fosse você, eu moraria aqui o tempo todo," Keri disse sinceramente.

"Um pouco longe demais," ele disse, incapaz de manter o sarcasmo de escorrer pela sua voz.

Keri mordeu a ânsia de sugerir que ele simplesmente arranjasse um heliporto. Seria contraproducente e era possível que ele já tinha. Em vez disso, ela olhou ao redor as partes da casa que eram visíveis. A cozinha era massiva, com uma grande ilha ao centro, maior do que toda a cozinha do seu apartamento. Porte de uma sala de jantar podia ser vista em um canto com uma mesa que parecia ser feita de mármore.

Ela viu um corredor que deveria levar até uma ala de quartos e pensou ter escutado vozes vindo daquela direção. Uma mulher latina em seus quarenta com o cabelo preso para trás em um coque abriu uma porta de correr e saiu do pequeno deck.

"Posso pegar algo para vocês beberem?" ele perguntou e Keri reconheceu a voz do interfone do portão.

"Não, obrigada. Estou bem."

Ela sorriu e se virou para Cave.

"Sr. Cave, eu estava voltando para ter certeza de que seus outros hóspedes estavam bem?"

"Tudo bem, Gracie," ele disse enquanto ela seguia pelo corredor. Ele se voltou para Keri. "Sente-se, por favor. Eu recebi um cliente para jantar na noite passada. Ficou tarde, então o deixei passar a noite no quarto de hóspedes. Eu acho que ele está apenas começando a se mexer."

"Ah, eu pensei ter ouvido algo lá de trás," ela disse enquanto se sentava um uma das cadeiras de vime.

"Ele deve ter falado dormindo. Ou talvez seja seu estômago rugindo."

Ele riu com essa última frase. Ele não entendeu. Ele parecia perceber que ele havia quebrado de decoro do momento e voltou para seu personagem quase imediatamente.

"Bem... Detetive Locke," ele disse, mais reservado agora quando se sentou em frente a ela, "tenho que dizer, essa foi nossa conversa menos... combativa na memória recente. Gostaria de acabar com o suspense e me dizer por que ambos estamos pisando em ovos?"

Keri respirou fundo.

É isso. A hora de nadar ou afundar. Faça uma boa escolha, Keri.

"OK, Sr. Cave. Vou lhe dizer o porquê de eu estar aqui. Mas quando eu o fizer, eu gostaria que você se abrisse para a possibilidade de que o que eu estou dizendo é sincero, que minhas intenções são genuínas e que eu não tenho algum tipo de carta na manga."

"Você está sugerindo, Detetive Locke, que você nem sempre foi sincera em seus negócios comigo?" ele perguntou quase coquetelesco, se inclinando para frente. Ele claramente não comprava o que ela estava vendendo.

"Estou. Eu estou lhe dizendo que eu nem sempre fui direta com você, assim como você não fora sempre totalmente honesto para comigo. Estivemos jogando esse jogo por um tempo, Jackson. Mas é um jogo realmente perigoso. E eu estou cansada de jogar. Quero apenas ir para casa. E aqui está a coisa. Eu quero levar minha garotinha para casa comigo."

Cave sobressaltou-se repentinamente com as palavras "minha garotinha" e o sorriso lúdico desapareceu de seus lábios.

"Eu não tenho ideia o que você está falando..." ele começou mas Keri levantou a mão.

"Tudo bem," ela disse, certificando-se de manter a voz calma e livre de julgamentos. "Não estou acusando-lhe de coisa alguma. Acho que começamos com o pé errado lá trás. Você representava Alan Pachanga, um sequestrador de crianças que raptou uma garota perdida a qual eu procurava. Como você sabe, minha filha, Evie, também foi sequestrada."

Caverna vacilou mas não falou. Keri considerou isso um bom sinal e continuou antes que ele mudasse de ideia.

"E eu acho que eu derramei todo meu ácido em você, porque você estava defendendo um homem que raptou as crianças e minha filha foi raptada. Não foi justo com você. Estávamos apenas fazendo nosso trabalho, afinal. Eu acho que me fixei em você por um tempo como sendo parte do meu problema, culpando você por tudo que estava dando errado na minha vida, quando não era realmente sobre você. Você foi apenas alguém para projetar meus próprios medos e frustrados, sabe?"

Cave voltou a se encolher na cadeira e cruzou as mãos no colo. O ranger do vima era quase reconfortante, já que quebrou o que, de outra forma, era silêncio completo. Ele a mirava profundamente, quase como se houvesse uma chama emanando dela. Keri não sabia o que pensar disso. Finalmente, ele falou.

"Tenho que dize, isso vem como uma surpresa para mim, Detetive," ele disse, sua voz era uma mistura de suspeita e perplexidade. "E você vai ter que me perdoar se eu estiver um pouco cético. Afinal, pelo último ano, você vem me perseguindo, interferindo com meus negócios, lançando calúnias sobre meu caráter. Eu tenho motivos para acreditar que você pode até mesmo cometido um crime ao invadir meus escritórios e roubar arquivos confidenciais. E agora você está me dizendo que você teve essa epifania e que você vê que eu não sou tão ruim e que você me julgou mal?”

"Não, eu não iria tão longe," admitiu Keri. "Estamos colocando as cartas nas mesas aqui, certo, Jackson? Eu não acho que te julguei mal. Eu sei o tipo de pessoa para as quais você trabalha e não sou uma fã. Eu sei qual é o seu negócio. Podemos pelo menos ser honestos um com o outro sobre isso. O que eu estou dizendo é que o fato de você defender pessoas que eu acho repreensíveis, não significa que você seja responsável pelo rapto da minha filha ou pelo que tenha acontecido a ela desde então. Podem ser coisas separadas. E eu quero que você saiba que eu perdi a visão sobre isso por um tempo. Mas eu vejo agora."

"E o que lhe deu esse insight repentino" ele perguntou acidamente, não percebendo que simplesmente fazer essa pergunta sugeria vulnerabilidade.

Keri respirou fundo novamente. Esta era sua última carta para jogar. Se não funcionasse, se ele não desse fold, ela temia que fosse o fim.

“Coy Trembley,” ela disse baixinho.

"Quem?" ele perguntou, embora seus olhos se alargassem com reconhecimento.

"Seu meio irmão, Coy Trembley."

"Como você sabe sobre ele?" ele exigiu, olhando ao redor da sala vazia do seu isolado retiro de montanha, como se alguém pudesse ouvir.

“Eu estava pesquisando sobre você e me deparei com o caso. Eu descobri o que aconteceu, Jackson. Uma vez que eu entendi esse caso, as acusações que ele enfrentou, o que aconteceu com ele por fim, tornou muito mais fácil para eu entender porque você faz o que faz."

"Você está brincando comigo," ele disse pouco convencido.

"Não, Jackson. Eu entendo. Eu entendo que você viu seu irmão acusado injustamente de um crime terrível e decidiu dedicar-se a ter certeza de que isso não acontecesse a outras pessoas. Como mãe de uma garota raptada, eu espero que você perceba que nem todos esses acusados sejam inocentes. Mas eu também tenho que aceitar que você está fazendo isso, porque dentre os culpados existem alguns inocentes. E não há muitas pessoas desejando se colocar na linha para defendê-los. Você é uma dessas pessoas, Jackson. E eu respeito isso, mesmo que seja difícil. Algumas vezes é realmente difícil, especialmente quando os culpados se livram. Você pode ver porque isso é difícil para mim, certo?"

"Eu sei que não pode ter sido fácil para você todos esses anos," ele concedeu.

"Obrigado por isso," ela disse. "Eu acho que é o primeiro passo aqui-para pararmos de nos vermos como inimigos. Digo, claro, profissionalmente, estamos em lados opostos. Mas eu tenho que parar de pensar em você-a pessoa, Jackson-como o vilão e começar a vê-lo como um homem fazendo seu trabalho da melhor forma possível."

"Estou tentando fazer meu trabalho," ele disse.

"Eu sei disso. Eu perdi visão disso por um tempo. E espero que você possa parar de me ver como vilã. Não sou sua inimiga. Não quero derrubá-lo. Eu aceito que eu vou vencer alguns casos e perder alguns e que você e sua firma de advocacia existirão independentemente disso. Meu foco não é mais você. Diabos, eu nem sei se eu vou ficar na força policial por muito mais tempo."

"Do que você está falando?" ele perguntou.

"A verdade é que eu estou meio esgotada, Jackson. Eu fiz isso tudo para ajudar outras pessoas, claro. Mas foi também uma maneira de encontrar a minha filha. Se eu pudesse apenas fazer isso, o resto seria apenas sumiria, sabe. Porque eu sei que ela ainda está por aí e tudo que eu quero é estar com ela novamente. Parte de mim gostaria de voltar a apenas ser uma mãe, fazer almoço e voluntariado em aulas de arte. Se eu tivesse isso, ser uma policial não pareceria mais tão importante."

Cave olhou pra ela com mais atenção. Ele parecia estar estudando-a. Além disso, ela não podia ler sua expressão. Ela não podia dizer se ele acreditava nela ou não ou se ele sequer se importava.

"Então, o que exatamente você está me pedindo, Detetive Locke?" ele disse.

"Estou pedindo que você espalhasse a notícia. Eu sei que você tem vários clientes que conhecem várias pessoas. Estou esperando que algum deles possa saber onde Evie está e possa convencer quem quer que esteja com ela a apenas deixá-la no recinto mais próximo ou ponto de ônibus ou qualquer lugar. Eu só quero minha filha de volta. Não vou investigar de quem a levou. Eu não vou abrir um processo. Diabos, eu até mesmo vou entregar meu distintivo se isso fizer diferença. Estou lhe pedindo que, por favor, faça as pessoas saberem disso. Diga a alguém que você ache que possa conhecer alguém que conheça alguém que saiba alguma coisa sobre onde ela possa estar. Não seria legal estar do mesmo lado uma vez, Jackson?"

Um ruído do corredor chamou a atenção deles. Gracie estava ajudando um homem obeso em seus sessenta anos vestido um robe pequeno demais para ele até a sala de estar. Suas cuecas roxas estavam aparecendo abaixo do cinturão e um ninho de pelos do peito estava exposto acima. Ele parecia metade acordado e metade de ressaca. Pelo menos agora Keri entendia a piada de Cave sobre o estômago rugindo.

Seus pequenos resquícios de tufos de cabelo grisalho estavam arrepiados como mini moicanos no topo da cabeça. Seu rosto estava pálido e ele tinha vincos profundos em seu rosto e vários queixos. Seus olhos eram pequenos pontos pretos. Ele parecia vagamente familiar. Quando ele viu Keri, seus olhos arregalaram um pouco e ele fez uma tentativa desajeitada de se cobrir.

"Detetive Locke," disse Cave, assumindo que o estilo vocal de um anfitrião de jantar, "esse é Herbert Wasson, o presidente do Wasson Media Group. Herb, esta é a Detetive Keri Locke da Polícia de Los Angeles.”

"Prazer em conhecê-la," balbuciou. "Não esperava outros."

"Tudo bem," disse Keri. "Eu já estava de saída."

"Eu levo você até a porta," disse Cave e ambos levantaram.

"Prazer em conhecê-lo também," disse Keri a Wasson enquanto ela se dirigia para a porta.

"Sim," respondeu o homem. Ele parecia querer dizer algo mais, mas não pode pensar em algo apropriado e ao invés disso desmoronou no sofá com as pernas esparramadas.

"Obrigado por aparecer, Detetive," disse Cave, agora oficialmente de volta ao modo controlado.

"Obrigada por me ouvir, Jackson," ela disse, tentando manter a conexão pessoal acesa. "E vamos ambos lembrar-se de ver um ao outro não como o inimigo, mas como duas pessoas apenas tentando fazer suas coisas. Acho que isso abaixaria nossa pressão sanguínea consideravelmente, não acha?"

"Você ficaria surpresa com o que um regime constante de corrida de longa distância pode fazer para a sua pressão, Detetive. Eu sou prova."

"Vou manter essa ideia em mente," disse Keri tão calorosamente quanto podia. “Obrigada, Jackson. E, por favor, não se esqueça do que eu disse sobre falar com as pessoas que você conhece. Eu agradeceria muito. Estou só procurando um novo começo, sabe?"

"Sei que está," ele respondeu, sua voz plana, seus olhos frios. “Obrigado novamente por visitar, Detetive."

"Por favor, me chame de Keri."

"Certo. Agora, cuidado ao descer o morro. Algumas dessas curvas são bem acentuadas, Detetive."

Ele fechou a porta antes que Keri pudesse responder. Ao voltar para o carro, uma coisa ficou clara. Ela não havia vendido a ideia. Ele ainda a via como inimiga. E sua filha ainda estava destinada a pagar por isso.


CAPÍTULO DEZ

Keri devia ter sentido que algo estava errado mais cedo.

Mas ela estava perdida em pensamentos no caminho morro abaixo. Tudo o que ela podia pensar era sobre como Cave havia lhe chamado de "Detetive" logo depois que ela disse que poderia chamá-la de Keri. Ela pensou em como seus olhos ficaram frios, como ele espremesse a humanidade dele intencionalmente.

Enquanto navegava as curvas fechadas da rua de retorno, ela imaginou se sequer havia conectado com alguma parte dele, se haveria uma chance de que ele pudesse devolver Evie para ela. Parecia que por um meio momento ele poderia. Depois, desapareceu. E ela estava certa de que ela nunca traria esse momento de volta. Ela se recusou a pensar sobre o que significava para a filha dela.

Ao virar abruptamente para a esquerda, Keri percebeu que estava com o pé muito pesado e freou. O sinal de limite de velocidade mostrava "30" e ela estava a sessenta, rápido demais até para quando sua cabeça estava limpa. O carro atrás dela também desacelerou, como se fosse moderado pelo seu retorno à sanidade.

Ela olhou ao longe no seu espelho retrovisor, mas não viu Ray. Não foi um choque. Era difícil ver muito longe com todas as curvas de grampo. E ela esteve indo rápido demais que seria difícil para ele acompanhá-la de qualquer maneira. Mas o carro atrás dela estava fazendo um trabalho decente nesse ponto.

E foi quando o sentimento de que algo estava errado a acertou. Ela olhou para o carro novamente no espelho e embora não pudesse saber o que é, alguma coisa sobre ele pareceu familiar. Estava coçando no fundo da sua mente, mas ela não conseguia alcançar.

Agora que ela pensou sobre isso, também era o único carro que ela vira na rua desde que saiu da casa de Cave. E havia o fato estranho, simples de que estava tão perto. Carros andavam colados nos para choques uns dos outros o tempo inteiro em LA, mesmo nas montanhas. Mas não era isso. O carro atrás dela não parecia que ele estava andando logo atrás em uma tentativa de passar por ela. Parecia que só queria ficar perto, para mantê-la à vista, para não perdê-la.

Keri tentou dar uma boa olhada no motorista, mas a pala de sol estava solta e tudo que ela podia dizer era que a pessoa estava usando preto. Ela ficou surpresa que quem quer que fosse pudesse ver à frente com o visor no caminho.

Ela virou uma abrupta curva a direita e deu uma boa olhada na carroceria do carro no seu espelho lateral. Foi quando uma inquietação do fundo da sua mente tropeçou para o centro do seu cérebro.

O veículo era um Lincoln Continental preto, e mesmo com as curvas e a velocidade, ela podia ver que não tinha placa dianteira. Sua mente retornou para as imagens de segurança que ela vira meses antes, um homem em uma máscara de ski saindo de um carro com aparência similar, sem placar, esgueirou-se ao longo da lateral de uma van e colocou uma bala na cabeça do motorista.

Depois disso, ele arrastou uma adolescente para fora da van e a forçou no seu porta malas antes de dirigir para longe. A garota era Evie. O homem que fora alvejado estava mantendo-a na sua casa por mais de um ano. E o atirador era o famoso Viúvo Negro, assassino de aluguel.

Era o homem misterioso sobre o qual Mags havia lhe falado que limpava a sujeira dos ricos e poderosos, incluindo Jackson Cave. Também era o homem que, por milhares de dólares, havia anonimamente dado a Keri uma pista do potencial paradeiro de Evie. Ele não parecia escolher seus clientes a dedo, conquanto ele fosse pago e mantivesse sua identidade escondida de todos. Aparentemente, essa manhã, Cave o contratou novamente.

Keri olhou para o GPS e viu que ainda estava a pelo menos três quilômetros antes que ela chegasse ao restaurante no pé do morro onde deveria se encontrar com Ray, que ainda não podia ser visto atrás dela. Seu telefone ainda não tinha sinal.

Uma sensação arrepiante que a situação estava prestes a escalar veio sobre ela. Cave, obviamente, havia decidido que não apenas não faria as pazes com ela, ele se certificaria que ela não pudesse causá-lo mais problemas, para sempre. E dessa vez, ele não mandaria dois valentões de terno. Estava mandando um assassino profissional.

O que mais preocupava Keri era que ela não estava preparada para isso de forma alguma. Se o Viúvo Negro estava atrás dela agora, isso significava que ele estava na casa de Cave quando ela esteve lá? Ela foi apenas azarada que ele já estivesse lá para discutir alguma pendência para matar alguém-talvez ela?

Ele devia ter estado por perto. Não era como se ele pudesse ter chegado a Malibu por capricho se Cave ligasse para ele dez minutos antes. Era ela a pessoa sobre a qual Cave falara no telefone quando ela chegou? Ou ele simplesmente a seguiu e Ray o caminho todo até lá desde a cidade?

Keri forçou essas questões para fora da sua cabeça para se foca no problema mais imediato. O Viúvo Negro estava atrás dela. E isso significava que, enquanto ela esteve naquela bela sala de estar, pedindo educadamente a Jackson Cave para poupar a vida da sua filha, um assassino profissional estava do lado de fora, usando suas habilidades para se preparar para eliminá-la. E até agora, ela esteve alheia a isso. Teria ele adulterado o carro dela enquanto ela estava na casa? Por quanto tempo ele esteve a seguindo antes que chegasse assim tão perto atrás dela? Estaria ele preparando para empurrá-la por trás na próxima curva?

Ao circundar a última curva em uma breve reta, ela viu uma área de acostamento à sua direita e decidiu tomar a decisão nas próprias mãos. Sem avisá-lo, ela encostou para deixar o Lincoln passar por ela, tirando seu pé do acelerador. Olhando no espelho retrovisor, viu que o Lincoln também havia diminuído.

Pelo menos ele não está planejando passar por cima de mim.

Keri pressionou o frio, esperando forçá-lo a passar por ela ou parar por completo. Mas nada aconteceu. Ela apertou mais fundo, mas ela só levou uma fração de segundo para processar o que o Viúvo Negro estava fazendo. Ele sabotou seu freio e simplesmente esperava por um bom momento para explodi-lo. Já que ela o fez, era isso.

O fim do acostamento estava chegando rapidamente ela virou o volante com força para a esquerda para voltar para a rua. Nada aconteceu. O volante estava travado, provavelmente feito do Viúvo Negro também. Ela estava se dirigindo para a beira do abismo a quarenta quilômetros por hora e não havia qualquer coisa que ela pudesse fazer para parar isso.

O abismo estava a menos de cinco metros de distância. Sem hesitar, Keri abriu a porta destrancada com sua mão esquerda enquanto destravava o cinto com sua mão direita. Agarrou a parte de fora do carro para se puxar para fora, mesmo ao sentir que a ponta do veículo estava começando a cair.

Ela caiu com força no asfalto, mas ficou lá apenas por um instante. Seu momento quase imediatamente a arremessou em direção ao desfiladeiro e ela se viu rolando rapidamente para fora do asfalto, em um monte de mato e poeira e então por cima de um pequeno elevado de restos de pedras que a desacelerou brevemente antes que ela se sentisse começando a cair, sem coisa alguma abaixo de si.

Desorientada, ela estendeu a mão e caçou desesperadamente qualquer coisa na qual segurar. Suas mãos agarraram algumas plantas antes de escorregar e atingir uma rocha irregular. As pontas de seus dedos apertaram-na com força e conseguiram diminuir seu movimento de descida por um segundo antes que a rocha se soltasse da terra e ela começasse a deslizar para baixo novamente.

Ela agarrava-se a qualquer coisa nas laterais do desfiladeiro enquanto enfiava seus pés para dentro, esperando encaixá-los em algo sólido. Seu pé esquerdo ficou preso em um buraco enquanto suas mãos agarraram em várias outras plantas crescendo na face lateral da rocha. Se momento parou.

Keri aproveitou-se do momento. Ignorando os montes de pedra chovendo nela por cima, o que tornava ver e respirar quase impossível e fingindo que seu corpo inteira não estava chorando de agonia e meda, ela olhou abaixo.

Seu carro ainda estava capotando para baixo do que pareciam ser 400 metros de puro canyon. A queda logo abaixo dela tinha cerca de cinquenta metros de espaço vazio antes que uma prateleira de pedras afiadas que a tornariam uma bagunça de carne se ela a atingisse.

Ela já podia sentir as plantas nas quais segurava começando a ceder nas raízes e sua tentativa de segurar com o dedão começando a desistir. Eram bons dois metros de volta para a borda do penhasco, mas mesmo se ela chegasse lá, qual era o ponto? Era onde o Viúvo Negro estava, provavelmente se aproximando da sua posição agora.

Olhando para baixo para a direita, Keri viu uma pequena pedra protuberante do tamanho de um fardo quadrado de feno que saia para o lado do penhasco. Era pelo menos uma queda de três metros e ela poderia facilmente escorregar imediatamente se não conseguisse uma boa aderência. Mas se ela aterrissasse corretamente, tinha certeza que suportaria seu peso.

Mas para fazê-lo, ela teria que pular para a direita e isso significava tomar impulso da sua situação já tênue. Mesmo assim, ela não tinha escolha. Sua pegada estava falhando, as plantas estavam definitivamente cedendo e ela podia sentir o pó saindo do buraco no qual seu pé se enfiara.

Se permitindo uma profunda inspiração para se recompor, Keri puxou todo o ar que podia sem gritar de dor e então se empurrou com força com o pé esquerdo e com as mãos. Quando ela caiu através do espaço vazio, sentindo o chicote de vento congelante do cânion contra seu corpo coberto de suor, Keri manteve seus olhos focados em nada além do o afloramento, ignorando as centenas de metros do nada que o cercava.

Ela viu quase de cara que iria conseguir ir longe o suficiente, mas que sua aterrissagem seria especialmente dura. Infelizmente, ela não tinha escolha além de receber o baque do impacto no seu torso. Se ela se dobrasse para se proteger, ela temia que pudesse quicar para longe e continuar pelas rochas abaixo.

Então ela se esticou como um U de ponta cabeça e permitiu seu corpo desmoronar no afloramento e absorver a força da colisão. Quando a rocha bloqueou o vento dela e ela sentiu uma onda de dor no peito, Keri espremeu um lado do afloramento com seus braços e cotovelos e o outro lado com suas coxas.

Quando teve certeza de que a pedra não iria se soltar do lado do penhasco, ela abriu os olhos, colocou os joelhos acima na rocha e vagarosamente rolou para cima para que ela pudesse realmente se sentar na beirada da rocha, com suas costas contra a parede do penhasco. Pelo menos por hora, apesar de tudo, ela estava viva.

"Como vai aí embaixo?" uma voz perturbadoramente casual chamou acima dela.

Keri tentou olhar para cima, mas percebeu que do seu ponto de vista, ela podia apenas ver o topo da cabeça da pessoa falando com ela. A parte boa era que isso significava que provavelmente também era difícil para ele ver, e assim, atirar nela.

"Uma uva," ela gritou de volta e quase imediatamente desejou que não o tivesse feito. A adrenalina dos últimos trinta segundos, enquanto ela fora de quase morte para algo que se aproximava de segurança temporária, começou a abaixar. Enquanto o fazia, ondas de dor a atingiram.

Seu peito queimava enquanto as palavras escapavam da sua boca, como se a simples pressão de ar contra suas costelas e pulmões esmagados fosse demais para suportar. As calças casuais que ela vestia foram rasgadas das coxas até a canela e a parte do material das calças havia incrustado nos seus joelhos no local que ela aterrissara no asfalto depois de pular do carro. Era difícil dizer onde a roupa sangrenta terminou e começou a pele rasgada começava.

Ela notou que um dos sapatos dela estava faltando. Abaixo da camada de pó ensanguentado, ela viu que suas mãos estavam completamente em carne viva e que ela havia perdido várias unhas. E sangue jorrava generosamente na sua jaqueta de algum lugar do lado direito do seu rosto.

"Estou muito sobre isto, Detetive", ela ouviu a voz chamar de cima. Ela nem tentou olha desta vez já que o pescoço doía quando ela o arqueava. “Quando soube que você era minha próxima tarefa, fiquei genuinamente desapontado. E na minha linha de trabalho, quase nunca tenho uma reação emocional a uma tarefa.”

Keri considerou tentar uma frase que pudesse jogar com essa emoção, para fazê-lo reconsiderar. Mas ela sabia que era inútil. Se sentir mal sobre o trabalho não significava que ele não o faria. Além disso, ela estava exausta demais para dizer qualquer coisa de qualquer maneira.

"Eu sempre fui um admirador da sua... presença de espírito," ele continuou.

A voz parecia um pouco diferente agora. Apesar do sofrimento, Keri se forçou a olhar para cima e quase desejou que não o tivesse feito. Ela percebeu que ele soava diferente porque estava se aproximando.

Ele havia prendido uma corda na rocha acima e começou a descer pela lateral do penhasco, cerca de um metro do topo. Ele não estava devidamente amarrado... e obviamente não tinha intenção de vir até ao local onde ela estava, mais três metros abaixo. Ele estava apenas tentando obter um ângulo melhor para atirar nela.

"Você não pode simplesmente me deixar congelar até a morte?" ela perguntou amargamente.

"Isso não seria muito profissional", ele respondeu, enquanto ela o via enrolar a corda ao redor de seu antebraço esquerdo várias vezes enquanto alcançava sua cintura com a mão direita para pegar o que ela acreditava ser a arma dele.

Arma dele.

Que quando Keri lembrou que, embora ela tivesse deixado sua arma principal em seu porta-luvas quando ela foi para casa de Cave, ela ainda possuía a pistola de tornozelo.

O mais rápido que pôde, Keri se inclinou, ignorando a pontada atirando em seu tronco ao alcançar o tornozelo. Mas quando ela puxou o que havia restado da sua calça, o coldre havia ido embora. Deve ter sido arrancado em algum ponto durante todo o negócio de pular de carro e cair no penhasco.

Ela olhou acima para o Viúvo Negro, que seria para ela ao apontar sua arma. Ela pode ver sua face claramente pela primeira vez. Com seu cabelo loiro e sujo e seus olhos castanhos quentes, ele era muito bonito.

"Se você está procurando por seu ferro de tornozelo, eu o vi lá na estrada. Acho que se soltou quando você estava tropeçando em direção ao penhasco. Mas boa tentativa. Como eu disse, presenç-"

Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, Keri ouviu um pop e um baque. Seu corpo estremeceu enquanto um spray de sangue explodiu da área perto do ombro esquerdo. Então, muito lentamente, ele tombou para trás e seus pés escorregaram da lateral do penhasco antes que ele caísse rapidamente e repentinamente para baixo, direto em direção a Keri.


CAPÍTULO ONZE

Não havia lugar para Keri ir e quase nenhum tempo para reagir. Quase sem sequer pensar sobre isso e em um só movimento, ela pressionou suas costas contra a parede do desfiladeiro ainda mais forte que antes e colocou as pernas em cada lado do afloramento, como se montasse um cavalo.

Um momento depois, o Viúvo Negro tombou para baixo sobre a rocha, bem onde os joelhos dela tinham acabado de estar. A força da colisão devolveu seu corpo trinta centímetros no ar antes que ele caísse na beirada para o vazio.

Keri esperou por ele cair, mas ele não o fez. Pelo contrário, ele balançou no meio do ar, apenas a centímetros dela, um pouco abaixo do afloramento. Ela levou um segundo para perceber que era porque a corda na qual ele havia enrolado antebraço esquerdo ainda estava presa. Ela o impediu de cair ao fundo do desfiladeiro, mas também havia dado um solavanco em seu ombro e braço em um ângulo grotesco e desumano. Além disso, o ombro esquerdo estava pingando sangue de onde era claramente um ferimento a bala.

Ao se balançar lentamente para longe dela, ele abriu os olhos e um suave gemido escapou de seus lábios. Seus olhos estavam sem foco e ele parecia desorientado, tentando achar seu rumo. Seu corpo bateu suavemente contra a parede do desfiladeiro e começou a balançar em sua direção.

Quando ele se aproximou, Keri notou que ele ainda, de alguma forma, estava segurando a arma. Ele não parecia ciente de que estava em sua mão. Mas se a cabeça dele clareasse, e ele escolhesse, ele teria um tiro à queima-roupa.

Ao invés de aguardar e esperar, Keri forçou seu corpo latejante para frente de forma que deitasse de bruços. Quando o impulso do Viúvo Negro o trouxe a trinta centímetros dela, ela esticou a mão e agarrou a arma.

Isso pareceu fazê-lo estalar para um estado mental mais coerente. Seus olhos se clarearam e pairaram sobre ela enquanto ele tentava arrancar a arma dela. Mas, enfraquecido pela queda, os danos causados por seu braço torcido e o ferimento, ele não podia arrancá-la.

Mas ele não precisava de muita força para dispará-la e, após alguns segundos de disputas, ele pareceu registrar que seu dedo estava no gatilho. Keri viu os olhos dele alargarem e sabia o que estava prestes a acontecer. Ela ouviu o clique da trava de segurança e puxou o braço dele para baixo quando ele atirou. O projétil bateu na rocha que sobressaía, enviando uma nuvem de poeira no ar ao redor dos dois.

Antes que ele pudesse dar um segundo disparo, Keri empurrou a mão dele em direção a ela, batendo a arma na rocha. Ela sentiu a arma escorregar da sua pegada e ricochetear na superfície dura. Mesmo que ela não pudesse ver, ela sabia que estava a caminho do fundo do cânion.

Ela a deixou ir e o Viúvo Negro balançou para longe dela novamente em um lento arco que dobrou seu ombro esquerdo tão para trás que ela pensou que pudesse realmente arrancá-lo. Ele estremeceu, mas não chorou.

"Keri!", ela ouviu uma voz clamando desesperadamente por cima. Era Ray.

Ela estava prestes a responder quando ela viu o Viúvo Negro procurar algo com a mão direita. Quando seu corpo esbarrou novamente na lateral do penhasco, ele empurrou tão forte com ambos os pés que pode vir rapidamente dessa vez.

Keri o viu abrir o velcro em um bolso exterior da calça e tirar uma faca de caça de dez centímetros. Ao vir pelo ar em direção a ela, ele arrancou a bainha com os dentes e então levantou a faca acima da cabeça.

Keri percebeu que seu impulso o levantaria acima do afloramento no ápice do seu balanço. Ele estaria mais alto do que ela na verdade e seria capaz de enfiar a faca para baixo quando a gravidade o levasse de volta para o solo. Sua única chance era, de alguma maneira, ficar ereta novamente, para que ficasse em uma posição melhor para se defender.

Assim, com uma velocidade que ela não sabia que era capaz de chegar naquelas circunstâncias, fez o que era essencialmente um sprawl no afloramento do cânion, empurrando até os joelhos, depois saltando para cima e para trás com tal força que sua cabeça bateu na parede do cânion atrás dela.

Logo quando ela sentiu o impacto, ela se preparou para outro quando o Viúvo Negro atacou com a faca. Mas no seu estado enfraquecido e com ambos na mesma altura agora, ela foi capaz de segurar seu punho com ambas as mãos antes que ele chegasse ao ponto próximo ao corpo dela.

Eles lutaram ali por um momento, ele tentando escapar da pegada dela e Keri tentando girar o punho dele para forçá-lo a soltar a faca. Ela tentou estabilizar os pés, mas eles derraparam ligeiramente na superfície arenosa de cascalho. Por um segundo, pensou que ela poderia cair fora da borda inteiramente.

"Keri, você está aí embaixo?" gritou Ray. Sua voz tinha um tom de desespero. Ela queria responder, para tranquilizá-lo de que ela estava segura. Mas a verdade era que ela não estava segura. E ela estava ocupada demais para falar.

Ouvindo que a angústia na voz de Ray parecia deixar o Viúvo Negro feliz. Keri viu uma careta distorcida surgir pelo rosto dele. Seus olhos brilharam com malícia. Vendo isso, Keri sentiu bolhas de veneno subir em sua garganta, uma fúria que ela nunca havia experimentado antes. Ela estava cheia de jogar na defensiva com esse desgraçado.

Isto acaba agora.

Antes que ela soubesse o que estava fazendo, ela mergulhou para frente e enfiou seus dentes profundamente na lateral macia do pulso direito do Viúvo. Ela o ouviu gritar quando ela mordia com tudo o que podia e puxava sua cabeça para trás. Ao fazê-lo, ela sentiu tendões e cartilagem e sabe deus o que mais vindo com ela.

O Viúvo Negro largou a faca e ela a pegou no ar enquanto ela caia. Quando ele balançou lentamente para longe dela, uivando de agonia, sangue escorrendo pelo seu punho arruinado, Keri cuspiu o que quer que ela tenha arrancado dele e gritou para Ray.

"Estou aqui. Estou OK... na maior parte."

"Graças a Deus," ele disse. "Não posso ver você. Que diabos está acontecendo aí embaixo?"

"Dê-me um minuto para recuperar o fôlego, Ray."

Com uma mão segurando uma faca, ela apoiou a outra na parede do desfiladeiro para apoiar-se. A corda foi lentamente de volta para ela e ela foi capaz de estender a mão e agarrá-la. O Viúvo Negro, cuja silhueta estava agora a poucos centímetros dela, olhou para Keri.

Ele estava pressionando seu punho contra o peito para estancar a hemorragia, mas não estava ajudando muito. O sangue vindo do ferimento em seu ombro estava escorrendo mais profusamente do que antes.

"Parece que o meu parceiro te pegou de jeito," disse Keri, indicando o tiro com a cabeça.

"Ferimento profundo," ele respondeu por entre dentes cerrados e ensanguentados.

"Sim, eu acho," ela concordou, admirando parcialmente sua sinistra recusa em recuar. "Mas você tem vários desses-o tiro, o punho, o ombro deslocado além da compreensão."

"Já me recuperei de piores," ele murmurou.

Keri assentiu. Sua fúria cega havia sumido. Mas fora substituída com um senso frio de vingança justa. Ela agarrou a faca na sua mão direita e segurou a corda esticada com os dedos inchados e em carne viva da sua mão esquerda. Lentamente, ela começou a cortar a corda.

"Você não vai se recuperar dessa vez," ela disse suavemente.

"Você não quer saber quem me contratou?" ele perguntou no que ela sabia que era uma tentativa desesperada de ganhar tempo.

"Eu já sei quem te contratou," ela respondeu, os olhos dela focados apenas na corda.

Ele abriu a boca e por um momento parecia que ele poderia tentar convencê-la a parar. Mas então ele parou. Ele suspirou profundamente, como se aceitasse o seu destino.

"Eu sabia que eu não devia ter aceitado essa tarefa", ele finalmente disse, mais para si mesmo do que para ela.

"Não," Keri concordou, "você realmente não devia."

Então ela deu um último corte na corda e a soltou. O Viúvo Negro nunca fez um barulho ao ser arremessado para o chão. Alguns segundos depois ela escutou um baque molhado e sabia que havia acabado. Ela não tinha vontade de olhar para baixo.


CAPÍTULO DOZE

Ray estava descendo o equipamento de escalada do Viúvo Negro para Keri alguns minutos depois, quando o carro dela explodiu. Mesmo a um quilômetro e meio acima dele, ela pode sentir a rajada quente de ar com gasolina na pele.

Apesar do choque, não havia nada para eles fazerem a não ser continuar os esforços. Keri ainda estava empoleirada perigosamente na pequena rocha protuberante. Uma rajada de vento mais forte poderia mandá-la voando para se juntar ao corpo quebrado nas rochas abaixo dela. E sem serviço de celular, Ray precisaria voltar para a estrada principal se ele quisesse chamar reforços. Eles não podiam arriscar.

Então ela se amarrou e ele a puxou lentamente até que ela estivesse sobre a beirada do desfiladeiro. Quando ela soube que estava segura, Keri rastejou e esticou-se ao lado de Ray, que havia caído de costas, repleto de suor apesar da manhã fria. Eles deitaram-se ali na beirada de asfalto da Tuna Canyon Road até que sentissem a força para levantar.

Ray ajudou Keri até banco do passageiro do seu carro antes de ir para o lado do motorista. Ele entrou e simplesmente sentou-se ali, dizimado demais para ligar o carro. Após uns bons dois minutos, ele se virou e deu a primeira boa olhada nela.

Ela viu os olhos dele se arregalarem enquanto ele observava as roupas rasgadas, pernas raladas, mãos em carne viva e rosto sujo e encharcado de sangue. Ela ainda podia sentir pedaços de carne do pulso do homem repousando no cânion abaixo e podia imaginar o que a boca dela parecia assim, coberta de sangue.

"Que diabos, Keri?" ele perguntou finalmente.

"Era o Viúvo Negro," ela contou. "O assassino que matou o cara que estava com Evie, o cara que me deu aquela pista sobre o Vista sem perceber que era eu-Cave mandou para me abater."

"Então eu suponho que sua conversa com Cave não ocorreu como o esperado?" disse Ray ironicamente.

"Não, não foi. Por um momento, pensei que poderia. Mas então, nem tanto, como evidenciado por toda essa coisa de assassino de aluguel. Possa contar-lhe todos os detalhes mais tarde. No momento, preciso de alguns galões de água e um frasco inteiro de Advil."

"Tudo bem," concordou Ray. "Vamos descer o morro para aquele restaurante. Acho que havia uma loja de conveniência anexada a ele. Eu preciso ir a algum lugar com um sinal decente de celular para que eu possa reportar isso."

"Na verdade, Ray, talvez você pudesse adiar a chamada. Quero sua opinião em uma ideia que eu tenho."

Ray cerrou os olhos de maneira suspeita para ela e ela soube imediatamente que alguma coisa no tom da sua voz a entregou. Sua proposta seria problema e Ray pegou isso imediatamente. Ele a conhecia muito bem-como ela o conhecia. E é por isso que ela tinha certeza que ele ia odiar a ideia dela.

*

Como Keri suspeitou, Ray odiava a ideia com vontade. Mas no fim, ele concordou em seguir com ela. Parcialmente, porque ela não tinha uma melhor. Mas ela sabia que era principalmente porque ela não tinha coração lutar contar ela, não quando ele olhava para seu rosto e corpos arrasados e a escutava dizer que apesar de tudo, ela precisava forçar um pouco mais se significasse encontrar sua garotinha.

Quando eles chegaram até a loja de conveniência na esquina do Tuna Canyon e a Pacific Coast Highway, Ray ligou para um táxi. Então, ele entrou na loja, pegou duas grandes garrafas d'água, uma pata de urso, um frasco de Advil e um moletom "Surf Malibu" com capuz.

Ele a ajudou a tirar a jaqueta ensanguentada e a colocar o moletom, até mesmo a colocar o capuz sobre a cabeça dela para que obscurece sua a face. Quando o táxi chegou, ela a ajudou a entrar e deu o endereço dele ao motorista e dinheiro o suficiente para cobrir a corrida e uma gorjeta generosa.

Keri repassou o plano na cabeça repetidamente no caminho do táxi de volta para a casa dele. Ela queria ter certeza de que tinha tudo claro para não esquecer. Mas ficar focada no plano também a auxiliava a ignorar a dor que apontava a cada segundo que ele permitia sua mente vagar.

Enquanto Keri dirigia de volta para a casa de Ray em silêncio, ele ligaria para reportar o acidente e o ataque. Mas a versão dele dos eventos iria diferir um pouco do que realmente aconteceu. Ele reportaria que ele vira um homem em um Lincoln Continental preto dirigindo logo atrás de Keri morro abaixo e finalmente a forçou para fora da pista no acostamento.

Ele viu o carro de Keri cair sobre o penhasco, então o motorista do Lincoln sair com uma arma e aproximar-se da beira do penhasco. Ele atirou no motorista, que caiu no cânion. Quando ele olhou para o lado, ele viu que o carro de Keri havia explodido. Ela não viu o corpo dela e assumiu que ela deveria estar dentro do veículo quando ele explodiu.

Ray havia desgostado dessa parte do plano especialmente, mas Keri o convenceu de que na verdade seria para a vantagem deles se ela estivesse "morta", ou pelo menos para todos, especialmente Jackson Cave, pensarem que ela estava.

De fato, se todos pensassem que ela já estava morta, pessoas parariam de tentar matá-la. Keri gostava dessa ideia em especial. Seu corpo era uma grande, pulsante ferida e ela precisava de pelo menos algumas horas para descansar, se não para se recuperar.

Também, se havia realmente um infiltrado na unidade deles, como o Fantasma sugerira, fazer a equipe toda pensar que ela morreu iria prevenir que o infiltrado tentasse determinar o que ela estava tramando e vazar isso para a conexão dele. Se ela estivesse morta, não havia motivos para continuar procurando por informações para repassar.

Em acréscimo, se Cave pensasse que ela estava morta, ele poderia abaixar a guarda. Ele não se preocuparia se ela viria atrás dele e considerou mudar o Vista ou cancela-lo por completo. Ela precisava que ele tivesse a confiança para continuar com o plano, para continuar com o evento que deveria levar a morte da sua filha.

Isso porque, pela primeira vez em um longo tempo, Keri sentia que tinha a mão mais alta. Ela estava bem certa de que sabia a identidade de pelo menos uma pessoa que compareceria ao Vista esta noite. E se ela sabia disso, ela poderia determinar onde aconteceria, o que significava que ela saberia onde Evie estaria.


CAPÍTULO TREZE

"Quem é mesmo esse cara?" perguntou Mags, enquanto ela pressionava uma bola de algodão na têmpora direita de Keri. "O nome me parece familiar."

Keri estava sentada na banheira de Ray, mergulhando todo seu corpo na água quente e sais de Epsom, explicando a situação para sua amiga enquanto tentava fingir que a ardência do sal em suas múltiplas feridas abertas não a incomodava, mesmo se seus olhos continuassem a se encher lágrimas involuntariamente.

Mags foi até a casa de Ray cerca de uma hora mais cedo após receber uma chamada em um dos seus telefones descartáveis de um que ele havia acabado de comprar. Como pelas instruções de Keri, ele a contou sobre o básico e pediu a ela que fosse ao apartamento dele o mais rápido possível, com apenas uma parada durante o caminho.

Mags fizera tudo sem perguntar, fazendo a coleta incomum e aparecendo no Ray com todo tipo de material de primeiros socorros. Dentro de minutos da sua chegada, ela estava usando pinças para pegar lascas cinzentas dos joelhos de Keri enquanto sua amiga lhe atualizava.

"Seu nome é Herb Wasson," disse Keri. "Ele comanda o Wasson Media Group."

"E o que faz você tão certa de que ele está conectado com essa coisa toda do Vista?"

"É apenas um palpite," admitiu Keri, "mas um bem forte. A primeira coisa que me fez suspeita de que isso poderia fazer sentido, foi que Cave não ficou feliz que eu tenha visto Wasson. Eu não acho que ele queria que eu soubesse que ele estava lá."

"Isso quase parece insuficiente para continuar, docinho," disse Mags gentilmente, tentando talhar seus instintos de jornalista investigativa, mas falhando.

"Por si só, isso é verdade. Mas o nome soou família para mim e não apenas porque ele é um tipo grande de magnata. Eu deixei isso passar até que Cave fez seu assassino me enviar para fora de um desfiladeiro. Enquanto Ray estava me puxando depois disso, eu comecei a pensar-até agora, nada havia feito Jackson Cave tomar medidas tão desesperadas para me parar, até hoje. No passado, ele tentou fazer com que eu fosse investigada pelo Assuntos Internos e ser demitida da força. Na noite passada, ele até tentou me agredir e, eu assumo, sequestrar. Mas não foi até hoje que alguma coisa aconteceu que o fez decidir que não valia a pena me deixar viver. Eu acho que essa "alguma coisa" foi eu ter visto Wasson."

"O que há de tão relevante sobre ele?" perguntou Mags, colocando suavemente um pouco de bálsamo em uma porção particularmente rasgada de pele da palma da mão esquerda de Keri.

"Ele é um pedófilo. Eu pelo menos, ele frequenta círculos amigáveis a pedófilos."

"Como assim?" perguntou Mags.

"Você se lembra de cerca de seis anos atrás, houve um circuito de trafico sexual que foi descoberto na Croácia? Eles estavam negociando todo tipo de coisa, incluindo prostituição de menores. Algumas das garotas tinham apenas sete anos. A Interpol o desmontou, prendeu mais de trinta traficantes e cerca de trezentos clientes."

"Eu me lembro," disse Mags. "Eles acreditavam que o circuito operava em cerca de onze países."

"Certo," disse Keri. "Também ouve uma conversa que uma porção dos clientes era americanos de alta renda que iam até esses países para fazer o que quisessem, porque eram relaxados em fiscalizar esse tipo de crime. Wasson foi cogitado estar entre eles. Nunca foi provado. Um jornal ia publicar uma história mencionando seu nome, mas foi revogada quando seu advogado ameaçou com um processo."

"Quantos chutes eu tenho para acertar o nome do advogado?" perguntou Mags acidamente.

"Acho que você só precisa de uma. Também há outras coisas. Coisas que eu escutei, mas nunca fui capaz de confirmar. Você escuta tanto sobre tantas pessoas nessa cidade que tudo começa a virar barulho depois de um tempo. Você não pode perseguir tudo, sabe?"

"Sei, querida," amaciou Mags. "É difícil o suficiente para você pegar as pessoas que você sabe que estão sequestrando crianças. Ir atrás dos que são apenas rumores de abusá-las seria completamente outro emprego. Fique firme, isso pode machucar um pouco."

Antes que Keri pudesse reagir, Mags enfiou as pinças profundamente, puxando um pedaço de asfalta que havia incrustado profundamente na parte de cima da sua canela. Sangue começou a jorrar do buraco aberto e Mags pressionou a atadura rapidamente contra ele.

"Ai," resmungou Keri, quase com atraso.

"Então," disse Mags, fingindo não escutá-la, "assumindo que seu palpite esteja certo e que esse tal de Wasson vai estar no Vista hoje a noite, qual é o seu plano? Eu entendo que, com suas preocupações sobre ter um infiltrado na sua unidade, você não pedir uma equipe de vigilância policial."

"Isso, minha querida Margaret, é o motivo pelo qual eu pedi que você pegasse aquela encomenda no caminho até aqui."

"O garoto espinhento do shopping sentado lá na sala de estar de Ray nesse momento?"

"Aquele garoto espinhento tem muito mais nele do que os olhos podem ver," disse Keri protetora. "Agora, se você me ajudar a sair dessa banheira, secar, colocar curativos, vestir e coxear até lá. Eu farei uma apresentação apropriada."

Vinte minutos depois, Keri mancou até a sala de estar, apertando forte no antebraço de Mags para se apoiar. O garoto com cara de espinhas sentado no sofá levantou-se para cumprimentá-la.

Ela parecia quase igual Keri se lembrava, alto e magro com as costas ligeiramente curvadas. Mas sua pele, branca, embora cheia de pontos, estava menos que antes. Ambos, sua pele e seu cabelo havia perdido aquela oleosidade brilhosa que vinha de inatividade total e por ficar permanentemente dentro de casa. Ela podia perceber que ele pelo menos estava tentando malhar.

Ele tentou esconder o choque com a aparência dela, mas seus olhos protuberantes e pele mais pálida que o usual sugeriam que ela fizera a escolha certa ao não se olhar no espelho antes de sair para vê-lo.

"Como vai, Keith?" ela disse tentando sorriso. "Quanto tempo."

"Meu deus, Detetive Locke, o que aconteceu com você?" perguntou o jovem rapaz. "Eu vi no noticiário outro dia que você foi liberada e estava descansando em casa. Parece que você deveria estar na UTI."

"Na verdade, eu acho que eu pareço muito bem, considerando que eu deveria estar morta."

"O quê?" ele perguntou, claramente confuso.

"Sente-se, Keith. Eu vou explicar o que está acontecendo. E se você não se importar, eu também vou sentar, porque eu acho que não consigo ficar de pé muito mais tempo sem cair."

Ele fez como ela sugeriu e Mags a ajudou a sentar na cadeira de balanço ao lado do sofá e ela se acomodou nela.

"Primeiro, as primeiras coisas," ela disse. "Estou certa de que vocês conversaram no caminho até aqui, mas deixe-me fazer as apresentações formais. Keith Fogerty, essa é Margaret Merrywether—Mags para os amigos. Ela trabalha no Weekly L.A. e ela é uma das minhas amigas mais próximas no mundo."

Keri notou Mags dar quase um sinal imperceptível de obrigado por não revelar o que ela fazia para o Weekly. Ela gostava de manter seu álter ego de colunista "Mary Brady" um segredo e divulgar isso para empregados aleatórios de shopping não ajudava com isso.

"Prazer em conhecê-lo, senhora," disse Keith educadamente.

"Tão educado," respondeu Mags, ligando seu charmoso sotaque sulista. Ela ainda não sabia quem era esse garoto, mas Keri sabia que, baseado no que ela disse para Mags, sua amiga daria o benefício da dúvida para ele, apesar do ceticismo.

"E Mags, esse é Keith Fogerty. Como você já sabe de onde você o pegou, ele trabalha como segurança no Fox Hills Mall no Culver City. Você deve se lembrar de que eu mencionei um segurança que me arranjou um bom detector de escutas? Bem, é foi ele. Mas Keith também foi instrumental em nos ajudar a encontrar Sarah Caldwell no outono passado. Estou certa de que você se lembra dela, a garota que foi sequestrada e levada para aquele bordel ao sul de Tijuana."

"Lembro-me dela muito bem," disse Mags.

"Bem, se não fosse pela assistência de Keith mais cedo no caso, nós nunca teríamos a primeira pista. Ele é um verdadeiro mago com filmagens de segurança e tecnologia em geral e foi muito além para nos ajudar quando atingimos um muro. Não sei se chegaríamos a Sarah a tempo se não fosse pela ajuda dele."

"É muito gentil da sua parte, Detetive," disse Keith, antes de voltar sua atenção para Mags. "O que a Detetive Locke não está dizendo é que eu contei a ela que gostaria de prestar a prova para a academia de polícia. Ela me ajudou, colocou em contato com um antigo instrutor que me torturou. Ela também me enviou um programa de treinamento online e ofereceu sugestões para como abordar algumas das questões da prova. Devido ao que ela fez, eu fui aceito e começo no mês que vem."

"Parabéns, Keith" disse Mags, devidamente impressionada.

"Obrigado," ele disse antes de se voltar para Keri. "Agora que nos apresentamos, você pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? Porque eu tenho uma sensação de que é bem ruim."

Keri sabia que ela não podia adiar mais. Ela esteve hesitante em trazer um rapaz de vinte e três anos sem experiência em uma situação tão volátil, mas ela não tinha escolha. Então, ela contou tudo a ele: sobre sua busca por Evie, com a qual ele estava familiarizado em geral; sobre seu conflito atual com Jackson Cave, que tentou matá-la essa manhã; sobre o Vista essa noite, onde Evie seria sacrificada; sobre como ela suspeitava que houvesse um infiltrado na sua equipe, o que significava que ela não poderia pedir ajuda a eles por medo de entregar a Cave; e finalmente, sobre Herb Wasson, que ela acreditava que poderia levar até a sua filha.

Keith ficou sentado em silêncio enquanto ela falava, não interrompendo uma vez, parecendo surpreso ocasionalmente, mas na maior parte, parecendo absorver tudo, tentando processar os detalhes. Isso deu esperanças a ela.

Quando ela finalmente terminou, ela olhou para ele e esperou para ouvir o que ele pensava. Ela ficou em silêncio por uns bons dez segundos. Quando ele finalmente falou, sua voz estava baixa, porém firme.

"O que você quer que eu faça?" ele perguntou.


CAPÍTULO QUATORZE

Keri acordou de uma vez.

Demorou alguns segundos para ela pegar suas coisas e se lembrar de onde estava. Olhando para o alarme ao lado da cama de Ray, ela viu que eram 5:17 da tarde. Ela dormiu por apenas quatro horas.

Ela deitou ali por alguns minutos, permitindo seu corpo e mente recalibrar para o estado consciente. A dor já estava começando a rastejar de volta para seus ossos e músculos, apesar do calor das cobertas.

Sua cabeça doía e seu estômago estava vazio. Ela percebeu que não havia comido desde que Mags e Keith saíram. E mesmo então, somente caldo de galinha. Ela tomou pequenas porções da sopa enquanto eles passavam o plano uma última vez antes que Mags levasse Keith e volta ao shopping. Parecia há tanto tempo atrás.

Olhando nas cortinas quase fechadas, Keri viu que já estava escuro lá fora. Ray não podia se comunicar em segurança com ela sob essas circunstâncias, mas ela suspeitava que ele estaria de volta em breve, mesmo com todo a papelada associada com processar a "morte" da sua parceira, sem mencionar navegar a corrente sem fim de policiais que provavelmente o engoliu ao receberem a notícia.

As notícias. Eu deveria verificar o que as notícias estão dizendo.

Com grande esforço, Keri empurrou o edredom e rolou até ficar sentada. Ao se sentar, ela se acomodou em um dos roupões de Ray e apoiou-se na cabeceira da sua cama como apoia, enquanto se empurrava para cima e trilhava até a sala de estar.

Ela se certificou de não ligar as lâmpadas de teto. Afinal, Ray morava sozinho e ela estava supostamente morta. Qualquer um vigiando seu apartamento poderia suspeitar se visse luzes acendendo e apagando lá dentro.

Ao ligar a TV no volume baixo e sentar na cadeira de balanço, da qual ela sabia que poderia pelo menos se liberar por conta própria. Depois de mudar para um canal local, não demorou muito para a sua história aparecer. De fato, ela dominava todo canal.

Ela assistiu por alguns minutos, sapeando para ver se alguém tinha algo inesperado. Mas tudo no que eles pareciam estar se atendo era a história oficial: Keri Locke, a detetive celebrada e controversa da Pessoas Desaparecidas, que se juntou a força policial após tragicamente perder a própria filha para um sequestrador seis anos atrás, foi jogada de uma estrada nas montanhas de Malibu por um atacante não identificado. Acreditava-se que ela morrera quando seu veículo explodiu depois de cair de trezentos metros no fundo do cânion. Seu parceiro, Raymond Sands, em outro carro mais atrás atirou e matou o agressor, mas foi incapaz de resgatar Locke.

Keri desligou a TV e sentou em silêncio na penumbra.

Se esse plano não funcionar, eu poderia muito bem estar morta.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo girar da chave na fechadura da porta. Ela se virou para ver Ray, que entrou segurando uma sacola do In-N-Out Burger.

"Eu achei que você estaria faminta," ele disse quando a avistou.

"Meu herói," ela disse, piscando os olhos ligeiramente antes de parar, porque machucava realmente. "Como foi?"

"Como você esperava. Eu consegui sair de um monte de coisas burocráticas, porque Hillman 'sabia que éramos próximos' e queria me dar um dia antes que eu tivesse que preencher todos os formulários. Eu preenchi um relatório formal de acidente, porém não assinei ou dei entrada ainda, para que eu não posse ser oficialmente acusada de preencher um relatório policial falso. Várias pessoas vieram até mim, mas eu disse a todas que eu precisava de algum tempo sozinho e que eu falaria com elas amanhã. Nenhuma me pressionou. Eu percebi que de uma maneira ou de outra, eu vou chegar limpo. Como foi seu dia, querida?"

Keri tentou não rir pelo medo da dor.

"Na maior parte apenas tentando sobreviver. Mexer tem sido difícil. Eu apenas dormi por algumas horas, o que eu espero que ajude. E Mags me deixou um pouco de Vicodin, que eu pretendo tomar antes da nossa grande saída."

"Você tem certeza de que está pronta pra isso?" perguntou Ray ao abrir a sacola e colocar um duplo com cebola grelhadas na mesa em frente a ela.

"Não, mas eu não tenho escolha de verdade. Nós não sabemos em quem podemos confiar na força e não há mais alguém que deseje colocar em uma situação como essa."

"Tem certeza que você não quer chamar Castillo?" disse Ray. "Você acha que ela possa estar suja?"

"Não acho que ela é corrupta, Ray. De fato, ela me ajudou de diversas armações fora dos registros que me fazem ter quase certeza de que ela não seja o infiltrado. Mas quando se trata da minha única chance de salvar Evie, "quase certeza" não é bom o suficiente. Não vou correr risco algum."

"Justo. E sobre seu amigo Uriel?" ele perguntou.

Uriel Magrev era o instrutor de Krav Maga de Keri. Mas antes de se mover para LA ela passara seis anos na Shayetet 13, a versão dos SEALS das Forças Especiais de Israel.

"Ele seria uma boa adição," reconheceu Keri. "Infelizmente, ele está visitando a família em Tel Aviv."

"Então, somos só você e eu."

"Não se esqueça do nosso especialista em vigilância," disse Keri enquanto quase inalava um pedaço do hambúrguer. Alguma coisa sobre comer comida normal deu uma onda de bem-estar que temporariamente aliviou a dor que ela sentia em todo lugar.

"Sim, você quer me contar o plano dele?" perguntou Ray antes de dar uma mordida no próprio hambúrguer.

"Farei meu melhor. Keith me deixou perdida ocasionalmente, mas eu acho que eu peguei o básico. Aparentemente, existem essas coisas chamadas taggants. Há todo tipo de variações e elas ficam bem técnicas. Ele usou palavras como nanocristais e quantum dots. Minha dor de cabeça começou a ficar pior enquanto ele falava."

"Na verdade, eu senti uma chegando agora," disse Ray.

"De qualquer forma, espertinho," continuou Keri, colocando a língua para fora. Pelo menos isso não machucava. "Essa coisa é alta tecnologia de rastreamento, tão pequena que pode ser colocada no sujeito na forma de um ponto ou um líquido ou poeira digital e a pessoa nunca saberia. Dependendo da substância, pode ser colocada na pele, nas roupas e até em um veículo."

"Parece ótimo," disse Ray. "Por que não usamos isso no departamento?"

"De acordo com Keith, por um longo tempo, os militares estavam estrangulando isso. Drones poderiam, aparentemente, usar isso para identificar um combatente inimigo dentro de um edifício a quilômetros de distância. Agora, algumas corporações estão usando isso para proteger produtos e detectar falsificação, coisas assim. Mas não é barato. E o LAPD realmente não tem os recursos para investir nesse tipo de coisa agora. Além disso, existem as questões legais."

"Aposto que sim," disse Ray. "Então você está me dizendo que o segurança do nosso shopping da vizinhança tem acesso a esse tipo de coisa? Porque isso é um pouco assustador."

"Não," disse Keri. "Mas ele é um entusiasta. E quando eu lhe contei que eu precisava rastrear Herb Wasson, que eu precisava saber onde ele estaria essa noite e que a vida da minha filha dependia em não perdê-lo, foi o que ele mencionou. Aparentemente, ele conhece um cara que conhece um cara."

"E como ele espera conseguir esse tipo de coisa, mesmo se esse cara topar encontrar com ele?"

"Com o aporte ilimitado de dinheiro que aquela herdeira sulista e bem divorciada Margaret Merrywether prometeu a ele."

"Uau."

"Foi o que eu disse," concordou Keri.

"Então, como nós vamos saber se ele teve sucesso?" perguntou Ray.

"Vamos saber quando passarmos pelo shopping."

"O quê?" perguntou Ray incrédulo.

"Keith disse que ele nos daria equipamentos seguros para comunicação no escritório de segurança no Fox Hills Mall."

“Keri, eu tenho que dizer para você que quando eu acordei essa manhã, eu não pensaria que estaria lidando com nanocristal, seguranças de shopping e uma namorada que fora declarada morta, mas está atualmente mastigando um hambúrguer duplo”.

"Sim, bem, isso não é tudo, coração."

"O mais poderia haver?" ele perguntou.

"Se eu estiver sequer moderadamente funcional essa noite, vou precisar de um pouco de assistência. Então seja um docinho e pegue um pouco de Vicodin no balcão da cozinha para sua namorada morta."


CAPÍTULO QUINZE

Keri se forçou a se manter estática mesmo que cada parte dela desejasse correr, gritar, fazer qualquer outra coisa além de ficar parada em silêncio, como ela havia estado pelas últimas quatro horas.

Eram 10:22 da noite e, apesar de tudo, ela inda não estava certa de onde era o Vista. Ela havia seguido todas as precauções combinadas e escutou a todas as sugestões de Keith. E ainda, ali ela estava, ainda deitada no banco de trás do carro de Ray, esperando pela notícia sobre a localização de Herb Wasson e sobre o futuro da sua filha.

Esteve assim por mais de quatro horas. Depois de deixar o apartamento de Ray às 6:15 da noite, eles dirigiram até o Fox Hills Mall, onde Ray pegou a aparelhagem sofisticada que Keith deixara no escritório de segurança. Então, eles foram para West Hollywood. Keri, que supostamente estava morta, teve que deitar no banco de trás todo o caminho para não pudesse ser vista.

Depois que Ray havia passado dez minutos costurando o tráfego e estava confiante de que não estava sendo seguido, ele entregou um conjunto de comunicação para Keri e colocou um na própria cabeça. Eles ligaram e viram que Keith já estava no canal, a postos e esperando com atualizações para eles.

Ele tinha boas notícias. Ele conseguiu comprar um taggant e, depois de várias tentativas frustradas através de intermediários, entregou um para Herb Wasson por conta própria. Aparentemente ele seguiu Wasson a tarde inteira, incluindo até o Boulevard Lounge no Beverly Wilshire Hotel, onde o homem tinha um encontro com algum diretor de cinema. Keith havia aplicado a Wasson quando ele "acidentalmente" tropeçou nele quando o homem mais velho estava deixando o banheiro, esfregando o taggant no seu suéter e na sua nuca.

E embora estivesse funcionando como o prometido, enviando um sinal que Keith pudesse rastrear em seu laptop, o próprio Hollywood Hills estava complicando as coisas. Toda vez que a limusine na qual Wasson estava no momento como passageiro fazia uma curva e uma massiva sessão de montanha separava Wasson do equipamento de vigilância de Keith, ele perdia o sinal temporariamente. Era demorado.

Então, agora Keri estava deitava no banco traseiro do carro de Ray, que estava estacionado em um pequeno shopping na base do Hollywood Hills perto da esquina da Sunset e Fairfax. Ela e Ray, que estava sentado no banco do motorista, escutavam Keith dá-los um comentário sobre sua lenta perseguição da limusine de Wasson, esperando que estivesse direcionada para o Vista.

Então, exatamente às 10:30, a linha ficou muda. Keri esperou um minuto antes de sussurrar para Ray.

"Perdemos a conexão?"

"Acho que não," ele respondeu sem se virar. "Acho que ele ficou em silêncio no rádio. Keith, você ainda está aí?"

Não houve resposta por mais cinco minutos. Keri sentia a bola no fundo do seu estômago crescer. Ele ficou preocupado que Keith fosse descoberto e estava prestes a sugerir que eles subissem a colina para procura-lo quando a voz dele cortou o silêncio.

"Encontrei," ele disse. "Encontrei o Vista!"

"O quê?" ambos Keri e Ray gritaram ao mesmo tempo.

"Pelo menos eu acho que encontrei," disse Keith, tentando colocar rédeas no seu entusiasmo sem sucesso. "Por isso eu fiquei fora das comunicações um pouco. Queria ter certeza. Mas a limusine de Wasson acaba de entrar em um portão em uma propriedade privada. Eu pude ver pelo menos duas dúzias de veículos na propriedade, junto com toneladas de seguranças."

"Estava armados?" perguntou Ray.

"Na verdade, não vi armas, mas eu não ficaria surpreso," disse Keith. "Eu acho que eles estão tentando se misturar. Estavam todos usando blazers vermelhos, como valets. Mas eles não parecem valets, sabe? Muitos cabelos raspados e ombros largos com expressões propositais nos rostos. Todos usando pontos no ouvido. Eles poderiam facilmente ter armas debaixo dos casacos."

"Algo mais?" perguntou Keri.

"Sim, eles estavam usando espelhos em bastões para verificar embaixo de veículos e checando ambos motoristas e passageiros na chegada. Esse evento, obviamente, não é apenas a sua orgia comum de Hollywood."

"OK, ótimo trabalho, Keith," disse Keri. "Envie-nos o endereço e fique firme. Estamos indo até você. Vamos descobrir uma maneira de entrar no caminho para cima e voltar para você."

Ela tirou o headset e procurou uma garrafa d'agua na bolsa, meio bagel e o Vicodin de Mags.

"O que você está fazendo?" perguntou Ray.

"Parece que estamos prestes a engrenar e eu gostaria de estar livre de dor para as festividades," ela disse enquanto jogava as pílulas na boca e engolia.

"E o bagel?"

"Mags disse que os medicamentos para dor poderiam irritar meu estômago e que eu deveria comer algo."

"É o seu foco agora?" perguntou Ray incrédulo.

"Eu não quero rastejar pelos arbustos com um estômago ruim, Raymond."

"Certo," ele respondeu, balançando a cabeça. "Então, como você propõe que entremos nesses arbustos em primeiro lugar? Parece que acessar aquele terreno vai ser impossível."

"Eu tenho uma ideia para isso," Keri o garantiu. "Vamos subir o morro e eu te repasso no caminho. Minha outra preocupação é o que vamos fazer a respeito de reforços se nós realmente entrarmos lá e precisarmos de ajuda."

“Eu tenho um plano para isso," disse Ray, soando satisfeito que consigo mesmo enquanto saia do estacionamento e se dirigia ao norte na Fairfax em direção ao Hollywood Boulevard. "Você gostaria de ouvir?"

"Muito." Ela apreciou que ele estava tentando manter o tom leve e tentou segui-lo. De outra forma, a magnitude da situação ameaçava sobrecarrega-la.

"Agora que sabemos o endereço do Vista, uma vez que estivermos em posição, eu vou ligar para o Departamento do Xerife do Condado de LA. Já que West Hollywood não tem sua própria delegacia, eles entram em contato com o Xerife. Vou falar com a unidade deles da SWAT para-"

"Mas se você fizer isso, o espião de Cave pode tentar avisá-lo," interrompeu Keri.

"Posso terminar, por favor?" disse Ray, fingindo estar ofendido.

"Desculpe," resmungou Keri.

"Eu planejo ligar relatando um laboratório de metanfetamina a cinco quarteirões do endereço do Vista. Vou dizer que parece que uma entrega está acontecendo e que há vários homens armados. O endereço não deve disparar alarmes, porque será completamente outra rua."

"OK. Parece bom até aí."

"Obrigado pela aprovação," disse Ray sarcasticamente ao pegar a esquerda da Fairfax para Hollywood. "Quando estivermos realmente prontos para agir, eu vou relatar o evento corretamente usando meu nome e número de distintivo. A SWAT deve estar a menos de três minutos. Fácil."

"Não é um plano terrível", admitiu Keri.

"Obrigado pelo voto de confiança. Se importa em compartilhar seu plano mestre?"

"Claro. Vamos de carro em direito pelo portão principal."


CAPÍTULO DEZESSEIS

Keri não podia ver o rosto de Ray do banco de trás, mas ela poderia dizer pelo seu silêncio prolongado que ele não amou a ideia dela.

Ela não viu porque estava tão apreensivo. Afinal, basicamente o mesmo plano havia funcionado para fazê-los entrar no bordel mexicano vigiado, no qual eles se infiltraram para resgatar Sarah Caldwell apenas há alguns meses.

Reconhecidamente, a segurança então, tinha sido muito mais relaxada, aquelas pessoas não tinham qualquer preocupação real sobre uma intrusão e Keri não estava no limite entre imóvel e drogada. Mas o princípio geral ainda se mantinha. Pelo menos é o que ela disse a mesma quando voltou na linha para explicar para Keith.

Ele parecia mais receptivo ao plano, mas ela não tinha certeza se isso era porque era uma boa ou porque ele estava sem noção, quando se tratava desse tipo de coisa. De qualquer forma, ele estava disposto a isso.

O efeito prático disso foi que durante os próximos minutos vários, Ray ficou estacionado em uma rua lateral, observando o tráfego em Laurel Canyon Boulevard ir para o norte em direção ao Hollywood Hills. Keri, sentada ereta pela primeira vez em horas, assistia os carros zumbirem também.

Depois que pareceu uma eternidade, Keri viu uma limusine passá-los, obedientemente seguindo o limite de velocidade, enquanto todos os carros ao seu redor estavam correndo.

"Acho que podemos ter um candidato," ela disse, apontando para o veículo se movendo lentamente.

"Entendi", disse Ray, arrancando na Laurel Canyon e pisando no acelerador. Não demorou muito para passar a limusine. Cerca de quatrocentos metros morro acima, ele virou direto na Laurelmont Drive. Se a limusine estava indo para o Vista, que quase certamente viraria aqui também.

"Aproximando de você agora," ele disse em seu microfone quando viu Keith parar no meio da rua de frente para eles e sair do carro.

Ray desviou em torno dele, subindo a estrada mais cinquenta metros antes de fazer meia-volta e descer de volta pela estrada. Ele parou ao lado da estrada atrás de um grande SUV e saiu imediatamente. Keri demorou mais para se soltar do carro, já que ficou presa no banco de trás por tanto tempo e incapaz de se mover muito.

"Acho que eles estão vindo", os dois ouviram Keith dizer enquanto corriam pela lateral da estrada, mantendo-se escondidos atrás dos carros estacionados ao longo da rua.

Certamente, a limusine lá de baixo estava parando em frente do surrado Nissan Maxima de quinze anos de Keith, incapaz de passar por ele na estreita estrada da montanha. O motorista abaixou sua janela.

"Mova seu carro, garoto," ele disse de maneira áspera.

"Eu adoraria," disse Keith, aplicando sua voz mais convincente de milenial indefeso. "Mas eu acho que passei por cima de um prego ou algo assim. Escutei um pop e estou com medo de dirigir abaixo nesses morros inclinados à noite. Você pode dar uma olhada nisso?"

"Chame o Auto Club. Tenho que estar em outro lugar."

"Já liguei," disse Keith em um tom impressionantemente choroso. "Eles disseram que vai precisar de pelo menos meia hora. Você pode pelo menos me ajudar a empurrar o carro para o lado da estrada, para que não batam em mim enquanto eu espero?"

Keri ouviu o motorista conter um xingamento sob a respiração e soube que eles o pegaram. Ela assentiu para Ray e ambos se moveram rapidamente em posição. Enquanto ela se esgueirava por mais alguns carros para chegar à traseira da limusine, ela ouviu o motorista dizer a quem quer que estivesse no banco de trás que ele acabaria em um minuto. Então, ele saiu e se juntou a Keith na traseira do Maxima. Ele era um cara grande, mais de um metro e oitenta e afro-americano perfeito.

"Acho que se só empurrarmos até ali," disse Keith indicando um espaço aberto entre dois carros, "deve ser suficiente.".

"Nenhum dos seus pneus parece tão ruim, garota," disse o motorista soando ligeiramente suspeito.

"Acho que o prego está prendendo o ar, mas eu não quero testar, sabe? Eu posso ver que você está com pressa, senhora, e aprecio sua ajuda, então vamos apenas mover o carro e você pode voltar para o seu caminho."

"Sim, que seja," concordou o motorista.

Eles empurraram o Maxima para o lado e Keith correu até o assento do motorista para apertar o freio antes que batesse em algo. Keri viu Ray esperar até que o motorista da limusine chegasse até a beira da estrada, fora de vista de qualquer um dos seus passageiros, para sair das sombras e acertar sua arma nas costelas do cara. Pelo fone de ouvido, ela podia ouvi-lo falando calmamente.

"Preciso de uma carona para a festa. Leve-me sem confusão e você vai embora fácil. Arrume problema e você nunca mais vai andar novamente, talvez não respire de novo. Entendeu?"

Ela viu o motorista assentir.

"Vamos caminhar de volta ao carro. Você vai dirigir. Eu estarei no banco do passageiro. Seu vidro de privacidade está levantado?”

O cara assentiu.

"Ótimo. Vamos mantê-lo assim. Você é o motorista regular para esses clientes ou foi apenas dessa vez?"

"Eu trabalho para uma empresa," disse o motorista. "Eu não conheço o cliente. Essa é a minha primeira vez dirigindo para ele.”

"Ótimo. Vamos."

Alcançaram o carro e entraram, Ray certificando-se de ficar fora da vista da janela do passageiro traseiro.

"Qual é o seu nome, cara?" Ray perguntou. Keri já não podia vê-lo, mas sua voz soou suave como seda.

“Pete.”

“Pete, diga ao seu cliente que você sente muito a demora e que estamos prestes a continuar o caminho."

Pete fez como lhe pediram.

"Agora abra o porta-malas, Pete."

Pete o abriu e Keri se moveu rapidamente do seu esconderijo, rastejou no porta-malas e puxou a tampa para baixo.

"Estou dentro," ela sussurrou em seu fone de ouvido.

"Vá em frente e dirija, Pete," ela ouviu Ray dizer.

Quando o carro deu partida novamente, ela ouviu a voz de Keith pelo comunicador.

"Boa sorte para vocês, pessoal. Vou estar aqui embaixo se vocês precisarem de mim."

"Obrigada, Keith," Keri sussurrou enquanto se espremia mais para o fundo do interior do porta-malas.

Ela ligou a luz do telefone brevemente para olhar ao redor e encontrou um velho tapete, o qual ela esticou por cima dela. Se ela se dobrasse em posição fetal, ele a cobria quase completamente.

Alguma coisa registrou-se no fundo do seu cérebro e por um segundo ela não podia dizer o que. Então, ela ligou a luz do telefone novamente e percebeu o que era. A hora era 11:02 da noite. Evie deveria estar morta em menos de uma hora.


CAPÍTULO DEZESSETE

Passar pelo portão foi mais fácil do que esperavam. Pete tinha um uniforme de motorista extra na frente, que Ray vestiu no caminho para cima.

Quando Pete abaixou sua janela, a equipe de segurança não viu nada de incomum sobre dois imponentes motoristas afro-americanos. Talvez eles estivessem tão acostumados que os próprios clientes mantivessem segurança extra que não lhes parecia estranho que outro pessoal também o fizesse. E já que o passageiro não estava ciente da existência de Ray, ela não disse qualquer coisa quando foi perguntado para baixar sua janela para que eles pudessem confirmar sua identidade. Nunca checaram o porta-malas.

Depois de largar o cliente na entrada principal, Pete foi instruído dar a volta pelo lado onde as outras limusines estavam esperando. Ele o fez. Keri escutou calmamente enquanto Ray explicou como a noite dele iria se desenrolar.

"Pete, infelizmente, eu vou ter que te nocautear. Então vou amarrar você e deixá-lo no carro. Minha recomendação é que, mesmo que você acorde, finja estar inconsciente. Não tente ser um herói e avisar alguém, porque você estaria, na verdade, avisando os caras maus. Sou um policial e o que está acontecendo aqui são péssimas notícias. Se seu cliente está aqui, ele é um cara mau também. Sua melhor aposta é 'dormir' durante a coisa toda. Assim, você tem menos questões para responder quando tudo tiver terminado. Entendeu?"

Pete não respondeu, mas Keri deduziu que ele estava acenando. Um segundo depois, ela ouviu um baque que sugeria que ele fora nocauteado.

"Vou prender esse cara," ela ouviu Ray dizer. "Então vou descobrir para onde posso levar você de modo que você fique escondida. Há algumas pessoas espalhadas e eu gostaria de saber a topologia do terreno antes de abrir o porta-malas. Eu vou deixar você sair quando tenho certeza de que a costa está livre. Você ainda está bem aí atrás?"

"Tudo azul. Acho que o Vicodin está começando a bater."

"Isso é uma notícia super, Keri," ele respondeu com entusiasmo fictício. "Estou feliz que você esteja começando a sentir um pouco melhor. Só espero que não comece a se sentir bem demais."

"Eu também, na verdade."

Cinco minutos depois, a porta do porta-malas destrancou e Ray apareceu. Ele a ajudou a sair, jogou um manto pesado sobre os ombros dela e ela a guiou por uma porta lateral e rapidamente por um corredor até um pequeno banheiro. Keri podia sentir os outros na área e manteve a cabeça abaixada até que ele fechasse a porta atrás deles.

"Então, perguntei por aí," ele disse, certificando-se que a porta estava trancada, "e parece que temos algumas boas notícias e algumas más notícias."

“OK," respondeu Keri hesitantemente. "Por que eu tenho a sensação de que mesmo boas notícias em um evento como esse ainda são bem ruins?"

"Porque você é uma moça muito inteligente e intuitiva. As boas notícias é que essa festa é do tipo "Olhos Bem Fechados". Todo mundo está usando máscaras. Acho que o pessoal chique não quer ser formalmente identificado em uma ocasião especial que envolve estrupo e assassinato de crianças."

"Estou esperando pelas boas notícias, Ray."

"A boa notícia é que não apenas os convidados usam máscaras. A equipe que serve também. Parece não perceber a extensão do que está acontecendo aqui. Eles sabem que é uma orgia, mas parecem indiferentes quanto à idade das garotas. Muitos deles são atores e acham que esse é um evento de RPG, então estão apenas indo junto. Uma vez que estão todos disfarçados, você também pode estar. Você deve conseguir andar por aí sem ser identificada."

"Isso é ótimo, assumindo que eu possa colocar minhas mãos em uma máscara e um uniforme."

"Essa é a má notícia. Conseguir uma máscara e um uniforme não é um problema. De fato, eu vi vários deles pendurados no vestiário feminino no fim do corredor. Mas os uniformes são... reveladores."

"O que exatamente você está dizendo?" Keri perguntou defensivamente.

Só que, embora eu curta passar longos e ininterruptos períodos na companhia do seu corpo descoberto, ele está atualmente todo rasgado em fiapos. As pessoas podem notar. Quero dizer, alguns dos seus ferimentos desta manhã ainda estão escorrendo. “Acho que se você for de lingerie para a área principal servindo crudités, você vai chamar alguma atenção indesejada.”

Keri suspirou profundamente.

"Em circunstâncias normais," ela disse, "eu chutava seu traseiro. Mas seu ponto é justo. E desde que este medicamento está definitivamente começando a bater e estou começando a sentir meio que aquecida por todo lado, eu vou deixar a sua impertinência ir desta vez. Talvez eu só coloque uma vestimenta com um robe fino por cima e procure pela casa. Eu estou supondo que eles vão manter Evie em algum lugar longe das principais festividades. E assim, se alguém me encontrar, posso apenas afirmar que eu me perdi."

"OK, Keri, mas seja cuidadosa," respondeu Ray. "Você terá que esconder sua arma no bolso de um roupão e o fone de ouvido no outro. Vai parecer suspeito se alguém ver você vagando por aí no que equivale a um biquíni com uma peça complicada de hardware de áudio na sua cabeça."

“Posso dar pitaco aqui?" disse Keith pelos comunicadores. “Keri, na verdade você pode remover o fone do fone de ouvido e ainda ouvir o que estamos dizendo. É tão pequeno que ninguém vai notar. Você não será capaz de responder, mas pelo menos eu e Ray podemos mantê-la atualizada.”

Keri e Ray trocaram olhares e assentiram.

"Boa ideia, Keith," disse Keri. “Vocês só vão ter que me manter no circuito constantemente."

"Faremos," Keith lhe garantiu. "E já que eu estou mantendo você atualizada, gostaria de dizer que não faço ideia de quem essa casa pertence. Eu estive fazendo uma pesquisa na internet, mas tudo volta para uma empresa de fachada. O verdadeiro dono está bem escondido”.

"Eu gostaria de poder dizer que estou chocada", disse Keri. “Mas faz sentido. Qualquer pessoa que hospede algo assim gostaria de ter camadas de documentos escondendo seu envolvimento. Mas para o propósito de chamar reforços, o endereço é mais importante agora."

"Concordo," disse Ray. “Eu vou pegar um desses uniformes para você agora. Aguente firme aqui."

Depois que ele saiu, Keri trancou a porta e retirou o fone de ouvido e a arma, um dos extras de Ray. Então ela se despiu e esperou que ele voltasse. Olhando no espelho do banheiro, ela viu sobre o que ele estava falando.

Embora ela estivesse em muito boa forma atualmente e podia olhar para seu corpo despido sem se sentir muito autoconsciente, seu corpo estava cheio de hematomas, arranhões, cortes, crostas e ataduras manchadas de sangue escorrendo. Todo o lado direito da sua face, da sua testa até os lábios, estava arranhado e azul-arroxeado. Apesar de estar nua, parecia que estava se preparando mais para um filme de terror do que para um filme pornô.

A única coisa boa era que os remédios que Mags deu a ela tinham agido por completo agora. A intensidade da situação havia cortado a sensação de calor que sentira antes, de modo que não havia humor intenso ou especialmente bom. Mas também não havia um monte de dor. Ela podia sentir a sensibilidade dos seus músculos e ossos, escondida logo abaixo da superfície. Mas por agora, pelo menos, estava discreta, permitindo que ela funcionasse.

Houve uma batida suave na porta e Keri a abriu. Ray reentrou segurando o uniforme, um robe de seda leve de cor creme e uma máscara. Ela o notou corando ligeiramente.

"Gosta do que vê, garotão?" ela perguntou brincando.

"Sim," ele disse timidamente. "Digo, você parece com algum tipo de prole de demônio que tem intenção de me arrastar para a fenda do inferno. Mas, você sabe, de uma maneira sexy."

"O que exatamente está acontecendo aí?" perguntou Keith pelo fone.

"Cuide das suas coisas, menino do shopping," rosnou Ray. "Boa maneira de estragar o clima".

“Desculpa. Eu só pensei que fosse uma situação séria."

O rosto de Ray se transformou uma carranca quando ele abriu a boca para responder, mas Keri abanou a cabeça e inclinou-se para dar-lhe um beijinho na boca.

“Você pode me ouvir, Keith?" ela perguntou. "Estou falando no fone do Ray."

"Posso ouvi-la, Detetive."

"Você tem razão. Esta é uma situação grave. Temos cerca de quarenta e cinco minutos antes que minha filha seja sacrificada em um ritual. Não posso pensar em nada mais sério. Mas é muito para processar, sabe? Estou tentando manter minha cabeça no lugar para não perdê-la completamente. Isso faz sentido, Keith?"

"Sim, Detetive," ele disse.

“Se eu pensar nas consequências caso fracassarmos, não sei se poderei colocar um pé na frente do outro, muito menos fazer o que precisa ser feito para salvar minha filha. Então Ray e eu, às vezes revertermos para um pouco de humor negro. Nos deixa soltos. Lembra-nos que mesmo quando as coisas ficam sinistras, ainda podemos rir. E me impede de perder a cabeça completamente. Você não vai me negar isso, vai?"

"Não, senhora," ele respondeu. "Acho que só estou nervoso."

"Tudo bem. Também estou. Eu só escondo melhor. Mas você está certo. É hora de se preparar para o jogo das faces. Então, vou colocar essa roupa ridícula e a máscara."

"E eu vou ver se eu consigo caçar uma daquelas jaquetas vermelhar de 'valet'," disse Ray. "Se eu puder me passar por um dos caras da segurança, talvez eu possa conseguir alguma informação sobre onde eles estão mantendo Evie."

"O que devo fazer?" perguntou Keith.

"Fique firme por enquanto," disse Keri. "Confie em mim. Estaremos chamando você em breve."

Keri terminou de se vestir e então se virou para olhar para Ray.

"Como estou?" ela perguntou.

Ele apertou um botão no seu equipamento, desligando-o.

"Eu te amo," ele disse, sem um traço de sarcasmo.

Ele a encarava profundamente, quase como se tentasse consumi-la. Keri sentiu seu coração se abrir. Ela sentia da mesma forma que ele, mas escutar as palavras em voz alta pela primeira vez havia enviado um arrepio por todo seu corpo.

"Eu também te amo," ela disse de volta, sua voz subitamente trêmula.

Ele a puxou gentilmente e a beijou com cuidado para evitar o lado machucado da boca, embora ela realmente não se importasse com isto naquele momento. Então, ele a envolveu nos braços e a abraçou por bons trinta segundos.

"Eu só queria que você soubesse disso," ele sussurrou em seu ouvido, "não importa o que aconteça lá fora."

“Nós teremos que continuar esta conversa depois, porque eu tenho algumas ideias adicionais sobre o assunto. OK?”

“OK,” ele concordou dando um passo para trás.

"Mas, por agora, vamos ao trabalho, certo?"

Ray assentiu em silêncio e, em seguida, ligou o fone de ouvido.

“Keith, estou indo procurar um uniforme de segurança. Keri estará logo atrás de mim. Mantenha-nos informados sobre qualquer desenvolvimento. E lembre-se, Keri estará apenas escutando deste ponto em diante. Entendido?"

"Entendi," disse Keith.

Ray deu um último meio sorriso antes de sair. Keri esperou sessenta segundos, respirou profundamente e abriu a porta, andando para fora para encarar um futuro incerto, armada apenas com sua arma, seu treinamento e o amor eterno de uma mãe.


CAPÍTULO DEZOITO

Keri estava inicialmente nervosa a cada passo que ela dava, a suster a respiração ao virar cada canto com cuidado. Ela até mesmo havia pegado uma bandeja cheia de aperitivos de cogumelos caso ela esbarrasse em alguém. Mas depois de um tempo, ela percebeu que com todo o foco sobre a área do principal festa da casa, ninguém se importava muito com o que o pessoal estava fazendo na parte de trás da propriedade.

Mas ao subir um lance de escadas para o que parecia ser a sessão residencial do imóvel, Keri notou um aumento marcado no tráfego e na segurança. A cada poucos minutos, um homem descia um corredor até um quarto, acompanhado por uma jovem garota. Em cada caso, um homem usando um casaco esportivo vermelho as acompanhava até o quarto. Depois do que ela assumiu ser uma varredura de segurança, ele saia, fechava a porta e assumia uma posição de guarda na porta do quarto.

Em um ponto ela percebeu que não conseguiria ir mais além na casa sem descer um corredor com dois guardas estacionados fora dos quartos a cerca de dez metros um do outro.

Você está usando uma máscara. A iluminação está parca. Eles não conseguem ver seu rosto ou seus machucados. Haja casualmente. Seu lugar é aqui.

Ela inalou profundamente, deu um longo e lento expirar e saiu para o corredor. Com seu melhor andar casual, ela caminhou em direção ao primeiro guarda, que a olhou atentamente, mas disse nada. Ao se aproximar do segundo homem, ele levantou a mão para que ela parasse.

"O que você está fazendo aqui atrás?" ele demandou.

"Só servindo comida, homem," ela disse, tentando soar um pouco aborrecida e entediada. "Meu gerente disse para passar nos corredores dos quartos ocasionalmente para ter certeza de que ninguém seja esquecido aqui atrás. Eu estava fazendo o que eles mandaram. Cogumelos?"

"Não," ele respondeu rispidamente. “Mas se atenha a área central do evento de agora em diante. Ninguém por aqui está querendo comer."

"OK. Desculpa, cara."

Ela continuou pelo corredor e virou a esquerda, em direção a várias vozes altas e o que ela esperava ser a "área central do evento". Ao entrar no próximo corredor, a voz de Keith veio pelo fone. Keri esteve tão focada na sua própria tarefa que não percebeu que não havia falado por um tempo.

"Escutem, pessoal. Consegui hackear o CCTV da casa e, pelo que posso dizer, vão começar algum tipo de apresentação em menos de um minuto. Há um relógio com contagem regressiva que mostra quarenta e dois segundos restantes."

Keri sentiu uma onda de pânico subir em suas entranhas. Já era meia-noite? Ela olhou para o celular: 11:29.

"Estou quase em posição na sala principal," ela escutou Ray dizer. "Parece que todo mundo está começando a se reunir em torno de vários monitores."

Keri acelerou o ritmo, na esperança de encontrar seu caminho para a sala principal antes da apresentação começar. Ao passar por um quarto aberto ela olhou para dentro e viu uma TV de tela plana na parede mais distante. Parecia que também estava mostrando a contagem regressiva.

Ela olhou para trás no fundo do corredor na direção de onde ela veio para ver se o guarda ranzinza a seguira, mas ela estava sozinha. Rapidamente, ela entrou no quarto e puxou a porta. Ela olhou em volta. O quarto estava cheio de vários buquês de flores e múltiplas velas aromáticas acesas na cômoda. Os lençóis e o edredom estavam dobrados, mas o quarto estava vazio.

Keri colocou a bandeja de aperitivos na cômoda e sentou na beirada da cama assim que a contagem terminou. A tela ficou preta por vários segundos. Então a palavra "Vista" apareceu em letras brancas em negrito. Uma voz masculina grave e autoritária começou a falar enquanto imagens da cidade apareciam na tela, dissolvendo uma na outra.

"Por quase uma década, um sagaz grupo da elite, dedicado à busca de um novo tipo de prazer, se reúne uma vez por ano em evento que chamamos de Vista. O que é o Vista? É uma nova maneira de olhar para as coisas, de ver além da monotonia das nossas escolhas do dia-a-dia, de olhar à distância, no além, em um mundo no qual nossa gratificação erótica, nossa satisfação sexual, nossos desejos carnais sejam tratados com o respeito-não, com reverência-que eles realmente merecem."

Agora, as imagens icônicas de Los Angeles haviam sido substituídas por fotos de atraentes mulheres nuas. Keri notou que enquanto o narrador falava, as mulheres pareciam ficar mais novas a cada fotografia que passava.

“Todos os anos, nos reunimos para nos lembrar do que é possível para cada um de nós, se apenas escolhermos tomá-lo em nossas próprias mãos. O mundo é repleto de regras, de pífias tiranias, impostas por burocratas indignos do poder que exercem. Mas nesta noite, nós não estamos presos às suas regras, às suas leis. Nesta noite, nós somos a lei. Vida e morte estão em nossas mãos, em suas mãos."

A tela ficou preta novamente e então, para a surpresa de Keri, sua foto oficial do LAPD preencheu o monitor. Ela ouviu um pequeno grito de surpresa escapar de seus lábios e olhou rapidamente para a porta para certificar-se de que ninguém entrou. A voz continuou.

"Como todos sabem, este ano vem sendo muito especial, mesmo antes dos acontecimentos de hoje de manhã. A recompensa para o vencedor do nosso leilão será a cria dessa mulher, um espinho no lado de todos nós que apreciamos o prazer sem limites, um câncer na liberdade de homens de pensamento livre. Essa é a Detetive Keri Locke, que fez da missão da sua vida interferir com a ordem natural do mundo, impedir os homens de paixão de satisfazerem suas ânsias. Ela desejava, na verdade, nos punir por elas. Isso não será mais uma preocupação."

Keri escutou um barulho de risada alta de um quarto não muito longe e sabia que o narrador havia realmente surpreendido sua audiência com essa fala. Ela estava feliz que o Vicodin ainda estava fluindo em sua corrente sanguínea. Ajudava a anestesiá-la. Caso contrário, ela tinha certeza de que estaria vomitando ou disparando a arma contra a televisão.

“Mas apesar da sua ausência, ainda podemos causar seu sofrimento, porque sua única filha ainda vive. Ela foi raptada há seis anos, arrancada do seio da sua mãe. Mas devido ao trabalho árduo e diligência, ela foi encontrada. E ela está aqui conosco esta noite. Ela é nosso Prêmio de Sangue para a noite. E um de vocês ganhou o direito de fazer o que quiser com ela antes de cortar sua garganta e assistir a vida sumir dos seus olhos. Um de vocês ganhou o direito de ter a mão sobre a vida e a morte e enviar essa garota ao encontro da sua mãe, onde elas possam apodrecer juntas entre os vermes."

Apesar da sua medicação, apesar do seu torpor, Keri sentiu ânsia involuntária de vomitar.

"Cavalheiros, conheçam o honorário Árbitro desse ano."

A foto de Keri desapareceu, substituída por um vídeo de um homem de pé em um quarto indeterminado. Ele usava uma máscara que cobria a maior parte de seu rosto, mas não os tufos aleatórios de cabelo no topo da cabeça. Ele usava um roupão dourado que não podia esconder uma massa de pelo do peito pulando para fora. Seu queixo duplo estava brilhando de suor. Era Herb Wasson. Ele não falava, apenas sorria grotescamente, como se não pudesse esconder a excitação do que estava por vir.

Um segundo depois, ele foi substituído pela palavra "Vista." A voz falou mais uma vez.

"Na balada de meia-noite, depois que nosso Árbitro esteja satisfeito, vamos nos congregar uma vez mais para o Prêmio de Sangue. Até lá, por favor, concluam quaisquer deleites restantes e retornem para o Hall das Festividades para a cerimônia."

A tela ficou preta.

Keri se levantou, a bola de fúria ansiosa subindo de seu abdome para o peito e finalmente para a cabeça subitamente latejante. Ela começou a tirar o fone para recolocá-lo no fone de ouvido. Mas antes que estivesse fora do bolso do seu robe, a voz de Ray estava em seu ouvido.

"Eu sei que você provavelmente está quicando nas paredes, Keri, mas vamos resolver isso. Keith, eu assumo que era Wasson no vídeo. Você ainda pode rastreá-lo com o taggant?"

"Já estou nisso, Detetive Sands," disse Keith. "Descobri que poderia ser ele e estou dirigindo para mais perto da casa agora para tentar ficar ao alcance. Quando ele entrou na propriedade, parei de me focar nele. Mas acho que posso localizá-lo novamente. O problema é que sua localização exata no meu mapa não me diz exatamente onde ele está na casa. Então eu estou também puxando especificações do imóvel para que eu possa tentar identificar o andar e talvez até o quarto dele."

“Quanto tempo vai levar?” Ray perguntou.

"Pode demorar alguns minutos. Eu tenho que chegar perto o suficiente para obter um bom traço de Wasson, mas não tão perto que chame a atenção do pessoal da segurança. E arranjar uma planta precisa para este lugar deve dar algum trabalho. Minha conexão de internet está um pouco falha nesses morros."

Keri finalmente conectou o microfone.

"Podem me ouvir?"

"Sim," disseram ambos os homens ao mesmo tempo.

"Você precisa andar rápido, Keith. Eu sei que é pedir muito. Mas aquele era Wasson. E eu tenho uma sensação ruim sobre a parte de "fazer o que desejar" com Evie. Eles podem estar levando-a até ele agora e eu preciso chegar lá antes que ele faça alguma coisa com ela. Ele não quer apenas matá-la. Ele quer arruiná-la."

"Estou trabalhando nisso, Detetive," insistiu Keith. "A boa notícia é que seu equipamento também age como rastreador. Uma vez que eu consiga especificações precisas da casa, espero que eu possa dizer onde você está em relação à Wasson e levá-la mais rápido até ele."

"Onde você está agora, Keri?" perguntou Ray.

"Estou em um quarto vazio no segundo andar. É em um corredor que não pode estar a mais de trinta metros do salão principal da festa. Eu pude ouvir uma multidão rindo claramente quando o narrador fez piada sobre eu estar morta."

“OK", respondeu Ray. "Acho que sei mais ou menos onde você está. Todos os clientes e suas garotas saíram da área da festa usando a mesma saída, então eu suspeito que ela leve para a sua vizinhança. Vou tentar ir até você em um minuto. Mas primeiro eu preciso encontrar um lugar calmo e fora do caminho para fazer uma chamada."

"Que chamada?" perguntou Keri.

"Acho que agora seria uma boa hora para alertar a SWAT do condado sobre aquele laboratório de metanfetamina, não acha?"

"Certamente," concordou Keri ao levantar e pegar sua bandeja de aperitivos. “Enquanto isso, não sei o que podemos fazer aqui. Estou neste quarto com uma bandeja de aperitivos frios de cogumelos e usando um fone de ouvido suspeito. Se eu trombar com um guarda enquanto busco pelos corredores, pode ser difícil explicar isso. Mas cada segundo que fico presa aqui é um segundo perdido."

"Aguente firme mais um pouco," pediu Keith. "Estacionei logo abaixo na rua da casa. Estou vendo a assinatura do taggant de Wasson na tela agora. Prometo que terei uma planta do piso em breve e serei capaz de dizer a você onde ele está."

Keri estava prestes a sentar-se na cama quando viu a maçaneta da porta do quarto começando a girar.

"Mudança de planos," ela sussurrou enquanto a porta começava a se abrir.


CAPÍTULO DEZENOVE

Por um breve segundo, Keri considerou apenas arremessar a bandeja na cabeça de quem entrasse na sala. Mas e se fosse um cliente ou alguma garota de programa e o cara da segurança estivesse logo atrás deles? Ela perderia o elemento surpresa e uma arma em potencial. Era melhor usar o disfarce primeiro e evitar confrontos, se possível.

"O que isso quer dizer?" ela ouviu Keith dizer, mas o ignorou.

A porta se abriu e a luz entrou bloqueando a sua visão, o que teria tornando jogar a bandeja com precisão difícil de qualquer maneira. Uma silhueta entrou na luz e ela viu que, de fato, era um segurança. Suas mãos estavam na cintura, onde poderia haver uma arma, mas ele não a havia tirado do coldre ainda.

"Olá?" ela disse com cautela, tentando soar o mais inócua possível.

"Quem é você?" ele exigiu. “O que está fazendo aqui?"

"Desculpe-me. Faço parte da equipe do coquetel. Tive que fazer xixi, mas a fila para empregados lá trás era longa demais, então vim procurar por um banheiro aqui em cima. A porta estava aberta, então eu só entrei rapidinho para fazer o que precisava."

Ela viu a mão dele relaxar, mas não sair do coldre. Ela pôde ver o fio do seu fone de ouvido pendurado na sua orelha. Tudo necessário era uma palavra dele para chamar outros ou alertar seus superiores.

"Você não deveria estar nessa área da casa, moça," ele disse, entrando e indicando para ela passar por ele para o corredor. "As instruções foram bem explícitas sobre isso."

"Eu sei," ela disse apologeticamente ao passar por ele. "Mas quando a natureza chama, tudo o mais voa pela janela, sabe?"

Ele sorriu com compreensão, então deu uma olhada no quarto mais uma vez para se certificar que tudo estava em ordem. Ela viu seu sorriso sumir ligeiramente e, imediatamente, percebendo que algo estava errado, entrou em ação.

"Não há banheiro aq-" ele começou a dizer.

Mas antes que ele pudesse completar a sentença, ela o acertou na têmpora direita com a parte plana da bandeja de aperitivos. Cogumelos voaram na parede. Ele tropeçou para trás, ligeiramente atordoado, mas nada mais. Keri virou a bandeja para o outro lado, dessa vez acertando-o na ponte do nariz, logo antes que ele pudesse levantar as mãos para bloquear o golpe.

Agora, com os braços dele levantados e seu torso exposto, Keri o acertou o mais forte que podia, começando com um cotovelo no plexo. Quando ambos bateram na parede do quarto, ela ouviu um gemido quando ele exalou e ela sabia que havia arrancado o ar dele.

Ela não tinha muito tempo antes que ele se recuperasse, apenas alguns segundos, então não tinha outra escolha a não ser pender para o lado da determinação. Ela tirou a arma e bateu o cabo no topo do crânio do cara. Ele gemeu desorientado, mas ainda consciente. Sua mão direita estava caindo, tentando agarrar o botão de "fala" no seu comunicador.

Sem escolha

Ela levantou o cabo da arma mais uma vez e bateu forte novamente, apenas a um centímetro de onde ela havia acertado o primeiro golpe. Dessa vez, ele desabou ao chão, apagado.

Ela queria rolar e deitar-se ao lado dele, pelo menos por um momento para que pudesse retomar o fôlego. Mas não poderia arriscar. Em vez disso, ela se forçou a levantar e correu até a porta do quarto, fechou-a e trancou-a.

"Vocês podem me ouvir?" ela perguntou ao voltar para o guarda e arrancar seu comunicador, fone e tudo o mais.

"O que aconteceu?" Ray perguntou.

"Eu tive um inesperado visitante indesejado. Mas tomei conta dele, pelo menos por hora," ela disse ao arrastar o pesado corpo para o lado mais distante da cama, onde ele ficaria fora de vista.

"Você está OK?" perguntou Keith.

"Nada mal, considerando tudo. Mas eu não sei quanto tempo temos antes que a ausência desse cara seja notada. De quanto em quanto tempo eles fazem check-in, Ray?"

"A cada quinze minutos. O último foi há quatro minutos, imediatamente após a apresentação em vídeo."

"Isso não nos dá muito tempo," disse Keri ao usar uma fronha para amarrar as mãos do cara juntas atrás de suas costas. "Uma vez que ele falhe em fazer o check-in, não posso imaginar que vão demorar mais do que sessenta segundos para entrar em modo de alerta. Esses caras não me dão a impressão de serem do tipo casual."

"Concordo," disse Ray. "Isso significa que temos cerca de dez minutos no máximo, antes que alguém com autoridade decida que tenha ocorrido uma violação. Então, eu dispenso toda a coisa com o laboratório de metanfetamina. Estou chamando a SWAT agora para dar-lhes o endereço."

"Ótimo," disse Keri. "Só uma coisa antes que você ligue. Eu não sei qual é o protocolo desses caras para um cenário de violação, mas eu acho que envolve matar ou mudar Evie de lugar. Então, meia-noite não é mais nosso prazo. O novo prazo máximo para encontrar Evie é... onze e quarenta e sete da noite. Entendido?"

"Entendi," disse Ray. "Vou ficar em silêncio por algum tempo para fazer a ligação."

"Ainda está aí, Keith?" perguntou Keri enquanto colocava uma das meias do guarda em sua boca.

"Estou."

"OK, bem, eu deixei esse guarda bem indisposto pelos próximos dez minutos. Então, espero que você tenha uma nova tarefa para mim. Como vai essa planta, amigo?"

"Montei agora," disse Keith. "O sinal de Wasson não está se movendo, o que significa que algo está errado com a conexão ou que o cara já está onde ele quer estar."

"Acho que o último. Eles vão levá-la até ele e não o contrário. Onde ele está?"

"Parece que ele está um andar acima de você, no que parece ser algum tipo de enorme quarto do terceiro andar."

"Como eu o acesso?" exigiu Keri.

"Bem, estou olhando para a sua posição atual e você não está tão longe assim. O problema é que você tem que passar por dois corredores principais e subir um lance de escadas para ir até o quarto. Acho que vai haver uma boa quantidade de seguranças no caminho."

"Bom chute, Keith," disse Keri, tentando manter a exasperação fora da sua voz. "Alguma outra rota que eu não precise encontrar os caras de jaqueta vermelha, alertar a equipe de segurança inteira sobre minha presença e colocar a vida da minha filha em um perigo ainda mais mortal?"

"Sem pressão. Tenho uma ideia. Mas vai precisar que aquele Vicodin ainda esteja funcionando muito bem."

"Estou escutando," disse Keri.

"Se você for até o fim do corredor do seu quarto atual, há uma porta de vidro que dá em uma pequena sacada. A sacada fica abaixo da sacada do quarto do terceiro andar. Então, teoricamente você pode escalar do segundo para o terceiro andar e entrar no quarto onde Wasson está."

"Teoricamente?"

"Bem, parece um bom pulo de andar para andar. As plantas para as quais eu estou olhando não são muito detalhadas, mas o pulo parece ter pelo menos... um metro e vinte."

Keri olhou para o relógio. 11:40.

Eu tenho sete minutos até que o inferno se abra.

"Vamos lá. Vou tentar me passar por uma garçonete para chegar até a sacada, então estou pegando minha bandeja de aperitivos e colocando o equipamento de lado. Fica muito suspeito quando estou andando pelos corredores. Eu vou estar em modo de áudio apenas. Mantenha-me informada de quaisquer alterações nos movimentos de Wasson e peça para Ray me atualizar sobre mudanças na segurança, entendeu?"

"Entendido, Detetive."

"Ficando muda," disse Keri.

Ela espiou para o corredor e, não vendo ninguém, saiu, certificando-se de trancar a porta atrás dela. Andou confiante na direção que Keith a instruíra, virou à direita e viu a sacada onde deveria estar. Não havia qualquer um à vista. Aparentemente, todos seguiram as instruções para retornar para o Hall das Festividades.

Ela atingiu a porta de vidro deslizante e puxou. Estava trancada. Por meio segundo, ela se debateu tentando abri-la. E se houver algum tipo de alarme?

Se houver, estou ferrada de qualquer jeito, então posso muito bem só seguir em frente.

Ela destrancou a porta. Uma rajada de ar frígido a acertou com uma força inesperada. A onda de frio parecia um choque elétrico. Dentro da casa quente, ela havia se esquecido do quão frio estava lá fora.

Mas agora, enquanto os calafrios surgiam por cada centímetro da sua pele exposta, tudo voltou a ela. De pé ali, somente de lingerie e um robe fino em um tempo de sete graus, ela sentiu seu corpo começar a tremer.

Keri pisou fora e puxou a porta fechada, esperando que o ar frio não fluísse no corredor e alertasse alguém de algo incomum. Ela se moveu até a beirada da sacada e olhou para cima. Keith estava certo-seria um pulo e tanto.

Do topo do segundo andar para o chão do terceiro andar era mais um metro e meio do que o um metro e vinte que Keith estimou. E a sacada não tinha uma parede de verdade. Ao invés disso, era um parapeito feito de uma série de barras metálicas horizontais empilhadas um em cima da outra.

Isso foi, na verdade, um positivo. Pelo menos, se ela fosse capaz de saltar alto o suficiente, ela poderia agarrar a barra inferior e puxar-se para cima degrau por degrau. Isto é, se ela não perdesse completamente a barra do fundo e desabasse no chão abaixo.

A principal preocupação era que, para agarrar o degrau do trilho inferior do terceiro andar quando ela saltasse teria que superar base da varanda do terceiro andar, que era bem grossa. Se ela não subisse mais que isso, não teria nada para se agarrar.

Keri olhou para a lateral da sacada. Estava escuro demais para estimar a altura exata. Mas a casa era construída na encosta de um morro e ela acreditava que eram pelo menos doze metros até o chão-nada ao que ela pudesse sobreviver.

Ela colocou a bandeja para baixo no chão, chutou seu salto alto e subiu na barra superior do parapeito do segundo andar. Colocou as mãos na parte de baixo do teto para se equilibrar e ergueu-se sobre a extensão vazia abaixo.

Ela olhou de relance para o relógio mais uma vez: 11:43. Ela dobrou seus joelhos, se preparando para o salto, quando uma voz cortou repentinamente em seu fone. Era Ray.

"Estou de volta. Desculpe-me pela demora. Fiz a ligação para a SWAT do Condado de LA. Estão a caminho e deverão chegar em seis ou oito minutos. Mas tenho más notícias. Pode não ser tempo suficiente. Minha ligação deve ter alertado alguém aqui dentro, porque fizeram um check-in de segurança imediato. Um cara não está respondendo. Vão mandar uma equipe para a localização do rastreador dele nesse momento. Estou achando que você tem menos de sessenta segundos antes que eles o encontrem, lancem um alerta geral e tirem Evie de lá.

Keri pressionou o teto mais forte, repentinamente com medo de que suas penas pudessem ceder sob ela. Pelo mais curto dos segundos, ela pensou que pudesse desabar sob a pressão do momento, como fizera muitas vezes antes.

Não. Você não vai desabar. Você vai ser forte.

Seus pensamentos ficaram claros. Ray prosseguiu.

"Keri, eu ouvi você dizer que está apenas no modo de áudio. Vou atraí-los para cá, fazê-los pensar que ele esteja no primeiro andar, não no terceiro. Isso deve lhe dar um pouco de tempo extra-talvez até elimine alguns guardas. Mas vai ser breve. Então você precisa se mover agora."

Keri queria dizer a ele para não fazer isso, que era uma missão suicida. Mas como ele disse, ela estava somente em modo de áudio, então não podia dizer qualquer coisa. Além disso, sem considerar a chance de que isso o matasse, era um bom plano. Afastaria os guardas dela.

Mas acima de tudo, a decisão estava fora de seu controle. Ela não podia mudar isso. E ela tinha menos de um minuto antes dos seguranças entrarem no quarto acima dela e levarem sua filha embora ou pior. Ela já não tinha escolha.

Então Keri pulou.


CAPÍTULO VINTE

Seus dedos encontraram a barra inferior do corrimão, mas os sentiu começar a escorregar quase imediatamente. De alguma maneira, o dedo indicador e o dedo médio da sua mão direita se agarram na barra quando ela chocou a palma da mão esquerda na beirada da sacada, onde os ladrilhos se encontravam com metal.

Ela empurrou com força para cima, obtendo força e altura suficientes para agarrar o corrimão com toda a mão direita e enganchar o braço esquerdo entre a primeira e a segunda barra. Ela também sentiu uma estranha pontada em seu ombro esquerdo assim que seu peso se sustentou nele em um ângulo extremo.

Ignorando a dor, ela agarrou a barra mais alta que podia com a mão direita e enganchou seu cotovelo nela enquanto livrava seu ombro esquerdo da estranha posição e o lançava por cima da barra superior. Usando sua força restante e a adrenalina solta em seu sistema, ela se puxou para cima pelo restante do caminho até que sentisse seus pés se plantarem no piso da varanda.

No ouvido de Keri, tiros e gritos eram audíveis, mas pouco deles coerentes. Ela se obrigou a afastar as preocupações da cabeça e focar no que era iminente.

Da varanda ela não podia ver através as cortinas pesadas. Ela subiu por cima da grade e agarrou a maçaneta da porta, pronta para atirar no o vidro se a coisa estivesse trancada. A porta se abriu facilmente.

Ela entrou e quase imediatamente foi arrebatada pelo forte cheiro de incenso. O quarto estava escuro, com velas por todo lado. Uma música ambiente alta estava tocando no sistema de som. Levou um segundo para que ela se situasse.

Então, ela o viu-um homem corpulento em uma cama enorme. Ele estava nu e suas costas peludas, com suas infinitas dobras de gordura, viradas para Keri. Ele estava fazendo movimentos para baixo em alguém que não era visível debaixo de sua forma massiva.

Keri sacou sua arma e começou em direção a ele, tentando não deixar sua fúria oprimir seu foco. De repente uma voz passou por sua cabeça. Era Keith.

"Keri, vejo que você chegou ao terceiro andar. Você precisa mover-se rápido. Eu entrei no canal de segurança. Eles encontraram o guarda que você apagou e estão enviando homens até Evie agora."

Quase na hora, a porta do quarto se abriu e dois homens de casacos vermelhos entraram, ambos segurando armas. Keri se virou para enfrentá-los. Ela se sentia surpreendentemente calma, considerando-se as circunstâncias. A voz de Keith, os barulhos de música, disparos e gritos, o cheiro das velas-todos estes desapareceram no segundo plano quando ela centrou sua atenção nos homens de vermelho.

Ela atirou no peito do primeiro antes que ele sequer tivesse a chance de levantar a arma. O segundo homem estava começando a mirar nela, mas ela puxou o gatilho antes que ele estivesse totalmente virado para sua direção e acertou no seu ombro direito. A arma caiu da sua mão inútil e ele caiu no chão. Ao cruzar o quarto até a porta, ela atirou nele uma segunda vez, dessa vez no peito enquanto ele se contorcia de dor no chão. Ele deitou imóvel, já não mais uma ameaça.

Keri fechou e trancou a porta e pegou uma cadeira, a qual ela prendeu embaixo da maçaneta. Isso não os impediria por muito tempo. Mas ela não precisava de muito tempo.

Ela voltou sua atenção para a cama. Herb Wasson estivera ocupado enquanto ela lidava com os guardas. Ele ainda estava na cama, mas agora de joelhos, olhando para Keri. Ele estava segurando uma garota na sua frente, prendendo-a perto do peito com seu braço esquerdo ao seu redor dela. As mãos da garota estavam algemadas atrás das costas. Sua mão direita segurava uma faca na garganta dela.

Keri se recusou a olhar para o rosto da garota. Se fosse Evie, ela temia que perdesse seu foco, sua vontade. Ela precisava manter toda sua atenção em Wasson, começando em seus olhos redondos e profundos.

"Largue a faca," ela disse equilibradamente, dando um passo lento em direção a ele.

"Você deveria estar morta!" ele gritou em um silvo agudo.

"Talvez eu seja um fantasma, Wasson," disse Keri, dando mais um passo a frente. "Se você não largar a faca agora, é isso que você vai ser."

"Eu paguei uma boa quantia para fazer esta filha de porco guinchar," ele gritava, sua voz insanamente alta. "Eu paguei muito!"

Em sua excitação, sua mão se moveu e cortou ligeiramente a menina. Keri assistiu um fio de sangue escorrer pelo pescoço dela. Ela olhou para Wasson e respirou profundamente.

Ele abriu a boca, pronto para gritar novamente, quando ela disparou.

O projétil o atingiu no meio da testa e seus olhos se alargaram por uma fração de segundo antes que a força do disparo o enviasse voando para trás na cama. A faca ainda segurada pelo seu punho cerrado.

Pela primeira vez, Keri se permitiu realmente olhar a garota de perto. Ela estava completamente nua e tinha vários pedaços de duct tape pregados na boca. Seu cabelo era loiro, puxado para traz em um penteado elaborado. Sua face estava pesadamente maquiada, embora suas lágrimas tenham criado longos riachos de maquiagem por suas bochechas.

Keri seguiu as molhadas e negras linhas de volta até seus olhos e os encarou. Estavam orlados de vermelho devido ao choro, mas o centro era o mesmo verde familiar que ela conhecia da sua memória e dos seus sonhos também. Eram os olhos da sua filha.

Era Evie.

Keri engasgou, recusando-se a chorar, lembrando que elas ainda estavam longe de estarem seguras. Ela começou a se mover em direção a sua filha quando houve um barulho na porta do quarto. Então um som de batida, como se alguém estivesse tentando arrombá-la.

Keri se virou para Evie e ajudou-a a sair da cama.

"Fique atrás de mim," ela disse.

Um disparo foi ouvido e Keri viu que alguém estava atirando na maçaneta da porta. Ela voltou para Evie.

"Na verdade, por que você não se esconde atrás da lateral da cama?" ela instruiu.

Evie assentiu e ficou de joelhos na quina na cama. Tão satisfeita como poderia estar, Keri retornou sua atenção para a porta que alguém estava tentando arrombar. A cadeira estava os segurando, mas apenas temporariamente.

Keri correu para a porta e conseguiu ficar atrás dela quando alguém a abriu. O impulso mandou o cara tropeçando para dentro do quarto e Keri teve uma linha de tiro limpa, disparando nas suas costas e, então, imediatamente chocando seu corpo contra a porta, fazendo contato com o segundo guarda entrando no quarto.

Tão rápido quanto podia, ela ouviu o segundo guarda bater no portal, ela mergulhou para frente no quarto e fez um rolamento. Bem a tempo de ver o guarda, após se reagrupar, atirar na porta no local que ela estava no instante anterior. Quando ele rodou a cabeça na direção dela, percebendo seu erro, ela atirou, alvejando-o no pescoço.

Ele tropeçou para trás em cima do guarda atrás dele, que estava puxando o gatilho naquele exato momento. Infelizmente, para o homem a sua frente, que ficou no caminho do tiro, a bala se alojou em suas costas. Antes que o terceiro guarda pudesse tentar novamente, Keri o derrubou com um tiro no peito.

Ela se dobrou de joelhos, procurando por movimentos de algum deles ou qualquer sinal de outros guarda no corredor. Ela ouviu um gemido à sua direita e olhou de relance por cima do ombro. O primeiro guarda a passar pela porta, o qual ela havia acertado as costas, ainda estava vivo, mas parecia incapaz de se mover. Ele estava tossindo sangue. Apenas por segurança, ela chutou a arma dele, que estava apenas a centímetros das pontas dos seus dedos, para longe.

Então, ela fechou a porta novamente, embora fosse um gesto inútil com a fechadura estourada. Keri começou a andar até Evie novamente quando a voz de Keith veio mais uma vez seu fone de ouvido.

"Keri, se você puder me ouvir, os guardas estão se espalhando. A SWAT está invadindo o imóvel e estão todos fugindo. Está uma loucura. Eu ouvi o chefe da equipe de segurança dizendo para os caras saírem. Então, acredito que você não irá encontrar mais deles."

Keri começou a tatear o robe procurando pelo microfone. Ela queria perguntar se Ray estava bem, se ele sobreviveu a sua missão de distração. Mas o fone sumiu. Talvez tenha caído quando ela pulou as sacadas ou quando estava rolando no chão. De qualquer maneira, não estava à vista.

Evie, ainda detrás da cama, enfiou a cabeça para cima e a atenção de Keri retornou imediatamente para ela.

"Vai ficar tudo bem," ela disse, andando em sua direção. "Todos os caras maus se foram."

Mas Evie, ainda com a fita sobre sua boca, balançou a cabeça. Fazia seis anos desde que Keri a vira de perto, mas ela reconhecia o olhar de medo nos olhos da filha. Algo não estava certo.

"O que é?" ela perguntou.

Ela apontou a cabeça ligeiramente para a esquerda, em direção à parede do quarto, como se dissesse "por ali."

Aparentemente, nem todos os caras maus se foram.


CAPÍTULO VINTE E UM

Keri olhou para a parede. Ao fazê-lo, alguma coisa que Keith disse alguns minutos mais cedo retornou a sua mente. Olhando as plantas dos andares da casa, ele descreveu o quarto do terceiro andar como massivo.

Mas esse quarto, embora definitivamente espaçoso, estava longe de massivo. De fato, quando estava fora na sacada, ela notou que parecia se estender bem além de onde a parede estava.

"Além da parede?" ela fez silenciosamente com a boca para Evie.

Sua filha assentiu. Keri queria desesperadamente tirar a fita da sua boca, para ouvir a voz da criança. Mas se preocupava que focar em algo além da ameaça imediata em mãos poderia colocar ambas em risco, então ela lutou contra a ânsia.

Em vez disso, ela virou e olhou para a parede, deixando os olhos viajarem ao longo de toda a sua extensão, com a intenção de encontrar algo fora do comum. Não demorou muito para encontrar as câmeras.

Ela as viu em ambos os cantos da parede, onde estas se encontravam com o teto. Eram pequenas, circulares e pintadas para se misturarem, mas facilmente perceptíveis uma vez que se soubesse delas. Keri olhou ao redor e viu outras duas nos outros cantos do cômodo também.

Ela se aproximou da parede e bateu nela suavemente. Parecia uma típica parede de gesso. Olhando de volta para Evie, ela viu sua filha indicar uma seção em frente a elas. Keri se virou. O único item incomum na área era uma longa pintura vertical emoldurada na parede. A parte inferior dela ficava a cerca de sessenta centímetros do chão e se estendia um metro e meio acima.

Keri andou até ela e olhou com atenção a moldura dourada que sobressaía da parede. Sem parar para pensar, ela agarrou a moldura e puxou. Ouviu-se um clique e ela se abriu em direção a elas, deixando um espaço do tamanho de uma porta.

Ela deu um passo para trás e para o lado, esperando um disparo ou alguém pular para fora do buraco. Ninguém o fez. Parte dela considerou apenas pegar Evie e correr escadas abaixo, deixando a equipe da SWAT lidar com quem quer que estivesse lá.

Mas se quem estivesse ali escapasse e voltasse atrás dela mais tarde? Se esta pessoa era parte da trama para matar Evie, ela precisava ser capturada agora. Pode não haver outra chance.

Escolhendo agir em vez de ponderar sobre as opções, Keri mergulhou no vão, completando um rolamento e parando agachada. Ela varreu a sala com os olhos, a qual parecia estar vazia a não ser por uma grande mesa com um conjunto de monitores que mostrava o quarto e o restante da casa.

Ela olhou para as telas e viu o caos no andar de baixo. Havia dúzias de pessoas em seus smokings correndo pelo gramado verde, tentando escapar do portão principal a pé, mesmo quando carros da polícia passavam por ele. Pessoas estavam correndo para suas limusines, que haviam sido bloqueadas.

Múltiplos homens em blazers vermelhos tinham as mãos para cima ou estavam sendo algemados por policiais uniformizados. Agentes da SWAT estavam abrindo caminho devagar pela casa, corredor por corredor. Mas Keith estava mudo no rádio. E ela não via Ray em lugar algum.

Mas ela via movimento pelo canto dos seus olhos e olhou para um dos monitores que mostravam o quarto que ela acabara de sair. O ângulo mostrava ambos a cama e, no fundo, o banheiro.

Alguém havia acabado de abrir o que parecia ser uma porta secreta atrás de um espelho do banheiro que cobria toda a parede e estava saindo. Era um homem com um boné de baseball abaixado para cobrir seu rosto.

Keri olhou para o canto do quarto no qual ela estava e notou algo que não notou antes. Havia um pequeno espaço na parede mais distante que encaixava exatamente o local onde o espelho estava no quarto. Alguém estivera escondendo-se no espaço e esperou até que Keri viesse até aqui para esgueirar-se para o lado do quarto, onde Evie estava esperando com as costas viradas para ele.

Keri se virou e correu de volta para o quarto. Quando ela saltou sobre a elevação de sessenta centímetros, algo colidiu nela, chocando-a contra a parede do fundo. Ela sentiu a arma cair de sua mão quando a respiração escapou de seu corpo.

Quando começou a escorregar pela parede, ela viu a mão da pessoa com o boné de basebol se estender para a arma dela. Ela conseguiu impulsionar sua perna esquerda para fora para chutá-la para longe ao cair no chão. Ela escorregou para debaixo da cama.

O homem de boné olhou para ela por um segundo, então pareceu dar de ombros e correr na direção do guarda que Keri havia atirado pelas costas, cuja arma ainda estava a poucos metros dele.

Keri, com seu fôlego ainda escasso, esforçou-se para ficar de pé. Ela nunca iria alcançá-lo a tempo. Ao começar a andar em direção a ele, ela só podia esperar que esse cara desse um tiro ruim. Mas antes que ela desse o primeiro passo, viu que Evie já havia começado a correr na mesma direção. Suas mãos ainda estavam algemadas para trás, então ela fez a única coisa que podia: se jogou no homem de boné, batendo nas suas costas e mandando ambos para além da arma.

Evie rolou várias vezes antes de parar em frente à porta do quarto. O homem de boné bateu o ombro na parede mais distante com força, mas não caiu. Ele se recompôs e se virou quando Keri trovejou sobre ele. Ao se voltar para ela, ela viu que ele havia perdido o boné na colisão e pôde ver seu rosto pela primeira vez.

Olhando de volta para ela, com um sorriso distorcido no rosto e um brilho malévolo nos olhos, estava Jackson Cave.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

Keri mal teve tempo de processar quem estava atingindo antes que se chocasse nele, acertando-o contra a parede. Infelizmente, ela também bateu o ombro esquerdo que havia torcido na sacada, enviando uma corrente afiada de dor pelo seu lado esquerdo. Foi suficiente para ele se libertar e pular até a arma.

Mas, ao invés de agarrá-la, ele acidentalmente a jogou para a porta da sacada. A arma deslizou pelo chão de madeira do quarto e saiu para o ladrilho da varanda, onde parou, descansando a cerca de trinta centímetros da beirada.

Cave se levantou e correu até lá, com Keri logo atrás dele. Ele havia acabado de sair quando ela o alcançou e pulou em suas costas, mandando-o com força contra o parapeito de metal. Ela ouviu o corpo dele bater com uma pancada brutal e sentiu seu próprio corpo se chocar contra o dele um pouco mais tarde. Ambos desmoronaram amontoados.

Keri viu Cave esticar-se desesperadamente em direção da arma. As costas da sua mão bateram no tambor e a enviou escorregando pela beirada da sacada. Ele pareceu não perceber o que havia acontecido e continuou apalpando o piso.

Keri rolou para longe dele e agarrou a maçaneta da porta deslizante para se levantar. Cave olhou para baixo, viu que a arma tinha desaparecido e começou a procurar pelo parapeito para se erguer.

Ele chegou a ficar meio agachado quando Keri se arremessou em sua direção, dessa vez com seu ombro direito para frente. Ela fez contato sólido e sentiu as costelas dele se comprimirem quando ambos encontraram o implacável parapeito atrás dele. Quando ele começou a cair ao chão, ela levantou o joelho direito para encontrar o rosto dele e conectou o golpe diretamente na ponte do seu nariz. Ele aterrissou no ladrilho, primeiro com o rosto, com seus braços e pernas esparramados ao seu lado.

Keri se curvou, repousando as mãos em seus joelhos, desesperadamente puxando massivos goles de ar. Demorou vinte segundos antes que ela se sentisse forte o suficiente para falar.

"Você me odiava tanto assim, Cave?" ela cuspiu, balançando a cabeça desacreditada. "Você queria assistir de uma sala privada enquanto seu cliente pervertido assassinava minha filha na TV?"

Cave girou a cabeça levemente e olhou para cima do chão.

"Você arruinou minha vida. Por que eu não deveria arruinar a sua... Detetive?" Ele disse esta última palavra com tamanho desgosto que Keri percebeu o quanto de esforço deve ter sido necessário para que ele escondesse o jogo em suas conversas anteriores.

"Eu não arruinei sua vida, Cave. Eu só queria minha filha de volta. Você é quem faz tráfico de escravos sexuais, que vende garotinhas por dinheiro. Você escolheu seu caminho. E logo esta manhã, eu ofereci largar tudo isso se você a devolvesse para mim."

"Você não estava falando sério," Cave sibilou venenosamente, enquanto se empurrava para cima de quatro. "Você estava tentando me enganar."

"Talvez eu estivesse. Para ser honesta, nem eu mesma tenho certeza. Mas se Evie tivesse aparecido na minha porta, eu teria uma difícil decisão. Porém, você tentou me matar."

"Eu quase me arrependi disso," Cave admitiu, agarrando o corrimão e erguendo-se de volta sobre seus pés. "Eu queria que você visse o olhar nos olhos sem vida da sua filha e soubesse que você havia falhado com ela. Assinar sua execução significou que eu iria perder isso. Mas olhe para nós agora, Detetive. Acho que consegui uma segunda chance."

"Sem chance, Cave. Ela está segura. E você está acabado. Para onde você está indo é você que será comprado e vendido. Tenho um amigo que pode fazer isso acontecer."

"Você quer dizer seu fantasminha camarada, Thomas Anderson?" Cave perguntou zombando, ficando completamente de pé agora, indiferente ao sangue escorrendo livremente de seu nariz. "Eu não contaria com ele. Ele sufocou até a morte em sua própria língua cerca de uma hora depois que você o deixou na noite passada-uma verdadeira pena.”

Keri começou a dar um passo em direção a ele, a bile subindo em suas entranhas. Mas algo em sua expressão a fez parar. Ele continuou:

"E sobre Evie, você realmente acha que ela está segura agora? Cá entre nós, depois de tudo que ela tem passado? Não importa o que aconteça comigo, mesmo se ela nunca encarar outro homem sujo pelo resto da vida, ela sempre terá memórias; os pesadelos. Ela sempre terá aquele rosto degradado olhando de volta para ela no espelho. Ela pode estar protegida dos caras maus lá fora. Mas ela está a salvo aqui?” ele perguntou, batendo em sua cabeça. "Eu dou um ano, no máximo."

Keri fingiu não notar o arrepio gélido que correu por sua espinha, se ordenou a não deixar esse homem atraí-la para a saída mais fácil. Ela era uma policial, detetive da polícia de Los Angeles, e iria coloca-lo em seu registro.

"Jackson Cave, você está preso pelo... você sabe o que, é muito para listar. De agora em diante, você está preso."

Ela deu um passo em direção a ele, debatendo sobre quanta força ela precisaria imprimir sem as algemas. Mas ao fazê-lo, ele deu um passo à frente e ela viu, quase tarde demais, que ele tinha um pequeno canivete, que ele deve ter tirado para fora enquanto se levantava.

Ele havia pulado em sua direção com mais energia do que controle e ela conseguiu desviar para o lado no último instante, oscilando seu punho direito com força no antebraço dele. Ela ouviu a faca tilintar no chão enquanto ela levantava seu cotovelo direito, acertando-o debaixo do maxilar e o enviando desequilibrado para trás.

As costas de Cave bateram na barra superior do parapeito e o impulso o mandou tombando por cima dele. Keri conseguiu agarrar sua perna esquerda e desacelerar o suficiente para que ele segurasse na barra inferior antes que a gravidade arrancasse a perna dele das suas mãos.

Ele se pendurou na barra inferior, tentando conseguir uma boa pegada no metal frio e liso enquanto seu corpo pendulava em um arco sobre o espaço vazio antes de mover-se com velocidade em direção a borda externa da sacada. Ele mal estava se aguentando. Keri se esticou por cima e estendeu os braços.

"Dê-me sua mão, Jackson. Vou puxar você para cima. Deixe-me ajudá-lo."

Cave olhou para ela e por um momento ele teve a mesma expressão de quando ela mencionou seu irmão, Coy-como se ele a estudasse, tentando determinar se acreditava em sua sinceridade ou não. Mas isso se foi em um flash e ela sabia a que conclusão ele chegaria.

"Ah, Detetive," ele disse quase piedosamente entre dentes cerrados, "você é quem precisa de ajuda. Você acha que isso termina comigo? Eu sou apenas um dente na engrenagem. Você não tem ideia de quão alto isso vai. Vigie suas costas, Keri."

Então, ele largou. Ela não o viu aterrissar, mas três segundos depois, ela ouviu um esmagar de revirar o estômago e, então, silêncio. Ela foi ao chão da sacada, permitindo-se um minuto para recuperar antes de rolar e procurar por sua filha.

Para sua surpresa, Evie já estava de pé e andado pelo quarto até a porta da sacada. Ela estava envolvida em um cobertor da cama. Keri viu que ela não estava mais algemada e percebeu que ela devia ter encontrado a chave. Ela também havia arrancado a fita adesiva da boca. Evie ficou de pé na porta da varanda durante o que pareceu se uma eternidade, apenas olhando para Keri.

Finalmente, ela saiu e delicadamente sentou-se ao lado de sua mãe, jogando o cobertor por sobre seus ombros para que cobrisse ambas. Então, sem dizer uma palavra, Evie se inclinou e repousou a cabeça no ombro de sua mãe.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

As próximas horas se passaram em um borrão. Keri e Evie mal tiveram um momento a sós antes que a equipe da SWAT entrasse. Elas nem tentaram conversar. Na maior parte apenas se abraçaram. Mesmo quando foram levadas para o hospital em ambulâncias, tiveram IVs colocadas nos braços e enroladas em cobertores térmicos, elas não largaram as mãos.

Keri foi informada de que Ray estava vivo. Ele já fora transportado para o mesmo hospital que elas, com um arranhão no antebraço esquerdo causado por uma bala. Ele não queria ir, mas a SWAT não estava em clima de negociação e basicamente o forçou na ambulância.

Aparentemente, ele chamou a atenção da equipe de segurança de blazer vermelho ao dar vários disparos no ar sobre a multidão do Hall de Festividades, então levou os guardas em uma perseguição até a casa da piscina, onde ele se trancou dentro de uma dispensa e suportou vários atacantes até que a cavalaria chegasse. Em algum ponto na agitação, ele perdeu o fone, o que explicava sua falta de comunicação.

Keith havia perdido a comunicação, porque ele havia sido preso. Quando a polícia encontrou um cara aleatório em um carro estacionado a meio quarteirão da propriedade com um fone de ouvido e um notebook, eles decidiram prendê-lo e resolver o problema mais tarde. Ele foi solto subsequentemente.

Houve uma breve pausa depois que Keri e Evie foram para a triagem no pronto-socorro e foi determinado que não estavam com ferimentos que oferecessem risco, mas antes que os médicos fizessem exames mais completos. Mãe e filha se sentaram em macas uma do lado da outra, separadas do mundo por uma fina cortina verde-bile. Nenhuma delas falou por um tempo.

"Eu sabia que você viria me buscar," finalmente Evie disse baixinho.

"Como você sabia?”

"Eles me levaram, esconderam-me e me usaram por seis anos. Mas eles não podiam manter o mundo escondido o tempo inteiro, Mãe. Eu vi as notícias. Na verdade, o cara que me raptou mostrou-me a conferência de imprensa depois que ele me sequestrou, aquela que você estava chorando no estacionamento. Ele ria de você."

"Sinto muito, querida," disse Keri, tentando impedir que a voz desabasse.

"Ele pensou que isso iria me arrasar," continuou Evie, sua voz surpreendentemente neutra. "Mas o que ele não entendeu foi que simplesmente ver seu rosto me reconfortava. Saber que você se importava tanto... eu me agarrei nisso por anos, quando parecia que não havia mais esperanças. E então..."

Sua voz sumiu. Keri desejava desesperadamente que ela continuasse, mas ela não queria pressionar muito e desligá-la. Qualquer coisa que sua filha compartilhasse era uma benção, considerando as circunstâncias. Mas Evie reagrupou-se e continuou.

"E então eu ouvi dizer que você se tornou uma policial. Vi algumas das histórias sobre você salvar crianças. E eu soube que você me encontraria eventualmente. Eu nunca duvidei. Bem, na maior parte."

Keri começou a perguntar sobre a "maior parte", mas foi interrompida por um batalhão da junta médica que se enxamearam na sala ao mesmo tempo. Eles queriam falar com Evie em um quarto diferente para fazer um exame em particular, mas isso foi imediatamente excluído por ambas.

Em alguns momentos durante o exame, Keri mal podia ver Evie, havia gente demais no quarto. Depois de meia hora, um médico foi até lá e sussurrou no ouvido de Keri que Evie tinha um sangramento vaginal interno e que eles precisavam realizar um procedimento imediatamente que requeria anestesia geral.

Ela deu seu consentimento, insistindo que elas compartilhassem o quarto após o término da cirurgia. Enquanto Keri esperava por eles terminarem, os médicos que cuidavam dela forneceram o tratamento que ela deveria ter recebido depois da queda do penhasco naquela manhã.

Desenrolou-se que ela tinha três costelas trincadas devido ao salto no afloramento do cânion. Ainda havia pequenos pedaços de asfalto e tecido enfiados nas suas pernas que ela e Mags deixaram passar na sessão de limpeza. O pedaço maior que havia se alojado na canela lascou um pequeno pedaço da sua tíbia superior, o que ajuda a explicar o latejar constante na área.

Alguns dos seus dedos estavam torcidos e sua palma da mão esquerda estava tão rasgada que ela poderia precisar de um enxerto de pele eventualmente. Foram necessários vários pontos verticalmente ao longo do lado direito do rosto, do olho até logo abaixo do nariz. Ela também torceu levemente o ombro subindo a varanda da mansão no Vista e precisaria usar uma tipoia, por alguns dias. Ela estava uma bagunça.

Assim, quando os médicos ofereceram uma gota de morfina enquanto lidavam com isso tudo, ela aceitou contente. O que ela não esperava era que desmaiasse completamente enquanto eles estavam trabalhando.

Quanto ela acordou, a luz estava penetrando pela janela do quarto do hospital. Evie, adormecida, estava deitada na cama ao lado dela. Ray, como frequentemente parecia estar, sentava-se em uma cadeira de aparência desconfortável ao lado de sua cama. Ele estava dormindo também e ela viu uma grande atadura em seu antebraço esquerdo. Fora isso, ele parecia sem ferimentos.

Ele pareceu sentir seus olhos sobre ele e despertou. Após tomar um momento para se situar, ele sussurrou.

"Que horas são?"

Keri mirou o relógio na parede.

"Seis e cinquenta e seis da manhã."

"Bom," ele disse. "Isso significa que você teve cerca de três horas de sono. Melhor que nada."

"E você? Quanto dormiu na noite passada?"

"Cerca de... cinquenta e seis minutos," ele respondeu, sorrindo timidamente.

"Raymond, você realmente deveria cuidar melhor de si."

Ele não respondeu isso, olhando para Keri e então para Evie dormindo pacificamente ao lado dela.

"Ela se parece muito com você," ele disse. Parecia que ele estava prestes a adicionar algo mais, mas não o fez. Apenas sorriu.

"Não consigo acreditar que a tenho de volta," ela sussurrou.

"Foi uma longa espera, Keri. Estou muito feliz por você."

"Obrigada, Ray. Sabe, eu não teria sido capaz de... sem você, eu não poderia..." ela não foi capaz de terminar.

"Ei, não amoleça ainda, Thumbelina. Ainda há uma longa estrada pela frente de ambas. Isso aqui-deitar no hospital com tubos nos braços-é a lua de mel."

"Eu sei, Ray. Estou aterrorizada com o caminho. O dano que foi feito a ela, eu não sei como desfazê-lo."

"Odeio dizer, mas não há como desfazê-lo. O que aconteceu, aconteceu. Não é justo, mas aqueles horrores vão sempre estar com ela. Agora é sobre encontrar jeitos de lidar com eles, de passar por eles, de criar algo parecido com uma vida normal."

"Você está certo," concordou Keri. "Eu acho que quanto mais cedo eu aceitar que não há solução fácil, é melhor para nós duas."

"Estou feliz que essa seja sua atitude, parceira," disse Ray, sentando-se ereto na cadeira em uma posição de "direto aos negócios" que deixou Keri nervosa. "Porque 'mais cedo' começa exatamente no segundo que você sair por aquela porta."

"Do que você está falando?”

"Quero dizer que eu dei aos médicos e enfermeiras instruções estritas para não deixarem qualquer um entrar nesse quarto além do pessoal médico. Mas você deveria saber que há um exército de pessoas lá fora lutando por um pedacinho."

Apesar da dor, Keri usou o botão no seu controle remoto da cama para levar a sua cama de hospital para cima.

"Sobre o que você está falando? Quem está lá fora?"

"Para começar, Tenente Hillman, que bem deve querer saber por que alguém que eu reportei como morto está no hospital depois de conduzir uma operação para abater um circuito de escravos sexuais. O resto da unidade tem algumas perguntas também, assim como a chefe do LAPD, Beecher. O prefeito também está aqui supostamente, junto com alguns dos secretários da cidade."

"Isso é tudo?” perguntou Keri sarcasticamente.

"Na verdade, não. O corpo inteiro da imprensa está aqui. Não apenas local—nacional também. Estão organizando uma coletiva. Já foram duas durante a noite, mas a maior vai ser com você e... Stephen."

"Desculpe-me?" perguntou Keri, tentando manter sua voz baixa apesar da raiva que sentiu subir na garganta.

"Sim," disse Ray baixinho. "Seu ex-marido esteve por aí dando entrevistas, dizendo o quão feliz ele está em ter Evie de volta, como ele sempre acreditou que estariam reunidos um dia."

"Você está de brincadeira? Todas as vezes que eu o procurei pedindo ajuda, ele disse que eu estava maluca. Ele disse que eu precisava aceitar que ela estava morta. Ele tinha rancor até de eu trazer o assunto à tona."

"Eu sei, Keri. Mas isso não é o que ele está dizendo para as câmeras agora. E ele vem sendo bem agressivo sobre tentar entrar aqui para vê-la. A única razão pela qual ele não conseguiu foi porque eu convenci os médicos a não deixar qualquer um entrar enquanto ela está dormindo, pelo menos não até que você estivesse acordada e consentisse com a visita. Mas uma vez que ela acorde, isso não vai colar. Ele é o pai dela."

"Porcamente," resmungou Keri.

Ray, olhou para ela e assentiu com a cabeça na direção de Evie, que estava começando a acordar.

"Vou ir lá para fora para que vocês tenham alguma privacidade," ele sussurrou. "Mas não espere que dure muito."

Ele mandou um beijo para Keri e fechou a porta assim que Evie abriu os olhos.

*

Ray estava certo. Desde o momento em que Keri abriu a porta do quarto para o hospital, a loucura reinou. Quase imediatamente, ela foi abordada pelo seu ex-marido, Stephen, que insistiu em ver Evie imediatamente.

Apesar da falta de interesse dele sobre o paradeiro dela nos anos recentes e a sensação dela de que esse retorno repentino dos instintos paternos fosse mais oportunista do que genuíno, ela não poderia negar a ele. Evie era sua filha, afinal. E antes que ela fosse raptada e tudo desmoronasse, ele foi um pai bom, atencioso e, talvez levemente, não envolvido.

Quando ele passou por ela e correu até a cabeceira de Evie, Keri viu a onda de alívio em seus olhos ao perceber que ela realmente estava viva. Talvez ele tenha insistido que Keri fosse louca por acreditar todos esses anos, porque se permitir compartilhar essa esperança fosse doloroso demais. Ela poderia entender esse sentimento. Mas ela não podia perdoá-lo. Evie era filha dele e ele deveria ter continuado lutando por ela, em vez simplesmente desistir.

Evie ainda estava aérea e depois de cerca de quinze minutos ela adormeceu novamente. As enfermeiras espantaram todo mundo para que ela pudesse descansar e Keri a observou através da janela da porta enquanto ela lidava com uma sucessão de visitantes.

Primeiro foi o Tenente Hillman, que parecia dilacerado entre repreender Keri por ter fingindo a própria morte e estar envolvida na infiltração do imóvel de Hollywood e entre estar feliz por ela estar viva e reunida com a filha. Por fim, ele escolheu focar neste último, fazendo apenas uma menção a uma conversa mais ampla no futuro.

O resto da equipe também apareceu para prestar sentimentos. Os Detetives Suarez, Edgerton, Patterson e até mesmo Frank Brody, o veterano geralmente ranzinza a algumas semanas da aposentadoria, pareciam realmente felizes por ela. Apenas a Agente Jamie Castillo estava ligeiramente reservada e Keri suspeitava que soubesse o motivo.

Castillo quase certamente se perguntou por que Keri a deixou pensar que estava morta; por que ela não a chamou para ajudar a invadir a propriedade de Hollywood e em vez disso, confiou em um garoto segurança de shopping que ainda não tinha entrado na academia de polícia.

Keri queria explicar a verdade-que havia um infiltrado na unidade e, embora estivesse certa de que não fosse Castillo, a única jogada segura era manter todos, à exceção de Ray, desinformados por agora. Afinal, com suas últimas palavras, Jackson Cave a avisou para tomar cuidado e ela pretendia fazê-lo. Isso significava ficar quieta até que o espião fosse descoberto, mesmo que isso deixasse Jamie confusa e nervosa.

A coletiva de imprensa foi marcada para as 8 da manhã. Evie estava dormindo confortavelmente no quarto dela—sedada por recomendação de seus médicos. Apesar da sugestão de Stephen de que pudesse ser catártico para ela participar, Keri se recusou a deixá-la próxima das câmeras ou dos repórteres.

Logo antes de começar, Keri foi tirada de lado por Reena Beecher, antiga capitã da divisão e agora chefe de todo LAPD. Em meados dos seus cinquenta anos com profundas rugas de preocupação e cabelo grisalho preso em um coque apertado, Beecher era alta e esbelta, com feições ângulos que lembravam Keri de um falcão em constante procura por presas. Ela parecia prestes a dizer algo quando o prefeito e vários membros do Conselho de Supervisores andaram até ela.

"Estamos prontos para começar essa coisa, Chefe?" ele perguntou agradavelmente. O prefeito era alto e de cabelos escuros e não devia ser muito mais velho que Keri.

“Sim, Prefeito Alvarez. Você já teve a chance de conhecer a Detetive Locke?" perguntou Beecher

"Não tive a honra," disse o prefeito, apertando sua mão. "Gostaria de guardar um pouco dos meus agradecimentos para as câmeras, por agora eu vou dizer apenas obrigado. Eu sei que você estava tentando salvar sua filha. Mas no processo, você salvou muitas outras jovens garotas. É isso mesmo, Carl?"

"Absolutamente, Senhor Prefeito," disse um homem mais velho e enxuto à direta de Alvarez que deu um passo a frente à menção de seu nome. “Carl Weatherford, Supervisor do Condado do Terceiro Distrito. É um prazer conhecê-la, Detetive. O imóvel do Vista estava em meu distrito. Eu não sei se você está ciente, mas cada Supervisor de Distrito representa quase dois milhões de pessoas. Isso é quase o triplo do que um membro do Congresso representa. É uma comunidade enorme e diversificada. E você prestou um serviço incrível para nossa comunidade ao acabar com um negócio tão repugnante."

"Repugnante me parece uma palavra bem moderada para o que estava acontecendo lá," disse Keri.

"Certamente," concordou Weatherford. "Acho que quando algo é tão horrível assim, tenho tendência a escondê-lo atrás de eufemismos. Mas você está certa. Nem começa a capturar a triste realidade."

Um ajudante veio até eles e indicou que era hora de começar.

"Vejo você lá em cima," disse o prefeito antes de se dirigir ao seu assento, seguido de perto por Weatherford e os outros secretários que conseguiram escapar do desdém de Keri.

Ela começou a subir para o seu assento quando a Chefe Beecher agarrou seu punho e inclinou-se para perto.

“Detetive Locke,” ela disse calmamente. "Lembre-se de manter a calma lá em cima. Vai haver muita arrogância. Vai haver um monte de tomada de crédito. Vai haver muita culpa colocada. Mas você precisa ficar de olho na bola. Você tem sua filha de volta. O circuito de escravas sexuais e o homem que o coordenava foram expostos. Mas você está ainda em suspensão e sob investigação. Nessas circunstâncias, o fato de você ser uma heroína genuína e honesta deve te dar estrelinhas suficientes para enterrar os erros que você cometeu no passado. Mas só se você ficar calma e deixar que eu te ajude. Você acha que pode fazer isso?"

"Eu posso tentar."

"Tentar não será suficiente," Beecher disse, olhando para ela profundamente com seus olhos duros de pássaro, aqueles que haviam visto ainda mais crueldade e violência que a Keri. "Vai ser complicado lá em cima e você vai ter que se sentar lá e engolir desaforo se quiser sair ilesa do outro lado disso. Você é capaz de fazer isso? Você é capaz de dar respostas brandas, inofensivas para perguntas acusatórias e provocativas da imprensa? Você é capaz de elogiar as pessoas que você não acredita que merecem? Porque no passado isso não foi uma certeza."

"Eu não tinha minha filha na época, chefe Beecher," Keri lhe disse. "Então eu estava mais para atirar do que para servir de alvo. Mas agora eu estou com ela. E se dizer a coisa certa ou simplesmente manter minha boca fechada é o necessário para passar por isso e para fazê-la começar uma vida normal, então é o que eu estou preparada para fazer."

"Fico feliz em ouvir isso," disse Beecher oferecendo um raro sorriso. "Vamos lá."

Durante a maior parte da coletiva de imprensa, manter sua promessa a chefe Beecher não foi muito difícil. O prefeito foi efusivo em seus agradecimentos gerais a polícia, ao amor de mãe e a dedicação em particular.

Ele prometeu arrancar pela raiz a corrupção que atualmente balançava a cidade e indicou que alguns dos mantenedores do poder da cidade estavam entre os clientes de onde a imprensa já apelidara de "O Bordel de Crianças de Hollywood."

O Supervisor Weatherford papagaiou os comentários do prefeito, com louvor especial para a unidade da SWAT do Condado de LA que havia convergido tão rapidamente para a cena. A Chefe Beecher então subiu e atualizou todos sobre o andamento das investigações antes de agradecer a Keri, Ray e ao novo recruta da academia de polícia chamado Keith Fogerty, que havia assistido na operação. Então, ela surpreendeu e irritou os repórteres instalados no local ao dizer que, embora a Detetive Locke fosse fazer uma breve declaração, ela não iria responder perguntas nesse momento.

Ao se levantar com ajuda do Tenente Hillman, que estava sentado ao seu lado, Keri viu mais alguém levantar do outro lado da plataforma. Era Stephen. Quando ela se aproximou do pódio, ele sorriu e a encontrou lá, tomando sua mão. Ela sentiu um poço de inquietação ferver em seu estômago quando ele se inclinou para o microfone.

Que diabos ele está fazendo?

"Obrigado muito a todos por terem vindo," ele disse antes que ela tivesse a chance de abrir a boca. "Isto é muito difícil, porque a verdade é que perder custou muito para Keri e a mim. Não apenas nosso casamento, mas algo mais profundo-nosso senso de otimismo sobre o mundo. Mas uma coisa que nunca perdemos foi nossa fé que nossa filha iria voltar para nós, certo, Keri?"

Ela ficou lá, paralisada, incapaz de falar. Não era verdade, nem um pouco. Quantas vezes ela o procurou, implorando-o para ajudá-la, para dar dinheiro a ela para ajudar a pagar um investigador particular para seguir as pistas? E todas as vezes, ele se recusou, agindo como se cada pedido fosse uma afronta para a vida nova que ela criara com sua esposa atriz de merda e seu malcriado filho mais novo. Ele havia perdido a fé há muito tempo.

Mas o que ela ia dizer? Que era tudo uma bobagem? E se Evie estivesse assistindo do quarto dela? Keri deveria revelar que o próprio pai da garota estava mais interessado em seguir com sua vida perfeita do que em encontrar a filha que ele suspeitava que estivesse morta e temia que fosse uma terrível complicação se ela estivesse viva?

Stephen estava olhando para ela, o sorriso ainda colado aos lábios, mas com os olhos blefando cheios de apreensão, imaginando se ela iria tão longe a ponto de acusá-lo em detrimento do amor da sua única filha pelo o pai. Ela não iria.

"Sempre houve esperança," ela disse calmamente.

"É verdade", ele concordou, o alívio evidente em sua voz. "Sempre tivemos esperança. Algumas vezes Keri vinha até mim, depois de um caso brutal, temendo que o mesmo destino tivesse recaído sobre Evie. E eu lhe dizia para não perder o rumo que a matinha procurando, o senso de propósito que a alimentava. E ela retornava para luta, mais forte que antes. Já não éramos marido e mulher. Mas dessa forma, ainda éramos uma equipe."

Keri sentiu a bile levantar-se na garganta dela. Ela queria vomitar tanto. Mas ela forçou o impulso para baixo, lembrando o que a Chefe Beecher lhe contara. Qualquer arrogância que Stephen se envolvesse, quaisquer balas que ela tiver que tomar, quaisquer fossem os apertos de mãos e politicagem necessários para levá-la através deste evento e voltar a uma vida normal com sua filha, Keri iria aguentar.

Porque ela tinha sofrido muito pior. E porque isto não era sobre ela.

Era sobre Evie.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Um pensamento estava preso na cabeça de Evie Locke, não importa o quão forte ela tentasse empurrá-lo.

Tudo doía.

Era o dia depois da grande conferência de imprensa-a qual ela dormiu durante toda a duração-e ela estava se ajustando na cama do hospital, tentando não fazer careta ao se sentar. A dor da cirurgia ainda estava lá, mas ela não queria preocupar sua mãe. Ela tinha ouvido uma enfermeira dizer que "a pobre mulher nunca dormia até que a filha pegasse no sono e mesmo assim era difícil." Evie não queria tornar isso pior.

Ela esperou pacientemente até que sua mãe se recompusesse para o que, claramente, seria uma conversa desconfortável. Por meio segundo, ela considerou o quão estranho era pensar na mulher à sua frente como "Mãe" agora. Na última vez que elas conversaram de verdade, ela estava gritando por sua "Mamãe" e ainda assim ela não conseguia pensar na palavra, muito menos dizê-la.

Não que ela se enquadrasse naquela memória, de qualquer maneira. A mãe dela tinha envelhecido muito nos últimos seis anos. Talvez a imagem que Evie tinha na cabeça durante todos esses anos fosse uma fantasia. Mas ela não se lembrava dos pedaços de cabelo grisalho ou dos pés de galinha ou das bochechas ásperas ou dos olhos vermelhos.

Claro, sua mãe já estava quase com trinta e seis agora, ao invés dos trinta anos que tinha quando Evie foi raptada. E ela estava se recuperando da luta com o advogado Cave e, pelo que as enfermeiras disseram, algum tipo de acidente de carro e ainda uma outra briga.

A idade parecia mais profunda que isso. Evie suspeitava que viesse dos anos de preocupação com a filha estar viva ou morta e com os tipos de abuso ela estava sofrendo. E também vinha de fazer um trabalho que a fazia ver constantemente outras garotas que a lembravam do que poderia estar acontecendo com sua própria filha. Era realmente incrível que ela não tenha ficado pior.

Ela imaginou o que poderia estar prendendo a língua da sua mãe. Elas já haviam discutido como ela deveria falar com os detetives sobre tudo o que aconteceu a ela na noite do Vista. Ela sabia que ela precisaria fazer terapia. Ela sabia que ela precisaria de mais algumas cirurgias nos meses seguintes para consertar alguns dos danos causados "internamente" ao longo dos anos. Ela sabia que sua mãe e pai estavam divorciados e que seu pai casou-se com alguma atriz e tinha um filho pequeno. O que mais havia para se dizer?

"Então, querida," sua mãe começou, "os médicos vão deixar você sair do hospital hoje. E eu queria discutir o plano de seguir em frente."

"OK."

"Seu pai e eu conversamos e concordamos que, por enquanto, é melhor que você tenha aulas em casa. Assim, você pode chegar até o nível da sua classe no próprio ritmo. Além disso, não queremos jogá-la de volta em um ambiente de escola imediatamente. Isso pode ser muito intenso para qualquer um, especialmente...”

"Especialmente para uma criança cujo rosto tem sido estampado em todos os noticiários, porque ela iria ser sacrificada em um ritual em uma festa de sexo em Hollywood. Eu entendo, Mãe-faz sentido."

"Então OK," disse sua mãe, "até agora ótimo. A outra coisa são os arranjos de moradia. Por agora, o plano é que você more a maior parte do tempo no meu apartamento na Playa Del Rey. Mas você também vai passar algum tempo na casa do seu pai em Brentwood para se aclimatar por lá também. Já que escola não é um problema, não achamos que deva causar muitas complicações. Parece bom?"

A verdade era que deixar esse quarto de hospital a aterrorizava. A verdade era que a ideia de escola e de vários quartos era quase mais do que ela podia processar. A verdade era que ela sabia que ela não era querida em uma dessas casas. Mas era a resposta errada. Então, ela deu a resposta certa.

"Parece bom," ela disse com tanto entusiasmo quanto podia.

*

O apartamento da mãe dela cheirava a comida chinesa. Fazia sentido, considerando-se que ela morava logo em cima de um restaurante chinês. O cheiro era agradável, mas extremamente forte e Evie percebeu que ela teria que se acostumar a ele ou iria começar a odiar comida chinesa bem rápido.

Sua mãe parecia apreensiva ao mostrar a casa a ela, então fazer uma piada sobre o cheiro não parecia apropriado. Poderia não ser tomado como pretendido. Assim, Evie fingiu não notar.

Ela fez o passeio pelo apartamento, o que não demorou muito, considerando que o lugar tinha uma sala de estar, uma cozinha, um recanto de jantar, um banheiro e dois quartos.

"É aconchegante," ela disse apreciando quando perguntada sobre o que achava do lugar.

Isso fez sua mãe rir. Era a primeira risada real que ela escutava dela desde o resgate.

"O quê?" perguntou Evie.

"Nada-só que foi muito diplomático da sua parte. Você daria uma excelente corretora de imóveis. Fale-me se os cobertores estão OK para você. Não sabia do que você gostaria. Pôneis e arco-íris não pareciam certo. Mas nem aquarelas de Renoir."

"O que é o Renoir?" Evie perguntou.

"Ah, ele era um artista."

"Acho que é o tipo de coisa que eu vou aprender nas aulas em casa. Posso lhe fazer uma pergunta?"

"Claro," disse sua mãe, embora seu tom parecesse que ela não tinha tanta certeza.

"Quando você pegou esse apartamento?"

"Ano passado."

"Por que você pegou um apartamento com dois quarto se você e meu pai estavam divorciados?"

"Fácil, docinho. Estava guardando o segundo para você."

*

Naquela noite, sua mãe convidou alguns amigos e eles pediram pizza e jogaram jogos de tabuleiro. Evie pensou que estava um pouco preocupada em ficar sozinha no apartamento com ela. Havia tantas pessoas se movimentado o tempo todo no hospital que não houve tantos momentos de silêncio e ela suspeita que a mãe dela estivesse preocupada sobre como lidar com eles. Para ser honesta, Evie também estava, então a companhia era bem vinda.

Amigo da mãe dela, Mags, era selvagem. Ela parecia uma Amazona, super alta e linda com cabelo vermelho ardente e grandes seios. Mas ela tinha esse sotaque sulista realmente forte que Evie estava bem certa que ela colocava por efeito apenas. Ela agia toda chique como se estivesse em E o vento levou ou alguma coisa assim, mas então arrotava muito alto e colocava a culpa na mãe de Evie. Era bem engraçado.

Evie, na verdade, reconheceu amigo de sua mãe, Ray, mesmo que ela fingisse que não. Ela se lembrava de que ele costuma pedir sua mãe para consultar em alguns casos quando ela era uma professora na LMU.

Ela também reconhecia sua voz de uma conversa que ela ouvira quando ele e sua mãe estavam se falando no hospital e pensavam que ela ainda estivesse dormindo após uma cirurgia. Ele dizia a sua mamãe que o pai dela estava contando a todos que ele sempre soube que Evie retornaria. Sua mãe ficou irritada, porque ela disse que não era verdade-que seu pai pensou que ela era louca por continuar procurando por Evie e que ele nem gostava que sua mãe falasse sobre ela. Quando Ray entrou e disse ‘Oi’, Evie percebeu que era a mesma pessoa.

Sua mãe disse que ele era seu parceiro agora, que eles trabalhavam juntos em casos de pessoas desaparecidas. Ela não disse, mas Evie podia perceber que eles eram mais que somente parceiros, mais até que amigos próximos. Mas mesmo que fosse óbvio só de olhar que eles gostavam um do outro, sua mãe não disse qualquer coisa sobre isso, então Evie também não mencionou. Ela percebeu que sua mãe tinha seus motivos e que ela contaria quando estivesse pronta.

*

Quando Keri levantou com um grito naquela noite, eram 2:04 da madrugada. Ela pegou sua arma, destravou-a e apontou para a porta do quarto antes que ela percebesse que estava vindo do quarto de Evie.

Ela correu até lá e acendeu a luz. Sua filha estava sentando ereta na cama, apertando seu travesseiro contra o peito, suor jorrando pela sua face. Keri colocou a arma na estante do corredor antes que Evie pudesse vê-la e se apressou para a cama.

Ela se sentou e puxou a filha para perto. Evie largou o travesseiro e no lugar enrolou seus braços ao redor da mãe. Por vários minutos, nenhuma delas falou.

"Você quer conversar sobre isso?" Keri eventualmente perguntou baixinho.

Evie balançou a cabeça.

"Tudo bem. Você vai à sua primeira sessão de terapia amanhã. Se você quiser falar sobre isso lá, você pode. Por enquanto, apenas descanse, tudo bem?"

"Você vai ficar comigo?" perguntou Evie em um lamento, sua voz parcialmente abafada por seu rosto estar enterrado na camiseta de Keri.

"Claro, querida. Deixe-me apenas diminuir um pouco as luzes."

"Mas não desligue!" insistiu Evie.

"Desligadas não," concordou Keri, "apenas mais baixas."

Ela ligou o abajur de leitura antes de desligar a lâmpada de teto.

"Já voltou," ela prometeu.

Ela retornou a arma para o quarto, lembrando-se de que ela não necessitava dela com todas aquelas câmeras exteriores que Ray instalara fora do apartamento, junto com a patrulha policial que fora atribuída para o monitoramento da área 24/7. Nenhum deles considerava a alegação de Jackson Cave de que a conspiração não terminaria com ele como uma ameaça vaga.

Ela pegou uma toalha do banheiro, a humedeceu e voltou para a cama ao lado de Evie. Ela pressionou a testa da filha, enxugando as gotas de suor que se prenderam às suas sobrancelhas.

Depois de alguns minutos, a respiração de Evie ficou mais lenta e ela se enrolou ao lado de Keri, que estava deitada de costas. Ela então envolveu seus braços ao redor da cintura de sua mãe e adormeceu, gemendo ocasionalmente. Quando ela o fazia, Keri cantarolava uma canção de ninar ou arrulhava suavemente até que ela se acalmasse. Isso durou toda a noite.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

Keri estava sentada na sala de espera do consultório da terapeuta de Evie, tentando manter os olhos abertos. Depois de inicialmente se reunirem juntas com o terapeuta, Keri os deixou para terminarem a sessão sem ela. Evie estava lá dentro a cerca de vinte minutos e a solidão silenciosa e o papel de parede ameno tornavam ficar acordada um desafio.

Repentinamente, uma imagem de Evie, suada e assustada na cama surgiu na mente meio consciente de Keri e seus olhos estalaram abertos. Formigando com adrenalina como se tivesse acabado de acontecer, ela sabia que não conseguiria cochilar. Ela decidiu aproveitar o tempo livre e pegou o celular.

Rita Skraeling atendeu no segundo toque. Rita dirigia o Lar Compartilhado South Bay, uma instalação residencial em Redondo Beach que servia como uma hospedagem de transição para garotas que estavam tentando sair do mundo da prostituição infantil.

Foi onde Keri havia levado Susan Granger, a garota que havia dado a pista de que Evie deveria ser o Prêmio de Sangue no Vista. Keri encontrou Susan se prostituindo em uma esquina em Venice no ano passado e a resgatou de seu cafetão.

Desde então, Susan havia feito um progresso notável. Sob a tutela de Rita, ela voltou para escola, fez terapia intensiva e, inspirada a se tornar uma detetive como Keri, até mesmo começou um clube do livro da Nancy Drew. Se alguém pudesse dar conselhos "mão na massa" sobre como ajudar garotas a encontrarem o caminho de volta dos horrores da prostituição forçada, era Rita.

"Eu estava pensando quando você ligaria," a voz rouca e tingida de cigarro de Rita disse, sem qualquer cumprimento formal. "Salva dúzias de garotas da escravidão sexual e acha que é grande demais para seus jeans, né?"

"Desculpe-me, Rita," disse Keri rindo apesar de si. "Estive um pouco ocupada ultimamente."

"Tudo bem, Detetive. Eu imaginei que você ligaria quando tivesse o tempo. Mas não posso dizer que nossa amiga Susan vai ser tão clemente. Ela está subindo pelas paredes esperando por notícias suas. Eu acho que ela também está esperando algum tipo de recomendação civil da Chefe Beecher por aquela pista sobre o Vista."

"Você poderia dizer a ela quão grata eu estou e que eu ligarei assim que eu puder? Eu simplesmente estou atolada de coisas agora."

"Eu já o fiz e vou fazê-lo novamente," Rita a garantiu. "Eu posso dizer pela sua voz que algo está te consumindo. Por que você não me diz o que está acontecendo?"

"É Evie," admitiu Keri. "Não tenho certeza de como tratá-la. Com todas aquelas garotas, eu tinha alguma distância. Eu tinha alguma perspectiva. Mas esse é o meu bebê. Eu a amamentei. Eu trancei o cabelo dela. E agora eu tenho que levá-la para cirurgia reconstrutiva no útero. Sinto que eu estou tomando chicotadas todo segundo."

"Detetive... Keri, eu vou dar um conselho a você. Nem sempre funciona. Mas eu acho que é uma boa regra geral. Você está pronta para ela?"

"Eu estou," disse Keri.

"Evie tinha oito anos quando foi sequestrada. A garota que você tem agora ainda é sua filha, mas ela é uma pessoa diferente com experiências diferentes. Ela tem mais oito anos. Ela tem o quê, treze agora?”

"Quatorze no mês que vem," notou Keri.

"Exatamente. Mesmo se ela não passasse por todos os horrores, essa seria uma época difícil-criar uma menina adolescente como mãe solteira. Mas você está dez vezes pior. Ainda, você tem que tratá-la como a pessoa que ela é, não a garota que ela foi."

“Do que você está falando”?

"Digo, ela é Evelyn Locke, uma jovem pessoa de quase quatorze anos. Seu bebê se foi. Sua princesa de trancinha não existe mais. Aqueles monstros extinguiram com ela. Não me entenda mal. Ela ainda precisa de você desesperadamente. Ela ainda pode reverter para uma garotinha de vez em quando. Mas não a trate como um bebê. Você tem que aceitar quem ela é agora para que ela também possa aceitar isso. Quanto antes ela ver que você está querendo mover em frente ao invés de habitar no passado, mais rápido ela começará a fazer isso também.”

"Rita, posso perguntar uma coisa?"

"Só mais uma," disse Rita, "mas então vou ter que começar a cobrar."

"Como você pode soltar essas pérolas de sabedoria, mas não consegue largar o vício em Newport?"

"Esse é o grande mistério, né?"

*

A primeira palavra que Evie teria usado para descrever sua primeira visita à casa do pai era "estranho." Sua mãe ficou por lá pelos primeiros cinco minutos, fazendo o melhor para ser educada.

Era quase engraçado vê-la de pé na sala de estar dessa casa chique, vestindo seu suéter pesado para cobrir as ataduras em suas costelas, mancando com a botinha que devia proteger sua tíbia lascada, com as bandagens em sua mão direita para proteger a pele reconstituída da sua palma e o conjunto de irritantes nove pontos que desciam pelo lado direito do seu rosto.

Sua mãe parecia bem fora de lugar no meio de toda aquela arte e mobílias caras. E mesmo que ela estivesse obviamente relutante em deixar Evie sozinha, ela sabia que tinha que fazê-lo. Além disso, ela tinha que ir a um funeral de algum agente do FBI que morrera em uma explosão de bomba quando estava investigando um caso com ela na semana passada.

Claro, uma vez que ela saiu, Evie foi quem se sentiu fora do lugar. Seu pai a apresentou para sua esposa, Shalene, que a convidou para a cozinha para um lanche. Ela disse que o filho deles de três anos, Sammy, estava dormindo, mas acordaria logo.

Seu pai era um talentoso agente em uma grande agência e Shalene era uma de suas clientes. Ela era uma atriz que tinha um papel recorrente em uma sitcom chamada All Aboard. Evie assistiu a meia dúzia de episódios por curiosidade. Era como uma versão de meia hora de O Barco do Amor Shalene aparecia em um ou outro episódio como a assistente do diretor do cruzeiro que sempre estava atrapalhando e dando dor de cabeça para seu chefe. Evie achou o programa terrível e Shalene estava terrível nele, estava lá mais para agir de forma estúpida e vestir roupas realmente justas. Ela era ótima nisso pelo menos.

Ambos tentaram ser legais com ela, mas não havia sobre o que conversar. Não é como se eles pudessem perguntá-la sobre a escola ou sobre como foi sua semana. Shalene comentou sobre alguns cantores e filmes, mas pereceu depois de um tempo que Evie realmente não teve muitas chances de acompanhar a cultura pop nos últimos anos.

Foi quase um alívio quando Sammy acordou. Ele era loiro, super bonito e claramente um pirralho mimado. Quando Shalene apresentou Evie como sua meia-irmã, ele jogou sua xícara de frutas nela e começou a birra. O pai dela se desculpou várias vezes, mas Evie estava feliz pela atenção ser outra pessoa.

Quando sua mãe a pegou duas horas depois, ela estava com uma dor cauterizante na barriga. Sua mãe a levou para a urgência e foi quando Evie aprendeu o que era uma úlcera.

*

No dia seguinte, Mags e Evie estavam sentadas na praça de alimentação do shopping esperando sua mãe voltar do banheiro quando ela decidiu perguntar o que realmente estava rolando com sua mãe e Ray.

Para seu crédito, Mags nem ficou afobada. Ela apenas tomou um gole do seu chá gelado e com aquele sotaque fantástico, fez uma pergunta a Evie.

"O que você acha que está rolando, querida?"

"Acho que eles, com certeza, estão afim um do outro, definitivamente transando, talvez namorando. Mas eles não querem que as pessoas saibam, porque eles são parceiros e isso é contra as regras ou algo assim."

Mags assentiu de maneira que não confirmava qualquer outra coisa além de que ela havia escutado o que ela dissera.

"Como você se sentiria se algo disso fosse verdade, Evelyn?"

Evie notou que nos últimos dias, Mãe, Ray e Mags começaram a chamá-la de Evelyn ao invés de Evie. Ninguém pediu sua permissão. Mas ela meio que gostava disso, então ela não os parou ou disse qualquer coisa.

"Acho que eu estaria tranquila com isso. Meu pai tem sua mulher objeto. Não vejo por que minha mãe também não pode ter um pouco de aventura."

Um olhar lampejou no rosto de Mags que fez Evelyn cogitar se havia dito algo errado. Mas ele se fora em um flash.

"Você acha que é isso que sua mãe está procurando com Raymond-um pouco de ação?"

Evelyn deu de ombros. Mags parecia estar debatendo sobre como proceder. Então ela olhou para cima e viu a mãe de Evelyn voltando na direção delas.

"Olhe, queria, não é meu papel dizer, mesmo que eu adorasse. Mas acho que você pode querer falar sobre isso com sua mãe. Acho que ela quer proteger seus sentimentos. E parece que você se preocupa com a felicidade dela. Talvez fosse melhor se vocês fossem ambas diretas uma com a outra. Mas após eu ter me despedido."

*

Naquela noite, enquanto estavam olhando fotografia de quando Evelyn era um bebê, ela trouxe isso à tona.

"Eu sei sobre Ray, mãe," disse Evelyn do nada.

"O que você sabe?" sua mãe perguntou, deliberadamente não tirando os olhos da foto que estava olhando.

"Eu sei que vocês são mais que parceiros."

"Isso é verdade," ela disse, finalmente olhando para Evelyn. "Como você se sente sobre isso?"

"Estou bem com isso. Eu gosto dele. Ele é legal, mas não legal de 'mentira'. Eu gosto que ele pareça assustador até que você o conheça um pouco."

"É, eu também gosto disso nele," ela disse.

"Ele é seu namorado?" perguntou Evelyn.

“Isso é um pouco mais complicado. Mas, sim, acho que meio que é."

"Esquisito," disse Evelyn.

"O que é esquisito?"

"É estranho dizer 'minha mãe tem um namorado'."

"Você não faz ideia."

*

Keri estava pronta para o grito naquela noite.

Normalmente começava em torno de duas ou três da madrugada. Se ela colocasse Evelyn para dormir e voltasse para o próprio quarto, o grito continuaria em momentos. A única maneira de preveni-lo completamente era ficar na cama com ela pelo resto da noite.

Por qualquer razão, nesta noite Evelyn não conseguia voltar a dormir novamente.

"Sobre o que você está pensando?" perguntou Keri.

"Posso lhe dizer uma coisa, mãe?" ela perguntou. "Promete que não vai ficar nervosa?"

"Você pode me dizer qualquer coisa, docinho."

"Odeio dormir," ela disse. "Toda vez que eu durmo, os pesadelos voltam."

"Você quer falar sobre eles? Talvez ajude."

"São tantos. A maioria deles se mistura. Depois de alguns anos, eu aprendi a bloquear muito do que aconteceu, apenas para me deixar dormente. Mas alguns permaneceram."

"quais, querida?"

"Algumas vezes eu ainda tenho pesadelos com o dia que eu fui levada no parque, com aquele homem fugindo correndo comigo e você nos perseguindo tentando alcançar."

"Ainda tenho pesadelos com isso também," Keri admitiu baixinho.

"E algumas vezes, eu volto para alguns meses atrás, quando eu vi você por um segundo quando aquele cara velho me enfiou na van no meio da noite. Você se lembra disso?"

"Lembro," disse Keri, recordando da noite na qual ela ficara tão perto de salvar Evelyn, antes de tê-la arrancada uma vez mais.

"Por um segundo eu pensei que eu estava segura-que você me resgataria-e, então, ele bateu a van no seu carro e fugiu. E eu pensei que você estava morta."

"Sinto muito por isso, querida."

"Não é sua culpa," disse Evelyn. "Eu só me preocupei com você. Levou muito tempo até constatar que você não havia morrido. Foi difícil. Mas não foi o pior."

"O que foi o pior, querida? Você pode me contar."

Após alguns segundos, Evelyn decidiu se abrir.

"Havia um homem. Acho que ele me considerava uma favorita, porque ele sempre voltava. Não importa para onde eu me mudava, não importa com quem eu estava vivendo, ele sempre aparecia a cada poucos meses."

"Poderia identificá-lo?" Keri perguntou antes que ela pudesse se impedir, percebendo tarde demais que não era um interrogatório, que era uma confissão. Mas Evelyn não parecia se importar. Ela continuou, olhando para algum lugar distante na parede.

"Não. Ele sempre usava uma máscara. Acho que ele não queria que eu soubesse quem ele era. Mas ele era velho. Eu podia dizer isso pelas rugas no canto da máscara em seu rosto e por coisa do... corpo dele. E acho que ele era rico. Ele sempre usava ternos chiques e passava um perfume forte. Mas isso não foi o que ficou comigo."

"O que foi então?"

"Ele levava uma agulha com ele e injetava algo em mim. Fazia com que eu não pudesse me mover. Mas continuava acordada. Meus olhos estavam abertos. Eu podia... sentir as coisas. Eu só não podia mexer meu corpo de forma alguma. E enquanto ele fazia as coisas comigo, segurava o telefone na minha frente para que eu não conseguisse desviar o olhar e me mostrava vídeos—vídeos de você. Da coletiva de imprensa depois que fui raptada. Das entrevistas que você deu depois de salvar uma criança. Ele sempre tinha algo. E enquanto ele fazia o que ele queria comigo, ele sussurrava coisas sobre você não me amar, sobre você nunca ir me procurar, como você seguiu em frente com as outras crianças, como isso era o mais próximo que eu iria conseguir ficar de você. Eu podia sentir as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e ele ria delas. Ele dizia que você não queria um bebê chorão como filha."

"Eu sinto muito," disse Keri, esmagada com o abuso emocional que a filha sofrera por cima de toda a brutalidade física que ela suportou.

"Eu pensei que eu tinha superado isso. Mas acho que o que esse advogado, Cave, disse na varanda naquela noite abriu tudo isso de novo."

"O que Cave disse?" perguntou Keri.

"Sobre eu sempre ter que olhar de volta no meu rosto degradado em frente ao espelho pelo resto da minha vida..."

Ela parou de falar e olhou Keri nos olhos.

"É por isso que não consigo dormir."

*

A terceira visita de Keri a casa do seu pai foi a pior.

Ele estava atrasado para chegar em casa por causa de uma reunião de trabalho, então ela ficou presa convivendo com Shalene e Sammy. Quando ela chegou o pequeno menino, que Evelyn nunca havia visto como agradável, estava berrando por não ter uma terceira barra de cereal.

Shalene o entregou para a babá e tentou puxar assunto, mas seu coração claramente não estava na conversa. Parte de Evelyn se sentia um pouco mal por ela. Ela era casada com um viciado em trabalho, tinha um horror de uma criança (apesar de que, em parte, tenha sido culpa dela) e agora tinha que lidar com uma enteada danificada que apareceu do nada. Mesmo assim, Evelyn podia sentir o frio vindo do outro lado da sala.

Quando o pai chegou em casa, ele anunciou que iriam ver o filme mais recente de um dos seus clientes, o qual ele descreveu como o "novo jovem pedaço de mau caminho." Evelyn concordou em ir, feliz pela desculpa para não falar.

O ator era realmente bonito, embora ele fosse mais a sétima pessoa nos créditos do que a estrela. E o filme, sobre um grupo de formandos do FBI que enfrentam um monstro do mar que se levanta fora do oceano por algum motivo confuso, foi um grande desperdício de tempo.

Quando acabou, eles foram tomar sorvete e Evelyn pode dizer imediatamente que o pai dela tinha algo desagradável que estava se preparando para dizer. Ela manteve a boca fechada, apreciando-o se contorcer um pouco.

"Então, Evie," ele disse. "Eu tenho algumas novidades interessantes que quero compartilhar com você."

"Agora é Evelyn," ela o lembrou.

"Certo. De qualquer forma, Shalene e eu decidimos que vamos disputar a custódia primária de você."

"O quê?" ela exigiu, sentindo uma bola de pânico formar-se em seu peito. "Você conversou com a mãe sobre isso?"

"Ainda não. Eu queria que você soubesse primeiro."

"Por que vocês estão fazendo isto?" ela perguntou incrédula.

"Não é óbvio? Sua mãe dá o seu melhor, Evie. Mas as circunstâncias dela não são as melhores. Ela mora naquele lugar em cima de uma lanchonete."

"É um restaurante".

"Tanto faz. Não é o melhor ambiente para você, com pessoas a ir e vir a todas as horas. E trabalho dela não tem as horas mais estáveis. Às vezes ela precisa trabalhar toda a noite em um caso. Ela simplesmente vai deixá-la sozinha naquele apartamento?"

"Pai, nem todo detalhe precisa ser estabelecido neste segundo. Eu estou de volta a menos de uma semana."

"Eu entendo isso, Evie. Mas eu quero estabelecer os padrões corretos antecipadamente, o estilo de vida certo e eu não acho que ela os provê. A situação de vida dela não é... adequada."

"Você está falando sobre Ray?"

"Sim, Evie," ele respondeu. "Eu não quero você sendo exposta a eles... trocando intimidades."

"Você está de brincadeira, pai? Eu fui estuprada centenas de vezes somente no ano passado, milhares desde que fui sequestrada. Estou sendo tratada para múltiplas doenças transmitidas sexualmente. Os médicos não têm certeza se eu poderia ter filhos um dia, porque minhas entranhas estão muito rasgadas. Eu fui espancada e drogada e usada como uma boneca sexual humana. Já vi garotas assassinadas na minha frente por dizer a coisa errada para o cara errado. E você acha que eu ver minha mão trocando carinhos com o namorado dela é um exemplo ruim?"

"Jesus, Evie," ele disse, olhando nervoso ao redor para a agora silenciosa sorveteria. "Isso não é o que eu..."

"Não, apenas pare," ela disse levantando a mãe. "Não é como se você me quisesse de verdade, de qualquer maneira. Eu sei que você desistiu de mim há muito tempo. Eu sei que você pensou que eu estava morta. Eu sei que parte de você esperava que eu estivesse morta, porque seria mais fácil lidar com a bagunça que eu sou de verdade. Eu sei que me ter de volta é uma inconveniência para a sua vidinha perfeita com sua esposa rainha do gelo e seu pequeno príncipe mimado como filho. Você não me quer. Você só não quer ficar mal visto por não ter atravessado o processo."

"Isso não é verdade, Evie!"

“Eu te disse, é Evelyn! Apenas me leve para casa."

Ela não falou com ele durante a viagem de volta para a Playa Del Rey. Nem se despediu quando ele a deixou na rua em frente ao apartamento. Ela saiu e bateu a porta sem olhar para trás, subindo dois degraus de cada vez.

*

Keri retornou do hospital logo quando o sol estava se pondo, por volta das 5 da tarde. Os médicos tiraram a bota curta, dando permissão para colocar todo o seu peso na perna, desde que ela não exagerasse.

Ela viu a mensagem de Stephen dizendo ele deixou Evelyn no apartamento por volta das 3:30 naquela tarde. Aparentemente, a visita não tinha ido muito bem e ele queria conversar. Ela não estava afim no momento e decidiu esperar até depois que ela tivesse a oportunidade de ouvir a versão da Evelyn sobre os eventos.

Ela sabia que algo estava errado no segundo em que ela destrancou a porta e entrou. Todas as luzes estavam apagadas, mas ela podia ouvir a água correndo no banheiro. Ela puxou sua arma pessoal e esgueirou para a sala de estar. Nada parecia fora do lugar.

Devagar e silenciosamente, ela se esgueirou pelo quarto vazio de Evelyn. A porta do banheiro estava entreaberta e ela podia ver o que parecia ser a cintilação de luz de vela emanando de dentro. Ela destravou a arma e empurrou um pouco a porta com seu dedão.

Várias velas estavam acesas na prateleira acima da pia. As roupas que Evelyn usava naquele dia estavam jogadas no chão, encharcadas. Então, Keri notou que todo o chão do banheiro estava coberto de uma fina camada de água. Ela empurrou a porta completamente aberta.

Evelyn estava deitada na banheira com os olhos fechados, seus braços descansando nas laterais. A água na banheira, mais vermelha do que translúcida, estava a derramar no chão. Sangue estava gotejando dos dedos da filha, saindo de cortes profundos em ambos os pulsos. Uma faca de cozinha descansava no ladrilho abaixo.

"Não!" Keri se ouviu gritar quando largou a arma e correu para o lado do seu bebê. Ela pegou uma toalha e a enrolou ao redor do pulso direito de Evelyn enquanto verificava os sinais vitais.

"Evie!" ela gritou. "Evie, acorde!"

Ela pegou uma segunda toalha e a enrolou no pulso esquerdo da filha antes de erguer seu corpo nu da banheira e deitá-la no chão do banheiro. Ela pegou o telefone, discou 911, colocou-o no alto-falante e o deixou na borda da pia antes de se ajoelhar para escutar os sons de respiração. Escutando nada, ela iniciou a massagem cardiorrespiratória.

O telefone tocou e depois de quatro minutos de uma voz gravada dizendo-lhe para continuar na linha, uma voz surgiu.

"Emergência nove-um-um. Qual é o problema?"

“Aqui é a Detective Keri Locke, LAPD. Preciso de uma ambulância no bloco 400 da Culver Boulevard na Playa Del Rey. Minha filha tentou suicidar-se. Ela cortou os pulsos e perdeu muito sangue. Ela está inconsciente. Estou fazendo CPR, mas ela não está respondendo."

"Tudo certo, Detetive, fique calma. Uma ambulância vai estar aí muito em breve."

"Venha agora, inferno!"


CAPÍTULO VINTE E SEIS

TRÊS MESES DEPOIS

Keri ficou de pé na porta da frente um longo tempo antes que finalmente batesse. Ela forçou um sorriso no rosto mesmo embora achasse difícil se lembrar de como formar um. Seu estômago se torceu em um nó apesar dos seus melhores esforços.

Respira. Lembre-se de respirar, Keri.

Após alguns segundos, uma familiar voz rouca do outro lado da porta gritou: "Olá," acalmando-a um pouco, antes mesmo que ela visse o rosto que acompanhava.

Rita Skraeling desfez várias trancas e puxou a porta aberta. Isso tolheu sua diminuta e encarquilhada silhueta e o sol brilhante de abril lançou uma luz pouco agradável na sua pele enrugada e manchada. Ela ajustou seu apertado coque de cabelo grisalho e olhou para Keri pelos seus grossos óculos.

"Como vai, bela senhorita?" ela chiou.

"Diga você," respondeu Keri. "Ela está pronta?"

"Algum de nós está realmente pronto algum dia?"

"OK, Yoda," disse Keri revirando os olhos. "Ela está pronta para entrar no carro, quero dizer?"

"Acho que elas estão terminando o Clube do Livre. Quer entrar?"

"Sim, por favor," disse Keri, tentando não soar muito ansiosa enquanto Rita fechava a porta atrás dela. "Como foi na noite passada?"

"Não tão ruim, eu acho. Passaram a maior parte da noite batendo papo no quarto de Susan e Darla. Eu as deixei quietas, na maior parte."

"Ela parece, você sabe, bem ajustada?"

"Considerando tudo, eu diria que sim," disse Rita enquanto andavam pelo corredor.

"Considerando tudo," repetiu Keri, considerando o peso destas palavras.

"Bem, você tem que manter alguma perspectiva, Keri. Três meses atrás, sua filha tentou se matar. Estar onde ela está agora e bem impressionante."

"Você não acha que eu estou apressando-a?"

"Pessoalmente, eu acho que esperar um pouco mais seria mimá-la. Depois de sair da UTI, ela passou quanto tempo no hospital psiquiátrico?"

"Um mês."

"Onde ela recebeu terapia intensiva," notou Rita. "E quantos dias você a visitou lá?"

"Todos os dias."

"E depois que lhe deram autorização para sair, você decidiu facilitar sua transição volta ao mundo colocando-a aqui com a gente por um tempo. Por quanto tempo foi isso mesmo?"

"Mais um mês," Keri a lembrou.

"Isso mesmo," disse Rita. "Eu pensei que isso tinha sido uma ótima ideia, por sinal. Falar com outras garotas que passaram o que ela passou, ofereceu um tipo completamente de terapia do que ela recebeu no hospital. Ainda, ela teve que comer vários s'mores. Quem não ama s'mores? Com que frequência você a visitou aqui, por falar nisso?"

"Todos os dias?"

"Ah sim, agora eu me lembro," disse Rita ironicamente. “Eu não poderia tirar você daqui. Então, depois que finalmente mandamos você de volta para casa, você a levou para casa. E as coisas foram OK por lá, com as aulas em casa com o tutor e a visita na escola para a qual ela iria e noites de jogos com a filha do vizinho?"

"Eu não acho que elas chamam de noite de jogos quando se tem quatorze anos," disse Keri. “Mas eu entendo seu ponto. As coisas correram muito bem. Menos pesadelos, a medicação parece estar funcionando. E foi meio que frustrando celebrar o aniversário dela em um hospital psiquiátrico. Ainda, a terapeuta disse que ela estava fazendo progresso."

Rita parou de andar logo antes de virar a esquina do corredor.

"E você está preocupada que a esteja apressando?" ela perguntou ceticamente.

“Você tem que admitir, é muito em um curto período de tempo. E então ela pede para passar o último sábado à noite antes de começar a escola aqui. Não sabia se ela era talvez estivesse retrocedendo."

Rita sorriu. Keri ficou surpresa com a cordialidade do sorriso. Muito ocasionalmente essa mulher, que parecia tão dura e áspera abaixava a guarda. Pareceu tão raro quanto um eclipse e isso normalmente era significativo.

"Primeiro," disse Rita, "isso é muito. Mas Evelyn passou por muito pior que isso. Ela é durona. Ela aguenta. Segundo, talvez ela esteja um pouco nervosa a respeito de começar a escola amanhã. Mas eu considero saudável que ela tenha decidido procurar o sistema de suporte dela quando ela começou a se sentir dessa maneira. Essas garotas fazem parte desse sistema de suporte agora."

Elas viraram a esquina e Keri viu quatro garotas sentadas na sala de leitura que servia como biblioteca. Susan Granger estava conduzindo-os em uma discussão de sua mais recente entrada no clube do livro de Nancy Drew.

Keri ficou impressionada com quão saudável e segura a garota parecia, nada como a adolescente prostituta que ela encontrara na rua no ano passado. Ela usava suéter, com seu cabelo loiro preso para trás em um rabo de cavalo frouxo. Seu rosto, livre de maquiagem pesada e medo, era quase sereno.

Evelyn estava sentada em um pufe ao lado da janela, sua cabeça abaixada em concentração, estudando uma página e assentindo em acordo com algo que Susan estava dizendo. Ela pareceu sentir os olhos sobre ela e olhou para cima.

"Mãe," ela exclamou feliz, seu rosto se rompendo em um sorriso. Ela largou o livro no chão e salto de pé, correu até Keri e envolveu os braços ao seu redor.

"Boa visita?"

"Vou bem legal," ela disse. "Você já ouviu falar de "Mad Libs?"

"Já. Uau, isso é educação de vanguarda. Estou impressionada."

"Nem tanto," disse Susan, andando até elas, "especialmente quando você usa "peido" como seu substantivo todo o tempo. Oi, Detetive Locke."

"Oi, Susan," disse Keri, puxando-a para um abraço. Então, assumindo um tom de irritação em brincadeira, "espero que você não tenha ensinado minha filha essa palavra."

"Eu? Jamais."

"Não, você, jamais. Bem, odeio encurtar o clube do livro, mas Evelyn e eu temos que fazer umas compras de roupa de última hora antes do grande dia amanhã."

"Ah é," disse Susan. "Você também não volta como detetive amanhã também?"

"Começo. Parece que é o primeiro dia de volta às aulas para mim também."

"Então, eles te livraram daquela investigação e tudo?" perguntou Susan.

"Meu deus, Susan Granger, eu não sabia que você tinha tempo para ler a sessão de metrô do Times junto com todos suas seleções para o clube do livro. A situação é um pouco complicada, mas a versão mais curta é que minha suspensão está suspensa por agora e tenho permissão para ir atrás dos caras maus de novo."

"É melhor eles se cuidarem!" disse Susan.

"Sim," concordou Rita. "Acho melhor."

Ela os levou até a porta e deu abraços em ambas ao saírem.

"Tchau, Ev!" Susan gritou para Evelyn do corredor, usando o apelido que ela acolheu com entusiasmo.

"Tchau, Suze!" Evelyn respondeu acenando.

Keri sorriu involuntariamente com os apelidos e manteve o sorriso colado ao rosto mesmo depois que viu a mão da sua filha acenando e recebeu o impacto da feia cicatriz vermelha que corria horizontalmente no lado interno do seu pulso.


CAPÍTULO VINTE E SETE

Apesar de tudo, Keri estava nervosa. Na superfície, não havia razão para estar. Tudo ocorreu bem naquela manhã. Ela entrou no quarto de Evelyn para levantá-la para escola e já a encontrou acordada, vestida e lendo.

As aulas não começavam até às 8 da manhã, mas era quando o turno de Keri começava, então ela deixou Evelyn na casa do vizinho às 7:45. Keri sabia que este tipo de arranjo não era incomum para pais trabalhadores. Mas esse foi um pouco fora do ordinário.

A família com a qual ela deixou Evelyn eram os Rainey. O que tornava as circunstâncias diferentes era que a filha deles de doze anos de idade na época, Jessica, fora raptada por um fanático religioso que planejava matá-la. Keri conseguiu encontrá-la e salvá-la bem a tempo. Isso tudo aconteceu apenas dias antes que Keri resgatasse Evelyn.

Acontecia que Jessica e Evelyn tinham a mais ou menos a mesma idade, iriam para a mesma escola e moravam a meio quilômetro uma da outra. Tim e Carolyn Rainey insistiram em receber Keri e Evelyn para o jantar algumas vezes nos meses recentes. As garotas se deram bem, parcialmente com programas de TV ridículos e parcialmente, Keri suspeitava, porque ambas passaram horrores que poucas crianças na idade sequer poderiam imaginar. Então, os Rainey não tinham problema em levar Evelyn para escola.

Com a carona resolvida, Keri tinha que admitir que deveria haver outra razão para que ela estivesse sentada ansiosamente em seu carro no estacionamento da Divisão do Pacífico Oeste de Los Angeles. A verdade era que provavelmente eram múltiplas razões.

Uma tinha nada a ver com trabalho e ela tentou retirá-la da sua cabeça. Apesar do fato de que fora uma discussão com ele que tenha precipitado a tentativa de suicídio de Evelyn, Stephen ainda estava buscando a custódia primária. Ele contratou uma firma de advocacia das grandes que já estava afogando Keri na papelada. Ela ainda precisava contratar um advogado.

Os outros problemas que estavam revirando suas entranhas eram, pelo menos, relacionados ao trabalho. Primeiro e mais importante, ela não estava certa de quão assegurado era seu emprego. Ela havia dito isso para Susan, mas seu trabalho como membro do LAPD não estava seguro.

Sua suspensão original era resultado de matar Brian "O Colecionador" Wickwire, o homem que sequestrara Evelyn. Se ela fosse drogada com soro da verdade, Keri poderia admitir que, em um surto de ira, ela enforcara Wickwire até a morte, mesmo que ele já estivesse à beira da morte devido a um massivo ferimento na cabeça que ele sofrera quando ambos caíram de cinco metros no concreto durante um luta.

Mas não havia como provar isso. Além disso, a única pessoa que parecia interessada em fazê-lo até recentemente era Jackson Cave, que queria manter Keri longe da força para que ela não pudesse interferir em seus negócios. Assim, ele usou seus contatos na polícia para fazer com que ela fosse investigada pelo Assuntos Internos.

E ainda, com Cave agora morto e a Chefe da Polícia com intenção de fechar a investigação, de alguma maneira ainda estava em andamento, sequer dormente no momento. Isso significava que havia mais alguém aí fora com poder suficiente para mantê-la acesa mesmo apesar dos desejos da policial mais poderosa da cidade e apesar do status lendário de Keri como a Salvadora de Crianças Perdidas, incluindo sua própria filha.

Além desse dissabor, também havia o fato de que alguém na delegacia, na sua própria unidade, era um infiltrado, alguém que estava passando informação para as mesmas pessoas que estiveram escondendo Evelyn todos esses anos. E mesmo que ela tivesse sua filha de volta agora, ainda significava que ela não sabia em quem poderia confiar quando as coisas ficassem ruins. Isso a deixava muito nervosa.

Uma batida na sua janela a acordou de volta para realidade. Ela olhou para cima e viu Ray parado na porta. Ela abriu.

"Estou aqui a pelo menos cinco minutos assistindo sua boca se contorcer de todas as formas possíveis," ele disse. "Você está tendo algum tipo de convulsão?"

"É esse tipo de comentário que eu deveria esperar de um namorado que me apoia?" exigiu Keri, tentando soar firme.

"Eu pensei que por aqui eu fosse apenas um parceiro solidário," ele respondeu, assumindo um tom de brincadeira.

"E ainda somos parceiros?" ela perguntou.

Foi uma pergunta razoável. Quando Keri saiu de licença após a tentativa de suicídio de Evelyn, Ray foi colocado temporariamente com Frank Brody, que estava prestes a se aposentar.

Brody, uma desculpa porca de ser humano e talvez o detetive mais preguiçoso que Keri já encontrou, geralmente parecia mais interessado em encontrar os condimentos corretos para o cachorro quente do seu almoço do que encontrar testemunhas para os seus casos. Mas ela tinha que admitir que ele havia ajudado quando ela entrou de licença, atrasando sua aposentadoria para que Ray pudesse se juntar de novo com Keri quando retornasse, ao invés de ser forçado a conseguir um novo parceiro de longo termo. Agora que ela estava de volta, essa seria sua última semana no trabalho.

"Acho que Frank vai ficar feliz em dar licença para você," disse Ray. "Eu substituí você como o colega de trabalho menos favorito dele."

"Bem, eu acho que é melhor eu subir e ver se eu consigo reconquistar o título," disse Keri fechando a porta do carro e andando em direção à delegacia com uma marcha diligente que não refletia seu interior.

Quando ela passou pelas portas, foi recebida com uma surpresa. A equipe inteira da delegacia estava no saguão e começaram a aplaudi-la.

"Que di...?" ela disse olhando para Ray.

"Desculpa," ele respondeu dando de ombros. "Eles me fizeram manter segredo."

"Para que é isso?" ela perguntou quando os aplausos terminaram.

"É por nunca desistir," gritou o Detetive Manny Suarez. "Não importa quantos vezes você seja nocauteada."

"E por pegar os caras maus," adicionou o Tenente Hillman. "Você sabe quantos casos nós fechamos por causa da ação no Vista? Trinta e dois. Isso completou o nosso ano inteiro em janeiro."

"Agora nós podemos realmente descansar nos seus louros," disse Frank Brody.

"Então, nada diferente para você, Brody," soltou Keri.

Todos riram e com a glória do momento esvaziada, o pessoal começou a se dissipar do saguão de volta para o trabalho.

"A diversão acabou," gritou Hillman para a multidão, tornando oficial. "Eu preciso da Pessoas Desaparecidas na Conferência A para uma reunião de status."

Keri seguiu Ray para a sala de conferências e sentou-se quando o resto da equipe se reuniu. A unidade não era grande, mas eles eram bem amarrados e, até o aviso do Fantasma sobre um infiltrado, Keri sentia-se confortável em confiar sua segurança em quase todos eles.

Eram liderados pelo Tenente Cole Hillman, um homem grisalho e barrigudo no início dos seus cinquenta com linhas profundas de preocupação e uma queda por mangas curtas e camisa para fora das calças. Sentado casualmente à sua direita, estava Brody, que completava o comportamento atormentado do chefe com uma disposição despreocupada e desinteressada que quase gritava "estou me aposentando em uma semana."

Do outro lado do Tenente Hillman, estava o Detetive Manny Suarez, cujos olhos de sono e barba de quarenta e poucos anos mascarava um intelecto aguçado e habilidades investigativas duras e implacáveis. E apesar de seu tamanho diminuto com parcos um metro e sessenta, ele era um pitbull. Keri já o viu derrubar homens trinta centímetros maiores e dezenas de quilos mais pesados que ele, usando apenas um pouco mais que cotovelos, joelhos e fúria.

Ao seu lado, estava Kevin Edgerton, o gênio da tecnologia residente da unidade. Ela era quem tipicamente usava suas habilidades sem par com computadores para descobrir as conexões que o resto deles não podia ver imediatamente. Alto e magro, parecia que raramente escovava o cabelo castanho. Ele acabara de completar trinta e, nos meses recentes, Hillman esteve empurrando-o para fazer mais trabalho de campo na esperança de deixar seus instintos de rua afiados como os seus instintos online.

À sua esquerda estava Garrett “Trabalho Pesado” Patterson. Em meados dos trinta, Patterson era esguio e livresco e usava óculos de arame fino. Ele era ainda mais reticente para ir ao campo do que Edgerton. Mas, ao contrário de Edgerton, Hillman parecia ter aceitado que Patterson tinha alcançado seu pico.

O cara era um homem sólido da tecnologia, mas seu talento real era a disposição em passar horas a fio devorando as informações mais secas e sonolentas procurando padrões que pudessem ser úteis. Registros de propriedade, financeiros e até mesmo números de telefone o deixavam vertiginoso de um modo que Keri achava ser quase desconcertante. Ela não amava como às vezes ele parecia esquecer que eles estavam lidando com crimes e não apenas experimentos de pensamento estatístico. Empatia realmente não era sua arma mais forte.

Finalmente, havia Jamie Castillo, sentada ao lado de Ray. Ela não estava jogando facas em Keri. Mas ela também não tinha um sorriso de boas vindas caloroso no rosto. Ela ainda estava claramente chateada por não ter sido chamada quando Keri fingiu sua morte, depois que o Viúvo Negro enviou seu carro por cima daquele penhasco em Malibu.

Keri queria muito dizer a verdade a ela na época e ainda estava chateada por isso. Ela estava quase certa de que não havia qualquer cenário no qual a Agente Jamila Cassandra Castillo, que disse que havia se juntado a força policial porque foi inspirada por Keri, fosse a infiltrada. Mas quando se tratava da segurança de Evelyn e descobrir quem havia a colocado em risco, quase certamente não era suficiente. Então, ela segurou a língua.

"OK, todo mundo," começou Hillman. “É bom ter toda a turma de volta, mesmo que seja por pouco tempo. Brody, já que esta é sua última semana, nós estamos trocando você para evitar deixar você com casos pendentes no final da semana. Você vai ficar com Castillo em qualquer caso que pareça rápido."

"Depois de trinta e cinco anos de serviço, é assim que você me recompensa?" Brody choramingou. "Juntando-me com uma policial novata que nem tem o distintivo de detetive ainda?"

"Acredite, Brody," disse Castillo, "o sentimento é recíproco. O pensamento de passar a próxima semana em um carro com você, seus cachorros quentes de sauerkraut e seus gases incontroláveis é suficiente para me fazer querer voltar para a patrulha."

"OK, eu já entendi," disse Hillman cortando-a. “Vocês dois estão fazendo um ótimo trabalho nos desviando do cheiro do seu caso secreto. Agora, calem a boca para eu poder avançar com isso. Patterson, como normalmente, você vai segurar o forte aqui comigo no QG. Suarez e Edgerton continuem olhando naquela sequência de moradores de rua desaparecidos no centro. Quantos temos até agora?"

"Quatro no último mês, Tenente," disse Suarez. "Todos eles desapareceram dentro do mesmo raio de seis blocos."

"Mantenha-me informado," disse Hillman antes de se virar para Keri e Ray. "E agora, para o que todos estiveram esperando, a reunião para terminar todas as reuniões. A parceria que deixa meu suco gástrico inquieto, Sands e Locke juntos novamente."

O resto da unidade deu um punhado de aplausos sarcásticos. Ray, embora sentado, fingiu se curvar. Keri mostrou o dedo do meio a todos.

"Parece que o dedo torcido já sarou," disse Suarez sorrindo.

"Tome cuidado, Suarez," disse Keri. "Tudo está curado-costelas, perna, ombro. Então estou em plena forma de chutar traseiro de hobbit."

"Felizmente," interrompeu Hillman, "já que você está em tão boa forma agora, eu tenho algum para ajudar você a começar de uma vez; Recebi uma ligação a cerca de meia hora atrás de uma universidade local sobre uma garota de uma sororidade desaparecida. O nome dela é Tara Justin. Houve algum tipo de trote de juramento na noite passada, então eles não acham que seja sério e ela pode só ter ficado perdida. Mas eles ligaram apenas para ficarem seguros. Parece que é um caso fácil para molhar os pés novamente, Locke. Animada?"

"Claro," ela disse se levantando. "Vamos lá. Para onde vamos?"

"Tem só esse pequeno detalhe," disse Hillman. Keri podia dizer pelo seu tom que era mais que um detalhe.

"O que é?" ela perguntou.

"A Universidade é LMU."

Keri olhou para ele, tentando manter a expressão neutra. Loyola Marymount University era a faculdade na qual ela costuma lecionar, onde ela trabalhou como professora quando Evelyn fora raptada, quando tudo começou a dar errado.


CAPÍTULO VINTE E OITO

Keri deixou Ray dirigir, em parte para que ela pudesse pensar, em parte porque seus dedos e polegares estavam dormentes desde quando eles saíram da delegacia. Hillman ofereceu dar o caso para Brody e Castillo se ela não estivesse afim, mas ela simplesmente balançou a cabeça e caminhou para fora da sala de conferência em direção ao carro.

Agora, enquanto se aproximavam a entrada principal da faculdade, ela imaginou se poderia ter aceitado a oferta. Keri não esteve no campus da LMU desde que ela "resignou" a posição dela há cinco anos. Tecnicamente, foi voluntário. Mas os pais do estudante com o qual ela dormiu, que pensou que ele estava apaixonado por ela e largou a faculdade, ameaçaram processar a universidade a não ser que algo fosse feito.

Foi o golpe final em seu acidente de carro profissional em câmera lenta, que começou quando Evelyn foi levada. Ficou pior quando ela e Stephen se tornaram estranhos emocionais posteriormente, exacerbado por sua bebedeira e a decisão de procurar conforto sexual nos braços de outros homens aleatórios. Quando Stephen a deixou e ela começou a aparecer bêbada nas aulas, era só questão de tempo. O triste pequeno caso com um estudante carente foi apenas o prego no caixão da sua carreira e, por um tempo pareceu, que também da sua vida.

Essa seria a primeira vez que ela estaria no campus desde quando a segurança a escoltou e um banqueiro para fora do terreno da faculdade. Ao virarem à esquerda saindo do Lincoln Boulevard na LMU Drive, Keri tentou ignorar a sensação constante de náusea que coçava em seu estômago.

Ela tinha que admitir que aquele lugar ainda parecia tão maravilhoso quanto ela se lembrava. Repousando em uma série de colinas em Westchester, o campus tinha uma vista da cidade inteira e sobreolhava o oceano Pacífico, o qual estava a apenas cerca de três quilômetros. A forte tradição jesuíta da escola estava visualmente contrastada pela vibe casual e praieira do lugar.

Ray fez o check in na guarita e estacionou no University Hall, o edifício administrativo, o qual era uma comprida monstruosidade de complexo de escritórios no pé das colinas e fora do campus principal. Ao passarem pelo labirinto de corredores, Keri liderava o caminho para o destino deles de memória. Ao se aproximarem, Ray se inclinou.

"Você está legal?" ele perguntou.

Keri assentiu e deixou por isso. Quando chegaram ao escritório do reitor, sua secretária olhou para cima e seus olhos se arregalaram. Keri lembrou-se dela podia dizer que era mútuo.

"Em que posso ajudá-los?" a mulher perguntou.

"Estamos aqui para ver o reitor Weymouth," disse Ray, tomando a iniciativa. "Sou o Detetive Raymond Sands. Essa é a minha parceira, Detetive Keri Locke. Acho que o nosso tenente ligou avisando."

"Ah, sim," disse a secretária, tentando agir como se tudo estivesse normal. "Vou informá-lo que vocês estão aqui. Apenas um momento, por favor."

Ela entrou no escritório atrás dela e Keri e Ray trocaram um olhar familiar.

É hora do jogo.

A secretária retornou depois de alguns segundos e os convidou a entrar. Keri estivera nesse escritório antes apenas uma vez, no dia em que ela se encontrou com Weymouth, o advogado da universidade, os pais do rapaz com o qual ela dormira, o advogado e seu representante oficial do sindicato.

"Obrigado por terem vindo," disse o reitor Weymouth, levantando-se para cumprimentá-los. "Por favor, sentem-se."

No início dos seus sessenta anos, magro e barbudo, Weymouth estava bem como Keri se lembrava. Até mesmo usava o terno de três peças que ela sempre pensou ser demais para um ambiente acadêmico. Seu sorriso largo era tão convincente que ninguém com conhecimento prévio, baseado em seu comportamento, adivinharia que ele compartilhava uma história com Keri.

"Obrigado por nos ver, reitor," disse Ray. "Se você não se importa, ficaremos de pé. Eu uma situação assim, cada segundo é crucial e nós gostaríamos de começar logo, se possível."

"Claro, e eu ajudarei de todo jeito que eu puder. Mas você realmente acha que é tão urgente assim? Digo, oficialmente, sim, essa garota está desaparecida. Mas, como creio que vocês foram avisados, isso foi parte de um evento de uma sororidade-não aprovado, a propósito-que frequentemente resulta em estudantes sumindo do radar. Meu entendimento é que a única razão para que vocês fossem chamados foi devido a uma irmã supervigilante da sororidade."

"Melhor se muito vigilante que não vigilante o suficiente," disse Keri, falando pela primeira vez. "Tenho certeza de que concordará, Dean."

"Certamente que sim. Não quis sugerir de outra maneira. E posso dizer que é um prazer vê-la novamente em tais circunstâncias... dissimilares do nosso último encontro, Profes... hum, Detet... como devo chamá-la agora?"

"Detetive Locke está ótimo, obrigada. O PhD está no gelo por enquanto."

"Sem dúvida. Então, o que posso fazer por vocês?"

"Por que não caminhamos para poupar tempo?" sugeriu Keri, girando nos calcanhares e deixando o escritório. "Gostaríamos de nos encontrar com todas as meninas da sororidade assim que sairmos daqui. Entendo que isso pode ser apenas um ritual de juramento que pode ter desandado um pouco. Mas até que tenhamos Tara Justin segura de volta ao campus, vamos precisar tratar isso como qualquer outro caso."

Keri liderou o caminho de volta pelo corredor até o elevador. Ray seguiu com o reitor Weymouth se apressando para acompanhar. Ele indicou para a secretária segui-los e ela pulou da mesa, pegando uma caneta e um bloco de anotações para anotar furiosamente.

"Também precisaremos de todos os registros acadêmicos dela," adicionou Ray.

"Isso é realmente necessário?" perguntou Weymouth, arfando enquanto tentava acompanhar.

"Provavelmente não," admitiu Ray. "Mas já que somos policiais, tendemos a manter a coisa do "hiper vigilante”. Melhor prevenir do que remediar."

"Também precisamos das informações de contato da família dela," disse Keri. "Você sabe de onde ela é?"

"Eu só dei uma olhada no registro da estudante," admitiu Weymouth. "Parece que ela é local, mas muitas das outras informações eram frustrantemente pouco específicas."

"É curioso, você não acha?" notou Keri. "Eu pensei que esses garotos precisassem dar tudo menos análise de DNA para entrar."

"Pode ser um exagero, Detetive Locke. Mas eu vou admitir que é incomum ter um registro de estudante tão impreciso."

"Mande tudo para esse cara," disse Ray, entregando-lhe o número de Garret Patterson. "Ele vai descobrir o que está acontecendo aqui."

"Quanto à sororidade," disse Weymouth, entregando o número para sua secretária ao chegarem ao elevador, "elas não tem uma casa oficial. Nenhum das fraternidades da LMU tem. Mas eles têm uma casa alugada, onde muitas das meninas moram. Serve como uma moradia informal. Vou pedir para o conselheiro grego estar lá quando vocês se encontrarem com as estudantes. Temos uma polícia estrita sobre proteger aqueles sob nossa responsabilidade de qualquer coisa inconveniente."

A porta do elevador se abriu. Keri e Ray entraram e se viraram para olhar o reitor, que tinha um meio sorriso hipócrita no rosto. Sua referência ao comportamento "inconveniente" de Keri pairando no ar.

Ela sabia que algo do tipo apareceria em algum momento-uma sutil escavada na sua história de baixa reputação na faculdade. E, embora ela estivesse temendo isso, Keri viu que agora que tinha acontecido, não foi a ferroada que ela antecipara.

Por qualquer motivo, talvez anos lidando com os horrores de crianças desaparecidas e a escória humana que as feria, um jab de um acadêmico exageradamente vestido não tinha o impacto que ela esperava. Ainda, Keri Locke não era do tipo que deixava passar. Ela abriu a boca para responder, mas Ray foi mais rápido.

"Vamos tomar isso sob aviso, reitor Weymouth," ele disse em um tom frio como gelo. "Nós respeitamos a sua política, claro. Assim como você vai respeitar que temos o direito de interrogar inteiramente todos acima da idade de dezoito anos se acharmos necessário. Isso pode ser na presença de um conselheiro. Ou pode não ser. Pode ser em grupos. Pode ser individual. Pode ser no campus. Pode ser na delegacia. Afinal, nós, do LAPD, temos uma política estrita de manter a justiça, não importam as circunstâncias. Sacou?"

As portas do elevador se fecharam antes que Weymouth pudesse pegar sua mandíbula do chão.


CAPÍTULO VINTE E NOVE

Levou menos de meia hora de entrevistas com as irmãs da fraternidade para Keri e Ray chegarem a duas conclusões. Primeiro, ninguém tinha certeza completa do que aconteceu com Tara Justin na noite passada. Segundo, ninguém parecia estar preocupado como deveria.

Depois de conversar com várias irmãs e iniciadas, todas com o conselheiro grego sentado discretamente no canto da sala, conseguiram, pelo menos, definir a situação básica e o cronograma.

A noite passada tinha sido a final de um juramento de iniciação que durou todo o final de semana. Culminou com todas as iniciadas, neste caso sete garotas, levadas de carro com faixas nos olhos, para uma estrada semirremota na montanha em Malibu, onde seriam largadas individualmente por volta das 10 da noite. Elas teriam que encontrar o caminho de volta para a casa da sororidade até às 6 da manhã. As irmãs chamavam o evento de A Expedição.

De acordo com as irmãs, não era tão desafiados como parecia. Todas as iniciadas eram largadas a cerca de quinhentos metros uma da outra. E, embora seus arredores parecessem remotos à primeira vista, na verdade elas estavam a cerca de quatro quilômetros de um acampamento popular e a movimentada Pacific Coast Highway.

Eram permitidas a ficaram com as carteiras e celulares, que não recebiam sinal onde eram largadas, mas recebiam ao descerem a montanha. A maioria das garotas se juntava com uma ou mais da sua classe dentro de uma hora ou por aí.

Elas podiam voltar para o campus da maneira que quisessem, seja de ônibus, Uber, taxi ou mesmo ligar para um amigo buscá-las. Não era permitido a elas, porém, pedir carona. Tipicamente, as garotas voltavam por volta das 3 ou 4 da manhã. Nenhuma havia perdido o prazo de 6 da manhã até hoje.

Nenhum das outras seis iniciadas reportou ter encontrado Tara em qualquer ponto na caminhada montanha abaixo. Mas desde quando chegaram de volta ao campus em dois grupos separados de quatro pessoas e basicamente se encontrado logo que chegaram, nenhum grupo percebeu que ela não estava entre eles.

Aconteceu que a irmã que ligou para 911 foi a que deixou Tara na estrada. O nome dela era Jan Henley e ela era uma sênior. Coincidentemente, ela passou pela casa nesta manhã no caminho para o trabalho no centro de estudantes para ver como as coisas haviam ido.

Ela não foi capaz de determinar com certeza que ninguém recorda de Tara voltando até cerca de 7:30 da manhã, porque a maioria das irmãs estava dormindo por lá, depois de ficarem acordadas boa parte da noite festejando esperando pelas iniciadas voltarem. Devido ao feriado estendido da Páscoa, não havia aulas hoje ou amanhã (a razão pela qual o juramento de iniciação ser planejado para hoje à noite). Como resultado, conversar com todas foi um desafio.

Eventualmente, quando ficou claro que ela não estava de volta, as pessoas ligaram para o seu celular, seu telefone no alojamento e sua colega de quarto, todos sem sucesso. Foi quando Jan, contra a vontade das irmãs, ligou para a polícia.

"Preciso que você nos mostre onde você deixou Tara," Keri lhe disse.

"Agora?" perguntou Jan. "Já pedi um intervalo no trabalho para falar com vocês. Eles não vão ficar felizes se eu simplesmente não for."

"Sim, agora," disse Keri, tentando não soar tão irritada com a miopia da garota, "Já passam das dez da manhã. Isso significa que Tara está desaparecida por mais de doze horas. Quanto ao seu trabalho, vamos aliviar para você. Você está ajudando com uma investigação policial, Jan. Ninguém vai te repreender por isso. E eu preciso do número da colega de quarto de Tara também."

No caminho para Malibu, Keri ligou para Edgerton para pedi-lo para rastrear o GPS no celular de Tara. Ele disse que a bateria havia acabado, mas o GPS ainda estava ativo e nos arredores da área que Jan alegou tê-la deixado.

"Você tem uma foto de Tara?" ela perguntou Jan, que assentiu e rolou por seu telefone até que encontrasse uma. "Envie para mim."

Quando chegou, Keri estudou a imagem. Tara era morena extremamente atraente, mas de aparência despretensiosa. Ela parecia ser a típica caloura de dezoito anos, com seu cabelo preso para trás em um rabo de cavalo prático, seu sorriso caloroso, mas levemente resguardado. Keri achou que havia algo familiar acerca dos seus grandes olhos castanhos, como se talvez tivessem se encontrado antes, mas ela não podia precisar quando.

Frustrada, ela eliminou a sensação e ligou para a colega de quarto de Tara, uma garota chamada Alice Oberon. Ela ficou na caixa postal e deixou uma mensagem, tornando claro que ela precisava retornar a ligação urgentemente. Mas ela não teve retorno até perder o sinal de celular quando começaram a subir as montanhas uma hora depois.

Keri tentou ignorar os tremores de ansiedade que ondularam por sua espinha quando dirigiram pela estrada que levava até a casa de Jackson Cave e ao cânion onde ela quase morrera há três meses. Ela viu Ray olhar para ela de relance, mas ele não disse coisa alguma.

Jan os fez virar à direita na Mulholland Highway, logo depois do Leo Carrillo Campground. Eles subiram a estrada da montanha cerca de cinco quilômetros antes que ela apontasse para uma pequena curva para a esquerda. Ray estacionou e eles saíram.

A saída deva para uma pequena área de floresta com um banco e um container de lixo coberto. Eles andaram pelo local por um tempo, mas não viram qualquer coisa pouco usual.

"Quando você tirou a faixa dela?" perguntou Ray.

"Assim que estacionei," respondeu Jan.

"E você disse algo a ela?" ele perguntou. "Deu alguma dica?"

"Sim, eu disse que 'todo mundo gosta de descer'."

"Sério?" perguntou Keri incrédula.

"Era a única dica que tínhamos permissão para dar," disse Jan, soando envergonhada, "Eu não inventei. Os caras na nossa fraternidade parceira acharam que era engraçado."

"Parecem encantadores," disse Keri, sentindo uma mistura de desgosto e algo mais que ela não conseguia apontar.

Jan parecia que queria responder, mas mordeu a língua no último segundo. Antes que Keri pudesse perguntar o que era, Ray pulou na conversa.

"O que você quer fazer agora?" ele perguntou a Keri, escolhendo orientar a discussão para longe de políticas sexuais.

“Vou voltar pela estrada caminhando,” disse Keri, “seguir o caminho que Tara provavelmente teria feito na noite anterior. Por que você e Jan não vão até o acampamento? Se ela chegou lá, talvez alguém a viu. Encontro vocês lá."

Ray assentiu e eles saíram. Keri caminhou até o banco e sentou-se por um momento, tentando empurrar todas as frustrações e ansiedades para fora de si. Tara Justin precisava de seu foco e atenção total. Ela fechou os olhos, fez várias respirações longas e profundas, então, lentamente, levantou-se e olhou ao redor.

Nada estava diferente, mas de alguma forma sentia-se mais calma e mais alerta. Ela começou a descer o morro, montando-se próxima a beira da estrada como imagina que Tara teria feito. Depois de uns quatrocentos metros, ela chegou à outra pequena saída com uma área de floresta próxima. Essa era ligeiramente mais elaborada, com uma mesa de piquenique e uma lata de lixo e uma de reciclagem.

Ela caminhou até lá e olhou ao redor, mas não viu nada fora do ordinário. Ela estava prestes a se retirar para a estrada quando ela notou a luz do sol refletindo em uma superfície próxima a um arbusto cerca de vinte metros para dentro da floresta.

Ela se aproximou e olhou para baixo. Estava parcialmente coberta de folhas, mas era facilmente identificável como um celular. Keri colocou suas luvas de evidência e o pegou. A coisa estava bem quebrada. Ela não podia dizer se havia sido intencionalmente esmago ou apenas caiu no chão de mau jeito, mas a tela estava estilhaçada e havia pedaços de plástico pendendo.

Ela o ensacou e continuou descendo o morro. Quando chegou ao acampamento trinta minutos depois, não encontrou nada mais digno de nota além de uma bolha no dedo mindinho por causa de toda a íngreme caminhada.

Enquanto ela vagava para a área de acampamento principal, viu algum tipo de comoção e pegou o ritmo apesar do desconforto no pé. Ray tinha um homem sem camisa e com boné algemado no banco de trás do carro. Outro cara e duas mulheres, aparentemente seus amigos, estavam falando alto e ficando desconfortavelmente próximos de Ray, que estava tentando acalmá-los. Estavam todos em trajes de banho e pareciam estar em estágios variados de embriaguez.

Jan, em pé atrás de Ray, estava apontando para o homem algemado e soava quase histérica. Keri abriu o coldre da arma, mas fora isso ficou tranquila ao se aproximar.

"O que está acontecendo aqui?" ela perguntou.

Jan se virou para ela e ela pode ver que a garota estava chorando.

"Aquela garota," ela gritou, apontando para uma das mulheres, "está usando a bandana de Tara! E o cara algemado estava com a carteira dela!"


CAPÍTULO TRINTA

A mulher com a bandana, que tinha cabelo loiro agressivamente clareado, cerrou os dentes e sua face se contorceu. De repente ela também estava gritando, se inclinando através de Ray de modo que seu nariz estava a centímetros de Jan.

"Vadia, não me acuse!"

"O que vocês fizeram com minha amiga?" Jan gritou de volta, não cedendo um centímetro.

"Não levante a voz na cara da minha mulher assim!" gritou o cara de algemas, tentando se levantar.

"Todos se acalmem," disse Ray ao colocar sua mão esquerda no ombro do homem, enfiando-o firmemente de volta do carro. Com o antebraço direito, ele afastou a mulher da bandana, criando um espaço pessoal muito necessário para todos. Keri o seguiu e agarrou o antebraço de Jan, puxando-o para trás de si.

"Você não coloque sua mãos na minha mulher!" o cara algemado gritou para Ray da sua posição neutralizada.

A paciência de Keri já estava esgotando depois da longa caminhada montanha abaixo e ela não gostou do jeito que o cara disse "você" para Ray. Então ela decidiu que era hora de esticar alguns dos músculos de policial que tinham atrofiado durante os últimos meses.

"Você," ela disse, apontando para o cara de algemas, "cale a boca agora. A não ser que você queira passar as próximas vinte e quatro horas de bermuda de nadar e nada mais. Você vai ser muito popular, eu prometo”.

A "mulher" dele começou a responder, mas Keri foi em direção a ela e calou-a com um olhar intimidador antes de focar suas palavras nela.

"Você vai parar de invadir o espaço pessoal do meu parceiro e você vai parar de encarar aquela garota atrás de mim. Eu também tenho um par de algemas e eu estou louca para usá-las. Então dê cinco passos para trás, junto com seus amigos ali e não diga outra palavra até que a palavra lhe seja dirigida. O primeiro de vocês que abrir a boca, ganha um viagem de graça para o centro de LA. E eu não acho que é isso que vocês tinham em mente para essas pequenas férias."

A boca da mulher se torcia em agitação silenciosa, mas ela fez o que Keri instruiu, assim como seus amigos. Keri olhou para Ray, que se inclinou e falou baixinho em seu ouvido.

"A carteira definitivamente pertence à Tara Justin-tem a ID dela e tudo. O cara disse que encontrou no chão na noite passada. Não posso dizer quanto à bandana, mas a Jan parece bem certa de que é dela. Difícil imaginar que também apenas caiu no chão."

"O que você está pensando?" perguntou Keri.

"Eu já chamei reforços. De um jeito ou de outro, esse cara vai responder por alguma coisa. Mas precisamos interrogá-lo na delegacia. Eu genuinamente não sei se ele encontrou, roubou a carteira ou pior.”

"E quanto à bandana?" perguntou Keri.

"As coisas ficaram fora de controle antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta sobre isso."

"Importa se eu falar com ela?"

"Vai nessa," disse Ray. "Mas talvez encontre algum lugar um pouco mais privado?"

"OK, você está com as coisas sob controle aqui?"

"Eu vou tentar não ser insultado por essa pergunta."

"Desculpe, parceiro," Keri disse e lhe deu um tapinha na bunda para reforçar seu remorso.

"Você está perdoada," ele balbuciou, tentando não sorrir.

"Jan, você fique no escritório da polícia do parque até nós pegarmos você," disse Keri, antes de se virar para a mulher de cabelos clareados com a bandana. "Você vem comigo, loira. Precisamos conversar."

Ela levou a mulher para a mesa de piquenique de uma área de camping desocupada a cerca de vinte metros de distância e indicou para que ela se sentasse.

"OK, loira, qual é seu nome de verdade?" ela perguntou.

"Marla."

"Marla, vou ser direta com você. Estou à procura de uma adolescente desaparecida. Ela estava nessa área na noite passada. A amiga dela acha que você está usando a bandana dela. Estou inclinada em acreditar nela. Apesar disso, a não ser que você esteja envolvida no desaparecimento dessa garota de alguma maneira, sua melhor aposta é ser clara e me dizer o que sabe. Se você tinha algo a ver com o desaparecimento, vá em frente, minta. Mas se não teve, mentir para mim agora não vai te trazer mais problemas do que dizer a verdade. Estou disposta a dar um desconto por qualquer transgressão legal de menor importância. Mas esta é uma oferta única. Então, pensa antes de falar."

Mas ficou quieta por vários segundos, parecendo lutar uma batalha interna entre seu senso de orgulho e seu bom julgamento. O último finalmente venceu.

"Escute, a garota estava louca," ela disse finalmente, suas palavras saindo apressadas. “Estávamos voltando da praia e trombamos com ela. Primeiro, parecia que ela estava saindo, porque ela estava usando um biquíni. Mas, então, eu percebi que eram suas roupas íntimas. Ela estava andando por aí de sutiã e calcinha!"

"Ela disse alguma coisa?" perguntou Keri, escolhendo aceitar a versão Marla dos eventos por enquanto, não importa quão ceticamente ela os encarava.

"Ela parecia bem fora de si, como se estivesse drogada ou algo assim. Mas nada bom, eu acho. Seus olhos estavam vermelhos como se ela tivesse chorado. Eu não entendi no começo. Eu realmente disse que eu gostava da bandana dela. Ela simplesmente tirou e deu ela para mim, dizendo que não precisava mais dela."

"E a carteira?" Keri pressionou.

Marla olhou para ela igualmente com esperança e suspeita.

"Promete que nada de ruim acontecerá com Nicky se eu lhe contar?"

“Eu não posso prometer isso, Marla. Tudo o que posso dizer é que será pior para vocês dois se algo acontecer a essa garota, vocês não estiverem envolvidos e mesmo assim ficarem calados."

"Vou confiar em você," ela disse relutante. “Ela tinha a carteira em uma pequena mochila, uma daquelas de menina. Ela estava simplesmente arrastando ela por aí. Depois que ela me entregou a bandana, Nicky brincou e perguntou se ele poderia ter algo também. Ela apenas olhou para ele com um olhar vazio. Então ele meio que arrancou a bolsa da mão dela. Ela não lutou nem nada. Depois de alguns segundos, ela meio que só saiu. A carteira estava na mochila. Nicky a guardou e jogou a mochila no lixo."

"Para onde ela foi?" Keri perguntou, forçando-se a ignorar o sentido geral de repulsa. "Para qual direção?"

"Simplesmente embora, em direção a Carrillo Beach, talvez mais para o norte. Eu não estava vendo de verdade. A gente queria voltar para o acampamento e beber mais."

"Ela disse algo mais?"

"Ela resmungou algo sobre sair com seu velho amigo, Herbie ou Hurley, algo assim. Eu não tenho certeza disso. Como eu disse, ela estava bem fora do mundo."

Keri levou Marla de volta para o grupo do acampamento principal, onde ela viu que Departamento do Xerife havia chegado e Nicky havia sido transferido para um dos seus veículos. Ray estava ao telefone com alguém.

"Você disse que seria melhor se eu fosse direta com você," implorou Marla ao ver a cena.

"Vou ver o que posso fazer," disse Keri, andando até Ray e esperando-o terminar a ligação. Ele desligou.

"Era Hillman," ele disse. "Ele quer que levemos esse cara e que o interroguemos formalmente em vídeo. Ele não quer correr o risco de minar uma condenação com, como ele dizia, 'alguma sessão de perguntas e respostas meia-boca em um acampamento."

"Podemos fazer isso," disse Keri. "Mas não estou confiante de ele vá nos levar a algum lugar. Conversando com a namorada, eu não estou convencida de que eles fizeram algo além de tirar mínima vantagem de uma garota que já estava comprometida de alguma forma."

"Do que você está falando?”

"De acordo com a Marla ali, Tara já estava seminua e metade fora de si quando eles se encontraram com ela voltando da praia."

"E você acredita nela?" perguntou Ray incrédulo.

"Ela admitiu que Nicky puxou a carteira de Tara, que nem pareceu ligar. Eu só não acho que ela teria confessado isso se algum deles estivesse por trás de algo pior."

"Bem, Hillman vai precisar de mais convencimento," respondeu Ray ceticamente. "Espero que você tenha trazido seu time titular hoje."

*

Finalmente, Keri decidiu que Nicky não valia o time principal dela. De volta à delegacia, Hillman queria ele mesmo interrogar formalmente Nicholas "Nicky" Carpenter sobre o desaparecimento de Tara Justin. Keri não achava que ele fosse o cara. Mas no seu primeiro dia de volta, travar uma batalha de vontades com seu tenente em favor de um babaca que havia, pelo menos, pegado a carteira de uma garota desaparecida, não parecia uma prioridade. Marla se sentiria mal servida, mas Keri não se importava. Se o pior que ele havia feito foi pegar a carteira dela, ele estaria OK.

Além disso, ela tinha outras prioridades. A colega de quarto de Tara havia retornado a ligação e estava indo conversar. Enquanto Keri esperava que ela chegasse, ela foi até a mesa de Garrett Patterson para ver se ele havia descoberto algo incomum nos registros estudantis de Tara. Ele havia.

"Parece que Tara Justin não existia até dois anos atrás," ele disse.

"Essa é uma grande notícia," disse Keri. "Quem ela era antes disso?"

"Ainda não sei," ele respondeu. "Eu estava originalmente gastando a maior parte do meu tempo vendo as notas dela, contas atuais, esse tipo de coisa. Eu só comecei a olhar os documentos de admissão dela há alguns minutos quando eu notei que as finanças estavam um pouco confusas."

"Talvez ela falsificou algo para conseguir auxílio financeiro eu pode ser que ela não esteja aqui legalmente?" sugeriu Keri.

"Definitivamente a primeira não," ele disse. "Ela está pagando a mensalidade inteira. Ainda não sei sobre a segunda. Dê-me alguns minutos e eu posso ter algo para você."

Um agente deu um tapinha no ombro de Keri.

"Há uma tal de Alice Obero aqui para ver você," ele disse, apontando para uma pequena garota de cabelos pretos, humildemente de pé no canto da sala.

"Obrigada," disse Keri, acenando para a garota antes de murmurar silenciosamente para Patterson, "Informe sobre o que você encontrar, Trabalho Duro. Mas não na frente dela."

Ele assentiu e clicou em uma janela diferente quando Alice se aproximou.

"Oi, Alice," disse Keri. "Sou a Detetive Keri Locke. Obrigada por vir. Por que não encontramos algum lugar mais silencioso para conversar?"

Alice assentiu e Keri a levou de volta para uma sala de interrogatório. Ela deixou a porta para comunicar sutilmente à garota que ela estava livre para ir e vir como quisesse.

"Está com fome?" Keri perguntou, olhando o relógio. Eram quase 12:30.

Evelyn estará terminando hora do almoço por agora. De onde isso veio? Tire isso da sua cabeça! Fique focada no caso.

"Não, obrigada. Eu não estou com fome,” Alice disse, inconsciente da discussão interna de Keri.

"OK," disse Keri, acomodando-se em uma cadeira à mesa e apontando para Alice fazer o mesmo. "Então você sabe que Tara está desaparecida desde ontem à noite, certo? O que você pode nos contar?"

"Na verdade eu não sabia até que recebi uma mensagem de Jan Henley da sororidade dela esta manhã. Eu sabia que ela estava fazendo A Expedição na noite passada e só imaginei que ela teria dormido na casa quando voltasse essa manhã. Nunca me passou pela cabeça que algo errado estava acontecendo até que recebi a ligação."

"Primeira coisa antes de começarmos—Tara já mencionou alguém chamado Herbie ou Hurley para você, um amigo dela?"

"Não," disse Alice. “Eu nunca a ouvi dizer esses nomes.”

"Você conhece alguém com esses nomes?"

"Não, acho que não."

"OK. O que você pode dizer-me sobre a experiência dela na fraternidade? Tem sido positiva? Ela teve alguma preocupação?"

"Não mais do que as outras garotas," Alice disse. "Quero dizer, havia muitas, não chamaria de trote, mas manipulação emocional e física. É por isso que eu saí."

"Você também estava no juramento?" perguntou Keri, surpresa de que ninguém tenha mencionado isso até agora.

"É, nó entramos juntas. Mas eu fiquei enjoada de todas as coisas que eles nos fazia."

"Tipo o que?" perguntou Keri.

"Eu não deveria dizer."

"A menos que fosse ilegal, que não é da minha preocupação," Keri assegurou-lhe. "Não estou tentando colocar você ou a sororidade em problemas, Alice. Eu só estou tentando tirar uma foto do mundo que Tara habitou quando desapareceu, para entrar no seu espaço mental."

Alice ficou em silêncio por um segundo. Mas quando ela finalmente falou, foi como se ela estivesse esperando dizer sua parte por um longo tempo.

"Havia muita coisa de imagem corporal. Todos os clichês que você já imaginou. Tirar a roupa e ter quarenta garotas circulando suas "áreas problemáticas" com diferentes marcadores coloridos. Mas eles foram além com a gente. Eles tiraram fotos e mantiveram um cartaz para cada uma de nós, para que pudéssemos ter referência constante e "melhorar"."

"Isso soa horrível," admitiu Keri.

"Sim, e nós tivemos uma exigência de 'serviço' que parecia consistir em tudo, desde dever de casa dos mais adiantados para a sessão de depilação ocasional. Eu só fiquei cansada e não consegui ver os benefícios ultrapassando os aborrecimentos. Então eu saí."

"Tara sentiu da mesma forma?" Keri perguntou.

"Não lhe incomodava tanto. Ela disse que havia passado por coisa parecida no ensino médio. Na verdade, ela estava estranhamente empolgada para A Expedição porque ela sabia que seria em algum lugar em Malibu. Ela disse que costumava amar fazer caminhadas com sua família quando era mais nova.”

"Espera," forçou Keri. "Então, ela estava tranquila com tudo o que você descreveu?"

"Não. Ela não adorava algumas das atividades com a fraternidade parceira. Ela achava que alguns dos caras eram um pouco agressivos, eles agiam como se estivessem no direito e com agarração por causa da conexão de parceiro oficial, sabe? Mas quanto à rotina de trote, quase sempre ela deixava as coisas para lá. Além disso, o corpo dele é quase perfeito, então não tinha muito para se circular. Mas em geral, ela tinha uma atitude casual com a coisa toda. Como eu mencionei, ela me disse que ela estudou em uma escola chique onde o grupo popular tinha a mesma rotina. Então nada aqui ela chocou. Além disso, ela disse que se fosse assim que aquelas garotas se sentissem importantes, então que assim seja. Uma vez ela me disse que quase sentia pena delas porque tudo parecia tão desesperado."

"Então, se ela tinha tanta pena por estas garotas, porque ela sequer queria se juntar a irmandade? Por que ela as queria como amigas?"

Alice olhou para ela como se tivesse acabado de fazer a pergunta mais idiota do mundo.

"Porque ela as ganhou," ela disse.

"Não entendo o que isso significa, Alice."

"Quero dizer, porque, pela primeira vez na vida dela, ela podia confiar que essas garotas queriam ser amigas dela só por causa dela e não o resto".

"O 'resto'?"

"Você está falando sério, Detetive? Você não sabe quem é Tara?"

Keri balançou a cabeça.

"Esclareça-me."

“O nome verdadeiro de Tara é Tara Jonas. O pai dela é Roan Jonas.”

"O ator?" Keri perguntou.

"Sim, Detetive, a maior estrela de cinema do mundo."


CAPÍTULO TRINTA E UM

Parecia que o nível de atividade na estação intensificou-se dez vezes no minuto em que Alice revelou a verdadeira identidade de Tara. Keri pediu-lhe para aguardar e estava saindo para a o escritório quando Patterson a confrontou para contar o que ela havia acabado de descobrir sozinha.

Ela tirou Hillman de seu interrogatório com Nicky e informou-lhe. Minutos depois, ele havia organizado uma reunião da Unidade na sala de conferências. Keri dispensou Alice com agradecimentos e instruções específicas para não compartilhar qualquer coisa sobre o nome real da Tara com ninguém.

"Acho que deveríamos largar o Nicky", Ray disse ironicamente enquanto todos rapidamente se reuniam ao redor da mesa de conferência.

"Ele ainda vai responder por pegar a carteira," insistiu Hillman. “E, francamente, não quero lábios soltos nas ruas. Eu estou realmente chocado que isso não tenha saído para a imprensa ainda.”

"Quem quer que tenha criado o novo nome dela, fez um trabalho sólido," disse Patterson. "Precisou de uma boa escavação para descobrir. E, a menos que alguém estivesse muito interessado, não haveria razão para pesquisar a fundo. Eu acho que isso vai ficar em silêncio um pouco mais, a não ser que alguém fale. Eu não sei como a colega de quarto dela conseguiu descobrir."

"Ela não conseguiu, Garrett," disse Keri. “Tara disse a ela. Alice disse que depois de morar no mesmo quarto por meses, elas se aproximaram e Tara confidenciou a ela. Alice acha que é a única na escola que saiba a verdade.”

"Por que usar um nome falso para início de conversa?" perguntou Suarez.

"Eu perguntei isso a Alice enquanto eu a levava para a saída," disse Keri. "Ela disse que a Tara estava farta de ser vista como filha do Jonas Roan. Ela considerava a faculdade como uma chance de um novo começo, uma oportunidade de criar sua própria identidade, independente da dele. Aparentemente, ela vinha planejando a coisa toda desde seu primeiro ano do ensino médio—colocando a papelada em ordem, curando cuidadosamente sua presença nas mídias sociais, esse tipo de coisa.”

"Gostaria de saber que seu pai se sentiu por sua filha dissociar-se do nome dele," disse Castillo. "Ele ficou magoado?"

"Alice diz que eles eram afastados. Tara não lhe disse muito a respeito, a não ser que eles costumavam ser próximos e não eram mais. Aparentemente ele assinou a mudança de nome e pagou pela faculdade, mas essa foi a extensão da interação deles nos anos recentes."

Hillman levantou-se e dirigiu-se a todos eles.

"Apesar de quaisquer medidas que essa garota tomou para proteger sua identidade, temos que considerar a possibilidade que não tenha funcionado, que alguém descobriu quem ela era e que essa possa ser uma situação de resgate.”

"E sobre Nicky e Marla a encontrarem vagando de roupa íntima?" perguntou Ray.

"Não sei," disse Hillman. "Pode ser que ela tenha sido sequestrada, drogada e escapado. Pode ser que ela ficou chapada, disse sobre seu passado à pessoa errada e foi sequestrada. Pode ser que ela nem nunca tenha andado por aquele acampamento seminua. Edgerton está verificando as câmeras de segurança do lugar enquanto falamos, não é, Edgerton?"

"Bem, não enquanto conversamos, Tenente," disse Edgerton.

"Não seja atrevido, Kevin," disse Hillman. “Seja qual for o caso, precisamos prosseguir com base nos piores cenários possíveis. Então Edgerton, você volte a checar aquela filmagem. Patterson, você verifique as contas de mídias sociais dela. Eu quero saber se alguém as hackeou para descobrir quem ela realmente era. Brody e Castillo, voltem para LMU e verifiquem o quarto dela no alojamento. Vejam se conseguem encontrar algo suspeito. Sands e Locke, vou pedir para alguém ligar para ver se Roan Jonas está na cidade. Se ele estiver, eu quero que vocês falem com ele. Talvez ele já tenha recebido uma demanda de resgate. Se não, precisamos deixá-lo saber que sua filha está desaparecida."

"Sim, senhor," disse Keri. “Talvez também devêssemos ter equipes de barcos e helicópteros na área. Se ela realmente estava drogada, é possível que ela tenha tropeçado no oceano ou floresta. Devemos pelo menos checar a possibilidade."

"Boa ideia," disse Hillman. "Você pode dar uma olhada nisso, Suarez?"

"Cuidando disso, Tenente," disse Manny saindo para sua mesa.

"Certo, todo mundo," disse Hillman. "Vamos manter isso próximo do colete. Quando a imprensa souber do caso, investigar vai ficar ainda mais difícil."

"Vou pegar algo para comer na cozinha rapidinho," Ray disse para Keri enquanto o restante da equipe se espalhava em diferentes direções. "Quer sair depois disso?"

Antes que ela pudesse responder, Hillman interrompeu.

"Ela vai se encontrar com você, Sands. Preciso de um minuto para falar com Locke," ele disse, então voltou sua atenção para ela. "Vamos lá ao meu escritório."

Keri o seguiu do outro lado do escritório, olhando para trás para Ray, que simplesmente encolheu os ombros em confusão. Ela entrou no escritório de Hillman e ele fechou a porta atrás dela, apontando para que ela se sentasse na cadeira de metal do outro lado da sua mesa.

"Más notícias," ele disse sem eufemismos. "O Assuntos Internos está de volta no seu negócio."

"O quê? Estou no trabalho de novo só há cinco horas!"

"Eu sei, Locke. Mas recebi um e-mail há algumas horas dizendo que seu caso, que estava tecnicamente aberta, mas praticamente juntando poeira, havia sido reativado."

"O que isso significa exatamente?" Keri perguntou.

“No seu dia-a-dia? Não muito. Você já se encontrou com eles. Nada mudou. Não há motivo para voltar a entrevistá-la. Eu realmente não sei o que mais há para eles fazerem neste momento, além de emitir uma recomendação formal.”

"Eu pensei que a Chefe Beecher havia fechado isso," disse Keri.

"Eu também. O homem que você matou sequestrou sua filha. O cara te empurrando para ser exonerada acabou dirigindo um esquema de escravas sexuais. Não é como se seus inimigos fossem pilares da comunidade. Eu pensei que fosse abrir e fechar. Mas aparentemente alguém com poder de verdade que mandar esse negócio abrir de novo. Se eu tivesse que adivinhar, alguém te quer fora da força permanentemente."

"Algum palpite sobre quem?” Keri perguntou, observando-o atentamente. Parte dela queria colocar Hillman na sua confidência. Apesar de ser tão durão, ele sempre a apoiou. Era difícil imaginar que ele era o traidor que havia trabalhado contra seus interesses durante todos esses anos.

"Locke, se eu fosse capaz de manjar esse tipo de coisa, agora você estaria me chamando de Chefe ao invés de Tenente. Mas o que eu sei é que você deve pisar devagar por um tempo. Cuide dos seus casos. Faça o seu trabalho. Não balance o barco."

"Quando é que eu balanço o barco?" perguntou Keri com um sorriso irônico, decidindo manter os detalhes do traidor para si por enquanto.

"Você é um furacão humano, Detetive. E estou prestes a mandar você para falar com uma estrela de cinema que vale a pena alguns bilhões de dólares. Não faça eu me arrepender disso."

"Claro que não, Tenente," ela disse agradavelmente enquanto se levantava e dirigia-se para a porta, sabendo que sua habilidade de manter sua palavra dependia mais em como aquela estrela de cinema chique responderia suas perguntas.

Ray estava já esperando por ela no carro parado quando ela saiu. Ela pulou no banco do passageiro e ele arrancou antes mesmo que ela fechasse a porta.

"Sobre o que foi aquilo?" ele perguntou.

"AI reabriu meu caso," disse Keri. "Eu não quero pensar sobre isso agora. Para onde vamos?"

“Brentwood,” respondeu Ray, deixando a coisa do AI passar sem mais uma palavra. "Acontece que Jonas está entre filmes agora. Ele está em sua casa se preparando para algum tipo de arrecadação de fundos que estará hospedando neste fim de semana. O pessoal dele está nos esperando, mas eu acho que eles pensam que estamos investigando uma possível ameaça contra ele. Podemos dizer a verdade quando chegarmos lá."

"Provavelmente inteligente," disse Keri. "Para que é a angariação de recursos?"

"Acho que é para o governador, alguma coisa de reeleição. Lembre-se que Jonas ficou bem político nos últimos anos."

"Ah, sim," disse Keri. "Ele não está mais fazendo filmes, né? Eu não acompanho como deveria."

"Para uma detetive trabalhando em LA, você está bem densa no que se trata de Hollywood. Devo ensiná-la?"

"Oh, por favor, Professor," disse Keri piscando os olhos sarcasticamente.

"O prazer é meu. Você deve se lembrar de que Roan Jonas começou a carreira como uma estrela de ação com a série Thermal Fury."

"Quantos desses foram feitos mesmo?" perguntou Keri.

"Foram seis, mas ele fez apenas os três primeiros. Ele saiu antes que eles começassem a ficar ruins. Então, ele continuou em comédia de ação com aquele filme de advogado, o Buck the Barrister. Depois disso, ele fez a parada de comédia romântica com My Stars. Foi quando as pessoas começaram a levá-lo a sério."

"As pessoas o levam a sério?" perguntou Keri zombando.

"Elas levam quando seu filme faz trezentos milhões de dólares. Isso o permitiu fazer aquela filmão de guerra, Last Man in Baghdad."

"Que deu o Oscar a ele?"

"O primeiro," corrigiu Ray. "O segundo foi pela biografia de Calvin Coolidge."

"Como era chamado mesmo?"

“Coolidge.”

"Bem inteligente," disse Keri. "E depois disso?"

"Foi a última coisa que ele fez," disse Ray. "Saiu há dois anos. Supostamente, ele começaria a dirigir seu primeiro filme mais tarde nesse ano, mas isso é tudo segredo."

"Raymond Sands, eu nunca fui exposta a esse seu lado. Você assiste Access Hollywood em segredo quando eu não estou por perto?"

"Eu só não sou completamente imune à cultura pop. Espero que, agora que você tem sua vida de volta, você se dê espaço para um pouco de bobeira de tempos em tempos."

"Veremos," disse Keri. "Porém, por agora, vamos focar nos elementos menos estrelados da vida desse cara. Algum motivo para que alguém querer raptar a filha dele? Alguém que ele possa ter irritado? Algum esqueleto no armário?"

"Não que eu saiba," admitiu Ray. "Mas tem alguém mais que você conhece que pode ter uma melhor ideia nesse tipo de impropriedade."

"Acho que você deve estar certo," concordou Keri, discando o número de Mags enquanto subiam a Rodovia 405 em direção a Brentwood.

"Como vai, querida?" ronronou Mags.

"Ei, Mags," disse Keri, colocando no viva-voz. "Estou aqui com Ray e preciso de uma informação. O que você sabe sobre Roan Jonas? Alguma sujeira que o torne vulnerável? Alguém que ele tenha irritado que possa querer vingança?"

"E como você está?" respondeu Mags como se não houvesse ouvido uma palavra. "Espero voltar no primeiro dia de volta às aulas da Evelyn esteja indo bem. Parece que você está se mantendo ocupado no trabalho. Estou bem, muito obrigada por perguntar."

"Desculpe, Mags," disse Keri, engolindo a frustração que ela sentia. "Você tem razão. Eu não deveria ir direto assim. Ev está bem. Estou bem Espero que você esteja bem também."

"Meu deus, acho que eu consigo até escutar você mastigando os lábios, tentando se controlar e não gritar comigo. Pontos de esforço, Keri. Vou consentir em responder sua pergunta."

"Obrigada," disse Keri, impressionada com ambas paciência e compreensão da sua amiga.

“Roan Jonas está procurando disputar o gabinete em algum momento. A arrecadação que ele está organizando no sábado para o Governador Macklin não é para a reeleição dele na verdade, é sobre o futuro de Jonas. Se Macklin for reeleito, ele quase certamente vai se candidatar para presidente dois anos depois. E Jonas está de olho em apanhar a Mansão do Governador se isso ocorrer. É por isso que ele trocou para direção. O título tem mais um quê de adulto do que 'ator'. Por isso ele está na equipe de vários sem fins lucrativos. Por isso ele vai anunciar a criação do seu comitê de ação política no mês que vem."

"Então, é plausível que alguém que não queira que ele se candidate o atacasse de alguma forma?" perguntou Keri.

"Acho que tudo é possível," concedeu Mags. "Mas sinceramente, suas ambições políticas não são tão bem conhecidas na maioria dos círculos. E a política dele não é qualquer coisa que surpreenda alguém. Ele é um convencional, ordinário, democrata moderadamente à esquerda do centro; meio sem graça nessa frente, se você me perguntar."

"Há alguma frente na qual ele não seja tão ameno?" perguntou Keri, deixando a questão pairando no ar.

"Ah, bem, agora estamos no reino do humor e das indiretas, as quais eu não posso confirmar definitivamente."

"Deixa disso, Mags. Estou trabalhando contra o tempo aqui."

"Muito bem," suspirou Mags, pretendendo estar relutante em compartilhar. "Ele é um cachorro, Keri. Ou pelo menos ele era. Ele tinha uma reputação de notório sedutor. Ele é casado com um casal de filhos, eu acho. Mas era bem sabido que ele teve vários casos nos sets de gravação e em outros lugares."

"Você disse era?" notou Keri.

"Meu entendimento é de que ele limpou seus atos alguns anos atrás, como se em antecipação das suas aspirações políticas futuras. Seja qual for a razão, não tenho ouvido nada sobre esse assunto em algum tempo."

"Algo mais?"

"Sim, ele é realmente um sonho em My Stars. Você realmente deveria dar uma olhada se ainda não o fez."

"Obrigada, Margaret."

"Por nada, Keri. E você deveria saber que, em geral, quando você liga para uma repórter e faz esses tipos de perguntas, é sábio desativar a gravação primeiro. Da próxima vez, não vou deixar passar."

"Anotado."

"Tchau, querida. Tchau, Raymond."

"Até mais, Ruiva," disse Ray.

Keri desligou e olhou para Ray.

"O que você acha?" ele perguntou.

"Acho que nossa cesta de suspeitos acabou de ficar muito maior," ela disse.


CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Ao passarem com o carro pelo portão de segurança subindo o terreno de Jonas até a casa, Keri não podia deixar de notar como o tamanho do lugar fora inteligentemente escondido. Por causa de todas as folhagens, nada era visível da rua. Mesmo imagens aéreas de helicóptero enganariam, já que muito da casa estava coberto com uma marquise de árvores altas.

Mas a casa era gigantesca. Quando Ray e Keri saíram do carro, um assistente já estava andando em direção a eles, usando um fone de ouvido e segurando uma prancheta. Um cara baixinho e forte, com vinte e alguns anos usando óculos de arame se apresentou como Jeremy.

"Roan é em seu escritório trabalhando na preparação do local," disse ele. "Posso levá-los lá agora".

"Pensei que ele estaria se preparando para a arrecadação do governador," disse em devaneio enquanto eram levados pela porta da frente até um corredor comprido.

"Ah, já está tudo pronto," disse Jeremy casualmente, "pelo menos na parte dele. Tudo o que resta agora é finalizar o buffet, manobrista, segurança, esse tipo de coisa. Ele deixa isso para os profissionais."

Jeremy se movia em um passo de marcha impressionando e foi difícil pra Keri acompanhar. Ela mal teve tempo para observar características importantes da casa, embora estivesse bem certa de que uma parte da arte nas paredes poderia estar em um museu.

"Então ele está se preparando para o filme que ele está dirigindo?" perguntou Ray, incapaz de se conter.

"Sim, começa a ser gravado no mês que vem na Estônia," Jeremy respondeu como se nem ao menos fosse um segredo. "Ele está tentando fechar a aprovação de alguns lugares de gravação difíceis."

Eles entraram em uma pequena sala de espera fora do que claramente era o escritório de Jonas.

"Apenas me deem um momento para dizê-lo que vocês estão aqui," disse Jeremy, "Posso servir algo para vocês, a propósito? Café, chá, água?"

"Não, obrigado," Ray e Keri disseram em uníssono.

Trinta segundos depois eles foram conduzidos para o escritório de Roan Jonas, uma sala maravilhosa com carpete espesso, composta principalmente de madeira escura e janelas. Jonas foi à frente para cumprimentá-los e Keri percebeu porque os grandes olhos convidativos de Tara pareciam tão familiares na foto que ela havia visto. Eram exatamente os mesmos do pai famoso.

"Prazer em conhecê-los," disse calorosamente, apertando suas mãos. “Sou Roan. Por favor, sentem-se."

"Obrigado," disse Ray enquanto ambos sentavam-se nas cadeiras de pelúcia em frente à sua massiva mesa de mogno. Keri se acomodou enquanto Jonas retornava para seu assento. Apesar de todos os seu escárnio mais cedo, ela teve que admitir que o homem era atordoante, mesmo em jeans e uma camisa de botões casual.

Ele parecia estar em seus quarenta e poucos anos, mais ou menos um metro e noventa e talvez oitenta e cinco quilos. Seu cabelo preto estava salpicado de cinza que ele parecia auto depreciativamente desinteressado em esconder. Ele tinha o princípio de rugas que ondulavam charmosamente quando ele sorria largamente, o que parecia ser frequente. Mas, mais que sua beleza física, ele exsudava uma onda de autoconfiança sem esforços que era seguro sem escorregar em arrogância.

"Talvez vocês possam me contar sobre o que isto se trata," Jonas disse ao se sentar. "O contato da polícia foi um pouco misterioso no telefone. Ela apenas disse que era relacionado a uma ameaça feita contra mim."

Ray e Keri se entreolharam, debatendo quem deveria ir primeiro. Keri começou a abrir a boca quando seu parceiro mergulhou. Na verdade, ela preferia assim, parcialmente para que ela pudesse observar Jonas mais de perto. Mas parcialmente, ela odiava admitir, porque ela não queria ser o arauto da má notícia.

"Gostaríamos de manter essa conversa confidencial, Sr. Jonas," ele disse, olhando em direção a Jeremy.

"Claro. Você poderia nos dar alguns minutos, Jeremy?"

Se Jeremy se sentiu posto de lado, ele não demonstrou. Ele saiu, fechando a porta sem uma palavra.

"Temo que a ameaça com a qual lidamos não seja a seu respeito," disse Ray. "Mas sua filha, Tara, está desaparecida, Sr. Jonas."

"O quê?" ele perguntou, como se não tivesse ouvido as palavras corretamente.

"Sua filha estava participando de um evento de iniciação em um sororidade na noite passa," Ray disse lenta e claramente. "Ela foi deixando em uma estrada na montanha em Malibu por volta das dez da noite e não foi vista em quinze horas."

"Vocês tentaram ligar para o celular dela?" perguntou Jonas, suas palavras pareciam calmas, mas seus olhos indicavam que ele estava tendo problemas em processar o que foi dito.

"Encontramos o telefone dela logo ao lado da estrada," disse Keri. "Temos equipes procurando por ela agora em toda a área. E sabemos que é muito para absorver, Sr. Jonas. Sentimos muito em jogar isso em você tão repentinamente. Mas não sabíamos, até muito recentemente, que Tara era sua filha. Então nós não havíamos considerado a possibilidade de um rapto de alguma forma relacionado... com você."

"Comigo?"

"Precisamos considerar que alguém possa estar usando Tara para atingi-lo. Alguém foi até você recentemente, pedido dinheiro ou fazendo qualquer outro tipo de demanda?"

"Não. Nada. Ninguém..." ele olhou para Keri. "Tem certeza de que era Tara? Talvez tenha sido um erro e era uma garota diferente?"

"Temos certeza, Sr. Jonas," ela disse. "Desculpe-me. Eu sei que é muito. Mas precisamos de algumas coisas de você. Quero que você pegue uma caneta e um pedaço de papel para anotar. Descobri que escrever as coisas ajuda."

"OK," Jonas disse displicentemente enquanto pegava uma caneta e um bloco de notas. Ele olhou para ela novamente, aguardando instruções.

"Uma vez que terminarmos," ela disse, "eu quero que você escreva uma lista de todos na sua vida profissional e pessoal que possam ter uma vendeta contra você por algum motivo. Você pode não ter recebido um pedido de resgate ainda. Mas ainda é possível que você receba. Precisamos estar preparados para isso. Nós vamos ter uma equipe colocando escutas nos seus telefones caso aconteça. OK?”

"Sim," ele disse. Ela o viu escrever as palavras "lista de inimigos" e "escutas telefônicas". Pelo menos ele estava funcional nesse nível. Ela continuou.

"Certo. Eu entendo que isso deve ser sofrível. Mas preciso que me explique por que Tara mudou de nome e manteve sua identidade familiar escondida das pessoas na faculdade."

Jonas suspirou profundamente. Ele pareceu encontrar algum relance do seu antigo eu por um momento.

"Ela disse que era porque ela queria ser ela mesma, fora minha fama, e essa era a única maneira que ela poderia conseguir isso. Mas não era a razão real."

"Qual foi o motivo real?" perguntou Keri gentilmente.

Jonas abaixou a cabeça, incapaz de fazer contato visual.

"Fui eu," ele disse, sua voz embargando ligeiramente. “Ela disse que tinha vergonha de mim. Quando ela tinha dezesseis, ela me viu com... alguém que não era a mãe dela. Ela nos surpreendeu. Ela havia escutado histórias antes disso. Mas ela sempre pode ignorá-las, como minha esposa fizera por anos. Mas depois daquele dia, ela não podia ignorá-las. Ela não falou comigo durante três meses e quando ela o fez, foi para me entregar a papelada, mudando o nome dela. Ela disse que não poderia suportar compartilhar o mesmo nome que eu, isso a manchou."

"Então você assinou?" perguntou Keri.

"Assinei. Ela disse que precisava saber que nós não compartilhávamos mais essa conexão, mesmo que ela não começasse a usar o nome 'Justin' oficialmente até que entrasse na universidade."

"As coisas não melhoraram então?" perguntou Ray.

"Na verdade não. Depois disso, ela conversava comigo ocasionalmente, apenas perfunctoriamente. Minha esposa exigiu saber o que havia acontecido, mas nenhum de nós iria dizer. Acho que ela sabia mesmo assim. Ela só não admitia. Irmão mais novo de Tara era alheio na maior parte, graças a deus. Mas isso acabou com o resto de nós. Eventualmente ela disse que iria para a LMU. Dissemos que pagaríamos e concordamos em fazê-lo através de uma Ltda. que ela criou em Delaware para que meu nome não estivesse envolvido. Foi muito impressionante na verdade, quão organizada ela era."

"Quando foi a última vez que a viu?" perguntou Ray.

"Ele esteve aqui em fevereiro para o aniversário do irmãozinho. Ela estava pensando em voltar volta neste fim de semana para a Páscoa, mas não pode vir por causa de algum evento da sororidade. Acho que era isso."

Eles o polvilharam com algumas outras perguntas, nenhuma das quais revelou qualquer coisa nova. Eventualmente ele perguntou uma questão própria.

"Eu deveria contratar um investigação?"

"Eu não faria isso a esta altura, Sr. Jonas," disse Ray. “No momento, você tem os recursos do LAPD à sua disposição. Um investigador particular provavelmente só atrapalharia. E sinceramente, quanto mais abafado mantivermos isso por agora, melhor para Tara. Uma vez que o boato de que a filha de uma estrela de cinema está desaparecida se espalhar, vai ser um frenesi na mídia. Essa área toda vai estar coberta de curiosos. Eu não diria a qualquer um, a não ser que você precise absolutamente."

"Foi assim que você lidou com as coisas, Detetive Locke?" Jonas perguntou a Keri, indicando pela primeira vez que ele sabia quem ela era. O olhar dele sugeria que ele estava esperando que ela pudesse dá-lo algum tipo de garantia. Infelizmente, anos de experiência profissional e pessoal haviam ensinado a ela que oferecer esperança, justificada ou não, normalmente era um erro.

"Eu não era famosa, Sr. Jonas," ela disse plenamente. “Então nossas situações não são realmente comparáveis. De qualquer forma, acho que o conselho do meu parceiro é o melhor caminho a seguir.”

"Você irá me dizer se isso mudar?" ele disse.

"É claro," Keri o prometeu enquanto se levantava. "Vamos solicitar algumas unidades locais para ficar com você se estiver tudo bem-um na casa e outro fora."

"OK. Posso fazer uma pergunta a mais?”

"Absolutamente," disse Ray.

“Você disse que ela foi deixada em Malibu. Onde exatamente?"

“Na Mulholland Drive,” disse Ray “logo depois do acampamento de Carrillo Beach.”

“Oh,” respondeu Jonas claramente desapontado.

"A colega de quarto de Tara disse que sua família costumava fazer trilhas em Malibu," notou Keri. "É perto de aonde vocês normalmente iam"?

"Não, não exatamente. Digo, estivermos lá. Mas nós passávamos mais tempo na Área de Recreação Nacional das Montanhas de Santa Mônica. Isso fica a quilômetros do acampamento. Uma vez nós trilhamos toda a Backbone Trail-cento e dez quilômetros-em um longo final de semana," Ele descarrilhou se lembrando.

"Deve ter sido divertido," disse Ray suavemente, tentando trazê-lo de volta ao presente.

"Foi. Eu lembro que o local favorito dela era o Sandstone Peak-o ponto mais alto das Montanhas de Santa Mônica, ela costumava dizer. Ela adora lá, porque ela podia sentar por lá em um dia claro e ver desde as Ilhas Channel no Pacífico até as Montanhas San Bernardino cobertas de neve. Eu também adorava. Eu sempre assumi que ela eventualmente me perdoaria e nós conseguiríamos fazer isso de novo algum dia.”

Keri queria dizer a ele que talvez ele fizesse. Mas, novamente, a experiência sugeriu que não era uma boa ideia. Tão frequentemente quanto não, os pais eram deixados com lembranças e arrependimentos. Eles deixaram Roan Jonas sozinho no seu estúdio e seguiram Jeremy silenciosamente, que os levou de volta ao carro.

Quando entraram, Ray verificou uma mensagem que ele perdera quando estavam no escritório de Jonas.

"Era Hillman. Ele disse que os botes da Guarda Costeira não encontraram qualquer coisa na água nos quilômetros próximos ao acampamento. Helicópteros têm procurado na floresta em quilômetros ao redor e não se depararam com coisa alguma. Eles irão continuar procurando por mais uma hora mais ou menos, mas então vão parar antes que fique escuro. E as câmeras do acampamento não foram de ajuda alguma. Nenhuma delas estava apontada para a área onde Marla e Nicky disseram que encontraram com Tara. Hillman acha que vamos ter mais sucesso colocando os recursos em uma possível ligação de resgate."

"O que você acha?" perguntou Keri.

"Acho que se alguém estiver segurando o resgate, Jonas já teria recebido uma ligação."

"Ele não parece um cara que recebeu essa ligação," disse Keri.

"Verdade," concordou Ray. "Mas ele é um ator ganhador do Oscar. Se ele acreditasse que a vida da filha dele dependesse em enganar os policiais, talvez ele decidisse fazer a atuação da vida dele.”


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Keri e Ray andavam ao longo da calçada, lambendo as casquinhas de sorvete, com Evelyn dez passos à frente deles. Agora há mais de três meses livre do seu cativeiro, sua filha ainda tinha a capacidade de se maravilhar com as menores coisas.

Ela parava em lojas e mirar a vitrine com tanta intensidade que ela quase assustador. Ela encarava um escritório de advocacia ou uma barbearia com o mesmo foco de uma loja de brinquedos.

Keri achava adorável enquanto tentava não pensar muito sobre o porquê de Evelyn achar tudo tão fascinante. Apesar disso, observá-la fazia Keri esquecer a fealdade e a incerteza do dia. Hillman dissera que não havia mais nada para ela fazer naquela noite e ela decidiu acreditar nele. Ela não tinha pensado sobre o trabalho mais do que apenas fugazmente desde quando pegou Evelyn.

Aparentemente, o primeiro dia dela na escola havia ido bem. Ninguém a zombou, pelo menos não em frente a ela. As pessoas foram legais, mas nem tanto para tornar as coisas estranhas. Jess fora ótima, apresentando-a para os outros e referindo-se a elas como "as gêmeas sobreviventes," Aparentemente ela era uma pequena celebridade.

"Eu queria mostrar algo para você," Ray disse a Keri quando ele estava certo de que Evelyn não podia ouvir, entregando vários envelopes fechados. Eram todos destinados a ela "aos cuidados de Raymond Sands" nesse endereço.

"O que são?" ela perguntou enquanto os abria. Dentro de segundos, ela percebeu que era brochuras dos departamentos de Criminologia da UCLA, USC e várias outras universidades locais.

"Eu lembro você falar sobre os velhos dias quando você costumava ensinar e eu pensei que fosse algo que você quisesse reconsiderar novamente em algum ponto."

“Eu estava apenas relembrando, Ray-não tentando sugerir nada. Você está tentando se livrar de mim, parceiro?" ela perguntou, cutucando-o de brincadeira nas costelas.

"Nem em um milhão de anos," ele disse. "Eu apenas sei que você está preocupada com o assunto da custódia e como ser uma policial se encaixa nisso e, bem, só queria que você soubesse que eu estou bem com tudo o que você precisar fazer. Este é apenas meu jeito de dizer que estou na retaguarda."

"Isso é muito doce e visionário da sua parte, Detetive Sands. Você sabe, você poderia estar na minha retaguarda mais regularmente se nós retrabalhássemos nosso arranjo de moradia um pouco.”

"Isso é outra coisa que eu estava esperando para discutir com você uma vez que você resolvesse a coisa toda da custódia."

"Parece que temos muitos problemas para discutir, Gigantor," disse Keri, levantando-se na ponta dos pés para beijá-lo, sujando a boca dele inteira com gotas de chocolate.

"Parece que sim, Dory," ele concordou, beijando-a de volta. "Você já está pronta para dizer a ela? Ou você quer esperar um pouco mais?"

Keri olhou para a filha e suspirou, sabendo que o agradável devaneio da noite estava prestes a terminar.

*

Evelyn fingiu não olhar pela janela para os computadores no escritório de contabilidade, fingindo não vê-los se beijarem. Não porque ela estivesse com vergonha; ela já havia passado isso há tempos. Mas porque toda vez que eles a viam observando, eles paravam. E ela gostava que eles se beijassem. Ela podia ver que isso fazia sua mãe feliz, o que ela merecia, especialmente considerando os últimos meses.

Ela ainda não tinha certeza do que a fez fazer isso, cortar os pulsos naquela noite, três meses atrás. Parte, é claro, foi a discussão com o pai. Ele foi terrível-a maneira que ele falava sobre tirá-la da sua mãe.

Mas era algo além disso, alguma coisa que ela ainda estava tentando entender. A maneira como ele tentou simplesmente controlar sua vida daquele jeito, quando ela finalmente achou que tivesse voz, lembrou-a dos homens cruéis que a haviam passado por sua vida nos seis anos anteriores.

Obviamente não era a mesma coisa. Mas sentia como se fosse. E isso a levou para um lugar escuro do qual ela mal podia manter distância. O sentimento vazio, vergonhoso e desamparado que ela sentiu todos aqueles anos estouraram de volta dentro dela e ameaçaram consumi-la. E, por um momento, ela pensou que, se ela poderia fazer o mundo ir embora, pelo menos esse horrível sentimento iria embora.

Era complicado e confuso e ela ainda não entendia totalmente. Mas Evelyn se sentia muito bem depois de hoje. Com sua mãe e Ray e Mags e Jessica e Susan e Rita e seu terapeuta, cujo nome era Joan, mas que deixava chamá-la de Jojo, ela sentia que tinha um time do lado dela, pronto para lutar por ela quando as coisas ficassem difíceis.

"Ev," disse sua mãe, a chamando. "Estou feliz que você tenha tido um dia tão bom hoje, querida. Espero que amanhã seja bom também, mesmo que possa ser um pouco mais... desafiador."

"O que você quer dizer?" perguntou Evelyn, sentindo um pocinho de ansiedade surgir no seu estômago, logo ao lado de onde a úlcera que o médico diagnosticou costumava ficar.

"O tribunal disse que seu pai está autorizado a visitá-la. Eu não contei a você até agora, porque eu estive lutando, tentando prevenir que isso acontecesse. Na verdade eu adiei isso duas vezes. Mas o tribunal finalmente disse que você é obrigado a vê-lo amanhã."

"Amanhã?"

"Sim. Sinto muito. Vai ser supervisionado por alguém escolhido pelo tribunal. Eles vão levar você até lá e ficarão na casa com você o tempo todo. E Mags concordou em buscá-la, já que ela mora bem perto. Não vai ser tão ruim."

"Não tão ruim quanto da última vez, você quer dizer?" Evelyn disse friamente, deixando a declaração pairando no ar.

"Doc..." sua mãe começou a dizer, mas Evelyn deu-lhe as costas e saiu andando à frente, jogando que restava do seu sorvete no muro de um prédio próximo.

Na janela, ela viu sua mãe ir atrás dela, antes que Ray colocasse uma mão no ombro dela e dissesse baixinho, "Dê um minuto a ela."

É. Dê-me um minuto. Não mereço um minuto para lidar com você me mandando de volta para aquela casa de vampiros?

Ela saiu na frente mais um pouco antes que se cansasse e decidiu se sentar em um banco. Olhando para trás, ela viu sua mãe e Ray andando lentamente até ela. Uma van que estava descendo a rua devagar parou próxima a ela e o motorista olhou na direção dela espremendo os olhos. Repentinamente, ela escutou passos e olhou acima.

Sua mãe estava correndo em sua direção, movendo-se mais rápido do que ela vira desde... aquele dia quando ela foi raptada, carregada pelo parque e sua mãe sumia na distância apesar de correr atrás dela.

Um segundo depois, sua mãe estava em frente da van, arma apontada para o motorista.

"Mãos pra cima!" ela gritou.

"Que di...?" disse o homem, levantando as mãos, sua face era um misto de choque e terror.

"Quem é você?" sua mãe demandou. "O que você está fazendo vagando por esta rua?"

Ray a alcançou e inclinou-se para perto.

"Abaixe sua arma, Keri," ele disse. "Olhe para o logo na van."

Evelyn olhou para o adesivo. Estava escrito "Delivery Dude."

"Responda a minha pergunta," sua mãe exigiu do cara, sua voz ainda dura, sua arma ainda apontada para ele.

"Estou fazendo uma entrega," disse o cara. "Eu deveria entregar uma insulina, mas não consigo dizer se o número nesse endereço é um três ou um oito. Estava apenas tentando ver qual lugar parece mais com uma residência, moça."

"Então você para em frente a uma garota adolescente?"

"Eu nem reparei nela," ele disse. "Estava olhando para os números, eu juro."

"Keri," Ray murmurou sob a respiração, "você poderia, por favor, colocar sua arma no coldre e caminhar com sua filha, que parece que está prestes a fazer xixi na roupa. Vou tentar desarmar essa situação. Encontro você de volta no apartamento."

A mãe de Evelyn colocou a arma de volta no coldre e fez sinal para Evelyn.

"Vamos," ela disse firmemente e começou a andar para casa. Evelyn se levantou e se juntou a ela sem falar.

Atrás dela, ela podia ouvir Ray conversando com o cara da entrega com voz amigável.

"Nós tivemos uma onda de abusos na vizinhança e todo mundo está no limite. Você só estava no lugar errado na..."

Nem Evelyn, nem sua mãe falaram pelo resto do caminho para casa.


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

A manhã estava desconfortavelmente quieta. Ray saiu mais cedo para ter adiantar o caso. Keri planejava encontrar com ele na delegacia depois de deixar Evelyn nos Rainey. Ela lembrou a ela que a mediadora da custódia iria pegá-la diretamente da diretoria na escola, mas fora isso ela não mencionou qualquer outra coisa sobre a visita a casa de Stephen Nem Evelyn. Ambas disseram um superficial "eu te amo" antes de a sua filha bater a porta com força.

Eu acho que ter uma filha adolescente irritada e mal-humorada é um tipo de progresso.

Empurrando o pensamento para fora da cabeça, Keri tentou focar-se no dia adiante. Ela sabia que não foi feito progresso no caso Tara Justin também chamado de caso Jonas ou ela teria sido avisada. Roan Jonas agora tinha escutas em todos seus telefones e em cada meio de comunicação online. Se alguém entrasse em contato, eles saberiam. Isso é, assumindo que alguém ainda não tenha feito.

Percebendo que havia pouco que ela poderia fazer nessa frente neste momento, Keri revisou mentalmente suas conversas com os amigos da Tara no dia anterior procurando por pistas que ela pode ter deixado por resolver. Ela repassou a conversa com Alice na cabeça, mas nada lhe saltou à mente.

Então, ela fez o mesmo com Jan. Ao repassar pelo o que a garota disse, ela recordou vagamente sobre como um comentário que ela havia feito sobre a estrada da montanha lhe pareceu estranho. Mas ela, de alguma forma, ficou distraída na hora e perdeu o fio da meada antes que pudesse apanhar o que era.

Mas agora, com um dia de distância, ela se lembrou sobre o que ela achou peculiar. Ela discou o número de Jan, ficou na caixa postal e deixou uma mensagem instruindo que ela ligasse logo que possível. Ela considerou ir direto ao campus, mas decidiu que ela melhor esperar. Além disso, ela precisava conferir a delegacia e ver o andamento da investigação.

Ela chegou logo quando Hillman chamou todas as unidades para reunião de ordem do dia. Infelizmente, ele não tinha muito que compartilhar. As escutas nos celulares e dispositivos de Jonas estavam no lugar, mas não revelaram coisa alguma. A Guarda Costeira e a equipe de Busca e Resgate estavam continuam as caçadas novamente nessa amanhã. Incrivelmente, nada sobre o desaparecimento da maior estrela de cinema no mundo havia vazado para a imprensa. Essa era a essência.

Keri notou Jamie Castillo lhe dando olhares de soslaio ocasionais durante a breve reunião e imaginou que nova afronta ela cometera para ofender a agente. Ela entendia que Jamie estava puta por ser deixada de fora quando Keri e Ray decidiram simular a morte dela, mas isso havia sido há três meses.

Por quanto tempo essa mulher mantém rancor?

Quando a reunião acabou, Castillo foi até ela.

"Posso falar com você por um minuto?" ela perguntou.

"Se for sobre eu não lhe contar antes da invasão do Vista, podemos lidar com isso outra hora? Eu tenho uma pista que eu quero acompanhar."

"Não é sobre isso," sussurrou Jamie, olhando furtivamente ao redor enquanto falava. "É importante".

"OK," disse Keri. Ela seguiu Jamie para fora da sala. Ray bateu os olhos quando ela passou e levantou as sobrancelhas inquisitivamente. Ela deu de ombros em retorno.

Castillo a conduziu pela porta de trás para o pequeno pátio coberto que servia como área de fumantes para a divisão. Acontecia que era situada próxima à unidade de ar condicionado mais barulhenta da delegacia. Jamie ficou tão perto do AC quanto possível e esperou. Quando Keri estava a menos de um metro de distância, ela finalmente se inclinou e começou a falar.

"Você sabe que IA reabriu o seu caso, certo?" ela perguntou tão baixo que Keri teve que colocar a orelha dela quase nos lábios de Jamie para ouvi-la. Ela assentiu um sim em resposta.

"Bem, eu estava falando com um dos meus informantes na noite passada, um cara que é especializado em fornecer drogas para pessoas poderosas que não querem arriscar exposição. Ele operava no limite do mundo que Jackson Cave dominava, esbarrava com alguma daquelas pessoas, nunca interagiu de verdade, nunca quis. Sabe o que eu quero dizer?"

Keri sentiu uma tensão similar no peito, uma que sempre emergia quando ela achava que um bocado relacionado ao caso de Evelyn estava por vir.

"Eu sei o que você quer dizer," ela respondeu tão calmamente quanto podia.

"Bom, esse cara diz que ele vem escutado que um grande político local estava fundo com Cave. Ele acalmou as águas para ele em troca de dinheiro, garotas, drogas-você diz. Aparentemente, esse cara político estava preocupado com ele fosse exposto quando Cave foi. Ainda sim ele escapou. Mas agora que estás de volta na ativa, ele está preocupado que você comece a cavar para ver com quem Cave estava trabalhando. Então, ele está usando toda sua influência para te dispensar de vez. Por isso o caso do AI foi reaberto de repente ontem quando você começou a trabalhar de novo."

"Seu cara tem algum palpite sobre quem é esse político?" Keri perguntou.

"Não. Eu pressionei forte e ele genuinamente não parecia saber. Ele disse que se isolou de todos naquele mundo depois da invasão do Vista, então tudo o que ele ouve agora é em terceira ou quarta mão. Mas faz sentido, certo?"

Keri olhou profundamente para Jamie. A jovem policial estava mirando-a de volta com nada além de preocupação nos olhos. Keri nunca suspeitou de verdade que ela fosse o infiltrado. E se ela fosse, trazer o fato que alguém poderoso ainda estava atrás de Keri era uma jogada estranha. Isso arriscava a expô-la.

Além disso, Jamie havia colocado a própria vida em risco mais de uma vez para salvar Keri. E ela lhe disse uma vez ela se juntou a polícia após ser inspirada ao ver Keri encontrar um garoto desaparecido em seu bairro, quando nenhum outro policial levou seu desaparecimento a sério.

É hora de fazer uma escolha. Confie nessa pessoa ou não. Decida, Keri.

"Jamie, preciso lhe dizer uma coisa—algo que provavelmente deveria ter feito há muito tempo."

"O quê?"

"Há um infiltrado na nossa unidade."

Castillo deu um passo atrás como se fosse eletrocutada. Após levar um momento para se recompor, ela se inclinou novamente, seus olhos mais arregalados do que Keri havia visto.

Ela começou a dizer Castillo tudo, desde a visita na prisão para o fantasma onde ele a alertou sobre um rato, a decisão após a queda do penhasco de fingir sua morte para que o espião não tivesse algo para passar ao para seu contato. Quando ela acabou, Jamie demorou alguns segundos para processar tudo, então fez uma pergunta.

"O que fazemos agora?"

"Eu tenho uma ideia, mas você não vai gostar," Keri disse.

"O que há de novo? Desembucha."

"Você pode olhar nos registros pessoais de todos na equipe? Ver se alguém tem uma conexão pessoal com algum dos políticos locais? Seria provavelmente do início da carreira, antes que eles entrassem a Divisão do Oeste de LA, muito menos para a Unidade de Pessoas Desaparecidas."

"E sobre o financeiro?" perguntou Castillo.

"Não. Eles são mais difíceis de acessar e iria atrair muita suspeita. Sua busca pode ser marcada de alguma forma. Busca pessoal é inócua. Pode ser por qualquer motivo. Se algo aparecer, informe para mim ou para Ray. Mas ninguém mais, OK?"

"OK. E Keri?”

"Sim?" disse Keri apreensivamente.

"Eu entendo porque você fez isso, porque você me deixou no escuro. Mas você poderia ter confiado em mim."

"Eu deveria. Mas eu estava em um lugar bastante intenso. Espero que você possa entender. E talvez me perdoar um dia."

"Já feito," Jamie respondeu sorrindo, "apesar de você pagar a próxima rodada quando tudo isso acabar."

"Parece justo."

Elas voltaram para dentro. Jamie foi para sua mesa. Keri foi para a dele quando notou que tinha uma mensagem no celular. Ela deve ter perdido, porque o ar condicionado era muito alto. Era de Jan, retornando a ligação.

Ela agarrou Ray e eles entraram na sala de conferências e fecharam a porta, onde ela discou o número de Jan. Logo antes de apertar "enviar" ela olhou para ele e falou.

"Contei tudo para Castillo. Ela está a bordo."

Por um segundo, Ray pareceu surpreso. Então seu rosto abriu um largo sorriso e ele assentiu.

"Já era tempo," ele disse e deixou por isso.

O telefone tocou duas vezes antes de Jan atender. Keri fez a pergunta antes que a menina pudesse dizer alô.

"Jan, é a Detetive Locke. Você disse que os caras da fraternidade parceira surgiram com a ideia de dizer às garotas que 'todo mundo gosta descendo' como uma maneira de elas saberem para andar ladeira abaixo quando chegasse ao lugar de entrega, certo?"

"Peço desculpas, detetive," Jan disse, obviamente atordoada pela pergunta. "Eu sei que não foi muito fraternal. Sinto mal por isso, OK?"

"Isso não é o meu ponto," disse Keri. "Se os caras sabiam dizer a ela para descer o morro, então eles sabiam onde as candidatas seriam deixadas, certo?"

"Sim, eu acho."

"Se tratava de um ritual secreto da irmandade, por que os caras sabiam sobre isso?"

"Venhamos, Detetive," Jan disse defensivamente. "Era segredo, mas era um segredo aberto. Não somos a CIA. As irmãs falam com seus namorados."

"Então, quando os caras na fraternidade sabem?" perguntou Keri.

"Eu não sei. Você teria que falar com eles."

"Então acho que é isso exatamente o que vou fazer."


CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Parecia uma eternidade para Keri. Mas havia apenas uma hora depois que ela e Ray entraram na cozinha da casa não oficial da fraternidade, prestes a se dirigir a todos os membros. O reitor Weymouth havia sido surpreendentemente complacente quando Keri ligou e disse a ele que precisava.

Na verdade, a sua falta de combatividade a fez suspeitar que ele houvesse descoberto a verdadeira identidade de Tara Justin e estava desesperado para a menina ser encontrada antes que o caso aparecesse em uma história de tabloide que consumisse a universidade inteira. Ele prometeu que mensagens de emergência seriam enviadas para cada membro da fraternidade instruindo-os para estar em casa para uma reunião urgente às 10:00.

Estavam prestes a entrar na sala principal de reunião para se dirigirem aos caras quando um homem definido e musculoso com vinte e tantos anos e vestindo um casaco esportivo e jeans entrou na cozinha. Antes que ele sequer abrisse a boca, Keri soube que não iria gostar dele.

"Olá, Detetives," ele disse estendendo a mão. "Eu sou Gerry Brockenbock, professor assistente no departamento de ciência política. Sou Conselheiro Grego dos meninos. É o meu trabalho para servir como um mentor e intermediador para a fraternidade, sempre que eles interagem com a comunidade. Alguns dos caras me avisaram sobre esta reunião improvisada e pareceu ser o tipo de evento que se encaixa na descrição do meu trabalho. O que faremos hoje?"

Ele foi bem até essa última frase. Keri poderia dizer que Ray se sentia da mesma forma, porque ela viu suas costas endurecerem no mesmo momento em que ela sentiu sua própria coluna vertebral enrijecer. Ela podia sentir que ele queria falar primeiro e estava bem em deixá-lo. Mas quando ela olhou para ele, ele acenou com a cabeça para ela, como se dissesse: "Ele é todo seu."

"Bem, Gerry," ela respondeu, usando o tom que ela guardava para patrões abusivos, proprietários sem escrúpulos e outros babacas auto importantes com um pouco de poder e atitude demais, "nós vamos fazer umas perguntas sobre uma garota desaparecida aos meninos. Você vai estar sentado no canto, observando em silêncio, não interferindo."

“Detetive Locke, sim?” respondeu Gerry, cheio deu uma arrogância inesperada. "Tão bom te ver pessoalmente. Estou ciente das suas façanhas, claro. Oh, quero dizer suas façanhas na polícia, claro. Eu tinha ainda não havia entrado na universidade quando você estava construindo sua reputação pelas suas... façanhas aqui. Essas eu conheço pela tradição oral."

Ele deixou o comentário no ar, perguntando se Keri responderia. Ela não o fez, apenas deu um sorriso apertado, deixando-o continuar e vendo quão fundo ele cavaria. Ray, de pé ao seu lado, parecia sentir que ela tinha um plano e também ficou em silêncio.

"Não importa," Brockenbock continuou quando recebido com silêncio. "É claro vai oferecer qualquer ajuda que puder. Mas, como um orgulhoso ex-aluno dessa fraternidade e o conselheiro juramentado para esses jovens, eu vou servir como advogado deles nesta questão e não como uma planta em um vaso jogada no canto."

Keri se lembrou desse tipo de gente da sua vida acadêmica—o acadêmico jovem pomposo, que às vezes se considerava um Adônis do campus. Com toda a bajulação e as conversas até tarde da noite sobre Ayn Rand regada a uísque no bar dos funcionários, era fácil para homens assim perder a visão do resto do mundo. Mas mesmo em seus dias mais sombrios como professora, ela tinha mastigado estúpidos como Brockenbock no almoço. E depois de anos como policial por cima disso, ela estava lambendo os dedos.

"Gerry," ela disse, um sorriso doce no rosto. "Obrigado por nos informar de onde você está vindo. Agora, deixe-me dizer de onde eu estou vindo. Tenho uma adolescente desaparecida. Ela se foi há cerca de trinta e seis horas agora. Essa é a minha prioridade. Não dou a mínima sobre sua defesa juramentada. Todo cara naquela sala tem dezoito anos ou mais. Isso significa que eles são adultos e estão sujeitos a interrogatórios. Você não tem nada a dizer. Diabo, nem seus pais não têm voz nisso."

"Esta é uma universidade particular—"

"Cale-se, Gerry." Keri disse curta e grossa. "Isto não é a Embaixada Russa. Você não tem imunidade diplomática. Estamos em Los Angeles, Califórnia, e eu sou uma detetive da polícia de Los Angeles—fim da história. Então a menos que você seja um advogado—advogado deles—você não tem muita voz sobre como isto corre. E outra coisa, Gerry; apenas entre você e eu, eu não gosto do seu tom. Sua beligerância me faz pensar se você é o tipo de cara que ignora as leis de trânsito e as instruções de estacionamento. Eu estou querendo saber se eu preciso para atribuir um carro para manter um olho regular em você para certificar que você não é uma ameaça nas estradas. Tantas violações para veículos automotores em potencial lá fora, sabe, Gerry?"

Gerry olhou para ela, claramente furioso, mas não disse coisa alguma. Ainda sorrindo, ela continuou.

“Então, vamos naquela sala, Gerry. Meu parceiro e eu vamos conduzir nossa investigação como acharmos melhor. E você vai manter sua boca de defensor juramentado calada, a menos que queira que seu rabo de defensor juramentado seja jogado na prisão por interferir em uma investigação. E se você duvida que eu vou fazer isso, porque não verifica minhas... façanhas?"

Gerry ficou quieto. Ao lado dela, Keri podia ouvir Ray se esforçando para fazer o mesmo. Ele virou a cabeça e tossiu para cobrir as risadas.

*

Infelizmente, o encontro real com a fraternidade não agregou muito. Brockenbock fez uma breve declaração pedindo a todos que cooperassem antes que Keri desse as largas pinceladas na situação de Tara e perguntasse se alguém sabia de alguma coisa. Ninguém levantou a mão.

Depois disso, eles dividiram os caras em pequenos grupos e os questionaram, procurando por alguém que agisse fora do comum. Mas era impossível de avaliar quem estava se sentindo culpado e quem estava simplesmente nervoso ao ser questionado por um policial. Por fim, eles distribuíram alguns cartões de visita, escreveram seus números de telefone em um quadro branco e saíram.

"Isso foi um erro," disse Keri quando eles voltaram para o carro. “Se vamos interrogá-los, deveríamos ter feito isso formal e individualmente na delegacia.”

“Você quer arrastar sessenta garotos da faculdade para a divisão de West LA?” perguntou Ray. "Nós não temos a mão de obra para questionar todos eles, mesmo se soubéssemos pelo o que estamos procurando."

"Talvez não," Keri concordou, "mas isso foi inútil. Mesmo que alguém soubesse de algo, não era o ambiente onde eles se pronunciariam. Eu sinto que perdemos uma oportunidade aqui. Há uma conexão que estamos perdendo.”

Eles estavam no meio do caminho de volta para a delegacia quando ela recebeu uma mensagem.

"Dê uma olhada nisso," ela disse. "É de um dos irmãos-um cara chamado Logan Mattis. Ele está pedindo para nos encontrar no café da pista de boliche na Lincoln com a Manchester em dez minutos."

"Talvez não tenhamos perdido nosso tempo afinal," disse Ray esperançoso.

Keri e Ray haviam bebido um copo de café cada um e estavam no segundo quando Logan Mattis chegou. Alto e bronzeado com um embaraçado cabelo loiro manchado pelo sol que sugeria que ele fosse um surfista regular, ele passeava tentando parecer casual, mas estava evidentemente nervoso. Ele se sentou em frente a eles na mesa.

"Peço desculpas por não podia dizer nada na casa," ele disse timidamente. “Mas deveria haver um código entre os irmãos, sabe? Eu não sabia o quão longe os outros caras pensam que ele se estende, então eu não quis dizer coisa alguma em frente a eles."

"Nós entendemos," disse Keri. "Vamos obter informações da maneira que for possível, Logan. O que você sabe?"

"Não tenho certeza de que é algo importante, então quase não quis mencionar. Mas eu imaginei que, se não for nada, vocês serão capazes de descobrir isso muito rápido e ele não terá problemas sérios.”

"Você tem que nos dar mais detalhes do que isso, Logan", disse Ray, tendo dificuldade em esconder sua exasperação.

"É só que, não importa o que, eu estou dedurando um cara dirigindo bêbado. Vocês o prenderiam por isso?"

“Talvez nós dois devêssemos," Keri disse a ele. “Mas se isso é de duas noites atrás e ele não foi preso na hora, então não há muito que possamos fazer sobre isso agora. Se essa é a extensão do que esse cara fez de errado, então você não deve se preocupar em nos dizer o que você sabe.

"OK. Na noite da expedição, um dos caras estava muito bêbado e começou a falar sobre como ele ia seguir o juramento da sororidade até o ponto de largada na Mulholland, então buscá-las e conduzi-las ainda mais longe na estrada para que fosse mais desafiador, para mexer um poço com elas. Ele disse que a coisa toda era muito fácil, não como as coisas que temos que fazer."

"Ele fez o que ele disse?" Keri perguntou.

“Essa é a coisa, eu não sei. Ele estava falando sobre isso, especialmente em como Tara parecia metida, como se ela nem sequer estivesse preocupada com a Expedição. Quando eu soube, ele já tinha sumido. Ninguém mais pareceu notar. Ele poderia ter simplesmente ido para casa. Ele poderia ter ido encontrar com a namorada dele. Mas acho que ele poderia ter subido lá e feito o que ele estava conversando sobre."

"Parece que você está inclinado nessa direção, Logan," disse Ray. "Por algum motivo em especial?"

“É só que na manhã seguinte eu vi o carro dele. Ele estava estacionado em um ângulo maluco em duas vagas e parecia que havia derrapado algumas vezes. Se ele tivesse ido para o apartamento dele os da namorada dele, ambos são distâncias para se ir a pé. Então, isso me fez pensar que ele fora a outro lugar e que ele provavelmente estava bem louco no caminho de volta."

"Qual é o nome desse cara, Logan?" Keri perguntou baixinho.

“Taylor Hunt. Ele é um veterano. Ele é o nosso Rush Chairman.”

"Um cara bem poderoso no campus, eu presumo?" ela perguntou.

Logan assentiu.

"Você não faz ideia," ele disse e ela pode ouvir a ansiedade na sua voz. Foi preciso muito para ele vir se pronunciar quando ele poderia ter apenas ficado calado.

"Oh, eu tenho uma ideia ótima na verdade," ela disse. "Obrigado por nos contar, Logan. E faremos nosso melhor para mantê-lo fora disso."

"Obrigado. Não quero problemas. É só que Tara parece uma menina bem legal. Não quero que nada de ruim aconteça com ela.”

"Você está fazendo a coisa certa, Logan," Keri lhe assegurou. "Só mais uma pergunta. Quem é a namorada de Taylor? Vamos querer conversar com ela, caso ele a use como álibi."

"É uma menina chamada Jan, Jan Henley. É a irmã mais velha da sororidade de Tara. Foi como Taylor a notou pela primeira vez."


CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Keri, carregada de adrenalina, queria voltar para o campus e confrontar Taylor Hunt. Mas Ray a convenceu que eles deveriam pelo menos consultar Hillman antes de dar esse passo. Relutantemente, ela concordou.

"É uma boa coisa que vocês tenham voltado," disse Hillman depois que eles contaram-lhe. "Recebemos uma ligação de Roan Jonas há alguns minutos. Ele está ansioso e quer uma atualização pessoal. Eu ia mandar Brody e Castillo, mas ele está insistindo em vocês. Para ser honesto, eu estava hesitante em enviar Brody de qualquer jeito. Quem sabe que tipo de coisa inapropriada ele diria?"

"Sinto por ele, Tenente," disse Keri. "Mas não podemos largar uma possível pista para tomar conta de um pai preocupado, mesmo uma estrela de cinema. Não é um uso construtivo do nosso tempo."

"Ter certeza de que esse cara entre no jogo e não vá até a imprensa está muito longe de ficar de babá, Locke," disse Hillman com a voz no limite. "Pode ser o que previna que esse caso se torne um circo."

"Eu posso ir," interviu Ray, obviamente não querendo que as coisas escalassem. “Talvez ele se lembre de algo relevante que não tenha lembrado ontem. Keri, por que você não vai falar com o Hunt sozinho? Tenho a impressão que pode ser mais efetivo assim."

"Por quê?" ela perguntou.

"Ele parece um babaquinha rico com um cargo. Se ele vir um policial negro grande, intimidador e caolho, provavelmente vai se calar. Mas se for uma pequena policial MILF de aparência inofensiva conversando com ele, talvez ele abaixou a guarda um pouco."

"Que tiro," disse Hillman dando de ombros. "Por favor, apenas não vá de inofensiva a atacante sem justificativa, Locke. É o seu segundo dia de volta, afinal."

"Serei uma flor delicada," disse Keri, piscando os olhos de forma extravagante.

"Seria a primeira vez," Hillman resmungou.

*

Não foi difícil encontrar Taylor Hunt. Keri pediu para Patterson rastrear o sinal de telefone dele, que levou a um bar de esportes logo ao lado do campus no Lincoln Boulevard, chamado Tower Pizza. Enquanto ela estava por conta disso, ela o pediu para fazer um pouco mais de pesquisa para determinar algumas das atividades recentes de Hunt.

Keri achou Hunt sentado em uma mesa com outros três rapazes. Ele pareceu vagamente familiar de uma entrevista em grupo na casa da fraternidade, embora ela não se recordasse dele dizendo algo na época. De uma beleza comum, cabelos castanhos claros e um sorriso fácil que as garotas da faculdade provavelmente achavam atraente, todo o seu ser exsudava um ar de privilégio.

Ela ficou surpresa com quão barulhentos os caras estavam no meio de um dia de aula até que ela se lembrou de que a universidade estava fechada para o feriado. Pensando que isso poderia funcionar a seu favor, ela abriu um botão a mais do que o habitual em sua camisa, expondo um pouco mais do decote. Então, ela enfiou a camisa nas calças, de modo que o material ficasse colado ao seu peito. Finalmente, ela desfez o rabo de cavalo, pescou um batom raramente usado da bolsa e aplicou antes de caminhar até lá.

"Oi, Taylor," disse ela calorosamente, inclinando-se para perto e se curvando. "Posso falar com você por um minuto?"

Ele olhou para ele, reparando primeiro seu peito com olhos embriagados antes de piscar algumas vezes quando chegou ao rosto dela. Demorou alguns segundos para ele registrar de onde ele a reconhecia.

"Eu te conheço. Você é a detetive desta manhã."

"Isso mesmo. Como vai?"

"Ótimo. Você parece diferente de antes. Melhor."

"Acho que essa luz me cai bem. Você tem um minuto? Podemos falar em particular? Ou você acha mulheres mais velhas intimidantes?"

Um dos amigos dele deu-lhe uma cotovelada nas costelas e começou a buzinar ironicamente. Isso bastou para ele dar um pulo e segui-la até e uma mesa de canto, sua cerveja ainda na mão.

O garçom veio e Keri ordenou uma cerveja, que ela sabia que iria beber imaginou que deixaria Taylor à vontade.

"Então, Tara é irmã da fraternidade da sua namorada?" ela disse, mergulhando direto.

"Aham," disse Taylor.

"Então isso te faz seu irmão mais velho?" Keri perguntou, seu tom de paquera.

"Não sei quanto a isso. Digo, acho que meio que eu cuido um pouco dela, mas nada oficial."

"É por isso que você saiu para Malibu depois que Jan a deixou lá, para ter certeza de que ela estava indo bem na Expedição?"

"O quê?" perguntou Taylor, parecendo inquieto pela primeira vez. "Eu não..."

“Está tudo bem, Taylor. Eu já sei que você estava lá fora. Podemos rastrear registros de celular e o GPS no seu carro mostra que você estava lá. Eu só assumi que era para que você pudesse ter certeza que as meninas estivessem todas OK e que ninguém estivesse mexendo com elas. Certo?"

"Ah, claro. Quero dizer, é isso que eu ia fazer. Mas quando cheguei lá, não consegui encontrar as garotas. Eu acho que eles já tinham conseguido caronas de volta. Então foi meio que uma viagem a toa."

"Isso é uma pena, Taylor," Keri disse, colocando a mão em cima da dele com simpatia, antes de deixá-la deslizar sobre seus dedos e novamente sobre a mesa. "Mas você sabe o quê? Realmente ajudaria se você pudesse me mostrar onde você estava quando procurou pelas garotas. Estamos criando um mapa da última localização conhecida de Tara e saber onde ela não estava pode ajudar tanto quanto saber onde ela estava. Você acha que você poderia me ajudar com isso?"

"Assim, agora?" ele perguntou incerto.

"Claro. Não há tempo como o presente. Talvez possamos até pedir alguns frutos do mar e cerveja no caminho de volta. Além disso, não é como se você tivesse aula hoje, né? O que você diz? Se importa em ajudar uma moça?"

*

Cerca de quarenta e cinco minutos depois, ao passarem pela praia de El Matador, Keri notou que a agitação de Taylor parecia estar diminuindo um pouco. Ele não estava tão falante e seu humor se tornou levemente azedo.

Ela olhou para o relógio. Era logo depois das 3 da tarde. Isso significava que o conselheiro de custódia designado pelo tribunal estava conduzindo Evelyn para a casa de Stephen neste momento. Lutando com a forte vontade de mandar uma mensagem para sua filha dizendo que a ama, Keri, pelo contrário, focou a atenção no seu universitário cada vez mais desconfortável no banco do passageiro.

"Então você diria que você e Tara eram amigos?" ela perguntou.

"Colegas, eu acho. Não diria amigos. Quero dizer, ela era uma caloura e eu sou um veterano. Não é como se convivêssemos."

"Mas ela não parecia uma caloura, né?"

"O que você quer dizer?" Taylor perguntou com suspeita.

"Só estou dizendo que, para uma garota da idade dela, ela parecia muito ... madura. É justo dizer isso?"

"Eu não notei de verdade," disse Taylor bem na defensiva.

"Boa escolha, meu chapa," disse Keri com aprovação. "Eu aposto que Jan ficaria puta se ela pensasse que você estava de interesse na irmãzinha dela. A verdadeira questão é—Tara tinha interesse em você?”

"O quê?"

“Tipo, ela já deu uma olhada em você quando Jan não estava olhando? Quero dizer, você é o presidente da sua fraternidade, certo? Isso é um grande negócio. E você é muito fácil de olhar. Você está me dizendo que ela nunca tentou ficar com você? Nem uma vez?"

"Quero dizer, claro, ela me olhava algumas vezes," ele disse, como se ele odiasse ter o petisco arrastado para longe dele.

"Aposto que sim. Alguma chance de ela ter falado com você para visitá-la depois que Jan a deixasse, para que vocês dois pudesse passam um bom tempo juntos? Digo, não há olhares bisbilhoteiros lá em cima, certo?"

Taylor olhou para ela, como se estivesse decidindo se ela estava brincando com ele. Depois de um longo momento, ele respondeu:

"Talvez a gente tenha se encontrado."

"Ah, é?" disse Keri, mantendo seu coração repentinamente acelerado sob controle ao se focar na própria voz. “Isso é meio quente. Como foi?"

"Você não vai contar para Jan, certo?" ele perguntou.

"Não, claro que não. Como eu disse, nós só queremos mapear a última localização conhecida, esse tipo de coisa. Fora isso, eu sempre gosto de uma boa história de 'sexo na floresta'. Eu mesma sou divorciada, então posso usar o material de fantasia, sabe? Pode me chamar de Keri, a propósito."

Ela se sentia a beira do enjoo dizendo esse tipo de coisa, mas toda vez que ela o fazia, parecia que derrubava o garoto, fazendo as suspeitas dele se dissiparem, voltava a atenção dele para o peito dela. Era uma troca justa.

Ela viu o sinal para o Leo Carrillo Campground e sabia que o desvio estava iminente. Ela precisava que ele começasse a desembuchar rápido.

"Certo," ele disso, parecendo decidir que não havia perigo. “Depois que as irmãs pegaram as meninas, decidi segui-las. Meu primeiro plano era colocar algumas delas no carro e levá-las mais adiante na montanha, para tornar um pouco mais difícil. Elas são tão espertas."

"Bem", disse Keri, incitando-o ao sair da Pacific Coast Highway para Mulholland Highway. "Você já passou por coisa muito pior, tenho certeza."

"Exatamente. Então, quando eu cheguei lá, a única garota que eu pude encontrar foi Tara. Eu ia fazer a brincadeira toda, mas então, no último minuto, eu comecei a me sentir mal e ofereci uma carona de volta no lugar, assim ela evitaria a longa caminhada."

"Isso foi legal da sua parte."

"Eu sei. Então, estamos no carro, meio que conversando e uma coisa leva a outra. E de repente, estávamos fazendo."

"Uau," disse Keri, esperando que ela não estivesse soltando muito grosseiramente.

“Sim, foi bem da hora. De qualquer forma, como eu disse, depois me ofereci para levá-la de volta da montanha. Eu até disse que a levaria de volta ao campus se ela mantivesse em segredo."

“Então ela nem precisaria terminar o desafio?”

"Certo," disse Taylor. "Eu provavelmente fui longe demais com esse caso. De fato, ela disse não para tudo. Na verdade, ela me fez deixá-la de volta de onde eu a peguei. Ela disse que queria terminar o desafio de verdade, o que eu realmente admirei."

"Ela parece uma garota e tanto, Taylor."

"Sim, eu acho."

“Bem, estamos indo para lá agora. Então apenas mantenha seus olhos abertos e você pode apontar o local onde você a deixou. Isso realmente nos ajudará com nossa investigação, OK?”

“OK," ele concordou.

O carro ficou silencioso enquanto eles subiam pela estrada sinuosa. Keri roubou um olhar para seu telefone e viu que ela já não tinha qualquer recepção.


CAPÍTULO TRINTA E SETE

Evelyn estava sentada curvada no chão do banheiro, suas costas pressionadas contra a porta fechada, seu corpo se içando em soluços quase silenciosos. Levou menos de uma hora para que tudo desmoronasse.

Ela realmente tentou. A nomeada do tribunal, uma mulher de trinta anos chamada Carla, a pegara na escola e tentou fazer uma conversa fiada no caminho para a casa de seu pai. Ela explicou que a visita iria durar cerca de duas horas e que ela estaria na sala o tempo todo.

Que parecia ótimo, mas que acabou sendo apenas tecnicamente verdadeiro. Depois que eles têm em casa e acomodaram-se na sala de estar, Carla tirou o telefone dela e colocou seus fones de ouvido. Shalene e Sammy ficaram por cerca de dez minutos antes de ele ter que ir dormir, o que parecia bastante conveniente para Evelyn.

Seu pai foi agradável por cerca de meia hora depois disso-perguntando como era a escola, como eram seus amigos-e evitando completamente o assunto de ela tentar se matar depois de sua última visita. Mas por volta da marca de quarenta minutos, ele começou a falar, de maneira muito casual, sobre uma escola particular realmente grande na região.

Em seguida, disse que a irmã de Shalene tinha um filho que foi a um ótimo terapeuta—talvez ela gostaria de conhecê-lo. Ele também deixou escapar que eles estariam fazendo uma viagem em família para a Europa por volta de quatro de julho e ele adoraria que ela fosse. Infelizmente, isso não foi era até que a situação de custódia fosse resolvida.

E então ele estava perguntando como sua mãe estava lidando com estar de volta à força. Evelyn não mencionou o incidente na noite passada com ela apontando uma arma para um entregador. Finalmente, depois de um rápido olhar sobre a displicente Carla, ele disse como ele estava preocupado com ela, e como ele não a culpava pelo que aconteceu e sabia que ela só tinha dito e feito o que ela tinha dito e feito, porque a mãe dela havia virado ela contra ele.

Evelyn o encarou, sem saber se devia estar horrorizada ou zangada. Isso era o melhor que ele poderia fazer depois de não vê-la por três meses? Depois que ela cuidadosamente reconstruiu sua vida desde que tentou cometer suicídio? Para mergulhar de volta direto na mesma porcaria que a estragou em primeiro lugar?

Ela olhou para ele, não ouvindo mais suas palavras, tentando imaginar o homem com quem ela costumava se aconchegar para ler à noite antes de dormir. Onde aquele cara havia ido? Este homem ainda se parecia muito com aquele. Mas era como se sua alma tivesse sido sugada para fora e substituída por outra pessoa que ela não reconhecia.

A mãe dela era uma bagunça—um nervo de violenta emoção, disparada por um fio de cabelo. Mas, pelo menos, Evelyn ainda a reconhecia como a mesma mulher que a enfiara à noite na cama, trançava seu cabelo e cantava músicas bobas dos anos 80. Esse cara era um estranho.

E na próxima coisa que ela percebeu, ela estava correndo pelo corredor para longe dele. E então ela estava no banheiro trancado, com o pai batendo na porta, exigindo que ela abrisse. Ela podia ouvir Carla pedindo para ele se acalmar enquanto Evelyn tentava ligar para sua mãe. Continuava indo direto para o correio de voz, então ela ligou para Mags, que atendeu imediatamente. Ela teve problemas em explicar a situação, mas Mags pareceu entregar mesmo assim.

"Estou a caminho," ela disse. "Eu estarei aí em quinze minutos."

Ela estava lá em dez. Evelyn pode ouvi-la fora da porta, usando a sua inflexão de mel para tentar acalmar o pai dela, que parecia imune aos seus encantos. Mags pediu a ela para abrir a porta, mas ela não iria fazê-lo enquanto seu pai estivesse ali e ele recusava-se a sair.

Então Evelyn recebeu uma mensagem. Era de Mags. Dizia simplesmente: “Liguei para Ray. Aqui em breve. Aguenta, querida."

Dez minutos depois, ela ouviu a voz profunda de Ray. Ele parecia calmo, mas ela tinha começado a conhecê-lo bem o suficiente para perceber que, quando ele estava tão calmo, geralmente significava que ele estava fazendo tudo que podia para controlar sua raiva. Sua voz ressoou claramente através da porta.

"Esta visita acabou, Sr. Locke," ele disse, e Evelyn achou interessante é que ele não chamasse o pai dela de Stephen. “Margaret Merrywether levará Evelyn para casa, como fora acordado."

"Mas a visita deveria ser de duas horas!" seu pai insistiu.

"Foi encurtada," disse Ray uniformemente. "Certamente você não quer forçar sua filha a ficar se ela não está disposta. Se isso é um problema para você, fale com o tribunal."

"Pode crer que vou," sussurrou o pai dela. "Não ache que esse distintivo me assusta."

"Tenho certeza de que não, Sr. Locke," Evelyn ouviu Ray dizer antes a voz dele caísse quase para um sussurro. “Por que um distintivo assustaria um homem que é cego para sua própria filha tentando colocar sua vida de volta no eixo, que está tão preocupado com suas próprias necessidades que não pode ser incomodado com as dela, que a trancou em um banheiro depois de menos de uma hora em sua companhia? Mas você sabe o que eu aposto que te assusta? Meus punhos. E deveriam, porque se você fizer aquela garota sentir insegura novamente, você terá que lidar comigo. Estou sendo claro, senhor?"

Não houve resposta, mas alguns segundos depois ela ouviu o som de passos indo embora.

"Tudo OK para sair agora, querida," disse Mags.

Evelyn abriu a porta e se jogou nos braços abertos de Mags. Depois de um longo abraço, ela sentiu Ray pegá-la e levá-la para fora da casa. Ela manteve os olhos fechados o tempo todo.

*

"Eu acho que este é o lugar," disse Taylor, apontando para uma seção pouco chamativa do bosque, não muito longe de onde Keri havia encontrado o telefone de Tara.

Keri encostou o carro e saiu. Taylor estava agora quase completamente sóbrio e ela podia sentir que ele sabia que ele tinha cometido uma série de erros terríveis ao vir aqui e ser tão falante ao longo do caminho. Ela suspeitava que ele tivesse acabado de pegar uma seção aleatória de árvores na esperança de que Keri não encontrasse nada e eles pudessem voltar. O que ele não percebeu foi que ela desacelerou intencionalmente a meio quilômetro atrás, de modo que não havia como ir além desse ponto.

"Este é o local onde você fez sexo, ou este é o lugar onde você a deixou mais tarde?" ela perguntou.

"Que eu a deixei, eu acho?" ele disse, soando inseguro.

"Você transou no carro então?"

"Certo."

“Porque você disse que conversaram no carro, fizeram sexo e depois a deixou para que ela pudesse terminar o desafio. Então o sexo foi no carro? Ela definitivamente entrou no carro com você?"

"Eu acho que sim," disse Taylor. “Quero dizer ... para ser honesto, eu bebi um pouco naquela noite e alguns dos detalhes são um pouco nebulosos. Realmente importa?"

"Meio que faz, Taylor. Para nós acertamos onde é melhor procurar por Tara, precisamos saber qual foi o último lugar que alguém a viu e parece que você foi essa pessoa."

"Espere, o que você está dizendo?" ele exigiu. "Você está me acusando de algo?"

“Eu te acusei de alguma coisa, Taylor? Além de ser um bom rapaz que está tentando ajudar a encontrar uma garota desaparecida? Isso é o que você é, certo?”

"Sinto que você meio que começou a ficar com uma atitude meio babaca nos últimos minutos e eu não acho que isso seja legal."

"Eu não quero parecer babaca, Taylor. Eu estou tentando identificar os detalhes,” ela disse, levando-o na direção geral de onde ela achou o telefone. "Vocês poderiam ter feito por aqui?"

Ela viu como seus olhos seguiram os seus movimentos antes de piscar involuntariamente para outro ponto logo além em uma colina íngreme à direita. Ele se forçou a olhar para ela, mas Keri podia sentir seus olhos sendo atraídos de volta para o declive, como se estivessem sendo puxados por um imã invisível.

"Talvez tenha sido aqui?" ela ofereceu, vagando na direção para a qual ele estava tentando não olhar. Ela o viu endurecer enquanto ela se aproximava da área. Quando ela se aproximou, ela se certificava de manter um olho em ambos seu destino e Taylor. Ela deixou seu braço direito cair casualmente, roçando o fecho de seu coldre.

Mirando pela borda da colina, primeiro ela viu nada. Mas então, em uma área onde uma pilha de folhas parecia ter se acumulado, ela avistou o que parecia ser roupas-um par de jeans, um top de mulher e um par de tênis.

“Lá embaixo, Taylor?” Keri perguntou. "Parece certo?"

"Eu não tenho certeza. Como eu disse, eu estava bem bêbado. Não me lembro de muito na verdade, fora que ela estava realmente dando em cima de mim com força."

“OK, então talvez ela tenha te levado lá embaixo para que nenhum carro com faróis brilhantes visse o que ela queria fazer com você? É possível?"

"Parece possível," respondeu Taylor.

"Bem, vamos dar uma olhada, devemos?"

"É meio íngreme."

“Você conseguiu uma vez, Taylor. Não deveria um problema para você. Você é muito mais novo que eu, afinal. Você não quer ser superado por uma senhora de meia-idade, não é? O que seus irmãos diriam sobre isso?"

"Você disse que isso ia ficar entre nós," ele a lembrou, uma nitidez entrando em sua voz.

“Eu só estou te provocando, Taylor. Eu nunca contaria a ninguém que uma velhinha passou na sua frente."

Isso foi o suficiente para mandá-lo descer a colina à sua frente. Ele tropeçou algumas vezes, mas não caiu. Taylor estava tão concentrada em ficar em pé que ele não notou Keri estudando as roupas enquanto se aproximavam. Ela não gostou do que viu. Quando chegaram ao fundo dirigiu-o mais próximo a elas.

"Pegue os jeans pela barra," ela instruiu.

"Mas então vou colocar as minhas impressões neles," ele contestou. "Isso não vai contaminar a cena do crime?"

"Taylor, se você a ajudou a tirar essas calças para fazer sexo, suas impressões digitais já estão sobre eles, então não é grande coisa." Ela não chamou atenção para o fato de que ele tinha usado o termo "cena do crime." Mas ela desfez o fecho em seu coldre. Ele pegou o jeans.

"Ei, Taylor, posso te perguntar uma coisa?"

"O quê?"

"Por que há sangue perto do gancho desses jeans?"

Taylor olhou para o jeans e depois os jogou de volta no chão. Quando ele olhou para ela, os olhos dele estavam espremidos em raiva. Keri poderia dizer que ele estava farto dos seus jogos.


CAPÍTULO TRINTA E OITO

Keri respirou o ar de final da tarde da montanha, esperando para ver como Taylor Hunt reagiria.

Ela estava pronta para ele se ele viesse para ela. Mas ela estava esperando que sua arrogância e título levassem a melhor sobre ele e ele tentaria intimidá-la verbalmente. Enquanto ele continuasse falando, ela continuava obtendo informações que poderiam salvar Tara.

"Você é tão inteligente, vadia, porque não me diz você? Talvez seja só aquela época do mês para ela?"

"Isso não teria vindo à tona enquanto vocês discutiam seu próximo encontro sexual, Taylor?" ela perguntou. "Não Tara teria mencionado isso para você?"

"Você tem algo a dizer, diga," ele cuspiu. "Porque não gosto de todas as acusações mansas que você está fazendo, senhora. Você age toda caída por mim, mas então você começa a tapar minha luz. Você pode machucar os sentimentos de um homem."

"Eu não estou te acusando de coisa alguma, Taylor. Eu certamente não estou acusando você de perseguir Tara. Eu não estou te acusando de forçá-la a entrar neste barranco, rasgar suas roupas e a agredi-la sexualmente. Não estou sugerindo que ela tentou escapar arranhando seu caminho até essa parte da colina ali, usando nada além de suas roupas íntimas e pés descalços."

Taylor olhou para um lugar na colina onde a grama tinha sido rasgada solta, deixando longas faixas de sujeira cavadas em seu lugar. Então ele olhou para Keri, meio culpado, meio perplexo. Ela não deu a ele uma chance de responder.

“Não se preocupe, Taylor. Eu nunca iria sugerir que você tentou persegui-la colina acima e ela te chutou ou você caiu e aterrissou naquele ponto de terra, onde você provavelmente ficou nocauteado ou desmaiado por algumas horas antes de eventualmente acordar, subir a colina, entrar no carro e voltar bêbado para o campus.”

Taylor olhou para o lugar ao qual ela fez referência com um sentido de familiaridade que a deixou segura de que estava certa. Ela continuou.

“Diabos, você provavelmente nem ao menos notou o celular quebrado de Tara no topo da colina, que eu tenho certeza que escorregou de sua mão enquanto ela tentava pedir ajuda antes de decidir apenas caminhar de volta para baixo da estrada, quase nua. Eu não te acusaria de nada disso, Taylor."

"Você é uma vadia," ele fervia.

"E você é um dos criminosos mais estúpidos que já me deparei. Você sempre foi assim tão estúpido? Ou é só que todas as células do seu cérebro se perderam na bebedeira diária?"

Aparentemente essa foi a última gota. Ele veio para ela com uma velocidade surpreendente para alguém de ressaca e fora de controle. Mas Keri já esperava por isso, o atraindo para isso na verdade. Ela esperou até que ele estivesse a menos de trinta centímetros antes de deslizar para a esquerda e empurrar seu joelho contra a carne da sua coxa.

Ele grunhiu enquanto se desmoronava sobre seu estômago nas folhas ao lado dela. Depois de um momento, ele tentou rolar para puxá-la para baixo. Mas ela já estava caindo para encontrá-lo, seu punho direito pregado ao peito, para que seu cotovelo formasse um ponto afiado enquanto todo o peso do seu corpo batesse contra o lado direito da caixa torácica dele. Ela sentiu um barulho de rachadura ao mesmo tempo em que o ouviu gritar de dor.

Enquanto ele ainda estava desesperado por ar, ela o rolou de bruços, puxou as mãos dele para trás das costas e o algemou. Confiante de que ele não iria a lugar algum, ela sentou-se por um momento, recuperando o fôlego.

Então ela se levantou e tirou algumas fotos da cena. Ela não tinha saco de provas e não queria perturbar a cena para a equipe forense para a qual ela ligaria quando voltasse da montanha.

"Hora de ir, Taylor," ela disse erguendo-o de pé.

"Você está tão ferrada," ele engasgou através de inalações dolorosas. "Meu pai dirige a maior empresa de investimento da Costa Oeste. Ele vai te expulsar da cidade correndo."

"Ah, sim, os banqueiros de investimento podem ter os filhos acusado de assassinato?" ela perguntou empurrando-o morro acima.

"Eu não matei ela, sua velha vadia!" ele gritou. "Talvez eu tenha sido um pouco grosso, mas ela estava afim. Eu poderia dizer. Eu não fiz qualquer coisa de errado.”

"Como você sabe que você não a matou acidentalmente por ter sido tão rude?" Keri perguntou. Ela não tinha realmente o prendido ainda e se ele estivesse disposto a continuar a falar ela estava disposta a ouvir.

"A última vez que a vi, ela estava subindo esta colina. Eu não podia tê-la matado acidentalmente deitado de costas, eu poderia? Você é tão idiota, mal posso suportar."

Eles chegaram ao topo da colina. Keri olhou para o cara, debatendo se havia mais alguma coisa útil que ele pudesse oferecer a ela. Essencialmente, ele havia confessado que a estuprou. As provas físicas para apoiar a acusação estavam colina abaixo. Ela tinha certeza que ele não havia a matado. Mesmo que ela não acreditasse na história dele, Marla e Nicky do acampamento apoiavam a teoria de que ela teria fugido fisicamente, se não mentalmente.

Não, eu já acabei com Taylor Hunt.

"Lamento ouvir que não suporta a que idiota que sou, Taylor. Talvez você gostaria de se sentar."

"O qu...?" ele começou a dizer. Mas antes que ele terminasse a palavra ela o socou bem na costela quebrada. Ele caiu de joelhos involuntariamente e começou a choramingar entre suspiros.

"Assim está melhor," ela disse. “Agora, aos negócios oficiais. Você tem o direito de permanecer calado.”


CAPÍTULO TRINTA E NOVE

"Um corpo?" Keri repetiu, sem certeza de ter ouvido Hillman corretamente ao observar o Departamento do Xerife colocar Taylor na traseira do carro de patrulha para ser transportado de volta para a Divisão do Oeste de LA.

Ela estivera no telefone com ele sem pausas desde que ela voltou para o alcance de celular, coordenando o retorno do Hunt e a busca corrente por Tara, mas essa foi a primeira vez que ela ouviu falar de um corpo.

"Sim, Locke," respondeu Hillman. "O relatório chegou há pouco. O capitão de um pequeno veleiro voltando da ilha Anacapa diz que viu o que parecia ser um corpo feminino nas pedras na água perto de Point Dume."

"Ela foi identificada?"

"Não," ele disse. “A Guarda Costeira disse que com a mudança de tempo, as ondas estão muito agitadas para chegar perto daquelas pedras, especialmente com a luz sumindo rápido. Eles vão coordenar para que alguns mergulhadores verifiquem. Mas isso pode demorar algumas horas."

"O cara no veleiro disse alguma coisa a mais? Ela estava usando algo que parecia com lingerie ou biquíni?"

"Tudo o que sei é que ele pensou que fosse uma mulher."

"Então digo para irmos procurar nas montanhas," insistiu Keri. "A Guarda Costeira está certa. O tempo está mudando. As últimas noites têm estado na casa dos quinze graus, mas vai chegar perto dos quatro essa noite. Se ela estiver na floresta, ela não vai conseguir sobreviver a esse nível de frio."

"Locke, temos que ser realistas sobre isto. Já é final de tarde—tarde demais para iniciar uma busca hoje à noite. E mesmo se fizéssemos, eu não estou confiante que vamos achar qualquer coisa boa. Estamos nos aproximando de quarenta e oito horas de desaparecimento. Mesmo se o corpo na água não for ela, não tenho certeza se eu acredito que a garota realmente conseguiu fugir do Hunt, apesar do que ele disse. Eu não ficaria surpreso se encontrássemos uma cova rasa não muito longe de onde você descobriu aquelas roupas. É por isso que eu quero que você chame os cães farejadores de cadáveres logo pela manhã."

"Cães farejadores?" repetiu Keri incrédula. "E aqueles campistas disseram sobre vê-la de roupas íntimas e terem roubado a carteira e a bandana dela?" perguntou Keri.

"Como sabemos que Hunt não pegou aquelas coisas e pagou-lhes para dizer essas coisas para nos despistar? Assim, perdemos todo nosso tempo tentando resgatar uma garota viva ao invés de caçar por uma morta."

"Tenente," Keri insistiu, "com todo o respeito, eu passei a tarde toda com esse garoto. Ele não é capaz de desse tipo de planejamento."

"Você pode estar certa. Mas ambos sabemos de muitas histórias de garotos inteligentes de faculdade enganando policiais confiantes. Não vamos cair nessa armadilha. Volte para a delegacia. Você pode começar com o interrogatório. E se você quiser, você pode liderar novamente amanhã de manhã, logo ao lado daqueles cães. Agora, eu tenho alguém mais que quer conversar com você, então eu vou transferi-la, certo?"

"Sim, senhor," disse Keri, apesar da sua profunda inquietação com seu curso de ação pretendido.

“Keri,” veio a voz de Ray pela linha. "Você está bem? Não conseguimos falar com você por um tempo.”

"Estou bem. Ficamos lá em cima nas montanhas por um tempo. Perdi o sinal. Perdi muita coisa?"

"Meio que sim. Mantenha a linha aberta. Vou ligar de volta pelo meu celular."

Ele desligou antes que ela pudesse responder. Olhando para o telefone pela primeira vez desde que ligara para Hillman, Keri notou uma série de ligações perdidas-três de Evelyn, seguidas de duas de Mags, depois duas de Ray e uma de Castillo. Todas em menos de vinte minutos uma da outra. Ela viu que havia várias mensagens na caixa postal e estava prestes a apertar o botão para ouvi-las quando Ray ligou de volta.

"Eu acabei de ver minhas chamadas perdidas," ela começou. "O que está acontecendo com a Evelyn?"

"Ela está OK. Antes de te contar, apenas saiba que ela está bem. Ela está com Mags agora no seu apartamento."

"O que aconteceu, Raymond?"

"Não foi tudo bem no Stephen. Eu estive lá apenas no desfecho-"

"Você foi até a casa dele?"

"Sim. De acordo com Ev, começou bem, mas então evoluiu para ele falando mal de você e sugerindo terapeutas particulares, uma escola nova. Acho que isso a sufocou. Ela se trancou no banheiro. Ele estava batendo na porta. Ela tentou ligar, mas você estava fora de alcance em Malibu. Então ela ligou para Mags, que foi direto para lá."

"Onde estava a pessoa do tribunal durante isso tudo?" exigiu Keri.

"Ela estava lá, mas aparentemente bem inútil. De qualquer forma, Stephen ainda estava batendo o pé, então Mags me ligou. Eu estava terminando com Jonas, que, como você sabe, mora a apenas alguns quilômetros de distância. Então eu fui até lá. Depois disso, as coisas se acalmassem. Em geral, Stephen recuou. Nós tiramos Ev de lá, fomos tomar sorvete e então Mags a levou de volta para seu apartamento. Ela disse que iria passar a noite para ajudar."

"E os filhos dela?" Keri perguntou enquanto saia na PCH e dirigia de volta para a cidade.

"Estão na casa do ex dela durante a semana," disse Ray. "Falando nisso, ela queria que eu deixasse claro para você que você está recebendo um novo advogado, especificamente o advogado do divórcio dela, que lidou com seus problemas de custódia. Ela se afastou para ligar para ele enquanto estávamos tomando sorvete. Ela disse que espera uma ligação dele amanhã."

"Isso é gentil, mas eu duvido que eu possa pagar por qualquer advogado que Margaret Merrywether usa."

"Ela disse que você ia dizer isso. E ela queria que eu transmitisse que ela prorrogaria os custos dos serviços dele até você escrever suas memórias. Ela disse para não discutir, porque já estava feito. Ela também disse que esse cara é um pitbull que vai rasgar um reto novo em Stephen, embora a linguagem dela tenha sido um pouco mais colorida."

"Jesus," suspirou Keri. "Eu saí do alcance do celular por algumas horas e o inferno fica a solta. Não sei como agradecer vocês o suficiente. Como está Ev?"

"É difícil de dizer," Ray admitiu. "Ela estava muito traumatizada quando saímos de casa, mas depois de uma casquinha dupla ela parecia OK. Ela estava se divertindo imitando sotaque de Mags. Eu considero isso um adicional."

"Vou aceitar tudo que eu puder, eu acho."

"Bem, mas não relaxe ainda," avisou Ray. "Eu tenho um pouco mais de novidades para você."

"O que mais poderia haver?"

"Castillo teve sucesso com os arquivos de pessoal," disse com a voz baixa.

"Você está falando sério?"

"Sim," ele disse, "e também não demorou muito. Apenas uma pessoa na unidade tem qualquer coisa próxima a uma conexão a um político local poderoso. Uma vez que ela encontrou a ligação, ela verificou novamente e viu que ainda estão em contato. Eles estão."

"Bem, não me mantenha no suspense. Quem é?"

"Keri," Ray disse suavemente, "Garrett Patterson é o traidor."

“Trabalho Duro?" repetiu Keri, pega de surpresa. "Como ela sabe com certeza?"

"Uma das suas primeiras missões, quando ele começou o trabalho, era parte da proteção pessoal para Carl Weatherford, o Supervisor do Condado do terceiro distrito. Ele estava na missão por cerca de três anos antes de ser transferido, mas eles continuaram se falando. Na verdade, eles se falam regularmente, com dezenas de chamadas nos últimos anos."

"Talvez eles sejam apenas amigos?" Keri disse esperançosa, não querendo acreditar que alguém com quem ela tinha trabalhado tão de perto poderia tê-la traído tão profundamente.

"Talvez," Ray disse com ceticismo. “É possível que eles sejam apenas colegas de golfe. Mas muitas dessas chamadas são em horários estranhos, muitas vezes no meio da noite. E um monte deles está agrupado em torno de horários nos quais você estava procurando pistas sobre Evelyn."

"Mas por que ele faria isso?" Keri perguntou.

"Castillo pensou nisso também," disse Ray. "Após verificar triplamente para ter certeza de que ninguém mais na unidade estivesse conectado com Weatherford, ela veio até mim perguntando se ela poderia chamar Edgerton para verificar o financeiro de Garrett. Ela não conseguiu falar com você e ela percebeu que se alguém poderia dar uma bisbilhotada neles por baixo dos panos, seria ele. Então eu autorizei. Espero que não se importe."

"Não. Foi a decisão correta. O que ele encontrou?" ela perguntou enquanto se aproximava da Pepperdine University. O tráfego da hora do rush na noite de terça-feira era agonizantemente lento.

"O roteamento é um pouco complicado, então não vou te entediar com os detalhes, mas Patterson tem recebido 'presentes' em dinheiro de um tio desde o início no segundo ano que ele estava para a segurança de Weatherford."

"Quanto?" Keri exigiu.

"Cerca de dez mil anuais, todos os anos até agora-sempre abaixo do limite necessário para declará-los para fins fiscais."

"Isso não parece ser o suficiente fazer as coisas que ele deve ter feito," Keri insistiu.

"Mas não é a quantidade," Ray destacou. "Uma vez que ele pegou alguma coisa, ele estava no gancho. A partir do momento em que ele recebeu o primeiro pagamento, a Weatherford conseguiu segurá-lo, ameaçando denunciá-lo."

"Mas não poderia funcionar nos dois sentidos?"

"Tenho certeza que Trabalho Pesado pensou nisso também. Mas claramente não ou ele já teria saído debaixo por agora. Estou disposto a apostar que o bom Supervisor encontrou uma maneira de isolar-se e deixar Garrett fora no frio."

"Então Edgerton não pode encontrar alguma coisa suspeita sobre Weatherford?" Keri perguntou, tentando não deixar sua frustração oprimi-la. Ela tinha um forte desejo de buzinar para todos os carros em sua vizinhança imediata por nenhuma razão em particular.

"Eu não disse isso," disse Ray. "O cara pode ter se isolado do Trabalho Pesado. Mas isso não significa que ele tenha sido capaz de esconder tudo. Uma vez que Edgerton percebeu que tipo de bastardo escorregadio ele estava enfrentando, ele realmente começou a escavar. E ele encontrou algumas coisas."

"Tipo?"

"Todos os tipos de empresas de fachada," disse Ray. "Você tem que passar por algumas camadas para encontrar as conexões reais. Mas vamos apenas dizer que Edgerton foi incentivado. Weatherford está com as mãos em negociações imobiliárias suspeitas na cidade e um negócio de distribuição de bebidas que consegue taxas surpreendentemente boas de fontes locais. Isso para não mencionar uma conta de banco oculta nas ilhas Cayman. Mas eu estou enterrando a pista."

"Qual é a pista?" Keri perguntou.

"Ele parece ter sido bem próximo com Jackson Cave. Existem inúmeras ligações entre eles. Cave não era seu advogado, mas trabalhava com a firma de Weatherford todo o tempo. E as finanças pessoais têm todos os tipos de pagamentos tortuosos por coisas como 'passeios em equipe' e 'desembolsos de embelezamento civil.'"

"Soa como um fundo secreto para drogas e mulheres."

"Concordo," disse Ray. "E eu estou apostando que Cave fornecia muito de ambos. E eu acho que é bem seguro assumir que é a ele que Cave estava fazendo referência como a mão mais alta antes de morrer."

"Também acho que sim," disse Keri. "Então, quais são os próximos passos?"

"Estamos preparando um mandado para tudo agora-sua casa, registros telefônicos, financeiro. Quando tivermos todos nosso patos em fileira, iremos até Hillman. Edgerton mergulhou fundo nos seus registros e ela não tinha conexão com Weatherford, então eu acredito que seja seguro informá-lo. Mas eu quero esperar até estarmos prontos. Eu suponho que ele irá autorizar um mandado de prisão para o Trabalho Pesado e aprovar a passagem para o Supervisor. Provavelmente, nós vamos esperar até de manhã para irmos até um juiz."

"Parece que você teve uma tarde movimentada, parceiro."

"Tudo isso e ficar de babá de estrela de cinema também," Ray acrescentou.

"Ah, sim. Como foi lá?" perguntou Keri enquanto avançava pela Pepperdine. Ela viu um shopping a céu aberto à esquerda e debateu sobre encostar para ir ao banheiro.

"Não há muito a dizer. Ficou bem claro que ele não recebera qualquer ligação secreta pedindo resgate. Eu acho que ele queria lamentar-se principalmente. Ele continuava a contar sobre coisas que eles faziam quando ela era mais nova-várias histórias sobre acampar e fazer trilhas e essas coisas. Ele disse que ele estava pensando em sugerir uma trilha até aquele Sandstone Peak que ela gostava na próxima vez que ela o visitasse, como forma de se reconectar e talvez curar algumas feridas. Agora ele não sabe se ele terá a chance. Ele odeia como eles deixaram as coisas. Realmente senti por ele, Keri."

"É, bem. Vai ser muito pior para ele se aquele corpo perto do Point Dume for dela," disse Keri, imediatamente arrebatada pela frieza da própria voz.

"Acho que sim," disse Ray, reparando também.

"Desculpe-me. Estou frustrada com esse tráfego e tenho muito que fazer xixi. Vou estacionar e encontrar um canto. Eu faço contato com você quando eu ficar mais próxima da cidade, OK?"

Depois que desligaram, ela navegou seu caminho pelo shopping e estacionou em frente a uma livraria que ela esperava que tivesse um banheiro. Ao passar pelos corredores até o fundo da loja, ela passou por uma sessão intitulada Malibu Local Lore, Legends & Logistics.

Depois de terminar, ela voltou pela mesma sessão. Ela parou no meio do corredor, pensando por muito tempo. Ela tinha aquela coceira familiar no fundo do cérebro, o tipo que ela não podia coçar. Então ela passou pela com guias, notando que o subtítulo "Lendas" era uma referência inteligente para tanto folclore e quanto mapas.

Ela tirou um livro sobre trilhas nas Montanhas de Santa Mônica e virou para a página sobre o Sandstone Peak. Ele listava as múltiplas trilhas que levavam ao topo, incluindo a cansativa trilha Mish Mokwa e a bem menos intensa trilha do Sandstone Peak. Ambas em última instância levavam até ao cume de 1 km e a aparentemente inexpressiva recompensa de ficar cara a cara com a placa de Herbert Allen, que aparentemente doou uma porção da terra na área para os escoteiros.

Herbert Allen. Um pensamento piscou pela cabeça de Keri-algo que aquela campista bêbada disse a ela que Tara disse: ela ia se encontrar com um velho amigo, Herbie.

Ela poderia realmente estar planejando andar todo o caminho, do oceano até o topo dessa montanha, apenas em roupas de baixo?

Só levou um segundo para Keri decidir que, sim, podia.


CAPÍTULO QUARENTA

Keri tentou não deixar a excitação sobrepujar a lógica enquanto tirava seu celular e fazia uma breve busca pela distância de do Leo Carrillo Campground até o Sandstone Peak. Era bem mais que quatorze quilômetros usando as estradas marcadas. Mas ela suspeitava que se fosse para onde Tara estava indo, ela não estaria usando estradas.

Ela tentou se projetar na mente da garota de duas noites atrás. Ela tinha sido agredida recentemente. Ela mal estava vestida. Pela descrição de Marla, ela parecia desorientada e confusa, possivelmente com uma concussão ou em estado de choque—talvez ambos—após o ataque de Taylor.

Isso poderia explicar seu desejo aparentemente desequilibrado de encontrar seu amigo Herbie, para retornar a um lugar que guardava lembranças positivas para ela, antes que tudo começasse a desmoronar. Por mais louco que parecesse, também fazia sentido.

Keri olhou para seu relógio. Já era depois das 6 da tarde e o sol estava começando a mergulhar no céu. Em pouco mais de uma hora estaria escuro. Ela ligou para Hillman, se enrijecendo para dizê-lo do que precisava.

"Como você ouviu tão rápido?" ele perguntou antes que ela pudesse falar.

"Atualize-me," ela disse sem compromisso, não querendo revelar que ela não tinha ideia sobre o que ele estava falando.

"A Guarda Costeira diz que o corpo em Point Dume não é de Tara Jonas. Era de algum spring breaker que ficou preso na correnteza próximo de Zuma Beach."

"Isso não me surpreende porque eu sei onde Tara está," Keri disse.

"Onde?"

"Em algum lugar nas Montanhas de Santa Mônica. Ela está tentando chegar ao topo do Sandstone Peak."

"O quê?" perguntou Hillman espantado.

Keri rapidamente explicou sua teoria e seu plano. Ela queria uma equipe de busca e salvamento para ajudá-la a vasculhar a área a partir do acampamento até a montanha, seguindo o caminho da estrada de Yerba Buena e a rota mais direta em linha reta através do deserto.

"Essa é uma área enorme, Locke. Não há nenhuma maneira que possamos cobrir tudo, especialmente com a escuridão se aproximando."

“É por isso que temos que fazer isso rápido, Tenente. Como eu disse, as últimas noites foram bastante quentes, mas vai ser muito frio esta noite, pior nas montanhas. Ela não vai sobreviver lá vestida como está.”

"Não temos pessoal suficiente para uma busca como esta, mesmo se chamarmos os recursos do Condado."

"Então peça helicópteros," demandou Keri, tentando manter sua frustração sob controle. "Desta maneira precisaremos de menos homens."

"Eles não vai autorizar esse tipo de despesa."

"Tudo bem, Tenente," disse Keri, canalizando sua fúria em um tom calmo do qual ela não sabia ser capaz. "Eu vou simplesmente ligar para Roan Jonas. Tenho certeza que quando eu disser a ele que não podemos pagar um helicóptero para procurar pela sua filha, ele ficará feliz em arcar com os custos. Talvez ele possa mandar um tweet para seus seguidores formarem grupos de busca voluntários. Eu acho que é o caminho a percorrer. Vamos levar centenas de pessoas inexperientes, passeando nas montanhas escuras. Tenho certeza que vai correr tudo bem."

Houve um longo silêncio do outro lado da linha antes que Hillman finalmente respondesse.

"Vou ligar para a Chefe," ele rosnou. "Vamos montar uma equipe. Eles devem estar no local em menos de uma hora."

"Ótimo," disse Keri entusiasticamente. "Vou comprar alguns equipamentos nas lojas de camping do outro lado da rua e ir direto para o pico caso ela tenha chegado lá. Seria ótimo se você puder uma equipe para me encontrar ali."

“Locke.”

"Sim, Senhor?"

"Eu não sei se ameaçar seu chefe no seu segundo dia de volta ao trabalho é a melhor jogada para avançar na carreira."

"Eu vou levar isso em consideração, senhor. Tenho que ir agora."

*

As coisas andaram rápido dali. Primeiro, ela ligou para ambos Ray e Mags para informá-los que ela não voltaria em breve. Mags reafirmou que ela passaria a noite no apartamento e disse para não se desgastar.

Então, Keri se equipou na loja de camping próxima, seguindo a recomendação do atendente sobre o que ela precisava para trilha na montanha a noite e saindo com um mapa da trilha, uma lanterna de testa, uma lanterna, um casaco fofo e uma pequena mochila. Ela a encheu com água, barrinhas de energia, um sinalizador e um localizador pessoal. Ela também jogou um cobertor térmico, um par de calças para caminhada, um suéter e um segundo casaco fofo, tudo em caso de ela encontrar Tara.

Ela estava no início da trilha para o Sandstone Peak meia hora depois. De acordo com o mapa que comprou, era apenas um quilômetro e meio até o cume de onde ela havia estacionado, mas a elevação de trezentos metros era rápida e íngreme.

Ela colocou a lanterna de cabeça, fechou o casaco, jogou a mochila nos ombros e começou logo quando o sol mergulhou além do Pacífico. Quase imediatamente, ela sentiu um frio crescente no ar. Olhando para a temperatura em seu telefone, ela viu que já havia caído para doze graus. Ela poderia apenas imaginar como se sentiria no topo daquele pico de montanha exposto varrido pelo vento.

A escalada era brutal. Dentro de minutos, suas coxas estavam queimando enquanto se arrastava pelo que parecia ser um ângulo de quarenta e cinco graus. Apesar da lanterna de cabeça e da lanterna, ela tropeçou várias vezes em pedras soltas e entalhes invisíveis na trilha.

Mesmo que tivesse mergulhado para perto de dez graus, pingava suor pelas suas sobrancelhas. Ocasionalmente, ela chamava por Tara, mas desistiu depois de um tempo, quando ela não teve resposta e sua garganta começou a ficar dolorida e rouca.

Depois de quarenta e cinco minutos ela chegou até uma placa que a direcionava em direção ao pico real. Ela olhou naquela direção e viu uma escadaria esculpida na pedra que se tornava uma mistura de cascalho depois dos primeiros doze metros. Ela deu vários grandes goles de água, amarrou novamente os laços do seus sapatos completamente inadequados, os quais viraram máquina de criar bolhas e começou acima.

Ela caiu duas vezes, uma vez batendo o joelho esquerdo tão forte em uma pedra que ela pensou que poderia tê-lo rachado. Galhos fora de sua linha de visão rasgaram seu rosto ao se puxar para cima, utilizando qualquer superfície semissólida que pudesse agarrar.

Por fim, as árvores e os arbustos cederam, dando uma visão clara do cume, a apenas a cem metros de distância. Não havia sinal de Tara. Keri ficou parada, ouvindo os barulhos-choro, gemido, qualquer coisa que pudesse sugerir que uma pessoa estivesse lá em cima, talvez escondida entre as rochas.

Keri considerou brevemente parar ali e voltar atrás. Mas ela decidiu forçar até o topo. Ela havia ido tão longe. E parte dela sabia que havia uma chance de que Tara pudesse estar lá em cima, apenas não mais viva. Ela se preparou para encontrar o corpo dela, talvez enrolado em algum canto, fora de vista, onde ela havia se escondido dos elementos, na esperança de encontrar um lugar de segurança.

Depois de mais cinco minutos desajeitados, ela conseguiu. Keri estava no pico, olhando para a placa de Herbert Allen. Ele olhava para ela com uma expressão severa e quase triste, a qual ela sabia que estava dando mais significado do que ele pretendia.

Depois de um momento para recuperar o fôlego, ela notou uma abertura de correspondência na base da placa e a abriu. Dentro havia um registro de visita onde as pessoas podiam assinar para indicar que haviam estado aqui. Ela folheou até o fim, debatendo se seria apropriado adicionar seu nome à lista. Foi quando ela viu a entrada mais recente: Tara Justin.

Keri largou o registro e olhou em volta. Ela parecia estar sozinha. Mas Tara esteve aqui, e recentemente.

“Tara?” ela gritou.

Houve movimento à sua direita. Ela apontou a lanterna naquela direção e viu uma figura atrás de uma rocha a cerca de seis metros de distância, no que parecia ser a extremidade do cume.

"Fique longe," disse uma voz fraca.

Keri não fez qualquer tentativa de se mover na direção dela, em vez disso apontou a lanterna para o lado para que não ficasse diretamente nos olhos da garota. Ela não queria assustá-la ou desorientá-la, especialmente quando ela parecia estar tão perto da borda.

"Tara, meu nome é Keri. Sou detetive da polícia. Estive procurando por você há alguns dias. As pessoas estão muito preocupadas com você. Você está bem?"

"Não chegue perto de mim," Tara insistiu, uma extremidade selvagem em sua voz.

"Eu não vou, Tara," disse Keri, percebendo que o posicionamento de Tara na borda do topo da montanha podia não ser acidental. “Estou aqui apenas para conversar. Tudo bem se conversarmos um pouco?"

“Não há coisa alguma para se falar. Não sobrou coisa alguma!"

"Tens a certeza sobre isso, Tara? Porque eu não acho que seu pai se sentiria assim. Eu acho que ele pode ter algumas coisas que ele quer dizer para você."

"Meu pai? O que ele tem a ver com isso?"

"Como você acha que eu encontrei você, Tara?" perguntou Keri. “Foi seu pai que me contou o quanto vocês dois adoravam escalar essas montanhas, como esse era o seu pico favorito para escalar. Ele disse que esperava ter outra chance."

"Não mais, ele não vai," Tara sussurrou rouca. "Não depois disso. Agora ele pode ter vergonha de mim também.”

"Oh, querida, ele não tem vergonha de você," Keri insistiu, agora plenamente consciente de que a Tara não estava só na borda física de um penhasco, mas emocional também. “Ele tem vergonha de si mesmo. Ele me disse o que ele fez e o quanto isso te machucou. Ele quer desesperadamente consertar isso. E quando ele descobriu que você se fora, tudo o que importava para ele era ter você de volta."

"Ele sabe?" perguntou Tara, incapaz de perguntar a questão completa, mas não precisando.

"Ele ainda não sabe o que aconteceu com você. Eu só descobri algumas horas atrás. Mas se você acha que seu pai vai estar envergonhado por causa de algo que foi feito a você, você está errada. Quaisquer erros que ele tenha cometido, ele só quer te proteger, manter você segura, te fazer sentir melhor."

"Mas ele não pode tornar isso melhor," disse Tara, sua voz falhando.

"Não," admitiu Keri. “Ele não pode. O que foi feito com você não pode ser desfeito. Mas isso não precisa definir você, Tara. Você pode seguir em frente."

"Como você sabe?" Tara perguntou acusadoramente.

"Tara," Keri disse baixinho, "olhe para mim. Você me reconhece?"

Ela iluminou a lanterna para o próprio rosto.

"Um pouco. Você parece familiar. De onde eu te conheço?"

“Você pode ter me visto no noticiário. Minha filha foi sequestrada."

Após um momento de silêncio, Keri pôde ver a alvorada de reconhecimento no rosto de Tara.

"Você é a detetive que esteve procurando pela filha todos esses anos. Você a resgatou há alguns meses."

"Isso mesmo. Resgatei. Mas isso é apenas a versão de manchete disso, Tara. A verdade é que, assim como você, minha filha teve várias coisas horríveis feitas a ela. Mas elas foram feitas durante vários anos. Ela luta com elas todos os dias. Ela passou por mais em quatorze anos do que qualquer um deveria ter que lidar em dez vidas. Mas ela se levanta todas as manhãs e enfrenta o que cada dia lança para ela. Então você pergunta como saber se alguém pode sair de algo assim. É porque eu vejo isso todos os dias, Tara. Vejo a bravura da minha filha cada vez que ela sai pela porta da frente para enfrentar o mundo. E acredito que você tenha a mesma bravura dentro de você."

"Eu não tenho certeza se tenho."

"Eu tenho certeza," disse Keri firmemente. "E seu pai tem certeza. E a sua mãe. E seu irmãozinho. E sua amiga Alice. Você é mais forte do que pensa que é. Você tem apenas que dar o primeiro passo. E estou bem aqui para ajudar você a dá-lo. Dê um passo para cá. Deixe-me ajudá-la. Tenho um suéter e um casaco quente na mochila. Vamos empacotar você e sair dessa montanha. O que você me diz, garota?"

Tara olhou para ela por um longo tempo e pele mais breve dos segundos, Keri pensou que tinha falhado e a garota iria simplesmente largar e cair pelo lado do penhasco. Mas ela não o fez. Ao invés disso, ela agarrou ao pedregulho no qual ela estava agarrada e puxou-se para frente. Ela estendeu a mão para Keri.

"Eu preciso de ajuda," disse ela.

"Você entendeu," Keri disse e se dirigiu a ela.


CAPÍTULO QUARENTA E UM

Quando Keri voltou para o apartamento naquela noite, ela estava tão exausta que mal podia ficar de pé. Ela espiou no quarto de Evelyn e viu que ela estava dormindo. Mags havia confiscado a cama de Keri, assumindo que ela não iria para casa naquela noite, então ela caiu no sofá.

Ela olhou para o relógio. Era bem depois de meia noite, mas ela não esperava ver Ray essa noite. Ele estava preparando a prisão do Supervisor Weatherford cedo pela manhã conjuntamente com Castillo e Edgerton e esperava estar ocupado durante toda a noite. Ele disse para ir para casa, descansar e dar uma olhada nos fogos de artifício pela manhã.

Ela ficou mais que feliz em fazê-lo. Depois de descer com Tara pela montanha com a ajuda da Busca e Resgate, ela precisou avisar a família Jonas sobre o delicado estado emocional dela, processar a papelada sobre Taylor Hunt e lidar com as reclamações intermitentes do Tenente Hillman sobre as táticas de Keri. A coisa toda a apagou.

Quando o alarme disparou as seis na manhã seguinte, ela ligou a TV nos noticiários. Havia nada ainda sobre o Supervisor Weatherford, então ela verificou Evelyn silenciosamente, a qual ainda dormia.

Depois disso, ela se dirigiu para o banheiro para lavar a toda a sujeira encardida do Sandstone Peak. Ela se lavou com cuidado, limpando os cortes e arranhões sem esfregar com muita força. Então, ela deixou a água quente massagear seus ombros por uns bons dez minutos.

Quando ela finalmente saiu, secou-se e vestiu-se, ela viu que Mags ainda estava dormindo em sua cama. Lutando contra o desejo de acordá-la, Keri voltou para a sala de estar, onde viu que agora havia notícias de última hora na TV.

Era a história de Weatherford. Um vídeo dele sendo conduzido para fora de sua mansão em Hollywood Hills em algemas foi intercalado com cenas de arquivo dele proferindo discursos, agora irônicos, sobre lei e ordem. A tela cortou de volta para o âncora, que mencionou seus laços com Jackson Cave e, em seguida, fez a referência obrigatória ao confronto de Cave com Keri e sua posterior morte.

Keri havia visto o suficiente naquele momento e desligou. Era hora de acordar Evelyn para a escola de qualquer maneira. Ela entrou no seu quarto. Estava vazio. Ela entrou no banheiro, mas também estava vazio. Ela enfiou a cabeça em seu próprio quarto novamente. Mags estava começando a acordar, mas Evelyn não estava à vista.

Ela retornou para o quarto da filha e olhou ao redor. Algo estava estranho. Foi quando ela notou seu celular na cômoda. Evelyn não iria a lugar algum sem ele.

Sentindo pânico começar a subir em seu peito, Keri olhou em volta e viu que os sapatos favoritos de Ev se foram, assim como sua mochila escolar. Ela correu para o armário da frente e viu que sua jaqueta preferida também se fora. Ela olhou para a porta da frente. Estava destrancada. Ela tinha certeza de que, apesar de sua exaustão, ela havia trancado na noite anterior.

Mags enfiou a cabeça para fora da porta do quarto e olhou para ela sonolenta.

"Como vai?"

"Você viu Ev esta manhã?" perguntou Keri.

"Não. Acabei de acordar. O que há de errado?”

"Eu não consigo encontrá-la. Ela estava no quarto dela vinte há minutos quando entrei no chuveiro. Agora ela sumiu, mas o telefone dela não e a porta da frente está destrancada."

"Você tem certeza...?" Mags começou a perguntar, mas parou quando viu o olhar nos olhos de Keri.

"Algo está errado, Mags. Eu posso sentir."

Ela olhou ao redor da sala, desesperadamente à procura de alguma pista sobre o que poderia ter acontecido. Seus olhos recaíram no próprio celular, repousando sobre a mesa de centro. Ela correu até ele e o verificou. Havia uma mensagem de Evelyn. Ela disse simplesmente, "Eu sinto muito."

"Mas que diabos?" disse Mags quando Keri mostrou-lhe a mensagem.

Ela correu até a bolsa e verificou a carteira. Todo o seu dinheiro havia sumido. Ela não se lembrava de quanto tinha ali exatamente, mas era próximo de sessenta dólares.

"Por que ela sairia?" exigiu Mags. "O que aconteceu a partir do momento que você entrou no chuveiro até quando saiu que a provocaria desse jeito?"

Keri parou no meio de um passo e olhou para o aparelho de TV.

"Eu acho que sei."

"Quer compartilhar?" perguntou Mags.

"Não há tempo agora," respondeu Keri enquanto colocava os sapatos e pagava o casaco. "Eu tenho que encontrá-la antes que ela saia da cidade".

"O que faz você pensar que ela vai fazer isso?" perguntou Mags.

"Ela está com medo e ela só quer fugir."

"Do quê?"

"Dos seus próprios demônios, Mags. Ela acha que ela pode escapar deles se ela sair desse lugar. Mas eu tenho que encontrá-la antes que seja tarde demais.”

"Tarde demais? Como assim?"

"Estou preocupada que, quando ela finalmente perceber que não pode escapar deles, ela possa tentar se livrar deles como fez da última vez."

“Jesus,” disse Mags. "O que posso fazer, querida?"

"Por favor, fique aqui caso ela volte," Keri disse enquanto pegava o telefone e a bolsa e ia para a porta. "Manterei contato."

Sem nem mesmo um adeus, Keri saiu para o ar da manhã fria para encontrar sua filha.

*

Keri Locke era uma detetive de polícia do LAPD e foi assim que decidiu começar sua busca. Tantas vezes no passado, ela se colocou na mente de um desaparecido, sequestrado ou criança em fuga tentando determinar como a criança poderia pensar no intuito de determinar o que poderia ter acontecido com eles. Só porque esta situação envolvia sua filha não significava que a técnica seria diferente.

Ela se moveu rapidamente, permitindo que seu cérebro montasse a onda de instinto que imaginava que Evelyn teria seguido. Sua filha havia deixado o telefone no apartamento, sabendo que poderia ser rastreado. Mas ela pegou o dinheiro, provavelmente na esperança de conseguir uma viagem para algum lugar. Incapaz de usar um aplicativo de compartilhamento de carona sem seu telefone e não querendo arriscar pedir carona, ela teria provavelmente teria ligado para um táxi.

O lugar mais próximo e seguro e aberto no momento que fazia isso a essa hora era o Tanner's, a lanchonete na esquina da Culver e Vista del Mar Lane. Keri caminhou apressadamente até lá e passou pela fila de clientes para poder falar com o atendente.

"Uma adolescente entrou aqui nos últimos vinte minutos pedindo para usar seu telefone?"-ela exigiu.

"Ei, senhora, tem uma fila," o cara atrás dela disse, colocando a mão em seu ombro.

Keri se virou e o encarou.

"Vai ter uma linha direta do meu punho até o seu nariz se você não se afastar agora."

Ele removeu a mão do ombro dela.

Ela retornou a atenção para a mulher atrás do balcão, que apontou com temor para o escritório lá trás. Keri correu por ela e rediscou o último número. Certamente, era uma empresa de táxi local. Depois de se identificar, foi dado a ela o destino da chamada de serviço daquela localização: a estação de ônibus da Greyhound no centro da cidade.

Depois de correr de volta até o apartamento para pegar o carro e acelerando em vias secundárias para evitar o sufocado tráfego da manhã na hora do rush nas rodovias, Keri chegou à estação de ônibus em menos de uma hora. Ao entrar na estação, ela recebeu uma mensagem de Mags que dizia, "Parece que está faltando $75 na minha carteira também."

Keri ligou para a companhia de táxi para descobrir quanto fora a viagem da lanchonete até a estação de ônibus e quando chegara. Disseram que a entrega foi às 7:14 e a viagem custou $41 sem gorjeta. Ela olhou para o relógio. Eram 7:47 da manhã agora. Ela se moveu até a frente da fila de passagens e bateu na janela.

"Preciso falar com um supervisor," ela disse, levantando o distintivo.

A agente a chamou e apontou para o homem mais velho com aparência abatida no canto de trás do guichê. Keri foi até lá e explicou a situação sem preâmbulo.

"Preciso de uma lista de todos os ônibus unidirecionais que saíram na última meia hora ou que vão sair na próxima hora e que custem menos de 100 dólares".

O supervisor bateu em algumas teclas casualmente como se essa pergunta fosse feita a ele todos os dias.

"Três opções," disse ele em uma voz suave. "O sete dezessete para Sacramento custa cinquenta dólares. O sete cinquenta e quatro para El Paso é vinte e nove dólares. E o oito vinte e dois para Vegas é oitenta."

"Quando os motoristas saem? Tem um período de tolerância?"

"A porta fecha e o ônibus sai na hora marcada. Todas as malas e passageiros devem estar a bordo cinco minutos antes da partida ou seus assentos podem ser entregues.”

Keri pensou por um momento. Não havia como Evelyn poderia ter chegado à estação às 7:14 e conseguido um ônibus às 7:17. Ela poderia pedir a eles para segurar os outros dois ônibus, mas ela estava bem confiante qual rota sua filha havia pegado.

"Obrigada," ela disse. "De qual plataforma sai o ônibus para El Paso?"

"Sete," ele respondeu sem olhar para cima.

Keri andou até lá rapidamente. Ela tinha certeza de que não havia chance de Evelyn ir para Las Vegas-outra cidade conhecida por sua afiliação com o comércio sexual. Além disso, ela percebeu que sua filha estava freneticamente tentando ir para o mais longe de LA quanto poderia, não importa onde fosse. El Paso cumpria as exigências.

Ao se aproximar do ônibus, ela olhou para seu relógio novamente: 7:53. O motorista, um cara pesado nos seus cinquenta, estava acabando de estender a mão para fechar a porta quando ela colocou o pé no primeiro degrau e mostrou o distintivo. Ela parecia estar fazendo muito disso.

"Eu preciso verificar algo. Não leva mais que um momento".

Ele assentiu com a cabeça e ela pisou a bordo, tendo um mar de gente na frente dela.

"O ônibus está lotado?" ela o perguntou.

"Aham. Cada assento," ele disse.

Keri olhou para o lado esquerdo do ônibus e de volta para o direito. A meio caminho acima à direita, no assento da janela, ela viu o que procurava—um espaço vazio. Ela andou para trás lentamente até que ela chegou à fileira.

Certamente, encolhida no assento reclinado, abraçando sua mochila contra o peito, estava Evelyn. Seus olhos estavam fechados, como que desejasse não ser vista. Keri olhou para a mulher mais velha no banco ao lado dela.

"Você poderia deixar essa aqui sair, por favor? O passaporte dela foi revogado."

Evelyn abriu os olhos e olhou acima para Keri.

"Como você me achou?" ela perguntou mansamente.

"Sou uma detetive, querida. É meio o que eu faço. Agora, saia daí e vamos tomar café."

*

Sentaram-se na lanchonete, nenhuma dizendo muito além do pedido. Keri mandou uma mensagem para Mags, para falar que estava tudo OK, antes de ligar a escola para informá-los que a Evelyn teria algumas horas de atraso hoje. Só quando ficou claro que sua filha não iria começar qualquer coisa, ela abordou o assunto.

"Foi o cara no noticiário, não foi?" ela disse. "O Supervisor que prenderam. Esse era o homem que usava máscara e mostrava meus vídeos enquanto abusava de você, certo?"

Evelyn assentiu e suspirou pesadamente antes de falar.

“Eu ouvi a voz dele do quarto e fiquei com tanto medo. Quando saí, vi que era só a TV e que ele estava preso. Mas não ajudou. Simplesmente trouxe tudo de volta. E depois de ontem na casa do meu pai, foi demais, Mãe. Tive que ir embora."

"Eu entendo, querida. Realmente, eu entendo. Eu ainda tenho pesadelos quando eles mostram aquele advogado, Cave, na tela, e eu não passei por qualquer coisa próxima do que você passou. Mas fugir não é a resposta. É aí que você vem até mim. E eu os faço pagarem.”

“Mas e se você não estiver lá? Eu liguei para você ontem da casa do meu pai e caiu na caixa postal. Precisei ligar para Mags e ela ligou para Ray. Foi uma coisa toda".

"Ouvi falar. E eu sinto muito, Ev. Eu estava em Malibu lá em cima nas colinas em um caso e não havia serviço de celular. Eu sei que não te ajuda. Mas foi mesmo um golpe de azar."

"Eu sei disse," disse Evelyn. “E eu vi que você salvou aquela garota. Assim como eu sabia que você faria. Eu não quero que você se sinta mal com isso. Mas papai não vai parar. E eu não aguento mais. É como se ele não se importasse com o que eu quero. Ele só quer vencer. E conseguir minha custódia é uma vitória."

Keri ficou em silêncio, sorvendo seu café, sem certeza de como proceder. Finalmente, ela decidiu lançar tudo em uma frase só. Sua filha merecia isso.

“Escute, Ev. Eu não posso prometer que tudo vai acabar perfeitamente. Mas o que eu posso prometer é que eu sempre lutarei por você. Eu lutarei para ter certeza de que esse Supervisor Weatherford pague pelo que fez. Ele vai ficar na prisão por um tempo bem longo mesmo antes que alguém saiba o que ele fez com você. E eu garanto que você não foi a única garota machucada. Essa parte da vida dele também vai vir à tona. E uma coisa que eu sei com certeza é que caras que machucam criancinhas, especialmente políticos ricos e corruptos, não se dão muito bem atrás das grades. Ele vai ter próximos trinta anos bem feios."

Evelyn falhou miseravelmente em sufocar um sorriso. Então, algo aconteceu e seu rosto nublou.

"Tenho que testemunhar?" ela perguntou.

"Eu tenho uma sensação de que vai haver mais do que algumas outras garotas dispostas a se pronunciar. Mas não se preocupe muito sobre isso. Há outra situação na qual você possa ter que testemunhar, uma que eu estava esperando evitar até agora.”

"Qual é?" perguntou Evelyn, sua fronte ainda terrivelmente franzida.

"Não é uma regra invariável. Mas na Califórnia, assim que uma criança completa quatorze anos, as varas de família dão muito peso à suas preferências nas decisões de custódia. E como você deve se lembrar, você recentemente completou catorze anos."

"Por que você não me disse isso até agora?" Evelyn perguntou animadamente, seu rosto se iluminando.

“Porque não é o caminho que eu queria seguir. Eu esperava que seu pai e eu pudéssemos encontrar um jeito de fazer isso funcionar. Mas cada vez mais parece que ele não está disposto a isso. E depois de ontem, por cima do que aconteceu em Janeiro, não tenho certeza de que você deveria."

"Eu não quero mais vê-lo, mãe. Ele não é a mesma pessoa que ele era. E eu nem acho que ele sequer está interessado em entender quem eu sou agora. Estar lá é deprimente. Eu posso sentir a úlcera começar a voltar toda vez que eu penso sobre isso."

"OK, bem, Mags me deu o nome do advogado dela e eu vou conversar com ele hoje. Aparentemente, ele é o pior—no melhor sentido possível. Mas pode ficar meio pesado. Você precisa estar preparada para isso."

"Você não acha que eu posso lidar com pesado?" perguntou Evelyn cética.

"Sei que você consegue. Só queria te avisar. Mas eis o detalhe. Eu posso lidar com pesado também. Esse é meu trabalho. Lidar com coisas bem feias, para que você não precisa. E eu não vou te abandonar ou te decepcionar. Mas você tem que confiar em mim. Você tem que vir até mim quando você estiver com problemas, OK? Porque é o único jeito que vamos conseguir passar por essa bagunça se quisermos continuar juntas. Somos um time, você e eu. Parece bom?"

"Parece bom, mãe. Mesmo bem brega, parece bom."


CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

UM MÊS DEPOIS

Keri encostou o carro no estacionamento da delegacia de polícia e engoliu duramente, surpresa em quão nervosa ela sentia. Era final da tarde e o sol da primavera ainda estava alto no céu. Forçando-se a parar de procrastinar, saiu do carro e caminhou até o saguão, onde o sargento da recepção deu-lhe um meio sorriso bobo. Ela retribuiu.

Parecia que todos estavam mais amigáveis com ela ultimamente. Bem, talvez não todos; certamente não, Stephen. Depois que ela contratou o advogado de Mags, Porter K. Frendlehaus, Esq., como seu advogado de direito de família, ele ficou muito desagradável na verdade.

Mas Keri deixou Porter cuidar de tudo, incluindo preparar Evelyn para seu testemunho declarando sua forte preferência em viver com a mãe, assim como estabelecer que a sua tentativa de suicídio viesse imediatamente depois e, provavelmente em parte, devido ao seu tempo em companhia do pai.

O juiz concedeu a custódia temporária de Keri com zero visitação para Stephen. E mesmo que a decisão final não chegasse daqui a pelo menos cinco meses, ele parecia ter perdido muito interesse em lutar, uma vez que ficou claro que ele provavelmente perderia.

O ex-Supervisor do Condado Carl Weatherford também não era nada amigável, especialmente depois de saber que Keri havia rastreado mais de uma dúzia de garotas menores de idade que ele havia abusado no último ano, tudo enquanto usava a máscara. Elas o identificaram pela voz e pelas marcas características no seu corpo. Evelyn não precisaria testemunhar ou mesmo se pronunciar como vítima se ela não quisesse.

Os promotores estimaram que com essas acusações, junto com a corrupção pública, peculato e extorsão, mesmo com bom comportamento, ele passaria mais ou menos entre quarenta e sessenta anos atrás das grades. Como ele tinha sessenta e seis atualmente, provavelmente iria morrer na prisão. E devido à natureza de violência sexual de algumas das alegações, ele seria coloca em um presídio de segurança máxima, do que Keri gostava especialmente. Ele teria muitos amigos delicados lá.

Garrett Patterson—ele largou o aficionado apelido de "Trabalho Pesado"-se saiu melhor. Ao se confessar culpado e virar a evidência contra Weatherford, ele deveria ser sentenciado de seis a oito anos. Ele provavelmente sairia em menos de três. Mas ele era persona non grata pela vida de forças da lei.

E, além de Frank Brody, que acabara de se aposentar e parecia ter desenvolvido um fraquinho pelo garoto imediatamente depois disso, ninguém na Unidade de Pessoas Desaparecidas falaria com ele. Ray tinha sido avisado por Hillman em mais de uma ocasião que a tentativa de fazer qualquer forma de justiça pessoal poderia complicar a condenação de Patterson e colocar a sua própria liberdade em risco. Brody tinha dado Keri uma carta que Patterson escreveu para ela. E, embora ela não tenha queimado ou a jogado fora, ela não pode se fazer ler.

Talvez um dia... em uma década ou por aí.

A boa notícia foi que, após seu bom trabalho ajudando na apreensão do Vista, o ex-agente de segurança do shopping e atual policial Keith Fogerty, que estava em alta demanda, fora prometido à Divisão West LA como substituto de Patterson em sua formatura no mês que vem. Ele não era um detetive. Mas ele já tinha provado que tinha o conjunto de habilidades para fazer o trabalho pesado.

Muito mais amigável este dia era o pessoal do Assuntos Internos, que havia formalmente encerrado a investigação sobre Keri há algumas semanas. Ninguém estava realmente empurrando o caso após a detenção do Weatherford de qualquer jeito. Mas realmente se tornou discutível depois que o governador da Califórnia, Gregg Macklin, em um evento de campanha anunciando sua candidatura à reeleição, a perdoou por quaisquer ofensas relacionadas ao seu trabalho de investigar o desaparecimento de sua filha.

Nada formal foi dito. Mas Keri não pôde deixar de notar que Roan Jonas, junto com sua esposa, filho e filha, Tara, estavam todos de pé perto do governador no palco quando ele fez o anúncio.

Keri sabia que Hillman estava contente de ter o peso da investigação tirado dos seus ombros. Com seu nome já não mais sob uma nuvem, Brody, agora aposentado, e Jamie Castillo recentemente promovida a detetive para se juntar a Ray, Manny Suarez e Kevin Edgerton na Unidade de Pessoas Desaparecidas, parecia que ele tinha uma pequena mola extra no seu passo.

Isso era, até que Keri o disse que ela estaria saindo do cargo. Talvez por isso ela estava recebendo todos esses sorrisos meio patetas. Todos na divisão deviam saber que esse era seu último dia e que ela realmente só iria passar para pegar sua caixa de pertences pessoais. Despedidas eram estranhas, então ela estava recebendo todos esses meio-sorrisos no lugar.

Tinha sido uma decisão difícil. Parte dela ainda não tinha certeza de que ela estava fazendo a coisa certa. Mesmo nesse último mês, ela e Ray haviam resolvido sete dos nove casos que lhes foram atribuídos e retornaram duas crianças para seus lares. Vitórias assim a faziam pensar que ela deveria ficar por lá.

Claro, eles também encontraram duas outras crianças mortas, assim como três adultos, uma delas esquartejada pelo próprio marido. Esses eram os casos que a despedaçavam. E com uma adolescente vulnerável em recuperação em casa, ela não poderia arriscar ser nem um pouco mais despedaçada que o necessário.

Então, ela entrou em contato com algumas universidades-UCLA, USC, não LMU-sobre retornar para Criminologia. Todas elas saltaram no prospecto. Uma guerra de lances havia até começado. Eventualmente, ela escolheu UCLA, porque foram mais receptivos a ela continuar a fazer consultoria para o LAPD quando quisesse.

Porter K. Frendlehaus, Esq., também foi um grande defensor da mudança. Com seu estilo direto, ele destacou que o tribunal olharia favoravelmente para a sua mudança de um emprego no qual ela poderia ser baleada toda vez que ia trabalhar para um emprego no qual seu maior risco era dormir com alunos.

Ev nunca o disse, mas Keri sabia que ela estava animada com a mudança também, se apenas porque significava que a sua mãe teria horas de trabalho mais regulares, possivelmente conseguir pegá-la na escola ocasionalmente, até mesmo ir a uma reunião de pais aqui e ali.

Ela também percebeu que Ev se sentia um pouco culpado, como se fosse culpa dela que mãe dela não estivesse mais resgatando pessoas e algumas crianças poderiam morrer em consequência. Keri ficou atenta a isso, pronta para abordar se o assunto chegasse ao ponto. Era a última coisa se sua filha precisava se pilhar logo quando estava finalmente começando a sair da cova de escuridão que sua vida fora por seis anos.

Keri escolheu não pensar muito sobre a questão: essas crianças morreriam porque ela não estava no emprego? Não era produtivo. E ela chegou a uma resposta que era pelo menos um pouco satisfatória-recentemente promovida, a detetive Castillo seria a nova parceira de Ray.

Keri não conseguia pensar em ninguém melhor para tomar o seu lugar e manter aquelas crianças seguras. Jamie era afiada como uma alfinete, inteligente nas ruas e incrivelmente durona. Ela também havia se provado leal, trabalhadora e implacável na busca de justiça para as vítimas. Essas eram as qualidades que realmente importavam no final.

Keri sabia que Ray estava contente de ter Jamie a bordo. Mas ela poderia dizer que era complicado para ele. Ele queria acolher seu novo parceiro. Mas ele também queria mantê-la em seus dedos, para que ela não ficasse muito convencida.

Além disso, ele queria que Keri soubesse que ele estava feliz por ela e pela escolha que ela fizera (ele havia sugerido, afinal de contas), mas não tão feliz que não sentisse falta de tê-la por perto. Ele estava em uma espécie e situação impossível. Mas ele estava lidando com isso com a sua graça habitual.

Ele nem ligou para ela o provocando sobre como ela o esmagava agora no departamento do salário. Com o salário de professor da UCLA, sua retenção substancial como consultora para o departamento de polícia e o avanço em suas memórias, ela estava bastante enrubescida nos dias de hoje.

Ela achou que a coisa de livro de memórias era uma piada quando Mags mencionou isso. Mas quando um agente amigo dela (na agência rival de Stephen, nada menos) convocou Keri na ideia, foi difícil recusar. E o melhor de tudo, Mags ia coescrevê-lo com ela, desta vez sob seu nome verdadeiro. "Mary Brady" teria que ficar em segundo plano desta vez.

Um bônus adicional de todo o dinheiro a mais era que ela e Ev saíram do apartamento minúsculo de dois quartos para uma casa de três quartos muito mais espaçosa na cidade. Ainda era na Playa Del Rey, para que Ev fosse à mesma escola e ver todos seus amigos regularmente. Mas era fechada, com um sistema de segurança real. Até mesmo tinha uma associação de moradores.

Claro, Ev não ligava para isso. Ela estava mais anima que sua mãe havia concordado em se tornar uma mãe adotiva para Susan Granger, o que significava que ela meio que teria uma irmã. Keri fora relutante no início quando Rita a contou que Susan havia atingido o limite da sua estadia na casa compartilhada e iria para o sistema de adoção.

Mas quanto mais ela pensava nisso, menos podia pensar em uma razão para não fazê-lo. Susan a adorava e ela acabou adorando-a também. E realmente pensou que poderia ser capaz de fazer a diferença na vida dela.

Além disso, mesmo que ela estivesse um ano à frente de Ev na escola, elas haviam ficado bem próximas. Keri sabia que ajudava para ambas ter alguém para conversar que compreendesse as profundezas do que passaram. Mesmo que odiasse admitir, às vezes uma mãe não era suficiente. Às vezes uma garota precisava de uma irmã.

Keri estava pensando muito sobre isso. E embora ela não ousasse mencionar isso para Evelyn, havia a possibilidade muito real de que ela pudesse ter uma irmã de verdade. Se a situação de acolhimento familiar funcionasse, Keri estava considerando seriamente tornar as coisas permanentes e adotar Susan.

Com a cabeça cheia de pensamentos, Keri entrou pela porta do lobby da delegacia para encontrar a todos os trabalhadores da Divisão do Pacífico Oeste de Los Angeles de pé em atenção silenciosa. A Unidade de Pessoas Desaparecidas estava em um grupo junto a sua mesa.

Cada policial ela saudou em uníssono. Atordoada, ela conseguiu lembrar-se de saudar de volta. Depois de um segundo, todo mundo disparou em vivos aplausos e estridentes assobios. Nos próximos quinze minutos foram compostos de oficiais chegando para apertar sua mão ou dar-lhe um abraço.

Por um segundo, Keri pensou ter visto a Chefe Beecher no fundo da sala, atrás de uma multidão de pessoas. Mas quando ela tentou dar uma olhada melhor, quem estava lá havia ido embora. Talvez ela tivesse imaginado isso.

Ray ficou para trás quando chegou a vez da Unidade de Pessoas Desaparecidas. Hillman foi o último. Ao apertá-la com força, ele sussurrou em seu ouvido.

"Eu não posso acreditar que estou falando isso, Locke. Mas você não está tecnicamente aposentada, então se você ficar entediada no mundo acadêmico, me avise. Tenho certeza de que podemos encontrar algo para você."

"Obrigada, Tenente," disse ela, sem mencionar que a mesma ideia tinha ocorrido a ela.

Eventualmente ela saiu com Ray ao seu lado, carregando a caixa com as coisas. Ela deu um último aceno e então se virou para a porta, recusando-se a olhar para trás, intencionalmente direcionando seu foco no que estava à sua frente.

*

Evelyn correu na frente de Ray e da sua mão enquanto eles casualmente passeavam no caminho que levava do fim do Culver Boulevard até a Toes Beach. Eles tinham acabado de ter um jantar de comemoração no Playa Provisions, o restaurante favorito de sua mãe (e um que ela disse que ela podia realmente pagar agora) e estavam planejando assistir o pôr do sol sobre o Oceano Pacífico.

Evelyn parou onde o caminho se encontrava com a ciclovia Ballona Creek antes da areia e sentou-se num banco para esperar. Ela estava tonta, mas fazendo o seu melhor para esconder. Tudo tinha mudado tanto recentemente. E se as coisas corressem como planejado, ainda mais mudanças estavam a caminho.

Ray e sua mãe finalmente a alcançaram logo assim que o sol vermelho-alaranjado começou a mergulhar atrás do horizonte. Evelyn viu sua mãe tremer um pouco. Ray imediatamente tirou o casaco e envolveu-o nos ombros dela. Ele olhou para Evelyn.

"Você está OK aí?" ele chamou. "Importa se sua mãe e eu formos areia por um minuto?"

"Sim, estou bem," ela gritou de volta, suas pernas balançando para cima e para baixo com entusiasmo. "Vai nessa."

"Tire os sapatos," Ray disse ao tirar os próprios chinelos.

"Não quero ir para a areia," sua mãe disse. "Vai estar frio."

"Não seja covarde," ele disse.

"É, mãe, você é tão medrosa!" Evelyn gritou do banco.

"Eu sou medrosa-a mulher que é uma cicatriz de bala ambulante?"

"Você está enrolando," disse Ray, pisando na areia e buscando a mão dela.

"É, para de enrolar," disse Evelyn, apreciando a provocação imensamente.

"Ah, está bem," sua mãe disse e pegou a mão de Ray. Ela tirou seus sapatos e pisou na areia, sufocando um suspiro que sugeria que ela realmente a considerasse especialmente fria.

Ray levou-a a frente alguns poucos passos, de forma que eles estavam no topo de uma pequena duna, onde tinham uma visão melhor do pôr do sol. O sol estava caindo rápido. Agora estava apenas meio visível e pitadas de rosa e roxo estavam começando a aparecer.

"Noite linda," disse Ray.

"É mesmo," concordou sua mãe.

Era um pouco difícil escutá-la por cima das ondas quebrando à distância, mas Evelyn estava prestando atenção. Ela não queria perder nem um pedaço disso.

"Linda garota," Ray adicionou com indiferença, olhando para a mãe dela.

"Quem, eu?" ela respondeu divertidamente.

"Sim, você; o tipo de garota que alguém poderia passar o resto da sua vida do lado."

"O quê?" disse a mãe dela e Evelyn percebeu que o tom dela já não era brincalhão. Soava sério; quase assustado.

E quando Evelyn atinou, Ray estava abaixado em um joelho. Ele havia tirado uma pequena caixa preta do bolso e a abriu. Ev podia ver o brilho no que restara da luz.

Ela não podia ouvir o que Ray estava dizendo. Mas ela podia ver as lágrimas correndo em sua face enquanto ele falava.

A mãe dela não dizia uma palavra. Ela estava apenas olhando para Ray com os olhos mais arregalados do que Evelyn jamais havia visto. E então Evelyn viu outra coisa.

Era algo que ela havia visto na sua cabeça muitas vezes durante todos esses anos, quando ela estava sofrendo, quando ela fechava os olhos e precisava de algo para se agarrar, algo para mantê-la seguindo em frente quando ela achava que não podia mais.

Ela viu sua mãe sorrir.

 

 

                                                   Blake Pierce         

 

 

 

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