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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UM RASTRO DE IMORALIDADE / Blake Pierce
UM RASTRO DE IMORALIDADE / Blake Pierce

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Mesmo Sarah Caldwell tendo apenas dezesseis anos, ela tinha uma boa cabeça e um senso de quando as coisas pareciam estar estranhas. E isso parecia estranho.

Ela quase não saía. Mas quando Lanie Joseph, sua melhor amiga desde o ensino fundamental, ligou e pediu-lhe para ir ao shopping com ela, esta tarde, Sarah não tinha uma razão convincente para não ir.

Mas desde que elas se encontraram, Lanie parecia nervosa. Sarah não conseguia entender por que andar ao redor do Fox Hills Mall poderia gerar tanta ansiedade. Ela notou que quando elas estavam experimentando colares baratos na Claire’s, as mãos de Lanie tremeram quando ela tentou apertar o fecho.

A verdade era que Sarah realmente não fazia ideia do que estava deixando a Lanie nervosa. Elas ficaram incrivelmente próximas durante todo o ensino fundamental. No entanto, quando a família de Sarah se mudou do sul de Culver City para um bairro ainda de classe trabalhadora, mas menos perigoso do que Westchester, elas lentamente se afastaram. As comunidades ficavam a apenas algumas milhas de distância. Mas, sem carros, nenhuma delas tinha um, ou um compromisso sério para ficarem conectadas, elas perderam contato.

Ao passar maquiagem em Nordstrom, Sarah deu umas olhadas para Lanie no espelho. O cabelo loiro claro de sua amiga estava manchado de azul e rosa. Ela já tinha tanta maquiagem escura nos olhos que não havia realmente nenhuma razão para experimentar qualquer coisa no balcão. Sua pele clara parecia ainda mais pálida quando contrastada com suas múltiplas tatuagens e o top preto com o short estilo Daisy Dukes que ela usava. No meio da intencional arte corporal, Sarah não podia deixar de notar algumas contusões misturadas.

Ela olhou para o seu próprio reflexo e ficou chocada com o contraste.

Ela sabia que ela era bonita também, mas de uma forma mais moderada, quase sensata. O cabelo castanho batendo nos ombros foi recolhido em um rabo de cavalo. Sua própria maquiagem era sutil, destacando seus olhos castanhos e cílios longos. Sua pele morena não tinha tatuagem e ela usava jeans desbotados e um bonito, mas longe de ser vulgar, top azul.

Ela se perguntou se ela tivesse ficado no antigo bairro, será que estaria

como Lanie agora? Quase certamente, não. Seus pais nunca teriam permitido que ela seguisse por esse caminho.

Se Lanie tivesse se mudado de Westchester, será que ela ainda assim se pareceria com uma prostituta adolescente que trabalha em uma parada de caminhões?

Sarah sentiu seu rosto ficar vermelho enquanto ela balançou o pensamento para fora de sua cabeça. Que tipo de pessoa era ela, com tais pensamentos horríveis sobre alguém com quem ela tinha brincado de Barbie quando menina? Ela se virou, esperando que Lanie não visse a culpa que certamente estava estampada em seu rosto.

“Vamos fazer um lanche na praça de alimentação,” disse Sarah, tentando mudar a dinâmica. Lanie concordou e elas se dirigiram para fora, deixando a vendedora desapontada para trás.

Quando elas se sentaram em uma mesa comendo pretzels, Sarah finalmente decidiu descobrir o que estava acontecendo.

“Então você sabe que eu sempre gosto de vê-la, Lanie. Mas você parecia tão chateada quando você me ligou e você parece tão desconfortável... Há algo errado?”

“Não. Tudo certo. Eu só... Meu namorado virá aqui e eu acho que eu estou nervosa com o fato de você conhecê-lo.

Ele é um pouco mais velho e estamos juntos há somente algumas semanas. Eu meio que sinto que posso perdê-lo e achei que você poderia me dar uma força, tipo, se ele me vir com minha amiga de longa data, isso poderia fazê-lo me ver de uma forma diferente.”

“Como é que ele a vê agora?” Sarah perguntou, preocupada.

Antes que Lanie pudesse responder, um cara se aproximou de sua mesa.

Mesmo antes das apresentações, Sarah sabia que aquele deveria ser o namorado.

Ele era alto e super-magro, estava vestido com jeans apertados e uma camiseta preta que realçava sua própria pele pálida e ele tinha várias tatuagens. Sarah percebeu que ele e Lanie tinham a mesma tatuagem de caveira com ossos cruzados em seus pulsos esquerdos.

Com seu longo, cabelo preto espetado e penetrantes olhos escuros, ele era bonitinho. Ele lembrou Sarah um daqueles vocalistas de bandas de hair metal dos anos 80 que sua mãe sempre tietava, com nomes como Skid Row ou Motley Row ou algo Row. Ele facilmente parecia ter vinte e um anos.

“Ei, gatinha,” ele disse casualmente e se inclinou para dar um beijo em Lanie, um beijo surpreendentemente apaixonado, pelo menos para uma praça de alimentação no shopping. “Você disse para ela?”

“Eu não tive a chance ainda,” Lanie disse timidamente, antes de se virar para Sarah. “Sarah Caldwell, este é o meu namorado, Dean Chisolm. Dean, esta é a minha amiga mais antiga do mundo, Sarah.”

“Prazer em conhecê-lo,” disse Sarah, acenando educadamente.

“O prazer é todo meu,” disse Dean, tomando-lhe a mão e fazendo uma profunda reverência, brincando com o exagero do cumprimento. “Lanie fala sobre você o tempo todo, como ela queria que vocês pudessem sair mais. Então, eu estou realmente feliz porque vocês podem ficar juntas hoje.”

“Eu também,” disse Sarah, impressionada com o charme inesperado do cara, mas prudente, no entanto. “O que ela não teve a chance de me dizer?”

Todo o rosto de Dean deu um sorriso que facilmente pareceu derreter suas suspeitas.

“Ah,” ele disse. “Eu vou receber alguns amigos na minha casa esta tarde e nós pensamos que poderia ser divertido se você vier. Alguns deles são de bandas. Uma delas precisa de um novo vocalista. Lanie pensou que você gostaria de conhecê-los. Ela diz que você é realmente uma boa cantora.

“Sarah olhou para Lanie, que sorriu de volta, mas não disse nada.

“É isso que você quer fazer?” Sarah perguntou a ela.

“Pode ser divertido tentar algo novo,” disse Lanie. Seu tom era casual, mas Sarah reconheceu o olhar em seus olhos, que pedia para a amiga não dizer nada para envergonhá-la na frente de seu novo namoradinho.

“Onde é?” Perguntou Sarah.

“Hollywood,” disse ele, com os olhos brilhando antecipadamente.

“Vamos nessa. Vai ser divertido.”

 

Sarah sentou-se no banco de trás do velho Trans Am de Dean. A relíquia estava bem conservada por fora, mas o interior estava cheio de pontas de cigarro e embalagens amassadas da McDonald.

Dean e Lanie sentaram-se na frente. Com a música alta, era impossível ter uma conversa. Passaram por Hollywood na direção de Little Armenia.

Sarah olhou para a amiga no banco do passageiro na frente e perguntou-

se se estava mesmo ajudando a amiga lhe fazendo companhia. Seus pensamentos se voltaram para o banheiro das mulheres no shopping, onde foram antes de deixar o shopping, lá Lanie tinha finalmente sido transparente com ela.

“Dean está super impulsivo,” ela disse enquanto elas retocavam a maquiagem pela última vez no espelho do banheiro. “E eu estou preocupada que se eu não acompanhar o ritmo dele, posso perdê-lo. Quero dizer, ele é tão sexy. Ele poderia escolher entre várias meninas. E ele não me trata como uma adolescente. Ele me trata como uma mulher.”

“É por isso que você tem essas contusões, porque ele te trata como uma mulher?” Ela tentou cruzar o olhar com a Lanie no espelho, mas sua amiga se recusou a olhar para ela diretamente.

“Ele apenas estava chateado,” disse ela. “Ele disse que eu tinha vergonha dele e que era por isso que eu não apresentava a qualquer das minhas amigas respeitáveis. Mas a verdade é que eu realmente não tenho nenhuma amiga mais.

Foi quando eu pensei em você. Achei que, se vocês se conhecessem, seria um golpe duplo. Ele saberia que eu não estava escondendo ele e você me daria moral, porque eu tenho pelo menos uma amiga que é, você sabe, alguém com futuro.”

Elas passaram por um buraco e os pensamentos de Sarah foram arrancadas de volta ao presente. Dean estava levando ambas para um estacionamento em uma rua decadente com uma fileira de pequenas casas, todas com grades nas janelas.

Sarah pegou o telefone e tentou pela terceira vez enviar um texto rápido para sua mãe. Mas ela ainda não conseguia. Foi estranho, porque elas não estavam em um lugar remoto ou algo assim; elas estavam no coração de Los Angeles.

Dean estacionou o carro e Sarah colocou seu telefone de volta na bolsa.

Se o sinal for ruim também na casa dele, ela usará o telefone fixo. Afinal, a mãe dela era bem compreensiva, mas ficar horas sem “dar notícias”, definitivamente, era contra as regras da família.

Enquanto subiam o caminho para a casa, Sarah já podia ouvir a batida da música. Um arrepio de incerteza percorria seu corpo, mas ela o ignorou.

Dean bateu com força na porta da frente e esperou enquanto alguém lá dentro abriu o que soou como vários cadeados.

Finalmente, a porta abriu uma fenda para revelar um cara cujo rosto estava escondido sob uma massa de cabelos longos, despenteados. O forte cheiro de maconha flutuava para fora e alcançou Sarah de forma tão inesperada que ela começou a tossir. O cara viu Dean e lhe deu um toque com o punho, em seguida, abriu a porta até o final para deixá-los entrar.

Lanie entrou e Sarah ficou por perto atrás dela. Bloqueando a entrada do resto da casa havia uma grande cortina de veludo vermelho, como um cenário de um mágico extravagante. Quando o cara de cabelos compridos trancou as portas, Dean puxou a cortina e levou todos para a sala.

Sarah ficou chocado com o que viu. O quarto estava cheio de sofás, poltronas para duas pessoas, e pufes. Em cada um deles havia um casal se agarrando e, em alguns casos, fazer muito mais. Todas as meninas pareciam ser da idade de Sarah e a maioria parecia drogada. Algumas até pareciam desmaiadas, o que não impedia que os rapazes, todos pareciam mais velhos, de fazer a parte deles. O sentimento de inquietude que ela teve andando até a casa voltou, mas muito mais forte agora.

Eu não quero ficar em um lugar desses.

O ar estava carregado com maconha e algo mais doce e mais forte que Sarah não reconhecia o odor. Quase imediatamente, Dean entregou para Lanie um baseado. Ela deu uma longa tragada antes de oferecê-lo para Sarah, que não quis. Ela decidiu que tudo aquilo já tinha chegado ao seu limite, o lugar parecia o cenário de um filme pornô antigo.

Ela pegou o telefone para chamar um Uber, mas descobriu que ainda não tinha sinal.

“Dean,” ela gritou por cima da música, “eu preciso ligar para minha mãe para que ela saiba que eu vou chegar tarde, mas não consigo. Você tem um telefone fixo?”

“Claro. Há um em meu quarto. Eu vou lhe mostrar,” ele ofereceu, mais uma vez piscando com um sorriso largo e caloroso antes de se virar na direção de Lanie. “Gata, pega para mim uma cerveja na cozinha? É naquela direção.”

Lanie assentiu e foi na direção que ele apontou e Dean fez sinal para Sarah segui-lo por um corredor. Ela não tinha certeza de por que mentiu sobre a necessidade de ligar para a mãe. Mas algo sobre esta situação a fez sentir como se não fosse “cair bem” dizer a verdade.

Dean abriu uma porta no final do corredor e se afastou para deixá-la

entrar. Ela olhou ao redor, mas não viu um telefone.

“Onde está o seu telefone fixo?” Ela perguntou, voltando-se para Dean quando ouviu uma fechadura. Ela viu que ele já tinha virado a fechadura e colocado o cadeado na porta do quarto.

“Desculpe-me,” disse ele, dando de ombros, mas sem soar culpado. “Eu devo ter colocado ele na cozinha. Acho que esqueci ele lá.”

Sarah ponderou o quão agressiva ela precisava parecer. Algo estava muito errado ali. Ela estava em um quarto trancado no que parecia ser algo próximo a um bordel em uma parte decadente de Little Armenia. Ela não tinha certeza de o quão eficaz seria gritar sob aquelas circunstâncias.

Seja doce. Aja como se não entendesse. Basta sair.

“Tudo bem,” disse ela de maneira desenvolta, “vamos para a cozinha, então.”

Enquanto falava, ela ouviu uma descarga. Ela se virou e viu a porta do banheiro aberta, revelando um cara latino-americano enorme vestindo uma T-shirt branca que subia em sua enorme barriga peluda. Sua cabeça era raspada e ele tinha uma longa barba. Atrás dele no piso de linóleo do banheiro estava uma garota que não poderia ter mais de quatorze anos. Ela estava apenas de calcinha e parecia estar desmaiada.

Sarah sentiu o peito apertar e sua respiração ficar superficial. Ela tentou esconder o pânico crescente que sentia.

“Sarah, este é Chiqy,” disse Dean.

“Oi, Chiqy”, disse ela, forçando sua voz para manter a calma.

“Desculpe-me, mas eu só estou indo para a cozinha para fazer uma chamada. Dean, você poderia abrir a porta para mim?”

Ela decidiu que em vez de tentar encontrar a cozinha, onde ela duvidava que veria um telefone, ela iria direto para a porta da frente. Uma vez fora, acenaria para alguém para pedir uma carona. Então, ela ligaria para o 911

para conseguir alguma ajuda para a Lanie.

“Deixe-me dar uma olhada melhor em você”, Chiqy ordenou em uma voz grave, ignorando o que ela disse. Sarah virou-se para ver o homem enorme olhando-a de cima a baixo. Depois de um momento, ele lambeu os lábios. Sarah sentiu vontade de vomitar.

“O que você acha?” Dean perguntou-lhe ansiosamente.

“Eu acho que se ela usar um vestidinho de verão e umas tranças, teremos uma sólida fonte de lucros aqui.”

“Eu vou agora,” disse Sarah e correu para a porta. Para sua surpresa, Dean se afastou, divertindo-se com a cena.

“Você usou o amortecedor para que ela não pudesse ligar ou enviar mensagens?” Ela ouviu Chiqy perguntar atrás dela.

“Sim,” respondeu Dean. “Eu a vi bem de perto. Ela tentou muito, mas não conseguiu. E você, Sarah?”

Ela se atrapalhou com o cadeado quando uma enorme sombra de repente bloqueou a luz. Ela começou a se virar, mas antes que ela pudesse completar a volta, ela sentiu um golpe forte na parte traseira de sua cabeça e então tudo ficou escuro.

 

 

 


 

 

 


CAPÍTULO UM

O coração da Detetive Keri Locke estava batendo com intensidade.

Mesmo estando no meio de uma enorme delegacia, ela ignorava tudo ao seu redor. Ela mal conseguia pensar direito quando viu o e-mail em seu telefone, recusando-se a acreditar que era real.


disposto a lhe encontrar, se você seguir as regras. entrarei em contato em breve.


As palavras eram simples, mas o significado era colossal.

Durante seis longas semanas, ela esperou por isso, na esperança de que o homem que ela suspeita ter sequestrado sua filha cinco anos atrás faria contato. E agora que ele fez.

Keri deslizou seu telefone para longe na mesa e fechou os olhos, tentando ficar serena enquanto fazia a sua cabeça entender aquela situação.

Quando ela descobriu as informações de contato do homem conhecido apenas como o Colecionador, ela marcou um encontro. Mas ele nunca apareceu.

Ela o contatou para descobrir o que aconteceu. Ele indicou que ela não tinha seguido as regras, mas deu a entender que poderia entrar em contato no futuro. Ela precisou de toda a sua disciplina e paciência para não tentar entrar em contato com ele novamente.

Ela desesperadamente queria fazer isso, mas estava preocupada, tinha receio de ir com tudo, receio de que ele ficasse nervoso e excluísse o endereço de e-mail completamente, deixando-a sem nenhuma maneira de encontrá-lo, ou encontrar a Evie.

E agora, depois de todas essas semanas torturantes de silêncio, ele finalmente entrou em contato novamente. Claro, ele não sabia que estava se comunicando com a mãe de Evie ou mesmo que era uma mulher. Tudo o que sabia era que esta pessoa era um potencial cliente interessado em discutir um sequestro por encomenda.

Desta vez, ela teria um plano melhor do que antes. Da última vez, ela teve menos de uma hora para chegar ao local de encontro. Ela tentou arranjar um chamariz para ir no lugar dela e assim ela poderia avaliar a

situação de longe. Mas de alguma forma ele soube do chamariz e não foi.

Ela não podia deixar isso acontecer novamente.

Fique calma. Você esperou por muito tempo e agora isso deu resultados.

Não arruíne tudo sendo impulsiva. Não há nada que você possa fazer agora, aliás. A situação está nas mãos dele. Basta dar uma resposta básica e esperar o retorno.

Keri digitou uma palavra:


entendido


Então, ela colocou o telefone em sua bolsa e se levantou da mesa, muito nervosa e animada para ficar sentada e parada. Sabendo que não havia nada mais que pudesse fazer, ela tentou tirar o Colecionador de sua mente.

Ela se dirigiu para a sala de descanso para comer alguma coisa. Eram mais de 4 horas da tarde e seu estômago estava roncando, embora ela não tivesse certeza se isso era porque ela tinha ignorado o almoço ou era por causa da ansiedade generalizada.

Quando ela chegou, ela viu o seu parceiro, Ray Sands, vasculhando a geladeira. Ele era famoso por pegar qualquer alimento não devidamente marcado.

Felizmente sua salada de frango, com seu nome claramente adesivado no recipiente, estava escondido no canto inferior da geladeira. Ray, um homem negro de 1,90 m, 104 kg com uma cabeça calva e um corpo musculoso, teria que estar realmente desesperado para chegar até lá por apenas uma salada.

Keri estava na porta, silenciosamente desfrutando da visão da bunda de Ray se contorcendo enquanto ele se contorcia. Além de ser seu parceiro, ele também era o seu melhor amigo e, ultimamente, talvez algo mais.

Ambos sentiram uma forte atração entre si e admitiram isso um para o outro há menos de dois meses, quando Ray estava se recuperando de um ferimento de bala que tinha sofrido quando capturou um sequestrador de crianças.

Mas, desde então, eles tinham dado apenas pequenos passos. Eles flertavam mais abertamente quando estavam sozinhos e houve vários semi-encontros, quando um ia ao apartamento do outro para assistir a um filme.

Mas ambos pareciam ter medo de dar o próximo passo. Keri sabia por

que se sentia dessa forma e suspeitava que Ray sentia o mesmo. Ela estava preocupada que, se eles decidissem ir avante nisso e não desse certo, tanto a parceria quanto a amizade poderiam ser postas em risco. Era uma preocupação válida.

Nenhum deles tinha um histórico romântico maravilhoso. Ambos se divorciaram. Ambos tinham traído seus cônjuges. Ray, um ex-boxeador profissional, era um famoso mulherengo. E Keri tinha que admitir que desde que Evie foi levada, ela se tornou um grande nervo pulsante, constantemente à beira de ficar fora de controle. O Match.com não seria capaz resolver o problema deles rapidamente.

Ray percebeu que estava sendo observado e se virou, metade de um sanduíche não identificado estava em sua mão. Vendo que não havia ninguém na sala, só a Keri, ele perguntou: “Gosta do que vê?” E piscou.

“Não seja convencido, Incrível Hulk,” ela o alertou. Eles gostavam de provocar um ao outro com nomes de animais que destacavam a diferença substancial de tamanho deles.

“Quem está usando o duplo sentido agora, senhorita Bianca?” Ele perguntou, sorrindo.

Keri viu o rosto dele escurecer e percebeu que não tinha feito um bom trabalho ao tentar esconder o seu nervosismo sobre o Colecionador. Ele a conhecia muito bem.

“O que há de errado?” Ele perguntou imediatamente.

“Nada,” ela disse quando passou por ele e se abaixou para pegar sua salada. Ao contrário dele, ela não tinha nenhum problema para se mover em espaços apertados. Ela não era tão pequena quanto o apelido fictício do camundongo poderia sugerir, em comparação com Ray, seu corpo de 1,67m e 58 kg era minúsculo.

Ela podia sentir os olhos dele sobre ela, mas fingiu não perceber. Ela não queria discutir o que estava em sua mente por algumas razões.

Primeiramente, se ela lhe contasse sobre o e-mail do Colecionador, ele iria querer esmiuçar a coisa com ela. E isso minaria os seus esforços para manter a sanidade não pensando no assunto.

Mas havia outra razão. Keri estava sob vigilância por um advogado desonesto chamado Jackson Cave, que era famoso por representar pedófilos e sequestradores de crianças. Para obter as informações que iriam levá-la ao Colecionador, ela invadiu o escritório dele e copiou um arquivo

secreto.

A última vez que se viram, Cave insinuou que sabia o que tinha feito e disse abertamente que ele estava de olho nela. Ficou claro para ela o que ele quis dizer. Desde então, ela fazia buscas regulares procurando por dispositivos de escuta e tinha o cuidado de só falar sobre o Colecionador em ambientes seguros.

Se Cave soubesse que ela estava à procura do Colecionador, ele poderia avisá-lo. Daí, ele desapareceria e ela nunca mais encontraria a Evie.

Portanto, não havia a mínima chance de se comentar sobre isso com o Ray aqui.

Mas ele não sabia de nada disso, então, ele a pressionou.

“Eu sinto que algo está acontecendo,” disse ele.

Mas antes que Keri pudesse diplomaticamente pará-lo, seu chefe passou pela porta. Detetive Cole Hillman, seu supervisor imediato, tinha cinquenta anos mas parecia significativamente mais velho, com um rosto profundamente enrugado, cabelo grisalho despenteado e uma barriguinha crescendo, que ele não conseguia esconder com seus camisões de grandes numerações.

Como de costume, ele usava paletó e gravata, mas o paletó era mal ajustado e a gravata ridiculamente frouxa.

“Bom. Fico feliz em ver que vocês dois estão aqui,” disse ele, ignorando qualquer tipo de cumprimento. “Venham comigo. Vocês têm um caso.”

Eles o seguiram de volta ao seu escritório e ambos se sentaram no sofá contra a parede. Sabendo que ela provavelmente não teria uma chance para comer mais tarde, Keri engoliu sua salada enquanto Hillman lia para eles.

Ela notou que Ray já tinha terminado o sanduíche que tinha roubado antes de se sentarem. Hillman mergulhou no assunto.

“Sua possível vítima é uma menina de dezesseis anos de idade, de Westchester, Sarah Caldwell. Ela não foi mais vista desde o almoço. Os pais a chamaram várias vezes, disseram que não conseguiam encontrá-la.”

“Eles estão pirando porque a filha adolescente não aparece?” Ray perguntou cético. “Eles e praticamente todas as famílias nos Estados Unidos.”

Keri não respondeu, apesar de sua inclinação natural para discordar.

Ela e Ray tinham discutido este ponto muitas vezes. Ela achava que ele era muito lento para entrar em casos como este. Ele sentia que a experiência

pessoal dela a tornava suscetível de entrar muito prematuramente na situação. Era uma fonte constante de atrito e ela não tinha vontade de entrar nela neste momento. Mas Hillman, aparentemente, estava disposto.

“Eu também pensava assim no início,” disse Hillman, “mas eles foram muito convincentes de que a filha nunca sumiria por tanto tempo sem avisar. Eles também tentaram verificar a localização dela usando o GPS em seu smartphone. O celular foi desligado.”

“Isso é um pouco estranho, mas mesmo assim,” Ray reiterou.

“Escute, pode não ser nada. Mas eles insistiram, em pânico. E eles sabem que a política de se esperar por vinte e quatro horas antes de se iniciar uma busca não se aplica a menores. Vocês dois não têm quaisquer casos urgentes agora, então eu disse a eles que vocês iriam até lá para pegar o relato deles. Inferno, a menina pode estar em casa quando vocês chegarem lá. Mas não custa nada fazer o seu trabalho.

“E isso tira o nosso da reta caso algo esteja acontecendo.”

“Soa bem para mim,” disse Keri, levantando-se com a boca cheia da sua última porção de salada.

“Claro que soa bem para você,” Ray murmurou enquanto pegava o endereço de Hillman. “Outra caçada maluca para você me arrastar.”

“Você sabe que adora isso,” disse Keri, saindo pela porta da frente.

“Vocês dois poderiam, por favor, ser um pouco mais profissionais, quando chegarem nos Caldwells?” Hillman gritou pela porta aberta. “Eu gostaria que eles pensassem que estamos, pelo menos, fingindo levá-los a sério.”

Keri jogou o recipiente de salada no lixo e se dirigiu para o estacionamento. Ray teve que correr para acompanhá-la. Ao chegarem à saída, ele se inclinou e sussurrou para ela.

“Não pense que você está a salvo mantendo sei lá o quê em segredo para mim. Você pode me dizer agora ou mais tarde. Mas eu sei que algo está acontecendo com você.”

Keri tentou não reagir visivelmente. Havia alguma coisa acontecendo. E

ela planejava contar tudo para ele quando fosse seguro. Mas ela precisava encontrar um local mais seguro para contar ao seu parceiro, melhor amigo, e potencial namorado que ela poderia estar à beira de finalmente pegar o sequestrador de sua filha.

CAPÍTULO DOIS


Quando eles pararam na frente da casa dos Caldwell, o estômago de Keri de repente se contraiu.

Não importa quantas vezes ela se encontrasse com a família de uma criança potencialmente sequestrada, ela sempre era voltava para aquele momento em que viu sua própria menina, de apenas oito anos de idade, sendo carregada através da grama verde brilhante de um parque por um estranho malévolo com um boné de beisebol puxado para baixo para esconder o rosto.

Ela sentiu o mesmo pânico familiar subindo pela sua garganta agora, o mesmo que ela tinha sentido quando perseguiu o homem através do estacionamento de cascalho e o viu jogando Evie em sua van branca, como uma boneca de pano. Ela reviveu o horror de ver o adolescente que tentou parar o homem ser esfaqueado até a morte.

Ela estremeceu com a lembrança da dor que sentiu enquanto corria descalça no cascalho, ignorando as fincadas afiadas das pedras em seus pés enquanto ela tentava alcançar a van que estava arrancando e fugindo.

Ela recordou a sensação de impotência que a dominou quando percebeu que a van não tinha placa e que ela não tinha quase nenhuma descrição para dar à polícia.

Ray estava familiarizado com o quanto ela sempre ela foi afetada por este momento e sentou-se calmamente no banco do motorista, enquanto ela lidava com um ciclo de emoções e reunia forças para o que estava por vir.

“Você está bem?” Ele perguntou, quando viu seu corpo finalmente relaxar um pouco.

“Quase,” disse ela, puxando para baixo o espelho do visor e dando uma última olhada para ter certeza de que ela não estava toda desarrumada.

A pessoa olhando para ela parecia muito mais saudável do que estava alguns meses atrás. Os círculos pretos que ela costumava ter abaixo de seus olhos castanhos não estavam mais lá e eles não estavam vermelhos. Sua pele estava menos manchada. Seu cabelo loiro e sujo, mesmo estando ainda puxado para trás em um prático rabo de cavalo, não estava mais gorduroso e sebento.

Keri estava se aproximando do seu aniversário de trinta e seis anos, mas ela parecia melhor do que estava desde que Evie foi levada há cinco anos.

Ela não tinha certeza se era por causa do sentimento de esperança criado desde que o Colecionador insinuou que entraria em contato, várias semanas atrás.

Ou talvez fosse a real possibilidade de romance com Ray surgindo no horizonte. Isso também pode ter ocorrido por causa da sua recente mudança da casa do barco, que por vários anos ela chamou de lar, para um apartamento de verdade. Ou pode ter sido por causa da sua redução de consumo de grandes quantidades de uísque.

Seja o que for, ela notou mais homens, do que de costume, virando a cabeça para vê-la enquanto andava por aí esses dias. Ela não se importava, mesmo porque, pela primeira vez ela se sentiu como se tivesse algum poder sobre sua vida, quase sempre descontrolada.

Ela subiu o espelho e virou-se para Ray.

“Pronto,” disse ela.

Enquanto caminhavam até a porta da frente, Keri reparou no bairro. Esta era a parte mais setentrional de Westchester, ao lado da auto-estrada 405 e ao sul do Howard Hughes Center, um grande complexo varejista e de escritórios que dominava o horizonte nesta parte da cidade.

Westchester tinha uma reputação de bairro operário, e a maioria das casas eram modestas e com um andar. Mas até mesmo o custo daquelas casas explodiu nos últimos doze anos e meio.

Como resultado, a comunidade era uma mistura de veteranos que viviam ali desde sempre e famílias de profissionais que não queriam viver em casas padronizadas, preferiam algum lugar com personalidade. Keri imaginou que essas pessoas eram assim.

A porta se abriu antes mesmo de chegar à varanda e dela saiu um casal claramente preocupado. Keri ficou surpresa com a idade deles. A mulher—

baixinha, hispânica, com um corte repicado sem sentido—parecia estar nos meados dos seus cinquenta anos. Ela usava um terninho de bom caimento e um par de sapatos pretos antigos, mas bem cuidados.

O homem tinha facilmente quinze centímetros a mais que ela. Ele era branco, careca, com tufos de cabelo grisalho e loiro e estava com seus óculos pendurados no pescoço. Ele tinha, no mínimo, a mesma idade dela e provavelmente estava mais perto dos sessenta anos. Ele estava mais casual do que ela, com calças confortáveis e soltas e uma camisa xadreza de botões. Seus sapatos marrons estavam arranhados e um dos cadarços não

estava amarrado.

“São os detetives?” Perguntou a mulher, estendendo a mão para apertar a mão deles antes mesmo de ter a confirmação.

“Sim, senhora,” Keri respondeu, assumindo a liderança. “Sou a Detetive Keri Locke da LAPD, Unidade de Pessoas Desaparecidas da Divisão do Pacífico Oeste de Los Angeles. Este é o meu parceiro, o Detetive Raymond Sands.”

“Que bom conhecê-los, pessoal,” disse Ray.

A mulher acenou para que entrassem enquanto falava.

“Obrigada por terem vindo. Meu nome é Mariela Caldwell. Este é o meu marido,

Edward.”

Edward acenou com a cabeça, mas não falou nada. Keri sentiu que eles não sabiam como começar, sendo assim ela tomou a iniciativa.

“Por que não sentamos na cozinha e vocês podem nos dizer a razão de estarem tão preocupados?”

“Claro,” disse Mariela, e levou-os através de um corredor estreito decorado com as fotos de uma menina de cabelos escuros com um sorriso caloroso. Havia pelo menos vinte fotos que mostravam toda a sua vida, desde o nascimento até agora. Chegaram a uma pequena, mas bem equipada, área de café da manhã. “Aceitam alguma coisa—um café, um lanche?”

“Não, obrigado, senhora,” Ray disse enquanto tentava se espremer contra a parede para manobrar e se sentar na cadeira. “Vamos todos nos sentar e ter o máximo de informações possível, o mais rápido que pudermos. Por que você não começa nos dizendo o que tem lhe preocupado? No meu entendimento a Sarah está sem fazer contato por apenas algumas horas.”

“Quase cinco horas agora,” Edward disse, falando pela primeira vez quando se sentou em frente ao Ray. “Ela ligou para a mãe ao meio-dia para dizer que se encontraria com uma amiga que não via há algum tempo. São quase cinco horas agora. Ela sabe que deve dar notícias a cada duas horas quando sai, mesmo que seja apenas um sms para dizer onde ela está.”

“Ela não se esqueceu?” Ray perguntou, mantendo o seu tom neutro de modo que apenas Keri percebeu o seu ceticismo subjacente. Nenhum deles falou por um momento e Keri ficou preocupada, achando que Ray os tinha

ofendido. Finalmente Mariela respondeu.

“Detetive Sands, eu sei que pode ser difícil de acreditar. Mas não, ela não se esquece de fazer isso nunca. Ed e eu tivemos a Sarah depois de mais velhos. Depois de muitas tentativas fracassadas, fomos abençoados com a chegada dela. Ela é a nossa única filha e eu admito que estamos ambos um pouco, qual é mesmo a expressão, superprotegendo ela?”

“Colocando-a em uma redoma de vidro,” Ed acrescentou com um sorriso irônico.

Keri sorriu também. Ela nem podia culpá-los.

“De qualquer forma,” Mariela continuou, “Sarah sabe que ela é o nosso bem maior no mundo e, surpreendentemente, ela não se ressente ou se sente sufocada. Nós cozinhamos juntas nos fins de semana. Ela ainda gosta de ser levada para o trabalho pelo pai. Ela ainda foi comigo para um show da banda Motley Crue há alguns meses.

Ela nos adora. E porque ela sabe o quão preciosa ela é para nós, ela é muito responsável sobre nos manter informados. Nós estabelecemos a regra ‘escreva sobre onde você está’. Mas ela escolheu a regra de duas horas.”

Keri observava os dois de perto enquanto eles falavam. A mão de Mariela estava em Ed e ele estava acariciando as costas dela com o polegar. Ele esperou até que ela terminasse, em seguida, falou.

“E mesmo se ela tivesse se esquecido, pela primeira vez, ela não ficaria tanto tempo sem entrar em contato ou sem responder a qualquer uma das nossas mensagens e chamadas. Cá entre nós, nós enviamos uma dúzia de mensagens e ligamos uma meia dúzia de vezes.

Na minha última mensagem eu disse estava chamando a polícia. Se ela tivesse recebido qualquer uma dessas, ela teria retornado. E como eu disse ao seu tenente, o GPS no telefone dela está desligado. Isso nunca aconteceu antes.”

Esse detalhe perturbador pairou naquele cômodo, ameaçando submergir todo o resto. Keri tentou conter qualquer movimentação que levasse ao pânico, fazendo rapidamente a próxima pergunta.

“Sr. e Sra. Caldwell, posso perguntar por que Sarah não foi à escola hoje? É uma sexta-feira.”

Ambos olharam para ela com expressões de surpresa. Mesmo Ray pareceu surpreso.

“É o dia de Ação de Graças,” disse Mariela. “Não há aulas hoje.”

Keri sentiu seu coração despencar até o seu intestino. Apenas quem tem filhos saberia esse tipo de detalhe e para todos os efeitos práticos, ela não era mãe mais.

Evie teria treze anos gora. Em circunstâncias normais, Keri teria conseguido uma creche para a sua filha para que ela pudesse trabalhar hoje.

Mas ela não tinha circunstâncias normais há muito tempo. Os rituais associados com as férias escolares e férias de família tinham desaparecido nos últimos anos, a ponto de algo que costumava ser óbvio para ela não ser mais lembrado.

Ela tentou responder, mas saiu como uma tosse ininteligível. Seus olhos ficaram cheios d’água e ela abaixou a cabeça para que ninguém pudesse perceber isso. Ray a socorreu.

“Então, Sarah teve folga, mas vocês não?” Ele perguntou.

“Não,” respondeu o Ed. “Eu tenho uma pequena loja de tintas no Triângulo de Westchester. Não estou rolando no dinheiro. Eu não posso tirar muitos dias folga—Ação de Graças, Natal, Revéillon—é isso.”

“E eu sou assistente jurídico de uma grande firma de advocacia em El Segundo. Normalmente eu estaria de folga hoje, mas estamos preparando um grande caso para julgamento e eles precisavam de todo mundo trabalhando.”

Keri limpou a garganta e, confiante de que tinha autocontrole, voltou à conversa.

“Quem é essa amiga que a Sarah foi encontrar?” Ela perguntou.

“O nome dela é Lanie Joseph,” disse Mariela. “Sarah era amiga dela na escola primária. Mas quando nos mudamos do nosso antigo bairro para cá, elas perderam o contato. Francamente, eu gostaria que tudo se mantivesse daquele jeito.”

“O que você quer dizer?” Perguntou Keri.

Mariela hesitou, então Ed respondeu.

“Nós costumávamos viver no Sul de Culver City. Não é muito longe daqui, mas a área é muito mais árida. As ruas são mais grosseiras assim como as crianças.

Lanie tinha uma tendência que sempre nos deixou um pouco desconfortável, mesmo quando ela era jovem. É ficou pior. Eu não quero ser crítico, mas achamos que ela está trilhando um caminho perigoso.”

“Nós economizamos e poupamos, Mariela acrescentou, claramente desconfortável por fazer difamações em meio a estranhos.

“No ano em que Sarah começou o ensino médio nos mudamos para cá.

Nós compramos este lugar antes dos preços explodirem. É pequeno, mas nunca seríamos capazes de comprar algo assim agora. Foi apertado mesmo.

Mas ela precisava de um recomeço com crianças diferentes .”

“Então, elas perderam o contato,” Ray cutucou suavemente. “O que gerou a recente reaproximação?”

“Elas se encontram um par de vezes por ano, mas é só isso,” respondeu Ed. “Mas Sarah disse-nos que Lanie mandou uma mensagem ontem e disse que ela realmente queria encontrá-la—que ela precisava de um conselho.

Ela não disse o porquê.”

“Claro,” Mariela acrescentou, “ela é uma menina tão doce e amiga que concordou sem hesitação. Eu me lembro dela me dizendo ontem à noite,

‘Que tipo de amiga eu sou, Mama, se eu não for capaz de ajudar alguém quando mais precisa de mim?’


Mariela parou, tomada pela emoção. Keri viu Ed apertar um pouco a mão dela em apoio. Ela invejava esses dois. Mesmo em um momento de quase pânico, eles estavam unidos, completando as frases um outro do outro, apoiando um ao outro emocionalmente.

De alguma forma, a devoção compartilhada e o amor estavam impedindo que eles desmoronassem. Keri se lembrou de um momento em que ela achava que estava vivendo a mesma coisa.

“Sarah disse onde seria o local do encontro?” Ela perguntou.

“Não, elas não tinham decidido isso até o meio-dia. Mas eu tenho certeza que é em algum lugar próximo—talvez o Howard Hughes Center ou Fox Hills Mall. Sarah não dirige ainda, sendo assim teria que ser algum lugar com acesso fácil de ônibus.”

Pode nos dar algumas fotos recentes dela?” Keri perguntou Mariela, que imediatamente se levantou para pegar algumas.

“A Sarah está em alguma mídia social?” Perguntou Ray.

“Ela está no Facebook. Instagram, Twitter. Eu não sei o que mais. Por quê?” Perguntou Ed.

“Às vezes, as crianças compartilham detalhes sobre suas contas que são úteis para as investigações. Você sabe alguma de suas senhas?”

“Não,” Mariela disse enquanto puxava algumas fotos. “Nós nunca tivemos motivo para pedir as senhas dela. Ela nos mostra as mensagens de suas contas o tempo todo.

Ela nunca esconde nada. Nós fizemos amizade no Facebook. Eu nunca senti necessidade de pedir esse tipo de coisa. Não há uma maneira de você ter acesso às contas?”

“Há,” Keri disse à ela. “Mas sem as senhas, precisamos de tempo.

Temos que conseguir uma ordem judicial. E agora não temos uma causa provável.”

“E quanto ao GPS estar desligado?” Perguntou Ed.

“Isso ajuda no caso,” respondeu Keri. “Mas neste momento tudo é circunstancial, na melhor das hipóteses. Vocês dois têm argumentos convincentes para demonstrar que essa situação é incomum. Mas ao ler o caso, pode não parecer assim para um juiz.

Mas não deixe isso aborrecer vocês. Estamos apenas começando. Este é o nosso papel—investigar. E eu gostaria de começar indo até a casa de Lanie para falar com os pais dela. Você tem o endereço dela?”

“Tenho,” disse Mariela, entregando para Keri várias fotos de Sarah antes de retirar seu telefone e percorrer seus contatos. “Mas eu não sei se isso vai ajudá-los muito. O pai de Lanie é ausente e sua mãe... não se importa muito. Mas se você acha que isso pode ajudar, aqui está.”

Keri escreveu a informação e todos saíram até a porta da frente. Eles apertaram as mãos formalmente, o que pareceu estranho para Keri, já que tinham conversado sobre algo tão íntimo.

Ela e Ray estavam na metade do caminho para o carro quando Edward Caldwell fez atrás deles uma última pergunta.

“Desculpe-me por perguntar isso, mas você disse que estavam começando. Parece-me que isso pode ser um processo longo. Mas o meu entendimento é que, no caso de uma pessoa desaparecida, as primeiras vinte e quatro horas são cruciais. Estou errado?”

Keri e Ray olharam um para o outro e depois olharam de volta para Caldwell. Ninguém tinha certeza de quem deveria responder. Finalmente Ray falou.

“Não está errado, senhor. Mas nós ainda não temos qualquer indicação de que algo suspeito aconteceu. E de qualquer jeito, você chegou até nós rapidamente. Isso ajuda muito. Eu sei que é difícil ouvir isso, mas tente não

se preocupar. Eu prometo que entrarei em contato.”

Eles se viraram e caminharam de volta para o carro. Quando Keri tinha certeza de que eles estavam fora do alcance de sua voz, ela calmamente murmurou, “Boa mentira.”

“Eu não estava mentindo. Tudo o que eu disse era verdade. Ela poderia voltar para a casa a qualquer minuto e isso acabaria.”

“Eu acho,” Keri admitiu. “Mas todos os meus instintos estão me dizendo que isso não vai ser assim tão fácil.”

CAPÍTULO TRÊS


Keri sentou no banco do passageiro no caminho para Culver City, em silêncio ela se autoflagelava. Ela tentou lembrar para si que não tinha feito nada de errado. Mas ela foi abalada pela culpa de esquecer algo tão simples quanto hoje não ser um dia escolar. Nem mesmo o Ray foi capaz de esconder a sua surpresa.

Ela estava perdendo contato com o lado materno dela e isso a assustava.

Quanto tempo demoraria para que ela se esquecesse de outros detalhes mais pessoais? Algumas semanas atrás, ela recebeu pistas anônimas que levaram à foto de uma adolescente. Mas Keri, para a sua vergonha, não tinha sido capaz de dizer se era a Evie.

Na verdade ela foi feita há cinco anos e a imagem estava granulada e foi tirada de longe. Mas o fato de ela simplesmente não saber imediatamente se a foto era de sua filha ou não a abalou.

Mesmo depois que o guru da tecnologia da unidade, o Detetive Kevin Edgerton, disse para ela que a comparação digital da imagem com as fotos de Evie aos oito anos era inconclusiva para uma equivalência, seu sentimento de vergonha persistia.

Eu deveria reconhecê-la. Uma boa mãe saberia se aquilo era real imediatamente.

“Chegamos,” Ray disse calmamente, tirando-a de seu devaneio.

Keri olhou para cima e percebeu que eles estavam estacionados uma rua acima da casa de Lanie Joseph. Os Caldwells tinham razão. Esta área, mesmo a menos de oito quilômetros da casa deles, tinha uma aparência muito mais grosseira.

Ainda eram só 17:30, mas a maior parte do sol já tinha se posto e a temperatura estava caindo. Pequenos grupos de rapazes com roupas de gangues estavam se reunindo nas calçadas e escadarias das casas, bebendo cerveja e fumando o que não parecia ser cigarros comuns.

A maioria dos gramados eram mais de cor marrom do que verde e as calçadas estavam rachadas por toda parte, com ervas daninhas nascendo através dos espaços das rachaduras. A maioria das residências no quarteirão pareciam casas duplex ou casas geminadas e todas elas tinham grades nas janelas e portas pesadas com grade de metal.

“O que você acha—deveríamos chamar o DP de Culver City para nos

dar apoio?” Perguntou Ray. “Tecnicamente, estamos fora da nossa jurisdição.”

“Não. Vai levar muito tempo e eu quero ser discreta, entrar e sair numa boa. Quanto mais formal for a maneira de lidarmos com isso, mais tempo vai demorar. Se algo aconteceu com a Sarah, não temos tempo a perder.”

“Ok, então vamos lá,” disse ele.

Eles saíram do carro e caminharam rapidamente para o endereço que Mariela Caldwell lhes deu. Lanie vivia na frente de uma casa Geminada em Corinth, ao sul de Culver Boulevard. A Rodovia 405 estava tão perto que Keri conseguia ver a cor do cabelo dos motoristas que passavam.

Quando Ray bateu na porta metálica exterior, Keri viu duas casas depois cinco homens reunidos em torno do motor de um Corvette na entrada da garagem. Vários deles lançaram olhares desconfiados para eles, como se fossem intrusos, mas ninguém disse nada.

O som de várias crianças gritando veio de lá de dentro. Depois de um minuto, a porta interna foi aberta por um pequeno menino loiro que não tinha mais do que cinco anos. Ele usava um jeans rasgado e uma camiseta branca com o símbolo do Superman “S” rabiscado nela.

Ele olhou para Ray, o pescoço dele ficou todo esticado. Então ele olhou para Keri e, aparentemente, viu ela como menos ameaçadora, e falou.

“O que você quer, senhora?”

Keri sentiu que a criança não teve doçura e luz em sua vida, então ela se ajoelhou para ficar no mesmo nível que ele e falou o mais suave que pôde.

“Nós somos policiais. Precisamos falar com a sua mãe por um minuto.”

O garoto, imperturbável, virou-se e gritou lá dentro da casa.

“Mamãe. Policiais estão aqui. Querem falar com você.” Aparentemente, esta não era a primeira vez que ele recebia a visita de profissionais da lei.

Keri viu o Ray olhando para os caras ao redor do Corvette e sem olhar para a cena, perguntou-lhe baixinho: “Temos um problema lá?”

“Ainda não,” Ray respondeu baixinho. “Mas poderíamos ter em breve.


Devemos fazer isso

rápido.”

“Qual tipo de policiais são vocês?” O menino perguntou. “Não têm uniformes. À paisana? Vocês são detetives?”

“Detetives,” Ray disse a ele e, aparentemente, decidiu que o menino não precisava ser mimado, ele fez a sua própria pergunta. “Quando foi a última

vez que viu a Lanie?”

“Ah, Lanie está em apuros novamente,” disse ele, com um sorriso alegre consumindo seu rosto. “Que novidade. Ela saiu na hora do almoço para ver seu amiguinho. Eu acho que ela estava esperando levar alguma vantagem.

Não ponho as mãos no fogo por ela.”

Só então uma mulher vestindo calças de moletom e uma blusa pesada de moletom cinza que dizia ‘Keep Walking’ apareceu no final do corredor.

Quando ela se arrastou em direção a eles Keri a observou. Ela tinha praticamente a mesma altura de Keri mas pesava bem mais de 90 quilos.

Sua pele pálida parecia fundir-se com a roupa cinzenta, tornando-se impossível dizer claramente onde uma terminava e a outra começava. Seu cabelo, loiro acinzentado, estava preso em um coque frouxo que estava prestes a desmanchar completamente.

Keri achava que ela tinha menos do que quarenta anos, mas seu rosto exausto e desgastado poderia ser de uma pessoa de cinquenta anos.

Ela tinha bolsas sob os olhos e seu rosto inchado estava salpicado de manchas vermelhas, possivelmente causadas pelo álcool. Estava claro que ela já tinha sido bastante atraente, mas o peso da vida parecia ter drenado ela e só se podia ver resquícios de beleza agora.

“O que ela fez agora?” Perguntou a mulher, ainda menos surpresa do que o seu filho por ver a polícia em sua porta.

“Você é a Sra. Joseph?” Perguntou Keri.

“Eu não tenho sido a Sra. Joseph por sete anos. Foi quando o Sr. Joseph me deixou para ficar com um uma massagista chamada Kayley. Agora eu sou a Sra. Hart, embora o Sr. Hart tenha desaparecido sem dar sequer adeus há cerca de 18 meses. Mas dá problema demais mudar o nome novamente, então estou presa nisso por enquanto.”

“Então, você é a mãe de Lanie Joseph,” Ray disse, tentando fazê-la ir na direção certa. “Mas o seu nome é...?”

“Joanie Hart. Eu sou a mãe de cinco diabinhos, incluindo aquele que estava aqui. Então, o que exatamente ela fez desta vez?

“Não temos certeza de que ela fez alguma coisa, Sra. Hart,” Keri garantiu isso não querendo criar conflitos desnecessários com uma mulher que estava claramente confortável nessa posição. “Mas os pais da amiga dela, Sarah Caldwell, não conseguem falar com a filha e estão preocupados. Você falou com a Lanie desde meio-dia hoje?”

Joanie Hart olhou para ela como se fosse de outro planeta.

“Eu não fico de olho na menina desse jeito,” disse ela. “Eu trabalhei durante todo o dia; as lojas de conveniência não fecham só porque ontem foi dia de Ação de Graças, sabia?

Eu só voltei cerca de meia hora atrás. Então, eu não sei onde ela está.

Mas isso não é nada especial. Ela fica fora boa parte do seu tempo e nunca me diz onde está indo. Aquela ali gosta de guardar segredos. Eu acho que ela tem um cara e não quer que eu fique sabendo.”

“Ela já mencionou o nome desse cara?”

“Como eu disse, eu não sei mesmo se ele existe. Eu só estou dizendo que eu não duvido que ela faça isso. Ela gosta de fazer coisas para me irritar.

Mas eu estou muito cansada ou ocupada para ficar com raiva, aí quem fica irritada é ela. Você sabe como é isso,” disse ela, olhando para Keri, que não tinha ideia de como era isso.

Keri sentiu uma raiva crescente por aquela mulher que parecia não saber ou se importar por onde sua filha estava. Joanie não perguntou sobre seu bem-estar ou expressou qualquer preocupação. Ray pareceu perceber como ela estava se sentindo e falou antes que ela pudesse abrir a boca.

“Podemos pegar o número de telefone de Lanie e uma foto recente dela, por favor?” Ele perguntou.

Joanie parecia que iria dar a informação, mas não deu.

“Um segundo,” ela disse e andou de volta pelo corredor.

Keri olhou para Ray, que balançou a cabeça sentindo um desgosto compartilhado.

“Você se importaria se eu esperasse no carro?” Disse Keri. “Eu estou preocupada, corro o risco de dizer uma coisa... improdutiva para a Joanie.”

“Vá em frente. Eu fico. Talvez você possa chamar o Edgerton e ver se ele consegue hackear e acessar as contas de mídia social.”

“Raymond Sands, puxa,” disse ela, redescobrindo um pouco de seu senso de humor. “Você parece estar adotando alguns dos meus métodos mais questionáveis de aplicação da lei. Eu acho que gosto disso.”

Ela se virou e se afastou antes que ele pudesse responder. Com o canto do olho, ela viu que os homens duas portas estavam todos olhando para ela.

Ela fechou o zíper de sua jaqueta, subitamente consciente do frio. O fim de novembro em Los Angeles era bastante inofensivo, mas como o sol se foi, a temperatura estava abaixo dos 10 ºC. E todos aqueles olhos nela

adicionaram um arrepio extra.

Quando ela chegou ao carro, ela virou-se e inclinou-se com as costas contra o banco para que ela pudesse manter uma boa visão de ambos, da casa de Lanie e de seus vizinhos, enquanto ela discava o número de Edgerton.

“Edgerton falando,” veio a voz entusiástica de Kevin Edgerton, o mais jovem detetive da unidade. Ele tinha apenas vinte e oito anos, mas o garoto alto e magro era um gênio da tecnologia responsável por desvendar muitos casos.

Na verdade, ele contribuiu para ajudar Keri a entrar em contato com o Colecionador enquanto a identidade dela estava protegida. Keri imaginou que agora, ele estava escovando a sua franja castanha para longe de seus olhos. Por que ele não deixa o cabelo de qualquer jeito, o estilo de corte de cabelo dele estava além do que ela podia compreender, assim como a maioria de suas habilidades técnicas.

“Ei, Kevin, é Keri. Eu preciso de um favor. Eu quero que você veja se consegue acessar duas contas de mídia social para mim. Uma é da Sarah Caldwell de Westchester, dezesseis anos de idade.

A outra é da Lanie Joseph, Culver City, também dezesseis anos. E, por favor, não me cause um aborrecimento com aquela coisa de justificativa e causa provável. Estamos lidando com circunstâncias que exigem isso e—”

“Consegui,” Edgerton interrompeu.

“O quê? Já?” Perguntou Keri, atordoada.

“Bem, não a da Caldwell. Todas as suas contas são protegidas por senha e exigem a aprovação dela. Eu posso quebrá-las se precisar. Mas quero evitar quaisquer situações jurídicas usando o material da Joseph. Ela é um livro aberto. Qualquer um pode ver suas páginas. Estou fazendo isso agora.”

“Diz algo sobre onde ela estava hoje, depois do meio-dia?” Keri perguntou, quando ela notou três dos homens da garagem do Corvette caminhando em sua direção.

Os outros dois homens ficaram para trás, o foco deles era o Ray, que ainda estava de pé na porta da frente da casa, à espera de Joanie com uma foto recente de sua filha. Keri reajustou-se ligeiramente de modo que, mesmo estando encostada no carro, seu peso estava mais uniformemente distribuído no caso de ter que se mover de repente.

“Ela não postou nada no Facebook desde a noite passada, mas há um monte de posts sobre o Instagram dela com outra garota, estou supondo que seja a Caldwell. Elas são do Fox Hills Mall. Um post é em uma loja de roupas. Outro em um balcão de maquiagem. O último é do que parece ser uma praça de alimentação, comendo um pretzel. A legenda diz ‘gostoso.’

Às duas horas e seis minutos da tarde.”

Os três homens estavam atravessando o quintal dos Hart agora e estavam a menos de seis metros de Keri.

“Obrigado, Kevin. Uma última coisa—eu enviarei o número de celular de ambas as meninas.

Eu aposto que o GPS foi desligado em ambos, mas eu preciso que você acompanhe a última localização antes disso ter acontecido,” disse ela, enquanto os homens pararam na frente dela. “Eu tenho que ir. Eu retornarei para você se precisar de mais coisas.”

Keri desligou antes que ele pudesse responder e deslizou o telefone no bolso. Ao longo do caminho, ela discretamente desabotoou o coldre de sua arma.

Olhando para os homens, mas sem dizer uma palavra, ela se encostou no carro, mas levantou a perna direita para que o seu pé descansasse contra o veículo. Dessa forma, ela teria poder extra, se ela precisasse se impulsionar para a frente.

“Boa noite, senhores,” ela finalmente disse algo com uma voz firme, amigável, “está fresco hoje à noite, vocês não acham?”

Um deles, claramente o alfa, riu e se virou para os seus amigos. “Esta cadela disse fresco?” Ele era hispânico, baixo e um pouco barrigudo, mas sua camisa de flanela voluma escondia a sua forma, tornando difícil para Keri dizer qual era o tamanho do problema que ela estava enfrentando.

Os outros caras eram ambos altos e magros com as camisas penduradas em seus corpos esqueléticos. Um era branco e o outro era hispânico. Keri levou um tempo para apreciar a diversidade racial dessa gangue de rua, antes de decidir ir a fundo.

“Vocês deixam caras brancos fazerem parte hoje em dia?” Ela perguntou, apontando para o homem que estava longo. “O quê? Está difícil de encontrar gente de pele morena disposta a receber suas ordens?”

Keri não gostava de jogar assim, mas ela precisava de algo para criar uma divisão entre eles e ela sabia que muitas dessas gangues tinham

requisitos particulares de adesão.

“Sua boca vai causar problemas, senhora,” o Alfa falou.

“Sim, problemas,” repetiu o rapaz alto, branco. O cara hispânico alto permaneceu em silêncio.

“Você sempre sai por aí repetindo o que seu chefe diz?” Keri perguntou para o cara branco. “Você pega o lixo que ele joga no chão também?”

Os dois homens entreolharam-se. Keri poderia dizer que conseguiu atingir um ponto sensível entre eles. Atrás deles, ela viu que Ray tinha pegado a foto de Lanie e estava andando de volta para o carro. Os dois rapazes perto do Corvette começaram a andar na direção dele, mas ele deu-lhes uma olhada desafiante e eles pararam.

“Esta cadela é grossa,” o cara branco disse, aparentemente incapaz de falar qualquer coisa mais inteligente.

“Vamos ter que ensinar boas maneiras para ela,” disse o Alfa.

Keri notou que o cara hispânico e alto não ficou tenso com aquilo. E de repente ela entendeu a dinâmica entre estes três. O alfa era o cabeça. O

branco era o seu seguidor.

O calmo era o pacificador. Ele não tinha vindo para criar dificuldades.

Ele estava tentando impedi-los. Mas ele não tinha encontrado uma maneira ainda e isso era, em parte, culpa de Keri. Ela decidiu ver nele uma tábua de salvação e observar como ele iria lidar com aquilo.

“Vocês dois são gêmeos?” Ela perguntou para ele e acenou para o branco.

Ele olhou para ela por um segundo, claramente sem saber o que fazer com o comentário. Ela lhe deu uma piscadela e a tensão pareceu escoar de seu corpo. Ele quase sorriu.

“Idênticos,” ele respondeu, dando abertura.

“Ei, Carlos, não somos gêmeos, cara,” o branco disse, sem saber se ficava confuso ou com raiva.

“Não, cara,” o alfa entrou na conversa, temporariamente esquecendo sua raiva. “A cadela está certa. É difícil diferenciar os dois. Precisamos colocar etiquetas em vocês, certo?”

Ele e Carlos riram e o branco também, embora ele ainda parecesse perplexo.

“Como estamos aqui?” Perguntou Ray, assustando os três. Antes que eles pudessem ficar irritados novamente, Keri interrompeu.

“Acho que estamos bem,” disse ela. “Detetive Ray Sands, eu gostaria de apresentá-lo a Carlos e seu irmão gêmeo. E este é o seu caro amigo... qual é o seu nome?”

“Cecil,” disse ele de bom grado.

“Este é Cecil. Eles gostam de Corvettes e de conversar mulheres mais velhas. Mas, infelizmente, vamos ter que deixá-los consertar o carro, senhores. Gostaríamos de ficar, mas vocês sabem como é no LAPD—

estamos sempre trabalhando. A não ser que, claro, vocês queiram que a gente por aqui para discutirmos juntos sobre boas maneiras um pouco mais. Você gostaria disso, Cecil?”

Cecil deu uma olhada em todos os 104 quilos de Ray, depois de volta para Keri, aparentemente calmo com relação aos insultos que disse, e decidiu que já tinha conversado o suficiente.

“Não, tá sussa. Vai nessa do trampo do LAPD. Nós estamos ocupados consertando o carro, como você disse.”

“Bem, tenham uma ótima noite, ok?” Keri disse com um nível de entusiasmo que só o Carlos notou. Eles acenaram e olharam de volta para o Corvette quando Keri e Ray entraram no carro.

“Isso poderia ter sido pior,” disse Ray.

“Sim, eu sei que você ainda não está cem por cento por causa desse ferimento de bala. Eu percebi que não deveria envolvê-lo em uma briga com cinco membros de gangues se eu pudesse evitar isso.”

“Obrigado por cuidar do seu parceiro inválido,” Ray disse quando saiu para a

rua.”

“Não há de quê, ” Keri disse, ignorando o sarcasmo.

“Então, Edgerton teve sorte com o material de mídia social?”

“Sim. Precisamos ir para o Fox Hills Mall.”

“O que tem lá?”

“Eu espero que as tais meninas estejam lá,” disse Keri,” mas eu tenho a sensação de que não teremos essa sorte.”

CAPÍTULO QUATRO


No segundo em que Sarah acordou, ela sentiu vontade de vomitar. Sua visão estava embaçada e sua cabeça estava confusa. Havia uma luz brilhante sobre ela e demorou um segundo para perceber que ela estava deitada em um colchão esfarrapado em um pequeno quarto quase vazio.

Ela piscou algumas vezes e sua visão clareou o suficiente para ela ver uma pequena lata de lixo plástica no chão ao lado do colchão. Ela se inclinou e puxou-a, vomitando nela por trinta segundos, ignorando os olhos lacrimejantes e o nariz que escorria.

Ela ouviu um barulho, olhou naquela direção, e viu que alguém tinha puxado uma cortina preta para revelar que ela, na verdade, não estava em um pequeno quarto. Ela estava em um armazém cavernoso. Até onde os olhos conseguiam ver, havia outros colchões. E em quase todos eles estavam garotas de sua idade, todos seminuas ou nuas.

Algumas estavam sozinhas, ou dormindo, ou mais provavelmente, desmaiadas. Outras estavam com homens, transando com eles. Algumas das meninas lutavam, outras se deitavam impotentes, e algumas não pareciam estar conscientes enquanto estavam sendo violentadas. A mente de Sarah estava confusa demais, mas ela achou que havia pelo menos vinte meninas no armazém.

Alguém apareceu. Era Chiqy, um cara enorme com uma barba longa e vinha do quarto de Dean. De repente, a cabeça de Sarah melhorou e a distância observacional no seu entorno desapareceu. Seu coração começou a bater com força e ela sentiu um terror rastejante tomar conta dela.

Onde estou? Que lugar é este? Por que me sinto tão fraca?

Ela tentou sentar-se ereta quando Chiqy aproximou-se, mas seus braços caíram e ela caiu de volta para o colchão. Isso fez Chiqy dar risadas.

“Não tente se levantar,” disse ele, “as drogas que dêmos fizeram você ficar assim desajeitada. Você pode cair e quebrar alguma coisa. E não queremos isso. Seria ruim para os negócios. Clientes preferem que, se for para ter ossos quebrados, eles que farão isso.”

“O que você fez comigo?” Ela perguntou com a voz rouca, tentando se sentar novamente.

Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, Chiqy bateu no rosto dela, derrubando-a de volta para o colchão e causando uma explosão de dor

de sua bochecha até o ouvido. Quando ela engasgou para puxar o ar e tentou recuperar o equilíbrio, ele se inclinou e sussurrou em seu ouvido.


“Você vai aprender, mocinha. Não levante a sua voz. Você não responde a menos que um cliente queira. Você não faz perguntas. Chiqy está no comando. Se você seguir as minhas regras, ficará bem. Se não fizer isso, então não ficará tão bem assim. Está claro?”

Sarah concordou.

“Bom. Então, ouça porque aqui vêm as regras. Em primeiro lugar, você é minha propriedade. Eu possuo você. Posso lhe emprestar, mas nunca se esqueça a quem você pertence. Entendeu?”

Sarah, com seu rosto ainda pulsando por causa do tapa, concordou humildemente. Mesmo quando ela tentou entender a situação, ela sabia que abertamente desafiava o Chiqy, e em sua condição atual aquilo era imprudente.

“Em segundo lugar, você vai satisfazer as necessidades dos meus clientes. Você não tem que amá-los, embora quem sabe, talvez você goste.

Isso não importa. Você faz o que o cliente diz, não importa o quê. Se não fizer, eu vou bater em você até as suas entranhas sangrarem. Eu tenho maneiras de fazer isso de um jeito que você ainda parecerá bonita para os clientes. Do lado de fora, você vai parecer um anjo. Mas, por dentro, você estará moída. Entendeu?”

Novamente Sarah concordou. Ela tentou sustentar-se de novo e olhou para a luz brilhante, na esperança de se aprumar. Ela não reconheceu nenhuma das outras meninas. De repente, um calafrio correu por sua espinha.

Onde está a Lanie?

“Você pode me dizer o que aconteceu com minha amiga?” Ela perguntou com uma voz que esperava não ser uma voz desafiadora.

Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, Chiqy a esbofeteou novamente, desta vez do outro lado da face. A força do tapa a jogou contra o colchão duro.

“Eu não terminei,” ela o ouviu dizer, apesar de suas orelhas latejantes.

“A última regra é não falar a menos que eu lhe faça uma pergunta. Como eu disse, você vai aprender rapidamente que ser arrogante não vale a pena por aqui. Você entendeu?”

Sarah acenou com a cabeça, percebendo a palpitação de sua cabeça enquanto fazia isso.

“Mas essa pergunta eu responderei,” Chiqy disse com um sorriso cruel no rosto. Ele apontou para um colchão a cerca de quatro metros de distância.

Sarah olhou e viu um homem que parecia ter sessenta anos em cima de uma menina cuja cabeça estava caída para o lado. Em seguida, o homem agarrou seu queixo e levantou o rosto dela para que ele pudesse beijá-la.

Sarah quase vomitou novamente quando ela percebeu que era a Lanie.

Ela estava nua da cintura para baixo e seu top preto estava em torno de seu pescoço, revelando o sutiã. Quando o homem perdeu o interesse em seus lábios, ele a soltou e sua cabeça pendeu na direção de Sarah.

Ela poderia dizer que sua amiga estava consciente, mesmo que apenas um pouco. Seus olhos de pálpebras pesadas estavam entreabertos e ela não parecia estar ciente de seus arredores. Seu corpo estava mole e ela não reagia fisicamente às coisas que estavam sendo feitas com ela.

Sarah percebeu tudo, mas de alguma forma, o horror do momento parecia que estava acontecendo longe, em um planeta distante. Talvez fossem as drogas. Talvez por ter sido atingida no rosto duas vezes. Mas se sentia anestesiada.

Talvez eu deveria me sentir grata por isso.

“Foi difícil lidar com ela, tivemos de acalmá-la muito,” disse Chiqy.

“Você poderia estar daquele jeito. Mas se você não lutar muito, não precisaremos lhe dar um sossega leão. Cabe a você escolher.”

Sarah olhou para ele e começou a responder, mas depois lembrou-se das regras e mordeu a língua. Chiqy viu isso e sorriu.

“Bom. Você é uma aprendiz rápida,” disse ele. “Você pode falar.”

“Não quero o sossega leão,” ela implorou.

“Ok, vamos tentar com você limpa. Mas se você... lutar, será a gota d’água. Entendeu?”

Sarah assentiu. Chiqy, com um sorriso satisfeito no rosto, acenou de volta e saiu, puxando a cortina que se fechou atrás dele.

Sem saber quanto tempo ela tinha, Sarah olhou ao redor desesperadamente, tentando fazer um balanço de sua situação. Ela ainda estava usando a calça jeans e um top, o que sugeria que nada tinha sido

feito com ela ainda. Ela verificou seus bolsos a procura do seu telefone, bolsa de moedas e identidade, mas nada estava lá. Nenhuma surpresa.

Um gemido feminino alto de algum lugar próximo estalou em contraste com a sua dormência e ela sentiu o pânico se aproximar. Ela acolheu o choque de adrenalina que aguçou sua mente e teve um maior controle sobre os seus membros.

Pense, Sarah, enquanto ainda pode. Você ficou fora por algum tempo.

As pessoas estão procurando você. Mamãe e papai não esperariam tanto tempo para que você entrasse em contato sem chamar a polícia. Se eles estão à minha procura, eles precisam de algum tipo de pista, algo para que eles saibam que estou aqui, caso algo aconteça.

Ela olhou para a sua blusa. Ela contou para a mãe o que estava vestindo hoje? Não, mas ela tinha usado o FaceTime com ela esta manhã, então ela tinha visto sua roupa. Ela se lembrará disso com certeza. Afinal, elas tinham comprado a roupa juntas no shopping outlet Cabazon.

Ela se abaixou e arrancou uma tira de cerca de duas polegadas de comprimento na costura perto da cintura, onde estava mais fraca. Ela estava se perguntando onde deixar aquilo quando ouviu duas vozes masculinas que se aproximavam. Assim que a cortina foi aberta novamente, ela empurrou o tecido para baixo do colchão para que apenas um pequeno pedaço ficasse visível.

Tentando agir da forma mais natural possível, ela olhou para os homens.

Um era Chiqy. O outro era um cara branco, baixo, com seus quarenta anos, vestindo um terno e gravata. Ele usava óculos, que ele tirou e colocou em cima de seus sapatos depois de deslizá-los para fora e colocá-los perto da cortina.

“Quantos anos ela tem?” Ele perguntou.

“Dezesseis,” Chiqy respondeu.

“Um pouco madura para o meu gosto mas ela definitivamente vai servir,” disse ele enquanto se aproximava do colchão.

“Lembre-se do que eu te disse,” Chiqy avisou.

Ela assentiu com a cabeça. Ele parecia satisfeito e começou a sair quando o homem disse: “Um pouco de privacidade, por favor.”

Chiqy relutantemente puxou a cortina até fechá-la. O homem estava sobre ela e olhou para baixo, seus olhos vagando por toda parte. Ela se sentiu muito mal.

Ele começou a se despir e Sarah usou o tempo para decidir seu próximo passo. Ela não deixaria isso acontecer. Ela tinha certeza daquilo. Se eles a matassem, paciência. Mas ela não acabaria como uma escrava sexual. Ela só tinha que esperar por uma brecha.

Não demorou muito tempo.

O homem tinha tirado a calça e a cueca e foi rastejando em sua direção.

Ele estava apertando os olhos ligeiramente e ela conseguia ver que sem os óculos, ele estava um pouco perdido. Logo ele estava por cima dela apoiado em suas mãos e joelhos.

Nada como o aqui e agora.

Em um movimento rápido, Sarah trouxe a perna direita até o peito e meteu o pé para a frente, chutando a virilha do homem. Ele imediatamente grunhiu e caiu em cima dela.

Ela estava esperando por isso e rolou o tronco dele para longe dela.

Então, ela ficou rapidamente de pé e correu para a cortina. O homem estava atrás dela gemendo e tentando falar. Ela colocou a cabeça para fora e olhou em volta.

Na outra extremidade do armazém, ela viu a porta principal. Mas entre a localização dela e liberdade havia incontáveis colchões ocupados e pelo menos meia dúzia de homens andando por lá, mantendo as coisas sob controle. Não havia nenhuma maneira de se chegar tão longe.

Mas talvez ela pudesse encontrar uma porta nos fundos se ficasse nas sombras perto da parede. Ela estava prestes a sair quando ouviu a voz estrangulada e dolorida do homem, mas bem clara.

“Socorro!”

Ela não tinha tempo. Saindo de trás da cortina, ela correu para a esquerda, à procura de qualquer coisa que se assemelhasse à uma porta. Ela fez correu cerca de seis metros antes de um cara aparecer, bloqueando seu caminho.

Ela se virou e começou a correr na outra direção, mas correu diretamente para Chiqy, que envolveu um braço enorme em volta dela. Ela mal conseguiu se mover.

Há vários metros de distância, ela viu o homem que estava de terno. Ele estava curvado, mas de pé. Ele ainda estava sem calças. Levantando a mão, ele apontou para ela.

“Quero que ela pela metade do preço depois disso.”

Sarah viu Chiqy puxar algo do bolso e percebeu o que era—uma seringa.

Ela tentou se libertar, mas não adiantou. Ela sentiu uma forte espetada no braço.

“Eu avisei que teria que usar isso se você fosse má,” ele disse, soando quase apologético.

Ela sentiu o aperto do braço dele se afrouxar, mas percebeu que era só porque ela estava perdendo todo o controle muscular. Chiqy sentiu isso também e deixou ela escorregar. Até o momento em que ela caiu no chão, ela estava completamente inconsciente.

CAPÍTULO CINCO


Keri estava agitada e nervosa quando ela se sentou na sala de espera do escritório de segurança do Fox Hills Mall. Pela quarta vez nos últimos quinze minutos, o mesmo pensamento passou por sua cabeça: isso está demorando muito.

Um dos guardas de segurança estava procurando por imagens da praça de alimentação em torno das 14h, quando Lanie tinha publicado sua última foto Instagram. Estava demorando uma eternidade, seja porque o sistema era velho ou o guarda incompetente.

Ray se sentou na cadeira ao lado dela, comendo um wrap de frango que tinha comprado na praça de alimentação. O wrap da Keri estava em seu colo, praticamente intocado.

Apesar do fato de que eram 18:30 e as meninas só tinham ficado fora de contato por cerca de quatro horas e meia, Keri teve a sensação insidiosa de que algo estava muito errado neste caso, mesmo não tendo a evidência disso.

“Você tem de engolir essa coisa toda de uma só vez?” Ela perguntou Ray acidamente.

Ele parou no meio da mastigação e deu-lhe um olhar interrogativo antes de perguntar, com a boca cheia, “Que bicho te mordeu?”

“Eu sinto muito. Eu não deveria gritar com você. Eu apenas estou frustrada porque isso está demorando demais. Se essas meninas realmente foram sequestradas, toda essa vagarosidade está desperdiçando um tempo precioso.”

“Vamos dar ao cara mais dois minutos. Se ele não conseguir até lá, nós aceleramos isso. Combinado?”

“Combinado,” Keri respondeu e deu uma pequena mordida em seu wrap.

“Eu sei que você está irritada,” Ray disse, “mas há claramente algo mais acontecendo com você. Eu acho que tem a ver com o que você estava escondendo na estação. Nós temos um pouco de tempo agora. Então, conte-me.”

Keri olhou para ele e poderia dizer que, mesmo com o pedaço de alface nos dentes fazendo-o parecer ridículo, ele não estava brincando.

Você está mais próxima deste homem do que qualquer outra pessoa no

mundo. Ele merece saber. Basta dizer-lhe.

“Tudo bem,” disse ela. “Espere.”

Ela tirou o pequeno detector de rastreador e câmera que ela tinha em sua bolsa e fez sinal para Ray para segui-la pelo corredor.

A engenhoca foi recomendada para ela por um especialista em segurança e vigilância, uma vez, que ela tinha ajudado em um outro caso. Ele disse que era uma boa combinação de portabilidade, confiabilidade e preço decente, e até agora, ele parecia estar certo.

Nas semanas desde que o advogado Jackson Cave deu a entender que ele estaria mantendo os olhos sobre ela, ela tinha encontrado vários dispositivos de espionagem. Uma escuta tinha sido colocada na lâmpada em sua mesa de escritório. Ela suspeitava que um membro da equipe de limpeza foi encarregado de colocá-lo lá.

Ela também tinha encontrado uma câmera e uma escuta em seu novo apartamento. A escuta estava na sala de estar e a câmera tinha sido colocada no quarto. Ela também tinha encontrado uma escuta dentro do volante de seu carro e outra no visor solar do carro de Ray.

Edgerton tinha adicionado proteção extra em seu desktop do escritório para caçar especificamente softwares de rastreamento. Até agora, nada tinha sido descoberto. Mas ela julgou ser seguro evitar usá-lo para outra coisa senão algo oficial.

Seu celular estava limpo até agora, provavelmente porque ele nunca o deixou de lado. Era o único dispositivo através do qual ela se comunicava com o Colecionador e, portanto, o que que ela mais protegia.

Quando chegaram ao corredor, Keri passou o aparelho em si mesma, em seguida, Ray. Ela apontou para o seu telefone. Ele estendeu o aparelho para ela passar nele também.

Ray tinha passado por essa rotina muitas vezes antes nas últimas semanas. Ela estava inicialmente resistente, mas depois que Keri descobriu a escuta em seu carro, ele não hesitou. Na verdade, ele queria fazer isso com todos os outros objetos fora de seus locais.

Ela tinha implorado para deixá-los no lugar e agir como se tudo estivesse normal. Se Cave soubesse que eles estavam em cima dele, ele suspeitaria que eles sabiam sobre o Colecionador e ele poderia avisá-lo e orientá-lo para escapar.

Cave já estava desconfiado de que Keri tinha roubado seus arquivos com

dossiês de diferentes sequestradores de aluguel. Mas ele não podia ter certeza disso.

Mesmo se tivesse, ele não sabia o quanto Keri tinha descoberto sobre suas ligações secretas para esse submundo obscuro ou se ela o tinha sob vigilância também. Então, ele obviamente não queria arriscar incriminar a si mesmo, entrando em contato com o Colecionador, se ele pudesse evitar isso.

Ele acreditava que eles estavam em um impasse de vigilância. E

considerando que Jackson Cave tinha muito mais informações do que Keri agora, ela estava muito feliz com essa combinação.

Ela havia prometido ao Ray que a partir do momento em que as escutas se tornassem contraproducentes, ela se livraria delas, mesmo que isso favorecesse o Cave. Eles tinham até uma frase código que significava que era hora de retirá-los.

Era “Bondi Beach,” uma referência à uma praia na Austrália, que Keri um dia esperava visitar. Se ela dissesse essas palavras, Ray saberia que ele poderia finalmente jogar fora o dispositivo de seu visor.

“Satisfeita?” Ele perguntou quando ela terminou a varredura de ambos.

“Sim, desculpe-me. Ouça, eu recebi um e-mail do nosso amigo esta manhã,” disse ela, escolhendo ser enigmática sobre o Colecionador mesmo quando ela tinha certeza de que não estavam sendo ouvida. “Ele deu a entender que estaria chegando. Eu acho que no meu limite. Toda vez que meu telefone vibra, eu acho que é ele.”

“Ele deu qualquer tipo de data?” Perguntou Ray.

“Não. Ele apenas disse que entraria em contato em breve; nada além disso.”

“Não me admira que você esteja tão agitada. Pensei que estivesse apenas exagerando na dedicação a este caso.”

Keri sentiu o calor subir em seu rosto e olhou em silenciosamente para seu parceiro, atordoado com o seu comentário. Ray parecia saber imediatamente que ele tinha ido longe demais e estava prestes a tentar consertar isso quando o guarda de segurança os chamou fora da sala de computadores.

“Eu tenho algo aqui,” ele gritou.

“Você tem tanta sorte,” Keri chiou com raiva, esbravejando à frente de Ray, que lhe deu uma ampla cobertura.

Quando eles entraram na sala de computadores, o guarda tinha o vídeo parado às 14:05, Sarah e Lanie estavam claramente visíveis, sentadas em uma pequena mesa no centro da área de jantar. Eles viram Lanie tirar uma foto de seu alimento com seu telefone, quase certamente parte do post que Edgerton tinha encontrado no Instagram.

Após cerca de dois minutos, um homem alto, de cabelo escuro e coberto de tatuagens se aproximou deles. Ele deu a Lanie um beijo longo e depois de mais alguns minutos de conversa, todos eles se levantaram e saíram.

O guarda congelou a imagem e se virou para Keri e Ray. Keri olhou para o guarda de perto pela primeira vez. Ele usava um crachá que dizia:

“Keith” e não poderia ter mais de vinte e três anos, tinha uma pela oleosa, cheia de espinhas e uma corcunda que o fez parecer um Quasimodo esquelético. Ela fingiu não notar isso enquanto ele falava.

“Eu tenho algumas imagens sólidas do rosto do cara. Eu vou coloca-las em arquivos digitais e posso enviá-las para os seus telefones também, se quiserem.”

Ray deu a Keri um olhar que dizia “talvez esse cara não é tão incompetente,” mas parou quando ela olhou para ele, ainda chateado com sua “reação exagerada”.

“Isso seria ótimo,” disse ele, voltando sua atenção para o guarda. “Você foi capaz de rastrear para onde eles foram?”

“Sim,” Keith disse com orgulho e girou para ver a tela novamente. Ele mudou para uma tela diferente que mostrou os movimentos do cara em todo o shopping, bem como os de Sarah e Lanie. Eles culminaram com eles todos entrando em um Trans Am e saindo do estacionamento, dirigindo em direção ao norte.

“Tentei pegar a placa do carro, mas todas as nossas câmaras são colocadas muito alto para ver esse tipo de coisa.”

“Tudo bem,” disse Keri. “Você fez um bom trabalho, Keith. Eu estou vou lhe passar os nossos números de celulares para você nos enviar as imagens. Eu também gostaria que você enviasse para um dos nossos colegas na estação para que possam fazer o reconhecimento facial.”

“Claro,” disse Keith. “Eu vou fazer isso imediatamente. Além disso, eu queria saber se eu poderia pedir um favor?”

Keri e Ray trocaram olhares céticos, mas ela balançou a cabeça de qualquer maneira. Keith continuou hesitante.

“Eu estou planejando entrar para a academia de polícia. Mas adiei o plano porque eu não acho que estou pronto para as exigências físicas ainda.

Eu queria saber se, quando tudo isso for resolvido, eu poderia contar com vocês para obter algumas sugestões sobre como melhorar minhas chances de entrar e realmente me formar?”

“É isso?” Perguntou Keri, puxando para fora um cartão de visita para entregar para ele. “Ligue para este número aqui para o conselho sobre seu físico. Você pode me chamar quando precisar de alguma ajuda com a parte mental do trabalho. E mais uma coisa. Se você tiver que usar um crachá no trabalho, consiga um com o seu último nome. É mais intimidante.”

Então ela saiu, deixando o Ray finalizar a situação. Ele merecia.

De volta para o corredor, ela mandou uma mensagem com a imagem do cara tanto para Joanie Hart quanto para os Caldwells, perguntando se eles o reconheciam. Um pouco depois, Ray saiu para se juntar a ela. Ele parecia envergonhado.

“Escute, Keri. Eu não deveria ter dito que você estava exagerando.

Claramente há algo acontecendo aqui.”

“Isso é um pedido de desculpas? Porque eu não ouvi a palavra

‘desculpa’ no que você disse. E enquanto estamos no assunto, não houve casos em que parecia (para todos, mas menos para mim) que nada acontecia, mas que acabaram por ser algo importante o suficiente para você me dar o benefício da dúvida?”

“Sim, mas que e todos os casos...?” ele começou a dizer, em seguida, pensou melhor e se deteve no meio da frase. “Desculpe-me.”

“Obrigada,” Keri respondeu, escolhendo ignorar a primeira parte do seu comentário e se concentrando no segundo.


Seu telefone tocou e ela olhou para baixo com antecipação. Mas em vez de um e-mail do Colecionador, era uma mensagem de Joanie Hart. Foi breve e direto ao ponto: “nunca vi esse cara.”

Ela mostrou isso para o Ray, sacudindo a cabeça por causa da aparente ambivalência da mulher para com o bem-estar de sua filha. Só então o telefone tocou. Era Mariela Caldwell.

“Oi, Sra. Caldwell. É a Detetive Locke.”

“Sim, Detective. Ed e eu olhamos as fotos enviadas. Nós nunca vimos esse jovem. Mas Sarah falou para mim que Lanie disse que seu namorado

parecia fazer parte de uma banda de rock. Eu me pergunto se este rapaz poderia ser ele?”

“É bem possível,” disse Keri. “Sarah nunca mencionou o nome deste namorado?”

“Sim. Tenho certeza de que era Dean. Não me lembro do sobrenome.

Eu não acho que ela soubesse, também.”

“Ok, muito obrigada, Sra. Caldwell.”

“Fui útil?” Perguntou a mulher com uma voz quase suplicante de tão esperançosa.

“Muito. Eu não tenho nenhuma informação nova para você ainda. Mas eu prometo a você, que estamos muito focados para encontrar Sarah. Vou tentar atualizá-la o máximo que eu puder.”

“Obrigada, Detetive. Sabe, eu só percebi depois que você saiu que você é a mesma detetive que descobriu a menina surfista há alguns meses. E eu sei que, bem... Sua filha...” Sua voz falhou e ela parou, claramente tomada pela emoção.

“Está tudo bem, Sra. Caldwell,” Keri disse, preparando-se para a situação.

“Eu sinto muito pela sua menina...”

“Não se preocupe com isso agora. Meu foco está em encontrar sua filha.

E eu prometo que vou colocar cada gota de energia que eu tenho nisso.

Você apenas tente manter a calma.

Assista a um programa de TV de baixa qualidade, tire um cochilo, faça qualquer coisa que possa ajudar a manter a sanidade. Enquanto isso, estamos trabalhando nisso.”

“Obrigada, Detetive,” Mariela Caldwell sussurrou, sua voz estava quase inaudível.

Keri desligou e olhou para Ray, que tinha uma expressão preocupada.

“Não se preocupe, parceiro,” assegurou ela. “Eu vou conseguir. Agora vamos encontrar esta menina.”

“Como você propõe que façamos isso?”

“Eu acho que é hora do Edgerton. Ele teve tempo suficiente para rever os dados dos telefones das meninas. E agora temos um nome para o cara na praça de alimentação—Dean.

Talvez Lanie mencione esse cara em um de seus posts. A mãe dela pode não saber nada sobre ele, mas eu acho que pode ser mais um caso de falta

de interesse do que Lanie tentando esconder ele.”

Enquanto caminhavam pelo shopping em direção ao estacionamento e o carro de Ray, Keri chamou Edgerton e o colocou no viva voz para Ray poder ouvi-lo também. Edgerton atendeu após um toque.

“Dean Chisolm,” disse ele, dispensando qualquer cumprimento.

“O quê?”

“O cara na imagem que você enviou para mim se chama Dean Chisolm.

Eu nem sequer tive que usar o reconhecimento facial. Ele está marcado em um monte de fotos de meninas no Facebook.

Ele está sempre usando um boné puxado para trás ou óculos de sol como se ele estivesse tentando esconder sua identidade. Mas ele não é muito bom nisso. Ele sempre usa o mesmo tipo de camisa preta e as tatuagens são bastante reconhecíveis.”

“Bom trabalho, Kevin,” Keri disse, mais uma vez impressionada com ele.

“Então, o que você tem sobre ele?”

“Uma quantidade razoável. Ele tem várias prisões por drogas. Algumas são por posse, uma por distribuição, e uma por ser um mensageiro. Ele pegou quatro meses de prisão no último caso.”

“Soa como um cidadão real,” Ray murmurou.

“Isso não é tudo. Ele também é suspeito de estar envolvido na operação de um esquema sexual usando meninas menores de idade. Mas ninguém jamais foi capaz de pegá-lo com relação a isso.”

Keri olhou para Ray e viu algo mudar em sua expressão. Até agora, ele tinha pensado que havia uma possibilidade mais do que a sólida de que essas meninas estavam apenas passeando. Mas com a notícia sobre o Dean, era óbvio que ele tinha passado de levemente desconfortável para completamente preocupado.

“O que sabemos sobre este esquema de sexo?” Perguntou Keri.

“Ele é administrado por um cara charmoso chamado Ernesto ‘Chiqy’

Ramirez.”

“Chiqy?” Perguntou Ray.

“Eu acho que pode ser um apelido curto para Chiquito. Isso significa pequeno. E já que esse cara parece ter bem mais de cem quilos, eu estou supondo que é uma

piada.”

“Você sabe onde podemos encontrar o Chiqy?” Perguntou Keri, sem achar nenhuma graça.

“Infelizmente, não. Ele não tem um endereço conhecido. Ele parece saltar de armazém em armazém abandonado no arredores, onde ele monta bordéis. Mas eu tenho algumas boas notícias.”

“Nós vamos conseguir algo,” Ray disse quando entrou em seu carro.

“Eu tenho um endereço com Dean Chisolm. É o local exato onde o GPS

dos telefones de ambas as meninas desligou. Estou enviando-lhe agora, juntamente com uma foto de Chiqy.”

“Obrigado, Kevin,” disse Keri. “Aliás, podemos ter encontrado um mini-Kevin trabalhando como guarda de segurança no shopping; muito nerd. Ele quer ser um policial. Eu poderia colocá-lo em contato com você, se você concordar.”

“Claro. Como eu sempre digo, nerds do mundo unem-se!”

“É isso o que você sempre diz?” Keri brincou.

“Eu, acho isso,” ele admitiu, depois desligou antes que pudessem dar-lhe mais porcarias.

“Você parece muito centrada para alguém que acabou de saber que as meninas que estamos procurando podem estar em uma rede de tráfico sexual,” Ray observou com surpresa em sua voz.

“Eu estou tentando manter isso leve, enquanto eu puder,” disse Keri.

“Eu não acho que eu terei essa chance por muito tempo. Mas não se preocupe. Quando encontrarmos Chisolm, há uma boa chance de eu possa fazer alguma remoção amadora de tatuagem usando meu canivete suíço. É

bem bacana.”‘

Bom saber que você não se perdeu,” disse Ray.

“Nunca.”

CAPÍTULO SEIS


Keri tentou impedir que seu coração pulasse para fora de seu peito enquanto se agachava atrás de um arbusto ao lado da casa de Dean Chisolm. Ela se forçou a respirar devagar e silenciosamente, segurando sua arma nas mãos enquanto esperava que os policiais uniformizados batessem na porta da frente. Ray estava na mesma direção que ela do outro lado da casa. Havia mais dois oficiais em um beco atrás deles.

Apesar do clima frio, Keri sentiu um fio de suor escorrendo pela espinha, logo abaixo do colete à prova de balas, e tentou ignorá-lo. Eram mais de 19h e a temperatura estava por volta dos 5 ºC agora, mas ela tinha deixado sua jaqueta no carro para que tivesse maior amplitude de movimento. Ela ficava imaginando o quão pegajosa ficaria a jaqueta no corpo dela se ela estivesse vestida com ela.

Um dos oficiais bateu na porta, ela sentiu uma sacudida por todo o seu corpo. Ela se curvou um pouco mais para se certificar de que ninguém que espreitasse por uma janela pudesse vê-la atrás do mato. O movimento causou uma ligeira pontada na costela. Ela havia quebrado várias em uma briga com um sequestrador de crianças há dois meses. E enquanto ela estava tecnicamente completamente curada, certas posições ainda faziam com que a costela dela ficasse “incomodada”.

Alguém abriu a porta e ela se forçou a desligar sua atenção do ruído da rua e escutar atentamente a cena.

“Você é Dean Chisolm?” Ela ouviu um dos oficiais perguntar. Ela podia sentir o nervosismo em sua voz e esperava que quem estivesse falando com ele não pudesse perceber isso também.

“Não. Ele não está aqui agora,” respondeu uma voz jovem, mas surpreendentemente confiante.

“Quem é você?”

“Eu sou o irmão dele, me chamo Sammy.”

“Quantos anos você tem, Sammy?” Perguntou o policial.

“Dezesseis.”

“Você está armado, Sammy?”

“Não.”

“Há alguém na casa, Sammy? Talvez seus pais?”

Sammy riu da pergunta antes de se controlar.

“Eu não vejo meus pais há muito tempo,” ele disse com desprezo. “Esta é a casa do Dean.

Ele comprou com o próprio dinheiro.”

Keri já tinha visto o suficiente sobre isso e saiu de trás do mato. Sammy olhou em sua direção apenas a tempo de vê-la mexer na arma. Ela viu seus olhos se expandirem brevemente apesar de seus melhores esforços para despistar.

Sammy parecia uma cópia carbono de seu irmão mais velho, com pele pálida e múltiplas tatuagens. Seu cabelo também era preto, mas muito cacheado para fazer um penteado arrepiado. Ainda assim, ele usava uma t-shirt preta, um uniforme, jeans skinny com uma corrente desnecessária pendurada na calça e botinas pretas.

“Como Dean conseguiu comprar sua própria casa com apenas vinte e quatro anos?” Perguntou sem se apresentar.

Sammy olhou para ela, tentando decidir se ele poderia ignorá-la ou não.

“Ele é um bom empresário,” ele respondeu com um tom que insinuou o desafio sem ser completamente explícito.

“O negócio está bom ultimamente, Sammy?” Perguntou, avançando um passo adiante, ficando agressiva, esperando desestabilizar a criança.

Os dois oficiais uniformizados desceram, então não havia ninguém entre Keri e Sammy. Ela não sabia se era uma decisão consciente ou eles apenas queriam sair do meio do confronto. De qualquer maneira, ela estava feliz por ter todo o espaço para si.

“Eu não saberia dizer. Eu sou apenas um estudante do ensino médio, senhora,” disse ele, soando mais explícito.

“Isso não é verdade, Samuel,” ela o acusou, contente por ter lido o arquivo em Chisolm que Edgerton a enviou enquanto eles dirigiam para a casa. Ela viu isso usando o seu primeiro nome. “Você abandonou a escola na primavera passada. Você disse uma mentira para uma detetive do LAPD. Esse não é um ótimo começo para o nosso relacionamento. Você quer consertar isso?”

“O que você quer?” Sammy perguntou, cheio de petulância guardada.

Ele estava desestabilizado agora, “perdeu a linha”.

Ele ficou distraído quando Ray silenciosamente saiu do outro lado da casa e ficou em uma posição a poucos passos atrás do menino. Keri caminhou em direção a ele para manter sua atenção nela. Estavam a menos

de quatro metros de distância um do outro.

“Eu quero saber onde Dean está,” disse ela, eliminando a pretensão de brincadeira. “E eu quero saber onde as meninas que ele trouxe esta tarde estão”.

“Eu não sei onde ele está. Ele saiu algumas horas atrás. E eu não sei nada sobre nenhuma garota “.

Apesar de ser um delinquente juvenil em treinamento, Keri sabia que Sammy nunca tinha sido preso. Ela poderia usar seu medo para tirar vantagem disso. Ela decidiu “ir com tudo.”

“Você não está sendo direto comigo, Samuel. E estou perdendo a paciência com você. Nós dois sabemos em que negócio seu irmão está.

Nós dois sabemos como ele pôde pagar essa casa. E nós dois sabemos que você não está usando seu tempo livre estudando para conseguir um diploma.”

Sammy abriu a boca para protestar, mas Keri ergueu a mão e desceu rapidamente.

“Estou procurando por duas adolescentes desaparecidas por aí. Elas foram trazidas aqui pelo seu irmão. É meu trabalho encontrá-las. Se você me ajudar a fazer isso, você pode ter algo próximo à uma vida normal. Se você não me ajudar, vai ser muito ruim para você. Esta é a sua única oportunidade hoje à noite para evitar isso. Coopera ou já era.”

Sammy olhou para ela, tentando manter seu rosto neutro. Mas seus olhos estavam anormalmente fixos e sua respiração era rasa e rápida. Ele continuou apertando e apertando os punhos. Ele estava aterrorizado.

O que Sammy não sabia era que Keri não tinha um mandado. Se ele tivesse ficado dentro da casa e se recusasse a falar com eles, eles não teriam tido muitos recursos além de pedir um mandado e aguardar até que ele fosse aprovado.

Mas, afastando-se para envolver-se com ela e deixando a porta aberta, ele se tornou vulnerável. Ele não percebeu ainda, mas se ele concordasse em ajudar ou não, mesmo assim eles entrariam naquela casa. Sua próxima decisão realmente determinaria seu futuro imediato. Keri esperava que ele entendesse que ela não estava blefando. Ela esperava que ele escolhesse com sabedoria. Ele não fez isso.

“Eu não sei nada,”, ele disse, sem saber que ele estava apenas selando seu próprio destino.

Keri suspirou. Ela quase sentiu pena dele.

“Você ouviu isso?” Ray perguntou.

Sammy, inconsciente de que alguém estava atrás dele, quase pulou de suas botas.

“Que...?” Ele começou a dizer. Ray interrompeu-o.

“Detetive Locke, acho que ouvi alguns gritos de ajuda lá dentro. Você também pode ouvi-los? “

“Eu acho que sim, detetive Sands. Oficiais, vocês também podem ouvir?”

Os dois oficiais uniformizados claramente não podiam, mas não queriam ser os elos fracos. Ambos assentiram, e aquele que primeiro bateu na porta acrescentou: “Com certeza”.

Ray revirou os olhos para aquele esforço desajeitado, mas continuou de qualquer maneira.

“Oficiais, vocês podem algemar o Sr. Chisolm e colocá-lo na parte de trás do carro por enquanto, a detetive Locke e eu checaremos o grito lá dentro.”

“Que merda,” gritou Sammy quando um dos policiais o agarrou pelo ombro e o virou para segurá-lo. “Você não está ouvindo nada lá dentro.

Isso é ilegal.”

“Não tenho medo, Sammy,” disse Ray, mexendo em sua arma e se preparando para entrar na casa. “Aqueles gritos que todos nós ouvimos criam circunstâncias que exigem isso. Talvez seja bom que você vá para a faculdade de direito quando se formar, amigo.”

“Você deveria ter me escutado,” Keri sussurrou na orelha de Sammy antes de subir os degraus e puxar a arma. Ray concordou e ambos entraram com as armas levantadas.


O lugar era um chiqueiro. Havia latas de cerveja vazias em todos os lugares. Sacos de fast food invadiam o tapete manchado. A música estava vindo de algum lugar na parte de trás da casa.

Keri e Ray atravessaram a casa rapidamente. Nenhum deles esperava encontrar muita coisa. O fato de que não havia pessoas sugeria que ali era apenas uma área de preparação. As meninas provavelmente foram trazidas aqui pensando que estavam participando de uma festa, apenas para serem drogadas, e depois se saíram em massa.

Keri encontrou o quarto lá atrás de onde a música tecno estava vindo e a desligou. Ela entrou no banheiro adjacente e viu uma calcinha ao lado do banheiro.

Com uma ansiedade rastejante, Keri voltou para o quarto e notou algo que antes havia perdido. Havia três fechaduras na porta. Além da maçaneta, havia uma tranca e um cadeado com corrente.

“Ei, Ray, volte aqui,” ela gritou enquanto se movia para olhar mais de perto. O cadeado com corrente tinha muitos arranhões. Poderia ter sido a sua imaginação, mas Keri não pôde deixar de pensar que todas as marcas eram o resultado de, repetidamente, aquilo ter sido fechado com pressa por alguém tentando evitar que as pessoas saíssem facilmente.

Ray entrou na sala e Keri apontou para a porta.

“Muitos cadeados para uma porta de quarto,” ele observou, apontando o óbvio.

“Eu também encontrei uma calcinha no banheiro,” disse Keri.

“Há outras espalhadas pelo resto dos quartos também, assim como alguns sutiãs,” disse Ray. “Eu também encontrei cocaína e maconha. Acho que já temos o suficiente para prender Sammy, se quisermos.

“Vamos chamar a CSU para coletar as drogas e ver se eles podem encontrar impressões. Quero fazer outra tentativa com o Sammy. Agora que ele está enfrentando a realidade, talvez ele resolva conversar um pouco mais, especialmente depois de ficar sentado na parte de trás do carro por um tempo.”

“Parece bom,” disse Ray. “Eu vou ligar a TV para encontrar um canal que tenha algo como meninas gritando. Sabe como é, as circunstâncias pedem isso. Tenho que fazer isso parecer correto, certo?”

Keri concordou. Enquanto Ray estava com o controle remoto, ela saiu e foi até o carro dos rapazes. Um dos oficiais ligou as luzes intermitentes e uma pequena multidão começou a se formar rua abaixo.

Keri ficou satisfeito com o efeito. Tudo estava aumentando a pressão sobre o Sammy. Ela não queria colocar um garoto de dezesseis anos na cadeia, mas ela faria isso se necessário fosse, especialmente se a ameaça de fazer isso pudesse resgatar duas garotas sequestradas.

Ele a olhava nervosamente através da janela do carro enquanto se aproximava. Ela abriu a porta e se ajoelhou ao nível dos olhos dele. Ela poderia lidar de muitas maneiras com esse garoto, mas decidiu que, nesse

momento, seu movimento mais forte seria apenas ser direta.

“Nós encontramos as drogas, Sammy,” ela disse a ele. “Maconha, coca, quem sabe o que mais. A quantidade sugere mais do que apenas uma posse. Estamos falando da intenção de distribui-las. E como você era o único que estava na casa, você é o único que podemos responsabilizar.

Também encontramos roupas íntimas femininas. Estamos trazendo nossa equipe especializada para estudar a cena do crime e verificar se há DNA e impressões digitais. E estou bastante confiante de que vamos encontrar algumas com relação às meninas que estou procurando, talvez, de outras pessoas também.”

Keri observou enquanto Sammy engoliu a seco. Ela pensou que ele poderia dizer algo, mas ficou em silêncio, então continuou.

“Vou mostrar tudo para você, para que saiba o que está enfrentando. Não estou tentando te enganar ou jogar. Você está ferrado, Sammy. Eu não sei qual é a sentença para isso. Mas se não conseguirmos recuperar essas garotas, vou colocar toda a minha energia para garantir que você tenha a sentença mais rígida possível.

Eu vou testemunhar contra você. O meu parceiro irá testemunhar contra você. Eu vou encontrar uma maneira de fazer os pais dessas garotas testemunharem contra você, por causa dessas garotas desaparecidas. Você está me entendendo, Sammy?”

Sammy concordou.

“Bom. Então estamos na mesma página. Com isso, eu vou dar-lhe mais uma chance de sair disso. Eu nem vou pedir que envolva o seu irmão. Eu só quero saber a localização do armazém onde Chiqy pegou as garotas.

Você me dá isso e cai fora, eu vou defendê-lo. Mas esta é uma oferta única. Você só é bom para mim enquanto eu tiver a chance de encontrar essas garotas. O que você diz, Sammy? Você quer uma segunda chance de salvar sua própria vida?”

Sammy baixou a cabeça como se estivesse perdido. Keri esperou pacientemente, sabendo que ela pressionou o máximo que pôde e agora estava fora de suas mãos a situação. Depois de um momento, ergueu a cabeça novamente e ela sabia que tinha conseguido persuadi-lo.

“O armazém está no Vale, em North Hollywood, em Vanowen,” ele quase sussurrou. “Eu não sei o endereço exato. Mas eu tenho isso no meu telefone. Se você entregá-lo, vou encontrá-lo para você. Esse cara tem isso.

Keri levantou-se e encarou o policial uniformizado que ele havia apontado. Foi o que bateu na porta pela primeira vez. Ele estava encostado no capô do carro.

“Me dê seu telefone,” ela ordenou com força, então virou-se para encarar a casa e gritou tão alto quanto podia. “Ray, saia agora e venha!”

CAPÍTULO SETE


Keri não estava no controle de tudo e ela odiava isso. Obrigou-se a não deixar aparecer a frustração, mas era difícil. Se ela mordesse a língua mais, poderia até sangrar.

Porque eles estavam prestes a invadir um armazém que poderia abrigar uma rede de prostituição dirigida por um cafetão notoriamente brutal que mantinha um pequeno exército, uma equipe LAPD SWAT tinha sido chamada. Eles estavam no controle de tudo.

Keri e Ray ficaram com a equipe, que tinha ficado a um quarteirão de distância do armazém. Eles estavam ouvindo o líder da equipe dar as instruções finais. Ao seu sinal, metade da equipe entraria pela frente e metade através de uma porta na parte de trás. Keri e Ray teriam permissão para se juntar a eles uma vez que o lugar fosse seguro.

Keri assistiu a todos se aproximando do armazém e, apesar de seu ressentimento por ter sido deixada de fora, não podia deixar de admirar o trabalho em equipe e eficiência com que eles calmamente entravam no lugar.

O líder da equipe deu o seu aval sobre no rádio comunicador e ouviu uma série de explosões quando os membros da equipe jogaram granadas antes de entrar. Ela ouviu a conversa à medida que adentravam a instalação. Não houve gritos, sem tiros, e só um pouco de ansiedade em suas vozes.

Keri pôde dizer dentro de trinta segundos que não havia inimigos lá dentro. Depois de mais de dois minutos, eles receberam permissão para entrar.

Uma vez lá dentro, Keri permitiu-se um momento para explorar seus arredores. Todo o armazém cavernoso era composto quase que exclusivamente de colchões espalhados por toda parte.

Havia mais de duas dezenas de garotas. Eles estavam completamente nuas, sem lençóis ou cobertores. Algumas nos cantos tinham cortinas, que ofereciam uma aparência de privacidade. Um pensamento amargo entrou na cabeça de Keri.

Talvez aquelas são para os clientes VIP.

Ficou imediatamente claro por que a equipe SWAT parecia tão casual.

Com excepção das zonas por trás das cortinas, que claramente tinham sido

verificadas, não havia nenhum lugar para se esconder. Apesar das luzes do teto que estavam esmaecidas, todo o armazém era visível e estava quase completamente vazio.

Na verdade, ela só viu duas pessoas em todo o lugar e que não eram policiais. Um deles era um cara qualquer que parecia estar desmaiado no chão ao lado de um colchão. A outra era uma jovem sentada em um colchão perto da parte traseira do local. Um policial da SWAT estava perto dela, enquanto um médico aferia a sua pressão arterial.

Keri foi direto para ela, seguida de perto por Ray. A menina parecia ter uns quatorze anos, tinha um cabelo loiro, seboso e longo. Seus olhos estavam vermelhos e expressando um olhar vago, como se ela não estivesse totalmente presente. Ela usava um top, mas não tinha nada embaixo. Em vez disso, ela estava parcialmente coberta por um cobertor térmico que o médico lhe deu.

“Você perguntou-lhe alguma coisa?” Keri perguntou o policial.

“Não Senhora. Não é a minha área de especialização. Além disso, eu não gostaria de perturbar ninguém.”

“Homem inteligente,” disse ela antes de se ajoelhar ao lado do médico.

Ele olhou para ela brevemente antes de voltar os olhos para a menina.

“Pressão arterial baixa,” disse ele calmamente. “Faz sentido, considerando que ela disse que foi drogada.”

Keri balançou a cabeça e olhou atentamente para a menina. Ela parecia estar apenas parcialmente ciente de seus arredores. Uma poça de vômito estava ao lado do colchão.

“Qual é o seu nome, querida?” Ela perguntou em voz baixa.

A garota olhou para ela sem expressão, parecendo não registrar que ela foi perguntada. Keri gentilmente tocou em seu braço e tentou novamente.

“Qual é o seu nome?”

O contato físico parecia tirar a menina um pouco fora de seu torpor. Seu olhar ficou mais fixo em Keri.

“Lilah.”

“Quantos anos você tem, Lilah?”

“Quinze.”

“Ok, Lilah. Keri é o meu nome. Eu sou uma policial. Assim como todo mundo aqui. Você está segura agora. Em poucos minutos, vamos levá-la para o hospital e entrar em contato com sua família. Tudo bem?”

Lilah concordou.

“Mas antes de fazer isso, eu preciso lhe fazer algumas perguntas muito importantes. Está tudo bem?”

Lilah concordou novamente.

“Onde está todo mundo?”

“Foram embora,” Lilah respondeu como se isso explicasse tudo. O

médico se inclinou para Keri.

“Ela está em choque,” ele sussurrou. Keri concordou e tentou uma tática diferente.

“Sabe o que aconteceu? Parece que saíram com muita pressa.”

“Sim. O homem grande ordenou-lhes para pegar todas as meninas e levá-las para longe. Então, ele saiu.”

“O homem grande tem a cabeça raspada e uma barba comprida?”

“Sim,”disse Lilah, fechando os olhos com o pensamento nele. “Depois que ele saiu, os outros homens começaram a pegar todas nós e nos puxaram para fora. Eles começaram a nos empurrar para dentro de uma grande van.”

“Você se lembra de alguma coisa sobre a van?” Perguntou Keri.

“Era marrom. E mesmo sendo grande, eles tinham problemas para colocar todas as meninas lá. Elas ficaram realmente amontoadas lá.”

“Por que eles não levaram você também?”

“Eles queriam, mas eu comecei a vomitar. Ninguém queria ficar perto de mim. Alguém disse para apenas me trancar aqui dentro, assim um deles me empurrou em um colchão e fechou as portas. Eu continuei vomitando por um tempo depois disso e então eu acho que eu adormeci até vocês chegarem.”

“Então, todas as outras meninas foram colocadas na van?”

“Eu acho que sim,” disse Lilah. Em seguida, ela pareceu desabar, como se o esforço de responder às perguntas tivesse usado toda a energia que tinha. Ray bateu em seu ombro. Ela olhou para cima para ver várias policiais uniformizadas que estavam nas proximidades.

“Lilah,” ela disse, mantendo sua voz calma e reconfortante, “você está cansada, então eu paro com as perguntas por enquanto. Estas oficiais agradáveis vão ajudá-la a chegar no hospital. Quando você tiver um descanso breve, elas vão pedir mais algumas coisas para você.”

“Eu não quero que você me deixe,” Lilah quase gritou, mostrando uma

emoção verdadeira, pela primeira vez. Ela agarrou o braço de Keri.

“Eu sei, querida,” disse Keri, mantendo o tom de voz suave, apesar da angústia explícita de Lilah. “Mas você precisa ir ao hospital para que os médicos possam ajudá-la. E eu preciso olhar por aqui mais um pouco para ver se há qualquer coisa que vai nos ajudar a encontrar todas essas outras meninas. Precisamos levá-las para casa em segurança também.”

“Tudo bem,” disse Lilah, parecendo perder o ânimo tão rapidamente quanto havia chegado. Keri delicadamente arrancou seu braço do agarrão da menina e fez sinal para que as policiais uniformizadas viessem. Elas se moveram rapidamente, sussurrando baixinho para Lilah quando o médico preparou a maca no chão ao lado dela.

Keri levantou-se e afastou-se antes de falar com Ray.

“Não há muito a fazer,” disse ela. “Eu vou andar por aí e ver o que esses caras poderiam ter deixado para trás. Você pode ligar para o Edgerton para falar sobre a van marrom que ela mencionou, assim ele poderá começar a olhar isso?”

“Sim,” disse Ray. “Eu sei que há muitas câmeras nessas áreas industriais. Tenho certeza que ele vai encontrá-la. A van marrom grande vai se destacar. A pergunta é: quanto tempo vai demorar para rastrear para onde ela foi?”

“Esperemos que não muito tempo,” disse Keri. “Esse cara Chiqy se move rápido; primeiro foi a casa de Dean e agora aqui. Precisamos recuperar o atraso antes que ele se mova de novo.”

“Concordo,” disse Ray. “E o que me preocupa é que ele saiu deste lugar muito rápido. Ele, obviamente, queria que esta fosse a localização do bordel esta noite. Mas parece que ele sabia que estávamos chegando, como se tivesse sido avisado de alguma forma.”

Os dois ficaram em silêncio por um momento, se perguntando como isso pôde ser possível. Finalmente, Keri afastou a questão.

“Nós vamos ter que nos preocupar com isso mais tarde. Uma coisa de cada vez, certo? Vá em frente e ligue para o Edgerton e eu vou começar a olhar tudo por aqui.”

Ray concordou e foi para fora. Keri olhou ao redor do armazém, pensando por onde começaria sua busca. Ela decidiu olhar para as áreas com cortinas, em primeiro lugar. Tinha que haver uma razão pela qual elas foram separadas de todo o resto.

Ela andou até a primeira no canto frontal esquerdo do armazém. Assim que ela começou a puxar a lanterna alguém ligou as luzes do teto no máximo. Depois de tomar um segundo para ajustar a visão, Keri se moveu em torno do espaço, procurando qualquer coisa fora do comum. Mas nada parecia estranho.

Ela mudou-se para a próxima área acortinada no canto traseiro esquerdo do armazém. Ela também parecia igual. Ela não tinha certeza do que estava procurando. Parecia improvável que encontraria uma carteira no chão ou um pedaço de papel com o próximo endereço para onde Chiqy tinha enviado as meninas.

Ela estava prestes a passar para a terceira área acortinada quando notou algo no canto. Havia um pequeno pedaço de tecido que saindo para fora debaixo do lado oposto do colchão.

Keri aproximou-se dele e se ajoelhou. Era azul-petróleo.

Seu coração batia desritmado, Keri calçou as luvas de látex e levantou o colchão. Debaixo estava o resto do tecido. Não era grande, talvez quatro polegadas por duas. E era claramente rasgado e não cortado.

Keri abaixou o colchão de novo, tentando não desarrumar nada quando um pensamento esmagador ecoou no seu cérebro.

Parece que alguém arrancou a roupa e colocou sob a borda do colchão para ser descoberto mais tarde.

Ela arrancou as luvas e pegou o telefone, achou uma imagem que Keith, a segurança, tinha enviado. Era de Sarah e Lanie sentadas na mesa da praça de alimentação. Keri ampliou a imagem de Sarah até ter certeza. O top da menina era exatamente da mesma cor do pano sob o colchão.

“Ray!” Ela gritou enquanto disparava várias fotos da roupa.

Ela se virou para ver seu parceiro caminhando em sua direção. Ele estava terminando sua conversa e levantou um dedo para que ela soubesse que ele estava quase pronto.

Ele desligou. Antes que Keri conseguisse falar ele lançou-se em uma descrição do que Edgerton disse para ele.

“É como nós pensamos. Ele disse. Puxar imagens da van deve ser fácil.

Mas segui-lo para seu próximo destino vai demorar um pouco. Ele recomendou que voltássemos para a estação, assim, poderá nos mostrar pessoalmente se tiver algo. Você encontrou alguma coisa?”

Keri sorriu levemente e apontou para o pedaço de tecido.

“O que é isso?” Perguntou Ray.

Keri mostrou-lhe a imagem da captura de tela da praça de alimentação.

“É o top de Sarah. Ela deve ter rasgado ele e escondido, esperando que nós o encontrássemos.

“Tem certeza?” Ray perguntou, incerto.

“Raymond, esta menina é inteligente. Apesar de tudo o que aconteceu com ela, ela está mantendo o seu juízo e lutando da única maneira que pode. Ela está nos deixando pistas!”

CAPÍTULO OITO


Keri sentiu-se quebrando alguma coisa. Quando ela olhou para a pequena peça na mesa do detetive Manny Suarez na estação da Divisão do Pacífico, ela tinha o desejo de retirar a coronha de sua arma e esmagar a pequena engenhoca até virar pó.

Em vez disso, ela respirou fundo, lentamente, deixando passar a frustração, e fez sua pergunta o mais calmamente possível.

“E onde CSU encontrou isso de novo?”

“Bem acima da porta da frente da casa de Dean Chisolm,” disse Suarez.

“É uma câmera de segurança ativada por movimento e está conectada à internet. Deve ser como esse cara, o Chiqy, soube que estava vindo para o armazém. Ele teria visto você questionar Sammy Chisolm e supôs que o garoto sucumbiria.”

“Uau,” disse Keri, impressionada. “Nós aparecemos na casa de Chisolm logo após sete horas e a equipe da SWAT entrou naquele armazém antes das oito horas. Isso significa que ele esvaziou completamente o local em menos de uma hora.”

“Isso também significa que Chiqy deve punir Sammy por traí-lo,”Ray observou. “Devemos protegê-lo sob custódia. Onde ele está agora?”

Suarez achou a localização em seu computador. Keri observava seus dedos voando pelo teclado com espanto. Manny Suarez não impressionava com sua aparência, com sua permanente barba por fazer, seus pneuzinhos sobressalentes, e seus olhos sonolentos. Mas Keri sabia que, sob aquela figura desleixada havia um detetive perspicaz com bons instintos naturais.

Ele também era um digitador muito rápido.

“Parece que Castillo saiu há cerca de vinte minutos para levá-lo para uma reserva nas Torres Gêmeas,” disse ele.

Torres Gêmeas era o nome informal para a prisão central masculina de Los Angeles County. Era exatamente o tipo de lugar onde os servos de Chiqy estariam esperando para colocar suas mãos sobre Sammy.

“Vamos colocar Castillo na linha,” disse Keri. “Eu quero avisá-la sobre com que ela está lidando. Ela vai ter que se esforçar para protegê-lo.”

Quando Manny ligou para Castillo, Ray virou-se para Keri.

“Você não acha que Castillo pode lidar com isso? Eu não diria isso a ela.

O chip no ombro da garota é quase tão grande quanto o seu.”

Era verdade. A Diretora Jamie Castillo era durona e destemida. Keri tinha entendido isso quando pegou a jovem policial de última hora, para pegar o Coletor. Castillo não questionou. Ela simplesmente apareceu e foi a retaguarda de Keri. A armadilha não deu certo, mas não foi culpa de Castillo.

“Olá,” veio a voz dela no viva-voz.

“Ei, Castillo. É Keri aqui com Ray e Manny. Você está transportando Chisolm para as Torres Gêmeas, certo?”

“Isso. Devemos estar lá em cerca de meia hora. Por quê?”

“Estamos preocupados, achando que haverá um acerto de contas.

Precisamos de você para garantir que eles colocarão Chisolm em prisão preventiva, assim que fizer a reserva.”

“Ok,” Castillo disse como se não fosse grande coisa.

“Eles podem recusar,” Keri avisou. “Se eles forem difíceis ou se você achar que não vai conseguir, apenas traga-o de volta. Vamos mantê-lo no gelo aqui por um tempo, se for preciso. Você pode fazer isso?”

Ela acrescentou a última linha intencionalmente para irritar a jovem policial. Se Castillo sentisse como se alguém estivesse desafiando suas habilidades, ela era capaz de fazer de tudo para provar sua capacidade. Isso era parte da razão pela qual Keri gostava tanto dela. A policial novata se parecia com ela; apenas mais jovem, mais atlética e hispânica.

“Detetive Locke,” disse Castillo, tentando ser respeitosa, apesar do tom sua voz, “Eu espero que você não esteja duvidando da minha competência.”

“Não da sua competência, Jamie,” disse Keri, tentando não rir com a facilidade com que ela conseguiu manipulá-la. “Eu só duvido da competência dos nossos amigos da cadeia do condado. Eles podem precisar de alguém disposto a ser forte. Eu acho que você é a pessoa certa para essa o trabalho.”

“Algum conselho?”

O telefone de Keri tocou e ela olhou para baixo e viu que era Mariela Caldwell. Ela fez sinal para Ray assumir dando Castillo dicas sobre como navegar pelo labirinto burocrático das Torres Gêmeas enquanto ela se afastou para atender a chamada.

“Oi, Senhora Caldwell. Me desculpe, eu não lhe contactei,” disse ela em tom de desculpas.

“Eu entendo,” disse a mulher, obviamente, tentando esconder a ansiedade em sua voz. “Eu só queria ver se tinha alguma notícia.”

“Claro. As coisas foram se movendo tão rapidamente que eu não tive muito

tempo.”

Ela parou por um momento, não tendo certeza de como proceder com o que sabia, por experiência pessoal, que seria uma informação devastadora.

“Detetive?” Veio a voz preocupada do outro lado da linha.

Keri decidiu que não havia nenhuma maneira fácil de dar a notícia e decidiu ser direta com a mulher.

“Sra. Caldwell, eu serei honesta com você. A notícia não é boa. Sua filha foi sequestrada. Parece que o namorado de Lanie estava trabalhando para um cara que opera uma rede de tráfico de mulheres. Ele as levou para uma casa onde esse cara e sua equipe as estavam

esperando.”

Keri heard a Sra Caldwell abafar um soluço e depois a voz de seu marido suavemente consolá-la. Ela ignorou a reação, não querendo prolongar isso por mais tempo do que o necessário.

“As meninas foram levadas para um armazém no vale onde eram mantidas antes de serem transferidas novamente. Sabemos que Sarah estava lá porque encontramos um pedaço rasgado do top que ela usava. Eu acredito que ela deixou isso lá como uma pista para nós.”

Keri intencionalmente omitiu o que vinha acontecendo no armazém e o fato de que o pedaço de roupa foi encontrado parcialmente escondido sob um colchão.

A voz tensa de Edward Caldwell entrou na linha e Keri percebeu que ela estava no viva-voz.

“Você sabe para onde ela foi transferida ?” Ele perguntou em voz baixa.

“Ainda não. Nossa equipe de tecnologia está trabalhando nisso agora, usando imagens da câmera para monitorar o veículo em que as meninas foram transportadas. Mas eu tenho que avisá-lo, é um processo trabalhoso e pode demorar um pouco.”

“Você disse que é uma quadrilha de tráfico de mulheres” disse Mariela Caldwell. “Isso significa que ela já foi... machucada?”

“Não há nenhuma maneira de saber ao certo, Sra Caldwell. Mas você deve se preparar para essa possibilidade. Lamento ser tão direta. Mas você

merece saber a verdade.”

“Obrigado por ser honesta conosco, disse Edward Caldwell, a voz dele estava falhando um pouco.

“Eu queria que vocês soubessem onde estamos agora na investigação.

Mas eu não quero chamá-los com atualizações constantes que realmente não dão qualquer nova informação significativa. Por favor, saibam que quando eu tiver alguma coisa substancial, vou entrar em contato. Mas pode levar várias horas. Eu sei que pode ser impossível, mas ambos devem tentar dormir um pouco, se conseguirem.”

“Vamos tentar,” disse ele e todos eles sabiam que ele estava mentindo.

Keri sentiu o zumbido no telefone. Ela tinha um novo e-mail.

“Eu tenho que ir agora. Farei contato quando tiver alguma coisa,” disse ela aos Caldwells, depois desligou e clicou sobre a nova mensagem. Ela não reconheceu o remetente. Levou um segundo para perceber que era o Coletor.

Ela sentiu as pernas começarem a bambear e conseguiu cambalear até uma mesa próxima para sentar-se nela. Suas mãos tremiam enquanto tentava abrir o e-mail. Seu dedo balançou tanto que demorou três tentativas para abrir a tela corretamente. Quando ela finalmente o fez, a mensagem que ela encontrou era curta e direta.

l.a live ir ao lobby do bar do marriott. peça o pacote para jones. siga as instruções da embalagem. 30 minutos. só você. sem armadilhas. confirme.

Sem pensar duas vezes, Keri respondeu: “Confirmado.” Então ela sentou-se na borda da mesa, meio atordoada com o choque, imóvel, apesar de seu prazo de tempo apertado.

Ela olhou para Ray e Suarez falando com Castillo sobre o que ela tinha que fazer nas Torres Gêmeas. Eles estavam brincando com ela sobre se ela estava à altura da tarefa e ela estava mordendo a isca. Ray olhou para Keri com um largo sorriso no rosto. Ela tentou devolvê-lo, mas ele soube imediatamente que algo estava errado.

“Você entendeu?” Ele perguntou Suarez, e recebendo um aceno de confirmação, ele caminhou até Keri. “O que foi?”

Ela engoliu duro antes de levantar o dedo indicador aos lábios, indicando que ele não deveria dizer mais nada. Ela se levantou, fez com que suas pernas funcionassem corretamente, em seguida, fez sinal para ele segui-la para fora dali.

“Quantas escutas você acha que Jackson Cave tem naquele lugar?” Ray perguntou quando eles saíram e sentiram o ar frio da noite.

“Basta ter cuidado extra,” disse Keri, puxando para fora seu telefone e mostrando-lhe o e-mail. Ray o leu e olhou para ela, preocupado.

“Meia hora a partir de agora? Isso vai ser difícil.”

“Por quê? Eu vou usar a sirene,” Keri disse enquanto caminhavam até o carro.

“Sim. Mas vai ser louco quando você chegar lá. Há um grande jogo dos Lakers contra os Spurs esta noite em frente ao Staples Center. Isso provavelmente vai acabar por volta das dez horas, bem na época em que você deveria encontrá-lo. Milhares de pessoas estarão saindo da arena e indo para bares bem perto de onde você estará.”

“Deve ser o plano dele,” disse Keri. “Quanto mais lotado, mais controle ele tem. E se as coisas derem errado, ele pode simplesmente escapar em meio a essa enorme massa de pessoas. Acho que é melhor eu me apressar, então.”

“Eu?” Perguntou Ray. “Não quer dizer ‘nós’?”

“Não, Ray. Isso tem que ser apenas comigo.”

“Por quê?” Ele perguntou quando ele pegou a maçaneta da porta do passageiro de seu carro. Ela levantou a mão para detê-lo e apontou silenciosamente para o seu volante, onde tinham descoberto o dispositivo de escuta semanas atrás. Ray caminhou até ela e ficou perto enquanto ela falava.

“A última vez que eu tentei isso, ele ficou nervoso. Ele disse que era porque eu tinha uma armadilha, mas eu não sei se isso é verdade. Talvez ele viu Castillo me cobrindo a partir do telhado. Talvez ele seja apenas um cara nervoso. Mas esta é a minha última chance. Se ele se assustar novamente, ele vai excluir esse endereço de e-mail e eu nunca mais vou encontrá-lo. E isso significa que eu nunca mais encontrarei Evie. Não posso correr esse risco. Então, eu estou fazendo tudo do jeito dele.”

“Mas e se ele lhe reconhecer? Ele sabe quem você é.”

“É por isso que eu sempre tenho um disfarce no porta-malas,” disse ela, retirando a bolsa de suprimentos. “Eu tenho uma peruca, óculos, um boné, até mesmo dentes falsos. Eu sou apenas um cliente querendo eliminar um colega de trabalho. Lembra? Ele vai acreditar. E se não acreditar, eu vou pegá-lo e conseguir algumas as respostas dele.”

!Eu não gosto disso,” disse Ray. Mas seu tom era cheio de resignação.

Ele sabia que ele já tinha perdido com o seu argumento.

“Eu sei, parceiro. Mas é assim que tem que ser. Eu espero há cinco anos para encontrar esse cara face a face. Eu não quero estragar tudo. Além disso, não há nada que possamos fazer até Edgerton descobrir para onde a van marrom foi. E agora eu só tenho vinte e seis minutos para chegar lá. Eu tenho que ir.”

Ela começou a abrir a porta, mas antes que ela pudesse terminar, Ray agarrou-a e puxou-a para um abraço apertado.

“Tenha cuidado, Tink,” ele sussurrou.

“Terei, Snuffleupagus,” ela sussurrou de volta. Então, ela ficou na ponta dos pés e deu-lhe um beijo rápido na bochecha antes de entrar no carro e sair do estacionamento com os pneus cantando.


CAPÍTULO NOVE


Com a adrenalina pulsando através de seu organismo, Keri finalmente saiu da auto-estrada. Seus olhos corriam para trás e para frente entre a estrada e o relógio em seu painel enquanto ela saía e entrava no tráfego denso da rampa de saída, eventualmente, usando o acostamento para passar a longa fila de carros parados.

Ray estava certo. Mesmo com sua estridente sirene, foi duro chegar no centro do complexo de entretenimento L.A Live até às 22h. Até o momento em que Keri parou em frente ao JW Marriott na West Olympic Boulevard, já eram 9:58. Ela estacionou em um local de “carga/descarga somente.” Quando um manobrista foi até ela para chamar sua atenção, ela mostrou seu crachá e disse-lhe para garantir que ninguém tocasse no carro.

Então ela correu para o hotel, passando pelo balcão de check-in até o grande lobby bar no átrio central. Quando ela chegou, ela olhou para o relógio:eram 22:01. Tomara que o Colecionador não seja um defensor ferrenho da pontualidade.

Ela chamou a atenção da bartender, que se aproximou muito casualmente para o gosto de Keri.

“Você acabou de vencer a corrida,” disse ela. “O jogo dos Lakers acabou de terminar. Este lugar estará lotado em cinco minutos. O que posso fazer por você?”

“Eu preciso pegar um pacote para Jones,” disse Keri, tentando não parecer muito desesperada.

“Ah sim, espere um segundo,” disse a bartender e andou até o caixa para pegá-lo.

Enquanto esperava, Keri olhou para si mesma no espelho enorme que cobria toda a extensão do bar. Ela estava quase irreconhecível, com uma peruca escura na altura dos ombros, óculos de armação rosa que cobriam metade do rosto, dentes falsos que lhe deram uma aparência dentuça, e um boné de beisebol preto que dizia “você deveria ver o outro cara.” Ela esperava estar irreconhecível e que o boné fizesse o Colecionador baixar um pouco a guarda.

O barman voltou com um saco Starbucks de papel com a palavra

“Jones” escrito na frente de caneta Sharpie preta. Keri olhou dentro e viu uma anotação, juntamente com um boné de beisebol diferente. Ela puxou

ambos.

O boné era chamativo, cor de arco-íris com as palavras “Universidade do Havaí” escritas nele. Ele ficaria em destaque dentre todos os bonés Lakers e Spurs que todo mundo estava usando.

Ela olhou para a anotação, que foi escrita em letras maiúsculas. Ela dizia

“coloque isso. vá lá fora e sente-se no banco em frente ao Starbucks.

espere.”

Keri olhou para a bartender, que tinha uma expressão curiosa em seu rosto.

“Espero que valha a pena,” disse ela, “porque esse boné é feio.”

“Como o cara que deixou isso é?” Keri perguntou animadamente.

“Eu não sei. Foi deixado aqui antes do meu turno começar. O cara que eu substituí apenas disse que alguém chamado Jones viria buscar isso agora.”

“Obrigada,”disse Keri, mudando o seu boné pelo de cor arco-íris. “Posso deixar este saco com você por alguns minutos?”

Ela estendeu o saco e a bartender não se importou e o pegou. Keri percebeu que, se o Colecionador não aparecesse, talvez CSU pudesse puxar um pouco de DNA daquele saco.

Ela olhou para o relógio: 10:03.

Hora de ir. Fique fria, Keri. É isso.

Mas, quando ela saiu pela saída traseira do hotel e fez seu caminho para a Starbucks do outro lado do pátio, ela sentiu seu coração quase batendo fora do seu peito. Ela foi positiva pensando que o Colecionador estava olhando para ela e permitiu que seu nervosismo aparecesse. Uma pessoa normal prestes a contratar alguém para sequestrar um colega de trabalho ficaria nervoso com tudo isso. Ela encenou, arrastando os pés e ajustando desajeitadamente seus óculos enquanto andava.

Ela viu um banco desocupado em frente ao Starbucks e foi até ele, tecendo seu caminho por dentro e por fora dos fãs de basquete uniformizados com camisas dos times. Ela notou que as pessoas vestindo camisas dos Spurs estavam gritando mais do que aqueles usando camisas dos Lakers e supôs que o time visitante deveria ter vencido.

Sentou-se e, percebendo que não havia mais nada a fazer, esperou.

Foi o primeiro momento em que ela realmente teve que ficar quieta e respirar desde que tinha recebido o e-mail. Involuntariamente, os

pensamentos de Evie inundaram seu cérebro. Memórias dela quando criança desembrulhando presentes de Natal deram lugar a imagens dela quando bebê em seu berço, agitando seus braços e pernas alegremente para o móbile com música de ninar logo acima do berço.

O pensamento de que ela poderia ver sua filha preciosa novamente em breve era quase emocionante demais para processar e forçou a esperança a sair de sua cabeça.

Mantenha o foco. Este não é o momento para sonhar. Você tem um trabalho para fazer. Ele poderia aparecer a qualquer momento.

E à direita, em seguida, ele veio.

Antes que ela percebesse o que tinha acontecido, um homem vestido com um suéter preto e jeans azul sentou-se ao lado dela. Ela olhou e percebeu que era ele. Ele estava usando uma peruca também, um com cabelo preto grosso. Ele usava óculos escuros, o que parecia ridículo considerando a hora.

Mas ela sabia que era ele por causa da tatuagem. Além de seu cabelo loiro, outra lembrança que ela tinha do homem que levou sua filha era uma longa tatuagem que serpenteava para o lado direito do pescoço dele. Ela viu isso agora, saindo para fora por debaixo da camisa quando ele se sentou à esquerda dela.

“Jones?” Ele perguntou em voz baixa.

Ela assentiu com a cabeça, hesitando falar imediatamente. Ele não pareceu reconhecê-la, mas ela tinha estado no noticiário recentemente depois de resgatar uma menina e ele poderia reconhecer sua voz.

“Você está procurando por um contratante independente para lidar com um problema de infestação?” Ele perguntou.

“Um-hum,” ela murmurou o mais baixo que pôde.

“Siga-me,” disse ele e se levantou. Keri levantou-se e tentou manter o ritmo quando ele seguiu seu caminho, sem esforço, através da multidão.

Ele claramente estava habituado a isso.

Finalmente, ele chegou a um ponto onde a multidão se dispersava, na esquina da Olympic e Francisco Street, perto da entrada de um dos estacionamentos subterrâneos do complexo. Um sinal indicava que estava cheio e havia vários postes amarrados bloqueando a entrada de carros.

Apoiando-se contra a barreira de concreto que separa a passagem da rampa da garagem, ele se virou completamente de frente para ela pela

primeira vez.

“Eu suponho que você seja a cliente e não uma substituta?” Perguntou ele, referindo-se a sua reunião prévia que falhou em Santa Monica, há seis semanas.

“Eu sinto muito por isso,” ela disse, “Eu estava tentando ser cuidadosa.


Acho que

exagerei.”

“Você tem sorte. A maioria das pessoas só tem uma chance,” disse ele em um tom neutro. Seus olhos, escondidos atrás dos óculos de sol, eram impossíveis de serem lidos.

“Obrigada,” disse ela, sem querer sair do estabelecido.

“O que você quer?” Perguntou.

“Ah, bem,” ela começou, tentando parecer hesitante. “Bem, eu trabalho na—”

“Não há detalhes ainda, para a nossa proteção. Apenas me dê a ideia geral.”

“Certo. Ok. Bem, eu tenho um colega de trabalho. Ele é um verdadeiro idiota. Ele vai trabalhar bêbado boa parte do tempo. Ele rouba as minhas ideias. Ele é verbalmente agressivo. E ele é abusivo.”

“Isso acontece em metade dos escritórios na América,” disse o Colecionador.

Aparentemente, além de ser um sequestrador de crianças, ele era um crítico social também.

“Por que você quer tomar uma atitude tão drástica?”

“Nós queremos a mesma promoção. Se ele conseguir, será meu supervisor direto. Eu não posso aguentar isso. Mas eu preciso deste emprego. Eu ganho bem. Eu sou divorciada, mãe solteira, e eu não terminei a faculdade. Não há nenhuma maneira de ir para outro lugar e ganhar o que ganho lá. Mas eu não posso ficar ao redor desse cara todos os dias até eu me aposentar. Eu vou me matar.”

Ele olhou para ela em silêncio por um momento. Com os óculos de sol, ela não podia dizer se ele estava desconfiado ou se acreditou em sua história. Ela trabalhou duro para isso e soou convincente para ela. Mas talvez houvesse uma falha que ela não tinha considerado. Ou talvez sua voz, apesar de seus melhores esforços para disfarçá-la, estava começando a soar familiar para ele.

De repente, o colete à prova de balas que usava pareceu surpreendentemente pesado. Sua arma, no bolso do interior de sua jaqueta para esconder a protuberância, pressionava desconfortavelmente contra o seu peito. Sentia-se inquieta e reuniu toda a sua força de vontade para não deixar isso transparecer. Finalmente, ele respondeu.

“Como é que você vai pagar pelos meus serviços se o seu orçamento é tão apertado?”

Ela estava pronta para isso e se permitiu relaxar um pouco. Ela percebeu que estava segurando a respiração até agora.

“Meu pai faleceu há alguns meses e me deixou um pouco de dinheiro.

Não é o suficiente para eu me aposentar. Mas eu percebi que se... Eu investi-lo corretamente, valerá a pena.”

“Quanto recebeu?”

“Será que estamos negociando agora?” Ela perguntou, e imediatamente percebeu que era um erro. Ela parecia muito confiante, muito segura de si mesma para uma funcionária de escritório que quer lidar com um colega de trabalho idiota. Ela o viu endurecer um pouco e sabia que ele tinha reparado isso também. Ela tentou consertar a situação.

“Desculpe se foi uma pergunta estranha. É que... não é como comprar uma casa. Não existem artigos na Internet sobre como negociar... esse tipo de coisa. Você sabe o que eu quero

dizer?”

“Eu sei,” disse ele lentamente.

“Bom. Eu acho que eu só não sei o protocolo ainda.”

“Não. Você não me compreendeu. Eu sei,” ele repetiu.

“Você sabe o quê?”

“Eu sei que é você, Keri.”

Ela congelou. O tempo pareceu quase ficar parado enquanto os lábios dele se curvaram em um sorriso cruel. Todos os seus anos de formação pareceram evaporar-se em um momento. Ela sentiu-se desamparada.

Não! Você não é impotente. Você se tornou uma policial para viver este momento. Isto é o que você queria. Isto é como você terá a sua filha de volta. Então faça isso.

Apesar da bile subindo pela garganta, Keri forçou-se a manter a calma e responder.

“Eu acho que você está confuso. Eu sei que não tenho que entrar em

detalhes. Mas meu nome é Emily.”

“Você realmente me pegou,” disse ele, ignorando o protesto. “A peruca é vagabunda. Mas os óculos são agradáveis. E os dentes—fantásticos.”

Keri pensou rapidamente enquanto ele falava. A jaqueta estava meio-fechada, mas não havia nenhuma maneira de pegar a arma antes que ele fizesse um movimento. Uma mão já estava no bolso da calça de brim e ela imaginou que ele poderia ter uma faca, talvez a mesma que ele usou para apunhalar o adolescente até a morte no estacionamento todos aqueles anos atrás.

Ela poderia dizer que ele estava louco para sair e decidiu que sua melhor aposta era desistir da farsa, qualquer coisa que mudasse a dinâmica e o impedisse de correr ou de atacá-la.

“Sua peruca não é muito boa também,” disse ela, permitindo-lhe ouvir a sua voz real pela primeira vez. “Não tão memorável quanto aqueles cachos loiros.”

Ele sorriu com o comentário, claramente feliz que tudo estava às claras agora.

“Estou impressionado por você ter me encontrado. Mas você sabe que isso não vai ajudá-la a encontrar Evie. Você sabe tudo termina para você esta noite. Você sabe disso, certo?”

Keri estava quase aliviada ao ouvi-lo dizer isso. Agora, pelo menos ela sabia que ele não tentaria escapar. Ele tentaria matá-la. Pelo menos essa era uma variável excluída.

Ela o viu respirar profundamente e sabia que ele estava prestes a fazer algo. Não havia nenhuma maneira de evitá-lo. Mas talvez ela pudesse driblá-lo um pouco.

“Como você sabe que não termina para você hoje à noite?” Perguntou ela. “Eu acho que se trata apenas de fazer você se render à minha força.”

“Você não pode fazer isso,” disse ele, ainda sorrindo. “Caso contrário, você nunca encontrará a sua filha—”

Antes que ele pudesse terminar a frase, ela se movimentou para a frente, perfurando-o com força no intestino. Ele parecia assustado, mas não gravemente ferido. Sem qualquer hesitação, ele se aproximou dela, batendo seu corpo no dela, prendendo-a contra a barreira de concreto da garagem.

Keri sentiu a respiração escapar do corpo dela e ela engasgou, tentando desesperadamente se recompor. Ela o viu puxar algo do bolso da calça de

brim e percebeu que era uma faca. Era menor do que a que ela se lembrava, mas ainda faria o que ele queria.

Ela viu o reluzir da luz da rua no objeto quando ele puxou a faca para a frente, mantendo-a baixa e apontando para o seu estômago. Ela sabia que não poderia parar o ímpeto daquele impulso, de modo que ela tentou mover seu peso para a direita quando ela agarrou seu braço e puxou-o para frente para que ele não pudesse ajustar a direção do golpe.

A lâmina quase atingiu seu corpo e, em vez disso, bateu com força na barreira de concreto atrás dela. Viu isso a faca saltar da mão dele. Mas ao invés de assistir onde isso acabaria, ela para se jogou para a frente, batendo a testa na ponta do nariz dele.

Por breves instantes, sentiu seu corpo, fortemente pressionado contra o dela, cedeu. Ela aproveitou o momento para se recompor para o que ela sabia que seria o próximo ataque. Não demorou muito.

Ele bateu contra ela, prendendo a parte inferior do corpo dela contra a barreira e dobrando a parte superior do corpo dela para trás de modo que o corpo dela estava saindo para fora da rampa que leva até a garagem.

Quando ela fez pressão contra ele, ela olhou para baixo e supôs que era, pelo menos, uma queda de três metros em um concreto duro.

Ela olhou para o Colecionador, cujo rosto estava a apenas polegadas do rosto dela. Sua cabeçada derrubou os óculos de sol dele e ela olhou em seus olhos cor de avelã. Ela poderia dizer que ele estava pensando a mesma coisa que ela. Se ele simplesmente desse um passo para trás e empurrasse, o peso de sua parte superior do corpo faria Keri cair para trás na calçada abaixo da rampa, provavelmente de cabeça.

Ela viu o brilho vitorioso em seus olhos quando ele começou a recuar e empurrá-la ao mesmo tempo. Mas naquele exato momento, incapaz de pensar em qualquer outra opção, Keri parou de empurrá-lo e, em vez disso, colocou os braços firmemente em torno do tronco dele.

Quando ela sentiu-se inclinando sobre a borda, com ele em cima dela, ela jogou as pernas à sua frente, na esperança de gerar o máximo de força possível. Ao mesmo tempo, ela apertou-o contra ela, recusando-se a permitir que ele escapasse.

E então eles foram caindo, suave e pesadamente ao mesmo tempo.

Quando eles caíram, a posição foi completamente invertida por uma fração de segundo antes da dinâmica compartilhada que jogou ela em cima dele.

No momento em que chegaram ao asfalto, ele estava embaixo e Keri estava acima dele. Ela sentiu seus corpos caindo na terra com um baque enorme e ela ouviu um estalo que soou como a cabeça dele batendo no chão.

Seus joelhos, que estavam por cima dele, bateram duramente no chão, enviando ondas de dor através do corpo dela. A lateral da cabeça dela bateu duramente contra o peito dele e quicou uma vez antes de parar. Mais uma vez, o ar tinha sido retirado do peito dela e ela tentou expirá-lo de volta.

Ela não podia se mover. Ela mal podia respirar. Parecia que ela tinha quebrado as duas pernas. Mas ela sabia que estava viva.


Depois do que pareceu uma eternidade, ela colocou as mãos no chão e empurrou-se ligeiramente para que ela pudesse ver mais claramente o Colecionador deitado debaixo dela. Seu peito se movimentava com muito esforço, então ela soube que ele não estava morto.

Ela olhou para seu rosto. Seus olhos estavam abertos e ele estava piscando muito. A peruca tinha se soltado e ela podia ver o cabelo loiro abaixo dela. Uma pequena poça de sangue havia se formado abaixo de sua cabeça.

Keri olhou em volta. Não havia ninguém à vista. Aparentemente sua luta tinha sido tão repentina e discreta que ninguém mais sequer parecia ter percebido o que tinha acontecido. Keri ainda podia ouvir os gritos e aplausos das pessoas tendo uma noite de diversão na cidade.

Ela se levantou para ficar sentada quase na vertical, ficando por cima do Colecionador enquanto ele estava deitado com as costas no chão. Ele não fez nenhum esforço para empurrá-la para fora. Na verdade, além de seus olhos piscando, ela percebeu que ele não tinha sequer se contraído.

“Você pode se mover?” Perguntou para ele. Ela percebeu que ainda tinha os dentes falsos na boca e os cuspiu.

Ele parou de piscar e olhou em volta como se estivesse tentando encontrar a voz. Finalmente seu olhar repousou sobre ela.

“Eu acho que quebrei meu pescoço,” disse ele, sua voz estava audível, mas era suave. “Eu não sinto nada.”

Keri beliscou o braço dele fortemente.

“Você sentiu isso?” Ela perguntou.

“O quê?”

“Eu acho que você pode estar paralisado.”

“E daí?” Disse ele vagamente. Keri notou que a poça de sangue abaixo de sua cabeça estava ficando maior.

“Diga-me onde minha filha está.”

“O quê?”

“Você está morrendo. O sangue está derramando de sua cabeça. Você estará morto antes de uma ambulância chegar aqui. Não há necessidade de se preocupar com a prisão. Apenas me diga onde Evie está. Faça uma coisa boa antes de morrer.”

Ela ficou surpresa com a calma que ela soou. Sua voz não estava implorando. Era mais como se estivesse fazendo uma sugestão forte.

“Por que eu lhe daria esta satisfação?” Perguntou. “É culpa sua. Se eu estou morrendo, pelo menos eu saberei que você sofrerá quando eu for.”

Keri sentiu seu peito apertar quando a raiva brotou dentro dela. Ela tentou forçá-la de volta.

Você não sabe quanto tempo ele tem. Use-o. Faça valer o seu tempo.

“Diga-me onde ela está e eu vou pedir ajuda”, disse ela.

“Você já disse que eu vou morrer. Você está apenas mudando suas táticas, tentando tirar vantagem do meu estado,” disse ele, antes do que Keri suspeita ter sido uma tentativa de rir.

“Eu não sou médico. Talvez você possa fazer isso.”

Seus olhos se suavizaram um pouco, como se ele não pudesse fixar seu olhar sobre ela. Ele piscou por alguns segundos e então pareceu recuperar o controle.

“Keri,” ele sussurrou e ela se inclinou para perto dele. “Isso vai ser tão ruim para você. Até agora, você sempre teve esperança. Mas se eu me for, você não terá qualquer ligação com ela.

Imagine todas as coisas que foram feitas para ela. Mas e as coisas que ainda foram feitas com ela? Elas estão em sua cabeça agora. Que tipo de mãe é você, para infligir tal sofrimento em sua própria filha?”

De repente, ele estava engasgando. Keri olhou para cima e percebeu que era porque ela tinha envolvido suas próprias mãos ao redor do pescoço dele. Ela estava apertando, mais forte do que ela já tinha apertado em toda a sua vida.

Ela olhou para os nós dos dedos ficando brancos, e em seguida, voltou

sua atenção para o Colecionador, cujos olhos arrogantes não estavam mais piscando. Agora eles estavam arregalados, como se pudessem saltar direto para fora de sua cabeça.

E ainda assim ela continuou sufocando-o. Ela apertou até não sentir mais suas mãos, até que sentiu os músculos do pescoço dele parar de lutar contra seus dedos, até o peito dele parar de subir e descer abaixo dela.

E quando ela tinha certeza de que ele já tinha se movimentado, Keri caiu em cima dele. Seu próprio corpo começou a levantar com soluços incontroláveis. À distância, ela podia ouvir uma voz.

“Ei, há pessoas lá em baixo!” Uma mulher gritou. Parecia estar longe.

Ela não tentou parar de chorar. Em vez disso, ela deixou os gritos ofegantes envolvê-la. Ela chorou porque sabia que ele estava certo. Depois que ele morreu, seja por causa do crânio ensanguentado ou das mãos dela em torno de sua garganta, toda a esperança de encontrar Evie foi perdida.

Ela não poderia usar seu telefone. Ela não poderia colocar alguém atrás dele. Ela não poderia jogá-lo em uma cela e interrogá-lo. Ela não poderia fazer nada.

Ele se foi. E agora, era a única pista que ela tinha para encontrar sua filha preciosa. Enquanto ela estava lá, ouvindo as vozes se aproximando, um pensamento a consumiu.

Eu desejo estar morta também.

CAPÍTULO DEZ


Sarah sentiu o medo rastejar no limiar de sua mente e tentou afastá-lo.

Estava ficando mais difícil a cada minuto que passava. Ela se sentou tremendo no chão do frio e sombrio quarto de motel, vestindo apenas seu top azul marinho, calcinha e seus tênis. Ela não tinha certeza de quanto tempo estivera ali.

A van marrom as entregou, os homens arrancaram cada uma delas para fora e as arrastaram para quartos separados do motel de dois andares. Ela reparou que o estacionamento estava quase vazio e imaginou se o lugar sequer tinha hóspedes. O homem responsável por ela algemou seu pulso direito no radiador, colocou fita adesiva sobre sua boca, alertou a ela que não removesse a fita e saiu, trancando a porta atrás dele.

O quarto era escuro e não havia relógio para que ela se orientasse.

Tentou agarrar o cobertor e derrubá-lo da cama, mas não importava o quanto ela se esticasse, estava longe demais para alcançá-lo. Ela viu um telefone no criado mudo do outro lado da cama, mas também poderia estar a um quilômetro de distância.

Ela tentou ligar o aquecedor e apesar de tudo, terminou rindo, porque o radiador estava quebrado. Mas depois de um tempo, sua risada se transformou em lágrimas assim que as memórias retornaram de súbito: o homem, cuja a virilha ela chutara, por cima dela, forçando suas costas para baixo toda vez que ela tentava se distanciar, parecendo gostar de toda a luta e esforço.

Isso só parou quando Chiqy começou a gritar, anunciando que a polícia estava a caminho. O homem saiu de cima dela, subindo as calças enquanto corria para a saída.

Ignorando a dor que sentia, ela rolou para fora do colchão e tentou se arrastar para longe. Mas Chiqy a alcançou, puxou-a pelo cabelo colocando-a de pé, arrastou-a até a van e a enfiou para dentro.

Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, em seguida, outras vinte e duas garotas foram transportadas como gado para dentro da van .

Uma garota foi deixada para trás, pois não conseguia parar de vomitar.

Sarah foi espremida contra a cabine da van e ficou preocupada se seria pisoteada pelas outra caso perdesse o equilíbrio.

Ela forçou a memória da sua cabeça. Não a fazia bem se obcecar com o

que acontecera. Se ela quisesse evitar que acontecesse novamente, teria que encontrar alguma maneira de sair daquele quarto.

Ela procurou através do quarto, pelo que parecia ser a centésima vez.

Mas não havia nada a vista que pudesse ajudá-la a escapar. Deu alguns trancos no radiador novamente, mas ele não se moveu. Seu pulso estava ensanguentado e inchado devido a todo o esforço. Ela considerou retirar a fita adesiva da boca, mas não via motivo, já que ninguém que se importaria poderia escutar seus gritos.

De repente, ela escutou vozes do fundo do corredor. Ela se encolheu em uma bola, esperando ficar pequena, como se isso fizesse alguma diferença caso eles entrassem.

Por favor, passem por esse quarto. Por favor, passem por esse quarto.

Mas eles não passaram. Ela escutou alguém girar a tranca e a porta abriu.

Uma luz neon azul iluminou o quarto, deixando-a cega por alguns instantes. Quando seus olhos se ajustaram, ela viu dois homens à porta.

Claramente, um deles era Chiqy. Ela não reconheceu o outro.

Chiqy ligou a luz no teto e fechou a porta atrás deles.

“Sarah,” ele disse, “esse é o Sr. Holiday. Agora você pertence a ele.”

Mr. Holiday retirou um gordo maço de notas de cem dólares e as contou.

Enquanto ele o fazia, Sarah o estudava. Ele não era tão grande quanto Chiqy. Mas estava muito mais em forma. Vestindo uma roupa de corrida que era muito pequena para ele e que destacava seus músculos proeminentes, parecia um daqueles levantadores de peso viciados em esteroides. Ele tinha cabelo castanho claro, aparado bem rente e um rosto quadrado com uma pele bronzeada em demasia.

Ele terminou de contar as notas, trinta no total, e as entregou para Chiqy, que as pegou e enfiou no bolso.

“É um prazer fazer negócios com você, garotinha,” ele disse para Sarah antes de se dirigir ao Sr. Holiday. “Tenha cuidado com essa aí. Ela é briguenta, gosta de resistir.”

Quando Chiqy saiu, o Sr. Holiday trancou a porta e se foi em direção a ela. Ele estava diretamente a sua frente, olhando para baixo como um açougueiro deve olhar para um pedaço de carne. Então, ele sentou na cama.

“Eu sei que Chiqy tem as regras dele,” disse, falando pela primeira vez.

Sua voz era surpreendentemente calma, quase acolhedora. “Mas eu faço as coisas um pouco diferente. Vou te explicar o que vai acontecer com você

para que não restem dúvidas. Se eu estivesse no seu lugar, estaria constantemente preocupado sobre o que iria acontecer comigo. Eu quero remover essa incerteza para você. Você gostaria disso?”

Sarah assentiu com a cabeça, sem certeza de que havia qualquer outra opção.

“Tudo bem, você pode falar,” ele disse enquanto removia a fita adesiva, soando como um médico que a reconfortasse. “Você gostaria que eu te repassasse os procedimentos?”

“Sim, por favor,” ela disse com rouquidão. Ela não tivera nada para comer ou beber desde o shopping e a sua garganta estava seca. O Sr.

Holiday pareceu sentir isso. Ele se levantou, foi ao banheiro para encher um copo plástico com água e a entregou. Enquanto ela bebia, ele disse.

“Primeiramente, você não tem mais um nome. Você agora é a Número Quatro.” Para reforçar o ponto, ele pegou uma caneta permanente e escreveu o que ela imaginou ser o número “4” em sua testa. Ele observou para a marcação e, aparentemente satisfeito com o trabalho, devolveu a caneta para o bolso.

“Você nunca mais vai atender por aquele nome,” ele continuou. “Agora, nós vamos ter que fazer algumas mudanças. Eu quero que você se fique imóvel para que não se corte.”

Ele retirou um par de tesouras de outro bolso, então segurou o top dela e cortou o que restava dele. Ele fez o mesmo com a sua calcinha. Além dos seus tênis e meias, ela estava completamente nua. Então, ele começou a cortar seu cabelo. Ela viu grandes chumaços de cabelo caírem no chão ao seu lado e, a cada vez que ela sentia a tesoura se fechar, seu coração se partia.

Ela havia levado anos para conseguir que seu cabelo crescesse daquele tamanho.

Ele continuou enquanto cortava.

“Eu sei que você tem dezesseis anos. Mas com um corte mais curto, acho que conseguiremos fazer você parecer que tem uns treze anos.

Garotas mais novas se saem melhor nos negócios, então é essa idade que você tem agora. Se um cliente perguntar a sua idade, você diz treze, entendeu?”

Sarah assentiu.

“Para não ter confusão, eu prefiro “sim, Sr. Holiday” ou “não, Sr.

Holiday”. Tente de novo.”

“Sim, Sr. Holiday,” ela disse, tentando manter seu tom de voz, embora sentisse o medo subir na sua garganta.

“Ótimo. Como estava dizendo, clientes gostam de garotas mais novas.

Eu acredito que você será bem popular. Nós vamos te iniciar aqui no motel. Mas depois te enviaremos para a sua nova casa permanente. Quando chegarmos lá, esperamos que atenda de vinte a trinta clientes por dia. Você valerá mais no início, enquanto ainda está fresca. A maioria dos clientes não vão estar usando proteção. Eles pagam mais por essa aventura.”

Apesar dos seus maiores esforços, Sarah começou a chorar. Mas o Sr.

Holiday pareceu indiferente e continuou a cortar seu cabelo e a falar com aquele tom gentil e animador.

“Você deve prever que vai contrair a maioria das doenças transmitidas sexualmente, como sífilis, gonorreia, herpes, HIV. Com o passar das semanas e você ficando mais gasta, você custará menos. Isto é, enquanto pensar em maneiras de manter os clientes interessados. Eu recomendo que você o faça. Quanto mais você conseguir manter o preço, mais valor você tem para mim. Você entende isso, Número Quatro?”

“Sim, Sr. Holiday,” Sarah sussurrou.

“Agora, eu prefiro evitar drogar meus funcionários a todo custo.

Descobri que os clientes preferem quando as garotas estão mais alertas.

Mas, se você se tornar um problema, como Chiqy sugeriu que você pudesse, talvez eu tenha que fazer isso. De um jeito ou de outro, Você vai ter que trabalhar. Mas, se você estiver drogada, vou te entregar para os clientes menos... sofisticados. Acredite, você não vai querer esses aí. Eles costumam deixar vários hematomas. Você entende, Número Quatro?”

“Sim, Sr. Holiday.”

“Excelente. Eu tenho grandes expectativas com você. Agora, como posso reparar que você é uma garota inteligente, de um bom lar, vou te contar algo que não costumo dizer para a maioria dos meus empregados. É

óbvio que depois disso seus pais não vão querer nada com você, vão estar muito envergonhados. E você vai estar muito abalada e doente para encontrar um homem que a ame algum dia.

“Mas se você me der noventa dias de trabalho árduo, e talvez até mostrar um pouco de entusiasmo, vou te dar um prêmio com liberdade de escolha no final. Vou te oferecer a doce libertação da morte. A maioria das garotas

não escolhe essa oferta. Tive garotas trabalhando para mim por anos, até que elas estivessem secas, viciadas, tão cobertas de feridas abertas e purulentas que ninguém mais pagaria para usá-las. No fim, eu as sacrifico feito cadelas. Eu não quero isso para você, Número Quatro. Quero que você mantenha sua dignidade, pelo menos o tanto que você puder sob essas circunstâncias. Então, guarde isso no fundo da sua cabeça.”

Com isso, ele parou de falar e se afastou para trás para examiná-la. Ela não ousou levantar as mãos para tocar na cabeça, mas podia perceber que ele tinha tirado quase todo volume de seu cabelo. Sua nuca estava gelada naquele quarto sem aquecimento.

O Sr. Holiday se aproximou e ela tentou não se estremecer. Ele liberou o pulso direito que estava algemado e, gentilmente, a ajudou a ficar de pé.

Ela estivera agachada no chão por tanto tempo que não conseguia sentir suas pernas ou suportar o próprio peso. Ele antecipou esse fato e a auxiliou até a cama.

Ele a posicionou de forma que ficasse deitada de costas com o travesseiro sob a cabeça. Então, ele pegou seu pulso esquerdo, que estava sem machucados, colocou as algemas nele e prendeu a outra extremidade na barra da cabeceira da cama. Ele se afastou para analisá-la.

“Perfeito,” disse antes de pegar o telefone e fazer uma chamada rápida.

“Mande-o para cima”.

Sarah sentiu uma nova onda de medo se espalhar pelo corpo. Ela não imaginava que ainda tinha capacidade disso. Achava que estivesse insensível àquela altura.

“Número Quatro, seu primeiro cliente como minha empregada está a caminho. Quero que você seja muito agradável com ele. Se ele quiser que você fale, você fala as coisas que ele gostar. Faça como ele diz, não importa o que seja. Esse é o primeiro exame do nosso relacionamento, Número Quatro. Passe nesse teste e as coisas vão melhorar para você.

Falhe e as coisas vão ficar muito piores. Você sabe que elas podem piorar, certo, Número Quatro?”

“Sim, Sr. Holiday.”

Ela ouviu uma batida na porta. Ele abriu e se afastou para que um homem corpulento e enferrujado entrasse no quarto. Sarah supôs que ele tivesse por volta de sessenta anos. Ele estava ficando careca, mas tinha uma ridícula faixa de cabelo penteado para o lado no topo de sua cabeça,

parecendo o teto de palha molhado de uma cabana.

Ele vestia um casaco esportivo e uma camisa que não comportava sua barriga, a qual pendia sobre o cós das suas calças. O bigode peludo parecia engolir o lábio superior. Apesar do tempo gélido, ele suava profusamente.

Ele olhou para Sarah, deitada nua e algemada na cama e lambeu os lábios peludos. Ela tentou conter a vontade de vomitar.

“Sr. Smith, essa é a Número Quatro,” Sr. Holiday disse enquanto deixava a sala. “Ele está encantada em conhecê-lo. Por que não deixo os dois a sós para que possam se conhecer melhor?”

Ele fechou a porta, que Sr. Smith trancou antes de se virar para ela.

“Você me lembra a minha sobrinha favorita,” ele proferiu em um ruído áspero antes de tirar o casaco esportivo, fazendo um show a estendê-lo sobre uma cadeira e se desabar sobre Sarah.

Ela fechou os olhos e tentou se imaginar em qualquer outro lugar. Mas enquanto sentia a carcaça pesada daquele homem se erguer sobre ela, a sua imaginação falhou. Não conseguia pensar em nada mais além do horror que era aquele momento.


CAPÍTULO ONZE


Keri se sentou na traseira da ambulância, insensível a tudo ao seu redor.

O socorrista estava lhe fazendo perguntas, mas ela não conseguia processar as palavras. Como se ela estivesse embaixo d’água e ele estivesse de pé na beirada da piscina.

Ela observou um policial fardado colocar a faixa de “cena de crime” ao redor do corpo do Colecionador, que ainda estava para ser removido. Um rastro de sangue longo e espesso, que saía da ferida na cabeça dele, desceu pela rampa do estacionamento e começou a pingar na grade de água da chuva no fim da rampa. A peruca e os óculos dela repousavam no chão ao lado do corpo.

Ambos os seus joelhos doíam, mas ela sabia que não estavam quebrados, já que, com ajuda, conseguiu subir a rampa para a ambulância. O lado direito de sua mandíbula doía devido ao impacto da batida no peito do Colecionador quando ele atingiu o chão. Desconsiderando essas coisas, ela se sentia bem fisicamente.

Psicologicamente, era um outro assunto. As palavras dele ecoavam em sua cabeça.

Que tipo de mãe é você, para infringir tal sofrimento na própria filha?

Era verdade, pensou Keri. Tudo que poderia acontecer com Evie deste ponto em diante seria sua culpa. Se ela tivesse encontrado alguma outra maneira de resolver a situação, sua única ligação com a filha ainda poderia estar viva.

E se ela tivesse permitido Ray acompanhá-la, como ele tinha implorado para fazer? E se ela tivesse conseguido evitar aquela declaração suspeita e continuasse a atuação? Se ela simplesmente tivesse admitido quem era e oferecesse a ele uma quantia obscena de dinheiro em troca do paradeiro de Evie? Qualquer uma dessas escolhas teria sido preferível a deixar a sua única pista cair morta no cimento duro da rampa de estacionamento.

Ela sentiu alguém balançar seu ombro gentilmente e olhou para cima. O

socorrista estava conversando com ela com um olhar preocupado no rosto.

Ela tentou se concentrar em suas palavras.

“... em choque. Nós vamos te levar ao hospital. Lá, a polícia vai te fazer algumas perguntas.”

Keri mirou a cena do crime. Um policial estava conversando com alguns

espectadores, aparentemente, entrevistando-os. Mesmo que ela não os conseguisse ouvir claramente, pelas expressões e pelo tom de voz, ela sabia que eles não tinham idéia do que tinha se sucedido. Ninguém vira a luta.

O policial que havia colocado a faixa estava ajoelhado próximo ao corpo do Colecionador, marcando a peruca e os óculos de Keri com placas numeradas, se certificando de não encostar em nada. Ele tinha aparência jovial, alto e desengonçado, com um cabelo loiro despenteado sobressaindo pelo quepe policial. Parecia hesitante, como se isso fosse novo para ele.

Não era nada parecido com Jamie Castillo.

Ela teria cuidado da cena do crime a tempos. Teria ordenado que as testemunhas fossem entrevistadas separadamente. Teria deixado os detetives experientes marcarem a cena do crime ao invés de fazê-lo ela mesma. A essa altura, ela já teria entrevistado Keri. Teria a situação sob controle.

Pela primeira vez desde o incidente, Keri sorriu. Ao sorrir, pareceu sair do estado de torpor. Um pensamento começou a rondar sua cabeça.

Isso não tem que estar acabado. Você ainda tem tempo para salvar essa situação se você se levantar do seu traseiro e começar a se mexer.

“Qual é a minha situação?” perguntou ao socorrista, interrompendo o que fosse que ele estivesse dizendo.

“Você está em choque. Seus sinais vitais...”

“Não, quero dizer, fisicamente. Eu bati meus joelhos com bastante força quando caí. Algum dano grave?”

“Não parece haver nada quebrado,” ele disse surpreso pelo tom imperativo de uma mulher que estava em estado quase catatônico momentos antes.

“Você vai ter alguns hematomas graves e inchaço pelos próximos dias.

Mas eu não vejo nenhum dano a longo prazo.”

“E essa área?” ela perguntou movendo o dedo pelo lado direito do rosto, mandíbula e pescoço. “Tudo isso fez contato com o peito dele quanto nós caímos no chão. Tenho uma concussão? Mandíbula quebrada?”

“A mandíbula está bem estruturalmente. Nós faremos mais testes na sua cabeça quando chegarmos ao hospital, vamos colocá-la no protocolo de concussão. Mas, meu palpite provisório é de que você não tem uma. Parece que a parte inferior do seu rosto recebeu todo o impacto da queda, não o seu crânio. Foi uma boa coisa.”

“Obrigada,” disse Keri enquanto descia cautelosamente da traseira da ambulância e repousava seus pés no chão delicadamente. “Foi uma boa coisa.”

“O que você está fazendo, senhora?” perguntou o socorrista com sua voz se elevando alarmada. “Você não deveria estar se levantando. Nós estamos prestes a transportá-la para o hospital.”

“Eu acho que não. E não é senhora, é detetive. Me ajude a ficar de pé, por favor.”

O socorrista, contrariando seu bom senso, fez como lhe fora ordenado. O

policial da cena do crime viu o que estava acontecendo e correu até eles, visivelmente irritado.

“Senhora, você precisa ficar na ambulância,” ele disse com a confiança que ela sabia que ele não sentia realmente.

“Eu acho que não, Policial.... Dennehy,” ela disse, observando a etiqueta com nome no uniforme dele e enquanto tirava o distintivo. “Meu nome é Detetive Keri Locke. Estou na Unidade de Pessoas Desaparecidas da Divisão Pacífico. Eu estava trabalhando disfarçada, tentando fazer aquele suspeito revelar o paradeiro de uma adolescente desaparecida. Mas a garota ainda está por aí. E eu preciso encontrá-la.”

Keri pausou para permitir que o policial Dennehy processasse as palavras dela, todas as quais eram tecnicamente verdade.

Convenientemente, deixou de fora o fato de que ela não estava autorizada a conduzir uma operação disfarçada, de que a garota desaparecida era sua filha e que ela tinha sumido a cinco anos.

“Detetive,” disse ele, claramente incerto sobre o quanto poderia insistir,

“Eu entendo sua situação. Mas você acaba de sobreviver a uma queda de três metros no concreto e essa é uma cena de crime. Quando os outros detetives chegarem, você poderá resolver a logística da sua operação. Mas eu preciso manter essa cena segura.”

Keri admirou a disposição dele em contestá-la. E, normalmente, ela não gostava de desmoralizar policiais fardados, especialmente um que bem poderia estar na sua primeira cena criminal. Mas ela não via como teria muitas alternativas nesse caso. O tempo era precioso.

“Você tem certeza que pretende ir por esse caminho, policial Dennehy?

Porque, uma vez que os detetives cheguem, eles não vão estar empolgados com o fato de você estar marcando as evidências. Em geral, eles gostam de

trabalhar com a perícia para evitar a contaminação da cena do crime e esse tipo de coisa.”

o Policial Dennehy balançou desconfortavelmente de um pé para o outro. Keri conseguia dizer que ele estava derrubado. Mas para conseguir o que ela estava prestes a fazer, precisava que ele estivesse mais que desconfortável. Precisava que ele estivesse condescendente. O que significava pressionar com mais força.

“E seus colegas logo ali,” ela continuou, indicando o policial entrevistando as testemunhas. “Já passou pela cabeça dele separar esse pessoal antes de entrevistá-los? Estão todos ouvindo as versões dos outros sobre o que ocorreu. Inevitavelmente, essas versões vão se infiltrar nas memórias uns dos outros, influenciando a impressão de cada um sobre o que aconteceu. Você acha que seus detetives vão ficar felizes com isso?”

“Detetive Locke, eu não quis...”

“Escute,” ela interrompeu, percebendo que nunca tivera uma mão tão pesada quanto agora, “Eu não estou tentando acabar com você aqui. Não vou contar a eles. Não é o fim do mundo. Eu estou viva. O cara mau está morto. Não é como se fosse haver um julgamento com um advogado de defesa. Dessa vez, esse erros não vão acabar com o caso. Mas eles poderiam, você entende?”

Policial Dennehy assentiu. Agora que ele estava em débito, ela prosseguiu.

“Mas ainda há uma garota perdida por aí. E eu estou preocupada, se esse sujeito tiver um comparsa, ele pode ficar impaciente se aquele cara logo ali não voltar logo. Ele pode mudar a garota raptada de lugar. Então, não tenho muito tempo. É por isso que vou revistá-lo.”

E com isso, ela se dirigiu para o corpo do Colecionador.

“Pra quê?” Dennehy hesitou.

“Identificação, talvez um celular. Quem sabe talvez ele tenha uma anotação em seu bolso dizendo ‘garota perdida está aqui’. Coopere comigo, por favor. Essa rampa é íngreme e eu ainda estou um pouco bamba.”

Para a sua surpresa, Dennehy consentiu, oferecendo o antebraço para que ela pudesse se apoiar enquanto descia a rampa para, inapropriadamente, revistar o corpo do homem que ela acabara de matar.

Isso era coisa a nível de suspensão, até mesmo de demissão. Mas, se

significasse que ela pudesse achar uma pista que a levasse a Evie, valeria o risco.

E ela não tinha muito tempo. Quando os detetives chegassem, a habilidade de controlar a cena do crime desapareceria. Eles não concordariam com essas artimanhas. Definitivamente, não permitiriam que ela revistasse o corpo.

Preciso encontrar uma pista rapidamente e dar o fora daqui antes que eles cheguem ou estou ferrada. Ele vão me levar até a delegacia, me interrogar. Eu ficarei fora de atividade por horas.

De qualquer modo, Keri andou devagar, tentando se equilibrar. A inclinação era íngreme e a rampa agia como um túnel, chicoteando-a com o vento cortante da noite.

Quando chegaram ao corpo, Keri levou um tempo até realmente olhar para o Colecionador pela primeira vez sem ter que manter a guarda alta.

Seus olhos cor de avelã estavam abertos, mirando sem expressão o céu noturno.

Não era mais uma ameaça para ela, ele parecia menor do que ela se lembrava. Na sua memória, ele tinha sido um gigante brutal, galopando com sua filha para longe, arremessando-a em sua van como uma boneca de pano, matando, rapidamente e sem misericórdia, um bom samaritano.

Talvez fosse o fato de ele não ser capaz de fazer mal a ela na morte.

Talvez nos seus anos como policial, ela tenha visto muitos outros monstros. Mas olhando para ele ali deitado no chão, ela percebeu que ele era um homem com dimensões normais, provavelmente um metro e oitenta, talvez 80 quilos, completamente sem destaque.

E isso era ainda pior, a fonte de toda sua dor era apenas um cara, como qualquer outro. A natureza corriqueira do seu mal era de alguma forma mais difícil de processar, do que se ele fosse um gigante pesado e salivante.

Keri se sentiu escorregar para um lugar bruto e vulnerável, e percebeu que não faria bem nenhum a ela agora. Ela sacudiu isso para longe, ativou o modo detetive e se debruçou para estudá-lo. Ele não estava vestindo uma jaqueta, somente aquele suéter preto e jeans. Isso o fez mais fácil de revistar. Ela apalpou ao redor dos seus bolsos da frente, ignorando que suas mãos estavam congelando, mas não encontrou nada.

“Dê-me uma mão aqui, Dennehy. Eu preciso que você role esse corpo para o lado para eu poder verificar os bolsos traseiros. Tente não movê-lo

demais ou atrapalhá-lo muito, só o suficiente para que eu possa colocar minha mão sob ele.”

Embora fosse uma violação de protocolo, Dennehy fez como lhe fora requisitado. Ele sabia que já estava mergulhado nisso. Não havia sentido em discutir sobre gentilezas a essa altura.

Keri não encontrou nada no bolso traseiro da direita e estava começando a se preocupar que, depois disso tudo, ela sairia de mão vazias. Mas havia algo no bolso traseiro esquerdo. Ela removeu o objeto cuidadosamente. Era o recibo de um ticket de estacionamento.

Tentando manter sua respiração, subitamente acelerada, sob controle, ela se levantou, analisando a multidão. Levou apenas um instante até que avistasse um atendente de estacionamento sentado em um banquinho sob um guarda-chuva preto próximo a um posto de estacionamento. Ele pareceu saber o que ela estava procurando e se levantou.

“Me leve até aquele cara.” Keri ordenou ao Policial Dennehy.

As coisas se agilizaram depois daquilo. O atendente de estacionamento ajudou Keri a encontrar o carro do Colecionador, um Honda Accord de vinte anos. Parte dela estivera esperando uma van branca como aquela que ele usara para raptar Evie. Mas seria estranho que ele dirigisse durante anos pela cidade no que era, basicamente, uma cena de crime móvel.

Ela encontrou uma carteira de habilitação no porta-luvas, como se ele fosse um ser humano regular, apenas fazendo o que o resto de nós faria.

Continha seu endereço, um apartamento no Echo Park, a menos de quinze minutos dali. E tinha também seu nome: Brian Wickwire.

Ela encarou a habilitação por um longo momento, tentando processar que algum cara aleatório chamado Brian era o responsável pelo colapso completo de tudo que importava em sua vida. Ele estava morto agora, pelas mãos dela, mas não parecia uma troca justa.

Ela tirou uma foto do endereço dele, mandou Dennehy proteger o veículo e deixou o estacionamento, mancando desconfortavelmente nos joelhos machucados, assim que os detetives estavam chegando. Ela olhou no relógio. Eram 10:29 da noite.

Ela supôs que a luta e a queda ocorreram por volta das 10:07. Os policiais fardados chegaram à cena do crime em menos de 5 minutos. Os socorristas estavam lá alguns minutos mais depois. E agora os detetives responsáveis estavam na cena do crime mal haviam se passado vinte

minutos do incidente.

Tempo de resposta muito bom. Mas não bom o suficiente.

Ela entrou em seu carro e saiu do hotel quando o policial Dennehy, que estava ao lado de um detetive grisalho, olhava desesperadamente ao redor, obviamente, imaginando aonde ela teria ido.

*

Pouco tempo depois, ela estava de pé em frente à porta do apartamento de Brian Wickwire na Alison Avenue, logo na saída do Sunset Boulevard.

O prédio ficava a menos de dez minutos a pé do Dodger Stadium e Keri não pode se conter de imaginar se Wickwire era um frequentador regular.

Como era o dia a dia de um sequestrador de crianças? Ele mantinha uma lista de compras? Com que frequência ele ia ao supermercado? Ele gostava de queijo cottage? Ele preferia frutas e vegetais orgânicos?

Até monstros têm suas preferências pessoais.

Ela usou um cartão de crédito para abrir a fechadura. Viu que a porta tinha um fecho ‘pega ladrão’ e usou uma turquesa para arrebentá-la.

Adentrando o apartamento, ficou aturdida com o quão normal ele parecia.

Ela tinha gastado tanto tempo imaginando que esse bicho-papão vivia em uma masmorra ou alguma coisa similar, que encontrar uma edição de Sports Illustrated em uma mesa de café de madeira ao lado de uma bandeja, a deixou atordoada.

Ela vagou pelo apartamento, procurando por algo fora do ordinário. Não esperava encontrar um caderno intitulado “Meu Registro de Crianças Raptadas”. Mas era difícil não pensar que o Colecionador mantinha um registro sobre seus crimes em algum lugar no apartamento.

Keri sentou na pequena mesa no canto da sala de estar e abriu um armário de arquivamento na altura de seus joelhos, que estava destrancado.

Ela percorreu os arquivos, mas não havia nada de suspeito.

Ele armazenava os últimos cinco anos de impostos em uma pasta, junto ao seus formulários de pagamento W-2. Aparentemente, ele trabalhava com reparo de vários equipamentos, principalmente geladeiras e lava-louças. Talvez isso explicasse a van branca e sua capacidade de viajar. Ela teria que entrevistar os colegas de trabalho dele quando o tempo permitisse.

Suas faturas de serviços eram organizadas, assim como sua fatura telefônica, de internet e de TV a cabo. Ele tinha uma caixa de cartões postais enviados por amigos em férias. Na mesma caixa estavam anos de cartões de aniversário dos seus pais, que aparentemente moravam em Phoenix.

Um notebook estava em sua mesa. Ela o abriu, mas não ficou surpresa ao descobrir que era protegido por senha. Isso levaria tempo. Ela precisaria da ajuda de Edgerton para acessar seu conteúdo. Poderia levá-lo consigo, pensou. Mas chegou a conclusão de que o melhor a se fazer seria deixá-lo ali, deixar que a polícia local o leve como evidência e, então, lidar com isso.

Fora isso, sua mesa era imaculada. Havia um pequeno bloco de anotações com uma caneta repousando em cima. Havia vários itens, incluindo carne moída, cereal, leite e pipoca. Aparentemente perversos sequestradores de crianças realmente mantinham uma lista de compras.

Isso não era bom. Os detetives que ela avistou no LA Live encontrariam os mesmos registros que ela. Dennehy poderia até mesmo ter mencionado que ela tirara uma foto do endereço. Eles estariam ali a qualquer momento.

E eles não estariam contentes.

Às suas violações de protocolo após o incidente, ela poderia adicionar abandono da cena do crime e invasão de residência privada sem um mandado. Se aqueles policiais fossem um pouco parecidos com ela, não estariam interessados nas desculpas sobre o porquê de ela ter feito o que fizera. Eles a prenderiam primeiro e perguntariam depois. Ela precisava encontrar algo útil e sair dali rápido.

Keri desligou o notebook, recostou-se na cadeira e fechou os olhos. Ela tentou imaginar o cômodo ao redor sem observá-lo, escaneando a memória por qualquer coisa que parecesse fora de lugar.

Era tão medíocre e sem destaque. Wickwire mantinha uma casa limpa.

Ele tinha emprego. Mantinha contato com os pais. Seus amigos lhe enviavam lembranças de lugares exóticos.

Seus amigos.

Alguma coisa sobre isso não parecia certa. Tudo que ela conhecia sobre Wickwire gritava “solitário”. Ele talvez mantivesse contato com os pais, mas eles viviam em uma cidade diferente da dele. Seu apartamento era claramente de solteiro, sem qualquer indicativo que ele estivesse envolvido

em um relacionamento.

Seu trabalho o permitia gastar longos períodos de tempo sozinho, viajando de trabalho em trabalho. Ele não deu a impressão do tipo de cara que tinha um círculo de amizades que lhe enviariam saudações calorosas de lugares distantes.

Ela abriu os olhos. Colocou a caixa com os postais sobre a mesa e os espalhou, estudando cada um deles mais de perto. Quase imediatamente, ficou aparente que eles não eram o que pareciam ser.

Sim, eles eram todos de lugares distantes: Havaí, Tailândia, Bali, Cancún, Porto Rico. Mas os selos em cada um deles eram de pontos mais locais. Um estava marcado Irvine, outro Saugus, um terceiro do Rancho Cucamonga. Todas eram comunidades do sudeste da Califórnia.

Ela não entendia como ele tinha conseguido esses cartões postais. Talvez ele os tivesse comprado pela internet. Mas estava claro que nenhum dos cartões estivera em algum outro lugar além da Califórnia. Então, ela reparou no endereço para devolução.

Esses eram postais enviados, supostamente, de distantes locais turísticos.

Não havia motivo para colocar um endereço de devolução. Mesmo que se fossem reais, os remetentes provavelmente já teriam retornado dos locais de férias quando os postais chegassem. Mas todos eles tinham um. E todos os endereços de devolução eram de algum lugar nos estados do oeste.

Ao todo, eram quarenta. Dois eram de Utah; quatro do Oregon; três endereços eram em Washington; meia dúzia em Nevada; aproximadamente o mesmo número do Arizona. A outra metade era de endereços na Califórnia. Alguns poucos eram da parte norte e central do estado. Mas pelo menos dez eram da região da grande Los Angeles.

E os endereços em si eram esquisitos, com notações estranhas e números que não pareciam tradicionais. Eles eram claramente escritos em alguma forma de código. Ela se acomodou, preparando-se para estudá-los, procurando estabelecer alguma conexão. Enquanto ela contemplava o primeiro, seu telefone tocou. Era Ray.

Ela estava tentada a deixar cair na caixa postal. Mas algo a fez atender.

“Oi, Ray. Alguma novidade em Sarah Caldwell?” Se sentia culpada por perguntar. Ela não pensara em nada mais além do Colecionador ou Evie na última hora, nem mesmo na outra garota desaparecida que ela deveria estar procurando.

“Vou entrar nesse assunto em um minuto,” ele disse. “Mas antes, eu preciso te perguntar por que tem um alerta geral no rádio sobre você?”

“O quê?”

“A Divisão Central acaba de emitir um alerta geral sobre você. Você é procurada para interrogatório sobre a morte de um homem encontrado na rampa do estacionamento em LA Live. Que diabos está acontecendo, Keri?”

“É uma longa história, Ray.”

“Bom, é melhor você explicar isso depois, porque eles estão procurando por você. Uma unidade está se deslocando para o seu apartamento. E

outras estão prestes a chegar no apartamento do homem morto. Então, se você estiver em algum desses lugares e não quiser gastar as próximas horas em uma cela na delegacia, eu recomendo que você saia imediatamente.”

Assim que ele falou, Keri escutou o som de uma sirene ao longe ficando mais alto.

“Obrigado pelo aviso. Eu te atualizo depois,” disse a ele enquanto levantava e coletava todos os cartões postais.

“OK, eu vou te enviar um endereço. Encontre-me lá o quanto antes.”

“O farei. Onde é?”

“Um motel abandonado em Inglewood. Edgerton rastreou a van marrom para esse local. Está parada já há algumas horas.”

Keri sentiu um salto de adrenalina, que ela nem pensou que fosse possível depois do tanto que seu corpo produzira na última hora.

“Vejo você lá,” ela disse e desligou. Recolheu todos os postais e se apressou para sair do apartamento. Com os joelhos inchados incomodando, ela mancou escadaria abaixo, deixando o prédio pela porta de trás, que levava a um beco onde ela estacionara o carro caso precisasse desse tipo de fuga rápida.

Jogou os cartões postais no porta luvas e arrancou com os faróis apagados. À medida que dirigia apressadamente pelo beco, viu vários conjuntos de flashes saindo do Sunset e parando em frente ao prédio. Ela podia ouvir os gritos de vários policiais, inclusive um que ordenou uma unidade a dar a volta e se deslocar para o beco dos fundos.

Mas quando chegaram lá, ela já deixara o beco e se misturou ao tráfego no Sunset, indistinguível de todos os outros carros na rua em uma noite de sexta-feira.

 

CAPÍTULO DOZE


Sarah havia parado de tentar empurrar o Sr. Smith para longe dela. Ele era tão pesado que, mesmo com todas as suas forças, ela não conseguia deslocar seu corpo massivo.

Quando ele subiu pela primeira vez em cima dela, ela estava muito paralisada pelo medo para se mover. Mas enquanto ele se contorcia, se atrapalhando com o cinto, tentando se despir desajeitadamente, o medo se transformou em raiva. Ela tentara usar isso em sua vantagem e afastá-lo, mas ele era grande demais. Eventualmente, seus braços desistiram e ela deitou ali, fingindo estar em outro lugar, deixando as últimas poucas lágrimas rolarem pelas suas bochechas para o travesseiro embaixo dela.

Ele continuava se atrapalhando e ela continuava rezando para que ele não conseguisse resolver.

Ela se focou no tênis do pé direito, o qual ela conseguia ver apesar da massa sólida e opulenta bloqueando quase tudo o mais. Ela se lembrou de como ela tinha corrido para pegar o ônibus com esses tênis, de como ela os usava para jogar basquete na saída da garagem com seu pai. Em como ela e sua mãe tinham ido tomar sorvete depois de comprá-los seis meses antes, parecia uma eternidade atrás.

E então, como um flash de luz, ela se lembrou de algo mais sobre aquele dia. Mantendo seus olhos no sapato, ela tentou se concentrar, apesar do movimento sobre ela. E com certeza, ela teve o insight que estava esperando.

Com um senso de propósito renovado, ela olhou para a cabeceira de madeira atrás dela. Estava desgastada e rachada. Ela tateou e descobriu que nem era madeira de verdade, mas algum tipo de material composto barato, que poderia ser facilmente arranhado.

E foi exatamente isso que ela fez. Enquanto o homem grotesco em cima dela finalmente desatou o cinto e lutou para abaixar as calças, indiferente a qualquer coisa acima do pescoço dela, ela arranhou furiosamente a cabeceira com suas unhas no mesmo local de novo e de novo, até que se formassem sulcos que claramente visíveis e, com sorte, legíveis.

Levou um instante para perceber que o movimento acima dela tinha parado. Ela olhou de volta para o Sr. Smith, aterrorizada que ele pudesse perceber o que ela estivera fazendo. Mas ele não percebeu. Ao invés disso,

ele estava deitado sobre ela como uma baleia encalhada e exausta, com uma expressão envergonhada no rosto. Enquanto ele subia sua cueca rapidamente, ela compreendeu: ele não tinha sido capaz de ter uma ereção.

Por um momento ela sentiu alívio. Suas preces tinham se realizado.

Apesar do seu terrível suplício, ela ainda não fora abusada sexualmente.

Ele estava tentando reunir forças para rolar de cima dela. Depois de muito esforço finalmente obteve sucesso, esmagando as costelas dela enquanto o fazia. Sem uma palavra, ele se levantou e se arrastou ofegante para o banheiro. Ele deixou a porta do banheiro aberta ao se sentar no vaso e se aliviou.

Sarah usou o momento privado para avaliar seu trabalho manual. Estava claro para ela o que queria dizer. Mas não estava certa se faria sentido para a polícia, caso encontrassem esse lugar depois. Ela considerou arranhar mais, mas a afligia que se o Sr. Holiday retornasse e reparasse, ele perceberia que eram mais do que apenas letras aleatórias. Ela teria que torcer para que eles pudessem entender.

Então, ela reparou em algo mais. O fone do telefone no criado mudo tinha caído do suporte. Com toda confusão, o Sr. Smith deve ter batido o colchão na mesa e derrubado o fone. Antes, estava muito longe para que ela o alcançasse. Mas agora ela se esticou e era capaz de encostar a ponta dos dedos nele e agarrá-lo.

Ela o pegou, escutando, esperançosa de que pudesse discar.

Mas para a sua frustração, estava mudo.

Sarah escutou a descarga e usou barulho para abafar o som dela arrastando a base do telefone mais perto da cama. Ela recolocou o fone no gancho e repousou os braços ao lado do corpo assim que o Sr. Smith retornou para o quarto. Ela notou, sem surpresa, que ele não tinha lavado as mãos.

Ele sorria com escárnio, visivelmente constrangido.

“Vai demorar um tempo para eu ficar pronto,” ele disse. “Mas eu trouxe algumas ferramentas que serão boas substitutas até que eu esteja.”

Ele vasculhou sua bolsa Duffel e tirou algum tipo de brinquedo sexual enorme. Sarah engoliu seu suspiro de pânico e tentou responder com uma voz nivelada.

“O Sr. Holiday disse que não quer me quer danificada. Sou nova em folha. Você não vai querer deixá-lo com raiva.”

Sr. Smith riu com vontade com o comentário dela, suas gargalhadas se transformaram em assobios sem ar.

“Boa tentativa, mocinha. Mas nós negociamos isso antecipadamente. Ele sabe das minhas preferências. Além disso, eu sou bom em iniciar as calouras. A maioria das garotas não responde mais depois que termino com elas. Você vai entender melhor em poucos minutos.”

Ele subiu de novo em cima dela e estalou os lábios enquanto segurava o brinquedo próximo ao rosto, admirando-o. Então, ele olhou para a parte inferior do corpo dela e ela sabia que ele estava prestes a usar o brinquedo.

Ela esperou até o último segundo possível, até que estivesse absolutamente certa de que a atenção dele não estava voltada para as mãos dela. Então, enquanto ele descia sua mão para violá-la, ela agarrou a base do telefone e bateu com força, golpeando a lateral de sua cabeça.

O Sr. Smith olhou para cima, mais atordoado que tudo, tentando entender o que acabara de se passar com ele. Sangue escorreu pela sua têmpora esquerda. E antes que ele soubesse o que estava acontecendo, ela o atingiu novamente com o telefone, dessa vez diretamente no rosto. Um jato de sangue jorrou de algum lugar no meio daquilo.

Ele rugiu de dor, se erguendo para se proteger. Mas o movimento brusco o fez tombar para o lado. Ele perdeu o equilíbrio e seu peso massivo o mandou para fora da cama. Ele aterrissou com um baque.

Sarah meneou para o lado para ver o que acontecera. Sr. Smith estava no chão apoiado sobre seus joelhos e cotovelos, claramente aturdido, balançando a cabeça repetidamente como que estivesse sendo incomodado por uma mosca insistente em seu rosto.

Ela tentou acertá-lo novamente, mas o fio do telefone preso a parede impediu que isso acontecesse. Ela puxou com força e o arrebentou.

Voltando sua atenção para o homem no chão, ela viu que ele agora se apoiava sobre as mãos e tentava se empurrar para cima.

Isso deu um ângulo melhor para ela, que chocou a base do telefone com força em sua nuca. Os braços dele desistiram e ele atingiu o chão. Ele ainda estava consciente, mas claramente zonzo. Ele gemeu enquanto seus dedos se enrolavam, agarrando o carpete gasto como um recém-nascido puxando o dedo de um adulto.

Sarah sabia que não tinha muito tempo. Alguém poderia ter escutado os gemidos e estar a caminho do quarto nesse momento. Mesmo que se não

estivesse, ela precisava encontrar um jeito de sair dali rapidamente. Sr.

Smith recobraria os sentidos em breve. E, a não ser que ela estivesse disposta a golpeá-lo até a morte, ela precisaria estar longe antes que isso acontecesse.

Ela olhou para a barra da cabeceira que prendia seu pulso.

Se o material foi frágil o suficiente para que eu pudesse arranhar uma mensagem nele, talvez seja fraco o suficiente para quebrar se eu der um bom solavanco.

Ela reuniu todas as forças restantes em seu braço e bateu a base do telefone no ponto logo acima de onde a algema estava presa. Efetivamente, o material se quebrou. Ela soltou as algemas e, finalmente capaz de se mover, tentou ficar de pé.

Suas pernas se dobraram e ela caiu para trás. Ela percebeu que passara a maior parte das últimas horas agachada ou deitada, sendo abusada sexualmente. Não era surpresa que seu corpo não estava entrando em ação.

Que pena. Você não tem escolha. Se você quiser sobreviver à noite, faça seu corpo se mexer!

E ela o fez, agarrando-se na cabeceira para se apoiar enquanto se puxava para uma posição ereta. Cautelosamente, ela fez seu caminho pelo amontoado corpulento ainda grunhindo e pegou seu casaco esportivo do encosto da cadeira onde ele o deixara. Ela abotoou o casaco, completamente ciente que, fora seus tênis, estava nua.

Sr. Smith pareceu estar recobrando os sentidos, então Sarah pegou o telefone e deu mais uma boa batida em sua nuca. Ele desmoronou de novo.

Dessa vez ele não estava gemendo, apenas arfando pelos lábios enrugados e ensanguentados.

Foi preciso tudo o que Sarah tinha para não estourar o cérebro dele para fora do crânio. Parte era porque ela não queria permitir que ele a tornasse em uma pessoa capaz de algo assim. Outra parte dela tinha considerações bem mais práticas.

Levaria muito tempo.

Ela largou o telefone na cama e se apressou para o banheiro, onde avistou uma pequena janela acima do chuveiro. Conseguiu abri-la, mas era muito alta para se erguer e escalar para fora.

Ela voltou para o quarto, olhou para a porta e considerou, por um breve momento, sair por ali. Mas ela estava certa que seria notada em poucos

segundos. A janela era a única opção real, então ela pegou a cadeira e a colocou no chuveiro, diretamente abaixo da janela. Subindo, ela espiou para fora.

Ela estava no segundo andar, cerca de quatro metros e meio do chão. Ela não poderia cair direto. Mas a uns dois metros a sua esquerda havia um depósito de lixo bem abaixo da janela do quarto ao lado. Ela percebeu que caso se balançasse para fora da janela de frente para a parede do motel e atingisse momento suficiente, ela poderia se arremessar e aterrissar em cima do depósito de lixo. Seria uma queda de mais ou menos dois metros e meio, bem mais razoável.

Ela escalou para fora o mais rápido que podia sem que fizesse barulho e começou a se balançar. A força em seus braços, já bem parca antes de tudo, estava drasticamente reduzida pelo tempo algemada, assim como pelas tentativas de empurrar o Sr. Smith para fora e pelo o uso do telefone como cassetete.

Sarah podia sentir seus antebraços fraquejando rapidamente e seus dedos começando a perder a pegada no parapeito da janela. Incerta se havia atingido energia suficiente para conseguir, mas certa de que não conseguiria segurar nem mais um instante, ela pulou.

Aterrissou com segurança no topo do depósito e se curvou em um rolamento para diminuir o impacto. Mas não levou em consideração o momento da oscilação e não pode fazer nada para impedir que rolasse para o chão e caísse no asfalto abaixo dela.

Ela sentiu o cascalho penetrando nas palmas das mãos, cotovelos, joelhos e coxas. Por um momento ela permaneceu apenas deitada no chão, tentando recuperar o fôlego e avaliar se algum outro estrago havia acontecido.

Parecia que não. Devagar, ela ficou de pé, espanou o cascalho de sua pele e começou a andar. Uma alta cerca de arame se estendia por toda a parte de trás da propriedade, tornando impossível que ela escapasse por ali.

Então ela correu pelos fundos do motel. Quando ela atingiu a extremidade do prédio, ela espreitou pela beirada. A cerca continuava até a rua, por aproximadamente noventa metros. Era claramente uma rua principal, visto que possuía pelo menos seis pistas e os carros estavam transitando a uma velocidade considerável. Se ela pudesse chegar até lá, havia vários veículos para que pudesse acenar.

Infelizmente, o espaço entre onde ela estava e a rua consistia em um grande estacionamento. Muitos dos postes de luz estavam apagados, mas havia postes de luz suficientes funcionando para que ela duvidasse que pudesse cruzar a distância sem que fosse notada.

“Ali está ela!”

Sarah olhou para cima e viu a cabeça de um homem pendendo da janela da qual ela pulara e sentiu o coração afundar enquanto uma onda de adrenalina disparou por ela.

“Ela está no canto do prédio!” ele gritou alto o suficiente para que qualquer um por perto escutasse.

Acho que eu vou ter que correr.

Ela disparou em corrida, testando suas pernas. Enquanto eles não se amontoavam atrás dela, ela corria em seu máximo, ignorando a dor em seu corpo, mantendo o foco na rua, agora apenas a quarenta metros de distância.

Sarah percebeu um movimento de relance a olhou na direção. Era o Sr.

Holiday partindo para cima dela, seus braços balançando violentamente ao lado do corpo. Apesar disso, sua expressão estava vazia, como se estivesse esperando pacientemente em uma fila de uma loja.

Ela voltou sua atenção para a rua. Ela estava apenas a vinte metros agora, com somente um pequeno trecho de asfalto, uma faixa verde e uma calçada separando-a da liberdade. Ela foi com tudo, empurrando seus pés contra o chão, se esforçando tanto quanto podia.

Ela acabara de chegar à área verde quando o Sr. Holiday saltou no ar e a atingiu como um lineback investindo contra um pequeno halfback. Ela sentiu seus pés saindo do chão quando ombros dele atingiram suas costelas, arrancando o fôlego de seu peito.

Ela bateu com força no chão e o peso do corpo dele a esmagou na grama abaixo dela. Ficou deitada ali, mirando o chão, seu lado esquerdo em agonia, incapaz de respirar. Olhando acima, ela viu que todos os carros nesse lado da rua estavam ainda a algumas centenas de metros, aguardando no semáforo. Não havia como algum dos motoristas a avistar nessa distância e no escuro.

Ela mal tivera tempo para processar isso antes que se sentisse sendo erguida do chão pelos cabelos. Ela teria gritado, mas ainda não tinha fôlego.

O Sr. Holiday tinha uma porção do seu cabelo, agora curto, em suas mãos e estava empurrando-a bruscamente de volta para o motel. Ela tropeçou algumas vezes, mas ele não parecia se importar e simplesmente a arrastou, suas canelas raspando no asfalto até que conseguisse ficar de pé novamente.

Ele não soltou a pegada até que estivessem de volta ao prédio. Sarah estava hesitante em olhar para o rosto dele, mas decidiu que, a essa altura, depois de tudo que ela tinha feito, não havia sentido em tentar ganhar a graça dele fingindo ser plácida e condescendente.

Vagarosamente, já que seu pescoço estava machucado, ela olhou para cima ao encontro do olhar dele. Surpreendentemente, ele ainda conservava aquela expressão branda, como se nada incomum tivesse acontecido. Mas quando ele finalmente falou, ela notou que sua voz estava ainda mais calma do que antes e havia um novo limite para isso.

“Eu te avisei, Número Quatro. Eu disse a você que era um teste e que se você falhasse, as coisas ficaram muito piores pra você. Você falhou no teste. Você entende isso, não é, Número Quatro?”

Sarah o encarou, se recusando a jogar seu jogo. Ele pareceu imperturbado e continuou.

“Eu ia mantê-la no nosso local requintado. Mas agora não tenho escolha, a não ser te levar para onde as outras garotas chamam de “Lugar Ruim”.

Eu acho que você vai perceber que o nome é bem preciso. Lá é onde você vai morrer. Mas não antes que cada milímetro seu tenha sido usado. E eu posso te garantir que não haverá fuga de lá, nem mesmo para a morte, não até que eu diga. Você será acorrentada para que você não machuque a si própria. Apenas os meus clientes terão permissão para fazer isso. E você não vai nem receber as drogas que poderiam permitir que você se insensibilizasse da situação. Eu quero que você sinta tudo, cada última gota de sofrimento, até o último segundo. Você não deveria ter me contrariado, Número Quatro. Você se arrepende?”

Sarah se esforçou para ficar ereta e de pé. Ela olhou para ele diretamente nos olhos e com uma voz rouca, mas desafiadora, respondeu.

“Vai se foder, Sr. Holiday.”

E com isso, cuspiu em seu rosto.

Por um momento, ele pareceu surpreso.

Ele nem se incomodou em limpar o cuspe que escorria por sua bochecha.

Pela primeira vez desde quando ela o encontrara, o homem deu um sorriso genuíno. Era feio. Seus lábios se torciam quase formando uma careta.

“Prepare-a para partir,” ele disse para um de seus homens e retornou para o escritório do motel. Sarah o assistiu partir e se certificou de que ele entrasse e fechasse a porta, antes que ela cedesse e deixasse seu corpo ruir em um amontoado no chão.


CAPÍTULO TREZE


A respiração de Keri tinha finalmente retornado ao normal. Ela passara por dois alvinegros indo no outro sentido no Sunset e rangeu os dentes a cada vez, esperando ver um deles fazer o retorno com as sirenes tocando e o giroflex piscando. Mas nenhum deles o fez.

Ela aguardou até que estivesse indo com segurança para o sul, se dirigindo a Inglewood na Rodovia 110 antes de ligar para Ray. Ele atendeu após um toque.

“Você está a caminho?” ele perguntou.

“Sim. Eu devo chegar aí em cerca de quinze minutos. E você?”

“Mais ou menos o mesmo.”

“Nós temos reforço?” ela perguntou.

“Sim. A polícia de Inglewood está se organizando atrás de uma igreja a três quarteirões de distância. Esse é o endereço que eu te dei. Certifique-se de se manter discreta. Castillo também está a caminho. Ela garantiu custódia protetora para Sammy Chisolm na Twin Towers e decidiu que não tinha tido emoção suficiente para a noite. Agora, você quer me contar que diabos está acontecendo?”

Keri pensou por um momento, debatendo se ela realmente queria fazer o que estava atravessando sua mente. Por fim, ela decidiu que não que não tinha muita escolha. Ela teria que lidar com as consequências depois.

“Eu quero. Mas primeiro, eu tenho que lhe dizer Ray, quando isso tudo estiver acabado, eu quero tirar férias de verdade, talvez uma semana na Bondi Beach ou algo do tipo.”

Ray ficou em silêncio por um longo segundo. Ela poderia imaginá-lo processando o que essas palavras significavam exatamente. Ela estava certa de que ele não havia esquecido.

Então ela escutou um barulho abafado, que era quase com certeza ele arrancando a escuta da viseira do carro e arremessando-a pela janela.

“Agora estou pronto,” ele disse finalmente.

“Bem, nós precisamos cuidar de algumas coisas primeiro,” ela respondeu enquanto passava a mão no vão do volante, onde sabia que o dispositivo de escuta havia sido instalado.

“Como o quê?” ele perguntou. Claramente, podia perceber o que ela estava fazendo e estava protelando para ajudá-la.

“Como ir até a Divisão Central para remover o alerta para mim. Talvez você possa pedir Hillman para te dar uma mão?”

“Talvez eu pudesse se eu soubesse o que está acontecendo,” Ray solicitou. “Você pode me dizer?”

Ela conseguiu alcançar a escuta com os dedos, arrancá-la do esconderijo e arremessá-la pela própria janela.

“Ele está morto, Ray. O Colecionador está morto.”

“O quê? O que aconteceu?” perguntou o parceiro chocado.

“Eu vou te explicar melhor depois. Mas a versão resumida é que ele descobriu quem eu era e me atacou. Nós lutamos e despencamos por cima de uma barreira em uma rampa de concreto de um estacionamento. Ele estava por baixo.”

Keri se perguntou por que ela não mencionou a parte sobre sufocar o homem até a morte.

É por que uma parte de mim está preocupada que Jackson Cave possa ter outra escuta no carro e me pegue admitindo um delito? Ou é por que eu ficaria envergonhada se Ray soubesse de toda a verdade?

“Você foi conseguiu descobrir onde Evie está antes que ele morresse?”

Ray perguntou.

“Não” ela respondeu, sentindo uma repentina cascata de emoções subir por sua garganta.

Ela tentou não se engasgar, mas Ray deve ter percebido o indício na voz dela.

“Eu sinto muito,” ele disse calmamente.

“Ele disse que tudo que acontecer a ela a partir de agora é minha culpa.

E ele estava certo.”

“Não, Keri, ele não estava. Você não escolheu ter sua filha sequestrada.

E você tem gastado cada minuto desde então tentando reavê-la. Ele estava apenas tentando te torturar uma última vez antes de morrer. Não o permita.”

“Claro,” ela respondeu enquanto piscava para expulsar as lágrimas dos olhos, tentando afastá-las. “Ele era muito relutante, me assombrando mesmo enquanto a vida se esvaia dele. Ele queria que eu sofresse mesmo depois que ele se fosse.”

“Bem, pra mim parece que ele deixou alguma coisa escapar enquanto tentava fazer isso.”

“O quê?”

“Se ele disse que tudo mais que acontecesse a ela seria sua culpa, significa que ela ainda está viva. Você pode ter acreditado nisso antes, mas agora você pode ter certeza.”

Ela sentiu uma súbita torrente de esperança. Ele estava certo.

“Eu não tinha pensado nisso,” Keri admitiu. “Acho que eu nunca considerei a possibilidade de que ela não estivesse. Então nunca registrei que ele estava confirmando.”

“Viu?” ele disse tentando animá-la. “Essa noite pode estar ficando com saldo positivo, apesar de, você sabe, cair em uma rampa de estacionamento e estar fugindo da polícia.”

Keri riu apesar da situação. Mudando as pistas rapidamente, ela pegou a saída da via Rodovia 110 sul para a Rodovia 105 oeste. O trânsito estava surpreendente leve e ela estimou que chegaria ao endereço em poucos minutos.

“Então, por que você estava em um apartamento ao lado do Sunset?” ele continuou. Ela sabia que ele estava tentando mantê-la focada no presente e amparando-a para que não caísse no buraco emocional que ela estava rondando. Ela não se importou.

“Era o apartamento dele. Eu sabia que a Divisão Central estaria revistando o lugar em breve, então eu precisava chegar lá primeiro para ver se conseguia encontrar alguma coisa.”

“E você conseguiu?” ele perguntou.

“Talvez. Havia cartões postais. Mas alguma coisa neles não estava certa.

Eu preciso olhá-los mais de perto quando tiver um segundo. Então eu os peguei.”

“Você pegou evidência potencial?”

“Peguei. Depois de tudo o mais que eu fizera essa noite, não parecia grande coisa. Então, você pode fazer o Hillman cancelar o alerta?”

“Eu vou ligar para ele. Ele vai ficar furioso e com motivo. Mas eu acho que, dadas as circunstâncias, ele pode te dar uma folga. Deixe-me entrar em contato com ele agora. Eu vou saber melhor quando nos encontrarmos.”

“Obrigada, Ray,” ela disse, “por... tudo.”

“É claro...” ele respondeu. Ele soou como se quisesse dizer algo mais e Keri esperou por isso. Mas no fim, ele disse apenas “Vejo você em breve,”

e desligou.

CAPÍTULO QUATORZE


Assim que Keri parou no estacionamento da igreja no Hawthorne Boulevard na 1001st Street, em menos de dez minutos depois de partir, ela se sentia como um balão prestes a estourar.

A combinação da fuga apertada do apartamento do Wickwire, da condição técnica de fugitiva das autoridades e de estar potencialmente à beira de encontrar Sarah, tinha a colocado no limite. Ela teve que se lembrar constantemente de tirar o pé do acelerador para não ser parada por ultrapassar o limite de velocidade.

Na verdade, ela passou pelo motel no caminho da igreja, mas uma olhada naquela direção não revelou nada explicitamente suspeito. Como metade das construções na rua, parecia estar em ruínas.

Era um ótimo lugar para montar um negócio se você quisesse evitar tráfego de pedestres ou a atenção indesejada de proprietários de negócios vizinhos. Aparentemente, cada uma das outras vitrines estava vedada com tábuas ou recoberta com papel.

Ray ainda não estava lá, mas parecia que metade do Departamento de Polícia de Inglewood estava. Tecnicamente, eles tinham jurisdição. Mas, diferentemente da unidade da SWAT em North Hollywood, o sargento em exercício aceitou o conhecimento de Keri sobre o caso e não pareceu se importar que ela tomasse a frente da operação. O Sargento Henriksen era um sujeito branco, alto e careca, por volta dos seus quarenta, com um bigode espesso e uma conduta lacônica, que sugeria que ele estava acostumado a ser esmagado pelo rolo compressor do LAPD.

“Diga-nos onde quer que tomemos posição e nós iremos nos deslocar de acordo,” ele disse depois de se apresentarem.

“Você conhece a área melhor que eu,” disse Keri. “Alguma recomendação?”

Ela viu o olhar de surpresa bem vinda nos olhos dele e sabia que tinha tomado a atitude correta. Keri, normalmente, não era boa em colaborar com os outros. Isso era coisa do Ray. Mas ela percebeu que esses policiais estariam mais dispostos a se colocarem na linha de frente se eles fossem incluídos na operação. E ela precisava que eles estivessem envolvidos, em prol da segurança de Sarah e Lanie.

“OK,” disse Henriksen, enquanto pegava um mapa da área. Ele o estendeu sobre o capô de um dos carros. “O motel está cercado em três lados por cercas de arame, que fornece proteção contra olhos curiosos. Mas os terrenos ao redor estão todos abandonados e nós poderíamos enviar equipes de policiais a pé com turquesas para entrar pelos fundos e flancos da propriedade.”

“Essa é uma ideia sólida, Sargento,” Keri concordou. “Enquanto isso, uma pequena equipe de inserção pode se aproximar silenciosamente pela frente. Nós podemos ver onde o pessoal dele está e avisar para você.

Quando o pessoal dos fundos estiver a postos, nós podemos usá-los para criar uma distração. Com os capangas do Chiqy concentrados nos fundos do motel, você entra com o reforço e nós vamos invadir o lugar, derrubando todas as portas simultaneamente. E criamos um perímetro nas extremidades do estacionamento para que ninguém possa fugir. O que você acha?”

“Gosto da ideia,” disse uma voz atrás deles, “enquanto eu puder fazer parte da equipe de inserção.”

Keri virou para ver a policial Jamie Castillo andando na direção dela.

Era bom ver um rosto familiar e não somente por que Castillo tinha dado suporte a ela quando perseguiu o Colecionador/Wickwire alguns meses atrás.

Castillo também era durona. Ela era apenas uns cinco centímetros mais alta que Keri, mas era muito mais imponente. O uniforme dela ficava justo na sua silhueta atlética e musculosa, e seu cabelo preso ficava preso para trás em um rabo de cavalo. Os olhos escuros brilhavam em uma concentração intensa. Para um policial que saiu da Academia há menos de seis meses, ela tinha a atitude de um veterano calejado.

“Policial Castillo,” disse Keri, forçando-se para não sorrir, “é bom ter você por perto.”

“Eu não perderia isso, Detetive.”

Logo então, Ray chegou ao estacionamento. Ele desceu do carro e se juntou ao amontoado de policiais ao redor do mapa. Repassaram o plano para ele.

“Parece bom,” ele disse quando acabaram. “Eu acabo de verificar com nosso cara do TI na delegacia. Baseado no que ele conseguiu extrair das câmeras nessa área, ele acredita que haja de cinco a sete homens aí.”

“Quão certo ele está disso?” perguntou o Sargento Henriksen.

“Ele alertou que as imagens estão granuladas e são baixadas em pedaços, a cada quinze ou trinta minutos. A última atualização foi há quinze minutos, então é possível que mais homens possam ter chegado nesse intervalo. Ainda, nós achamos que possa haver bem mais de vinte garotas espalhadas pelos quartos.”

“Obrigado, Detetive Sands,” disse Henriksen antes de se voltar para os seus próprios policiais. “Quero que as equipes com as turquesas se dirijam imediatamente. Avisem-me quando estiverem em posição. Quero a ruptura o mais rápido possível.”

Enquanto os oficiais de Inglewood se apressavam para as posições, Ray puxou Keri para o lado. Por sua testa franzida, ela suspeitou que algo estivesse errado.

“Você não está chateado por eu ter tomado a liderança, está?” ela perguntou.

“De forma alguma,” ele respondeu surpreso que ela ainda tivesse dúvidas. “Você parece saber a configuração do terreno e Henriksen gosta de você. Mantenha assim.”

“O que é então?”

“Eu conversei com Hillman,” ele sussurrou.

“E...?”

“Ele estava irritado no início. Mas não tanto quanto eu esperava. Acho que você o desgastou tanto que ele se acostumou com você ignorando as ordens dele.”

“Eu sabia que ser pouco profissional compensaria eventualmente,” disse Keri.

“Sim, essa é a lição tirada dessa experiência,” disse Ray com sarcasmo.

“Posso continuar?”

“Por favor,” disse Keri mordendo a língua.

“Ele entendeu. Não estava feliz por você ter escondido isso tudo dele ou por você ter evadido a cena do crime sem ser entrevistada pelos detetives da Central ou por você invadir o apartamento do sujeito sem um mandado.

Quero dizer, você pode culpá-lo?! Mas ele entende. É sua filha e você pensou que isso pudesse ajudar você a tê-la de volta.”

“Então, o que acontece agora?” Keri perguntou.

“Ele é próximo do capitão da Divisão Central, então ele acha que pode

aliviar as coisas. Ainda, ele não quer te tirar do caso enquanto estamos no meio dele. Ele estava bem certo de que eles cancelariam o alerta se você concordasse em ir para interrogação assim que o caso estiver acabado.”

“Parece justo,” disse Keri, escondendo seu alívio.

“Sim, eu diria que é mais que justo. A maioria dos detetives na sua situação estaria de saída ou algemada. Você deveria arranjar um bolo de frutas para esse cara.”

“Então, isso significa que eu não tenho que te levar?” alguém atrás de Keri perguntou. Ela se virou para ver Castillo.

“Há quanto tempo você está aí parada escutando?” ela perguntou para a policial mais nova.

“Vamos ver. Evasão da cena do crime, deve ir para interrogatório, bolo de frutas. Eu acho que durante a conversa toda.” Disse Castillo, ensaiando um sorriso com os lábios.

“Não se preocupe, eu não iria te arrastar, nem se Hillman mandasse.”

“Isso é bem reconfortante, Policial Castillo,” disse Keri dissimulada.

“E eu vou manter sua oferta de insubordinação em panos quentes,”

adicionou Ray.

“Estou feliz que você o tenha pegado, Detetive,” disse Castillo deixando de lado a atuação de garota durona. “Eu estava preocupada que você não tivesse outra chance depois de não ter funcionado da última vez em Santa Mônica.”

“Obrigada, Jamie,” disse Keri.

Todos os membros da Divisão do Pacífico Oeste de Los Angeles ficaram ali constrangidos, desconfortáveis com o raro momento de emoção genuína, incertos sobre o que dizer em seguida.

Eles foram salvos pelo Sargento Henriksen, que os chamou.

“Minhas unidades estão em posição. Eles cortaram as cercas e estão esperando instruções.”

“Ótimo,” disse Keri, livrando-se do sentimento do momento anterior e mudando o foco para a tarefa em mãos. “Detetive Sands, Policial Castillo e eu vamos nos aproximar pela frente. Henriksen, talvez alguns de seus policiais possam se juntar a nós?”

“Claro. Eu vou atribuir dois homens para flanquear vocês. É suficiente?”

“Inicialmente, sim,” disse Keri. “Nós vamos reconhecer o local e chegar o mais perto que possível sem detecção. Então, seus homens vão criar a

distração nos fundos. Quando confirmarem que têm a atenção daqueles caras, você pode nos seguir e invadir com tudo. Parece tudo em ordem?”

“Parece OK,” Henriksen concordou. “Deixem-me selecionar meus homens para vocês.”

Enquanto ele os escolhia, Keri olhou para Castillo.

“Você tem um casaco que possa jogar por cima desse uniforme da LAPD? É um pouco conspícuo.”

Castillo correu para o carro e pegou um casaco corta vento. Os dois oficiais selecionados por Henriksen para se juntarem a eles também estavam vestindo jaquetas que cobriam os uniformes.

“Com sorte, com esse tempo, ninguém vai parecer suspeito por usar casacos pesados,” notou Henriksen, “e que devem esconder suas armas com eficiência.”

“De acordo,” disse Keri enquanto todos se reuniam. “OK, vamos nos mover. Nós vamos andar pela calçada em frente ao motel a cerca de vinte e cinco metros uns dos outros. Ray, você e Jamie andem juntos, como se fossem um casal e vão pela ponta sul. Eu vou seguir atrás, próxima ao centro do imóvel. Vocês dois parem pelo lado norte,” ela disse aos policiais de Inglewood.

Eles começaram pela calçada. Keri esperou até que Ray e Castillo estivessem bem à frente dela antes de começar a andar. Depois que ela atingiu a 102nd Street, ela colocou os oficiais de Inglewood em movimento.

Ela consultou o relógio. Eram 11:32 da noite, um pouco tarde para uma garota ir a um passeio casual sozinha em uma vizinhança perigosa.

Ela torceu para que a estranheza da situação não chamasse muita atenção.

Enquanto continuava a caminhar, fechou o zíper do casaco para se proteger dos golpes do vento da noite. A temperatura estava por volta dos quatro graus, mas parecia mais frio.

Ao passar por mais dois cruzamentos, ficando mais próxima do motel, Keri não podia deixar de notar o quanto estava escuro. Pelo menos metade dos postes estava desligada e até os negócios que pareciam estar funcionando estavam completamente escuros, sem nenhuma luz externa para afastar os intrusos. Ela suspeitou que as lâmpadas eram tão frequentemente quebradas que os proprietários tinha desistido de substituí-

las.

Ao cruzar o cruzamento na 104st Street, o motel finalmente ficou visível à sua esquerda. Ela tentou não se virar para aquela direção. Afinal de contas, ela queria projetar a imagem de uma pessoa simplesmente tentando ir para casa depois de um turno tardio no trabalho. Não havia motivos para ela olhar para outro lugar senão para frente.

À frente dela, na esquina da Hawthorne com a 105st Street, Ray e Castillo pararam. Ela pôs os braços ao redor da cintura dele, como se quisesse abraçá-lo e se proteger do vento ao mesmo tempo. Era convincente e, apesar de seus esforços, Keri sentiu uma pontada de ciúmes.

Ela deu mais alguns passos até que chegasse a um arbusto da altura da sua cintura. Quando o atingiu, se curvou como para amarrar os sapatos, que já estavam amarrados. Confiante de que a vista de qualquer um olhando pela janela do motel seria obstruída, ela olhou para trás observando os policiais de Inglewood. Eles estavam juntos, nenhum deles olhando para o motel, ambos fumando, ou pelo menos fingindo que estavam.

Keri falou no pequeno microfone anexado ao brinco na orelha direita.

“Todos em posição?”

Ela viu Castillo ficar na ponta dos pés, como se para sussurrar no ouvido de Ray,

“Em posição,” ela disse.

“Em posição,” disse um dos oficiais enquanto exalava a fumaça do cigarro.

“Seu pessoal está pronto, Sargento?” perguntou Keri

“Apenas esperando a sua palavra para partirem,” anunciou sua voz pelo rádio.

“Certo, todos mantenham as posições,” disse Keri. “Vou me aproximar do motel para ter uma visão melhor. Espero que mesmo se eu for vista, uma civil feminina são pareça suspeita.”

“Prossiga com cuidado,” ela escutou Ray dizer em seu ouvido. Soava completamente profissional, mas Keri sabia que era mais que apenas uma advertência de um colega.

“Entendido.”

Ela se levantou e andou lentamente, de maneira casual, pela área verde, se certificando que estava atrás dos arbustos e longe do brilho das poucos postes de luz que funcionavam. À distância, ela podia vislumbrar uma van marrom estacionada em frente do que parecia ser o escritório do motel.

Havia outros três carros no estacionamento, parados a uma distância considerável um do outro, quase como se para apenas dar a impressão de que o lugar ainda estava funcionando.

Mas, quanto mais de perto ela olhava, mais óbvio ficava que este não era um motel operando normalmente. Havia um total de quatro veículos no estacionamento inteiro. Mas ela contou vinte e quatro quartos, doze em ambos o primeiro e segundo andar. E as luzes em todos eles estavam acesas.

Ela queria se aproximar, mas isso significaria entrar no estacionamento em si, onde não havia cobertura. Qualquer um assistindo-a mudaria rapidamente de apenas curioso para desconfiado.

“Eu acho que pode haver garotas em todos os quartos. Mas não estou certa de quantos clientes estão por lá. Quase não há carros no estacionamento.”

“Eles devem ser avisados para estacionar na rua,” disse Ray. Keri olhou de relance para a longa fileira de carro estacionada um depois do outro ao longo da Hawthorne e percebeu que ele estava certo. Isso significava que cada uma dessas garotas estava sendo abusada nesse instante.

Keri sentiu o sangue pulsar e se forçou a não reagir. Ela estava liderando aquela operação e ela precisava manter a mente limpa. Ela respirou fundo algumas vezes para se recompor.

Logo então, a porta para o escritório do motel abriu e um homem saiu.

Antes que a porta se fechasse, Keri viu dois homens no interior. Um deles pareceu ser Chiqy.

O homem que saíra do escritório subiu as escadas para o segundo andar e caminhou quase completamente para fora de visão atrás de uma parede exterior. Keri ainda podia enxergar parte de sua perna mais baixa. Ela gastou um momento antes de perceber que ele havia tomado a posição como guarda.

“Esperem um momento,” ela disse a todos. “Vejo um guarda no exterior.”

Ela olhou pelo corredor para o mesmo ponto na outra extremidade do motel. Nas sombras, ela avistou outro homem posicionado no local oposto.

E então, ela viu um terceiro, mal à vista. Abaixo dele no primeiro andar.

Ela se moveu ligeiramente para esquerda e certamente um quarto homem estava posicionado próximo a parede atrás do escritório, imóvel, escondido

para todos que não estivessem olhando diretamente para ele. Eles tinham todos os quatro cantos do motel cobertos.

De repente, o quarto homem fez um movimento com seu braço. E Keri levou um segundo para perceber que ele estava falando em um rádio.

Depois de um instante, o homem andou para um dos quartos, destrancou a porta e entrou.

“Estejam avisados,” ela sussurrou para todos na escuta. “Eu conto seis homens: quatro guardas posicionados nos cantos do prédio no primeiro e segundo andar e pelo menos mais dois no escritório, incluindo um que parece ser Chiqy.”

Um momento depois, outro homem, vestindo calça cáqui, suéter e jaqueta, saiu. Ele parecia estar por volta dos seus trinta anos, com cabelos loiros rosé e aspecto pálido. O guarda colocou a cabeça para fora do quarto e dois deles conversaram brevemente. Então, o guarda fechou a porta e o homem loiro foi embora. Ele estava indo em sua direção.

“Sargento,” disse Keri. “Eu acho que vamos ter que nós mover um pouco antes do que o esperado. Tem um cliente vindo em minha direção.

Se ele me avistar, talvez alerte os outros.”

Uma longa pausa se seguiu.

“Sargento, você me ouviu?”

Naquele ponto, uma voz não familiar soou na escuta.

“Detetive Locke, é o Capitão Roy Granger do Departamento de Polícia de Inglewood. Eu venho monitorando a linha da delegacia. Você acabou de dizer que esse caso envolve Ernesto ‘Chiqy’ Ramirez?”

“Sim, Capitão. Nós acreditamos que essas garotas foram raptadas como parte de uma rede de tráfico sexual comandada por ele.”

“Estou bem ciente de quem ele é, Detetive,” o Capitão Granger respondeu secamente. “Mas eu não estava ciente de que essa operação o envolvia. Se soubesse, não teria autorizado meus homens a tomar a linha de frente.”

“Do que você está falando?” perguntou Keri, mudando a posição atrás dos arbustos enquanto o cliente loiro se aproximava. A dor em seus joelhos devido ao impacto com a rampa de concreto do estacionamento estava realmente incomodando. O cara estava a menos de quarenta e cinco metros de distância agora.

“Nós acreditamos que Ramirez foi o responsável pela morte de dois de

nossos oficiais disfarçados no ano passado. Eu proibi expressamente o combate direto com ele sem uma unidade da SWAT envolvida.”

Keri queria gritar na escuta para esse cara seguir com o que fora programado. Mas ela sabia que isso não traria benefício algum, especialmente com esse cliente ficando mais perto. Ele estava a menos de vinte e cinco metros dela agora.

Ele pegou as chaves do carro e apertou um botão. Um carro buzinou próximo e Keri se virou para ver que era um Lexus preto a apenas dez metros a sua esquerda. Com certeza, o cliente poderia vê-la ao se aproximar do carro.

“Eu lamento profundamente a perda de seus homens, Capitão. Mas, por favor,” ela implorou discretamente, “nós estamos no meio disso. Há pelo menos duas dúzias de garotas em perigo bem agora. Nós não podemos apanhar esses caras sem a sua ajuda. Seus homens estão em posição.

Vamos executar a operação.”

Houve outra longa pausa. O cliente estava a menos de dez metros dela agora.

“Aguarde, Capitão,” ela ouviu Ray sussurrar. “O cliente está se aproximando da posição da Detetive Locke. Ele vai ouvir sua resposta.

Silêncio no rádio por enquanto.”

Agora, o cliente estava quase imediatamente a sua frente. Keri sabia que os arbustos não a esconderiam por muito mais. Ela tinha que agir. Quando chegou à iminência do esconderijo, ele olhou de relance para esquerda assim que ela tinha saltado. Ela acertou o lado esquerdo de sua mandíbula, fechando-a com o coxim da palma de sua mão direita.

Os joelhos dele se dobraram e ele tombou para trás, se comprimindo sobre seus joelhos. Logo quando ele estava recobrando os sentidos e abrindo sua boca para gritar, Keri mergulhou nele, acertando seu antebraço direito na têmpora dele enquanto rolava sobre ele.

Keri se virou para observá-lo, pronta para acertá-lo novamente na cabeça se necessário. Mas não era. Ele estava esparramado pela grama, inconsciente. Rapidamente, ela o agarrou pelos tornozelos e o arrastou para trás dos arbustos, onde ela continuou agachada na dolorida posição.

“Você ainda está aí, Capitão?” ela falou ofegante.

“Sim, Detetive. Está tudo bem? Você pegou aquele cliente?”

“Ele está seguro,” ela respondeu enquanto o rolava de bruços e algemava

seu pulso direito ao calcanhar esquerdo por trás das costas. “Mas não está tudo bem. Nós precisamos invadir aquele motel agora. E nós vamos precisar da sua ajuda para fazê-lo.”

“Sinto muito, Detetive Locke. Simplesmente, não posso autorizar isso.

Se você quiser esperar de vinte a trinta minutos, posso ter uma equipe da SWAT na cena. Nós podemos continuar daí.”

“Quantas dessas garotas vão ser brutalizadas nos próximos vinte ou trinta minutos, Capitão? Além disso, esses caras se movem rápido. Eles podem decidir se levantar e sair a qualquer minuto. Então o que fazemos, tentamos pegá-los quando eles estiverem apanhando as garotas? E esse cliente atrás de mim pode acordar a qualquer momento. O que eu vou fazer, continuar o nocauteando a cada cinco minutos até que sua equipe chegue aqui? Nós temos a vantagem agora. Vamos usá-la!”

Ela esperou, torcendo que ele fosse persuadido.

“Sargento Henriksen,” ela ouviu o capitão dizer, “tire seus homens.

Recue para uma distância segura até que a unidade da SWAT chegue. Vou te dar um tempo de chegada estimado assim que eu tiver um. Desculpe Detetive.”

Keri olhou para os dois policiais de Inglewood de pé na esquina. Eles pareciam perdidos sobre o que fazer. Então Henriksen veio na linha.

“Todos os oficiais retornem imediatamente para a central móvel.

Estamos em espera até novo aviso.”

Keri viu um dos oficiais na esquina balançar a cabeça em desagrado enquanto derrubava o cigarro na calçada e o pisoteava com raiva. Ele e seu parceiro volveram-se e se dirigiram de volta para a igreja.

Keri pensou ter escutado um barulho vindo do motel e virou a cabeça.

Certamente, estava vindo de um dos quartos. E o som era distinto. Era uma garota chorando de dor.

“Jesus,” ela escutou Ray dizer abafando com a respiração.

“O que nós vamos fazer?” perguntou Castillo, claramente horrorizada.

Keri sentiu a ira correr por suas veias. Ela sabia que era a resposta errada, mas ela não podia evitar pronunciá-la.

“Nós vamos entrar.”


CAPÍTULO QUINZE


Keri se levantou do seu esconderijo atrás dos arbustos e se dirigiu ao motel, abrindo sua jaqueta enquanto andava. Ela notou que a dor em seus joelhos machucados havia diminuído um pouco, disfarçada pela corrente de endorfinas que sentiu quando se aproximou do motel. Os choros de dor que ela escutara mais cedo vindo um dos quartos estavam intermitentes agora, mas claramente não haviam terminado.

“Vocês podem me ouvir?” ela perguntou para Ray e Castillo acenando para frente e para trás, se certificando que estava fora do brilho das poucas luzes que funcionavam no estacionamento.

“Sim,” Ray confirmou. “Estamos indo.”

Ela olhou de relance para a sua direita e viu ambos correndo apressadamente ao lado da cerca na mesma direção que ela.

“Como vamos proceder?,” perguntou Castillo discretamente.

“Detetive Locke,” veio a voz urgente do Sargento Henriksen pelo radio,

“por favor, se retire. Meus homens já não estão mais no local. Você não tem vantagem tática. Espere pela chegada da nossa unidade SWAT para suporte.”

“Obrigado pela informação, Sargento. Eu não sei qual é sua política em Inglewood. Mas nós geralmente não ignoramos os gritos de garotas adolescentes sendo estupradas. Então, a não ser você esteja planejando ajudar, eu agradeceria se você mantivesse silêncio no rádio para que o resto de nós possa fazer o trabalho sem distrações.”

Ela sabia que isso fora duro. Henriksen obviamente não queria desistir e apenas tinha seguido ordens. Mas a essa altura, ela não se importava de verdade. Ele não respondeu.

“Castillo, aqui está sua resposta. Vamos manter os Tasers enquanto pudermos. Os novos modelos que recebemos mês passado dão a mesma corrente que os dardos de eletrodos e não precisam de recarga imediata.

Apenas acerte a pele e seu alvo deverá ficar incapacitado. Não sabemos o que esses caras vão fazer depois que escutarem tiros. E nós não sabemos se algum dos clientes nos quartos está armado. Vamos tentar abatê-los silenciosamente, se possível.”

“Entendido,” disse Ray. “Temos visão do guarda de fora do escritório do motel. Se Castillo o distrair, eu devo conseguir eletrocutá-lo pelas costas.

Fique próxima ao guarda na ponta oposta do térreo, Keri. Se eles virem o que está acontecendo, irão reagir. Então, esteja pronta para abatê-lo.

Podemos lidar com os caras de cima depois disso.”

“Parece bom,” disse Keri. “Mas tenha cuidado. Eu não sei quão finas são essas paredes do escritório. Você não quer dar indícios ao Chiqy.”

“Entendido,” disse Ray. “Estamos quase no guarda. Vou ficar em silêncio agora.”

Keri queria chegar mais perto, mas ficou incerta se o guarda que Ray e Castillo estavam prestes a derrubar poderia vê-la do seu ponto de vantagem. O guarda na sua ponta não conseguia vê-la de onde estava, mas ela ainda encontrava-se a, pelo menos, cinco metros dele. Seria difícil chegar perto o suficiente para desabilitá-lo a tempo, caso ele visse alguma coisa através do corredor.

Ela fitou os guardas no segundo andar. Nenhum deles estava olhando para o estacionamento. De fato, um deles estava espiando por uma das janelas os eventos que estavam se revelando no quarto mais próximo. O

outro cara estava assistindo o primeiro, visivelmente irritado que o seu parceiro estivesse violando o protocolo de vigia de tráfico sexual.

Ray e Castillo desapareceram do campo de visão. Keri se manteve no lugar, com o Taser em mãos. Ela vigiava o canto próximo ao escritório por qualquer movimento.

Então aconteceu. Ela escutou um pequeno barulho de descarga elétrica, como um mosquito voando em uma armadilha em uma noite quente de verão. Um momento depois, o guarda próximo ao escritório apareceu de relance enquanto tombava para frente. Keri pensou que ele pudesse cair, arruinando tudo. Mas Ray conseguiu segurá-lo antes que batesse no chão.

Essa era a deixa de Keri.

Ela correu para o canto no qual sabia que o guarda dela estaria, ainda que ela pudesse ver apenas sua sombra contra a parede. Ao chegar mais perto, ela viu o braço dele de relance. Ele estava levantando um rádio até a boca. Poderia ter visto o que acontecera e estava prestes a avisar os outros.

O seu polegar estava quase apertando o botão de fala, quando ela o alcançou, atirando o Taser diretamente no seu antebraço direito. Ele largou o rádio, o qual Keri conseguiu amortecer logo antes que caísse no chão.

Ele emitiu um grunhido alto enquanto tombava para trás contra a parede.

Keri eletrocutou-o mais uma vez e ele escorregou ao chão, paralisado. Ela

se virou e escaneou o segundo andar rapidamente, sem saber se o barulho feito pelo guarda tinha sido alto o suficiente para alertar os outros.

Ela não escutou nada além do usual, o que tomou como um bom sinal.

Olhando através do corredor, ela viu Ray e Castilho dando sinal afirmativo.

Eles sussurraram alguma coisa um para o outro e Ray balançou a cabeça negativamente. Castillo deu uns tapinhas em seus ombros e sorriu. Keri conhecia aquela linguagem corporal. A policial novata estava ignorando-o.

Certamente, um segundo depois, Castilho segurou no corrimão de metal da escadaria e começou a subir com velocidade e agilidade que chocaram Keri.

Essa garota era ginasta antes da Polícia?

Ocorreu a Keri que ela nunca tinha gastado tempo suficiente com a caloura para descobrir. Com sorte, teria a chance de remediar isso.

Ela espreitou para além da sua posição e viu que o guarda do segundo andar, do qual Castillo estava se aproximando, ainda tinha os olhos no guarda acima de Keri, que ainda devia estar espiando o quarto. Ela decidiu começar a subir as escadas para prover suporte.

Ela observou Ray, que a estava encarando e movendo os lábios em um

“não”. Assim como Castillo, ela o ignorou. Ela estava na metade da escada quando o inferno explodiu de uma só vez.

Primeiro, uma voz, quase certamente de Chiqy, soou dos rádios dos guardas.

“Relatório.”

Aquilo fez o guarda acima de Keri lançar um olhar condenatório ao guarda do outro lado do corredor. Infelizmente, ele o fez assim que Castillo estava atingindo o topo da escada. Seus olhos se arregalaram e ele levantou seu braço para apontar.

O outro guarda viu que algo estava errado e se virou bem a tempo de ser eletrocutado no peito por Castillo, que estava agora no segundo andar.

“Eu disse relatório!” gritou a voz novamente enquanto o guarda de Castilho caiu pesadamente para trás no corredor.

Keri viu a expressão indecisa do guarda bisbilhoteiro. Ele estava decidindo se respondia ao rádio ou se lidava com Castillo. Um momento depois ele fez sua escolha e Keri também. Ele procurou sua arma no bolso de trás. Enquanto o fazia, Keri também alcançou a sua.

“Jamie se proteja” Keri murmurou no microfone, ainda que ela soubesse

que não havia lugar para o qual Castillo pudesse ir.

O guarda estava levantando sua arma para atirar quando Keri alvejou seu lado direito. A força jogou seu corpo para a direita. Keri disparou mais uma vez preventivamente, cravejando-o bem no peito. Ele se encurvou ao chão.

“Tiros disparados! Tiros disparados!” ela ouviu o Sargento Henriksen gritar pelo rádio. “Todas as equipes se reúnam.”

Um segundo depois, alguém irrompeu do escritório abaixo. Não era Chiqy, mas sim outro homem. Ele estava segurando uma metralhadora. A primeira coisa que ele viu foi Keri, de pé na metade da escadaria na ponta oposta do motel. Ele levantou sua arma para atirar. Keri se virou para correr desenfreadamente para o segundo andar, onde ela esperava usar o corredor como proteção. Mas ela sabia, mesmo antes de dar o primeiro passo, que não chegaria a tempo. Era muito longe.

E então, ela escutou um único disparo. Olhando para baixo, viu que Ray atirou no homem da sua posição atrás do escritório. O homem ainda segurava a arma, mas estava se escorando na parede do escritório. Parecia que fora atingido na perna.

“Suba, Keri!” gritou Ray.

Ela percebeu que o homem com a arma estava apontando novamente em sua direção. Ela se virou imediatamente e se lançou para cima das escadas, mergulhando no corredor enquanto escutava o barulho de uma arma automática disparando abaixo dela. Ela podia sentir o baque das balas se chocando na parte de baixo do corredor, apenas a centímetros do seu corpo. Ela começou a ouvir sirenes, à distância.

“Todas as equipes se aproximem agora!” escutou Henriksen gritar.

De repente, uma porta atrás dela se abriu, Keri se virou, prestes a puxar o gatilho quando percebeu que era um cliente, vestindo apenas cueca e meias.

“Volte para dentro e deite no chão!” ela gritou para ele. Ele tinha os olhos arregalados de medo, ele bateu a porta e a trancou.

Ela rolou no chão para se preparar para atirar de volta no guarda com a metralhadora quando percebeu que o guarda que Castillo acertara estava se levantando. Como ela o eletrocutou através das roupas, o atordoamento não deve ter sido eficiente. Castillo estava desatenta, seus olhos focavam na ação abaixo. Da sua posição ela não podia ver nada do guarda com a

metralhadora e estava se inclinando para fora cuidadosamente, tentando obter um ângulo melhor.

“Jamie!” gritou Keri assim que o guarda alcançou Castillo. Castillo não teve tempo para pegar sua arma quando ele a empurrou por cima do corrimão. Keri a viu largar a arma para ficar com as duas mãos livres enquanto era arremessada para o outro lado do corrimão. Ela tentou segurar na barra superior, mas os dedos dela escorregaram e ela caiu para a segunda barra, na qual ela se agarrou com a ponta dos dedos.

Enquanto tentava ter uma pegada mais firme, o guarda que a empurrara, pegou a arma do chão. Keri não esperou para ver o que ele faria em seguida e atirou duas vezes nas suas costas. Ele tombou para frente e bateu no mesmo corrimão que Castillo estava dependurada. Keri não o viu aterrissar, mas escutou o baque.

Castillo conseguiu enganchar seu braço esquerdo por cima da barra e travá-lo ali enquanto ela tentava se puxar para cima com a mão direita.

Keri começou a rastejar em sua direção quando uma rajada de balas se projetou em sua direção.

Ela percebeu que, caso se movesse um pouco mais, o guarda abaixo dela teria uma visão de tiro clara. Ela podia ver o giroflex piscando agora, vindo de todas as direções. As viaturas estavam quase na entrada do estacionamento.

“Estou bem,” gritou Jamie. “Fique onde está.”

Keri não tinha escolha realmente. Ela olhou para baixo concluindo que estavam em um impasse. Ela não podia ir a lugar algum, ainda menos para ajudar Castillo que estava dependurada pelo braço. O guarda com a metralhadora estava preso devido a ferida na perna. Mas ele também estava protegido dela e de Ray pela parede do escritório.

Então um pensamento lhe veio à mente. Havia uma pessoa que não tinha sido considerada.

“Ray?” ela gritou.

“Estou aqui,” sua voz veio de algum lugar abaixo. Ele soava desesperadamente preocupado. “Você está bem?”

“Estou bem. Mas, Ray, tem mais um cara. Lembre-se, Chiqy ainda está no escritó...”

Naquele momento ela escutou o que pareceu como uma demolição massiva seguida de um gemido.

“Ray!” ela gritou. Incapaz de ver qualquer coisa, ela oscilou para trás até que tivesse visão do corredor abaixo. Levou um segundo para que processasse o que estava assistindo. Parecia que Chiqy tivera, de alguma forma, pulado através da janela do escritório virada para o saguão e atingindo Ray. Eles estavam rolando pelo chão, cada um tentando ficar por cima. Nenhum deles parecia ter uma arma em mãos.

A situação não estava indo bem para Ray. Ele era um dos homens mais imponentes fisicamente que Keri conhecia. Mas Chiqy tinha uns bons trinta quilos a mais e, claramente, tinha aprendido a usá-los a seu favor. Ele conseguiu ficar por cima de Ray de alguma forma, montando nele com as mãos ao redor do pescoço, comprimindo a garganta do parceiro de Keri..

Ela se apressou para frente para tentar atirar, quando o guarda com a metralhadora atirou nela novamente, forçando-a a recuar. Ela não podia chegar nem um pouco mais próximo sem arriscar ser atingida e de onde ela estava não conseguia ângulo para atirar em Chiqy. Então, ela ouviu Ray começando a se engasgar.

“Henriksen,” ela gritou, “onde diabos está o seu pessoal? Estou encurralada e Ray está em perigo.”

“Aquele guarda com a metralhadora está atirando nos meus homens,” ele gritou de volta no meio de sirenes e disparos. “Nós tivemos que parar na entrada do estacionamento.”

“Chiqy está estrangulando Ray!”

“Estamos tentando, Detetive!”

Não bem o suficiente.

Sem nem pensar sobre o que estava fazendo, Keri ficou de pé e rompeu para baixo pelas escadas.

“Não!” gritou Castillo antes de dirigir suas palavras a Henriksen.

“Sargento, a Detetive Locke está descendo as escadas. Coloque seus homens para atrair os disparos daquele guarda!”

Ela estava na metade da escadaria quando o guarda com a metralhadora percebeu o que ela estava fazendo e mirou sua arma nela novamente.

Enquanto ele erguia para atirar, ela saltou da escadaria no ar.

Tudo pareceu ocorrer em câmera lenta. Ele se virou para seguir o corpo dela, tentando atirar no alvo em movimento. Enquanto se aproximava do chão, Keri manteve a arma firme, esperando até que tivesse um alvo claro.

Ela disparou um único tiro antes de atingir o chão.

O ar foi expulso dela imediatamente, assim que sua barriga, peito e cotovelos bateram contra o pavimento. Incapaz de respirar, ela percebeu que seus olhos estavam cerrados ela se esforçou para abri-los.

Em algum lugar no fundo do seu cérebro, ela podia ouvir a voz de Castillo.

“O guarda foi abatido! O guarda foi abatido! Todas as unidades, convergir. Detetive Sands está sob ataque!”

Os olhos de Keri procuraram a área à frente dela, passando pelo corpo do homem o qual ela alvejara, que estava deitado virado para o chão, até que ela encontrou o que estava procurando.

Ali no corredor, Chiqy ainda estava por cima de Ray, estrangulando-o.

Ela podia ouvir os arquejos do seu parceiro e via suas mãos nos antebraços de Chiqy, tentando futilmente afastá-las. Chiqy estava sorrindo.

Ela olhou para trás através do estacionamento para ver os policiais correndo na direção deles. Mas eles ainda estavam muito distantes, nunca conseguiriam a tempo. Ela procurou por sua arma e a enxergou repousando a um metro em frente a ela.

Tentou se locomover em direção a arma, mas seu corpo não respondia.

Seus pulmões ainda estavam tentando desesperadamente sugar o ar e simplesmente não iram permitir que ela fizesse qualquer outra coisa além disso.

Ela olhou de novo para Ray e assistiu impotente enquanto a pessoa da qual ela era mais próxima no mundo tinha sua vida espremida de seu corpo.

Os dedos dele pareciam perder a pegada nos braços de Chiqy. Seu braço esquerdo foi ao chão. Sua mão direita resistiu um pouco mais. E parecia que já iria ceder, quando ele a desprendeu completamente e a estendeu, como se procurasse o ar com seus braços ao invés de com seus pulmões.

Então ela viu seu punho se cerrar em um soco. E quase mais rápido do que seus olhos podiam seguir, ele golpeou o cotovelo esquerdo de Chiqy com o punho, estalando-o em um ângulo que não era esperado.

Chiqy caiu sobre Ray, seus gritos de agonia podiam ser ouvidos acima das sirenes da polícia. Depois de vários segundos, Ray afastou um pouco seu corpo até que Chiqy escorregou de cima dele. Ele rolou sobre sua lateral e se empurrou para cima sobre seus joelhos para observar o homem que tentou matá-lo.

A visão de Keri foi bloqueada brevemente quando os policiais de Inglewood correram por ela na direção dos gritos. Mas ela pode ver quando Ray levantou o punho e acertou o rosto de Chiqy abaixo dele, rápido e com uma força enorme.

E então, de novo.

E de novo.

Quando os policiais o arrastaram para longe, ele tinha deferido pelo menos meio dúzia de socos.

A última coisa que Keri notou antes de perder a consciência foi que Chiqy não estava mais gritando. Ou se movendo.


CAPÍTULO DEZESSEIS


Quando Keri se deu conta, ela se viu na traseira de uma ambulância pela segunda vez em menos de duas horas. Dessa vez ela estava deitada em uma maca. Tudo, do seu esterno ao umbigo, doía. Uma socorrista estava se debruçando sobre ela, estudando seus sinais vitais no monitor ao lado.

“Por quanto tempo eu estive apagada?” perguntou Keri roucamente, surpreendendo a mulher, que não percebeu que sua paciente tinha recobrado a consciência.

“Menos de cinco minutos, pelo menos baseado no tempo que sua colega me forneceu,” ela disse, indicando com a cabeça a porta de trás da ambulância.

Keri olhou de relance para cima para ver Castillo de pé no lado de fora da ambulância. Ela estava conversando com alguém que Keri não podia enxergar e seu braço esquerdo estava em uma tipoia.

“Jamie,” ela chamou o mais alto que sua voz permitia. A policial mais nova se virou e, vendo Keri acordada, se moveu rapidamente até ela.

“Como você está se sentindo, Detetive?” ela perguntou incapaz de esconder sua preocupação.

“Ainda não tenho certeza. E você?”

“Ombro distendido; fora isso, apenas contusões e inchaços.”

“E Ray?” Keri perguntou com medo da resposta.

“Eu acho que ele vai ficar bem. Eles estão tratando-o no local. Eles não querem movê-lo até que tenham segurança de que seu pescoço esteja no lugar. Mas ele está responsivo e ranzinza. É um bom sinal, certo?”

“Ranzinza é bom. Você pode me atualizar sobre a situação geral?”

“Eu acabo de me perguntar isso,” disse Castillo. “Henriksen está vindo pra cá agora. Tenho certeza que ele poderá nos repassar.”

“Como você ficou livre daquele corrimão?” perguntou Keri.

“Uma vez que eu não tinha que me preocupar com pessoas atirando em mim, eu consegui me puxar para cima a maior parte. Então alguns policiais de Inglewood chegaram e me ajudaram a subir o resto.”

“Você era uma ginasta ou algo parecido? O jeito que você escalou aquelas barras foi bem impressionante.”

“Nada. Mas eu curtia muito um parkour quando adolescente. Eu era meio louca na época.”

“Você ainda é meio louca.”

“Olha quem fala, Detetetive?! Dar um salto de dois metros pulando da escadaria para atirar em um cara apontando uma metralhadora em você?

Isso também não é muito são.”

Castillo a encarou com firmeza, como se quisesse dizer algo mais, mas não soubesse como. Mas naquele momento, o Sargento Henriksen chegou.

“Como você está indo, Detetive?” ele perguntou.

Keri reprimiu a vontade de xingá-lo e respondeu com um simples “OK.”

“Fico feliz em ouvir isso,” ele disse. “E eu sinto muito sobre o que aconteceu lá trás. Não era minha decisão e não era minha preferência. Mas eu tinha ordens a seguir.”

“Eu entendo,” disse Keri, apesar da sua raiva residual. Não era culpa dele afinal. E ela ainda precisava da ajuda dele. “Você pode me repassar a situação da cena?”

“Vou lhe dizer o que sei. Ainda estamos juntando vários pedaços. Mas parece que vocês três abateram todos os capangas que estavam lá naquela hora. Nós estamos reunindo todos os clientes dos quartos. Isso me lembra de que eu acho que esses são seus.” Ele devolveu suas algemas.

“Eu assumo que cuidaram daquele cara?” Keri perguntou.

“Ele está chorando no camburão enquanto falamos,” respondeu Henriksen. “Estamos interrogando todos eles. Mas parece que a maioria deles se comunicava com os cafetões por mensagem. Até agora ninguém foi capaz de identificar alguém que ainda não está sob custódia.”

“E as garotas?”

“Nós registramos vinte e uma. Elas ainda estão nos quartos do motel.

Não queremos mover nenhuma delas de lá ainda, não até que os paramédicos possam avaliá-las a fundo. Elas estavam todas amarradas às camas. Algumas estavam apagadas, ou drogadas ou espancadas até ficarem inconscientes. E ainda tem mais. Parece que esses caras literalmente marcavam as garotas. Todas elas têm números escritos na testa.”

Keri e Castillo trocaram olhares, ambas temporariamente chocadas em um silêncio horrorizado.

“Você disse que contou vinte e uma,” disse Keri, se recompondo.

“Significa que você acha que há mais garotas?”

“Bem, são vinte e quatro quartos. E os três que estavam vazios tinham as camas desarrumadas. Certamente parece que eles foram usados. Mas é

possível que as garotas tenham sido movidas de um quarto para o outro.

Nós não sabemos ainda.”

“E os números escritos nelas?” perguntou Castillo. “Talvez isso possa ajudar. Em quanto eles totalizam?”

“Não sabemos com certeza. Algumas dessas garotas estão muito abaladas para alguém chegar perto o suficiente para olhar. Mas parece um pouco aleatório. Uma garota tem ‘vinte e sete’ e outra tem ‘quarenta e três’. Nós sabemos que não havia tantas ali.”

“Os guardas lhe disseram alguma coisa?” perguntou Keri, se recusando a perguntar especificamente sobre Sarah. Ela não queria ser insensível às outras garotas e duvidou que alguma delas já tivesse sido identificada, de qualquer forma.

“Você quer dizer, os que ainda estão vivos?” Henriksen perguntou, suas sobrancelhas se arquearam. “São apenas três, incluindo Chiqy. Os outros dois ainda estão tontos por causa do Taser, mas nós vamos interrogá-los quando estiverem mais coerentes.”

“Sem sorte com Chiqy?” perguntou Keri.

“Ele não estava falando muito. Tiveram que sedá-lo para que ele parasse de gritar. Eles estão estabilizando-o em outra ambulância neste momento, para que possam leva-lo ao hospital. Francamente, eu também estaria gritando. Seu braço estava dobrado em uma direção que eu não achava que era possível. Provavelmente vou ter pesadelos com isso por um tempo.”

“Quando ele estiver consciente, ele precisa ser questionado imediatamente,” Keri insistiu, ignorando o comentário do sargento sobre o braço. Ela tinha zero simpatia. “Se alguém sabe sobre o panorama geral, é o Chiqy.”

“Não se preocupe,” uma voz familiar soou fora do campo de visão. “Eu vou cuidar disso.”

Ray se aproximou à vista. Ele estava usando um colar cervical e vários capilares nos seus olhos tinham estourado, dando a eles uma aparência avermelhada. Mas ele estava de pé ereto e sorrindo.

“Ei, Raymond,” disse Keri se contendo para manter a onda de alívio que ela sentiu fora da sua voz. “Você realmente me desapontou naquela hora.

Por um minuto, eu achei que o rapaz gordinho tinha te pegado.”

“Eu também,” ele admitiu genuinamente, se recusando a entrar no jogo de distância emocional. “Como você está se sentindo, Keri?”

“Estou bem dolorida. Mas acho que com um pouco de assistência, eu posso levantar e realmente ajudar com essa investigação.”

Ela olhou para a socorrista, que deu de ombros.

“Os sinais vitais estão estáveis. Se ela suportar a dor, não há motivos para ela não poder se deslocar. Digo, eu gostaria de levar você ao hospital para ter um check-up completo, Detetive. Mas estou assumindo que isso não vai acontecer.”

“Sua suposição está correta,” respondeu Keri, enquanto tentava se sustentar nos cotovelos. O movimento fez ela se encolher e quando olhou para baixo, viu que ambos estavam bem enfaixados.

“Pois é,” disse o paramédico. “Seus cotovelos estão bem danificados. Eu encontrei pedaços de pele incrustados no concreto onde você aterrissou.

Não tem nada a mais que ser feito sobre isso e vai doer mais assim que sua adrenalina diminuir.”

“Você tem uma baita de uma abordagem ao paciente, hein?!” disse Keri.

“Percebi que ela seria desperdiçada com você. Posso te dar alguns remédios bem eficientes para dor, que podem deixar as coisas mais fáceis de lidar.”

“Sim, por favor.”

A socorrista lhe deu duas pílulas, que ela engoliu imediatamente, e outras seis a serem tomadas em intervalos nas próximas vinte e quatro horas. Então, o grupo todo a ajudou a sair da ambulância. Ela se apoiou em Ray até que tivesse certeza de que conseguia se sustentar.

Assim que começou a andar, a socorrista a chamou.

“Acho que você vai precisar disso,” ela disse, entregando a arma de Keri.

“Alguém a encontrou mais cedo, jogada no chão ao seu lado.”

“Obrigada,” ela disse, forçando um sorriso sombrio nos lábios, antes de se voltar para os outros. “Devemos dar uma olhada em volta?”

“Com certeza,” Ray disse enquanto começaram a caminhar em direção ao motel, antes de se virar para o Sargento Henriksen. “Me informe quando eles estiverem prontos para levar Chiqy ao hospital. Eu quero estar na ambulância com ele.”

“Pode deixar,” disse Henriksen. “Vou informá-los agora. E não é preciso dizer que quando tiver um tempo, nossos detetives vão precisar questionar todos vocês sobre como as coisas acontecerem.”

“Entrem na fila,” Keri disse baixinho para que apenas Ray e Castillo

pudessem ouvi-la.

Os três assentiram com a cabeça e então andaram para último quarto no primeiro andar, a mais distante do escritório. Espreitando lá dentro, eles viram um policial sentando-se com uma garota que estava enrolada sobre a cama. Alguém jogara um lençol por cima do seu corpo nu.

“Eu estou hesitante em questionar qualquer uma dessas garotas no estado em que elas estão,” disse Keri. “Vamos só verificar se Sarah ou Lanie estão por aqui. Se alguma das garotas parecer em condições de falar, nós podemos ver o que elas sabem. Parece bom?”

Ray e Castillo concordaram. Mas ficou rapidamente aparente que nenhuma das garotas seria de muita ajuda. A visão era estarrecedora e despedaçou o coração de Keri. Ela nunca tivera visto tanto sofrimento de pessoas inocentes em um só lugar.

Ainda, nenhuma delas era Sarah ou Lanie.

Ela suspirou profundamente. Quando chegaram ao quarto mais próximo do escritório, eles estavam trocando olhares sem esperança.

“Detetive Sands,” Henriksen chamou de um lugar próximo, “eles estão quase levando Chiqy. E ele recobrou a consciência.”

Ray andou rapidamente para a ambulância, com Castillo ao seu lado.

Keri mancou em seguida a alguns passos atrás deles. Ray abriu a porta e Keri pode ver Chiqy na maca, elevado a um ângulo de quarenta e cinco graus, seu braço esquerdo estava em uma tipoia gigante.

“Como você está se sentindo, Ernesto?” perguntou Ray.

Chiqy sorriu de volta. Seus olhos estavam sombrios e Keri percebeu imediatamente que ele estava profundamente dopado.

“Eu estou bem, Sr. Clean,” ele disse preguiçosamente.

“Você sabe que você também é bem ousado,” ressaltou Ray.

“Que seja.”

“Essas são todas as garotas, Chiqy?”

O cafetão deu um sorriso desagradável antes de responder.

“Não, cara. Essas são apenas as sobras. Eu já vendi os melhores cortes de carne de oferenda.”

Keri sentiu a fúria subir pelo seu corpo e por um instante considerou golpear Chiqy com seu cotovelo destruído.

“Para quem você as vendeu, Chiqy?” perguntou Ray insistentemente, se recusando a morder a isca.

“Oh, não posso te dizer isso, cara. Confidencialidade e essas paradas, fraga?” Ele Sorriu novamente antes que uma tosse curta transformasse seu rosto em uma careta apertada.

“Nós temos que leva-lo ao hospital agora,” um dos socorristas, um afro-americano por volta dos vinte e poucos, disse insistentemente. “Estou preocupado que uma das artérias dele tenha se rompido. Se ele não entrar para cirurgia em breve, ele pode perder o braço inteiro.”

“E isso não seria uma pena?” perguntou Ray com sarcasmo, sorrindo.

“Então certo, é melhor ele começar a responder minhas perguntas antes de você leva-lo a qualquer lugar.”

“Ele vai para o hospital agora,” disse o socorrista defendendo sua posição apesar do medo óbvio em seus olhos. “Eu sei que você tem um trabalho a fazer, Detetive. Mas eu também tenho. Venha se você quiser.

Mas essa ambulância está partindo imediatamente.”

“É, cara, vem com a gente,” Chiqy emendou vagarosamente. “Você está procurando por uma folga? Parece que você precisa... folga.”

Keri afagou Ray nos ombros.

“Só vai com ele. Ele está muito aéreo agora para ser benéfico de qualquer jeito. Depois da cirurgia você pode interrogá-lo um pouco mais.

Além disso, você pode verificar seu pescoço enquanto você estiver por lá.

Nós vamos continuar dando uma olhada por aqui.”

“É, você continue olhando, loirinha,” disse Chiqy a ela. “Mas você não vai encontrar o que está procurando. Eu sei o que você está buscando, o melhor pedaço. Mas se foi há tempos. Tirando uma folga...”

Ele gargalhou brevemente até que suas palavras sumiram e ele recaiu inconsciente de novo. Ray subiu na traseira e se sentou.

“Mantenha-me informado,” ele disse logo antes de fechar a porta.

“Você também,” Keri gritou de volta, mas sua voz foi abafada pela sirene da ambulância enquanto esta arrancava para fora do estacionamento.

Quando a sirene esmaeceu à distância, Keri se voltou para Castillo.

“Você está bem?” a jovem policial perguntou.

“Eu não tenho escolha. Vamos voltar ao trabalho.”

*

Sarah tentou abrir os olhos. Tudo parecia tão espesso e tão lento. Pensar

era quase impossível. Depois de um esforço enorme, ela finalmente conseguiu abrir uma fresta deles.

Tudo era nebuloso. Ela podia dizer que estava em algum tipo de veículo em movimento, mas não estava certa do que era. Ela olhou para baixo e viu que, em adição ao cinto de segurança, seus braços estavam amarrados ao banco com corda elástica.

Ela tombou a cabeça levemente para a esquerda e viu um homem ao seu lado. Ele usava um boné e mantinha uma barba longa e mal feita. Depois de alguns segundos, fez sentido. Ele era caminhoneiro e ela estava no banco do carona do veículo.

Ele tombou um pouco mais a cabeça para a esquerda e viu duas garotas deitadas na boleia. Ela as reconheceu do depósito, da van e do motel. Elas estavam amarradas também. Mas ambas estavam inconscientes e escorregavam um pouco para frente e para trás quando o caminhão passava pelos quebra molas.

Ela se virou para ver o caminhoneiro e viu que ele a estava observando com um olhar predador.

“O Sr. Holiday disse que se eu ajudar a te levar sã e salva para o Lugar Ruim, posso dar uma experimentada em você. Então, você pode começar a sonhar com isso, mocinha.”

Sarah tentou responder. Ela queria perguntar para onde estavam indo e onde ficava o Lugar Ruim.

Ela abriu a boca para falar, mas o esforço foi demais e ela recaiu em letargia.


CAPÍTULO DEZESSETE


Keri estava ficando desesperada. Ela ainda não encontrara Sarah ou Lanie e restavam apenas dois quartos a serem verificados no segundo andar. Pior, três quartos estavam vazios, o que parecia confirmar que algumas garotas já tinham sido transferidas como “carne de sacrifício” para algum outro lugar.

Quando ela chegou ao penúltimo quarto, encontrou uma policial tentando reconfortar uma garota de costas para ela. Entre soluços, a garota continuava sussurrando a mesma frase repetidamente.

“Minha culpa. Minha culpa.”

Keri entrou no quarto para dar uma olhada nela. Castillo ficou próxima à porta, hesitando em entrar um lugar tão cheio de sofrimento. Apesar da condição da garota, ficou rapidamente aparente para Keri que era Lanie.

Seu cabelo tinha sido aparado, mas o característico loiro misturado com o azul e rosa que Keri se recordava das câmeras de segurança do shopping ainda era evidente. E com nada além de um cobertor para cobri-las, as várias tatuagens na pele de porcelana da garota serviram como provas adicionais. Um grande “11” em preto estava escrito em sua fronte.

“Lanie?” Keri disse suavemente.

A garota olhou de volta. Seus olhos aterrorizados estavam inchados e vermelhos e suas bochechas estavam riscadas com um rio de maquiagem.

“Quem é você?” ela perguntou com suspeita entre soluços.

“Meu nome é Keri. Eu sou detetive da polícia. E estava procurando por você.”

“Você estava?” perguntou Lanie, soando mais como seis do que dezesseis anos.

“Sim, por horas agora. Eu sei que você passou por algo terrível. Mas você está segura agora.”

“E Sarah? Ela está bem?” perguntou Lanie.

“Nós ainda estamos procurando por ela. Ela também foi trazida aqui?”

Lanie assentiu.

“Todas nós fomos. Mas eu não sei para qual quarto ela foi levada.”

“Está bem. Nós vamos encontrá-la,” Keri garantiu a ela. “Você se lembra de algo a mais que possa ajudar? Havia outros homens aqui?”

“Eu não sei aonde Dean foi depois da casa. Tinha esse cara gordo

chamado Chiqy e todos os seus guardas. E o Sr. Holiday.”

Keri sentiu seus batimentos acelerarem, mas tentou não demonstrar.

“Quem é esse Sr. Holiday?” ela perguntou calmamente.

“Ele era o responsável. Ele cortou meu cabelo para ficar assim. Chiqy queria me vender para ele, mas o Sr. Holiday disse que eu não tinha o visual certo. Ele disse que eu estava muito gasta.”

“Como o Sr. Holiday se parecia?” perguntou Keri, forçando além de tudo o mais que Lanie dissera, temendo que relembrar isso faria a garota se despedaçar novamente.

“Ele é bem musculoso e bronzeado, cabelo castanho. Ele vestia roupa de corrida.”

“Você se lembra de algo mais sobre ele?” perguntou Keri.

“Ele tinha uma voz macia, mas dizia coisas horríveis.”

A memória pareceu parti-la e ela começou a desabar novamente antes de se recompor de repente. Ela agarrou a mão de Keri e a encarou, esperando que ela entendesse.

“É tudo minha culpa que isso tenha acontecido,” ela disse. “Meu namorado trabalhava para esses caras. Ele me enganou. Eu pensei que ele me amava. Mas ele estava só me usando para nos transformar em... ele nos usou.”

“Tudo vai ficar bem, Lanie.”

“Não! É minha culpa que isso tenha acontecido com Sarah. Ela é a única pessoa decente que eu conheço. E agora, por minha culpa, ela está...”

Ela caiu em lágrimas, incapaz de continuar. Keri olhou para a policial sentada ao lado da garota e indicou para que ela abraçasse Lanie.

“Quando ela conseguir, peça a ela para dar uma descrição completa do Holiday para um desenhista,” ela sussurrou no ouvido da policial.

Então deixou o quarto rapidamente, acenando para Castillo segui-la. Elas saíram para o corredor.

“Esse Sr. Holiday parece uma peça,” murmurou Castillo.

“Concordo. Eu também acho que Chiqy estava se referindo a ele antes.

Toda aquela conversa sobre ‘feriado’ de quando ele estava dopado, que gênio. E parece que Sarah era exatamente o tipo de “garota não usada” que esse Sr. Holiday estaria disposto a comprar de Chiqy. Ela se foi quase com certeza.”

Keri olhou no quarto que ainda não haviam verificado, só para ter

certeza. A garota ali na cama, esparramada e inconsciente, era afro-americana. Isso tornou oficial. Sarah não estava ali para ser encontrada.

“E agora?” perguntou Castillo.

Keri ficou ali em silêncio, repassando tudo em sua cabeça. Depois de uns bons dez segundos, ela finalmente falou.

“Nós sabemos que ela estava aqui. Se nós pudermos determinar em qual quarto ela estava, talvez consigamos encontrar uma pista. Ela nos deixou uma pista no depósito. Eu aposto que tentaria fazer isso de novo.”

“Como sabemos em qual quarto ela estava?” Castillo especulou.

“Acho que podemos assumir que ela estava em um dos que nós encontramos vazios. Nós não os observamos de perto quando vimos que estavam desocupados.”

“Certo, qual deles primeiro?”

“Quando nos estávamos vigiando o local, eu reparei que aquele quarto estava com as luzes apagadas. Isso me faz pensar que quem quer que estivesse ali fora movido há mais tempo. Vamos começar com ele. Fica aqui no segundo andar.”

Ela foi à frente pelo corredor para um quarto que elas apenas tinham dado uma olhada antes. Keri entrou e ligou a luz. Estava óbvio que algo tinha acontecido ali.

Havia uma poça de sangue no carpete próximo a cama. Um telefone estava jogado ao chão ao lado da poça. Fora arrancado da parede. Keri se ajoelhou para olhar mais de perto. Um canto da base do telefone estava coberto com sangue seco.

Keri se levantou novamente e olhou na cama. Ela reparou que uma barra da cabeceira, no mesmo ponto em que as outras garotas tinham sido algemadas, estava faltando.

Talvez esta se libertou e tentou escapar.

Ela caminhou até o banheiro. Uma cadeira estava caída lateralmente na banheira e a pequena janela estava aberta. Ela levantou a cadeira e subiu para espreitar pela janela. Era uma longa descida com apenas um depósito de lixo para amortecer a queda.

“O que você acha?” Castillo perguntou atrás dela.

“Eu acho que a garota desse quarto dominou o cliente e tentou escapar.”

“Eu duvido disso. Se ela tivesse, nós saberíamos disso por agora. Uma garota, nua e algemada, teria sido mencionada pelo rádio de alguma

maneira.”

Keri voltou para o quarto e perambulou vagarosamente por ele. Ela estava certa de que se Sarah fora a garota nesse quarto, ela teria deixado algum tipo de pista.

Ela analisou a cama onde a garota fora algemada enquanto era abusada.

Fez sentido que, se a sua mão esquerda estivesse algemada na cabeceira, ela teria conseguido, de alguma forma, usar a mão direita para agarrar o telefone e acertar o estuprador com ele.

Se aproximando do lado direito da cama, ela imaginou a garota deitada ali, com um homem se forçando nela por sabe-se lá quanto tempo e incapaz de fazer muito mais do que se contorcer.

E arranhar.

Keri olhou para o lado direito da cabeceira e viu múltiplos arranhões no local onde a garota deve ter lutado. Pareciam ter sido feitos há pouco tempo. Pequenos pedaços de madeira estilhaçada sobressaíam das bordas das marcas arranhadas. Keri observou mais de perto e então, apesar de se segurar, ela engasgou.

“O que foi?” Castillo perguntou do outro lado do quarto.

“Olha.”

“O quê? Tudo o que eu vejo é um monte de marcas de arranhões.”

“Não são apenas marcas aleatórias, Jamie. São letras.”

Era a vez de Castillo engasgar.

Keri se inclinou e sem tocar a cabeceira, traçou seu dedo por cima das marcas.

“Diz ‘sc xile.’. É como você lê também?,” ela perguntou.

“É o que parece,” concordou Castillo. “Então ‘sc’ é Sarah Caldwell. Mas o que é ‘xile’? É uma abreviação de ‘exílio’ ou algo parecido?”

“Eu não sei. Mas é dela. Tenho certeza.”

Keri pegou o telefone, tirou uma foto daquilo e saiu para o corredor.

“Sargento Henriksen. Nós precisamos de você,” ela chamou antes de se dirigir a Castillo. “Nós precisamos que a Unidade de Cena Criminal verifique esse quarto meticulosamente, a cama, as manchas de sangue no chão, o telefone e, especialmente, a área próxima àqueles arranhões. Eles devem encontrar impressões digitais e DNA para confirmar que Sarah esteve nesse quarto. Você pode cuidar disso?”

“Claro. Você vai a algum lugar?”

“Sim. Primeiro eu vou enviar essa foto para Edgerton para ver se ele consegue jogar “xile” no banco de dados para determinar o que significa. E

então, tenho que cuidar de algo.”

“Está tudo bem?” perguntou Castillo, visivelmente confusa.

“Escute. O TI está verificando as câmeras da área por veículos que possam ter saído antes de nós chegarmos. Ray está esperando para interrogar Chiqy quando ele sair da cirurgia. Nós vamos ver se Edgerton consegue dar uma olhada nessa coisa de ‘xile’. Mas fora isso, não há muito que possamos fazer agora. Então eu vou cuidar de alguns assuntos pessoais. Liguem-me se alguma coisa aparecer, certo?”

“Certo,” disse Castillo, ainda perplexa.

Keri a deixou assim. Ela não tinha muita escolha.

O que eu vou fazer? Contar a ela que vou estudar alguns cartões postais roubados do apartamento de um cara que eu matei, procurando por pistas sobre a minha filha desaparecida?

Ela não pudera contar isso para Castillo, mas era exatamente o que ela planejava fazer.


CAPÍTULO DEZOITO


Foi preciso tudo o que Keri tinha para não jogar seu copo café quente no inocente funcionário da loja de donuts que acabara de enchê-lo.

Sua frustração estava quase explodindo e ela estava tentada a descontar na pessoa mais próxima. Nesse caso aconteceu de ser o cara com olhos sonolentos, que encheu seu copo sem perguntar, atrapalhando o delicado equilíbrio entre creme e açúcar.

É claro, não era bem isso que a estava irritando. Eram 12:45 da madrugada e ela estivera sentada sob a luz fluorescente da loja de donuts por quinze minutos, debruçada sobre os cartões postais espalhados a sua frente, seus joelhos, cotovelos e tudo entre eles doía. E ainda não tinha entendido o que eles significavam.

Keri esteve estudando os endereços de retorno, que ela sentia ser a chave para tudo. Ela suspeitava que esses pudessem até ser a localização das garotas abduzidas, se ela pudesse pelo menos encontrar uma maneira de decifrar o código.

Ela sabia que poderia levar os cartões postais para Edgerton e ele os decifraria, eventualmente. Mas ele e a equipe inteira de TI estavam usando todos os recursos disponíveis para encontrar Sarah e as outras duas garotas desaparecidas. Além disso, ela conseguira os postais ilegalmente e não queria envolver mais ninguém no que ela tinha feito.

Mais premente, ela estava preocupada se Jackson Cave descobrira sobre a morte do Colecionador, ou Brian Wickwire, como ela o conhecia agora.

Se, da forma que ela suspeitava, ele estivera ajudando Wickwire a facilitar a venda dessas garotas raptadas, ele iria quase certamente avisar os

“clientes”. E se ele soubesse que Wickwire morrera em uma altercação com ela, as primeiras pessoas que ele avisaria seriam aquelas com Evie.

Não era um passo irracional. Até recentemente, a Divisão Central tinha um alerta geral sobre ela. Cave poderia facilmente ter acesso a essa informação. E quando ele descobrisse que as escutas que ele implantara nos carros de Ray e dela não estavam mais funcionando, ele adicionaria colocaria as peças juntas. Se ele estiver acordado há essa hora, ele pode estar coordenando tudo isso agora.

Eu tenho que entender isso agora, e rápido.

Expulsando todos os outros pensamentos da cabeça, Keri retornou a sua

completa atenção para os postais.

Todos os endereços eram de estados a oeste dos Rockies. Mas nada mais sobre eles fazia sentido. Cada endereço começava com o que pareciam ser iniciais, seguidas pelo endereço em alguma cidade de verdade.

Mas quando ela puxou esses endereços no mapa do celular, nada apareceu.

Além disso, a maioria dos endereços nem fazia sentido alfabético.

Alguns tinham várias consoantes consecutivas, de forma que eram essencialmente inteligíveis. Ela olhou em um do subúrbio de Salt Lake City pela terceira vez, completamente perplexa: vb

243 gzqodq lane

taylorsville, ut

84123


Ela sabia que Wickwire tinha escrito isso. Sua denunciadora recusa em usar letras maiúsculas estava por todo o lado. Taylorsville era um lugar real. Mas não havia Gzqodq Lane ou Rua Gzqodq ou Avenida Gzqodq.

Tanto quanto ela podia dizer, era só uma mistura de letras.

Ela repassou os cartões mais uma vez até que chegou um que era tão curto que ela estava disposta a tentar outra vez. Onde se lia: jn

33 dkj road

salem, or

97302


Novamente, Salem era real, mas não havia estrada chamada Dkj. Keri tentou mudar as letras de lugar para ver se era um anagrama, mas já que eram todas consoantes, nada funcionou.

Ela olhou em todas as ruas no código postal 97302, esperando por qualquer coisa que pudesse lhe sobressair. Havia uma Decker Jones Street e Dokij Lane. Ambos os nomes eram parecidos com dkj. Mas ela sabia que não estavam certos. E havia uma Elk Road.

Ela começou nesse último e sentiu um formigamento no fundo da mente.

Alguma coisa ali parecia possível. Era o número certo de letras, mesmo que todas elas não se encaixassem. Ela olhou novamente para elas e reparou algo que não tinha lhe ocorrido anteriormente.

Se você inserisse a próxima letra no alfabeto para cada letra em “dkj” –

“e” para “d,” então “l” para “k” e finalmente “k” para “j,” soletrava-se a palavra “elk.”.

Ela digitou “33 Elk Road” no mapa. Nada apareceu. Era uma estrada rural e parecia não haver mais que uma dúzia de casas ali.

E se ele jogou com os números das casas também?

Não havia 44 Elk Road, o que não era de se espantar. Se não havia um 33, não haveria um 44.

E se, para os números, eles substituiu ao contrário?

Ela tentou digitar “22 Elk Road” e, acertadamente, um endereço apareceu no mapa. Sentindo a excitação se intensificar, Keri voltou para o endereço em Utah. Usando o mesmo método, 243 gzqodq lane se tornou 132 Harper Lane. Ela procurou por esse endereço e também era real.

Ela fez o mesmo para vários outros. Todos funcionaram. Mas nenhum deles dizia qual criança raptada estava no endereço. Ele precisaria vasculhar os registros das propriedades para encontrar o proprietário, então ver quantas crianças eles mantinham e se havia fotos. Levaria uma eternidade.

Talvez não.

Keri olhou para as letras na parte de cima dos endereços. Se elas fossem iniciais e ele tivesse aplicado o mesmo artifício usado para o nome das ruas, ela poderia descobrir onde Evie estava.

“Mais café, senhora?”

Keri olhou para cima sem expressão. O cara com a garrafa de café estava ao seu lado, com um sorriso suave em seu rosto.

“O quê? Não. Vá embora.” ela disse, retornou sua atenção para os cartões postais. Ela os vasculhou rapidamente, procurando por “dk,” a combinação de letras que precedia “el”- Evelyn Locke.

E então ela achou. Por um segundo Keri encarou o endereço, paralisada.

Se fosse legítimo, então sua filha estava sendo mantida em uma casa na Carson Drive em Lomita. Ficava a vinte minutos de carro da sua localização atual. Era possível que Evie tenha ficado a apenas alguns quilômetros dela todos esses anos?

Ela jogou o endereço no telefone e saiu apressada da loja de donuts. O ar estava implacavelmente frio, mas ela mal reparou. E a dor que ela sentia apenas alguns momentos antes, tinha sumido.

*

Enquanto ela disparava por Lomita a caminho do endereço do cartão postal, Keri usou o telefone. Ela acabara de ligar para a delegacia e descobriu que a morte de Wickwire, o envolvimento dela e o alerta geral subsequente estavam por todo o escâner da polícia. Se Jackson Cave estava acordado, ele sabia sobre o ocorrido.

Keri virou no cruzamento próximo ao endereço do cartão postal, saiu do carro e andou meio quarteirão até o endereço. Ela conseguiu se sentir hiperventilar e forçou sua respiração a desacelerar.

Levou um segundo para perceber que o endereço era de uma empresa, não de uma casa. O letreiro na frente dizia Alliance Imports/Exports.

Alguma coisa nisso despertou uma conexão na sua mente, mas ela não era capaz de dizer o porquê.

Antes que ela pudesse refletir mais, a sua atenção se voltou para um homem saindo pela entrada lateral do prédio. Ele era alto e magro com cabelo grisalho raleando. Keri estimou que ele estivesse nos seus cinquenta e poucos anos.

Ele estava caminhando depressa para uma van cinza sem adesivos no estacionamento. Ele a destrancou e abriu a porta de correr na lateral e então retornou para a construção trotando.

Keri se aproximou pela calçada na rua, mais do que apenas um pouco suspeita. Ela tentou ficar agachada, escondendo-se atrás de um carro, depois de outro. Quando ela estava prestes a pular para o terceiro, o homem apareceu a vista. Mas dessa vez, não estava sozinho.

Ele estava puxando o braço de uma jovem garota maltrapilha, por volta dos treze anos de idade, com cabelo loiro e curto e pele tão pálida que não devia ter sido exposta ao sol por anos. Mesmo àquela distância, ela podia ver um relance de verde naqueles olhos.

Era Evie.


CAPÍTULO DEZENOVE


Keri sentiu uma mistura de emoções que ela não sabia que podiam coexistir todas de uma vez: esperança, alegria, fúria, medo e determinação. Ela levantou do lugar onde se escondia atrás do carro e começou a correr em direção a sua filha, tirando sua arma do coldre enquanto isso.

Ela ainda estava a uns bons quarenta metros dela quando os homens a avistaram. Sem uma palavra, ele largou o braço de Evie e a empurrou para a van. A garota olhou para ver o que o deixara tão agitado e viu sua mãe correndo em direção a eles.

“Evie!” gritou Keri.

Os olhos de sua filha se arregalaram chocados.

“Mamãe?” ela disse, sua expressão era tão familiar e tão alienada ao mesmo tempo.

Antes que ela pudesse dizer outra palavra, o homem a enfiou na van e fechou a porta. Ele estava abrindo a porta do motorista quando Keri ergueu a arma. Ela pensou em atirar, mas se preocupou que pudesse acertar Evie acidentalmente. Ele bateu a porta e deu partida no carro.

“Mamãe! Mamãe!” gritava Evie de algum lugar dentro da van.

De repente, pelo para-brisa, Keri viu o homem tirar uma arma.

“Se afaste ou eu atiro nela” ele berrou.

Por um breve momento, Keri considerou atirar de qualquer forma. Ela tinha um bom tiro e não saberia se algum dia teria outra chance como essa.

Mas e se ele acertar Evie? Eu não posso arriscar.

Keri manteve sua arma acima da cabeça, apontando para o céu. Devagar, ela deu um passo para trás.

“Está certo. Nós podemos resolver isso,” ela disse, tentando manter a voz calma.

“Largue sua arma agora,” ele gritou.

Isso não está funcionando. Ele se sente encurralado. Ele poderia fazer qualquer coisa agora.

“Está bem. Estou colocando no chão.”

Ela colocou a arma gentilmente no chão e deu outro passo para trás.

“Mamãe! Ajude-me! Eu te amo!” gritou sua filha.

“Cale a boca ou eu vou atirar na sua mãe até a morte,” rosnou o homem.

Evie ficou em silêncio.

O homem engatou a marcha e acelerou, mirando bem na direção de Keri.

Ela mergulhou para fora do caminho, quase não evitando ser atingida.

Enquanto ele arrancava, ela observou a placa do carro, guardando os caracteres na memória. Então ela pegou sua arma e correu para seu carro, pronta para iniciar a perseguição e avisar o número da placa a todas as agências da força policial do Sul da Califórnia.

Ela colocou o cinto de segurança e deu partida no carro. De alguma maneira, apesar do caos e desespero da situação, ela ainda se sentia serena.

Todo seu treinamento começou a funcionar e ela foi capaz de colocar a emoção do momento de lado e focar na tarefa imediata. Era a melhor maneira de salvar Evie.

Enquanto prendia o cinto de segurança, ela escutou uma derrapagem e olhou o que era. A van tinha dado a volta e estava retornando. Talvez o cara tivesse percebido que ele seria pego com certeza, a não ser que ele abatesse Keri. Ela não conseguia pensar em nenhum outro motivo pelo qual ele retornaria. Ela mirou a arma nele pela janela.

Ele estava a cerca de quinze metros de distância quando ela percebeu que ele iria bater de frente e não havia nada que ela pudesse fazer. Ele estava a pelo menos cinquenta quilômetros por home. Ela não tinha tempo de sair de carro. E mesmo que ela atirasse nele, ele ainda iria acertá-la.

Tudo que ela podia fazer era se segurar.

O impacto da colisão arremessou suas costas contra o banco e em seguida de volta no airbag. O barulho dos capôs se esmagando era ensurdecedor. E então, por alguns longos segundos, não havia barulho algum, somente o silvo de vapor saindo do motor dela.

Ela levou um momento para ver se alguma coisa estava quebrada. Seu pescoço doía, mas fora isso, a única dor que ela sentia era aquela que estivera lidando por toda a noite.

De repente, houve outro barulho de metal raspando. Com o airbag bloqueando sua visão, Keri não conseguia ver, mas sabia que o cara estava dando ré. Ela não sabia se ele estava partindo ou se estava se preparando para acelerar em sua direção novamente.

Olhando de relance para baixo, ela viu que ainda tinha sua arma na mão direita. Ela a levantou, pressionou-a contra o airbag e atirou. O barulho do estouro era alto e soava como uma bomba caindo a sua frente. Quando a

coisa desinflou, ela tentou empurrar para o lado para que pudesse ter uma visão melhor do que estava acontecendo.

Ela viu luzes vermelhas e mirou na direção. Tomou um tempo para processar que eram as luzes de freio da van, que reduziu a velocidade e virou a esquerda no final da rua. Aparentemente, o homem decidira que ele tentaria fugir depois de tudo. Ela achou que pudesse ter ouvido a voz de Evie chamando por ela à distância

Keri colocou o pé no freio, engatou o carro e pisou no acelerador. Nada aconteceu. Ela pressionou com mais força. O motor engasgou e morreu.

Com um sentimento de pavor de que não conseguisse perseguir o homem, Keri buscou o rádio da polícia para dar entrada no número da placa. Mas ela estava tendo problema em segurar o receptor. A visão dela estava embaçada e sua mão se sentia pesada.

Eu acho que devo estar com uma concussão ou algo do tipo.

Foi o último pensamento antes que perdesse a consciência.


CAPÍTULO VINTE


Keri estava sentada quase entorpecida na parte de trás do carro de polícia, que a levava para o seu apartamento. Tudo o que tinha conhecido desde que ela recobrou a consciência pareceu ser parte de um sonho, do qual estava meio participando e meio assistindo.

Ela fora acordada por outro motorista que passava pelo seu carro esmagado e esfumaçado. Dentro de minutos, um alvinegro chegou e coletou tudo que ela conseguiu relembrar: a descrição do homem e de sua van, a placa do carro e, é claro, todos os detalhes minuciosos da aparência de Evie.

Enquanto descrevia tudo para os outros policiais, ela sentia que estava debaixo d’água. Eles pareciam reluzentes e vagos e suas vozes soavam distantes. Ela sabia que ela devia estar sobrecarregada com desespero por sua filha ter sido arrancada dela uma segunda vez. Mas ela não parecia conseguir encontrar qualquer emoção internamente, muito menos algo tão intenso quanto desespero.

Alguém procurou o Tenente Hillman, que repassou a história do caso sobre garota desaparecida. Mesmo no seu estado enfraquecido, Keri notou que os policiais ao redor pareciam se agilizar e agir com maior propósito quando tomaram conhecimento da situação por completo.

Foi Hillman quem mandou que fosse dada uma carona para Keri até a delegacia e disse que iria retornar a Keri em pouco tempo com uma atualização. Somente quando os policiais deixaram a cena com ela no banco de trás, ela insistiu que fosse levada para casa ao invés da Divisão Pacífico. Ela pensou que eles poderiam discutir, mas algo no seu tom de voz deve os ter alertado e eles concordaram sem questionar.

Keri tentou acelerar seu cérebro, para fazê-lo trabalhar mais rápido e de maneira mais eficiente. Ela sabia que era um momento crítico e que ser um zumbi perambulando era contra produtivo. Mas ela não parecia não conseguir fazer qualquer coisa a respeito.

Suas mãos estavam tremendo e elas as enfiou nos bolsos do casado. Sua mão direita se chocou em algo e ela tirou do bolso. Era um dos postais do apartamento de Wickwire. Ela deu uma olhada no endereço de devolução.

Dizia Tucson, Arizona.

Algo sobre isso chacoalhou em seu crânio. De alguma maneira, era

importante.

Tuscson é o endereço de devolução. Mas não é real. Tucson é onde a garota está. A garota está escondida ali. Não escondida, mantida.

Seus pensamentos ainda estavam emaranhados, mas um deles se sobressaiu e quase gritou para ela.

Esses cartões postais dizem aonde as garotas estão sendo mantidas. Mas Cave sabe que eu sei. Ele vai movê-las. Eu tenho que salvá-las.

Mas ela não estava certa sobre como fazer isso, além de apenas desejar que acontecesse. Ela encarou o endereço, esperando que a resposta surgisse na sua cabeça de algum jeito.

Foi quando o celular tocou. Ela olhou na tela e viu que era Hillman.

“Tenente?” ela disse.

“Oi, Locke, como você está indo?” ele não soava como normalmente.

Ela estava sendo agradável. Ela ignorou isso e se apressou para dizer seu pensamento antes que ela o perdesse.

“Tenente, o Colecionador escreve os endereços para onde ele levou as garotas que ele raptou em cartões postais. Eu os encontrei no apartamento dele. Mas estão codificados. Eu decifrei. Foi assim que encontrei Evie.

Mas o advogado que estava trabalhando com o Colecionador sabe que eu descobri. Ele está ligando para os cativeiros e avisando-os para deslocar as garotas. Eles estão por todos os estados no oeste. Você tem que ligar para os departamentos de polícia de cada cidade e coloca-los para ir até essas casas agora.”

Ela disse isso tudo de uma só vez para que não se esquecesse de nada.

Ambos os policiais na frente olharam com estranhamento para ela, mas ela podia entender por que. Hillman esperou um longo tempo antes de responder.

“Detetive, você está bem? Você não soa normal.”

“Eu estou bem. Só fui nocauteada várias vezes essa noite. Se eu te der a chave do código, você pode entrar em contato com essas jurisdições?”

“Claro,” ele respondeu, sua voz ainda estava esquisita.

Keri continuou e repassou os padrões de substituição de letras e números para ele. Ela descobriu que, enquanto ela estivesse focada na tarefa, seus pensamentos ficavam bem claros. Mas no segundo que ela tomava para se recompor, ficava tonta novamente. Então ela parou de fazer intervalos.

Depois de dez minutos, Hillman tinha todos os endereços e os deu à

equipe para começar a fazer as ligações. Keri olhou para fora da janela.

Levou um tempo para se orientar, mas uma vez que conseguiu, percebeu que estava apenas a alguns minutos da sua casa.

“Keri,” Hillman apoiou hesitante, “você gostaria de uma atualização da nossa busca por Evie?”

“Isso seria bom,” disse ela, imaginando por que ele não apenas entrou no assunto como ele normalmente fazia.

“Certo. Nós localizamos a van que a raptou a cerca de vinte quilômetros de onde você a encontrou em um estacionamento do Walmart.

Infelizmente, ela não estava mais lá. Mas o motorista estava. Ele bate com a descrição que você deu, cinquenta anos, magro, grisalho, alto. Ele estava morto, alvejado na cabeça.”

“Nossa! Quem fez isso?” perguntou Keri.

O breve silencio antes da resposta de Hillman sugeriu que ele achou a pergunta pouco comum.

“Nós conseguimos as imagens da loja há pouco. Parecia que o cara da van estava esperando por alguém. Mas um homem com uma máscara de esqui se esgueirou pela porta do motorista e atirou nele. Então ele pegou Evie e a carregou para um Linclon Continental preto. Ele a colocou no porta-malas e arrancou. O carro não tinha placa ou qualquer característica distintiva. Conseguimos rastreá-lo com as câmeras para um estacionamento a alguns quarteirões da loja. Mas quando nosso pessoal vasculhou o estacionamento, o carro não estava lá. Então não sabemos o que aconteceu com ele. Sinto muito.”

“Como você sabe que era um homem?” perguntou Keri.

“O quê?”

“Como você sabe que a pessoa com a máscara de esqui era um homem?”

“Eu não sei ao certo. Pareceu que sim pelo tamanho e forma. Você escutou o que eu disse antes, Keri?”

“Escutei. Você disse que um sujeito mascarado matou o cara que estava com minha filha, a pegou e agora estão ambos desaparecidos. Entendi certo?”

“Sim.”

“Certo, Tenente. Eu entendo. Parece que você fez tudo o que podia. Não há pistas a seguir no caso Evie e Sarah Caldwell. Não há nada mais o que fazer. E eu estou muito dolorida e cansada com tudo que aconteceu hoje.

Eu não estou indo para a delegacia. Eu vou apenas ir para casa e descansar um pouco.”

“Mas Locke, eu estou preocupado que... ”

Keri desligou e ficou em silencio pelo resta da viagem até sua casa, ignorando os olhares preocupados dos dois policiais no banco da frente.

Quando eles a deixaram, alguns minutos depois, ela deu a volta pelo corredor e subiu as escadas para o segundo andar. O apartamento dela, em cima de um restaurante chinês ficou barato, porque Ray era amigo do dono da construção.

Ela estivera ali apenas há seis semanas, mas já se deu bem com o amigável pessoal da cozinha do restaurante, que a ofereciam comida de graça de vez em quando. A situação era muito melhor que no seu ultimo apartamento, uma casa flutuante mal acabada e sem chuveiro, aportada na marina.

Keri entrou, tirou a câmera escondida do quarto dela e a escuta da sala de estar, jogou ambos na banheira e ligou a água. Quando ela estava certa de que estavam estragados, ela retornou para a sala de estar e desabou no sofá de dois lugares, de frente para a televisão desligada. O relógio marcava 2:12 da madrugada. Ela estava tentada a apenas deitar e dormir, mas ficou com receio de não conseguir lidar com seus pesadelos.

Ela pensou em ligar para Ray, mas depois do ataque no motel e da lesão no pescoço, ela achou que ele precisava de descanso para que estivesse com força total quando interrogasse Chiqy após a cirurgia.

Ao sentar quieta, no apartamento escuro, sozinha e imóvel pela primeira vez em horas, sua cabeça começou a clarear um pouco. Ela também doía.

Sabia que provavelmente tivera uma concussão, a qual estava, parcialmente, causando seus soluços mentais e seu desapego emocional.

Mas ela suspeitou que este último também estivesse acontecendo, porque, caso ela se permitisse compreender completamente tudo o que Hillman dissera, ela iria se despedaçar em um milhão. E depois de tudo que tinha acontecido, ela duvidou que ela seria capaz de se recompor novamente. Se ela se deixasse cair no sofrimento que estava circundado nas bordas do seu coração, ela estaria perdida para sempre.

Ela se levantou e foi pegar um copo d’água. Enquanto se servia, olhou o bloco de notas no balcão. Isso a lembrou que ela deveria encontrar Mags para o almoço amanhã. Isso com certeza estava fora de cogitação.

Margaret “Mags” Merrywether era a única amiga mulher de verdade que Keri tinha fora do trabalho. E até essa amizade era nova. Elas se encontraram quando Keri estava investigando o desaparecimento de uma abastada socialite de nome Kendra Burlinggame. Kendra e Mags eram amigas íntimas e Mags ajudou um pouco com a investigação.

Depois que Keri descobrira quem assassinou Kendra, a única coisa que sobreviveu ao caso era a conexão que Keri fizera com Mags.

Mararet Marryweather era uma contradição ambulante. Uma alta, atraente, sofisticada divorciada do Sul com cabelo vermelho flamejante, ela era também a cronista de um alternativo jornal semanal da região, escrevendo sob o pseudônimo de “Mary Brady”. Por razões que ela não conseguia entender direito, Keri sentiu uma vontade repentina de ligar para ela.

Sem pensar sobre isso, ela pegou o telefone e discou. Ela se arrependeu quase imediatamente quando escutou a voz sonolenta de Mags.

“Keri?” ela disse um pouco confusa.

“Oh, me desculpe, Mags. Eu esqueci que horas são. Volte a dormir.”

“Não, espera. Agora eu estou desperta. O que está acontecendo, querida?”

“É só que, você sabe, eu tive um dia realmente terrível. Eu venho tentando encontrar essa garota desaparecida e não tem ido muito bem. E

então, eu tinha uma pista da Evie, minha filha, que foi raptada há alguns anos...”

“Eu sei tudo sobre isso, docinho,” disse Mags reconfortante.

“Bem, eu a encontrei. Mas antes que eu pudesse tê-la de volta, o homem que estava com ela bateu no meu carro e fugiu, agora ele está morto, baleado por alguém em uma máscara e ela se foi mais uma vez e meu chefe diz que ela não sabem onde...”

De repente, ela estava soluçando descontroladamente. Tudo que ela estivera tentando segurar saiu de uma vez. Lágrimas rolaram por suas bochechas. Seu nariz estava escorrendo e ela sentiu feixes de saliva pingando dos seus lábios. Ela não ligava para nada disso.

“Você vai ficar bem,” ela escutou Mag sussurrar docemente do outro lado da linha. “Você vai ficar bem, querida.”

“Não vou, Mags. Esse é o ponto. Tudo o que me manteve seguindo esses últimos anos tem sido a certeza de que um dia eu encontraria Evie; que eu

a traria de volta para casa e seria a mãe que ela merece. Mas isso está acabado. Ela se foi. Não há pistas. Quem é que tenha feito isso, era um profissional e não deixou rastros. Eu não nada para seguir. Eu falhei com ela, Mags. Eu falhei com minha filha, outra vez!”

“Por que você não vem pra cá, querida? Eu posso fazer um chá e nós podemos conversar.”

“Mags,” disse Keri, ignorando a oferta, “talvez você possa escrever algo.”

“O que você quer dizer?”

“Você poderia escrever uma coluna que atraísse o homem mascarado e nós poderíamos armar algum tipo de armadilha... Eu não sei exatamente como, mas nós podemos pensar em algo.”

“Keri, fora as questões éticas, eu não saberia nem por onde começar. Eu quero ajudar, mas não vejo como qualquer coisa que eu possa escrever venha ter algum impacto.”

“Sobre o que você está falando?” demandou Keri. “Uma das suas colunas derrubou o vice-prefeito. Você pode fazer uma grande diferença.”

“Mas eu sabia com que eu estava lidando no caso. Neste, eu não tenho sequer uma noção. De toda forma querida, não vamos cair em uma discussão sobre isso. Por favor, deixe-me...”

“O que você quis dizer com considerações éticas?” interrompeu Keri.

“Quais considerações?”

“Eu só quis dizer que um jornalista normalmente não usa seu trabalho como isca para pegar um criminoso.”


Keri parou por tempo suficiente para engolir, longo o suficiente para se exasperar.

“É da minha filha que estamos falando, Mags!”

“Eu sei, Keri. Eu não quis dizer nada com isso. É só.... você me pegou de surpresa, querida.”

“Desculpe se te incomodei,” disse Keri.

“Não precisa dizer isso. Eu sinto muito, Keri. Por favor, vamos continuar falan...”

Keri desligou. Chegou uma chamada de Mags alguns segundos depois, mas ela recusou. Uma mensagem surgiu em seguida, mas Keri nem olhou, jogando o celular na mesa do café.

Ela engoliu o que restava da água e foi até o armário, onde guardava

uma garrafa de Glenlivet pela metade, que a encarava. Ela não tocava na coisa fazia um mês e conseguia sentir a diferença. Ela dormia melhor.

Sentia-se melhor. Até tinha um visual melhor.

Mas bem agora ela não ligava para nada disso. Ela abriu a garrava e despejou no copo até que quase transbordasse. Ela levou aos lábios e tomou um gole. Então outro. E enquanto ela escutava o toque de outra mensagem de Mags, ela começou a virar tudo.

*

Quando Keri acordou com o toque da chamada de Ray no celular, demorou um segundo para se situar. Fracos raios de luz entravam pelas aberturas das cortinas. Sua cabeça pesava. Eventualmente ela percebeu que estava deitada no chão em frente ao sofá da sala de estar, de onde ela deve ter escorregado na noite passado.

Ela procurou pelo telefone. O relógio marcava 6:08 da manhã. Ela começou a beber por volta de 2:15 e apagou logo depois disso. Então ela estimou que tivesse dormido cerca de três horas e meia. Parecia correto.

“Alô,” ela disse calmamente no telefone, um pouco assustada com a própria voz.

“Você está vestida?” perguntou Ray, sua voz crescente, fez os dentes dela ranger.

“Por quê?”

“Porque vou estar no seu apartamento em dez minutos,” disse ele. “Nós temos uma nova pista no caso Sarah Caldwell.”

“Como?”

“Eu fiz o Chiqy falar.”


CAPÍTULO VINTE E UM


Sentada no banco do passageiro no carro do Ray quinze minutos depois, Keri manteve sua atenção nas faixas da rua à frente dela, respirando o ar frio da manhã pela janela aberta, esperando que a combinação evitasse que ela vomitasse.

“Nós vamos falar sobre isso?” perguntou Ray do banco do motorista.

“Sobre o que?”

“Sobre Evie, Hillman me atualizou.”

“Eu não posso, Ray,” disse Keri, olhando para fora da janela do passageiro para as construções passando em um zumbido. “Ainda não.”

“Certo. Podemos falar sobre outra coisa?”

“O que seria?”

“Hillman disse que você parecia bem fora de si noite passada. Ele estava preocupado com você.”

Keri suspirou e se virou o olhar para ele. Ele já não usava o colar cervical da noite passada e seus olhos não estavam tão vermelhos como antes. Fisicamente, ele parecia estar em uma condição decente.

Mas sua fronte estava franzida e seus lábios contraídos. Ela quase se sentiu mal por ele. Ele estava tentando tão desesperadamente descobrir o que estava acontecendo com ela, mas estava com medo de dizer algo errado.

“Eu tenho certeza que arrumei uma concussão na batida. E eu meio que desliguei depois... que eles se foram. Então, eu não estava em excelente condição para conversar.”

“E você está melhor agora?” Ray perguntou cético.

“Relativamente. Por quê?”

“Porque você cheira como uma destilaria,” ele disse abruptamente.

Ela lhe deu um olhar esmorecido, mas não respondeu. Ele continuou.

“Eu só quero ter certeza que você está pronta pra isso.”

“Eu nem sei o que isso é,” ela o recordou.

“Eu te disse, eu tenho uma pista do Chiqy.”

“E como exatamente você o fez ficar tão comunicativo?” perguntou Keri, suas sobrancelhas se levantaram.

“Não tenho liberdade para dizer.”

“Sério? Você não vai me contar?”

“É melhor você não saber, Keri. Assim você pode dizer a verdade quando o Assuntos Internos te questionar.”

“Jesus, Ray, Assuntos Internos? Que diabos você fez, quebrou o outro cotovelo dele?”

Ele não respondeu e eles ficaram sem dizer nada por uns bons dois minutos. Nenhum deles se importava. Eles não estavam com raiva. De fato, o silêncio era confortável. Ray falou.

“Nós somos uma dupla e tanto, não somos?”

“Sim, nós somos mesmo.” concordou Keri.

Ray pegou a Rodovia 405 no Culver Boulervar e se dirigiu para o sul.

“Se importa em dizer para onde estamos indo?”

“Uma parada de caminhões em Tustin. Chiqy mencionou um caminhoneiro que deveria transportar Sarah e duas outras garotas para uma reunião por lá. Supostamente, ele as entregaria para um cara em com um caminhão de carga vermelho, que iria levá-las a algum lugar chamado Lugar Ruim.”

“O que é o Lugar Ruim?” perguntou Keri.

“Ele não sabia muito sobre o lugar, somente que era o lugar para onde as garotas problema eram levadas. Eu tentei extrair a localização dele, mas ele não sabia.”

“Você está certo disso?”

“Eu fui bem... convincente na minha interrogação. Ele entregou tudo o mais. Se ele soubesse onde esse lugar ficava, certamente teria me dito.”

“Então, pelo que estamos procurando exatamente?” perguntou Keri com seu humor, se não seu estômago, um pouco melhor por ter uma pista.

“O nome do caminhoneiro é Curt Stoller. Edgerton me enviou essas fotos do Departamento de Trânsito e informações sobre o veículo.

Infelizmente, por agora ele já, quase com certeza, entregou as garotas para quem é que estivesse dirigindo o caminhão vermelho. Patterson está verificando as imagens das câmeras da parada de caminhões nesse momento, tentando identificar qualquer caminhão de dezoito rodas vermelho.”

O Detetive Garrett Patterson era o braço direito de Edgerton. Apelidado de “Trabalho Duro”, Patterson era um cara baixo, estudioso, por volta dos trinta, que adorava se ater a detalhes que entediavam praticamente todos os outros. Ele era, definitivamente, o homem para esse trabalho.

“É um começo,” disse Keri com mais entusiasmo do que sentira em horas. “Talvez ele tenha algo para nós quando chegarmos lá. O que estou pensando é se há alguma informação nesse Sr. Holiday.”

“Eu pensei a mesma coisa,” disse Ray. “Suarez colocou no sistema o nome e a descrição física que Lanie nos deu e a busca foi completamente em vão. Eu não posso acreditar que alguém que comanda uma operação de tráfico sexual desse porte nunca foi pego nem ao menos identificado. É

como se fosse um fantasma.”

“Isso é estranho,” Keri concordou. “Ou ele é muito sortudo ou muito bom. Falando em Lanie, eu estava pensando em ligar para os Caldwells para me apresentar e ver se aquelas letras arranhadas que eu encontrei na cabeceira significam alguma coisa para eles. Você acha que é cedo demais?”

Ray olhou no relógio do carro.

“Não são nem seis e meia. Eu espero que eles tenham conseguido dormir por algumas horas. Se você ligar, vai deixa-los irritados sem nada que valha a pena compartilhar. Talvez mandar uma mensagem para eles quando estivermos perto de Tustin?”

“É, parece melhor. É uma linha tênue, sabe, tentar manter os pais informados, mas não deixa-los loucos.”

Enquanto ela falava, percebeu que não estava falando apenas dos Caldwells. Ray sabia isso também e tentou abordar delicadamente outra vez.

“Escute, Keri, eu sei que você entrar nisso. Mas se você mudar de ideia, eu estou aqui, certo? Eu estou sempre aqui para você. Você sabe disso, certo?”

“Eu sei e agradeço. Mas ela se foi, Ray. Eu estava tão perto. Eu a vi. Ela me chamou. E agora não há pistas e não há nada que eu possa fazer a respeito. E eu não posso me deixar processar isso agora. Se eu o fizer, eu acho que isso pode me derrubar. Eu tenho apenas que colocar isso em uma caixa e focar no que está a minha frente. É a única maneira que eu posso sobreviver a isso.”

“Eu sinto muito,” Ray disse quietamente.

“É, eu também. Mas aceitar isso, me ajudou a tomar uma decisão.”

“E qual é?”

“Eu posso não ser capaz de salvar Evie,” ela disse a ele. “Mas eu ainda

tenho uma chance de salvar Sarah Caldwell, de trazê-la de volta para os pais dela. E se eu tiver que ir para o inferno e arrastá-la para fora, é o que eu vou fazer.”


CAPÍTULO VINTE E DOIS


Keri estava ficando ansiosa. Eles estavam apenas a alguns minutos da parada de caminhões e Pattern ainda não precisara para qual caminhão vermelho Curt Stoller poderia ter transferido as garotas. Após enviar uma mensagem para o celular de Mariela Caldwell, ela ligou para Patterson pela terceira vez em menos de uma hora. Ray olhou para ela hesitante.

“Keri, você não acho que ele teria nos ligado se tivesse algo?”

“Aquele cara se perde tanto nos detalhes, que pode ter esquecido. Eu vou dar um empurrãozinho nele.”

“Você vai dar uma úlcera a ele,” Ray contrapôs. Mas era tarde demais.

Detetive Patterson já tinha atendido.

“Estou trabalhando nisso,” ele disse antes que ela pudesse falar.

“É, bem eu vou te ajudar a trabalhar nisso, Garret, porque nós estamos quase lá. Você encontrou o caminhão do Stoller, certo?”

“Sim,” disse ele. “Eu o vi dirigindo em uma câmera de segurança, ele passou pela construção central e foi para um grande estacionamento nos fundos.”

“Ótimo. A que horas foi isso?”

“Por volta de quatro da manhã,” ele respondeu. “Mas tem mais de cinquenta caminhões por lá e todas as câmeras estão instaladas em prédios a centenas de metros. Não há como ver as cores dos veículos, muito menos as placas.”

“Certo, vamos tentar de outro jeito então,” ela sugeriu. “Eu aposto que há mais que apenas três garotas sendo transportadas naquele caminhão vermelho e eu duvido que os motoristas vão querer se reunir em um lugar congestionado e público por muito tempo a mais que o necessário. Então procure por caminhões vermelhos que chegaram menos de uma hora antes da chegada de Stoller e saiu em menos de um hora depois de chegar.”

“Verificando,” disse Patterson, obviamente satisfeito em ter outro plano.

Keri olhou para Ray enquanto esperavam e lhe deu seu melhor olhar de

“eu te avisei”. Ele mostrou língua para ela.

“Como está indo Garret?” ela perguntou depois de esperar em silencio por dois minutos. “Nós estamos saindo da rodovia agora.”

“Certo, eu encontrei três caminhões vermelhos que se encaixam no seu critério. Kevin está cruzando as placas para ver se algum dos motoristas

tem passagem pela polícia.”

“Edgerton?” perguntou Keri ansiosa.

“Paciência, por favor,” ele disse irritado pelo viva voz. “Mesmo gênios precisam de um momento ou dos.”

“Dê uma folga,” Ray murmurou para ela. “Eles passaram a noite toda acordados.”

“Consegui!” gritou Kevin. “Dos três motoristas, somente um tem passagem. Ele foi pego três vezes, todas as condenações por tráfico de drogas. O nome dele é Reginald Jones. Estou enviando as informações dele agora.”

Ray chegara à parada de caminhões, mas encostou no acostamento da estrada, esperando por instruções.

“Bom,” disse Keri. “Edgerton, nos precisamos saber em qual direção esse caminhão foi.”

“Verificando as imagens agora. Ele foi para o norte na Rodovia 5. Então, pegou a 55 norte para a 91 leste. É a última posição que nós temos dele. A cerca de dez minutos atrás, ele estava se aproximando da 241, em direção a Corona.”

“Isso parece estranho,” notou Keri. “Por que um cara as levaria para o sul somente para leva-las em seguida para o nordeste?”

“Talvez esse Sr. Holiday tenha mandado,” sugeriu Ray enquanto voltava para a estrada e fazia uma volta em U. “Ele parece muito bom em compartimentalizar informações.”

“Apesar disso,” interferiu Edgerton, “se você pegar a 241 e se apressar, vocês podem ser capazes de cortá-lo próximo a 71.”

“Já estou trabalhando nisso,” disse Ray enquanto ligava a sirene e pressionava o acelerador.

*

Menos de vinte minutos depois, Ray e Keri, juntamente com mais meia dúzia de carros de polícia do Departamento do Xerife do Condado de Orange, avistavam o caminhão. Infelizmente, o motorista estava bem ciente deles e não parecia interessado em encostar.

De fato, ele tomou tanta velocidade que em um determinado momento atingiu cento e sessenta quilômetros por hora.

“Recuar,” Keri gritou no rádio. “Se as garotas estão naquele caminhão e ele bater, nenhuma delas vai sobreviver.”

Os carros fizeram como ela mandara e a princípio parecia que o caminhão estava diminuindo também. Mas ficou rapidamente aparente que ele estava diminuindo por outro motivo.

“Ele está saindo pela Green River Road,” anunciou um dos adjuntos do xerife.

Certamente, o caminhão deu uma guinada na rampa de saída e avançou por ela, ignorando qualquer tráfego em potencial.

“Aonde essa estrada leva?” perguntou Keri a qualquer um que soubesse.

Eles estavam indo para bem longe dessas bandas. Um adjunto qualquer respondeu.

“Ela segue a fronteira leste da Floresta Nacional de Cleveland antes de se dirigir para o leste e se reconectar com a Rodovia 15. Com sorte, não há muito tráfego por lá a essa hora do dia.”

“Nós queremos passar a frente dele e dispor um estrepe?” perguntou outro adjunto.

“Não, é muito perigoso,” insistiu Ray. “Nós podemos apenas esperar a chegada dele.”

Keri se virou para Ray com olhar preocupado.

“Eu não acho que podemos apenas esperar. Quem sabe o que ele pode fazer? Encoste ao lado dele e tente convencê-lo.”

“E se ele estiver armado?” perguntou Ray, sem se convencer completamente.

“Nós teremos outra unidade encostando-se ao lado do passageiro. Se ele tirar uma arma, eles podem abatê-lo. Espero que eu consiga fazê-lo reduzir de forma que o caminhão fique bem se ele for incapacitado.”

“Eu não sei, Keri.”

“Apenas fique atento. Se as coisas forem para o lado errado, você pode sempre apertar o freio. Eu vou repassar a ordem.”

Ela explicou o plano para os adjuntos enquanto Ray se preparava para encostar ao lado do motorista. Enquanto o fazia, Keri abaixou o vidro e tirou o cinto de segurança. Quando estavam bem ao lado do caminhão, ela acenou para o motorista, um afro-americano em torno de seus quarenta anos que olhou incrédulo para ela.

Mas surpreendente, quando ela fez o sinal para abaixar o vidro, ele o fez.

“Reginald,” ela gritou, “nós não queremos que isso termine mal.”

“Não vejo como poderia,” ele berrou de volta. Ela reparou que ele reduziu um pouco, de cem para oitenta. Ray também reduziu para acompanhá-lo.

“Seja qual for a carga que você está levando, não vale a pena morrer por ela. Encoste. Você é claramente apenas um transportador. Entregue seu chefe e talvez você nem cumpra muito tempo. Deixe-me te ajudar.”

“Sem chance de eu cumprir muito tempo se eu entregá-lo,” ele gritou, reduzindo mais para ser ouvido.

“Isso depende em quem é seu chefe. Se ele for um peixe muito grande, você nunca sabe. É melhor que a alternativa.”

“Qual é a alternativa?” ele perguntou.

Ela podia dizer pelo tom de voz dele que ele queria que isso terminasse bem, que ele não tinha qualquer desejo de morte. Ela decidiu jogar por aí.

“Se você não parar, provavelmente termina com você batendo em uma vala ou com uma bala na cabeça.”

“O quê? Por causa de alguns tijolos de coca?”

Keri olhou para Ray, que estava tão chocado quanto ela. Então ela se voltou para Reginald, que estava agora mal a cinquenta quilômetros por hora.

“Reginald, você está me dizendo que você está transportando apenas drogas?” ela perguntou.

“O que mais eu teria?”

“Garotas, garotas menores de idade.”

“Eu não tenho garota nenhuma aqui!”

“Prove-me,” demandou Keri. “Encoste. Nós estamos procurando por garotas sequestradas. Se você não estiver com elas, então seu dia pode não terminar tão mal.”

Logo em seguida, Keri olhou de relance para a estrada à frente e viu que ela estava errada. Iria terminar bem mal para Reginald Jones. Ele estava olhando para ela e claramente não viu a curva fechada para esquerda se aproximar. Mesmo nessa velocidade reduzida, ele estava perto demais.

Não havia como escapar.

“Reginald, cuidado!” ela gritou. “Freia!”

Ele olhou para frente e viu o perigo imediatamente. A estrada convergia acentuadamente para esquerda e ele não iria conseguir fazer a curva sem

fazer a tangente para a direita. Ele meteu o pé no freio.

A estrada, na borda da floresta, estava coberta de orvalho da manhã e os pneus não aderiram quando ele freou. O caminhão patinou para fora da estrada e se chocou em uma barragem rochosa antes de voltar a oscilar para a esquerda e capotar.

Ray encostou o carro. Keri saiu antes mesmo de ele ter parado completamente e correu para o veículo. Se ele mentiu e as garotas estivessem no caminhão, seria difícil de imaginar que elas estivessem se saído bem.

Ao chegar mais perto, dois braços apareceram na janela do passageiro, a qual agora mirava o céu. Reginald se puxou para cima e sentou na parte de fora da porta com as mãos para cima.

“É melhor você não estar mentindo para mim sobre não ter as garotas aí, Reginald, ou vou atirar muito em você;”

“Eu não transporto garotas, moça,” insistiu Reginald. “Eu sou um homem das drogas.”

Ray tinha chegado a ela. Depois que retomou o fôlego, ela falou.

“Eu acho que ele está dizendo a verdade.”

“Se isso é verdade, olhe pelo lado bom. Se as garotas estiverem aí, elas estariam em uma péssima condição agora.”

“É,” disse Keri. “Mas se Sarah não está nesse caminhão, onde diabos ela está?”

*

Sarah se lembrou de permanecer calma. Ela já tinha gritado demais. Ela gritou quando acordou há uma hora ao descobrir que estava deitada no chassi de um grande caminhão, acelerando pela via expressa. Ela gritou novamente quando percebeu que ela estava junto com mais de cinquenta outras garotas.

Quando que ela entendeu que o veículo era na verdade um caminhão de gado e que as vacas estavam bem acima dela, os gritos dela eram mais raspões ásperos do que qualquer outra coisa. Ela nem reagiu quando os dejetos animais foram drenados e começaram a pingar nela e nas outras garotas.

Mesmo que fosse dia, tudo era escuro embaixo do caminhão e era

impossível identificar qualquer um naquela massa de corpos. Ela não fazia ideia se Lanie estava ali com ela. E, de qualquer forma, ela estava muito cansada e com frio para chamá-la.

Ela conseguiu se recolocar para que ficasse mais próxima da lateral do chassi. Se ela arrumasse o corpo do jeito certo, ela poderia ver a lateral da estrada entre as lâminas de metal. Ela se segurou em duas chapas e se inclinou para trás para ter um ângulo melhor.

Funcionou. Agora ela conseguiu ver os sinais na margem da rodovia.

Indicavam que ela estava na 5 sul. Isso lhe soou familiar. Mas com a exaustão, desidratação e dor física, em conjunto com o cheiro insuportável de dejetos de vaca, ela não conseguia entender o que isso significava.

Então, ela viu outra placa e tudo ficou claro. Estava escrito: Fronteira Mexicana – 125 km. Foi quando Sarah atinou onde o Lugar Ruim ficava.

Ela e cerca de cinquenta outras garotas estavam sendo transportadas pela fronteira, como rebanho humano, para serem abusadas em algum prostíbulo escondido em outro país.

E foi quando outra descoberta a atingiu. Se ela cruzasse aquela fronteira, nunca veria seus pais outra vez. Ela nunca voltaria para escola. Nunca mais ouviriam falar nela, a não ser que fosse por alguém que tropeçasse na cova rasa onde o Sr. Holiday certamente a jogaria.

E sabendo disso, apesar de não ter voz e nenhuma força, Sarah começou a gritar novamente.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS


Keri sentia que ia arremessar seu celular no painel de controle. Ela precisou até da última gota de autocontrole para se manter firme e continuar a falar em um tom de voz profissional.

“Patterson, eu não entendo como você pode determinar a posição quase exata do caminhão do Reginald Jones, mas consegue perder completamente os outros dois caminhões vermelhos que deixaram a parada de caminhões na mesma hora.”

“Nós não o perdemos,” Patterson disse em um tom que sugeriu que ele estava tentando se manter firme também. “Nós sabemos que ambos pegaram a Rodovia 5 no sentido sul. Mas lá não tem tantas câmeras ao longo desse trecho de rodovia, então está levando mais tempo para definir a posição.”

Keri mordeu a língua. Ela sabia que todas estavam exaustos e no limite.

Forçá-los ainda mais não ajudaria. Era um jogo de espera agora.

“Estou quase sem gasolina,” disse Ray. “Vamos parar naquele posto de gasolina. Eu completo o tanque. Nós podemos fazer uma pausa para o banheiro e fazer a recarga do café. Talvez eles tenham alguma coisa nova até então.”

Keri assentiu. Enquanto saiu da rodovia, ela revisou a situação do caso.

Assumindo que Chiqy estivesse dizendo a verdade, as garotas estavam em um dos dois grandes caminhões vermelhos se dirigindo para o sul na Rodovia 5. Mas em certo ponto a 5 se conectava com a Interestadual 8.

Isso significava que eles poderiam estar indo para o Arizona, San Diego ou possivelmente até o México. Mas sem as imagens da câmera, não havia como dizer com certeza.

Quando eles pararam no posto, Ray bombeou a gasolina, enquanto Keri foi ao banheiro. Ela fez o seu melhor para se refrescar, espirrando água gelada no rosto.

Olhando no espelho pela primeira vez desde que quando acordou do seu sono no chão do apartamento, ela estava chocada com quando ela tinha envelhecido em apenas dezesseis horas. Ontem à tarde, ela estava bem descansada, sóbria por um mês, trinta e cinco anos de idade virando cabeças e resolvendo casos.

Agora ela parecia uma década mais velha. Todo seu corpo doía. Ela

tivera uma recaída com a bebida. Logo seria interrogada por deixar a cena de um crime no qual ela matara o homem que raptou sua filha. Ela tinha quase salvado Evie, apenas para tê-la arrancada de si, possivelmente para sempre dessa vez. E ela não tinha pistas sobre o sequestro de uma garota que ela prometera aos pais retornar.

Não é uma boa continuação.

Ela riu levemente da magnitude de quão fora do controle as coisas tinham saído, então parou, consumida pela culpa.

Ela entrou na loja de conveniência para pegar um café grande e um salgado que pudesse devorar antes de tomar mais algumas das pílulas de analgésico que a socorrista tinha lhe dado na noite passada.

Olhando para o celular, viu que eram 8:15 da manhã, mais de uma hora desde que ela enviou uma mensagem e um foto dos arranhões na cabeceira da cama aos Caldwell. Ela estava surpresa que ela não tinha tido resposta deles e esperava que isso significasse que estivessem em sono profundo.

Nos dias depois que Evie foi raptada, aquele era o único momento no que ela conseguia parar a dor de tê-la perdido. E algumas vezes nem naquela hora.

Ela retornou para o carro e esperou pela volta de Ray. Bem quando ela estava terminando seu bolinho de maçã, Mags ligou. Ela pensou em deixar cair na caixa postal de novo, mas decidiu o contrário e atendeu.

“Alô,” ela disse.

“Oi, Keri,” respondeu Mags, sua voz normalmente calma sufocada com emoção. “Eu sinto muito. Eu lidei mal com as coisas na noite passada.

Desculpe-me, por favor.”

Keri estava acostumada a ouvir desculpas mascaradas, cheias de frases como “se eu te ofendi”. Essa não tinha nada daquilo e a pegou de surpresa.

Ser petulante em frente a tamanho remorso parecia pequeno.

“Claro que eu te perdoo.”

“Muito obrigado. Eu não dormi uma piscada desde que nos falamos.

Minhas vísceras têm borbulhado como uma panela de lagostas cozinhando.”

“A mesma coisa por aqui,” admitiu Keri, apesar de não captar a referência por completo.

“Bem,” Mags continuou, “Eu não poderia deixar as coisas assim. Eu tinha que fazer algo. Então eu tive uma ideia. E acho que ela pode ter feito

algum bem.”

“O que você quer dizer?” perguntou Keri confusa.

“Certo, me escute, querida. Tudo isso fará sentido em um instante. Dois anos atrás, eu estava trabalhando em uma matéria sobre tráfico sexual na cidade. Eu nunca fui capaz de publicar, parcialmente porque não compreendia alguns dos detalhes de forma sólida o suficiente. E

parcialmente porque meu editor estava preocupado que eu pudesse enfrentar alguma retaliação.”

“Que tipo de retaliação?” perguntou Keri.

“Do tipo permanente. Você deve se lembrar de que Lawrence Keneally escreveu uma história similar a cerca de seis anos atrás no Times. Uma semana depois, o carro dele explodiu na garagem quando ele deu partida.”

“Seus editores achavam que você estava em risco mesmo escrevendo sob um pseudônimo?”

“Sim,” disse Mags. “Isso não fornece muita proteção. E desde que eu não tinha evidências sólidas que bastassem para dar nomes aos bois, não parecia valer o risco.”

“Certo. E como isso me afeta?”

“Parte da sua descrição do que aconteceu na noite passada, um cara sendo baleado por um homem mascarado, se encaixa no modus operandi de alguém sobre o qual ouvi na minha pesquisa. Ele era conhecido como Viúvo Negro. Supostamente, os mandachuvas o contratam para limpar a sujeira deles. E seu método padrão era um tiro na cabeça. Alguma chance de ele ter deixado a cena em um Lincoln Continental preto sem placas?”

“Sim!” Keri quase gritou.

“Eu suspeitei que sim. Aquilo é parte do seu hábito também. Ele esteve fazendo isso por anos. Mas como ele é um mercenário, ninguém consegue estabelecer um padrão para seus crimes. A única semelhança é que eles parecem acontecer quando uma bagunça muito grande precisa se consertada.”

“Certo. Eu sinto que tem mais nisso do que você está me contando, Mags.”

“Tem,” disse Mags. “Durante o curso da minha investigação, me foi dada uma forma de entrar em contato com ele se eu precisasse que um serviço fosse feito algum dia. Obviamente, eu nunca precisei. Mas eu sempre a guardei, só no caso. Essa manhã, eu entrei em contato.”

“Como?”

“Craiglist, se você puder acreditar. Eu fui orientada a postar na sessão

“estritamente platônico” de Los Angeles, usando algumas palavras-chave específicas.”

“Você obteve resposta?” perguntou Keri ansiosa.

“Ainda não. Mas foi há apenas algumas horas. Eu ouvi que algumas vezes ele responde no mesmo dia. Algumas vezes leva semanas ou mesmo meses. Algumas vezes ele nunca responde. Mas pelo menos eu joguei a isca.”

“Obrigado, Mags.”

“É claro, querida. Eu quase não o fiz. Eu não quero te dar falsas esperanças, mas soou tão familiar que eu tive que tentar.”

Keri viu Ray saindo da loja. Ele tinha café em uma mão e um burrito de café da manhã na outra. Ela não queria que ele soubesse que ela se confidenciou para Mags e não para ele, então ela começou a finalizar a chamada, quando teve um pensamento.

“Ei, Mags, quando você estava investigando essa história chegou a aparecer o nome ‘Sr. Holiday’ ou algo parecido com ‘Lugar Ruim’?”

Mags ficou quieta por um momento, claramente pensando antes de finalmente responder.

“Não especificamente. Mas eu me lembro de ter entrevistado várias prostitutas adolescentes que falavam em não querer um feriado. Eu as perguntei se elas tinham tentado sair dessa vida e todas usavam a mesma frase ‘eu não quero um feriado’. Soou-me estranho, mas eu nunca soube o que fazer disso. Mas se era uma referência a uma pessoa, pode fazer mais sentido. Eu poderia tentar voltar a falar com elas, mas pode levar um tempo. Como você sabe, essas garotas não são exatamente fáceis de achar.”

“Está bem,” disse Keri, se apressando para encerrar as coisas quando Ray chegou ao carro. “Na verdade eu sei de uma garota que pode ajudar. E

eu sei exatamente onde encontrá-la. Eu tenho que correr, Mags.”

“Claro. Mas nós estamos bem?”

“Estamos bem, Margaret. Eu manterei contato,” ela disse, desligando o telefone quando Ray se sentou.

“Quem era?” ele perguntou.

“Apenas Mags Merrywether dando notícias. Ela me deu uma ideia.”

“E qual é?”

“Você se lembra de Susan Grander, a garota de programa adolescente que eu encontrei em Venice mais cedo esse ano?”

Ele deu um olhar de descrédito a ela.

“Você quer dizer a garota de quatorze anos com um cafetão chamado Crabby que você liquidou? A garota que você tem visitado toda semana desde então no grupo de garotas na Redondo Beach? Sim, me lembro dela, Keri.”

“Só confirmando,” ela disse incapaz de esconder o sorriso sobre quão bem ele a conhecia. “Mags mencionou que várias prostitutas que ela entrevistou para uma história persistiam em usar a palavra ‘holiday’.

Talvez Suzan saiba do que se trata.”

“Vale a pena tentar,” ele disse. “Especialmente, porque não temos nada mais acontecendo. Suarez acaba de me ligar e disse que eles encontraram aquele caminhoneiro que levou as garotas para a parada de caminhões, Curt Stoller. Ele deu a mesma descrição do Sr. Holiday, mas fora isso ele foi quase inútil. Ele disse que essa era a terceira vez transportando garotas e ele sempre seguia a mesma rotina. Deixava a cabine do caminhão destrancada quando chegava a parada de caminhões, então ia para área de descanso por vinte minutos antes de retornar para o caminhão. Disse que quando ele saiu dessa vez, as garotas estavam inconscientes e drogadas.

Quando ele voltou, elas tinham sumido. Ele nunca viu quem as pegou.”

“Foi tudo que extraíram dele?”

“Ele mencionou que Holiday prometeu que se ele continuasse fazendo um bom trabalho, ele poderia passar um tempo em particular com as garotas em algum lugar chamado Lugar Ruim. Mas ele não sabia onde era e não queria pressionar Holiday. Aparentemente, ele está bem amedrontado com esse cara.”

“Ótimo,” disse Keri, frustrada. “Só para ficarmos claros: todos nossos recursos da força policial estão encontrando nada e nós estamos esperando que uma ex-prostituta adolescente possa nos dar uma migalha que possamos seguir?”

“É bem isso,” Ray concedeu.

Keri franziu o cenho enquanto discava o número da casa do grupo de suporte. O telefone foi atendido por Rita Skraeling, a mulher que cuidava do lugar. Keri teria reconhecido a voz áspera, machucada pelo cigarro, em

qualquer lugar.

“Oi, Rita, é a Keri,” ela disse. “Eu preciso falar com a Susan, ela está disponível?”

“Normalmente, eu diria não. Mas para você, qualquer hora. Dê-me um minuto para chamá-la. Ela está cuidando de esfregar o chão.”

Rita deixou o telefone de lado e Keri imaginou a pequena e enrugada força da natureza descendo pelo corredor com seus óculos espessos.

Alguns segundos depois, Susan atendeu.

“Oi, Detetive Locke,” ela disse com a voz cheia de entusiasmo.

Susan percorreu um longo caminho nesses meses, desde quando Keri a encontrou se prostituindo em uma rua de Venice no meio da noite, seu cafetão grotesco apenas a passos de distância.

Levou um tempo para ela acreditar que estava realmente livre daquela vida. Mas com apoio da Sra. Skraeling, da sua terapeuta e das outras garotas no lar, junto com visitas regulares de Keri, ela tinha finalmente saído da concha.

“Oi, Susan,” disse Keri, sabendo que a garota ficaria desapontada que não era uma ligação social. “Como você está?”

“Muito bem,” disse Susan. “Eu terminei aquele livro da Nancy Drew.

Nós podemos conversar sobre ele na próxima vez que você aparecer por aqui. É por isso que você está ligando, para marcar uma visita?”

“Eu espero te visitar em breve. Mas não esse final de semana. Eu estou fora da cidade em trabalhando em um caso. E na verdade, eu estou esperando que você possa me ajudar.”

“Eu ajudar você?” Susan disse excitada.

“É. Mas isso significa me contar algo sobre seu tempo nas ruas. E eu não quero te pedir que você o faça se você não estiver bem com isso.”

“E para o que é?” perguntou Susan, sua voz se tornou cautelosa.

“Eu estou procurando por uma garota que foi sequestrada ontem, ela tem dezesseis,” Keri contou a ela, começando a se arrepender de ter ligado.

“Nós achamos que um pessoal do mal está tentando transformá-la em uma garota de programa e nós estamos tentando achá-la antes que seja tarde demais.”

“O que eu posso fazer sobre isso?”

“Bem, nós continuamos a escutar referências a alguém chamado Sr.

Holiday, que pode estar envolvido no rapto. Esse nome significa algo para

você?”

“Não, me desculpe.”

Keri olhou para Ray, mas ele não estava olhando de volta. Ele estava encarando o próprio telefone.

Evidentemente, alguma nova informação tinha surgido. Ele segurou o telefone para que ela o visse. Era uma mensagem de Kevin Edgerton que lia “Caminhões encontrados. Um ainda continua para o sul em direção a San Diego na Rodovia 5. Outro seguindo para o leste para o Arizona na Rodovia 8. Informe.”

“Você está chateada comigo?” perguntou Susan.

Keri percebeu que ela não tinha respondido a garota e que ela deve ter interpretado o silêncio como raiva.

“Não, Susan, claro que não,” ela disse. “Era um tiro no escuro. Obrigada por tentar.”

“Elas disseram algo mais?”

Keri pensou por um momento.

“Algumas pessoas mencionaram alguma coisa chamada Lugar Ruim.

Parece familiar?”

“Eu escutei sobre ele. Crabby costumava dizer que era o lugar para o qual as prostitutas problemáticas eram enviadas quando pisavam fora da linha várias vezes. Eu não sei nem se é real.”

“Alguma vez Crabby chegou a mencionar onde ficava?” perguntou Keri.

“Sim. Ele disse que ficava no México.”

Keri e Ray olharam um para o outro. Dessa vez ela se certificou em não deixar Susan no vácuo.

“Você tem certeza disso?” ela perguntou.

“Aham. Ele dizia o tempo todo. ‘se vocês aprontarem eu vou ter que mandar vocês para o Lugar Ruim lá no México’. Depois de um tempo eu assumi que era apenas uma história que ele estava inventando. Isso ajuda de alguma forma?”

“Pode ajudar sim,” Keri disse a ela.

“Significa que você pode recuperar aquela garota?”

“Com certeza nós vamos tentar, Susan. E se nós conseguirmos, você será parte do que levou a isso. Eu tenho que ir agora, mas nos falamos em breve, certo?”

“Certo,” Susan disse e Keri conseguia escutá-la sorrindo pelo telefone.

Ela desligou e se voltou para Ray, que ligara o carro e estava saindo do posto de gasolina.

“Sul, eu assumo?” ele disse.

“Sim, sul. Direto até o México.”


CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Keri podia sentir o tempo escapando deles. Mesmo que Ray tivesse a sirene ligada e estava forçando o carro a cento e sessenta quilômetros por hora enquanto rasgavam a rodovia, um sentimento arrepiante de pavor estava tomando conta dela. Se aquele caminhão cruzasse para o México, ela duvidava de que algum dia eles encontrariam Sarah ou as outras garotas.

Eles tinham todos na delegacia no viva voz e, depois de explicar o que eles descobriram, toda a equipe pôs a mão na massa. O tenente Hillman estava ligando para o setor da Patrulha de Fronteira de San Diego requisitando que eles contivessem o caminhão se o encontrassem e para alertá-los sobre a natureza da situação.

Detetive Manny Suarez estava fazendo a mesma coisa com o Departamento do Xerife do Condado de San Diego e com o Departamento de Polícia de San Diego. É claro, era difícil conseguir assistência quando tudo que eles sabiam com certeza das imagens das câmeras de segurança era que o caminhão tinha uma cabine vermelha e um semirreboque branco que dizia “Maersk” na lateral.

Usando as câmeras da rodovia, os Detetives Edgerton e Patterson até agora tinham conseguido rastrear o caminhão apenas em intervalos, porque até recentemente estava em um trecho tranquilo da rodovia em uma viagem cedo pela manhã e em velocidade constante. Mas agora já era depois das 9:00 da manhã e eles entraram na pesada hora do rush de uma grande cidade. As estradas estavam estranguladas com trafego e havia umas dúzias de caminhões Maersk com cabines vermelhas perto de cruzar a fronteira para o México.

Esse era o motivo pelo qual Patterson estava tentando limpar as imagens das câmeras das placas da rodovia para conseguir uma imagem da placa.

Eles sabiam que era da Califórnia e suspeitavam que a primeira letra fosse um “V”, mas não podiam ter certeza. O processo era lento e diligente.

Patterson estava tendo o mesmo problema quando olhava para as imagens tiradas por câmeras de avanço de semáforo através do para-brisa frontal do caminhão. Se o computador pudesse limpar a imagem do motorista, então eles poderiam empregar tecnologia de reconhecimento facial para tentar identifica-lo. Mas agora, era apenas um borrão.

Jamie Castillo estava debruçada sobre as imagens das câmeras de segurança da parada de caminhões, esperando encontrar uma imagem nítida de alguém em um caminhão Maersk vermelho, cruzando com a informação da placa que Edgerton havia extraído até então para ver se batiam.

Até os mais velhos estavam dando uma mão. Os Detetives Jery Cantwell e Ed Sterling estavam revisando recibos da parada de caminhões por alguma coisa útil. E Frank Brody, a apenas algumas semanas da aposentadoria e não reconhecido por uma ética de trabalho incansável, estava tentando contatar a Maersk no telefone para revisar as informações sobre os motoristas.

Keri batia seus pés nervosamente no piso do carro enquanto ela assistia os veículos abrirem passagem pela direita, de forma que Ray tivesse um caminho livre pela pista. Mas mesmo assim estavam indo devagar. De acordo com o último aviso que ela tinha visto, eles ainda estariam a quinze quilômetros de distância da travessia da fronteira em San Ysidro, o ponto mais provável para o caminhão passar para o México. Mesmo se houvesse um reforço maciço na fronteira, ela duvidava que poderiam dar conta.

“Eu consegui,” alguém gritou pelo telefone. Demorou um segundo até que Keri percebesse que era Edgerton.

“O quê?” ela ouviu Hillman vociferar nas proximidades.

“Eu consegui quatro dígitos da placa. É suficiente para identificar o caminhão e o motorista. Eu estou puxando a licença dele agora. Pertence a um... Roberto Alarcon. Garrett, você pode ver se a foto dele bate com a que você tem até agora do reconhecimento facial?”

Houve um silencio na linha e Keri e Ray sabia que todos na delegacia estavam pairando sobre um monitor de computador. Depois de alguns segundos, eles escutaram uma comemoração coletiva.

“Ei, pessoal,” disse Patterson, informando-lhes do que eles não podiam ver, “temos uma similaridade de oitenta e oito por cento, muito bom, considerando o quanto a imagem ainda está desfocada.”

“Certo,” vociferou Hillman. “Eu vou passar essa informação para a Patrulha da Fronteira. Suarez, faça o mesmo com o Condado e com a SDPD. Castillo, emita um alerta geral nesse sujeito e no caminhão para todo o sul da Califórnia. Roberto Alarcon não vai a lugar algum. Edgerton, transfira Sands e Locke para o meu escritório, quero conversar com eles

em particular.”

Keri e Ray trocaram olhares preocupados. Eles reconheciam o tomo na voz de Hillman. Era o que ele usava quando tinha que dar más notícias. E o fato de ele desejar conversar em particular só reforçava essas preocupações. Alguns segundos depois eles voltaram na linha e podiam dizer que não era mais nos alto falantes.

“Excelente trabalho, vocês dois,” ele disse. “Eu estaria perdido sem os esforços de vocês nisso.”

“Com todo respeito, senhor,” respondeu Ray, “nós ainda não chegamos a lugar algum. Até que aquele caminhão seja parado e nós encontrarmos Sarah Caldwell nele, nós não estamos livres de problemas. Nós achávamos que a encontraríamos tantas vezes antes para ficarmos superconfiantes agora.”

“Ninguém está ficando superconfiante, Ray. Eu só estou dizendo que vocês fizeram um bom trabalho.”

“Mas...,” disse Keri, sabendo que ele estava deixando alguma coisa de fora.

“Mas eu preciso que vocês dois retornem. Não há nada para vocês dois por aí agora. Três agências da lei foram notificadas. Eles não vão querer um casal de detetives de LA se intrometendo no caso, especialmente a Patrulha de Fronteira. Vocês sabem como os federais ficam possessivos.”

“Intrometer?” demandou Keri. “Esse é nosso case. Nós somos essenciais para ele. Além disso, Sarah vai precisar de alguém que saiba pelo que ela esteve passando. Esses somos nós.”

“Keri,” disse Ray parecendo derrotado. “Você não entende? Esse não é o motivo real pelo qual ele está nos chamando de volta. É, Tenente?”

Houve um silêncio do outro lado da linha. Durou tanto tempo que Keri achou que a ligação tinha caído.

“É um motivo. Mas não, não é o único.” Disse Hillman finalmente, em uma voz mais tranquila do que Keri estava acostumada. “Detetive Locke.

Você vem passando por um bocado no último dia e, francamente, estou preocupado com você. Você esteve eu um tiroteio que podia ter te matado.

Seu carro foi esmagado por um cara que escapou com sua filha desaparecida. E você esteve em uma altercação com o homem que a raptou originalmente, altercação que o deixou morto e você em fuga. Seria irresponsável da minha parte deixar você no campo depois disso tudo.”

“É por esse último que você está fazendo uma tempestade em copo d’água, não é?!” ela disse bruscamente, os pelos na nuca se arrepiando enquanto a voz ficava mais alta. “Você está cansado de segurar a interrogação da Divisão Central. Por que você apenas não admite?”

“Não é isso,” ele disse, seu tom de voz ainda estava muito mais contido do que esperara. “Eu disse que você vai precisar de pelo menos vinte e quatro horas de recuperação antes de qualquer entrevista. Eu estou mais consternado sobre seu estado psicológico. Você soou bem aérea na noite passada. Você pelo menos se lembra de que me deu informação que levou ao resgate de quase trinta crianças?”

“Vagamente,” admitiu Keri.

“Escute, eu sei que perder Evie uma segunda vez deve estar te afetando.

Você não teve nenhuma folga, Keri. Eu estou preocupado com você.”

Ela abriu a boca para responder, mas Ray colocou a mão gentilmente em seu joelho e balançou a cabeça.

“Nós entendemos, Tenente,” ele disse. “Nós estamos voltando. Por favor, nos mantenha informados sobre qualquer progresso.”

Ele desligou sem esperar por uma resposta e começou a mover o carro pelas pistas para pegar a próxima saída.

“Que diabos é isso?” ela berrou.

“Escute. Eu sei que você não queria escutar isso. Mas ele estava na verdade pegando leve com você.”

“O que você quer dizer?”

“Você percebe os favores que ele teve que pedir para tirar aquele alerta sobre você? E para adiar seu interrogatório? Você deixou a cena de um crime na qual uma pessoa morrera, Keri. Eu sei que era o raio do Colecionador. Mas existem regras. Você as quebrou e ele está tentando juntar os pedaços para você. Dê uma folga a ele.”

“Mas por que agora? Que diferença faz mais algumas horas?”

“Eu não sei. Mas tenho certeza que ele tem uma boa razão. Eu não ficaria surpreso se o chefe mesmo deu um ultimato a ele. Seu emprego pode estar em jogo aqui. E entrar numa disputa imatura com a Patrulha da Fronteira vai garantir que você o perca.”

Eles ficaram quietos por um minuto, enquanto Ray chegava até a lateral direita e conseguia pegar a saída da rodovia.

“Certo,” ela disse quieta.

“O que foi isso?” ele perguntou, pasmado.

“Eu disse ‘certo’. Eu entendo. Ele está intervindo por mim. Nós vamos voltar.”

“Nunca pensei que eu viveria para ver o dia em que Keri Locke concedeu uma discussão para mim,” ele disse divertido. “Você realmente deve ter tido uma concussão na noite passada.”

“Cala a boca,” ela disse. “E encoste naquele posto de gasolina. Eu preciso de outro café.”

Ao reduzir para adentrar o estacionamento, o telefone de Keri tocou. Era Ed Caldwell. Ela atendeu imediatamente.

“Sr. Caldwell, você está bem? Eu estava começando a me preocupar quando eu não tive resposta de vocês.”

“Detetive Locke,” respondeu Mariela Caldwell sem ar, “na verdade é Mariela. Eu sinto muito. Eu adormeci noite passada enquanto revia algumas fotos de Sarah. Ed me deixou dormir até mais tarde essa manhã e eu só vi que a bateria do meu celular tinha acabado quando tentei te ligar depois que acordei. Está carregando agora. Por isso estou te ligando do telefone do Ed.”

“Está tudo bem. Só estou feliz que você tenha dormido um pouco.”

“Obrigada,” ela disse. “Você tem mais alguma informação para nós? Eu estou te colocando no viva voz para Ed te escutar também”

Keri fez o mesmo para que Ray pudesse acompanhar se quisesse.

“Ainda estamos à caça,” ela disse. “Nós acreditamos que conseguimos restringir a localização para um grande caminhão com semirreboque viajando sul para o México na Rodovia 5. Nós alertamos a Patrulha da Fronteira e as forças policiais de San Diego. Eles pegaram o caso e estão tentando interceptar o veículo.”

“Então você não está mais procurando por ela?” perguntou Mariela, obviamente perturbada pelo desenvolvimento. Keri olhou para Ray, sem saber como responder.

“Nós fomos instruídos a aguardar por agora,” ele respondeu. “Mas estamos monitorando a situação de perto.”

“Sra. Caldwell,” Keri interveio, “se seu telefone está ligado e funcionando, você pode dar uma olhada nele? Eu lhe enviei uma foto essa manhã e gostaria de saber se você consegue fazer algum sentido dela.”

Ela escutou um murmuro e um momento depois Mariela voltou à linha.

“Ainda está carregando, mas posso liga-lo. Dê-me um segundo para abrir sua mensagem,” ela disse, e então alguns segundos depois ela perguntou, “O que é isso?”

“Achamos que é uma mensagem que Sarah arranhou em uma cabeceira de um motel onde ela estava sendo mantida. Eu tenho a impressão de que ela escreveu para nós encontrarmos. Mas eu não entendo. Claramente o

‘SC’ é ‘Sarah Caldwell”. Mas eu não entendo o que ela quis dizer com

‘xile.’, é um abreviação para ‘exílio’ ou é algum tipo de código?”

Houve um silêncio do outro lado da linha e Keri sabia que ambos os pais estavam revirando a memória por alguma conexão relevante. De repente ela ouviu um sobressalto.

“Meu deus!” Mariela soltou. “Eu acho que eu sei o que é. Essa primeira letra não é um ‘x’, deveria ser um ‘t’. Ela estava escrevendo ‘tile.’”

“E o que significa?” perguntou Ray.

“Eu tinha me esquecido completamente. Ela estava calçando os tênis dela, certo?”

“Acredito que sim,” disse Keri.

“No ano passo, alguém roubou o par de tênis favorito dela de um armário na escola. Aconteceu de novo seis meses atrás. Então, quando compramos um novo para ela, nós cortamos uma pequena faixa na língua de um dos pés e inserimos um pequeno Tile Bluetooth dentro, para que pudéssemos achar caso fosse furtado novamente.”

“Você quer dizer que podemos rastrear a localização dela?” perguntou Keri, tentando manter a excitação sobre controle.

“Quase. Se alguém perto do Tile estiver com o aplicativo aberto, ele deve mostrar a localização. Nós colocamos o aplicativo em ambos os nossos celulares. Deixe-me pegá-lo.”

Depois de alguns segundos, eles a escutaram suspirar em desalento e começara a chorar.

“O que é?” perguntou Keri ansiosa.

“Eu pensei que você tinha dito que ela estava indo ao sul para o México.” disse Ed.

“Eu falei.”

“De acordo com esse mapa, ela já está no México.”


CAPÍTULO VINTE E CINCO


Sarah se agarrou às tiras de metal do grande semirreboque por amor a vida. O caminhão estava acelerando em uma estrada cheia de buracos. Ela podia escutar as sirenes atrás delas.

Os últimos dez minutos tinham sido tão desorientadores que ela não sabia oque fazer com eles.

Depois de gritar até ficar rouca de manhã, ela parara eventualmente e simplesmente ficou deitada no chão do chassi, se resignada ao seu destino.

Depois de um tempo, ela podia dizer que tinham chegado à fronteira em si, porque o caminhão reduziu até quase parar. Momentos depois, ela escutou um ranger alto e uma série de grades metálicas se fechou por sobre as faixas de metal, deixando ela e todas as outras garotas em completa escuridão. Algumas começaram a lamuriar, mas não tantas quanto Sarah esperava.

Talvez elas estejam como eu, muito cansadas para fazer qualquer coisa.

Uma voz com forte sotaque mexicano saiu de algum tipo de sistema de alto falantes.

“Estamos na fronteira. O compartimento foi fechado. É a prova de som.

Ninguém lá fora pode escutar vocês. Mas se vocês gritarem, o ar vai acabar mais rápido. Se nós passarmos no tempo normal, vocês terão ar suficiente.

Se nós tivermos problemas ou se vocês gritarem e berrarem, provavelmente não há ar suficiente para atravessar. A melhor chance de vocês viverem é ficarem quietas e paradas.”

Se ela tivesse a energia, Sarah teria dado gargalhadas da ideia de um bocado delas gritando e berrando nas condições que estavam. Afinal, ela não tinha forças nem para rir.

Mesmo que ela não pudesse vez nada, ela poderia dizer que o caminhão acelerou. Ela pensou que isso era estranho considerando que a fronteira era conhecida por demorar horas para atravessar.

Depois de um minuto, o caminhão parou completamente. Sarah começou a reparar que estava ficando mais difícil de respirar. O oxigênio devia estar depletando rapidamente.

O caminhão tinha parado apenas por uns trinta segundos, mas parecia uma eternidade. Quando arrancou novamente, ela suspeitou que significasse que estavam agora no México. Elas estavam indo rápido

demais para estar em uma fileira de veículos.

A breve parada era certamente o posto de inspeção. E julgando pelo pouco tempo que ficaram retidos, ela estava certo que o inspetor foi subornado para deixa-los passar. Ela duvidou que o Sr. Holiday teria tomado o risco de transporta dúzias de garotas pela fronteira em um compartimento secreto em um caminhão sem garantias de que eles conseguiram atravessar.

Suas suspeitas foram confirmadas quando, assim que ela estava começando a sentir a cabeça leve, as grades se abriram. Obviamente, o motorista sentiu que estava fora de perigo. Uma rajada de vendo congelante entrou pelo chassi e ela o inalava com avidez.

Quando sua cabeça ficou mais clara, ela percebeu que o cruzamento da fronteira tinha sido sua ultima chance de ser resgatada.

Seja qual for o futuro que tenho restante, vai se dar no Lugar Ruim.

Mas justo enquanto essa ideia percorria seu cérebro, ela escutou sirenes, longe a princípio, mas então muito mais perto. Usando as tiras que ela estava agarrando para se apoiar, aprumou o corpo para o lado tentando ter um vislumbre de quem estava os perseguindo.

Ela pensou ter visto as palavras “Policia Tijuana” na lateral de um dos carros enquanto ele encostava ao lado do caminhão. O caminhão estava passando por buracos na estrada num velocidade tão grande que ela podia escutar as vacas acima se chocando umas contras as outras e caindo. Um súbito barulho estridente a fez virar a cabeça para o meio do chassi.

Para seu horror, ela viu um painel do chão deslizar de repente, deixando um buraco do tamanho de um caixão. A garota que devia estar deitada por cima do painel caíra pelo buraco. Ela estava se agarrando a beiradas do chão do caminhão com as pontas dos dedos, gritando enquanto a metade inferior do seu corpo era arrastada pela estrada abaixo.

Duas garotas próximas a buscaram desesperadamente, tentando agarrar seus antebraços e puxá-la para cima. Mas o caminhão acertou outro buraco e em um instante, a garota desapareceu de vista, deixando as outras procurando o ar vazio.

Um segundo depois elas escutaram pneus derrapando atrás delas, seguido de um estrondo ensurdecedor. E então, como se tivesse entendido a sugestão, os carros de polícia atrás delas recuaram, desaparecendo da vista. As sirenes se desligaram, o caminhão começou a reduzir a uma

velocidade menos agressiva. Momentos depois o painel se fechou novamente, as recolocando na escuridão. Ninguém disse uma palavra.

Elas estavam completamente sozinhas enquanto se afastavam do único lar que Sarah conhecia. Ela relaxou a pegada nas grades, deitou de volta de bruços e descansou a cabeça nos antebraços. Ela ignorou o cheiro de dejetos de vaca que estava por todos os lados e tentou dormir, para, pelo menos temporariamente, apagar o pesadelo que sua vida tinha se tornado.

*

Enquanto Ray voltava para a rodovia em direção a fronteira, Keri verificou para ter certeza que o aplicativo Tile estava funcionando no telefone dela. Mariela tinha lhe dado acesso à conta. Sem dúvida havia uma imagem no mapa. Os tênis de Sarah estavam indo pra o sul na México 1 em direção a Rosarito, uma cidade praieira apenas a alguns quilômetros do Oceano Pacífico.

Ela discou de volta para a delegacia e tinha Hillman na linha. Quando ele atendeu, ela nem o esperou falar.

“Tenente, mudamos de ideia,” ela disse firme. “Estamos indo atrás dela.”

“O que?”

“Tenente,” Ray interveio, “ela cruzou a fronteira para o México. Eu não sei se a Patrulha da Fronteira e a força tarefa em San Diego receberam a mensagem tarde demais ou se alguém na fronteira foi subornado. Mas nossos recursos por aqui falharam e agora Sarah Caldwell está no México.”

“Como você sabe disso?”

“Os pais delas lembraram que tinham colocado um daqueles dispositivos Tile em seus tênis alguns meses atrás.” Keri contou a ele. “Eles verificaram e ele deu a localização dela. Ela está no México, em direção sudeste para longe de Tijuana. Eles me deram acesso para a rastrearmos em tempo real.”

“Então certo. Eu vou informar a polícia de Tijuana e eles vão perseguir o caminhão?”

“Você está de brincadeira?” demandou Keri. “Quem sabe quantos desses caras são corruptos? Pelo que sabemos, eles estão envolvidos.”

“Detetive Locke, você não pode apenas se jogar em outro país como uma desvairada. Você não tem nenhuma jurisdição por lá.”

“Então nós vamos entrar como civis bem armados,” ela respondeu.

“Escute, Tenente, eu entendo que você esteja preocupado comigo. Mas eu fiz uma promessa aos pais de Sarah, de que eu a traria de volta. Eu perdi meninas inocentes o bastante por um dia. Eu não vou perder mais ninguém.”

Houve um silencio do outro lado da linha por um longo momento antes que Hillman falasse.

“Você não terá nenhum reforço.”

“Estou bem com isso.”

“Nós dois estamos,” disse Ray. Ele olhou para ela e seus olhos diziam tudo.

“Mantenham me informado.” disse Hillman brevemente. “E boa sorte.”

Menos de um minuto depois que eles desligaram, Keri recebeu outra ligação. Era de Jamie Castillo.

“O que pega, Jamie?” perguntou Keri.

“Eu não pude deixar de espiar sua conversa com o Tenente. Toda a delegacia fez isso. E achei que eu pudesse ajudar.”

“Como faria isso?” perguntou Keri.

“Bem, você estava certa sobre a força policial de Tijuana. Muitos deles são policiais decentes tentando fazer a coisa certa. Mas a força está repleta de corrupção e eu apostaria que vários deles estão na folha de pagamento do Holiday.”

“Então você está confirmando que nós estamos por conta própria?”

perguntou Ray, um pouco aborrecido por estar ouvindo o óbvio.

“Não necessariamente, Detetive,” respondeu Castillo, ignorando seu tom. “Meu tio é Comandante da polícia em uma pequena cidade não muito longe de Rosarito, chamada Ejido Morelos. E eu posso garantir a vocês, ele não é corrupto. De fato, ele é um pouco cuzão sobre essas coisas.”

“Você está dizendo que ele pode nos dar reforços?” perguntou Keri.

“Eu não tenho certeza isso. Acidade tem apenas uns dois mil habitantes.

Eu acho que o departamento inteiro tem menos de dez policiais. Mas ele pode ter escutado alguma coisa sobre esse Lugar Ruim se ficar na área dele. Ou talvez ele saiba sobre o Sr. Holiday. Eu posso entrar em contato e ver o que ele ouviu.”

“Obrigado, Jamie,” disse Ray. “Nós vamos aceitar toda ajuda que conseguirmos. E me desculpe pela atitude agora a pouco.”

“Tudo bem, Detetive. Você meio que me lembra o meu tio, pelo menos a

parte do cuzão.”

Keri viu Ray morder a língua, em parte porque ele mereceu e parcialmente porque eles tinham chegado à fronteira. Ele encontrou a pista para oficiais da lei e desligou a sirene ao se aproximar do posto de guarda.

Ele abaixou o vidro e mostrou seu distintivo. O guarda olhou para o distintivo e então para Ray.

“Como posso ajuda-lo, Detetive Sands?” ele perguntou.

“Apenas atravessando, esperando passar um sábado agradável com nossos vizinhos do sul.”

“Isso não teria nada a ver com aquela denúncia de um caminhão carregado com garotas desaparecidas de LA, teria? Por que a Patrulha da Fronteira tem jurisdição sobre o caso agora.”

“De jeito nenhum,” Keri disse do banco do passageiro. “Nós somos apenas um casal esgotado de tiras do LAPD, esperando aliviar o estresse com umas partidas de jai-alai. Sabe como é.”

O guarda pareceu cético.

“Da próxima vez, usem a pista civil se não estiverem em serviço, por favor.” ele disse azedo. Sem nenhuma razão para não fazê-lo, ele os liberou.

“Espere até chegarmos à cidade antes de retomar o passo,” Keri lembrou Ray, que fazia caminho pela massa de carros a rumo à cidade. “Não precisamos ser parados por um tira de Tijuana que possa avisar Holiday.”

Eles estavam no limite sul da cidade quando o Tile parou de se mover subitamente. O ultimo sinal era bem ao sul de La Joya.

“O que isso significa?” perguntou Ray.

“Não tenho certeza. Eu acho que pode ser que eles estejam em uma área mais isolada agora, onde a função de Community Find não funcione ou que eles pararam de se mover.”

“Mas isso é bem próximo à rodovia,” Ray disse, olhando para ela. “Esse Lugar Ruim ficaria em uma área com tanta visibilidade?”

“Eu não sei Ray, mas... cuidado!”

Ela apontou para a estrada se dobrando a frente deles. Uma das pistas tinha sido sinalizada com cones e havia vários carros de polícia isolando a área.

Ray desacelerou e mudou para a faixa disponível. Enquanto ele dirigia vagarosamente pela cena, Keri olhou pela janela e viu vários policiais de

pé ao lado do que era claramente um cadáver embaixo de uma lona. Havia sangue e o que pareciam ser restos humanos espalhados por todos os lados.

“Que diabos aconteceu aqui?” Ray murmurou.

Keri se virou para ele.

“Eu tenho um pressentimento bem ruim de que isso está conectado ao nosso caso.”

Nenhum dos dois falou pelo s quinze minutos restante até que chegasse ao local apontado pelo Tile. Eles pararam no acostamento da rodovia.

“Não há nada aqui,” disse Ray.

“Sim, tem sim,” Keri notou, apontando na direção de um galpão metálico a algumas centenas metros distante através de um desfiladeiro seco. “Veja, tem uma pequena estrada de terra que corta pelo desfiladeiro.

Se aquele caminhão tivesse estacionado por lá, não ficaria visível da estrada.”

Ray seguiu a estrada, cruzando a ribanceira e estacionou próximo ao galpão.

Ambos saíram e tinham as armas fora do coldre. Depois de circundar o exterior do galpão e não encontrarem nada, Ray chutou a porta e Keri entrou com a arma erguida.

“Ninguém se move!” ela gritou enquanto irrompia no local.

Mas o galpão estava vazio. Pelo menos não havia pessoas. Mas havia várias roupas jogadas pelos cantos da parede. E o fedor era insuportável.

“O que é esse cheiro?” perguntou Ray, tampando o nariz. “Isso parece um esgoto.”

Keri passou por algumas roupas em um canto, piscando com os olhos marejados.

“Parece que tudo isso está encharcado de urina e merda.”

Ela chutou vários itens tentando encontrar as coisas de Sarah.

“Você não deveria apertar um botão aqui para o Tile fazer emitir um som?” perguntou Ray.

“Certo, eu me esqueci.” Keri pressionou o botão e eles escutaram um barulho agudo saindo da parede no outro lado. Ela foi até lá e levantou um cobertor sujo que cobria os tênis da Sarah.

O coração dela afundou, ela olhou para Ray. Ele estava igualmente abatido.

“Como poderemos encontrá-la agora?” ela perguntou. “Ela pode estar

em qualquer lugar.”

Ray abriu a boca para responder, quando ambos escutaram um gemido baixo do outro lado do galpão. Eles viraram para aquela direção, com as armas apontadas para a área de onde ouviram o barulho. Mas não havia ninguém lá.

Eles se aproximaram com cuidado do barulho, que era leve, mas persistente. Eles eventualmente chegaram a um amontoado de roupas que era um pouco maior que os outros. Claramente, o gemido estava vindo de baixo dele.

Ray se inclinou, pegou um monte de roupas e olhou para Keri. Ela tinha a arma apontada para a pilha e assentiu com a cabeça. Ray empurrou as roupas revelando uma cova rasa abaixo delas. Nela havia um homem deitado de lado, olhando para longe deles. Os gemidos ficaram mais altos.

Ele estava completamente nu. Era difícil dizer sua idade, porque sua face fora muito golpeada. Quase cada centímetro do seu corpo e rosto estava coberto de sangue, hematomas e feridas profundas abertas. Faltava-lhe a maioria dos dentes. Parecia que alguém tentou escalpelá-lo parcialmente. E

a área ao redor dos olhos estava inchada e escura. Seus olhos em si eram meras fendas.

Ele tentou abrir um deles e Keri se engasgou de súbito. Ela sabia quem era esse homem. Era a pessoa que começou todo esse pesadelo.

“O que foi?” Ray disse ansiosamente.

“Você não o reconhece?” perguntou Keri. “É Dean Chisolm.”


CAPÍTULO VINTE E SEIS


Dean estava quase irreconhecível na sua condição atual. Mas Keri soube que ela estava certa quando ele tentou abrir ambos os olhos e balançou a cabeça ao som do seu nome.

“Que diabos aconteceu a ele?” perguntou Ray.

Keri começou a ameaçar uma resposta quando Dean abriu a boca.

“Holiday... me puniu... pela... Sammy,” esse chiou levemente.

“Ele deve ter decidido fazer dele um exemplo depois que o irmão entregou a localização do depósito do Chiqy,” disse Keri.

“Então ele simplesmente joga um cara numa cova no meio do deserto mexicano?” disse Ray. “Isso é frio, até para aquele pedaço de merda.”

“Dean,” disse Keri, voltando sua atenção para a criatura acabada a sua frente, “o que Holiday fez com Sarah Caldwell e as outras garotas? Para onde ele as levou?”

“Lavou com... mangueira. Sai... em vans. Todas foram... diferentes...

direções. Todas falsas... menos uma.”

“Você sabe para onde a van real com as garotas estava indo?” perguntou Keri.

“Lugar Ruim.”

“E onde é isso?” demandou Ray.

“Lugar... Ruim...,” sua voz estava fraca, apenas um murmúrio áspero.

Ray parecia frustrado e estava prestes a tentar de novo, quando Keri reparou algo que não dera atenção anteriormente. O lado esquerdo do abdômen de Dean não estava apenas ensanguentado, estava sangrando continuamente. Ela olhou de perto e viu o que parecia um buraco de bala.

Observando a cova onde ele estivera deitado de lado, ela viu que uma considerável poça de sangue tinha se formado.

Ela indicou isso a Ray e balançou a cabeça. Mesmo se houvesse um hospital ao lado, ela duvidava que pudesse salvá-lo. Ele tinha perdido muito sangue. Ela estava surpresa que ele tenha durado tanto.

Ela sentou no chão ao lado dele, sem ideia. Ela não estava certa se devia tentar pressionar Dean um pouco mais nos momentos finais ou se ela iria apenas sentar-se com ele e oferecer algumas palavras reconfortantes. Ele era um bastardo. Mas ele estava morrendo uma morte que ela não desejaria para quase ninguém.

Ela reparou seu corpo paralisar e pensou que ele estava quase partindo.

Mas então ela percebeu que ele estava se contorcendo para dizer algo mais.

Ele separou os lábios e ela se inclinou para próximo.

“Apresse,” ele murmurou devagar. “Holiday... a odeia. Ela... resistiu.

Disse... que ele... iria... acabar com ela. Então matá-la... hoje.”

Dean deu um suspiro e Keri achou que ele iria dizer mais alguma coisa, mas não. Ela levou um segundo para perceber que estava morto.

*

Sarah estava na pequena cama de solteiro no quarto que tinha sido colocada. Ela não estava presa de forma alguma. Mas um homem com uma metralhadora estava na porta, olhando para ela, sem expressão.

Ela olhou para sim e não podia acreditar que estava limpa, tinha tomado banho e colocada em um leve vestido branco. Há menos de uma hora, ela estava nua, a não por um cobertor e os tênis, coberta em fezes de vaga no chassi de um caminhão.

Mas as coisas passaram depressa depois que os carros de polícia se afastaram. O caminhão saiu da estrada e ela e as outras garotas foram empurradas para fora e forçadas em um galpão. Foram ordenadas a tirarem a roupa.

Sarah tentou manter os tênis, mas eles não permitiram. Ela não percebeu que ela estivera se agarrando na chance de que alguém a encontrasse pelo tênis, até que eles se foram. Parecia que qualquer esperança foi mandada para longe quando eles foram.

Os guardas de Holiday mandaram que todas saíssem do galpão, lavou-as com uma mangueira e enfiou todas elas em uma van pequena demais para tantas. Quando a van estacionou, ela pensou ter visto um Dean Chisolm amassado sendo puxado para fora do porta malas de um sedan.

A van viajou por cerca de meia hora antes de chegar no que parecia ser uma fazenda charmosa. Isso é, se forem ignorados as paredes de concreto cobertas de arame farpado e os guardas perambulando o local.

A van deu a volta pelos fundos e as garotas foram transportadas para a casa por uma entrada lateral que dava diretamente a um vestiário. Elas foram ordenadas para que tomassem e lavassem o cabelo antes de encontrar um vestido de verão que fosse justo dentre as centenas que

estavam dobrados nas prateleiras na parede.

Sarah disse como fizera como ordenado. Depois de vestida ela foi escoltada por um longo corredor. Ela podia ouvir o choro por detrás de algumas das portas, gritos atrás de outras e de um quarto com a porta de metal, ela ouviu um estranho som metálico que não conseguia identificar.

Mesmo em seu estado acabado, fez subir calafrios por sua espinha.

O guarda a levou para um quarto no qual um homem estava a mesa com uma caneta e uma folha de papel. Ele olhou para o número em sua testa e a atribuiu com o número de um quarto. Então tirou um marcador preto e reforçou o número levemente apagado em sua testa mais uma vez. Antes que ela saísse, o homem lhe deu um sorriso sórdido e falou pela primeira vez.

“O Sr. Holiday tem algo especial planejado para você.” Então ele se dirigiu para o guarda e disse algo em espanhol que ela pensou que soava como “quarto quinze.”

Ela estava certa. O guarda foi com ela até o quarto 15, apontou para cama e se recolheu a sua posição ao lado da porta. Foi assim que as coisas ficaram desde então. Isso é, até que a porta se abriu e o Sr. Holiday entrou.

“Olá, Número Quatro,” ele disse sorrindo abertamente para expor seus dentes brancos reluzentes. Seus lábios se arredondavam de forma pouco natural, como se sorrir fosse um ato consciente, não familiar para ele. Ele havia se trocado. Ao invés de um conjunto de corrida, ele vestia calças e uma camiseta apertada demais para ressaltar seus músculos proeminentes.

Ele sinalizou para que o guarda saísse. Quando a porta fechou, ela pegou uma pequena cadeira de madeira no canto da sala e a trouxe para que pudesse sentar bem em frente dela.

“Primeiro de tudo,” ele disse enquanto se acomodava na cadeira, ”eu queria você soubesse que está encantadora nesse vestido. Ninguém deve ter ideia das atrocidades perpetradas no seu corpo com base em quão imaculada você parece agora.”

Sarah o encarou de volta, se recusando a desviar os olhos. Ele pareceu aborrecido por um segundo, mas superou rapidamente.

“Infelizmente, essa é a última vez que você vai se sentir tão limpa. Em um instante, eu vou te repassar o restante do dia com bastante detalhe, para que você não tenha qualquer surpresa. Mas de cara, meio que uma manchete, se você quiser chamá-la assim, é a seguinte. Você tem sido

desobediente. E as outras garotas sabem disso. Então tenho que fazer de você um exemplo. Isso significa que, antes que o sol se ponha, você estará morta.”

Ele a observava de perto por qualquer reação. O que ele disse ficou registrado em seu cérebro, mas Sarah estava tão exausta e dolorida e sem esperanças que não conseguia reunir nada que se aproximasse de pavor.

Ele estava claramente esperando uma resposta, mas tendo nenhuma, continuou.

“Mas eu não vou mata-la antes que você tenha sido arruinada em todas as maneiras que uma jovem garota possa ser. Eu tenho uma manada de caras vindo atrás de você. E você estará desperta e sem drogas por cada segundo disso. E quando eles tiverem terminado com você, eu vou te finalizar. Mas vou fazer isso pedacinho por pedacinho, te desmontando em pedaços com meu facão favorito. E eu vou gravar a coisa toda para mostrar para alguma outra garota recalcitrante. Como isso soa pra você?”

Ela engoliu a seco com o pouco de saliva que tinha sobrando e quando estava confiante que consegui falar, ela o respondeu.

“Soa como um bombado sádico com medo de uma garotinha,” ela disse tranquilamente, seus olhos ardiam.

Se for isso, eu não vou embora resignada. Eu vou lutar mesmo se eu tiver apenas palavras como armas, até que eu não tenha nada restando.

As narinas do Sr. Holiday se alargaram e ela podia dizer que tinha acertado um nervo. Dessa vez ele levou vários segundos para retomar o comportamento calmo. Quando ele estava certo que conseguia manter o nível da voz, falou novamente. A acidez em sua voz era palpável.

“Deixe-me te contar sobre alguns dos cavalheiros apreciadores de garotinhas que te visitarão em breve.”


CAPÍTULO VINTE E SETE


Keri estava quieta no banco do passageiro do carro de Ray, tentando expulsar o rosto brutalizado e as últimas palavras de Dean Chisolm da cabeça. Ele dissera que o Sr. Holiday iria assassinar Sarah naquele mesmo dia.

Keri sempre sentira como eles estivessem contra o tempo para salvar a garota de uma vida de degradação. Mas aconteceu que estavam literalmente em uma corrida para salvar a vida dela.

Eles estavam de volta na México 1, se dirigindo para o sudeste na mesma direção que o caminhão estava indo antes que chegasse ao galpão.

Com nenhum vestígio a seguir, fez sentido apenas seguir a mesma rota.

Eles deixaram o corpo de Dean na cova rasa do galpão. Não tinham tempo para enterrá-lo e, de qualquer forma, nem estavam inclinados a fazê-

lo. Eles não podiam ligar para as autoridades locais por temerem que alguém pudesse avisar Holiday. Teriam que esperar até que tudo estivesse acabado para recuperá-lo.

Enquanto dirigiam em silêncio, varrendo o horizonte por uma van ou alguma coisa para seguir, o telefone de Keri tocou. Era Jamie Castillo. Keri atendeu imediatamente.

“O que você tem para mim, Jamie?” ela perguntou esperançosa.

“Boas notícias, eu acho,” a policial respondeu. “Eu acabei de sair do telefone com meu tio. Ele nunca ouviu falar de ninguém chamado Holiday ou o Lugar Ruim. Mas ele escutou rumores sobre alguma coisa chamada Malas Vacaciones, que se traduz em ‘Férias Ruins’.”

“Eu não entendi,” disse Keri.

“Ele diz que é uma piada sarcástica, pois Malas Vacaciones é supostamente uma propriedade luxuosa chamada de Hacienda de Los Angeles que reúne exclusivamente uma clientela abastada. Ninguém sabe exatamente o que acontece por trás das montarias, das melhores tequilas e dos charutos cubanos.”

“Para mim parece bem tentador,” disse Ray, “pelo menos na superfície.”

“Parece,” concordou Castillo. “Nunca houve qualquer ilegalidade descoberta por lá. Mas meu tio suspeita que o proprietário subornou os policiais de Rosário para não fazerem perguntas.”

“Quem é o proprietário?” perguntou Keri.

“Oficialmente é um rancheiro local. Mas meu tio acha que há um americano por trás extra oficialmente.”

Ray olhou cético para Keri, mas ela estava mais esperançosa.

“São muitas deduções,” ela admitiu. “Mas se encaixa no perfil. E o nome parece uma estranha composição dos termos que viemos escutando. Onde é esse lugar, Jamie?”

“Fica em uma área não incorporada ao lado da Via Expressa 1. Estou te enviando o endereço agora.”

Keri conectou seu GPS.

“Fica a menos de dez minutos daqui,” exclamou Keri. “De fato, a saída fica a apenas alguns quilômetros em frente na rodovia.”

“Seu tio pode nos dar algum reforço, Jamie?” perguntou Ray.

“Ele pode. Mas talvez leve um tempo. Há apenas quatro policiais em serviço hoje e dois estão trabalhando em um radar no sul da cidade. Ele está convocando toda a força, oito homens e, então, eles vão encontrar vocês no Malas Vaciones. Ele estimou que levaria por volta de uma hora para chegar lá. O nome dele é Comandante Carlo Castillo.”

“Eu agradeço o apoio dele,” disse Keri. “Mas eu não acho que nós temos esse tempo. Nós descobrimos que Holiday está planejando matar Sarah Caldwell ainda hoje. E não sei se é exatamente agora, em uma hora ou à meia noite. Independente disso, não estou querendo esperar para descobrir.”

“Você não está pensando em ir até lá sozinha?!” Castillo perguntou incrédula.

“Eu não estou sozinha,” disse Keri, olhando de relance para Ray, que estava saindo da rodovia para a estrada de terra que supostamente os levaria até o seu destino. “Estou com meu parceiro.”

*

Vinte e cinco minutos depois, às 11:52 da manhã, um respeitável médico de Rosarito, chamado Paolo Moreno, dirigia seu Lexus para a Hacienda de Los Angeles, o nome oficial de Malas Vacaciones.

Sentando ao lado dele no banco do passageiro com uma arma bem escondida apontada para seu abdômen estava o Detetive Ray Sands. No porta malas, encolhida debaixo de um visor refletivo para para-brisa e um

casaco corta vento, estava a Detetive Keri Locke.

“Eu já te disse,” dizia o nervoso Dr. Moreno pela terceira vez, “eles estão esperando somente a mim. Eles vão achar suspeito que eu tenha um passageiro.”

“E, como eu lhe disse,” rosnou Ray, “é o seu trabalho convencê-los de que eu sou seu parceiro de LA, que desceu para cá para se divertir no sábado. Se eles não comprarem a ideia, você paga o preço.”

Keri pedia ouvi-los pelo banco de trás e esperava que seu companheiro estivesse especialmente convincente. Afinal, não estava nas mãos dela nesse momento.

Ela fizera a parte que lhe cabia alguns minutos antes pretendendo ser uma donzela em apuros, tendo problemas com o motor do carro à margem da rodovia. Quando Moreno saiu para ajudar, Ray surgiu de trás do carro com sua arma em mãos.

Depois de ter entrado no porta malas e se coberto, fazendo o seu melhor para ignorar os joelhos latejantes e a dor de cabeça implacável, Keri vigiava a estrada enquanto Ray explicava o que precisavam do médico:

“Vamos entrar, não levante suspeitas.”

Ele protestara, dizendo que estava ali apenas para tomar uma bebida com um amigo, mas parecia saber que ele estava numa situação impossível.

Depois de alguns minutos, ele desistira de negar o motivo da sua visita e se focou em afirmar que o plano não iria funcionar. Ao subirem para a guarita, Ray lhe deu um pequeno cutucão com a arma como um lembrete amigável sobre o que estava em jogo.

O guarda os cumprimentou amigavelmente e o Dr. Moreno o respondeu igualmente. Claramente, ele era um frequentador regular. Através de uma pequena fresta entre o porta malas e o banco de trás, Keri pode ver parcialmente o guarda se inclinar observar Ray com suspeita.

“O que pega?” seu colega o perguntou casualmente.

“Esse é um velho amigo de Los Angeles, Raymond,” Moreno disse em inglês. “Ele está passando o dia na praia e eu prometi mostrar alguma diversão a ele.”

O guarda perguntou algo em espanhol que Keri não conseguiu entender.

“Eu sei que é de última hora,” Moreno respondeu novamente em inglês.

Ele claramente queria que Ray soubesse que ele não o estava dedurando secretamente. “Mas ele vai embora essa noite e eu não gostaria que ele

perdesse.”

O guarda ficou quieto por um instante, então disse algo mais que Keri não conseguiu entender. Ela apontou a arma para a tampa do porta malas caso eles verificassem e ela precisasse agir rapidamente.

“Ele está de acordo com isso,” disse Dr. Moreno reafirmando. “Qualquer garota disponível será mais que aceitável.”

O guarda resmungou e os deixou passar.

“O que ele disse?” perguntou Ray.

“Ele disse que todas as garotas de qualidade têm agendamentos. Então você vai ter que pegar um dos detritos.”

“Encantador,” disse Ray com desgosto antes de voltar para o modo focado. “Encontre uma vaga de estacionamento o mais próximo possível da entrada dos fundos e estacione de ré para ninguém ver minha parceira saindo.”

Depois de um minuto o carro parou e Ray a chamou da frente do carro.

“Keri, você consegue me escutar?”

“Alto e claro.”

“Eu vou destravar o porta malas antes de sairmos. Tem uma entrada de serviço traseira a trinta metros a esquerda do carro. Eu não vejo nenhum guarda por aqui, mas mantenha os olhos abertos. Espere sessenta segundos depois de sairmos para que eu possa tem mandar qualquer informação adicional por mensagem.”

“Eles vão reter seu celular uma vez que entrarmos na construção,”

Moreno o alertou.

“Bom saber,” disse Ray, então exclamou para Keri. “Então vou te mandar mensagem com qualquer coisa importante antes disso. Depois, eu vou desligar o telefone para que eles não possam acessá-lo. Meu relógio marca onze e cinquenta e cinco da manhã. Vamos dizer que ambos faremos o reconhecimento e mirar em um encontro ao meio dia e dez. Parece bom?”

“Parece um plano,” disse Keri. Então ela teve uma ideia. “Ei, Dr.

Moreno, onde é um bom lugar fora do caminho para nos encontrarmos?”

Moreno ficou em silêncio por um momento e ela quase conseguia ouvi-lo pensar.

“Há uma pequena sala de jantar no primeiro andar, bem ao lado do corredor principal. É isolada e é usada apenas a noite. Há essa hora não

deve haver ninguém lá; Você pode identifica-la por uma cortina de veludo vermelha na porta.”

“Claro que pode,” disse Ray com sarcasmo. “Você está de acordo, Keri?”

“Beleza,” ela respondeu. “Vejo você em quinze.”

A tranca do porta malas se abriu e as duas portas foram fechadas. Ela escutou os passos deles se afastando ruindo no cascalho, enquanto contava silenciosamente até sessenta. Ray não enviou mensagem nesse período, o que ela considerou um bom sinal que ele não tinha nada urgente para compartilhar.

Keri colocou seu telefone no silencioso e empurrou a tampa do porta malas alguns centímetros com cuidado . A rajada de vento frio que entrou era estimulante e fez os arrepios, que já estavam proeminentes, ainda mais pronunciados.

Ela se esgueirou vagarosamente para fora do porta malas e se agachou atrás do carro para que pudesse ter uma panorâmica do terreno. A propriedade era enorme, com várias construções menores ao redor de um casarão principal. Uma parede de adobe de um metro de meio circundava todo o complexo até tão longe quanto se podia ver.

Não havia guardas a vista, mas ela sabia que deveriam estar por perto.

Talvez eles não fizessem a varredura do perímetro ou talvez eles tivessem excesso de confiança, já que os policiais de Rosarito estavam envolvidos.

De qualquer jeito, eles estavam armados e Keri não queria topar com eles.

Ela viu a entrada traseira que Ray fizera referência. Parecia haver um caminhão de entregas na frente dela a porta estava entreaberta. Fechando a jaqueta para lutar contra o vento cortante do meio do dia, ela saltou de carro em carro até que estivesse próxima o suficiente para ir até a porta.

Quando estava prestes a se mover ela viu uma sombra à sua frente e se agachou novamente. Espiando, ela viu um guarda no telhado com uma metralhadora pendendo em uma bandoleira. Ele estava virado na direção dela, mas com o olhar distante, para além do muro. Depois de dez segundos, ele virou as costas e desapareceu da vista.

Ela não tinha certeza se ele retornaria, mas ela não tinha o tempo para esperar e ver. O relógio dela marcava 11:58. Ela deveria encontrar Ray em doze minutos.

É agora ou nunca.

Ela respirou fundo, tentando deixar seu corpo liberar um pouco da ansiedade. Então saiu da proteção do carro e partiu em direção a área exposta entre ela e a construção.


CAPÍTULO VINTE E OITO


Com a arma enfiada no bolso do casaco e com os dedos ao redor dela, Keri deu os últimos três metros até a porta casualmente, esperando pelo som de um alarme gritando ou de um disparo. Nenhum deles se deu. Ela reprimiu o forte impulso de correr. Se alguém a estava assistindo, ela não gostaria de parecer suspeita.

Depois do que ela sentiu ser uma eternidade, ela adentrou pela porta aberta. Suspirou aliviada e, então, olhou ao redor. Ela parecia estar na cozinha, que era espaçosa e bem provida. Devia ter sido projetada para um restaurante completo. Seus olhos observaram pelo cômodo, procurando qualquer sinal de movimento.

Não vendo qualquer coisa, ela se moveu rapidamente para o que parecia ser um pequeno mapa das instalações na parede, completo com os números dos quartos. Tudo estava em espanhol, mas ela pegou a essência. Um quarto em particular chamou sua atenção: Vestuário – Mujeres. Ela já estivera em academias o suficiente para saber que aquilo significava vestiário feminino. Era tão bom para começar como qualquer outro lugar e aconteceu de ficar logo na próxima porta. Ela tirou rapidamente uma foto do mapa com o celular e se esgueirou pela porta da cozinha.

O corredor estava vazio, então ela mirou rapidamente o próximo cômodo e escorregou pela porta. Também parecia estar vazio. O lugar era bem despojado, mas era limpo com uma grande área para chuveiro e toalhas.

Ela notou que não era exatamente um vestiário, já que não havia armarinhos.

Sem objetos pessoais permitidos para essas garotas.

Ela se deslocou para o fundo onde ela encontrou uma prateleira com pilhas de vestidos de verão brancos.

É o uniforme oficial do Lugar Ruim?

Ela estava bem certa de que sim. Era tão grotesco transformar um bordel em um lugar no qual as mulheres tinham que vestir um traje adequado para serem violadas a deixou com náuseas.

Lutando contra o impulso de regurgitar, Keri foi até uma pia e molhou o rosto com água fria. Havia um espelho, mas era muito opaco e gerava imagens distorcidas, como aquelas da casa dos espelhos.

Ao mirar uma estranha, porém familiar versão dela própria, uma ideia se

agitou em sua cabeça. Ela olhou de volta para a prateleira de vestidos e verificou a foto que tirara do mapa. Após um momento de estudo, ela digitou a frase do mapa no aplicativo de tradução. A frase, sala de evaluacion, apareceu como “sala de avaliação.”

Keri deu uma olhada nas horas. Eram 12:01. Ela tinha que se decidir rapidamente. Levou apenas um segundo. Ela decidiu tentar. Momentos depois ela estava vestindo um dos vestidos de verão brancos e suas roupas foram escondidas no canto na área de banho.

Ele pegou um vestido que era largo, para que pudesse manter a arma, Taser e celular presos ao cinto. Ela pegou a pequena arma de reserva do calcanhar e a colocou na parte de cima do braço. Ela tirou o cabelo do rabo de cavalo e penteou com os dedos de forma que ficassem caídos por sobre seus olhos e escondessem um pouco do seu rosto. Não era especialmente impressionante, mas não havia muito mais que ela pudesse fazer em termos de se disfarçar.

Depois de mais uma olhada inútil no espelho apagado, ela foi para o saguão e, com a cabeça abaixada, andou na direção da sala de avaliação.

Ela estava descalça e o piso de linóleo era frio sob seus pés.

O saguão estava vazio, a não ser por ela, e ela encontrou a sala rapidamente. A porta estava aberta e um guarda armando de costas para ela estava ao lado de uma mesa, falando com um homem sentado com a cabeça abaixava, analisando um papel a sua frente.

Pelo mais curto dos segundo, ela considerou atirar em ambos a princípio.

O pensamento quase a fez rir. Mas, fora esse problema do barulho, ela se lembrou de que isso não ajudaria a encontrar Sarah.

Ao invés, ela tirou o Taser e, depois de tirar um momento para admirar o fato de que não estava nada nervosa, ela fez o movimento. Sem se dar tempo para reconsiderar, ela andou rapidamente na direção deles usando o guarda para se manter fora da linha de visão do homem sentado.

Estar descalça ajudou. Ela foi capaz de atravessar em silêncio os três metros até o guarda e o eletrocutou no rim antes que ele soubesse o que estava acontecendo. Ele começou a cair para trás, mas ela o empurrou para o outro lado e ele desmoronou na mesa. O outro homem estava tão chocado que ele não avistou Keri até que ela estivesse em cima dele, atirando o Taser na lateral do seu pescoço. Ele afundou no seu assento, consciente, mas incapacitado.

Keri voltou sua atenção para o guarda, que também estava consciente e gemendo baixo. Ela removeu a metralhadora do seu ombro, pegou as braçadeiras plásticas do cinto dele e amarrou as duas mãos atrás das costas antes de colocá-lo no chão e arrastá-lo para o canto da sala. Então ela atirou o Taser nele novamente, dessa vez no peito.

Então, ela voltou para o homem na mesa e viu que ele estava descuidadamente alcançando seu próprio cinto, tentando inutilmente agarrar a arma guardada no cós. Keri foi em direção a ele e o eletrocutou no peito. Ele afundou novamente com seus braços balançando ao lado do corpo.

Ela tirou a arma dele do coldre e a colocou no canto mais distante da mesa. Então ela se apressou para a porta, a fechou e trancou. Ela tinha sido sortuda que ninguém tenha passado. Olhando o relógio, ela viu que eram 12:06. Ela deveria encontrar Ray na sala de jantar em quatro minutos.

Keri retornou para a mesa e olhou para a folha de papel que o homem estava revisando, esperando ver o nome de Sarah. Não estava lá, mas havia número dos quartos no lado esquerdo com outros números à direita.

Keri se lembrou de que o Tenente Henriksen disse que Holiday escreveu números na testa de todas as meninas. Ela se lembrou de ver Lanie com um grande ‘11’ lhe encarando de volta. Ela vasculhou outros papéis para ver se havia algum que ligava nomes aos números, mas nenhum o fazia.

O homem na cadeira se moveu e ela se voltou para ele.

Eu não preciso de uma folha de papel. Eu tenho o equivalente humano bem aqui.

“Em qual quarto essa garota está?” ela demandou, segurando uma foto de Sarah no seu celular.

“No hablas inglês,” ele murmurou.

“Que pena. Porque se você não pode falar inglês, você de nada serve para mim. E como você pode ficar no meu caminho...” Ela não terminou a frase, ao invés disso destravou sua arma e a pressionou na testa dele.

Ele entregou imediatamente.

“Certo, certo. Ela está na sala quinze.”

“Você sabe que eu vou te apagar, certo?” ela o avisou. “E se ela não estiver lá, eu vou voltar e atirar na sua cabeça enquanto você estiver dormindo.”

“Ela está lá, eu juro.”

Sem responder, Keri colocou a trava de volta em sua arma e deu uma coronhada na têmpora do homem. Ele desmoronou em um amontoado.

Como fizera com o guarda, ela segurou suas mãos e as amarrou atrás da cadeira com suas próprias braçadeiras. Então, ela pegou alguns lenços da caixa na beirada da mesa e os socou em sua boca. Ela repetiu o processo com o guarda, que não ofereceu resistência.

Eram 12:11. Ela estava um minuto atrasada. Enfiado a cabeça para fora da sala, ela continuava sem avistar ninguém e começou a suspeitar que as garotas estivessem sendo mantidas no segundo andar, o que poderia explicar porque não havia guardas embaixo.

Ela se apressou pelo saguão e virou uma esquina. A sala de estar com a cortina vermelha de veludo estava a frente na direita. Ela trotou com a arma erguida. A sala estava vazia. Então, ela ouviu um rangido a sua direita e virou na direção. Ela estava quase puxando o gatilho quando percebeu que era Ray, que estivera agachado atrás de uma parede saliente de uma antessala.

“Quase atirei em você,” sibilou.

“Teria sido uma bosta.”

“Sim, em mais de uma maneira. Onde está o médico?”

“Ele teve que tirar um pequeno ‘cochilo’. Eu o deixei repousando em uma espreguiçadeira ao lado da banheira quente no vestiário masculino com uma toalha de mão sobre o rosto. Parecia que ele estava tendo um dia de spa. Eu estive escondido em uma das cabines do banheiro até alguns minutos atrás, para que eu não fosse descoberto. Você teve mais sorte?”

“De fato, eu tive. Encontrei algum tipo de cara do agendamento e o convenci a me dizer em que sala a Sarah está.”

“Qual delas?” Ray perguntou excitado, mais alto do que queria.

“Quinze. E eu sei onde na casa ela fica.”

Ela lhe mostrou o mapa no celular. A sala 15 era quase diretamente acima do local atual deles. Ray balançou a cabeça.

“Infelizmente, parece que só tem um jeito de chegar até lá, a escadaria principal na sala de estar principal. E há guardas no topo e na base das escadas. Eu os vi quando entrei.”

“Tem que haver algum outro caminho para cima,” Keri insistiu. “Afinal, alguns desses pervertidos são bem velhos. Eles não podem pegar as escadas.”

“Sabe, agora que você mencionou, eu realmente vi um cara velho no vestiário entrar no que parecia ser um closet e nunca saiu de lá. Talvez seja um tipo de elevador.”

Eles olharam para o mapa, mas não era definitivamente de uma forma ou de outra.

“Nós podemos ir até lá dar uma olhada?” perguntou Keri.

“Iria parecer terrivelmente suspeito para qualquer um aqui, especialmente com você nesse vestido de verão. A propósito, de que isso se trata?”

Keri estava quase respondendo quando teve uma ideia.

“Eu acho que eu sei como podemos chegar lá em cima, mas temos que andar rápido.”

Cinco minutos depois eles entraram o vestiário. Ray estava vestindo o uniforme do guarda nocauteado por Keri na sala de avaliação. Ele tinha a metralhadora na bandoleira e segurava Keri firmemente pelo antebraço, como se ela fosse sua prisioneira. Ela ainda usava o vestido de verão, mas agora ela andava em um coxear pronunciado e falso. Ela esperava que ninguém os perguntasse qualquer coisa, porque nenhum deles sabia espanhol suficiente para responder de forma convincente.

Vários homens os encararam quando eles passaram, mas nenhum disse qualquer coisa, enquanto os dois entravam no closet e fechavam a porta.

Sem dúvida, era um antigo e apertado elevador de grade com um portão deslizante. Ray apertou o ‘2’ e geringonça balançou violentamente antes de subir vagarosamente.

Quando chegou ao segundo andar, eles saíram e perceberam que estava em uma área de lounge menor. Dois homens sentavam em poltronas. Um estava lendo um jornal enquanto bebia um drink. O outro assistia a um jogo de futebol na televisão. Nenhum deu uma segunda olhada para eles.

Eles moveram para a porta e Ray enfiou a cabeça para fora. Voltando, ele se inclinou e sussurrou na orelha dela.

“Há quatro guardas; um no topo da escada e três guardando os quartos.

Como você sugere darmos um jeito neles?”

“Nós poderíamos atirar em todos,” Keri sugeriu brincando.

“Isso daria conta deles,” Ray concordou. “Mas pode chamar a atenção da meia dúzia de guardas que vi no andar de baixo.”

“Certo, então sem atirar. O Taser funcionou muito bem pra mim na sala

de avaliação. Quer tentar?”

“Sim,” disse Ray. “Como vamos fazer para que eles se aproximem?”

“Eu estava pensando que podíamos continuar com o truque com usamos no caso Harwood.”

“Eu gosto do jeito que você pensa, parceira,” disse Ray, sorrindo largamente apesar da situação deles.

Keri notou o cara lendo o jornal os fitando com curiosidade.

“Melhor começarmos a nos mexer,” ela disse. “Os nativos estão ficando inquietos.”

Ray assentiu. Eles entraram no saguão. Os dois não tinham dado mais de uns poucos passos quando Keri caiu no chão.


CAPÍTULO VINTE E NOVE


Quando os guardas se aproximaram, o corpo de Keri se paralisou e começou a tremer descontroladamente. Ray passou os olhos para os outros guardas como se estivesse incerto sobre o que fazer.

Enquanto um dos guardas se ajoelhava para dar uma olhada mais de perto, com os olhos apertados ele viu Ray se afastar, parecendo amedrontado. O guarda no topo da escadaria pareceu confuso e perguntou algo a Ray em espanhol se aproximando rapidamente.

“¿Qué pasa?”

“¿Qué pasa?” Ray repetiu de volta, se aproximando.

O guarda da escada, suspeitando daquela resposta pegou seu rádio e estava prestes a dizer alguma coisa quando Ray disparou o Taser em seu ombro. Em um movimento ágil, ele socou o guarda no rosto e o homem passou de tonto para inconsciente.

Keri viu a cena e fez a sua jogada. Ela alcançou o guarda que se inclinava sobre ela e agarrou seu colarinho, como se estivesse clamando desesperadamente por ajuda. Mas antes que ele soubesse o que estava acontecendo, ela o puxou para baixo. Ao cair por cima dela, ela levantou o joelho e se certificou que colidiria com a lateral da cabeça dele. Ele se enrolou em um bolo aos seus pés.

Os outros dois guardas não estavam certos se o que estava ocorrendo era acidental ou não. A indecisão deles custou caro. Keri esticou o braço novamente como se estivesse tendo outro ataque. Mas dessa vez ela tinha o Taser em mão e o atirou no tornozelo do guarda mais próximo. Ele caiu ao chão e ela o acertou de novo no pescoço.

O último guarda restante, agora finalmente ciente de que ele fora enganado, levantou sua metralhadora e começou a mirar em Keri. Mas ele não tinha completado o movimento antes que Ray, ao seu lado, usasse o Taser no seu ombro e o acompanhasse até o chão, antes de acertá-lo novamente com um disparo no peito.

“Fomos muito barulhentos?” Keri perguntou ficando de pé.

“Eu acho que não, mas é melhor nos movermos depressa. Nós podemos enfiá-los em um quarto vazio, mas quem sabe quando vão trazer outro cliente para cima? E se eles virem que todo o andar está desprotegido, vão disparar o alarme prontamente.”

“Bem, tem o quarto vinte e dois,” disse Keri apontando. “Vamos pegar a Sarah e colocá-los todos lá.”

“De acordo,” disse Ray, “Está pronta?”

“Você está brincando? Eu estive esperando um bom tempo por isso.”

Ray sorriu e virou a maçaneta lentamente. A porta cedeu e abriu lentamente. Eles podiam ouvir os ruídos do que parecia a música “Pour some sugar on me” do Def Leppard vindo de dentro. Ele abriu a porta um pouco mais e Keri entrou no quarto.

Ela usou tudo o que tinha para sufocar o horror que sentia. Sarah estava de fato deitada na cama. Ambos os braços e pernas estavam atados à cama.

Seus olhos estavam apertados. Seu corpo estava coberto com vergões vermelhos.

Um homem estava na cama sobre ela. De costas era difícil dizer sua idade. Mas ele era alto e magro. Ele vestia uma longa capa preta e nada mais. Nas mãos dele havia um grande candelabro com uma vela acesa.

Keri e Ray permaneceram congelados, sem saber o que fazer da situação. Então o homem inclinou o candelabro para o lado.

“Aqui vai,” ele riu enquanto um respingo de cera quente caia na barriga de Sarah. Ela se contraiu, mas não emitiu som algum.

Depois disso, levou menos de um segundo para que Ray o alcançasse.

Ele se lançou sobre o homem e o acertou nas costas com o antebraço. O

homem largou o candelabro enquanto se desequilibrada e tombava para a direita. De alguma forma, ao cair, Ray correu para o lado da cama e segurou seus braços antes que caísse no chão.

Uma vez que o tinha segurado, ele pregou o homem contra a parede do outro lado com sua mão esquerda enquanto o golpeava repetidamente no rosto com o punho direito. Enquanto isso, Keri se apressou para a cama e apagou a chama da vela antes que esta escorresse.

O homem, todo mole, cedeu ao chão. Mas Ray o agarrou e o moveu com força para a janela, que estava fechada. Ele a abriu e começou a empurrar o homem quase inconsciente para fora.

“Ray, pare!” Keri sibilou, com medo de que ele arruinasse o plano. “Um cara caindo do céu não vai nos ajudar a tirar Sarah daqui. Apenas o apague e traga os outros guarda no saguão para cá. Temos que nos apressar.”

Ray pareceu recobrar o senso. Ele deu um último golpe no cara magricela. Então, o colocou gentilmente no chão e correu de volta para o

saguão para coletar os outros.

Keri voltou sua atenção para Sarah, que a estava encarando com olhos arregalados.

“Isso é real?” ela perguntou. “Você realmente disse meu nome?”

Keri se forçou a ignorar o corpo arrasado da garota e, ao invés disso, se concentrou nos seus olhos.

“Eu disse, Sarah. Meu nome é Keri. Eu sou uma detetive de Los Angeles. Aquele era meu parceiro, Ray. Seus pais nos procuraram, porque estavam preocupados. Eles estiveram procurando por vocês desde ontem a tarde. E nós vamos te tirar daqui”

Sarah começou a chorar, mas reprimiu. Ao invés, ela engoliu e perguntou a questão que a vinha consumindo por horas.

“E Lanie? Ela está bem?”

“Ela está bem,” respondeu Keri enquanto tirava seu canivete suíço e começava a cortar os laços que prendiam os braços da garota no lugar. Ela não mencionou o número ‘4’ borrado em sua testa. “Nós a encontramos no motel onde vocês todas estavam sendo mantidas. Todas as garotas estão bem.”

“Você pegou Chiqy?”

“Pegamos,” Keri a garantiu e apontou para Ray que trazia mais um guarda para o quarto. “Aquele cara o mandou para o hospital. De lá, ele vai para a cadeia.”

Enquanto soltava Sarah, Keri tentou inspecionar o corpo da menina com os olhos sem dar muito na cara. Ela estava coberta com queimaduras de cera. Fora isso, ela parecia machucada, mas bem. Nós a pegamos a tempo, ela percebeu com grande alívio.

“Você já pegou o Sr. Holiday?,” Sarah perguntou, tentando manter o medo fora da sua voz, mas falhando.

“Ainda não. Nossa prioridade é levar você e as outras garotas para um lugar seguro. Nós iremos pegar o Holiday, mas não é nosso foco agora.

Você acha que consegue andar?”

Sarah assentiu e Keri a ajudou a se erguer para ficar sentada. O vestido de verão estava habilmente dobrado na mesa ao lado da cama. Keri o pegou e ajudou a descê-lo pela cabeça de Sarah.

“Eu posso precisar de alguma ajuda para ficar de pé,” a garota murmurou como se estivesse envergonhada. “Eu estive deitada naquela posição por

horas e minhas mãos e pés estão bem dormentes.”

Keri forçou o ódio que sentiu subindo em suas vísceras para baixo. Não era hora para aquilo. Agora ela precisava ser uma cuidadora, uma protetora, uma fonte de compreensão e apoio.

“Sem problemas,” ela disse, auxiliando Sarah a se levantar e ajudando a suportar seu peso enquanto se arrastavam para a porta.

Ray puxou o último guarda para o guarda e então ficou de pé e deu um sorriso aberto para Sarah.

“Oi. Eu sou o Ray. É prazer conhece-la.”

“Oi, Ray,” ela respondeu sorrindo palidamente.

“Nós estamos saindo desse lugar,” ele a garantiu.

“Mas não sem as outras garotas, certo?”

“Nós vamos pegá-las também,” prometeu Keri. “Você sabe quantas estão por aqui?”

“Quando eles me trouxessem, havia outras cinco também. Mas eles tinham mais de vinte arrastadas para o lugar que chamam de estábulo.

Quem sabe quantas garotas eles mantém por lá.”

“Certo, nós vamos começar com as garotas aqui em cima,” disse Ray.

“Elas não estão sendo vigiadas, então não há hora melhor que agora para irmos resgatá-las. Vamos seguir para as outras quando todas vocês estiverem a salvo. É um bom plano?”

“Bom plano,” concordou Keri enquanto pegava uma das metralhadoras dos guardas e a pendurava sobre o ombro, então tornou sua atenção para Sarah. Quero que você fique nesse quarto e vigie a escadaria. Nós iremos abater os homens nos outros quartos. Se você avistar alguém subindo as escadas, dê um assobio alto para nos avisar. Você pode fazer isso?”

“Minha boca está bem seca, mas acho que sim.”

“Se não funcionar, apenas chame meu nome, entendeu?”

Sarah assentiu. Depois disso, Keri e Ray se moveram tão rápido quanto podiam para entrar sorrateiramente nos quartos, acertando os clientes incautos com o Taser e libertando as cinco garotas, também amarradas na cama. Todas estavam em mau estado, mas nenhuma tinha sido tão brutalizada como Sarah. Elas estavam todas reunidas em um pequeno grupo.

Ninguém subiu as escadas, uma voz veio chamando de um dos rádios dos guardas.

“¡Informe! ,” ordenava uma voz alta e autoritária.

“Não sei o que isso significa,” disse Ray, “mas não pode ser bom.”

“É o Sr. Holiday,” disse uma garota maltrapilha com um “28” escrito em sua fronte. Ela não podia ser mais velha que treze. “Ele está pedindo por um relato.”

“É melhor nos movermos,” disse Keri com urgência. “Não vai demorar muito antes que ele envie outros para cima para verificar as coisas.

Precisamos estar fora do prédio até lá.”

“Voltar por onde viemos?,” disse Ray.

“Acho que sim,” concordou Keri. “Por que você não vai até o lounge?

Aqueles dois caras não vão prestar atenção em você. Acerte o Taser no cara do jornal primeiro. Então vá para o que assiste futebol. Eu vou adentrar depois de contar até cinco para ajudar você com ele quando ele estiver olhando para você.”

Ray assentiu e andou pela porta.

“Fiquem aqui. Vamos buscar vocês em um momento,” Keri disse às garotas, antes de respirar fundo e entrar no longe.

Ela compreendeu a situação rapidamente. O homem que estivera lendo jornal estava afundado na sua poltrona. O cara assistindo futebol estava olhando fixamente para a abordagem rápida de Ray com olhos de pires, incerto sobre o que fazer. Keri se apressou para ele, o alcançando bem quando ele começou a abrir a boca.

Ela e Ray o alcançaram ao mesmo tempo. Ela o eletrocutou nas costas e Ray nos ombros. Ele capotou e caiu lentamente para o chão. Enquanto seu corpo atingia o chão, eles podiam ouvir mais murmúrio nos rádios da outra sala.

“Eu não acho que temos muito tempo. Pegue as garotas.” disse Keri sem hesitação enquanto corria para abrir a porta do elevador. Ray trouxe as garotas e todas elas se espremeram. Keri apertou o botão “1” e rezou para que a geringonça raquítica suportasse o peso.

A coisa engasgou de volta a vida, tremendo como um cachorro expulsando água do pelo. Quando finalmente iniciou a descida, eles podiam escutar passos altos e vozes berrando no saguão ao lado do lounge.

Parecia que demoraria uma eternidade até chegar ao chão. Quando o elevador finalmente parou, eles saíram amontoados, Ray liderando o caminho com seis garotas atrás dele. Keri matinha a retaguarda.

Ao entrarem no vestiário, oito homens, em sua maioria vestindo apenas toalha ou completamente nus, se viraram para encará-los. Todos pareciam chocados, mas foi só quando viram Keri, vestindo o uniforme de vestido de verão, mas com uma metralhadora pendurada no ombro, é que atinaram que havia algo de muito errado.

Alguns correram para a área do chuveiro. Outros se apressaram para seus armários. Um deles, sem roupa alguma, virou e correu para o saguão principal.

“Nós temos que sair daqui,” disse Ray. “Eles estarão aqui a qualquer minuto.”

Não levou tanto tempo.

CAPÍTULO TRINTA


Apenas um momento depois, dois homens invadiram pela porta com as metralhadoras erguidas. Eles olharam descontroladamente ao redor.

“Pará trás,” Keri ordenou as garotas enquanto ela dava um passo à frente.

Enquanto as seis jovens meninas em vestidos de verão mergulhavam de volta para o elevador, os dois detetives de Los Angeles avançaram, levantaram as armas e atiraram nos guardas ainda desorientados. Ambos os homens caíram instantaneamente.

“Mantenha um olho na porta,” Keri disse a Ray. “Vai haver mais deles a qualquer segundo. Eu tenho que tirar essas garotas da linha de fogo.”

Ray assentiu e Keri voltou sua atenção para grupo que tinha se amontoado no elevador. Olhando ao redor, ela viu um homem espreitando por detrás da parede de azulejos de um chuveiro.

“Por aqui,” ela ordenou e as garotas correram, seguindo Keri pelo caminho mais curto até as cabines. Ela encontrou uma desocupada e as apressou para dentro. Estava quase puxando a cortina quando Sarah agarrou seu pulso.

“Eu quero ajudar,” ele disse mais firme do que Keri esperava. De repente o barulho de um disparo irrompeu da parte principal do vestiário.

“Ajude mantendo-as em segurança. Fique aqui.”

Então ela puxou a cortina pela cabine e correu de volta. Ela viu Ray encurralado atrás da parede da sauna. Ele não parecia estar ferido, mas ele não conseguia atirar sem se expor.

“Quantos?” ela moveu os lábios silenciosamente.

Ele levantou três dedos. Ela levantou sua mão esquerda mostrando cinco dedos, então fez um punho e deixou um dedo levantado, e então dois. Ray percebeu que ela estava fazendo contagem regressiva e assentiu novamente.

Quando ela chegou a quatro, ele disparou alguns tiros, sem esperar que acertasse os guardas, apenas para distraí-los.

No cinco, Keri saiu detrás da parede que estava usando como cobertura, travou em um guarda e atirou. Ele caiu no chão enquanto seus comparsas se viraram na direção dela. Ela voltou para detrás da parede, enquanto uma saraivada de projéteis mandou pedaços do azulejo pelos ares, por cima de

sua cabeça.

Ray tirou vantagem do momento para se inclinar para fora e atirar nos homens. Keri não sabia o resultado, mas imaginou que a atenção deles estaria longe dela, então ela saiu novamente para atirar, apenas para encontrar os guardas restantes no chão. Ray pegara ambos.

Keri correu imediatamente para a porta e a trancou. Então ela empurrou um dos corpos dos guardas contra a porta para atrasar a entrada de qualquer um que estivesse para entrar. Recusando-se a pensar no significado maior do que estava fazendo, rolou outro corpo por cima.

Ray viu o que ela estava fazendo e se juntou, jogando os corpos dos três guardas restantes em cima dos dois primeiros, de maneira tal que criaram uma barricada humana.

“Os mantenha do lado de fora,” disse Keri enquanto pegava uma das metralhadoras no chão, “Eu vou dar essa para Sarah por precaução. De volta em um segundo.”

Ray assentiu e assumiu uma posição atrás de um armarinho a direita da porta. Keri correu de volta para os chuveiros. Ela viu vários homens botando a cabeça para fora das cabines. Assim que a viram, se apressaram para dentro.

Ela puxou a cortina de volta para encontrar cinco garotas no fundo da cabine. Sarah estava de pé à frente, usando uma garrafa de shampoo como arma.

“Eu tenho algo melhor para você,” disse Keri. “Você deve usá-la apenas como último recurso. Mantenha a cortina fechada. Se alguém que não seja eu ou Ray a puxar, comece a atirar, certo?”

Sarah assentiu. Keri deu sua introdução de vinte e dois segundos sobre como usar a arma.

“Essa é um rifle automático AK-47convertido; simples de usar. Remova a trava de segurança aqui. Use a mira para atirar. Entendeu?” ela perguntou.

“Acho que sim,” Sarah disse sem segurança.

“Só não atire até que você saiba em que está atirando. E seja cuidadosa.

Essa coisa tem um coice forte.”

Logo em seguida, Keri escutou o que parecia ser uma explosão.

“Fiquem aqui!” ordenou Keri antes de voltar correndo para a área do vestiário.

A sala estava esfumaçada e levou alguns segundos para que ela acertar o rumo. Depois de um momento, ela entendeu o que tinha acontecido.

Alguém usou um tipo de explosivo para explodir a porta, que havia sumido. Pedaços dos corpos dos guardas mortos estavam espalhados por todo lugar. As paredes estavam cobertas de sangue e coisas piores.

Ela procurou por Ray, mas não podia vê-lo. Ela viu alguém carregando uma metralhadora passar pela fumaça para dentro do cômodo. Ela esperou até que tivesse certeza de que era um guarda antes de abrir fogo nele. Ele caiu e ela escutou duas outras vozes berrarem em espanhol enquanto recuavam para o corredor.

Houve um grunhido do outro lado da sala e ela olhou na direção. Ela observou através da fumaça e viu o que parecia ser dois homens se agarrando. Enquanto se aproximava cautelosamente, a cena ficou clara.

Ray estava rolando no chão com um cara musculoso que tinha cabelo castanho curto e vestia uma camiseta apertada. Ela supôs que esse fosse o Sr. Holiday. A explosão fez com que os borrifadores no teto fossem acionados e eles estavam encharcados com a água. Nenhum deles tinha uma arma e nenhum conseguia se sobressair, enquanto deslizavam pelo chão de azulejo escorregadio.

Eles estavam tão agarrados que Keri não sentiu confiança em dar um tiro entre toda fumaça e água e entre a carnificina toda. De repente, ela ouviu disparos fora do cômodo e se virou, esperando por alguém descarregar nela. Mas ninguém o fez.

Ela retornou para a luta. Agora ela estava a menos de três metros e viu que Ray conseguira vantagem. Ele tinha Holiday pressionado contra um armarinho com sua mão esquerda e deferindo golpes fortes com a mão direita.

Holiday tentou se debater para se soltar, mas foi de nenhum proveito.

Ray ajustou a posição dos seus pés para manter a tração, um deles escorregou no piso molhado e ele tombou para frente. Ela ouviu um baque quando sua cabeça se chocou no chão. Ela não se moveu.

Com uma linha de tiro clara e sem um segundo pensamento, Keri levantou a metralhadora e puxou o gatilho. A arma mascou.

Holiday, desatento a ela, precisou apenas de um segundo para se recompor. Enquanto recobrava o fôlego, ele estendeu a mão para o calcanhar e Keri o viu tirar uma faca de uma bainha. Ele a ergueu para o

alto e Keri viu a lâmina de dez centímetros reluzindo contra a luz.

Sem hesitar, ela correu para ele e saltou enquanto ele começava a descer a lâmina para a parte de trás do crânio de Ray. Ele estava na metade do caminho quando ela aterrissou em suas costas e o mandou voando em outro armário.

Ela escutou a faca retinindo no chão enquanto ela enrolava as pernas ao redor de sua cintura e os braços ao redor de seu pescoço. Ela empurrou seu queixo com força para cima e o sentiu grunhir de dor. Com o braço esquerdo apertando rente ao redor do pescoço, ela golpeou seus olhos várias vezes com o polegar direito.

Mesmo com ele tentando se livrar do braço dela, ela sabia que tinha acertado pelo menos uma vez, já que sentiu sua unha cravejar no tecido macio, enquanto o ouviu berrar de dor. Ela se agarrou com tudo o que tinha enquanto ele balançava para trás e para frente, tentando desloca-la de suas costas. E então, de repente, ele parou.

Ela sabia de imediato que algo estava errado, mas não conseguia descobrir o que era. E então ela o ouviu falar em um rosnado áspero cheio de malícia.

“Eu vou te fazer chorar antes de matar você,” ele rugiu.

Sem aviso, ele se jogou para trás, caindo contra o chão de azulejo. Keri, repentinamente abaixo dele, sabia que estava prestes a levar o impacto da colisão e do peso dele por cima dela.

Ela se segurou, amarrando os braços ao redor do torço dele e jogando os ombros para trás para que suas costas atingissem o chão antes de sua cabeça.

Ela bateu com força, sentindo suas escápulas triturarem o azulejo do chão e então o corpo de Holiday contra suas costelas. O ar foi expulso do seu peito e ela arfou desesperadamente. Sua nuca se chocou contra o chão, mas com menos força que esperava. Ela sentiu Holiday rolar de cima e tentou manter a pegada nela. Ele a expulsou com facilidade.

Ela olhou pela água dos borrifadores acima dela espirrando em seu rosto e o viu se erguer devagar. Ele estava curvado para frente e respirando pesadamente. Seu olho direito estava em más condições, sangue escorria dele, cobrindo o lado direito de sua face e pingando da sua mandíbula.

Ela se se lembrou da arma no coldre embaixo do vestido, mas sabia que não conseguiria alcança-la. Estava tendo dificuldade em apenas respirar.

Depois de vários segundos apenas em pé imóvel, olhando fixamente para ela com seu olho bom, ele falou. Sua voz era surpreendentemente calma e baixa.

“Eu sei quem você é. Você é o tira que salva crianças desaparecidas.

Aquela que não conseguiu achar a própria filha. Locke, certo?”

Keri desejou mover lentamente sua mão direta através do corpo para que pudesse pegar a arma reserva do tornozelo que estava escondida sob a manga no braço esquerdo. Mas ela não conseguia. Seu corpo não estava respondendo. Ela estava completamente exposta, muito fraca e sem fôlego para fazer qualquer coisa. Ray ainda estava desacordado, apenas a trinta centímetros dela. Holiday continuou um pouco mais alto e mais confiante agora.

“História triste essa da sua vida. E agora está prestes a terminar. Eu imagino, o último pensamento em sua cabeça antes de eu esmagar seu crânio será em como sua garotinha está sofrendo o mesmo destino de todas as minhas putinhas aqui? Será da degradação que ela carregará até que seja demais e ela decida finalizar tudo isso? Vai ser de como você morreu um fracasso? Ou será que seu último pensamento vai ser só ‘oh’ enquanto seu cérebro vira pasta?”

Ele deu um passo à frente e levantou seu joelho para o alto. Sua bota com bico metálico se ergueu sobre a cabeça dela e pareceu ficar pendurada ali em animação suspensa.

“Você é quem vai dizer ‘oh’,” disse uma voz atrás dela.

Holiday olhou para ver quem estava falando e Keri viu um espanto genuíno em seu rosto.

“Número Quatro?” disse ele, sua voz era uma mistura de medo e surpresa.

De repente, Keri ouviu uma rajada de disparos e viu Holiday voar para trás e acertar o chão. Ela se virou para ver Sarah Caldwell, com a metralhadora levantada, andar lentamente por ela, passar por Ray com cuidado e ficar de pé bem acima de seu algoz.

Deitado sobre as costas, ele tentava se arrastar para fora, mesmo cuspindo sangue pelos lábios.

“Você ia me matar, Sr. Holiday,” disse Sarah em uma voz tranquila, quase um sussurro. “Você ia me destruir. Você ia me despedaçar. Você ia fazer de mim um exemplo. Mas olhe, ainda estou de pé, Sr. Holiday. Você

não me destruiu. Eu estou saindo fora daqui, com a cabeça em pé. E

advinha? Você e seu bronzeado falso e seus brilhantes dentes brancos vão sair daqui dentro de um saco. Como você se sente sabendo que foi uma garota que fez isso com você, Sr. Holiday?”

Ele abriu a boca para falar, mas antes que uma palavra saísse, ela o pulverizou com balas, mantendo o dedo no gatilho até que o cartucho se esvaziasse. O corpo dele se contraiu e então tombou para trás no chão.

O vestiário ficou estranhamente quieto. Os borrifadores tinham desligado. Não havia mais disparos. Keri pensou ter ouvido vozes à distância, mas ela não podia dizer se suas orelhas ainda estavam zumbindo da explosão e dos tiros. Ela olhou fixamente para o corpo imóvel de Holiday. Sangue escorria dele.

Sarah largou a arma no chão e se sentou ao lado de Keri com um olhar vazio em seu rosto. Keri estava prestes a falar quando ouviu uma comoção vinda da porta e olhou para lá. Sarah começou a buscar pela arma inútil.

“Não,” Keri gritou. “Eles são da polícia.”

Quatro homens entraram na sala, todos carregando pistolas e vestindo uniformes que portavam as palavras “Policia de Ejido Morelos”. Um deles, um homem baixo por volta de quarenta anos com um bigode grosso e um peito estufado, deu um passo a frente.

“Detetive Keri Locke?” ele perguntou com mais calma do que alguém pode esperar em tais circunstâncias.

“Sim. Comandante Castillo?”

“Eu mesmo,” ele disse em um inglês com sotaque forte, mas bem articulado. “Desculpe por chegarmos tarde. Meus homens tem o perímetro seguro. Posso te oferecer assistência?”

“Pode,” ela disse, engolindo em seco e tentando ignorar a estranha tontura que sentiu de repente antes de proceder. “Meu parceiro ali precisa ser avaliado. Ele bateu a cabeça. Essa é Sarah. Ela precisa de atenção médica também. Ela foi submetida a... muitas coisas. Há cinco outras garotas escondida em um chuveiro lá trás. Tenha cuidado. Há homens por lá também. Clientes desarmados, eu acho. As outras garotas estão bem?”

“Sim, Detetive,” garantiu o Comandante Castillo. “Nós achamos mais de sessenta jovens meninas em um armazém lá fora. Eu tenho homens com elas e nós estamos chamando assistência médica de ambas Rosárito e Tijuana.”

Keri assistiu enquanto outro policial se ajoelhava ao lado de Ray e começava a examiná-lo com cuidado.

“Não se preocupe,” disse Castillo, sentido a preocupação dela. “Todos os meus homens têm treinamento em emergências médicas. Nós vivemos em uma pequena cidade e usamos vários chapéus. Posso examinar você?”

“Primeiro ela,” disse Keri, indicando Sarah. “Estou com medo que os cortes delas infeccionem.”

“É claro. E eu posso dizer que você é exatamente como minha sobrinha te descreveu?”

“E como foi?” perguntou Keri.

“Muito teimosa. Muito durona. E muito dedicada.”

“Oh, isso foi legal,” ela respondeu preguiçosamente, a sua tontura se tornou em uma vertigem em toda cabeça.

“Sabe, talvez eu precise ser examinada afinal. Eu bati minha cabeça mais cedo e estou me sentindo meio zonza. Alguém pode...”

E tudo ficou escuro.


CAPÍTULO TRINTA E UM


Vinte e quatro horas depois, flanqueada por Jamie Castillo e Manny Suarez, Keri entrou no lobby do Hospital Angeles Tijuana depois de ter sido examinada apenas algumas horas antes. Seu corpo era um grande hematoma e sua cabeça ainda doía. Mas pelo menos ela podia se mexer.

Depois de passar a noite ali em observação, ela fora liberada essa manhã com um alerta rigoroso do neurologista: faça uma MRI em Los Angeles.

Ele estava preocupado que tanto trauma na cabeça em um curto período de tempo pudesse ter efeitos permanentes.

Tenente Hillman ficada em Los Angeles para cuidar do restante do caso e enviou Castillo e Suarez para dar uma ajuda por lá. Eles a pegaram e levaram para o quarto de hotel que alugaram para que ela pudesse se lavar.

Jamie lhe deu algumas roupas que pegara no apartamento dela.

Quando ela saiu do banheiro, Jamie estava sentada na cama.

“Onde está Manny?” perguntou Keri.

“Ele desceu para pegar algumas garrafas d’água. Ele estará de volta em um minuto.” Ela tinha uma expressão estranha no rosto.

“O que está errado?” Keri lhe perguntou. “Parece que você vai vomitar.”

“Não,” respondeu Jamie. “Eu só... eu só estava pensando... você e o Detetive Sands vão algum dia dizer um para o outro o que sentem?”

A boca de Keri caiu aberta. Por uma das poucas vezes em sua vida ela estava genuinamente sem palavras. Logo então, Manny abriu a porta. Ele podia dizer que algo estava estranho.

“Cheguei em uma hora ruim?” ele perguntou.

“Não,” disse Keri rapidamente, dando um olhar “fique de boca fechada”

para Castillo. “Na verdade é uma hora perfeita. Eu adoraria um pouco de água.”

Refrescada, moderadamente funcional e desesperada para evitar qualquer outra conversa desconfortável, ela insistiu em retornar para o hospital o mais rápido possível para verificar os outros. Então, eles saíram.

Manny dirigia e Keri se assegurou de sentar no banco do passageiro ao seu lado.

“Em qual quarto Ray Sands está?” ela perguntou educadamente para um dos recepcionistas do hospital quando eles chegaram.

A moça olhou para ela cética. Jamie disse algo em espanhol e a moça

respondeu calorosamente. Castillo se voltou para Keri.

“Ele está no quarto andar, quarto 414.”

“Eu pareço mal assim?” perguntou Keri enquanto entravam no elevador.

“Não. Eu que sou encantadora mesmo,” respondeu Castillo.

Quando chegaram ao quarto de Ray, a porta estava aberta e ele estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, colocando os sapatos.

“Você deveria estar fora da cama?” perguntou Castillo quando todos se apresentaram.

Ray olhou para cima revelando uma grande bandagem em sua testa.

“Oh, Jesus,” disse Suarez espantada.

“Não é tão ruim quanto parece,” insistiu Ray. “Eles só tiveram que me dar alguns pontos e quiseram me manter com isso até hoje à noite.”

“Pontos na sua cabeça, não parece nada bom, cara,” Suarez notou cético.

“Eu não estou tão mal quanto essa aí,” disse Ray, apontando para Keri.

“Quantas batidas na cabeça você levou no último dia?”

“Ei, os médicos me deram liberaram para sair essa manhã,” ela mentiu.

Eles a deixaram ir, mas não estava liberada.

“Conhecendo essa cidade, eu aposto que você os subornou,” resmungou Ray.

“Bom ver que você está de volta para seu antigo eu, Detetive,” disse Castillo sarcasticamente.

“Sempre,” disse Ray, mostrando-lhe um grande sorriso. “Agora vamos sair daqui. Por falar nisso, onde está seu tio? Ele se foi antes que eu acordasse e conseguisse agradecê-lo.”

“Ele teve que voltar para Ejido Morelos noite passada. Com tão poucos policiais, ela não poderia se dar ao luxo de ficar fora tanto tempo.”

“Ele realmente nos salvou,” disse Keri enquanto todos eles saíam juntos para o corredor. “Obrigado por ter feito contato com ele.”

“Sem problemas. É os que os Castillo fazem, não importa em qual lado da fronteira você está. Ele estava bem impressionado com vocês dois.

Aparentemente, vocês abateram mais de uma dúzia daqueles imbecis sozinhos.”

“Com uma ajudinha da Sarah Caldwell,” Keri notou calmamente.

“Por falar nela, onde ela está?” perguntou Ray ao chegarem ao elevador.

“Eu estava esperando ir vê-la.”

“Eu perguntei,” disse Keri. “Ela está no andar de baixo. Os pais dela

estão com ela. Eles chegaram noite passada e ficaram no quarto com ela.

Eles dormiram em camas de campanha.”

“Você já foi visita-la?” perguntou Suarez.

“Não. Eu queria dar um tempo a ela com os pais e para dar uma aliviada, sabe? Ela passou por tanta coisa. E ela teve que matar um homem. Eu não sei em que estado ela está.”

“Eu acho que nós vamos deixar você e Ray fazerem isso sem a gente,”

disse Castillo. “Nós vamos esperar por vocês lá embaixo. Vamos recolher o carro do Ray e podemos todos voltar quando estiverem prontos. Eu sei que Hillman quer você de volta para fazer aquela entrevista com a Divisão Central amanhã.”

“Ugh,” disse Keri. “Eu estava esperando que depois disso tudo eu fosse ganhar um vale.”

“Você ainda pode,” disse Suarez. “Porque, já que é de grande destaque, Hillman tem que seguir as regras a risca, mas eu acho que é uma formalidade. Considerando quem morreu naquela rampa do estacionamento, eu não acho que alguém vai forçar muito. Além disso, aqueles postais que você achou levaram ao resgate de vinte e nove garotas.

Eles estão procurando ativamente por outras doze. É bem importante. Você deve ganhar uma advertência, mas não muito mais.”

“Espero que você esteja certo, Manny,” disse Keri, menos confiante do que ele.

O elevador chegou e Ray apertou o “3” e o “L” em seguida. Quando as portas se abriram, ele e Keri saíram.

“Vejo vocês em instantes,” ele disse enquanto as portas se fechavam para levar os outros ao lobby. Então ele virou para Keri. “Qual quarto?”

“303”.

Eles caminharam pelo corredor em silêncio por um momento, nenhum tinha certeza do que iriam dizer para Sarah, ambos um pouco incertos sobre o que dizer um para o outro.

“Eles já conseguiram identificar o Holiday?” ele perguntou.

“Ainda não. Ele queimou todas as digitais e aquelas pérolas brancas eram falsas. Edgerton vai tentar fazer reconhecimento fácil, mas ele não está otimista. Talvez nunca saibamos quem é esse cara de verdade.”

Eles andaram em silencio por mais alguns passos constrangedores.

“Alguém recolheu o corpo de Chisolm?” Ray perguntou finalmente.

“Sim, Manny e Castillo ajudaram os agentes locais a encontra-lo. Ele está sendo transportado de volta na semana que vem depois que fizerem uma autópsia. Eu estou preocupada que o irmão dele possa fazer alguma coisa consigo próprio quando descobrir quem ele é.”

“Não está em nossas mãos, Keri. Não podemos salvar todo mundo.”

Ela assentiu e parou de andar.

“Eu sei. Mas eu gosto de tentar.”

“Eu sei que você gosta, Sininho.”

“Oh que ânsia, Gulliver, você vai me fazer corar,” ela disse e antes que ele pudesse responder, adicionou, “Este é o quarto dela.”

Ela bateu levemente na porta e a voz de Mariela Caldwell respondeu.

“Entre.”

Eles entraram no quarto e encontraram Ed e Mariela sentados em cadeiras em ambos os lados da cama onde Sarah estava apoiada.

“Vocês se importam se dissermos um oi?” Keri perguntou hesitante.

Mariela a respondeu levantando, caminhando em sua direção e a abraçando tão forte que ela achou que iria chorar de dor. Quando ela finalmente a deixou, Ed, que estivera abraçando Ray, tomou o lugar dela, embrulhando os braços em volta dela e apertando mais forte do que ela pensava que era possível.

“Obrigada, obrigada. Obrigada por ter salvado nosso bebê,” Mariela disse repetidamente entre soluços.

Keri não podia pensar em nada para dizer, então apenas assentiu. Sarah, que estava olhando para ela com olhos cheios d’água, acenou para eles.

Ao se aproximar, Keri observou a garota. Quase cada centímetro da sua pele exposta estava coberta com curativos.

“Como você está indo?” perguntou Keri.

Sarah pegou sua mão e a apertou de leve.

“Bem melhor do que estaria sem vocês.”

“Obrigado,” disse Ray. “Mas pelo que Keri me conta, nenhum de nós estaria aqui se não fosse por você.”

Sarah assentiu, mas não respondeu. Keri sentiu que ela não tinha certeza de como se sentir sobre o que fizera.

“Quando você vai para casa?” ela perguntou mudando de assunto.

“Em dois dias,” disse Sarah se iluminando. “Cai na terça, certo? Eu meio que perdi a noção.”

“Aham, é na terça. E as outras garotas?”

“A maioria deve conseguir ir para casa até o fim da semana. Pelo menos foi o que disseram na reunião.”

“Reunião?” disse Keri.

“Hum, sim,” ela disse um pouco envergonhada. “Eu meio que organizei uma reunião hoje mais cedo. Para que todas pudessem conversar e tal. Eu também queria criar uma lista para todas que quisessem manter contato.”

“Você sabe que os promotores vão ter uma lista de todo mundo,” disse Ray.

“Isso é um pouco diferente. É só para a gente. Eu descobri que vamos precisar umas das outras nos próximos meses. Sabe, enquanto tentamos deixar isso para trás. Eu espero criar um sistema de apoio, especialmente para as garotas que possam ter perdido as esperanças. Eu quero criar uma comunidade, quase como uma família, para que elas possam buscar quando precisarem.”

Keri enxugou uma lágrima e sorriu.

“Sarah, você é a pessoa mais incrível que eu já encontrei,” ela disse. “E

eu já encontrei algumas pessoas bem incríveis.”

“Igualmente.”

Keri deu uma olhada para Ray e, sabendo exatamente o que isso significava, ele se levantou.

“Bem, nós vamos parar de atrapalhar a reunião de família dos Caldwell.

Estão nos esperando em LA. Mas, por favor, peguem nossos números. Se tiver qualquer coisa que precisem, não hesitem em ligar.”

“Mesmo se for apenas para conversar,” adicionou Keri.

Eles sobreviveram à outra rodada de abraços antes de se dirigirem para a saída.

“Você acha que ela vai ficar bem?” perguntou Ray enquanto voltavam pelo corredor para o elevador.

“Eu não sei. As coisas pelas quais ela passou... eu não sei como alguém deixa isso para trás para recriar uma vida normal. As cicatrizes que ela tem por fora não são nada compradas com as que ela está lidando por dentro.

Mas eu acho que se houver qualquer garota que eu encontrei que possa atravessar isso bem, é ela.”

Quando eles chegaram ao lobby, Castillo estava esperando por eles.

“Onde está Manny?” perguntou Keri.

“Ele está trazendo o carro,” ela disse. “Oh, eu quase me esqueci. Agora que já se passaram vinte e quatro horas que vocês quase morreram, eu vou devolver seus celulares.”

“O quê?” demandou Ray.

“Hillman me mandou não devolvê-los até agora. Alguma coisa sobre dar-lhes tempo para recuperar,” ela disse enquanto tirava os celulares da bolsa de mão.

“Para ser honesta, eu nem pensei nisso,” disse Keri.

“Eu não sei se isso é uma coisa boa ou ruim,” respondeu Castillo.

Manny encostou e eles entraram no carro. Enquanto dirigiam para o hotel, Keri se sentiu adormecer. Ray estava ao lado dela no banco de trás e ela repousou a cabeça em seu ombro. Ele olhou para baixo e sorriu, mas não disse nada.

Quando estava fechando os olhos, passaram por um buraco e ela foi sacudida desperta. Dando uma olhada no celular, ela viu que tinha quatro mensagens.

Você poderia mandar notícias.

Era Keith, o segurança do shopping que lhes dera uma mão. Ele queria saber como as coisas tinham ido. Ele também disse que havia decido definitivamente pretas a prova da academia de polícia e estava esperando por algum conselho. Ele disse que estava com muito receio de ligar para Ray. Ela riu para si mesma com aquilo e fez uma nota mental para ligar para ele depois de ter se recuperado um pouco.

A próxima mensagem era de Susan Granger, a ex-garota de programa que morava em uma casa de assistência. Ela também queria saber se o caso estava indo bem e se sua informação foi de alguma ajuda.

Keri não estava animada em falar com ela ainda. Mas ela respondeu dizendo que a informação foi de grande ajuda, que a garota estava segura e que ela ligaria amanhã depois de ter um dia para recuperar das batidas e machucados. Ela terminou dizendo, “Obrigada, Narcy Drew!”

A terceira mensagem era de Hillman, dizendo que ele precisava que ela estivesse na delegacia central amanhã a tarde para a entrevista com a Divisão Central. Ele disse que ele a acompanharia, juntamente com o representante do sindicato. Ele também disse que poderia deixá-lo falar a maior parte da conversa.

Isso é um bom sinal? Ele parece que está me apoiando, mas com esse

cara nunca se sabe.

A última mensagem era de Mags. Era curta e direta ao ponto.

“Ligue para mim quando puder.”

Keri não pensava que era possível depois de tudo que seu corpo tinha passado, mas sentiu uma pontada no estômago e uma onda de adrenalina ao mesmo tempo.

Quando eles chegaram ao hotel, ela pediu licença e foi a uma sala de conferencias vazia, de onde ela ligou para Mags. Sua amiga atendeu no primeiro toque.

“Você está bem, querida?”

“Estou bem. Apenas algumas concussões, uma queda, ombros esmagados, costelas machucadas e uns joelhos inchados. O que está acontecendo? Pareceu urgente.”

“Eu temo que seja. Você sabe aquele aviso que coloquei na Craiglist, que era direcionado ao Viúvo Negro?”

“É claro.”

Mesmo com um calafrio subindo por sua espinha, Keri se forçou a ficar calma. Ficou ali, congelada, por um longo instante. Lentamente, ela permitiu um sentimento crescer dentro dela, um que ela achou ter perdido permanentemente na outra noite quando assistira a van marrom virar a esquina e dirigir para fora da visa com sua filha dentro.

Era esperança.

 

 

                                                   Blake Pierce         

 

 

 

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