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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UNDERWORLD / S.D. Perry
UNDERWORLD / S.D. Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Series & Trilogias Literarias

 

 

 

   

 

Associated Press, 6 de Outubro, 1998
Milhares morrem quando o fogo atinge as comunidades nas montanhas,
Doença misteriosa pode estar envolvida
Nova York, NY - A isolada população das montanhas de Raccoon City, PA, foi oficialmente declarada uma área de desastre por oficiais estaduais e federais, enquanto dedicados bombeiros continuam travando guerra contra as labaredas e o número de mortos continua aumentando. Estima-se agora que mais de sete mil pessoas foram mortas pelos explosivos que atingiram Raccoon na manhã de Domingo, 4 de Outubro. Está sendo considerado o pior desastre nos Estados Unidos em termos de vidas perdidas, desde a era industrial, e enquanto as organizações nacionais de auxílio e a imprensa internacional se concentra nas barricadas ao redor das ruínas ainda em chamas da cidade, amigos chocados e familiares dos cidadãos de Raccoon se reuniram, esperando por notícias em Latham.
O diretor de Controle de Desastres Nacionais (CDN), Terrence Chavez, coordenador dos esforços das equipes de emergência e bombeiros, lançou uma nota à imprensa na noite passada, explicando que apesar das complicações previstas, ele espera que as últimas chamas sejam apagadas antes do meio da semana - mas que poderá levar meses até que a origem desse fogo seja determinada, assim como se foi ou não um incêndio proposital. Chavez disse, "A magnitude dos estragos só em termos de área torna a busca por respostas uma grande responsabilidade, mas as respostas estão lá. Vamos chegar ao fundo disso, não importa o que aconteça."
Às 6 da manhã de hoje, setenta e oito sobreviventes foram encontrados, e seus nomes e condições mantidos em sigilo; foram transportados para um hospital federal não revelado para observação e/ou tratamento.
Relatórios iniciais das equipes HazMat sugerem que uma doença desconhecida possa ser a responsável pelo incrível número de vítimas, já que os cidadãos infectados não conseguiram escapar, possivelmente devido à incapacidade causada pela doença. Há rumores de que a doença possa ter induzido psicoses violentas em alguns dos infectados. Membros dos centros particulares e federais de controles de doenças foram chamados para aumentar o limite de quarentena, e apesar de nenhuma declaração oficial ter sido lançada, vazaram diversas descrições dos sintomas físicos e psicológicos em muitas das vítimas. Uma fonte, membro de uma equipe federal de legistas, disse, "Algumas pessoas não morreram apenas queimadas ou por inalação de fumaça. Eu vi pessoas que foram mortas a tiros ou punhaladas, [e] outras formas de violência. Vi pessoas que obviamente estiveram doentes e morreram muito antes do fogo surgir. O incêndio foi ruim - terrível - mas não foi o único desastre que ocorreu lá, eu apostaria dinheiro nisso."
Raccoon City foi notícia durante esse ano quando uma série de assassinatos atingiu a população. Foram mortes aparentemente sem motivos, de extrema violência, e vários envolvendo canibalismo; tentativas de conexões já estão sendo feitas por uma imprensa local próxima a Raccoon, entre os onze casos não solucionados de assassinatos do último verão e os rumores de violência em massa anteriores ao incêndio.
O Sr. Chavez recusou-se a confirmar ou negar os rumores, dizendo apenas que as investigações da tragédia continuarão...
Nationwide Today, edição da manhã, 10 de Outubro, 1998
Número de mortos em Raccoon aumenta, conforme as equipes de busca e resgate juntam forças
NEW YORK, NY - O número oficial de corpos chega agora a quase 4500, com as ruínas de Raccoon City ainda estando cheias de vítimas do apocalipse que aconteceu no último domingo de manhã. Enquanto tem início um luto nacional, mais de seiscentos homens e mulheres estão trabalhando para desvendar as razões por trás da destruição de uma cidade tão pacífica. Organizações locais de socorro, cientistas, soldados, agentes federais e equipes de pesquisa se uniram numa mostra de determinação e objetivação, reunindo fontes e conferindo tarefas para chegar à verdade.
O diretor da CDN, Terrence Chavez, o principal oficial da missão, reuniu-se com pesquisadores renomados de centros de controle de doenças do mundo todo, agentes de segurança nacional de várias federações, e uma equipe privada de microbiologistas da Umbrella Inc., a companhia farmacêutica, que está investigando a possibilidade de haver uma ligação entre os laboratórios químicos nos arredores da cidade e uma estranha infecção agora sendo chamada de "síndrome de Raccoon".
Estudos iniciais da doença foram vagos e inconclusivos, disse o líder da equipe da Umbrella, Dr. Ellis Benjamin, "mas estamos convencidos de que os cidadãos de Raccoon foram infectados com alguma coisa, acidental ou intencionalmente. Tudo o que sabemos até agora é que não parece ter sido via aérea, e que o resultado final foi de rápida desintegração celular e morte; ainda não sabemos se foi bacteriano ou viral, ou quais eram os sintomas, mas não descansaremos enquanto não esgotarmos nossas fontes. Independente do que descobrirmos, e se a Umbrella teve parte nisso ou não, estamos comprometidos a levar isso até o fim. É o mínimo que podemos fazer, considerando o quanto nossa companhia estima o povo de Raccoon." A fábrica da Umbrella e seus complexos administrativos em Raccoon deram origem a milhares de empregos.
Os 142 sobreviventes ainda estão sendo mantidos em quarentena para observação e interrogatório em um local não revelado. Enquanto suas identidades ainda estão sendo protegidas, o FBI divulgou uma nota listando suas condições médicas. Dezessete sobreviventes sofreram lesões leves, mas estão em condições estáveis, setenta e nove ainda estão na lista crítica seguida de procedimentos cirúrgicos, e quarenta e seis dos sobreviventes, mesmo que não feridos, sofreram maiores transtornos mentais ou emocionais. Não há confirmação quanto a estarem ou não infectados com a síndrome, mas a nota incluiu uma referência às histórias dos sobreviventes, onde verificou-se a existência da infecção.
O Gen. Martin Goldmann, inspetor das operações militares na cidade destruída, tem esperanças de que os que estão desaparecidos serão encontrados dentro dos próximos sete dias. "Já temos quatrocentas pessoas trabalhando vinte quatro horas por dia e sete dias por semana, buscando sobreviventes e verificando identidades - e eu dou a palavra de que mais duzentas chegarão na Segunda..."
Fort Worth Bugler, 18 de Outubro, 1998
Possível conspiração por funcionários da cidade na tragédia de Raccoon
FORTH WORTH, TX - Novas evidências descobertas por equipes de varredura em Raccoon City, PA, indicam que a "síndrome de Raccoon", a doença responsável pela maioria das 7200 mortes que ocorreram em Raccoon até agora, pode ter sido liberada sobre a população pelo Chefe da Polícia de Raccoon, Brian Irons, e vários membros da Equipe de Táticas Especiais e Resgate (S.T.A.R.S.).
Em uma conferência ocorrida ontem à noite pelo porta-voz do FBI, Patrick Weeks, o diretor da CDN, Terrence Chavez, e o Dr. Robert Heiner - chamado pelo líder da equipe da Umbrella, Dr. Ellis Benjamin - Weeks revelou que há fortes evidências circunstanciais de que o desastre em Raccoon tenha sido resultado de um ato terrorista que deu terrivelmente errado. Os subseqüentes incêndios que aos poucos atingiram a pequena cidade podem ter sido uma tentativa de Irons ou de um de seus cúmplices para cobrir os efeitos desastrosos do plano.
De acordo com Weeks, vários documentos fora encontrados nos destroços do prédio do RPD que implicam Irons como o líder de uma conspiração para ter como refém a fábrica química da Umbrella nos arredores da cidade.
Supostamente, Irons estava furioso com os oficiais da cidade por causa da suspensão dos S.T.A.R.S. em Julho, por sua má condução na investigação das múltiplas mortes - os agora documentados assassinatos canibais que tiraram as vidas de onze pessoas no último verão. Os S.T.A.R.S. de Raccoon foram suspensos depois da queda de um helicóptero na última semana de Julho que tirou a vida de seis membros da equipe. Os cinco S.T.A.R.S.
sobreviventes foram suspensos sem pagamento depois de evidências sugerirem drogas ou abuso de álcool em conexão com a queda - e enquanto Irons defendia publicamente a suspensão de seu time de elite, os documentos indicam que Irons realmente ameaçava o Prefeito Devlin Harris e vários membros do Conselho da cidade com o vazamento de produtos químicos extremamente voláteis e perigosos, se certas exigências financeiras não fossem atendidas. Weeks continua dizendo que Irons tinha uma história de instabilidade emocional, e que os documentos - correspondências entre Irons e um cúmplice - revelaram um plano de Irons extorquir um resgate de Raccoon e, então, deixar o país. O cúmplice é chamado apenas como "C.R.", mas há também referências a "J.V.", "B.B." e "R.C." - todas iniciais de quatro dos cinco S.T.A.R.S. suspensos.
Terrence Chavez disse, "Presumindo que esses documentos sejam legítimos, Irons e sua equipe planejaram atacar a fábrica da Umbrella no fim de Setembro, o que corresponde exatamente à linha do tempo descrita pelo Dr. Heiner para a síndrome de Raccoon atingir completa extensão. Estamos atualmente trabalhando com a suposição de que o ataque aconteceu, e que um inesperado acidente ocorreu com resultados terríveis. Nesse momento, não sabemos se o Sr. Irons ou se algum dos S.T.A.R.S. ainda estão vivos, mas estão sendo procurados para interrogatório. Divulgamos uma APB oficial e todos os nossos aeroportos internacionais e patrulhas de bordo foram alertadas. Encorajamos qualquer um com informações a respeito desse caso a nos procurar."
O Dr. Heiner, um renomado microbiologista, assim como um membro associado da Divisão de Materiais Perigosos da Umbrella, declararam que a mistura exata de produtos químicos lançados em Raccoon nunca serão descobertos. "É óbvio que Irons e seu pessoal não sabiam com o que estavam lidando - e com a Umbrella continuamente desenvolvendo novas variações de sínteses de enzimas, inibidores de crescimento bacteriano e repressores virais, a composição letal foi certamente uma agregação acidental. Com as possíveis combinações de materiais numeradas em milhões, as chances de duplicação da síndrome de Raccoon são astronômicas."
O diretor nacional dos S.T.A.R.S. não quis comentar, mas Lida Willis, porta-voz regional da organização, deu seu relato ao dizer que eles estão "chocados e entristecidos" pelo desastre, e que colocaria todos os seus agentes disponíveis em busca dos S.T.A.R.S. desaparecidos, assim como por quaisquer contatos que pudessem ainda ter.
Ironicamente, os documentos foram encontrados por uma das equipes de busca da Umbrella...

 

 

 

 

 

 

[1]
"Vai, vai, vai!". David gritou, e John Andrews pisou fundo, conduzindo a minivan por uma fechada curva enquanto
tiros soavam pela fria noite de Maine.
John viu os dois sedans pretos momentos depois, mau dando tempo para se armarem. Seja lá quem estava
atrás deles - a Umbrella, os S.T.A.R.S. corruptos ou a polícia local - não importava, eram todos da Umbrella -
"Despiste-os, John!". David pediu, conseguindo parecer frio e controlado mesmo com as balas acertando a
traseira da van. Era o sotaque - ele sempre falava assim, e onde diabos está a Falworth?
John se sentiu difuso, seus pensamentos correndo e confusos; ele arrasa numa missão, mas ataques surpresa
são de matar -
- à direita na Falworth e siga para a pista - Cristo, mais dez minutos e nós já teremos partido -
Bam bam bam!
Faz muito tempo que John esteve num combate, mas nunca numa perseguição de carro. Ele era bom, mas
estavam numa minivan -
Alguém na traseira da van estava retornando fogo, atirando pela janela aberta de trás. As explosões da 9mm no
espaço apertado eram tão altos como a voz de um Deus irritado, pulsando no ouvido de John, tornando sua
concentração ainda mais difícil.
Só mais dez malditos minutos.
A dez minutos da pista de decolagem, onde o vôo marcado estaria esperando. Era como uma piada ruim -
semanas se escondendo, esperando, sem correr riscos para depois serem achados na saída do país.
John segurou o volante enquanto desciam a Rua 6, a van muito pesada para disputar com os sedans. Mesmo
sem as cinco pessoas e um monte de artilharia, o volumoso motor não era exatamente uma usina de energia.
David o comprou por ser tão indefinível e discreta que agora eles estavam pagando por isso - se eles conseguirem
agitar seus perseguidores, seria um pequeno milagre. A única chance seria pegar trânsito e brincar de desviar. Era
perigoso, tal como saírem da pista e morrerem baleados.
"Clip!". Leon gritou, e John olhou no retrovisor, viu o jovem policial agachado na janela de trás ao lado de David.
Eles haviam tirado os bancos de trás para essa viagem, mais espaço para as armas - mas também significava
nenhum cinto de segurança; faça uma curva rápido demais e corpos sairiam voando -
Bam! Bam! Mais dois tiros dos idiotas do sedan, de um .38 talvez. John acelerou um pouco mais enquanto Leon
atirava com a Browning 9mm. Leon Kennedy era o melhor atirador, David estava provavelmente mandando-o
atirar nos pneus -
- melhor atirador depois de mim. Bom, e como nós vamos despistá-los em Exeter, Maine, às onze da noite num
dia de semana? Não tem trânsito -
Uma das mulheres jogou um clip para Leon, John não teve tempo de ver qual delas quando girou o volante para
a direita, na direção do centro da cidade. Com uma fumacenta derrapagem no asfalto, a van fez a curva na
Falworth, indo para o leste. A pista de vôo ficava à oeste, mas John nem percebeu que ninguém se preocupava
em chegar a tempo.
Primeiro as primeiras coisas; se livrar dos capangas da Umbrella. Duvido que haja espaço para todos naquele vôo.
John viu luz vermelha e azul no espelho, viu que pelo menos um dos sedans tinha colocado uma luminária giratória
no teto. Talvez sejam policiais, o que seria uma droga. A tomada de controle da Umbrella foi perfeita - graças a
ela, cada policial neste país deve achar que tem culpa pelo que aconteceu em Raccoon. O S.T.A.R.S. estava
sendo enganado, também - alguns superiores foram comprados, e seus empregados nem faziam idéia de que
virariam marionetes da companhia -
- tornando tudo mais difícil de consertar.
Nenhum dos empregados querem machucar alguém; ser conduzido pela Umbrella não era um crime, e se as
pessoas no sedan fossem policiais -
"Sem antena nem aviso não é a polícia!". Leon disse, e John sentiu um segundo de alívio antes de ver as
barricadas aparecendo à sua frente, a placa de obras na pista ao lado da rua bloqueada. Ele viu o branco rosto de
um homem em cima do colete laranja, segurando uma placa que dizia "devagar", o homem derrubando a placa e
mergulhando para o lado -
- teria sido engraçado se eles não estivessem a 130 com 3 segundos para a colisão.
"Segurem-se!". John gritou, e Claire empurrou as pernas contra a parede da van, viu David segurar Rebecca e
Leon agarrando a maçaneta -
- e a van estava arranhando, balançando, e pulando como um cavalo selvagem, de um lado para o outro -
- e Claire sentiu um espaço abaixo do lado direito da van enquanto seu corpo era comprimido para a esquerda,
sua nuca batendo dolorosamente no estepe.
- oh, droga -
David gritou algo mas Claire não ouviu sob os gritantes freios, não entendeu até David mergulhar para a direita,
Rebecca bem ao lado dele -
- e wham, a van voltou para o chão com uma incrível pancada, John parecendo ter o carro sob controle
novamente - mas ainda havia o agudo arranhar de freios travados vindo de -
CRASH!
O estrondo de metal e vidro quebrado atrás deles foi tão perto que o coração de Claire pulou uma batida.
Ela virou, viu que um dos carros tinha batido na barricada - a barricada que provavelmente teriam acertado um ou
dois segundos atrás. Ela só conseguiu ver o capô amassado, as janelas quebradas e fumaça antes do segundo
sedan bloquear sua visão, fazendo a curva e continuando a perseguição.
"Me desculpem por aquilo". John disse, parecendo estar movido por uma alegre adrenalina.
Nas poucas semanas desde que ela e Leon se juntaram aos S.T.A.R.S. fugitivos, Claire descobriu que John fazia
piadas sobre qualquer coisa. Era ao mesmo tempo sua característica mais amável e irritante.
"Estão todos bem?". David perguntou, e Claire acenou, viu Rebecca fazer o mesmo.
"Levei uma pancada mas estou bem". Leon disse, esfregando seu braço com uma expressão dolorosa. "Mas eu
não acho que -".
BAM!
Leon foi cortado pela poderosa explosão que atingiu a traseira da van. O passageiro do sedan tinha disparado
uma espingarda neles; alguns centímetros acima e os grãos de chumbo teriam passado pela janela.
"John, mudança de planos". David falou enquanto a van virava, sua fria e autoritária voz aumentando sobre os
gritantes motores. "Nós estamos na mira deles -".
Antes que ele pudesse terminar, John fez uma forçada curva à esquerda. Rebecca rolou, quase acertando Claire.
Agora a van estava indo para uma quieta rua dos subúrbios.
"Segurem seus traseiros". John gritou sobre os ombros.
O fresco ar noturno passou através da van, casas voando enquanto John ganhava velocidade. Leon e David já
estavam recarregando, agachados atrás da meia porta de metal. Claire trocou um olhar com Rebecca, que
pareceu tão feliz quanto ela se sentia. Rebecca Chambers era uma ex-S.T.A.R.S., tinha trabalhado com o irmão
de Claire, Chris, e junto com David e John, também ex-S.T.A.R.S., numa recente interrupção de planos da
Umbrella - mas a jovem mulher tinha sido treinada como médica e com conhecimentos em bioquímica. Atirar não
era seu forte - até Claire atirava melhor - mesmo sendo a única que não teve um treinamento de verdade...
... a não ser que você desconsidere ter sobrevivido em Raccoon...
Claire tremeu involuntariamente enquanto John virou rápido à direita, desviando de um caminhão parado, o sedan
ganhando terreno. Raccoon City; os ferimentos e arranhões no corpo de Claire ainda não tinham se curado, e ela
sabia que o ombro de Leon ainda causava dor -
BAM!
Outro tiro, mas esse passou longe.
Desta vez...
"Mudança de planos", David disse, seu claro sotaque acalmando como a voz da lógica no meio do caos. Não é a
toa que ele foi o capitão do S.T.A.R.S.
"Todos preparem-se para o impacto. John, faça a próxima curva e depois freie. Acerte-os e corra, certo?".
David levou seus joelhos para cima, apoiando seus pés na parede da van. "Eles nos querem tanto, deixe-os nos
ter".
Claire deslizou e empurrou os pés contra a parte de trás do banco do passageiro, dobrando os joelhos e cabeça
deitada.
Rebecca foi para o lado de David e Leon se arrumou ficando com a cabeça perto da de Claire. Eles se olharam e
Leon sorriu fracamente.
"Isso não é nada". Ele disse, e apesar do medo, Claire sorriu de volta. Depois de passar pela loucura de Raccoon
City, fugir das criaturas assassinas da Umbrella e de gente maluca - sem falar na explosão do laboratório secreto -
se comparado à isso, uma batida de carro era como um piquenique de Domingo.
É, continue dizendo isso à si mesma, sua mente pensou, e depois não pensou em mais nada porque a van
estava fazendo a curva e John pisando nos freios; logo seriam acertados por uma tonelada de metal e vidro.
David inalou e exalou profundamente, relaxando seus músculos o melhor que podia, o grito dos pneus vindo
rápido de trás -
- e wham, uma pancada violenta, um incrível senso de vibração, um segundo que parecia levar uma interminável
e quieta eternidade -
- e um barulho vindo logo depois - vidro quebrando e o som de uma lata esmagando amplificado um milhão de
vezes. David foi jogado para frente e para trás, ouviu Rebecca emitir uma estrangulada tosse -
- e estava acabado, John já acelerando de novo enquanto David ficava de joelhos, erguendo sua Beretta. Ele
olhou para trás e viu que o sedan não se movia, espetado no meio da escura rua, a grade dianteira e faróis
esmagados. As pessoas ainda estavam atrás do rachado vidro do carro.
Não é que dirijamos mal...
A barata minivan verde que ele comprou só para ir até o aeroporto não tinha mais pára-choque, luzes, placa - ou,
ele pensou, algum modo de abrir a porta de trás; ela virou uma massa arqueada e inútil de metal mastigado.
Não foi uma grande perda. David Trapp desprezava minivans e não planejava levá-la para a Europa. O
importante é que ainda estavam vivos - e que - por enquanto eles conseguiram cortar o infinitamente longo braço
da ira da Umbrella.
Enquanto se distanciavam do carro batido, David olhou para os outros, estendendo a mão para ajudar Rebecca.
Desde Caliban, ele ficou mais próximo dela do que John. O resto de sua equipe não sobreviveu -
Ele apagou esse pensamento antes de se render, e disse para John voltar ao destino original, sem pegar as ruas
principais. Não seria bom serem vistos partindo. A Umbrella tinha atacado em Exeter uns dois meses atrás, logo
depois de retornarem de Caliban Cove.
"Bom truque, David". Leon disse. "Vou ter que me lembrar disso da próxima vez que for perseguido por
capangas da Umbrella".
David acenou desconfortavelmente. Ele gostava de Leon e Claire, mas não sabia o que sentir com mais duas
pessoas querendo-o como líder. Ele podia entender John e Rebecca, que pelo menos fizeram parte do S.T.A.R.S.
- mas Leon era um policial novato de Raccoon e Claire uma universitária, que acabou sendo a irmãnzinha de Chris
Redfield. Quando ele decidiu romper com o S.T.A.R.S., depois de descobrir sua ligação com a Umbrella, ele não
esperava continuar liderando, não queria -
- mas não era minha decisão, era...? ele não tinha pedido a lealdade deles, nem se ofereceu para fazer decisões
- e não importava, foi como tudo acabou terminando. Na guerra, ninguém tem o luxo da escolha.
David olhou em volta antes de olhar para fora, vendo as casas e prédios passarem no frio escuro. Todos
pareciam reprimidos, sempre uma conseqüência da leva de adrenalina. Rebecca estava descarregando clips e
guardando as armas, Leon e Claire sentados juntos do outro lado, sem falar. Os dois estavam sempre juntos,
sem diferença desde que David, John e Rebecca os acharam juntos saindo de Raccoon a menos de um mês
atrás, sujos e feridos, cambaleantes do encontro com a Umbrella. David não achava que havia uma conexão
romântica ali; pelo menos ainda; era mais pelo pesadelo compartilhado. Terem quase morrido juntos pode ser
uma experiência vinculosa.
Até onde David sabia, Leon e Claire eram os únicos sobreviventes de Raccoon que sabiam sobre a contaminação
pelo T-virus da Umbrella. A criança que eles tinham consigo tinha uma vaga idéia, apesar de Claire tê-la protegido
cuidadosamente da verdade. Sherry Birkin não precisava saber que seus pais foram responsáveis pela criação das
mais poderosas armas da Umbrella; era melhor para ela lembrar dos pais como pessoas decentes.
"David? Algo errado?".
Ele tirou-se de seus pensamentos e acenou para Claire.
"Desculpe. Sim, estou bem. Na verdade eu estava pensando na Sherry, como ela está?".
Claire sorriu, e David viu como ela brilhou ao dizer o nome de Sherry. "Ela está bem, está se acomodando. Kate é
como uma irmã para ela, um ótimo adicional. E Sherry gosta dela".
David acenou de novo. A tia de Sherry parece boa, e além disso, ela seria capaz de proteger Sherry se a
Umbrella decidir perseguir a garota; Kate Boyd era uma competente advogada criminal, uma das melhores da
Califórnia. A Umbrella faria um bem ficando longe da única filha de Birkin.
É uma pena que o mesmo não se aplique à nós; isso não tornaria as coisas mais fáceis...
Rebecca tinha terminado de organizar as armas e foi se sentar perto dele, tirando uma mecha solta de cabelo da
testa. Seus olhos mais velhos do que o resto do rosto; com quase 19, ela já passou por dois incidentes da
Umbrella. Tecnicamente, ela tinha mais experiência do que qualquer um deles.
Rebecca não falou por um momento, olhando para as ruas passando. Quando finalmente falou, ela manteve sua
voz baixa, seu olhar o estudando.
"Você acha que eles ainda estão vivos?".
Ele não se preocuparia em dá-la uma imagem ensolarada; jovem como era, a garota tinha um jeito para ver
através das pessoas.
"Eu não sei". Ele disse, cuidando para não deixar os outros ouvirem. Claire queria desesperada-mente encontrar
seu irmão. "Eu duvido. Nós já devíamos ter tido notícias. Ou eles estão com medo de serem pegos, ou...".
Rebecca suspirou, nem de surpresa, nem de alegria. "É. Mesmo se eles não conseguirem nos contatar - o Texas
ainda tem as freqüências abertas, não?".
David acenou. Texas, Oregon, Montana - todos canais abertos com confiáveis membros do S.T.A.R.S., e
nenhuma ligação há mais de um mês. A última mensagem foi de Jill; David a tinha decorado. De fato, a
mensagem o perseguia diariamente.
"Sãos e salvos na Áustria. Barry e Chris na pista do Quartel General da Umbrella, parece promissor.
Preparem-se".
Preparar-se para juntá-los, para chamar as poucas tropas que ele e John reuniram. Preparar-se para invadir o
verdadeiro quartel da Umbrella, o poder por trás de tudo. Preparar-se para combater o mal pela raiz. Jill, Barry e
Chris foram à Europa para descobrir os verdadeiros líderes da Umbrella, começando pelo QG internacional na
Áustria - e desde então desapareceram.
"Levantem as cabeças, crianças,". John disse lá na frente, e David desviou do sério olhar de Rebecca, desviou
para ver que já estavam na pista de decolagem.
Seja lá o que tenha acontecido com seus amigos, eles descobrirão em breve.
[2]
Rebecca apertou o cinto na pequena poltrona do pequeno avião e olhou pela janela, desejando que David tivesse
fretado um jato. Mas um gigante e sólido jato que-não-pode-ser-inseguro-porque-é-muito-grande. De onde
sentou, ela podia ver os propulsores na asa - propulsores, como numa história para crianças.
Aposto como essa belezinha vai afundar como uma pedra, caso caia do céu a alguns quilômetros por hora e
acerte o oceano...
"Como você já sabe, esse é o tipo de avião que está sempre matando estrelas do rock e o de sempre. Assim
que decolam, um forte sopro de vento os mandam direto para o chão".
Rebecca olhou para cima e viu o sorridente rosto de John; ele estava de joelhos na poltrona da frente bem acima
dela, seus fortes braços cruzados no encosto de cabeça. Ele provavelmente precisava de dois lugares; John não
era grande, ele era enorme, 110 quilos de músculo embalados em 2 metros de altura.
"Nós teremos sorte se decolarmos, arrastando seu traseiro gordo lá para cima". Rebecca retrucou, e foi
recompensada com um lapso de preocupação nos olhos castanhos de John. Ele tinha quebrado algumas costelas
e perfurado um pulmão na última missão, há menos de 3 meses, e ainda não estava apto a pegar pesado.
Por mais robusto e machão que John era, Rebecca sabia que ele era vaidoso, e que odiava não ter malhado.
John sorriu mais. "É, você deve estar certa, algumas dezenas de metros fora do chão e wham."
Ela nunca devia ter dito a ele que esse era seu segundo vôo (o primeiro foi ao lado de David para Exeter na
missão de Caliban Cove). Era exatamente o tipo de coisa que fazia John contar piadas -
O avião começou a tremer em volta deles, o motor se elevando para um profundo hum que fez Rebecca bater
os dentes. Por nada ela deixaria John ver o quanto estava nervosa; ela olhou pela janela e viu Leon e Claire indo
para os degraus de metal. Aparentemente, as armas estavam todas carregadas.
"Onde está David?". Rebecca perguntou e John balançou os ombros.
"Falando com o piloto. Nós conseguimos um, você sabe, algum amigo de um amigo de um cara em Arkansas.
Não há muitos pilotos querendo infiltrar pessoas na Europa, acho...".
John se inclinou mais perto, derrubando a voz para um falso cochicho, seu sorriso sumindo. "Eu ouvi falar que ele
bebe. Nós pagamos barato porque ele bateu um time de futebol na lateral de uma montanha".
Rebecca riu, balançando a cabeça. "Você venceu. Eu estou apavorada, tá bom?".
"Tá bom. Era tudo o que eu queria". John disse suavemente, virando enquanto Leon e Claire entravam na
pequena cabine. Eles foram para o meio do avião, pegando os dois acentos do outro lado do corredor de onde
Rebecca estava. David tinha mencionado que a região entre as asas era a mais estável, apesar de não haver
muita opção - só haviam vinte lugares.
"Já voou antes?". Claire perguntou, inclinado-se sobre o corredor, parecendo um pouco nervosa.
"Uma vez. E você?". Rebecca respondeu.
"Algumas vezes, mas sempre em grandes companhias, DC 747 ou -27, acho. Eu nem sei o que é essa coisa".
"É um DHC 8 Turbo. Eu acho". Leon disse. "David havia mencionado...".
"É um assassino, isso é o que ele é". A profunda voz de John flutuou sobre os assentos. "Uma pedra com asas".
"John, docinho... cale a boca". Claire disse amavelmente.
John tagarelou, obviamente feliz com alguém novo para brincar.
David apareceu na frente da cabine, cruzando a cortina que cobria a área antes do cockpit, e John ficou calado, a
atenção de todos voltada para David.
"Parece que estamos prontos para ir". David disse. "Nosso piloto, Capitão Evans, me assegurou que todos os
sistemas estão funcionando e que estaremos decolando em um momento. Ele pediu que ficássemos sentados
até dar outra ordem. Hum - o banheiro fica atrás do cockpit e tem um pequeno frigobar na parte de trás do avião
com sanduíches e bebidas...".
A voz dele parou, e olhou como se houvesse algo mais a dizer mas não tinha certeza do que era. Era o olhar que
Rebecca tem visto bastante nas últimas semanas, uma desconfortável incerteza. Desde o dia que Raccoon foi
pelos ares, ela achou que todos tinham aquele olhar de vez em quando...
... porque eles não deve ser capazes de fazer isso. Aquilo devia ter sido o fim, mas não foi e agora estamos mais
assustados do que gostaríamos de admitir.
Quando as primeiras notícias saíram nos jornais, todos eles ficaram certos de que desta vez a Umbrella não seria
capaz de apagar seus rastros. A contaminação na mansão de Spencer foi pequena, fácil de encobrir depois que o
fogo consumiu a mansão e as construções em volta; as instalações em Caliban Cove estavam em terras
particulares e também muito isoladas para alguém ficar sabendo - de novo, a Umbrella varreu os destroços e
manteve sigilo. Mas Raccoon City. Milhares de pessoas mortas - e a Umbrella saiu dessa cheirando como uma
rosa, depois de plantar falsas evidências e ter seus cientistas mentindo por eles. Isso deveria ser impossível;
desanimou a todos. Que chance teria um bando de fugitivos contra um conglomerado multibilionário que podia
matar uma cidade inteira e sair ileso?
David não disse mais nada. Ele acenou animadamente e andou para se juntar a eles, parando perto de Rebecca?
"Você precisa de companhia?".
Ela podia ver que tentava dar um apoio - viu que também estava cansado. Ele tinha ficado acordado na última
noite, revendo cada detalhe da missão.
"Nah, eu estou bem". Ela disse, sorrindo para ele. "Eu sempre tenho John para me acalmar".
"Você sabe disso, querida", John disse alto, e David acenou, dando um leve aperto no ombro dela antes de se
sentar atrás dela.
Ele precisa desse descanso, nós todos; e será um longo vôo - então por que pressinto que não teremos esse
descanso?
Nervosismo, só isso.
O som do motor aumentou, e com um gago balanço o avião começou a andar. Rebecca apertou ambos os
apoios de braço e fechou os olhos, pensando que se tivesse estômago para enfrentar a Umbrella, ela certamente
sobreviveria a um passeio de avião.
Mesmo se não pudesse, era tarde demais para mudar de idéia; eles estavam a caminho, nada de voltar atrás.
Eles estavam no ar a vinte minutos, e Claire já estava cochilando, meio apoiada no ombro de Leon. Ele estava
cansado também, mas sabia que não dormiria tão fácil. Leon estava com fome - e tinha o fato de que ainda não
sabia se estava fazendo a coisa certa.
Boa hora para pensar nisso, agora que você está bem comprometido, a mente dele cochichou sarcasticamente.
Talvez você possa pedir que o deixem em Londres, você poderia ficar num pub até eles acabarem tudo... ou
morrerem.
Leon disse a si mesmo para se calar, suspirando. Ele estava comprometido; o que a Umbrella vem fazendo não
era só criminoso, era mal. Eles assassinaram milhares, criaram armas biológicas capazes de matar bilhões,
capazes de destruir seu cuidadosamente planejado futuro, e foram responsáveis pela morte de Ada Wong, uma
mulher que ele gostava e respeitava. Eles tinham se ajudado nos maus momentos daquela terrível noite em
Raccoon; sem ela, ele nunca teria escapado com vida.
Ele acreditava no que David e seu pessoal estava fazendo, e não que ele tenha medo, não era isso...
Leon suspirou de novo. Ele tem se preocupado muito com Claire e Sherry desde que fugiram de Raccoon, e o
único motivo que ele tinha era tão tolo que não merecia crédito. Se opor a Umbrella era a coisa certa a fazer - é
que ele não se sentia qualificado para estar lá.
Espere aí, isso é ridículo.
Talvez sim - mas isso o estava deixando incerto, ele precisava examinar a situação.
David Trapp fez uma carreira no S.T.A.R.S., só para ver a organização cair no controle da Umbrella; ele perdeu
dois amigos próximos na última invasão do complexo de testes de armas biológicas, tal como John. Rebecca
Chambers só estava começando no S.T.A.R.S., ela era um tipo de criança prodígio na ciência, profundamente
interessada no trabalho da Umbrella; isso mais o fato de ter passado por mais coisas do que qualquer um, faz
sua contínua dedicação incompreensível.
Claire queria achar seu irmão, a única família que tinha; seus pais já haviam falecido. Já Chris, Jill e Barry ele nunca
conheceu, mas com certeza tinham seus motivos; ele soube que a família de Barry tinha sido ameaçada,
Rebecca havia contado.
E Leon S. Kennedy? Ele entrou nessa briga ao acaso, um policial recém formado a caminho do primeiro dia de
trabalho - que acabou sendo para o Departamento Policial de Raccoon. Mas tinha Ada - ele a conheceu por
algumas horas e foi morta logo depois de admitir que era algum tipo de agente, encarregada de roubar uma
amostra do vírus da Umbrella.
Aí eu perdi um emprego e um possível relacionamento com uma mulher que mal conhecia e não podia confiar.
Claro que a Umbrella deve ser derrotada... mas eu devo estar aqui?
Ele decidiu ser policial para ajudar as pessoas e sempre soube que significava manter a paz - prender motoristas
bêbados, conter brigas em bares, pegar ladrões. Nunca em seus piores sonhos ele se encontrou no meio de uma
conspiração internacional, uma infiltração do tipo "capa e espada" contra uma companhia gigante que fazia
monstros de guerra. É um crime de tamanha escala que jamais sentiu-se pronto...
... e esse é o seu real motivo, Oficial Kennedy?
Naquele exato momento, Claire murmurou algo em seu leve sono, aconchegando a cabeça no ombro dele antes
de se aquietar - e fez Leon desconfortavelmente a par de outro motivo para estar com os ex-S.T.A.R.S., Claire.
Ela era... ela era uma mulher incrível. Nos dias seguintes ao desastre de Raccoon, eles conversaram muito sobre
o que aconteceu, as experiências que tiveram juntos e separados. Foi como uma troca de informações,
preenchendo vazios - ela contou sobre o encontro com o Chefe Irons e a criatura que chamava de Mr. X, e ele a
disse sobre Ada e a terrível coisa que um dia foi William Birkin. Entre eles, foi possível aparecer com uma contínua
história de importantes fatos para o time de fugitivos.
Em retrospecto, apesar daquelas longas conversas terem sido essenciais para outro motivo - elas foram uma
forma de liberar o veneno que eles tomaram, como um desabafo. Se tivesse que guardar isso, ele pensou,
acabaria ficando louco.
De qualquer modo, os sentimentos que tem por ela agora são outros, calor, conexão, dependência, respeito e
outro que ele não tem nome para dar. E isso o assustava, porque nunca havia sentido algo assim por alguém
antes - e porque não sabia o quanto disso era verdade e o quanto disso era estresse pós- traumático.
Leon acenou por dentro, percebendo que era a verdade, o único motivo por trás da incerteza. Ele sempre
acreditou que querer estava bem, mas e precisar? Ele não gostava da idéia de ser guiado por uma compulsão
neurótica só para estar perto de Claire Redfield.
Aceite, pare de se fazer de bobo. Você só está com medo de estar aqui porque ela está, e não gosta do que isso
diz sobre você?
E se isso não for precisar? Talvez seja querer, e você ainda não sabe...
Ele franziu as sobrancelhas para suas patéticas tentativas de auto-análise, decidindo que seria melhor parar de se
preocupar. Seja qual for o motivo, ele já estava envolvido - e ele podia chutar o traseiro da Umbrella com o
melhor deles, porque a Umbrella merecia. Por enquanto, ele precisava ir ao banheiro, comer algo e fazer o
possível para dormir.
Leon saiu gentilmente de debaixo de Claire, da pesada cabeça, fazendo o possível para não acordá-la. Ele deslizou
para o corredor e reparou nos outros. Rebecca olhava pela janela, John folheava uma revista de musculação e
David dormia. Todos eram boas pessoas, e pensar nisso o deixou mais calmo com as coisas.
Todos eles são bons. Droga, eu sou um homem bom, lutando pela verdade, justiça e com alguns zumbis pelo
mundo...
O banheiro era na dianteira. Leon foi para lá, tocando cada assento enquanto passava, pensando no motor do
avião, um som como uma queda d´água -
- e de repente a cortina de trás da cabine do piloto foi puxada e um homem apareceu, um alto e sorridente
homem num caro sobretudo. Ele não era o piloto, e não deveria haver mais ninguém no avião. Leon sentiu sua
boca secar com um quase supersticioso pavor, mesmo com o magro e sorridente homem parecendo não estar
armado.
"Ei!". Leon gritou, recuando um passo. "Ei, nós temos companhia!".
O homem sorriu, piscando os olhos. "Leon Kennedy, eu presumo". Ele disse suavemente, e Leon subitamente
ficou certo de que seja lá quem ele era, esse homem era problema com "P" maiúsculo.
[3]
John ficou de pé antes de Leon terminar o alerta, pulando no corredor e ficando na frente de Leon num só passo.
"Quem diabos-". John resmungou, seus ombros a postos, preparados para quebrar o magro homem em dois
caso pisque em falso.
O estranho ergueu suas pálidas mãos, parecendo não conseguir conter o prazer - deixando John ainda mais
desconfiado. Ele podia fazer do cara um hambúrguer facilmente, mas por que diabos ele estava tão feliz?
"E você é John Andrews". O homem disse, sua voz baixa e calma, tão prazerosa quanto suas feições.
"Ex-especialista em comunicações e campo de escuta pelo S.T.A.R.S. de Exeter. É bom te conhecer - me diga
como estão suas costelas, ainda doem?
Droga, quem é esse cara? John já tinha quebrado duas costelas e uma terceira em Caliban, e não conhecia esse
homem - como é que esse cara o conhecia?
"Meu nome é Trent", o estranho disse calmamente, acenando para Leon e John. "Acredito que o Sr. Trapp pode
confirmar minha identidade...?.
John olhou para trás, viu que David e as garotas estavam logo ali. David deu um rápido aceno, suas expressões
tensas.
Trent. Meu Deus. O misterioso Sr. Trent.
- O mesmo Sr. Trent que havia dado mapas e pistas para Jill Valentine, antes do S.T.A.R.S. de Raccoon ter
descoberto a primeira contaminação pelo T-virus da Umbrella na mansão de Spencer. O Trent que tinha dado um
kit similar à David numa chuvosa noite de Agosto, informações sobre o laboratório da Umbrella em Caliban Cove,
onde Karen e Steve foram mortos.
Trent tem brincado com o S.T.A.R.S. - com a vida de pessoas - o tempo todo.
Trent ainda sorria, ainda de mãos erguidas. John reparou num anel preto feito de pedra num dos dedos de Trent,
o único toque de personalidade que ele parecia ter; devia caro e pesado.
"Mas o que diabos você quer?". John resmungou. Ele não gostava de segredos ou surpresas, e não gostava de
como Trent parecia totalmente inabalado com seu tamanho. A maioria das pessoas recuam quando John as
encara; Trent parecia estar se divertindo.
"Sr. Andrews, se você por favor...?".
John não se mexeu, olhando para os escuros e inteligentes olhos do intruso. Trent recuou o olhar impassivamente
e John percebeu uma fria auto- segurança naquele brilhante olhar, um que era quase mas não tão protetor. Por
maior e mais bravo que John fosse, ele não era violento - mas aquele confiante e alegre olhar fez John pensar
que o Sr. Trent poderia levar um belo soco. Não necessariamente dele, mas de alguém.
Quantas pessoas morreram só porque ele resolveu agitar um pouco as coisas?
"Tudo bem, John". David disse baixo. "Tenho certeza que se o Sr. Trent nos quisesse mau, não estaria aqui se
apresentando".
John querendo ou não querendo, David estava certo. Ele inspirou fundo e se afastou, decidindo que
definitivamente não gostava nada disso; pelo pouco que sabia do homem, não gostava mesmo.
Vou ficar de olho em você, "amigo"...
Trent acenou, apesar de nenhuma pergunta ter sido feita, e passou por John, sorrindo para todos. Ele fez um
sinal para que se sentassem em um lado do avião; tirou seu sobretudo, deixando-o de lado, movendo-se devagar
e com cuidado, sabendo que qualquer movimento brusco seria prejudicial à sua saúde. Ele vestia um terno preto,
gravata preta e sapatos; John não conhecia roupas, mas os sapatos eram da Asante. Trent tinha bom gosto, e
um monte de dinheiro para torrar com sapatos.
"Isso pode demorar um pouco". Ele disse. "Por favor, fiquem confortáveis". Trent moveu-se para o topo de uma
das poltronas do lado oposto ao grupo, tão suave que fez John ainda mais desconfortável. Ele se movia como
alguém treinado, artes marciais talvez...
Os outros sentaram ou se encostaram nas poltronas, cada um estudando o intruso, tão preocupados com sua
aparência quanto John. Trent os estudou de volta.
"Eu já conheci o Sr. Andrews, Sr. Kennedy,
Sr. Trapp...". Trent olhou para Claire e Rebecca várias vezes, seus brilhantes olhos finalmente caindo em Claire.
"Claire Redfield, certo?". Ele parecia um pouco hesitante, o que não era surpresa. Rebecca e Claire podiam ser
irmãs, ambas morenas, mesma altura, alguns anos de diferença na idade.
"Sim". Claire disse. "O piloto sabe que você está à bordo?".
John franziu, irritado por não ter perguntado isso primeiro. Era uma boa pergunta que ele não tinha pensado. Se o
piloto o deixou entrar...
Trent acenou, passando a mão em seu descabelado cabelo preto. "Sim, sabe. De fato, o Capitão Evans é um
conhecido meu, e quando eu percebi que vocês estavam indo... viajar, eu fiz com que ele estivesse na hora
certa e no lugar certo. Foi mais fácil do que parece, verdade".
"Por que?". David perguntou, uma elevação em sua voz que John só havia escutado em combate. "Por que você
faria isso, Sr. Trent?".
Trent pareceu ignorá-lo. "Eu percebi que vocês estavam preocupados com seus amigos no continente, mas
deixem-me assegurá-los de que eles estão muito bem. É sério, não há porque se preocuparem -".
"Por quê?". A voz de David soou insensível.
Trent olhou para ele, e suspirou. "Porque eu não quero que vocês vão para a Europa, e como o Capitão Evans é
o piloto, significa que vocês não vão. De fato, estaremos retornado a qualquer momento.
Claire olhou para ele, sentindo seu estômago dar um nó, sentindo esse nó se transformar numa quente e pesada
raiva.
Chris, eu não vou ver o Chris -
John se afastou da poltrona onde estava encostado e agarrou o braço de Trent antes que Claire pudesse abrir a
boca, antes que qualquer um pudesse responder.
"Diga ao seu "conhecido" para continuar indo para onde estávamos". John falou, olhando furioso para Trent. Pelo
modo como as mãos de Trent tremiam, Claire pensou haver uma boa chance de Trent ter seu braço quebrado -
e viu que não seria uma má idéia.
Trent parecia suavemente desconfortável, nada mais. "Sinto em interromper seus planos," Ele disse. "mas se
vocês ouvirem, acho que vão concordar que é o melhor a fazer - se realmente querem deter a Umbrella".
O melhor a se fazer? Chris, nós temos que ajudá-lo e os outros, que droga é essa?
Ela esperou os outros explodirem em ação, a invadirem a cabine do piloto, a amarrarem o Sr. Trent numa
poltrona e forçarem-no a se explicar - mas estavam todos quietos, olhando uns para os outros e à Trent, com
raiva - e interesse. John folgou seu agarre, procurando em David uma orientação.
"É melhor ser uma boa história, Sr. Trent". David disse friamente. "Eu sei que você - já nos ajudou antes, mas
esse tipo de interferência não é o tipo de ajuda que queremos ou precisamos".
Ele acenou para John que soltou o braço de Trent, recuando. Claire percebeu.
Se Trent estava preocupado, não havia sinais. Ele acenou para David e sua suave e musical voz começou a fluir.
"Sei que vocês estão a par de que a Umbrella Inc. tem laboratórios por todo mundo, fábricas e lugares que
empregam milhares de pessoas, gerando centenas de milhões de dólares a cada ano. A maior parte delas são
legítimas companhias químicas e farmacêuticas, e não têm relevância para essa conversa, exceto por serem bem
lucrativas; o dinheiro gerado pelo comércio legal da Umbrella os permitem financiar suas operações menos
conhecidas - operações que vocês já tiveram o desprazer de presenciar.
"Essas operações são controladas por uma divisão conhecida como White Umbrella, que mais tem a ver com as
pesquisas em armas biológicas. Poucos que sabem sobre o negócios da White Umbrella, mas só os
extremamente poderosos. Poderosos e comprometidos a criar todos os tipos de desagradáveis armas químicas,
doenças fatais... a série de vírus T e G que tem sido bastante problemática ultimamente".
É uma narração, Claire pensou com nojo, mas estava intrigada para finalmente saber onde estava se metendo...
"Por quê?". Leon perguntou. "Artilharia química não é tão lucrativo, qualquer um com uma centrífuga e material de
jardinagem pode fazer uma arma biológica".
Rebecca estava acenando. "É o tipo de trabalho que estão fazendo, aplicando rápida fusão viral em redistribuição
genética - é incrivelmente caro e tão perigoso quanto lixo nuclear. Pior".
Trent balançou a cabeça. "Eles fazem porque podem. Porque querem". Ele sorriu de leve. "Porque quando você é
mais rico e mais poderoso do que qualquer outro no mundo, você fica entediado".
"Quem fica entediado?". David perguntou.
Trent olhou para ele um pouco, e começou a falar de novo, ignorando a pergunta de voz alta.
"O foco principal da White Umbrella está em soldados bio-orgânicos - espécimes individuais, a maior parte alterada
geneticamente, todos injetados com uma variação de vírus com intenção de torná-los mais violentos, fortes e
insensíveis à dor. O modo como esses vírus se amplificam em humanos, a reação "zumbi", é nada mais do que
um efeito colateral; os vírus que a Umbrella cria não são feitos para uso em humanos, pelo menos até agora".
Claire estava interessada, mas também ficando impaciente. "Mas quando chegaremos na parte em que você nos
diz porque está aqui, porque não quer que vamos à Europa?". Ela perguntou, não se importando em esconder a
raiva em sua voz.
Trent olhou para ela, seus olhos escuros de repente ficaram simpáticos, e ela percebeu que ele sabia porque
estava nervosa, que conhecia seus motivos para querer ir à Europa. Ela percebia isso no modo como ele a
olhava, dizendo que entendia - e de repente ela se sentiu constrangida.
Ele sabe tudo sobre nós, não é...?
"Nem todos os laboratórios da White Umbrella são iguais". Ele continuou. "Tem aqueles que lidam só com dados,
outros com a química, alguns onde espécimes crescem ou sofrem cirurgias - e alguns poucos onde as criaturas
são testadas. E isso nos leva para o porquê de eu estar aqui, e porque decidi adiar seus planos.
Há uma área de teste da Umbrella pronta para ser ativada em Utah, ao norte das salinas. Bem agora, o lugar
está sendo usado por uma pequena equipe de técnicos... treinadores de espécimes, e está marcado para ficar
totalmente operacional em três semanas. O homem supervisionando as preparações finais é um dos ícones
chave da White Umbrella e se chama Reston. A tarefa deveria ser conduzida por outra pessoa, um desprezível
homenzinho chamado Lewis, mas ele sofreu um infeliz e não totalmente planejado acidente... e agora Reston
está no cargo. E por ser um homem muito importante por trás da White Umbrella, ele tem em seu poder um
pequeno livro preto. Só existem três livros iguais e os outros dois são impossíveis de serem pegos...".
"E o que há neles?". John falou. "Vá ao ponto".
Trent sorriu para John como se tivesse perguntado educadamente. "Cada livro é como um tipo de chave-mestra;
cada um tem um diretório completo de códigos usados para programar cada sistema de cada laboratório da
Umbrella. Com esse livro, qualquer um pode invadir qualquer complexo e acessar tudo desde arquivos pessoais à
situações financeiras. Eles trocarão os códigos caso algum livro seja roubado, claro - mas isso levaria meses".
Ninguém falou, só os motores do avião. Claire olhou para cada um deles, viu as pensativas feições, viu que
certamente estavam considerando a proposta de Trent - e percebeu que não estavam mais indo para a Europa.
"Mas e Chris, Jill e Barry? Você disse que estavam bem - como você sabe? Claire perguntou, e David pôde ouvir o
mal contido desespero.
"Levaria muito tempo para explicar como eu sei". Trent disse suavemente. "É certo de que não vão querer ouvir
isso, eu acho que vocês terão de confiar em mim. Seu irmão e os outros não estão em perigo imediato, eles não
precisam de companhia agora - mas a oportunidade de pegar o livro de Reston, de entrar no laboratório, se
perderá em menos de uma semana. Ainda, não há sistema de segurança, a maioria dos sistema nem estão
ligados - e ficando longe do programa de teste, não haverá criaturas para se preocuparem".
David não sabia o que pensar. Parecia bom, parecia exatamente a oportunidade que esperavam... mas também
foi assim com Caliban Cove. Com um monte de coisas.
Por confiar no Sr. Trent...
"O que você ganha com isso?". David perguntou. Por que você quer agredir a Umbrella?".
Trent balançou os ombros. Considere isso como um passatempo".
"Eu falo sério". David disse.
"Eu também". Trent sorriu, seus olhos ainda dançando com humor.
"Mas por que você tem sido tão enigmático?". Rebecca perguntou, e David acenou, vendo os outros fazerem o
mesmo. "As coisas que você deu à Jill e à David - todos enigmas e pistas. Por que não nos diz o que precisamos
saber?".
"Porque vocês precisam adivinhar". Trent disse. "Ou melhor, era necessário que vocês parecessem ter
adivinhado. Como eu disse antes, há poucas pessoas que sabem o que a White Umbrella está fazendo; se vocês
parecessem saber demais, poderia cair tudo sobre mim.
"E por que correr o risco agora?". David perguntou. "Por que precisa de nós afinal? Você deve ter alguma
conexão com a White Umbrella; por que não vai à público, ou faz sabotagem?".
"Trent sorriu de novo. "Eu estou correndo o risco porque é hora de correr o risco. Tudo o que posso dizer é que
tenho meus motivos".
Ele fala e fala, e ainda não sabemos o que diabos está fazendo ou por que... como exatamente ele consegue
isso?
"Por que você não nos conta alguns desses motivos, Trent?". John não estava engolindo nada daquilo, David
percebeu; ele franzia para o clandestino, a ponto de querer bater nele.
Trent não respondeu. Ao invés disso, ele se desencostou da poltrona e pegou seu casaco, virando para David.
"Eu acho que vão querer discutir isso depois de fazerem a decisão". Trent disse. "Se me derem licença, eu usarei
essa oportunidade para falar com nosso piloto. Se vocês decidirem não pegar o livro de Reston, eu sairei do
caminho. Eu tinha dito que vocês não tinham escolha, mas foi meu lado dramático aparecendo; sempre há uma
escolha".
Com isso, Trent virou e andou para a cabine do piloto, cruzando as cortinas sem olhar para trás.
[4]
John quebrou o silêncio cerca de dois segundos depois que Trent saiu de lá.
"Pro inferno com isso". Ele disse, parecendo tão bravo como Rebecca nunca o tinha visto antes. "Eu não sei
quanto a vocês, mas eu não estou feliz sendo manipulado desse jeito - eu não estou aqui para ser marionete do
Sr. Trent, eu não confio nele. Eu proponho fazer ele falar sobre a Umbrella, nos contar o que sabe sobre o
pessoal na Europa - e se ele nos der outra resposta negligente, nós chutaremos o traseiro evasivo dele por aquela
porta".
Rebecca sabia que ele estava muito bravo, mas não podia fazer nada. "Sim, John, mas como você se sente, de
verdade?". Ele olhou na direção dela - e sorriu, de alguma forma, aquilo quebrou a tensão de todos eles. Foi como
se todos se lembrassem de respirar ao mesmo tempo, a inesperada visita do misterioso benfeitor tornou difícil
lembrar de algumas coisas por alguns instantes.
"Nós temos o voto de John". David disse. "Claire? Eu sei que está preocupada com Chris...".
Claire acenou devagar. "É, eu quero vê-lo de novo o mais cedo possível...".
"Mas,". David disse.
"Mas - eu acho que ele está dizendo a verdade. Sobre estarem bem".
Leon estava acenando. "Eu também acho. John está certo sobre Trent estar sendo evasivo - mas eu não acho
que esteja mentindo, sobre nada. Ele não disse muito, mas eu não tive a impressão de que ele estava nos
enganando com o que iria dizer".
David virou o olhar. "Rebecca?".
Ela suspirou, balançado a cabeça. "Desculpe, John, mas eu concordo com eles. Eu acho que Trent conseguiu
alguma credibilidade; nos ajudou antes com seu jeito estranho, e o fato de estar aqui, desarmado, significa algo
-".
"- significa que ele é burro". John falou sombriamente, e Rebecca o bateu de leve no braço, percebendo de
repente, intuitivamente, o porquê de John estar tão relutante em aceitar a palavra de Trent.
John não conseguiu intimidá-lo.
Ela estava certa disso, conhecia John o bastante para saber que a indiferença de Trent iria certamente abalar
John.
Escolhendo as palavras cuidadosamente, mantendo a voz suave, Rebecca sorriu para ele. "Eu acho que você
odiou o fato de que ele não se intimidou com a sua grandeza assustadora, John. A maioria das pessoas
molhariam as calças com você se erguendo sobre elas".
Era a coisa certa a se dizer. John franziu pensativamente, depois balançou os ombros. "É, bem, talvez. Mas eu
ainda não confio nele".
"Nenhum de nós devia". David disse. "Ele está escondendo muito de si para alguém que quer nossa ajuda. A
questão é, devemos achar esse Reston ou mantermos o plano original?".
Ninguém falou por um momento e Rebecca viu que ninguém queria responder - para saber se Trent estava
dizendo a verdade, não era preciso ir a Europa. Ela também não queria falar, de alguma forma parecia uma
traição à Jill, Chris e Barry, do tipo "nós achamos algo melhor para fazer ao invés de socorrê-los".
E se eles realmente não precisam de nós...
Rebecca decidiu que é melhor falar primeiro. "Se esse lugar é tão fácil como ele diz... quando teríamos outra
chance como esta?".
Claire mordia o lábio, infeliz. Parecendo rasgada. "Se acharmos aquele livro de códigos, nós teríamos algo para
levar à Europa. Algo que realmente poderia fazer uma diferença".
"Se nós acharmos o livro". John disse, mas ainda formulava a idéia.
"Seria uma reviravolta". David falou suavemente. "Reduziria todos os excedentes contra nós de um milhão para
um, talvez alguns milhares".
"Eu tenho que admitir, seria bom revelar os planos secretos da Umbrella para a imprensa". John disse. "Copiar
todos os seus malditos segredos e imprimi-los em cada jornal do país".
Todos estavam acenando, apesar dela achar que iria demorar um pouco para se acostumar com a idéia.
Rebecca já sabia que a decisão tinha sido feita.
Parece que estavam indo para Utah.
Se todos esperavam que Trent fosse pular de alegria com a decisão, estavam enganados. Quando David o
chamou e disse, que iriam para a zona de testes, Trent só acenou, o mesmo sorriso enigmático em sua estática
face.
"Aqui estão as coordenadas para o local". Trent disse, tirando um papel do bolso da frente. "Há inclusive vários
códigos numéricos listados os quais darão permissão de entrada - apesar de ser difícil achá-la. Sinto não ter me
dedicado mais a isso".
Leon olhou enquanto David pegava o papel, enquanto Trent voltava para contar ao piloto, imaginando por que
não conseguia parar de pensar em Ada. Desde o pequeno discurso sobre a White Umbrella, memórias das
habilidades e beleza de Ada Wong, o eco de sua profunda e abafada voz tem o perseguido. Algo naquele homem
o lembrava dela; talvez a suprema auto-confiança, ou o leve sorriso traiçoeiro -
- e no final, antes daquela mulher maluca atirar nela, eu a acusei de ser uma espiã da Umbrella - e ela negou,
disse que não era de meu interesse para quem trabalhava...
Mesmo tendo entrado um pouco tarde nessa briga, Leon e Claire ouviram o que os outros sabiam sobre a
Umbrella, e que Trent já havia aprontado antes. A única constante - apesar de ser muito evasivo com
informações - era que ele parecia saber de tudo mais do que ninguém.
Não custa perguntar.
Quando Trent voltou, Leon se aproximou dele.
"Sr. Trent,". Disse cautelosamente, olhando-o de perto. "em Raccoon City, eu conheci uma mulher chamada Ada
Wong...".
Trent olhou para ele, suas expressões inalteradas. "Sim?".
"Estava pensando se você não saberia alguma coisa sobre ela, para quem trabalhava. Ela estava procurando
uma amostra do G-virus -".
Trent ergueu as sobrancelhas. "Estava?. E ela conseguiu?".
Leon estudou os escuros olhos dele, imaginando porque achava que Trent já sabia a resposta. Ele não podia,
claro, Ada foi morta antes do laboratório explodir.
"Sim, ela conseguiu". Leon disse. "No final, ela - ela se sacrificou para fazer uma escolha. Entre matar alguém e
perder a amostra".
"E esse alguém era você?". Trent perguntou suavemente. Leon percebeu que os outros estavam olhando e ficou
surpreso por não estar desconfortável. Mesmo um mês atrás, tal conversa pessoal teria sido constrangedora.
"Era". Leon disse, quase desafiador. "Era eu".
Trent acenou devagar, sorrindo um pouco. "Então parece que você não vai precisar saber de mais nada sobre
ela. Sobre sua personalidade ou motivações". Leon não sabia se ele estava evitando a pergunta ou se dizia
honestamente o que pensava - mesmo assim a simples e lógica resposta fez Leon se sentir melhor. Seja qual for
a psicologia que estava usando, Trent era bom.
Ele é suave, culto e assustador pra diabo em seu quieto jeito de ser... Ada teria gostado dele.
"... do quanto gostei de falar com você, mas tenho negócios para tratar com nosso capitão". Trent estava
falando. "Estaremos em Salt Lake em cinco ou seis horas".
Com isso, ele acenou para eles e desapareceu pela cortina de novo.
Leon olhou para os outros em volta, os viu pensativos e desconfortáveis, viu Claire parecendo querer mudar de
idéia.
Leon andou para a poltrona onde ela estava encostada de braços bem cruzados, e tocou seu ombro.
"Pensando em Chris?". Ele perguntou gentilmente.
Para a surpresa de Leon, ela balançou a cabeça, sorrindo tensamente para ele. "Na verdade não, eu estava
pensando na mansão de Spencer, na missão à Caliban Cove e o que acontece em Raccoon. Estava pensando
que não importa o quanto simples Trent diz ser, nada nunca é fácil com a Umbrella. As coisas ficam complicadas
quando ela está envolvida.
Nós já devíamos saber disso...
Ela parou de falar, e balançou a cabeça como se para esquecer, dando outro sorriso ainda mais brilhante. "Ouça!
Eu vou pegar um sanduíche, você quer alguma coisa?".
"Não obrigado". Ele disse, ainda pensando sobre o que ela tinha dito - e imaginando, de repente, se a jornada
para Utah seria o último erro que cometeriam.
Steve Lopez, o bom e velho Steve, seu rosto tão branco e vazio quanto um folha de papel, parado no meio
daquele estranho laboratório, parado e apontando sua semi para eles, dizendo para largarem as armas -
- e a raiva, a dor, a fúria vermelha que acertou John como um furacão ao saber que Karen estava morta, que
Steve tinha se tornado um daqueles soldados zumbis idiotas -
- e John gritou, o que você fez com ele, sem pensar, girando e atirando na vazia criatura atrás deles, a bala
acertando em cheio a *têmpora esquerda e o frio ar fedendo como morte enquanto a criatura caía -
- e dor! Dor rasgando por dentro enquanto Steve, seu amigo e companheiro o baleava pelas costas. John sentiu
sangue nos lábios, sentiu-se virando, sentiu mais dor do que achava que podia. Steve o tinha acertado, o doutor
maluco tinha usado o vírus nele e Steve não era mas Steve, e o mundo estava girando, gritando -
John, John acorde, você está tendo um -
"- um sonho ruim. Ei, grandalhão -".
John se sentou, seus olhos bem abertos e seu coração pulando, sentindo-se desorientado e com medo. A morna
mão em seu braço era de Rebecca, o toque gentil e confortante o fez perceber que estava acordado.
"Droga". Ele resmungou, e encostou no assento, fechando os olhos. Eles ainda estavam no avião, o leve ruído do
motor pondo o resto de sua confusão para dormir.
"Você está bem?". Rebecca perguntou e John acenou, respirando fundo algumas vezes antes de abrir os olhos
de novo.
"Eu - eu gritei ou alguma coisa parecida?".
Rebecca sorriu para ele, olhando-o de perto...
"Não. Acontece que eu estava voltando do banheiro e o vi se contorcendo que nem um coelho. Não parecia que
estava se divertindo... espero não ter interrompido nada bom".
Foi quase uma pergunta. John forçou um sorriso e evitou o assunto, olhando para a janela. "Três sanduíches de
atum antes de dormir foi uma má idéia, acho. Estamos chegando?".
Rebecca acenou. "Estamos começando a descer. Quinze ou vinte minutos, David disse".
Ela ainda o observava, calorosa e preocupada, e John percebeu que estava sendo um idiota. Guardar aquela
besteira para si era um bom motivo para perder a cabeça.
"Eu estava no laboratório". Ele disse, e Rebecca acenou, era tudo o que precisava dizer. Ela também esteve lá.
"Eu tive o mesmo há alguns dias, logo depois de decidirmos sair de Exeter". Ela disse suavemente. "Um bem
nojento. Foi uma espécie de combinação entre coisas da mansão de Spencer e de Caliban".
John acenou, pensando no quanto notável ela era. Havia enfrentado uma casa cheia de monstros da Umbrella
em sua primeira missão no S.T.A.R.S., e ainda decidiu ir com David para vasculhar Caliban.
"Você é de arrebentar, 'becca. Se eu fosse um pouco mais jovem, iria achar que estava apaixonado". Ele disse, e
gostou de ver a envergonhada reação dela. Ela era com certeza muito mais esperta do que ele, mas também
era uma adolescente - e lembrando de sua época, as adolescentes não eram contrárias a ouvir o quanto eram
legais.
"Cala a boca". Ela disse, seu tom de voz o dizendo que tinha conseguido deixá-la envergonhada, e que ela não se
incomodava.
Um momento de confortável silêncio ficou entre os dois, as últimas lembranças do pesadelo sumindo enquanto o
avião descia. Em alguns minutos, eles estarão em Utah. David já tinha sugerido irem para um hotel e começarem
a fazer planos, pois estariam partindo amanhã à noite.
Entrar, pegar o livro e dar o fora. Fácil... exceto por ser o mesmo plano para Caliban.
John decidiu que uma vez no chão, gostaria de falar com Trent. Ele está na missão, de pegar o livro e passar
algumas correntes no trabalho da Umbrella - mas ainda não estava satisfeito com as informações seletivas de
Trent. É, o homem os estava ajudando - mas porque é tão estranho? E porque não disse o que os outros
estavam fazendo na Europa, ou quem comandava a White Umbrella, ou como conseguiu ter seu piloto no vôo
deles?
Deve ser alguma viagem alucinante, não é? Manipulador.
Aquilo não parecia certo, mas John não tinha outros motivos para pensar que Trent era um espião secreto. Se ele
tiver o braço torcido só um pouquinho, talvez pudesse ficar mais acessível...
"John - eu sei que não gosta dele, mas você acha que ele está certo, que vai ser fácil? E se esse Reston não
desistir? Ou se - se algo mais acontecer?".
Ela tentava parecer profissional, sua voz leve e suave, mas o confuso olhar no fundo de seus olhos escuros a
revelou.
Algo mais? Algo como uma contaminação, algo como um cientista maluco, como monstros se libertando. Como o
"algo" que sempre acontece perto da Umbrella...
"Se alguma coisa der errado será o terrível cheiro de Reston quando borrar as calças". Ele disse, e foi novamente
recompensado com um sorriso da jovem.
"Você é um malvado". Ela disse, e John balançou os ombros, vendo o quanto era fácil fazer uma garota sorrir - e
pensando se era bom aumentar as esperanças dela.
Alguns momentos depois, o avião tocou a pista e pela primeira vez o piloto usou o interfone. Ele pediu que
ficassem sentados até o avião parar, sem se preocupar com a baboseira de esperar termos gostado do vôo ou
informar a temperatura; por aquilo John estava agradecido. O pequeno avião andou pela pista finalmente
parando, todos se levantando e se espreguiçando, vestindo seus casacos.
Assim que ele ouviu a porta externa abrir, John passou por Rebecca e foi para a cabine do piloto, determinado a
não deixar Trent sair antes de conversarem. Ele abriu a cortina, uma fria brisa passou pela pequena passagem, e
viu que era tarde demais. O piloto Evans, estava de pé na passagem.
De alguma forma, Trent conseguiu escapar nos poucos segundos que John levou para cruzar o avião. A escada
de metal do lado de fora estava vazia - e mesmo descendo-a em uma batida de coração, não restava mais nada
para ver além da interminável pista de aterrissagem, e ninguém além do homem que abriu a escada. Ao
perguntar sobre Trent, o funcionário do aeroporto insistiu que John foi o primeiro a ter saído do avião.
"Filho da mãe". John falou entre os dentes, mas não importava pois já estavam em Utah. Com ou sem Trent,
eles chegaram - e por ser mais de meia-noite, eles tinham menos de um dia para se aprontar.
[5]
Jay Reston estava feliz. De fato, há muito tempo não se sentia tão feliz, e se soubesse que seria tão bom voltar
à essa atividade, o teria feito anos atrás.
Cuidar de empregados, do tipo que sempre sujam as mãos. Fazer as coisas acontecerem e ver os resultados,
ser parte do processo. Ser mais do que uma simples sombra, mais do que uma escuridão sem nome a ser
temida.
Pensar nessas coisas o fez sentir-se forte e vivo de novo; ele tinha quase 50 anos e mau se sentia na meia
idade, e trabalhar na trincheira de novo o fez perceber o quanto havia perdido nos últimos anos.
Reston sentou na sala de controle, o pulso do planeta, suas mãos atrás da cabeça e sua atenção fixada na
parede de monitores à frente. Em uma das telas, um homem de macacão estava trabalhando numa série de
árvores da Fase Um, colocando mais uma camada de verde. O homem era Tom alguma coisa, da manutenção,
mas o nome não era importante. O importante era que Reston tinha pedido isso pessoalmente na reunião de
manhã.
Em outra tela, Kelly McMalus estava recalibrando o controle de temperatura do deserto, também a pedido de
Reston. McMalus era a responsável chefe do Scorps, pelo menos até a equipe permanente chegar; todos no
planeta eram temporários, uma das mais novas regras da White para evitar sabotagem. Uma vez que tudo
estiver funcionando, os nove técnicos e meia dúzia de cientistas preliminares - glorificados manipuladores de
espécimens na verdade, apesar de nunca tê-los chamado assim diretamente - também serão relocados.
O Planeta. Na verdade, o complexo se chamava "B.O.W. Envirotest A". (Teste ambiental de armas biológicas A),
mas Reston achou que Planeta era um nome muito melhor. Ele não tinha certeza de quem surgiu com esse
nome, mas foi numa das reuniões matutinas e acabou ficando. Referir-se ao campo de teste como Planeta o fez
sentir-se ainda mais parte do processo.
"O vídeo foi ligado hoje, apesar de haverem problemas como os microfones, que ainda não estão funcionando;
cuidarei disso o quanto antes. Os últimos Ma3k chegaram, sem danos a nenhum dos espécimens. No geral, tudo
está indo muito bem, nós esperamos ter o Planeta pronto antes do previsto...".
Reston sorriu, pensando em sua última conversa com Sidney; será que ele percebeu algum toque de inveja na
voz de Sidney, um fio de tristeza? Ele era parte de um "nós" agora, um nós que chamava o Envirotest A por um
apelido. Depois de trinta anos de delegação, ter que supervisionar os toques finais do mais caro e inovador
complexo até agora, foi uma benção de disfarce. E pensar que ficou irritado ao descobrir que o carro de Lewis
caiu de um penhasco; o acidente foi o melhor trabalho que já fez para a Umbrella, porque significava que ele
estaria supervisionando o nascimento do Planeta.
Outro técnico estava cruzando um dos monitores, carregando uma caixa de ferramentas e um rolo de corda.
Cole, Henry Cole, o eletricista que vem trabalhando no intercomunicador e sistemas de vídeo; ele estava no
corredor principal que corria entre os alojamentos e a área de teste, na direção do elevador. Reston percebeu no
dia anterior que as câmeras da superfície estavam com defeito; nenhuma das câmeras do Planeta ainda está
equipada com som, e de vez em quando os monitores do conjunto superior mostravam estática, e Reston pediu
a Cole que checasse -
- mas só depois de terminar com o sistema de comunicação. Como eu vou entrar em contato com as pessoas se
o intercomunicador ainda não funciona?
Até a irritação que sentia pelo técnico era divertida; ao invés de apertar um botão e dizer para algum subordinado
consertar, ele teria que pedir pessoalmente.
Intercomunicador, sistema de vídeo... a ponte na Fase 3 precisa de reforço, as cores da cidade, elas estão muito
monótonas...
Ele andou pela polida sala de controle depois da fileira de cadeiras de couro, tão novas que o cheiro ainda flutuava
pelo filtrado ar. Elas ficavam de frente para a parede coberta de monitores de alta resolução; em menos de um
mês, lá estarão se sentando os melhores pesquisadores, cientistas e administradores que são o coração da White
Umbrella, tal como os dois maiores financistas do programa. Até Sidney e Jackson estarão lá para ver o pontapé
inicial do programa de teste.
E Trent, Reston pensou esperançosamente. Ele certamente não recusaria um convite para a inauguração...
Reston pisou na placa de pressão em frente a pesada porta de metal, a mesma deslizando para cima com um
suave suspiro, e saiu para o largo corredor que corria o comprimento do planeta. A sala de controle não era longe
do elevador industrial, na verdade era quase em frente, mas o eletricista já tinha ido para a superfície. Em uma
semana haverá quatro elevadores operando, mas por enquanto só o industrial. Ele teria que esperar até Cole
desembarcar.
Reston chamou o elevador e esticou as mangas de seu terno, pensando em como conduzirá o tour. Já fazia um
bom tempo desde que Jay Reston teve o prazer de sonhar acordado, mas no pouco tempo de planeta,
pensando no dia em que receberá os outros e os guiará pelo complexo que havia transformado numa ágil
máquina, acabou tornando isso um passatempo. Das poucos que dirigiam a White Umbrella, que faziam as
grandes decisões, ele era o mais jovem a ser aceito no circulo interno - e mesmo Jackson já o ter assegurado de
que era tão valioso quanto qualquer outro, Reston conseguiu perceber em duas ocasiões que era sempre o último
a ser consultado. A ser considerado.
Não antes disso. Não depois de eles virem que mesmo sem uma dúzia de assistentes esperando pela minha
palavra, eu consegui deixar o Planeta pronto e funcionando sem problemas antes do previsto. Eu queria ver
Sidney fazer a metade...
Eles virão à noite, claro, e provavelmente em vários grupos. Os responsáveis pelos espécimens ficarão na entrada
para recebê-los e levá-los aos elevadores (os novos, não a monstruosidade imunda que estava esperando); na
descida, os visitantes ouvirão tudo sobre a eficiência e elegância dos dormitórios, o sistema de filtros de ar
auto-contidos, a ala cirúrgica - tudo o que fazia do Planeta a mais brilhante inovação. Do elevador, ele os levará
para a sala de controle e explicará os ambientes e a atual série de espécimens, oito de cada. Depois os levará
para o norte, na direção do começo do campo de teste.
Andaremos pelas quatro fases, depois veremos a sala de autópsia e o laboratório químico. Nós teremos que parar
e dar uma olhada no Fóssil, claro, e depois pela área de convivência - onde haverá café e aperitivos, sanduíches
talvez - e depois circular de volta à sala de controle para observar os primeiros testes. Só espécimen contra
espécimen, claro - experimentação humana deprimiria um pouco as coisas...
Um suave tom trouxe sua atenção de volta para a realidade, anunciando a chegada do elevador. A porta abriu, o
portão deslizou e Reston entrou na grande caixa, a plataforma de aço reforçado fazendo barulho sob seus pés.
Poeira soprou do metal, caindo sobre o lustroso brilho de seus sapatos.
Reston suspirou, apertando os botões que o levariam para a superfície, pensando em tudo o que teve que fazer
desde que chegou ao Planeta há dez dias. - As coisas estavam indo, mas nunca percebeu quantas
inconveniências um tinha que sofrer para tornar um lugar desse operacional - as refeições mornas e indiferentes,
a constante necessidade de prestar atenção em cada pequeno detalhe sem falar no pó; por toda parte, finas
camadas nos cabelos e roupas, entupindo os filtros... até na sala de controle. Ele teve que tomar todos os tipos
de precaução para evitar o pó no terminal central. Ele tinha que trabalhar com três programadores diferentes para
ter o computador central funcionando, mais uma das precauções da Umbrella para evitar que alguém saiba
demais; mas se o sistema cair...
Reston suspirou, batendo no pequeno e fino quadrado em seu bolso enquanto o elevador subia suavemente. Ele
tinha os códigos; se o sistema caísse, só teria que chamar novos programadores. Um contratempo, longe de um
desastre. Raccoon City, isso sim foi um desastre - mais razões para querermos que tudo corra bem com o
Planeta.
Nós precisamos. Depois do verão que tivemos, a contaminação, aqueles S.T.A.R.S. intrometidos, a perda de
Birkin - uma ação que resultou na perda de seu principal cientista e cerca de um bilhão de dólares em
equipamento, espaço e mão de obra. Não foi culpa dele, claro, ninguém o culpou - mas foi um péssimo verão
para todos eles, e tendo o Envirotest A funcionando acalmaria bastante as coisas.
Ele pensou no que Trent disse, um pouco antes de Reston partir para o Planeta - desde que não percamos a
cabeça, não havia com o que se preocupar. É um conselho calmante, mas ouvindo isso de Trent fez parecer
uma verdade. Engraçado; eles trouxeram Trent para resolver problemas, e em menos de seis meses ele se
tornou um dos membros mais respeitados do círculo. Nada abalava Trent, ele era frio; eles tinham sorte em tê-lo,
particularmente considerando a recente onda de azar.
O elevador parou e Reston arrumou os ombros, preparando-se para redirecionar os esforços do Sr. Cole - e só o
pensamento de fazê-lo pular o fez sorrir, pondo as outras preocupações de lado.
É só um zé ninguém operário, pensou feliz, e andou para cuidar dos negócios.
[6]
Havia uma meia-lua no claro céu noturno, sua pálida luz azul cruzando a vasta e aberta planície, fazendo parecer
mais frio do que estava.
E já estava bem frio, Claire pensou, tremendo apesar do aquecedor. Era outra minivan, e mesmo com três se
mexendo lá atrás, checando armas e carregando clipes, não pareciam estar gerando o mínimo de calor para
evitar o ar gelado que vinha da fina camada de metal.
"Você tem os 380?". John perguntou para Leon, que passou a caixa de munição antes de voltar a encher as
bolsas de amarrar na perna. David dirigia e Rebecca os localizava no GPS. Se as coordenadas de Trent estiverem
certas, já estavam bem perto.
Claire olhou para a pálida paisagem passando pela empoeirada estrada, os intermináveis quilômetros de nada sob
o céu aberto, e tremeu de novo. Era um lugar árido e abandonado, a estrada que estavam nada mais que um
caminho de terra sem destino algum; perfeito para a Umbrella.
O plano era simples. Deixar a van a uns 600 metros das coordenadas de Trent, armar-se com todas as armas
que tinham, entrar no complexo o mais silenciosamente possível...
"...acharemos o painel da senha, digitá-la, e entrar,". David tinha dito. "logo depois que escurecer. Com alguma
sorte, a maioria dos funcionários estarão dormindo; é só achar os alojamentos e confiná-los. Depois iremos atrás
do livro do Sr. Reston. Se nós não o acharmos em, digamos, vinte-minutos, teremos que perguntar pessoalmente
- como última tentativa
para evitar comprometer Trent. De livro nas mãos, nós voltaremos por onde viemos. Perguntas?".
A sessão de planejamento no hotel fez isso parecer fácil demais - e com as poucas informações que tinham, as
perguntas também foram poucas.
Agora, dirigindo por uma vastidão interminável e gelada, e tentando se preparar psicologicamente, não parecia
mais tão simples. Era assustador, ir a um lugar que ninguém havia estado antes para procurar um item do
tamanho de um livro de bolso.
E mais, é a Umbrella, e teremos que intimidar um bando de técnicos e possivelmente ter que bater num dos
grandões.
Pelo menos eles estavam bem armados; afinal, tinham aprenderam algo sobre lidar com a Umbrella - que levar
um pouco de fogo não era uma má idéia. Além das pistolas 9mm e múltiplos clipes para cada um, eles tinham
dois rifles automáticos M-16 A1 - um para John e outro para David - e seis granadas de fragmentação. Por
precaução, David disse.
Em caso de tudo dar errado. Em caso de nós termos que explodir alguma criatura bizarra assassina - ou centenas
delas...
"Frio?". Leon perguntou.
Claire virou-se da janela. Ele tinha terminado com as bolsas, e estava segurando uma para ela. Ela pegou,
acenando em resposta. "E você, não?".
Ele balançou a cabeça, sorrindo. "Roupa de baixo térmica. Podia ter usado uma dessas em Raccoon...".
Claire sorriu. "Você!? Eu estava correndo de shorts, pelo menos você tinha seu uniforme".
"Que já estava coberto de tripas de jacaré na metade do caminho dos esgotos". Ele disse, e ela ficou grata por
ele ter feito disso uma piada.
Ele está melhorando, nós estamos.
"Agora, crianças,". John disse severamente. "Se vocês não pararem, nós daremos meia volta -".
"Diminua". Rebecca disse lá da frente, sua quieta voz calando-os. David soltou o acelerador, a van diminuindo
para um engatinhar.
Parece - que está a 600 metros a sudeste de nossa posição atual". Rebecca disse.
Claire respirou fundo, viu John pegar um dos rifles e Leon apertar os lábios numa fria linha enquanto David parava
a van. Era hora. John abriu a porta lateral, o ar gelado e seco.
"Espero que tenham café". John suspirou e saltou da van, virando para pegar sua mochila. Rebecca carregou
alguns suprimentos médicos, e enquanto ela e David desciam, Leon tocou o ombro de Claire.
"Você está afim de fazer isso?". Ele perguntou suavemente, e Claire sorriu para dentro, pensando no quanto doce
ele era; ela esteve pensando em perguntar o mesmo. Nos dias desde Raccoon, eles ficaram bem próximos - e
apesar de não ter tido certeza, ela percebeu alguns sinais de que Leon não se importava em se aproximar. Ela
ainda não sabia se era uma boa idéia -
- e agora não é hora para decidir. O quanto antes pegarmos esse livro, o mais cedo iremos para a Europa. Para
Chris.
"Vou estar". Ela disse e Leon acenou, os dois descendo da van para se juntarem aos outros.
David colocou John na retaguarda e ficou sozinho na frente, forçando todos os pensamentos negativos para fora
da mente enquanto marchavam para onde Trent disse que o local estaria. Não era fácil; eles estavam
despreparados com menos de um dia de planejamento, sem mapas, sem noção de como Reston era, ou que
tipo de segurança estariam enfrentando -
Esse foi um pensamento que guardou consigo; uma pacífica aposentadoria. Quando os monstros por trás da
White Umbrella forem levados à justiça, ele só se preocupará em comer e tomar banho...
"Eu acho - virar à esquerda alguns graus". Rebecca disse lá de trás, trazendo-o sua atenção de volta. Ela tinha
cochichado, mas a noite estava tão fria e frágil, o ar tão perfeitamente parado que cada passo dado e cada
respiração parecia inundar o mundo.
David os guiou pelo escuro, desejando poderem usar as lanternas; já devem estar bem perto. Mesmo vestidos
de preto, ele estava preocupado em serem pegos antes de entrar - seja lá o que isso significaria; Trent não nos
deu idéia de como o lugar seria. Mesmo assim, com quase meia-lua no céu, ninguém os veria até estarem bem
debaixo do nariz deles -
- a lista não tinha fim, não é, e eu ainda estou levando eles. Caso tenhamos sucesso, eu posso me aposentar. A
Umbrella ficará tão bem quanto morta e ninguém jamais precisará de mim de novo.
Ali.
Um engrossamento de sombra bem à frente. David ergueu a mão, diminuindo os outros enquanto se
aproximavam, enquanto via um telhado metálico refletindo a luz lunar. Aí viu a cerca, e depois um monte de
construções, todas escuras e quietas.
David passou a andar agachado, acenando para os outros o seguirem, apertando o rifle automático contra o
peito. Eles chegaram perto o bastante para ver o grupo de altas estrutura térreas atrás da cerca.
Cinco, seis galpões, sem luz nem movimento - uma fachada falsa com certeza...
"Subterrâneo". Rebecca cochichou, e David acenou. Provavelmente, eles discutiram várias possibilidades e essa
parecia o mais comum. Mesmo com a pálida luz, ele pode ver que os prédios eram velhos e sujos. Havia uma
estrutura um pouco à frente dos cinco longos e alinhados galpões, todos com telhado arredondado. Era grande o
bastante para ser algum campo de teste, os galpões maiores tão grandes quanto hangares de aviões, mas o
local onde estava - sozinho no meio de um vasto deserto - velhos do jeito que eram, tinha que ser sob a terra.
Bom e ruim. Bom porque poderiam invadir o lugar sem muitos problemas; ruim porque só Deus sabe que tipo de
sistema de vigilância eles tinham. O jeito era entrar rápido.
David virou, ainda agachado, e olhou para a equipe.
"Nós vamos ter que acelerar". Disse suavemente. "e ficar abaixados. Subimos a cerca na mesma ordem - eu na
ponta, John na retaguarda. Nós temos que achar a entrada o mais rápido possível. Cuidado com câmeras e
estejam todos armados ao pisarem do outro lado".
Acenos para todo lado, faces apreensivas. David virou e foi para a cerca, cabeça para baixo, músculos apertados
e tensos. Vinte metros, o ar batendo em seus pulmões, congelando o leve suor em sua pele. Dez metros. Cinco,
e pode-se ver os avisos de "Não Ultrapasse" presos na cerca. Quando chegaram no portão, David viu a placa
dizendo que eles estavam em área particular usada pelo "Monitoramento e Mapeamento Meteorológico #7". Ele
olhou para cima e viu as silhuetas arredondadas do que deveriam ser antenas de satélite em dois dos galpões.
David tocou a cerca com o cano da M-16 e depois com a mão. Nada, e também não havia arame farpado, nem
sensores.
É óbvio, nenhuma estação meteorológica teria isso; a Umbrella é tão precavida com suas fachadas do que com
qualquer outra coisa.
Ele pendurou o rifle no ombro, agarrou o grosso arame e subiu. Eram só dois metros; foi para o topo em cinco
segundos, passou para outro lado e pulou no arenoso chão do complexo.
Rebecca foi depois, escalando rapidamente e com facilidade. David se ergueu para ajudá-la, mas ela aterrissou ao
lado dele sem perder o equilíbrio. Ela sacou sua H&K VP70, e virou para cobrir a escuridão enquanto David olhava
para a cerca.
Leon quase caiu lá de cima, mas David o ajudou, agarrando seu braço ao descer. Leon acenou para David que foi
ajudar Claire.
Até agora, tudo bem...
David varreu as sombras em volta deles enquanto John subia pelo lado de fora, seu coração pulando, todos os
sentidos alertas. Não havia som exceto o balançar da cerca sob a escuridão.
Ele olhou para trás quando John voltou para o chão, depois acenou na direção da estrutura da frente, a menor.
Se ele fosse projetar uma falsa camuflagem, ele esconderia a entrada num lugar que ninguém fosse procurar -
num armário de vassouras nos fundos do último galpão, através de um alçapão na sujeira - mas a Umbrella era
convencida, muito presunçosa para se preocupar com simples precauções
Vai estar no primeiro prédio, porque eles acreditam que a esconderam tão bem que ninguém a encontrará.
Porque se tem uma coisa que podemos contar, é que a Umbrella se acha muito esperta para ser pega...
Assim esperava. Abaixado, David foi para o prédio, rezando para que se houvessem câmeras, ninguém as
estivesse vendo.
Era tarde, mas Reston não estava cansado. Ele sentou na sala de controle, tomando pequenos goles de
conhaque numa caneca de cerâmica e pensando preguiçosamente na agenda de amanhã.
Ele fará seu relatório, claro; Cole ainda não tinha começado o sistema de comunicação, apesar de todas as
câmeras parecerem funcionar direito; o responsável pelos Ca6, Les Duvall, queria um mecânico para verificar uma
trava da jaula - e ainda tinha a cidade. Os Ma3K não brilhariam exatamente se as únicas cores forem bronze e
vermelho tijolo.
... mandar o pessoal da construção para a Quatro amanhã. E ver como os Av1 se comportam nos poleiros -
Uma luz vermelha piscou no painel à sua frente, junto com um suave alarme. Era a sexta ou sétima vez desde a
semana passada; tinha que mandar Cole consertar isso também. A ventania lá em cima podia ser um problema
também; num dia ruim ela bate as portas dos galpões forte o bastante para disparar os sensores.
Ainda bem que estou aqui... quando o Planeta estiver totalmente funcional, sempre haverá alguém na sala de
controle para reiniciar os sensores, mas por enquanto, Reston era o único com acesso à sala. Se ele estivesse na
cama, o suave e insistente alarme o teria forçado a se levantar.
Reston esticou-se para o botão, olhando para a fileira de monitores à sua esquerda, não por esperar ver alguma
coisa, mais sim por uma questão de postura -
- e congelou, olhando para a tela que mostrava a sala de entrada a quase 400 metros acima, na visão de uma
câmera no teto do canto sudeste. Quatro, cinco pessoas, ligando lanternas, todos de preto. Os finos raios de luz
vagavam pelos consoles empoeirados, nas paredes de equipamentos meteorológicos - e iluminaram as armas que
seguravam. Revólveres e rifles.
Ah, não.
Reston sentiu quase um segundo de medo e desespero antes de lembrar quem ele era. Jay Reston não se
tornaria o homem mais poderosos do país, talvez do mundo, entrando em pânico.
Pegou o aparelho debaixo do console que o conectaria com os escritórios particulares da White Umbrella. O canal
abre assim que o tirado do gancho.
"Aqui é Reston". Ele disse, e pode ouvir a frieza em sua voz, ouvi-la e senti-la. "Nós temos um problema. Eu
quero uma ligação para Trent, eu quero que Jackson me ligue imediatamente - e enviem uma equipe agora, eu a
queria aqui para vinte minutos atrás".
Ele olhou para a tela enquanto falava, para os intrusos, e apertou os dentes, seu medo inicial virando raiva. Os
S.T.A.R.S. fugitivos com certeza...
Não importava. Mesmo se encontrarem a entrada, eles não tinham os códigos - e seja lá quem eram, iriam
pagar por tê-lo causado um segundo de aflição.
Reston colocou o comunicador de volta no suporte, cruzou os braços e olhou os estranhos movendo-se
silenciosamente pela tela, imaginando se eles sabiam que estariam mortos em meia-hora.
[7]
O galpão era frio e escuro, e havia um leve hum maquinário funcionando para quebrar o silêncio, além do pulsar
de seus corações.
Não era muito grande, talvez 9m por 6, o suficiente para dar insegurança e vulnerabilidade. Pequenas luzes
piscavam aleatoriamente por lá, como dezenas de olhos observando-os.
Cara, odeio isso.
Rebecca mirou a fina luz de sua lanterna na parede oeste, procurando algo fora do comum e tentando não ficar
enjoada. Nos filmes, detetives particulares e policiais que invadem lugares, sempre andam calmamente,
procurando evidências como se morassem no lugar; na vida real, invadir lugares que não deveria era
aterrorizante. Ela sabia que tinham o direito, de que eram os mocinhos, mas ainda assim suas mãos suavam, seu
coração martelava e desejava desesperadamente que houvesse um banheiro o qual pudesse usar. Sua bexiga
parecia ter encolhido para o tamanho de uma noz.
Eu vou ter que esperar a não ser que queira molhar território inimigo... Rebecca não queria.
Ela se curvou para olhar de perto a máquina à sua frente, um aparelho do tamanho de uma geladeira coberto de
botões; uma etiqueta na frente dizia "OGO Relay", seja lá o que for. Até onde podia dizer, a sala estava cheia de
máquinas barulhentas cobertas de botões; se os outros galpões forem iguais a este, levará uma noite inteira para
achar o painel oculto de Trent.
Cada um ficou com uma parede e John foi verificar as mesas no centro. Havia provavelmente uma câmera de
segurança em algum lugar, deixando- os mais apressados - eles esperavam que os poucos empregados
significassem que ninguém estaria olhando. Se tiverem muita sorte, o sistema de segurança ainda nem estaria
conectado.
Não, isso seria um milagre. Sorte seria se entrássemos e saíssemos vivos e ilesos, com ou sem aquele livro...
Desde que saíram da van, os alarmes internos de Rebecca vem tocando até dar nos nervos. No pouco tempo
com os S.T.A.R.S., ela aprendeu que confiar na intuição era importante, talvez mais importante do que uma
arma; o instinto diz às pessoas para fugir de balas, para se esconder quando o inimigo está próximo e a saber
quando esperar para agir.
O problema é, como você sabe se é instinto ou se está se borrando de medo? Ela não sabia. Só sabia que não
se sentia bem; estava gelada e agitada, seu estômago sentindo a ansiedade e não recusava a crença de que
algo ruim iria acontecer.
Por outro lado, ela deveria estar assustada - eles todos deveriam; o que faziam era perigoso. Algo ruim poderia
acontecer e não é paranóia, é realidade -
- olá. O que foi aquilo?
Bem à direita da máquina OGO tinha algo que parecia ser um aquecedor de água, um aparelho alto e cilíndrico
com uma pequena janela de vidro na frente. Embaixo dela tinha uma bobina de papel diagramado, cheio de linhas
pretas, nada familiar - o que chamou sua atenção foi a poeira no vidro. Era a mesma fina poeira que parecia
cobrir tudo na sala... mas com uma exceção. Havia um rastro no pó, uma camada de névoa que podia ter sido
feita pelo dedo de alguém.
Um rastro na poeira?
Se alguém tivesse passado o dedo no vidro, teria limpado o caminho por completo. Rebecca tocou o corpo da
máquina, franzindo - e sentiu a granulação da superfície da poeira, minúsculos grãos sob seus dedos. Era pintado,
talvez com um spray - a poeira era falsa.
"Deve ter algo". Ela cochichou, e tocou a janela onde estava a mancha. A janela abriu estalando, abanando para
fora -
- e havia um brilhante quadrado de metal lá dentro, dez teclas num painel completamente sem poeira; o papel
também era falso, apenas uma parte do vidro.
"Bingo". John sussurrou atrás dela, e Rebecca recuou, sentindo uma descarga de empolgação enquanto os
outros se aproximavam, sentindo a tensão de cada um. A junção de suas respirações fez uma pequena nuvem
na congelante sala, lembrando-a do frio que sentia.
Tá frio demais... nós devíamos voltar para a van, voltar para o hotel e tomar um banho quente... ela podia ouvir
o desespero em sua voz interna. Não era o frio, era aquele lugar.
"Brilhante". David disse suavemente, e deu um passo adiante, erguendo sua lanterna. Ele tinha memorizado os
códigos de Trent, onze ao todo, cada um com oito dígitos.
"Vai ser o último, aposto". John cochichou. Rebecca teria rido se não estivesse tão assustada.
John se calou quando viram David digitar os primeiros números, Rebecca pensando que não ficaria tão
desapontada se não funcionassem.
Jackson tinha ligado, sua fria e culta voz informando Reston que dois times de quatro homens haviam decolado
de helicóptero de Salt Lake City e estavam a caminho. "Acontece que o nosso departamento estava entretendo
algumas das tropas". Jackson havia dito.. "Nós temos que agradecer Trent por isso; ele sugeriu que
recolocássemos antecipadamente uma parte de nossa segurança para a grande inauguração, tal como para o
pronunciamento".
Reston ficou feliz em ouvir isso, mas nem tanto. O fato de haver três homens armados e duas mulheres fuçando
a entrada do Planeta no meio da noite -
"Eles não conseguirão entrar, Jay". Jackson tinha mudado de assunto, gentilmente. "Eles não tem acesso".
Reston acabou agradecendo-o ao invés de dar suas instintivas e grosseiras respostas. Jackson Cortlandt era o
mais protetor e arrogante filho da mãe que já havia conhecido, mas também era extremamente competente - e
selvagem se precisasse ser; o último homem que cruzou o caminho de Jackson voltou em pedaços para a família
através do correio. Dizer "de jeito nenhum" para ele era pedir para pular de um prédio.
Jackson deixou bem claro, que embora tenha apreciado a ligação, seria melhor se Jay lidasse sozinho com
situações como essa no futuro - se Reston tivesse se preocupado em avaliar os procedimentos internos, teria
descoberto sobre as equipes em Salt Lake City. Não houve nenhum tapa explicito, mas Reston entendeu o
recado; ele desligou o telefone sentindo-se severamente espancado; observar os cinco invasores só o deu mais
nervosismo.
Sem códigos, sem acesso, mesmo se acharem os controles.
Vinte minutos. Tudo o que ele tinha a fazer era esperar vinte minutos, meia-hora lá fora. Reston respirou fundo e
exalou vagarosamente -
- e esqueceu de inalar de novo quando viu um deles, uma garota, abrindo a janela do painel. Eles acharam, e ele
ainda não sabia quem eram e como sabiam sobre o Planeta - e o jeito como um dos homens avançou sobre o
painel e começou a teclar, mostrou que vinte minutos era tempo demais para esperar.
Ele está chutando números aleatoriamente, não é possível -
Reston observou o alto homem de cabelos escuros continuando a digitar números, e pensou no que Trent havia
dito na última reunião. Que a White Umbrella podia sofrer vazão de informações.
Vazão de algum superior, alguém que pode saber os códigos de entrada.
Ele foi para o telefone de novo e parou, o súbito aviso de Jackson fazendo-o suar de leve. Ele tinha que cuidar
disso, tinha que impedi-los de entrar, mas todos estavam dormindo e não havia interfone. Reston tinha uma arma
em seu quarto mas se eles tiverem a senha, ele não terá tempo de -
- desativar.
Reston virou-se do monitor e correu para a porta, chutando si mesmo para fora da sala de controle. Havia um
botão manual de desligamento escondido num painel próximo ao elevador, podendo manter o elevador lá embaixo
mesmo se os intrusos tiverem os números -
- e as equipes virão coletar nosso pequeno pacote de invasores, eu terei que lidar com isso.
Ele sorriu, um sorriso totalmente sem humor, e correu em disparada.
Leon observava ansiosamente enquanto David digitava outra seqüência de números, esperando que ainda não
tivessem sido detectados. Ele não viu nenhuma câmera, mas isso não significava que não houvesse uma; se a
Umbrella consegue construir laboratórios subterrâneos gigantes, conseguiria também esconder uma câmera de
vídeo.
David apertou a última tecla - e houve um som e movimento juntos, o baixo hiss de hidráulica e o distante hum
de um motor. Um pedaço enorme da parede à direita do painel deslizou para cima. Todos ergueram suas armas
- e as abaixaram depois que viram a grossa grade de metal e o preto vazio do poço de elevador atrás.
"Nossa". John disse, um tom de admiração em sua voz que Leon tinha de concordar. A seção da parede tinha
uns três metros de comprimento, grossa e cheia de maquinários, desaparecendo no teto em questão de
segundos. Seja lá qual for o mecanismo, devia ser extremamente poderoso.
"O que foi aquilo?". Rebecca sussurrou, e Leon o ouviu um segundo depois, um distante hum. Aparentemente o
código também chamava o elevador, o crescente eco na fria escuridão do poço. Estava subindo rápido, mas
ainda seria uma longa descida. Leon imaginou, não pela primeira vez, como a Umbrella conseguiu construir algo
assim; o de Raccoon também era enorme, com sabe lá quantos pavimentos, tudo sob a cidade.
Eles devem ter mais dinheiro que Deus. E um baita arquiteto, também.
"Nós devemos ter acionado algum sistema de alerta ou alarme". David disse baixo. "Pode não estar vazio".
Leon acenou como todos; eles estavam quietos e tensos enquanto esperavam, John apontando seu rifle para a
grade.
***
Reston achou o liso painel e o abriu sem mais problemas -
- mas havia uma trava no botão, uma fina haste de metal enganchada no topo, impedindo-o de ser puxado para
baixo. Só de ver a trava, lembrou que era mais uma das precauções da Umbrella, uma que de repente pareceu
monumentalmente idiota.
As chaves, todos os empregados as tinham, eu ganhei um molho antes de vir -
chaves de segurança?
Reston correu sua mãos pelo cabelo, vasculhando seu cérebro desesperadamente. Onde eu coloquei as malditas
Quando ouviu o elevador ser chamado à superfície alguns segundos atrás, fez tudo o que pode para não gritar.
Eles tinham o código. Eles tinham armas, eram em cinco e tinham os códigos.
Leva dois minutos para subir, eu ainda tenho tempo e as chaves estão -
Deu branco. Sua mente estava vazia e os segundos estavam passando. Ele já chamou o elevador de volta, mas
não voltará se alguém abrir a grade lá em cima. Até onde sabia, os assassinos, sabotadores ou seja lá o que
eram, já tinham aberto a grade e estavam olhando o elevador subir, esperando -
- ou talvez jogando alguns quilos de explosivos no poço - ou -
- controle, eles estão no controle!
Reston virou e correu pelo largo corredor, virando à direita e correndo mais três metros pela bifurcação. Em seu
primeiro dia no Planeta, um dos construtores o mostrou todas as travas internas - geradores, armário de
remédios na cirurgia... desligamento manual do elevador. Ele bocejou o tempo todo durante o passeio e jogou as
chaves numa gaveta da sala de controle, sabendo que não precisaria delas.
Reston correu pela porta, decidindo que depois se daria uma bronca por ter esquecido as chaves, pensando em
como as coisas fugiram do controle num período tão curto de tempo. Há dez minutos estava degustando
conhaque e relaxando -
- e daqui a dez minutos você poderá estar morto.
Reston se apressou.
O elevador era grande, pelo menos três metros de largura por uns três e meio de profundidade. John apertou os
olhos quando surgiu. A brilhante luz da única lâmpada no teto quase cegando-os depois de tanto tempo no
escuro.
Pelo menos está vazio. Agora tudo o que temos que fazer é evitar sermos emboscados e mortos ao chegarmos
lá embaixo.
O elevador parou suavemente. A trava destrancou e a grade deslizou para dentro da parede. John estava mais
perto. Ele olhou para David, que acenou para ir em frente.
"Primeiro piso, sapatos, roupas masculinas e imbecis da Umbrella". John disse, não se incomodando por não ter
ouvido risadas. Todos têm seu próprio modo de lidar com o nervosismo. E seu senso de humor era bem mais
desenvolvido.
E evoluído demais para eles, pensou, examinando as paredes do elevador em busca de algo incomum. Bom,
talvez não seja muito evoluído; eles só não apreciavam seu bom gosto. Ele se manteve entretido, isso era o
importante, algo que o impedia de virar um cubo de gelo.
O elevador parecia normal, sujo, porém sólido. John entrou com cuidado, Leon atrás -
- e de repente John ouviu um barulho, bem na hora que uma luz vermelha começou a piscar no painel de
comando do elevador.
"Não se mexam". John disse, erguendo a mão, não querendo que ninguém mais entrasse até descobrir o que
significava a luz -
- e a grade de metal fechou atrás dele, a trava trancando. Ele girou, viu que Leon estava à bordo, viu Claire e
Rebecca agarrando a grade do lado de fora e David correndo para o painel.
Houve um clique vindo de cima e Leon, que estava mais perto da grade, gritou para Claire e Rebecca -
"Afastem-se!".
- pois a porta estava descendo, caindo, e as garotas recuando. John viu num piscar de olhos suas faces pálidas e
chocadas lá fora -
- e a parede fechou, mesmo não tendo apertado nada o elevador começou a descer. John correu para os
controles, apertando todos os botões até ver o que significava a luz vermelha.
"Desligamento manual". Ele disse, olhando para o jovem policial sem saber o que dizer. O simples plano tinha
acabado de ir pro espaço.
"Porcaria". Leon disse, e John acenou, concordando que isso resumia tudo.
[8]
"Droga". Claire apertou os dentes, sentindo-se desprotegida e com medo, querendo bater na parede até soltar os
amigos.
Era uma armadilha, uma armação -
"Ouçam... está descendo". Rebecca disse, e Claire também ouviu. Ela virou e viu David teclando no painel com
uma mão, lanterna na outra, seu rosto apertado.
"David". Claire começou, e parou quando David a olhou rapidamente, como se pedisse para esperar. Ele mau
parou de digitar, voltando toda sua atenção para os controles.
Ela virou para Rebecca, viu que mordia o lábio tensamente, olhando David.
"Deve estar tentando todos os códigos". Ela cochichou para Claire, e a mesma acenou, enjoada e preocupada,
querendo falar mas vendo que David precisava de concentração. Comprometendo-se, Claire se inclinou e
sussurrou com Rebecca; se ficasse parada, quieta no escuro, iria perder a cabeça.
"Acha que foi Trent?".
Rebecca franziu e balançou a cabeça. "Não. Acho acionamos um alarme silencioso ou algo assim. Eu vi uma luz
piscar no elevador antes da grade fechar".
Rebecca soou tão assustada quanto estava, Claire pensou no quanto tinha se aproximado de John. Talvez tanto
quanto de Leon. Claire instintivamente agarrou a mão de Rebecca, esfregando-a fortemente, ambas observando
David.
Vamos, um deles tem que abri-la, trazê-los de volta...
Alguns tensos segundos se passaram e David parou de teclar. Ele apontou a lanterna para cima, o reflexo
suficiente para se enxergarem.
"Parece que os números não funcionam se o elevador estiver em uso". Ele disse. Sua voz estava calma, mas
Claire podia ver seus dentes bem apertados, os músculos de seu rosto contraindo.
"Depois eu tento de novo, e de novo - sendo que alguém mais pode ter acesso aos controles do elevador,
deveríamos considerar outras opções. Rebecca - procure alguma câmera, veja os cantos e o teto; se formos
ficar aqui, precisaremos de privacidade. Claire, veja se pode achar alguma ferramenta que possamos usar na
parede - pé de cabra, chave de fenda. Se os códigos não funcionarem, forçaremos a entrada. Perguntas?".
"Não". Rebecca disse, e Claire balançou a cabeça.
"Bom. Respirem fundo e comecem".
David voltou para o painel e Rebecca foi para o canto da sala, apontando a lanterna para o teto. Claire respirou
fundo e virou, olhando para a mesa empoeirada no centro da sala.
Havia gavetas em cada lado; ela abriu a primeira, revirando papéis e pensando que David era realmente bom sob
pressão.
Pé de cabra, chave de fenda, qualquer coisa... tome cuidado, por favor, não seja morta...
Claire forçou para respirar fundo outra vez; e depois abriu a próxima gaveta, continuando sua busca.
John assumiu e Leon ficou muito feliz por segui-lo. Ele pode ter sobrevivido em Raccoon, mas o ex-S.T.A.R.S.
esteve dentro e fora de situações de combate por mais ou menos nove anos; ele venceu.
"Abaixe-se". John disse, já fazendo o mesmo, e depois deitou de bruços, armando a M-16. "Se for uma
emboscada, eles vão mirar alto quando a porta abrir; aí nós acertamos os joelhos deles".
Leon se deitou ao lado dele, apoiando o braço direito com a mão esquerda, sua 9mm apontada sem alvo para a
porta. Lá fora, o escuro passava, nada para ver além do poço com armação de metal. "E se não for?".
"Levante-se e pegue a direita, eu pego a esquerda, fique aqui se puder. Se estiver mirando numa parede, vire-se
e atire baixo".
John o olhou - incrivelmente, um largo sorriso se espalhou por seu rosto. "Pense na diversão que eles perderam.
Nós vamos transformar alguns caras da Umbrella em porcaria, e eles estão presos no escuro com frio sem nada
pra fazer".
Leon estava um pouco tenso para sorrir apesar de ter feito força. "É, algumas pessoas ficam com toda a sorte".
John balançou a cabeça, seu sorriso sumindo. "Nada para fazermos além de ir à luta". Ele disse e Leon acenou,
engolindo.
John pode ser louco, mas estava certo. Eles estavam onde estavam, pensar o contrário não mudaria nada.
Mas não custa tentar. Cristo, eu queria nunca ter pisado nessa coisa.
O elevador continuou descendo e ambos se calaram, esperando. Leon estava grato por John não ser do tipo
falante; ele gostava de fazer piadas mas levava à sério situações perigosas. Leon o viu respirando fundo, olhando
para a M-16, preparando-se para o que iria acontecer.
Leon respirou fundo algumas vezes, tentando relaxar com a cabeça abaixada -
- e o elevador parou. Houve um leve ping, um som, e a grade estava se movendo, sumindo na parede. A porta
interna sem janela ergueu-se ao mesmo tempo, uma luz suave vazando por ela -
- e não havia ninguém. Uma polida parede de concreto a seis metros de distância, um polido chão de concreto.
Um vazio cinza.
Levante, vamos!
Leon saltou do chão, seu coração rápido demais, John calado e de pé mais rápido ainda. Um rápido olhar entre
eles e ambos deram um passo para fora, Leon girando sua VP70 para a direita, pronto para atirar -
- e nada de novo. Um largo corredor que parecia ter um quilômetro de comprimento, um suave e misturado
cheiro de desinfetante com ar frio. Frio, mas nem tanto. Se comparado com a superfície, lá embaixo parecia
verão. O corredor devia ter uns cento e trinta metros, talvez mais; havia alguns corredores perpendiculares,
luminárias circulares no teto espaçadas em intervalos regulares, e nenhuma sinalização - e nenhum sinal de vida,
também.
Então quem nos trouxe para baixo? E porque, já que não pretendiam nos receber com algumas balas?
"Talvez estejam todos jogando bingo". John disse baixo, e Leon olhou para trás, viu que exceto pela disposição
dos corredores laterais, seu lado era igual ao de John. E tão vazio quanto.
Os dois voltaram para o elevador. John alcançou os controles, apertou "subir" e nada aconteceu.
"O que foi agora?". Leon perguntou.
"Não pergunte para mim, o cérebro de David não está aqui", John disse. "Eu me pareço com ele?".
"Meu Deus, John". Leon disse frustrado. "Você é o mais velho agora; me dá um tempo, tá bom?".
John deu com os ombros. "Certo. Veja o que eu acho. Talvez não foi uma armadilha. Talvez... se fosse uma,
eles teriam tentado nos pegar e estaríamos no meio de um tiroteio bem agora".
E o tempo. O elevador só ficou lá em cima por alguns segundos - como se alguém tivesse percebido que nós o
tínhamos chamado...
"Alguém estava tentando nos impedir de entrar, não é?". Leon disse, mas não perguntando realmente. "Para não
nos deixar descer".
John acenou. "Dê um prêmio para esse cara. E se estivermos certos, isso significa que estão com medo de nós,
pois não há segurança, certo? Seja lá quem nos desceu, provavelmente se trancou em alguma sala.
"Relativo ao que fazer agora,". Ele continuou. "estou aberto à sugestões. Seria bom voltar para os outros, mas
se não descobrirmos como fazer o elevador subir...".
Leon franziu, pensando, lembrando que antes de Raccoon ter destruído sua carreira, havia sido treinado como
policial.
Use as ferramentas que ganhou...
"Vasculhar o local". Leon disse devagar. "O mesmo plano de antes, pelo menos a primeira parte dele. Verificar os
empregados e depois se preocupar com o elevador. Achar Reston vai ter que esperar -".
John ergueu a não de repente, interrompendo-o, sua cabeça inclinada para um lado. Leon prestou atenção, mas
não ouviu nada. Alguns segundos passaram e John abaixou a mão. Confuso, ele balançou a cabeça, mas seus
olhos escuros estavam atentos e o rifle bem junto ao corpo.
"Boa idéia,". Ele disse finalmente. "se conseguirmos achar os malditos empregados. Direita ou esquerda?".
Leon sorriu de leve, lembrando da última vez que precisou escolher uma direção. Ele tinha ido para a esquerda no
laboratório da Umbrella em Raccoon e acabou num corredor sem saída; voltar quase custou sua vida.
"Direita". Leon respondeu. "Esquerda tem más associações para mim".
John levantou uma sobrancelha mas não disse nada; estranhamente suficiente, ele pareceu satisfeito com o
motivo de Leon.
Talvez ele seja louco. Louco o bastante para fazer piadas ruins no meio de situações como essa.
Juntos, eles voltaram para o longo e vazio corredor, indo para a direita, devagar, John vigiando a retaguarda e
Leon checando cada corredor lateral. O primeiro ficava à esquerda, a uns quatro metros do elevador.
"Espere". John disse, e entrou no curto corredor, andando rapidamente para uma porta no fundo. Ele girou a
maçaneta e voltou, balançando a cabeça.
"Pensei ter ouvido algo". Ele disse, e Leon acenou, pensando em como seria fácil para alguém matá-los.
Trancado numa sala, espera a gente passar e pow...
Mau pensamento. Leon o deixou de lado e continuou a lenta marcha pelo corredor, mirando em cada centímetro
com suas armas, Leon percebendo que a roupa de baixo térmica foi uma má idéia depois que o suor começou a
correr pelo corpo - e imaginando como a situação piorou tão rápido.
Reston teve uma idéia.
Ele quase entrou em pânico depois de ouvi-los dizer coisas que não deveriam saber, escondido na sala de controle
com a porta entreaberta. Quando ouviu um deles dizer seu nome, Reston sentiu o pânico subir pela garganta em
forma de bile, cobrindo sua mente com visões de sua própria morte horrível. Depois disso ele fechou a porta e a
trancou, encostando-se nela enquanto tentava pensar, vendo suas opções.
Quando um deles mexeu na maçaneta, ele quase gritou - mas conseguiu ficar quieto, silencioso até o intruso se
afastar. Demorou um pouco até se recuperar daquilo, até lembrar que podia dominar algo assim; estranhamente,
foi o pensamento de Trent que fez isso por ele. Trent não entraria em pânico. Trent saberia exatamente o que
fazer - e certamente não correria chorando para pedir a ajuda de Jackson.
Ao invés disso, Reston pensou várias vezes em pegar o telefone enquanto olhava os monitores, vendo-os
aterrorizar seus empregados. Eles eram eficientes, ao contrário de seus comparsas na superfície, tentando
chamar o elevador. Levou cinco minutos para reunir todos os funcionários na área de lazer; eles foram ajudados
pelo fato de haver cinco deles acordados jogando cartas no refeitório, três da construção e dois mecânicos. O
jovem branco os vigiou enquanto o outro foi para o dormitório e acordou o resto, levando-os para o refeitório,
amontoando-os com sua automática.
Reston estava desapontado com a péssima performance de seu pessoal, nenhum lutador entre eles, todos com
medo. Quando as equipes da cidade chegarem, ele terá alguma ajuda, mas até lá tudo de ruim pode acontecer.
"Achar Reston vai ter que esperar...".
E quando eles descobrirem que eu não estou no grupo de reféns? O que eles querem? O que poderiam querer se
não for pedir resgate ou me matar?
Ele estava a ponto de ligar para Sidney, mas Jackson certamente acabaria descobrindo - arriscaria o apoio de
seus colegas, arriscaria perder seu espaço no alto escalão caso sobreviva a essa invasão.
Ele já estava pegando o telefone quando percebeu que alguém estava falando. Reston se aproximou do monitor
do refeitório, franzindo, esquecendo o telefone. Haviam quatorze pessoas agrupadas no meio da sala, os dois
intrusos a uma certa distância.
Onde está o outro? Quem é o outro?
Reston tocou a tela, marcando cada rosto. Os cinco da construção. Dois mecânicos. O cozinheiro. O manipulador
de espécimes, todos os seis...
"Cole". Ele murmurou, enrugando os lábios. O eletricista, Henry Cole. Ele não estava lá.
Uma idéia começou a surgir, mas dependia de onde Cole estava. Reston mexeu nos controles dos monitores,
esperançoso, querendo ver uma chance não só de sobreviver, mas de, de - vencer. De se sobressair.
Havia vinte e duas telas na sala de controle, cerca de cinqüenta câmeras espalhadas pelo Planeta e na estação
"meteorológica". O Planeta foi construído com o vídeo em mente, um sistema bem simples; da sala de controle
podia-se ver quase qualquer parte de qualquer corredor, sala ou Fase, sendo as câmeras posicionadas em pontos
estratégicos. Achar alguém era só uma questão de apertar botões para trocar de tela.
Reston viu as áreas de teste primeiro, cada conjunto de câmeras da Fase 1 à Fase 4. Sem sorte. Tentou a área
de ciência, ala cirúrgica, o laboratório químico, até a sala de *estase; e mais uma vez não viu ninguém.
Ele não está nos dormitórios, os intrusos certamente vasculharam tudo... e não há motivo para estar na
superfície.
Ali!
Reston sorriu de repente, acionando as câmeras internas e envolta das jaulas. Cole e os mecânicos tem usado as
jaulas para guardar equipamentos e ferramentas.
Cole estava sentado no chão entre as celas 1e 9, fuçando uma caixa de pequenas peças de metal, suas magras
pernas esticadas à sua frente.
Reston olhou para o refeitório, viu que os dois intrusos pareciam estar conferindo, olhando o inútil grupo de
empregados. Na superfície, os outros três ainda mexiam no painel e procuravam pra lá e pra cá...
A idéia tomou forma, as possibilidades vindo uma a uma, cada uma mais interessante que a outra. Os dados que
podia coletar, o respeito que ganharia, resolvendo seu problema ao mesmo tempo, se auto-promovendo.
Eu podia editar as fitas juntas, ter algo para mostrar aos meus visitantes depois do Tour - e Sidney não ficará
insatisfeito quando Jackson ver o que eu consegui, como eu lidei com a situação. Serei o iluminado para uma
mudança...
Resto se levantou, ainda sorrindo, nervoso, mas esperançoso.
Ele tinha que se apressar e usar todas as suas habilidades de ator com Cole; sem problemas, considerando que
passou trinta anos de sua vida desenvolvendo-os, afiando-os... antes de se juntar à Umbrella, Reston foi um
diplomata.
Iria funcionar. Eles queriam Reston e iriam ter.
[9]
Cole estava revirando inutilmente uma caixa de transistores bipolares, achando-se um idiota, pois deveria estar
dormindo. Já devia ser quase meia-noite, tinha trabalhado duro o dia todo para o Sr. Blue, e ainda tinha que
arrastar seu traseiro cansado por mais seis horas, fazendo o mesmo. Estava cansado, tudo porque o último idiota
que andou pelo Planeta com uma caixa de ferramentas fez tudo errado.
Não é minha culpa, pensou de repente, que o tonto não conectou os leads nos MOSFETs antes de instalá-los. E
os condutes externos são uma porcaria, ele não entende o sistema de instalação do Planeta... imbecil
incompetente...
Talvez esteja pegando pesado, mas não estava distribuindo perdão depois do dia que teve. O Sr. Blue foi bem
explícito em querer as câmeras da superfície primeiro - mas depois voltou atrás e insistiu que arrumasse o sistema
de comunicação primeiro. Cole sabia que estava de saco cheio - como todos no Planeta - mas Reston era um dos
superiores; quando ele diz "pule", você pula. Cole vem trabalhando para a Umbrella há um ano e ganhou mais
dinheiro nesse período do que nos últimos cinco anos juntos. Ele não irritaria o Sr. Blue (chamado assim por seus
perpétuos ternos azuis) e ir para o olho da rua.
Você tem certeza? Depois de tudo o que viu nas últimas semanas?
Cole abaixou a caixa de transistores e esfregou os olhos; estavam quentes e coçando. Ele não tem dormido
muito bem desde que veio trabalhar no Planeta. Não que fosse do tipo sentimental, mas não dava a mínima para
o que a Umbrella fazia com o dinheiro. Porém -
- porém é difícil sentir-se bem com relação à esse lugar. É um show de aberrações.
Neste ano com a Umbrella, ele fez a instalação elétrica de um laboratório químico na costa oeste, instalou um
monte de novos circuitos para um grupo de pensadores na outra costa, e na maior parte do tempo fez
manutenção onde quer que a Umbrella o mandasse. Bom salário, nada muito difícil, colegas decentes - a maioria
como ele, fazendo coisas como as dele. E tudo o que tinha que fazer fora de lá era não falar nada do que via; ele
assinou um documento sobre isso quando foi contratado, e nunca teve problemas. Mas até então, nunca tinha
visto o Planeta.
Quando a Umbrella te entrevista, eles não explicam nada. É só "conserte aquilo". Você concerta e é pago. Até
conversas entre os empregados sobre os propósitos desse lugar são fortemente desencorajadas. Mesmo assim
palavras escapam, e Cole soube o bastante para não querer mais trabalhar para a Umbrella.
Havia criaturas que serviam de animais de teste. Ele não chegou a vê-las, nem a coisa que chamavam de Fóssil,
a aberração imóvel, mas já as ouviu algumas vezes. No meio da noite, ele ouviu um uivo arranhado que o
arrepiou até os ossos, um som como um pássaro gritando. E teve o dia na Fase 2 enquanto realinhava uma das
câmeras, quando ouviu o barulho, como unhas arranhando madeira oca - mas o som era animal também. Vivo.
Ele ouviu que foram criados especialmente para a Umbrella, algum tipo de híbridos genéticos que seriam bons
para estudo, mas híbridos de que? Todas as criaturas tinham apelidos bizarros e desagradáveis, também. Ele
ouviu alguns caras da pesquisa falando sobre eles mais de uma vez.
Dacs. Scorps. Spitters. Hunters. Soa como um elenco engraçado - de um filme de terror.
Cole se levantou, esticando seus cansados músculos, ainda com pensamentos infelizes. Tinha Reston, claro; o
cara era um tirano de grau A, e do pior tipo - do tipo com muito poder e sem nenhum pingo de paciência. Cole
estava acostumado a trabalhar com o tipo manipulador, mas o Sr. Blue era demais para sua zona de conforto. O
homem era intimidador como todo o inferno.
Mas isso não é o pior, é?
Ele suspirou, olhando em volta para as doze celas alinhadas na sala, seis de cada lado. Não, o pior estava à sua
frente. Cada cela tinha uma cama, uma bacia sanitária e uma pia - e amarras, nas paredes e nas camas.
E o bloco de celas estava a menos de seis metros da "ante-sala" do primeiro ambiente, onde as portas tem
travas pelo lado de fora.
Depois disso, eu penso seriamente sobre minhas prioridades; eu economizei o bastante para uma folga, para
ganhar perspectivas...
Cole suspirou de novo. Isso será bom para mais tarde. Por enquanto só precisava dormir. Ele virou e andou para
a porta, desligando as luzes ao abri-la -
- e lá estava Reston. Apressando-se pela curva do corredor que levava aos elevadores, parecendo
extremamente preocupado.
Droga, o que foi aquilo?
Ao vê-lo, Reston praticamente correu até ele, seu terno azul amassado, o que era fora do comum, seu pálido
olhar para a direita e esquerda.
"Henry". Reston ofegou e parou na frente dele, suspirando forte.
"Graças à Deus. Você tem que me ajudar. Há dois homens, assassinos, eles invadiram e estão aqui para me
matar, e eu preciso de sua ajuda".
Cole ficou mais surpreso com sua aparência do que com o que foi dito; ele nunca tinha visto Blue com o cabelo
fora do lugar, ou sem aquele pequeno e presunçoso sorriso, resultado de ser o dono de uma incrível fortuna.
"Eu - o quê?".
Reston respirou fundo, exalando devagar.
"Desculpe. Eu só - o Planeta foi invadido, há dois homens aqui me procurando. Eles querem me matar, Henry. Eu
os reconheci de uma tentativa frustrada há menos de seis meses; eles postaram um homem na superfície e
estou preso, eles vão me achar e -".
Ele parou, sufocado, e estava tentando não chorar? Cole o encarou, pensando. Ele me chamou de Henry. "Por
que estão tentando te matar?". Ele perguntou.
"Eu comandei uma operação contra uma rebelião hostil, uma companhia de empacotamento - o homem que
prendemos era instável e jurou que me pegaria. E agora estão aqui, trancando todos no refeitório bem agora -
mas só estão atrás de mim - eu já pedi ajuda, mas não chegarão a tempo. Por favor, Henry - você me ajuda?
Eu - eu faço valer a pena, eu te prometo. Você não vai mais precisar trabalhar de novo, seus filhos não
precisarão ter que trabalhar...".
O apelo nos olhos de Reston era desconcertante; nem teve como dizer que não tinha filhos. Ele estava
aterrorizado, seu rosto enrugado, seu cabelo prateado arrepiado em mechas. Mesmo sem a oferta monetária,
Cole teria oferecido ajuda.
Talvez.
"O que você quer que eu faça?".
Reston meio que sorriu de alívio, na verdade esfregando o braço de Cole. "Obrigado, Henry. Obrigado, eu - eu
não tenho certeza. Se você puder - eles só querem a mim, se você puder distraí-los de algum jeito".
Ele franziu, seus lábios tremendo, e olhou atrás de Cole, para a pequena sala que marcava a entrada dos
ambientes. "Aquela sala. Ela tem uma trava do lado de fora e dá na Um - se você puder atraí-los, entrar na
Um... eu poderia trancá-los lá dentro, trancar a ala inteira assim que você sair. Você vai direto para a Quatro e sai
pela ala médica, eu a destrancaria assim que você sair".
Cole acenou incerteza. Deveria funcionar, exceto por - "Eles não te conhecem? Digo, eles devem ter uma foto
sua, não?".
"Eles não saberão. Só te verão por uns segundos, quando eles fizerem a curva, você já terá ido. Assim que
entrarem, eu apertarei os controles - eu posso me esconder na área das celas".
Os olhos de Reston estavam boiando, brilhando com lágrimas não derramadas. Ele estava tão desesperado -
planos iam e vinham e esse não era tão ruim.
"Tá, tá bom". Cole disse, e o olhar de gratidão no rosto do velho homem foi acolhedor.
Quase. Seria se ele fosse um ser humano decente.
"Você não vai se arrepender disso, Henry". Reston disse, e Cole acenou, incerto sobre o que dizer.
"Você ficará bem, Sr. Reston". Disse finalmente, desconfortável. "Não se preocupe".
"Tenho certeza que sim, Henry". Reston disse, e virou, andando para o escuro bloco de celas sem mais
nenhuma palavra.
Cole parou por um segundo, e deu com os ombros pra dentro, indo para a ante-sala, tenso, mas um pouco
irritado também. O Sr. Blue estava assustado, mas ainda era um idiota.
"Não se preocupe também, Henry" ou "Tome cuidado". Nem mesmo um "Boa sorte, tomara que não atirem em
você por engano"...
Ele balançou a cabeça e entrou na pequena sala. Se ele ajudasse o Sr. Blue, pelo menos poderia ir dormir, ou
quem sabe se demitir do Planeta ou da Umbrella. Deus sabia que ele precisava descansar; ultimamente não tem
dormido bem.
Rebecca finalmente achou a câmera. A lente não maior que uma moeda estava escondida no canto sudoeste. Ela
chamou David e ele a cobriu com a mão, desejando ter procurado melhor antes de entrar com sua equipe. Ele foi
burro, John e Leon certamente se foram por causa disso.
Claire tinha achado um rolo de fita e outras cosias em sua busca. David passou a fita na câmera imaginando o
que fariam. Estava frio, tão frio que não sabia por quanto tempo seus reflexos continuariam bons. Os códigos não
estavam funcionando, seria necessário mais do que tinham para abrir a parede, e dois de sua equipe estavam
em algum lugar abaixo, talvez feridos, talvez morrendo...
... ou infectados. Infectados como foram Steve e Karen, sofrendo, perdendo a humanidade -
"Pare com isso". Rebecca disse, e ele desceu da mesa que tinham empurrado, quase sabendo o que aquilo
significava, mas não pronto para admitir. Rebecca tinha um jeito de tirá-lo dos piores momentos.
"Parar com o quê?".
Rebecca se aproximou dele, olhando para seu rosto, segurando sua lanterna com uma mão.
"Você sabe o quê. Você está com aquele olhar, eu posso vê-lo; você está se dizendo que foi sua culpa. Que se
tivesse feito algo diferente, eles ainda estariam aqui".
Ele suspirou. "Eu aprecio sua preocupação, mas esse não é o apropriado -".
"Sim, é sim". Ela interrompeu. Se você for se culpar, não pensará direito. Você não está mais no S.T.A.R.S., você
não é o capitão de ninguém. Não é sua culpa".
Claire foi se juntar à eles, seu olhar curioso e alerta apesar da preocupação em seus delicados traços. "Você acha
que é culpa sua? Pois não é. Eu não acho".
David jogou as mãos para cima. "Meu Deus, tá bom! Não é minha culpa, e todos nós podemos analisar minha
responsabilidade quando e se sairmos daqui; por enquanto, por favor, podemos nos concentrar com o que temos
pela frente?".
Ambas acenaram.
Feliz por ter acabado com a sessão de terapia antes de ter começado, David percebeu depois que não sabia o
que fazer - que tarefas dar além das que já fizeram, como resolver a crise, o que, e como dizer. Era um
momento terrível; ele estava acostumado em ter algo com a qual lutar, algo para reagir, atirar ou planejar, mas a
situação parecia estática. Não havia um caminho para seguir, e isso era bem pior do que a culpa pela falta de
previsão.
Foi só naquele momento que ele ouviu o distante e inconfundível zunido de um helicóptero se aproximando.
Nada para dar cobertura exceto a superfície, e nunca conseguiremos chegar até a van, e só temos dois ou três
minutos -
"Nós temos que sair daqui". David disse, já pensando nas coisas que fariam se tivessem uma chance, mesmo
enquanto todos corriam para a porta.
Os funcionários foram fáceis. Houve alguns momentos tensos ao tirá-los de suas camas escuras nos dormitórios,
mas nenhum incidente. John vem desconfiando de alguns deles desde que os trouxe para o refeitório onde Leon
vigiava os jogadores de cartas - em particular, dois grandões que pareciam ter problemas com machismo, e um
magro e encurvado cara de olhos profundos que não parava de lamber os lábios. Parecia compulsivo; a cada
segundo a língua dele passava entre os lábios e aí desaparecia por mais alguns segundos. Pavoroso.
Mesmo assim, não houve problemas. Quatorze homens e nenhum querendo bancar o herói, depois que John os
apresentou uma pequena lógica. Ele foi curto e grosso: nós estamos aqui para achar algo, nós não planejamos
machucar ninguém, nós só queremos vocês fora do caminho enquanto saímos daqui. Não sejam burros e não
serão baleados. Ou a lógica ou a M-16 foi o bastante para convencê-los de que seria melhor não argumentar.
John ficou perto da porta no grande corredor, olhando o infeliz grupo sentado no meio da grande sala em volta da
longa mesa. Alguns pareciam bravos, outros assustados e a maioria só cansados. Ninguém falou, o que era bom
para John; ele não queria se preocupar com ninguém tentando elaborar uma rebelião.
Apesar de sua razoável certeza, tudo estava bem, e ficou grato por ouvir o leve toque na porta. Leon tinha saído
há cinco mas pareceu ter demorado bem mais. Ele entrou segurando um pedaço de corrente e dois arames de
cabide.
"Algum problema?". Leon perguntou, e John balançou a cabeça, mantendo a atenção no quieto grupo.
"Calados e comportados". Ele disse. "Onde você achou a corrente?".
"Caixa de ferramentas, numa das salas".
John acenou e ergueu a voz, mantendo a clama.
Muito bem, pessoal, já vamos partir. Nós agradecemos pela paciência...".
Leon o cutucou, cochichando. "Pergunte se Reston está aqui".
John suspirou. "Você acha que ele responderia se estivesse aqui?".
Leon balançou os ombros. "Não custa tentar, não é?".
Coisas mais estranhas já aconteceram...
John limpou a garganta e falou de novo. "Há um homem chamado Reston aqui? Nós só temos uma pergunta,
não iremos machucá-lo".
Os homens olharam para os dois e John imaginou por um segundo se eles sabiam o que faziam lá; se sabiam o
que a Umbrella fazia. Eles não se pareciam com nazistas, eles se pareciam com um bando de operários. Como
caras que deram duro o dia inteiro e gostariam de beber algumas cervejas à noite. Como - como caras.
"O Blue não está aqui". Um grande homem de barba e camiseta respondeu, um dos que John estava de olho.
Sua voz era rouca e irritante, seu rosto ainda amassado de dormir.
John olhou para Leon, surpreso, e viu o novato do mesmo jeito. "Blue?" John perguntou. "Esse é Reston?".
Um homem de cabelo comprido e mãos manchadas de graxa no fim da mesa acenou. "Sim. Senhor Blue pra
você".
Deu para perceber o sarcasmo. Houve alguns olhares trocados entre o grupo sentado - e alguns risos.
E com o que nazistas se parecem? Essas pessoas são uma parte do problema, estão trabalhando para o inimigo,
não vão nos ajudar -
Reston é uma das pessoas-chave, Trent disse. E como todos odeiam seus chefes... será que falariam alguma
coisa sobre ele para dois terroristas?
Reston deve ser bem impopular.
"Há mais alguém trabalhando aqui que não está nesse refeitório? Leon perguntou. "Não queremos ser
surpreendidos".
O comprometimento era óbvio, e também não conseguiriam tirar mais nada dos empregados. Eles deviam odiar
Reston, e John pôde ver através dos braços cruzados e sobrancelhas franzidas que não iriam delatar um dos
seus. Ele duvidava que houvesse mais alguém por aí. Trent havia dito que era uma equipe pequena...
... o que significa que foi Reston que nos trouxe para baixo, significa que podemos matar dois pássaros se o
acharmos - pegaremos os livro e o faremos subir o elevador de novo. Nós trancamos Reston num armário,
encontramos David e as garotas e fugimos antes que alguma coisa inesperada aconteça.
John acenou para Leon e juntos foram para a porta. John percebeu que não queria só sair pela porta, ele tinha
uma certa simpatia por eles. Mas não muita.
"Nós vamos trancar a porta,". John disse. "vocês ficarão bem até a companhia mandar alguém, vocês tem
comida... e se não se importarem com um pequeno conselho, ouçam - a Umbrella não é o mocinho. Seja lá o
quanto vocês ganham, não é o suficiente. Eles são assassinos".
Os olhares vazios os seguiram até a porta dupla. Leon a fechou e passou a corrente nos puxadores, prendendo-a
com o arame dos cabides. John andou alguns passos e olhou para o longo corredor cinza do elevador. Havia uma
curva não muito longe dos dormitórios -
- mas Reston não está para lá, John pensou, lembrando-se do som que ouviu quando chegaram. Ele está na
direção que escolhemos, em algum lugar.
Leon terminou de prender as portas e foi até John, parecendo um pouco pálido mas ainda lúcido. "Então... agora
vamos atrás de Reston?".
"Sim". John disse, pensando em como Leon estava indo bem, dadas as circunstâncias. Não tinha muita
experiência, mas era esperto, tinha estômago e não tremia com uma arma. "Você está agüentando?".
Leon acenou. "Sim. Eu só estou - você acha que eles estão bem lá em cima?".
"Não, eu acho que estão congelando o traseiro esperando por nós". John disse sorrindo, esperando estar certo -
esperando que Reston não tenha soltado os cachorros, ou qualquer coisa do tipo, depois que desligou o elevador.
Ou chamado ajuda...
"Vamos logo com isso". John disse, e Leon acenou enquanto desciam o corredor para ver o que era o quê.
[10]
Eles saíram na escuridão do complexo, o som das hélices do helicóptero se aproximando, Rebecca viu as luzes a
pouco menos de oitocentos metros à noroeste, planando, mirando o holofote no chão do deserto.
A van, eles a acharam.
Claire também viu, mas David estava olhando para os galpões atrás deles enquanto pendurava seu rifle, seu
intenso olhar elaborando um plano.
"Eles vão ter que aterrissar do lado de fora da cerca". Ele disse. "Sigam-me de perto". Ele correu pela escuridão,
o som do helicóptero crescendo atrás deles.
Deus, espero que ele veja melhor do que eu, Rebecca pensou, apertando forte sua 9mm, o frio metal contra
seus finos dedos. Ela e Claire correram enquanto ele ia para uma das escuras estruturas, a segunda da esquerda
para a direita na linha de cinco. Ela não sabia porque ele havia escolhido aquele, mas ele tinha um motivo, sempre
tinha.
Eles correram pelo corredor preto entre o primeiro e o segundo galpão, o congelante ar queimando seus pulmões,
saindo em forma de vapor que não podia ver. O whackawhacka do helicóptero afogou seus passos, afogou quase
tudo o que David disse ao parar, uma porta de cada lado deles.
"... para nós nos escondermos até... não possamos... voltar...".
Rebecca acenou e David parou de falar, virando à esquerda, apontando a arma para a porta do primeiro galpão.
Rebecca e Claire o seguiram, Rebecca imaginando o que ele estava disposto a fazer; se as pessoas do helicóptero
descessem para vasculhar - o que com certeza iriam fazer - a porta à prova de balas os denunciaria. Parecia ser
feita de algum plástico de alta densidade - tinha uma maçaneta e um buraco de chave ao invés de um leitor de
cartão. A estrutura em si era de algum tipo de estuque sujo e empoeirado, nenhuma cor em particular que
poderia dizer; o de trás parecia igual; nenhum deles tinha janelas.
O holofote do helicóptero estava na cerca em frente ao complexo, seu brilho perfurando o escuro como uma
chama. Um nevoeiro de poeira subia pela luz, manchando-a, e Rebecca pensando em terem apenas um minuto
antes de serem vistos; o complexo não era tão grande.
Bambambambam!
Quase todo o barulho foi abafado pelo helicóptero. Mesmo no escuro, Rebecca podia ver o contorno dos buracos,
a maioria na região da fechadura. David recuou e a chutou fortemente. Outro forte chute - e ela abriu, um
profundo buraco negro na parede.
O feixe de luz se movia pelo complexo, a lisa barriga da aeronave passando quase que sobre suas cabeças
enquanto iluminava o outro lado do primeiro galpão. O trovão do motor e as nuvens de poeira fizeram Rebecca se
sentir como se a Morte estivesse se aproximando; não a morte, mas a Morte, alguma besta de poder impiedoso
e intenção implacável...
David virou e agarrou as duas, puxando-as firmemente para a porta aberta. Assim que passaram, ele acenou
para elas pararem e esperar. David empunhou seu revólver e correu pelo espaço aberto, parando junto à porta
do segundo prédio, inclinando seu copo e -
- BAM, o som da 9mm mais alta que os .233 do rifle, mas ainda perdido quando o helicóptero avançou em sua
direção - e a porta abriu, David voou pela abertura, meio segundo antes da luz iluminar o chão entre eles. Os
cartuchos das balas gratamente perdidos na poeira, as nuvens giratórias tornando difícil a respiração. Ela virou e
viu que Claire tinha coberto o rosto com a blusa, fazendo o mesmo. O frio e o pesado ar foi filtrado pelo tecido, e
apesar do ensurdecedor barulho, Rebecca pôde ouvir suas rápidas e assustadas batidas de coração.
Um segundo depois, a luz se foi; um segundo depois que a poeira pareceu estar abaixando; a súbita falta de luz
forçando seus olhos a se adaptarem -
"Você está bem?".
Rebecca pulou assim que David praticamente gritou no seu rosto, só uma sombra à sua frente. Claire deu um
pequeno grito.
"Desculpe!". David disse. "Vamos! O outro prédio!".
Quase sem enxergar, Rebecca cambaleou para fora, Claire ao seu lado. David foi atrás delas, tocando-as pelas
costas, guiando-as até o galpão. O helicóptero ainda se afastava deles, do norte para o sul, mas em breve não
haverá mais nada para ver - eles pousarão e virão vasculhar. Não havia dúvidas de que o helicóptero era da
Umbrella; a única pergunta era quantos estavam nele e quais eram suas ordens - capturar ou matar?
Assim que passaram pela porta do segundo prédio, Rebecca entendeu o que David tinha feito. Os capangas da
Umbrella iriam ver os tiros na outra porta e assumiriam que os intrusos estariam lá.
Ele só atirou no buraco da fechadura desta. Eles viriam mais tarde, mas isso nos daria mais tempo.
Assim ela esperava. O escuro estava tão frio quanto lá fora e cheirava poeira. Uma baixa luz acendeu, David
estava segurando sua lanterna. Foi o suficiente para verem que estavam cercados por caixas. Grandes,
pequenas, de papelão e madeira, alinhadas em estantes e no chão até o arqueado teto. Deviam haver milhares
delas.
"Eu vou ver o que posso fazer sobre a porta e cortar a luz". David disse. "Achar um lugar para se esconder. É a
nossa melhor opção até descobrirmos quantos são e o que pretendem fazer. Eles devem ter visão noturna, não
é bom ficar no chão - talvez um lugar alto ou um canto. As estantes seriam melhores. Entenderam?".
Ambas acenaram e a luz apagou, deixando-os na completa escuridão; antes ela podia ver silhuetas e formas.
Agora, Rebecca não conseguia ver sua mão em frente ao seu rosto.
"Qual canto?". Claire cochichou, como se o frio escuro demandasse silêncio.
Rebecca alcançou a mão de Claire, colocando-a em suas costas. "Esquerda. Vamos para a esquerda até
acharmos algo".
Ela ouviu um sussurro de movimento atrás deles enquanto David se preparava. Respirando fundo, Rebecca
esticou os braços à frente e começou a andar.
Todas as portas ao longo do corredor e estavam trancadas, com exceção de um depósito de utilidades depois do
elevador; lá não tinha nada de interessante, a não ser que prateleiras com papel higiênico e copos descartáveis
fossem importantes. Eles tinham tentado o elevador de novo, mas não tiveram sorte, e não parecia haver
fusíveis ou um quadro de força perto dele. Isso já era de se esperar e mesmo assim Leon sentiu-se agoniado. Os
outros três deviam estar preocupados de verdade...
... e você está? E se algo deu errado lá em cima? Talvez a área de "teste" seja na superfície. Reston pode ter
libertado alguns espécimes guerreiros lá em cima e bem agora, Claire deve estar -
"O que você acha de usarmos as granadas na próxima porta trancada? Eu tenho duas". John disse, parecendo
irritado. Eles acabaram de tentar a nona porta do silencioso corredor, e estavam próximos da curva mais ao
norte. Tudo o que sabiam era que já tinham passado por Reston, ou pelo caminho que os levaria até ele.
"Vamos pelo menos ver o que há depois da curva antes de começarmos a explodir". Leon disse, apesar de
também já ter perdido a paciência. Não que se importasse em danificar algumas das propriedades da Umbrella,
só não era a prioridade - reunir a equipe era. Eles já tinham decidido que voltariam para o refeitório caso não
achassem Reston, e pegariam um funcionário para consertar o elevador, e dane-se Reston; a missão seria um
fracasso, mas pelo menos estariam vivos para lutar outro dia.
Se é que todos ainda estão vivos...
Eles chegaram na curva e a passaram, John levantando a M-16 e abaixando a voz. "Eu cubro?".
Leon acenou, movendo-se próximo a parede interna. "No três. Um... dois... três -".
Ele deu um rápido passo longe da parede, agachando-se e apontando sua semi para a asa oeste do corredor
enquanto John colocava o rifle em volta da curva. O corredor era bem mais curto, não mais que vinte metros,
acabando na abertura de uma sala sem porta. Havia uma porta à esquerda -
- e alguém cruzou a abertura no final do corredor, a rápida forma de um homem.
Reston.
Leon o viu, magro, não muito alto, usando jeans e uma camiseta azul de trabalho. Sr. Blue bem como eles
disseram...
"Parado!". John gritou, e Reston virou, assustado e desarmado. Ele viu a M-16 e pulou fora da abertura, talvez
indo para uma saída -
- e Leon correu sacudindo os braços para ganhar velocidade, John rapidamente passando-o numa veloz corrida.
Eles entraram na sala em um instante e lá estava Reston, empurrando desesperadamente uma porta à direita.
Ele olhou aterrorizado sobre os ombros quando eles entraram, seus olhos largos de pânico.
"Não quer abrir!". Ele gritou, sua voz no ápice da histeria. "Abra a porta!".
Com quem ele está falando?
"Desista, Reston". John gritou -
- e atrás deles, uma placa de metal desceu sobre a abertura, lacrando-os na sala com um brutal e pesado clank.
Leon olhou para baixo, viu que o chão era de placas de aço - e sentiu sua primeira pancada de desconforto.
Reston virou-se, suas mãos para o alto, suas finas expressões contorcidas de medo. "Eu não sou ele, não sou
Reston". Ele tagarelou, seu pálido rosto liso de suor -
- e atrás deles, uma face apareceu na janela da porta de metal, distorcida pelo grosso vidro, mas obviamente
rindo. Um homem mais velho, usando um escuro terno azul.
Ah, não -
O homem desviou o olhar por um momento, uma mão tocando algo que Leon não podia ver - e uma suave e
culta voz flutuou na sala através de um alto falante no teto.
"Sinto muito, Henry". O homem disse, seu rosto deformado pelo vidro. "E permitam-me que eu me apresente.
Eu sou Jay Reston. E seja lá quem vocês sejam, estou muito feliz em conhecê-los. Bem vindos ao programa de
teste do Planeta".
Leon olhou para John, que ainda apontava o rifle para o quase histérico Henry. John olhou para ele e Leon pôde
ver a consciência sumindo de seus olhos, ao mesmo tempo em que sumia dos seus.
Eles estavam extremamente atolados na merda.
Isso!
Reston riu atordoado. Os intrusos estavam presos e os três na superfície estavam provavelmente sendo pegos
pelas equipes - ele tinha cuidado da situação, e o fez brilhantemente.
Claro que não tem graça sem ninguém para apreciar... mas eu tenho uma audiência cativa, certo?
"Nós não estamos programados para entrar on-line antes de 23 dias". Reston disse, sorrindo largamente, já
imaginando o olhar na cara inchada de Sidney.
"Nesse tempo, eu iria iniciar nosso programa cuidadosamente projetado para um grupo de pessoas
extremamente importantes. Seria apenas com o uso de espécimes. Não tínhamos planejado colocar humanos
nas fases, por enquanto. Mas graças à vocês, eu farei minha pequena filmagem mostrando para que nossos
espécimes foram criados. Por enquanto, seus amigos na superfície vão ser pegos, sinto em dizer - mas vocês
três já são o suficiente, eu acho. Sim, vocês serão o suficiente".
Reston riu de novo, incapaz de se conter. "Vocês podem querer matar Henry antes de começar, ele vai atrasar
vocês - e ele atraiu vocês para cá, não foi?".
Cretinos!".
Henry Cole se afastou da parede e foi para a porta, socando-a com os punhos. O metal de 5cm nem balançou.
Reston balançou a cabeça, ainda sorrindo. "Eu sinto muito, Henry; nós sentiremos sua falta. Você nunca terminou
o sistema de intercomunicação, não é? Nem o áudio... mas pelo menos você arrumou este, pela qual eu posso
te agradecer. Está claro o bastante aí? Tem estática?".
Seja lá qual demônio tinha possuído o eletricista, o fazia pular na porta e respirar sufocadamente. O maior dos
intrusos, o fortão de pele escura com o rifle, foi até a porta com uma expressão ameaçadora.
"Você não vai nos fazer passar por nenhum teste". Ele disse, sua profunda voz tremendo de raiva. "Vá em
frente e nos mate, pois não estamos sozinhos - e a Umbrella vai cair, e de alguma forma estaremos lá para
ver".
Reston respirou. "Bom, vocês estão perto de não estar lá. Mas para o resto... vocês são uns daqueles
S.T.A.R.S., não são? Vocês e sua campanha popular não são nada para nós; vocês são moscas, uma amolação.
E vão participar -".
"Participe disso". O grandão gritou, agarrando sua entreperna. Mesmo pelo grosso vidro, o gesto foi inconfundível.
Vulgar. Os jovens de hoje não têm respeito pelos mais velhos...
"John, porque você não usa uma das granadas?". O outro intruso disse friamente, e Reston suspirou de novo.
"As paredes são revestidas de aço e a porta ficará de pé por mais tempo do que vocês. Vocês só conseguirão
explodir a si mesmos. Seria uma pena - mas se vocês querem, então façam".
Eles não pareciam ter uma resposta boa para isso. Ninguém falou, apesar de Reston ainda poder ouvir as
tagarelices de Cole pelo interfone.
Reston se cansou de irritá-los; as equipes na superfície logo entrarão em contato e precisaria estar na sala de
controle.
"Se os senhores me derem licença". Ele disse. "Eu tenho outras coisas para resolver - como soltar nossos
bichinhos em seus novos lares. Além de descansar eu estarei vendo como se saem; tentem passar por duas
fases pelo menos, se puderem".
Reston se afastou da janela até o painel de controle à esquerda, e digitou o código de ativação. Um dos homens
começou gritar que não iria a parte alguma, que não conseguiria fazê-los -
- e Reston apertou o botão verde, o mesmo que simultaneamente abria a porta da Um - e liberava através um
spray de gás lacrimejante na pequena ante-sala, através de aberturas no teto. Reston voltou para a janela,
interessado em ver o quanto efetivo o processo era.
Em segundos, uma névoa branca desceu envolvendo os três. Reston ouviu gritos e tosses. Um segundo depois
ouviu a porta abrir, o que significava que a tinham cruzado.
As placas pressurizadas no chão ficaram encobertas até agora, houve um baixo chiado enquanto o sistema de
ventilação funcionava, limpando a sala em menos de um minuto.
Bom. Ele precisava lembrar de elogiar o designer que havia recomendado o sistema.
"Eu farei uma nota". Reston disse para ninguém. Ele endireitou suas lapelas e virou na direção da sala de controle,
empolgado para ver como os homens lidariam com as novas adições à família da Umbrella.
[11]
Cole não tinha opção senão correr atrás dos assassinos, chocado e enjoado, seu coração adoecido com vingança
e ódio. Ele foi abandonado à morte por Reston, o homem que até encorajou os assassinos à matá-lo - ele já não
sabia mais se eram assassinos, ele não sabia o que era "stars" - ele não sabia mais nada além de seus olhos
estarem queimando e de não conseguir respirar.
Pelo menos faça ser rápido, rápido e indolor...
Depois de entrarem na Um, a porta fechou atrás deles. Cole se encostou no frio metal, forçando para recuperar
o fôlego, viscosas lágrimas vazando por entre suas pálpebras. Ele não queria vê-los puxar o gatilho, preferia não
sofrer o suspense antes de morrer; morrer já era o bastante.
Talvez eles só me deixem aqui.
A pequena esperança que o pensamento lhe trouxe foi estampada imediatamente assim que uma grande e
áspera mão agarrou seu braço e o chacoalhou.
"Ei, acorde!".
Cole abriu seus olhos molhados relutantemente, piscando rapidamente. O negro grandão estava olhando para ele,
parecendo bravo o bastante para começar a bater, seu rifle apontado para o peito de Cole.
"Você quer explicar que droga de lugar é esse?".
Cole se encolheu na porta, sua voz gaguejando. "Fase Um. Flo-floresta".
O homem rolou os olhos. "Sim, floresta, isso eu sei. Mas por quê?".
Jesus ele é enorme!
O cara tinha músculos nos próprios músculos. Cole balançou a cabeça, certo de que seria esmurrado, mas incerto
do que o homem estava perguntando.
O outro deu um passo à frente, parecendo mais preocupado do que bravo. "John, Reston ferrou ele também.
Qual é mesmo o seu nome? Henry?".
Cole acenou, desesperado para não irritar ninguém. "É, Henry Cole, Reston disse que vocês queriam matá-lo e
pediu que eu ficasse lá dentro, ele só ia trancá-los, eu juro por Deus que eu não sabia que ele faria isso -".
"Fale devagar". O mais baixo disse. "Eu sou Leon Kennedy, e esse é John Andrews. Nós não viemos para matar
Reston -".
"Mas devíamos". John resmungou, olhando em volta.
Leon continuou como se John não tivesse dito nada. "- nem ninguém. Nós só queremos algo que Reston tem, só
isso. Agora - o que você pode nos dizer sobre esse programa de teste?".
Cole exalou, limpando a água do rosto. Leon parecia sincero -
E quais são suas opções? Você pode levar um tiro, ser abandonado aqui ou cooperar com eles. Eles tem armas e
Reston disse que os espécimes de teste foram projetados para lutar com pessoas - mas como é que eu vim
parar aqui?
Cole olhou em volta para a Um, espantado em como parecia diferente agora que estava preso lá, o quanto era
ameaçadora.
As altas árvores artificiais, a vegetação rasteira de plástico e os cipós sintéticos pendurados - com a baixa luz e o
ar umedecido, as paredes escuras e o teto pintado, parecia realmente uma floresta à noite.
"Eu não sei muito". Cole disse, olhando para Leon. "Há quatro fases - floresta, deserto, montanhas e cidade. Elas
são todas grandes, cada uma do tamanho de dois campos de futebol, uma do lado da outra, esqueci as medidas
exatas.
Dizem que são habitats correspondentes à esses animais híbridos de teste; eles até são alimentados com comida
viva, ratos, coelhos e coisas do tipo. A Umbrella está testando algum tipo de controle de doenças, e esses
animais devem ter um sistema de circulação similar ao dos humanos ou algo assim, darão um bom material de
estudo...".
Cole parou, percebendo o olhar que os dois homens trocaram quando começou a falar das criaturas.
"Você acredita mesmo nisso, Henry?". John perguntou, sem parecer bravo, suas expressões neutras.
"Eu -". Cole disse, e calou-se, pensando no incrível salário e na política do bico calado.
"Você está feliz trabalhando aqui? Você acha que está sendo bem pago?".
- e sobre as jaulas - e as restrições.
"Não". Ele disse, e sentiu uma onda de vergonha por sua optada ignorância. Ele deveria saber, saberia se tivesse
tido coragem e dado um olhada de perto.
"Não, não acredito. Não mais".
Ambos os homens acenaram, e Cole ficou aliviado em ver John alterar a posição da arma suavemente, para o
outro lado.
"Então, você sabe como sair daqui?". John perguntou.
Cole acenou. "Sim, claro. Todas as fases tem portas de ligação nos cantos, alternadamente. Elas estão
destrancadas, sem chaves nem nada - exceto a última, a Quatro, está trancada pelo lado de fora".
"Então a porta que procuramos está por ali?". Leon perguntou, apontando para sudoeste. Eles estavam no canto
nordeste.
De onde estavam, a outra parede não era visível, as árvores falsas eram muito densas. Cole sabia que havia pelo
menos uma clareira de tamanho considerável, mas ainda assim era uma caminhada.
Cole acenou.
"Você pode nos falar sobre esses animais de teste? Como se parecem?". John perguntou.
"Eu nunca os vi, só estive aqui para fazer a fiação - câmeras e conduites, coisas do tipo". Ele olhou para eles
esperançoso. "Mas o quanto ruins eles podem ser?".
Os olhares deles não foram encorajadores. Cole começou a perguntar o que eles podiam dizer - quando um alto e
metálico barulho encheu o molhado ar, como um portão gigante sendo erguido. Veio lá da frente, da parede
oeste, onde Cole sabia que as jaulas ficavam -
- e um segundo depois, um agudo grito cortou o ar, uma longa e gorjeadora nota que rapidamente se juntou a
outra, e outra, e depois muitas para contar.
Havia uma batida também, tão grande que por um momento Cole não identificou - mas quando conseguiu, sentiu
vontade de gritar.
Asas. O som de gigantescas asas batendo no ar.
Eles estavam a uns quatro metros do chão, no topo de uma dupla fileira de caixas de madeira empilhadas num
canto do galpão. Até o menor movimento fazia tudo balançar um pouco, deixando Claire insegura.
Já não é o bastante Leon e John não estarem aqui, ou estarmos aqui nos escondendo de um bando de capangas
da Umbrella? Não, nós temos que ficar presos no Monte Precário numa escura geladeira. Se um espirrar muito
forte, todos vão para o chão.
"Que porcaria". Ela sussurrou, tanto para quebrar o silêncio quando para respirar. O som do helicóptero tinha
parado e ainda não ouviram nada do lado de fora.
Ela se surpreendeu ao sentir o corpo de Rebecca tremer ao seu lado, e ao ouvir um riso abafado; a jovem
bioquímica estava tentando suprimi-lo, e não estava sendo fácil. Claire sorriu prazerosamente.
Alguns segundos passaram e Rebecca falou. "É. Você está certa". E depois estavam ambas rindo. As caixas
balançaram gentilmente.
"Por favor". David disse, soando irritado. Ele estava em cima da segunda fileira de caixas, do outro lado de
Rebecca.
Claire e Rebecca pararam, e outra vez um silêncio de espera caiu sobre eles. Eles estavam no canto nordeste, as
duas ansiosas, apontando as armas para a parede à frente, na direção da outra porta. David disse que haviam
duas; ele estava olhando à sul, cobrindo a porta pela qual haviam entrado.
A risada tinha relaxado Claire um pouco. Ainda estava com frio, ainda preocupada com Leon e John apesar da
situação deles não ser tão terrível. Ruim, claro, mas já esteve em piores.
Em Raccoon, eu estava por minha conta. Tinha Sherry para cuidar, tínhamos Mr. X na nossa cola, tínhamos um
monte de zumbis para atrapalhar e estávamos totalmente perdidas. Pelo menos agora eu sei com o que estou
lidando; até um exército não é tão ruim quanto não saber o que é o que -
Lá fora, um barulho. Alguém estava puxando a porta que ela e Rebecca cobriam; um rápido puxão e silêncio de
novo - exceto por Claire ter achado ouvir passos, lá fora.
Estão checando as portas. E se a idéia de David não foi convincente ou decidiram olhar de perto?
Pelo menos David as cobria; ele era incrível, frio e eficiente, e pensava rápido como jamais viu. É como se ele
soubesse o que fazer - instantaneamente, seja qual for a situação. Mesmo agora - David havia dito que
provavelmente estavam fazendo uma varredura, começando por um lado ou outro, verificando cada prédio em
equipes.
Estratégia militar, sem brincadeira. Claire pensou no que ele disse de novo, era um plano e não uma lista de "e
se". Ainda assim, era um alívio ter algo para se concentrar.
Se um só time entrar, três ou menos, nós ficamos quietos e imóveis até eles saírem, aí corremos para a porta a
qual entramos e esperamos. Quando os ouvirmos do outro lado, sairemos e correremos para a cerca. Se eles
entrarem e nos verem, nós atiramos; pegaremos um por um enquanto passam pela porta, descemos das caixas
e corremos.
Se houverem duas ou mais equipes, esperaremos até David jogar a granada para depois atirar; mesmo se eles
tiverem visão noturna, a granada os cegarão.. se eles retornarem fogo, nós descemos das caixas e as usamos
como cobertura -
As outras opções desapareceram quando ela ouviu a outra porta ser chacoalhada. Chacoalhada - e depois
chutada.
Thunk!
A porta abriu violentamente, um retângulo de luz pálida surgiu na escuridão. O brilhante raio de uma lanterna
cortou o escuro, incidindo numa parede de caixas, depois virando para a porta.
Um suave click - e depois um baixo xingamento.
"O quê?". Uma voz diferente também sussurrou.
"Não tem luz". Uma pausa, e depois. "Bom, vamos. Eles provavelmente estão no outro, eles não passaram por
essa porta".
Graças a Deus. É hora de ir, David. Os dois vão vasculhar, mas não suspeitaram de nada.
Um segundo feixe de luz apareceu, e Claire podia ver as vagas silhuetas humanas por trás das fortes luzes,
ambos homens pela voz.
Eles começaram a andar, os feixes dançando sobre as pilhas de caixas.
Fique quieta, não se mexa, espere. Claire fechou os olhos, não querendo que nenhum dos homens se sentisse
observado; ela ouviu uma vez que esse era um truque para se esconder. Não olhar.
"Eu fico com o sul". Uma das vozes suspirou, e Claire imaginou se eles sabiam como o som era bem conduzido
no espaço aberto.
Podemos ouvir, seus babacas. Um pensamento engraçado, mas ela estava com medo. Pelo menos os zumbis
não tinham armas...
As luzes se dividiram, uma indo para longe deles, e a outra em sua direção. A luz ficou baixa, pelo menos; seja lá
quem estava segurando não imaginava que pessoas podiam subir em caixas.
Para mim está bem, apenas andem logo e saiam daqui, deixe-nos sair sem ter que lutar! David disse que
voltariam para John e Leon quando a Umbrella fosse embora; ele disse que provavelmente deixariam um ou dois
guardas e que pegar um guarda seria mais fácil do que um time inteiro -
- e uma luz estava brilhando no rosto de Claire, o cegante feixe acertando seus olhos.
"Ei!". Um surpreso grito veio lá de baixo, e então - bam, um tiro foi dado. E ouviu tanto quanto sentiu algo ceder
sob ela, enquanto Rebecca ofegou, enquanto a torre de caixas inclinou para trás.
Claire foi de costas à parede; agarrou a caixa a qual estavam deitados, um coral de gritos vindo lá de fora, a
laranja explosão de fogo vindo da arma de David -
- e com um tremor, todas as caixas vieram a baixo, e Claire mergulhou na escuridão.
Quando ouviu os prováveis bater de asas e os berros, John sentiu sua pele gelar. Ele não gostava de pássaros,
nunca gostou, e dar de cara com um bando de pássaros da Umbrella, numa estéril e surreal floresta -
"Ora bolas". Ele disse, e levantou a M-16, apertando o apoio de plástico forte entre o braço. Leon também
apontava para o alto, o teto pintado de azul noturno a pelo menos quatro metros acima das árvores mais altas.
As árvores variavam de três a talvez dez metros de altura - e bem no alto, John viu que havia "galhos" de pouso
implantados, cada um largo como uma bola de basquete.
Esses pássaros devem ter pés malditamente grandes para precisarem daquilo para pousar...
Os bravos gritos tinham parado, e John não ouviu mais o bater de asas - mas imaginou quanto tempo levaria
para pássaros decidirem procurar comida.
"Pterodátilos, só pode ser". Cole sussurrou, sua voz falhando. "Dacs".
"Você está brincando". John exalou, e pelo canto do olho, pôde ver o magro funcionário da Umbrella acenar.
"Não os de verdade, talvez, é só um apelido que eu ouvi". Cole soou certamente aterrorizado.
"Vamos para a tal porta". Leon disse, já indo para a falsa e escura floresta.
Amém.
John foi atrás dele, três, quatro metros, tentando olhar para cima e onde pisava ao mesmo tempo. Ele tropeçou
quase que imediatamente, sua bota chutando uma pedra moldada em plástico, e mal conseguiu evitar a queda.
"Isso não vai funcionar. Cole - Henry?".
John olhou para trás e viu que Cole ainda estava grudado na porta, seu pálido rosto voltado para o céu.
- teto, droga -
Leon parou e esperou, olhando para os galhos acima. "Estou te cobrindo". Ele disse.
John voltou, bravo, frustrado e seriamente desconfortável; era uma situação difícil; David e as garotas poderiam
muito bem estar lutando por suas vidas na superfície e ele não iria desperdiçar seu tempo mimando um medroso
da Umbrella. Mesmo assim, não poderiam deixá-lo para trás, não sem ao menos fazer uma força.
"Henry, ei, Cole". John tocou seu braço e Cole finalmente olhou para ele. Seus amenos olhos castanhos cheios de
medo.
John suspirou, sentindo um pouco de pena. Ele era um eletricista, pelo amor de Deus, parecia que ignorância tinha
sido seu último crime.
"Olha. Eu entendo que esteja assustado, mas se ficar aqui, vai acabar morrendo. Leon e eu já cruzamos com
alguns bichinhos da Umbrella antes; sua melhor opção é vir conosco - e além do mais, nós podemos usar sua
ajuda, você sabe mais sobre esse lugar do que nós. Certo?
Cole acenou tremendo. "Tá, tá bom. Desculpe. Eu só - estou com medo".
"Junte-se ao clube. Pássaros me dão arrepios. A parte de voar é legal, mas eles são tão estranhos, aqueles olhos
saltados e pés enrugados - você já viu um abutre? Ele tem cabeça de testículos". John tremeu, e viu Cole relaxar
um pouco, até tentou um sorriso.
"Tá bom". Cole disse de novo, mais confiante. Eles andaram para onde Leon estava, ainda vigiando o ar acima.
"Henry, sendo que nós temos as armas, o que você me diz de ir na frente? John perguntou. "Leon e eu
ficaremos de olho, precisaremos de um caminho livre para não nos preocuparmos em ter que pular coisas. Você
acha que consegue?"
Cole acenou, e viu que ainda parecia pálido, John achou que ele agüentaria. Por um tempo.
O guia passou por Leon e cambaleou para sudoeste, fazendo uma irregular trilha pela estranha floresta. Os dois
foram atrás, John percebendo que Cole na frente não fazia muita diferença.
Se você não olha por onde anda, você tropeça. John pensou, desgastado, depois de ter tropeçado pela sexta
vez num "tronco" caído. Sem contradições.
Os Dacs, como Cole os chamava, não deram as caras nem fizeram outro barulho. John viu que andar numa
floresta de plástico já era o suficiente. Era uma sensação bizarra ver a aparência realista das árvores e da grama,
sentir a umidade no ar - mas também ciente de que não havia cheiro de terra ou plantas, nem vento ou
pequenos sons de movimento, nem insetos. Era como num sonho, um de dar nos nervos.
John ainda se equilibrava, seu olhar fixado no emaranhado de galhos acima, até que Cole parou.
"Nós estamos - há uma espécie de clareira aqui". Ele disse. Leon virou, franzindo para John. "Nós vamos
contorná-la?".
John avançou um passo, olhando a área aberta por entre as árvores. Tinha pelo menos 15 metros de espaço
aberto, mas John preferia mudar de caminho; ser atacado no mergulho de um pterodátilo não soava divertido,
mesmo.
"Sim. Henry, vire à direita. Nós vamos -".
O resto de suas palavras foram perdidas assim que um alto e arranhado gorjeio estourou pela floresta inatural, e
uma forma marrom acinzentada mergulhou na clareira e voou para eles, estendendo garras de trinta centímetros
de comprimento. John viu uma envergadura de asa de dois a três metros, as asas de couro com ganchos
encurvados nas pontas. Ele viu um gritante e dentado bico, um esbelto e alongado crânio, e achatados olhos
negros do tamanho de um pires, brilhando -
- e Leon e John abriram fogo quando a criatura chegou na linha das árvores na frente deles, suas enormes garras
perfurando o sólido plástico das árvores. A ave manteve-se firme, esticando suas asas num esforço para se
equilibrar -
- e bambambam, buracos apareceram na fina carne, fileiras de sangue aguado escorrendo dos mesmos. O
animal gritou, tão perto que John não conseguia ouvir os tiros, nada além daquele trêmulo e intenso berro - e
então ele desceu, parando no escuro chão, encolhendo as asas -
- e andando para eles sobre os cotovelos como um morcego, se sacudindo por entre as esfarrapadas árvores,
dando curtos e agudos latidos. Atrás dele, outro apareceu na clareira, revelando fileiras de dentes afiados.
Isso é mau, mau, mau -
O cambaleante animal estava a menos de um metro e meio de distância quando John mirou na balançante
cabeça, no redondo e brilhante olho, e puxou o gatilho.

 

 


CONTINUA